Como passei o fim do mundode Cătălin MitulescuRoménia - 2005 - 106 min

> Como Passei o Fim do Mundo faz parte de uma colecção de filmes europeus: a colecção CinEd, um programa de educação para o cinema dirigido a crianças e jovens.

> Esta ficha permite redescobrir o filme, percorrê-lo em palavras e em imagens, saber mais sobre o lugar em que vivem as personagens e sobre a sua época, criar e inventar, ir mais longe através da descoberta de outras obras: filmes, livros, músicas, fotografias, pinturas...

Ao participar em CinEd, partilho a descoberta de filmes com jovens de outros países, através de toda a Europa!

Ficha jovem espectador

O filmeNa Europa e não sóO filme e euIr mais longe

A

D

B

C

Com

o p

asse

i o

fim

do

mu

nd

o

Cin

Ed

- fi

cha

jove

m e

spac

tado

r

2/8

O filme Visto no filmeUm percurso em imagens

(1) (2)

(3) (4)

(5) (6)

(7) (8)

(9) (10)

(11) (12)

A 1

Com

o p

asse

i o

fim

do

mu

nd

o

Cin

Ed

- fi

cha

jove

m e

spac

tado

r

O filme Ouvido no filmeA 2

(7)Tendo treinado durante todo o Verão para preparar a sua perigosa escapada Andrei e Eva acabam por fugir uma noite, de comboio até ao Danúbio.(8) Mas Eva pensa duas vezes e pára a meio caminho do Danúbio e regressa para casa, ao contrário de Andrei, que continua e conseguirá fugir.

3 /8

(9)O plano de Lalalilu para se aproximar de Ceaușescu tem êxito: está autorizado a participar numa grande assembleia no centro de Bucareste, onde o “líder” deverá fazer um discurso. Durante esse tempo, os seus amigos aguardam-no impacientemente.

(10) Os seus dois amigos vêem-no durante uma fracção de segundo na televisão e consideram então que a sublevação que está a acontecer na praça é a consequência da pedra que Lali atirou à cabeça de Ceaușescu com a sua funda.(11)Os adultos estão também muito impacientes e excitados pelos acontecimentos. De facto todos estão a assistir ao último discurso proferido por Ceaușescu, porque esta sublevação é um dos primeiros acontecimentos importantes, que marcaram o início da revolução de 1989.(12) O ditador é, na verdade, derrubado e toda a comunidade do bairro de Eva e de Lali, bem como os amigos celebra o fim do regime comunista.

Grigore : Vá lá, diz-me… o que é que se passa com aquele rapaz do outro lado da rua, o Andrei ?

Eva : Somos colegas de turma. Porquê ?Grigore : E para além disso ?Eva : E para além disso, o quê ?Maria : Prometeste-me que voltavas para o Alex. Eva : Não prometi nada. Lalalilu : Construímos um grande

submarino para atravessar o Danúbio !

Eva : O que é que disseste, Lali ?

Lalalilu : Podíamos fugir nele !Eva : Vou contigo. O que é que achas?Andrei : Temos de pensar nisso.Eva : Está já tudo pensado. Passamos pela

Jugoslávia e chegamos a Itália.

(2) Eva é uma estudante aplicada e trabalhadora do secundário e namora com Alex, conhecido por Vomică, filho de um agente da Securitate (Polícia Secreta Comunista).

(1) A acção passa-se na Roménia durante o regime comunista, onde Lalalilu vive com a família, nos subúrbios de Bucareste. Ele repara de que a sua irmã mais velha, Eva, e os seus pais, parecem por vezes infelizes, o que o faz conceber um plano para derrubar o ditador Nicolae Ceaușescu.

(3)Quando estava com Eva, Alex quebra acidentalmente o busto - uma escultura em gesso – de Ceaușescu. No entanto, ele não assumiu oficialmente a responsabilidade por este acto.

(5)Eva é transferida para uma escola profissional, onde trava amizade com Andrei, cujos pais segundo os rumores seriam dissidentes. Ambos decidem fugir juntos do país, atravessando o Danúbio a nado.

(6) Os pais de Eva e de Lalalilu estão preocupados com o que pode advir desta amizade e tentam convencer a rapariga a retomar a sua relação com Alex.

(4) Eva decide proteger Alex optando por não o denunciar. E acaba expulsa da escola.

O filme Visto no filmeUm percurso em imagens

A 1

(13) Eva arranja trabalho num navio de cruzeiros e Lali escreve-lhe uma carta, para lhe dar notícias de todas as pessoas da sua comunidade depois do «fim do mundo».

Com

o p

asse

i o

fim

do

mu

nd

o

Cin

Ed

- fi

cha

jove

m e

spac

tado

r

4/8

Cătălin Mitulescu, realizador do filme “Como passei o fim do mundo”, explica aqui como a sua experiência pessoal na Roménia comunista - que influenciou a sua infância e a sua adolescência - o inspirou ao longo de toda a construção deste filme.

«Em 1989 eu tinha 17 anos, a mesma idade de Eva no filme. Quando estava a escrever este primeiro ar-gumento para uma longa-metragem, inspirei-me nas minhas memórias de infância e adolescência e na vida das pessoas da minha geração. É um pouco uma viagem nostálgica através da minha memória. Nasci em 1972. Cresci durante a ditadura de Nicolae Ceauşescu. O meu irmão e eu tínhamos uma alma de revolucionários. Aspirávamos à liberdade. Os meus pais, por seu lado, viviam no medo da polícia, das denúncias. Diziam-nos para ficar calados e ensinaram-nos a desconfiar dos nossos vizinhos e de toda a gente. O meu pai era electricista numa fábrica de automóveis, e não ganhava muito. Portanto havia dias em que não comíamos muito, mas isso não nos impediu de sermos felizes.»

Cătălin Mitulescu, Entrevista a Le Figaro, 30 de Agosto de 2006

O título do filme nos países parceiros do programa CinEd:

Reino Unido : The way I spent the end of the world

França :Comment j’ai fêté la fin du monde

República Checa : Jak jsem strávil konec světa

Roménia :Cum mi-am petrecut sfârșitul lumii

Bulgária :Как посрещнах краяна света

O filme Dito sobre o filmeA 3

Na europa e não só

Um filme, vários títulos

B 1

Espanha : Cómo celebré el fin del mundo

Finlândia : Kuinka vietin maailmanlopun

Lituânia : Kaip aš sutikau pasaulio pabaigą

Itália : Como ho festeggiato la fine del mondo

Com

o p

asse

i o

fim

do

mu

nd

o

Cin

Ed

- fi

cha

jove

m e

spac

tado

r

5/8

Cartazes estrangeiros

Uma das consequências da Segunda Guerra Mundial foi que aumentou a influência da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) sobre um grupo de Estados na Europa Central e de Leste, que formaram o bloco comunista “Bloc de l’Est”.

Isso levou ao começo da Guerra Fria, entre os países capitalistas – com a hegemonia dos Estados Unidos – e os países comunistas – sob a égide da URSS. Esse foi um dos factores que desencadeou a instauração (que durou quase 50 anos) de um sistema comunista em países como a Roménia, a Polónia, a República Checa, a Hungria, , a Alemanha de Leste, a Albânia, a Bulgária ou a antiga Jugoslávia. Pode dizer-se que o mundo ficou dividido em dois.

Em 1961, a construção do muro de Berlim começou na Alemanha, para separar a República Federal da Alemanha (RFA), da República Democrática da Alemanha (RDA). Esta fronteira foi oficialmente removida em 1989 e a demolição do muro de Berlim começou em 1990.

Portanto, 1989, ano referenciado no título do filme como “o fim do mundo” é o ano em que uma onda de revoluções contra os governos comunistas emergiu na Alemanha de Leste, na Polónia, na Hungria, na Bulgária, na República Checa, e na Roménia. Esta mudança de regime político continuou também nos anos seguintes e, em 1991, a URSS (União das repúblicas socialistas soviéticas) foi oficialmente dissolvida e tornou-se a Rússia de hoje.

Para muitas pessoas que nasceram e viveram toda a sua vida sob o regime comunista - como Eva e Lalalilu em Como Passei o Fim do Mundo - o derrube do regime foi “o fim do mundo” tal como eles o conheciam.

Se eu pudesse escolher outro título para o filme “Como passei o fim do mundo”, esse seria…

Porque será que Eva escolhe dar meia volta e voltar para casa em vez de ir até ao fim e fugir com Andrei? ...

No filme, vemos Eva a olhar para fotos que Andrei lhe enviou do estrangeiro. Imaginemos que depois de atravessar a nado o Danúbio e viajado por outros países ele tenha escrito sobre os seus pensamentos íntimos e sentimentos num diário. Lembremo-nos de que ele é um adolescente, que está sozinho, e que acabou de fugir ilegalmente de um regime opressivo. É a primeira vez que ele tem a possibilidade de entrar em contacto com a realidade das sociedades ocidentais, onde as regras são diferentes do que ele conhecera até então, mas ao mesmo tempo ele está entregue a si próprio. Imagino o que Andrei poderia ter escrito acerca disso.

Contexto histórico: 1989

Na europa e não só

B 2

O filme e eu

Eu aprendo e imagino

C 1

O filme, a sua época

Com

o p

asse

i o

fim

do

mu

nd

o

Cin

Ed

- fi

cha

jove

m e

spac

tado

r

6/8

No filme, COMO PASSEI O FIM DO MUNDO, vemos como certos aspectos do regime político se infiltram no dia-a-dia do povo romeno: a necessidade de se envolver em actividades patrióticas na escola, as diferenças de estatuto social entre cidadãos comuns e membros da Securitate (Serviços secretos da Roménia), a censura da música considerada subversiva, as dificuldades em viajar para o estrangeiro, ou ainda a limitação de bens de consumo disponíveis no mercado (resultado das restrições às importações do estrangeiro existente nos anos 1980 que obrigavam também a que uma grande parte da produção romena fosse exportada para o estrangeiro para reembolsar a dívida externa”).

Depois da Revolução de 1989, todas estas coisas mudaram. Falo com a minha família ou um professor e tento perceber como era a vida nos finais dos anos 1980 no meu país. Aconteceu alguma coisa importante ou mudou alguma coisa no meu país em 1989?

Baseando-me no que aprendi graças ao filme e ás conversas com a minha família ou com o meu professor, escolho a personagem que foi mais importante para mim e imagino no que é que a sua vida se transformou após 1989. Escrevo a sua história.

O que eu gostaria de saber acerca do país (Roménia) ou acerca da época (fim dos anos 1980) na qual a acção tem lugar, para lá do que descobri a partir do filme?

Cher Cătălin…

Escrevo uma carta ao realizador

Cătălin Mitulescu, para lhe dizer

o que achei sobre o seu filme:

o que me tocou

o que eu não gostei

o que percebi ou

que não percebi acerca das

suas escolhas.

Pergunto à minha família se alguém tem fotos dos anos 1980 ou de 1989, peço-lhes para mas emprestarem ou pergunto-lhe se posso tirar fotografias delas, digitalizá-las ou fazer desenhos a partir delas e faço a minha própria colagem ilustrativa da vida da minha própria família durante essa época.

Que cartaz teria eu criado para o filme?

Ponho imagens em interacção umas com as outras:Estes fotogramas tirados de “Como passei o fim do mundo” fazem-me pensar acerca de outras imagens que conheço? Quais? (podem ser pinturas, imagens de banda desenhada, fotografias, imagens de videoclipes, de anúncios, de outros filmes, etc.).

Escolho imagens do filme (usando o Espaço do Jovem Espectador)

No Espaço do Jovem Espectador, escolho as minhas imagens favoritas / as que me surpreenderam / emocionaram /chocaram. Posso também selecionar imagens que sugiram um ou vários dos seguintes temas: adultos e crianças, passagem à idade adulta, amor, amizade, relações entre irmãos e irmãs, obscuridade e luz, realidade e imaginação, a vida sob o comunismo.- Faço a minha própria sequência de imagens a partir das fotos que escolhi, escrevo algumas palavras, a fim de contar uma nova história ou um novo poema visual. Descrevo-o nalgumas linhas.- Posso também criar as minhas próprias imagens (desenhos, pintura, fotografia) inspirando-me de um dos diferentes fotogramas do filme e posso partilhá-las com os outros participantes do programa sobre a plataforma CinEd fazendo o seu upload para a website /Espaço Jovem espectador), se assim o quiser.

O filme e eu

Eu aprendo e imagino

C 1

Escolher e criar imagens2

No espaço jovem espectador www.cined.eu/pt/espaco-jovem-espectador

Com

o p

asse

i o

fim

do

mu

nd

o

Cin

Ed

- fi

cha

jove

m e

spac

tado

r

7 /8

Pedro, o Louco (1965, Franca) de Jean-Luc Godard (filme da colecção cined)Leva para um outro patamar a noção de revolta que é tanto contra as normas sociais convencionais como contra o modo de contar convencionalmente em cinema. É um dos filmes da Nouvelle Vague francesa, a não perder. O filme concentra-se no casal enamorado que formam Marianne e Ferdinand, enquanto estes tentam criar a sua própria utopia, re-tirando-se de um mundo decadente para viver o seu amor como uns “Robinson Crusoes” dos tempos modernos.

Se gostei de Como passei o fim do mundo, talvez goste destes filmes da colecção CinEd:

O Abrigo (1961, Bulgaria) de Dragomir Sholev (filme da colecção cined)O protagonista deste filme, Rado, de 12 anos, tem uma relação difícil com os seus pais. Revolta-se contra eles, desaparece de casa por dois dias e, como Eva em “Como passei o fim do mundo”, os seus pais não aprovam os amigos que ele escolhe. Embora a rebelião destas duas personagens tenha causas e consequências significativamente diferentes, os filmes partilham o desejo de explorar a conflitualidade entre os modos de ver a vida dos adolescentes e dos seus pais.

Estas personagens :

Farah, no filme Assim que abro os olhos (Leyla Bouzid - 2015)Interpretado por Baya Medhaffer (o seu primeiro papel no cinema). A acção tem lugar no Verão de 2010, poucos meses antes de começar a Revolução de Jasmim, na Tunísia, onde Farah é uma adolescente cantora líder de uma banda de rock. A rapariga revolta-se contra a vontade da mãe para que ela venha a ser médica e, em vez disso, luta pelo seu sonho de se tornar canto-ra. A sua música transmite uma mensagem política que lhe acarreta sérios problemas com a polícia local. Como Eva, Farah escolhe lutar por aquilo em que acredita, apesar dos constrangimentos sócio-políticos e, consequen-temente, também ela tem de viver com as consequências de ser proscrita.

Marjane é a protagonista do filme de animação Persepolis (Marjane Satrapi - 2007)Baseado numa banda desenhada autobiográfica. O filme retrata o percurso da protagonista desde a sua infância até á sua adolescência no Irão, durante e após a Revolução Islâmica e a sua vida de muito jovem adulta exilada. Em criança ela é precoce e extrovertida (não mastiga as palavras) e é parecida nisso com Lalalilu. Enquanto adolescente, contudo, ela vai de certo modo parecer-se com Eva: são duas raparigas jovens com personalidades fortes e bem definidas, que vivem num contexto sócio-político com que nenhuma delas se identifica plenamente.

Ir mais longeD

Com

o p

asse

i o

fim

do

mu

nd

o

Cin

Ed

- fi

cha

jove

m e

spac

tado

r

Ir mais longeD

8/8

“Contos da idade de ouro”, um filme romeno em duas partes: “Camaradas, a vida é bela !(2009, realizado por Ioana Uricaru, Hanno Höfer, Răzvan Mărcules-cu, Constantin Popescu)e “Amor fora de horas” (de Cristian Mungiu - 2009)O filme é uma comédia negra, passada nos últimos anos da Roménia comunista, baseada em seis lendas urbanas que retratam acontecimentos cómicos, bizarros, e muitas vezes surreais, da vida quotidiana, da perspectiva de pessoas comuns.

Se gostei de Como passei o fim do mundo, talvez goste também deste filme :

Estas músicas :

Se gostei de Como passei o fim do mundo, talvez goste também deste livro :

“O Triunfo dos Porcos” (1945), um romance escrito por George Orwell.Orwell descreve a rebelião de um grupo de animais contra o Mr. Jones – dono da quinta em que eles vivem –, descrevendo em seguida a sociedade que os animais decidiram criar, baseada em princípios de igualitarismo entre os animais. No entanto, no decurso do tempo, porcos corruptos tomam o poder em mãos, e a sociedade utópica e ideal transforma-se pouco a pouco numa sociedade opressiva. O livro pretendia ser uma alegoria satírica ao socialismo estalinista e à propaganda totalitária, e foi proibido em todos os países do Bloco de Leste até 1989. Poderíamos até certo ponto, encontrar similitudes com o modo como Cătălin Mitulescu descreve os anos finais da Roménia comunista em “Como passei o fim do mundo”. Do mesmo modo como os ideais de justiça social dos animais se tornam numa sociedade totalmente injusta, também o filme sublinha as diferenças de estatuto social entre as famílias dos agentes da Securitate (polícia política romena) e o resto da população.

Hey You, a música da banda rock inglesa Pink Floyd, que integra o álbum de ópera rock The Wall (1979)Os versos das canções deste álbum traçam a vida do protagonista ficcional, Pink Floyd, desde a sua infância, a seguir à Segunda Guerra Mundial em Inglaterra, até ao momento em que, célebre estrela de rock, se auto-impõe o isolamento e a alienação voluntária. Com os anos, o álbum começou a ser olhado como um poderoso testemunho político contra o sistema.

Like a Rolling Stone, música de Bob Dylan integrada no álbum Highway 61 Revisited (1965) foi considerada pela revista Rolling Stone como canção número um na lista das “500 Melhores Canções de Todos os Tempos”. Inicialmente, a expressão rolling stone [pedra rolante] referia-se a uma escassez de posses materiais e a uma falta de sentido de pertença por parte dos que primeiro a usaram, nomeadamente cantores de blues. Mais tarde, durante os revolucionários anos 1960, tornou-se um símbolo de libertação para a geração rock.

O autor desta ficha é Andreea Mihalcea.