compartilhamento de informaÇÃo ambiental e a repercussÃo do cÓdigo florestal no twitter

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Ci. Inf. Rev., Maceió, v. 2, n. 1, p. 44-53, jan./abr. 2015 44 COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÃO AMBIENTAL E A REPERCUSSÃO DO CÓDIGO FLORESTAL NO TWITTER Janaína Tenório Lopes Ferreira Graduada em Biblioteconomia Curso de Biblioteconomia Universidade Federal de Alagoas [email protected] Ronaldo Ferreira de Araújo Doutorando em Ciência da Informação Professor Assistente do Curso de Biblioteconomia Universidade Federal de Alagoas [email protected] Relato de Pesquisa Resumo Por meio de uma pesquisa exploratória de inspiração netnográfica de observação não intervencionista, o artigo analisa a repercussão do Código Florestal no microblogging Twitter no ano de 2011, através da hashtag #CódigoFlorestal. A coleta dos dados foi realizada por meio de buscas manuais no microblog e complementada pelos serviços do Topsy e do Google Alerta. O comportamento da comunidade analisada se deu por distribuição temporal, caracterização das mensagens, identificação e caracterização dos usuários, compreensão dos comportamentos informacionais em seus aspectos interativos e comunicacionais. No total foram identificados 30.795 tweets emitidos por 1.083 usuários. Mensagens interativas (28.181) superam as informativas (2.614). Considera-se que a rede social Twitter contribui para a expansão e intensidade de vínculos sociais de uma sociedade virtualmente conectada, e que nesse espaço a informação ambiental encontrou um meio apropriado de organização, de troca social e de estratégia para mobilizar cidadãos/atores a se tornarem protagonistas do fazer social no seu contexto local e global. Palavras-chave Informação ambiental. Compartilhamento de informação. Twitter. Código Florestal. 1 INTRODUÇÃO A informação ambiental ocupa um papel importante ao se tornar resultado da preocupação da sociedade a partir da tomada de consciência diante dos efeitos e impactos da produção e do consumo sobre o ambiente (TAVARES; FREIRE, 2003). Dessa forma, o seu acesso é fundamental tanto para desenvolver a construção de uma sensibilização como contribuir para uma mudança de condutas e comportamentos. Trata-se de uma discussão plural que vem ganhando forças ao defender que o uso apropriado da natureza e o poder da informação aliado aos meios de comunicação fazem a diferença nesse cenário. Com os impactos ambientais ocorridos durante as últimas quatro décadas, os representantes do povo brasileiro sentiram a necessidade de adequar a Lei n. 4.771/65 – Código Florestal Brasileiro à realidade atual do país, e durante o processo o ciberespaço terminou sendo um ambiente bastante utilizado para tal. Dessa forma, a presente pesquisa tem como objetivo investigar a repercussão da temática meio ambiente no microblogging Twitter voltada à discussão do Código Florestal Brasileiro por intermédio da hashtag #CódigoFlorestal gerada na discussão.

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Por meio de uma pesquisa exploratória de inspiração netnográfica de observação não intervencionista, oartigo analisa a repercussão do Código Florestal no microblogging Twitter no ano de 2011, através dahashtag #CódigoFlorestal. A coleta dos dados foi realizada por meio de buscas manuais no microblog ecomplementada pelos serviços do Topsy e do Google Alerta. O comportamento da comunidade analisadase deu por distribuição temporal, caracterização das mensagens, identificação e caracterização dosusuários, compreensão dos comportamentos informacionais em seus aspectos interativos ecomunicacionais. No total foram identificados 30.795 tweets emitidos por 1.083 usuários. Mensagensinterativas (28.181) superam as informativas (2.614). Considera-se que a rede social Twitter contribui para aexpansão e intensidade de vínculos sociais de uma sociedade virtualmente conectada, e que nesse espaço ainformação ambiental encontrou um meio apropriado de organização, de troca social e de estratégia paramobilizar cidadãos/atores a se tornarem protagonistas do fazer social no seu contexto local e global.

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  • Ci. Inf. Rev., Macei, v. 2, n. 1, p. 44-53, jan./abr. 2015 44

    COMPARTILHAMENTO DE INFORMAO AMBIENTAL E A REPERCUSSO DO CDIGO FLORESTAL NO TWITTER

    Janana Tenrio Lopes Ferreira Graduada em Biblioteconomia

    Curso de Biblioteconomia Universidade Federal de Alagoas

    [email protected]

    Ronaldo Ferreira de Arajo Doutorando em Cincia da Informao

    Professor Assistente do Curso de Biblioteconomia Universidade Federal de Alagoas

    [email protected]

    Rel

    ato

    de

    Pes

    qu

    isa

    Resumo Por meio de uma pesquisa exploratria de inspirao netnogrfica de observao no intervencionista, o artigo analisa a repercusso do Cdigo Florestal no microblogging Twitter no ano de 2011, atravs da hashtag #CdigoFlorestal. A coleta dos dados foi realizada por meio de buscas manuais no microblog e complementada pelos servios do Topsy e do Google Alerta. O comportamento da comunidade analisada se deu por distribuio temporal, caracterizao das mensagens, identificao e caracterizao dos usurios, compreenso dos comportamentos informacionais em seus aspectos interativos e comunicacionais. No total foram identificados 30.795 tweets emitidos por 1.083 usurios. Mensagens interativas (28.181) superam as informativas (2.614). Considera-se que a rede social Twitter contribui para a expanso e intensidade de vnculos sociais de uma sociedade virtualmente conectada, e que nesse espao a informao ambiental encontrou um meio apropriado de organizao, de troca social e de estratgia para mobilizar cidados/atores a se tornarem protagonistas do fazer social no seu contexto local e global. Palavras-chave Informao ambiental. Compartilhamento de informao. Twitter. Cdigo Florestal.

    1 INTRODUO

    A informao ambiental ocupa um papel importante ao se tornar resultado da preocupao da sociedade a partir da tomada de conscincia diante dos efeitos e impactos da produo e do consumo sobre o ambiente (TAVARES; FREIRE, 2003). Dessa forma, o seu acesso fundamental tanto para desenvolver a construo de uma sensibilizao como contribuir para uma mudana de condutas e comportamentos.

    Trata-se de uma discusso plural que vem ganhando foras ao defender que o uso apropriado da natureza e o poder da informao aliado aos meios de

    comunicao fazem a diferena nesse cenrio. Com os impactos ambientais ocorridos durante as ltimas quatro dcadas, os representantes do povo brasileiro sentiram a necessidade de adequar a Lei n. 4.771/65 Cdigo Florestal Brasileiro realidade atual do pas, e durante o processo o ciberespao terminou sendo um ambiente bastante utilizado para tal.

    Dessa forma, a presente pesquisa tem como objetivo investigar a repercusso da temtica meio ambiente no microblogging Twitter voltada discusso do Cdigo Florestal Brasileiro por intermdio da hashtag #CdigoFlorestal gerada na discusso.

  • Janana Tenrio Lopes Ferreira / Ronaldo Ferreira de Araujo

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    2 INFORMAO AMBIENTAL

    O conceito de informao atinge dois contextos bsicos: o ato de moldar a mente e o ato de comunicar conhecimento (CAPURRO; HJORLAND, 2007). Segundo Araujo (2001), a informao possui dois sentidos complementares, a primeira compreenso do termo acontece como processo de atribuio de sentido a partir de um sistema de linguagem, associando um significante a um significado tambm compartilhado por Le Coadic (2004). E a segunda compreenso vista como processo de representao, que tem por finalidade comunicar o sentido dado mesma.

    Partindo para um contexto social a informao est relacionada ao processo de construo do conhecimento que acontece no cotidiano de cada indivduo, dessa forma pode levar a provocar transformaes nas estruturas por gerar novos estados de conhecimento (ARAUJO, 2001).

    Alm disso, a informao pode ser analisada a partir de duas abordagens apresentadas por Marteleto (1987): a primeira como comportamentalista e funcionalista observada enquanto elemento regulador dos sistemas; e a segunda denominada de abordagens crticas ou dialticas compreendida como um fator de mudana e alterao de estruturas. Por sua vez, esta ltima ser aqui adotada, j que a informao passa a ser considerada um agente de transformao do homem ao qual est estritamente relacionada com a informao ambiental.

    Nessa direo, Tavares e Freire (2003) definem a informao ambiental como um tipo de informao cientfica e tecnolgica, e como um produto da preocupao da sociedade, despertada pela tomada de conscincia, a partir dos efeitos e impactos gerados pela produo e consumo sobre o meio ambiente, pelos danos causados no meio geogrfico e social por eles mesmos.

    Entende-se ento, que a promoo de informao ambiental alm de fortalecer o exerccio da cidadania tambm diminui incertezas relacionadas ao meio ambiente e

    contribui para a mudana de conduta, ao passo que resulta numa maior compreenso sobre a relao indissocivel entre os elementos sociais, humanos e naturais.

    Com esta funo a informao ambiental ganhar subsdios para a preservao ambiental resultando na promoo da educao ambiental e desse modo se torna um instrumento politizante para a tomada de decises scio-polticas, e nesse momento que o bibliotecrio deve aproveitar a oportunidade e tentar gerar uma conscincia crtica nos indivduos ao ponto de influenciar na preservao do meio ambiente (SOUZA, 2008).

    Assim, a educao ambiental alm de ser vista como processo educativo tambm vista como prtica e uma vez a sociedade comprometida, consciente e ativa, o sucesso na educao ambiental alcanado, e com a ajuda do bibliotecrio no papel scio-poltico da sociedade possvel sensibilizar, conscientizar e proporcionar uma viso mais humana s empresas e aos gestores diante da questo ambiental. 3 CDIGO FLORESTAL BRASILEIRO

    Com o intuito de proteger os recursos naturais de todo tipo de explorao foi criado, em 23 de janeiro de 1934, o primeiro Cdigo Florestal Brasileiro institudo pelo Decreto Federal n. 23.793. Com a influncia dos movimentos ambientalistas e o crescimento do desmatamento em 1962 iniciaram-se medidas com o propsito de revisar o Cdigo Florestal de 1934, pois o mesmo j no se adequava realidade atual (MILAR, 2004).

    Com isso, em 15 de setembro de 1965 foi criada a Lei Federal n. 4.771, lei que institui o segundo Cdigo Florestal e revoga o Decreto n. 23.793/1934. Posteriormente, com a finalidade de buscar o equilbrio entre desenvolver e preservar, foi que em 24 de maio de 2011 a Cmara dos Deputados aprovou a proposta de reviso ao Cdigo Florestal pelo relator do projeto Aldo

  • Compartilhamento de Informao Ambiental e a Repercusso do Cdigo Florestal no Twitter

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    Rebelo (PCdoB-SP1), com 410 votos a favor, 63 contra e uma absteno.

    A proposta se tornou alvo constante de crticas, os ambientalistas e a comunidade cientfica consideraram a proposta como um retrocesso na histria do Brasil. Diversos aspectos do projeto geraram polmica e com isso vrias propostas foram encaminhadas ao Senado Federal para anlise, mas a aprovao somente aconteceu quando mudanas significativas foram realizadas no documento que fez surgir um novo (e terceiro) Cdigo Florestal, por meio da Lei Federal n. 12.651, de 25 de abril de 2012.

    As reformulaes s quais o Cdigo de 1965 foi submetido no decorrer dos anos so difceis e contraditrias. Muitos so os envolvidos na temtica, de um lado esto os ruralistas defendendo o desenvolvimento agropecurio; do outro lado est a comunidade acadmica intercedendo luz da cincia, e concordando com a importncia da produo agrcola no desenvolvimento econmico do pas e com a necessidade em reformular a legislao ambiental segundo a situao atual do Brasil. Por fim, esto os ambientalistas, que defendem a reviso do Cdigo, pela sua dificuldade de execuo e pelas lacunas existentes, as quais permitem um avano no desmatamento (PRAES, 2012). 4 REDES SOCIAIS NA INTERNET E A DISSEMINAO DE INFORMAES: TWITTER

    A comunicao sempre foi um elemento vital para humanidade, e dentre os diversos ambientes comunicacionais destaca-se o ciberespao (LVY, 1999), capaz de proporcionar, por meio das tecnologias digitais, um novo espao de comunicao, de sociabilidade, de organizao e de transao, mas tambm um novo mercado de informao e conhecimento.

    No ciberespao, as redes sociais na internet estabelecem uma nova dinmica envolvendo conexo, interao e relacionamento entre os atores envolvidos. Alguns tericos como Castells (2012, p.498) 1 Partido Comunista do Brasil So Paulo.

    explicam que as redes so estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos ns desde que consigam comunicar-se dentro da rede., e Recuero (2009b) reitera dizendo que a rede social um conjunto de dois elementos: os atores e suas conexes.

    Nesse conjunto os atores so os ns da rede, pessoas envolvidas na rede passveis de moldarem as estruturas sociais por meio da interao e da construo dos laos sociais. E as conexes so interaes que estabelecem a unio entre os atores criando laos e relaes sociais (RECUERO, 2009a).

    As redes sociais na internet permitem que pessoas discutam assuntos de interesses afins, compartilhem informaes e ideias, e divulguem contedos com textos, imagens, links, etc. Para Tomal (2005) o compartilhamento de informao s tende a contribuir, ele assegura ganhos entre os atores de uma rede, consolida parcerias e a medida que cada participante coloca disposio um contedo outros atores passam a ter acesso e isso pode at reduzir incertezas, desenvolver novas aes e promover o crescimento mtuo com base nas informaes compartilhadas.

    A rede social Twitter2, que um microblogging, foi idealizada e fundada por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Willians, em 2006, inicialmente como um projeto da empresa Odeo. A plataforma permite a insero de texto com at 140 caracteres, tornando uma mensagem fcil de ler e escrever, sua comunicao basicamente composta por mention (mensagem a um usurio), reply (resposta a um usurios), retweet ou RT (reproduo de mensagens) e hashtag3(ARAJO, 2013). No Twitter possvel tambm publicar fotos atravs do Twitpic4 e acompanhar tpicos em destaque a partir do Trending Topics5 (nvel local e global).

    2 https://www.twitter.com/. 3 Um tipo de Folksonomia, uma atribuio livre de etiqueta (tag) elaborada na web pelos usurios visando a sua recuperao. 4 Servio que permite postar fotos no Twitter por seus respectivos usurios: http://twitpic.com/. 5 https://support.twitter.com/articles/268981-perguntas-frequentes-sobre-os-assuntos-no-twitter.

  • Janana Tenrio Lopes Ferreira / Ronaldo Ferreira de Araujo

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    Assim temos que o Twitter uma plataforma de publicaes dinmicas e interativas, e que no somente um meio de transmisso, pelo contrrio: um canal de discusses, um ambiente colaborativo, uma forma de expresso, uma mquina de perguntas e respostas, uma conversa on-line, etc, que indiscutivelmente possui um impacto social bastante significativo, no qual o foco maior est na qualidade e no tipo de contedo veiculado. 5 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    Trata-se de um estudo de natureza exploratria, simultaneamente de abordagem quantitativa e qualitativa (mtodos mistos) de forma descritiva. A pesquisa tambm se qualifica enquanto estudo de inspirao netnogrfica (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011), mas de observao no intervencionista (KOZINETS, 2010).

    O universo de pesquisa composto por mensagens elaboradas e disseminadas no microblogging Twitter, cuja discusso centraliza-se na proposta de reviso do Cdigo Florestal Brasileiro de 1965. E sua amostragem so os tweets originados durante o debate do ano de 2011.

    No mbito dos estudos mtricos da informao na web pautada nas mtricas de mdias sociais ou social media metrics (STUART, 2009) a coleta de dados foi realizada por meio do monitoramento da hashtag #CdigoFlorestal nas seguintes ferramentas: Twitter (busca manual); Topsy6 (busca manual); e Google Alertas7. Dessa forma, a coleta total dos tweets foi realizada no perodo de 21 de janeiro a 02 de dezembro de 2011. Cumpre ressaltar que no ano de 2011 ocorreram duas votaes, uma em 24 de maio e outra em 6 de dezembro, a pesquisa prope abordar apenas a primeira votao.

    Ademais, a presente pesquisa utilizou como norte, para melhor interpretar seu universo, trs estudos de mesmo ambiente (Twitter): o estudo de Malini e Antoun

    6 http://topsy.com/. 7http://www.google.com.br/alerts?hl=pt-BR.

    (2013), com a finalidade de analisar a produo de mobilizao social e comportamento informacional no Twitter; e o estudo de Recuero e Zago (2010), com foco para a difuso de informaes no Twitter. 6 RESULTADOS E DISCUSSO DOS DADOS

    Com o mapeamento de tweets que continham a hashtag #CdigoFlorestal no Twitter, a pesquisa identificou um total de 30.795 mensagens geradas durante o ano de 2011. Desse total fazem parte tweets e retweets (RTs), conforme mostra o Grfico 1.

    Grfico 1 Distribuio Temporal

    Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

    A anlise quantitativa das mensagens

    revela uma diferena significava entre tweets e RTs. possvel observar que em nenhum perodo os tweets superam os RTs, o que equivale dizer que, nas discusses, prevalece o comportamento de reproduo do que de contedo. Percebe-se que nos meses iniciais poucos atores participaram da discusso do Cdigo Florestal, mas que no perodo de maio (ms da votao) os tweets e RTs alavancam, e que nos meses seguintes, depois da votao, h uma disperso e ao se aproximar da segunda votao (novembro) acentua-se novamente o envolvimento dos usurios.

    A repercusso e o alcance da discusso do #CdigoFlorestal no ms de maio foi to significativa que o assunto liderou no TrendingTopicsBrazil como um dos assuntos mais comentados no Twitter no perodo, conforme Figura 1:

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    Figura 1. Cdigo Florestal no TrendingTopicsBrazil

    Fonte: http://www.trendingtopics.com.br/.

    Registrado em 24 de maio de 2011.

    No que se refere repercusso com base nos RTs, conclui-se, ento, que a interao social no ciberespao, realizada a partir da conversao um fator mpar numa rede social (LVY, 1999; RECUERO, 2009b), e nesse caso a interao gradativa, quanto mais prximo o perodo de votao mais ativa a interao.

    Quando se deseja observar uma rede social preciso identificar as representaes do atores (RECUERO, 2009a). As mensagens foram enviadas por um total de 1.083 usurios do Twitter. Como a coleta foi realizada em todos os meses (de janeiro a dezembro) tiveram atores que participaram

    da discusso em mais de um ms, ento esse nmero se refere a um total de usurios sem repetio.

    Apenas 139 usurios mantinham informaes que descrevia seu perfil. Destes, os perfis pessoais foram agrupados segundo a Classificao Brasileira de Ocupaes (CBO) de 2010, em cinco grandes grupos: Profissionais das Cincias e das Artes com 56%, Membros superiores do poder poltico, Dirigentes de organizaes de interesse pblico com 7%, seguido de Estudantes, com 4%. Os Tcnicos em Nvel Mdio e Trabalhadores de Servios Administrativos obtiveram 1% cada e por fim Foras Armadas, Policiais e Bombeiros militares com 0,1%. Os perfis institucionais foram classificados como Empresa/Indstria com 8%, Portais de notcias e meios de comunicao com 7% e ONGs com 5%. Os Movimentos sociais compreenderam 1%.

    O perfil de maior repercusso est entre os institucionais. Trata-se do Greenpeace Brasil , uma Organizao No Governamental (ONG) global e independente que atua na defesa do meio ambiente e promoo da paz e que produziu a mensagem mais compartilhada (Figura 2).

    Figura 2. Tweet mais Compartilhado (com mais RT).

    Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

    Com 605 compartilhamentos (RTs) a referida mensagem possui carter de mobilizao e expe seu posicionamento em relao ao Cdigo Florestal convidando usurios a participarem de um abaixo-assinado contra as mudanas do Cdigo. Concomitante a mensagem convoca os

    usurios a assinarem e estimula aos mesmos a disseminarem o abaixo-assinado.

    Ainda sobre a caracterizao dos usurios foi possvel perceber que os mesmos esto distribudos nas seguintes regies geogrficas: Norte com 5%, Nordeste com 14%, Centro-Oeste com

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    14%, Sul com 15% e Sudeste com 48%. Nem todos os usurios indicam a regio em que moram, registram apenas o pas. Tem-se nessa situao perfis indicados como Brasil alm de participaes do Exterior.

    Foram identificados 30.795 tweets. As prticas sociais que decorrem dos valores construdos e percebidos pelos usurios do Twitter podem ser divididas em duas categorias: aquela de contedo e a de

    conversao (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011).

    Os tweets de conversao ou interativos so maioria (28.181) e superam muito os de contedo ou informativos (2.614). A Figura 3 ilustra esses dois grandes grupos e suas subdivises. O conjunto Tweets informativos, considerado informativo simples, formado por tweets que apenas informam assunto ou evento sem interao.

    Figura 3. Caracterizao dos Tweets: estrutura

    Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

    E no conjunto Tweets interativos as subcategorias: RT reproduo uma rplica dos tweets informativo simples; Mention uma meno de algum usurio no tweet; RT conversao a reproduo de um tweet com algum tipo de comentrio; e reply a resposta da mensagem. Todo esse conjunto tem por objetivo retratar determinando acontecimento em tempo real (MALINI; ANTOUN, 2013), e na presente pesquisa esses tweets divulgam datas da votao, dias de mobilizao social, artigos e reportagens sobre o universo do Cdigo Florestal.

    As mensagens de conversao sobressaram as de contedo o que pode ser

    considerado como significativo pela participao e colaborao que expressam, sobretudo, o destaque considervel no de mensagens direcionadas (mention), ou de dilogos (RT conversao ou reply) e sim de disseminao ou compartilhamento (RT reproduo). A partir do estudo de Recuero e Zago (2010), considera-se que a reproduo praticada pelo RT implica tanto na reputao de quem retwita quanto na atribuio de confiana na mensagem daquele ator que retwitado. As autoras explanam que essa estratgia permite que a informao circule mais rpida e no presente estudo foi possvel perceber essa

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    caracterstica por meio da distribuio temporal.

    As redes sociais na internet so ambientes propcios colaborao e interatividade com fluxos intensos de informaes e se constituem como espaos ricos para estudos sobre o comportamento informacional (ARAUJO, 2014). Para qualificar as prticas informacionais foi observado o tipo de contedo dos links compartilhados e foram encontradas 2.693 mensagens com links, entre eles as mais frequentes eram: textos para blogs e notcias

    (1,526), abaixo-assinado (395), vdeos (306), imagens (229), eventos como conferncias (153), dentre outros.

    O compartilhamento de imagens demonstra a preocupao dos usurios com o meio ambiente perante a aprovao do Cdigo Florestal, no que se refere conscincia das consequncias e dos prejuzos ambientais, atuando como bons recursos para educao ambiental. A Figura 4 um bom exemplo disso, tendo sido a imagem mais compartilhada (36 vezes).

    Figura 4. Imagem mais Compartilhada

    Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

    A imagem foi elaborada pela WWF-Brasil8 e tem o objetivo de esclarecer sobre os riscos das mudanas no Cdigo Florestal. Foi elaborada de forma didtica e apresenta

    8 ONG brasileira, participante de uma rede internacional e comprometida com a conservao da natureza dentro do contexto social e econmico brasileiro. Ver: http://www.wwf.org.br/wwf_brasil/.

    o texto proposto, as consequncias e o embasamento dos riscos que representa. medida que imagens assim vo sendo compartilhadas, mais usurios passam a conhecer sobre o assunto, e com isso um ciclo de conscientizao gerado e ampliado.

  • Janana Tenrio Lopes Ferreira / Ronaldo Ferreira de Araujo

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    Para identificar comportamentos que visem conscientizao e educao ambiental foi levada em considerao a preocupao da sociedade perante o meio ambiente (informao ambiental), a promoo da educao ambiental demonstrados nos tweets, e a literatura

    trabalhada. Com o auxlio da literatura foi possvel identificar manifestaes de informao ambiental e educao ambiental no universo de pesquisa Twitter, foram contabilizados 48 tweets desse tipo. A Figura 5 apresenta um exemplo de cada.

    Figura 5. Exemplos de Mensagens sobre Informao e Educao Ambiental

    Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

    possvel perceber que os usurios esto cumprindo o papel que a literatura diz de informao ambiental e educao ambiental. Mesmo que em minoria os

    usurios esto preocupados com a preservao do meio ambiente, preocupados que a mudana no Cdigo Florestal possa afetar intensamente ao meio ambiente.

    Figura 6. Posicionamento nos Tweets

    Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

    No posicionamento foram observados tweets a favor e contra a mudana no Cdigo Florestal. Foram identificadas apenas 139 mensagens de posicionamento: 11 a favor e

    128 contra. A partir desses dados possvel inferir que a maioria dos tweets so informativos, e que no caso do posicionamento poucos usurios se

  • Compartilhamento de Informao Ambiental e a Repercusso do Cdigo Florestal no Twitter

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    posicionaram em relao votao. Eles esto mais preocupados em divulgar notcias e artigos acerca do Cdigo Florestal, conferncias sobre o assunto, dias da votao, enquetes e abaixo-assinados. A Figura 6 apresenta um exemplo de cada posicionamento encontrado.

    Observa-se na figura acima, no tweet Favor, a existncia de link, este remete para uma enquete onde os usurios puderam votar a favor ou contra o Cdigo Florestal. Isso demonstra que os usurios utilizaram os links para migrarem para outros ambientes para votar.

    Esses dados indicam que os atores estavam engajados no posicionamento, mas eles no estavam expressando seus posicionamentos no Twitter, eles estavam divulgando links para assinaturas de posicionamentos. Estavam utilizando o microblog mais para divulgar essas aes a alcanar mais adeptos causa. 7 CONSIDERAES FINAIS

    Com a abordagem netnogrfica, possvel perceber por meio dos grficos o carter informativo do Twitter. Os grficos retratam a princpio um nmero considervel de 30.795 mensagens enviadas e retwitadas, coletadas com o uso da hashtag #CdigoFlorestal. Esses nmeros refletem a estrutura dinmica dos tweets, e as prticas informacionais demonstram que os atores participantes reproduzem mais e produzem menos.

    A maioria significativa das mensagens de interao sendo voltada para reproduo de contedo na forma de RT. O compartilhamento uma forma de interao e afere certo aval, anuncia e crdito a quem originalmente publicou a mensagem (RECUERO; ZAGO, 2010).

    Quanto repercusso da discusso do Cdigo Florestal possvel considerar que se obteve resultado significativo, pois a hashtag #CdigoFlorestal liderou o TrendingTopicsBrazil no momento em que ocorreu a primeira votao; e que a relevncia da opinio pblica pode ser observada quando as instituies oficiais passam a dar ateno.

    Ao ponderar-se sobre a informao ambiental nesse contexto percebe-se que pouco foi produzido, e quo importante ela para educao ambiental e para o bibliotecrio, de modo que este mediar a informao ambiental e tentar intensificar as prticas de educao ambiental para sensibilizar e formar cidados conscientes, responsveis e participativos ambientalmente.

    Tudo isso vem confirmar que a rede social contribui para a expanso e intensidade de vnculos sociais de uma sociedade virtualmente conectada. E que no conectam apenas computadores, conectam pessoas tambm de modo que nesse espao o cenrio ambiental encontrou um meio apropriado de organizao, de troca social e de estratgia para mobilizar cidados/atores a se tornarem protagonistas do fazer social no seu contexto local e global.

    SHARING INFORMATION AND ENVIRONMENTAL IMPACT OF A FOREST CODE ON TWITTER

    Abstract Presents considerations on the binomial information an denvironment and the dissemination of information in social networks on the internet. Investigates, through an exploratory research netnogrfica approach, the impact of the Forest Code on Twitter microblogging in 2011, through the hashtag # CdigoFlorestal. 30,795 tweets were identified issued by 1,083 users. Interactive messages (28,181) outweigh the informative (2,614). It is considered that the social network Twitter contributes to the expansion and intensity of social ties of a virtually connected society, and that this space the environmental scenario found a suitable means of organization, social exchange and strategy to mobilize citizens / stakeholders to become protagonists of social do in their local and global context. Keywords Environmental information. Sharing information. Twitter. Forest Code.

  • Janana Tenrio Lopes Ferreira / Ronaldo Ferreira de Araujo

    Ci. Inf. Rev., Macei, v. 2, n. 1, p. 44-53, jan./abr. 2015 53

    Artigo recebido em 08/04/2015 e aceito para publicao em 30/04/2015

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