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COMPANHIA DE PLANEJAMENTO DO DISTRITO FEDERAL

Misso

Produzir e disseminar informaes, es-tudos e anlises sociais, econmicas, demogrficas, cartogrficas, urbanas, regionais e ambientais; analisar e ava-liar polticas pblicas para o Governo do Distrito Federal e sociedade.

Braslia em Debate - Ano 2017 - n 17 - Setembro1.Economia - Planejamento Territorial Distrito Federal (Brasil)ISSN - 2316-820X

38Indicadores de Sade e a reforma do Sistema de Sade do Distrito Federal

Marcus Vincius Quito

36Idecon

Sandra Andrade e Eurpedes Oliveira

32A Dengue: Contextos Temporal e Social no

Distrito Federal

Walter Massa Ramalho

28Redes Sociotcnicas e Integrao de Polticas Pblicas no Distrito Federal

Wagner de Jesus Martins

22A Regionalizao da Gesto da Sade no DF: o caminho para a ponta virar centro

Leila Gottens

17Perfil socioeconmico e aspectos da sade dos usurios dos RCs no DF

Equipe Dipos

11Estudo de Carga Global de Doena: mor-talidade e morbidade entre 1990 e 2015

Daisy Maria Xavier de Abreu

10IPCA

Clarissa Jahns Schlabitz

7Entrevista - Humberto Fonseca

5Carta ao leitor

ndice

Edio n 17

Ateno primriaCapa

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Indicadores subsidiam o planejamentoSade

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Braslia em Debate 3

Braslia em DebateSetembro - Ano 2017 - N 17

GOVERNO DO DISTRITO FEDERALRodrigo Rollemberg - GovernadorRenato Santana - Vice-Governador

SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO, ORAMENTO E GESTO DO DISTRITO FEDERAL - SEPLAG

Leany Barreiro de Sousa Lemos - Secretria

COMPANHIA DE PLANEJAMENTO DO DISTRITO FEDERALCODEPLAN

Lucio Remuzat Renn Jnior - Presidente

DIRETORIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRAMartinho Bezerra de Paiva - Diretor

DIRETORIA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOCIOECONMICASBruno de Oliveira Cruz - Diretor

DIRETORIA DE ESTUDOS E POLTICAS SOCIAISAna Maria Nogales Vasconcelos - Diretora

DIRETORIA DE ESTUDOS URBANOS E AMBIENTAISAldo Paviani - Diretor

CONSELHO EDITORIALLeany LemosLucio RennAldo PavianiBruno Cruz

Alexandre BrandoJusanio SouzaSrgio Jatob

Ana Maria NogalesMaurcio BugarinRoberto Piscitelli

Assessoria de Comunicao Social

Organizao e reviso de peridicoCludia Cybelle Freire

Reviso de textoHelosa Herdy

Editorao eletrnica e arte finalMauro Moncaio

Capa / Foto:Marcelo Camargo - Agncia Brasil

ApoioNilva Rios, Eliane Menezes, Ester Santos Cabral Maurcio Suda, Laerte Gouveia e Cleusa Rocha

DegravaoJoaquina Neves Menezes

Observao:* Os artigos assinados so de inteira responsabilidade dos autores* Permitida a reproduo total ou parcial desde que citada a fonte

Periodicidade: quadrimestralTiragem impressa: 1 mil exemplares; policromia: 44 pginas

Verso online: www.codeplan.df.gov.br

1.Economia - Planejamento Territorial Distrito Federal (Brasil)ISSN - 2316-820X

Companhia de Planejamento do Distrito FederalCodeplan

SAM - Bloco H - Setores ComplementaresCEP: 70.620-080 - Braslia-DF

Tel.: (0xx61) 3342-1021www.codeplan.df.gov.br

[email protected]

COMPANHIA DE PLANEJAMENTO DO DISTRITO FEDERAL

Carta ao leitor

Lucio RennPresidente

A Sade Pblica, conforme apontam pesquisas de opinio pblica no Brasil, uma das principais preocupaes do cidado brasileiro; listada h vrios anos como um dos trs principais problemas do pas. No Distrito Federal, no diferente. Pesquisas telefnicas de avaliao popular sobre a qualidade dos servios pblicos realizadas pela Codeplan apresentam resultados negativos sobre a situao dos equipamentos pblicos de sade e a qualidade do atendimento prestado por profissionais da rea. Assim, debater o tema da Sade Pblica no Brasil e no DF esforo fundamental para a melhoria da qualidade do servio pblico, explorado nesta 17 Edio da revista Braslia em Debate. A disseminao de estudos e pesquisas, embasados em anlises de especialistas, dados e informaes atuais, contribui para a gesto da sade do DF e dos municpios vizinhos, da denominada AMB - rea Metropolitana de Braslia1.

Com uma proposta que rene especialistas, estudiosos, pesquisadores e gestores da sade, a Braslia em Debate tem o compromisso de tratar com responsabilidade as informaes e os dados apresentados. Torcemos para que ela alcance o maior nmero de leitores e que se torne um registro cientfico permanente, refletindo na anlise das polticas pblicas, na discusso sobre o tema e na tomada de deciso dos gestores pblicos e privados que conduzem a sade no DF e na rea Metropolitana de Braslia.

Desde a adeso do Ministrio da Sade rede de estudos de Carga Global de Doena - GBD que as estimativas de sade so mais confiveis, permitindo construir indicadores no Brasil e por unidades federativas condizentes com a real situao, conforme apresentado no Estudo GBD: estimativas de mortalidade e morbidade entre 1990 e 2015 para o Distrito Federal e Brasil. Na esfera local, a Secretaria de Sade apresenta um panorama dos desafios e avanos na gesto da Sade, com destaque para a reorganizao da Rede de Ateno Bsica e a criao do Instituto Hospital de Base de Braslia. Entusiasta do assunto, incisiva quando aponta a necessidade de mudanas urgentes na gesto da sade pblica no Distrito Federal.

Quando o assunto a regionalizao da sade no DF, as etapas j cumpridas e os desafios propostos, faz-se necessrio preservar os processos histricos de criao

1 NOTA TCNICA N 1/2014 - Delimitao do Espao Metropolitano de Braslia (rea Metropolitana de Braslia) - Companhia de Planejamento do Distrito Federal - Codeplan, in http://www.codeplan.df.gov.br/publicacoes/notas-tecnicas.html

dos territrios no DF, os vnculos e as identidades dos profissionais e usurios construdos. Essa temtica instigante abordada no artigo Regionalizao da Gesto da Sade no DF: o caminho para a ponta virar centro.

Por falar em territrio, esse tema foi bastante discutido no II Encontro de Redes Sociais Locais do Distrito Federal - II ERSL. Realizado em junho passado em Braslia, reuniu grupos que atuam no servio pblico. Durante o encontro, ocorreu a Oficina de Dilogos Prospectivos Braslia 2030: Integrao de Polticas Pblicas no Territrio. Nessa oficina, foram elaborados cenrios sobre os futuros mltiplos e possveis das polticas pblicas do DF at 2030, sob a tica da metodologia inovadora da Prospectiva Territorial, sendo a poltica de sade um dos destaques.

O estudo Contextos Temporal e Social da Dengue no DF mostra que a arma mais eficiente para o controle do Aedes Aegypti tem sido pouco discutida: a grande desigualdade social e estrutural presente em nosso territrio. Ainda que o mosquito esteja presente em todo o DF, as maiores incidncias ocorrem nas reas mais pobres, de forma sistemtica e crescente.

A II Pesquisa de Identificao e Percepo dos Usurios dos Restaurantes Comunitrios do DF, realizada pela Codeplan em parceria com a Secretaria de Estado de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos - SEDESTMIDH, retrata o perfil do usurio dessa poltica, seus padres alimentares e de atividade fsica, entre outros. Esse tipo de parceria j rotina na Codeplan, que opta por um modelo de trabalho em colaborao e integrao com rgos dos governos federal, distrital e dos municpios da AMB, para realizar estudos e pesquisas aplicveis melhoria da gesto, monitoramento e avaliao das polticas pblicas do Distrito Federal.

Por fim, o artigo sobre a Criao e Elaborao de Indicadores simples e precisos para mensurar a qualidade dos servios de sade no DF e AMB demonstra o compromisso em disponibilizar os estudos cientficos, a pesquisa e o planejamento em prol da gesto pblica da sade.

Agradecemos a contribuio dos colaboradores, gestores e articulistas da revista Braslia em Debate e convidamos voc, leitor, para se apropriar desse esforo coletivo.

Gesto Pblica de Sade no Distrito Federal

Braslia em Debate 5

Horrio de funcionamento (exceto SAMU)Segunda a sexta-feira: 7h s 21hSbados, domingos e feriados: 8h s 18h(*) De segunda a sexta-feira: 7h s 19h

Atendimento ao CidadoPela Central de Relacionamento do GDF, voc obtm informaes e orientaes,

faz sugestes e reclamaes sobre servios prestados pelo GDF.

A ligao gratuita

Combate corrupo - Registro de denncias de irregularidades em contratos e licitaes (*)0800-644-9060

SAMU - Servio de Atendimento Mvel de Urgncia - Atende s solicitaes telefnicas de urgncia da populao (24 horas)192Denncias - Ouvidoria do GDFOpo 2

Reclamaes, elogios, sugestes e solicitaes - Ouvidoria do GDFOpo 1

162

Doao de leite materno - Banco de Leite Humano, em parceria com o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito FederalOpo 4

Farmcia Ambulatorial Especializada - Agendamento para retirada de medicamentosOpo 3

Agendamento e solicitao de doao de sangue - Fundao Hemocentro de Braslia (*) Opo 2

Disque Sade - Ouvidoria da Secretaria de Sade Opo 1

160

Demais informaes do GDFOpo 9

Disque Idoso - Casos discriminatrios contra idosos (*)Opo 8

Disque Racismo - Casos discriminatrios tnico-racial Opo 7

Combate Violncia Contra a MulherOpo 6

Programas habitacionais, anlise de crdito, documentao para regularizao de lote - CODHABOpo 5

Horrios e itinerrios de nibus, Integrao, Passe livre - DF TransOpo 4

IPTU, IPVA, Nota Legal - Secretaria de Fazenda (*)Opo 3

Telematrcula (*), Ensino de Jovens e Adultos, DF Alfabetizado - Secretaria de EducaoOpo 2

Violao de direitos, trabalho infantil, explorao sexual, Bolsa Famlia, populao de rua - SedestOpo 1

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Os desafios da Secretaria de Sade, para promover uma reforma sanitria no DF

Entrevista - Humberto Fonseca

O dia a dia do Secretrio de Sade do Distrito Federal, Humberto Fonseca, uma correria. Envolto em telefonemas, compromissos, agenda lotada e assessores com demandas urgentes, ele gentilmente concede esta entrevista Braslia em Debate. Jovem, paulista, mdico, casado e pai de trs filhas, Humberto escolheu Braslia h 16 anos para sua Residncia e comanda, desde maro de 2016, uma das pastas mais importantes do Governo de Braslia.

Especialista em Medicina de Famlia e Comunidade, Medicina Paliativa e Clnica Mdica, foi mdico paliativista do Hospital de Apoio e do Hospital de Base do Distrito Federal. Humberto Fonseca tambm advogado, mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e pela New York University. Foi Procurador do Banco Central, Diretor do Sistema Integrado de Sade e Diretor-Geral Adjunto de Contrataes do Senado Federal, alm de ser Consultor Legislativo.

Com um currculo extenso, apesar da pouca idade (40), Humberto Fonseca taxativo quando o assunto a sade do brasiliense. Afirma que um dos seus desafios investir na melhoria e eficincia da gesto, frente escassez de recursos. A proposta fazer mais entregas populao com menos recursos. Segundo ele, a Secretaria de Sade tem muitos problemas e est longe de ser o que o povo precisa e merece. um desafio complexo porque o DF une atribuies de estado e municpio.

Hoje, cerca de 70% da populao do DF dependente do Sistema nico de Sade - SUS, esse ndice fica acima da mdia das capitais brasileiras. A converso da ateno primria em sade da famlia e a criao do Instituto Hospital de Base so as apostas da Secretaria para fazer frente situao de desequilbrio entre a disponibilidade de recursos e a demanda da populao. Para isso, j foi feita a organizao e capacitao das equipes e a transio da equipe de mdicos e especialistas focais para mdicos da famlia. Com essas aes, j subiu de 30% para 52% o percentual de atendimento e cobertura.

Quando o assunto dengue, Humberto Fonseca afirma que o DF uma das Unidades da Federao que mais reduziu essas doenas em 2017. Isso foi possvel com investimentos em aquisies de equipamentos, monitoramento da populao e parceria com o Programa Cidades Limpas. Quanto febre amarela, s houve um caso da doena esse ano, a melhor ferramenta de preveno a vacina e o DF tem mais de 95% de sua cobertura vacinal.

O Secretrio Humberto Fonseca finaliza sua entrevista citando: vamos desconstruir a cultura de fechamento de portas aos usurios do SUS no Distrito Federal. A equipe da Revista Braslia em Debate agradece a entrevista e deseja boa sorte ao Secretrio e aos trabalhadores da sade do Distrito Federal!

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DF

Braslia em Debate 7

BD - Quais os desafios da sade no Distrito Federal?

Humberto Fonseca - Fazer frente situao de desequilbrio entre disponibilidade de recursos e a enorme demanda da populao. O ndice de dependentes do SUS bate a casa dos 70% no DF, algo muito acima da mdia das capi-tais brasileiras. Estamos em um momento de crise econmica com uma retrao, h quase trs anos, de 8% do PIB brasileiro, o que afeta o Distrito Federal e todo o Brasil. A maior parte des-tes recursos vem do Fundo Cons-titucional. Portanto, preciso in-vestir na melhoria e eficincia da gesto frente escassez, entre-gando mais servios quem tem menos recursos.

BD - Houve avanos na gesto 2015-2018?

Humberto Fonseca - Sim, temos grandes programas em imple-mentao e que deixaro um legado de qualidade e eficin-cia em gesto pblica na rea da sade do DF. O primeiro a converso da ateno primria em sade da famlia: queremos que a populao busque ajuda na ateno primria, o que per-mite uma assistncia mais longi-tudinal. Tambm podemos citar o Instituto Hospital de Base, uma mudana de rumo em relao ao modelo de gesto, que d au-tonomia para resoluo de pro-blemas baseado em resultados, metas e indicadores. Esta fer-ramenta trar mais autonomia para o Base, com gesto de pes-soas mais eficiente.

Estamos promovendo a reforma do processo trabalhista urgncia, emergncia - hoje mais de 70% so pacientes classificados de baixo risco. Estamos mudando o

processo de trabalho dos prontos socorros para dar maior eficin-cia e desconstruir a cultura de fe-chamento de portas.

A regulao de servios de sa-de faz parte da gesto. Estamos criando por meio de um decre-to, o complexo regulador que vai permitir o controle e regulao de todos os servios de sade do DF. Fizemos um convnio com a Fiocruz que vai nos apoiar, inclu-sive nas ferramentas de tecnolo-gia da informao para gerar os dados necessrios para que con-sigamos fazer um planejamento adequado.

Outros exemplos que pode-mos citar. Promovemos um treinamento das equipes para aumentar a eficincia nas com-pras feitas pela administrao direta. A economia de R$ 260 milhes por ano nos cofres do GDF com os 197 preges feitos este ano. Alm da manuteno de mamgrafos, raios-X e apa-relhos de tomografia, dentre outras iniciativas.

BD - Quais as reas de maior vul-nerabilidade na sade do DF?

Humberto Fonseca - O principal problema o acesso fragmenta-do, feito por meio dos prontos socorros. O plano melhorar esse ndice de ateno primria com a converso. Outra grande questo o abastecimento, que est sendo resolvido com o apri-moramento dos processos de contrataes.

BD - O governador Rollemberg se empenhou para aprovar a Lei n 5.899, que institui o Institu-to Hospital de Base de Braslia. Como a populao ser benefi-ciada com as mudanas propos-tas na legislao?

Humberto Fonseca - O Instituto Base permitir total autonomia e dar as ferramentas necessrias para uma gesto eficiente, com manual prprio de contrataes, regido pela CLT e com trabalhos desenvolvidos a partir de orienta-o de metas e resultados.

BD - A rea Metropolitana de Braslia (AMB), composta pelos 12 municpios goianos adjacen-tes Braslia, acessam a sade e outras polticas no DF. Qual a sua percepo sobre essas ques-tes? O planejamento da sade, considera a AMB? Existe alguma iniciativa em curso?

Humberto Fonseca - Conside-ramos a Regio Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno - RIDE-DF nas nossas decises, todos os vinte e dois municpios. Isso aumenta a populao que co-brimos, principalmente para mdia e alta complexidade, em cerca de um milho e meio de habitantes. Fazemos o planeja-mento para trs milhes de ha-bitantes no DF mais um milho e meio da RIDE-DF. No pode-mos deixar de atender nenhum paciente que venha de outros locais que no do DF a no ser em relao a demanda progra-mada. A organizao da aten-o primria vai permitir tam-bm que organizemos melhor o fluxo de pacientes dentro do Distrito Federal. Continuare-mos atendendo emergncias e urgncias, como obrigao de qualquer unidade do SUS, mas a demanda programada precisa ser remetida para a Unidade da Federao que da sua compe-tncia, ou seja, feita pelos mu-nicpios. Com isso nos permiti-r melhor organizao da nossa rede de sade.

Braslia em Debate8

BD - Qual o modelo de governan-a que est sendo trabalhado com esses municpios?

Humberto Fonseca - Os supe-rintendentes das regies esto em contato direto com as Secre-tarias Municipais de Sade. Esse dilogo deve facilitar o fluxo de pacientes. Porm, o problema s ter soluo quando tiver-mos o pleno funcionamento da ateno primria, que funcione com cobertura adequada. Nos-so objetivo chegar em junho de 2018 com 75% de cobertura e implementao dos indicado-res monitorados por meio ele-trnico. Assim teremos maior eficincia e uma negociao mais clara, com informaes corretas e precisas, para nego-ciarmos melhor com os munic-pios da RIDE.

BD - Quais reas da sade so necessrias trabalhar em parce-ria com o governo de Gois?

Humberto Fonseca - Em todas as reas da sade a ateno prim-ria precisa ser feita pelos muni-cpios. Caso seja encaminhado para o DF, ter que ser pactuado, devido a desorganizao do aces-so e isso ainda no feito. Caso haja necessidade a Secretaria de Sade do Estado de Gois far um contato por meio do Trata-mento Fora de Domiclio (TFD), instrumento previsto na legisla-o do SUS que envolve os repas-ses de recursos.

BD - Qual o papel da pesquisa no planejamento e gesto da sade no Distrito Federal?

Humberto Fonseca - A Secretaria tem parceria com a Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Fundao de Ensino e Pesquisa em Cincias da Sade (Fepecs)

para a produo de informaes. Estamos tambm num processo de fortalecimento com a Codeplan, por meio de um Acordo de Cooperao Tcnica - ACT Fiocruz/Codeplan, para gerar informaes no DF e sua RIDE.

BD - A secretaria reorganizou a rede de sade bsica. Como foi esse processo?

Humberto Fonseca - Est ain-da no primeiro passo. Fizemos a transio da equipe de mdicos e especialistas focais para mdi-cos da famlia. A Sade da Famlia no s preveno, assistncia. O segundo passo foi em proces-sos de organizao e capacitao das equipes, que so formadas por um mdico, um enfermeiro, dois tcnicos de enfermagem e at cinco agentes comunitrios de sade. Com isso elevamos de 30% para 52% nosso percentual de atendimento e cobertura.

BD - Como essas mudanas vo beneficiar a populao?

Humberto Fonseca - Gerando responsabilidade e conhecimen-to das equipes pelo pblico. Buscamos tambm evitar do-enas por meio da preveno. Alm disso, importante res-saltar que a sade da famlia baseada em assistncia. Toda demanda espontnea que chega a uma unidade bsica de sade tem que ser classificada, aten-dida, se estiver no nvel correto de ateno, ou encaminhada a outros nveis, secundrio ou ter-cirio, pela prpria equipe de ateno primria. O processo tambm passa pela capacitao de equipes. Com 75% de cober-tura, meta a ser atingida at ju-nho de 2018, toda a populao vulnervel do Distrito Federal, dever ser alcanada.

BD - Diante das recentes epide-mias de Dengue, Zika, Chikun-gunya e surtos de Febre Amarela no pas, como o DF vem enfren-tando essas situaes?

Humberto Fonseca - Em 2016 ti-vemos uma grave epidemia de Dengue, Zika e Chikungunya. J em 2017 fomos a Unidade da Fe-derao que mais reduziu essas doenas. Foram adquiridos uma srie de equipamentos, carros, UBVs (carros de fumac) e feito um monitoramento da popula-o para diminuir os casos. Ago-ra, percebemos um aumento do soro tipo dois da Dengue, que um tipo mais grave. Tambm per-cebemos um aumento dos casos de Chikungunya que o que mais nos preocupa. Continuamos com esta ao de governo, por meio do Cidades Limpas, coordenado pela Secretaria das Cidades, para se fazer a preveno e evitar uma nova epidemia. Em relao Fe-bre Amarela somos uma regio co-berta por vacinas. S tivemos um caso da doena esse ano, que veio de Minas Gerais, ento a nossa po-pulao est bem coberta. Temos acima de 95% de cobertura vaci-nal, que a melhor ferramenta de preveno para Febre Amarela.

BD - O que o senhor pode dizer ao cidado brasiliense, usurio da sade pblica, que vive em longas filas de espera para ter acesso ao tratamento de suas necessidades?

Humberto Fonseca - Estamos promovendo uma verdadeira reforma sanitria no DF, para o acesso universal e integral sade, com novas ideias e muita disposio para trabalhar. Vamos estruturar a sade e deixar para o povo do DF um legado de quali-dade e de eficincia.

Braslia em Debate 9

O IPCA/Braslia acumulou, at agosto de 2017, variao de 1,96% e, nos 12 meses encerrados em agosto, alta de 3,99%. No Brasil, essas variaes foram de 1,62% e 2,46%, respectivamente. O resultado da inflao acumulada em 12 meses para o Brasil j est abaixo do limite inferior do intervalo de tolerncia de +/- 1,5 p.p, da meta de inflao estabelecida pelo Conselho Monetrio Nacional CMN: de 4,5% ao ano.

A trajetria de queda para atingir esse nvel comeou em janeiro de 2016. A inflao tem se mostrado to comportada que o CMN estabeleceu metas ainda mais baixas para 2019 (4,25% a.a.) e 2020 (4,00% a.a.). Como mostra o Grfico, a inflao de Braslia vem registrando variao acumulada em 12 meses, dentro do intervalo de tolerncia desta meta desde outubro de 2016, e a inflao brasileira desde dezembro de 2016.

Na anlise por grupos, destaca-se no ano, o grupo Sade e Cuidados Pessoais, que apresenta a maior alta em Braslia, com 4,78%. Esse resultado advm, principalmente, da elevao dos preos de servios mdicos e dentrios e de planos de sade que acumulam no ano alta de 3,93% e 8,89%, respectivamente. Alm desses, destacam-se os preos dos produtos frmacos, que so regulados e reajustados todos os anos em abril.

Em seguida, no acumulado do ano aparece o grupo Educao, com elevao de 4,72% nos preos. Este grupo pressionado principalmente pelos reajustes anuais que ocorrem, em geral, todo incio de ano em itens como cursos regulares (ensino fundamental, mdio e superior) e cursos diversos (cursos preparatrios, de idiomas, etc). Costumeiramente, esse aumento s ocorre uma vez por ano, de forma que a tendncia que essa presso seja reduzida ao longo do semestre.

De outro lado, a queda acumulada no ano registrada no grupo Artigos de Residncia (-1,48%). Essa deflao reflete a retrao no volume de vendas do comrcio varejista de itens como mveis (-2,28%) e aparelhos eletroeletrnicos (-1,82%).

Alm disso, houve variao acumulada de 0,22% no grupo Alimentao. Essa variao acumulada quase estvel reflexo do subgrupo alimentao no domiclio, que mostra queda de-3,41%, devido, em grande parte, boa safra registrada no perodo. Contudo, o subgrupo alimentao fora do domiclio, com alta de 5,22%, segurou a trajetria descendente, com os preos de lanches e de refeies liderando o resultado.

No acumulado em 12 meses, as maiores presses advm dos grupos Sade e Cuidados Pessoais (7,17%), devido aos valores de planos de sade e Transportes (6,88%), pressionado pelo aumento das tarifas de nibus urbano (25,0%), nibus interestadual (9,5%) e pela variao do preo dos combustveis de 8,08%.

Tabela - IPCA - ndice Nacional de Preos ao Consumidor Amplo - Variao por grupos - (%) - agosto de 2017 - Braslia

Grupo Variao acumulada (%)no ano em 12 meses

ndice geral 1,96 3,99Alimentao e bebidas 0,22 -0,40Habitao 2,63 6,30Artigos de residncia -1,48 -3,22Vesturio 1,25 3,30Transportes 1,71 6,88Sade e cuidados pessoais 4,78 7,17Despesas pessoais 3,03 6,02Educao 4,72 4,81Comunicao 1,31 1,28

Fonte: IBGE/Elaborao Codeplan/GECON-Nupre

Inflao acumulada no primeiro semestre de 2017 de 1,23% em Braslia

IPCA

(*) Clarissa Jahns SchlabitzGerente de Contas e Estudos Setoriais da Codeplan

Clarissa Jahns Schlabitz

Braslia em Debate10

Introduo

O suplemento da Revista Brasileira de Epidemiologia (RBE) publicado em maio de 2017 apresentou para gestores e pesquisadores o Estudo de Carga Global de Doena, Global Burden Disease (GBD), destacando a sua contribuio para a gesto em sade, os aspectos metodolgicos, assim como anlises de alguns resultados para o Brasil e Unidades da Federao1.

A adeso do Ministrio da Sade rede de estudos GBD, por meio do projeto GBD Brasil-2015, possibilitou a obteno de estimativas de mortalidade e morbidade fidedignas e comparveis para todo o pas e, em nvel subnacional, para as Unidades da Federao no perodo de 1990 a 2015 (SOUZA et al, 2017). Ainda que o pas tenha investido na produo de dados sobre mortalidade e morbidade nos ltimos 40 anos, ao longo desse perodo, a qualidade dos dados tem sido bastante varivel. Da mesma forma, as diferenas de qualidade dos dados, segundo as unidades da federao, trazem muitas dificuldades para obteno de indicadores, vlidos e confiveis, que expressem a situao de sade e avaliem o desempenho de polticas e programas (SOUZA et al, 2017).

O Estudo GBD, desenvolvido pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da Universidade de

1 O Suplemento da Revista Brasileira de Epidemiologia est dispo-nvel em: http://www.scielo.br/rbepid/

Estudo de Carga Global de Doena: mortalidade e morbidade entre 1990 e 2015

Artigo

Washington em Seattle, Estados Unidos, alm de propor mtodos de correo e estimao de indicadores clssicos de mortalidade e morbidade, avana no sentido de utilizar metodologia que integra esses indicadores de modo sistemtico para quantificar a magnitude comparativa da perda de sade decorrente de doenas, leses e fatores de risco por idade, sexo, local e em determinados pontos no tempo.

Essa abordagem prov um indicador composto que integra a morte prematura e o dano causado por doena, sequela ou deficincia, considerando-se diferentes nveis de gravidade de uma ou vrias doenas ao mesmo tempo (GBD 2015 MORTALITY AND CAUSES OF DEATH COLLABORATORS, 2016).

Assim, desde a primeira publicao do estudo GBD, h cerca de 20 anos, so estimadas mtricas referentes a um conjunto de agravos e sequelas segundo sexo e idade, que reforam a importncia da anlise epidemiolgica baseada em dados secundrios. Tais indicadores so teis para o planejamento, execuo e avaliao das aes de sade de pases e regies2.

2 Resultados dos indicadores do Estudo de carga global de doen-as para 195 pases e territrios agrupados em 21 regies geogrficas encontram-se disponveis em: Global Burden of Disease Study 2015 (GBD 2015) Results., Seattle, United States: Institute for Health Me-trics and Evaluation (IHME), 2016, http://ghdx.healthdata.org/gbd--results-tool.

Daisy Maria Xavier de Abreu

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ular Desde a adeso do Ministrio da

Sade rede de estudos GBD, que as estimativas de mortalidade

e morbidade so fidedignas e comparveis para o Brasil e UFs.

O Estudo permite qualificar anlises sobre as principais causas de morte, morbidade,

incapacidade/limitaes, fatores de risco e perda da sade.

IPCA

Braslia em Debate 11

Em nvel subnacional, o estudo de carga de doena tem assumido crescente importncia para a avaliao de sistemas de sade. A aplicao dos modelos do GBD para as unidades federativas do Brasil representa uma oportunidade privilegiada de utilizao para as polticas pblicas no pas.

Nesse contexto, o objetivo do presente artigo descrever os principais indicadores de carga doena no Brasil e no Distrito Federal em 1990 e 2015, a partir das estimativas produzidas para o Estudo GBD Brasil-2015.

Principais indicadores do estudo GBD

No Estudo, so geradas estimativas comparveis de vrios indicadores de sade (denominados mtricas), segundo idade, sexo, causa, ano e localizao geogrfica. Alm dos indicadores de nmero de bitos e taxas de mortalidade (padronizadas por idade e especficas por causas), so estimados: anos de vida perdidos (indicador de morte prematura) - YLL (Years of life lost due to premature mortality); anos de vida vividos com incapacidade - YLD (Years lived with disability) e um indicador que representa a soma de YLL e YLD - anos vividos com perda de sade - DALY (Disability adjusted life years). Este indicador considera tanto a morte prematura quanto o sofrimento por alguma incapacidade para mostrar o total de anos de vida saudvel perdidos por todas as causas (GBD BRASIL-2015, 2017).

Ainda que no apresentados neste artigo, vale ressaltar que todas as estimativas do Estudo GBD incluem os respectivos Intervalos de Incerteza de 95% (II 95%). Os intervalos de incerteza, diferentemente dos conhecidos Intervalos de Confiana (IC), incorporam erros devido amostragem, mtodo de estimao e especificao do modelo.

Como as estimativas dos vrios indicadores trabalhados no Estudo GBD so frutos de modelagem complexa que considera correo de dados devido a erros de cobertura, de declarao, entre outros erros, os resultados aqui apresentados podem diferir daqueles calculados diretamente a partir de dados de estatsticas vitais e populacionais publicados pelo Ministrio da Sade e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE. Mas, como a metodologia de estimao a mesma para todo o perodo, local, idade, sexo e causas, a comparabilidade no tempo e entre regies garantida.

Anlise de indicadores para o Brasil e DF

A Tabela 1 sumariza os principais indicadores da carga da doena no Brasil e no Distrito Federal em 1990 e 2015. Observa-se que o movimento muito semelhante, ou seja, a direo dos indicadores a mesma no Brasil e no Distrito Federal, apenas com diferenas nos nveis. Assim, o nmero de bitos aumentou, mas o risco sofreu reduo tanto para homens como mulheres no Brasil e Distrito Federal. O aumento do nmero de bitos no pas e no DF est associado ao processo de Transio Demogrfica, vivenciado pela populao brasileira, que tem como consequncia o envelhecimento populacional. Como tem-se um maior nmero de pessoas em idades mais avanadas, para as quais o risco de morte maior, o nmero total de bitos aumenta. um efeito de estrutura etria e no um efeito do aumento do risco de morte.

Esse fato corroborado pelo aumento da esperana de vida ao nascer e diminuio da taxa padronizada de mortalidade, com manuteno das diferenas entre os sexos, tanto no Distrito Federal como no Brasil. Os indicadores de morte prematura (YLL) ajustados por idade, mais elevados entre os homens,

Tabela 1 - Indicadores da carga global de doenas. Brasil e Distrito Federal (1990 e 2015)

IndicadoresDistrito Federal Brasil

Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total1990 2015 1990 2015 1990 2015 1990 2015 1990 2015 1990 2015

Nmero de bitos 3.605 7.044 2.533 6.466 6.138 13.511 534.116 772.909 377.201 584.525 911.317 1.357.434Taxas padronizadas de morte (por 100.000) 1189,60 810,90 770,70 485,90 943,00 613,98 1399,63 1008,54 869,62 609,56 1102,16 786,23

Esperana de vida ao nascer 68,10 74,20 74,60 81,20 71,97 79,06 64,20 70,70 71,80 78,20 67,87 74,40

YLL (por 1.000) 290,99 185,62 175,82 97,81 227,58 136,20 380,57 241,95 230,24 129,03 300,80 182,29YLD (por 1.000) 105,40 103,30 116,30 114,60 111,14 109,33 109,00 106,30 118,90 117,90 113,97 112,21

DALY (por 1.000) 397,19 289,84 293,02 213,43 339,42 246,33 489,07 348,18 349,30 247,40 414,49 294,54

Fonte: IHME, Global Burden of Disease Study 2015 (GBD 2015). Resultados para o Projeto GBD-Brasil 2015.

Braslia em Debate12

tambm apresentaram reduo importante para homens e mulheres mas, sobretudo entre estas ltimas. Estes trs indicadores evidenciam que os nveis de mortalidade no Brasil como um todo, so mais elevados do que no Distrito Federal. Em 2015, as esperanas de vida ao nascer para homens e mulheres eram 3,5 e 3,0 anos, respectivamente, mais elevadas no Distrito Federal do que no Brasil.

Quanto aos indicadores de incapacidade (YLD), estes so mais expressivos entre as mulheres e no apresentaram reduo importante entre 1990 e 2015. Isso significa que, apesar de maior longevidade, as mulheres vivem mais tempo com incapacidades. Observa-se tambm que, ao contrrio dos YLL, as diferenas entre as estimativas para todo o pas e o Distrito Federal so muito pequenas.

Como resultado da agregao dos dois indicadores anteriores (YLL e YDL), os DALYs tambm apresentaram reduo em 25 anos de observao, com as diferenas entre sexos observadas anteriormente.

Alm desses indicadores, o Estudo GBD-Brasil 2015 tem entre seus resultados a taxa de mortalidade em menores de 5 anos, ou mortalidade na infncia3. Esse indicador, de grande relevncia para as polticas pblicas, constituiu um dos Objetivos do Desenvolvimento do Milnio - ODM e integra o objetivo 3 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentvel. Entre 1990 e 2015, observa-se a relevante queda da taxa de mortalidade em menores de 5 anos no Brasil, como tambm no Distrito Federal. No Brasil, a reduo foi de 67,7%, passando de 52,5 a 17,0 bitos por 1000 nascidos vivos (Tabela 2). J no Distrito Federal, a reduo foi menor, em 44,7%, passando de 26,3 a 14,5 bitos por 1000 nascidos vivos (FRANA et al., 2017).

Como salientam Frana et al (2017), ainda que o Brasil e as Unidades da Federao tenham atingido a meta 4 dos ODM, com a reduo espetacular da mortalidade na infncia entre 1990 e 2015, os nveis atuais ainda so elevados quando comparados com outros pases com igual ou menor nvel de desenvolvimento socioeconmico. Alm disso, como a maior parte dos bitos na infncia ocorre no primeiro ano de vida (mortalidade infantil), concentrando-se no primeiro ms (mortalidade

3 A mortalidade na infncia relaciona o nmero de bitos em meno-res de 5 anos e o nmero de nascidos vivos ocorrido em um ano calen-drio. Observa-se que um dos componentes a mortalidade infantil que corresponde aos bitos ocorridos em menores de 1 ano.

neonatal), ressalta-se a importncia de considerar os fatores ligados gestao, ao parto e ao ps-parto, em geral prevenveis por meio de assistncia sade de qualidade para que se alcancem nveis ainda menores (FRANA et al., 2017).

No que se refere s principais causas de morte em 1990 e 2015 no Distrito Federal, a Figura 1 apresenta o ranking das taxas de mortalidade pelas 20 principais causas para ambos os sexos. Destaca-se que as quatro principais causas de morte se mantm entre 1990 e 2015, ainda que com reduo das taxas para estas causas, especialmente para as duas primeiras. So elas: doenas isqumicas do corao, doenas cerebrovasculares, infeces do trato respiratrio inferior e doena pulmonar obstrutiva crnica. Doenas crnicas como diabetes e doena renal crnica ganham destaque. A diabetes, por exemplo, passou da 7 maior causa de mortalidade para a 5 posio em 2015. Os bitos por complicaes neonatais e doenas diarreicas, que figuravam em 1990 na 14 e 19 posies, sofreram tambm importante reduo, caindo para as 27 e 36 posies, respectivamente. Outras doenas crnicas como cncer de traqueia, brnquios e pulmo, prstata e, tambm, o de clon e reto apresentaram um aumento de importncia, sendo que os dois ltimos tiveram tambm um aumento de risco. Essas mudanas no ranking das causas de morte esto associadas ao processo de transio demogrfica e epidemiolgica vivenciada por toda a populao brasileira. Neste processo, as doenas crnicas e no transmissveis, como as do corao, cerebrovasculares, renais e metablicas (diabetes) ganham em importncia em detrimento de doenas infecciosas e parasitrias.

Inclui-se tambm neste processo a queda da taxa de mortalidade na infncia mencionada anteriormente. A reduo da mortalidade na infncia est

Tabela 2 - Nmero de bitos e taxa de mortali-dade para menores de 5 anos por 1000 nascidos vivos. Brasil e Distrito Federal, 1990 e 2015

Regio/UF

1990 2015Varia-

o (%)n Taxa/ 1.000 nTaxa/ 1.000

DF 1.057 26,3 606 14,5 -44,7

Brasil 191.505 52,5 51.226 17,0 -67,7

Fonte: (FRANA et al., 2017) e IHME, Global Burden of Disease Study 2015 (GBD 2015), Resultados para o Projeto GBD-Brasil 2015

Braslia em Debate 13

estreitamente relacionada com a queda da taxa de mortalidade por complicaes neonatais e doenas diarreicas.

A permanncia entre as primeiras causas de morte das infeces do trato respiratrio inferior relacionadas tanto mortalidade nas primeiras idades, como entre os idosos evidencia que maiores cuidados nos tratamentos hospitalares de longa durao contribuiro para a reduo da mortalidade por essas causas. Tambm relacionadas ao processo de envelhecimento da populao verifica-se maior importncia de doenas como Alzheimer e outras demncias, com pequena reduo do risco entre 1990 e 2015.

As causas externas e HIV/AIDS completam o quadro das 20 principais causas de morte no Distrito Federal. Por um lado, HIV/AIDS que ocupava a 42 posio em 1990 passou para a 17 em 2015. Por outro lado, as causas externas permanecem entre as principais causas de morte: violncia interpessoal e acidentes de trnsito ocupam a 7 e 8 posies em 2015, respectivamente, embora o risco de morte por acidentes de trnsito tenha apresentado uma reduo expressiva, fato que no ocorreu com a violncia interpessoal.

Sobre o indicador de anos de vida perdidos por morte prematura e incapacidade (DALY), a Figura 2 mostra a variao de sua taxa segundo idade para 1990 e 2015 para o Brasil e Distrito Federal. Como esperado, a taxa DALY mais elevada nas idades extremas, quando os riscos de morte so mais elevados. A partir do grupo etrio de 5 a 9 anos, a taxa aumenta continuamente. Para o perodo analisado, houve reduo dos nveis desse indicador sobretudo entre menores de 5 anos (mortalidade na infncia) e entre adultos (30 anos ou mais). A reduo da taxa DALY nas primeiras idades mais acentuada no Brasil do que no Distrito Federal, enquanto que para as idade adultas e entre os idosos, o Distrito Federal apresenta maior reduo que o pas como um todo.

Observa-se, por outro lado, que tanto no Brasil como no Distrito Federal, que a taxa DALY nas idades jovens manteve-se em nveis muito prximos, indicando que no houve reduo importante da ocorrncia de bitos ou de incapacidades nessas idades. Duas causas esto mais associadas ocorrncia de morte ou incapacidade nas idades jovens: violncia interpessoal e acidentes de trnsito. Ressalva-se, porm, que no Distrito Federal h uma maior reduo da taxa DALY entre as idades de 20 a 29 do que no pas como um todo, o que deve estar associado reduo da taxa de mortalidade por acidentes de trnsito.

No que se refere a fatores de risco, que se constitui outro componente importante na anlise da carga de doena, um estudo realizado com as estimativas do Brasil e Unidades da Federao indica que a dieta inadequada ocupou o primeiro lugar e em seguida a presso arterial sistlica elevada. No caso

do Distrito Federal, o tabagismo o segundo fator de risco mais importante. A glicemia de jejum elevada e o uso de lcool e drogas ocupam o quarto e quinto lugares respectivamente, indicando que, para vrios grupos de fatores de risco, devem se direcionar polticas pblicas e intervenes que beneficiariam a populao, principalmente aquelas voltadas para fatores de risco modificveis (MALTA et al, 2017)

Comentrios Finais

As anlises sobre o processo de mudana do perfil de adoecimento e morte da populao brasileira podem ser mais elaboradas, utilizando novas mtricas do nvel de sade da populao. O Estudo GBD permite qualificar tais anlises sobre as principais causas de morte, morbidade, incapacidade/limitaes, fatores de risco e perda da sade. Os resultados aqui apresentados pretendem estimular a disseminao desta abordagem nas anlises epidemiolgicas no Brasil e, especialmente, no Distrito Federal.

As causas externas e HIV/AIDS completam

o quadro das 20 principais causas

de morte no Distrito Federal. Por um lado, HIV/AIDS

que ocupava a 42 posio em 1990

passou para a 17 em 2015. Por outro lado,

as causas externas permanecem entre

as principais causas de morte: violncia

interpessoal e acidentes de trnsito ocupam a 7 e 8 posies em 2015,

respectivamente.

Braslia em Debate14

Figura 1 - Taxas padronizadas de mortalidade (por 100,000) das 20 principais causas de morte. Ambos os sexos. Distrito Federal, 1990 e 2015.

1990 2015N Causas de Morte Taxas N Causas de Morte Taxas

1 Doena isqumica do corao 165,00 1 Doena isqumica do corao 77,852 Doenas cerebrovasculares 123,62 2 Doenas cerebrovasculares 63,593 Infeces do trato respiratrio inferior 49,00 3 Infeces do trato respiratrio inferior 34,304 Doena pulmonar obstrutiva crnica 47,61 4 Doena pulmonar obstrutiva crnica 28,575 Alzheirmer e outras demncias 40,46 5 Diabetes mellitus 24,376 Acidentes de trnsito 39,63 6 Alzheirmer e outras demncias 37,107 Diabetes mellitus 33,44 7 Violncia interpessoal 21,658 Violncia interpessoal 22,64 8 Acidentes de trnsito 18,889 Doena hipertensiva do corao 21,92 9 Doena renal crnica 17,43

10 Doena renal crnica 18,17 10 Cncer da traquia, brnquios e pulmo 15,4411 Cncer da traquia, brnquios e pulmo 17,51 11 Doena hipertensiva do corao 10,1212 Cncer do estmago 16,47 12 Cncer de prstata 11,1413 Cardiomiopatia e miocardite 15,16 13 Cncer do colon e reto 12,1314 Complicaes neonatais de parto prematuro 13,51 14 Cncer do estmago 8,8115 Quedas 12,59 15 Cardiomiopatia e miocardite 14,4816 Cncer de prstata 11,84 16 Outras doenas cardiovasculares e circulatrias 6,6017 Cirrose e outras doenas do fgado devido ao uso do lcool 11,10 17 HIV/AIDS 6,1418 Cncer do colon e reto 10,85 18 Cirrose e outras doenas do fgado devido ao uso do lcool 7,7419 Doenas diarricas 10,31 19 Quedas 12,1620 Cncer de mama 9,64 20 Cncer de mama 9,3521 Outras doenas cardiovasculares e circulatrias 7,87 27 Complicaes neonatais de parto prematuro 5,2142 HIV/AIDS 3,57 36 Doenas diarricas 2,03Fonte: IHME, Global Burden of Disease Study 2015 (GBD 2015). Resultados para o Projeto GBD-Brasil 2015.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

< 5 5 -9 10 - 14 15 - 19 20 - 24 25 - 29 30 - 34 35 - 39 40 - 44 45 - 49 50 - 54 55 - 59 60 - 64 65 - 69 70 - 74 75 - 79 80 e +

DALY

(Tax

a)

Brasil - 1990 DF - 1990 Brasil - 2015 DF - 2015

Figura 2 - Variao da taxa Daly, segundo idade. Brasil e Distrito Federal, 1990 e 2015.

Braslia em Debate 15

Artigo

(1) Daisy Maria Xavier de AbreuPesquisadora do Ncleo de Educao em Sade Coletiva, Universidade Federal de Minas Gerais

(2) Ana Maria Nogales VasconcelosDiretora de Estudos e Polticas Sociais - Dipos/Codeplan e Professora da Universidade de Braslia

(3) Renato Azeredo TeixeiraPesquisador do Grupo de Pesquisa em Epidemiologia e Avaliao de Servios da Universidade Federal de Minas Gerais

(4) Maria de Ftima Marinho de SouzaProfessora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

(5) Elisabeth Barboza FranaProfessora da Universidade Federal de Minas Gerais

Referncias bibliogrficas

FRANA, EB et al. Principais causas da mortalidade na infncia no Brasil, em 1990 e 2015: estimativas do estudo de Carga Global de Doena. Rev. bras. epidemiol., maio 2017, vol.20, suppl.1, p.46-60. ISSN 1415-790X.

GBD 2015 MORTALITY AND CAUSES OF DEATH COLLABORATORS. Global, regional, and national life ex-pectancy, all-cause mortality, and cause-specific mortality for 249 causes of death, 1980-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015. Lancet 2016; 388(10053): 1459-544.

GBD BRASIL-2015, Estudo de carga global de doena 2015: resumo dos mtodos utilizados. Rev Bras Epidemiol 2017; 20 supp 1: 4-20.

IHME, Global Burden of Disease Study 2015 (GBD 2015). Resultados para o Projeto GBD-Brasil 2015, Seattle, Estados Unidos, 2016.

MALTA DC et al. Fatores de risco relacionados carga global de doena do Brasil e Unidades Federadas, 2015. Rev Bras Epidemiol 2017; 20 supp 1: 217-232.

SOUZA, MF et al., Carga da doena e anlise da situao de sade: resultados da rede de trabalho do Global Burden of Disease (GBD) Brasil. Rev. bras. epidemiol., maio 2017, vol.20, suppl.1, p.1-3. ISSN 1415-790X

Autores

Braslia em Debate16

Perfil socioeconmico e aspectos da sade dos usurios dos RCs no DF

Artigo

Introduo1

A Segurana Alimentar e Nutricional (SAN) um direito garantido pela Constituio Federal brasileira, sendo que o Estado o responsvel na garantia de que todos tenham acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais (BRASIL, 2003). A Lei Orgnica de Segurana Alimentar e Nutricional - LOSAN, sancionada em 2006, criou o Sistema de Segurana Alimentar e Nutricional - SISAN, com o objetivo da realizao da SAN no pas. Tal sistema deveria ser formado por uma rede de iniciativas, programas e aes intersetoriais (GODOY et al, 2014), com trs principais eixos de atividades: (1) a ampliao das condies de acesso aos alimentos por meio da produo, provenientes da agricultura tradicional e familiar; (2) a conservao da biodiversidade e utilizao sustentvel dos recursos e (3) a promoo da sade, nutrio e da alimentao da populao, incluindo-se grupos populacionais especficos e populaes em situao de vulnerabilidade social. Como parte do ltimo eixo, se encontram

1 O artigo apresenta dados preliminares da II Pesquisa de Identifi-cao e Percepo dos Usurios dos Restaurantes Comunitrios do Distrito Federal.

os Restaurantes Comunitrios - RCs2 que visam oferta universal de refeies balanceadas e dentro das regras sanitrias a preos acessveis, com intuito de contemplar os grupos que sofrem de insegurana alimentar (GODOY et al, 2014). No Distrito Federal, os RCs iniciaram antes mesmo da criao do SISAN e, atualmente, 14 unidades esto localizadas em diferentes Regies Administrativas - RAs, com cerca de 500 mil refeies servidas por ms.3 No Distrito Federal, os RCs promovem o acesso alimentao adequada, sempre procurando respeitar as caractersticas culturais e hbitos alimentares da regio (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, 2012). Alm disso, eles seguem o padro de outros municpios, estando localizados em reas de grande circulao de pessoas, geralmente perto de outros equipamentos pblicos, que facilitem o acesso de seu pblico-alvo: trabalhadores de baixa renda e populao em situao de vulnerabilidade social.

O principal objetivo deste artigo apresentar o perfil dos usurios dos RCs do Distrito Federal,

2 Esses equipamentos tambm so conhecidos como Restaurantes Populares.3 Contagem do ms de junho de 2017.

Equipe Dipos/Codeplan

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Braslia em Debate 17

seus padres de alimentao e de atividade fsica, assim como a presena de diagnsticos mdicos de Doenas Crnicas No-Transmissveis e de seus principais fatores de riscos entre esses usurios. Os dados utilizados so provenientes da II Pesquisa de Identificao e Percepo dos Usurios dos Restaurantes Comunitrios do Distrito Federal, realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal - Codeplan, em parceria com a, Secretaria Adjunta de Desenvolvimento Social, Subsecretaria de Segurana Alimentar e Nutricional da Secretaria de Estado de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos - SEDESTMIDH, nos meses de junho e julho de 2017, com intuito de aprimorar aes e atividades de SAN nesses equipamentos.

Perfil do usurio

A pesquisa entrevistou 7.083 indivduos, com idade igual ou superior a 14 anos, que compraram refeies e/ou marmitas em um dos RCs. A coleta de dados seguiu um plano amostral probabilstico estratificado, garantindo representatividade para cada um dos 14 restaurantes visitados.

O pblico masculino prevaleceu como usurio dos RCs, 65% dos entrevistados eram homens. Ao serem questionados sobre sua raa/cor, 55,6% se declararam pardos, 26,7% se autodeclararam brancos, 15,3% informaram serem pretos, 1,41% se identificaram como amarelos e 0,8% informaram ser indgenas. Ao se comparar raa/cor autodeclarada dos usurios dos RCs com a informada pelos moradores do DF, com renda familiar per capita de at 2 salrios mnimos4, Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios - PNAD de 2015, identifica-se diferenas entre esses dois grupos. A maior diferena observada foi de 7 p.p. para o grupo que se declara branco. Na PNAD 2015, 33,6% dos moradores do DF se autodeclararam brancos, 55% pardos, 11,9% pretos, 0,23% amarelos e 0,12% indgenas.

No que se refere idade, h diferenas entre o perfil etrio dos usurios de cada RCs. De forma geral, em todas as unidades, mais de 50% do pblico atendido est na faixa etria de 30 a 59 anos. As principais diferenas no perfil etrio dos usurios esto entre a populao jovem (entre 14 e 29 anos de idade) e idosos (acima de 60

4 Recorte utilizado para identificar populao de baixa renda

anos de idade). Os restaurantes da Ceilndia e Gama atendem um maior percentual de idosos, 32% e 27%, respectivamente. No atendimento populao jovem se destacam os RCs do Itapo (32%), Riacho Fundo (26%), So Sebastio (26%) e Santa Maria (26%). Esses dados refletem a composio etria dessas RAs, pois regies como Ceilndia e Gama tm ocupao territorial mais antiga em comparao com Itapo, Riacho Fundo e Santa Maria.

Ao serem questionados sobre o curso mais elevado que frequentaram, 38,4% dos usurios dos RCs declararam ter cursado o Ensino Fundamental, 43,1% frequentaram o Ensino Mdio e 13,6% cursaram o Ensino Superior. Os dados coletados sobre ocupao ressaltam a precariedade do vnculo de trabalho de grande parte dos usurios. Identificou-se que 13,2% dos entrevistados se declararam desempregados, 28,4% estavam desocupados (aposentados e pensionistas, do lar e estudantes), 25,4% se declaravam servidores pblicos ou empregados com carteira assinada e 33% possuam uma ocupao precria (assalariado sem carteira assinada e autnomo). Observa-se que esses dados confirmam o perfil de baixa escolaridade do pblico atendido e a precariedade do vnculo ocupacional, principais fatores de vulnerabilidade. Outro fator que refora essa percepo de vulnerabilidade foi o fato de 16% do pblico atendido nos RCs ser beneficirio do Programa Bolsa Famlia.

Por fim, quanto quantidade de vezes na semana em que o usurio almoa em um RC, mais de 70% relataram almoar mais de trs vezes na semana, sendo que 30% deles almoam nos RCs seis vezes na semana, ou seja, em todos os dias que a unidade est aberta. Identificou-se um percentual pequeno, 3,18%, de usurios que relatou ser a primeira vez que almoavam em um Restaurante Comunitrio.

Hbitos de Alimentao e de Atividade Fsica

A alimentao inadequada e a falta de exerccios fsicos esto entre os principais riscos da carga de doena no Brasil, segundo o Estudo Global de Carga de Doenas de 2015 (IHME, 2017). Dessa maneira, a anlise das informaes de hbitos de alimentao e de atividade fsica dos usurios dos RCs visa a entender como vive sua populao frequentadora e busca mostrar os fatores de riscos que podem impedi-la de desfrutar uma vida saudvel e produtiva. Dessa maneira, foram

Braslia em Debate18

elaboradas perguntas relacionadas aos hbitos de alimentao5 e prtica de atividade fsica6 baseadas em inquritos de sade nacionais, como a Pesquisa Nacional de Sade - PNS e o Vigitel - Sistema de Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico.

Os marcadores de hbitos de alimentao e de atividade fsica so relacionados aos dados sciodemogrficos da populao que frequenta os RCs7. O consumo inadequado de frutas e hortalias8 foi reportado por 32,5% dos seus frequentadores, sendo que a maior frequncia foi de homens (34,3%), de indivduos jovens (38,3%) e da populao que tem somente a alfabetizao (42,3%). Esse consumo tambm foi notado, com maior frequncia, nos usurios com raa/cor autodeclarada parda (34,9%). Tal resultado foi percentualmente inferior prevalncia do consumo inadequado de frutas e hortalias de 47,5% para a populao adulta do Distrito Federal, de acordo com estudo elaborado por Jaime et al (2015)9.

Em relao ao consumo regular de refrigerantes ou sucos artificiais, 29,4% dos usurios dos RCs disseram consumir esses itens em frequncia igual ou maior a cinco dias por semana, sendo essa proporo maior de homens (31,5%) e jovens (40,2%). Alm disso, o consumo regular de refrigerante e suco artificial foi mais frequente entre os usurios que tm o Ensino Fundamental como curso mais elevado (31,5%). Esse nmero foi superior a indicadores semelhantes que auferiam o consumo regular de refrigerantes e sucos artificiais, como a PNS 2013 e a Vigitel 2016 que reportaram, respectivamente, o consumo regular dessas bebidas de 23,2% e de 12,7% para a populao do Distrito Federal (VIGITEL, 2016; CLARO et al, 2015).

5 As perguntas se referiram ao nmero de dias de: (i) consumo de frutas ou hortalias por semana, (ii) de consumo de refrigerante ou suco artificial, (iii) de consumo de alimentos doces, tais como bolos ou tortas, balas, chocolates balas ou bolachas e (iv) troca do almoo ou jantar por lanches, como salgados, sanduches ou pizza.6 Essa pergunta se referiu ao nmero de dias por semana que pratica atividade fsica, incluindo atividade domstica pesada ou ocupao que exigisse esforo fsico. 7 Como a quantidade de indivduos que se autodeclararam como amarelos ou indgenas foi pequena na amostragem da pesquisa, op-tou-se por no apresent-los nesse artigo.8 O consumo inadequado de frutas e hortalias foi considerado como igual ou menor a quatro dias por semana.9 Cabe ressaltar que esse estudo levou em considerao a quantida-de de frutas e hortalias consumida por dia e por dias da semana, dife-rentemente da pesquisa dos RCs que perguntou somente a quantidade de frutas e hortalias consumidas em dias da semana.

O consumo regular de alimentos doces tambm foi reportado por 17,8% dos usurios dos RCs, sendo que esse ndice foi maior para as mulheres (18,1%), entre os jovens (27,9%) e com o Ensino Mdio como curso mais elevado (19,4%). Esse resultado foi percentualmente inferior aos auferidos pela Vigitel 2016, que constatou um consumo regular de doces de 19,4% para a populao adulta do Distrito Federal (VIGITEL, 2016).

Em se tratando do hbito de trocar o almoo ou o jantar por lanches10, 3,24% dos entrevistados disseram fazer essa troca durante cinco ou mais dias da semana. O consumo regular de lanches foi mais frequente entre as mulheres (3,4%) jovens (4,9%) e com o Ensino Mdio como curso mais elevado (3,6%). Esse resultado foi menor que as estatsticas similares em relao troca de refeies por lanches pela populao do Distrito Federal calculadas pela PNS (10,6%) e pela Vigitel 2016 (17,0%) (BRASIL, 2014; VIGITEL, 2016).

Quanto aos hbitos de atividade fsica, 47,7% dos entrevistados disseram realizar algum tipo de atividade fsica de zero a dois dias por semana. Essa realidade contrasta com a recomendao da Organizao Mundial da Sade que sugere a prtica de atividade fsica moderada de pelo menos 150 minutos por semana (WHO,2011). Os usurios que praticam atividade fsica de zero a dois dias da semana foram mais frequentes entre as mulheres (53,4%), com idade entre 14 e 29 anos (50,6%) e com o curso mais elevado sendo a alfabetizao (53,5%).

Principais riscos e Doenas Crnicas No-Trans-missveis entre usurios dos RCs

As Doenas Crnicas No-Transmissveis - DCNT so doenas multifatoriais, desenvolvendo-se ao decorrer da vida e com longa durao (BRASIL, 2014), sendo elas as principais causas de mortalidade e de incapacidade prematura no Brasil (OPAS, 2017). Entre os principais grupos de DCNT esto as doenas circulatrias, respiratrias crnicas, diabetes e cncer (BRASIL, 2011) e os seus principais riscos intermedirios so a hipertenso arterial, o colesterol elevado, o sobrepeso e a obesidade (BRASIL, 2014). A presente pesquisa procurou verificar a frequncia de diagnstico

10 Nessa pergunta, os lanches se referiam a sanduches, salgados ou pizzas.

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mdico de diabetes, hipertenso arterial, colesterol elevado, alm de sobrepeso e obesidade entre usurios dos Restaurantes Comunitrios.

Entre os entrevistados, 20,8% informaram que j obtiveram um diagnstico prvio de hipertenso arterial, com maior proporo para mulheres (24,8%), idosos (46,6%), com apenas a alfabetizao como curso mais elevado (39,7%) e populao autodeclarada como branca (24,2%). Esse nmero prximo do mesmo indicador auferido pela Vigitel em 2016 (21,7%) e pela prevalncia de hipertenso autorreferida baseada nos dados da PNS 2013 (19,7%), ambos tendo como base a populao adulta do Distrito Federal (VIGITEL 2016; ANDRADE et al 2015).

No caso de diabetes, 9,7% dos usurios dos RCs entrevistados reportaram apresentar diagnstico prvio, com proporo maior de mulheres (11,8%), idosos (22,7%), indivduos que possuem apenas a alfabetizao (20,5%) e com a raa/cor autodeclarada branca (11,7%). Nesse caso, a frequncia de diabetes foi percentualmente superior frequncia calculada pela Vigitel 2016 (8,6%) e pela prevalncia obtida com dados da PNS 2013 (6,5%), sendo que ambas estatsticas so para a populao adulta do Distrito Federal (VIGITEL 2016; ISER et al, 2015).

J o diagnstico mdico de colesterol elevado foi reportado por 9,1% dos entrevistados, com a maior proporo de mulheres (13,2%), idosos (20,3%) e de indivduos somente alfabetizados (15,46%). Esse indicador foi percentualmente menor que o constatado para a populao adulta brasileira (12,5%), conforme dados da PNS 2013 (BRASIL, 2014).

No que tange ao sobrepeso e obesidade, 12,9% autodeclararam o diagnstico, sendo a proporo maior para mulheres (18,6%), adultos (14,6%) e os que tinham o Ensino Superior como curso mais elevado (15,8%). Esse resultado foi menor que os nmeros da Vigitel 2016 para o DF, com estatsticas que mostraram a existncia de 48,8% de adultos com excesso de peso e 16,7% com obesidade. Uma explicao para essa diferena seria que a pesquisa em tela no incluiu informaes de peso ou altura autorreferidas em seu questionrio, como feito pela Vigitel. Dessa maneira, os resultados da pesquisa indicariam que a maioria dos usurios dos RCs pode estar mal informada quanto a sua real condio fsica devido falta de diagnstico mdico.

Consideraes Finais

Os resultados obtidos pela pesquisa confirmam que os RCs esto cumprindo seu objetivo ao fornecer alimentao balanceada sua populao-alvo: trabalhadores de baixa renda e indivduos em situao de vulnerabilidade social. De forma geral, observa-se a baixa qualificao e a precariedade da ocupao dos usurios das unidades, assim como o atendimento de pessoas beneficirias do Programa Bolsa Famlia. Outro ponto que chama a ateno o maior atendimento de populao idosa em RCs em regies com ocupao territorial mais antiga, como as RAs do Gama e de Ceilndia.

Quanto aos hbitos de alimentao e de atividade fsica dos usurios dos RCs, a frequncia do consumo inadequado de frutas e hortalias, do consumo regular de doces e da troca regular de refeies por lanches foram menores do que os resultados de estudos anteriores para a populao adulta do Distrito Federal. Esse fato indica que os usurios do RCs apresentam hbitos mais saudveis nesses marcadores de alimentao em comparao com o resto da populao do Distrito Federal. Todavia, isso no se repetiu nos casos do consumo regular de refrigerantes e sucos artificiais e na quantidade de dias dedicados atividade fsica, sendo necessrios estudos especficos nesses temas que possam subsidiar a definio das aes de Promoo Sade para essa populao.

Em relao s frequncias das DCNT e seus riscos, enquanto os resultados auferidos para a hipertenso arterial seguiram a tendncia de estudos referentes populao do DF, o mesmo no aconteceu para a diabetes, o sobrepeso e a obesidade, que apresentaram resultados diferentes em comparao a estudos anteriores para o Distrito Federal. No caso da diabetes, a maior frequncia dessa DCNT (9,6%) sobre os usurios dos RCs em relao populao do DF exigiria ateno sade com foco no grupo em situao de vulnerabilidade que atendido pelos Restaurantes Comunitrios. No caso dos indicadores de sobrepeso e obesidade, como dito anteriormente, os resultados da pesquisa foram inferiores ao de pesquisas anteriores para a populao do DF, sendo que isso poderia refletir uma m compreenso de sua real condio fsica dos usurios dos Restaurantes Comunitrios.

Os RCs so importantes equipamentos na Poltica de Segurana Alimentar e Nutricional no Distrito Federal. Por meio deles os usurios garantem o

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(*) Diretoria de Estudos e Polticas Sociais - DiposDiretora Ana Maria Nogales Vasconcelos

acesso de pelo menos uma refeio balanceada por dia, com arroz, feijo, legumes, verduras, carne ou peixe. De uma forma geral, a frequncia dos usurios aos RCs foi elevada, mais de 70% dos entrevistados almoavam nos RCs mais de trs vezes na semana. O cenrio encontrado se mostra positivo para que o Governo utilize os RCs como unidade que possa integrar aes intersetoriais que promovam a sade e a nutrio da populao usuria do equipamento.

Agradecimentos:

Agradecemos aos colegas da Secretaria Adjunta de Desenvolvimento Social que apoiaram e colaboraram na execuo da pesquisa: Thais Mandarino de Albuquerque, Thiago Carvalho Santos, Pedro Mader Gonalves Coutinho e Letcia Ohane Miranda.

Referncias bibliogrficas

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WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global Recommendations on Physical Activity for Health. Disponvel em: . Acesso em 03 de agosto de 2017

TcnicosLdia Cristina Barbosa, Rebeca Carmo de Souza Cruz, Elisete Rodrigues de Souza, Maria de Ftima Rolim Siqueira, Ana Maria Peres Frana Boccucci, Mnica Oliveira Marques Frana, Mrcia Roberta Vieira Matos, Giovanna Valadares Borges, Marina Barros de Oliveira, Felipe da Rocha Ferreira e Pamela Queiroz Folha

Autores

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A Regionalizao da Gesto da Sade no DF: o caminho para a ponta virar centro

Leila Gottens

Artigo

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eite Dada a singularidade de Cidade-

Estado, a Regionalizao em Sade do DF enfrenta, entre outras,

as dificuldades de envolvimento dos atores de todas as esferas de

ateno e de gesto. Para o alcance da integralidade do cuidado, preciso superar a situao de

isolamento organizacional das unidades de sade.

Introduo

Os objetivos deste artigo so apresentar os fundamentos da proposta de regionalizao da sade do DF, descrever etapas j cumpridas desse processo de regionalizao/ descentralizao/territorializao e apontar os novos desafios.

Desde que a Constituio Federal estabeleceu as diretrizes do Sistema nico de Sade - SUS, vm sendo institudas normas e programas com a finalidade de organizar Redes de Ateno Sade - RAS, portas de entrada e servios de referncia, com vistas a ampliar o acesso e a utilizao dos servios disponveis com eficincia progressiva (SILVA; GOTTEMS, 2016; TREVISAN; JUNQUEIRA, 2007). Decorridos mais de 20 anos, foi publicado o Decreto n 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamentou a Lei n 8080/1990, reforando que o acesso universal, igualitrio e ordenado aos servios de sade se inicia pela Ateno Primria Sade -APS e outras portas de entrada e se completa na rede regionalizada e hierarquizada, de acordo com a densidade tecnolgica dos servios (TREVISAN; JUNQUEIRA, 2007; CUNHA, 2015). Avana-se com diretrizes para a organizao de sistemas integrados capazes de promover a integralidade da ateno sade da populao e de tornar custo/efetivo os gastos crescentes dos sistemas de sade.

As RAS so concebidas como a articulao entre os estabelecimentos e servios de sade de determinado territrio, organizando-os sistemicamente para que os diferentes servios estejam articulados e adequados para o atendimento integral aos usurios e a promoo da sade da comunidade (SILVA, 2013, p. 81). Com essa concepo, busca-se estabelecer processos de compartilhamento de objetivos, recursos, riscos e valores entre os atores em um determinado territrio, para garantir percursos assistenciais seguros populao, conforme as suas diferentes necessidades de sade ao longo da vida (MAGALHES JR, 2015). Essas diretrizes visam superar a concepo fragmentada e atomizada de nveis de ateno no SUS que, por anos, vem sendo adotada na formulao, planejamento, gesto e no financiamento da sade. Ao mesmo tempo, refora-se a relevncia da organizao dos territrios para conformar Regies de Sade, assim como a relevncia da ateno bsica como articuladora principal do sistema de sade.

O retorno ao territrio ocupado, no dizer de Milton Santos, o gegrafo das cidades e da cidadania, se d por fora da histria, transfixa administraes ao longo do tempo, resistindo a maioria das vezes, mas contribuindo com iniciativas em prol da res publica e do bem-estar

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O territrio , assim, um espao

singularizado, com limites que podem ser

poltico-administrativos ou de ao de um

determinado grupo de atores sociais.

Entretanto, deve ser caracterizado por

certa homogeneidade, identidade histrica e cultural, que favorea

a ao dos poderes de atuao tanto do

Estado, como de seus cidados.

social (SANTOS, 2009). Nesse percurso, os habitantes e trabalhadores da sade, desterritorializados de outras origens, vo se reconhecendo e interagindo de modo a constituir uma nova territorialidade e assim conformar sua identidade individual e coletiva, protagonistas da sua prpria reterritorializao. Territorialidade transcende a simples relao homem-territrio e a demarcao de parcelas individuais de espao e incorpora a relao social entre os homens. Dessa forma, a territorialidade seria um conjunto de relaes que se originam em um sistema tridimensional sociedade-espao-tempo em vias de atingir a maior autonomia possvel, compatvel com os recursos do sistema (RAFFESTIN, 1993). O reconhecimento da dinmica social, dos hbitos e costumes de grande importncia para a determinao de vulnerabilidades, originadas nas interaes de grupos sociais em determinados espaos geogrficos (MONKEN, 2005).

No planejamento e na gesto em sade, a delimitao das Regies de Sade requer a aplicao de parmetros que considerem os espaos territoriais bem definidos e gerenciveis, onde as necessidades de sade possam ser regularmente identificadas e os servios racionalmente planejados e monitorados (MENDES, 2010). O reconhecimento do territrio deve permitir identificao dos fatores que determinam a sade e a doena e assim proporcionar o estabelecimento de relaes de cooperao intersetorial, seja no sentido de reforar aes promotoras de bem-estar, evitar a gerao do mal-estar ou mitigar os efeitos de aes inevitveis mediante parcerias com usurios, familiares e comunidades, at a sociedade em geral. O territrio , assim, um espao singularizado, com limites que podem ser poltico-administrativos ou de ao de um determinado grupo de atores sociais. Entretanto, deve ser caracterizado por certa homogeneidade, identidade histrica e cultural, que favorea a ao dos poderes de atuao tanto do Estado, como de seus cidados (GODIM et al., 2008).

O DF, como nica Unidade da Federao que rene as funes de Estado e Municpio, tem seguido uma trajetria na contramo dos princpios do SUS, com uma populao de 2,9 milhes de habitantes e 31 Regies Administrativas que no seguem a lgica sanitria adotada no Pas. Cita-se que o arcabouo legal e infralegal nacional que define diretrizes para a regionalizao/descentralizao, no contempla plenamente as particularidades

poltico-administrativas do Distrito Federal, vez que no artigo 205 da Lei Orgnica do DF prev-se a descentralizao administrativa das aes e servios pblicos de sade para as Regies Administrativas.

Com efeito, a SES-DF, aps desativar a Fundao Hospitalar e assumir todas as suas funes, veio mantendo a centralizao dos processos de sustentao e de apoio s reas finalsticas na Administrao Central, a referida ADMC, at 2015. Com vistas ao enfrentamento dessa realidade organizacional, to inadequada aos objetivos da poltica pblica de sade, foram implementadas mudanas em etapas sequenciais ancoradas em dispositivos da administrao pblica - modelagem de processos e gesto por competncias, regionalizao, contratualizao de resultados e descentralizao financeira -, de modo a agregar maior capacidade de coordenao assistencial e

racionalizao de recursos em sade.

Reviso da estrutura organizacional da SES-DF e das regies de sade

No incio da atual gesto, a Administrao Central da SES-DF se compunha de trs subsecretarias finalsticas (de Ateno Sade, de Ateno Primria Sade e de Vigilncia em Sade), trs subsecretarias de apoio e suporte (Planejamento, Regulao, Avaliao e Controle; Administrao Geral; Logstica e Infraestrutura) complementadas ainda pelas subsecretarias de Gesto do Trabalho e Educao na Sade e a de Apoio Gesto Participativa. Essas duas ltimas foram inspiradas na experincia inovadora do Ministrio da Sade.

Braslia em Debate 23

O territrio, onde se localizavam as unidades de sade, estava dividido em 15 Coordenadores Regionais de Sade, os quais geriam territrios e redes de servios diferenciados e desiguais entre si.

As Regies de Sade eram formadas por duas ou mais Coordenaes Gerais de Sade (CGS), as quais contemplavam uma ou mais Regies Administrativas. Havia, portanto, trs camadas sobrepostas de regionalizao, o que agravava a fragmentao dos processos de gesto, dificultava a articulao entre servios e atores na organizao da ateno, aumentava os custos gerenciais com remunerao de cargos e funes, combinando com uma intensa desigualdade na disponibilidade de recursos de sade nesses territrios.

Aps anlises, as sete Regies de Sade foram adotadas como as mais apropriadas unidades de gesto do sistema de sade do Distrito Federal (Quadro 1). Consideraram-se as bases geogrficas e populacionais, as estruturas de servios e de gesto e as singularidades regionais para a criao de Superintendncias de Sade. Os hospitais especializados passaram a ter denominao de Unidades de Referncia Distrital - URD, para as quais tambm foram desenhadas estruturas organizacionais adaptadas s suas caractersticas singulares.

Adotou-se a base conceitual e metodolgica da modelagem de processos e gesto por competncias que subsidiou o mapeamento dos macroprocessos finalsticos, gerenciais e de sustentao da ateno sade. A partir da foram definidas as estruturas organizacionais com cargos, funes e competncias, consolidados no organograma e no regimento interno das Superintendncias. Os instrumentos clssicos de planejamento, como o Plano Plurianual - PPA, o Plano Distrital de Sade -PDS e a Programao Anual de Sade - PAS, seguiram a regionalizao como ncora, definindo resultados para os nveis macro e meso de gesto, na forma de programas, objetivos, indicadores e metas.

A modelagem organizacional da Administrao Central e das Regies de Sade foi consolidada com a publicao dos Decretos n 36.918, de 26 de novembro de 2015, e n 37.057, de 14 de janeiro de 2016. Ambos os decretos dispem sobre a estrutura administrativa da SES-DF. A reviso da estrutura organizacional da ADMC produziu uma reduo no nmero de subsecretarias finalsticas, de trs para duas. As reas de apoio e sustentao foram mantidas em cinco subsecretarias, com a extino da Subsecretaria de Gesto Participativa e desmembramento da Subsecretaria de Infraestrutura e Logstica em Sade em duas.

Quadro 1 - Regies de Sade, denominao das RAs, SES-DF.Regies de Sade Regies Administrativas (RA)

Regio Centro-Sul

Braslia (Asa Sul) (RA I) Candangolndia (RA XIX)Lago Sul (RA XVI) Ncleo Bandeirante (RA VIII)Riacho Fundo I (RA XVII) Guar (RA X)Riacho Fundo II (RA XXI) SAI (RA XXIX)Park Way (RA XXIV) SCIA (Estrutural) (RA XXV)

Regio Centro-NorteBraslia (Asa Norte) (RA I) Sudoeste/Octogonal (RA XXII)Lago Norte (RA XVIII) Varjo (RA XXIII)Cruzeiro (RA XI)

Regio Oeste Ceilndia (RA IX) Brazlndia (RA IV)

Regio SudoesteTaguatinga (RA III) Samambaia (RA XII)guas Claras (RA XX) Recanto das Emas (RA XV)Vicente Pires (RA XXX)

Regio NorteSobradinho I (RA V) Fercal (RA XXXI)Sobradinho II (RA XXVI) Planaltina (RA VI)

Regio LesteParano (RA VII) Itapo (RA XXVIII)Jardim Botnico (RA XXVII) So Sebastio (RA XIV)

Regio Sul Gama (RA II) Santa Maria (RA XIII)Fonte: Decreto n 37.515 de 2016

Braslia em Debate24

Nas Regies de Sade, para cada Superintendncia, foram criadas estruturas administrativas enxutas, com capacidade de gerir os processos de gesto da assistncia e alguns de suporte, tais como o planejamento, as aquisies e contrataes regionais. Todavia, propiciou-se maior coordenao assistencial com a possibilidade de intercmbio de recursos humanos, materiais e fsicos (equipamentos e instalaes) entre unidades de sade da mesma regio.

O projeto de gesto regionalizada

Por meio do Decreto n 37.515, de 26 de julho de 2016, institui-se o Programa de Gesto Regional da Sade - PRS para as Regies de Sade e Unidades de Referncia Distrital. Nesse documento, definiram-se cinco eixos da gesto regionalizada: Gesto do Sistema de Sade Loco-regional; da Ateno Sade; Financeiro-Oramentria; da Infraestrutura dos Servios; da Educao, Comunicao e Informao em Sade. Definiu-se tambm a implantao gradativa e o estabelecimento de Acordos de Gesto Regional - AGR entre a ADMC, as Superintendncias das Regies e as URD, com objetivos e metas a serem alcanadas.

Durante o ano de 2016 foi elaborada uma matriz de objetivos, indicadores, metas e linha de base, de forma a consolidar os compromissos a serem assumidos por meio dos AGR. Outros documentos tambm compem o AGR: relao dos pontos de ateno sade; das aes e servios de cada ponto de ateno; de servios habilitados; faturamento anual; custo total por unidade; matriz de responsabilidade e metodologia de monitoramento e avaliao.

O curso de gesto regionalizada

A partir de janeiro de 2016, com a nomeao dos novos gestores para as Superintendncias e URD, teve incio o curso de Gesto Regionalizada, coordenado pela Escola de Aperfeioamento do SUS - EAPSUS, mantida pela Fundao de Ensino e Pesquisa em Cincias da Sade - FEPECS. Tambm se iniciaram

as atividades de elaborao do Regimento Interno da Secretaria de Sade do Distrito Federal.

Os objetivos do processo de formao foram capacitar gestores para o desenvolvimento das aes de planejamento, monitoramento e avaliao nas Regies e URD; desenvolver de forma compartilhada os instrumentos da Contratualizao de Resultados e da organizao das Redes de Ateno Sade. O curso foi oferecido para aproximadamente 240 pessoas, que atuavam na funo de diretores das unidades de referncia distrital, hospitais gerais, superintendentes,

gerentes, diretores de ateno primria, entre outros. As atividades do curso foram realizadas em 6 mdulos com objetivos terico-prticos: 1) Regimento Interno com o objetivo de dar incio construo conjunta de processos e competncias; 2) Conhecendo a Regio de Sade, com o objetivo de levantamento da capacidade instalada e relao de servios das Regies e URD; 3) Os desafios do acesso sade, com o objetivo de problematizar as dificuldades de acesso do usurio e propor novos fluxos tendo a APS como ordenadora; 4) Gesto de pessoas - discutir a reorganizao de pessoal e as aes de educao permanente; 5) Gesto de infraestrutura, logstica - problematizar os desafios dos macroprocessos de aquisies, contrataes, manutenes; 6) Gesto financeiro-oramentria - discutir a complexidade do oramento do DF e da execuo oramentria e financeira.

A regionalizao ainda est se processando e os prximos passos previstos so: a) Assinatura dos Acordos de Gesto Regionalizada, Acordos Internos das unidades de sade complexas, em especial os hospitais; b) Aperfeioar o mecanismo de descentralizao financeira realizada por meio do Programa de Descentralizao Progressiva da Sade - PDPAS, no sentido de regulamentar as aquisies nas Superintendncias e revisar o modelo de alocao de recursos para Regies e URD; e c) Aperfeioar o processo de monitoramento e avaliao do desempenho das Regies de Sade aps os acordos de gesto.

Nas Regies de Sade, para cada Superintendncia,

foram criadas estruturas

administrativas enxutas, com

capacidade de gerir os processos de gesto da

assistncia e alguns de suporte, tais como

o planejamento, as aquisies e

contrataes regionais.

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Tais medidas so importantes para construir resposta pergunta do ttulo deste artigo: o caminho adotado para a ponta1 virar centro? Historicamente a descentralizao da gesto no Brasil tem sido sinnimo da ponta virar centro. Todavia, o discurso poltico bem fundamentado, mas a prtica econmica no sentido de diminuir as responsabilidades oramentrias do centro (Unio) e aument-las na ponta (Estados e Municpios). Esse debate mundial e atual e fator de insucesso nos pases europeus quando representou restries no financiamento para a ponta (COSTA-FONT; GREER, 2012, p. 35). No Brasil tambm se verifica este fenmeno na medida em que desde a Emenda Constitucional 29/2000, a disponibilidade de recursos federais para a sade diminuiu quanto mais se reforaram os processos de descentralizao para os municpios, os quais tem aumentado progressivamente o aporte de recursos prprios (PIOLA e NUNES, 2016). Nesta perspectiva, na regionalizao/descentralizao/territorializao no DF fundamental aprofundar as questes relativas ao financiamento das Regies de Sade, descentralizao dos recursos e estruturas locais capazes de execut-lo, na medida que aqui no estamos nos referindo a municpios com arrecadao prpria.

1 Ponta um termo usado coloquialmente pelos atores contumazes da rea de sade para se referir a tudo que no est no centro, em especial os servios de sade.

Concluses

Na modelagem da Regionalizao em Sade do DF, dada a sua singularidade de Cidade-Estado, desvelam-se as dificuldades do envolvimento dos atores de todas as esferas de ateno e de gesto. Mostra-se tambm a necessidade de superao do isolamento organizacional das unidades de sade, em favor do alcance da integralidade do cuidado, da mudana da cultura autocentrada das organizaes de sade e da remodelagem dos processos de trabalho para lograr a melhoria de indicadores.

Entre as recomendaes citam-se: reforar a arquitetura de governana e adotar incentivos econmicos aos gestores regionais, no apenas pecunirios; implementar a contratualizao regional acompanhada da descentralizao oramentrio-financeira; rever as estruturas e processos de aquisio e contratao local e do planejamento ascendente para construir, gradativamente o compartilhamento de responsabilidades e de riscos, como prev o SUS, prprios de um modelo de gesto colaborativa.

Recomenda-se tambm preservar os processos his-tricos de criao dos territrios no DF, os vnculos e as identidades dos profissionais e usurios cons-trudos ao longo do tempo. Isto pode contribuir para identificar as vias de recuperao ou de inovao das prticas de ateno sade em todas as Regies.

Braslia em Debate26

Referncias bibliogrficas

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COSTA-FONT, Joan; GREER, Scott L. Federalism and decentralization in European health and social care. London: Palgrave; Macmillan, 2012.

CUNHA, Emanuelle; SOUZA, Mariluce. A gesto em sade no contexto da regionalizao: caracterizao e mapeamento da produo cientfica. Revista Eletrnica Gesto & Sade, v. 6, n. 1, p. 514-532, 2015. Disponvel em: . Acesso em: 11 jul. 2017.

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RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. So Paulo: tica. 1993.

SANTOS, Carlos. Territrio e territorialidade. Revista Zona de Impacto, v. 13, ano 11, set.-dez. 2009.

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(1) Leila Bernarda Donato GottemsEnfermeira. Doutorado em Administrao (UnB). ESCS/FEPECS e UCB.

(2) Armando Martinho Bardou RaggioMdico. Doutor em Sade Pblica (ENSP). ENSP/FIOCRUZ - Braslia

(3) Adriano de OliveiraEnfermeiro. SES-DF

(4) Mabelle Varonilia RoqueAdministradora. SES-DF

(5) Roberto Jos Bittencourt. MdicoDoutor em Sade Pblica (ENSP). ESCS/FEPECS e UCB

Autores

Braslia em Debate 27

Introduo

O II Encontro de Redes Sociais Locais do Distrito Fe-deral - II ERSL-DF foi realizado nos dias 1 e 02 de junho de 2017, na Escola Fiocruz de Governo da Fun-dao Oswaldo Cruz de Braslia -Fiocruz Braslia, com o tema: Polticas Pblicas - Sonhos e Realizaes.

Por Redes Sociais Locais -RSL, os organizadores do II ERSL-DF denominam a organizao comunitria, formada por um grupo de pessoas, que se rene pe-riodicamente para dialogar sobre seus territrios e as polticas pblicas neles executadas, constituindo-se em ambientes colaborativos, suprapartidrios, aber-tos a participao, horizontais, independentes, aut-nomos, construtores de vnculos, afetos e solidarie-dade - RSL-DF, 2017.

So, assim, compostas por pessoas que atuam no territrio em alguns servios pblicos, como: sade, assistncia social, educao, segurana, conselho tu-telar, Ministrio Pblico entre outros. Alm desses, h representantes da sociedade civil organizada, tais como os Conselhos de Sade, projetos sociais e cul-turais, associaes, organizaes no governamen-tais - ONG, entre outros, RSL-DF, 2017.

Desta forma, as RSL so a reunio de tcnicos que atuam nas polticas pblicas e de membros da

sociedade que se mobilizam para influenci-las. Portanto, so Redes Sociotcnicas em busca da efetivao de polticas pblicas, dos direitos e da cidadania em todo o Distrito Federal.

O II ERSL-DF foi uma iniciativa apoiada pela Fun-dao Oswaldo Cruz de Braslia, Secretaria de Esta-do de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos - Sedestmidh e por diversas organizaes da sociedade civil e de go-verno, que reuniu 320 pessoas ao longo dos dois dias, participando de vrias atividades, com temticas de interesse dos integrantes destas redes - RSLDF, 2017.

Entre essas atividades foi realizada a Oficina de Dilogos Prospectivos Braslia 2030: Integrao de Polticas Pblicas no Territrio - ODPB-IPPT, que contou com mais de 20 representantes de diversas esferas pblicas (ONG, governo, academia, entre outros) e sociedade civil, formando uma rede socio-tcnica que, durante 16 horas de trabalho, discutiu os futuros mltiplos e possveis para as polticas p-blicas no Distrito Federal. O objetivo deste artigo relatar a ODPB-IPPT, que teve como propsito desenhar cenrios para Braslia 2030, a partir das temticas do II Encontro.

Redes Sociotcnicas e Integrao de Polticas Pblicas no Distrito Federal

Artigo

Wagner de Jesus Martins

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onin

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eite Desenhar cenrios futuros, como

forma de a sociedade, trabalhadores e gestores, de maneira participativa,

se mobilizarem para a realizao de aes e estratgias que visem construo de um SUS ideal, foi

tema do debate da ODPB-IPPT, que desenhou cenrios para Braslia em

2030, a partir das temticas do II ERSLDF.

Braslia em Debate28

Metodologia

Para a ODPB-IPPT, foi planejada a metodologia da Prospectiva Territorial, a qual uma metodologia bastante utilizada pelo Ncleo de Futuro da Univer-sidade de Braslia e pela Fiocruz Braslia.

A prospectiva adquire o formato estratgico quando as Organizaes e Territrios se interrogam sobre: o que pode acontecer? e o que posso fazer? A partir do momento em que so consideradas e tra-tadas essas questes, a estratgia desenvolve-se com incio nos seguintes questionamentos: o que e como vou fazer?. Assim, ressalta-se ser dessa for-ma que a sobreposio acontece entre a prospecti-va e a estratgia (GODET, 2000). A estratgia um mapa que orienta e sustenta os atores em direo ao futuro, e nele so plotadas informaes inteligentes que possibilitam os firmes passos em direo ao ob-jetivo final. A antecipao no tem sentido se no for para esclarecer a ao (GODET, 2000). O escla-recimento ocorre quando a antecipao se sustenta em evidncias sobre as tendncias, que so informa-es empricas da realidade em curso.

As informaes so originadas por dados coletados nos territrios de maneiras diversas, sendo sistema-tizadas e analisadas para a gerao de inteligncia alimentadora de aes dos atores do Jogo Social de Matus, o qual se trata de uma complexa rede de re-lacionamento, no s dos atores em situao, mas tambm de fatores e fatos, quase sempre produzidos em conflito ou cooperao (MATUS, 2005). Atuar no jogo social exige, cada vez mais, capacidade tc-nica de processamento de informaes, assim como de comunicao e dilogo com os demais atores (MATUS, 2005).

A abordagem de Prospectiva Territorial uma for-ma de coletar, processar, comunicar e dialogar, com base em informaes do jogo social. A ODPB--IPPT, realizada pela Fiocruz Braslia, faz uso des-sa abordagem para a criao de base de informa-es, a partir de percepes de atores qualificados (grupo focal), sobre a tendncia sociopoltica no territrio, em um horizonte temporal determinado, permitindo, assim, a gerao de possveis cenrios. Este processo se desdobra em uma inteligncia de futuro, ao passo que os dados qualitativos so ar-ticulados aos dados quantitativos e tambm dados no-es