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Como educar a criança?J. C. Ryle

Tradução Mario Persona

Prefacio por H. E. HayhoeAo publicarmos “Como Educar ACriança?”, sentimos que é importantelembrar, antes de tudo, que coisa algumapode ser feita apropriadamente se ospais ou responsáveis não foremverdadeiros filhos de Deus. Se estelivreto caiu nas mãos de uma mãe ou deum pai incrédulo, nosso desejo é quevocê aceite o Senhor Jesus comoSalvador.

Talvez você tenha um lar em ordem,

segundo os padrões humanos, maslembre-se do que Deus diz em Hebreus11:6: “Sem fé é impossível agradar aDeus”. Ao se preocupar com essascrianças tão queridas que Deus colocousob seus cuidados, tendo elas uma almaimortal e preciosa, convém que você secertifique de estar, a si próprio, emordem com Deus. Foi para pecadoresperdidos e sem qualquer esperança,como nós, que o Senhor Jesus morreu.Somente Ele pode limpar os seuspecados, e Ele o fará se você for a Eleagora mesmo, apresentando-Lhe tãosomente a sua culpa, e confiando novalor do precioso sangue de Cristo paralimpá-lo de toda mancha perante umDeus santo (1 Jo 1:7). E então, havendo

se tornado um dos filhos de Deus, vocêestará capacitado — e certamente seráeste também o seu desejo — a criar seusfilhos para o Senhor e para Sua glória.

Antes de serem verdadeiramente salvos,os pais não podem apresentar aos seusfilhos a motivação adequada. Opensamento do homem natural nuncapode ir mais alto do que a sua própriapessoa, e mesmo na educação de seusfilhos o que os pais inconversoscolocarão diante deles será o seupróprio eu. Eles ensinarão seus filhos afalar a verdade porque eles (os pais)não gostam de mentiras. Eles irãoensiná-los a ter boas maneiras a fim detornarem seus filhos agradáveis e bemaceitos na sociedade. Eles lhes dirão

que seus amigos não gostarão deles sefizerem certas coisas e, portanto, nãodevem fazê-las. Em suma, toda aeducação terá um motivo centralizado nopróprio eu; e, nesse caso, não poderiaser de outro modo.

Porém até mesmo um cristão, se nãoestiver vigilante, estará inclinado acopiar essas ideias mundanas. Umamotivação como essa apela paracoração natural, nosso e de nossosfilhos, mas não se trata de umamotivação vinda de Deus. Criar nossosfilhos “na doutrina e admoestação doSenhor” (Ef 6:4) é algo totalmentecontrário a isso. Deveríamos ensiná-losa dizer a verdade porque sãoresponsáveis diante do Senhor, e Ele

odeia a mentira. Deveríamos ensiná-losa ser afáveis porque o Senhor diz paraserem afáveis (1 Pe 3:8), e eles devemprocurar agradá-Lo. Deveríamos ensiná-los a buscar sempre fazer o que écorreto, não para serem bem vistos pelasociedade (pois haverá ocasiões em queserão desprezados justamente por isso),mas tão somente para agradar ao Senhor.Isto é exatamente o oposto do ponto devista humano, mas é o único caminhocerto, se o que buscamos é educarnossos filhos em conformidade comDeus.

Sentimos que é nosso dever frisar bemaqui que nossa confiança em educarnossos filhos, bem como em tudo aquiloacerca do que devemos ter confiança,

deve estar no Senhor, e não em nósmesmos ou em nossos métodos. “Nãoque sejamos capazes, por nós, depensar alguma coisa, como de nósmesmos; mas a nossa capacidade vemde Deus” (2 Co 3:5). Não há um pai ouuma mãe que possa afirmar ter educadocorretamente seus filhos em todos osdetalhes. Deus nos faz cônscios de nossafraqueza e de nosso fracasso, a fim depodermos nos voltar a Ele e reconhecerque devemos tudo à Sua graça. Que oSenhor possa dar graça a cada um denós, e a todos os pais que lerem estaslinhas, para que possamos buscar nele agraça, sabedoria e força necessárias,que somente Ele pode suprir a cada dia,para sermos capazes de encaminhar

nossa família a Ele nestes últimos dias.

H. E. Hayhoe

“Criai-os na doutrina eadmoestação do Senhor” (Ef 6:4).Quão pouca importância é dada a esteversículo! Vivemos numa época em quehá um grande zelo pela educação; novasescolas estão surgindo de todos oslados; novos sistemas e novos livrospara educar o jovem em todos osaspectos. Essas coisas podem muito bemdespertar um exercício em nossoscorações.

Trata-se de um assunto que deveriaencontrar morada em cada consciência,pois dificilmente haverá um lar onde ele

não se aplique. Neste assunto, mais doque em qualquer outro, somos propensosa enxergar com mais clareza as faltasdos outros do que vermos as nossaspróprias. Devemos suspeitar de nossojuízo próprio. Às vezes eu fico perplexocom a demora de certos pais, cristãosbem sensatos, em admitirem que seusfilhos cometeram alguma falta oumerecem uma repreensão.

Vamos colocar agora diante de nósalgumas sugestões; palavras ditas a seutempo (Pv 15:23). Não as rejeite pelofato de serem apresentadas de formasimples e até mesmo um pouco rude.

Primeiro, se pretendemos educar nossosfilhos com sabedoria, devemos educá-

los de acordo com a Palavra de Deus.

Lembre-se: crianças nascem com umaevidente inclinação para o mal.Portanto, se deixarmos que elasescolham por si próprias, com certezafarão a escolha errada.

A mãe não pode prever como será o seutenro bebê quando crescer; alto oubaixo, forte ou fraco, sábio ou tolo; elepoderá se tornar uma coisa ou outra — étudo uma incerteza. Mas há algo que umamãe pode dizer com certeza: elepossuirá um coração corrupto epecaminoso. Faz parte de nossa naturezaagir errado. Deus diz que “a estultíciaestá ligada ao coração do menino” (Pv22:15). “A criança entregue a si mesma

vem a envergonhar a sua mãe” (Pv29:15 — Almeida Versão Atualizada).

Portanto, se desejamos agir sabiamentepara com nosso filho, não devemosdeixá-lo sob a direção da sua própriavontade. Devemos pensar por ele ejulgar por ele, assim como teríamos quefazer por alguém cego e débil, masjamais devemos abandoná-lo às suaspróprias tendências e caprichos. Nãosão os seus gostos e desejos que devemser consultados. Ele ainda não sabe oque é bom para a sua mente e para a suaalma, tanto quanto ele não sabe o que ébom para o seu corpo. Não deixe queele decida o que deve comer, o que devebeber e como deve se vestir.

Quantas cenas vergonhosas à mesapoderiam ser evitadas se os paisbuscassem sabedoria divina acerca doque é melhor para se colocar no prato deuma criança.

Se não concordamos com este primeiroprincípio divino de se educar a criança,não trará nenhum proveito continuar aleitura deste livreto. A vontade própriaé geralmente a primeira coisa que surgena mente de uma criança, e nossoprimeiro passo deve ser o de resistirmosa ela. O melhor cavalo do mundo teveque ser domado.

Eduque seu filho com todaternura, afeição e paciência.Não estou querendo dizer que você deva

mimá-lo, mas sim fazê-lo ver que o ama.Bondade, gentileza, domínio-próprio,brandura, paciência, simpatia, desejo departicipar dos problemas infantis,prontidão em participar das alegriasinfantis — são as cordas pelas quaisuma criança pode ser conduzida com amaior facilidade; são as pegadas quevocê deve seguir se deseja encontrar ocaminho ao coração dela.

Austeridade e severidade nos modos asdesanimam e fazem com que se afastem.Isso fecha seus corações, e você vaificar aborrecido tentando procurar aporta. Mas deixe que vejam que vocêtem um sentimento afetivo para comelas; que você deseja realmente fazê-lasfelizes e fazer-lhes o bem; que se você

as pune é buscando o bem delas.

As crianças são criaturas frágeis esensíveis, e, como tais, precisam sertratadas com paciência e consideração.Devemos manuseá-las delicadamente,como plantas delicadas, pois umtratamento áspero lhes fará mais mal doque bem.

Não devemos esperar que aprendamtudo de uma só vez. Devemos noslembrar do que são e ensiná-las aquiloque puderem suportar. O entendimentodelas é como um vaso com gargaloestreito; devemos introduzir nelas ovinho do conhecimento gradualmente,caso contrário a maior parte sederramará e se perderá. Linha após linha

e preceito após preceito, um pouco aqui,um pouco acolá; esta deve ser a nossaregra. É verdade que para se educar umacriança há necessidade de paciência,mas sem esta nada poderá ser feito.

Não existe nada que possa compensar aausência de amor e ternura. Você podecolocar os deveres de seus filhos diantedeles, pode dar-lhes ordens, ameaçá-los, puni-los, discutir com eles; mas sefaltar afeição no seu tratamento, todo oseu trabalho terá sido em vão. Amor é ogrande segredo de uma educação bemsucedida. Ira e aspereza podem assustar,mas não convencerão uma criança deque você esteja certo. E se ela o vê forade si com frequência, bem cedo deixaráde respeitá-lo. O medo põe fim a um

relacionamento franco; o medo leva acriança a fazer as coisas às escondidas;o medo lança a semente da hipocrisia eleva muitas a mentirem. Há uma mina deverdade nas palavras do apóstolo aoscolossenses: “Vós, pais, não irriteis avossos filhos, para que não percam oânimo” (Cl 3:21).

Eduque seus filhosdiligentemente, lembrando-se daimportância de uma educaçãocorreta.Os hábitos criados na tenra idade são, sepodemos falar assim, os maisimportantes para Deus. Somos o quesomos pela educação que tivemos.Nosso caráter toma a forma do molde

em que nossos primeiros anos foramcolocados, sem esquecer,evidentemente, o que a graça de Deuspode fazer por aquele que se volta a Ele.

Deus dá aos nossos filhos umadisposição para confiarem em nossapalavra e não na de um estranho, e suasmentes receberão marcas e impressõescomo acontece com a argila úmida. Empoucas palavras, Deus nos dá umaoportunidade de ouro para lhes fazermosbem. Fique atento para não negligenciaressa oportunidade, desperdiçando-a.

Eu sei que você não pode converter seufilho. Sei muito bem que aqueles que sãonascidos de novo são nascidos, não davontade do homem, mas de Deus. Mas

também estou ciente de que Deus dizexpressamente, “criai-os na doutrina eadmoestação do Senhor” (Ef 6:4), e Elenunca deu ao homem uma ordem semprover também a graça para que fossecapaz de cumpri-la. O caminho deobediência é o caminho de bênção.Temos tão somente que fazer comofizeram os servos na festa de casamentoem Caná, ou seja, encher os vasos comágua; e podemos seguramente deixar queo Senhor transforme a água em vinho.

Tenha sempre em mente que aalma de seu filho é o que deveestar em primeiro lugar.Sem dúvida alguma esses pequeninossão preciosos aos nossos olhos, mas se

os amamos iremos nos preocuparconstantemente com suas almas. Nadapoderá nos interessar mais do que seubem estar eterno. Nenhuma parte delesdeveria ser tão cara a nós do que aquelaque nunca morrerá. O mundo, com toda asua glória, passará, mas o espírito quehabita naquelas criaturinhas que tantoamamos, sobreviverá a tudo, e se serápara felicidade ou para miséria (falandocomo homem), isso dependerá de nós.Este é o pensamento que deveria estarsempre em primeiro lugar em nossamente, em tudo aquilo que fazemos paranossos filhos: “Como isso afetará suaalma?”.

Mimar e satisfazer todos os caprichosde nosso filho, como se este mundo

fosse a única coisa importante para ele eesta vida a única ocasião disponívelpara ser feliz, não é amor verdadeiro,mas crueldade. Tampouco é fidelidade aCristo.

Um cristão fiel não pode ser escravo damoda, se quiser educar seu filho para oSenhor. Ele não deve se contentar emfazer as coisas meramente por serem ocostume do mundo, principalmente noque diz respeito ao mundo religioso comsuas tradições populares, mas nãoautorizadas biblicamente, como é o casodo “Natal” e da “Páscoa” (Gl 4:10;Rm 12:2). Você tampouco os estaráprotegendo se permitir que leiam as vãsrevistas em quadrinhos e livros dequalidade questionável, simplesmente

porque todo mundo os lê. E o que maispode introduzir tanto o mundo no laralém da televisão? Pais cristãos nãodevem se envergonhar se chamarem seumétodo de educar estranho e excêntrico.E se for, o que importa? O tempo é curto— a moda deste mundo passa logo.Aqueles que têm educado seus filhospara o céu ao invés de educá-los para aterra — para Deus ao invés de fazê-lopara os homens — são pais que no finalserão chamados sábios. “Aquele que faza vontade de Deus permanece parasempre” (1 Jo 2:17).

Eduque seu filho noconhecimento da Bíblia.Não podemos fazer nossos filhos

amarem a Bíblia, eu sei disso. Ninguémalém do Espírito Santo pode dar a elesum coração que se deleite com aPalavra. Mas podemos fazer com quenossos filhos fiquem familiarizados coma Bíblia; e pode ter certeza de que nuncaserá cedo demais para fazê-lo, e elesnunca estarão familiarizados demaispara você dar a tarefa por encerrada.Deixe que a Bíblia, simplesmente, sejatudo na educação de suas almas; e quetodos os outros livros fiquem emsegundo lugar.

Faça com que seus filhos leiam a Bíbliareverentemente; em verdade ela é aPalavra de Deus. E faça com que aleiam regularmente.

Fale a eles do pecado, de sua culpa, dasconsequências, do seu poder, de suavileza — você verá que são capazes decompreender algo a esse respeito. Fale aeles do Senhor Jesus Cristo, do Seuamor, da Sua obra para nossa salvação— Sua cruz, Seu sangue derramado, Suaressurreição, ascensão e breve retorno.Em tudo você descobrirá algo que nãoestará além da compreensão deles.

Eduque seu filho noconhecimento da Bíblia.Não podemos fazer nossos filhosamarem a Bíblia, eu sei disso. Ninguémalém do Espírito Santo pode dar a elesum coração que se deleite com aPalavra. Mas podemos fazer com que

nossos filhos fiquem familiarizados coma Bíblia; e pode ter certeza de que nuncaserá cedo demais para fazê-lo, e elesnunca estarão familiarizados demaispara você dar a tarefa por encerrada.Deixe que a Bíblia, simplesmente, sejatudo na educação de suas almas; e quetodos os outros livros fiquem emsegundo lugar.

Faça com que seus filhos leiam a Bíbliareverentemente; em verdade ela é aPalavra de Deus. E faça com que aleiam regularmente.

Fale a eles do pecado, de sua culpa, dasconsequências, do seu poder, de suavileza — você verá que são capazes decompreender algo a esse respeito. Fale a

eles do Senhor Jesus Cristo, do Seuamor, da Sua obra para nossa salvação— Sua cruz, Seu sangue derramado, Suaressurreição, ascensão e breve retorno.Em tudo você descobrirá algo que nãoestará além da compreensão deles.

Eduque-os no hábito da oração.Se você ama seus filhos, faça tudo o queestiver ao seu alcance para educá-los nohábito da oração. Mostre a eles comodevem começar. Diga a eles o quedevem falar. Encoraje-os aperseverarem. Faça com que selembrem, caso se tornem descuidados enegligentes neste assunto. Assim comoos primeiros passos em qualqueratividade são os mais importantes, o

mesmo acontece com a maneira como asorações de nossos filhos são feitas, umassunto que merece nossa maior atenção.São poucos os que parecemcompreender o quanto depende disto.Devemos estar atentos para que nãopassem a fazer suas orações de umamaneira precipitada, descuidada eirreverente. Querido leitor, se você amaseus filhos, eu lhe rogo que não deixepassar a época do plantio da semente dohábito de orar.

Eduque-os a se reunirem com opovo de Deus numa maneirabíblica.Diga a eles que onde o povo do Senhorestiver reunido ao Seu nome, ali o

Senhor Jesus está presente de umamaneira especial, e que aqueles que seausentam, como o apóstolo Tomé,devem saber que estão perdendo umabênção. “Não deixando a nossacongregação, como é costume dealguns” (Hb 10:25).

Não permita que cresçam com o hábitode decidir se querem ou não ir àsreuniões. Tampouco gosto de ver aquiloque chamo de “cantinho dos jovens”em uma assembleia. Ali eles comfrequência adquirem o hábito de ficardesatentos e irreverentes, o qual levaanos para perder, se é que conseguemperdê-lo. Gosto de ver todos osmembros de uma família sentadosjuntos. “Havemos de ir com os nossos

meninos, e com os nossos velhos; comos nossos filhos, e com as nossasfilhas... porque festa do Senhor temos”(Êx 10:9). Também não deveríamosdesperdiçar levianamente o Dia doSenhor transformando-o em um dia derecreação e proveito próprio.

Eduque-os para que lheobedeçam, mesmo que muitasvezes não saibam o porquê.Devemos ensiná-los a aceitar tudoaquilo que exigimos deles como sendopara seu próprio bem. Tenho ouvidoalguns dizerem que nunca deveríamosexigir das crianças coisas que elas nãopossam entender; que deveríamosexplicar e dar uma razão para tudo o que

desejamos que façam. Eu o alertosolenemente contra tal conceito. E voumais além: creio que se trata de umprincípio mau e sem base nas Escrituras.

É, sem dúvida alguma, um absurdo fazermistério de tudo o que fazemos, e hámuitas coisas que é melhor queexpliquemos às crianças, a fim de veremque são coisas sábias e razoáveis.Porém, criá-las com a ideia de que nãodevem receber nada sem antes secertificarem — que elas, com suacompreensão fraca e imperfeita, devemter antes os “por quê?” e os “qual omotivo?” claramente explicados paracada passo que devem dar — trata-se,isto sim, de um temível engano queprovavelmente trará um péssimo efeito à

mente das crianças.

Coloque diante de seus filhos o exemplode Isaque quando Abraão levou-o paraoferecer sobre o Monte Moriá (Gn 22).Ele perguntou a seu pai simplesmente:“Onde está o cordeiro para oholocausto?” E não recebeu outraresposta além desta: “Deus proverápara Si o cordeiro para o holocausto,meu filho”. Como, quando, de onde, deque maneira, ou por que meios — nadadisso foi dito a Isaque; mas a respostafoi suficiente. Ele creu que tudo estariabem, pois seu pai lhe dissera, e ficousatisfeito com isso.

Eduque-os no hábito de umapronta obediência.

Isso compensa o trabalho que dá. Creioque nenhum hábito tem maior influênciaem nossa vida do que este. Estejadeterminado a fazer com que seus filhoslhe obedeçam, mesmo que isso possacustar a você mais trabalho, e a elesmais lágrimas. Que não hajaquestionamento, argumentação oudisputa, e que eles não procedam demodo a ganhar tempo.

Quando você der uma ordem, faça comque vejam claramente que sua vontadetem que ser cumprida. A característicade uma criança bem educada é fazertudo o que seus pais ordenam. Pois ondeestará a honra de que fala Efésios 6.1-3,se os pais não são obedecidosalegremente, prontamente e de boa

vontade? (leia também Cl 3:20).

A obediência que começa cedo contacom todas as Escrituras a seu favor. Noelogio que é feito a Abraão não dizapenas que ele iria educar seus filhos,mas “ordenar a seus filhos e a sua casadepois dele” (Gn 18:19). Acerca doSenhor Jesus foi dito que, quandojovem, era sujeito a Maria e a José (Lc2:51). Repare que o apóstolo Paulomenciona a desobediência aos paiscomo um dos maus sinais dos últimosdias (2 Tm 3:2).

Você deseja ver seus filhos felizes?Cuide de educá-los para que obedeçamquando recebem uma ordem. Creia-me,não somos feitos para uma completa

independência; não servimos para isso.Mesmo os libertos de Cristo têm umjugo para levar — servem a Cristo, oSenhor (Cl 3:24). Nunca é cedo para ascrianças aprenderem que este é ummundo onde não podemos querermandar, e que nunca estaremos em nossodevido lugar enquanto não aprendermoscomo obedecer. Ensine-os a obedecerenquanto são jovens, ou mais tardeestarão, pelo resto da vida, em guardacontra Deus, dominados pela vã ideia deserem independentes do Seu controle.

Você encontrará muitos em nossos diasque permitem que seus filhos escolham epensem por si próprios muito antes deserem capazes de fazê-lo, e que atémesmo dão desculpas para a sua

desobediência, como se fosse algo quenão merecesse uma repreensão. Paramim, uma das cenas mais tristes de sepresenciar é ver um pai ou uma mãecedendo sempre, e uma criança tendosempre a última palavra; triste, pois setrata de uma inversão e perversão daordem estabelecida por Deus; triste,pois sei que no final, com toda certeza, ocaráter daquela criança acabará emvaidade e vontade própria.

Eduque-os para que falemsempre a verdade, toda a verdadee nada além da verdade. Deus é apresentado como um Deus deverdade. Menos do que a verdade é umamentira; aquela fuga, aquela desculpa,

ou aquele exagero são meio-caminhopara a falsidade, e devem ser evitados.Encoraje-os a serem francos em toda equalquer circunstância, e a falarem averdade custe o que custar.

Eu insisto nisto para que tambémpossamos ficar mais tranquilos e sermosauxiliados em tudo o que tivermos quetratar com eles. Descobriremos ser istouma poderosa ajuda, pois poderemossempre confiar no que disserem. Isto temum efeito ainda mais amplo, pois ajuda aprevenir aquele hábito que infelizmenteprevalece entre as crianças, de fazer ascoisas às escondidas.

Eduque-os no hábito de sempreaproveitarem o tempo.

A ociosidade é a melhor amiga dodiabo. É, com certeza, a maneira maiseficaz de dar a ele uma oportunidade decausar algum dano. Uma mentedesocupada é como uma porta aberta, ese Satanás não entrar nela pessoalmente,é certo que lançará dentro dela algumacoisa para gerar maus pensamentos.Devemos ter nossas mãos cheias enossas mentes ocupadas com algumacoisa, do contrário nossa imaginaçãocedo fermentará e acalentará o mal. “Eisque esta foi a maldade de Sodoma, tuairmã; soberba, fartura de pão, eabundância de ociosidade teve ela” (Ez16:49).

Eu verdadeiramente creio que aociosidade leva ao pecado, mais do que

talvez qualquer outro hábito que sepossa mencionar. Gosto de ver ascrianças ativas e laboriosas, e seentregando de coração a tudo o queempreendem fazer.

Eduque-as com constanteaversão à auto piedade.Sei muito bem que a punição e acorreção são coisas desagradáveis.Nada é mais desagradável do que causardor naqueles que amamos, produzindoneles muitas lágrimas. Mas já que ocoração é o que é, de um modo geralserá inútil pensar que as criançaspossam ser criadas sem que hajacorreção. A palavra “arruinar” é muitoexpressiva e, infelizmente, cheia de

significado. E a maneira mais rápida dearruinar os filhos é deixar que sigam oseu próprio caminho — permitir quefaçam o que é errado, e não puni-los porisso. Creia-me, você nunca deve agirassim, não importa quanta dor possa lhecustar, a não ser que deseje arruinar aalma de seus filhos.

“O que retém a sua vara aborrece aseu filho, mas o que o ama a seu tempoo castiga” (Pv 13:24). “Castiga a teufilho enquanto há esperança, mas parao matar não alçarás a tua alma” (Pv19:18). “A estultícia está ligada aocoração do menino, mas a vara dacorreção a afugentará dele” (Pv22:15). “Não retires a disciplina dacriança, porque, fustigando-a com a

vara, nem por isso morrerá. Tu afustigarás com a vara e livrarás a suaalma do inferno” (Pv 23:13-14). “Avara e a repreensão dão sabedoria,mas o rapaz entregue a si mesmoenvergonha a sua mãe. Castiga a teufilho, e te fará descansar; e darádelícias à tua alma” (Pv 29:15, 17).

Quão fortes e enérgicas são estaspassagens! Como é triste que em muitasfamílias cristãs elas até pareçam serdesconhecidas! Seus filhos precisam derepreensão, mas esta quase nunca édada; eles precisam de correção, masquase nunca é empregada. O livro deProvérbios ainda não está obsoleto einadequado para os cristãos; foi dadopor inspiração de Deus e é útil. Com

toda a certeza, o crente que cria seusfilhos sem prestar atenção aos seusconselhos está se fazendo a si mesmomais sábio do que aquilo que estáescrito, e fazendo assim erratremendamente.

Afirmo claramente que os pais que nãopunem seus filhos quando cometem umafalta estão lhes infligindo um dano muitomais cruel. Quero alertá-los de que essemodo de agir é um recife no qual ossantos de Deus, de todas as épocas, commuita frequência naufragaram. Gostariade persuadi-los a serem sábios no tempopresente, e passarem ao largo de talperigo.

Veja o caso de Eli. Seus filhos Hofni e

Finéias tornaram-se vis, e ele não osrepreendeu. Ele não lhes deu muito maisdo que uma mansa e leve repreensão,quando devia tê-los repreendidoasperamente. Em suma, ele deu maishonra aos seus filhos do que a Deus. Eno que terminou isso? Ele viveu apenaso suficiente para ouvir da morte deambos os seus filhos no campo debatalha e suas cãs foram baixadas comtristeza à sepultura. (1 Sm 2:12-34;3:10-18).

Veja, também, o caso de Davi. Quempoderá ler, sem um sentimento de dor, ahistória de seus filhos e seus pecados?O incesto de Amnon, o assassinato erebelião praticados por Absalão, aardilosa ambição de Adonias (2 Sm 13 a

18; 1 Rs 1). No que diz respeito aAdonias, em 1 Reis 1:6 lemos que“nunca seu pai o tinha contrariado,dizendo: Por que fizeste assim?”. Foiesse o alicerce de todo o dano. Davi eraum pai indulgente ao extremo — um paique deixa que seus filhos tenham suaprópria maneira de ser; e ele colheu deacordo com o que semeou.

Rogo aos pais, pelo bem de seuspróprios filhos, que tenham o cuidado denão ser indulgentes em extremo. Rogoque se lembrem de que a obrigaçãoprincipal dos pais é considerar asnecessidades reais de seus filhos e nãoseus gostos e manias; é educá-los, e nãosatisfazê-los; dar a eles o que é deproveito, não meramente agradá-los.

Você não deve estimular cada desejo ecapricho da mente de seu filho, nãoimporta o quanto você o ame; você nãodeve fazê-lo pensar que a vontade deleestá acima de tudo e que basta elequerer algo, e será feito. Eu lhe rogo,não faça de seus filhos ídolos, para queDeus não os leve e quebre seus ídolospara convencê-lo de sua insensatez.

Aprenda a dizer “não” aos seus filhos.Mostre-lhes que você estará pronto arecusar qualquer coisa que acharimprópria para eles. Fique firme quandotiver que decidir acerca de diversões eatividades extraescolares, a menos quedeseje que seus filhos sejam carregadosna correnteza das seduções de Satanás.

Mostre a eles que você está pronto parapunir toda desobediência, e que quandovocê fala de punição, não está prontoapenas para ameaçar, mas também paraexecutá-la. “Deixando as ameaças” (Ef6:9). É melhor que haja menos punições,porém sérias e eficientes, do quepunições leves e frequentes, porémnunca permita que a desobediência fiqueimpune. Quando a disciplina de seusfilhos se fizer necessária, é imperativoque os pais estejam de comum acordoem cooperação de amor.

Cuidado ao permitir que pequenas faltaspassem despercebidas, sob o pretexto deque “é pequena”. Não há coisaspequenas na educação das crianças;todas são importantes. As pequenas

ervas daninhas devem ser arrancadastanto quanto as outras. Deixe-as e embreve estarão grandes. Querido leitor, sevocê não tiver trabalho com seus filhosenquanto são pequenos, eles lhe darãotrabalho quando forem grandes.

Eduque-os, lembrandocontinuamente de como Deuseduca os Seus próprios filhos. Se quiser educar seus filhossabiamente, preste atenção na maneiracomo Deus Pai educa os que Lhepertencem. Ele faz tudo bem feito; ométodo que Ele adota deve, portanto, sero correto. Os filhos de Deus, depois deuma longa jornada, poderão dizer a vocêque foi algo bendito não terem seguido

seus próprios caminhos e que o queDeus fez para eles foi muito melhor doque aquilo que poderiam ter feito por simesmos. Sim, e poderão lhe dizertambém que o modo de Deus tratá-loslhes trouxe mais alegria do que elesjamais teriam conseguido por sipróprios.

Rogo a você que conserve no coração alição que lhe ensina o modo como Deustrata Seus próprios filhos. Não temaprivar seu filho de tudo aquilo que vocêconsiderar poder causar-lhe algum dano,não importa quais sejam os desejosdele. É este o método de Deus. Serperpetuamente indulgente é a maneira dese criar um egoísta; e pessoas egoístas ecrianças arruinadas dificilmente são

felizes. Querido leitor, não seja maissábio do que Deus; eduque seus filhoscomo Ele educa os que Lhe pertencem.

Eduque-os, lembrando-secontinuamente da influência doseu próprio exemplo. Não há substituto para a piedade — oreal temor de Deus na vida dos pais.Instruções, avisos e ordens terão poucovalor se não tiverem respaldo nomodelo apresentado por sua própriavida. Seus filhos nunca crerão que vocêesteja falando sério, e que deseja querealmente lhe obedeçam, se suas atitudesestiverem contradizendo seus conselhos.Nós pouco conhecemos a força e opoder de um exemplo.

As crianças observam nossos modos,registram a nossa conduta, observamnosso temperamento. Em nenhum outrocaso, creio eu, o exemplo fala tão altoquanto no relacionamento entre pais efilhos. Não se esqueça de que seusfilhos aprendem mais pelo olho do quepelo ouvido. O que eles veem tem umefeito muito mais forte sobre suasmentes do que aquilo que lhes é falado.

Empenhe-se ao ponto de ser umaepístola viva de Cristo, de modo queseus filhos possam lê-la claramente.Seja um exemplo nas palavras, notemperamento, na diligência, natemperança, na fé, na bondade, nahumildade. Acredite que seus filhos nãoirão praticar aquilo que não virem você

praticar. Os pais são o modelo que elescopiarão. Seus raciocínios e suasleituras, suas sábias ordens e seu bomconselho — talvez eles nãocompreendam tudo isso, mascompreenderão sua vida. A medida deCristo que você desfruta para si mesmoé a que eles crerão tratar-se de algoreal. As crianças são observadorasmuito ágeis; muito ágeis em enxergaratravés da hipocrisia, muito ágeis emadotar todos os seus modos e opiniões; evocê logo descobrirá ser verdadeira aexpressão: “tal pai, tal filho”.

Eduque-os, lembrandocontinuamente o poder dopecado.

Isto o guardará de acalentar esperançasque não são bíblicas. É triste constatarquanta corrupção e quanto mal existe nocoração de uma pequena criança, e quãocedo isso começa a dar fruto.

Temperamento violento, vontade-própria, orgulho, obstinação, ira,preguiça, egoísmo, engano, astúcia,falsidade, hipocrisia, uma terrívelaptidão para aprender o que é mau, umatriste lentidão para aprender o que ébom, uma prontidão para fingir qualquercoisa a fim de atingir seus propósitos.Você não deve achar estranho ouinusitado que corações tão pequenospossam estar tão cheios de pecado.Trata-se da única herança que nosso paiAdão nos deixou: a natureza caída com a

qual viemos a este mundo.

Nunca dê ouvidos àqueles que dizemque seus filhos são bons e bem-criados,e que são de confiança. No fundo elesprecisam apenas de uma pequeninafaísca para acender sua corrupção.Normalmente os pais não são muitoprontos a admitir isto. Lembre-se danatureza depravada de seus filhos e tomecuidado.

“Lança o teu pão sobre as águas”, dizo Espírito, “porque depois de muitosdias o acharás” (Ec 11:1). Não tenhodúvida de que muitas crianças selevantarão no dia do juízo e bendirão aseus pais pela boa educação quereceberam, mesmo que nunca tenham

dado mostra de haverem tirado algumproveito disso durante a vida de seuspais. Portanto, siga adiante por fé, epode ter certeza de que seu trabalho nãoserá totalmente em vão. Por três vezesEliseu se estendeu sobre o corpo dofilho da viúva antes que este revivesse.Siga o exemplo dele e persevere.

Eduque-os com contínua oraçãopor bênção em tudo o que vocêestá fazendo. Olhe para seus filhos como fazia Jacópara com os dele; ele diz a Esaú, “osfilhos que Deus graciosamente temdado a teu servo” (Gn 33:5). Olhe paraeles como José olhou para os seus,quando disse a seu pai, “Eles são meus

filhos, que Deus me tem dado aqui”(Gn 48:9). Considere-os, com osalmista, como “herança do Senhor”(Sl 127:3).

Repare como Manué fala ao anjo acercade Sansão: “Qual será o modo de vivere serviço do menino?” (Jz 13:12) (N.T.:ou, numa tradução livre da versãoinglesa, “Como devemos ordenar acriança, e como devemos procederpara com ela?”). Observe com queternura Jó cuidava da alma de seusfilhos, o qual “oferecia holocaustossegundo o número de todos eles”, poisele dizia, “porventura pecaram meusfilhos, e blasfemaram de Deus no seucoração. Assim o fazia Jócontinuamente” (Jó 1:5).

Pais, se vocês amam seus filhos, vão emfrente e façam o mesmo. Nunca serádemais trazer à memória o nome de seusfilhos diante do propiciatório. Vocêspodem mandar seus filhos para asmelhores escolas, dar a eles Bíblias eencher suas cabeças com conhecimento;mas se durante todo esse tempo nãohouver uma educação constante no lar,quero dizer-lhes claramente, temo queno final as coisas sejam difíceis para osseus filhos, no que se refere às suasalmas.

Os cálices mais amargos que o homemjá bebeu foram aqueles preparadospelos filhos. Filhos têm sido oscausadores das mais tristes lágrimas queo homem já derramou. Adão podia falar

a respeito disso; Davi também podiafazer o mesmo. Não há tristezas nestemundo como aquelas que filhostrouxeram a seus pais.

Oh! Tenha cuidado para que sua próprianegligência não lhe traga miséria na suavelhice. “Derrama o teu coração comoáguas diante da face do Senhor:levanta a eles as tuas mãos, pela vidade teus filhinhos” (Lm 2:19).

* * * * *Nota do Editor: O texto aqui publicado é “Theduties of parents”, de autoria de J. C. Ryle, efoi editado, contemporizado e adaptado por H.E. Hayhoe. O original inglês pode serencontrado na web. John Charles Ryle nasceuem 1816 e faleceu em 1900 na Inglaterra.

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