competência absoluta juizado especial da fazenda pública

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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2011.0000173970 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 0187506-42.2011.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que são agravantes MIGUEL GOMES MARTINS (E OUTROS(AS)), ALICE SANCHES RUIZ, CASSIA REGINA DE BARROS VELINI, ENEIDA MARTA GARCIA SOUZA, HERCULES FERNANDO VESSONI, INES ANDRADE DA COSTA, INEZ BENINE, MARIA FATIMA DOS SANTOS PRUDENTE CRUZ, MARIA LAZARA DA SILVA FIGUEIREDO, PAULO ROBERTO SIMONATO, ROSANGELA APARECIDA DA SILVA FORNAZIERI e SOLANGE SEABRA DO CARMO BINHARDI sendo agravado FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANTONIO CARLOS MALHEIROS (Presidente sem voto), MARREY UINT E ANGELO MALANGA. São Paulo, 6 de setembro de 2011. Amorim Cantuária RELATOR Assinatura Eletrônica

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COMPETÊNCIA - JURISPRUDÊNCIA

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Page 1: Competência absoluta juizado especial da fazenda pública

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2011.0000173970

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 0187506-42.2011.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que são agravantes MIGUEL GOMES MARTINS (E OUTROS(AS)), ALICE SANCHES RUIZ, CASSIA REGINA DE BARROS VELINI, ENEIDA MARTA GARCIA SOUZA, HERCULES FERNANDO VESSONI, INES ANDRADE DA COSTA, INEZ BENINE, MARIA FATIMA DOS SANTOS PRUDENTE CRUZ, MARIA LAZARA DA SILVA FIGUEIREDO, PAULO ROBERTO SIMONATO, ROSANGELA APARECIDA DA SILVA FORNAZIERI e SOLANGE SEABRA DO CARMO BINHARDI sendo agravado FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANTONIO CARLOS MALHEIROS (Presidente sem voto), MARREY UINT E ANGELO MALANGA.

São Paulo, 6 de setembro de 2011.

Amorim CantuáriaRELATOR

Assinatura Eletrônica

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Agravo de Instrumento nº 0187506-42.2011.8.26.0000 2

AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 0187506-42.2011.8.26.0000

3ª Câmara

Agravante: MIGUEL GOMES MARTINS (E OUTROS)

Agravado : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Comarca : FAZENDA PÚBLICA/ ACIDENTE TRABALHO/CAPITAL -

12ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA

VOTO nº. 15.427

AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO ORDINÁRIA PARA APLICAÇÃO CORRETA DO PROGRAMA DE PROMOÇÃO INSTITUÍDO PELA LC 1.097/2009 LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO - VALOR DA CAUSA 60 (SESSENTA) SALÁRIO MÍNIMOS DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA PARA UMA DAS VARAS DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA VALOR DA CAUSA REDUZIDO “EX OFFICIO” PELO JUÍZO INADMISSIBILIDADE PROVEITO ECONÔMICO PRETENDIDO DEMONSTRADO MEDIANTE PLANILHA DE CÁLCULOS CUJO VALOR INDICADO SUPERA SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS EM VIRTUDE DA SOMA DAS PRETENSÕES INDIVIDUAIS ACOLHIMENTO DO VALOR TOTAL DA CAUSA COMO TETO DE COMPETÊNCIA DO JEFAZ DECISÃO REFORMADA AGRAVO PROVIDO.

Agravo de Instrumento tirado por MIGUEL GOMES

MARTINS e outros dos autos da ação para aplicação correta do

programa de promoção instituído pela LC 1.097/2009 que promovem

em face de FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO para impugnar a

r. decisão de fls. 122/127 deste instrumento (fls. 107/112 dos autos

principais) que declinou da competência do juízo para uma das Varas

do Juizado Especial da Fazenda Pública. Aduziram, os recorrentes,

que a r. decisão vulnera o artigo 46 do CPC, que permite às partes,

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Agravo de Instrumento nº 0187506-42.2011.8.26.0000 3

instituírem litisconsórcio ativo facultativo e que atribuído o valor da

causa em R$ 48.210,57 é esse o valor que deve prevalecer para fins de

alçada e competência, não sendo lícito ao juiz suprimir a autorização

legal para as partes se associarem.

Recurso recebido no duplo efeito (fls. 159).

É o relatório do essencial.

Sem necessidade de se exigir o cumprimento do art. 526 do

CPC, bem assim, a intimação da parte adversa para apresentação de

contraminuta, pois ainda não se formou a tríplice relação jurídica processual

a justificar tais providências, privilegiando-se com a dispensa, a celeridade

processual.

Reproduzo a r. decisão recorrida para inteira compreensão da

controvérsia e da solução atribuída ao presente recurso. Consignou a r.

decisão impugnada:

“Vistos. Adoto como razões de decidir as razões proferidas pelo Exmo. Juiz de Direito

da 1ª Vara da Fazenda Pública da Capital, Dr. Ronaldo Frigini, transcrevendo-as a

seguir: "A competência para julgar ações como esta é do Juizado Especial da Fazenda

Pública, haja vista que o valor da causa deve ser considerado individualmente entre os

litigantes. De fato, na leitura do Código de Processo Civil, "duas ou mais pessoas

podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I-

entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - os

direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou de direito; III -

entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir; IV- ocorrer afinidade

de questões por um ponto comum de fato ou de direito" (art. 46). É facultativo o

litisconsórcio onde as partes podem recusar ou dispensar a formação da relação

processual plúrima. É instituto que se revela pela economia processual, posto que uma

só demanda resolve várias lides. "No litisconsórcio facultativo, a vontade relevante

para sua formação, ou não, é a do autor; a do réu, pelo regime vigente, não tem

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relevância, na formação do litisconsórcio facultativo, sendo-lhe imposto pela vontade do

autor, desde que a Lei o permita. É irrelevante, também, a vontade do juiz, que não

pode impor a formação do litisconsórcio facultativo, se o autor não o formou". Relembre-

se, ademais, que "os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte

adversa, como litigantes distintos; os atos e omissões de um não prejudicarão nem

beneficiarão os outros" (art. 48, CPC) e "cada litisconsorte tem o direito de promover o

andamento do processo e todos devem ser intimados dos respectivos atos" (art. 49 do

CPC). Nesses primeiros momentos da Lei do JEFAZ o litisconsórcio tem provocado

séria dúvida quanto a saber se todo o conjunto litisconsorciado poderá ou não

ultrapassar o teto de 60 salários mínimos. O primeiro ponto a ser enfrentado é o texto

legal. O § 3º do art. 2º da Lei 12.153/09 foi objeto de veto presidencial e trazia o

seguinte enunciado: "nas hipóteses de litisconsórcio, os valores constantes do caput e

do § 2º serão considerados por autor". Justificou-se o afastamento de sua incidência

com os seguintes argumentos: "ao estabelecer que o valor da causa será considerado

individualmente, por autor, o dispositivo insere nas competências dos Juizados

Especiais ações de maior complexidade e, consequentemente, incompatíveis com os

princípios da oralidade e da simplicidade, entre outros previstos na Lei nº 9.099, de 26

de setembro de 1995". Em linhas gerais "veto é o modo de o Chefe do Executivo

exprimir sua discordância com o projeto aprovado". Trata-se de "manifestação de

vontade negativa" e que pode ocorrer de forma total ou parcial e sob dois fundamentos:

a) inconstitucionalidade; e b) contrário a interesse público ou inconveniência. Naquele

ocorre motivo estritamente jurídico; neste um motivo político. Não se trata, o veto, de

impedimento de vigência da lei, posto que ele se dá antes da sanção (promulgação).

Investe contra o projeto. Se o veto for total o projeto será arquivado; se for parcial, a sua

utilização não macula o restante do projeto sancionado e transformado em lei que

sobrevive sem a parte vetada. No caso da Lei nº 12.153/09 ocorreu veto político,

apresentando o Chefe do Executivo uma apreciação de desvantagens que, no seu

entender, acarretariam prejuízo na vigência da lei. No entanto, a despeito do veto, o

instituto do litisconsórcio deve ser interpretado em função do sistema dos juizados

especiais e não somente na espécie da fazenda pública. Ao antever complexidade na

existência do litisconsórcio, adotado individualmente o limite valorativo, a Presidência

da República dá mostra que, de fato, não consegue captar os objetivos do sistema, posto

que a existência daquele instituto não prejudica a oralidade e a simplicidade do juizado

especial. Na verdade, as razões do veto são frágeis porque a complexidade está ligada à

questão probatória e não ao número de litigantes. Assim, excluído o § 3º do art. 2º, a

Lei nº 12.153/09 permaneceu, nessa matéria, idêntica à Lei 10.259/01, do Juizado

Federal. A lei geral do sistema dos juizados especiais (Lei nº 9.099/95), ao aduzir a

possibilidade do litisconsórcio, não definiu como ele se daria, em função do valor de

alçada, mas definiu-se que ele seria considerado no valor individual de cada litigante. É,

aliás, a redação do Enunciado nº. 18 do FONAJEF, no sentido que "no caso de

litisconsorte ativo, o valor da causa, para fins de fixação de competência deve ser

calculado por autor". Assim, no Juizado Federal o mesmo posicionamento foi adotado

não somente pelo enunciado acima, mas também através do Superior Tribunal de

Justiça, cuja ementa está grafada nestes termos: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL

CIVIL. EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE GASOLINA OU ÁLCOOL.

AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO. LITISCONSÓRCIO ATIVO

FACULTATIVO. COMPETÊNCIA. JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. VALOR

DA CAUSA INFERIOR A SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS PARA CADA

AUTOR INDIVIDUALMENTE CONSIDERADO. I Para que incida o art. 3.º da Lei

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n.º 10.259/2001 e seja, conseqüentemente, fixada a competência dos Juizados Especiais

Federais no caso de litisconsórcio ativo facultativo, impende considerar o valor de cada

uma das causas individualmente considerado, não importando que a soma de todos eles

ultrapasse o valor de sessenta salários mínimos. Entendimento diverso atentaria contra

o princípio da economia processual e outros princípios que informam os juizados

especiais, como a celeridade e a informalidade, pois cada autor teria de propor uma ação

autônoma, solução que multiplicaria o número de feitos a serem apreciados e, em

audiências diversas, julgados. II Recurso especial improvido (STJ, 1ª T., Resp. 794.806-

PR, j. 16.3.2006, v.u., rel. Min. Francisco Falcão). Em idêntico sentido: STJ, REsp

1209914, Relator Ministro HUMBERTO MARTINS, decisão monocrática de

10.11.2010, com o argumento de que nos casos de litisconsórcio ativo, o valor da causa

para fixação da competência é calculado dividindo-se o valor total pelo número de

litisconsorte. A propósito, cito precedente: "PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL

CIVIL. VALOR DA CAUSA PARA FINS DE ALÇADA. LITISCONSÓRCIO

ATIVO FACULTATIVO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 4º DA LEI 6.825/80.

DIVISÃO PELO NÚMERO DE LITISCONSORTES. 1. Em casos de litisconsórcio

facultativo ativo, para fins de alçada e conseqüente fixação da competência

jurisdicional, deve-se proceder a divisão do valor atribuído à causa, pelo número de

litisconsortes. 2. Sendo o resultado da divisão do valor atribuído à causa, pelo número

de litisconsortes, inferior ao equivalente a 308,5 BTNs, incabível o recurso de apelação,

conforme artigo 4º da Lei 6.825/80. 3. Recurso especial provido. Acórdão anulado."

(REsp 504.488/BA, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, Sexta Turma, julgado em

21.9.2004, DJ 11.10.2004, p. 383). Na mesma linha, a jurisprudência dos Tribunais

Federais Regionais: PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL

FEDERAL. CAUSA DE MENOR COMPLEXIDADE. VALOR DA CAUSA, POR

AUTOR, DENTRO DO LIMITE ESTABELECIDO PELA LEI N.º 10.259/01.

IMPOSSIBILIDADE DE ESCOLHA DO JUÍZO PELO DEMANDANTE.

DECISÃO MANTIDA. - A competência dos Juizados Especiais Federais é absoluta e

definida, na forma dos arts. 3º e parágrafos e 6º e incisos da Lei n.º 10.259/2001, em

face do exame de alguns requisitos, a saber: o valor da causa (não atribuído pelo autor,

mas o real); a matéria sobre que versa a demanda; a via processual adotada e a natureza

jurídica das partes envolvidas. - Ou seja, ainda que o valor atribuído à causa esteja

dentro do limite previsto no artigo 3º da Lei nº 10.259/2001, a determinação da

competência para processamento e julgamento do processo originário, depende do

enquadramento, ou não, do litígio no conceito de causa de menor complexidade,

previsto no artigo 98, inciso I, da Constituição Federal. - No caso dos autos, os autores

(cinco litisconsortes) pleiteiam a implantação de parcelas atrasadas referentes aos

últimos cinco anos anteriores ao ajuizamento da ação, relativamente ao índice de

28,86% concedido aos militares por força das Leis n.ºs 8.622/93 e 8.627/93. - O valor

da causa, em havendo litisconsórcio ativo facultativo, deve ser o da demanda de cada

um dos recorrentes para fins de fixação da competência do Juizado Especial, restando

desinfluente que a soma de todos ultrapasse o valor de sessenta salários mínimos (cf.

REsp 807319/PR, Rel. Min. Luiz Fux, DJU de 20/11/2006). - Resta claro, assim, que a

pretensão deduzida por cada um não ultrapassa o limite fixado na Lei n.º 10.259/2001

eis que foi atribuído à causa o valor de R$ 6.500,00, inferior ao limite de alçada dos

Juizados Especiais Federais, o qual não foi infirmado pelos recorrentes em suas razões

recursais. - Soma-se a isso, o fato de que a causa, na espécie, é considerada de menor

complexidade. E, ainda os fundamento esposado pelos agravantes, no sentido de que,

caso seja remetida a um dos JEF's, sua pretensão será fulminada pela prescrição,

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consoante entendimento contido no Enunciado nº 16 das Turmas Recursais dos

Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, não é de ser

considerado para fins de afastar a competência dos JEF's, sob pena de se chancelar a

escolha do Juízo por parte do demandante. - Agravo improvido (TRF-2, AI 149696.

2006.02.01.011078-0-RJ, 6ª TURMA ESPECIALIZADA, j. 15/12/2008, v.u., rel.

Juiz Federal Convocado Renato Cesar Pessanha de Souza, TRF-200199969,

DJU:15/01/2009 p.:176). PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.

AÇÃO DE COBRANÇA DE DIFERENÇAS DE JUROS PROGRESSIVOS DE

FGTS. LITISCONSÓRCIO ATIVO. DETERMINAÇÃO DE EMENDA DA

PETIÇÃO INICIAL PARA ATRIBUIÇÃO DO VALOR DA CAUSA POR AUTOR.

VIABILIZAÇÃO DA VERIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA. 1. Agravo de

instrumento interposto contra decisão que, nos autos de ação ordinária para obtenção

da recomposição dos saldos das contas fundiárias mediante a aplicação da taxa

progressiva de juros, determinou a emenda da petição inicial, para que seja indicado o

valor da causa, por cada autor. 2. Não conhecimento do recurso quanto ao pedido de

manutenção do processamento do feito na Justiça Federal comum, vez que não houve

qualquer determinação no sentido de remeter os autos ao Juizado Especial Federal. 3.

Dispõe o artigo 3º, caput, da Lei nº 10.259/01, que compete ao Juizado Especial Cível

Federal processar, conciliar e julgar as causas de competência da Justiça Federal até o

valor de 60 (sessenta) salários-mínimos, bem como executar as suas sentenças. O

parágrafo terceiro do citado dispositivo estabelece que no foro onde estiver instalada

Vara do Juizado Especial Federal, a sua competência é absoluta. 4. Tratando-se de

litisconsórcio ativo facultativo não unitário, para fins de determinação da competência,

o valor da causa deve ser considerado por autor. Precedentes. 5. Como no caso dos

autos há litisconsórcio ativo, impõe-se, pois, que a pretensão de cada qual seja

explicitada a fim de viabilizar a verificação por parte do Juízo quanto à competência.

Dessa forma escorreita a decisão que determinou a emenda da petição inicial para que o

valor da causa fosse atribuído por autor. 6. Agravo conhecido em parte e, na parte

conhecida, improvido (TRF, 3ª R, AI - AGRAVO DE INSTRUMENTO 272459 -

2006.03.00.069643-2, j. 27.3.2007, rel. Des. Márcio Mesquita, DJF3 CJ1 de

22.10.2010, p. 215). Deste modo, não há a mínima razão para dizer que o litisconsórcio

ativo facultativo no juizado da fazenda pública estadual deva ser tratado de modo

diferente. Urge afirmar que o juizado federal compõe litígios tendo como parte passiva

apenas o poder público federal. Sendo também esse o carisma do juizado da fazenda

pública estadual, a paridade no tratamento é indispensável, o que autoriza dizer que, no

caso específico da Lei nº 12.153/09, o veto presidencial é completamente inócuo. É

preciso que se afirme que a lei não sobrevive conforme a vontade de seu idealizador ou

de quem a sancione. Com a promulgação ela se desvincula totalmente e passa a ter vida

própria, interpretada consoante as regras do direito e do sistema ao qual é entregue.

Outro argumento a amparar esse entendimento é que nos termos do § 4º da Lei nº

12.153/09 "no foro onde estiver instalado Juizado Especial da Fazenda Pública, a sua

competência é absoluta. Não se pode esquecer que embora os autores possuam plena

liberdade para litisconsorciar-se, a escolha do instituto de modo algum pode ser

admitido para criar a incompetência do Juizado. Em verdade, a faculdade que a parte

tem de associar-se a outros em litisconsórcio ativo facultativo não pode servir de

manobra para subverter o espírito da lei que também aponta a celeridade processual

como meta inclusive na fase de cumprimento da sentença. Ademais, a regra da

competência absoluta se sobrepõe à liberdade da parte de pretender escolher o foro onde

demandar ainda que sob o manto do litisconsórcio ativo facultativo. No JEFAZ, o valor

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da causa foi alçado à categoria de fundamento de competência absoluta, diante da regra

do art. 2º da Lei nº 12.153/09. A propósito, estabelece o § 4º do art. 2º hipótese de

competência absoluta no local onde estiver instalado o Juizado Especial da Fazenda

Pública, aferindo ao valor da causa critério especial diverso do procedimento comum

(de competência relativa art. 102, CPC). Não há nessa escolha legislativa qualquer vício

ou submissão. Não existe entre o Código de Processo Civil e a Lei do Juizado da

Fazenda Pública qualquer postura hierárquica. Tratam-se de leis ordinárias da mesma

categoria horizontal; ambas convivem conjuntamente, devendo-se aplicar a lei do

juizado quando deste se tratar, deixando a normatividade comum para aplicação

supletiva, quando com aquela não conflitar. Essa é a razão pela qual a regra ordinária

se afasta para dar lugar a uma outra, específica, cogente, de ordem pública. Portanto,

não é possível aos autores como que utilizando de modo inviesado o instituto do foro de

eleição agregar suas respectivas pretensões econômicas a tal ponto de ultrapassar o teto

admitido no sistema e, assim, levarem a demanda para outro sistema processual. A

respeito disto colhe-se, por todos, o ensinamento de Cândido Rangel Dinamarco:

"Tratando de litisconsórcio instaurado em contrariedade a alguma norma cogente sobre

a competência (incompetência absoluta), pode e deve o juiz, de ofício, repelir o

litisconsórcio, na mesma medida que pode e deve, de ofício, dar-se por incompetente

com referência a toda e qualquer demanda para a qual lhe faleça a competência absoluta

(art. 113). Mesmo ante o silêncio ou até concordância de todos, o juiz pronunciará essa

incompetência a qualquer momento (art. 113, § 1º: sanção pelo retardamento da

alegação)" . Por conseguinte, embora o litisconsórcio exista como forma de economia

processual, sua utilização deve receber o tratamento adequado segundo as regras do

sistema do juizado especial, independente do número de litigantes." Redistribua-se,

pois, ao Juizado Especial da Fazenda Pública. Int.”

Sem qualquer deslustre ao saber jurídico do d. Juiz de Direito

que proferiu a r. decisão impugnada, segundo meu sentir, o recurso vinga,

porquanto, embora verdadeiro que o valor da causa possa ser sindicado

pelo magistrado, para adequá-lo à realidade econômica da lide, sempre com

o escopo de zelar pelo correto recolhimento de custas e pelas receitas que

pertencem ao Estado, não pode agir desta maneira, reduzindo o valor da

causa, para adequar, segundo o seu entender, a competência para a causa,

alterando o Juiz Natural.

Data vênia, não é correto afirmar que o valor da causa foi

arbitrado pela parte autora, em determinado montante, com o escopo de

direcionar a distribuição e a competência, porque reduzi-lo pode redundar

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Agravo de Instrumento nº 0187506-42.2011.8.26.0000 8

nessa mesma dinâmica.

Após emendarem a inicial os agravantes atribuíram à causa o

valor de R$ 48.210,57 (fls. 120) e referido valor deve prevalecer, se não

impugnado pela parte adversa ou então adequado para servir de base ao

correto recolhimento das custas e despesas processuais.

A r. decisão recorrida, portanto, resta reformada pois o valor

atribuído à causa ultrapassa o teto previsto no artigo 2º., caput, da Lei

12.153/2009.

Os autores optaram por ingressar em juízo em litisconsórcio

facultativo para conferir maior agilidade ao processo e evitar sobrecarga das

Varas de Fazenda Pública.

De outra parte, há que se ressaltar que estabelecido eventual

litisconsórcio facultativo, o valor da causa deve corresponder à soma das

pretensões financeiras dos integrantes do pólo ativo e embora o Juizado

Especial da Fazenda Pública tenha competência absoluta, só podem se valer

dele os indivíduos residentes na Comarca onde ele está instalado.

Na hipótese, os autores, professores da rede pública estadual,

residem, muitos deles, em cidades do interior do Estado.

Importante ressaltar que a r. decisão impugnada foi lançada

posteriormente à emenda da inicial, na qual os autores apresentaram a

planilha de fls. 120 e afirmaram que o valor do proveito econômico buscado

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com a lide corresponde a R$ 48.210,57 e, inclusive, indicando o valor correto

de custas cuja diferença seria recolhida.

Frise-se que o litisconsórcio facultativo multitudinário

constituído por litisconsortes residentes em diversas cidades do Estado de

São Paulo, especialmente, no interior, constitui a primeira razão a

fundamentar o desacerto da r. decisão combatida.

Nesse mesmo passo, há que se considerar que o Juizado

Especial é destinado às causas de menor complexidade, que permitem

inclusive, a possibilidade conciliação com as Fazendas Públicas,

contemplada pela presença de todos os litigantes para tal finalidade, o que,

em virtude dos endereços dos autores, senão inviabilizado, resta ao menos

dificultado ao extremo, tornando-se difícil a obtenção da celeridade

processual, principal escopo idealizado pelos Juizados Especiais.

A outra circunstância concerne com o entendimento de que

mais razoável e proporcional é considerar, como de fato restou demonstrado

a fls. 120, a somatória das pretensões individuais de cada litisconsorte para

se adequar o valor da causa sim, mas para aumentá-lo, de modo a

corresponder ao verdadeiro proveito econômico pretendido pelos autores.

Destarte, não se refuta aqui o entendimento do I. Dr. Juiz de

Direito de que, de fato, o valor da causa serve para fixação da competência,

contudo, forçoso admitir que o valor pretendido por cada litisconsorte deve

ser somado para aferição da eventual competência do Juizado Especial.

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Agravo de Instrumento nº 0187506-42.2011.8.26.0000 10

Parece certo que a intenção do legislador foi manter a

competência do Juizado Especial limitada ao valor global de 60 salários

mínimos, inadmitindo a consideração exclusiva de cada uma das vantagens

econômicas demandada pelos litisconsortes ativos. Ficou perfeitamente

estabelecido que, no caso de litisconsortes ativos facultativos, a competência

só se fixaria se o valor, em tese, de todas as pretensões se mantivesse dentro

dos 60 salários mínimos.

Por isso, a competência se fixa pelo valor da causa conferido

pelo autor ou autores na petição inicial. Só não prevalecerá se, pela via da

impugnação do valor da causa, como já se disse, o réu comprovar se tratar

de valor inferior a sessenta salários mínimos, ou de ofício pelo Juízo se este

constatar, mediante dados objetivos, tiver sido fraudado, para mais, aquele

valor para fugir à competência especial do Juizado. E dados objetivos não

significam a divisão do valor dado à causa pelo número de litisconsortes

ativos facultativos ou elementos exclusivamente subjetivos.

Confira-se no sentido dessa mesma orientação questão parelha

enfrentada pelo E. STJ, em caso da Justiça Federal:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. VALOR DA CAUSA.

COMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. LEI N°

10.259/01, ART. 3°, CAPUT E §3°.

1. O valor dado à causa pelo autor, à míngua de impugnação ou correção ex

officio, fixa a competência absoluta dos Juizados Especiais.

2. O Juizado Especial Federal Cível é absolutamente competente para processar,

conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta

salários mínimos (art. 3º, caput e § 3º, da Lei 10.259/2001).

3. O Juízo pode determinar a correção do valor da causa, quando o benefício

econômico pretendido for claramente incompatível com a quantia indicada na

inicial. Precedentes da Primeira e Segunda Seção desta Corte. (CC 96525/SP, Rel.

Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/08/2008, DJ

22/09/2008; CC 90300/BA, Rel.

Page 11: Competência absoluta juizado especial da fazenda pública

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Agravo de Instrumento nº 0187506-42.2011.8.26.0000 11

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em

14/11/2007, DJ 26/11/2007 p. 114).

4. In casu, o valor dado à causa pelo autor (R$ 18.100,00 - dezoito mil e cem rais) foi

inferior a 60 (sessenta) salários mínimos e o juiz federal concedeu prazo para o

demandante comprová-lo, com suporte documental, no afã de verificar o real benefício

pretendido na demanda, sendo certo que o autor se manteve inerte e consectariamente

mantida a competência dos juizados especiais.

5. Recurso Especial desprovido.

(REsp 1135707/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em

15/09/2009, DJe 08/10/2009)

Ante o exposto, pelas razões acima consignadas, meu voto

DARIA PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. AMORIM CANTUÁRIA

Relator