competÊncia legistativa e administrativa dos estados

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  • 5/28/2018 COMPETNCIA LEGISTATIVA E ADMINISTRATIVA DOS ESTADOS

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    COMPETNCIAS LEGISLATIVAS E ADMINISTRATIVASDOS ESTADOS-MEMBROS NA CONSTITUIO DE 1988

    1-INTRODUO

    O Estado Brasileiro adota a forma republicana desde 1889,

    forma esta mantida na Constituio de 1988. Essa umaconcepo complexa, sendo ao mesmo tempo um Estado unitrioe federativo.

    unitrio enquanto est delimitando um nico territrio euma nica populao, submetido ao poder da Unio e organizadopor legislao federal. Se torna federativo por ser composto deEstados-Membros, estes dotados de participao na formao dosrgos federais e autonomia em relao Unio. Entretanto, ofederalismo brasileiro se torna por demais complexo ao incluirmais duas pessoas constitucionais: o Distrito Federal e osMunicpios.

    Todas as entidades federativas so autnomas em relaos outras e ao Estado: possuem rgos governamentais prprios ecompetncias exclusivas. Tais competncias, temas desse estudo,tm papel fundamental na manuteno da forma federativa daRepblica Federativa do Brasil. Cabe, inicialmente, a conceituaode competncia.

    As competncias so implicaes da autonomia dos entesfederativos. Este conceito est, juridicamente, atrelado atribuio de poderes. No tocante desse estudo, "Competncia afaculdade juridicamente atribuda a uma entidade ou a um rgo

    ou agente pblico para emitir decises." (1)Diante desta definio pode-se, segundo o prprio JOS AFONSODA SILVA (1999: 480), classificar as competncias em doisgrandes grupos: as materiais ou administrativas e a legislativas.

    Abordar-se- essas duas classificaes, expondo suasdivises, assim como sua caracterizao no texto constitucional esua influncia sobre a realidade nacional. Por fim, ser expostauma crtica da repartio das competncias e suas implicaes

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    para os Estados-Membros, foco desse estudo.

    2- COMPETNCIAS MATERIAIS DOS ESTADOS-MEMBROS

    As competncias materiais ou administrativas podem serdivididas segundo AFONSO DA SILVA (Ibidem. p.480) emexclusivas e comuns. Competncias exclusivas tratam defaculdades atribudas a um ente federativo com excluso dosdemais; enquanto Comuns dizem respeito prtica de atosadministrativos em paridade com as vrias pessoasconstitucionais.

    2.1- Competncias materiais exclusivas dos Estados-MembrosA princpio faz-se necessrio uma explanao terminolgica

    sobre a palavra exclusiva. Muito se confunde exclusiva comprivativa, para fins desse estudo adotar-se- a palavra exclusiva,incluindo nesta as competncias privativas. Foge ao mbito dessaexposio a definio e as diferenas especficas entre ambas.

    Em traos gerais, os Estados tm como competnciasmateriais privativas aquelas que no pertencem nem Unio,tampouco aos Municpios, tratando-se de uma delimitaonegativa. Pode-se perceber tal fato no 1o do artigo 25 daConstituio: "So reservadas aos Estados as competncias queno lhes sejam vedadas por esta Constituio".

    As competncias materiais dos estados esto

    intrinsecamente relacionadas ao conceito de auto-organizao,assim como as competncias legislativas ao de autolegislao,porm ambas as competncias continuam muito restritas e, emgeral, no explcitas.

    Poucas so as explcitas, entre elas pode-se citar ascontidas no artigo 18, 4o e no artigo 25, 2o e 3. O primeirotrata da incorporao, desdobramento e fuso dos Municpios, j osegundo prescreve:

    "Art. 25 (...) 2o Cabe aos Estados explorar diretamente, ou

    mediante concesso, os servios locais de gs canalizado, naforma da lei, vedada a edio de medida provisria para suaregulamentao.3o O Estados podero, mediante lei complementar, instituirregies metropolitanas, aglomeraes urbanas e microrregies,constitudas por agrupamentos de Municpios limtrofes, paraintegrar a organizao, o planejamento e a execuo de funespblicas de interesse comum."

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    H ainda as competncias materiais no enumeradas, estas

    so, todavia, basicamente competncias administrativas efinanceiras. Estas esto regulamentadas pela Constituio, ouseja, so os tributos que a Constituio atribui aos estados; j

    aquelas versam sobre a criao de rgos, autarquias e divisodas regies. A Carta Magna (Ttulo III, Captulo VII, arts. 37 a 43.)delimita a atuao da administrao pblica de tal forma, que aoEstado pouco resta.

    2.2- Competncias materiais comuns dos Estados-MembrosA inteno primordial do constituinte aos estabelecer

    competncias materiais comuns foi a harmonia dos PoderesPblicos para a realizao dos seus atos administrativos.

    O artigo 23 da Constituio de 1988 contm amplaenumerao das matrias que devem ser executas comumentepela Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios. Tais matriasso de cunho social e de interesse comum a todos os entesfederativos, da a necessidade de competncias comuns.

    Tais competncias vo desde o patrimnio histrico,passando pela moradia, produo agropecuria e outras matrias,dentre elas a preservao ao meio ambiente. Alis estapreocupao ganha grande destaque no s neste artigo, mascomo em toda a Constituio.

    Para que se possa exercer tais competncias necessriouma regulamentao normativa, da decorre a posio

    concentradora da Unio. Isto acontece porque a Unio, inmerasvezes, edita leis que servem de pressuposto para as competnciasmateriais dos outros entes federativos, como ser observadoposteriormente neste estudo.

    O artigo 23, pargrafo nico, fixa: "Lei complementar fixarnormas para a cooperao entre a Unio e os Estados, o DistritoFederal e os Municpios, em vista o equilbrio do desenvolvimentoe do bem-estar em mbito nacional. Ou seja, a Unio estabeleceas normas para a competncia comum.

    A Constituio de 1988 no autoriza, a execuo de leis e

    servios de uma esfera por funcionrios de outra esfera.(2) Estefato traz um grande inconveniente para a realizao decompetncias comuns, pois prejudica de forma aguda oestabelecimento de convnios entre as diversas pessoasconstitucionais, principalmente, devido ao fato do elevado custo eda complexidade das aes pblicas.

    Existem ainda as competncias materiais residuais. Estas,porm, no mais se encontram no ordenamento jurdico brasileiro.

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    Essas competncias podem ser definidas como as matrias emque a Unio no menciona na Constituio, deixando-as a cargodos Estados. Pode-se encontr-las na Constituio de 1891,baseada no modelo americano, onde Unio cabe algumasmatrias, o restante cabe aos Estados. Isso no ocorre mais

    porque todas as matrias constitucionais esto mencionadas naCarta Magna vigente, sobrando ao Estado as competnciasanteriormente citadas: a exclusiva ou a comum.

    3- COMPETNCIAS LEGISLATIVAS DOS ESTADOS-MEMBROSSegundo JOS AFONSO DA SILVA (Ibidem. loc. cit.), ascompetncias legislativas dividem-se em exclusivas, privativas,concorrentes e residuais. Estas sero expostas adiante.

    3.1 Competncias legislativas exclusivas e privativas dos Estados-Membros

    A distino, para a maioria dos autores, entre exclusiva eprivativa est no fato desta ser delegvel e aquela no. Noentanto, para efeitos dessa exposio, como foi ditoanteriormente, no sero expostas as peculiaridades de cada uma.Tratar-se- o tema de maneira geral, ou seja, as matrias quecompetem somente aos Estados legislarem, usando os termoscomo sinnimos.

    Os Estados so competentes, privativamente, pela criaode regies metropolitanas e municpios, sendo estas ascompetncias legislativas enunciadas.

    A competncia de legislar sobre a organizao municipal, presentena Constituio anterior, foi transferida para os Municpios naCarta de 1988. Tal fato limitou ainda mais a atuao legislativados Estados.

    Assim como as competncias materiais exclusivas, aslegislativas no enunciadas tem restrio a questesadministrativas e financeiras, com restries de regras desubordinao cridas para orientao geral dessas matrias.Na Constituio do Estado de Minas Gerais, por exemplo, pode-seobservar:

    "Art. 10 Compete ao Estado:(...)XV - legislar privativamente nas matrias de sua competncia e,concorentemente com a Unio, sobre:a) direito tributrio, financeiro, penitencirio, econmico eurbanstico;b) oramento;

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    c) junta comercial;d) custa dos servios forenses;e) produo e consumo;f) florestas, caa, pesca, fauna, conservao da natureza, defesado solo e dos recursos naturais, proteo do ambiente e controle

    da poluio;g) proteo do patrimnio histrico, cultural, artstico epaisagstico;h) responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, abens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico epaisagstico;(...)"

    Mais uma vez, pouco resta ao Estado diante da predominncia daUnio. At mesmo em suas competncias legislativas exclusivas,existem princpios gerais prescritos na prpria Constituio.

    3.2- Competncias legislativas concorrentes do Estados-MembrosFERNANDA DIAS MENEZES DE ALMEIDA (1992: 148), aponta duasclassificaes, segundo a doutrina tradicional, para ascompetncias legislativas concorrentes: a cumulativa e nocumulativa. A primeira est presente onde no h limitesanteriores ao exerccio das competncias. J a segunda fixa oslimites de cada ente federativo dentro de uma determinadamatria, a chamada repartio vertical das competncias.

    A maior parte das competncias concorrentes numeradas

    na Constituio Federal de 1988 encontram-se no artigo 24 damesma. Tal artigo traz no seu caput: "Compete Unio, Estados eao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:" Nota-se aausncia da Municpio no citado. Entretanto, mesmo com estaausncia, os Estados continuam muito limitados em suascompetncias.

    O artigo 24 trata de matrias como Direito Econmico,Direito Urbanstico, conservao da natureza e meio ambiente,educao, sade, entre outras. Ocorrendo sempre a determinao,atravs de normais gerais, paras competncias dos Estados.

    O artigo 22, embora verse sobre competncias legislativasprivativas da Unio, do margem para criao de competnciasconcorrentes, onde a Unio responsvel pela elaborao denormas gerais. O pargrafo nico deste artigo, supracitado,determina a delegao de competncias aos Estados para legislarsobre questes especficas.

    O artigo 46, inciso IV traz mais uma competnciaconcorrente, onde a Unio edita normas gerais e os Estados

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    especficas sobre tributao. No artigo 236, pargrafo nico,tambm estabelece competncia concorrente, atribuindo,novamente, Unio a funo de criar normas gerais. Alm dessesencontra-se competncias concorrentes no artigo 61 1o, alnea d,e no artigo 134, pargrafo nico que trata da competncia

    presidencial e a organizao do Ministrio Pblico.Em geral, as competncias dos Estados, seguem normasgerais federais, fixando leis, muitas vezes, sobre direitos egarantias sociais, atravs de legislao complementar.

    Essas competncias complementares podem suscitardvidas com relao s competncias supletivas. A primeira seliga ao acrscimo ou detalhamento da matria de uma normageral, como pode-se observar no artigo 24 da Constituio. J asupletiva se relaciona substituio ao criao de umadeterminada matria. Esta pode ser observada no 3o do mesmoartigo, onde cabe aos Estados exercer competncia plena caso nohaja legislao federal sobre a matria em questo.

    As competncias supletivas so mais abrangentes que ascomplementares, pois essas so englobadas por aquelas mas noh necessidade de preexistncia de norma geral para o exercciodessa competncia dos Estados. Os estados criaro, portanto,normas gerais, como previsto no 3o do artigo 24, contudo, essasnormas sero gerais somente no territrio do estado que aseditou.

    As competncias complementares somente so cabveisonde houver assuntos peculiares ao interesse local, no podendo

    esta ir contra a normal geral e to pouco ser mencionada comotal.

    H ainda de se ressaltar que no mais se pode tangercompetncias legislativas residuais na atual realidade brasileira.Assim como ocorreu com o seu equivalente nas competnciamateriais, esse tipo de competncia foi dirimido na Constituio de1988 por esta tratar de todas as matrias constitucionais cabveis.

    3.3.- Conflitos entre competncias legislativas privativas econcorrentes

    Tais conflitos surgem comumente, quando pode haverinterpretao distinta entre esferas diferentes do Poder Pblico -uma considera uma determinada matria como competncialegislativa privativa - outra esfera a considera como concorrente.Um exemplo dado por FERNANDA DIAS MENEZES DE ALMEIDA(Ibidem: 171), est no artigo 238 que versa que "A lei ordenar avenda e a revenda de combustveis de petrleo, lcool, carburantee outros combustveis derivados de matrias-primas renovveis,

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    respeitados os princpios desta Constituio."Nesse caso a lei deveria ser federal, pois alm do

    supracitado, compete Unio, exclusivamente, legislar sobretrnsito e transporte. Porm se for considerado o impacto sadee ao meio ambiente que causam estes combustveis, poderia-se

    entrar no mbito da legislao concorrente, conforme o artigo 24,incisos VI, VIII, XII.Neste caso, mostra-se coerente a manuteno da

    competncia privativa, pois a legislao diferente em diferentespartes do pas, traria para as pessoas que precisam transitar peloterritrio nacional um grande problema, por exemplo:

    "Suponha-se, a ttulo ilustrativo, a dificuldade que veculosmovidos, por exemplo, a gasolina ou a leo diesel, proveniente doRio Grande do Sul, teriam para chegar ao rio de Janeiro se osEstado de Santa catarina e de So Paulo proibissem a vendadesses combustveis nos respectivos territrios, por consider-lospoluentes e nocivos sade."(ALMEIDA. Ibidem: 172)

    Esta uma questo, portanto, que deve ser privativa Unio.

    4-CONCLUSO

    Como aponta JOS AFONSO DA SILVA (Ibidem: 476) arepartio de competncia est baseada no princpio da

    predominncia do interesse, ou seja, Unio cabe matrias equestes de interesse nacional, e os Estados e municpios asquestes de interesse regional.

    Esse critrio se mostra eficaz quando se comprova apreponderncia da Unio, mostrada o longo deste estudo, sobreos demais entes da federao, em especial os Estados-Membros.

    O intuito de diminuir as competncias da Unio, presentena constituinte de 1988, no se concretizou, ao contrrio, aatuao da Unio se ampliou, concentrando o planejamentonacional. Outro fator que influencia esta situao o fato de toda

    competncia legislativa gerar uma administrativa, no sendo,porm, a recproca verdadeira. Ou seja, os estados, muitas vezes,possuem competncias materiais, mas no legislativas.

    Embora as competncias concorrentes tentem equilibrareste disparate, a Unio fica responsvel por editar normas gerais,estas muitas vezes j presentes na Constituio, limitando aparticipao do Estado.

    Em um mbito geral os Estados continuaram em sua

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    posio inquietante pois os Municpios se fortaleceram, alcanadoo seu reconhecimento como ente federativo; e a Unio teve suascompetncias ampliadas. Os Estados tiveram uma a ampliao dascompetncias foi ilusria, sempre determinada por princpiosgerais e peculiaridades dos municpios.

    Em linhas gerais, a Constituio de 1988 pouco reservouaos Estados, fato esse refletido em suas Constituies Estaduaisque pouco mais realizam do que transcrever o texto daConstituio Federal. Caracterizando assim, uma forma federativamuito concentrada em torno da Unio, parecendo os Estados,muitas vezes, meros coadjuvantes da Constituio, ao contrriodo que se poderia esperar, por serem estes entidades federativas.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    AGUIAR, Joaquim Castro. Competncias dos municpios na nova constituio. Rio de Janeiro: Forense, 195.ALMEIDA, Fernanda Dias Menezes de. Competncias da Constituio de 1988. So Paulo: Atlas, 1992.BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Atualizadaat a EC no 28, de 25 de maio de 2000. Rio de Janeiro: Forense, 2000.CUSTDIO, Antnio Joaquim Ferreira. Constituio Federal Interpretada pelo STF: promulgada em 5 deoutubro de 1988. 3a ed. So Paulo: Oliveira Mendes, 1998.FRANA, Jnia Lessa et al. Manual para normalizao de publicaes tcnico-cientficas. Belo Horizonte:editora UFMG, 1990.MINAS GERAIS. Constituio do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 15a ed. So Paulo: Malheiros, 1998.NOTAS:(1) SILVA, 1999. p. 479.(2) ALMEIDA, 1992. p.145.

    ARAJO, Wagner de. COMPETNCIAS LEGISLATIVAS E ADMINISTRATIVAS DOSESTADOS-MEMBROS NA CONSTITUIO DE 1988. Disponvel em:http://www.sapereaudare.hpg.ig.com.br/direito/texto02.htmlAcesso em: 26.jun.2006.