como uma borboleta na sua crisálida

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Como uma borboleta na sua crisálida Daniel Caldwell é um dos mais conhecidos investigadores no campo da Teosofia, particularmente de todo o universo relacionado com Helena Blavatsky. Conhece como poucos a vida de HPB e sabe imensos detalhes sobre as inúmeras controvérsias da história do movimento teosófico, as diferenças sobre edições de livros, as datas de certos acontecimentos, as diferentes perspetivas sobre determinado conceito, etc…uma verdadeira enciclopédia, vertida no seu Blavatsky Study Center , o portal existente com mais conteúdos sobre Teosofia e HPB. Tem tanto material que duvido que alguém o tenha explorado na sua totalidade. Será a porta de entrada mais provável para aqueles que procuram as primeiras informações sobre Teosofia e HPB (em língua inglesa, naturalmente). Helena Blavatsky (1831-1891) Caldwell já editou três livros, um deles traduzido para português, “O Mundo Esotérico de Madame Blavatsky” que foi um dos meus primeiros contactos com Blavatsky. Um livro que já reli e que permanece como um dos meus favoritos. No fundo, é uma espécie de biografia de Blavatsky com base numa série de relatos de quem a conheceu, quer daqueles que lhe eram mais próximos, quer de pessoas que só a viram por uma vez. Também há lugar para aqueles que não gostaram (e não gostavam) da Velha Senhora. Nem todos são apreciadores do trabalho de Caldwell, que já se envolveu em várias polémicas na internet e que fez parte do grupo de trabalho envolvido na controversa edição do I volume das Cartas de HPB, liderado por John Algeo, cujas deficiências foram referidas num artigo da revista Biosofia. A publicação de textos críticos para com algumas das práticas da Loja Unida de Teosofistas (LUT), bem como algumas referências à história desta organização e aos seus líderes acarretaram uma ligação um pouco difícil com certos elementos desta estrutura. “O Mundo Esotérico de Madame Blavatsky” foi inclusive alvo de uma dura crítica de Jerome Wheeler, um decano da LUT, a meu ver um pouco exagerada, pois na altura em que li o livro fiquei com uma

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Page 1: Como uma borboleta na sua crisálida

Como uma borboleta na sua crisálida

Daniel Caldwell é um dos mais conhecidos investigadores no campo da Teosofia,

particularmente de todo o universo relacionado com Helena Blavatsky. Conhece como

poucos a vida de HPB e sabe imensos detalhes sobre as inúmeras controvérsias da

história do movimento teosófico, as diferenças sobre edições de livros, as datas de

certos acontecimentos, as diferentes perspetivas sobre determinado conceito, etc…uma

verdadeira enciclopédia, vertida no seu Blavatsky Study Center, o portal existente com

mais conteúdos sobre Teosofia e HPB. Tem tanto material que duvido que alguém o

tenha explorado na sua totalidade. Será a porta de entrada mais provável para aqueles

que procuram as primeiras informações sobre Teosofia e HPB (em língua inglesa,

naturalmente).

Helena Blavatsky (1831-1891)

Caldwell já editou três livros, um deles traduzido para português, “O Mundo Esotérico

de Madame Blavatsky” que foi um dos meus primeiros contactos com Blavatsky. Um

livro que já reli e que permanece como um dos meus favoritos. No fundo, é uma espécie

de biografia de Blavatsky com base numa série de relatos de quem a conheceu, quer

daqueles que lhe eram mais próximos, quer de pessoas que só a viram por uma vez.

Também há lugar para aqueles que não gostaram (e não gostavam) da Velha Senhora.

Nem todos são apreciadores do trabalho de Caldwell, que já se envolveu em várias

polémicas na internet e que fez parte do grupo de trabalho envolvido na controversa

edição do I volume das Cartas de HPB, liderado por John Algeo, cujas deficiências

foram referidas num artigo da revista Biosofia. A publicação de textos críticos para

com algumas das práticas da Loja Unida de Teosofistas (LUT), bem como algumas

referências à história desta organização e aos seus líderes acarretaram uma ligação um

pouco difícil com certos elementos desta estrutura. “O Mundo Esotérico de Madame

Blavatsky” foi inclusive alvo de uma dura crítica de Jerome Wheeler, um decano da

LUT, a meu ver um pouco exagerada, pois na altura em que li o livro fiquei com uma

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ideia de HPB que mantenho até hoje, a de uma mulher extraordinária, a quem o mundo

muito deve.

Mais recentemente Caldwell, editou “Laura Holloway e os Mahatmas” e antes “The

Esoteric Papers of Madame Blavatsky”, que contém fac-similes de diverso material

importante na história do movimento, como sejam as regras e as primeiras instruções

para os membros da Secção Esotérica e transcrições das reuniões do Grupo Interno

(Inner Group). Há ainda uma compilação de Caldwell para introdução à Teosofia em

forma de e-book.

Esta introdução antecede a tradução de uma interessante subpágina do Blavatsky Study

Center sob o processo pós-morte e que se intitula “Como uma borboleta na sua

crisálida“. Caldwell autorizou a sua tradução para português, ficando aqui desde já o

meu agradecimento.

Como uma borboleta na sua crisálida

As esferas intermediárias (…) são os grandes pontos de paragem, as estações nas quais

são gerados os futuros Egos autoconscientes, a prole auto-engendrada dos Egos antigos

e desencarnados no nosso planeta. Antes que a nova Fénix, renascida das cinzas dos

seus pais, possa voar mais alto para um mundo melhor, mais espiritual e mais

perfeito…tem que passar pelo processo de um novo nascimento...”

“(…) naquele mundo de sombras o Ego-feto, novo e ainda inconsciente, transforma-se

na vítima merecida das transgressões do seu último Eu, cuja carma – mérito e demérito -

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criará sozinho o seu futuro destino. Naquele mundo (…) nós só encontramos máquinas

ex-humanas, inconscientes e autómatas; almas em estado de transição, cujas faculdades

e individualidades adormecidas estão como uma borboleta na sua crisálida; e os

Espíritas esperam que elas falem com sensatez…!”

Mestre KH, [Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett, carta 18 (por ordem cronológica),

vol I, p.125 da edição em português]

Usando o ciclo de vida da borboleta-monarca, tentemos ilustrar as palavras do Mestre

KH.

Imagens 1 e 2 : o Mundo Físico

1

2

A fase da lagarta representa o ser humano durante a sua vida no plano físico. É a nossa

personalidade humana.

A lagarta da borboleta monarca tem um apetite voraz por serralha e passa a sua vida

enquanto naquele estádio a se alimentar…da mesma forma que os seres humanos têm

apetite por experiências – físicas, emocionais, mentais, etc…

Imagens 3 a 10: Kama-loka

Naquele mundo (...) nós só encontramos máquinas ex-humanas, inconscientes e

autómatas, almas em estado de transição..." [op.cit, carta 18, vol. I, p.25]

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3

4

Quando o ser humano morre de morte natural normal, a personalidade entra numa fase

de casulo no Kama-loka. Tem lugar uma transformação e apenas as partes “superiores”

da personalidade são assimiladas pelo nosso “Deus” interior, ou seja, dá-se a

“ressuscitação”…no Devachan…a fase da borboleta. As partes inferiores da nossa

personalidade são descartadas…tornando-se uma casca.

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“Aquele que possui as chaves dos segredos da Morte é possuidor das chaves da Vida.”

[Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett , carta 136, vol II, p.315]

E o Mestre M escreve:

“O sr. Hume [no seu artigo “Fragmentos da Verdade Oculta”] definiu perfeitamente a

diferença entre personalidade e individualidade. A primeira dificilmente sobrevive; a

segunda, para percorrer com êxito os seus cursos setenários descendente e ascendente,

tem de incorporar em si mesma a força vital eterna que reside somente no sétimo

princípio e então unir os três (quarto, quinto e sétimo) num – o sexto. Os que chegam a

fazê-lo convertem-se em Budas, Dhyan Chohans, etc…O propósito principal dos nossos

esforços e iniciações é alcançar esta união enquanto estamos na Terra." [op.cit., carta

44, vol. I, p.205-6]

9

10

Ver aqui este texto em inglês com excertos de referências feitas por HPB e pelos

Mestres, bem como estas tabelas (1 e 2) do livro de Geoffrey Farthing, "When we die".

Explicações sobre o Kama-loka e o Devachan podem ser encontradas em posts

anteriores do Lua em Escorpião.

Imagens 11 e 12: Devachan

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Uma vez acordadas do seu torpor pós-morte

A revitalização da consciência começa depois da luta no Kama-loka, às portas do

Devachan e apenas depois do “período de gestação”.

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“Do Kama-loka (…) uma vez despertadas do seu torpor pós-morte, as “Almas” recém-

transladadas vão todas (exceto as cascas), de acordo com as suas atrações, ou para o

Devachan, ou para o Avitchi [estado de maldade espiritual, a antítese do Devachan].”

[op.cit., carta 104, vol.II, p.190]

“Quando o sexto [Buddhi] e sétimo [Atman] princípios tiverem ido, levando consigo as

partes mais finas e espirituais daquilo que certa vez foi a consciência pessoal do quinto

princípio [Manas], só então a casca gradualmente desenvolve uma espécie de vaga

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consciência própria a partir do que permanece na sombra da personalidade.” [op.cit,

carta 93B, vol.II, p.141]

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No chamado manuscrito de Wurzburg d’”A Doutrina Secreta” , HPB escreveu:

[Buddhi] é também o plano de existência no qual a individualidade espiritual evolui, e a

partir do qual a personalidade é eliminada.”

Devemos portanto aprender a fazer de forma consciente nesta vida, aquilo que é feito

automática e inconscientemente nos estados pós-morte.

publicado a 15 de março de 2014 em http://lua-em-escorpiao.blogspot.pt