como escrever um trabalho científico

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COMO ESCREVER UM TRABALHO CIENTFICOAlexandre Fogaa Cristante e Maurcio Kfuri

COMISSO DE EDUCAO CONTINUADA

COORDENAO:

APRESENTAO O pretrito teria sido mais que perfeito se o conhecimento aqui divulgado, de forma prtica e objetiva, tivesse sido disponibilizado a todo ortopedista brasileiro, indistintamente, como agora o est. lgico que descrever ou apresentar cientificamente a experincia vivenciada ou mesmo elaborar um projeto para captao de recursos e desenvolvimento de pesquisa, no so atributos essenciais para a boa prtica ortopdica, mas ampliam bem mais os limites do conhecimento sobre a nossa prpria gente. Sim, porque no difcil imaginar que, por este imenso pas, com geografia e diversidade tnica absolutamente peculiares, tenham sido oferecidos aos ortopedistas e traumatologistas dos quatro cantos do Brasil inmeros desafios e oportunidades que, se fossem descritos ou relatados com adequada preciso e conciso, teriam acrescentado muito conhecimento cincia brasileira e internacional. Resumindo, pode-se dizer que se o aprender uma das mais belas qualidades da espcie humana, o ensinar a mais sublime delas. Assim, cabe SBOT, atravs da CEC Comisso de Educao Continuada, a funo de aproximar aprendizes e mestres para engrandecer ainda mais a Ortopedia Brasileira. Em 2010, voc a SBOT e a SBOT para voc !!!!! Cludio Santili Diretoria 2010

COMO ESCREVER UM TRABALHO CIENTFICOAlexandre Fogaa Cristante e Maurcio Kfuri

COMISSO DE EDUCAO CONTINUADA 2010

COMO ESCREVER UM TRABALHO CIENTFICO

EXPEDIENTE2010 Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) DIRETORIA 2010: Presidente: Cludio Santili (SP); 1 Vice-presidente: Osvandr Luiz Canfield Lech (RS); 2 Vice-presidente: Geraldo Rocha Motta Filho (RJ); Secretrio Geral: Arnaldo Hernandez (SP); 1 Tesoureiro: Moiss Cohen (SP); 2 Tesoureiro: Sandro da Silva Reginaldo (GO); 1 Secretrio: Csar Rubens da Costa Fontenelle (RJ); 2 Secretrio: Fernando Antonio Mendes Faanha Filho (CE). Comisso de Educao Continuada (CEC): Marco Antonio Percope de Andrade (Presidente), Alexandre Fogaa Cristante (Secretrio), Maria Isabel Pozzi Guerra, Sandro da Silva Reginaldo, Marcelo Tomanik Mercadante, Hlio Jorge Alvachian Fernandes, Mucio Brando Vaz de Almeida, Pedro Henrique Mendes, Rogrio Fuchs. Esta uma publicao cientfica, editada pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) em 2010. proibida a reproduo sem a expressa autorizao.Dados Internacionais Coordenao: Alexandre Fogaade Catalogao na Kfuri. Produo(CIP) Cristante e Mauricio Publicao Editorial: DUALUP Texto(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) & Design ([email protected]). Projeto Grfico e Diagramao: Wagner G. Francisco. Assistente Editorial (CEC): Samara Nascimento Silva.Cristante, Alexandre Fogaa Como escrever um trabalho cientfico / Alexandre Fogaa Cristante e Maurcio Kfuri ; [coordenao] Comisso de Educao Continuada. -Internacionais - Sociedade Brasileira Publicao So Paulo : SBOT de Catalogao na de (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Ortopedia e Traumatologia, 2011.

Dados

(CIP)

Bibliografia Cristante, Alexandre Fogaa Como escrever um trabalho cientfico / Alexandre Fogaa Cristante e Maurcio Kfuri ; 1. Metodologia 2. Mtodos de estudo 3. Pesquisa [coordenao] Comisso de Educao Continuada. -4. TrabalhosSBOT - SociedadeTrabalhos cientficos So Paulo : cientficos 5. Brasileira de Normas 6. Trabalhos cientficos - Redao Ortopedia e Traumatologia, 2011. I. Kfuri, Maurcio. II. Comisso de Educao Continuada. III. Ttulo. Bibliografia 1. Metodologia 2. Mtodos de estudo 3. Pesquisa 4. Trabalhos cientficos 5. Trabalhos cientficos Normas 6. Trabalhos cientficos - Redao I. Kfuri, Maurcio. II. Comisso de Educao Continuada. III. Ttulo. 10-14094 CDD-808.066 ndices para catlogo sistemtico: 1. Trabalhos cientficos : Formatao e normalizao : Redao 808.066 10-14094

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CDD-808.066

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NDICE O que um trabalho cientfico? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Como utilizar o PUBMED . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 Como graduar evidncia cientfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 Como selecionar artigos cientficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52 Partes de um artigo Titulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64 Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75 Reviso de Literatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77 Casustica e Mtodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .96 Discusso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 Concluso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 Referncias Bibliogrficas e Citaes . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 Como Redigir um Trabalho Cientfico . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Como calcular o tamanho da amostra . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 Mtodos estatsticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156 Como publicar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2095

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AUTORESAlexandre Fogaa Cristante Mdico assistente do grupo de Coluna Vertebral do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clnicas da Universidade de So Paulo. Alosio Fernandes Bonavides Jnior Professor do curso de medicina da ESCS (Escola Superior de Cincias da Sade); Professor do curso de medicina da SES- DF( Secretaria do Estado de Sade do Distrito Federal); Doutor em Ortopedia pela FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo). Carlos Henrique Ramos Mestre em Clnica Cirrgica pela UFPR (Universidade Federal do Paran); Membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia); Membro SBOC (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo), Membro da SVA (Sociedade Brasileira de Artroscopia) e CTD (Comit de Traumatologia Esportiva); Chefe do Grupo de Ombro e Cotovelo da Santa Casa de Curitiba. Edmar Stieven Filho Mdico Ortopedista; Doutor pela Clnica Cirrgica da UFPR (Universidade Federal do Paran). Epitcio Leite Rolim Filho Mestre e Doutor em Cirurgia (Ortopedia e Traumatologia) pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco); Supervisor do Programa de Residncia Mdica em Ortopedia e Traumatologia do Hospital Getlio Vargas Recife-PE; Coordenador de Ortopedia da SES-PE (Secretaria do estado da Sade de Pernambuco). Frederico Barra de Moraes Doutor pela UFG (Universidade Federal de Gois); Mestre pela UnB (Universidade de Braslia); Professor Assistente do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clnicas Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Gois - UFG. Guilherme Moreira de Abreu e Silva Preceptor da Residncia Mdica do Hospital das Clnicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e do Hospital Felcio Rocho. Marcelo Loquette Damasceno Mdico residente do grupo de Coluna Vertebral do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clnicas da Universidade de So Paulo. Marcelo Teodoro Ezequiel Guerra Mdico ortopedista; Mestre em medicina UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); Membro titular da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia); Membro titular da SBTO (Sociedade Brasileira de Trauma Ortopdico); Regente da Disciplina de Ortopedia da ULBRA; Chefe do Servio de Ortopedia da ULBRA (Universidade Luterana do Brasil).6

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AUTORESMarco Antnio Percope de Andrade Mestre e doutor em medicina pela UNIFESP (Universidade Federal de So Paulo); Professor adjunto da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); Coordenador do Servio de Ortopedia do Hospital das Clnicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Maria Fernanda Caffaro Professora Doutora e Primeira Assistente do grupo de coluna do departamento de ortopedia e traumatologia da Faculdade de Cincias Medicas da Santa Casa de So Paulo. Maria Isabel Pozzi Guerra Ortopedista; Especialista em cirurgia de ombro; Chefe do Grupo de Ombro e Cotovelo da ULBRA (Universidade Luterana do Brasil) Porto Alegre RS; Membro Titular da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia); Membro da SBCOC (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo); Membro da SLAOC (Sociedade brasileira e latino-americana de ombro e cotovelo). Mauricio Kfuri Junior Professor Associado Ortopedia e Traumatologia FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto/ Universidade de So Paulo). Mcio Brando Vaz de Almeida Mestre e Doutor em Cirurgia (Ortopedia e Traumatologia) pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco); Chefe do Depto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Getlio Vargas Recife-PE. Robert Meves Chefe do grupo da coluna do departamento de ortopedia e traumatologia da Santa Casa de So Paulo. Rogrio Fuchs Mdico Voluntrio do Hospital de Clnicas - UFPR (Universidade Federal do Paran); Presidente da SBCJ (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho). 2007-08. Sandro da Silva Reginaldo Chefe do Grupo de Ombro e Cotovelo do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clnicas da Universidade Federal de GoisHC-UFG; Mestre em Ortopedia pela Faculdade de Cincias Mdicas da Santa Casa de Misericrdia de So Paulo.

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O QUE UM TRABALHO CIENTFICO?Alexandre Fogaa Cristante Marcelo Loquette Damasceno

Podemos definir um trabalho cientfico como a apresentao (oral ou escrita) de uma observao cientfica ou, ainda, a apresentao de uma ideia ou conjunto de ideias a respeito de uma observao cientfica. A observao pode ser relativamente simples ou complexa, mas deve sempre ser relatada de forma clara, organizada e concisa, para facilitar a sua compreenso; deve ser realizada com metodologia criteriosa, procurando solucionar problemas, mas com embasamento na cincia. Aulas, palestras, seminrios, conferncias e apresentaes em congressos so exemplos de comunicao cientfica oral. A comunicao cientfica escrita pode se dar sob a forma de relatrio tcnico-cientfico, dissertao, tese, monografia e artigo1. Relatrio tcnico-cientfico um trabalho que relata formalmente os resultados obtidos em uma pesquisa ou a descrio de sua situao e desenvolvimento. Apresenta, sistematicamente, informao suficiente para que um leitor possa fazer recomendaes e tirar concluses. estabelecido em funo e sob responsabilidade de uma entidade ou de uma pessoa qual ser enviado2. Dissertao o documento que apresenta o resultado de um trabalho experimental ou expe um estudo retrospec8

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tivo de um tema nico e bem delimitado em sua extenso, com o objetivo de reunir, analisar e interpretar informaes. Deve evidenciar o conhecimento da literatura existente sobre o assunto e a capacidade de sistematizao do candidato, sendo executada sob orientao de um pesquisador credenciado, com vistas obteno do grau de mestre3. Tese significa uma proposio formulada sobre determinado aspecto de qualquer cincia, a ser apresentada e defendida publicamente4; demonstra o resultado de trabalho sobre um tema especfico e bem delimitado, devendo ser elaborado com base em pesquisa original, constituindo-se em real contribuio para a especialidade em questo e visando obteno do titulo de doutor ou livre-docente. Tambm deve ser executada sob orientao de um pesquisador credenciado. Monografia o texto especializado em determinado tema, escrito por e para especialistas. Trata-se de uma dissertao minuciosa sobre um tema bem delimitado e, por suas prprias caractersticas, deve apresentar um estudo aprofundado do assunto, baseado em extensa reviso bibliogrfica, alm da experincia e das opinies pessoais do autor; apresentada em trabalhos de concluso de cursos de graduao e ps-graduao lato-sensu, bem como para a obteno do ttulo de especialista, e pode ser defendida em pblico5. O artigo cientfico um texto escrito para ser publicado num peridico especializado, tendo como objetivo comunicar os dados de uma pesquisa, seja ela experimental, quase experimental ou documental6. Em relao forma, trs definies so apresentadas7:9

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Artigo cientfico: parte de uma publicao com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, mtodos, tcnicas, processos e resultados nas diversas reas do conhecimento; Artigo de reviso: parte de uma publicao que resume, analisa e discute informaes j publicadas; Artigo original: parte de uma publicao que apresenta temas ou abordagens originais. Um bom artigo caracteriza-se por sua qualidade, atualidade e cientificidade, quando engloba elementos com clareza, preciso e fluncia, de tal forma que o leitor se sinta interessado pela leitura que apresenta adequadamente os objetivos, a metodologia utilizada e os resultados encontrados. No resumo, preciso que o leitor tenha a clara noo do que trata o artigo que deve primar pela objetividade do seu contedo; o assunto abordado deve ser descrito, explicado e argumentado em poucas palavras, com frases curtas e pargrafos breves. O texto deve ser escrito de forma criativa, tendo como principal meta atrair os leitores visados, podendo o autor utilizar inclusive figuras e ttulos interrogativos que chamem a ateno. Aps a redao, o texto deve passar por uma avaliao gramatical, com pontuao adequada, e ser regido conforme as regras da redao cientfica. Tanto os pargrafos como as partes devem apresentar um encadeamento lgico e hierrquico das ideias, guardando inclusive uma simetria na sua estrutura; o pesquisador deve optar por um tempo verbal e manter a coerncia ao longo do texto.10

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A redao deve ser direta ou objetiva em relao ao assunto, evitando-se redundncias; as afirmaes so importantes e so responsveis pelo impacto do texto. As informaes apresentadas devem ser verdadeiras e os conceitos universalmente aceitos. O contedo abordado precisa ser tratado de forma original, evitando-se a utilizao de frases feitas e lugares comuns, bem como modismos lingusticos, grias, abreviaturas, siglas, nomes comerciais, generalizaes, redundncias ou expresses de conotao racista ou etnocentrista. necessrio que o texto especifique e apresente os objetivos pretendidos com o estudo, esclarecendo do que se trata a partir do titulo. O tamanho do artigo depender do nmero de pginas estabelecido pela revista ou pelo professor, estando restrito aos parmetros ticos e com absoluto respeito ao objetivo pesquisado, s fontes estudadas e aos leitores. Basicamente, h dois tipos de artigos: Artigo original: utilizado para o relatrio de experincia de pesquisa, estudo de caso etc. Este tipo de artigo aborda temas nicos, delimitados, em que se serve de um raciocnio rigoroso e metodolgico - de acordo com as diretrizes lgicas da pesquisa cientfica - de forma interpretativa, argumentativa, dissertativa e apreciativa. Aferem-se os respectivos resultados e avalia-se o avano da pesquisa em relao ao crescimento cientfico da rea, o que exige ampla informao cultural e muita maturidade intelectual, inclusive por necessitar tambm de um referencial terico abalizado de sustentao da ideia original e indita;11

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Artigo de reviso: significa um estudo aprofundado sobre o determinado tema com o propsito de se estabelecer um debate entre os autores pesquisados e deles com o autor do artigo, para a identificao das ideias, proposies e posturas acadmicas, bem como o estado da arte, marco terico ou quadro terico, principalmente por meio de publicaes em peridicos cientficos e especializados, objetivando identificar o grau de profundidade dos estudos desenvolvidos sobre o assunto at aquele momento7. Quanto organizao do texto, deve-se seguir o modelo que apresenta a diviso das ideias em elementos pr-textuais, elementos textuais e elementos ps-textuais. Os elementos pr-textuais compem-se das informaes iniciais necessrias para uma caracterizao e o melhor reconhecimento da origem e autoria do trabalho, descrevendose tambm, sucinta e objetivamente, algumas informaes importantes para os interessados, com uma anlise mais detalhada do tema (ttulo, resumo, palavras-chave). So eles: Capa impressa: contendo dados que permitam a correta identificao do trabalho, devendo ser mencionados nome do autor, ttulo da dissertao ou tese e enunciado a que se destina o trabalho; Lombada: na capa dos exemplares, contendo o nome do autor (pr-nome seguido do sobrenome), ttulo grafado da mesma forma que a pgina de rosto, e a indicao do grau, unidade em que foi defendida e ano de entrega dos exemplares; Folha de rosto: nome, ttulo, especificao do tipo de trabalho, departamento, unidade e instituio aos quais ser12

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submetido, ttulo acadmico pretendido, rea de concentrao em dissertaes de mestrado e teses de doutorado, departamento e disciplina em teses de livre-docncia, nome do orientador em dissertaes de mestrado e teses de doutorado, coorientador, nmero de volumes, local (cidade), ano de impresso da dissertao e/ou tese; Ttulo e subttulo: portas de entrada do artigo cientfico; por onde a leitura comea, assim como o interesse pelo texto. Devem ser estratgicos, elaborados aps o autor j ter avanado em boa parte da redao final, estando com bastante segurana acerca da abordagem e do direcionamento dado ao tema. Alm disso, tendo uma composio de originalidade e coerncia, certamente provocar o interesse pela leitura; o ttulo do artigo cientfico deve ser redigido com exatido, revelando objetivamente o que o restante do texto est trazendo. Apesar da especificidade necessria, no deve ser longo a ponto de tornar-se confuso, utilizando-se tanto quanto possvel termos simples, de modo que a abordagem temtica principal seja facilmente captada. O subttulo opcional e deve complementar o ttulo com informaes relevantes, necessrias, e somente existir quando for para melhorar a compreenso do tema. Na composio do ttulo devem-se evitar ponto, vrgula, ponto de exclamao e aspas ou qualquer outro elemento que interfira no seu significado, exceto o ponto de interrogao, que neste momento serve para destac-lo, diferenciando-o dos demais. Aps o nome do autor, segue-se um breve currculo, que o qualifique na rea de conhecimento do artigo. Quando houver mais de um13

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autor, normalmente o primeiro nome do autor principal, ou primeiro autor, sendo sempre citado ou referenciado frente dos demais; Errata: lista de folhas e linhas com as devidas correes; se houver necessidade de sua incluso, esta dever vir depois da folha de rosto e ficha catalogrfica; Ficha catalogrfica: de carter obrigatrio, apresentando a folha de rosto, minirresumo da dissertao/tese em portugus e ingls e cpia em CD com os itens acima; Dedicatria: elemento opcional, em que o autor presta uma homenagem a algum; Agradecimentos: elemento opcional, eles so dirigidos apenas aos que tenham contribudo de maneira relevante na elaborao do trabalho; Epgrafe: elemento opcional, devendo vir em pgina separada; Normatizao adotada: antecedendo o Sumrio, recomendado que o autor inclua uma observao a respeito da escolha das normas a serem seguidas, a fim de informar a banca examinadora e esclarecer de antemo o modelo seguido; Sumrio: a enumerao das principais divises, sees e outras partes do trabalho, na ordem e grafia em que se sucedem no texto e com indicao da pgina inicial; Resumo: indica brevemente os principais assuntos abordados no artigo cientfico, constitudo de frases concisas e objetivas; deve apresentar a natureza do problema estudado, os objetivos pretendidos, a metodologia utilizada, os resul14

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tados alcanados e as concluses da pesquisa ou do estudo realizado, contendo de 100 a 250 palavras escritas em pargrafo nico, sem a enumerao de tpicos. Deve-se evitar qualquer tipo de citao bibliogrfica9; Abstract: verso para o ingls do resumo em portugus; Palavras-chave: relacionam-se de trs a seis palavras-chave que expressem as ideias centrais do texto, podendo ser termos simples e compostos ou expresses caractersticas. A preocupao do autor na escolha dos termos mais apropriados, devese ao fato de os leitores identificarem prontamente o tema principal do artigo, lendo o resumo e as palavras-chave7. Quando o artigo cientfico publicado em revistas ou peridicos especializados de grande penetrao nos centros cientficos, incluem-se na parte preliminar o abstract e as key-words, ou seja, o resumo e as palavras-chave em ingls. Os elementos textuais compem-se do texto propriamente dito, sendo o escopo do trabalho a etapa em que so apresentados o assunto e o desenvolvimento do mesmo. Como em qualquer trabalho acadmico, divide-se em introduo, desenvolvimento (reviso da literatura, mtodo e discusso) e concluso. Introduo: apresenta o assunto e delimita o tema, analisando a problemtica que ser investigada, definindo conceitos e especificando os termos adotados a fim de esclarecer o assunto; devem constar os objetivos da pesquisa, o problema e as hipteses de trabalho ou as questes norteadoras (quando for o caso), a justificativa da sua escolha e a metodologia utilizada, com base no referencial terico pesquisado8. A introdu15

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o deve criar uma expectativa positiva e o interesse do leitor para a continuao da anlise de todo artigo; Reviso da literatura: traz o debate entre os autores pesquisados e deles com o autor do artigo, com o objetivo de identificar o estado da arte; esta discusso baseia-se na bibliografia disponvel e atualizada, especialmente por meio do uso de peridicos cientficos; Mtodo: nesta parte so apresentados e descritos os mtodos, tcnicas, instrumentos de coleta de dados e os equipamentos, permitindo-se ilustraes; Resultados e Discusso: parte do artigo em que so descritos, explicados e discutidos os resultados, utilizando-se referencial terico a fim de argumentar e sustentar o que foi encontrado; deve conter ilustraes e as tabelas necessrias ao entendimento da pesquisa8; Concluses: parte final do artigo em que o autor apresenta as concluses da pesquisa, de modo sinttico, com descobertas fundamentadas nos objetivos que foram apresentados; comprova ou refuta as hipteses ou confirma as respostas dadas s questes norteadoras, podendo apresentar sugestes e recomendaes para outros trabalhos. Os elementos ps-textuais compreendem os componentes que completam e enriquecem o trabalho, sendo alguns opcionais, variando de acordo com a necessidade: Ttulo e subttulo (se houver) em lngua estrangeira7; Resumo em lngua estrangeira preferencialmente para o ingls (abstract), francs (rsum) e espanhol (resumen); Palavras-chave em lngua estrangeira: em ingls (key words),16

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em francs (mots-cls) e em espanhol (palabras clave); Notas explicativas: so utilizadas opcionalmente quando o texto exige uma explicao complementar; sua numerao feita em algarismos arbicos e deve ser nica e consecutiva para cada artigo, no sendo, portanto, iniciada a cada pgina; Referncias: elemento obrigatrio10; Glossrio: quando houver, deve ser elaborado em ordem alfabtica11 (elemento opcional); Apndice: texto ou documento elaborado pelo autor a fim de complementar o texto principal11 (elemento opcional); Anexos: texto ou documento no elaborado pelo autor que serve de fundamentao, comprovao e ilustrao11 (elemento opcional); Agradecimentos e a data de entrega dos originais para publicao12. Maior do que a satisfao de poder escrever um artigo expressando ideias de uma forma clara, precisa, concisa e atraente, o prazer alcanado quando o seu artigo cientfico reconhecido e citado por colegas pesquisadores, assim como quando arquivado e perpetuado atravs de uma publicao. Quanto mais experincia se ganha escrevendo novos artigos, mais fcil e rpido se torna escrever publicaes de qualidade.

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Referncias Bibliogrficas1. Estrela C, Sabino GA. Estruturao do trabalho cientfico. Metodologia Cientfica: ensino e pesquisa em odontologia. So Paulo: Artes Mdicas, 2001. Cap. 7, p. 101-120; 2. Associao Brasileira de Normas Tcnicas. NBR 10719. Apresentao de relatrios tcnico-cientficos. Rio de Janeiro, 1989a; 3. Associao Brasileira de Normas Tcnicas. NBR-14724: Informao e documentao trabalhos acadmicos apresentao. Rio de Janeiro; 2002; 4. Vitiello N. Redao e apresentao de comunicaes cientficas. So Paulo: BYK; 1998; 5. Universidade Federal do Paran. Biblioteca Central. Roteiro para apresentao de publicaes. Curitiba; 1977; 6. Azevedo IB. O prazer da produo cientfica: descubra como fcil e agradvel elaborar trabalhos acadmicos. Hagnos:205; 2001; 7. ABNT. NBR 6022. Informao e documentao: artigo em publicao peridica cientfica impressa; apresentao. Rio de Janeiro, 2003, 5 p.; 8. Gonalves HA. Manual de artigos cientficos. So Paulo: Ed. Avercamp, 2004, 86p.; 9. ABNT. NBR 6028: resumos. Rio de Janeiro, 2003. 2 p; 10. ABNT. NBR6023: informao e documentao: elaborao: referncias. Rio de Janeiro, 2002. 24 p; 11. ABNT. NBR 14724: informao e documentao: trabalhos acadmicos: apresentao. Rio de Janeiro, 2002. 6 p; 12. ABNT. NBR10520: informao e documentao: citao em documentos. Rio de Janeiro, 2002. 7 p.

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COMO UTILIZAR O PUBMEDMauricio Kfuri Junior

1. Introduo Desde o sculo XIX, a National Library of Health, nos Estados Unidos, cataloga publicaes cientficas na rea mdica. Inicialmente os dados eram compilados em arquivo impresso, conhecido como Index Medicus. A converso desse arquivo para um banco de dados digital deu origem ao MEDLINE. A partir de 1996, os dados do MEDLINE foram disponibilizados ao pblico atravs da base PubMed. O desenvolvedor do PubMed o National Center for Biotechnology Information (NCBI), sendo o sistema de busca conhecido como Entrez. O PubMed um banco de dados de literatura relacionada a cincias biolgicas. Dentro do sistema Entrez possvel obter links de acesso a inmeras bibliotecas constituintes do NCBI, incluindo bancos de dados em cincias bsicas, qumica, biologia molecular, entre outros. O PubMed contm aproximadamente 20 milhes de resumos, dos quais 90% so apresentados em lngua inglesa. Constituem esta base mais de 5 mil peridicos, pertencentes em sua grande maioria ao MEDLINE. 2. Lista de palavras-ttulo - MeSH O MEDLINE utiliza um vocabulrio especial para a indexao dos artigos. A familiaridade com esses termos torna mais fcil a busca no PubMed. A lista de termos que constituem19

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este vocabulrio denominada MeSH, que o acrnimo de Medical Subject Headings, ou palavras-ttulo na rea mdica. O MeSH , portanto, uma lista de termos tcnicos utilizados para caracterizar os resumos na rea biomdica da National Library of Medicine. Esta lista utilizada para a indexao de artigos nos peridicos biomdicos do MEDLINE, assim como para a catalogao de livros. No MeSH os termos so organizados de forma hierarquizada, para facilitar a busca de tpicos correlacionados. Sob a forma de uma rvore, o MeSh conta com ramos principais e ramos secundrios de busca. Os ramos principais so: a. Anatomia b. Organismos c. Doenas d. Agentes qumicos e drogas e. Diagnstico, tcnicas e equipamentos voltados para a teraputica f. Psiquiatria e Psicologia g. Cincias Biolgicas h. Cincias Naturais i. Antropologia, Educao, Sociologia e Fenmenos Sociais j. Tecnologia, Indstria e Agricultura k. Cincias Humanas l. Cincia da Informao m. Grupos determinados n. Cuidados em Sade20

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o. Caractersticas de publicao p. Localizaes geogrficas A seguir, damos um exemplo de como o conceito da rvore funciona. Vamos imaginar que busquemos no MeSH o termo knee (joelho). A rvore MeSH de ttulos que nos levam ao termo knee a seguinte: Anatomy Category Body Regions Extremities Lower Extremity Knee Entendemos assim que o termo knee pertence a uma hierarquia de termos e tambm constitui um subttulo (subheading). Ao analisar especificamente este subttulo vamos encontrar:

Figura 1. Lista de Subttulos MeSH. Para cada termo catalogado existe uma rvore hierarquizada de subttulos a ele relacionados.

A National Library of Medicine atribui, em geral, a cada artigo mdico uma srie de 5 a 15 ttulos da lista MeSH. Alm21

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disso, podero ser atribudos subttulos. O fato que toda vez que citamos um termo da lista MeSH desencadeia-se uma busca por proximidade em cascata, gerando um fenmeno multiplicativo de incluso de todos os ttulos que tenham algum grau de proximidade com o titulo principal. Este fenmeno conhecido como exploso automtica; ao mesmo tempo que til, por incluir informaes de amplo espectro, pode tornar uma busca muito inespecfica. Por exemplo: se o que desejamos buscar so artigos sobre uma determinada tcnica em cirurgia do ligamento cruzado posterior, mas colocamos como termo de busca a palavra knee iremos obter no apenas os artigos sobre o ligamento cruzado posterior, mas dados sobre todos os outros ligamentos, leses sseas do joelho, leses de cartilagem, diagnstico de imagem no joelho, uso de drogas para a reabilitao do joelho, dentre inmeras outras categorias de artigos que estejam vinculados como ramos da rvore knee.

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3. Apresentao de uma citao no PubMed As citaes no PubMed tm um formato padronizado de apresentao das informaes, como mostra a figura 2.

Figura 2. Formato de aparecimento de uma publicao. Todas as citaes so apresentadas com a mesma estruturao, facilitando ao pesquisador o acesso s informaes.

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O contedo dos dados aqui ilustrados classificado de acordo com a Figura 3, a seguir:

Figura 3. Diagrama dos contedos de uma citao no PubMed. Todas as citaes so apresentadas com a mesma estruturao, facilitando ao pesquisador o acesso s informaes

O ndice MeSH atribudo pela National Library of Medicine, aps examinar detalhadamente o contedo do artigo. No se trata de palavras-chave escolhidas e determinadas pelo autor do artigo. Esta padronizao importante, uma vez que nem sempre as palavras-chave nos permitem conhecer a totalidade do contedo do artigo. 4. Construindo uma busca no PubMed Quando desejamos realizar uma busca no PubMed devemos planej-la da forma mais especfica possvel. Quanto24

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mais especfica a busca, menor o nmero de artigos listados para ela. No h nada mais desagradvel do que ter uma dvida, buscar uma soluo e, em vez disso, obter uma lista com milhares de artigos que, em sua grande maioria, no oferecem o que buscamos. Por que isto ocorre? A resposta que a National Library of Medicine dispe de um sistema automtico de busca que procura correlacionar a palavra que estamos buscando com os seguintes nveis de hierarquia em seu banco de dados: a lista MeSH, seguida pela lista de jornais e peridicos e, finalmente, a lista de autores. Este processo se chama mapeamento automtico de termos e bastante abrangente. Se o termo buscado j se correlaciona com os temos da lista MeSH, a busca se encerra nesse momento, evitando-se o desperdcio de tempo de busca em outros stios. 4.1. Palavras-problema (ou stopwords) Existe uma lista de palavras que devem ser evitadas em frases na busca PubMed, porque sua presena pode dar origem a uma grande quantidade de artigos. So termos genricos conhecidos no portal PubMed como stopwords.

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Alguns desses termos esto listados na Figura 4.Stopwords a about again all almost also although always among an and another any are as at

it its itself just kg km made mainly make may mg might ml mm most mostly

these they this those through thus to upon use used using various very was we were

Figura 4. Lista de stopwords. Estas palavras quando escritas na forma de texto em uma busca podem gerar uma infinidade de resultados, uma vez que o sistema ir incluir todos os artigos e citaes que as contenham.

4.2. Redao correta do termo para a busca. O PubMed apresenta alternativas de busca todas as vezes que redigimos uma palavra de forma incorreta. Entretanto, importante estar certo de que a palavra que buscamos est redigida de forma correta em ingls evitando, assim, perda de tempo em uma busca infrutfera. Exemplos: Redigir cience26

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em lugar de science ou compartment sindrom em vez de compartment syndrom 4.3. Citaes correlacionadas Todas as vezes que a busca gera uma lista de ttulos, o PubMed automaticamente mostra uma segunda lista de artigos correlacionados a cada um daqueles gerados pela busca original. Isso multiplica a busca, mas acarreta o problema de distrair a ateno de quem est fazendo a pesquisa. Por exemplo, imaginemos que voc esteja interessado em saber o desfecho do tratamento cirrgico de fraturas expostas da tbia com hastes intramedulares. Em uma primeira lista de busca haver 507 artigos. Cada um deles ir gerar uma lista de artigos correlacionados sobre os mais diferentes aspectos, baseada na lista de termos MeSH. Assim, se um artigo da sua lista citar o uso de antibiticos na fratura exposta da tbia, este ir gerar uma lista correlacionada de artigos que tratam especificamente de alternativas teraputicas, tais como cimento com antibitico, implantes revestidos por antibiticos, antibioticoterapia venosa, antibioticoterapia oral. Ainda que o interesse do pesquisador tenha sido apenas o de obter desfechos clnicos do tratamento de fraturas expostas com implantes intramedulares, ele convidado a conhecer uma infinidade de outros dados, muitos dos quais no respondem sua questo original. Evidentemente o pesquisador no obrigado a seguir cada uma das conexes de artigos correlacionados a um dado artigo. Mas a curiosidade muitas vezes leva desconcentrao e a um desvio do foco.27

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Portanto, as citaes correlacionadas so muito teis desde que focadas na sua busca inicial. A Figura 5 ilustra exatamente o aspecto da janela de dados onde se configuram as citaes correlacionadas:

Figura 5. Apresentao de citaes na pgina PubMed. Ilustrao de uma janela de dados PubMed, com nfase no canal de acesso a artigos correlacionados. Todas as vezes que o pesquisador clica sobre este canal, ele direcionado para uma nova janela com outra lista de artigos correlacionados especificamente com o que se encontra em evidncia.

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4.4. Limites O uso de limites para a busca permite uma resposta especfica e relevante. Para ter acesso a um leque de possibilidades de limite, basta clicar sobre o cone Limits localizado acima da caixa de busca. H vrias categorias de limites que podem ser utilizados, dentre eles: Datas: especifica-se um perodo de tempo em que se deseja fazer a busca. Tipos de artigos: determina se a busca para qualquer tipo de artigo, apenas para artigos de reviso ou se para meta-anlises, entre outras opes. Idioma: possvel escolher uma busca de artigos publicados apenas em um determinado idioma. Embora 90% dos artigos existentes no PubMed esto publicados em lngua inglesa, no est excluda a busca em outros idiomas de interesse. Espcies: neste item possvel estabelecer se queremos buscar artigos relacionados apenas a seres humanos ou a animais. Gnero: possvel definir se o que se deseja ler so artigos relacionados a um ou ambos os sexos. Evidentemente, h inmeros subcaptulos que permitiro limitar a busca e importante conhecer esta ferramenta para ser mais especfico em seu trabalho. 4.5. Construindo sentenas de busca Voc j ouviu falar em operadores boleanos? Trata-se da chave para uma busca bem-sucedida no PubMed.. Sabendo29

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utilizar bem esses operadores as buscas se tornaro mais produtivas. Os operadores boleanos so os elementos que permitem agrupar ou excluir itens em uma dada busca. So as palavras AND, OR e NOT. Essas palavras permitem um sequenciamento lgico de ideias e no PubMed so reconhecidas apenas quando digitadas com letras maisculas. Do contrrio sero reconhecidas como palavras comuns e genricas. 4.5.1. OR O operador OR quando utilizado entre dois ou mais termos de busca permite que se localizem todos os artigos que tenham ao menos um dos termos buscados. Imagine que voc faa a seguinte busca: Wrist OR Fracture OR Radius. Esta busca vai gerar, hipoteticamente, os seguintes nmeros de artigos: Wrist: 2.309 Fracture: 709.387 Radius: 7.089

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Veremos que o grupo Fracture proporcionou muitas entradas, pois gerou todos os artigos que tinham o termo descrito, independente de estar relacionado a Wrist ou Radius. Esta uma busca inclusiva e pouco especfica, que permite acesso a um grande universo de dados. Veja o diagrama a seguir:

Figura 6. Diagrama OR. Esquema ilustrativo do carter inclusivo de busca com OR. A busca inespecfica e abrangente.

4.5.2. NOT O operador NOT aquele que exclui um dado elemento da busca. Assim, no exemplo anterior, se a busca fosse: Wrist OR Fracture NOT Radius, isto geraria todos os artigos relacionados a Wrist ou Fracture excluindo todos os outros em que a palavra Radius aparea. O diagrama a seguir explica como isto se configura. A rea vermelha corresponde ao universo resultante da busca.31

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Figura 7. Operador NOT. Este operador exclui um determinado subgrupo de dados, tornando a busca mais especfica e menos abrangente. Em cinza esto os dados excludos da busca

4.5.3. AND O operador boleano AND entre dois termos de busca aquele que dar origem a uma busca com todos os artigos que contenham necessariamente as duas palavras. Imagine uma busca que seja a seguinte: Wrist AND Fracture.

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Esta busca ir gerar uma lista com todos os artigos que tenham ambos os termos e no um ou outro. Veja o diagrama a seguir:

Figura 8. Diagrama AND. Apenas a rea dada pela sobreposio dos dois crculos (vermelho) corresponde ao universo de artigos que ser obtido por esta busca. Em cinza esto os dados excludos da busca.

4.5.4. Operadores mltiplos Ao utilizar mltiplos operadores simultaneamente, a ordem de processamento da esquerda para a direita. Portanto, seguindo com o exemplo, poderamos construir vrios tipos de busca distintos. Como exemplo, imaginemos a situao Wrist AND Fracture NOT Radius. Esta busca ir nos indicar todos os artigos que tenham as palavras Wrist e Fracture, excluindo todas as que tenham a palavra Radius. Portanto, torna a busca ainda mais especfica, restringindo33

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o universo de fraturas do punho que estamos buscando. Veja o diagrama:

Figura 9. Combinao dos operadores AND e NOT. Apenas a rea dada pela sobreposio dos dois crculos corresponde ao universo de artigos que ser obtido por esta busca. Apenas a rea representada pelo tringulo vermelho caracteriza o universo de busca que temos agora.

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Se, ao contrrio, a busca fosse Wrist AND Fracture AND Radius o universo apresentado seria o que est demonstrado no tringulo vermelho do diagrama abaixo:

Figura 10. Combinao de operadores AND e AND. Apenas a rea dada pela sobreposio dos dois crculos corresponde ao universo de artigos obtido por esta busca.

Podemos ver que o uso correto dos operadores boleanos permite buscas muito precisas e especficas, eliminando informao desnecessria e otimizando o tempo de trabalho. 4.5.5. Buscando uma frase completa A maneira como selecionamos as palavras de busca e as ordenamos reflete na obteno dos resultados. Operadores boleanos so elementos importantes para auxiliar na construo de uma frase. Algumas vezes no estamos procurando por uma palavra isolada, mas por um conjun35

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to delas em um contexto. Ou seja, como correlacionar frases? Imaginemos, por exemplo, que voc quisesse saber sobre os resultados da fixao percutnea da pelve mediante o uso de cirurgia auxiliada por computador. Vemos que muitas palavras esto envolvidas: percutaneous, pelvis, fixation, computer-assisted, surgery, outcomes. Se todas essas palavras forem digitadas aleatoriamente, sem operadores boleanos e sem uma definio do que desejamos correlacionar, iremos obter milhares de artigos que contenham qualquer uma dessas palavras, como ilustrado na Figura 11. Assim, uma forma de construir a frase seria: percutaneous pelvis fixation AND computer-assisted surgery AND outcomes. Todas as vezes que colocamos um conjunto de palavras entre aspas ou entre parnteses estamos agrupando estas palavras em um mesmo universo. Podemos ver esta diferena nos diagramas abaixo:

Figura 11: Universo de uma busca com mltiplas palavras no hierarquizadas. Toda a rea correspondente associao de todos os subgrupos corresponder rea de busca.36

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Figura 12. Frase hierarquizada. O uso correto dos operadores e recursos de restrio de cada subgrupo permite busca mais especficas e produtivas. O tringulo vermelho representa o conjunto de dados extrados de um grande universo de informaes.

O PubMed ir agrupar palavras em frases sempre que estiverem entre aspas ou entre parnteses, ou separadas por hfen (computer-assisted), ou j apresentarem uma indexao do MeSH. Exemplo de indexao MeSH: kidney allograft [tw]. As letras entre parnteses indicam que o pesquisador j conhece a indexao MeSH e j a utilizou, no precisando colocar as palavras entre aspas kidney allograft. Quando houver o ttulo completo do artigo que est sendo procurado e ele esteja escrito entre aspas, o PubMed ir localiz-lo imediatamente pela busca automtica de termos.37

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5. Ferramentas de Busca No PubMed existem vrias ferramentas de pesquisa que podem ajudar na tarefa de encontrar os dados que se esteja procurando. So elas: Banco de dados MeSH: um banco de dados de termos definidos pela National Library of Medicine que ordena a busca de citaes Banco de dados de jornais ou peridicos: onde esto armazenadas todas as informaes sobre os diferentes jornais disponveis para a pesquisa. Questionamentos clnicos: so buscas pr-fabricadas que podem ajudar a estreitar os dados para situaes clnicas relevantes. 5.1. Banco de dados MeSH Como o banco de dados MeSH hierarquizado em ttulos e subttulos, possvel fazer buscas especficas por subttulos. Vamos dar um exemplo utilizando o Osteosarcoma. Primeiro passo: selecionar o banco de dados MeSH, dentro da pgina PubMed. Segundo passo: digitar Osteosarcorma. Terceiro passo: clicar na guia de acesso Osteosarcoma que aparecer na tela e apresentar uma lista de ttulos e subttulos relacionados com este item. Quarto passo: selecionar Drug Therapy e Surgery como subttulos; restringir a busca aos temas principais. Quinto passo: selecionar Search Box with AND a partir do menu Send to.38

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Sexto passo: clicar Search PubMed abaixo da caixa de busca para enviar esta estratgia ao PubMed. Stimo passo: ir pagina Limits. Oitavo passo: selecionar English para idioma e All Childs para idade. Nono passo: clicar Search. Assim voc ter feito uma busca completa e especfica sobre opes teraputicas para osteossarcoma, dentro da literatura de lngua inglesa (Osteorsacoma) e dentro dos limites de teraputica medicamentosa e cirrgica. 5.2. Banco de dados de jornais Na pgina PubMed voc pode clicar na guia Journals Database. Isto lhe dar acesso a um universo de jornais que pertencem no s ao PubMed mas a todos os bancos de dados que compem o Entrez. Voc pode fazer a busca de um jornal usando: Titulo do jornal Abreviao MEDLINE/PubMed Abreviao ISO (International Organization for Standardization) Nmeros Seriais de Impresso e Eletrnicos (ISSN) Termos relacionados ao contedo do jornal (ex: biomechanics) 5.3. Investigaes clnicas A guia Clinical Queries pode ser encontrada na pgina de acesso ao PubMed. H trs filtros disponveis neste banco de dados: Search by Clinical Study Category39

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Find Sistematic Reviews Medical Genetical Searches Dentro desses filtros h cinco subcategorias: Etiology Diagnosis Therapy (default) Prognosis Clinical prediction guidelines Um dos pontos fortes do banco de dados de pesquisas clinicas localizar evidncias concretas e atuais sobre determinados problemas da prtica diria, atravs da busca de revises sistemticas no tema que se est buscando. 6. Administrando suas buscas 6.1. Histrico O PubMed realiza um histrico de suas buscas, para que seja possvel utiliz-las isoladamente ou em combinao com novas buscas. Essas buscas so mantidas ativas por um perodo de tempo de oito horas, perodo aps o qual o histrico apagado. 6.2. Salvando suas listas de artigos A busca que voc acabou de fazer gera uma lista de artigos. Voc pode selecionar a caixa do lado esquerdo dos artigos que lhe interessarem e solicitar que esta lista de ttulos selecionados seja salva no seu computador ou enviada por e-mail. Para isto bastam os seguintes passos:40

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Selecionar os artigos que lhe interessam Selecionar File do meu Send to Selecionar o formato em que deseja salvar. Clique Create File Seguir os passos do browser para salvar o arquivo 6.3. Enviando sua lista por e-mail possvel enviar at 200 tens, seguindo as instrues e clicando em Email no menu Send to. 7. Obtendo artigos completos A maioria dos jornais existentes no PubMed requerem assinatura para a disponibilizao de seu contedo. Esta assinatura pode ser individual ou de uma dada instituio. Para aqueles que no tenham assinaturas, oferecida a leitura do resumo do artigo para que os ajudem na deciso de adquirir ou no aquele material. O ideal fazer a busca em portais gratuitos, como os existentes em algumas universidades ou sociedades de especialidade. Atualmente, durante a busca dos artigos, possvel saber, olhando direita da tela, quantos artigos so gratuitos dentro de todo o universo obtido em sua busca. O mesmo ocorre para artigos de reviso existentes em meio busca que voc acaba de fazer. 8. Tutorial PubMed Este artigo tem o objetivo de facilitar o processo pelo qual voc far suas buscas dentro do PubMed e no a inteno de esgotar o tema, uma vez que bastante amplo. Para41

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aqueles que tiverem interesse em se aprofundar na rea, a pgina do PubMed oferece um tutorial gratuito de como utilizar a sua base de dados. Foi este tutorial a base de referncia deste autor para a redao deste artigo.

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COMO GRADUAR EVIDNCIA CIENTFICAMarco Antnio Percope de Andrade Guilherme Moreira de Abreu e Silva

1. Por que basear condutas em evidncias? A denominada medicina baseada em evidncias (MBE) originou-se do movimento da epidemiologia clnica anglosaxnica, sendo Archibald. L. Cochrane um dos precursores desse conceito. No livro publicado em 1972, este mdico e epidemiologista britnico chamou a ateno para a grande ignorncia coletiva acerca dos efeitos das intervenes em sade. Ele reconheceu que as pessoas que querem tomar decises mais atualizadas no tm acesso direto a revises confiveis. Evidncia cientfica definida, em termos genricos, como o processo de sistematicamente descobrir, avaliar e usar achados de investigaes como base para decises clnicas. A conduta baseada no raciocnio individual de cada mdico com fundamentao nos conceitos bsicos, era a nica forma de tomada de decises, o que gerava arestas e dependncia do saber individual. Com a introduo do conceito de evidncias, sai de cena o conceito individual, sendo substitudo pela tomada de decises em experincias coletivas, apoiada em conceitos cientificistas, com aproveitamento de um nmero exponencialmente maior de pacientes e comprovaes estatsticas dos achados clnicos, aumentando a confiabilidade das condutas mdicas. A adoo das prticas clnicas baseada em evidncias apresentou grande evoluo nos ltimos anos, porm com grande43

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heterogeneidade de aceitao entre as especialidades mdicas. No propsito questionar se ainda existe espao para a medicina como arte, embora Daher (2006) reconhea que, dada a singularidade de cada paciente, estatsticas por mais bem-vindas que sejam jamais espelharo o universo pessoal de cada indivduo, com sua prpria subjetividade e singular biologia. 2. Tipos de estudos clnicos Existem vrios tipos de estudos na metodologia cientfica, cada qual com sua funo e especificidade. No existe estudo perfeito em termos metodolgicos, pois todos apresentam potenciais vieses, em maior ou menor proporo. Ao se delinear um estudo o pesquisador deve escolher entre desempenhar um papel passivo na observao dos eventos estudo observacional ou intervir de alguma forma, observando os efeitos dessa interveno ensaio clnico. Os estudos observacionais mais comuns so o estudo de coorte e o estudo transversal. Abaixo so apresentados os desenhos mais importantes na prtica da pesquisa: Opinio de experts: este um mtodo tradicional de avaliao e tomada de deciso em medicina. Tem como desvantagem a falta de comprovao metodolgica da tomada de decises, embora seja pea importante da prtica diria. O incio de uma pesquisa ou hiptese depende da opinio de pessoas com ampla experincia em determinado assunto, para melhor embasamento do estudo. Estudo ecolgico: um estudo observacional, portanto no44

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intervencionista, em que o foco de estudo no individual e sim coletivo. O grupo de estudo compartilha a mesma rea geogrfica, sendo vantagens desse estudo a rapidez e os custos baixos para sua realizao. Pode-se citar como exemplo um trabalho que compara a incidncia de osteossarcoma em pessoas que vivem em grandes cidades comparadas com pessoas que vivem em cidades com menos de 100 mil habitantes. Diante da incidncia da doena nos dois grupos, pode se gerar uma hiptese a ser comprovada com estudos controlados. Estudo de caso, srie de casos: estudo transversal, no intervencionista que tem como finalidade a descrio de resultados epidemiolgicos e teraputicos. Por no ser controlado, apresenta nvel menor de evidncia, sendo importante ferramenta para a descrio de patologias raras. Estudo de caso-controle: Nesse tipo de investigao compara-se um grupo de pacientes que possuem a doena ou o atributo de interesse em estudo (caso) com um grupo que sabidamente no possui a doena (controle). Investiga-se ento em cada grupo, de maneira retrospectiva, a frequncia de fatores supostamente de risco e que estariam associados ao processo da doena. Caracterstica peculiar o fato de que os casos possuem o atributo de interesse, ao mesmo tempo em que a possvel exposio pregressa a fatores de risco medida. O principal dado estatstico adquirido com este tipo de estudo a razo das chances (Odds-ratio), ferramenta que pode associar a exposio com presena ou ausncia da doena. Estudo de coorte: Neste tipo de estudo, o pesquisador forma grupos de pesquisa, de preferncia de forma randmica, res45

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peitando critrios de incluso e excluso para melhor homogeneidade entre os grupos. Apresenta o grupo controle, para comparao dos achados ao grupo caso. Sua principal funo o estudo de variveis como fatores de risco para surgimento de doenas. Cria-se de forma homognea grupos expostos e no expostos a determinado fator de risco e, de forma retrospectiva (coorte histrica) ou prospectiva acompanham-se os grupos ao longo do tempo para observao da incidncia de doentes nos dois grupos. Aps a concluso do estudo, acha-se o risco relativo, risco atribuvel e outros parmetros estatsticos que correlacionam positivamente ou negativamente o fator estudado com a doena. Ensaios clnicos randomizados: excelente desenho para avaliao de tratamento. Seu desenho complexo, pois h necessidade de controle das variveis, sendo a considerao tica muito importante por estar sendo oferecido ao paciente um novo tratamento com potenciais riscos relacionados a esta exposio. A blindagem do observador e do pesquisador muito recomendada para aumentar a seriedade do estudo. Suas desvantagens esto relacionadas ao custo e dificuldade na realizao do mesmo. Em termos de pesquisa sobre teraputica, o ltimo passo antes da aprovao pelos rgos de governo para a comercializao de determinado medicamento (de preferncia ensaios clnicos multicntricos). A presena de grupo-controle indispensvel em um ensaio clnico. No tempo zero, um grupo experimental e um grupo-controle devem ser suficientemente semelhantes para que as diferenas no nmero de casos com o evento46

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procurado possam ser atribudas interveno. A maneira ideal de alocar pacientes para a interveno ou controle atravs da randomizao. Revises sistemticas e metanlise: amplamente divulgado pela Fundao Cochrane, um estudo em que os artigos publicados, em desenvolvimento e no publicados so compilados de forma sistemtica, obedecendo critrios rgidos para a chegada de concluses sobre determinado tema. Metanlise um mtodo estatstico de anlise de dados, que pode ser associado s revises sistemticas, para aumentar a confiabilidade dos resultados da literatura. Diante de uma reviso sistemtica realizada, chega-se concluso sobre determinado tema quando h literatura de qualidade, de preferncia ensaios clnicos randomizados controlados. Outra concluso possvel de uma reviso sistemtica sobre determinado tema a ausncia de literatura com qualidade metodolgica e de contedo para definir determinada conduta analisada. Nos tempos atuais, a arma metodolgica mais importante na escala de evidncia como ser discutido posteriormente. 3. Hierarquia das evidncias Cada estudo apresenta possveis vieses que podem dificultar ou mascarar o resultado final de uma pesquisa. Certamente, estudos no controlados, no randomizados e no prospectivos tm maior chance de apresentar falhas na sua elaborao. Uma tomada de conduta deve, portanto, respeitar uma hierarquia.47

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Os nveis de evidncias podem ser classificados como: Nvel I: baseado em revises sistemticas e metanlise de ensaios clnicos controlados. Nvel II: baseado em ensaios clnicos randomizados e controlados ou revises sistemticas de pior qualidade. Nvel III: baseado em estudos caso-controle, estudos retrospectivos e revises sistemticas de estudos tipo casocontrole. Nvel IV: srie de casos. Nvel V: opinio de experts.

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A Tabela 1 representa as recomendaes do Journal of Bone and Joint Surgery sobre os nveis de evidncia em ortopedia.

4. Nvel de recomendao Na dcada de 1990, a Universidade de Oxford desenvolveu uma classificao relacionando o nvel de evidncia com o nvel de recomendao clnica das condutas mdicas. Estas49

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recomendaes associadas com o nvel de evidncia da literatura atual funcionam como um forte instrumento para a realizao dos guidelines (recomendaes peridicas - geralmente anuais - das sociedades mdicas sobre temas de grande importncia clnica. (Tabela 2)

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Referncias Bibliogrficas1. Cerri G. C. Projeto Diretrizes. Associao Mdica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. 2. Daher W. Medicina baseada em evidncias - editorial. Rev Brasil Cir Vasc. 2006. Vol.21. 3. Roddy E., et al. Evidence-based recommendations for the role of exercise in the management of osteoarthritis of the hip or knee - the MOVE consensus. Rheumatology 2005;44:6773. 4. Filho N.A., Rouquayrol M.Z. Introduo epidemiologia. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2006.

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COMO SELECIONAR ARTIGOS CIENTFICOSRobert Meves Maria Fernanda Caffaro

Nos momentos iniciais de toda pesquisa necessrio fazer um levantamento da bibliografia existente sobre o tema. Esse levantamento permitir mapear os principais problemas, bem como aprofundar-se no assunto. Ademais, muitas vezes, sua questo clnica j pode ter sido respondida por outros autores. Durante a pesquisa, no raramente, mudamos ou modificamos a proposta do nosso estudo1. O passo inicial sempre a biblioteca da universidade. Atualmente possvel acessar catlogos de bibliotecas sem sair de casa. Os acervos encontram-se informatizados, facilitando enormemente a pesquisa. necessrio, entretanto, circunscrever a investigao para evitar o acesso a material que no tenha ligao direta com o tema de interesse. Uma excelente opo de pesquisa so os artigos de reviso bibliogrfica. Buscas eletrnicas primrias de trabalhos incluem a PubMed, LILACs, EMBASE e Scielo. Por seu turno, bases eletrnicas secundrias, como a Cochrane, apresentam artigos com o tema analisado criticamente com base nos trabalhos j publicados1,2. Como j foi comentado em outro captulo, devemos proceder a uma estratgia de busca direcionada, incluindo termos especficos e objetivos, diretamente vinculados ao tema do trabalho. Para a investigao e a escolha correta dos ter52

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mos eletrnicos de busca, como, na pesquisa convencional, existem sites e livros de consulta que contam com um dicionrio de termos mdicos, facilitando o acesso e minimizando erros. Algumas sugestes so: Biblioteca Virtual em Sade, Glossrio (ES+EN+PT) http://decs.bvs.br/homepage.htm Dicionrio de Termos Epidemiolgicos (PT,ES,EN,FR)(PDF) http://www.insp.mx/cisp/publicaciones/ mhernandez/1994_45.pdf Dicionrio de termos ortopdicos http://cabanavc.com/ortodicio.htm Stedman Dicionrio Mdico: Stedman, Thomas Lathrop / GUANABARA KOOGAN Registre sempre as informaes bibliogrficas selecionadas de modo completo e de acordo com as normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT). Esses registros completos facilitaro a localizao das obras e permitiro um uso mais intensivo da bibliografia. Existem alguns softwares que podem ajudar nessa tarefa, como o EndNote e ProCite. H possibilidade de uso, tambm do JabRef, um software gratuito e de fcil manuseio, que permite exportar as referncias em vrios formatos3. A pesquisa em peridicos especializados permitir selecionar de modo mais rigoroso o assunto. Ao contrrio dos livros, que podem ser publicados sem passar por nenhum processo de avaliao ou seleo, os artigos publicados nos peridicos53

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acadmicos especializados so avaliados por outros pesquisadores antes de ser publicados. Cada rea tem um conjunto de peridicos mais importantes e mais lidos, nos quais a maior parte dos pesquisadores prefere publicar. Duas ferramentas podem ser muito valiosas nessa fase da pesquisa: as bases eletrnicas de dados bibliogrficos e as bibliotecas eletrnicas de peridicos. Outra fonte so os bancos de teses disponibilizadas pelas principais universidades brasileiras1-3. Para cada um dos artigos selecionados possvel identificar, na maioria dos casos, quantas vezes um artigo foi citado e a bibliografia por ele citada. O nmero de citaes pode ser considerado como um dos indicativos da relevncia do artigo em questo. A comparao entre as diferentes bibliografias de artigos e livros permitir concluir quais dos mais de uma centena de itens inicialmente identificados so os mais importantes, quais os autores mais relevantes para a pesquisa e quais as revistas que concentram o maior nmero de artigos sobre o tema, alm de outras informaes que podem ajudar a investigao4. O levantamento bibliogrfico no deve ser uma atividade puramente mecnica e de acmulo de informaes. Nem sempre conveniente fazer levantamentos exaustivos da literatura sobre um determinado assunto, ainda mais se este tema for excessivamente amplo e genrico. As pesquisas da literatura para levantamento devem ser seletivas e a melhor maneira de selecionar a busca inicial ter um objetivo claro e definido com palavras-chaves selecionadas corretamente. Durante a seleo devemos realizar uma avaliao crtica deste54

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material, rejeitando informaes claramente inadequadas, mal produzidas ou redundantes. Isso demanda um enorme senso crtico da parte de quem faz o levantamento2-4. Portanto, para saber como procurar, preciso antes de tudo saber o qu procurar. Procuras genricas traro resultados genricos e exaustivos. Em qualquer domnio pesquisado em uma boa biblioteca ou na internet, chegaremos muito rapidamente a dezenas de milhares de referncias, sob a forma de livros, teses, artigos cientficos, relatrios, vdeos etc5. preciso evitar esta redundncia, delimitando nossa procura com maior rigor e inteligncia. Para isso, essencial que compreendamos o conceito de palavra-chave (key word). Uma palavra-chave o termo ou associao de palavras que definem ou demarcam com clareza nosso tema de pesquisa. No processo de busca bibliogrfica em bases digitais, como catlogos eletrnicos ou a prpria internet, as palavras-chave podem ser combinadas atravs da chamada lgica booleana (AND, OR e NOT), restringindo ou filtrando o prprio campo de busca. As palavras-chave, enquanto parmetros de busca, podem ser os temas de pesquisa propriamente ditos, assim como autores, peridicos, poca da publicao etc. Uma boa definio das palavras-chave e de suas possveis combinaes essencial para uma boa procura e recuperao das informaes disponveis sobre determinado assunto6. Fontes bibliogrficas As fontes bibliogrficas podem ser classificadas de diversas maneiras. Devemos desde o incio reconhecer as diferenas55

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entre fontes primrias, que so aquelas baseadas nos dados primrios de campo ou laboratrio, e as fontes secundrias, que se baseiam, por sua vez, nas fontes primrias. Devemos, sempre que possvel, ter um bom conhecimento das fontes primrias, ou seja, aquelas que no passaram ainda por uma sequncia de interpretaes, com o aumento do risco de introduo de distores ou equvocos no conhecimento j existente. Artigos originais so fontes primrias. Artigos de reviso ou bases de dados so fontes secundrias5-6. Podemos ainda classificar as fontes bibliogrficas em funo da natureza dos documentos. As fontes de leitura corrente compreendem as obras literrias ou ficcionais (romance, poesia, teatro) e as obras de divulgao, que tm como objetivo transmitir informaes sobre um determinado assunto. J as obras de divulgao tcnica e cientfica so importantssimas para o pesquisador, porque foram feitas com o intuito de resumir e comunicar, de forma em geral sinttica e abrangente, o resultado de muitos estudos e pesquisas7. Livros Os livros de referncia - como glossrios, dicionrios especializados e enciclopdias - so produzidos para consulta e no para a leitura integral. Livros de referncia informativa trazem informaes sob uma forma sinttica e concentrada, muito frequentemente organizadas em ordem alfabtica. As enciclopdias so obras cujos verbetes constituem verdadeiros ensaios sobre o tema de estudo3. Uma forma especial de divulgao feita pelos chama56

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dos livros-texto, que so uma forma inicial do pesquisador j formado a uma determinada temtica. Frequentemente os livros particularizam os nossos interesses em direo a temas especficos e, quando bons, nos remetem a informaes mais pertinentes ou adequadas a respeito de um assunto. A grande crtica dessas publicaes refere-se ao fato de se tornarem desatualizados rapidamente, j que os processos editoriais podem levar vrios anos (ou seja, um livro pode levar vrios anos para ser escrito, editado e distribudo), ao passo que a cincia produzida continuamente. Assim devemos dar preferncia, na maioria dos casos, aos livros-texto mais recentes, principalmente naquelas reas da cincia submetidas a rpidos avanos1-5. Artigos cientficos Um grupo importante de publicaes com as quais os pesquisadores devem estar familiarizados so os artigos cientficos publicados em jornais e revistas cientficos, tambm chamados de peridicos (por serem publicados com uma determinada regularidade ou periodicidade). A grande vantagem dessas publicaes sua atualidade. Por causa disso, constituem a principal fonte de informao cientfica, seja sob a forma impressa ou eletrnica. Os peridicos, tradicionalmente publicados sob a forma impressa, esto passando por um rpido processo de disponibilizao online, que pode ser gratuita ou extremamente cara. A escolha dos artigos deve ser categorizada por nveis de evidncia. Em outras palavras, diante da disponibilidade de metanlises e ensaios clnicos ale57

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atrios, devemos descartar artigos de qualidade metodolgica menor, como a srie de casos e estudos experimentais6,7. Informaes remissivas As fontes de informao remissivas (ou seja, que remetem s informaes, sem apresent-las na ntegra), existentes sob a forma impressa ou digital (disquetes, CD-ROMS, DVD-ROMS ou em pginas da internet), so absolutamente essenciais para o pesquisador. Com elas, podemos localizar publicaes utilizando palavras-chave, a partir do assunto, autor, local ou poca da publicao, etc. Nos dias de hoje, as principais fontes de informao remissivas so os catlogos ou bases de dados online7. Biblioteca fsica Muitas bibliotecas j esto integralmente informatizadas. Nesses casos, os mecanismos de busca sero semelhantes queles usualmente adotados na internet, em terminais de computador disposio dos usurios. Por exemplo, a Universidade de So Paulo conta com o portal http://www.usp. br/sibi/, que permite consulta direta ao acervo de suas 39 bibliotecas. Por sua vez, a Universidade Federal do Paran tem o Portal da Informao, que permite o acesso ao acervo de seu sistema de bibliotecas. As bibliotecas esto frequentemente interligadas, o que possibilita recuperar numa biblioteca especfica o acervo de vrias outras, facilitando o acesso s publicaes de interesse5-7. Na ausncia de sistemas informatizados, as bibliotecas58

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mantm catlogos, que so basicamente fichas dispostas em ordem alfabtica, por autor, pelo ttulo da obra ou do peridico ou por assunto. A localizao das referncias atravs de terminais de computadores atualmente realizada de modo prtico e fcil. Muitas bibliotecas mantm sistemas mistos, catalogando nos arquivos as fichas correspondentes s obras incorporadas em seu acervo h mais tempo e apenas as mais recentes nos computadores4. Podemos recuperar informaes bibliogrficas em uma biblioteca tradicional, partindo dos autores ou dos assuntos. Para localizar um autor, precisamos saber o nome e o sobrenome. Todos os trabalhos de um mesmo autor so ordenados alfabeticamente pelo ttulo. Para localizar material por assunto, necessrio procurar pelo cabealho que o descreva mais especificamente. Esta especificao depende, em geral, da quantidade de ttulos e do prprio grau de especializao da biblioteca2,5. Biblioteca eletrnica (virtual) Todos os catlogos que se encontravam presentes nas bibliotecas sob a forma impressa, j esto hoje disponveis apenas sob a forma eletrnica online. o caso, por exemplo, dos catlogos eletrnicos. Atravs dessas publicaes, temos acesso, em um primeiro momento, ao resumo de artigos ou livros, alm de uma srie de outras informaes bibliogrficas importantes. A principal limitao desses catlogos conter apenas os resumos dos trabalhos, que nem sempre so suficientes ou satisfatrios, dependendo do rigor das nossas59

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buscas. Felizmente, mais e mais editoras cientficas importantes j disponibilizam o acesso online aos textos completos de artigos cientficos ou mesmo de livros. o caso do servio Science Direct, da importante editora Elsevier, disponibilizado pela CAPES para as universidades brasileiras1,7. Muito material pode ser obtido de maneira gratuita, mas em geral o acesso aos textos completos (assim como o preo das assinaturas das verses impressas) dificultado por causa dos preos elevados. Isto faz com que, na maioria dos casos, as assinaturas de peridicos sejam institucionais. Podemos acessar e imprimir esses artigos, atravs de um aplicativo chamado Adobe Reader, em formato rigorosamente idntico ao das verses impressas. Por outro lado, muitas editoras disponibilizam temporria ou permanentemente, de forma gratuita, o acesso a textos completos de suas publicaes, como forma de fazer propaganda ou atrair assinantes potenciais. Esses servios ou facilidades da internet nada mais so do que correspondncias do mundo impresso, ou seja, verses eletrnicas de documentos originalmente disponveis sob a forma impressa. No entanto, as enormes facilidades proporcionadas pela rede mundial de computadores no se limitam a esses recursos.4 H programas ou mecanismos de busca, vinculados prpria rede, que se encarregam de localizar sites ou endereos com informaes sobre um assunto, a partir da indicao (e do cruzamento) de palavras-chave. O mais adequado para fins cientficos, alm de gratuito, o Google Acad60

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mico, em http://scholar.google.com.br). Outros mecanismos de busca para fins cientficos so o Web of Science, o Scirus (http://www.scirus.com/), Science Direct (http:// www.sciencedirect.com), Scopus (http://www.scopus.com/ scopus/home.url) e Ingenta (http://www.ingentaconnect. com/), os quais permitem acesso rpido a uma infinidade de informaes tcnico-cientficas sobre todo e qualquer assunto6.7. Entre as muitas facilidades da internet, servios como o correio eletrnico (e-mail) e as videoconferncias tm extraordinrias implicaes para a atividade cientfica. Com eles, podemos contatar rapidamente colegas de todo o mundo e rapidamente trocar ideias, trabalhos e quaisquer materiais de interesse mtuo. Tais facilidades contriburam muito para reduzir o isolamento de pequenas instituies de pesquisa em pases menos desenvolvidos, ao mesmo tempo em que aumentou poderosamente a capacidade de submetermos nossas ideias e trabalhos ao crivo crtico da comunidade cientfica de todo o mundo (e vice-versa) 1-4. No devemos confundir seleo de artigos cientficos com uma forma especfica de confeco de trabalho cientfico que a reviso sistemtica da literatura. A reviso sistemtica um mtodo de investigao cientfica com planejamento e reunio de estudos originais, sintetizando os resultados de mltiplas investigaes primrias atravs de estratgias que limitam vieses e erros aleatrios. Representa um grupo diferente de pesquisas com metodologia especfica para este fim. 161

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Fator de impacto dos peridicos Este fator consiste na mensurao da importncia ou influncia de uma revista ou grupo de documentos, obtida partir das citaes de artigos que esta revista recebe ao longo de um espao de tempo, criada a partir das bases de dados do Institute for Scientific Information4 As citaes de artigos de uma revista veiculada em um determinado ano tendem a atingir seu pico entre 2 a 6 anos aps sua publicao. A partir da, diminuem exponencialmente. O fator de impacto a medida do valor relativo na curva de citaes nos anos 2 e 3 aps a publicao de uma revista. calculado dividindo-se o nmero de citaes recebidas por uma revista para artigos publicados nos dois anos anteriores ao ano do clculo pelo nmero ISI. 5-7 Os indicadores de citao mostram a insero e aceitao da produo cientfica nacional na comunidade internacional. Sua coleta e difuso foram iniciados por Eugene Garfield, fundador do Institute for Scientific Information (ISI) com os Current Contents e Science Citation Indexes5-7 O Journal of Citation Reports edita uma publicao anual produzida pelo ISI-Thompson, como subproduto das bases de dados do Science Citation Index, desde 1976. Nela podemos encontrar tabelas por ttulos de revistas ordenadas por: Nmero de artigos publicados no ano Revistas mais citadas no ano Fator de impacto, ndice de imediatez, meia-vida de citaes62

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Revistas mais citadas, revistas que mais citam e fator de autocitao

Referncias Bibliogrficas1. ECO, Umberto. Como se faz uma tese. So Paulo: Perspectiva, 1989. 2. DAY, R. A. 1998. How to write and publish a scientific paper. Oryx Press, 5th edition, 211 pp 3. KOCHE, J. C. 1997. Fundamentos de metodologia cientfica. Teoria da cincia e prtica da pesquisa. Editora Vozes, 180 pp 4. LAKATOS, E. M. & Marconi, M. A. 1992. Metodologia do trabalho cientfico. Ed. Atlas, 4a edio, 214 pp 5. MARCONI, M. A. & Lakatos, E. M. 1999. Tcnicas de pesquisa. Ed. Atlas, 4a. edio, 260 pp 6. REY, L. 1993. Planejar e redigir trabalhos cientficos. Ed. Edgard Blucher, So Paulo, 318 pp. 7. SEVERINO, A. J. 2000. Metodologia do trabalho cientfico. Cortez Editora, So Paulo, 279 pp.

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TTULOMcio Brando Vaz de Almeida Epitcio Leite Rolim Filho

O artigo cientfico dividido em sees. Inicia-se por Ttulo, Autor(es) e Afiliao. Em seguida so descritos o Resumo e as palavras-chave e suas verses em ingls, Abstract e Keywords, respectivamente. Posteriormente so feitos Introduo, Material e Mtodos, Resultados, Discusso, Concluses e Referncias Bibliogrficas. Apesar de existir uma srie de regras e critrios para a redao do trabalho cientfico, ocorrem variaes entre as revistas. De modo que os autores do trabalho cientfico devem ter conhecimento das Normas para Publicao da revista a que se propem publicar. Nelas esto contidas vrias instrues que devem ser seguidas rigorosamente. Podem ser obtidas no prprio peridico ou pela internet, na homepage do peridico. Ttulo A confeco do ttulo uma das ltimas tarefas da redao, pois, nessa fase, o autor tem uma noo geral do trabalho. muito importante que sejabem elaborado, pois por onde a leitura do artigo cientfico comea e ser o elemento que levar ao interesse pelo texto. O ttulo do artigo cientfico deve ser redigido com exatido, mostrando de forma objetiva o restante do texto do artigo. Ele64

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deve conter o menor nmero de palavras capazes de traduzir corretamente o contedo do artigo. Um ttulo bem feito facilita a indexao e a procura por parte do leitor. Orientaes a) O ttulo do artigo dever ser inscrito em portugus e ingls; b) Caso seja colocado algum nome cientfico no ttulo, ele deve ser destacado em itlico ou sublinhado (optar por um ou outro); c) Expresses desnecessrias e que fujam ao contexto do artigo devem ser evitadas; d) Abreviaturas, siglas e acrnimos no devem fazer parte do ttulo, exceo daqueles que j so amplamente aceitos pela comunidade qual se destina (RNM, DNA, IgA, por exemplo); e) Um bom ttulo no deve ser demasiado extenso, devendo conter no mximo doze palavras; f ) Ttulos extensos podem tornar-se confusos; em alguns casos, entretanto, podem ser um pouco maiores; g) Palavras e expresses redundantes ou desnecessrias no devem fazer parte do ttulo; h) Na confeco do ttulo devem ser evitados ponto, vrgula e ponto de exclamao; o ponto de interrogao pode ser usado quando servir para destac-lo e diferenci-lo dos demais; i) No colocar no ttulo aspas ou qualquer elemento que interfira no seu significado.65

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Autor(es) e Afiliao a) O(s) nome(s) completo(s) do(s) autor(es), sem abreviaturas, devem ser colocados logo abaixo do ttulo; b) De maneira geral, o nome do autor principal o primeiro a aparecer abaixo do ttulo. Depois so colocados, caso haja, os outros autores, seguindo-se a ordem decrescente de dedicao e esforo na confeco do trabalho cientfico. c) O grau acadmico e a principal afiliao institucional de cada autor devem ser descritos separadamente na folha de rosto, geralmente no rodap; d) A(s) instituio ou instituies, onde foi realizado o trabalho deve(m) ser citada(s); e) Devem constar o nome e o endereo completo do autor principal, para um possvel contato por correspondncia fax e e-mail; f ) Caso haja alguma fonte de auxlio pesquisa, ela deve ser citada; g) Declarao de conflito de interesses tambm deve ser colocada. Resumo o primeiro texto a ser lido, aps o leitor se sentir atrado pelo ttulo. Serve para mostrar os principais assuntos abordados no artigo cientfico de forma breve, ou seja, a sntese do contedo do trabalho cientfico. Muitos bancos de dados divulgam o artigo apenas pelo resumo e, por isso deve ser descrito de forma objetiva, com66

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frases concisas e claras, enfatizando os elementos de maior interesse e importncia. Alm disso, deve mostrar a natureza do problema estudado, e conter informaes quanto ao objetivo, metodologia, aos resultados e s principais concluses. Deve enfatizar aspectos novos e importantes do estudo ou das observaes. Recomendaes a) O resumo deve ser descrito em pargrafo nico, sem a enumerao de tpicos. b) O resumo deve conter entre 150 e 250 palavras, sendo no mais do que 150 palavras para resumos no estruturados e no mais do que 250 palavras para resumos estruturados. De acordo com as normas da revista, usa-se um ou outro critrio. c) O resumo deve ser escrito de forma impessoal. d) As primeiras linhas devem ser especialmente elucidativas, mas no uma repetio do ttulo. e) Devem ser evitadas as consideraes gerais. f ) No se usam abreviaturas. g) No se usam tabelas. h) No se colocam citaes bibliogrficas. i) O resumo deve limitar-se aos resultados mais expressivos. Abstract a verso do resumo para o idioma ingls. Esta verso deve ser realizada com qualidade, evitando-se a utilizao de softwares para tradutores instalados no computa67

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dor. Uma falha tambm comum o contedo da traduo no corresponder ao resumo original. Palavras-chave Depois do resumo, os autores devem fornecer e identificar palavras-chave, termos importantes, que expressem as ideias centrais do texto. As palavras-chave so tambm denominadas de descritores, unitermos ou termos para indexao dos textos cientficos. Esses termos precisam ser bem escolhidos, pois atravs deles e do resumo que o leitor identifica prontamente o tema principal do artigo. Atualmente as palavras-chave assumiram importncia ainda maior, pois com o desenvolvimento de grandes bancos de dados, as pesquisas bibliogrficas se tornaram mais acessveis, atravs de rede de computadores ou pela internet. So geralmente relacionadas de trs a seis palavras, no entanto alguns autores utilizam at dez palavras. As palavras colocadas como descritores, no devem fazer parte do ttulo, a no ser que sejam de grande importncia. Cada palavra deve ser iniciada por letra maiscula e separada por ponto, vrgula ou ponto e vrgula. Keywords ou index terms so as verses do termo palavras-chave para o idioma ingls.

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Referncias Bibliogrficas1. Abrahamsohn P. Redao Cientfica. 1a edio. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan; 2009:269. 2. Aquino, IS. Como Escrever Artigos Cientficos: sem arrodeio e sem medo da ABNT. 7a edio. So Paulo: Ed Saraiva; 2010:126. 3. Juc M. Metodologia da Pesquisa em Sade. 1a edio. Macei: EDUFAL; 2006:118. 4. Lakatos EM, Marconi MA. Metodologia do Trabalho Cientfico. 7a edio. So Paulo: Ed Atlas; 2007:228. 5. Medeiros JB. Redao Cientfica: a prtica de Fichamentos, Resumos e Resenhas. 11a edio. So Paulo: Ed Atlas; 2009:321. 6. Severino AJ. Metodologia do Trabalho Cientfico. 23a edio. So Paulo: Cortez Editora; 2010:304. 7. Souto A. Anatomia de um Artigo. 1a edio. Recife: Editora Universitria da UFPe; 2004:93. 8. Spector N. Manual para Redao de Teses, Projetos de Pesquisa e Artigos Cientficos. 2a edio. Rio de Janeiro: Ed Guanabara Koogan; 2001:150.

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INTRODUOMaria Isabel Pozzi Guerra

Escrever um artigo cientfico escrever uma obra literria. Ele tem suas regras e o autor quer ser lido. Com esta finalidade, antes de escrever o artigo, devemos saber quais so as regras que devemos seguir. Alm disso, para que o artigo seja vendvel, ele deve possuir pelo menos duas premissas: bom contedo e estilo palatvel. Todas essas premissas j devem estar contempladas na Introduo. As regras precisam ser seguidas e o autor, desde o incio, tem de atrair a ateno do leitor com a finalidade de seduzi-lo para a leitura de todo o artigo. As regras so definidas pela prpria revista cogitada para a publicao. Existem normas bem gerais, porm amplamente aceitas. A principal delas baseia-se nas orientaes do Grupo de Vancouver1. Alm disso, existem determinaes bem declaradas por comits ou grupos que estudam especificamente esses detalhes. Assim, para ensaios clnicos podemos seguir as linhas do CONSORT2. As metanlises tm as instrues do QUORUM3. Nos estudos para diagnstico, podemos usar o delineamento do STARD4. As declaraes contidas no STROBE5 orientam a publicao de um estudo observacional. Enfim, sempre que vamos comear um determinado estudo devemos avaliar posicionamentos de grupos e comits especficos para estudos com desenhos especficos.70

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Aps ultrapassar esta etapa eminentemente tcnica, devemos nos preocupar com o estilo e a clareza de nossa escrita. Como j observei, a Introduo a etapa que apresenta ao leitor nosso artigo. Por isso, ela crtica. Em dois ou no mximo trs pargrafos, devemos falar sobre todo o artigo. O nmero pequeno de pargrafos segue as recomendaes do International Committee of Medical Journal Editors que, desde sua reunio em 1978, na cidade de Vancouver, determinaram certas normas que deveriam ser seguidas. Cabe salientar que entre as intenes dos participantes do comit, os problemas financeiros de custeio das publicaes estavam entre as principais preocupaes. Portanto, h a necessidade de que no seja excedido o nmero mximo de pargrafos/caracteres. No primeiro pargrafo, o autor deve posicionar o leitor acerca da importncia epidemiolgica, da sade pblica ou de outros pontos que o autor entenda que dar relevncia ao que vai ser descrito. Pode at ser a declarao da raridade do que est para ser lido. No segundo pargrafo, o autor deve fechar o foco da descrio no tema especfico que ser tratado. Assim, se formos escrever sobre tratamento, temos que descrever os que so utilizados para a enfermidade. Se vamos descrever meios diagnsticos, devemos escrever sobre os que esto em uso. No podemos deixar de lembrar que em assuntos como tratamento e meios diagnsticos pode haver o que se chama padro-ouro. Se houver, penso que este padro-ouro deva71

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ser mencionado. O segundo pargrafo deve direcionar o foco do leitor da abordagem geral descrita no primeiro pargrafo para o tema especfico que ser tratado ao longo do artigo. Esses pargrafos podem ter certa liberdade literria. Entendo que devam ser curtos, objetivos e claros, porque a linguagem cientfica deve ser curta, objetiva e clara. No bom comear o artigo esgotando a pacincia do leitor com informaes batidas, confusas e longas. Este ser o caminho mais curto para que ele abandone a leitura do artigo. No podemos deixar de lembrar que nosso artigo concorre com milhares de outros publicados. Para que se torne vendvel, necessrio que tambm seja atraente, palatvel. Tambm, ser nessas partes que deveremos colocar as referncias bibliogrficas. Alis, as referncias bibliogrficas cabem principalmente na Introduo e, claro, na Discusso. Em qualquer outro lugar, o autor deve tomar muito cuidado se tiver a inteno de inserir uma referncia bibliogrfica. Embora eventualmente possa surgir a necessidade de se fazer alguma referncia em Material e Mtodos, por causa da descrio de um autor, os lugares preferenciais para referncias bibliogrficas so Introduo (nesses primeiros pargrafos) e Discusso. O ltimo pargrafo deve ser o pargrafo da declarao do(s) objetivo(s) da pesquisa que vai ser descrita no artigo. Alis, este o primeiro pargrafo que pode ser escrito. Quando vamos elaborar uma pesquisa, a primeira providncia declarar explicitamente a pergunta que a pesquisa se prope responder. Costumo orientar que o pesquisador72

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escreva a pergunta. O ato de escrev-la deixar mais simples os prximos passos da pesquisa como base terica e delineamento. No momento em que escrevo a pergunta, tambm escrevo o ltimo pargrafo da introduo. Assim, se a pergunta for Qual o melhor mtodo de tratamento da leso do manguito rotador: mini-inciso ou artroscpico?, ento meu ltimo pargrafo poder ser: O objetivo deste trabalho comparar os resultados do tratamento da leso do manguito rotador com tcnica mini-inciso e tcnica artroscpica. Obviamente, quando formulamos uma pergunta, devemos pensar no delineamento de nosso trabalho. Este delineamento vai ser abordado em outro captulo desta publicao, mas estar relacionado com o tipo de resposta que quero obter. Assim, se no caso anterior realizei um ensaio clinico, poderei descrever no ltimo pargrafo o delineamento: O objetivo deste trabalho comparar os resultados do tratamento da leso do manguito rotador com tcnica mini-inciso e tcnica artroscpica atravs de um estudo prospectivo, randomizado, cegado. Estas declaraes, que sero detalhadas em Material e Mtodos, servem como manchetes para atrair o leitor para o artigo todo. Portanto, est na Introduo o momento correto de mostrar o que vai ser todo o artigo e, por isso, ela deve ser atraente, objetiva e concisa.

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Referncias Bibliogrficas1. Pellizzon, R.F., Montero EDS, Poblacin DA, Monteiro R, Castro RCF. Brazilian scientific journals in surgery. III: Analysis of the instructions for authors based on Vancouver uniform requirements. Acta Cir Bras 2007; 22(6):503-17 2. Schulz KF, Altman DG, Moher D. CONSORT 2010 Statement: Updated Guidelines for Reporting Parallel Group Randomized Trials. Annals of internal medicine 2010; 152(11): 1-8 3. Moher D, Cook DJ, Eastwood S ET al. Improving the quality of reports of meta-analyses of randomised controlled trials: the QUOROM statement. Quality of Reporting of Meta-analyses. Lancet 1999; 354(9193): 1896-900 4. Bossuyt PM, Reitsma JB, Bruns DE ET al. Towards complete and accurate reporting of studies of diagnostic accuracy: The STARD Initiative. Ann Intern Med 2003; 13(1): 40-4 5. von Elm E, Altman DG, Egger M ET al. [The Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology [STROBE] statement: guidelines for reporting observational studies]. Gac Sanit 2008; 22 (2): 144-50

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OBJETIVOSAlexandre Fogaa Cristante Marcelo Loquette Damasceno

Neste captulo o autor menciona de maneira clara e sucinta a finalidade da pesquisa, com especificao dos aspectos que sero ou no abordados, e metas que se desejam alcanar com a pesquisa. Se os objetivos forem muitos, ou de alguma forma imprecisos, talvez no tenha sido bem definido o tema investigado. Preconiza-se definir os objetivos de uma forma que facilite a leitura e que permita uma avaliao fcil e rpida. Os objetivos devem ser pensados em funo da realidade do tema e do prprio pesquisador, devendo ser coerentes com o problema e a justificativa. O objetivo geral ser a sntese do que se pretende alcanar e os objetivos especficos explicitaro os detalhes e sero desdobramentos do objetivo geral. As metas de um projeto devem ser bem definidas e corresponder explicitao dos objetivos do trabalho. Estes orientaro a redao no s da metodologia, mas, sobretudo, dos resultados, da discusso e da concluso, podendo ser definidos como gerais ou especficos. Os objetivos especficos tm uma funo intermediria e instrumental, de modo a permitir que o objetivo geral seja atingido ou que ele seja aplicado a situaes particulares. A a critrio do autor pode estar no final da introduo ou em captulo separado. Neste tpico, os verbos devem estar no infinitivo, sinteti75

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zando de forma clara os horizontes do projeto, em sintonia com o cronograma de desenvolvimento apresentado: identificar, enumerar, compreender, analisar, conhecer, comparar; verbos que indiquem ideais no constituem objetivo: promover, ajudar, resolver, melhorar, contribuir. Nada disso possvel constar numa pesquisa cientfica, pois bom lembrar que ideais no so objetivos de pesquisa.

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REVISO DE LITERATURAMarcelo Tomanik Mercadante

1. Definio Uma coletnea crtica das literaturas especializadas mais importantes publicadas a respeito de um tpico especfico; uma avaliao crtica da literatura. Uma das etapas do processo de pesquisa. 2. Introduo A reviso de literatura tem papel fundamental no trabalho acadmico, pois atravs dela situa-se um trabalho dentro da grande rea de pesquisa da qual se faz parte. Situar o trabalho muito importante tanto para o autor quanto para o leitor do texto. Quem escreve precisar definir os autores pertinentes para fundamentar seu trabalho, o que demandar uma leitura vasta, constante e repetida; o leitor, por sua vez, identificar o assunto do estudo com base nos autores selecionados para a reviso de literatura. Assim, a reviso da literatura pode ser vista como o momento em que identificamos o trabalho, pois ao citar uma srie de estudos prvios que serviro como ponto de partida para a pesquisa, fundamentamos o objetivo do estudo