como “navegar” a guerra: análise e comentário do tratado militar … · 2019. 11. 12. · ii...

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João Pedro Gomes Paiva Como “Navegar” a Guerra: Análise e Comentário do tratado militar Taktiká de Leão VI (séc.X) 2018 Dissertação de Mestrado em História Militar, orientada pelo Professor Doutor João Manuel Filipe Gouveia Monteiro, apresentada ao Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

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Page 1: Como “Navegar” a Guerra: Análise e Comentário do tratado militar … · 2019. 11. 12. · ii Resumo A História do Império Bizantino é um assunto muito pouco estudado em Portugal,

Imagem

Joatildeo Pedro Gomes Paiva

Como ldquoNavegarrdquo a Guerra

Anaacutelise e Comentaacuterio do tratado militar Taktikaacute

de Leatildeo VI (seacutecX)

2018

Imagem

Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Militar orientada pelo Professor Doutor

Joatildeo Manuel Filipe Gouveia Monteiro apresentada ao Departamento de

Histoacuteria Estudos Europeus Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da

Universidade de Coimbra

Faculdade de Letras

Ficha Teacutecnica

Tipo de trabalho Dissertaccedilatildeo de Mestrado

Tiacutetulo Como ldquoNavegarrdquo a Guerra ndash Anaacutelise e Comentaacuterio do tratado

militar Taktikaacute de Leatildeo VI (seacuteculo X)

Autor Joatildeo Pedro Gomes Paiva

Orientador Doutor Joatildeo Manuel Filipe Gouveia Monteiro

Juacuteri Presidente Doutora Maria Alegria Fernandes Marques

Vogais

1 Doutor Pedro Gomes Barbosa

2 Doutor Joatildeo Manuel Filipe Gouveia Monteiro

Identificaccedilatildeo do Curso 2ordm Ciclo em Histoacuteria

Aacuterea cientiacutefica Histoacuteria

EspecialidadeRamo Histoacuteria Militar

Data da defesa 22-2-2018

Classificaccedilatildeo 17 valores

Como ldquoNavegarrdquo a Guerra

Anaacutelise e Comentaacuterio do tratado militar Taktikaacute

de Leatildeo VI (seacuteculo X)

ii

Resumo

A Histoacuteria do Impeacuterio Bizantino eacute um assunto muito pouco estudado em Portugal

algo que esta tese pretende ajudar a colmatar A dissertaccedilatildeo aqui apresentada tem como

objetos de estudo principais o basileuacutes Leatildeo VI o Saacutebio (886-912) e uma das obras mais

importantes que lhe satildeo atribuiacutedas o Taktikaacute uma enciclopeacutedia militar que aborda temaacuteticas

muito diversificadas como o armamento de tropas movimentaccedilotildees no campo de batalha e

guerra naval O Taktikaacute foi o primeiro manual militar da segunda eacutepoca de ouro da produccedilatildeo

literaacuteria beacutelica bizantina (seacutec X-XI) e serve como se pretende mostrar nesta tese como elo

de ligaccedilatildeo da tradiccedilatildeo antiga com os paradigmas militares bizantinos da eacutepoca que se

encontravam em mudanccedila no reinado deste imperador No contexto deste trabalho

pretendemos desmistificar a alegada falta de interesse por questotildees beacutelicas de Leatildeo VI um

imperador reconhecido pela sua ausecircncia de participaccedilatildeo em campanhas militares bem como

mostrar quais as preocupaccedilotildees que tinha patentes no tratado em estudo Quanto ao Taktikaacute

pretende-se demonstrar que apesar de ter sido muito influenciado por manuais congeacuteneres

anteriores (como o Stratēgikoacuten de Mauriacutecio do seacuteculo VI) refletia a realidade militar da

eacutepoca da sua escrita incorporava o pensamento estrateacutegico bizantino de entatildeo e serviu como

foco de influecircncia para as obras de literatura militar que se lhe seguiram Para isto recorremos

agrave leitura de fontes histoacutericas e tratados militares bizantinos anteriores e posteriores ao objeto

de estudo como o Perigrave Paradromeacutes de Niceacuteforo II Focas (governou entre 962-969) ou o Perigrave

Strategiacuteas de Siriano (possivelmente do seacuteculo IX) bem como a obras de especialidade que

versam tanto temaacuteticas beacutelicas como o principado do Saacutebio

Palavras-chave

Histoacuteria Militar Impeacuterio Bizantino Leatildeo VI Taktikaacute Themaacuteta

iii

Abstract

The History of the Byzantine Empire has been absent from the Portuguese research

agenda an issue this thesis attempts to address The following dissertation focuses its study

on the basileuacutes Leo VI the Wise (886-912) and the Taktikaacute a military encyclopaedia

accredited to him which approaches a vast set of subjects such as arming the troops moving

in the battlefield or waging war at sea The Taktikaacute was the first military field book from the

second golden era of byzantine war literature (X-XI centuries AD) and as we attempt to

showcase it served as a link between the ancient tradition with the byzantine military

standards of its time which were undergoing some changes by then Further we intend to

debunk Leo VIrsquos alleged lack of interest in military concerns an argument based on his

absence in military campaigns As for the Taktikaacute we defend that while influenced by similar

previous manuals (such as the 6th century Mauricersquos Stratēgikoacuten) it reflected the military

reality as well as the Byzantine strategic thinking of its time while serving as an influence

focus for the military literature that followed it To meet the set goals we have read historical

accounts and other byzantine military treatises such as Nikephoros II Phokasrsquos (who ruled

between 962 and 969) Perigrave Paradromeacutes or Sirianorsquos Perigrave Strategiacuteas (possibly 9th century) as

well as specific bibliography versing both military subjects and the reign of the Wise

Keywords

Military History Byzantine Empire Leo VI Taktikaacute Themaacuteta

iv

Aos meus avoacutes Luacute e Narciso por tudo o que fizeram por mim

ao longo da minha efeacutemera existecircncia por todas as aventuras e todos os ensinamentos Esta

dissertaccedilatildeo foi feita com vocecircs sempre no meu pensamento

v

Tal como natildeo eacute possiacutevel navegar um navio sobre os mares sem conhecimentos de navegaccedilatildeo

tambeacutem natildeo eacute possiacutevel derrotar o inimigo sem disciplina e sem lideranccedila Ao passo que com isto

e com a ajuda de Deus natildeo soacute eacute possiacutevel prevalecer sobre um inimigo de igual forccedila mas tambeacutem

sobre um que supere largamente em nuacutemeros as vossas forccedilas

Leatildeo VI o Saacutebio in Taktikaacute Proacutelogo (9)

Entre as boas coisas que agrave vida trazem benefiacutecio a Histoacuteria natildeo eacute das menos mas sim das mais

importantes pois eacute por sua proacutepria natureza algo de uacutetil e proveitoso Eacute que ela relata uma

multiplicidade de feitos de toda a espeacutecie tais como eacute haacutebito acontecerem no decorrer do tempo e

dos eventos e em particular pelas escolhas dos homens que nesses eventos participam prescreve

tambeacutem aos homens que tomem como modelos e emulem alguns feitos enquanto rejeitam e evitam

outros de tal modo que natildeo negligenciem inadvertidamente o que eacute uacutetil e beneacutefico e se prendam

ao que eacute nocivo e abominaacutevel eacute Eacute portanto considerada a Histoacuteria como tatildeo proveitosa quanto

todas as outras coisas da vida na medida em que restitui vida ou juventude aos assuntos mortais

e natildeo permite que eles se apaguem e se confinem agraves profundezas do esquecimento

Leatildeo o Diaacutecono in A Histoacuteria Livro I

A paz era o objetivo principal (para Bizacircncio) ainda que a

guerra fosse necessaacuteria para o assegurar

John Haldon in Critical Commentary

on the Taktika of Leo VI p22

vi

Agradecimentos

A realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo de mestrado natildeo foi uma jornada faacutecil e foi repleta de

percalccedilos de duacutevidas e desalento por muito deleite que tal empreendimento me tenha dado Eacute

por este motivo que devo agradecer a todos os que me auxiliaram nesta fase e me

incentivaram a seguir em frente

Em primeiro lugar ao meu orientador mestre e amigo o Professor Doutor Joatildeo

Gouveia Monteiro Muito haacute a agradecer desde logo por ter acompanhado o meu percurso

acadeacutemico desde o meu segundo ano da faculdade quando semeou em mim a paixatildeo por

Histoacuteria Militar Por ter apontado o caminho para Constantinopla Por toda a ajuda todas as

oportunidades e todas as palavras de forccedila A mais sentida gratidatildeo por tudo isto e pelo que

espero viraacute

Os meus agradecimentos devem agora estender-se aos outros eruditos que me

aconselharam e me deram apoio bibliograacutefico para este trabalho Primeiro e em especial ao

Professor Salvatore Cosentino de Ravena pela hospitalidade durante a viagem a Itaacutelia e pela

disponibilidade incansaacutevel em me ajudar Ao Professor John Haldon da Universidade de

Princeton o meu obrigado natildeo soacute pelos conselhos que me deu mas tambeacutem pela longa obra

que jaacute tem parte do meu entusiasmo pelo exoacutetico Impeacuterio Romano do Oriente eacute devido a ele

E por fim agrave Professora Helena Catarino da Universidade de Coimbra por tudo o que me

ensinou e por ter dado o empurratildeozinho final para entrar no Mestrado Interuniversitaacuterio em

Histoacuteria Militar

Um agradecimento especial ao Mestre Joatildeo Nisa natildeo soacute em tiacutetulo mas tambeacutem em

conhecimento Por todos os conselhos e todas as ideias que me deu e por todas as duacutevidas que

me esclareceu A todos os outros que me ajudaram durante a realizaccedilatildeo deste trabalho Ao

Rodrigo Gomes e ao Gustavo Gonccedilalves amigos e companheiros de guerra que sempre me

ajudaram alegraram e impeliram a seguir em frente Que venham muitos mais anos de duros

combates pela nossa frente Uma palavra de gratidatildeo para o Anton Stark e para o Maacuterio

Coelho por me terem ajudado na traduccedilatildeo do inglecircs mais traiccediloeiro Aos camaradas Joatildeo Neto

e Jorge Wolfs pelo apoio graacutefico terreno desconhecido e exoacutetico para mim E ao meu

afilhado de amizade Pedro Baptista por todos os remendos palavras de forccedila e gargalhadas

A minha gratidatildeo estende-se tambeacutem a todos os outros que me ajudaram nesta

dissertaccedilatildeo somente pela boa-disposiccedilatildeo e amizade em especial a Caacutetia a Laura o Luiacutes o

vii

Joatildeo Rainho o Emanuel e o Pedro Parreira Ah e um agradecimento especial agrave Sara Serra

pelos raspanetes quando a ansiedade teimava em aparecer

Deixo um agradecimento emotivo aos que me apoiaram desde sempre Ao meu pai Zeacute

por nunca me deixar ir abaixo pelas palavras saacutebias e por todas as correccedilotildees que fez Agrave minha

matildee Rosa pelos sermotildees pela companhia nas uacuteltimas noites e pelo lanchinho das ldquotrecircs da

manhatilderdquo Um agradecimento tambeacutem para a minha avoacute Fernanda por tudo o que fez por mim

durante a minha breve vida e a toda a restante famiacutelia por nunca ter deixado de acreditar no

ldquoJoatildeozinhordquo ldquoJoatildeo Pedrordquo

Por fim e porque os uacuteltimos satildeo sempre os primeiros agrave Sofia pela inspiraccedilatildeo o

encorajamento e pelo carinho (e pela paciecircncia) Por nunca ter deixado de acreditar em mim e

por ser o meu grande porto de abrigo O meu mais sentido obrigado milady

PS Ao Professor Doutor Pedro Barbosa da Universidade de Lisboa meu arguente

por todas as suas construtivas opiniotildees e comentaacuterios que serviram para beneficiar a versatildeo

final desta dissertaccedilatildeo O meu mais sentido agradecimento por tudo isto

viii

Foto de capa Leatildeo VI do livro ldquoRulers of the Byzantine Empirerdquo publicado pela KIBEA

Fonte httpsthehistoryofbyzantiumcom20160705episode-109-leo-the-wiseleo-vi-from-

rulers-of-the-byzantine-empire-published-by-kibea Verificado agraves 2346 de 05032018

Iacutendice

Resumo ii

Abstract iii

Agradecimentos vi

Introduccedilatildeo 6

Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o exeacutercito

bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X 12

11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando da ascensatildeo

da dinastia macedoacutenica 12

12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial 15

13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados dos

primeiros basileicircs macedoacutenicos 18

Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte de Leatildeo VI

(867-912) 28

21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886) 28

22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912) 37

Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina 50

31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina 50

32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI) 52

Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute 56

41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza 56

42 ndash Estrutura interna da fonte 61

43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees 64

Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general 67

51 ndash O strategoacutes de Leatildeo 67

52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros 70

53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos 73

Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar 79

61 ndash O armamento e o treino 79

62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra 83

63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta 87

Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas 91

71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade 91

72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval 96

73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X 101

Conclusatildeo 106

Bibliografia 110

Fontes 110

Estudos 112

Iacutendice de Anexos

Anexos I ndash Mapas e Esquemas I

Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino XIV

Seacuteculo V XIV

Seacuteculo VI XIV

Seacuteculo VII XV

Seacuteculo VIII XXIX

Seacuteculo IX XXXV

Seacuteculo X XLIV

Seacuteculo XI LI

Seacuteculo XII LIX

Seacuteculo XIII LXIV

Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos LXVI

Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana) LXVI

Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica) LXVIII

Reinado de Leatildeo VI LXXIV

Reinado de Alexandre LXXXIII

Reinado de Constantino VII LXXXIV

Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees LXXXVI

a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados LXXXVI

b) Tratadistas e cronistas XCII

c) Outras personagens relevantes XCIII

d) Dinastias XCIV

e) Organizaccedilotildees e unidades militares XCV

Anexos V ndash Listas de Titulares XCVI

a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca meacutedio-bizantina XCVI

b) Califas Aacuterabes C

c) Outros governantes aacuterabes CI

d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria CIII

e) Priacutencipes de Rus CIV

f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia CV

Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico CIX

a) Termos militares e navais CIX

b) Tiacutetulos CXIV

c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura CXVI

d) Povos CXVIII

e) Outros termos CXX

Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico CXXI

a) Regiotildees CXXI

b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc) CXXIII

c) Centros populacionais (cidades vilas etc) e fortificaccedilotildees CXXIV

d) Referecircncias topograacuteficas mariacutetimas e fluviais CXXVII

e) Campos de batalha CXXVIII

Anexo VIII ndash Excertos do Taktikaacute CXXIX

a) Evitar batalha CXXIX

b) Sobre natildeo guerrear com os Buacutelgaros e a paz de 896 CXXIX

c) Preferecircncia de recrutamento de soldados economicamente confortaacuteveis CXXIX

d) Acerca do financiamento de soldados pobres por homens (stratioacutetai) ricos CXXX

e) Menccedilatildeo da alianccedila entre Bizantinos e Magiares do iniacutecio da guerra Bizantino-Buacutelgara de

984 e da participaccedilatildeo Magiar nesse conflito CXXX

f) O Proeacutemio CXXXI

g) A travessia do rio Paradeisos por Basiacutelio (877-878) CXXXI

h) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (I) CXXXI

i) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (II) CXXXI

j) Sobre a lealdade do general CXXXII

k) As caracteriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos Aacuterabes contra Bizacircncio CXXXII

l) O problema em causa no Taktikaacute CXXXII

m) A soluccedilatildeo do basileuacutes CXXXIII

n) O Epilogus CXXXIV

o) A guerra como ldquomal necessaacuteriordquo CXXXIV

p) Formas de agir em caso de ataques vindos da Ciliacutecia CXXXV

q) O perfil psicoloacutegico de um bom strategoacutes CXXXV

Anexos IX ndash Excertos de outras fontes CXXXVII

a) Listas da Expediccedilatildeo a Creta em 910-911 CXXXVII

b) A primeira ldquomaldaderdquo de 809810 CXLIV

c) A segunda ldquomaldaderdquo CXLIV

6

Introduccedilatildeo

O que eacute Bizacircncio Para muitos eacute um mundo exoacutetico algo distante desconhecido

intrigante Quando tal nome eacute pronunciado vecircm-nos agrave mente algumas imagens palavras

iconografias personagens Constantinopla Hagia Sophia Guarda Varangiana as figuras de

Justiniano e Teodora imortalizadas na Basiacutelica de Satildeo Vital em Ravena No entanto para

noacutes estudantes de Histoacuteria e do Impeacuterio Bizantino tem outro significado e outra essecircncia eacute

Roma noutro local centrada noutra capital (que une hoje dois continentes) que tenta manter

por todos os meios o seu esplendor e o seu legado eacute um mundo dominado pelo Grego na

escrita na cultura e na lei e por fim eacute um baluarte da Cristandade Ortodoxa onde o poder

do Estado sobre a religiatildeo se mescla sinergicamente com a influecircncia da religiatildeo sobre o

Estado como o atestam os vaacuterios conflitos entre imperadores papas e patriarcas que diversas

vezes minaram a estabilidade do Estado e da sociedade bizantina Se pudeacutessemos definir este

Impeacuterio tatildeo diversificado a partir de trecircs caracteriacutesticas principais seriam estas um Impeacuterio

Romano de liacutengua grega e com uma religiatildeo cristatilde ortodoxa

Todavia o objeto deste trabalho natildeo satildeo os mil anos de histoacuteria bizantina (romana)

nem tatildeo pouco as tipologias de exeacutercitos que os basileicircs ao longo da existecircncia do Impeacuterio

tiveram ao seu dispor O nosso trabalho encontra-se situado num espaccedilo de tempo preciso na

Histoacuteria de Bizacircncio o reinado de Leatildeo VI entre os finais do seacuteculo IX e os iniacutecios do seacuteculo

X Mais especificamente a nossa investigaccedilatildeo incide no tratado militar Taktikaacute atribuiacutedo a

esse mesmo soberano que apesar de natildeo ser original em grande parte do seu conteuacutedo

possui caracteriacutesticas inovadoras como demonstraremos mais adiante

Que razotildees nos levaram a optar por esta temaacutetica (a tratadiacutestica) e por esta fonte em

particular Uma das principais razotildees para a escolha desta enciclopeacutedia militar do seacuteculo X

prende-se exatamente com a diversidade do seu conteuacutedo que abrange todas as disciplinas da

tratadiacutestica claacutessico-bizantina das quais falaremos mais adiante Um tratado militar tatildeo

abrangente parece-nos uma excelente ferramenta para o estudo das forccedilas armadas deste

periacuteodo desde que tal como acontece com todas as fontes histoacutericas coevas sejam aplicados

os devidos cuidados durante a sua apreciaccedilatildeo A outra razatildeo que entendemos ter sido

fundamental para a proposiccedilatildeo do estudo deste tratado eacute o periacuteodo cronoloacutegico em que foi

redigido De facto os iniacutecios do seacuteculo X satildeo uma etapa fundamental para aquilo que muitos

apelidam de laquoReconquista Bizantinaraquo Durante o reinado de Leatildeo VI Bizacircncio encontrava-se

sob a dinastia Macedoacutenica uma das dinastias mais bem-sucedidas da histoacuteria bizantina (salvo

talvez a dinastia dos herdeiros de Justiniano) e embora ainda natildeo estivessem reunidas as

7

melhores condiccedilotildees para o Impeacuterio se lanccedilar em grandes ofensivas este tambeacutem natildeo estava

numa situaccedilatildeo de dificuldade in extremis tal como a que existiu entre 640 e 740 E se por um

lado ainda se mantinha um impasse no limes oriental entre Constantinopla e os emirados

aacuterabes sedeados em torno dos thugucircr da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia tambeacutem eacute verdade que a

balanccedila tendia cada vez mais a favor do Impeacuterio algo que se manteve ateacute agrave ascensatildeo de Sayf

al-Dawlah em 936 ao emirado de Alepo

Por outro lado os Buacutelgaros continuavam a constituir um enorme perigo na

laquoretaguarda bizantinaraquo e novos adversaacuterios como os Russos e os Magiares comeccedilavam a ser

uma presenccedila cada vez mais constante na lista de inimigos que os basileicircs tinham de

enfrentar Infelizmente a necessidade de valorizar o fulcro desta dissertaccedilatildeo (o estudo do

tratado) conjugado com o limite de paacuteginas que temos ao nosso dispor natildeo nos permitem

uma anaacutelise pormenorizada e detalhada dos principais inimigos de Bizacircncio nesta eacutepoca

desde o seu surgimento enquanto tal ateacute ao status quo poliacutetico-militar dos iniacutecios do seacuteculo X

Temos trecircs objetivos principais na realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo o primeiro eacute

comprovar que Leatildeo VI tinha um empenho claro na governaccedilatildeo do impeacuterio inclusive nos

assuntos de natureza militar o segundo eacute demonstrar que o Taktikaacute natildeo eacute apenas uma

enciclopeacutedia militar que compila os conhecimentos beacutelicos dos eruditos claacutessicos e de

Mauriacutecio para preencher as suas paacuteginas antes reflete sob diversas formas a realidade da

eacutepoca o terceiro consiste em comparar a informaccedilatildeo presente no Taktikaacute com o modelo

militar dos themaacuteta em especial com a guerra travada no limes oriental e no Mediterracircneo

Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir a nossa dissertaccedilatildeo em duas partes principais a

contextualizaccedilatildeo e a anaacutelise do tratado A primeira secccedilatildeo eacute constituiacuteda por trecircs capiacutetulos que

versam o periacuteodo histoacuterico em que este manual se encontra situado a passagem do seacuteculo IX

para o X Cada um dos capiacutetulos aborda uma temaacutetica particular O primeiro refere assuntos

de natureza geopoliacutetica e militares e vamos tentar aferir qual era a situaccedilatildeo estrateacutegica do

Impeacuterio nesta fase quais eram as principais ameaccedilas agrave supremacia romana de que forma

Constantinopla respondia a essas ameaccedilas em termos estrateacutegicos e por fim que meios

militares eacute que Bizacircncio possuiacutea para se defender com sucesso De seguida vamos retratar os

principados de Leatildeo VI e do seu pai Basiacutelio I o fundador da dinastia Macedoacutenica uma

dinastia que durou mais de um seacuteculo e que teve um importante papel na chamada

laquoReconquista Bizantinaraquo um conjunto de campanhas militares que tornou Bizacircncio a maior

potecircncia do Mediterracircneo oriental no primeiro quartel do seacuteculo XI Aqui daremos ecircnfase agraves

questotildees beacutelicas poliacuteticas e diplomaacuteticas dos primeiros basileicircs dessa linha dinaacutestica Este

tipo de digressatildeo eacute crucial para podermos entender as motivaccedilotildees que levaram Leatildeo VI a

8

redigir o Taktikaacute e os desafios que o Saacutebio teraacute enfrentado durante o tempo em que esteve

sentado no trono puacuterpura de Constantinopla

Finalmente ainda dentro da contextualizaccedilatildeo vamos dedicar um capiacutetulo agrave tratadiacutestica

militar A produccedilatildeo literaacuteria de obras beacutelicas jaacute possuiacutea uma longa histoacuteria quando Leatildeo

iniciou (ou mandou iniciar) a escrita do Taktikaacute Natildeo iremos aqui evocar a longa histoacuteria da

escrita de guerra em Bizacircncio porque outros jaacute o fizeram1 mas vamos proceder agrave exposiccedilatildeo

das principais disciplinas da tratadiacutestica bizantina ateacute porque as utilizaremos para estruturar a

parte desta dissertaccedilatildeo direcionada agrave anaacutelise do tratado Assim sendo temos cinco disciplinas

importantes para a caracterizaccedilatildeo da escrita militar bizantina a strategikaacute relacionada com a

arte de comandar preparar e organizar exeacutercitos a taktikaacute que engloba os preceitos taacutecticos e

a forma de organizar e de comandar soldados no campo de batalha a poliorketikaacute que

descreve os meios e engenhos usados na guerra de cerco defensiva e ofensiva a naumachikaacute

que aborda o modo como se pratica a guerra naval e por fim os tratados baseados na

strategemataacute que podemos distinguir em dois geacuteneros os que abordam meacutetodos indiretos de

praticar a guerra estratagemas ardis e guerra de guerrilha no geral e a rethoacuterika ou maacuteximas

beacutelicas2 Na segunda parte deste capiacutetulo analisaremos algumas das principais caracteriacutesticas

da lsquosegunda eacutepoca douradarsquo da erudiccedilatildeo militar literaacuteria de Bizacircncio que se estendeu do

Taktikaacute de Leatildeo VI ateacute aos meados do seacuteculo XI e aferiremos ateacute que ponto esses atributos se

enquadram no contexto politico-estrateacutegico que o impeacuterio entatildeo vivia

Na segunda parte desta dissertaccedilatildeo vamos analisar a grande obra militar de Leatildeo o

Taktikaacute Optaacutemos por dividir o seu estudo segundo as cinco disciplinas da literatura beacutelica

coeva de forma a natildeo nos fixarmos na anaacutelise individual de cada Constitutio um trabalho

pesado e demorado A anaacutelise do tratado comeccedilaraacute com uma introduccedilatildeo onde abordaremos

questotildees como a estrutura a autoria e a dataccedilatildeo Os restantes capiacutetulos tratam de cada uma

das disciplinas jaacute referidas mas dedicaremos especial atenccedilatildeo agrave strategikaacute e agrave taktikaacute

vertentes mais expressivas do que as restantes trecircs (poliorketikaacute strategemataacute e naumachikaacute)

na fonte em apreccedilo

1 Vide COSENTINO Salvatore (2009) Writting about War in Byzantium in Revista de Histoacuteria das Ideias

volume 30 Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 85-90 Mais recentemente a dissertaccedilatildeo de

Mestrado apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pelo Mestre Joatildeo Nisa possui

tambeacutem um excelente resumo da produccedilatildeo tratadiacutestica bizantina ao longo dos tempos com pequenos resumos

acerca dos conteuacutedos e principais caracteriacutesticas dos tratados mais importantes vide NISA Joatildeo (2016) Arte

Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Militar

apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pp 11-16 2 Vide MCGEER Eric (2008a) Military Texts In JEFFREYS Elizabeth HALDON John e CORMACK Robin

The Oxford Handbook of Byzantine Studies Nova Iorque Oxford University Press p 907

9

Em relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo utilizada tivemos agrave nossa disposiccedilatildeo uma pequena

quantidade de fontes histoacutericas que podemos dividir em duas aacutereas as croacutenicas e os tratados

militares As principais croacutenicas que utilizaacutemos foram a Histoacuteria de Joatildeo Skylitzes e a

Histoacuteria de al-Tabari A primeira apresenta-se como uma coleccedilatildeo de trabalhos

historiograacuteficos que se mostra fundamental para entender a histoacuteria do Impeacuterio Bizantino

desde o iniacutecio do seacuteculo IX ateacute aos meados do seacuteculo X Apesar de ser dada especial atenccedilatildeo

ao reinado de Basiacutelio II os principados de Basiacutelio I e Leatildeo VI tambeacutem se encontram bem

retratados pelo que decidimos usar esta obra A traduccedilatildeo que usaacutemos desta recolha

historiograacutefica eacute da autoria de John Wortley e foi publicada em 2010 pela Universidade de

Cambridge3 Quanto a al-Tabari o seu trabalho oferece um relato exaustivo da histoacuteria da

civilizaccedilatildeo islacircmica ateacute ao ano 915 Tendo em conta o objeto de estudo do nosso tratado

utilizaacutemos os volumes XXXVII e XXXVIII por relatarem os acontecimentos alusivos aos

reinados dos basileicircs em apreccedilo As traduccedilotildees que dispusemos foram respetivamente

realizadas por Phillip M Fields (XXXVII)4 e Franz Rosenthal (XXXVIII)5 as quais foram

editadas pela Universidade de Nova Iorque

Em relaccedilatildeo agrave tratadiacutestica utilizaacutemos vaacuterias obras das quais destacamos o

indispensaacutevel Taktikaacute O Stratēgikoacuten foi outra enciclopeacutedia militar a que recorremos

frequentemente pelo facto de ser uma das principais influecircncias (senatildeo a maior) do manual

atribuiacutedo a Leatildeo Escrito no seacuteculo VI trata-se da primeira enciclopeacutedia militar bizantina

apesar de atribuir maior relevo agrave cavalaria6 Outra obra muito importante que usaacutemos foi o

Perigrave Paradromeacutes atribuiacutedo a Niceacuteforo II Focas pelas suas descriccedilotildees do combate travado no

limes oriental algo que entendemos ser pertinente para alcanccedilarmos os nossos objetivos7

Para aleacutem das fontes primaacuterias recorremos ainda a um grande conjunto de estudos

seja de cariz mais especiacutefico seja mais generalista da histoacuteria bizantina Em especial

destacamos ldquoA Critical Comentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo8 de John Haldon um

3 WORTLEY John (2010) A Synopsis of Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press 4 FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid Recovery Nova Iorque

New York University Press 5 ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVIII The Return of the Caliphate to

Baghdad Nova Iorque New York University Press 6 Utilizaacutemos a traduccedilatildeo inglesa de George T Dennis cuja referecircncia eacute DENNIS George T (1984) Mauricersquos

Strategikon ndash Handbook of Byzantine Military Strategy Filadeacutelfia University of Pennsylvania Press 7 A traduccedilatildeo de que dispusemos foi realizada em inglecircs por George T Dennis DENNIS George T (1985)

Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 8 HALDON John (2014) A Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VI Washington DC Dumbarton

Oaks Research Library and Collection

10

excelente companheiro da traduccedilatildeo feita por George T Dennis9 e que foi muito uacutetil para

orientar o nosso trabalho e as nossas ideias Em relaccedilatildeo agrave Histoacuteria do Impeacuterio Bizantino no

periacuteodo em apreccedilo demos relevacircncia ao artigo de Karlin-Hayter sobre os aspetos militares da

governaccedilatildeo de Leatildeo VI10 assim como ao estudo da vida deste imperador que remete para

eventos do reinado do pai devido a Shaun Tougher na sua obra ldquoThe Reign of Leo VIrdquo11 por

fim utilizaacutemos o relato da histoacuteria do Impeacuterio Bizantino da autoria de Warren Treadgold12

Quanto a obras de estudo mais no acircmbito especializado da histoacuteria militar salientamos o

ldquoWarfare State and Societyrdquo de John Haldon13 (uma obra excelente e que aborda

detalhadamente muitos aspetos relativos ao funcionamento do exeacutercito bizantino e do seu

pensamento estrateacutegico) bem como alguns estudos assinados por Eric McGeer como por

exemplo o pequeno capiacutetulo sobre tratadiacutestica militar inserido no Oxford Handbook of

Byzantine Studies que possui algumas informaccedilotildees relevantes para todos aqueles que

tencionam iniciar o seu estudo da tratadiacutestica bizantina14 Por fim natildeo podiacuteamos deixar de

referir o livro ldquoThe Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-1204rdquo de John Pryor

e Elizabeth Jeffreys que aborda os mais diversos aspetos da poliacutetica naval bizantina

incluindo um estudo da evoluccedilatildeo da embarcaccedilatildeo predileta de Bizacircncio ndash o droacutemōn15

Qual a importacircncia da bizantiniacutestica para a historiografia portuguesa Esta eacute uma

questatildeo que se pode colocar a esta dissertaccedilatildeo sendo pertinente identificar uma resposta para

ela A invocaccedilatildeo de motivaccedilotildees geograacutefico-histoacutericas gera sentimentos contraditoacuterios se por

um lado a presenccedila bizantina no sul da Peniacutensula Ibeacuterica (incluindo possivelmente no

Algarve) foi muito efeacutemera por outro lado as suas influecircncias culturais em especial na

disciplina arquitetoacutenica satildeo evidentes como bem atesta o caso da Capela de Satildeo Frutuoso de

Monteacutelios em Braga Ainda assim a curta permanecircncia de Bizacircncio na Hispacircnia tambeacutem natildeo

pode representar um pretexto para natildeo se estudar o Impeacuterio Romano do Oriente bastando

para isso recordar que algumas das grandes escolas mundiais de bizantiniacutestica estatildeo sedeadas

9 Nesta dissertaccedilatildeo utilizaremos a traduccedilatildeo mais recente DENNIS George T (2014) The Taktika of Leo VI

Text Translation and Commentary (Revised Edition) Washington DC Dumbarton Oaks Research Library and

Collection 10 KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Hands A Note on Byzantine

Foreign Policy (886-912) Traditio (23) pp 15-40 11 TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 12 TREADGOLD Warren (1997) A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University

Press 13 HALDON John (1999) Warfare State and Society in the Byzantine World 565-1204 Londres University

College of London Press 14 MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit pp 907 a 914 15 PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-

1204 Leiden e Boston Brill

11

em paiacuteses onde os basilecircis natildeo exerceram qualquer tipo de poder poliacutetico ou militar direto em

Franccedila na Alemanha no Reino Unido e claro em Harvard nos Estados Unidos onde existe

a maior coleccedilatildeo de fontes bizantinas a Research Library and Collection in Byzantine Studies

em Dumbarton Oaks (um trustee da melhor universidade do mundo) O trabalho que se

segue no qual pusemos o nosso maior empenho demonstra a atualidade de Bizacircncio e a

necessidade de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre este tema de grande relevacircncia histoacuterica para

compreendermos melhor o presente em que vivemos e entendermos mais em profundidade a

Europa de hoje Os historiadores portugueses natildeo devem furtar-se agrave participaccedilatildeo neste debate

12

Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o

exeacutercito bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X

O primeiro capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo versa a guerra e a sua relaccedilatildeo com a sociedade e

o Estado bizantinos antes e durante o tempo da escrita do Taktikaacute nos primeiros anos do

seacuteculo X Este capiacutetulo estaacute dividido em trecircs subcapiacutetulos principais que focam

respetivamente i) a geografia poliacutetica e militar do impeacuterio nos primeiros anos da dinastia

Macedoacutenica ii) o panorama do pensamento estrateacutegico do impeacuterio sedeado em

Constantinopla neste periacuteodo bem como as formas de fazer a guerra em Bizacircncio iii) os

apparati militares bizantinos que se encontravam ao dispor de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Neste

uacuteltimo subcapiacutetulo daremos especial relevacircncia aos themaacuteta pois eacute aos generais destes

exeacutercitos que Leatildeo VI dedica a sua obra Apesar de o Taktikaacute natildeo se dirigir por exemplo aos

taacutegmata (plural de taacutegma laquoregimentoraquo) que compunham a guarda imperial e eram a coluna

vertebral dos exeacutercitos de campanha coevos atribuiremos tambeacutem algum espaccedilo a tais

contingentes bem como a outras componentes das forccedilas armadas bizantinas caso dos

mercenaacuterios e da marinha de guerra

11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando

da ascensatildeo da dinastia macedoacutenica

A epopeia milenar bizantina estaacute repleta de acontecimentos militares e constroacutei-se

sobre um impeacuterio em permanente estado de guerra maioritariamente defensiva Esta

caracteriacutestica torna-se ainda mais nefasta quando nos apercebemos de que os territoacuterios sob

soberania bizantina16 estavam dispersos por terras distantes separadas por mares A

insuficiecircncia econoacutemica ou militar romanas para conseguir acorrer a cada regiatildeo da mesma

forma quando mais do que uma delas estava em perigo apresenta-se como uma agravante

daquela dificuldade Veja-se por exemplo o caso dos herdeiros do imperador Justiniano

(527-565) que apoacutes um grande nuacutemero de vitoacuterias espetaculares deste no Norte de Aacutefrica e

em Itaacutelia se viram perante um enorme conjunto de invasotildees e de guerras por todo o territoacuterio

imperial17 as quais soacute a muito custo conseguiram parar ou retardar

A situaccedilatildeo que Bizacircncio vivia na altura da ascensatildeo dos primeiros Macedoacutenicos era

pouco diferente daquela que Justiniano tivera de enfrentar depois da conquista final da Itaacutelia

16 Quer sob controlo direto quer sob o domiacutenio de um vassalo de Bizacircncio 17 A Peacutersia a Oriente os Lombardos em Itaacutelia tribos mouriscas no Norte de Aacutefrica e os sempre permanentes

raides dos ldquoPovos das Estepesrdquo nos Balcatildes

13

por Narseacutes apoacutes a batalha de Mons Lactarius em 553554 Quanto muito tinham mudado os

protagonistas (ou os antagonistas neste caso) em cada uma das frentes o Norte de Aacutefrica e o

Sul da Peniacutensula Ibeacuterica estavam perdidos como principal inimigo no lugar dos Sassacircnidas

erguiam-se os califados e os emirados muccedilulmanos na Siacuteria na Ciliacutecia e no Norte de Aacutefrica

em Itaacutelia para aleacutem dos principados lombardos no Sul e dos Francos no norte os Aacuterabes

faziam sentir a sua presenccedila apoacutes a invasatildeo da Siciacutelia em 827 os Buacutelgaros mantinham-se

como o principal rival bizantino nos Balcatildes e a situaccedilatildeo mariacutetima mostrava-se pouco

favoraacutevel com a Siciacutelia a ser invadida pelos Aglaacutebidas (uma dinastia muccedilulmana do Norte de

Aacutefrica) Creta em matildeos de corsaacuterios sarracenos a ilha de Chipre a manter o status quo vigente

desde o tratado entre Justiniano II (685-695705-711) e al-Malik (685-705) em 688 e a

supremacia naval entregue nas matildeos dos emirados de Tarso e dos Tuluacutenidas do Egito e

(assim) indiretamente dos Abaacutessidas Tal era o ponto geral da situaccedilatildeo aquando da ascensatildeo

da dinastia macedoacutenica

Olhemos agora mais especificamente para cada regiatildeo Comecemos por aquela que eacute a

frente mais simboacutelica do periacuteodo-meacutedio bizantino a Aacutesia Menor Nos finais do reinado de

Miguel III (842-867) a guerra neste territoacuterio tinha comeccedilado a abrandar apoacutes duas

importantes batalhas em Marj al-Usquf e em Lalacatildeo ambas em 863 das quais resultou o

enfraquecimento do poderio terrestre dos emirados de Tarso e de Melitene Nesta regiatildeo

mantinha-se o perigo que representava o ldquoEstadordquo Pauliciano sedeado em torno de Tephrike

(atual Divriği na Turquia) que continuava a enviar expediccedilotildees de saque para o interior da

Anatoacutelia No entanto os raides muccedilulmanos de maiores dimensotildees tinham terminado e a

vantagem comeccedilava a tender cada vez mais para os Bizantinos ao menos no virar do seacuteculo

A guerra que se praticava naquela regiatildeo era tipicamente perniciosa para as

populaccedilotildees locais em especial para aquelas que habitavam junto agraves cordilheiras do Tauro e do

Antitauro A modalidade beacutelica aiacute praticada com semelhanccedilas ao que noacutes chamamos hoje de

ldquoguerrilhardquo assentava em escaramuccedilas e emboscadas e muitas vezes implicava que o inimigo

invadisse o territoacuterio imperial e saqueasse escravizasse e destruiacutesse com impunidade O

recurso de Bizacircncio a este tipo de guerra naquela aacuterea durante quase dois seacuteculos provocou

mudanccedilas de espectro demograacutefico como a criaccedilatildeo de uma terra-de-ningueacutem no limes

bizantino-aacuterabe e a reduccedilatildeo do nuacutemero de grandes cidades18 que foram substituiacutedas por

centros populacionais mais seguros bem fortificados e localizados em zonas de difiacutecil acesso

18 Estas passaram a existir apenas como centros administrativos ou refuacutegio ocasional para as populaccedilotildees

circundantes em caso de ameaccedila Vide HALDON John e KENNEDY Hugh (1980) The Arab-Byzantine

14

Tambeacutem a economia anatoacutelica (e por consequecircncia bizantina) foi viacutetima da estrateacutegia

militar romana tendo sofrido alteraccedilotildees Comeccedilou-se a verificar uma centralizaccedilatildeo da

agricultura anatoacutelica nas zonas costeiras da peniacutensula pois possuiacuteam terrenos mais feacuterteis e

estavam protegidas pelo terreno montanhoso que separava aquelas aacutereas do planalto anatoacutelico

e pela frota do Kibirrhaiotai Por sua vez os principais recursos econoacutemicos do planalto

anatoacutelico passam a ser produzidos a partir da pecuaacuteria visto que esta era muito mais rentaacutevel

no terreno rochoso e no clima frio da regiatildeo em muito semelhante ao da estepe ateacute porque se

tratava de uma fonte de rendimento muito mais faacutecil de proteger ou de deslocar

comparativamente agrave agricultura estaacutetica e muito vulneraacutevel perante as depredaccedilotildees aacuterabes

Nos Balcatildes o impasse permanecia entre Bizacircncio e a Bulgaacuteria a conversatildeo deste

uacuteltimo povo ao cristianismo em 864 afetou profundamente a relaccedilatildeo entre os ditos reinos

mudanccedila esta refletida em diversos acordos comerciais firmados A ascensatildeo de um novo

czar Simeatildeo (893-927) iria contribuir para o reforccedilo da cristianizaccedilatildeo do Estado buacutelgaro

mas se os Bizantinos pensavam que isso era sinoacutenimo de paz rapidamente viram as suas

ideias viradas do avesso quando o primeiro conflito entre os dois Estados desde a conversatildeo

dos Buacutelgaros comeccedilou a tomar forma Em 894 irrompe a guerra entre Preslav e

Constantinopla talvez catalisada pelo czar Simeatildeo Este confronto teraacute um teor diferente dos

anteriores um seacuteculo antes aquando da batalha de Priska os Buacutelgaros eram pagatildeos mas

agora eram cristatildeos e o basileuacutes Leatildeo VI (886-912) natildeo demonstrava (ou natildeo aparentava

demonstrar) qualquer inclinaccedilatildeo para travar um combate contra um reino cristatildeo ortodoxo19

tal como declara no seu tratado militar20 como veremos mais adiante

Em Itaacutelia os Bizantinos veem-se novamente frente-a-frente com os Aacuterabes apoacutes a

invasatildeo aglaacutebida da Siciacutelia em 827 Os confrontos com os muccedilulmanos alcanccedilariam mais

tarde a Calaacutebria e a Apuacutelia onde Bizacircncio combatia tanto pelas armas como pela diplomacia

a fim de submeter os principados lombardos agrave soberania bizantina quer de forma direta quer

por vassalagem A norte Bizacircncio mantinha relaccedilotildees cordiais com os Francos o que

possibilitou uma alianccedila contra os Sarracenos de Bari e permitiu cercar a cidade em 869 jaacute no

reinado de Basiacutelio I (867-886) Apesar de desacordos entre as duas partes e do abandono do

cerco pelas forccedilas bizantinas Bari caiu para os Francos em 871 tendo os habitantes entregado

a cidade anos depois a Constantinopla Esta urbe vai-se mostrar fundamental para alcanccedilar

Frontier in the Eighth and Ninth Centuries Military Organization and Society in the Borderlands Zbornik

Radova Visantoloskog InstitutaI (19) pp 92-94 19 Vide KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Handsrsquo A Note on Byzantine

Foreign Policy (886-912) Traditio 23 p 40 20 Vide Anexo IX b)

15

os dois principais objetivos estrateacutegicos na regiatildeo a expulsatildeo da ameaccedila aacuterabe e a subjugaccedilatildeo

das cidades lombardas agrave soberania romana duas metas para as quais Basiacutelio I e Leatildeo VI natildeo

vatildeo despender esforccedilos de forma a garantir a supremacia bizantina no sul de Itaacutelia ainda que

para isso tenham que sacrificar a Siciacutelia mesmo que acidentalmente como no caso de

Basiacutelio I

Por fim a situaccedilatildeo mostrava-se ingrata para os Bizantinos na guerra mariacutetima as

grandes ilhas do Mediterracircneo Oriental e Central estavam em matildeos muccedilulmanas (Creta) ou

em vias de ser conquistadas (Siciacutelia) Por outro lado o poder mariacutetimo dos emirados

cilicianos e do Califado mantinha-se superior agrave forccedila naval bizantina com ataques frequentes

agraves ilhas do Mar Egeu agrave costa anatoacutelica e agrave Greacutecia Soacute na costa italiana eacute que Bizacircncio parecia

manter a supremacia conseguindo inverter com certa facilidade os reveses naquelas aacuteguas

Na passagem do seacuteculo IX para o X eacute esta a situaccedilatildeo de Bizacircncio Os primeiros

imperadores macedoacutenicos Basiacutelio I e Leatildeo VI agrave semelhanccedila dos seus antecessores veem-se

confrontados com um conjunto de antagonismos por todo o espaccedilo imperial Pressionados

pela necessidade de legitimar a nova dinastia os basileicircs em especial Basiacutelio I vatildeo tentar

inverter a situaccedilatildeo recorrendo agrave revisatildeo da estrateacutegia militar bizantina e agrave diplomacia

12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial

Face ao tipo de adversidades enunciadas anteriormente o Impeacuterio Bizantino eacute

obrigado a proceder a reformas na sua maacutequina de guerra para conseguir responder com

sucesso agraves agressotildees estrangeiras ou intestinas que emergem no seu territoacuterio A maior parte

destas reformas como veremos adiante teve como laboratoacuterio de ensaio a peniacutensula da

Anatoacutelia onde os Romanos enfrentavam aqueles que sem grande margem para duacutevidas eram

os seus arqui-inimigos os califados aacuterabes de Damasco e de Bagdade

Este tipo de evoluccedilatildeo no entanto natildeo se prende apenas com a guerra no sentido fiacutesico

pois o pensamento estrateacutegico bizantino vai sofrer algumas alteraccedilotildees a partir do principado

de Heraacuteclio (610-641) Com efeito Bizacircncio ao tomar uma atitude completamente defensiva

comeccedila a ver-se obrigada a tomar decisotildees bastante difiacuteceis em relaccedilatildeo a alguns dos seus

territoacuterios para garantir a proteccedilatildeo de outros com maior interesse estrateacutegico Em casos mais

graves e alarmantes estas opccedilotildees tornavam-se de tal modo draacutesticas que os basilecircis optavam

por abandonar certas regiotildees para fortalecer outras Exemplo disto foi a ordem de retirada

dada por Heraacuteclio agraves tropas bizantinas da Siacuteria-Palestina apoacutes a derrota face aos Aacuterabes na

batalha de Yarmuk em 636 recuaram para a Mesopotacircmia e para a Anatoacutelia de forma a

garantir a sobrevivecircncia do que restava dos exeacutercitos moacuteveis do Oriente e da Armeacutenia bem

16

como das forccedilas auxiliares romanas naquela regiatildeo (tropas armeacutenias e gassacircnidas

principalmente) e para criar uma nova barreira nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro21

Por outro lado como eacute verificaacutevel em alguns tratados militares bizantinos como o

Taktikaacute a palavra de ordem era evitar a todo o custo a batalha campal22 jaacute que esta tinha na

maior parte dos casos um resultado incerto e acarretava grandes baixas humanas muitas

vezes ateacute para o vencedor23 Portanto Bizacircncio e em certa medida os seus inimigos em

especial os Aacuterabes preferiam combater a ldquoguerra pequenardquo tipicamente de fronteira com

recurso a ardis a espionagem a um bom estudo do terreno e muitas vezes a poliacuteticas de

terra-queimada24 Poreacutem isto natildeo implicava a inexistecircncia de batalhas campais que se

continuaram a travar durante o periacuteodo meacutedio bizantino e que na maior parte dos casos

contribuiacuteam para a alteraccedilatildeo do status quo entre Bizacircncio e o seu adversaacuterio na regiatildeo25

A guerra de fronteira no entanto natildeo era o uacutenico pilar da estrateacutegia defensiva

bizantina existindo mais dois que contribuiacuteam para o bom funcionamento da primeira a

diplomacia e a espionagem A primeira era porventura o maior trunfo do Impeacuterio Romano

do Oriente que tirava partido do seu elevado nuacutemero de diplomatas experientes para

neutralizar alguns inimigos por meio de subornos ou de tributos traziam-se novos aliados

para o lado de Constantinopla ou convenciam-se naccedilotildees estrangeiras a entrar em guerra e a

lidar com inimigos indesejaacuteveis para Bizacircncio (de forma a evitar que fossem os basilecircis a

combatecirc-los) Jaacute a espionagem era vital para o impeacuterio pois permitia reconhecer as

principais ameaccedilas agrave sua seguranccedila bem como os meios ao dispor e o alvo principal das suas

ambiccedilotildees a situaccedilatildeo interna dos vizinhos bizantinos e no caso da contraespionagem

confundir os serviccedilos de informaccedilatildeo inimigos atraveacutes da alimentaccedilatildeo de falsa informaccedilatildeo que

encaminhava o inimigo para emboscadas ou para zonas mais bem preparadas para reagir a

uma invasatildeo Ao referirmo-nos agrave estrateacutegia defensiva bizantina eacute imperativo que natildeo se

21 Vide KAEGI Walter E (2005) Byzantium and the Early Islamic Conquests Cambridge Cambridge

University Press pp 147-150 22 Contra os Aacuterabes esta praacutetica comeccedilou a aplicar-se relativamente cedo logo apoacutes a derrota bizantina frente a

forccedilas sarracenas na batalha de Yarmuk Vide HALDON John (2001) The Byzantine Wars Battles and

Campaigns of the Byzantine Era Gloucestershire Tempus Publishing Ltd pp 65 23 Para alguns autores como Walter Kaegi este pensamento estrateacutegico de evitar a batalha campal decisiva foi

uma das razotildees principais para a sobrevivecircncia milenar do Impeacuterio Bizantino Vide KAEGI Walter (1983)

Some Thoughts on Byzantine Military Strategy Brooklyn Massachussets Helenic College Press p 9 24 Existe um tratado bizantino especialmente dedicado a esta praacutetica marcial o Περiacute παραδρομής (Periacute

paradromeacutes) ou De velitatione bellica traduzido para inglecircs por George T Dennis vide DENNIS George

(1985) Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 25 Como por exemplo Yarmuk a grande batalha inaugural do periacuteodo intermeacutedio que a curto-meacutedio prazo vai

contribuir para a reduccedilatildeo do territoacuterio imperial para pouco menos de metade ou a batalha de Akroinos em 740

que em conjunto com a deposiccedilatildeo do Califado Omiacuteada vai pocircr fim no geral agraves tentativas aacuterabes de conquistar

Constantinopla e a Aacutesia Menor Para o primeiro caso vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp 56-57 e 66 Para o

segundo vide HALDON John (2016) The Empire that would not die ndash The Paradox of Eastern Roman

Survival 640-740 Cambridge e Londres Harvard University Press pp1 e 54

17

esqueccedila que a guerra perpeacutetua pela defesa de Bizacircncio se travava tanto no ldquocampo de

batalhardquo como agrave mesa de negociaccedilotildees

Outra modalidade beacutelica preferida dos Bizantinos era a poliorceacutetica com cercos

bastante recorrentes a fortalezas aacuterabes nas regiotildees limiacutetrofes dos seus territoacuterios ou a cidades

lombardas no Sul de Itaacutelia Aliaacutes nesta uacuteltima disciplina beacutelica Bizacircncio mantinha-se eficaz

como seguidora legiacutetima do Impeacuterio Romano Este legado era tanto taacutetico como teacutecnico

Bizacircncio recorria muitas vezes a armas de cerco pesadas26 que requeriam a presenccedila de

engenheiros e de teacutecnicos especializados no uso destas os techniacutetai por outro lado a guerra

psicoloacutegica era frequentemente praticada de forma a reduzir o nuacutemero de baixas e o custo de

asseacutedios a uma fortaleza A importacircncia da guerra psicoloacutegica eacute evidenciada tendo em conta

a preferecircncia dos generais bizantinos em recorrer mais vezes ao bloqueio do que ao assalto e

bombardeamento de muralhas para o qual eram empregues taacuteticas como a destruiccedilatildeo ou o

roubo de fontes de abastecimento27 que geralmente eram aproveitadas pelos sitiantes os

ataques noturnos o controlo de vias de comunicaccedilatildeo e obviamente a interdiccedilatildeo de entrada e

saiacuteda de indiviacuteduos do local sitiado a natildeo ser que fossem negociadores

A poliorketikaacute era tambeacutem uma importante disciplina da tratadiacutestica antiga e

bizantina estando presente na maior parte dos manuais de guerra (Stratēgikoacuten Taktikaacute28 e

Perigrave Strategiacuteas29) ou possuindo tratados que se dedicavam exclusivamente agrave guerra de cerco

nas suas duas vertentes defensiva e ofensiva Entre estes tratados figuram as duas obras de

Heacuteron de Bizacircncio o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia que se encontram

direcionados para uma boa aplicaccedilatildeo de maacutequinas de guerra e o De obsidione toleranda que

se dedica exclusivamente agrave componente defensiva da poliorketikaacute ou seja agrave defesa de uma

cidade ou de outro tipo de baluarte sitiado

Por fim eacute importante natildeo esquecer a relevante componente que a marinha de guerra

representava para o pensamento estrateacutegico bizantino Embora a guerra terrestre fosse

importante para a defesa da integridade territorial bizantina o controlo dos mares era vital

para o impeacuterio por diversas razotildees garantir a proteccedilatildeo do comeacutercio e das vilas e cidades

costeiras da pirataria sarracena e russa manter boas vias de comunicaccedilatildeo entre os territoacuterios

dispersos sob alccedilada bizantina e obviamente proteger a capital Constantinopla uma cidade

26 Tais como trabucos de traccedilatildeo (e mais tarde de contrapeso) escadas de assalto coberturas para equipas de

assalto como laisacirci vineae e tartarugas torres de assalto e ariacuteetes Cf NISA Joatildeo (2017) ldquoIII Parte ndash A

Poliorceacutetica e o Poder Naval Bizantinosrdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) (2017) Histoacuteria de Roma

Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 434 e 438 27 P ex Destruiccedilatildeo de aquedutos e colheitas roubo de cabeccedilas de gado Vide Idem Ibidem pp 436-437 28 Vide Anexo IX a) 29 A traduccedilatildeo que vamos usar ao longo desta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Perigrave Strategiacuteas Texto Traduccedilatildeo

e Comentaacuterio DENNIS G T (1986) ndash Op cit pp 1-136

18

que era impossiacutevel de conquistar sem o apoio de um forte braccedilo naval De forma a tentar

manter (ou recuperar) o seu estatuto de talassocracia30 Bizacircncio via-se obrigada a apostar

fortemente em reformas na marinha e na conquista (ou manutenccedilatildeo) de pontos estrateacutegicos no

Mar Mediterracircneo casos das ilhas de Creta de Chipre e como eacute oacutebvio da Siciacutelia

Durante os seacuteculos IX e X a naumachikaacute a disciplina da tratadiacutestica bizantina

direcionada para a guerra naval recebeu algum relevo com a escrita e publicaccedilatildeo de tratados

que pela primeira vez em muito tempo se debruccedilaram sobre esta modalidade e a forma como

esta deveria ser feita Entre as obras que abordam estas temaacuteticas encontramos a Constitutio

XIX do Taktikaacute de Leatildeo VI e o tratado Naumachiacuteai31 atribuiacutedo a Siriano Esta tendecircncia

verificada no virar de mileacutenio opotildee-se agrave da ldquoPrimeira Idade de Ourordquo da tratadiacutestica bizantina

(seacutec V-VI) onde a guerra no mar natildeo estaacute presente veja-se o Strategikoacuten que refere apenas

aspetos de confrontos em contextos fluviais Este facto pode ser facilmente explicado na

nossa opiniatildeo pela reduzida dimensatildeo que a marinha e o mar ocupavam no horizonte

estrateacutegico de Constantinopla entre a laquoReconquista Justinianaraquo (533-554) e a expansatildeo aacuterabe

eacutepoca em que possuiria uma frota restritamente utilizada e condicionada para garantir a

proteccedilatildeo do comeacutercio e vocacionada para o apoio logiacutestico aos exeacutercitos romanos em

especial em teatros fluviais como a fronteira do Danuacutebio tendo o droacutemon a embarcaccedilatildeo por

excelecircncia bizantina sido afetada por estes condicionalismos perdeu tonelagem e tamanho e

as tripulaccedilotildees tornaram-se mais reduzidas32

Concluiacuteda esta digressatildeo pelas bases da estrateacutegia defensiva bizantina e pelas

tipologias mais favorecidas de combate podemos entatildeo analisar os apparati militares de

Bizacircncio durante a eacutepoca-meacutedia bizantina em especial durante os primeiros Macedoacutenicos

13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados

dos primeiros basileicircs macedoacutenicos

Falar do sistema militar bizantino eacute bastante delicado e requer um certo cuidado Isto

porque dissecar o exeacutercito bizantino implica olhar para o funcionamento do Estado bizantino

30 A necessidade de Bizacircncio ser uma talassocracia pelas razotildees acimas referidas natildeo deixava de ser um pouco

paradoxal pela conceccedilatildeo tardo-romana de mar considerado um elemento peacuterfido e perigoso Por outras

palavras a necessidade bizantina de controlar o mar natildeo significava que estes nutrissem grande afeiccedilatildeo por ele

um sentimento baseado em vaacuterios fatores de cariz religioso e social Vide COSENTINO Salvatore (2004) III ndash

La flota bizantina e lrsquoIslam aspetti di storia istituzionale e sociale In CARILE Antonio e COSENTINO

Salvatore (2004) Storia della Marineria Bizantina Bolonha Lo Scarabeo pp 272 e 273 31 A versatildeo usada nesta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Naumachiai Sirianoi Magistroi Texto e traduccedilatildeo

PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-

1204 Leiden e Boston Brill pp 455-482 32 Vide COSENTINO Salvatore (2008) Constans II and the Byzantine Navy Byzantinische Zeitschrift 100 (2)

pp 581-583

19

para a sua componente fiscal e para o teacutenue balanccedilo de poderes entre a administraccedilatildeo civil e a

aristocracia militar que sobretudo apoacutes o reinado de Constantino VII (913-959) comeccedilaram

a travar um perigoso braccedilo-de-ferro pela supremacia na laquorainha das cidadesraquo

Sendo assim quais eram os principais braccedilos armados de Bizacircncio aquando da

ascensatildeo de Leatildeo VI Na nossa opiniatildeo Bizacircncio possuiria quatro importantes componentes

militares i) os themaacuteta e as kleisocircurai circunscriccedilotildees territoriais que combinavam poder

poliacutetico e militar nas quais o Impeacuterio Bizantino se encontrava dividido ii) os taacutegmata a

guarda de elite dos basileicircs e a coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha de Bizacircncio iii) a

marinha bizantina e as tropas mariacutetimas que disputavam a supremacia naval com o poderio

aacuterabe iv) os ocasionais mas sempre presentes bandos mercenaacuterios que integravam os

exeacutercitos de campanha imperiais Satildeo estes apparati que servem Leatildeo VI em vaacuterios pontos do

impeacuterio enquanto o Saacutebio (segundo se atribui) redige o seu tratado ou confronta o

patriarcado33 Examinemos agora cada uma daquelas componentes

Comecemos pelos themaacuteta Muito se debateu acerca destes corpos militares ao longo

dos anos a sua criaccedilatildeo organizaccedilatildeo como foram distribuiacutedas as suas terras o que eram

quem eram os soldados que eram recrutados em cada um entre outras questotildees Cremos que

as definiccedilotildees mais concretas que podemos dar a esta palavra satildeo as seguintes (a) eram

distritos provinciais que conjugavam de forma equitativa os poderes militares e poliacuteticos em

torno de um oficial o strategoacutes (b) eram os exeacutercitos dessas mesmas regiotildees Na nossa

opiniatildeo as principais caracteriacutesticas dos themaacuteta satildeo o facto de providenciarem uma forccedila de

defesa raacutepida contra raides inimigos a capacidade dos soldados que os integravam de

conseguirem manter-se de forma autoacutenoma na maior parte dos casos poupando ao Estado

alguma despesa na manutenccedilatildeo dos exeacutercitos e a combinaccedilatildeo do poder civil e militar sob o

strategoacutes (poder militar) e o protonotaacuterios (poder civil e fiscal) o que permitia um acesso

mais faacutecil da parte da componente militar dos themaacuteta aos recursos humanos e materiais da

regiatildeo

Em relaccedilatildeo agrave etimologia da palavra ateacute haacute pouco pensou-se que a origem da palavra

theacutema tal como eacute usada neste caso provinha do grego theacutema (corpo armado) ou do turco

toumen (divisatildeo de dez mil homens) natildeo retirando creacutedito a estas definiccedilotildees acredita-se que

uma outra possiacutevel palavra original para theacutema eacute o verbo τίθημι (tiacutetemi que significa colocar

depositar estabelecer ou atribuir) o que faz todo o sentido se estes foram estabelecidos

33 Aqui referimo-nos ao duro conflito entre Leatildeo VI e o patriarca Nicolau em torno do 4ordm casamento do basileuacutes

e portanto da legitimaccedilatildeo do seu filho (o futuro Constantino VII) com a 4ordf esposa Zoeacute Carbonopsina Cf infra

22

20

durante as reformas fiscais de Niceacuteforo I uma vez que elas ldquodepositaramrdquo soldados da Aacutesia

Menor nos receacutem-conquistados territoacuterios dos Balcatildes tal como veremos adiante34

As origens apresentam-se mais discutiacuteveis tendo ao longo da segunda metade do

seacuteculo XX surgido duas correntes para o aparecimento dos themaacuteta a primeira que podemos

apelidar de laquoimplementacionistaraquo foi sugerida por Ostrogorsky e defendia que o laquosistema

temaacuteticoraquo tinha surgido durante ou imediatamente apoacutes a uacuteltima guerra bizantino-persa (602-

628) A sua criaccedilatildeo teria sido uma reforma deliberada de Heraacuteclio e teria como objetivo obter

uma forma de recrutar e de abastecer homens para os exeacutercitos de campanha romanos durante

aquele conflito e mais tarde durante os primeiros confrontos contra os Aacuterabes35 A base desta

corrente teoacuterica era a distribuiccedilatildeo de terras e propriedades aos soldados do impeacuterio em troca

do seu serviccedilo militar de onde retiravam o rendimento necessaacuterio para as suas armas e

mantimentos (a isto acrescentamos a importante componente psicoloacutegica pois incentivava-se

o proprietaacuterio o militar portanto a combater qualquer ameaccedila agrave sua propriedade)36 Por outro

lado e colocando-se contra esta teoria de Ostrogorsky encontramos Agostino Pertusi e

Johanes Karayannopoulos que apresentam teorias a que podemos chamar de laquogradualistasraquo

Pertusi contradizendo o historiador jugoslavo defendeu que o surgimento dos themaacuteta se

prende com uma evoluccedilatildeo do sistema administrativo romano que foi moldada pelas vaacuterias

pressotildees que o impeacuterio sofreu entre os seacuteculos VII e X por sua vez Karayannopoulos

argumentou que o laquosistema temaacuteticoraquo era o resultado da evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees militares

tardo-romanas37 desde o seacuteculo VI ateacute ao seacuteculo X38

A discussatildeo passou a gerar-se em torno de um conjunto cada vez maior de

bizantinistas que tomavam o partido de uma das duas correntes teoacutericas alguns como Warren

Treadgold Martha Gregoriou-Iounnidou e Michael Hendy (este uacuteltimo com ideias proacuteprias)

tomavam o partido da teoria claacutessica de Ostrogorsky na laquofaccedilatildeo gradualistaraquo alinharam nomes

como John Haldon Walter Kaegi Heacutelegravene Ahrweiler Nicolas Oikonomiacutedes e Paul Lemerle

34Para as primeiras definiccedilotildees vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia (2017) ldquoI Parte ndash Histoacuteria Concisa do Impeacuterio

Bizantino (das Origens agrave Queda de Constantinopla)rdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) Histoacuteria de Roma

Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra p 53 Para a

segunda HALDON John (2016) A context for two ldquoevil deedsrdquo Nikephoros I and the origins of the themata In

DELOUIS Olivier MEacuteTIVIER Sophie e PAGEgraveS Paule (ed) (2016) Le Saint Le Moine et le Paysan

Meacutelanges drsquohistoire byzantine offerts agrave Michel Kaplan Paris Publications de la Sorbonne p 259 35 Vide HALDON John (1993) Military Service Lands and the Status of Soldiers Current Problems and

Interpretations In Dumbarton Oaks Papers vol 23 p4 36 Vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit pp 53-54 37 Referimo-nos aos exeacutercitos moacuteveis aos quais pertenciam os soldados que chamamos de comitatenses e aos

limitanei que guarneciam as regiotildees fronteiriccedilas 38 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit pp 4-5

21

entre outros Mais recentemente apoacutes vaacuterios anos de discussatildeo a corrente teoacuterica que tem

ganho mais importacircncia eacute a laquogradualistaraquo

Apesar da existecircncia de um enorme conjunto de teses parece-nos pertinente referir a

teoria que John Haldon apresentou recentemente O artigo onde ela se encontra assenta no

estudo das vexilationes39 de Niceacuteforo I e Haldon data os themaacuteta para o reinado deste

basileuacutes De acordo com o autor as reformas que implementaram os themaacuteta e que tinham

um cariz mais intrinsecamente fiscal do que militar foram a transferecircncia de soldados da

Aacutesia Menor para os territoacuterios recentemente conquistados aos Eslavos nos Balcatildes com a

obrigaccedilatildeo de venda das suas propriedades40 e posterior compra ou oferta (pelo Estado) de

novas terras a suacutebita apariccedilatildeo do cargo de protonotaacuterios nos iniacutecios do seacuteculo IX

(paralelamente agraves primeiras menccedilotildees dos themaacuteta em fontes) e a instituiccedilatildeo de uma doaccedilatildeo

comunitaacuteria para o pagamento de impostos e de equipamento dos soldados mais pobres41 o

que contribuiria para alicerccedilar as ligaccedilotildees entre os soldados e as comunidades onde eles

estavam inseridos Estas reformas teratildeo alastrado aos comandos militares42 da Aacutesia Menor

onde os contributos comunitaacuterios para os soldados mais pobres (que no entanto natildeo parece

que se tenham mantido por muito tempo) e os protonotaacuterios melhoraram a eficiecircncia dos

sistemas de manutenccedilatildeo e de abastecimento dos exeacutercitos provinciais assim como as ligaccedilotildees

entre o strategoacutes e o poder civil De acordo com Haldon os themaacuteta tiveram a sua origem por

essa altura comeccedilando a crescer em nuacutemero a partir daiacute (ou pela conquista de novos

territoacuterios ou mais provavelmente pela divisatildeo do territoacuterio dos themaacuteta jaacute existentes para

melhor consolidar a defesa do impeacuterio) sendo certo que pela altura do reinado de Leatildeo VI

existiriam mais de vinte distritos administrativo-militares deste tipo43

O debate entre as duas correntes teoacutericas sobre a origem dos themaacuteta tinha poreacutem

outro core para aleacutem deste a forma como os soldados eram recrutados bem como a relaccedilatildeo

destes com os proacuteprios themaacuteta44 Este uacuteltimo toacutepico interessa-nos muito porque envolve a

questatildeo das terras militares ou laquoestratioacuteticasraquo (as stratiotikagrave kteacutemata) O nome destas terras eacute

39 Ou kakoacuteseis (em portuguecircs ldquomaldadesrdquo) configuram um conjunto de reformas fiscais implementadas por

Niceacuteforo I que o clero bizantino viu com maus olhos devido aos alegadamente pesados impostos que o

basileuacutes lhes impocircs Destas reformas as duas primeiras satildeo de extrema importacircncia para se apurar a origem dos

themaacuteta de acordo com John Haldon Vide HALDON J (2016) ndash Op cit p 249 40 Vide Anexo IX b) 41 O valor deste equipamento estaacute apontado como sendo 185 nomismata Vide Anexo IX c) 42 As proviacutencias onde habitavam de acordo com Leif Inge-Petersen denominavam-se ldquoterras de um strategoacutesrdquo

Vide PETERSEN Leif Inge (2013) Siege Warfare and Military Organization in the Successor States (400-800

AD) Boston Brill p 105 43 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 91 Para uma possiacutevel lista dos themaacuteta no virar do seacuteculo IX para o X

vide HEATH Ian (1980) Armies of the Dark Ages 600-1066 ndash Organisation tactics dress and weapons 2ordf

Ediccedilatildeo Sussex Wargames Research Group Publication p7 44 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit p 7

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um pouco traiccediloeiro porque a posse dita de laquoterras militaresraquo natildeo eacute implicitamente indicadora

da possessatildeo de terrenos pelos soldados mas sim da possessatildeo de strateiacutea (isto eacute da

implicaccedilatildeo de cumprir serviccedilo militar) pela propriedade ou pelo respetivo proprietaacuterio

Dentro dos recursos para recrutamento dos thematikoiacute (os soldados destes exeacutercitos) a

strateiacutea era sem duacutevida o principal e ter-se-aacute mantido como tal ateacute ao seacuteculo XII Todavia foi

sofrendo alteraccedilotildees pois ateacute agraves reformas juriacutedicas de Constantino VII encontrava-se associada

ao indiviacuteduo e natildeo agrave propriedade algo que soacute seria oficializado pelas reformas jaacute referidas45

Assim de entre os thematikoiacute deduzimos que a maior parte dos soldados recrutados para

campanha ateacute ao reaparecimento em forccedila de mercenaacuterios nos meados do seacuteculo X46 eram

aqueles que estavam registados juntamente com a sua strateiacutea47 nos koacutedikes do logotheacutesion

militar de cada theacutema48

Existiriam ainda alguns soldados voluntaacuterios natildeo registados que fora a participaccedilatildeo

em campanhas tambeacutem podiam servir a tiacutetulo permanente como membros de guarniccedilotildees e

dos corpos de guarda juntamente com voluntaacuterios possuidores de strateiacutea Seria este conjunto

de homens que alguns anos apoacutes o desaparecimento do Saacutebio formaria os taacutegmata

provinciais49 corpos permanentes e muito melhor sustentados pelo Estado que se tornaram

um dos alicerces para a mudanccedila de interesses estrateacutegicos de Bizacircncio Esta viragem foi

concretizada a partir do reinado do co-imperador Romano I Lecapeno (920-944) e

caracterizou-se por uma postura cada vez mais ofensiva do impeacuterio e possibilitando a

chamada laquoReconquista Bizantinaraquo da segunda metade do seacuteculo X50

Por fim teccedilamos algumas consideraccedilotildees breves sobre a logiacutestica (abordaremos de

forma mais aprofundada alguns destes temas durante a anaacutelise do Taktikaacute) em especial sobre

o pagamento e abastecimento destes soldados Esta mateacuteria vai-nos obrigar a retomar ao

assunto das stratiotikagrave kteacutemata porque a partir da retirada de Heraacuteclio para Aacutesia Menor o

principal sustentador do soldado vai passar a ser o proacuteprio combatente Ainda hoje o

fenoacutemeno do crescimento da propriedade militar em Bizacircncio entre os seacuteculos VII e X

suscita alguma discussatildeo no seio dos bizantinistas Warren Treadgold considera que este

crescimento se deveu ao pagamento aos soldados apoacutes a grande desvalorizaccedilatildeo dos

45 Ateacute esta altura nas palavras do basileuacutes apesar do caraacuteter pessoal de strateiacutea as propriedades dos soldados

bizantinos eram inalienaacuteveis por tradiccedilatildeo e natildeo por coacutedigo legal Vide HALDON J ndash Op cit 2016 p 264 46 Vide NISA Joatildeo (2016) Arte Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de

Mestrado em Histoacuteria Militar apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra p 39 47 Que era hereditaacuteria 48 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p123 49 Que natildeo devem ser confundidos com os taacutegmata da capital dos quais falaremos mais adiante apesar de terem

funccedilotildees taacuteticas e benefiacutecios idecircnticos 50 Para um resumo destas reformas militares vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 38-39

23

numeraacuterios destes no reinado de Heraacuteclio em terras alegando o virtual desaparecimento da

maior parte da propriedade imperial entre os seacuteculos VII e X51

Por outro lado a visatildeo mais aceite presentemente eacute a de um conjunto de fatores como

um longo periacuteodo de casamentos entre as famiacutelias dos locais para onde os soldados dos

exeacutercitos moacuteveis tinham retirado bem como um processo de compra de propriedade efetuado

pelos soldados mais ricos52 um constante processo de recrutamento e substituiccedilatildeo dos

soldados dos antigos exeacutercitos provinciais por membros da populaccedilatildeo indiacutegena dos distritos

dos novos comandos militares poacutes-heraclianos53 Apoacutes esta apropriaccedilatildeo de terreno por

membros do exeacutercito o Estado rapidamente se comeccedilou a aperceber das vantagens do

processo particularmente a possibilidade de autossustentaccedilatildeo de um grande conjunto deles

Contudo efetuar uma generalizaccedilatildeo das condiccedilotildees econoacutemicas de todos os thematikoiacute eacute um

erro crasso existindo muitos soldados pobres que natildeo possuiacuteam meios para comprar o seu

equipamento montada e viacuteveres A responsabilidade de equipar estes soldados mais pobres

recaiu entatildeo sobre a sua famiacutelia nas comunidades em que se inseriam54 ou ateacute sobre os

stratioacutetai mais abastados dos themaacuteta caso estes natildeo quisessem participar ativamente em

alguma campanha algo aconselhado por Leatildeo VI55 no Taktikaacute56

De entre estas possibilidades a mais interessante parece-nos ser a uacuteltima porque

demonstra que a strateiacutea natildeo era apenas uma obrigaccedilatildeo militar para o serviccedilo efetivo mas

podia ser usada para apoio logiacutestico57 Assim os stratioacutetai mais ricos em vez de participarem

ativamente nas campanhas poderiam enviar no seu lugar um outro soldado equipado por eles

que natildeo possuiacutesse strateiacutea ou contribuir para o equipamento e provisotildees de um stratioacutetes

mais pobre Mais tarde a partir da legislaccedilatildeo oficial das terras militares por Constantino VII

passou a diferenciar-se o stratioacutetes ndash aquele que possuiacutea uma propriedade com strateiacutea58 ndash do

stratiouacutemenos o efetivo militar que era patrocinado por uma stratiotikagrave kteacutemata

A flexibilidade taacutetica dos themaacuteta bizantinos assentava tambeacutem nestas condiccedilotildees

sociais e econoacutemicas estando a tipologia do soldado condicionada pelos seus recursos

51 Vide TREADGOLD Warren (1995) Byzantium and Its Army Stanford Stanford University Press p 24 52 Cf MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit p 57 e tambeacutem HALDON J (2016) ndash Op cit p148 53 HALDON J (2016) ndash Op cit p148 54 Algo que como jaacute vimos teraacute sido instituiacutedo no principado de Niceacuteforo I 55 Apesar de o basileuacutes aconselhar ao strategoacutes que recrute preferencialmente para as campanhas os soldados

mais ricos e com maior capacidade de se equiparem e sustentarem autonomamente Vide Anexo VIII c) 56 Vide Anexo VIII d) 57 Praacutetica que se verificaria mais a partir dos meados do seacuteculo quando os basileicircs bizantinos comeccedilaram a

preferir que a strateiacutea fosse satisfeita atraveacutes de um pagamento que possibilitasse a contrataccedilatildeo de mercenaacuterios e

a compra de melhor equipamento para os exeacutercitos de campanha em vez da prestaccedilatildeo de um serviccedilo militar

ativo Vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 39 58 Ou strateiacutea parcial que eacute o resultado das divisotildees de ldquoterras estratioacuteticasrdquo apoacutes a morte do proprietaacuterio pelos

seus herdeiros ou em caso do cometimento de um crime pelo proprietaacuterio

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financeiros Assim apesar de a cavalaria ligeira representar o principal modelo taacutetico em uso

ateacute ao seacuteculo X59 apenas os stratioacutetes com meios para angariar um ou dois cavalos o

equipamento e armamento baacutesico e ainda indiviacuteduos60 que conseguissem cuidar dos seus

terrenos durante campanha (caso os possuiacutessem claro) eacute que poderiam servir nessa funccedilatildeo61

Os stratioacutetai que natildeo detivessem os recursos necessaacuterios para tal serviriam como infantaria

que apesar de ainda natildeo possuir a importacircncia que viria a ter meio seacuteculo mais tarde

comeccedilou na altura de Leatildeo VI a ver-lhe imputada um papel cada vez mais destacado para

aleacutem das funccedilotildees defensivas no campo de batalha e em posiccedilotildees estrateacutegicas o regresso lento

mas seguro do treino da eficiecircncia e da disciplina apregoado tambeacutem no Taktikaacute vai permitir

que se comece a praticar neste periacuteodo um conjunto de taacuteticas combinadas com a cavalaria62

Taacuteticas essas que representaratildeo uma das especialidades dos exeacutercitos de Basiacutelio II (963-1025)

e dos seus co-imperadores Niceacuteforo II Focas (963-969) e Joatildeo I Zimisce (969-976) na

segunda metade do seacuteculo X e nos primeiros anos do seacuteculo seguinte

O perfil taacutetico dos thematikoiacute natildeo se adequava a campanhas ofensivas63 sendo usados

principalmente na defesa do territoacuterio imperial frente a incursotildees aacuterabes por meacutetodos tiacutepicos

de guerra de fronteira (emboscadas terra queimada ataques noturnos a acampamentos) e

numa ocasional batalha campal A preparaccedilatildeo destas campanhas defensivas durava algum

tempo pelo que a responsabilidade de ganhar tempo e vigiar o invasor estava nas matildeos de

outros distritos militares as kleisoucircrarchiai Estes distritos militares foram o resultado da

separaccedilatildeo de touacutermai dos themaacuteta fronteiriccedilos que se encontravam junto ao Tauro e ao

Antitauro Ao comandante destas circunscriccedilotildees o kleisouraacutercha era atribuiacutedo um enorme

grau de autonomia sendo responsaacutevel pela aplicaccedilatildeo dos meacutetodos enunciados no Perigrave

Paradromeacutes de forma a deter os raides muccedilulmanos mais pequenos antes que estes

penetrassem demasiado e a perseguir e atrasar os exeacutercitos sarracenos de maiores dimensotildees

ateacute agrave chegada de forccedilas bizantinas de maior envergadura Estas divisotildees geograacuteficas tinham

um estatuto volaacutetil acabando muitas delas a ser elevadas a theacutema64 sobretudo nos iniacutecios do

seacuteculo X onde as kleisoucircrarchiai foram promovidas aos laquothemaacuteta armeacuteniosraquo65 no seio do

59 Os exeacutercitos dos themaacuteta eram denominados de kaballarika themata por serem compostos maioritariamente

por cavalaria ligeira Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 97 60 Referimo-nos essencialmente a membros da famiacutelia ou outros servos 61 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 99 62 MCGEER Eric (1988) Infantry versus Cavalry The Byzantine Response In Revue des eacutetudes byzantines 46

p 145 63 Com a exclusatildeo de contra raides que muitas vezes eram realizados pelos themaacuteta na mesma altura em que os

Aacuterabes realizavam as suas accedilotildees de rapina 64 P ex Selecircucia e Charsianon durante o reinado de Romano I e 873 respetivamente HALDON J (2014) ndash

Op cit p 108 65 Idem Ibidem p 111

25

conjunto de reformas que possibilitou a Bizacircncio passar agrave ofensiva No reinado de Leatildeo VI os

elementos militares bizantinos com melhores aptidotildees para realizar operaccedilotildees ofensivas e

combater em batalhas campais caso as houvesse eram os taacutegmata

Ateacute ao reinado de Constantino V (741-775) quem ocupava as funccedilotildees de exeacutercito

pessoal dos basileicircs e de guarniccedilatildeo de Constantinopla era o exeacutercito do Opsikiacuteon66 No

entanto por estas mesmas razotildees este comando militar exercia enorme poder sobre quem

governava a partir de Constantinopla Durante muito tempo os basileicircs viram-se obrigados a

tomar certas medidas para apaziguar este corpo militar por exemplo atraveacutes da persuasatildeo ou

da escolha de liacutederes leais ao basileuacutes para comandar esta divisatildeo do exeacutercito67 A revolta de

Artavasdo (koacutemes e kouropalaacutetēs68) em 741 foi a quinta revolta do Opsikiacuteon em meio seacuteculo

e apoacutes a supressatildeo desta no ano seguinte obrigou o basileuacutes Constantino V a tomar duas

medidas para suprimir o poder dos koacutemes daquela unidade militar i) divisatildeo do territoacuterio cujo

Opsikiacuteon era responsaacutevel por trecircs circunscriccedilotildees territoriais mais pequenas (a do Opsikiacuteon a

dos Optimates e a dos Bucelaacuterios)69 ii) criaccedilatildeo de um novo corpo de elite leal ao imperador

capaz de o proteger das insurreiccedilotildees dos exeacutercitos provinciais e de tomar parte em accedilotildees

ofensivas atraveacutes da (re)militarizaccedilatildeo dos obsoletos regimentos da guarda palatina O

resultado foram os taacutegmata que apesar de pouco diferentes em eficiecircncia e disciplina

relativamente aos restantes exeacutercitos provinciais bizantinos70 no tempo de Leatildeo VI jaacute

ocupavam a funccedilatildeo para o qual tinham sido criados

Durante o reinado de Leatildeo VI existiriam quatro taacutegmata de cavalaria o das Scholaiacute o

dos Excubitores o da Vigla (ou Arithmos) e o dos Hikanatocirci71 Para aleacutem dos regimentos a

cavalo existiriam ainda mais quatro os Optimates que serviam principalmente de apoio

logiacutestico aos restantes os Noumera e o laquodas Muralhasraquo que funcionavam como contingentes

de infantaria e a Hetaireia um regimento de soldados estrangeiros que soacute participava em

66 Vide HALDON John (1984) Byzantine Praetorians An Administrative Institutional and Social Survey of the

Opsikion and Tagmata c580-900 Bona Dr Rudolph Habelt p 196 67 Idem Ibidem 208 68 Vide entradas respetivas no Glossaacuterio Temaacutetico b) Tiacutetulos 69 Um processo que teraacute demorado ainda alguns anos e que provavelmente se viu apoiado por uma nova revolta

do Opsikiacuteon em 766 No final deste processo a proviacutencia do Opsikiacuteon estava dividida entre o Opsikiacuteon os

Bucelaacuterios em 766 e o Optimaacuteton formado em 773 Vide Idem Ibidem 209 70 Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 108 Bizacircncio por esta altura era protegida por exeacutercitos provinciais

sediados em regiotildees que tinham o mesmo nome que esses corpos militares (laquoterras de um strategoacutesraquo) pe

Anatolikoacuten Armenikoacuten etc Por sua vez o nome desses exeacutercitos provinha dos antigos exeacutercitos provinciais do

Impeacuterio Romano do Oriente que foram evacuados para a Aacutesia Menor apoacutes o desastre de Yarmuk Estas

organizaccedilotildees militares e as proviacutencias que habitavam foram os antecedentes do sistema dos themaacuteta 71 Este uacuteltimo com uma data de criaccedilatildeo mais recente que os restantes tendo sido formado durante o reinado de

Niceacuteforo I em preparaccedilatildeo da campanha que terminou com a batalha de Priska (811)

26

operaccedilotildees militares se o basileuacutes estivesse presente72 Pelas funccedilotildees que os taacutegmata

ocupavam e como forma de manter a sua lealdade ao basileuacutes os soldados destes regimentos

eram os mais privilegiados do impeacuterio tendo em conta que recebiam do Estado a roga73

forragem raccedilotildees donativos o seu armamento (que no entanto continuava a pertencer a

Constantinopla e natildeo ao individuo) e a sua montada74 havia ainda o caso de muitos que

recebiam terras no termo do seu serviccedilo militar Para aleacutem disso tal como os thematikoiacute

estavam isentos de todos os impostos75 menos do demoacutesion (o imposto base) e do kapnikoacuten

(o imposto sobre as famiacutelias) Por fim faltaraacute referir que o comandante dos taacutegmata o

domestikoacutes acabaria por se tornar o comandante supremo dos exeacutercitos bizantinos Uma vez

que Leatildeo VI e o filho Constantino VII Porfirogeneta nunca comandaram pessoalmente

campanhas teratildeo sido muito possivelmente estes oficiais (escolhidos pessoalmente pelos

basileicircs) a comandarem as campanhas mais importantes deste periacuteodo76

Para aleacutem dos contingentes autoacutectones ao serviccedilo do impeacuterio Bizacircncio sempre contou

com o apoio de importantes componentes mercenaacuterias e auxiliares Durante o reinado de Leatildeo

VI temos informaccedilatildeo da presenccedila de soldados de vaacuterias nacionalidades os Khazars que

serviam na Hetaireia77 os Armeacutenios que tiveram sempre uma presenccedila quase permanente

como aliados e auxiliares de Bizacircncio e Russos que por exemplo participaram na campanha

falhada de reconquista de Creta empreendida por Leatildeo VI em 91178 No uacuteltimo quartel do

seacuteculo X estes laquosoldados de fortunaraquo tornar-se-iam um dos fatores marcantes para o sucesso

da laquoReconquista Bizantinaraquo especialmente a Guarda Varangiana de Basiacutelio II algo que se

espelha no facto de a strateiacutea comeccedilar a ser cumprida em numeraacuterio e natildeo em participaccedilatildeo

ativa inclusivamente para pagar a estes profissionais efetivos militares mais eficientes

Resta-nos dedicar algumas linhas agraves forccedilas navais bizantinas Como anteriormente

referido a embarcaccedilatildeo mais referida em Bizacircncio era o droacutemōn apesar disso jaacute durante o

reinado de Leatildeo VI este termo comeccedila a ter um valor mais generalista ou seja a referir-se a

todas as embarcaccedilotildees de guerra bizantinas79 No caso do Taktikaacute haacute menccedilatildeo a quatro tipos de

embarcaccedilotildees referidos nas listas de navios homens e apoio logiacutestico da expediccedilatildeo de

72 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 251 73 Salaacuterio mensal 74 Vide HALDON J (1984) ndash Op cit p 318 75 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p 260 76 Como as importantes expediccedilotildees militares em Itaacutelia e na Bulgaacuteria que ficaram sob o comando de Niceacuteforo

Focas o Velho 77 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 279 78 Vide Constantino VII basileuacutes The fitting out and the cost and the sum of the pay and of the force sent

against the impious Crete with the patrikios and logothetes tou dromou Himerios in the time of the Lord Leo

beloved of Christ Texto e Traduccedilatildeo PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 548 79 Vide PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 192

27

Himeacuterio contra Creta em 911 Estes navios eram as chelandia os droacutemōnes os pamphylos e

as galea80 Os primeiros eram usados para o combate naval e o transporte de tropas enquanto

os uacuteltimos mais pequenos e ligeiros eram usados principalmente como batedores apesar de

possuiacuterem tambeacutem capacidades beacutelicas e de transporte81

Apesar da posse de um grande nuacutemero de embarcaccedilotildees o virar de seacuteculo revelar-se-ia

ingrato para as forccedilas navais bizantinas um facto evidenciado pelo aumento de forccedilas

adversaacuterias no Mar Mediterracircneo (onde se daacute o aparecimento de novas marinhas hostis no

Egipto e na Tuniacutesia) e no Mar Baacuteltico onde a ameaccedila russa desperta e as pretensotildees de

Simeatildeo obrigam ao reforccedilo da presenccedila bizantina Este conjunto de circunstacircncias forccedilou os

primeiros Macedoacutenicos a reformar o seu poder naval A primeira reforma efetuada durante o

reinado de Basiacutelio I segundo levam a crer as fontes82 foi a instituiccedilatildeo de um oficium sob o

droungaacuterios totilden ploiumlmon o oficial maacuteximo da frota imperial sedeada em Constantinopla

Este cargo reunia em si poderes militares e civis por um lado era o almirante da frota imperial

e assim o homem mais importante da marinha bizantina por outro era tambeacutem o que hoje

chamariacuteamos de laquoMinistro dos Assuntos do Marraquo83 As outras reformas foram a criaccedilatildeo de

mais dois themaacuteta navais o do Mar Egeu e o de Samos estes themaacuteta reforccedilaram o theacutema

mariacutetimo dos Kibirrhaiotai e tinham como objetivo aumentar o poder das frotas provinciais

que eram mantidas e tripuladas por estas circunscriccedilotildees territoriais

80 Vide Idem Ibidem pp 548-553 81 Idem Ibidem pp 190-192 82 Cf AHRWEILER Heacutelegravene (1966) Byzance et la Mer La Marine de guerre la politique et les institutions

maritimes de Byzance aux VIIe-XVe siegravecles Paris Presses Universitaries de France p 98 83 Vide Idem Ibidem p 98

28

Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte

de Leatildeo VI (867-912)

laquoQuando Miguel se apercebeu de que Basiacutelio se opunha a ele planeou uma

monstruosa intriga contra ele esta foi a seguinte Ele arranjou algueacutem para arremessar uma

lanccedila como se visasse uma besta selvagem mas que na verdade visava Basiacutelio Isto veio ao

de cima porque o homem a quem isso tinha sido ordenado o confessou na hora da sua morte

Ele arremessou o dardo mas falhou miseravelmente o alvo e Basiacutelio foi salvo Quando foi

salvo ele decidiu-se a passar agrave accedilatildeo em vez de ser viacutetima dela Miguel foi morto no palaacutecio

de Satildeo Mamede no AM84 637685 agrave terceira hora da noiteraquo86

Este episoacutedio podia ter passado apenas por mais um entre muitos outros que marcaram

a intriga poliacutetica bizantina natildeo fora o caso de ter contribuiacutedo para depor toda uma dinastia

Quando Miguel III sucumbiu agraves matildeos do seu favorito Basiacutelio tambeacutem a linha amoriana se

finou e a famiacutelia macedoacutenica emergiu em seu lugar Tomada por muitos como a casa imperial

mais brilhante na histoacuteria de Bizacircncio87 pretendemos neste segundo capiacutetulo analisar os

primeiros anos desta linhagem Estabelecemos como espetro cronograacutefico o periacuteodo entre o

ano de 867 quando Basiacutelio I sobe ao poder e instaura a dinastia macedoacutenica e 912 o ano em

que o autor (atribuiacutedo) do Taktikaacute o basileuacutes Leatildeo VI abandona o mundo dos vivos Nesse

sentido decidimos dividir este capiacutetulo em dois subcapiacutetulos o primeiro estaacute direcionado

para o reinado de Basiacutelio I e para as medidas que tomou para legitimar a sua posiccedilatildeo muitas

delas centradas em torno de algumas bem-sucedidas campanhas militares o segundo iraacute

abordar o reinado de Leatildeo VI em especial os conflitos beacutelicos que pautaram o seu reinado e a

forma como o basileuacutes os enfrentou bem como alguns aspetos de cariz cultural e religioso

21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886)

O novo basileuacutes era um haacutebil jogador poliacutetico que ascendeu rapidamente por entre as

principais esferas de poder bizantinas apoacutes a sua chegada a Constantinopla Esta vertiginosa

ascensatildeo deveu-se agrave constituiccedilatildeo fiacutesica de Basiacutelio ao apadrinhamento do Macedoacutenico por

vaacuterias personalidades importantes da capital e no que toca por exemplo ao lsquoSynopsis

Historion de Joatildeo Skylitzes a certos auspiacutecios divinos88 A progressatildeo acabou por chamar a

84 Anno Mundi 85 867 dC 86 Vide Joatildeo Skylitzes lsquoSynopsis Historion Traduccedilatildeo WORTLEY John (2010) John Skylitzes A Synopsis of

Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press pp 114-115 87 MONTEIRO J G ndash Op cit p 74 88 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 121-123

29

atenccedilatildeo do basileuacutes (aparentemente apoacutes uma demonstraccedilatildeo de forccedila durante um combate

com um buacutelgaro) que lhe outorgou vaacuterios tiacutetulos de relevo proacuteximos da autoridade imperial

Assim tornou-se membro da Hetaireia em 856857 prostrator e por fim parakoimṓmenos

em 864 apoacutes a queda em desgraccedila do seu antecessor Damiano por ofender o ceacutesar de entatildeo

(Bardas o tio de Miguel III)89 No ano seguinte casou com a amante de Miguel III Eudoacutexia

Ingerina com quem havia de gerar o seu secundogeacutenito o futuro Leatildeo VI em 86690

Foi durante o tempo em que exerceu estas funccedilotildees que as tensotildees entre o basileuacutes e o

seu tio atingiram o cliacutemax resultando no assassinato de Bardas em 867 pouco antes do

lanccedilamento de uma expediccedilatildeo para reconquistar a ilha de Creta Quem substituiu o ceacutesar foi

Basiacutelio que muito rapidamente viu a sua amistosa relaccedilatildeo com Miguel III deteriorar-se ateacute

culminar no assassinato do uacuteltimo dos Amorianos As razotildees disto ainda satildeo discutidas teraacute o

ato sido cometido em ldquoautodefesardquo como aponta Skylitzes com Basiacutelio a ver-se nas mesmas

circunstacircncias que o seu antecessor Bardas Ou teratildeo antes sido as ambiccedilotildees do co-imperador

a levar a melhor sobre a lealdade ao basileuacutes levando-o a cobiccedilar o trono

Independentemente das circunstacircncias e de acordo com o professor de Cardiff Shaun

Tougher laquoo assassinato era talvez inevitaacutevel de uma maneira ou de outraraquo91

O impeacuterio que Basiacutelio usurpou encontrava-se na nossa opiniatildeo relativamente bem

Apesar de ainda natildeo ser a superpotecircncia em que se iria tornar um seacuteculo depois foi

porventura entatildeo que se comeccedilaram a dar os primeiros passos nessa direccedilatildeo em grande parte

graccedilas agrave accedilatildeo da dinastia de Amoacuterio e dos seus associados Durante o reinado de Miguel III

em termos religiosos foi posto um ponto final na Questatildeo Iconoclasta que exerceu uma

grande pressatildeo sobre os oacutergatildeos de poder do Impeacuterio e gerou uma violenta clivagem na

estabilidade interna de Bizacircncio e da Igreja Ortodoxa Com o fim do Iconoclasmo

continuaram a existir diferenccedilas e divisotildees na Igreja mas estas jaacute natildeo se mostravam tatildeo

evidentes Apesar disso as clivagens mantinham-se e traduziam a rivalidade entre o poder

temporal e o espiritual forccedilas que em Bizacircncio se mostravam mescladas ou ateacute sinergeacuteticas

Assim foi tambeacutem com a deposiccedilatildeo do patriarca Inaacutecio que foi substituiacutedo pelo laico Foacutecio92

em 858 Inaacutecio havia sido deposto quando se comeccedilou a opor a vaacuterias decisotildees do ceacutesar

Bardas num processo que nunca seria aceite pelo papado e demais apoiantes do antigo

patriarca que se opuseram veementemente a Foacutecio durante o seu primeiro ldquomandatordquo

89 Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 90 Ainda hoje se discute se Leatildeo seraacute realmente filho de Basiacutelio ou se porventura seraacute antes filho de Miguel III

Para natildeo nos dispersarmos nesta questatildeo vide TOUGHER S (1997) ndash Op cit pp 42-67 91 Idem Ibidem p 30 92 Foacutecio foi tonsurado a 20 de dezembro e ascendeu ao patriarcado no dia de Natal Cf Idem Ibidem p 69

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Em termos militares Bizacircncio comeccedilava a entrar no seu apogeu pelo menos a

Oriente Na Aacutesia Menor apoacutes vaacuterios anos de conflito os Bizantinos tinham quebrado a

empunhadura da espada aacuterabe o exeacutercito do emirado de Melitene foi destroccedilado nas batalhas

de Marj al-Usquf e Lalacatildeo93 tendo com ele sido eliminados o emir Omar e o seu filho bem

como Karbeias o liacuteder da seita pauliciana que se tinha aliado aos Aacuterabes Graccedilas a estes

resultados os exeacutercitos romanos conseguiram invadir o emirado de Melitene e o ldquoEstadordquo

Pauliciano tendo sido no decurso desta expediccedilatildeo que tombou Ali o Armeacutenio emir de Tarso

Esta atitude ofensiva pouco tiacutepica da estrateacutegia bizantina natildeo teraacute rendido grandes ganhos

territoriais pois tinha como principal objetivo a recolha de prisioneiros e de botim bem como

o enfraquecimento dos poderes regionais muccedilulmanos da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia centrados

em torno dos al-thugur os emirados de Melitene e de Tarso No entanto pode servir como

exemplo para um comportamento mais audacioso de Bizacircncio que passava a levar com cada

vez mais frequecircncia a guerra ao territoacuterio dos seus inimigos

Os sucessos militares da Aacutesia Menor natildeo se repercutiam no entanto no Ocidente Em

827 forccedilas muccedilulmanas ao serviccedilo da dinastia aglaacutebida desembarcam na Siciacutelia a convite de

um oficial da marinha chamado Eufeacutemio Este foi o iniacutecio do moroso processo de conquista

da ilha estrategicamente mais importante do Mar Mediterracircneo pelo emirado da Ifriacutequia Em

setembro de 831 a cidade de Palermo capital bizantina da Siciacutelia caiu Dez anos depois os

muccedilulmanos jaacute eram senhores de um terccedilo do territoacuterio da ilha a parte ocidental com a

conquista das cidades de Platani Cantabellota Corleone e do porto de Trapaacuteni94 Entre 841 e

849 aproximam-se perigosamente dos centros fortificados da ilha com a conquista de

Messina (entre 842-843) de Moacutedica (845) e de Lentini (846) e com o extermiacutenio da

guarniccedilatildeo de Ragusa (848)95 A ameaccedila aglaacutebida tornou-se ainda mais perigosa com a queda

de Castrogiovanni (atual Enna) em 859 o que permitiu consolidar a conquista do interior da

ilha e almejar o controlo da costa oriental ainda em matildeos bizantinas96 As ambiccedilotildees

muccedilulmanas projetaram-se entatildeo para Taormina e Siracusa Miguel III ainda tentou reverter a

situaccedilatildeo mas a frota e o exeacutercito que enviou sob o comando de Constantino Contomita

foram derrotados por al-Abbas ibn al-Fadl97

Noutra frente no Sul de Itaacutelia os Sarracenos tambeacutem fizeram sentir a sua presenccedila

Em 835 a convite do ducado de Naacutepoles os primeiros soldados aacuterabes entraram em Itaacutelia para

93 Sobre esta batalha vide WORTLEY J ndash Op cit pp 100-101 94 Vide METCALFE Alex (2009) The Muslims of Medieval Italy Edinburgo Edinburgh University Press p9

e RAVEGNANI Giorgio (2004) I Bizantini in Italia Bolonha Il Mulino p149 95 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p 149 96 Vide METCALFE A ndash Op cit pp 14-15 97 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p149

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servir como auxiliares na luta contra o principado de Benevento98 Natildeo demorou ateacute

comeccedilarem a agir por vontade proacutepria em 838 saquearam Brindisi derrotaram um exeacutercito

enviado pelo priacutencipe Sicardo de Benevento e tomaram ainda Tarento uma das cidades mais

importantes da Apuacutelia onde formaram um emirato99 Em 840 uma frota aacuterabe derrota a

marinha veneziana e saqueia a costa do Adriaacutetico enquanto no ano seguinte Bari cai em

matildeos sarracenas tornando-se outro emirato O arrojo aacuterabe aliado agrave falta de acordo entre as

principais potecircncias de Itaacutelia (Lombardos Francos e Bizantinos) fecirc-los atacar Roma e

saquear as basiacutelicas de Satildeo Pedro e de Satildeo Paulo em 846100 Com o principado de Benevento

destroccedilado pela guerra civil e pelas depredaccedilotildees aacuterabes apenas os impeacuterios dos Francos e dos

Romanos poderiam fazer frente agraves incursotildees e conquistas muccedilulmanas no Sul de Itaacutelia mas a

resposta ainda demorou a vir Soacute vinte anos depois eacute que o rei Luiacutes II de Itaacutelia decidiu agir

pessoalmente comandando o seu exeacutercito contra a ameaccedila norte-africana natildeo logrando

contudo alcanccedilar vitoacuterias significativas Quando Basiacutelio I sobe ao trono encontra a Siciacutelia

presa por um fio e o Sul de Itaacutelia em anarquia dividido em confrontos entre os Aglaacutebidas do

Norte de Aacutefrica os priacutencipes lombardos locais e os caroliacutengios italianos de Luiacutes II

As primeiras poliacuteticas do novo basileuacutes tinham de ser direcionadas para legitimar a

sua dinastia e ele sabia bem o que fazer tendo em conta as circunstacircncias que o impeacuterio vivia

Em primeiro lugar comeccedilou por associar ao poder os seus filhos mais velhos Constantino

(um fruto do primeiro casamento) e Leatildeo Prometeu ainda o primogeacutenito em noivado agrave filha

do rei caroliacutengio de Itaacutelia Luiacutes II de forma a poder selar tambeacutem uma alianccedila com este De

seguida encerrou a questatildeo religiosa que dilacerava a igreja de Roma e o patriarcado de

Constantinopla ao depor Foacutecio e ao colocar Inaacutecio de novo no patriarcado101 enquanto

lanccedilava uma campanha de conversatildeo forccedilada dos Judeus102

O Macedoacutenico tambeacutem impocircs a legitimidade do seu trono pelas armas Abordemos

este assunto geograficamente O que faltava a Basiacutelio fazer a Oriente Com os emirados

orientais ainda debilitados restava a Basiacutelio um grande problema na regiatildeo o ldquoEstadordquo

Pauliciano Apoacutes a morte de Karbeias em 864 a naccedilatildeo desta heresia ficou aos cuidados de

Crisoacutequero o seu sobrinho e cunhado que recomeccedilou os saques na Anatoacutelia no ano da morte

de Bardas103 O novo liacuteder pauliciano mostrou-se um general capaz e os seus raides jaacute

98 Vide Idem Ibidem p 152 99 Vide METCALFE A ndash Op cit p17 100 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p153 101 Para uma histoacuteria breve do Cisma cf TOUGHER S ndash Op cit pp31 e 32 e TREADGOLD Warren (1997)

A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University Press pp 451-452 e 454-455 102 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 33 103 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 454

32

atingiam as imediaccedilotildees de Niceia de Nicomeacutedia e de Eacutefeso104 aquando da entronizaccedilatildeo de

Basiacutelio I Foi contra esta seita que Basiacutelio virou a sua atenccedilatildeo a leste De acordo com Joatildeo

Skylitzes105 em 871 Basiacutelio comandou pessoalmente uma expediccedilatildeo contra Tephrike a

capital dos Paulicianos mas incapaz de a tomar voltou-se para as regiotildees envolventes

chegando a assediar (e ateacute pensou subjugar) Melitene Esta campanha apesar de natildeo ter posto

fim agrave ameaccedila hereacutetica teraacute resultado em muitos prisioneiros e despojos foi tal o seu sucesso

que se organizou numa marcha triunfal aquando do regresso a Constantinopla106

No ano seguinte Crisoacutequero voltou a atacar territoacuterio bizantino conseguindo atingir a

cidade de Ancyra (atual Ancara) Desta vez veio ao seu encontro o domestikoacutes de Basiacutelio

Cristoacutevatildeo que seguiu os preceitos da estrateacutegia bizantina e natildeo deu de imediato luta ao liacuteder

pauliciano preferindo segui-lo de longe limitando o raio de accedilatildeo dos saques inimigos

sempre que possiacutevel Quando Crisoacutequero decide voltar para leste Cristoacutevatildeo envia um

pequeno exeacutercito composto por membros dos themaacuteta de Charsianon e dos Armeniacuteacos (c

4000 a 5000 homens) liderado pelos respetivos strateacutegoicedil para o seguir de forma a perceber

o seu objetivo retirar para Tephrike ou atacar as terras bizantinas no limes Consoante a

resposta tambeacutem mudaria a atitude da forccedila laquotemaacuteticaraquo no primeiro caso natildeo pensaria mais

no assunto e voltaria para traacutes no uacuteltimo avisaria o domestikoacutes e aguardaria novas ordens

Em uacuteltima anaacutelise segundo Skylitzes e Haldon107 o objetivo de Crisoacutequero natildeo

chegou a ser descoberto pois as forccedilas bizantinas atacaram o acampamento pauliciano no

vale de Bathys Ryax durante a noite colocando o adversaacuterio em debandada e matando

Crisoacutequero108 O decesso do liacuteder e a destruiccedilatildeo do seu exeacutercito puseram fim agrave capacidade

ofensiva dos Paulicianos e obrigaram os emirados a manterem-se por algum tempo na

defensiva apoacutes terem perdido um precioso aliado no limes oriental bizantino O coup de

gracircce no ldquoEstadordquo da heresia dualista foi dado em 879 quando Cristoacutevatildeo tomou Tephrike no

decorrer de uma campanha de Basiacutelio contra o emirado de Tarso

O que mais haveraacute a dizer sobre os conflitos nesta regiatildeo durante o reinado do

Macedoacutenico Que tiveram uma periodicidade quase anual e que salvo raras exceccedilotildees se

traduziram num grande nuacutemero de vitoacuterias bizantinas em especial na deacutecada de 870 Destes

104 Vide Idem Ibidem p457 105 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 133-135 106 De acordo com Warren Treadgold esta campanha teve um desfecho diferente tendo as forccedilas bizantinas sido

derrotadas e o imperador quase capturado Por outro lado os eventos vitoriosos desta campanha enunciada por

Skylitzes satildeo situados soacute em 873 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 457 107 Haldon no entanto remete esta batalha para 87 HALDON J (2001) ndash Op cit p 85 108 Supostamente este ataque teraacute sido motivado pela necessidade de descobrir qual dos themaacuteta tinha os

homens mais corajosos vide HALDON J (2001) Op cit p 87 e WORTLEY J ndash Op cit p 136

33

anos bem sucedidos a leste destacamos 879 quando o exeacutercito imperial109 arrasou o emirado

de Tarso saqueou as fortalezas de Germaniceia e Adana e ainda conseguiu saquear o Norte da

Mesopotacircmia (supostamente) tendo ainda posto um fim ao chamado laquoEstado paulicianoraquo A

deacutecada seguinte por outro lado mostrou-se algo perniciosa para Constantinopla nesta regiatildeo

mas para jaacute voltemos o nosso olhar para o Ocidente

A Itaacutelia e a Siciacutelia foram dois alvos de atenccedilatildeo prioritaacuteria para Basiacutelio ao longo do seu

principado O domiacutenio sarraceno na regiatildeo tanto na Siciacutelia como no Sul de Itaacutelia era um

risco que o basileuacutes natildeo queria correr pelo que decidiu aplicar medidas no sentido de evitar

esse cenaacuterio Logo no ano que se seguiu agrave sua ascensatildeo Basiacutelio enviou duas frotas para oeste

destinadas agrave Siciacutelia e agrave Dalmaacutecia O resultado foi agridoce a frota que socorreu Ragusa sob o

comando do almirante Niquetas Oryfas conseguiu afugentar o inimigo aacuterabe110 por seu lado

a forccedila enviada para a Siciacutelia foi desbaratada pouco depois de desembarcar111

Em 869 as coroas imperiais do Ocidente e do Oriente aliam-se para pocircr fim ao

emirado de Bari o exeacutercito franco de Luiacutes II cercou a cidade por terra enquanto a marinha

bizantina bloqueava o acesso pelo mar Esta operaccedilatildeo redundaria num fracasso parcial

Apesar de Luiacutes II ter logrado conquistar a cidade em 871 fecirc-lo sozinho dado que os

Romanos abandonaram o asseacutedio antes de este ser concluiacutedo por desentendimentos entre os

dois lados112 No entanto este foi um dos uacuteltimos contratempos bizantinos no sul de Itaacutelia

No ano 872 um exeacutercito bizantino liberta a cidade de Salerno cercada pelos Aacuterabes

desde o ano anterior enquanto em 873 uma outra forccedila reclama Otranto em nome do

impeacuterio A agressatildeo aacuterabe natildeo ameaccedilava abrandar pois em 875 raides aacuterabes na Campacircnia

voltam a ameaccedilar Roma o que resultou num pedido de ajuda papal a Bizacircncio ao mesmo

tempo que uma outra forccedila sarracena assola Comacchio junto ao Golfo de Trieste No ano

seguinte os Bizantinos entram em Bari a pedido dos habitantes da cidade

Enquanto isso o poder aglaacutebida comeccedilava a fazer soccedilobrar o poder bizantino na

Siciacutelia No ano 869 o governador aacuterabe da Siciacutelia tentou tomar Taormina mas foi assassinado

por um dos seus soldados antes de ser bem-sucedido tendo um cerco aacuterabe a Siracusa falhado

tambeacutem por essa altura A cidade de Arquimedes foi cercada de novo sem sucesso em 873

mas a tenaz aglaacutebida fechou-se firmemente sobre ela em 877 causando a sua queda no ano

seguinte A razatildeo disto teraacute sido uma alegada indisponibilidade da frota imperial para socorrer

a cidade pois estava demasiado atarefada com o transporte de material para a construccedilatildeo de

109 Neste caso usamos ldquoimperialrdquo para indicar que estava sob o comando do basileuacutes 110 Vide WORTLEY J ndash Op cit p143 111 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p456 112 Ainda assim a cidade cairia nas matildeos de Luiacutes II dois anos mais tarde

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uma igreja em Constantinopla113 A conquista aglaacutebida da ilha estava praticamente concluiacuteda

com apenas a fortaleza de Taormina a manter-se em matildeos bizantinas um ponto isolado em

territoacuterio agora hostil e que nada podia fazer para conter as ambiccedilotildees aglaacutebidashellip

A consumaccedilatildeo da conquista da Siciacutelia abriu novas portas ao emirado do Norte de

Aacutefrica Em 880 o emir Ibrahim II liderou pessoalmente a sua frota numa expediccedilatildeo ao mar

Joacutenico onde saqueou as cidades de Kefaleacutenia e de Zakynthos O arrojado ataque norte-

africano foi respondido de forma ceacutelere por Basiacutelio que envia o droungaacuterios totilden ploiumlmon

Nasar ao comando de 45 navios de guerra e desbarata a frota adversaacuteria durante um audaz (e

praticamente impossiacutevel) ataque noturno114 No contra-ataque que se seguiu Nasar ataca a

Siciacutelia coloca a ferro e fogo os arredores de Palermo e derrota uma frota aacuterabe em Punta di

Stilo (zona litoral sul da Calaacutebria) durante o seu regresso ao territoacuterio romano

O iacutempeto desta accedilatildeo levou os Bizantinos a lanccedilarem um conjunto de campanhas no

Sul de Itaacutelia que foram bem-sucedidas no mesmo ano Uma primeira expediccedilatildeo naval sob o

comando de trecircs oficiais o spathaacuterios Gregoacuterio o turmarca Teophylaktos e o komeacutes

Dioacutegenes derrota uma frota muccedilulmana ao largo de Naacutepoles De seguida uma expediccedilatildeo

tambeacutem com trecircs comandantes o protovestiaacuterio Procoacutepio o strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo e o

almirante Nasar derrota outra forccedila naval muccedilulmana desta feita junto a Milazzo na Siciacutelia

A expediccedilatildeo percorreu depois a Calaacutebria e a Apuacutelia oriental tomando grande parte das

possessotildees aacuterabes na regiatildeo enquanto se encaminhava para Tarento Na batalha que se seguiu

na proximidade desta cidade as forccedilas bizantinas derrotaram as tarentinas e apesar de

Procoacutepio ter morrido em combate entraram vitoriosas na cidade As vitoacuterias bizantinas na

regiatildeo prosseguiram depois em 885 com Niceacuteforo Focas o Velho115 que submeteu as

restantes fortalezas aacuterabes na Calaacutebria (como Amantea Tropea e Santa Severina) pela forccedila e

que submeteu os Lombardos da Apuacutelia pela via diplomaacutetica116

Este personagem da histoacuteria bizantina merece que lhe sejam dedicadas algumas

palavras alusivas ao seu percurso no reinado de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Niceacuteforo Focas eacute o

primeiro membro da famiacutelia dos Focas uma importante linhagem da aristocracia militar

bizantina que teraacute um papel preponderante na laquoReconquistaraquo Aparentemente Niceacuteforo seria

descendente de um aacuterabe convertido ao cristianismo vindo de Tarso117 O Velho teraacute nascido

113 Vide TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 33 114 Vide PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy

ca 500-1204 Leiden e Boston Brill pp 65 e 66 115 Que teria sob o seu comando um conjunto de soldados paulicianos liderados por Diacoacutenitzes o mesmo que

presenciou a morte de Crisoacutequero Vide WORTLEY J ndash Op cit p 185 116 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 157-158 117 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 62

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por volta de 855 e serviu Basiacutelio com distinccedilatildeo sendo agraciado com vaacuterios tiacutetulos

manglabiacutetēs118 em 872873 quando atingiu a idade adulta depois foi promovido a

protostraacutetor tornou-se strategoacutes de Charsianon antes de 885 e nesse ano foi o comandante

da expediccedilatildeo que projetou o poderio bizantino no Sul de Itaacutelia119 depois de ser chamado de

volta a Constantinopla apoacutes a morte de Basiacutelio foi condecorado com o tiacutetulo de domestikoacutes

por Leatildeo VI e combateu contra Simeatildeo em 895 tendo abandonado o cargo no ano seguinte

Para aleacutem das operaccedilotildees militares jaacute referidas teraacute acompanhado Basiacutelio I numa

campanha contra Samosata em 873 Liderou ainda um contra-ataque contra o emirado de

Tarso quando ainda era domestikoacutes no qual conseguiu recolher muito botim e prisioneiros120

enquanto o exeacutercito tarsiano atacava territoacuterio bizantino Este registo mostra que o Velho era

um excelente general com enorme capacidade de comando e um estratego brilhante Para

Leatildeo VI este strategoacutes era o modelo ideal para aqueles que ambicionassem ocupar esse

cargo tendo direito a vaacuterias menccedilotildees no Taktikaacute Por outro lado Niceacuteforo o Velho teria tal

fama que era temido por Simeatildeo pois (supostamente) o czar da Bulgaacuteria soacute se teraacute lanccedilado ao

ataque novamente contra Constantinopla apoacutes a morte do primeiro Focas em 896121

No interluacutedio das campanhas de conquista de Tarento e das de Niceacuteforo Focas entre

880-885 destacamos a realizaccedilatildeo de duas alianccedilas entre os principados lombardos de Naacutepoles

e Salerno primeiro em 881 e depois em 883 Esta coligaccedilatildeo conseguiu destruir vaacuterias bases

de saqueadores sarracenos e empurraacute-los para a foz do rio Garigliano junto a Gaeta onde os

Aacuterabes se fortificaram e a partir de onde passaram a iniciar os seus raides sobre a Campacircnia

Mau grado a perda de importantes pontos estrateacutegicos no Mediterracircneo como

Siracusa e Malta por volta de 870 a marinha bizantina conseguiu vencer algumas vezes as

forccedilas que se lhe opunham O droungaacuterios Niquetas Oryfas enfrentou os Aacuterabes em duas

ocasiotildees no ano de 873 derrotou os piratas cretenses no Golfo de Saros tendo feito naufragar

vinte navios e em 874 venceu novamente uma frota aacuterabe desta feita no Golfo de

Corinto122 Por outro lado deu-se uma reconquista temporaacuteria da ilha de Chipre entre 875 e

118 Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas portas no palaacutecio Vide KAZDHAN

P (ed) (1991) The Oxford Dictionary of Byzantium Volume II Oxford Oxford University Press p 1284 119 Cf supra I21 120 Esta campanha teraacute decorrido em 886 e 895 ano em que abandona o cargo de domestikoacutes de acordo com

Cheynet vide CHEYNET J ndash Op cit p480 Shaun Tougher alega que de acordo com Dagron existiraacute a

possibilidade de esta campanha se ter realizado apoacutes a guerra contra Simeatildeo ou seja apoacutes 896 Vide DAGRON

Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore Phocas (963-969)

Paris pp 168-169 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 121 Existem outras teorias sobre o destino de N Focas o Velho cf TOUGHER S ndash Op cit pp 205 e 206 122 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 23

36

882 cuja repetida perda parece ter sido contrabalanccedilada pela criaccedilatildeo dos novos themaacuteta

mariacutetimos de que falaacutemos no capiacutetulo anterior123

Os anos felizes de Basiacutelio I no que respeita agrave sua vida pessoal e agrave frente oriental

parecem ter terminado em 879 Nesse mesmo ano o seu primogeacutenito Constantino morre o

que o obriga a associar ao poder em conjunccedilatildeo com Leatildeo outro filho dele Alexandre

Apesar do descontentamento de Leatildeo ele foi obrigado a casar com uma parente afastada

Teoacutefano e a sua amante Zoeacute Zautzina foi obrigada a casar mais tarde Quem parece ter

valido ao imperador durante o seu luto foi o patriarca Foacutecio (regressado ao seu anterior ofiacutecio

apoacutes a morte de Inaacutecio em 877) e o bispo de Euceta Teodoro Santabarenos Nesse ano Foacutecio

conseguiu ainda consolidar o seu tiacutetulo patriarcal num Conciacutelio Ecumeacutenico apesar de natildeo

contar com o apoio total do papa Joatildeo VII ainda assim desta vez natildeo houve nenhum Cisma

Em 882 Basiacutelio foi derrotado pessoalmente agraves portas de Melitene enquanto no ano

seguinte o eunuco Yazaman emir de Tarso derrotou decisivamente uma forccedila bizantina

tendo passado pela espada os strateacutegoi da Capadoacutecia e da Anatoacutelia num ataque noturno Mais

tarde nesse ano Yazaman foi derrotado enquanto atacava Euripos pelo strategoacutes da Heacutelade

Oiniates A relaccedilatildeo de Basiacutelio com o filho mais velho deteriora-se novamente em 883 quando

o basileuacutes eacute informado por Santabarenos de que Leatildeo (supostamente) conjurava contra o pai

para tomar o trono Esta intriga levou ao aprisionamento do seu herdeiro por trecircs anos tendo

sido apenas libertado apoacutes Basiacutelio ter esmagado um conluio liderado por Joatildeo Curcuas contra

ele O basileuacutes apercebera-se de que precisava de manter a sua famiacutelia unida e forte e

reassegurar uma sucessatildeo legiacutetima ao trono pelo que tentou reconciliar-se com o filho124 Um

mecircs depois por causas ainda desconhecidas Basiacutelio deixa o mundo dos vivos e no trono

puacuterpura passa-se a sentar Leatildeo VI mais tarde conhecido como o Saacutebio125

O que haveraacute a dizer do reinado de Basiacutelio I Em grande parte acreditamos que foi

um reinado bem-sucedido A ameaccedila sarracena apesar de ter arrebatado a ilha de Malta e a

quase totalidade da Siciacutelia foi controlada e ateacute rechaccedilada tanto na Itaacutelia meridional como no

limes oriental nestas regiotildees podemos ateacute dizer que a soberania bizantina se comeccedilou a fazer

sentir graccedilas agrave aniquilaccedilatildeo da seita pauliciana Em termos navais Bizacircncio tambeacutem natildeo

atravessou dificuldades de maior apesar de ter perdido importantes possessotildees no

Mediterracircneo Nos Balcatildes a situaccedilatildeo manteve-se relativamente calma graccedilas agrave conversatildeo dos

Buacutelgaros ao cristianismo o que gerou uma relaccedilatildeo paciacutefica algo fraterna entre

123 Cf supra 13 124 Vide TOUGHER S ndash Op cit p35 125 Poderaacute ter morrido num acidente de caccedila viacutetima de doenccedila prolongada ou embora menos provaacutevel a mando

de Leatildeo Vide WORTLEY J ndash Op cit p 163

37

Constantinopla e Preslav Onde a governaccedilatildeo de Basiacutelio I parece ter corrido pior foi mesmo a

niacutevel interno primeiro com a morte precoce do primogeacutenito126 depois com os

desentendimentos com o seu segundo filho e herdeiro e por fim com o aprisionamento de

Leatildeo Ainda assim a sucessatildeo foi relativamente tranquila A niacutevel religioso a Igreja Ortodoxa

atingiu um niacutevel satisfatoacuterio de unidade e de estabilidade sob a lideranccedila de Foacutecio e conseguiu

expandir a sua esfera de influecircncia para a Bulgaacuteria e para a Seacutervia127

22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912)

laquoUm imperador deve fazer a guerra como Basiacutelio I ou escrever sobre a guerra como Leatildeo VIraquo128

O homem que sobe ao poder em 886 e que mais tarde seraacute apelidado de O Saacutebio

distingue-se pelo seu interesse pela cultura pela religiatildeo e na nossa opiniatildeo pela guerra

Leatildeo eacute autor de uma obra imensa A niacutevel judicial temos as Novelle uma adiccedilatildeo agraves Basilikaacute

uma revisatildeo juriacutedica (a primeira do geacutenero que se saiba) do Corpus Iuris Iustinianos (seacutec

VI) iniciada no reinado do seu pai (possivelmente incitada por Foacutecio129) e promulgada em

888 Leatildeo escreveu um livro oracular que parece ter atingido uma enorme popularidade

sendo copiado vaacuterias vezes durante a Baixa Idade Meacutedia130 A ele satildeo-lhe ainda atribuiacutedas

muitas outras produccedilotildees literaacuterias como homilias trabalhos teoloacutegicos compilaccedilotildees de

maacuteximas e livros interpretativos dos fenoacutemenos Mais importante para o contexto da nossa

dissertaccedilatildeo eacute o facto de ter escrito ainda dois tratados militares o primeiro quando ainda era

jovem ndash o Problemaacuteta que natildeo passaria de um conjunto de perguntas relacionadas com

diversas situaccedilotildees militares as quais eram respondidas de seguida com paraacutefrases de trechos

do Stratēgikoacuten e o outro o Taktikaacute de que falaremos na segunda parte desta dissertaccedilatildeo

Para introduzir o reinado de Leatildeo devemos comeccedilar por referir que foram anos de

governaccedilatildeo incendiados pela necessidade de produzir um herdeiro Infelizmente esta questatildeo

iria colocar o autokraacutetor131 em rota de colisatildeo com o patriarcado organizaccedilatildeo com quem

aliaacutes teve uma relaccedilatildeo difiacutecil Centremo-nos nas raiacutezes desta rivalidade o bispo Teodoro

126 Uma circunstacircncia incontrolaacutevel por ele no entanto 127 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 456 128 Frase de Paul Lemerle citada por Eric McGeer in MCGEER E (2003a) ndash Two military orations of

Constantine VII In NESBITT John W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden

e Boston Brill p 111 129 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 10 130 Idem Ibidem p 11 131 Cf infra 41

38

Santabarenos a quem Leatildeo VI nunca perdoou o envolvimento no seu encarceramento por trecircs

anos tornando-se assim no primeiro alvo a abater

A busca de justiccedila (ou de vinganccedila) que o autokraacutetor empreendeu permitiu-lhe matar

dois coelhos de uma soacute cajadada vingar-se de Santabarenos132 e livrar-se de Foacutecio que na

oacutetica de Leatildeo representava conjuntamente com os seus apoiantes um perigo para a sua

soberania133 Esta parece ser a uacutenica razatildeo para ter sido deposto e julgado uma vez que o

culto patriarca teraacute salvo em conjunto com Styliano Zaotzeacute (o pai da amante de Leatildeo) o

Saacutebio de ter ficado cego quando Basiacutelio o prendeu134 Independentemente das circunstacircncias

o antigo mestre do imperador135 foi deposto e encerrado num mosteiro em 887 enquanto

Teodoro foi julgado aprisionado e cegado ainda no ano da ascensatildeo de Leatildeo

Os patriarcas que se seguiram estiveram sob a responsabilidade deste basileuacutes que

desejava exercer a sua autoridade sobre o patriarcado de Constantinopla Logo em 886 elege

um dos seus irmatildeos mais novos136 Estevatildeo137 como patriarca cargo que iraacute ocupar ateacute agrave sua

morte em 893 Segue-se Antoacutenio Cauleias que logrou com Leatildeo reconciliar os disciacutepulos de

Foacutecio e os seus opositores pondo fim agrave queziacutelia Agrave morte de Cauleias em 901 seguiu-se

Nicolau o Miacutestico um amigo pessoal do imperador mas que lhe iraacute fazer a vida negra138

A grande questatildeo religiosa do reinado de Leatildeo VI foi a Tetragamia uma violenta

poleacutemica religiosa (e poliacutetica) que opocircs o Saacutebio ao patriarca Nicolau O que estava em causa

era o quarto casamento do imperador que jaacute era viuacutevo pela terceira vez e a legitimidade do

filho dessa nova relaccedilatildeo A sua uniatildeo com Teoacutefane com quem fora obrigado a casar pelos

pais em 879 tinha sido bastante atribulada primeiro com a oposiccedilatildeo de Leatildeo ao casamento

depois com o isolamento dele no Palaacutecio em regime de prisatildeo seguidamente pela morte da

filha de ambos Eudoacutecia em 983 e por fim pelo espetro do romance reatado de Leatildeo e Zoeacute

Zautzina conhecido de todos na corte imperial Todos estes fatores contribuiacuteram para um

casamento frio e complicado que terminou em 895 ou 896 com a morte de Teoacutefane139

132 Alegadamente este teria engendrado a prisatildeo de Leatildeo quando este tentou advertir o pai dos efeitos da

influecircncia de Teodoro vide TOUGHER S ndash Op cit p73 133 De acordo com Shaun Tougher Foacutecio teria exercido algum domiacutenio nas accedilotildees de Basiacutelio apoacutes a sua segunda

ascensatildeo ao patriarcado em especial apoacutes a morte de Constantino por intermeacutedio de Teodoro Santabarenos

Vide TOUGHER S ndash Op cit pp 71-72 134 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p460 135 Foacutecio havia voltado agrave corte nos iniacutecios da deacutecada de 70 do seacuteculo IX a pedido de Basiacutelio para ser tutor dos

filhos do basileuacutes Vide TOUGHER S ndash Op cit p32 136 O seu irmatildeo mais novo Alexandre tinha sido associado ao trono com a morte de Constantino e tornou-se co-

imperador quando este se tornou imperador Seria Alexandre que iria suceder ao Saacutebio apoacutes a sua morte em 912 137 Supostamente como este nascera no tempo em que Miguel III ainda era vivo tambeacutem haacute a possibilidade de

ser filho do uacuteltimo Amoriano Estevatildeo foi castrado e tornou-se monge a mando de Basiacutelio 138 Ironicamente nas palavras de Shaun Tougher TOUGHER S ndash Op cit p38 139 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 140

39

Zoeacute tornou-se basiacutelissa apoacutes um casamento que natildeo foi digno de um imperador

presidido por um padre e natildeo pelo patriarca em 898 Tambeacutem esta uniatildeo foi muito curta pois

Zoeacute faleceu em 899 ou 900 sem ter produzido um filho varatildeo O terceiro enlace teraacute

suscitado algumas resistecircncias no patriarcado mas foi aceite e Leatildeo casou com Eudoacutecia

Baianeacutes que teraacute ateacute engravidado Tambeacutem este conjuacutegio teraacute um final infeliz devido agrave morte

de Eudoacutecia durante o parto seguida da do filho Basiacutelio pouco tempo depois

As relaccedilotildees entre o basileuacutes e a Igreja azedaram a partir daiacute Impossibilitado de casar

novamente140 Leatildeo tomou uma amante Zoeacute Carbonopsina de quem teve um filho em 905 o

futuro Constantino VII Porfirogeneta Finalmente com um herdeiro direto Leatildeo esforccedilou-se

para o legitimar tendo para isso de o batizar e de casar com Carbonopsina141 O filho foi

batizado pelo patriarca em 906 mas o casamento natildeo foi tatildeo faacutecil de ser concretizado pois

surgiu-lhe um obstaacuteculo em frente o seu amigo Nicolau o Miacutestico O confronto entre os dois

levou primeiro agrave realizaccedilatildeo de vaacuterios siacutenodos depois ao casamento ldquopela caladardquo de Leatildeo

no Grande Palaacutecio que resultou na sua proibiccedilatildeo de participar em algumas cerimoacutenias

religiosas celebradas pelo patriarca142 e por fim agrave deposiccedilatildeo e exiacutelio de Nicolau em 907

pouco antes de um conciacutelio que tinha como objetivo perdoar o autokraacutetor

O novo patriarca escolhido pelo basileuacutes foi o synkellos Eutiacutemio por estar laquoacima de

repreensatildeo estar marcado com um selo de santidade e ser conspiacutecuo pelos seus grandes

feitos143raquo No entanto Eutiacutemio soacute autorizaria o quarto casamento144 se Leatildeo aceitasse certas

condiccedilotildees o basileuacutes teria de fazer penitecircncia o padre que realizara o casamento deveria ser

expulso da igreja Eutiacutemio natildeo coroaria a nova basiacutelissa na igreja e por fim a proibiccedilatildeo legal

definitiva de laquoquartos casamentosraquo Leatildeo VI aceitou os requisitos patriarcais e natildeo mais a

Igreja contestou a sua governaccedilatildeo

Onde o reinado de Leatildeo VI parece ter suscitado mais debate na historiografia

contemporacircnea foi mesmo nos assuntos militares e relacionados com o estrangeiro No seacuteculo

XX muitos bizantinistas que escreveram sobre o assunto (como Ostrogorksy por exemplo)

trataram o autokraacutetor como se este natildeo tivesse qualquer apreccedilo ou preocupaccedilatildeo pelos

problemas externos que assolaram o impeacuterio (e natildeo foram poucos) enquanto esteve no

trono145 A imagem de Leatildeo VI comeccedilou a mudar desde as publicaccedilotildees de Romily Jenkins e

140 Ironicamente por uma lei que o proacuteprio criara Vide Idem Ibidem p156 141 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p468 142 Vide MONTEIRO J ndash Op cit p 76 143 Vide Life of Euthymios 95 4-5 apud TOUGHER S ndash Op cit p 162 144 Que entretanto havia sido legitimado por uma bula papal vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 76 145 Vide TOUGHER S ndash Op cit pp164 e 166

40

de Patrice Karlin-Hayter146 ateacute ao capiacutetulo 7 da obra Reign of Leo VI de Shaun Tougher onde

este assunto foi abordado com detalhe Faremos um balanccedilo sucinto deste problema quando

acabarmos de relatar os principais episoacutedios militares do principado do Saacutebio e de descrever a

maneira como ele teraacute reagido a esses problemas

De que forma mudou o cenaacuterio geopoliacutetico e militar entre Basiacutelio I e Leatildeo VI A boa

sorte que Bizacircncio parecia atravessar a Oriente parecia ter comeccedilado a mudar novamente para

o lado muccedilulmano apesar de se manter o status quo na regiatildeo e de o Impeacuterio Bizantino se

manter mais na ofensiva do que os seus adversaacuterios na regiatildeo No Sul de Itaacutelia a supremacia

bizantina conquistada no reinado de Basiacutelio I parecia aguentar-se o reino caroliacutengio de Itaacutelia

caiacutera no caos poliacutetico apoacutes a deposiccedilatildeo de Carlos o Gordo (884-887) o principado de

Benevento o principal poder lombardo na regiatildeo tinha ficado em segundo plano e os dois

emirados aacuterabes da Itaacutelia meridional (Bari e Tarento) estavam destruiacutedos No entanto nesta

frente as coisas estavam prestes a mudar ainda que temporariamente No Impeacuterio da Bulgaacuteria

eacute que a situaccedilatildeo piorou para Bizacircncio quando Simeatildeo o terceiro filho de Boacuteris147 ascendeu

ao trono apoacutes uma guerra civil entre o pai e o imperador de entatildeo o seu irmatildeo Vladimir que

tentara retornar ao paganismo Como veremos Simeatildeo seria um dos grandes adversaacuterios de

Leatildeo e disputaria ativamente com Bizacircncio a supremacia sobre os Balcatildes

Comecemos por Itaacutelia onde logo em 886 Leatildeo ordena a Niceacuteforo Focas o Velho que

regresse a Constantinopla para tomar o manto de domestikoacutes A estrateacutegia bizantina de impor

e consolidar a hegemonia na regiatildeo manteve-se estabelecer laccedilos de vassalagem com os

poderes lombardos do Sul de Itaacutelia muitas vezes recorrendo agrave diplomacia ou ao envio de

tropas auxiliares para fazer frente agrave ameaccedila aacuterabe do Norte de Aacutefrica e da Siciacutelia148 Por

exemplo o priacutencipe Guaimar I de Salerno (880-901) aceitou a soberania bizantina quando

tropas imperiais o auxiliaram entre 886 e 887 tendo sido recompensado por Leatildeo VI com o

tiacutetulo de patriacutecio149 Os priacutencipes lombardos no entanto eram aliados de natureza duacutebia que

soacute aceitavam o auxiacutelio bizantino quando precisavam e que tanto se podiam unir aos

Bizantinos contra os Sarracenos como vice-versa150

Em 887 o priacutencipe Aiatildeo de Benevento (884-891) quis vingar-se de uma campanha

empreendida pelo strategoacutes Teoacutefilato na Campacircnia e tomou Bari de assalto com o apoio de

auxiliares sarracenos A resposta bizantina natildeo se fez esperar e no ano seguinte uma

146 Natildeo tivemos acesso agrave bibliografia de Jenkins 147 O czar responsaacutevel pela conversatildeo do estado buacutelgaro ao cristianismo 148 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 23 149 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 158-159 150 Sendo o duque-bispado de Naacutepoles o melhor exemplo desta praacutetica

41

expediccedilatildeo liderada pelo patriacutecio Constantino recupera a cidade quando Aiatildeo eacute abandonado

pelos mercenaacuterios sarracenos e lhe eacute recusado auxiacutelio pelo ducado de Espoleto e pelo condado

de Caacutepua Apoacutes a morte do priacutencipe em 891 o strategoacutes Symbatikios comanda um exeacutercito a

partir de Bari e toma Benevento aproveitando-se da menoridade de Urso o herdeiro de

Aiatildeo151 A conquista de Benevento foi efeacutemera pois a cidade caiu em 895 agraves matildeos do

priacutencipe Guido de Espoleto152 A reconquista foi facilitada pelo apoio da populaccedilatildeo da cidade

que estava descontente com as autoridades bizantinas que a estariam a oprimir153 ndash assim o

diz uma fonte lombarda do seacuteculo X154

Por outro lado no iniacutecio do seacuteculo X os Aglaacutebidas lanccedilaram-se novamente agrave

conquista de Itaacutelia Em 901 voltam a atacar a Calaacutebria conquistam Reacutegio e empreendem uma

nova incursatildeo naquela regiatildeo No ano a seguir eacute o proacuteprio emir aglaacutebida Ibrahim II (875-

902) a liderar as suas forccedilas em direccedilatildeo agrave Itaacutelia meridional Foi no seio dessa campanha em

902 que caiu Taormina a uacuteltima possessatildeo bizantina na Siciacutelia Apoacutes a consolidaccedilatildeo do

poder aglaacutebida naquela ilha o emir embarcou quase de imediato em direccedilatildeo ao sul de Itaacutelia

onde cercou Cosenza O asseacutedio acabou por ser mal sucedido porque Ibrahim morreu de

disenteria e a sua hoste privada da sua lideranccedila acabou por se desintegrar

Antes de prosseguirmos voltemos a nossa atenccedilatildeo para a tomada de Taormina A

questatildeo da queda de Taormina eacute uma das razotildees utilizadas para considerar Leatildeo um mau

imperador no sentido dos assuntos militares Por que razatildeo teraacute o basileuacutes entregado agrave sua

sorte a uacuteltima possessatildeo num dos pontos mais estrateacutegicos do Mediterracircneo Na nossa

opiniatildeo natildeo nos parece que tenha sido ele a deixar cair a Siciacutelia tendo em conta que ele

proacuteprio soacute tinha herdado Taormina A defesa da cidade soacute se justificava por trecircs razotildees uma

questatildeo de prestiacutegio para o Impeacuterio155 a manutenccedilatildeo dos seus habitantes na orla do poder

bizantina e a possibilidade da utilizaccedilatildeo da fortaleza como um ponto de partida para a

reconquista da Siciacutelia uma hipoacutetese completamente fora de questatildeo na altura156 porque a

grande preocupaccedilatildeo dos Bizantinos na regiatildeo era consolidar a sua hegemonia no Sul de Itaacutelia

e natildeo havia meios e condiccedilotildees navais157 para se empreender a reconquista da Siciacutelia num

151 Idem Ibidem p 159 152 Conveacutem salientar que a prioridade do Impeacuterio Bizantino na altura eram os Balcatildes onde Leatildeo VI e Simeatildeo

da Bulgaacuteria combatiam pela supremacia 153 O comando do theacutema da Lombardia que estava sedeado naquela cidade abandonou Benevento em 894 sob o

strategoacutes Barsaacutequio por estas razotildees 154 Idem Ibidem p 160 155 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 24 156 Idem Ibidem p 24 157 Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI enfrentou uma grave vaga de pirataria tanto no Mar Egeu como no

Mediterracircneo oriental

42

futuro proacuteximo Por estas razotildees concordamos com a afirmaccedilatildeo de Karlin-Hayter que diz

laquo(hellip) Taormina naquele tempo natildeo era um recurso mas sim um encargoraquo158

Enquanto isso o paradigma lombardo-bizantino no Sul de Itaacutelia muda pois as

relaccedilotildees entre Guido e Benevento rapidamente se deterioraram um facto que culminou na

uniatildeo do principado de Benevento com o ducado de Caacutepua em 901 para que ambos

pudessem fazer frente ao Imperador do Sacro Impeacuterio Esta mudanccedila no estado de situaccedilatildeo

possibilitou uma reaproximaccedilatildeo entre Lombardos e Bizantinos que se aliam para fazer frente

aos Aacuterabes que realizavam raides na Campacircnia a partir do seu laquoninhoraquo na foz do rio

Garigliano Foi com a intenccedilatildeo de criar uma espeacutecie de Liga Cristatilde para expulsar os Aacuterabes da

Campacircnia de uma vez por todas que o priacutencipe Atenolfo I de Benevento e Caacutepua enviou em

909 uma embaixada a Constantinopla presidida pelo filho Landolfo Leatildeo teraacute concordado

com o priacutencipe requerendo soacute que este se tornasse vassalo da coroa puacuterpura A operaccedilatildeo natildeo

se chegou a realizar enquanto o basileuacutes era vivo no entanto mais tarde formou-se uma nova

alianccedila cristatilde organizada pelo papa Joatildeo II em 915 que possuiacutea um importante corpo militar

bizantino sob o comando do strategoacutes da Lombardia Nicolau Piccingli A Liga Cristatilde

apoiada pela frota bizantina cercou entatildeo a base sarracena na foz do Garigliano Os Aacuterabes

natildeo conseguiram fazer frente agrave alianccedila das principais potecircncias do sul de Itaacutelia159 e foram

massacrados Com o fim daquele enclave terminaram tambeacutem as expediccedilotildees de saque

muccedilulmanas no interior da Campacircnia e da Itaacutelia Central160

Viajemos agora para os Balcatildes Como jaacute foi referido lamentavelmente para Leatildeo VI

as relaccedilotildees entre o Impeacuterio Bizantino e a Bulgaacuteria cristatilde deterioraram-se durante o seu

reinado Na segunda metade do seacuteculo IX o Estado buacutelgaro evoluiu de um khaganato pagatildeo

para um impeacuterio cristatildeo sob a alccedilada do czar Boacuteris161 O antigo khan por sua vez tornou-se

tatildeo religioso que abdicou do trono para vestir o haacutebito em 889 apoacutes ter entregado a coroa ao

seu primogeacutenito Vladimir O novo soberano foi deposto pelo proacuteprio pai em 893 quando

comeccedilou a tomar um conjunto de medidas anticristatildes e anti-bizantinas Depois de depor

158 Idem Ibidem p 24 159 Para aleacutem da frota e dos contingentes do Impeacuterio Bizantino estavam presentes corpos militares do papado e

dos principados lombardos de Caacutepua Salerno Espoleto e ateacute de Naacutepoles e Gaeta (que Ravegnani chega a

considerar filossarracenas) cidades que foram convencidas por Nicolau Piccingli a participar RAVEGNANI G

ndash Op cit p 161 160 Idem Ibidem p162 161 Para um resumo deste processo e da autonomizaccedilatildeo da Igreja Buacutelgara vide HUPCHIK Dennis P (2017) The

Bulgarian-Byzantine Wars for Early Medieval Balkan Hegemony ndash Silver-lined Skulls and Blinded Armies

Estados Unidos da Ameacuterica Palgrave Macmillan pp 136-143

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Vladimir Boacuteris voltou agrave sua vida religiosa natildeo sem antes ter colocado no seu lugar um outro

filho mais novo chamado Simeatildeo em 893162

O novo soberano dos Buacutelgaros era tambeacutem muito culto fora educado em

Constantinopla era piamente cristatildeo e tinha um enorme apreccedilo pela coacutepia de textos sagrados

Tudo razotildees que possivelmente trariam alguma paz a Bizacircncio tanto que Leatildeo natildeo estava

interessado em guerrear com uma naccedilatildeo ortodoxa mais a mais com o impeacuterio cercado por

inimigos natildeo-cristatildeos163 No entanto Simeatildeo era tambeacutem um ambicioso governante que

queria formar um Impeacuterio Bizantino-Buacutelgaro encabeccedilado por ele164hellip As tensotildees comeccedilaram

de imediato a borbulhar no ano que se seguiu agrave ascensatildeo do jovem soberano buacutelgaro165

quando o braccedilo direito do basileuacutes Styliano Zaotzeacute conseguiu convencer Leatildeo a transferir o

mercado buacutelgaro de Constantinopla166 para Tessaloacutenica Simeatildeo ao tomar conhecimento

destes acontecimentos tentou mostrar o seu desagrado ao imperador que por sua vez o

ignorou Foi aiacute que o jovem suserano buacutelgaro desenterrou o machado da guerra

A duacutevida de quem teraacute realmente provocado essa guerra ainda hoje eacute discutida As

croacutenicas bizantinas parecem querer demonstrar que a questatildeo do laquomercado buacutelgaroraquo fora

apenas um pretexto para uma guerra que o ambicioso Simeatildeo desejava167 Por outro lado ateacute

que ponto estas alegaccedilotildees satildeo vaacutelidas E se Leatildeo tivesse aquiescido a Simeatildeo Teria este

forccedilado uma guerra de qualquer das formas numa etapa tatildeo prematura da sua governaccedilatildeo O

que nos parece mais provaacutevel eacute que o czar buacutelgaro tambeacutem natildeo estivesse interessado em

combater contra Bizacircncio (pelo menos naquela altura) mas viu-se obrigado a fazecirc-lo para

garantir os interesses comerciais do seu povo para consolidar o seu trono e citamos aqui

Hupchik para mostrar ao mundo que laquoos interesses (da Bulgaacuteria) podiam ser ignorados pelos

estrangeiros apenas sob um grande riscoraquo168 Por outro lado eacute muito provaacutevel que Leatildeo natildeo

contasse com esta retaliaccedilatildeo de Simeatildeo ou por natildeo esperar uma resposta tatildeo draacutestica do seu

vizinho ou porque confiava na sustentaccedilatildeo da longa paz entre a Bulgaacuteria e Bizacircncio169

Independentemente das circunstacircncias foi com a guerra que Leatildeo se deparou e esta veio

(tendo em conta a regiatildeo onde decorreu) numa peacutessima altura para o lado bizantino

162 Idem Ibidem p 143 163 Os Aacuterabes na Itaacutelia no Mar Egeu e na Ciliacutecia e os Russos na estepe euroasiaacutetica na margem norte do Mar

Negro 164 MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 165 Estaria nos seus 20 anos aproximadamente Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p151 166 Para uma pequena descriccedilatildeo dos efeitos desta mudanccedila no comeacutercio buacutelgaro e da razatildeo desses efeitos cf

Idem Ibidem p 154 167 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 174 e WORTLEY J ndash Op cit pp 169-170 168 Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p153 169 Vide TOUGHER S ndash Op cit p173

44

A invasatildeo buacutelgara do theacutema da Macedoacutenia foi arrasadora e brutal uma vez que aquela

aacuterea estava relativamente indefesa e porque o impeacuterio contava apenas com tropas de segunda

categoria laquotemaacuteticasraquo e somente um contingente de soldados profissionais estava em

Constantinopla a guarda-pessoal do basileuacutes a Hetaireia170 Este exeacutercito mobilizado agrave

uacuteltima da hora foi trucidado por Simeatildeo os seus comandantes foram mortos e os membros da

Hetaireia (e o proacuteprio basileuacutes) foram humilhados ao verem os seus narizes cortados O

primeiro laquoroundraquo da guerra fechou portanto com uma vitoacuteria de Simeatildeo

No ano a seguir Leatildeo jaacute estava mais preparado para fazer frente a Simeatildeo e ateacute para

passar agrave ofensiva A estrateacutegia que o basileuacutes engendrou envolvia trecircs peccedilas principais a

habilidade de Niceacuteforo Focas o Velho a inatacaacutevel (pelos Buacutelgaros) marinha bizantina e uma

manobra diplomaacutetica que visava chamar um novo jogador ao tabuleiro ndash os Magiares171 da

regiatildeo da atual Romeacutenia e da Panoacutenia (Hungria) Para conseguir o apoio daquele povo Leatildeo

enviou um diplomata (carregado com um tributo em ouro) aos respetivos liacutederes Arpaacuted e

Kurszaacuten que aceitaram combater ao lado dos Bizantinos Assim enquanto os Magiares se

dirigiam ao Danuacutebio na primavera de 895 para invadir a Bulgaacuteria pelo norte o ceacutelebre

Niceacuteforo Focas reuniu o exeacutercito imperial na fronteira com Simeatildeo de modo a desviar a sua

atenccedilatildeo Depois de Simeatildeo ter prendido um diplomata que Leatildeo enviara a fim de negociar a

paz a hoste de Niceacuteforo invadiu as possessotildees buacutelgaras no Norte da Traacutecia

Com Simeatildeo distraiacutedo pelo ataque do exeacutercito romano a frota sob o droungaacuterios

Eustaacutecio ajudou os Magiares a atravessarem o Danuacutebio e a invadir o limes indefeso de

Simeatildeo O czar ainda tentou reagir mas as suas tentativas foram goradas pelos arqueiros da

estepe que o derrotam e obrigaram a refugiar-se na fortaleza de Dorostolon172 Os Magiares

saquearam o territoacuterio inimigo ateacute Preslav a capital da Bulgaacuteria173 e regressaram depois agraves

suas terras para laacute do Danuacutebio onde venderam os seus prisioneiros de guerra a Bizacircncio

conforme ficara acordado na alianccedila com Leatildeo

170 O domestikoacutes e o grosso das forccedilas da capital incluindo os taacutegmata estavam em campanha a oriente quando

Simeatildeo invadiu Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVIII O Regresso do Califado a Bagdade

Traduccedilatildeo e anotaccedilotildees de Franz Rosenthal ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume

XXXVIII The Return of the Caliphate to Baghdad Nova Iorque New York University Press p 11 171 Os antecessores dos Huacutengaros 172 Satildeo Skylitzes e Hupchik que referem Dorostolon vide WORTLEY J ndash Op cit p 171 e HUPCHIK D P ndash

Op cit p 158 Shaun Tougher refere que ele retirou para uma fortaleza chamada Moundraga mas natildeo

encontraacutemos nenhuma referecircncia a este local (ou ao facto de ser o mesmo siacutetio que Dorostolon) nas nossas

pesquisas Vide TOUGHER S ndash Op cit p177 173 Que supostamente teraacute sido salva pelas preces e por um voto de fome por trecircs dias expresso pelo antigo

imperador Boacuteris Hupchik diz que o que parou os Magiares foram as muralhas da cidade Por nosso lado

sentimo-nos tentados a aceitar a hipoacutetese de que teraacute sido uma conjugaccedilatildeo das muralhas e do facto de Boacuteris ter

liderado a defesa da cidade Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p 159

45

Por sua vez Simeatildeo enviou uma mensagem a Eustaacutecio informando-o de que estava

disposto a assinar a paz Leatildeo estava desejoso de sair daquela guerra que natildeo lhe interessava

e pretendia distribuir as tropas daquele teatro de operaccedilotildees por outras frentes prioritaacuterias pelo

que aceitou e ordenou a retirada quase imediata de Niceacuteforo Focas o Velho e de Eustaacutecio Para

assinar os termos da paz Leatildeo enviou o seu melhor diplomata Leatildeo Coirosfactes a Simeatildeo

No entanto a ordem de retirada prematura e depois a entrega dos seus prisioneiros de guerra

antes de assinar a paz foram erros crassos do basileuacutes Simeatildeo no interluacutedio da assinatura da

paz aliou-se aos Pechenegues um povo das estepes hostil aos Magiares e preparou o seu

exeacutercito para o terceiro ano de guerra Ainda em 895 atravessou o Danuacutebio e com a ajuda

dos Pechenegues derrotou os Magiares empurrando-os para a Panoacutenia174

No ano seguinte possivelmente apoiado na morte ou na remoccedilatildeo de Niceacuteforo Focas

do cargo de domestikoacutes Simeatildeo lanccedilou-se ao ataque e derrotou as forccedilas do novo

ldquocomandante do Estado-maiorrdquo Leatildeo Katakalon na batalha de Bulgarophygon A derrota

naquela batalha saiu cara ao Saacutebio que viu as forccedilas buacutelgaras saquearem a Traacutecia bizantina e

ateacute ameaccedilar Constantinopla Por fim Leatildeo acedeu a assinar a paz nos termos propostos por

Simeatildeo que nos satildeo desconhecidos mas que muito provavelmente envolviam um retorno agrave

situaccedilatildeo dos mercados tal como esta estava antes da guerra e ao pagamento de um pesado

tributo anual175 De resto ao longo do reinado de Leatildeo Simeatildeo natildeo mais pegaria em armas

contra Bizacircncio natildeo soacute porque durante o resto do tempo de principado do basileuacutes se

concentrou no desenvolvimento cultural do seu domiacutenio176 mas porque Leatildeo fez os possiacuteveis

(e os impossiacuteveis pode-se dizer) para conservar a paz

Falta-nos dedicar algumas palavras agrave guerra naval e ao limes oriental Decidimos

juntar estas duas frentes numa uacutenica secccedilatildeo do nosso texto porque estatildeo diretamente

relacionadas Em primeiro lugar referimos que a guerra naval foi o que correu pior a Leatildeo

VI deu-se a perda definitiva da Siciacutelia como jaacute falaacutemos e as frotas bizantinas foram

derrotadas vaacuterias vezes Vamos agora tentar sucintamente fazer um relato das principais

accedilotildees navais e das campanhas orientais que ocorreram durante o reinado do Saacutebio

Na Ciliacutecia o principal adversaacuterio no iniacutecio do reinado de Leatildeo VI continuava a ser o

eunuco Yazaman que da sua base de Tarso atacava Bizacircncio tanto por terra como por mar

Em 888 Yazaman organiza uma expediccedilatildeo naval capturando quatro navios bizantinos

enquanto no Mediterracircneo central uma frota muccedilulmana derrota uma armada bizantina ao

174 De onde eles partiriam para os seus ataques recorrentes contra a Europa ocidental e a Bulgaacuteria durante a

primeira metade do seacuteculo X ateacute serem derrotados agraves matildeos de Otatildeo I na batalha de Lechfeld (em 955) 175 Vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 176 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 175

46

largo de Milazzo Esta vitoacuteria no entanto seria anulada no ano seguinte com um sucesso

militar romano a repor o controlo sobre o Estreito de Messina Em 891 no contexto de uma

alianccedila entre Yazaman e os Tuluacutenidas do Egipto o eunuco eacute morto por um fragmento de um

projeacutetil de balista durante um ataque a Salandu uma fortaleza costeira bizantina na Ciliacutecia177

A este governante de Tarso seguiu-se anos mais tarde o eunuco Raghib que em 898 derrotou

uma frota bizantina e teraacute decapitado 3000 marinheiros romanos o que a ser verdade poderaacute

ter representado um duro golpe na operacionalidade naval do impeacuterio178 No entanto o

sucesso de Raghib teraacute sido sol de pouca dura porque no ano seguinte ele eacute preso e a frota de

Tarso queimada a mando do califa uma mais-valia para Bizacircncio naqueles tempos

conturbados179

Apesar dos feitos de Raghib de Yazaman e ateacute de Simeatildeo na nossa opiniatildeo natildeo

houve personagens mais nefastas para Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI do que Leatildeo o

Tripolitano e Damiano Por coincidecircncia tanto um como o outro tinham origem grega180 e

conseguiram ascender no mundo muccedilulmano ateacute ocuparem altos cargos militares181 Jaacute em

891 (ou em 893) Leatildeo o Tripolitano desferira um golpe profundo na aptidatildeo mariacutetima do

impeacuterio quando atacou e saqueou Samos (a capital do theacutema mariacutetimo do Mar Egeu) e

capturou o seu strategoacutes Paspalas182 Dez anos depois foi a vez de Damiano atacar o impeacuterio e

saquear a cidade de Demeacutetrias na Tessaacutelia mas nesse mesmo ano deu-se um bem-sucedido

ataque naval bizantino no litoral da Ciliacutecia (possibilitado pela destruiccedilatildeo da frota de Tarso

provavelmente) e uma ofensiva terrestre na regiatildeo de Kaysun entre Maras e Samosata183 Os

Aacuterabes retaliaram com um raide agrave ilha de Lemnos que fez dos seus habitantes cativos dos

Muccedilulmanos184

Mas nenhum ataque chocou mais o Impeacuterio Bizantino do que o saque de Tessaloacutenica

em 904 e natildeo era para menos tendo em conta que esta era a segunda cidade mais importante

do Impeacuterio A frota que estava sob o comando de Leatildeo o Tripolitano tinha dimensotildees maiores

do que o normal e o seu objetivo principal seria com alguma probabilidade

177 Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVII A Restauraccedilatildeo Abaacutessida Traduccedilatildeo de Phillip M Fields e

Notas de Jacob Lassner FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid

Recovery Nova Iorque New York University Press p 175 178 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 73 179 Vide Idem Ibidem p 79 e 91 180 Leatildeo seria oriundo da cidade de Ataleia na Ciliacutecia onde foi capturado relativamente jovem Damiano seria

mesmo grego e serviu o eunuco Yazaman em Tarso 181 Leatildeo o Tripolitano seria almirante por exemplo 182 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 185 183 Al-Tabari diz que teratildeo sido presos cerca de 15 000 muccedilulmanos Cf ROSENTHAL Franz ndash Op cit p 97 184 Tougher diz que para Vasiliev o sucesso dos ataques muccedilulmanos cada vez mais proacuteximos de

Constantinopla se deveu ao desaire bizantino frente a Raghib em 898 Cf TOUGHER S ndash Op cit p 185

47

Constantinopla185 Leatildeo enviou a sua frota para fazer frente agrave armada aacuterabe quando esta se

comeccedilou a aproximar do Helesponto mas o almirante Eustaacutecio retirou frente ao poderio

aacuterabe O impeacuterio acabado de sair da crise administrativa provocada pela morte de Zaotzeacute186 e

da filha a basiacutelissa em 899 e com uma seacuterie de derrotas navais sofridas frente aos Aacuterabes

(mau grado algumas vitoacuterias tambeacutem) via agora a sua proacutepria capital ameaccedilada

Leatildeo colocou um novo droungaacuterios Himeacuterio agrave cabeccedila da frota imperial e enviou-o

contra o Tripolitano O almirante muccedilulmano entretanto por razotildees desconhecidas mudara

de curso e dirigira-se a Tessaloacutenica sem que o novo droungaacuterios o tentasse deter Uma

duacutevida se coloca por que razatildeo teraacute o Tripolitano mudado de alvo Natildeo haacute muitas certezas

mas parece-nos que se Tessaloacutenica natildeo era um objetivo mais tentador do que

Constantinopla187 certamente era bem mais faacutecil de tomar188 Alegadamente Tessaloacutenica soacute

teraacute sido resgatada por acaso quando um oficial imperial encontrou uma avultada soma

monetaacuteria destinada agrave Bulgaacuteria189 e a ofereceu ao almirante muccedilulmano que soacute entatildeo teraacute

levantado acircncora deixando uma grande parte dos cativos em terra e regressado agrave Siacuteria190

O saque de Tessaloacutenica teve consequecircncias nefastas como eacute expectaacutevel a niacutevel

regional porque metade da populaccedilatildeo foi morta ou capturada incluindo a guarniccedilatildeo e o

strategoacutes Leatildeo Katzilaacutequio a niacutevel psicoloacutegico-religioso porque o padroeiro da cidade Satildeo

Demeacutetrio que sempre tinha protegido a cidade na opiniatildeo dos Bizantinos a teraacute abandonado

naquele ano tendo-se entatildeo discutido as implicaccedilotildees que isso teria na vontade da Virgem em

defender Constantinopla191 a niacutevel diplomaacutetico porque Leatildeo VI se viu obrigado a enviar uma

nova embaixada a Simeatildeo da Bulgaacuteria para o convencer a natildeo se aproveitar daquele evento

para conquistar aquela cidade192 e possivelmente teraacute afetado o prestiacutegio do Saacutebio

Karlin-Hayter no artigo em que defende a poliacutetica externa de Leatildeo VI considera o

saque de Tessaloacutenica como uma das trecircs grandes manchas do reinado drsquo O Saacutebio a par da

eclosatildeo da guerra contra Simeatildeo e da retirada apressada de Niceacuteforo Focas o Velho e de

185 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 186 186 A famiacutelia de Zaotzeacute conspirara contra o imperador mas este foi salvo quando o eunuco aacuterabe Samonas

denunciou a Leatildeo VI esta conspiraccedilatildeo 187 Um ataque agrave capital do impeacuterio consumiria muito tempo e necessitaria de um bom apoio terrestre 188 Treadgold explica que as muralhas mariacutetimas de Tessaloacutenica estavam a ser reparadas por aquela altura pelo

que eacute muito provaacutevel que o Tripolitano se tenha aproveitado da circunstacircncia para atacar aquela cidade Vide

TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 189 Possivelmente o tributo destinado a Simeatildeo 190 Shaun Tougher sempre empenhado em defender a imagem de Leatildeo alega que foi Leatildeo VI a pagar aos

Aacuterabes a libertaccedilatildeo da cidade TOUGHER S ndash Op cit p 188 191 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 p189 192 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 181

48

Eustaacutecio no segundo ano dessa guerra193 No entanto ateacute que ponto as circunstacircncias da

queda de Tessaloacutenica satildeo da culpa do basileuacutes Treadgold194 por exemplo desculpa Leatildeo ao

defender que o ataque tinha sido de surpresa195 Na nossa opiniatildeo poreacutem parece-nos muito

difiacutecil o basileuacutes natildeo ter sabido com antecedecircncia da preparaccedilatildeo desta enorme frota pois de

outra forma esta natildeo podia sequer sonhar em conquistar Constantinopla se a capital fosse

realmente o primeiro alvo do Tripolitano Aliaacutes as accedilotildees de Leatildeo nesse ano mostram que ele

jaacute deveria contar com um ataque naval muccedilulmano procedeu agrave reparaccedilatildeo das muralhas de

Tessaloacutenica a armada imperial permaneceu nas proximidades da capital e talvez mais

relevante de tudo lanccedilou-se uma ofensiva terrestre a oriente196 pouco antes do saque Este

uacuteltimo ponto em particular encaixa no pensamento estrateacutegico do basileuacutes que defende no

Taktikaacute que um ataque naval muccedilulmano deve ser retaliado com uma invasatildeo terrestre197 uma

opiniatildeo que partilhamos com Shaun Tougher198 Em jeito de vinganccedila o basileuacutes lanccedilaria

ainda uma expediccedilatildeo por terra contra a Ciliacutecia sob o comando de Androacutenico Ducas que

culminaria numa vitoacuteria bizantina na batalha de Maras

Em 906 no seguimento da traiccedilatildeo e fuga de Androacutenico Ducas para o Califado199

Himeacuterio derrota uma forccedila naval aacuterabe no dia de Satildeo Tomeacute (6 de outubro) enquanto um

exeacutercito romano saqueia a cidade de Qurus nos arredores de Alepo Em 909 Bizacircncio assola

a costa da Siacuteria e toma as fortalezas de al-Qubba e Laodiceia ataques estes que iratildeo

prosseguir no ano seguinte e que se estendem aos habitantes muccedilulmanos da ilha de Chipre

Em 911 em jeito de represaacutelia Damiano ataca os residentes bizantinos desta ilha no mesmo

ano em que se realiza uma importante expediccedilatildeo talvez direcionada a Creta liderada por

Himeacuterio

Esta expediccedilatildeo representa o uacuteltimo marco relevante no reinado de Leatildeo VI e ao

observarmos a lista dos preparativos para esta expediccedilatildeo200 rapidamente nos apercebemos do

esforccedilo de mobilizaccedilatildeo do Impeacuterio para aquele laquomonumentalraquo empreendimento 177

embarcaccedilotildees 34 mil e duzentos remadores 7140 soldados 700 Russos 5087 Mardaiacutetas201

uma mobilizaccedilatildeo de meios que teraacute custado cerca de 230 000 nomismata soacute no que respeita

193 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 194 Em 1997 195 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 196 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 147 197 Vide Anexos VIII p) 198 Vide TOUGHER S ndash Op cit p190 199 Que teraacute afetado visivelmente o imperador como veremos mais agrave frente 200 Vide Anexos IX a) 201 Descendentes de refugiados cristatildeos da Siacuteria que foram recebidos por Justiniano II e colocados ao serviccedilo da

divisatildeo mariacutetima dos Caribisianos onde se tornaram remadores e tropas de infantaria mariacutetima de renome Vide

TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 26

49

ao pagamento das rocircgai Uma observaccedilatildeo dos dados desta expediccedilatildeo confirma que a

conquista de Creta era um objetivo fulcral para Leatildeo VI202 Se a ilha voltasse para matildeos

bizantinas tambeacutem se retomava o controlo do sul do Mar Egeu e eliminava-se o ninho de

piratas sarracenos mais perigoso para Constantinopla Infelizmente para os Romanos Himeacuterio

acabou por ser obrigado a retirar apoacutes natildeo ter logrado conquistar Chandax (a capital da

ilha)203 tendo a sua frota sido derrotada na viagem de regresso por Leatildeo o Tripolitano e por

Damiano ao largo da ilha de Quios em 912 o ano em que Leatildeo VI adormeceu para sempre

O que podemos dizer acerca de Leatildeo VI em termos militares Na nossa opiniatildeo este

basileuacutes preocupava-se com os assuntos militares do impeacuterio Aliaacutes como natildeo podia Tal

como basileicircs anteriores ele governava um reino rodeado de inimigos circunstacircncia que o

obrigou a fazer escolhas difiacuteceis p ex o ldquosacrifiacuteciordquo de Taormina quando os Aacuterabes se

tornaram muito mais agressivos no Mediterracircneo oriental ou abandonar Tessaloacutenica ao saque

para talvez poupar a frota imperial a um duro combate sem vitoacuteria garantida (apesar de neste

caso a responsabilidade estar mais nas matildeos dos seus dois almirantes Eustaacutecio e Himeacuterio)

Por outro lado conveacutem lembrar que agrave morte de Leatildeo VI o Impeacuterio estava muito

possante noutras frentes Tinha-se expandido para oriente tanto por meios militares como

diplomaacuteticos (no caso de alguns principados armeacutenios) destacando-se tambeacutem uma certa

superioridade militar bizantina neste limes Por outro lado assegurou-se a supremacia no Sul

de Itaacutelia o que permitiu assumir um papel preponderante na expulsatildeo dos Aacuterabes da

Campacircnia Em relaccedilatildeo a Simeatildeo com o qual se assinou a paz em 896 este natildeo deu mais

nenhum sinal de querer atacar Bizacircncio e o basileuacutes fez todos os possiacuteveis por manter essa

paz pois era uma guerra que natildeo tinha desejo de travar por razotildees ideoloacutegicas204 Por fim

devemos recordar que o interesse de Leatildeo VI nos assuntos militares se encontra refletido no

Taktikaacute um tratado que conjuga uma compilaccedilatildeo de alguns conhecimentos praacuteticos e teacutecnicos

com retoacuterica teoloacutegica Estes dois fatores tornam este manual militar uma ferramenta

essencial para compreender o pensamento estrateacutegico bizantino do seacuteculo X

202 John Haldon defende que esta expediccedilatildeo natildeo teria como objectivo principal somente a conquista de Creta (se

o tivesse) mas que seria uma continuaccedilatildeo do empreendimento do ano anterior direcionado agrave costa litoral da

Siacuteria com o objetivo a longo prazo de restabelecer o estatuto de talassocracia a Bizacircncio no que concerne o

Mediterracircneo oriental e o Mar Egeu Vide HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century

Military Administration ndash Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies In Travaux et Memoacuteires (13) pp

240-242 203 Idem Ibidem p 240 204 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40

50

Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina

Neste uacuteltimo capiacutetulo de contextualizaccedilatildeo orientaremos a nossa visatildeo para o estudo da

cultura literaacuteria bizantina com maior enfoque na tratadiacutestica para esse efeito dividimos o

capiacutetulo em dois segmentos Primeiramente vamos analisar algumas questotildees introdutoacuterias

relacionadas com esta praacutetica cultural tipologias motivaccedilotildees e principais caracteriacutesticas De

seguida vamos observar o segundo periacuteodo dourado da respetiva produccedilatildeo o que o motivou

o que o fez diferir do primeiro e quais os protagonistas

31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina

Cremos que uma das coisas mais importantes a realccedilar sobre esta atividade eacute a de que

mais do que tudo era um exerciacutecio cultural tivesse ele algum efeito praacutetico ou natildeo Isso

revela-se desde logo na circunstacircncia de muitos dos autores dos tratados beacutelicos serem civis

grande parte deles sem qualquer experiecircncia militar205 Qual a razatildeo para o interesse por estes

assuntos entre a elite intelectual bizantina

Quanto a este ponto talvez seja importante relembrar a relaccedilatildeo de osmose entre

religiatildeo poliacutetica e guerra em Bizacircncio Muitas foram as vezes em que questotildees de iacutendole

religiosa provocaram periacuteodos de amargura intestina na administraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino

como sucedeu com o Iconoclasmo Eacute evidente que quando a instabilidade governativa

imperava em Constantinopla isso irradiava por todo o Impeacuterio acabando por acarretar

consequecircncias natildeo apenas a niacutevel interno206 mas tambeacutem externo207 Esta interaccedilatildeo entre a

religiatildeo e o poder militar transpunha-se tambeacutem para a produccedilatildeo cultural Um dos grandes

exemplos disto eacute o Taktikaacute de Leatildeo VI que frente a ameaccedilas em muacuteltiplas frentes (em

especial a muccedilulmana) defendia que a condiccedilatildeo cristatilde e a fidelidade a Deus por parte dos

seus generais assim como a condiccedilatildeo de laquodefensores da feacuteraquo era um dos ingredientes

principais para a vitoacuteria em qualquer conflito208 Por outro lado a guerra era considerada

como um mal necessaacuterio na sociedade bizantina eacute certo que sendo uma comunidade cristatilde a

odiava todavia necessitava dela para ironicamente alcanccedilar a paz209hellip

Se por um lado existia esta relaccedilatildeo entre a religiatildeo e o pensamento estrateacutegico o

mesmo acontecia no sentido inverso O pensamento militar em Bizacircncio comeccedilou tambeacutem

205 Como por exemplo Leatildeo VI Urbiacutecio e Siriano 206 A revolta de Artavasdo por exemplo parece tambeacutem ter motivos religiosos pois este era iconoduacutelio 207 Enquanto a questatildeo iconoclaacutestica afetou a sociedade bizantina apesar de natildeo ter havido grandes perdas

territoriais o territoacuterio tambeacutem natildeo aumentou muito (pelo menos na frente oriental) 208 Vide cf infra capiacutetulo 4 209 Vide Anexo VIII o)

51

ele a influenciar a religiatildeo e a cultura em geral Enquanto os soldados travavam a guerra

terreste as autoridades religiosas (o cristianismo oriental em geral) combatiam contra o mal

Na literatura teoloacutegica verifica-se a apropriaccedilatildeo de vocabulaacuterio militar para exaltar esse

combate tratando-o tambeacutem como uma guerra com as suas campanhas e batalhas proacuteprias o

qual era travado com armas espirituais como a reza e a contemplaccedilatildeo210 Enquanto isso

verifica-se na produccedilatildeo historiograacutefica bizantina uma predominacircncia das temaacuteticas beacutelicas

(campanhas batalhas e triunfos) como mote para embelezar a narrativa e tambeacutem como

criacutetica da parte do autor um basileuacutes vitorioso e bravo era presenteado com elogios um

imperador que natildeo o fosse era tratado como fraco e castigado por Deus (especialmente se

tivesse matildeo pesada para a Igreja financeiramente falando como sucedeu com Niceacuteforo I)

A tratadiacutestica bizantina eacute conhecida por possuir um grande cariz antiquaacuterio e

enciclopeacutedico211 Isto eacute verificaacutevel ao longo de todo o percurso da literatura militar em

Bizacircncio onde rapidamente se verifica que satildeo muito poucas (senatildeo praticamente

inexistentes) as obras totalmente originais Todas elas retiram informaccedilatildeo e conhecimento de

fontes mais antigas quer claacutessicas quer bizantinas verificando-se paraacutefrases inteiras de

secccedilotildees desses antecedentes212 Apesar disto alguns manuais alteram esses trechos para os

adequar agraves circunstacircncias da eacutepoca com novas taacuteticas e armamento e com a eliminaccedilatildeo de

conhecimento obsoletos tal facto observa-se com maior frequecircncia em tratados produzidos

por autores com experiecircncia militar como no caso de um strategoacutes de um domestikoacutes (como

Niceacuteforo Ouranos autor de um Taktikaacute escrito no seacutec XI) ou ateacute de certos imperadores (como

Mauriacutecio ou Niceacuteforo II Focas) Podemos observar ainda inserido neste uacuteltimo fenoacutemeno o

aparecimento de palavras oriundas de outras liacutenguas que natildeo o grego como do armeacutenio do

aacuterabe e obviamente modificaccedilotildees de alguns termos latinos213 por influecircncia do leacutexico militar

bizantino O pragmatismo da tratadiacutestica bizantina revela-se nestes uacuteltimos fatores bem como

o seu caraacuteter evolutivo (ainda que pouco inovador) nos aspetos militares Todavia mesmo que

esse aspeto criativo natildeo existisse de todo tal natildeo retiraria importacircncia a tais obras uma vez

que estas natildeo deveriam ser lidas como algo que decidisse de imediato a forma como um

210 laquoThe vocabulary of warfare permeated theological and religious literature too so that monastic

communities were described as regiments of spiritual fighters for the faith and the struggle of the Church

against evil was phrased in terms of a military campaign in which the weapons of prayer contemplation and

spiritual purification were part of the armory of the east Roman churchraquo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit

p21 211 Muitos dos seus autores como eram filoacutesofos ou retoacutericos sem qualquer praacutetica nas artes da guerra natildeo

possuiacuteam interesse sequer que as suas obras tivessem alguma utilidade praacutetica ou que o seu uso fosse somente

militar Vide MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit p 907 212 O Taktikaacute de Leatildeo VI eacute muito influenciado por vaacuterios tratados anteriores natildeo soacute do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio

mas tambeacutem das obras de Onasandro Aeliano possivelmente Siriano entre outros 213 Para uma pequena suma de alguns destes termos vide NISA J (2016) ndash Op cit p 9

52

general deveria agir O strategoacutes deveria usaacute-las como uma fonte de ideias e de

conhecimentos para no momento de passar agrave accedilatildeo poder deliberar em consonacircncia com a

sua experiecircncia pessoal sobre qual a melhor forma de agir nas situaccedilotildees que enfrentava214

Ora em conformidade com esta continuaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de literatura beacutelica claacutessica e

romana verificamos a manutenccedilatildeo na cultura bizantina das mesmas disciplinas que vigoraram

na produccedilatildeo de tratados ateacute aiacute a strategikaacute a taktikaacute a naumachikaacute a poliorketikaacute e a

strategemataacute215 Finalizada esta pequena descriccedilatildeo da tratadiacutestica bizantina olhemos para o

estado dela na sua segunda fase de ouro ou seja nos seacuteculos X e XI

32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI)

O que suscitou o reaparecimento da produccedilatildeo literaacuteria militar nos iniacutecios do seacuteculo X

Consideramos que eacute possiacutevel afirmar ter-se tratado de um momento uacutenico para que tal

acontecesse Pela primeira vez em seacuteculos o Impeacuterio Bizantino atravessava um periacuteodo de

relativa estabilidade interna Longe iam os tempos do laquoseacuteculo negroraquo de 640-740 quando

Bizacircncio se confrontara com o iacutempeto inicial e avassalador dos Aacuterabes com o aparecimento

dos Buacutelgaros e com a longa guerra de atrito com os Lombardos em Itaacutelia O Iconoclasmo a

dura questatildeo religiosa que tinha fraturado a sociedade bizantina por um seacuteculo tinha tambeacutem

sido resolvido nos iniacutecios do reinado de Miguel III

Estes eventos natildeo trouxeram perfeiccedilatildeo agrave vida em Constantinopla pois a guerra as

questotildees religiosas e as intrigas de palaacutecio eram quase endeacutemicas mas geraram um periacuteodo de

maior calma na capital Isto permitiu a Bizacircncio revisitar o passado e iniciar um novo

processo de produccedilatildeo cultural a que podemos chamar de laquoRenascimento Macedoacutenicoraquo Este

percurso iniciou-se na segunda metade do seacuteculo X sob a tutela de homens cultos como o

patriarca Foacutecio que resumiu e compilou segmentos de 279 manuscritos claacutessicos pagatildeos ou

cristatildeos numa obra chamada Bibliotheacuteka216 Mais tarde durante o principado de Basiacutelio I

deu-se uma revisatildeo do Corpus Iuris Iustinianus numa obra chamada Basilikaacute que seria

terminada no reinado de Leatildeo VI e que contou ainda com algumas leis novas (as Novelle)217

Em relaccedilatildeo aos aspetos da literatura militar podemos afirmar que este renascimento se

deu com o Compecircndio de Siriano magistros (que podemos datar com alguma certeza para o

seacuteculo IX) Apesar de se inspirar muito mais nos manuais militares claacutessicos do que no

Stratēgikoacuten paradigma comum na cultura militar bizantina esta compilaccedilatildeo foi um regresso agrave

214 Vide MCGEER E (2008a) ndash Op cit p908 215 Cf supra Introduccedilatildeo 216 Vide MONTEIRO J (2017) ndash Op cit p72 217 Vide Idem Ibidem p 75

53

tratadiacutestica estagnada desde o De Militari Scientia218 Aleacutem disso os segmentos sobre guerra

naval e retoacuterica Naumachiacuteai e Rhetorica Militaris mostram-se inovadores O primeiro

porque a escrita sobre a guerra naval natildeo tinha tido grande expressatildeo durante a produccedilatildeo

tratadiacutestica dos seacuteculos V e VI o segundo porque (possivelmente) alertava para a ameaccedila

ideoloacutegica islacircmica para o seu cariz antagoacutenico aos valores cristatildeos e para a sua hostilidade

para com a existecircncia do impeacuterio da Ortodoxia219

Obviamente que o renascimento cultural natildeo pode ser tratado como a causa uacutenica para

o reaparecimento da tratadiacutestica A enorme quantidade de sucessos militares bizantinos

tambeacutem foi razatildeo para tal os triunfos em Marj al-Usquf Lalacatildeo e Bathys Riax a Oriente e a

subjugaccedilatildeo do sul de Itaacutelia a Ocidente poderatildeo ter sido os motes iniciais para este fenoacutemeno

Tambeacutem natildeo nos podemos esquecer das vitoacuterias bizantinas nos finais do seacuteculo X e iniacutecios do

seacuteculo XI que tornaram Bizacircncio a principal potecircncia do Mediterracircneo Oriental

Ateacute certo ponto parece-nos que podemos distinguir soacute por estes fatores duas fases

neste periacuteodo Uma primeira mais relacionada com o aspeto enciclopeacutedico da tratadiacutestica

protagonizada por Leatildeo VI e pelo seu filho Constantino VII (que ainda assim conseguiram

inovar em alguns aspetos de que falaremos mais adiante) A segunda prende-se com um

aspeto mais praacutetico e inovador sendo encabeccedilada por Niceacuteforo II Focas que deu letra de

forma natildeo soacute aos principais aspetos da guerra ofensiva travada por Bizacircncio mas

adicionalmente deu relevacircncia a alguns geacuteneros menos trabalhados como a guerra de

guerrilha ou a logiacutestica Em resumo a tratadiacutestica mudou com o reorientar da guerra de uma

estrateacutegia defensiva para uma mais ofensiva um facto que teraacute obrigado (apesar de natildeo ser o

uacutenico fator) a que as alteraccedilotildees taacuteticas necessaacuterias a essa mudanccedila fossem registadas em livro

Por fim natildeo devemos esquecer a ideologia cristatilde de Bizacircncio que teve um efeito geral

na produccedilatildeo literaacuteria bizantina deste periacuteodo de modo a construir (ou afirmar) uma identidade

cultural cristatilde e tambeacutem a fazer transparecer isso na forma de fazer (e escrever) a guerra220

Para Bizacircncio a guerra era uma coisa maacute e sabia-se que era endeacutemica e inevitaacutevel tendo de

ser defensiva para ser justa221 (ainda que pudesse envolver a reconquista de antigos territoacuterios

romanos222) Natildeo importava que o inimigo fosse islacircmico pagatildeo ou ateacute cristatildeo para Bizacircncio

a grande questatildeo era a sobrevivecircncia do Impeacuterio Bizantino Cristatildeo cujo soberano era o

218 Um pequeno tratado de autoria anoacutenima datado da segunda metade do seacuteculo VII que daacute grande ecircnfase agrave

cavalaria Este tratado eacute composto por muacuteltiplas locuccedilotildees vernaculares sem precedente e teria como objetivo

adaptar as informaccedilotildees do Stratēgikoacuten agrave realidade da altura Vide COSENTINO S (2009) ndash Op cit p 86 219 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p19 220 Para o caso do Taktikaacute cf infra II1 Para o caso Perigrave Paradromeacutes cf NISA J (2016) ndash Op cit pp 52-55 221 Vide Anexo VIII o) 222 HALDON J (1999) ndash Op cit p25

54

escolhido por Deus e apenas aiacute residia a santidade da guerra travada por Bizacircncio na defesa

do seu territoacuterio e do povo cristatildeo Para garantir a vitoacuteria era necessaacuterio o strategoacutes para aleacutem

do conhecimento de todas as artes da guerra ser bom homem e bom cristatildeo de forma a

garantir o apoio de Deus e assim a vitoacuteria um fator que alguns tratados deste periacuteodo natildeo se

cansam de enfatizar

A tratadiacutestica deste periacuteodo tinha novas prioridades Em primeiro lugar verifica-se um

afastamento direto das fontes mais claacutessicas em especial as heleniacutesticas ainda que se

mantivesse (como natildeo podia deixar de ser) uma ligaccedilatildeo indireta a estas em primeiro lugar

pela principal inspiraccedilatildeo literaacuteria militar deste periacuteodo o Stratēgikoacuten de Mauriacutecio em

segundo pelo descendente direto desta obra o Taktikaacute de Leatildeo VI Neste ponto conveacutem

realccedilar que este afastamento natildeo foi abrupto o compecircndio de Siriano por exemplo ainda vai

beber nessas fontes A retoacuterica de guerra em especial a que se debruccedilava mais sobre os

assuntos religiosos tambeacutem foi um dos aspetos que mais evoluiu durante este periacuteodo

Para aleacutem da questatildeo religiosa de que falaremos adiante comeccedilou-se a verificar um

incremento no uso da tratadiacutestica para fins propagandiacutesticos natildeo soacute para consolidar a posiccedilatildeo

do cristianismo como a verdadeira religiatildeo mas tambeacutem a niacutevel poliacutetico e em especial

militar com esforccedilos para reduzir as vitoacuterias dos grandes inimigos de Bizacircncio223 enquanto

por outro lado se tentava consolidar a legitimidade divina da dinastia reinante ou a

superioridade de uma famiacutelia em especial224 por meio da divulgaccedilatildeo de sucessos militares225

Por fim em termos temaacuteticos podemos verificar um florescimento na naumachikaacute

Como jaacute foi referido226 este geacutenero natildeo teve grande divulgaccedilatildeo durante a primeira fase de

escrita beacutelica Por que razatildeo teraacute ressurgido nesta altura227 A nosso ver foi uma questatildeo de

necessidade Conveacutem recordar que a segunda metade do seacuteculo IX foi marcada por uma seacuterie

de derrotas a niacutevel naval que se traduziram na expulsatildeo das forccedilas romanas das ilhas

estrateacutegicas mais importantes do Mediterracircneo de Creta logo em 828 e da Siciacutelia uma

conquista morosa para os Aglaacutebidas mas que alegadamente terminou em sucesso com a

captura e saque de Siracusa em 878 e na praacutetica com a tomada do uacuteltimo enclave bizantino

em Taormina em 902 Estes reveses navais continuaram nas primeiras deacutecadas do seacuteculo X

tendo o saque de Tessaloacutenica (em 904) e a destruiccedilatildeo da frota de Himeacuterio ao largo da ilha de

Chios (em 912) configurado os principais momentos desses acontecimentos

223 Cf Constantino VII basileuacutes [Oraccedilatildeo Militar do Imperador Constantino] Traduccedilatildeo e Comentaacuterio

NESBITT J W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden e Boston Brill p 117 224 O caso da famiacutelia Focas Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 65 225 Vide MCGEER Eric (2003) ndash Op cit p 115 226 Cf supra 11 227 Para um conjunto de obras sobre guerra naval neste periacuteodo cf infra 43

55

A comparaccedilatildeo que se pode traccedilar entre o estado de Bizacircncio como potecircncia naval

entre as duas fases da literatura militar com quase trecircs seacuteculos de distacircncia eacute notaacutevel Quanto

ao primeiro caso eacute seguro afirmar que Bizacircncio era a principal potecircncia naval do

Mediterracircneo oriental se natildeo de todo o Mediterracircneo sem grandes adversaacuterios em termos

mariacutetimos o Impeacuterio Romano do Oriente pocircde-se dar ao luxo de natildeo possuir uma poderosa

armada de guerra tendo apenas ao seu dispor uma frota ligeira destinada simplesmente a

proteger o comeacutercio de quaisquer ameaccedilas que pudessem surgir bem como servir de apoio no

limes do Danuacutebio228

Esta situaccedilatildeo tinha mudado completamente de figura nos finais do seacuteculo IX quando

Bizacircncio se viu obrigada a esforccedilos redobrados para se impor como talassocracia De facto e

como salienta a bizantinista Heacutelegravene Ahrweiller natildeo deixa de ser paradoxal que no iniacutecio da

dinastia Macedoacutenica apesar de os basileicircs possuiacuterem a maior marinha que o impeacuterio jaacute tinha

visto e mesmo depois de terem implementado vaacuterias reformas administrativo-militares (a

remodelaccedilatildeo dos themaacuteta mariacutetimos e a criaccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo de cargos oficiais navais)

natildeo conseguiram garantir a supremacia mariacutetima229 Teratildeo sido entatildeo o aumento da

importacircncia do controlo dos mares230 conjugado com vaacuterias derrotas navais sofridas que

justificaram o reavivar da produccedilatildeo tratadiacutestica direcionada para a guerra naval231

228 Vide cf supra 12 229 Vide AHRWEILLER H ndash Op cit p 105 230 Refletido no aumento da tonelagem dos droacutemōnes de guerra da marinha de guerra e de reformas relacionadas

com a frota imperial e temaacutetica 231 Outra inovaccedilatildeo na naumachikaacute foi o aparecimento do fogo greguecircs com os tratados a ensinarem como este

deveria ser utilizado

56

Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute

A segunda parte desta tese constitui certamente o seu cerne Optaacutemos por iniciaacute-la

com um pequeno capiacutetulo acerca da fonte em si e ainda natildeo sobre o seu conteuacutedo Sendo

assim este segmento da dissertaccedilatildeo comeccedilaraacute por tratar da autoria da dataccedilatildeo e da

motivaccedilatildeo bem como da discussatildeo daiacute resultante na medida em que isso seja pertinente No

subcapiacutetulo seguinte abordaremos a tipologia da fonte e a estrutura interna da mesma com

um breve resumo do que conteacutem cada Constitutio onde teremos em conta as disciplinas da

tratadiacutestica bizantina (que segue com alguma exatidatildeo os princiacutepios da claacutessica) Por fim

dedicaremos um subcapiacutetulo agrave histoacuteria do Taktikaacute desde a sua escrita ateacute hoje elencando os

manuscritos onde se encontra transcrito bem como as traduccedilotildees que dele foram feitas ao

longo dos tempos

41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza

As duacutevidas que se colocam acerca da identidade do autor do Taktikaacute e que existem a

propoacutesito de inuacutemeros escritos do mesmo geacutenero (como as obras atribuiacutedas ao co-imperador

Niceacuteforo II Focas232 ou mesmo a imputaccedilatildeo do Stratēgikoacuten a Mauriacutecio233) natildeo parecem

colocar-se no que diz respeito ao tratado que vamos analisar De facto as nossas pesquisas e a

anaacutelise deste manual militar permitem-nos concluir que se a escrita direta da obra natildeo

resultou das matildeos de Leatildeo VI pelo menos a sua organizaccedilatildeo e algumas das passagens

certamente tiveram essa origem Os uacutenicos obstaacuteculos existentes a esta atribuiccedilatildeo prendiam-se

com o facto de Leatildeo VI natildeo ter participado em campanhas militares o que levou muitos

historiadores a concluir que ele natildeo teria interesse por estes assuntos Esta ideia foi

entretanto contrariada por vaacuterios estudiosos como Shaun Tougher e Karlin-Hayter como jaacute

referimos que conseguiram demonstrar que o Saacutebio teve um papel preponderante na

governaccedilatildeo dos assuntos militares do seu impeacuterio mesmo raramente tendo deixado

Constantinopla234 Outros fatores dentro do tratado em apreccedilo reforccedilam esta nossa opiniatildeo

232 Para o tratado de campanhas na Bulgaacuteria o De re militaris vide COSENTINO Salvatore (2009) Writing

about War in Byzantium In ldquoRevista de Histoacuteria das Ideiasrdquo (30) Coimbra Para o Perigrave Paradromeacutes vide NISA

J (2016) ndash Op cit p60 233 Vide COSENTINO Salvatore (2009) ndash Op cit p 85 234 John Haldon refere ainda que Leatildeo VI natildeo participou ativamente em ocupaccedilotildees beacutelicas para tentar emular o

imperador Justiniano um dos principais organizadores da chamada ldquoReconquista Justinianardquo mantendo assim

grande interesse pelos assuntos militares do Impeacuterio Bizantino Vide HALDON J (2004) ndash Op cit pp 13-14

57

a identificaccedilatildeo de Leatildeo VI como basileuacutes na intitulatio235 do livro236 bem como a

identificaccedilatildeo do imperador Basiacutelio como o pai do autor237

Por outro lado indicar Leatildeo VI como autor238 eacute algo falacioso pois efetivamente

dentro do Taktikaacute verificam-se poucas entradas originais Este manual militar agrave semelhanccedila

de muitos outros bizantinos natildeo conjuga somente conteuacutedos ineacuteditos tratando-se de uma

obra que transcreve inuacutemeras passagens de diversos tratados precedentes algumas delas

adaptadas de forma a corresponder agrave realidade coeva a que satildeo acrescentadas ideias e

informaccedilotildees pertinentes pelo autor neste caso por Leatildeo VI Assim a atribuiccedilatildeo da autoria do

Taktikaacute a Leatildeo VI assenta mais na forma como ele organizou os vaacuterios excertos copiados de

tratados antecedentes e na seleccedilatildeo dos comentaacuterios morais e gnoacutemicos239

Nos uacuteltimos anos tecircm surgido vaacuterias propostas relacionadas com a data da compilaccedilatildeo

deste manual Kulakovskiy propotildee o periacuteodo cronoloacutegico entre 890-891240 Dagron sugere

895241 surgiram tambeacutem propostas para a primeira deacutecada do seacuteculo X especialmente para o

periacuteodo entre 904 e 908 algum tempo apoacutes 904 ou para depois dos anos 906 e 907242 No seu

comentaacuterio ao Taktikaacute John Haldon considera que haacute quatro elementos principais para balizar

a dataccedilatildeo deste tratado243 a utilizaccedilatildeo do termo autokraacutetor para o tiacutetulo de Leatildeo VI uma

nomenclatura que se passou a atribuir a este imperador a partir de 904244 passagens

relacionadas com o conflito bizantino-buacutelgaro de 894245-896246 ainda com utilidade mais

contestaacutevel a referecircncia ao Taktikaacute com o termo Proacutecheiros Noacutemos que se reporta a um

coacutedigo juriacutedico escrito anteriormente ao tratado247 e por fim uma passagem248 vista como

algo emocional249 relacionada com a traiccedilatildeo de strateacutegoi mas que pode aludir a niacutevel mais

pessoal agrave deserccedilatildeo para os Aacuterabes do strategoacutes Androacutenico Ducas e do filho Constantino em

235 Voltaremos a referi-nos a este ponto quando falarmos da estrutura da obra 236 Vide Anexo VIII f) 237 Vide Anexo VIII g) 238 No sentido de produtor de uma obra completamente original 239 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 25 240 Kulakovskij J (1898) Lev Mudryj ili Lev Isavr byl avtorom lsquoTaktikirsquo In Vizantiiskii Vremmenik 5 pp

400-401 Apud HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 241 Vide DAGRON Gilbert (1983) Byzance et le modegravele islamique au Xe siegravecle A propos des Constitutions

tactiques de lempereur Leacuteon VI In Comptes rendus des seacuteances de lAcadeacutemie des Inscriptions et Belles-

Lettres ano 127 nordm 2 p 219 242 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 243 Vide Idem Ibidem pp 59-61 244 Vide Idem Ibidem p 60 245 Vide Anexo VIII e) 246 Vide Anexo VIII b) 247 A contestaccedilatildeo referente a este ponto eacute feita devido a duacutevidas da dataccedilatildeo desta obra alguns autores atribuem

uma dataccedilatildeo para a deacutecada de 70 do seacuteculo IX outros para o ano de 907 Vide Idem Ibidem pp 60-61 248 Vide Anexo VIII j) 249 Vide Idem Ibidem p61

58

905 e posterior regresso deste uacuteltimo em 908250 Todos estes fatores levam-nos a crer que este

tratado (ou a sua versatildeo final) teraacute sido concluiacutedo no seacuteculo X

Eacute importante referir e voltaremos ao assunto mais adiante que o Taktikaacute teve vaacuterias

fases de produccedilatildeo que se refletiram em conteuacutedos novos temaacuteticas distintas e ateacute certas

alteraccedilotildees na motivaccedilatildeo da escrita do tratado Voltaremos a este ponto quando evocarmos um

pouco da histoacuteria do tratado desde a sua escrita ateacute hoje

Por fim resta-nos discutir uma questatildeo qual foi a motivaccedilatildeo por detraacutes da escrita do

tratado Ateacute muito recentemente inuacutemeros especialistas acreditavam baseando-se num dos

seus segmentos251 que o principal motivo para a escrita do Taktikaacute era este servir como

resposta agrave ameaccedila que os Aacuterabes protagonizavam no reinado de Leatildeo VI chegando-se a

afirmar de uma forma laquogeralmente aceiteraquo (de acordo com J Haldon) que o tratado fora

escrito especificamente por causa dos Muccedilulmanos e da sua religiatildeo252 De facto e como bem

salienta Gilbert Dagron253 o tratado refere duas carateriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos

Aacuterabes contra Bizacircncio o facto de ter uma orientaccedilatildeo religiosa que noacutes conhecemos como

jihad e que impelia um grande nuacutemero de voluntaacuterios fervorosos a pegar em armas os

chamados ghazi mas que concomitantemente atribuiacutea grande prestiacutegio e especialmente

lealdade a quem comandasse a guerra em nome do Islatildeo254 e a influecircncia da guerra na

estrutura social do mundo muccedilulmano (geograficamente proacuteximo de Bizacircncio)255

Sobre este uacuteltimo ponto Dagron256 refere que os exemplos principais desta praacutetica

eram a organizaccedilatildeo dos al-thugucircr o sistema militar na fronteira do Califado mais organizado

e sofisticado alguma vez criado pelos califas de acordo com Hugh Kennedy257 que seria mais

tarde herdado pelos emirados da Ciliacutecia da Armeacutenia e da Siacuteria e que persistiria ateacute agrave queda

do uacuteltimo thugucircr Antioquia agraves matildeos de Niceacuteforo II Focas (em 969) a existecircncia dos jaacute

referidos ghazi e o apoio providenciado pelas doaccedilotildees caridosas islacircmicas as waqf agrave causa

das campanhas (e dos soldados nela envolvidos) realizadas em nome da religiatildeo

No entanto Haldon natildeo concorda plenamente com esta visatildeo pois defende que no

excerto usado para apontar as questotildees relacionadas com a ameaccedila sarracena como principal

250 O pai entretanto havia morrido no Califado 251 Anexos VIII h) e i) 252 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p22 253 Vide DAGRON Gilbert ndash Op cit p22 254 Ateacute ao decliacutenio do Califado Abaacutessida a organizaccedilatildeo das expediccedilotildees de Veratildeo a territoacuterio bizantino as saifa

era uma tarefa tatildeo importante no sentido ritual e espiritual como a preparaccedilatildeo da peregrinaccedilatildeo anual a Meca a

hajj Vide KENNEDY Hugh (2001) The Armies of the Caliphs Military and Society in the Early Islamic State

Londres e Nova Iorque Routledge p 106 255 Vide Anexos VIII k) 256 DAGRON G ndash Op cit p 221 257 HALDON J e KENNEDY H ndash Op cit p 106

59

motivo para a escrita do Taktikaacute258 natildeo se indica uma razatildeo para a escrita do tratado em si

mas sim da Constitutio onde se encontra presente ou ateacute apenas para aquela secccedilatildeo da

mesma259 No seu comentaacuterio Haldon defende ainda que apesar de grande parte do conteuacutedo

sobre os Aacuterabes jaacute estar presente na versatildeo original do tratado a maior parte dos comentaacuterios

relacionados com eles bem como as preocupaccedilotildees do basileuacutes manifestadas com o seu

inimigo daquele tempo seratildeo uma adiccedilatildeo posterior ao tratado260 Ainda que natildeo se trate de

um dos motivos principais para a escrita do Taktikaacute estas adendas satildeo uma das componentes

mais importantes e originais do tratado e teratildeo sido ativadas a nosso ver pelos desaires que

Bizacircncio sofreu agraves matildeos dos Aacuterabes especialmente no contexto da guerra naval e talvez de

preponderante importacircncia pelo saque de Tessaloacutenica a segunda maior cidade do impeacuterio

por dois corsaacuterios muccedilulmanos (ainda por cima de origem bizantina) em 904

Posto isto quais satildeo as motivaccedilotildees originais De acordo com Haldon o Taktikaacute

configura laquouma tentativa de legislar a guerra como uma atividade que cai sob a sua supervisatildeo

e autoridade tal como jaacute tinha feito em outras esferasraquo261 bem como um guia para uma

conduta moral cristatilde da guerra na lealdade a laquoDeus e ao imperador escolhido divinamenteraquo

Assim sendo a principal motivaccedilatildeo do basileuacutes na ediccedilatildeo deste tratado eacute a necessidade de

incutir nos seus generais um certo fervor religioso (embora natildeo tatildeo fanaacutetico quanto o dos

muccedilulmanos) bem como a lealdade ao imperador que se viu perante vaacuterios traidores ao

longo do seu reinado os quais lhe provocaram grande maacutegoa tal como as traiccedilotildees de

Androacutenico Ducas e do filho mais tardias que o afligiram pessoalmente262 Eacute destes uacuteltimos

pontos que se deve apurar o teor de obrigatoriedade na leitura do Taktikaacute aos strategoacutei

incutida por Leatildeo VI e natildeo nos aspetos praacuteticos desta obra

Por sua vez o Taktikaacute natildeo deve ser considerado como um manual militar per se uma

vez que os seus destinataacuterios (isto eacute os strateacutegoi do impeacuterio) tinham muito mais experiecircncia

do que Leatildeo VI no que toca aos aspetos praacuteticos e teacutecnicos da guerra263 Esta opiniatildeo no que

respeita agrave questatildeo religiosa eacute apoiada tambeacutem por Meredith Riedel da Universidade de

Duke que defende que o basileuacutes pretendeu criar uma identidade cultural bizantina assente na

258 Vide Anexo VIII h) 259 HALDON John (2014) - Op cit pp 22-23 260 Idem Ibidem p23 261 Idem Ibidem p23 262 Vide Anexo VIII j) 263 Idem Ibidem p25

60

piedade cristatilde apelando aos seus generais para que fossem o modelo ideal do bom cristatildeo ao

comando dos seus soldados os laquodefensores da Feacuteraquo264

Evocadas as principais teses cabe-nos agora tecer a nossa proacutepria apreciaccedilatildeo Apesar

daqueles pontos a nosso ver bastante vaacutelidos acreditamos que podemos acrescentar ainda um

outro motivo para a escrita deste tratado o enciclopedismo cultural Leatildeo no aspeto temporal

natildeo aparenta qualquer intenccedilatildeo de criar algo ineacutedito Na questatildeo muccedilulmana por exemplo

natildeo apresenta soluccedilotildees originais de cariz taacutetico ou estrateacutegico Isto parece-nos natural pois

apesar do seu visiacutevel interesse pelas questotildees de iacutendole militar e a sua dedicaccedilatildeo ao tomar

conta dos assuntos de governaccedilatildeo militar do Impeacuterio Romano este basileuacutes nunca comandou

campanhas militares na frente de guerra contentando-se em liderar a resposta estrateacutegica agraves

ameaccedilas de que o Impeacuterio sofria Parece-nos possiacutevel conjugar este interesse do imperador

com um interesse renovado pela cultura claacutessica que comeccedilou a surgir em Bizacircncio a partir do

iniacutecio do reinado de Basiacutelio I uma vez que Leatildeo VI condensou muita informaccedilatildeo da

tratadiacutestica militar antiga no Taktikaacute Por outro lado eacute importante recordar que o basileuacutes

encomendara tambeacutem a um dos seus domestikoacutes Leatildeo Katakalon um tratado sobre as

expediccedilotildees militares exatamente aquilo que natildeo estaacute presente no Taktikaacute265 cuja versatildeo

incompleta teraacute sido aproveitada mais tarde por Constantino VII266 Isto demonstra que o

Saacutebio apesar de natildeo participar na guerra se sentia muito atraiacutedo por estes assuntos o que o

teraacute levado a organizar uma obra que refletisse a forma como a guerra era feita no seu tempo

O que se tivermos em conta a dataccedilatildeo duvidosa do Compecircndio de Siriano (seacutec VI IX ou X)

teraacute sido a primeira versatildeo atualizada do geacutenero267 em quase dois seacuteculos

Assim na nossa opiniatildeo parece-nos possiacutevel concluir que o Taktikaacute deve ser exposto

natildeo soacute como um manual militar mas tambeacutem como um documento cujos propoacutesitos

principais natildeo eram praacuteticos O primeiro seria de iacutendole religiosa-legislativa e tencionava de

certo modo consolidar uma filosofia de guerra cristatilde (natildeo estamos a falar de guerra santa) em

que a piedade e o caraacuteter do general (devia ser bom inteligente leal entre outros atributos)

eram fatores tatildeo importantes para a vitoacuteria militar como a taacutetica a estrateacutegia ou os ardis Mais

tarde com o reafirmar da ameaccedila aacuterabe este propoacutesito saiu reforccedilado com a intenccedilatildeo do

basileuacutes em encontrar uma soluccedilatildeo espiritual e natildeo temporal para fazer frente agrave jihad

264Vide RIEDEL Meredith The Sacrality of a Sovereign Leo VI and Politics in Middle Byzantium p8 in

httpswwwacademiaedu3831861The_Sacrality_of_a_Sovereign_Leo_VI_and_Politics_in_Middle_Byzantiu

m Consultado agraves 330 do dia 4 de outubro de 2017 265 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p76 266 Vide TOUGHER S ndash Op cit p16 267 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 21

61

O outro propoacutesito eacute cultural baseando-se natildeo soacute no chamado laquoRenascimento

Macedoacutenicoraquo que comeccedilou a crescer exponencialmente neste periacuteodo mas tambeacutem no

interesse de Leatildeo VI pelas questotildees militares Estes dois fatores em conjunto com o

enciclopedismo caracteriacutestico do Saacutebio motivaram-no tambeacutem a escrever um tratado onde

combinava o conhecimento dos antigos com a experiecircncia dos seus generais de forma a

reportar a forma como os exeacutercitos ditos temaacuteticos praticavam a guerra ao que acrescentou

alguns comentaacuterios pessoais relacionados com a retoacuterica da guerra em especial na vertente

religiosa Na nossa visatildeo eacute desta forma que o tratado deve ser visto um manual militar que

visava conservar e atualizar a informaccedilatildeo pertinente agraves praacuteticas da guerra ao mesmo tempo

que impulsionava os seus destinataacuterios os strateacutegoi a seguirem um coacutedigo eacutetico moralmente

bom e de base religiosa que ndash segundo Leatildeo VI ndash acabaria por os conduzir agrave vitoacuteria

42 ndash Estrutura interna da fonte

Na sua organizaccedilatildeo o Taktikaacute apresenta-se como um conjunto de Constitutiones ou

seja como um conjunto de decretos imperiais direcionados a um oficial ou a algueacutem que

estivesse encarregado de um qualquer posto estatal268 o que condiz com o objetivo principal

deste manual de legislar a guerra sob a autoridade imperial De facto o proeacutemio269 que

inaugura este tratado encontra-se modelado de forma muito semelhante aos que servem como

introduccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo imperial particularmente o do Proacutecheiros Noacutemos seguindo um

formato proacuteprio que pertence ao chamado laquomodelo tripartidoraquo a invocatio a intitulatio e a

inscriptio270 Desta forma o proeacutemio do Taktikaacute comeccedila com uma invocatio nomeadamente agrave

Sagrada Trindade seguido de uma intitulatio com o nome e os tiacutetulos do imperador Do

modelo tripartido a uacutenica coisa que falta eacute a inscriptio porque o tratado natildeo se dirige a um

general em especial mas sim ao conjunto dos strateacutegoi271

No Proacutelogo segue-se o corpo principal da ldquolegislaccedilatildeordquo constituiacutedo por trecircs partes a

narratio a dispositio e o epilogus A narratio272 do Taktikaacute ocupa os espaccedilos entre as linhas

25 e 54 do Proacutelogo e relata o problema e a forma como este chegou agrave atenccedilatildeo imperial273

Leatildeo VI diz enfrentar o facto de os comandantes bizantinos se terem esquecido

completamente das miacutenimas noccedilotildees de estrateacutegia e de taacutetica Este efeito teraacute sido causado pela

268 Vide LUTTWAK Edward N (2009) The Grand Strategy of the Byzantine Empire Cambridge e Londres

The Belknap Press of Harvard University Press p 305 269 Prefaacutecio 270 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 121 271 Vide Anexos VIII f) 272 Secccedilatildeo onde eacute abordado o problema que a legislaccedilatildeo quer resolver 273 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121

62

negligecircncia dos ensinamentos dos antigos pela timidez dos seus generais ou pela falta de

treino e cobardia dos soldados bizantinos Ora de acordo com o autor isto teraacute levado os

Romanos a perder o favor divino e a aura de triunfo militar que tanto emanava deste povo274

Posteriormente o autor propotildee as medidas com as quais vai enfrentar o problema na

dispositio275 que estaacute entre as linhas 55-89276 A soluccedilatildeo que Leatildeo apresenta eacute a ediccedilatildeo de um

pequeno manual militar para que citamos os que laquodesejam comandar tropas possam ter

raacutepido acesso a uma vasta reserva de experiecircncia no que respeita a combate e a campanhas

militaresraquo277 Nesta obra juntam-se os dados das fontes antigas (eliminando aqueles acerca de

formaccedilotildees que considera obsoletas ou natildeo claramente descritas e traduzindo os termos em

Latim para Grego) que considera mais uacuteteis na praacutetica da guerra bem como laquoa limitada

experiecircnciaraquo dos seus generais numa linguagem laquopraacutetica clara (hellip) e simplesraquo278 O Proacutelogo

conclui com um epilogus279 que indica os conteuacutedos (pela forma como estatildeo ordenados) que

vatildeo ser abordados no manual280

Apoacutes esta breve anaacutelise do Proacutelogo e da sua natureza legislativa procedemos a uma

raacutepida enumeraccedilatildeo das Constitutiones da ordem em que se encontram dispostas e dos seus

conteuacutedos Como jaacute se avisou o Taktikaacute possui duas versotildees integrais tendo uma estrutura

diferente em cada uma delas A versatildeo mais antiga estaacute no coacutedice Mediceo-Laurentianus

graecus 554 e encontra-se dividida em 16 constitutiones seguidas por um conjunto de

maacuteximas um epiacutelogo e trecircs tratados sobre ataques surpresa poliorceacutetica e guerra naval281

Por sua vez no coacutedex Vindobonensis phil graecus 275 as secccedilotildees que natildeo faziam

inicialmente parte do tratado satildeo incluiacutedas e ordenadas dentro deste da seguinte forma

Constitutio XIV ndash O Dia de Batalha Constitutio XV ndash Guerra de Cerco Constitutio XVI ndash O

Dia a seguir agrave batalha Constitutio XVII ndash Ataques Surpresa Constitutio XVIII ndash Costumes

de Diferentes Naccedilotildees Constitutio XIX ndash Guerra Naval Constitutio XX ndash laquoMaacuteximas

Concisasraquo Epiacutelogo De acordo com G Dennis eacute este o manuscrito que segue a ordem do

Proacutelogo282

O que podemos dizer em relaccedilatildeo agrave estrutura Desde jaacute que se encontra dividida de

uma forma temaacutetica e extremamente bem planeada O autor comeccedila por um capiacutetulo

274 Vide Anexos VIII l) 275 Vide Idem Ibidem p 121 276 Vide Anexos VIII m) 277 Vide DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 6-7 278 Vide Idem Ibidem pp 6-7 279 Vide Anexos VIII n) 280 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121 281 DENNIS G T (2014) ndash Op cit p x 282 Idem Ibidem p x

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introdutoacuterio (Const I) onde define o que satildeo laquotaacuteticasraquo a forma como a guerra deve ser

preparada que tipos de unidades envolve (cavalaria infantaria marinha) e o general

(strategoacutes) em si o que eacute o que o deve caracterizar e quais satildeo os seus objetivos Leatildeo fala

destas questotildees de forma mais detalhada no capiacutetulo seguinte (Const II) que se chama

laquoSobre as Qualidades Requeridas num Generalraquo Na Constitutio III explica ao general de que

forma ele deve fazer os planos como deliberar e em que pessoas deve confiar

Eacute no quarto capiacutetulo (Const IV) que o Taktikaacute se comeccedila a debruccedilar sobre as questotildees

relativas agrave preparaccedilatildeo da guerra que homens se devem escolher para o exeacutercito e como

colocaacute-los em cada uma das suas divisotildees quem deve ser escolhido para oficial de que forma

a hierarquia militar estaacute dividida e o que compete a cada um dos seus membros e os nuacutemeros

e formas em que cada divisatildeo devia estar organizada Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre

armamento (Const V) que natildeo eacute mais que uma lista de todo o tipo de armas ofensivas e

defensivas ferramentas logiacutesticas maacutequinas de cerco e seu material de apoio transportes

fluviais animais para montar e bestas de carga entre outros conselhos p ex sobre a

importacircncia de um almirante ter navios prontos para as mais diversificadas funccedilotildees A secccedilatildeo

seguinte (Const VI) trata de forma detalhada que equipamento e armamento cada homem

deve ter (organizando no fundo o que tinha sido exposto no capiacutetulo anterior) em funccedilatildeo da

sua tipologia (oficial cavalaria infantaria pesada infantaria ligeira e apoio logiacutestico) seguido

de uma Constitutio (VII) sobre a forma como o treino de cavalaria e infantaria deve ser feito

O conjunto de capiacutetulos seguintes eacute inaugurado por um segmento acerca de puniccedilotildees

militares (Const VIII) que relata vaacuterios crimes e malfeitorias e a respetiva puniccedilatildeo As

Constitutiones que se lhe seguem aludem a questotildees logiacutesticas Marchas (Const IX) Trem-

de-apoio (Const X) e Acampamentos (Const XI) Ateacute aqui os capiacutetulos podem ser inseridos

(salvo alguns segmentos excecionais como as Constitutiones relativas a armamento e treino)

na disciplina da strategikaacute

A partir daqui a taktikaacute vai ocupar uma grande parte do tratado comeccedila com uma

Constitutio (XII) sobre a preparaccedilatildeo para o combate onde se volta a referir um grande

nuacutemero de exerciacutecios taacuteticos incluindo sinaleacutetica e comandos vocais A secccedilatildeo seguinte

(Const XIII) aborda o que deve ser feito imediatamente antes do combate nomeadamente

formas de levantar a moral e distribuiccedilatildeo de mantimentos e vinho A Constitutio XIV refere o

que deve ser feito na batalha envolvendo um grande nuacutemero de formaccedilotildees movimentaccedilotildees

taacuteticas e estratagemas Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre a poliorceacutetica (Const XV) nas

suas duas vertentes ofensiva e defensiva Por fim o capiacutetulo XVI debruccedila-se sobre o que

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deve ser feito no final da batalha accedilatildeo de graccedilas a Deus reparticcedilatildeo dos despojos tratamento

de prisioneiros entre outros

A Constitutio XVII estaacute inserida na strategemataacute pois frisa os embustes a guerra de

guerrilha e os meios de contrariar ataques-surpresa adversaacuterios ou de limitar os ganhos do

rival Segue-se um capiacutetulo (Const XVIII) que expotildee a forma como os Romanos devem fazer

a guerra contra os seus adversaacuterios enfatizando o armamento os haacutebitos e as formaccedilotildees

proacuteprias destes em especial dos Aacuterabes A naumachikaacute forma uma secccedilatildeo uacutenica (Cons XIX)

e o uacuteltimo capiacutetulo (Const XX) reuacutene um conjunto de maacuteximas militares que pretendem no

fundo resumir o que foi tratado ao longo do Taktikaacute Por fim o Epiacutelogo estaacute dividido em trecircs

partes uma claramente religiosa que aborda a relaccedilatildeo entre Deus e a Humanidade uma

segunda que reuacutene as principais noccedilotildees de cada Constitutio que compotildeem a obra finalmente

exorta-se o strategoacutes a seguir os preceitos do Taktikaacute (ainda que de um modo flexiacutevel)

referindo tambeacutem como motivo principal para a escrita deste manual a ameaccedila sarracena283 O

tratado encerra com um Amen o que alude agrave possiacutevel dimensatildeo (e intento) religioso que o

autor teria porquanto enfatiza a autoridade tanto legislativa como divina do autokraacutetor284

Como conclusatildeo a este subcapiacutetulo resta-nos situar aqui as afirmaccedilotildees de Meredith

Riedel que defende que o Taktikaacute eacute tambeacutem uma laquoteia de ligaccedilotildeesraquo onde a informaccedilatildeo de

uma Constitutio complementa os dados de outra A historiadora utiliza ainda alguns exemplos

como o facto de a Constitutio XX e o Proacutelogo partilharem a mesma foacutermula teoloacutegica

enquanto a Constitutio II e o Epiacutelogo apresentam informaccedilotildees diferentes mas

complementares acerca do tipo de pessoa que o general deveria ser285

43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees

O percurso histoacuterico do Taktikaacute comeccedila obviamente no seu aparecimento durante o

reinado de Leatildeo VI na passagem do seacuteculo IX para o X Depois disto verificamos que este

manual foi copiado e incluiacutedo em trecircs famiacutelias de manuscritos compiladas entre

aproximadamente 950 e 1050 dC Dentro do corpo de manuscritos mais antigos verifica-se

a existecircncia de coacutepias do Taktikaacute em dois documentos Uma transcriccedilatildeo deste manual estaacute

inserida no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 uma compilaccedilatildeo de tratados militares

gregos datada dos meados do seacuteculo X possivelmente de pouco antes da morte de

283 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit pp 443 e 444 284 Idem Ibidem p 444 285 Vide RIEDEL M ndash Op cit p 5

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Constantino VII Porfirogeneta em 959 Como jaacute foi referido286 a coacutepia do Taktikaacute neste

corpus (que comeccedila no foacutelio 281 em 404) possui 16 constitutiones a que se seguem o

epiacutelogo uma coleccedilatildeo de maacuteximas e trecircs tratados sobre strategemataacute poliorketikaacute e

naumachikaacute287 Estes segmentos em separado vatildeo ser compilados e organizados no corpo

principal do tratado no outro coacutedice o Vindobonensis phil graecus 275 (que tambeacutem faz

parte desta famiacutelia de textos) Esta versatildeo da obra trata-se ainda de uma versatildeo expandida

daquela inserida no Mediceo-Laurentianus pois possui um conjunto de comentaacuterios nas

margens que pretendem clarificar certos termos do texto288 No entanto esta transcriccedilatildeo

apresenta algumas partes em falta das quais John Haldon realccedila a abertura do proeacutemio a

integralidade do Epiacutelogo e a maior parte da Constitutio XX289

A segunda famiacutelia de manuscritos estaacute datada para a segunda metade do seacuteculo X e eacute

inaugurada pelo coacutedex Ambrosianus B 119 A versatildeo do Taktikaacute neste corpus (que comeccedila no

foacutelio 189 em 347) natildeo deve no entanto ser tratada como uma coacutepia integral mas sim como

uma paraacutefrase onde vaacuterias palavras se encontram transpostas De acordo com George Dennis

a utilidade deste texto para a traduccedilatildeo do Taktikaacute prende-se apenas com o facto de

providenciar certos segmentos de texto completos ou corretos que natildeo figuram desse modo no

Mediceo-Laurentianus graecus 554 Esta transcriccedilatildeo apresenta ainda uma estrutura diferente

das anteriores estando a Constitutio XX original ordenada como sendo a XIX uma vez que o

capiacutetulo que se ocupa da Naumachikaacute eacute considerado neste corpus como um tratado

independente290 que inaugura uma secccedilatildeo acerca dessa disciplina da tratadiacutestica291

Por uacuteltimo a terceira famiacutelia eacute aquela que inclui o maior nuacutemero de manuscritos mas

dentro destes apenas trecircs satildeo importantes para a traduccedilatildeo e o estudo do texto o coacutedice

Vaticanus graecus que conteacutem uma versatildeo incompleta do Taktikaacute que comeccedila na Constitutio

V a laquocombinaccedilatildeoraquo (mal separada) do Parisinus graecus 2442 e do Barberinianus graecus II

97 e por fim o manuscrito que resulta da conjugaccedilatildeo do Neapolitanus graecus 284 e do

Scorialensis graecus Y-III-11 Estes trecircs textos tiveram origem no scriptorium de Ephraim

em Constantinopla292

286 Cf supra 42 287 Vide DENNIS G (2014) ndash Op cit px 288 Idem Ibidem p xi 289 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 56 290 Batizado de Ναυμαχικὰ Λέοντος βασιλέως (a Naumachikaacute do basileuacutes Leatildeo) cf Idem Ibidem p 389 291 Por ordem estatildeo nesta secccedilatildeo os seguintes tratados (ou excertos de) a Constitutio XIX seis paraacutegrafos do

Taktikaacute uma secccedilatildeo do Stratēgikoacuten acerca da travessia de rios o Naumachiacuteai de Siriano e por fim o

Naumachikaacute do parakoimṓmenos Basiacutelio datado dos finais dos anos 50 do seacuteculo X cf Idem Ibidem p389 292 Vide Idem Ibidem p 58

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Durante o seacuteculo XVI mais precisamente em 1552 foram impressas algumas paacuteginas

da Constitutio IV que estavam no coacutedice Monacensis graecus 244 em Veneza293 Deste

seacuteculo existem ainda mais alguns manuscritos que contecircm partes ou coacutepias completas do

tratado mas como Dennis294 natildeo os considera pertinentes ou particularmente uacuteteis para um

estudo ou uma reconstituiccedilatildeo do texto original tambeacutem natildeo seratildeo mencionados aqui295

A primeira versatildeo completa da obra foi publicada na cidade de Leyden em 1612 por

Joanes Meurs mais tarde corrigida e comparada com o texto presente no Mediceo-

Laurentianus e publicada em 1745 na cidade de Florenccedila por J Lami Uma coacutepia desta

ediccedilatildeo foi incluiacuteda na Patrologia graeca de J P Migne compilada entre 1857-1861 Mais

tarde o tradutor huacutengaro Rudolfi Vaacuteri publicou a primeira ediccedilatildeo criacutetica do Taktikaacute em dois

volumes296 onde estavam presentes apenas as Constitutiones entre o Proacutelogo (inclusive) e a

Constitutio XIV (nesta o texto ia ateacute agrave linha 228) e mais tarde a Constitutio XVIII bem

como uma traduccedilatildeo huacutengara297 da mesma298

Por fim natildeo podiacuteamos deixar de referir a primeira traduccedilatildeo e criacutetica do Taktikaacute em

inglecircs realizada pelo Padre George T Dennis e publicada em 2010 que conteacutem tambeacutem o

texto original organizado de acordo com o Vindobonensis phil graecus 275 Posteriormente

em 2014 esta publicaccedilatildeo acabaria por ser reeditada299 tendo-se procedido agrave correccedilatildeo de

alguns erros do livro original Esta ediccedilatildeo revista da traduccedilatildeo do Padre Dennis foi

acompanhada no mesmo ano por um livro de John Haldon com comentaacuterios agrave obra300 o qual

contribuiu decisivamente para o enriquecimento da traduccedilatildeo

293 DENNIS G (2014) ndash Op cit p xiii 294 Idem Ibidem p xii 295 Um dos transcritores do texto Vaacuteri teraacute contado cerca de 88 manuscritos Vide VAacuteRI Rudolfi (ed) (1917-

1922) Leonis imperatoris tactica Sylloge Tacticorum Graecorum 3 Budapeste pp 1xv-xxix Apud DENNIS

G (2014) ndash Op cit p xii 296 Denominada ldquoLeonis imperatoris taacutecticardquo 297 A referecircncia bibliograacutefica desta traduccedilatildeo eacute VAacuteRI Rudolfi (1900) Boles Leo Hadi Taktikajanak XVIII

Fejezete In PAULER G e SZILAacuteGYI S (ed) A Magyar Honfoglalas Kutfoi [As fontes da conquista

huacutengara] Budapeste pp 3-89 Apud DENNIS G (2014) ndash Op cit p xii 298 Cf Idem Ibidem p xiii 299 Cf Idem Ibidem p vii 300 O ldquoA Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo jaacute referido nesta dissertaccedilatildeo

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Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general

laquoA ciecircncia da estrateacutegia consiste na praacutetica conjunta de bons generais ou seja (eacute) o

estudo e exerciacutecio atraveacutes de estratagemas ou mesmo da recolha dos siacutembolos da vitoacuteriaraquo

(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio 1 linhas 7-8301)

O tratado de Leatildeo VI inicia o seu percurso com um conjunto de preceitos estrateacutegicos

relacionados com o general (Const I e II) a importacircncia de deliberaccedilatildeo e de um bom

planeamento (Const III) as divisotildees do exeacutercito bizantino oficiais e outros encargos no

periacuteodo de escrita do tratado (Const IV) as puniccedilotildees militares e os toacutepicos da logiacutestica -

ordens de marcha trens-de-apoio e acampamentos (Const VIII-XI)

Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir este capiacutetulo de acordo com os temas

relacionados com esta disciplina claacutessica No primeiro ponto vamos abordar a figura do

general a forma como Leatildeo VI o idealizava e de que maneira eacute que esse cariz tinha realmente

influecircncia no combate De seguida observaremos o exeacutercito bizantino no Taktikaacute a forma

como se encontrava estruturado o perfil dos recrutas os seus oficiais entre outros Por fim

vamos observar questotildees de acircmbito logiacutestico entre as quais movimentaccedilotildees de exeacutercitos

organizaccedilatildeo de trens-de-apoio construccedilatildeo de acampamentos

51 ndash O strategoacutes de Leatildeo

laquoO general eacute a pessoa que depois do imperador tem mais autoridade do que

qualquer outra no conjunto da proviacutencia subordinada a ele O general eacute o chefe do

theacutema militar sob o seu comandoraquo

(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio I linhas 28-30)

O strategoacutes eacute o ponto fulcral do manual militar e eacute sem duacutevida o destinataacuterio deste

coacutedigo legislativo Atrevemo-nos a dizer que se o proeacutemio do Taktikaacute possuiacutesse uma

inscriptio quem laacute estaria designado seriam os generais do Impeacuterio Bizantino ndash os strateacutegoi

dos themaacuteta Na nossa opiniatildeo eacute claro (talvez oacutebvio) os generais ndash ou quem desejasse

comandar tropas ndash serem o ldquopuacuteblico-alvordquo desta produccedilatildeo militar Afinal eram estes oficiais a

mente do exeacutercito encarregados de tomar as decisotildees que ditavam a vitoacuteria ou a derrota

dentro ou fora do campo de batalha Tatildeo importante como estes fatores era a condiccedilatildeo do

301 Para o grego vide DENNIS George T (2014) ndash Op cit p 12 Sobre a maneira como a traduccedilatildeo inglesa

deste excerto deve ser feita vide HALDON J (2014) ndash Op cit p129

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general como exemplo para os homens sob o seu comando ou como forccedila de oposiccedilatildeo aos

viacutecios mais destrutivos do homem (como a ganacircncia)

Logo na sua primeira Constitutio o basileuacutes esboccedila o perfil do homem que quer ao

comando das suas forccedilas saacutebio corajoso justo discreto302 e leal303 Na Constitutio seguinte

acrescenta mais algumas qualidades serem autocontrolados no que toca aos seus viacutecios terem

um modo de vida frugal serem incansaacuteveis304 gentis mas natildeo lenientes para com os seus

soldados exigentes mas natildeo demasiado severos305 Neste uacuteltimo aspeto o imperador defende

que o general deve ser amado pelos seus soldados306 pois tal efeito motivaacute-los-aacute a obedecer agraves

ordens dele mais rapidamente e a lutarem com mais fervor a seu lado307

A justiccedila a gentileza e a humildade revelam-se nas palavras do imperador no capiacutetulo

sobre guerra de cerco sendo cruciais apoacutes a tomada de um siacutetio fortificado Leatildeo VI defende

que as populaccedilotildees devem ser tratadas daquela forma para que aceitem os seus

conquistadores citando os feitos de Niceacuteforo Focas O Velho O reputado strategoacutes teraacute

conquistado os Lombardos natildeo soacute pela forccedila das armas mas tambeacutem pelo seu caraacuteter quando

tratou com justiccedila os habitantes das povoaccedilotildees da Calaacutebria os isentou de impostos e os salvou

da escravidatildeo308 Por outro lado recordamos a perda de Benevento pelos Bizantinos em

895309 que teratildeo sido traiacutedos pela populaccedilatildeo depois de a terem oprimido e maltratado

Para o autor a inteligecircncia constitui uma virtude quase sem paralelo em todas as suas

vertentes (perspicaacutecia arguacutecia eloquecircncia entre outros) como se vecirc no seguinte excerto

laquoQuando se trata dos prazeres do corpo ele deve praticar o autocontrolo Mas nos

aspetos da mente ele eacute insaciaacutevel e nunca fica satisfeito nos seus esforccedilos de praticar accedilotildees

bem-sucedidas Quando a situaccedilatildeo ainda natildeo eacute clara ele apercebe-se do que tem de ser feito

Inteligente e perspicaz ele estaacute sempre certo quando avalia o que estaacute escondido naquilo que

estaacute visiacutevel Ele eacute experiente em armar e formar o seu exeacutercito em posiccedilotildees de batalha As

suas palavras satildeo capazes de ressuscitar o moral do exeacutercito quando estaacute baixo preenchecirc-lo

com boas expectativas e preparaacute-lo para enfrentar perigos Ele deve ser muito rigoroso no que

302 Vide Anexo VIII q) 303 Vide Anexo VIII j) 304 Taktikaacute II3-10 305 Taktikaacute II131-136 Esta secccedilatildeo eacute uma paraacutefrase de Onasandro vide Onasandro Strategikoacutes II (a partir de

agora as referecircncias desta obra vatildeo passar a ser feitas da seguinte forma Onas livro) 306 Devendo fazer por ter uma relaccedilatildeo paternal com eles e ateacute viver comcomo eles Taktikaacute XX36-37

paraacutegrafo que acusa influecircncia do Stratēgikoacuten VIII1(3) ndash que por sua vez a fora buscar a Onas I 307 Taktikaacute II46-50 308 Taktikaacute XV201-206 309 Cf supra 22 natildeo tivemos acesso agrave fonte lombarda pelo que remetemos para Giorgio Ravegnani de onde

obtivemos esta informaccedilatildeo em primeiro lugar Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p160

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toca a acordos ou promessas natildeo ser demovido por bons falantes que o querem afastar do seu

deverraquo310

A capacidade de decisatildeo eacute outra valecircncia fundamental para um general para que ele

evite grandes riscos em certas accedilotildees311 Este ponto eacute reforccedilado na Constitutio III ndash laquoSobre

como eacute necessaacuterio fazer planosraquo ndash num capiacutetulo onde Leatildeo exorta o general a ter cabeccedila fria e

a ser cuidadoso nas suas decisotildees312 mas tambeacutem a ser prudente na escolha dos seus

conselheiros313 Em relaccedilatildeo ao processo deliberativo o autor aconselha o general a manter

uma postura imparcial no que respeita ao que possa estar associado agrave accedilatildeo em causa a

preservar a mente aberta relativamente a todas as possibilidades que possam desbloquear o

plano e particularmente a ser determinado na altura de agir314

Leatildeo no entanto natildeo se prende a questotildees apenas relacionadas com as virtudes de um

general na altura de o escolher Salienta tambeacutem razotildees de natureza econoacutemica familiar ou

de forma fiacutesica que podem ter importacircncia na altura de selecionar algueacutem para o cargo de

strategoacutes Nas valecircncias sociais o autokraacutetor confessa a sua preferecircncia por generais que

tenham famiacutelia sejam ricos e pertenccedilam a uma boa linhagem desde que claro cumpram os

requisitos das virtudes315 Por outro lado admite que homens pobres e de origens humildes

tambeacutem tecircm direito a ocupar esta funccedilatildeo316 desde que mostrem habilidade e probidade

Em termos de idade Leatildeo informa-nos que os melhores generais satildeo aqueles que jaacute

possuem alguma experiecircncia militar evidenciando boa forma fiacutesica317 De outra maneira nas

palavras do imperador seratildeo criados strateacutegoi com boa laquomente deficitaacuteria em forccedila fiacutesicaraquo ou

com laquoforccedila desprovidos de inteligecircnciaraquo e qualquer uma destas foacutermulas natildeo resultaraacute em

nada de produtivo e natildeo seraacute capaz de gerar algum feito proveitoso318

Por fim o strategoacutes deve-se preocupar em estar nas graccedilas de Deus em cumprir os

seus mandamentos e em amaacute-Lo arguindo que qualquer plano ou taacutetica soacute teraacute sucesso se o

general contar com a providecircncia divina O autor remata esta questatildeo comparando um general

310 Taktikaacute II120-128 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 311 Taktikaacute II183-184 312 O processo de planeamento deve decorrer durante algum tempo a natildeo ser que seja necessaacuterio tomar accedilatildeo

imediata vide Taktikaacute III 41-42 Influecircncia principal em Stratēgikoacuten II e VIII1(5) e em Onas III 313 Leatildeo refere duas categorias preferenciais para essa escolha uma primeira de tipo militar onde aconselha o

general a pedir opiniotildees aos turmarcas e oficiais que se seguem na hierarquia em segundo a niacutevel psicoloacutegico

onde a escolha deve recair sobre sujeitos experientes perspicazes e de confianccedila em especial se a decisatildeo estiver

relacionada com uma operaccedilatildeo sigilosa devendo-se evitar indiviacuteduos calculistas que possam fazer perigar o

plano em questatildeo em resultado dos seus interesses Vide Taktikaacute III26-33 e 37-40 314 Taktikaacute III41-42 315 Taktikaacute II114-115 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 316 Taktikaacute II115-116 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 317 Conjugando as duas qualidades que ele atribui aos jovens (forccedila) e aos mais velhos (experiecircncia) 318 Taktikaacute II43-45

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sem o apoio de Deus mas com grandes habilitaccedilotildees estrateacutegicas ou taacuteticas a um timoneiro

que apesar de ter muita experiecircncia natildeo pode conduzir o seu navio para onde quer porque o

vento sopra no sentido oposto ao que deseja319 O comandante deve ainda assegurar-se de que

a guerra que iraacute travar tem uma causa justa pois soacute assim desfrutaraacute do apoio divino tentando

sempre zelar pela paz320

52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros321

A Constitutio que aborda principalmente este tema (IV) comeccedila com um trecho

original da pena de Leatildeo Aqui satildeo abordadas questotildees relacionadas com o recrutamento de

soldados Que tipo de guerreiros devem ser mobilizados Que condiccedilotildees financeiras devem

ter Devem ter famiacutelia Muito sucintamente a resposta a esta questatildeo eacute a seguinte o

thematikoiacute deve ser corajoso ter boa forma fiacutesica ser nem muito velho nem muito novo e

financeiramente estaacutevel322 Neste ponto o basileuacutes acentua a importacircncia de um soldado se

conseguir equipar sozinho ou com o apoio dos membros do seu lar (familiares ou servos)

A alegaccedilatildeo no final do primeiro paraacutegrafo da Constitutio IV323 permite remeter para

uma preferecircncia de Leatildeo na recruta de stratioacutetai (aqueles que possuem obrigaccedilotildees

militares324) No entanto na Constitutio XX natildeo se descarta a possibilidade de soldados que

natildeo possuiacutessem strateiacutea ou meios econoacutemicos suficientes de participarem na guerra

implicando que estes podiam ser patrocinados por homens ricos com strateiacutea que natildeo

desejassem participar em campanhas Assim aqueles que natildeo possuiacutessem meios econoacutemicos

para se equiparem autonomamente poderiam combater enquanto por outro lado os stratioacutetai

ricos seriam dispensados de participar em campanhas e de cumprir o serviccedilo militar ativo325

O autokraacutetor dedica ainda algumas palavras agrave personalidade ideal do oficial mas

utiliza a mesma descriccedilatildeo (de forma mais sucinta) que dedica para os generais deve ser de

confianccedila crente leal corajoso entre outros predicados Apesar disso refere que deve existir

alguma solidariedade do oficial para com os seus soldados defendendo que caso estes sejam

319 Taktikaacute II 163-167 Encontra influecircncia em Stratēgikoacuten Proacutelogo 320 Vide Anexo VIII o) 321 As Constitutiones referentes a esta temaacutetica satildeo IV e XX 322 Taktikaacute IV3-14 323 Que nos informa ainda de alguns benefiacutecios que o guerreiro bizantino possuiacutea como as isenccedilotildees fiscais de

todos os impostos excluindo o demoacutesion (e de acordo com Haldon subtilmente o kapnikoacuten) vide HALDON J

(2017) - Op cit p 143 324 Cf supra 13 325 Apesar de o homem rico ser algo criticado por Leatildeo que ali o apelida de cobarde Vide Anexos VIII d)

71

ricos devem partilhar alguns dos seus fundos com os seus soldados que por sua vez lhe seratildeo

mais fieacuteis e estaratildeo prontos a enfrentar qualquer adversidade ao seu lado326

Quanto agrave estrutura do exeacutercito Leatildeo informa-nos que a unidade baacutesica do exeacutercito

imperial eacute o taacutegma ou o baacutendon327 que deveria ter cerca de 300 homens preferencialmente e

ser comandado pelo koacutemes Caso este nuacutemero natildeo se pudesse cumprir devia ter entre 200 e

400 soldados natildeo podendo ter menos ou mais que este nuacutemero Mauriacutecio indica que o

nuacutemero de homens nos seus taacutegmata deveria estar entre 300 a 400 efetivos328 enquanto um

tratado mais tardio o Sylloge Tacticorum informa que a quantidade de soldados dependeria

do tipo de unidade se fosse de cavalaria ia dos 50 aos 400 homens se fosse de infantaria dos

200 aos 400329 Cada baacutendon deveria possuir ainda um porta-estandarte

Na altura de combater os baacutenda eram divididos em decarquias (fileiras) que podiam

conter um nuacutemero variado de homens nela dependendo da extensatildeo das fileiras podendo ter

quatro cinco oito dez ou dezasseis soldados organizados por laccedilos familiares ou de

amizade330 A fileira devia ser liderada por um decarca tendo de possuir ainda um pentarca331

para ocupar o centro da fileira e dois tetrarcas332 para as posiccedilotildees de retaguarda333 Em caso

de desdobramento das decarquias uma das colunas seria liderada pelo decarca e encerrada

por um tetrarca enquanto outra era encabeccedilada pelo pentarca334 e fechada por outro tetrarca335

Estas unidades deviam ser compostas por membros das mesmas comunidades ou famiacutelias de

forma a motivaacute-los a combater melhor na hora da batalha

326 Vide Taktikaacute IV25-29 327 Para evitar confusatildeo com os corpos militares imperiais com a mesma atribuiccedilatildeo passaremos a referir-nos a

esta unidade apenas como baacutendon (ou baacutenda caso seja plural) Poderemos eventualmente utilizar

taacutegmataacutegmata se nos estivermos a referir agrave unidade baacutesica do exeacutercito de Mauriacutecio 328 Stratēgikoacuten I4 329 Tendo em conta a proximidade de escrita dos dois tratados (o Sylloge seraacute da primeira metade do seacuteculo X se

natildeo do proacuteprio reinado de Leatildeo) John Haldon acredita que podemos estimar que a realidade militar na altura da

escrita do Taktikaacute se pode aproximar mais dos valores do Sylloge do que dos do Taktikaacute que eacute muito

influenciado pelo Stratēgikoacuten vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 59 330 Taktikaacute IV162-167 Influecircncia de Onasandro Onas XXIX 331 No Stratēgikoacuten este homem ocupa a segunda posiccedilatildeo da fileira Stratēgikoacuten III2 Leatildeo no entanto parece

misturar o pentarca com o tetrarca Na Constitutio XVIII quando fala da organizaccedilatildeo preferiacutevel para um exeacutercito

de um theacutema em batalha refere que o pentarca tambeacutem eacute o ouraacutegos ou seja o homem que fecha a linha

Taktikaacute XVIII770-776 332 Leatildeo natildeo informa diretamente que deva haver dois tetrarcas mas informa que devem existir dois ldquoguardas-

de-colunardquo que ocupam as duas uacuteltimas posiccedilotildees da fileira Uma vez que haveraacute a possibilidade de desdobrar a

fileira advindo daiacute a necessidade de haver dois tetrarcas eacute provaacutevel que os homens que ocupassem esta posiccedilatildeo

jaacute estivessem escolhidos numa fileira singela 333 Taktikaacute IV79-84 334 Haldon adverte para o facto de estas unidades taacuteticas (pentarca e tetrarca) natildeo serem permanentes pois soacute

aparecem em tratados militares Daiacute deduzimos que os homens que ocupam estas posiccedilotildees soacute eram escolhidos na

altura de organizar o exeacutercito Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 152 335 Idem Ibidem p162

72

Mas regressemos agrave estrutura do exeacutercito Um conjunto de bandaacute forma um

drouacutengos336 liderado por um drungaacuterio natildeo devendo ultrapassar os 3000 homens Vaacuterios

drouacutengoi formam uma touacuterma337 comandada por turmarca que natildeo pode ter mais de 6000

homens338 Finalmente trecircs touacutermai339 formam um exeacutercito sob o strategoacutes existindo ainda

um hypostrategoacutes que eacute o comandante da segunda touacuterma que poderaacute tomar conta das

funccedilotildees do strategoacutes se assim for necessaacuterio340

Por fim Leatildeo adverte que se deve ter cuidado com o tamanho das touacutermai e dos

drouacutengoi natildeo podendo ser demasiado numerosos para natildeo comprometer a capacidade de

lideranccedila dessas unidades341 Qualquer excesso de homens deve ser utilizado para proteger a

retaguarda e os flancos da primeira formaccedilatildeo de batalha ou para participar em emboscadas ou

flanqueamentos Por outro lado aconselha o general a ter cuidado com o nuacutemero dos bandaacute

recomendando que estes tenham quantidades de soldados distintas para evitar que os

batedores inimigos consigam estimar com clareza quantos homens tem o exeacutercito romano342

Relativamente ao nuacutemero de soldados por exeacutercito Leatildeo pressupotildee que uma hoste de

tamanho meacutedio deveria ter entre 5000 e 12 000 homens343 O valor maacuteximo apresentado

envolveria uma mobilizaccedilatildeo quase integral dos stratioacutetai laquotemaacuteticosraquo uma quantidade de

homens sem duacutevida exagerada para um exeacutercito de um uacutenico theacutema344 Natildeo nos podemos

esquecer de que quanto maior eacute o nuacutemero de homens em campanha maiores seratildeo os

problemas logiacutesticos para essa hoste (vai necessitar de um trem-de-apoio maior de mais natildeo-

combatentes o que por sua vez pressuporaacute uma velocidade mais lenta visto natildeo se tratar de

um exeacutercito noacutemada) O valor mais provaacutevel seriam os 4000 homens (usuais) que ele refere

quando fala das campanhas a Oriente contra os Aacuterabes345 tendo em conta a velocidade de

deslocaccedilatildeo de que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam para conseguir agir contra estas

investidas inimigas346

336 No Stratēgikoacuten de Mauriacutecio a unidade equivalente era a moira ou quiliarquia comandada por um moirarca ou

quiliarca Stratēgikoacuten I4 337 Corresponde aos meros de Mauriacutecio liderados por um merarca Vide Stratēgikoacuten I4 338 Taktikaacute IV194-196 339 Leatildeo adverte que cada uma destas divisotildees tem de ter o mesmo nuacutemero de homens Taktikaacute IV 189-193

Encontra reflexo em Stratēgikoacuten I4 340 Taktikaacute IV186-188 Stratēgikoacuten I4 341 Taktikaacute IV202-204 Conselho tambeacutem presente em Stratēgikoacuten I4 342 Taktikaacute IV205-208 Stratēgikoacuten I4 343 Taktikaacute XII174-175 Strategikoacuten II4 344 Taktikaacute IV74-175 e HALDON J (2014) ndash Op cit p103 345 Taktikaacute XVIII841-843 346 Neste caso seriam possivelmente quatro mil homens de cavalaria ligeira a kaballarika themata talvez com

algumas tropas de infantaria (montada quiccedilaacute) para os apoiar caso fosse necessaacuterio O grosso da infantaria (mal

equipada e treinada) ficaria encarregada de guarnecer fortificaccedilotildees e outros pontos estrateacutegicos Vide HALDON

J (2001) ndash Op cit p52

73

De facto hostes mais numerosas soacute seriam viaacuteveis se resultassem da conjugaccedilatildeo de

meios e de soldados de vaacuterios themaacuteta para fazer frente a uma invasatildeo de elevadas

proporccedilotildees Tal parece ter sido o caso de Lalacatildeo quando um exeacutercito bizantino formado por

soldados de vaacuterios themaacuteta e dos taacutegmata aniquilou uma hoste aacuterabe em prol de possuir

superioridade numeacuterica347 ou do exeacutercito de Leatildeo Katakalon derrotado em Bulgarophygon

no ano de 896348

Regressando aos oficiais Leatildeo refere ainda mais alguns bem como certos tipos de

soldados apesar de isto ser quase uma paraacutefrase do Stratēgikoacuten onde a terminologia eacute

alterada (ou adicionada) para corresponder agrave realidade do tempo do basileuacutes Por exemplo as

tropas de assalto (kouacutersores) responsaacuteveis por carregar ou perseguir soldados inimigos satildeo

apelidadas de proklaacutestai ou proacutemachoi enquanto os militares encarregados de os apoiar caso

tenham de retirar satildeo chamados defensores (agrave semelhanccedila do tempo de Mauriacutecio) ou

ekdiacutekous349 No Taktikaacute os espiotildees chamam-se skoulkaacutetores enquanto no Stratēgikoacuten satildeo

denominados de batedores350 Por exemplo o porta-capas351 natildeo estaacute presente no Taktikaacute Os

restantes encargos352 apontados pelo autor tecircm exatamente a mesma nomenclatura que no

Stratēgikoacuten

Leatildeo refere ainda alguns cargos civis mas que satildeo de extrema importacircncia para o

exeacutercito de um theacutema o protonotaacuterio o cartulaacuterio e o pretor Acerca do protonotaacuterio jaacute

aludimos agrave sua importacircncia no primeiro capiacutetulo353 O cartulaacuterio era um oficial escolhido pelo

logotheacutesion totilden genikon sendo o responsaacutevel pelos registos militares de um theacutema por fim o

pretor era o oficial que tratava das questotildees juriacutedicas numa proviacutencia354

53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos

A seguranccedila de um exeacutercito enquanto se desloca de regiatildeo em regiatildeo eacute uma questatildeo

central Primeiro porque uma hoste em andamento eacute extremamente vulneraacutevel caso se veja a

braccedilos com um ataque-surpresa ou a atravessar terreno difiacutecil Segundo porque uma multidatildeo

de soldados em movimento representa um grave risco para as populaccedilotildees locais caso o

347 HALDON J (2001) ndash Op cit p85 348 TOUGHER S ndash Op cit p79 349 Taktikaacute IV100-102 Stratēgikoacuten IV3 350 Taktikaacute IV110-111 Stratēgikoacuten IV3 351 Oficial responsaacutevel por escoltar o porta-estandarte HALDON J (2014) ndash Op cit p153 Stratēgikoacuten IV3 352 Flanqueadores guarda-flancos corpos meacutedicos e responsaacuteveis de aquartelamento entre outros 353 Cf supra 11 354 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp 159-160

74

percurso seja efetuado no proacuteprio territoacuterio bizantino ou aliado Terceiro porque no caso de

Bizacircncio o ato de marcha em formaccedilatildeo representa tambeacutem ele um treino de disciplina e um

exerciacutecio praacutetico para o soldado355 bem como um exerciacutecio de comando para quem estiver agrave

frente dessa forccedila (o strategoacutes o turmarca ou outro)

As primeiras indicaccedilotildees de Leatildeo remetem para a seguranccedila dos suacutebditos do imperador

e natildeo dos soldados em si O basileuacutes emite dois avisos nesse sentido primeiramente que o

general deve manter os seus soldados sob controlo e evitar a todo custo que estes saqueiem e

destruam as possessotildees dos suacutebditos de Constantinopla em segundo abandonar o territoacuterio

bizantino o mais cedo possiacutevel de forma a evitar que se gastem os recursos alimentares

romanos (frisando ainda que quanto mais rico for o territoacuterio do adversaacuterio melhor)356

Enquanto o exeacutercito avanccedila os soldados devem comeccedilar a exercer as suas funccedilotildees os

minsouratores357 devem ser enviados para bater o terreno (caso este seja desconhecido e natildeo

haja acesso a guias locais) e para montar o acampamento Quanto aos esquadrotildees de

aquartelamento devem comeccedilar a procurar fontes de aacutegua e locais para forragens358

O basileuacutes procede ainda a uma clarificaccedilatildeo sobre a forma como o exeacutercito em marcha

deve proceder em alguns terrenos com muito arvoredo ou desnivelado359 em territoacuterio

cultivado bizantino360 ou inimigo (onde aconselha que se pilhe o que se puder e se destrua o

que natildeo se puder aproveitar)361 a atravessar rios onde Leatildeo utiliza uma experiecircncia do pai

como jaacute referimos362 e nos desfiladeiros Das marchas assinaladas decidimos dar preferecircncia

agrave forma de atravessar terrenos difiacuteceis ou desfiladeiros o que se afigurava de elevada

importacircncia para a conjuntura estrateacutegica da eacutepoca saber como ocupar uma kleisoucircrarchia363

era algo fundamental na guerra travada a Oriente e a Ocidente (contra os Buacutelgaros) tanto a

niacutevel defensivo como ofensivo

Assim se um exeacutercito provincial desejasse atravessar uma garganta montanhosa

deveria enviar contingentes agrave sua frente para ocuparem os pontos altos e as embocaduras

dessas passagens antes que os seus inimigos o pudessem fazer colocando em risco a

355 Taktikaacute IX23-25 356 Taktikaacute IX3-13 Assinalem-se as influecircncias de Onas VI 357 Batedor responsaacutevel por encontrar um lugar ideal para se construir um acampamento Taktikaacute IV103-105 358 Taktikaacute IX33-41 359 Taktikaacute IX42-46 O autor informa o general de que deve enviar um grupo de soldados para nivelar o terreno

e cortar as aacutervores ao longo do percurso pretendido caso fosse necessaacuterio 360 Taktikaacute IX73-82 361 Taktikaacute IX97-103 362 Vide Anexo VIII g) 363 Aqui natildeo nos referimos aos pequenos distritos militares mas sim aos desfiladeiros

75

seguranccedila da hoste bizantina364 Soacute depois disto acontecer eacute que o strategoacutes deveria ordenar

aos seus soldados365 que atravessassem o desfiladeiro ordenadamente formados em duas

colunas paralelas com o trem-de-apoio (com ou sem botim) no centro contando ainda com

uma vanguarda e uma retaguarda (dita saka) De forma a fortalecer os flancos deviam ser

colocadas tropas ligeiras sobre o desfiladeiro nos quatro lados da disposiccedilatildeo taacutetica com o

objetivo de proteger a formaccedilatildeo em movimento e de evitar que ataques inimigos a

desorganizassem com ataques nas laterais Para aleacutem da carriagem no centro deviam estar as

montadas suplentes ou que natildeo estivessem a ser usadas para evitar a fuga dos homens da

falange em caso de pacircnico366 No caso deste exeacutercito possuir um grande contingente de

infantaria entatildeo dever-se-ia organizar mais ou menos da mesma forma excetuando se natildeo

conseguissem caber todas as forccedilas no desfiladeiro Nesse caso deviam desfazer a

formaccedilatildeo367 passar uma de cada vez e voltar a formar assim que a passagem tivesse sido feita

Para evitar problemas na viagem de regresso era recomendaacutevel deixar um

destacamento a guardar a garganta368 No regresso da expediccedilatildeo era aconselhaacutevel usar

novamente esta formaccedilatildeo ateacute porque um ataque nestas regiotildees era entatildeo mais provaacutevel pois a

hoste estava carregada de despojos e prisioneiros No caso de o exeacutercito ficar encurralado no

desfiladeiro Leatildeo propunha duas opccedilotildees negociar com o inimigo a libertaccedilatildeo atraveacutes do

retorno parcial ou total do botim ou matar os prisioneiros369 A hoste deveria entatildeo dar meia-

volta e destruir o territoacuterio do inimigo ou tentar escapar de alguma forma

Concluiacuteda esta sucinta anaacutelise das marchas que consideramos mais importantes nesta

altura observemos agora a importacircncia da carriagem

laquoO trem-de-apoio consiste nos mantimentos e tudo mais que eacute necessaacuterio para os

soldados isto eacute servos370 animais de carga e outras bestas bem como tudo o resto

que eacute trazido para o serviccedilo do exeacutercitoraquo371

364 Apesar de as forccedilas dos themaacuteta terem um propoacutesito maioritariamente defensivo haveria a hipoacutetese de

realizarem contra raides contra o territoacuterio inimigo 365 Caso houvesse cavalaria esta deveria desmontar 366 Taktikaacute IX195-234 Stratēgikoacuten IX 367 A frente com duas ou quatro divisotildees de infantaria pesada dependendo do tamanho seguidas pelo trem-de-

apoio a cavalaria e uma saka com infantaria pesada e ligeira Taktikaacute IX284-291 Stratēgikoacuten XII19-20 368 Muitas vezes em termos defensivos os Bizantinos deixavam os Aacuterabes da Ciliacutecia passar pelos desfiladeiros

ocupando-os posteriormente e atacando quando estes se encontravam mais vulneraacuteveis O caso mais espetacular

desta estrateacutegia eacute a batalha de Andrassos em 960 quando forccedilas bizantinas sob Leatildeo Focas ocuparam o

desfiladeiro que o emir hamdacircnida Sayf ad-Dawlah tencionava usar para regressar a Alepo e o emboscaram na

viagem de regresso Para esta batalha e estrateacutegia vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 80-81 369 Taktikaacute IX241-247 Os prisioneiros tambeacutem podiam servir como escudo da falange frente agraves flechas do

inimigo Taktikaacute IX235-238 370 Ou familiares dos soldados caso ainda estivessem em territoacuterio amigaacutevel De acordo com John Haldon a

importacircncia destes natildeo-combatentes prendia-se com a sua utilidade em ajudar a organizar a bagagem bem como

a ajudar nas tarefas mais ordinaacuterias Natildeo obstante eram mais uma boca a alimentar abrandavam o exeacutercito em

76

Durante uma marcha em territoacuterio hostil a carriagem pela sua grande importacircncia372

ocupava sempre o meio da coluna (para se encontrar permanentemente protegida) e a alguma

distacircncia do resto da hoste para natildeo causar desorganizaccedilatildeo na hoste em movimento373 Antes

de o exeacutercito partir para uma batalha o trem e todos o que o acompanhavam deviam ser

deixados num lugar seguro374 sob os cuidados do oficial responsaacutevel pela sua proteccedilatildeo e por

guiar as bestas de carga (burros ou mulas) vigiadas por soldados pobres ou por servos375

Em relaccedilatildeo agraves montadas cada baacutendon deveria guardar a forragem necessaacuteria para um

dia para o caso de o resultado da batalha ser adverso a recolher feno fora do acampamento376

Quando os soldados partiam para o combate deviam deixar as montadas de reserva na

carriagem377 para natildeo entrarem em pacircnico durante a peleja Apenas deveriam ser levadas para

o confronto se isso fosse preciso transportando o soldado responsaacutevel por elas uma tenda

pequena ou dois mantos pesados378 No caso de ser preciso empreender uma operaccedilatildeo

ofensiva ou de saque os soldados deviam manter os seus cavalos armados e vigorosos

Algo original na Constitutio de Leatildeo sobre trem-de-apoios eacute a distinccedilatildeo de meios de

transporte de mantimentos e de utensiacutelios no caso de ser um exeacutercito de infantaria o trem-de-

apoio devia ser constituiacutedo por carroccedilas se fosse uma hoste maioritariamente de cavalaria a

carriagem consistiria em bestas de carga como burros ou mulas379

Dediquemos as uacuteltimas palavras ao acampamento militar bizantino o qual

representava um outro aspeto essencial da forma de fazer a guerra em Bizacircncio constituindo

um fator importante que condicionava a vitoacuteria ou a derrota de um exeacutercito Toda a orgacircnica

do acampamento tinha de funcionar bem para se garantir o maacuteximo de organizaccedilatildeo possiacutevel

evitar engarrafamentos de unidades durante situaccedilotildees de retirada e assegurar uma boa defesa

(em caso de estarem em territoacuterio inimigo ou com o adversaacuterio nas proximidades a infantaria

deveria ocupar posiccedilatildeo do lado da paliccedilada de forma a poder proteger a cavalaria quando esta

voltava de campanhas no exterior)

marcha e eram um risco para a seguranccedila e disciplina no acampamento Taktikaacute X6 e 12-16 Organizaccedilatildeo de

uma Campanha XV (daqui em diante OdC) HALDON J (2014) ndash Op cit p232 371 Taktikaacute IV120-122 372 Na viagem de regresso de raides a territoacuterio inimigo podia incluir o despojo 373 Taktikaacute X66-70 Praecepta Militaria IV (daqui em diante PrM) OdC X 374 Acampamento ou siacutetio fortificado que tenha bom acesso a forragem e aacutegua Taktikaacute X36-50 Veja-se um

conselho parecido em Perigrave Paradroacutemes XVI (daqui em diante PP) 375 De acordo com Leatildeo e Mauriacutecio cada soldado poderia tomar conta de trecircs a quatro animais Taktikaacute IV154-

155 Stratēgikoacuten I5 376 Taktikaacute X56-62 Stratēgikoacuten I5 377 Um para servir de proteccedilatildeo e outro para servir de tenda ou de canoacutepia 378 Vide Taktikaacute X48-50 Stratēgikoacuten V 379 Taktikaacute X76-78

77

Assim sendo quais eram os fatores predominantes na altura de escolher um siacutetio para

acampar em territoacuterio inimigo A seguranccedila era o primordial tendo os minsouratores de

encontrar um local apto a ser defendido e caso tal circunstacircncia natildeo fosse possiacutevel fortificar

o acampamento por meio de trincheiras e paliccediladas O abastecimento das tropas era outro

fator muito importante e o arraial devia ser instalado num local com bom acesso a aacutegua e a

forragens Caso a fonte de aacutegua fosse um rio o acampamento devia ser instalado de forma a

permitir que o curso de aacutegua o atravessasse no meio devendo para esse efeito o arraial ser

montado num local onde a travessia fosse faacutecil ou (se o rio tivesse um caudal muito grande

ou demasiado intenso para possibilitar a travessia) num dos flancos do recinto de forma a

servir de defesa natural contra o inimigo380

Por fim a sauacutede e o bem-estar dos homens eram tambeacutem cruciais pelo que o siacutetio

onde estes pernoitavam e se protegiam deveria ser instituiacutedo num local longe de pacircntanos e

outros locais huacutemidos (com lama por exemplo) de forma a evitar surtos de doenccedila que

pusessem em causa a sauacutede (e ateacute a vida) do soldado381 Por outro lado natildeo se recomendava a

manutenccedilatildeo do exeacutercito num mesmo siacutetio durante muito tempo devido agrave quantidade de

dejetos humanos (e animais pois os cavalos tambeacutem estavam no acampamento)

produzidos382 mas tambeacutem para conforto dos proacuteprios homens383

Para terminar vamos abordar a estrutura e a defesa do acampamento De acordo com

o basileuacutes o acampamento deveria ter uma forma retangular dividindo-se em quatro

quadrantes separados por duas ruas perpendiculares que fizessem uma forma de cruz as quais

ligavam as entradas do acampamento384 e o centro deste A infantaria ligeira e os vagotildees da

carriagem385 deviam ocupar posiccedilotildees ao longo do periacutemetro e a cavalaria deveria ser

aquartelada mais para o interior do arraial386 Quanto aos oficiais principais os turmarcas

deviam ser posicionados no meio das forccedilas que comandavam enquanto o strategoacutes devia

380 Neste caso o autor procede a um conjunto de conselhos para preservar a pureza da aacutegua relacionados com o

siacutetio onde os cavalos bebessem se o rio fosse pequeno devia ser-lhes dada aacutegua a beber por meio de baldes se o

caudal fosse grande entatildeo deveriam ser guiados para beber a jusante Taktikaacute XI165-172 381 Taktikaacute XI15-20 382 Que deveriam ser largados no exterior do acampamento Leatildeo alegava ser pelo odor mas a razatildeo principal

deveria ser a proteccedilatildeo sanitaacuteria Taktikaacute XI162-164 383 A uacutenica exceccedilatildeo a esta regra parecem ser os aquartelamentos de Inverno onde existiam edifiacutecios para os

homens habitarem Taktikaacute XI23-27 384 Para aleacutem destas entradas protegidas por um enorme portatildeo deviam-se instalar vaacuterias laquopoternasraquo

possivelmente para permitir a entrada e saiacuteda de pequenos grupos de homens 385 Que tambeacutem poderiam servir para criar uma barreira improvisada em torno do acampamento chamada

karagos Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p245 386 A um intervalo de 94 a 125 metros de acordo com Mauriacutecio e Leatildeo para proteger os animais de carga e os

cavalos dos projeacuteteis inimigos O Praecepta Militaria refere que a distacircncia deveria ser de ldquoum tiro de arcordquo

(possivelmente 330 metros de acordo com o Sylloge Tacticorum) existindo discussatildeo de outros valores

Taktikaacute XI80-87 Stratēgikoacuten XIIB22 PrM V5 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 248-249

78

estar longe do centro (Leatildeo indica laquopara o ladoraquo pelo que supomos a mesma condiccedilatildeo que no

caso dos turmarcas) para natildeo obstruir o tracircnsito e natildeo ser perturbado pelas tropas a passar387

Para aleacutem da escolha dos bandaacute mais experientes de forma a guardar os portotildees

dever-se-ia proceder ainda agrave escolha de soldados para executar patrulhas noturnas e para

servirem de vigias fora do periacutemetro Em relaccedilatildeo agraves fortificaccedilotildees do arraial eram constituiacutedas

por trincheiras que deviam ter cerca de 180 m de largura e entre 210 e 240 metros de altura

devendo ser precedidas por covas-de-lobo e por estrepes388 Por fim deveria existir ainda uma

paliccedilada ou fortificaccedilatildeo em torno do acampamento389

387 Taktikaacute XI91-95 388 Niceacuteforo Focas o Velho teraacute criado uma espeacutecie de estrepe que consistiria num geacutenero de tripeacute com trecircs

pedaccedilos de madeira os que serviam de base deviam ter 70 cm de comprimento e o superior devia possuir entre

117 a 140 metros Nesta estrutura colocar-se-ia depois uma lacircmina larga com 4680 cm de comprimento na

ldquoperna maiorrdquo o que tornava esta arma uma excelente invenccedilatildeo contra a cavalaria e extremamente faacutecil de

transportar de acordo com Leatildeo Taktikaacute XI128-142 O Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos refere um dispositivo

parecido Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos LXV (de aqui em diante seraacute referido como Ouranos) 389 Leatildeo refere uma stabarotildesai uma paliccedilada de estacas pontiagudas construiacuteda com madeira trabalhada ou a

partir de aacutervores cortadas no local Taktikaacute XI40-42

79

Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar

laquoA Taacutetica eacute a ciecircncia do movimento na guerra Nesta existem dois

movimentos os feitos em terra e os praticados no mar

A Taacutecica eacute a periacutecia militar que diz respeito a formaccedilotildees de batalha

ao armamento e agrave movimentaccedilatildeo de tropasraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute I linhas 3-6390

Fazendo jus ao nome do tratado a Taktikaacute eacute a disciplina mais abordada ao longo da

obra e recolhe em si um grande conjunto de assuntos que preocupam o basileuacutes a distribuiccedilatildeo

de armamento o treino de tropas a disposiccedilatildeo no campo de batalha e a forma como a guerra

deve ser encarada contra outros povos Tendo em conta estas caracteriacutesticas decidimos

dividir este capiacutetulo em trecircs subcapiacutetulos um primeiro onde abordamos o armamento e o

treino dos soldados bizantinos quer de cavalaria ou da infantaria um outro onde

examinamos a forma como Bizacircncio encarava o conflito com outras naccedilotildees de onde

salientaremos os Aacuterabes e ateacute certo ponto os Buacutelgaros e por fim um terceiro onde

referimos a forma como o exeacutercito romano devia agir no campo de batalha perante as mais

variadas desvantagens

61 ndash O armamento e o treino

laquoAgora noacutes ordenamos a Sua Excelecircncia que dirija a sua atenccedilatildeo para as armas que

deve empregar na guerra assim para o equipamento das forccedilas de infantaria e de

cavalariaraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute V linhas 3-4391

Antes de nos lanccedilarmos no resumo e anaacutelise do que Leatildeo escreve sobre estas questotildees

conveacutem tecermos algumas consideraccedilotildees introdutoacuterias acerca destes assuntos Primeiramente

a forma como o equipamento era distribuiacutedo neste periacuteodo da histoacuteria de Bizacircncio Logo no

iniacutecio da Constitutio V o basileuacutes refere que parte do provimento do material que equipava o

exeacutercito dependia do general e dos turmarcas seus segundos-em-comando Isto parece-nos

um pouco contraproducente se tivermos em conta que o impeacuterio vivia uma fase em que os

uacutenicos soldados que eram equipados com apoios estatais eram os dos taacutegmata da capital Por

outro lado o basileuacutes mais tarde admite que eacute preferiacutevel serem os soldados ricos a participar

390 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 12-13 391 Idem Ibidem pp 74-75

80

nas campanhas392 Por estas razotildees pensamos que aquilo a que Leatildeo se refere natildeo seraacute o

equipamento alusivo aos stratioacutetai que dispunham de melhores meios econoacutemicos mas sim

os soldados que natildeo tivessem meio de se equipar sozinhos393

Por outro lado haacute a possibilidade de os apetrechos aqui mencionados serem algo de

diferente natildeo relacionado com o equipamento dos soldados em si como por exemplo tendas

municcedilotildees maacutequinas de cerco394 entre outros Estes agrave semelhanccedila dos mantimentos deviam

ser adquiridos com a ajuda dos artesatildeos do theacutema pelo que natildeo seraacute de estranhar que fossem

os principais responsaacuteveis pela manutenccedilatildeo do corpo armado (os primeiros homens do

comando e o protonotaacuterio) a tratar destes assuntos No entanto existe ainda a possibilidade de

o equipamento aqui referido tambeacutem incluir material suplente (aqui aludimos a armamento

ofensivo e defensivo) que por qualquer razatildeo tivesse de ser reposto durante a campanha395

Em relaccedilatildeo ao treino para Leatildeo este mostrava-se essencial natildeo soacute para melhorar as

aptidotildees dos seus soldados e os preparar para as vicissitudes do combate396 mas tambeacutem para

combater o teacutedio e evitar que eles afrouxassem e em virtude disso se tornassem cobardes em

batalha397 Podemos referir dois tipos de treino um individual que consistia na exercitaccedilatildeo

das capacidades militares de cada guerreiro e um treino geral que correspondia agrave praacutetica das

mais diversas taacuteticas e formaccedilotildees com o intuito de preparar o exeacutercito para as situaccedilotildees mais

diacutespares no campo de batalha Por outro lado a disciplina e a organizaccedilatildeo dos soldados

provinciais em batalha natildeo era a mais brilhante398 em especial da parte da infantaria399 pelo

que se devia dar grande enfoque a estes aspetos no decorrer dos periacuteodos de treino

Finalizada esta introduccedilatildeo passemos agrave anaacutelise do equipamento e do treino de cada

uma das laquoarmasraquo (cavalaria e infantaria) Uma vez que a cavalaria eacute o nuacutecleo central do

tratado parece-nos justo comeccedilar por esta categoria O soldado montado dos themaacuteta natildeo eacute o

catafractaacuterio completamente equipado a que estamos habituados quando pensamos em

Bizacircncio mas sim um guerreiro a cavalo mais leve e capaz de percorrer grandes distacircncias

De acordo com Leatildeo eacute possiacutevel pressupor dois tipos de equipamento ofensivo para

392 Vide Anexos VIII c) 393 Existindo ainda a possibilidade de estes serem equipados e montados com o patrociacutenio de stratioacutetai mais

ricos caso fosse necessaacuterio (cf supra 13) 394 No caso dos exeacutercitos ldquotemaacuteticosrdquo natildeo se aplicava a questatildeo das maacutequinas de cerco estas a estarem

presentes em campanha seria no contexto de uma expediccedilatildeo dos corpos palatinos da capital sob o comando do

domestikoacutes 395 HALDON J (2014) ndash Op cit p169 396 laquoHomens destreinados mostram-se totalmente ignorantes e cegos quando enfrentam accedilatildeo suacutebitas e

inesperadasraquo Taktikaacute VII6-7 397 Taktikaacute VII8-20 398 Algo que o proacuteprio imperador admite Taktikaacute XVIII832-843 399 Cf HALDON J (2001) ndash Op cit p69

81

cavaleiros que se encontravam dependentes de um fator a aptidatildeo no uso do arco400 Caso o

cavaleiro soubesse usaacute-lo devia estar equipado com arco aleacutem das ferramentas necessaacuterias

para o manter da aljava para guardar as flechas e de uma lanccedila ldquopequenardquo401 uma espada e

uma adaga ou faca para defesa pessoal402 Por outro lado um cavaleiro que natildeo soubesse usar

o arco devia estar equipado com duas lanccedilas (ou dardos) e um escudo403 Quanto ao

equipamento defensivo Leatildeo refere que deviam estar vestidos com o klibaacutenion404 com grevas

chamadas de podoacutepsella e com elmos munidos de uma pequena pluma no topo405 O cavalo

tambeacutem deveria estar protegido desta feita com uma defesa de ferro ou de couro colocada

sobre a cabeccedila e o peito que era conjugada com uma neurikaacute406 que deveria cobrir o peito a

cabeccedila e se possiacutevel o abdoacutemen da montada407

Em relaccedilatildeo ao treino da cavalaria Leatildeo salienta a relevacircncia do treino com o arco

com o recruta a ter de saber disparar rapidamente e em todas as direccedilotildees e ateacute a dominar o

laquotiro partoraquo (para traacutes) A versatilidade tambeacutem era incentivada com o basileuacutes (agrave

semelhanccedila de Mauriacutecio) a incitar o comandante a treinar sucessivamente o soldado com o

arco e com a lanccedila na mesma montada408 Os cavaleiros tambeacutem deviam praticar cargas

simuladas a pares algo que podia ser realizado durante uma marcha409 Quanto ao cavalo

devia ser preparado para cavalgar em terrenos difiacuteceis e para suportar a ausecircncia de aacutegua por

algum tempo bem como a habituar-se aos sons da batalha e agrave presenccedila de camelos410

400 Este fator eacute uma das grandes preocupaccedilotildees de Leatildeo ao longo do tratado que refere que a negligecircncia no uso

do arco provocou grandes complicaccedilotildees aos Bizantinos Talvez a maior prova deste facto tenha sido a derrota do

basileuacutes Teodoacutesio na batalha de Anzen em 838 quando o impeacuterio se viu derrotado frente aos experientes

arqueiros montados turcos Este foi o primeiro confronto onde os Turcos teratildeo combatido os Romanos (ainda

que ao lado dos Aacuterabes) uma tendecircncia que se iraacute repercutir nos seacuteculos vindouros (em especial a partir do

seacuteculo XI) Taktikaacute VI30-34 HALDON J (2001) ndash Op cit pp78-83 KAEGI Walter (1964) The

Contribution of Archery to the Turkish Conquest of Anatolia Speculum 39(1) 99-101 O facto de Siriano jaacute dar

grande importacircncia aos arqueiros no Perigrave Strategiacuteas pode revelar que esta preocupaccedilatildeo jaacute teria algum tempo a

confirmar-se que o tratado eacute do seacuteculo IX Cf Siriano magister in Perigrave Strategiacuteas XLIV ndash XLVII (de aqui em

adiante passaremos a fazer a referecircncia a este tratado da seguinte forma Sir Strat) 401 Em jeito algo jocoso Haldon refere que esta lanccedila teria trecircs metros de comprimento pelo que natildeo vecirc onde eacute

que ela poderia ser pequena 402 Taktikaacute VI9-20 Por outro lado Leatildeo realccedila a existecircncia de um machado de dupla-lacircmina uma com a forma

de uma espada e outra em formato de ponta-de-lanccedila Taktikaacute VI53-55 403 Taktikaacute VI21-22 404 Termo de origem persa que refere uma armadura lamelar que cobria o corpo de um guerreiro ateacute pouco

abaixo da cintura Vide NISA J (2016) ndash Op cit p41 405 Apresentando assim o mesmo tipo de armamento defendido por Mauriacutecio muitiacutessimo influenciado pelos

Aacutevaros Stratēgikoacuten I 406 Uma proteccedilatildeo para equiacutedeos que era o resultado da conjugaccedilatildeo de pedaccedilos de couro acolchoados PrM III 407 Taktikaacute VI40-47 408 laquo(hellip) deve libertar uma ou duas flechas rapidamente e arrumar o arco montado com a corda no seu estojo (hellip)

Depois [deve] agarrar a lanccedila que carrega ao ombro Enquanto o arco estaacute no estojo ele deve agarrar a lanccedila e

reposicionaacute-la rapidamente no ombro e agarrar o arcoraquo Taktikaacute VII35-40 cf Stratēgikoacuten I 409 Taktikaacute VII41-45 410 Taktikaacute XVIII675-685 Os camelos eram reconhecidos como uma causa de medo para os cavalos desde a

derrota do rei Creso da Liacutedia frente a Ciro da Peacutersia em 536 aC A causa deste resultado foi a criaccedilatildeo in

82

Relativamente ao treino em conjunto de um exeacutercito de cavalaria Leatildeo VI afirma que

eacute absolutamente necessaacuterio o general aprender a treinar os seus soldados tendo em

consideraccedilatildeo os preceitos taacuteticos dos antigos com o intuito de os ensinar a alterar as

formaccedilotildees do seu baacutendon por meio de comandos verbais ou de sinais com bandeiras411 Por

outro lado tambeacutem se deveriam praticar batalhas simuladas com recurso a armas de treino412

para testar os soldados num grande conjunto de dispositivos e movimentaccedilotildees tais como

manobras de envolvimento cargas flanqueamentos e emboscadas Este adestramento eacute

bastante complexo e articulado porque envolve o treino das vaacuterias categorias do exeacutercito em

separado numa batalha simulada os soldados vatildeo alternando as suas funccedilotildees como kouacutersores

ou ekdiacutekous ora carregando ora apoiando os kouacutersores413 enquanto isso os flanqueadores

treinam manobras de envolvimento em bandaacute destacados para essa funccedilatildeo414 Para aleacutem

destas questotildees o autor realccedila que estas manobras devem ser praticadas em todo o geacutenero de

terrenos e temperaturas para adaptar a hoste a todo o tipo de circunstacircncias e vicissitudes415

A infantaria no Taktikaacute estaacute dividida da mesma forma que eacute explicitada no

Stratēgikoacuten de Mauriacutecio416 em skoutatoacutes ou skoutatoacutei (infantaria pesada) tropas ligeiras e

peltai mas o autor refere que este termo jaacute natildeo eacute utilizado por esta altura porque jaacute natildeo eacute

reconhecido pelos contemporacircneos do autor Em relaccedilatildeo ao armamento o skoutatoacutes devia

estar armado com um escudo largo e em forma oblonga com uma espada e com uma lanccedila

obrigatoriamente A estas armas podiam-se juntar machados de lacircmina-dupla417 e fundas

Quanto ao armamento defensivo devia ser necessariamente composto de um elmo com

plumas Em especiacutefico Leatildeo informa-nos que os dois homens de uma coluna destinados agraves

linhas da frente deveriam envergar uma zaacuteba418 ou uma loriacutekia (cota-de-malha) luvas de ferro

ou madeira (denominadas cheiroacutepsella) e grevas dos mesmos materiais419 Os skoutatoacutei eram

treinados individualmente por meio de combates pessoais420

promptu de um contingente de cameleiros (que anteriormente tinham estado adscritos ao trem-de-apoio persa)

que incutiu o medo na cavalaria liacutedia SEKUNDA Nick The Persians in HACKET Sir John (ed) (1989)

Warfare in the Ancient World Alemanha Ocidental Facts on File p 85 411 Por exemplo cerrar ou alargar fileiras mudanccedilas de frente 412 Como flechas sem pontas e cajados para substituir as lanccedilas 413 Taktikaacute VII206-219 e 220-223 Stratēgikoacuten III 414 Taktikaacute VII235-240 Stratēgikoacuten III 415 Taktikaacute VII241-248 Stratēgikoacuten III 416 Cf Stratēgikoacuten XII(B) 417 Estes natildeo estatildeo presentes no texto de Mauriacutecio 418 Palavra de origem turca que agrave altura da escrita do tratado remete para pedaccedilos de malha fixados a outras

partes da vestimenta de um soldado HALDON J (2014) ndash Op cit p186 419 Taktikaacute VI114-126 Influecircncias de Mauriacutecio (Stratēgikoacuten XII(B)) 420 Taktikaacute VII21-28 Cf Stratēgikoacuten XII(B) e Onas X

83

No que respeita agrave infantaria ligeira esta deveria estar armada com arco flechas

dardos421 e fundas como armas principais enquanto utilizaria escudos e machados para defesa

pessoal Quanto a equipamento defensivo deviam vestir tuacutenicas e a epiloriacuteka enquanto

calccedilavam sapatos recomendados para a marcha providos de tachas e com biqueira quadrada

A infantaria ligeira era treinada para disparar rapidamente com o arco e para conseguir atirar

os dardos a uma distacircncia longa devendo ainda melhorar as suas capacidades atleacuteticas com

recurso a corridas e a saltos em todo o tipo de terrenos422 Em relaccedilatildeo ao treino conjunto da

infantaria aplicam-se os mesmos preceitos acima enunciados para a cavalaria tendo o

strategoacutes de ensinar a infantaria a executar um grande conjunto de manobras e de formaccedilotildees

como o fulcum O adestramento das forccedilas de infantaria era fundamental para situaccedilotildees de

marcha uma vez que era pouco provaacutevel que dentro do exeacutercito provincial chegassem a

combater devido ao seu fraco equipamento e ao baixo moral que as caraterizava

62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra

laquoDe seguida vou ensinaacute-lo acerca de vaacuterias formaccedilotildees de batalha empregues por outras

naccedilotildees bem como acerca daquelas que os comandantes dos exeacutercitos romanos desde eacutepocas

remotas usaram contra outros povos Depois de conhececirc-las natildeo soacute vai puder usar esses

estratagemas na altura proacutepria como vai tambeacutem poder acrescentar-lhes muitos mais Porque

um comandante astuto quando agarra uma oportunidade para pocircr em praacuteticas as estrateacutegias

militares natildeo se limita agravequelas [jaacute conhecidas] e eacute capaz de inventar muitas outrasraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 3-9423

A Constitutio XVIII do Taktikaacute surge na nossa opiniatildeo como uma das mais

interessantes do tratado pois aborda a forma como o Saacutebio via as maacutequinas militares do seu

adversaacuterio Natildeo obstante acusar uma forte influecircncia do Livro XI do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio

Leatildeo VI atualiza alguma da informaccedilatildeo presente na obra do seu antecessor de maneira a

corresponder melhor agrave realidade do seu tempo em especial no que toca aos Aacuterabes que

reconhece como sendo o maior perigo para o Impeacuterio O interesse etnograacutefico-militar natildeo se

converte na uacutenica valecircncia desta Constitutio pois na nossa interpretaccedilatildeo o primeiro paraacutegrafo

pode revelar-se como uma indicaccedilatildeo da disponibilidade do Impeacuterio Bizantino para adaptar o

seu estilo militar consoante as taacuteticas e o armamento de outros povos424 Por outro lado esta

421 Para aqueles que natildeo soubessem usar o arco 422 Taktikaacute VII21-28 Para o treino de arqueiros cf Sir Strat XLV - XLVII 423 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 436-437 424 Fenoacutemeno esse visualizado tambeacutem a niacutevel linguiacutestico vide NISA J (2014) ndash Op cit pp 9-10 Por outro

lado Mauriacutecio parece admitir que o equipamento militar romano durante o seu principado encontrava muitas

influecircncias no Aacutevaro Stratēgikoacuten I

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secccedilatildeo mostra-se fundamental para consolidar a contemporaneidade do manual de Leatildeo e

claro o interesse dele pelos problemas militares e estrangeiros que afligiram o Impeacuterio

durante o seu reinado Neste aspeto mostram-se cruciais na nossa abordagem trecircs povos os

Buacutelgaros os Lombardos e como natildeo podia deixar de ser os Aacuterabes

A questatildeo buacutelgara torna-se curiosa no sentido em que Leatildeo parece subestimar este

povo no Taktikaacute425 ao aparentar desinteresse numa guerra contra ele e nas suas taacuteticas e

armamento usando como argumento a recente conversatildeo dos Buacutelgaros ao Cristianismo426

Este fundamento parece estar tambeacutem na base das alegaccedilotildees de Karlin-Hayter427 e Runciman

chegando o uacuteltimo a alegar que laquoa sua (de Leatildeo) terna consciecircncia cristatilde fazia-o desgostar de

combater os seus companheiros crentesraquo428 Shaun Tougher no entanto refuta estas alegaccedilotildees

e contra-argumenta referindo que na realidade a secccedilatildeo direcionada aos Magiares (referidos

como Turcos no Taktikaacute) estaacute na realidade orientada para os suacutebditos de Simeatildeo429 Apoiamos

esta interpretaccedilatildeo pois Leatildeo natildeo se cansa de salientar que em termos militares os Magiares e

os Buacutelgaros satildeo muitiacutessimo parecidos430 demonstrando que natildeo confiava tanto nos seus

vizinhos balcacircnicos como aparentava e que queria os seus strateacutegoi preparados para uma

possiacutevel revanche com Simeatildeo e os seus na eventual possibilidade de esta acontecer431

Relativamente aos Lombardos as palavras de Leatildeo VI afiguram-se como um relato da

relaccedilatildeo entre os Bizantinos e os Lombardos laquoaliados correligionaacuterios e suacutebditos432raquo Esta

afirmaccedilatildeo a nosso ver revela o estado da situaccedilatildeo no Sul de Itaacutelia onde estavam os uacuteltimos

redutos da independecircncia lombarda durante o reinado do Saacutebio Como jaacute acima foi

salientado433 os ducados de Benevento e de Salerno tinham outras preocupaccedilotildees por esta

altura nomeadamente o reino de Itaacutelia sob os duques de Espoleto os Aglaacutebidas da Siciacutelia e a

principal ameaccedila muccedilulmana sedeada na foz do rio Garigliano Naquele momento portanto

425 Vide DAGRON Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore

Phocas (963-969) Paris pp 152 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 426 Vide Anexo VIII b) 427 laquoA Guerra Buacutelgara no entanto natildeo apelava ideologicamente Os Buacutelgaros seriam supostamente os filhos

espirituais de Bizacircncio e de mostrar comportamento como se filhos desta fossem e ele (Leatildeo VI) sentiu que

guerra contra este povo ia contra a ordem proacutepria das coisas ao mesmo tempo que interrompia as guerras que ele

queria executarraquo Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40 428 TOUGHER S ndash Op cit p 181 429 Idem Ibidem p 182 A mesma opiniatildeo eacute expressa por Haldon vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 339 430 P ex Taktikaacute XVIII233-236 350-352 refere ainda que laquoestas caracteriacutesticas dos Turcos satildeo diferentes das

dos Buacutelgaros na medida em que estes abraccedilaram a feacute dos Cristatildeos e - gradualmente - adotaram as caracteriacutesticas

dos Romanos Quando o fizeram despojaram-se do seu modo de vida selvagem e noacutemada bem como da sua

falta de feacuteraquo vide Taktikaacute XVIII295-298 431 Este reencontro beacutelico acabaria por acontecer em 913 apoacutes a morte de Leatildeo quando as reacutedeas do Impeacuterio

passaram para as matildeos de Alexandre seu irmatildeo que natildeo cumpriu os acordos com Simeatildeo da Bulgaacuteria A guerra

soacute terminaria com a morte de Simeatildeo em 927 apoacutes vaacuterios cercos a Constantinopla 432 Taktikaacute XVIII365 433 Cf supra 22

85

natildeo estavam interessados em encetar um conflito com Constantinopla antes pelo contraacuterio

pois o principado de Benevento-Caacutepua enviou uma embaixada a Leatildeo para oferecer a sua

lealdade a Bizacircncio em troca de uma alianccedila contra os Sarracenos na Campacircnia

independentemente do lsquomau sanguersquo que poderia ter jorrado da laquoquestatildeo beneventinaraquo434 O

autokraacutetor aproveita ainda para referir que Bizacircncio natildeo se sentia atraiacuteda pela ideia de

guerrear com eles alegando que uma das razotildees para isto era a partilha da mesma feacute com os

Romanos

Algo que nos suscitou a atenccedilatildeo foi um comentaacuterio de Leatildeo VI a Mauriacutecio nesta

secccedilatildeo Apesar de parafrasear o uacuteltimo imperador da dinastia justiniana no iniacutecio do paraacutegrafo

76435 o basileuacutes retorque logo de seguida que perderam muito dessa virtude436 Isto seraacute

possivelmente uma forma de o autor se referir ao estatuto de muitas cidades lombardas que

estariam sob a soberania bizantina apoacutes a sua laquolibertaccedilatildeoraquo de matildeos muccedilulmanas na segunda

metade do seacuteculo IX (ex Bari e Tarento) Por outro lado o basileuacutes reitera a necessidade de

se aprenderem as taacuteticas e o armamento dos Lombardos e dos Francos de forma ao strategoacutes

pode usar aquilo que achasse pertinente no campo de batalha constituindo um outro exemplo

da disponibilidade de Bizacircncio para adaptar haacutebitos beacutelicos de outros povos desde que os

achasse uacuteteis ou necessaacuterios437

Apesar de tudo isto a principal inovaccedilatildeo de Leatildeo VI para a tratadiacutestica bizantina foi o

trecho que respeita os Aacuterabes Esta secccedilatildeo da Constitutio XVIII que vai da linha 495 ateacute agrave

696 aborda um grande conjunto de temaacuteticas referentes agrave arte da guerra bizantina contra os

Aacuterabes pensamento estrateacutegico retoacuterica religiosa e claro organizaccedilatildeo taacutetica A primeira

coisa de que nos apercebemos eacute que Leatildeo identifica a cidade de Tarso (na Ciliacutecia) como a

principal fonte da ameaccedila aacuterabe Natildeo eacute por acaso que tal eacute indicado pois Tarso era o maior

dos al-thugucircr e foi o ponto de partida das maiores expediccedilotildees de saque muccedilulmanas desde a

segunda metade do seacuteculo IX ateacute agrave reconquista da cidade por forccedilas bizantinas sob o comando

de Niceacuteforo II Focas em 965438 De facto era na Ciliacutecia que tambeacutem se realizava a maior

434 Chamamos laquoquestatildeo beneventinaraquo ao periacuteodo entre 891 e 895 desde a conquista de Benevento pelos

Bizantinos ateacute aacute sua reconquista pelos Lombardos (apoiados pelo priacutencipe de Salerno) alegadamente causada

pela opressatildeo romana 435 laquoOs Francos e os Lombardos datildeo muito valor agrave liberdaderaquo Taktikaacute XVIII377 Strategikoacuten XI3 436 Taktikaacute XVIII378 437 Taktikaacute XVIII360-369 Este comentaacuterio natildeo parece ter paralelo no Stratēgikoacuten ao contraacuterio do resto desta

secccedilatildeo (linhas 377-440) que vai buscar muita influecircncia agrave obra de Mauriacutecio demonstrando que Leatildeo natildeo estava

muito atualizado em relaccedilatildeo agraves praacuteticas militares dos Francos por exemplo Cf Stratēgikoacuten XI3 438 Vide PP VII

86

parte das expediccedilotildees de saque bizantinas com o objetivo de desgastar a capacidade guerreira

muccedilulmana a qual embora mais ativa no veratildeo continuava a fazer ofensivas no inverno439

Mas Tarso natildeo era apenas uma boa base para campanhas terrestres era tambeacutem o

porto de partida da grande parte das expediccedilotildees navais sarracenas no Mediterracircneo oriental

Natildeo obstante no Taktikaacute440 a Ciliacutecia natildeo parece ainda possuir o poder que vai ter quase meio

seacuteculo mais tarde sob Sayf ad-Daulah O autokraacutetor refere que apesar de os homens de

Tarso estarem aptos a lutar tatildeo bem em terra como no mar natildeo eram capazes de conseguir

realizar uma campanha nas duas frentes podendo os Bizantinos aproveitar-se disso para

lanccedilar um contra-ataque quase sem contestaccedilatildeo por qualquer um dos outros meios441

Na escrita desta secccedilatildeo Leatildeo tambeacutem fala de certas fraquezas que atribui aos

Sarracenos442 como a sua vulnerabilidade face agraves condiccedilotildees meteoroloacutegicas da Aacutesia

Menor443 Embora esta visatildeo seja algo estereotipada444 existem casos em que forccedilas

muccedilulmanas foram derrotadas ou se viram estorvadas por fenoacutemenos climateacutericos445 Por

outro lado o basileuacutes informa-nos que o arco era a principal arma contra eles devendo ser

usado contra os cavalos e contra as tropas menos bem protegidas destes como os Etiacuteopes ou

os restantes arqueiros446

Por fim o autor enceta uma discussatildeo das caracteriacutesticas religiosas da guerra travada

pelos Muccedilulmanos Aqui parece-nos que ele considera os seguidores dos Islatildeo como o

principal antagonista agrave sobrevivecircncia do Impeacuterio natildeo soacute pelo poder militar mas tambeacutem pelo

seu fervor religioso um facto enunciado pela comparaccedilatildeo que tece com os Persas Esta

Constitutio apresenta-se como a primeira obra bizantina a falar de trecircs caracteriacutesticas da

guerra realizada pelos muccedilulmanos nesta altura447 Baseando-se nos trecircs pilares da guerra

439 Taktikaacute XVIII579-583 440 Taktikaacute XVIII667-668 laquoPois o exeacutercito dos baacuterbaros cilicianos natildeo eacute muito numeroso uma vez que os

mesmos homens natildeo podiam realizar campanha tanto em terra como no marraquo Isto poderaacute levar a supor que

apesar de ser o principal foco de atividade beacutelica muccedilulmana a concentraccedilatildeo de esforccedilos nesta regiatildeo natildeo seria

tatildeo grande como se supocircs Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 489 441 Por exemplo se os Cilicianos optassem por um raide terrestre os Bizantinos deviam responder com um

ataque naval com a frota do theacutema do Kibirrhaiotai Se o ataque fosse por mar os Bizantinos podiam invadir a

Ciliacutecia por terra Taktikaacute XVIII662-668 Leatildeo chega ainda a propor que agrave semelhanccedila do que o pai fizera em

877 se realizasse um ataque combinado do exeacutercito e da frota contra Tarso Taktikaacute XVIII669-674 442 Como John Haldon salienta sem ser quando menciona os ldquoEtiacuteopesrdquo Leatildeo refere-se aos Sarracenos como um

todo natildeo referindo a diversidade de povos que participavam nas campanhas de saque muccedilulmanas como os

Dailamitas os Turcos ou os Curdos entre outros 443 Taktikaacute XVIII573-578 444 HALDON J (2014) ndash Opcit p 362 445 Durante a batalha de Anzen em 838 a chuva teraacute molhado e afetado os arcos turcos Por outro lado no

inverno de 666 para 667 uma forccedila bizantina teraacute reconquistado Amorion aos Aacuterabes num ataque de surpresa

Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 453 446 Taktikaacute XVIII635-646 447 Cf supra 41

87

(jihad ghazis e waqf) o autor conclui que os Aacuterabes satildeo um povo guerreiro que natildeo

contando com a sua admiraacutevel vontade de combater pelo seu Deus soacute parece lutar para

conseguir despojos448 Ora esta ganacircncia parece dar soacute mais razatildeo aos Romanos para

combaterem os Sarracenos uma vez que torna justa a sua guerra defensiva449 No conflito

contra os Aacuterabes era crucial um movimento geral da populaccedilatildeo para apoiar o exeacutercito naquilo

que fosse necessaacuterio tornando-se um fator essencial para o Impeacuterio obter a vitoacuteria450

63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta

laquoComo jaacute frequentemente dissemos eacute muito perigoso para qualquer um arriscar

uma batalha campal mesmo quando nos parece frequentemente claro que [as nossas

forccedilas] ultrapassam muito as do inimigo Os desiacutegnios da fortuna satildeo incertosraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 589-591451

A batalha natildeo era o principal foco da estrateacutegia defensiva bizantina como jaacute foi

referido e caso se travasse natildeo deveriam ser os themaacuteta a encetaacute-la sozinhos estando essa

missatildeo nas matildeos do domestikoacutes e dos corpos profissionais da capital Ainda assim haveria

sempre a possibilidade de um strategoacutes provincial ter de a travar pelo que Leatildeo dedica vaacuterias

Constitutiones452 do seu tratado agrave preparaccedilatildeo de um evento deste geacutenero e ao comando de

soldados nestas situaccedilotildees No entanto a maior parte destas parecem encontrar mais influecircncia

do que o normal no Stratēgikoacuten de Mauriacutecio com exceccedilatildeo do uacuteltimo trecho da XVIII (linhas

696-855) que parece ter tido origem na pena de Leatildeo bem como na experiecircncia dos seus

generais453 Assim esta secccedilatildeo parece ser aquela que descreve melhor a disposiccedilatildeo taacutetica da

448 Taktikaacute XVIII647-653 449 Trata-se de uma visatildeo algo depreciativa e redutora por parte do basileuacutes pois a noccedilatildeo de guerrear apenas para

obter botim mostra-se desconforme ao cariz religioso da guerra muccedilulmana No Islatildeo pelejar por mero ganho

pessoal ou por prestiacutegio era o equivalente a procurar a condenaccedilatildeo eterna HALDON J (2014) ndash Op cit p 374 450 Taktikaacute XVIII607-611 Haldon refere no entanto que os grandes problemas que provocaram as derrotas que

o impeacuterio tinha sofrido entre seacuteculo VII e o X foram a fraca lideranccedila e a pobre disciplina das tropas Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit p 373 Vaacuterias hostes romanas conseguiram agrave base de boa lideranccedila infligir

pesadas derrotas aos seus adversaacuterios como no caso de Heraacuteclio irmatildeo de Tibeacuterio II que ainda no seacuteculo VII

conduziu expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo ou de Leatildeo III que fez abortar o uacuteltimo cerco a

Constantinopla pelos Omiacuteadas e esmagou a uacuteltima grande ofensiva omiacuteada juntamente com o filho o futuro

Constantino V na batalha de Akroinos Para Heraacuteclio vide HALDON J (2001) ndash Op cit p68 Para Leatildeo III

vide HALDON J (2016) ndash Op cit pp 53-54 451 DENNIS George T (2014) ndash Op cit pp 482-483 452 Satildeo as Constitutiones XII XIII XIV e XVIII 453 HALDON J (2014) ndash Op cit p384

88

eacutepoca de Leatildeo pelo que nos vamos basear nesta ao inveacutes da Constitutio XII454 que aborda as

mesmas temaacuteticas mas vai recuperar muita informaccedilatildeo ao Stratēgikoacuten455

Antes de a batalha comeccedilar havia certos procedimentos que deveriam ser seguidos A

feacute divina mostrava-se novamente necessaacuteria tendo os estandartes de ser abenccediloados por

sacerdotes enquanto as puniccedilotildees de alguns castigos deviam ser adiadas ateacute depois da batalha

ou afastar-se-iam os infratores das restantes tropas As horas de refeiccedilotildees e a alimentaccedilatildeo dos

soldados deviam ser bem planeadas para que os militares natildeo se encontrassem em jejum

quando o combate comeccedilasse456 tendo de se proceder da mesma maneira no que dizia

respeito agraves bebidas das montadas457

Chegado o momento da batalha o basileuacutes utiliza como exemplo um exeacutercito de 4000

homens458 para explicitar a forma como este devia ser disposto para a batalha Em primeiro

lugar o strategoacutes deveria mobilizar 1500 homens para a linha da frente a proacutemachos

divididos em trecircs divisotildees estando cada divisatildeo composta por cinquenta decarquias com dez

homens cada organizadas como mencionaacutemos anteriormente459 e comandadas por um

turmarca Depois disto dever-se-ia formar uma linha de apoio composta por quatro divisotildees

separadas por um laquotiro de flecharaquo de distacircncia cada uma com 250 homens perfazendo 1000

soldados no total Cada um dos espaccedilos nesta formaccedilatildeo deveria estar ocupado por cavaleiros

para dar a impressatildeo de a segunda linha ser muito extensa estando destacados 100 guerreiros

para cada uma das interrupccedilotildees Por fim em formaccedilatildeo regular obrigatoacuteria encontramos as

fileiras da retaguarda divididas em duas alas esquerda e direita com 250 homens cada (o que

resulta em 500 soldados no total)

Os restantes efetivos aproximadamente 700 deviam ocupar outras posiccedilotildees no campo

de batalha Dois bandaacute de 200 homens cada responsaacuteveis por fazer emboscadas deviam ser

estacionados a alguma distacircncia das linhas para emboscar o inimigo a partir de lugares que

permitissem aos Bizantinos esconder-se Na linha de frente deveriam existir dois batalhotildees

avanccedilados de cada uma das alas que funcionariam como flanqueadores (se estivessem no

454 Natildeo vamos poreacutem abster-nos de referir esta Constitutio bem como a influecircncia da obra de Mauriacutecio nela 455 Seraacute uma paraacutefrase quase integral dos livros II III e VII de Mauriacutecio Cf HALDON J (2014) ndash Op cit p

259 456 Taktikaacute XIII43-46 457 Taktikaacute XIII54-57 458 O nuacutemero meacutedio de homens que Leatildeo aconselha para um exeacutercito de um theacutema pelo que nos poderaacute levar a

supor (ateacute pela exatidatildeo dos nuacutemeros) que este era realmente o principal modelo taacutetico usado pelas forccedilas

ldquotemaacuteticasrdquo caso combatessem sozinhas Taktikaacute XVIII841-843 Cf Taktikaacute XII127-212 e Stratēgikoacuten II2-5 459 Cf supra 51

89

lado direito) ou guarda-flancos (se estivessem no esquerdo) cada um tendo 100 soldados460

Os uacuteltimos 100 cavaleiros estariam sob o comando pessoal do strategoacutes ou do oficial maacuteximo

naquela batalha Este grupo deveria servir com reserva pronta a auxiliar qualquer uma das

divisotildees caso fosse necessaacuterio estando para isso localizado na divisatildeo central da linha da

frente ou noutra localizaccedilatildeo que permitisse ao general aferir o estado da batalha e de cada um

dos setores do dispositivo taacutetico461

Como eacute que este dispositivo funcionava em batalha A forma parece basear-se num

jogo de ldquobate-e-fogerdquo A proacutemachos era divida em dois tipos de soldados os kouacutersores e os

ekdiacutekoi numa proporccedilatildeo de um para dois Enquanto os kouacutersores atacavam o inimigo os

defensores estavam encarregados de os apoiar caso estes precisassem de retirar bem como de

evitar possiacuteveis envolvimentos Caso a primeira linha tivesse de recuar os homens nos

intervalos da segunda linha recuavam para a retaguarda para permitir a passagem dos

cavaleiros em debandada e possibilitar-lhes que se reorganizassem em seguranccedila antes de

voltarem agrave refrega enquanto evitavam que possiacuteveis desertores abandonassem o campo de

batalha Estes homens mantinham-se depois na retaguarda ateacute ser necessaacuterio suportar a

segunda linha Enquanto isso os flanqueadores e os guarda-flancos deviam manter a pressatildeo

sobre o exeacutercito adversaacuterio bem como os grupos de emboscada

Relativamente a combates com forccedilas numericamente superiores o basileuacutes aconselha

o strategoacutes a convocar alguns dos seus colegas para que com o triplo dos homens pudessem

fazer frente agravequela ameaccedila462 Leatildeo natildeo menciona quem seria o comandante deste conjunto de

themaacuteta mas era provaacutevel que fosse o comandante local por conhecer melhor o terreno ou

entatildeo o strategoacutes mais experiente mas isto satildeo meras suposiccedilotildees da nossa parte463 Por outro

lado se a hoste adversaacuteria fosse mais pequena o basileuacutes aconselhava a que se praticasse uma

manobra de envolvimento que poderia ou natildeo envolver as trecircs linhas464

460 Mais tarde Leatildeo refere que estes homens deviam atuar em conjunto com os 4000 homens que jaacute mencionara

fazendo supor que estes natildeo estariam presentes entre o conjunto da forccedila recrutada Isto natildeo faz sentido porque

sem estes homens a conta natildeo chegaraacute aos quatro mil homens Taktikaacute XVIII765-769 461 A existecircncia de um corpo de reserva mostrou-se essencial para a vitoacuteria bizantina em certas batalhas No

uacuteltimo grande confronto entre Russos e Bizantinos agraves portas de Dorostolon em 971 a vitoacuteria bizantina esteve

presa por um fio ateacute Joatildeo II Zimisces (969-976) o co-imperador de entatildeo carregar sobre o centro da linha russo

com os seus catafractaacuterios e quebrar as formaccedilotildees noacuterdicas A carga do basileuacutes juntamente com as condiccedilotildees

atmosfeacutericas que se fizeram sentir entatildeo permitiu agraves linhas romanas empurrar o centro adversaacuterio enquanto a

cavalaria pesada sob Bardas Sclero no flanco direito esmagava os Russos com uma manobra de envolvimento

Vide Leatildeo o Diaacutecono A Histoacuteria VIII e HALDON J (2001) ndash Op cit p 104 462 Taktikaacute XVIII808-819 463 Exemplos de encontros onde mais do que uma forccedila de um themaacuteta se reuniram para confrontar o inimigo

podem ser as batalhas de Lalacatildeo e Bathys Ryax apesar de a uacuteltima se tratar mais de um ardil bizantino que

provocou uma debandada no seio das forccedilas paulicianas a que se seguiu o massacre na perseguiccedilatildeo 464 Taktikaacute XVIII819-829

90

A principal vantagem desta formaccedilatildeo era a de permitir manter a pressatildeo ou uma defesa

soacutelida frente a exeacutercitos das mais variadas dimensotildees pois havia sempre tropas frescas

prontas para auxiliar as restantes caso estas necessitassem de retirar Para aleacutem disso nas

palavras de Leatildeo e de Mauriacutecio organizar um exeacutercito numa soacute linha gerava muitos

problemas a niacutevel de comando465 Por outro lado este modelo organizativo permitia que

fossem realizadas muitas mais movimentaccedilotildees taacuteticas do que aquelas que seria possiacutevel

concretizar se o exeacutercito formasse em apenas uma linha enquanto a extensatildeo de tal fila

provocaria problemas na coesatildeo das fileiras em caso de o combate se dar em terreno difiacutecil466

Outras desvantagens parecem ser o facto de uma grande linha permitir a fuga de certos

homens sem que o comando se aperceba enquanto por outro lado eventuais perseguiccedilotildees a

inimigos em fuga acabariam em desastre caso os soldados bizantinos fossem emboscados

sem apoio de qualquer outra forccedila de apoio467

465 Stratēgikoacuten II1 466Taktikaacute XII31-46 467 Taktikaacute XII51-65

91

Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas

Apesar de Leatildeo dedicar vaacuterios capiacutetulos agraves questotildees relacionadas com a batalha

campal eacute importante voltar salientar que esta natildeo era uma praacutetica muito apreciada pelos

Bizantinos porque poderia acarretar graves consequecircncias e muitas baixas Para Leatildeo VI o

preferiacutevel era combater por meio de assaltos a fortificaccedilotildees ou por estratagemas por outro

lado e como jaacute salientaacutemos o mar era um meio crucial para combater os muccedilulmanos O

nosso proacuteximo capiacutetulo abordaraacute estas questotildees que entendemos serem mais pertinentes para

a questatildeo da guerra travada pelos thematikoiacute do que propriamente as batalhas campais

71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade

laquoA guerra de cerco exige um general que seja corajoso e perspicaz que tenha

conhecimento militar senso comum e que consiga preparar maacutequinas de guerra Ele

deve zelar pela seguranccedila ao acampar em redor de uma cidade ou de uma fortaleza ou

fortificaccedilatildeo e deve dedicar muita atenccedilatildeo a essa seguranccedilaraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XV linhas 9-12468

A poliorceacutetica (isto eacute a disciplina militar que se ocupa do cerco de cidades) eacute da

maacutexima importacircncia para Bizacircncio e representava uma das teacutecnicas beacutelicas mais empregues

por este impeacuterio Eacute inconcebiacutevel imaginar este Estado sem o domiacutenio desta vertente da arte de

guerra tendo em conta os muacuteltiplos inimigos que enfrentou nas mais variadas frentes o que

lhe fez tirar partido da falta de experiecircncia da maior parte dos seus vizinhos nessa

modalidade Apesar de Leatildeo VI natildeo apresentar muitos conteuacutedos originais neste aspeto da sua

obra tomaacutemos a iniciativa de fazer uma pequena resenha do que ele escreveu neste

subcapiacutetulo ndash pelas razotildees acima enunciadas ndash dividindo-o em trecircs aspetos principais o

assalto a uma fortaleza a defesa de um recinto fortificado e a construccedilatildeo de postos-de-vigia

Relativamente ao asseacutedio de uma fortificaccedilatildeo podemos comeccedilar por verificar como eacute

que um strategoacutes tomava uma cidade inimiga alcanccedilando a vitoacuteria numa operaccedilatildeo desta

natureza Tal podia ser feito atraveacutes de um bloqueio rigoroso de forma a obrigar a guarniccedilatildeo

a render-se caso natildeo houvesse tempo ou mantimentos para tal empreendimento poder-se-ia

tentar um assalto agraves muralhas com recurso a maacutequinas de cerco ou entatildeo o general recorria a

ardis e a estratagemas para enganar os defensores e conseguir tomar a cidade Por outro lado

468 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 350-351

92

poder-se-ia fazer uso dos engenhos de cerco para demolir o moral da guarniccedilatildeo e dos

habitantes forccedilando-os agrave rendiccedilatildeo podendo igualmente consumar-se a tomada desse siacutetio

atraveacutes da traiccedilatildeo por algueacutem de dentro do periacutemetro defensivo Por fim se o objetivo fosse

apenas o botim havia ainda a alternativa de os sitiados pagarem um tributo469 podendo a

hoste retirar-se se tal bastasse para saciar os desejos desta forccedila militar

Tendo em conta o acima referido quais eram os procedimentos para a tomada de um

siacutetio amuralhado A primeira regra de acordo com Leatildeo VI seria enviar cavaleiros agrave frente

do exeacutercito de forma a capturar todos aqueles que pudessem avisar com antecedecircncia a

povoaccedilatildeo da aproximaccedilatildeo da hoste bizantina470 A isto segue-se a construccedilatildeo de um

acampamento fortificado em torno do objetivo (uma circunvalaccedilatildeo) um procedimento fulcral

para garantir o bloqueio da cidade e para proteger a hoste sitiadora O comandante bizantino

de seguida deve comeccedilar a distribuir logo tarefas espalhar batedores pelo terreno circundante

para o avisarem de ameaccedilas quer de dentro da cidade quer de fora colocar homens a montar

armas de cerco e estacionar soldados nas entradas do siacutetio sujeito ao assalto

O general deve entatildeo ponderar as suas opccedilotildees a cidade tem mantimentos suficientes

para aguentar o cerco O exeacutercito bizantino possui provisotildees necessaacuterias para conseguir

bloquear com sucesso a cidade E quanto agraves fortificaccedilotildees e agrave guarniccedilatildeo seratildeo suficientemente

fortes para aguentar um assalto Apesar de todas estas questotildees para os Bizantinos era

preferiacutevel capturar a praccedila pelo bloqueio471 ou obrigaacute-la a render-se de outras formas visando

o menor nuacutemero de baixas possiacutevel

A grande arma para se atingir este objetivo eacute o medo Leatildeo VI aconselha o general a

tirar proveito da noite para bombardear a cidade alegando que isto poderaacute criar uma confusatildeo

algo paranoica por entre os habitantes facilitando a sua subjugaccedilatildeo472 Por outro lado essa

sensaccedilatildeo de pacircnico e talvez de cansaccedilo apoacutes algumas noites atrevemo-nos a dizer iria tornaacute-

los mais descuidados nas palavras do autokraacutetor pelo que seria possiacutevel enganaacute-los fazendo

subir laquodois homensraquo agrave muralha De acordo com o basileuacutes com algum exagero os indiviacuteduos

469 Como no caso do cerco aacuterabe de Tessaloacutenica em que a cidade foi libertada (aparentemente) depois do

pagamento de um avultado tributo Cf supra 22 470 Taktikaacute XV229-233 Onas XXXIX Stratēgikoacuten X 471 Uma das teacutecnicas que visava este objetivo era em caso da captura de cidadatildeos inimigos nas proximidades da

fortaleza aprisionar todos os que pudessem participar na defesa do local e enviar para o siacutetio assediado todos os

outros (mulheres crianccedilas e idosos) de forma a aumentar a velocidade com que os mantimentos eram comidos

Taktikaacute XV132-138 Onas XLI 472 A conquista de Antioquia em 969 por forccedilas leais a Niceacuteforo Focas parece ter-se dado em circunstacircncias

proacuteximas destas Um pequeno grupo de homens trepou as muralhas durante a noite matou alguns vigias e

incendiou vaacuterios setores da cidade espalhando o pacircnico pela cidade Este grupo teraacute depois aberto os portotildees o

que permitiu aos Romanos entrar A populaccedilatildeo ter-se-aacute entatildeo rendido e os fogos foram apagados pelas forccedilas

bizantinas Vide A Histoacuteria de Leatildeo o Diaacutecono V

93

responsaacuteveis pelas muralhas pensaratildeo que eacute o exeacutercito inimigo que estaacute a subir pelo que de

imediato fugiratildeo deixando as ameias agraves matildeos do invasor473 Em alternativa o strategoacutes

deveria exibir (suficientemente longe das muralhas) alguns dos seus soldados com cota de

malha e armadura completa de forma a intimidar o adversaacuterio474 Por fim na altura de impor

os termos de rendiccedilatildeo estes deviam ser modestos e sensatos ndash como a entrega das armas e das

montadas por exemplo ndash de forma a aplacar a populaccedilatildeo da cidade mas tambeacutem para lhe

minar a vontade de combater475 Quando o empreendimento tem sucesso o imperador

aconselha o general a ser misericordioso gentil ateacute para com a populaccedilatildeo de maneira a

suprimir os seus desejos de resistecircncia476 Para aleacutem disso demonstrava a outras cidades que

pudessem ser cercadas no futuro que os novos suacutebditos do impeacuterio natildeo seriam oprimidos477

O strategoacutes soacute deveria encetar um assalto agraves muralhas caso o bloqueio natildeo fosse viaacutevel

por falta de mantimentos da parte da hoste atacante tirava entatildeo proveito das maacutequinas de

guerra ao seu dispor tais como ariacuteetes escadas de assalto tartarugas e outros engenhos478 A

persistecircncia no ataque (com ataques interminaacuteveis por turnos contra a cidade para natildeo cansar

os soldados479) e a conjugaccedilatildeo dos meios de assalto480 eram os dois principais fatores que o

imperador aconselhava para o sucesso no asseacutedio Apesar de todo este aparato beacutelico

Niceacuteforo Ouranos considera um seacuteculo depois que o melhor meacutetodo para tomar uma

fortaleza por meio de um assalto satildeo os trabalhos de escavaccedilatildeo sob as fundaccedilotildees da muralha

por meio de laisacirci481 Natildeo obstante Leatildeo VI natildeo mencionar estes dispositivos parece que

473 Taktikaacute XV27-35 Onas XLI 474 Os que natildeo cumprissem estes requisitos podiam usar o almofre da armadura de outro soldado e apresentar-se

de armas completas Para aleacutem disso o acampamento devia estar suficientemente longe da cidade para que a

maior parte dos apetrechos neste parecessem soldados ao inimigo assediado e para natildeo impor aos soldados nas

suas horas de descanso o stressante som dos combates (gritos e terccedilar de armas) Taktikaacute XV56-57 e 139-143

Stratēgikoacuten X1 475 Caso contraacuterio se os termos forem muito rigorosos os habitantes poderiam entender que mais valeria resistir

do que renderem-se Taktikaacute XV64-66 476 Cf supra 51 477 Taktikaacute XV210-216 e 238-249 Onas XXXV XXXVIII e XLII 478 Aqui possivelmente devem-se incluir os engenhos de artilharia neurobaliacutestica possivelmente sifotildees manuais

de fogo grego (que natildeo deveriam disparar material flamejante no entanto) e as laisacirci das quais falaremos a

seguir Quanto aos sifotildees manuais vide Taktikaacute XIX356-361 Parangelmata Poliorcetica XLIX (de aqui em

diante citada por Polio) e HALDON John et alli (2006) Greek fire revisited recent and current research In

JEFFREYS Elizabeth Byzantine Style Religion and Civilization ndash In Honour of Steven Runciman Cambridge

Cambridge University Press pp 295-296 e 314-315 479 Que de acordo com Leatildeo seria o suficiente para tomar um recinto fortificado pequeno Taktikaacute XV149-153

Stratēgikoacuten X1 480 Por exemplo incendiar casas por meio de flechas e de projeacuteteis flamejantes ou colocar escadas para trepar as

muralhas enquanto os habitantes estatildeo ocupados a apagar os fogos 481 Uma estrutura amoviacutevel feita de ramos entrelaccedilados e com uma cobertura iacutengreme de construccedilatildeo simples e

faacutecil transporte com vaacuterias entradas Servia para proteger os homens que as transportavam durante a

aproximaccedilatildeo agraves muralhas ou para garantir o seu descanso McGeer diz que elas tambeacutem poderiam ser utilizadas

pelos sapadores durante os seus trabalhos para os proteger dos projeacuteteis vindos das muralhas Vide MCGEER

94

estes teratildeo sido utilizados pelos Buacutelgaros para evitar que os Magiares atravessassem o

Danuacutebio em 895 pelo que natildeo seraacute de excluir a hipoacutetese de os Bizantinos os conhecerem e

utilizarem na eacutepoca do Taktikaacute482

As reminiscecircncias de Ouranos afiguram-se interessantes porque podem refletir-se na

eacutepoca de Leatildeo VI Ao ter em conta que o principal objetivo da guerra neste periacuteodo era o

saque e que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam de alguma mobilidade para a praticar eacute

pouco provaacutevel que se dessem ao trabalho de trazer maquinaria pesada para cercar

fortalezas483 Para tal seria mais viaacutevel a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de cerco mais raacutepidas e baratas

como o bloqueio484 as minas os ardis e as laisacirci em detrimento da utilizaccedilatildeo de engenhos de

cerco que necessitassem de vir de longe e que sem duacutevida tornariam mais lenta a marcha de

hostes que precisavam de ser raacutepidas por natureza Uma possiacutevel exceccedilatildeo para isso poderia

acontecer caso o exeacutercito estivesse numa campanha para conquistar um baluarte ou cidade em

particular no entanto tal seria uma responsabilidade mais facilmente atribuiacuteda a uma hoste

expedicionaacuteria de um basileuacutes ou de um domestikoacutes do que a um exeacutercito provincial485

E se o strategoacutes estivesse do outro lado da muralha o que deveria fazer Em primeiro

lugar preparar-se atempadamente para o cerco armazenar provisotildees486 evacuar quem natildeo

fosse estritamente necessaacuterio para a defesa montar engenhos de cerco nos topos das torres e

planear muito bem a distribuiccedilatildeo de homens a fim de garantir que natildeo houvesse zonas por

defender487 Para aleacutem disso teria de colocar guardas a patrulhar (em especial durante a noite)

bem como a proteger as provisotildees enquanto os portotildees deviam estar sob a proteccedilatildeo de

homens de confianccedila488

Quanto a formas de defender as muralhas489 Leatildeo aconselha a que sejam pendurados

troncos grandes ou rochas para esmagar os homens e as escadas do inimigo caso ensaiem

Eric (1995) Tradition and Reality in the Taktika of Nikephoros Ouranos In Dumbarton Oaks Papers 45 p

135 482 Vide MCGEER E (1995) ndash Op cit p137 483 Tome-se o caso da expediccedilatildeo de Basiacutelio I a Tephrike e a Melitene em 871 infrutiacutefera por causa das

respetivas defesas e da incapacidade de as bloquear devido agrave enorme quantidade de provisotildees que possuiacuteam 484 Se houvesse provisotildees suficientes e tempo para tal 485 Tome-se como exemplo a expediccedilatildeo a Creta em 949 que estaria equipada com peccedilas para maacutequinas de

cerco que seriam montadas na altura de tomar a capital Chandax Vide Constantino VII basileuacutes ldquoThe

expedition which took place against the island of Crete and the equipping of the naval and cavalry forces in the

seventh indiction in the time of Constantine and Romanos purple-born and faithful emperors in Christrdquo Texto

traduccedilatildeo e comentaacuterio HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century Military Administration ndash

Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies Travaux et Memoacuteires (13) pp 224-225 486 E impor raccedilotildees diaacuterias caso natildeo haja em quantidade suficiente em especial de aacutegua Taktikaacute XV324-329 487 E que houvesse uma reserva pronta a atuar onde fosse preciso 488 Taktikaacute XV306 489 E caso natildeo fosse possiacutevel derrotar o inimigo antes de este assediar a fortificaccedilatildeo Taktikaacute XV250-255 Estas

seratildeo palavras originais de Leatildeo de acordo com John Haldon que indica o caso da derrota de Teoacutefilo (829-842)

95

uma escalada dos muros Se o inimigo usasse torres-de-assalto os defensores deveriam

utilizar misseis incendiaacuterios ou recorrer aos projeacuteteis das maacutequinas de lanccedilamento de pedras

ou agrave construccedilatildeo de torres nas ameias maiores do que as torres do adversaacuterio490 As surtidas

eram proibidas por mais valorosos que os militares e os cidadatildeos fossem491 a natildeo ser em

casos de extrema necessidade para destruir as armas de cerco inimigas492 Para aleacutem destes

conselhos o basileuacutes recomendava ao strategoacutes que pensasse ele proacuteprio em formas de

contrariar os ataques e estratagemas do inimigo493 ou ateacute em expedientes para enganar o

adversaacuterio enquanto mantinha o moral da populaccedilatildeo alto ateacute o cerco terminar494

Por fim em relaccedilatildeo agrave poliorceacutetica Leatildeo dedica algumas palavras agrave raacutepida construccedilatildeo

de fortalezas fronteiriccedilas495 Estas fortificaccedilotildees496 tanto nos Balcatildes como especialmente na

Aacutesia Menor tornam-se importantes no contexto da eacutepoca pelas seguintes razotildees

laquo(hellip) Primeiro para observar a aproximaccedilatildeo de um inimigo segundo para receber

desertores do inimigo terceiro para conter quaisquer fugitivos do nosso proacuteprio lado A quarta

(razatildeo) eacute para facilitar a preparaccedilatildeo de raides contra territoacuterios inimigos perifeacutericos Estes satildeo

empreendidos natildeo tanto para saquear mas mais para descobrir o que o inimigo estaacute a fazer e

que planos urde contra noacutesraquo497

Para este empreendimento eacute uma vez mais necessaacuterio averiguar de certas

necessidades haacute materiais de construccedilatildeo na zona onde se pretende construir o recinto E

quanto agrave aacutegua existe ou eacute necessaacuterio procuraacute-la ou trazecirc-la de outro siacutetio Seguem-se os

conselhos para a edificaccedilatildeo enviar artesatildeos (canteiros carpinteiros entre outros)

acompanhados por toda a logiacutestica de que precisassem e uma escolta para comeccedilarem a

construir os alicerces das fortificaccedilotildees enquanto estavam protegidos por um karagos Novas

na batalha de Anzen (838) numa tentativa de destruir uma de duas colunas aacuterabes que se dirigiam agrave cidade

como um exemplo praacutetico de um falhanccedilo desta estrateacutegia HALDON J (2014) ndash Op cit p301 490 Taktikaacute XV273-285 Stratēgikoacuten X3 491 Karlin-Hayter considera o excerto que diz isto como uma reflexatildeo da mentalidade estrateacutegica bizantina de

poupar soldados tambeacutem inserida no pensamento militar do Saacutebio ldquo(hellip) Os homens eram preciosos em

particular aqueles mais corajosos e Leatildeo estava preocupado em economizaacute-los A tarefa em matildeos consistia em

defender o impeacuterio e ele tinha pouca paciecircncia para heroiacutesmosrdquo Vide KARLIN-HAYTER ndash Op cit p19 492 A defesa da fortificaccedilatildeo devia ser feita nas muralhas quase que exclusivamente Taktikaacute XV306-316 493 Taktikaacute XV337-342 Paraacutefrase de Onas XL 494 Veja-se o caso do cerco aacuterabe a Constantinopla em 717718 quando Leatildeo III a fim de preparar as defesas da

cidade informou um dos comandantes aacuterabes de que a cidade de Amorion seria entregue aos invasores

Enquanto as forccedilas aacuterabes divergiam no seu percurso para a capital da divisatildeo dos Anatoacutelicos ele conseguiu

guarnecer eficazmente aquela cidade obrigando depois aquela hoste a retirar O resultado deste estratagema

para Constantinopla foi que ao inveacutes de ser cercada por dois exeacutercitos aacuterabes foi assediada apenas por uma

hoste Tal foi uma das razotildees para a vitoacuteria dos defensores em 718 Vide HALDON J (2016a) ndash Op cit p53 495 Esta secccedilatildeo (Taktikaacute XV343-402) eacute quase uma paraacutefrase de Mauriacutecio Strategikon X4 496 John Haldon refere que estas fortalezas tendo em conta a sua localizaccedilatildeo na fronteira podem muito bem ser

os phouacuteria de Siriano que tinham funccedilotildees de vigia e natildeo tanto de proteccedilatildeo do territoacuterio Vide HALDON J

(2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 497 Siriano magister in Sir Strat IX

96

forccedilas seguidas de um acampamento fortificado dever-se-iam seguir a estas assim que as

presenccedilas inimigas locais tivessem sido afastadas pela manha bizantina498 Findos os

primeiros trabalhos dever-se-iam comeccedilar a erguer as primeiras fortificaccedilotildees per se

especialmente com a utilizaccedilatildeo de argamassa para as fortalecer A aacutegua a ser usada pela

guarniccedilatildeo tambeacutem era de extrema importacircncia inicialmente dever-se-ia armazenar a aacutegua em

barris ou em jarros de ceracircmica499 juntamente com pedras do rio limpas para a preservar ateacute

ao inverno De seguida iniciava-se a construccedilatildeo de cisternas para preservar a aacutegua da chuva

para a futura guarniccedilatildeo500

72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval

A Constitutio XIX do Taktikaacute dedica-se quase que por exclusivo a este tema e chegou

a ser considerada como um escrito distinto do manual de Leatildeo por se encontrar em separado

deste no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 501 Esta secccedilatildeo eacute tambeacutem uma das

primeiras a referirem a guerra naval desde o seacuteculo V e o tratado de Vegeacutecio502 algo que se

enquadra muito bem no paradigma da eacutepoca e do reinado de Leatildeo como jaacute referimos503

O manual militar discrimina vaacuterios tipos de droacutemōnes ainda que muito

subsidariamente ao longo das paacuteginas referentes a esta disciplina evocando dois em especial

uns mais pequenos com capacidade para 100 remadores e os maiores com capacidade para

200 homens que deviam ter dimensatildeo suficiente para manter a velocidade e a resistecircncia O

tratado menciona a existecircncia de galeacutes (ou monorremes) que eram mais pequenas e velozes do

que os outros droacutemōnes e eram bastante uacuteteis em taacuteticas que necessitassem de velocidade ou

de alguma discriccedilatildeo504 Ao serviccedilo do strategoacutes naval505 deviam existir ainda embarcaccedilotildees

498 Esta manha eacute constituiacuteda por um rumor de que a cidade inimiga mais proacutexima seria atacada seguido do envio

de uma forccedila fantoche para corroborar o rumor Enquanto o exeacutercito inimigo se dirige a este grupo de soldados

os trabalhos de construccedilatildeo devem prosseguir In Taktikaacute XV350-362 499 Dever-se ia colocar uma pequena bacia junto dos barris para que gota-a-gota a aacutegua escoasse para esta e

assim se mantivesse em movimento e natildeo estagnasse Assim que a bacia enchesse despejava-se novamente a

aacutegua no recipiente maior 500 Sob a forma como construir uma cisterna vide Taktikaacute XV 394-402 Stratēgikoacuten X4 501 Cf supra 43 502 laquoConquanto natildeo encontraacutemos nenhuma regulaccedilatildeo acerca disto (guerra naval) nos velhos tratados taacuteticos

ainda assim a partir do que lemos aqui e ali e do que aprendemos da experiecircncia ordinaacuteria dos nossos

comandantes da frota no tempo presente dos seus sucessos bem como dos seus falhanccedilos selecionaacutemos alguns

exemplos os suficientes para fazer esta apresentaccedilatildeo agravequeles que desejam combater no mar no que antigamente

se chamavam trirremes mas que agora se chamam droacutemōnesraquo Taktikaacute XIX3-8 Haldon acredita que por laquoaqui

e aliraquo o autor se refere ao Naumachiacuteai de Siriano Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 390 503 Cf supra 32 504 Em batalha eram uacuteteis para emboscadas para flanquear e como ldquoiscordquo para fugas simuladas Em campanha

eram usados como batedores Taktikaacute XIX66-68 Para utilizaccedilatildeo de galeacutes como batedores mariacutetimos no

contexto da expediccedilatildeo de 911 veja-se o Anexo IX a)

97

destinadas especificamente para o transporte de cavalos506 mantimentos e equipamento de

reserva que serviriam como trem-de-apoio naval507 A uacuteltima embarcaccedilatildeo mencionada eacute o

pamphylos que no contexto do Taktikaacute eacute o droacutemōn pessoal do strategoacutes508 tendo por isso de

ser superior aos outros em todos os aspetos incluindo a tripulaccedilatildeo que devia ser escolhida ao

pormenor pelo oficial superior509 Por sua vez esta tendecircncia devia ser seguida pelos que

seguiam o strategoacutes na linha de comando510

Dentro desta Constitutio eacute possiacutevel ainda aferir de certo modo a estrutura de um

droacutemōn na proa estariam os sifotildees de laquofogo greguecircsraquo cujos operadores estariam protegidos

dos projeacuteteis inimigos dentro de uma cabina de madeira511 Por cima dessa cabina existia uma

plataforma que servia para proteger a frente da embarcaccedilatildeo em caso de abordagem ou para

disparar projeacuteteis contra o inimigo512 O laquocasteloraquo nas embarcaccedilotildees maiores como jaacute foi

referido encontrava-se entre o mastro mais alto da frente e o segundo do meio Cada droacutemōn

possuiacutea duas filas de remadores uma sob o conveacutes513 e a outra sobre este Por fim eacute indicada

a presenccedila de uma cabina para o capitatildeo da embarcaccedilatildeo o keacutentarcos na popa514

Neste capiacutetulo procede-se igualmente agrave enumeraccedilatildeo de vaacuterias peccedilas de equipamento

que precisariam de estar em cada embarcaccedilatildeo ferramentas materiais suplentes para

reparaccedilotildees sifotildees515 (que deveriam estar na proa do navio) para o disparo do chamado laquofogo

greguecircsraquo laquotorresraquo para os navios maiores516 e gruas para virar as naves adversaacuterias517 Podiam

ainda possuir uma pequena balista na proa chamada toxobaliacutestrai que disparava projeacuteteis

505 Ao contraacuterio das restantes Constitutiones os destinataacuterios desta (como esperado) satildeo os strateacutegoi dos themaacuteta

mariacutetimos ou ateacute possivelmente droungaacuterios totilden ploiumlmon 506 Pryor e Jeffreys referem que a tipologia da embarcaccedilatildeo para transportar montadas dependia do tipo de missatildeo

a que a frota estivesse destinada Caso o objetivo fosse transportar um exeacutercito de um porto para outro dar-se-ia

preferecircncia a navios maiores por possuiacuterem espaccedilo para mais cavalos Se o objetivo fosse um desembarque

anfiacutebio entatildeo era mais apropriado usar galeacutes que apesar de terem menos tonelagem conseguiam atracar na praia

sem correr o risco de naufragar PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 307 507 Taktikaacute XIX66-68 508 Ou droungaacuterios caso fosse um almirante da frota imperial 509 Taktikaacute XIX247-252 510 Taktikaacute XIX253-255 Naumachiacuteai de Siriano 9 (doravante citado por Sir Naum) 511 HALDON J (2014) ndash Op cit p 397 512 Taktikaacute XIX34-37 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 203 513 Apesar de Leatildeo natildeo mencionar se o droacutemōn tinha um conveacutes inteiro esta frase (laquoQue cada droacutemōn seja de

grande comprimento e tamanho apropriado com duas filas de remadores como satildeo chamadas uma por baixo e

outra por cimaraquo) leva Pryor e Jeffreys a concluir que tal deveria ser o caso Taktikaacute XIV45-46 PRYOR JH e

JEFFREYS EM ndash Op cit p 232 514 Taktikaacute XIX56-60 O keacutentarcos tambeacutem se podia chamar naacuteuarchos HALDON J (2014) ndash Op cit p398 515 Apesar de a conjuntura dizer que seria apenas um havia casos onde parecem existir mais do que um em

certas embarcaccedilotildees como na expediccedilatildeo a Creta em 949 Vide HALDON J (2000) ndash Op cit pp 278-281 516 Estas torres serviriam de plataforma de lanccedilamento de projeacuteteis Seriam constituiacutedas por duas plataformas

fortificadas e estariam localizadas entre o maior masto da frente e o segundo masto a meio do navio Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit pp396-397 A traduccedilatildeo de Dennis (feita a partir de uma expressatildeo corrompida

do texto grego) eacute ldquoa meio do masto principalrdquo algo nada praacutetico e que acabaria com o derrubar do ldquocastelordquo em

caso de receber um impacto forte Taktikaacute XIX38-39 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 230 517 Taktikaacute XIX369-383

98

chamados de laquomoscasraquo ou laquoratosraquo Cada droacutemōn tinha que ter tambeacutem um conjunto de outras

armas tais como estrepes para serem lanccediladas para os conveses inimigos potes com laquocal

vivaraquo jarros recheados de laquofogo greguecircsraquo e apesar de isso pouco aceite pelos historiadores

contemporacircneos Leatildeo sugere (ele proacuteprio de forma ambiacutegua) que se poderiam utilizar

animais venenosos contra as naves inimigas518

Relativamente agrave tripulaccedilatildeo de cada droacutemōn esta dependeria do tamanho de

embarcaccedilatildeo De acordo com o Taktikaacute os navios maiores teriam cerca de 200 remadores

enquanto os medianos teriam cerca de 100 Para aleacutem destes efetivos de tropa mariacutetima havia

ainda um pequeno grupo de oficiais um porta-estandarte519 dois timoneiros na popa520 o

sifonaacutetor isto eacute o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de laquofogo greguecircsraquo e outro pela acircncora

ambos na proa e por fim o keacutentarcos que capitaneava a partir da sua cabina na popa

O que Leatildeo natildeo refere no entanto eacute a presenccedila de marinheiros e de outros indiviacuteduos

experientes em navegaccedilatildeo entre a tripulaccedilatildeo521 atribuindo a responsabilidade desses

conhecimentos unicamente ao comandante da forccedila naval522 De acordo com a traduccedilatildeo de

Dennis para aleacutem destes oficiais seguiria ainda a bordo um carpinteiro523 No entanto isto

apresenta-se como o resultado da omissatildeo de uma parte do texto pelo editor querendo Leatildeo

informar que o carpinteiro seria um dos remadores e natildeo algueacutem destacado para isso524

Quanto agrave tripulaccedilatildeo devia toda ela envergar uma armadura todos os que se pudessem

equipar agrave maneira catafractaacuteria (com cota de malha ou klibaacutenion soacute agrave frente ou tambeacutem atraacutes

caso possuiacutesse meios financeiros para tal) deveriam fazecirc-lo os que estavam na proa ou onde o

combate decorresse mais ferozmente deviam ter elmos e grevas de ferro Todos os outros

deviam vestir a neurikaacute uma sobreveste com duas camadas de couro Quanto agraves armas

deviam ser bastante variadas arco e flecha dardos525 escudos meacutenaula pedras para

arremessar526 e algo a que Leatildeo chama laquosifatildeo manualraquo ou cheirosiacutefona que devia ser

disparado ou atirado por detraacutes de uma muralha de escudos de ferro527 O basileuacutes refere ainda

alguns exerciacutecios de treino tanto para os soldados como para a movimentaccedilatildeo de droacutemōnes

518 Taktikaacute XIX344-347 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 403 519 Que possivelmente seria tambeacutem responsaacutevel pelos sinais com as bandeiras e por transmitir as ordens do

keacutentarcos ao resto da tripulaccedilatildeo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 398 520 Tambeacutem chamados de protokaraacuteboi Idem Ibidem p398 521 Algo que eacute referido no Naumachiacuteai de Siriano magister por exemplo Sir Naum 5 522 Taktikaacute XIX9-15 Cf Sir Naum 5 523 Taktikaacute XIX30-31 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp506-507 524 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 396-397 Para traduccedilotildees corretas vide COSENTINO S (2004) ndash Op cit

p293 e PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 487 525 Estes dois em especial satildeo aconselhados aos marinheiros dos navios de apoio para se poderem defender em

caso de necessidade Taktikaacute XIX78-84 Cf Strategikoacuten XII(B)21 526 Para a importacircncia deste tipo de projeacutetil vide Taktikaacute XIX96-107 527 TaktikaacuteXIX 357-361

99

em batalha com o objetivo de exercitar os marinheiros para todas as situaccedilotildees em caso de

combate mas tambeacutem para os habituar ao que ele chama de laquoturbulecircncia da guerraraquo528 Soacute

quando os seus subordinados estivessem adequadamente equipados e treinados eacute que ele se

devia lanccedilar ao mar529

A frota comandada pelo strategoacutes tambeacutem possuiacutea como eacute oacutebvio uma estrutura

taacutetica Como jaacute referimos cada navio estava sob o comando de um keacutentarcos o seu capitatildeo

que estava sob o comando de um komeacutes que lideraria entre trecircs a cinco droacutemōnes Leatildeo

refere ainda que agrave semelhanccedila dos themaacuteta terrestres tambeacutem existiam droungaacuterios e

turmarcas natildeo aludindo no entanto ao nuacutemero de forccedilas que comandavam530

A expediccedilatildeo naval comeccedilaria entatildeo com uma becircnccedilatildeo aos navios com rezas a Deus

para pedir uma boa viagem contra os inimigos e com um discurso do strategoacutes para encorajar

a armada531 Esta partiria entatildeo em formaccedilatildeo com os navios suficientemente afastados para

evitar atrapalhaccedilotildees a favor do vento No que concerne ao atracar da frota este devia ser

realizado tambeacutem em boa ordem e vaacuterios cuidados deviam ser tidos em conta dependendo do

local de ancoragem poucos ou nenhuns num porto bizantino a natildeo ser evitar destruir as

propriedades dos habitantes Por outro lado se fosse em territoacuterio inimigo ou amigaacutevel onde

se suspeitava existirem forccedilas hostis na regiatildeo a histoacuteria era outra a vigilacircncia tanto em terra

como no mar devia ser redobrada e a frota deveria manter-se pronta para a batalha532

Tambeacutem sobre as aacuteguas do mar era preferiacutevel recorrer a ardis e a estratagemas O

basileuacutes recorda novamente o conselho dado aos exeacutercitos terrestres sempre que possiacutevel

evitar um confronto direto em batalha533 Caso esta ocorrecircncia fosse inevitaacutevel a providecircncia

divina era novamente preciosa bem como avaliar se a causa do combate era injusta ou natildeo534

A ocorrer junto ao litoral a batalha deveria ser travada perto da costa inimiga para evitar as

deserccedilotildees do lado bizantino e incentivar as do adversaacuterio

Durante a batalha era necessaacuterio ter uma sinaleacutetica variada que permitisse dar ordens

com clareza em qualquer parte ou momento do combate uma vez que comandos vocais e

528 Taktikaacute XIX161-169 529 Taktikaacute XIX174-175 Stratēgikoacuten XII(B)21 530 Taktikaacute XIX157-161 531 Taktikaacute XIX142-147 532 Taktikaacute XIX191-198 Cf Stratēgikoacuten XII(B)21 Sir Naum5679 e ainda no livro I dos Estratagemas de

Polieno (de aqui em diante Pol Strat a traduccedilatildeo que vamos usar desta fonte eacute MARTIacuteN GARCIacuteA Francisco

(1991) Estratagemas In Biblioteca Claacutesica Gredos (153) pp 146-568) 533 O conselho mostra-se ainda mais fulcral em batalhas navais porque o autokraacutetor refere que neste tipo de

confrontos eacute impossiacutevel retirar qualquer tipo de vantagem assim que o combate corpo-a-corpo (consequente da

ligaccedilatildeo entre navios) comeccedila Taktikaacute XIX215-219 Haldon refere que este pensamento se deve ao facto de a

opiniatildeo bizantina justificada pelas grandes derrotas navais sofridas natildeo confiar no mar como caminho para a

vitoacuteria na guerra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 407 534 Taktikaacute XIX222-228 Stratēgikoacuten VIII(B)21

100

sons de trompa se perdiam no barulho provocado pela peleja Assim sinais que usavam

bandeiras ou flacircmulas eram essenciais devendo cada ordem especiacutefica estar associada a cada

um dos movimentos destes objetos ou de outros pedaccedilos de tecido como turbantes desde

que suficientemente visiacuteveis535

Leatildeo aparentemente coloca a decisatildeo sobre o dispositivo taacutetico a ser utilizado nas

matildeos do strategoacutes na maior parte dos casos536 no entanto informa-nos de duas formaccedilotildees em

especial em crescente (ou semicircular) e em linha537 A primeira devia ser utilizada para

envolver a frota adversaacuteria e bloquear a sua retirada538 ou entatildeo para possibilitar um

abandono ordenado do laquocampo de batalharaquo539 devia ter o pamphylos do strategoacutes na

concavidade para que ele pudesse controlar a frota e ter sempre uma visatildeo completa da

situaccedilatildeo das suas forccedilas540 Jaacute a formaccedilatildeo em linha era melhor para usar os sifotildees nas proas do

navio durante a abertura do combate O basileuacutes aconselha tambeacutem o strategoacutes a dividir as

suas formaccedilotildees em dois ou trecircs grupos para natildeo estarem sempre todos a combater e para

existirem reservas ou flanqueadores541

Natildeo obstante os estratagemas continuam a ser o meacutetodo eleito pelo basileuacutes para se

travar a guerra naval Leatildeo menciona vaacuterios como a utilizaccedilatildeo de fugas simuladas por parte

de droacutemōnes mais pequenos e de galeacutes para atrair as embarcaccedilotildees inimigas para as ciladas542

ou conseguir passar um navio pelas linhas opostas com o intuito de atacar as naves mais

pequenas do adversaacuterio543 Outro estratagema consistia em atacar o inimigo depois de

naufraacutegios ou tempestades o terem atingido ou quando este se encontrava entretido em

operaccedilotildees terrestres544 Curiosamente Leatildeo natildeo refere mais estratagemas considerando que o

inimigo pode tomar conhecimento deles e assim contrariaacute-los545

Por fim no contexto deste capiacutetulo Leatildeo deixa uma nota aos comandantes de frotas546

sobre a escolha de navios esta deveria depender tambeacutem do inimigo que o almirante fosse

confrontar Assim se o oficial fosse fazer frente a uma frota sarracena dos emirados ou de

535 Taktikaacute XIX259-266 e 271-275 Cf Strategikoacuten VII(B)16 Sir Naum VII Sir Strat XXX 536 Taktikaacute XIX287-291 537 Eacute interessante notar que Leatildeo agrave semelhanccedila de outros tratadistas claacutessicos ou medievais refere formaccedilotildees

utilizadas em terra para a realidade do combate naval 538 Taktikaacute XIX292-298 539 Taktikaacute XIX432-435 Pol Strat III 540 Taktikaacute XIX295-297 541 Taktikaacute XIX302-306 542 Taktikaacute XIX310-313 e 322-327 Cf Pol Strat I e III 543 Taktikaacute XIX310-315 Cf Pol Strat I e III 544 Taktikaacute XIX328-332 545 Por ironia os Aacuterabes fizeram duas traduccedilotildees do Taktikaacute de Leatildeo VI uma sumaacuteria e outra integral Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit p392 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit pp 645-666 546 Dado o contexto deste paraacutegrafo supomos que o destinataacuterio principal seja o droungaacuterios totilden ploiumlmon

101

Creta tinha de se preparar para enfrentar os chamados koumbariacutea que eram de grande

tonelagem mas lentos de acordo com o autor Por outro lado caso a forccedila naval adversaacuteria

fosse de origem russa o strategoacutes devia fazer os preparativos necessaacuterios para enfrentar

navios mais pequenos e raacutepidos uma espeacutecie de monoxyla547

73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X

laquoUma maacutexima antiga (hellip) ensina-nos a lanccedilar ataques e raides contra o inimigo sem causar

ferimentos a noacutes mesmos Noacutes podemos alcanccedilar isto se os nossos assaltos contra o inimigo

forem planeados de maneira inteligente e cuidadosa e forem executados com celeridade Tais

assaltos satildeo eficazes natildeo soacute contra forccedilas com o mesmo poder (militar) mas tambeacutem contra

adversaacuterios claramente superioresraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVII linhas 9-12548

Este excerto do Taktikaacute poderia muito bem corresponder ao lema do pensamento

estrateacutegico bizantino os danos tecircm de ser reduzidos ao maacuteximo possiacutevel e o poder militar

deve ser conservado entre recursos humanos ou estrateacutegicos Os estratagemas e a guerra de

fronteira eram a praacutetica beacutelica por predileccedilatildeo bizantina exatamente por permitirem derrotar o

inimigo sem grandes sacrifiacutecios Eacute este fator que torna a Constitutio XV relativa a esta

disciplina numa das mais importante do tratado549 Trata-se igualmente de um dos capiacutetulos

fundamentais para se atestar que a realidade contemporacircnea do tempo de Leatildeo VI tinha

repercutido nos seus escritos Natildeo obstante manteacutem o cariz de colecionismo do restante

tratado retirando do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio (mais especificamente do livro IX) e de alguns

excertos de Onasandro a maior parte da informaccedilatildeo que apresenta 550

Consequentemente esta Constitutio estaacute grosso modo dividida em quatro partes

principais emboscadas e outras artimanhas raides a territoacuterios inimigos onde descreve a

forma como se devem realizar as accedilotildees de pilhagem da parte do impeacuterio os melhores

procedimentos para a defesa do impeacuterio frente a operaccedilotildees desse mesmo tipo e por fim uma

pequena secccedilatildeo onde refere a importacircncia de batedores e espiotildees e onde satildeo abordadas

maneiras de descobrir agentes inimigos no seio de exeacutercitos ou dos acampamentos No

547 Taktikaacute XIX425-431 548 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 392-393 549 Esta Constitutio estava separada do resto do tratado no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 apesar de

Leatildeo fazer referecircncia nesta a outros segmentos da obra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 312 550 Idem Ibidem p 312

102

entanto vamos focar-nos nas accedilotildees de pilhagem tanto bizantinas como inimigas aludindo

aos outros aspetos sempre que seja relevante

Posto isto vamos principiar a anaacutelise destes toacutepicos com a forma como Bizacircncio devia

preparar expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo Comecemos entatildeo pelo lado de

Constantinopla A primeira recomendaccedilatildeo que o basileuacutes faz ao general eacute a de que este

prepare mantimentos para a expediccedilatildeo para o caso de o inimigo proceder a uma poliacutetica de

laquoterra queimadaraquo O autokraacutetor aconselha o general a recolher informaccedilatildeo sobre o territoacuterio e

sobre as estradas que vai utilizar para laacute chegar a partir da captura de habitantes dessas zonas

ou da recolha de desertores inimigos antes da expediccedilatildeo551

Relativamente agraves marchas aquelas que satildeo realizadas durante a noite satildeo muito

desaconselhadas a natildeo ser que o objetivo seja a ocupaccedilatildeo de uma posiccedilatildeo defensiva sem o

inimigo o saber Deviam constituir-se patrulhas sempre em movimento e a saka devia ser

excecionalmente forte para evitar ataques pela retaguarda Quanto ao trem-de-apoio este

devia estar na cauda da coluna de marcha aquando da entrada em territoacuterio inimigo poreacutem se

o adversaacuterio se comeccedilasse a aproximar devia deslocar-se progressivamente para o meio da

coluna552 a fim de ficar melhor protegido553 Por fim os acampamentos natildeo deviam ser

montados junto a fortificaccedilotildees inimigas ou a zonas com muita floresta a natildeo ser que fosse

estritamente necessaacuterio sendo certo que nesse caso a vigilacircncia deveria ser redobrada554

Por outro lado o autor propotildee dois tipos de formas de invadir o territoacuterio inimigo a

primeira caso haja mais do que uma entrada para este eacute dividir o exeacutercito colocando o

comando de uma parte nas matildeos de um turmarca Esta forccedila mais leve e sem trem-de-apoio

acederia ao territoacuterio inimigo por um dos pontos de entrada enquanto o strategoacutes entraria por

outro Com um ponto de encontro previamente marcado ambas as divisotildees pilhariam o

territoacuterio que percorressem ateacute se reunirem ao mesmo tempo que empurravam o inimigo uma

contra a outra555

Outro meacutetodo de invasatildeo tambeacutem envolvia a divisatildeo da hoste em duas colunas e era

utilizado quando soacute havia uma estrada disponiacutevel Neste caso metade do exeacutercito

551 Para isso recomenda que seja o proacuteprio comandante a interrogar os prisioneiros Taktikaacute XVII161-165

inversamente aconselha a que no caso da fonte de informaccedilatildeo ser um desertor inimigo lhe sejam prometidas

recompensas ou ameaccedilas de morte para evitar que este minta ao general e ponha em risco a seguranccedila do

exeacutercito Taktikaacute XVII166-174 Taktikaacute XVII559-570 Onas X Stratēgikoacuten IX Estes medos natildeo parecem

ser infundados uma vez que a queda da fortaleza de Amorion em 838 eacute atribuiacuteda a um desertor HALDON J

(2014) ndash Op cit p330 552 Taktikaacute XVII266-267 Stratēgikoacuten VIII 553 Devendo no entanto de estar suficientemente afastado das restantes forccedilas para natildeo perturbar a formaccedilatildeo 554 Taktikaacute XVII257-261 555 Taktikaacute XVII210-223 Stratēgikoacuten XI2 (relativo agraves formas de combater os ldquoCitasrdquo ndash ou seja os povos das

estepes tais como os Aacutevaros e os Turcos entre outros)

103

acompanhava o turmarca durante a invasatildeo e ia-se dispersando ao longo do caminho com um

ou dois bandaacute por regiatildeo a saquear ateacute o turmarca ficar apenas com mil homens ao seu

serviccedilo e chegar ao seu destino Depois retornaria ao mesmo tempo que o strategoacutes (ou outro

oficial responsaacutevel) seguia a rota usada pela divisatildeo anterior e recolhia os bandaacute Soacute quando

as duas divisotildees se reencontrassem eacute que se montaria o acampamento556

Chegados ao destino a seguranccedila tornava-se fundamental Todos os destacamentos

que fossem pilhar ou recolher mantimentos deviam ser protegidos por outro contingente para

evitar emboscadas inimigas557 Como jaacute referimos o acampamento devia ser fortificado558 e

as patrulhas deviam ser constantemente enviadas para averiguar as posiccedilotildees do inimigo nos

arredores A comida a bebida e a forragem recolhidas em territoacuterio inimigo deviam ser

provadas pelos prisioneiros antes de ser consumidas Por fim ataques a siacutetios fortificados ou

bem defendidos deviam ser preparados em segredo ateacute mesmo junto das proacuteprias tropas559

Os uacuteltimos conselhos de Leatildeo nesta vertente prendem-se com a deteccedilatildeo e captura de

espiotildees Neste aspeto haacute duas formas de se lidar com espiotildees captura ou libertaccedilatildeo com o

objetivo de intimidar A primeira maneira devia ser utilizada caso a forccedila bizantina fosse mais

fraca do que a opositora e havia duas formas de a realizar de acordo com Leatildeo numa

primeira soava-se uma trompa agrave segunda ou terceira hora do dia para ordenar aos soldados

para voltarem agraves suas tendas caso algum ficasse de fora seria um espiatildeo por outro lado se

entrasse numa tenda aleatoriamente seria preso pelos soldados dessa tenda que o

identificariam como um intruso560 A segunda forma consistia na atribuiccedilatildeo de uma ordem por

meio de uma palavra ou de um siacutembolo secreto por parte dos oficiais aos homens sob o seu

comando se algum homem natildeo soubesse o que fazer quando a palavra ou o gesto fossem

feitos possivelmente seria o espiatildeo561hellip Se por outro lado a forccedila bizantina fosse mais

poderosa do que a adversaacuteria entatildeo o imperador aconselhava o strategoacutes a deixar o espiatildeo

vivo e a mostrar-lhe a sua hoste em toda a sua pujanccedila de forma a impressionaacute-lo Depois

disso deveria deixar o agente partir para que ele informasse o povo que o enviou do poder do

exeacutercito romano semeando assim o medo no seio da hoste adversaacuteria562

556 Taktikaacute XVII224-249 Stratēgikoacuten XI2 557 Taktikaacute XVII191-197 Stratēgikoacuten IX 558 Cf supra 53 559 Taktikaacute XVII254-256 Leatildeo natildeo refere razotildees para isto mas possivelmente seria na nossa opiniatildeo para

evitar deserccedilotildees na marcha para territoacuterio inimigo ou para evitar que a informaccedilatildeo do alvo caiacutesse nas matildeos de

espiotildees 560 Taktikaacute XVII517-533 cf Pol Strat III Sir Strat II e PrMVI 561 Taktikaacute XVII534-544 Stratēgikoacuten IX Vegeacutecio Epitoma rei militaris III26 (a traduccedilatildeo que usaacutemos para

este tratado eacute MONTEIRO Joatildeo Gouveia e BRAGA Joseacute Eduardo (2004) Vegeacutecio Compecircndio da arte

militar Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 562 Taktikaacute XVII545-558

104

Quando a invasatildeo se realizava no sentido oposto a resposta tinha de ser ceacutelere e

eficaz A melhor arma ao serviccedilo do strategoacutes era a prevenccedilatildeo ou seja os batedores e os

espiotildees Leatildeo realccedila a importacircncia destes soldados destacando que tinham de ser os melhores

soldados ao serviccedilo do seu general ou turmarca que deviam seguir o inimigo e conseguir

estimar com alguma seguranccedila a composiccedilatildeo do exeacutercito adversaacuterio563 Como eacute oacutebvio a

rapidez e a discriccedilatildeo eram as valecircncias principais de um batedor que devia ter um cavalo

raacutepido e estar armado de forma ligeira As patrulhas deviam ser feitas por turnos para evitar

que o cansaccedilo tomasse conta dos seus responsaacuteveis e ser avaliadas pelo proacuteprio strategoacutes

que organizaria algumas inspeccedilotildees surpresa564 Por fim sempre que possiacutevel os proacuteprios

batedores deviam arriscar-se a capturar prisioneiros inimigos565

Leatildeo natildeo fala muito mais do que nestes pormenores mas o autor do Perigrave Paradromeacutes

um tratado que incide especificamente sobre este tipo de atividade beacutelica elucida-nos melhor

sobre a maneira como o trabalho de vigia deve ser feito Nesse manual militar ele indica que

existiriam postos de vigia ao longo das estradas bem como nas cordilheiras montanhosas que

limitavam as circunscriccedilotildees provinciais orientais566 Graccedilas a este sistema de vigia poder-se-

ia enviar mensageiros ao strategoacutes para o avisarem da ocorrecircncia de uma invasatildeo567

Por outro lado aos espiotildees mostravam-se determinantes para indagar quando eacute que

uma expediccedilatildeo aacuterabe deveria partir para territoacuterio bizantino568 Leatildeo natildeo explica como eacute que

eles eram recrutados ou escolhidos mas o autor do Perigrave Paradromeacutes por exemplo refere que

os mercadores eram os melhores espiotildees569 Os comerciantes deviam tentar tornar-se amigos

dos emires de forma a tomarem conhecimento do nuacutemero de soldados inimigos bem como

dos destinos das suas expediccedilotildees Por outro lado Siriano refere que a famiacutelia dos espiotildees

devia habitar em territoacuterio bizantino para que o amor familiar servisse como cadeado agrave

563 Para meacutetodos de fazer parecer um exeacutercito maior do que ele realmente eacute vide Taktikaacute XVII425-432 564 Taktikaacute XVII492-495 565 Taktikaacute XVII505-512 No Perigrave Paradromeacutes esta missatildeo estaacute incluiacuteda em pequenas accedilotildees de saque

empreendidas por espiotildees bizantinos (no contexto militar em Bizacircncio espiatildeo e batedor tecircm o mesmo

significado em certas circunstacircncias como neste caso) Natildeo nos parece despropositado acreditar que os

batedores do tempo do Taktikaacute tivessem as mesmas funccedilotildees PP II 566 Possivelmente as ldquofortalezasrdquo cuja construccedilatildeo Leatildeo orienta na Constitutio XVII Cf supra 71

Possivelmente seriam os phouacuteria de Siriano por possuiacuterem as mesmas funccedilotildees as mesmas localizaccedilotildees (em

terreno montanhoso mas com bom controlo de estradas) serem discretos e natildeo terem uma guarniccedilatildeo

permanente Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 567 PP II 568 Taktikaacute XVIII661-668 569 PP VII

105

lealdade do agente no estrangeiro570 Por fim John Haldon menciona que os padres e os

monges especialmente os missionaacuterios tambeacutem podiam servir para esta finalidade571

Leatildeo aconselha entatildeo o general a preparar-se para um ataque recolher todos os bens

possiacuteveis de se guardar queimar as colheitas recolher os cavalos (e muito possivelmente o

gado) e encaminhaacute-los para um lugar seguro e ocupar os lugares fortificados bem como as

reservas de aacutegua da regiatildeo sob ataque e dos desfiladeiros se for possiacutevel572 Uma vez mais

uma batalha decisiva deve ser prevenida e as forccedilas inimigas devem ser desgastadas por meio

de emboscadas e de ataques surpresa573 quer de dia quer de noite574 Outra taacutetica a utilizar eacute a

do contra raide575 ou seja responder a uma expediccedilatildeo de ataque inimiga com um raide das

forccedilas bizantinas O objetivo deste ardil parece ser separar ou obrigar a retirar a hoste

adversaacuteria com um ataque agraves suas terras indefesas576 O basileuacutes recorre a uma experiecircncia do

seu domestikoacutes Niceacuteforo Focas o Velho como exemplo disto577 mas a sua proacutepria atuaccedilatildeo

antes e depois do saque de Tessaloacutenica tambeacutem pode ser um destes casos578

Natildeo obstante caso se devesse realizar um ataque sobre as forccedilas inimigas este devia

ser feito quando estas estavam a abandonar o territoacuterio bizantino carregadas de despojos Esta

altura era a predileta porque de acordo com o autor do Perigrave Paradromeacutes era quando os

soldados inimigos se encontravam mais cansados e desejosos de voltar a casa e porque a

marcha era mais lenta por estarem carregados de despojos e de prisioneiros579

570 Sir Strat XLII 571 HALDON J (2014) ndash Op cit p381 572 Estes uacuteltimos satildeo referidos no Perigrave Paradromeacutes PP V 573 Sendo para isso necessaacuterio que o strategoacutes mantivesse um olho no inimigo por meio dos seus batedores para

saber em que altura os bandos de pilhagem abandonavam o corpo principal ou o acampamento adversaacuterio 574 Para um conjunto de taacuteticas realizadas durante a noite Taktikaacute XVII70-106 Stratēgikoacuten IX O tratado de

guerrilha tem um capiacutetulo exclusivamente dedicado a esta temaacutetica cf PP XVIII 575 Ironicamente o emir Sarsquoif al-Dawlah tambeacutem usou esta taacutetica em 956 quando forccedilas bizantinas do distrito de

Anzitene comeccedilaram a pilhar o seu territoacuterio O emir hamdacircnida comandou entatildeo uma expediccedilatildeo contra

Anzitene que obrigou o comandante da cidade a retirar para o seu territoacuterio O sucesso da expediccedilatildeo sarracena

no entanto natildeo terminou aiacute porque o emir conseguiu ainda recolher uma grande quantidade de despojos E de

prisioneiros antes de regressar a casa derrotando ainda uma forccedila romana que bloqueava o desfiladeiro que ele

pretendia utilizar para o retorno Vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp91-94 576 Taktikaacute XVII366-376 Stratēgikoacuten X 577 Taktikaacute XVII373-376 PP XX Haldon no entanto corrige Dennis referindo que a campanha em causa

natildeo foi na Calaacutebria mas sim na Ciliacutecia contra o emir Yazaman HALDON J (2014) ndash Op cit p 324 578 Cf supra 22 579 PP IV

106

Conclusatildeo

Natildeo nos arrependemos do caminho que escolhemos Bizacircncio apesar de tatildeo longe eacute

um mundo proacuteximo visto natildeo soacute atraveacutes do desbravar das paacuteginas de um livro mas tambeacutem

pela realidade beacutelica tatildeo semelhante agrave nossa no mesmo periacuteodo histoacuterico Pois eacute ou natildeo

verdade que enquanto os basilecircis bizantinos enfrentavam os califados de Damasco e Bagdade

os reinos dos cristatildeos da Peniacutensula Ibeacuterica se defendiam e contra-atacavam as hostes

muccedilulmanas de Coacuterdova e dos restantes poderes islacircmicos que dominavam a Hispacircnia Natildeo

deixam de ser interessantes certos paralelos que se podem traccedilar de um lado e de outro do

Mediterracircneo inclusive a niacutevel cronoloacutegico por exemplo em 718 no mesmo ano em que

Pelaacutegio vence a escaramuccedila em Covadonga pondo um ponto final agrave expansatildeo muccedilulmana na

Peniacutensula Ibeacuterica o geacutenio e a arguacutecia de Leatildeo III levavam a melhor sobre a uacuteltima tentativa

aacuterabe de tomar Constantinopla Um reveacutes em duas frentes que a nossa ver eacute uma

coincidecircncia curiosa

Mas o que dizer drsquo O Saacutebio Ateacute certo ponto achamos que cumprimos o objetivo que

nos propusemos de investigar a sua preocupaccedilatildeo com a situaccedilatildeo que o Impeacuterio atravessava

Bizacircncio natildeo vivia naquela eacutepoca um periacuteodo muito mau ainda embalada pela capacidade

governativa de Basiacutelio I e dos Amorianos que a Oriente pagaram o preccedilo de ferro e sangue

para garantir a supremacia bizantina nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro Por outro lado

Constantinopla conseguiu recuperar territoacuterios haacute algum tempo perdidos no Sul de Itaacutelia natildeo

obstante a perda da Siciacutelia A ascensatildeo de Leatildeo foi algo inesperada uma vez que natildeo era ele o

primogeacutenito de Basiacutelio pelo que muito possivelmente natildeo teraacute sido treinado para a

governaccedilatildeo ou para o comando militar No entanto a nosso ver ele demonstrou possuir um

pensamento estrateacutegico manifestando que as suas prioridades em termos beacutelicos estavam

bem definidas o poderio muccedilulmano bem estabelecido no Mediterracircneo Oriental Isto

acarretou erros noutras frentes como na Bulgaacuteria onde a acircnsia em voltar a enviar os seus

exeacutercitos contra os infieacuteis do Oriente virou a mareacute de uma guerra que na praacutetica estava

ganha algo que lhe custaria uma paz bastante onerosa no final do conflito Mas Leatildeo parece

ter aprendido pois o laquocavaleiro da guerraraquo natildeo voltou a galopar nos Balcatildes e a paz manteve-

se entre os dois povos cristatildeos ateacute agrave sua morte

O saque da segunda maior cidade do Impeacuterio eacute uma questatildeo algo indefinida mas no

nosso entendimento se realmente a cidade pudesse ter sido salva Leatildeo tecirc-lo-ia tentado de

alguma maneira A nosso ver soacute natildeo realizou tal empreendimento porque sabia que de uma

forma ou de outra os custos seriam elevados e natildeo estava disposto a arriscar uma pesada

107

derrota naval no Mar Egeu colocando efetivamente em risco a capital Em vez disso ordenou

o lanccedilamento de campanhas terrestres na Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria para vingar o que tinha

acontecido na Greacutecia aproveitando-se da ausecircncia das tropas muccedilulmanas na regiatildeo

estrateacutegia por ele proacuteprio defendida no Taktikaacute Quanto a Taormina a natildeo ser que os

Bizantinos tencionassem empreender a reconquista da Siciacutelia teria sido muito difiacutecil de

manter de qualquer das formas Com as preocupaccedilotildees nos Balcatildes primeiro e com a escalada

da ameaccedila naval no Mediterracircneo Oriental teria sido muito complicado reunir esforccedilos e

recursos econoacutemicos e humanos para encetar um tal projeto

Foi nas aacuteguas do Mediterracircneo Oriental que Leatildeo VI mais tentou brilhar

empreendendo expediccedilotildees para garantir que a pirataria sarracena proveniente da Ciliacutecia e de

Creta fosse travada e parasse de assolar as ilhas do Egeu e a faixa costeira bizantina Natildeo

obstante o facto de ter enfrentado dois experientes almirantes muccedilulmanos Leatildeo o

Tripolitano e Damiano as frotas imperiais e laquotemaacuteticasraquo bizantinas continuaram a fazer sentir

a sua presenccedila e mantiveram-se suficientemente fortes para atacar o Levante e a ilha de Creta

entre 910 e 912 Em face destes eventos atrevemo-nos a dizer que apesar de alguns

descalabros Leatildeo natildeo soacute mostrou interesse na situaccedilatildeo estrateacutegica do seu impeacuterio como

conseguiu manter o impeacuterio na moacute de cima Isto soacute foi possiacutevel garantindo a supremacia

bizantina no sul de Itaacutelia onde o impeacuterio contribuiria decisivamente para a expulsatildeo dos

Sarracenos em 915 e graccedilas agrave expansatildeo para Este por meio da diplomacia e da criaccedilatildeo de

novos themaacuteta fronteiriccedilos como foi o caso de Tephrike

Na nossa opiniatildeo natildeo haacute melhor prova do fasciacutenio que Leatildeo nutria pelas questotildees do

exeacutercito do que a escrita do Taktikaacute Este tratado militar recolhendo os ensinamentos do

passado parte da realidade do presente (de Leatildeo) e do pensamento do basileuacutes No iniacutecio

desta dissertaccedilatildeo propusemo-nos aferir ateacute que ponto este manual correspondia ao seu tempo

ou agrave conjuntura em que foi escrito e natildeo seria apenas um exerciacutecio do conservadorismo

cultural bizantino Natildeo nos parece crediacutevel afirmar que se tratasse apenas de um manuscrito

que pretendia tatildeo soacute recolher a erudiccedilatildeo militar do passado O Taktikaacute eacute algo mais do que isso

eacute um guia do que o pensamento estrateacutegico bizantino deveria ser

Natildeo descurando a importante mensagem religiosa das suas paacuteginas durante a leitura

do Taktikaacute conseguimos assinalar vaacuterias caracteriacutesticas do pensamento estrateacutegico bizantino

da eacutepoca a primeira a gestatildeo de soldados e recursos pois natildeo obstante o facto de possuir

capiacutetulos sobre a batalha campal o imperador salienta por vaacuterias vezes que aquele tipo de

atividades beacutelicas bem como outras de grande risco como surtidas deve ser evitado Depois

um reencontro com a ambiccedilatildeo bizantina de se voltar a tornar uma talassocracia estatuto esse

108

perdido desde a batalha dos Mastros em 654 um desejo demonstrado na inserccedilatildeo de uma

Constitutio exclusivamente dedicada a temaacuteticas navais A secccedilatildeo sobre os Aacuterabes tambeacutem eacute

muito importante no que concerne agrave estrateacutegia bizantina e consubstancia-se numa grande

contribuiccedilatildeo de Leatildeo VI para o conjunto da tratadiacutestica Apesar de deturpado em certos

aspetos o estudo que o imperador faz dos costumes beacutelicos aacuterabes eacute muito interessante pelo

detalhe que apresenta o fervor religioso a origem e modo de equipamento dos soldados

muccedilulmanos (voluntaacuterios religiosos na maior parte das vezes) a localizaccedilatildeo das bases de

invasatildeo o tipo de guerra que fazem entre outras caracteriacutesticas apresentadas que

demonstram que o autokraacutetor sabia quem era o seu inimigo e queria ensinar (ou partilhar a

experiecircncia) com os seus leitores sobre como lidar com o adversaacuterio sedeado do outro lado do

Tauro

Obviamente o Taktikaacute natildeo deve ser lido lsquopreto no brancorsquo pois nem tudo o que laacute estaacute

eacute representa a realidade militar ao tempo de Leatildeo Apesar de importante a descriccedilatildeo do

equipamento e das taacuteticas de infantaria natildeo eacute fundamental para se compreender o periacuteodo em

estudo e muito menos para servir de aplicaccedilatildeo aos exeacutercitos de que Leatildeo falava os dos

themaacuteta A infantaria dos themaacuteta seria importante para cumprir certas funccedilotildees como de

guarniccedilatildeo por exemplo mas nesta altura colocar thematikoiacute apeados a combater numa

batalha era um erro crasso pois eram homens que natildeo tinham nem equipamento nem treino

nem disciplina para participar nela

No decorrer desta dissertaccedilatildeo tecemos algumas opiniotildees pessoais sobre o tipo de

informaccedilotildees que se poderiam melhor aplicar aos themaacuteta A primeira Constitutio que nos

ocorre quando pensamos nestes exeacutercitos provinciais eacute a XVII uma vez que aiacute se abordam

as questotildees referentes agraves praacuteticas de guerrilha indubitavelmente as que se encontravam mais

em vigor no contexto da atividade beacutelica provincial bizantina Mas natildeo soacute a repeticcedilatildeo de

meacutetodos de guerra psicoloacutegica para tomar uma fortaleza pode servir como liccedilatildeo a um

strategoacutes de um theacutema sobre como se poderia conquistar uma fortificaccedilatildeo de forma

relativamente ceacutelere se tal fosse necessaacuterio no contexto de um laquocontra raideraquo por exemplo

Por outro lado a descriccedilatildeo do equipamento de cerco pesado e das taacuteticas que o envolvem

parece-nos algo exagerada para o tipo de hoste em questatildeo que tinha de ser raacutepida por

natureza caracteriacutestica que natildeo seria facilitada (antes pelo contraacuterio) caso transportasse um

pesado comboio-de-cerco durante a campanha

Neste trabalho tivemos a preocupaccedilatildeo de desenvolver o nosso espirito criacutetico indo

aleacutem do que outros autores antes de noacutes disseram sobre estas mateacuterias e ousando acrescentar

as nossas interpretaccedilotildees pessoais nomeadamente no que toca agrave questatildeo crucial dos themaacuteta

109

Por outro lado alargaacutemos a nossa contextualizaccedilatildeo aos reinados de Leatildeo e de Basiacutelio algo

que outros autores (como por exemplo John Haldon) natildeo fizeram de forma a podermos tecer

comparaccedilotildees entre alguns eventos destes reinados e certas praacuteticas enunciadas no tratado

No entanto temos de admitir que uma dissertaccedilatildeo de mestrado sobre o Taktikaacute eacute algo

de demasiado ambicioso para as poucas paacuteginas que nos satildeo atribuiacutedas num trabalho desta

natureza Por isso haacute outras questotildees e temas que gostariacuteamos de ter aprofundado se

houvesse espaccedilo para tal nomeadamente a questatildeo do pensamento teoloacutegico e social no

Taktikaacute por exemplo Ou entatildeo de que forma o Taktikaacute poderaacute esclarecer a vexata quaestio

da organizaccedilatildeo dos exeacutercitos dos taacutegmata apesar de estes natildeo configurarem o foco principal

do tratado Uma anaacutelise da preocupaccedilatildeo de Leatildeo quanto agrave negligecircncia do arco nos seacuteculos

anteriores com a explicaccedilatildeo das causas para o decliacutenio da utilizaccedilatildeo deste e a anaacutelise da

importacircncia que ele tinha no paradigma beacutelico do reinado do Saacutebio e do periacuteodo

compreendido entre os seacuteculos VII e X tambeacutem poderia constituir um estudo interessante

Por fim tecemos algumas consideraccedilotildees sobre o processo de produccedilatildeo do nosso

trabalho Natildeo foi faacutecil primeiro porque nos vimos confrontados com a falta de acesso agraves

fontes respeitantes ao reinado de Leatildeo VI o que logo nos causou algum incoacutemodo e nos

redirecionou para outras fontes (tais como a croniacutestica aacuterabe ou a Histoacuteria de Skylitzes) e

para algumas obras de estudo Natildeo subvalorizamos a importacircncia de nenhuma destas

tipologias mas sentimos que o nosso trabalho tendo em conta o periacuteodo que aborda fica um

pouco mais pobre sem referecircncias agrave Vita Euthymii por exemplo Por outro lado encetaacutemos

este projeto com conhecimentos adquiridos maioritariamente por autodidatismo o que

dificultou a compreensatildeo de certas temaacuteticas No entanto algumas aulas com o Professor Joatildeo

Gouveia Monteiro possibilitaram esclarecer algumas dessas duacutevidas pelo que renovamos os

agradecimentos que foram feitos no iniacutecio da presente dissertaccedilatildeo

Apesar de tudo tivemos um enorme prazer na realizaccedilatildeo deste trabalho e esperamos

ter contribuiacutedo ainda que modestamente para impulsionar os estudos bizantinos em Portugal

Realccedilamos ainda que o conhecimento da milenar aventura do Impeacuterio Romano do Oriente

poderaacute ser uma ajuda imprescindiacutevel para a interpretaccedilatildeo de alguns dos factos do nosso tempo

e da nossa proacutepria Histoacuteria Por tudo o exposto estamos disponiacuteveis para continuar este

percurso

110

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I

Anexos I ndash Mapas e Esquemas

Mapa 11 ndash Os themaacuteta da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON John (2005) The Palgrave Atlas of Byzantine History Londres

Palgrave Macmillan p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

II

Mapa 12 ndash As principais cidades da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

III

Mapa 21 ndash Os themaacutetas dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

IV

Mapa 22 ndash As principais cidades dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

V

Mapa 3 ndash Mapa geopoliacutetico do sul de Itaacutelia e das suas principais cidades no iniacutecio do

seacuteculo X

Fonte - httpswwwalternatehistorycomforumthreadsa-blank-map-thread25312

Consultado a 31 de outubro pelas 2345

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva

VI

Esquema 1 ndash Marcha em territoacuterio hostil

Autoria ndash Joatildeo Paiva

VII

Esquema 2 ndash Marcha em territoacuterio hostil com infantaria

Autoria ndash Joatildeo Paiva

VIII

Esquema 3 ndash Passagem de um desfiladeiro

Autoria ndash Joatildeo Paiva

IX

X

XI

Esquema 6 ndash Constituiccedilatildeo de um Proacutemachos

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XII

Esquema 7 ndash Constituiccedilatildeo da segunda linha

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XIII

Esquema 8 ndash Hipoacutetese de um dispositivo taacutetico de um theacutema

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XIV

Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

Seacuteculo V

476

Itaacutelia Queda do Impeacuterio

Romano do Ocidente com

a deposiccedilatildeo de Roacutemulo

Augusto por Odoacro

Seacuteculo VI

Ca

579

Itaacutelia Constituiccedilatildeo dos

ducados de Benevento e de

Espoleto

580

Balcatildes Os Aacutevaros

conquistam Siacutermio

581

Balcatildes e Greacutecia

Penetraccedilatildeo dos Eslavos

nestas aacutereas e posterior

fixaccedilatildeo

582

Iniacutecio do principado de

Mauriacutecio

XV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

584

Itaacutelia 4 de outubro ndash

Formaccedilatildeo do Exarcado de

Ravenna em moldes

similares ao Exarcado de

Aacutefrica formado pela

mesma altura

590

Peacutersia Deposiccedilatildeo do

imperador Cosroeacutes II da

Peacutersia que foge para o

Impeacuterio Bizantino e apela

a ajuda do imperador

Mauriacutecio

591

Itaacutelia Roma eacute cercada

pelo duque Ariulfo de

Espoleto

Peacutersia Com ajuda

bizantina Cosroeacutes II

recupera o trono do

Impeacuterio Sassacircnida

Seacuteculo VII

600

Balcatildes Assinatura de um

tratado com os Aacutevaros

apoacutes vaacuterios sucessos

bizantinos na regiatildeo (como

a reconquista de Belgrado)

que fixa a fronteira no rio

Danuacutebio

XVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

602

Rebeliatildeo das tropas da

fronteira do Danuacutebio e

execuccedilatildeo de Mauriacutecio

Proclamaccedilatildeo de Focas

como Imperador

Iniacutecio da uacuteltima Guerra

Bizantino-Persa Cosroeacutes

II sustenta esta guerra na

falta de legitimidade de

Focas ao trono bizantino e

apoia um pretendente

supostamente filho de

Mauriacutecio

Iniacutecio da eacutepoca meacutedia bizantina

610

Deposiccedilatildeo e assassinato de

Focas por Heraacuteclio filho

do exarca de Aacutefrica

Proclamaccedilatildeo do mesmo

como Imperador

614

Conquista de Jerusaleacutem

por Cosroeacutes II captura da

Vera Cruz

620

Egipto Conquista do

Egipto pelos Persas

Sassacircnidas

622

Expulsatildeo das forccedilas persas

presentes na Aacutesia Menor

Araacutebia Realiza-se a

Heacutegira ndash a fuga de Maomeacute

de Meca para Medina

XVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

624

Reconquista da Armeacutenia a

Cosroeacutes II e posterior

vitoacuteria de Heraacuteclio sobre

trecircs exeacutercitos persas

Destruiccedilatildeo do Grande

Templo Zoroastra em

Takht-I-Suleiman

626

Cerco Aacutevaro-Persa de

Constantinopla termina

com vitoacuteria bizantina

O general Shahrbaraz e o

khan aacutevaro retiram

627

Iraque Batalha de Niacutenive

- Grande vitoacuteria de

Heraacuteclio sobre os Persas

em Niacutenive abre caminho

para Ctesifonte

628

Peacutersia A 28 de fevereiro

um golpe de estado

encetado por Xeroeacute filho

de Cosroeacutes II termina com

o regime do pai

Iniacutecio de negociaccedilotildees para

pocircr fim agrave (uacuteltima) Guerra

Bizantino-Persa

Usurpaccedilatildeo de Shahrbaraz

XVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

629

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente Celebraccedilatildeo da

paz entre Bizantinos e

Persas as aacutereas territoriais

ocupadas pelas duas

potecircncias voltam ao estado

em que se encontravam

antes do iniacutecio dos

conflitos

630

Entrada vitoriosa de

Heraacuteclio em Jerusaleacutem

com o retorno das reliacutequias

sagradas capturadas pelos

Persas celebra a vitoacuteria

final do Impeacuterio Bizantino

Araacutebia Regresso e

conquista de Meca pelo

Profeta Maomeacute que a

transforma no centro

espiritual do Islatildeo

632

Araacutebia Morte de Maomeacute

que eacute sucedido pelo

primeiro Califa Abu Bakr

o seu sogro Guerras da

Ridda para unificar a

Peniacutensula Araacutebica

633

Primeiras incursotildees

Aacuterabes na Siacuteria-Palestina

634

Palestina Batalha de

Ajnadain ndash O primeiro

confronto campal entre

Bizacircncio e Muccedilulmanos

termina com a vitoacuteria dos

seguidores do Islatildeo

Araacutebia Morte do Califa

Abu-Bakr eacute sucedido por

Omar

XIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

634

(cont)

Iraque laquoBatalha da

Ponteraquo entre Aacuterabes e

Persas termina com a

vitoacuteria do Imperador

Yazdarij da Peacutersia

636

Palestina Batalha de

Yarmuk ndash Vitoacuteria

esmagadora do general

Khalid ibn al-Walid sobre

as forccedilas bizantinas de

Teodoro e Baanes

possibilita a conquista

aacuterabe quase absoluta da

Siacuteria-Palestina com

excepccedilatildeo de Jerusaleacutem e

Cesareia

Heraacuteclio ordena a retirada

para a Aacutesia Menor e que o

combate campal seja

evitado a todo o custo

637

Batalha de Qadisyia Uma

vitoacuteria muccedilulmana

decisiva permite a

conquista de Ctesifonte e a

conquista do Iraque Os

Persas retiram para o

planalto do Iratildeo

Batalha de Jalula nova

vitoacuteria muccedilulmana sobre

os Sassacircnidas culmina

com a consolidaccedilatildeo da

conquista da Mesopotacircmia

e do Crescente Feacutertil

XX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

638

Conquista aacuterabe de

Jerusaleacutem

639

Egipto ndash 12 de dezembro

Iniacutecio da conquista

muccedilulmana do Egipto com

o ataque ao posto

fronteiriccedilo de Al-Arisch

Itaacutelia O rei Rotaacuterio dos

Lombardos conquista a

regiatildeo de Veneza menos o

lago

640

Conquista aacuterabe de

Cesareia

Egipto ndash julho de 640

Iniacutecio do cerco agrave fortaleza

bizantina de Babiloacutenia

junto ao local do atual

Cairo

Itaacutelia ndash O exarca Isaacutecio

ordena o saque do tesouro

papal

641

11 de fevereiro Morte de

Heraacuteclio

Egipto ndash Rendiccedilatildeo de

Babiloacutenia que isola

Alexandria como uacutenica

cidade do Egipto em matildeos

bizantinas

XXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

642

Iniacutecio da anexaccedilatildeo

muccedilulmana da Armeacutenia

que seraacute findada no ano

seguinte

Iratildeo ndash Batalha de

Nehawend -a lsquovitoacuteria das

vitoacuteriasrsquo dos Aacuterabes potildee

fim ao que restava das

forccedilas militares persas

Egipto Submissatildeo de

Alexandria marca o fim

da conquista aacuterabe do

Egipto

644

Itaacutelia Rotaacuterio rei dos

Lombardos conquista a

Liguacuteria

Assassinato de Omar eacute

substituiacutedo pelo secretaacuterio

do Profeta Uthman um

primo afastado membro da

famiacutelia Ummayya

645

Egipto Reocupaccedilatildeo

bizantina de Alexandria

646

Egipto Rendiccedilatildeo

definitiva de Alexandria

fim da uacuteltima tentativa de

reconquista do Egipto

Norte de Aacutefrica Rebeliatildeo

no Exarcado de Aacutefrica

648

Norte de Aacutefrica Fim da

rebeliatildeo do Exarcado de

Aacutefrica quando o exarca eacute

morto por saqueadores

aacuterabes

XXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

649

Uma frota bizantina

derrota uma das primeiras

frotas muccedilulmanas apoacutes

esta saquear a ilha de

Chipre

651

Khorasan Batalha do rio

Oxus ndash Vitoacuteria decisiva

aacuterabe e fim oficial do

Impeacuterio Persa Sassacircnida

654

Batalha dos Mastros ndash

Vitoacuteria naval aacuterabe junto agrave

Liacutecia potildee fim agrave

talassocracia bizantina e

assegura a conquista de

vaacuterias ilhas como Rodes e

Chipre

656

Araacutebia 17 de Junho ndash

Assassinato de Uthman em

Medina Eleiccedilatildeo quase

imediata de Ali o genro

do Profeta como califa

Outubro ndash Batalha do

Camelo ndash Ali derrota o

triunvirato encabeccedilado

pela viuacuteva de Maomeacute

Aisha O seu poder passa a

ser disputado apenas por

Muawiya parente de

Othman membro da

famiacutelia Ummayya e

governador da Siacuteria que

XXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

656

(cont)

recusa ser substituiacutedo pelo

novo governador enviado

por Ali

657

Siacuteria 26 de Julho

Batalha de Siffin ndash quase-

vitoacuteria de Ali que soacute natildeo eacute

alcanccedilada porque o

Alcoratildeo eacute elevado numa

lanccedila pelos Siacuterios que

apelam a Deus para decidir

a querela

Discussotildees no seio das

forccedilas de Ali provocam

confrontos violentos com

um grande conjunto dos

apoiantes do califa os

Kharijitas que resultam na

expulsatildeo dos mesmos

Enfraquecimento da causa

do genro do profeta

658

Balcatildes Ataques bem-

sucedidos de Constante II

aos Eslavos culminam na

reconquista de vaacuterios

territoacuterios e no

reconhecimento da

soberania bizantina na

Macedoacutenia

XXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

659-

662

Periacuteodo em que Warren

Treadgold defende que os

themaacuteta teratildeo sido

fundados que tambeacutem

corresponde a uma treacutegua

bizantino-aacuterabe

661

Siacuteria Depois de vaacuterios

reveses como a perda do

Egipto para Muawiyia Ali

eacute assassinado por um

Kharijita O seu filho

Hussein transfere os

poderes para Muawiyia

que se torna Califa

Fim do Califado Rashidun

e iniacutecio do Califado

Omiacuteada

662

Constante II abandona

Constantinopla para

fortalecer as defesas da

Itaacutelia e Aacutefrica deixando

Constantino IV a governar

em Constantinopla

668

Itaacutelia Assassinato de

Constante II em Siracusa

a mando do komeacutes do

Opsikiacuteon Rebeliatildeo no

theacutema dos Armeniacuteacos

XXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

670

Estabelecimento de bases

avanccediladas aacuterabes em

Kairouan no Norte de

Aacutefrica e Ciacutezico na regiatildeo

do Opsikiacuteon

674

Ocupaccedilatildeo aacuterabe da cidade

de Ciacutezico que eacute usada

como base para ataques

navais que iam do Mar de

Marmara ateacute aos subuacuterbios

de Constantinopla Iniacutecio

do primeiro cerco Aacuterabe a

Constantinopla

677

Reocupaccedilatildeo de Ciacutezico

pelos Bizantinos

678

Fim do cerco a

Constantinopla quando

Constantino IV comanda a

frota bizantina que pela

primeira vez emprega o

fogo greguecircs O exeacutercito

aacuterabe eacute derrotado por

forccedilas provinciais

680

Siacuteria Morte do Califa

Muawiya que eacute sucedido

por Yazicircd o seu filho

Movimento favoraacutevel a

Hussein filho de Ali eacute

esmagado pelo exeacutercito

omiacuteada na batalha de

XXVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

680

(cont)

Karbala Morte de Hussein

e de vaacuterios partidaacuterios

681

Traacutecia Subjugaccedilatildeo dos

Eslavos do Norte da Traacutecia

pelos Buacutelgaros Tentativas

de os expulsar fracassaram

e os Buacutelgaros capturam

vaacuterios postos bizantinos na

costa do Mar Negro

682

Araacutebia Revolta em

Medina contra Yazicircd

683

Araacutebia Forccedilas siacuterias leais

ao califa esmagam a

revolta em Medina

Cerco a Meca eacute

interrompido pela morte

de Yazicircd que eacute sucedido

pelo filho Muawiya II

que morreraacute pouco tempo

depois

Iniacutecio da Segunda Fitna

684

Siacuteria Batalha de Marj-

Rahit nas imediaccedilotildees de

Damasco vitoacuteria dos

apoiantes de Marwan

sobre os apoiantes do

senhor da Peniacutensula

Araacutebica al-Zubayr

Marwan eacute aclamado

Califa Iniacutecio da dinastia

XXVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

684

(cont)

dos Marwanidas

685

Siacuteria Morte de Marwan

Ascensatildeo de al-Malik ao

trono de Damasco

687

Chegada de Mardaiacutetas

(refugiados cristatildeos da

Siacuteria) que satildeo feitos

remadores permanentes da

divisatildeo dos Carabisiani

por Justiniano II

Iraque Morte de al-

Mukhtar senhor xiita de

Kufa agraves matildeos de Jaacutersquosab

irmatildeo de Zubayr A

Segunda Fitna passa a ser

disputada apenas pelos

senhores de Damasco e da

Araacutebia

688

A ilha de Chipre eacute

declarada territoacuterio neutro

apoacutes um tratado assinado

por Justiniano II e al-

Malik

689

A divisatildeo mariacutetima da

Heacutelade recebe os seus

proacuteprios Mardaiacutetas

691

Califado Derrota de

Musrsquoab agraves matildeos do califa

al-Malik

XXVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

692

Araacutebia Cerco e tomada

de Meca por forccedilas de al-

Malik Morte de al-Zubayr

e fim da Segunda Fitna

695

Revolta do strategoacutes dos

Anatoacutelicos Leocircncio que

depotildee Justinano II apoacutes

ter sido libertado Tinha

sido preso por o

considerarem como

principal culpado pela

deserccedilatildeo de Eslavos que

tinham sido conscritos na

divisatildeo do Opsikiacuteon na

sua primeira batalha com

Aacuterabes

697

Norte de Aacutefrica

Conquista de Cartago

pelos Aacuterabes A cidade eacute

reconquistada mais tarde

por uma expediccedilatildeo

transportada pela frota dos

Carabisiani

698

Norte de Aacutefrica

Expulsatildeo da expediccedilatildeo e

perda definitiva de Cartago

para o Califado Aacuterabe

Regresso da expediccedilatildeo a

Constantinopla onde depotildee

Leocircncio e aclama o

almirante Tibeacuterio

XXIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

698

(cont)

Apsimar como basileus

Seacuteculo VIII

705

Apoiado pelos Buacutelgaros

Justiniano II recupera o

poder em Constantinopla e

executa Tibeacuterio

Norte de Aacutefrica A

expansatildeo islacircmica atinge a

costa atlacircntica sob a alccedilada

do governador Musa

Nusair

711

Apoacutes um bem-sucedido

raid aacuterabe agrave circunscriccedilatildeo

territorial dos Anatoacutelicos

Justiniano II eacute destronado

por uma frota que enviara

para a Crimeia

Peniacutensula Ibeacuterica ndash 19 de

julho Batalha de

Guadelete - as forccedilas

araacutebico-berberes de Tariq

comandante de Musa

Nusair derrotam o rei

visigodo Rodrigo

Iniacutecio da conquista aacuterabe

da Peniacutensula Ibeacuterica

717

Apoacutes os curtos reinados de

Filiacutepico e Anastaacutecio II o

strategoacutes dos Anatoacutelicos

Leatildeo toma

Constantinopla e depotildee

Teodoacutesio III

Iniacutecio de um novo cerco

aacuterabe agrave capital do Impeacuterio

Bizantino

Gaacutelia Primeira expediccedilatildeo

aacuterabe transpirenaica

XXX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

718

Fim do uacuteltimo cerco aacuterabe

a Constantinopla ndash Os

Aacuterabes abandonam o cerco

de Constantinopla apoacutes a

destruiccedilatildeo de alguns

navios pelos Bizantinos

uma doenccedila que vitimou

muitos soldados um

inverno duro e a destruiccedilatildeo

de um exeacutercito de reforccedilo

enviado pelo Califa numa

emboscada bizantina

Peniacutensula Ibeacuterica

Batalha de Covadonga -A

conquista aacuterabe da

Peniacutensula nas Astuacuterias

por soldados cristatildeos sob o

comando de Pelaacutegio

720

Gaacutelia Conquista de

Narbonne por forccedilas

muccedilulmanas

721

Gaacutelia O Duque Eudo da

Aquitacircnia derrota forccedilas

aacuterabes nas proximidades

de Toulose

724

Califado Ascensatildeo do

Califa Hisham que vai

conseguir recuperar a

Transoxania e o Magrebe

durante o seu reinado

XXXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

727

O basileuacutes Leatildeo III potildee

fim a uma revolta na

proviacutencia dos Carabisiani

que o incita a mudar o

quartel-general destes de

Samos para o sul da

Anatoacutelia

A divisatildeo dos Carabisiani

passa a chamar-se de

Kibirrhaiotai por passar a

ter a sua base no porto de

Cibyra

732

Gaacutelia O emir Abd al-

Rahman al-Ghaffiqi

comanda um enorme

exeacutercito para a Gaacutelia e

derrota Eudo

Batalha de ToursPoitiers

ndash Al-Ghaffiqi eacute derrotado

e morto por forccedilas francas

sob Carlos Martel

740

Batalha de Akroinos ndash

Vitoacuteria de Leatildeo III e do

futuro Constantino V

sobre forccedilas do Califado

Omiacuteada

741

Morte de Leatildeo III que eacute

sucedido por Constantino

V Revolta do Conde do

Opsikiacuteon Artavasdo

Constantinopla eacute tomada

XXXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

741

(cont)

por Artavasdo

743

Forccedilas das divisotildees dos

Anatoacutelicos e dos

Traceacutesicos reconquistam

Constantinopla e cegam

Artavasdo

Fim da quinta revolta do

Opsikion Como resultado

destes acontecimentos

Constantino V forma os

taacutegmata atribuindo-lhes

parte do territoacuterio do

Opsikiacuteon e territoacuterios na

Traacutecia

Califado Morte de

Hisham Uacuteltima fase de

soberania Omiacuteada pautada

de rebeliotildees tem inicio

744

Califado Ascensatildeo do

uacuteltimo califa omiacuteada

Marwan II o Burro

Selvagem

745

Siacuteria Ao comando dos

taacutegmata Constantino V

realiza uma campanha

militar nos territoacuterios do

califado com sucesso Seraacute

a primeira invasatildeo bem-

sucedida bizantina a

territoacuterios aacuterabes numa

geraccedilatildeo

XXXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

747

Khorasan Rebenta a

Revoluccedilatildeo Abaacutessida

749

Iraque Vitoacuteria abaacutessida

junto a Kufa apesar da

morte do seu general

Qahtaba

750

Iraque Batalha do rio

Zab Vitoacuteria abaacutessida

decisiva Massacre dos

Omiacuteadas Iniacutecio do

Califado Abaacutessida com o

califa Al-Saffah

751

Itaacutelia Queda de Ravena ndash

Destruiccedilatildeo do Exarcado de

Ravena pelos Lombardos

Bizacircncio perde as uacuteltimas

possessotildees na Itaacutelia

Central para os

Lombardos

752

Gaacutelia Os muccedilulmanos

abandonam Narbonne a

sua uacuteltima posiccedilatildeo

transpirenaica

XXXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

759

Califado Morte de Al-

Saffah que eacute sucedido por

Abu Jaacutersquofah Al-Mansur

762

Iraque O califa muda-se

para o seu novo palaacutecio na

ldquoCidade da Pazrdquo

Fundaccedilatildeo de Bagdade

Al-Mansur esmaga o as

forccedilas xiitas de Muhamad

durante o Ramadatildeo

766

Nova revolta no seio da

divisatildeo do Opsikiacuteon

767

Esmagada a revolta o

territoacuterio do Opsikiacuteon eacute

novamente dividido desta

vez com um novo distrito

o dos Bucelaacuterios

775

Morte de Constantino V

apoacutes um reinado bem-

sucedido com vaacuterias

conquistas na Traacutecia e

vitoacuterias sobre os Buacutelgaros

Califado Morte de Al-

Mansur no decurso de

uma peregrinaccedilatildeo a Meca

Ascensatildeo de al-Mahdi

776

Itaacutelia Fim do reino

lombardo agraves matildeos de

Carlos Magno

Peacutersia Iniacutecio da revolta

de al-Muqqana

XXXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

780

Peacutersia A revolta eacute

subjugada

785

Califado Morte de al-

Mahdi

786

Califado Iniacutecio do

califado de Harun al-

Rashid que lideraraacute vaacuterios

raides a territoacuterio

bizantino

789

Traacutecia Irene divide o

theacutema da Traacutecia com um

novo theacutema o da

Macedoacutenia apoacutes uma seacuterie

de conquistas bizantinas

na Traacutecia

797

Iniacutecio da governaccedilatildeo de

Irene como Basileuacutes apoacutes

cegar o filho por

incompetecircncia e por este

ter cometido moicheacutea

(adulteacuterio)

Seacuteculo IX

802

Deposiccedilatildeo do Irene que

apoacutes uma desastrosa

poliacutetica econoacutemica eacute

substituiacuteda num golpe de

XXXVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

802

(cont)

Estado pelo logoacuteteta

Niceacuteforo depois Niceacuteforo

I

809

Vexilationes de Niceacuteforo I

tomadas por John Haldon

como o iniacutecio do sistema

dos themaacuteta

Greacutecia Conquista destes

territoacuterios O basileuacutes

Niceacuteforo I procede agrave

criaccedilatildeo de vaacuterios themaacuteta

na regiatildeo Peloponeso

Cefaloacutenia e Tessaloacutenica

Bulgaacuteria Niceacuteforo I

saqueia a capital do

Impeacuterio Buacutelgaro Priska

Califado Morte de Harun

al-Rashid Al-Amin torna-

se califa em Bagdade

811

Staurakios o filho de

Niceacuteforo eacute deposto apoacutes

ser ferido fatalmente na

batalha de Priska e

substituiacutedo por Miguel I

Rangabeacute

Bulgaacuteria Campanha de

Niceacuteforo contra este

territoacuterio volta a saquear

Priska

Batalha de Priska ndash Vitoacuteria

do khan Krum numa

emboscada e morte de

Niceacuteforo e a destruiccedilatildeo da

maior parte do exeacutercito e

da cadeia de comando

bizantina

Traacutecia O Impeacuterio da

Bulgaacuteria conquista a maior

parte dos territoacuterios

reconquistados por

Niceacuteforo com excepccedilatildeo

da Greacutecia

Califado Iniacutecio da Quarta

Fitna entre o califa al-

Amin e o irmatildeo al-

Mamun governador de

Khorasan O primeiro

confronto termina com a

vitoacuteria das forccedilas

ldquorebeldesrdquo

XXXVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

812

Iraque Apoacutes vaacuterios

embates al-Mamun cerca

Bagdade

813

Traacutecia Batalha de

Versinikia ndash nova vitoacuteria

de Khrum sobre forccedilas

bizantinas

Como consequecircncia o

basileuacutes Miguel abandona

o cargo e eacute substituiacutedo por

Leatildeo V denominado de laquoo

Armeacutenioraquo

Iraque Fim do cerco de

Bagdade e da Quarta

Fitna Execuccedilatildeo de al-

Amin e ascensatildeo de al-

Mamun ao cargo de califa

814

Impeacuterio Buacutelgaro Morte

do khan Krum

819

Iraque Apoacutes uma seacuterie de

vaacuterias guerras civis al-

Mamun entra em Bagdade

820

Assassinato de Leatildeo V

Guerra civil entre Miguel

II laquoo Amorianoraquo e Tomaacutes

o Eslavo

823

Morte de Tomaacutes o Eslavo

a guerra perduraraacute mais

um ano no entanto

XXXVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

824

Os uacuteltimos apoiantes de

Tomaacutes satildeo esmagados na

Anatoacutelia

826

Siciacutelia Revoltosos gregos

da ilha apelam ao auxiacutelio

de aacuterabes do Norte de

Aacutefrica

827

Siciacutelia Invasatildeo aglaacutebida

da ilha

828

Creta Os Bizantinos

perdem esta ilha para

piratas andaluzes

829

Morte de Miguel II eacute

substituiacutedo por Teoacutefilo

831

Siciacutelia Os Aacuterabes

conquistam Palermo

833

Califado Morte de al-

Mamun eacute substituiacutedo no

trono pelo irmatildeo que

reinaraacute sob o nome de al-

Mutasim (iniacutecio do

periacuteodo abaacutessida meacutedio)

XXXIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

834

Teoacutefilo acolhe refugiados

Curramitas que se juntam

ao exeacutercito e se convertem

ao Cristianismo

837

Expediccedilotildees de saque

bizantinas contra o

Califado Chegada de mais

Curramitas ao Impeacuterio

838

Revoltas Curramitas no

Impeacuterio

Batalha de Anzen entre o

basileus Teoacutefilo de

Bizacircncio e forccedilas

abaacutessidas (que incluiacuteam

cavaleiros turcos) sob al-

Afshin culmina com a

vitoacuteria aacuterabe

Saque de Ancyra e Amoacuterio

por forccedilas abaacutessidas

839

Submissatildeo dos Curramitas

por Teoacutefilo

840

Reformas militares de

Teoacutefilo aumento de

soldos e reorganizaccedilatildeo da

cadeia de comando

XL

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

840-

841

As kleisocircurai da

Capadoacutecia e Charsianon

derrotam raids aacuterabes

Como recompensa a

kleisocircura da Capadoacutecia eacute

promovida a theacutema

841

Itaacutelia Os Aacuterabes tomam

Bari

842

Morte do basileus Teoacutefilo

Ascensatildeo de Miguel III

Morte de al-Mutasim eacute

substituiacutedo pelo filho al-

Wathiq

843

Creta Tentativa falhada

de reconquista de Creta

pelos Bizantinos Criaccedilatildeo

do theacutema do Mar Egeu

844

Estabelecimento de um

ldquoPrincipado Paulicianordquo

nas imediaccedilotildees da cidade

de Tephrice

847

Morte de al-Wathiq que

natildeo tem sucessor definido

Uma shura (espeacutecie de

concelho) acaba por eleger

um irmatildeo de al-Wathiq

como califa que ascenderaacute

com o nome de al-

Mutawakill

XLI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

861

Criaccedilatildeo do theacutema de

Coloacutenia no Alto Eufrates

863

Batalha de Marj al-Usquf

termina com uma vitoacuteria

piacuterrica muccedilulmana do

Emirato de Melitene

Batalha de Lalacatildeo

termina numa vitoacuteria

decisiva do domeacutestico das

Escolas Petronas sobre

Omar que cai na batalha

O outro grande emir da

fronteira o de Tarsus eacute

morto num contra raide

bizantino

866

Itaacutelia O imperador Luiacutes II

comeccedila a intervir no sul de

Itaacutelia

869

Siciacutelia Tentativa de

conquista de Taormina

pelo Emirato Aglaacutebida

Itaacutelia Cerco de Bari pelo

imperador Luiacutes II conta

com a participaccedilatildeo de

forccedilas bizantinas

c 870

Reformas militares de

Basiacutelio I agrave frota bizantina

XLII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

871

Itaacutelia Capitulaccedilatildeo de Bari

para as forccedilas francas

872

Batalha de Bathys Ryax ndash

vitoacuteria bizantina onde as

forccedilas militares strategoacutes

satildeo esmagadas O liacuteder da

heresia Crisoacutequero eacute

morto na batalha

876

Itaacutelia Bari passa para o

controlo do Impeacuterio

Bizantino

878

Siciacutelia 21 de maio ndash

conquista aglaacutebida de

Siracusa

879

Reconquista bizantina de

Tephrike potildee fim agrave naccedilatildeo

da heresia pauliciana

880

Itaacutelia Campanhas gregas

na regiatildeo permitem

reconquistar algumas

fortalezas como Taranto e

derrotar forccedilas navais

muccedilulmanas junto a

Milazzo

XLIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

886

Itaacutelia Reconquista da

Calaacutebria e da Apuacutelia por

Niceacuteforo Focas o Velho

889

Itaacutelia Importante vitoacuteria

bizantina no Estreito de

Messina permite repor o

controlo naval sobre

aquela zona apoacutes uma

derrota no ano interior

890

Provenccedila Criaccedilatildeo do

enclave pirata sarraceno

em Saint Tropez

891

Ataques corsaacuterios de Leatildeo

o Tripolitano e Damiano agrave

ilha de Samnos

Itaacutelia Conquista bizantina

de Benevento No ano

seguinte formar-se-aacute o

theacutema da Lombardia

centrado naquela cidade

894

Iniacutecio da guerra bizantino-

buacutelgara entre o basileuacutes

Leatildeo VI e o czar Simeatildeo

da Bulgaacuteria com o uacuteltimo

a demonstrar vantagem

inicialmente

895

Bulgaacuteria Contraofensiva

conjunta bizantina e

magiar contra os buacutelgaros

acarreta grandes sucessos

Mais tardes os bizantinos

XLIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

895

(cont)

retiram e os buacutelgaros

conseguem derrotar os

Magiares com apoio

pechenegue

896

Bulgaacuteria Apoacutes uma

marcante derrota bizantina

na batalha de

Bulgarophygon Leatildeo VI

assina a paz com Simeatildeo

Seacuteculo X

901

Itaacutelia Conquista de Reacutegio

pelos Aglaacutebidas da Siciacutelia

902

Siciacutelia Fim da presenccedila

bizantina na Siciacutelia com a

queda de Taormina para os

Aacuterabes

904

Saque de Tessaloacutenica agraves

matildeos de Leatildeo o

Tripolitano e Damiano

906

Panoacutenia Derrotados pelos

Pechenegues os Magiares

fogem para esta regiatildeo

onde arrasam o reino da

Moraacutevia

XLV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

911

Creta Expediccedilatildeo enviada

agrave ilha por Leatildeo VI o Saacutebio

falha a reconquista da ilha

915

Itaacutelia As forccedilas do

strategoacutes de Bari Nicolau

Piccingli juntam-se agrave Liga

Santa de Joatildeo X e

destroem o enclave pirata

sarraceno na foz do rio

Garigliano

917

Bulgaacuteria Batalha de

Acheloos ndash derrota do

strategoacutes Leatildeo Focas

frente agraves forccedilas buacutelgaras

do czar Simeatildeo

919

Romano Lecapeno o

droungaacuterios tou ploiumlmon

depotildee a regente Zoeacute

Carbonopsina e ascende

ao trono como co-

imperador de Constantino

VII

924

Cerco de Constantinopla

por Simeatildeo da Bulgaacuteria

termina em insucesso

Greacutecia Destruiccedilatildeo da

frota de Leatildeo o Tripolitano

na costa de Lemnos

XLVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

927

Impeacuterio Buacutelgaro A

morte do czar Simeatildeo potildee

fim aos seus planos de

criar um impeacuterio

Bizantino-Buacutelgaro

934

Uma hoste bizantina sob

Joatildeo Kourkoas conquista

a cidade de Melitene

941

Expediccedilatildeo de saque russa

ataca a margem asiaacutetica do

Boacutesforo mas eacute derrotada

por Romano Lecapeno

944

Usurpaccedilatildeo do poder pelos

filhos de Romano I eacute

repudiada pela populaccedilatildeo

de Constantinopla que

restitui ao trono o basileuacutes

Constantino VII

949

Creta Nova tentativa de

reconquista de Creta

falhada

Armeacutenia Bizacircncio ocupa

Teodosioacutepolis a principal

base aacuterabe nesta regiatildeo

955

Bavaacuteria Otatildeo I derrota

decisivamente os magiares

na batalha de Lechfeld

XLVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

959

Divisatildeo dos comandos dos

taacutegmata entre o Ocidente e

Oriente comandados por

um domeacutestico do Ocidente

e Oriente respetivamente

960

Batalha de Andrassos ndash

vitoacuteria de Leatildeo Focas

sobre Sayf al-Dawlah

961

Creta Reconquista da

ilha por Niceacuteforo Focas

962

Campanha bizantina sob

Niceacuteforo Focas na Ciliacutecia

e na Siacuteria contra o

Emirado Hamdacircnida

Conquista temporaacuteria de

Aleppo

963

Morte do Imperador

Romano II no decorrer de

uma caccedilada

Casamento de Niceacuteforo

Focas com a viuacuteva

Teoacutefane subindo ao trono

como o co-imperador

Niceacuteforo II Focas

964

Ocupaccedilatildeo total da ilha de

Chipre pelos Bizantinos

XLVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

965

Conquista da Ciliacutecia ndash

apoacutes a tomada de Tarso a

capital daquela regiatildeo

Bulgaacuteria O priacutencipe

Svyatoslav de Kiev invade

a Bulgaacuteria apoacutes o apelo de

Niceacuteforo II

966

Os exeacutercitos bizantinos

avanccedilam na direccedilatildeo de

Antioquia conquistando

algumas fortalezas nas

imediaccedilotildees desta como

Arka e Hierapoacutelis

Iniacutecio do cerco de

Antioquia

967

O Impeacuterio Bizantino

recebe em testamento o

principado de Taron na

Armeacutenia

969

Conquista de Antioquia

Deposiccedilatildeo e assassinato de

Niceacuteforo II Focas pelo

sobrinho Joatildeo I Tzimiskeacute

Itaacutelia Derrota bizantina

frente a Otatildeo I na batalha

de Ascoli potildee em risco as

uacuteltimas possessotildees

romanas no sul de Itaacutelia

970

Bulgaacuteria Tomada de

Filipopoacutelis pelos Russos

a uacuteltima fortaleza em matildeos

buacutelgaras

XLIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

970

(cont)

Traacutecia Batalha de

Arcadioupolis ndash Daacute tempo

suficiente ao co-imperador

Joatildeo I Tzimiskeacute para

preparar a invasatildeo da

Bulgaacuteria

971

Bulgaacuteria Batalha de

Dorostolon termina numa

vitoacuteria decisiva bizantina

que expele os Rus da

Bulgaacuteria

Svyatloslav morre pouco

depois agraves matildeos dos

Pechenegues

972

Mesopotacircmia Invasatildeo

romana da regiatildeo permite

a conquista de algumas

cidades como Niacutesibe

974

Siacuteria Joatildeo I Tzimiskeacute

tenta alcanccedilar Bagdade

mas eacute parado pelo deserto

da Siacuteria

975

Campanhas bizantinas na

Siacuteria culminam com a

conquista de Damasco e de

vaacuterias cidades na Siacuteria

Joatildeo I Tzimiskeacute promete

reconquistar Jerusaleacutem

L

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

976

Morte de Joatildeo I Tzimiskeacute

eacute sucedido pelo filho de

Romano II Basiacutelio

Insurreiccedilatildeo de Bardas

Sclero

978

O basileuacutes Basiacutelio II

incapaz de esmagar a

revolta sozinho apela ao

auxiacutelio do aristocrata

Bardas Focas

Batalha de Pankaleia

culmina na derrota de

Focas frente a Sclero

979

A revolta de Bardas Sclero

eacute esmagada por Bardas

Focas

986

Traacutecia Ataques buacutelgaros

que tinham comeccedilado em

985 atingem Tessaloacutenica

Bulgaacuteria Basiacutelio II eacute

derrotado por Samuel da

Bulgaacuteria numa emboscada

989

Batalha de Crisopoacutelis ndash

vitoacuteria de Basiacutelio II e dos

seus aliados Varangues

sobre as forccedilas rebeldes de

Barda Focas

LI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

989

(cont)

Batalha de Abido ndash vitoacuteria

decisiva de Basiacutelio II sobre

Barda Focas Morte do

uacuteltimo

997

Greacutecia Batalha do rio

Spercheios ndash Vitoacuteria das

forccedilas bizantinas de

Niceacuteforo Ouranos sobre as

forccedilas buacutelgaras do czar

Samuel

Seacuteculo XI

1001

Bulgaacuteria Realiza-se a

primeira campanha de

Basiacutelio II depois da sua

derrota anos antes

Treacuteguas entre Basiacutelio II e

o Califado Fatimita apoacutes

seis anos de conflito

1011

Itaacutelia Reconquista de

Bari a Meles um revoltoso

local

1014

Bulgaacuteria Batalha do

desfiladeiro de Kleidion

onde Basiacutelio II captura

cerca de 15 mil soldados

buacutelgaros e de acordo com

as fontes cega-os

Morte do czar Samuel

LII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1018

Bulgaacuteria Anexaccedilatildeo final

deste territoacuterio por Basiacutelio

II

Itaacutelia Batalha de Otranto

resulta numa vitoacuteria de

Niceacuteforo Boianeacutes o

katepaacutenō de Itaacutelia sobre

Meles e os seus aliados

normandos

1025

Morte de Basiacutelio II eacute

substituiacutedo pelo irmatildeo

Constantino

Itaacutelia Conquista de

Messina por Boianeacutes abre

caminho a uma possiacutevel

reconquista da Siciacutelia

1032

Siacuteria Durante o reinado

de Romano III Argiro

Bizacircncio reconquista

Edessa sob Jorge

Maniakeacutes

1040

Armeacutenia morte do rei

Joatildeo III Smbat Iniacutecio de

uma guerra civil entre o

sobrinho Gagik II e outros

priacutencipes armeacutenios com

incursotildees bizantinas

durante o conflito

Khorasan Vitoacuteria dos

Turcos Seljuacutecidas sobre o

sultatildeo Masrsquoud do Impeacuterio

Gaznaacutevida na batalha de

Dandanaqan

1041

Uacuteltimo cerco russo a

Constantinopla

Bulgaacuteria Revolta buacutelgara

eacute esmagada por forccedilas

leais a Constantinopla

LIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1042

Siciacutelia Jorge Maniakeacutes

acaba a reconquista da

parte oriental da ilha

1045

Armeacutenia Tomada de Ani

por forccedilas bizantinas e

purga da Igreja Miafisita

1048

Armeacutenia e Geoacutergia ndash Um

exeacutercito de ghazis Oguzes

invade estas regiotildees e

captura o priacutencipe Liparit

1050

Iraque Toghril Beg

invade o norte da regiatildeo

1053

Itaacutelia Batalha de Civitate

ndash os Normandos capturam

o papa Leatildeo IX

Peacutersia Graccedilas agraves tribos

turcomanas ao seu dispor

Toghril Beg toma conta da

regiatildeo de Fars no sudoeste

iraniano

1054

Expediccedilatildeo de Toghril Beg

na Armeacutenia e cerco de

Manzikert durante esta

expediccedilatildeo Toghril Beg

consegue chegar a

Trebizonda saquear a

zona de Van e ainda cercar

Manzikert ainda que sem

sucesso

LIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1055

Peacutersia Toghril Beg

conquista o Khuzistatildeo

Iraque dezembro - Os

Turcos Seljuacutecidas ocupam

Bagdade

1056

Morte de Teodora potildee fim

agrave dinastia Macedoacutenica

1057

Aacutesia Menor A cidade de

Melitene eacute saqueada e

arrasada por saqueadores

turcomanos

1058

Iraque O general turco

Arslan Basasiri recupera

Bagdade para os xiitas

1060

Iraque Basasiri eacute morto

em batalha Purga dos

xiitas de Bagdade

1063

Peacutersia Morte de Toghril

Beg em Rey Iniacutecio de

uma guerra civil

sucessoacuteria

LV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1064

Armeacutenia A cidade de

Ani e grande parte da

Armeacutenia eacute conquistada

por Alp Arslan

Balcatildes Conquista huacutengara

de Belgrado O povo Uzi

saqueia grande parte do

territoacuterio ocidental

bizantino ateacute agrave Greacutecia

Impeacuterio Seljuacutecida Alp

Arslan vence a guerra civil

e torna-se sultatildeo

1065

Armeacutenia Anexaccedilatildeo deste

territoacuterio pelo Sultanato

Seljuacutecida

1067

Aacutesia Menor Saque

turcomano de Cesareia

1068

Romano IV Dioacutegenes

torna-se co-imperador

Aacutesia Menor Conquista e

saque turcomano de

Amoacuterio sob Afsin

Siacuteria Campanha de

Romano IV Dioacutegenes nos

arredores de Alepo

termina em falhanccedilo a natildeo

ser pela conquista de

Hieraacutepolis

1069

Aacutesia Menor Ataque

turcomano a Icoacutenio no

coraccedilatildeo da Anatoacutelia

Nova campanha romana na

regiatildeo termina em

fracasso

1071

Armeacutenia Batalha de

Khliat Derrota das forccedilas

bizantinas sob Joseacute

Tarcaniotes e Roussel de

Bailleul frente a um

exeacutercito seljuacutecida sob

Sanduq al-Turki

Itaacutelia Roberto Guiscard

ocupa Bari e potildee fim a

mais de quinhentos anos

de presenccedila bizantina na

regiatildeo

Siacuteria Cercos turcomanos

a Edessa e Alepo Falham

pelas falsas treacuteguas

bizantinas no caso do

primeiro e pela declaraccedilatildeo

de guerra de Romano IV

Dioacutegenes no segundo

LVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1071

(cont)

Batalha de Manzikert ndash o

coimperador Romano IV

Diogenes eacute derrotado pelo

sultatildeo turco Alp Arslan

Apesar das baixas

relativamente pequenas

bizantinas vai marcar o

iniacutecio de um periacuteodo de

extrema instabilidade

poliacutetica para Bizacircncio

Batalha de Sebasteia ndash

Romano IV Dioacutegenes eacute

derrotado por forccedilas leais agrave

dinastia Ducas que

aprisionara a imperatriz

Eudoacutexia em

Constantinopla

1072

Batalha de Adana ndash Nova

derrota de Romano IV

Dioacutegenes frente aos

Ducas O co-imperador eacute

aprisionado cegado e

encerrado num mosteiro

onde morre pouco depois

Iratildeo ndash Assassinato de Alp

Arslan

1078

Golpe de estado do

strategoacutes da Anatoacutelia

Niceacuteforo Botaniates que

sobe ao trono como o

terceiro de seu nome

Formaccedilatildeo do Sultanato de

Rum pelo priacutencipe

Suleimatildeo

LVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1081

Niceacuteforo III eacute deposto por

Aleixo Comneno que o

substitui no trono

Balcatildes Cerco de

Dirraacutequio por Roberto

Guiscard

Os Normandos tomam a

ilha de Corfu

Aleixo Comneno eacute

derrotado pelas forccedilas de

Guiscard na batalha de

Dirraacutequio

1084

Balcatildes Nova campanha

de Roberto Guiscardo na

regiatildeo

1085

Balcatildes Morte de Roberto

Guiscardo durante o cerco

de Cefaloacutenia

1087

Traacutecia A regiatildeo eacute

invadida por Pechenegues

1091

Traacutecia Batalha do Monte

Levuniatildeo ndash vitoacuteria de

Aleixo Comneno sobre os

Pechenegues

Batalha de Anchialos

Aleixo Comneno derrota

os Cumanos

LVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1095

Franccedila Conciacutelio de

Clermont daacute iniacutecio agrave

Primeira Cruzada

1096

Primavera Chegada a

Constantinopla dos

primeiros regimentos

cruzados incluindo a

chamada ldquoCruzada

Popularrdquo liderada por

Pedro ldquoo Eremitardquo e

Gualter ldquoSem Haverrdquo Os

ldquoverdadeirosrdquo cruzados

chegaratildeo mais tarde

Batalha de Civetot A

Cruzada Popular eacute

derrotada por forccedilas

seljuacutecidas sob o Sultatildeo

Kilij Arslan

1097

Primavera Cerco

bizantino-cruzado a

Niceia A guarniccedilatildeo turca

rende-se a Constantinopla

que proiacutebe os Cruzados de

saquearem a cidade

1098

Siacuteria Balduiacuteno de

Bolonha conquista Edessa

e forma o primeiro Estado

cruzado o condado de

Edessa

LIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1098

(cont)

Junho ndash Os Cruzados

tomam Antioquia e

formam o segundo Estado

cruzado o principado de

Antioquia sob Boemundo

de Tarento filho de

Roberto Guiscardo

1099

Palestina julho ndash

Conquista saque e purga

de Jerusaleacutem pelos

Cruzados O reino de

Jerusaleacutem eacute criado e a

coroa entregue a

Godofredo de Bulhatildeo

duque da Baixa Lorena

Seacuteculo XII

1102

Palestina Raimundo de

Saint-Gilles o conde de

Toulose cria o condado de

Triacutepoli (apesar de ainda

natildeo controlar a cidade)

1104

Piroska filha do rei

magiar Ladislau I casa

com o futuro basileuacutes Joatildeo

II

LX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1108

Balcatildes A campanha

iniciada no ano anterior

por Boemundo de Tarento

sai gorada pelo uso de

taacuteticas de guerrilha por

Aleixo I Comneno

Siacuteria Apoacutes a recusa dos

Cruzados a entregarem

Antioquia Aleixo I

vassaliza o principado de

Antioquia agrave forccedila

1117

Batalha de Nicomeacutedia

Aleixo I Comneno derrota

o sultatildeo turco Malik Sha

1118

Ascensatildeo de Joatildeo II ao

trono de Constantinopla

apoacutes a morte do pai

Aleixo I Comneno

1120

Cerco de Panfiacutelia O

basileuacutes Joatildeo II captura a

cidade graccedilas agrave utilizaccedilatildeo

de taacuteticas de fuga

simulado

1122

Balcatildes Batalha de

Verroia ndash vitoacuteria de Joatildeo II

sobre os Pechenegues

1137

Siacuteria Joatildeo II submete o

priacutencipe de Antioquia

Raimundo de Poitiers agrave

soberania bizantina

LXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1143

Joatildeo II morre num

acidente durante uma

caccedilada O seu filho mais

novo Manuel substitui-o

1147

Escaramuccedila agraves portas de

Constantinopla entre

Bizantinos e cavaleiros da

Segunda Cruzada

1159

Siacuteria Submissatildeo de

Antioquia por Manuel I

1167

Balcatildes Manuel Comneno

derrota a Hungria e

submete a Dalmaacutecia a

Boacutesnia a Croaacutecia e

Siacutermio

1171

A ordem de detenccedilatildeo de

todos os Venezianos em

territoacuterio bizantino suscita

o iniacutecio de uma guerra

bizantino-veneziana

1172

Uma frota veneziana sob

o comando do doge Vital

II Miguel eacute destroccedilada por

uma epidemia e uma

tempestade durante uma

campanha contra algumas

ilhas gregas

Balcatildes Bizacircncio esmaga a

rebeliatildeo do priacutencipe

seacutervio Estevatildeo Nemanja

LXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1176

Setembro ndash Manuel I perde

a batalha de Mirioceacutefalo

que mutila severamente as

capacidades ofensivas do

impeacuterio

1179

Iniacutecio das negociaccedilotildees de

paz entre Bizacircncio e

Veneza Manuel aceita

libertar alguns dos

venezianos presos em

1171

1180

Manuel I morre e Aleixo II

substitui-o

1182

Maio ndash Massacre da

populaccedilatildeo latina de

Constantinopla

1183

Androacutenico I primo de

Manuel ascende ao trono

apoacutes assassinar a

imperatriz-regente Maria

e o basileuacutes Aleixo II

LXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1185

Androacutenico I eacute linchado

pela populaccedilatildeo de

Constantinopla a dinastia

dos Comnenos termina

Satildeo substituiacutedos pela

dinastia dos Anjos com

Isaac II a ser coroado

imperador

Tessaloacutenica A cidade eacute

tomada pelos Normandos

agravando a hostilidade

bizantina ao reinado cruel

de Androacutenico I

1187

Bulgaacuteria Formaccedilatildeo do

segundo Impeacuterio Buacutelgaro

Palestina As forccedilas

militares do Reino de

Jerusaleacutem satildeo derrotadas

por Saladino o sultatildeo

aiuacutebida do Egipto e da

Siacuteria na batalha dos

Cornos de Hattin

Saladino o sultatildeo aiuacutebida

do Egipto e da Siacuteria

reconquista Jerusaleacutem

1189

Formaccedilatildeo da Terceira

Cruzada liderada por

Frederico I ldquoBarba Ruivardquo

Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de

Leatildeordquo e Filipe II

ldquoAugustordquo

1190

Ciliacutecia Frederico ldquoBarba

Ruivardquo morre afogado

num lago

LXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1191

Chipre Forccedilas cruzadas

sob Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de

Leatildeordquo conquistam a ilha a

Bizacircncio

1195

Isaac II eacute cegado e deposto

pelo irmatildeo Aleixo III

1198

Tratada de reposiccedilatildeo da

alianccedila bizantino-

veneziana apoacutes Aleixo III

tentar acabar com a

alianccedila

Itaacutelia Inocecircncio III lanccedila

a Quarta Cruzada

Seacuteculo XIII

1202

Dalmaacutecia A Quarta

Cruzada conquista e

saqueia a cidade cristatilde de

Zama a pedido dos

Venezianos

1203

As forccedilas da Quarta

Cruzada depotildeem Aleixo

III e repotildeem Aleixo III no

trono O filho deste

Aleixo IV torna-se

imperador associado

LXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1204

Janeiro Aleixo V Ducas

Murzuflo depotildee e prende

Isaac II Aleixo IV eacute

morto O novo basileuacutes

recusa-se a pagar o que

Aleixo IV prometera pagar

aos Cruzados

Abril Conquista e saque

da maior cidade cristatilde do

mundo pelos Cruzados O

Impeacuterio Bizantino eacute

dividido entre Venezianos

e Cruzados e no seu

lugar surge o Impeacuterio

Latino de Ocidente e um

conjunto de estados

vassalos Por outro lado

os gregos formam vaacuterios

na Aacutesia Menor e no Epiro

que vatildeo resistir ferozmente

aos Cruzados e tentar

reconquistar

Constantinopla

Fim da eacutepoca meacutedia bizantina

1261

O ldquoimpeacuteriordquo de Niceia

recupera Constantinopla

sob o comando de Miguel

Paleoacutelogo Deposiccedilatildeo de

Joatildeo VI Lascaris e

ascensatildeo de Miguel ao

poder Reformaccedilatildeo do

Impeacuterio Bizantino

LXVI

Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana)

Ca 850

Basiacutelio chega a

Constantinopla

856857

Basiacutelio entra ao serviccedilo

do basileuacutes Miguel III

como membro da

Hetaireia um regimento

da Guarda Imperial

858

Miguel III e o seu tio

Bardas potildeem fim agrave

regecircncia de Teodora e do

seu tio Seacutergio

Miguel III e o seu tio

Bardas substituem o

patriarca Inaacutecio por

Foacutecio que nas palavras

da famiacutelia real

conspirava contra esta

20 de dezembro Foacutecio eacute

tonsurado Num periacuteodo

de quatro dias torna-se

padre

25 de dezembro Foacutecio

ascende ao Patriarcado

860

Primeiros ataques russos a

Constantinopla

Aacutesia Menor Uma frota de

Tarso ataca Antalya

LXVII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

861

Num Conciacutelio realizado

em Constantinopla os

legados papais aprovam a

ascensatildeo de Foacutecio ao

patriarcado

863

Batalha de Marj al-Usquf

- Vitoacuteria piacuterrica

muccedilulmana do Emirato de

Melitene sobre o exeacutercito

bizantino de Miguel III

Batalha do Lalacatildeo -

vitoacuteria decisiva do

domeacutestico das Escolas

Petronas sobre as forccedilas

aacuterabes que sobreviveram agrave

batalha de Marj al-Usquf

O emir de Melitene morre

na batalha

Mesopotacircmia O emir de

Tarso eacute morto num contra

raide bizantino

864

Eacute outorgado a Basiacutelio o

cargo de parakoimṓmenos

do basileuacutes apoacutes a

remoccedilatildeo do seu

predecessor Damiano

que ofendera o ceacutesar

Bardas

Bulgaacuteria Conversatildeo da

Bulgaacuteria ao

Cristianismo580

Teodoro Santabarenos

torna-se abade do

mosteiro de Stoudios

c865

Casamento de Basiacutelio

com Eudoacutexia Ingerina a

amante de Miguel III

580 Ou 845 in TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912)

LXVIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

866

Basiacutelio torna-se co-

imperador de Miguel III

apoacutes o assassinato do tio

do Imperador Bardas

Nasce o segundogeacutenito de

Basiacutelio o futuro Leatildeo

VI581

Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica)

867

Ascensatildeo de Basiacutelio I

apoacutes o assassinato pelas

suas proacuteprias matildeos de

Miguel III Instituiccedilatildeo da

dinastia Macedoacutenica

No mecircs de agosto o

patriarca Foacutecio depotildee o

Papa Nicolau I

Apoacutes a ascensatildeo de

Basiacutelio as decisotildees do

Conciacutelio Constantinopla-

867 satildeo repudiadas e

Foacutecio eacute deposto por

condenar o assassinato de

Miguel III Reinstalaccedilatildeo

de Inaacutecio no Patriarcado

Teodoro Santabarenos eacute

expulso de Stoudios

868

Egipto Formaccedilatildeo do

Emirato Tuluacutenida

581 Natildeo haacute um consenso sobre o dia e o mecircs em que o futuro basileuacutes teraacute nascido Jorge o Monge indica 1 de

setembro Pseudo-Simeatildeo indica apenas o mecircs de setembro e Leatildeo o Gramaacutetico aponta o nascimento para 1 de

dezembro o proacuteprio Leatildeo na homilia de reedificaccedilatildeo da Igreja de Satildeo Tomeacute refere que o seu nascimento

acontece alguns dias antes do dia de Satildeo Tomeacute (8 de outubro) por fim Grumel refere que Leatildeo na realidade diz

que o seu aniversaacuterio foi no mesmo dia da reedificaccedilatildeo ou seja a 19 de setembro

Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill p 42

LXIX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

869

Siciacutelia Tentativas de

conquista de Taormina e

Siracusa pelo Emirato

Aglaacutebida

Itaacutelia Uma frota bizantina

dirige-se a Bari para em

concertaccedilatildeo com uma

forccedila franca sob o

comando do imperador

Luiacutes II tomar a cidade

c870

O ex-patriarca Foacutecio

torna-se tutor dos filhos

do basileuacutes

Malta Conquista aglaacutebida

da ilha

871

Itaacutelia A 3 de fevereiro a

cidade de Bari rende-se ao

rei Luiacutes II

Itaacutelia Iniacutecio de um cerco

aacuterabe a Salerno

872

Aacutesia Menor batalha de

Bathys Riax582 Um

exeacutercito bizantino derrota

uma forccedila pauliciana e

mata o seu liacuteder

Crisoacutequero

Dalmaacutecia Corsaacuterios da

ilha de Creta saqueiam a

regiatildeo

582 A bibliografia que lemos discorda da data em que se realizou a batalha John Haldon refere 878 Shaun

Tougher refere 872

LXX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

872

(cont)

Itaacutelia Libertaccedilatildeo do cerco

aacuterabe de Salerno

873

Itaacutelia O Impeacuterio

Bizantino ocupa Otranto

na Apuacutelia

Golfo de Saros Niquetas

Orifas destroacutei 20 navios

aacuterabes

Siciacutelia Nova tentativa de

conquista de Siracusa

pelos Aglaacutebidas

875

Mar Adriaacutetico

Expediccedilatildeo de saque aacuterabe

chega ao Golfo de Trieste

e cerca Grado O cerco

falha e durante a retirada

os Muccedilulmanos desolam

Comacchio

Itaacutelia Raides aacuterabes na

Campacircnia e na costa

ocidental italiana

chegando a atingir a zona

de Roma O papa Joatildeo

VIII apela ao auxiacutelio de

Bizacircncio frente agrave ameaccedila

876

Itaacutelia Com a crescente

ameaccedila aacuterabe no sul de

Itaacutelia a populaccedilatildeo de Bari

entrega a cidade a

Bizacircncio

LXXI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

877

Siciacutelia Iniacutecio do uacuteltimo

cerco aacuterabe a Siracusa

Itaacutelia Novo apelo papal

dirigido ao strategos

Gregoacuterio

Morte de Inaacutecio Foacutecio

volta a tornar-se

patriarca

Foacutecio aponta Teodoro

Santabarenos como bispo

de Euceta na Greacutecia

878

Siciacutelia 21 de maio -

Queda de Siracusa

Massacre e saque da

cidade

878-

882

Ciliacutecia Periacuteodo de

ocupaccedilatildeo tuluacutenida

c879

Morte do filho

primogeacutenito de Basiacutelio

Constantino

Basiacutelio I casa o seu

segundo filho o futuro

Leatildeo VI com Teoacutefane

Golfo de Corinto Derrota

de uma frota sarracena que

saqueava o Mar Joacutenico agraves

matildeos de Niquetas Oryfas

Aacutesia Menor Forccedilas

bizantinas sob o comando

pessoal do basileuacutes

conquistam a capital dos

Paulicianos Tephrike

880

Mar Joacutenico Expediccedilatildeo

naval de Ibrahim II saqueia

Kefaleacutenia e Zakynthos O

droungaacuterios tou ploiumlmon

Nasar destroacutei a frota

adversaacuteria ao largo da

costa ocidental grega num

ataque noturno

O papado aprova a

(re)ascensatildeo de Foacutecio ao

patriarcado

LXXII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

880

(cont)

Siciacutelia Nasar saqueia e

desola os arredores de

Palermo captura

embarcaccedilotildees aglaacutebidas e

derrota forccedilas navais

aacuterabes junto a Punta di

Stilo durante o regresso

Itaacutelia Graccedilas aos sucessos

de Nasar um esquadratildeo

bizantina dirige-se a

Naacutepoles sob o comando

do spathaacuterios Gregoacuterio o

turmarca Teophylaktos e o

komeacutes Diogeacutenes onde

arrecadam uma nova

vitoacuteria para os Bizantinos

Siciacutelia Vitoacuteria naval

bizantina junto a Milazzo

no decorrer de uma

contraofensiva liderada

pelo protovestiaacuterio

Procoacutepio do strategoacutes

Leatildeo Apoacutestipo e do

almirante Nassar

Itaacutelia As forccedilas enviadas

para a regiatildeo por Basiacutelio I

conquistam quase todas as

fortalezas aacuterabes na

Calaacutebria e na Apuacutelia

oriental Apoacutes uma

importante batalha campal

agraves portas de Taranto onde

morre Procoacutepio o

strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo

conquista a cidade

LXXIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

880

(cont)

Itaacutelia Apelo papal a

Basiacutelio I de uma frota

bizantina

Itaacutelia Com a autorizaccedilatildeo

do bispo-duque Atanaacutesio

II uma forccedila muccedilulmana

fixa-se no sopeacute do Monte

Vesuacutevio Enquanto isso

um outro bando de

soldados sediado em

Sapenium saqueia toda a

regiatildeo a norte ateacute Espoleto

881

Itaacutelia Naacutepoles e Salerno

combinam forccedilas para

tentar destruir as bases de

saqueadores sarracenos na

Calaacutebria e na Campacircnia

883

Aprisionamento do novo

herdeiro Leatildeo durante

trecircs anos por suspeitas de

conspirar contra Basilio

Ciliacutecia Uma hoste

bizantina eacute derrotada na

regiatildeo de Tarso pelo emir

Yazaman Mais tarde

Yazaman seraacute tambeacutem ele

derrotado pelo strategoacutes

Oiniates

Itaacutelia Nova alianccedila

lombarda Os vaacuterios

grupos muccedilulmanos

retiram para norte e juntam

forccedilas no rio Garigliano

onde criam uma base de

operaccedilotildees

LXXIV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

884

Itaacutelia Saque sarraceno do

mosteiro de Montecassino

885

Moraacutevia Morte do

monge Metoacutedio um dos

principais responsaacuteveis

pela conversatildeo dos

Eslavos e da transcriccedilatildeo

dos textos biacuteblicos para

Ciriacutelico

886

25 de marccedilo Um conluio

organizado por Joatildeo

Kourkouas e outros

sessenta e seis senadores eacute

descoberto e rapidamente

destroccedilado por Basiacutelio I

21 de julho Leatildeo eacute

libertado da sua prisatildeo no

dia de Satildeo Elias

29 de agosto morte de

Basiacutelio I no seguimento

de um acidente ocorrido

numa caccedilada

Itaacutelia A expediccedilatildeo que

Basiacutelio I envia para Itaacutelia

sob o comando de

Niceacuteforo Focas o Velho

em 885 consegue

reconquistar as uacuteltimas

possessotildees muccedilulmanas na

Calaacutebria e submeter os

Lombardos da Apuacutelia agrave

supremacia bizantina

Reinado de Leatildeo VI

886

Agosto Ascensatildeo de Leatildeo

VI ao trono imperial O

seu irmatildeo Alexandre

torna-se co-imperador

Foacutecio eacute deposto do

patriarcado Um irmatildeo

do novo basileuacutes

Estevatildeo substitui Foacutecio

naquele cargo

LXXV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

887

Julgamento de Foacutecio e

Santabarenos Teodoro eacute

cegado e exilado em

Atenas Foacutecio eacute

encerrado num mosteiro

888

Aacutesia Menor Hipsele no

theacutema de Charsianon eacute

capturada por forccedilas

aacuterabes

Ciliacutecia O governador de

Tarso Yazaman captura

quatro navios bizantinos

durante um raide naval

Estreito de Messina

Vitoacuteria naval aacuterabe sobre

uma frota bizantina nas

imediaccedilotildees de Milazzo

Saque posterior de Reacutegio

Leatildeo VI redige um

Epitaphios dos pais

889

Bulgaacuteria O czar Boris

abdica e entrega o trono

ao filho Vladimir

Estreito de Messina um

almirante bizantino derrota

a frota muccedilulmana que

vencera em Milazzo e

consegue repor o controlo

sobre o estreito

890

Provenccedila Fixaccedilatildeo de um

enclave muccedilulmano de

piratas em Saint Tropez

que perduraraacute ateacute 972

LXXVI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

891

Itaacutelia Guido de Espoleto

eacute coroado Imperador pelo

Papa Estevatildeo VI

Ciliacutecia Yazaman ataca

Salandu uma cidade

costeira na Ciliacutecia

ocidental

Itaacutelia O strategos

Symbatikios conquista a

cidade lombarda de

Benevento a 18 de

outubro

Mar Egeu A ilha de

Samos eacute atacada por

saqueadores aacuterabes

liderados por Leatildeo o

Tripolitano e Damiano583

892-

897

Ciliacutecia Novo periacuteodo de

ocupaccedilatildeo tuluacutenida

892

Itaacutelia Formaccedilatildeo do tema

da Lombardia sediado em

Benevento

893

Bulgaacuteria Boacuteris depotildee

Vladimir e substitui-o por

outro filho Simeatildeo

Substituiccedilatildeo da capital

buacutelgara passa de Priska

para Preslav

A transferecircncia do

mercado buacutelgaro de

Constantinopla para

Tessaloacutenica suscita o iniacutecio

de uma guerra entre Leatildeo

VI e Simeatildeo no ano

seguinte

O patriarca Estevatildeo

morre Antoacutenio Caulias eacute

escolhido para o

substituir

Bulgaacuteria Simeatildeo

envolve-se na traduccedilatildeo

de textos biacuteblicos do

Grego para o Eslaacutevico

583 Shaun Tougher indica que este ataque ter-se-aacute realizado entre 891 e 893

LXXVII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

894

Iniacutecio da guerra entre Leatildeo

VI e Simeatildeo

Itaacutelia O strategos

Barsaacutequio muda a capital

do tema da Lombardia

para Bari Esta decisatildeo eacute

tomada devido ao grande

sentimento de hostilidade

por parte dos habitantes da

cidade de Benevento

895

Apoacutes os desaires do ano

anterior Leatildeo VI inicia

uma contraofensiva

terrestre e naval que conta

com o apoio dos Magiares

O questor Konstantinakis eacute

preso durante uma

embaixada a Simeatildeo

Os Magiares invadem a

Bulgaacuteria pelo norte e

obrigam Simeatildeo a

refugiar-se em Moundraga

Com a vitoacuteria bizantina

quase decidida Leatildeo envia

a Moundraga o diplomata

Leatildeo Coirosfactes Leatildeo

ordena aos seus

comandantes o Domeacutestico

Niceacuteforo Focas e o

almirante Eustaacutecio para

retirarem

Apoiado pelos

Pechenegues Simeatildeo

derrota marcadamente os

Magiares

LXXVIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Itaacutelia Os Lombardos

recuperam Benevento

Anatoacutelia dezembro - troca

de prisioneiros

895896

Morte de Teoacutefane Leatildeo

casa-se com a sua amante

Zoeacute Zautzina

896

Os Bizantinos sob a

lideranccedila de Leatildeo

Katakalon satildeo derrotados

na batalha de

Bulgarophygon na Traacutecia

A derrota permite aos

Buacutelgaros saquear toda a

regiatildeo e ateacute ameaccedilar

Constantinopla

Por meio de Leatildeo

Coirosfactes Leatildeo assina a

paz com Simeatildeo pela

resoluccedilatildeo da questatildeo dos

mercados e o

comprometimento do

basileuacutes em pagar um

tributo anual

898

O eunuco Raghib captura e

mata trecircs mil marinheiros

bizantinos e queima os

seus navios

LXXIX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

899900

Morte de Zoeacute Zautzina

Califado O eunuco

Raghib eacute aprisionado pelo

califa al-Mutatid Mais

tarde morreraacute no cativeiro

900

Casamento de Leatildeo com

Eudoacutexia Baineacute

Ciliacutecia Os navios usados

pelos saqueadores aacuterabes

de Tarso satildeo queimados agraves

ordens do califa Forccedilas

bizantinas chegam ao

portatildeo Qalamya de Tarso

derrotando e capturando o

emir pouco depois durante

uma surtida

Leatildeo VI e Antoacutenio

reconciliam a Igreja e um

grupo de opositores a

Foacutecio

901

Morte da basiacutelissa e do

seu filho durante o parto

Itaacutelia 10 de julho - O

Emirado Aglaacutebida toma e

saqueia Reacutegio

Tessaacutelia Leatildeo o

Tripolitano e Damiano

capturam Demeacutetrias

Bulgaacuteria Embaixada de

Leatildeo Coirosfactes com o

objetivo de persuadir

Simeatildeo a devolver trinta

fortalezas na regiatildeo de

Dirraacutequio

Ciliacutecia Um exeacutercito

bizantino ataca Kaysum e

captura alegadamente

cerca de quinze mil

muccedilulmanos

LXXX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

902

Mar Egeu Ataque aacuterabe agrave

ilha de Lemnos no Egeu

Norte584

Siciacutelia Queda de

Taormina frente ao emir

Ibrahim II Fim da

presenccedila bizantina na

Siciacutelia

Itaacutelia Cerco de Cosenza

por Ibrahim II O emir

morre durante o cerco e o

seu exeacutercito desbanda

904

Himeacuterio eacute escolhido para

substituir Eustaacutecio como

almirante

Tessaloacutenica julho ndash

Depois de obrigarem o

Drungaacuterio da Frota

Eustaacutecio a retirar Leatildeo e

Damiano atacam e

saqueiam a segunda maior

cidade do Impeacuterio As

baixas bizantinas585

chegam aos mil homens

incluindo o strategos Leatildeo

Katzilakios que eacute

capturado pelo seu

homoacutenimo pirata

A libertaccedilatildeo da cidade eacute

comprada a Leatildeo o

Tripolitano atraveacutes de um

tributo que estava a ser

levado para a Bulgaacuteria

584 Ou 903 585 Entre mortos e prisioneiros de guerra

LXXXI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

904

(cont)

Bulgaacuteria Coirosfactes eacute

enviado para evitar que

Simeatildeo aproveitasse o

ataque aacuterabe a Tessaloacutenica

para conquistar a cidade

Ciliacutecia Saque de Hadat

Novembro ndash Androacutenico

Ducas vence uma batalha

junto a Maras

905

Leatildeo VI e uma amante

Zoeacute Carbonopsina tecircm

um filho o futuro

Constantino VI

Revolta de Androacutenico

Ducas A rebeliatildeo eacute

derrotada nesse ano apoacutes

uma pequena escaramuccedila e

o general revoltoso foge

para territoacuterio aacuterabe

Egipto Um exeacutercito

enviado pelo califa al-

Muktafi potildee fim ao

emirato tuluacutenida e coloca

a regiatildeo sob o controlo

direto dos Abaacutessidas

906

906

(cont)

Constantino eacute batizado e

declarado herdeiro Leatildeo

casa com Zoeacute

Importante vitoacuteria naval

bizantina durante a

contraofensiva levada a

cabo por Himeacuterio no dia

de Satildeo Tomeacute (6 de

outubro)

Siacuteria Saque bizantino de

Qurus nos arredores de

Aleppo

Leatildeo VI eacute excomungado

por ter casado pela quarta

vez

Bulgaacuteria Constantino

bispo de Preslav e

disciacutepulo de Metoacutedio

traduz os sermotildees de

Atanaacutesio de Alexandria

LXXXII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

907

Ataque de Olev de Kiev a

Constantinopla

O synkellos Eutiacutemio

ascende ao patriarcado

apoacutes a deposiccedilatildeo do

patriarca Nicolau que se

opotildee ao quarto

casamento do imperador

Um siacutenodo que reuacutene

representantes das cinco

sedes da Pentarquia

perdoa Leatildeo VI

909

Constantinopla O

priacutencipe Atenolfo I de

Caacutepua e Benevento envia o

seu filho primogeacutenito agrave

capital bizantina para pedir

ajuda militar a Leatildeo VI

para fazer frente agraves

depredaccedilotildees dos

Sarracenos sediados em

Garigliano

Siacuteria 20 de Setembro ndash

Iniacutecio de uma incursatildeo

naval bizantina na costa

siacuteria que conquista as

fortalezsa de al-Qubba e

Laodiceia

910

Levante Ataques de

Himeacuterios no Levante e na

ilha de Chipre

911

Chipre586 Como

represaacutelia por um ataque

de Himeacuterio agrave populaccedilatildeo

muccedilulmana da ilha

586 Ou 912

LXXXIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

911

(cont)

Damiano ataca os

habitantes bizantinos da

ilha capturando alguns

destes

Creta A tentativa de

reconquistar a ilha numa

campanha lanccedilada por

Leatildeo VI acaba numa

derrota das forccedilas

bizantinas lideradas por

Himeacuterio agraves matildeos de Leatildeo

o Tripolitano e Damiano

912

Morte de Leatildeo VI em

Constantinopla Eacute

substituiacutedo pelo irmatildeo

Alexandre

Chios Aniquilaccedilatildeo da

frota de Himeacuterio

Apoacutes a morte de Leatildeo

VI realiza-se o siacutenodo de

Magnaura que depotildee

Eutiacutemio e repotildee Nicolau

Reinado de Alexandre

912

Apoacutes a morte de Leatildeo VI

realiza-se o siacutenodo de

Magnaura que depotildee

Eutiacutemio e repotildee Nicolau

913

Morte de Alexandre

ldquoAscensatildeordquo do filho de

Leatildeo VI Constantino VII

com a regecircncia do

patriarca Nicolau

Bulgaacuteria Apoacutes Alexandre

se recusar a pagar o

habitual tributo a Simeatildeo

a guerra entre as duas

potecircncias eacute renovada

LXXXIV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Reinado de Constantino VII

914

Zoeacute Carbonopsina e Leatildeo

Focas depotildeem Nicolau da

regecircncia

915

Itaacutelia O papa Joatildeo X

funda uma liga cristatilde que

une a maior parte das

potecircncias do sul de Itaacutelia

contra Garagliano

incluindo um conjunto de

forccedilas bizantinas sob o

comando de Nicolau

Picingli o strategoacutes de

Bari Depois de um cerco

de trecircs meses os

Muccedilulmanos satildeo

derrotados quando tentam

abandonar as fortificaccedilotildees

917

Traacutecia Batalha de

Acheloos ndash O czar Simeatildeo

derrota Leatildeo Focas

decisivamente o Impeacuterio

da Bulgaacuteria expande-se

pela Traacutecia

919

O droungaacuterios tou

ploiumlmon Romano

Lecapeno encerra Zoeacute

Carbonopsina num

mosteiro e torna-se no

primeiro coimperador

macedoacutenico

LXXXV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

923

Lemnos O patriacutecio Joatildeo

Radenes derrota Leatildeo o

Tripolita que teraacute morrido

no combate

924

Aacutesia Menor Morte de

Damiano durante o cerco a

Strobilos no theacutema dos

Kibirrhaiotai

Simeatildeo da Bulgaacuteria cerca

Constantinopla que eacute

defendida por Romano I

Lecapeno

927

Bulgaacuteria Morte do Czar

Simeatildeo potildee fim agraves suas

ambiccedilotildees de criar um

impeacuterio bizantino-

buacutelgaro

LXXXVI

Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees

a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados

lsquoAbd al-Malik (seacuteculos VII-VIII dC) ndash Califa omiacuteada entre 685-705 e um dos

participantes principais na Segunda Fitna que acabou por vencer em 692 Em relaccedilatildeo a

Bizacircncio assina em 688 um tratado com Justiniano que declara a ilha de Chipre como

territoacuterio bipartido Quando morre o califado torna-se um impeacuterio burocraacutetico centralizado

escorado sobre o exeacutercito da Siacuteria587

lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que

teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso

Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid

comeccedilara a ganhar

Alp Arslan (seacuteculo XI dC) ndash Sultatildeo seljuacutecida que derrotou o co-imperador Romano

IV Diogenes na batalha de Manzikert em 1071 Foi assassinado no ano seguinte por um

rebelde coraacutesmio

Artavasdo (seacuteculo VIII) ndash Genro de Leatildeo III que ocupou as funccedilotildees kouropalaacutetēs e

koacutemes do Opsikiacuteon durante o seu reinado Apoacutes a ascensatildeo ao trono do sobrinho o basileuacutes

Constantino V tenta usurpar o trono com o apoio dos seus homens em 742 Apesar de ter

tomado Constantinopla natildeo logra capturar o imperador que consegue se refugiar em

Amorion No ano seguinte o basileuacutes legiacutetimo regressa com o apoio dos themaacuteta dos

Traceacutesicos e dos Anatolikoacuten e derrota o usurpador que eacute capturado e cegado em conjunto

com o filho A revolta de Artavasdo eacute considerada um dos principais catalisadores para a

formaccedilatildeo dos taacutegmata

Basiacutelio I (seacuteculo IX dC) ndash Basileuacutes que precedeu Leatildeo VI reinando entre 867 e 886

Depois de ter usurpado o trono a Miguel III fundou a dinastia Macedoacutenica Durante o seu

reinado os Bizantinos obtiveram importantes vitoacuterias militares como a reconquista de Bari

no sul de Itaacutelia em 876 ou a vitoacuteria na batalha de Bathys Ryax em 878 um passo decisivo

na derrota da seita pauliciana e para a consolidaccedilatildeo do poder bizantino na Anatoacutelia oriental

587 Vide KENNEDY Hugh (2004) The Prophet and the Age of Caliphs Segunda Ediccedilatildeo Gratilde-Bretanha Pearson

Longman p 103

LXXXVII

Basiacutelio II (seacuteculo X dC) ndash Penuacuteltimo basileuacutes macedoacutenico reinou entre 976 e 1025

Apesar de um iniacutecio de reinado bastante atribulado consegue apoacutes a vitoacuteria sobre os

apoiantes de Bardas Focas na batalha de Abido em 989 encetar vaacuterias campanhas militares

vitoriosas na Bulgaacuteria na Armeacutenia e em Itaacutelia No final do seu reinado o Impeacuterio Romano do

Oriente assiste por um lado agrave recuperaccedilatildeo de muitos territoacuterios de jure bizantinos em

especial os territoacuterios do czar Samuel da Bulgaacuteria e por outro agrave afirmaccedilatildeo da sua

superioridade sobre o Mediterracircnio oriental e os Balcatildes

Constante II (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes bizantino neto de Heraacuteclio que reina entre 641 e

668 Durante o seu principado enfrenta uma das primeiras expediccedilotildees aacuterabes contra

Constantinopla e sofre uma derrota devastadora numa batalha naval na Costa da Liacutecia a

conhecida laquobatalha dos Mastrosraquo Apoacutes vaacuterias tentativas com pouco ou nenhum sucesso de

estabilizar a fronteira oriental e garantir a fidelidade da Armeacutenia viaja para ocidente onde

tenta repor as defesas dessas regiotildees e criar boas bases de apoio fiscal para apoiar o esforccedilo de

guerra e em especial a Marinha Eacute assassinado na Siciacutelia em 668

Constantino I (seacuteculo IV) ndash Imperador romano entre 324-337 Constantino torna-se no

imperador absoluto do Impeacuterio apoacutes a vitoacuteria sob Liciacutenio o Augusto do Oriente na batalha de

Crisoacutepolis em 324 Mais tarde em 330 dC refunda a cidade de Bizacircncio desta feita com o

nome de Constantinopla

Constantino V o Coproacutenimo (seacuteculo VIII) ndash Basileuacutes entre 741-755 A este imperador

eacute-lhe atribuiacuteda a fundaccedilatildeo dos taacutegmata apoacutes a sua vitoacuteria sobre o conde do Opsikiacuteon

Artavasdo quando este tentou usurpar o poder entre 741-743 Com o apoio deste exeacutercito

central conseguiu conquistar vaacuterios territoacuterios nos Balcatildes e atacar territoacuterio califal

Constantino VII (seacuteculo X) ndash Terceiro Basileuacutes macedoacutenico reinou entre 913-959

Filho e herdeiro de Leatildeo VI herdou o legado cultural do pai A ele satildeo-lhes atribuiacutedas vaacuterias

obras de renome como o De Ceremoniis (laquoo Livro das Cerimoacuteniasraquo) o De Administrando

Imperii o De Thematibus e o Vita Basilii uma biografia do avocirc bem como um pequeno

tratado sobre a funccedilatildeo e importacircncia do basileuacutes numa expediccedilatildeo militar Durante o seu

reinado e do seu co-imperador Romano I Lecapeno o impeacuterio vai tomando uma postura cada

vez mais ofensiva algo verificaacutevel numa seacuterie de reformas empreendidas e na expansatildeo para

Oriente com destaque para a conquista de Melitene por Joatildeo Curcuas em 934

Cosroeacutes II (seacuteculos VI e VII) ndash Rei do Impeacuterio Sassacircnida em 590 e entre 591-628

Apoacutes o assassinato de Hormisdas seu pai em 590 o jovem Cosroeacutes II foge para a corte do

LXXXVIII

imperador Mauriacutecio em Constantinopla que o ajuda a recuperar o trono um ano depois Apoacutes

a morte do seu protetor em 602 Cosroeacutes invade o Impeacuterio Bizantino naquela que seria a

uacuteltima guerra BizantinoRomano-Persa Apesar de um iniacutecio de guerra bastante bem-

sucedido com a conquista de vastas porccedilotildees de territoacuterio bizantino a mareacute acaba por se virar

contra ele sofrendo vaacuterias derrotas agraves matildeos de Heraacuteclio Eacute deposto e assassinado pelo filho

em 628

Focas (seacuteculo VII) ndash Imperador bizantino entre 602-610 Inicialmente um oficial da

armada do Danuacutebio Focas eacute declarado imperador pelo seu exeacutercito em 602 apoacutes mais uma

tentativa falhada de Mauriacutecio de reduzir custos nas despesas do exeacutercito atacando

posteriormente Constantinopla onde depotildee e assassina Mauriacutecio Apoacutes oito anos de um

reinado bastante fraco onde para aleacutem da instabilidade interna causada pela sua falta de

legitimidade se viu frente-a-frente com uma guerra com o Impeacuterio Persa Sassacircnida e novas

invasotildees Aacutevaro-Eslavas acaba deposto e morto por Heraacuteclio em 610

Harun al-Rashid (seacuteculos VIII-IX) ndash Califa abaacutessida entre 786-809 Considerado um

dos grandes califas muccedilulmanos Harun al-Rashid conduziu vaacuterias campanhas com sucesso agrave

Aacutesia Menor obrigando Bizacircncio a pagar um pesado tributo Quando morre tem iniacutecio a

Quarta Fitna entre os seus filhos al-Amin e Al-Mamun conflito que permite ao Impeacuterio

Bizantino ter algum descanso na fronteira oriental e concentrar-se na (tentativa) de

erradicaccedilatildeo do Impeacuterio Buacutelgaro que termina em fracasso no ano de 811 com a morte de

Niceacuteforo I

Heraacuteclio (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes entre 610-640 Apoacutes ter deposto Focas em 610

Heraacuteclio consegue lentamente virar a mareacute da guerra contra os Persas e os Aacutevaros

Finalmente vitorioso em 628 Heraacuteclio consegue governar em paz ateacute 633 quando comeccedilam

os primeiros confrontos com o Califado Rashidun Apoacutes a derrota na batalha de Yarmouk em

636 Heraacuteclio abandona a Siacuteria-Palestina para fortalecer as defesas da Aacutesia Menor Quando

morre em 641 forccedilas califais sob Amr ibn lsquoal-Aas jaacute tinham conquistado alguns territoacuterios

romanos no Egipto

Joatildeo I Zimisce (seacuteculo X) ndash co-imperador bizantino entre 969 e 976 ascende ao trono

apoacutes assassinar o tio o co-imperador Niceacuteforo II Focas Apoacutes derrotar o priacutencipe russo

Svyatoslav em 971 nas batalhas de Dorostolon empreende uma seacuterie de campanhas na Siacuteria-

Palestina que expandem o territoacuterio imperial naquela regiatildeo Antes de morrer pretenderia

reconquistar Jerusaleacutem aos Fatiacutemidas

LXXXIX

Justiniano (seacuteculo VI) ndash Imperador bizantino entre 527-565 Possivelmente o mais

conhecido imperador bizantino Foi durante o principado deste augusto que o Impeacuterio

Romano do Oriente conquistou um grande nuacutemero de territoacuterios sob a alccedilada de

emblemaacuteticos generais como Belisaacuterio e Narseacutes que antes pertenciam ao Impeacuterio Romano do

Ocidente Norte de Aacutefrica Itaacutelia e uma boa parte do sul da Peniacutensula Ibeacuterica Para aleacutem desta

importante obra militar deixou ainda um legado juriacutedico relevante (com a redaccedilatildeo de uma

compilaccedilatildeo de leis denominada Corpus Iuris Iulianos) e de obras puacuteblicas como a Hagia

Sophia e a basiacutelica de Satildeo Vitalle em Ravenna Os anos finais do seu reinado ficaram

manchados pela peste pelas criacuteticas internas dos senadores e dos grandes intelectuais bem

como pelas controveacutersias eclesiaacutesticas Apesar disto agrave sua morte em 565 o Impeacuterio

Bizantino tinha atingido a sua maior extensatildeo

Justiniano II (seacuteculo VII e VIII) ndash Basileuacutes bizantino de 685 a 695 e de 705 a 711

Apesar de ter um iniacutecio de reinado algo bem-sucedido (com a conquista de territoacuterio nos

Balcatildes e uma treacutegua favoraacutevel com o califado) a derrota em Sebastoacutepolis em 693 e uma

seacuterie de conflitos com o papado e o califado vatildeo provocar um golpe de estado que o depotildee

sendo substituiacutedo por Leocircncio Dez anos apoacutes estes acontecimentos em que Bizacircncio perde

definitivamente o Norte de Aacutefrica Justiniano regressa violentamente a Constantinopla com o

apoio do khan Tervel dos Buacutelgaros e consegue recuperar o poder executando Leocircncio e o

basileuacutes Tibeacuterio Apsimar no decurso do seu regresso ao trono Apoacutes um segundo principado

cruel protagonizado pela perseguiccedilatildeo aos (ou quem ele pensava ser) seus adversaacuterios

poliacuteticos Justiniano II e o filho acabam depostos e executados pondo fim agrave dinastia

Heracliana

Leatildeo III (seacuteculo VIII) ndash Suserano bizantino entre 717 e 741 Leatildeo ascendeu ao trono

pouco antes do uacuteltimo cerco aacuterabe a Constantinopla com a deposiccedilatildeo de Teodoacutesio III pelo

theacutema dos Anatoacutelicos Entre os principais eventos do seu reinado estatildeo a derrota do cerco

aacuterabe a Constantinopla de 717-718 com recurso agrave frota agrave diplomacia agrave guerra de guerrilha e

agraves muralhas de Teodoacutesio o iniacutecio da questatildeo iconoclaacutestica que iria dividir de maior ou

menor forma a sociedade bizantina durante mais ou menos um seacuteculo ateacute ao reinado de

Miguel III e a batalha de Akroinos em 740 que se demonstra um ponto marcante no conflito

entre Aacuterabes e Bizantinos pois depois desta os primeiros nunca mais tentariam conquistar a

capital do adversaacuterio e a guerra de formal geral circunscrever-se-ia a expediccedilotildees de saque e

contra-raides

XC

Leatildeo VI (seacuteculos IX-X) ndash segundo basileuacutes Macedoacutenico reina entre 886 e 912 Apesar

de natildeo ter exercido comando dos seus exeacutercitos o seu principado encontra-se caracterizado

por episoacutedios beacutelicos marcantes como a guerra buacutelgara com Simeatildeo (894-896) a perda

definitiva da Siciacutelia com a queda de Taormina (902) e o saque de Tessaloacutenica por Leatildeo o

Tripolitano e Damiano Apesar destes desaires o impeacuterio consegue vencer noutras frentes e

impor a sua supremacia no sul de Itaacutelia e ateacute expandir o territoacuterio imperial para Oriente Eacute o

autor de dois tratados militares o Problemaacuteta e o Taktikaacute e promulgou a publicaccedilatildeo de um

novo coacutedigo de leis em continuaccedilatildeo do trabalho do pai denominado Basilica

Mauriacutecio (seacuteculos VI-VII) ndash Imperador bizantino entre 582 e 602 Ficou conhecido

por participar na guerra civil no seu mais poderoso vizinho a Peacutersia Sassacircnida onde

contribuiu para recolocar no trono o soberano legiacutetimo Cosroeacutes II pelas campanhas

vitoriosas nos Balcatildes e pela escrita de um dos mais importantes tratados militares bizantinos

o Stratēgikoacuten Apesar destes sucessos antes de conseguir confrontar a ameaccedila lombarda em

Itaacutelia eacute assassinado em conjunto com a famiacutelia pelas tropas da fronteira do Danuacutebio apoacutes

lhes ordenar que se guarnecessem para laacute daquele rio durante o inverno Eacute substituiacutedo por

Focas

Miguel III (seacuteculo IX) ndash Basileuacutes entre 842 e 867 Durante o seu principado as forccedilas

bizantinas derrotam as forccedilas muccedilulmanas dos emirados de Tarso e Melitene que permitem

estabilizar o balanccedilo de poderes na fronteira Eacute deposto e morto pelo parakoimṓmenos

Basiacutelio que o sucede como Basiacutelio I Seraacute sepultado dignamente durante o reinado de Leatildeo

VI

Muawiyia (seacuteculo VII) ndash Primeiro califa omiacuteada reina entre 661 e 680 Inicialmente

apenas governador de Damasco consegue tornar-se califa apoacutes a vitoacuteria na Primeira Fitna

(656-661) Foi um dos principais impulsionadores da criaccedilatildeo de uma marinha de guerra aacuterabe

comandou vaacuterias campanhas contra Bizacircncio e conseguiu cercar a capital bizantina em 674

Niceacuteforo I (seacuteculos VIII-IX) ndash Inicialmente logoacuteteta das financcedilas de Irene (797-802)

torna-se basileuacutes em 802 reinando ateacute 811 Durante o seu principado o Impeacuterio Bizantino

reafirmou o seu poderio na Greacutecia e nos Balcatildes Eacute considerado um dos fundadores dos

themaacuteta que teratildeo sido criados no seio de um conjunto de reformas fiscais implementadas por

ele Morre na batalha de Priska na Bulgaacuteria contra o khan Krum em 811

Niceacuteforo II Focas (seacuteculo X) ndash Domestikoacutes do Oriente de Romano II torna-se co-

imperador agrave morte deste e reina entre 963-969 Tem a cargo dele uma seacuterie de sucessos

XCI

bizantinos na regiatildeo da Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria onde destroacutei o poder dos Hamdacircnidas e

conquista Antioquia Antes de ser co-imperador logra conquistar a ilha de Creta em 961

Niceacuteforo II eacute considerado como um dos grandes organizadores militares bizantinos e satildeo-lhe

atribuiacutedos trecircs tratados militares o Praecepta Militaria sobre os novos exeacutercitos de

campanha bizantinos o De velitatione bellica sobre a guerra de guerrilha e um tratado sobre

a guerra na Bulgaacuteria

Romano IV Diogenes (seacuteculo XI) ndash Co-imperador bizantino entre 1068 e 1071 Foi um

experiente comandante militar que tentou reverter os reveses bizantinos frente aos

Turcomanos Eacute derrotado por Alp Arslan na batalha de Manzikert no seio de uma campanha

em que tentava repor uma linha defensiva na Armeacutenia Mais tarde eacute derrotado pela famiacutelia

dos Ducas cegado e encerrado num mosteiro onde viria a morrer em 1072

Sayf al-Daulah (seacuteculo X) ndash Emir hamdacircnida de Alepo entre 944 e 967 Ao longo do

seu reinado foi o inimigo mais energeacutetico de Bizacircncio e tentou desarticular o sistema

defensivo romano no limes oriental Durante a primeira metade do seu principado consegue

conduzir raides de grandes dimensotildees ao interior de territoacuterio bizantino mas apoacutes a ascensatildeo

de Niceacuteforo Focas ao cargo de domestikoacutes em 957 vecirc-se cada vez mais colocado na

defensiva Nos anos anteriores agrave sua morte vai ver o seu territoacuterio cada vez mais reduzido

com as perdas da Ciliacutecia e de Antioquia e com a cidade de Alepo (apesar de a cidadela ter

resistido) tomada e saqueada

Simeatildeo (seacuteculo X) ndash Czar buacutelgaro entre 893 e 927 Eacute um dos primeiros governantes

cristatildeos da Bulgaacuteria e dedicou-se agrave traduccedilatildeo de textos religiosos Em termos militares travou

duros combates com forccedilas bizantinas tendo-as derrotado em vaacuterias ocasiotildees como em

Bulgarophygon (896) e Acheloos (917) Tinha o sonho de conseguir criar uma dinastia

bizantino-buacutelgara mas natildeo o conseguiu realizar

XCII

b) Tratadistas e cronistas

Aeliano (seacuteculo II dC) ndash Autor grego que escreveu um importante tratado militar

chamado Περὶ Στρατηγικῶν Τάξεων Ἑλληνικῶν (laquoSobre os dispositivos taacuteticos gregosraquo) o

qual se debruccedilava sobre o exeacutercito e a forma de fazer guerra nos Estados dos Diadochii e que

teve grande influecircncia na escrita do Taktikaacute e na Idade Moderna

Arriano (seacuteculo III dC) ndash Historiador e tratadista grego eacute considerado por Alphonse

Dain como o personagem de primeiro plano entre todos os tratadistas da Antiguidade588

Redigiu vaacuterias obras ilustres como o Anabasis Alexandri que relata as campanhas do rei

macedoacutenico o Ars Tactica um importante manual de taacuteticas que descreve de forma

ambivalente as taacuteticas militares macedoacutenicas e romanas e ainda o Ἔκταξις κατὰ Ἀλανῶν (ldquoA

ordem de batalha contra os Alanosrdquo)

ldquoHeacuteron de Bizacircnciordquo (seacuteculo X) ndash Autor anoacutenimo de dois tratados militares bizantinos

sobre poliorceacutetica o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia

Leatildeo o Diaacutecono (seacuteculo X) ndash monge bizantino que escreveu a Histoacuteria que relata os

reinados e as campanhas de Niceacuteforo II Focas e Joatildeo I Tzimiskeacute

Onasandro (seacuteculo I dC) ndash filoacutesofo grego oriundo da ilha de Chipre que escreveu

um dos mais importantes tratados militares da Antiguidade o Στρατηγικός (Strategikoacutes) Esta

obra eacute uma das principais influecircncias de tratados como o Stratēgikoacuten e o Taktikaacute

Siriano magistros (seacuteculo VI IX dC) ndash autor anoacutenimo de trecircs tratados militares

bizantinos o Periacute Strateacutegias um manual militar o Naumachiacuteai obra que discute aspetos de

guerra naval e o Rhetorica Militaris que visa aspetos de oratoacuteria da arte beacutelica

588 Vide DAIN Alphonse (1967) Les strateacutegistes byzantins In Travaux et Meacutemoires 2 p331

XCIII

c) Outras personagens relevantes

lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que

teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso

Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid

comeccedilara a ganhar

Khalid ibn al-Walid (seacuteculo VII) ndash Experiente comandante aacuterabe em vaacuterios

confrontos como a batalha de Yarmuk Eacute considerado um dos principais responsaacuteveis pela

conquista muccedilulmana da Siacuteria-Palestina

Narseacutes (seacuteculo VI) ndash Um dos generais a par de Belisaacuterio mais importantes de

Justiniano durante as chamadas Guerras Goacuteticas Apoacutes a vitoacuteria em Mons Lactarius que potildee

fim ao reino dos Ostrogodos enfrenta e derrota uma coligaccedilatildeo de Francos e Alamanos na

batalha do rio Volturno em 554 onde acaba de consolidar a reconquista romana da Peniacutensula

Itaacutelica

Saporios (seacuteculo VII) ndash strategoacutes da divisatildeo do Armeniakon que se aliou a lsquoAbd al-

Rahman ibn al-Walid durante as suas campanhas na Aacutesia Menor permitindo a invasatildeo da

Aacutesia Menor pelos Omiacuteadas Depois da sua morte em 667 o Armeniakon volta para o lado de

Bizacircncio

XCIV

d) Dinastias

Aglaacutebidas Dinastia muccedilulmana da Tuniacutesia entre 800 e 909 sediada em Kairouan na

Tuniacutesia Em 827 invadem a Siciacutelia e terminam a conquista desta com a tomada de Taormina

em 902

Amoriana Dinastia bizantina que governou entre 820 e 867 Durante o periacuteodo em que

esta governou verificou-se uma estabilizaccedilatildeo da fronteira oriental graccedilas agrave criaccedilatildeo das

kleisoucircrarchiai e ao fim definitivo da questatildeo iconoclaacutestica

Hamdacircnidas Dinastia muccedilulmana do Norte da Siacuteria que atingiu o seu expoente

maacuteximo no reinado de Sayf al-Dawlah governando a Mesopotacircmia e a Ciliacutecia a partir de

Alepo

Macedoacutenica Uma das mais ilustres dinastias bizantinas governa o impeacuterio desde a

usurpaccedilatildeo de Basiacutelio I em 867 ateacute agrave morte de Teodora em 1056 Durante o seu reinado

Bizacircncio atinge a sua maior extensatildeo desde Mauriacutecio e consolida-se como a maior potecircncia

do Mediterracircneo oriental

Tuluacutenidas Dinastia muccedilulmana do Egipto entre 868 e 905

XCV

e) Organizaccedilotildees e unidades militares

Excubitores ndash contingente dos taacutegmata resultou da reorganizaccedilatildeo do regimento da

guarda imperial do mesmo nome obtendo novamente funcionalidade militar No campo de

batalha funcionavam taticamente como cavalaria

Hetaireia ndash contingente dos taacutegmata que reunia em si soldados de outras

nacionalidades como Khazars Inicialmente tratar-se-ia apenas de uma divisatildeo da Vigla

(Noumera) mas tornaram-se num corpo militar independente durante o reinado de Miguel II

Hikanatocirci ndash divisatildeo de cavalaria dos taacutegmata formada por Niceacuteforo I Era constituiacuteda

pelos filhos dos archontes da capital tendo sido criada para esse propoacutesito de forma a servir o

filho do basileuacutes Staurakios

Vigla ndash unidade da guarda imperial formada pela basilissa Irene por volta de 780 Era

composta por cavalaria

Noumera ndash Regimento dos taacutegmata que servia como guarniccedilatildeo permanente de

Constantinopla sendo por essa razatildeo constituiacutedo por infantaria

Opsikiacuteon ndash comando militar bizantino que desempenhava as funccedilotildees de guarniccedilatildeo de

Constantinopla e de exeacutercito pessoal do basileuacutes Perdeu muita da sua importacircncia apoacutes a

revolta falhada de Artavasdo em 743 tendo os taacutegmata ocupado as suas funccedilotildees

Optimates ndash regimento dos taacutegmata que se encontrava encarregue da logiacutestica

Scholaiacute ndash um dos contingentes mais importantes dos taacutegmata foi o resultado da

remilitarizaccedilatildeo do regimento da guarda imperial com o mesmo nome Militarmente eram

constituiacutedos por cavalaria O seu oficial maacuteximo era o domestikoacutes Scholae que acabaria por se

tornar no comandante maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos depois do basileuacutes

XCVI

Anexos V ndash Listas de Titulares

a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca

meacutedio-bizantina (582-1204)

Dinastia Justiniana

582-602 ndash Mauriacutecio Tibeacuterio

Natildeo Dinaacutestico

602-610 ndash Focas

Dinastia Heracliana

610-641 ndash Heraacuteclio

641 ndash Constantino III Heraacuteclio

641- Heraclonas

regecircncia de Martina

641-668 ndash Constante II

668-685 ndash Constantino IV

685-695 ndash Justiniano II

695-698 ndash Leocircncio

698-705 ndash Tibeacuterio II Absimaro

705-711 ndash Justiniano II (2ordm principado)

Natildeo Dinaacutesticos

711-713 ndash Filipico Bardaneacutes

713-715 ndash Anastaacutecio II

715-717 ndash Teodoacutesio III

XCVII

Dinastia Isauriana

717-741 ndash Leatildeo III ldquoO Isaurianordquo

741-775 ndash Constantino V ldquoO Coproacutenimordquo

775-780 ndash Leatildeo IV

780-797 ndash Constantino VI (regecircncia de Irene)

797-802 ndash Irene ldquoA Atenienserdquo

Natildeo Dinaacutestico

802-811 ndash Niceacuteforo I

811 ndash Staurakios

811-813 ndash Miguel I Rangabeacute

813-820 ndash Leatildeo V ldquoO Armeacuteniordquo

Dinastia Amoriana

820-829 ndash Miguel II ldquoO Amorianordquo

829-842 ndash Teoacutefilo

842-867 ndash Miguel III

842-856 ndash Regecircncia de Teodora

XCVIII

Dinastia Macedoacutenica

867-886 ndash Basiacutelio I O Macedoacutenico

886-912 ndash Leatildeo VI O Saacutebio

912-913 ndash Alexandre

913-959 ndash Constantino VII Porfirogeneta

913-914 ndash Regecircncia de Nicolau Miacutestico

914-920 ndash Regecircncia de Zoe Carbonopsina

920-944 ndash Co-imperador Romano I Lecapeno

959-963 ndash Romano II Porfirogeneta

963-1025 ndash Basiacutelio II Boulgaroktoacutenos (o exterminador de Buacutelgaros)

963 ndash Regecircncia de Teoacutefane

963-969 ndash Co-imperador Niceacuteforo II Focas

969-976 ndash Co-imperador Joatildeo I Zimisce

1025-1028 ndash Constantino VIII Porfirogeneta

1028-1034 ndash Romano III Argiro

1034-1041 ndash Miguel IV ldquoO Paflagoacutenicordquo

1041-1042 ndash Miguel V ldquoO Calafaterdquo

1042 ndash Zoeacute

1042-1055 ndash Constantino IX Monoacutemaco

1055-1056 ndash Teodora

Natildeo Dinaacutestico

1056-1057 ndash Miguel VI Bringas

Dinastia Comnena

1057-1059 ndash Isaac I Comneno

XCIX

Dinastia Ducas

1059-1067 ndash Constantino X Ducas

1067-1078 ndash Miguel VII Ducas

1067-1068 - Regecircncia de Eudoacutexia

1068-1071 - Co-imperador Romano IV Dioacutegenes

Natildeo-dinaacutestico

1078-1081 ndash Niceacuteforo III Botaniate

Dinastia Comnena

1081-1118 ndash Aleixo I Comneno

1118-1143 ndash Joatildeo II Comneno

1143-1180 ndash Manuel I Comneno

1180-1183 ndash Aleixo II Comneno

1183-1185 ndash Androacutenico I Comneno

Dinastia Acircngelo (dos Anjos)

1185-1195 ndash Isaac II Anjo

1195-1203 ndash Aleixo III

1204 ndash Aleixo IV

1204 ndash Aleixo V Ducas Murzuflo

C

b) Califas Aacuterabes

Califas Rashidun Califas Abaacutessidas

632-634 ndash Abu-Bakr

634-644 ndash Omar

644-656 ndash Uthman

656-661 ndash Ali

750-754 ndash Al-Saffah

754-775 ndash Al-Mansur

775-785 ndash Al-Mahdi

785-786 ndash Al-Hadi

786-809 ndash Harun al-Rashid

809-813 ndash Al-Amin

813-833 ndash Al-Mamun

833-842 ndash Al-Mutasim

842-847 ndash Al-Wathiq

847-861 - Al-Mutawakill

861-862 ndash Al-Muntasir

862-866 ndash Al-Mustarsquoin

866-869 ndash Al-Mursquotazz

869-870 ndash Al-Mutahdi

870-892 ndash Al-Mursquotamid

892-902 ndash Al-Mursquotadid

902-908 ndash Al-Muktafi

908-932 ndash Al-Muqtadir

932-934 ndash Al-Qahir

934-940 ndash Al-Radi

940-944 ndash Al-Muttaqi

944-946 ndash Al-Mustakfi

946-974 ndash Al-Muti

974-991 ndash Al-Tarsquoi

991-1031 ndash Al-Qadir

1031-1075 ndash Al-Qarsquoim

Califas Omiacuteadas 661-680 ndash Muawiyia I

680-683 ndash Yazicircd I

683-684 - Muawiya II

684-685 ndash Marwan I

685-705 ndash Abd al-Malik

705-715 - Al-Walid I

715-720 ndash Sulayman

720-724 - Yazicircd II

724-743 ndash Hisham

743-744 ndash Al-Walid II

744-750 ndash Marwan II

CI

c) Outros governantes aacuterabes

Governantes Omiacuteadas do Al-Andalus

Governadores

714-716 ndash lsquoAbd al-lsquoAziz ibn Musa

716 ndash Ayyub ibn Habib al-Lakhmi

717-719 ndash Al-Hurr ibn lsquoAbd al-Rahman al Thaqafi

719-721 ndash lsquoAl-Samh ibn Malik al-Khawlani

721 ndash Abd al-Rahman al-Ghafiqi

721-725 ndash lsquoAnbasa ibn Suhaym al-Kalbi

725-726 ndash lsquoUdhra ibn lsquoAbd Allah al-Fihri

726-728 ndash Yahya ibn Salama al-Kalbi

728-729 ndash Hudhayfa ibn al-Ahwas al-Qaysi

729 ndash lsquoUthman ibn Abi Nasr al-Khathrsquoami

729-730 ndash Al-Haytham ibn lsquoUbayd al-Kilabi

730 ndash Muhammad ibn lsquoAbd Allah al-Ashja lsquoi

730-732 ndash lsquoAbd al-Rhaman ibn lsquoAbd Allah al-Ghafiqi

732-734 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri

734-740 ndash lsquoUqba ibn al-Hajjaj al-Saluli

740-741 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri

742-743 ndash Tharsquolaba ibn Salama al-lsquoAmili

743-745 ndash Abu al-Qattar al-Husam

745-746 ndash Thawaba ibn Yazid

746-756 ndash Usuf ibn lsquoAbd al-Rahman al-Fihri

Instauraccedilatildeo do Emirato Omiacuteada

822-852 ndash lsquoAbd al-Rahman II

852-886 - Muhammad I

886-888 ndash Al-Mundhir

888-912 ndash lsquoAbd Allah

912-929 ndash lsquoAbd al-Rahman III

lsquoAbd al-Rahman III eacute proclamado califa

Califas Omiacuteadas

929-961 ndash lsquoAbd al-Rahman III

961-976 ndash Al-Hakam II

976-1009 ndash Hisham II

1009 ndash Muhammad II

1010-1013 ndash Hisham II

1013-1018 ndash Sulayman al-Mustarsquoin

1018-1023 ndash lsquoAbd al-Rahman IV al-Murtada

1023-1024 ndash Abd al-Rahman V al-Mustazhir

1024-1027 - Muhammad III al-Mustakfi

1027-1031 ndash Hisham III al-Mursquotadd

Fim da dinastia iniacutecio do primeiro periacuteodo

de reis de taifa

Emires Omiacuteadas

756-788 ndash lsquoAbd al-Rahman I

788-796 ndash Hisham I

796-822 ndash Al-Hakam I

CII

Governantes Almoraacutevidas e Almoacuteadas

Almoraacutevidas (emires) Almoacuteadas (califas)

Primeiro periacuteodo dos reinos de taifa

1061-1106 ndash Yusuf ibn Tashufin

1106-1142 ndash Ali

1143-1145 ndash Tashufin

1146 ndash Ibrahim

1146-1147 ndash Ishaq

1130-1163 ndash lsquoAbd al-Mursquomin

1163-1184 ndash Abu Yarsquoqub Yusuf

1184-1199 ndash Abu-Yusuf Yarsquoqub al-Mansur

1199-1214 ndash Muhammad al-Nasir

Governantes Aglaacutebidas

812-817 ndash lsquoAbd Allah

817-838 ndash Ziyadat Allah I

838-841 ndash Abu lsquoIqal al-Aghlab

841-856 ndash Muḥammad I

856-863 ndash Aḥmad

863 - Ziyadat Allah II

863-875 ndash Abu rsquol-Gharaniq Muḥammad II

875-902 ndash Ibrahim II

902-903 ndash lsquoAbd Allah II

CIII

d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria

739-756 ndash Kormisos

756-ca761 ndash Vinekh

Ca 761-764 ndash Telec

Ca 764-767 ndash Sabin

767 ndash Umar

767-ca769 ndash Toktu

770 ndash Pagan

Ca 770 ndash 777 ndash Telerig

777-ca803 ndash Kardam

Ca 803-813 ndash Krum

814-831 ndash Omurtag

831-836 ndash Malamir

836-852 ndash Presiam

852-889 ndash Boacuteris I

889-893 ndash Vladimir

893-927 ndash Simeatildeo

927-967 ndash Pedro

967-971 ndash Boacuteris II

976-986 ndash Cometopuli Aratildeo Moiseacutes David e Samuel

986-1014 ndash Samuel

1014-1015 ndash Gabriel Radomir

1015-1019 ndash Joatildeo Vladislav

Conquista Bizantina de Basiacutelio II

CIV

e) Priacutencipes de Rus

ndash 945 ndash Igor

945-972 ndash Svyatoslav

972-978 ndash Yaropolk

978-1015 ndash Vladimir I

1015-1019 ndash Svjatopolk

1019-1036 ndash Msistlav

1036-1054 ndash Yaroslav I

1054-1057 ndash Vyacheslav

1057-1060 ndash Igor

1060-1076 ndash Svjatoslav II

1076-1078 ndash Izyaslav

1078-1093 ndash Vsevolod

1093-1113 ndash Svjatopolk II

1113-1115 ndash Oleg

1115-11123 ndash Yaroslav II

1123-1125 ndash Vladimir II

1125-1132 ndash Mstislav-Harald

1132-1139 ndash Yaropolk II

1139-1157 ndash Yuri Dolgoruky

CV

f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia

Reis Lombardos

568-572 ndash Alboim

572-574 ndash Clefo

574-584 - Interregno

584-590 ndash Autari

590-616 ndash Agilolfo

616-626 ndash Adaloaldo

626-636 ndash Arioldo

636-652 ndash Rotaacuterio

652 ndash Rodoaldo

652-661 ndash Ariberto I

661-662 ndash Godeberto Perctarit

662-671 ndash Grimoaldo

671-688 ndash Perctarit

688-700 ndash Cuniperto

700 ndash Liutberto

700-712 ndash Ariberto II

712 ndash Ansprando

713-744 ndash Liutprando

744 ndash Hildebrando

744-749 ndash Ratchis

749-756 ndash Astolfo

756-774 ndash Desideacuterio

CVI

Duques e Priacutencipes (a partir de 774) de Benevento

571-591 ndash Zotto

591-641 ndash Arechis I

641-642 ndash Aio I

642-646 ndash Radoaldo

646-662 ndash Grimoaldo I

662-687 ndash Romoaldo I

687-692 ndash Grimoaldo II

692-706 ndash Gisulfo

706-730 ndash Romoaldo II

730-732 ndash Audelaio

732-739 ndash Gregoacuterio

739-742 ndash Godescalco

742-751 ndash Gisulfo II

751-758 ndash Liutprando

758-787 ndash Arichis II

787-806 ndash Grimoaldo III

806-817 ndash Grimoaldo IV

817-833 ndash Sico

833-839 ndash Sicardo

839-851 ndash Radeacutelchio I

839-849 ndash Siquenolfo

851-853 ndash Radelgar

853-878 ndash Adeacutelchio

878-881 ndash Gaideacuterio

881-884 ndash Radeacutelchio II

884-891 ndash Aio II

891-892 ndash Urso

895-897 ndash Guido IV de Espoleto

897-900 ndash Radeacutelchio II

900-910 ndash Atenolfo I

910-940 ndash Atenolfo II

910-943 ndash Landolfo I

933-943 ndash Atenolfo III

939-961 ndash Landolfo II

959-968969 ndash Landolfo III

961-981 ndash Pandolfo I

96869-982 ndash Landolfo IV

982-1014 ndash Pandolfo II

987-1033 ndash Landolfo V

1011-1060 ndash Pandolfo III

1038-1077 ndash Landolfo VI

1054-1074 ndash Pandolfo IV

Conquista Normanda do Ducado

CVII

Priacutencipes de Salerno Princiacutepes de Caacutepua

853-856 ndash Pedro

856-861 ndash Ademaro

861-880 ndash Guaifer

880-900 ndash Guaimar I

900-946 ndash Guaimar II

946-977 ndash Gisulfo I

977-981 ndash Pandolfo I

981-983 ndash Manso e Joatildeo I

983-989 ndash Joatildeo II

989-1027 ndash Guaimar III

1027-1052 ndash Guaimar IV

1052-1077 ndash Gisulfo II

Conquista Normanda do Principado

887-910 ndash Atenolfo I

910-940 ndash Atenolfo II

910-943 ndash Landolfo I

933-943 ndash Atenolfo III

939-961 ndash Landolfo II

959-968969 ndash Landolfo III

961-981 ndash Pandolfo I

96869-982 ndash Landolfo IV

982-993 ndash Ladenolfo

993-999 ndash Laidolfo

1000-1007 ndash Landolfo V

1007-1022 ndash Pandolfo II

1014-1026 ndash Pandolfo III

1016-1049 ndash Pandolfo IV

1020-1057 ndash Pandolfo V

1022-1026 ndash Pandolfo VI

1047-1058 ndash Landolfo VI

1049-1057 ndash Pandolfo IV

Conquista Normanda do Ducado

CVIII

Duques de Espoleto

580-592 ndash Faroaldo I

592-601 ndash Ariulfo

601-653 ndash Teudelaacutepio

653-663 ndash Ato

663-703 ndash Trasamundo I

703-724 ndash Faroaldo II

724-739 ndash Trasamundo II

739-740 ndash Hilderico

740-742 ndash Trasamundo II

742-744 ndash Agiprando

744-745 ndash Trasamundo II

745-752 ndash Lupo

752-756 ndash Astolfo (rei dos Lombardos)

756-757 ndash Ratchis

757-759 ndash Alboiacuteno

758-759 ndash Desideacuterio (rei dos Lombardos)

758-763 ndash Gisulfo

763-773 ndash Teodiacutesio

774-788 ndash Hildebrando

789-822 ndash Guinisigio I

822-824 ndash Supatildeo I

824 ndash Adelardo

824 ndash Mauringo

824-834 ndash Adeacutelchio I

834-836 ndash Lamberto I de Nantes

836-841 ndash Berengaacuterio de Espoleto

842-860 ndash Guido I de Espoleto

860-871 ndash Lamberto I de Espoleto

871 ndash Supatildeo II

871-874 ndash Supatildeo III

875-880 ndash Lamberto I de Espoleto

880-883 ndash Guido III

883-889 ndash Guido II

889-897 ndash Guido IV

898-922 ndash Alberico

923-928 ndash Bonifaacutecio I

924-928 ndash Pedro

929-936 ndash Teobaldo

937-940 ndash Anscaacuterio II

940-943 ndash Sarleatildeo

943-946 ndash Uberto de Espoleto

946-953 ndash Bonifaacutecio II

953-959 ndash Teobaldo II

959-967 ndash Trasimundo III

966-1001 ndash Conrado de Ivreia

967-981 ndash Pandolfo I Cabeccedila-de-ferro

982-989 ndash Trasimundo IV

999- ndash Ademaro

1003- ndash Romano

1010-1020 ndash Ranieri da Toscacircnia

1020-1035 ndash Hugo II

1036-1043 ndash Hugo III

1043-1056 ndash Controlo do Marquesado da

Toscacircnia

1057-1070 ndash Godofredo III da Lorena

1070-1082 ndash Controlo do Marquesado da

Toscacircnia

CIX

Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico

a) Termos militares e navais

Baacutendon (pl bandaacute) ndash Unidade taacutetica baacutesica de um exeacutercito bizantino De acordo com o

Taktikaacute deveria ter entre 200 a 400 homens

Cheirosiacutefona ndash meio de projetar ou atirar fogo greguecircs Possivelmente um sifatildeo manual

Chelandia ndash Nave de Guerra bizantina que teria esse nome por inicialmente ter

capacidade de transporte de montadas

Comitatenses ndash soldados dos exeacutercitos moacuteveis tardo-romanos

Decarca ndash Comandante de uma decarquia ou de uma fila de soldados

Droacutemōn pl Droacutemōnes ndash designaccedilatildeo geral para os vasos de guerra bizantinos No seacuteculo

X era usado a par da chelandia como o principal termo designativo para os navios de guerra

efetiva

Ekdiacutekoi ndash Tambeacutem chamados de ldquodefensoresrdquo eram os cavaleiros responsaacuteveis por apoiar

os kouacutersores caso estes necessitassem de retirar

Fogo greguecircs ndash Substacircncia inflamaacutevel utilizada como arma pelos Bizantinos

especialmente em contextos navais Apesar de ainda natildeo se conhecer a sua composiccedilatildeo na

totalidade sabe-se que pelo menos contaria com oacuteleo crude e resina nesta Uma das suas

propriedades principais seria a ineficaacutecia da aacutegua em apagar o fogo provocado por este

composto

Fulcrum ndash Dispositivo taacutetico anti-cavalaria Neste as trecircs primeiras fileiras de infantaria

erguiam os escudos e apoiavam as lanccedilas no chatildeo de forma a trespassar o peito dos cavalos

Galea ndash pequeno navio designado essencialmente para funccedilotildees de recolha de informaccedilatildeo

e de reconhecimento

Ghazi ndash Soldado voluntaacuterio religioso muccedilulmano As expediccedilotildees cilicianas em particular

as de veratildeo contavam com muitos guerreiros deste geacutenero

CX

Hypostrategoacutes ndash Comandante da segunda touacuterma de um theacutema e segundo homem com

mais poder do exeacutercito ldquotemaacuteticordquo

Kaballarika themaacuteta ndash Atribuiccedilatildeo dada agraves forccedilas dos themaacuteta por estes serem

constituiacutedos maioritariamente de tropas da cavalaria ligeira

Karagos ndash Recinto defensivo formado in promptu pelas carroccedilas do trem-de-apoio

Keacutentarcos ndash Capitatildeo de um droacutemōn

Kouacutersores ndash Numa formaccedilatildeo de cavalaria eram os soldados responsaacuteveis por carregar e

atacar o inimigo

Kleisocircura pl kleisocircurai ndash Pequenos distritos que serviam para proteger as regiotildees mais

orientais do impeacuterio e garantir a vigia dos desfiladeiros das cordilheiras do Tauro e do

Antitauro contra expediccedilotildees aacuterabes Teratildeo sido criados durante o reinado de Teoacutefilo (829-

842) e na segunda metade do seacuteculo X convertidos em laquopequenos themaacutetaraquo

Klibaacutenion ndash Armadura lamelar

Laisaacute pl Laisacirci ndash Estrutura amoviacutevel leve e de faacutecil construccedilatildeo que servia como abrigo

aos soldados atacantes durante um assalto a uma muralha Tambeacutem podia ser colocada no

topo de uma torre para proteger arqueiros e maacutequinas de guerra de projeacuteteis inimigos

Limitanei ndash soldados dos impeacuterios tardo-romanos que serviam como guarniccedilatildeo de postos

fronteiriccedilos e policiamento nessas regiotildees

Loriacutekia ndash Cota-de-malha

Minsouratores ndash Batedores responsaacuteveis por encontrar um siacutetio para construir um

acampamento

Ouraacutegos ndash soldado que ocupava o final de uma fila podendo ser um tetrarca ou ainda que

com certas suspeitas um pentarca (de acordo com o Taktikaacute)

Pamphylos ndash pequena embarcaccedilatildeo bizantina destinada inicialmente a transportar tropas

mais tarde passou a ser usada como navio de guerra O seu nome proviria da regiatildeo de

CXI

Panfiacutelia ou pelo facto de ser tripulado por uma equipa de indiviacuteduos escolhidos de todo o

impeacuterio589 No Taktikaacute eacute o nome atribuiacutedo ao navio do comandante da frota

Pentarca - Numa decarquia eacute o oficial responsaacutevel por comandar dez homens

Proacutemachos ndash Linha da frente numa formaccedilatildeo em trecircs linhas

Skoutatoacutes pl Skoutatoacutei ndash Soldado de infantaria pesada

Saka ndash Nome de origem aacuterabe utilizado para referenciar a retaguarda de um exeacutercito

bizantino

Sifonaacutetor ndash Numa embarcaccedilatildeo era o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de ldquofogo greguecircsrdquo

Strateiacutea ndash Obrigaccedilatildeo ao serviccedilo militar Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino a sua posse

esteve dividida entre o indiviacuteduo e a propriedade (a partir do seacuteculo X) consoante os

interesses do Estado O serviccedilo militar no entanto natildeo precisava de ser ativo sendo muitas

vezes feito por meio de apoio financeiro e logiacutestico a um soldado A partir dos meados do

seacuteculo X a strateiacutea passa a ser cumprida atraveacutes de comutaccedilatildeo monetaacuteria em vez de serviccedilo

efetivo em campanha de forma ao Estado poder pagar o equipamento dos taacutegmata

fronteiriccedilos e agrave contrataccedilatildeo de mercenaacuterios

Stratioacutetes pl Stratioacutetai ndash Cidadatildeo bizantino que possuiacutea strateiacutea

Stratiotikagrave kteacutemata ndash Terras militares ou ldquoestratioacuteticasrdquo ou seja que tinham imbuiacutedas

nela a strateiacutea Comeccedilam a existir oficialmente apoacutes as reformas de Constantino VII no

seacuteculo X que formalizam a posse de strateiacutea pelo terreno e natildeo pelo indiviacuteduo

Stratiouacutemenos ndash Soldado bizantino cujo equipamento montada e provisotildees eram

fornecidos pela strateiacutea mesmo que este natildeo a tivesse

Taacutegma pl Taacutegmata (contingentes) ndash Organizaccedilotildees das forccedilas militares bizantinas

criadas durante o reinado de Constantino V de forma a garantir a seguranccedila dos basilecircis em

caso de insurreiccedilatildeo de outro corpo militar Foram criadas pela remilitarizaccedilatildeo dos regimentos

das guardas palatinas bizantinas que teriam apenas funccedilotildees cerimoniais neste periacuteodo De

589 O nome da embarcaccedilatildeo ser a junccedilatildeo das palavras ldquoπᾶνrdquo (ldquopanrdquo) que significa todas e ldquoφῦλονrdquo (Lecirc-se

ldquopfiulonrdquo) grupos ou tribos

CXII

forma a garantir a sua lealdade eram extremamente bem pagos e o seu equipamento era

providenciado pelo Estado e bem treinados o que lhes permitiu tornarem-se mais tarde nos

corpos de elite do Impeacuterio Bizantino e assim na coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha

de Constantinopla

Techniacutetai -ndash Oficiais bizantinos especializados em guerra de cerco Entre as suas

valecircncias estatildeo a manobra a construccedilatildeo e a subsistecircncia de maacutequinas de cerco bem como a

construccedilatildeo e manutenecircncia de recintos fortificados

Tetrarca ndash Comandante de quatro homens dentro de uma decarquia podia ser tambeacutem o

ouraacutegos

Theacutema pl Themaacuteta ndash Circunscriccedilotildees territoriais bizantinas e tambeacutem os exeacutercitos nelas

guarnecidos Apesar de uma origem muito discutiacutevel acredita-se agora mais seguramente

que teratildeo sido criadas nos iniacutecios do seacuteculo IX como forma de garantir apoio logiacutestico

melhorado aos strategoacutes ao facilitarem a relaccedilatildeo entre o poder militar e civil atraveacutes de um

oficial o protonotaacuterios Os exeacutercitos dos themaacuteta comeccedilam a perder importacircncia a partir dos

finais do seacuteculo X uma vez que o Estado comeccedila a preferir contratar tropas mercenaacuterias mais

eficientes e assim melhor direcionadas para campanhas ofensivas

laquoThemaacuteta armeacuteniosraquo (ou pequenos themaacuteta) ndash Themaacuteta pequenos criados no limes

oriental durante a segunda metade do seacuteculo X de forma a garantir a proteccedilatildeo de territoacuterios

recentemente conquistados e para garantir a raacutepida mobilizaccedilatildeo de soldados para campanhas

(cada vez mais ofensivas nessas regiotildees) Eram chamados tambeacutem de laquoarmeacuteniosraquo por a maior

parte dos seus soldados serem dessa nacionalidade

Thematikoiacute ndash Soldados dos themaacuteta

Thugucircr ndash Centros urbanos de cariz militar que serviam como base para as expediccedilotildees de

saque bizantinas Os mais importantes eram Tarso Melitene e Antioquia

Touacuterma pl Touacutermai (distrito) ndash divisotildees geograacuteficas dos themaacuteta Em tempos de

campanha um conjunto de soldados desta regiatildeo perfazia uma unidade taacutetica do exeacutercito

ldquotemaacuteticordquo

Touacuterma pl Touacutermai (unidade taacutetica) ndash Unidade taacutetica do exeacutercito bizantino Deveria

possuir entre mil soldados a seis mil (o uacuteltimo valor de acordo com o Taktikaacute)

CXIII

Toxobaliacutestrai ndash Maacutequina de guerra de torccedilatildeo que disparava dardos que eram apelidados

de ldquomoscasrdquo ou ldquoratosrdquo Podia ser colocada na proa de um navio ou em vagotildees para servir de

arma campal

CXIV

b) Tiacutetulos

Autokraacutetor ndash tiacutetulo designativo de governante para Leatildeo VI e Alexandre

Basileuacutes pl Basileicircs ndash tiacutetulo designativo para os governantes de Bizacircncio a partir de

Heraacuteclio (610-641)

Czar ndash tiacutetulo designativo para os imperadores buacutelgaros a partir da conversatildeo daquele

Estado ao Cristianismo em 864

Domestikoacutes ndash Eram os oficiais principais da maior parte dos taacutegmata agrave excepccedilatildeo da Vigla

que tinha um droungaacuterios

Domestikoacutes Scholae ndash Principal comandante militar das forccedilas bizantinas depois do

basileuacutes A partir de Romano I Lecapeno passam a existir dois um para as proviacutencias

ocidentais e outro para as orientais

Droungaacuterios totilden ploiumlmon ndash Almirante da frota imperial sediada em Constantinopla e

que exercia funccedilotildees civis relacionadas com o mar

Kleisouraacutercha ndash O principal oficial de uma kleisocircura

Koacutemes ndash Tiacutetulo que poderia ter vaacuterias atribuiccedilotildees No contexto militar poderia ser um

ajudante do strategoacutes ou o liacuteder de um bandaacute

Koacutemes (do Opsikiacuteon) ndash Oficial maacuteximo do comando militar do Opsikiacuteon

Kouropalaacutetēs - alto dignitaacuterio responsaacutevel pelas construccedilotildees de novas secccedilotildees e

organizaccedilatildeo do palaacutecio imperial inferior na hierarquia apenas ao ceacutesar e ao nobiliacutessimos

Manglabiacutetēs - Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas

portas no palaacutecio

Prōtonotaacuteriosndash principal oficial civil nos themaacuteta que comeccedila a aparecer em fontes do

seacuteculo IX para a frente Estava responsaacutevel natildeo soacute pela coordenaccedilatildeo dos cobradores de

impostos imperiais naquelas circunscriccedilotildees mas tambeacutem pelo aprovisionamento dos exeacutercitos

provinciais bizantinos servindo como principal elo de ligaccedilatildeo entre o strategoacutes e o

logotheacutesion

CXV

Protostraacutetor ndash Oficial responsaacutevel pelos estaacutebulos imperiais

Protovestiaacuterio - Inicialmente oficial responsaacutevel pelo guarda-roupas imperial Nos

seacuteculos IX e X poderia comandar exeacutercitos bizantinos

Spathaacuterios ndash tiacutetulo dignitaacuterio Antes do seacuteculo X era designativo dos guarda-costas do

imperador

Strategoacutes pl Strateacutegoi ndash Oficial maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos ateacute ao seacuteculo IX A

partir desse seacuteculo comeccedila tambeacutem a supervisionar o poder civil a partir de outro oficial o

protonotaacuterio

Turmarca ndash Oficial responsaacutevel por liderar uma touacuterma

CXVI

c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura

Constitutio pl Constitutiones ndash Denominaccedilatildeo dos ldquocapiacutetulosrdquo ou ldquolivrosrdquo do Taktikaacute Eacute

um decreto imperial sob a forma de uma letra pessoal que pretendia informar o recetor de

novas ordens ou instruccedilotildees O Taktikaacute ao estar seccionado neste tipo de documentos

apresenta-se como um conjunto de instruccedilotildees enviadas aos strateacutegoi pelo basileuacutes Leatildeo VI

Dispositio ndash Elemento do modelo tripartido que aborda as medidas a serem tomadas para

resolver certo problema

Epilogus ndash Divisatildeo de um documento legislativo que aborda os conteuacutedos do mesmo

Intitulatio ndash Elemento do modelo tripartido que invoca o nome do imperador e os seus

tiacutetulos

Inscriptio ndash Nome do destinataacuterio da obra legislativa

Invocatio ndash Elemento da primeira parte do modelo tripartido de uma obra legislativa que

invoca a Santa Trindade

Naumachikaacute - Geacutenero de tratadiacutestica antigo-bizantina que explica como praticar guerra

naval

Narratio ndash Secccedilatildeo de um documento legislativo onde eacute retratada a natureza do problema

a ser resolvido

Poliorketikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina descreve meacutetodos e engenhos que

permitem atacar ou defender fortalezas com sucesso

Strategemataacute - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que reporta estratagemas maacuteximas

e erudiccedilotildees militares

Strategikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que apresenta princiacutepios gerais da arte

de comandar

Strategikoacuten ndash Tratado militar bizantino possivelmente redigido pelo imperador Mauriacutecio

(582-602) eacute considerado como um dos mais importantes e influentes manuais militares

bizantinos tendo influenciado vaacuterios tratados posteriores como por exemplo o Taktikaacute

CXVII

Taktikaacute (disciplina) - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que aborda o

posicionamento e a manobra de forccedilas no campo de batalha Este geacutenero define igualmente

terminologias taacuteticas

Taktikaacute (tratado) ndash Tratado militar bizantino escrito por Leatildeo VI (886-912) Eacute

considerado por vaacuterios autores como o tratado inaugural do segundo periacuteodo de produccedilatildeo

tratadiacutestica bizantina (seacuteculos X e XI)

CXVIII

d) Povos

Aacuterabes ndash Povo indiacutegena da Peniacutensula Araacutebica que apoacutes a unificaccedilatildeo sob o profeta

Maomeacute inicia um processo de expansatildeo territorial ao comando dos califas No seguimento da

derrota dos Bizantinos e dos Persas em 636 o Califado torna-se a principal potecircncia poliacutetico-

militar do Proacuteximo e do Meacutedio Oriente estatuto que soacute viraacute a perder no seacuteculo X para os

Bizantinos e para o califado xiita dos Fatiacutemidas

Armeacutenios - Povo oriundo da Armeacutenia uma regiatildeo a sul do Caacuteucaso Satildeo de extrema

relevacircncia para o Impeacuterio Bizantino por terem sido recrutados como mercenaacuterios e auxiliares

para os seus exeacutercitos Como povo autoacutenomo estiveram sempre envolvidos nos jogos

diplomaacuteticos entre Bizacircncio e os Persas Sassacircnidas inicialmente e com os califados aacuterabes

mais tarde que se digladiavam para obter o apoio dos principados daquela regiatildeo

Bizantinos ndash Designaccedilatildeo para os habitantes do Impeacuterio Bizantino durante a sua duraccedilatildeo

na historiografia atual Nas fontes histoacutericas deste ldquopovordquo esta designaccedilatildeo parece ser apenas

usada para os habitantes de Constantinopla No geral e nas suas fontes escritas este povo

designava-se como romano

Buacutelgaros ndash Inicialmente um povo semi-noacutemada da estepe euro-asiaacutetica formaram uma

confederaccedilatildeo com vaacuterios povos eslavos a sul do Danuacutebio e na Traacutecia por volta de 681 Ao

longo da duraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino existiram dois impeacuterios buacutelgaros o primeiro de 681 a

1018 ano da conquista dos uacuteltimos territoacuterios buacutelgaros por Basiacutelio II e o segundo de 1185 a

1386 data da conquista final da Bulgaacuteria pelos Turcos Otomanos

Magiares ndash Povo fino-uacutegrico que habitava na Estepe Euroasiaacutetica que foi a principal

potecircncia diretamente a norte do Danuacutebio na segunda metade do seacuteculo IX Apoacutes a sua

expulsatildeo desses territoacuterios agraves matildeos dos Pechenegues no rescaldo da guerra entre Leatildeo VI e

Simeatildeo da Bulgaacuteria fugiram para a Panoacutenia de onde lanccedilaram os seus raides sobre a Bulgaacuteria

e a Europa Ocidental e onde formariam o reino da Hungria

Lombardos ndash Povo germacircnico que no seacuteculo VI invadiu a Peniacutensula Itaacutelica pouco depois

da reconquista bizantina da mesma Foram a principal potecircncia italiana (quer pelo seu reino

no Norte ou pelos principados independentes do Sul) ateacute agrave conquista do reino da Lombardia

por Carlos Magno no iniacutecio no seacuteculo VIII e agrave chegada dos Aglaacutebidas ao sul de Itaacutelia e

posterior revitalizaccedilatildeo dos interesses bizantinos na peniacutensula nos meados do seacuteculo IX

CXIX

Russos ndash Povos de origem escandinava que durante o seacuteculo IX se confederaram com

povos eslavos que habitavam na zona onde hoje se localiza a Ucracircnia e fundaram uma

entidade poliacutetica o Principado do Rusrsquo

CXX

e) Outros termos

Demoacutesion ndash imposto base

Iconoclasmo ndash Doutrina religiosa que defende o fim ao culto de imagens que gerou

periacuteodos de tensatildeo teoloacutegica e poliacutetica em Bizacircncio por duas vezes uma primeira de 726 a

787 quando eacute repudiada no VII Conciacutelio Ecumeacutenico de Niceia e o segundo de 813 a 843

quando o culto das imagens eacute restaurado definitivamente por Miguel III num siacutenodo

Jihad ndash Um dos pilares dos Islatildeo que significa ldquocombaterdquo ou ldquoesforccedilordquo Apesar de ter

vaacuterios significados pode ser a luta de superaccedilatildeo individual de um muccedilulmano para se tornar

numa pessoa ou num crente melhor ou apesar de natildeo ser tatildeo frequente nesse sentido uma

forma de proteger a religiatildeo islacircmica ou espalhaacute-la por vaacuterios meios em especial pelos

militares

Kapnikoacuten ndash imposto sobre as famiacutelias

Logotheacutesion ndash departamento financeiro em Bizacircncio Existiam vaacuterios destes

departamentos no impeacuterio para as mais variadas aacutereas (militares agriacutecolas civis entre

outras)

Koacutedikes ndash Livros de registo No caso dos logotheacutesion dos themaacuteta listavam informaccedilatildeo

sobre os seus soldados bem como de quem possuiacutea strateiacutea

Paulicianismo ndash seita hereacutetica do Cristianismo oriental que praticava o iconoclasmo e

tinha raiacutezes no Maniqueiacutesmo Formou um ldquoEstadordquo na Anatoacutelia oriental em meados do

seacuteculo IX que foi destruiacutedo por Basiacutelio I em 879

Roga ndash Salaacuterio monetaacuterio

Vexilationes ndash laquofeitos malvadosraquo Eacute a designaccedilatildeo de Teoacutefanes o Confessor para um

conjunto de reformas de Niceacuteforo I que hoje se discutem terem sido fundamentais para

formaccedilatildeo do sistema dos themaacuteta e que foram muito mal vistas pelo clero de entatildeo

Waqf - Doaccedilotildees caridosas islacircmicas que no contexto da guerra no limes oriental podiam

servir para pagar o equipamento e os soldos dos soldados dos al-thugucircr

CXXI

Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico

a) Regiotildees

Apuacutelia ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia que faz fronteira com a Calaacutebria e que eacute banhada a

oriente pelo Mar Adriaacutetico Possui cidades importantes para Bizacircncio no periacuteodo em estudo

como Tarento e especialmente Bari Atualmente eacute o nome da regiatildeo italiana do mesmo

nome e tem a sua capital na comuna de Bari

Armeacutenia ndash regiatildeo montanhosa localizada a sul da cordilheira do Caacuteucaso Tinha grande

valor estrateacutegico pois permitia alcanccedilar a Aacutesia Menor e o Iraque sem atravessar o deserto da

Siacuteria foi sempre contestada pelas principais potecircncias regionais (Roma e Peacutersia Sassacircnida e

Bizacircncio e Califado mais tarde) Atualmente esta zona encontra-se dividida entre vaacuterios

paiacuteses Armeacutenia Azerbaijatildeo Turquia Iratildeo e Geoacutergia

Aacutesia MenorAnatoacutelia ndash Peniacutensula localizada na Aacutesia ocidental rodeada pelo Mar

Mediterracircneo a sul e pelo Mar Negro a norte Durante grande parte do periacuteodo meacutedio-

bizantino foi fundamental para a defesa e economia do Impeacuterio Bizantino e foi aqui que a

maior parte dos combates entre Bizantinos e Aacuterabes se travaram Apesar disto os Bizantinos

perderam o controlo completo sobre a regiatildeo entre 1071 a batalha de Manzikert e 1081 ano

da ascensatildeo da dinastia Comnena quando uma seacuterie de tribos turcomanas se fixaram planalto

central Bizacircncio foi definitivamente expulsa da Anatoacutelia em 1337 com a perda de

Nicomeacutedia Atualmente esta regiatildeo faz parte da Turquia

Calaacutebria ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia localizada no lado oriental do estreito de Messina

Durante os reinados de Basiacutelio I e Leatildeo VI foi disputada pelos Bizantinos pelos Ducados

Lombardos e pelos receacutem-chegados Aacuterabes do Norte de Aacutefrica Atualmente eacute o nome da

regiatildeo italiana do mesmo nome com capital em Catanzaro

Ciliacutecia ndash Trato territorial que une a Aacutesia Menor agrave Siacuteria-Palestina Estaacute delimitada pelas

cordilheiras do Tauro e do Antitauro a norte e pelo mar Mediterracircneo a sul Durante o periacuteodo

em estudo era nesta aacuterea que estavam localizados os thugucircr os distritos militares

muccedilulmanos que protegiam o territoacuterio do califado e mais tarde dos emirados de expediccedilotildees

bizantinas e de onde partiam as razias muccedilulmanas A cidade mais importante da Ciliacutecia era

CXXII

Tarso Na contemporaneidade esta regiatildeo faz parte da Turquia denomina-se Ccedilukurova e estaacute

dividida em quatro proviacutencias Mersin Adana Osmaniye e Hatay

Ifriacutequia ndash Atribuiccedilatildeo medieval muccedilulmana ao territoacuterio da atual Tuniacutesia principalmente

Mesopotacircmia ndash Regiatildeo localizada a nordeste da Ciliacutecia que tambeacutem reunia um grande

conjunto de thugucircr dos quais se destacava Melitene Estaacute atualmente dividida entre a Siacuteria e a

Turquia

Siacuteria-Palestina ndash Corredor territorial localizado no Proacuteximo Oriente Estaacute dividido

topograficamente em trecircs regiotildees as zonas costeiras do litoral uma zona montanhosa ao

centro e a maior parte pelo deserto da Siacuteria Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino esta zona

esteve maioritariamente nas matildeos dos califados aacuterabes da Siacuteria Iraque e Egito e de alguns

emirados muccedilulmanos na regiatildeo Registou-se tardiamente uma ressurgente presente

bizantina (entre os seacuteculos X-XI) e a existecircncia dos chamados laquoestados Cruzadosraquo no litoral

(seacuteculos X-XIII) Atualmente esta regiatildeo estaacute dividida entre os seguintes paiacuteses Siacuteria

Palestina Israel Liacutebano Jordacircnia e Turquia

Siciacutelia ndash Ilha localizada no Mediterracircneo central e essencial para o controlo da passagem

das duas passagens do Mar Mediterracircneo Esteve em posse bizantina ateacute agrave conquista de

Taormina pelos Aglaacutebidas em 902 no reinado de Leatildeo VI passando depois ao controlo de

vaacuterias entidades emirado Aglaacutebida califado Fatiacutemida principados normandos domiacutenio

alematildeo francecircs entre outros Atualmente eacute uma regiatildeo autoacutenoma italiana cuja capital eacute

Palermo

CXXIII

b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc)

Bucelaacuterios ndash Novo distrito militar que comeccedila a aparecer nas fontes a partir de 766

resultante da divisatildeo dos territoacuterios do comando do Opsikiacuteon apoacutes a revolta de Artavasdo

Kibirrhaiotai ndash Territoacuterio sob a posse do themaacuteta mariacutetimo com o mesmo nome

localizado no sul da Aacutesia Menor formado em 732 tinha a sua capital em Antaacutelia (atualmente

Antalya na Turquia)

Mar Egeu (theacutema) ndash Theacutema naval que reunia como o nuacutemero indica vaacuterias ilhas do Mar

Egeu No periacuteodo em estudo o seu quartel-general estava em Lesbos

Opsikiacuteon ndash Distrito militar que pertencia ao corpo militar do mesmo nome Inicialmente

compreendia territoacuterios no noroeste da Aacutesia Menor e na Traacutecia mas no final do seacuteculo VIII jaacute

soacute tinha uma fraccedilatildeo desse territoacuterio estando os restantes entregues a outros distritos

Bucelaacuterios Optimaton e Traacutecia

Optimates ndash Territoacuterio no noroeste da Aacutesia Menor que pertenceu ao Opsikiacuteon ateacute 773

ano em que se formou um novo distrito militar apoacutes uma nova revolta do corpo militar do

Opsikiacuteon

Samos (theacutema) ndash Theacutema naval bizantino responsaacutevel pelas ilhas do Mar Egeu oriental e

da costa ocidental anatoacutelica A sua base de operaccedilotildees era Esmirna (atual İzmir na Turquia

oriental)

CXXIV

c) Centros populacionais (cidades vilas etc) e fortificaccedilotildees

Amorion ndash Importante cidade da Aacutesia Menor que serviu como capital do theacutema do

Anatolikoacuten ateacute agrave sua destruiccedilatildeo durante uma expediccedilatildeo de saque muccedilulmana em 838 A sua

localizaccedilatildeo corresponde agrave da atual cidade de Hisarkoumly na Turquia

Ancyra ndash Atual Ancara na Turquia foi saqueada por forccedilas abaacutessidas em 838 agrave

semelhanccedila de Amorion

Bagdade ndash Capital do califado abaacutessida fundada em 762 pelo califa al-Mansur

Atualmente eacute a capital do Iraque

Bari ndash Cidade italiana e capital da regiatildeo Apuacutelia Durante os reinados dos basilecircis

macedoacutenicos foi a capital do theacutema da Lombardia e uma cidade essencial para o controlo do

sul de Itaacutelia e do Mar Adriaacutetico Caiu em 1071 frente aos Normandos de Roberto Guiscardo

Benevento ndash Capital de um importante principado lombardo no sul de Itaacutelia entre 571 e

1081 altura em que foi entregue a Roberto Guiscardo pelo papa Esteve temporariamente em

posse bizantina entre 891 e 895 quando foi recuperada por forccedilas do Principado de Salerno

Castrogiovanni ndash Atual Enna era uma importante cidade bizantina no centro da Siciacutelia

A sua conquista pelos Aglaacutebidas em 859 restringiu a presenccedila bizantina agrave costa ocidental da

ilha

Corleone ndash Atualmente eacute uma comuna siciliana Foi tomada aos bizantinos pelos

aglaacutebidas entre 831 e 841

Damasco ndash Capital do califado omiacuteada Atualmente eacute a capital da Siacuteria

Eacutefeso ndash Antigo aglomerado provincial localizado a 3 quiloacutemetros da atual Selccediluk na

proviacutencia de Izmir na Turquia ocidental Foi uma importante cidade mercantil podendo ter

sido a capital do theacutema dos Traceacutesicos e depois de Samos

Germaniceia (ou Marash) ndash Importante thugucircr muccedilulmano na Cilliacutecia foi conquistada

definitivamente por Niceacuteforo II Focas em 962 Eacute a atual cidade de Kahramanmaraş na

proviacutencia com o mesmo nome no sudeste da Turquia

CXXV

Melitene ndash Um dos principais thugucircr da regiatildeo de Al-Jazira foi tomada por Bizacircncio em

934 por um exeacutercito sob o domestikoacutes Joatildeo Curcuas Eacute a atual Malatya capital da proviacutencia

homoacutenima na Turquia

Messina ndash Cidade siciliana localizada no estreito homoacutelogo controlando uma das

passagens entre o Mediterracircneo ocidental e oriental A sua conquista por um grupo de

mercenaacuterios foi uma das razotildees para a Primeira Guerra Puacutenica Foi conquistada pelos

Aglaacutebidas ao Impeacuterio Romano do Oriente entre 842 e 843

Niceia ndash Antiga cidade localizada onde hoje se localiza Izrik Foi a capital do theacutema do

Opsikiacuteon Um dos grandes momentos histoacutericos desta povoaccedilatildeo eacute o VII Conciacutelio Ecumeacutenico

que potildee fim ao primeiro periacuteodo iconoclaacutestico Foi a capital do Impeacuterio Bizantino quando

este se encontrava no exiacutelio entre 1204 e 1261

Nicomeacutedia ndash Capital do theacutema dos Optimates localizada no noroeste da atual Turquia

Ragusa (Croaacutecia) ndash Atual Dubrovnik foi uma importante cidade na costa da Dalmaacutecia

tornando-se mais tarde na capital de uma poderosa repuacuteblica mercantil em 1358 ateacute agrave usa

anexaccedilatildeo pelo reino de Itaacutelia em 1808 No periacuteodo em estudo foi cercada pelos Aacuterabes em

868 mas uma frota enviada por Basiacutelio conseguiu obrigar ao levantamento do cerco

Ragusa (Siciacutelia) ndash Cidade na Siciacutelia foi tomada pelos aglaacutebidas em 848 apoacutes o

extermiacutenio da sua guarniccedilatildeo

Palermo ndash Importante cidade siciliana durante toda a Idade Meacutedia tendo servido como

capital desta vaacuterias vezes estatuto que ocupa nos dias de hoje

Preslav ndash Capital do Impeacuterio da Bulgaacuteria apoacutes 893 por ordens do czar Simeatildeo Foi

tomada por Bizacircncio em 971 durante a campanha de Joatildeo I Zimisce contra o priacutencipe

Svyatoslav do Rus Atualmente eacute a cidade de Veliki Preslav na Bulgaacuteria

Prisca ndash Capital do Impeacuterio da Bulgaacuteria antes de 893 Foi saqueada vaacuterias vezes por

Bizacircncio com especial destaque para o ano de 811 quando a cidade eacute tomada por Niceacuteforo I

O basileuacutes e o seu exeacutercito seriam massacrados dias depois na batalha de Prisca Na

contemporaneidade eacute a cidade de Plĭskovŭ na Bulgaacuteria

Siracusa ndash Uma das mais importantes cidades sicilianas e berccedilo de Aristoacuteteles Durante

as duas primeiras Guerras Puacutenicas foi uma das contestantes nesses conflitos ora do lado

CXXVI

cartaginecircs ora do lado romano ora de nenhum A sua conquista pelos Aglaacutebidas em 877

limita a presenccedila bizantina na Siciacutelia agrave fortaleza de Taormina

Tarento ndash Atualmente eacute chamada de Taranto e localiza-se na Apuacutelia Durante o periacuteodo

em estudo foi a capital de um emirado muccedilulmano ateacute agrave sua conquista por uma expediccedilatildeo

militar ofensiva bizantina em 880

Taormina ndash Uacuteltima possessatildeo bizantina na Siciacutelia foi tomada pelos Aacuterabes em 901

Atualmente estaacute localizada na comuna com o mesmo nome

Tarso ndash Considerada por muitos historiadores como o mais importante dos thugucircr era

desta cidade que partiam muitas das razias muccedilulmanas direcionadas a territoacuterio bizantino

Apesar de ter sido muitas vezes saqueadas soacute seria definitivamente conquistada por Niceacuteforo

II Focas em 965 Faz parte da proviacutencia de Mersin na Turquia

Tephrike ndash Capital do ldquoEstadordquo pauliciano foi tomada por Basiacutelio I em 879

Atualmente eacute a cidade de Divriği na proviacutencia de Sivas na Turquia oriental

Trapaacuteni ndash Atualmente eacute uma comuna italiana com o mesmo nome Foi conquistada aos

Bizantinos pelos Aacuterabes entre 831 e 841

CXXVII

d) Referecircncias topograacuteficas mariacutetimas e fluviais

Antitauro ndash Cordilheira montanhosa localizada na Turquia oriental e sudoeste que

durante a primeira metade do periacuteodo-meacutedio bizantino serviu de fronteira natural entre o

Impeacuterio e as possessotildees muccedilulmanas na Siacuteria e na Mesopotacircmia

Chipre ndash Ilha localizada no Mediterracircneo Oriental Durante a primeira metade do

periacuteodo-meacutedio bizantino foi territoacuterio contestado e desmilitarizado pelo Impeacuterio Bizantino e

pelo Califado Em 964 no reinado de Niceacuteforo II Focas os Romanos retomam o controlo

efetivo da ilha Bizacircncio perde a ilha em 1195 para as forccedilas do rei inglecircs Ricardo ldquoCoraccedilatildeo-

de-Leatildeordquo no seio da Terceira Cruzada

Creta ndash Ilha localizada na periferia sul do Mar Egeu com enorme importacircncia

estrateacutegica para o seu controlo Entre 828 e 961 a ilha esteve sob domiacutenio muccedilulmano sendo

a principal base da pirataria sarracena no Mar Egeu ateacute agrave sua reconquista pelo domestikoacutes do

Oriente Niceacuteforo Focas590 apoacutes vaacuterias tentativas falhadas (como em 843 911 e 949) Creta

manteve-se em matildeos bizantinas ateacute 1204 o ano da conquista de Constantinopla pelos

cavaleiros da Quarta Cruzada

Mar Egeu ndash Corpo hidrograacutefico localizado entre a Greacutecia e a Turquia atuais Apoacutes a

perda de Creta em 828 as ilhas do Mar Egeu foram viacutetimas constantes da pirataria aacuterabe que

de melhor ou pior forma assolou aquela regiatildeo ateacute agrave reconquista de Creta em 961 Nos

reinados de Basiacutelio I e Leatildeo VI o Mar Egeu estava sob a proteccedilatildeo de trecircs themaacuteta navais

Kibirrhaiotai Mar Egeu e Samos A maior parte destas ilhas passou para o controlo das

repuacuteblicas mercantis italianas apoacutes a queda de Constantinopla para a Quarta Cruzada em

1204

Tauro ndash Cordilheira montanhosa no sul da Turquia que separa o planalto central da

Anatoacutelia e as regiotildees costeiras do sul As forccedilas bizantinas retiraram para esta cordilheira apoacutes

a derrota de Yarmuk e esta manteve-se um dos principais obstaacuteculos entre os territoacuterios

califais e dos emirados e o coraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino

590 Futuro Niceacuteforo II Focas

CXXVIII

e) Campos de batalha

Campo da batalha de Lalacatildeo ndash O nome proveacutem do rio que atravessava o territoacuterio

onde se travou a batalha De acordo com John Haldon esta batalha ter-se-aacute travado na regiatildeo

fronteiriccedila dos themaacuteta de Paflagoacutenia e dos Armeniacuteacos a cerca de 130 km de Amisos

(Samsun atualmente) num local rodeado pelos sopeacutes de Deveci Dag591

Marj al-Usquf ndash Tambeacutem conhecido na bizantiniacutestica angloacutefona como Bishoprsquos

Meadow (o laquoPrado do Bisporaquo na traduccedilatildeo literal para portuguecircs) Foi o local onde se deu a

batalha com o mesmo nome num pequeno planalto onde se localizava a sede episcopal de

Doara junto agrave estrada que ligava Tyana (a moderna Kemarhisar) a Coloneia (atual Aksaray)

Doara eacute atualmente Duvarli na proviacutencia de Niğde Turquia

Mons Lactarius ndash Local onde se travou a batalha com o mesmo nome Atualmente este

lugar faz parte dos Montes Lattari uma cadeia montanhosa na Campacircnia no sul de Itaacutelia e

faz parte da cordilheira dos Montes Apeninos

Yarmuk ndash Nome atribuiacutedo agrave grande batalha entre Muccedilulmanos e Bizantinos em 636

Ter-se-aacute travado no leito seco do rio Yarmuk a sul da capital dos Aacuterabes Gassacircnidas Jabiya

Apesar de hoje a povoaccedilatildeo natildeo existir estava localizada na Siacuteria sudeste proacutexima da fronteira

atual com a Jordacircnia

591 HALDON John (2001) The Byzantine Wars Battles and Campaigns of the Byzantine Era Gloucestershire

Tempus Publishing Ltd p84

CXXIX

Anexo VIII ndash Excertos do Taktikaacute

a) Evitar batalha

ldquoEacute bom causar injuacuteria ao inimigo pelo dolo por raides pela fome e fazecirc-los sofrer

por um longo periacuteodo de tempo por meio de assaltos muito frequentes e outras accedilotildees (O

general) nunca deve ser incitado a uma batalha campal Pela maior parte noacutes observamos que

o sucesso eacute mais uma questatildeo de sorte do que coragem comprovadardquo ndash Constitutio XX

paraacutegrafo 51 linhas 265-266592

b) Sobre natildeo guerrear com os Buacutelgaros e a paz de 896

ldquoDesde que os Buacutelgaros no entanto adotaram a paz de Cristo e partilham a mesma feacute

nele que os Romanos depois do que eles passaram como resultado de quebrarem o seu

juramento noacutes natildeo pensamos em pegar em armas contra eles Agora remetemos qualquer

accedilatildeo militar contra eles a Deus Presentemente portanto na medida em que noacutes somos irmatildeos

pela nossa feacute uacutenica e porque eles prometeram ouvir os nossos conselhos noacutes natildeo estamos

interessados em descrever quer as suas formaccedilotildees em batalha contra noacutes quer as nossas

contra elesrdquo ndash Constitutio XVIII paraacutegrafo 42 linhas 227-232593

c) Preferecircncia de recrutamento de soldados economicamente confortaacuteveis

ldquoNoacutes ordenamos a Sua Excelecircncia que mantenha o costume que vai muito atraacutes ateacute ao

iniacutecio de selecionar soldados e oficiais que julgue qualificados de cumprirem os criteacuterios para

guerrear Selecione soldados de todo o theacutema sob o seu comando nem rapazes nem idosos

mas homens bravos vigorosos corajosos e financeiramente confortaacuteveis Enquanto estes

homens estiverem ocupados com o seu proacuteprio serviccedilo militar em campanha ou ao inveacutes

disso com o reunir do exeacutercito eles devem ter outros nas suas famiacutelias que faccedilam o trabalho

do campo e que consigam providenciar os objetos requeridos para o equipar e armar completo

de um soldado Isto significa que as cabeccedilas dessas famiacutelias devem encontrar-se libertas de

todos os outros serviccedilos devidos ao Estado Porque noacutes natildeo desejamos que o nosso

companheiro soldado ndash assim chamo eu ao homem que vai em frente para se empenhar

valentemente em feitos beacutelicos em nome de Nossa Majestade e da comunidade amante de

Cristo dos Romanos - para aleacutem da excepccedilatildeo uacutenica do imposto puacuteblico a ser sujeito a

592 Vide DENNIS G T (2014) ndash Op cit p 555 593 Idem Ibidem pp453-454

CXXX

qualquer outro tipo de imposiccedilatildeo qualquer que sejardquo - Constitutio IV paraacutegrafo 1 linhas

3-14594

d) Acerca do financiamento de soldados pobres por homens (stratioacutetai) ricos

ldquoQuando vocecirc se encontrar sem armamento para os seus soldados decirc ordens aqueles

que estatildeo bem providenciados para (campanha) mas que natildeo participem que se natildeo

desejarem participarem nesta devem cada um deles providenciar um cavalo e um homem no

seu lugar Desta forma os valentes (homens) pobres seratildeo armados e os cobardes ricos iratildeo

servir igualmente com aqueles que realmente estatildeo em campanhardquo - Constitutio XX

paraacutegrafo 205 linhas 1056-1059595

e) Menccedilatildeo da alianccedila entre Bizantinos e Magiares do iniacutecio da guerra

Bizantino-Buacutelgara de 984 e da participaccedilatildeo Magiar nesse conflito

ldquoJaacute que eu mencionei os Turcos natildeo julgamos que seja despropositado laquodescreverraquo

como estes se formavam em batalha e como se podia formar para combater contra eles

Coloquemos por escrito o que aprendemos a partir de uma certa quantidade de experiecircncia de

quando eles eram nossos aliados Naquele tempo os Buacutelgaros tinham desrespeitado o tratado

de paz e andavam a saquear pelos campos da Traacutecia A justiccedila perseguiu-os por quebrar o seu

juramento a Cristo nosso Deus o imperador de todos e eles rapidamente se encontraram com

a sua puniccedilatildeo Enquanto as nossas forccedilas enfrentavam os Sarracenos a Providecircncia divina

levou os Turcos ao inveacutes dos Romanos a (lanccedilar uma) campanha contra os Buacutelgaros A frota

de navios de nossa Majestade apoiou-os e transportou-os sobre o Danuacutebio laquoProvidecircnciaraquo

enviou-os contra o exeacutercito dos Buacutelgaros que tinha tatildeo maliciosamente pegado em armas

contra os Cristatildeos e tal como se fossem carrascos puacuteblicos derrotaram-nos decisivamente em

trecircs embates para que os Cristatildeos Romanos natildeo se sujassem voluntariamente com o sangue

dos Cristatildeos Buacutelgarosraquo - Constitutio XVIII paraacutegrafo 40 linhas 210-221596

594 Idem Ibidem pp 46-47 595 Idem Ibidem pp 610-611 596 Idem Ibidem pp 452-453

CXXXI

f) O Proeacutemio

ldquoEm nome do Pai e do Filho e do Espiacuterito Santo a sagrada consubstancial e

veneraacutevel Trindade nosso uacutenico e verdadeiro Deus Leatildeo paciacutefico autokraacutetor em Cristo fiel

pio sempre reverenciado Augustordquo ndash Proacutelogo paraacutegrafo 1 linhas 3-6597

g) A travessia do rio Paradeisos por Basiacutelio (877-878)

ldquoNoacutes recordamos que o nosso sempre-memoraacutevel pai e imperador Basiacutelio fez isto

quando estava em campanha contra Germaniceia na Siacuteria Ele chegou ao rio chamado

Paradeisos e estacionou-se ele mesmo no meio deste com lanternas e na sua presenccedila e em

seguranccedila o exeacutercito inteiro sob o seu comando fez a travessia facilmente e de forma segura

Ele frequentemente deu a matildeo e ele mesmo salvou vaacuterios soldados de grande perigordquo ndash

Constitutio IX paraacutegrafo 14 linhas 60-66598

h) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (I)

ldquoPara sumariar tudo o que escrevemos sobre teoria taacutetica do iniacutecio ateacute ao fim tudo o

que foi dito de armas armamento exerciacutecios formaccedilotildees em batalha e outros meacutetodos

militares relacionados com o povo Sarraceno foi transmitido e demonstrado por noacutes Esta

gente que rodeia a nossa naccedilatildeo provoca-nos natildeo menos anguacutestia do que o povo Persa de

antigamente fazia aos antigos imperadores Eles provocam prejuiacutezo aos nossos suacutebditos todos

os dias Eacute por esta razatildeo que nos encarregaacutemos da nossa presente tarefa de formular

instruccedilotildees para a guerra Em adiccedilatildeo ao que jaacute havemos dito noacutes encontraacutemos outros modelos

de formaccedilotildees de batalha que pode muito bem considerar Oh general contra este povo

barbaacuterico Eles satildeo os seguintesrdquo ndash Constitutio XVIII paraacutegrafo 135 linhas 686-695599

i) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (II)

ldquoQuanto a todos os outros toacutepicos que naturalmente emergem em cada periacuteodo de

guerra ou em preparaccedilatildeo para ela e especialmente contra a naccedilatildeo dos Sarracenos que agora

nos causa tanto transtorno ndash em cuja responsabilidade como jaacute dissemos o presente livro foi

compilado ndash mesmo que noacutes natildeo tenhamos conseguido pegar em tudo ainda assim pelo que

jaacute foi escrito bem como pela experiecircncia e muito pela natureza das coisas (o general) tem de

fazer estimativas com o maacuteximo alcance e tem de se acomodar para as situaccedilotildees que surgem

Eu natildeo acho possiacutevel tanto para noacutes como para qualquer outro que escreva acerca de tudo que

597 Idem Ibidem pp 2-3 598 Idem Ibidem pp 158-159 599 Idem Ibidem pp 488-489

CXXXII

eacute provaacutevel que aconteccedila de forma a poder estar guardado contra tudo tendo em conta que as

diversas circunstacircncias em cada caso satildeo ilimitadas em nuacutemerordquo ndash Epiacutelogo paraacutegrafo 71

linhas 318-326600

j) Sobre a lealdade do general

ldquoO verdadeiro objetivo do muito estimado general eacute apreciar tudo que o divino e o

imperial favorecem ao inveacutes de prestando pouca atenccedilatildeo a assuntos adequados e

apropriados chegar ao opostordquo ndash Constitutio I paraacutegrafo 13 linhas 44-45601

k) As caracteriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos Aacuterabes contra Bizacircncio

ldquoEles natildeo satildeo reunidos para o serviccedilo militar a partir de uma lista de recrutamento

mas juntam-se cada homem de sua livre vontade e com todos os membros da sua Casa Os

ricos laquoconsideravam comoraquo recompensa suficiente morrer pela sua proacutepria naccedilatildeo os pobres

pela causa de recolher botim Os seus companheiros de tribo homens e especialmente

mulheres providenciam-nos com armas como se participassem com eles na expediccedilatildeo

Porque a sua fraqueza fiacutesica natildeo lhes permitia transportar armas elas mesmas consideravam

como recompensa providenciar armamento aos soldados Estes entatildeo satildeo os Sarracenos um

barbaacuterico e iacutempio povordquo ndash Constitutio XVIII linhas 592-598602

l) O problema em causa no Taktikaacute

ldquoPois assim parece sempre que as forccedilas armadas dos Romanos estavam em boa

ordem o Estado desfrutou de assistecircncia divina por natildeo poucos anos e o labor dos mais

valorosos estava misturado com disciplina e por muitas vezes foi coroado com o esplendor

da vitoacuteria Mas por muitos anos agora a persecuccedilatildeo das taacuteticas e a estrateacutegia foram

negligenciadas para natildeo dizer que caiacuteram tatildeo completamente no esquecimento que aqueles

que assumem o comando de um exeacutercito natildeo compreendem sequer as mateacuterias mais oacutebvias

Noacutes podemos observar que isto leva a um nuacutemero bastante grande de situaccedilotildees diferentes

Pois com o desaparecimento deste conhecimento produtivo de tantas coisas boas e pelo meio

do qual a naccedilatildeo dos Romanos floresceu no passado noacutes contemplamos agora o oposto o

favor divino estaacute ausente e o triunfo acostumado da naccedilatildeo dos Romanos fugiu dos seus

combatentes Pois juntamente com a negligecircncia gradual da disciplina militar e do treino a

coragem dos nossos bravos guerreiros assim parece tambeacutem declinou Algumas vezes noacutes

600 Idem Ibidem pp 640-643 601 Idem Ibidem pp 14-15 602 Idem Ibidem pp 482-483

CXXXIII

atribuiacutemos a causa agrave falta de treino e agrave cobardia dos soldados algumas vezes colocamos a

culpa na inexperiecircncia e na timidez dos seus comandantes e algumas vezes negligenciamos o

ensinamento claro dos antigos taacuteticos pela sua obscuridade Desejando assim com a ajuda de

Deus restaurar este conhecimento muito proveitoso e depois de ter quase sido expulso da

nossa naccedilatildeo Romana de o trazer de volta para a existecircncia noacutes natildeo hesitamos em com

grande seriedade assumir esta tarefa noacutes mesmos e desta forma graciosamente oferecer um

benefiacutecio aos nossos suacutebditosrdquo ndash Proacutelogo linhas 36-54603

m) A soluccedilatildeo do basileuacutes

ldquoDepois de devotadamente darmos atenccedilatildeo aos antigos bem como aos mais recentes

meacutetodos estrateacutegicos e taacuteticos e tendo lido mais detalhes noutros relatos tendo encontrado

algo nessas fontes que parecesse uacutetil para as necessidades da guerra noacutes recolhemo-lo e

colecionaacutemo-lo Essas coisas aleacutem do mais que noacutes aprendemos da nossa proacutepria e limitada

experiecircncia em serviccedilo militar e que satildeo aplicaacuteveis e uacuteteis para o nosso dia e na presente

situaccedilatildeo noacutes agora transmitimo-lo da melhor forma possiacutevel Noacutes oferecemo-la como uma

modesta assistecircncia nestes assuntos sucintamente como outro Proacutecheiros Noacutemos

apresentando na praacutetica em vez de em palavras o que eacute uacutetil e digno de respeito Eacute uma espeacutecie

de livro introdutoacuterio em taacuteticas para os nossos subcomandantes (hypostrategoĩ604) e para

aqueles a quem foram confiadas responsabilidades de combate Noacutes asseguramos-lhe que isto

deveraacute tornar mais faacutecil como avanccedilar de uma maneira ordeira a todos o que o desejarem e ateacute

certo ponto para um melhor conhecimento daqueles velhos autores taacuteticos e das teorias

antigas Noacutes natildeo prestaacutemos atenccedilatildeo agraves escrituras de boa dicccedilatildeo ou palavras que soassem bem

A nossa preocupaccedilatildeo ao inveacutes disso foi o pragmatismo a claridade de expressatildeo e a

simplicidade de estilo Com isto em mente noacutes frequentemente clarificamos os termos taacuteticos

do Grego antigo e traduzimos aqueles em Latim para os seus equivalentes em Grego Noacutes

tambeacutem utilizaacutemos algumas outras expressotildees militares de utilizaccedilatildeo comum para ser mais

faacutecil para o leitor compreendecirc-las A uacutenica coisa que descartaacutemos foram as formaccedilotildees que natildeo

satildeo mais necessaacuterias porque satildeo supeacuterfluas inuacuteteis e a sua descriccedilatildeo natildeo eacute clara Assim

aqueles que desejam comandar tropas possam ter raacutepido acesso a uma vasta reserva de

experiecircncia no que respeita a combate e a campanhas militares A utilidade deste manual

deriva natildeo soacute daquilo que foi escrito mas tambeacutem do facto de ter sido posto em praacutetica pelas

603 Vide Idem Ibidem p7 604 Haldon defende que Leatildeo VI com este termo se refere aos strateacutegoi Isto porque se considerava o basileuacutes

como o comandante supremo o que tornava os restantes generais (os strategoacutes) seus subalternos logo

hypostrategoi vide HALDON J (2014) ndash Op cit p126

CXXXIV

autoridades antigas e ter sido transmitido ateacute aos nossos dias Mesmo que natildeo tenha sido

acompanhado por essas accedilotildees que conduziram a situaccedilatildeo dos Romanos a um grande poder

pelo menos as palavras que foram condenadas ao esquecimento foram trazidas de volta agrave vida

relembradas e novamente restauradas na sua antiga posiccedilatildeordquo ndash Proacutelogo paraacutegrafo 6

linhas 55-78605

n) O Epilogus

ldquoPrimeiro eacute necessaacuterio sumariar as taacuteticas empregues na arte da guerra Entatildeo o que eacute

um general Quem e que tipo de pessoal ele deve ser Como deve ele fazer planos Depois

disso vamos explicar as divisotildees do exeacutercito em oficiais e nas tropas que eles comandam

bem como no seu equipamento as armas a eles providenciadas e o armamento de cada um

dos seus combatentes Antes do mais o treino do exeacutercito antes do combate Depois a leitura

oficial das puniccedilotildees em vigor Segue-se uma discussatildeo sobre o exeacutercito em marcha tanto no

nosso como em territoacuterio hostil e sobre o assim-chamado trem-de-apoio e claro acerca da

preparaccedilatildeo e instruccedilotildees relativamente a acampamentos O que deve ser feito no dia antes da

batalha e o que tem de ser feito no dia da batalha Para aleacutem do mais acerca de guerra de

cerco Depois o que deve ser feito depois da batalha E o que dizer sobre ataques inesperados

e emboscadas tanto pelas nossas tropas como do inimigo Para aleacutem destas o treino em vaacuterias

formaccedilotildees de batalha estrangeiras e Romanas A nossa compilaccedilatildeo seraacute entatildeo seguida por

uma pequena exposiccedilatildeo de guerra naval Para concluir tudo isto foram recolhidas e

apresentadas individualmente certas maacuteximas taacuteticas e estrateacutegicas aquelas isto eacute que a

natureza sumaacuteria dos capiacutetulos natildeo permite que sejam inseridas no seu lugar Noacutes esperamos

que o estudo disto leve o saacutebio e perspicaz comandante a tornar-se ainda mais saacutebio ndash

Proacutelogo paraacutegrafo 10 linhas 97-113606

o) A guerra como ldquomal necessaacuteriordquo

ldquoNoacutes temos sempre de abraccedilar a paz para os nossos proacuteprios suacutebditos bem como para

os baacuterbaros por causa de Cristo o imperador e Deus de todos Se as naccedilotildees partilharem estes

sentimentos e se mantiverem dentro das suas fronteiras e prometerem natildeo agir injustamente

contra noacutes entatildeo tambeacutem vocecirc abster-se-aacute de pegar em armas contra eles Natildeo manche o chatildeo

com o sangue das suas proacuteprias gentes ou com aquele dos baacuterbaros (hellip) Noacutes devemos

sempre que possiacutevel da nossa parte estar em paz com todos os homens especialmente com

605 Vide DENNIS George T (2014) ndash Op cit pp 6-9 606 Idem Ibidem pp 8-11

CXXXV

aquelas naccedilotildees que desejem viver em paz e que natildeo fazem nada de injusto aos nossos

suacutebditos Noacutes devemos sempre preferir paz acima de tudo e devemos estar em paz com essas

naccedilotildees e abstermo-nos da guerra

Mas se o nosso adversaacuterio agir de forma pouco saacutebia iniciar hostilidades injustas e

invadir o nosso territoacuterio entatildeo deveras teraacute uma causa justa ainda mais que uma guerra

injusta foi iniciada pelo inimigo Com confianccedila e entusiasmo pegue em armas contra eles

Foram eles que providenciaram a causa por injustamente levantarem as matildeos contra os nossos

suacutebditos Seja corajoso entatildeo (O general) teraacute a justiccedila de Deus ao seu lado Ao tomar parte

na luta em nome dos seus irmatildeos (o general) e a sua forccedila inteira seratildeo vitoriosos Por esta

razatildeo assim noacutes apelamos a Sua Excelecircncia para se assegurar que as causas das guerras satildeo

justas Soacute entatildeo deveraacute pegar em armas contra os homens que atuam injustamenterdquo ndash

Constitutio II paraacutegrafos 30 e 31 linhas 196-201 e 208-216

p) Formas de agir em caso de ataques vindos da Ciliacutecia

ldquoOs Sarracenos da Ciliacutecia colocam muito valor no treino exaustivo das suas forccedilas de

infantaria para entrar em combate em duas frentes isto eacute na terra ao longo da estrada que sai

das montanhas do Tauro e no mar por meio dos seus navios chamados koumbaacuteria Quando

eles natildeo fazem campanha em terra firma eles embarcam para o mar pilham os povoados ao

longo da costa e algumas vezes se tal acontecer envolvem-se em batalhas navais Quando

natildeo vatildeo para o mar eles fazem campanhas contra os territoacuterios dos Romanos por terra

Vocecirc portanto oacute general deve manter olho neles por meio de espiotildees de confianccedila

Quando eles fazem campanha pelo mar vocecirc vai por terra e se possiacutevel lanccedilar ataques contra

eles no seu proacuteprio territoacuterio Mas se os espiotildees relatarem que eacute intenccedilatildeo deles fazer

campanha por terra entatildeo vocecirc deve avisar o comandante do Kibirrhaiotai para que com os

droacutemōnes sob o seu comando ele possa cair sobre os territoacuterios dos Tarseotes e dos de Adana

que se encontrem na costa Porque o exeacutercito dos baacuterbaros cilicianos natildeo eacute muito numeroso

uma vez que os homens que praticam campanha em terra tambeacutem o fazem no marrdquo ndash

Constitutio XVIII paraacutegrafos 131 e 132 linhas 654-678

q) O perfil psicoloacutegico de um bom strategoacutes

ldquoEacute caracteriacutestico de um general que ele seja superior a todos os que estatildeo sob o seu

comando em sabedoria praacutetica coragem justiccedila e discriccedilatildeo reservando a ele a administraccedilatildeo

da proviacutencia atribuiacuteda a ele incluindo assuntos militares privado e puacuteblicos Ao receber um

CXXXVI

exeacutercito indisciplinado ele deve dispocirc-lo apropriadamente para a batalha de acordo com a

formaccedilatildeo taacutetica adequada agrave ocasiatildeordquo ndash Constitutio I paraacutegrafo 11 linhas 39-42

CXXXVII

Anexos IX ndash Excertos de outras fontes607

a) Listas da Expediccedilatildeo a Creta em 910-911608

Da preparaccedilatildeo e custo e soma dos pagamentos e do exeacutercito

enviado contra a iacutempia (ilha de) Creta

com o patrikios e logothetecircs tou droumou Himeacuterio

no tempo do Soberano Leatildeo amado de Cristo

A frota imperial 12000 Rusrsquo 700

O strategoacutes do Kibirrhaiotai responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 5600 e

1000 reservas 6600 no total

O strategoacutes de Samos responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 4000 e 1000

reservas 5000 no total

O strategoacutes do Mar Egeu responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 3000 e

1000 reservas 4000 total Todas estas juntas 28300

Em relaccedilatildeo agraves unidades de cavalaria que deveriam ir em campanha com a frota

Scholarioi Traceacutesicos e Macedoacutenicos 1037

Do themaacute dos Traceacutesicos 1000 do theacutema de Sebasteia 1000 Armeacutenios de Platanion

500 Armeacutenios de Prine 500 O total de cavalaria 6037609 e o total da frota e da cavalaria

34037610

607 Estas traduccedilotildees satildeo feitas do inglecircs para portuguecircs a partir de 608 Constantino VII basileuacutes ldquoThe fitting out and cost and sum of the pay and of the army sent against the

impious (island of) Crete with the patrikios and logothetecircs tou droumou Himerios in the time of the Lord Leo

beloved of Christrdquo Texto Traduccedilatildeo e Comentaacuterio HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-

Century Military Administration ndash Chapters II 44 and 45 of the Book of Cerimonies Travaux et Memoacuteires (13)

pp 202-213 609 De acordo com John Haldon faltam 2000 cavaleiros traceacutesicos que natildeo satildeo mencionados Vide HALDON J

(2000) ndash Op cit p 202 610 Trata-se de 34337 no total de verdade vide Idem Ibidem p 202

CXXXVIII

Em relaccedilatildeo agrave frota imperial

60 droacutemōnes tendo 230 remadores e 70 soldados cada no total 18000 40 pamphyloi

dos quais 20 tinham 160 homens cada e outros 20 tinham 130 homens cada e 700 Rusrsquo no

total 5800 O total eacute 23800611

Em relaccedilatildeo ao theacutema dos Kibirrhaiotai

15 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 4500

16 pamphyloi 6 com 160 remadores os outros 10 com 130 homens totalizando 2260

Ao todo 6760

Em relaccedilatildeo ao theacutema de Samos

10 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

12 pamphyloi 4 com 160 remadores 8 com 130 homens totalizando 1680

Ao todo para o theacutema de Samos 4680

Em relaccedilatildeo ao theacutema do Mar Egeu

7 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

7 pamphyloi 3 com 160 homens os outros 4 com 130 homens totalizando 1000

Ao todo para o theacutema do Mar Egeu 3000

Em relaccedilatildeo ao theacutema da Heacutelade

10 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

611 23002 na realidade por um erro do copista Vide Idem Ibidem p 203

CXXXIX

Em relaccedilatildeo aos Mardaiacutetas

Mardaiacutetas exeacutercito com oficiais 4087 e como suplemento 1000 adicionais

totalizando 5087

Ao todo o total para a frota imperial e para os themaacuteta 112 droacutemōnes 75 pamphyloi

34000612 remadores e 7340613 soldados e 700 Rusrsquo e 5087 Mardaiacutetas

Os pagamentos para a frota imperial

Exeacutercito com oficiais de 12502 pagamento de 15 kentecircnaria 90 litrai e 10

nomismata614

O seu suplemente de 1000 5 nomismata cada fazendo 69 litrai 32 nomismata~

700 Rusrsquo 1 kentecircnarion

O total para a frota e para os Rusrsquo equivale a 17 (kentecircnaria) 59 (litrai) 42

(nomismata)

Em relaccedilatildeo ao theacutema dos Kibirrhaiotai

Exeacutercito com oficiais de 5750 pagamento de 2 (kentecircnaria) 21 (litrai) e 42

(nomismata) com as reservas

Em relaccedilatildeo ao theacutema de Samos

Exeacutercito com oficiais de 4680 e 1000 das reservas pagamento de 2 (kentecircnaria) 1

(litrai) e 11 (nomismata)

Em relaccedilatildeo ao theacutema do Mar Egeu

Exeacutercito com oficiais de 3100 e 1000 das reservas pagamento de 1 (kentecircnaria) 54

(litrai) e 3 (nomismata)

612 O total no texto equivale a 34200 Idem Ibidem 204 613 O total no texto eacute 7140 Idem Ibidem 204 614 Kentecircnarion = 100 litrai de ouro Litra = 72 nomismata de ouro Vide Idem Ibidem 204

CXL

Em relaccedilatildeo aos Mardaiacutetas do Ocidente

Exeacutercito com oficiais de 4087 pagamento de 4 (kentecircnaria) 66 (litrai) e 32

(nomismata) o seu suplemento de 1000 homens em 8 nomismata cada faz 1 (kentecircnaria)

11 (litrai) e 8 (nomismata)

Ao todo o total para os Mardaiacutetas do Ocidente pagamento de 5 (kentecircnaria) 77

(litrai) e 42 (nomismata)615

Ao todo o total para a frota imperial para os Rusrsquo para as frotas ldquotemaacuteticasrdquo e para os

Mardaiacutetas do Ocidente pagamento de 29 (kentecircnaria) 13 (litrai) e 66 (nomismata)

Em relaccedilatildeo ao pagamento das unidades de cavalaria

No que respeita aos scholarioi dos Traceacutesicos e Macedoacutenicos para 1037 homens

pagamento de 1 (kentecircnarion) 41 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita ao theacutema dos Traceacutesicos para 3000 homens a 2 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 83 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita ao theacutema de Sebasteia para 1000 homens pagamento de 1

(kentecircnarion) 13 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios Platanitai616 para 500 homens a 6 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 41 (litrai) e 48 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios de Prine para 400 homens a 5 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 27 (litrai) e 56 (nomismata)

O total para 2037 cavaleiros pagamento de 2 (kentecircnaria) 54 (litrai) e 48

(nomismata)

E para os 3900 homens adicionais pagamento de 1 (kentecircnarion) 52 (litrai) e 56

(nomismata)

O total para a cavalaria pagamento de 4 (kentecircnaria) 7 (litrai) e 22 (nomismata)

615 Deveriam ser 40 nomismata sendo que os 2 nomismata adicionais satildeo um erro do copista Idem Ibidem 206 616 De Platanion portanto

CXLI

Em relaccedilatildeo ao pagamento da mobilizaccedilatildeo

No que respeita agraves frotas dos 3 themaacuteta dos Kibyrrhaiotai Samos e Mar Egeu para

3000 homens a 2 nomismata cada 83 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita aos Mardaiacutetas do Ocidente 3 tourmarchai a 36 nomismata cada 42

drouggarioi a 12 nomismata cada 42 komecirctes a 6 nomismata cada 5000 soldados a 4

nomismata cada fazem todos juntos 2 (kentecircnaria) 99 (litrai) e 56 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios do theacutema de Sebasteia 5 tourmarchai a 12 nomismata

cada 10 drouggarioi a 6 nomismata cada 8 komecirctes a 5 nomismata cada 965 soldados a 4

nomismata cada fazem todos juntos 55 (litrai) e 60 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios de Prine 500 homens a 2 nomismata cada fazendo 12

(litrai) e 64 (nomismata)

O conjunto para o pagamento da mobilizaccedilatildeo 4 (kentecircnaria) 52 (litrai) e 60

(nomismata)

Observe-se que o stratecircgos dos Kibirrhaiotai e o katepanocirc dos Mardaiacutetas de Attaacutelia

responsabilizaram-se que numa matildeo o stratecircgos prepararia duas chelandia das unidades dos

tourmarchai enquanto na outra o katepanocirc dos Mardaiacutetas prepararia galeacutes617 e durante o mecircs

de marccedilo as enviaria para a Siacuteria para que elas pudesse trazer de volta um relatoacuterio e o

verdadeiro relato de tudo preparado e feito laacute

Observe-se que o procirctospatharios e archocircn de Chipre Leatildeo Symbatikes

responsabilizou-se por enviar batedores vigilantes para o Golfo de Tarso e para a regiatildeo de ta

Stomia (as planiacutecies da Ciliacutecia) bem como para Triacutepolis e Laodiceia para que de ambas as

regiotildees pudessem trazer relatos se os Sarracenos estavam a fazer alguma coisa por meio de

treino

Observe-se que o strategoacutes de Tessaloacutenica responsabilizou-se pela produccedilatildeo de

200000 flechas e 3000 menaulia e de quantos escudos pudesse Observe que o kritecircs da

Helaacutede responsabilizou-se pela produccedilatildeo de 1000 menaulia que completou Ele

responsabilizou-se da produccedilatildeo de outra remessa e de levaacute-la para onde tinha sido acordado

617 Galea

CXLII

Observe-se que o archocircn de Chrecircpos no theacutema da Heacutelada responsabilizou-se pela

produccedilatildeo de 200000 flechas e 3000 menaulia do mesmo modo que o stratecircgos de Nicoacutepolis

e o (stratecircgos) do Peloponeso

Observe-se que o procirctospatharios Teodoro Pagkrates responsabilizou-se de viajar para

o Anatolikoi618 e de recrutar os Platinatiai e a partir deles e de outros do theacutema de reunir 500

homens selecionados pela sua abilidade como arqueiros especialmente se algum deles fosse

um cavaleiro competente quer fossem dos oficiais ou dos scholarioi Se os scholarioi tiverem

o seu pagamento na iacutentegra deixem-nos equipar-se dos seus proacuteprios recursos com a panoacuteplia

de cavaleiro Mas se forem escassos no que respeita ao seu pagamento deixem-nos levar os

animais do mecirctata ou por imposiccedilotildees pessoais dentro do theacutema dos Anatoacutelicos

Em relaccedilatildeo ao que devia ter sido preparado no theacutema dos Traceacutesicos

20000 (modioi) de cevada 40000 (modioi) cada de trigo biscoito e farinha 30000

medidas de vinho 10000 animais para abate

E em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 10000 medidas de fibra de linho para a propyra619 e o

encalcar deixem-nas armazenadas em Phygela e 6000 pregos para pregar os droacutemōnes o

protonotaacuterios do theacutema dos Traceacutesicos responsabilizou-se por estes objetos o (oficial) para

Limnogalaktos encarregou-se igualmente de assisti-lo com o vinho

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 30000 pregos de cinco-dedos620 para os conveacutes dos

droacutemōnes para as pranchas de embarque e para os estaleiros deixem que sejam tambeacutem

levados para Phygella o stratecircgos de Samos responsabilizou-se de obter as despesas para

estes objetos pelo protonotaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 3000 ldquopregos-garrardquo de cabeccedila-uacutenica para

ldquoTartarugasrdquocoberturas escadas e outros trabalhos e dos 3000 pregos de um palmo o

stratecircgos de Samos responsabilizou-se por isto

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 4000 (pregos) de seis-dedos621 4000 (pregos) de cinco-

dedos e 4000 pregos de quatro-dedos622 para as gruas os passadiccedilos e outras necessidades o

stratecircgos de Samos responsabilizou-se por isto

618 Anatoacutelicos 619 Os fornos ou braseiros utilizados para aquecer o oacuteleo usado nos sifotildees de fogo liacutequido (greguecircs) Vide Idem

Ibidem 210 620 975 cms 621 117 cm

CXLIII

Em relaccedilatildeo ao empreendimento do oficial imperial presente na regiatildeo dos Anatoacutelicos

para preparar 20000 modioi de cevada e 60000 modioi de hardtack e trigo e farinha dos

Kibirrhaiotai e Anatoacutelicos e deixem-nos ser trazidos da regiatildeo dos Anatoacutelicos para Ataacutelia

em vez de irem para Kalon Oros

Em relaccedilatildeo agrave compra pelo protonotaacuterios do Kibirrhaiotai de 60000 pregos pequenos

para prender as peles

Em relaccedilatildeo aos esquifes feitos para a dromocircnia o carteiro enviem-no da hetaireia

com uma ordem para o katepanocirc que deve dar-lhe um procirctokagkellarios e apoio total e

deixem-lhe entatildeo os Korphitianoi de Heracleia e levar quatro marinheiros para cada esquife

Ele devem entatildeo enviaacute-los (aos esquifes) sem atrasos pelo procirctokagkellarios Cada esquife

deve ter o seu masto verga e quatro remes bem como um leme Em adiccedilatildeo 6 escaleres de

oito remes

Em relaccedilatildeo aos estrepes perguntem ao koitocircnites Theodoretos o que lhes aconteceu

de igual modo em relaccedilatildeo aos sacos do ano passado e agraves picaretas e marretas aneacuteis parafusos

grilhetas e bate-estacas e deve enviar o seu notaacuterio a noacutes com o registo de tudo

Em relaccedilatildeo ao parathalassitecircs tendo sido ordenados para equipar 1200 homens a

partir de contribuiccedilotildees conjuntas (pelos habitantes da Cidade)

Observe que os Kibirrhaiotes o katepano dos Mardaiacutetas de Ataacutelia e Leatildeo Symbatikes

responsabilizaram-se por manter a seguranccedila e uma vigia rigorosa e a natildeo permitir a

nenhuma pessoa que vaacute para a Siacuteria e que a partir deles que a informaccedilatildeo sobre o Estado

Romano seja enviada para a Siacuteria

622 78 cm

CXLIV

b) A primeira ldquomaldaderdquo de 809810

ldquoNeste ano Niceacuteforo apoacutes as suas puniccedilotildees iacutempias [que tinha sofrido] e tencionando

humilhar o exeacutercito no seu todo removeu cristatildeos de todos os themaacuteta e ordenou-lhes que

seguissem para as Sklavinias depois de venderem as suas propriedades Este estado de coisas

natildeo era menos grave que o cativeiro muitos na sua insensatez proferiram blasfeacutemias e

rezaram para ser invadidos pelo inimigo outros choraram junto das sepulturas dos seus

ancestrais e enalteceram a felicidade dos mortos alguns ateacute se enforcaram para se salvarem de

tal terriacutevel situaccedilatildeo Uma vez que as suas possessotildees eram difiacuteceis de transportar eles natildeo se

encontravam em posiccedilatildeo de as trazer consigo e presenciaram a perda das propriedades

adquiridas pelo trabalho dos seus parentes Todos estavam em completa anguacutestia os pobres

por causa das circunstacircncias acima enunciadas e por causa daquelas que seratildeo contadas mais

tarde enquanto os mais ricos simpatizavam com os pobres aos quais se encontravam

incapazes de ajudar e esperavam infortuacutenios piores Estas medidas comeccedilaram a ser aplicadas

no mecircs de Setembro e foram completadas na Santa Paacutescoardquo ndash Croacutenica de Teoacutefanes o

Confessor entrada relativa a 809810623

c) A segunda ldquomaldaderdquo

ldquoPara aleacutem disto ele ordenou uma segunda maldade mais propriamente o alistamento

de pessoas pobres no exeacutercito e que estas deviam ser equipadas pelos habitantes da sua

comunidade pagando ainda 185 nomismata por homem mais os impostos por

responsabilidade solidaacuteriardquo ndash Croacutenica de Teoacutefanes o Confessor entrada para 809810624

623 Vide SCOTT Roger (1997) The Chronicle of Teophanes the Confessor Oxford Clarendon Press p 383 624 Vide Idem Ibidem p 383

Page 2: Como “Navegar” a Guerra: Análise e Comentário do tratado militar … · 2019. 11. 12. · ii Resumo A História do Império Bizantino é um assunto muito pouco estudado em Portugal,

Faculdade de Letras

Ficha Teacutecnica

Tipo de trabalho Dissertaccedilatildeo de Mestrado

Tiacutetulo Como ldquoNavegarrdquo a Guerra ndash Anaacutelise e Comentaacuterio do tratado

militar Taktikaacute de Leatildeo VI (seacuteculo X)

Autor Joatildeo Pedro Gomes Paiva

Orientador Doutor Joatildeo Manuel Filipe Gouveia Monteiro

Juacuteri Presidente Doutora Maria Alegria Fernandes Marques

Vogais

1 Doutor Pedro Gomes Barbosa

2 Doutor Joatildeo Manuel Filipe Gouveia Monteiro

Identificaccedilatildeo do Curso 2ordm Ciclo em Histoacuteria

Aacuterea cientiacutefica Histoacuteria

EspecialidadeRamo Histoacuteria Militar

Data da defesa 22-2-2018

Classificaccedilatildeo 17 valores

Como ldquoNavegarrdquo a Guerra

Anaacutelise e Comentaacuterio do tratado militar Taktikaacute

de Leatildeo VI (seacuteculo X)

ii

Resumo

A Histoacuteria do Impeacuterio Bizantino eacute um assunto muito pouco estudado em Portugal

algo que esta tese pretende ajudar a colmatar A dissertaccedilatildeo aqui apresentada tem como

objetos de estudo principais o basileuacutes Leatildeo VI o Saacutebio (886-912) e uma das obras mais

importantes que lhe satildeo atribuiacutedas o Taktikaacute uma enciclopeacutedia militar que aborda temaacuteticas

muito diversificadas como o armamento de tropas movimentaccedilotildees no campo de batalha e

guerra naval O Taktikaacute foi o primeiro manual militar da segunda eacutepoca de ouro da produccedilatildeo

literaacuteria beacutelica bizantina (seacutec X-XI) e serve como se pretende mostrar nesta tese como elo

de ligaccedilatildeo da tradiccedilatildeo antiga com os paradigmas militares bizantinos da eacutepoca que se

encontravam em mudanccedila no reinado deste imperador No contexto deste trabalho

pretendemos desmistificar a alegada falta de interesse por questotildees beacutelicas de Leatildeo VI um

imperador reconhecido pela sua ausecircncia de participaccedilatildeo em campanhas militares bem como

mostrar quais as preocupaccedilotildees que tinha patentes no tratado em estudo Quanto ao Taktikaacute

pretende-se demonstrar que apesar de ter sido muito influenciado por manuais congeacuteneres

anteriores (como o Stratēgikoacuten de Mauriacutecio do seacuteculo VI) refletia a realidade militar da

eacutepoca da sua escrita incorporava o pensamento estrateacutegico bizantino de entatildeo e serviu como

foco de influecircncia para as obras de literatura militar que se lhe seguiram Para isto recorremos

agrave leitura de fontes histoacutericas e tratados militares bizantinos anteriores e posteriores ao objeto

de estudo como o Perigrave Paradromeacutes de Niceacuteforo II Focas (governou entre 962-969) ou o Perigrave

Strategiacuteas de Siriano (possivelmente do seacuteculo IX) bem como a obras de especialidade que

versam tanto temaacuteticas beacutelicas como o principado do Saacutebio

Palavras-chave

Histoacuteria Militar Impeacuterio Bizantino Leatildeo VI Taktikaacute Themaacuteta

iii

Abstract

The History of the Byzantine Empire has been absent from the Portuguese research

agenda an issue this thesis attempts to address The following dissertation focuses its study

on the basileuacutes Leo VI the Wise (886-912) and the Taktikaacute a military encyclopaedia

accredited to him which approaches a vast set of subjects such as arming the troops moving

in the battlefield or waging war at sea The Taktikaacute was the first military field book from the

second golden era of byzantine war literature (X-XI centuries AD) and as we attempt to

showcase it served as a link between the ancient tradition with the byzantine military

standards of its time which were undergoing some changes by then Further we intend to

debunk Leo VIrsquos alleged lack of interest in military concerns an argument based on his

absence in military campaigns As for the Taktikaacute we defend that while influenced by similar

previous manuals (such as the 6th century Mauricersquos Stratēgikoacuten) it reflected the military

reality as well as the Byzantine strategic thinking of its time while serving as an influence

focus for the military literature that followed it To meet the set goals we have read historical

accounts and other byzantine military treatises such as Nikephoros II Phokasrsquos (who ruled

between 962 and 969) Perigrave Paradromeacutes or Sirianorsquos Perigrave Strategiacuteas (possibly 9th century) as

well as specific bibliography versing both military subjects and the reign of the Wise

Keywords

Military History Byzantine Empire Leo VI Taktikaacute Themaacuteta

iv

Aos meus avoacutes Luacute e Narciso por tudo o que fizeram por mim

ao longo da minha efeacutemera existecircncia por todas as aventuras e todos os ensinamentos Esta

dissertaccedilatildeo foi feita com vocecircs sempre no meu pensamento

v

Tal como natildeo eacute possiacutevel navegar um navio sobre os mares sem conhecimentos de navegaccedilatildeo

tambeacutem natildeo eacute possiacutevel derrotar o inimigo sem disciplina e sem lideranccedila Ao passo que com isto

e com a ajuda de Deus natildeo soacute eacute possiacutevel prevalecer sobre um inimigo de igual forccedila mas tambeacutem

sobre um que supere largamente em nuacutemeros as vossas forccedilas

Leatildeo VI o Saacutebio in Taktikaacute Proacutelogo (9)

Entre as boas coisas que agrave vida trazem benefiacutecio a Histoacuteria natildeo eacute das menos mas sim das mais

importantes pois eacute por sua proacutepria natureza algo de uacutetil e proveitoso Eacute que ela relata uma

multiplicidade de feitos de toda a espeacutecie tais como eacute haacutebito acontecerem no decorrer do tempo e

dos eventos e em particular pelas escolhas dos homens que nesses eventos participam prescreve

tambeacutem aos homens que tomem como modelos e emulem alguns feitos enquanto rejeitam e evitam

outros de tal modo que natildeo negligenciem inadvertidamente o que eacute uacutetil e beneacutefico e se prendam

ao que eacute nocivo e abominaacutevel eacute Eacute portanto considerada a Histoacuteria como tatildeo proveitosa quanto

todas as outras coisas da vida na medida em que restitui vida ou juventude aos assuntos mortais

e natildeo permite que eles se apaguem e se confinem agraves profundezas do esquecimento

Leatildeo o Diaacutecono in A Histoacuteria Livro I

A paz era o objetivo principal (para Bizacircncio) ainda que a

guerra fosse necessaacuteria para o assegurar

John Haldon in Critical Commentary

on the Taktika of Leo VI p22

vi

Agradecimentos

A realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo de mestrado natildeo foi uma jornada faacutecil e foi repleta de

percalccedilos de duacutevidas e desalento por muito deleite que tal empreendimento me tenha dado Eacute

por este motivo que devo agradecer a todos os que me auxiliaram nesta fase e me

incentivaram a seguir em frente

Em primeiro lugar ao meu orientador mestre e amigo o Professor Doutor Joatildeo

Gouveia Monteiro Muito haacute a agradecer desde logo por ter acompanhado o meu percurso

acadeacutemico desde o meu segundo ano da faculdade quando semeou em mim a paixatildeo por

Histoacuteria Militar Por ter apontado o caminho para Constantinopla Por toda a ajuda todas as

oportunidades e todas as palavras de forccedila A mais sentida gratidatildeo por tudo isto e pelo que

espero viraacute

Os meus agradecimentos devem agora estender-se aos outros eruditos que me

aconselharam e me deram apoio bibliograacutefico para este trabalho Primeiro e em especial ao

Professor Salvatore Cosentino de Ravena pela hospitalidade durante a viagem a Itaacutelia e pela

disponibilidade incansaacutevel em me ajudar Ao Professor John Haldon da Universidade de

Princeton o meu obrigado natildeo soacute pelos conselhos que me deu mas tambeacutem pela longa obra

que jaacute tem parte do meu entusiasmo pelo exoacutetico Impeacuterio Romano do Oriente eacute devido a ele

E por fim agrave Professora Helena Catarino da Universidade de Coimbra por tudo o que me

ensinou e por ter dado o empurratildeozinho final para entrar no Mestrado Interuniversitaacuterio em

Histoacuteria Militar

Um agradecimento especial ao Mestre Joatildeo Nisa natildeo soacute em tiacutetulo mas tambeacutem em

conhecimento Por todos os conselhos e todas as ideias que me deu e por todas as duacutevidas que

me esclareceu A todos os outros que me ajudaram durante a realizaccedilatildeo deste trabalho Ao

Rodrigo Gomes e ao Gustavo Gonccedilalves amigos e companheiros de guerra que sempre me

ajudaram alegraram e impeliram a seguir em frente Que venham muitos mais anos de duros

combates pela nossa frente Uma palavra de gratidatildeo para o Anton Stark e para o Maacuterio

Coelho por me terem ajudado na traduccedilatildeo do inglecircs mais traiccediloeiro Aos camaradas Joatildeo Neto

e Jorge Wolfs pelo apoio graacutefico terreno desconhecido e exoacutetico para mim E ao meu

afilhado de amizade Pedro Baptista por todos os remendos palavras de forccedila e gargalhadas

A minha gratidatildeo estende-se tambeacutem a todos os outros que me ajudaram nesta

dissertaccedilatildeo somente pela boa-disposiccedilatildeo e amizade em especial a Caacutetia a Laura o Luiacutes o

vii

Joatildeo Rainho o Emanuel e o Pedro Parreira Ah e um agradecimento especial agrave Sara Serra

pelos raspanetes quando a ansiedade teimava em aparecer

Deixo um agradecimento emotivo aos que me apoiaram desde sempre Ao meu pai Zeacute

por nunca me deixar ir abaixo pelas palavras saacutebias e por todas as correccedilotildees que fez Agrave minha

matildee Rosa pelos sermotildees pela companhia nas uacuteltimas noites e pelo lanchinho das ldquotrecircs da

manhatilderdquo Um agradecimento tambeacutem para a minha avoacute Fernanda por tudo o que fez por mim

durante a minha breve vida e a toda a restante famiacutelia por nunca ter deixado de acreditar no

ldquoJoatildeozinhordquo ldquoJoatildeo Pedrordquo

Por fim e porque os uacuteltimos satildeo sempre os primeiros agrave Sofia pela inspiraccedilatildeo o

encorajamento e pelo carinho (e pela paciecircncia) Por nunca ter deixado de acreditar em mim e

por ser o meu grande porto de abrigo O meu mais sentido obrigado milady

PS Ao Professor Doutor Pedro Barbosa da Universidade de Lisboa meu arguente

por todas as suas construtivas opiniotildees e comentaacuterios que serviram para beneficiar a versatildeo

final desta dissertaccedilatildeo O meu mais sentido agradecimento por tudo isto

viii

Foto de capa Leatildeo VI do livro ldquoRulers of the Byzantine Empirerdquo publicado pela KIBEA

Fonte httpsthehistoryofbyzantiumcom20160705episode-109-leo-the-wiseleo-vi-from-

rulers-of-the-byzantine-empire-published-by-kibea Verificado agraves 2346 de 05032018

Iacutendice

Resumo ii

Abstract iii

Agradecimentos vi

Introduccedilatildeo 6

Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o exeacutercito

bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X 12

11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando da ascensatildeo

da dinastia macedoacutenica 12

12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial 15

13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados dos

primeiros basileicircs macedoacutenicos 18

Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte de Leatildeo VI

(867-912) 28

21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886) 28

22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912) 37

Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina 50

31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina 50

32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI) 52

Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute 56

41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza 56

42 ndash Estrutura interna da fonte 61

43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees 64

Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general 67

51 ndash O strategoacutes de Leatildeo 67

52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros 70

53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos 73

Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar 79

61 ndash O armamento e o treino 79

62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra 83

63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta 87

Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas 91

71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade 91

72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval 96

73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X 101

Conclusatildeo 106

Bibliografia 110

Fontes 110

Estudos 112

Iacutendice de Anexos

Anexos I ndash Mapas e Esquemas I

Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino XIV

Seacuteculo V XIV

Seacuteculo VI XIV

Seacuteculo VII XV

Seacuteculo VIII XXIX

Seacuteculo IX XXXV

Seacuteculo X XLIV

Seacuteculo XI LI

Seacuteculo XII LIX

Seacuteculo XIII LXIV

Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos LXVI

Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana) LXVI

Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica) LXVIII

Reinado de Leatildeo VI LXXIV

Reinado de Alexandre LXXXIII

Reinado de Constantino VII LXXXIV

Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees LXXXVI

a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados LXXXVI

b) Tratadistas e cronistas XCII

c) Outras personagens relevantes XCIII

d) Dinastias XCIV

e) Organizaccedilotildees e unidades militares XCV

Anexos V ndash Listas de Titulares XCVI

a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca meacutedio-bizantina XCVI

b) Califas Aacuterabes C

c) Outros governantes aacuterabes CI

d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria CIII

e) Priacutencipes de Rus CIV

f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia CV

Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico CIX

a) Termos militares e navais CIX

b) Tiacutetulos CXIV

c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura CXVI

d) Povos CXVIII

e) Outros termos CXX

Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico CXXI

a) Regiotildees CXXI

b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc) CXXIII

c) Centros populacionais (cidades vilas etc) e fortificaccedilotildees CXXIV

d) Referecircncias topograacuteficas mariacutetimas e fluviais CXXVII

e) Campos de batalha CXXVIII

Anexo VIII ndash Excertos do Taktikaacute CXXIX

a) Evitar batalha CXXIX

b) Sobre natildeo guerrear com os Buacutelgaros e a paz de 896 CXXIX

c) Preferecircncia de recrutamento de soldados economicamente confortaacuteveis CXXIX

d) Acerca do financiamento de soldados pobres por homens (stratioacutetai) ricos CXXX

e) Menccedilatildeo da alianccedila entre Bizantinos e Magiares do iniacutecio da guerra Bizantino-Buacutelgara de

984 e da participaccedilatildeo Magiar nesse conflito CXXX

f) O Proeacutemio CXXXI

g) A travessia do rio Paradeisos por Basiacutelio (877-878) CXXXI

h) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (I) CXXXI

i) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (II) CXXXI

j) Sobre a lealdade do general CXXXII

k) As caracteriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos Aacuterabes contra Bizacircncio CXXXII

l) O problema em causa no Taktikaacute CXXXII

m) A soluccedilatildeo do basileuacutes CXXXIII

n) O Epilogus CXXXIV

o) A guerra como ldquomal necessaacuteriordquo CXXXIV

p) Formas de agir em caso de ataques vindos da Ciliacutecia CXXXV

q) O perfil psicoloacutegico de um bom strategoacutes CXXXV

Anexos IX ndash Excertos de outras fontes CXXXVII

a) Listas da Expediccedilatildeo a Creta em 910-911 CXXXVII

b) A primeira ldquomaldaderdquo de 809810 CXLIV

c) A segunda ldquomaldaderdquo CXLIV

6

Introduccedilatildeo

O que eacute Bizacircncio Para muitos eacute um mundo exoacutetico algo distante desconhecido

intrigante Quando tal nome eacute pronunciado vecircm-nos agrave mente algumas imagens palavras

iconografias personagens Constantinopla Hagia Sophia Guarda Varangiana as figuras de

Justiniano e Teodora imortalizadas na Basiacutelica de Satildeo Vital em Ravena No entanto para

noacutes estudantes de Histoacuteria e do Impeacuterio Bizantino tem outro significado e outra essecircncia eacute

Roma noutro local centrada noutra capital (que une hoje dois continentes) que tenta manter

por todos os meios o seu esplendor e o seu legado eacute um mundo dominado pelo Grego na

escrita na cultura e na lei e por fim eacute um baluarte da Cristandade Ortodoxa onde o poder

do Estado sobre a religiatildeo se mescla sinergicamente com a influecircncia da religiatildeo sobre o

Estado como o atestam os vaacuterios conflitos entre imperadores papas e patriarcas que diversas

vezes minaram a estabilidade do Estado e da sociedade bizantina Se pudeacutessemos definir este

Impeacuterio tatildeo diversificado a partir de trecircs caracteriacutesticas principais seriam estas um Impeacuterio

Romano de liacutengua grega e com uma religiatildeo cristatilde ortodoxa

Todavia o objeto deste trabalho natildeo satildeo os mil anos de histoacuteria bizantina (romana)

nem tatildeo pouco as tipologias de exeacutercitos que os basileicircs ao longo da existecircncia do Impeacuterio

tiveram ao seu dispor O nosso trabalho encontra-se situado num espaccedilo de tempo preciso na

Histoacuteria de Bizacircncio o reinado de Leatildeo VI entre os finais do seacuteculo IX e os iniacutecios do seacuteculo

X Mais especificamente a nossa investigaccedilatildeo incide no tratado militar Taktikaacute atribuiacutedo a

esse mesmo soberano que apesar de natildeo ser original em grande parte do seu conteuacutedo

possui caracteriacutesticas inovadoras como demonstraremos mais adiante

Que razotildees nos levaram a optar por esta temaacutetica (a tratadiacutestica) e por esta fonte em

particular Uma das principais razotildees para a escolha desta enciclopeacutedia militar do seacuteculo X

prende-se exatamente com a diversidade do seu conteuacutedo que abrange todas as disciplinas da

tratadiacutestica claacutessico-bizantina das quais falaremos mais adiante Um tratado militar tatildeo

abrangente parece-nos uma excelente ferramenta para o estudo das forccedilas armadas deste

periacuteodo desde que tal como acontece com todas as fontes histoacutericas coevas sejam aplicados

os devidos cuidados durante a sua apreciaccedilatildeo A outra razatildeo que entendemos ter sido

fundamental para a proposiccedilatildeo do estudo deste tratado eacute o periacuteodo cronoloacutegico em que foi

redigido De facto os iniacutecios do seacuteculo X satildeo uma etapa fundamental para aquilo que muitos

apelidam de laquoReconquista Bizantinaraquo Durante o reinado de Leatildeo VI Bizacircncio encontrava-se

sob a dinastia Macedoacutenica uma das dinastias mais bem-sucedidas da histoacuteria bizantina (salvo

talvez a dinastia dos herdeiros de Justiniano) e embora ainda natildeo estivessem reunidas as

7

melhores condiccedilotildees para o Impeacuterio se lanccedilar em grandes ofensivas este tambeacutem natildeo estava

numa situaccedilatildeo de dificuldade in extremis tal como a que existiu entre 640 e 740 E se por um

lado ainda se mantinha um impasse no limes oriental entre Constantinopla e os emirados

aacuterabes sedeados em torno dos thugucircr da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia tambeacutem eacute verdade que a

balanccedila tendia cada vez mais a favor do Impeacuterio algo que se manteve ateacute agrave ascensatildeo de Sayf

al-Dawlah em 936 ao emirado de Alepo

Por outro lado os Buacutelgaros continuavam a constituir um enorme perigo na

laquoretaguarda bizantinaraquo e novos adversaacuterios como os Russos e os Magiares comeccedilavam a ser

uma presenccedila cada vez mais constante na lista de inimigos que os basileicircs tinham de

enfrentar Infelizmente a necessidade de valorizar o fulcro desta dissertaccedilatildeo (o estudo do

tratado) conjugado com o limite de paacuteginas que temos ao nosso dispor natildeo nos permitem

uma anaacutelise pormenorizada e detalhada dos principais inimigos de Bizacircncio nesta eacutepoca

desde o seu surgimento enquanto tal ateacute ao status quo poliacutetico-militar dos iniacutecios do seacuteculo X

Temos trecircs objetivos principais na realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo o primeiro eacute

comprovar que Leatildeo VI tinha um empenho claro na governaccedilatildeo do impeacuterio inclusive nos

assuntos de natureza militar o segundo eacute demonstrar que o Taktikaacute natildeo eacute apenas uma

enciclopeacutedia militar que compila os conhecimentos beacutelicos dos eruditos claacutessicos e de

Mauriacutecio para preencher as suas paacuteginas antes reflete sob diversas formas a realidade da

eacutepoca o terceiro consiste em comparar a informaccedilatildeo presente no Taktikaacute com o modelo

militar dos themaacuteta em especial com a guerra travada no limes oriental e no Mediterracircneo

Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir a nossa dissertaccedilatildeo em duas partes principais a

contextualizaccedilatildeo e a anaacutelise do tratado A primeira secccedilatildeo eacute constituiacuteda por trecircs capiacutetulos que

versam o periacuteodo histoacuterico em que este manual se encontra situado a passagem do seacuteculo IX

para o X Cada um dos capiacutetulos aborda uma temaacutetica particular O primeiro refere assuntos

de natureza geopoliacutetica e militares e vamos tentar aferir qual era a situaccedilatildeo estrateacutegica do

Impeacuterio nesta fase quais eram as principais ameaccedilas agrave supremacia romana de que forma

Constantinopla respondia a essas ameaccedilas em termos estrateacutegicos e por fim que meios

militares eacute que Bizacircncio possuiacutea para se defender com sucesso De seguida vamos retratar os

principados de Leatildeo VI e do seu pai Basiacutelio I o fundador da dinastia Macedoacutenica uma

dinastia que durou mais de um seacuteculo e que teve um importante papel na chamada

laquoReconquista Bizantinaraquo um conjunto de campanhas militares que tornou Bizacircncio a maior

potecircncia do Mediterracircneo oriental no primeiro quartel do seacuteculo XI Aqui daremos ecircnfase agraves

questotildees beacutelicas poliacuteticas e diplomaacuteticas dos primeiros basileicircs dessa linha dinaacutestica Este

tipo de digressatildeo eacute crucial para podermos entender as motivaccedilotildees que levaram Leatildeo VI a

8

redigir o Taktikaacute e os desafios que o Saacutebio teraacute enfrentado durante o tempo em que esteve

sentado no trono puacuterpura de Constantinopla

Finalmente ainda dentro da contextualizaccedilatildeo vamos dedicar um capiacutetulo agrave tratadiacutestica

militar A produccedilatildeo literaacuteria de obras beacutelicas jaacute possuiacutea uma longa histoacuteria quando Leatildeo

iniciou (ou mandou iniciar) a escrita do Taktikaacute Natildeo iremos aqui evocar a longa histoacuteria da

escrita de guerra em Bizacircncio porque outros jaacute o fizeram1 mas vamos proceder agrave exposiccedilatildeo

das principais disciplinas da tratadiacutestica bizantina ateacute porque as utilizaremos para estruturar a

parte desta dissertaccedilatildeo direcionada agrave anaacutelise do tratado Assim sendo temos cinco disciplinas

importantes para a caracterizaccedilatildeo da escrita militar bizantina a strategikaacute relacionada com a

arte de comandar preparar e organizar exeacutercitos a taktikaacute que engloba os preceitos taacutecticos e

a forma de organizar e de comandar soldados no campo de batalha a poliorketikaacute que

descreve os meios e engenhos usados na guerra de cerco defensiva e ofensiva a naumachikaacute

que aborda o modo como se pratica a guerra naval e por fim os tratados baseados na

strategemataacute que podemos distinguir em dois geacuteneros os que abordam meacutetodos indiretos de

praticar a guerra estratagemas ardis e guerra de guerrilha no geral e a rethoacuterika ou maacuteximas

beacutelicas2 Na segunda parte deste capiacutetulo analisaremos algumas das principais caracteriacutesticas

da lsquosegunda eacutepoca douradarsquo da erudiccedilatildeo militar literaacuteria de Bizacircncio que se estendeu do

Taktikaacute de Leatildeo VI ateacute aos meados do seacuteculo XI e aferiremos ateacute que ponto esses atributos se

enquadram no contexto politico-estrateacutegico que o impeacuterio entatildeo vivia

Na segunda parte desta dissertaccedilatildeo vamos analisar a grande obra militar de Leatildeo o

Taktikaacute Optaacutemos por dividir o seu estudo segundo as cinco disciplinas da literatura beacutelica

coeva de forma a natildeo nos fixarmos na anaacutelise individual de cada Constitutio um trabalho

pesado e demorado A anaacutelise do tratado comeccedilaraacute com uma introduccedilatildeo onde abordaremos

questotildees como a estrutura a autoria e a dataccedilatildeo Os restantes capiacutetulos tratam de cada uma

das disciplinas jaacute referidas mas dedicaremos especial atenccedilatildeo agrave strategikaacute e agrave taktikaacute

vertentes mais expressivas do que as restantes trecircs (poliorketikaacute strategemataacute e naumachikaacute)

na fonte em apreccedilo

1 Vide COSENTINO Salvatore (2009) Writting about War in Byzantium in Revista de Histoacuteria das Ideias

volume 30 Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 85-90 Mais recentemente a dissertaccedilatildeo de

Mestrado apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pelo Mestre Joatildeo Nisa possui

tambeacutem um excelente resumo da produccedilatildeo tratadiacutestica bizantina ao longo dos tempos com pequenos resumos

acerca dos conteuacutedos e principais caracteriacutesticas dos tratados mais importantes vide NISA Joatildeo (2016) Arte

Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Militar

apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pp 11-16 2 Vide MCGEER Eric (2008a) Military Texts In JEFFREYS Elizabeth HALDON John e CORMACK Robin

The Oxford Handbook of Byzantine Studies Nova Iorque Oxford University Press p 907

9

Em relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo utilizada tivemos agrave nossa disposiccedilatildeo uma pequena

quantidade de fontes histoacutericas que podemos dividir em duas aacutereas as croacutenicas e os tratados

militares As principais croacutenicas que utilizaacutemos foram a Histoacuteria de Joatildeo Skylitzes e a

Histoacuteria de al-Tabari A primeira apresenta-se como uma coleccedilatildeo de trabalhos

historiograacuteficos que se mostra fundamental para entender a histoacuteria do Impeacuterio Bizantino

desde o iniacutecio do seacuteculo IX ateacute aos meados do seacuteculo X Apesar de ser dada especial atenccedilatildeo

ao reinado de Basiacutelio II os principados de Basiacutelio I e Leatildeo VI tambeacutem se encontram bem

retratados pelo que decidimos usar esta obra A traduccedilatildeo que usaacutemos desta recolha

historiograacutefica eacute da autoria de John Wortley e foi publicada em 2010 pela Universidade de

Cambridge3 Quanto a al-Tabari o seu trabalho oferece um relato exaustivo da histoacuteria da

civilizaccedilatildeo islacircmica ateacute ao ano 915 Tendo em conta o objeto de estudo do nosso tratado

utilizaacutemos os volumes XXXVII e XXXVIII por relatarem os acontecimentos alusivos aos

reinados dos basileicircs em apreccedilo As traduccedilotildees que dispusemos foram respetivamente

realizadas por Phillip M Fields (XXXVII)4 e Franz Rosenthal (XXXVIII)5 as quais foram

editadas pela Universidade de Nova Iorque

Em relaccedilatildeo agrave tratadiacutestica utilizaacutemos vaacuterias obras das quais destacamos o

indispensaacutevel Taktikaacute O Stratēgikoacuten foi outra enciclopeacutedia militar a que recorremos

frequentemente pelo facto de ser uma das principais influecircncias (senatildeo a maior) do manual

atribuiacutedo a Leatildeo Escrito no seacuteculo VI trata-se da primeira enciclopeacutedia militar bizantina

apesar de atribuir maior relevo agrave cavalaria6 Outra obra muito importante que usaacutemos foi o

Perigrave Paradromeacutes atribuiacutedo a Niceacuteforo II Focas pelas suas descriccedilotildees do combate travado no

limes oriental algo que entendemos ser pertinente para alcanccedilarmos os nossos objetivos7

Para aleacutem das fontes primaacuterias recorremos ainda a um grande conjunto de estudos

seja de cariz mais especiacutefico seja mais generalista da histoacuteria bizantina Em especial

destacamos ldquoA Critical Comentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo8 de John Haldon um

3 WORTLEY John (2010) A Synopsis of Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press 4 FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid Recovery Nova Iorque

New York University Press 5 ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVIII The Return of the Caliphate to

Baghdad Nova Iorque New York University Press 6 Utilizaacutemos a traduccedilatildeo inglesa de George T Dennis cuja referecircncia eacute DENNIS George T (1984) Mauricersquos

Strategikon ndash Handbook of Byzantine Military Strategy Filadeacutelfia University of Pennsylvania Press 7 A traduccedilatildeo de que dispusemos foi realizada em inglecircs por George T Dennis DENNIS George T (1985)

Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 8 HALDON John (2014) A Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VI Washington DC Dumbarton

Oaks Research Library and Collection

10

excelente companheiro da traduccedilatildeo feita por George T Dennis9 e que foi muito uacutetil para

orientar o nosso trabalho e as nossas ideias Em relaccedilatildeo agrave Histoacuteria do Impeacuterio Bizantino no

periacuteodo em apreccedilo demos relevacircncia ao artigo de Karlin-Hayter sobre os aspetos militares da

governaccedilatildeo de Leatildeo VI10 assim como ao estudo da vida deste imperador que remete para

eventos do reinado do pai devido a Shaun Tougher na sua obra ldquoThe Reign of Leo VIrdquo11 por

fim utilizaacutemos o relato da histoacuteria do Impeacuterio Bizantino da autoria de Warren Treadgold12

Quanto a obras de estudo mais no acircmbito especializado da histoacuteria militar salientamos o

ldquoWarfare State and Societyrdquo de John Haldon13 (uma obra excelente e que aborda

detalhadamente muitos aspetos relativos ao funcionamento do exeacutercito bizantino e do seu

pensamento estrateacutegico) bem como alguns estudos assinados por Eric McGeer como por

exemplo o pequeno capiacutetulo sobre tratadiacutestica militar inserido no Oxford Handbook of

Byzantine Studies que possui algumas informaccedilotildees relevantes para todos aqueles que

tencionam iniciar o seu estudo da tratadiacutestica bizantina14 Por fim natildeo podiacuteamos deixar de

referir o livro ldquoThe Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-1204rdquo de John Pryor

e Elizabeth Jeffreys que aborda os mais diversos aspetos da poliacutetica naval bizantina

incluindo um estudo da evoluccedilatildeo da embarcaccedilatildeo predileta de Bizacircncio ndash o droacutemōn15

Qual a importacircncia da bizantiniacutestica para a historiografia portuguesa Esta eacute uma

questatildeo que se pode colocar a esta dissertaccedilatildeo sendo pertinente identificar uma resposta para

ela A invocaccedilatildeo de motivaccedilotildees geograacutefico-histoacutericas gera sentimentos contraditoacuterios se por

um lado a presenccedila bizantina no sul da Peniacutensula Ibeacuterica (incluindo possivelmente no

Algarve) foi muito efeacutemera por outro lado as suas influecircncias culturais em especial na

disciplina arquitetoacutenica satildeo evidentes como bem atesta o caso da Capela de Satildeo Frutuoso de

Monteacutelios em Braga Ainda assim a curta permanecircncia de Bizacircncio na Hispacircnia tambeacutem natildeo

pode representar um pretexto para natildeo se estudar o Impeacuterio Romano do Oriente bastando

para isso recordar que algumas das grandes escolas mundiais de bizantiniacutestica estatildeo sedeadas

9 Nesta dissertaccedilatildeo utilizaremos a traduccedilatildeo mais recente DENNIS George T (2014) The Taktika of Leo VI

Text Translation and Commentary (Revised Edition) Washington DC Dumbarton Oaks Research Library and

Collection 10 KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Hands A Note on Byzantine

Foreign Policy (886-912) Traditio (23) pp 15-40 11 TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 12 TREADGOLD Warren (1997) A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University

Press 13 HALDON John (1999) Warfare State and Society in the Byzantine World 565-1204 Londres University

College of London Press 14 MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit pp 907 a 914 15 PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-

1204 Leiden e Boston Brill

11

em paiacuteses onde os basilecircis natildeo exerceram qualquer tipo de poder poliacutetico ou militar direto em

Franccedila na Alemanha no Reino Unido e claro em Harvard nos Estados Unidos onde existe

a maior coleccedilatildeo de fontes bizantinas a Research Library and Collection in Byzantine Studies

em Dumbarton Oaks (um trustee da melhor universidade do mundo) O trabalho que se

segue no qual pusemos o nosso maior empenho demonstra a atualidade de Bizacircncio e a

necessidade de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre este tema de grande relevacircncia histoacuterica para

compreendermos melhor o presente em que vivemos e entendermos mais em profundidade a

Europa de hoje Os historiadores portugueses natildeo devem furtar-se agrave participaccedilatildeo neste debate

12

Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o

exeacutercito bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X

O primeiro capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo versa a guerra e a sua relaccedilatildeo com a sociedade e

o Estado bizantinos antes e durante o tempo da escrita do Taktikaacute nos primeiros anos do

seacuteculo X Este capiacutetulo estaacute dividido em trecircs subcapiacutetulos principais que focam

respetivamente i) a geografia poliacutetica e militar do impeacuterio nos primeiros anos da dinastia

Macedoacutenica ii) o panorama do pensamento estrateacutegico do impeacuterio sedeado em

Constantinopla neste periacuteodo bem como as formas de fazer a guerra em Bizacircncio iii) os

apparati militares bizantinos que se encontravam ao dispor de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Neste

uacuteltimo subcapiacutetulo daremos especial relevacircncia aos themaacuteta pois eacute aos generais destes

exeacutercitos que Leatildeo VI dedica a sua obra Apesar de o Taktikaacute natildeo se dirigir por exemplo aos

taacutegmata (plural de taacutegma laquoregimentoraquo) que compunham a guarda imperial e eram a coluna

vertebral dos exeacutercitos de campanha coevos atribuiremos tambeacutem algum espaccedilo a tais

contingentes bem como a outras componentes das forccedilas armadas bizantinas caso dos

mercenaacuterios e da marinha de guerra

11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando

da ascensatildeo da dinastia macedoacutenica

A epopeia milenar bizantina estaacute repleta de acontecimentos militares e constroacutei-se

sobre um impeacuterio em permanente estado de guerra maioritariamente defensiva Esta

caracteriacutestica torna-se ainda mais nefasta quando nos apercebemos de que os territoacuterios sob

soberania bizantina16 estavam dispersos por terras distantes separadas por mares A

insuficiecircncia econoacutemica ou militar romanas para conseguir acorrer a cada regiatildeo da mesma

forma quando mais do que uma delas estava em perigo apresenta-se como uma agravante

daquela dificuldade Veja-se por exemplo o caso dos herdeiros do imperador Justiniano

(527-565) que apoacutes um grande nuacutemero de vitoacuterias espetaculares deste no Norte de Aacutefrica e

em Itaacutelia se viram perante um enorme conjunto de invasotildees e de guerras por todo o territoacuterio

imperial17 as quais soacute a muito custo conseguiram parar ou retardar

A situaccedilatildeo que Bizacircncio vivia na altura da ascensatildeo dos primeiros Macedoacutenicos era

pouco diferente daquela que Justiniano tivera de enfrentar depois da conquista final da Itaacutelia

16 Quer sob controlo direto quer sob o domiacutenio de um vassalo de Bizacircncio 17 A Peacutersia a Oriente os Lombardos em Itaacutelia tribos mouriscas no Norte de Aacutefrica e os sempre permanentes

raides dos ldquoPovos das Estepesrdquo nos Balcatildes

13

por Narseacutes apoacutes a batalha de Mons Lactarius em 553554 Quanto muito tinham mudado os

protagonistas (ou os antagonistas neste caso) em cada uma das frentes o Norte de Aacutefrica e o

Sul da Peniacutensula Ibeacuterica estavam perdidos como principal inimigo no lugar dos Sassacircnidas

erguiam-se os califados e os emirados muccedilulmanos na Siacuteria na Ciliacutecia e no Norte de Aacutefrica

em Itaacutelia para aleacutem dos principados lombardos no Sul e dos Francos no norte os Aacuterabes

faziam sentir a sua presenccedila apoacutes a invasatildeo da Siciacutelia em 827 os Buacutelgaros mantinham-se

como o principal rival bizantino nos Balcatildes e a situaccedilatildeo mariacutetima mostrava-se pouco

favoraacutevel com a Siciacutelia a ser invadida pelos Aglaacutebidas (uma dinastia muccedilulmana do Norte de

Aacutefrica) Creta em matildeos de corsaacuterios sarracenos a ilha de Chipre a manter o status quo vigente

desde o tratado entre Justiniano II (685-695705-711) e al-Malik (685-705) em 688 e a

supremacia naval entregue nas matildeos dos emirados de Tarso e dos Tuluacutenidas do Egito e

(assim) indiretamente dos Abaacutessidas Tal era o ponto geral da situaccedilatildeo aquando da ascensatildeo

da dinastia macedoacutenica

Olhemos agora mais especificamente para cada regiatildeo Comecemos por aquela que eacute a

frente mais simboacutelica do periacuteodo-meacutedio bizantino a Aacutesia Menor Nos finais do reinado de

Miguel III (842-867) a guerra neste territoacuterio tinha comeccedilado a abrandar apoacutes duas

importantes batalhas em Marj al-Usquf e em Lalacatildeo ambas em 863 das quais resultou o

enfraquecimento do poderio terrestre dos emirados de Tarso e de Melitene Nesta regiatildeo

mantinha-se o perigo que representava o ldquoEstadordquo Pauliciano sedeado em torno de Tephrike

(atual Divriği na Turquia) que continuava a enviar expediccedilotildees de saque para o interior da

Anatoacutelia No entanto os raides muccedilulmanos de maiores dimensotildees tinham terminado e a

vantagem comeccedilava a tender cada vez mais para os Bizantinos ao menos no virar do seacuteculo

A guerra que se praticava naquela regiatildeo era tipicamente perniciosa para as

populaccedilotildees locais em especial para aquelas que habitavam junto agraves cordilheiras do Tauro e do

Antitauro A modalidade beacutelica aiacute praticada com semelhanccedilas ao que noacutes chamamos hoje de

ldquoguerrilhardquo assentava em escaramuccedilas e emboscadas e muitas vezes implicava que o inimigo

invadisse o territoacuterio imperial e saqueasse escravizasse e destruiacutesse com impunidade O

recurso de Bizacircncio a este tipo de guerra naquela aacuterea durante quase dois seacuteculos provocou

mudanccedilas de espectro demograacutefico como a criaccedilatildeo de uma terra-de-ningueacutem no limes

bizantino-aacuterabe e a reduccedilatildeo do nuacutemero de grandes cidades18 que foram substituiacutedas por

centros populacionais mais seguros bem fortificados e localizados em zonas de difiacutecil acesso

18 Estas passaram a existir apenas como centros administrativos ou refuacutegio ocasional para as populaccedilotildees

circundantes em caso de ameaccedila Vide HALDON John e KENNEDY Hugh (1980) The Arab-Byzantine

14

Tambeacutem a economia anatoacutelica (e por consequecircncia bizantina) foi viacutetima da estrateacutegia

militar romana tendo sofrido alteraccedilotildees Comeccedilou-se a verificar uma centralizaccedilatildeo da

agricultura anatoacutelica nas zonas costeiras da peniacutensula pois possuiacuteam terrenos mais feacuterteis e

estavam protegidas pelo terreno montanhoso que separava aquelas aacutereas do planalto anatoacutelico

e pela frota do Kibirrhaiotai Por sua vez os principais recursos econoacutemicos do planalto

anatoacutelico passam a ser produzidos a partir da pecuaacuteria visto que esta era muito mais rentaacutevel

no terreno rochoso e no clima frio da regiatildeo em muito semelhante ao da estepe ateacute porque se

tratava de uma fonte de rendimento muito mais faacutecil de proteger ou de deslocar

comparativamente agrave agricultura estaacutetica e muito vulneraacutevel perante as depredaccedilotildees aacuterabes

Nos Balcatildes o impasse permanecia entre Bizacircncio e a Bulgaacuteria a conversatildeo deste

uacuteltimo povo ao cristianismo em 864 afetou profundamente a relaccedilatildeo entre os ditos reinos

mudanccedila esta refletida em diversos acordos comerciais firmados A ascensatildeo de um novo

czar Simeatildeo (893-927) iria contribuir para o reforccedilo da cristianizaccedilatildeo do Estado buacutelgaro

mas se os Bizantinos pensavam que isso era sinoacutenimo de paz rapidamente viram as suas

ideias viradas do avesso quando o primeiro conflito entre os dois Estados desde a conversatildeo

dos Buacutelgaros comeccedilou a tomar forma Em 894 irrompe a guerra entre Preslav e

Constantinopla talvez catalisada pelo czar Simeatildeo Este confronto teraacute um teor diferente dos

anteriores um seacuteculo antes aquando da batalha de Priska os Buacutelgaros eram pagatildeos mas

agora eram cristatildeos e o basileuacutes Leatildeo VI (886-912) natildeo demonstrava (ou natildeo aparentava

demonstrar) qualquer inclinaccedilatildeo para travar um combate contra um reino cristatildeo ortodoxo19

tal como declara no seu tratado militar20 como veremos mais adiante

Em Itaacutelia os Bizantinos veem-se novamente frente-a-frente com os Aacuterabes apoacutes a

invasatildeo aglaacutebida da Siciacutelia em 827 Os confrontos com os muccedilulmanos alcanccedilariam mais

tarde a Calaacutebria e a Apuacutelia onde Bizacircncio combatia tanto pelas armas como pela diplomacia

a fim de submeter os principados lombardos agrave soberania bizantina quer de forma direta quer

por vassalagem A norte Bizacircncio mantinha relaccedilotildees cordiais com os Francos o que

possibilitou uma alianccedila contra os Sarracenos de Bari e permitiu cercar a cidade em 869 jaacute no

reinado de Basiacutelio I (867-886) Apesar de desacordos entre as duas partes e do abandono do

cerco pelas forccedilas bizantinas Bari caiu para os Francos em 871 tendo os habitantes entregado

a cidade anos depois a Constantinopla Esta urbe vai-se mostrar fundamental para alcanccedilar

Frontier in the Eighth and Ninth Centuries Military Organization and Society in the Borderlands Zbornik

Radova Visantoloskog InstitutaI (19) pp 92-94 19 Vide KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Handsrsquo A Note on Byzantine

Foreign Policy (886-912) Traditio 23 p 40 20 Vide Anexo IX b)

15

os dois principais objetivos estrateacutegicos na regiatildeo a expulsatildeo da ameaccedila aacuterabe e a subjugaccedilatildeo

das cidades lombardas agrave soberania romana duas metas para as quais Basiacutelio I e Leatildeo VI natildeo

vatildeo despender esforccedilos de forma a garantir a supremacia bizantina no sul de Itaacutelia ainda que

para isso tenham que sacrificar a Siciacutelia mesmo que acidentalmente como no caso de

Basiacutelio I

Por fim a situaccedilatildeo mostrava-se ingrata para os Bizantinos na guerra mariacutetima as

grandes ilhas do Mediterracircneo Oriental e Central estavam em matildeos muccedilulmanas (Creta) ou

em vias de ser conquistadas (Siciacutelia) Por outro lado o poder mariacutetimo dos emirados

cilicianos e do Califado mantinha-se superior agrave forccedila naval bizantina com ataques frequentes

agraves ilhas do Mar Egeu agrave costa anatoacutelica e agrave Greacutecia Soacute na costa italiana eacute que Bizacircncio parecia

manter a supremacia conseguindo inverter com certa facilidade os reveses naquelas aacuteguas

Na passagem do seacuteculo IX para o X eacute esta a situaccedilatildeo de Bizacircncio Os primeiros

imperadores macedoacutenicos Basiacutelio I e Leatildeo VI agrave semelhanccedila dos seus antecessores veem-se

confrontados com um conjunto de antagonismos por todo o espaccedilo imperial Pressionados

pela necessidade de legitimar a nova dinastia os basileicircs em especial Basiacutelio I vatildeo tentar

inverter a situaccedilatildeo recorrendo agrave revisatildeo da estrateacutegia militar bizantina e agrave diplomacia

12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial

Face ao tipo de adversidades enunciadas anteriormente o Impeacuterio Bizantino eacute

obrigado a proceder a reformas na sua maacutequina de guerra para conseguir responder com

sucesso agraves agressotildees estrangeiras ou intestinas que emergem no seu territoacuterio A maior parte

destas reformas como veremos adiante teve como laboratoacuterio de ensaio a peniacutensula da

Anatoacutelia onde os Romanos enfrentavam aqueles que sem grande margem para duacutevidas eram

os seus arqui-inimigos os califados aacuterabes de Damasco e de Bagdade

Este tipo de evoluccedilatildeo no entanto natildeo se prende apenas com a guerra no sentido fiacutesico

pois o pensamento estrateacutegico bizantino vai sofrer algumas alteraccedilotildees a partir do principado

de Heraacuteclio (610-641) Com efeito Bizacircncio ao tomar uma atitude completamente defensiva

comeccedila a ver-se obrigada a tomar decisotildees bastante difiacuteceis em relaccedilatildeo a alguns dos seus

territoacuterios para garantir a proteccedilatildeo de outros com maior interesse estrateacutegico Em casos mais

graves e alarmantes estas opccedilotildees tornavam-se de tal modo draacutesticas que os basilecircis optavam

por abandonar certas regiotildees para fortalecer outras Exemplo disto foi a ordem de retirada

dada por Heraacuteclio agraves tropas bizantinas da Siacuteria-Palestina apoacutes a derrota face aos Aacuterabes na

batalha de Yarmuk em 636 recuaram para a Mesopotacircmia e para a Anatoacutelia de forma a

garantir a sobrevivecircncia do que restava dos exeacutercitos moacuteveis do Oriente e da Armeacutenia bem

16

como das forccedilas auxiliares romanas naquela regiatildeo (tropas armeacutenias e gassacircnidas

principalmente) e para criar uma nova barreira nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro21

Por outro lado como eacute verificaacutevel em alguns tratados militares bizantinos como o

Taktikaacute a palavra de ordem era evitar a todo o custo a batalha campal22 jaacute que esta tinha na

maior parte dos casos um resultado incerto e acarretava grandes baixas humanas muitas

vezes ateacute para o vencedor23 Portanto Bizacircncio e em certa medida os seus inimigos em

especial os Aacuterabes preferiam combater a ldquoguerra pequenardquo tipicamente de fronteira com

recurso a ardis a espionagem a um bom estudo do terreno e muitas vezes a poliacuteticas de

terra-queimada24 Poreacutem isto natildeo implicava a inexistecircncia de batalhas campais que se

continuaram a travar durante o periacuteodo meacutedio bizantino e que na maior parte dos casos

contribuiacuteam para a alteraccedilatildeo do status quo entre Bizacircncio e o seu adversaacuterio na regiatildeo25

A guerra de fronteira no entanto natildeo era o uacutenico pilar da estrateacutegia defensiva

bizantina existindo mais dois que contribuiacuteam para o bom funcionamento da primeira a

diplomacia e a espionagem A primeira era porventura o maior trunfo do Impeacuterio Romano

do Oriente que tirava partido do seu elevado nuacutemero de diplomatas experientes para

neutralizar alguns inimigos por meio de subornos ou de tributos traziam-se novos aliados

para o lado de Constantinopla ou convenciam-se naccedilotildees estrangeiras a entrar em guerra e a

lidar com inimigos indesejaacuteveis para Bizacircncio (de forma a evitar que fossem os basilecircis a

combatecirc-los) Jaacute a espionagem era vital para o impeacuterio pois permitia reconhecer as

principais ameaccedilas agrave sua seguranccedila bem como os meios ao dispor e o alvo principal das suas

ambiccedilotildees a situaccedilatildeo interna dos vizinhos bizantinos e no caso da contraespionagem

confundir os serviccedilos de informaccedilatildeo inimigos atraveacutes da alimentaccedilatildeo de falsa informaccedilatildeo que

encaminhava o inimigo para emboscadas ou para zonas mais bem preparadas para reagir a

uma invasatildeo Ao referirmo-nos agrave estrateacutegia defensiva bizantina eacute imperativo que natildeo se

21 Vide KAEGI Walter E (2005) Byzantium and the Early Islamic Conquests Cambridge Cambridge

University Press pp 147-150 22 Contra os Aacuterabes esta praacutetica comeccedilou a aplicar-se relativamente cedo logo apoacutes a derrota bizantina frente a

forccedilas sarracenas na batalha de Yarmuk Vide HALDON John (2001) The Byzantine Wars Battles and

Campaigns of the Byzantine Era Gloucestershire Tempus Publishing Ltd pp 65 23 Para alguns autores como Walter Kaegi este pensamento estrateacutegico de evitar a batalha campal decisiva foi

uma das razotildees principais para a sobrevivecircncia milenar do Impeacuterio Bizantino Vide KAEGI Walter (1983)

Some Thoughts on Byzantine Military Strategy Brooklyn Massachussets Helenic College Press p 9 24 Existe um tratado bizantino especialmente dedicado a esta praacutetica marcial o Περiacute παραδρομής (Periacute

paradromeacutes) ou De velitatione bellica traduzido para inglecircs por George T Dennis vide DENNIS George

(1985) Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 25 Como por exemplo Yarmuk a grande batalha inaugural do periacuteodo intermeacutedio que a curto-meacutedio prazo vai

contribuir para a reduccedilatildeo do territoacuterio imperial para pouco menos de metade ou a batalha de Akroinos em 740

que em conjunto com a deposiccedilatildeo do Califado Omiacuteada vai pocircr fim no geral agraves tentativas aacuterabes de conquistar

Constantinopla e a Aacutesia Menor Para o primeiro caso vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp 56-57 e 66 Para o

segundo vide HALDON John (2016) The Empire that would not die ndash The Paradox of Eastern Roman

Survival 640-740 Cambridge e Londres Harvard University Press pp1 e 54

17

esqueccedila que a guerra perpeacutetua pela defesa de Bizacircncio se travava tanto no ldquocampo de

batalhardquo como agrave mesa de negociaccedilotildees

Outra modalidade beacutelica preferida dos Bizantinos era a poliorceacutetica com cercos

bastante recorrentes a fortalezas aacuterabes nas regiotildees limiacutetrofes dos seus territoacuterios ou a cidades

lombardas no Sul de Itaacutelia Aliaacutes nesta uacuteltima disciplina beacutelica Bizacircncio mantinha-se eficaz

como seguidora legiacutetima do Impeacuterio Romano Este legado era tanto taacutetico como teacutecnico

Bizacircncio recorria muitas vezes a armas de cerco pesadas26 que requeriam a presenccedila de

engenheiros e de teacutecnicos especializados no uso destas os techniacutetai por outro lado a guerra

psicoloacutegica era frequentemente praticada de forma a reduzir o nuacutemero de baixas e o custo de

asseacutedios a uma fortaleza A importacircncia da guerra psicoloacutegica eacute evidenciada tendo em conta

a preferecircncia dos generais bizantinos em recorrer mais vezes ao bloqueio do que ao assalto e

bombardeamento de muralhas para o qual eram empregues taacuteticas como a destruiccedilatildeo ou o

roubo de fontes de abastecimento27 que geralmente eram aproveitadas pelos sitiantes os

ataques noturnos o controlo de vias de comunicaccedilatildeo e obviamente a interdiccedilatildeo de entrada e

saiacuteda de indiviacuteduos do local sitiado a natildeo ser que fossem negociadores

A poliorketikaacute era tambeacutem uma importante disciplina da tratadiacutestica antiga e

bizantina estando presente na maior parte dos manuais de guerra (Stratēgikoacuten Taktikaacute28 e

Perigrave Strategiacuteas29) ou possuindo tratados que se dedicavam exclusivamente agrave guerra de cerco

nas suas duas vertentes defensiva e ofensiva Entre estes tratados figuram as duas obras de

Heacuteron de Bizacircncio o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia que se encontram

direcionados para uma boa aplicaccedilatildeo de maacutequinas de guerra e o De obsidione toleranda que

se dedica exclusivamente agrave componente defensiva da poliorketikaacute ou seja agrave defesa de uma

cidade ou de outro tipo de baluarte sitiado

Por fim eacute importante natildeo esquecer a relevante componente que a marinha de guerra

representava para o pensamento estrateacutegico bizantino Embora a guerra terrestre fosse

importante para a defesa da integridade territorial bizantina o controlo dos mares era vital

para o impeacuterio por diversas razotildees garantir a proteccedilatildeo do comeacutercio e das vilas e cidades

costeiras da pirataria sarracena e russa manter boas vias de comunicaccedilatildeo entre os territoacuterios

dispersos sob alccedilada bizantina e obviamente proteger a capital Constantinopla uma cidade

26 Tais como trabucos de traccedilatildeo (e mais tarde de contrapeso) escadas de assalto coberturas para equipas de

assalto como laisacirci vineae e tartarugas torres de assalto e ariacuteetes Cf NISA Joatildeo (2017) ldquoIII Parte ndash A

Poliorceacutetica e o Poder Naval Bizantinosrdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) (2017) Histoacuteria de Roma

Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 434 e 438 27 P ex Destruiccedilatildeo de aquedutos e colheitas roubo de cabeccedilas de gado Vide Idem Ibidem pp 436-437 28 Vide Anexo IX a) 29 A traduccedilatildeo que vamos usar ao longo desta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Perigrave Strategiacuteas Texto Traduccedilatildeo

e Comentaacuterio DENNIS G T (1986) ndash Op cit pp 1-136

18

que era impossiacutevel de conquistar sem o apoio de um forte braccedilo naval De forma a tentar

manter (ou recuperar) o seu estatuto de talassocracia30 Bizacircncio via-se obrigada a apostar

fortemente em reformas na marinha e na conquista (ou manutenccedilatildeo) de pontos estrateacutegicos no

Mar Mediterracircneo casos das ilhas de Creta de Chipre e como eacute oacutebvio da Siciacutelia

Durante os seacuteculos IX e X a naumachikaacute a disciplina da tratadiacutestica bizantina

direcionada para a guerra naval recebeu algum relevo com a escrita e publicaccedilatildeo de tratados

que pela primeira vez em muito tempo se debruccedilaram sobre esta modalidade e a forma como

esta deveria ser feita Entre as obras que abordam estas temaacuteticas encontramos a Constitutio

XIX do Taktikaacute de Leatildeo VI e o tratado Naumachiacuteai31 atribuiacutedo a Siriano Esta tendecircncia

verificada no virar de mileacutenio opotildee-se agrave da ldquoPrimeira Idade de Ourordquo da tratadiacutestica bizantina

(seacutec V-VI) onde a guerra no mar natildeo estaacute presente veja-se o Strategikoacuten que refere apenas

aspetos de confrontos em contextos fluviais Este facto pode ser facilmente explicado na

nossa opiniatildeo pela reduzida dimensatildeo que a marinha e o mar ocupavam no horizonte

estrateacutegico de Constantinopla entre a laquoReconquista Justinianaraquo (533-554) e a expansatildeo aacuterabe

eacutepoca em que possuiria uma frota restritamente utilizada e condicionada para garantir a

proteccedilatildeo do comeacutercio e vocacionada para o apoio logiacutestico aos exeacutercitos romanos em

especial em teatros fluviais como a fronteira do Danuacutebio tendo o droacutemon a embarcaccedilatildeo por

excelecircncia bizantina sido afetada por estes condicionalismos perdeu tonelagem e tamanho e

as tripulaccedilotildees tornaram-se mais reduzidas32

Concluiacuteda esta digressatildeo pelas bases da estrateacutegia defensiva bizantina e pelas

tipologias mais favorecidas de combate podemos entatildeo analisar os apparati militares de

Bizacircncio durante a eacutepoca-meacutedia bizantina em especial durante os primeiros Macedoacutenicos

13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados

dos primeiros basileicircs macedoacutenicos

Falar do sistema militar bizantino eacute bastante delicado e requer um certo cuidado Isto

porque dissecar o exeacutercito bizantino implica olhar para o funcionamento do Estado bizantino

30 A necessidade de Bizacircncio ser uma talassocracia pelas razotildees acimas referidas natildeo deixava de ser um pouco

paradoxal pela conceccedilatildeo tardo-romana de mar considerado um elemento peacuterfido e perigoso Por outras

palavras a necessidade bizantina de controlar o mar natildeo significava que estes nutrissem grande afeiccedilatildeo por ele

um sentimento baseado em vaacuterios fatores de cariz religioso e social Vide COSENTINO Salvatore (2004) III ndash

La flota bizantina e lrsquoIslam aspetti di storia istituzionale e sociale In CARILE Antonio e COSENTINO

Salvatore (2004) Storia della Marineria Bizantina Bolonha Lo Scarabeo pp 272 e 273 31 A versatildeo usada nesta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Naumachiai Sirianoi Magistroi Texto e traduccedilatildeo

PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-

1204 Leiden e Boston Brill pp 455-482 32 Vide COSENTINO Salvatore (2008) Constans II and the Byzantine Navy Byzantinische Zeitschrift 100 (2)

pp 581-583

19

para a sua componente fiscal e para o teacutenue balanccedilo de poderes entre a administraccedilatildeo civil e a

aristocracia militar que sobretudo apoacutes o reinado de Constantino VII (913-959) comeccedilaram

a travar um perigoso braccedilo-de-ferro pela supremacia na laquorainha das cidadesraquo

Sendo assim quais eram os principais braccedilos armados de Bizacircncio aquando da

ascensatildeo de Leatildeo VI Na nossa opiniatildeo Bizacircncio possuiria quatro importantes componentes

militares i) os themaacuteta e as kleisocircurai circunscriccedilotildees territoriais que combinavam poder

poliacutetico e militar nas quais o Impeacuterio Bizantino se encontrava dividido ii) os taacutegmata a

guarda de elite dos basileicircs e a coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha de Bizacircncio iii) a

marinha bizantina e as tropas mariacutetimas que disputavam a supremacia naval com o poderio

aacuterabe iv) os ocasionais mas sempre presentes bandos mercenaacuterios que integravam os

exeacutercitos de campanha imperiais Satildeo estes apparati que servem Leatildeo VI em vaacuterios pontos do

impeacuterio enquanto o Saacutebio (segundo se atribui) redige o seu tratado ou confronta o

patriarcado33 Examinemos agora cada uma daquelas componentes

Comecemos pelos themaacuteta Muito se debateu acerca destes corpos militares ao longo

dos anos a sua criaccedilatildeo organizaccedilatildeo como foram distribuiacutedas as suas terras o que eram

quem eram os soldados que eram recrutados em cada um entre outras questotildees Cremos que

as definiccedilotildees mais concretas que podemos dar a esta palavra satildeo as seguintes (a) eram

distritos provinciais que conjugavam de forma equitativa os poderes militares e poliacuteticos em

torno de um oficial o strategoacutes (b) eram os exeacutercitos dessas mesmas regiotildees Na nossa

opiniatildeo as principais caracteriacutesticas dos themaacuteta satildeo o facto de providenciarem uma forccedila de

defesa raacutepida contra raides inimigos a capacidade dos soldados que os integravam de

conseguirem manter-se de forma autoacutenoma na maior parte dos casos poupando ao Estado

alguma despesa na manutenccedilatildeo dos exeacutercitos e a combinaccedilatildeo do poder civil e militar sob o

strategoacutes (poder militar) e o protonotaacuterios (poder civil e fiscal) o que permitia um acesso

mais faacutecil da parte da componente militar dos themaacuteta aos recursos humanos e materiais da

regiatildeo

Em relaccedilatildeo agrave etimologia da palavra ateacute haacute pouco pensou-se que a origem da palavra

theacutema tal como eacute usada neste caso provinha do grego theacutema (corpo armado) ou do turco

toumen (divisatildeo de dez mil homens) natildeo retirando creacutedito a estas definiccedilotildees acredita-se que

uma outra possiacutevel palavra original para theacutema eacute o verbo τίθημι (tiacutetemi que significa colocar

depositar estabelecer ou atribuir) o que faz todo o sentido se estes foram estabelecidos

33 Aqui referimo-nos ao duro conflito entre Leatildeo VI e o patriarca Nicolau em torno do 4ordm casamento do basileuacutes

e portanto da legitimaccedilatildeo do seu filho (o futuro Constantino VII) com a 4ordf esposa Zoeacute Carbonopsina Cf infra

22

20

durante as reformas fiscais de Niceacuteforo I uma vez que elas ldquodepositaramrdquo soldados da Aacutesia

Menor nos receacutem-conquistados territoacuterios dos Balcatildes tal como veremos adiante34

As origens apresentam-se mais discutiacuteveis tendo ao longo da segunda metade do

seacuteculo XX surgido duas correntes para o aparecimento dos themaacuteta a primeira que podemos

apelidar de laquoimplementacionistaraquo foi sugerida por Ostrogorsky e defendia que o laquosistema

temaacuteticoraquo tinha surgido durante ou imediatamente apoacutes a uacuteltima guerra bizantino-persa (602-

628) A sua criaccedilatildeo teria sido uma reforma deliberada de Heraacuteclio e teria como objetivo obter

uma forma de recrutar e de abastecer homens para os exeacutercitos de campanha romanos durante

aquele conflito e mais tarde durante os primeiros confrontos contra os Aacuterabes35 A base desta

corrente teoacuterica era a distribuiccedilatildeo de terras e propriedades aos soldados do impeacuterio em troca

do seu serviccedilo militar de onde retiravam o rendimento necessaacuterio para as suas armas e

mantimentos (a isto acrescentamos a importante componente psicoloacutegica pois incentivava-se

o proprietaacuterio o militar portanto a combater qualquer ameaccedila agrave sua propriedade)36 Por outro

lado e colocando-se contra esta teoria de Ostrogorsky encontramos Agostino Pertusi e

Johanes Karayannopoulos que apresentam teorias a que podemos chamar de laquogradualistasraquo

Pertusi contradizendo o historiador jugoslavo defendeu que o surgimento dos themaacuteta se

prende com uma evoluccedilatildeo do sistema administrativo romano que foi moldada pelas vaacuterias

pressotildees que o impeacuterio sofreu entre os seacuteculos VII e X por sua vez Karayannopoulos

argumentou que o laquosistema temaacuteticoraquo era o resultado da evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees militares

tardo-romanas37 desde o seacuteculo VI ateacute ao seacuteculo X38

A discussatildeo passou a gerar-se em torno de um conjunto cada vez maior de

bizantinistas que tomavam o partido de uma das duas correntes teoacutericas alguns como Warren

Treadgold Martha Gregoriou-Iounnidou e Michael Hendy (este uacuteltimo com ideias proacuteprias)

tomavam o partido da teoria claacutessica de Ostrogorsky na laquofaccedilatildeo gradualistaraquo alinharam nomes

como John Haldon Walter Kaegi Heacutelegravene Ahrweiler Nicolas Oikonomiacutedes e Paul Lemerle

34Para as primeiras definiccedilotildees vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia (2017) ldquoI Parte ndash Histoacuteria Concisa do Impeacuterio

Bizantino (das Origens agrave Queda de Constantinopla)rdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) Histoacuteria de Roma

Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra p 53 Para a

segunda HALDON John (2016) A context for two ldquoevil deedsrdquo Nikephoros I and the origins of the themata In

DELOUIS Olivier MEacuteTIVIER Sophie e PAGEgraveS Paule (ed) (2016) Le Saint Le Moine et le Paysan

Meacutelanges drsquohistoire byzantine offerts agrave Michel Kaplan Paris Publications de la Sorbonne p 259 35 Vide HALDON John (1993) Military Service Lands and the Status of Soldiers Current Problems and

Interpretations In Dumbarton Oaks Papers vol 23 p4 36 Vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit pp 53-54 37 Referimo-nos aos exeacutercitos moacuteveis aos quais pertenciam os soldados que chamamos de comitatenses e aos

limitanei que guarneciam as regiotildees fronteiriccedilas 38 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit pp 4-5

21

entre outros Mais recentemente apoacutes vaacuterios anos de discussatildeo a corrente teoacuterica que tem

ganho mais importacircncia eacute a laquogradualistaraquo

Apesar da existecircncia de um enorme conjunto de teses parece-nos pertinente referir a

teoria que John Haldon apresentou recentemente O artigo onde ela se encontra assenta no

estudo das vexilationes39 de Niceacuteforo I e Haldon data os themaacuteta para o reinado deste

basileuacutes De acordo com o autor as reformas que implementaram os themaacuteta e que tinham

um cariz mais intrinsecamente fiscal do que militar foram a transferecircncia de soldados da

Aacutesia Menor para os territoacuterios recentemente conquistados aos Eslavos nos Balcatildes com a

obrigaccedilatildeo de venda das suas propriedades40 e posterior compra ou oferta (pelo Estado) de

novas terras a suacutebita apariccedilatildeo do cargo de protonotaacuterios nos iniacutecios do seacuteculo IX

(paralelamente agraves primeiras menccedilotildees dos themaacuteta em fontes) e a instituiccedilatildeo de uma doaccedilatildeo

comunitaacuteria para o pagamento de impostos e de equipamento dos soldados mais pobres41 o

que contribuiria para alicerccedilar as ligaccedilotildees entre os soldados e as comunidades onde eles

estavam inseridos Estas reformas teratildeo alastrado aos comandos militares42 da Aacutesia Menor

onde os contributos comunitaacuterios para os soldados mais pobres (que no entanto natildeo parece

que se tenham mantido por muito tempo) e os protonotaacuterios melhoraram a eficiecircncia dos

sistemas de manutenccedilatildeo e de abastecimento dos exeacutercitos provinciais assim como as ligaccedilotildees

entre o strategoacutes e o poder civil De acordo com Haldon os themaacuteta tiveram a sua origem por

essa altura comeccedilando a crescer em nuacutemero a partir daiacute (ou pela conquista de novos

territoacuterios ou mais provavelmente pela divisatildeo do territoacuterio dos themaacuteta jaacute existentes para

melhor consolidar a defesa do impeacuterio) sendo certo que pela altura do reinado de Leatildeo VI

existiriam mais de vinte distritos administrativo-militares deste tipo43

O debate entre as duas correntes teoacutericas sobre a origem dos themaacuteta tinha poreacutem

outro core para aleacutem deste a forma como os soldados eram recrutados bem como a relaccedilatildeo

destes com os proacuteprios themaacuteta44 Este uacuteltimo toacutepico interessa-nos muito porque envolve a

questatildeo das terras militares ou laquoestratioacuteticasraquo (as stratiotikagrave kteacutemata) O nome destas terras eacute

39 Ou kakoacuteseis (em portuguecircs ldquomaldadesrdquo) configuram um conjunto de reformas fiscais implementadas por

Niceacuteforo I que o clero bizantino viu com maus olhos devido aos alegadamente pesados impostos que o

basileuacutes lhes impocircs Destas reformas as duas primeiras satildeo de extrema importacircncia para se apurar a origem dos

themaacuteta de acordo com John Haldon Vide HALDON J (2016) ndash Op cit p 249 40 Vide Anexo IX b) 41 O valor deste equipamento estaacute apontado como sendo 185 nomismata Vide Anexo IX c) 42 As proviacutencias onde habitavam de acordo com Leif Inge-Petersen denominavam-se ldquoterras de um strategoacutesrdquo

Vide PETERSEN Leif Inge (2013) Siege Warfare and Military Organization in the Successor States (400-800

AD) Boston Brill p 105 43 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 91 Para uma possiacutevel lista dos themaacuteta no virar do seacuteculo IX para o X

vide HEATH Ian (1980) Armies of the Dark Ages 600-1066 ndash Organisation tactics dress and weapons 2ordf

Ediccedilatildeo Sussex Wargames Research Group Publication p7 44 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit p 7

22

um pouco traiccediloeiro porque a posse dita de laquoterras militaresraquo natildeo eacute implicitamente indicadora

da possessatildeo de terrenos pelos soldados mas sim da possessatildeo de strateiacutea (isto eacute da

implicaccedilatildeo de cumprir serviccedilo militar) pela propriedade ou pelo respetivo proprietaacuterio

Dentro dos recursos para recrutamento dos thematikoiacute (os soldados destes exeacutercitos) a

strateiacutea era sem duacutevida o principal e ter-se-aacute mantido como tal ateacute ao seacuteculo XII Todavia foi

sofrendo alteraccedilotildees pois ateacute agraves reformas juriacutedicas de Constantino VII encontrava-se associada

ao indiviacuteduo e natildeo agrave propriedade algo que soacute seria oficializado pelas reformas jaacute referidas45

Assim de entre os thematikoiacute deduzimos que a maior parte dos soldados recrutados para

campanha ateacute ao reaparecimento em forccedila de mercenaacuterios nos meados do seacuteculo X46 eram

aqueles que estavam registados juntamente com a sua strateiacutea47 nos koacutedikes do logotheacutesion

militar de cada theacutema48

Existiriam ainda alguns soldados voluntaacuterios natildeo registados que fora a participaccedilatildeo

em campanhas tambeacutem podiam servir a tiacutetulo permanente como membros de guarniccedilotildees e

dos corpos de guarda juntamente com voluntaacuterios possuidores de strateiacutea Seria este conjunto

de homens que alguns anos apoacutes o desaparecimento do Saacutebio formaria os taacutegmata

provinciais49 corpos permanentes e muito melhor sustentados pelo Estado que se tornaram

um dos alicerces para a mudanccedila de interesses estrateacutegicos de Bizacircncio Esta viragem foi

concretizada a partir do reinado do co-imperador Romano I Lecapeno (920-944) e

caracterizou-se por uma postura cada vez mais ofensiva do impeacuterio e possibilitando a

chamada laquoReconquista Bizantinaraquo da segunda metade do seacuteculo X50

Por fim teccedilamos algumas consideraccedilotildees breves sobre a logiacutestica (abordaremos de

forma mais aprofundada alguns destes temas durante a anaacutelise do Taktikaacute) em especial sobre

o pagamento e abastecimento destes soldados Esta mateacuteria vai-nos obrigar a retomar ao

assunto das stratiotikagrave kteacutemata porque a partir da retirada de Heraacuteclio para Aacutesia Menor o

principal sustentador do soldado vai passar a ser o proacuteprio combatente Ainda hoje o

fenoacutemeno do crescimento da propriedade militar em Bizacircncio entre os seacuteculos VII e X

suscita alguma discussatildeo no seio dos bizantinistas Warren Treadgold considera que este

crescimento se deveu ao pagamento aos soldados apoacutes a grande desvalorizaccedilatildeo dos

45 Ateacute esta altura nas palavras do basileuacutes apesar do caraacuteter pessoal de strateiacutea as propriedades dos soldados

bizantinos eram inalienaacuteveis por tradiccedilatildeo e natildeo por coacutedigo legal Vide HALDON J ndash Op cit 2016 p 264 46 Vide NISA Joatildeo (2016) Arte Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de

Mestrado em Histoacuteria Militar apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra p 39 47 Que era hereditaacuteria 48 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p123 49 Que natildeo devem ser confundidos com os taacutegmata da capital dos quais falaremos mais adiante apesar de terem

funccedilotildees taacuteticas e benefiacutecios idecircnticos 50 Para um resumo destas reformas militares vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 38-39

23

numeraacuterios destes no reinado de Heraacuteclio em terras alegando o virtual desaparecimento da

maior parte da propriedade imperial entre os seacuteculos VII e X51

Por outro lado a visatildeo mais aceite presentemente eacute a de um conjunto de fatores como

um longo periacuteodo de casamentos entre as famiacutelias dos locais para onde os soldados dos

exeacutercitos moacuteveis tinham retirado bem como um processo de compra de propriedade efetuado

pelos soldados mais ricos52 um constante processo de recrutamento e substituiccedilatildeo dos

soldados dos antigos exeacutercitos provinciais por membros da populaccedilatildeo indiacutegena dos distritos

dos novos comandos militares poacutes-heraclianos53 Apoacutes esta apropriaccedilatildeo de terreno por

membros do exeacutercito o Estado rapidamente se comeccedilou a aperceber das vantagens do

processo particularmente a possibilidade de autossustentaccedilatildeo de um grande conjunto deles

Contudo efetuar uma generalizaccedilatildeo das condiccedilotildees econoacutemicas de todos os thematikoiacute eacute um

erro crasso existindo muitos soldados pobres que natildeo possuiacuteam meios para comprar o seu

equipamento montada e viacuteveres A responsabilidade de equipar estes soldados mais pobres

recaiu entatildeo sobre a sua famiacutelia nas comunidades em que se inseriam54 ou ateacute sobre os

stratioacutetai mais abastados dos themaacuteta caso estes natildeo quisessem participar ativamente em

alguma campanha algo aconselhado por Leatildeo VI55 no Taktikaacute56

De entre estas possibilidades a mais interessante parece-nos ser a uacuteltima porque

demonstra que a strateiacutea natildeo era apenas uma obrigaccedilatildeo militar para o serviccedilo efetivo mas

podia ser usada para apoio logiacutestico57 Assim os stratioacutetai mais ricos em vez de participarem

ativamente nas campanhas poderiam enviar no seu lugar um outro soldado equipado por eles

que natildeo possuiacutesse strateiacutea ou contribuir para o equipamento e provisotildees de um stratioacutetes

mais pobre Mais tarde a partir da legislaccedilatildeo oficial das terras militares por Constantino VII

passou a diferenciar-se o stratioacutetes ndash aquele que possuiacutea uma propriedade com strateiacutea58 ndash do

stratiouacutemenos o efetivo militar que era patrocinado por uma stratiotikagrave kteacutemata

A flexibilidade taacutetica dos themaacuteta bizantinos assentava tambeacutem nestas condiccedilotildees

sociais e econoacutemicas estando a tipologia do soldado condicionada pelos seus recursos

51 Vide TREADGOLD Warren (1995) Byzantium and Its Army Stanford Stanford University Press p 24 52 Cf MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit p 57 e tambeacutem HALDON J (2016) ndash Op cit p148 53 HALDON J (2016) ndash Op cit p148 54 Algo que como jaacute vimos teraacute sido instituiacutedo no principado de Niceacuteforo I 55 Apesar de o basileuacutes aconselhar ao strategoacutes que recrute preferencialmente para as campanhas os soldados

mais ricos e com maior capacidade de se equiparem e sustentarem autonomamente Vide Anexo VIII c) 56 Vide Anexo VIII d) 57 Praacutetica que se verificaria mais a partir dos meados do seacuteculo quando os basileicircs bizantinos comeccedilaram a

preferir que a strateiacutea fosse satisfeita atraveacutes de um pagamento que possibilitasse a contrataccedilatildeo de mercenaacuterios e

a compra de melhor equipamento para os exeacutercitos de campanha em vez da prestaccedilatildeo de um serviccedilo militar

ativo Vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 39 58 Ou strateiacutea parcial que eacute o resultado das divisotildees de ldquoterras estratioacuteticasrdquo apoacutes a morte do proprietaacuterio pelos

seus herdeiros ou em caso do cometimento de um crime pelo proprietaacuterio

24

financeiros Assim apesar de a cavalaria ligeira representar o principal modelo taacutetico em uso

ateacute ao seacuteculo X59 apenas os stratioacutetes com meios para angariar um ou dois cavalos o

equipamento e armamento baacutesico e ainda indiviacuteduos60 que conseguissem cuidar dos seus

terrenos durante campanha (caso os possuiacutessem claro) eacute que poderiam servir nessa funccedilatildeo61

Os stratioacutetai que natildeo detivessem os recursos necessaacuterios para tal serviriam como infantaria

que apesar de ainda natildeo possuir a importacircncia que viria a ter meio seacuteculo mais tarde

comeccedilou na altura de Leatildeo VI a ver-lhe imputada um papel cada vez mais destacado para

aleacutem das funccedilotildees defensivas no campo de batalha e em posiccedilotildees estrateacutegicas o regresso lento

mas seguro do treino da eficiecircncia e da disciplina apregoado tambeacutem no Taktikaacute vai permitir

que se comece a praticar neste periacuteodo um conjunto de taacuteticas combinadas com a cavalaria62

Taacuteticas essas que representaratildeo uma das especialidades dos exeacutercitos de Basiacutelio II (963-1025)

e dos seus co-imperadores Niceacuteforo II Focas (963-969) e Joatildeo I Zimisce (969-976) na

segunda metade do seacuteculo X e nos primeiros anos do seacuteculo seguinte

O perfil taacutetico dos thematikoiacute natildeo se adequava a campanhas ofensivas63 sendo usados

principalmente na defesa do territoacuterio imperial frente a incursotildees aacuterabes por meacutetodos tiacutepicos

de guerra de fronteira (emboscadas terra queimada ataques noturnos a acampamentos) e

numa ocasional batalha campal A preparaccedilatildeo destas campanhas defensivas durava algum

tempo pelo que a responsabilidade de ganhar tempo e vigiar o invasor estava nas matildeos de

outros distritos militares as kleisoucircrarchiai Estes distritos militares foram o resultado da

separaccedilatildeo de touacutermai dos themaacuteta fronteiriccedilos que se encontravam junto ao Tauro e ao

Antitauro Ao comandante destas circunscriccedilotildees o kleisouraacutercha era atribuiacutedo um enorme

grau de autonomia sendo responsaacutevel pela aplicaccedilatildeo dos meacutetodos enunciados no Perigrave

Paradromeacutes de forma a deter os raides muccedilulmanos mais pequenos antes que estes

penetrassem demasiado e a perseguir e atrasar os exeacutercitos sarracenos de maiores dimensotildees

ateacute agrave chegada de forccedilas bizantinas de maior envergadura Estas divisotildees geograacuteficas tinham

um estatuto volaacutetil acabando muitas delas a ser elevadas a theacutema64 sobretudo nos iniacutecios do

seacuteculo X onde as kleisoucircrarchiai foram promovidas aos laquothemaacuteta armeacuteniosraquo65 no seio do

59 Os exeacutercitos dos themaacuteta eram denominados de kaballarika themata por serem compostos maioritariamente

por cavalaria ligeira Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 97 60 Referimo-nos essencialmente a membros da famiacutelia ou outros servos 61 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 99 62 MCGEER Eric (1988) Infantry versus Cavalry The Byzantine Response In Revue des eacutetudes byzantines 46

p 145 63 Com a exclusatildeo de contra raides que muitas vezes eram realizados pelos themaacuteta na mesma altura em que os

Aacuterabes realizavam as suas accedilotildees de rapina 64 P ex Selecircucia e Charsianon durante o reinado de Romano I e 873 respetivamente HALDON J (2014) ndash

Op cit p 108 65 Idem Ibidem p 111

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conjunto de reformas que possibilitou a Bizacircncio passar agrave ofensiva No reinado de Leatildeo VI os

elementos militares bizantinos com melhores aptidotildees para realizar operaccedilotildees ofensivas e

combater em batalhas campais caso as houvesse eram os taacutegmata

Ateacute ao reinado de Constantino V (741-775) quem ocupava as funccedilotildees de exeacutercito

pessoal dos basileicircs e de guarniccedilatildeo de Constantinopla era o exeacutercito do Opsikiacuteon66 No

entanto por estas mesmas razotildees este comando militar exercia enorme poder sobre quem

governava a partir de Constantinopla Durante muito tempo os basileicircs viram-se obrigados a

tomar certas medidas para apaziguar este corpo militar por exemplo atraveacutes da persuasatildeo ou

da escolha de liacutederes leais ao basileuacutes para comandar esta divisatildeo do exeacutercito67 A revolta de

Artavasdo (koacutemes e kouropalaacutetēs68) em 741 foi a quinta revolta do Opsikiacuteon em meio seacuteculo

e apoacutes a supressatildeo desta no ano seguinte obrigou o basileuacutes Constantino V a tomar duas

medidas para suprimir o poder dos koacutemes daquela unidade militar i) divisatildeo do territoacuterio cujo

Opsikiacuteon era responsaacutevel por trecircs circunscriccedilotildees territoriais mais pequenas (a do Opsikiacuteon a

dos Optimates e a dos Bucelaacuterios)69 ii) criaccedilatildeo de um novo corpo de elite leal ao imperador

capaz de o proteger das insurreiccedilotildees dos exeacutercitos provinciais e de tomar parte em accedilotildees

ofensivas atraveacutes da (re)militarizaccedilatildeo dos obsoletos regimentos da guarda palatina O

resultado foram os taacutegmata que apesar de pouco diferentes em eficiecircncia e disciplina

relativamente aos restantes exeacutercitos provinciais bizantinos70 no tempo de Leatildeo VI jaacute

ocupavam a funccedilatildeo para o qual tinham sido criados

Durante o reinado de Leatildeo VI existiriam quatro taacutegmata de cavalaria o das Scholaiacute o

dos Excubitores o da Vigla (ou Arithmos) e o dos Hikanatocirci71 Para aleacutem dos regimentos a

cavalo existiriam ainda mais quatro os Optimates que serviam principalmente de apoio

logiacutestico aos restantes os Noumera e o laquodas Muralhasraquo que funcionavam como contingentes

de infantaria e a Hetaireia um regimento de soldados estrangeiros que soacute participava em

66 Vide HALDON John (1984) Byzantine Praetorians An Administrative Institutional and Social Survey of the

Opsikion and Tagmata c580-900 Bona Dr Rudolph Habelt p 196 67 Idem Ibidem 208 68 Vide entradas respetivas no Glossaacuterio Temaacutetico b) Tiacutetulos 69 Um processo que teraacute demorado ainda alguns anos e que provavelmente se viu apoiado por uma nova revolta

do Opsikiacuteon em 766 No final deste processo a proviacutencia do Opsikiacuteon estava dividida entre o Opsikiacuteon os

Bucelaacuterios em 766 e o Optimaacuteton formado em 773 Vide Idem Ibidem 209 70 Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 108 Bizacircncio por esta altura era protegida por exeacutercitos provinciais

sediados em regiotildees que tinham o mesmo nome que esses corpos militares (laquoterras de um strategoacutesraquo) pe

Anatolikoacuten Armenikoacuten etc Por sua vez o nome desses exeacutercitos provinha dos antigos exeacutercitos provinciais do

Impeacuterio Romano do Oriente que foram evacuados para a Aacutesia Menor apoacutes o desastre de Yarmuk Estas

organizaccedilotildees militares e as proviacutencias que habitavam foram os antecedentes do sistema dos themaacuteta 71 Este uacuteltimo com uma data de criaccedilatildeo mais recente que os restantes tendo sido formado durante o reinado de

Niceacuteforo I em preparaccedilatildeo da campanha que terminou com a batalha de Priska (811)

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operaccedilotildees militares se o basileuacutes estivesse presente72 Pelas funccedilotildees que os taacutegmata

ocupavam e como forma de manter a sua lealdade ao basileuacutes os soldados destes regimentos

eram os mais privilegiados do impeacuterio tendo em conta que recebiam do Estado a roga73

forragem raccedilotildees donativos o seu armamento (que no entanto continuava a pertencer a

Constantinopla e natildeo ao individuo) e a sua montada74 havia ainda o caso de muitos que

recebiam terras no termo do seu serviccedilo militar Para aleacutem disso tal como os thematikoiacute

estavam isentos de todos os impostos75 menos do demoacutesion (o imposto base) e do kapnikoacuten

(o imposto sobre as famiacutelias) Por fim faltaraacute referir que o comandante dos taacutegmata o

domestikoacutes acabaria por se tornar o comandante supremo dos exeacutercitos bizantinos Uma vez

que Leatildeo VI e o filho Constantino VII Porfirogeneta nunca comandaram pessoalmente

campanhas teratildeo sido muito possivelmente estes oficiais (escolhidos pessoalmente pelos

basileicircs) a comandarem as campanhas mais importantes deste periacuteodo76

Para aleacutem dos contingentes autoacutectones ao serviccedilo do impeacuterio Bizacircncio sempre contou

com o apoio de importantes componentes mercenaacuterias e auxiliares Durante o reinado de Leatildeo

VI temos informaccedilatildeo da presenccedila de soldados de vaacuterias nacionalidades os Khazars que

serviam na Hetaireia77 os Armeacutenios que tiveram sempre uma presenccedila quase permanente

como aliados e auxiliares de Bizacircncio e Russos que por exemplo participaram na campanha

falhada de reconquista de Creta empreendida por Leatildeo VI em 91178 No uacuteltimo quartel do

seacuteculo X estes laquosoldados de fortunaraquo tornar-se-iam um dos fatores marcantes para o sucesso

da laquoReconquista Bizantinaraquo especialmente a Guarda Varangiana de Basiacutelio II algo que se

espelha no facto de a strateiacutea comeccedilar a ser cumprida em numeraacuterio e natildeo em participaccedilatildeo

ativa inclusivamente para pagar a estes profissionais efetivos militares mais eficientes

Resta-nos dedicar algumas linhas agraves forccedilas navais bizantinas Como anteriormente

referido a embarcaccedilatildeo mais referida em Bizacircncio era o droacutemōn apesar disso jaacute durante o

reinado de Leatildeo VI este termo comeccedila a ter um valor mais generalista ou seja a referir-se a

todas as embarcaccedilotildees de guerra bizantinas79 No caso do Taktikaacute haacute menccedilatildeo a quatro tipos de

embarcaccedilotildees referidos nas listas de navios homens e apoio logiacutestico da expediccedilatildeo de

72 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 251 73 Salaacuterio mensal 74 Vide HALDON J (1984) ndash Op cit p 318 75 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p 260 76 Como as importantes expediccedilotildees militares em Itaacutelia e na Bulgaacuteria que ficaram sob o comando de Niceacuteforo

Focas o Velho 77 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 279 78 Vide Constantino VII basileuacutes The fitting out and the cost and the sum of the pay and of the force sent

against the impious Crete with the patrikios and logothetes tou dromou Himerios in the time of the Lord Leo

beloved of Christ Texto e Traduccedilatildeo PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 548 79 Vide PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 192

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Himeacuterio contra Creta em 911 Estes navios eram as chelandia os droacutemōnes os pamphylos e

as galea80 Os primeiros eram usados para o combate naval e o transporte de tropas enquanto

os uacuteltimos mais pequenos e ligeiros eram usados principalmente como batedores apesar de

possuiacuterem tambeacutem capacidades beacutelicas e de transporte81

Apesar da posse de um grande nuacutemero de embarcaccedilotildees o virar de seacuteculo revelar-se-ia

ingrato para as forccedilas navais bizantinas um facto evidenciado pelo aumento de forccedilas

adversaacuterias no Mar Mediterracircneo (onde se daacute o aparecimento de novas marinhas hostis no

Egipto e na Tuniacutesia) e no Mar Baacuteltico onde a ameaccedila russa desperta e as pretensotildees de

Simeatildeo obrigam ao reforccedilo da presenccedila bizantina Este conjunto de circunstacircncias forccedilou os

primeiros Macedoacutenicos a reformar o seu poder naval A primeira reforma efetuada durante o

reinado de Basiacutelio I segundo levam a crer as fontes82 foi a instituiccedilatildeo de um oficium sob o

droungaacuterios totilden ploiumlmon o oficial maacuteximo da frota imperial sedeada em Constantinopla

Este cargo reunia em si poderes militares e civis por um lado era o almirante da frota imperial

e assim o homem mais importante da marinha bizantina por outro era tambeacutem o que hoje

chamariacuteamos de laquoMinistro dos Assuntos do Marraquo83 As outras reformas foram a criaccedilatildeo de

mais dois themaacuteta navais o do Mar Egeu e o de Samos estes themaacuteta reforccedilaram o theacutema

mariacutetimo dos Kibirrhaiotai e tinham como objetivo aumentar o poder das frotas provinciais

que eram mantidas e tripuladas por estas circunscriccedilotildees territoriais

80 Vide Idem Ibidem pp 548-553 81 Idem Ibidem pp 190-192 82 Cf AHRWEILER Heacutelegravene (1966) Byzance et la Mer La Marine de guerre la politique et les institutions

maritimes de Byzance aux VIIe-XVe siegravecles Paris Presses Universitaries de France p 98 83 Vide Idem Ibidem p 98

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Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte

de Leatildeo VI (867-912)

laquoQuando Miguel se apercebeu de que Basiacutelio se opunha a ele planeou uma

monstruosa intriga contra ele esta foi a seguinte Ele arranjou algueacutem para arremessar uma

lanccedila como se visasse uma besta selvagem mas que na verdade visava Basiacutelio Isto veio ao

de cima porque o homem a quem isso tinha sido ordenado o confessou na hora da sua morte

Ele arremessou o dardo mas falhou miseravelmente o alvo e Basiacutelio foi salvo Quando foi

salvo ele decidiu-se a passar agrave accedilatildeo em vez de ser viacutetima dela Miguel foi morto no palaacutecio

de Satildeo Mamede no AM84 637685 agrave terceira hora da noiteraquo86

Este episoacutedio podia ter passado apenas por mais um entre muitos outros que marcaram

a intriga poliacutetica bizantina natildeo fora o caso de ter contribuiacutedo para depor toda uma dinastia

Quando Miguel III sucumbiu agraves matildeos do seu favorito Basiacutelio tambeacutem a linha amoriana se

finou e a famiacutelia macedoacutenica emergiu em seu lugar Tomada por muitos como a casa imperial

mais brilhante na histoacuteria de Bizacircncio87 pretendemos neste segundo capiacutetulo analisar os

primeiros anos desta linhagem Estabelecemos como espetro cronograacutefico o periacuteodo entre o

ano de 867 quando Basiacutelio I sobe ao poder e instaura a dinastia macedoacutenica e 912 o ano em

que o autor (atribuiacutedo) do Taktikaacute o basileuacutes Leatildeo VI abandona o mundo dos vivos Nesse

sentido decidimos dividir este capiacutetulo em dois subcapiacutetulos o primeiro estaacute direcionado

para o reinado de Basiacutelio I e para as medidas que tomou para legitimar a sua posiccedilatildeo muitas

delas centradas em torno de algumas bem-sucedidas campanhas militares o segundo iraacute

abordar o reinado de Leatildeo VI em especial os conflitos beacutelicos que pautaram o seu reinado e a

forma como o basileuacutes os enfrentou bem como alguns aspetos de cariz cultural e religioso

21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886)

O novo basileuacutes era um haacutebil jogador poliacutetico que ascendeu rapidamente por entre as

principais esferas de poder bizantinas apoacutes a sua chegada a Constantinopla Esta vertiginosa

ascensatildeo deveu-se agrave constituiccedilatildeo fiacutesica de Basiacutelio ao apadrinhamento do Macedoacutenico por

vaacuterias personalidades importantes da capital e no que toca por exemplo ao lsquoSynopsis

Historion de Joatildeo Skylitzes a certos auspiacutecios divinos88 A progressatildeo acabou por chamar a

84 Anno Mundi 85 867 dC 86 Vide Joatildeo Skylitzes lsquoSynopsis Historion Traduccedilatildeo WORTLEY John (2010) John Skylitzes A Synopsis of

Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press pp 114-115 87 MONTEIRO J G ndash Op cit p 74 88 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 121-123

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atenccedilatildeo do basileuacutes (aparentemente apoacutes uma demonstraccedilatildeo de forccedila durante um combate

com um buacutelgaro) que lhe outorgou vaacuterios tiacutetulos de relevo proacuteximos da autoridade imperial

Assim tornou-se membro da Hetaireia em 856857 prostrator e por fim parakoimṓmenos

em 864 apoacutes a queda em desgraccedila do seu antecessor Damiano por ofender o ceacutesar de entatildeo

(Bardas o tio de Miguel III)89 No ano seguinte casou com a amante de Miguel III Eudoacutexia

Ingerina com quem havia de gerar o seu secundogeacutenito o futuro Leatildeo VI em 86690

Foi durante o tempo em que exerceu estas funccedilotildees que as tensotildees entre o basileuacutes e o

seu tio atingiram o cliacutemax resultando no assassinato de Bardas em 867 pouco antes do

lanccedilamento de uma expediccedilatildeo para reconquistar a ilha de Creta Quem substituiu o ceacutesar foi

Basiacutelio que muito rapidamente viu a sua amistosa relaccedilatildeo com Miguel III deteriorar-se ateacute

culminar no assassinato do uacuteltimo dos Amorianos As razotildees disto ainda satildeo discutidas teraacute o

ato sido cometido em ldquoautodefesardquo como aponta Skylitzes com Basiacutelio a ver-se nas mesmas

circunstacircncias que o seu antecessor Bardas Ou teratildeo antes sido as ambiccedilotildees do co-imperador

a levar a melhor sobre a lealdade ao basileuacutes levando-o a cobiccedilar o trono

Independentemente das circunstacircncias e de acordo com o professor de Cardiff Shaun

Tougher laquoo assassinato era talvez inevitaacutevel de uma maneira ou de outraraquo91

O impeacuterio que Basiacutelio usurpou encontrava-se na nossa opiniatildeo relativamente bem

Apesar de ainda natildeo ser a superpotecircncia em que se iria tornar um seacuteculo depois foi

porventura entatildeo que se comeccedilaram a dar os primeiros passos nessa direccedilatildeo em grande parte

graccedilas agrave accedilatildeo da dinastia de Amoacuterio e dos seus associados Durante o reinado de Miguel III

em termos religiosos foi posto um ponto final na Questatildeo Iconoclasta que exerceu uma

grande pressatildeo sobre os oacutergatildeos de poder do Impeacuterio e gerou uma violenta clivagem na

estabilidade interna de Bizacircncio e da Igreja Ortodoxa Com o fim do Iconoclasmo

continuaram a existir diferenccedilas e divisotildees na Igreja mas estas jaacute natildeo se mostravam tatildeo

evidentes Apesar disso as clivagens mantinham-se e traduziam a rivalidade entre o poder

temporal e o espiritual forccedilas que em Bizacircncio se mostravam mescladas ou ateacute sinergeacuteticas

Assim foi tambeacutem com a deposiccedilatildeo do patriarca Inaacutecio que foi substituiacutedo pelo laico Foacutecio92

em 858 Inaacutecio havia sido deposto quando se comeccedilou a opor a vaacuterias decisotildees do ceacutesar

Bardas num processo que nunca seria aceite pelo papado e demais apoiantes do antigo

patriarca que se opuseram veementemente a Foacutecio durante o seu primeiro ldquomandatordquo

89 Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 90 Ainda hoje se discute se Leatildeo seraacute realmente filho de Basiacutelio ou se porventura seraacute antes filho de Miguel III

Para natildeo nos dispersarmos nesta questatildeo vide TOUGHER S (1997) ndash Op cit pp 42-67 91 Idem Ibidem p 30 92 Foacutecio foi tonsurado a 20 de dezembro e ascendeu ao patriarcado no dia de Natal Cf Idem Ibidem p 69

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Em termos militares Bizacircncio comeccedilava a entrar no seu apogeu pelo menos a

Oriente Na Aacutesia Menor apoacutes vaacuterios anos de conflito os Bizantinos tinham quebrado a

empunhadura da espada aacuterabe o exeacutercito do emirado de Melitene foi destroccedilado nas batalhas

de Marj al-Usquf e Lalacatildeo93 tendo com ele sido eliminados o emir Omar e o seu filho bem

como Karbeias o liacuteder da seita pauliciana que se tinha aliado aos Aacuterabes Graccedilas a estes

resultados os exeacutercitos romanos conseguiram invadir o emirado de Melitene e o ldquoEstadordquo

Pauliciano tendo sido no decurso desta expediccedilatildeo que tombou Ali o Armeacutenio emir de Tarso

Esta atitude ofensiva pouco tiacutepica da estrateacutegia bizantina natildeo teraacute rendido grandes ganhos

territoriais pois tinha como principal objetivo a recolha de prisioneiros e de botim bem como

o enfraquecimento dos poderes regionais muccedilulmanos da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia centrados

em torno dos al-thugur os emirados de Melitene e de Tarso No entanto pode servir como

exemplo para um comportamento mais audacioso de Bizacircncio que passava a levar com cada

vez mais frequecircncia a guerra ao territoacuterio dos seus inimigos

Os sucessos militares da Aacutesia Menor natildeo se repercutiam no entanto no Ocidente Em

827 forccedilas muccedilulmanas ao serviccedilo da dinastia aglaacutebida desembarcam na Siciacutelia a convite de

um oficial da marinha chamado Eufeacutemio Este foi o iniacutecio do moroso processo de conquista

da ilha estrategicamente mais importante do Mar Mediterracircneo pelo emirado da Ifriacutequia Em

setembro de 831 a cidade de Palermo capital bizantina da Siciacutelia caiu Dez anos depois os

muccedilulmanos jaacute eram senhores de um terccedilo do territoacuterio da ilha a parte ocidental com a

conquista das cidades de Platani Cantabellota Corleone e do porto de Trapaacuteni94 Entre 841 e

849 aproximam-se perigosamente dos centros fortificados da ilha com a conquista de

Messina (entre 842-843) de Moacutedica (845) e de Lentini (846) e com o extermiacutenio da

guarniccedilatildeo de Ragusa (848)95 A ameaccedila aglaacutebida tornou-se ainda mais perigosa com a queda

de Castrogiovanni (atual Enna) em 859 o que permitiu consolidar a conquista do interior da

ilha e almejar o controlo da costa oriental ainda em matildeos bizantinas96 As ambiccedilotildees

muccedilulmanas projetaram-se entatildeo para Taormina e Siracusa Miguel III ainda tentou reverter a

situaccedilatildeo mas a frota e o exeacutercito que enviou sob o comando de Constantino Contomita

foram derrotados por al-Abbas ibn al-Fadl97

Noutra frente no Sul de Itaacutelia os Sarracenos tambeacutem fizeram sentir a sua presenccedila

Em 835 a convite do ducado de Naacutepoles os primeiros soldados aacuterabes entraram em Itaacutelia para

93 Sobre esta batalha vide WORTLEY J ndash Op cit pp 100-101 94 Vide METCALFE Alex (2009) The Muslims of Medieval Italy Edinburgo Edinburgh University Press p9

e RAVEGNANI Giorgio (2004) I Bizantini in Italia Bolonha Il Mulino p149 95 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p 149 96 Vide METCALFE A ndash Op cit pp 14-15 97 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p149

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servir como auxiliares na luta contra o principado de Benevento98 Natildeo demorou ateacute

comeccedilarem a agir por vontade proacutepria em 838 saquearam Brindisi derrotaram um exeacutercito

enviado pelo priacutencipe Sicardo de Benevento e tomaram ainda Tarento uma das cidades mais

importantes da Apuacutelia onde formaram um emirato99 Em 840 uma frota aacuterabe derrota a

marinha veneziana e saqueia a costa do Adriaacutetico enquanto no ano seguinte Bari cai em

matildeos sarracenas tornando-se outro emirato O arrojo aacuterabe aliado agrave falta de acordo entre as

principais potecircncias de Itaacutelia (Lombardos Francos e Bizantinos) fecirc-los atacar Roma e

saquear as basiacutelicas de Satildeo Pedro e de Satildeo Paulo em 846100 Com o principado de Benevento

destroccedilado pela guerra civil e pelas depredaccedilotildees aacuterabes apenas os impeacuterios dos Francos e dos

Romanos poderiam fazer frente agraves incursotildees e conquistas muccedilulmanas no Sul de Itaacutelia mas a

resposta ainda demorou a vir Soacute vinte anos depois eacute que o rei Luiacutes II de Itaacutelia decidiu agir

pessoalmente comandando o seu exeacutercito contra a ameaccedila norte-africana natildeo logrando

contudo alcanccedilar vitoacuterias significativas Quando Basiacutelio I sobe ao trono encontra a Siciacutelia

presa por um fio e o Sul de Itaacutelia em anarquia dividido em confrontos entre os Aglaacutebidas do

Norte de Aacutefrica os priacutencipes lombardos locais e os caroliacutengios italianos de Luiacutes II

As primeiras poliacuteticas do novo basileuacutes tinham de ser direcionadas para legitimar a

sua dinastia e ele sabia bem o que fazer tendo em conta as circunstacircncias que o impeacuterio vivia

Em primeiro lugar comeccedilou por associar ao poder os seus filhos mais velhos Constantino

(um fruto do primeiro casamento) e Leatildeo Prometeu ainda o primogeacutenito em noivado agrave filha

do rei caroliacutengio de Itaacutelia Luiacutes II de forma a poder selar tambeacutem uma alianccedila com este De

seguida encerrou a questatildeo religiosa que dilacerava a igreja de Roma e o patriarcado de

Constantinopla ao depor Foacutecio e ao colocar Inaacutecio de novo no patriarcado101 enquanto

lanccedilava uma campanha de conversatildeo forccedilada dos Judeus102

O Macedoacutenico tambeacutem impocircs a legitimidade do seu trono pelas armas Abordemos

este assunto geograficamente O que faltava a Basiacutelio fazer a Oriente Com os emirados

orientais ainda debilitados restava a Basiacutelio um grande problema na regiatildeo o ldquoEstadordquo

Pauliciano Apoacutes a morte de Karbeias em 864 a naccedilatildeo desta heresia ficou aos cuidados de

Crisoacutequero o seu sobrinho e cunhado que recomeccedilou os saques na Anatoacutelia no ano da morte

de Bardas103 O novo liacuteder pauliciano mostrou-se um general capaz e os seus raides jaacute

98 Vide Idem Ibidem p 152 99 Vide METCALFE A ndash Op cit p17 100 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p153 101 Para uma histoacuteria breve do Cisma cf TOUGHER S ndash Op cit pp31 e 32 e TREADGOLD Warren (1997)

A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University Press pp 451-452 e 454-455 102 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 33 103 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 454

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atingiam as imediaccedilotildees de Niceia de Nicomeacutedia e de Eacutefeso104 aquando da entronizaccedilatildeo de

Basiacutelio I Foi contra esta seita que Basiacutelio virou a sua atenccedilatildeo a leste De acordo com Joatildeo

Skylitzes105 em 871 Basiacutelio comandou pessoalmente uma expediccedilatildeo contra Tephrike a

capital dos Paulicianos mas incapaz de a tomar voltou-se para as regiotildees envolventes

chegando a assediar (e ateacute pensou subjugar) Melitene Esta campanha apesar de natildeo ter posto

fim agrave ameaccedila hereacutetica teraacute resultado em muitos prisioneiros e despojos foi tal o seu sucesso

que se organizou numa marcha triunfal aquando do regresso a Constantinopla106

No ano seguinte Crisoacutequero voltou a atacar territoacuterio bizantino conseguindo atingir a

cidade de Ancyra (atual Ancara) Desta vez veio ao seu encontro o domestikoacutes de Basiacutelio

Cristoacutevatildeo que seguiu os preceitos da estrateacutegia bizantina e natildeo deu de imediato luta ao liacuteder

pauliciano preferindo segui-lo de longe limitando o raio de accedilatildeo dos saques inimigos

sempre que possiacutevel Quando Crisoacutequero decide voltar para leste Cristoacutevatildeo envia um

pequeno exeacutercito composto por membros dos themaacuteta de Charsianon e dos Armeniacuteacos (c

4000 a 5000 homens) liderado pelos respetivos strateacutegoicedil para o seguir de forma a perceber

o seu objetivo retirar para Tephrike ou atacar as terras bizantinas no limes Consoante a

resposta tambeacutem mudaria a atitude da forccedila laquotemaacuteticaraquo no primeiro caso natildeo pensaria mais

no assunto e voltaria para traacutes no uacuteltimo avisaria o domestikoacutes e aguardaria novas ordens

Em uacuteltima anaacutelise segundo Skylitzes e Haldon107 o objetivo de Crisoacutequero natildeo

chegou a ser descoberto pois as forccedilas bizantinas atacaram o acampamento pauliciano no

vale de Bathys Ryax durante a noite colocando o adversaacuterio em debandada e matando

Crisoacutequero108 O decesso do liacuteder e a destruiccedilatildeo do seu exeacutercito puseram fim agrave capacidade

ofensiva dos Paulicianos e obrigaram os emirados a manterem-se por algum tempo na

defensiva apoacutes terem perdido um precioso aliado no limes oriental bizantino O coup de

gracircce no ldquoEstadordquo da heresia dualista foi dado em 879 quando Cristoacutevatildeo tomou Tephrike no

decorrer de uma campanha de Basiacutelio contra o emirado de Tarso

O que mais haveraacute a dizer sobre os conflitos nesta regiatildeo durante o reinado do

Macedoacutenico Que tiveram uma periodicidade quase anual e que salvo raras exceccedilotildees se

traduziram num grande nuacutemero de vitoacuterias bizantinas em especial na deacutecada de 870 Destes

104 Vide Idem Ibidem p457 105 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 133-135 106 De acordo com Warren Treadgold esta campanha teve um desfecho diferente tendo as forccedilas bizantinas sido

derrotadas e o imperador quase capturado Por outro lado os eventos vitoriosos desta campanha enunciada por

Skylitzes satildeo situados soacute em 873 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 457 107 Haldon no entanto remete esta batalha para 87 HALDON J (2001) ndash Op cit p 85 108 Supostamente este ataque teraacute sido motivado pela necessidade de descobrir qual dos themaacuteta tinha os

homens mais corajosos vide HALDON J (2001) Op cit p 87 e WORTLEY J ndash Op cit p 136

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anos bem sucedidos a leste destacamos 879 quando o exeacutercito imperial109 arrasou o emirado

de Tarso saqueou as fortalezas de Germaniceia e Adana e ainda conseguiu saquear o Norte da

Mesopotacircmia (supostamente) tendo ainda posto um fim ao chamado laquoEstado paulicianoraquo A

deacutecada seguinte por outro lado mostrou-se algo perniciosa para Constantinopla nesta regiatildeo

mas para jaacute voltemos o nosso olhar para o Ocidente

A Itaacutelia e a Siciacutelia foram dois alvos de atenccedilatildeo prioritaacuteria para Basiacutelio ao longo do seu

principado O domiacutenio sarraceno na regiatildeo tanto na Siciacutelia como no Sul de Itaacutelia era um

risco que o basileuacutes natildeo queria correr pelo que decidiu aplicar medidas no sentido de evitar

esse cenaacuterio Logo no ano que se seguiu agrave sua ascensatildeo Basiacutelio enviou duas frotas para oeste

destinadas agrave Siciacutelia e agrave Dalmaacutecia O resultado foi agridoce a frota que socorreu Ragusa sob o

comando do almirante Niquetas Oryfas conseguiu afugentar o inimigo aacuterabe110 por seu lado

a forccedila enviada para a Siciacutelia foi desbaratada pouco depois de desembarcar111

Em 869 as coroas imperiais do Ocidente e do Oriente aliam-se para pocircr fim ao

emirado de Bari o exeacutercito franco de Luiacutes II cercou a cidade por terra enquanto a marinha

bizantina bloqueava o acesso pelo mar Esta operaccedilatildeo redundaria num fracasso parcial

Apesar de Luiacutes II ter logrado conquistar a cidade em 871 fecirc-lo sozinho dado que os

Romanos abandonaram o asseacutedio antes de este ser concluiacutedo por desentendimentos entre os

dois lados112 No entanto este foi um dos uacuteltimos contratempos bizantinos no sul de Itaacutelia

No ano 872 um exeacutercito bizantino liberta a cidade de Salerno cercada pelos Aacuterabes

desde o ano anterior enquanto em 873 uma outra forccedila reclama Otranto em nome do

impeacuterio A agressatildeo aacuterabe natildeo ameaccedilava abrandar pois em 875 raides aacuterabes na Campacircnia

voltam a ameaccedilar Roma o que resultou num pedido de ajuda papal a Bizacircncio ao mesmo

tempo que uma outra forccedila sarracena assola Comacchio junto ao Golfo de Trieste No ano

seguinte os Bizantinos entram em Bari a pedido dos habitantes da cidade

Enquanto isso o poder aglaacutebida comeccedilava a fazer soccedilobrar o poder bizantino na

Siciacutelia No ano 869 o governador aacuterabe da Siciacutelia tentou tomar Taormina mas foi assassinado

por um dos seus soldados antes de ser bem-sucedido tendo um cerco aacuterabe a Siracusa falhado

tambeacutem por essa altura A cidade de Arquimedes foi cercada de novo sem sucesso em 873

mas a tenaz aglaacutebida fechou-se firmemente sobre ela em 877 causando a sua queda no ano

seguinte A razatildeo disto teraacute sido uma alegada indisponibilidade da frota imperial para socorrer

a cidade pois estava demasiado atarefada com o transporte de material para a construccedilatildeo de

109 Neste caso usamos ldquoimperialrdquo para indicar que estava sob o comando do basileuacutes 110 Vide WORTLEY J ndash Op cit p143 111 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p456 112 Ainda assim a cidade cairia nas matildeos de Luiacutes II dois anos mais tarde

34

uma igreja em Constantinopla113 A conquista aglaacutebida da ilha estava praticamente concluiacuteda

com apenas a fortaleza de Taormina a manter-se em matildeos bizantinas um ponto isolado em

territoacuterio agora hostil e que nada podia fazer para conter as ambiccedilotildees aglaacutebidashellip

A consumaccedilatildeo da conquista da Siciacutelia abriu novas portas ao emirado do Norte de

Aacutefrica Em 880 o emir Ibrahim II liderou pessoalmente a sua frota numa expediccedilatildeo ao mar

Joacutenico onde saqueou as cidades de Kefaleacutenia e de Zakynthos O arrojado ataque norte-

africano foi respondido de forma ceacutelere por Basiacutelio que envia o droungaacuterios totilden ploiumlmon

Nasar ao comando de 45 navios de guerra e desbarata a frota adversaacuteria durante um audaz (e

praticamente impossiacutevel) ataque noturno114 No contra-ataque que se seguiu Nasar ataca a

Siciacutelia coloca a ferro e fogo os arredores de Palermo e derrota uma frota aacuterabe em Punta di

Stilo (zona litoral sul da Calaacutebria) durante o seu regresso ao territoacuterio romano

O iacutempeto desta accedilatildeo levou os Bizantinos a lanccedilarem um conjunto de campanhas no

Sul de Itaacutelia que foram bem-sucedidas no mesmo ano Uma primeira expediccedilatildeo naval sob o

comando de trecircs oficiais o spathaacuterios Gregoacuterio o turmarca Teophylaktos e o komeacutes

Dioacutegenes derrota uma frota muccedilulmana ao largo de Naacutepoles De seguida uma expediccedilatildeo

tambeacutem com trecircs comandantes o protovestiaacuterio Procoacutepio o strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo e o

almirante Nasar derrota outra forccedila naval muccedilulmana desta feita junto a Milazzo na Siciacutelia

A expediccedilatildeo percorreu depois a Calaacutebria e a Apuacutelia oriental tomando grande parte das

possessotildees aacuterabes na regiatildeo enquanto se encaminhava para Tarento Na batalha que se seguiu

na proximidade desta cidade as forccedilas bizantinas derrotaram as tarentinas e apesar de

Procoacutepio ter morrido em combate entraram vitoriosas na cidade As vitoacuterias bizantinas na

regiatildeo prosseguiram depois em 885 com Niceacuteforo Focas o Velho115 que submeteu as

restantes fortalezas aacuterabes na Calaacutebria (como Amantea Tropea e Santa Severina) pela forccedila e

que submeteu os Lombardos da Apuacutelia pela via diplomaacutetica116

Este personagem da histoacuteria bizantina merece que lhe sejam dedicadas algumas

palavras alusivas ao seu percurso no reinado de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Niceacuteforo Focas eacute o

primeiro membro da famiacutelia dos Focas uma importante linhagem da aristocracia militar

bizantina que teraacute um papel preponderante na laquoReconquistaraquo Aparentemente Niceacuteforo seria

descendente de um aacuterabe convertido ao cristianismo vindo de Tarso117 O Velho teraacute nascido

113 Vide TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 33 114 Vide PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy

ca 500-1204 Leiden e Boston Brill pp 65 e 66 115 Que teria sob o seu comando um conjunto de soldados paulicianos liderados por Diacoacutenitzes o mesmo que

presenciou a morte de Crisoacutequero Vide WORTLEY J ndash Op cit p 185 116 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 157-158 117 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 62

35

por volta de 855 e serviu Basiacutelio com distinccedilatildeo sendo agraciado com vaacuterios tiacutetulos

manglabiacutetēs118 em 872873 quando atingiu a idade adulta depois foi promovido a

protostraacutetor tornou-se strategoacutes de Charsianon antes de 885 e nesse ano foi o comandante

da expediccedilatildeo que projetou o poderio bizantino no Sul de Itaacutelia119 depois de ser chamado de

volta a Constantinopla apoacutes a morte de Basiacutelio foi condecorado com o tiacutetulo de domestikoacutes

por Leatildeo VI e combateu contra Simeatildeo em 895 tendo abandonado o cargo no ano seguinte

Para aleacutem das operaccedilotildees militares jaacute referidas teraacute acompanhado Basiacutelio I numa

campanha contra Samosata em 873 Liderou ainda um contra-ataque contra o emirado de

Tarso quando ainda era domestikoacutes no qual conseguiu recolher muito botim e prisioneiros120

enquanto o exeacutercito tarsiano atacava territoacuterio bizantino Este registo mostra que o Velho era

um excelente general com enorme capacidade de comando e um estratego brilhante Para

Leatildeo VI este strategoacutes era o modelo ideal para aqueles que ambicionassem ocupar esse

cargo tendo direito a vaacuterias menccedilotildees no Taktikaacute Por outro lado Niceacuteforo o Velho teria tal

fama que era temido por Simeatildeo pois (supostamente) o czar da Bulgaacuteria soacute se teraacute lanccedilado ao

ataque novamente contra Constantinopla apoacutes a morte do primeiro Focas em 896121

No interluacutedio das campanhas de conquista de Tarento e das de Niceacuteforo Focas entre

880-885 destacamos a realizaccedilatildeo de duas alianccedilas entre os principados lombardos de Naacutepoles

e Salerno primeiro em 881 e depois em 883 Esta coligaccedilatildeo conseguiu destruir vaacuterias bases

de saqueadores sarracenos e empurraacute-los para a foz do rio Garigliano junto a Gaeta onde os

Aacuterabes se fortificaram e a partir de onde passaram a iniciar os seus raides sobre a Campacircnia

Mau grado a perda de importantes pontos estrateacutegicos no Mediterracircneo como

Siracusa e Malta por volta de 870 a marinha bizantina conseguiu vencer algumas vezes as

forccedilas que se lhe opunham O droungaacuterios Niquetas Oryfas enfrentou os Aacuterabes em duas

ocasiotildees no ano de 873 derrotou os piratas cretenses no Golfo de Saros tendo feito naufragar

vinte navios e em 874 venceu novamente uma frota aacuterabe desta feita no Golfo de

Corinto122 Por outro lado deu-se uma reconquista temporaacuteria da ilha de Chipre entre 875 e

118 Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas portas no palaacutecio Vide KAZDHAN

P (ed) (1991) The Oxford Dictionary of Byzantium Volume II Oxford Oxford University Press p 1284 119 Cf supra I21 120 Esta campanha teraacute decorrido em 886 e 895 ano em que abandona o cargo de domestikoacutes de acordo com

Cheynet vide CHEYNET J ndash Op cit p480 Shaun Tougher alega que de acordo com Dagron existiraacute a

possibilidade de esta campanha se ter realizado apoacutes a guerra contra Simeatildeo ou seja apoacutes 896 Vide DAGRON

Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore Phocas (963-969)

Paris pp 168-169 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 121 Existem outras teorias sobre o destino de N Focas o Velho cf TOUGHER S ndash Op cit pp 205 e 206 122 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 23

36

882 cuja repetida perda parece ter sido contrabalanccedilada pela criaccedilatildeo dos novos themaacuteta

mariacutetimos de que falaacutemos no capiacutetulo anterior123

Os anos felizes de Basiacutelio I no que respeita agrave sua vida pessoal e agrave frente oriental

parecem ter terminado em 879 Nesse mesmo ano o seu primogeacutenito Constantino morre o

que o obriga a associar ao poder em conjunccedilatildeo com Leatildeo outro filho dele Alexandre

Apesar do descontentamento de Leatildeo ele foi obrigado a casar com uma parente afastada

Teoacutefano e a sua amante Zoeacute Zautzina foi obrigada a casar mais tarde Quem parece ter

valido ao imperador durante o seu luto foi o patriarca Foacutecio (regressado ao seu anterior ofiacutecio

apoacutes a morte de Inaacutecio em 877) e o bispo de Euceta Teodoro Santabarenos Nesse ano Foacutecio

conseguiu ainda consolidar o seu tiacutetulo patriarcal num Conciacutelio Ecumeacutenico apesar de natildeo

contar com o apoio total do papa Joatildeo VII ainda assim desta vez natildeo houve nenhum Cisma

Em 882 Basiacutelio foi derrotado pessoalmente agraves portas de Melitene enquanto no ano

seguinte o eunuco Yazaman emir de Tarso derrotou decisivamente uma forccedila bizantina

tendo passado pela espada os strateacutegoi da Capadoacutecia e da Anatoacutelia num ataque noturno Mais

tarde nesse ano Yazaman foi derrotado enquanto atacava Euripos pelo strategoacutes da Heacutelade

Oiniates A relaccedilatildeo de Basiacutelio com o filho mais velho deteriora-se novamente em 883 quando

o basileuacutes eacute informado por Santabarenos de que Leatildeo (supostamente) conjurava contra o pai

para tomar o trono Esta intriga levou ao aprisionamento do seu herdeiro por trecircs anos tendo

sido apenas libertado apoacutes Basiacutelio ter esmagado um conluio liderado por Joatildeo Curcuas contra

ele O basileuacutes apercebera-se de que precisava de manter a sua famiacutelia unida e forte e

reassegurar uma sucessatildeo legiacutetima ao trono pelo que tentou reconciliar-se com o filho124 Um

mecircs depois por causas ainda desconhecidas Basiacutelio deixa o mundo dos vivos e no trono

puacuterpura passa-se a sentar Leatildeo VI mais tarde conhecido como o Saacutebio125

O que haveraacute a dizer do reinado de Basiacutelio I Em grande parte acreditamos que foi

um reinado bem-sucedido A ameaccedila sarracena apesar de ter arrebatado a ilha de Malta e a

quase totalidade da Siciacutelia foi controlada e ateacute rechaccedilada tanto na Itaacutelia meridional como no

limes oriental nestas regiotildees podemos ateacute dizer que a soberania bizantina se comeccedilou a fazer

sentir graccedilas agrave aniquilaccedilatildeo da seita pauliciana Em termos navais Bizacircncio tambeacutem natildeo

atravessou dificuldades de maior apesar de ter perdido importantes possessotildees no

Mediterracircneo Nos Balcatildes a situaccedilatildeo manteve-se relativamente calma graccedilas agrave conversatildeo dos

Buacutelgaros ao cristianismo o que gerou uma relaccedilatildeo paciacutefica algo fraterna entre

123 Cf supra 13 124 Vide TOUGHER S ndash Op cit p35 125 Poderaacute ter morrido num acidente de caccedila viacutetima de doenccedila prolongada ou embora menos provaacutevel a mando

de Leatildeo Vide WORTLEY J ndash Op cit p 163

37

Constantinopla e Preslav Onde a governaccedilatildeo de Basiacutelio I parece ter corrido pior foi mesmo a

niacutevel interno primeiro com a morte precoce do primogeacutenito126 depois com os

desentendimentos com o seu segundo filho e herdeiro e por fim com o aprisionamento de

Leatildeo Ainda assim a sucessatildeo foi relativamente tranquila A niacutevel religioso a Igreja Ortodoxa

atingiu um niacutevel satisfatoacuterio de unidade e de estabilidade sob a lideranccedila de Foacutecio e conseguiu

expandir a sua esfera de influecircncia para a Bulgaacuteria e para a Seacutervia127

22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912)

laquoUm imperador deve fazer a guerra como Basiacutelio I ou escrever sobre a guerra como Leatildeo VIraquo128

O homem que sobe ao poder em 886 e que mais tarde seraacute apelidado de O Saacutebio

distingue-se pelo seu interesse pela cultura pela religiatildeo e na nossa opiniatildeo pela guerra

Leatildeo eacute autor de uma obra imensa A niacutevel judicial temos as Novelle uma adiccedilatildeo agraves Basilikaacute

uma revisatildeo juriacutedica (a primeira do geacutenero que se saiba) do Corpus Iuris Iustinianos (seacutec

VI) iniciada no reinado do seu pai (possivelmente incitada por Foacutecio129) e promulgada em

888 Leatildeo escreveu um livro oracular que parece ter atingido uma enorme popularidade

sendo copiado vaacuterias vezes durante a Baixa Idade Meacutedia130 A ele satildeo-lhe ainda atribuiacutedas

muitas outras produccedilotildees literaacuterias como homilias trabalhos teoloacutegicos compilaccedilotildees de

maacuteximas e livros interpretativos dos fenoacutemenos Mais importante para o contexto da nossa

dissertaccedilatildeo eacute o facto de ter escrito ainda dois tratados militares o primeiro quando ainda era

jovem ndash o Problemaacuteta que natildeo passaria de um conjunto de perguntas relacionadas com

diversas situaccedilotildees militares as quais eram respondidas de seguida com paraacutefrases de trechos

do Stratēgikoacuten e o outro o Taktikaacute de que falaremos na segunda parte desta dissertaccedilatildeo

Para introduzir o reinado de Leatildeo devemos comeccedilar por referir que foram anos de

governaccedilatildeo incendiados pela necessidade de produzir um herdeiro Infelizmente esta questatildeo

iria colocar o autokraacutetor131 em rota de colisatildeo com o patriarcado organizaccedilatildeo com quem

aliaacutes teve uma relaccedilatildeo difiacutecil Centremo-nos nas raiacutezes desta rivalidade o bispo Teodoro

126 Uma circunstacircncia incontrolaacutevel por ele no entanto 127 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 456 128 Frase de Paul Lemerle citada por Eric McGeer in MCGEER E (2003a) ndash Two military orations of

Constantine VII In NESBITT John W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden

e Boston Brill p 111 129 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 10 130 Idem Ibidem p 11 131 Cf infra 41

38

Santabarenos a quem Leatildeo VI nunca perdoou o envolvimento no seu encarceramento por trecircs

anos tornando-se assim no primeiro alvo a abater

A busca de justiccedila (ou de vinganccedila) que o autokraacutetor empreendeu permitiu-lhe matar

dois coelhos de uma soacute cajadada vingar-se de Santabarenos132 e livrar-se de Foacutecio que na

oacutetica de Leatildeo representava conjuntamente com os seus apoiantes um perigo para a sua

soberania133 Esta parece ser a uacutenica razatildeo para ter sido deposto e julgado uma vez que o

culto patriarca teraacute salvo em conjunto com Styliano Zaotzeacute (o pai da amante de Leatildeo) o

Saacutebio de ter ficado cego quando Basiacutelio o prendeu134 Independentemente das circunstacircncias

o antigo mestre do imperador135 foi deposto e encerrado num mosteiro em 887 enquanto

Teodoro foi julgado aprisionado e cegado ainda no ano da ascensatildeo de Leatildeo

Os patriarcas que se seguiram estiveram sob a responsabilidade deste basileuacutes que

desejava exercer a sua autoridade sobre o patriarcado de Constantinopla Logo em 886 elege

um dos seus irmatildeos mais novos136 Estevatildeo137 como patriarca cargo que iraacute ocupar ateacute agrave sua

morte em 893 Segue-se Antoacutenio Cauleias que logrou com Leatildeo reconciliar os disciacutepulos de

Foacutecio e os seus opositores pondo fim agrave queziacutelia Agrave morte de Cauleias em 901 seguiu-se

Nicolau o Miacutestico um amigo pessoal do imperador mas que lhe iraacute fazer a vida negra138

A grande questatildeo religiosa do reinado de Leatildeo VI foi a Tetragamia uma violenta

poleacutemica religiosa (e poliacutetica) que opocircs o Saacutebio ao patriarca Nicolau O que estava em causa

era o quarto casamento do imperador que jaacute era viuacutevo pela terceira vez e a legitimidade do

filho dessa nova relaccedilatildeo A sua uniatildeo com Teoacutefane com quem fora obrigado a casar pelos

pais em 879 tinha sido bastante atribulada primeiro com a oposiccedilatildeo de Leatildeo ao casamento

depois com o isolamento dele no Palaacutecio em regime de prisatildeo seguidamente pela morte da

filha de ambos Eudoacutecia em 983 e por fim pelo espetro do romance reatado de Leatildeo e Zoeacute

Zautzina conhecido de todos na corte imperial Todos estes fatores contribuiacuteram para um

casamento frio e complicado que terminou em 895 ou 896 com a morte de Teoacutefane139

132 Alegadamente este teria engendrado a prisatildeo de Leatildeo quando este tentou advertir o pai dos efeitos da

influecircncia de Teodoro vide TOUGHER S ndash Op cit p73 133 De acordo com Shaun Tougher Foacutecio teria exercido algum domiacutenio nas accedilotildees de Basiacutelio apoacutes a sua segunda

ascensatildeo ao patriarcado em especial apoacutes a morte de Constantino por intermeacutedio de Teodoro Santabarenos

Vide TOUGHER S ndash Op cit pp 71-72 134 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p460 135 Foacutecio havia voltado agrave corte nos iniacutecios da deacutecada de 70 do seacuteculo IX a pedido de Basiacutelio para ser tutor dos

filhos do basileuacutes Vide TOUGHER S ndash Op cit p32 136 O seu irmatildeo mais novo Alexandre tinha sido associado ao trono com a morte de Constantino e tornou-se co-

imperador quando este se tornou imperador Seria Alexandre que iria suceder ao Saacutebio apoacutes a sua morte em 912 137 Supostamente como este nascera no tempo em que Miguel III ainda era vivo tambeacutem haacute a possibilidade de

ser filho do uacuteltimo Amoriano Estevatildeo foi castrado e tornou-se monge a mando de Basiacutelio 138 Ironicamente nas palavras de Shaun Tougher TOUGHER S ndash Op cit p38 139 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 140

39

Zoeacute tornou-se basiacutelissa apoacutes um casamento que natildeo foi digno de um imperador

presidido por um padre e natildeo pelo patriarca em 898 Tambeacutem esta uniatildeo foi muito curta pois

Zoeacute faleceu em 899 ou 900 sem ter produzido um filho varatildeo O terceiro enlace teraacute

suscitado algumas resistecircncias no patriarcado mas foi aceite e Leatildeo casou com Eudoacutecia

Baianeacutes que teraacute ateacute engravidado Tambeacutem este conjuacutegio teraacute um final infeliz devido agrave morte

de Eudoacutecia durante o parto seguida da do filho Basiacutelio pouco tempo depois

As relaccedilotildees entre o basileuacutes e a Igreja azedaram a partir daiacute Impossibilitado de casar

novamente140 Leatildeo tomou uma amante Zoeacute Carbonopsina de quem teve um filho em 905 o

futuro Constantino VII Porfirogeneta Finalmente com um herdeiro direto Leatildeo esforccedilou-se

para o legitimar tendo para isso de o batizar e de casar com Carbonopsina141 O filho foi

batizado pelo patriarca em 906 mas o casamento natildeo foi tatildeo faacutecil de ser concretizado pois

surgiu-lhe um obstaacuteculo em frente o seu amigo Nicolau o Miacutestico O confronto entre os dois

levou primeiro agrave realizaccedilatildeo de vaacuterios siacutenodos depois ao casamento ldquopela caladardquo de Leatildeo

no Grande Palaacutecio que resultou na sua proibiccedilatildeo de participar em algumas cerimoacutenias

religiosas celebradas pelo patriarca142 e por fim agrave deposiccedilatildeo e exiacutelio de Nicolau em 907

pouco antes de um conciacutelio que tinha como objetivo perdoar o autokraacutetor

O novo patriarca escolhido pelo basileuacutes foi o synkellos Eutiacutemio por estar laquoacima de

repreensatildeo estar marcado com um selo de santidade e ser conspiacutecuo pelos seus grandes

feitos143raquo No entanto Eutiacutemio soacute autorizaria o quarto casamento144 se Leatildeo aceitasse certas

condiccedilotildees o basileuacutes teria de fazer penitecircncia o padre que realizara o casamento deveria ser

expulso da igreja Eutiacutemio natildeo coroaria a nova basiacutelissa na igreja e por fim a proibiccedilatildeo legal

definitiva de laquoquartos casamentosraquo Leatildeo VI aceitou os requisitos patriarcais e natildeo mais a

Igreja contestou a sua governaccedilatildeo

Onde o reinado de Leatildeo VI parece ter suscitado mais debate na historiografia

contemporacircnea foi mesmo nos assuntos militares e relacionados com o estrangeiro No seacuteculo

XX muitos bizantinistas que escreveram sobre o assunto (como Ostrogorksy por exemplo)

trataram o autokraacutetor como se este natildeo tivesse qualquer apreccedilo ou preocupaccedilatildeo pelos

problemas externos que assolaram o impeacuterio (e natildeo foram poucos) enquanto esteve no

trono145 A imagem de Leatildeo VI comeccedilou a mudar desde as publicaccedilotildees de Romily Jenkins e

140 Ironicamente por uma lei que o proacuteprio criara Vide Idem Ibidem p156 141 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p468 142 Vide MONTEIRO J ndash Op cit p 76 143 Vide Life of Euthymios 95 4-5 apud TOUGHER S ndash Op cit p 162 144 Que entretanto havia sido legitimado por uma bula papal vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 76 145 Vide TOUGHER S ndash Op cit pp164 e 166

40

de Patrice Karlin-Hayter146 ateacute ao capiacutetulo 7 da obra Reign of Leo VI de Shaun Tougher onde

este assunto foi abordado com detalhe Faremos um balanccedilo sucinto deste problema quando

acabarmos de relatar os principais episoacutedios militares do principado do Saacutebio e de descrever a

maneira como ele teraacute reagido a esses problemas

De que forma mudou o cenaacuterio geopoliacutetico e militar entre Basiacutelio I e Leatildeo VI A boa

sorte que Bizacircncio parecia atravessar a Oriente parecia ter comeccedilado a mudar novamente para

o lado muccedilulmano apesar de se manter o status quo na regiatildeo e de o Impeacuterio Bizantino se

manter mais na ofensiva do que os seus adversaacuterios na regiatildeo No Sul de Itaacutelia a supremacia

bizantina conquistada no reinado de Basiacutelio I parecia aguentar-se o reino caroliacutengio de Itaacutelia

caiacutera no caos poliacutetico apoacutes a deposiccedilatildeo de Carlos o Gordo (884-887) o principado de

Benevento o principal poder lombardo na regiatildeo tinha ficado em segundo plano e os dois

emirados aacuterabes da Itaacutelia meridional (Bari e Tarento) estavam destruiacutedos No entanto nesta

frente as coisas estavam prestes a mudar ainda que temporariamente No Impeacuterio da Bulgaacuteria

eacute que a situaccedilatildeo piorou para Bizacircncio quando Simeatildeo o terceiro filho de Boacuteris147 ascendeu

ao trono apoacutes uma guerra civil entre o pai e o imperador de entatildeo o seu irmatildeo Vladimir que

tentara retornar ao paganismo Como veremos Simeatildeo seria um dos grandes adversaacuterios de

Leatildeo e disputaria ativamente com Bizacircncio a supremacia sobre os Balcatildes

Comecemos por Itaacutelia onde logo em 886 Leatildeo ordena a Niceacuteforo Focas o Velho que

regresse a Constantinopla para tomar o manto de domestikoacutes A estrateacutegia bizantina de impor

e consolidar a hegemonia na regiatildeo manteve-se estabelecer laccedilos de vassalagem com os

poderes lombardos do Sul de Itaacutelia muitas vezes recorrendo agrave diplomacia ou ao envio de

tropas auxiliares para fazer frente agrave ameaccedila aacuterabe do Norte de Aacutefrica e da Siciacutelia148 Por

exemplo o priacutencipe Guaimar I de Salerno (880-901) aceitou a soberania bizantina quando

tropas imperiais o auxiliaram entre 886 e 887 tendo sido recompensado por Leatildeo VI com o

tiacutetulo de patriacutecio149 Os priacutencipes lombardos no entanto eram aliados de natureza duacutebia que

soacute aceitavam o auxiacutelio bizantino quando precisavam e que tanto se podiam unir aos

Bizantinos contra os Sarracenos como vice-versa150

Em 887 o priacutencipe Aiatildeo de Benevento (884-891) quis vingar-se de uma campanha

empreendida pelo strategoacutes Teoacutefilato na Campacircnia e tomou Bari de assalto com o apoio de

auxiliares sarracenos A resposta bizantina natildeo se fez esperar e no ano seguinte uma

146 Natildeo tivemos acesso agrave bibliografia de Jenkins 147 O czar responsaacutevel pela conversatildeo do estado buacutelgaro ao cristianismo 148 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 23 149 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 158-159 150 Sendo o duque-bispado de Naacutepoles o melhor exemplo desta praacutetica

41

expediccedilatildeo liderada pelo patriacutecio Constantino recupera a cidade quando Aiatildeo eacute abandonado

pelos mercenaacuterios sarracenos e lhe eacute recusado auxiacutelio pelo ducado de Espoleto e pelo condado

de Caacutepua Apoacutes a morte do priacutencipe em 891 o strategoacutes Symbatikios comanda um exeacutercito a

partir de Bari e toma Benevento aproveitando-se da menoridade de Urso o herdeiro de

Aiatildeo151 A conquista de Benevento foi efeacutemera pois a cidade caiu em 895 agraves matildeos do

priacutencipe Guido de Espoleto152 A reconquista foi facilitada pelo apoio da populaccedilatildeo da cidade

que estava descontente com as autoridades bizantinas que a estariam a oprimir153 ndash assim o

diz uma fonte lombarda do seacuteculo X154

Por outro lado no iniacutecio do seacuteculo X os Aglaacutebidas lanccedilaram-se novamente agrave

conquista de Itaacutelia Em 901 voltam a atacar a Calaacutebria conquistam Reacutegio e empreendem uma

nova incursatildeo naquela regiatildeo No ano a seguir eacute o proacuteprio emir aglaacutebida Ibrahim II (875-

902) a liderar as suas forccedilas em direccedilatildeo agrave Itaacutelia meridional Foi no seio dessa campanha em

902 que caiu Taormina a uacuteltima possessatildeo bizantina na Siciacutelia Apoacutes a consolidaccedilatildeo do

poder aglaacutebida naquela ilha o emir embarcou quase de imediato em direccedilatildeo ao sul de Itaacutelia

onde cercou Cosenza O asseacutedio acabou por ser mal sucedido porque Ibrahim morreu de

disenteria e a sua hoste privada da sua lideranccedila acabou por se desintegrar

Antes de prosseguirmos voltemos a nossa atenccedilatildeo para a tomada de Taormina A

questatildeo da queda de Taormina eacute uma das razotildees utilizadas para considerar Leatildeo um mau

imperador no sentido dos assuntos militares Por que razatildeo teraacute o basileuacutes entregado agrave sua

sorte a uacuteltima possessatildeo num dos pontos mais estrateacutegicos do Mediterracircneo Na nossa

opiniatildeo natildeo nos parece que tenha sido ele a deixar cair a Siciacutelia tendo em conta que ele

proacuteprio soacute tinha herdado Taormina A defesa da cidade soacute se justificava por trecircs razotildees uma

questatildeo de prestiacutegio para o Impeacuterio155 a manutenccedilatildeo dos seus habitantes na orla do poder

bizantina e a possibilidade da utilizaccedilatildeo da fortaleza como um ponto de partida para a

reconquista da Siciacutelia uma hipoacutetese completamente fora de questatildeo na altura156 porque a

grande preocupaccedilatildeo dos Bizantinos na regiatildeo era consolidar a sua hegemonia no Sul de Itaacutelia

e natildeo havia meios e condiccedilotildees navais157 para se empreender a reconquista da Siciacutelia num

151 Idem Ibidem p 159 152 Conveacutem salientar que a prioridade do Impeacuterio Bizantino na altura eram os Balcatildes onde Leatildeo VI e Simeatildeo

da Bulgaacuteria combatiam pela supremacia 153 O comando do theacutema da Lombardia que estava sedeado naquela cidade abandonou Benevento em 894 sob o

strategoacutes Barsaacutequio por estas razotildees 154 Idem Ibidem p 160 155 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 24 156 Idem Ibidem p 24 157 Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI enfrentou uma grave vaga de pirataria tanto no Mar Egeu como no

Mediterracircneo oriental

42

futuro proacuteximo Por estas razotildees concordamos com a afirmaccedilatildeo de Karlin-Hayter que diz

laquo(hellip) Taormina naquele tempo natildeo era um recurso mas sim um encargoraquo158

Enquanto isso o paradigma lombardo-bizantino no Sul de Itaacutelia muda pois as

relaccedilotildees entre Guido e Benevento rapidamente se deterioraram um facto que culminou na

uniatildeo do principado de Benevento com o ducado de Caacutepua em 901 para que ambos

pudessem fazer frente ao Imperador do Sacro Impeacuterio Esta mudanccedila no estado de situaccedilatildeo

possibilitou uma reaproximaccedilatildeo entre Lombardos e Bizantinos que se aliam para fazer frente

aos Aacuterabes que realizavam raides na Campacircnia a partir do seu laquoninhoraquo na foz do rio

Garigliano Foi com a intenccedilatildeo de criar uma espeacutecie de Liga Cristatilde para expulsar os Aacuterabes da

Campacircnia de uma vez por todas que o priacutencipe Atenolfo I de Benevento e Caacutepua enviou em

909 uma embaixada a Constantinopla presidida pelo filho Landolfo Leatildeo teraacute concordado

com o priacutencipe requerendo soacute que este se tornasse vassalo da coroa puacuterpura A operaccedilatildeo natildeo

se chegou a realizar enquanto o basileuacutes era vivo no entanto mais tarde formou-se uma nova

alianccedila cristatilde organizada pelo papa Joatildeo II em 915 que possuiacutea um importante corpo militar

bizantino sob o comando do strategoacutes da Lombardia Nicolau Piccingli A Liga Cristatilde

apoiada pela frota bizantina cercou entatildeo a base sarracena na foz do Garigliano Os Aacuterabes

natildeo conseguiram fazer frente agrave alianccedila das principais potecircncias do sul de Itaacutelia159 e foram

massacrados Com o fim daquele enclave terminaram tambeacutem as expediccedilotildees de saque

muccedilulmanas no interior da Campacircnia e da Itaacutelia Central160

Viajemos agora para os Balcatildes Como jaacute foi referido lamentavelmente para Leatildeo VI

as relaccedilotildees entre o Impeacuterio Bizantino e a Bulgaacuteria cristatilde deterioraram-se durante o seu

reinado Na segunda metade do seacuteculo IX o Estado buacutelgaro evoluiu de um khaganato pagatildeo

para um impeacuterio cristatildeo sob a alccedilada do czar Boacuteris161 O antigo khan por sua vez tornou-se

tatildeo religioso que abdicou do trono para vestir o haacutebito em 889 apoacutes ter entregado a coroa ao

seu primogeacutenito Vladimir O novo soberano foi deposto pelo proacuteprio pai em 893 quando

comeccedilou a tomar um conjunto de medidas anticristatildes e anti-bizantinas Depois de depor

158 Idem Ibidem p 24 159 Para aleacutem da frota e dos contingentes do Impeacuterio Bizantino estavam presentes corpos militares do papado e

dos principados lombardos de Caacutepua Salerno Espoleto e ateacute de Naacutepoles e Gaeta (que Ravegnani chega a

considerar filossarracenas) cidades que foram convencidas por Nicolau Piccingli a participar RAVEGNANI G

ndash Op cit p 161 160 Idem Ibidem p162 161 Para um resumo deste processo e da autonomizaccedilatildeo da Igreja Buacutelgara vide HUPCHIK Dennis P (2017) The

Bulgarian-Byzantine Wars for Early Medieval Balkan Hegemony ndash Silver-lined Skulls and Blinded Armies

Estados Unidos da Ameacuterica Palgrave Macmillan pp 136-143

43

Vladimir Boacuteris voltou agrave sua vida religiosa natildeo sem antes ter colocado no seu lugar um outro

filho mais novo chamado Simeatildeo em 893162

O novo soberano dos Buacutelgaros era tambeacutem muito culto fora educado em

Constantinopla era piamente cristatildeo e tinha um enorme apreccedilo pela coacutepia de textos sagrados

Tudo razotildees que possivelmente trariam alguma paz a Bizacircncio tanto que Leatildeo natildeo estava

interessado em guerrear com uma naccedilatildeo ortodoxa mais a mais com o impeacuterio cercado por

inimigos natildeo-cristatildeos163 No entanto Simeatildeo era tambeacutem um ambicioso governante que

queria formar um Impeacuterio Bizantino-Buacutelgaro encabeccedilado por ele164hellip As tensotildees comeccedilaram

de imediato a borbulhar no ano que se seguiu agrave ascensatildeo do jovem soberano buacutelgaro165

quando o braccedilo direito do basileuacutes Styliano Zaotzeacute conseguiu convencer Leatildeo a transferir o

mercado buacutelgaro de Constantinopla166 para Tessaloacutenica Simeatildeo ao tomar conhecimento

destes acontecimentos tentou mostrar o seu desagrado ao imperador que por sua vez o

ignorou Foi aiacute que o jovem suserano buacutelgaro desenterrou o machado da guerra

A duacutevida de quem teraacute realmente provocado essa guerra ainda hoje eacute discutida As

croacutenicas bizantinas parecem querer demonstrar que a questatildeo do laquomercado buacutelgaroraquo fora

apenas um pretexto para uma guerra que o ambicioso Simeatildeo desejava167 Por outro lado ateacute

que ponto estas alegaccedilotildees satildeo vaacutelidas E se Leatildeo tivesse aquiescido a Simeatildeo Teria este

forccedilado uma guerra de qualquer das formas numa etapa tatildeo prematura da sua governaccedilatildeo O

que nos parece mais provaacutevel eacute que o czar buacutelgaro tambeacutem natildeo estivesse interessado em

combater contra Bizacircncio (pelo menos naquela altura) mas viu-se obrigado a fazecirc-lo para

garantir os interesses comerciais do seu povo para consolidar o seu trono e citamos aqui

Hupchik para mostrar ao mundo que laquoos interesses (da Bulgaacuteria) podiam ser ignorados pelos

estrangeiros apenas sob um grande riscoraquo168 Por outro lado eacute muito provaacutevel que Leatildeo natildeo

contasse com esta retaliaccedilatildeo de Simeatildeo ou por natildeo esperar uma resposta tatildeo draacutestica do seu

vizinho ou porque confiava na sustentaccedilatildeo da longa paz entre a Bulgaacuteria e Bizacircncio169

Independentemente das circunstacircncias foi com a guerra que Leatildeo se deparou e esta veio

(tendo em conta a regiatildeo onde decorreu) numa peacutessima altura para o lado bizantino

162 Idem Ibidem p 143 163 Os Aacuterabes na Itaacutelia no Mar Egeu e na Ciliacutecia e os Russos na estepe euroasiaacutetica na margem norte do Mar

Negro 164 MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 165 Estaria nos seus 20 anos aproximadamente Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p151 166 Para uma pequena descriccedilatildeo dos efeitos desta mudanccedila no comeacutercio buacutelgaro e da razatildeo desses efeitos cf

Idem Ibidem p 154 167 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 174 e WORTLEY J ndash Op cit pp 169-170 168 Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p153 169 Vide TOUGHER S ndash Op cit p173

44

A invasatildeo buacutelgara do theacutema da Macedoacutenia foi arrasadora e brutal uma vez que aquela

aacuterea estava relativamente indefesa e porque o impeacuterio contava apenas com tropas de segunda

categoria laquotemaacuteticasraquo e somente um contingente de soldados profissionais estava em

Constantinopla a guarda-pessoal do basileuacutes a Hetaireia170 Este exeacutercito mobilizado agrave

uacuteltima da hora foi trucidado por Simeatildeo os seus comandantes foram mortos e os membros da

Hetaireia (e o proacuteprio basileuacutes) foram humilhados ao verem os seus narizes cortados O

primeiro laquoroundraquo da guerra fechou portanto com uma vitoacuteria de Simeatildeo

No ano a seguir Leatildeo jaacute estava mais preparado para fazer frente a Simeatildeo e ateacute para

passar agrave ofensiva A estrateacutegia que o basileuacutes engendrou envolvia trecircs peccedilas principais a

habilidade de Niceacuteforo Focas o Velho a inatacaacutevel (pelos Buacutelgaros) marinha bizantina e uma

manobra diplomaacutetica que visava chamar um novo jogador ao tabuleiro ndash os Magiares171 da

regiatildeo da atual Romeacutenia e da Panoacutenia (Hungria) Para conseguir o apoio daquele povo Leatildeo

enviou um diplomata (carregado com um tributo em ouro) aos respetivos liacutederes Arpaacuted e

Kurszaacuten que aceitaram combater ao lado dos Bizantinos Assim enquanto os Magiares se

dirigiam ao Danuacutebio na primavera de 895 para invadir a Bulgaacuteria pelo norte o ceacutelebre

Niceacuteforo Focas reuniu o exeacutercito imperial na fronteira com Simeatildeo de modo a desviar a sua

atenccedilatildeo Depois de Simeatildeo ter prendido um diplomata que Leatildeo enviara a fim de negociar a

paz a hoste de Niceacuteforo invadiu as possessotildees buacutelgaras no Norte da Traacutecia

Com Simeatildeo distraiacutedo pelo ataque do exeacutercito romano a frota sob o droungaacuterios

Eustaacutecio ajudou os Magiares a atravessarem o Danuacutebio e a invadir o limes indefeso de

Simeatildeo O czar ainda tentou reagir mas as suas tentativas foram goradas pelos arqueiros da

estepe que o derrotam e obrigaram a refugiar-se na fortaleza de Dorostolon172 Os Magiares

saquearam o territoacuterio inimigo ateacute Preslav a capital da Bulgaacuteria173 e regressaram depois agraves

suas terras para laacute do Danuacutebio onde venderam os seus prisioneiros de guerra a Bizacircncio

conforme ficara acordado na alianccedila com Leatildeo

170 O domestikoacutes e o grosso das forccedilas da capital incluindo os taacutegmata estavam em campanha a oriente quando

Simeatildeo invadiu Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVIII O Regresso do Califado a Bagdade

Traduccedilatildeo e anotaccedilotildees de Franz Rosenthal ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume

XXXVIII The Return of the Caliphate to Baghdad Nova Iorque New York University Press p 11 171 Os antecessores dos Huacutengaros 172 Satildeo Skylitzes e Hupchik que referem Dorostolon vide WORTLEY J ndash Op cit p 171 e HUPCHIK D P ndash

Op cit p 158 Shaun Tougher refere que ele retirou para uma fortaleza chamada Moundraga mas natildeo

encontraacutemos nenhuma referecircncia a este local (ou ao facto de ser o mesmo siacutetio que Dorostolon) nas nossas

pesquisas Vide TOUGHER S ndash Op cit p177 173 Que supostamente teraacute sido salva pelas preces e por um voto de fome por trecircs dias expresso pelo antigo

imperador Boacuteris Hupchik diz que o que parou os Magiares foram as muralhas da cidade Por nosso lado

sentimo-nos tentados a aceitar a hipoacutetese de que teraacute sido uma conjugaccedilatildeo das muralhas e do facto de Boacuteris ter

liderado a defesa da cidade Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p 159

45

Por sua vez Simeatildeo enviou uma mensagem a Eustaacutecio informando-o de que estava

disposto a assinar a paz Leatildeo estava desejoso de sair daquela guerra que natildeo lhe interessava

e pretendia distribuir as tropas daquele teatro de operaccedilotildees por outras frentes prioritaacuterias pelo

que aceitou e ordenou a retirada quase imediata de Niceacuteforo Focas o Velho e de Eustaacutecio Para

assinar os termos da paz Leatildeo enviou o seu melhor diplomata Leatildeo Coirosfactes a Simeatildeo

No entanto a ordem de retirada prematura e depois a entrega dos seus prisioneiros de guerra

antes de assinar a paz foram erros crassos do basileuacutes Simeatildeo no interluacutedio da assinatura da

paz aliou-se aos Pechenegues um povo das estepes hostil aos Magiares e preparou o seu

exeacutercito para o terceiro ano de guerra Ainda em 895 atravessou o Danuacutebio e com a ajuda

dos Pechenegues derrotou os Magiares empurrando-os para a Panoacutenia174

No ano seguinte possivelmente apoiado na morte ou na remoccedilatildeo de Niceacuteforo Focas

do cargo de domestikoacutes Simeatildeo lanccedilou-se ao ataque e derrotou as forccedilas do novo

ldquocomandante do Estado-maiorrdquo Leatildeo Katakalon na batalha de Bulgarophygon A derrota

naquela batalha saiu cara ao Saacutebio que viu as forccedilas buacutelgaras saquearem a Traacutecia bizantina e

ateacute ameaccedilar Constantinopla Por fim Leatildeo acedeu a assinar a paz nos termos propostos por

Simeatildeo que nos satildeo desconhecidos mas que muito provavelmente envolviam um retorno agrave

situaccedilatildeo dos mercados tal como esta estava antes da guerra e ao pagamento de um pesado

tributo anual175 De resto ao longo do reinado de Leatildeo Simeatildeo natildeo mais pegaria em armas

contra Bizacircncio natildeo soacute porque durante o resto do tempo de principado do basileuacutes se

concentrou no desenvolvimento cultural do seu domiacutenio176 mas porque Leatildeo fez os possiacuteveis

(e os impossiacuteveis pode-se dizer) para conservar a paz

Falta-nos dedicar algumas palavras agrave guerra naval e ao limes oriental Decidimos

juntar estas duas frentes numa uacutenica secccedilatildeo do nosso texto porque estatildeo diretamente

relacionadas Em primeiro lugar referimos que a guerra naval foi o que correu pior a Leatildeo

VI deu-se a perda definitiva da Siciacutelia como jaacute falaacutemos e as frotas bizantinas foram

derrotadas vaacuterias vezes Vamos agora tentar sucintamente fazer um relato das principais

accedilotildees navais e das campanhas orientais que ocorreram durante o reinado do Saacutebio

Na Ciliacutecia o principal adversaacuterio no iniacutecio do reinado de Leatildeo VI continuava a ser o

eunuco Yazaman que da sua base de Tarso atacava Bizacircncio tanto por terra como por mar

Em 888 Yazaman organiza uma expediccedilatildeo naval capturando quatro navios bizantinos

enquanto no Mediterracircneo central uma frota muccedilulmana derrota uma armada bizantina ao

174 De onde eles partiriam para os seus ataques recorrentes contra a Europa ocidental e a Bulgaacuteria durante a

primeira metade do seacuteculo X ateacute serem derrotados agraves matildeos de Otatildeo I na batalha de Lechfeld (em 955) 175 Vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 176 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 175

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largo de Milazzo Esta vitoacuteria no entanto seria anulada no ano seguinte com um sucesso

militar romano a repor o controlo sobre o Estreito de Messina Em 891 no contexto de uma

alianccedila entre Yazaman e os Tuluacutenidas do Egipto o eunuco eacute morto por um fragmento de um

projeacutetil de balista durante um ataque a Salandu uma fortaleza costeira bizantina na Ciliacutecia177

A este governante de Tarso seguiu-se anos mais tarde o eunuco Raghib que em 898 derrotou

uma frota bizantina e teraacute decapitado 3000 marinheiros romanos o que a ser verdade poderaacute

ter representado um duro golpe na operacionalidade naval do impeacuterio178 No entanto o

sucesso de Raghib teraacute sido sol de pouca dura porque no ano seguinte ele eacute preso e a frota de

Tarso queimada a mando do califa uma mais-valia para Bizacircncio naqueles tempos

conturbados179

Apesar dos feitos de Raghib de Yazaman e ateacute de Simeatildeo na nossa opiniatildeo natildeo

houve personagens mais nefastas para Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI do que Leatildeo o

Tripolitano e Damiano Por coincidecircncia tanto um como o outro tinham origem grega180 e

conseguiram ascender no mundo muccedilulmano ateacute ocuparem altos cargos militares181 Jaacute em

891 (ou em 893) Leatildeo o Tripolitano desferira um golpe profundo na aptidatildeo mariacutetima do

impeacuterio quando atacou e saqueou Samos (a capital do theacutema mariacutetimo do Mar Egeu) e

capturou o seu strategoacutes Paspalas182 Dez anos depois foi a vez de Damiano atacar o impeacuterio e

saquear a cidade de Demeacutetrias na Tessaacutelia mas nesse mesmo ano deu-se um bem-sucedido

ataque naval bizantino no litoral da Ciliacutecia (possibilitado pela destruiccedilatildeo da frota de Tarso

provavelmente) e uma ofensiva terrestre na regiatildeo de Kaysun entre Maras e Samosata183 Os

Aacuterabes retaliaram com um raide agrave ilha de Lemnos que fez dos seus habitantes cativos dos

Muccedilulmanos184

Mas nenhum ataque chocou mais o Impeacuterio Bizantino do que o saque de Tessaloacutenica

em 904 e natildeo era para menos tendo em conta que esta era a segunda cidade mais importante

do Impeacuterio A frota que estava sob o comando de Leatildeo o Tripolitano tinha dimensotildees maiores

do que o normal e o seu objetivo principal seria com alguma probabilidade

177 Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVII A Restauraccedilatildeo Abaacutessida Traduccedilatildeo de Phillip M Fields e

Notas de Jacob Lassner FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid

Recovery Nova Iorque New York University Press p 175 178 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 73 179 Vide Idem Ibidem p 79 e 91 180 Leatildeo seria oriundo da cidade de Ataleia na Ciliacutecia onde foi capturado relativamente jovem Damiano seria

mesmo grego e serviu o eunuco Yazaman em Tarso 181 Leatildeo o Tripolitano seria almirante por exemplo 182 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 185 183 Al-Tabari diz que teratildeo sido presos cerca de 15 000 muccedilulmanos Cf ROSENTHAL Franz ndash Op cit p 97 184 Tougher diz que para Vasiliev o sucesso dos ataques muccedilulmanos cada vez mais proacuteximos de

Constantinopla se deveu ao desaire bizantino frente a Raghib em 898 Cf TOUGHER S ndash Op cit p 185

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Constantinopla185 Leatildeo enviou a sua frota para fazer frente agrave armada aacuterabe quando esta se

comeccedilou a aproximar do Helesponto mas o almirante Eustaacutecio retirou frente ao poderio

aacuterabe O impeacuterio acabado de sair da crise administrativa provocada pela morte de Zaotzeacute186 e

da filha a basiacutelissa em 899 e com uma seacuterie de derrotas navais sofridas frente aos Aacuterabes

(mau grado algumas vitoacuterias tambeacutem) via agora a sua proacutepria capital ameaccedilada

Leatildeo colocou um novo droungaacuterios Himeacuterio agrave cabeccedila da frota imperial e enviou-o

contra o Tripolitano O almirante muccedilulmano entretanto por razotildees desconhecidas mudara

de curso e dirigira-se a Tessaloacutenica sem que o novo droungaacuterios o tentasse deter Uma

duacutevida se coloca por que razatildeo teraacute o Tripolitano mudado de alvo Natildeo haacute muitas certezas

mas parece-nos que se Tessaloacutenica natildeo era um objetivo mais tentador do que

Constantinopla187 certamente era bem mais faacutecil de tomar188 Alegadamente Tessaloacutenica soacute

teraacute sido resgatada por acaso quando um oficial imperial encontrou uma avultada soma

monetaacuteria destinada agrave Bulgaacuteria189 e a ofereceu ao almirante muccedilulmano que soacute entatildeo teraacute

levantado acircncora deixando uma grande parte dos cativos em terra e regressado agrave Siacuteria190

O saque de Tessaloacutenica teve consequecircncias nefastas como eacute expectaacutevel a niacutevel

regional porque metade da populaccedilatildeo foi morta ou capturada incluindo a guarniccedilatildeo e o

strategoacutes Leatildeo Katzilaacutequio a niacutevel psicoloacutegico-religioso porque o padroeiro da cidade Satildeo

Demeacutetrio que sempre tinha protegido a cidade na opiniatildeo dos Bizantinos a teraacute abandonado

naquele ano tendo-se entatildeo discutido as implicaccedilotildees que isso teria na vontade da Virgem em

defender Constantinopla191 a niacutevel diplomaacutetico porque Leatildeo VI se viu obrigado a enviar uma

nova embaixada a Simeatildeo da Bulgaacuteria para o convencer a natildeo se aproveitar daquele evento

para conquistar aquela cidade192 e possivelmente teraacute afetado o prestiacutegio do Saacutebio

Karlin-Hayter no artigo em que defende a poliacutetica externa de Leatildeo VI considera o

saque de Tessaloacutenica como uma das trecircs grandes manchas do reinado drsquo O Saacutebio a par da

eclosatildeo da guerra contra Simeatildeo e da retirada apressada de Niceacuteforo Focas o Velho e de

185 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 186 186 A famiacutelia de Zaotzeacute conspirara contra o imperador mas este foi salvo quando o eunuco aacuterabe Samonas

denunciou a Leatildeo VI esta conspiraccedilatildeo 187 Um ataque agrave capital do impeacuterio consumiria muito tempo e necessitaria de um bom apoio terrestre 188 Treadgold explica que as muralhas mariacutetimas de Tessaloacutenica estavam a ser reparadas por aquela altura pelo

que eacute muito provaacutevel que o Tripolitano se tenha aproveitado da circunstacircncia para atacar aquela cidade Vide

TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 189 Possivelmente o tributo destinado a Simeatildeo 190 Shaun Tougher sempre empenhado em defender a imagem de Leatildeo alega que foi Leatildeo VI a pagar aos

Aacuterabes a libertaccedilatildeo da cidade TOUGHER S ndash Op cit p 188 191 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 p189 192 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 181

48

Eustaacutecio no segundo ano dessa guerra193 No entanto ateacute que ponto as circunstacircncias da

queda de Tessaloacutenica satildeo da culpa do basileuacutes Treadgold194 por exemplo desculpa Leatildeo ao

defender que o ataque tinha sido de surpresa195 Na nossa opiniatildeo poreacutem parece-nos muito

difiacutecil o basileuacutes natildeo ter sabido com antecedecircncia da preparaccedilatildeo desta enorme frota pois de

outra forma esta natildeo podia sequer sonhar em conquistar Constantinopla se a capital fosse

realmente o primeiro alvo do Tripolitano Aliaacutes as accedilotildees de Leatildeo nesse ano mostram que ele

jaacute deveria contar com um ataque naval muccedilulmano procedeu agrave reparaccedilatildeo das muralhas de

Tessaloacutenica a armada imperial permaneceu nas proximidades da capital e talvez mais

relevante de tudo lanccedilou-se uma ofensiva terrestre a oriente196 pouco antes do saque Este

uacuteltimo ponto em particular encaixa no pensamento estrateacutegico do basileuacutes que defende no

Taktikaacute que um ataque naval muccedilulmano deve ser retaliado com uma invasatildeo terrestre197 uma

opiniatildeo que partilhamos com Shaun Tougher198 Em jeito de vinganccedila o basileuacutes lanccedilaria

ainda uma expediccedilatildeo por terra contra a Ciliacutecia sob o comando de Androacutenico Ducas que

culminaria numa vitoacuteria bizantina na batalha de Maras

Em 906 no seguimento da traiccedilatildeo e fuga de Androacutenico Ducas para o Califado199

Himeacuterio derrota uma forccedila naval aacuterabe no dia de Satildeo Tomeacute (6 de outubro) enquanto um

exeacutercito romano saqueia a cidade de Qurus nos arredores de Alepo Em 909 Bizacircncio assola

a costa da Siacuteria e toma as fortalezas de al-Qubba e Laodiceia ataques estes que iratildeo

prosseguir no ano seguinte e que se estendem aos habitantes muccedilulmanos da ilha de Chipre

Em 911 em jeito de represaacutelia Damiano ataca os residentes bizantinos desta ilha no mesmo

ano em que se realiza uma importante expediccedilatildeo talvez direcionada a Creta liderada por

Himeacuterio

Esta expediccedilatildeo representa o uacuteltimo marco relevante no reinado de Leatildeo VI e ao

observarmos a lista dos preparativos para esta expediccedilatildeo200 rapidamente nos apercebemos do

esforccedilo de mobilizaccedilatildeo do Impeacuterio para aquele laquomonumentalraquo empreendimento 177

embarcaccedilotildees 34 mil e duzentos remadores 7140 soldados 700 Russos 5087 Mardaiacutetas201

uma mobilizaccedilatildeo de meios que teraacute custado cerca de 230 000 nomismata soacute no que respeita

193 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 194 Em 1997 195 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 196 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 147 197 Vide Anexos VIII p) 198 Vide TOUGHER S ndash Op cit p190 199 Que teraacute afetado visivelmente o imperador como veremos mais agrave frente 200 Vide Anexos IX a) 201 Descendentes de refugiados cristatildeos da Siacuteria que foram recebidos por Justiniano II e colocados ao serviccedilo da

divisatildeo mariacutetima dos Caribisianos onde se tornaram remadores e tropas de infantaria mariacutetima de renome Vide

TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 26

49

ao pagamento das rocircgai Uma observaccedilatildeo dos dados desta expediccedilatildeo confirma que a

conquista de Creta era um objetivo fulcral para Leatildeo VI202 Se a ilha voltasse para matildeos

bizantinas tambeacutem se retomava o controlo do sul do Mar Egeu e eliminava-se o ninho de

piratas sarracenos mais perigoso para Constantinopla Infelizmente para os Romanos Himeacuterio

acabou por ser obrigado a retirar apoacutes natildeo ter logrado conquistar Chandax (a capital da

ilha)203 tendo a sua frota sido derrotada na viagem de regresso por Leatildeo o Tripolitano e por

Damiano ao largo da ilha de Quios em 912 o ano em que Leatildeo VI adormeceu para sempre

O que podemos dizer acerca de Leatildeo VI em termos militares Na nossa opiniatildeo este

basileuacutes preocupava-se com os assuntos militares do impeacuterio Aliaacutes como natildeo podia Tal

como basileicircs anteriores ele governava um reino rodeado de inimigos circunstacircncia que o

obrigou a fazer escolhas difiacuteceis p ex o ldquosacrifiacuteciordquo de Taormina quando os Aacuterabes se

tornaram muito mais agressivos no Mediterracircneo oriental ou abandonar Tessaloacutenica ao saque

para talvez poupar a frota imperial a um duro combate sem vitoacuteria garantida (apesar de neste

caso a responsabilidade estar mais nas matildeos dos seus dois almirantes Eustaacutecio e Himeacuterio)

Por outro lado conveacutem lembrar que agrave morte de Leatildeo VI o Impeacuterio estava muito

possante noutras frentes Tinha-se expandido para oriente tanto por meios militares como

diplomaacuteticos (no caso de alguns principados armeacutenios) destacando-se tambeacutem uma certa

superioridade militar bizantina neste limes Por outro lado assegurou-se a supremacia no Sul

de Itaacutelia o que permitiu assumir um papel preponderante na expulsatildeo dos Aacuterabes da

Campacircnia Em relaccedilatildeo a Simeatildeo com o qual se assinou a paz em 896 este natildeo deu mais

nenhum sinal de querer atacar Bizacircncio e o basileuacutes fez todos os possiacuteveis por manter essa

paz pois era uma guerra que natildeo tinha desejo de travar por razotildees ideoloacutegicas204 Por fim

devemos recordar que o interesse de Leatildeo VI nos assuntos militares se encontra refletido no

Taktikaacute um tratado que conjuga uma compilaccedilatildeo de alguns conhecimentos praacuteticos e teacutecnicos

com retoacuterica teoloacutegica Estes dois fatores tornam este manual militar uma ferramenta

essencial para compreender o pensamento estrateacutegico bizantino do seacuteculo X

202 John Haldon defende que esta expediccedilatildeo natildeo teria como objectivo principal somente a conquista de Creta (se

o tivesse) mas que seria uma continuaccedilatildeo do empreendimento do ano anterior direcionado agrave costa litoral da

Siacuteria com o objetivo a longo prazo de restabelecer o estatuto de talassocracia a Bizacircncio no que concerne o

Mediterracircneo oriental e o Mar Egeu Vide HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century

Military Administration ndash Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies In Travaux et Memoacuteires (13) pp

240-242 203 Idem Ibidem p 240 204 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40

50

Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina

Neste uacuteltimo capiacutetulo de contextualizaccedilatildeo orientaremos a nossa visatildeo para o estudo da

cultura literaacuteria bizantina com maior enfoque na tratadiacutestica para esse efeito dividimos o

capiacutetulo em dois segmentos Primeiramente vamos analisar algumas questotildees introdutoacuterias

relacionadas com esta praacutetica cultural tipologias motivaccedilotildees e principais caracteriacutesticas De

seguida vamos observar o segundo periacuteodo dourado da respetiva produccedilatildeo o que o motivou

o que o fez diferir do primeiro e quais os protagonistas

31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina

Cremos que uma das coisas mais importantes a realccedilar sobre esta atividade eacute a de que

mais do que tudo era um exerciacutecio cultural tivesse ele algum efeito praacutetico ou natildeo Isso

revela-se desde logo na circunstacircncia de muitos dos autores dos tratados beacutelicos serem civis

grande parte deles sem qualquer experiecircncia militar205 Qual a razatildeo para o interesse por estes

assuntos entre a elite intelectual bizantina

Quanto a este ponto talvez seja importante relembrar a relaccedilatildeo de osmose entre

religiatildeo poliacutetica e guerra em Bizacircncio Muitas foram as vezes em que questotildees de iacutendole

religiosa provocaram periacuteodos de amargura intestina na administraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino

como sucedeu com o Iconoclasmo Eacute evidente que quando a instabilidade governativa

imperava em Constantinopla isso irradiava por todo o Impeacuterio acabando por acarretar

consequecircncias natildeo apenas a niacutevel interno206 mas tambeacutem externo207 Esta interaccedilatildeo entre a

religiatildeo e o poder militar transpunha-se tambeacutem para a produccedilatildeo cultural Um dos grandes

exemplos disto eacute o Taktikaacute de Leatildeo VI que frente a ameaccedilas em muacuteltiplas frentes (em

especial a muccedilulmana) defendia que a condiccedilatildeo cristatilde e a fidelidade a Deus por parte dos

seus generais assim como a condiccedilatildeo de laquodefensores da feacuteraquo era um dos ingredientes

principais para a vitoacuteria em qualquer conflito208 Por outro lado a guerra era considerada

como um mal necessaacuterio na sociedade bizantina eacute certo que sendo uma comunidade cristatilde a

odiava todavia necessitava dela para ironicamente alcanccedilar a paz209hellip

Se por um lado existia esta relaccedilatildeo entre a religiatildeo e o pensamento estrateacutegico o

mesmo acontecia no sentido inverso O pensamento militar em Bizacircncio comeccedilou tambeacutem

205 Como por exemplo Leatildeo VI Urbiacutecio e Siriano 206 A revolta de Artavasdo por exemplo parece tambeacutem ter motivos religiosos pois este era iconoduacutelio 207 Enquanto a questatildeo iconoclaacutestica afetou a sociedade bizantina apesar de natildeo ter havido grandes perdas

territoriais o territoacuterio tambeacutem natildeo aumentou muito (pelo menos na frente oriental) 208 Vide cf infra capiacutetulo 4 209 Vide Anexo VIII o)

51

ele a influenciar a religiatildeo e a cultura em geral Enquanto os soldados travavam a guerra

terreste as autoridades religiosas (o cristianismo oriental em geral) combatiam contra o mal

Na literatura teoloacutegica verifica-se a apropriaccedilatildeo de vocabulaacuterio militar para exaltar esse

combate tratando-o tambeacutem como uma guerra com as suas campanhas e batalhas proacuteprias o

qual era travado com armas espirituais como a reza e a contemplaccedilatildeo210 Enquanto isso

verifica-se na produccedilatildeo historiograacutefica bizantina uma predominacircncia das temaacuteticas beacutelicas

(campanhas batalhas e triunfos) como mote para embelezar a narrativa e tambeacutem como

criacutetica da parte do autor um basileuacutes vitorioso e bravo era presenteado com elogios um

imperador que natildeo o fosse era tratado como fraco e castigado por Deus (especialmente se

tivesse matildeo pesada para a Igreja financeiramente falando como sucedeu com Niceacuteforo I)

A tratadiacutestica bizantina eacute conhecida por possuir um grande cariz antiquaacuterio e

enciclopeacutedico211 Isto eacute verificaacutevel ao longo de todo o percurso da literatura militar em

Bizacircncio onde rapidamente se verifica que satildeo muito poucas (senatildeo praticamente

inexistentes) as obras totalmente originais Todas elas retiram informaccedilatildeo e conhecimento de

fontes mais antigas quer claacutessicas quer bizantinas verificando-se paraacutefrases inteiras de

secccedilotildees desses antecedentes212 Apesar disto alguns manuais alteram esses trechos para os

adequar agraves circunstacircncias da eacutepoca com novas taacuteticas e armamento e com a eliminaccedilatildeo de

conhecimento obsoletos tal facto observa-se com maior frequecircncia em tratados produzidos

por autores com experiecircncia militar como no caso de um strategoacutes de um domestikoacutes (como

Niceacuteforo Ouranos autor de um Taktikaacute escrito no seacutec XI) ou ateacute de certos imperadores (como

Mauriacutecio ou Niceacuteforo II Focas) Podemos observar ainda inserido neste uacuteltimo fenoacutemeno o

aparecimento de palavras oriundas de outras liacutenguas que natildeo o grego como do armeacutenio do

aacuterabe e obviamente modificaccedilotildees de alguns termos latinos213 por influecircncia do leacutexico militar

bizantino O pragmatismo da tratadiacutestica bizantina revela-se nestes uacuteltimos fatores bem como

o seu caraacuteter evolutivo (ainda que pouco inovador) nos aspetos militares Todavia mesmo que

esse aspeto criativo natildeo existisse de todo tal natildeo retiraria importacircncia a tais obras uma vez

que estas natildeo deveriam ser lidas como algo que decidisse de imediato a forma como um

210 laquoThe vocabulary of warfare permeated theological and religious literature too so that monastic

communities were described as regiments of spiritual fighters for the faith and the struggle of the Church

against evil was phrased in terms of a military campaign in which the weapons of prayer contemplation and

spiritual purification were part of the armory of the east Roman churchraquo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit

p21 211 Muitos dos seus autores como eram filoacutesofos ou retoacutericos sem qualquer praacutetica nas artes da guerra natildeo

possuiacuteam interesse sequer que as suas obras tivessem alguma utilidade praacutetica ou que o seu uso fosse somente

militar Vide MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit p 907 212 O Taktikaacute de Leatildeo VI eacute muito influenciado por vaacuterios tratados anteriores natildeo soacute do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio

mas tambeacutem das obras de Onasandro Aeliano possivelmente Siriano entre outros 213 Para uma pequena suma de alguns destes termos vide NISA J (2016) ndash Op cit p 9

52

general deveria agir O strategoacutes deveria usaacute-las como uma fonte de ideias e de

conhecimentos para no momento de passar agrave accedilatildeo poder deliberar em consonacircncia com a

sua experiecircncia pessoal sobre qual a melhor forma de agir nas situaccedilotildees que enfrentava214

Ora em conformidade com esta continuaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de literatura beacutelica claacutessica e

romana verificamos a manutenccedilatildeo na cultura bizantina das mesmas disciplinas que vigoraram

na produccedilatildeo de tratados ateacute aiacute a strategikaacute a taktikaacute a naumachikaacute a poliorketikaacute e a

strategemataacute215 Finalizada esta pequena descriccedilatildeo da tratadiacutestica bizantina olhemos para o

estado dela na sua segunda fase de ouro ou seja nos seacuteculos X e XI

32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI)

O que suscitou o reaparecimento da produccedilatildeo literaacuteria militar nos iniacutecios do seacuteculo X

Consideramos que eacute possiacutevel afirmar ter-se tratado de um momento uacutenico para que tal

acontecesse Pela primeira vez em seacuteculos o Impeacuterio Bizantino atravessava um periacuteodo de

relativa estabilidade interna Longe iam os tempos do laquoseacuteculo negroraquo de 640-740 quando

Bizacircncio se confrontara com o iacutempeto inicial e avassalador dos Aacuterabes com o aparecimento

dos Buacutelgaros e com a longa guerra de atrito com os Lombardos em Itaacutelia O Iconoclasmo a

dura questatildeo religiosa que tinha fraturado a sociedade bizantina por um seacuteculo tinha tambeacutem

sido resolvido nos iniacutecios do reinado de Miguel III

Estes eventos natildeo trouxeram perfeiccedilatildeo agrave vida em Constantinopla pois a guerra as

questotildees religiosas e as intrigas de palaacutecio eram quase endeacutemicas mas geraram um periacuteodo de

maior calma na capital Isto permitiu a Bizacircncio revisitar o passado e iniciar um novo

processo de produccedilatildeo cultural a que podemos chamar de laquoRenascimento Macedoacutenicoraquo Este

percurso iniciou-se na segunda metade do seacuteculo X sob a tutela de homens cultos como o

patriarca Foacutecio que resumiu e compilou segmentos de 279 manuscritos claacutessicos pagatildeos ou

cristatildeos numa obra chamada Bibliotheacuteka216 Mais tarde durante o principado de Basiacutelio I

deu-se uma revisatildeo do Corpus Iuris Iustinianus numa obra chamada Basilikaacute que seria

terminada no reinado de Leatildeo VI e que contou ainda com algumas leis novas (as Novelle)217

Em relaccedilatildeo aos aspetos da literatura militar podemos afirmar que este renascimento se

deu com o Compecircndio de Siriano magistros (que podemos datar com alguma certeza para o

seacuteculo IX) Apesar de se inspirar muito mais nos manuais militares claacutessicos do que no

Stratēgikoacuten paradigma comum na cultura militar bizantina esta compilaccedilatildeo foi um regresso agrave

214 Vide MCGEER E (2008a) ndash Op cit p908 215 Cf supra Introduccedilatildeo 216 Vide MONTEIRO J (2017) ndash Op cit p72 217 Vide Idem Ibidem p 75

53

tratadiacutestica estagnada desde o De Militari Scientia218 Aleacutem disso os segmentos sobre guerra

naval e retoacuterica Naumachiacuteai e Rhetorica Militaris mostram-se inovadores O primeiro

porque a escrita sobre a guerra naval natildeo tinha tido grande expressatildeo durante a produccedilatildeo

tratadiacutestica dos seacuteculos V e VI o segundo porque (possivelmente) alertava para a ameaccedila

ideoloacutegica islacircmica para o seu cariz antagoacutenico aos valores cristatildeos e para a sua hostilidade

para com a existecircncia do impeacuterio da Ortodoxia219

Obviamente que o renascimento cultural natildeo pode ser tratado como a causa uacutenica para

o reaparecimento da tratadiacutestica A enorme quantidade de sucessos militares bizantinos

tambeacutem foi razatildeo para tal os triunfos em Marj al-Usquf Lalacatildeo e Bathys Riax a Oriente e a

subjugaccedilatildeo do sul de Itaacutelia a Ocidente poderatildeo ter sido os motes iniciais para este fenoacutemeno

Tambeacutem natildeo nos podemos esquecer das vitoacuterias bizantinas nos finais do seacuteculo X e iniacutecios do

seacuteculo XI que tornaram Bizacircncio a principal potecircncia do Mediterracircneo Oriental

Ateacute certo ponto parece-nos que podemos distinguir soacute por estes fatores duas fases

neste periacuteodo Uma primeira mais relacionada com o aspeto enciclopeacutedico da tratadiacutestica

protagonizada por Leatildeo VI e pelo seu filho Constantino VII (que ainda assim conseguiram

inovar em alguns aspetos de que falaremos mais adiante) A segunda prende-se com um

aspeto mais praacutetico e inovador sendo encabeccedilada por Niceacuteforo II Focas que deu letra de

forma natildeo soacute aos principais aspetos da guerra ofensiva travada por Bizacircncio mas

adicionalmente deu relevacircncia a alguns geacuteneros menos trabalhados como a guerra de

guerrilha ou a logiacutestica Em resumo a tratadiacutestica mudou com o reorientar da guerra de uma

estrateacutegia defensiva para uma mais ofensiva um facto que teraacute obrigado (apesar de natildeo ser o

uacutenico fator) a que as alteraccedilotildees taacuteticas necessaacuterias a essa mudanccedila fossem registadas em livro

Por fim natildeo devemos esquecer a ideologia cristatilde de Bizacircncio que teve um efeito geral

na produccedilatildeo literaacuteria bizantina deste periacuteodo de modo a construir (ou afirmar) uma identidade

cultural cristatilde e tambeacutem a fazer transparecer isso na forma de fazer (e escrever) a guerra220

Para Bizacircncio a guerra era uma coisa maacute e sabia-se que era endeacutemica e inevitaacutevel tendo de

ser defensiva para ser justa221 (ainda que pudesse envolver a reconquista de antigos territoacuterios

romanos222) Natildeo importava que o inimigo fosse islacircmico pagatildeo ou ateacute cristatildeo para Bizacircncio

a grande questatildeo era a sobrevivecircncia do Impeacuterio Bizantino Cristatildeo cujo soberano era o

218 Um pequeno tratado de autoria anoacutenima datado da segunda metade do seacuteculo VII que daacute grande ecircnfase agrave

cavalaria Este tratado eacute composto por muacuteltiplas locuccedilotildees vernaculares sem precedente e teria como objetivo

adaptar as informaccedilotildees do Stratēgikoacuten agrave realidade da altura Vide COSENTINO S (2009) ndash Op cit p 86 219 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p19 220 Para o caso do Taktikaacute cf infra II1 Para o caso Perigrave Paradromeacutes cf NISA J (2016) ndash Op cit pp 52-55 221 Vide Anexo VIII o) 222 HALDON J (1999) ndash Op cit p25

54

escolhido por Deus e apenas aiacute residia a santidade da guerra travada por Bizacircncio na defesa

do seu territoacuterio e do povo cristatildeo Para garantir a vitoacuteria era necessaacuterio o strategoacutes para aleacutem

do conhecimento de todas as artes da guerra ser bom homem e bom cristatildeo de forma a

garantir o apoio de Deus e assim a vitoacuteria um fator que alguns tratados deste periacuteodo natildeo se

cansam de enfatizar

A tratadiacutestica deste periacuteodo tinha novas prioridades Em primeiro lugar verifica-se um

afastamento direto das fontes mais claacutessicas em especial as heleniacutesticas ainda que se

mantivesse (como natildeo podia deixar de ser) uma ligaccedilatildeo indireta a estas em primeiro lugar

pela principal inspiraccedilatildeo literaacuteria militar deste periacuteodo o Stratēgikoacuten de Mauriacutecio em

segundo pelo descendente direto desta obra o Taktikaacute de Leatildeo VI Neste ponto conveacutem

realccedilar que este afastamento natildeo foi abrupto o compecircndio de Siriano por exemplo ainda vai

beber nessas fontes A retoacuterica de guerra em especial a que se debruccedilava mais sobre os

assuntos religiosos tambeacutem foi um dos aspetos que mais evoluiu durante este periacuteodo

Para aleacutem da questatildeo religiosa de que falaremos adiante comeccedilou-se a verificar um

incremento no uso da tratadiacutestica para fins propagandiacutesticos natildeo soacute para consolidar a posiccedilatildeo

do cristianismo como a verdadeira religiatildeo mas tambeacutem a niacutevel poliacutetico e em especial

militar com esforccedilos para reduzir as vitoacuterias dos grandes inimigos de Bizacircncio223 enquanto

por outro lado se tentava consolidar a legitimidade divina da dinastia reinante ou a

superioridade de uma famiacutelia em especial224 por meio da divulgaccedilatildeo de sucessos militares225

Por fim em termos temaacuteticos podemos verificar um florescimento na naumachikaacute

Como jaacute foi referido226 este geacutenero natildeo teve grande divulgaccedilatildeo durante a primeira fase de

escrita beacutelica Por que razatildeo teraacute ressurgido nesta altura227 A nosso ver foi uma questatildeo de

necessidade Conveacutem recordar que a segunda metade do seacuteculo IX foi marcada por uma seacuterie

de derrotas a niacutevel naval que se traduziram na expulsatildeo das forccedilas romanas das ilhas

estrateacutegicas mais importantes do Mediterracircneo de Creta logo em 828 e da Siciacutelia uma

conquista morosa para os Aglaacutebidas mas que alegadamente terminou em sucesso com a

captura e saque de Siracusa em 878 e na praacutetica com a tomada do uacuteltimo enclave bizantino

em Taormina em 902 Estes reveses navais continuaram nas primeiras deacutecadas do seacuteculo X

tendo o saque de Tessaloacutenica (em 904) e a destruiccedilatildeo da frota de Himeacuterio ao largo da ilha de

Chios (em 912) configurado os principais momentos desses acontecimentos

223 Cf Constantino VII basileuacutes [Oraccedilatildeo Militar do Imperador Constantino] Traduccedilatildeo e Comentaacuterio

NESBITT J W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden e Boston Brill p 117 224 O caso da famiacutelia Focas Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 65 225 Vide MCGEER Eric (2003) ndash Op cit p 115 226 Cf supra 11 227 Para um conjunto de obras sobre guerra naval neste periacuteodo cf infra 43

55

A comparaccedilatildeo que se pode traccedilar entre o estado de Bizacircncio como potecircncia naval

entre as duas fases da literatura militar com quase trecircs seacuteculos de distacircncia eacute notaacutevel Quanto

ao primeiro caso eacute seguro afirmar que Bizacircncio era a principal potecircncia naval do

Mediterracircneo oriental se natildeo de todo o Mediterracircneo sem grandes adversaacuterios em termos

mariacutetimos o Impeacuterio Romano do Oriente pocircde-se dar ao luxo de natildeo possuir uma poderosa

armada de guerra tendo apenas ao seu dispor uma frota ligeira destinada simplesmente a

proteger o comeacutercio de quaisquer ameaccedilas que pudessem surgir bem como servir de apoio no

limes do Danuacutebio228

Esta situaccedilatildeo tinha mudado completamente de figura nos finais do seacuteculo IX quando

Bizacircncio se viu obrigada a esforccedilos redobrados para se impor como talassocracia De facto e

como salienta a bizantinista Heacutelegravene Ahrweiller natildeo deixa de ser paradoxal que no iniacutecio da

dinastia Macedoacutenica apesar de os basileicircs possuiacuterem a maior marinha que o impeacuterio jaacute tinha

visto e mesmo depois de terem implementado vaacuterias reformas administrativo-militares (a

remodelaccedilatildeo dos themaacuteta mariacutetimos e a criaccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo de cargos oficiais navais)

natildeo conseguiram garantir a supremacia mariacutetima229 Teratildeo sido entatildeo o aumento da

importacircncia do controlo dos mares230 conjugado com vaacuterias derrotas navais sofridas que

justificaram o reavivar da produccedilatildeo tratadiacutestica direcionada para a guerra naval231

228 Vide cf supra 12 229 Vide AHRWEILLER H ndash Op cit p 105 230 Refletido no aumento da tonelagem dos droacutemōnes de guerra da marinha de guerra e de reformas relacionadas

com a frota imperial e temaacutetica 231 Outra inovaccedilatildeo na naumachikaacute foi o aparecimento do fogo greguecircs com os tratados a ensinarem como este

deveria ser utilizado

56

Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute

A segunda parte desta tese constitui certamente o seu cerne Optaacutemos por iniciaacute-la

com um pequeno capiacutetulo acerca da fonte em si e ainda natildeo sobre o seu conteuacutedo Sendo

assim este segmento da dissertaccedilatildeo comeccedilaraacute por tratar da autoria da dataccedilatildeo e da

motivaccedilatildeo bem como da discussatildeo daiacute resultante na medida em que isso seja pertinente No

subcapiacutetulo seguinte abordaremos a tipologia da fonte e a estrutura interna da mesma com

um breve resumo do que conteacutem cada Constitutio onde teremos em conta as disciplinas da

tratadiacutestica bizantina (que segue com alguma exatidatildeo os princiacutepios da claacutessica) Por fim

dedicaremos um subcapiacutetulo agrave histoacuteria do Taktikaacute desde a sua escrita ateacute hoje elencando os

manuscritos onde se encontra transcrito bem como as traduccedilotildees que dele foram feitas ao

longo dos tempos

41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza

As duacutevidas que se colocam acerca da identidade do autor do Taktikaacute e que existem a

propoacutesito de inuacutemeros escritos do mesmo geacutenero (como as obras atribuiacutedas ao co-imperador

Niceacuteforo II Focas232 ou mesmo a imputaccedilatildeo do Stratēgikoacuten a Mauriacutecio233) natildeo parecem

colocar-se no que diz respeito ao tratado que vamos analisar De facto as nossas pesquisas e a

anaacutelise deste manual militar permitem-nos concluir que se a escrita direta da obra natildeo

resultou das matildeos de Leatildeo VI pelo menos a sua organizaccedilatildeo e algumas das passagens

certamente tiveram essa origem Os uacutenicos obstaacuteculos existentes a esta atribuiccedilatildeo prendiam-se

com o facto de Leatildeo VI natildeo ter participado em campanhas militares o que levou muitos

historiadores a concluir que ele natildeo teria interesse por estes assuntos Esta ideia foi

entretanto contrariada por vaacuterios estudiosos como Shaun Tougher e Karlin-Hayter como jaacute

referimos que conseguiram demonstrar que o Saacutebio teve um papel preponderante na

governaccedilatildeo dos assuntos militares do seu impeacuterio mesmo raramente tendo deixado

Constantinopla234 Outros fatores dentro do tratado em apreccedilo reforccedilam esta nossa opiniatildeo

232 Para o tratado de campanhas na Bulgaacuteria o De re militaris vide COSENTINO Salvatore (2009) Writing

about War in Byzantium In ldquoRevista de Histoacuteria das Ideiasrdquo (30) Coimbra Para o Perigrave Paradromeacutes vide NISA

J (2016) ndash Op cit p60 233 Vide COSENTINO Salvatore (2009) ndash Op cit p 85 234 John Haldon refere ainda que Leatildeo VI natildeo participou ativamente em ocupaccedilotildees beacutelicas para tentar emular o

imperador Justiniano um dos principais organizadores da chamada ldquoReconquista Justinianardquo mantendo assim

grande interesse pelos assuntos militares do Impeacuterio Bizantino Vide HALDON J (2004) ndash Op cit pp 13-14

57

a identificaccedilatildeo de Leatildeo VI como basileuacutes na intitulatio235 do livro236 bem como a

identificaccedilatildeo do imperador Basiacutelio como o pai do autor237

Por outro lado indicar Leatildeo VI como autor238 eacute algo falacioso pois efetivamente

dentro do Taktikaacute verificam-se poucas entradas originais Este manual militar agrave semelhanccedila

de muitos outros bizantinos natildeo conjuga somente conteuacutedos ineacuteditos tratando-se de uma

obra que transcreve inuacutemeras passagens de diversos tratados precedentes algumas delas

adaptadas de forma a corresponder agrave realidade coeva a que satildeo acrescentadas ideias e

informaccedilotildees pertinentes pelo autor neste caso por Leatildeo VI Assim a atribuiccedilatildeo da autoria do

Taktikaacute a Leatildeo VI assenta mais na forma como ele organizou os vaacuterios excertos copiados de

tratados antecedentes e na seleccedilatildeo dos comentaacuterios morais e gnoacutemicos239

Nos uacuteltimos anos tecircm surgido vaacuterias propostas relacionadas com a data da compilaccedilatildeo

deste manual Kulakovskiy propotildee o periacuteodo cronoloacutegico entre 890-891240 Dagron sugere

895241 surgiram tambeacutem propostas para a primeira deacutecada do seacuteculo X especialmente para o

periacuteodo entre 904 e 908 algum tempo apoacutes 904 ou para depois dos anos 906 e 907242 No seu

comentaacuterio ao Taktikaacute John Haldon considera que haacute quatro elementos principais para balizar

a dataccedilatildeo deste tratado243 a utilizaccedilatildeo do termo autokraacutetor para o tiacutetulo de Leatildeo VI uma

nomenclatura que se passou a atribuir a este imperador a partir de 904244 passagens

relacionadas com o conflito bizantino-buacutelgaro de 894245-896246 ainda com utilidade mais

contestaacutevel a referecircncia ao Taktikaacute com o termo Proacutecheiros Noacutemos que se reporta a um

coacutedigo juriacutedico escrito anteriormente ao tratado247 e por fim uma passagem248 vista como

algo emocional249 relacionada com a traiccedilatildeo de strateacutegoi mas que pode aludir a niacutevel mais

pessoal agrave deserccedilatildeo para os Aacuterabes do strategoacutes Androacutenico Ducas e do filho Constantino em

235 Voltaremos a referi-nos a este ponto quando falarmos da estrutura da obra 236 Vide Anexo VIII f) 237 Vide Anexo VIII g) 238 No sentido de produtor de uma obra completamente original 239 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 25 240 Kulakovskij J (1898) Lev Mudryj ili Lev Isavr byl avtorom lsquoTaktikirsquo In Vizantiiskii Vremmenik 5 pp

400-401 Apud HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 241 Vide DAGRON Gilbert (1983) Byzance et le modegravele islamique au Xe siegravecle A propos des Constitutions

tactiques de lempereur Leacuteon VI In Comptes rendus des seacuteances de lAcadeacutemie des Inscriptions et Belles-

Lettres ano 127 nordm 2 p 219 242 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 243 Vide Idem Ibidem pp 59-61 244 Vide Idem Ibidem p 60 245 Vide Anexo VIII e) 246 Vide Anexo VIII b) 247 A contestaccedilatildeo referente a este ponto eacute feita devido a duacutevidas da dataccedilatildeo desta obra alguns autores atribuem

uma dataccedilatildeo para a deacutecada de 70 do seacuteculo IX outros para o ano de 907 Vide Idem Ibidem pp 60-61 248 Vide Anexo VIII j) 249 Vide Idem Ibidem p61

58

905 e posterior regresso deste uacuteltimo em 908250 Todos estes fatores levam-nos a crer que este

tratado (ou a sua versatildeo final) teraacute sido concluiacutedo no seacuteculo X

Eacute importante referir e voltaremos ao assunto mais adiante que o Taktikaacute teve vaacuterias

fases de produccedilatildeo que se refletiram em conteuacutedos novos temaacuteticas distintas e ateacute certas

alteraccedilotildees na motivaccedilatildeo da escrita do tratado Voltaremos a este ponto quando evocarmos um

pouco da histoacuteria do tratado desde a sua escrita ateacute hoje

Por fim resta-nos discutir uma questatildeo qual foi a motivaccedilatildeo por detraacutes da escrita do

tratado Ateacute muito recentemente inuacutemeros especialistas acreditavam baseando-se num dos

seus segmentos251 que o principal motivo para a escrita do Taktikaacute era este servir como

resposta agrave ameaccedila que os Aacuterabes protagonizavam no reinado de Leatildeo VI chegando-se a

afirmar de uma forma laquogeralmente aceiteraquo (de acordo com J Haldon) que o tratado fora

escrito especificamente por causa dos Muccedilulmanos e da sua religiatildeo252 De facto e como bem

salienta Gilbert Dagron253 o tratado refere duas carateriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos

Aacuterabes contra Bizacircncio o facto de ter uma orientaccedilatildeo religiosa que noacutes conhecemos como

jihad e que impelia um grande nuacutemero de voluntaacuterios fervorosos a pegar em armas os

chamados ghazi mas que concomitantemente atribuiacutea grande prestiacutegio e especialmente

lealdade a quem comandasse a guerra em nome do Islatildeo254 e a influecircncia da guerra na

estrutura social do mundo muccedilulmano (geograficamente proacuteximo de Bizacircncio)255

Sobre este uacuteltimo ponto Dagron256 refere que os exemplos principais desta praacutetica

eram a organizaccedilatildeo dos al-thugucircr o sistema militar na fronteira do Califado mais organizado

e sofisticado alguma vez criado pelos califas de acordo com Hugh Kennedy257 que seria mais

tarde herdado pelos emirados da Ciliacutecia da Armeacutenia e da Siacuteria e que persistiria ateacute agrave queda

do uacuteltimo thugucircr Antioquia agraves matildeos de Niceacuteforo II Focas (em 969) a existecircncia dos jaacute

referidos ghazi e o apoio providenciado pelas doaccedilotildees caridosas islacircmicas as waqf agrave causa

das campanhas (e dos soldados nela envolvidos) realizadas em nome da religiatildeo

No entanto Haldon natildeo concorda plenamente com esta visatildeo pois defende que no

excerto usado para apontar as questotildees relacionadas com a ameaccedila sarracena como principal

250 O pai entretanto havia morrido no Califado 251 Anexos VIII h) e i) 252 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p22 253 Vide DAGRON Gilbert ndash Op cit p22 254 Ateacute ao decliacutenio do Califado Abaacutessida a organizaccedilatildeo das expediccedilotildees de Veratildeo a territoacuterio bizantino as saifa

era uma tarefa tatildeo importante no sentido ritual e espiritual como a preparaccedilatildeo da peregrinaccedilatildeo anual a Meca a

hajj Vide KENNEDY Hugh (2001) The Armies of the Caliphs Military and Society in the Early Islamic State

Londres e Nova Iorque Routledge p 106 255 Vide Anexos VIII k) 256 DAGRON G ndash Op cit p 221 257 HALDON J e KENNEDY H ndash Op cit p 106

59

motivo para a escrita do Taktikaacute258 natildeo se indica uma razatildeo para a escrita do tratado em si

mas sim da Constitutio onde se encontra presente ou ateacute apenas para aquela secccedilatildeo da

mesma259 No seu comentaacuterio Haldon defende ainda que apesar de grande parte do conteuacutedo

sobre os Aacuterabes jaacute estar presente na versatildeo original do tratado a maior parte dos comentaacuterios

relacionados com eles bem como as preocupaccedilotildees do basileuacutes manifestadas com o seu

inimigo daquele tempo seratildeo uma adiccedilatildeo posterior ao tratado260 Ainda que natildeo se trate de

um dos motivos principais para a escrita do Taktikaacute estas adendas satildeo uma das componentes

mais importantes e originais do tratado e teratildeo sido ativadas a nosso ver pelos desaires que

Bizacircncio sofreu agraves matildeos dos Aacuterabes especialmente no contexto da guerra naval e talvez de

preponderante importacircncia pelo saque de Tessaloacutenica a segunda maior cidade do impeacuterio

por dois corsaacuterios muccedilulmanos (ainda por cima de origem bizantina) em 904

Posto isto quais satildeo as motivaccedilotildees originais De acordo com Haldon o Taktikaacute

configura laquouma tentativa de legislar a guerra como uma atividade que cai sob a sua supervisatildeo

e autoridade tal como jaacute tinha feito em outras esferasraquo261 bem como um guia para uma

conduta moral cristatilde da guerra na lealdade a laquoDeus e ao imperador escolhido divinamenteraquo

Assim sendo a principal motivaccedilatildeo do basileuacutes na ediccedilatildeo deste tratado eacute a necessidade de

incutir nos seus generais um certo fervor religioso (embora natildeo tatildeo fanaacutetico quanto o dos

muccedilulmanos) bem como a lealdade ao imperador que se viu perante vaacuterios traidores ao

longo do seu reinado os quais lhe provocaram grande maacutegoa tal como as traiccedilotildees de

Androacutenico Ducas e do filho mais tardias que o afligiram pessoalmente262 Eacute destes uacuteltimos

pontos que se deve apurar o teor de obrigatoriedade na leitura do Taktikaacute aos strategoacutei

incutida por Leatildeo VI e natildeo nos aspetos praacuteticos desta obra

Por sua vez o Taktikaacute natildeo deve ser considerado como um manual militar per se uma

vez que os seus destinataacuterios (isto eacute os strateacutegoi do impeacuterio) tinham muito mais experiecircncia

do que Leatildeo VI no que toca aos aspetos praacuteticos e teacutecnicos da guerra263 Esta opiniatildeo no que

respeita agrave questatildeo religiosa eacute apoiada tambeacutem por Meredith Riedel da Universidade de

Duke que defende que o basileuacutes pretendeu criar uma identidade cultural bizantina assente na

258 Vide Anexo VIII h) 259 HALDON John (2014) - Op cit pp 22-23 260 Idem Ibidem p23 261 Idem Ibidem p23 262 Vide Anexo VIII j) 263 Idem Ibidem p25

60

piedade cristatilde apelando aos seus generais para que fossem o modelo ideal do bom cristatildeo ao

comando dos seus soldados os laquodefensores da Feacuteraquo264

Evocadas as principais teses cabe-nos agora tecer a nossa proacutepria apreciaccedilatildeo Apesar

daqueles pontos a nosso ver bastante vaacutelidos acreditamos que podemos acrescentar ainda um

outro motivo para a escrita deste tratado o enciclopedismo cultural Leatildeo no aspeto temporal

natildeo aparenta qualquer intenccedilatildeo de criar algo ineacutedito Na questatildeo muccedilulmana por exemplo

natildeo apresenta soluccedilotildees originais de cariz taacutetico ou estrateacutegico Isto parece-nos natural pois

apesar do seu visiacutevel interesse pelas questotildees de iacutendole militar e a sua dedicaccedilatildeo ao tomar

conta dos assuntos de governaccedilatildeo militar do Impeacuterio Romano este basileuacutes nunca comandou

campanhas militares na frente de guerra contentando-se em liderar a resposta estrateacutegica agraves

ameaccedilas de que o Impeacuterio sofria Parece-nos possiacutevel conjugar este interesse do imperador

com um interesse renovado pela cultura claacutessica que comeccedilou a surgir em Bizacircncio a partir do

iniacutecio do reinado de Basiacutelio I uma vez que Leatildeo VI condensou muita informaccedilatildeo da

tratadiacutestica militar antiga no Taktikaacute Por outro lado eacute importante recordar que o basileuacutes

encomendara tambeacutem a um dos seus domestikoacutes Leatildeo Katakalon um tratado sobre as

expediccedilotildees militares exatamente aquilo que natildeo estaacute presente no Taktikaacute265 cuja versatildeo

incompleta teraacute sido aproveitada mais tarde por Constantino VII266 Isto demonstra que o

Saacutebio apesar de natildeo participar na guerra se sentia muito atraiacutedo por estes assuntos o que o

teraacute levado a organizar uma obra que refletisse a forma como a guerra era feita no seu tempo

O que se tivermos em conta a dataccedilatildeo duvidosa do Compecircndio de Siriano (seacutec VI IX ou X)

teraacute sido a primeira versatildeo atualizada do geacutenero267 em quase dois seacuteculos

Assim na nossa opiniatildeo parece-nos possiacutevel concluir que o Taktikaacute deve ser exposto

natildeo soacute como um manual militar mas tambeacutem como um documento cujos propoacutesitos

principais natildeo eram praacuteticos O primeiro seria de iacutendole religiosa-legislativa e tencionava de

certo modo consolidar uma filosofia de guerra cristatilde (natildeo estamos a falar de guerra santa) em

que a piedade e o caraacuteter do general (devia ser bom inteligente leal entre outros atributos)

eram fatores tatildeo importantes para a vitoacuteria militar como a taacutetica a estrateacutegia ou os ardis Mais

tarde com o reafirmar da ameaccedila aacuterabe este propoacutesito saiu reforccedilado com a intenccedilatildeo do

basileuacutes em encontrar uma soluccedilatildeo espiritual e natildeo temporal para fazer frente agrave jihad

264Vide RIEDEL Meredith The Sacrality of a Sovereign Leo VI and Politics in Middle Byzantium p8 in

httpswwwacademiaedu3831861The_Sacrality_of_a_Sovereign_Leo_VI_and_Politics_in_Middle_Byzantiu

m Consultado agraves 330 do dia 4 de outubro de 2017 265 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p76 266 Vide TOUGHER S ndash Op cit p16 267 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 21

61

O outro propoacutesito eacute cultural baseando-se natildeo soacute no chamado laquoRenascimento

Macedoacutenicoraquo que comeccedilou a crescer exponencialmente neste periacuteodo mas tambeacutem no

interesse de Leatildeo VI pelas questotildees militares Estes dois fatores em conjunto com o

enciclopedismo caracteriacutestico do Saacutebio motivaram-no tambeacutem a escrever um tratado onde

combinava o conhecimento dos antigos com a experiecircncia dos seus generais de forma a

reportar a forma como os exeacutercitos ditos temaacuteticos praticavam a guerra ao que acrescentou

alguns comentaacuterios pessoais relacionados com a retoacuterica da guerra em especial na vertente

religiosa Na nossa visatildeo eacute desta forma que o tratado deve ser visto um manual militar que

visava conservar e atualizar a informaccedilatildeo pertinente agraves praacuteticas da guerra ao mesmo tempo

que impulsionava os seus destinataacuterios os strateacutegoi a seguirem um coacutedigo eacutetico moralmente

bom e de base religiosa que ndash segundo Leatildeo VI ndash acabaria por os conduzir agrave vitoacuteria

42 ndash Estrutura interna da fonte

Na sua organizaccedilatildeo o Taktikaacute apresenta-se como um conjunto de Constitutiones ou

seja como um conjunto de decretos imperiais direcionados a um oficial ou a algueacutem que

estivesse encarregado de um qualquer posto estatal268 o que condiz com o objetivo principal

deste manual de legislar a guerra sob a autoridade imperial De facto o proeacutemio269 que

inaugura este tratado encontra-se modelado de forma muito semelhante aos que servem como

introduccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo imperial particularmente o do Proacutecheiros Noacutemos seguindo um

formato proacuteprio que pertence ao chamado laquomodelo tripartidoraquo a invocatio a intitulatio e a

inscriptio270 Desta forma o proeacutemio do Taktikaacute comeccedila com uma invocatio nomeadamente agrave

Sagrada Trindade seguido de uma intitulatio com o nome e os tiacutetulos do imperador Do

modelo tripartido a uacutenica coisa que falta eacute a inscriptio porque o tratado natildeo se dirige a um

general em especial mas sim ao conjunto dos strateacutegoi271

No Proacutelogo segue-se o corpo principal da ldquolegislaccedilatildeordquo constituiacutedo por trecircs partes a

narratio a dispositio e o epilogus A narratio272 do Taktikaacute ocupa os espaccedilos entre as linhas

25 e 54 do Proacutelogo e relata o problema e a forma como este chegou agrave atenccedilatildeo imperial273

Leatildeo VI diz enfrentar o facto de os comandantes bizantinos se terem esquecido

completamente das miacutenimas noccedilotildees de estrateacutegia e de taacutetica Este efeito teraacute sido causado pela

268 Vide LUTTWAK Edward N (2009) The Grand Strategy of the Byzantine Empire Cambridge e Londres

The Belknap Press of Harvard University Press p 305 269 Prefaacutecio 270 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 121 271 Vide Anexos VIII f) 272 Secccedilatildeo onde eacute abordado o problema que a legislaccedilatildeo quer resolver 273 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121

62

negligecircncia dos ensinamentos dos antigos pela timidez dos seus generais ou pela falta de

treino e cobardia dos soldados bizantinos Ora de acordo com o autor isto teraacute levado os

Romanos a perder o favor divino e a aura de triunfo militar que tanto emanava deste povo274

Posteriormente o autor propotildee as medidas com as quais vai enfrentar o problema na

dispositio275 que estaacute entre as linhas 55-89276 A soluccedilatildeo que Leatildeo apresenta eacute a ediccedilatildeo de um

pequeno manual militar para que citamos os que laquodesejam comandar tropas possam ter

raacutepido acesso a uma vasta reserva de experiecircncia no que respeita a combate e a campanhas

militaresraquo277 Nesta obra juntam-se os dados das fontes antigas (eliminando aqueles acerca de

formaccedilotildees que considera obsoletas ou natildeo claramente descritas e traduzindo os termos em

Latim para Grego) que considera mais uacuteteis na praacutetica da guerra bem como laquoa limitada

experiecircnciaraquo dos seus generais numa linguagem laquopraacutetica clara (hellip) e simplesraquo278 O Proacutelogo

conclui com um epilogus279 que indica os conteuacutedos (pela forma como estatildeo ordenados) que

vatildeo ser abordados no manual280

Apoacutes esta breve anaacutelise do Proacutelogo e da sua natureza legislativa procedemos a uma

raacutepida enumeraccedilatildeo das Constitutiones da ordem em que se encontram dispostas e dos seus

conteuacutedos Como jaacute se avisou o Taktikaacute possui duas versotildees integrais tendo uma estrutura

diferente em cada uma delas A versatildeo mais antiga estaacute no coacutedice Mediceo-Laurentianus

graecus 554 e encontra-se dividida em 16 constitutiones seguidas por um conjunto de

maacuteximas um epiacutelogo e trecircs tratados sobre ataques surpresa poliorceacutetica e guerra naval281

Por sua vez no coacutedex Vindobonensis phil graecus 275 as secccedilotildees que natildeo faziam

inicialmente parte do tratado satildeo incluiacutedas e ordenadas dentro deste da seguinte forma

Constitutio XIV ndash O Dia de Batalha Constitutio XV ndash Guerra de Cerco Constitutio XVI ndash O

Dia a seguir agrave batalha Constitutio XVII ndash Ataques Surpresa Constitutio XVIII ndash Costumes

de Diferentes Naccedilotildees Constitutio XIX ndash Guerra Naval Constitutio XX ndash laquoMaacuteximas

Concisasraquo Epiacutelogo De acordo com G Dennis eacute este o manuscrito que segue a ordem do

Proacutelogo282

O que podemos dizer em relaccedilatildeo agrave estrutura Desde jaacute que se encontra dividida de

uma forma temaacutetica e extremamente bem planeada O autor comeccedila por um capiacutetulo

274 Vide Anexos VIII l) 275 Vide Idem Ibidem p 121 276 Vide Anexos VIII m) 277 Vide DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 6-7 278 Vide Idem Ibidem pp 6-7 279 Vide Anexos VIII n) 280 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121 281 DENNIS G T (2014) ndash Op cit p x 282 Idem Ibidem p x

63

introdutoacuterio (Const I) onde define o que satildeo laquotaacuteticasraquo a forma como a guerra deve ser

preparada que tipos de unidades envolve (cavalaria infantaria marinha) e o general

(strategoacutes) em si o que eacute o que o deve caracterizar e quais satildeo os seus objetivos Leatildeo fala

destas questotildees de forma mais detalhada no capiacutetulo seguinte (Const II) que se chama

laquoSobre as Qualidades Requeridas num Generalraquo Na Constitutio III explica ao general de que

forma ele deve fazer os planos como deliberar e em que pessoas deve confiar

Eacute no quarto capiacutetulo (Const IV) que o Taktikaacute se comeccedila a debruccedilar sobre as questotildees

relativas agrave preparaccedilatildeo da guerra que homens se devem escolher para o exeacutercito e como

colocaacute-los em cada uma das suas divisotildees quem deve ser escolhido para oficial de que forma

a hierarquia militar estaacute dividida e o que compete a cada um dos seus membros e os nuacutemeros

e formas em que cada divisatildeo devia estar organizada Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre

armamento (Const V) que natildeo eacute mais que uma lista de todo o tipo de armas ofensivas e

defensivas ferramentas logiacutesticas maacutequinas de cerco e seu material de apoio transportes

fluviais animais para montar e bestas de carga entre outros conselhos p ex sobre a

importacircncia de um almirante ter navios prontos para as mais diversificadas funccedilotildees A secccedilatildeo

seguinte (Const VI) trata de forma detalhada que equipamento e armamento cada homem

deve ter (organizando no fundo o que tinha sido exposto no capiacutetulo anterior) em funccedilatildeo da

sua tipologia (oficial cavalaria infantaria pesada infantaria ligeira e apoio logiacutestico) seguido

de uma Constitutio (VII) sobre a forma como o treino de cavalaria e infantaria deve ser feito

O conjunto de capiacutetulos seguintes eacute inaugurado por um segmento acerca de puniccedilotildees

militares (Const VIII) que relata vaacuterios crimes e malfeitorias e a respetiva puniccedilatildeo As

Constitutiones que se lhe seguem aludem a questotildees logiacutesticas Marchas (Const IX) Trem-

de-apoio (Const X) e Acampamentos (Const XI) Ateacute aqui os capiacutetulos podem ser inseridos

(salvo alguns segmentos excecionais como as Constitutiones relativas a armamento e treino)

na disciplina da strategikaacute

A partir daqui a taktikaacute vai ocupar uma grande parte do tratado comeccedila com uma

Constitutio (XII) sobre a preparaccedilatildeo para o combate onde se volta a referir um grande

nuacutemero de exerciacutecios taacuteticos incluindo sinaleacutetica e comandos vocais A secccedilatildeo seguinte

(Const XIII) aborda o que deve ser feito imediatamente antes do combate nomeadamente

formas de levantar a moral e distribuiccedilatildeo de mantimentos e vinho A Constitutio XIV refere o

que deve ser feito na batalha envolvendo um grande nuacutemero de formaccedilotildees movimentaccedilotildees

taacuteticas e estratagemas Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre a poliorceacutetica (Const XV) nas

suas duas vertentes ofensiva e defensiva Por fim o capiacutetulo XVI debruccedila-se sobre o que

64

deve ser feito no final da batalha accedilatildeo de graccedilas a Deus reparticcedilatildeo dos despojos tratamento

de prisioneiros entre outros

A Constitutio XVII estaacute inserida na strategemataacute pois frisa os embustes a guerra de

guerrilha e os meios de contrariar ataques-surpresa adversaacuterios ou de limitar os ganhos do

rival Segue-se um capiacutetulo (Const XVIII) que expotildee a forma como os Romanos devem fazer

a guerra contra os seus adversaacuterios enfatizando o armamento os haacutebitos e as formaccedilotildees

proacuteprias destes em especial dos Aacuterabes A naumachikaacute forma uma secccedilatildeo uacutenica (Cons XIX)

e o uacuteltimo capiacutetulo (Const XX) reuacutene um conjunto de maacuteximas militares que pretendem no

fundo resumir o que foi tratado ao longo do Taktikaacute Por fim o Epiacutelogo estaacute dividido em trecircs

partes uma claramente religiosa que aborda a relaccedilatildeo entre Deus e a Humanidade uma

segunda que reuacutene as principais noccedilotildees de cada Constitutio que compotildeem a obra finalmente

exorta-se o strategoacutes a seguir os preceitos do Taktikaacute (ainda que de um modo flexiacutevel)

referindo tambeacutem como motivo principal para a escrita deste manual a ameaccedila sarracena283 O

tratado encerra com um Amen o que alude agrave possiacutevel dimensatildeo (e intento) religioso que o

autor teria porquanto enfatiza a autoridade tanto legislativa como divina do autokraacutetor284

Como conclusatildeo a este subcapiacutetulo resta-nos situar aqui as afirmaccedilotildees de Meredith

Riedel que defende que o Taktikaacute eacute tambeacutem uma laquoteia de ligaccedilotildeesraquo onde a informaccedilatildeo de

uma Constitutio complementa os dados de outra A historiadora utiliza ainda alguns exemplos

como o facto de a Constitutio XX e o Proacutelogo partilharem a mesma foacutermula teoloacutegica

enquanto a Constitutio II e o Epiacutelogo apresentam informaccedilotildees diferentes mas

complementares acerca do tipo de pessoa que o general deveria ser285

43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees

O percurso histoacuterico do Taktikaacute comeccedila obviamente no seu aparecimento durante o

reinado de Leatildeo VI na passagem do seacuteculo IX para o X Depois disto verificamos que este

manual foi copiado e incluiacutedo em trecircs famiacutelias de manuscritos compiladas entre

aproximadamente 950 e 1050 dC Dentro do corpo de manuscritos mais antigos verifica-se

a existecircncia de coacutepias do Taktikaacute em dois documentos Uma transcriccedilatildeo deste manual estaacute

inserida no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 uma compilaccedilatildeo de tratados militares

gregos datada dos meados do seacuteculo X possivelmente de pouco antes da morte de

283 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit pp 443 e 444 284 Idem Ibidem p 444 285 Vide RIEDEL M ndash Op cit p 5

65

Constantino VII Porfirogeneta em 959 Como jaacute foi referido286 a coacutepia do Taktikaacute neste

corpus (que comeccedila no foacutelio 281 em 404) possui 16 constitutiones a que se seguem o

epiacutelogo uma coleccedilatildeo de maacuteximas e trecircs tratados sobre strategemataacute poliorketikaacute e

naumachikaacute287 Estes segmentos em separado vatildeo ser compilados e organizados no corpo

principal do tratado no outro coacutedice o Vindobonensis phil graecus 275 (que tambeacutem faz

parte desta famiacutelia de textos) Esta versatildeo da obra trata-se ainda de uma versatildeo expandida

daquela inserida no Mediceo-Laurentianus pois possui um conjunto de comentaacuterios nas

margens que pretendem clarificar certos termos do texto288 No entanto esta transcriccedilatildeo

apresenta algumas partes em falta das quais John Haldon realccedila a abertura do proeacutemio a

integralidade do Epiacutelogo e a maior parte da Constitutio XX289

A segunda famiacutelia de manuscritos estaacute datada para a segunda metade do seacuteculo X e eacute

inaugurada pelo coacutedex Ambrosianus B 119 A versatildeo do Taktikaacute neste corpus (que comeccedila no

foacutelio 189 em 347) natildeo deve no entanto ser tratada como uma coacutepia integral mas sim como

uma paraacutefrase onde vaacuterias palavras se encontram transpostas De acordo com George Dennis

a utilidade deste texto para a traduccedilatildeo do Taktikaacute prende-se apenas com o facto de

providenciar certos segmentos de texto completos ou corretos que natildeo figuram desse modo no

Mediceo-Laurentianus graecus 554 Esta transcriccedilatildeo apresenta ainda uma estrutura diferente

das anteriores estando a Constitutio XX original ordenada como sendo a XIX uma vez que o

capiacutetulo que se ocupa da Naumachikaacute eacute considerado neste corpus como um tratado

independente290 que inaugura uma secccedilatildeo acerca dessa disciplina da tratadiacutestica291

Por uacuteltimo a terceira famiacutelia eacute aquela que inclui o maior nuacutemero de manuscritos mas

dentro destes apenas trecircs satildeo importantes para a traduccedilatildeo e o estudo do texto o coacutedice

Vaticanus graecus que conteacutem uma versatildeo incompleta do Taktikaacute que comeccedila na Constitutio

V a laquocombinaccedilatildeoraquo (mal separada) do Parisinus graecus 2442 e do Barberinianus graecus II

97 e por fim o manuscrito que resulta da conjugaccedilatildeo do Neapolitanus graecus 284 e do

Scorialensis graecus Y-III-11 Estes trecircs textos tiveram origem no scriptorium de Ephraim

em Constantinopla292

286 Cf supra 42 287 Vide DENNIS G (2014) ndash Op cit px 288 Idem Ibidem p xi 289 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 56 290 Batizado de Ναυμαχικὰ Λέοντος βασιλέως (a Naumachikaacute do basileuacutes Leatildeo) cf Idem Ibidem p 389 291 Por ordem estatildeo nesta secccedilatildeo os seguintes tratados (ou excertos de) a Constitutio XIX seis paraacutegrafos do

Taktikaacute uma secccedilatildeo do Stratēgikoacuten acerca da travessia de rios o Naumachiacuteai de Siriano e por fim o

Naumachikaacute do parakoimṓmenos Basiacutelio datado dos finais dos anos 50 do seacuteculo X cf Idem Ibidem p389 292 Vide Idem Ibidem p 58

66

Durante o seacuteculo XVI mais precisamente em 1552 foram impressas algumas paacuteginas

da Constitutio IV que estavam no coacutedice Monacensis graecus 244 em Veneza293 Deste

seacuteculo existem ainda mais alguns manuscritos que contecircm partes ou coacutepias completas do

tratado mas como Dennis294 natildeo os considera pertinentes ou particularmente uacuteteis para um

estudo ou uma reconstituiccedilatildeo do texto original tambeacutem natildeo seratildeo mencionados aqui295

A primeira versatildeo completa da obra foi publicada na cidade de Leyden em 1612 por

Joanes Meurs mais tarde corrigida e comparada com o texto presente no Mediceo-

Laurentianus e publicada em 1745 na cidade de Florenccedila por J Lami Uma coacutepia desta

ediccedilatildeo foi incluiacuteda na Patrologia graeca de J P Migne compilada entre 1857-1861 Mais

tarde o tradutor huacutengaro Rudolfi Vaacuteri publicou a primeira ediccedilatildeo criacutetica do Taktikaacute em dois

volumes296 onde estavam presentes apenas as Constitutiones entre o Proacutelogo (inclusive) e a

Constitutio XIV (nesta o texto ia ateacute agrave linha 228) e mais tarde a Constitutio XVIII bem

como uma traduccedilatildeo huacutengara297 da mesma298

Por fim natildeo podiacuteamos deixar de referir a primeira traduccedilatildeo e criacutetica do Taktikaacute em

inglecircs realizada pelo Padre George T Dennis e publicada em 2010 que conteacutem tambeacutem o

texto original organizado de acordo com o Vindobonensis phil graecus 275 Posteriormente

em 2014 esta publicaccedilatildeo acabaria por ser reeditada299 tendo-se procedido agrave correccedilatildeo de

alguns erros do livro original Esta ediccedilatildeo revista da traduccedilatildeo do Padre Dennis foi

acompanhada no mesmo ano por um livro de John Haldon com comentaacuterios agrave obra300 o qual

contribuiu decisivamente para o enriquecimento da traduccedilatildeo

293 DENNIS G (2014) ndash Op cit p xiii 294 Idem Ibidem p xii 295 Um dos transcritores do texto Vaacuteri teraacute contado cerca de 88 manuscritos Vide VAacuteRI Rudolfi (ed) (1917-

1922) Leonis imperatoris tactica Sylloge Tacticorum Graecorum 3 Budapeste pp 1xv-xxix Apud DENNIS

G (2014) ndash Op cit p xii 296 Denominada ldquoLeonis imperatoris taacutecticardquo 297 A referecircncia bibliograacutefica desta traduccedilatildeo eacute VAacuteRI Rudolfi (1900) Boles Leo Hadi Taktikajanak XVIII

Fejezete In PAULER G e SZILAacuteGYI S (ed) A Magyar Honfoglalas Kutfoi [As fontes da conquista

huacutengara] Budapeste pp 3-89 Apud DENNIS G (2014) ndash Op cit p xii 298 Cf Idem Ibidem p xiii 299 Cf Idem Ibidem p vii 300 O ldquoA Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo jaacute referido nesta dissertaccedilatildeo

67

Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general

laquoA ciecircncia da estrateacutegia consiste na praacutetica conjunta de bons generais ou seja (eacute) o

estudo e exerciacutecio atraveacutes de estratagemas ou mesmo da recolha dos siacutembolos da vitoacuteriaraquo

(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio 1 linhas 7-8301)

O tratado de Leatildeo VI inicia o seu percurso com um conjunto de preceitos estrateacutegicos

relacionados com o general (Const I e II) a importacircncia de deliberaccedilatildeo e de um bom

planeamento (Const III) as divisotildees do exeacutercito bizantino oficiais e outros encargos no

periacuteodo de escrita do tratado (Const IV) as puniccedilotildees militares e os toacutepicos da logiacutestica -

ordens de marcha trens-de-apoio e acampamentos (Const VIII-XI)

Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir este capiacutetulo de acordo com os temas

relacionados com esta disciplina claacutessica No primeiro ponto vamos abordar a figura do

general a forma como Leatildeo VI o idealizava e de que maneira eacute que esse cariz tinha realmente

influecircncia no combate De seguida observaremos o exeacutercito bizantino no Taktikaacute a forma

como se encontrava estruturado o perfil dos recrutas os seus oficiais entre outros Por fim

vamos observar questotildees de acircmbito logiacutestico entre as quais movimentaccedilotildees de exeacutercitos

organizaccedilatildeo de trens-de-apoio construccedilatildeo de acampamentos

51 ndash O strategoacutes de Leatildeo

laquoO general eacute a pessoa que depois do imperador tem mais autoridade do que

qualquer outra no conjunto da proviacutencia subordinada a ele O general eacute o chefe do

theacutema militar sob o seu comandoraquo

(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio I linhas 28-30)

O strategoacutes eacute o ponto fulcral do manual militar e eacute sem duacutevida o destinataacuterio deste

coacutedigo legislativo Atrevemo-nos a dizer que se o proeacutemio do Taktikaacute possuiacutesse uma

inscriptio quem laacute estaria designado seriam os generais do Impeacuterio Bizantino ndash os strateacutegoi

dos themaacuteta Na nossa opiniatildeo eacute claro (talvez oacutebvio) os generais ndash ou quem desejasse

comandar tropas ndash serem o ldquopuacuteblico-alvordquo desta produccedilatildeo militar Afinal eram estes oficiais a

mente do exeacutercito encarregados de tomar as decisotildees que ditavam a vitoacuteria ou a derrota

dentro ou fora do campo de batalha Tatildeo importante como estes fatores era a condiccedilatildeo do

301 Para o grego vide DENNIS George T (2014) ndash Op cit p 12 Sobre a maneira como a traduccedilatildeo inglesa

deste excerto deve ser feita vide HALDON J (2014) ndash Op cit p129

68

general como exemplo para os homens sob o seu comando ou como forccedila de oposiccedilatildeo aos

viacutecios mais destrutivos do homem (como a ganacircncia)

Logo na sua primeira Constitutio o basileuacutes esboccedila o perfil do homem que quer ao

comando das suas forccedilas saacutebio corajoso justo discreto302 e leal303 Na Constitutio seguinte

acrescenta mais algumas qualidades serem autocontrolados no que toca aos seus viacutecios terem

um modo de vida frugal serem incansaacuteveis304 gentis mas natildeo lenientes para com os seus

soldados exigentes mas natildeo demasiado severos305 Neste uacuteltimo aspeto o imperador defende

que o general deve ser amado pelos seus soldados306 pois tal efeito motivaacute-los-aacute a obedecer agraves

ordens dele mais rapidamente e a lutarem com mais fervor a seu lado307

A justiccedila a gentileza e a humildade revelam-se nas palavras do imperador no capiacutetulo

sobre guerra de cerco sendo cruciais apoacutes a tomada de um siacutetio fortificado Leatildeo VI defende

que as populaccedilotildees devem ser tratadas daquela forma para que aceitem os seus

conquistadores citando os feitos de Niceacuteforo Focas O Velho O reputado strategoacutes teraacute

conquistado os Lombardos natildeo soacute pela forccedila das armas mas tambeacutem pelo seu caraacuteter quando

tratou com justiccedila os habitantes das povoaccedilotildees da Calaacutebria os isentou de impostos e os salvou

da escravidatildeo308 Por outro lado recordamos a perda de Benevento pelos Bizantinos em

895309 que teratildeo sido traiacutedos pela populaccedilatildeo depois de a terem oprimido e maltratado

Para o autor a inteligecircncia constitui uma virtude quase sem paralelo em todas as suas

vertentes (perspicaacutecia arguacutecia eloquecircncia entre outros) como se vecirc no seguinte excerto

laquoQuando se trata dos prazeres do corpo ele deve praticar o autocontrolo Mas nos

aspetos da mente ele eacute insaciaacutevel e nunca fica satisfeito nos seus esforccedilos de praticar accedilotildees

bem-sucedidas Quando a situaccedilatildeo ainda natildeo eacute clara ele apercebe-se do que tem de ser feito

Inteligente e perspicaz ele estaacute sempre certo quando avalia o que estaacute escondido naquilo que

estaacute visiacutevel Ele eacute experiente em armar e formar o seu exeacutercito em posiccedilotildees de batalha As

suas palavras satildeo capazes de ressuscitar o moral do exeacutercito quando estaacute baixo preenchecirc-lo

com boas expectativas e preparaacute-lo para enfrentar perigos Ele deve ser muito rigoroso no que

302 Vide Anexo VIII q) 303 Vide Anexo VIII j) 304 Taktikaacute II3-10 305 Taktikaacute II131-136 Esta secccedilatildeo eacute uma paraacutefrase de Onasandro vide Onasandro Strategikoacutes II (a partir de

agora as referecircncias desta obra vatildeo passar a ser feitas da seguinte forma Onas livro) 306 Devendo fazer por ter uma relaccedilatildeo paternal com eles e ateacute viver comcomo eles Taktikaacute XX36-37

paraacutegrafo que acusa influecircncia do Stratēgikoacuten VIII1(3) ndash que por sua vez a fora buscar a Onas I 307 Taktikaacute II46-50 308 Taktikaacute XV201-206 309 Cf supra 22 natildeo tivemos acesso agrave fonte lombarda pelo que remetemos para Giorgio Ravegnani de onde

obtivemos esta informaccedilatildeo em primeiro lugar Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p160

69

toca a acordos ou promessas natildeo ser demovido por bons falantes que o querem afastar do seu

deverraquo310

A capacidade de decisatildeo eacute outra valecircncia fundamental para um general para que ele

evite grandes riscos em certas accedilotildees311 Este ponto eacute reforccedilado na Constitutio III ndash laquoSobre

como eacute necessaacuterio fazer planosraquo ndash num capiacutetulo onde Leatildeo exorta o general a ter cabeccedila fria e

a ser cuidadoso nas suas decisotildees312 mas tambeacutem a ser prudente na escolha dos seus

conselheiros313 Em relaccedilatildeo ao processo deliberativo o autor aconselha o general a manter

uma postura imparcial no que respeita ao que possa estar associado agrave accedilatildeo em causa a

preservar a mente aberta relativamente a todas as possibilidades que possam desbloquear o

plano e particularmente a ser determinado na altura de agir314

Leatildeo no entanto natildeo se prende a questotildees apenas relacionadas com as virtudes de um

general na altura de o escolher Salienta tambeacutem razotildees de natureza econoacutemica familiar ou

de forma fiacutesica que podem ter importacircncia na altura de selecionar algueacutem para o cargo de

strategoacutes Nas valecircncias sociais o autokraacutetor confessa a sua preferecircncia por generais que

tenham famiacutelia sejam ricos e pertenccedilam a uma boa linhagem desde que claro cumpram os

requisitos das virtudes315 Por outro lado admite que homens pobres e de origens humildes

tambeacutem tecircm direito a ocupar esta funccedilatildeo316 desde que mostrem habilidade e probidade

Em termos de idade Leatildeo informa-nos que os melhores generais satildeo aqueles que jaacute

possuem alguma experiecircncia militar evidenciando boa forma fiacutesica317 De outra maneira nas

palavras do imperador seratildeo criados strateacutegoi com boa laquomente deficitaacuteria em forccedila fiacutesicaraquo ou

com laquoforccedila desprovidos de inteligecircnciaraquo e qualquer uma destas foacutermulas natildeo resultaraacute em

nada de produtivo e natildeo seraacute capaz de gerar algum feito proveitoso318

Por fim o strategoacutes deve-se preocupar em estar nas graccedilas de Deus em cumprir os

seus mandamentos e em amaacute-Lo arguindo que qualquer plano ou taacutetica soacute teraacute sucesso se o

general contar com a providecircncia divina O autor remata esta questatildeo comparando um general

310 Taktikaacute II120-128 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 311 Taktikaacute II183-184 312 O processo de planeamento deve decorrer durante algum tempo a natildeo ser que seja necessaacuterio tomar accedilatildeo

imediata vide Taktikaacute III 41-42 Influecircncia principal em Stratēgikoacuten II e VIII1(5) e em Onas III 313 Leatildeo refere duas categorias preferenciais para essa escolha uma primeira de tipo militar onde aconselha o

general a pedir opiniotildees aos turmarcas e oficiais que se seguem na hierarquia em segundo a niacutevel psicoloacutegico

onde a escolha deve recair sobre sujeitos experientes perspicazes e de confianccedila em especial se a decisatildeo estiver

relacionada com uma operaccedilatildeo sigilosa devendo-se evitar indiviacuteduos calculistas que possam fazer perigar o

plano em questatildeo em resultado dos seus interesses Vide Taktikaacute III26-33 e 37-40 314 Taktikaacute III41-42 315 Taktikaacute II114-115 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 316 Taktikaacute II115-116 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 317 Conjugando as duas qualidades que ele atribui aos jovens (forccedila) e aos mais velhos (experiecircncia) 318 Taktikaacute II43-45

70

sem o apoio de Deus mas com grandes habilitaccedilotildees estrateacutegicas ou taacuteticas a um timoneiro

que apesar de ter muita experiecircncia natildeo pode conduzir o seu navio para onde quer porque o

vento sopra no sentido oposto ao que deseja319 O comandante deve ainda assegurar-se de que

a guerra que iraacute travar tem uma causa justa pois soacute assim desfrutaraacute do apoio divino tentando

sempre zelar pela paz320

52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros321

A Constitutio que aborda principalmente este tema (IV) comeccedila com um trecho

original da pena de Leatildeo Aqui satildeo abordadas questotildees relacionadas com o recrutamento de

soldados Que tipo de guerreiros devem ser mobilizados Que condiccedilotildees financeiras devem

ter Devem ter famiacutelia Muito sucintamente a resposta a esta questatildeo eacute a seguinte o

thematikoiacute deve ser corajoso ter boa forma fiacutesica ser nem muito velho nem muito novo e

financeiramente estaacutevel322 Neste ponto o basileuacutes acentua a importacircncia de um soldado se

conseguir equipar sozinho ou com o apoio dos membros do seu lar (familiares ou servos)

A alegaccedilatildeo no final do primeiro paraacutegrafo da Constitutio IV323 permite remeter para

uma preferecircncia de Leatildeo na recruta de stratioacutetai (aqueles que possuem obrigaccedilotildees

militares324) No entanto na Constitutio XX natildeo se descarta a possibilidade de soldados que

natildeo possuiacutessem strateiacutea ou meios econoacutemicos suficientes de participarem na guerra

implicando que estes podiam ser patrocinados por homens ricos com strateiacutea que natildeo

desejassem participar em campanhas Assim aqueles que natildeo possuiacutessem meios econoacutemicos

para se equiparem autonomamente poderiam combater enquanto por outro lado os stratioacutetai

ricos seriam dispensados de participar em campanhas e de cumprir o serviccedilo militar ativo325

O autokraacutetor dedica ainda algumas palavras agrave personalidade ideal do oficial mas

utiliza a mesma descriccedilatildeo (de forma mais sucinta) que dedica para os generais deve ser de

confianccedila crente leal corajoso entre outros predicados Apesar disso refere que deve existir

alguma solidariedade do oficial para com os seus soldados defendendo que caso estes sejam

319 Taktikaacute II 163-167 Encontra influecircncia em Stratēgikoacuten Proacutelogo 320 Vide Anexo VIII o) 321 As Constitutiones referentes a esta temaacutetica satildeo IV e XX 322 Taktikaacute IV3-14 323 Que nos informa ainda de alguns benefiacutecios que o guerreiro bizantino possuiacutea como as isenccedilotildees fiscais de

todos os impostos excluindo o demoacutesion (e de acordo com Haldon subtilmente o kapnikoacuten) vide HALDON J

(2017) - Op cit p 143 324 Cf supra 13 325 Apesar de o homem rico ser algo criticado por Leatildeo que ali o apelida de cobarde Vide Anexos VIII d)

71

ricos devem partilhar alguns dos seus fundos com os seus soldados que por sua vez lhe seratildeo

mais fieacuteis e estaratildeo prontos a enfrentar qualquer adversidade ao seu lado326

Quanto agrave estrutura do exeacutercito Leatildeo informa-nos que a unidade baacutesica do exeacutercito

imperial eacute o taacutegma ou o baacutendon327 que deveria ter cerca de 300 homens preferencialmente e

ser comandado pelo koacutemes Caso este nuacutemero natildeo se pudesse cumprir devia ter entre 200 e

400 soldados natildeo podendo ter menos ou mais que este nuacutemero Mauriacutecio indica que o

nuacutemero de homens nos seus taacutegmata deveria estar entre 300 a 400 efetivos328 enquanto um

tratado mais tardio o Sylloge Tacticorum informa que a quantidade de soldados dependeria

do tipo de unidade se fosse de cavalaria ia dos 50 aos 400 homens se fosse de infantaria dos

200 aos 400329 Cada baacutendon deveria possuir ainda um porta-estandarte

Na altura de combater os baacutenda eram divididos em decarquias (fileiras) que podiam

conter um nuacutemero variado de homens nela dependendo da extensatildeo das fileiras podendo ter

quatro cinco oito dez ou dezasseis soldados organizados por laccedilos familiares ou de

amizade330 A fileira devia ser liderada por um decarca tendo de possuir ainda um pentarca331

para ocupar o centro da fileira e dois tetrarcas332 para as posiccedilotildees de retaguarda333 Em caso

de desdobramento das decarquias uma das colunas seria liderada pelo decarca e encerrada

por um tetrarca enquanto outra era encabeccedilada pelo pentarca334 e fechada por outro tetrarca335

Estas unidades deviam ser compostas por membros das mesmas comunidades ou famiacutelias de

forma a motivaacute-los a combater melhor na hora da batalha

326 Vide Taktikaacute IV25-29 327 Para evitar confusatildeo com os corpos militares imperiais com a mesma atribuiccedilatildeo passaremos a referir-nos a

esta unidade apenas como baacutendon (ou baacutenda caso seja plural) Poderemos eventualmente utilizar

taacutegmataacutegmata se nos estivermos a referir agrave unidade baacutesica do exeacutercito de Mauriacutecio 328 Stratēgikoacuten I4 329 Tendo em conta a proximidade de escrita dos dois tratados (o Sylloge seraacute da primeira metade do seacuteculo X se

natildeo do proacuteprio reinado de Leatildeo) John Haldon acredita que podemos estimar que a realidade militar na altura da

escrita do Taktikaacute se pode aproximar mais dos valores do Sylloge do que dos do Taktikaacute que eacute muito

influenciado pelo Stratēgikoacuten vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 59 330 Taktikaacute IV162-167 Influecircncia de Onasandro Onas XXIX 331 No Stratēgikoacuten este homem ocupa a segunda posiccedilatildeo da fileira Stratēgikoacuten III2 Leatildeo no entanto parece

misturar o pentarca com o tetrarca Na Constitutio XVIII quando fala da organizaccedilatildeo preferiacutevel para um exeacutercito

de um theacutema em batalha refere que o pentarca tambeacutem eacute o ouraacutegos ou seja o homem que fecha a linha

Taktikaacute XVIII770-776 332 Leatildeo natildeo informa diretamente que deva haver dois tetrarcas mas informa que devem existir dois ldquoguardas-

de-colunardquo que ocupam as duas uacuteltimas posiccedilotildees da fileira Uma vez que haveraacute a possibilidade de desdobrar a

fileira advindo daiacute a necessidade de haver dois tetrarcas eacute provaacutevel que os homens que ocupassem esta posiccedilatildeo

jaacute estivessem escolhidos numa fileira singela 333 Taktikaacute IV79-84 334 Haldon adverte para o facto de estas unidades taacuteticas (pentarca e tetrarca) natildeo serem permanentes pois soacute

aparecem em tratados militares Daiacute deduzimos que os homens que ocupam estas posiccedilotildees soacute eram escolhidos na

altura de organizar o exeacutercito Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 152 335 Idem Ibidem p162

72

Mas regressemos agrave estrutura do exeacutercito Um conjunto de bandaacute forma um

drouacutengos336 liderado por um drungaacuterio natildeo devendo ultrapassar os 3000 homens Vaacuterios

drouacutengoi formam uma touacuterma337 comandada por turmarca que natildeo pode ter mais de 6000

homens338 Finalmente trecircs touacutermai339 formam um exeacutercito sob o strategoacutes existindo ainda

um hypostrategoacutes que eacute o comandante da segunda touacuterma que poderaacute tomar conta das

funccedilotildees do strategoacutes se assim for necessaacuterio340

Por fim Leatildeo adverte que se deve ter cuidado com o tamanho das touacutermai e dos

drouacutengoi natildeo podendo ser demasiado numerosos para natildeo comprometer a capacidade de

lideranccedila dessas unidades341 Qualquer excesso de homens deve ser utilizado para proteger a

retaguarda e os flancos da primeira formaccedilatildeo de batalha ou para participar em emboscadas ou

flanqueamentos Por outro lado aconselha o general a ter cuidado com o nuacutemero dos bandaacute

recomendando que estes tenham quantidades de soldados distintas para evitar que os

batedores inimigos consigam estimar com clareza quantos homens tem o exeacutercito romano342

Relativamente ao nuacutemero de soldados por exeacutercito Leatildeo pressupotildee que uma hoste de

tamanho meacutedio deveria ter entre 5000 e 12 000 homens343 O valor maacuteximo apresentado

envolveria uma mobilizaccedilatildeo quase integral dos stratioacutetai laquotemaacuteticosraquo uma quantidade de

homens sem duacutevida exagerada para um exeacutercito de um uacutenico theacutema344 Natildeo nos podemos

esquecer de que quanto maior eacute o nuacutemero de homens em campanha maiores seratildeo os

problemas logiacutesticos para essa hoste (vai necessitar de um trem-de-apoio maior de mais natildeo-

combatentes o que por sua vez pressuporaacute uma velocidade mais lenta visto natildeo se tratar de

um exeacutercito noacutemada) O valor mais provaacutevel seriam os 4000 homens (usuais) que ele refere

quando fala das campanhas a Oriente contra os Aacuterabes345 tendo em conta a velocidade de

deslocaccedilatildeo de que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam para conseguir agir contra estas

investidas inimigas346

336 No Stratēgikoacuten de Mauriacutecio a unidade equivalente era a moira ou quiliarquia comandada por um moirarca ou

quiliarca Stratēgikoacuten I4 337 Corresponde aos meros de Mauriacutecio liderados por um merarca Vide Stratēgikoacuten I4 338 Taktikaacute IV194-196 339 Leatildeo adverte que cada uma destas divisotildees tem de ter o mesmo nuacutemero de homens Taktikaacute IV 189-193

Encontra reflexo em Stratēgikoacuten I4 340 Taktikaacute IV186-188 Stratēgikoacuten I4 341 Taktikaacute IV202-204 Conselho tambeacutem presente em Stratēgikoacuten I4 342 Taktikaacute IV205-208 Stratēgikoacuten I4 343 Taktikaacute XII174-175 Strategikoacuten II4 344 Taktikaacute IV74-175 e HALDON J (2014) ndash Op cit p103 345 Taktikaacute XVIII841-843 346 Neste caso seriam possivelmente quatro mil homens de cavalaria ligeira a kaballarika themata talvez com

algumas tropas de infantaria (montada quiccedilaacute) para os apoiar caso fosse necessaacuterio O grosso da infantaria (mal

equipada e treinada) ficaria encarregada de guarnecer fortificaccedilotildees e outros pontos estrateacutegicos Vide HALDON

J (2001) ndash Op cit p52

73

De facto hostes mais numerosas soacute seriam viaacuteveis se resultassem da conjugaccedilatildeo de

meios e de soldados de vaacuterios themaacuteta para fazer frente a uma invasatildeo de elevadas

proporccedilotildees Tal parece ter sido o caso de Lalacatildeo quando um exeacutercito bizantino formado por

soldados de vaacuterios themaacuteta e dos taacutegmata aniquilou uma hoste aacuterabe em prol de possuir

superioridade numeacuterica347 ou do exeacutercito de Leatildeo Katakalon derrotado em Bulgarophygon

no ano de 896348

Regressando aos oficiais Leatildeo refere ainda mais alguns bem como certos tipos de

soldados apesar de isto ser quase uma paraacutefrase do Stratēgikoacuten onde a terminologia eacute

alterada (ou adicionada) para corresponder agrave realidade do tempo do basileuacutes Por exemplo as

tropas de assalto (kouacutersores) responsaacuteveis por carregar ou perseguir soldados inimigos satildeo

apelidadas de proklaacutestai ou proacutemachoi enquanto os militares encarregados de os apoiar caso

tenham de retirar satildeo chamados defensores (agrave semelhanccedila do tempo de Mauriacutecio) ou

ekdiacutekous349 No Taktikaacute os espiotildees chamam-se skoulkaacutetores enquanto no Stratēgikoacuten satildeo

denominados de batedores350 Por exemplo o porta-capas351 natildeo estaacute presente no Taktikaacute Os

restantes encargos352 apontados pelo autor tecircm exatamente a mesma nomenclatura que no

Stratēgikoacuten

Leatildeo refere ainda alguns cargos civis mas que satildeo de extrema importacircncia para o

exeacutercito de um theacutema o protonotaacuterio o cartulaacuterio e o pretor Acerca do protonotaacuterio jaacute

aludimos agrave sua importacircncia no primeiro capiacutetulo353 O cartulaacuterio era um oficial escolhido pelo

logotheacutesion totilden genikon sendo o responsaacutevel pelos registos militares de um theacutema por fim o

pretor era o oficial que tratava das questotildees juriacutedicas numa proviacutencia354

53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos

A seguranccedila de um exeacutercito enquanto se desloca de regiatildeo em regiatildeo eacute uma questatildeo

central Primeiro porque uma hoste em andamento eacute extremamente vulneraacutevel caso se veja a

braccedilos com um ataque-surpresa ou a atravessar terreno difiacutecil Segundo porque uma multidatildeo

de soldados em movimento representa um grave risco para as populaccedilotildees locais caso o

347 HALDON J (2001) ndash Op cit p85 348 TOUGHER S ndash Op cit p79 349 Taktikaacute IV100-102 Stratēgikoacuten IV3 350 Taktikaacute IV110-111 Stratēgikoacuten IV3 351 Oficial responsaacutevel por escoltar o porta-estandarte HALDON J (2014) ndash Op cit p153 Stratēgikoacuten IV3 352 Flanqueadores guarda-flancos corpos meacutedicos e responsaacuteveis de aquartelamento entre outros 353 Cf supra 11 354 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp 159-160

74

percurso seja efetuado no proacuteprio territoacuterio bizantino ou aliado Terceiro porque no caso de

Bizacircncio o ato de marcha em formaccedilatildeo representa tambeacutem ele um treino de disciplina e um

exerciacutecio praacutetico para o soldado355 bem como um exerciacutecio de comando para quem estiver agrave

frente dessa forccedila (o strategoacutes o turmarca ou outro)

As primeiras indicaccedilotildees de Leatildeo remetem para a seguranccedila dos suacutebditos do imperador

e natildeo dos soldados em si O basileuacutes emite dois avisos nesse sentido primeiramente que o

general deve manter os seus soldados sob controlo e evitar a todo custo que estes saqueiem e

destruam as possessotildees dos suacutebditos de Constantinopla em segundo abandonar o territoacuterio

bizantino o mais cedo possiacutevel de forma a evitar que se gastem os recursos alimentares

romanos (frisando ainda que quanto mais rico for o territoacuterio do adversaacuterio melhor)356

Enquanto o exeacutercito avanccedila os soldados devem comeccedilar a exercer as suas funccedilotildees os

minsouratores357 devem ser enviados para bater o terreno (caso este seja desconhecido e natildeo

haja acesso a guias locais) e para montar o acampamento Quanto aos esquadrotildees de

aquartelamento devem comeccedilar a procurar fontes de aacutegua e locais para forragens358

O basileuacutes procede ainda a uma clarificaccedilatildeo sobre a forma como o exeacutercito em marcha

deve proceder em alguns terrenos com muito arvoredo ou desnivelado359 em territoacuterio

cultivado bizantino360 ou inimigo (onde aconselha que se pilhe o que se puder e se destrua o

que natildeo se puder aproveitar)361 a atravessar rios onde Leatildeo utiliza uma experiecircncia do pai

como jaacute referimos362 e nos desfiladeiros Das marchas assinaladas decidimos dar preferecircncia

agrave forma de atravessar terrenos difiacuteceis ou desfiladeiros o que se afigurava de elevada

importacircncia para a conjuntura estrateacutegica da eacutepoca saber como ocupar uma kleisoucircrarchia363

era algo fundamental na guerra travada a Oriente e a Ocidente (contra os Buacutelgaros) tanto a

niacutevel defensivo como ofensivo

Assim se um exeacutercito provincial desejasse atravessar uma garganta montanhosa

deveria enviar contingentes agrave sua frente para ocuparem os pontos altos e as embocaduras

dessas passagens antes que os seus inimigos o pudessem fazer colocando em risco a

355 Taktikaacute IX23-25 356 Taktikaacute IX3-13 Assinalem-se as influecircncias de Onas VI 357 Batedor responsaacutevel por encontrar um lugar ideal para se construir um acampamento Taktikaacute IV103-105 358 Taktikaacute IX33-41 359 Taktikaacute IX42-46 O autor informa o general de que deve enviar um grupo de soldados para nivelar o terreno

e cortar as aacutervores ao longo do percurso pretendido caso fosse necessaacuterio 360 Taktikaacute IX73-82 361 Taktikaacute IX97-103 362 Vide Anexo VIII g) 363 Aqui natildeo nos referimos aos pequenos distritos militares mas sim aos desfiladeiros

75

seguranccedila da hoste bizantina364 Soacute depois disto acontecer eacute que o strategoacutes deveria ordenar

aos seus soldados365 que atravessassem o desfiladeiro ordenadamente formados em duas

colunas paralelas com o trem-de-apoio (com ou sem botim) no centro contando ainda com

uma vanguarda e uma retaguarda (dita saka) De forma a fortalecer os flancos deviam ser

colocadas tropas ligeiras sobre o desfiladeiro nos quatro lados da disposiccedilatildeo taacutetica com o

objetivo de proteger a formaccedilatildeo em movimento e de evitar que ataques inimigos a

desorganizassem com ataques nas laterais Para aleacutem da carriagem no centro deviam estar as

montadas suplentes ou que natildeo estivessem a ser usadas para evitar a fuga dos homens da

falange em caso de pacircnico366 No caso deste exeacutercito possuir um grande contingente de

infantaria entatildeo dever-se-ia organizar mais ou menos da mesma forma excetuando se natildeo

conseguissem caber todas as forccedilas no desfiladeiro Nesse caso deviam desfazer a

formaccedilatildeo367 passar uma de cada vez e voltar a formar assim que a passagem tivesse sido feita

Para evitar problemas na viagem de regresso era recomendaacutevel deixar um

destacamento a guardar a garganta368 No regresso da expediccedilatildeo era aconselhaacutevel usar

novamente esta formaccedilatildeo ateacute porque um ataque nestas regiotildees era entatildeo mais provaacutevel pois a

hoste estava carregada de despojos e prisioneiros No caso de o exeacutercito ficar encurralado no

desfiladeiro Leatildeo propunha duas opccedilotildees negociar com o inimigo a libertaccedilatildeo atraveacutes do

retorno parcial ou total do botim ou matar os prisioneiros369 A hoste deveria entatildeo dar meia-

volta e destruir o territoacuterio do inimigo ou tentar escapar de alguma forma

Concluiacuteda esta sucinta anaacutelise das marchas que consideramos mais importantes nesta

altura observemos agora a importacircncia da carriagem

laquoO trem-de-apoio consiste nos mantimentos e tudo mais que eacute necessaacuterio para os

soldados isto eacute servos370 animais de carga e outras bestas bem como tudo o resto

que eacute trazido para o serviccedilo do exeacutercitoraquo371

364 Apesar de as forccedilas dos themaacuteta terem um propoacutesito maioritariamente defensivo haveria a hipoacutetese de

realizarem contra raides contra o territoacuterio inimigo 365 Caso houvesse cavalaria esta deveria desmontar 366 Taktikaacute IX195-234 Stratēgikoacuten IX 367 A frente com duas ou quatro divisotildees de infantaria pesada dependendo do tamanho seguidas pelo trem-de-

apoio a cavalaria e uma saka com infantaria pesada e ligeira Taktikaacute IX284-291 Stratēgikoacuten XII19-20 368 Muitas vezes em termos defensivos os Bizantinos deixavam os Aacuterabes da Ciliacutecia passar pelos desfiladeiros

ocupando-os posteriormente e atacando quando estes se encontravam mais vulneraacuteveis O caso mais espetacular

desta estrateacutegia eacute a batalha de Andrassos em 960 quando forccedilas bizantinas sob Leatildeo Focas ocuparam o

desfiladeiro que o emir hamdacircnida Sayf ad-Dawlah tencionava usar para regressar a Alepo e o emboscaram na

viagem de regresso Para esta batalha e estrateacutegia vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 80-81 369 Taktikaacute IX241-247 Os prisioneiros tambeacutem podiam servir como escudo da falange frente agraves flechas do

inimigo Taktikaacute IX235-238 370 Ou familiares dos soldados caso ainda estivessem em territoacuterio amigaacutevel De acordo com John Haldon a

importacircncia destes natildeo-combatentes prendia-se com a sua utilidade em ajudar a organizar a bagagem bem como

a ajudar nas tarefas mais ordinaacuterias Natildeo obstante eram mais uma boca a alimentar abrandavam o exeacutercito em

76

Durante uma marcha em territoacuterio hostil a carriagem pela sua grande importacircncia372

ocupava sempre o meio da coluna (para se encontrar permanentemente protegida) e a alguma

distacircncia do resto da hoste para natildeo causar desorganizaccedilatildeo na hoste em movimento373 Antes

de o exeacutercito partir para uma batalha o trem e todos o que o acompanhavam deviam ser

deixados num lugar seguro374 sob os cuidados do oficial responsaacutevel pela sua proteccedilatildeo e por

guiar as bestas de carga (burros ou mulas) vigiadas por soldados pobres ou por servos375

Em relaccedilatildeo agraves montadas cada baacutendon deveria guardar a forragem necessaacuteria para um

dia para o caso de o resultado da batalha ser adverso a recolher feno fora do acampamento376

Quando os soldados partiam para o combate deviam deixar as montadas de reserva na

carriagem377 para natildeo entrarem em pacircnico durante a peleja Apenas deveriam ser levadas para

o confronto se isso fosse preciso transportando o soldado responsaacutevel por elas uma tenda

pequena ou dois mantos pesados378 No caso de ser preciso empreender uma operaccedilatildeo

ofensiva ou de saque os soldados deviam manter os seus cavalos armados e vigorosos

Algo original na Constitutio de Leatildeo sobre trem-de-apoios eacute a distinccedilatildeo de meios de

transporte de mantimentos e de utensiacutelios no caso de ser um exeacutercito de infantaria o trem-de-

apoio devia ser constituiacutedo por carroccedilas se fosse uma hoste maioritariamente de cavalaria a

carriagem consistiria em bestas de carga como burros ou mulas379

Dediquemos as uacuteltimas palavras ao acampamento militar bizantino o qual

representava um outro aspeto essencial da forma de fazer a guerra em Bizacircncio constituindo

um fator importante que condicionava a vitoacuteria ou a derrota de um exeacutercito Toda a orgacircnica

do acampamento tinha de funcionar bem para se garantir o maacuteximo de organizaccedilatildeo possiacutevel

evitar engarrafamentos de unidades durante situaccedilotildees de retirada e assegurar uma boa defesa

(em caso de estarem em territoacuterio inimigo ou com o adversaacuterio nas proximidades a infantaria

deveria ocupar posiccedilatildeo do lado da paliccedilada de forma a poder proteger a cavalaria quando esta

voltava de campanhas no exterior)

marcha e eram um risco para a seguranccedila e disciplina no acampamento Taktikaacute X6 e 12-16 Organizaccedilatildeo de

uma Campanha XV (daqui em diante OdC) HALDON J (2014) ndash Op cit p232 371 Taktikaacute IV120-122 372 Na viagem de regresso de raides a territoacuterio inimigo podia incluir o despojo 373 Taktikaacute X66-70 Praecepta Militaria IV (daqui em diante PrM) OdC X 374 Acampamento ou siacutetio fortificado que tenha bom acesso a forragem e aacutegua Taktikaacute X36-50 Veja-se um

conselho parecido em Perigrave Paradroacutemes XVI (daqui em diante PP) 375 De acordo com Leatildeo e Mauriacutecio cada soldado poderia tomar conta de trecircs a quatro animais Taktikaacute IV154-

155 Stratēgikoacuten I5 376 Taktikaacute X56-62 Stratēgikoacuten I5 377 Um para servir de proteccedilatildeo e outro para servir de tenda ou de canoacutepia 378 Vide Taktikaacute X48-50 Stratēgikoacuten V 379 Taktikaacute X76-78

77

Assim sendo quais eram os fatores predominantes na altura de escolher um siacutetio para

acampar em territoacuterio inimigo A seguranccedila era o primordial tendo os minsouratores de

encontrar um local apto a ser defendido e caso tal circunstacircncia natildeo fosse possiacutevel fortificar

o acampamento por meio de trincheiras e paliccediladas O abastecimento das tropas era outro

fator muito importante e o arraial devia ser instalado num local com bom acesso a aacutegua e a

forragens Caso a fonte de aacutegua fosse um rio o acampamento devia ser instalado de forma a

permitir que o curso de aacutegua o atravessasse no meio devendo para esse efeito o arraial ser

montado num local onde a travessia fosse faacutecil ou (se o rio tivesse um caudal muito grande

ou demasiado intenso para possibilitar a travessia) num dos flancos do recinto de forma a

servir de defesa natural contra o inimigo380

Por fim a sauacutede e o bem-estar dos homens eram tambeacutem cruciais pelo que o siacutetio

onde estes pernoitavam e se protegiam deveria ser instituiacutedo num local longe de pacircntanos e

outros locais huacutemidos (com lama por exemplo) de forma a evitar surtos de doenccedila que

pusessem em causa a sauacutede (e ateacute a vida) do soldado381 Por outro lado natildeo se recomendava a

manutenccedilatildeo do exeacutercito num mesmo siacutetio durante muito tempo devido agrave quantidade de

dejetos humanos (e animais pois os cavalos tambeacutem estavam no acampamento)

produzidos382 mas tambeacutem para conforto dos proacuteprios homens383

Para terminar vamos abordar a estrutura e a defesa do acampamento De acordo com

o basileuacutes o acampamento deveria ter uma forma retangular dividindo-se em quatro

quadrantes separados por duas ruas perpendiculares que fizessem uma forma de cruz as quais

ligavam as entradas do acampamento384 e o centro deste A infantaria ligeira e os vagotildees da

carriagem385 deviam ocupar posiccedilotildees ao longo do periacutemetro e a cavalaria deveria ser

aquartelada mais para o interior do arraial386 Quanto aos oficiais principais os turmarcas

deviam ser posicionados no meio das forccedilas que comandavam enquanto o strategoacutes devia

380 Neste caso o autor procede a um conjunto de conselhos para preservar a pureza da aacutegua relacionados com o

siacutetio onde os cavalos bebessem se o rio fosse pequeno devia ser-lhes dada aacutegua a beber por meio de baldes se o

caudal fosse grande entatildeo deveriam ser guiados para beber a jusante Taktikaacute XI165-172 381 Taktikaacute XI15-20 382 Que deveriam ser largados no exterior do acampamento Leatildeo alegava ser pelo odor mas a razatildeo principal

deveria ser a proteccedilatildeo sanitaacuteria Taktikaacute XI162-164 383 A uacutenica exceccedilatildeo a esta regra parecem ser os aquartelamentos de Inverno onde existiam edifiacutecios para os

homens habitarem Taktikaacute XI23-27 384 Para aleacutem destas entradas protegidas por um enorme portatildeo deviam-se instalar vaacuterias laquopoternasraquo

possivelmente para permitir a entrada e saiacuteda de pequenos grupos de homens 385 Que tambeacutem poderiam servir para criar uma barreira improvisada em torno do acampamento chamada

karagos Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p245 386 A um intervalo de 94 a 125 metros de acordo com Mauriacutecio e Leatildeo para proteger os animais de carga e os

cavalos dos projeacuteteis inimigos O Praecepta Militaria refere que a distacircncia deveria ser de ldquoum tiro de arcordquo

(possivelmente 330 metros de acordo com o Sylloge Tacticorum) existindo discussatildeo de outros valores

Taktikaacute XI80-87 Stratēgikoacuten XIIB22 PrM V5 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 248-249

78

estar longe do centro (Leatildeo indica laquopara o ladoraquo pelo que supomos a mesma condiccedilatildeo que no

caso dos turmarcas) para natildeo obstruir o tracircnsito e natildeo ser perturbado pelas tropas a passar387

Para aleacutem da escolha dos bandaacute mais experientes de forma a guardar os portotildees

dever-se-ia proceder ainda agrave escolha de soldados para executar patrulhas noturnas e para

servirem de vigias fora do periacutemetro Em relaccedilatildeo agraves fortificaccedilotildees do arraial eram constituiacutedas

por trincheiras que deviam ter cerca de 180 m de largura e entre 210 e 240 metros de altura

devendo ser precedidas por covas-de-lobo e por estrepes388 Por fim deveria existir ainda uma

paliccedilada ou fortificaccedilatildeo em torno do acampamento389

387 Taktikaacute XI91-95 388 Niceacuteforo Focas o Velho teraacute criado uma espeacutecie de estrepe que consistiria num geacutenero de tripeacute com trecircs

pedaccedilos de madeira os que serviam de base deviam ter 70 cm de comprimento e o superior devia possuir entre

117 a 140 metros Nesta estrutura colocar-se-ia depois uma lacircmina larga com 4680 cm de comprimento na

ldquoperna maiorrdquo o que tornava esta arma uma excelente invenccedilatildeo contra a cavalaria e extremamente faacutecil de

transportar de acordo com Leatildeo Taktikaacute XI128-142 O Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos refere um dispositivo

parecido Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos LXV (de aqui em diante seraacute referido como Ouranos) 389 Leatildeo refere uma stabarotildesai uma paliccedilada de estacas pontiagudas construiacuteda com madeira trabalhada ou a

partir de aacutervores cortadas no local Taktikaacute XI40-42

79

Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar

laquoA Taacutetica eacute a ciecircncia do movimento na guerra Nesta existem dois

movimentos os feitos em terra e os praticados no mar

A Taacutecica eacute a periacutecia militar que diz respeito a formaccedilotildees de batalha

ao armamento e agrave movimentaccedilatildeo de tropasraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute I linhas 3-6390

Fazendo jus ao nome do tratado a Taktikaacute eacute a disciplina mais abordada ao longo da

obra e recolhe em si um grande conjunto de assuntos que preocupam o basileuacutes a distribuiccedilatildeo

de armamento o treino de tropas a disposiccedilatildeo no campo de batalha e a forma como a guerra

deve ser encarada contra outros povos Tendo em conta estas caracteriacutesticas decidimos

dividir este capiacutetulo em trecircs subcapiacutetulos um primeiro onde abordamos o armamento e o

treino dos soldados bizantinos quer de cavalaria ou da infantaria um outro onde

examinamos a forma como Bizacircncio encarava o conflito com outras naccedilotildees de onde

salientaremos os Aacuterabes e ateacute certo ponto os Buacutelgaros e por fim um terceiro onde

referimos a forma como o exeacutercito romano devia agir no campo de batalha perante as mais

variadas desvantagens

61 ndash O armamento e o treino

laquoAgora noacutes ordenamos a Sua Excelecircncia que dirija a sua atenccedilatildeo para as armas que

deve empregar na guerra assim para o equipamento das forccedilas de infantaria e de

cavalariaraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute V linhas 3-4391

Antes de nos lanccedilarmos no resumo e anaacutelise do que Leatildeo escreve sobre estas questotildees

conveacutem tecermos algumas consideraccedilotildees introdutoacuterias acerca destes assuntos Primeiramente

a forma como o equipamento era distribuiacutedo neste periacuteodo da histoacuteria de Bizacircncio Logo no

iniacutecio da Constitutio V o basileuacutes refere que parte do provimento do material que equipava o

exeacutercito dependia do general e dos turmarcas seus segundos-em-comando Isto parece-nos

um pouco contraproducente se tivermos em conta que o impeacuterio vivia uma fase em que os

uacutenicos soldados que eram equipados com apoios estatais eram os dos taacutegmata da capital Por

outro lado o basileuacutes mais tarde admite que eacute preferiacutevel serem os soldados ricos a participar

390 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 12-13 391 Idem Ibidem pp 74-75

80

nas campanhas392 Por estas razotildees pensamos que aquilo a que Leatildeo se refere natildeo seraacute o

equipamento alusivo aos stratioacutetai que dispunham de melhores meios econoacutemicos mas sim

os soldados que natildeo tivessem meio de se equipar sozinhos393

Por outro lado haacute a possibilidade de os apetrechos aqui mencionados serem algo de

diferente natildeo relacionado com o equipamento dos soldados em si como por exemplo tendas

municcedilotildees maacutequinas de cerco394 entre outros Estes agrave semelhanccedila dos mantimentos deviam

ser adquiridos com a ajuda dos artesatildeos do theacutema pelo que natildeo seraacute de estranhar que fossem

os principais responsaacuteveis pela manutenccedilatildeo do corpo armado (os primeiros homens do

comando e o protonotaacuterio) a tratar destes assuntos No entanto existe ainda a possibilidade de

o equipamento aqui referido tambeacutem incluir material suplente (aqui aludimos a armamento

ofensivo e defensivo) que por qualquer razatildeo tivesse de ser reposto durante a campanha395

Em relaccedilatildeo ao treino para Leatildeo este mostrava-se essencial natildeo soacute para melhorar as

aptidotildees dos seus soldados e os preparar para as vicissitudes do combate396 mas tambeacutem para

combater o teacutedio e evitar que eles afrouxassem e em virtude disso se tornassem cobardes em

batalha397 Podemos referir dois tipos de treino um individual que consistia na exercitaccedilatildeo

das capacidades militares de cada guerreiro e um treino geral que correspondia agrave praacutetica das

mais diversas taacuteticas e formaccedilotildees com o intuito de preparar o exeacutercito para as situaccedilotildees mais

diacutespares no campo de batalha Por outro lado a disciplina e a organizaccedilatildeo dos soldados

provinciais em batalha natildeo era a mais brilhante398 em especial da parte da infantaria399 pelo

que se devia dar grande enfoque a estes aspetos no decorrer dos periacuteodos de treino

Finalizada esta introduccedilatildeo passemos agrave anaacutelise do equipamento e do treino de cada

uma das laquoarmasraquo (cavalaria e infantaria) Uma vez que a cavalaria eacute o nuacutecleo central do

tratado parece-nos justo comeccedilar por esta categoria O soldado montado dos themaacuteta natildeo eacute o

catafractaacuterio completamente equipado a que estamos habituados quando pensamos em

Bizacircncio mas sim um guerreiro a cavalo mais leve e capaz de percorrer grandes distacircncias

De acordo com Leatildeo eacute possiacutevel pressupor dois tipos de equipamento ofensivo para

392 Vide Anexos VIII c) 393 Existindo ainda a possibilidade de estes serem equipados e montados com o patrociacutenio de stratioacutetai mais

ricos caso fosse necessaacuterio (cf supra 13) 394 No caso dos exeacutercitos ldquotemaacuteticosrdquo natildeo se aplicava a questatildeo das maacutequinas de cerco estas a estarem

presentes em campanha seria no contexto de uma expediccedilatildeo dos corpos palatinos da capital sob o comando do

domestikoacutes 395 HALDON J (2014) ndash Op cit p169 396 laquoHomens destreinados mostram-se totalmente ignorantes e cegos quando enfrentam accedilatildeo suacutebitas e

inesperadasraquo Taktikaacute VII6-7 397 Taktikaacute VII8-20 398 Algo que o proacuteprio imperador admite Taktikaacute XVIII832-843 399 Cf HALDON J (2001) ndash Op cit p69

81

cavaleiros que se encontravam dependentes de um fator a aptidatildeo no uso do arco400 Caso o

cavaleiro soubesse usaacute-lo devia estar equipado com arco aleacutem das ferramentas necessaacuterias

para o manter da aljava para guardar as flechas e de uma lanccedila ldquopequenardquo401 uma espada e

uma adaga ou faca para defesa pessoal402 Por outro lado um cavaleiro que natildeo soubesse usar

o arco devia estar equipado com duas lanccedilas (ou dardos) e um escudo403 Quanto ao

equipamento defensivo Leatildeo refere que deviam estar vestidos com o klibaacutenion404 com grevas

chamadas de podoacutepsella e com elmos munidos de uma pequena pluma no topo405 O cavalo

tambeacutem deveria estar protegido desta feita com uma defesa de ferro ou de couro colocada

sobre a cabeccedila e o peito que era conjugada com uma neurikaacute406 que deveria cobrir o peito a

cabeccedila e se possiacutevel o abdoacutemen da montada407

Em relaccedilatildeo ao treino da cavalaria Leatildeo salienta a relevacircncia do treino com o arco

com o recruta a ter de saber disparar rapidamente e em todas as direccedilotildees e ateacute a dominar o

laquotiro partoraquo (para traacutes) A versatilidade tambeacutem era incentivada com o basileuacutes (agrave

semelhanccedila de Mauriacutecio) a incitar o comandante a treinar sucessivamente o soldado com o

arco e com a lanccedila na mesma montada408 Os cavaleiros tambeacutem deviam praticar cargas

simuladas a pares algo que podia ser realizado durante uma marcha409 Quanto ao cavalo

devia ser preparado para cavalgar em terrenos difiacuteceis e para suportar a ausecircncia de aacutegua por

algum tempo bem como a habituar-se aos sons da batalha e agrave presenccedila de camelos410

400 Este fator eacute uma das grandes preocupaccedilotildees de Leatildeo ao longo do tratado que refere que a negligecircncia no uso

do arco provocou grandes complicaccedilotildees aos Bizantinos Talvez a maior prova deste facto tenha sido a derrota do

basileuacutes Teodoacutesio na batalha de Anzen em 838 quando o impeacuterio se viu derrotado frente aos experientes

arqueiros montados turcos Este foi o primeiro confronto onde os Turcos teratildeo combatido os Romanos (ainda

que ao lado dos Aacuterabes) uma tendecircncia que se iraacute repercutir nos seacuteculos vindouros (em especial a partir do

seacuteculo XI) Taktikaacute VI30-34 HALDON J (2001) ndash Op cit pp78-83 KAEGI Walter (1964) The

Contribution of Archery to the Turkish Conquest of Anatolia Speculum 39(1) 99-101 O facto de Siriano jaacute dar

grande importacircncia aos arqueiros no Perigrave Strategiacuteas pode revelar que esta preocupaccedilatildeo jaacute teria algum tempo a

confirmar-se que o tratado eacute do seacuteculo IX Cf Siriano magister in Perigrave Strategiacuteas XLIV ndash XLVII (de aqui em

adiante passaremos a fazer a referecircncia a este tratado da seguinte forma Sir Strat) 401 Em jeito algo jocoso Haldon refere que esta lanccedila teria trecircs metros de comprimento pelo que natildeo vecirc onde eacute

que ela poderia ser pequena 402 Taktikaacute VI9-20 Por outro lado Leatildeo realccedila a existecircncia de um machado de dupla-lacircmina uma com a forma

de uma espada e outra em formato de ponta-de-lanccedila Taktikaacute VI53-55 403 Taktikaacute VI21-22 404 Termo de origem persa que refere uma armadura lamelar que cobria o corpo de um guerreiro ateacute pouco

abaixo da cintura Vide NISA J (2016) ndash Op cit p41 405 Apresentando assim o mesmo tipo de armamento defendido por Mauriacutecio muitiacutessimo influenciado pelos

Aacutevaros Stratēgikoacuten I 406 Uma proteccedilatildeo para equiacutedeos que era o resultado da conjugaccedilatildeo de pedaccedilos de couro acolchoados PrM III 407 Taktikaacute VI40-47 408 laquo(hellip) deve libertar uma ou duas flechas rapidamente e arrumar o arco montado com a corda no seu estojo (hellip)

Depois [deve] agarrar a lanccedila que carrega ao ombro Enquanto o arco estaacute no estojo ele deve agarrar a lanccedila e

reposicionaacute-la rapidamente no ombro e agarrar o arcoraquo Taktikaacute VII35-40 cf Stratēgikoacuten I 409 Taktikaacute VII41-45 410 Taktikaacute XVIII675-685 Os camelos eram reconhecidos como uma causa de medo para os cavalos desde a

derrota do rei Creso da Liacutedia frente a Ciro da Peacutersia em 536 aC A causa deste resultado foi a criaccedilatildeo in

82

Relativamente ao treino em conjunto de um exeacutercito de cavalaria Leatildeo VI afirma que

eacute absolutamente necessaacuterio o general aprender a treinar os seus soldados tendo em

consideraccedilatildeo os preceitos taacuteticos dos antigos com o intuito de os ensinar a alterar as

formaccedilotildees do seu baacutendon por meio de comandos verbais ou de sinais com bandeiras411 Por

outro lado tambeacutem se deveriam praticar batalhas simuladas com recurso a armas de treino412

para testar os soldados num grande conjunto de dispositivos e movimentaccedilotildees tais como

manobras de envolvimento cargas flanqueamentos e emboscadas Este adestramento eacute

bastante complexo e articulado porque envolve o treino das vaacuterias categorias do exeacutercito em

separado numa batalha simulada os soldados vatildeo alternando as suas funccedilotildees como kouacutersores

ou ekdiacutekous ora carregando ora apoiando os kouacutersores413 enquanto isso os flanqueadores

treinam manobras de envolvimento em bandaacute destacados para essa funccedilatildeo414 Para aleacutem

destas questotildees o autor realccedila que estas manobras devem ser praticadas em todo o geacutenero de

terrenos e temperaturas para adaptar a hoste a todo o tipo de circunstacircncias e vicissitudes415

A infantaria no Taktikaacute estaacute dividida da mesma forma que eacute explicitada no

Stratēgikoacuten de Mauriacutecio416 em skoutatoacutes ou skoutatoacutei (infantaria pesada) tropas ligeiras e

peltai mas o autor refere que este termo jaacute natildeo eacute utilizado por esta altura porque jaacute natildeo eacute

reconhecido pelos contemporacircneos do autor Em relaccedilatildeo ao armamento o skoutatoacutes devia

estar armado com um escudo largo e em forma oblonga com uma espada e com uma lanccedila

obrigatoriamente A estas armas podiam-se juntar machados de lacircmina-dupla417 e fundas

Quanto ao armamento defensivo devia ser necessariamente composto de um elmo com

plumas Em especiacutefico Leatildeo informa-nos que os dois homens de uma coluna destinados agraves

linhas da frente deveriam envergar uma zaacuteba418 ou uma loriacutekia (cota-de-malha) luvas de ferro

ou madeira (denominadas cheiroacutepsella) e grevas dos mesmos materiais419 Os skoutatoacutei eram

treinados individualmente por meio de combates pessoais420

promptu de um contingente de cameleiros (que anteriormente tinham estado adscritos ao trem-de-apoio persa)

que incutiu o medo na cavalaria liacutedia SEKUNDA Nick The Persians in HACKET Sir John (ed) (1989)

Warfare in the Ancient World Alemanha Ocidental Facts on File p 85 411 Por exemplo cerrar ou alargar fileiras mudanccedilas de frente 412 Como flechas sem pontas e cajados para substituir as lanccedilas 413 Taktikaacute VII206-219 e 220-223 Stratēgikoacuten III 414 Taktikaacute VII235-240 Stratēgikoacuten III 415 Taktikaacute VII241-248 Stratēgikoacuten III 416 Cf Stratēgikoacuten XII(B) 417 Estes natildeo estatildeo presentes no texto de Mauriacutecio 418 Palavra de origem turca que agrave altura da escrita do tratado remete para pedaccedilos de malha fixados a outras

partes da vestimenta de um soldado HALDON J (2014) ndash Op cit p186 419 Taktikaacute VI114-126 Influecircncias de Mauriacutecio (Stratēgikoacuten XII(B)) 420 Taktikaacute VII21-28 Cf Stratēgikoacuten XII(B) e Onas X

83

No que respeita agrave infantaria ligeira esta deveria estar armada com arco flechas

dardos421 e fundas como armas principais enquanto utilizaria escudos e machados para defesa

pessoal Quanto a equipamento defensivo deviam vestir tuacutenicas e a epiloriacuteka enquanto

calccedilavam sapatos recomendados para a marcha providos de tachas e com biqueira quadrada

A infantaria ligeira era treinada para disparar rapidamente com o arco e para conseguir atirar

os dardos a uma distacircncia longa devendo ainda melhorar as suas capacidades atleacuteticas com

recurso a corridas e a saltos em todo o tipo de terrenos422 Em relaccedilatildeo ao treino conjunto da

infantaria aplicam-se os mesmos preceitos acima enunciados para a cavalaria tendo o

strategoacutes de ensinar a infantaria a executar um grande conjunto de manobras e de formaccedilotildees

como o fulcum O adestramento das forccedilas de infantaria era fundamental para situaccedilotildees de

marcha uma vez que era pouco provaacutevel que dentro do exeacutercito provincial chegassem a

combater devido ao seu fraco equipamento e ao baixo moral que as caraterizava

62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra

laquoDe seguida vou ensinaacute-lo acerca de vaacuterias formaccedilotildees de batalha empregues por outras

naccedilotildees bem como acerca daquelas que os comandantes dos exeacutercitos romanos desde eacutepocas

remotas usaram contra outros povos Depois de conhececirc-las natildeo soacute vai puder usar esses

estratagemas na altura proacutepria como vai tambeacutem poder acrescentar-lhes muitos mais Porque

um comandante astuto quando agarra uma oportunidade para pocircr em praacuteticas as estrateacutegias

militares natildeo se limita agravequelas [jaacute conhecidas] e eacute capaz de inventar muitas outrasraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 3-9423

A Constitutio XVIII do Taktikaacute surge na nossa opiniatildeo como uma das mais

interessantes do tratado pois aborda a forma como o Saacutebio via as maacutequinas militares do seu

adversaacuterio Natildeo obstante acusar uma forte influecircncia do Livro XI do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio

Leatildeo VI atualiza alguma da informaccedilatildeo presente na obra do seu antecessor de maneira a

corresponder melhor agrave realidade do seu tempo em especial no que toca aos Aacuterabes que

reconhece como sendo o maior perigo para o Impeacuterio O interesse etnograacutefico-militar natildeo se

converte na uacutenica valecircncia desta Constitutio pois na nossa interpretaccedilatildeo o primeiro paraacutegrafo

pode revelar-se como uma indicaccedilatildeo da disponibilidade do Impeacuterio Bizantino para adaptar o

seu estilo militar consoante as taacuteticas e o armamento de outros povos424 Por outro lado esta

421 Para aqueles que natildeo soubessem usar o arco 422 Taktikaacute VII21-28 Para o treino de arqueiros cf Sir Strat XLV - XLVII 423 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 436-437 424 Fenoacutemeno esse visualizado tambeacutem a niacutevel linguiacutestico vide NISA J (2014) ndash Op cit pp 9-10 Por outro

lado Mauriacutecio parece admitir que o equipamento militar romano durante o seu principado encontrava muitas

influecircncias no Aacutevaro Stratēgikoacuten I

84

secccedilatildeo mostra-se fundamental para consolidar a contemporaneidade do manual de Leatildeo e

claro o interesse dele pelos problemas militares e estrangeiros que afligiram o Impeacuterio

durante o seu reinado Neste aspeto mostram-se cruciais na nossa abordagem trecircs povos os

Buacutelgaros os Lombardos e como natildeo podia deixar de ser os Aacuterabes

A questatildeo buacutelgara torna-se curiosa no sentido em que Leatildeo parece subestimar este

povo no Taktikaacute425 ao aparentar desinteresse numa guerra contra ele e nas suas taacuteticas e

armamento usando como argumento a recente conversatildeo dos Buacutelgaros ao Cristianismo426

Este fundamento parece estar tambeacutem na base das alegaccedilotildees de Karlin-Hayter427 e Runciman

chegando o uacuteltimo a alegar que laquoa sua (de Leatildeo) terna consciecircncia cristatilde fazia-o desgostar de

combater os seus companheiros crentesraquo428 Shaun Tougher no entanto refuta estas alegaccedilotildees

e contra-argumenta referindo que na realidade a secccedilatildeo direcionada aos Magiares (referidos

como Turcos no Taktikaacute) estaacute na realidade orientada para os suacutebditos de Simeatildeo429 Apoiamos

esta interpretaccedilatildeo pois Leatildeo natildeo se cansa de salientar que em termos militares os Magiares e

os Buacutelgaros satildeo muitiacutessimo parecidos430 demonstrando que natildeo confiava tanto nos seus

vizinhos balcacircnicos como aparentava e que queria os seus strateacutegoi preparados para uma

possiacutevel revanche com Simeatildeo e os seus na eventual possibilidade de esta acontecer431

Relativamente aos Lombardos as palavras de Leatildeo VI afiguram-se como um relato da

relaccedilatildeo entre os Bizantinos e os Lombardos laquoaliados correligionaacuterios e suacutebditos432raquo Esta

afirmaccedilatildeo a nosso ver revela o estado da situaccedilatildeo no Sul de Itaacutelia onde estavam os uacuteltimos

redutos da independecircncia lombarda durante o reinado do Saacutebio Como jaacute acima foi

salientado433 os ducados de Benevento e de Salerno tinham outras preocupaccedilotildees por esta

altura nomeadamente o reino de Itaacutelia sob os duques de Espoleto os Aglaacutebidas da Siciacutelia e a

principal ameaccedila muccedilulmana sedeada na foz do rio Garigliano Naquele momento portanto

425 Vide DAGRON Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore

Phocas (963-969) Paris pp 152 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 426 Vide Anexo VIII b) 427 laquoA Guerra Buacutelgara no entanto natildeo apelava ideologicamente Os Buacutelgaros seriam supostamente os filhos

espirituais de Bizacircncio e de mostrar comportamento como se filhos desta fossem e ele (Leatildeo VI) sentiu que

guerra contra este povo ia contra a ordem proacutepria das coisas ao mesmo tempo que interrompia as guerras que ele

queria executarraquo Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40 428 TOUGHER S ndash Op cit p 181 429 Idem Ibidem p 182 A mesma opiniatildeo eacute expressa por Haldon vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 339 430 P ex Taktikaacute XVIII233-236 350-352 refere ainda que laquoestas caracteriacutesticas dos Turcos satildeo diferentes das

dos Buacutelgaros na medida em que estes abraccedilaram a feacute dos Cristatildeos e - gradualmente - adotaram as caracteriacutesticas

dos Romanos Quando o fizeram despojaram-se do seu modo de vida selvagem e noacutemada bem como da sua

falta de feacuteraquo vide Taktikaacute XVIII295-298 431 Este reencontro beacutelico acabaria por acontecer em 913 apoacutes a morte de Leatildeo quando as reacutedeas do Impeacuterio

passaram para as matildeos de Alexandre seu irmatildeo que natildeo cumpriu os acordos com Simeatildeo da Bulgaacuteria A guerra

soacute terminaria com a morte de Simeatildeo em 927 apoacutes vaacuterios cercos a Constantinopla 432 Taktikaacute XVIII365 433 Cf supra 22

85

natildeo estavam interessados em encetar um conflito com Constantinopla antes pelo contraacuterio

pois o principado de Benevento-Caacutepua enviou uma embaixada a Leatildeo para oferecer a sua

lealdade a Bizacircncio em troca de uma alianccedila contra os Sarracenos na Campacircnia

independentemente do lsquomau sanguersquo que poderia ter jorrado da laquoquestatildeo beneventinaraquo434 O

autokraacutetor aproveita ainda para referir que Bizacircncio natildeo se sentia atraiacuteda pela ideia de

guerrear com eles alegando que uma das razotildees para isto era a partilha da mesma feacute com os

Romanos

Algo que nos suscitou a atenccedilatildeo foi um comentaacuterio de Leatildeo VI a Mauriacutecio nesta

secccedilatildeo Apesar de parafrasear o uacuteltimo imperador da dinastia justiniana no iniacutecio do paraacutegrafo

76435 o basileuacutes retorque logo de seguida que perderam muito dessa virtude436 Isto seraacute

possivelmente uma forma de o autor se referir ao estatuto de muitas cidades lombardas que

estariam sob a soberania bizantina apoacutes a sua laquolibertaccedilatildeoraquo de matildeos muccedilulmanas na segunda

metade do seacuteculo IX (ex Bari e Tarento) Por outro lado o basileuacutes reitera a necessidade de

se aprenderem as taacuteticas e o armamento dos Lombardos e dos Francos de forma ao strategoacutes

pode usar aquilo que achasse pertinente no campo de batalha constituindo um outro exemplo

da disponibilidade de Bizacircncio para adaptar haacutebitos beacutelicos de outros povos desde que os

achasse uacuteteis ou necessaacuterios437

Apesar de tudo isto a principal inovaccedilatildeo de Leatildeo VI para a tratadiacutestica bizantina foi o

trecho que respeita os Aacuterabes Esta secccedilatildeo da Constitutio XVIII que vai da linha 495 ateacute agrave

696 aborda um grande conjunto de temaacuteticas referentes agrave arte da guerra bizantina contra os

Aacuterabes pensamento estrateacutegico retoacuterica religiosa e claro organizaccedilatildeo taacutetica A primeira

coisa de que nos apercebemos eacute que Leatildeo identifica a cidade de Tarso (na Ciliacutecia) como a

principal fonte da ameaccedila aacuterabe Natildeo eacute por acaso que tal eacute indicado pois Tarso era o maior

dos al-thugucircr e foi o ponto de partida das maiores expediccedilotildees de saque muccedilulmanas desde a

segunda metade do seacuteculo IX ateacute agrave reconquista da cidade por forccedilas bizantinas sob o comando

de Niceacuteforo II Focas em 965438 De facto era na Ciliacutecia que tambeacutem se realizava a maior

434 Chamamos laquoquestatildeo beneventinaraquo ao periacuteodo entre 891 e 895 desde a conquista de Benevento pelos

Bizantinos ateacute aacute sua reconquista pelos Lombardos (apoiados pelo priacutencipe de Salerno) alegadamente causada

pela opressatildeo romana 435 laquoOs Francos e os Lombardos datildeo muito valor agrave liberdaderaquo Taktikaacute XVIII377 Strategikoacuten XI3 436 Taktikaacute XVIII378 437 Taktikaacute XVIII360-369 Este comentaacuterio natildeo parece ter paralelo no Stratēgikoacuten ao contraacuterio do resto desta

secccedilatildeo (linhas 377-440) que vai buscar muita influecircncia agrave obra de Mauriacutecio demonstrando que Leatildeo natildeo estava

muito atualizado em relaccedilatildeo agraves praacuteticas militares dos Francos por exemplo Cf Stratēgikoacuten XI3 438 Vide PP VII

86

parte das expediccedilotildees de saque bizantinas com o objetivo de desgastar a capacidade guerreira

muccedilulmana a qual embora mais ativa no veratildeo continuava a fazer ofensivas no inverno439

Mas Tarso natildeo era apenas uma boa base para campanhas terrestres era tambeacutem o

porto de partida da grande parte das expediccedilotildees navais sarracenas no Mediterracircneo oriental

Natildeo obstante no Taktikaacute440 a Ciliacutecia natildeo parece ainda possuir o poder que vai ter quase meio

seacuteculo mais tarde sob Sayf ad-Daulah O autokraacutetor refere que apesar de os homens de

Tarso estarem aptos a lutar tatildeo bem em terra como no mar natildeo eram capazes de conseguir

realizar uma campanha nas duas frentes podendo os Bizantinos aproveitar-se disso para

lanccedilar um contra-ataque quase sem contestaccedilatildeo por qualquer um dos outros meios441

Na escrita desta secccedilatildeo Leatildeo tambeacutem fala de certas fraquezas que atribui aos

Sarracenos442 como a sua vulnerabilidade face agraves condiccedilotildees meteoroloacutegicas da Aacutesia

Menor443 Embora esta visatildeo seja algo estereotipada444 existem casos em que forccedilas

muccedilulmanas foram derrotadas ou se viram estorvadas por fenoacutemenos climateacutericos445 Por

outro lado o basileuacutes informa-nos que o arco era a principal arma contra eles devendo ser

usado contra os cavalos e contra as tropas menos bem protegidas destes como os Etiacuteopes ou

os restantes arqueiros446

Por fim o autor enceta uma discussatildeo das caracteriacutesticas religiosas da guerra travada

pelos Muccedilulmanos Aqui parece-nos que ele considera os seguidores dos Islatildeo como o

principal antagonista agrave sobrevivecircncia do Impeacuterio natildeo soacute pelo poder militar mas tambeacutem pelo

seu fervor religioso um facto enunciado pela comparaccedilatildeo que tece com os Persas Esta

Constitutio apresenta-se como a primeira obra bizantina a falar de trecircs caracteriacutesticas da

guerra realizada pelos muccedilulmanos nesta altura447 Baseando-se nos trecircs pilares da guerra

439 Taktikaacute XVIII579-583 440 Taktikaacute XVIII667-668 laquoPois o exeacutercito dos baacuterbaros cilicianos natildeo eacute muito numeroso uma vez que os

mesmos homens natildeo podiam realizar campanha tanto em terra como no marraquo Isto poderaacute levar a supor que

apesar de ser o principal foco de atividade beacutelica muccedilulmana a concentraccedilatildeo de esforccedilos nesta regiatildeo natildeo seria

tatildeo grande como se supocircs Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 489 441 Por exemplo se os Cilicianos optassem por um raide terrestre os Bizantinos deviam responder com um

ataque naval com a frota do theacutema do Kibirrhaiotai Se o ataque fosse por mar os Bizantinos podiam invadir a

Ciliacutecia por terra Taktikaacute XVIII662-668 Leatildeo chega ainda a propor que agrave semelhanccedila do que o pai fizera em

877 se realizasse um ataque combinado do exeacutercito e da frota contra Tarso Taktikaacute XVIII669-674 442 Como John Haldon salienta sem ser quando menciona os ldquoEtiacuteopesrdquo Leatildeo refere-se aos Sarracenos como um

todo natildeo referindo a diversidade de povos que participavam nas campanhas de saque muccedilulmanas como os

Dailamitas os Turcos ou os Curdos entre outros 443 Taktikaacute XVIII573-578 444 HALDON J (2014) ndash Opcit p 362 445 Durante a batalha de Anzen em 838 a chuva teraacute molhado e afetado os arcos turcos Por outro lado no

inverno de 666 para 667 uma forccedila bizantina teraacute reconquistado Amorion aos Aacuterabes num ataque de surpresa

Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 453 446 Taktikaacute XVIII635-646 447 Cf supra 41

87

(jihad ghazis e waqf) o autor conclui que os Aacuterabes satildeo um povo guerreiro que natildeo

contando com a sua admiraacutevel vontade de combater pelo seu Deus soacute parece lutar para

conseguir despojos448 Ora esta ganacircncia parece dar soacute mais razatildeo aos Romanos para

combaterem os Sarracenos uma vez que torna justa a sua guerra defensiva449 No conflito

contra os Aacuterabes era crucial um movimento geral da populaccedilatildeo para apoiar o exeacutercito naquilo

que fosse necessaacuterio tornando-se um fator essencial para o Impeacuterio obter a vitoacuteria450

63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta

laquoComo jaacute frequentemente dissemos eacute muito perigoso para qualquer um arriscar

uma batalha campal mesmo quando nos parece frequentemente claro que [as nossas

forccedilas] ultrapassam muito as do inimigo Os desiacutegnios da fortuna satildeo incertosraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 589-591451

A batalha natildeo era o principal foco da estrateacutegia defensiva bizantina como jaacute foi

referido e caso se travasse natildeo deveriam ser os themaacuteta a encetaacute-la sozinhos estando essa

missatildeo nas matildeos do domestikoacutes e dos corpos profissionais da capital Ainda assim haveria

sempre a possibilidade de um strategoacutes provincial ter de a travar pelo que Leatildeo dedica vaacuterias

Constitutiones452 do seu tratado agrave preparaccedilatildeo de um evento deste geacutenero e ao comando de

soldados nestas situaccedilotildees No entanto a maior parte destas parecem encontrar mais influecircncia

do que o normal no Stratēgikoacuten de Mauriacutecio com exceccedilatildeo do uacuteltimo trecho da XVIII (linhas

696-855) que parece ter tido origem na pena de Leatildeo bem como na experiecircncia dos seus

generais453 Assim esta secccedilatildeo parece ser aquela que descreve melhor a disposiccedilatildeo taacutetica da

448 Taktikaacute XVIII647-653 449 Trata-se de uma visatildeo algo depreciativa e redutora por parte do basileuacutes pois a noccedilatildeo de guerrear apenas para

obter botim mostra-se desconforme ao cariz religioso da guerra muccedilulmana No Islatildeo pelejar por mero ganho

pessoal ou por prestiacutegio era o equivalente a procurar a condenaccedilatildeo eterna HALDON J (2014) ndash Op cit p 374 450 Taktikaacute XVIII607-611 Haldon refere no entanto que os grandes problemas que provocaram as derrotas que

o impeacuterio tinha sofrido entre seacuteculo VII e o X foram a fraca lideranccedila e a pobre disciplina das tropas Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit p 373 Vaacuterias hostes romanas conseguiram agrave base de boa lideranccedila infligir

pesadas derrotas aos seus adversaacuterios como no caso de Heraacuteclio irmatildeo de Tibeacuterio II que ainda no seacuteculo VII

conduziu expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo ou de Leatildeo III que fez abortar o uacuteltimo cerco a

Constantinopla pelos Omiacuteadas e esmagou a uacuteltima grande ofensiva omiacuteada juntamente com o filho o futuro

Constantino V na batalha de Akroinos Para Heraacuteclio vide HALDON J (2001) ndash Op cit p68 Para Leatildeo III

vide HALDON J (2016) ndash Op cit pp 53-54 451 DENNIS George T (2014) ndash Op cit pp 482-483 452 Satildeo as Constitutiones XII XIII XIV e XVIII 453 HALDON J (2014) ndash Op cit p384

88

eacutepoca de Leatildeo pelo que nos vamos basear nesta ao inveacutes da Constitutio XII454 que aborda as

mesmas temaacuteticas mas vai recuperar muita informaccedilatildeo ao Stratēgikoacuten455

Antes de a batalha comeccedilar havia certos procedimentos que deveriam ser seguidos A

feacute divina mostrava-se novamente necessaacuteria tendo os estandartes de ser abenccediloados por

sacerdotes enquanto as puniccedilotildees de alguns castigos deviam ser adiadas ateacute depois da batalha

ou afastar-se-iam os infratores das restantes tropas As horas de refeiccedilotildees e a alimentaccedilatildeo dos

soldados deviam ser bem planeadas para que os militares natildeo se encontrassem em jejum

quando o combate comeccedilasse456 tendo de se proceder da mesma maneira no que dizia

respeito agraves bebidas das montadas457

Chegado o momento da batalha o basileuacutes utiliza como exemplo um exeacutercito de 4000

homens458 para explicitar a forma como este devia ser disposto para a batalha Em primeiro

lugar o strategoacutes deveria mobilizar 1500 homens para a linha da frente a proacutemachos

divididos em trecircs divisotildees estando cada divisatildeo composta por cinquenta decarquias com dez

homens cada organizadas como mencionaacutemos anteriormente459 e comandadas por um

turmarca Depois disto dever-se-ia formar uma linha de apoio composta por quatro divisotildees

separadas por um laquotiro de flecharaquo de distacircncia cada uma com 250 homens perfazendo 1000

soldados no total Cada um dos espaccedilos nesta formaccedilatildeo deveria estar ocupado por cavaleiros

para dar a impressatildeo de a segunda linha ser muito extensa estando destacados 100 guerreiros

para cada uma das interrupccedilotildees Por fim em formaccedilatildeo regular obrigatoacuteria encontramos as

fileiras da retaguarda divididas em duas alas esquerda e direita com 250 homens cada (o que

resulta em 500 soldados no total)

Os restantes efetivos aproximadamente 700 deviam ocupar outras posiccedilotildees no campo

de batalha Dois bandaacute de 200 homens cada responsaacuteveis por fazer emboscadas deviam ser

estacionados a alguma distacircncia das linhas para emboscar o inimigo a partir de lugares que

permitissem aos Bizantinos esconder-se Na linha de frente deveriam existir dois batalhotildees

avanccedilados de cada uma das alas que funcionariam como flanqueadores (se estivessem no

454 Natildeo vamos poreacutem abster-nos de referir esta Constitutio bem como a influecircncia da obra de Mauriacutecio nela 455 Seraacute uma paraacutefrase quase integral dos livros II III e VII de Mauriacutecio Cf HALDON J (2014) ndash Op cit p

259 456 Taktikaacute XIII43-46 457 Taktikaacute XIII54-57 458 O nuacutemero meacutedio de homens que Leatildeo aconselha para um exeacutercito de um theacutema pelo que nos poderaacute levar a

supor (ateacute pela exatidatildeo dos nuacutemeros) que este era realmente o principal modelo taacutetico usado pelas forccedilas

ldquotemaacuteticasrdquo caso combatessem sozinhas Taktikaacute XVIII841-843 Cf Taktikaacute XII127-212 e Stratēgikoacuten II2-5 459 Cf supra 51

89

lado direito) ou guarda-flancos (se estivessem no esquerdo) cada um tendo 100 soldados460

Os uacuteltimos 100 cavaleiros estariam sob o comando pessoal do strategoacutes ou do oficial maacuteximo

naquela batalha Este grupo deveria servir com reserva pronta a auxiliar qualquer uma das

divisotildees caso fosse necessaacuterio estando para isso localizado na divisatildeo central da linha da

frente ou noutra localizaccedilatildeo que permitisse ao general aferir o estado da batalha e de cada um

dos setores do dispositivo taacutetico461

Como eacute que este dispositivo funcionava em batalha A forma parece basear-se num

jogo de ldquobate-e-fogerdquo A proacutemachos era divida em dois tipos de soldados os kouacutersores e os

ekdiacutekoi numa proporccedilatildeo de um para dois Enquanto os kouacutersores atacavam o inimigo os

defensores estavam encarregados de os apoiar caso estes precisassem de retirar bem como de

evitar possiacuteveis envolvimentos Caso a primeira linha tivesse de recuar os homens nos

intervalos da segunda linha recuavam para a retaguarda para permitir a passagem dos

cavaleiros em debandada e possibilitar-lhes que se reorganizassem em seguranccedila antes de

voltarem agrave refrega enquanto evitavam que possiacuteveis desertores abandonassem o campo de

batalha Estes homens mantinham-se depois na retaguarda ateacute ser necessaacuterio suportar a

segunda linha Enquanto isso os flanqueadores e os guarda-flancos deviam manter a pressatildeo

sobre o exeacutercito adversaacuterio bem como os grupos de emboscada

Relativamente a combates com forccedilas numericamente superiores o basileuacutes aconselha

o strategoacutes a convocar alguns dos seus colegas para que com o triplo dos homens pudessem

fazer frente agravequela ameaccedila462 Leatildeo natildeo menciona quem seria o comandante deste conjunto de

themaacuteta mas era provaacutevel que fosse o comandante local por conhecer melhor o terreno ou

entatildeo o strategoacutes mais experiente mas isto satildeo meras suposiccedilotildees da nossa parte463 Por outro

lado se a hoste adversaacuteria fosse mais pequena o basileuacutes aconselhava a que se praticasse uma

manobra de envolvimento que poderia ou natildeo envolver as trecircs linhas464

460 Mais tarde Leatildeo refere que estes homens deviam atuar em conjunto com os 4000 homens que jaacute mencionara

fazendo supor que estes natildeo estariam presentes entre o conjunto da forccedila recrutada Isto natildeo faz sentido porque

sem estes homens a conta natildeo chegaraacute aos quatro mil homens Taktikaacute XVIII765-769 461 A existecircncia de um corpo de reserva mostrou-se essencial para a vitoacuteria bizantina em certas batalhas No

uacuteltimo grande confronto entre Russos e Bizantinos agraves portas de Dorostolon em 971 a vitoacuteria bizantina esteve

presa por um fio ateacute Joatildeo II Zimisces (969-976) o co-imperador de entatildeo carregar sobre o centro da linha russo

com os seus catafractaacuterios e quebrar as formaccedilotildees noacuterdicas A carga do basileuacutes juntamente com as condiccedilotildees

atmosfeacutericas que se fizeram sentir entatildeo permitiu agraves linhas romanas empurrar o centro adversaacuterio enquanto a

cavalaria pesada sob Bardas Sclero no flanco direito esmagava os Russos com uma manobra de envolvimento

Vide Leatildeo o Diaacutecono A Histoacuteria VIII e HALDON J (2001) ndash Op cit p 104 462 Taktikaacute XVIII808-819 463 Exemplos de encontros onde mais do que uma forccedila de um themaacuteta se reuniram para confrontar o inimigo

podem ser as batalhas de Lalacatildeo e Bathys Ryax apesar de a uacuteltima se tratar mais de um ardil bizantino que

provocou uma debandada no seio das forccedilas paulicianas a que se seguiu o massacre na perseguiccedilatildeo 464 Taktikaacute XVIII819-829

90

A principal vantagem desta formaccedilatildeo era a de permitir manter a pressatildeo ou uma defesa

soacutelida frente a exeacutercitos das mais variadas dimensotildees pois havia sempre tropas frescas

prontas para auxiliar as restantes caso estas necessitassem de retirar Para aleacutem disso nas

palavras de Leatildeo e de Mauriacutecio organizar um exeacutercito numa soacute linha gerava muitos

problemas a niacutevel de comando465 Por outro lado este modelo organizativo permitia que

fossem realizadas muitas mais movimentaccedilotildees taacuteticas do que aquelas que seria possiacutevel

concretizar se o exeacutercito formasse em apenas uma linha enquanto a extensatildeo de tal fila

provocaria problemas na coesatildeo das fileiras em caso de o combate se dar em terreno difiacutecil466

Outras desvantagens parecem ser o facto de uma grande linha permitir a fuga de certos

homens sem que o comando se aperceba enquanto por outro lado eventuais perseguiccedilotildees a

inimigos em fuga acabariam em desastre caso os soldados bizantinos fossem emboscados

sem apoio de qualquer outra forccedila de apoio467

465 Stratēgikoacuten II1 466Taktikaacute XII31-46 467 Taktikaacute XII51-65

91

Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas

Apesar de Leatildeo dedicar vaacuterios capiacutetulos agraves questotildees relacionadas com a batalha

campal eacute importante voltar salientar que esta natildeo era uma praacutetica muito apreciada pelos

Bizantinos porque poderia acarretar graves consequecircncias e muitas baixas Para Leatildeo VI o

preferiacutevel era combater por meio de assaltos a fortificaccedilotildees ou por estratagemas por outro

lado e como jaacute salientaacutemos o mar era um meio crucial para combater os muccedilulmanos O

nosso proacuteximo capiacutetulo abordaraacute estas questotildees que entendemos serem mais pertinentes para

a questatildeo da guerra travada pelos thematikoiacute do que propriamente as batalhas campais

71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade

laquoA guerra de cerco exige um general que seja corajoso e perspicaz que tenha

conhecimento militar senso comum e que consiga preparar maacutequinas de guerra Ele

deve zelar pela seguranccedila ao acampar em redor de uma cidade ou de uma fortaleza ou

fortificaccedilatildeo e deve dedicar muita atenccedilatildeo a essa seguranccedilaraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XV linhas 9-12468

A poliorceacutetica (isto eacute a disciplina militar que se ocupa do cerco de cidades) eacute da

maacutexima importacircncia para Bizacircncio e representava uma das teacutecnicas beacutelicas mais empregues

por este impeacuterio Eacute inconcebiacutevel imaginar este Estado sem o domiacutenio desta vertente da arte de

guerra tendo em conta os muacuteltiplos inimigos que enfrentou nas mais variadas frentes o que

lhe fez tirar partido da falta de experiecircncia da maior parte dos seus vizinhos nessa

modalidade Apesar de Leatildeo VI natildeo apresentar muitos conteuacutedos originais neste aspeto da sua

obra tomaacutemos a iniciativa de fazer uma pequena resenha do que ele escreveu neste

subcapiacutetulo ndash pelas razotildees acima enunciadas ndash dividindo-o em trecircs aspetos principais o

assalto a uma fortaleza a defesa de um recinto fortificado e a construccedilatildeo de postos-de-vigia

Relativamente ao asseacutedio de uma fortificaccedilatildeo podemos comeccedilar por verificar como eacute

que um strategoacutes tomava uma cidade inimiga alcanccedilando a vitoacuteria numa operaccedilatildeo desta

natureza Tal podia ser feito atraveacutes de um bloqueio rigoroso de forma a obrigar a guarniccedilatildeo

a render-se caso natildeo houvesse tempo ou mantimentos para tal empreendimento poder-se-ia

tentar um assalto agraves muralhas com recurso a maacutequinas de cerco ou entatildeo o general recorria a

ardis e a estratagemas para enganar os defensores e conseguir tomar a cidade Por outro lado

468 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 350-351

92

poder-se-ia fazer uso dos engenhos de cerco para demolir o moral da guarniccedilatildeo e dos

habitantes forccedilando-os agrave rendiccedilatildeo podendo igualmente consumar-se a tomada desse siacutetio

atraveacutes da traiccedilatildeo por algueacutem de dentro do periacutemetro defensivo Por fim se o objetivo fosse

apenas o botim havia ainda a alternativa de os sitiados pagarem um tributo469 podendo a

hoste retirar-se se tal bastasse para saciar os desejos desta forccedila militar

Tendo em conta o acima referido quais eram os procedimentos para a tomada de um

siacutetio amuralhado A primeira regra de acordo com Leatildeo VI seria enviar cavaleiros agrave frente

do exeacutercito de forma a capturar todos aqueles que pudessem avisar com antecedecircncia a

povoaccedilatildeo da aproximaccedilatildeo da hoste bizantina470 A isto segue-se a construccedilatildeo de um

acampamento fortificado em torno do objetivo (uma circunvalaccedilatildeo) um procedimento fulcral

para garantir o bloqueio da cidade e para proteger a hoste sitiadora O comandante bizantino

de seguida deve comeccedilar a distribuir logo tarefas espalhar batedores pelo terreno circundante

para o avisarem de ameaccedilas quer de dentro da cidade quer de fora colocar homens a montar

armas de cerco e estacionar soldados nas entradas do siacutetio sujeito ao assalto

O general deve entatildeo ponderar as suas opccedilotildees a cidade tem mantimentos suficientes

para aguentar o cerco O exeacutercito bizantino possui provisotildees necessaacuterias para conseguir

bloquear com sucesso a cidade E quanto agraves fortificaccedilotildees e agrave guarniccedilatildeo seratildeo suficientemente

fortes para aguentar um assalto Apesar de todas estas questotildees para os Bizantinos era

preferiacutevel capturar a praccedila pelo bloqueio471 ou obrigaacute-la a render-se de outras formas visando

o menor nuacutemero de baixas possiacutevel

A grande arma para se atingir este objetivo eacute o medo Leatildeo VI aconselha o general a

tirar proveito da noite para bombardear a cidade alegando que isto poderaacute criar uma confusatildeo

algo paranoica por entre os habitantes facilitando a sua subjugaccedilatildeo472 Por outro lado essa

sensaccedilatildeo de pacircnico e talvez de cansaccedilo apoacutes algumas noites atrevemo-nos a dizer iria tornaacute-

los mais descuidados nas palavras do autokraacutetor pelo que seria possiacutevel enganaacute-los fazendo

subir laquodois homensraquo agrave muralha De acordo com o basileuacutes com algum exagero os indiviacuteduos

469 Como no caso do cerco aacuterabe de Tessaloacutenica em que a cidade foi libertada (aparentemente) depois do

pagamento de um avultado tributo Cf supra 22 470 Taktikaacute XV229-233 Onas XXXIX Stratēgikoacuten X 471 Uma das teacutecnicas que visava este objetivo era em caso da captura de cidadatildeos inimigos nas proximidades da

fortaleza aprisionar todos os que pudessem participar na defesa do local e enviar para o siacutetio assediado todos os

outros (mulheres crianccedilas e idosos) de forma a aumentar a velocidade com que os mantimentos eram comidos

Taktikaacute XV132-138 Onas XLI 472 A conquista de Antioquia em 969 por forccedilas leais a Niceacuteforo Focas parece ter-se dado em circunstacircncias

proacuteximas destas Um pequeno grupo de homens trepou as muralhas durante a noite matou alguns vigias e

incendiou vaacuterios setores da cidade espalhando o pacircnico pela cidade Este grupo teraacute depois aberto os portotildees o

que permitiu aos Romanos entrar A populaccedilatildeo ter-se-aacute entatildeo rendido e os fogos foram apagados pelas forccedilas

bizantinas Vide A Histoacuteria de Leatildeo o Diaacutecono V

93

responsaacuteveis pelas muralhas pensaratildeo que eacute o exeacutercito inimigo que estaacute a subir pelo que de

imediato fugiratildeo deixando as ameias agraves matildeos do invasor473 Em alternativa o strategoacutes

deveria exibir (suficientemente longe das muralhas) alguns dos seus soldados com cota de

malha e armadura completa de forma a intimidar o adversaacuterio474 Por fim na altura de impor

os termos de rendiccedilatildeo estes deviam ser modestos e sensatos ndash como a entrega das armas e das

montadas por exemplo ndash de forma a aplacar a populaccedilatildeo da cidade mas tambeacutem para lhe

minar a vontade de combater475 Quando o empreendimento tem sucesso o imperador

aconselha o general a ser misericordioso gentil ateacute para com a populaccedilatildeo de maneira a

suprimir os seus desejos de resistecircncia476 Para aleacutem disso demonstrava a outras cidades que

pudessem ser cercadas no futuro que os novos suacutebditos do impeacuterio natildeo seriam oprimidos477

O strategoacutes soacute deveria encetar um assalto agraves muralhas caso o bloqueio natildeo fosse viaacutevel

por falta de mantimentos da parte da hoste atacante tirava entatildeo proveito das maacutequinas de

guerra ao seu dispor tais como ariacuteetes escadas de assalto tartarugas e outros engenhos478 A

persistecircncia no ataque (com ataques interminaacuteveis por turnos contra a cidade para natildeo cansar

os soldados479) e a conjugaccedilatildeo dos meios de assalto480 eram os dois principais fatores que o

imperador aconselhava para o sucesso no asseacutedio Apesar de todo este aparato beacutelico

Niceacuteforo Ouranos considera um seacuteculo depois que o melhor meacutetodo para tomar uma

fortaleza por meio de um assalto satildeo os trabalhos de escavaccedilatildeo sob as fundaccedilotildees da muralha

por meio de laisacirci481 Natildeo obstante Leatildeo VI natildeo mencionar estes dispositivos parece que

473 Taktikaacute XV27-35 Onas XLI 474 Os que natildeo cumprissem estes requisitos podiam usar o almofre da armadura de outro soldado e apresentar-se

de armas completas Para aleacutem disso o acampamento devia estar suficientemente longe da cidade para que a

maior parte dos apetrechos neste parecessem soldados ao inimigo assediado e para natildeo impor aos soldados nas

suas horas de descanso o stressante som dos combates (gritos e terccedilar de armas) Taktikaacute XV56-57 e 139-143

Stratēgikoacuten X1 475 Caso contraacuterio se os termos forem muito rigorosos os habitantes poderiam entender que mais valeria resistir

do que renderem-se Taktikaacute XV64-66 476 Cf supra 51 477 Taktikaacute XV210-216 e 238-249 Onas XXXV XXXVIII e XLII 478 Aqui possivelmente devem-se incluir os engenhos de artilharia neurobaliacutestica possivelmente sifotildees manuais

de fogo grego (que natildeo deveriam disparar material flamejante no entanto) e as laisacirci das quais falaremos a

seguir Quanto aos sifotildees manuais vide Taktikaacute XIX356-361 Parangelmata Poliorcetica XLIX (de aqui em

diante citada por Polio) e HALDON John et alli (2006) Greek fire revisited recent and current research In

JEFFREYS Elizabeth Byzantine Style Religion and Civilization ndash In Honour of Steven Runciman Cambridge

Cambridge University Press pp 295-296 e 314-315 479 Que de acordo com Leatildeo seria o suficiente para tomar um recinto fortificado pequeno Taktikaacute XV149-153

Stratēgikoacuten X1 480 Por exemplo incendiar casas por meio de flechas e de projeacuteteis flamejantes ou colocar escadas para trepar as

muralhas enquanto os habitantes estatildeo ocupados a apagar os fogos 481 Uma estrutura amoviacutevel feita de ramos entrelaccedilados e com uma cobertura iacutengreme de construccedilatildeo simples e

faacutecil transporte com vaacuterias entradas Servia para proteger os homens que as transportavam durante a

aproximaccedilatildeo agraves muralhas ou para garantir o seu descanso McGeer diz que elas tambeacutem poderiam ser utilizadas

pelos sapadores durante os seus trabalhos para os proteger dos projeacuteteis vindos das muralhas Vide MCGEER

94

estes teratildeo sido utilizados pelos Buacutelgaros para evitar que os Magiares atravessassem o

Danuacutebio em 895 pelo que natildeo seraacute de excluir a hipoacutetese de os Bizantinos os conhecerem e

utilizarem na eacutepoca do Taktikaacute482

As reminiscecircncias de Ouranos afiguram-se interessantes porque podem refletir-se na

eacutepoca de Leatildeo VI Ao ter em conta que o principal objetivo da guerra neste periacuteodo era o

saque e que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam de alguma mobilidade para a praticar eacute

pouco provaacutevel que se dessem ao trabalho de trazer maquinaria pesada para cercar

fortalezas483 Para tal seria mais viaacutevel a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de cerco mais raacutepidas e baratas

como o bloqueio484 as minas os ardis e as laisacirci em detrimento da utilizaccedilatildeo de engenhos de

cerco que necessitassem de vir de longe e que sem duacutevida tornariam mais lenta a marcha de

hostes que precisavam de ser raacutepidas por natureza Uma possiacutevel exceccedilatildeo para isso poderia

acontecer caso o exeacutercito estivesse numa campanha para conquistar um baluarte ou cidade em

particular no entanto tal seria uma responsabilidade mais facilmente atribuiacuteda a uma hoste

expedicionaacuteria de um basileuacutes ou de um domestikoacutes do que a um exeacutercito provincial485

E se o strategoacutes estivesse do outro lado da muralha o que deveria fazer Em primeiro

lugar preparar-se atempadamente para o cerco armazenar provisotildees486 evacuar quem natildeo

fosse estritamente necessaacuterio para a defesa montar engenhos de cerco nos topos das torres e

planear muito bem a distribuiccedilatildeo de homens a fim de garantir que natildeo houvesse zonas por

defender487 Para aleacutem disso teria de colocar guardas a patrulhar (em especial durante a noite)

bem como a proteger as provisotildees enquanto os portotildees deviam estar sob a proteccedilatildeo de

homens de confianccedila488

Quanto a formas de defender as muralhas489 Leatildeo aconselha a que sejam pendurados

troncos grandes ou rochas para esmagar os homens e as escadas do inimigo caso ensaiem

Eric (1995) Tradition and Reality in the Taktika of Nikephoros Ouranos In Dumbarton Oaks Papers 45 p

135 482 Vide MCGEER E (1995) ndash Op cit p137 483 Tome-se o caso da expediccedilatildeo de Basiacutelio I a Tephrike e a Melitene em 871 infrutiacutefera por causa das

respetivas defesas e da incapacidade de as bloquear devido agrave enorme quantidade de provisotildees que possuiacuteam 484 Se houvesse provisotildees suficientes e tempo para tal 485 Tome-se como exemplo a expediccedilatildeo a Creta em 949 que estaria equipada com peccedilas para maacutequinas de

cerco que seriam montadas na altura de tomar a capital Chandax Vide Constantino VII basileuacutes ldquoThe

expedition which took place against the island of Crete and the equipping of the naval and cavalry forces in the

seventh indiction in the time of Constantine and Romanos purple-born and faithful emperors in Christrdquo Texto

traduccedilatildeo e comentaacuterio HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century Military Administration ndash

Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies Travaux et Memoacuteires (13) pp 224-225 486 E impor raccedilotildees diaacuterias caso natildeo haja em quantidade suficiente em especial de aacutegua Taktikaacute XV324-329 487 E que houvesse uma reserva pronta a atuar onde fosse preciso 488 Taktikaacute XV306 489 E caso natildeo fosse possiacutevel derrotar o inimigo antes de este assediar a fortificaccedilatildeo Taktikaacute XV250-255 Estas

seratildeo palavras originais de Leatildeo de acordo com John Haldon que indica o caso da derrota de Teoacutefilo (829-842)

95

uma escalada dos muros Se o inimigo usasse torres-de-assalto os defensores deveriam

utilizar misseis incendiaacuterios ou recorrer aos projeacuteteis das maacutequinas de lanccedilamento de pedras

ou agrave construccedilatildeo de torres nas ameias maiores do que as torres do adversaacuterio490 As surtidas

eram proibidas por mais valorosos que os militares e os cidadatildeos fossem491 a natildeo ser em

casos de extrema necessidade para destruir as armas de cerco inimigas492 Para aleacutem destes

conselhos o basileuacutes recomendava ao strategoacutes que pensasse ele proacuteprio em formas de

contrariar os ataques e estratagemas do inimigo493 ou ateacute em expedientes para enganar o

adversaacuterio enquanto mantinha o moral da populaccedilatildeo alto ateacute o cerco terminar494

Por fim em relaccedilatildeo agrave poliorceacutetica Leatildeo dedica algumas palavras agrave raacutepida construccedilatildeo

de fortalezas fronteiriccedilas495 Estas fortificaccedilotildees496 tanto nos Balcatildes como especialmente na

Aacutesia Menor tornam-se importantes no contexto da eacutepoca pelas seguintes razotildees

laquo(hellip) Primeiro para observar a aproximaccedilatildeo de um inimigo segundo para receber

desertores do inimigo terceiro para conter quaisquer fugitivos do nosso proacuteprio lado A quarta

(razatildeo) eacute para facilitar a preparaccedilatildeo de raides contra territoacuterios inimigos perifeacutericos Estes satildeo

empreendidos natildeo tanto para saquear mas mais para descobrir o que o inimigo estaacute a fazer e

que planos urde contra noacutesraquo497

Para este empreendimento eacute uma vez mais necessaacuterio averiguar de certas

necessidades haacute materiais de construccedilatildeo na zona onde se pretende construir o recinto E

quanto agrave aacutegua existe ou eacute necessaacuterio procuraacute-la ou trazecirc-la de outro siacutetio Seguem-se os

conselhos para a edificaccedilatildeo enviar artesatildeos (canteiros carpinteiros entre outros)

acompanhados por toda a logiacutestica de que precisassem e uma escolta para comeccedilarem a

construir os alicerces das fortificaccedilotildees enquanto estavam protegidos por um karagos Novas

na batalha de Anzen (838) numa tentativa de destruir uma de duas colunas aacuterabes que se dirigiam agrave cidade

como um exemplo praacutetico de um falhanccedilo desta estrateacutegia HALDON J (2014) ndash Op cit p301 490 Taktikaacute XV273-285 Stratēgikoacuten X3 491 Karlin-Hayter considera o excerto que diz isto como uma reflexatildeo da mentalidade estrateacutegica bizantina de

poupar soldados tambeacutem inserida no pensamento militar do Saacutebio ldquo(hellip) Os homens eram preciosos em

particular aqueles mais corajosos e Leatildeo estava preocupado em economizaacute-los A tarefa em matildeos consistia em

defender o impeacuterio e ele tinha pouca paciecircncia para heroiacutesmosrdquo Vide KARLIN-HAYTER ndash Op cit p19 492 A defesa da fortificaccedilatildeo devia ser feita nas muralhas quase que exclusivamente Taktikaacute XV306-316 493 Taktikaacute XV337-342 Paraacutefrase de Onas XL 494 Veja-se o caso do cerco aacuterabe a Constantinopla em 717718 quando Leatildeo III a fim de preparar as defesas da

cidade informou um dos comandantes aacuterabes de que a cidade de Amorion seria entregue aos invasores

Enquanto as forccedilas aacuterabes divergiam no seu percurso para a capital da divisatildeo dos Anatoacutelicos ele conseguiu

guarnecer eficazmente aquela cidade obrigando depois aquela hoste a retirar O resultado deste estratagema

para Constantinopla foi que ao inveacutes de ser cercada por dois exeacutercitos aacuterabes foi assediada apenas por uma

hoste Tal foi uma das razotildees para a vitoacuteria dos defensores em 718 Vide HALDON J (2016a) ndash Op cit p53 495 Esta secccedilatildeo (Taktikaacute XV343-402) eacute quase uma paraacutefrase de Mauriacutecio Strategikon X4 496 John Haldon refere que estas fortalezas tendo em conta a sua localizaccedilatildeo na fronteira podem muito bem ser

os phouacuteria de Siriano que tinham funccedilotildees de vigia e natildeo tanto de proteccedilatildeo do territoacuterio Vide HALDON J

(2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 497 Siriano magister in Sir Strat IX

96

forccedilas seguidas de um acampamento fortificado dever-se-iam seguir a estas assim que as

presenccedilas inimigas locais tivessem sido afastadas pela manha bizantina498 Findos os

primeiros trabalhos dever-se-iam comeccedilar a erguer as primeiras fortificaccedilotildees per se

especialmente com a utilizaccedilatildeo de argamassa para as fortalecer A aacutegua a ser usada pela

guarniccedilatildeo tambeacutem era de extrema importacircncia inicialmente dever-se-ia armazenar a aacutegua em

barris ou em jarros de ceracircmica499 juntamente com pedras do rio limpas para a preservar ateacute

ao inverno De seguida iniciava-se a construccedilatildeo de cisternas para preservar a aacutegua da chuva

para a futura guarniccedilatildeo500

72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval

A Constitutio XIX do Taktikaacute dedica-se quase que por exclusivo a este tema e chegou

a ser considerada como um escrito distinto do manual de Leatildeo por se encontrar em separado

deste no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 501 Esta secccedilatildeo eacute tambeacutem uma das

primeiras a referirem a guerra naval desde o seacuteculo V e o tratado de Vegeacutecio502 algo que se

enquadra muito bem no paradigma da eacutepoca e do reinado de Leatildeo como jaacute referimos503

O manual militar discrimina vaacuterios tipos de droacutemōnes ainda que muito

subsidariamente ao longo das paacuteginas referentes a esta disciplina evocando dois em especial

uns mais pequenos com capacidade para 100 remadores e os maiores com capacidade para

200 homens que deviam ter dimensatildeo suficiente para manter a velocidade e a resistecircncia O

tratado menciona a existecircncia de galeacutes (ou monorremes) que eram mais pequenas e velozes do

que os outros droacutemōnes e eram bastante uacuteteis em taacuteticas que necessitassem de velocidade ou

de alguma discriccedilatildeo504 Ao serviccedilo do strategoacutes naval505 deviam existir ainda embarcaccedilotildees

498 Esta manha eacute constituiacuteda por um rumor de que a cidade inimiga mais proacutexima seria atacada seguido do envio

de uma forccedila fantoche para corroborar o rumor Enquanto o exeacutercito inimigo se dirige a este grupo de soldados

os trabalhos de construccedilatildeo devem prosseguir In Taktikaacute XV350-362 499 Dever-se ia colocar uma pequena bacia junto dos barris para que gota-a-gota a aacutegua escoasse para esta e

assim se mantivesse em movimento e natildeo estagnasse Assim que a bacia enchesse despejava-se novamente a

aacutegua no recipiente maior 500 Sob a forma como construir uma cisterna vide Taktikaacute XV 394-402 Stratēgikoacuten X4 501 Cf supra 43 502 laquoConquanto natildeo encontraacutemos nenhuma regulaccedilatildeo acerca disto (guerra naval) nos velhos tratados taacuteticos

ainda assim a partir do que lemos aqui e ali e do que aprendemos da experiecircncia ordinaacuteria dos nossos

comandantes da frota no tempo presente dos seus sucessos bem como dos seus falhanccedilos selecionaacutemos alguns

exemplos os suficientes para fazer esta apresentaccedilatildeo agravequeles que desejam combater no mar no que antigamente

se chamavam trirremes mas que agora se chamam droacutemōnesraquo Taktikaacute XIX3-8 Haldon acredita que por laquoaqui

e aliraquo o autor se refere ao Naumachiacuteai de Siriano Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 390 503 Cf supra 32 504 Em batalha eram uacuteteis para emboscadas para flanquear e como ldquoiscordquo para fugas simuladas Em campanha

eram usados como batedores Taktikaacute XIX66-68 Para utilizaccedilatildeo de galeacutes como batedores mariacutetimos no

contexto da expediccedilatildeo de 911 veja-se o Anexo IX a)

97

destinadas especificamente para o transporte de cavalos506 mantimentos e equipamento de

reserva que serviriam como trem-de-apoio naval507 A uacuteltima embarcaccedilatildeo mencionada eacute o

pamphylos que no contexto do Taktikaacute eacute o droacutemōn pessoal do strategoacutes508 tendo por isso de

ser superior aos outros em todos os aspetos incluindo a tripulaccedilatildeo que devia ser escolhida ao

pormenor pelo oficial superior509 Por sua vez esta tendecircncia devia ser seguida pelos que

seguiam o strategoacutes na linha de comando510

Dentro desta Constitutio eacute possiacutevel ainda aferir de certo modo a estrutura de um

droacutemōn na proa estariam os sifotildees de laquofogo greguecircsraquo cujos operadores estariam protegidos

dos projeacuteteis inimigos dentro de uma cabina de madeira511 Por cima dessa cabina existia uma

plataforma que servia para proteger a frente da embarcaccedilatildeo em caso de abordagem ou para

disparar projeacuteteis contra o inimigo512 O laquocasteloraquo nas embarcaccedilotildees maiores como jaacute foi

referido encontrava-se entre o mastro mais alto da frente e o segundo do meio Cada droacutemōn

possuiacutea duas filas de remadores uma sob o conveacutes513 e a outra sobre este Por fim eacute indicada

a presenccedila de uma cabina para o capitatildeo da embarcaccedilatildeo o keacutentarcos na popa514

Neste capiacutetulo procede-se igualmente agrave enumeraccedilatildeo de vaacuterias peccedilas de equipamento

que precisariam de estar em cada embarcaccedilatildeo ferramentas materiais suplentes para

reparaccedilotildees sifotildees515 (que deveriam estar na proa do navio) para o disparo do chamado laquofogo

greguecircsraquo laquotorresraquo para os navios maiores516 e gruas para virar as naves adversaacuterias517 Podiam

ainda possuir uma pequena balista na proa chamada toxobaliacutestrai que disparava projeacuteteis

505 Ao contraacuterio das restantes Constitutiones os destinataacuterios desta (como esperado) satildeo os strateacutegoi dos themaacuteta

mariacutetimos ou ateacute possivelmente droungaacuterios totilden ploiumlmon 506 Pryor e Jeffreys referem que a tipologia da embarcaccedilatildeo para transportar montadas dependia do tipo de missatildeo

a que a frota estivesse destinada Caso o objetivo fosse transportar um exeacutercito de um porto para outro dar-se-ia

preferecircncia a navios maiores por possuiacuterem espaccedilo para mais cavalos Se o objetivo fosse um desembarque

anfiacutebio entatildeo era mais apropriado usar galeacutes que apesar de terem menos tonelagem conseguiam atracar na praia

sem correr o risco de naufragar PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 307 507 Taktikaacute XIX66-68 508 Ou droungaacuterios caso fosse um almirante da frota imperial 509 Taktikaacute XIX247-252 510 Taktikaacute XIX253-255 Naumachiacuteai de Siriano 9 (doravante citado por Sir Naum) 511 HALDON J (2014) ndash Op cit p 397 512 Taktikaacute XIX34-37 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 203 513 Apesar de Leatildeo natildeo mencionar se o droacutemōn tinha um conveacutes inteiro esta frase (laquoQue cada droacutemōn seja de

grande comprimento e tamanho apropriado com duas filas de remadores como satildeo chamadas uma por baixo e

outra por cimaraquo) leva Pryor e Jeffreys a concluir que tal deveria ser o caso Taktikaacute XIV45-46 PRYOR JH e

JEFFREYS EM ndash Op cit p 232 514 Taktikaacute XIX56-60 O keacutentarcos tambeacutem se podia chamar naacuteuarchos HALDON J (2014) ndash Op cit p398 515 Apesar de a conjuntura dizer que seria apenas um havia casos onde parecem existir mais do que um em

certas embarcaccedilotildees como na expediccedilatildeo a Creta em 949 Vide HALDON J (2000) ndash Op cit pp 278-281 516 Estas torres serviriam de plataforma de lanccedilamento de projeacuteteis Seriam constituiacutedas por duas plataformas

fortificadas e estariam localizadas entre o maior masto da frente e o segundo masto a meio do navio Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit pp396-397 A traduccedilatildeo de Dennis (feita a partir de uma expressatildeo corrompida

do texto grego) eacute ldquoa meio do masto principalrdquo algo nada praacutetico e que acabaria com o derrubar do ldquocastelordquo em

caso de receber um impacto forte Taktikaacute XIX38-39 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 230 517 Taktikaacute XIX369-383

98

chamados de laquomoscasraquo ou laquoratosraquo Cada droacutemōn tinha que ter tambeacutem um conjunto de outras

armas tais como estrepes para serem lanccediladas para os conveses inimigos potes com laquocal

vivaraquo jarros recheados de laquofogo greguecircsraquo e apesar de isso pouco aceite pelos historiadores

contemporacircneos Leatildeo sugere (ele proacuteprio de forma ambiacutegua) que se poderiam utilizar

animais venenosos contra as naves inimigas518

Relativamente agrave tripulaccedilatildeo de cada droacutemōn esta dependeria do tamanho de

embarcaccedilatildeo De acordo com o Taktikaacute os navios maiores teriam cerca de 200 remadores

enquanto os medianos teriam cerca de 100 Para aleacutem destes efetivos de tropa mariacutetima havia

ainda um pequeno grupo de oficiais um porta-estandarte519 dois timoneiros na popa520 o

sifonaacutetor isto eacute o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de laquofogo greguecircsraquo e outro pela acircncora

ambos na proa e por fim o keacutentarcos que capitaneava a partir da sua cabina na popa

O que Leatildeo natildeo refere no entanto eacute a presenccedila de marinheiros e de outros indiviacuteduos

experientes em navegaccedilatildeo entre a tripulaccedilatildeo521 atribuindo a responsabilidade desses

conhecimentos unicamente ao comandante da forccedila naval522 De acordo com a traduccedilatildeo de

Dennis para aleacutem destes oficiais seguiria ainda a bordo um carpinteiro523 No entanto isto

apresenta-se como o resultado da omissatildeo de uma parte do texto pelo editor querendo Leatildeo

informar que o carpinteiro seria um dos remadores e natildeo algueacutem destacado para isso524

Quanto agrave tripulaccedilatildeo devia toda ela envergar uma armadura todos os que se pudessem

equipar agrave maneira catafractaacuteria (com cota de malha ou klibaacutenion soacute agrave frente ou tambeacutem atraacutes

caso possuiacutesse meios financeiros para tal) deveriam fazecirc-lo os que estavam na proa ou onde o

combate decorresse mais ferozmente deviam ter elmos e grevas de ferro Todos os outros

deviam vestir a neurikaacute uma sobreveste com duas camadas de couro Quanto agraves armas

deviam ser bastante variadas arco e flecha dardos525 escudos meacutenaula pedras para

arremessar526 e algo a que Leatildeo chama laquosifatildeo manualraquo ou cheirosiacutefona que devia ser

disparado ou atirado por detraacutes de uma muralha de escudos de ferro527 O basileuacutes refere ainda

alguns exerciacutecios de treino tanto para os soldados como para a movimentaccedilatildeo de droacutemōnes

518 Taktikaacute XIX344-347 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 403 519 Que possivelmente seria tambeacutem responsaacutevel pelos sinais com as bandeiras e por transmitir as ordens do

keacutentarcos ao resto da tripulaccedilatildeo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 398 520 Tambeacutem chamados de protokaraacuteboi Idem Ibidem p398 521 Algo que eacute referido no Naumachiacuteai de Siriano magister por exemplo Sir Naum 5 522 Taktikaacute XIX9-15 Cf Sir Naum 5 523 Taktikaacute XIX30-31 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp506-507 524 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 396-397 Para traduccedilotildees corretas vide COSENTINO S (2004) ndash Op cit

p293 e PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 487 525 Estes dois em especial satildeo aconselhados aos marinheiros dos navios de apoio para se poderem defender em

caso de necessidade Taktikaacute XIX78-84 Cf Strategikoacuten XII(B)21 526 Para a importacircncia deste tipo de projeacutetil vide Taktikaacute XIX96-107 527 TaktikaacuteXIX 357-361

99

em batalha com o objetivo de exercitar os marinheiros para todas as situaccedilotildees em caso de

combate mas tambeacutem para os habituar ao que ele chama de laquoturbulecircncia da guerraraquo528 Soacute

quando os seus subordinados estivessem adequadamente equipados e treinados eacute que ele se

devia lanccedilar ao mar529

A frota comandada pelo strategoacutes tambeacutem possuiacutea como eacute oacutebvio uma estrutura

taacutetica Como jaacute referimos cada navio estava sob o comando de um keacutentarcos o seu capitatildeo

que estava sob o comando de um komeacutes que lideraria entre trecircs a cinco droacutemōnes Leatildeo

refere ainda que agrave semelhanccedila dos themaacuteta terrestres tambeacutem existiam droungaacuterios e

turmarcas natildeo aludindo no entanto ao nuacutemero de forccedilas que comandavam530

A expediccedilatildeo naval comeccedilaria entatildeo com uma becircnccedilatildeo aos navios com rezas a Deus

para pedir uma boa viagem contra os inimigos e com um discurso do strategoacutes para encorajar

a armada531 Esta partiria entatildeo em formaccedilatildeo com os navios suficientemente afastados para

evitar atrapalhaccedilotildees a favor do vento No que concerne ao atracar da frota este devia ser

realizado tambeacutem em boa ordem e vaacuterios cuidados deviam ser tidos em conta dependendo do

local de ancoragem poucos ou nenhuns num porto bizantino a natildeo ser evitar destruir as

propriedades dos habitantes Por outro lado se fosse em territoacuterio inimigo ou amigaacutevel onde

se suspeitava existirem forccedilas hostis na regiatildeo a histoacuteria era outra a vigilacircncia tanto em terra

como no mar devia ser redobrada e a frota deveria manter-se pronta para a batalha532

Tambeacutem sobre as aacuteguas do mar era preferiacutevel recorrer a ardis e a estratagemas O

basileuacutes recorda novamente o conselho dado aos exeacutercitos terrestres sempre que possiacutevel

evitar um confronto direto em batalha533 Caso esta ocorrecircncia fosse inevitaacutevel a providecircncia

divina era novamente preciosa bem como avaliar se a causa do combate era injusta ou natildeo534

A ocorrer junto ao litoral a batalha deveria ser travada perto da costa inimiga para evitar as

deserccedilotildees do lado bizantino e incentivar as do adversaacuterio

Durante a batalha era necessaacuterio ter uma sinaleacutetica variada que permitisse dar ordens

com clareza em qualquer parte ou momento do combate uma vez que comandos vocais e

528 Taktikaacute XIX161-169 529 Taktikaacute XIX174-175 Stratēgikoacuten XII(B)21 530 Taktikaacute XIX157-161 531 Taktikaacute XIX142-147 532 Taktikaacute XIX191-198 Cf Stratēgikoacuten XII(B)21 Sir Naum5679 e ainda no livro I dos Estratagemas de

Polieno (de aqui em diante Pol Strat a traduccedilatildeo que vamos usar desta fonte eacute MARTIacuteN GARCIacuteA Francisco

(1991) Estratagemas In Biblioteca Claacutesica Gredos (153) pp 146-568) 533 O conselho mostra-se ainda mais fulcral em batalhas navais porque o autokraacutetor refere que neste tipo de

confrontos eacute impossiacutevel retirar qualquer tipo de vantagem assim que o combate corpo-a-corpo (consequente da

ligaccedilatildeo entre navios) comeccedila Taktikaacute XIX215-219 Haldon refere que este pensamento se deve ao facto de a

opiniatildeo bizantina justificada pelas grandes derrotas navais sofridas natildeo confiar no mar como caminho para a

vitoacuteria na guerra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 407 534 Taktikaacute XIX222-228 Stratēgikoacuten VIII(B)21

100

sons de trompa se perdiam no barulho provocado pela peleja Assim sinais que usavam

bandeiras ou flacircmulas eram essenciais devendo cada ordem especiacutefica estar associada a cada

um dos movimentos destes objetos ou de outros pedaccedilos de tecido como turbantes desde

que suficientemente visiacuteveis535

Leatildeo aparentemente coloca a decisatildeo sobre o dispositivo taacutetico a ser utilizado nas

matildeos do strategoacutes na maior parte dos casos536 no entanto informa-nos de duas formaccedilotildees em

especial em crescente (ou semicircular) e em linha537 A primeira devia ser utilizada para

envolver a frota adversaacuteria e bloquear a sua retirada538 ou entatildeo para possibilitar um

abandono ordenado do laquocampo de batalharaquo539 devia ter o pamphylos do strategoacutes na

concavidade para que ele pudesse controlar a frota e ter sempre uma visatildeo completa da

situaccedilatildeo das suas forccedilas540 Jaacute a formaccedilatildeo em linha era melhor para usar os sifotildees nas proas do

navio durante a abertura do combate O basileuacutes aconselha tambeacutem o strategoacutes a dividir as

suas formaccedilotildees em dois ou trecircs grupos para natildeo estarem sempre todos a combater e para

existirem reservas ou flanqueadores541

Natildeo obstante os estratagemas continuam a ser o meacutetodo eleito pelo basileuacutes para se

travar a guerra naval Leatildeo menciona vaacuterios como a utilizaccedilatildeo de fugas simuladas por parte

de droacutemōnes mais pequenos e de galeacutes para atrair as embarcaccedilotildees inimigas para as ciladas542

ou conseguir passar um navio pelas linhas opostas com o intuito de atacar as naves mais

pequenas do adversaacuterio543 Outro estratagema consistia em atacar o inimigo depois de

naufraacutegios ou tempestades o terem atingido ou quando este se encontrava entretido em

operaccedilotildees terrestres544 Curiosamente Leatildeo natildeo refere mais estratagemas considerando que o

inimigo pode tomar conhecimento deles e assim contrariaacute-los545

Por fim no contexto deste capiacutetulo Leatildeo deixa uma nota aos comandantes de frotas546

sobre a escolha de navios esta deveria depender tambeacutem do inimigo que o almirante fosse

confrontar Assim se o oficial fosse fazer frente a uma frota sarracena dos emirados ou de

535 Taktikaacute XIX259-266 e 271-275 Cf Strategikoacuten VII(B)16 Sir Naum VII Sir Strat XXX 536 Taktikaacute XIX287-291 537 Eacute interessante notar que Leatildeo agrave semelhanccedila de outros tratadistas claacutessicos ou medievais refere formaccedilotildees

utilizadas em terra para a realidade do combate naval 538 Taktikaacute XIX292-298 539 Taktikaacute XIX432-435 Pol Strat III 540 Taktikaacute XIX295-297 541 Taktikaacute XIX302-306 542 Taktikaacute XIX310-313 e 322-327 Cf Pol Strat I e III 543 Taktikaacute XIX310-315 Cf Pol Strat I e III 544 Taktikaacute XIX328-332 545 Por ironia os Aacuterabes fizeram duas traduccedilotildees do Taktikaacute de Leatildeo VI uma sumaacuteria e outra integral Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit p392 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit pp 645-666 546 Dado o contexto deste paraacutegrafo supomos que o destinataacuterio principal seja o droungaacuterios totilden ploiumlmon

101

Creta tinha de se preparar para enfrentar os chamados koumbariacutea que eram de grande

tonelagem mas lentos de acordo com o autor Por outro lado caso a forccedila naval adversaacuteria

fosse de origem russa o strategoacutes devia fazer os preparativos necessaacuterios para enfrentar

navios mais pequenos e raacutepidos uma espeacutecie de monoxyla547

73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X

laquoUma maacutexima antiga (hellip) ensina-nos a lanccedilar ataques e raides contra o inimigo sem causar

ferimentos a noacutes mesmos Noacutes podemos alcanccedilar isto se os nossos assaltos contra o inimigo

forem planeados de maneira inteligente e cuidadosa e forem executados com celeridade Tais

assaltos satildeo eficazes natildeo soacute contra forccedilas com o mesmo poder (militar) mas tambeacutem contra

adversaacuterios claramente superioresraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVII linhas 9-12548

Este excerto do Taktikaacute poderia muito bem corresponder ao lema do pensamento

estrateacutegico bizantino os danos tecircm de ser reduzidos ao maacuteximo possiacutevel e o poder militar

deve ser conservado entre recursos humanos ou estrateacutegicos Os estratagemas e a guerra de

fronteira eram a praacutetica beacutelica por predileccedilatildeo bizantina exatamente por permitirem derrotar o

inimigo sem grandes sacrifiacutecios Eacute este fator que torna a Constitutio XV relativa a esta

disciplina numa das mais importante do tratado549 Trata-se igualmente de um dos capiacutetulos

fundamentais para se atestar que a realidade contemporacircnea do tempo de Leatildeo VI tinha

repercutido nos seus escritos Natildeo obstante manteacutem o cariz de colecionismo do restante

tratado retirando do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio (mais especificamente do livro IX) e de alguns

excertos de Onasandro a maior parte da informaccedilatildeo que apresenta 550

Consequentemente esta Constitutio estaacute grosso modo dividida em quatro partes

principais emboscadas e outras artimanhas raides a territoacuterios inimigos onde descreve a

forma como se devem realizar as accedilotildees de pilhagem da parte do impeacuterio os melhores

procedimentos para a defesa do impeacuterio frente a operaccedilotildees desse mesmo tipo e por fim uma

pequena secccedilatildeo onde refere a importacircncia de batedores e espiotildees e onde satildeo abordadas

maneiras de descobrir agentes inimigos no seio de exeacutercitos ou dos acampamentos No

547 Taktikaacute XIX425-431 548 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 392-393 549 Esta Constitutio estava separada do resto do tratado no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 apesar de

Leatildeo fazer referecircncia nesta a outros segmentos da obra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 312 550 Idem Ibidem p 312

102

entanto vamos focar-nos nas accedilotildees de pilhagem tanto bizantinas como inimigas aludindo

aos outros aspetos sempre que seja relevante

Posto isto vamos principiar a anaacutelise destes toacutepicos com a forma como Bizacircncio devia

preparar expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo Comecemos entatildeo pelo lado de

Constantinopla A primeira recomendaccedilatildeo que o basileuacutes faz ao general eacute a de que este

prepare mantimentos para a expediccedilatildeo para o caso de o inimigo proceder a uma poliacutetica de

laquoterra queimadaraquo O autokraacutetor aconselha o general a recolher informaccedilatildeo sobre o territoacuterio e

sobre as estradas que vai utilizar para laacute chegar a partir da captura de habitantes dessas zonas

ou da recolha de desertores inimigos antes da expediccedilatildeo551

Relativamente agraves marchas aquelas que satildeo realizadas durante a noite satildeo muito

desaconselhadas a natildeo ser que o objetivo seja a ocupaccedilatildeo de uma posiccedilatildeo defensiva sem o

inimigo o saber Deviam constituir-se patrulhas sempre em movimento e a saka devia ser

excecionalmente forte para evitar ataques pela retaguarda Quanto ao trem-de-apoio este

devia estar na cauda da coluna de marcha aquando da entrada em territoacuterio inimigo poreacutem se

o adversaacuterio se comeccedilasse a aproximar devia deslocar-se progressivamente para o meio da

coluna552 a fim de ficar melhor protegido553 Por fim os acampamentos natildeo deviam ser

montados junto a fortificaccedilotildees inimigas ou a zonas com muita floresta a natildeo ser que fosse

estritamente necessaacuterio sendo certo que nesse caso a vigilacircncia deveria ser redobrada554

Por outro lado o autor propotildee dois tipos de formas de invadir o territoacuterio inimigo a

primeira caso haja mais do que uma entrada para este eacute dividir o exeacutercito colocando o

comando de uma parte nas matildeos de um turmarca Esta forccedila mais leve e sem trem-de-apoio

acederia ao territoacuterio inimigo por um dos pontos de entrada enquanto o strategoacutes entraria por

outro Com um ponto de encontro previamente marcado ambas as divisotildees pilhariam o

territoacuterio que percorressem ateacute se reunirem ao mesmo tempo que empurravam o inimigo uma

contra a outra555

Outro meacutetodo de invasatildeo tambeacutem envolvia a divisatildeo da hoste em duas colunas e era

utilizado quando soacute havia uma estrada disponiacutevel Neste caso metade do exeacutercito

551 Para isso recomenda que seja o proacuteprio comandante a interrogar os prisioneiros Taktikaacute XVII161-165

inversamente aconselha a que no caso da fonte de informaccedilatildeo ser um desertor inimigo lhe sejam prometidas

recompensas ou ameaccedilas de morte para evitar que este minta ao general e ponha em risco a seguranccedila do

exeacutercito Taktikaacute XVII166-174 Taktikaacute XVII559-570 Onas X Stratēgikoacuten IX Estes medos natildeo parecem

ser infundados uma vez que a queda da fortaleza de Amorion em 838 eacute atribuiacuteda a um desertor HALDON J

(2014) ndash Op cit p330 552 Taktikaacute XVII266-267 Stratēgikoacuten VIII 553 Devendo no entanto de estar suficientemente afastado das restantes forccedilas para natildeo perturbar a formaccedilatildeo 554 Taktikaacute XVII257-261 555 Taktikaacute XVII210-223 Stratēgikoacuten XI2 (relativo agraves formas de combater os ldquoCitasrdquo ndash ou seja os povos das

estepes tais como os Aacutevaros e os Turcos entre outros)

103

acompanhava o turmarca durante a invasatildeo e ia-se dispersando ao longo do caminho com um

ou dois bandaacute por regiatildeo a saquear ateacute o turmarca ficar apenas com mil homens ao seu

serviccedilo e chegar ao seu destino Depois retornaria ao mesmo tempo que o strategoacutes (ou outro

oficial responsaacutevel) seguia a rota usada pela divisatildeo anterior e recolhia os bandaacute Soacute quando

as duas divisotildees se reencontrassem eacute que se montaria o acampamento556

Chegados ao destino a seguranccedila tornava-se fundamental Todos os destacamentos

que fossem pilhar ou recolher mantimentos deviam ser protegidos por outro contingente para

evitar emboscadas inimigas557 Como jaacute referimos o acampamento devia ser fortificado558 e

as patrulhas deviam ser constantemente enviadas para averiguar as posiccedilotildees do inimigo nos

arredores A comida a bebida e a forragem recolhidas em territoacuterio inimigo deviam ser

provadas pelos prisioneiros antes de ser consumidas Por fim ataques a siacutetios fortificados ou

bem defendidos deviam ser preparados em segredo ateacute mesmo junto das proacuteprias tropas559

Os uacuteltimos conselhos de Leatildeo nesta vertente prendem-se com a deteccedilatildeo e captura de

espiotildees Neste aspeto haacute duas formas de se lidar com espiotildees captura ou libertaccedilatildeo com o

objetivo de intimidar A primeira maneira devia ser utilizada caso a forccedila bizantina fosse mais

fraca do que a opositora e havia duas formas de a realizar de acordo com Leatildeo numa

primeira soava-se uma trompa agrave segunda ou terceira hora do dia para ordenar aos soldados

para voltarem agraves suas tendas caso algum ficasse de fora seria um espiatildeo por outro lado se

entrasse numa tenda aleatoriamente seria preso pelos soldados dessa tenda que o

identificariam como um intruso560 A segunda forma consistia na atribuiccedilatildeo de uma ordem por

meio de uma palavra ou de um siacutembolo secreto por parte dos oficiais aos homens sob o seu

comando se algum homem natildeo soubesse o que fazer quando a palavra ou o gesto fossem

feitos possivelmente seria o espiatildeo561hellip Se por outro lado a forccedila bizantina fosse mais

poderosa do que a adversaacuteria entatildeo o imperador aconselhava o strategoacutes a deixar o espiatildeo

vivo e a mostrar-lhe a sua hoste em toda a sua pujanccedila de forma a impressionaacute-lo Depois

disso deveria deixar o agente partir para que ele informasse o povo que o enviou do poder do

exeacutercito romano semeando assim o medo no seio da hoste adversaacuteria562

556 Taktikaacute XVII224-249 Stratēgikoacuten XI2 557 Taktikaacute XVII191-197 Stratēgikoacuten IX 558 Cf supra 53 559 Taktikaacute XVII254-256 Leatildeo natildeo refere razotildees para isto mas possivelmente seria na nossa opiniatildeo para

evitar deserccedilotildees na marcha para territoacuterio inimigo ou para evitar que a informaccedilatildeo do alvo caiacutesse nas matildeos de

espiotildees 560 Taktikaacute XVII517-533 cf Pol Strat III Sir Strat II e PrMVI 561 Taktikaacute XVII534-544 Stratēgikoacuten IX Vegeacutecio Epitoma rei militaris III26 (a traduccedilatildeo que usaacutemos para

este tratado eacute MONTEIRO Joatildeo Gouveia e BRAGA Joseacute Eduardo (2004) Vegeacutecio Compecircndio da arte

militar Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 562 Taktikaacute XVII545-558

104

Quando a invasatildeo se realizava no sentido oposto a resposta tinha de ser ceacutelere e

eficaz A melhor arma ao serviccedilo do strategoacutes era a prevenccedilatildeo ou seja os batedores e os

espiotildees Leatildeo realccedila a importacircncia destes soldados destacando que tinham de ser os melhores

soldados ao serviccedilo do seu general ou turmarca que deviam seguir o inimigo e conseguir

estimar com alguma seguranccedila a composiccedilatildeo do exeacutercito adversaacuterio563 Como eacute oacutebvio a

rapidez e a discriccedilatildeo eram as valecircncias principais de um batedor que devia ter um cavalo

raacutepido e estar armado de forma ligeira As patrulhas deviam ser feitas por turnos para evitar

que o cansaccedilo tomasse conta dos seus responsaacuteveis e ser avaliadas pelo proacuteprio strategoacutes

que organizaria algumas inspeccedilotildees surpresa564 Por fim sempre que possiacutevel os proacuteprios

batedores deviam arriscar-se a capturar prisioneiros inimigos565

Leatildeo natildeo fala muito mais do que nestes pormenores mas o autor do Perigrave Paradromeacutes

um tratado que incide especificamente sobre este tipo de atividade beacutelica elucida-nos melhor

sobre a maneira como o trabalho de vigia deve ser feito Nesse manual militar ele indica que

existiriam postos de vigia ao longo das estradas bem como nas cordilheiras montanhosas que

limitavam as circunscriccedilotildees provinciais orientais566 Graccedilas a este sistema de vigia poder-se-

ia enviar mensageiros ao strategoacutes para o avisarem da ocorrecircncia de uma invasatildeo567

Por outro lado aos espiotildees mostravam-se determinantes para indagar quando eacute que

uma expediccedilatildeo aacuterabe deveria partir para territoacuterio bizantino568 Leatildeo natildeo explica como eacute que

eles eram recrutados ou escolhidos mas o autor do Perigrave Paradromeacutes por exemplo refere que

os mercadores eram os melhores espiotildees569 Os comerciantes deviam tentar tornar-se amigos

dos emires de forma a tomarem conhecimento do nuacutemero de soldados inimigos bem como

dos destinos das suas expediccedilotildees Por outro lado Siriano refere que a famiacutelia dos espiotildees

devia habitar em territoacuterio bizantino para que o amor familiar servisse como cadeado agrave

563 Para meacutetodos de fazer parecer um exeacutercito maior do que ele realmente eacute vide Taktikaacute XVII425-432 564 Taktikaacute XVII492-495 565 Taktikaacute XVII505-512 No Perigrave Paradromeacutes esta missatildeo estaacute incluiacuteda em pequenas accedilotildees de saque

empreendidas por espiotildees bizantinos (no contexto militar em Bizacircncio espiatildeo e batedor tecircm o mesmo

significado em certas circunstacircncias como neste caso) Natildeo nos parece despropositado acreditar que os

batedores do tempo do Taktikaacute tivessem as mesmas funccedilotildees PP II 566 Possivelmente as ldquofortalezasrdquo cuja construccedilatildeo Leatildeo orienta na Constitutio XVII Cf supra 71

Possivelmente seriam os phouacuteria de Siriano por possuiacuterem as mesmas funccedilotildees as mesmas localizaccedilotildees (em

terreno montanhoso mas com bom controlo de estradas) serem discretos e natildeo terem uma guarniccedilatildeo

permanente Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 567 PP II 568 Taktikaacute XVIII661-668 569 PP VII

105

lealdade do agente no estrangeiro570 Por fim John Haldon menciona que os padres e os

monges especialmente os missionaacuterios tambeacutem podiam servir para esta finalidade571

Leatildeo aconselha entatildeo o general a preparar-se para um ataque recolher todos os bens

possiacuteveis de se guardar queimar as colheitas recolher os cavalos (e muito possivelmente o

gado) e encaminhaacute-los para um lugar seguro e ocupar os lugares fortificados bem como as

reservas de aacutegua da regiatildeo sob ataque e dos desfiladeiros se for possiacutevel572 Uma vez mais

uma batalha decisiva deve ser prevenida e as forccedilas inimigas devem ser desgastadas por meio

de emboscadas e de ataques surpresa573 quer de dia quer de noite574 Outra taacutetica a utilizar eacute a

do contra raide575 ou seja responder a uma expediccedilatildeo de ataque inimiga com um raide das

forccedilas bizantinas O objetivo deste ardil parece ser separar ou obrigar a retirar a hoste

adversaacuteria com um ataque agraves suas terras indefesas576 O basileuacutes recorre a uma experiecircncia do

seu domestikoacutes Niceacuteforo Focas o Velho como exemplo disto577 mas a sua proacutepria atuaccedilatildeo

antes e depois do saque de Tessaloacutenica tambeacutem pode ser um destes casos578

Natildeo obstante caso se devesse realizar um ataque sobre as forccedilas inimigas este devia

ser feito quando estas estavam a abandonar o territoacuterio bizantino carregadas de despojos Esta

altura era a predileta porque de acordo com o autor do Perigrave Paradromeacutes era quando os

soldados inimigos se encontravam mais cansados e desejosos de voltar a casa e porque a

marcha era mais lenta por estarem carregados de despojos e de prisioneiros579

570 Sir Strat XLII 571 HALDON J (2014) ndash Op cit p381 572 Estes uacuteltimos satildeo referidos no Perigrave Paradromeacutes PP V 573 Sendo para isso necessaacuterio que o strategoacutes mantivesse um olho no inimigo por meio dos seus batedores para

saber em que altura os bandos de pilhagem abandonavam o corpo principal ou o acampamento adversaacuterio 574 Para um conjunto de taacuteticas realizadas durante a noite Taktikaacute XVII70-106 Stratēgikoacuten IX O tratado de

guerrilha tem um capiacutetulo exclusivamente dedicado a esta temaacutetica cf PP XVIII 575 Ironicamente o emir Sarsquoif al-Dawlah tambeacutem usou esta taacutetica em 956 quando forccedilas bizantinas do distrito de

Anzitene comeccedilaram a pilhar o seu territoacuterio O emir hamdacircnida comandou entatildeo uma expediccedilatildeo contra

Anzitene que obrigou o comandante da cidade a retirar para o seu territoacuterio O sucesso da expediccedilatildeo sarracena

no entanto natildeo terminou aiacute porque o emir conseguiu ainda recolher uma grande quantidade de despojos E de

prisioneiros antes de regressar a casa derrotando ainda uma forccedila romana que bloqueava o desfiladeiro que ele

pretendia utilizar para o retorno Vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp91-94 576 Taktikaacute XVII366-376 Stratēgikoacuten X 577 Taktikaacute XVII373-376 PP XX Haldon no entanto corrige Dennis referindo que a campanha em causa

natildeo foi na Calaacutebria mas sim na Ciliacutecia contra o emir Yazaman HALDON J (2014) ndash Op cit p 324 578 Cf supra 22 579 PP IV

106

Conclusatildeo

Natildeo nos arrependemos do caminho que escolhemos Bizacircncio apesar de tatildeo longe eacute

um mundo proacuteximo visto natildeo soacute atraveacutes do desbravar das paacuteginas de um livro mas tambeacutem

pela realidade beacutelica tatildeo semelhante agrave nossa no mesmo periacuteodo histoacuterico Pois eacute ou natildeo

verdade que enquanto os basilecircis bizantinos enfrentavam os califados de Damasco e Bagdade

os reinos dos cristatildeos da Peniacutensula Ibeacuterica se defendiam e contra-atacavam as hostes

muccedilulmanas de Coacuterdova e dos restantes poderes islacircmicos que dominavam a Hispacircnia Natildeo

deixam de ser interessantes certos paralelos que se podem traccedilar de um lado e de outro do

Mediterracircneo inclusive a niacutevel cronoloacutegico por exemplo em 718 no mesmo ano em que

Pelaacutegio vence a escaramuccedila em Covadonga pondo um ponto final agrave expansatildeo muccedilulmana na

Peniacutensula Ibeacuterica o geacutenio e a arguacutecia de Leatildeo III levavam a melhor sobre a uacuteltima tentativa

aacuterabe de tomar Constantinopla Um reveacutes em duas frentes que a nossa ver eacute uma

coincidecircncia curiosa

Mas o que dizer drsquo O Saacutebio Ateacute certo ponto achamos que cumprimos o objetivo que

nos propusemos de investigar a sua preocupaccedilatildeo com a situaccedilatildeo que o Impeacuterio atravessava

Bizacircncio natildeo vivia naquela eacutepoca um periacuteodo muito mau ainda embalada pela capacidade

governativa de Basiacutelio I e dos Amorianos que a Oriente pagaram o preccedilo de ferro e sangue

para garantir a supremacia bizantina nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro Por outro lado

Constantinopla conseguiu recuperar territoacuterios haacute algum tempo perdidos no Sul de Itaacutelia natildeo

obstante a perda da Siciacutelia A ascensatildeo de Leatildeo foi algo inesperada uma vez que natildeo era ele o

primogeacutenito de Basiacutelio pelo que muito possivelmente natildeo teraacute sido treinado para a

governaccedilatildeo ou para o comando militar No entanto a nosso ver ele demonstrou possuir um

pensamento estrateacutegico manifestando que as suas prioridades em termos beacutelicos estavam

bem definidas o poderio muccedilulmano bem estabelecido no Mediterracircneo Oriental Isto

acarretou erros noutras frentes como na Bulgaacuteria onde a acircnsia em voltar a enviar os seus

exeacutercitos contra os infieacuteis do Oriente virou a mareacute de uma guerra que na praacutetica estava

ganha algo que lhe custaria uma paz bastante onerosa no final do conflito Mas Leatildeo parece

ter aprendido pois o laquocavaleiro da guerraraquo natildeo voltou a galopar nos Balcatildes e a paz manteve-

se entre os dois povos cristatildeos ateacute agrave sua morte

O saque da segunda maior cidade do Impeacuterio eacute uma questatildeo algo indefinida mas no

nosso entendimento se realmente a cidade pudesse ter sido salva Leatildeo tecirc-lo-ia tentado de

alguma maneira A nosso ver soacute natildeo realizou tal empreendimento porque sabia que de uma

forma ou de outra os custos seriam elevados e natildeo estava disposto a arriscar uma pesada

107

derrota naval no Mar Egeu colocando efetivamente em risco a capital Em vez disso ordenou

o lanccedilamento de campanhas terrestres na Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria para vingar o que tinha

acontecido na Greacutecia aproveitando-se da ausecircncia das tropas muccedilulmanas na regiatildeo

estrateacutegia por ele proacuteprio defendida no Taktikaacute Quanto a Taormina a natildeo ser que os

Bizantinos tencionassem empreender a reconquista da Siciacutelia teria sido muito difiacutecil de

manter de qualquer das formas Com as preocupaccedilotildees nos Balcatildes primeiro e com a escalada

da ameaccedila naval no Mediterracircneo Oriental teria sido muito complicado reunir esforccedilos e

recursos econoacutemicos e humanos para encetar um tal projeto

Foi nas aacuteguas do Mediterracircneo Oriental que Leatildeo VI mais tentou brilhar

empreendendo expediccedilotildees para garantir que a pirataria sarracena proveniente da Ciliacutecia e de

Creta fosse travada e parasse de assolar as ilhas do Egeu e a faixa costeira bizantina Natildeo

obstante o facto de ter enfrentado dois experientes almirantes muccedilulmanos Leatildeo o

Tripolitano e Damiano as frotas imperiais e laquotemaacuteticasraquo bizantinas continuaram a fazer sentir

a sua presenccedila e mantiveram-se suficientemente fortes para atacar o Levante e a ilha de Creta

entre 910 e 912 Em face destes eventos atrevemo-nos a dizer que apesar de alguns

descalabros Leatildeo natildeo soacute mostrou interesse na situaccedilatildeo estrateacutegica do seu impeacuterio como

conseguiu manter o impeacuterio na moacute de cima Isto soacute foi possiacutevel garantindo a supremacia

bizantina no sul de Itaacutelia onde o impeacuterio contribuiria decisivamente para a expulsatildeo dos

Sarracenos em 915 e graccedilas agrave expansatildeo para Este por meio da diplomacia e da criaccedilatildeo de

novos themaacuteta fronteiriccedilos como foi o caso de Tephrike

Na nossa opiniatildeo natildeo haacute melhor prova do fasciacutenio que Leatildeo nutria pelas questotildees do

exeacutercito do que a escrita do Taktikaacute Este tratado militar recolhendo os ensinamentos do

passado parte da realidade do presente (de Leatildeo) e do pensamento do basileuacutes No iniacutecio

desta dissertaccedilatildeo propusemo-nos aferir ateacute que ponto este manual correspondia ao seu tempo

ou agrave conjuntura em que foi escrito e natildeo seria apenas um exerciacutecio do conservadorismo

cultural bizantino Natildeo nos parece crediacutevel afirmar que se tratasse apenas de um manuscrito

que pretendia tatildeo soacute recolher a erudiccedilatildeo militar do passado O Taktikaacute eacute algo mais do que isso

eacute um guia do que o pensamento estrateacutegico bizantino deveria ser

Natildeo descurando a importante mensagem religiosa das suas paacuteginas durante a leitura

do Taktikaacute conseguimos assinalar vaacuterias caracteriacutesticas do pensamento estrateacutegico bizantino

da eacutepoca a primeira a gestatildeo de soldados e recursos pois natildeo obstante o facto de possuir

capiacutetulos sobre a batalha campal o imperador salienta por vaacuterias vezes que aquele tipo de

atividades beacutelicas bem como outras de grande risco como surtidas deve ser evitado Depois

um reencontro com a ambiccedilatildeo bizantina de se voltar a tornar uma talassocracia estatuto esse

108

perdido desde a batalha dos Mastros em 654 um desejo demonstrado na inserccedilatildeo de uma

Constitutio exclusivamente dedicada a temaacuteticas navais A secccedilatildeo sobre os Aacuterabes tambeacutem eacute

muito importante no que concerne agrave estrateacutegia bizantina e consubstancia-se numa grande

contribuiccedilatildeo de Leatildeo VI para o conjunto da tratadiacutestica Apesar de deturpado em certos

aspetos o estudo que o imperador faz dos costumes beacutelicos aacuterabes eacute muito interessante pelo

detalhe que apresenta o fervor religioso a origem e modo de equipamento dos soldados

muccedilulmanos (voluntaacuterios religiosos na maior parte das vezes) a localizaccedilatildeo das bases de

invasatildeo o tipo de guerra que fazem entre outras caracteriacutesticas apresentadas que

demonstram que o autokraacutetor sabia quem era o seu inimigo e queria ensinar (ou partilhar a

experiecircncia) com os seus leitores sobre como lidar com o adversaacuterio sedeado do outro lado do

Tauro

Obviamente o Taktikaacute natildeo deve ser lido lsquopreto no brancorsquo pois nem tudo o que laacute estaacute

eacute representa a realidade militar ao tempo de Leatildeo Apesar de importante a descriccedilatildeo do

equipamento e das taacuteticas de infantaria natildeo eacute fundamental para se compreender o periacuteodo em

estudo e muito menos para servir de aplicaccedilatildeo aos exeacutercitos de que Leatildeo falava os dos

themaacuteta A infantaria dos themaacuteta seria importante para cumprir certas funccedilotildees como de

guarniccedilatildeo por exemplo mas nesta altura colocar thematikoiacute apeados a combater numa

batalha era um erro crasso pois eram homens que natildeo tinham nem equipamento nem treino

nem disciplina para participar nela

No decorrer desta dissertaccedilatildeo tecemos algumas opiniotildees pessoais sobre o tipo de

informaccedilotildees que se poderiam melhor aplicar aos themaacuteta A primeira Constitutio que nos

ocorre quando pensamos nestes exeacutercitos provinciais eacute a XVII uma vez que aiacute se abordam

as questotildees referentes agraves praacuteticas de guerrilha indubitavelmente as que se encontravam mais

em vigor no contexto da atividade beacutelica provincial bizantina Mas natildeo soacute a repeticcedilatildeo de

meacutetodos de guerra psicoloacutegica para tomar uma fortaleza pode servir como liccedilatildeo a um

strategoacutes de um theacutema sobre como se poderia conquistar uma fortificaccedilatildeo de forma

relativamente ceacutelere se tal fosse necessaacuterio no contexto de um laquocontra raideraquo por exemplo

Por outro lado a descriccedilatildeo do equipamento de cerco pesado e das taacuteticas que o envolvem

parece-nos algo exagerada para o tipo de hoste em questatildeo que tinha de ser raacutepida por

natureza caracteriacutestica que natildeo seria facilitada (antes pelo contraacuterio) caso transportasse um

pesado comboio-de-cerco durante a campanha

Neste trabalho tivemos a preocupaccedilatildeo de desenvolver o nosso espirito criacutetico indo

aleacutem do que outros autores antes de noacutes disseram sobre estas mateacuterias e ousando acrescentar

as nossas interpretaccedilotildees pessoais nomeadamente no que toca agrave questatildeo crucial dos themaacuteta

109

Por outro lado alargaacutemos a nossa contextualizaccedilatildeo aos reinados de Leatildeo e de Basiacutelio algo

que outros autores (como por exemplo John Haldon) natildeo fizeram de forma a podermos tecer

comparaccedilotildees entre alguns eventos destes reinados e certas praacuteticas enunciadas no tratado

No entanto temos de admitir que uma dissertaccedilatildeo de mestrado sobre o Taktikaacute eacute algo

de demasiado ambicioso para as poucas paacuteginas que nos satildeo atribuiacutedas num trabalho desta

natureza Por isso haacute outras questotildees e temas que gostariacuteamos de ter aprofundado se

houvesse espaccedilo para tal nomeadamente a questatildeo do pensamento teoloacutegico e social no

Taktikaacute por exemplo Ou entatildeo de que forma o Taktikaacute poderaacute esclarecer a vexata quaestio

da organizaccedilatildeo dos exeacutercitos dos taacutegmata apesar de estes natildeo configurarem o foco principal

do tratado Uma anaacutelise da preocupaccedilatildeo de Leatildeo quanto agrave negligecircncia do arco nos seacuteculos

anteriores com a explicaccedilatildeo das causas para o decliacutenio da utilizaccedilatildeo deste e a anaacutelise da

importacircncia que ele tinha no paradigma beacutelico do reinado do Saacutebio e do periacuteodo

compreendido entre os seacuteculos VII e X tambeacutem poderia constituir um estudo interessante

Por fim tecemos algumas consideraccedilotildees sobre o processo de produccedilatildeo do nosso

trabalho Natildeo foi faacutecil primeiro porque nos vimos confrontados com a falta de acesso agraves

fontes respeitantes ao reinado de Leatildeo VI o que logo nos causou algum incoacutemodo e nos

redirecionou para outras fontes (tais como a croniacutestica aacuterabe ou a Histoacuteria de Skylitzes) e

para algumas obras de estudo Natildeo subvalorizamos a importacircncia de nenhuma destas

tipologias mas sentimos que o nosso trabalho tendo em conta o periacuteodo que aborda fica um

pouco mais pobre sem referecircncias agrave Vita Euthymii por exemplo Por outro lado encetaacutemos

este projeto com conhecimentos adquiridos maioritariamente por autodidatismo o que

dificultou a compreensatildeo de certas temaacuteticas No entanto algumas aulas com o Professor Joatildeo

Gouveia Monteiro possibilitaram esclarecer algumas dessas duacutevidas pelo que renovamos os

agradecimentos que foram feitos no iniacutecio da presente dissertaccedilatildeo

Apesar de tudo tivemos um enorme prazer na realizaccedilatildeo deste trabalho e esperamos

ter contribuiacutedo ainda que modestamente para impulsionar os estudos bizantinos em Portugal

Realccedilamos ainda que o conhecimento da milenar aventura do Impeacuterio Romano do Oriente

poderaacute ser uma ajuda imprescindiacutevel para a interpretaccedilatildeo de alguns dos factos do nosso tempo

e da nossa proacutepria Histoacuteria Por tudo o exposto estamos disponiacuteveis para continuar este

percurso

110

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TREADGOLD Warren (1997) A History of the Byzantine State and Society Stanford

Stanford University Press

I

Anexos I ndash Mapas e Esquemas

Mapa 11 ndash Os themaacuteta da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON John (2005) The Palgrave Atlas of Byzantine History Londres

Palgrave Macmillan p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

II

Mapa 12 ndash As principais cidades da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

III

Mapa 21 ndash Os themaacutetas dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

IV

Mapa 22 ndash As principais cidades dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

V

Mapa 3 ndash Mapa geopoliacutetico do sul de Itaacutelia e das suas principais cidades no iniacutecio do

seacuteculo X

Fonte - httpswwwalternatehistorycomforumthreadsa-blank-map-thread25312

Consultado a 31 de outubro pelas 2345

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva

VI

Esquema 1 ndash Marcha em territoacuterio hostil

Autoria ndash Joatildeo Paiva

VII

Esquema 2 ndash Marcha em territoacuterio hostil com infantaria

Autoria ndash Joatildeo Paiva

VIII

Esquema 3 ndash Passagem de um desfiladeiro

Autoria ndash Joatildeo Paiva

IX

X

XI

Esquema 6 ndash Constituiccedilatildeo de um Proacutemachos

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XII

Esquema 7 ndash Constituiccedilatildeo da segunda linha

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XIII

Esquema 8 ndash Hipoacutetese de um dispositivo taacutetico de um theacutema

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XIV

Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

Seacuteculo V

476

Itaacutelia Queda do Impeacuterio

Romano do Ocidente com

a deposiccedilatildeo de Roacutemulo

Augusto por Odoacro

Seacuteculo VI

Ca

579

Itaacutelia Constituiccedilatildeo dos

ducados de Benevento e de

Espoleto

580

Balcatildes Os Aacutevaros

conquistam Siacutermio

581

Balcatildes e Greacutecia

Penetraccedilatildeo dos Eslavos

nestas aacutereas e posterior

fixaccedilatildeo

582

Iniacutecio do principado de

Mauriacutecio

XV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

584

Itaacutelia 4 de outubro ndash

Formaccedilatildeo do Exarcado de

Ravenna em moldes

similares ao Exarcado de

Aacutefrica formado pela

mesma altura

590

Peacutersia Deposiccedilatildeo do

imperador Cosroeacutes II da

Peacutersia que foge para o

Impeacuterio Bizantino e apela

a ajuda do imperador

Mauriacutecio

591

Itaacutelia Roma eacute cercada

pelo duque Ariulfo de

Espoleto

Peacutersia Com ajuda

bizantina Cosroeacutes II

recupera o trono do

Impeacuterio Sassacircnida

Seacuteculo VII

600

Balcatildes Assinatura de um

tratado com os Aacutevaros

apoacutes vaacuterios sucessos

bizantinos na regiatildeo (como

a reconquista de Belgrado)

que fixa a fronteira no rio

Danuacutebio

XVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

602

Rebeliatildeo das tropas da

fronteira do Danuacutebio e

execuccedilatildeo de Mauriacutecio

Proclamaccedilatildeo de Focas

como Imperador

Iniacutecio da uacuteltima Guerra

Bizantino-Persa Cosroeacutes

II sustenta esta guerra na

falta de legitimidade de

Focas ao trono bizantino e

apoia um pretendente

supostamente filho de

Mauriacutecio

Iniacutecio da eacutepoca meacutedia bizantina

610

Deposiccedilatildeo e assassinato de

Focas por Heraacuteclio filho

do exarca de Aacutefrica

Proclamaccedilatildeo do mesmo

como Imperador

614

Conquista de Jerusaleacutem

por Cosroeacutes II captura da

Vera Cruz

620

Egipto Conquista do

Egipto pelos Persas

Sassacircnidas

622

Expulsatildeo das forccedilas persas

presentes na Aacutesia Menor

Araacutebia Realiza-se a

Heacutegira ndash a fuga de Maomeacute

de Meca para Medina

XVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

624

Reconquista da Armeacutenia a

Cosroeacutes II e posterior

vitoacuteria de Heraacuteclio sobre

trecircs exeacutercitos persas

Destruiccedilatildeo do Grande

Templo Zoroastra em

Takht-I-Suleiman

626

Cerco Aacutevaro-Persa de

Constantinopla termina

com vitoacuteria bizantina

O general Shahrbaraz e o

khan aacutevaro retiram

627

Iraque Batalha de Niacutenive

- Grande vitoacuteria de

Heraacuteclio sobre os Persas

em Niacutenive abre caminho

para Ctesifonte

628

Peacutersia A 28 de fevereiro

um golpe de estado

encetado por Xeroeacute filho

de Cosroeacutes II termina com

o regime do pai

Iniacutecio de negociaccedilotildees para

pocircr fim agrave (uacuteltima) Guerra

Bizantino-Persa

Usurpaccedilatildeo de Shahrbaraz

XVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

629

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente Celebraccedilatildeo da

paz entre Bizantinos e

Persas as aacutereas territoriais

ocupadas pelas duas

potecircncias voltam ao estado

em que se encontravam

antes do iniacutecio dos

conflitos

630

Entrada vitoriosa de

Heraacuteclio em Jerusaleacutem

com o retorno das reliacutequias

sagradas capturadas pelos

Persas celebra a vitoacuteria

final do Impeacuterio Bizantino

Araacutebia Regresso e

conquista de Meca pelo

Profeta Maomeacute que a

transforma no centro

espiritual do Islatildeo

632

Araacutebia Morte de Maomeacute

que eacute sucedido pelo

primeiro Califa Abu Bakr

o seu sogro Guerras da

Ridda para unificar a

Peniacutensula Araacutebica

633

Primeiras incursotildees

Aacuterabes na Siacuteria-Palestina

634

Palestina Batalha de

Ajnadain ndash O primeiro

confronto campal entre

Bizacircncio e Muccedilulmanos

termina com a vitoacuteria dos

seguidores do Islatildeo

Araacutebia Morte do Califa

Abu-Bakr eacute sucedido por

Omar

XIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

634

(cont)

Iraque laquoBatalha da

Ponteraquo entre Aacuterabes e

Persas termina com a

vitoacuteria do Imperador

Yazdarij da Peacutersia

636

Palestina Batalha de

Yarmuk ndash Vitoacuteria

esmagadora do general

Khalid ibn al-Walid sobre

as forccedilas bizantinas de

Teodoro e Baanes

possibilita a conquista

aacuterabe quase absoluta da

Siacuteria-Palestina com

excepccedilatildeo de Jerusaleacutem e

Cesareia

Heraacuteclio ordena a retirada

para a Aacutesia Menor e que o

combate campal seja

evitado a todo o custo

637

Batalha de Qadisyia Uma

vitoacuteria muccedilulmana

decisiva permite a

conquista de Ctesifonte e a

conquista do Iraque Os

Persas retiram para o

planalto do Iratildeo

Batalha de Jalula nova

vitoacuteria muccedilulmana sobre

os Sassacircnidas culmina

com a consolidaccedilatildeo da

conquista da Mesopotacircmia

e do Crescente Feacutertil

XX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

638

Conquista aacuterabe de

Jerusaleacutem

639

Egipto ndash 12 de dezembro

Iniacutecio da conquista

muccedilulmana do Egipto com

o ataque ao posto

fronteiriccedilo de Al-Arisch

Itaacutelia O rei Rotaacuterio dos

Lombardos conquista a

regiatildeo de Veneza menos o

lago

640

Conquista aacuterabe de

Cesareia

Egipto ndash julho de 640

Iniacutecio do cerco agrave fortaleza

bizantina de Babiloacutenia

junto ao local do atual

Cairo

Itaacutelia ndash O exarca Isaacutecio

ordena o saque do tesouro

papal

641

11 de fevereiro Morte de

Heraacuteclio

Egipto ndash Rendiccedilatildeo de

Babiloacutenia que isola

Alexandria como uacutenica

cidade do Egipto em matildeos

bizantinas

XXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

642

Iniacutecio da anexaccedilatildeo

muccedilulmana da Armeacutenia

que seraacute findada no ano

seguinte

Iratildeo ndash Batalha de

Nehawend -a lsquovitoacuteria das

vitoacuteriasrsquo dos Aacuterabes potildee

fim ao que restava das

forccedilas militares persas

Egipto Submissatildeo de

Alexandria marca o fim

da conquista aacuterabe do

Egipto

644

Itaacutelia Rotaacuterio rei dos

Lombardos conquista a

Liguacuteria

Assassinato de Omar eacute

substituiacutedo pelo secretaacuterio

do Profeta Uthman um

primo afastado membro da

famiacutelia Ummayya

645

Egipto Reocupaccedilatildeo

bizantina de Alexandria

646

Egipto Rendiccedilatildeo

definitiva de Alexandria

fim da uacuteltima tentativa de

reconquista do Egipto

Norte de Aacutefrica Rebeliatildeo

no Exarcado de Aacutefrica

648

Norte de Aacutefrica Fim da

rebeliatildeo do Exarcado de

Aacutefrica quando o exarca eacute

morto por saqueadores

aacuterabes

XXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

649

Uma frota bizantina

derrota uma das primeiras

frotas muccedilulmanas apoacutes

esta saquear a ilha de

Chipre

651

Khorasan Batalha do rio

Oxus ndash Vitoacuteria decisiva

aacuterabe e fim oficial do

Impeacuterio Persa Sassacircnida

654

Batalha dos Mastros ndash

Vitoacuteria naval aacuterabe junto agrave

Liacutecia potildee fim agrave

talassocracia bizantina e

assegura a conquista de

vaacuterias ilhas como Rodes e

Chipre

656

Araacutebia 17 de Junho ndash

Assassinato de Uthman em

Medina Eleiccedilatildeo quase

imediata de Ali o genro

do Profeta como califa

Outubro ndash Batalha do

Camelo ndash Ali derrota o

triunvirato encabeccedilado

pela viuacuteva de Maomeacute

Aisha O seu poder passa a

ser disputado apenas por

Muawiya parente de

Othman membro da

famiacutelia Ummayya e

governador da Siacuteria que

XXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

656

(cont)

recusa ser substituiacutedo pelo

novo governador enviado

por Ali

657

Siacuteria 26 de Julho

Batalha de Siffin ndash quase-

vitoacuteria de Ali que soacute natildeo eacute

alcanccedilada porque o

Alcoratildeo eacute elevado numa

lanccedila pelos Siacuterios que

apelam a Deus para decidir

a querela

Discussotildees no seio das

forccedilas de Ali provocam

confrontos violentos com

um grande conjunto dos

apoiantes do califa os

Kharijitas que resultam na

expulsatildeo dos mesmos

Enfraquecimento da causa

do genro do profeta

658

Balcatildes Ataques bem-

sucedidos de Constante II

aos Eslavos culminam na

reconquista de vaacuterios

territoacuterios e no

reconhecimento da

soberania bizantina na

Macedoacutenia

XXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

659-

662

Periacuteodo em que Warren

Treadgold defende que os

themaacuteta teratildeo sido

fundados que tambeacutem

corresponde a uma treacutegua

bizantino-aacuterabe

661

Siacuteria Depois de vaacuterios

reveses como a perda do

Egipto para Muawiyia Ali

eacute assassinado por um

Kharijita O seu filho

Hussein transfere os

poderes para Muawiyia

que se torna Califa

Fim do Califado Rashidun

e iniacutecio do Califado

Omiacuteada

662

Constante II abandona

Constantinopla para

fortalecer as defesas da

Itaacutelia e Aacutefrica deixando

Constantino IV a governar

em Constantinopla

668

Itaacutelia Assassinato de

Constante II em Siracusa

a mando do komeacutes do

Opsikiacuteon Rebeliatildeo no

theacutema dos Armeniacuteacos

XXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

670

Estabelecimento de bases

avanccediladas aacuterabes em

Kairouan no Norte de

Aacutefrica e Ciacutezico na regiatildeo

do Opsikiacuteon

674

Ocupaccedilatildeo aacuterabe da cidade

de Ciacutezico que eacute usada

como base para ataques

navais que iam do Mar de

Marmara ateacute aos subuacuterbios

de Constantinopla Iniacutecio

do primeiro cerco Aacuterabe a

Constantinopla

677

Reocupaccedilatildeo de Ciacutezico

pelos Bizantinos

678

Fim do cerco a

Constantinopla quando

Constantino IV comanda a

frota bizantina que pela

primeira vez emprega o

fogo greguecircs O exeacutercito

aacuterabe eacute derrotado por

forccedilas provinciais

680

Siacuteria Morte do Califa

Muawiya que eacute sucedido

por Yazicircd o seu filho

Movimento favoraacutevel a

Hussein filho de Ali eacute

esmagado pelo exeacutercito

omiacuteada na batalha de

XXVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

680

(cont)

Karbala Morte de Hussein

e de vaacuterios partidaacuterios

681

Traacutecia Subjugaccedilatildeo dos

Eslavos do Norte da Traacutecia

pelos Buacutelgaros Tentativas

de os expulsar fracassaram

e os Buacutelgaros capturam

vaacuterios postos bizantinos na

costa do Mar Negro

682

Araacutebia Revolta em

Medina contra Yazicircd

683

Araacutebia Forccedilas siacuterias leais

ao califa esmagam a

revolta em Medina

Cerco a Meca eacute

interrompido pela morte

de Yazicircd que eacute sucedido

pelo filho Muawiya II

que morreraacute pouco tempo

depois

Iniacutecio da Segunda Fitna

684

Siacuteria Batalha de Marj-

Rahit nas imediaccedilotildees de

Damasco vitoacuteria dos

apoiantes de Marwan

sobre os apoiantes do

senhor da Peniacutensula

Araacutebica al-Zubayr

Marwan eacute aclamado

Califa Iniacutecio da dinastia

XXVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

684

(cont)

dos Marwanidas

685

Siacuteria Morte de Marwan

Ascensatildeo de al-Malik ao

trono de Damasco

687

Chegada de Mardaiacutetas

(refugiados cristatildeos da

Siacuteria) que satildeo feitos

remadores permanentes da

divisatildeo dos Carabisiani

por Justiniano II

Iraque Morte de al-

Mukhtar senhor xiita de

Kufa agraves matildeos de Jaacutersquosab

irmatildeo de Zubayr A

Segunda Fitna passa a ser

disputada apenas pelos

senhores de Damasco e da

Araacutebia

688

A ilha de Chipre eacute

declarada territoacuterio neutro

apoacutes um tratado assinado

por Justiniano II e al-

Malik

689

A divisatildeo mariacutetima da

Heacutelade recebe os seus

proacuteprios Mardaiacutetas

691

Califado Derrota de

Musrsquoab agraves matildeos do califa

al-Malik

XXVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

692

Araacutebia Cerco e tomada

de Meca por forccedilas de al-

Malik Morte de al-Zubayr

e fim da Segunda Fitna

695

Revolta do strategoacutes dos

Anatoacutelicos Leocircncio que

depotildee Justinano II apoacutes

ter sido libertado Tinha

sido preso por o

considerarem como

principal culpado pela

deserccedilatildeo de Eslavos que

tinham sido conscritos na

divisatildeo do Opsikiacuteon na

sua primeira batalha com

Aacuterabes

697

Norte de Aacutefrica

Conquista de Cartago

pelos Aacuterabes A cidade eacute

reconquistada mais tarde

por uma expediccedilatildeo

transportada pela frota dos

Carabisiani

698

Norte de Aacutefrica

Expulsatildeo da expediccedilatildeo e

perda definitiva de Cartago

para o Califado Aacuterabe

Regresso da expediccedilatildeo a

Constantinopla onde depotildee

Leocircncio e aclama o

almirante Tibeacuterio

XXIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

698

(cont)

Apsimar como basileus

Seacuteculo VIII

705

Apoiado pelos Buacutelgaros

Justiniano II recupera o

poder em Constantinopla e

executa Tibeacuterio

Norte de Aacutefrica A

expansatildeo islacircmica atinge a

costa atlacircntica sob a alccedilada

do governador Musa

Nusair

711

Apoacutes um bem-sucedido

raid aacuterabe agrave circunscriccedilatildeo

territorial dos Anatoacutelicos

Justiniano II eacute destronado

por uma frota que enviara

para a Crimeia

Peniacutensula Ibeacuterica ndash 19 de

julho Batalha de

Guadelete - as forccedilas

araacutebico-berberes de Tariq

comandante de Musa

Nusair derrotam o rei

visigodo Rodrigo

Iniacutecio da conquista aacuterabe

da Peniacutensula Ibeacuterica

717

Apoacutes os curtos reinados de

Filiacutepico e Anastaacutecio II o

strategoacutes dos Anatoacutelicos

Leatildeo toma

Constantinopla e depotildee

Teodoacutesio III

Iniacutecio de um novo cerco

aacuterabe agrave capital do Impeacuterio

Bizantino

Gaacutelia Primeira expediccedilatildeo

aacuterabe transpirenaica

XXX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

718

Fim do uacuteltimo cerco aacuterabe

a Constantinopla ndash Os

Aacuterabes abandonam o cerco

de Constantinopla apoacutes a

destruiccedilatildeo de alguns

navios pelos Bizantinos

uma doenccedila que vitimou

muitos soldados um

inverno duro e a destruiccedilatildeo

de um exeacutercito de reforccedilo

enviado pelo Califa numa

emboscada bizantina

Peniacutensula Ibeacuterica

Batalha de Covadonga -A

conquista aacuterabe da

Peniacutensula nas Astuacuterias

por soldados cristatildeos sob o

comando de Pelaacutegio

720

Gaacutelia Conquista de

Narbonne por forccedilas

muccedilulmanas

721

Gaacutelia O Duque Eudo da

Aquitacircnia derrota forccedilas

aacuterabes nas proximidades

de Toulose

724

Califado Ascensatildeo do

Califa Hisham que vai

conseguir recuperar a

Transoxania e o Magrebe

durante o seu reinado

XXXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

727

O basileuacutes Leatildeo III potildee

fim a uma revolta na

proviacutencia dos Carabisiani

que o incita a mudar o

quartel-general destes de

Samos para o sul da

Anatoacutelia

A divisatildeo dos Carabisiani

passa a chamar-se de

Kibirrhaiotai por passar a

ter a sua base no porto de

Cibyra

732

Gaacutelia O emir Abd al-

Rahman al-Ghaffiqi

comanda um enorme

exeacutercito para a Gaacutelia e

derrota Eudo

Batalha de ToursPoitiers

ndash Al-Ghaffiqi eacute derrotado

e morto por forccedilas francas

sob Carlos Martel

740

Batalha de Akroinos ndash

Vitoacuteria de Leatildeo III e do

futuro Constantino V

sobre forccedilas do Califado

Omiacuteada

741

Morte de Leatildeo III que eacute

sucedido por Constantino

V Revolta do Conde do

Opsikiacuteon Artavasdo

Constantinopla eacute tomada

XXXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

741

(cont)

por Artavasdo

743

Forccedilas das divisotildees dos

Anatoacutelicos e dos

Traceacutesicos reconquistam

Constantinopla e cegam

Artavasdo

Fim da quinta revolta do

Opsikion Como resultado

destes acontecimentos

Constantino V forma os

taacutegmata atribuindo-lhes

parte do territoacuterio do

Opsikiacuteon e territoacuterios na

Traacutecia

Califado Morte de

Hisham Uacuteltima fase de

soberania Omiacuteada pautada

de rebeliotildees tem inicio

744

Califado Ascensatildeo do

uacuteltimo califa omiacuteada

Marwan II o Burro

Selvagem

745

Siacuteria Ao comando dos

taacutegmata Constantino V

realiza uma campanha

militar nos territoacuterios do

califado com sucesso Seraacute

a primeira invasatildeo bem-

sucedida bizantina a

territoacuterios aacuterabes numa

geraccedilatildeo

XXXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

747

Khorasan Rebenta a

Revoluccedilatildeo Abaacutessida

749

Iraque Vitoacuteria abaacutessida

junto a Kufa apesar da

morte do seu general

Qahtaba

750

Iraque Batalha do rio

Zab Vitoacuteria abaacutessida

decisiva Massacre dos

Omiacuteadas Iniacutecio do

Califado Abaacutessida com o

califa Al-Saffah

751

Itaacutelia Queda de Ravena ndash

Destruiccedilatildeo do Exarcado de

Ravena pelos Lombardos

Bizacircncio perde as uacuteltimas

possessotildees na Itaacutelia

Central para os

Lombardos

752

Gaacutelia Os muccedilulmanos

abandonam Narbonne a

sua uacuteltima posiccedilatildeo

transpirenaica

XXXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

759

Califado Morte de Al-

Saffah que eacute sucedido por

Abu Jaacutersquofah Al-Mansur

762

Iraque O califa muda-se

para o seu novo palaacutecio na

ldquoCidade da Pazrdquo

Fundaccedilatildeo de Bagdade

Al-Mansur esmaga o as

forccedilas xiitas de Muhamad

durante o Ramadatildeo

766

Nova revolta no seio da

divisatildeo do Opsikiacuteon

767

Esmagada a revolta o

territoacuterio do Opsikiacuteon eacute

novamente dividido desta

vez com um novo distrito

o dos Bucelaacuterios

775

Morte de Constantino V

apoacutes um reinado bem-

sucedido com vaacuterias

conquistas na Traacutecia e

vitoacuterias sobre os Buacutelgaros

Califado Morte de Al-

Mansur no decurso de

uma peregrinaccedilatildeo a Meca

Ascensatildeo de al-Mahdi

776

Itaacutelia Fim do reino

lombardo agraves matildeos de

Carlos Magno

Peacutersia Iniacutecio da revolta

de al-Muqqana

XXXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

780

Peacutersia A revolta eacute

subjugada

785

Califado Morte de al-

Mahdi

786

Califado Iniacutecio do

califado de Harun al-

Rashid que lideraraacute vaacuterios

raides a territoacuterio

bizantino

789

Traacutecia Irene divide o

theacutema da Traacutecia com um

novo theacutema o da

Macedoacutenia apoacutes uma seacuterie

de conquistas bizantinas

na Traacutecia

797

Iniacutecio da governaccedilatildeo de

Irene como Basileuacutes apoacutes

cegar o filho por

incompetecircncia e por este

ter cometido moicheacutea

(adulteacuterio)

Seacuteculo IX

802

Deposiccedilatildeo do Irene que

apoacutes uma desastrosa

poliacutetica econoacutemica eacute

substituiacuteda num golpe de

XXXVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

802

(cont)

Estado pelo logoacuteteta

Niceacuteforo depois Niceacuteforo

I

809

Vexilationes de Niceacuteforo I

tomadas por John Haldon

como o iniacutecio do sistema

dos themaacuteta

Greacutecia Conquista destes

territoacuterios O basileuacutes

Niceacuteforo I procede agrave

criaccedilatildeo de vaacuterios themaacuteta

na regiatildeo Peloponeso

Cefaloacutenia e Tessaloacutenica

Bulgaacuteria Niceacuteforo I

saqueia a capital do

Impeacuterio Buacutelgaro Priska

Califado Morte de Harun

al-Rashid Al-Amin torna-

se califa em Bagdade

811

Staurakios o filho de

Niceacuteforo eacute deposto apoacutes

ser ferido fatalmente na

batalha de Priska e

substituiacutedo por Miguel I

Rangabeacute

Bulgaacuteria Campanha de

Niceacuteforo contra este

territoacuterio volta a saquear

Priska

Batalha de Priska ndash Vitoacuteria

do khan Krum numa

emboscada e morte de

Niceacuteforo e a destruiccedilatildeo da

maior parte do exeacutercito e

da cadeia de comando

bizantina

Traacutecia O Impeacuterio da

Bulgaacuteria conquista a maior

parte dos territoacuterios

reconquistados por

Niceacuteforo com excepccedilatildeo

da Greacutecia

Califado Iniacutecio da Quarta

Fitna entre o califa al-

Amin e o irmatildeo al-

Mamun governador de

Khorasan O primeiro

confronto termina com a

vitoacuteria das forccedilas

ldquorebeldesrdquo

XXXVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

812

Iraque Apoacutes vaacuterios

embates al-Mamun cerca

Bagdade

813

Traacutecia Batalha de

Versinikia ndash nova vitoacuteria

de Khrum sobre forccedilas

bizantinas

Como consequecircncia o

basileuacutes Miguel abandona

o cargo e eacute substituiacutedo por

Leatildeo V denominado de laquoo

Armeacutenioraquo

Iraque Fim do cerco de

Bagdade e da Quarta

Fitna Execuccedilatildeo de al-

Amin e ascensatildeo de al-

Mamun ao cargo de califa

814

Impeacuterio Buacutelgaro Morte

do khan Krum

819

Iraque Apoacutes uma seacuterie de

vaacuterias guerras civis al-

Mamun entra em Bagdade

820

Assassinato de Leatildeo V

Guerra civil entre Miguel

II laquoo Amorianoraquo e Tomaacutes

o Eslavo

823

Morte de Tomaacutes o Eslavo

a guerra perduraraacute mais

um ano no entanto

XXXVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

824

Os uacuteltimos apoiantes de

Tomaacutes satildeo esmagados na

Anatoacutelia

826

Siciacutelia Revoltosos gregos

da ilha apelam ao auxiacutelio

de aacuterabes do Norte de

Aacutefrica

827

Siciacutelia Invasatildeo aglaacutebida

da ilha

828

Creta Os Bizantinos

perdem esta ilha para

piratas andaluzes

829

Morte de Miguel II eacute

substituiacutedo por Teoacutefilo

831

Siciacutelia Os Aacuterabes

conquistam Palermo

833

Califado Morte de al-

Mamun eacute substituiacutedo no

trono pelo irmatildeo que

reinaraacute sob o nome de al-

Mutasim (iniacutecio do

periacuteodo abaacutessida meacutedio)

XXXIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

834

Teoacutefilo acolhe refugiados

Curramitas que se juntam

ao exeacutercito e se convertem

ao Cristianismo

837

Expediccedilotildees de saque

bizantinas contra o

Califado Chegada de mais

Curramitas ao Impeacuterio

838

Revoltas Curramitas no

Impeacuterio

Batalha de Anzen entre o

basileus Teoacutefilo de

Bizacircncio e forccedilas

abaacutessidas (que incluiacuteam

cavaleiros turcos) sob al-

Afshin culmina com a

vitoacuteria aacuterabe

Saque de Ancyra e Amoacuterio

por forccedilas abaacutessidas

839

Submissatildeo dos Curramitas

por Teoacutefilo

840

Reformas militares de

Teoacutefilo aumento de

soldos e reorganizaccedilatildeo da

cadeia de comando

XL

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

840-

841

As kleisocircurai da

Capadoacutecia e Charsianon

derrotam raids aacuterabes

Como recompensa a

kleisocircura da Capadoacutecia eacute

promovida a theacutema

841

Itaacutelia Os Aacuterabes tomam

Bari

842

Morte do basileus Teoacutefilo

Ascensatildeo de Miguel III

Morte de al-Mutasim eacute

substituiacutedo pelo filho al-

Wathiq

843

Creta Tentativa falhada

de reconquista de Creta

pelos Bizantinos Criaccedilatildeo

do theacutema do Mar Egeu

844

Estabelecimento de um

ldquoPrincipado Paulicianordquo

nas imediaccedilotildees da cidade

de Tephrice

847

Morte de al-Wathiq que

natildeo tem sucessor definido

Uma shura (espeacutecie de

concelho) acaba por eleger

um irmatildeo de al-Wathiq

como califa que ascenderaacute

com o nome de al-

Mutawakill

XLI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

861

Criaccedilatildeo do theacutema de

Coloacutenia no Alto Eufrates

863

Batalha de Marj al-Usquf

termina com uma vitoacuteria

piacuterrica muccedilulmana do

Emirato de Melitene

Batalha de Lalacatildeo

termina numa vitoacuteria

decisiva do domeacutestico das

Escolas Petronas sobre

Omar que cai na batalha

O outro grande emir da

fronteira o de Tarsus eacute

morto num contra raide

bizantino

866

Itaacutelia O imperador Luiacutes II

comeccedila a intervir no sul de

Itaacutelia

869

Siciacutelia Tentativa de

conquista de Taormina

pelo Emirato Aglaacutebida

Itaacutelia Cerco de Bari pelo

imperador Luiacutes II conta

com a participaccedilatildeo de

forccedilas bizantinas

c 870

Reformas militares de

Basiacutelio I agrave frota bizantina

XLII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

871

Itaacutelia Capitulaccedilatildeo de Bari

para as forccedilas francas

872

Batalha de Bathys Ryax ndash

vitoacuteria bizantina onde as

forccedilas militares strategoacutes

satildeo esmagadas O liacuteder da

heresia Crisoacutequero eacute

morto na batalha

876

Itaacutelia Bari passa para o

controlo do Impeacuterio

Bizantino

878

Siciacutelia 21 de maio ndash

conquista aglaacutebida de

Siracusa

879

Reconquista bizantina de

Tephrike potildee fim agrave naccedilatildeo

da heresia pauliciana

880

Itaacutelia Campanhas gregas

na regiatildeo permitem

reconquistar algumas

fortalezas como Taranto e

derrotar forccedilas navais

muccedilulmanas junto a

Milazzo

XLIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

886

Itaacutelia Reconquista da

Calaacutebria e da Apuacutelia por

Niceacuteforo Focas o Velho

889

Itaacutelia Importante vitoacuteria

bizantina no Estreito de

Messina permite repor o

controlo naval sobre

aquela zona apoacutes uma

derrota no ano interior

890

Provenccedila Criaccedilatildeo do

enclave pirata sarraceno

em Saint Tropez

891

Ataques corsaacuterios de Leatildeo

o Tripolitano e Damiano agrave

ilha de Samnos

Itaacutelia Conquista bizantina

de Benevento No ano

seguinte formar-se-aacute o

theacutema da Lombardia

centrado naquela cidade

894

Iniacutecio da guerra bizantino-

buacutelgara entre o basileuacutes

Leatildeo VI e o czar Simeatildeo

da Bulgaacuteria com o uacuteltimo

a demonstrar vantagem

inicialmente

895

Bulgaacuteria Contraofensiva

conjunta bizantina e

magiar contra os buacutelgaros

acarreta grandes sucessos

Mais tardes os bizantinos

XLIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

895

(cont)

retiram e os buacutelgaros

conseguem derrotar os

Magiares com apoio

pechenegue

896

Bulgaacuteria Apoacutes uma

marcante derrota bizantina

na batalha de

Bulgarophygon Leatildeo VI

assina a paz com Simeatildeo

Seacuteculo X

901

Itaacutelia Conquista de Reacutegio

pelos Aglaacutebidas da Siciacutelia

902

Siciacutelia Fim da presenccedila

bizantina na Siciacutelia com a

queda de Taormina para os

Aacuterabes

904

Saque de Tessaloacutenica agraves

matildeos de Leatildeo o

Tripolitano e Damiano

906

Panoacutenia Derrotados pelos

Pechenegues os Magiares

fogem para esta regiatildeo

onde arrasam o reino da

Moraacutevia

XLV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

911

Creta Expediccedilatildeo enviada

agrave ilha por Leatildeo VI o Saacutebio

falha a reconquista da ilha

915

Itaacutelia As forccedilas do

strategoacutes de Bari Nicolau

Piccingli juntam-se agrave Liga

Santa de Joatildeo X e

destroem o enclave pirata

sarraceno na foz do rio

Garigliano

917

Bulgaacuteria Batalha de

Acheloos ndash derrota do

strategoacutes Leatildeo Focas

frente agraves forccedilas buacutelgaras

do czar Simeatildeo

919

Romano Lecapeno o

droungaacuterios tou ploiumlmon

depotildee a regente Zoeacute

Carbonopsina e ascende

ao trono como co-

imperador de Constantino

VII

924

Cerco de Constantinopla

por Simeatildeo da Bulgaacuteria

termina em insucesso

Greacutecia Destruiccedilatildeo da

frota de Leatildeo o Tripolitano

na costa de Lemnos

XLVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

927

Impeacuterio Buacutelgaro A

morte do czar Simeatildeo potildee

fim aos seus planos de

criar um impeacuterio

Bizantino-Buacutelgaro

934

Uma hoste bizantina sob

Joatildeo Kourkoas conquista

a cidade de Melitene

941

Expediccedilatildeo de saque russa

ataca a margem asiaacutetica do

Boacutesforo mas eacute derrotada

por Romano Lecapeno

944

Usurpaccedilatildeo do poder pelos

filhos de Romano I eacute

repudiada pela populaccedilatildeo

de Constantinopla que

restitui ao trono o basileuacutes

Constantino VII

949

Creta Nova tentativa de

reconquista de Creta

falhada

Armeacutenia Bizacircncio ocupa

Teodosioacutepolis a principal

base aacuterabe nesta regiatildeo

955

Bavaacuteria Otatildeo I derrota

decisivamente os magiares

na batalha de Lechfeld

XLVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

959

Divisatildeo dos comandos dos

taacutegmata entre o Ocidente e

Oriente comandados por

um domeacutestico do Ocidente

e Oriente respetivamente

960

Batalha de Andrassos ndash

vitoacuteria de Leatildeo Focas

sobre Sayf al-Dawlah

961

Creta Reconquista da

ilha por Niceacuteforo Focas

962

Campanha bizantina sob

Niceacuteforo Focas na Ciliacutecia

e na Siacuteria contra o

Emirado Hamdacircnida

Conquista temporaacuteria de

Aleppo

963

Morte do Imperador

Romano II no decorrer de

uma caccedilada

Casamento de Niceacuteforo

Focas com a viuacuteva

Teoacutefane subindo ao trono

como o co-imperador

Niceacuteforo II Focas

964

Ocupaccedilatildeo total da ilha de

Chipre pelos Bizantinos

XLVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

965

Conquista da Ciliacutecia ndash

apoacutes a tomada de Tarso a

capital daquela regiatildeo

Bulgaacuteria O priacutencipe

Svyatoslav de Kiev invade

a Bulgaacuteria apoacutes o apelo de

Niceacuteforo II

966

Os exeacutercitos bizantinos

avanccedilam na direccedilatildeo de

Antioquia conquistando

algumas fortalezas nas

imediaccedilotildees desta como

Arka e Hierapoacutelis

Iniacutecio do cerco de

Antioquia

967

O Impeacuterio Bizantino

recebe em testamento o

principado de Taron na

Armeacutenia

969

Conquista de Antioquia

Deposiccedilatildeo e assassinato de

Niceacuteforo II Focas pelo

sobrinho Joatildeo I Tzimiskeacute

Itaacutelia Derrota bizantina

frente a Otatildeo I na batalha

de Ascoli potildee em risco as

uacuteltimas possessotildees

romanas no sul de Itaacutelia

970

Bulgaacuteria Tomada de

Filipopoacutelis pelos Russos

a uacuteltima fortaleza em matildeos

buacutelgaras

XLIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

970

(cont)

Traacutecia Batalha de

Arcadioupolis ndash Daacute tempo

suficiente ao co-imperador

Joatildeo I Tzimiskeacute para

preparar a invasatildeo da

Bulgaacuteria

971

Bulgaacuteria Batalha de

Dorostolon termina numa

vitoacuteria decisiva bizantina

que expele os Rus da

Bulgaacuteria

Svyatloslav morre pouco

depois agraves matildeos dos

Pechenegues

972

Mesopotacircmia Invasatildeo

romana da regiatildeo permite

a conquista de algumas

cidades como Niacutesibe

974

Siacuteria Joatildeo I Tzimiskeacute

tenta alcanccedilar Bagdade

mas eacute parado pelo deserto

da Siacuteria

975

Campanhas bizantinas na

Siacuteria culminam com a

conquista de Damasco e de

vaacuterias cidades na Siacuteria

Joatildeo I Tzimiskeacute promete

reconquistar Jerusaleacutem

L

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

976

Morte de Joatildeo I Tzimiskeacute

eacute sucedido pelo filho de

Romano II Basiacutelio

Insurreiccedilatildeo de Bardas

Sclero

978

O basileuacutes Basiacutelio II

incapaz de esmagar a

revolta sozinho apela ao

auxiacutelio do aristocrata

Bardas Focas

Batalha de Pankaleia

culmina na derrota de

Focas frente a Sclero

979

A revolta de Bardas Sclero

eacute esmagada por Bardas

Focas

986

Traacutecia Ataques buacutelgaros

que tinham comeccedilado em

985 atingem Tessaloacutenica

Bulgaacuteria Basiacutelio II eacute

derrotado por Samuel da

Bulgaacuteria numa emboscada

989

Batalha de Crisopoacutelis ndash

vitoacuteria de Basiacutelio II e dos

seus aliados Varangues

sobre as forccedilas rebeldes de

Barda Focas

LI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

989

(cont)

Batalha de Abido ndash vitoacuteria

decisiva de Basiacutelio II sobre

Barda Focas Morte do

uacuteltimo

997

Greacutecia Batalha do rio

Spercheios ndash Vitoacuteria das

forccedilas bizantinas de

Niceacuteforo Ouranos sobre as

forccedilas buacutelgaras do czar

Samuel

Seacuteculo XI

1001

Bulgaacuteria Realiza-se a

primeira campanha de

Basiacutelio II depois da sua

derrota anos antes

Treacuteguas entre Basiacutelio II e

o Califado Fatimita apoacutes

seis anos de conflito

1011

Itaacutelia Reconquista de

Bari a Meles um revoltoso

local

1014

Bulgaacuteria Batalha do

desfiladeiro de Kleidion

onde Basiacutelio II captura

cerca de 15 mil soldados

buacutelgaros e de acordo com

as fontes cega-os

Morte do czar Samuel

LII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1018

Bulgaacuteria Anexaccedilatildeo final

deste territoacuterio por Basiacutelio

II

Itaacutelia Batalha de Otranto

resulta numa vitoacuteria de

Niceacuteforo Boianeacutes o

katepaacutenō de Itaacutelia sobre

Meles e os seus aliados

normandos

1025

Morte de Basiacutelio II eacute

substituiacutedo pelo irmatildeo

Constantino

Itaacutelia Conquista de

Messina por Boianeacutes abre

caminho a uma possiacutevel

reconquista da Siciacutelia

1032

Siacuteria Durante o reinado

de Romano III Argiro

Bizacircncio reconquista

Edessa sob Jorge

Maniakeacutes

1040

Armeacutenia morte do rei

Joatildeo III Smbat Iniacutecio de

uma guerra civil entre o

sobrinho Gagik II e outros

priacutencipes armeacutenios com

incursotildees bizantinas

durante o conflito

Khorasan Vitoacuteria dos

Turcos Seljuacutecidas sobre o

sultatildeo Masrsquoud do Impeacuterio

Gaznaacutevida na batalha de

Dandanaqan

1041

Uacuteltimo cerco russo a

Constantinopla

Bulgaacuteria Revolta buacutelgara

eacute esmagada por forccedilas

leais a Constantinopla

LIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1042

Siciacutelia Jorge Maniakeacutes

acaba a reconquista da

parte oriental da ilha

1045

Armeacutenia Tomada de Ani

por forccedilas bizantinas e

purga da Igreja Miafisita

1048

Armeacutenia e Geoacutergia ndash Um

exeacutercito de ghazis Oguzes

invade estas regiotildees e

captura o priacutencipe Liparit

1050

Iraque Toghril Beg

invade o norte da regiatildeo

1053

Itaacutelia Batalha de Civitate

ndash os Normandos capturam

o papa Leatildeo IX

Peacutersia Graccedilas agraves tribos

turcomanas ao seu dispor

Toghril Beg toma conta da

regiatildeo de Fars no sudoeste

iraniano

1054

Expediccedilatildeo de Toghril Beg

na Armeacutenia e cerco de

Manzikert durante esta

expediccedilatildeo Toghril Beg

consegue chegar a

Trebizonda saquear a

zona de Van e ainda cercar

Manzikert ainda que sem

sucesso

LIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1055

Peacutersia Toghril Beg

conquista o Khuzistatildeo

Iraque dezembro - Os

Turcos Seljuacutecidas ocupam

Bagdade

1056

Morte de Teodora potildee fim

agrave dinastia Macedoacutenica

1057

Aacutesia Menor A cidade de

Melitene eacute saqueada e

arrasada por saqueadores

turcomanos

1058

Iraque O general turco

Arslan Basasiri recupera

Bagdade para os xiitas

1060

Iraque Basasiri eacute morto

em batalha Purga dos

xiitas de Bagdade

1063

Peacutersia Morte de Toghril

Beg em Rey Iniacutecio de

uma guerra civil

sucessoacuteria

LV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1064

Armeacutenia A cidade de

Ani e grande parte da

Armeacutenia eacute conquistada

por Alp Arslan

Balcatildes Conquista huacutengara

de Belgrado O povo Uzi

saqueia grande parte do

territoacuterio ocidental

bizantino ateacute agrave Greacutecia

Impeacuterio Seljuacutecida Alp

Arslan vence a guerra civil

e torna-se sultatildeo

1065

Armeacutenia Anexaccedilatildeo deste

territoacuterio pelo Sultanato

Seljuacutecida

1067

Aacutesia Menor Saque

turcomano de Cesareia

1068

Romano IV Dioacutegenes

torna-se co-imperador

Aacutesia Menor Conquista e

saque turcomano de

Amoacuterio sob Afsin

Siacuteria Campanha de

Romano IV Dioacutegenes nos

arredores de Alepo

termina em falhanccedilo a natildeo

ser pela conquista de

Hieraacutepolis

1069

Aacutesia Menor Ataque

turcomano a Icoacutenio no

coraccedilatildeo da Anatoacutelia

Nova campanha romana na

regiatildeo termina em

fracasso

1071

Armeacutenia Batalha de

Khliat Derrota das forccedilas

bizantinas sob Joseacute

Tarcaniotes e Roussel de

Bailleul frente a um

exeacutercito seljuacutecida sob

Sanduq al-Turki

Itaacutelia Roberto Guiscard

ocupa Bari e potildee fim a

mais de quinhentos anos

de presenccedila bizantina na

regiatildeo

Siacuteria Cercos turcomanos

a Edessa e Alepo Falham

pelas falsas treacuteguas

bizantinas no caso do

primeiro e pela declaraccedilatildeo

de guerra de Romano IV

Dioacutegenes no segundo

LVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1071

(cont)

Batalha de Manzikert ndash o

coimperador Romano IV

Diogenes eacute derrotado pelo

sultatildeo turco Alp Arslan

Apesar das baixas

relativamente pequenas

bizantinas vai marcar o

iniacutecio de um periacuteodo de

extrema instabilidade

poliacutetica para Bizacircncio

Batalha de Sebasteia ndash

Romano IV Dioacutegenes eacute

derrotado por forccedilas leais agrave

dinastia Ducas que

aprisionara a imperatriz

Eudoacutexia em

Constantinopla

1072

Batalha de Adana ndash Nova

derrota de Romano IV

Dioacutegenes frente aos

Ducas O co-imperador eacute

aprisionado cegado e

encerrado num mosteiro

onde morre pouco depois

Iratildeo ndash Assassinato de Alp

Arslan

1078

Golpe de estado do

strategoacutes da Anatoacutelia

Niceacuteforo Botaniates que

sobe ao trono como o

terceiro de seu nome

Formaccedilatildeo do Sultanato de

Rum pelo priacutencipe

Suleimatildeo

LVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1081

Niceacuteforo III eacute deposto por

Aleixo Comneno que o

substitui no trono

Balcatildes Cerco de

Dirraacutequio por Roberto

Guiscard

Os Normandos tomam a

ilha de Corfu

Aleixo Comneno eacute

derrotado pelas forccedilas de

Guiscard na batalha de

Dirraacutequio

1084

Balcatildes Nova campanha

de Roberto Guiscardo na

regiatildeo

1085

Balcatildes Morte de Roberto

Guiscardo durante o cerco

de Cefaloacutenia

1087

Traacutecia A regiatildeo eacute

invadida por Pechenegues

1091

Traacutecia Batalha do Monte

Levuniatildeo ndash vitoacuteria de

Aleixo Comneno sobre os

Pechenegues

Batalha de Anchialos

Aleixo Comneno derrota

os Cumanos

LVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1095

Franccedila Conciacutelio de

Clermont daacute iniacutecio agrave

Primeira Cruzada

1096

Primavera Chegada a

Constantinopla dos

primeiros regimentos

cruzados incluindo a

chamada ldquoCruzada

Popularrdquo liderada por

Pedro ldquoo Eremitardquo e

Gualter ldquoSem Haverrdquo Os

ldquoverdadeirosrdquo cruzados

chegaratildeo mais tarde

Batalha de Civetot A

Cruzada Popular eacute

derrotada por forccedilas

seljuacutecidas sob o Sultatildeo

Kilij Arslan

1097

Primavera Cerco

bizantino-cruzado a

Niceia A guarniccedilatildeo turca

rende-se a Constantinopla

que proiacutebe os Cruzados de

saquearem a cidade

1098

Siacuteria Balduiacuteno de

Bolonha conquista Edessa

e forma o primeiro Estado

cruzado o condado de

Edessa

LIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1098

(cont)

Junho ndash Os Cruzados

tomam Antioquia e

formam o segundo Estado

cruzado o principado de

Antioquia sob Boemundo

de Tarento filho de

Roberto Guiscardo

1099

Palestina julho ndash

Conquista saque e purga

de Jerusaleacutem pelos

Cruzados O reino de

Jerusaleacutem eacute criado e a

coroa entregue a

Godofredo de Bulhatildeo

duque da Baixa Lorena

Seacuteculo XII

1102

Palestina Raimundo de

Saint-Gilles o conde de

Toulose cria o condado de

Triacutepoli (apesar de ainda

natildeo controlar a cidade)

1104

Piroska filha do rei

magiar Ladislau I casa

com o futuro basileuacutes Joatildeo

II

LX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1108

Balcatildes A campanha

iniciada no ano anterior

por Boemundo de Tarento

sai gorada pelo uso de

taacuteticas de guerrilha por

Aleixo I Comneno

Siacuteria Apoacutes a recusa dos

Cruzados a entregarem

Antioquia Aleixo I

vassaliza o principado de

Antioquia agrave forccedila

1117

Batalha de Nicomeacutedia

Aleixo I Comneno derrota

o sultatildeo turco Malik Sha

1118

Ascensatildeo de Joatildeo II ao

trono de Constantinopla

apoacutes a morte do pai

Aleixo I Comneno

1120

Cerco de Panfiacutelia O

basileuacutes Joatildeo II captura a

cidade graccedilas agrave utilizaccedilatildeo

de taacuteticas de fuga

simulado

1122

Balcatildes Batalha de

Verroia ndash vitoacuteria de Joatildeo II

sobre os Pechenegues

1137

Siacuteria Joatildeo II submete o

priacutencipe de Antioquia

Raimundo de Poitiers agrave

soberania bizantina

LXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1143

Joatildeo II morre num

acidente durante uma

caccedilada O seu filho mais

novo Manuel substitui-o

1147

Escaramuccedila agraves portas de

Constantinopla entre

Bizantinos e cavaleiros da

Segunda Cruzada

1159

Siacuteria Submissatildeo de

Antioquia por Manuel I

1167

Balcatildes Manuel Comneno

derrota a Hungria e

submete a Dalmaacutecia a

Boacutesnia a Croaacutecia e

Siacutermio

1171

A ordem de detenccedilatildeo de

todos os Venezianos em

territoacuterio bizantino suscita

o iniacutecio de uma guerra

bizantino-veneziana

1172

Uma frota veneziana sob

o comando do doge Vital

II Miguel eacute destroccedilada por

uma epidemia e uma

tempestade durante uma

campanha contra algumas

ilhas gregas

Balcatildes Bizacircncio esmaga a

rebeliatildeo do priacutencipe

seacutervio Estevatildeo Nemanja

LXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1176

Setembro ndash Manuel I perde

a batalha de Mirioceacutefalo

que mutila severamente as

capacidades ofensivas do

impeacuterio

1179

Iniacutecio das negociaccedilotildees de

paz entre Bizacircncio e

Veneza Manuel aceita

libertar alguns dos

venezianos presos em

1171

1180

Manuel I morre e Aleixo II

substitui-o

1182

Maio ndash Massacre da

populaccedilatildeo latina de

Constantinopla

1183

Androacutenico I primo de

Manuel ascende ao trono

apoacutes assassinar a

imperatriz-regente Maria

e o basileuacutes Aleixo II

LXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1185

Androacutenico I eacute linchado

pela populaccedilatildeo de

Constantinopla a dinastia

dos Comnenos termina

Satildeo substituiacutedos pela

dinastia dos Anjos com

Isaac II a ser coroado

imperador

Tessaloacutenica A cidade eacute

tomada pelos Normandos

agravando a hostilidade

bizantina ao reinado cruel

de Androacutenico I

1187

Bulgaacuteria Formaccedilatildeo do

segundo Impeacuterio Buacutelgaro

Palestina As forccedilas

militares do Reino de

Jerusaleacutem satildeo derrotadas

por Saladino o sultatildeo

aiuacutebida do Egipto e da

Siacuteria na batalha dos

Cornos de Hattin

Saladino o sultatildeo aiuacutebida

do Egipto e da Siacuteria

reconquista Jerusaleacutem

1189

Formaccedilatildeo da Terceira

Cruzada liderada por

Frederico I ldquoBarba Ruivardquo

Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de

Leatildeordquo e Filipe II

ldquoAugustordquo

1190

Ciliacutecia Frederico ldquoBarba

Ruivardquo morre afogado

num lago

LXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1191

Chipre Forccedilas cruzadas

sob Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de

Leatildeordquo conquistam a ilha a

Bizacircncio

1195

Isaac II eacute cegado e deposto

pelo irmatildeo Aleixo III

1198

Tratada de reposiccedilatildeo da

alianccedila bizantino-

veneziana apoacutes Aleixo III

tentar acabar com a

alianccedila

Itaacutelia Inocecircncio III lanccedila

a Quarta Cruzada

Seacuteculo XIII

1202

Dalmaacutecia A Quarta

Cruzada conquista e

saqueia a cidade cristatilde de

Zama a pedido dos

Venezianos

1203

As forccedilas da Quarta

Cruzada depotildeem Aleixo

III e repotildeem Aleixo III no

trono O filho deste

Aleixo IV torna-se

imperador associado

LXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1204

Janeiro Aleixo V Ducas

Murzuflo depotildee e prende

Isaac II Aleixo IV eacute

morto O novo basileuacutes

recusa-se a pagar o que

Aleixo IV prometera pagar

aos Cruzados

Abril Conquista e saque

da maior cidade cristatilde do

mundo pelos Cruzados O

Impeacuterio Bizantino eacute

dividido entre Venezianos

e Cruzados e no seu

lugar surge o Impeacuterio

Latino de Ocidente e um

conjunto de estados

vassalos Por outro lado

os gregos formam vaacuterios

na Aacutesia Menor e no Epiro

que vatildeo resistir ferozmente

aos Cruzados e tentar

reconquistar

Constantinopla

Fim da eacutepoca meacutedia bizantina

1261

O ldquoimpeacuteriordquo de Niceia

recupera Constantinopla

sob o comando de Miguel

Paleoacutelogo Deposiccedilatildeo de

Joatildeo VI Lascaris e

ascensatildeo de Miguel ao

poder Reformaccedilatildeo do

Impeacuterio Bizantino

LXVI

Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana)

Ca 850

Basiacutelio chega a

Constantinopla

856857

Basiacutelio entra ao serviccedilo

do basileuacutes Miguel III

como membro da

Hetaireia um regimento

da Guarda Imperial

858

Miguel III e o seu tio

Bardas potildeem fim agrave

regecircncia de Teodora e do

seu tio Seacutergio

Miguel III e o seu tio

Bardas substituem o

patriarca Inaacutecio por

Foacutecio que nas palavras

da famiacutelia real

conspirava contra esta

20 de dezembro Foacutecio eacute

tonsurado Num periacuteodo

de quatro dias torna-se

padre

25 de dezembro Foacutecio

ascende ao Patriarcado

860

Primeiros ataques russos a

Constantinopla

Aacutesia Menor Uma frota de

Tarso ataca Antalya

LXVII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

861

Num Conciacutelio realizado

em Constantinopla os

legados papais aprovam a

ascensatildeo de Foacutecio ao

patriarcado

863

Batalha de Marj al-Usquf

- Vitoacuteria piacuterrica

muccedilulmana do Emirato de

Melitene sobre o exeacutercito

bizantino de Miguel III

Batalha do Lalacatildeo -

vitoacuteria decisiva do

domeacutestico das Escolas

Petronas sobre as forccedilas

aacuterabes que sobreviveram agrave

batalha de Marj al-Usquf

O emir de Melitene morre

na batalha

Mesopotacircmia O emir de

Tarso eacute morto num contra

raide bizantino

864

Eacute outorgado a Basiacutelio o

cargo de parakoimṓmenos

do basileuacutes apoacutes a

remoccedilatildeo do seu

predecessor Damiano

que ofendera o ceacutesar

Bardas

Bulgaacuteria Conversatildeo da

Bulgaacuteria ao

Cristianismo580

Teodoro Santabarenos

torna-se abade do

mosteiro de Stoudios

c865

Casamento de Basiacutelio

com Eudoacutexia Ingerina a

amante de Miguel III

580 Ou 845 in TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912)

LXVIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

866

Basiacutelio torna-se co-

imperador de Miguel III

apoacutes o assassinato do tio

do Imperador Bardas

Nasce o segundogeacutenito de

Basiacutelio o futuro Leatildeo

VI581

Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica)

867

Ascensatildeo de Basiacutelio I

apoacutes o assassinato pelas

suas proacuteprias matildeos de

Miguel III Instituiccedilatildeo da

dinastia Macedoacutenica

No mecircs de agosto o

patriarca Foacutecio depotildee o

Papa Nicolau I

Apoacutes a ascensatildeo de

Basiacutelio as decisotildees do

Conciacutelio Constantinopla-

867 satildeo repudiadas e

Foacutecio eacute deposto por

condenar o assassinato de

Miguel III Reinstalaccedilatildeo

de Inaacutecio no Patriarcado

Teodoro Santabarenos eacute

expulso de Stoudios

868

Egipto Formaccedilatildeo do

Emirato Tuluacutenida

581 Natildeo haacute um consenso sobre o dia e o mecircs em que o futuro basileuacutes teraacute nascido Jorge o Monge indica 1 de

setembro Pseudo-Simeatildeo indica apenas o mecircs de setembro e Leatildeo o Gramaacutetico aponta o nascimento para 1 de

dezembro o proacuteprio Leatildeo na homilia de reedificaccedilatildeo da Igreja de Satildeo Tomeacute refere que o seu nascimento

acontece alguns dias antes do dia de Satildeo Tomeacute (8 de outubro) por fim Grumel refere que Leatildeo na realidade diz

que o seu aniversaacuterio foi no mesmo dia da reedificaccedilatildeo ou seja a 19 de setembro

Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill p 42

LXIX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

869

Siciacutelia Tentativas de

conquista de Taormina e

Siracusa pelo Emirato

Aglaacutebida

Itaacutelia Uma frota bizantina

dirige-se a Bari para em

concertaccedilatildeo com uma

forccedila franca sob o

comando do imperador

Luiacutes II tomar a cidade

c870

O ex-patriarca Foacutecio

torna-se tutor dos filhos

do basileuacutes

Malta Conquista aglaacutebida

da ilha

871

Itaacutelia A 3 de fevereiro a

cidade de Bari rende-se ao

rei Luiacutes II

Itaacutelia Iniacutecio de um cerco

aacuterabe a Salerno

872

Aacutesia Menor batalha de

Bathys Riax582 Um

exeacutercito bizantino derrota

uma forccedila pauliciana e

mata o seu liacuteder

Crisoacutequero

Dalmaacutecia Corsaacuterios da

ilha de Creta saqueiam a

regiatildeo

582 A bibliografia que lemos discorda da data em que se realizou a batalha John Haldon refere 878 Shaun

Tougher refere 872

LXX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

872

(cont)

Itaacutelia Libertaccedilatildeo do cerco

aacuterabe de Salerno

873

Itaacutelia O Impeacuterio

Bizantino ocupa Otranto

na Apuacutelia

Golfo de Saros Niquetas

Orifas destroacutei 20 navios

aacuterabes

Siciacutelia Nova tentativa de

conquista de Siracusa

pelos Aglaacutebidas

875

Mar Adriaacutetico

Expediccedilatildeo de saque aacuterabe

chega ao Golfo de Trieste

e cerca Grado O cerco

falha e durante a retirada

os Muccedilulmanos desolam

Comacchio

Itaacutelia Raides aacuterabes na

Campacircnia e na costa

ocidental italiana

chegando a atingir a zona

de Roma O papa Joatildeo

VIII apela ao auxiacutelio de

Bizacircncio frente agrave ameaccedila

876

Itaacutelia Com a crescente

ameaccedila aacuterabe no sul de

Itaacutelia a populaccedilatildeo de Bari

entrega a cidade a

Bizacircncio

LXXI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

877

Siciacutelia Iniacutecio do uacuteltimo

cerco aacuterabe a Siracusa

Itaacutelia Novo apelo papal

dirigido ao strategos

Gregoacuterio

Morte de Inaacutecio Foacutecio

volta a tornar-se

patriarca

Foacutecio aponta Teodoro

Santabarenos como bispo

de Euceta na Greacutecia

878

Siciacutelia 21 de maio -

Queda de Siracusa

Massacre e saque da

cidade

878-

882

Ciliacutecia Periacuteodo de

ocupaccedilatildeo tuluacutenida

c879

Morte do filho

primogeacutenito de Basiacutelio

Constantino

Basiacutelio I casa o seu

segundo filho o futuro

Leatildeo VI com Teoacutefane

Golfo de Corinto Derrota

de uma frota sarracena que

saqueava o Mar Joacutenico agraves

matildeos de Niquetas Oryfas

Aacutesia Menor Forccedilas

bizantinas sob o comando

pessoal do basileuacutes

conquistam a capital dos

Paulicianos Tephrike

880

Mar Joacutenico Expediccedilatildeo

naval de Ibrahim II saqueia

Kefaleacutenia e Zakynthos O

droungaacuterios tou ploiumlmon

Nasar destroacutei a frota

adversaacuteria ao largo da

costa ocidental grega num

ataque noturno

O papado aprova a

(re)ascensatildeo de Foacutecio ao

patriarcado

LXXII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

880

(cont)

Siciacutelia Nasar saqueia e

desola os arredores de

Palermo captura

embarcaccedilotildees aglaacutebidas e

derrota forccedilas navais

aacuterabes junto a Punta di

Stilo durante o regresso

Itaacutelia Graccedilas aos sucessos

de Nasar um esquadratildeo

bizantina dirige-se a

Naacutepoles sob o comando

do spathaacuterios Gregoacuterio o

turmarca Teophylaktos e o

komeacutes Diogeacutenes onde

arrecadam uma nova

vitoacuteria para os Bizantinos

Siciacutelia Vitoacuteria naval

bizantina junto a Milazzo

no decorrer de uma

contraofensiva liderada

pelo protovestiaacuterio

Procoacutepio do strategoacutes

Leatildeo Apoacutestipo e do

almirante Nassar

Itaacutelia As forccedilas enviadas

para a regiatildeo por Basiacutelio I

conquistam quase todas as

fortalezas aacuterabes na

Calaacutebria e na Apuacutelia

oriental Apoacutes uma

importante batalha campal

agraves portas de Taranto onde

morre Procoacutepio o

strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo

conquista a cidade

LXXIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

880

(cont)

Itaacutelia Apelo papal a

Basiacutelio I de uma frota

bizantina

Itaacutelia Com a autorizaccedilatildeo

do bispo-duque Atanaacutesio

II uma forccedila muccedilulmana

fixa-se no sopeacute do Monte

Vesuacutevio Enquanto isso

um outro bando de

soldados sediado em

Sapenium saqueia toda a

regiatildeo a norte ateacute Espoleto

881

Itaacutelia Naacutepoles e Salerno

combinam forccedilas para

tentar destruir as bases de

saqueadores sarracenos na

Calaacutebria e na Campacircnia

883

Aprisionamento do novo

herdeiro Leatildeo durante

trecircs anos por suspeitas de

conspirar contra Basilio

Ciliacutecia Uma hoste

bizantina eacute derrotada na

regiatildeo de Tarso pelo emir

Yazaman Mais tarde

Yazaman seraacute tambeacutem ele

derrotado pelo strategoacutes

Oiniates

Itaacutelia Nova alianccedila

lombarda Os vaacuterios

grupos muccedilulmanos

retiram para norte e juntam

forccedilas no rio Garigliano

onde criam uma base de

operaccedilotildees

LXXIV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

884

Itaacutelia Saque sarraceno do

mosteiro de Montecassino

885

Moraacutevia Morte do

monge Metoacutedio um dos

principais responsaacuteveis

pela conversatildeo dos

Eslavos e da transcriccedilatildeo

dos textos biacuteblicos para

Ciriacutelico

886

25 de marccedilo Um conluio

organizado por Joatildeo

Kourkouas e outros

sessenta e seis senadores eacute

descoberto e rapidamente

destroccedilado por Basiacutelio I

21 de julho Leatildeo eacute

libertado da sua prisatildeo no

dia de Satildeo Elias

29 de agosto morte de

Basiacutelio I no seguimento

de um acidente ocorrido

numa caccedilada

Itaacutelia A expediccedilatildeo que

Basiacutelio I envia para Itaacutelia

sob o comando de

Niceacuteforo Focas o Velho

em 885 consegue

reconquistar as uacuteltimas

possessotildees muccedilulmanas na

Calaacutebria e submeter os

Lombardos da Apuacutelia agrave

supremacia bizantina

Reinado de Leatildeo VI

886

Agosto Ascensatildeo de Leatildeo

VI ao trono imperial O

seu irmatildeo Alexandre

torna-se co-imperador

Foacutecio eacute deposto do

patriarcado Um irmatildeo

do novo basileuacutes

Estevatildeo substitui Foacutecio

naquele cargo

LXXV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

887

Julgamento de Foacutecio e

Santabarenos Teodoro eacute

cegado e exilado em

Atenas Foacutecio eacute

encerrado num mosteiro

888

Aacutesia Menor Hipsele no

theacutema de Charsianon eacute

capturada por forccedilas

aacuterabes

Ciliacutecia O governador de

Tarso Yazaman captura

quatro navios bizantinos

durante um raide naval

Estreito de Messina

Vitoacuteria naval aacuterabe sobre

uma frota bizantina nas

imediaccedilotildees de Milazzo

Saque posterior de Reacutegio

Leatildeo VI redige um

Epitaphios dos pais

889

Bulgaacuteria O czar Boris

abdica e entrega o trono

ao filho Vladimir

Estreito de Messina um

almirante bizantino derrota

a frota muccedilulmana que

vencera em Milazzo e

consegue repor o controlo

sobre o estreito

890

Provenccedila Fixaccedilatildeo de um

enclave muccedilulmano de

piratas em Saint Tropez

que perduraraacute ateacute 972

LXXVI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

891

Itaacutelia Guido de Espoleto

eacute coroado Imperador pelo

Papa Estevatildeo VI

Ciliacutecia Yazaman ataca

Salandu uma cidade

costeira na Ciliacutecia

ocidental

Itaacutelia O strategos

Symbatikios conquista a

cidade lombarda de

Benevento a 18 de

outubro

Mar Egeu A ilha de

Samos eacute atacada por

saqueadores aacuterabes

liderados por Leatildeo o

Tripolitano e Damiano583

892-

897

Ciliacutecia Novo periacuteodo de

ocupaccedilatildeo tuluacutenida

892

Itaacutelia Formaccedilatildeo do tema

da Lombardia sediado em

Benevento

893

Bulgaacuteria Boacuteris depotildee

Vladimir e substitui-o por

outro filho Simeatildeo

Substituiccedilatildeo da capital

buacutelgara passa de Priska

para Preslav

A transferecircncia do

mercado buacutelgaro de

Constantinopla para

Tessaloacutenica suscita o iniacutecio

de uma guerra entre Leatildeo

VI e Simeatildeo no ano

seguinte

O patriarca Estevatildeo

morre Antoacutenio Caulias eacute

escolhido para o

substituir

Bulgaacuteria Simeatildeo

envolve-se na traduccedilatildeo

de textos biacuteblicos do

Grego para o Eslaacutevico

583 Shaun Tougher indica que este ataque ter-se-aacute realizado entre 891 e 893

LXXVII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

894

Iniacutecio da guerra entre Leatildeo

VI e Simeatildeo

Itaacutelia O strategos

Barsaacutequio muda a capital

do tema da Lombardia

para Bari Esta decisatildeo eacute

tomada devido ao grande

sentimento de hostilidade

por parte dos habitantes da

cidade de Benevento

895

Apoacutes os desaires do ano

anterior Leatildeo VI inicia

uma contraofensiva

terrestre e naval que conta

com o apoio dos Magiares

O questor Konstantinakis eacute

preso durante uma

embaixada a Simeatildeo

Os Magiares invadem a

Bulgaacuteria pelo norte e

obrigam Simeatildeo a

refugiar-se em Moundraga

Com a vitoacuteria bizantina

quase decidida Leatildeo envia

a Moundraga o diplomata

Leatildeo Coirosfactes Leatildeo

ordena aos seus

comandantes o Domeacutestico

Niceacuteforo Focas e o

almirante Eustaacutecio para

retirarem

Apoiado pelos

Pechenegues Simeatildeo

derrota marcadamente os

Magiares

LXXVIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Itaacutelia Os Lombardos

recuperam Benevento

Anatoacutelia dezembro - troca

de prisioneiros

895896

Morte de Teoacutefane Leatildeo

casa-se com a sua amante

Zoeacute Zautzina

896

Os Bizantinos sob a

lideranccedila de Leatildeo

Katakalon satildeo derrotados

na batalha de

Bulgarophygon na Traacutecia

A derrota permite aos

Buacutelgaros saquear toda a

regiatildeo e ateacute ameaccedilar

Constantinopla

Por meio de Leatildeo

Coirosfactes Leatildeo assina a

paz com Simeatildeo pela

resoluccedilatildeo da questatildeo dos

mercados e o

comprometimento do

basileuacutes em pagar um

tributo anual

898

O eunuco Raghib captura e

mata trecircs mil marinheiros

bizantinos e queima os

seus navios

LXXIX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

899900

Morte de Zoeacute Zautzina

Califado O eunuco

Raghib eacute aprisionado pelo

califa al-Mutatid Mais

tarde morreraacute no cativeiro

900

Casamento de Leatildeo com

Eudoacutexia Baineacute

Ciliacutecia Os navios usados

pelos saqueadores aacuterabes

de Tarso satildeo queimados agraves

ordens do califa Forccedilas

bizantinas chegam ao

portatildeo Qalamya de Tarso

derrotando e capturando o

emir pouco depois durante

uma surtida

Leatildeo VI e Antoacutenio

reconciliam a Igreja e um

grupo de opositores a

Foacutecio

901

Morte da basiacutelissa e do

seu filho durante o parto

Itaacutelia 10 de julho - O

Emirado Aglaacutebida toma e

saqueia Reacutegio

Tessaacutelia Leatildeo o

Tripolitano e Damiano

capturam Demeacutetrias

Bulgaacuteria Embaixada de

Leatildeo Coirosfactes com o

objetivo de persuadir

Simeatildeo a devolver trinta

fortalezas na regiatildeo de

Dirraacutequio

Ciliacutecia Um exeacutercito

bizantino ataca Kaysum e

captura alegadamente

cerca de quinze mil

muccedilulmanos

LXXX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

902

Mar Egeu Ataque aacuterabe agrave

ilha de Lemnos no Egeu

Norte584

Siciacutelia Queda de

Taormina frente ao emir

Ibrahim II Fim da

presenccedila bizantina na

Siciacutelia

Itaacutelia Cerco de Cosenza

por Ibrahim II O emir

morre durante o cerco e o

seu exeacutercito desbanda

904

Himeacuterio eacute escolhido para

substituir Eustaacutecio como

almirante

Tessaloacutenica julho ndash

Depois de obrigarem o

Drungaacuterio da Frota

Eustaacutecio a retirar Leatildeo e

Damiano atacam e

saqueiam a segunda maior

cidade do Impeacuterio As

baixas bizantinas585

chegam aos mil homens

incluindo o strategos Leatildeo

Katzilakios que eacute

capturado pelo seu

homoacutenimo pirata

A libertaccedilatildeo da cidade eacute

comprada a Leatildeo o

Tripolitano atraveacutes de um

tributo que estava a ser

levado para a Bulgaacuteria

584 Ou 903 585 Entre mortos e prisioneiros de guerra

LXXXI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

904

(cont)

Bulgaacuteria Coirosfactes eacute

enviado para evitar que

Simeatildeo aproveitasse o

ataque aacuterabe a Tessaloacutenica

para conquistar a cidade

Ciliacutecia Saque de Hadat

Novembro ndash Androacutenico

Ducas vence uma batalha

junto a Maras

905

Leatildeo VI e uma amante

Zoeacute Carbonopsina tecircm

um filho o futuro

Constantino VI

Revolta de Androacutenico

Ducas A rebeliatildeo eacute

derrotada nesse ano apoacutes

uma pequena escaramuccedila e

o general revoltoso foge

para territoacuterio aacuterabe

Egipto Um exeacutercito

enviado pelo califa al-

Muktafi potildee fim ao

emirato tuluacutenida e coloca

a regiatildeo sob o controlo

direto dos Abaacutessidas

906

906

(cont)

Constantino eacute batizado e

declarado herdeiro Leatildeo

casa com Zoeacute

Importante vitoacuteria naval

bizantina durante a

contraofensiva levada a

cabo por Himeacuterio no dia

de Satildeo Tomeacute (6 de

outubro)

Siacuteria Saque bizantino de

Qurus nos arredores de

Aleppo

Leatildeo VI eacute excomungado

por ter casado pela quarta

vez

Bulgaacuteria Constantino

bispo de Preslav e

disciacutepulo de Metoacutedio

traduz os sermotildees de

Atanaacutesio de Alexandria

LXXXII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

907

Ataque de Olev de Kiev a

Constantinopla

O synkellos Eutiacutemio

ascende ao patriarcado

apoacutes a deposiccedilatildeo do

patriarca Nicolau que se

opotildee ao quarto

casamento do imperador

Um siacutenodo que reuacutene

representantes das cinco

sedes da Pentarquia

perdoa Leatildeo VI

909

Constantinopla O

priacutencipe Atenolfo I de

Caacutepua e Benevento envia o

seu filho primogeacutenito agrave

capital bizantina para pedir

ajuda militar a Leatildeo VI

para fazer frente agraves

depredaccedilotildees dos

Sarracenos sediados em

Garigliano

Siacuteria 20 de Setembro ndash

Iniacutecio de uma incursatildeo

naval bizantina na costa

siacuteria que conquista as

fortalezsa de al-Qubba e

Laodiceia

910

Levante Ataques de

Himeacuterios no Levante e na

ilha de Chipre

911

Chipre586 Como

represaacutelia por um ataque

de Himeacuterio agrave populaccedilatildeo

muccedilulmana da ilha

586 Ou 912

LXXXIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

911

(cont)

Damiano ataca os

habitantes bizantinos da

ilha capturando alguns

destes

Creta A tentativa de

reconquistar a ilha numa

campanha lanccedilada por

Leatildeo VI acaba numa

derrota das forccedilas

bizantinas lideradas por

Himeacuterio agraves matildeos de Leatildeo

o Tripolitano e Damiano

912

Morte de Leatildeo VI em

Constantinopla Eacute

substituiacutedo pelo irmatildeo

Alexandre

Chios Aniquilaccedilatildeo da

frota de Himeacuterio

Apoacutes a morte de Leatildeo

VI realiza-se o siacutenodo de

Magnaura que depotildee

Eutiacutemio e repotildee Nicolau

Reinado de Alexandre

912

Apoacutes a morte de Leatildeo VI

realiza-se o siacutenodo de

Magnaura que depotildee

Eutiacutemio e repotildee Nicolau

913

Morte de Alexandre

ldquoAscensatildeordquo do filho de

Leatildeo VI Constantino VII

com a regecircncia do

patriarca Nicolau

Bulgaacuteria Apoacutes Alexandre

se recusar a pagar o

habitual tributo a Simeatildeo

a guerra entre as duas

potecircncias eacute renovada

LXXXIV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Reinado de Constantino VII

914

Zoeacute Carbonopsina e Leatildeo

Focas depotildeem Nicolau da

regecircncia

915

Itaacutelia O papa Joatildeo X

funda uma liga cristatilde que

une a maior parte das

potecircncias do sul de Itaacutelia

contra Garagliano

incluindo um conjunto de

forccedilas bizantinas sob o

comando de Nicolau

Picingli o strategoacutes de

Bari Depois de um cerco

de trecircs meses os

Muccedilulmanos satildeo

derrotados quando tentam

abandonar as fortificaccedilotildees

917

Traacutecia Batalha de

Acheloos ndash O czar Simeatildeo

derrota Leatildeo Focas

decisivamente o Impeacuterio

da Bulgaacuteria expande-se

pela Traacutecia

919

O droungaacuterios tou

ploiumlmon Romano

Lecapeno encerra Zoeacute

Carbonopsina num

mosteiro e torna-se no

primeiro coimperador

macedoacutenico

LXXXV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

923

Lemnos O patriacutecio Joatildeo

Radenes derrota Leatildeo o

Tripolita que teraacute morrido

no combate

924

Aacutesia Menor Morte de

Damiano durante o cerco a

Strobilos no theacutema dos

Kibirrhaiotai

Simeatildeo da Bulgaacuteria cerca

Constantinopla que eacute

defendida por Romano I

Lecapeno

927

Bulgaacuteria Morte do Czar

Simeatildeo potildee fim agraves suas

ambiccedilotildees de criar um

impeacuterio bizantino-

buacutelgaro

LXXXVI

Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees

a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados

lsquoAbd al-Malik (seacuteculos VII-VIII dC) ndash Califa omiacuteada entre 685-705 e um dos

participantes principais na Segunda Fitna que acabou por vencer em 692 Em relaccedilatildeo a

Bizacircncio assina em 688 um tratado com Justiniano que declara a ilha de Chipre como

territoacuterio bipartido Quando morre o califado torna-se um impeacuterio burocraacutetico centralizado

escorado sobre o exeacutercito da Siacuteria587

lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que

teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso

Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid

comeccedilara a ganhar

Alp Arslan (seacuteculo XI dC) ndash Sultatildeo seljuacutecida que derrotou o co-imperador Romano

IV Diogenes na batalha de Manzikert em 1071 Foi assassinado no ano seguinte por um

rebelde coraacutesmio

Artavasdo (seacuteculo VIII) ndash Genro de Leatildeo III que ocupou as funccedilotildees kouropalaacutetēs e

koacutemes do Opsikiacuteon durante o seu reinado Apoacutes a ascensatildeo ao trono do sobrinho o basileuacutes

Constantino V tenta usurpar o trono com o apoio dos seus homens em 742 Apesar de ter

tomado Constantinopla natildeo logra capturar o imperador que consegue se refugiar em

Amorion No ano seguinte o basileuacutes legiacutetimo regressa com o apoio dos themaacuteta dos

Traceacutesicos e dos Anatolikoacuten e derrota o usurpador que eacute capturado e cegado em conjunto

com o filho A revolta de Artavasdo eacute considerada um dos principais catalisadores para a

formaccedilatildeo dos taacutegmata

Basiacutelio I (seacuteculo IX dC) ndash Basileuacutes que precedeu Leatildeo VI reinando entre 867 e 886

Depois de ter usurpado o trono a Miguel III fundou a dinastia Macedoacutenica Durante o seu

reinado os Bizantinos obtiveram importantes vitoacuterias militares como a reconquista de Bari

no sul de Itaacutelia em 876 ou a vitoacuteria na batalha de Bathys Ryax em 878 um passo decisivo

na derrota da seita pauliciana e para a consolidaccedilatildeo do poder bizantino na Anatoacutelia oriental

587 Vide KENNEDY Hugh (2004) The Prophet and the Age of Caliphs Segunda Ediccedilatildeo Gratilde-Bretanha Pearson

Longman p 103

LXXXVII

Basiacutelio II (seacuteculo X dC) ndash Penuacuteltimo basileuacutes macedoacutenico reinou entre 976 e 1025

Apesar de um iniacutecio de reinado bastante atribulado consegue apoacutes a vitoacuteria sobre os

apoiantes de Bardas Focas na batalha de Abido em 989 encetar vaacuterias campanhas militares

vitoriosas na Bulgaacuteria na Armeacutenia e em Itaacutelia No final do seu reinado o Impeacuterio Romano do

Oriente assiste por um lado agrave recuperaccedilatildeo de muitos territoacuterios de jure bizantinos em

especial os territoacuterios do czar Samuel da Bulgaacuteria e por outro agrave afirmaccedilatildeo da sua

superioridade sobre o Mediterracircnio oriental e os Balcatildes

Constante II (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes bizantino neto de Heraacuteclio que reina entre 641 e

668 Durante o seu principado enfrenta uma das primeiras expediccedilotildees aacuterabes contra

Constantinopla e sofre uma derrota devastadora numa batalha naval na Costa da Liacutecia a

conhecida laquobatalha dos Mastrosraquo Apoacutes vaacuterias tentativas com pouco ou nenhum sucesso de

estabilizar a fronteira oriental e garantir a fidelidade da Armeacutenia viaja para ocidente onde

tenta repor as defesas dessas regiotildees e criar boas bases de apoio fiscal para apoiar o esforccedilo de

guerra e em especial a Marinha Eacute assassinado na Siciacutelia em 668

Constantino I (seacuteculo IV) ndash Imperador romano entre 324-337 Constantino torna-se no

imperador absoluto do Impeacuterio apoacutes a vitoacuteria sob Liciacutenio o Augusto do Oriente na batalha de

Crisoacutepolis em 324 Mais tarde em 330 dC refunda a cidade de Bizacircncio desta feita com o

nome de Constantinopla

Constantino V o Coproacutenimo (seacuteculo VIII) ndash Basileuacutes entre 741-755 A este imperador

eacute-lhe atribuiacuteda a fundaccedilatildeo dos taacutegmata apoacutes a sua vitoacuteria sobre o conde do Opsikiacuteon

Artavasdo quando este tentou usurpar o poder entre 741-743 Com o apoio deste exeacutercito

central conseguiu conquistar vaacuterios territoacuterios nos Balcatildes e atacar territoacuterio califal

Constantino VII (seacuteculo X) ndash Terceiro Basileuacutes macedoacutenico reinou entre 913-959

Filho e herdeiro de Leatildeo VI herdou o legado cultural do pai A ele satildeo-lhes atribuiacutedas vaacuterias

obras de renome como o De Ceremoniis (laquoo Livro das Cerimoacuteniasraquo) o De Administrando

Imperii o De Thematibus e o Vita Basilii uma biografia do avocirc bem como um pequeno

tratado sobre a funccedilatildeo e importacircncia do basileuacutes numa expediccedilatildeo militar Durante o seu

reinado e do seu co-imperador Romano I Lecapeno o impeacuterio vai tomando uma postura cada

vez mais ofensiva algo verificaacutevel numa seacuterie de reformas empreendidas e na expansatildeo para

Oriente com destaque para a conquista de Melitene por Joatildeo Curcuas em 934

Cosroeacutes II (seacuteculos VI e VII) ndash Rei do Impeacuterio Sassacircnida em 590 e entre 591-628

Apoacutes o assassinato de Hormisdas seu pai em 590 o jovem Cosroeacutes II foge para a corte do

LXXXVIII

imperador Mauriacutecio em Constantinopla que o ajuda a recuperar o trono um ano depois Apoacutes

a morte do seu protetor em 602 Cosroeacutes invade o Impeacuterio Bizantino naquela que seria a

uacuteltima guerra BizantinoRomano-Persa Apesar de um iniacutecio de guerra bastante bem-

sucedido com a conquista de vastas porccedilotildees de territoacuterio bizantino a mareacute acaba por se virar

contra ele sofrendo vaacuterias derrotas agraves matildeos de Heraacuteclio Eacute deposto e assassinado pelo filho

em 628

Focas (seacuteculo VII) ndash Imperador bizantino entre 602-610 Inicialmente um oficial da

armada do Danuacutebio Focas eacute declarado imperador pelo seu exeacutercito em 602 apoacutes mais uma

tentativa falhada de Mauriacutecio de reduzir custos nas despesas do exeacutercito atacando

posteriormente Constantinopla onde depotildee e assassina Mauriacutecio Apoacutes oito anos de um

reinado bastante fraco onde para aleacutem da instabilidade interna causada pela sua falta de

legitimidade se viu frente-a-frente com uma guerra com o Impeacuterio Persa Sassacircnida e novas

invasotildees Aacutevaro-Eslavas acaba deposto e morto por Heraacuteclio em 610

Harun al-Rashid (seacuteculos VIII-IX) ndash Califa abaacutessida entre 786-809 Considerado um

dos grandes califas muccedilulmanos Harun al-Rashid conduziu vaacuterias campanhas com sucesso agrave

Aacutesia Menor obrigando Bizacircncio a pagar um pesado tributo Quando morre tem iniacutecio a

Quarta Fitna entre os seus filhos al-Amin e Al-Mamun conflito que permite ao Impeacuterio

Bizantino ter algum descanso na fronteira oriental e concentrar-se na (tentativa) de

erradicaccedilatildeo do Impeacuterio Buacutelgaro que termina em fracasso no ano de 811 com a morte de

Niceacuteforo I

Heraacuteclio (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes entre 610-640 Apoacutes ter deposto Focas em 610

Heraacuteclio consegue lentamente virar a mareacute da guerra contra os Persas e os Aacutevaros

Finalmente vitorioso em 628 Heraacuteclio consegue governar em paz ateacute 633 quando comeccedilam

os primeiros confrontos com o Califado Rashidun Apoacutes a derrota na batalha de Yarmouk em

636 Heraacuteclio abandona a Siacuteria-Palestina para fortalecer as defesas da Aacutesia Menor Quando

morre em 641 forccedilas califais sob Amr ibn lsquoal-Aas jaacute tinham conquistado alguns territoacuterios

romanos no Egipto

Joatildeo I Zimisce (seacuteculo X) ndash co-imperador bizantino entre 969 e 976 ascende ao trono

apoacutes assassinar o tio o co-imperador Niceacuteforo II Focas Apoacutes derrotar o priacutencipe russo

Svyatoslav em 971 nas batalhas de Dorostolon empreende uma seacuterie de campanhas na Siacuteria-

Palestina que expandem o territoacuterio imperial naquela regiatildeo Antes de morrer pretenderia

reconquistar Jerusaleacutem aos Fatiacutemidas

LXXXIX

Justiniano (seacuteculo VI) ndash Imperador bizantino entre 527-565 Possivelmente o mais

conhecido imperador bizantino Foi durante o principado deste augusto que o Impeacuterio

Romano do Oriente conquistou um grande nuacutemero de territoacuterios sob a alccedilada de

emblemaacuteticos generais como Belisaacuterio e Narseacutes que antes pertenciam ao Impeacuterio Romano do

Ocidente Norte de Aacutefrica Itaacutelia e uma boa parte do sul da Peniacutensula Ibeacuterica Para aleacutem desta

importante obra militar deixou ainda um legado juriacutedico relevante (com a redaccedilatildeo de uma

compilaccedilatildeo de leis denominada Corpus Iuris Iulianos) e de obras puacuteblicas como a Hagia

Sophia e a basiacutelica de Satildeo Vitalle em Ravenna Os anos finais do seu reinado ficaram

manchados pela peste pelas criacuteticas internas dos senadores e dos grandes intelectuais bem

como pelas controveacutersias eclesiaacutesticas Apesar disto agrave sua morte em 565 o Impeacuterio

Bizantino tinha atingido a sua maior extensatildeo

Justiniano II (seacuteculo VII e VIII) ndash Basileuacutes bizantino de 685 a 695 e de 705 a 711

Apesar de ter um iniacutecio de reinado algo bem-sucedido (com a conquista de territoacuterio nos

Balcatildes e uma treacutegua favoraacutevel com o califado) a derrota em Sebastoacutepolis em 693 e uma

seacuterie de conflitos com o papado e o califado vatildeo provocar um golpe de estado que o depotildee

sendo substituiacutedo por Leocircncio Dez anos apoacutes estes acontecimentos em que Bizacircncio perde

definitivamente o Norte de Aacutefrica Justiniano regressa violentamente a Constantinopla com o

apoio do khan Tervel dos Buacutelgaros e consegue recuperar o poder executando Leocircncio e o

basileuacutes Tibeacuterio Apsimar no decurso do seu regresso ao trono Apoacutes um segundo principado

cruel protagonizado pela perseguiccedilatildeo aos (ou quem ele pensava ser) seus adversaacuterios

poliacuteticos Justiniano II e o filho acabam depostos e executados pondo fim agrave dinastia

Heracliana

Leatildeo III (seacuteculo VIII) ndash Suserano bizantino entre 717 e 741 Leatildeo ascendeu ao trono

pouco antes do uacuteltimo cerco aacuterabe a Constantinopla com a deposiccedilatildeo de Teodoacutesio III pelo

theacutema dos Anatoacutelicos Entre os principais eventos do seu reinado estatildeo a derrota do cerco

aacuterabe a Constantinopla de 717-718 com recurso agrave frota agrave diplomacia agrave guerra de guerrilha e

agraves muralhas de Teodoacutesio o iniacutecio da questatildeo iconoclaacutestica que iria dividir de maior ou

menor forma a sociedade bizantina durante mais ou menos um seacuteculo ateacute ao reinado de

Miguel III e a batalha de Akroinos em 740 que se demonstra um ponto marcante no conflito

entre Aacuterabes e Bizantinos pois depois desta os primeiros nunca mais tentariam conquistar a

capital do adversaacuterio e a guerra de formal geral circunscrever-se-ia a expediccedilotildees de saque e

contra-raides

XC

Leatildeo VI (seacuteculos IX-X) ndash segundo basileuacutes Macedoacutenico reina entre 886 e 912 Apesar

de natildeo ter exercido comando dos seus exeacutercitos o seu principado encontra-se caracterizado

por episoacutedios beacutelicos marcantes como a guerra buacutelgara com Simeatildeo (894-896) a perda

definitiva da Siciacutelia com a queda de Taormina (902) e o saque de Tessaloacutenica por Leatildeo o

Tripolitano e Damiano Apesar destes desaires o impeacuterio consegue vencer noutras frentes e

impor a sua supremacia no sul de Itaacutelia e ateacute expandir o territoacuterio imperial para Oriente Eacute o

autor de dois tratados militares o Problemaacuteta e o Taktikaacute e promulgou a publicaccedilatildeo de um

novo coacutedigo de leis em continuaccedilatildeo do trabalho do pai denominado Basilica

Mauriacutecio (seacuteculos VI-VII) ndash Imperador bizantino entre 582 e 602 Ficou conhecido

por participar na guerra civil no seu mais poderoso vizinho a Peacutersia Sassacircnida onde

contribuiu para recolocar no trono o soberano legiacutetimo Cosroeacutes II pelas campanhas

vitoriosas nos Balcatildes e pela escrita de um dos mais importantes tratados militares bizantinos

o Stratēgikoacuten Apesar destes sucessos antes de conseguir confrontar a ameaccedila lombarda em

Itaacutelia eacute assassinado em conjunto com a famiacutelia pelas tropas da fronteira do Danuacutebio apoacutes

lhes ordenar que se guarnecessem para laacute daquele rio durante o inverno Eacute substituiacutedo por

Focas

Miguel III (seacuteculo IX) ndash Basileuacutes entre 842 e 867 Durante o seu principado as forccedilas

bizantinas derrotam as forccedilas muccedilulmanas dos emirados de Tarso e Melitene que permitem

estabilizar o balanccedilo de poderes na fronteira Eacute deposto e morto pelo parakoimṓmenos

Basiacutelio que o sucede como Basiacutelio I Seraacute sepultado dignamente durante o reinado de Leatildeo

VI

Muawiyia (seacuteculo VII) ndash Primeiro califa omiacuteada reina entre 661 e 680 Inicialmente

apenas governador de Damasco consegue tornar-se califa apoacutes a vitoacuteria na Primeira Fitna

(656-661) Foi um dos principais impulsionadores da criaccedilatildeo de uma marinha de guerra aacuterabe

comandou vaacuterias campanhas contra Bizacircncio e conseguiu cercar a capital bizantina em 674

Niceacuteforo I (seacuteculos VIII-IX) ndash Inicialmente logoacuteteta das financcedilas de Irene (797-802)

torna-se basileuacutes em 802 reinando ateacute 811 Durante o seu principado o Impeacuterio Bizantino

reafirmou o seu poderio na Greacutecia e nos Balcatildes Eacute considerado um dos fundadores dos

themaacuteta que teratildeo sido criados no seio de um conjunto de reformas fiscais implementadas por

ele Morre na batalha de Priska na Bulgaacuteria contra o khan Krum em 811

Niceacuteforo II Focas (seacuteculo X) ndash Domestikoacutes do Oriente de Romano II torna-se co-

imperador agrave morte deste e reina entre 963-969 Tem a cargo dele uma seacuterie de sucessos

XCI

bizantinos na regiatildeo da Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria onde destroacutei o poder dos Hamdacircnidas e

conquista Antioquia Antes de ser co-imperador logra conquistar a ilha de Creta em 961

Niceacuteforo II eacute considerado como um dos grandes organizadores militares bizantinos e satildeo-lhe

atribuiacutedos trecircs tratados militares o Praecepta Militaria sobre os novos exeacutercitos de

campanha bizantinos o De velitatione bellica sobre a guerra de guerrilha e um tratado sobre

a guerra na Bulgaacuteria

Romano IV Diogenes (seacuteculo XI) ndash Co-imperador bizantino entre 1068 e 1071 Foi um

experiente comandante militar que tentou reverter os reveses bizantinos frente aos

Turcomanos Eacute derrotado por Alp Arslan na batalha de Manzikert no seio de uma campanha

em que tentava repor uma linha defensiva na Armeacutenia Mais tarde eacute derrotado pela famiacutelia

dos Ducas cegado e encerrado num mosteiro onde viria a morrer em 1072

Sayf al-Daulah (seacuteculo X) ndash Emir hamdacircnida de Alepo entre 944 e 967 Ao longo do

seu reinado foi o inimigo mais energeacutetico de Bizacircncio e tentou desarticular o sistema

defensivo romano no limes oriental Durante a primeira metade do seu principado consegue

conduzir raides de grandes dimensotildees ao interior de territoacuterio bizantino mas apoacutes a ascensatildeo

de Niceacuteforo Focas ao cargo de domestikoacutes em 957 vecirc-se cada vez mais colocado na

defensiva Nos anos anteriores agrave sua morte vai ver o seu territoacuterio cada vez mais reduzido

com as perdas da Ciliacutecia e de Antioquia e com a cidade de Alepo (apesar de a cidadela ter

resistido) tomada e saqueada

Simeatildeo (seacuteculo X) ndash Czar buacutelgaro entre 893 e 927 Eacute um dos primeiros governantes

cristatildeos da Bulgaacuteria e dedicou-se agrave traduccedilatildeo de textos religiosos Em termos militares travou

duros combates com forccedilas bizantinas tendo-as derrotado em vaacuterias ocasiotildees como em

Bulgarophygon (896) e Acheloos (917) Tinha o sonho de conseguir criar uma dinastia

bizantino-buacutelgara mas natildeo o conseguiu realizar

XCII

b) Tratadistas e cronistas

Aeliano (seacuteculo II dC) ndash Autor grego que escreveu um importante tratado militar

chamado Περὶ Στρατηγικῶν Τάξεων Ἑλληνικῶν (laquoSobre os dispositivos taacuteticos gregosraquo) o

qual se debruccedilava sobre o exeacutercito e a forma de fazer guerra nos Estados dos Diadochii e que

teve grande influecircncia na escrita do Taktikaacute e na Idade Moderna

Arriano (seacuteculo III dC) ndash Historiador e tratadista grego eacute considerado por Alphonse

Dain como o personagem de primeiro plano entre todos os tratadistas da Antiguidade588

Redigiu vaacuterias obras ilustres como o Anabasis Alexandri que relata as campanhas do rei

macedoacutenico o Ars Tactica um importante manual de taacuteticas que descreve de forma

ambivalente as taacuteticas militares macedoacutenicas e romanas e ainda o Ἔκταξις κατὰ Ἀλανῶν (ldquoA

ordem de batalha contra os Alanosrdquo)

ldquoHeacuteron de Bizacircnciordquo (seacuteculo X) ndash Autor anoacutenimo de dois tratados militares bizantinos

sobre poliorceacutetica o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia

Leatildeo o Diaacutecono (seacuteculo X) ndash monge bizantino que escreveu a Histoacuteria que relata os

reinados e as campanhas de Niceacuteforo II Focas e Joatildeo I Tzimiskeacute

Onasandro (seacuteculo I dC) ndash filoacutesofo grego oriundo da ilha de Chipre que escreveu

um dos mais importantes tratados militares da Antiguidade o Στρατηγικός (Strategikoacutes) Esta

obra eacute uma das principais influecircncias de tratados como o Stratēgikoacuten e o Taktikaacute

Siriano magistros (seacuteculo VI IX dC) ndash autor anoacutenimo de trecircs tratados militares

bizantinos o Periacute Strateacutegias um manual militar o Naumachiacuteai obra que discute aspetos de

guerra naval e o Rhetorica Militaris que visa aspetos de oratoacuteria da arte beacutelica

588 Vide DAIN Alphonse (1967) Les strateacutegistes byzantins In Travaux et Meacutemoires 2 p331

XCIII

c) Outras personagens relevantes

lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que

teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso

Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid

comeccedilara a ganhar

Khalid ibn al-Walid (seacuteculo VII) ndash Experiente comandante aacuterabe em vaacuterios

confrontos como a batalha de Yarmuk Eacute considerado um dos principais responsaacuteveis pela

conquista muccedilulmana da Siacuteria-Palestina

Narseacutes (seacuteculo VI) ndash Um dos generais a par de Belisaacuterio mais importantes de

Justiniano durante as chamadas Guerras Goacuteticas Apoacutes a vitoacuteria em Mons Lactarius que potildee

fim ao reino dos Ostrogodos enfrenta e derrota uma coligaccedilatildeo de Francos e Alamanos na

batalha do rio Volturno em 554 onde acaba de consolidar a reconquista romana da Peniacutensula

Itaacutelica

Saporios (seacuteculo VII) ndash strategoacutes da divisatildeo do Armeniakon que se aliou a lsquoAbd al-

Rahman ibn al-Walid durante as suas campanhas na Aacutesia Menor permitindo a invasatildeo da

Aacutesia Menor pelos Omiacuteadas Depois da sua morte em 667 o Armeniakon volta para o lado de

Bizacircncio

XCIV

d) Dinastias

Aglaacutebidas Dinastia muccedilulmana da Tuniacutesia entre 800 e 909 sediada em Kairouan na

Tuniacutesia Em 827 invadem a Siciacutelia e terminam a conquista desta com a tomada de Taormina

em 902

Amoriana Dinastia bizantina que governou entre 820 e 867 Durante o periacuteodo em que

esta governou verificou-se uma estabilizaccedilatildeo da fronteira oriental graccedilas agrave criaccedilatildeo das

kleisoucircrarchiai e ao fim definitivo da questatildeo iconoclaacutestica

Hamdacircnidas Dinastia muccedilulmana do Norte da Siacuteria que atingiu o seu expoente

maacuteximo no reinado de Sayf al-Dawlah governando a Mesopotacircmia e a Ciliacutecia a partir de

Alepo

Macedoacutenica Uma das mais ilustres dinastias bizantinas governa o impeacuterio desde a

usurpaccedilatildeo de Basiacutelio I em 867 ateacute agrave morte de Teodora em 1056 Durante o seu reinado

Bizacircncio atinge a sua maior extensatildeo desde Mauriacutecio e consolida-se como a maior potecircncia

do Mediterracircneo oriental

Tuluacutenidas Dinastia muccedilulmana do Egipto entre 868 e 905

XCV

e) Organizaccedilotildees e unidades militares

Excubitores ndash contingente dos taacutegmata resultou da reorganizaccedilatildeo do regimento da

guarda imperial do mesmo nome obtendo novamente funcionalidade militar No campo de

batalha funcionavam taticamente como cavalaria

Hetaireia ndash contingente dos taacutegmata que reunia em si soldados de outras

nacionalidades como Khazars Inicialmente tratar-se-ia apenas de uma divisatildeo da Vigla

(Noumera) mas tornaram-se num corpo militar independente durante o reinado de Miguel II

Hikanatocirci ndash divisatildeo de cavalaria dos taacutegmata formada por Niceacuteforo I Era constituiacuteda

pelos filhos dos archontes da capital tendo sido criada para esse propoacutesito de forma a servir o

filho do basileuacutes Staurakios

Vigla ndash unidade da guarda imperial formada pela basilissa Irene por volta de 780 Era

composta por cavalaria

Noumera ndash Regimento dos taacutegmata que servia como guarniccedilatildeo permanente de

Constantinopla sendo por essa razatildeo constituiacutedo por infantaria

Opsikiacuteon ndash comando militar bizantino que desempenhava as funccedilotildees de guarniccedilatildeo de

Constantinopla e de exeacutercito pessoal do basileuacutes Perdeu muita da sua importacircncia apoacutes a

revolta falhada de Artavasdo em 743 tendo os taacutegmata ocupado as suas funccedilotildees

Optimates ndash regimento dos taacutegmata que se encontrava encarregue da logiacutestica

Scholaiacute ndash um dos contingentes mais importantes dos taacutegmata foi o resultado da

remilitarizaccedilatildeo do regimento da guarda imperial com o mesmo nome Militarmente eram

constituiacutedos por cavalaria O seu oficial maacuteximo era o domestikoacutes Scholae que acabaria por se

tornar no comandante maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos depois do basileuacutes

XCVI

Anexos V ndash Listas de Titulares

a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca

meacutedio-bizantina (582-1204)

Dinastia Justiniana

582-602 ndash Mauriacutecio Tibeacuterio

Natildeo Dinaacutestico

602-610 ndash Focas

Dinastia Heracliana

610-641 ndash Heraacuteclio

641 ndash Constantino III Heraacuteclio

641- Heraclonas

regecircncia de Martina

641-668 ndash Constante II

668-685 ndash Constantino IV

685-695 ndash Justiniano II

695-698 ndash Leocircncio

698-705 ndash Tibeacuterio II Absimaro

705-711 ndash Justiniano II (2ordm principado)

Natildeo Dinaacutesticos

711-713 ndash Filipico Bardaneacutes

713-715 ndash Anastaacutecio II

715-717 ndash Teodoacutesio III

XCVII

Dinastia Isauriana

717-741 ndash Leatildeo III ldquoO Isaurianordquo

741-775 ndash Constantino V ldquoO Coproacutenimordquo

775-780 ndash Leatildeo IV

780-797 ndash Constantino VI (regecircncia de Irene)

797-802 ndash Irene ldquoA Atenienserdquo

Natildeo Dinaacutestico

802-811 ndash Niceacuteforo I

811 ndash Staurakios

811-813 ndash Miguel I Rangabeacute

813-820 ndash Leatildeo V ldquoO Armeacuteniordquo

Dinastia Amoriana

820-829 ndash Miguel II ldquoO Amorianordquo

829-842 ndash Teoacutefilo

842-867 ndash Miguel III

842-856 ndash Regecircncia de Teodora

XCVIII

Dinastia Macedoacutenica

867-886 ndash Basiacutelio I O Macedoacutenico

886-912 ndash Leatildeo VI O Saacutebio

912-913 ndash Alexandre

913-959 ndash Constantino VII Porfirogeneta

913-914 ndash Regecircncia de Nicolau Miacutestico

914-920 ndash Regecircncia de Zoe Carbonopsina

920-944 ndash Co-imperador Romano I Lecapeno

959-963 ndash Romano II Porfirogeneta

963-1025 ndash Basiacutelio II Boulgaroktoacutenos (o exterminador de Buacutelgaros)

963 ndash Regecircncia de Teoacutefane

963-969 ndash Co-imperador Niceacuteforo II Focas

969-976 ndash Co-imperador Joatildeo I Zimisce

1025-1028 ndash Constantino VIII Porfirogeneta

1028-1034 ndash Romano III Argiro

1034-1041 ndash Miguel IV ldquoO Paflagoacutenicordquo

1041-1042 ndash Miguel V ldquoO Calafaterdquo

1042 ndash Zoeacute

1042-1055 ndash Constantino IX Monoacutemaco

1055-1056 ndash Teodora

Natildeo Dinaacutestico

1056-1057 ndash Miguel VI Bringas

Dinastia Comnena

1057-1059 ndash Isaac I Comneno

XCIX

Dinastia Ducas

1059-1067 ndash Constantino X Ducas

1067-1078 ndash Miguel VII Ducas

1067-1068 - Regecircncia de Eudoacutexia

1068-1071 - Co-imperador Romano IV Dioacutegenes

Natildeo-dinaacutestico

1078-1081 ndash Niceacuteforo III Botaniate

Dinastia Comnena

1081-1118 ndash Aleixo I Comneno

1118-1143 ndash Joatildeo II Comneno

1143-1180 ndash Manuel I Comneno

1180-1183 ndash Aleixo II Comneno

1183-1185 ndash Androacutenico I Comneno

Dinastia Acircngelo (dos Anjos)

1185-1195 ndash Isaac II Anjo

1195-1203 ndash Aleixo III

1204 ndash Aleixo IV

1204 ndash Aleixo V Ducas Murzuflo

C

b) Califas Aacuterabes

Califas Rashidun Califas Abaacutessidas

632-634 ndash Abu-Bakr

634-644 ndash Omar

644-656 ndash Uthman

656-661 ndash Ali

750-754 ndash Al-Saffah

754-775 ndash Al-Mansur

775-785 ndash Al-Mahdi

785-786 ndash Al-Hadi

786-809 ndash Harun al-Rashid

809-813 ndash Al-Amin

813-833 ndash Al-Mamun

833-842 ndash Al-Mutasim

842-847 ndash Al-Wathiq

847-861 - Al-Mutawakill

861-862 ndash Al-Muntasir

862-866 ndash Al-Mustarsquoin

866-869 ndash Al-Mursquotazz

869-870 ndash Al-Mutahdi

870-892 ndash Al-Mursquotamid

892-902 ndash Al-Mursquotadid

902-908 ndash Al-Muktafi

908-932 ndash Al-Muqtadir

932-934 ndash Al-Qahir

934-940 ndash Al-Radi

940-944 ndash Al-Muttaqi

944-946 ndash Al-Mustakfi

946-974 ndash Al-Muti

974-991 ndash Al-Tarsquoi

991-1031 ndash Al-Qadir

1031-1075 ndash Al-Qarsquoim

Califas Omiacuteadas 661-680 ndash Muawiyia I

680-683 ndash Yazicircd I

683-684 - Muawiya II

684-685 ndash Marwan I

685-705 ndash Abd al-Malik

705-715 - Al-Walid I

715-720 ndash Sulayman

720-724 - Yazicircd II

724-743 ndash Hisham

743-744 ndash Al-Walid II

744-750 ndash Marwan II

CI

c) Outros governantes aacuterabes

Governantes Omiacuteadas do Al-Andalus

Governadores

714-716 ndash lsquoAbd al-lsquoAziz ibn Musa

716 ndash Ayyub ibn Habib al-Lakhmi

717-719 ndash Al-Hurr ibn lsquoAbd al-Rahman al Thaqafi

719-721 ndash lsquoAl-Samh ibn Malik al-Khawlani

721 ndash Abd al-Rahman al-Ghafiqi

721-725 ndash lsquoAnbasa ibn Suhaym al-Kalbi

725-726 ndash lsquoUdhra ibn lsquoAbd Allah al-Fihri

726-728 ndash Yahya ibn Salama al-Kalbi

728-729 ndash Hudhayfa ibn al-Ahwas al-Qaysi

729 ndash lsquoUthman ibn Abi Nasr al-Khathrsquoami

729-730 ndash Al-Haytham ibn lsquoUbayd al-Kilabi

730 ndash Muhammad ibn lsquoAbd Allah al-Ashja lsquoi

730-732 ndash lsquoAbd al-Rhaman ibn lsquoAbd Allah al-Ghafiqi

732-734 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri

734-740 ndash lsquoUqba ibn al-Hajjaj al-Saluli

740-741 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri

742-743 ndash Tharsquolaba ibn Salama al-lsquoAmili

743-745 ndash Abu al-Qattar al-Husam

745-746 ndash Thawaba ibn Yazid

746-756 ndash Usuf ibn lsquoAbd al-Rahman al-Fihri

Instauraccedilatildeo do Emirato Omiacuteada

822-852 ndash lsquoAbd al-Rahman II

852-886 - Muhammad I

886-888 ndash Al-Mundhir

888-912 ndash lsquoAbd Allah

912-929 ndash lsquoAbd al-Rahman III

lsquoAbd al-Rahman III eacute proclamado califa

Califas Omiacuteadas

929-961 ndash lsquoAbd al-Rahman III

961-976 ndash Al-Hakam II

976-1009 ndash Hisham II

1009 ndash Muhammad II

1010-1013 ndash Hisham II

1013-1018 ndash Sulayman al-Mustarsquoin

1018-1023 ndash lsquoAbd al-Rahman IV al-Murtada

1023-1024 ndash Abd al-Rahman V al-Mustazhir

1024-1027 - Muhammad III al-Mustakfi

1027-1031 ndash Hisham III al-Mursquotadd

Fim da dinastia iniacutecio do primeiro periacuteodo

de reis de taifa

Emires Omiacuteadas

756-788 ndash lsquoAbd al-Rahman I

788-796 ndash Hisham I

796-822 ndash Al-Hakam I

CII

Governantes Almoraacutevidas e Almoacuteadas

Almoraacutevidas (emires) Almoacuteadas (califas)

Primeiro periacuteodo dos reinos de taifa

1061-1106 ndash Yusuf ibn Tashufin

1106-1142 ndash Ali

1143-1145 ndash Tashufin

1146 ndash Ibrahim

1146-1147 ndash Ishaq

1130-1163 ndash lsquoAbd al-Mursquomin

1163-1184 ndash Abu Yarsquoqub Yusuf

1184-1199 ndash Abu-Yusuf Yarsquoqub al-Mansur

1199-1214 ndash Muhammad al-Nasir

Governantes Aglaacutebidas

812-817 ndash lsquoAbd Allah

817-838 ndash Ziyadat Allah I

838-841 ndash Abu lsquoIqal al-Aghlab

841-856 ndash Muḥammad I

856-863 ndash Aḥmad

863 - Ziyadat Allah II

863-875 ndash Abu rsquol-Gharaniq Muḥammad II

875-902 ndash Ibrahim II

902-903 ndash lsquoAbd Allah II

CIII

d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria

739-756 ndash Kormisos

756-ca761 ndash Vinekh

Ca 761-764 ndash Telec

Ca 764-767 ndash Sabin

767 ndash Umar

767-ca769 ndash Toktu

770 ndash Pagan

Ca 770 ndash 777 ndash Telerig

777-ca803 ndash Kardam

Ca 803-813 ndash Krum

814-831 ndash Omurtag

831-836 ndash Malamir

836-852 ndash Presiam

852-889 ndash Boacuteris I

889-893 ndash Vladimir

893-927 ndash Simeatildeo

927-967 ndash Pedro

967-971 ndash Boacuteris II

976-986 ndash Cometopuli Aratildeo Moiseacutes David e Samuel

986-1014 ndash Samuel

1014-1015 ndash Gabriel Radomir

1015-1019 ndash Joatildeo Vladislav

Conquista Bizantina de Basiacutelio II

CIV

e) Priacutencipes de Rus

ndash 945 ndash Igor

945-972 ndash Svyatoslav

972-978 ndash Yaropolk

978-1015 ndash Vladimir I

1015-1019 ndash Svjatopolk

1019-1036 ndash Msistlav

1036-1054 ndash Yaroslav I

1054-1057 ndash Vyacheslav

1057-1060 ndash Igor

1060-1076 ndash Svjatoslav II

1076-1078 ndash Izyaslav

1078-1093 ndash Vsevolod

1093-1113 ndash Svjatopolk II

1113-1115 ndash Oleg

1115-11123 ndash Yaroslav II

1123-1125 ndash Vladimir II

1125-1132 ndash Mstislav-Harald

1132-1139 ndash Yaropolk II

1139-1157 ndash Yuri Dolgoruky

CV

f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia

Reis Lombardos

568-572 ndash Alboim

572-574 ndash Clefo

574-584 - Interregno

584-590 ndash Autari

590-616 ndash Agilolfo

616-626 ndash Adaloaldo

626-636 ndash Arioldo

636-652 ndash Rotaacuterio

652 ndash Rodoaldo

652-661 ndash Ariberto I

661-662 ndash Godeberto Perctarit

662-671 ndash Grimoaldo

671-688 ndash Perctarit

688-700 ndash Cuniperto

700 ndash Liutberto

700-712 ndash Ariberto II

712 ndash Ansprando

713-744 ndash Liutprando

744 ndash Hildebrando

744-749 ndash Ratchis

749-756 ndash Astolfo

756-774 ndash Desideacuterio

CVI

Duques e Priacutencipes (a partir de 774) de Benevento

571-591 ndash Zotto

591-641 ndash Arechis I

641-642 ndash Aio I

642-646 ndash Radoaldo

646-662 ndash Grimoaldo I

662-687 ndash Romoaldo I

687-692 ndash Grimoaldo II

692-706 ndash Gisulfo

706-730 ndash Romoaldo II

730-732 ndash Audelaio

732-739 ndash Gregoacuterio

739-742 ndash Godescalco

742-751 ndash Gisulfo II

751-758 ndash Liutprando

758-787 ndash Arichis II

787-806 ndash Grimoaldo III

806-817 ndash Grimoaldo IV

817-833 ndash Sico

833-839 ndash Sicardo

839-851 ndash Radeacutelchio I

839-849 ndash Siquenolfo

851-853 ndash Radelgar

853-878 ndash Adeacutelchio

878-881 ndash Gaideacuterio

881-884 ndash Radeacutelchio II

884-891 ndash Aio II

891-892 ndash Urso

895-897 ndash Guido IV de Espoleto

897-900 ndash Radeacutelchio II

900-910 ndash Atenolfo I

910-940 ndash Atenolfo II

910-943 ndash Landolfo I

933-943 ndash Atenolfo III

939-961 ndash Landolfo II

959-968969 ndash Landolfo III

961-981 ndash Pandolfo I

96869-982 ndash Landolfo IV

982-1014 ndash Pandolfo II

987-1033 ndash Landolfo V

1011-1060 ndash Pandolfo III

1038-1077 ndash Landolfo VI

1054-1074 ndash Pandolfo IV

Conquista Normanda do Ducado

CVII

Priacutencipes de Salerno Princiacutepes de Caacutepua

853-856 ndash Pedro

856-861 ndash Ademaro

861-880 ndash Guaifer

880-900 ndash Guaimar I

900-946 ndash Guaimar II

946-977 ndash Gisulfo I

977-981 ndash Pandolfo I

981-983 ndash Manso e Joatildeo I

983-989 ndash Joatildeo II

989-1027 ndash Guaimar III

1027-1052 ndash Guaimar IV

1052-1077 ndash Gisulfo II

Conquista Normanda do Principado

887-910 ndash Atenolfo I

910-940 ndash Atenolfo II

910-943 ndash Landolfo I

933-943 ndash Atenolfo III

939-961 ndash Landolfo II

959-968969 ndash Landolfo III

961-981 ndash Pandolfo I

96869-982 ndash Landolfo IV

982-993 ndash Ladenolfo

993-999 ndash Laidolfo

1000-1007 ndash Landolfo V

1007-1022 ndash Pandolfo II

1014-1026 ndash Pandolfo III

1016-1049 ndash Pandolfo IV

1020-1057 ndash Pandolfo V

1022-1026 ndash Pandolfo VI

1047-1058 ndash Landolfo VI

1049-1057 ndash Pandolfo IV

Conquista Normanda do Ducado

CVIII

Duques de Espoleto

580-592 ndash Faroaldo I

592-601 ndash Ariulfo

601-653 ndash Teudelaacutepio

653-663 ndash Ato

663-703 ndash Trasamundo I

703-724 ndash Faroaldo II

724-739 ndash Trasamundo II

739-740 ndash Hilderico

740-742 ndash Trasamundo II

742-744 ndash Agiprando

744-745 ndash Trasamundo II

745-752 ndash Lupo

752-756 ndash Astolfo (rei dos Lombardos)

756-757 ndash Ratchis

757-759 ndash Alboiacuteno

758-759 ndash Desideacuterio (rei dos Lombardos)

758-763 ndash Gisulfo

763-773 ndash Teodiacutesio

774-788 ndash Hildebrando

789-822 ndash Guinisigio I

822-824 ndash Supatildeo I

824 ndash Adelardo

824 ndash Mauringo

824-834 ndash Adeacutelchio I

834-836 ndash Lamberto I de Nantes

836-841 ndash Berengaacuterio de Espoleto

842-860 ndash Guido I de Espoleto

860-871 ndash Lamberto I de Espoleto

871 ndash Supatildeo II

871-874 ndash Supatildeo III

875-880 ndash Lamberto I de Espoleto

880-883 ndash Guido III

883-889 ndash Guido II

889-897 ndash Guido IV

898-922 ndash Alberico

923-928 ndash Bonifaacutecio I

924-928 ndash Pedro

929-936 ndash Teobaldo

937-940 ndash Anscaacuterio II

940-943 ndash Sarleatildeo

943-946 ndash Uberto de Espoleto

946-953 ndash Bonifaacutecio II

953-959 ndash Teobaldo II

959-967 ndash Trasimundo III

966-1001 ndash Conrado de Ivreia

967-981 ndash Pandolfo I Cabeccedila-de-ferro

982-989 ndash Trasimundo IV

999- ndash Ademaro

1003- ndash Romano

1010-1020 ndash Ranieri da Toscacircnia

1020-1035 ndash Hugo II

1036-1043 ndash Hugo III

1043-1056 ndash Controlo do Marquesado da

Toscacircnia

1057-1070 ndash Godofredo III da Lorena

1070-1082 ndash Controlo do Marquesado da

Toscacircnia

CIX

Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico

a) Termos militares e navais

Baacutendon (pl bandaacute) ndash Unidade taacutetica baacutesica de um exeacutercito bizantino De acordo com o

Taktikaacute deveria ter entre 200 a 400 homens

Cheirosiacutefona ndash meio de projetar ou atirar fogo greguecircs Possivelmente um sifatildeo manual

Chelandia ndash Nave de Guerra bizantina que teria esse nome por inicialmente ter

capacidade de transporte de montadas

Comitatenses ndash soldados dos exeacutercitos moacuteveis tardo-romanos

Decarca ndash Comandante de uma decarquia ou de uma fila de soldados

Droacutemōn pl Droacutemōnes ndash designaccedilatildeo geral para os vasos de guerra bizantinos No seacuteculo

X era usado a par da chelandia como o principal termo designativo para os navios de guerra

efetiva

Ekdiacutekoi ndash Tambeacutem chamados de ldquodefensoresrdquo eram os cavaleiros responsaacuteveis por apoiar

os kouacutersores caso estes necessitassem de retirar

Fogo greguecircs ndash Substacircncia inflamaacutevel utilizada como arma pelos Bizantinos

especialmente em contextos navais Apesar de ainda natildeo se conhecer a sua composiccedilatildeo na

totalidade sabe-se que pelo menos contaria com oacuteleo crude e resina nesta Uma das suas

propriedades principais seria a ineficaacutecia da aacutegua em apagar o fogo provocado por este

composto

Fulcrum ndash Dispositivo taacutetico anti-cavalaria Neste as trecircs primeiras fileiras de infantaria

erguiam os escudos e apoiavam as lanccedilas no chatildeo de forma a trespassar o peito dos cavalos

Galea ndash pequeno navio designado essencialmente para funccedilotildees de recolha de informaccedilatildeo

e de reconhecimento

Ghazi ndash Soldado voluntaacuterio religioso muccedilulmano As expediccedilotildees cilicianas em particular

as de veratildeo contavam com muitos guerreiros deste geacutenero

CX

Hypostrategoacutes ndash Comandante da segunda touacuterma de um theacutema e segundo homem com

mais poder do exeacutercito ldquotemaacuteticordquo

Kaballarika themaacuteta ndash Atribuiccedilatildeo dada agraves forccedilas dos themaacuteta por estes serem

constituiacutedos maioritariamente de tropas da cavalaria ligeira

Karagos ndash Recinto defensivo formado in promptu pelas carroccedilas do trem-de-apoio

Keacutentarcos ndash Capitatildeo de um droacutemōn

Kouacutersores ndash Numa formaccedilatildeo de cavalaria eram os soldados responsaacuteveis por carregar e

atacar o inimigo

Kleisocircura pl kleisocircurai ndash Pequenos distritos que serviam para proteger as regiotildees mais

orientais do impeacuterio e garantir a vigia dos desfiladeiros das cordilheiras do Tauro e do

Antitauro contra expediccedilotildees aacuterabes Teratildeo sido criados durante o reinado de Teoacutefilo (829-

842) e na segunda metade do seacuteculo X convertidos em laquopequenos themaacutetaraquo

Klibaacutenion ndash Armadura lamelar

Laisaacute pl Laisacirci ndash Estrutura amoviacutevel leve e de faacutecil construccedilatildeo que servia como abrigo

aos soldados atacantes durante um assalto a uma muralha Tambeacutem podia ser colocada no

topo de uma torre para proteger arqueiros e maacutequinas de guerra de projeacuteteis inimigos

Limitanei ndash soldados dos impeacuterios tardo-romanos que serviam como guarniccedilatildeo de postos

fronteiriccedilos e policiamento nessas regiotildees

Loriacutekia ndash Cota-de-malha

Minsouratores ndash Batedores responsaacuteveis por encontrar um siacutetio para construir um

acampamento

Ouraacutegos ndash soldado que ocupava o final de uma fila podendo ser um tetrarca ou ainda que

com certas suspeitas um pentarca (de acordo com o Taktikaacute)

Pamphylos ndash pequena embarcaccedilatildeo bizantina destinada inicialmente a transportar tropas

mais tarde passou a ser usada como navio de guerra O seu nome proviria da regiatildeo de

CXI

Panfiacutelia ou pelo facto de ser tripulado por uma equipa de indiviacuteduos escolhidos de todo o

impeacuterio589 No Taktikaacute eacute o nome atribuiacutedo ao navio do comandante da frota

Pentarca - Numa decarquia eacute o oficial responsaacutevel por comandar dez homens

Proacutemachos ndash Linha da frente numa formaccedilatildeo em trecircs linhas

Skoutatoacutes pl Skoutatoacutei ndash Soldado de infantaria pesada

Saka ndash Nome de origem aacuterabe utilizado para referenciar a retaguarda de um exeacutercito

bizantino

Sifonaacutetor ndash Numa embarcaccedilatildeo era o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de ldquofogo greguecircsrdquo

Strateiacutea ndash Obrigaccedilatildeo ao serviccedilo militar Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino a sua posse

esteve dividida entre o indiviacuteduo e a propriedade (a partir do seacuteculo X) consoante os

interesses do Estado O serviccedilo militar no entanto natildeo precisava de ser ativo sendo muitas

vezes feito por meio de apoio financeiro e logiacutestico a um soldado A partir dos meados do

seacuteculo X a strateiacutea passa a ser cumprida atraveacutes de comutaccedilatildeo monetaacuteria em vez de serviccedilo

efetivo em campanha de forma ao Estado poder pagar o equipamento dos taacutegmata

fronteiriccedilos e agrave contrataccedilatildeo de mercenaacuterios

Stratioacutetes pl Stratioacutetai ndash Cidadatildeo bizantino que possuiacutea strateiacutea

Stratiotikagrave kteacutemata ndash Terras militares ou ldquoestratioacuteticasrdquo ou seja que tinham imbuiacutedas

nela a strateiacutea Comeccedilam a existir oficialmente apoacutes as reformas de Constantino VII no

seacuteculo X que formalizam a posse de strateiacutea pelo terreno e natildeo pelo indiviacuteduo

Stratiouacutemenos ndash Soldado bizantino cujo equipamento montada e provisotildees eram

fornecidos pela strateiacutea mesmo que este natildeo a tivesse

Taacutegma pl Taacutegmata (contingentes) ndash Organizaccedilotildees das forccedilas militares bizantinas

criadas durante o reinado de Constantino V de forma a garantir a seguranccedila dos basilecircis em

caso de insurreiccedilatildeo de outro corpo militar Foram criadas pela remilitarizaccedilatildeo dos regimentos

das guardas palatinas bizantinas que teriam apenas funccedilotildees cerimoniais neste periacuteodo De

589 O nome da embarcaccedilatildeo ser a junccedilatildeo das palavras ldquoπᾶνrdquo (ldquopanrdquo) que significa todas e ldquoφῦλονrdquo (Lecirc-se

ldquopfiulonrdquo) grupos ou tribos

CXII

forma a garantir a sua lealdade eram extremamente bem pagos e o seu equipamento era

providenciado pelo Estado e bem treinados o que lhes permitiu tornarem-se mais tarde nos

corpos de elite do Impeacuterio Bizantino e assim na coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha

de Constantinopla

Techniacutetai -ndash Oficiais bizantinos especializados em guerra de cerco Entre as suas

valecircncias estatildeo a manobra a construccedilatildeo e a subsistecircncia de maacutequinas de cerco bem como a

construccedilatildeo e manutenecircncia de recintos fortificados

Tetrarca ndash Comandante de quatro homens dentro de uma decarquia podia ser tambeacutem o

ouraacutegos

Theacutema pl Themaacuteta ndash Circunscriccedilotildees territoriais bizantinas e tambeacutem os exeacutercitos nelas

guarnecidos Apesar de uma origem muito discutiacutevel acredita-se agora mais seguramente

que teratildeo sido criadas nos iniacutecios do seacuteculo IX como forma de garantir apoio logiacutestico

melhorado aos strategoacutes ao facilitarem a relaccedilatildeo entre o poder militar e civil atraveacutes de um

oficial o protonotaacuterios Os exeacutercitos dos themaacuteta comeccedilam a perder importacircncia a partir dos

finais do seacuteculo X uma vez que o Estado comeccedila a preferir contratar tropas mercenaacuterias mais

eficientes e assim melhor direcionadas para campanhas ofensivas

laquoThemaacuteta armeacuteniosraquo (ou pequenos themaacuteta) ndash Themaacuteta pequenos criados no limes

oriental durante a segunda metade do seacuteculo X de forma a garantir a proteccedilatildeo de territoacuterios

recentemente conquistados e para garantir a raacutepida mobilizaccedilatildeo de soldados para campanhas

(cada vez mais ofensivas nessas regiotildees) Eram chamados tambeacutem de laquoarmeacuteniosraquo por a maior

parte dos seus soldados serem dessa nacionalidade

Thematikoiacute ndash Soldados dos themaacuteta

Thugucircr ndash Centros urbanos de cariz militar que serviam como base para as expediccedilotildees de

saque bizantinas Os mais importantes eram Tarso Melitene e Antioquia

Touacuterma pl Touacutermai (distrito) ndash divisotildees geograacuteficas dos themaacuteta Em tempos de

campanha um conjunto de soldados desta regiatildeo perfazia uma unidade taacutetica do exeacutercito

ldquotemaacuteticordquo

Touacuterma pl Touacutermai (unidade taacutetica) ndash Unidade taacutetica do exeacutercito bizantino Deveria

possuir entre mil soldados a seis mil (o uacuteltimo valor de acordo com o Taktikaacute)

CXIII

Toxobaliacutestrai ndash Maacutequina de guerra de torccedilatildeo que disparava dardos que eram apelidados

de ldquomoscasrdquo ou ldquoratosrdquo Podia ser colocada na proa de um navio ou em vagotildees para servir de

arma campal

CXIV

b) Tiacutetulos

Autokraacutetor ndash tiacutetulo designativo de governante para Leatildeo VI e Alexandre

Basileuacutes pl Basileicircs ndash tiacutetulo designativo para os governantes de Bizacircncio a partir de

Heraacuteclio (610-641)

Czar ndash tiacutetulo designativo para os imperadores buacutelgaros a partir da conversatildeo daquele

Estado ao Cristianismo em 864

Domestikoacutes ndash Eram os oficiais principais da maior parte dos taacutegmata agrave excepccedilatildeo da Vigla

que tinha um droungaacuterios

Domestikoacutes Scholae ndash Principal comandante militar das forccedilas bizantinas depois do

basileuacutes A partir de Romano I Lecapeno passam a existir dois um para as proviacutencias

ocidentais e outro para as orientais

Droungaacuterios totilden ploiumlmon ndash Almirante da frota imperial sediada em Constantinopla e

que exercia funccedilotildees civis relacionadas com o mar

Kleisouraacutercha ndash O principal oficial de uma kleisocircura

Koacutemes ndash Tiacutetulo que poderia ter vaacuterias atribuiccedilotildees No contexto militar poderia ser um

ajudante do strategoacutes ou o liacuteder de um bandaacute

Koacutemes (do Opsikiacuteon) ndash Oficial maacuteximo do comando militar do Opsikiacuteon

Kouropalaacutetēs - alto dignitaacuterio responsaacutevel pelas construccedilotildees de novas secccedilotildees e

organizaccedilatildeo do palaacutecio imperial inferior na hierarquia apenas ao ceacutesar e ao nobiliacutessimos

Manglabiacutetēs - Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas

portas no palaacutecio

Prōtonotaacuteriosndash principal oficial civil nos themaacuteta que comeccedila a aparecer em fontes do

seacuteculo IX para a frente Estava responsaacutevel natildeo soacute pela coordenaccedilatildeo dos cobradores de

impostos imperiais naquelas circunscriccedilotildees mas tambeacutem pelo aprovisionamento dos exeacutercitos

provinciais bizantinos servindo como principal elo de ligaccedilatildeo entre o strategoacutes e o

logotheacutesion

CXV

Protostraacutetor ndash Oficial responsaacutevel pelos estaacutebulos imperiais

Protovestiaacuterio - Inicialmente oficial responsaacutevel pelo guarda-roupas imperial Nos

seacuteculos IX e X poderia comandar exeacutercitos bizantinos

Spathaacuterios ndash tiacutetulo dignitaacuterio Antes do seacuteculo X era designativo dos guarda-costas do

imperador

Strategoacutes pl Strateacutegoi ndash Oficial maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos ateacute ao seacuteculo IX A

partir desse seacuteculo comeccedila tambeacutem a supervisionar o poder civil a partir de outro oficial o

protonotaacuterio

Turmarca ndash Oficial responsaacutevel por liderar uma touacuterma

CXVI

c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura

Constitutio pl Constitutiones ndash Denominaccedilatildeo dos ldquocapiacutetulosrdquo ou ldquolivrosrdquo do Taktikaacute Eacute

um decreto imperial sob a forma de uma letra pessoal que pretendia informar o recetor de

novas ordens ou instruccedilotildees O Taktikaacute ao estar seccionado neste tipo de documentos

apresenta-se como um conjunto de instruccedilotildees enviadas aos strateacutegoi pelo basileuacutes Leatildeo VI

Dispositio ndash Elemento do modelo tripartido que aborda as medidas a serem tomadas para

resolver certo problema

Epilogus ndash Divisatildeo de um documento legislativo que aborda os conteuacutedos do mesmo

Intitulatio ndash Elemento do modelo tripartido que invoca o nome do imperador e os seus

tiacutetulos

Inscriptio ndash Nome do destinataacuterio da obra legislativa

Invocatio ndash Elemento da primeira parte do modelo tripartido de uma obra legislativa que

invoca a Santa Trindade

Naumachikaacute - Geacutenero de tratadiacutestica antigo-bizantina que explica como praticar guerra

naval

Narratio ndash Secccedilatildeo de um documento legislativo onde eacute retratada a natureza do problema

a ser resolvido

Poliorketikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina descreve meacutetodos e engenhos que

permitem atacar ou defender fortalezas com sucesso

Strategemataacute - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que reporta estratagemas maacuteximas

e erudiccedilotildees militares

Strategikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que apresenta princiacutepios gerais da arte

de comandar

Strategikoacuten ndash Tratado militar bizantino possivelmente redigido pelo imperador Mauriacutecio

(582-602) eacute considerado como um dos mais importantes e influentes manuais militares

bizantinos tendo influenciado vaacuterios tratados posteriores como por exemplo o Taktikaacute

CXVII

Taktikaacute (disciplina) - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que aborda o

posicionamento e a manobra de forccedilas no campo de batalha Este geacutenero define igualmente

terminologias taacuteticas

Taktikaacute (tratado) ndash Tratado militar bizantino escrito por Leatildeo VI (886-912) Eacute

considerado por vaacuterios autores como o tratado inaugural do segundo periacuteodo de produccedilatildeo

tratadiacutestica bizantina (seacuteculos X e XI)

CXVIII

d) Povos

Aacuterabes ndash Povo indiacutegena da Peniacutensula Araacutebica que apoacutes a unificaccedilatildeo sob o profeta

Maomeacute inicia um processo de expansatildeo territorial ao comando dos califas No seguimento da

derrota dos Bizantinos e dos Persas em 636 o Califado torna-se a principal potecircncia poliacutetico-

militar do Proacuteximo e do Meacutedio Oriente estatuto que soacute viraacute a perder no seacuteculo X para os

Bizantinos e para o califado xiita dos Fatiacutemidas

Armeacutenios - Povo oriundo da Armeacutenia uma regiatildeo a sul do Caacuteucaso Satildeo de extrema

relevacircncia para o Impeacuterio Bizantino por terem sido recrutados como mercenaacuterios e auxiliares

para os seus exeacutercitos Como povo autoacutenomo estiveram sempre envolvidos nos jogos

diplomaacuteticos entre Bizacircncio e os Persas Sassacircnidas inicialmente e com os califados aacuterabes

mais tarde que se digladiavam para obter o apoio dos principados daquela regiatildeo

Bizantinos ndash Designaccedilatildeo para os habitantes do Impeacuterio Bizantino durante a sua duraccedilatildeo

na historiografia atual Nas fontes histoacutericas deste ldquopovordquo esta designaccedilatildeo parece ser apenas

usada para os habitantes de Constantinopla No geral e nas suas fontes escritas este povo

designava-se como romano

Buacutelgaros ndash Inicialmente um povo semi-noacutemada da estepe euro-asiaacutetica formaram uma

confederaccedilatildeo com vaacuterios povos eslavos a sul do Danuacutebio e na Traacutecia por volta de 681 Ao

longo da duraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino existiram dois impeacuterios buacutelgaros o primeiro de 681 a

1018 ano da conquista dos uacuteltimos territoacuterios buacutelgaros por Basiacutelio II e o segundo de 1185 a

1386 data da conquista final da Bulgaacuteria pelos Turcos Otomanos

Magiares ndash Povo fino-uacutegrico que habitava na Estepe Euroasiaacutetica que foi a principal

potecircncia diretamente a norte do Danuacutebio na segunda metade do seacuteculo IX Apoacutes a sua

expulsatildeo desses territoacuterios agraves matildeos dos Pechenegues no rescaldo da guerra entre Leatildeo VI e

Simeatildeo da Bulgaacuteria fugiram para a Panoacutenia de onde lanccedilaram os seus raides sobre a Bulgaacuteria

e a Europa Ocidental e onde formariam o reino da Hungria

Lombardos ndash Povo germacircnico que no seacuteculo VI invadiu a Peniacutensula Itaacutelica pouco depois

da reconquista bizantina da mesma Foram a principal potecircncia italiana (quer pelo seu reino

no Norte ou pelos principados independentes do Sul) ateacute agrave conquista do reino da Lombardia

por Carlos Magno no iniacutecio no seacuteculo VIII e agrave chegada dos Aglaacutebidas ao sul de Itaacutelia e

posterior revitalizaccedilatildeo dos interesses bizantinos na peniacutensula nos meados do seacuteculo IX

CXIX

Russos ndash Povos de origem escandinava que durante o seacuteculo IX se confederaram com

povos eslavos que habitavam na zona onde hoje se localiza a Ucracircnia e fundaram uma

entidade poliacutetica o Principado do Rusrsquo

CXX

e) Outros termos

Demoacutesion ndash imposto base

Iconoclasmo ndash Doutrina religiosa que defende o fim ao culto de imagens que gerou

periacuteodos de tensatildeo teoloacutegica e poliacutetica em Bizacircncio por duas vezes uma primeira de 726 a

787 quando eacute repudiada no VII Conciacutelio Ecumeacutenico de Niceia e o segundo de 813 a 843

quando o culto das imagens eacute restaurado definitivamente por Miguel III num siacutenodo

Jihad ndash Um dos pilares dos Islatildeo que significa ldquocombaterdquo ou ldquoesforccedilordquo Apesar de ter

vaacuterios significados pode ser a luta de superaccedilatildeo individual de um muccedilulmano para se tornar

numa pessoa ou num crente melhor ou apesar de natildeo ser tatildeo frequente nesse sentido uma

forma de proteger a religiatildeo islacircmica ou espalhaacute-la por vaacuterios meios em especial pelos

militares

Kapnikoacuten ndash imposto sobre as famiacutelias

Logotheacutesion ndash departamento financeiro em Bizacircncio Existiam vaacuterios destes

departamentos no impeacuterio para as mais variadas aacutereas (militares agriacutecolas civis entre

outras)

Koacutedikes ndash Livros de registo No caso dos logotheacutesion dos themaacuteta listavam informaccedilatildeo

sobre os seus soldados bem como de quem possuiacutea strateiacutea

Paulicianismo ndash seita hereacutetica do Cristianismo oriental que praticava o iconoclasmo e

tinha raiacutezes no Maniqueiacutesmo Formou um ldquoEstadordquo na Anatoacutelia oriental em meados do

seacuteculo IX que foi destruiacutedo por Basiacutelio I em 879

Roga ndash Salaacuterio monetaacuterio

Vexilationes ndash laquofeitos malvadosraquo Eacute a designaccedilatildeo de Teoacutefanes o Confessor para um

conjunto de reformas de Niceacuteforo I que hoje se discutem terem sido fundamentais para

formaccedilatildeo do sistema dos themaacuteta e que foram muito mal vistas pelo clero de entatildeo

Waqf - Doaccedilotildees caridosas islacircmicas que no contexto da guerra no limes oriental podiam

servir para pagar o equipamento e os soldos dos soldados dos al-thugucircr

CXXI

Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico

a) Regiotildees

Apuacutelia ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia que faz fronteira com a Calaacutebria e que eacute banhada a

oriente pelo Mar Adriaacutetico Possui cidades importantes para Bizacircncio no periacuteodo em estudo

como Tarento e especialmente Bari Atualmente eacute o nome da regiatildeo italiana do mesmo

nome e tem a sua capital na comuna de Bari

Armeacutenia ndash regiatildeo montanhosa localizada a sul da cordilheira do Caacuteucaso Tinha grande

valor estrateacutegico pois permitia alcanccedilar a Aacutesia Menor e o Iraque sem atravessar o deserto da

Siacuteria foi sempre contestada pelas principais potecircncias regionais (Roma e Peacutersia Sassacircnida e

Bizacircncio e Califado mais tarde) Atualmente esta zona encontra-se dividida entre vaacuterios

paiacuteses Armeacutenia Azerbaijatildeo Turquia Iratildeo e Geoacutergia

Aacutesia MenorAnatoacutelia ndash Peniacutensula localizada na Aacutesia ocidental rodeada pelo Mar

Mediterracircneo a sul e pelo Mar Negro a norte Durante grande parte do periacuteodo meacutedio-

bizantino foi fundamental para a defesa e economia do Impeacuterio Bizantino e foi aqui que a

maior parte dos combates entre Bizantinos e Aacuterabes se travaram Apesar disto os Bizantinos

perderam o controlo completo sobre a regiatildeo entre 1071 a batalha de Manzikert e 1081 ano

da ascensatildeo da dinastia Comnena quando uma seacuterie de tribos turcomanas se fixaram planalto

central Bizacircncio foi definitivamente expulsa da Anatoacutelia em 1337 com a perda de

Nicomeacutedia Atualmente esta regiatildeo faz parte da Turquia

Calaacutebria ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia localizada no lado oriental do estreito de Messina

Durante os reinados de Basiacutelio I e Leatildeo VI foi disputada pelos Bizantinos pelos Ducados

Lombardos e pelos receacutem-chegados Aacuterabes do Norte de Aacutefrica Atualmente eacute o nome da

regiatildeo italiana do mesmo nome com capital em Catanzaro

Ciliacutecia ndash Trato territorial que une a Aacutesia Menor agrave Siacuteria-Palestina Estaacute delimitada pelas

cordilheiras do Tauro e do Antitauro a norte e pelo mar Mediterracircneo a sul Durante o periacuteodo

em estudo era nesta aacuterea que estavam localizados os thugucircr os distritos militares

muccedilulmanos que protegiam o territoacuterio do califado e mais tarde dos emirados de expediccedilotildees

bizantinas e de onde partiam as razias muccedilulmanas A cidade mais importante da Ciliacutecia era

CXXII

Tarso Na contemporaneidade esta regiatildeo faz parte da Turquia denomina-se Ccedilukurova e estaacute

dividida em quatro proviacutencias Mersin Adana Osmaniye e Hatay

Ifriacutequia ndash Atribuiccedilatildeo medieval muccedilulmana ao territoacuterio da atual Tuniacutesia principalmente

Mesopotacircmia ndash Regiatildeo localizada a nordeste da Ciliacutecia que tambeacutem reunia um grande

conjunto de thugucircr dos quais se destacava Melitene Estaacute atualmente dividida entre a Siacuteria e a

Turquia

Siacuteria-Palestina ndash Corredor territorial localizado no Proacuteximo Oriente Estaacute dividido

topograficamente em trecircs regiotildees as zonas costeiras do litoral uma zona montanhosa ao

centro e a maior parte pelo deserto da Siacuteria Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino esta zona

esteve maioritariamente nas matildeos dos califados aacuterabes da Siacuteria Iraque e Egito e de alguns

emirados muccedilulmanos na regiatildeo Registou-se tardiamente uma ressurgente presente

bizantina (entre os seacuteculos X-XI) e a existecircncia dos chamados laquoestados Cruzadosraquo no litoral

(seacuteculos X-XIII) Atualmente esta regiatildeo estaacute dividida entre os seguintes paiacuteses Siacuteria

Palestina Israel Liacutebano Jordacircnia e Turquia

Siciacutelia ndash Ilha localizada no Mediterracircneo central e essencial para o controlo da passagem

das duas passagens do Mar Mediterracircneo Esteve em posse bizantina ateacute agrave conquista de

Taormina pelos Aglaacutebidas em 902 no reinado de Leatildeo VI passando depois ao controlo de

vaacuterias entidades emirado Aglaacutebida califado Fatiacutemida principados normandos domiacutenio

alematildeo francecircs entre outros Atualmente eacute uma regiatildeo autoacutenoma italiana cuja capital eacute

Palermo

CXXIII

b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc)

Bucelaacuterios ndash Novo distrito militar que comeccedila a aparecer nas fontes a partir de 766

resultante da divisatildeo dos territoacuterios do comando do Opsikiacuteon apoacutes a revolta de Artavasdo

Kibirrhaiotai ndash Territoacuterio sob a posse do themaacuteta mariacutetimo com o mesmo nome

localizado no sul da Aacutesia Menor formado em 732 tinha a sua capital em Antaacutelia (atualmente

Antalya na Turquia)

Mar Egeu (theacutema) ndash Theacutema naval que reunia como o nuacutemero indica vaacuterias ilhas do Mar

Egeu No periacuteodo em estudo o seu quartel-general estava em Lesbos

Opsikiacuteon ndash Distrito militar que pertencia ao corpo militar do mesmo nome Inicialmente

compreendia territoacuterios no noroeste da Aacutesia Menor e na Traacutecia mas no final do seacuteculo VIII jaacute

soacute tinha uma fraccedilatildeo desse territoacuterio estando os restantes entregues a outros distritos

Bucelaacuterios Optimaton e Traacutecia

Optimates ndash Territoacuterio no noroeste da Aacutesia Menor que pertenceu ao Opsikiacuteon ateacute 773

ano em que se formou um novo distrito militar apoacutes uma nova revolta do corpo militar do

Opsikiacuteon

Samos (theacutema) ndash Theacutema naval bizantino responsaacutevel pelas ilhas do Mar Egeu oriental e

da costa ocidental anatoacutelica A sua base de operaccedilotildees era Esmirna (atual İzmir na Turquia

oriental)

CXXIV

c) Centros populacionais (cidades vilas etc) e fortificaccedilotildees

Amorion ndash Importante cidade da Aacutesia Menor que serviu como capital do theacutema do

Anatolikoacuten ateacute agrave sua destruiccedilatildeo durante uma expediccedilatildeo de saque muccedilulmana em 838 A sua

localizaccedilatildeo corresponde agrave da atual cidade de Hisarkoumly na Turquia

Ancyra ndash Atual Ancara na Turquia foi saqueada por forccedilas abaacutessidas em 838 agrave

semelhanccedila de Amorion

Bagdade ndash Capital do califado abaacutessida fundada em 762 pelo califa al-Mansur

Atualmente eacute a capital do Iraque

Bari ndash Cidade italiana e capital da regiatildeo Apuacutelia Durante os reinados dos basilecircis

macedoacutenicos foi a capital do theacutema da Lombardia e uma cidade essencial para o controlo do

sul de Itaacutelia e do Mar Adriaacutetico Caiu em 1071 frente aos Normandos de Roberto Guiscardo

Benevento ndash Capital de um importante principado lombardo no sul de Itaacutelia entre 571 e

1081 altura em que foi entregue a Roberto Guiscardo pelo papa Esteve temporariamente em

posse bizantina entre 891 e 895 quando foi recuperada por forccedilas do Principado de Salerno

Castrogiovanni ndash Atual Enna era uma importante cidade bizantina no centro da Siciacutelia

A sua conquista pelos Aglaacutebidas em 859 restringiu a presenccedila bizantina agrave costa ocidental da

ilha

Corleone ndash Atualmente eacute uma comuna siciliana Foi tomada aos bizantinos pelos

aglaacutebidas entre 831 e 841

Damasco ndash Capital do califado omiacuteada Atualmente eacute a capital da Siacuteria

Eacutefeso ndash Antigo aglomerado provincial localizado a 3 quiloacutemetros da atual Selccediluk na

proviacutencia de Izmir na Turquia ocidental Foi uma importante cidade mercantil podendo ter

sido a capital do theacutema dos Traceacutesicos e depois de Samos

Germaniceia (ou Marash) ndash Importante thugucircr muccedilulmano na Cilliacutecia foi conquistada

definitivamente por Niceacuteforo II Focas em 962 Eacute a atual cidade de Kahramanmaraş na

proviacutencia com o mesmo nome no sudeste da Turquia

CXXV

Melitene ndash Um dos principais thugucircr da regiatildeo de Al-Jazira foi tomada por Bizacircncio em

934 por um exeacutercito sob o domestikoacutes Joatildeo Curcuas Eacute a atual Malatya capital da proviacutencia

homoacutenima na Turquia

Messina ndash Cidade siciliana localizada no estreito homoacutelogo controlando uma das

passagens entre o Mediterracircneo ocidental e oriental A sua conquista por um grupo de

mercenaacuterios foi uma das razotildees para a Primeira Guerra Puacutenica Foi conquistada pelos

Aglaacutebidas ao Impeacuterio Romano do Oriente entre 842 e 843

Niceia ndash Antiga cidade localizada onde hoje se localiza Izrik Foi a capital do theacutema do

Opsikiacuteon Um dos grandes momentos histoacutericos desta povoaccedilatildeo eacute o VII Conciacutelio Ecumeacutenico

que potildee fim ao primeiro periacuteodo iconoclaacutestico Foi a capital do Impeacuterio Bizantino quando

este se encontrava no exiacutelio entre 1204 e 1261

Nicomeacutedia ndash Capital do theacutema dos Optimates localizada no noroeste da atual Turquia

Ragusa (Croaacutecia) ndash Atual Dubrovnik foi uma importante cidade na costa da Dalmaacutecia

tornando-se mais tarde na capital de uma poderosa repuacuteblica mercantil em 1358 ateacute agrave usa

anexaccedilatildeo pelo reino de Itaacutelia em 1808 No periacuteodo em estudo foi cercada pelos Aacuterabes em

868 mas uma frota enviada por Basiacutelio conseguiu obrigar ao levantamento do cerco

Ragusa (Siciacutelia) ndash Cidade na Siciacutelia foi tomada pelos aglaacutebidas em 848 apoacutes o

extermiacutenio da sua guarniccedilatildeo

Palermo ndash Importante cidade siciliana durante toda a Idade Meacutedia tendo servido como

capital desta vaacuterias vezes estatuto que ocupa nos dias de hoje

Preslav ndash Capital do Impeacuterio da Bulgaacuteria apoacutes 893 por ordens do czar Simeatildeo Foi

tomada por Bizacircncio em 971 durante a campanha de Joatildeo I Zimisce contra o priacutencipe

Svyatoslav do Rus Atualmente eacute a cidade de Veliki Preslav na Bulgaacuteria

Prisca ndash Capital do Impeacuterio da Bulgaacuteria antes de 893 Foi saqueada vaacuterias vezes por

Bizacircncio com especial destaque para o ano de 811 quando a cidade eacute tomada por Niceacuteforo I

O basileuacutes e o seu exeacutercito seriam massacrados dias depois na batalha de Prisca Na

contemporaneidade eacute a cidade de Plĭskovŭ na Bulgaacuteria

Siracusa ndash Uma das mais importantes cidades sicilianas e berccedilo de Aristoacuteteles Durante

as duas primeiras Guerras Puacutenicas foi uma das contestantes nesses conflitos ora do lado

CXXVI

cartaginecircs ora do lado romano ora de nenhum A sua conquista pelos Aglaacutebidas em 877

limita a presenccedila bizantina na Siciacutelia agrave fortaleza de Taormina

Tarento ndash Atualmente eacute chamada de Taranto e localiza-se na Apuacutelia Durante o periacuteodo

em estudo foi a capital de um emirado muccedilulmano ateacute agrave sua conquista por uma expediccedilatildeo

militar ofensiva bizantina em 880

Taormina ndash Uacuteltima possessatildeo bizantina na Siciacutelia foi tomada pelos Aacuterabes em 901

Atualmente estaacute localizada na comuna com o mesmo nome

Tarso ndash Considerada por muitos historiadores como o mais importante dos thugucircr era

desta cidade que partiam muitas das razias muccedilulmanas direcionadas a territoacuterio bizantino

Apesar de ter sido muitas vezes saqueadas soacute seria definitivamente conquistada por Niceacuteforo

II Focas em 965 Faz parte da proviacutencia de Mersin na Turquia

Tephrike ndash Capital do ldquoEstadordquo pauliciano foi tomada por Basiacutelio I em 879

Atualmente eacute a cidade de Divriği na proviacutencia de Sivas na Turquia oriental

Trapaacuteni ndash Atualmente eacute uma comuna italiana com o mesmo nome Foi conquistada aos

Bizantinos pelos Aacuterabes entre 831 e 841

CXXVII

d) Referecircncias topograacuteficas mariacutetimas e fluviais

Antitauro ndash Cordilheira montanhosa localizada na Turquia oriental e sudoeste que

durante a primeira metade do periacuteodo-meacutedio bizantino serviu de fronteira natural entre o

Impeacuterio e as possessotildees muccedilulmanas na Siacuteria e na Mesopotacircmia

Chipre ndash Ilha localizada no Mediterracircneo Oriental Durante a primeira metade do

periacuteodo-meacutedio bizantino foi territoacuterio contestado e desmilitarizado pelo Impeacuterio Bizantino e

pelo Califado Em 964 no reinado de Niceacuteforo II Focas os Romanos retomam o controlo

efetivo da ilha Bizacircncio perde a ilha em 1195 para as forccedilas do rei inglecircs Ricardo ldquoCoraccedilatildeo-

de-Leatildeordquo no seio da Terceira Cruzada

Creta ndash Ilha localizada na periferia sul do Mar Egeu com enorme importacircncia

estrateacutegica para o seu controlo Entre 828 e 961 a ilha esteve sob domiacutenio muccedilulmano sendo

a principal base da pirataria sarracena no Mar Egeu ateacute agrave sua reconquista pelo domestikoacutes do

Oriente Niceacuteforo Focas590 apoacutes vaacuterias tentativas falhadas (como em 843 911 e 949) Creta

manteve-se em matildeos bizantinas ateacute 1204 o ano da conquista de Constantinopla pelos

cavaleiros da Quarta Cruzada

Mar Egeu ndash Corpo hidrograacutefico localizado entre a Greacutecia e a Turquia atuais Apoacutes a

perda de Creta em 828 as ilhas do Mar Egeu foram viacutetimas constantes da pirataria aacuterabe que

de melhor ou pior forma assolou aquela regiatildeo ateacute agrave reconquista de Creta em 961 Nos

reinados de Basiacutelio I e Leatildeo VI o Mar Egeu estava sob a proteccedilatildeo de trecircs themaacuteta navais

Kibirrhaiotai Mar Egeu e Samos A maior parte destas ilhas passou para o controlo das

repuacuteblicas mercantis italianas apoacutes a queda de Constantinopla para a Quarta Cruzada em

1204

Tauro ndash Cordilheira montanhosa no sul da Turquia que separa o planalto central da

Anatoacutelia e as regiotildees costeiras do sul As forccedilas bizantinas retiraram para esta cordilheira apoacutes

a derrota de Yarmuk e esta manteve-se um dos principais obstaacuteculos entre os territoacuterios

califais e dos emirados e o coraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino

590 Futuro Niceacuteforo II Focas

CXXVIII

e) Campos de batalha

Campo da batalha de Lalacatildeo ndash O nome proveacutem do rio que atravessava o territoacuterio

onde se travou a batalha De acordo com John Haldon esta batalha ter-se-aacute travado na regiatildeo

fronteiriccedila dos themaacuteta de Paflagoacutenia e dos Armeniacuteacos a cerca de 130 km de Amisos

(Samsun atualmente) num local rodeado pelos sopeacutes de Deveci Dag591

Marj al-Usquf ndash Tambeacutem conhecido na bizantiniacutestica angloacutefona como Bishoprsquos

Meadow (o laquoPrado do Bisporaquo na traduccedilatildeo literal para portuguecircs) Foi o local onde se deu a

batalha com o mesmo nome num pequeno planalto onde se localizava a sede episcopal de

Doara junto agrave estrada que ligava Tyana (a moderna Kemarhisar) a Coloneia (atual Aksaray)

Doara eacute atualmente Duvarli na proviacutencia de Niğde Turquia

Mons Lactarius ndash Local onde se travou a batalha com o mesmo nome Atualmente este

lugar faz parte dos Montes Lattari uma cadeia montanhosa na Campacircnia no sul de Itaacutelia e

faz parte da cordilheira dos Montes Apeninos

Yarmuk ndash Nome atribuiacutedo agrave grande batalha entre Muccedilulmanos e Bizantinos em 636

Ter-se-aacute travado no leito seco do rio Yarmuk a sul da capital dos Aacuterabes Gassacircnidas Jabiya

Apesar de hoje a povoaccedilatildeo natildeo existir estava localizada na Siacuteria sudeste proacutexima da fronteira

atual com a Jordacircnia

591 HALDON John (2001) The Byzantine Wars Battles and Campaigns of the Byzantine Era Gloucestershire

Tempus Publishing Ltd p84

CXXIX

Anexo VIII ndash Excertos do Taktikaacute

a) Evitar batalha

ldquoEacute bom causar injuacuteria ao inimigo pelo dolo por raides pela fome e fazecirc-los sofrer

por um longo periacuteodo de tempo por meio de assaltos muito frequentes e outras accedilotildees (O

general) nunca deve ser incitado a uma batalha campal Pela maior parte noacutes observamos que

o sucesso eacute mais uma questatildeo de sorte do que coragem comprovadardquo ndash Constitutio XX

paraacutegrafo 51 linhas 265-266592

b) Sobre natildeo guerrear com os Buacutelgaros e a paz de 896

ldquoDesde que os Buacutelgaros no entanto adotaram a paz de Cristo e partilham a mesma feacute

nele que os Romanos depois do que eles passaram como resultado de quebrarem o seu

juramento noacutes natildeo pensamos em pegar em armas contra eles Agora remetemos qualquer

accedilatildeo militar contra eles a Deus Presentemente portanto na medida em que noacutes somos irmatildeos

pela nossa feacute uacutenica e porque eles prometeram ouvir os nossos conselhos noacutes natildeo estamos

interessados em descrever quer as suas formaccedilotildees em batalha contra noacutes quer as nossas

contra elesrdquo ndash Constitutio XVIII paraacutegrafo 42 linhas 227-232593

c) Preferecircncia de recrutamento de soldados economicamente confortaacuteveis

ldquoNoacutes ordenamos a Sua Excelecircncia que mantenha o costume que vai muito atraacutes ateacute ao

iniacutecio de selecionar soldados e oficiais que julgue qualificados de cumprirem os criteacuterios para

guerrear Selecione soldados de todo o theacutema sob o seu comando nem rapazes nem idosos

mas homens bravos vigorosos corajosos e financeiramente confortaacuteveis Enquanto estes

homens estiverem ocupados com o seu proacuteprio serviccedilo militar em campanha ou ao inveacutes

disso com o reunir do exeacutercito eles devem ter outros nas suas famiacutelias que faccedilam o trabalho

do campo e que consigam providenciar os objetos requeridos para o equipar e armar completo

de um soldado Isto significa que as cabeccedilas dessas famiacutelias devem encontrar-se libertas de

todos os outros serviccedilos devidos ao Estado Porque noacutes natildeo desejamos que o nosso

companheiro soldado ndash assim chamo eu ao homem que vai em frente para se empenhar

valentemente em feitos beacutelicos em nome de Nossa Majestade e da comunidade amante de

Cristo dos Romanos - para aleacutem da excepccedilatildeo uacutenica do imposto puacuteblico a ser sujeito a

592 Vide DENNIS G T (2014) ndash Op cit p 555 593 Idem Ibidem pp453-454

CXXX

qualquer outro tipo de imposiccedilatildeo qualquer que sejardquo - Constitutio IV paraacutegrafo 1 linhas

3-14594

d) Acerca do financiamento de soldados pobres por homens (stratioacutetai) ricos

ldquoQuando vocecirc se encontrar sem armamento para os seus soldados decirc ordens aqueles

que estatildeo bem providenciados para (campanha) mas que natildeo participem que se natildeo

desejarem participarem nesta devem cada um deles providenciar um cavalo e um homem no

seu lugar Desta forma os valentes (homens) pobres seratildeo armados e os cobardes ricos iratildeo

servir igualmente com aqueles que realmente estatildeo em campanhardquo - Constitutio XX

paraacutegrafo 205 linhas 1056-1059595

e) Menccedilatildeo da alianccedila entre Bizantinos e Magiares do iniacutecio da guerra

Bizantino-Buacutelgara de 984 e da participaccedilatildeo Magiar nesse conflito

ldquoJaacute que eu mencionei os Turcos natildeo julgamos que seja despropositado laquodescreverraquo

como estes se formavam em batalha e como se podia formar para combater contra eles

Coloquemos por escrito o que aprendemos a partir de uma certa quantidade de experiecircncia de

quando eles eram nossos aliados Naquele tempo os Buacutelgaros tinham desrespeitado o tratado

de paz e andavam a saquear pelos campos da Traacutecia A justiccedila perseguiu-os por quebrar o seu

juramento a Cristo nosso Deus o imperador de todos e eles rapidamente se encontraram com

a sua puniccedilatildeo Enquanto as nossas forccedilas enfrentavam os Sarracenos a Providecircncia divina

levou os Turcos ao inveacutes dos Romanos a (lanccedilar uma) campanha contra os Buacutelgaros A frota

de navios de nossa Majestade apoiou-os e transportou-os sobre o Danuacutebio laquoProvidecircnciaraquo

enviou-os contra o exeacutercito dos Buacutelgaros que tinha tatildeo maliciosamente pegado em armas

contra os Cristatildeos e tal como se fossem carrascos puacuteblicos derrotaram-nos decisivamente em

trecircs embates para que os Cristatildeos Romanos natildeo se sujassem voluntariamente com o sangue

dos Cristatildeos Buacutelgarosraquo - Constitutio XVIII paraacutegrafo 40 linhas 210-221596

594 Idem Ibidem pp 46-47 595 Idem Ibidem pp 610-611 596 Idem Ibidem pp 452-453

CXXXI

f) O Proeacutemio

ldquoEm nome do Pai e do Filho e do Espiacuterito Santo a sagrada consubstancial e

veneraacutevel Trindade nosso uacutenico e verdadeiro Deus Leatildeo paciacutefico autokraacutetor em Cristo fiel

pio sempre reverenciado Augustordquo ndash Proacutelogo paraacutegrafo 1 linhas 3-6597

g) A travessia do rio Paradeisos por Basiacutelio (877-878)

ldquoNoacutes recordamos que o nosso sempre-memoraacutevel pai e imperador Basiacutelio fez isto

quando estava em campanha contra Germaniceia na Siacuteria Ele chegou ao rio chamado

Paradeisos e estacionou-se ele mesmo no meio deste com lanternas e na sua presenccedila e em

seguranccedila o exeacutercito inteiro sob o seu comando fez a travessia facilmente e de forma segura

Ele frequentemente deu a matildeo e ele mesmo salvou vaacuterios soldados de grande perigordquo ndash

Constitutio IX paraacutegrafo 14 linhas 60-66598

h) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (I)

ldquoPara sumariar tudo o que escrevemos sobre teoria taacutetica do iniacutecio ateacute ao fim tudo o

que foi dito de armas armamento exerciacutecios formaccedilotildees em batalha e outros meacutetodos

militares relacionados com o povo Sarraceno foi transmitido e demonstrado por noacutes Esta

gente que rodeia a nossa naccedilatildeo provoca-nos natildeo menos anguacutestia do que o povo Persa de

antigamente fazia aos antigos imperadores Eles provocam prejuiacutezo aos nossos suacutebditos todos

os dias Eacute por esta razatildeo que nos encarregaacutemos da nossa presente tarefa de formular

instruccedilotildees para a guerra Em adiccedilatildeo ao que jaacute havemos dito noacutes encontraacutemos outros modelos

de formaccedilotildees de batalha que pode muito bem considerar Oh general contra este povo

barbaacuterico Eles satildeo os seguintesrdquo ndash Constitutio XVIII paraacutegrafo 135 linhas 686-695599

i) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (II)

ldquoQuanto a todos os outros toacutepicos que naturalmente emergem em cada periacuteodo de

guerra ou em preparaccedilatildeo para ela e especialmente contra a naccedilatildeo dos Sarracenos que agora

nos causa tanto transtorno ndash em cuja responsabilidade como jaacute dissemos o presente livro foi

compilado ndash mesmo que noacutes natildeo tenhamos conseguido pegar em tudo ainda assim pelo que

jaacute foi escrito bem como pela experiecircncia e muito pela natureza das coisas (o general) tem de

fazer estimativas com o maacuteximo alcance e tem de se acomodar para as situaccedilotildees que surgem

Eu natildeo acho possiacutevel tanto para noacutes como para qualquer outro que escreva acerca de tudo que

597 Idem Ibidem pp 2-3 598 Idem Ibidem pp 158-159 599 Idem Ibidem pp 488-489

CXXXII

eacute provaacutevel que aconteccedila de forma a poder estar guardado contra tudo tendo em conta que as

diversas circunstacircncias em cada caso satildeo ilimitadas em nuacutemerordquo ndash Epiacutelogo paraacutegrafo 71

linhas 318-326600

j) Sobre a lealdade do general

ldquoO verdadeiro objetivo do muito estimado general eacute apreciar tudo que o divino e o

imperial favorecem ao inveacutes de prestando pouca atenccedilatildeo a assuntos adequados e

apropriados chegar ao opostordquo ndash Constitutio I paraacutegrafo 13 linhas 44-45601

k) As caracteriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos Aacuterabes contra Bizacircncio

ldquoEles natildeo satildeo reunidos para o serviccedilo militar a partir de uma lista de recrutamento

mas juntam-se cada homem de sua livre vontade e com todos os membros da sua Casa Os

ricos laquoconsideravam comoraquo recompensa suficiente morrer pela sua proacutepria naccedilatildeo os pobres

pela causa de recolher botim Os seus companheiros de tribo homens e especialmente

mulheres providenciam-nos com armas como se participassem com eles na expediccedilatildeo

Porque a sua fraqueza fiacutesica natildeo lhes permitia transportar armas elas mesmas consideravam

como recompensa providenciar armamento aos soldados Estes entatildeo satildeo os Sarracenos um

barbaacuterico e iacutempio povordquo ndash Constitutio XVIII linhas 592-598602

l) O problema em causa no Taktikaacute

ldquoPois assim parece sempre que as forccedilas armadas dos Romanos estavam em boa

ordem o Estado desfrutou de assistecircncia divina por natildeo poucos anos e o labor dos mais

valorosos estava misturado com disciplina e por muitas vezes foi coroado com o esplendor

da vitoacuteria Mas por muitos anos agora a persecuccedilatildeo das taacuteticas e a estrateacutegia foram

negligenciadas para natildeo dizer que caiacuteram tatildeo completamente no esquecimento que aqueles

que assumem o comando de um exeacutercito natildeo compreendem sequer as mateacuterias mais oacutebvias

Noacutes podemos observar que isto leva a um nuacutemero bastante grande de situaccedilotildees diferentes

Pois com o desaparecimento deste conhecimento produtivo de tantas coisas boas e pelo meio

do qual a naccedilatildeo dos Romanos floresceu no passado noacutes contemplamos agora o oposto o

favor divino estaacute ausente e o triunfo acostumado da naccedilatildeo dos Romanos fugiu dos seus

combatentes Pois juntamente com a negligecircncia gradual da disciplina militar e do treino a

coragem dos nossos bravos guerreiros assim parece tambeacutem declinou Algumas vezes noacutes

600 Idem Ibidem pp 640-643 601 Idem Ibidem pp 14-15 602 Idem Ibidem pp 482-483

CXXXIII

atribuiacutemos a causa agrave falta de treino e agrave cobardia dos soldados algumas vezes colocamos a

culpa na inexperiecircncia e na timidez dos seus comandantes e algumas vezes negligenciamos o

ensinamento claro dos antigos taacuteticos pela sua obscuridade Desejando assim com a ajuda de

Deus restaurar este conhecimento muito proveitoso e depois de ter quase sido expulso da

nossa naccedilatildeo Romana de o trazer de volta para a existecircncia noacutes natildeo hesitamos em com

grande seriedade assumir esta tarefa noacutes mesmos e desta forma graciosamente oferecer um

benefiacutecio aos nossos suacutebditosrdquo ndash Proacutelogo linhas 36-54603

m) A soluccedilatildeo do basileuacutes

ldquoDepois de devotadamente darmos atenccedilatildeo aos antigos bem como aos mais recentes

meacutetodos estrateacutegicos e taacuteticos e tendo lido mais detalhes noutros relatos tendo encontrado

algo nessas fontes que parecesse uacutetil para as necessidades da guerra noacutes recolhemo-lo e

colecionaacutemo-lo Essas coisas aleacutem do mais que noacutes aprendemos da nossa proacutepria e limitada

experiecircncia em serviccedilo militar e que satildeo aplicaacuteveis e uacuteteis para o nosso dia e na presente

situaccedilatildeo noacutes agora transmitimo-lo da melhor forma possiacutevel Noacutes oferecemo-la como uma

modesta assistecircncia nestes assuntos sucintamente como outro Proacutecheiros Noacutemos

apresentando na praacutetica em vez de em palavras o que eacute uacutetil e digno de respeito Eacute uma espeacutecie

de livro introdutoacuterio em taacuteticas para os nossos subcomandantes (hypostrategoĩ604) e para

aqueles a quem foram confiadas responsabilidades de combate Noacutes asseguramos-lhe que isto

deveraacute tornar mais faacutecil como avanccedilar de uma maneira ordeira a todos o que o desejarem e ateacute

certo ponto para um melhor conhecimento daqueles velhos autores taacuteticos e das teorias

antigas Noacutes natildeo prestaacutemos atenccedilatildeo agraves escrituras de boa dicccedilatildeo ou palavras que soassem bem

A nossa preocupaccedilatildeo ao inveacutes disso foi o pragmatismo a claridade de expressatildeo e a

simplicidade de estilo Com isto em mente noacutes frequentemente clarificamos os termos taacuteticos

do Grego antigo e traduzimos aqueles em Latim para os seus equivalentes em Grego Noacutes

tambeacutem utilizaacutemos algumas outras expressotildees militares de utilizaccedilatildeo comum para ser mais

faacutecil para o leitor compreendecirc-las A uacutenica coisa que descartaacutemos foram as formaccedilotildees que natildeo

satildeo mais necessaacuterias porque satildeo supeacuterfluas inuacuteteis e a sua descriccedilatildeo natildeo eacute clara Assim

aqueles que desejam comandar tropas possam ter raacutepido acesso a uma vasta reserva de

experiecircncia no que respeita a combate e a campanhas militares A utilidade deste manual

deriva natildeo soacute daquilo que foi escrito mas tambeacutem do facto de ter sido posto em praacutetica pelas

603 Vide Idem Ibidem p7 604 Haldon defende que Leatildeo VI com este termo se refere aos strateacutegoi Isto porque se considerava o basileuacutes

como o comandante supremo o que tornava os restantes generais (os strategoacutes) seus subalternos logo

hypostrategoi vide HALDON J (2014) ndash Op cit p126

CXXXIV

autoridades antigas e ter sido transmitido ateacute aos nossos dias Mesmo que natildeo tenha sido

acompanhado por essas accedilotildees que conduziram a situaccedilatildeo dos Romanos a um grande poder

pelo menos as palavras que foram condenadas ao esquecimento foram trazidas de volta agrave vida

relembradas e novamente restauradas na sua antiga posiccedilatildeordquo ndash Proacutelogo paraacutegrafo 6

linhas 55-78605

n) O Epilogus

ldquoPrimeiro eacute necessaacuterio sumariar as taacuteticas empregues na arte da guerra Entatildeo o que eacute

um general Quem e que tipo de pessoal ele deve ser Como deve ele fazer planos Depois

disso vamos explicar as divisotildees do exeacutercito em oficiais e nas tropas que eles comandam

bem como no seu equipamento as armas a eles providenciadas e o armamento de cada um

dos seus combatentes Antes do mais o treino do exeacutercito antes do combate Depois a leitura

oficial das puniccedilotildees em vigor Segue-se uma discussatildeo sobre o exeacutercito em marcha tanto no

nosso como em territoacuterio hostil e sobre o assim-chamado trem-de-apoio e claro acerca da

preparaccedilatildeo e instruccedilotildees relativamente a acampamentos O que deve ser feito no dia antes da

batalha e o que tem de ser feito no dia da batalha Para aleacutem do mais acerca de guerra de

cerco Depois o que deve ser feito depois da batalha E o que dizer sobre ataques inesperados

e emboscadas tanto pelas nossas tropas como do inimigo Para aleacutem destas o treino em vaacuterias

formaccedilotildees de batalha estrangeiras e Romanas A nossa compilaccedilatildeo seraacute entatildeo seguida por

uma pequena exposiccedilatildeo de guerra naval Para concluir tudo isto foram recolhidas e

apresentadas individualmente certas maacuteximas taacuteticas e estrateacutegicas aquelas isto eacute que a

natureza sumaacuteria dos capiacutetulos natildeo permite que sejam inseridas no seu lugar Noacutes esperamos

que o estudo disto leve o saacutebio e perspicaz comandante a tornar-se ainda mais saacutebio ndash

Proacutelogo paraacutegrafo 10 linhas 97-113606

o) A guerra como ldquomal necessaacuteriordquo

ldquoNoacutes temos sempre de abraccedilar a paz para os nossos proacuteprios suacutebditos bem como para

os baacuterbaros por causa de Cristo o imperador e Deus de todos Se as naccedilotildees partilharem estes

sentimentos e se mantiverem dentro das suas fronteiras e prometerem natildeo agir injustamente

contra noacutes entatildeo tambeacutem vocecirc abster-se-aacute de pegar em armas contra eles Natildeo manche o chatildeo

com o sangue das suas proacuteprias gentes ou com aquele dos baacuterbaros (hellip) Noacutes devemos

sempre que possiacutevel da nossa parte estar em paz com todos os homens especialmente com

605 Vide DENNIS George T (2014) ndash Op cit pp 6-9 606 Idem Ibidem pp 8-11

CXXXV

aquelas naccedilotildees que desejem viver em paz e que natildeo fazem nada de injusto aos nossos

suacutebditos Noacutes devemos sempre preferir paz acima de tudo e devemos estar em paz com essas

naccedilotildees e abstermo-nos da guerra

Mas se o nosso adversaacuterio agir de forma pouco saacutebia iniciar hostilidades injustas e

invadir o nosso territoacuterio entatildeo deveras teraacute uma causa justa ainda mais que uma guerra

injusta foi iniciada pelo inimigo Com confianccedila e entusiasmo pegue em armas contra eles

Foram eles que providenciaram a causa por injustamente levantarem as matildeos contra os nossos

suacutebditos Seja corajoso entatildeo (O general) teraacute a justiccedila de Deus ao seu lado Ao tomar parte

na luta em nome dos seus irmatildeos (o general) e a sua forccedila inteira seratildeo vitoriosos Por esta

razatildeo assim noacutes apelamos a Sua Excelecircncia para se assegurar que as causas das guerras satildeo

justas Soacute entatildeo deveraacute pegar em armas contra os homens que atuam injustamenterdquo ndash

Constitutio II paraacutegrafos 30 e 31 linhas 196-201 e 208-216

p) Formas de agir em caso de ataques vindos da Ciliacutecia

ldquoOs Sarracenos da Ciliacutecia colocam muito valor no treino exaustivo das suas forccedilas de

infantaria para entrar em combate em duas frentes isto eacute na terra ao longo da estrada que sai

das montanhas do Tauro e no mar por meio dos seus navios chamados koumbaacuteria Quando

eles natildeo fazem campanha em terra firma eles embarcam para o mar pilham os povoados ao

longo da costa e algumas vezes se tal acontecer envolvem-se em batalhas navais Quando

natildeo vatildeo para o mar eles fazem campanhas contra os territoacuterios dos Romanos por terra

Vocecirc portanto oacute general deve manter olho neles por meio de espiotildees de confianccedila

Quando eles fazem campanha pelo mar vocecirc vai por terra e se possiacutevel lanccedilar ataques contra

eles no seu proacuteprio territoacuterio Mas se os espiotildees relatarem que eacute intenccedilatildeo deles fazer

campanha por terra entatildeo vocecirc deve avisar o comandante do Kibirrhaiotai para que com os

droacutemōnes sob o seu comando ele possa cair sobre os territoacuterios dos Tarseotes e dos de Adana

que se encontrem na costa Porque o exeacutercito dos baacuterbaros cilicianos natildeo eacute muito numeroso

uma vez que os homens que praticam campanha em terra tambeacutem o fazem no marrdquo ndash

Constitutio XVIII paraacutegrafos 131 e 132 linhas 654-678

q) O perfil psicoloacutegico de um bom strategoacutes

ldquoEacute caracteriacutestico de um general que ele seja superior a todos os que estatildeo sob o seu

comando em sabedoria praacutetica coragem justiccedila e discriccedilatildeo reservando a ele a administraccedilatildeo

da proviacutencia atribuiacuteda a ele incluindo assuntos militares privado e puacuteblicos Ao receber um

CXXXVI

exeacutercito indisciplinado ele deve dispocirc-lo apropriadamente para a batalha de acordo com a

formaccedilatildeo taacutetica adequada agrave ocasiatildeordquo ndash Constitutio I paraacutegrafo 11 linhas 39-42

CXXXVII

Anexos IX ndash Excertos de outras fontes607

a) Listas da Expediccedilatildeo a Creta em 910-911608

Da preparaccedilatildeo e custo e soma dos pagamentos e do exeacutercito

enviado contra a iacutempia (ilha de) Creta

com o patrikios e logothetecircs tou droumou Himeacuterio

no tempo do Soberano Leatildeo amado de Cristo

A frota imperial 12000 Rusrsquo 700

O strategoacutes do Kibirrhaiotai responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 5600 e

1000 reservas 6600 no total

O strategoacutes de Samos responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 4000 e 1000

reservas 5000 no total

O strategoacutes do Mar Egeu responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 3000 e

1000 reservas 4000 total Todas estas juntas 28300

Em relaccedilatildeo agraves unidades de cavalaria que deveriam ir em campanha com a frota

Scholarioi Traceacutesicos e Macedoacutenicos 1037

Do themaacute dos Traceacutesicos 1000 do theacutema de Sebasteia 1000 Armeacutenios de Platanion

500 Armeacutenios de Prine 500 O total de cavalaria 6037609 e o total da frota e da cavalaria

34037610

607 Estas traduccedilotildees satildeo feitas do inglecircs para portuguecircs a partir de 608 Constantino VII basileuacutes ldquoThe fitting out and cost and sum of the pay and of the army sent against the

impious (island of) Crete with the patrikios and logothetecircs tou droumou Himerios in the time of the Lord Leo

beloved of Christrdquo Texto Traduccedilatildeo e Comentaacuterio HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-

Century Military Administration ndash Chapters II 44 and 45 of the Book of Cerimonies Travaux et Memoacuteires (13)

pp 202-213 609 De acordo com John Haldon faltam 2000 cavaleiros traceacutesicos que natildeo satildeo mencionados Vide HALDON J

(2000) ndash Op cit p 202 610 Trata-se de 34337 no total de verdade vide Idem Ibidem p 202

CXXXVIII

Em relaccedilatildeo agrave frota imperial

60 droacutemōnes tendo 230 remadores e 70 soldados cada no total 18000 40 pamphyloi

dos quais 20 tinham 160 homens cada e outros 20 tinham 130 homens cada e 700 Rusrsquo no

total 5800 O total eacute 23800611

Em relaccedilatildeo ao theacutema dos Kibirrhaiotai

15 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 4500

16 pamphyloi 6 com 160 remadores os outros 10 com 130 homens totalizando 2260

Ao todo 6760

Em relaccedilatildeo ao theacutema de Samos

10 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

12 pamphyloi 4 com 160 remadores 8 com 130 homens totalizando 1680

Ao todo para o theacutema de Samos 4680

Em relaccedilatildeo ao theacutema do Mar Egeu

7 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

7 pamphyloi 3 com 160 homens os outros 4 com 130 homens totalizando 1000

Ao todo para o theacutema do Mar Egeu 3000

Em relaccedilatildeo ao theacutema da Heacutelade

10 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

611 23002 na realidade por um erro do copista Vide Idem Ibidem p 203

CXXXIX

Em relaccedilatildeo aos Mardaiacutetas

Mardaiacutetas exeacutercito com oficiais 4087 e como suplemento 1000 adicionais

totalizando 5087

Ao todo o total para a frota imperial e para os themaacuteta 112 droacutemōnes 75 pamphyloi

34000612 remadores e 7340613 soldados e 700 Rusrsquo e 5087 Mardaiacutetas

Os pagamentos para a frota imperial

Exeacutercito com oficiais de 12502 pagamento de 15 kentecircnaria 90 litrai e 10

nomismata614

O seu suplemente de 1000 5 nomismata cada fazendo 69 litrai 32 nomismata~

700 Rusrsquo 1 kentecircnarion

O total para a frota e para os Rusrsquo equivale a 17 (kentecircnaria) 59 (litrai) 42

(nomismata)

Em relaccedilatildeo ao theacutema dos Kibirrhaiotai

Exeacutercito com oficiais de 5750 pagamento de 2 (kentecircnaria) 21 (litrai) e 42

(nomismata) com as reservas

Em relaccedilatildeo ao theacutema de Samos

Exeacutercito com oficiais de 4680 e 1000 das reservas pagamento de 2 (kentecircnaria) 1

(litrai) e 11 (nomismata)

Em relaccedilatildeo ao theacutema do Mar Egeu

Exeacutercito com oficiais de 3100 e 1000 das reservas pagamento de 1 (kentecircnaria) 54

(litrai) e 3 (nomismata)

612 O total no texto equivale a 34200 Idem Ibidem 204 613 O total no texto eacute 7140 Idem Ibidem 204 614 Kentecircnarion = 100 litrai de ouro Litra = 72 nomismata de ouro Vide Idem Ibidem 204

CXL

Em relaccedilatildeo aos Mardaiacutetas do Ocidente

Exeacutercito com oficiais de 4087 pagamento de 4 (kentecircnaria) 66 (litrai) e 32

(nomismata) o seu suplemento de 1000 homens em 8 nomismata cada faz 1 (kentecircnaria)

11 (litrai) e 8 (nomismata)

Ao todo o total para os Mardaiacutetas do Ocidente pagamento de 5 (kentecircnaria) 77

(litrai) e 42 (nomismata)615

Ao todo o total para a frota imperial para os Rusrsquo para as frotas ldquotemaacuteticasrdquo e para os

Mardaiacutetas do Ocidente pagamento de 29 (kentecircnaria) 13 (litrai) e 66 (nomismata)

Em relaccedilatildeo ao pagamento das unidades de cavalaria

No que respeita aos scholarioi dos Traceacutesicos e Macedoacutenicos para 1037 homens

pagamento de 1 (kentecircnarion) 41 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita ao theacutema dos Traceacutesicos para 3000 homens a 2 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 83 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita ao theacutema de Sebasteia para 1000 homens pagamento de 1

(kentecircnarion) 13 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios Platanitai616 para 500 homens a 6 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 41 (litrai) e 48 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios de Prine para 400 homens a 5 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 27 (litrai) e 56 (nomismata)

O total para 2037 cavaleiros pagamento de 2 (kentecircnaria) 54 (litrai) e 48

(nomismata)

E para os 3900 homens adicionais pagamento de 1 (kentecircnarion) 52 (litrai) e 56

(nomismata)

O total para a cavalaria pagamento de 4 (kentecircnaria) 7 (litrai) e 22 (nomismata)

615 Deveriam ser 40 nomismata sendo que os 2 nomismata adicionais satildeo um erro do copista Idem Ibidem 206 616 De Platanion portanto

CXLI

Em relaccedilatildeo ao pagamento da mobilizaccedilatildeo

No que respeita agraves frotas dos 3 themaacuteta dos Kibyrrhaiotai Samos e Mar Egeu para

3000 homens a 2 nomismata cada 83 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita aos Mardaiacutetas do Ocidente 3 tourmarchai a 36 nomismata cada 42

drouggarioi a 12 nomismata cada 42 komecirctes a 6 nomismata cada 5000 soldados a 4

nomismata cada fazem todos juntos 2 (kentecircnaria) 99 (litrai) e 56 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios do theacutema de Sebasteia 5 tourmarchai a 12 nomismata

cada 10 drouggarioi a 6 nomismata cada 8 komecirctes a 5 nomismata cada 965 soldados a 4

nomismata cada fazem todos juntos 55 (litrai) e 60 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios de Prine 500 homens a 2 nomismata cada fazendo 12

(litrai) e 64 (nomismata)

O conjunto para o pagamento da mobilizaccedilatildeo 4 (kentecircnaria) 52 (litrai) e 60

(nomismata)

Observe-se que o stratecircgos dos Kibirrhaiotai e o katepanocirc dos Mardaiacutetas de Attaacutelia

responsabilizaram-se que numa matildeo o stratecircgos prepararia duas chelandia das unidades dos

tourmarchai enquanto na outra o katepanocirc dos Mardaiacutetas prepararia galeacutes617 e durante o mecircs

de marccedilo as enviaria para a Siacuteria para que elas pudesse trazer de volta um relatoacuterio e o

verdadeiro relato de tudo preparado e feito laacute

Observe-se que o procirctospatharios e archocircn de Chipre Leatildeo Symbatikes

responsabilizou-se por enviar batedores vigilantes para o Golfo de Tarso e para a regiatildeo de ta

Stomia (as planiacutecies da Ciliacutecia) bem como para Triacutepolis e Laodiceia para que de ambas as

regiotildees pudessem trazer relatos se os Sarracenos estavam a fazer alguma coisa por meio de

treino

Observe-se que o strategoacutes de Tessaloacutenica responsabilizou-se pela produccedilatildeo de

200000 flechas e 3000 menaulia e de quantos escudos pudesse Observe que o kritecircs da

Helaacutede responsabilizou-se pela produccedilatildeo de 1000 menaulia que completou Ele

responsabilizou-se da produccedilatildeo de outra remessa e de levaacute-la para onde tinha sido acordado

617 Galea

CXLII

Observe-se que o archocircn de Chrecircpos no theacutema da Heacutelada responsabilizou-se pela

produccedilatildeo de 200000 flechas e 3000 menaulia do mesmo modo que o stratecircgos de Nicoacutepolis

e o (stratecircgos) do Peloponeso

Observe-se que o procirctospatharios Teodoro Pagkrates responsabilizou-se de viajar para

o Anatolikoi618 e de recrutar os Platinatiai e a partir deles e de outros do theacutema de reunir 500

homens selecionados pela sua abilidade como arqueiros especialmente se algum deles fosse

um cavaleiro competente quer fossem dos oficiais ou dos scholarioi Se os scholarioi tiverem

o seu pagamento na iacutentegra deixem-nos equipar-se dos seus proacuteprios recursos com a panoacuteplia

de cavaleiro Mas se forem escassos no que respeita ao seu pagamento deixem-nos levar os

animais do mecirctata ou por imposiccedilotildees pessoais dentro do theacutema dos Anatoacutelicos

Em relaccedilatildeo ao que devia ter sido preparado no theacutema dos Traceacutesicos

20000 (modioi) de cevada 40000 (modioi) cada de trigo biscoito e farinha 30000

medidas de vinho 10000 animais para abate

E em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 10000 medidas de fibra de linho para a propyra619 e o

encalcar deixem-nas armazenadas em Phygela e 6000 pregos para pregar os droacutemōnes o

protonotaacuterios do theacutema dos Traceacutesicos responsabilizou-se por estes objetos o (oficial) para

Limnogalaktos encarregou-se igualmente de assisti-lo com o vinho

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 30000 pregos de cinco-dedos620 para os conveacutes dos

droacutemōnes para as pranchas de embarque e para os estaleiros deixem que sejam tambeacutem

levados para Phygella o stratecircgos de Samos responsabilizou-se de obter as despesas para

estes objetos pelo protonotaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 3000 ldquopregos-garrardquo de cabeccedila-uacutenica para

ldquoTartarugasrdquocoberturas escadas e outros trabalhos e dos 3000 pregos de um palmo o

stratecircgos de Samos responsabilizou-se por isto

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 4000 (pregos) de seis-dedos621 4000 (pregos) de cinco-

dedos e 4000 pregos de quatro-dedos622 para as gruas os passadiccedilos e outras necessidades o

stratecircgos de Samos responsabilizou-se por isto

618 Anatoacutelicos 619 Os fornos ou braseiros utilizados para aquecer o oacuteleo usado nos sifotildees de fogo liacutequido (greguecircs) Vide Idem

Ibidem 210 620 975 cms 621 117 cm

CXLIII

Em relaccedilatildeo ao empreendimento do oficial imperial presente na regiatildeo dos Anatoacutelicos

para preparar 20000 modioi de cevada e 60000 modioi de hardtack e trigo e farinha dos

Kibirrhaiotai e Anatoacutelicos e deixem-nos ser trazidos da regiatildeo dos Anatoacutelicos para Ataacutelia

em vez de irem para Kalon Oros

Em relaccedilatildeo agrave compra pelo protonotaacuterios do Kibirrhaiotai de 60000 pregos pequenos

para prender as peles

Em relaccedilatildeo aos esquifes feitos para a dromocircnia o carteiro enviem-no da hetaireia

com uma ordem para o katepanocirc que deve dar-lhe um procirctokagkellarios e apoio total e

deixem-lhe entatildeo os Korphitianoi de Heracleia e levar quatro marinheiros para cada esquife

Ele devem entatildeo enviaacute-los (aos esquifes) sem atrasos pelo procirctokagkellarios Cada esquife

deve ter o seu masto verga e quatro remes bem como um leme Em adiccedilatildeo 6 escaleres de

oito remes

Em relaccedilatildeo aos estrepes perguntem ao koitocircnites Theodoretos o que lhes aconteceu

de igual modo em relaccedilatildeo aos sacos do ano passado e agraves picaretas e marretas aneacuteis parafusos

grilhetas e bate-estacas e deve enviar o seu notaacuterio a noacutes com o registo de tudo

Em relaccedilatildeo ao parathalassitecircs tendo sido ordenados para equipar 1200 homens a

partir de contribuiccedilotildees conjuntas (pelos habitantes da Cidade)

Observe que os Kibirrhaiotes o katepano dos Mardaiacutetas de Ataacutelia e Leatildeo Symbatikes

responsabilizaram-se por manter a seguranccedila e uma vigia rigorosa e a natildeo permitir a

nenhuma pessoa que vaacute para a Siacuteria e que a partir deles que a informaccedilatildeo sobre o Estado

Romano seja enviada para a Siacuteria

622 78 cm

CXLIV

b) A primeira ldquomaldaderdquo de 809810

ldquoNeste ano Niceacuteforo apoacutes as suas puniccedilotildees iacutempias [que tinha sofrido] e tencionando

humilhar o exeacutercito no seu todo removeu cristatildeos de todos os themaacuteta e ordenou-lhes que

seguissem para as Sklavinias depois de venderem as suas propriedades Este estado de coisas

natildeo era menos grave que o cativeiro muitos na sua insensatez proferiram blasfeacutemias e

rezaram para ser invadidos pelo inimigo outros choraram junto das sepulturas dos seus

ancestrais e enalteceram a felicidade dos mortos alguns ateacute se enforcaram para se salvarem de

tal terriacutevel situaccedilatildeo Uma vez que as suas possessotildees eram difiacuteceis de transportar eles natildeo se

encontravam em posiccedilatildeo de as trazer consigo e presenciaram a perda das propriedades

adquiridas pelo trabalho dos seus parentes Todos estavam em completa anguacutestia os pobres

por causa das circunstacircncias acima enunciadas e por causa daquelas que seratildeo contadas mais

tarde enquanto os mais ricos simpatizavam com os pobres aos quais se encontravam

incapazes de ajudar e esperavam infortuacutenios piores Estas medidas comeccedilaram a ser aplicadas

no mecircs de Setembro e foram completadas na Santa Paacutescoardquo ndash Croacutenica de Teoacutefanes o

Confessor entrada relativa a 809810623

c) A segunda ldquomaldaderdquo

ldquoPara aleacutem disto ele ordenou uma segunda maldade mais propriamente o alistamento

de pessoas pobres no exeacutercito e que estas deviam ser equipadas pelos habitantes da sua

comunidade pagando ainda 185 nomismata por homem mais os impostos por

responsabilidade solidaacuteriardquo ndash Croacutenica de Teoacutefanes o Confessor entrada para 809810624

623 Vide SCOTT Roger (1997) The Chronicle of Teophanes the Confessor Oxford Clarendon Press p 383 624 Vide Idem Ibidem p 383

Page 3: Como “Navegar” a Guerra: Análise e Comentário do tratado militar … · 2019. 11. 12. · ii Resumo A História do Império Bizantino é um assunto muito pouco estudado em Portugal,

ii

Resumo

A Histoacuteria do Impeacuterio Bizantino eacute um assunto muito pouco estudado em Portugal

algo que esta tese pretende ajudar a colmatar A dissertaccedilatildeo aqui apresentada tem como

objetos de estudo principais o basileuacutes Leatildeo VI o Saacutebio (886-912) e uma das obras mais

importantes que lhe satildeo atribuiacutedas o Taktikaacute uma enciclopeacutedia militar que aborda temaacuteticas

muito diversificadas como o armamento de tropas movimentaccedilotildees no campo de batalha e

guerra naval O Taktikaacute foi o primeiro manual militar da segunda eacutepoca de ouro da produccedilatildeo

literaacuteria beacutelica bizantina (seacutec X-XI) e serve como se pretende mostrar nesta tese como elo

de ligaccedilatildeo da tradiccedilatildeo antiga com os paradigmas militares bizantinos da eacutepoca que se

encontravam em mudanccedila no reinado deste imperador No contexto deste trabalho

pretendemos desmistificar a alegada falta de interesse por questotildees beacutelicas de Leatildeo VI um

imperador reconhecido pela sua ausecircncia de participaccedilatildeo em campanhas militares bem como

mostrar quais as preocupaccedilotildees que tinha patentes no tratado em estudo Quanto ao Taktikaacute

pretende-se demonstrar que apesar de ter sido muito influenciado por manuais congeacuteneres

anteriores (como o Stratēgikoacuten de Mauriacutecio do seacuteculo VI) refletia a realidade militar da

eacutepoca da sua escrita incorporava o pensamento estrateacutegico bizantino de entatildeo e serviu como

foco de influecircncia para as obras de literatura militar que se lhe seguiram Para isto recorremos

agrave leitura de fontes histoacutericas e tratados militares bizantinos anteriores e posteriores ao objeto

de estudo como o Perigrave Paradromeacutes de Niceacuteforo II Focas (governou entre 962-969) ou o Perigrave

Strategiacuteas de Siriano (possivelmente do seacuteculo IX) bem como a obras de especialidade que

versam tanto temaacuteticas beacutelicas como o principado do Saacutebio

Palavras-chave

Histoacuteria Militar Impeacuterio Bizantino Leatildeo VI Taktikaacute Themaacuteta

iii

Abstract

The History of the Byzantine Empire has been absent from the Portuguese research

agenda an issue this thesis attempts to address The following dissertation focuses its study

on the basileuacutes Leo VI the Wise (886-912) and the Taktikaacute a military encyclopaedia

accredited to him which approaches a vast set of subjects such as arming the troops moving

in the battlefield or waging war at sea The Taktikaacute was the first military field book from the

second golden era of byzantine war literature (X-XI centuries AD) and as we attempt to

showcase it served as a link between the ancient tradition with the byzantine military

standards of its time which were undergoing some changes by then Further we intend to

debunk Leo VIrsquos alleged lack of interest in military concerns an argument based on his

absence in military campaigns As for the Taktikaacute we defend that while influenced by similar

previous manuals (such as the 6th century Mauricersquos Stratēgikoacuten) it reflected the military

reality as well as the Byzantine strategic thinking of its time while serving as an influence

focus for the military literature that followed it To meet the set goals we have read historical

accounts and other byzantine military treatises such as Nikephoros II Phokasrsquos (who ruled

between 962 and 969) Perigrave Paradromeacutes or Sirianorsquos Perigrave Strategiacuteas (possibly 9th century) as

well as specific bibliography versing both military subjects and the reign of the Wise

Keywords

Military History Byzantine Empire Leo VI Taktikaacute Themaacuteta

iv

Aos meus avoacutes Luacute e Narciso por tudo o que fizeram por mim

ao longo da minha efeacutemera existecircncia por todas as aventuras e todos os ensinamentos Esta

dissertaccedilatildeo foi feita com vocecircs sempre no meu pensamento

v

Tal como natildeo eacute possiacutevel navegar um navio sobre os mares sem conhecimentos de navegaccedilatildeo

tambeacutem natildeo eacute possiacutevel derrotar o inimigo sem disciplina e sem lideranccedila Ao passo que com isto

e com a ajuda de Deus natildeo soacute eacute possiacutevel prevalecer sobre um inimigo de igual forccedila mas tambeacutem

sobre um que supere largamente em nuacutemeros as vossas forccedilas

Leatildeo VI o Saacutebio in Taktikaacute Proacutelogo (9)

Entre as boas coisas que agrave vida trazem benefiacutecio a Histoacuteria natildeo eacute das menos mas sim das mais

importantes pois eacute por sua proacutepria natureza algo de uacutetil e proveitoso Eacute que ela relata uma

multiplicidade de feitos de toda a espeacutecie tais como eacute haacutebito acontecerem no decorrer do tempo e

dos eventos e em particular pelas escolhas dos homens que nesses eventos participam prescreve

tambeacutem aos homens que tomem como modelos e emulem alguns feitos enquanto rejeitam e evitam

outros de tal modo que natildeo negligenciem inadvertidamente o que eacute uacutetil e beneacutefico e se prendam

ao que eacute nocivo e abominaacutevel eacute Eacute portanto considerada a Histoacuteria como tatildeo proveitosa quanto

todas as outras coisas da vida na medida em que restitui vida ou juventude aos assuntos mortais

e natildeo permite que eles se apaguem e se confinem agraves profundezas do esquecimento

Leatildeo o Diaacutecono in A Histoacuteria Livro I

A paz era o objetivo principal (para Bizacircncio) ainda que a

guerra fosse necessaacuteria para o assegurar

John Haldon in Critical Commentary

on the Taktika of Leo VI p22

vi

Agradecimentos

A realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo de mestrado natildeo foi uma jornada faacutecil e foi repleta de

percalccedilos de duacutevidas e desalento por muito deleite que tal empreendimento me tenha dado Eacute

por este motivo que devo agradecer a todos os que me auxiliaram nesta fase e me

incentivaram a seguir em frente

Em primeiro lugar ao meu orientador mestre e amigo o Professor Doutor Joatildeo

Gouveia Monteiro Muito haacute a agradecer desde logo por ter acompanhado o meu percurso

acadeacutemico desde o meu segundo ano da faculdade quando semeou em mim a paixatildeo por

Histoacuteria Militar Por ter apontado o caminho para Constantinopla Por toda a ajuda todas as

oportunidades e todas as palavras de forccedila A mais sentida gratidatildeo por tudo isto e pelo que

espero viraacute

Os meus agradecimentos devem agora estender-se aos outros eruditos que me

aconselharam e me deram apoio bibliograacutefico para este trabalho Primeiro e em especial ao

Professor Salvatore Cosentino de Ravena pela hospitalidade durante a viagem a Itaacutelia e pela

disponibilidade incansaacutevel em me ajudar Ao Professor John Haldon da Universidade de

Princeton o meu obrigado natildeo soacute pelos conselhos que me deu mas tambeacutem pela longa obra

que jaacute tem parte do meu entusiasmo pelo exoacutetico Impeacuterio Romano do Oriente eacute devido a ele

E por fim agrave Professora Helena Catarino da Universidade de Coimbra por tudo o que me

ensinou e por ter dado o empurratildeozinho final para entrar no Mestrado Interuniversitaacuterio em

Histoacuteria Militar

Um agradecimento especial ao Mestre Joatildeo Nisa natildeo soacute em tiacutetulo mas tambeacutem em

conhecimento Por todos os conselhos e todas as ideias que me deu e por todas as duacutevidas que

me esclareceu A todos os outros que me ajudaram durante a realizaccedilatildeo deste trabalho Ao

Rodrigo Gomes e ao Gustavo Gonccedilalves amigos e companheiros de guerra que sempre me

ajudaram alegraram e impeliram a seguir em frente Que venham muitos mais anos de duros

combates pela nossa frente Uma palavra de gratidatildeo para o Anton Stark e para o Maacuterio

Coelho por me terem ajudado na traduccedilatildeo do inglecircs mais traiccediloeiro Aos camaradas Joatildeo Neto

e Jorge Wolfs pelo apoio graacutefico terreno desconhecido e exoacutetico para mim E ao meu

afilhado de amizade Pedro Baptista por todos os remendos palavras de forccedila e gargalhadas

A minha gratidatildeo estende-se tambeacutem a todos os outros que me ajudaram nesta

dissertaccedilatildeo somente pela boa-disposiccedilatildeo e amizade em especial a Caacutetia a Laura o Luiacutes o

vii

Joatildeo Rainho o Emanuel e o Pedro Parreira Ah e um agradecimento especial agrave Sara Serra

pelos raspanetes quando a ansiedade teimava em aparecer

Deixo um agradecimento emotivo aos que me apoiaram desde sempre Ao meu pai Zeacute

por nunca me deixar ir abaixo pelas palavras saacutebias e por todas as correccedilotildees que fez Agrave minha

matildee Rosa pelos sermotildees pela companhia nas uacuteltimas noites e pelo lanchinho das ldquotrecircs da

manhatilderdquo Um agradecimento tambeacutem para a minha avoacute Fernanda por tudo o que fez por mim

durante a minha breve vida e a toda a restante famiacutelia por nunca ter deixado de acreditar no

ldquoJoatildeozinhordquo ldquoJoatildeo Pedrordquo

Por fim e porque os uacuteltimos satildeo sempre os primeiros agrave Sofia pela inspiraccedilatildeo o

encorajamento e pelo carinho (e pela paciecircncia) Por nunca ter deixado de acreditar em mim e

por ser o meu grande porto de abrigo O meu mais sentido obrigado milady

PS Ao Professor Doutor Pedro Barbosa da Universidade de Lisboa meu arguente

por todas as suas construtivas opiniotildees e comentaacuterios que serviram para beneficiar a versatildeo

final desta dissertaccedilatildeo O meu mais sentido agradecimento por tudo isto

viii

Foto de capa Leatildeo VI do livro ldquoRulers of the Byzantine Empirerdquo publicado pela KIBEA

Fonte httpsthehistoryofbyzantiumcom20160705episode-109-leo-the-wiseleo-vi-from-

rulers-of-the-byzantine-empire-published-by-kibea Verificado agraves 2346 de 05032018

Iacutendice

Resumo ii

Abstract iii

Agradecimentos vi

Introduccedilatildeo 6

Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o exeacutercito

bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X 12

11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando da ascensatildeo

da dinastia macedoacutenica 12

12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial 15

13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados dos

primeiros basileicircs macedoacutenicos 18

Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte de Leatildeo VI

(867-912) 28

21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886) 28

22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912) 37

Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina 50

31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina 50

32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI) 52

Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute 56

41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza 56

42 ndash Estrutura interna da fonte 61

43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees 64

Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general 67

51 ndash O strategoacutes de Leatildeo 67

52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros 70

53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos 73

Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar 79

61 ndash O armamento e o treino 79

62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra 83

63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta 87

Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas 91

71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade 91

72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval 96

73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X 101

Conclusatildeo 106

Bibliografia 110

Fontes 110

Estudos 112

Iacutendice de Anexos

Anexos I ndash Mapas e Esquemas I

Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino XIV

Seacuteculo V XIV

Seacuteculo VI XIV

Seacuteculo VII XV

Seacuteculo VIII XXIX

Seacuteculo IX XXXV

Seacuteculo X XLIV

Seacuteculo XI LI

Seacuteculo XII LIX

Seacuteculo XIII LXIV

Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos LXVI

Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana) LXVI

Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica) LXVIII

Reinado de Leatildeo VI LXXIV

Reinado de Alexandre LXXXIII

Reinado de Constantino VII LXXXIV

Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees LXXXVI

a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados LXXXVI

b) Tratadistas e cronistas XCII

c) Outras personagens relevantes XCIII

d) Dinastias XCIV

e) Organizaccedilotildees e unidades militares XCV

Anexos V ndash Listas de Titulares XCVI

a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca meacutedio-bizantina XCVI

b) Califas Aacuterabes C

c) Outros governantes aacuterabes CI

d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria CIII

e) Priacutencipes de Rus CIV

f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia CV

Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico CIX

a) Termos militares e navais CIX

b) Tiacutetulos CXIV

c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura CXVI

d) Povos CXVIII

e) Outros termos CXX

Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico CXXI

a) Regiotildees CXXI

b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc) CXXIII

c) Centros populacionais (cidades vilas etc) e fortificaccedilotildees CXXIV

d) Referecircncias topograacuteficas mariacutetimas e fluviais CXXVII

e) Campos de batalha CXXVIII

Anexo VIII ndash Excertos do Taktikaacute CXXIX

a) Evitar batalha CXXIX

b) Sobre natildeo guerrear com os Buacutelgaros e a paz de 896 CXXIX

c) Preferecircncia de recrutamento de soldados economicamente confortaacuteveis CXXIX

d) Acerca do financiamento de soldados pobres por homens (stratioacutetai) ricos CXXX

e) Menccedilatildeo da alianccedila entre Bizantinos e Magiares do iniacutecio da guerra Bizantino-Buacutelgara de

984 e da participaccedilatildeo Magiar nesse conflito CXXX

f) O Proeacutemio CXXXI

g) A travessia do rio Paradeisos por Basiacutelio (877-878) CXXXI

h) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (I) CXXXI

i) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (II) CXXXI

j) Sobre a lealdade do general CXXXII

k) As caracteriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos Aacuterabes contra Bizacircncio CXXXII

l) O problema em causa no Taktikaacute CXXXII

m) A soluccedilatildeo do basileuacutes CXXXIII

n) O Epilogus CXXXIV

o) A guerra como ldquomal necessaacuteriordquo CXXXIV

p) Formas de agir em caso de ataques vindos da Ciliacutecia CXXXV

q) O perfil psicoloacutegico de um bom strategoacutes CXXXV

Anexos IX ndash Excertos de outras fontes CXXXVII

a) Listas da Expediccedilatildeo a Creta em 910-911 CXXXVII

b) A primeira ldquomaldaderdquo de 809810 CXLIV

c) A segunda ldquomaldaderdquo CXLIV

6

Introduccedilatildeo

O que eacute Bizacircncio Para muitos eacute um mundo exoacutetico algo distante desconhecido

intrigante Quando tal nome eacute pronunciado vecircm-nos agrave mente algumas imagens palavras

iconografias personagens Constantinopla Hagia Sophia Guarda Varangiana as figuras de

Justiniano e Teodora imortalizadas na Basiacutelica de Satildeo Vital em Ravena No entanto para

noacutes estudantes de Histoacuteria e do Impeacuterio Bizantino tem outro significado e outra essecircncia eacute

Roma noutro local centrada noutra capital (que une hoje dois continentes) que tenta manter

por todos os meios o seu esplendor e o seu legado eacute um mundo dominado pelo Grego na

escrita na cultura e na lei e por fim eacute um baluarte da Cristandade Ortodoxa onde o poder

do Estado sobre a religiatildeo se mescla sinergicamente com a influecircncia da religiatildeo sobre o

Estado como o atestam os vaacuterios conflitos entre imperadores papas e patriarcas que diversas

vezes minaram a estabilidade do Estado e da sociedade bizantina Se pudeacutessemos definir este

Impeacuterio tatildeo diversificado a partir de trecircs caracteriacutesticas principais seriam estas um Impeacuterio

Romano de liacutengua grega e com uma religiatildeo cristatilde ortodoxa

Todavia o objeto deste trabalho natildeo satildeo os mil anos de histoacuteria bizantina (romana)

nem tatildeo pouco as tipologias de exeacutercitos que os basileicircs ao longo da existecircncia do Impeacuterio

tiveram ao seu dispor O nosso trabalho encontra-se situado num espaccedilo de tempo preciso na

Histoacuteria de Bizacircncio o reinado de Leatildeo VI entre os finais do seacuteculo IX e os iniacutecios do seacuteculo

X Mais especificamente a nossa investigaccedilatildeo incide no tratado militar Taktikaacute atribuiacutedo a

esse mesmo soberano que apesar de natildeo ser original em grande parte do seu conteuacutedo

possui caracteriacutesticas inovadoras como demonstraremos mais adiante

Que razotildees nos levaram a optar por esta temaacutetica (a tratadiacutestica) e por esta fonte em

particular Uma das principais razotildees para a escolha desta enciclopeacutedia militar do seacuteculo X

prende-se exatamente com a diversidade do seu conteuacutedo que abrange todas as disciplinas da

tratadiacutestica claacutessico-bizantina das quais falaremos mais adiante Um tratado militar tatildeo

abrangente parece-nos uma excelente ferramenta para o estudo das forccedilas armadas deste

periacuteodo desde que tal como acontece com todas as fontes histoacutericas coevas sejam aplicados

os devidos cuidados durante a sua apreciaccedilatildeo A outra razatildeo que entendemos ter sido

fundamental para a proposiccedilatildeo do estudo deste tratado eacute o periacuteodo cronoloacutegico em que foi

redigido De facto os iniacutecios do seacuteculo X satildeo uma etapa fundamental para aquilo que muitos

apelidam de laquoReconquista Bizantinaraquo Durante o reinado de Leatildeo VI Bizacircncio encontrava-se

sob a dinastia Macedoacutenica uma das dinastias mais bem-sucedidas da histoacuteria bizantina (salvo

talvez a dinastia dos herdeiros de Justiniano) e embora ainda natildeo estivessem reunidas as

7

melhores condiccedilotildees para o Impeacuterio se lanccedilar em grandes ofensivas este tambeacutem natildeo estava

numa situaccedilatildeo de dificuldade in extremis tal como a que existiu entre 640 e 740 E se por um

lado ainda se mantinha um impasse no limes oriental entre Constantinopla e os emirados

aacuterabes sedeados em torno dos thugucircr da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia tambeacutem eacute verdade que a

balanccedila tendia cada vez mais a favor do Impeacuterio algo que se manteve ateacute agrave ascensatildeo de Sayf

al-Dawlah em 936 ao emirado de Alepo

Por outro lado os Buacutelgaros continuavam a constituir um enorme perigo na

laquoretaguarda bizantinaraquo e novos adversaacuterios como os Russos e os Magiares comeccedilavam a ser

uma presenccedila cada vez mais constante na lista de inimigos que os basileicircs tinham de

enfrentar Infelizmente a necessidade de valorizar o fulcro desta dissertaccedilatildeo (o estudo do

tratado) conjugado com o limite de paacuteginas que temos ao nosso dispor natildeo nos permitem

uma anaacutelise pormenorizada e detalhada dos principais inimigos de Bizacircncio nesta eacutepoca

desde o seu surgimento enquanto tal ateacute ao status quo poliacutetico-militar dos iniacutecios do seacuteculo X

Temos trecircs objetivos principais na realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo o primeiro eacute

comprovar que Leatildeo VI tinha um empenho claro na governaccedilatildeo do impeacuterio inclusive nos

assuntos de natureza militar o segundo eacute demonstrar que o Taktikaacute natildeo eacute apenas uma

enciclopeacutedia militar que compila os conhecimentos beacutelicos dos eruditos claacutessicos e de

Mauriacutecio para preencher as suas paacuteginas antes reflete sob diversas formas a realidade da

eacutepoca o terceiro consiste em comparar a informaccedilatildeo presente no Taktikaacute com o modelo

militar dos themaacuteta em especial com a guerra travada no limes oriental e no Mediterracircneo

Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir a nossa dissertaccedilatildeo em duas partes principais a

contextualizaccedilatildeo e a anaacutelise do tratado A primeira secccedilatildeo eacute constituiacuteda por trecircs capiacutetulos que

versam o periacuteodo histoacuterico em que este manual se encontra situado a passagem do seacuteculo IX

para o X Cada um dos capiacutetulos aborda uma temaacutetica particular O primeiro refere assuntos

de natureza geopoliacutetica e militares e vamos tentar aferir qual era a situaccedilatildeo estrateacutegica do

Impeacuterio nesta fase quais eram as principais ameaccedilas agrave supremacia romana de que forma

Constantinopla respondia a essas ameaccedilas em termos estrateacutegicos e por fim que meios

militares eacute que Bizacircncio possuiacutea para se defender com sucesso De seguida vamos retratar os

principados de Leatildeo VI e do seu pai Basiacutelio I o fundador da dinastia Macedoacutenica uma

dinastia que durou mais de um seacuteculo e que teve um importante papel na chamada

laquoReconquista Bizantinaraquo um conjunto de campanhas militares que tornou Bizacircncio a maior

potecircncia do Mediterracircneo oriental no primeiro quartel do seacuteculo XI Aqui daremos ecircnfase agraves

questotildees beacutelicas poliacuteticas e diplomaacuteticas dos primeiros basileicircs dessa linha dinaacutestica Este

tipo de digressatildeo eacute crucial para podermos entender as motivaccedilotildees que levaram Leatildeo VI a

8

redigir o Taktikaacute e os desafios que o Saacutebio teraacute enfrentado durante o tempo em que esteve

sentado no trono puacuterpura de Constantinopla

Finalmente ainda dentro da contextualizaccedilatildeo vamos dedicar um capiacutetulo agrave tratadiacutestica

militar A produccedilatildeo literaacuteria de obras beacutelicas jaacute possuiacutea uma longa histoacuteria quando Leatildeo

iniciou (ou mandou iniciar) a escrita do Taktikaacute Natildeo iremos aqui evocar a longa histoacuteria da

escrita de guerra em Bizacircncio porque outros jaacute o fizeram1 mas vamos proceder agrave exposiccedilatildeo

das principais disciplinas da tratadiacutestica bizantina ateacute porque as utilizaremos para estruturar a

parte desta dissertaccedilatildeo direcionada agrave anaacutelise do tratado Assim sendo temos cinco disciplinas

importantes para a caracterizaccedilatildeo da escrita militar bizantina a strategikaacute relacionada com a

arte de comandar preparar e organizar exeacutercitos a taktikaacute que engloba os preceitos taacutecticos e

a forma de organizar e de comandar soldados no campo de batalha a poliorketikaacute que

descreve os meios e engenhos usados na guerra de cerco defensiva e ofensiva a naumachikaacute

que aborda o modo como se pratica a guerra naval e por fim os tratados baseados na

strategemataacute que podemos distinguir em dois geacuteneros os que abordam meacutetodos indiretos de

praticar a guerra estratagemas ardis e guerra de guerrilha no geral e a rethoacuterika ou maacuteximas

beacutelicas2 Na segunda parte deste capiacutetulo analisaremos algumas das principais caracteriacutesticas

da lsquosegunda eacutepoca douradarsquo da erudiccedilatildeo militar literaacuteria de Bizacircncio que se estendeu do

Taktikaacute de Leatildeo VI ateacute aos meados do seacuteculo XI e aferiremos ateacute que ponto esses atributos se

enquadram no contexto politico-estrateacutegico que o impeacuterio entatildeo vivia

Na segunda parte desta dissertaccedilatildeo vamos analisar a grande obra militar de Leatildeo o

Taktikaacute Optaacutemos por dividir o seu estudo segundo as cinco disciplinas da literatura beacutelica

coeva de forma a natildeo nos fixarmos na anaacutelise individual de cada Constitutio um trabalho

pesado e demorado A anaacutelise do tratado comeccedilaraacute com uma introduccedilatildeo onde abordaremos

questotildees como a estrutura a autoria e a dataccedilatildeo Os restantes capiacutetulos tratam de cada uma

das disciplinas jaacute referidas mas dedicaremos especial atenccedilatildeo agrave strategikaacute e agrave taktikaacute

vertentes mais expressivas do que as restantes trecircs (poliorketikaacute strategemataacute e naumachikaacute)

na fonte em apreccedilo

1 Vide COSENTINO Salvatore (2009) Writting about War in Byzantium in Revista de Histoacuteria das Ideias

volume 30 Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 85-90 Mais recentemente a dissertaccedilatildeo de

Mestrado apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pelo Mestre Joatildeo Nisa possui

tambeacutem um excelente resumo da produccedilatildeo tratadiacutestica bizantina ao longo dos tempos com pequenos resumos

acerca dos conteuacutedos e principais caracteriacutesticas dos tratados mais importantes vide NISA Joatildeo (2016) Arte

Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Militar

apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pp 11-16 2 Vide MCGEER Eric (2008a) Military Texts In JEFFREYS Elizabeth HALDON John e CORMACK Robin

The Oxford Handbook of Byzantine Studies Nova Iorque Oxford University Press p 907

9

Em relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo utilizada tivemos agrave nossa disposiccedilatildeo uma pequena

quantidade de fontes histoacutericas que podemos dividir em duas aacutereas as croacutenicas e os tratados

militares As principais croacutenicas que utilizaacutemos foram a Histoacuteria de Joatildeo Skylitzes e a

Histoacuteria de al-Tabari A primeira apresenta-se como uma coleccedilatildeo de trabalhos

historiograacuteficos que se mostra fundamental para entender a histoacuteria do Impeacuterio Bizantino

desde o iniacutecio do seacuteculo IX ateacute aos meados do seacuteculo X Apesar de ser dada especial atenccedilatildeo

ao reinado de Basiacutelio II os principados de Basiacutelio I e Leatildeo VI tambeacutem se encontram bem

retratados pelo que decidimos usar esta obra A traduccedilatildeo que usaacutemos desta recolha

historiograacutefica eacute da autoria de John Wortley e foi publicada em 2010 pela Universidade de

Cambridge3 Quanto a al-Tabari o seu trabalho oferece um relato exaustivo da histoacuteria da

civilizaccedilatildeo islacircmica ateacute ao ano 915 Tendo em conta o objeto de estudo do nosso tratado

utilizaacutemos os volumes XXXVII e XXXVIII por relatarem os acontecimentos alusivos aos

reinados dos basileicircs em apreccedilo As traduccedilotildees que dispusemos foram respetivamente

realizadas por Phillip M Fields (XXXVII)4 e Franz Rosenthal (XXXVIII)5 as quais foram

editadas pela Universidade de Nova Iorque

Em relaccedilatildeo agrave tratadiacutestica utilizaacutemos vaacuterias obras das quais destacamos o

indispensaacutevel Taktikaacute O Stratēgikoacuten foi outra enciclopeacutedia militar a que recorremos

frequentemente pelo facto de ser uma das principais influecircncias (senatildeo a maior) do manual

atribuiacutedo a Leatildeo Escrito no seacuteculo VI trata-se da primeira enciclopeacutedia militar bizantina

apesar de atribuir maior relevo agrave cavalaria6 Outra obra muito importante que usaacutemos foi o

Perigrave Paradromeacutes atribuiacutedo a Niceacuteforo II Focas pelas suas descriccedilotildees do combate travado no

limes oriental algo que entendemos ser pertinente para alcanccedilarmos os nossos objetivos7

Para aleacutem das fontes primaacuterias recorremos ainda a um grande conjunto de estudos

seja de cariz mais especiacutefico seja mais generalista da histoacuteria bizantina Em especial

destacamos ldquoA Critical Comentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo8 de John Haldon um

3 WORTLEY John (2010) A Synopsis of Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press 4 FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid Recovery Nova Iorque

New York University Press 5 ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVIII The Return of the Caliphate to

Baghdad Nova Iorque New York University Press 6 Utilizaacutemos a traduccedilatildeo inglesa de George T Dennis cuja referecircncia eacute DENNIS George T (1984) Mauricersquos

Strategikon ndash Handbook of Byzantine Military Strategy Filadeacutelfia University of Pennsylvania Press 7 A traduccedilatildeo de que dispusemos foi realizada em inglecircs por George T Dennis DENNIS George T (1985)

Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 8 HALDON John (2014) A Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VI Washington DC Dumbarton

Oaks Research Library and Collection

10

excelente companheiro da traduccedilatildeo feita por George T Dennis9 e que foi muito uacutetil para

orientar o nosso trabalho e as nossas ideias Em relaccedilatildeo agrave Histoacuteria do Impeacuterio Bizantino no

periacuteodo em apreccedilo demos relevacircncia ao artigo de Karlin-Hayter sobre os aspetos militares da

governaccedilatildeo de Leatildeo VI10 assim como ao estudo da vida deste imperador que remete para

eventos do reinado do pai devido a Shaun Tougher na sua obra ldquoThe Reign of Leo VIrdquo11 por

fim utilizaacutemos o relato da histoacuteria do Impeacuterio Bizantino da autoria de Warren Treadgold12

Quanto a obras de estudo mais no acircmbito especializado da histoacuteria militar salientamos o

ldquoWarfare State and Societyrdquo de John Haldon13 (uma obra excelente e que aborda

detalhadamente muitos aspetos relativos ao funcionamento do exeacutercito bizantino e do seu

pensamento estrateacutegico) bem como alguns estudos assinados por Eric McGeer como por

exemplo o pequeno capiacutetulo sobre tratadiacutestica militar inserido no Oxford Handbook of

Byzantine Studies que possui algumas informaccedilotildees relevantes para todos aqueles que

tencionam iniciar o seu estudo da tratadiacutestica bizantina14 Por fim natildeo podiacuteamos deixar de

referir o livro ldquoThe Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-1204rdquo de John Pryor

e Elizabeth Jeffreys que aborda os mais diversos aspetos da poliacutetica naval bizantina

incluindo um estudo da evoluccedilatildeo da embarcaccedilatildeo predileta de Bizacircncio ndash o droacutemōn15

Qual a importacircncia da bizantiniacutestica para a historiografia portuguesa Esta eacute uma

questatildeo que se pode colocar a esta dissertaccedilatildeo sendo pertinente identificar uma resposta para

ela A invocaccedilatildeo de motivaccedilotildees geograacutefico-histoacutericas gera sentimentos contraditoacuterios se por

um lado a presenccedila bizantina no sul da Peniacutensula Ibeacuterica (incluindo possivelmente no

Algarve) foi muito efeacutemera por outro lado as suas influecircncias culturais em especial na

disciplina arquitetoacutenica satildeo evidentes como bem atesta o caso da Capela de Satildeo Frutuoso de

Monteacutelios em Braga Ainda assim a curta permanecircncia de Bizacircncio na Hispacircnia tambeacutem natildeo

pode representar um pretexto para natildeo se estudar o Impeacuterio Romano do Oriente bastando

para isso recordar que algumas das grandes escolas mundiais de bizantiniacutestica estatildeo sedeadas

9 Nesta dissertaccedilatildeo utilizaremos a traduccedilatildeo mais recente DENNIS George T (2014) The Taktika of Leo VI

Text Translation and Commentary (Revised Edition) Washington DC Dumbarton Oaks Research Library and

Collection 10 KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Hands A Note on Byzantine

Foreign Policy (886-912) Traditio (23) pp 15-40 11 TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 12 TREADGOLD Warren (1997) A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University

Press 13 HALDON John (1999) Warfare State and Society in the Byzantine World 565-1204 Londres University

College of London Press 14 MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit pp 907 a 914 15 PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-

1204 Leiden e Boston Brill

11

em paiacuteses onde os basilecircis natildeo exerceram qualquer tipo de poder poliacutetico ou militar direto em

Franccedila na Alemanha no Reino Unido e claro em Harvard nos Estados Unidos onde existe

a maior coleccedilatildeo de fontes bizantinas a Research Library and Collection in Byzantine Studies

em Dumbarton Oaks (um trustee da melhor universidade do mundo) O trabalho que se

segue no qual pusemos o nosso maior empenho demonstra a atualidade de Bizacircncio e a

necessidade de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre este tema de grande relevacircncia histoacuterica para

compreendermos melhor o presente em que vivemos e entendermos mais em profundidade a

Europa de hoje Os historiadores portugueses natildeo devem furtar-se agrave participaccedilatildeo neste debate

12

Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o

exeacutercito bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X

O primeiro capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo versa a guerra e a sua relaccedilatildeo com a sociedade e

o Estado bizantinos antes e durante o tempo da escrita do Taktikaacute nos primeiros anos do

seacuteculo X Este capiacutetulo estaacute dividido em trecircs subcapiacutetulos principais que focam

respetivamente i) a geografia poliacutetica e militar do impeacuterio nos primeiros anos da dinastia

Macedoacutenica ii) o panorama do pensamento estrateacutegico do impeacuterio sedeado em

Constantinopla neste periacuteodo bem como as formas de fazer a guerra em Bizacircncio iii) os

apparati militares bizantinos que se encontravam ao dispor de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Neste

uacuteltimo subcapiacutetulo daremos especial relevacircncia aos themaacuteta pois eacute aos generais destes

exeacutercitos que Leatildeo VI dedica a sua obra Apesar de o Taktikaacute natildeo se dirigir por exemplo aos

taacutegmata (plural de taacutegma laquoregimentoraquo) que compunham a guarda imperial e eram a coluna

vertebral dos exeacutercitos de campanha coevos atribuiremos tambeacutem algum espaccedilo a tais

contingentes bem como a outras componentes das forccedilas armadas bizantinas caso dos

mercenaacuterios e da marinha de guerra

11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando

da ascensatildeo da dinastia macedoacutenica

A epopeia milenar bizantina estaacute repleta de acontecimentos militares e constroacutei-se

sobre um impeacuterio em permanente estado de guerra maioritariamente defensiva Esta

caracteriacutestica torna-se ainda mais nefasta quando nos apercebemos de que os territoacuterios sob

soberania bizantina16 estavam dispersos por terras distantes separadas por mares A

insuficiecircncia econoacutemica ou militar romanas para conseguir acorrer a cada regiatildeo da mesma

forma quando mais do que uma delas estava em perigo apresenta-se como uma agravante

daquela dificuldade Veja-se por exemplo o caso dos herdeiros do imperador Justiniano

(527-565) que apoacutes um grande nuacutemero de vitoacuterias espetaculares deste no Norte de Aacutefrica e

em Itaacutelia se viram perante um enorme conjunto de invasotildees e de guerras por todo o territoacuterio

imperial17 as quais soacute a muito custo conseguiram parar ou retardar

A situaccedilatildeo que Bizacircncio vivia na altura da ascensatildeo dos primeiros Macedoacutenicos era

pouco diferente daquela que Justiniano tivera de enfrentar depois da conquista final da Itaacutelia

16 Quer sob controlo direto quer sob o domiacutenio de um vassalo de Bizacircncio 17 A Peacutersia a Oriente os Lombardos em Itaacutelia tribos mouriscas no Norte de Aacutefrica e os sempre permanentes

raides dos ldquoPovos das Estepesrdquo nos Balcatildes

13

por Narseacutes apoacutes a batalha de Mons Lactarius em 553554 Quanto muito tinham mudado os

protagonistas (ou os antagonistas neste caso) em cada uma das frentes o Norte de Aacutefrica e o

Sul da Peniacutensula Ibeacuterica estavam perdidos como principal inimigo no lugar dos Sassacircnidas

erguiam-se os califados e os emirados muccedilulmanos na Siacuteria na Ciliacutecia e no Norte de Aacutefrica

em Itaacutelia para aleacutem dos principados lombardos no Sul e dos Francos no norte os Aacuterabes

faziam sentir a sua presenccedila apoacutes a invasatildeo da Siciacutelia em 827 os Buacutelgaros mantinham-se

como o principal rival bizantino nos Balcatildes e a situaccedilatildeo mariacutetima mostrava-se pouco

favoraacutevel com a Siciacutelia a ser invadida pelos Aglaacutebidas (uma dinastia muccedilulmana do Norte de

Aacutefrica) Creta em matildeos de corsaacuterios sarracenos a ilha de Chipre a manter o status quo vigente

desde o tratado entre Justiniano II (685-695705-711) e al-Malik (685-705) em 688 e a

supremacia naval entregue nas matildeos dos emirados de Tarso e dos Tuluacutenidas do Egito e

(assim) indiretamente dos Abaacutessidas Tal era o ponto geral da situaccedilatildeo aquando da ascensatildeo

da dinastia macedoacutenica

Olhemos agora mais especificamente para cada regiatildeo Comecemos por aquela que eacute a

frente mais simboacutelica do periacuteodo-meacutedio bizantino a Aacutesia Menor Nos finais do reinado de

Miguel III (842-867) a guerra neste territoacuterio tinha comeccedilado a abrandar apoacutes duas

importantes batalhas em Marj al-Usquf e em Lalacatildeo ambas em 863 das quais resultou o

enfraquecimento do poderio terrestre dos emirados de Tarso e de Melitene Nesta regiatildeo

mantinha-se o perigo que representava o ldquoEstadordquo Pauliciano sedeado em torno de Tephrike

(atual Divriği na Turquia) que continuava a enviar expediccedilotildees de saque para o interior da

Anatoacutelia No entanto os raides muccedilulmanos de maiores dimensotildees tinham terminado e a

vantagem comeccedilava a tender cada vez mais para os Bizantinos ao menos no virar do seacuteculo

A guerra que se praticava naquela regiatildeo era tipicamente perniciosa para as

populaccedilotildees locais em especial para aquelas que habitavam junto agraves cordilheiras do Tauro e do

Antitauro A modalidade beacutelica aiacute praticada com semelhanccedilas ao que noacutes chamamos hoje de

ldquoguerrilhardquo assentava em escaramuccedilas e emboscadas e muitas vezes implicava que o inimigo

invadisse o territoacuterio imperial e saqueasse escravizasse e destruiacutesse com impunidade O

recurso de Bizacircncio a este tipo de guerra naquela aacuterea durante quase dois seacuteculos provocou

mudanccedilas de espectro demograacutefico como a criaccedilatildeo de uma terra-de-ningueacutem no limes

bizantino-aacuterabe e a reduccedilatildeo do nuacutemero de grandes cidades18 que foram substituiacutedas por

centros populacionais mais seguros bem fortificados e localizados em zonas de difiacutecil acesso

18 Estas passaram a existir apenas como centros administrativos ou refuacutegio ocasional para as populaccedilotildees

circundantes em caso de ameaccedila Vide HALDON John e KENNEDY Hugh (1980) The Arab-Byzantine

14

Tambeacutem a economia anatoacutelica (e por consequecircncia bizantina) foi viacutetima da estrateacutegia

militar romana tendo sofrido alteraccedilotildees Comeccedilou-se a verificar uma centralizaccedilatildeo da

agricultura anatoacutelica nas zonas costeiras da peniacutensula pois possuiacuteam terrenos mais feacuterteis e

estavam protegidas pelo terreno montanhoso que separava aquelas aacutereas do planalto anatoacutelico

e pela frota do Kibirrhaiotai Por sua vez os principais recursos econoacutemicos do planalto

anatoacutelico passam a ser produzidos a partir da pecuaacuteria visto que esta era muito mais rentaacutevel

no terreno rochoso e no clima frio da regiatildeo em muito semelhante ao da estepe ateacute porque se

tratava de uma fonte de rendimento muito mais faacutecil de proteger ou de deslocar

comparativamente agrave agricultura estaacutetica e muito vulneraacutevel perante as depredaccedilotildees aacuterabes

Nos Balcatildes o impasse permanecia entre Bizacircncio e a Bulgaacuteria a conversatildeo deste

uacuteltimo povo ao cristianismo em 864 afetou profundamente a relaccedilatildeo entre os ditos reinos

mudanccedila esta refletida em diversos acordos comerciais firmados A ascensatildeo de um novo

czar Simeatildeo (893-927) iria contribuir para o reforccedilo da cristianizaccedilatildeo do Estado buacutelgaro

mas se os Bizantinos pensavam que isso era sinoacutenimo de paz rapidamente viram as suas

ideias viradas do avesso quando o primeiro conflito entre os dois Estados desde a conversatildeo

dos Buacutelgaros comeccedilou a tomar forma Em 894 irrompe a guerra entre Preslav e

Constantinopla talvez catalisada pelo czar Simeatildeo Este confronto teraacute um teor diferente dos

anteriores um seacuteculo antes aquando da batalha de Priska os Buacutelgaros eram pagatildeos mas

agora eram cristatildeos e o basileuacutes Leatildeo VI (886-912) natildeo demonstrava (ou natildeo aparentava

demonstrar) qualquer inclinaccedilatildeo para travar um combate contra um reino cristatildeo ortodoxo19

tal como declara no seu tratado militar20 como veremos mais adiante

Em Itaacutelia os Bizantinos veem-se novamente frente-a-frente com os Aacuterabes apoacutes a

invasatildeo aglaacutebida da Siciacutelia em 827 Os confrontos com os muccedilulmanos alcanccedilariam mais

tarde a Calaacutebria e a Apuacutelia onde Bizacircncio combatia tanto pelas armas como pela diplomacia

a fim de submeter os principados lombardos agrave soberania bizantina quer de forma direta quer

por vassalagem A norte Bizacircncio mantinha relaccedilotildees cordiais com os Francos o que

possibilitou uma alianccedila contra os Sarracenos de Bari e permitiu cercar a cidade em 869 jaacute no

reinado de Basiacutelio I (867-886) Apesar de desacordos entre as duas partes e do abandono do

cerco pelas forccedilas bizantinas Bari caiu para os Francos em 871 tendo os habitantes entregado

a cidade anos depois a Constantinopla Esta urbe vai-se mostrar fundamental para alcanccedilar

Frontier in the Eighth and Ninth Centuries Military Organization and Society in the Borderlands Zbornik

Radova Visantoloskog InstitutaI (19) pp 92-94 19 Vide KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Handsrsquo A Note on Byzantine

Foreign Policy (886-912) Traditio 23 p 40 20 Vide Anexo IX b)

15

os dois principais objetivos estrateacutegicos na regiatildeo a expulsatildeo da ameaccedila aacuterabe e a subjugaccedilatildeo

das cidades lombardas agrave soberania romana duas metas para as quais Basiacutelio I e Leatildeo VI natildeo

vatildeo despender esforccedilos de forma a garantir a supremacia bizantina no sul de Itaacutelia ainda que

para isso tenham que sacrificar a Siciacutelia mesmo que acidentalmente como no caso de

Basiacutelio I

Por fim a situaccedilatildeo mostrava-se ingrata para os Bizantinos na guerra mariacutetima as

grandes ilhas do Mediterracircneo Oriental e Central estavam em matildeos muccedilulmanas (Creta) ou

em vias de ser conquistadas (Siciacutelia) Por outro lado o poder mariacutetimo dos emirados

cilicianos e do Califado mantinha-se superior agrave forccedila naval bizantina com ataques frequentes

agraves ilhas do Mar Egeu agrave costa anatoacutelica e agrave Greacutecia Soacute na costa italiana eacute que Bizacircncio parecia

manter a supremacia conseguindo inverter com certa facilidade os reveses naquelas aacuteguas

Na passagem do seacuteculo IX para o X eacute esta a situaccedilatildeo de Bizacircncio Os primeiros

imperadores macedoacutenicos Basiacutelio I e Leatildeo VI agrave semelhanccedila dos seus antecessores veem-se

confrontados com um conjunto de antagonismos por todo o espaccedilo imperial Pressionados

pela necessidade de legitimar a nova dinastia os basileicircs em especial Basiacutelio I vatildeo tentar

inverter a situaccedilatildeo recorrendo agrave revisatildeo da estrateacutegia militar bizantina e agrave diplomacia

12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial

Face ao tipo de adversidades enunciadas anteriormente o Impeacuterio Bizantino eacute

obrigado a proceder a reformas na sua maacutequina de guerra para conseguir responder com

sucesso agraves agressotildees estrangeiras ou intestinas que emergem no seu territoacuterio A maior parte

destas reformas como veremos adiante teve como laboratoacuterio de ensaio a peniacutensula da

Anatoacutelia onde os Romanos enfrentavam aqueles que sem grande margem para duacutevidas eram

os seus arqui-inimigos os califados aacuterabes de Damasco e de Bagdade

Este tipo de evoluccedilatildeo no entanto natildeo se prende apenas com a guerra no sentido fiacutesico

pois o pensamento estrateacutegico bizantino vai sofrer algumas alteraccedilotildees a partir do principado

de Heraacuteclio (610-641) Com efeito Bizacircncio ao tomar uma atitude completamente defensiva

comeccedila a ver-se obrigada a tomar decisotildees bastante difiacuteceis em relaccedilatildeo a alguns dos seus

territoacuterios para garantir a proteccedilatildeo de outros com maior interesse estrateacutegico Em casos mais

graves e alarmantes estas opccedilotildees tornavam-se de tal modo draacutesticas que os basilecircis optavam

por abandonar certas regiotildees para fortalecer outras Exemplo disto foi a ordem de retirada

dada por Heraacuteclio agraves tropas bizantinas da Siacuteria-Palestina apoacutes a derrota face aos Aacuterabes na

batalha de Yarmuk em 636 recuaram para a Mesopotacircmia e para a Anatoacutelia de forma a

garantir a sobrevivecircncia do que restava dos exeacutercitos moacuteveis do Oriente e da Armeacutenia bem

16

como das forccedilas auxiliares romanas naquela regiatildeo (tropas armeacutenias e gassacircnidas

principalmente) e para criar uma nova barreira nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro21

Por outro lado como eacute verificaacutevel em alguns tratados militares bizantinos como o

Taktikaacute a palavra de ordem era evitar a todo o custo a batalha campal22 jaacute que esta tinha na

maior parte dos casos um resultado incerto e acarretava grandes baixas humanas muitas

vezes ateacute para o vencedor23 Portanto Bizacircncio e em certa medida os seus inimigos em

especial os Aacuterabes preferiam combater a ldquoguerra pequenardquo tipicamente de fronteira com

recurso a ardis a espionagem a um bom estudo do terreno e muitas vezes a poliacuteticas de

terra-queimada24 Poreacutem isto natildeo implicava a inexistecircncia de batalhas campais que se

continuaram a travar durante o periacuteodo meacutedio bizantino e que na maior parte dos casos

contribuiacuteam para a alteraccedilatildeo do status quo entre Bizacircncio e o seu adversaacuterio na regiatildeo25

A guerra de fronteira no entanto natildeo era o uacutenico pilar da estrateacutegia defensiva

bizantina existindo mais dois que contribuiacuteam para o bom funcionamento da primeira a

diplomacia e a espionagem A primeira era porventura o maior trunfo do Impeacuterio Romano

do Oriente que tirava partido do seu elevado nuacutemero de diplomatas experientes para

neutralizar alguns inimigos por meio de subornos ou de tributos traziam-se novos aliados

para o lado de Constantinopla ou convenciam-se naccedilotildees estrangeiras a entrar em guerra e a

lidar com inimigos indesejaacuteveis para Bizacircncio (de forma a evitar que fossem os basilecircis a

combatecirc-los) Jaacute a espionagem era vital para o impeacuterio pois permitia reconhecer as

principais ameaccedilas agrave sua seguranccedila bem como os meios ao dispor e o alvo principal das suas

ambiccedilotildees a situaccedilatildeo interna dos vizinhos bizantinos e no caso da contraespionagem

confundir os serviccedilos de informaccedilatildeo inimigos atraveacutes da alimentaccedilatildeo de falsa informaccedilatildeo que

encaminhava o inimigo para emboscadas ou para zonas mais bem preparadas para reagir a

uma invasatildeo Ao referirmo-nos agrave estrateacutegia defensiva bizantina eacute imperativo que natildeo se

21 Vide KAEGI Walter E (2005) Byzantium and the Early Islamic Conquests Cambridge Cambridge

University Press pp 147-150 22 Contra os Aacuterabes esta praacutetica comeccedilou a aplicar-se relativamente cedo logo apoacutes a derrota bizantina frente a

forccedilas sarracenas na batalha de Yarmuk Vide HALDON John (2001) The Byzantine Wars Battles and

Campaigns of the Byzantine Era Gloucestershire Tempus Publishing Ltd pp 65 23 Para alguns autores como Walter Kaegi este pensamento estrateacutegico de evitar a batalha campal decisiva foi

uma das razotildees principais para a sobrevivecircncia milenar do Impeacuterio Bizantino Vide KAEGI Walter (1983)

Some Thoughts on Byzantine Military Strategy Brooklyn Massachussets Helenic College Press p 9 24 Existe um tratado bizantino especialmente dedicado a esta praacutetica marcial o Περiacute παραδρομής (Periacute

paradromeacutes) ou De velitatione bellica traduzido para inglecircs por George T Dennis vide DENNIS George

(1985) Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 25 Como por exemplo Yarmuk a grande batalha inaugural do periacuteodo intermeacutedio que a curto-meacutedio prazo vai

contribuir para a reduccedilatildeo do territoacuterio imperial para pouco menos de metade ou a batalha de Akroinos em 740

que em conjunto com a deposiccedilatildeo do Califado Omiacuteada vai pocircr fim no geral agraves tentativas aacuterabes de conquistar

Constantinopla e a Aacutesia Menor Para o primeiro caso vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp 56-57 e 66 Para o

segundo vide HALDON John (2016) The Empire that would not die ndash The Paradox of Eastern Roman

Survival 640-740 Cambridge e Londres Harvard University Press pp1 e 54

17

esqueccedila que a guerra perpeacutetua pela defesa de Bizacircncio se travava tanto no ldquocampo de

batalhardquo como agrave mesa de negociaccedilotildees

Outra modalidade beacutelica preferida dos Bizantinos era a poliorceacutetica com cercos

bastante recorrentes a fortalezas aacuterabes nas regiotildees limiacutetrofes dos seus territoacuterios ou a cidades

lombardas no Sul de Itaacutelia Aliaacutes nesta uacuteltima disciplina beacutelica Bizacircncio mantinha-se eficaz

como seguidora legiacutetima do Impeacuterio Romano Este legado era tanto taacutetico como teacutecnico

Bizacircncio recorria muitas vezes a armas de cerco pesadas26 que requeriam a presenccedila de

engenheiros e de teacutecnicos especializados no uso destas os techniacutetai por outro lado a guerra

psicoloacutegica era frequentemente praticada de forma a reduzir o nuacutemero de baixas e o custo de

asseacutedios a uma fortaleza A importacircncia da guerra psicoloacutegica eacute evidenciada tendo em conta

a preferecircncia dos generais bizantinos em recorrer mais vezes ao bloqueio do que ao assalto e

bombardeamento de muralhas para o qual eram empregues taacuteticas como a destruiccedilatildeo ou o

roubo de fontes de abastecimento27 que geralmente eram aproveitadas pelos sitiantes os

ataques noturnos o controlo de vias de comunicaccedilatildeo e obviamente a interdiccedilatildeo de entrada e

saiacuteda de indiviacuteduos do local sitiado a natildeo ser que fossem negociadores

A poliorketikaacute era tambeacutem uma importante disciplina da tratadiacutestica antiga e

bizantina estando presente na maior parte dos manuais de guerra (Stratēgikoacuten Taktikaacute28 e

Perigrave Strategiacuteas29) ou possuindo tratados que se dedicavam exclusivamente agrave guerra de cerco

nas suas duas vertentes defensiva e ofensiva Entre estes tratados figuram as duas obras de

Heacuteron de Bizacircncio o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia que se encontram

direcionados para uma boa aplicaccedilatildeo de maacutequinas de guerra e o De obsidione toleranda que

se dedica exclusivamente agrave componente defensiva da poliorketikaacute ou seja agrave defesa de uma

cidade ou de outro tipo de baluarte sitiado

Por fim eacute importante natildeo esquecer a relevante componente que a marinha de guerra

representava para o pensamento estrateacutegico bizantino Embora a guerra terrestre fosse

importante para a defesa da integridade territorial bizantina o controlo dos mares era vital

para o impeacuterio por diversas razotildees garantir a proteccedilatildeo do comeacutercio e das vilas e cidades

costeiras da pirataria sarracena e russa manter boas vias de comunicaccedilatildeo entre os territoacuterios

dispersos sob alccedilada bizantina e obviamente proteger a capital Constantinopla uma cidade

26 Tais como trabucos de traccedilatildeo (e mais tarde de contrapeso) escadas de assalto coberturas para equipas de

assalto como laisacirci vineae e tartarugas torres de assalto e ariacuteetes Cf NISA Joatildeo (2017) ldquoIII Parte ndash A

Poliorceacutetica e o Poder Naval Bizantinosrdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) (2017) Histoacuteria de Roma

Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 434 e 438 27 P ex Destruiccedilatildeo de aquedutos e colheitas roubo de cabeccedilas de gado Vide Idem Ibidem pp 436-437 28 Vide Anexo IX a) 29 A traduccedilatildeo que vamos usar ao longo desta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Perigrave Strategiacuteas Texto Traduccedilatildeo

e Comentaacuterio DENNIS G T (1986) ndash Op cit pp 1-136

18

que era impossiacutevel de conquistar sem o apoio de um forte braccedilo naval De forma a tentar

manter (ou recuperar) o seu estatuto de talassocracia30 Bizacircncio via-se obrigada a apostar

fortemente em reformas na marinha e na conquista (ou manutenccedilatildeo) de pontos estrateacutegicos no

Mar Mediterracircneo casos das ilhas de Creta de Chipre e como eacute oacutebvio da Siciacutelia

Durante os seacuteculos IX e X a naumachikaacute a disciplina da tratadiacutestica bizantina

direcionada para a guerra naval recebeu algum relevo com a escrita e publicaccedilatildeo de tratados

que pela primeira vez em muito tempo se debruccedilaram sobre esta modalidade e a forma como

esta deveria ser feita Entre as obras que abordam estas temaacuteticas encontramos a Constitutio

XIX do Taktikaacute de Leatildeo VI e o tratado Naumachiacuteai31 atribuiacutedo a Siriano Esta tendecircncia

verificada no virar de mileacutenio opotildee-se agrave da ldquoPrimeira Idade de Ourordquo da tratadiacutestica bizantina

(seacutec V-VI) onde a guerra no mar natildeo estaacute presente veja-se o Strategikoacuten que refere apenas

aspetos de confrontos em contextos fluviais Este facto pode ser facilmente explicado na

nossa opiniatildeo pela reduzida dimensatildeo que a marinha e o mar ocupavam no horizonte

estrateacutegico de Constantinopla entre a laquoReconquista Justinianaraquo (533-554) e a expansatildeo aacuterabe

eacutepoca em que possuiria uma frota restritamente utilizada e condicionada para garantir a

proteccedilatildeo do comeacutercio e vocacionada para o apoio logiacutestico aos exeacutercitos romanos em

especial em teatros fluviais como a fronteira do Danuacutebio tendo o droacutemon a embarcaccedilatildeo por

excelecircncia bizantina sido afetada por estes condicionalismos perdeu tonelagem e tamanho e

as tripulaccedilotildees tornaram-se mais reduzidas32

Concluiacuteda esta digressatildeo pelas bases da estrateacutegia defensiva bizantina e pelas

tipologias mais favorecidas de combate podemos entatildeo analisar os apparati militares de

Bizacircncio durante a eacutepoca-meacutedia bizantina em especial durante os primeiros Macedoacutenicos

13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados

dos primeiros basileicircs macedoacutenicos

Falar do sistema militar bizantino eacute bastante delicado e requer um certo cuidado Isto

porque dissecar o exeacutercito bizantino implica olhar para o funcionamento do Estado bizantino

30 A necessidade de Bizacircncio ser uma talassocracia pelas razotildees acimas referidas natildeo deixava de ser um pouco

paradoxal pela conceccedilatildeo tardo-romana de mar considerado um elemento peacuterfido e perigoso Por outras

palavras a necessidade bizantina de controlar o mar natildeo significava que estes nutrissem grande afeiccedilatildeo por ele

um sentimento baseado em vaacuterios fatores de cariz religioso e social Vide COSENTINO Salvatore (2004) III ndash

La flota bizantina e lrsquoIslam aspetti di storia istituzionale e sociale In CARILE Antonio e COSENTINO

Salvatore (2004) Storia della Marineria Bizantina Bolonha Lo Scarabeo pp 272 e 273 31 A versatildeo usada nesta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Naumachiai Sirianoi Magistroi Texto e traduccedilatildeo

PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-

1204 Leiden e Boston Brill pp 455-482 32 Vide COSENTINO Salvatore (2008) Constans II and the Byzantine Navy Byzantinische Zeitschrift 100 (2)

pp 581-583

19

para a sua componente fiscal e para o teacutenue balanccedilo de poderes entre a administraccedilatildeo civil e a

aristocracia militar que sobretudo apoacutes o reinado de Constantino VII (913-959) comeccedilaram

a travar um perigoso braccedilo-de-ferro pela supremacia na laquorainha das cidadesraquo

Sendo assim quais eram os principais braccedilos armados de Bizacircncio aquando da

ascensatildeo de Leatildeo VI Na nossa opiniatildeo Bizacircncio possuiria quatro importantes componentes

militares i) os themaacuteta e as kleisocircurai circunscriccedilotildees territoriais que combinavam poder

poliacutetico e militar nas quais o Impeacuterio Bizantino se encontrava dividido ii) os taacutegmata a

guarda de elite dos basileicircs e a coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha de Bizacircncio iii) a

marinha bizantina e as tropas mariacutetimas que disputavam a supremacia naval com o poderio

aacuterabe iv) os ocasionais mas sempre presentes bandos mercenaacuterios que integravam os

exeacutercitos de campanha imperiais Satildeo estes apparati que servem Leatildeo VI em vaacuterios pontos do

impeacuterio enquanto o Saacutebio (segundo se atribui) redige o seu tratado ou confronta o

patriarcado33 Examinemos agora cada uma daquelas componentes

Comecemos pelos themaacuteta Muito se debateu acerca destes corpos militares ao longo

dos anos a sua criaccedilatildeo organizaccedilatildeo como foram distribuiacutedas as suas terras o que eram

quem eram os soldados que eram recrutados em cada um entre outras questotildees Cremos que

as definiccedilotildees mais concretas que podemos dar a esta palavra satildeo as seguintes (a) eram

distritos provinciais que conjugavam de forma equitativa os poderes militares e poliacuteticos em

torno de um oficial o strategoacutes (b) eram os exeacutercitos dessas mesmas regiotildees Na nossa

opiniatildeo as principais caracteriacutesticas dos themaacuteta satildeo o facto de providenciarem uma forccedila de

defesa raacutepida contra raides inimigos a capacidade dos soldados que os integravam de

conseguirem manter-se de forma autoacutenoma na maior parte dos casos poupando ao Estado

alguma despesa na manutenccedilatildeo dos exeacutercitos e a combinaccedilatildeo do poder civil e militar sob o

strategoacutes (poder militar) e o protonotaacuterios (poder civil e fiscal) o que permitia um acesso

mais faacutecil da parte da componente militar dos themaacuteta aos recursos humanos e materiais da

regiatildeo

Em relaccedilatildeo agrave etimologia da palavra ateacute haacute pouco pensou-se que a origem da palavra

theacutema tal como eacute usada neste caso provinha do grego theacutema (corpo armado) ou do turco

toumen (divisatildeo de dez mil homens) natildeo retirando creacutedito a estas definiccedilotildees acredita-se que

uma outra possiacutevel palavra original para theacutema eacute o verbo τίθημι (tiacutetemi que significa colocar

depositar estabelecer ou atribuir) o que faz todo o sentido se estes foram estabelecidos

33 Aqui referimo-nos ao duro conflito entre Leatildeo VI e o patriarca Nicolau em torno do 4ordm casamento do basileuacutes

e portanto da legitimaccedilatildeo do seu filho (o futuro Constantino VII) com a 4ordf esposa Zoeacute Carbonopsina Cf infra

22

20

durante as reformas fiscais de Niceacuteforo I uma vez que elas ldquodepositaramrdquo soldados da Aacutesia

Menor nos receacutem-conquistados territoacuterios dos Balcatildes tal como veremos adiante34

As origens apresentam-se mais discutiacuteveis tendo ao longo da segunda metade do

seacuteculo XX surgido duas correntes para o aparecimento dos themaacuteta a primeira que podemos

apelidar de laquoimplementacionistaraquo foi sugerida por Ostrogorsky e defendia que o laquosistema

temaacuteticoraquo tinha surgido durante ou imediatamente apoacutes a uacuteltima guerra bizantino-persa (602-

628) A sua criaccedilatildeo teria sido uma reforma deliberada de Heraacuteclio e teria como objetivo obter

uma forma de recrutar e de abastecer homens para os exeacutercitos de campanha romanos durante

aquele conflito e mais tarde durante os primeiros confrontos contra os Aacuterabes35 A base desta

corrente teoacuterica era a distribuiccedilatildeo de terras e propriedades aos soldados do impeacuterio em troca

do seu serviccedilo militar de onde retiravam o rendimento necessaacuterio para as suas armas e

mantimentos (a isto acrescentamos a importante componente psicoloacutegica pois incentivava-se

o proprietaacuterio o militar portanto a combater qualquer ameaccedila agrave sua propriedade)36 Por outro

lado e colocando-se contra esta teoria de Ostrogorsky encontramos Agostino Pertusi e

Johanes Karayannopoulos que apresentam teorias a que podemos chamar de laquogradualistasraquo

Pertusi contradizendo o historiador jugoslavo defendeu que o surgimento dos themaacuteta se

prende com uma evoluccedilatildeo do sistema administrativo romano que foi moldada pelas vaacuterias

pressotildees que o impeacuterio sofreu entre os seacuteculos VII e X por sua vez Karayannopoulos

argumentou que o laquosistema temaacuteticoraquo era o resultado da evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees militares

tardo-romanas37 desde o seacuteculo VI ateacute ao seacuteculo X38

A discussatildeo passou a gerar-se em torno de um conjunto cada vez maior de

bizantinistas que tomavam o partido de uma das duas correntes teoacutericas alguns como Warren

Treadgold Martha Gregoriou-Iounnidou e Michael Hendy (este uacuteltimo com ideias proacuteprias)

tomavam o partido da teoria claacutessica de Ostrogorsky na laquofaccedilatildeo gradualistaraquo alinharam nomes

como John Haldon Walter Kaegi Heacutelegravene Ahrweiler Nicolas Oikonomiacutedes e Paul Lemerle

34Para as primeiras definiccedilotildees vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia (2017) ldquoI Parte ndash Histoacuteria Concisa do Impeacuterio

Bizantino (das Origens agrave Queda de Constantinopla)rdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) Histoacuteria de Roma

Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra p 53 Para a

segunda HALDON John (2016) A context for two ldquoevil deedsrdquo Nikephoros I and the origins of the themata In

DELOUIS Olivier MEacuteTIVIER Sophie e PAGEgraveS Paule (ed) (2016) Le Saint Le Moine et le Paysan

Meacutelanges drsquohistoire byzantine offerts agrave Michel Kaplan Paris Publications de la Sorbonne p 259 35 Vide HALDON John (1993) Military Service Lands and the Status of Soldiers Current Problems and

Interpretations In Dumbarton Oaks Papers vol 23 p4 36 Vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit pp 53-54 37 Referimo-nos aos exeacutercitos moacuteveis aos quais pertenciam os soldados que chamamos de comitatenses e aos

limitanei que guarneciam as regiotildees fronteiriccedilas 38 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit pp 4-5

21

entre outros Mais recentemente apoacutes vaacuterios anos de discussatildeo a corrente teoacuterica que tem

ganho mais importacircncia eacute a laquogradualistaraquo

Apesar da existecircncia de um enorme conjunto de teses parece-nos pertinente referir a

teoria que John Haldon apresentou recentemente O artigo onde ela se encontra assenta no

estudo das vexilationes39 de Niceacuteforo I e Haldon data os themaacuteta para o reinado deste

basileuacutes De acordo com o autor as reformas que implementaram os themaacuteta e que tinham

um cariz mais intrinsecamente fiscal do que militar foram a transferecircncia de soldados da

Aacutesia Menor para os territoacuterios recentemente conquistados aos Eslavos nos Balcatildes com a

obrigaccedilatildeo de venda das suas propriedades40 e posterior compra ou oferta (pelo Estado) de

novas terras a suacutebita apariccedilatildeo do cargo de protonotaacuterios nos iniacutecios do seacuteculo IX

(paralelamente agraves primeiras menccedilotildees dos themaacuteta em fontes) e a instituiccedilatildeo de uma doaccedilatildeo

comunitaacuteria para o pagamento de impostos e de equipamento dos soldados mais pobres41 o

que contribuiria para alicerccedilar as ligaccedilotildees entre os soldados e as comunidades onde eles

estavam inseridos Estas reformas teratildeo alastrado aos comandos militares42 da Aacutesia Menor

onde os contributos comunitaacuterios para os soldados mais pobres (que no entanto natildeo parece

que se tenham mantido por muito tempo) e os protonotaacuterios melhoraram a eficiecircncia dos

sistemas de manutenccedilatildeo e de abastecimento dos exeacutercitos provinciais assim como as ligaccedilotildees

entre o strategoacutes e o poder civil De acordo com Haldon os themaacuteta tiveram a sua origem por

essa altura comeccedilando a crescer em nuacutemero a partir daiacute (ou pela conquista de novos

territoacuterios ou mais provavelmente pela divisatildeo do territoacuterio dos themaacuteta jaacute existentes para

melhor consolidar a defesa do impeacuterio) sendo certo que pela altura do reinado de Leatildeo VI

existiriam mais de vinte distritos administrativo-militares deste tipo43

O debate entre as duas correntes teoacutericas sobre a origem dos themaacuteta tinha poreacutem

outro core para aleacutem deste a forma como os soldados eram recrutados bem como a relaccedilatildeo

destes com os proacuteprios themaacuteta44 Este uacuteltimo toacutepico interessa-nos muito porque envolve a

questatildeo das terras militares ou laquoestratioacuteticasraquo (as stratiotikagrave kteacutemata) O nome destas terras eacute

39 Ou kakoacuteseis (em portuguecircs ldquomaldadesrdquo) configuram um conjunto de reformas fiscais implementadas por

Niceacuteforo I que o clero bizantino viu com maus olhos devido aos alegadamente pesados impostos que o

basileuacutes lhes impocircs Destas reformas as duas primeiras satildeo de extrema importacircncia para se apurar a origem dos

themaacuteta de acordo com John Haldon Vide HALDON J (2016) ndash Op cit p 249 40 Vide Anexo IX b) 41 O valor deste equipamento estaacute apontado como sendo 185 nomismata Vide Anexo IX c) 42 As proviacutencias onde habitavam de acordo com Leif Inge-Petersen denominavam-se ldquoterras de um strategoacutesrdquo

Vide PETERSEN Leif Inge (2013) Siege Warfare and Military Organization in the Successor States (400-800

AD) Boston Brill p 105 43 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 91 Para uma possiacutevel lista dos themaacuteta no virar do seacuteculo IX para o X

vide HEATH Ian (1980) Armies of the Dark Ages 600-1066 ndash Organisation tactics dress and weapons 2ordf

Ediccedilatildeo Sussex Wargames Research Group Publication p7 44 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit p 7

22

um pouco traiccediloeiro porque a posse dita de laquoterras militaresraquo natildeo eacute implicitamente indicadora

da possessatildeo de terrenos pelos soldados mas sim da possessatildeo de strateiacutea (isto eacute da

implicaccedilatildeo de cumprir serviccedilo militar) pela propriedade ou pelo respetivo proprietaacuterio

Dentro dos recursos para recrutamento dos thematikoiacute (os soldados destes exeacutercitos) a

strateiacutea era sem duacutevida o principal e ter-se-aacute mantido como tal ateacute ao seacuteculo XII Todavia foi

sofrendo alteraccedilotildees pois ateacute agraves reformas juriacutedicas de Constantino VII encontrava-se associada

ao indiviacuteduo e natildeo agrave propriedade algo que soacute seria oficializado pelas reformas jaacute referidas45

Assim de entre os thematikoiacute deduzimos que a maior parte dos soldados recrutados para

campanha ateacute ao reaparecimento em forccedila de mercenaacuterios nos meados do seacuteculo X46 eram

aqueles que estavam registados juntamente com a sua strateiacutea47 nos koacutedikes do logotheacutesion

militar de cada theacutema48

Existiriam ainda alguns soldados voluntaacuterios natildeo registados que fora a participaccedilatildeo

em campanhas tambeacutem podiam servir a tiacutetulo permanente como membros de guarniccedilotildees e

dos corpos de guarda juntamente com voluntaacuterios possuidores de strateiacutea Seria este conjunto

de homens que alguns anos apoacutes o desaparecimento do Saacutebio formaria os taacutegmata

provinciais49 corpos permanentes e muito melhor sustentados pelo Estado que se tornaram

um dos alicerces para a mudanccedila de interesses estrateacutegicos de Bizacircncio Esta viragem foi

concretizada a partir do reinado do co-imperador Romano I Lecapeno (920-944) e

caracterizou-se por uma postura cada vez mais ofensiva do impeacuterio e possibilitando a

chamada laquoReconquista Bizantinaraquo da segunda metade do seacuteculo X50

Por fim teccedilamos algumas consideraccedilotildees breves sobre a logiacutestica (abordaremos de

forma mais aprofundada alguns destes temas durante a anaacutelise do Taktikaacute) em especial sobre

o pagamento e abastecimento destes soldados Esta mateacuteria vai-nos obrigar a retomar ao

assunto das stratiotikagrave kteacutemata porque a partir da retirada de Heraacuteclio para Aacutesia Menor o

principal sustentador do soldado vai passar a ser o proacuteprio combatente Ainda hoje o

fenoacutemeno do crescimento da propriedade militar em Bizacircncio entre os seacuteculos VII e X

suscita alguma discussatildeo no seio dos bizantinistas Warren Treadgold considera que este

crescimento se deveu ao pagamento aos soldados apoacutes a grande desvalorizaccedilatildeo dos

45 Ateacute esta altura nas palavras do basileuacutes apesar do caraacuteter pessoal de strateiacutea as propriedades dos soldados

bizantinos eram inalienaacuteveis por tradiccedilatildeo e natildeo por coacutedigo legal Vide HALDON J ndash Op cit 2016 p 264 46 Vide NISA Joatildeo (2016) Arte Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de

Mestrado em Histoacuteria Militar apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra p 39 47 Que era hereditaacuteria 48 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p123 49 Que natildeo devem ser confundidos com os taacutegmata da capital dos quais falaremos mais adiante apesar de terem

funccedilotildees taacuteticas e benefiacutecios idecircnticos 50 Para um resumo destas reformas militares vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 38-39

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numeraacuterios destes no reinado de Heraacuteclio em terras alegando o virtual desaparecimento da

maior parte da propriedade imperial entre os seacuteculos VII e X51

Por outro lado a visatildeo mais aceite presentemente eacute a de um conjunto de fatores como

um longo periacuteodo de casamentos entre as famiacutelias dos locais para onde os soldados dos

exeacutercitos moacuteveis tinham retirado bem como um processo de compra de propriedade efetuado

pelos soldados mais ricos52 um constante processo de recrutamento e substituiccedilatildeo dos

soldados dos antigos exeacutercitos provinciais por membros da populaccedilatildeo indiacutegena dos distritos

dos novos comandos militares poacutes-heraclianos53 Apoacutes esta apropriaccedilatildeo de terreno por

membros do exeacutercito o Estado rapidamente se comeccedilou a aperceber das vantagens do

processo particularmente a possibilidade de autossustentaccedilatildeo de um grande conjunto deles

Contudo efetuar uma generalizaccedilatildeo das condiccedilotildees econoacutemicas de todos os thematikoiacute eacute um

erro crasso existindo muitos soldados pobres que natildeo possuiacuteam meios para comprar o seu

equipamento montada e viacuteveres A responsabilidade de equipar estes soldados mais pobres

recaiu entatildeo sobre a sua famiacutelia nas comunidades em que se inseriam54 ou ateacute sobre os

stratioacutetai mais abastados dos themaacuteta caso estes natildeo quisessem participar ativamente em

alguma campanha algo aconselhado por Leatildeo VI55 no Taktikaacute56

De entre estas possibilidades a mais interessante parece-nos ser a uacuteltima porque

demonstra que a strateiacutea natildeo era apenas uma obrigaccedilatildeo militar para o serviccedilo efetivo mas

podia ser usada para apoio logiacutestico57 Assim os stratioacutetai mais ricos em vez de participarem

ativamente nas campanhas poderiam enviar no seu lugar um outro soldado equipado por eles

que natildeo possuiacutesse strateiacutea ou contribuir para o equipamento e provisotildees de um stratioacutetes

mais pobre Mais tarde a partir da legislaccedilatildeo oficial das terras militares por Constantino VII

passou a diferenciar-se o stratioacutetes ndash aquele que possuiacutea uma propriedade com strateiacutea58 ndash do

stratiouacutemenos o efetivo militar que era patrocinado por uma stratiotikagrave kteacutemata

A flexibilidade taacutetica dos themaacuteta bizantinos assentava tambeacutem nestas condiccedilotildees

sociais e econoacutemicas estando a tipologia do soldado condicionada pelos seus recursos

51 Vide TREADGOLD Warren (1995) Byzantium and Its Army Stanford Stanford University Press p 24 52 Cf MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit p 57 e tambeacutem HALDON J (2016) ndash Op cit p148 53 HALDON J (2016) ndash Op cit p148 54 Algo que como jaacute vimos teraacute sido instituiacutedo no principado de Niceacuteforo I 55 Apesar de o basileuacutes aconselhar ao strategoacutes que recrute preferencialmente para as campanhas os soldados

mais ricos e com maior capacidade de se equiparem e sustentarem autonomamente Vide Anexo VIII c) 56 Vide Anexo VIII d) 57 Praacutetica que se verificaria mais a partir dos meados do seacuteculo quando os basileicircs bizantinos comeccedilaram a

preferir que a strateiacutea fosse satisfeita atraveacutes de um pagamento que possibilitasse a contrataccedilatildeo de mercenaacuterios e

a compra de melhor equipamento para os exeacutercitos de campanha em vez da prestaccedilatildeo de um serviccedilo militar

ativo Vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 39 58 Ou strateiacutea parcial que eacute o resultado das divisotildees de ldquoterras estratioacuteticasrdquo apoacutes a morte do proprietaacuterio pelos

seus herdeiros ou em caso do cometimento de um crime pelo proprietaacuterio

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financeiros Assim apesar de a cavalaria ligeira representar o principal modelo taacutetico em uso

ateacute ao seacuteculo X59 apenas os stratioacutetes com meios para angariar um ou dois cavalos o

equipamento e armamento baacutesico e ainda indiviacuteduos60 que conseguissem cuidar dos seus

terrenos durante campanha (caso os possuiacutessem claro) eacute que poderiam servir nessa funccedilatildeo61

Os stratioacutetai que natildeo detivessem os recursos necessaacuterios para tal serviriam como infantaria

que apesar de ainda natildeo possuir a importacircncia que viria a ter meio seacuteculo mais tarde

comeccedilou na altura de Leatildeo VI a ver-lhe imputada um papel cada vez mais destacado para

aleacutem das funccedilotildees defensivas no campo de batalha e em posiccedilotildees estrateacutegicas o regresso lento

mas seguro do treino da eficiecircncia e da disciplina apregoado tambeacutem no Taktikaacute vai permitir

que se comece a praticar neste periacuteodo um conjunto de taacuteticas combinadas com a cavalaria62

Taacuteticas essas que representaratildeo uma das especialidades dos exeacutercitos de Basiacutelio II (963-1025)

e dos seus co-imperadores Niceacuteforo II Focas (963-969) e Joatildeo I Zimisce (969-976) na

segunda metade do seacuteculo X e nos primeiros anos do seacuteculo seguinte

O perfil taacutetico dos thematikoiacute natildeo se adequava a campanhas ofensivas63 sendo usados

principalmente na defesa do territoacuterio imperial frente a incursotildees aacuterabes por meacutetodos tiacutepicos

de guerra de fronteira (emboscadas terra queimada ataques noturnos a acampamentos) e

numa ocasional batalha campal A preparaccedilatildeo destas campanhas defensivas durava algum

tempo pelo que a responsabilidade de ganhar tempo e vigiar o invasor estava nas matildeos de

outros distritos militares as kleisoucircrarchiai Estes distritos militares foram o resultado da

separaccedilatildeo de touacutermai dos themaacuteta fronteiriccedilos que se encontravam junto ao Tauro e ao

Antitauro Ao comandante destas circunscriccedilotildees o kleisouraacutercha era atribuiacutedo um enorme

grau de autonomia sendo responsaacutevel pela aplicaccedilatildeo dos meacutetodos enunciados no Perigrave

Paradromeacutes de forma a deter os raides muccedilulmanos mais pequenos antes que estes

penetrassem demasiado e a perseguir e atrasar os exeacutercitos sarracenos de maiores dimensotildees

ateacute agrave chegada de forccedilas bizantinas de maior envergadura Estas divisotildees geograacuteficas tinham

um estatuto volaacutetil acabando muitas delas a ser elevadas a theacutema64 sobretudo nos iniacutecios do

seacuteculo X onde as kleisoucircrarchiai foram promovidas aos laquothemaacuteta armeacuteniosraquo65 no seio do

59 Os exeacutercitos dos themaacuteta eram denominados de kaballarika themata por serem compostos maioritariamente

por cavalaria ligeira Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 97 60 Referimo-nos essencialmente a membros da famiacutelia ou outros servos 61 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 99 62 MCGEER Eric (1988) Infantry versus Cavalry The Byzantine Response In Revue des eacutetudes byzantines 46

p 145 63 Com a exclusatildeo de contra raides que muitas vezes eram realizados pelos themaacuteta na mesma altura em que os

Aacuterabes realizavam as suas accedilotildees de rapina 64 P ex Selecircucia e Charsianon durante o reinado de Romano I e 873 respetivamente HALDON J (2014) ndash

Op cit p 108 65 Idem Ibidem p 111

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conjunto de reformas que possibilitou a Bizacircncio passar agrave ofensiva No reinado de Leatildeo VI os

elementos militares bizantinos com melhores aptidotildees para realizar operaccedilotildees ofensivas e

combater em batalhas campais caso as houvesse eram os taacutegmata

Ateacute ao reinado de Constantino V (741-775) quem ocupava as funccedilotildees de exeacutercito

pessoal dos basileicircs e de guarniccedilatildeo de Constantinopla era o exeacutercito do Opsikiacuteon66 No

entanto por estas mesmas razotildees este comando militar exercia enorme poder sobre quem

governava a partir de Constantinopla Durante muito tempo os basileicircs viram-se obrigados a

tomar certas medidas para apaziguar este corpo militar por exemplo atraveacutes da persuasatildeo ou

da escolha de liacutederes leais ao basileuacutes para comandar esta divisatildeo do exeacutercito67 A revolta de

Artavasdo (koacutemes e kouropalaacutetēs68) em 741 foi a quinta revolta do Opsikiacuteon em meio seacuteculo

e apoacutes a supressatildeo desta no ano seguinte obrigou o basileuacutes Constantino V a tomar duas

medidas para suprimir o poder dos koacutemes daquela unidade militar i) divisatildeo do territoacuterio cujo

Opsikiacuteon era responsaacutevel por trecircs circunscriccedilotildees territoriais mais pequenas (a do Opsikiacuteon a

dos Optimates e a dos Bucelaacuterios)69 ii) criaccedilatildeo de um novo corpo de elite leal ao imperador

capaz de o proteger das insurreiccedilotildees dos exeacutercitos provinciais e de tomar parte em accedilotildees

ofensivas atraveacutes da (re)militarizaccedilatildeo dos obsoletos regimentos da guarda palatina O

resultado foram os taacutegmata que apesar de pouco diferentes em eficiecircncia e disciplina

relativamente aos restantes exeacutercitos provinciais bizantinos70 no tempo de Leatildeo VI jaacute

ocupavam a funccedilatildeo para o qual tinham sido criados

Durante o reinado de Leatildeo VI existiriam quatro taacutegmata de cavalaria o das Scholaiacute o

dos Excubitores o da Vigla (ou Arithmos) e o dos Hikanatocirci71 Para aleacutem dos regimentos a

cavalo existiriam ainda mais quatro os Optimates que serviam principalmente de apoio

logiacutestico aos restantes os Noumera e o laquodas Muralhasraquo que funcionavam como contingentes

de infantaria e a Hetaireia um regimento de soldados estrangeiros que soacute participava em

66 Vide HALDON John (1984) Byzantine Praetorians An Administrative Institutional and Social Survey of the

Opsikion and Tagmata c580-900 Bona Dr Rudolph Habelt p 196 67 Idem Ibidem 208 68 Vide entradas respetivas no Glossaacuterio Temaacutetico b) Tiacutetulos 69 Um processo que teraacute demorado ainda alguns anos e que provavelmente se viu apoiado por uma nova revolta

do Opsikiacuteon em 766 No final deste processo a proviacutencia do Opsikiacuteon estava dividida entre o Opsikiacuteon os

Bucelaacuterios em 766 e o Optimaacuteton formado em 773 Vide Idem Ibidem 209 70 Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 108 Bizacircncio por esta altura era protegida por exeacutercitos provinciais

sediados em regiotildees que tinham o mesmo nome que esses corpos militares (laquoterras de um strategoacutesraquo) pe

Anatolikoacuten Armenikoacuten etc Por sua vez o nome desses exeacutercitos provinha dos antigos exeacutercitos provinciais do

Impeacuterio Romano do Oriente que foram evacuados para a Aacutesia Menor apoacutes o desastre de Yarmuk Estas

organizaccedilotildees militares e as proviacutencias que habitavam foram os antecedentes do sistema dos themaacuteta 71 Este uacuteltimo com uma data de criaccedilatildeo mais recente que os restantes tendo sido formado durante o reinado de

Niceacuteforo I em preparaccedilatildeo da campanha que terminou com a batalha de Priska (811)

26

operaccedilotildees militares se o basileuacutes estivesse presente72 Pelas funccedilotildees que os taacutegmata

ocupavam e como forma de manter a sua lealdade ao basileuacutes os soldados destes regimentos

eram os mais privilegiados do impeacuterio tendo em conta que recebiam do Estado a roga73

forragem raccedilotildees donativos o seu armamento (que no entanto continuava a pertencer a

Constantinopla e natildeo ao individuo) e a sua montada74 havia ainda o caso de muitos que

recebiam terras no termo do seu serviccedilo militar Para aleacutem disso tal como os thematikoiacute

estavam isentos de todos os impostos75 menos do demoacutesion (o imposto base) e do kapnikoacuten

(o imposto sobre as famiacutelias) Por fim faltaraacute referir que o comandante dos taacutegmata o

domestikoacutes acabaria por se tornar o comandante supremo dos exeacutercitos bizantinos Uma vez

que Leatildeo VI e o filho Constantino VII Porfirogeneta nunca comandaram pessoalmente

campanhas teratildeo sido muito possivelmente estes oficiais (escolhidos pessoalmente pelos

basileicircs) a comandarem as campanhas mais importantes deste periacuteodo76

Para aleacutem dos contingentes autoacutectones ao serviccedilo do impeacuterio Bizacircncio sempre contou

com o apoio de importantes componentes mercenaacuterias e auxiliares Durante o reinado de Leatildeo

VI temos informaccedilatildeo da presenccedila de soldados de vaacuterias nacionalidades os Khazars que

serviam na Hetaireia77 os Armeacutenios que tiveram sempre uma presenccedila quase permanente

como aliados e auxiliares de Bizacircncio e Russos que por exemplo participaram na campanha

falhada de reconquista de Creta empreendida por Leatildeo VI em 91178 No uacuteltimo quartel do

seacuteculo X estes laquosoldados de fortunaraquo tornar-se-iam um dos fatores marcantes para o sucesso

da laquoReconquista Bizantinaraquo especialmente a Guarda Varangiana de Basiacutelio II algo que se

espelha no facto de a strateiacutea comeccedilar a ser cumprida em numeraacuterio e natildeo em participaccedilatildeo

ativa inclusivamente para pagar a estes profissionais efetivos militares mais eficientes

Resta-nos dedicar algumas linhas agraves forccedilas navais bizantinas Como anteriormente

referido a embarcaccedilatildeo mais referida em Bizacircncio era o droacutemōn apesar disso jaacute durante o

reinado de Leatildeo VI este termo comeccedila a ter um valor mais generalista ou seja a referir-se a

todas as embarcaccedilotildees de guerra bizantinas79 No caso do Taktikaacute haacute menccedilatildeo a quatro tipos de

embarcaccedilotildees referidos nas listas de navios homens e apoio logiacutestico da expediccedilatildeo de

72 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 251 73 Salaacuterio mensal 74 Vide HALDON J (1984) ndash Op cit p 318 75 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p 260 76 Como as importantes expediccedilotildees militares em Itaacutelia e na Bulgaacuteria que ficaram sob o comando de Niceacuteforo

Focas o Velho 77 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 279 78 Vide Constantino VII basileuacutes The fitting out and the cost and the sum of the pay and of the force sent

against the impious Crete with the patrikios and logothetes tou dromou Himerios in the time of the Lord Leo

beloved of Christ Texto e Traduccedilatildeo PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 548 79 Vide PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 192

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Himeacuterio contra Creta em 911 Estes navios eram as chelandia os droacutemōnes os pamphylos e

as galea80 Os primeiros eram usados para o combate naval e o transporte de tropas enquanto

os uacuteltimos mais pequenos e ligeiros eram usados principalmente como batedores apesar de

possuiacuterem tambeacutem capacidades beacutelicas e de transporte81

Apesar da posse de um grande nuacutemero de embarcaccedilotildees o virar de seacuteculo revelar-se-ia

ingrato para as forccedilas navais bizantinas um facto evidenciado pelo aumento de forccedilas

adversaacuterias no Mar Mediterracircneo (onde se daacute o aparecimento de novas marinhas hostis no

Egipto e na Tuniacutesia) e no Mar Baacuteltico onde a ameaccedila russa desperta e as pretensotildees de

Simeatildeo obrigam ao reforccedilo da presenccedila bizantina Este conjunto de circunstacircncias forccedilou os

primeiros Macedoacutenicos a reformar o seu poder naval A primeira reforma efetuada durante o

reinado de Basiacutelio I segundo levam a crer as fontes82 foi a instituiccedilatildeo de um oficium sob o

droungaacuterios totilden ploiumlmon o oficial maacuteximo da frota imperial sedeada em Constantinopla

Este cargo reunia em si poderes militares e civis por um lado era o almirante da frota imperial

e assim o homem mais importante da marinha bizantina por outro era tambeacutem o que hoje

chamariacuteamos de laquoMinistro dos Assuntos do Marraquo83 As outras reformas foram a criaccedilatildeo de

mais dois themaacuteta navais o do Mar Egeu e o de Samos estes themaacuteta reforccedilaram o theacutema

mariacutetimo dos Kibirrhaiotai e tinham como objetivo aumentar o poder das frotas provinciais

que eram mantidas e tripuladas por estas circunscriccedilotildees territoriais

80 Vide Idem Ibidem pp 548-553 81 Idem Ibidem pp 190-192 82 Cf AHRWEILER Heacutelegravene (1966) Byzance et la Mer La Marine de guerre la politique et les institutions

maritimes de Byzance aux VIIe-XVe siegravecles Paris Presses Universitaries de France p 98 83 Vide Idem Ibidem p 98

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Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte

de Leatildeo VI (867-912)

laquoQuando Miguel se apercebeu de que Basiacutelio se opunha a ele planeou uma

monstruosa intriga contra ele esta foi a seguinte Ele arranjou algueacutem para arremessar uma

lanccedila como se visasse uma besta selvagem mas que na verdade visava Basiacutelio Isto veio ao

de cima porque o homem a quem isso tinha sido ordenado o confessou na hora da sua morte

Ele arremessou o dardo mas falhou miseravelmente o alvo e Basiacutelio foi salvo Quando foi

salvo ele decidiu-se a passar agrave accedilatildeo em vez de ser viacutetima dela Miguel foi morto no palaacutecio

de Satildeo Mamede no AM84 637685 agrave terceira hora da noiteraquo86

Este episoacutedio podia ter passado apenas por mais um entre muitos outros que marcaram

a intriga poliacutetica bizantina natildeo fora o caso de ter contribuiacutedo para depor toda uma dinastia

Quando Miguel III sucumbiu agraves matildeos do seu favorito Basiacutelio tambeacutem a linha amoriana se

finou e a famiacutelia macedoacutenica emergiu em seu lugar Tomada por muitos como a casa imperial

mais brilhante na histoacuteria de Bizacircncio87 pretendemos neste segundo capiacutetulo analisar os

primeiros anos desta linhagem Estabelecemos como espetro cronograacutefico o periacuteodo entre o

ano de 867 quando Basiacutelio I sobe ao poder e instaura a dinastia macedoacutenica e 912 o ano em

que o autor (atribuiacutedo) do Taktikaacute o basileuacutes Leatildeo VI abandona o mundo dos vivos Nesse

sentido decidimos dividir este capiacutetulo em dois subcapiacutetulos o primeiro estaacute direcionado

para o reinado de Basiacutelio I e para as medidas que tomou para legitimar a sua posiccedilatildeo muitas

delas centradas em torno de algumas bem-sucedidas campanhas militares o segundo iraacute

abordar o reinado de Leatildeo VI em especial os conflitos beacutelicos que pautaram o seu reinado e a

forma como o basileuacutes os enfrentou bem como alguns aspetos de cariz cultural e religioso

21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886)

O novo basileuacutes era um haacutebil jogador poliacutetico que ascendeu rapidamente por entre as

principais esferas de poder bizantinas apoacutes a sua chegada a Constantinopla Esta vertiginosa

ascensatildeo deveu-se agrave constituiccedilatildeo fiacutesica de Basiacutelio ao apadrinhamento do Macedoacutenico por

vaacuterias personalidades importantes da capital e no que toca por exemplo ao lsquoSynopsis

Historion de Joatildeo Skylitzes a certos auspiacutecios divinos88 A progressatildeo acabou por chamar a

84 Anno Mundi 85 867 dC 86 Vide Joatildeo Skylitzes lsquoSynopsis Historion Traduccedilatildeo WORTLEY John (2010) John Skylitzes A Synopsis of

Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press pp 114-115 87 MONTEIRO J G ndash Op cit p 74 88 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 121-123

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atenccedilatildeo do basileuacutes (aparentemente apoacutes uma demonstraccedilatildeo de forccedila durante um combate

com um buacutelgaro) que lhe outorgou vaacuterios tiacutetulos de relevo proacuteximos da autoridade imperial

Assim tornou-se membro da Hetaireia em 856857 prostrator e por fim parakoimṓmenos

em 864 apoacutes a queda em desgraccedila do seu antecessor Damiano por ofender o ceacutesar de entatildeo

(Bardas o tio de Miguel III)89 No ano seguinte casou com a amante de Miguel III Eudoacutexia

Ingerina com quem havia de gerar o seu secundogeacutenito o futuro Leatildeo VI em 86690

Foi durante o tempo em que exerceu estas funccedilotildees que as tensotildees entre o basileuacutes e o

seu tio atingiram o cliacutemax resultando no assassinato de Bardas em 867 pouco antes do

lanccedilamento de uma expediccedilatildeo para reconquistar a ilha de Creta Quem substituiu o ceacutesar foi

Basiacutelio que muito rapidamente viu a sua amistosa relaccedilatildeo com Miguel III deteriorar-se ateacute

culminar no assassinato do uacuteltimo dos Amorianos As razotildees disto ainda satildeo discutidas teraacute o

ato sido cometido em ldquoautodefesardquo como aponta Skylitzes com Basiacutelio a ver-se nas mesmas

circunstacircncias que o seu antecessor Bardas Ou teratildeo antes sido as ambiccedilotildees do co-imperador

a levar a melhor sobre a lealdade ao basileuacutes levando-o a cobiccedilar o trono

Independentemente das circunstacircncias e de acordo com o professor de Cardiff Shaun

Tougher laquoo assassinato era talvez inevitaacutevel de uma maneira ou de outraraquo91

O impeacuterio que Basiacutelio usurpou encontrava-se na nossa opiniatildeo relativamente bem

Apesar de ainda natildeo ser a superpotecircncia em que se iria tornar um seacuteculo depois foi

porventura entatildeo que se comeccedilaram a dar os primeiros passos nessa direccedilatildeo em grande parte

graccedilas agrave accedilatildeo da dinastia de Amoacuterio e dos seus associados Durante o reinado de Miguel III

em termos religiosos foi posto um ponto final na Questatildeo Iconoclasta que exerceu uma

grande pressatildeo sobre os oacutergatildeos de poder do Impeacuterio e gerou uma violenta clivagem na

estabilidade interna de Bizacircncio e da Igreja Ortodoxa Com o fim do Iconoclasmo

continuaram a existir diferenccedilas e divisotildees na Igreja mas estas jaacute natildeo se mostravam tatildeo

evidentes Apesar disso as clivagens mantinham-se e traduziam a rivalidade entre o poder

temporal e o espiritual forccedilas que em Bizacircncio se mostravam mescladas ou ateacute sinergeacuteticas

Assim foi tambeacutem com a deposiccedilatildeo do patriarca Inaacutecio que foi substituiacutedo pelo laico Foacutecio92

em 858 Inaacutecio havia sido deposto quando se comeccedilou a opor a vaacuterias decisotildees do ceacutesar

Bardas num processo que nunca seria aceite pelo papado e demais apoiantes do antigo

patriarca que se opuseram veementemente a Foacutecio durante o seu primeiro ldquomandatordquo

89 Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 90 Ainda hoje se discute se Leatildeo seraacute realmente filho de Basiacutelio ou se porventura seraacute antes filho de Miguel III

Para natildeo nos dispersarmos nesta questatildeo vide TOUGHER S (1997) ndash Op cit pp 42-67 91 Idem Ibidem p 30 92 Foacutecio foi tonsurado a 20 de dezembro e ascendeu ao patriarcado no dia de Natal Cf Idem Ibidem p 69

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Em termos militares Bizacircncio comeccedilava a entrar no seu apogeu pelo menos a

Oriente Na Aacutesia Menor apoacutes vaacuterios anos de conflito os Bizantinos tinham quebrado a

empunhadura da espada aacuterabe o exeacutercito do emirado de Melitene foi destroccedilado nas batalhas

de Marj al-Usquf e Lalacatildeo93 tendo com ele sido eliminados o emir Omar e o seu filho bem

como Karbeias o liacuteder da seita pauliciana que se tinha aliado aos Aacuterabes Graccedilas a estes

resultados os exeacutercitos romanos conseguiram invadir o emirado de Melitene e o ldquoEstadordquo

Pauliciano tendo sido no decurso desta expediccedilatildeo que tombou Ali o Armeacutenio emir de Tarso

Esta atitude ofensiva pouco tiacutepica da estrateacutegia bizantina natildeo teraacute rendido grandes ganhos

territoriais pois tinha como principal objetivo a recolha de prisioneiros e de botim bem como

o enfraquecimento dos poderes regionais muccedilulmanos da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia centrados

em torno dos al-thugur os emirados de Melitene e de Tarso No entanto pode servir como

exemplo para um comportamento mais audacioso de Bizacircncio que passava a levar com cada

vez mais frequecircncia a guerra ao territoacuterio dos seus inimigos

Os sucessos militares da Aacutesia Menor natildeo se repercutiam no entanto no Ocidente Em

827 forccedilas muccedilulmanas ao serviccedilo da dinastia aglaacutebida desembarcam na Siciacutelia a convite de

um oficial da marinha chamado Eufeacutemio Este foi o iniacutecio do moroso processo de conquista

da ilha estrategicamente mais importante do Mar Mediterracircneo pelo emirado da Ifriacutequia Em

setembro de 831 a cidade de Palermo capital bizantina da Siciacutelia caiu Dez anos depois os

muccedilulmanos jaacute eram senhores de um terccedilo do territoacuterio da ilha a parte ocidental com a

conquista das cidades de Platani Cantabellota Corleone e do porto de Trapaacuteni94 Entre 841 e

849 aproximam-se perigosamente dos centros fortificados da ilha com a conquista de

Messina (entre 842-843) de Moacutedica (845) e de Lentini (846) e com o extermiacutenio da

guarniccedilatildeo de Ragusa (848)95 A ameaccedila aglaacutebida tornou-se ainda mais perigosa com a queda

de Castrogiovanni (atual Enna) em 859 o que permitiu consolidar a conquista do interior da

ilha e almejar o controlo da costa oriental ainda em matildeos bizantinas96 As ambiccedilotildees

muccedilulmanas projetaram-se entatildeo para Taormina e Siracusa Miguel III ainda tentou reverter a

situaccedilatildeo mas a frota e o exeacutercito que enviou sob o comando de Constantino Contomita

foram derrotados por al-Abbas ibn al-Fadl97

Noutra frente no Sul de Itaacutelia os Sarracenos tambeacutem fizeram sentir a sua presenccedila

Em 835 a convite do ducado de Naacutepoles os primeiros soldados aacuterabes entraram em Itaacutelia para

93 Sobre esta batalha vide WORTLEY J ndash Op cit pp 100-101 94 Vide METCALFE Alex (2009) The Muslims of Medieval Italy Edinburgo Edinburgh University Press p9

e RAVEGNANI Giorgio (2004) I Bizantini in Italia Bolonha Il Mulino p149 95 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p 149 96 Vide METCALFE A ndash Op cit pp 14-15 97 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p149

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servir como auxiliares na luta contra o principado de Benevento98 Natildeo demorou ateacute

comeccedilarem a agir por vontade proacutepria em 838 saquearam Brindisi derrotaram um exeacutercito

enviado pelo priacutencipe Sicardo de Benevento e tomaram ainda Tarento uma das cidades mais

importantes da Apuacutelia onde formaram um emirato99 Em 840 uma frota aacuterabe derrota a

marinha veneziana e saqueia a costa do Adriaacutetico enquanto no ano seguinte Bari cai em

matildeos sarracenas tornando-se outro emirato O arrojo aacuterabe aliado agrave falta de acordo entre as

principais potecircncias de Itaacutelia (Lombardos Francos e Bizantinos) fecirc-los atacar Roma e

saquear as basiacutelicas de Satildeo Pedro e de Satildeo Paulo em 846100 Com o principado de Benevento

destroccedilado pela guerra civil e pelas depredaccedilotildees aacuterabes apenas os impeacuterios dos Francos e dos

Romanos poderiam fazer frente agraves incursotildees e conquistas muccedilulmanas no Sul de Itaacutelia mas a

resposta ainda demorou a vir Soacute vinte anos depois eacute que o rei Luiacutes II de Itaacutelia decidiu agir

pessoalmente comandando o seu exeacutercito contra a ameaccedila norte-africana natildeo logrando

contudo alcanccedilar vitoacuterias significativas Quando Basiacutelio I sobe ao trono encontra a Siciacutelia

presa por um fio e o Sul de Itaacutelia em anarquia dividido em confrontos entre os Aglaacutebidas do

Norte de Aacutefrica os priacutencipes lombardos locais e os caroliacutengios italianos de Luiacutes II

As primeiras poliacuteticas do novo basileuacutes tinham de ser direcionadas para legitimar a

sua dinastia e ele sabia bem o que fazer tendo em conta as circunstacircncias que o impeacuterio vivia

Em primeiro lugar comeccedilou por associar ao poder os seus filhos mais velhos Constantino

(um fruto do primeiro casamento) e Leatildeo Prometeu ainda o primogeacutenito em noivado agrave filha

do rei caroliacutengio de Itaacutelia Luiacutes II de forma a poder selar tambeacutem uma alianccedila com este De

seguida encerrou a questatildeo religiosa que dilacerava a igreja de Roma e o patriarcado de

Constantinopla ao depor Foacutecio e ao colocar Inaacutecio de novo no patriarcado101 enquanto

lanccedilava uma campanha de conversatildeo forccedilada dos Judeus102

O Macedoacutenico tambeacutem impocircs a legitimidade do seu trono pelas armas Abordemos

este assunto geograficamente O que faltava a Basiacutelio fazer a Oriente Com os emirados

orientais ainda debilitados restava a Basiacutelio um grande problema na regiatildeo o ldquoEstadordquo

Pauliciano Apoacutes a morte de Karbeias em 864 a naccedilatildeo desta heresia ficou aos cuidados de

Crisoacutequero o seu sobrinho e cunhado que recomeccedilou os saques na Anatoacutelia no ano da morte

de Bardas103 O novo liacuteder pauliciano mostrou-se um general capaz e os seus raides jaacute

98 Vide Idem Ibidem p 152 99 Vide METCALFE A ndash Op cit p17 100 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p153 101 Para uma histoacuteria breve do Cisma cf TOUGHER S ndash Op cit pp31 e 32 e TREADGOLD Warren (1997)

A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University Press pp 451-452 e 454-455 102 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 33 103 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 454

32

atingiam as imediaccedilotildees de Niceia de Nicomeacutedia e de Eacutefeso104 aquando da entronizaccedilatildeo de

Basiacutelio I Foi contra esta seita que Basiacutelio virou a sua atenccedilatildeo a leste De acordo com Joatildeo

Skylitzes105 em 871 Basiacutelio comandou pessoalmente uma expediccedilatildeo contra Tephrike a

capital dos Paulicianos mas incapaz de a tomar voltou-se para as regiotildees envolventes

chegando a assediar (e ateacute pensou subjugar) Melitene Esta campanha apesar de natildeo ter posto

fim agrave ameaccedila hereacutetica teraacute resultado em muitos prisioneiros e despojos foi tal o seu sucesso

que se organizou numa marcha triunfal aquando do regresso a Constantinopla106

No ano seguinte Crisoacutequero voltou a atacar territoacuterio bizantino conseguindo atingir a

cidade de Ancyra (atual Ancara) Desta vez veio ao seu encontro o domestikoacutes de Basiacutelio

Cristoacutevatildeo que seguiu os preceitos da estrateacutegia bizantina e natildeo deu de imediato luta ao liacuteder

pauliciano preferindo segui-lo de longe limitando o raio de accedilatildeo dos saques inimigos

sempre que possiacutevel Quando Crisoacutequero decide voltar para leste Cristoacutevatildeo envia um

pequeno exeacutercito composto por membros dos themaacuteta de Charsianon e dos Armeniacuteacos (c

4000 a 5000 homens) liderado pelos respetivos strateacutegoicedil para o seguir de forma a perceber

o seu objetivo retirar para Tephrike ou atacar as terras bizantinas no limes Consoante a

resposta tambeacutem mudaria a atitude da forccedila laquotemaacuteticaraquo no primeiro caso natildeo pensaria mais

no assunto e voltaria para traacutes no uacuteltimo avisaria o domestikoacutes e aguardaria novas ordens

Em uacuteltima anaacutelise segundo Skylitzes e Haldon107 o objetivo de Crisoacutequero natildeo

chegou a ser descoberto pois as forccedilas bizantinas atacaram o acampamento pauliciano no

vale de Bathys Ryax durante a noite colocando o adversaacuterio em debandada e matando

Crisoacutequero108 O decesso do liacuteder e a destruiccedilatildeo do seu exeacutercito puseram fim agrave capacidade

ofensiva dos Paulicianos e obrigaram os emirados a manterem-se por algum tempo na

defensiva apoacutes terem perdido um precioso aliado no limes oriental bizantino O coup de

gracircce no ldquoEstadordquo da heresia dualista foi dado em 879 quando Cristoacutevatildeo tomou Tephrike no

decorrer de uma campanha de Basiacutelio contra o emirado de Tarso

O que mais haveraacute a dizer sobre os conflitos nesta regiatildeo durante o reinado do

Macedoacutenico Que tiveram uma periodicidade quase anual e que salvo raras exceccedilotildees se

traduziram num grande nuacutemero de vitoacuterias bizantinas em especial na deacutecada de 870 Destes

104 Vide Idem Ibidem p457 105 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 133-135 106 De acordo com Warren Treadgold esta campanha teve um desfecho diferente tendo as forccedilas bizantinas sido

derrotadas e o imperador quase capturado Por outro lado os eventos vitoriosos desta campanha enunciada por

Skylitzes satildeo situados soacute em 873 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 457 107 Haldon no entanto remete esta batalha para 87 HALDON J (2001) ndash Op cit p 85 108 Supostamente este ataque teraacute sido motivado pela necessidade de descobrir qual dos themaacuteta tinha os

homens mais corajosos vide HALDON J (2001) Op cit p 87 e WORTLEY J ndash Op cit p 136

33

anos bem sucedidos a leste destacamos 879 quando o exeacutercito imperial109 arrasou o emirado

de Tarso saqueou as fortalezas de Germaniceia e Adana e ainda conseguiu saquear o Norte da

Mesopotacircmia (supostamente) tendo ainda posto um fim ao chamado laquoEstado paulicianoraquo A

deacutecada seguinte por outro lado mostrou-se algo perniciosa para Constantinopla nesta regiatildeo

mas para jaacute voltemos o nosso olhar para o Ocidente

A Itaacutelia e a Siciacutelia foram dois alvos de atenccedilatildeo prioritaacuteria para Basiacutelio ao longo do seu

principado O domiacutenio sarraceno na regiatildeo tanto na Siciacutelia como no Sul de Itaacutelia era um

risco que o basileuacutes natildeo queria correr pelo que decidiu aplicar medidas no sentido de evitar

esse cenaacuterio Logo no ano que se seguiu agrave sua ascensatildeo Basiacutelio enviou duas frotas para oeste

destinadas agrave Siciacutelia e agrave Dalmaacutecia O resultado foi agridoce a frota que socorreu Ragusa sob o

comando do almirante Niquetas Oryfas conseguiu afugentar o inimigo aacuterabe110 por seu lado

a forccedila enviada para a Siciacutelia foi desbaratada pouco depois de desembarcar111

Em 869 as coroas imperiais do Ocidente e do Oriente aliam-se para pocircr fim ao

emirado de Bari o exeacutercito franco de Luiacutes II cercou a cidade por terra enquanto a marinha

bizantina bloqueava o acesso pelo mar Esta operaccedilatildeo redundaria num fracasso parcial

Apesar de Luiacutes II ter logrado conquistar a cidade em 871 fecirc-lo sozinho dado que os

Romanos abandonaram o asseacutedio antes de este ser concluiacutedo por desentendimentos entre os

dois lados112 No entanto este foi um dos uacuteltimos contratempos bizantinos no sul de Itaacutelia

No ano 872 um exeacutercito bizantino liberta a cidade de Salerno cercada pelos Aacuterabes

desde o ano anterior enquanto em 873 uma outra forccedila reclama Otranto em nome do

impeacuterio A agressatildeo aacuterabe natildeo ameaccedilava abrandar pois em 875 raides aacuterabes na Campacircnia

voltam a ameaccedilar Roma o que resultou num pedido de ajuda papal a Bizacircncio ao mesmo

tempo que uma outra forccedila sarracena assola Comacchio junto ao Golfo de Trieste No ano

seguinte os Bizantinos entram em Bari a pedido dos habitantes da cidade

Enquanto isso o poder aglaacutebida comeccedilava a fazer soccedilobrar o poder bizantino na

Siciacutelia No ano 869 o governador aacuterabe da Siciacutelia tentou tomar Taormina mas foi assassinado

por um dos seus soldados antes de ser bem-sucedido tendo um cerco aacuterabe a Siracusa falhado

tambeacutem por essa altura A cidade de Arquimedes foi cercada de novo sem sucesso em 873

mas a tenaz aglaacutebida fechou-se firmemente sobre ela em 877 causando a sua queda no ano

seguinte A razatildeo disto teraacute sido uma alegada indisponibilidade da frota imperial para socorrer

a cidade pois estava demasiado atarefada com o transporte de material para a construccedilatildeo de

109 Neste caso usamos ldquoimperialrdquo para indicar que estava sob o comando do basileuacutes 110 Vide WORTLEY J ndash Op cit p143 111 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p456 112 Ainda assim a cidade cairia nas matildeos de Luiacutes II dois anos mais tarde

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uma igreja em Constantinopla113 A conquista aglaacutebida da ilha estava praticamente concluiacuteda

com apenas a fortaleza de Taormina a manter-se em matildeos bizantinas um ponto isolado em

territoacuterio agora hostil e que nada podia fazer para conter as ambiccedilotildees aglaacutebidashellip

A consumaccedilatildeo da conquista da Siciacutelia abriu novas portas ao emirado do Norte de

Aacutefrica Em 880 o emir Ibrahim II liderou pessoalmente a sua frota numa expediccedilatildeo ao mar

Joacutenico onde saqueou as cidades de Kefaleacutenia e de Zakynthos O arrojado ataque norte-

africano foi respondido de forma ceacutelere por Basiacutelio que envia o droungaacuterios totilden ploiumlmon

Nasar ao comando de 45 navios de guerra e desbarata a frota adversaacuteria durante um audaz (e

praticamente impossiacutevel) ataque noturno114 No contra-ataque que se seguiu Nasar ataca a

Siciacutelia coloca a ferro e fogo os arredores de Palermo e derrota uma frota aacuterabe em Punta di

Stilo (zona litoral sul da Calaacutebria) durante o seu regresso ao territoacuterio romano

O iacutempeto desta accedilatildeo levou os Bizantinos a lanccedilarem um conjunto de campanhas no

Sul de Itaacutelia que foram bem-sucedidas no mesmo ano Uma primeira expediccedilatildeo naval sob o

comando de trecircs oficiais o spathaacuterios Gregoacuterio o turmarca Teophylaktos e o komeacutes

Dioacutegenes derrota uma frota muccedilulmana ao largo de Naacutepoles De seguida uma expediccedilatildeo

tambeacutem com trecircs comandantes o protovestiaacuterio Procoacutepio o strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo e o

almirante Nasar derrota outra forccedila naval muccedilulmana desta feita junto a Milazzo na Siciacutelia

A expediccedilatildeo percorreu depois a Calaacutebria e a Apuacutelia oriental tomando grande parte das

possessotildees aacuterabes na regiatildeo enquanto se encaminhava para Tarento Na batalha que se seguiu

na proximidade desta cidade as forccedilas bizantinas derrotaram as tarentinas e apesar de

Procoacutepio ter morrido em combate entraram vitoriosas na cidade As vitoacuterias bizantinas na

regiatildeo prosseguiram depois em 885 com Niceacuteforo Focas o Velho115 que submeteu as

restantes fortalezas aacuterabes na Calaacutebria (como Amantea Tropea e Santa Severina) pela forccedila e

que submeteu os Lombardos da Apuacutelia pela via diplomaacutetica116

Este personagem da histoacuteria bizantina merece que lhe sejam dedicadas algumas

palavras alusivas ao seu percurso no reinado de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Niceacuteforo Focas eacute o

primeiro membro da famiacutelia dos Focas uma importante linhagem da aristocracia militar

bizantina que teraacute um papel preponderante na laquoReconquistaraquo Aparentemente Niceacuteforo seria

descendente de um aacuterabe convertido ao cristianismo vindo de Tarso117 O Velho teraacute nascido

113 Vide TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 33 114 Vide PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy

ca 500-1204 Leiden e Boston Brill pp 65 e 66 115 Que teria sob o seu comando um conjunto de soldados paulicianos liderados por Diacoacutenitzes o mesmo que

presenciou a morte de Crisoacutequero Vide WORTLEY J ndash Op cit p 185 116 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 157-158 117 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 62

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por volta de 855 e serviu Basiacutelio com distinccedilatildeo sendo agraciado com vaacuterios tiacutetulos

manglabiacutetēs118 em 872873 quando atingiu a idade adulta depois foi promovido a

protostraacutetor tornou-se strategoacutes de Charsianon antes de 885 e nesse ano foi o comandante

da expediccedilatildeo que projetou o poderio bizantino no Sul de Itaacutelia119 depois de ser chamado de

volta a Constantinopla apoacutes a morte de Basiacutelio foi condecorado com o tiacutetulo de domestikoacutes

por Leatildeo VI e combateu contra Simeatildeo em 895 tendo abandonado o cargo no ano seguinte

Para aleacutem das operaccedilotildees militares jaacute referidas teraacute acompanhado Basiacutelio I numa

campanha contra Samosata em 873 Liderou ainda um contra-ataque contra o emirado de

Tarso quando ainda era domestikoacutes no qual conseguiu recolher muito botim e prisioneiros120

enquanto o exeacutercito tarsiano atacava territoacuterio bizantino Este registo mostra que o Velho era

um excelente general com enorme capacidade de comando e um estratego brilhante Para

Leatildeo VI este strategoacutes era o modelo ideal para aqueles que ambicionassem ocupar esse

cargo tendo direito a vaacuterias menccedilotildees no Taktikaacute Por outro lado Niceacuteforo o Velho teria tal

fama que era temido por Simeatildeo pois (supostamente) o czar da Bulgaacuteria soacute se teraacute lanccedilado ao

ataque novamente contra Constantinopla apoacutes a morte do primeiro Focas em 896121

No interluacutedio das campanhas de conquista de Tarento e das de Niceacuteforo Focas entre

880-885 destacamos a realizaccedilatildeo de duas alianccedilas entre os principados lombardos de Naacutepoles

e Salerno primeiro em 881 e depois em 883 Esta coligaccedilatildeo conseguiu destruir vaacuterias bases

de saqueadores sarracenos e empurraacute-los para a foz do rio Garigliano junto a Gaeta onde os

Aacuterabes se fortificaram e a partir de onde passaram a iniciar os seus raides sobre a Campacircnia

Mau grado a perda de importantes pontos estrateacutegicos no Mediterracircneo como

Siracusa e Malta por volta de 870 a marinha bizantina conseguiu vencer algumas vezes as

forccedilas que se lhe opunham O droungaacuterios Niquetas Oryfas enfrentou os Aacuterabes em duas

ocasiotildees no ano de 873 derrotou os piratas cretenses no Golfo de Saros tendo feito naufragar

vinte navios e em 874 venceu novamente uma frota aacuterabe desta feita no Golfo de

Corinto122 Por outro lado deu-se uma reconquista temporaacuteria da ilha de Chipre entre 875 e

118 Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas portas no palaacutecio Vide KAZDHAN

P (ed) (1991) The Oxford Dictionary of Byzantium Volume II Oxford Oxford University Press p 1284 119 Cf supra I21 120 Esta campanha teraacute decorrido em 886 e 895 ano em que abandona o cargo de domestikoacutes de acordo com

Cheynet vide CHEYNET J ndash Op cit p480 Shaun Tougher alega que de acordo com Dagron existiraacute a

possibilidade de esta campanha se ter realizado apoacutes a guerra contra Simeatildeo ou seja apoacutes 896 Vide DAGRON

Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore Phocas (963-969)

Paris pp 168-169 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 121 Existem outras teorias sobre o destino de N Focas o Velho cf TOUGHER S ndash Op cit pp 205 e 206 122 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 23

36

882 cuja repetida perda parece ter sido contrabalanccedilada pela criaccedilatildeo dos novos themaacuteta

mariacutetimos de que falaacutemos no capiacutetulo anterior123

Os anos felizes de Basiacutelio I no que respeita agrave sua vida pessoal e agrave frente oriental

parecem ter terminado em 879 Nesse mesmo ano o seu primogeacutenito Constantino morre o

que o obriga a associar ao poder em conjunccedilatildeo com Leatildeo outro filho dele Alexandre

Apesar do descontentamento de Leatildeo ele foi obrigado a casar com uma parente afastada

Teoacutefano e a sua amante Zoeacute Zautzina foi obrigada a casar mais tarde Quem parece ter

valido ao imperador durante o seu luto foi o patriarca Foacutecio (regressado ao seu anterior ofiacutecio

apoacutes a morte de Inaacutecio em 877) e o bispo de Euceta Teodoro Santabarenos Nesse ano Foacutecio

conseguiu ainda consolidar o seu tiacutetulo patriarcal num Conciacutelio Ecumeacutenico apesar de natildeo

contar com o apoio total do papa Joatildeo VII ainda assim desta vez natildeo houve nenhum Cisma

Em 882 Basiacutelio foi derrotado pessoalmente agraves portas de Melitene enquanto no ano

seguinte o eunuco Yazaman emir de Tarso derrotou decisivamente uma forccedila bizantina

tendo passado pela espada os strateacutegoi da Capadoacutecia e da Anatoacutelia num ataque noturno Mais

tarde nesse ano Yazaman foi derrotado enquanto atacava Euripos pelo strategoacutes da Heacutelade

Oiniates A relaccedilatildeo de Basiacutelio com o filho mais velho deteriora-se novamente em 883 quando

o basileuacutes eacute informado por Santabarenos de que Leatildeo (supostamente) conjurava contra o pai

para tomar o trono Esta intriga levou ao aprisionamento do seu herdeiro por trecircs anos tendo

sido apenas libertado apoacutes Basiacutelio ter esmagado um conluio liderado por Joatildeo Curcuas contra

ele O basileuacutes apercebera-se de que precisava de manter a sua famiacutelia unida e forte e

reassegurar uma sucessatildeo legiacutetima ao trono pelo que tentou reconciliar-se com o filho124 Um

mecircs depois por causas ainda desconhecidas Basiacutelio deixa o mundo dos vivos e no trono

puacuterpura passa-se a sentar Leatildeo VI mais tarde conhecido como o Saacutebio125

O que haveraacute a dizer do reinado de Basiacutelio I Em grande parte acreditamos que foi

um reinado bem-sucedido A ameaccedila sarracena apesar de ter arrebatado a ilha de Malta e a

quase totalidade da Siciacutelia foi controlada e ateacute rechaccedilada tanto na Itaacutelia meridional como no

limes oriental nestas regiotildees podemos ateacute dizer que a soberania bizantina se comeccedilou a fazer

sentir graccedilas agrave aniquilaccedilatildeo da seita pauliciana Em termos navais Bizacircncio tambeacutem natildeo

atravessou dificuldades de maior apesar de ter perdido importantes possessotildees no

Mediterracircneo Nos Balcatildes a situaccedilatildeo manteve-se relativamente calma graccedilas agrave conversatildeo dos

Buacutelgaros ao cristianismo o que gerou uma relaccedilatildeo paciacutefica algo fraterna entre

123 Cf supra 13 124 Vide TOUGHER S ndash Op cit p35 125 Poderaacute ter morrido num acidente de caccedila viacutetima de doenccedila prolongada ou embora menos provaacutevel a mando

de Leatildeo Vide WORTLEY J ndash Op cit p 163

37

Constantinopla e Preslav Onde a governaccedilatildeo de Basiacutelio I parece ter corrido pior foi mesmo a

niacutevel interno primeiro com a morte precoce do primogeacutenito126 depois com os

desentendimentos com o seu segundo filho e herdeiro e por fim com o aprisionamento de

Leatildeo Ainda assim a sucessatildeo foi relativamente tranquila A niacutevel religioso a Igreja Ortodoxa

atingiu um niacutevel satisfatoacuterio de unidade e de estabilidade sob a lideranccedila de Foacutecio e conseguiu

expandir a sua esfera de influecircncia para a Bulgaacuteria e para a Seacutervia127

22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912)

laquoUm imperador deve fazer a guerra como Basiacutelio I ou escrever sobre a guerra como Leatildeo VIraquo128

O homem que sobe ao poder em 886 e que mais tarde seraacute apelidado de O Saacutebio

distingue-se pelo seu interesse pela cultura pela religiatildeo e na nossa opiniatildeo pela guerra

Leatildeo eacute autor de uma obra imensa A niacutevel judicial temos as Novelle uma adiccedilatildeo agraves Basilikaacute

uma revisatildeo juriacutedica (a primeira do geacutenero que se saiba) do Corpus Iuris Iustinianos (seacutec

VI) iniciada no reinado do seu pai (possivelmente incitada por Foacutecio129) e promulgada em

888 Leatildeo escreveu um livro oracular que parece ter atingido uma enorme popularidade

sendo copiado vaacuterias vezes durante a Baixa Idade Meacutedia130 A ele satildeo-lhe ainda atribuiacutedas

muitas outras produccedilotildees literaacuterias como homilias trabalhos teoloacutegicos compilaccedilotildees de

maacuteximas e livros interpretativos dos fenoacutemenos Mais importante para o contexto da nossa

dissertaccedilatildeo eacute o facto de ter escrito ainda dois tratados militares o primeiro quando ainda era

jovem ndash o Problemaacuteta que natildeo passaria de um conjunto de perguntas relacionadas com

diversas situaccedilotildees militares as quais eram respondidas de seguida com paraacutefrases de trechos

do Stratēgikoacuten e o outro o Taktikaacute de que falaremos na segunda parte desta dissertaccedilatildeo

Para introduzir o reinado de Leatildeo devemos comeccedilar por referir que foram anos de

governaccedilatildeo incendiados pela necessidade de produzir um herdeiro Infelizmente esta questatildeo

iria colocar o autokraacutetor131 em rota de colisatildeo com o patriarcado organizaccedilatildeo com quem

aliaacutes teve uma relaccedilatildeo difiacutecil Centremo-nos nas raiacutezes desta rivalidade o bispo Teodoro

126 Uma circunstacircncia incontrolaacutevel por ele no entanto 127 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 456 128 Frase de Paul Lemerle citada por Eric McGeer in MCGEER E (2003a) ndash Two military orations of

Constantine VII In NESBITT John W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden

e Boston Brill p 111 129 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 10 130 Idem Ibidem p 11 131 Cf infra 41

38

Santabarenos a quem Leatildeo VI nunca perdoou o envolvimento no seu encarceramento por trecircs

anos tornando-se assim no primeiro alvo a abater

A busca de justiccedila (ou de vinganccedila) que o autokraacutetor empreendeu permitiu-lhe matar

dois coelhos de uma soacute cajadada vingar-se de Santabarenos132 e livrar-se de Foacutecio que na

oacutetica de Leatildeo representava conjuntamente com os seus apoiantes um perigo para a sua

soberania133 Esta parece ser a uacutenica razatildeo para ter sido deposto e julgado uma vez que o

culto patriarca teraacute salvo em conjunto com Styliano Zaotzeacute (o pai da amante de Leatildeo) o

Saacutebio de ter ficado cego quando Basiacutelio o prendeu134 Independentemente das circunstacircncias

o antigo mestre do imperador135 foi deposto e encerrado num mosteiro em 887 enquanto

Teodoro foi julgado aprisionado e cegado ainda no ano da ascensatildeo de Leatildeo

Os patriarcas que se seguiram estiveram sob a responsabilidade deste basileuacutes que

desejava exercer a sua autoridade sobre o patriarcado de Constantinopla Logo em 886 elege

um dos seus irmatildeos mais novos136 Estevatildeo137 como patriarca cargo que iraacute ocupar ateacute agrave sua

morte em 893 Segue-se Antoacutenio Cauleias que logrou com Leatildeo reconciliar os disciacutepulos de

Foacutecio e os seus opositores pondo fim agrave queziacutelia Agrave morte de Cauleias em 901 seguiu-se

Nicolau o Miacutestico um amigo pessoal do imperador mas que lhe iraacute fazer a vida negra138

A grande questatildeo religiosa do reinado de Leatildeo VI foi a Tetragamia uma violenta

poleacutemica religiosa (e poliacutetica) que opocircs o Saacutebio ao patriarca Nicolau O que estava em causa

era o quarto casamento do imperador que jaacute era viuacutevo pela terceira vez e a legitimidade do

filho dessa nova relaccedilatildeo A sua uniatildeo com Teoacutefane com quem fora obrigado a casar pelos

pais em 879 tinha sido bastante atribulada primeiro com a oposiccedilatildeo de Leatildeo ao casamento

depois com o isolamento dele no Palaacutecio em regime de prisatildeo seguidamente pela morte da

filha de ambos Eudoacutecia em 983 e por fim pelo espetro do romance reatado de Leatildeo e Zoeacute

Zautzina conhecido de todos na corte imperial Todos estes fatores contribuiacuteram para um

casamento frio e complicado que terminou em 895 ou 896 com a morte de Teoacutefane139

132 Alegadamente este teria engendrado a prisatildeo de Leatildeo quando este tentou advertir o pai dos efeitos da

influecircncia de Teodoro vide TOUGHER S ndash Op cit p73 133 De acordo com Shaun Tougher Foacutecio teria exercido algum domiacutenio nas accedilotildees de Basiacutelio apoacutes a sua segunda

ascensatildeo ao patriarcado em especial apoacutes a morte de Constantino por intermeacutedio de Teodoro Santabarenos

Vide TOUGHER S ndash Op cit pp 71-72 134 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p460 135 Foacutecio havia voltado agrave corte nos iniacutecios da deacutecada de 70 do seacuteculo IX a pedido de Basiacutelio para ser tutor dos

filhos do basileuacutes Vide TOUGHER S ndash Op cit p32 136 O seu irmatildeo mais novo Alexandre tinha sido associado ao trono com a morte de Constantino e tornou-se co-

imperador quando este se tornou imperador Seria Alexandre que iria suceder ao Saacutebio apoacutes a sua morte em 912 137 Supostamente como este nascera no tempo em que Miguel III ainda era vivo tambeacutem haacute a possibilidade de

ser filho do uacuteltimo Amoriano Estevatildeo foi castrado e tornou-se monge a mando de Basiacutelio 138 Ironicamente nas palavras de Shaun Tougher TOUGHER S ndash Op cit p38 139 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 140

39

Zoeacute tornou-se basiacutelissa apoacutes um casamento que natildeo foi digno de um imperador

presidido por um padre e natildeo pelo patriarca em 898 Tambeacutem esta uniatildeo foi muito curta pois

Zoeacute faleceu em 899 ou 900 sem ter produzido um filho varatildeo O terceiro enlace teraacute

suscitado algumas resistecircncias no patriarcado mas foi aceite e Leatildeo casou com Eudoacutecia

Baianeacutes que teraacute ateacute engravidado Tambeacutem este conjuacutegio teraacute um final infeliz devido agrave morte

de Eudoacutecia durante o parto seguida da do filho Basiacutelio pouco tempo depois

As relaccedilotildees entre o basileuacutes e a Igreja azedaram a partir daiacute Impossibilitado de casar

novamente140 Leatildeo tomou uma amante Zoeacute Carbonopsina de quem teve um filho em 905 o

futuro Constantino VII Porfirogeneta Finalmente com um herdeiro direto Leatildeo esforccedilou-se

para o legitimar tendo para isso de o batizar e de casar com Carbonopsina141 O filho foi

batizado pelo patriarca em 906 mas o casamento natildeo foi tatildeo faacutecil de ser concretizado pois

surgiu-lhe um obstaacuteculo em frente o seu amigo Nicolau o Miacutestico O confronto entre os dois

levou primeiro agrave realizaccedilatildeo de vaacuterios siacutenodos depois ao casamento ldquopela caladardquo de Leatildeo

no Grande Palaacutecio que resultou na sua proibiccedilatildeo de participar em algumas cerimoacutenias

religiosas celebradas pelo patriarca142 e por fim agrave deposiccedilatildeo e exiacutelio de Nicolau em 907

pouco antes de um conciacutelio que tinha como objetivo perdoar o autokraacutetor

O novo patriarca escolhido pelo basileuacutes foi o synkellos Eutiacutemio por estar laquoacima de

repreensatildeo estar marcado com um selo de santidade e ser conspiacutecuo pelos seus grandes

feitos143raquo No entanto Eutiacutemio soacute autorizaria o quarto casamento144 se Leatildeo aceitasse certas

condiccedilotildees o basileuacutes teria de fazer penitecircncia o padre que realizara o casamento deveria ser

expulso da igreja Eutiacutemio natildeo coroaria a nova basiacutelissa na igreja e por fim a proibiccedilatildeo legal

definitiva de laquoquartos casamentosraquo Leatildeo VI aceitou os requisitos patriarcais e natildeo mais a

Igreja contestou a sua governaccedilatildeo

Onde o reinado de Leatildeo VI parece ter suscitado mais debate na historiografia

contemporacircnea foi mesmo nos assuntos militares e relacionados com o estrangeiro No seacuteculo

XX muitos bizantinistas que escreveram sobre o assunto (como Ostrogorksy por exemplo)

trataram o autokraacutetor como se este natildeo tivesse qualquer apreccedilo ou preocupaccedilatildeo pelos

problemas externos que assolaram o impeacuterio (e natildeo foram poucos) enquanto esteve no

trono145 A imagem de Leatildeo VI comeccedilou a mudar desde as publicaccedilotildees de Romily Jenkins e

140 Ironicamente por uma lei que o proacuteprio criara Vide Idem Ibidem p156 141 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p468 142 Vide MONTEIRO J ndash Op cit p 76 143 Vide Life of Euthymios 95 4-5 apud TOUGHER S ndash Op cit p 162 144 Que entretanto havia sido legitimado por uma bula papal vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 76 145 Vide TOUGHER S ndash Op cit pp164 e 166

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de Patrice Karlin-Hayter146 ateacute ao capiacutetulo 7 da obra Reign of Leo VI de Shaun Tougher onde

este assunto foi abordado com detalhe Faremos um balanccedilo sucinto deste problema quando

acabarmos de relatar os principais episoacutedios militares do principado do Saacutebio e de descrever a

maneira como ele teraacute reagido a esses problemas

De que forma mudou o cenaacuterio geopoliacutetico e militar entre Basiacutelio I e Leatildeo VI A boa

sorte que Bizacircncio parecia atravessar a Oriente parecia ter comeccedilado a mudar novamente para

o lado muccedilulmano apesar de se manter o status quo na regiatildeo e de o Impeacuterio Bizantino se

manter mais na ofensiva do que os seus adversaacuterios na regiatildeo No Sul de Itaacutelia a supremacia

bizantina conquistada no reinado de Basiacutelio I parecia aguentar-se o reino caroliacutengio de Itaacutelia

caiacutera no caos poliacutetico apoacutes a deposiccedilatildeo de Carlos o Gordo (884-887) o principado de

Benevento o principal poder lombardo na regiatildeo tinha ficado em segundo plano e os dois

emirados aacuterabes da Itaacutelia meridional (Bari e Tarento) estavam destruiacutedos No entanto nesta

frente as coisas estavam prestes a mudar ainda que temporariamente No Impeacuterio da Bulgaacuteria

eacute que a situaccedilatildeo piorou para Bizacircncio quando Simeatildeo o terceiro filho de Boacuteris147 ascendeu

ao trono apoacutes uma guerra civil entre o pai e o imperador de entatildeo o seu irmatildeo Vladimir que

tentara retornar ao paganismo Como veremos Simeatildeo seria um dos grandes adversaacuterios de

Leatildeo e disputaria ativamente com Bizacircncio a supremacia sobre os Balcatildes

Comecemos por Itaacutelia onde logo em 886 Leatildeo ordena a Niceacuteforo Focas o Velho que

regresse a Constantinopla para tomar o manto de domestikoacutes A estrateacutegia bizantina de impor

e consolidar a hegemonia na regiatildeo manteve-se estabelecer laccedilos de vassalagem com os

poderes lombardos do Sul de Itaacutelia muitas vezes recorrendo agrave diplomacia ou ao envio de

tropas auxiliares para fazer frente agrave ameaccedila aacuterabe do Norte de Aacutefrica e da Siciacutelia148 Por

exemplo o priacutencipe Guaimar I de Salerno (880-901) aceitou a soberania bizantina quando

tropas imperiais o auxiliaram entre 886 e 887 tendo sido recompensado por Leatildeo VI com o

tiacutetulo de patriacutecio149 Os priacutencipes lombardos no entanto eram aliados de natureza duacutebia que

soacute aceitavam o auxiacutelio bizantino quando precisavam e que tanto se podiam unir aos

Bizantinos contra os Sarracenos como vice-versa150

Em 887 o priacutencipe Aiatildeo de Benevento (884-891) quis vingar-se de uma campanha

empreendida pelo strategoacutes Teoacutefilato na Campacircnia e tomou Bari de assalto com o apoio de

auxiliares sarracenos A resposta bizantina natildeo se fez esperar e no ano seguinte uma

146 Natildeo tivemos acesso agrave bibliografia de Jenkins 147 O czar responsaacutevel pela conversatildeo do estado buacutelgaro ao cristianismo 148 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 23 149 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 158-159 150 Sendo o duque-bispado de Naacutepoles o melhor exemplo desta praacutetica

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expediccedilatildeo liderada pelo patriacutecio Constantino recupera a cidade quando Aiatildeo eacute abandonado

pelos mercenaacuterios sarracenos e lhe eacute recusado auxiacutelio pelo ducado de Espoleto e pelo condado

de Caacutepua Apoacutes a morte do priacutencipe em 891 o strategoacutes Symbatikios comanda um exeacutercito a

partir de Bari e toma Benevento aproveitando-se da menoridade de Urso o herdeiro de

Aiatildeo151 A conquista de Benevento foi efeacutemera pois a cidade caiu em 895 agraves matildeos do

priacutencipe Guido de Espoleto152 A reconquista foi facilitada pelo apoio da populaccedilatildeo da cidade

que estava descontente com as autoridades bizantinas que a estariam a oprimir153 ndash assim o

diz uma fonte lombarda do seacuteculo X154

Por outro lado no iniacutecio do seacuteculo X os Aglaacutebidas lanccedilaram-se novamente agrave

conquista de Itaacutelia Em 901 voltam a atacar a Calaacutebria conquistam Reacutegio e empreendem uma

nova incursatildeo naquela regiatildeo No ano a seguir eacute o proacuteprio emir aglaacutebida Ibrahim II (875-

902) a liderar as suas forccedilas em direccedilatildeo agrave Itaacutelia meridional Foi no seio dessa campanha em

902 que caiu Taormina a uacuteltima possessatildeo bizantina na Siciacutelia Apoacutes a consolidaccedilatildeo do

poder aglaacutebida naquela ilha o emir embarcou quase de imediato em direccedilatildeo ao sul de Itaacutelia

onde cercou Cosenza O asseacutedio acabou por ser mal sucedido porque Ibrahim morreu de

disenteria e a sua hoste privada da sua lideranccedila acabou por se desintegrar

Antes de prosseguirmos voltemos a nossa atenccedilatildeo para a tomada de Taormina A

questatildeo da queda de Taormina eacute uma das razotildees utilizadas para considerar Leatildeo um mau

imperador no sentido dos assuntos militares Por que razatildeo teraacute o basileuacutes entregado agrave sua

sorte a uacuteltima possessatildeo num dos pontos mais estrateacutegicos do Mediterracircneo Na nossa

opiniatildeo natildeo nos parece que tenha sido ele a deixar cair a Siciacutelia tendo em conta que ele

proacuteprio soacute tinha herdado Taormina A defesa da cidade soacute se justificava por trecircs razotildees uma

questatildeo de prestiacutegio para o Impeacuterio155 a manutenccedilatildeo dos seus habitantes na orla do poder

bizantina e a possibilidade da utilizaccedilatildeo da fortaleza como um ponto de partida para a

reconquista da Siciacutelia uma hipoacutetese completamente fora de questatildeo na altura156 porque a

grande preocupaccedilatildeo dos Bizantinos na regiatildeo era consolidar a sua hegemonia no Sul de Itaacutelia

e natildeo havia meios e condiccedilotildees navais157 para se empreender a reconquista da Siciacutelia num

151 Idem Ibidem p 159 152 Conveacutem salientar que a prioridade do Impeacuterio Bizantino na altura eram os Balcatildes onde Leatildeo VI e Simeatildeo

da Bulgaacuteria combatiam pela supremacia 153 O comando do theacutema da Lombardia que estava sedeado naquela cidade abandonou Benevento em 894 sob o

strategoacutes Barsaacutequio por estas razotildees 154 Idem Ibidem p 160 155 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 24 156 Idem Ibidem p 24 157 Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI enfrentou uma grave vaga de pirataria tanto no Mar Egeu como no

Mediterracircneo oriental

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futuro proacuteximo Por estas razotildees concordamos com a afirmaccedilatildeo de Karlin-Hayter que diz

laquo(hellip) Taormina naquele tempo natildeo era um recurso mas sim um encargoraquo158

Enquanto isso o paradigma lombardo-bizantino no Sul de Itaacutelia muda pois as

relaccedilotildees entre Guido e Benevento rapidamente se deterioraram um facto que culminou na

uniatildeo do principado de Benevento com o ducado de Caacutepua em 901 para que ambos

pudessem fazer frente ao Imperador do Sacro Impeacuterio Esta mudanccedila no estado de situaccedilatildeo

possibilitou uma reaproximaccedilatildeo entre Lombardos e Bizantinos que se aliam para fazer frente

aos Aacuterabes que realizavam raides na Campacircnia a partir do seu laquoninhoraquo na foz do rio

Garigliano Foi com a intenccedilatildeo de criar uma espeacutecie de Liga Cristatilde para expulsar os Aacuterabes da

Campacircnia de uma vez por todas que o priacutencipe Atenolfo I de Benevento e Caacutepua enviou em

909 uma embaixada a Constantinopla presidida pelo filho Landolfo Leatildeo teraacute concordado

com o priacutencipe requerendo soacute que este se tornasse vassalo da coroa puacuterpura A operaccedilatildeo natildeo

se chegou a realizar enquanto o basileuacutes era vivo no entanto mais tarde formou-se uma nova

alianccedila cristatilde organizada pelo papa Joatildeo II em 915 que possuiacutea um importante corpo militar

bizantino sob o comando do strategoacutes da Lombardia Nicolau Piccingli A Liga Cristatilde

apoiada pela frota bizantina cercou entatildeo a base sarracena na foz do Garigliano Os Aacuterabes

natildeo conseguiram fazer frente agrave alianccedila das principais potecircncias do sul de Itaacutelia159 e foram

massacrados Com o fim daquele enclave terminaram tambeacutem as expediccedilotildees de saque

muccedilulmanas no interior da Campacircnia e da Itaacutelia Central160

Viajemos agora para os Balcatildes Como jaacute foi referido lamentavelmente para Leatildeo VI

as relaccedilotildees entre o Impeacuterio Bizantino e a Bulgaacuteria cristatilde deterioraram-se durante o seu

reinado Na segunda metade do seacuteculo IX o Estado buacutelgaro evoluiu de um khaganato pagatildeo

para um impeacuterio cristatildeo sob a alccedilada do czar Boacuteris161 O antigo khan por sua vez tornou-se

tatildeo religioso que abdicou do trono para vestir o haacutebito em 889 apoacutes ter entregado a coroa ao

seu primogeacutenito Vladimir O novo soberano foi deposto pelo proacuteprio pai em 893 quando

comeccedilou a tomar um conjunto de medidas anticristatildes e anti-bizantinas Depois de depor

158 Idem Ibidem p 24 159 Para aleacutem da frota e dos contingentes do Impeacuterio Bizantino estavam presentes corpos militares do papado e

dos principados lombardos de Caacutepua Salerno Espoleto e ateacute de Naacutepoles e Gaeta (que Ravegnani chega a

considerar filossarracenas) cidades que foram convencidas por Nicolau Piccingli a participar RAVEGNANI G

ndash Op cit p 161 160 Idem Ibidem p162 161 Para um resumo deste processo e da autonomizaccedilatildeo da Igreja Buacutelgara vide HUPCHIK Dennis P (2017) The

Bulgarian-Byzantine Wars for Early Medieval Balkan Hegemony ndash Silver-lined Skulls and Blinded Armies

Estados Unidos da Ameacuterica Palgrave Macmillan pp 136-143

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Vladimir Boacuteris voltou agrave sua vida religiosa natildeo sem antes ter colocado no seu lugar um outro

filho mais novo chamado Simeatildeo em 893162

O novo soberano dos Buacutelgaros era tambeacutem muito culto fora educado em

Constantinopla era piamente cristatildeo e tinha um enorme apreccedilo pela coacutepia de textos sagrados

Tudo razotildees que possivelmente trariam alguma paz a Bizacircncio tanto que Leatildeo natildeo estava

interessado em guerrear com uma naccedilatildeo ortodoxa mais a mais com o impeacuterio cercado por

inimigos natildeo-cristatildeos163 No entanto Simeatildeo era tambeacutem um ambicioso governante que

queria formar um Impeacuterio Bizantino-Buacutelgaro encabeccedilado por ele164hellip As tensotildees comeccedilaram

de imediato a borbulhar no ano que se seguiu agrave ascensatildeo do jovem soberano buacutelgaro165

quando o braccedilo direito do basileuacutes Styliano Zaotzeacute conseguiu convencer Leatildeo a transferir o

mercado buacutelgaro de Constantinopla166 para Tessaloacutenica Simeatildeo ao tomar conhecimento

destes acontecimentos tentou mostrar o seu desagrado ao imperador que por sua vez o

ignorou Foi aiacute que o jovem suserano buacutelgaro desenterrou o machado da guerra

A duacutevida de quem teraacute realmente provocado essa guerra ainda hoje eacute discutida As

croacutenicas bizantinas parecem querer demonstrar que a questatildeo do laquomercado buacutelgaroraquo fora

apenas um pretexto para uma guerra que o ambicioso Simeatildeo desejava167 Por outro lado ateacute

que ponto estas alegaccedilotildees satildeo vaacutelidas E se Leatildeo tivesse aquiescido a Simeatildeo Teria este

forccedilado uma guerra de qualquer das formas numa etapa tatildeo prematura da sua governaccedilatildeo O

que nos parece mais provaacutevel eacute que o czar buacutelgaro tambeacutem natildeo estivesse interessado em

combater contra Bizacircncio (pelo menos naquela altura) mas viu-se obrigado a fazecirc-lo para

garantir os interesses comerciais do seu povo para consolidar o seu trono e citamos aqui

Hupchik para mostrar ao mundo que laquoos interesses (da Bulgaacuteria) podiam ser ignorados pelos

estrangeiros apenas sob um grande riscoraquo168 Por outro lado eacute muito provaacutevel que Leatildeo natildeo

contasse com esta retaliaccedilatildeo de Simeatildeo ou por natildeo esperar uma resposta tatildeo draacutestica do seu

vizinho ou porque confiava na sustentaccedilatildeo da longa paz entre a Bulgaacuteria e Bizacircncio169

Independentemente das circunstacircncias foi com a guerra que Leatildeo se deparou e esta veio

(tendo em conta a regiatildeo onde decorreu) numa peacutessima altura para o lado bizantino

162 Idem Ibidem p 143 163 Os Aacuterabes na Itaacutelia no Mar Egeu e na Ciliacutecia e os Russos na estepe euroasiaacutetica na margem norte do Mar

Negro 164 MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 165 Estaria nos seus 20 anos aproximadamente Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p151 166 Para uma pequena descriccedilatildeo dos efeitos desta mudanccedila no comeacutercio buacutelgaro e da razatildeo desses efeitos cf

Idem Ibidem p 154 167 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 174 e WORTLEY J ndash Op cit pp 169-170 168 Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p153 169 Vide TOUGHER S ndash Op cit p173

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A invasatildeo buacutelgara do theacutema da Macedoacutenia foi arrasadora e brutal uma vez que aquela

aacuterea estava relativamente indefesa e porque o impeacuterio contava apenas com tropas de segunda

categoria laquotemaacuteticasraquo e somente um contingente de soldados profissionais estava em

Constantinopla a guarda-pessoal do basileuacutes a Hetaireia170 Este exeacutercito mobilizado agrave

uacuteltima da hora foi trucidado por Simeatildeo os seus comandantes foram mortos e os membros da

Hetaireia (e o proacuteprio basileuacutes) foram humilhados ao verem os seus narizes cortados O

primeiro laquoroundraquo da guerra fechou portanto com uma vitoacuteria de Simeatildeo

No ano a seguir Leatildeo jaacute estava mais preparado para fazer frente a Simeatildeo e ateacute para

passar agrave ofensiva A estrateacutegia que o basileuacutes engendrou envolvia trecircs peccedilas principais a

habilidade de Niceacuteforo Focas o Velho a inatacaacutevel (pelos Buacutelgaros) marinha bizantina e uma

manobra diplomaacutetica que visava chamar um novo jogador ao tabuleiro ndash os Magiares171 da

regiatildeo da atual Romeacutenia e da Panoacutenia (Hungria) Para conseguir o apoio daquele povo Leatildeo

enviou um diplomata (carregado com um tributo em ouro) aos respetivos liacutederes Arpaacuted e

Kurszaacuten que aceitaram combater ao lado dos Bizantinos Assim enquanto os Magiares se

dirigiam ao Danuacutebio na primavera de 895 para invadir a Bulgaacuteria pelo norte o ceacutelebre

Niceacuteforo Focas reuniu o exeacutercito imperial na fronteira com Simeatildeo de modo a desviar a sua

atenccedilatildeo Depois de Simeatildeo ter prendido um diplomata que Leatildeo enviara a fim de negociar a

paz a hoste de Niceacuteforo invadiu as possessotildees buacutelgaras no Norte da Traacutecia

Com Simeatildeo distraiacutedo pelo ataque do exeacutercito romano a frota sob o droungaacuterios

Eustaacutecio ajudou os Magiares a atravessarem o Danuacutebio e a invadir o limes indefeso de

Simeatildeo O czar ainda tentou reagir mas as suas tentativas foram goradas pelos arqueiros da

estepe que o derrotam e obrigaram a refugiar-se na fortaleza de Dorostolon172 Os Magiares

saquearam o territoacuterio inimigo ateacute Preslav a capital da Bulgaacuteria173 e regressaram depois agraves

suas terras para laacute do Danuacutebio onde venderam os seus prisioneiros de guerra a Bizacircncio

conforme ficara acordado na alianccedila com Leatildeo

170 O domestikoacutes e o grosso das forccedilas da capital incluindo os taacutegmata estavam em campanha a oriente quando

Simeatildeo invadiu Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVIII O Regresso do Califado a Bagdade

Traduccedilatildeo e anotaccedilotildees de Franz Rosenthal ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume

XXXVIII The Return of the Caliphate to Baghdad Nova Iorque New York University Press p 11 171 Os antecessores dos Huacutengaros 172 Satildeo Skylitzes e Hupchik que referem Dorostolon vide WORTLEY J ndash Op cit p 171 e HUPCHIK D P ndash

Op cit p 158 Shaun Tougher refere que ele retirou para uma fortaleza chamada Moundraga mas natildeo

encontraacutemos nenhuma referecircncia a este local (ou ao facto de ser o mesmo siacutetio que Dorostolon) nas nossas

pesquisas Vide TOUGHER S ndash Op cit p177 173 Que supostamente teraacute sido salva pelas preces e por um voto de fome por trecircs dias expresso pelo antigo

imperador Boacuteris Hupchik diz que o que parou os Magiares foram as muralhas da cidade Por nosso lado

sentimo-nos tentados a aceitar a hipoacutetese de que teraacute sido uma conjugaccedilatildeo das muralhas e do facto de Boacuteris ter

liderado a defesa da cidade Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p 159

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Por sua vez Simeatildeo enviou uma mensagem a Eustaacutecio informando-o de que estava

disposto a assinar a paz Leatildeo estava desejoso de sair daquela guerra que natildeo lhe interessava

e pretendia distribuir as tropas daquele teatro de operaccedilotildees por outras frentes prioritaacuterias pelo

que aceitou e ordenou a retirada quase imediata de Niceacuteforo Focas o Velho e de Eustaacutecio Para

assinar os termos da paz Leatildeo enviou o seu melhor diplomata Leatildeo Coirosfactes a Simeatildeo

No entanto a ordem de retirada prematura e depois a entrega dos seus prisioneiros de guerra

antes de assinar a paz foram erros crassos do basileuacutes Simeatildeo no interluacutedio da assinatura da

paz aliou-se aos Pechenegues um povo das estepes hostil aos Magiares e preparou o seu

exeacutercito para o terceiro ano de guerra Ainda em 895 atravessou o Danuacutebio e com a ajuda

dos Pechenegues derrotou os Magiares empurrando-os para a Panoacutenia174

No ano seguinte possivelmente apoiado na morte ou na remoccedilatildeo de Niceacuteforo Focas

do cargo de domestikoacutes Simeatildeo lanccedilou-se ao ataque e derrotou as forccedilas do novo

ldquocomandante do Estado-maiorrdquo Leatildeo Katakalon na batalha de Bulgarophygon A derrota

naquela batalha saiu cara ao Saacutebio que viu as forccedilas buacutelgaras saquearem a Traacutecia bizantina e

ateacute ameaccedilar Constantinopla Por fim Leatildeo acedeu a assinar a paz nos termos propostos por

Simeatildeo que nos satildeo desconhecidos mas que muito provavelmente envolviam um retorno agrave

situaccedilatildeo dos mercados tal como esta estava antes da guerra e ao pagamento de um pesado

tributo anual175 De resto ao longo do reinado de Leatildeo Simeatildeo natildeo mais pegaria em armas

contra Bizacircncio natildeo soacute porque durante o resto do tempo de principado do basileuacutes se

concentrou no desenvolvimento cultural do seu domiacutenio176 mas porque Leatildeo fez os possiacuteveis

(e os impossiacuteveis pode-se dizer) para conservar a paz

Falta-nos dedicar algumas palavras agrave guerra naval e ao limes oriental Decidimos

juntar estas duas frentes numa uacutenica secccedilatildeo do nosso texto porque estatildeo diretamente

relacionadas Em primeiro lugar referimos que a guerra naval foi o que correu pior a Leatildeo

VI deu-se a perda definitiva da Siciacutelia como jaacute falaacutemos e as frotas bizantinas foram

derrotadas vaacuterias vezes Vamos agora tentar sucintamente fazer um relato das principais

accedilotildees navais e das campanhas orientais que ocorreram durante o reinado do Saacutebio

Na Ciliacutecia o principal adversaacuterio no iniacutecio do reinado de Leatildeo VI continuava a ser o

eunuco Yazaman que da sua base de Tarso atacava Bizacircncio tanto por terra como por mar

Em 888 Yazaman organiza uma expediccedilatildeo naval capturando quatro navios bizantinos

enquanto no Mediterracircneo central uma frota muccedilulmana derrota uma armada bizantina ao

174 De onde eles partiriam para os seus ataques recorrentes contra a Europa ocidental e a Bulgaacuteria durante a

primeira metade do seacuteculo X ateacute serem derrotados agraves matildeos de Otatildeo I na batalha de Lechfeld (em 955) 175 Vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 176 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 175

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largo de Milazzo Esta vitoacuteria no entanto seria anulada no ano seguinte com um sucesso

militar romano a repor o controlo sobre o Estreito de Messina Em 891 no contexto de uma

alianccedila entre Yazaman e os Tuluacutenidas do Egipto o eunuco eacute morto por um fragmento de um

projeacutetil de balista durante um ataque a Salandu uma fortaleza costeira bizantina na Ciliacutecia177

A este governante de Tarso seguiu-se anos mais tarde o eunuco Raghib que em 898 derrotou

uma frota bizantina e teraacute decapitado 3000 marinheiros romanos o que a ser verdade poderaacute

ter representado um duro golpe na operacionalidade naval do impeacuterio178 No entanto o

sucesso de Raghib teraacute sido sol de pouca dura porque no ano seguinte ele eacute preso e a frota de

Tarso queimada a mando do califa uma mais-valia para Bizacircncio naqueles tempos

conturbados179

Apesar dos feitos de Raghib de Yazaman e ateacute de Simeatildeo na nossa opiniatildeo natildeo

houve personagens mais nefastas para Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI do que Leatildeo o

Tripolitano e Damiano Por coincidecircncia tanto um como o outro tinham origem grega180 e

conseguiram ascender no mundo muccedilulmano ateacute ocuparem altos cargos militares181 Jaacute em

891 (ou em 893) Leatildeo o Tripolitano desferira um golpe profundo na aptidatildeo mariacutetima do

impeacuterio quando atacou e saqueou Samos (a capital do theacutema mariacutetimo do Mar Egeu) e

capturou o seu strategoacutes Paspalas182 Dez anos depois foi a vez de Damiano atacar o impeacuterio e

saquear a cidade de Demeacutetrias na Tessaacutelia mas nesse mesmo ano deu-se um bem-sucedido

ataque naval bizantino no litoral da Ciliacutecia (possibilitado pela destruiccedilatildeo da frota de Tarso

provavelmente) e uma ofensiva terrestre na regiatildeo de Kaysun entre Maras e Samosata183 Os

Aacuterabes retaliaram com um raide agrave ilha de Lemnos que fez dos seus habitantes cativos dos

Muccedilulmanos184

Mas nenhum ataque chocou mais o Impeacuterio Bizantino do que o saque de Tessaloacutenica

em 904 e natildeo era para menos tendo em conta que esta era a segunda cidade mais importante

do Impeacuterio A frota que estava sob o comando de Leatildeo o Tripolitano tinha dimensotildees maiores

do que o normal e o seu objetivo principal seria com alguma probabilidade

177 Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVII A Restauraccedilatildeo Abaacutessida Traduccedilatildeo de Phillip M Fields e

Notas de Jacob Lassner FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid

Recovery Nova Iorque New York University Press p 175 178 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 73 179 Vide Idem Ibidem p 79 e 91 180 Leatildeo seria oriundo da cidade de Ataleia na Ciliacutecia onde foi capturado relativamente jovem Damiano seria

mesmo grego e serviu o eunuco Yazaman em Tarso 181 Leatildeo o Tripolitano seria almirante por exemplo 182 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 185 183 Al-Tabari diz que teratildeo sido presos cerca de 15 000 muccedilulmanos Cf ROSENTHAL Franz ndash Op cit p 97 184 Tougher diz que para Vasiliev o sucesso dos ataques muccedilulmanos cada vez mais proacuteximos de

Constantinopla se deveu ao desaire bizantino frente a Raghib em 898 Cf TOUGHER S ndash Op cit p 185

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Constantinopla185 Leatildeo enviou a sua frota para fazer frente agrave armada aacuterabe quando esta se

comeccedilou a aproximar do Helesponto mas o almirante Eustaacutecio retirou frente ao poderio

aacuterabe O impeacuterio acabado de sair da crise administrativa provocada pela morte de Zaotzeacute186 e

da filha a basiacutelissa em 899 e com uma seacuterie de derrotas navais sofridas frente aos Aacuterabes

(mau grado algumas vitoacuterias tambeacutem) via agora a sua proacutepria capital ameaccedilada

Leatildeo colocou um novo droungaacuterios Himeacuterio agrave cabeccedila da frota imperial e enviou-o

contra o Tripolitano O almirante muccedilulmano entretanto por razotildees desconhecidas mudara

de curso e dirigira-se a Tessaloacutenica sem que o novo droungaacuterios o tentasse deter Uma

duacutevida se coloca por que razatildeo teraacute o Tripolitano mudado de alvo Natildeo haacute muitas certezas

mas parece-nos que se Tessaloacutenica natildeo era um objetivo mais tentador do que

Constantinopla187 certamente era bem mais faacutecil de tomar188 Alegadamente Tessaloacutenica soacute

teraacute sido resgatada por acaso quando um oficial imperial encontrou uma avultada soma

monetaacuteria destinada agrave Bulgaacuteria189 e a ofereceu ao almirante muccedilulmano que soacute entatildeo teraacute

levantado acircncora deixando uma grande parte dos cativos em terra e regressado agrave Siacuteria190

O saque de Tessaloacutenica teve consequecircncias nefastas como eacute expectaacutevel a niacutevel

regional porque metade da populaccedilatildeo foi morta ou capturada incluindo a guarniccedilatildeo e o

strategoacutes Leatildeo Katzilaacutequio a niacutevel psicoloacutegico-religioso porque o padroeiro da cidade Satildeo

Demeacutetrio que sempre tinha protegido a cidade na opiniatildeo dos Bizantinos a teraacute abandonado

naquele ano tendo-se entatildeo discutido as implicaccedilotildees que isso teria na vontade da Virgem em

defender Constantinopla191 a niacutevel diplomaacutetico porque Leatildeo VI se viu obrigado a enviar uma

nova embaixada a Simeatildeo da Bulgaacuteria para o convencer a natildeo se aproveitar daquele evento

para conquistar aquela cidade192 e possivelmente teraacute afetado o prestiacutegio do Saacutebio

Karlin-Hayter no artigo em que defende a poliacutetica externa de Leatildeo VI considera o

saque de Tessaloacutenica como uma das trecircs grandes manchas do reinado drsquo O Saacutebio a par da

eclosatildeo da guerra contra Simeatildeo e da retirada apressada de Niceacuteforo Focas o Velho e de

185 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 186 186 A famiacutelia de Zaotzeacute conspirara contra o imperador mas este foi salvo quando o eunuco aacuterabe Samonas

denunciou a Leatildeo VI esta conspiraccedilatildeo 187 Um ataque agrave capital do impeacuterio consumiria muito tempo e necessitaria de um bom apoio terrestre 188 Treadgold explica que as muralhas mariacutetimas de Tessaloacutenica estavam a ser reparadas por aquela altura pelo

que eacute muito provaacutevel que o Tripolitano se tenha aproveitado da circunstacircncia para atacar aquela cidade Vide

TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 189 Possivelmente o tributo destinado a Simeatildeo 190 Shaun Tougher sempre empenhado em defender a imagem de Leatildeo alega que foi Leatildeo VI a pagar aos

Aacuterabes a libertaccedilatildeo da cidade TOUGHER S ndash Op cit p 188 191 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 p189 192 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 181

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Eustaacutecio no segundo ano dessa guerra193 No entanto ateacute que ponto as circunstacircncias da

queda de Tessaloacutenica satildeo da culpa do basileuacutes Treadgold194 por exemplo desculpa Leatildeo ao

defender que o ataque tinha sido de surpresa195 Na nossa opiniatildeo poreacutem parece-nos muito

difiacutecil o basileuacutes natildeo ter sabido com antecedecircncia da preparaccedilatildeo desta enorme frota pois de

outra forma esta natildeo podia sequer sonhar em conquistar Constantinopla se a capital fosse

realmente o primeiro alvo do Tripolitano Aliaacutes as accedilotildees de Leatildeo nesse ano mostram que ele

jaacute deveria contar com um ataque naval muccedilulmano procedeu agrave reparaccedilatildeo das muralhas de

Tessaloacutenica a armada imperial permaneceu nas proximidades da capital e talvez mais

relevante de tudo lanccedilou-se uma ofensiva terrestre a oriente196 pouco antes do saque Este

uacuteltimo ponto em particular encaixa no pensamento estrateacutegico do basileuacutes que defende no

Taktikaacute que um ataque naval muccedilulmano deve ser retaliado com uma invasatildeo terrestre197 uma

opiniatildeo que partilhamos com Shaun Tougher198 Em jeito de vinganccedila o basileuacutes lanccedilaria

ainda uma expediccedilatildeo por terra contra a Ciliacutecia sob o comando de Androacutenico Ducas que

culminaria numa vitoacuteria bizantina na batalha de Maras

Em 906 no seguimento da traiccedilatildeo e fuga de Androacutenico Ducas para o Califado199

Himeacuterio derrota uma forccedila naval aacuterabe no dia de Satildeo Tomeacute (6 de outubro) enquanto um

exeacutercito romano saqueia a cidade de Qurus nos arredores de Alepo Em 909 Bizacircncio assola

a costa da Siacuteria e toma as fortalezas de al-Qubba e Laodiceia ataques estes que iratildeo

prosseguir no ano seguinte e que se estendem aos habitantes muccedilulmanos da ilha de Chipre

Em 911 em jeito de represaacutelia Damiano ataca os residentes bizantinos desta ilha no mesmo

ano em que se realiza uma importante expediccedilatildeo talvez direcionada a Creta liderada por

Himeacuterio

Esta expediccedilatildeo representa o uacuteltimo marco relevante no reinado de Leatildeo VI e ao

observarmos a lista dos preparativos para esta expediccedilatildeo200 rapidamente nos apercebemos do

esforccedilo de mobilizaccedilatildeo do Impeacuterio para aquele laquomonumentalraquo empreendimento 177

embarcaccedilotildees 34 mil e duzentos remadores 7140 soldados 700 Russos 5087 Mardaiacutetas201

uma mobilizaccedilatildeo de meios que teraacute custado cerca de 230 000 nomismata soacute no que respeita

193 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 194 Em 1997 195 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 196 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 147 197 Vide Anexos VIII p) 198 Vide TOUGHER S ndash Op cit p190 199 Que teraacute afetado visivelmente o imperador como veremos mais agrave frente 200 Vide Anexos IX a) 201 Descendentes de refugiados cristatildeos da Siacuteria que foram recebidos por Justiniano II e colocados ao serviccedilo da

divisatildeo mariacutetima dos Caribisianos onde se tornaram remadores e tropas de infantaria mariacutetima de renome Vide

TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 26

49

ao pagamento das rocircgai Uma observaccedilatildeo dos dados desta expediccedilatildeo confirma que a

conquista de Creta era um objetivo fulcral para Leatildeo VI202 Se a ilha voltasse para matildeos

bizantinas tambeacutem se retomava o controlo do sul do Mar Egeu e eliminava-se o ninho de

piratas sarracenos mais perigoso para Constantinopla Infelizmente para os Romanos Himeacuterio

acabou por ser obrigado a retirar apoacutes natildeo ter logrado conquistar Chandax (a capital da

ilha)203 tendo a sua frota sido derrotada na viagem de regresso por Leatildeo o Tripolitano e por

Damiano ao largo da ilha de Quios em 912 o ano em que Leatildeo VI adormeceu para sempre

O que podemos dizer acerca de Leatildeo VI em termos militares Na nossa opiniatildeo este

basileuacutes preocupava-se com os assuntos militares do impeacuterio Aliaacutes como natildeo podia Tal

como basileicircs anteriores ele governava um reino rodeado de inimigos circunstacircncia que o

obrigou a fazer escolhas difiacuteceis p ex o ldquosacrifiacuteciordquo de Taormina quando os Aacuterabes se

tornaram muito mais agressivos no Mediterracircneo oriental ou abandonar Tessaloacutenica ao saque

para talvez poupar a frota imperial a um duro combate sem vitoacuteria garantida (apesar de neste

caso a responsabilidade estar mais nas matildeos dos seus dois almirantes Eustaacutecio e Himeacuterio)

Por outro lado conveacutem lembrar que agrave morte de Leatildeo VI o Impeacuterio estava muito

possante noutras frentes Tinha-se expandido para oriente tanto por meios militares como

diplomaacuteticos (no caso de alguns principados armeacutenios) destacando-se tambeacutem uma certa

superioridade militar bizantina neste limes Por outro lado assegurou-se a supremacia no Sul

de Itaacutelia o que permitiu assumir um papel preponderante na expulsatildeo dos Aacuterabes da

Campacircnia Em relaccedilatildeo a Simeatildeo com o qual se assinou a paz em 896 este natildeo deu mais

nenhum sinal de querer atacar Bizacircncio e o basileuacutes fez todos os possiacuteveis por manter essa

paz pois era uma guerra que natildeo tinha desejo de travar por razotildees ideoloacutegicas204 Por fim

devemos recordar que o interesse de Leatildeo VI nos assuntos militares se encontra refletido no

Taktikaacute um tratado que conjuga uma compilaccedilatildeo de alguns conhecimentos praacuteticos e teacutecnicos

com retoacuterica teoloacutegica Estes dois fatores tornam este manual militar uma ferramenta

essencial para compreender o pensamento estrateacutegico bizantino do seacuteculo X

202 John Haldon defende que esta expediccedilatildeo natildeo teria como objectivo principal somente a conquista de Creta (se

o tivesse) mas que seria uma continuaccedilatildeo do empreendimento do ano anterior direcionado agrave costa litoral da

Siacuteria com o objetivo a longo prazo de restabelecer o estatuto de talassocracia a Bizacircncio no que concerne o

Mediterracircneo oriental e o Mar Egeu Vide HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century

Military Administration ndash Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies In Travaux et Memoacuteires (13) pp

240-242 203 Idem Ibidem p 240 204 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40

50

Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina

Neste uacuteltimo capiacutetulo de contextualizaccedilatildeo orientaremos a nossa visatildeo para o estudo da

cultura literaacuteria bizantina com maior enfoque na tratadiacutestica para esse efeito dividimos o

capiacutetulo em dois segmentos Primeiramente vamos analisar algumas questotildees introdutoacuterias

relacionadas com esta praacutetica cultural tipologias motivaccedilotildees e principais caracteriacutesticas De

seguida vamos observar o segundo periacuteodo dourado da respetiva produccedilatildeo o que o motivou

o que o fez diferir do primeiro e quais os protagonistas

31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina

Cremos que uma das coisas mais importantes a realccedilar sobre esta atividade eacute a de que

mais do que tudo era um exerciacutecio cultural tivesse ele algum efeito praacutetico ou natildeo Isso

revela-se desde logo na circunstacircncia de muitos dos autores dos tratados beacutelicos serem civis

grande parte deles sem qualquer experiecircncia militar205 Qual a razatildeo para o interesse por estes

assuntos entre a elite intelectual bizantina

Quanto a este ponto talvez seja importante relembrar a relaccedilatildeo de osmose entre

religiatildeo poliacutetica e guerra em Bizacircncio Muitas foram as vezes em que questotildees de iacutendole

religiosa provocaram periacuteodos de amargura intestina na administraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino

como sucedeu com o Iconoclasmo Eacute evidente que quando a instabilidade governativa

imperava em Constantinopla isso irradiava por todo o Impeacuterio acabando por acarretar

consequecircncias natildeo apenas a niacutevel interno206 mas tambeacutem externo207 Esta interaccedilatildeo entre a

religiatildeo e o poder militar transpunha-se tambeacutem para a produccedilatildeo cultural Um dos grandes

exemplos disto eacute o Taktikaacute de Leatildeo VI que frente a ameaccedilas em muacuteltiplas frentes (em

especial a muccedilulmana) defendia que a condiccedilatildeo cristatilde e a fidelidade a Deus por parte dos

seus generais assim como a condiccedilatildeo de laquodefensores da feacuteraquo era um dos ingredientes

principais para a vitoacuteria em qualquer conflito208 Por outro lado a guerra era considerada

como um mal necessaacuterio na sociedade bizantina eacute certo que sendo uma comunidade cristatilde a

odiava todavia necessitava dela para ironicamente alcanccedilar a paz209hellip

Se por um lado existia esta relaccedilatildeo entre a religiatildeo e o pensamento estrateacutegico o

mesmo acontecia no sentido inverso O pensamento militar em Bizacircncio comeccedilou tambeacutem

205 Como por exemplo Leatildeo VI Urbiacutecio e Siriano 206 A revolta de Artavasdo por exemplo parece tambeacutem ter motivos religiosos pois este era iconoduacutelio 207 Enquanto a questatildeo iconoclaacutestica afetou a sociedade bizantina apesar de natildeo ter havido grandes perdas

territoriais o territoacuterio tambeacutem natildeo aumentou muito (pelo menos na frente oriental) 208 Vide cf infra capiacutetulo 4 209 Vide Anexo VIII o)

51

ele a influenciar a religiatildeo e a cultura em geral Enquanto os soldados travavam a guerra

terreste as autoridades religiosas (o cristianismo oriental em geral) combatiam contra o mal

Na literatura teoloacutegica verifica-se a apropriaccedilatildeo de vocabulaacuterio militar para exaltar esse

combate tratando-o tambeacutem como uma guerra com as suas campanhas e batalhas proacuteprias o

qual era travado com armas espirituais como a reza e a contemplaccedilatildeo210 Enquanto isso

verifica-se na produccedilatildeo historiograacutefica bizantina uma predominacircncia das temaacuteticas beacutelicas

(campanhas batalhas e triunfos) como mote para embelezar a narrativa e tambeacutem como

criacutetica da parte do autor um basileuacutes vitorioso e bravo era presenteado com elogios um

imperador que natildeo o fosse era tratado como fraco e castigado por Deus (especialmente se

tivesse matildeo pesada para a Igreja financeiramente falando como sucedeu com Niceacuteforo I)

A tratadiacutestica bizantina eacute conhecida por possuir um grande cariz antiquaacuterio e

enciclopeacutedico211 Isto eacute verificaacutevel ao longo de todo o percurso da literatura militar em

Bizacircncio onde rapidamente se verifica que satildeo muito poucas (senatildeo praticamente

inexistentes) as obras totalmente originais Todas elas retiram informaccedilatildeo e conhecimento de

fontes mais antigas quer claacutessicas quer bizantinas verificando-se paraacutefrases inteiras de

secccedilotildees desses antecedentes212 Apesar disto alguns manuais alteram esses trechos para os

adequar agraves circunstacircncias da eacutepoca com novas taacuteticas e armamento e com a eliminaccedilatildeo de

conhecimento obsoletos tal facto observa-se com maior frequecircncia em tratados produzidos

por autores com experiecircncia militar como no caso de um strategoacutes de um domestikoacutes (como

Niceacuteforo Ouranos autor de um Taktikaacute escrito no seacutec XI) ou ateacute de certos imperadores (como

Mauriacutecio ou Niceacuteforo II Focas) Podemos observar ainda inserido neste uacuteltimo fenoacutemeno o

aparecimento de palavras oriundas de outras liacutenguas que natildeo o grego como do armeacutenio do

aacuterabe e obviamente modificaccedilotildees de alguns termos latinos213 por influecircncia do leacutexico militar

bizantino O pragmatismo da tratadiacutestica bizantina revela-se nestes uacuteltimos fatores bem como

o seu caraacuteter evolutivo (ainda que pouco inovador) nos aspetos militares Todavia mesmo que

esse aspeto criativo natildeo existisse de todo tal natildeo retiraria importacircncia a tais obras uma vez

que estas natildeo deveriam ser lidas como algo que decidisse de imediato a forma como um

210 laquoThe vocabulary of warfare permeated theological and religious literature too so that monastic

communities were described as regiments of spiritual fighters for the faith and the struggle of the Church

against evil was phrased in terms of a military campaign in which the weapons of prayer contemplation and

spiritual purification were part of the armory of the east Roman churchraquo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit

p21 211 Muitos dos seus autores como eram filoacutesofos ou retoacutericos sem qualquer praacutetica nas artes da guerra natildeo

possuiacuteam interesse sequer que as suas obras tivessem alguma utilidade praacutetica ou que o seu uso fosse somente

militar Vide MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit p 907 212 O Taktikaacute de Leatildeo VI eacute muito influenciado por vaacuterios tratados anteriores natildeo soacute do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio

mas tambeacutem das obras de Onasandro Aeliano possivelmente Siriano entre outros 213 Para uma pequena suma de alguns destes termos vide NISA J (2016) ndash Op cit p 9

52

general deveria agir O strategoacutes deveria usaacute-las como uma fonte de ideias e de

conhecimentos para no momento de passar agrave accedilatildeo poder deliberar em consonacircncia com a

sua experiecircncia pessoal sobre qual a melhor forma de agir nas situaccedilotildees que enfrentava214

Ora em conformidade com esta continuaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de literatura beacutelica claacutessica e

romana verificamos a manutenccedilatildeo na cultura bizantina das mesmas disciplinas que vigoraram

na produccedilatildeo de tratados ateacute aiacute a strategikaacute a taktikaacute a naumachikaacute a poliorketikaacute e a

strategemataacute215 Finalizada esta pequena descriccedilatildeo da tratadiacutestica bizantina olhemos para o

estado dela na sua segunda fase de ouro ou seja nos seacuteculos X e XI

32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI)

O que suscitou o reaparecimento da produccedilatildeo literaacuteria militar nos iniacutecios do seacuteculo X

Consideramos que eacute possiacutevel afirmar ter-se tratado de um momento uacutenico para que tal

acontecesse Pela primeira vez em seacuteculos o Impeacuterio Bizantino atravessava um periacuteodo de

relativa estabilidade interna Longe iam os tempos do laquoseacuteculo negroraquo de 640-740 quando

Bizacircncio se confrontara com o iacutempeto inicial e avassalador dos Aacuterabes com o aparecimento

dos Buacutelgaros e com a longa guerra de atrito com os Lombardos em Itaacutelia O Iconoclasmo a

dura questatildeo religiosa que tinha fraturado a sociedade bizantina por um seacuteculo tinha tambeacutem

sido resolvido nos iniacutecios do reinado de Miguel III

Estes eventos natildeo trouxeram perfeiccedilatildeo agrave vida em Constantinopla pois a guerra as

questotildees religiosas e as intrigas de palaacutecio eram quase endeacutemicas mas geraram um periacuteodo de

maior calma na capital Isto permitiu a Bizacircncio revisitar o passado e iniciar um novo

processo de produccedilatildeo cultural a que podemos chamar de laquoRenascimento Macedoacutenicoraquo Este

percurso iniciou-se na segunda metade do seacuteculo X sob a tutela de homens cultos como o

patriarca Foacutecio que resumiu e compilou segmentos de 279 manuscritos claacutessicos pagatildeos ou

cristatildeos numa obra chamada Bibliotheacuteka216 Mais tarde durante o principado de Basiacutelio I

deu-se uma revisatildeo do Corpus Iuris Iustinianus numa obra chamada Basilikaacute que seria

terminada no reinado de Leatildeo VI e que contou ainda com algumas leis novas (as Novelle)217

Em relaccedilatildeo aos aspetos da literatura militar podemos afirmar que este renascimento se

deu com o Compecircndio de Siriano magistros (que podemos datar com alguma certeza para o

seacuteculo IX) Apesar de se inspirar muito mais nos manuais militares claacutessicos do que no

Stratēgikoacuten paradigma comum na cultura militar bizantina esta compilaccedilatildeo foi um regresso agrave

214 Vide MCGEER E (2008a) ndash Op cit p908 215 Cf supra Introduccedilatildeo 216 Vide MONTEIRO J (2017) ndash Op cit p72 217 Vide Idem Ibidem p 75

53

tratadiacutestica estagnada desde o De Militari Scientia218 Aleacutem disso os segmentos sobre guerra

naval e retoacuterica Naumachiacuteai e Rhetorica Militaris mostram-se inovadores O primeiro

porque a escrita sobre a guerra naval natildeo tinha tido grande expressatildeo durante a produccedilatildeo

tratadiacutestica dos seacuteculos V e VI o segundo porque (possivelmente) alertava para a ameaccedila

ideoloacutegica islacircmica para o seu cariz antagoacutenico aos valores cristatildeos e para a sua hostilidade

para com a existecircncia do impeacuterio da Ortodoxia219

Obviamente que o renascimento cultural natildeo pode ser tratado como a causa uacutenica para

o reaparecimento da tratadiacutestica A enorme quantidade de sucessos militares bizantinos

tambeacutem foi razatildeo para tal os triunfos em Marj al-Usquf Lalacatildeo e Bathys Riax a Oriente e a

subjugaccedilatildeo do sul de Itaacutelia a Ocidente poderatildeo ter sido os motes iniciais para este fenoacutemeno

Tambeacutem natildeo nos podemos esquecer das vitoacuterias bizantinas nos finais do seacuteculo X e iniacutecios do

seacuteculo XI que tornaram Bizacircncio a principal potecircncia do Mediterracircneo Oriental

Ateacute certo ponto parece-nos que podemos distinguir soacute por estes fatores duas fases

neste periacuteodo Uma primeira mais relacionada com o aspeto enciclopeacutedico da tratadiacutestica

protagonizada por Leatildeo VI e pelo seu filho Constantino VII (que ainda assim conseguiram

inovar em alguns aspetos de que falaremos mais adiante) A segunda prende-se com um

aspeto mais praacutetico e inovador sendo encabeccedilada por Niceacuteforo II Focas que deu letra de

forma natildeo soacute aos principais aspetos da guerra ofensiva travada por Bizacircncio mas

adicionalmente deu relevacircncia a alguns geacuteneros menos trabalhados como a guerra de

guerrilha ou a logiacutestica Em resumo a tratadiacutestica mudou com o reorientar da guerra de uma

estrateacutegia defensiva para uma mais ofensiva um facto que teraacute obrigado (apesar de natildeo ser o

uacutenico fator) a que as alteraccedilotildees taacuteticas necessaacuterias a essa mudanccedila fossem registadas em livro

Por fim natildeo devemos esquecer a ideologia cristatilde de Bizacircncio que teve um efeito geral

na produccedilatildeo literaacuteria bizantina deste periacuteodo de modo a construir (ou afirmar) uma identidade

cultural cristatilde e tambeacutem a fazer transparecer isso na forma de fazer (e escrever) a guerra220

Para Bizacircncio a guerra era uma coisa maacute e sabia-se que era endeacutemica e inevitaacutevel tendo de

ser defensiva para ser justa221 (ainda que pudesse envolver a reconquista de antigos territoacuterios

romanos222) Natildeo importava que o inimigo fosse islacircmico pagatildeo ou ateacute cristatildeo para Bizacircncio

a grande questatildeo era a sobrevivecircncia do Impeacuterio Bizantino Cristatildeo cujo soberano era o

218 Um pequeno tratado de autoria anoacutenima datado da segunda metade do seacuteculo VII que daacute grande ecircnfase agrave

cavalaria Este tratado eacute composto por muacuteltiplas locuccedilotildees vernaculares sem precedente e teria como objetivo

adaptar as informaccedilotildees do Stratēgikoacuten agrave realidade da altura Vide COSENTINO S (2009) ndash Op cit p 86 219 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p19 220 Para o caso do Taktikaacute cf infra II1 Para o caso Perigrave Paradromeacutes cf NISA J (2016) ndash Op cit pp 52-55 221 Vide Anexo VIII o) 222 HALDON J (1999) ndash Op cit p25

54

escolhido por Deus e apenas aiacute residia a santidade da guerra travada por Bizacircncio na defesa

do seu territoacuterio e do povo cristatildeo Para garantir a vitoacuteria era necessaacuterio o strategoacutes para aleacutem

do conhecimento de todas as artes da guerra ser bom homem e bom cristatildeo de forma a

garantir o apoio de Deus e assim a vitoacuteria um fator que alguns tratados deste periacuteodo natildeo se

cansam de enfatizar

A tratadiacutestica deste periacuteodo tinha novas prioridades Em primeiro lugar verifica-se um

afastamento direto das fontes mais claacutessicas em especial as heleniacutesticas ainda que se

mantivesse (como natildeo podia deixar de ser) uma ligaccedilatildeo indireta a estas em primeiro lugar

pela principal inspiraccedilatildeo literaacuteria militar deste periacuteodo o Stratēgikoacuten de Mauriacutecio em

segundo pelo descendente direto desta obra o Taktikaacute de Leatildeo VI Neste ponto conveacutem

realccedilar que este afastamento natildeo foi abrupto o compecircndio de Siriano por exemplo ainda vai

beber nessas fontes A retoacuterica de guerra em especial a que se debruccedilava mais sobre os

assuntos religiosos tambeacutem foi um dos aspetos que mais evoluiu durante este periacuteodo

Para aleacutem da questatildeo religiosa de que falaremos adiante comeccedilou-se a verificar um

incremento no uso da tratadiacutestica para fins propagandiacutesticos natildeo soacute para consolidar a posiccedilatildeo

do cristianismo como a verdadeira religiatildeo mas tambeacutem a niacutevel poliacutetico e em especial

militar com esforccedilos para reduzir as vitoacuterias dos grandes inimigos de Bizacircncio223 enquanto

por outro lado se tentava consolidar a legitimidade divina da dinastia reinante ou a

superioridade de uma famiacutelia em especial224 por meio da divulgaccedilatildeo de sucessos militares225

Por fim em termos temaacuteticos podemos verificar um florescimento na naumachikaacute

Como jaacute foi referido226 este geacutenero natildeo teve grande divulgaccedilatildeo durante a primeira fase de

escrita beacutelica Por que razatildeo teraacute ressurgido nesta altura227 A nosso ver foi uma questatildeo de

necessidade Conveacutem recordar que a segunda metade do seacuteculo IX foi marcada por uma seacuterie

de derrotas a niacutevel naval que se traduziram na expulsatildeo das forccedilas romanas das ilhas

estrateacutegicas mais importantes do Mediterracircneo de Creta logo em 828 e da Siciacutelia uma

conquista morosa para os Aglaacutebidas mas que alegadamente terminou em sucesso com a

captura e saque de Siracusa em 878 e na praacutetica com a tomada do uacuteltimo enclave bizantino

em Taormina em 902 Estes reveses navais continuaram nas primeiras deacutecadas do seacuteculo X

tendo o saque de Tessaloacutenica (em 904) e a destruiccedilatildeo da frota de Himeacuterio ao largo da ilha de

Chios (em 912) configurado os principais momentos desses acontecimentos

223 Cf Constantino VII basileuacutes [Oraccedilatildeo Militar do Imperador Constantino] Traduccedilatildeo e Comentaacuterio

NESBITT J W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden e Boston Brill p 117 224 O caso da famiacutelia Focas Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 65 225 Vide MCGEER Eric (2003) ndash Op cit p 115 226 Cf supra 11 227 Para um conjunto de obras sobre guerra naval neste periacuteodo cf infra 43

55

A comparaccedilatildeo que se pode traccedilar entre o estado de Bizacircncio como potecircncia naval

entre as duas fases da literatura militar com quase trecircs seacuteculos de distacircncia eacute notaacutevel Quanto

ao primeiro caso eacute seguro afirmar que Bizacircncio era a principal potecircncia naval do

Mediterracircneo oriental se natildeo de todo o Mediterracircneo sem grandes adversaacuterios em termos

mariacutetimos o Impeacuterio Romano do Oriente pocircde-se dar ao luxo de natildeo possuir uma poderosa

armada de guerra tendo apenas ao seu dispor uma frota ligeira destinada simplesmente a

proteger o comeacutercio de quaisquer ameaccedilas que pudessem surgir bem como servir de apoio no

limes do Danuacutebio228

Esta situaccedilatildeo tinha mudado completamente de figura nos finais do seacuteculo IX quando

Bizacircncio se viu obrigada a esforccedilos redobrados para se impor como talassocracia De facto e

como salienta a bizantinista Heacutelegravene Ahrweiller natildeo deixa de ser paradoxal que no iniacutecio da

dinastia Macedoacutenica apesar de os basileicircs possuiacuterem a maior marinha que o impeacuterio jaacute tinha

visto e mesmo depois de terem implementado vaacuterias reformas administrativo-militares (a

remodelaccedilatildeo dos themaacuteta mariacutetimos e a criaccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo de cargos oficiais navais)

natildeo conseguiram garantir a supremacia mariacutetima229 Teratildeo sido entatildeo o aumento da

importacircncia do controlo dos mares230 conjugado com vaacuterias derrotas navais sofridas que

justificaram o reavivar da produccedilatildeo tratadiacutestica direcionada para a guerra naval231

228 Vide cf supra 12 229 Vide AHRWEILLER H ndash Op cit p 105 230 Refletido no aumento da tonelagem dos droacutemōnes de guerra da marinha de guerra e de reformas relacionadas

com a frota imperial e temaacutetica 231 Outra inovaccedilatildeo na naumachikaacute foi o aparecimento do fogo greguecircs com os tratados a ensinarem como este

deveria ser utilizado

56

Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute

A segunda parte desta tese constitui certamente o seu cerne Optaacutemos por iniciaacute-la

com um pequeno capiacutetulo acerca da fonte em si e ainda natildeo sobre o seu conteuacutedo Sendo

assim este segmento da dissertaccedilatildeo comeccedilaraacute por tratar da autoria da dataccedilatildeo e da

motivaccedilatildeo bem como da discussatildeo daiacute resultante na medida em que isso seja pertinente No

subcapiacutetulo seguinte abordaremos a tipologia da fonte e a estrutura interna da mesma com

um breve resumo do que conteacutem cada Constitutio onde teremos em conta as disciplinas da

tratadiacutestica bizantina (que segue com alguma exatidatildeo os princiacutepios da claacutessica) Por fim

dedicaremos um subcapiacutetulo agrave histoacuteria do Taktikaacute desde a sua escrita ateacute hoje elencando os

manuscritos onde se encontra transcrito bem como as traduccedilotildees que dele foram feitas ao

longo dos tempos

41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza

As duacutevidas que se colocam acerca da identidade do autor do Taktikaacute e que existem a

propoacutesito de inuacutemeros escritos do mesmo geacutenero (como as obras atribuiacutedas ao co-imperador

Niceacuteforo II Focas232 ou mesmo a imputaccedilatildeo do Stratēgikoacuten a Mauriacutecio233) natildeo parecem

colocar-se no que diz respeito ao tratado que vamos analisar De facto as nossas pesquisas e a

anaacutelise deste manual militar permitem-nos concluir que se a escrita direta da obra natildeo

resultou das matildeos de Leatildeo VI pelo menos a sua organizaccedilatildeo e algumas das passagens

certamente tiveram essa origem Os uacutenicos obstaacuteculos existentes a esta atribuiccedilatildeo prendiam-se

com o facto de Leatildeo VI natildeo ter participado em campanhas militares o que levou muitos

historiadores a concluir que ele natildeo teria interesse por estes assuntos Esta ideia foi

entretanto contrariada por vaacuterios estudiosos como Shaun Tougher e Karlin-Hayter como jaacute

referimos que conseguiram demonstrar que o Saacutebio teve um papel preponderante na

governaccedilatildeo dos assuntos militares do seu impeacuterio mesmo raramente tendo deixado

Constantinopla234 Outros fatores dentro do tratado em apreccedilo reforccedilam esta nossa opiniatildeo

232 Para o tratado de campanhas na Bulgaacuteria o De re militaris vide COSENTINO Salvatore (2009) Writing

about War in Byzantium In ldquoRevista de Histoacuteria das Ideiasrdquo (30) Coimbra Para o Perigrave Paradromeacutes vide NISA

J (2016) ndash Op cit p60 233 Vide COSENTINO Salvatore (2009) ndash Op cit p 85 234 John Haldon refere ainda que Leatildeo VI natildeo participou ativamente em ocupaccedilotildees beacutelicas para tentar emular o

imperador Justiniano um dos principais organizadores da chamada ldquoReconquista Justinianardquo mantendo assim

grande interesse pelos assuntos militares do Impeacuterio Bizantino Vide HALDON J (2004) ndash Op cit pp 13-14

57

a identificaccedilatildeo de Leatildeo VI como basileuacutes na intitulatio235 do livro236 bem como a

identificaccedilatildeo do imperador Basiacutelio como o pai do autor237

Por outro lado indicar Leatildeo VI como autor238 eacute algo falacioso pois efetivamente

dentro do Taktikaacute verificam-se poucas entradas originais Este manual militar agrave semelhanccedila

de muitos outros bizantinos natildeo conjuga somente conteuacutedos ineacuteditos tratando-se de uma

obra que transcreve inuacutemeras passagens de diversos tratados precedentes algumas delas

adaptadas de forma a corresponder agrave realidade coeva a que satildeo acrescentadas ideias e

informaccedilotildees pertinentes pelo autor neste caso por Leatildeo VI Assim a atribuiccedilatildeo da autoria do

Taktikaacute a Leatildeo VI assenta mais na forma como ele organizou os vaacuterios excertos copiados de

tratados antecedentes e na seleccedilatildeo dos comentaacuterios morais e gnoacutemicos239

Nos uacuteltimos anos tecircm surgido vaacuterias propostas relacionadas com a data da compilaccedilatildeo

deste manual Kulakovskiy propotildee o periacuteodo cronoloacutegico entre 890-891240 Dagron sugere

895241 surgiram tambeacutem propostas para a primeira deacutecada do seacuteculo X especialmente para o

periacuteodo entre 904 e 908 algum tempo apoacutes 904 ou para depois dos anos 906 e 907242 No seu

comentaacuterio ao Taktikaacute John Haldon considera que haacute quatro elementos principais para balizar

a dataccedilatildeo deste tratado243 a utilizaccedilatildeo do termo autokraacutetor para o tiacutetulo de Leatildeo VI uma

nomenclatura que se passou a atribuir a este imperador a partir de 904244 passagens

relacionadas com o conflito bizantino-buacutelgaro de 894245-896246 ainda com utilidade mais

contestaacutevel a referecircncia ao Taktikaacute com o termo Proacutecheiros Noacutemos que se reporta a um

coacutedigo juriacutedico escrito anteriormente ao tratado247 e por fim uma passagem248 vista como

algo emocional249 relacionada com a traiccedilatildeo de strateacutegoi mas que pode aludir a niacutevel mais

pessoal agrave deserccedilatildeo para os Aacuterabes do strategoacutes Androacutenico Ducas e do filho Constantino em

235 Voltaremos a referi-nos a este ponto quando falarmos da estrutura da obra 236 Vide Anexo VIII f) 237 Vide Anexo VIII g) 238 No sentido de produtor de uma obra completamente original 239 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 25 240 Kulakovskij J (1898) Lev Mudryj ili Lev Isavr byl avtorom lsquoTaktikirsquo In Vizantiiskii Vremmenik 5 pp

400-401 Apud HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 241 Vide DAGRON Gilbert (1983) Byzance et le modegravele islamique au Xe siegravecle A propos des Constitutions

tactiques de lempereur Leacuteon VI In Comptes rendus des seacuteances de lAcadeacutemie des Inscriptions et Belles-

Lettres ano 127 nordm 2 p 219 242 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 243 Vide Idem Ibidem pp 59-61 244 Vide Idem Ibidem p 60 245 Vide Anexo VIII e) 246 Vide Anexo VIII b) 247 A contestaccedilatildeo referente a este ponto eacute feita devido a duacutevidas da dataccedilatildeo desta obra alguns autores atribuem

uma dataccedilatildeo para a deacutecada de 70 do seacuteculo IX outros para o ano de 907 Vide Idem Ibidem pp 60-61 248 Vide Anexo VIII j) 249 Vide Idem Ibidem p61

58

905 e posterior regresso deste uacuteltimo em 908250 Todos estes fatores levam-nos a crer que este

tratado (ou a sua versatildeo final) teraacute sido concluiacutedo no seacuteculo X

Eacute importante referir e voltaremos ao assunto mais adiante que o Taktikaacute teve vaacuterias

fases de produccedilatildeo que se refletiram em conteuacutedos novos temaacuteticas distintas e ateacute certas

alteraccedilotildees na motivaccedilatildeo da escrita do tratado Voltaremos a este ponto quando evocarmos um

pouco da histoacuteria do tratado desde a sua escrita ateacute hoje

Por fim resta-nos discutir uma questatildeo qual foi a motivaccedilatildeo por detraacutes da escrita do

tratado Ateacute muito recentemente inuacutemeros especialistas acreditavam baseando-se num dos

seus segmentos251 que o principal motivo para a escrita do Taktikaacute era este servir como

resposta agrave ameaccedila que os Aacuterabes protagonizavam no reinado de Leatildeo VI chegando-se a

afirmar de uma forma laquogeralmente aceiteraquo (de acordo com J Haldon) que o tratado fora

escrito especificamente por causa dos Muccedilulmanos e da sua religiatildeo252 De facto e como bem

salienta Gilbert Dagron253 o tratado refere duas carateriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos

Aacuterabes contra Bizacircncio o facto de ter uma orientaccedilatildeo religiosa que noacutes conhecemos como

jihad e que impelia um grande nuacutemero de voluntaacuterios fervorosos a pegar em armas os

chamados ghazi mas que concomitantemente atribuiacutea grande prestiacutegio e especialmente

lealdade a quem comandasse a guerra em nome do Islatildeo254 e a influecircncia da guerra na

estrutura social do mundo muccedilulmano (geograficamente proacuteximo de Bizacircncio)255

Sobre este uacuteltimo ponto Dagron256 refere que os exemplos principais desta praacutetica

eram a organizaccedilatildeo dos al-thugucircr o sistema militar na fronteira do Califado mais organizado

e sofisticado alguma vez criado pelos califas de acordo com Hugh Kennedy257 que seria mais

tarde herdado pelos emirados da Ciliacutecia da Armeacutenia e da Siacuteria e que persistiria ateacute agrave queda

do uacuteltimo thugucircr Antioquia agraves matildeos de Niceacuteforo II Focas (em 969) a existecircncia dos jaacute

referidos ghazi e o apoio providenciado pelas doaccedilotildees caridosas islacircmicas as waqf agrave causa

das campanhas (e dos soldados nela envolvidos) realizadas em nome da religiatildeo

No entanto Haldon natildeo concorda plenamente com esta visatildeo pois defende que no

excerto usado para apontar as questotildees relacionadas com a ameaccedila sarracena como principal

250 O pai entretanto havia morrido no Califado 251 Anexos VIII h) e i) 252 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p22 253 Vide DAGRON Gilbert ndash Op cit p22 254 Ateacute ao decliacutenio do Califado Abaacutessida a organizaccedilatildeo das expediccedilotildees de Veratildeo a territoacuterio bizantino as saifa

era uma tarefa tatildeo importante no sentido ritual e espiritual como a preparaccedilatildeo da peregrinaccedilatildeo anual a Meca a

hajj Vide KENNEDY Hugh (2001) The Armies of the Caliphs Military and Society in the Early Islamic State

Londres e Nova Iorque Routledge p 106 255 Vide Anexos VIII k) 256 DAGRON G ndash Op cit p 221 257 HALDON J e KENNEDY H ndash Op cit p 106

59

motivo para a escrita do Taktikaacute258 natildeo se indica uma razatildeo para a escrita do tratado em si

mas sim da Constitutio onde se encontra presente ou ateacute apenas para aquela secccedilatildeo da

mesma259 No seu comentaacuterio Haldon defende ainda que apesar de grande parte do conteuacutedo

sobre os Aacuterabes jaacute estar presente na versatildeo original do tratado a maior parte dos comentaacuterios

relacionados com eles bem como as preocupaccedilotildees do basileuacutes manifestadas com o seu

inimigo daquele tempo seratildeo uma adiccedilatildeo posterior ao tratado260 Ainda que natildeo se trate de

um dos motivos principais para a escrita do Taktikaacute estas adendas satildeo uma das componentes

mais importantes e originais do tratado e teratildeo sido ativadas a nosso ver pelos desaires que

Bizacircncio sofreu agraves matildeos dos Aacuterabes especialmente no contexto da guerra naval e talvez de

preponderante importacircncia pelo saque de Tessaloacutenica a segunda maior cidade do impeacuterio

por dois corsaacuterios muccedilulmanos (ainda por cima de origem bizantina) em 904

Posto isto quais satildeo as motivaccedilotildees originais De acordo com Haldon o Taktikaacute

configura laquouma tentativa de legislar a guerra como uma atividade que cai sob a sua supervisatildeo

e autoridade tal como jaacute tinha feito em outras esferasraquo261 bem como um guia para uma

conduta moral cristatilde da guerra na lealdade a laquoDeus e ao imperador escolhido divinamenteraquo

Assim sendo a principal motivaccedilatildeo do basileuacutes na ediccedilatildeo deste tratado eacute a necessidade de

incutir nos seus generais um certo fervor religioso (embora natildeo tatildeo fanaacutetico quanto o dos

muccedilulmanos) bem como a lealdade ao imperador que se viu perante vaacuterios traidores ao

longo do seu reinado os quais lhe provocaram grande maacutegoa tal como as traiccedilotildees de

Androacutenico Ducas e do filho mais tardias que o afligiram pessoalmente262 Eacute destes uacuteltimos

pontos que se deve apurar o teor de obrigatoriedade na leitura do Taktikaacute aos strategoacutei

incutida por Leatildeo VI e natildeo nos aspetos praacuteticos desta obra

Por sua vez o Taktikaacute natildeo deve ser considerado como um manual militar per se uma

vez que os seus destinataacuterios (isto eacute os strateacutegoi do impeacuterio) tinham muito mais experiecircncia

do que Leatildeo VI no que toca aos aspetos praacuteticos e teacutecnicos da guerra263 Esta opiniatildeo no que

respeita agrave questatildeo religiosa eacute apoiada tambeacutem por Meredith Riedel da Universidade de

Duke que defende que o basileuacutes pretendeu criar uma identidade cultural bizantina assente na

258 Vide Anexo VIII h) 259 HALDON John (2014) - Op cit pp 22-23 260 Idem Ibidem p23 261 Idem Ibidem p23 262 Vide Anexo VIII j) 263 Idem Ibidem p25

60

piedade cristatilde apelando aos seus generais para que fossem o modelo ideal do bom cristatildeo ao

comando dos seus soldados os laquodefensores da Feacuteraquo264

Evocadas as principais teses cabe-nos agora tecer a nossa proacutepria apreciaccedilatildeo Apesar

daqueles pontos a nosso ver bastante vaacutelidos acreditamos que podemos acrescentar ainda um

outro motivo para a escrita deste tratado o enciclopedismo cultural Leatildeo no aspeto temporal

natildeo aparenta qualquer intenccedilatildeo de criar algo ineacutedito Na questatildeo muccedilulmana por exemplo

natildeo apresenta soluccedilotildees originais de cariz taacutetico ou estrateacutegico Isto parece-nos natural pois

apesar do seu visiacutevel interesse pelas questotildees de iacutendole militar e a sua dedicaccedilatildeo ao tomar

conta dos assuntos de governaccedilatildeo militar do Impeacuterio Romano este basileuacutes nunca comandou

campanhas militares na frente de guerra contentando-se em liderar a resposta estrateacutegica agraves

ameaccedilas de que o Impeacuterio sofria Parece-nos possiacutevel conjugar este interesse do imperador

com um interesse renovado pela cultura claacutessica que comeccedilou a surgir em Bizacircncio a partir do

iniacutecio do reinado de Basiacutelio I uma vez que Leatildeo VI condensou muita informaccedilatildeo da

tratadiacutestica militar antiga no Taktikaacute Por outro lado eacute importante recordar que o basileuacutes

encomendara tambeacutem a um dos seus domestikoacutes Leatildeo Katakalon um tratado sobre as

expediccedilotildees militares exatamente aquilo que natildeo estaacute presente no Taktikaacute265 cuja versatildeo

incompleta teraacute sido aproveitada mais tarde por Constantino VII266 Isto demonstra que o

Saacutebio apesar de natildeo participar na guerra se sentia muito atraiacutedo por estes assuntos o que o

teraacute levado a organizar uma obra que refletisse a forma como a guerra era feita no seu tempo

O que se tivermos em conta a dataccedilatildeo duvidosa do Compecircndio de Siriano (seacutec VI IX ou X)

teraacute sido a primeira versatildeo atualizada do geacutenero267 em quase dois seacuteculos

Assim na nossa opiniatildeo parece-nos possiacutevel concluir que o Taktikaacute deve ser exposto

natildeo soacute como um manual militar mas tambeacutem como um documento cujos propoacutesitos

principais natildeo eram praacuteticos O primeiro seria de iacutendole religiosa-legislativa e tencionava de

certo modo consolidar uma filosofia de guerra cristatilde (natildeo estamos a falar de guerra santa) em

que a piedade e o caraacuteter do general (devia ser bom inteligente leal entre outros atributos)

eram fatores tatildeo importantes para a vitoacuteria militar como a taacutetica a estrateacutegia ou os ardis Mais

tarde com o reafirmar da ameaccedila aacuterabe este propoacutesito saiu reforccedilado com a intenccedilatildeo do

basileuacutes em encontrar uma soluccedilatildeo espiritual e natildeo temporal para fazer frente agrave jihad

264Vide RIEDEL Meredith The Sacrality of a Sovereign Leo VI and Politics in Middle Byzantium p8 in

httpswwwacademiaedu3831861The_Sacrality_of_a_Sovereign_Leo_VI_and_Politics_in_Middle_Byzantiu

m Consultado agraves 330 do dia 4 de outubro de 2017 265 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p76 266 Vide TOUGHER S ndash Op cit p16 267 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 21

61

O outro propoacutesito eacute cultural baseando-se natildeo soacute no chamado laquoRenascimento

Macedoacutenicoraquo que comeccedilou a crescer exponencialmente neste periacuteodo mas tambeacutem no

interesse de Leatildeo VI pelas questotildees militares Estes dois fatores em conjunto com o

enciclopedismo caracteriacutestico do Saacutebio motivaram-no tambeacutem a escrever um tratado onde

combinava o conhecimento dos antigos com a experiecircncia dos seus generais de forma a

reportar a forma como os exeacutercitos ditos temaacuteticos praticavam a guerra ao que acrescentou

alguns comentaacuterios pessoais relacionados com a retoacuterica da guerra em especial na vertente

religiosa Na nossa visatildeo eacute desta forma que o tratado deve ser visto um manual militar que

visava conservar e atualizar a informaccedilatildeo pertinente agraves praacuteticas da guerra ao mesmo tempo

que impulsionava os seus destinataacuterios os strateacutegoi a seguirem um coacutedigo eacutetico moralmente

bom e de base religiosa que ndash segundo Leatildeo VI ndash acabaria por os conduzir agrave vitoacuteria

42 ndash Estrutura interna da fonte

Na sua organizaccedilatildeo o Taktikaacute apresenta-se como um conjunto de Constitutiones ou

seja como um conjunto de decretos imperiais direcionados a um oficial ou a algueacutem que

estivesse encarregado de um qualquer posto estatal268 o que condiz com o objetivo principal

deste manual de legislar a guerra sob a autoridade imperial De facto o proeacutemio269 que

inaugura este tratado encontra-se modelado de forma muito semelhante aos que servem como

introduccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo imperial particularmente o do Proacutecheiros Noacutemos seguindo um

formato proacuteprio que pertence ao chamado laquomodelo tripartidoraquo a invocatio a intitulatio e a

inscriptio270 Desta forma o proeacutemio do Taktikaacute comeccedila com uma invocatio nomeadamente agrave

Sagrada Trindade seguido de uma intitulatio com o nome e os tiacutetulos do imperador Do

modelo tripartido a uacutenica coisa que falta eacute a inscriptio porque o tratado natildeo se dirige a um

general em especial mas sim ao conjunto dos strateacutegoi271

No Proacutelogo segue-se o corpo principal da ldquolegislaccedilatildeordquo constituiacutedo por trecircs partes a

narratio a dispositio e o epilogus A narratio272 do Taktikaacute ocupa os espaccedilos entre as linhas

25 e 54 do Proacutelogo e relata o problema e a forma como este chegou agrave atenccedilatildeo imperial273

Leatildeo VI diz enfrentar o facto de os comandantes bizantinos se terem esquecido

completamente das miacutenimas noccedilotildees de estrateacutegia e de taacutetica Este efeito teraacute sido causado pela

268 Vide LUTTWAK Edward N (2009) The Grand Strategy of the Byzantine Empire Cambridge e Londres

The Belknap Press of Harvard University Press p 305 269 Prefaacutecio 270 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 121 271 Vide Anexos VIII f) 272 Secccedilatildeo onde eacute abordado o problema que a legislaccedilatildeo quer resolver 273 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121

62

negligecircncia dos ensinamentos dos antigos pela timidez dos seus generais ou pela falta de

treino e cobardia dos soldados bizantinos Ora de acordo com o autor isto teraacute levado os

Romanos a perder o favor divino e a aura de triunfo militar que tanto emanava deste povo274

Posteriormente o autor propotildee as medidas com as quais vai enfrentar o problema na

dispositio275 que estaacute entre as linhas 55-89276 A soluccedilatildeo que Leatildeo apresenta eacute a ediccedilatildeo de um

pequeno manual militar para que citamos os que laquodesejam comandar tropas possam ter

raacutepido acesso a uma vasta reserva de experiecircncia no que respeita a combate e a campanhas

militaresraquo277 Nesta obra juntam-se os dados das fontes antigas (eliminando aqueles acerca de

formaccedilotildees que considera obsoletas ou natildeo claramente descritas e traduzindo os termos em

Latim para Grego) que considera mais uacuteteis na praacutetica da guerra bem como laquoa limitada

experiecircnciaraquo dos seus generais numa linguagem laquopraacutetica clara (hellip) e simplesraquo278 O Proacutelogo

conclui com um epilogus279 que indica os conteuacutedos (pela forma como estatildeo ordenados) que

vatildeo ser abordados no manual280

Apoacutes esta breve anaacutelise do Proacutelogo e da sua natureza legislativa procedemos a uma

raacutepida enumeraccedilatildeo das Constitutiones da ordem em que se encontram dispostas e dos seus

conteuacutedos Como jaacute se avisou o Taktikaacute possui duas versotildees integrais tendo uma estrutura

diferente em cada uma delas A versatildeo mais antiga estaacute no coacutedice Mediceo-Laurentianus

graecus 554 e encontra-se dividida em 16 constitutiones seguidas por um conjunto de

maacuteximas um epiacutelogo e trecircs tratados sobre ataques surpresa poliorceacutetica e guerra naval281

Por sua vez no coacutedex Vindobonensis phil graecus 275 as secccedilotildees que natildeo faziam

inicialmente parte do tratado satildeo incluiacutedas e ordenadas dentro deste da seguinte forma

Constitutio XIV ndash O Dia de Batalha Constitutio XV ndash Guerra de Cerco Constitutio XVI ndash O

Dia a seguir agrave batalha Constitutio XVII ndash Ataques Surpresa Constitutio XVIII ndash Costumes

de Diferentes Naccedilotildees Constitutio XIX ndash Guerra Naval Constitutio XX ndash laquoMaacuteximas

Concisasraquo Epiacutelogo De acordo com G Dennis eacute este o manuscrito que segue a ordem do

Proacutelogo282

O que podemos dizer em relaccedilatildeo agrave estrutura Desde jaacute que se encontra dividida de

uma forma temaacutetica e extremamente bem planeada O autor comeccedila por um capiacutetulo

274 Vide Anexos VIII l) 275 Vide Idem Ibidem p 121 276 Vide Anexos VIII m) 277 Vide DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 6-7 278 Vide Idem Ibidem pp 6-7 279 Vide Anexos VIII n) 280 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121 281 DENNIS G T (2014) ndash Op cit p x 282 Idem Ibidem p x

63

introdutoacuterio (Const I) onde define o que satildeo laquotaacuteticasraquo a forma como a guerra deve ser

preparada que tipos de unidades envolve (cavalaria infantaria marinha) e o general

(strategoacutes) em si o que eacute o que o deve caracterizar e quais satildeo os seus objetivos Leatildeo fala

destas questotildees de forma mais detalhada no capiacutetulo seguinte (Const II) que se chama

laquoSobre as Qualidades Requeridas num Generalraquo Na Constitutio III explica ao general de que

forma ele deve fazer os planos como deliberar e em que pessoas deve confiar

Eacute no quarto capiacutetulo (Const IV) que o Taktikaacute se comeccedila a debruccedilar sobre as questotildees

relativas agrave preparaccedilatildeo da guerra que homens se devem escolher para o exeacutercito e como

colocaacute-los em cada uma das suas divisotildees quem deve ser escolhido para oficial de que forma

a hierarquia militar estaacute dividida e o que compete a cada um dos seus membros e os nuacutemeros

e formas em que cada divisatildeo devia estar organizada Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre

armamento (Const V) que natildeo eacute mais que uma lista de todo o tipo de armas ofensivas e

defensivas ferramentas logiacutesticas maacutequinas de cerco e seu material de apoio transportes

fluviais animais para montar e bestas de carga entre outros conselhos p ex sobre a

importacircncia de um almirante ter navios prontos para as mais diversificadas funccedilotildees A secccedilatildeo

seguinte (Const VI) trata de forma detalhada que equipamento e armamento cada homem

deve ter (organizando no fundo o que tinha sido exposto no capiacutetulo anterior) em funccedilatildeo da

sua tipologia (oficial cavalaria infantaria pesada infantaria ligeira e apoio logiacutestico) seguido

de uma Constitutio (VII) sobre a forma como o treino de cavalaria e infantaria deve ser feito

O conjunto de capiacutetulos seguintes eacute inaugurado por um segmento acerca de puniccedilotildees

militares (Const VIII) que relata vaacuterios crimes e malfeitorias e a respetiva puniccedilatildeo As

Constitutiones que se lhe seguem aludem a questotildees logiacutesticas Marchas (Const IX) Trem-

de-apoio (Const X) e Acampamentos (Const XI) Ateacute aqui os capiacutetulos podem ser inseridos

(salvo alguns segmentos excecionais como as Constitutiones relativas a armamento e treino)

na disciplina da strategikaacute

A partir daqui a taktikaacute vai ocupar uma grande parte do tratado comeccedila com uma

Constitutio (XII) sobre a preparaccedilatildeo para o combate onde se volta a referir um grande

nuacutemero de exerciacutecios taacuteticos incluindo sinaleacutetica e comandos vocais A secccedilatildeo seguinte

(Const XIII) aborda o que deve ser feito imediatamente antes do combate nomeadamente

formas de levantar a moral e distribuiccedilatildeo de mantimentos e vinho A Constitutio XIV refere o

que deve ser feito na batalha envolvendo um grande nuacutemero de formaccedilotildees movimentaccedilotildees

taacuteticas e estratagemas Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre a poliorceacutetica (Const XV) nas

suas duas vertentes ofensiva e defensiva Por fim o capiacutetulo XVI debruccedila-se sobre o que

64

deve ser feito no final da batalha accedilatildeo de graccedilas a Deus reparticcedilatildeo dos despojos tratamento

de prisioneiros entre outros

A Constitutio XVII estaacute inserida na strategemataacute pois frisa os embustes a guerra de

guerrilha e os meios de contrariar ataques-surpresa adversaacuterios ou de limitar os ganhos do

rival Segue-se um capiacutetulo (Const XVIII) que expotildee a forma como os Romanos devem fazer

a guerra contra os seus adversaacuterios enfatizando o armamento os haacutebitos e as formaccedilotildees

proacuteprias destes em especial dos Aacuterabes A naumachikaacute forma uma secccedilatildeo uacutenica (Cons XIX)

e o uacuteltimo capiacutetulo (Const XX) reuacutene um conjunto de maacuteximas militares que pretendem no

fundo resumir o que foi tratado ao longo do Taktikaacute Por fim o Epiacutelogo estaacute dividido em trecircs

partes uma claramente religiosa que aborda a relaccedilatildeo entre Deus e a Humanidade uma

segunda que reuacutene as principais noccedilotildees de cada Constitutio que compotildeem a obra finalmente

exorta-se o strategoacutes a seguir os preceitos do Taktikaacute (ainda que de um modo flexiacutevel)

referindo tambeacutem como motivo principal para a escrita deste manual a ameaccedila sarracena283 O

tratado encerra com um Amen o que alude agrave possiacutevel dimensatildeo (e intento) religioso que o

autor teria porquanto enfatiza a autoridade tanto legislativa como divina do autokraacutetor284

Como conclusatildeo a este subcapiacutetulo resta-nos situar aqui as afirmaccedilotildees de Meredith

Riedel que defende que o Taktikaacute eacute tambeacutem uma laquoteia de ligaccedilotildeesraquo onde a informaccedilatildeo de

uma Constitutio complementa os dados de outra A historiadora utiliza ainda alguns exemplos

como o facto de a Constitutio XX e o Proacutelogo partilharem a mesma foacutermula teoloacutegica

enquanto a Constitutio II e o Epiacutelogo apresentam informaccedilotildees diferentes mas

complementares acerca do tipo de pessoa que o general deveria ser285

43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees

O percurso histoacuterico do Taktikaacute comeccedila obviamente no seu aparecimento durante o

reinado de Leatildeo VI na passagem do seacuteculo IX para o X Depois disto verificamos que este

manual foi copiado e incluiacutedo em trecircs famiacutelias de manuscritos compiladas entre

aproximadamente 950 e 1050 dC Dentro do corpo de manuscritos mais antigos verifica-se

a existecircncia de coacutepias do Taktikaacute em dois documentos Uma transcriccedilatildeo deste manual estaacute

inserida no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 uma compilaccedilatildeo de tratados militares

gregos datada dos meados do seacuteculo X possivelmente de pouco antes da morte de

283 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit pp 443 e 444 284 Idem Ibidem p 444 285 Vide RIEDEL M ndash Op cit p 5

65

Constantino VII Porfirogeneta em 959 Como jaacute foi referido286 a coacutepia do Taktikaacute neste

corpus (que comeccedila no foacutelio 281 em 404) possui 16 constitutiones a que se seguem o

epiacutelogo uma coleccedilatildeo de maacuteximas e trecircs tratados sobre strategemataacute poliorketikaacute e

naumachikaacute287 Estes segmentos em separado vatildeo ser compilados e organizados no corpo

principal do tratado no outro coacutedice o Vindobonensis phil graecus 275 (que tambeacutem faz

parte desta famiacutelia de textos) Esta versatildeo da obra trata-se ainda de uma versatildeo expandida

daquela inserida no Mediceo-Laurentianus pois possui um conjunto de comentaacuterios nas

margens que pretendem clarificar certos termos do texto288 No entanto esta transcriccedilatildeo

apresenta algumas partes em falta das quais John Haldon realccedila a abertura do proeacutemio a

integralidade do Epiacutelogo e a maior parte da Constitutio XX289

A segunda famiacutelia de manuscritos estaacute datada para a segunda metade do seacuteculo X e eacute

inaugurada pelo coacutedex Ambrosianus B 119 A versatildeo do Taktikaacute neste corpus (que comeccedila no

foacutelio 189 em 347) natildeo deve no entanto ser tratada como uma coacutepia integral mas sim como

uma paraacutefrase onde vaacuterias palavras se encontram transpostas De acordo com George Dennis

a utilidade deste texto para a traduccedilatildeo do Taktikaacute prende-se apenas com o facto de

providenciar certos segmentos de texto completos ou corretos que natildeo figuram desse modo no

Mediceo-Laurentianus graecus 554 Esta transcriccedilatildeo apresenta ainda uma estrutura diferente

das anteriores estando a Constitutio XX original ordenada como sendo a XIX uma vez que o

capiacutetulo que se ocupa da Naumachikaacute eacute considerado neste corpus como um tratado

independente290 que inaugura uma secccedilatildeo acerca dessa disciplina da tratadiacutestica291

Por uacuteltimo a terceira famiacutelia eacute aquela que inclui o maior nuacutemero de manuscritos mas

dentro destes apenas trecircs satildeo importantes para a traduccedilatildeo e o estudo do texto o coacutedice

Vaticanus graecus que conteacutem uma versatildeo incompleta do Taktikaacute que comeccedila na Constitutio

V a laquocombinaccedilatildeoraquo (mal separada) do Parisinus graecus 2442 e do Barberinianus graecus II

97 e por fim o manuscrito que resulta da conjugaccedilatildeo do Neapolitanus graecus 284 e do

Scorialensis graecus Y-III-11 Estes trecircs textos tiveram origem no scriptorium de Ephraim

em Constantinopla292

286 Cf supra 42 287 Vide DENNIS G (2014) ndash Op cit px 288 Idem Ibidem p xi 289 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 56 290 Batizado de Ναυμαχικὰ Λέοντος βασιλέως (a Naumachikaacute do basileuacutes Leatildeo) cf Idem Ibidem p 389 291 Por ordem estatildeo nesta secccedilatildeo os seguintes tratados (ou excertos de) a Constitutio XIX seis paraacutegrafos do

Taktikaacute uma secccedilatildeo do Stratēgikoacuten acerca da travessia de rios o Naumachiacuteai de Siriano e por fim o

Naumachikaacute do parakoimṓmenos Basiacutelio datado dos finais dos anos 50 do seacuteculo X cf Idem Ibidem p389 292 Vide Idem Ibidem p 58

66

Durante o seacuteculo XVI mais precisamente em 1552 foram impressas algumas paacuteginas

da Constitutio IV que estavam no coacutedice Monacensis graecus 244 em Veneza293 Deste

seacuteculo existem ainda mais alguns manuscritos que contecircm partes ou coacutepias completas do

tratado mas como Dennis294 natildeo os considera pertinentes ou particularmente uacuteteis para um

estudo ou uma reconstituiccedilatildeo do texto original tambeacutem natildeo seratildeo mencionados aqui295

A primeira versatildeo completa da obra foi publicada na cidade de Leyden em 1612 por

Joanes Meurs mais tarde corrigida e comparada com o texto presente no Mediceo-

Laurentianus e publicada em 1745 na cidade de Florenccedila por J Lami Uma coacutepia desta

ediccedilatildeo foi incluiacuteda na Patrologia graeca de J P Migne compilada entre 1857-1861 Mais

tarde o tradutor huacutengaro Rudolfi Vaacuteri publicou a primeira ediccedilatildeo criacutetica do Taktikaacute em dois

volumes296 onde estavam presentes apenas as Constitutiones entre o Proacutelogo (inclusive) e a

Constitutio XIV (nesta o texto ia ateacute agrave linha 228) e mais tarde a Constitutio XVIII bem

como uma traduccedilatildeo huacutengara297 da mesma298

Por fim natildeo podiacuteamos deixar de referir a primeira traduccedilatildeo e criacutetica do Taktikaacute em

inglecircs realizada pelo Padre George T Dennis e publicada em 2010 que conteacutem tambeacutem o

texto original organizado de acordo com o Vindobonensis phil graecus 275 Posteriormente

em 2014 esta publicaccedilatildeo acabaria por ser reeditada299 tendo-se procedido agrave correccedilatildeo de

alguns erros do livro original Esta ediccedilatildeo revista da traduccedilatildeo do Padre Dennis foi

acompanhada no mesmo ano por um livro de John Haldon com comentaacuterios agrave obra300 o qual

contribuiu decisivamente para o enriquecimento da traduccedilatildeo

293 DENNIS G (2014) ndash Op cit p xiii 294 Idem Ibidem p xii 295 Um dos transcritores do texto Vaacuteri teraacute contado cerca de 88 manuscritos Vide VAacuteRI Rudolfi (ed) (1917-

1922) Leonis imperatoris tactica Sylloge Tacticorum Graecorum 3 Budapeste pp 1xv-xxix Apud DENNIS

G (2014) ndash Op cit p xii 296 Denominada ldquoLeonis imperatoris taacutecticardquo 297 A referecircncia bibliograacutefica desta traduccedilatildeo eacute VAacuteRI Rudolfi (1900) Boles Leo Hadi Taktikajanak XVIII

Fejezete In PAULER G e SZILAacuteGYI S (ed) A Magyar Honfoglalas Kutfoi [As fontes da conquista

huacutengara] Budapeste pp 3-89 Apud DENNIS G (2014) ndash Op cit p xii 298 Cf Idem Ibidem p xiii 299 Cf Idem Ibidem p vii 300 O ldquoA Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo jaacute referido nesta dissertaccedilatildeo

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Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general

laquoA ciecircncia da estrateacutegia consiste na praacutetica conjunta de bons generais ou seja (eacute) o

estudo e exerciacutecio atraveacutes de estratagemas ou mesmo da recolha dos siacutembolos da vitoacuteriaraquo

(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio 1 linhas 7-8301)

O tratado de Leatildeo VI inicia o seu percurso com um conjunto de preceitos estrateacutegicos

relacionados com o general (Const I e II) a importacircncia de deliberaccedilatildeo e de um bom

planeamento (Const III) as divisotildees do exeacutercito bizantino oficiais e outros encargos no

periacuteodo de escrita do tratado (Const IV) as puniccedilotildees militares e os toacutepicos da logiacutestica -

ordens de marcha trens-de-apoio e acampamentos (Const VIII-XI)

Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir este capiacutetulo de acordo com os temas

relacionados com esta disciplina claacutessica No primeiro ponto vamos abordar a figura do

general a forma como Leatildeo VI o idealizava e de que maneira eacute que esse cariz tinha realmente

influecircncia no combate De seguida observaremos o exeacutercito bizantino no Taktikaacute a forma

como se encontrava estruturado o perfil dos recrutas os seus oficiais entre outros Por fim

vamos observar questotildees de acircmbito logiacutestico entre as quais movimentaccedilotildees de exeacutercitos

organizaccedilatildeo de trens-de-apoio construccedilatildeo de acampamentos

51 ndash O strategoacutes de Leatildeo

laquoO general eacute a pessoa que depois do imperador tem mais autoridade do que

qualquer outra no conjunto da proviacutencia subordinada a ele O general eacute o chefe do

theacutema militar sob o seu comandoraquo

(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio I linhas 28-30)

O strategoacutes eacute o ponto fulcral do manual militar e eacute sem duacutevida o destinataacuterio deste

coacutedigo legislativo Atrevemo-nos a dizer que se o proeacutemio do Taktikaacute possuiacutesse uma

inscriptio quem laacute estaria designado seriam os generais do Impeacuterio Bizantino ndash os strateacutegoi

dos themaacuteta Na nossa opiniatildeo eacute claro (talvez oacutebvio) os generais ndash ou quem desejasse

comandar tropas ndash serem o ldquopuacuteblico-alvordquo desta produccedilatildeo militar Afinal eram estes oficiais a

mente do exeacutercito encarregados de tomar as decisotildees que ditavam a vitoacuteria ou a derrota

dentro ou fora do campo de batalha Tatildeo importante como estes fatores era a condiccedilatildeo do

301 Para o grego vide DENNIS George T (2014) ndash Op cit p 12 Sobre a maneira como a traduccedilatildeo inglesa

deste excerto deve ser feita vide HALDON J (2014) ndash Op cit p129

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general como exemplo para os homens sob o seu comando ou como forccedila de oposiccedilatildeo aos

viacutecios mais destrutivos do homem (como a ganacircncia)

Logo na sua primeira Constitutio o basileuacutes esboccedila o perfil do homem que quer ao

comando das suas forccedilas saacutebio corajoso justo discreto302 e leal303 Na Constitutio seguinte

acrescenta mais algumas qualidades serem autocontrolados no que toca aos seus viacutecios terem

um modo de vida frugal serem incansaacuteveis304 gentis mas natildeo lenientes para com os seus

soldados exigentes mas natildeo demasiado severos305 Neste uacuteltimo aspeto o imperador defende

que o general deve ser amado pelos seus soldados306 pois tal efeito motivaacute-los-aacute a obedecer agraves

ordens dele mais rapidamente e a lutarem com mais fervor a seu lado307

A justiccedila a gentileza e a humildade revelam-se nas palavras do imperador no capiacutetulo

sobre guerra de cerco sendo cruciais apoacutes a tomada de um siacutetio fortificado Leatildeo VI defende

que as populaccedilotildees devem ser tratadas daquela forma para que aceitem os seus

conquistadores citando os feitos de Niceacuteforo Focas O Velho O reputado strategoacutes teraacute

conquistado os Lombardos natildeo soacute pela forccedila das armas mas tambeacutem pelo seu caraacuteter quando

tratou com justiccedila os habitantes das povoaccedilotildees da Calaacutebria os isentou de impostos e os salvou

da escravidatildeo308 Por outro lado recordamos a perda de Benevento pelos Bizantinos em

895309 que teratildeo sido traiacutedos pela populaccedilatildeo depois de a terem oprimido e maltratado

Para o autor a inteligecircncia constitui uma virtude quase sem paralelo em todas as suas

vertentes (perspicaacutecia arguacutecia eloquecircncia entre outros) como se vecirc no seguinte excerto

laquoQuando se trata dos prazeres do corpo ele deve praticar o autocontrolo Mas nos

aspetos da mente ele eacute insaciaacutevel e nunca fica satisfeito nos seus esforccedilos de praticar accedilotildees

bem-sucedidas Quando a situaccedilatildeo ainda natildeo eacute clara ele apercebe-se do que tem de ser feito

Inteligente e perspicaz ele estaacute sempre certo quando avalia o que estaacute escondido naquilo que

estaacute visiacutevel Ele eacute experiente em armar e formar o seu exeacutercito em posiccedilotildees de batalha As

suas palavras satildeo capazes de ressuscitar o moral do exeacutercito quando estaacute baixo preenchecirc-lo

com boas expectativas e preparaacute-lo para enfrentar perigos Ele deve ser muito rigoroso no que

302 Vide Anexo VIII q) 303 Vide Anexo VIII j) 304 Taktikaacute II3-10 305 Taktikaacute II131-136 Esta secccedilatildeo eacute uma paraacutefrase de Onasandro vide Onasandro Strategikoacutes II (a partir de

agora as referecircncias desta obra vatildeo passar a ser feitas da seguinte forma Onas livro) 306 Devendo fazer por ter uma relaccedilatildeo paternal com eles e ateacute viver comcomo eles Taktikaacute XX36-37

paraacutegrafo que acusa influecircncia do Stratēgikoacuten VIII1(3) ndash que por sua vez a fora buscar a Onas I 307 Taktikaacute II46-50 308 Taktikaacute XV201-206 309 Cf supra 22 natildeo tivemos acesso agrave fonte lombarda pelo que remetemos para Giorgio Ravegnani de onde

obtivemos esta informaccedilatildeo em primeiro lugar Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p160

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toca a acordos ou promessas natildeo ser demovido por bons falantes que o querem afastar do seu

deverraquo310

A capacidade de decisatildeo eacute outra valecircncia fundamental para um general para que ele

evite grandes riscos em certas accedilotildees311 Este ponto eacute reforccedilado na Constitutio III ndash laquoSobre

como eacute necessaacuterio fazer planosraquo ndash num capiacutetulo onde Leatildeo exorta o general a ter cabeccedila fria e

a ser cuidadoso nas suas decisotildees312 mas tambeacutem a ser prudente na escolha dos seus

conselheiros313 Em relaccedilatildeo ao processo deliberativo o autor aconselha o general a manter

uma postura imparcial no que respeita ao que possa estar associado agrave accedilatildeo em causa a

preservar a mente aberta relativamente a todas as possibilidades que possam desbloquear o

plano e particularmente a ser determinado na altura de agir314

Leatildeo no entanto natildeo se prende a questotildees apenas relacionadas com as virtudes de um

general na altura de o escolher Salienta tambeacutem razotildees de natureza econoacutemica familiar ou

de forma fiacutesica que podem ter importacircncia na altura de selecionar algueacutem para o cargo de

strategoacutes Nas valecircncias sociais o autokraacutetor confessa a sua preferecircncia por generais que

tenham famiacutelia sejam ricos e pertenccedilam a uma boa linhagem desde que claro cumpram os

requisitos das virtudes315 Por outro lado admite que homens pobres e de origens humildes

tambeacutem tecircm direito a ocupar esta funccedilatildeo316 desde que mostrem habilidade e probidade

Em termos de idade Leatildeo informa-nos que os melhores generais satildeo aqueles que jaacute

possuem alguma experiecircncia militar evidenciando boa forma fiacutesica317 De outra maneira nas

palavras do imperador seratildeo criados strateacutegoi com boa laquomente deficitaacuteria em forccedila fiacutesicaraquo ou

com laquoforccedila desprovidos de inteligecircnciaraquo e qualquer uma destas foacutermulas natildeo resultaraacute em

nada de produtivo e natildeo seraacute capaz de gerar algum feito proveitoso318

Por fim o strategoacutes deve-se preocupar em estar nas graccedilas de Deus em cumprir os

seus mandamentos e em amaacute-Lo arguindo que qualquer plano ou taacutetica soacute teraacute sucesso se o

general contar com a providecircncia divina O autor remata esta questatildeo comparando um general

310 Taktikaacute II120-128 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 311 Taktikaacute II183-184 312 O processo de planeamento deve decorrer durante algum tempo a natildeo ser que seja necessaacuterio tomar accedilatildeo

imediata vide Taktikaacute III 41-42 Influecircncia principal em Stratēgikoacuten II e VIII1(5) e em Onas III 313 Leatildeo refere duas categorias preferenciais para essa escolha uma primeira de tipo militar onde aconselha o

general a pedir opiniotildees aos turmarcas e oficiais que se seguem na hierarquia em segundo a niacutevel psicoloacutegico

onde a escolha deve recair sobre sujeitos experientes perspicazes e de confianccedila em especial se a decisatildeo estiver

relacionada com uma operaccedilatildeo sigilosa devendo-se evitar indiviacuteduos calculistas que possam fazer perigar o

plano em questatildeo em resultado dos seus interesses Vide Taktikaacute III26-33 e 37-40 314 Taktikaacute III41-42 315 Taktikaacute II114-115 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 316 Taktikaacute II115-116 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 317 Conjugando as duas qualidades que ele atribui aos jovens (forccedila) e aos mais velhos (experiecircncia) 318 Taktikaacute II43-45

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sem o apoio de Deus mas com grandes habilitaccedilotildees estrateacutegicas ou taacuteticas a um timoneiro

que apesar de ter muita experiecircncia natildeo pode conduzir o seu navio para onde quer porque o

vento sopra no sentido oposto ao que deseja319 O comandante deve ainda assegurar-se de que

a guerra que iraacute travar tem uma causa justa pois soacute assim desfrutaraacute do apoio divino tentando

sempre zelar pela paz320

52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros321

A Constitutio que aborda principalmente este tema (IV) comeccedila com um trecho

original da pena de Leatildeo Aqui satildeo abordadas questotildees relacionadas com o recrutamento de

soldados Que tipo de guerreiros devem ser mobilizados Que condiccedilotildees financeiras devem

ter Devem ter famiacutelia Muito sucintamente a resposta a esta questatildeo eacute a seguinte o

thematikoiacute deve ser corajoso ter boa forma fiacutesica ser nem muito velho nem muito novo e

financeiramente estaacutevel322 Neste ponto o basileuacutes acentua a importacircncia de um soldado se

conseguir equipar sozinho ou com o apoio dos membros do seu lar (familiares ou servos)

A alegaccedilatildeo no final do primeiro paraacutegrafo da Constitutio IV323 permite remeter para

uma preferecircncia de Leatildeo na recruta de stratioacutetai (aqueles que possuem obrigaccedilotildees

militares324) No entanto na Constitutio XX natildeo se descarta a possibilidade de soldados que

natildeo possuiacutessem strateiacutea ou meios econoacutemicos suficientes de participarem na guerra

implicando que estes podiam ser patrocinados por homens ricos com strateiacutea que natildeo

desejassem participar em campanhas Assim aqueles que natildeo possuiacutessem meios econoacutemicos

para se equiparem autonomamente poderiam combater enquanto por outro lado os stratioacutetai

ricos seriam dispensados de participar em campanhas e de cumprir o serviccedilo militar ativo325

O autokraacutetor dedica ainda algumas palavras agrave personalidade ideal do oficial mas

utiliza a mesma descriccedilatildeo (de forma mais sucinta) que dedica para os generais deve ser de

confianccedila crente leal corajoso entre outros predicados Apesar disso refere que deve existir

alguma solidariedade do oficial para com os seus soldados defendendo que caso estes sejam

319 Taktikaacute II 163-167 Encontra influecircncia em Stratēgikoacuten Proacutelogo 320 Vide Anexo VIII o) 321 As Constitutiones referentes a esta temaacutetica satildeo IV e XX 322 Taktikaacute IV3-14 323 Que nos informa ainda de alguns benefiacutecios que o guerreiro bizantino possuiacutea como as isenccedilotildees fiscais de

todos os impostos excluindo o demoacutesion (e de acordo com Haldon subtilmente o kapnikoacuten) vide HALDON J

(2017) - Op cit p 143 324 Cf supra 13 325 Apesar de o homem rico ser algo criticado por Leatildeo que ali o apelida de cobarde Vide Anexos VIII d)

71

ricos devem partilhar alguns dos seus fundos com os seus soldados que por sua vez lhe seratildeo

mais fieacuteis e estaratildeo prontos a enfrentar qualquer adversidade ao seu lado326

Quanto agrave estrutura do exeacutercito Leatildeo informa-nos que a unidade baacutesica do exeacutercito

imperial eacute o taacutegma ou o baacutendon327 que deveria ter cerca de 300 homens preferencialmente e

ser comandado pelo koacutemes Caso este nuacutemero natildeo se pudesse cumprir devia ter entre 200 e

400 soldados natildeo podendo ter menos ou mais que este nuacutemero Mauriacutecio indica que o

nuacutemero de homens nos seus taacutegmata deveria estar entre 300 a 400 efetivos328 enquanto um

tratado mais tardio o Sylloge Tacticorum informa que a quantidade de soldados dependeria

do tipo de unidade se fosse de cavalaria ia dos 50 aos 400 homens se fosse de infantaria dos

200 aos 400329 Cada baacutendon deveria possuir ainda um porta-estandarte

Na altura de combater os baacutenda eram divididos em decarquias (fileiras) que podiam

conter um nuacutemero variado de homens nela dependendo da extensatildeo das fileiras podendo ter

quatro cinco oito dez ou dezasseis soldados organizados por laccedilos familiares ou de

amizade330 A fileira devia ser liderada por um decarca tendo de possuir ainda um pentarca331

para ocupar o centro da fileira e dois tetrarcas332 para as posiccedilotildees de retaguarda333 Em caso

de desdobramento das decarquias uma das colunas seria liderada pelo decarca e encerrada

por um tetrarca enquanto outra era encabeccedilada pelo pentarca334 e fechada por outro tetrarca335

Estas unidades deviam ser compostas por membros das mesmas comunidades ou famiacutelias de

forma a motivaacute-los a combater melhor na hora da batalha

326 Vide Taktikaacute IV25-29 327 Para evitar confusatildeo com os corpos militares imperiais com a mesma atribuiccedilatildeo passaremos a referir-nos a

esta unidade apenas como baacutendon (ou baacutenda caso seja plural) Poderemos eventualmente utilizar

taacutegmataacutegmata se nos estivermos a referir agrave unidade baacutesica do exeacutercito de Mauriacutecio 328 Stratēgikoacuten I4 329 Tendo em conta a proximidade de escrita dos dois tratados (o Sylloge seraacute da primeira metade do seacuteculo X se

natildeo do proacuteprio reinado de Leatildeo) John Haldon acredita que podemos estimar que a realidade militar na altura da

escrita do Taktikaacute se pode aproximar mais dos valores do Sylloge do que dos do Taktikaacute que eacute muito

influenciado pelo Stratēgikoacuten vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 59 330 Taktikaacute IV162-167 Influecircncia de Onasandro Onas XXIX 331 No Stratēgikoacuten este homem ocupa a segunda posiccedilatildeo da fileira Stratēgikoacuten III2 Leatildeo no entanto parece

misturar o pentarca com o tetrarca Na Constitutio XVIII quando fala da organizaccedilatildeo preferiacutevel para um exeacutercito

de um theacutema em batalha refere que o pentarca tambeacutem eacute o ouraacutegos ou seja o homem que fecha a linha

Taktikaacute XVIII770-776 332 Leatildeo natildeo informa diretamente que deva haver dois tetrarcas mas informa que devem existir dois ldquoguardas-

de-colunardquo que ocupam as duas uacuteltimas posiccedilotildees da fileira Uma vez que haveraacute a possibilidade de desdobrar a

fileira advindo daiacute a necessidade de haver dois tetrarcas eacute provaacutevel que os homens que ocupassem esta posiccedilatildeo

jaacute estivessem escolhidos numa fileira singela 333 Taktikaacute IV79-84 334 Haldon adverte para o facto de estas unidades taacuteticas (pentarca e tetrarca) natildeo serem permanentes pois soacute

aparecem em tratados militares Daiacute deduzimos que os homens que ocupam estas posiccedilotildees soacute eram escolhidos na

altura de organizar o exeacutercito Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 152 335 Idem Ibidem p162

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Mas regressemos agrave estrutura do exeacutercito Um conjunto de bandaacute forma um

drouacutengos336 liderado por um drungaacuterio natildeo devendo ultrapassar os 3000 homens Vaacuterios

drouacutengoi formam uma touacuterma337 comandada por turmarca que natildeo pode ter mais de 6000

homens338 Finalmente trecircs touacutermai339 formam um exeacutercito sob o strategoacutes existindo ainda

um hypostrategoacutes que eacute o comandante da segunda touacuterma que poderaacute tomar conta das

funccedilotildees do strategoacutes se assim for necessaacuterio340

Por fim Leatildeo adverte que se deve ter cuidado com o tamanho das touacutermai e dos

drouacutengoi natildeo podendo ser demasiado numerosos para natildeo comprometer a capacidade de

lideranccedila dessas unidades341 Qualquer excesso de homens deve ser utilizado para proteger a

retaguarda e os flancos da primeira formaccedilatildeo de batalha ou para participar em emboscadas ou

flanqueamentos Por outro lado aconselha o general a ter cuidado com o nuacutemero dos bandaacute

recomendando que estes tenham quantidades de soldados distintas para evitar que os

batedores inimigos consigam estimar com clareza quantos homens tem o exeacutercito romano342

Relativamente ao nuacutemero de soldados por exeacutercito Leatildeo pressupotildee que uma hoste de

tamanho meacutedio deveria ter entre 5000 e 12 000 homens343 O valor maacuteximo apresentado

envolveria uma mobilizaccedilatildeo quase integral dos stratioacutetai laquotemaacuteticosraquo uma quantidade de

homens sem duacutevida exagerada para um exeacutercito de um uacutenico theacutema344 Natildeo nos podemos

esquecer de que quanto maior eacute o nuacutemero de homens em campanha maiores seratildeo os

problemas logiacutesticos para essa hoste (vai necessitar de um trem-de-apoio maior de mais natildeo-

combatentes o que por sua vez pressuporaacute uma velocidade mais lenta visto natildeo se tratar de

um exeacutercito noacutemada) O valor mais provaacutevel seriam os 4000 homens (usuais) que ele refere

quando fala das campanhas a Oriente contra os Aacuterabes345 tendo em conta a velocidade de

deslocaccedilatildeo de que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam para conseguir agir contra estas

investidas inimigas346

336 No Stratēgikoacuten de Mauriacutecio a unidade equivalente era a moira ou quiliarquia comandada por um moirarca ou

quiliarca Stratēgikoacuten I4 337 Corresponde aos meros de Mauriacutecio liderados por um merarca Vide Stratēgikoacuten I4 338 Taktikaacute IV194-196 339 Leatildeo adverte que cada uma destas divisotildees tem de ter o mesmo nuacutemero de homens Taktikaacute IV 189-193

Encontra reflexo em Stratēgikoacuten I4 340 Taktikaacute IV186-188 Stratēgikoacuten I4 341 Taktikaacute IV202-204 Conselho tambeacutem presente em Stratēgikoacuten I4 342 Taktikaacute IV205-208 Stratēgikoacuten I4 343 Taktikaacute XII174-175 Strategikoacuten II4 344 Taktikaacute IV74-175 e HALDON J (2014) ndash Op cit p103 345 Taktikaacute XVIII841-843 346 Neste caso seriam possivelmente quatro mil homens de cavalaria ligeira a kaballarika themata talvez com

algumas tropas de infantaria (montada quiccedilaacute) para os apoiar caso fosse necessaacuterio O grosso da infantaria (mal

equipada e treinada) ficaria encarregada de guarnecer fortificaccedilotildees e outros pontos estrateacutegicos Vide HALDON

J (2001) ndash Op cit p52

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De facto hostes mais numerosas soacute seriam viaacuteveis se resultassem da conjugaccedilatildeo de

meios e de soldados de vaacuterios themaacuteta para fazer frente a uma invasatildeo de elevadas

proporccedilotildees Tal parece ter sido o caso de Lalacatildeo quando um exeacutercito bizantino formado por

soldados de vaacuterios themaacuteta e dos taacutegmata aniquilou uma hoste aacuterabe em prol de possuir

superioridade numeacuterica347 ou do exeacutercito de Leatildeo Katakalon derrotado em Bulgarophygon

no ano de 896348

Regressando aos oficiais Leatildeo refere ainda mais alguns bem como certos tipos de

soldados apesar de isto ser quase uma paraacutefrase do Stratēgikoacuten onde a terminologia eacute

alterada (ou adicionada) para corresponder agrave realidade do tempo do basileuacutes Por exemplo as

tropas de assalto (kouacutersores) responsaacuteveis por carregar ou perseguir soldados inimigos satildeo

apelidadas de proklaacutestai ou proacutemachoi enquanto os militares encarregados de os apoiar caso

tenham de retirar satildeo chamados defensores (agrave semelhanccedila do tempo de Mauriacutecio) ou

ekdiacutekous349 No Taktikaacute os espiotildees chamam-se skoulkaacutetores enquanto no Stratēgikoacuten satildeo

denominados de batedores350 Por exemplo o porta-capas351 natildeo estaacute presente no Taktikaacute Os

restantes encargos352 apontados pelo autor tecircm exatamente a mesma nomenclatura que no

Stratēgikoacuten

Leatildeo refere ainda alguns cargos civis mas que satildeo de extrema importacircncia para o

exeacutercito de um theacutema o protonotaacuterio o cartulaacuterio e o pretor Acerca do protonotaacuterio jaacute

aludimos agrave sua importacircncia no primeiro capiacutetulo353 O cartulaacuterio era um oficial escolhido pelo

logotheacutesion totilden genikon sendo o responsaacutevel pelos registos militares de um theacutema por fim o

pretor era o oficial que tratava das questotildees juriacutedicas numa proviacutencia354

53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos

A seguranccedila de um exeacutercito enquanto se desloca de regiatildeo em regiatildeo eacute uma questatildeo

central Primeiro porque uma hoste em andamento eacute extremamente vulneraacutevel caso se veja a

braccedilos com um ataque-surpresa ou a atravessar terreno difiacutecil Segundo porque uma multidatildeo

de soldados em movimento representa um grave risco para as populaccedilotildees locais caso o

347 HALDON J (2001) ndash Op cit p85 348 TOUGHER S ndash Op cit p79 349 Taktikaacute IV100-102 Stratēgikoacuten IV3 350 Taktikaacute IV110-111 Stratēgikoacuten IV3 351 Oficial responsaacutevel por escoltar o porta-estandarte HALDON J (2014) ndash Op cit p153 Stratēgikoacuten IV3 352 Flanqueadores guarda-flancos corpos meacutedicos e responsaacuteveis de aquartelamento entre outros 353 Cf supra 11 354 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp 159-160

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percurso seja efetuado no proacuteprio territoacuterio bizantino ou aliado Terceiro porque no caso de

Bizacircncio o ato de marcha em formaccedilatildeo representa tambeacutem ele um treino de disciplina e um

exerciacutecio praacutetico para o soldado355 bem como um exerciacutecio de comando para quem estiver agrave

frente dessa forccedila (o strategoacutes o turmarca ou outro)

As primeiras indicaccedilotildees de Leatildeo remetem para a seguranccedila dos suacutebditos do imperador

e natildeo dos soldados em si O basileuacutes emite dois avisos nesse sentido primeiramente que o

general deve manter os seus soldados sob controlo e evitar a todo custo que estes saqueiem e

destruam as possessotildees dos suacutebditos de Constantinopla em segundo abandonar o territoacuterio

bizantino o mais cedo possiacutevel de forma a evitar que se gastem os recursos alimentares

romanos (frisando ainda que quanto mais rico for o territoacuterio do adversaacuterio melhor)356

Enquanto o exeacutercito avanccedila os soldados devem comeccedilar a exercer as suas funccedilotildees os

minsouratores357 devem ser enviados para bater o terreno (caso este seja desconhecido e natildeo

haja acesso a guias locais) e para montar o acampamento Quanto aos esquadrotildees de

aquartelamento devem comeccedilar a procurar fontes de aacutegua e locais para forragens358

O basileuacutes procede ainda a uma clarificaccedilatildeo sobre a forma como o exeacutercito em marcha

deve proceder em alguns terrenos com muito arvoredo ou desnivelado359 em territoacuterio

cultivado bizantino360 ou inimigo (onde aconselha que se pilhe o que se puder e se destrua o

que natildeo se puder aproveitar)361 a atravessar rios onde Leatildeo utiliza uma experiecircncia do pai

como jaacute referimos362 e nos desfiladeiros Das marchas assinaladas decidimos dar preferecircncia

agrave forma de atravessar terrenos difiacuteceis ou desfiladeiros o que se afigurava de elevada

importacircncia para a conjuntura estrateacutegica da eacutepoca saber como ocupar uma kleisoucircrarchia363

era algo fundamental na guerra travada a Oriente e a Ocidente (contra os Buacutelgaros) tanto a

niacutevel defensivo como ofensivo

Assim se um exeacutercito provincial desejasse atravessar uma garganta montanhosa

deveria enviar contingentes agrave sua frente para ocuparem os pontos altos e as embocaduras

dessas passagens antes que os seus inimigos o pudessem fazer colocando em risco a

355 Taktikaacute IX23-25 356 Taktikaacute IX3-13 Assinalem-se as influecircncias de Onas VI 357 Batedor responsaacutevel por encontrar um lugar ideal para se construir um acampamento Taktikaacute IV103-105 358 Taktikaacute IX33-41 359 Taktikaacute IX42-46 O autor informa o general de que deve enviar um grupo de soldados para nivelar o terreno

e cortar as aacutervores ao longo do percurso pretendido caso fosse necessaacuterio 360 Taktikaacute IX73-82 361 Taktikaacute IX97-103 362 Vide Anexo VIII g) 363 Aqui natildeo nos referimos aos pequenos distritos militares mas sim aos desfiladeiros

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seguranccedila da hoste bizantina364 Soacute depois disto acontecer eacute que o strategoacutes deveria ordenar

aos seus soldados365 que atravessassem o desfiladeiro ordenadamente formados em duas

colunas paralelas com o trem-de-apoio (com ou sem botim) no centro contando ainda com

uma vanguarda e uma retaguarda (dita saka) De forma a fortalecer os flancos deviam ser

colocadas tropas ligeiras sobre o desfiladeiro nos quatro lados da disposiccedilatildeo taacutetica com o

objetivo de proteger a formaccedilatildeo em movimento e de evitar que ataques inimigos a

desorganizassem com ataques nas laterais Para aleacutem da carriagem no centro deviam estar as

montadas suplentes ou que natildeo estivessem a ser usadas para evitar a fuga dos homens da

falange em caso de pacircnico366 No caso deste exeacutercito possuir um grande contingente de

infantaria entatildeo dever-se-ia organizar mais ou menos da mesma forma excetuando se natildeo

conseguissem caber todas as forccedilas no desfiladeiro Nesse caso deviam desfazer a

formaccedilatildeo367 passar uma de cada vez e voltar a formar assim que a passagem tivesse sido feita

Para evitar problemas na viagem de regresso era recomendaacutevel deixar um

destacamento a guardar a garganta368 No regresso da expediccedilatildeo era aconselhaacutevel usar

novamente esta formaccedilatildeo ateacute porque um ataque nestas regiotildees era entatildeo mais provaacutevel pois a

hoste estava carregada de despojos e prisioneiros No caso de o exeacutercito ficar encurralado no

desfiladeiro Leatildeo propunha duas opccedilotildees negociar com o inimigo a libertaccedilatildeo atraveacutes do

retorno parcial ou total do botim ou matar os prisioneiros369 A hoste deveria entatildeo dar meia-

volta e destruir o territoacuterio do inimigo ou tentar escapar de alguma forma

Concluiacuteda esta sucinta anaacutelise das marchas que consideramos mais importantes nesta

altura observemos agora a importacircncia da carriagem

laquoO trem-de-apoio consiste nos mantimentos e tudo mais que eacute necessaacuterio para os

soldados isto eacute servos370 animais de carga e outras bestas bem como tudo o resto

que eacute trazido para o serviccedilo do exeacutercitoraquo371

364 Apesar de as forccedilas dos themaacuteta terem um propoacutesito maioritariamente defensivo haveria a hipoacutetese de

realizarem contra raides contra o territoacuterio inimigo 365 Caso houvesse cavalaria esta deveria desmontar 366 Taktikaacute IX195-234 Stratēgikoacuten IX 367 A frente com duas ou quatro divisotildees de infantaria pesada dependendo do tamanho seguidas pelo trem-de-

apoio a cavalaria e uma saka com infantaria pesada e ligeira Taktikaacute IX284-291 Stratēgikoacuten XII19-20 368 Muitas vezes em termos defensivos os Bizantinos deixavam os Aacuterabes da Ciliacutecia passar pelos desfiladeiros

ocupando-os posteriormente e atacando quando estes se encontravam mais vulneraacuteveis O caso mais espetacular

desta estrateacutegia eacute a batalha de Andrassos em 960 quando forccedilas bizantinas sob Leatildeo Focas ocuparam o

desfiladeiro que o emir hamdacircnida Sayf ad-Dawlah tencionava usar para regressar a Alepo e o emboscaram na

viagem de regresso Para esta batalha e estrateacutegia vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 80-81 369 Taktikaacute IX241-247 Os prisioneiros tambeacutem podiam servir como escudo da falange frente agraves flechas do

inimigo Taktikaacute IX235-238 370 Ou familiares dos soldados caso ainda estivessem em territoacuterio amigaacutevel De acordo com John Haldon a

importacircncia destes natildeo-combatentes prendia-se com a sua utilidade em ajudar a organizar a bagagem bem como

a ajudar nas tarefas mais ordinaacuterias Natildeo obstante eram mais uma boca a alimentar abrandavam o exeacutercito em

76

Durante uma marcha em territoacuterio hostil a carriagem pela sua grande importacircncia372

ocupava sempre o meio da coluna (para se encontrar permanentemente protegida) e a alguma

distacircncia do resto da hoste para natildeo causar desorganizaccedilatildeo na hoste em movimento373 Antes

de o exeacutercito partir para uma batalha o trem e todos o que o acompanhavam deviam ser

deixados num lugar seguro374 sob os cuidados do oficial responsaacutevel pela sua proteccedilatildeo e por

guiar as bestas de carga (burros ou mulas) vigiadas por soldados pobres ou por servos375

Em relaccedilatildeo agraves montadas cada baacutendon deveria guardar a forragem necessaacuteria para um

dia para o caso de o resultado da batalha ser adverso a recolher feno fora do acampamento376

Quando os soldados partiam para o combate deviam deixar as montadas de reserva na

carriagem377 para natildeo entrarem em pacircnico durante a peleja Apenas deveriam ser levadas para

o confronto se isso fosse preciso transportando o soldado responsaacutevel por elas uma tenda

pequena ou dois mantos pesados378 No caso de ser preciso empreender uma operaccedilatildeo

ofensiva ou de saque os soldados deviam manter os seus cavalos armados e vigorosos

Algo original na Constitutio de Leatildeo sobre trem-de-apoios eacute a distinccedilatildeo de meios de

transporte de mantimentos e de utensiacutelios no caso de ser um exeacutercito de infantaria o trem-de-

apoio devia ser constituiacutedo por carroccedilas se fosse uma hoste maioritariamente de cavalaria a

carriagem consistiria em bestas de carga como burros ou mulas379

Dediquemos as uacuteltimas palavras ao acampamento militar bizantino o qual

representava um outro aspeto essencial da forma de fazer a guerra em Bizacircncio constituindo

um fator importante que condicionava a vitoacuteria ou a derrota de um exeacutercito Toda a orgacircnica

do acampamento tinha de funcionar bem para se garantir o maacuteximo de organizaccedilatildeo possiacutevel

evitar engarrafamentos de unidades durante situaccedilotildees de retirada e assegurar uma boa defesa

(em caso de estarem em territoacuterio inimigo ou com o adversaacuterio nas proximidades a infantaria

deveria ocupar posiccedilatildeo do lado da paliccedilada de forma a poder proteger a cavalaria quando esta

voltava de campanhas no exterior)

marcha e eram um risco para a seguranccedila e disciplina no acampamento Taktikaacute X6 e 12-16 Organizaccedilatildeo de

uma Campanha XV (daqui em diante OdC) HALDON J (2014) ndash Op cit p232 371 Taktikaacute IV120-122 372 Na viagem de regresso de raides a territoacuterio inimigo podia incluir o despojo 373 Taktikaacute X66-70 Praecepta Militaria IV (daqui em diante PrM) OdC X 374 Acampamento ou siacutetio fortificado que tenha bom acesso a forragem e aacutegua Taktikaacute X36-50 Veja-se um

conselho parecido em Perigrave Paradroacutemes XVI (daqui em diante PP) 375 De acordo com Leatildeo e Mauriacutecio cada soldado poderia tomar conta de trecircs a quatro animais Taktikaacute IV154-

155 Stratēgikoacuten I5 376 Taktikaacute X56-62 Stratēgikoacuten I5 377 Um para servir de proteccedilatildeo e outro para servir de tenda ou de canoacutepia 378 Vide Taktikaacute X48-50 Stratēgikoacuten V 379 Taktikaacute X76-78

77

Assim sendo quais eram os fatores predominantes na altura de escolher um siacutetio para

acampar em territoacuterio inimigo A seguranccedila era o primordial tendo os minsouratores de

encontrar um local apto a ser defendido e caso tal circunstacircncia natildeo fosse possiacutevel fortificar

o acampamento por meio de trincheiras e paliccediladas O abastecimento das tropas era outro

fator muito importante e o arraial devia ser instalado num local com bom acesso a aacutegua e a

forragens Caso a fonte de aacutegua fosse um rio o acampamento devia ser instalado de forma a

permitir que o curso de aacutegua o atravessasse no meio devendo para esse efeito o arraial ser

montado num local onde a travessia fosse faacutecil ou (se o rio tivesse um caudal muito grande

ou demasiado intenso para possibilitar a travessia) num dos flancos do recinto de forma a

servir de defesa natural contra o inimigo380

Por fim a sauacutede e o bem-estar dos homens eram tambeacutem cruciais pelo que o siacutetio

onde estes pernoitavam e se protegiam deveria ser instituiacutedo num local longe de pacircntanos e

outros locais huacutemidos (com lama por exemplo) de forma a evitar surtos de doenccedila que

pusessem em causa a sauacutede (e ateacute a vida) do soldado381 Por outro lado natildeo se recomendava a

manutenccedilatildeo do exeacutercito num mesmo siacutetio durante muito tempo devido agrave quantidade de

dejetos humanos (e animais pois os cavalos tambeacutem estavam no acampamento)

produzidos382 mas tambeacutem para conforto dos proacuteprios homens383

Para terminar vamos abordar a estrutura e a defesa do acampamento De acordo com

o basileuacutes o acampamento deveria ter uma forma retangular dividindo-se em quatro

quadrantes separados por duas ruas perpendiculares que fizessem uma forma de cruz as quais

ligavam as entradas do acampamento384 e o centro deste A infantaria ligeira e os vagotildees da

carriagem385 deviam ocupar posiccedilotildees ao longo do periacutemetro e a cavalaria deveria ser

aquartelada mais para o interior do arraial386 Quanto aos oficiais principais os turmarcas

deviam ser posicionados no meio das forccedilas que comandavam enquanto o strategoacutes devia

380 Neste caso o autor procede a um conjunto de conselhos para preservar a pureza da aacutegua relacionados com o

siacutetio onde os cavalos bebessem se o rio fosse pequeno devia ser-lhes dada aacutegua a beber por meio de baldes se o

caudal fosse grande entatildeo deveriam ser guiados para beber a jusante Taktikaacute XI165-172 381 Taktikaacute XI15-20 382 Que deveriam ser largados no exterior do acampamento Leatildeo alegava ser pelo odor mas a razatildeo principal

deveria ser a proteccedilatildeo sanitaacuteria Taktikaacute XI162-164 383 A uacutenica exceccedilatildeo a esta regra parecem ser os aquartelamentos de Inverno onde existiam edifiacutecios para os

homens habitarem Taktikaacute XI23-27 384 Para aleacutem destas entradas protegidas por um enorme portatildeo deviam-se instalar vaacuterias laquopoternasraquo

possivelmente para permitir a entrada e saiacuteda de pequenos grupos de homens 385 Que tambeacutem poderiam servir para criar uma barreira improvisada em torno do acampamento chamada

karagos Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p245 386 A um intervalo de 94 a 125 metros de acordo com Mauriacutecio e Leatildeo para proteger os animais de carga e os

cavalos dos projeacuteteis inimigos O Praecepta Militaria refere que a distacircncia deveria ser de ldquoum tiro de arcordquo

(possivelmente 330 metros de acordo com o Sylloge Tacticorum) existindo discussatildeo de outros valores

Taktikaacute XI80-87 Stratēgikoacuten XIIB22 PrM V5 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 248-249

78

estar longe do centro (Leatildeo indica laquopara o ladoraquo pelo que supomos a mesma condiccedilatildeo que no

caso dos turmarcas) para natildeo obstruir o tracircnsito e natildeo ser perturbado pelas tropas a passar387

Para aleacutem da escolha dos bandaacute mais experientes de forma a guardar os portotildees

dever-se-ia proceder ainda agrave escolha de soldados para executar patrulhas noturnas e para

servirem de vigias fora do periacutemetro Em relaccedilatildeo agraves fortificaccedilotildees do arraial eram constituiacutedas

por trincheiras que deviam ter cerca de 180 m de largura e entre 210 e 240 metros de altura

devendo ser precedidas por covas-de-lobo e por estrepes388 Por fim deveria existir ainda uma

paliccedilada ou fortificaccedilatildeo em torno do acampamento389

387 Taktikaacute XI91-95 388 Niceacuteforo Focas o Velho teraacute criado uma espeacutecie de estrepe que consistiria num geacutenero de tripeacute com trecircs

pedaccedilos de madeira os que serviam de base deviam ter 70 cm de comprimento e o superior devia possuir entre

117 a 140 metros Nesta estrutura colocar-se-ia depois uma lacircmina larga com 4680 cm de comprimento na

ldquoperna maiorrdquo o que tornava esta arma uma excelente invenccedilatildeo contra a cavalaria e extremamente faacutecil de

transportar de acordo com Leatildeo Taktikaacute XI128-142 O Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos refere um dispositivo

parecido Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos LXV (de aqui em diante seraacute referido como Ouranos) 389 Leatildeo refere uma stabarotildesai uma paliccedilada de estacas pontiagudas construiacuteda com madeira trabalhada ou a

partir de aacutervores cortadas no local Taktikaacute XI40-42

79

Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar

laquoA Taacutetica eacute a ciecircncia do movimento na guerra Nesta existem dois

movimentos os feitos em terra e os praticados no mar

A Taacutecica eacute a periacutecia militar que diz respeito a formaccedilotildees de batalha

ao armamento e agrave movimentaccedilatildeo de tropasraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute I linhas 3-6390

Fazendo jus ao nome do tratado a Taktikaacute eacute a disciplina mais abordada ao longo da

obra e recolhe em si um grande conjunto de assuntos que preocupam o basileuacutes a distribuiccedilatildeo

de armamento o treino de tropas a disposiccedilatildeo no campo de batalha e a forma como a guerra

deve ser encarada contra outros povos Tendo em conta estas caracteriacutesticas decidimos

dividir este capiacutetulo em trecircs subcapiacutetulos um primeiro onde abordamos o armamento e o

treino dos soldados bizantinos quer de cavalaria ou da infantaria um outro onde

examinamos a forma como Bizacircncio encarava o conflito com outras naccedilotildees de onde

salientaremos os Aacuterabes e ateacute certo ponto os Buacutelgaros e por fim um terceiro onde

referimos a forma como o exeacutercito romano devia agir no campo de batalha perante as mais

variadas desvantagens

61 ndash O armamento e o treino

laquoAgora noacutes ordenamos a Sua Excelecircncia que dirija a sua atenccedilatildeo para as armas que

deve empregar na guerra assim para o equipamento das forccedilas de infantaria e de

cavalariaraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute V linhas 3-4391

Antes de nos lanccedilarmos no resumo e anaacutelise do que Leatildeo escreve sobre estas questotildees

conveacutem tecermos algumas consideraccedilotildees introdutoacuterias acerca destes assuntos Primeiramente

a forma como o equipamento era distribuiacutedo neste periacuteodo da histoacuteria de Bizacircncio Logo no

iniacutecio da Constitutio V o basileuacutes refere que parte do provimento do material que equipava o

exeacutercito dependia do general e dos turmarcas seus segundos-em-comando Isto parece-nos

um pouco contraproducente se tivermos em conta que o impeacuterio vivia uma fase em que os

uacutenicos soldados que eram equipados com apoios estatais eram os dos taacutegmata da capital Por

outro lado o basileuacutes mais tarde admite que eacute preferiacutevel serem os soldados ricos a participar

390 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 12-13 391 Idem Ibidem pp 74-75

80

nas campanhas392 Por estas razotildees pensamos que aquilo a que Leatildeo se refere natildeo seraacute o

equipamento alusivo aos stratioacutetai que dispunham de melhores meios econoacutemicos mas sim

os soldados que natildeo tivessem meio de se equipar sozinhos393

Por outro lado haacute a possibilidade de os apetrechos aqui mencionados serem algo de

diferente natildeo relacionado com o equipamento dos soldados em si como por exemplo tendas

municcedilotildees maacutequinas de cerco394 entre outros Estes agrave semelhanccedila dos mantimentos deviam

ser adquiridos com a ajuda dos artesatildeos do theacutema pelo que natildeo seraacute de estranhar que fossem

os principais responsaacuteveis pela manutenccedilatildeo do corpo armado (os primeiros homens do

comando e o protonotaacuterio) a tratar destes assuntos No entanto existe ainda a possibilidade de

o equipamento aqui referido tambeacutem incluir material suplente (aqui aludimos a armamento

ofensivo e defensivo) que por qualquer razatildeo tivesse de ser reposto durante a campanha395

Em relaccedilatildeo ao treino para Leatildeo este mostrava-se essencial natildeo soacute para melhorar as

aptidotildees dos seus soldados e os preparar para as vicissitudes do combate396 mas tambeacutem para

combater o teacutedio e evitar que eles afrouxassem e em virtude disso se tornassem cobardes em

batalha397 Podemos referir dois tipos de treino um individual que consistia na exercitaccedilatildeo

das capacidades militares de cada guerreiro e um treino geral que correspondia agrave praacutetica das

mais diversas taacuteticas e formaccedilotildees com o intuito de preparar o exeacutercito para as situaccedilotildees mais

diacutespares no campo de batalha Por outro lado a disciplina e a organizaccedilatildeo dos soldados

provinciais em batalha natildeo era a mais brilhante398 em especial da parte da infantaria399 pelo

que se devia dar grande enfoque a estes aspetos no decorrer dos periacuteodos de treino

Finalizada esta introduccedilatildeo passemos agrave anaacutelise do equipamento e do treino de cada

uma das laquoarmasraquo (cavalaria e infantaria) Uma vez que a cavalaria eacute o nuacutecleo central do

tratado parece-nos justo comeccedilar por esta categoria O soldado montado dos themaacuteta natildeo eacute o

catafractaacuterio completamente equipado a que estamos habituados quando pensamos em

Bizacircncio mas sim um guerreiro a cavalo mais leve e capaz de percorrer grandes distacircncias

De acordo com Leatildeo eacute possiacutevel pressupor dois tipos de equipamento ofensivo para

392 Vide Anexos VIII c) 393 Existindo ainda a possibilidade de estes serem equipados e montados com o patrociacutenio de stratioacutetai mais

ricos caso fosse necessaacuterio (cf supra 13) 394 No caso dos exeacutercitos ldquotemaacuteticosrdquo natildeo se aplicava a questatildeo das maacutequinas de cerco estas a estarem

presentes em campanha seria no contexto de uma expediccedilatildeo dos corpos palatinos da capital sob o comando do

domestikoacutes 395 HALDON J (2014) ndash Op cit p169 396 laquoHomens destreinados mostram-se totalmente ignorantes e cegos quando enfrentam accedilatildeo suacutebitas e

inesperadasraquo Taktikaacute VII6-7 397 Taktikaacute VII8-20 398 Algo que o proacuteprio imperador admite Taktikaacute XVIII832-843 399 Cf HALDON J (2001) ndash Op cit p69

81

cavaleiros que se encontravam dependentes de um fator a aptidatildeo no uso do arco400 Caso o

cavaleiro soubesse usaacute-lo devia estar equipado com arco aleacutem das ferramentas necessaacuterias

para o manter da aljava para guardar as flechas e de uma lanccedila ldquopequenardquo401 uma espada e

uma adaga ou faca para defesa pessoal402 Por outro lado um cavaleiro que natildeo soubesse usar

o arco devia estar equipado com duas lanccedilas (ou dardos) e um escudo403 Quanto ao

equipamento defensivo Leatildeo refere que deviam estar vestidos com o klibaacutenion404 com grevas

chamadas de podoacutepsella e com elmos munidos de uma pequena pluma no topo405 O cavalo

tambeacutem deveria estar protegido desta feita com uma defesa de ferro ou de couro colocada

sobre a cabeccedila e o peito que era conjugada com uma neurikaacute406 que deveria cobrir o peito a

cabeccedila e se possiacutevel o abdoacutemen da montada407

Em relaccedilatildeo ao treino da cavalaria Leatildeo salienta a relevacircncia do treino com o arco

com o recruta a ter de saber disparar rapidamente e em todas as direccedilotildees e ateacute a dominar o

laquotiro partoraquo (para traacutes) A versatilidade tambeacutem era incentivada com o basileuacutes (agrave

semelhanccedila de Mauriacutecio) a incitar o comandante a treinar sucessivamente o soldado com o

arco e com a lanccedila na mesma montada408 Os cavaleiros tambeacutem deviam praticar cargas

simuladas a pares algo que podia ser realizado durante uma marcha409 Quanto ao cavalo

devia ser preparado para cavalgar em terrenos difiacuteceis e para suportar a ausecircncia de aacutegua por

algum tempo bem como a habituar-se aos sons da batalha e agrave presenccedila de camelos410

400 Este fator eacute uma das grandes preocupaccedilotildees de Leatildeo ao longo do tratado que refere que a negligecircncia no uso

do arco provocou grandes complicaccedilotildees aos Bizantinos Talvez a maior prova deste facto tenha sido a derrota do

basileuacutes Teodoacutesio na batalha de Anzen em 838 quando o impeacuterio se viu derrotado frente aos experientes

arqueiros montados turcos Este foi o primeiro confronto onde os Turcos teratildeo combatido os Romanos (ainda

que ao lado dos Aacuterabes) uma tendecircncia que se iraacute repercutir nos seacuteculos vindouros (em especial a partir do

seacuteculo XI) Taktikaacute VI30-34 HALDON J (2001) ndash Op cit pp78-83 KAEGI Walter (1964) The

Contribution of Archery to the Turkish Conquest of Anatolia Speculum 39(1) 99-101 O facto de Siriano jaacute dar

grande importacircncia aos arqueiros no Perigrave Strategiacuteas pode revelar que esta preocupaccedilatildeo jaacute teria algum tempo a

confirmar-se que o tratado eacute do seacuteculo IX Cf Siriano magister in Perigrave Strategiacuteas XLIV ndash XLVII (de aqui em

adiante passaremos a fazer a referecircncia a este tratado da seguinte forma Sir Strat) 401 Em jeito algo jocoso Haldon refere que esta lanccedila teria trecircs metros de comprimento pelo que natildeo vecirc onde eacute

que ela poderia ser pequena 402 Taktikaacute VI9-20 Por outro lado Leatildeo realccedila a existecircncia de um machado de dupla-lacircmina uma com a forma

de uma espada e outra em formato de ponta-de-lanccedila Taktikaacute VI53-55 403 Taktikaacute VI21-22 404 Termo de origem persa que refere uma armadura lamelar que cobria o corpo de um guerreiro ateacute pouco

abaixo da cintura Vide NISA J (2016) ndash Op cit p41 405 Apresentando assim o mesmo tipo de armamento defendido por Mauriacutecio muitiacutessimo influenciado pelos

Aacutevaros Stratēgikoacuten I 406 Uma proteccedilatildeo para equiacutedeos que era o resultado da conjugaccedilatildeo de pedaccedilos de couro acolchoados PrM III 407 Taktikaacute VI40-47 408 laquo(hellip) deve libertar uma ou duas flechas rapidamente e arrumar o arco montado com a corda no seu estojo (hellip)

Depois [deve] agarrar a lanccedila que carrega ao ombro Enquanto o arco estaacute no estojo ele deve agarrar a lanccedila e

reposicionaacute-la rapidamente no ombro e agarrar o arcoraquo Taktikaacute VII35-40 cf Stratēgikoacuten I 409 Taktikaacute VII41-45 410 Taktikaacute XVIII675-685 Os camelos eram reconhecidos como uma causa de medo para os cavalos desde a

derrota do rei Creso da Liacutedia frente a Ciro da Peacutersia em 536 aC A causa deste resultado foi a criaccedilatildeo in

82

Relativamente ao treino em conjunto de um exeacutercito de cavalaria Leatildeo VI afirma que

eacute absolutamente necessaacuterio o general aprender a treinar os seus soldados tendo em

consideraccedilatildeo os preceitos taacuteticos dos antigos com o intuito de os ensinar a alterar as

formaccedilotildees do seu baacutendon por meio de comandos verbais ou de sinais com bandeiras411 Por

outro lado tambeacutem se deveriam praticar batalhas simuladas com recurso a armas de treino412

para testar os soldados num grande conjunto de dispositivos e movimentaccedilotildees tais como

manobras de envolvimento cargas flanqueamentos e emboscadas Este adestramento eacute

bastante complexo e articulado porque envolve o treino das vaacuterias categorias do exeacutercito em

separado numa batalha simulada os soldados vatildeo alternando as suas funccedilotildees como kouacutersores

ou ekdiacutekous ora carregando ora apoiando os kouacutersores413 enquanto isso os flanqueadores

treinam manobras de envolvimento em bandaacute destacados para essa funccedilatildeo414 Para aleacutem

destas questotildees o autor realccedila que estas manobras devem ser praticadas em todo o geacutenero de

terrenos e temperaturas para adaptar a hoste a todo o tipo de circunstacircncias e vicissitudes415

A infantaria no Taktikaacute estaacute dividida da mesma forma que eacute explicitada no

Stratēgikoacuten de Mauriacutecio416 em skoutatoacutes ou skoutatoacutei (infantaria pesada) tropas ligeiras e

peltai mas o autor refere que este termo jaacute natildeo eacute utilizado por esta altura porque jaacute natildeo eacute

reconhecido pelos contemporacircneos do autor Em relaccedilatildeo ao armamento o skoutatoacutes devia

estar armado com um escudo largo e em forma oblonga com uma espada e com uma lanccedila

obrigatoriamente A estas armas podiam-se juntar machados de lacircmina-dupla417 e fundas

Quanto ao armamento defensivo devia ser necessariamente composto de um elmo com

plumas Em especiacutefico Leatildeo informa-nos que os dois homens de uma coluna destinados agraves

linhas da frente deveriam envergar uma zaacuteba418 ou uma loriacutekia (cota-de-malha) luvas de ferro

ou madeira (denominadas cheiroacutepsella) e grevas dos mesmos materiais419 Os skoutatoacutei eram

treinados individualmente por meio de combates pessoais420

promptu de um contingente de cameleiros (que anteriormente tinham estado adscritos ao trem-de-apoio persa)

que incutiu o medo na cavalaria liacutedia SEKUNDA Nick The Persians in HACKET Sir John (ed) (1989)

Warfare in the Ancient World Alemanha Ocidental Facts on File p 85 411 Por exemplo cerrar ou alargar fileiras mudanccedilas de frente 412 Como flechas sem pontas e cajados para substituir as lanccedilas 413 Taktikaacute VII206-219 e 220-223 Stratēgikoacuten III 414 Taktikaacute VII235-240 Stratēgikoacuten III 415 Taktikaacute VII241-248 Stratēgikoacuten III 416 Cf Stratēgikoacuten XII(B) 417 Estes natildeo estatildeo presentes no texto de Mauriacutecio 418 Palavra de origem turca que agrave altura da escrita do tratado remete para pedaccedilos de malha fixados a outras

partes da vestimenta de um soldado HALDON J (2014) ndash Op cit p186 419 Taktikaacute VI114-126 Influecircncias de Mauriacutecio (Stratēgikoacuten XII(B)) 420 Taktikaacute VII21-28 Cf Stratēgikoacuten XII(B) e Onas X

83

No que respeita agrave infantaria ligeira esta deveria estar armada com arco flechas

dardos421 e fundas como armas principais enquanto utilizaria escudos e machados para defesa

pessoal Quanto a equipamento defensivo deviam vestir tuacutenicas e a epiloriacuteka enquanto

calccedilavam sapatos recomendados para a marcha providos de tachas e com biqueira quadrada

A infantaria ligeira era treinada para disparar rapidamente com o arco e para conseguir atirar

os dardos a uma distacircncia longa devendo ainda melhorar as suas capacidades atleacuteticas com

recurso a corridas e a saltos em todo o tipo de terrenos422 Em relaccedilatildeo ao treino conjunto da

infantaria aplicam-se os mesmos preceitos acima enunciados para a cavalaria tendo o

strategoacutes de ensinar a infantaria a executar um grande conjunto de manobras e de formaccedilotildees

como o fulcum O adestramento das forccedilas de infantaria era fundamental para situaccedilotildees de

marcha uma vez que era pouco provaacutevel que dentro do exeacutercito provincial chegassem a

combater devido ao seu fraco equipamento e ao baixo moral que as caraterizava

62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra

laquoDe seguida vou ensinaacute-lo acerca de vaacuterias formaccedilotildees de batalha empregues por outras

naccedilotildees bem como acerca daquelas que os comandantes dos exeacutercitos romanos desde eacutepocas

remotas usaram contra outros povos Depois de conhececirc-las natildeo soacute vai puder usar esses

estratagemas na altura proacutepria como vai tambeacutem poder acrescentar-lhes muitos mais Porque

um comandante astuto quando agarra uma oportunidade para pocircr em praacuteticas as estrateacutegias

militares natildeo se limita agravequelas [jaacute conhecidas] e eacute capaz de inventar muitas outrasraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 3-9423

A Constitutio XVIII do Taktikaacute surge na nossa opiniatildeo como uma das mais

interessantes do tratado pois aborda a forma como o Saacutebio via as maacutequinas militares do seu

adversaacuterio Natildeo obstante acusar uma forte influecircncia do Livro XI do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio

Leatildeo VI atualiza alguma da informaccedilatildeo presente na obra do seu antecessor de maneira a

corresponder melhor agrave realidade do seu tempo em especial no que toca aos Aacuterabes que

reconhece como sendo o maior perigo para o Impeacuterio O interesse etnograacutefico-militar natildeo se

converte na uacutenica valecircncia desta Constitutio pois na nossa interpretaccedilatildeo o primeiro paraacutegrafo

pode revelar-se como uma indicaccedilatildeo da disponibilidade do Impeacuterio Bizantino para adaptar o

seu estilo militar consoante as taacuteticas e o armamento de outros povos424 Por outro lado esta

421 Para aqueles que natildeo soubessem usar o arco 422 Taktikaacute VII21-28 Para o treino de arqueiros cf Sir Strat XLV - XLVII 423 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 436-437 424 Fenoacutemeno esse visualizado tambeacutem a niacutevel linguiacutestico vide NISA J (2014) ndash Op cit pp 9-10 Por outro

lado Mauriacutecio parece admitir que o equipamento militar romano durante o seu principado encontrava muitas

influecircncias no Aacutevaro Stratēgikoacuten I

84

secccedilatildeo mostra-se fundamental para consolidar a contemporaneidade do manual de Leatildeo e

claro o interesse dele pelos problemas militares e estrangeiros que afligiram o Impeacuterio

durante o seu reinado Neste aspeto mostram-se cruciais na nossa abordagem trecircs povos os

Buacutelgaros os Lombardos e como natildeo podia deixar de ser os Aacuterabes

A questatildeo buacutelgara torna-se curiosa no sentido em que Leatildeo parece subestimar este

povo no Taktikaacute425 ao aparentar desinteresse numa guerra contra ele e nas suas taacuteticas e

armamento usando como argumento a recente conversatildeo dos Buacutelgaros ao Cristianismo426

Este fundamento parece estar tambeacutem na base das alegaccedilotildees de Karlin-Hayter427 e Runciman

chegando o uacuteltimo a alegar que laquoa sua (de Leatildeo) terna consciecircncia cristatilde fazia-o desgostar de

combater os seus companheiros crentesraquo428 Shaun Tougher no entanto refuta estas alegaccedilotildees

e contra-argumenta referindo que na realidade a secccedilatildeo direcionada aos Magiares (referidos

como Turcos no Taktikaacute) estaacute na realidade orientada para os suacutebditos de Simeatildeo429 Apoiamos

esta interpretaccedilatildeo pois Leatildeo natildeo se cansa de salientar que em termos militares os Magiares e

os Buacutelgaros satildeo muitiacutessimo parecidos430 demonstrando que natildeo confiava tanto nos seus

vizinhos balcacircnicos como aparentava e que queria os seus strateacutegoi preparados para uma

possiacutevel revanche com Simeatildeo e os seus na eventual possibilidade de esta acontecer431

Relativamente aos Lombardos as palavras de Leatildeo VI afiguram-se como um relato da

relaccedilatildeo entre os Bizantinos e os Lombardos laquoaliados correligionaacuterios e suacutebditos432raquo Esta

afirmaccedilatildeo a nosso ver revela o estado da situaccedilatildeo no Sul de Itaacutelia onde estavam os uacuteltimos

redutos da independecircncia lombarda durante o reinado do Saacutebio Como jaacute acima foi

salientado433 os ducados de Benevento e de Salerno tinham outras preocupaccedilotildees por esta

altura nomeadamente o reino de Itaacutelia sob os duques de Espoleto os Aglaacutebidas da Siciacutelia e a

principal ameaccedila muccedilulmana sedeada na foz do rio Garigliano Naquele momento portanto

425 Vide DAGRON Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore

Phocas (963-969) Paris pp 152 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 426 Vide Anexo VIII b) 427 laquoA Guerra Buacutelgara no entanto natildeo apelava ideologicamente Os Buacutelgaros seriam supostamente os filhos

espirituais de Bizacircncio e de mostrar comportamento como se filhos desta fossem e ele (Leatildeo VI) sentiu que

guerra contra este povo ia contra a ordem proacutepria das coisas ao mesmo tempo que interrompia as guerras que ele

queria executarraquo Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40 428 TOUGHER S ndash Op cit p 181 429 Idem Ibidem p 182 A mesma opiniatildeo eacute expressa por Haldon vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 339 430 P ex Taktikaacute XVIII233-236 350-352 refere ainda que laquoestas caracteriacutesticas dos Turcos satildeo diferentes das

dos Buacutelgaros na medida em que estes abraccedilaram a feacute dos Cristatildeos e - gradualmente - adotaram as caracteriacutesticas

dos Romanos Quando o fizeram despojaram-se do seu modo de vida selvagem e noacutemada bem como da sua

falta de feacuteraquo vide Taktikaacute XVIII295-298 431 Este reencontro beacutelico acabaria por acontecer em 913 apoacutes a morte de Leatildeo quando as reacutedeas do Impeacuterio

passaram para as matildeos de Alexandre seu irmatildeo que natildeo cumpriu os acordos com Simeatildeo da Bulgaacuteria A guerra

soacute terminaria com a morte de Simeatildeo em 927 apoacutes vaacuterios cercos a Constantinopla 432 Taktikaacute XVIII365 433 Cf supra 22

85

natildeo estavam interessados em encetar um conflito com Constantinopla antes pelo contraacuterio

pois o principado de Benevento-Caacutepua enviou uma embaixada a Leatildeo para oferecer a sua

lealdade a Bizacircncio em troca de uma alianccedila contra os Sarracenos na Campacircnia

independentemente do lsquomau sanguersquo que poderia ter jorrado da laquoquestatildeo beneventinaraquo434 O

autokraacutetor aproveita ainda para referir que Bizacircncio natildeo se sentia atraiacuteda pela ideia de

guerrear com eles alegando que uma das razotildees para isto era a partilha da mesma feacute com os

Romanos

Algo que nos suscitou a atenccedilatildeo foi um comentaacuterio de Leatildeo VI a Mauriacutecio nesta

secccedilatildeo Apesar de parafrasear o uacuteltimo imperador da dinastia justiniana no iniacutecio do paraacutegrafo

76435 o basileuacutes retorque logo de seguida que perderam muito dessa virtude436 Isto seraacute

possivelmente uma forma de o autor se referir ao estatuto de muitas cidades lombardas que

estariam sob a soberania bizantina apoacutes a sua laquolibertaccedilatildeoraquo de matildeos muccedilulmanas na segunda

metade do seacuteculo IX (ex Bari e Tarento) Por outro lado o basileuacutes reitera a necessidade de

se aprenderem as taacuteticas e o armamento dos Lombardos e dos Francos de forma ao strategoacutes

pode usar aquilo que achasse pertinente no campo de batalha constituindo um outro exemplo

da disponibilidade de Bizacircncio para adaptar haacutebitos beacutelicos de outros povos desde que os

achasse uacuteteis ou necessaacuterios437

Apesar de tudo isto a principal inovaccedilatildeo de Leatildeo VI para a tratadiacutestica bizantina foi o

trecho que respeita os Aacuterabes Esta secccedilatildeo da Constitutio XVIII que vai da linha 495 ateacute agrave

696 aborda um grande conjunto de temaacuteticas referentes agrave arte da guerra bizantina contra os

Aacuterabes pensamento estrateacutegico retoacuterica religiosa e claro organizaccedilatildeo taacutetica A primeira

coisa de que nos apercebemos eacute que Leatildeo identifica a cidade de Tarso (na Ciliacutecia) como a

principal fonte da ameaccedila aacuterabe Natildeo eacute por acaso que tal eacute indicado pois Tarso era o maior

dos al-thugucircr e foi o ponto de partida das maiores expediccedilotildees de saque muccedilulmanas desde a

segunda metade do seacuteculo IX ateacute agrave reconquista da cidade por forccedilas bizantinas sob o comando

de Niceacuteforo II Focas em 965438 De facto era na Ciliacutecia que tambeacutem se realizava a maior

434 Chamamos laquoquestatildeo beneventinaraquo ao periacuteodo entre 891 e 895 desde a conquista de Benevento pelos

Bizantinos ateacute aacute sua reconquista pelos Lombardos (apoiados pelo priacutencipe de Salerno) alegadamente causada

pela opressatildeo romana 435 laquoOs Francos e os Lombardos datildeo muito valor agrave liberdaderaquo Taktikaacute XVIII377 Strategikoacuten XI3 436 Taktikaacute XVIII378 437 Taktikaacute XVIII360-369 Este comentaacuterio natildeo parece ter paralelo no Stratēgikoacuten ao contraacuterio do resto desta

secccedilatildeo (linhas 377-440) que vai buscar muita influecircncia agrave obra de Mauriacutecio demonstrando que Leatildeo natildeo estava

muito atualizado em relaccedilatildeo agraves praacuteticas militares dos Francos por exemplo Cf Stratēgikoacuten XI3 438 Vide PP VII

86

parte das expediccedilotildees de saque bizantinas com o objetivo de desgastar a capacidade guerreira

muccedilulmana a qual embora mais ativa no veratildeo continuava a fazer ofensivas no inverno439

Mas Tarso natildeo era apenas uma boa base para campanhas terrestres era tambeacutem o

porto de partida da grande parte das expediccedilotildees navais sarracenas no Mediterracircneo oriental

Natildeo obstante no Taktikaacute440 a Ciliacutecia natildeo parece ainda possuir o poder que vai ter quase meio

seacuteculo mais tarde sob Sayf ad-Daulah O autokraacutetor refere que apesar de os homens de

Tarso estarem aptos a lutar tatildeo bem em terra como no mar natildeo eram capazes de conseguir

realizar uma campanha nas duas frentes podendo os Bizantinos aproveitar-se disso para

lanccedilar um contra-ataque quase sem contestaccedilatildeo por qualquer um dos outros meios441

Na escrita desta secccedilatildeo Leatildeo tambeacutem fala de certas fraquezas que atribui aos

Sarracenos442 como a sua vulnerabilidade face agraves condiccedilotildees meteoroloacutegicas da Aacutesia

Menor443 Embora esta visatildeo seja algo estereotipada444 existem casos em que forccedilas

muccedilulmanas foram derrotadas ou se viram estorvadas por fenoacutemenos climateacutericos445 Por

outro lado o basileuacutes informa-nos que o arco era a principal arma contra eles devendo ser

usado contra os cavalos e contra as tropas menos bem protegidas destes como os Etiacuteopes ou

os restantes arqueiros446

Por fim o autor enceta uma discussatildeo das caracteriacutesticas religiosas da guerra travada

pelos Muccedilulmanos Aqui parece-nos que ele considera os seguidores dos Islatildeo como o

principal antagonista agrave sobrevivecircncia do Impeacuterio natildeo soacute pelo poder militar mas tambeacutem pelo

seu fervor religioso um facto enunciado pela comparaccedilatildeo que tece com os Persas Esta

Constitutio apresenta-se como a primeira obra bizantina a falar de trecircs caracteriacutesticas da

guerra realizada pelos muccedilulmanos nesta altura447 Baseando-se nos trecircs pilares da guerra

439 Taktikaacute XVIII579-583 440 Taktikaacute XVIII667-668 laquoPois o exeacutercito dos baacuterbaros cilicianos natildeo eacute muito numeroso uma vez que os

mesmos homens natildeo podiam realizar campanha tanto em terra como no marraquo Isto poderaacute levar a supor que

apesar de ser o principal foco de atividade beacutelica muccedilulmana a concentraccedilatildeo de esforccedilos nesta regiatildeo natildeo seria

tatildeo grande como se supocircs Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 489 441 Por exemplo se os Cilicianos optassem por um raide terrestre os Bizantinos deviam responder com um

ataque naval com a frota do theacutema do Kibirrhaiotai Se o ataque fosse por mar os Bizantinos podiam invadir a

Ciliacutecia por terra Taktikaacute XVIII662-668 Leatildeo chega ainda a propor que agrave semelhanccedila do que o pai fizera em

877 se realizasse um ataque combinado do exeacutercito e da frota contra Tarso Taktikaacute XVIII669-674 442 Como John Haldon salienta sem ser quando menciona os ldquoEtiacuteopesrdquo Leatildeo refere-se aos Sarracenos como um

todo natildeo referindo a diversidade de povos que participavam nas campanhas de saque muccedilulmanas como os

Dailamitas os Turcos ou os Curdos entre outros 443 Taktikaacute XVIII573-578 444 HALDON J (2014) ndash Opcit p 362 445 Durante a batalha de Anzen em 838 a chuva teraacute molhado e afetado os arcos turcos Por outro lado no

inverno de 666 para 667 uma forccedila bizantina teraacute reconquistado Amorion aos Aacuterabes num ataque de surpresa

Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 453 446 Taktikaacute XVIII635-646 447 Cf supra 41

87

(jihad ghazis e waqf) o autor conclui que os Aacuterabes satildeo um povo guerreiro que natildeo

contando com a sua admiraacutevel vontade de combater pelo seu Deus soacute parece lutar para

conseguir despojos448 Ora esta ganacircncia parece dar soacute mais razatildeo aos Romanos para

combaterem os Sarracenos uma vez que torna justa a sua guerra defensiva449 No conflito

contra os Aacuterabes era crucial um movimento geral da populaccedilatildeo para apoiar o exeacutercito naquilo

que fosse necessaacuterio tornando-se um fator essencial para o Impeacuterio obter a vitoacuteria450

63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta

laquoComo jaacute frequentemente dissemos eacute muito perigoso para qualquer um arriscar

uma batalha campal mesmo quando nos parece frequentemente claro que [as nossas

forccedilas] ultrapassam muito as do inimigo Os desiacutegnios da fortuna satildeo incertosraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 589-591451

A batalha natildeo era o principal foco da estrateacutegia defensiva bizantina como jaacute foi

referido e caso se travasse natildeo deveriam ser os themaacuteta a encetaacute-la sozinhos estando essa

missatildeo nas matildeos do domestikoacutes e dos corpos profissionais da capital Ainda assim haveria

sempre a possibilidade de um strategoacutes provincial ter de a travar pelo que Leatildeo dedica vaacuterias

Constitutiones452 do seu tratado agrave preparaccedilatildeo de um evento deste geacutenero e ao comando de

soldados nestas situaccedilotildees No entanto a maior parte destas parecem encontrar mais influecircncia

do que o normal no Stratēgikoacuten de Mauriacutecio com exceccedilatildeo do uacuteltimo trecho da XVIII (linhas

696-855) que parece ter tido origem na pena de Leatildeo bem como na experiecircncia dos seus

generais453 Assim esta secccedilatildeo parece ser aquela que descreve melhor a disposiccedilatildeo taacutetica da

448 Taktikaacute XVIII647-653 449 Trata-se de uma visatildeo algo depreciativa e redutora por parte do basileuacutes pois a noccedilatildeo de guerrear apenas para

obter botim mostra-se desconforme ao cariz religioso da guerra muccedilulmana No Islatildeo pelejar por mero ganho

pessoal ou por prestiacutegio era o equivalente a procurar a condenaccedilatildeo eterna HALDON J (2014) ndash Op cit p 374 450 Taktikaacute XVIII607-611 Haldon refere no entanto que os grandes problemas que provocaram as derrotas que

o impeacuterio tinha sofrido entre seacuteculo VII e o X foram a fraca lideranccedila e a pobre disciplina das tropas Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit p 373 Vaacuterias hostes romanas conseguiram agrave base de boa lideranccedila infligir

pesadas derrotas aos seus adversaacuterios como no caso de Heraacuteclio irmatildeo de Tibeacuterio II que ainda no seacuteculo VII

conduziu expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo ou de Leatildeo III que fez abortar o uacuteltimo cerco a

Constantinopla pelos Omiacuteadas e esmagou a uacuteltima grande ofensiva omiacuteada juntamente com o filho o futuro

Constantino V na batalha de Akroinos Para Heraacuteclio vide HALDON J (2001) ndash Op cit p68 Para Leatildeo III

vide HALDON J (2016) ndash Op cit pp 53-54 451 DENNIS George T (2014) ndash Op cit pp 482-483 452 Satildeo as Constitutiones XII XIII XIV e XVIII 453 HALDON J (2014) ndash Op cit p384

88

eacutepoca de Leatildeo pelo que nos vamos basear nesta ao inveacutes da Constitutio XII454 que aborda as

mesmas temaacuteticas mas vai recuperar muita informaccedilatildeo ao Stratēgikoacuten455

Antes de a batalha comeccedilar havia certos procedimentos que deveriam ser seguidos A

feacute divina mostrava-se novamente necessaacuteria tendo os estandartes de ser abenccediloados por

sacerdotes enquanto as puniccedilotildees de alguns castigos deviam ser adiadas ateacute depois da batalha

ou afastar-se-iam os infratores das restantes tropas As horas de refeiccedilotildees e a alimentaccedilatildeo dos

soldados deviam ser bem planeadas para que os militares natildeo se encontrassem em jejum

quando o combate comeccedilasse456 tendo de se proceder da mesma maneira no que dizia

respeito agraves bebidas das montadas457

Chegado o momento da batalha o basileuacutes utiliza como exemplo um exeacutercito de 4000

homens458 para explicitar a forma como este devia ser disposto para a batalha Em primeiro

lugar o strategoacutes deveria mobilizar 1500 homens para a linha da frente a proacutemachos

divididos em trecircs divisotildees estando cada divisatildeo composta por cinquenta decarquias com dez

homens cada organizadas como mencionaacutemos anteriormente459 e comandadas por um

turmarca Depois disto dever-se-ia formar uma linha de apoio composta por quatro divisotildees

separadas por um laquotiro de flecharaquo de distacircncia cada uma com 250 homens perfazendo 1000

soldados no total Cada um dos espaccedilos nesta formaccedilatildeo deveria estar ocupado por cavaleiros

para dar a impressatildeo de a segunda linha ser muito extensa estando destacados 100 guerreiros

para cada uma das interrupccedilotildees Por fim em formaccedilatildeo regular obrigatoacuteria encontramos as

fileiras da retaguarda divididas em duas alas esquerda e direita com 250 homens cada (o que

resulta em 500 soldados no total)

Os restantes efetivos aproximadamente 700 deviam ocupar outras posiccedilotildees no campo

de batalha Dois bandaacute de 200 homens cada responsaacuteveis por fazer emboscadas deviam ser

estacionados a alguma distacircncia das linhas para emboscar o inimigo a partir de lugares que

permitissem aos Bizantinos esconder-se Na linha de frente deveriam existir dois batalhotildees

avanccedilados de cada uma das alas que funcionariam como flanqueadores (se estivessem no

454 Natildeo vamos poreacutem abster-nos de referir esta Constitutio bem como a influecircncia da obra de Mauriacutecio nela 455 Seraacute uma paraacutefrase quase integral dos livros II III e VII de Mauriacutecio Cf HALDON J (2014) ndash Op cit p

259 456 Taktikaacute XIII43-46 457 Taktikaacute XIII54-57 458 O nuacutemero meacutedio de homens que Leatildeo aconselha para um exeacutercito de um theacutema pelo que nos poderaacute levar a

supor (ateacute pela exatidatildeo dos nuacutemeros) que este era realmente o principal modelo taacutetico usado pelas forccedilas

ldquotemaacuteticasrdquo caso combatessem sozinhas Taktikaacute XVIII841-843 Cf Taktikaacute XII127-212 e Stratēgikoacuten II2-5 459 Cf supra 51

89

lado direito) ou guarda-flancos (se estivessem no esquerdo) cada um tendo 100 soldados460

Os uacuteltimos 100 cavaleiros estariam sob o comando pessoal do strategoacutes ou do oficial maacuteximo

naquela batalha Este grupo deveria servir com reserva pronta a auxiliar qualquer uma das

divisotildees caso fosse necessaacuterio estando para isso localizado na divisatildeo central da linha da

frente ou noutra localizaccedilatildeo que permitisse ao general aferir o estado da batalha e de cada um

dos setores do dispositivo taacutetico461

Como eacute que este dispositivo funcionava em batalha A forma parece basear-se num

jogo de ldquobate-e-fogerdquo A proacutemachos era divida em dois tipos de soldados os kouacutersores e os

ekdiacutekoi numa proporccedilatildeo de um para dois Enquanto os kouacutersores atacavam o inimigo os

defensores estavam encarregados de os apoiar caso estes precisassem de retirar bem como de

evitar possiacuteveis envolvimentos Caso a primeira linha tivesse de recuar os homens nos

intervalos da segunda linha recuavam para a retaguarda para permitir a passagem dos

cavaleiros em debandada e possibilitar-lhes que se reorganizassem em seguranccedila antes de

voltarem agrave refrega enquanto evitavam que possiacuteveis desertores abandonassem o campo de

batalha Estes homens mantinham-se depois na retaguarda ateacute ser necessaacuterio suportar a

segunda linha Enquanto isso os flanqueadores e os guarda-flancos deviam manter a pressatildeo

sobre o exeacutercito adversaacuterio bem como os grupos de emboscada

Relativamente a combates com forccedilas numericamente superiores o basileuacutes aconselha

o strategoacutes a convocar alguns dos seus colegas para que com o triplo dos homens pudessem

fazer frente agravequela ameaccedila462 Leatildeo natildeo menciona quem seria o comandante deste conjunto de

themaacuteta mas era provaacutevel que fosse o comandante local por conhecer melhor o terreno ou

entatildeo o strategoacutes mais experiente mas isto satildeo meras suposiccedilotildees da nossa parte463 Por outro

lado se a hoste adversaacuteria fosse mais pequena o basileuacutes aconselhava a que se praticasse uma

manobra de envolvimento que poderia ou natildeo envolver as trecircs linhas464

460 Mais tarde Leatildeo refere que estes homens deviam atuar em conjunto com os 4000 homens que jaacute mencionara

fazendo supor que estes natildeo estariam presentes entre o conjunto da forccedila recrutada Isto natildeo faz sentido porque

sem estes homens a conta natildeo chegaraacute aos quatro mil homens Taktikaacute XVIII765-769 461 A existecircncia de um corpo de reserva mostrou-se essencial para a vitoacuteria bizantina em certas batalhas No

uacuteltimo grande confronto entre Russos e Bizantinos agraves portas de Dorostolon em 971 a vitoacuteria bizantina esteve

presa por um fio ateacute Joatildeo II Zimisces (969-976) o co-imperador de entatildeo carregar sobre o centro da linha russo

com os seus catafractaacuterios e quebrar as formaccedilotildees noacuterdicas A carga do basileuacutes juntamente com as condiccedilotildees

atmosfeacutericas que se fizeram sentir entatildeo permitiu agraves linhas romanas empurrar o centro adversaacuterio enquanto a

cavalaria pesada sob Bardas Sclero no flanco direito esmagava os Russos com uma manobra de envolvimento

Vide Leatildeo o Diaacutecono A Histoacuteria VIII e HALDON J (2001) ndash Op cit p 104 462 Taktikaacute XVIII808-819 463 Exemplos de encontros onde mais do que uma forccedila de um themaacuteta se reuniram para confrontar o inimigo

podem ser as batalhas de Lalacatildeo e Bathys Ryax apesar de a uacuteltima se tratar mais de um ardil bizantino que

provocou uma debandada no seio das forccedilas paulicianas a que se seguiu o massacre na perseguiccedilatildeo 464 Taktikaacute XVIII819-829

90

A principal vantagem desta formaccedilatildeo era a de permitir manter a pressatildeo ou uma defesa

soacutelida frente a exeacutercitos das mais variadas dimensotildees pois havia sempre tropas frescas

prontas para auxiliar as restantes caso estas necessitassem de retirar Para aleacutem disso nas

palavras de Leatildeo e de Mauriacutecio organizar um exeacutercito numa soacute linha gerava muitos

problemas a niacutevel de comando465 Por outro lado este modelo organizativo permitia que

fossem realizadas muitas mais movimentaccedilotildees taacuteticas do que aquelas que seria possiacutevel

concretizar se o exeacutercito formasse em apenas uma linha enquanto a extensatildeo de tal fila

provocaria problemas na coesatildeo das fileiras em caso de o combate se dar em terreno difiacutecil466

Outras desvantagens parecem ser o facto de uma grande linha permitir a fuga de certos

homens sem que o comando se aperceba enquanto por outro lado eventuais perseguiccedilotildees a

inimigos em fuga acabariam em desastre caso os soldados bizantinos fossem emboscados

sem apoio de qualquer outra forccedila de apoio467

465 Stratēgikoacuten II1 466Taktikaacute XII31-46 467 Taktikaacute XII51-65

91

Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas

Apesar de Leatildeo dedicar vaacuterios capiacutetulos agraves questotildees relacionadas com a batalha

campal eacute importante voltar salientar que esta natildeo era uma praacutetica muito apreciada pelos

Bizantinos porque poderia acarretar graves consequecircncias e muitas baixas Para Leatildeo VI o

preferiacutevel era combater por meio de assaltos a fortificaccedilotildees ou por estratagemas por outro

lado e como jaacute salientaacutemos o mar era um meio crucial para combater os muccedilulmanos O

nosso proacuteximo capiacutetulo abordaraacute estas questotildees que entendemos serem mais pertinentes para

a questatildeo da guerra travada pelos thematikoiacute do que propriamente as batalhas campais

71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade

laquoA guerra de cerco exige um general que seja corajoso e perspicaz que tenha

conhecimento militar senso comum e que consiga preparar maacutequinas de guerra Ele

deve zelar pela seguranccedila ao acampar em redor de uma cidade ou de uma fortaleza ou

fortificaccedilatildeo e deve dedicar muita atenccedilatildeo a essa seguranccedilaraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XV linhas 9-12468

A poliorceacutetica (isto eacute a disciplina militar que se ocupa do cerco de cidades) eacute da

maacutexima importacircncia para Bizacircncio e representava uma das teacutecnicas beacutelicas mais empregues

por este impeacuterio Eacute inconcebiacutevel imaginar este Estado sem o domiacutenio desta vertente da arte de

guerra tendo em conta os muacuteltiplos inimigos que enfrentou nas mais variadas frentes o que

lhe fez tirar partido da falta de experiecircncia da maior parte dos seus vizinhos nessa

modalidade Apesar de Leatildeo VI natildeo apresentar muitos conteuacutedos originais neste aspeto da sua

obra tomaacutemos a iniciativa de fazer uma pequena resenha do que ele escreveu neste

subcapiacutetulo ndash pelas razotildees acima enunciadas ndash dividindo-o em trecircs aspetos principais o

assalto a uma fortaleza a defesa de um recinto fortificado e a construccedilatildeo de postos-de-vigia

Relativamente ao asseacutedio de uma fortificaccedilatildeo podemos comeccedilar por verificar como eacute

que um strategoacutes tomava uma cidade inimiga alcanccedilando a vitoacuteria numa operaccedilatildeo desta

natureza Tal podia ser feito atraveacutes de um bloqueio rigoroso de forma a obrigar a guarniccedilatildeo

a render-se caso natildeo houvesse tempo ou mantimentos para tal empreendimento poder-se-ia

tentar um assalto agraves muralhas com recurso a maacutequinas de cerco ou entatildeo o general recorria a

ardis e a estratagemas para enganar os defensores e conseguir tomar a cidade Por outro lado

468 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 350-351

92

poder-se-ia fazer uso dos engenhos de cerco para demolir o moral da guarniccedilatildeo e dos

habitantes forccedilando-os agrave rendiccedilatildeo podendo igualmente consumar-se a tomada desse siacutetio

atraveacutes da traiccedilatildeo por algueacutem de dentro do periacutemetro defensivo Por fim se o objetivo fosse

apenas o botim havia ainda a alternativa de os sitiados pagarem um tributo469 podendo a

hoste retirar-se se tal bastasse para saciar os desejos desta forccedila militar

Tendo em conta o acima referido quais eram os procedimentos para a tomada de um

siacutetio amuralhado A primeira regra de acordo com Leatildeo VI seria enviar cavaleiros agrave frente

do exeacutercito de forma a capturar todos aqueles que pudessem avisar com antecedecircncia a

povoaccedilatildeo da aproximaccedilatildeo da hoste bizantina470 A isto segue-se a construccedilatildeo de um

acampamento fortificado em torno do objetivo (uma circunvalaccedilatildeo) um procedimento fulcral

para garantir o bloqueio da cidade e para proteger a hoste sitiadora O comandante bizantino

de seguida deve comeccedilar a distribuir logo tarefas espalhar batedores pelo terreno circundante

para o avisarem de ameaccedilas quer de dentro da cidade quer de fora colocar homens a montar

armas de cerco e estacionar soldados nas entradas do siacutetio sujeito ao assalto

O general deve entatildeo ponderar as suas opccedilotildees a cidade tem mantimentos suficientes

para aguentar o cerco O exeacutercito bizantino possui provisotildees necessaacuterias para conseguir

bloquear com sucesso a cidade E quanto agraves fortificaccedilotildees e agrave guarniccedilatildeo seratildeo suficientemente

fortes para aguentar um assalto Apesar de todas estas questotildees para os Bizantinos era

preferiacutevel capturar a praccedila pelo bloqueio471 ou obrigaacute-la a render-se de outras formas visando

o menor nuacutemero de baixas possiacutevel

A grande arma para se atingir este objetivo eacute o medo Leatildeo VI aconselha o general a

tirar proveito da noite para bombardear a cidade alegando que isto poderaacute criar uma confusatildeo

algo paranoica por entre os habitantes facilitando a sua subjugaccedilatildeo472 Por outro lado essa

sensaccedilatildeo de pacircnico e talvez de cansaccedilo apoacutes algumas noites atrevemo-nos a dizer iria tornaacute-

los mais descuidados nas palavras do autokraacutetor pelo que seria possiacutevel enganaacute-los fazendo

subir laquodois homensraquo agrave muralha De acordo com o basileuacutes com algum exagero os indiviacuteduos

469 Como no caso do cerco aacuterabe de Tessaloacutenica em que a cidade foi libertada (aparentemente) depois do

pagamento de um avultado tributo Cf supra 22 470 Taktikaacute XV229-233 Onas XXXIX Stratēgikoacuten X 471 Uma das teacutecnicas que visava este objetivo era em caso da captura de cidadatildeos inimigos nas proximidades da

fortaleza aprisionar todos os que pudessem participar na defesa do local e enviar para o siacutetio assediado todos os

outros (mulheres crianccedilas e idosos) de forma a aumentar a velocidade com que os mantimentos eram comidos

Taktikaacute XV132-138 Onas XLI 472 A conquista de Antioquia em 969 por forccedilas leais a Niceacuteforo Focas parece ter-se dado em circunstacircncias

proacuteximas destas Um pequeno grupo de homens trepou as muralhas durante a noite matou alguns vigias e

incendiou vaacuterios setores da cidade espalhando o pacircnico pela cidade Este grupo teraacute depois aberto os portotildees o

que permitiu aos Romanos entrar A populaccedilatildeo ter-se-aacute entatildeo rendido e os fogos foram apagados pelas forccedilas

bizantinas Vide A Histoacuteria de Leatildeo o Diaacutecono V

93

responsaacuteveis pelas muralhas pensaratildeo que eacute o exeacutercito inimigo que estaacute a subir pelo que de

imediato fugiratildeo deixando as ameias agraves matildeos do invasor473 Em alternativa o strategoacutes

deveria exibir (suficientemente longe das muralhas) alguns dos seus soldados com cota de

malha e armadura completa de forma a intimidar o adversaacuterio474 Por fim na altura de impor

os termos de rendiccedilatildeo estes deviam ser modestos e sensatos ndash como a entrega das armas e das

montadas por exemplo ndash de forma a aplacar a populaccedilatildeo da cidade mas tambeacutem para lhe

minar a vontade de combater475 Quando o empreendimento tem sucesso o imperador

aconselha o general a ser misericordioso gentil ateacute para com a populaccedilatildeo de maneira a

suprimir os seus desejos de resistecircncia476 Para aleacutem disso demonstrava a outras cidades que

pudessem ser cercadas no futuro que os novos suacutebditos do impeacuterio natildeo seriam oprimidos477

O strategoacutes soacute deveria encetar um assalto agraves muralhas caso o bloqueio natildeo fosse viaacutevel

por falta de mantimentos da parte da hoste atacante tirava entatildeo proveito das maacutequinas de

guerra ao seu dispor tais como ariacuteetes escadas de assalto tartarugas e outros engenhos478 A

persistecircncia no ataque (com ataques interminaacuteveis por turnos contra a cidade para natildeo cansar

os soldados479) e a conjugaccedilatildeo dos meios de assalto480 eram os dois principais fatores que o

imperador aconselhava para o sucesso no asseacutedio Apesar de todo este aparato beacutelico

Niceacuteforo Ouranos considera um seacuteculo depois que o melhor meacutetodo para tomar uma

fortaleza por meio de um assalto satildeo os trabalhos de escavaccedilatildeo sob as fundaccedilotildees da muralha

por meio de laisacirci481 Natildeo obstante Leatildeo VI natildeo mencionar estes dispositivos parece que

473 Taktikaacute XV27-35 Onas XLI 474 Os que natildeo cumprissem estes requisitos podiam usar o almofre da armadura de outro soldado e apresentar-se

de armas completas Para aleacutem disso o acampamento devia estar suficientemente longe da cidade para que a

maior parte dos apetrechos neste parecessem soldados ao inimigo assediado e para natildeo impor aos soldados nas

suas horas de descanso o stressante som dos combates (gritos e terccedilar de armas) Taktikaacute XV56-57 e 139-143

Stratēgikoacuten X1 475 Caso contraacuterio se os termos forem muito rigorosos os habitantes poderiam entender que mais valeria resistir

do que renderem-se Taktikaacute XV64-66 476 Cf supra 51 477 Taktikaacute XV210-216 e 238-249 Onas XXXV XXXVIII e XLII 478 Aqui possivelmente devem-se incluir os engenhos de artilharia neurobaliacutestica possivelmente sifotildees manuais

de fogo grego (que natildeo deveriam disparar material flamejante no entanto) e as laisacirci das quais falaremos a

seguir Quanto aos sifotildees manuais vide Taktikaacute XIX356-361 Parangelmata Poliorcetica XLIX (de aqui em

diante citada por Polio) e HALDON John et alli (2006) Greek fire revisited recent and current research In

JEFFREYS Elizabeth Byzantine Style Religion and Civilization ndash In Honour of Steven Runciman Cambridge

Cambridge University Press pp 295-296 e 314-315 479 Que de acordo com Leatildeo seria o suficiente para tomar um recinto fortificado pequeno Taktikaacute XV149-153

Stratēgikoacuten X1 480 Por exemplo incendiar casas por meio de flechas e de projeacuteteis flamejantes ou colocar escadas para trepar as

muralhas enquanto os habitantes estatildeo ocupados a apagar os fogos 481 Uma estrutura amoviacutevel feita de ramos entrelaccedilados e com uma cobertura iacutengreme de construccedilatildeo simples e

faacutecil transporte com vaacuterias entradas Servia para proteger os homens que as transportavam durante a

aproximaccedilatildeo agraves muralhas ou para garantir o seu descanso McGeer diz que elas tambeacutem poderiam ser utilizadas

pelos sapadores durante os seus trabalhos para os proteger dos projeacuteteis vindos das muralhas Vide MCGEER

94

estes teratildeo sido utilizados pelos Buacutelgaros para evitar que os Magiares atravessassem o

Danuacutebio em 895 pelo que natildeo seraacute de excluir a hipoacutetese de os Bizantinos os conhecerem e

utilizarem na eacutepoca do Taktikaacute482

As reminiscecircncias de Ouranos afiguram-se interessantes porque podem refletir-se na

eacutepoca de Leatildeo VI Ao ter em conta que o principal objetivo da guerra neste periacuteodo era o

saque e que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam de alguma mobilidade para a praticar eacute

pouco provaacutevel que se dessem ao trabalho de trazer maquinaria pesada para cercar

fortalezas483 Para tal seria mais viaacutevel a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de cerco mais raacutepidas e baratas

como o bloqueio484 as minas os ardis e as laisacirci em detrimento da utilizaccedilatildeo de engenhos de

cerco que necessitassem de vir de longe e que sem duacutevida tornariam mais lenta a marcha de

hostes que precisavam de ser raacutepidas por natureza Uma possiacutevel exceccedilatildeo para isso poderia

acontecer caso o exeacutercito estivesse numa campanha para conquistar um baluarte ou cidade em

particular no entanto tal seria uma responsabilidade mais facilmente atribuiacuteda a uma hoste

expedicionaacuteria de um basileuacutes ou de um domestikoacutes do que a um exeacutercito provincial485

E se o strategoacutes estivesse do outro lado da muralha o que deveria fazer Em primeiro

lugar preparar-se atempadamente para o cerco armazenar provisotildees486 evacuar quem natildeo

fosse estritamente necessaacuterio para a defesa montar engenhos de cerco nos topos das torres e

planear muito bem a distribuiccedilatildeo de homens a fim de garantir que natildeo houvesse zonas por

defender487 Para aleacutem disso teria de colocar guardas a patrulhar (em especial durante a noite)

bem como a proteger as provisotildees enquanto os portotildees deviam estar sob a proteccedilatildeo de

homens de confianccedila488

Quanto a formas de defender as muralhas489 Leatildeo aconselha a que sejam pendurados

troncos grandes ou rochas para esmagar os homens e as escadas do inimigo caso ensaiem

Eric (1995) Tradition and Reality in the Taktika of Nikephoros Ouranos In Dumbarton Oaks Papers 45 p

135 482 Vide MCGEER E (1995) ndash Op cit p137 483 Tome-se o caso da expediccedilatildeo de Basiacutelio I a Tephrike e a Melitene em 871 infrutiacutefera por causa das

respetivas defesas e da incapacidade de as bloquear devido agrave enorme quantidade de provisotildees que possuiacuteam 484 Se houvesse provisotildees suficientes e tempo para tal 485 Tome-se como exemplo a expediccedilatildeo a Creta em 949 que estaria equipada com peccedilas para maacutequinas de

cerco que seriam montadas na altura de tomar a capital Chandax Vide Constantino VII basileuacutes ldquoThe

expedition which took place against the island of Crete and the equipping of the naval and cavalry forces in the

seventh indiction in the time of Constantine and Romanos purple-born and faithful emperors in Christrdquo Texto

traduccedilatildeo e comentaacuterio HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century Military Administration ndash

Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies Travaux et Memoacuteires (13) pp 224-225 486 E impor raccedilotildees diaacuterias caso natildeo haja em quantidade suficiente em especial de aacutegua Taktikaacute XV324-329 487 E que houvesse uma reserva pronta a atuar onde fosse preciso 488 Taktikaacute XV306 489 E caso natildeo fosse possiacutevel derrotar o inimigo antes de este assediar a fortificaccedilatildeo Taktikaacute XV250-255 Estas

seratildeo palavras originais de Leatildeo de acordo com John Haldon que indica o caso da derrota de Teoacutefilo (829-842)

95

uma escalada dos muros Se o inimigo usasse torres-de-assalto os defensores deveriam

utilizar misseis incendiaacuterios ou recorrer aos projeacuteteis das maacutequinas de lanccedilamento de pedras

ou agrave construccedilatildeo de torres nas ameias maiores do que as torres do adversaacuterio490 As surtidas

eram proibidas por mais valorosos que os militares e os cidadatildeos fossem491 a natildeo ser em

casos de extrema necessidade para destruir as armas de cerco inimigas492 Para aleacutem destes

conselhos o basileuacutes recomendava ao strategoacutes que pensasse ele proacuteprio em formas de

contrariar os ataques e estratagemas do inimigo493 ou ateacute em expedientes para enganar o

adversaacuterio enquanto mantinha o moral da populaccedilatildeo alto ateacute o cerco terminar494

Por fim em relaccedilatildeo agrave poliorceacutetica Leatildeo dedica algumas palavras agrave raacutepida construccedilatildeo

de fortalezas fronteiriccedilas495 Estas fortificaccedilotildees496 tanto nos Balcatildes como especialmente na

Aacutesia Menor tornam-se importantes no contexto da eacutepoca pelas seguintes razotildees

laquo(hellip) Primeiro para observar a aproximaccedilatildeo de um inimigo segundo para receber

desertores do inimigo terceiro para conter quaisquer fugitivos do nosso proacuteprio lado A quarta

(razatildeo) eacute para facilitar a preparaccedilatildeo de raides contra territoacuterios inimigos perifeacutericos Estes satildeo

empreendidos natildeo tanto para saquear mas mais para descobrir o que o inimigo estaacute a fazer e

que planos urde contra noacutesraquo497

Para este empreendimento eacute uma vez mais necessaacuterio averiguar de certas

necessidades haacute materiais de construccedilatildeo na zona onde se pretende construir o recinto E

quanto agrave aacutegua existe ou eacute necessaacuterio procuraacute-la ou trazecirc-la de outro siacutetio Seguem-se os

conselhos para a edificaccedilatildeo enviar artesatildeos (canteiros carpinteiros entre outros)

acompanhados por toda a logiacutestica de que precisassem e uma escolta para comeccedilarem a

construir os alicerces das fortificaccedilotildees enquanto estavam protegidos por um karagos Novas

na batalha de Anzen (838) numa tentativa de destruir uma de duas colunas aacuterabes que se dirigiam agrave cidade

como um exemplo praacutetico de um falhanccedilo desta estrateacutegia HALDON J (2014) ndash Op cit p301 490 Taktikaacute XV273-285 Stratēgikoacuten X3 491 Karlin-Hayter considera o excerto que diz isto como uma reflexatildeo da mentalidade estrateacutegica bizantina de

poupar soldados tambeacutem inserida no pensamento militar do Saacutebio ldquo(hellip) Os homens eram preciosos em

particular aqueles mais corajosos e Leatildeo estava preocupado em economizaacute-los A tarefa em matildeos consistia em

defender o impeacuterio e ele tinha pouca paciecircncia para heroiacutesmosrdquo Vide KARLIN-HAYTER ndash Op cit p19 492 A defesa da fortificaccedilatildeo devia ser feita nas muralhas quase que exclusivamente Taktikaacute XV306-316 493 Taktikaacute XV337-342 Paraacutefrase de Onas XL 494 Veja-se o caso do cerco aacuterabe a Constantinopla em 717718 quando Leatildeo III a fim de preparar as defesas da

cidade informou um dos comandantes aacuterabes de que a cidade de Amorion seria entregue aos invasores

Enquanto as forccedilas aacuterabes divergiam no seu percurso para a capital da divisatildeo dos Anatoacutelicos ele conseguiu

guarnecer eficazmente aquela cidade obrigando depois aquela hoste a retirar O resultado deste estratagema

para Constantinopla foi que ao inveacutes de ser cercada por dois exeacutercitos aacuterabes foi assediada apenas por uma

hoste Tal foi uma das razotildees para a vitoacuteria dos defensores em 718 Vide HALDON J (2016a) ndash Op cit p53 495 Esta secccedilatildeo (Taktikaacute XV343-402) eacute quase uma paraacutefrase de Mauriacutecio Strategikon X4 496 John Haldon refere que estas fortalezas tendo em conta a sua localizaccedilatildeo na fronteira podem muito bem ser

os phouacuteria de Siriano que tinham funccedilotildees de vigia e natildeo tanto de proteccedilatildeo do territoacuterio Vide HALDON J

(2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 497 Siriano magister in Sir Strat IX

96

forccedilas seguidas de um acampamento fortificado dever-se-iam seguir a estas assim que as

presenccedilas inimigas locais tivessem sido afastadas pela manha bizantina498 Findos os

primeiros trabalhos dever-se-iam comeccedilar a erguer as primeiras fortificaccedilotildees per se

especialmente com a utilizaccedilatildeo de argamassa para as fortalecer A aacutegua a ser usada pela

guarniccedilatildeo tambeacutem era de extrema importacircncia inicialmente dever-se-ia armazenar a aacutegua em

barris ou em jarros de ceracircmica499 juntamente com pedras do rio limpas para a preservar ateacute

ao inverno De seguida iniciava-se a construccedilatildeo de cisternas para preservar a aacutegua da chuva

para a futura guarniccedilatildeo500

72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval

A Constitutio XIX do Taktikaacute dedica-se quase que por exclusivo a este tema e chegou

a ser considerada como um escrito distinto do manual de Leatildeo por se encontrar em separado

deste no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 501 Esta secccedilatildeo eacute tambeacutem uma das

primeiras a referirem a guerra naval desde o seacuteculo V e o tratado de Vegeacutecio502 algo que se

enquadra muito bem no paradigma da eacutepoca e do reinado de Leatildeo como jaacute referimos503

O manual militar discrimina vaacuterios tipos de droacutemōnes ainda que muito

subsidariamente ao longo das paacuteginas referentes a esta disciplina evocando dois em especial

uns mais pequenos com capacidade para 100 remadores e os maiores com capacidade para

200 homens que deviam ter dimensatildeo suficiente para manter a velocidade e a resistecircncia O

tratado menciona a existecircncia de galeacutes (ou monorremes) que eram mais pequenas e velozes do

que os outros droacutemōnes e eram bastante uacuteteis em taacuteticas que necessitassem de velocidade ou

de alguma discriccedilatildeo504 Ao serviccedilo do strategoacutes naval505 deviam existir ainda embarcaccedilotildees

498 Esta manha eacute constituiacuteda por um rumor de que a cidade inimiga mais proacutexima seria atacada seguido do envio

de uma forccedila fantoche para corroborar o rumor Enquanto o exeacutercito inimigo se dirige a este grupo de soldados

os trabalhos de construccedilatildeo devem prosseguir In Taktikaacute XV350-362 499 Dever-se ia colocar uma pequena bacia junto dos barris para que gota-a-gota a aacutegua escoasse para esta e

assim se mantivesse em movimento e natildeo estagnasse Assim que a bacia enchesse despejava-se novamente a

aacutegua no recipiente maior 500 Sob a forma como construir uma cisterna vide Taktikaacute XV 394-402 Stratēgikoacuten X4 501 Cf supra 43 502 laquoConquanto natildeo encontraacutemos nenhuma regulaccedilatildeo acerca disto (guerra naval) nos velhos tratados taacuteticos

ainda assim a partir do que lemos aqui e ali e do que aprendemos da experiecircncia ordinaacuteria dos nossos

comandantes da frota no tempo presente dos seus sucessos bem como dos seus falhanccedilos selecionaacutemos alguns

exemplos os suficientes para fazer esta apresentaccedilatildeo agravequeles que desejam combater no mar no que antigamente

se chamavam trirremes mas que agora se chamam droacutemōnesraquo Taktikaacute XIX3-8 Haldon acredita que por laquoaqui

e aliraquo o autor se refere ao Naumachiacuteai de Siriano Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 390 503 Cf supra 32 504 Em batalha eram uacuteteis para emboscadas para flanquear e como ldquoiscordquo para fugas simuladas Em campanha

eram usados como batedores Taktikaacute XIX66-68 Para utilizaccedilatildeo de galeacutes como batedores mariacutetimos no

contexto da expediccedilatildeo de 911 veja-se o Anexo IX a)

97

destinadas especificamente para o transporte de cavalos506 mantimentos e equipamento de

reserva que serviriam como trem-de-apoio naval507 A uacuteltima embarcaccedilatildeo mencionada eacute o

pamphylos que no contexto do Taktikaacute eacute o droacutemōn pessoal do strategoacutes508 tendo por isso de

ser superior aos outros em todos os aspetos incluindo a tripulaccedilatildeo que devia ser escolhida ao

pormenor pelo oficial superior509 Por sua vez esta tendecircncia devia ser seguida pelos que

seguiam o strategoacutes na linha de comando510

Dentro desta Constitutio eacute possiacutevel ainda aferir de certo modo a estrutura de um

droacutemōn na proa estariam os sifotildees de laquofogo greguecircsraquo cujos operadores estariam protegidos

dos projeacuteteis inimigos dentro de uma cabina de madeira511 Por cima dessa cabina existia uma

plataforma que servia para proteger a frente da embarcaccedilatildeo em caso de abordagem ou para

disparar projeacuteteis contra o inimigo512 O laquocasteloraquo nas embarcaccedilotildees maiores como jaacute foi

referido encontrava-se entre o mastro mais alto da frente e o segundo do meio Cada droacutemōn

possuiacutea duas filas de remadores uma sob o conveacutes513 e a outra sobre este Por fim eacute indicada

a presenccedila de uma cabina para o capitatildeo da embarcaccedilatildeo o keacutentarcos na popa514

Neste capiacutetulo procede-se igualmente agrave enumeraccedilatildeo de vaacuterias peccedilas de equipamento

que precisariam de estar em cada embarcaccedilatildeo ferramentas materiais suplentes para

reparaccedilotildees sifotildees515 (que deveriam estar na proa do navio) para o disparo do chamado laquofogo

greguecircsraquo laquotorresraquo para os navios maiores516 e gruas para virar as naves adversaacuterias517 Podiam

ainda possuir uma pequena balista na proa chamada toxobaliacutestrai que disparava projeacuteteis

505 Ao contraacuterio das restantes Constitutiones os destinataacuterios desta (como esperado) satildeo os strateacutegoi dos themaacuteta

mariacutetimos ou ateacute possivelmente droungaacuterios totilden ploiumlmon 506 Pryor e Jeffreys referem que a tipologia da embarcaccedilatildeo para transportar montadas dependia do tipo de missatildeo

a que a frota estivesse destinada Caso o objetivo fosse transportar um exeacutercito de um porto para outro dar-se-ia

preferecircncia a navios maiores por possuiacuterem espaccedilo para mais cavalos Se o objetivo fosse um desembarque

anfiacutebio entatildeo era mais apropriado usar galeacutes que apesar de terem menos tonelagem conseguiam atracar na praia

sem correr o risco de naufragar PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 307 507 Taktikaacute XIX66-68 508 Ou droungaacuterios caso fosse um almirante da frota imperial 509 Taktikaacute XIX247-252 510 Taktikaacute XIX253-255 Naumachiacuteai de Siriano 9 (doravante citado por Sir Naum) 511 HALDON J (2014) ndash Op cit p 397 512 Taktikaacute XIX34-37 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 203 513 Apesar de Leatildeo natildeo mencionar se o droacutemōn tinha um conveacutes inteiro esta frase (laquoQue cada droacutemōn seja de

grande comprimento e tamanho apropriado com duas filas de remadores como satildeo chamadas uma por baixo e

outra por cimaraquo) leva Pryor e Jeffreys a concluir que tal deveria ser o caso Taktikaacute XIV45-46 PRYOR JH e

JEFFREYS EM ndash Op cit p 232 514 Taktikaacute XIX56-60 O keacutentarcos tambeacutem se podia chamar naacuteuarchos HALDON J (2014) ndash Op cit p398 515 Apesar de a conjuntura dizer que seria apenas um havia casos onde parecem existir mais do que um em

certas embarcaccedilotildees como na expediccedilatildeo a Creta em 949 Vide HALDON J (2000) ndash Op cit pp 278-281 516 Estas torres serviriam de plataforma de lanccedilamento de projeacuteteis Seriam constituiacutedas por duas plataformas

fortificadas e estariam localizadas entre o maior masto da frente e o segundo masto a meio do navio Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit pp396-397 A traduccedilatildeo de Dennis (feita a partir de uma expressatildeo corrompida

do texto grego) eacute ldquoa meio do masto principalrdquo algo nada praacutetico e que acabaria com o derrubar do ldquocastelordquo em

caso de receber um impacto forte Taktikaacute XIX38-39 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 230 517 Taktikaacute XIX369-383

98

chamados de laquomoscasraquo ou laquoratosraquo Cada droacutemōn tinha que ter tambeacutem um conjunto de outras

armas tais como estrepes para serem lanccediladas para os conveses inimigos potes com laquocal

vivaraquo jarros recheados de laquofogo greguecircsraquo e apesar de isso pouco aceite pelos historiadores

contemporacircneos Leatildeo sugere (ele proacuteprio de forma ambiacutegua) que se poderiam utilizar

animais venenosos contra as naves inimigas518

Relativamente agrave tripulaccedilatildeo de cada droacutemōn esta dependeria do tamanho de

embarcaccedilatildeo De acordo com o Taktikaacute os navios maiores teriam cerca de 200 remadores

enquanto os medianos teriam cerca de 100 Para aleacutem destes efetivos de tropa mariacutetima havia

ainda um pequeno grupo de oficiais um porta-estandarte519 dois timoneiros na popa520 o

sifonaacutetor isto eacute o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de laquofogo greguecircsraquo e outro pela acircncora

ambos na proa e por fim o keacutentarcos que capitaneava a partir da sua cabina na popa

O que Leatildeo natildeo refere no entanto eacute a presenccedila de marinheiros e de outros indiviacuteduos

experientes em navegaccedilatildeo entre a tripulaccedilatildeo521 atribuindo a responsabilidade desses

conhecimentos unicamente ao comandante da forccedila naval522 De acordo com a traduccedilatildeo de

Dennis para aleacutem destes oficiais seguiria ainda a bordo um carpinteiro523 No entanto isto

apresenta-se como o resultado da omissatildeo de uma parte do texto pelo editor querendo Leatildeo

informar que o carpinteiro seria um dos remadores e natildeo algueacutem destacado para isso524

Quanto agrave tripulaccedilatildeo devia toda ela envergar uma armadura todos os que se pudessem

equipar agrave maneira catafractaacuteria (com cota de malha ou klibaacutenion soacute agrave frente ou tambeacutem atraacutes

caso possuiacutesse meios financeiros para tal) deveriam fazecirc-lo os que estavam na proa ou onde o

combate decorresse mais ferozmente deviam ter elmos e grevas de ferro Todos os outros

deviam vestir a neurikaacute uma sobreveste com duas camadas de couro Quanto agraves armas

deviam ser bastante variadas arco e flecha dardos525 escudos meacutenaula pedras para

arremessar526 e algo a que Leatildeo chama laquosifatildeo manualraquo ou cheirosiacutefona que devia ser

disparado ou atirado por detraacutes de uma muralha de escudos de ferro527 O basileuacutes refere ainda

alguns exerciacutecios de treino tanto para os soldados como para a movimentaccedilatildeo de droacutemōnes

518 Taktikaacute XIX344-347 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 403 519 Que possivelmente seria tambeacutem responsaacutevel pelos sinais com as bandeiras e por transmitir as ordens do

keacutentarcos ao resto da tripulaccedilatildeo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 398 520 Tambeacutem chamados de protokaraacuteboi Idem Ibidem p398 521 Algo que eacute referido no Naumachiacuteai de Siriano magister por exemplo Sir Naum 5 522 Taktikaacute XIX9-15 Cf Sir Naum 5 523 Taktikaacute XIX30-31 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp506-507 524 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 396-397 Para traduccedilotildees corretas vide COSENTINO S (2004) ndash Op cit

p293 e PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 487 525 Estes dois em especial satildeo aconselhados aos marinheiros dos navios de apoio para se poderem defender em

caso de necessidade Taktikaacute XIX78-84 Cf Strategikoacuten XII(B)21 526 Para a importacircncia deste tipo de projeacutetil vide Taktikaacute XIX96-107 527 TaktikaacuteXIX 357-361

99

em batalha com o objetivo de exercitar os marinheiros para todas as situaccedilotildees em caso de

combate mas tambeacutem para os habituar ao que ele chama de laquoturbulecircncia da guerraraquo528 Soacute

quando os seus subordinados estivessem adequadamente equipados e treinados eacute que ele se

devia lanccedilar ao mar529

A frota comandada pelo strategoacutes tambeacutem possuiacutea como eacute oacutebvio uma estrutura

taacutetica Como jaacute referimos cada navio estava sob o comando de um keacutentarcos o seu capitatildeo

que estava sob o comando de um komeacutes que lideraria entre trecircs a cinco droacutemōnes Leatildeo

refere ainda que agrave semelhanccedila dos themaacuteta terrestres tambeacutem existiam droungaacuterios e

turmarcas natildeo aludindo no entanto ao nuacutemero de forccedilas que comandavam530

A expediccedilatildeo naval comeccedilaria entatildeo com uma becircnccedilatildeo aos navios com rezas a Deus

para pedir uma boa viagem contra os inimigos e com um discurso do strategoacutes para encorajar

a armada531 Esta partiria entatildeo em formaccedilatildeo com os navios suficientemente afastados para

evitar atrapalhaccedilotildees a favor do vento No que concerne ao atracar da frota este devia ser

realizado tambeacutem em boa ordem e vaacuterios cuidados deviam ser tidos em conta dependendo do

local de ancoragem poucos ou nenhuns num porto bizantino a natildeo ser evitar destruir as

propriedades dos habitantes Por outro lado se fosse em territoacuterio inimigo ou amigaacutevel onde

se suspeitava existirem forccedilas hostis na regiatildeo a histoacuteria era outra a vigilacircncia tanto em terra

como no mar devia ser redobrada e a frota deveria manter-se pronta para a batalha532

Tambeacutem sobre as aacuteguas do mar era preferiacutevel recorrer a ardis e a estratagemas O

basileuacutes recorda novamente o conselho dado aos exeacutercitos terrestres sempre que possiacutevel

evitar um confronto direto em batalha533 Caso esta ocorrecircncia fosse inevitaacutevel a providecircncia

divina era novamente preciosa bem como avaliar se a causa do combate era injusta ou natildeo534

A ocorrer junto ao litoral a batalha deveria ser travada perto da costa inimiga para evitar as

deserccedilotildees do lado bizantino e incentivar as do adversaacuterio

Durante a batalha era necessaacuterio ter uma sinaleacutetica variada que permitisse dar ordens

com clareza em qualquer parte ou momento do combate uma vez que comandos vocais e

528 Taktikaacute XIX161-169 529 Taktikaacute XIX174-175 Stratēgikoacuten XII(B)21 530 Taktikaacute XIX157-161 531 Taktikaacute XIX142-147 532 Taktikaacute XIX191-198 Cf Stratēgikoacuten XII(B)21 Sir Naum5679 e ainda no livro I dos Estratagemas de

Polieno (de aqui em diante Pol Strat a traduccedilatildeo que vamos usar desta fonte eacute MARTIacuteN GARCIacuteA Francisco

(1991) Estratagemas In Biblioteca Claacutesica Gredos (153) pp 146-568) 533 O conselho mostra-se ainda mais fulcral em batalhas navais porque o autokraacutetor refere que neste tipo de

confrontos eacute impossiacutevel retirar qualquer tipo de vantagem assim que o combate corpo-a-corpo (consequente da

ligaccedilatildeo entre navios) comeccedila Taktikaacute XIX215-219 Haldon refere que este pensamento se deve ao facto de a

opiniatildeo bizantina justificada pelas grandes derrotas navais sofridas natildeo confiar no mar como caminho para a

vitoacuteria na guerra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 407 534 Taktikaacute XIX222-228 Stratēgikoacuten VIII(B)21

100

sons de trompa se perdiam no barulho provocado pela peleja Assim sinais que usavam

bandeiras ou flacircmulas eram essenciais devendo cada ordem especiacutefica estar associada a cada

um dos movimentos destes objetos ou de outros pedaccedilos de tecido como turbantes desde

que suficientemente visiacuteveis535

Leatildeo aparentemente coloca a decisatildeo sobre o dispositivo taacutetico a ser utilizado nas

matildeos do strategoacutes na maior parte dos casos536 no entanto informa-nos de duas formaccedilotildees em

especial em crescente (ou semicircular) e em linha537 A primeira devia ser utilizada para

envolver a frota adversaacuteria e bloquear a sua retirada538 ou entatildeo para possibilitar um

abandono ordenado do laquocampo de batalharaquo539 devia ter o pamphylos do strategoacutes na

concavidade para que ele pudesse controlar a frota e ter sempre uma visatildeo completa da

situaccedilatildeo das suas forccedilas540 Jaacute a formaccedilatildeo em linha era melhor para usar os sifotildees nas proas do

navio durante a abertura do combate O basileuacutes aconselha tambeacutem o strategoacutes a dividir as

suas formaccedilotildees em dois ou trecircs grupos para natildeo estarem sempre todos a combater e para

existirem reservas ou flanqueadores541

Natildeo obstante os estratagemas continuam a ser o meacutetodo eleito pelo basileuacutes para se

travar a guerra naval Leatildeo menciona vaacuterios como a utilizaccedilatildeo de fugas simuladas por parte

de droacutemōnes mais pequenos e de galeacutes para atrair as embarcaccedilotildees inimigas para as ciladas542

ou conseguir passar um navio pelas linhas opostas com o intuito de atacar as naves mais

pequenas do adversaacuterio543 Outro estratagema consistia em atacar o inimigo depois de

naufraacutegios ou tempestades o terem atingido ou quando este se encontrava entretido em

operaccedilotildees terrestres544 Curiosamente Leatildeo natildeo refere mais estratagemas considerando que o

inimigo pode tomar conhecimento deles e assim contrariaacute-los545

Por fim no contexto deste capiacutetulo Leatildeo deixa uma nota aos comandantes de frotas546

sobre a escolha de navios esta deveria depender tambeacutem do inimigo que o almirante fosse

confrontar Assim se o oficial fosse fazer frente a uma frota sarracena dos emirados ou de

535 Taktikaacute XIX259-266 e 271-275 Cf Strategikoacuten VII(B)16 Sir Naum VII Sir Strat XXX 536 Taktikaacute XIX287-291 537 Eacute interessante notar que Leatildeo agrave semelhanccedila de outros tratadistas claacutessicos ou medievais refere formaccedilotildees

utilizadas em terra para a realidade do combate naval 538 Taktikaacute XIX292-298 539 Taktikaacute XIX432-435 Pol Strat III 540 Taktikaacute XIX295-297 541 Taktikaacute XIX302-306 542 Taktikaacute XIX310-313 e 322-327 Cf Pol Strat I e III 543 Taktikaacute XIX310-315 Cf Pol Strat I e III 544 Taktikaacute XIX328-332 545 Por ironia os Aacuterabes fizeram duas traduccedilotildees do Taktikaacute de Leatildeo VI uma sumaacuteria e outra integral Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit p392 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit pp 645-666 546 Dado o contexto deste paraacutegrafo supomos que o destinataacuterio principal seja o droungaacuterios totilden ploiumlmon

101

Creta tinha de se preparar para enfrentar os chamados koumbariacutea que eram de grande

tonelagem mas lentos de acordo com o autor Por outro lado caso a forccedila naval adversaacuteria

fosse de origem russa o strategoacutes devia fazer os preparativos necessaacuterios para enfrentar

navios mais pequenos e raacutepidos uma espeacutecie de monoxyla547

73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X

laquoUma maacutexima antiga (hellip) ensina-nos a lanccedilar ataques e raides contra o inimigo sem causar

ferimentos a noacutes mesmos Noacutes podemos alcanccedilar isto se os nossos assaltos contra o inimigo

forem planeados de maneira inteligente e cuidadosa e forem executados com celeridade Tais

assaltos satildeo eficazes natildeo soacute contra forccedilas com o mesmo poder (militar) mas tambeacutem contra

adversaacuterios claramente superioresraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVII linhas 9-12548

Este excerto do Taktikaacute poderia muito bem corresponder ao lema do pensamento

estrateacutegico bizantino os danos tecircm de ser reduzidos ao maacuteximo possiacutevel e o poder militar

deve ser conservado entre recursos humanos ou estrateacutegicos Os estratagemas e a guerra de

fronteira eram a praacutetica beacutelica por predileccedilatildeo bizantina exatamente por permitirem derrotar o

inimigo sem grandes sacrifiacutecios Eacute este fator que torna a Constitutio XV relativa a esta

disciplina numa das mais importante do tratado549 Trata-se igualmente de um dos capiacutetulos

fundamentais para se atestar que a realidade contemporacircnea do tempo de Leatildeo VI tinha

repercutido nos seus escritos Natildeo obstante manteacutem o cariz de colecionismo do restante

tratado retirando do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio (mais especificamente do livro IX) e de alguns

excertos de Onasandro a maior parte da informaccedilatildeo que apresenta 550

Consequentemente esta Constitutio estaacute grosso modo dividida em quatro partes

principais emboscadas e outras artimanhas raides a territoacuterios inimigos onde descreve a

forma como se devem realizar as accedilotildees de pilhagem da parte do impeacuterio os melhores

procedimentos para a defesa do impeacuterio frente a operaccedilotildees desse mesmo tipo e por fim uma

pequena secccedilatildeo onde refere a importacircncia de batedores e espiotildees e onde satildeo abordadas

maneiras de descobrir agentes inimigos no seio de exeacutercitos ou dos acampamentos No

547 Taktikaacute XIX425-431 548 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 392-393 549 Esta Constitutio estava separada do resto do tratado no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 apesar de

Leatildeo fazer referecircncia nesta a outros segmentos da obra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 312 550 Idem Ibidem p 312

102

entanto vamos focar-nos nas accedilotildees de pilhagem tanto bizantinas como inimigas aludindo

aos outros aspetos sempre que seja relevante

Posto isto vamos principiar a anaacutelise destes toacutepicos com a forma como Bizacircncio devia

preparar expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo Comecemos entatildeo pelo lado de

Constantinopla A primeira recomendaccedilatildeo que o basileuacutes faz ao general eacute a de que este

prepare mantimentos para a expediccedilatildeo para o caso de o inimigo proceder a uma poliacutetica de

laquoterra queimadaraquo O autokraacutetor aconselha o general a recolher informaccedilatildeo sobre o territoacuterio e

sobre as estradas que vai utilizar para laacute chegar a partir da captura de habitantes dessas zonas

ou da recolha de desertores inimigos antes da expediccedilatildeo551

Relativamente agraves marchas aquelas que satildeo realizadas durante a noite satildeo muito

desaconselhadas a natildeo ser que o objetivo seja a ocupaccedilatildeo de uma posiccedilatildeo defensiva sem o

inimigo o saber Deviam constituir-se patrulhas sempre em movimento e a saka devia ser

excecionalmente forte para evitar ataques pela retaguarda Quanto ao trem-de-apoio este

devia estar na cauda da coluna de marcha aquando da entrada em territoacuterio inimigo poreacutem se

o adversaacuterio se comeccedilasse a aproximar devia deslocar-se progressivamente para o meio da

coluna552 a fim de ficar melhor protegido553 Por fim os acampamentos natildeo deviam ser

montados junto a fortificaccedilotildees inimigas ou a zonas com muita floresta a natildeo ser que fosse

estritamente necessaacuterio sendo certo que nesse caso a vigilacircncia deveria ser redobrada554

Por outro lado o autor propotildee dois tipos de formas de invadir o territoacuterio inimigo a

primeira caso haja mais do que uma entrada para este eacute dividir o exeacutercito colocando o

comando de uma parte nas matildeos de um turmarca Esta forccedila mais leve e sem trem-de-apoio

acederia ao territoacuterio inimigo por um dos pontos de entrada enquanto o strategoacutes entraria por

outro Com um ponto de encontro previamente marcado ambas as divisotildees pilhariam o

territoacuterio que percorressem ateacute se reunirem ao mesmo tempo que empurravam o inimigo uma

contra a outra555

Outro meacutetodo de invasatildeo tambeacutem envolvia a divisatildeo da hoste em duas colunas e era

utilizado quando soacute havia uma estrada disponiacutevel Neste caso metade do exeacutercito

551 Para isso recomenda que seja o proacuteprio comandante a interrogar os prisioneiros Taktikaacute XVII161-165

inversamente aconselha a que no caso da fonte de informaccedilatildeo ser um desertor inimigo lhe sejam prometidas

recompensas ou ameaccedilas de morte para evitar que este minta ao general e ponha em risco a seguranccedila do

exeacutercito Taktikaacute XVII166-174 Taktikaacute XVII559-570 Onas X Stratēgikoacuten IX Estes medos natildeo parecem

ser infundados uma vez que a queda da fortaleza de Amorion em 838 eacute atribuiacuteda a um desertor HALDON J

(2014) ndash Op cit p330 552 Taktikaacute XVII266-267 Stratēgikoacuten VIII 553 Devendo no entanto de estar suficientemente afastado das restantes forccedilas para natildeo perturbar a formaccedilatildeo 554 Taktikaacute XVII257-261 555 Taktikaacute XVII210-223 Stratēgikoacuten XI2 (relativo agraves formas de combater os ldquoCitasrdquo ndash ou seja os povos das

estepes tais como os Aacutevaros e os Turcos entre outros)

103

acompanhava o turmarca durante a invasatildeo e ia-se dispersando ao longo do caminho com um

ou dois bandaacute por regiatildeo a saquear ateacute o turmarca ficar apenas com mil homens ao seu

serviccedilo e chegar ao seu destino Depois retornaria ao mesmo tempo que o strategoacutes (ou outro

oficial responsaacutevel) seguia a rota usada pela divisatildeo anterior e recolhia os bandaacute Soacute quando

as duas divisotildees se reencontrassem eacute que se montaria o acampamento556

Chegados ao destino a seguranccedila tornava-se fundamental Todos os destacamentos

que fossem pilhar ou recolher mantimentos deviam ser protegidos por outro contingente para

evitar emboscadas inimigas557 Como jaacute referimos o acampamento devia ser fortificado558 e

as patrulhas deviam ser constantemente enviadas para averiguar as posiccedilotildees do inimigo nos

arredores A comida a bebida e a forragem recolhidas em territoacuterio inimigo deviam ser

provadas pelos prisioneiros antes de ser consumidas Por fim ataques a siacutetios fortificados ou

bem defendidos deviam ser preparados em segredo ateacute mesmo junto das proacuteprias tropas559

Os uacuteltimos conselhos de Leatildeo nesta vertente prendem-se com a deteccedilatildeo e captura de

espiotildees Neste aspeto haacute duas formas de se lidar com espiotildees captura ou libertaccedilatildeo com o

objetivo de intimidar A primeira maneira devia ser utilizada caso a forccedila bizantina fosse mais

fraca do que a opositora e havia duas formas de a realizar de acordo com Leatildeo numa

primeira soava-se uma trompa agrave segunda ou terceira hora do dia para ordenar aos soldados

para voltarem agraves suas tendas caso algum ficasse de fora seria um espiatildeo por outro lado se

entrasse numa tenda aleatoriamente seria preso pelos soldados dessa tenda que o

identificariam como um intruso560 A segunda forma consistia na atribuiccedilatildeo de uma ordem por

meio de uma palavra ou de um siacutembolo secreto por parte dos oficiais aos homens sob o seu

comando se algum homem natildeo soubesse o que fazer quando a palavra ou o gesto fossem

feitos possivelmente seria o espiatildeo561hellip Se por outro lado a forccedila bizantina fosse mais

poderosa do que a adversaacuteria entatildeo o imperador aconselhava o strategoacutes a deixar o espiatildeo

vivo e a mostrar-lhe a sua hoste em toda a sua pujanccedila de forma a impressionaacute-lo Depois

disso deveria deixar o agente partir para que ele informasse o povo que o enviou do poder do

exeacutercito romano semeando assim o medo no seio da hoste adversaacuteria562

556 Taktikaacute XVII224-249 Stratēgikoacuten XI2 557 Taktikaacute XVII191-197 Stratēgikoacuten IX 558 Cf supra 53 559 Taktikaacute XVII254-256 Leatildeo natildeo refere razotildees para isto mas possivelmente seria na nossa opiniatildeo para

evitar deserccedilotildees na marcha para territoacuterio inimigo ou para evitar que a informaccedilatildeo do alvo caiacutesse nas matildeos de

espiotildees 560 Taktikaacute XVII517-533 cf Pol Strat III Sir Strat II e PrMVI 561 Taktikaacute XVII534-544 Stratēgikoacuten IX Vegeacutecio Epitoma rei militaris III26 (a traduccedilatildeo que usaacutemos para

este tratado eacute MONTEIRO Joatildeo Gouveia e BRAGA Joseacute Eduardo (2004) Vegeacutecio Compecircndio da arte

militar Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 562 Taktikaacute XVII545-558

104

Quando a invasatildeo se realizava no sentido oposto a resposta tinha de ser ceacutelere e

eficaz A melhor arma ao serviccedilo do strategoacutes era a prevenccedilatildeo ou seja os batedores e os

espiotildees Leatildeo realccedila a importacircncia destes soldados destacando que tinham de ser os melhores

soldados ao serviccedilo do seu general ou turmarca que deviam seguir o inimigo e conseguir

estimar com alguma seguranccedila a composiccedilatildeo do exeacutercito adversaacuterio563 Como eacute oacutebvio a

rapidez e a discriccedilatildeo eram as valecircncias principais de um batedor que devia ter um cavalo

raacutepido e estar armado de forma ligeira As patrulhas deviam ser feitas por turnos para evitar

que o cansaccedilo tomasse conta dos seus responsaacuteveis e ser avaliadas pelo proacuteprio strategoacutes

que organizaria algumas inspeccedilotildees surpresa564 Por fim sempre que possiacutevel os proacuteprios

batedores deviam arriscar-se a capturar prisioneiros inimigos565

Leatildeo natildeo fala muito mais do que nestes pormenores mas o autor do Perigrave Paradromeacutes

um tratado que incide especificamente sobre este tipo de atividade beacutelica elucida-nos melhor

sobre a maneira como o trabalho de vigia deve ser feito Nesse manual militar ele indica que

existiriam postos de vigia ao longo das estradas bem como nas cordilheiras montanhosas que

limitavam as circunscriccedilotildees provinciais orientais566 Graccedilas a este sistema de vigia poder-se-

ia enviar mensageiros ao strategoacutes para o avisarem da ocorrecircncia de uma invasatildeo567

Por outro lado aos espiotildees mostravam-se determinantes para indagar quando eacute que

uma expediccedilatildeo aacuterabe deveria partir para territoacuterio bizantino568 Leatildeo natildeo explica como eacute que

eles eram recrutados ou escolhidos mas o autor do Perigrave Paradromeacutes por exemplo refere que

os mercadores eram os melhores espiotildees569 Os comerciantes deviam tentar tornar-se amigos

dos emires de forma a tomarem conhecimento do nuacutemero de soldados inimigos bem como

dos destinos das suas expediccedilotildees Por outro lado Siriano refere que a famiacutelia dos espiotildees

devia habitar em territoacuterio bizantino para que o amor familiar servisse como cadeado agrave

563 Para meacutetodos de fazer parecer um exeacutercito maior do que ele realmente eacute vide Taktikaacute XVII425-432 564 Taktikaacute XVII492-495 565 Taktikaacute XVII505-512 No Perigrave Paradromeacutes esta missatildeo estaacute incluiacuteda em pequenas accedilotildees de saque

empreendidas por espiotildees bizantinos (no contexto militar em Bizacircncio espiatildeo e batedor tecircm o mesmo

significado em certas circunstacircncias como neste caso) Natildeo nos parece despropositado acreditar que os

batedores do tempo do Taktikaacute tivessem as mesmas funccedilotildees PP II 566 Possivelmente as ldquofortalezasrdquo cuja construccedilatildeo Leatildeo orienta na Constitutio XVII Cf supra 71

Possivelmente seriam os phouacuteria de Siriano por possuiacuterem as mesmas funccedilotildees as mesmas localizaccedilotildees (em

terreno montanhoso mas com bom controlo de estradas) serem discretos e natildeo terem uma guarniccedilatildeo

permanente Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 567 PP II 568 Taktikaacute XVIII661-668 569 PP VII

105

lealdade do agente no estrangeiro570 Por fim John Haldon menciona que os padres e os

monges especialmente os missionaacuterios tambeacutem podiam servir para esta finalidade571

Leatildeo aconselha entatildeo o general a preparar-se para um ataque recolher todos os bens

possiacuteveis de se guardar queimar as colheitas recolher os cavalos (e muito possivelmente o

gado) e encaminhaacute-los para um lugar seguro e ocupar os lugares fortificados bem como as

reservas de aacutegua da regiatildeo sob ataque e dos desfiladeiros se for possiacutevel572 Uma vez mais

uma batalha decisiva deve ser prevenida e as forccedilas inimigas devem ser desgastadas por meio

de emboscadas e de ataques surpresa573 quer de dia quer de noite574 Outra taacutetica a utilizar eacute a

do contra raide575 ou seja responder a uma expediccedilatildeo de ataque inimiga com um raide das

forccedilas bizantinas O objetivo deste ardil parece ser separar ou obrigar a retirar a hoste

adversaacuteria com um ataque agraves suas terras indefesas576 O basileuacutes recorre a uma experiecircncia do

seu domestikoacutes Niceacuteforo Focas o Velho como exemplo disto577 mas a sua proacutepria atuaccedilatildeo

antes e depois do saque de Tessaloacutenica tambeacutem pode ser um destes casos578

Natildeo obstante caso se devesse realizar um ataque sobre as forccedilas inimigas este devia

ser feito quando estas estavam a abandonar o territoacuterio bizantino carregadas de despojos Esta

altura era a predileta porque de acordo com o autor do Perigrave Paradromeacutes era quando os

soldados inimigos se encontravam mais cansados e desejosos de voltar a casa e porque a

marcha era mais lenta por estarem carregados de despojos e de prisioneiros579

570 Sir Strat XLII 571 HALDON J (2014) ndash Op cit p381 572 Estes uacuteltimos satildeo referidos no Perigrave Paradromeacutes PP V 573 Sendo para isso necessaacuterio que o strategoacutes mantivesse um olho no inimigo por meio dos seus batedores para

saber em que altura os bandos de pilhagem abandonavam o corpo principal ou o acampamento adversaacuterio 574 Para um conjunto de taacuteticas realizadas durante a noite Taktikaacute XVII70-106 Stratēgikoacuten IX O tratado de

guerrilha tem um capiacutetulo exclusivamente dedicado a esta temaacutetica cf PP XVIII 575 Ironicamente o emir Sarsquoif al-Dawlah tambeacutem usou esta taacutetica em 956 quando forccedilas bizantinas do distrito de

Anzitene comeccedilaram a pilhar o seu territoacuterio O emir hamdacircnida comandou entatildeo uma expediccedilatildeo contra

Anzitene que obrigou o comandante da cidade a retirar para o seu territoacuterio O sucesso da expediccedilatildeo sarracena

no entanto natildeo terminou aiacute porque o emir conseguiu ainda recolher uma grande quantidade de despojos E de

prisioneiros antes de regressar a casa derrotando ainda uma forccedila romana que bloqueava o desfiladeiro que ele

pretendia utilizar para o retorno Vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp91-94 576 Taktikaacute XVII366-376 Stratēgikoacuten X 577 Taktikaacute XVII373-376 PP XX Haldon no entanto corrige Dennis referindo que a campanha em causa

natildeo foi na Calaacutebria mas sim na Ciliacutecia contra o emir Yazaman HALDON J (2014) ndash Op cit p 324 578 Cf supra 22 579 PP IV

106

Conclusatildeo

Natildeo nos arrependemos do caminho que escolhemos Bizacircncio apesar de tatildeo longe eacute

um mundo proacuteximo visto natildeo soacute atraveacutes do desbravar das paacuteginas de um livro mas tambeacutem

pela realidade beacutelica tatildeo semelhante agrave nossa no mesmo periacuteodo histoacuterico Pois eacute ou natildeo

verdade que enquanto os basilecircis bizantinos enfrentavam os califados de Damasco e Bagdade

os reinos dos cristatildeos da Peniacutensula Ibeacuterica se defendiam e contra-atacavam as hostes

muccedilulmanas de Coacuterdova e dos restantes poderes islacircmicos que dominavam a Hispacircnia Natildeo

deixam de ser interessantes certos paralelos que se podem traccedilar de um lado e de outro do

Mediterracircneo inclusive a niacutevel cronoloacutegico por exemplo em 718 no mesmo ano em que

Pelaacutegio vence a escaramuccedila em Covadonga pondo um ponto final agrave expansatildeo muccedilulmana na

Peniacutensula Ibeacuterica o geacutenio e a arguacutecia de Leatildeo III levavam a melhor sobre a uacuteltima tentativa

aacuterabe de tomar Constantinopla Um reveacutes em duas frentes que a nossa ver eacute uma

coincidecircncia curiosa

Mas o que dizer drsquo O Saacutebio Ateacute certo ponto achamos que cumprimos o objetivo que

nos propusemos de investigar a sua preocupaccedilatildeo com a situaccedilatildeo que o Impeacuterio atravessava

Bizacircncio natildeo vivia naquela eacutepoca um periacuteodo muito mau ainda embalada pela capacidade

governativa de Basiacutelio I e dos Amorianos que a Oriente pagaram o preccedilo de ferro e sangue

para garantir a supremacia bizantina nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro Por outro lado

Constantinopla conseguiu recuperar territoacuterios haacute algum tempo perdidos no Sul de Itaacutelia natildeo

obstante a perda da Siciacutelia A ascensatildeo de Leatildeo foi algo inesperada uma vez que natildeo era ele o

primogeacutenito de Basiacutelio pelo que muito possivelmente natildeo teraacute sido treinado para a

governaccedilatildeo ou para o comando militar No entanto a nosso ver ele demonstrou possuir um

pensamento estrateacutegico manifestando que as suas prioridades em termos beacutelicos estavam

bem definidas o poderio muccedilulmano bem estabelecido no Mediterracircneo Oriental Isto

acarretou erros noutras frentes como na Bulgaacuteria onde a acircnsia em voltar a enviar os seus

exeacutercitos contra os infieacuteis do Oriente virou a mareacute de uma guerra que na praacutetica estava

ganha algo que lhe custaria uma paz bastante onerosa no final do conflito Mas Leatildeo parece

ter aprendido pois o laquocavaleiro da guerraraquo natildeo voltou a galopar nos Balcatildes e a paz manteve-

se entre os dois povos cristatildeos ateacute agrave sua morte

O saque da segunda maior cidade do Impeacuterio eacute uma questatildeo algo indefinida mas no

nosso entendimento se realmente a cidade pudesse ter sido salva Leatildeo tecirc-lo-ia tentado de

alguma maneira A nosso ver soacute natildeo realizou tal empreendimento porque sabia que de uma

forma ou de outra os custos seriam elevados e natildeo estava disposto a arriscar uma pesada

107

derrota naval no Mar Egeu colocando efetivamente em risco a capital Em vez disso ordenou

o lanccedilamento de campanhas terrestres na Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria para vingar o que tinha

acontecido na Greacutecia aproveitando-se da ausecircncia das tropas muccedilulmanas na regiatildeo

estrateacutegia por ele proacuteprio defendida no Taktikaacute Quanto a Taormina a natildeo ser que os

Bizantinos tencionassem empreender a reconquista da Siciacutelia teria sido muito difiacutecil de

manter de qualquer das formas Com as preocupaccedilotildees nos Balcatildes primeiro e com a escalada

da ameaccedila naval no Mediterracircneo Oriental teria sido muito complicado reunir esforccedilos e

recursos econoacutemicos e humanos para encetar um tal projeto

Foi nas aacuteguas do Mediterracircneo Oriental que Leatildeo VI mais tentou brilhar

empreendendo expediccedilotildees para garantir que a pirataria sarracena proveniente da Ciliacutecia e de

Creta fosse travada e parasse de assolar as ilhas do Egeu e a faixa costeira bizantina Natildeo

obstante o facto de ter enfrentado dois experientes almirantes muccedilulmanos Leatildeo o

Tripolitano e Damiano as frotas imperiais e laquotemaacuteticasraquo bizantinas continuaram a fazer sentir

a sua presenccedila e mantiveram-se suficientemente fortes para atacar o Levante e a ilha de Creta

entre 910 e 912 Em face destes eventos atrevemo-nos a dizer que apesar de alguns

descalabros Leatildeo natildeo soacute mostrou interesse na situaccedilatildeo estrateacutegica do seu impeacuterio como

conseguiu manter o impeacuterio na moacute de cima Isto soacute foi possiacutevel garantindo a supremacia

bizantina no sul de Itaacutelia onde o impeacuterio contribuiria decisivamente para a expulsatildeo dos

Sarracenos em 915 e graccedilas agrave expansatildeo para Este por meio da diplomacia e da criaccedilatildeo de

novos themaacuteta fronteiriccedilos como foi o caso de Tephrike

Na nossa opiniatildeo natildeo haacute melhor prova do fasciacutenio que Leatildeo nutria pelas questotildees do

exeacutercito do que a escrita do Taktikaacute Este tratado militar recolhendo os ensinamentos do

passado parte da realidade do presente (de Leatildeo) e do pensamento do basileuacutes No iniacutecio

desta dissertaccedilatildeo propusemo-nos aferir ateacute que ponto este manual correspondia ao seu tempo

ou agrave conjuntura em que foi escrito e natildeo seria apenas um exerciacutecio do conservadorismo

cultural bizantino Natildeo nos parece crediacutevel afirmar que se tratasse apenas de um manuscrito

que pretendia tatildeo soacute recolher a erudiccedilatildeo militar do passado O Taktikaacute eacute algo mais do que isso

eacute um guia do que o pensamento estrateacutegico bizantino deveria ser

Natildeo descurando a importante mensagem religiosa das suas paacuteginas durante a leitura

do Taktikaacute conseguimos assinalar vaacuterias caracteriacutesticas do pensamento estrateacutegico bizantino

da eacutepoca a primeira a gestatildeo de soldados e recursos pois natildeo obstante o facto de possuir

capiacutetulos sobre a batalha campal o imperador salienta por vaacuterias vezes que aquele tipo de

atividades beacutelicas bem como outras de grande risco como surtidas deve ser evitado Depois

um reencontro com a ambiccedilatildeo bizantina de se voltar a tornar uma talassocracia estatuto esse

108

perdido desde a batalha dos Mastros em 654 um desejo demonstrado na inserccedilatildeo de uma

Constitutio exclusivamente dedicada a temaacuteticas navais A secccedilatildeo sobre os Aacuterabes tambeacutem eacute

muito importante no que concerne agrave estrateacutegia bizantina e consubstancia-se numa grande

contribuiccedilatildeo de Leatildeo VI para o conjunto da tratadiacutestica Apesar de deturpado em certos

aspetos o estudo que o imperador faz dos costumes beacutelicos aacuterabes eacute muito interessante pelo

detalhe que apresenta o fervor religioso a origem e modo de equipamento dos soldados

muccedilulmanos (voluntaacuterios religiosos na maior parte das vezes) a localizaccedilatildeo das bases de

invasatildeo o tipo de guerra que fazem entre outras caracteriacutesticas apresentadas que

demonstram que o autokraacutetor sabia quem era o seu inimigo e queria ensinar (ou partilhar a

experiecircncia) com os seus leitores sobre como lidar com o adversaacuterio sedeado do outro lado do

Tauro

Obviamente o Taktikaacute natildeo deve ser lido lsquopreto no brancorsquo pois nem tudo o que laacute estaacute

eacute representa a realidade militar ao tempo de Leatildeo Apesar de importante a descriccedilatildeo do

equipamento e das taacuteticas de infantaria natildeo eacute fundamental para se compreender o periacuteodo em

estudo e muito menos para servir de aplicaccedilatildeo aos exeacutercitos de que Leatildeo falava os dos

themaacuteta A infantaria dos themaacuteta seria importante para cumprir certas funccedilotildees como de

guarniccedilatildeo por exemplo mas nesta altura colocar thematikoiacute apeados a combater numa

batalha era um erro crasso pois eram homens que natildeo tinham nem equipamento nem treino

nem disciplina para participar nela

No decorrer desta dissertaccedilatildeo tecemos algumas opiniotildees pessoais sobre o tipo de

informaccedilotildees que se poderiam melhor aplicar aos themaacuteta A primeira Constitutio que nos

ocorre quando pensamos nestes exeacutercitos provinciais eacute a XVII uma vez que aiacute se abordam

as questotildees referentes agraves praacuteticas de guerrilha indubitavelmente as que se encontravam mais

em vigor no contexto da atividade beacutelica provincial bizantina Mas natildeo soacute a repeticcedilatildeo de

meacutetodos de guerra psicoloacutegica para tomar uma fortaleza pode servir como liccedilatildeo a um

strategoacutes de um theacutema sobre como se poderia conquistar uma fortificaccedilatildeo de forma

relativamente ceacutelere se tal fosse necessaacuterio no contexto de um laquocontra raideraquo por exemplo

Por outro lado a descriccedilatildeo do equipamento de cerco pesado e das taacuteticas que o envolvem

parece-nos algo exagerada para o tipo de hoste em questatildeo que tinha de ser raacutepida por

natureza caracteriacutestica que natildeo seria facilitada (antes pelo contraacuterio) caso transportasse um

pesado comboio-de-cerco durante a campanha

Neste trabalho tivemos a preocupaccedilatildeo de desenvolver o nosso espirito criacutetico indo

aleacutem do que outros autores antes de noacutes disseram sobre estas mateacuterias e ousando acrescentar

as nossas interpretaccedilotildees pessoais nomeadamente no que toca agrave questatildeo crucial dos themaacuteta

109

Por outro lado alargaacutemos a nossa contextualizaccedilatildeo aos reinados de Leatildeo e de Basiacutelio algo

que outros autores (como por exemplo John Haldon) natildeo fizeram de forma a podermos tecer

comparaccedilotildees entre alguns eventos destes reinados e certas praacuteticas enunciadas no tratado

No entanto temos de admitir que uma dissertaccedilatildeo de mestrado sobre o Taktikaacute eacute algo

de demasiado ambicioso para as poucas paacuteginas que nos satildeo atribuiacutedas num trabalho desta

natureza Por isso haacute outras questotildees e temas que gostariacuteamos de ter aprofundado se

houvesse espaccedilo para tal nomeadamente a questatildeo do pensamento teoloacutegico e social no

Taktikaacute por exemplo Ou entatildeo de que forma o Taktikaacute poderaacute esclarecer a vexata quaestio

da organizaccedilatildeo dos exeacutercitos dos taacutegmata apesar de estes natildeo configurarem o foco principal

do tratado Uma anaacutelise da preocupaccedilatildeo de Leatildeo quanto agrave negligecircncia do arco nos seacuteculos

anteriores com a explicaccedilatildeo das causas para o decliacutenio da utilizaccedilatildeo deste e a anaacutelise da

importacircncia que ele tinha no paradigma beacutelico do reinado do Saacutebio e do periacuteodo

compreendido entre os seacuteculos VII e X tambeacutem poderia constituir um estudo interessante

Por fim tecemos algumas consideraccedilotildees sobre o processo de produccedilatildeo do nosso

trabalho Natildeo foi faacutecil primeiro porque nos vimos confrontados com a falta de acesso agraves

fontes respeitantes ao reinado de Leatildeo VI o que logo nos causou algum incoacutemodo e nos

redirecionou para outras fontes (tais como a croniacutestica aacuterabe ou a Histoacuteria de Skylitzes) e

para algumas obras de estudo Natildeo subvalorizamos a importacircncia de nenhuma destas

tipologias mas sentimos que o nosso trabalho tendo em conta o periacuteodo que aborda fica um

pouco mais pobre sem referecircncias agrave Vita Euthymii por exemplo Por outro lado encetaacutemos

este projeto com conhecimentos adquiridos maioritariamente por autodidatismo o que

dificultou a compreensatildeo de certas temaacuteticas No entanto algumas aulas com o Professor Joatildeo

Gouveia Monteiro possibilitaram esclarecer algumas dessas duacutevidas pelo que renovamos os

agradecimentos que foram feitos no iniacutecio da presente dissertaccedilatildeo

Apesar de tudo tivemos um enorme prazer na realizaccedilatildeo deste trabalho e esperamos

ter contribuiacutedo ainda que modestamente para impulsionar os estudos bizantinos em Portugal

Realccedilamos ainda que o conhecimento da milenar aventura do Impeacuterio Romano do Oriente

poderaacute ser uma ajuda imprescindiacutevel para a interpretaccedilatildeo de alguns dos factos do nosso tempo

e da nossa proacutepria Histoacuteria Por tudo o exposto estamos disponiacuteveis para continuar este

percurso

110

Bibliografia

Fontes

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the equipping of the naval and cavalry forces in the seventh indiction in the time of Constantine and

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Niceacuteforo Ouranos doux de Antioquia Taktikaacute capiacutetulos 56-65 Texto Traduccedilatildeo e

Comentaacuterio MCGEER Eric (2008) Sowing the Dragonrsquos Teeth Byzantine Warfare in the Tenth

Century Washinton DC Dumbarton Oaks Research Library and Collection pp79-167

Onasandro Strategikoacutes Traduccedilatildeo Introduccedilatildeo e Notas OLDFATHER William A (1943)

Aeneas Tacticus Asclepiodotus Onasander Massachusetts Harvard University Press pp 342-527

Polieno Strategemataacute Traduccedilatildeo Introduccedilatildeo e Notas MARTIacuteN GARCIacuteA Francisco (1991)

Estratagemas In Biblioteca Claacutesica Gredos (153) pp 146-568

[Siriano] magistros Perigrave Strategiacuteas Texto Traduccedilatildeo e Comentaacuterio DENNIS George T

(1985) Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks Research Library and

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I

Anexos I ndash Mapas e Esquemas

Mapa 11 ndash Os themaacuteta da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON John (2005) The Palgrave Atlas of Byzantine History Londres

Palgrave Macmillan p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

II

Mapa 12 ndash As principais cidades da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

III

Mapa 21 ndash Os themaacutetas dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

IV

Mapa 22 ndash As principais cidades dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

V

Mapa 3 ndash Mapa geopoliacutetico do sul de Itaacutelia e das suas principais cidades no iniacutecio do

seacuteculo X

Fonte - httpswwwalternatehistorycomforumthreadsa-blank-map-thread25312

Consultado a 31 de outubro pelas 2345

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva

VI

Esquema 1 ndash Marcha em territoacuterio hostil

Autoria ndash Joatildeo Paiva

VII

Esquema 2 ndash Marcha em territoacuterio hostil com infantaria

Autoria ndash Joatildeo Paiva

VIII

Esquema 3 ndash Passagem de um desfiladeiro

Autoria ndash Joatildeo Paiva

IX

X

XI

Esquema 6 ndash Constituiccedilatildeo de um Proacutemachos

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XII

Esquema 7 ndash Constituiccedilatildeo da segunda linha

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XIII

Esquema 8 ndash Hipoacutetese de um dispositivo taacutetico de um theacutema

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XIV

Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

Seacuteculo V

476

Itaacutelia Queda do Impeacuterio

Romano do Ocidente com

a deposiccedilatildeo de Roacutemulo

Augusto por Odoacro

Seacuteculo VI

Ca

579

Itaacutelia Constituiccedilatildeo dos

ducados de Benevento e de

Espoleto

580

Balcatildes Os Aacutevaros

conquistam Siacutermio

581

Balcatildes e Greacutecia

Penetraccedilatildeo dos Eslavos

nestas aacutereas e posterior

fixaccedilatildeo

582

Iniacutecio do principado de

Mauriacutecio

XV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

584

Itaacutelia 4 de outubro ndash

Formaccedilatildeo do Exarcado de

Ravenna em moldes

similares ao Exarcado de

Aacutefrica formado pela

mesma altura

590

Peacutersia Deposiccedilatildeo do

imperador Cosroeacutes II da

Peacutersia que foge para o

Impeacuterio Bizantino e apela

a ajuda do imperador

Mauriacutecio

591

Itaacutelia Roma eacute cercada

pelo duque Ariulfo de

Espoleto

Peacutersia Com ajuda

bizantina Cosroeacutes II

recupera o trono do

Impeacuterio Sassacircnida

Seacuteculo VII

600

Balcatildes Assinatura de um

tratado com os Aacutevaros

apoacutes vaacuterios sucessos

bizantinos na regiatildeo (como

a reconquista de Belgrado)

que fixa a fronteira no rio

Danuacutebio

XVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

602

Rebeliatildeo das tropas da

fronteira do Danuacutebio e

execuccedilatildeo de Mauriacutecio

Proclamaccedilatildeo de Focas

como Imperador

Iniacutecio da uacuteltima Guerra

Bizantino-Persa Cosroeacutes

II sustenta esta guerra na

falta de legitimidade de

Focas ao trono bizantino e

apoia um pretendente

supostamente filho de

Mauriacutecio

Iniacutecio da eacutepoca meacutedia bizantina

610

Deposiccedilatildeo e assassinato de

Focas por Heraacuteclio filho

do exarca de Aacutefrica

Proclamaccedilatildeo do mesmo

como Imperador

614

Conquista de Jerusaleacutem

por Cosroeacutes II captura da

Vera Cruz

620

Egipto Conquista do

Egipto pelos Persas

Sassacircnidas

622

Expulsatildeo das forccedilas persas

presentes na Aacutesia Menor

Araacutebia Realiza-se a

Heacutegira ndash a fuga de Maomeacute

de Meca para Medina

XVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

624

Reconquista da Armeacutenia a

Cosroeacutes II e posterior

vitoacuteria de Heraacuteclio sobre

trecircs exeacutercitos persas

Destruiccedilatildeo do Grande

Templo Zoroastra em

Takht-I-Suleiman

626

Cerco Aacutevaro-Persa de

Constantinopla termina

com vitoacuteria bizantina

O general Shahrbaraz e o

khan aacutevaro retiram

627

Iraque Batalha de Niacutenive

- Grande vitoacuteria de

Heraacuteclio sobre os Persas

em Niacutenive abre caminho

para Ctesifonte

628

Peacutersia A 28 de fevereiro

um golpe de estado

encetado por Xeroeacute filho

de Cosroeacutes II termina com

o regime do pai

Iniacutecio de negociaccedilotildees para

pocircr fim agrave (uacuteltima) Guerra

Bizantino-Persa

Usurpaccedilatildeo de Shahrbaraz

XVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

629

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente Celebraccedilatildeo da

paz entre Bizantinos e

Persas as aacutereas territoriais

ocupadas pelas duas

potecircncias voltam ao estado

em que se encontravam

antes do iniacutecio dos

conflitos

630

Entrada vitoriosa de

Heraacuteclio em Jerusaleacutem

com o retorno das reliacutequias

sagradas capturadas pelos

Persas celebra a vitoacuteria

final do Impeacuterio Bizantino

Araacutebia Regresso e

conquista de Meca pelo

Profeta Maomeacute que a

transforma no centro

espiritual do Islatildeo

632

Araacutebia Morte de Maomeacute

que eacute sucedido pelo

primeiro Califa Abu Bakr

o seu sogro Guerras da

Ridda para unificar a

Peniacutensula Araacutebica

633

Primeiras incursotildees

Aacuterabes na Siacuteria-Palestina

634

Palestina Batalha de

Ajnadain ndash O primeiro

confronto campal entre

Bizacircncio e Muccedilulmanos

termina com a vitoacuteria dos

seguidores do Islatildeo

Araacutebia Morte do Califa

Abu-Bakr eacute sucedido por

Omar

XIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

634

(cont)

Iraque laquoBatalha da

Ponteraquo entre Aacuterabes e

Persas termina com a

vitoacuteria do Imperador

Yazdarij da Peacutersia

636

Palestina Batalha de

Yarmuk ndash Vitoacuteria

esmagadora do general

Khalid ibn al-Walid sobre

as forccedilas bizantinas de

Teodoro e Baanes

possibilita a conquista

aacuterabe quase absoluta da

Siacuteria-Palestina com

excepccedilatildeo de Jerusaleacutem e

Cesareia

Heraacuteclio ordena a retirada

para a Aacutesia Menor e que o

combate campal seja

evitado a todo o custo

637

Batalha de Qadisyia Uma

vitoacuteria muccedilulmana

decisiva permite a

conquista de Ctesifonte e a

conquista do Iraque Os

Persas retiram para o

planalto do Iratildeo

Batalha de Jalula nova

vitoacuteria muccedilulmana sobre

os Sassacircnidas culmina

com a consolidaccedilatildeo da

conquista da Mesopotacircmia

e do Crescente Feacutertil

XX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

638

Conquista aacuterabe de

Jerusaleacutem

639

Egipto ndash 12 de dezembro

Iniacutecio da conquista

muccedilulmana do Egipto com

o ataque ao posto

fronteiriccedilo de Al-Arisch

Itaacutelia O rei Rotaacuterio dos

Lombardos conquista a

regiatildeo de Veneza menos o

lago

640

Conquista aacuterabe de

Cesareia

Egipto ndash julho de 640

Iniacutecio do cerco agrave fortaleza

bizantina de Babiloacutenia

junto ao local do atual

Cairo

Itaacutelia ndash O exarca Isaacutecio

ordena o saque do tesouro

papal

641

11 de fevereiro Morte de

Heraacuteclio

Egipto ndash Rendiccedilatildeo de

Babiloacutenia que isola

Alexandria como uacutenica

cidade do Egipto em matildeos

bizantinas

XXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

642

Iniacutecio da anexaccedilatildeo

muccedilulmana da Armeacutenia

que seraacute findada no ano

seguinte

Iratildeo ndash Batalha de

Nehawend -a lsquovitoacuteria das

vitoacuteriasrsquo dos Aacuterabes potildee

fim ao que restava das

forccedilas militares persas

Egipto Submissatildeo de

Alexandria marca o fim

da conquista aacuterabe do

Egipto

644

Itaacutelia Rotaacuterio rei dos

Lombardos conquista a

Liguacuteria

Assassinato de Omar eacute

substituiacutedo pelo secretaacuterio

do Profeta Uthman um

primo afastado membro da

famiacutelia Ummayya

645

Egipto Reocupaccedilatildeo

bizantina de Alexandria

646

Egipto Rendiccedilatildeo

definitiva de Alexandria

fim da uacuteltima tentativa de

reconquista do Egipto

Norte de Aacutefrica Rebeliatildeo

no Exarcado de Aacutefrica

648

Norte de Aacutefrica Fim da

rebeliatildeo do Exarcado de

Aacutefrica quando o exarca eacute

morto por saqueadores

aacuterabes

XXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

649

Uma frota bizantina

derrota uma das primeiras

frotas muccedilulmanas apoacutes

esta saquear a ilha de

Chipre

651

Khorasan Batalha do rio

Oxus ndash Vitoacuteria decisiva

aacuterabe e fim oficial do

Impeacuterio Persa Sassacircnida

654

Batalha dos Mastros ndash

Vitoacuteria naval aacuterabe junto agrave

Liacutecia potildee fim agrave

talassocracia bizantina e

assegura a conquista de

vaacuterias ilhas como Rodes e

Chipre

656

Araacutebia 17 de Junho ndash

Assassinato de Uthman em

Medina Eleiccedilatildeo quase

imediata de Ali o genro

do Profeta como califa

Outubro ndash Batalha do

Camelo ndash Ali derrota o

triunvirato encabeccedilado

pela viuacuteva de Maomeacute

Aisha O seu poder passa a

ser disputado apenas por

Muawiya parente de

Othman membro da

famiacutelia Ummayya e

governador da Siacuteria que

XXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

656

(cont)

recusa ser substituiacutedo pelo

novo governador enviado

por Ali

657

Siacuteria 26 de Julho

Batalha de Siffin ndash quase-

vitoacuteria de Ali que soacute natildeo eacute

alcanccedilada porque o

Alcoratildeo eacute elevado numa

lanccedila pelos Siacuterios que

apelam a Deus para decidir

a querela

Discussotildees no seio das

forccedilas de Ali provocam

confrontos violentos com

um grande conjunto dos

apoiantes do califa os

Kharijitas que resultam na

expulsatildeo dos mesmos

Enfraquecimento da causa

do genro do profeta

658

Balcatildes Ataques bem-

sucedidos de Constante II

aos Eslavos culminam na

reconquista de vaacuterios

territoacuterios e no

reconhecimento da

soberania bizantina na

Macedoacutenia

XXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

659-

662

Periacuteodo em que Warren

Treadgold defende que os

themaacuteta teratildeo sido

fundados que tambeacutem

corresponde a uma treacutegua

bizantino-aacuterabe

661

Siacuteria Depois de vaacuterios

reveses como a perda do

Egipto para Muawiyia Ali

eacute assassinado por um

Kharijita O seu filho

Hussein transfere os

poderes para Muawiyia

que se torna Califa

Fim do Califado Rashidun

e iniacutecio do Califado

Omiacuteada

662

Constante II abandona

Constantinopla para

fortalecer as defesas da

Itaacutelia e Aacutefrica deixando

Constantino IV a governar

em Constantinopla

668

Itaacutelia Assassinato de

Constante II em Siracusa

a mando do komeacutes do

Opsikiacuteon Rebeliatildeo no

theacutema dos Armeniacuteacos

XXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

670

Estabelecimento de bases

avanccediladas aacuterabes em

Kairouan no Norte de

Aacutefrica e Ciacutezico na regiatildeo

do Opsikiacuteon

674

Ocupaccedilatildeo aacuterabe da cidade

de Ciacutezico que eacute usada

como base para ataques

navais que iam do Mar de

Marmara ateacute aos subuacuterbios

de Constantinopla Iniacutecio

do primeiro cerco Aacuterabe a

Constantinopla

677

Reocupaccedilatildeo de Ciacutezico

pelos Bizantinos

678

Fim do cerco a

Constantinopla quando

Constantino IV comanda a

frota bizantina que pela

primeira vez emprega o

fogo greguecircs O exeacutercito

aacuterabe eacute derrotado por

forccedilas provinciais

680

Siacuteria Morte do Califa

Muawiya que eacute sucedido

por Yazicircd o seu filho

Movimento favoraacutevel a

Hussein filho de Ali eacute

esmagado pelo exeacutercito

omiacuteada na batalha de

XXVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

680

(cont)

Karbala Morte de Hussein

e de vaacuterios partidaacuterios

681

Traacutecia Subjugaccedilatildeo dos

Eslavos do Norte da Traacutecia

pelos Buacutelgaros Tentativas

de os expulsar fracassaram

e os Buacutelgaros capturam

vaacuterios postos bizantinos na

costa do Mar Negro

682

Araacutebia Revolta em

Medina contra Yazicircd

683

Araacutebia Forccedilas siacuterias leais

ao califa esmagam a

revolta em Medina

Cerco a Meca eacute

interrompido pela morte

de Yazicircd que eacute sucedido

pelo filho Muawiya II

que morreraacute pouco tempo

depois

Iniacutecio da Segunda Fitna

684

Siacuteria Batalha de Marj-

Rahit nas imediaccedilotildees de

Damasco vitoacuteria dos

apoiantes de Marwan

sobre os apoiantes do

senhor da Peniacutensula

Araacutebica al-Zubayr

Marwan eacute aclamado

Califa Iniacutecio da dinastia

XXVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

684

(cont)

dos Marwanidas

685

Siacuteria Morte de Marwan

Ascensatildeo de al-Malik ao

trono de Damasco

687

Chegada de Mardaiacutetas

(refugiados cristatildeos da

Siacuteria) que satildeo feitos

remadores permanentes da

divisatildeo dos Carabisiani

por Justiniano II

Iraque Morte de al-

Mukhtar senhor xiita de

Kufa agraves matildeos de Jaacutersquosab

irmatildeo de Zubayr A

Segunda Fitna passa a ser

disputada apenas pelos

senhores de Damasco e da

Araacutebia

688

A ilha de Chipre eacute

declarada territoacuterio neutro

apoacutes um tratado assinado

por Justiniano II e al-

Malik

689

A divisatildeo mariacutetima da

Heacutelade recebe os seus

proacuteprios Mardaiacutetas

691

Califado Derrota de

Musrsquoab agraves matildeos do califa

al-Malik

XXVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

692

Araacutebia Cerco e tomada

de Meca por forccedilas de al-

Malik Morte de al-Zubayr

e fim da Segunda Fitna

695

Revolta do strategoacutes dos

Anatoacutelicos Leocircncio que

depotildee Justinano II apoacutes

ter sido libertado Tinha

sido preso por o

considerarem como

principal culpado pela

deserccedilatildeo de Eslavos que

tinham sido conscritos na

divisatildeo do Opsikiacuteon na

sua primeira batalha com

Aacuterabes

697

Norte de Aacutefrica

Conquista de Cartago

pelos Aacuterabes A cidade eacute

reconquistada mais tarde

por uma expediccedilatildeo

transportada pela frota dos

Carabisiani

698

Norte de Aacutefrica

Expulsatildeo da expediccedilatildeo e

perda definitiva de Cartago

para o Califado Aacuterabe

Regresso da expediccedilatildeo a

Constantinopla onde depotildee

Leocircncio e aclama o

almirante Tibeacuterio

XXIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

698

(cont)

Apsimar como basileus

Seacuteculo VIII

705

Apoiado pelos Buacutelgaros

Justiniano II recupera o

poder em Constantinopla e

executa Tibeacuterio

Norte de Aacutefrica A

expansatildeo islacircmica atinge a

costa atlacircntica sob a alccedilada

do governador Musa

Nusair

711

Apoacutes um bem-sucedido

raid aacuterabe agrave circunscriccedilatildeo

territorial dos Anatoacutelicos

Justiniano II eacute destronado

por uma frota que enviara

para a Crimeia

Peniacutensula Ibeacuterica ndash 19 de

julho Batalha de

Guadelete - as forccedilas

araacutebico-berberes de Tariq

comandante de Musa

Nusair derrotam o rei

visigodo Rodrigo

Iniacutecio da conquista aacuterabe

da Peniacutensula Ibeacuterica

717

Apoacutes os curtos reinados de

Filiacutepico e Anastaacutecio II o

strategoacutes dos Anatoacutelicos

Leatildeo toma

Constantinopla e depotildee

Teodoacutesio III

Iniacutecio de um novo cerco

aacuterabe agrave capital do Impeacuterio

Bizantino

Gaacutelia Primeira expediccedilatildeo

aacuterabe transpirenaica

XXX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

718

Fim do uacuteltimo cerco aacuterabe

a Constantinopla ndash Os

Aacuterabes abandonam o cerco

de Constantinopla apoacutes a

destruiccedilatildeo de alguns

navios pelos Bizantinos

uma doenccedila que vitimou

muitos soldados um

inverno duro e a destruiccedilatildeo

de um exeacutercito de reforccedilo

enviado pelo Califa numa

emboscada bizantina

Peniacutensula Ibeacuterica

Batalha de Covadonga -A

conquista aacuterabe da

Peniacutensula nas Astuacuterias

por soldados cristatildeos sob o

comando de Pelaacutegio

720

Gaacutelia Conquista de

Narbonne por forccedilas

muccedilulmanas

721

Gaacutelia O Duque Eudo da

Aquitacircnia derrota forccedilas

aacuterabes nas proximidades

de Toulose

724

Califado Ascensatildeo do

Califa Hisham que vai

conseguir recuperar a

Transoxania e o Magrebe

durante o seu reinado

XXXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

727

O basileuacutes Leatildeo III potildee

fim a uma revolta na

proviacutencia dos Carabisiani

que o incita a mudar o

quartel-general destes de

Samos para o sul da

Anatoacutelia

A divisatildeo dos Carabisiani

passa a chamar-se de

Kibirrhaiotai por passar a

ter a sua base no porto de

Cibyra

732

Gaacutelia O emir Abd al-

Rahman al-Ghaffiqi

comanda um enorme

exeacutercito para a Gaacutelia e

derrota Eudo

Batalha de ToursPoitiers

ndash Al-Ghaffiqi eacute derrotado

e morto por forccedilas francas

sob Carlos Martel

740

Batalha de Akroinos ndash

Vitoacuteria de Leatildeo III e do

futuro Constantino V

sobre forccedilas do Califado

Omiacuteada

741

Morte de Leatildeo III que eacute

sucedido por Constantino

V Revolta do Conde do

Opsikiacuteon Artavasdo

Constantinopla eacute tomada

XXXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

741

(cont)

por Artavasdo

743

Forccedilas das divisotildees dos

Anatoacutelicos e dos

Traceacutesicos reconquistam

Constantinopla e cegam

Artavasdo

Fim da quinta revolta do

Opsikion Como resultado

destes acontecimentos

Constantino V forma os

taacutegmata atribuindo-lhes

parte do territoacuterio do

Opsikiacuteon e territoacuterios na

Traacutecia

Califado Morte de

Hisham Uacuteltima fase de

soberania Omiacuteada pautada

de rebeliotildees tem inicio

744

Califado Ascensatildeo do

uacuteltimo califa omiacuteada

Marwan II o Burro

Selvagem

745

Siacuteria Ao comando dos

taacutegmata Constantino V

realiza uma campanha

militar nos territoacuterios do

califado com sucesso Seraacute

a primeira invasatildeo bem-

sucedida bizantina a

territoacuterios aacuterabes numa

geraccedilatildeo

XXXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

747

Khorasan Rebenta a

Revoluccedilatildeo Abaacutessida

749

Iraque Vitoacuteria abaacutessida

junto a Kufa apesar da

morte do seu general

Qahtaba

750

Iraque Batalha do rio

Zab Vitoacuteria abaacutessida

decisiva Massacre dos

Omiacuteadas Iniacutecio do

Califado Abaacutessida com o

califa Al-Saffah

751

Itaacutelia Queda de Ravena ndash

Destruiccedilatildeo do Exarcado de

Ravena pelos Lombardos

Bizacircncio perde as uacuteltimas

possessotildees na Itaacutelia

Central para os

Lombardos

752

Gaacutelia Os muccedilulmanos

abandonam Narbonne a

sua uacuteltima posiccedilatildeo

transpirenaica

XXXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

759

Califado Morte de Al-

Saffah que eacute sucedido por

Abu Jaacutersquofah Al-Mansur

762

Iraque O califa muda-se

para o seu novo palaacutecio na

ldquoCidade da Pazrdquo

Fundaccedilatildeo de Bagdade

Al-Mansur esmaga o as

forccedilas xiitas de Muhamad

durante o Ramadatildeo

766

Nova revolta no seio da

divisatildeo do Opsikiacuteon

767

Esmagada a revolta o

territoacuterio do Opsikiacuteon eacute

novamente dividido desta

vez com um novo distrito

o dos Bucelaacuterios

775

Morte de Constantino V

apoacutes um reinado bem-

sucedido com vaacuterias

conquistas na Traacutecia e

vitoacuterias sobre os Buacutelgaros

Califado Morte de Al-

Mansur no decurso de

uma peregrinaccedilatildeo a Meca

Ascensatildeo de al-Mahdi

776

Itaacutelia Fim do reino

lombardo agraves matildeos de

Carlos Magno

Peacutersia Iniacutecio da revolta

de al-Muqqana

XXXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

780

Peacutersia A revolta eacute

subjugada

785

Califado Morte de al-

Mahdi

786

Califado Iniacutecio do

califado de Harun al-

Rashid que lideraraacute vaacuterios

raides a territoacuterio

bizantino

789

Traacutecia Irene divide o

theacutema da Traacutecia com um

novo theacutema o da

Macedoacutenia apoacutes uma seacuterie

de conquistas bizantinas

na Traacutecia

797

Iniacutecio da governaccedilatildeo de

Irene como Basileuacutes apoacutes

cegar o filho por

incompetecircncia e por este

ter cometido moicheacutea

(adulteacuterio)

Seacuteculo IX

802

Deposiccedilatildeo do Irene que

apoacutes uma desastrosa

poliacutetica econoacutemica eacute

substituiacuteda num golpe de

XXXVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

802

(cont)

Estado pelo logoacuteteta

Niceacuteforo depois Niceacuteforo

I

809

Vexilationes de Niceacuteforo I

tomadas por John Haldon

como o iniacutecio do sistema

dos themaacuteta

Greacutecia Conquista destes

territoacuterios O basileuacutes

Niceacuteforo I procede agrave

criaccedilatildeo de vaacuterios themaacuteta

na regiatildeo Peloponeso

Cefaloacutenia e Tessaloacutenica

Bulgaacuteria Niceacuteforo I

saqueia a capital do

Impeacuterio Buacutelgaro Priska

Califado Morte de Harun

al-Rashid Al-Amin torna-

se califa em Bagdade

811

Staurakios o filho de

Niceacuteforo eacute deposto apoacutes

ser ferido fatalmente na

batalha de Priska e

substituiacutedo por Miguel I

Rangabeacute

Bulgaacuteria Campanha de

Niceacuteforo contra este

territoacuterio volta a saquear

Priska

Batalha de Priska ndash Vitoacuteria

do khan Krum numa

emboscada e morte de

Niceacuteforo e a destruiccedilatildeo da

maior parte do exeacutercito e

da cadeia de comando

bizantina

Traacutecia O Impeacuterio da

Bulgaacuteria conquista a maior

parte dos territoacuterios

reconquistados por

Niceacuteforo com excepccedilatildeo

da Greacutecia

Califado Iniacutecio da Quarta

Fitna entre o califa al-

Amin e o irmatildeo al-

Mamun governador de

Khorasan O primeiro

confronto termina com a

vitoacuteria das forccedilas

ldquorebeldesrdquo

XXXVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

812

Iraque Apoacutes vaacuterios

embates al-Mamun cerca

Bagdade

813

Traacutecia Batalha de

Versinikia ndash nova vitoacuteria

de Khrum sobre forccedilas

bizantinas

Como consequecircncia o

basileuacutes Miguel abandona

o cargo e eacute substituiacutedo por

Leatildeo V denominado de laquoo

Armeacutenioraquo

Iraque Fim do cerco de

Bagdade e da Quarta

Fitna Execuccedilatildeo de al-

Amin e ascensatildeo de al-

Mamun ao cargo de califa

814

Impeacuterio Buacutelgaro Morte

do khan Krum

819

Iraque Apoacutes uma seacuterie de

vaacuterias guerras civis al-

Mamun entra em Bagdade

820

Assassinato de Leatildeo V

Guerra civil entre Miguel

II laquoo Amorianoraquo e Tomaacutes

o Eslavo

823

Morte de Tomaacutes o Eslavo

a guerra perduraraacute mais

um ano no entanto

XXXVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

824

Os uacuteltimos apoiantes de

Tomaacutes satildeo esmagados na

Anatoacutelia

826

Siciacutelia Revoltosos gregos

da ilha apelam ao auxiacutelio

de aacuterabes do Norte de

Aacutefrica

827

Siciacutelia Invasatildeo aglaacutebida

da ilha

828

Creta Os Bizantinos

perdem esta ilha para

piratas andaluzes

829

Morte de Miguel II eacute

substituiacutedo por Teoacutefilo

831

Siciacutelia Os Aacuterabes

conquistam Palermo

833

Califado Morte de al-

Mamun eacute substituiacutedo no

trono pelo irmatildeo que

reinaraacute sob o nome de al-

Mutasim (iniacutecio do

periacuteodo abaacutessida meacutedio)

XXXIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

834

Teoacutefilo acolhe refugiados

Curramitas que se juntam

ao exeacutercito e se convertem

ao Cristianismo

837

Expediccedilotildees de saque

bizantinas contra o

Califado Chegada de mais

Curramitas ao Impeacuterio

838

Revoltas Curramitas no

Impeacuterio

Batalha de Anzen entre o

basileus Teoacutefilo de

Bizacircncio e forccedilas

abaacutessidas (que incluiacuteam

cavaleiros turcos) sob al-

Afshin culmina com a

vitoacuteria aacuterabe

Saque de Ancyra e Amoacuterio

por forccedilas abaacutessidas

839

Submissatildeo dos Curramitas

por Teoacutefilo

840

Reformas militares de

Teoacutefilo aumento de

soldos e reorganizaccedilatildeo da

cadeia de comando

XL

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

840-

841

As kleisocircurai da

Capadoacutecia e Charsianon

derrotam raids aacuterabes

Como recompensa a

kleisocircura da Capadoacutecia eacute

promovida a theacutema

841

Itaacutelia Os Aacuterabes tomam

Bari

842

Morte do basileus Teoacutefilo

Ascensatildeo de Miguel III

Morte de al-Mutasim eacute

substituiacutedo pelo filho al-

Wathiq

843

Creta Tentativa falhada

de reconquista de Creta

pelos Bizantinos Criaccedilatildeo

do theacutema do Mar Egeu

844

Estabelecimento de um

ldquoPrincipado Paulicianordquo

nas imediaccedilotildees da cidade

de Tephrice

847

Morte de al-Wathiq que

natildeo tem sucessor definido

Uma shura (espeacutecie de

concelho) acaba por eleger

um irmatildeo de al-Wathiq

como califa que ascenderaacute

com o nome de al-

Mutawakill

XLI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

861

Criaccedilatildeo do theacutema de

Coloacutenia no Alto Eufrates

863

Batalha de Marj al-Usquf

termina com uma vitoacuteria

piacuterrica muccedilulmana do

Emirato de Melitene

Batalha de Lalacatildeo

termina numa vitoacuteria

decisiva do domeacutestico das

Escolas Petronas sobre

Omar que cai na batalha

O outro grande emir da

fronteira o de Tarsus eacute

morto num contra raide

bizantino

866

Itaacutelia O imperador Luiacutes II

comeccedila a intervir no sul de

Itaacutelia

869

Siciacutelia Tentativa de

conquista de Taormina

pelo Emirato Aglaacutebida

Itaacutelia Cerco de Bari pelo

imperador Luiacutes II conta

com a participaccedilatildeo de

forccedilas bizantinas

c 870

Reformas militares de

Basiacutelio I agrave frota bizantina

XLII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

871

Itaacutelia Capitulaccedilatildeo de Bari

para as forccedilas francas

872

Batalha de Bathys Ryax ndash

vitoacuteria bizantina onde as

forccedilas militares strategoacutes

satildeo esmagadas O liacuteder da

heresia Crisoacutequero eacute

morto na batalha

876

Itaacutelia Bari passa para o

controlo do Impeacuterio

Bizantino

878

Siciacutelia 21 de maio ndash

conquista aglaacutebida de

Siracusa

879

Reconquista bizantina de

Tephrike potildee fim agrave naccedilatildeo

da heresia pauliciana

880

Itaacutelia Campanhas gregas

na regiatildeo permitem

reconquistar algumas

fortalezas como Taranto e

derrotar forccedilas navais

muccedilulmanas junto a

Milazzo

XLIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

886

Itaacutelia Reconquista da

Calaacutebria e da Apuacutelia por

Niceacuteforo Focas o Velho

889

Itaacutelia Importante vitoacuteria

bizantina no Estreito de

Messina permite repor o

controlo naval sobre

aquela zona apoacutes uma

derrota no ano interior

890

Provenccedila Criaccedilatildeo do

enclave pirata sarraceno

em Saint Tropez

891

Ataques corsaacuterios de Leatildeo

o Tripolitano e Damiano agrave

ilha de Samnos

Itaacutelia Conquista bizantina

de Benevento No ano

seguinte formar-se-aacute o

theacutema da Lombardia

centrado naquela cidade

894

Iniacutecio da guerra bizantino-

buacutelgara entre o basileuacutes

Leatildeo VI e o czar Simeatildeo

da Bulgaacuteria com o uacuteltimo

a demonstrar vantagem

inicialmente

895

Bulgaacuteria Contraofensiva

conjunta bizantina e

magiar contra os buacutelgaros

acarreta grandes sucessos

Mais tardes os bizantinos

XLIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

895

(cont)

retiram e os buacutelgaros

conseguem derrotar os

Magiares com apoio

pechenegue

896

Bulgaacuteria Apoacutes uma

marcante derrota bizantina

na batalha de

Bulgarophygon Leatildeo VI

assina a paz com Simeatildeo

Seacuteculo X

901

Itaacutelia Conquista de Reacutegio

pelos Aglaacutebidas da Siciacutelia

902

Siciacutelia Fim da presenccedila

bizantina na Siciacutelia com a

queda de Taormina para os

Aacuterabes

904

Saque de Tessaloacutenica agraves

matildeos de Leatildeo o

Tripolitano e Damiano

906

Panoacutenia Derrotados pelos

Pechenegues os Magiares

fogem para esta regiatildeo

onde arrasam o reino da

Moraacutevia

XLV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

911

Creta Expediccedilatildeo enviada

agrave ilha por Leatildeo VI o Saacutebio

falha a reconquista da ilha

915

Itaacutelia As forccedilas do

strategoacutes de Bari Nicolau

Piccingli juntam-se agrave Liga

Santa de Joatildeo X e

destroem o enclave pirata

sarraceno na foz do rio

Garigliano

917

Bulgaacuteria Batalha de

Acheloos ndash derrota do

strategoacutes Leatildeo Focas

frente agraves forccedilas buacutelgaras

do czar Simeatildeo

919

Romano Lecapeno o

droungaacuterios tou ploiumlmon

depotildee a regente Zoeacute

Carbonopsina e ascende

ao trono como co-

imperador de Constantino

VII

924

Cerco de Constantinopla

por Simeatildeo da Bulgaacuteria

termina em insucesso

Greacutecia Destruiccedilatildeo da

frota de Leatildeo o Tripolitano

na costa de Lemnos

XLVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

927

Impeacuterio Buacutelgaro A

morte do czar Simeatildeo potildee

fim aos seus planos de

criar um impeacuterio

Bizantino-Buacutelgaro

934

Uma hoste bizantina sob

Joatildeo Kourkoas conquista

a cidade de Melitene

941

Expediccedilatildeo de saque russa

ataca a margem asiaacutetica do

Boacutesforo mas eacute derrotada

por Romano Lecapeno

944

Usurpaccedilatildeo do poder pelos

filhos de Romano I eacute

repudiada pela populaccedilatildeo

de Constantinopla que

restitui ao trono o basileuacutes

Constantino VII

949

Creta Nova tentativa de

reconquista de Creta

falhada

Armeacutenia Bizacircncio ocupa

Teodosioacutepolis a principal

base aacuterabe nesta regiatildeo

955

Bavaacuteria Otatildeo I derrota

decisivamente os magiares

na batalha de Lechfeld

XLVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

959

Divisatildeo dos comandos dos

taacutegmata entre o Ocidente e

Oriente comandados por

um domeacutestico do Ocidente

e Oriente respetivamente

960

Batalha de Andrassos ndash

vitoacuteria de Leatildeo Focas

sobre Sayf al-Dawlah

961

Creta Reconquista da

ilha por Niceacuteforo Focas

962

Campanha bizantina sob

Niceacuteforo Focas na Ciliacutecia

e na Siacuteria contra o

Emirado Hamdacircnida

Conquista temporaacuteria de

Aleppo

963

Morte do Imperador

Romano II no decorrer de

uma caccedilada

Casamento de Niceacuteforo

Focas com a viuacuteva

Teoacutefane subindo ao trono

como o co-imperador

Niceacuteforo II Focas

964

Ocupaccedilatildeo total da ilha de

Chipre pelos Bizantinos

XLVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

965

Conquista da Ciliacutecia ndash

apoacutes a tomada de Tarso a

capital daquela regiatildeo

Bulgaacuteria O priacutencipe

Svyatoslav de Kiev invade

a Bulgaacuteria apoacutes o apelo de

Niceacuteforo II

966

Os exeacutercitos bizantinos

avanccedilam na direccedilatildeo de

Antioquia conquistando

algumas fortalezas nas

imediaccedilotildees desta como

Arka e Hierapoacutelis

Iniacutecio do cerco de

Antioquia

967

O Impeacuterio Bizantino

recebe em testamento o

principado de Taron na

Armeacutenia

969

Conquista de Antioquia

Deposiccedilatildeo e assassinato de

Niceacuteforo II Focas pelo

sobrinho Joatildeo I Tzimiskeacute

Itaacutelia Derrota bizantina

frente a Otatildeo I na batalha

de Ascoli potildee em risco as

uacuteltimas possessotildees

romanas no sul de Itaacutelia

970

Bulgaacuteria Tomada de

Filipopoacutelis pelos Russos

a uacuteltima fortaleza em matildeos

buacutelgaras

XLIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

970

(cont)

Traacutecia Batalha de

Arcadioupolis ndash Daacute tempo

suficiente ao co-imperador

Joatildeo I Tzimiskeacute para

preparar a invasatildeo da

Bulgaacuteria

971

Bulgaacuteria Batalha de

Dorostolon termina numa

vitoacuteria decisiva bizantina

que expele os Rus da

Bulgaacuteria

Svyatloslav morre pouco

depois agraves matildeos dos

Pechenegues

972

Mesopotacircmia Invasatildeo

romana da regiatildeo permite

a conquista de algumas

cidades como Niacutesibe

974

Siacuteria Joatildeo I Tzimiskeacute

tenta alcanccedilar Bagdade

mas eacute parado pelo deserto

da Siacuteria

975

Campanhas bizantinas na

Siacuteria culminam com a

conquista de Damasco e de

vaacuterias cidades na Siacuteria

Joatildeo I Tzimiskeacute promete

reconquistar Jerusaleacutem

L

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

976

Morte de Joatildeo I Tzimiskeacute

eacute sucedido pelo filho de

Romano II Basiacutelio

Insurreiccedilatildeo de Bardas

Sclero

978

O basileuacutes Basiacutelio II

incapaz de esmagar a

revolta sozinho apela ao

auxiacutelio do aristocrata

Bardas Focas

Batalha de Pankaleia

culmina na derrota de

Focas frente a Sclero

979

A revolta de Bardas Sclero

eacute esmagada por Bardas

Focas

986

Traacutecia Ataques buacutelgaros

que tinham comeccedilado em

985 atingem Tessaloacutenica

Bulgaacuteria Basiacutelio II eacute

derrotado por Samuel da

Bulgaacuteria numa emboscada

989

Batalha de Crisopoacutelis ndash

vitoacuteria de Basiacutelio II e dos

seus aliados Varangues

sobre as forccedilas rebeldes de

Barda Focas

LI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

989

(cont)

Batalha de Abido ndash vitoacuteria

decisiva de Basiacutelio II sobre

Barda Focas Morte do

uacuteltimo

997

Greacutecia Batalha do rio

Spercheios ndash Vitoacuteria das

forccedilas bizantinas de

Niceacuteforo Ouranos sobre as

forccedilas buacutelgaras do czar

Samuel

Seacuteculo XI

1001

Bulgaacuteria Realiza-se a

primeira campanha de

Basiacutelio II depois da sua

derrota anos antes

Treacuteguas entre Basiacutelio II e

o Califado Fatimita apoacutes

seis anos de conflito

1011

Itaacutelia Reconquista de

Bari a Meles um revoltoso

local

1014

Bulgaacuteria Batalha do

desfiladeiro de Kleidion

onde Basiacutelio II captura

cerca de 15 mil soldados

buacutelgaros e de acordo com

as fontes cega-os

Morte do czar Samuel

LII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1018

Bulgaacuteria Anexaccedilatildeo final

deste territoacuterio por Basiacutelio

II

Itaacutelia Batalha de Otranto

resulta numa vitoacuteria de

Niceacuteforo Boianeacutes o

katepaacutenō de Itaacutelia sobre

Meles e os seus aliados

normandos

1025

Morte de Basiacutelio II eacute

substituiacutedo pelo irmatildeo

Constantino

Itaacutelia Conquista de

Messina por Boianeacutes abre

caminho a uma possiacutevel

reconquista da Siciacutelia

1032

Siacuteria Durante o reinado

de Romano III Argiro

Bizacircncio reconquista

Edessa sob Jorge

Maniakeacutes

1040

Armeacutenia morte do rei

Joatildeo III Smbat Iniacutecio de

uma guerra civil entre o

sobrinho Gagik II e outros

priacutencipes armeacutenios com

incursotildees bizantinas

durante o conflito

Khorasan Vitoacuteria dos

Turcos Seljuacutecidas sobre o

sultatildeo Masrsquoud do Impeacuterio

Gaznaacutevida na batalha de

Dandanaqan

1041

Uacuteltimo cerco russo a

Constantinopla

Bulgaacuteria Revolta buacutelgara

eacute esmagada por forccedilas

leais a Constantinopla

LIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1042

Siciacutelia Jorge Maniakeacutes

acaba a reconquista da

parte oriental da ilha

1045

Armeacutenia Tomada de Ani

por forccedilas bizantinas e

purga da Igreja Miafisita

1048

Armeacutenia e Geoacutergia ndash Um

exeacutercito de ghazis Oguzes

invade estas regiotildees e

captura o priacutencipe Liparit

1050

Iraque Toghril Beg

invade o norte da regiatildeo

1053

Itaacutelia Batalha de Civitate

ndash os Normandos capturam

o papa Leatildeo IX

Peacutersia Graccedilas agraves tribos

turcomanas ao seu dispor

Toghril Beg toma conta da

regiatildeo de Fars no sudoeste

iraniano

1054

Expediccedilatildeo de Toghril Beg

na Armeacutenia e cerco de

Manzikert durante esta

expediccedilatildeo Toghril Beg

consegue chegar a

Trebizonda saquear a

zona de Van e ainda cercar

Manzikert ainda que sem

sucesso

LIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1055

Peacutersia Toghril Beg

conquista o Khuzistatildeo

Iraque dezembro - Os

Turcos Seljuacutecidas ocupam

Bagdade

1056

Morte de Teodora potildee fim

agrave dinastia Macedoacutenica

1057

Aacutesia Menor A cidade de

Melitene eacute saqueada e

arrasada por saqueadores

turcomanos

1058

Iraque O general turco

Arslan Basasiri recupera

Bagdade para os xiitas

1060

Iraque Basasiri eacute morto

em batalha Purga dos

xiitas de Bagdade

1063

Peacutersia Morte de Toghril

Beg em Rey Iniacutecio de

uma guerra civil

sucessoacuteria

LV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1064

Armeacutenia A cidade de

Ani e grande parte da

Armeacutenia eacute conquistada

por Alp Arslan

Balcatildes Conquista huacutengara

de Belgrado O povo Uzi

saqueia grande parte do

territoacuterio ocidental

bizantino ateacute agrave Greacutecia

Impeacuterio Seljuacutecida Alp

Arslan vence a guerra civil

e torna-se sultatildeo

1065

Armeacutenia Anexaccedilatildeo deste

territoacuterio pelo Sultanato

Seljuacutecida

1067

Aacutesia Menor Saque

turcomano de Cesareia

1068

Romano IV Dioacutegenes

torna-se co-imperador

Aacutesia Menor Conquista e

saque turcomano de

Amoacuterio sob Afsin

Siacuteria Campanha de

Romano IV Dioacutegenes nos

arredores de Alepo

termina em falhanccedilo a natildeo

ser pela conquista de

Hieraacutepolis

1069

Aacutesia Menor Ataque

turcomano a Icoacutenio no

coraccedilatildeo da Anatoacutelia

Nova campanha romana na

regiatildeo termina em

fracasso

1071

Armeacutenia Batalha de

Khliat Derrota das forccedilas

bizantinas sob Joseacute

Tarcaniotes e Roussel de

Bailleul frente a um

exeacutercito seljuacutecida sob

Sanduq al-Turki

Itaacutelia Roberto Guiscard

ocupa Bari e potildee fim a

mais de quinhentos anos

de presenccedila bizantina na

regiatildeo

Siacuteria Cercos turcomanos

a Edessa e Alepo Falham

pelas falsas treacuteguas

bizantinas no caso do

primeiro e pela declaraccedilatildeo

de guerra de Romano IV

Dioacutegenes no segundo

LVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1071

(cont)

Batalha de Manzikert ndash o

coimperador Romano IV

Diogenes eacute derrotado pelo

sultatildeo turco Alp Arslan

Apesar das baixas

relativamente pequenas

bizantinas vai marcar o

iniacutecio de um periacuteodo de

extrema instabilidade

poliacutetica para Bizacircncio

Batalha de Sebasteia ndash

Romano IV Dioacutegenes eacute

derrotado por forccedilas leais agrave

dinastia Ducas que

aprisionara a imperatriz

Eudoacutexia em

Constantinopla

1072

Batalha de Adana ndash Nova

derrota de Romano IV

Dioacutegenes frente aos

Ducas O co-imperador eacute

aprisionado cegado e

encerrado num mosteiro

onde morre pouco depois

Iratildeo ndash Assassinato de Alp

Arslan

1078

Golpe de estado do

strategoacutes da Anatoacutelia

Niceacuteforo Botaniates que

sobe ao trono como o

terceiro de seu nome

Formaccedilatildeo do Sultanato de

Rum pelo priacutencipe

Suleimatildeo

LVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1081

Niceacuteforo III eacute deposto por

Aleixo Comneno que o

substitui no trono

Balcatildes Cerco de

Dirraacutequio por Roberto

Guiscard

Os Normandos tomam a

ilha de Corfu

Aleixo Comneno eacute

derrotado pelas forccedilas de

Guiscard na batalha de

Dirraacutequio

1084

Balcatildes Nova campanha

de Roberto Guiscardo na

regiatildeo

1085

Balcatildes Morte de Roberto

Guiscardo durante o cerco

de Cefaloacutenia

1087

Traacutecia A regiatildeo eacute

invadida por Pechenegues

1091

Traacutecia Batalha do Monte

Levuniatildeo ndash vitoacuteria de

Aleixo Comneno sobre os

Pechenegues

Batalha de Anchialos

Aleixo Comneno derrota

os Cumanos

LVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1095

Franccedila Conciacutelio de

Clermont daacute iniacutecio agrave

Primeira Cruzada

1096

Primavera Chegada a

Constantinopla dos

primeiros regimentos

cruzados incluindo a

chamada ldquoCruzada

Popularrdquo liderada por

Pedro ldquoo Eremitardquo e

Gualter ldquoSem Haverrdquo Os

ldquoverdadeirosrdquo cruzados

chegaratildeo mais tarde

Batalha de Civetot A

Cruzada Popular eacute

derrotada por forccedilas

seljuacutecidas sob o Sultatildeo

Kilij Arslan

1097

Primavera Cerco

bizantino-cruzado a

Niceia A guarniccedilatildeo turca

rende-se a Constantinopla

que proiacutebe os Cruzados de

saquearem a cidade

1098

Siacuteria Balduiacuteno de

Bolonha conquista Edessa

e forma o primeiro Estado

cruzado o condado de

Edessa

LIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1098

(cont)

Junho ndash Os Cruzados

tomam Antioquia e

formam o segundo Estado

cruzado o principado de

Antioquia sob Boemundo

de Tarento filho de

Roberto Guiscardo

1099

Palestina julho ndash

Conquista saque e purga

de Jerusaleacutem pelos

Cruzados O reino de

Jerusaleacutem eacute criado e a

coroa entregue a

Godofredo de Bulhatildeo

duque da Baixa Lorena

Seacuteculo XII

1102

Palestina Raimundo de

Saint-Gilles o conde de

Toulose cria o condado de

Triacutepoli (apesar de ainda

natildeo controlar a cidade)

1104

Piroska filha do rei

magiar Ladislau I casa

com o futuro basileuacutes Joatildeo

II

LX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1108

Balcatildes A campanha

iniciada no ano anterior

por Boemundo de Tarento

sai gorada pelo uso de

taacuteticas de guerrilha por

Aleixo I Comneno

Siacuteria Apoacutes a recusa dos

Cruzados a entregarem

Antioquia Aleixo I

vassaliza o principado de

Antioquia agrave forccedila

1117

Batalha de Nicomeacutedia

Aleixo I Comneno derrota

o sultatildeo turco Malik Sha

1118

Ascensatildeo de Joatildeo II ao

trono de Constantinopla

apoacutes a morte do pai

Aleixo I Comneno

1120

Cerco de Panfiacutelia O

basileuacutes Joatildeo II captura a

cidade graccedilas agrave utilizaccedilatildeo

de taacuteticas de fuga

simulado

1122

Balcatildes Batalha de

Verroia ndash vitoacuteria de Joatildeo II

sobre os Pechenegues

1137

Siacuteria Joatildeo II submete o

priacutencipe de Antioquia

Raimundo de Poitiers agrave

soberania bizantina

LXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1143

Joatildeo II morre num

acidente durante uma

caccedilada O seu filho mais

novo Manuel substitui-o

1147

Escaramuccedila agraves portas de

Constantinopla entre

Bizantinos e cavaleiros da

Segunda Cruzada

1159

Siacuteria Submissatildeo de

Antioquia por Manuel I

1167

Balcatildes Manuel Comneno

derrota a Hungria e

submete a Dalmaacutecia a

Boacutesnia a Croaacutecia e

Siacutermio

1171

A ordem de detenccedilatildeo de

todos os Venezianos em

territoacuterio bizantino suscita

o iniacutecio de uma guerra

bizantino-veneziana

1172

Uma frota veneziana sob

o comando do doge Vital

II Miguel eacute destroccedilada por

uma epidemia e uma

tempestade durante uma

campanha contra algumas

ilhas gregas

Balcatildes Bizacircncio esmaga a

rebeliatildeo do priacutencipe

seacutervio Estevatildeo Nemanja

LXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1176

Setembro ndash Manuel I perde

a batalha de Mirioceacutefalo

que mutila severamente as

capacidades ofensivas do

impeacuterio

1179

Iniacutecio das negociaccedilotildees de

paz entre Bizacircncio e

Veneza Manuel aceita

libertar alguns dos

venezianos presos em

1171

1180

Manuel I morre e Aleixo II

substitui-o

1182

Maio ndash Massacre da

populaccedilatildeo latina de

Constantinopla

1183

Androacutenico I primo de

Manuel ascende ao trono

apoacutes assassinar a

imperatriz-regente Maria

e o basileuacutes Aleixo II

LXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1185

Androacutenico I eacute linchado

pela populaccedilatildeo de

Constantinopla a dinastia

dos Comnenos termina

Satildeo substituiacutedos pela

dinastia dos Anjos com

Isaac II a ser coroado

imperador

Tessaloacutenica A cidade eacute

tomada pelos Normandos

agravando a hostilidade

bizantina ao reinado cruel

de Androacutenico I

1187

Bulgaacuteria Formaccedilatildeo do

segundo Impeacuterio Buacutelgaro

Palestina As forccedilas

militares do Reino de

Jerusaleacutem satildeo derrotadas

por Saladino o sultatildeo

aiuacutebida do Egipto e da

Siacuteria na batalha dos

Cornos de Hattin

Saladino o sultatildeo aiuacutebida

do Egipto e da Siacuteria

reconquista Jerusaleacutem

1189

Formaccedilatildeo da Terceira

Cruzada liderada por

Frederico I ldquoBarba Ruivardquo

Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de

Leatildeordquo e Filipe II

ldquoAugustordquo

1190

Ciliacutecia Frederico ldquoBarba

Ruivardquo morre afogado

num lago

LXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1191

Chipre Forccedilas cruzadas

sob Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de

Leatildeordquo conquistam a ilha a

Bizacircncio

1195

Isaac II eacute cegado e deposto

pelo irmatildeo Aleixo III

1198

Tratada de reposiccedilatildeo da

alianccedila bizantino-

veneziana apoacutes Aleixo III

tentar acabar com a

alianccedila

Itaacutelia Inocecircncio III lanccedila

a Quarta Cruzada

Seacuteculo XIII

1202

Dalmaacutecia A Quarta

Cruzada conquista e

saqueia a cidade cristatilde de

Zama a pedido dos

Venezianos

1203

As forccedilas da Quarta

Cruzada depotildeem Aleixo

III e repotildeem Aleixo III no

trono O filho deste

Aleixo IV torna-se

imperador associado

LXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1204

Janeiro Aleixo V Ducas

Murzuflo depotildee e prende

Isaac II Aleixo IV eacute

morto O novo basileuacutes

recusa-se a pagar o que

Aleixo IV prometera pagar

aos Cruzados

Abril Conquista e saque

da maior cidade cristatilde do

mundo pelos Cruzados O

Impeacuterio Bizantino eacute

dividido entre Venezianos

e Cruzados e no seu

lugar surge o Impeacuterio

Latino de Ocidente e um

conjunto de estados

vassalos Por outro lado

os gregos formam vaacuterios

na Aacutesia Menor e no Epiro

que vatildeo resistir ferozmente

aos Cruzados e tentar

reconquistar

Constantinopla

Fim da eacutepoca meacutedia bizantina

1261

O ldquoimpeacuteriordquo de Niceia

recupera Constantinopla

sob o comando de Miguel

Paleoacutelogo Deposiccedilatildeo de

Joatildeo VI Lascaris e

ascensatildeo de Miguel ao

poder Reformaccedilatildeo do

Impeacuterio Bizantino

LXVI

Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana)

Ca 850

Basiacutelio chega a

Constantinopla

856857

Basiacutelio entra ao serviccedilo

do basileuacutes Miguel III

como membro da

Hetaireia um regimento

da Guarda Imperial

858

Miguel III e o seu tio

Bardas potildeem fim agrave

regecircncia de Teodora e do

seu tio Seacutergio

Miguel III e o seu tio

Bardas substituem o

patriarca Inaacutecio por

Foacutecio que nas palavras

da famiacutelia real

conspirava contra esta

20 de dezembro Foacutecio eacute

tonsurado Num periacuteodo

de quatro dias torna-se

padre

25 de dezembro Foacutecio

ascende ao Patriarcado

860

Primeiros ataques russos a

Constantinopla

Aacutesia Menor Uma frota de

Tarso ataca Antalya

LXVII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

861

Num Conciacutelio realizado

em Constantinopla os

legados papais aprovam a

ascensatildeo de Foacutecio ao

patriarcado

863

Batalha de Marj al-Usquf

- Vitoacuteria piacuterrica

muccedilulmana do Emirato de

Melitene sobre o exeacutercito

bizantino de Miguel III

Batalha do Lalacatildeo -

vitoacuteria decisiva do

domeacutestico das Escolas

Petronas sobre as forccedilas

aacuterabes que sobreviveram agrave

batalha de Marj al-Usquf

O emir de Melitene morre

na batalha

Mesopotacircmia O emir de

Tarso eacute morto num contra

raide bizantino

864

Eacute outorgado a Basiacutelio o

cargo de parakoimṓmenos

do basileuacutes apoacutes a

remoccedilatildeo do seu

predecessor Damiano

que ofendera o ceacutesar

Bardas

Bulgaacuteria Conversatildeo da

Bulgaacuteria ao

Cristianismo580

Teodoro Santabarenos

torna-se abade do

mosteiro de Stoudios

c865

Casamento de Basiacutelio

com Eudoacutexia Ingerina a

amante de Miguel III

580 Ou 845 in TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912)

LXVIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

866

Basiacutelio torna-se co-

imperador de Miguel III

apoacutes o assassinato do tio

do Imperador Bardas

Nasce o segundogeacutenito de

Basiacutelio o futuro Leatildeo

VI581

Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica)

867

Ascensatildeo de Basiacutelio I

apoacutes o assassinato pelas

suas proacuteprias matildeos de

Miguel III Instituiccedilatildeo da

dinastia Macedoacutenica

No mecircs de agosto o

patriarca Foacutecio depotildee o

Papa Nicolau I

Apoacutes a ascensatildeo de

Basiacutelio as decisotildees do

Conciacutelio Constantinopla-

867 satildeo repudiadas e

Foacutecio eacute deposto por

condenar o assassinato de

Miguel III Reinstalaccedilatildeo

de Inaacutecio no Patriarcado

Teodoro Santabarenos eacute

expulso de Stoudios

868

Egipto Formaccedilatildeo do

Emirato Tuluacutenida

581 Natildeo haacute um consenso sobre o dia e o mecircs em que o futuro basileuacutes teraacute nascido Jorge o Monge indica 1 de

setembro Pseudo-Simeatildeo indica apenas o mecircs de setembro e Leatildeo o Gramaacutetico aponta o nascimento para 1 de

dezembro o proacuteprio Leatildeo na homilia de reedificaccedilatildeo da Igreja de Satildeo Tomeacute refere que o seu nascimento

acontece alguns dias antes do dia de Satildeo Tomeacute (8 de outubro) por fim Grumel refere que Leatildeo na realidade diz

que o seu aniversaacuterio foi no mesmo dia da reedificaccedilatildeo ou seja a 19 de setembro

Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill p 42

LXIX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

869

Siciacutelia Tentativas de

conquista de Taormina e

Siracusa pelo Emirato

Aglaacutebida

Itaacutelia Uma frota bizantina

dirige-se a Bari para em

concertaccedilatildeo com uma

forccedila franca sob o

comando do imperador

Luiacutes II tomar a cidade

c870

O ex-patriarca Foacutecio

torna-se tutor dos filhos

do basileuacutes

Malta Conquista aglaacutebida

da ilha

871

Itaacutelia A 3 de fevereiro a

cidade de Bari rende-se ao

rei Luiacutes II

Itaacutelia Iniacutecio de um cerco

aacuterabe a Salerno

872

Aacutesia Menor batalha de

Bathys Riax582 Um

exeacutercito bizantino derrota

uma forccedila pauliciana e

mata o seu liacuteder

Crisoacutequero

Dalmaacutecia Corsaacuterios da

ilha de Creta saqueiam a

regiatildeo

582 A bibliografia que lemos discorda da data em que se realizou a batalha John Haldon refere 878 Shaun

Tougher refere 872

LXX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

872

(cont)

Itaacutelia Libertaccedilatildeo do cerco

aacuterabe de Salerno

873

Itaacutelia O Impeacuterio

Bizantino ocupa Otranto

na Apuacutelia

Golfo de Saros Niquetas

Orifas destroacutei 20 navios

aacuterabes

Siciacutelia Nova tentativa de

conquista de Siracusa

pelos Aglaacutebidas

875

Mar Adriaacutetico

Expediccedilatildeo de saque aacuterabe

chega ao Golfo de Trieste

e cerca Grado O cerco

falha e durante a retirada

os Muccedilulmanos desolam

Comacchio

Itaacutelia Raides aacuterabes na

Campacircnia e na costa

ocidental italiana

chegando a atingir a zona

de Roma O papa Joatildeo

VIII apela ao auxiacutelio de

Bizacircncio frente agrave ameaccedila

876

Itaacutelia Com a crescente

ameaccedila aacuterabe no sul de

Itaacutelia a populaccedilatildeo de Bari

entrega a cidade a

Bizacircncio

LXXI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

877

Siciacutelia Iniacutecio do uacuteltimo

cerco aacuterabe a Siracusa

Itaacutelia Novo apelo papal

dirigido ao strategos

Gregoacuterio

Morte de Inaacutecio Foacutecio

volta a tornar-se

patriarca

Foacutecio aponta Teodoro

Santabarenos como bispo

de Euceta na Greacutecia

878

Siciacutelia 21 de maio -

Queda de Siracusa

Massacre e saque da

cidade

878-

882

Ciliacutecia Periacuteodo de

ocupaccedilatildeo tuluacutenida

c879

Morte do filho

primogeacutenito de Basiacutelio

Constantino

Basiacutelio I casa o seu

segundo filho o futuro

Leatildeo VI com Teoacutefane

Golfo de Corinto Derrota

de uma frota sarracena que

saqueava o Mar Joacutenico agraves

matildeos de Niquetas Oryfas

Aacutesia Menor Forccedilas

bizantinas sob o comando

pessoal do basileuacutes

conquistam a capital dos

Paulicianos Tephrike

880

Mar Joacutenico Expediccedilatildeo

naval de Ibrahim II saqueia

Kefaleacutenia e Zakynthos O

droungaacuterios tou ploiumlmon

Nasar destroacutei a frota

adversaacuteria ao largo da

costa ocidental grega num

ataque noturno

O papado aprova a

(re)ascensatildeo de Foacutecio ao

patriarcado

LXXII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

880

(cont)

Siciacutelia Nasar saqueia e

desola os arredores de

Palermo captura

embarcaccedilotildees aglaacutebidas e

derrota forccedilas navais

aacuterabes junto a Punta di

Stilo durante o regresso

Itaacutelia Graccedilas aos sucessos

de Nasar um esquadratildeo

bizantina dirige-se a

Naacutepoles sob o comando

do spathaacuterios Gregoacuterio o

turmarca Teophylaktos e o

komeacutes Diogeacutenes onde

arrecadam uma nova

vitoacuteria para os Bizantinos

Siciacutelia Vitoacuteria naval

bizantina junto a Milazzo

no decorrer de uma

contraofensiva liderada

pelo protovestiaacuterio

Procoacutepio do strategoacutes

Leatildeo Apoacutestipo e do

almirante Nassar

Itaacutelia As forccedilas enviadas

para a regiatildeo por Basiacutelio I

conquistam quase todas as

fortalezas aacuterabes na

Calaacutebria e na Apuacutelia

oriental Apoacutes uma

importante batalha campal

agraves portas de Taranto onde

morre Procoacutepio o

strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo

conquista a cidade

LXXIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

880

(cont)

Itaacutelia Apelo papal a

Basiacutelio I de uma frota

bizantina

Itaacutelia Com a autorizaccedilatildeo

do bispo-duque Atanaacutesio

II uma forccedila muccedilulmana

fixa-se no sopeacute do Monte

Vesuacutevio Enquanto isso

um outro bando de

soldados sediado em

Sapenium saqueia toda a

regiatildeo a norte ateacute Espoleto

881

Itaacutelia Naacutepoles e Salerno

combinam forccedilas para

tentar destruir as bases de

saqueadores sarracenos na

Calaacutebria e na Campacircnia

883

Aprisionamento do novo

herdeiro Leatildeo durante

trecircs anos por suspeitas de

conspirar contra Basilio

Ciliacutecia Uma hoste

bizantina eacute derrotada na

regiatildeo de Tarso pelo emir

Yazaman Mais tarde

Yazaman seraacute tambeacutem ele

derrotado pelo strategoacutes

Oiniates

Itaacutelia Nova alianccedila

lombarda Os vaacuterios

grupos muccedilulmanos

retiram para norte e juntam

forccedilas no rio Garigliano

onde criam uma base de

operaccedilotildees

LXXIV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

884

Itaacutelia Saque sarraceno do

mosteiro de Montecassino

885

Moraacutevia Morte do

monge Metoacutedio um dos

principais responsaacuteveis

pela conversatildeo dos

Eslavos e da transcriccedilatildeo

dos textos biacuteblicos para

Ciriacutelico

886

25 de marccedilo Um conluio

organizado por Joatildeo

Kourkouas e outros

sessenta e seis senadores eacute

descoberto e rapidamente

destroccedilado por Basiacutelio I

21 de julho Leatildeo eacute

libertado da sua prisatildeo no

dia de Satildeo Elias

29 de agosto morte de

Basiacutelio I no seguimento

de um acidente ocorrido

numa caccedilada

Itaacutelia A expediccedilatildeo que

Basiacutelio I envia para Itaacutelia

sob o comando de

Niceacuteforo Focas o Velho

em 885 consegue

reconquistar as uacuteltimas

possessotildees muccedilulmanas na

Calaacutebria e submeter os

Lombardos da Apuacutelia agrave

supremacia bizantina

Reinado de Leatildeo VI

886

Agosto Ascensatildeo de Leatildeo

VI ao trono imperial O

seu irmatildeo Alexandre

torna-se co-imperador

Foacutecio eacute deposto do

patriarcado Um irmatildeo

do novo basileuacutes

Estevatildeo substitui Foacutecio

naquele cargo

LXXV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

887

Julgamento de Foacutecio e

Santabarenos Teodoro eacute

cegado e exilado em

Atenas Foacutecio eacute

encerrado num mosteiro

888

Aacutesia Menor Hipsele no

theacutema de Charsianon eacute

capturada por forccedilas

aacuterabes

Ciliacutecia O governador de

Tarso Yazaman captura

quatro navios bizantinos

durante um raide naval

Estreito de Messina

Vitoacuteria naval aacuterabe sobre

uma frota bizantina nas

imediaccedilotildees de Milazzo

Saque posterior de Reacutegio

Leatildeo VI redige um

Epitaphios dos pais

889

Bulgaacuteria O czar Boris

abdica e entrega o trono

ao filho Vladimir

Estreito de Messina um

almirante bizantino derrota

a frota muccedilulmana que

vencera em Milazzo e

consegue repor o controlo

sobre o estreito

890

Provenccedila Fixaccedilatildeo de um

enclave muccedilulmano de

piratas em Saint Tropez

que perduraraacute ateacute 972

LXXVI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

891

Itaacutelia Guido de Espoleto

eacute coroado Imperador pelo

Papa Estevatildeo VI

Ciliacutecia Yazaman ataca

Salandu uma cidade

costeira na Ciliacutecia

ocidental

Itaacutelia O strategos

Symbatikios conquista a

cidade lombarda de

Benevento a 18 de

outubro

Mar Egeu A ilha de

Samos eacute atacada por

saqueadores aacuterabes

liderados por Leatildeo o

Tripolitano e Damiano583

892-

897

Ciliacutecia Novo periacuteodo de

ocupaccedilatildeo tuluacutenida

892

Itaacutelia Formaccedilatildeo do tema

da Lombardia sediado em

Benevento

893

Bulgaacuteria Boacuteris depotildee

Vladimir e substitui-o por

outro filho Simeatildeo

Substituiccedilatildeo da capital

buacutelgara passa de Priska

para Preslav

A transferecircncia do

mercado buacutelgaro de

Constantinopla para

Tessaloacutenica suscita o iniacutecio

de uma guerra entre Leatildeo

VI e Simeatildeo no ano

seguinte

O patriarca Estevatildeo

morre Antoacutenio Caulias eacute

escolhido para o

substituir

Bulgaacuteria Simeatildeo

envolve-se na traduccedilatildeo

de textos biacuteblicos do

Grego para o Eslaacutevico

583 Shaun Tougher indica que este ataque ter-se-aacute realizado entre 891 e 893

LXXVII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

894

Iniacutecio da guerra entre Leatildeo

VI e Simeatildeo

Itaacutelia O strategos

Barsaacutequio muda a capital

do tema da Lombardia

para Bari Esta decisatildeo eacute

tomada devido ao grande

sentimento de hostilidade

por parte dos habitantes da

cidade de Benevento

895

Apoacutes os desaires do ano

anterior Leatildeo VI inicia

uma contraofensiva

terrestre e naval que conta

com o apoio dos Magiares

O questor Konstantinakis eacute

preso durante uma

embaixada a Simeatildeo

Os Magiares invadem a

Bulgaacuteria pelo norte e

obrigam Simeatildeo a

refugiar-se em Moundraga

Com a vitoacuteria bizantina

quase decidida Leatildeo envia

a Moundraga o diplomata

Leatildeo Coirosfactes Leatildeo

ordena aos seus

comandantes o Domeacutestico

Niceacuteforo Focas e o

almirante Eustaacutecio para

retirarem

Apoiado pelos

Pechenegues Simeatildeo

derrota marcadamente os

Magiares

LXXVIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Itaacutelia Os Lombardos

recuperam Benevento

Anatoacutelia dezembro - troca

de prisioneiros

895896

Morte de Teoacutefane Leatildeo

casa-se com a sua amante

Zoeacute Zautzina

896

Os Bizantinos sob a

lideranccedila de Leatildeo

Katakalon satildeo derrotados

na batalha de

Bulgarophygon na Traacutecia

A derrota permite aos

Buacutelgaros saquear toda a

regiatildeo e ateacute ameaccedilar

Constantinopla

Por meio de Leatildeo

Coirosfactes Leatildeo assina a

paz com Simeatildeo pela

resoluccedilatildeo da questatildeo dos

mercados e o

comprometimento do

basileuacutes em pagar um

tributo anual

898

O eunuco Raghib captura e

mata trecircs mil marinheiros

bizantinos e queima os

seus navios

LXXIX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

899900

Morte de Zoeacute Zautzina

Califado O eunuco

Raghib eacute aprisionado pelo

califa al-Mutatid Mais

tarde morreraacute no cativeiro

900

Casamento de Leatildeo com

Eudoacutexia Baineacute

Ciliacutecia Os navios usados

pelos saqueadores aacuterabes

de Tarso satildeo queimados agraves

ordens do califa Forccedilas

bizantinas chegam ao

portatildeo Qalamya de Tarso

derrotando e capturando o

emir pouco depois durante

uma surtida

Leatildeo VI e Antoacutenio

reconciliam a Igreja e um

grupo de opositores a

Foacutecio

901

Morte da basiacutelissa e do

seu filho durante o parto

Itaacutelia 10 de julho - O

Emirado Aglaacutebida toma e

saqueia Reacutegio

Tessaacutelia Leatildeo o

Tripolitano e Damiano

capturam Demeacutetrias

Bulgaacuteria Embaixada de

Leatildeo Coirosfactes com o

objetivo de persuadir

Simeatildeo a devolver trinta

fortalezas na regiatildeo de

Dirraacutequio

Ciliacutecia Um exeacutercito

bizantino ataca Kaysum e

captura alegadamente

cerca de quinze mil

muccedilulmanos

LXXX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

902

Mar Egeu Ataque aacuterabe agrave

ilha de Lemnos no Egeu

Norte584

Siciacutelia Queda de

Taormina frente ao emir

Ibrahim II Fim da

presenccedila bizantina na

Siciacutelia

Itaacutelia Cerco de Cosenza

por Ibrahim II O emir

morre durante o cerco e o

seu exeacutercito desbanda

904

Himeacuterio eacute escolhido para

substituir Eustaacutecio como

almirante

Tessaloacutenica julho ndash

Depois de obrigarem o

Drungaacuterio da Frota

Eustaacutecio a retirar Leatildeo e

Damiano atacam e

saqueiam a segunda maior

cidade do Impeacuterio As

baixas bizantinas585

chegam aos mil homens

incluindo o strategos Leatildeo

Katzilakios que eacute

capturado pelo seu

homoacutenimo pirata

A libertaccedilatildeo da cidade eacute

comprada a Leatildeo o

Tripolitano atraveacutes de um

tributo que estava a ser

levado para a Bulgaacuteria

584 Ou 903 585 Entre mortos e prisioneiros de guerra

LXXXI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

904

(cont)

Bulgaacuteria Coirosfactes eacute

enviado para evitar que

Simeatildeo aproveitasse o

ataque aacuterabe a Tessaloacutenica

para conquistar a cidade

Ciliacutecia Saque de Hadat

Novembro ndash Androacutenico

Ducas vence uma batalha

junto a Maras

905

Leatildeo VI e uma amante

Zoeacute Carbonopsina tecircm

um filho o futuro

Constantino VI

Revolta de Androacutenico

Ducas A rebeliatildeo eacute

derrotada nesse ano apoacutes

uma pequena escaramuccedila e

o general revoltoso foge

para territoacuterio aacuterabe

Egipto Um exeacutercito

enviado pelo califa al-

Muktafi potildee fim ao

emirato tuluacutenida e coloca

a regiatildeo sob o controlo

direto dos Abaacutessidas

906

906

(cont)

Constantino eacute batizado e

declarado herdeiro Leatildeo

casa com Zoeacute

Importante vitoacuteria naval

bizantina durante a

contraofensiva levada a

cabo por Himeacuterio no dia

de Satildeo Tomeacute (6 de

outubro)

Siacuteria Saque bizantino de

Qurus nos arredores de

Aleppo

Leatildeo VI eacute excomungado

por ter casado pela quarta

vez

Bulgaacuteria Constantino

bispo de Preslav e

disciacutepulo de Metoacutedio

traduz os sermotildees de

Atanaacutesio de Alexandria

LXXXII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

907

Ataque de Olev de Kiev a

Constantinopla

O synkellos Eutiacutemio

ascende ao patriarcado

apoacutes a deposiccedilatildeo do

patriarca Nicolau que se

opotildee ao quarto

casamento do imperador

Um siacutenodo que reuacutene

representantes das cinco

sedes da Pentarquia

perdoa Leatildeo VI

909

Constantinopla O

priacutencipe Atenolfo I de

Caacutepua e Benevento envia o

seu filho primogeacutenito agrave

capital bizantina para pedir

ajuda militar a Leatildeo VI

para fazer frente agraves

depredaccedilotildees dos

Sarracenos sediados em

Garigliano

Siacuteria 20 de Setembro ndash

Iniacutecio de uma incursatildeo

naval bizantina na costa

siacuteria que conquista as

fortalezsa de al-Qubba e

Laodiceia

910

Levante Ataques de

Himeacuterios no Levante e na

ilha de Chipre

911

Chipre586 Como

represaacutelia por um ataque

de Himeacuterio agrave populaccedilatildeo

muccedilulmana da ilha

586 Ou 912

LXXXIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

911

(cont)

Damiano ataca os

habitantes bizantinos da

ilha capturando alguns

destes

Creta A tentativa de

reconquistar a ilha numa

campanha lanccedilada por

Leatildeo VI acaba numa

derrota das forccedilas

bizantinas lideradas por

Himeacuterio agraves matildeos de Leatildeo

o Tripolitano e Damiano

912

Morte de Leatildeo VI em

Constantinopla Eacute

substituiacutedo pelo irmatildeo

Alexandre

Chios Aniquilaccedilatildeo da

frota de Himeacuterio

Apoacutes a morte de Leatildeo

VI realiza-se o siacutenodo de

Magnaura que depotildee

Eutiacutemio e repotildee Nicolau

Reinado de Alexandre

912

Apoacutes a morte de Leatildeo VI

realiza-se o siacutenodo de

Magnaura que depotildee

Eutiacutemio e repotildee Nicolau

913

Morte de Alexandre

ldquoAscensatildeordquo do filho de

Leatildeo VI Constantino VII

com a regecircncia do

patriarca Nicolau

Bulgaacuteria Apoacutes Alexandre

se recusar a pagar o

habitual tributo a Simeatildeo

a guerra entre as duas

potecircncias eacute renovada

LXXXIV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Reinado de Constantino VII

914

Zoeacute Carbonopsina e Leatildeo

Focas depotildeem Nicolau da

regecircncia

915

Itaacutelia O papa Joatildeo X

funda uma liga cristatilde que

une a maior parte das

potecircncias do sul de Itaacutelia

contra Garagliano

incluindo um conjunto de

forccedilas bizantinas sob o

comando de Nicolau

Picingli o strategoacutes de

Bari Depois de um cerco

de trecircs meses os

Muccedilulmanos satildeo

derrotados quando tentam

abandonar as fortificaccedilotildees

917

Traacutecia Batalha de

Acheloos ndash O czar Simeatildeo

derrota Leatildeo Focas

decisivamente o Impeacuterio

da Bulgaacuteria expande-se

pela Traacutecia

919

O droungaacuterios tou

ploiumlmon Romano

Lecapeno encerra Zoeacute

Carbonopsina num

mosteiro e torna-se no

primeiro coimperador

macedoacutenico

LXXXV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

923

Lemnos O patriacutecio Joatildeo

Radenes derrota Leatildeo o

Tripolita que teraacute morrido

no combate

924

Aacutesia Menor Morte de

Damiano durante o cerco a

Strobilos no theacutema dos

Kibirrhaiotai

Simeatildeo da Bulgaacuteria cerca

Constantinopla que eacute

defendida por Romano I

Lecapeno

927

Bulgaacuteria Morte do Czar

Simeatildeo potildee fim agraves suas

ambiccedilotildees de criar um

impeacuterio bizantino-

buacutelgaro

LXXXVI

Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees

a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados

lsquoAbd al-Malik (seacuteculos VII-VIII dC) ndash Califa omiacuteada entre 685-705 e um dos

participantes principais na Segunda Fitna que acabou por vencer em 692 Em relaccedilatildeo a

Bizacircncio assina em 688 um tratado com Justiniano que declara a ilha de Chipre como

territoacuterio bipartido Quando morre o califado torna-se um impeacuterio burocraacutetico centralizado

escorado sobre o exeacutercito da Siacuteria587

lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que

teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso

Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid

comeccedilara a ganhar

Alp Arslan (seacuteculo XI dC) ndash Sultatildeo seljuacutecida que derrotou o co-imperador Romano

IV Diogenes na batalha de Manzikert em 1071 Foi assassinado no ano seguinte por um

rebelde coraacutesmio

Artavasdo (seacuteculo VIII) ndash Genro de Leatildeo III que ocupou as funccedilotildees kouropalaacutetēs e

koacutemes do Opsikiacuteon durante o seu reinado Apoacutes a ascensatildeo ao trono do sobrinho o basileuacutes

Constantino V tenta usurpar o trono com o apoio dos seus homens em 742 Apesar de ter

tomado Constantinopla natildeo logra capturar o imperador que consegue se refugiar em

Amorion No ano seguinte o basileuacutes legiacutetimo regressa com o apoio dos themaacuteta dos

Traceacutesicos e dos Anatolikoacuten e derrota o usurpador que eacute capturado e cegado em conjunto

com o filho A revolta de Artavasdo eacute considerada um dos principais catalisadores para a

formaccedilatildeo dos taacutegmata

Basiacutelio I (seacuteculo IX dC) ndash Basileuacutes que precedeu Leatildeo VI reinando entre 867 e 886

Depois de ter usurpado o trono a Miguel III fundou a dinastia Macedoacutenica Durante o seu

reinado os Bizantinos obtiveram importantes vitoacuterias militares como a reconquista de Bari

no sul de Itaacutelia em 876 ou a vitoacuteria na batalha de Bathys Ryax em 878 um passo decisivo

na derrota da seita pauliciana e para a consolidaccedilatildeo do poder bizantino na Anatoacutelia oriental

587 Vide KENNEDY Hugh (2004) The Prophet and the Age of Caliphs Segunda Ediccedilatildeo Gratilde-Bretanha Pearson

Longman p 103

LXXXVII

Basiacutelio II (seacuteculo X dC) ndash Penuacuteltimo basileuacutes macedoacutenico reinou entre 976 e 1025

Apesar de um iniacutecio de reinado bastante atribulado consegue apoacutes a vitoacuteria sobre os

apoiantes de Bardas Focas na batalha de Abido em 989 encetar vaacuterias campanhas militares

vitoriosas na Bulgaacuteria na Armeacutenia e em Itaacutelia No final do seu reinado o Impeacuterio Romano do

Oriente assiste por um lado agrave recuperaccedilatildeo de muitos territoacuterios de jure bizantinos em

especial os territoacuterios do czar Samuel da Bulgaacuteria e por outro agrave afirmaccedilatildeo da sua

superioridade sobre o Mediterracircnio oriental e os Balcatildes

Constante II (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes bizantino neto de Heraacuteclio que reina entre 641 e

668 Durante o seu principado enfrenta uma das primeiras expediccedilotildees aacuterabes contra

Constantinopla e sofre uma derrota devastadora numa batalha naval na Costa da Liacutecia a

conhecida laquobatalha dos Mastrosraquo Apoacutes vaacuterias tentativas com pouco ou nenhum sucesso de

estabilizar a fronteira oriental e garantir a fidelidade da Armeacutenia viaja para ocidente onde

tenta repor as defesas dessas regiotildees e criar boas bases de apoio fiscal para apoiar o esforccedilo de

guerra e em especial a Marinha Eacute assassinado na Siciacutelia em 668

Constantino I (seacuteculo IV) ndash Imperador romano entre 324-337 Constantino torna-se no

imperador absoluto do Impeacuterio apoacutes a vitoacuteria sob Liciacutenio o Augusto do Oriente na batalha de

Crisoacutepolis em 324 Mais tarde em 330 dC refunda a cidade de Bizacircncio desta feita com o

nome de Constantinopla

Constantino V o Coproacutenimo (seacuteculo VIII) ndash Basileuacutes entre 741-755 A este imperador

eacute-lhe atribuiacuteda a fundaccedilatildeo dos taacutegmata apoacutes a sua vitoacuteria sobre o conde do Opsikiacuteon

Artavasdo quando este tentou usurpar o poder entre 741-743 Com o apoio deste exeacutercito

central conseguiu conquistar vaacuterios territoacuterios nos Balcatildes e atacar territoacuterio califal

Constantino VII (seacuteculo X) ndash Terceiro Basileuacutes macedoacutenico reinou entre 913-959

Filho e herdeiro de Leatildeo VI herdou o legado cultural do pai A ele satildeo-lhes atribuiacutedas vaacuterias

obras de renome como o De Ceremoniis (laquoo Livro das Cerimoacuteniasraquo) o De Administrando

Imperii o De Thematibus e o Vita Basilii uma biografia do avocirc bem como um pequeno

tratado sobre a funccedilatildeo e importacircncia do basileuacutes numa expediccedilatildeo militar Durante o seu

reinado e do seu co-imperador Romano I Lecapeno o impeacuterio vai tomando uma postura cada

vez mais ofensiva algo verificaacutevel numa seacuterie de reformas empreendidas e na expansatildeo para

Oriente com destaque para a conquista de Melitene por Joatildeo Curcuas em 934

Cosroeacutes II (seacuteculos VI e VII) ndash Rei do Impeacuterio Sassacircnida em 590 e entre 591-628

Apoacutes o assassinato de Hormisdas seu pai em 590 o jovem Cosroeacutes II foge para a corte do

LXXXVIII

imperador Mauriacutecio em Constantinopla que o ajuda a recuperar o trono um ano depois Apoacutes

a morte do seu protetor em 602 Cosroeacutes invade o Impeacuterio Bizantino naquela que seria a

uacuteltima guerra BizantinoRomano-Persa Apesar de um iniacutecio de guerra bastante bem-

sucedido com a conquista de vastas porccedilotildees de territoacuterio bizantino a mareacute acaba por se virar

contra ele sofrendo vaacuterias derrotas agraves matildeos de Heraacuteclio Eacute deposto e assassinado pelo filho

em 628

Focas (seacuteculo VII) ndash Imperador bizantino entre 602-610 Inicialmente um oficial da

armada do Danuacutebio Focas eacute declarado imperador pelo seu exeacutercito em 602 apoacutes mais uma

tentativa falhada de Mauriacutecio de reduzir custos nas despesas do exeacutercito atacando

posteriormente Constantinopla onde depotildee e assassina Mauriacutecio Apoacutes oito anos de um

reinado bastante fraco onde para aleacutem da instabilidade interna causada pela sua falta de

legitimidade se viu frente-a-frente com uma guerra com o Impeacuterio Persa Sassacircnida e novas

invasotildees Aacutevaro-Eslavas acaba deposto e morto por Heraacuteclio em 610

Harun al-Rashid (seacuteculos VIII-IX) ndash Califa abaacutessida entre 786-809 Considerado um

dos grandes califas muccedilulmanos Harun al-Rashid conduziu vaacuterias campanhas com sucesso agrave

Aacutesia Menor obrigando Bizacircncio a pagar um pesado tributo Quando morre tem iniacutecio a

Quarta Fitna entre os seus filhos al-Amin e Al-Mamun conflito que permite ao Impeacuterio

Bizantino ter algum descanso na fronteira oriental e concentrar-se na (tentativa) de

erradicaccedilatildeo do Impeacuterio Buacutelgaro que termina em fracasso no ano de 811 com a morte de

Niceacuteforo I

Heraacuteclio (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes entre 610-640 Apoacutes ter deposto Focas em 610

Heraacuteclio consegue lentamente virar a mareacute da guerra contra os Persas e os Aacutevaros

Finalmente vitorioso em 628 Heraacuteclio consegue governar em paz ateacute 633 quando comeccedilam

os primeiros confrontos com o Califado Rashidun Apoacutes a derrota na batalha de Yarmouk em

636 Heraacuteclio abandona a Siacuteria-Palestina para fortalecer as defesas da Aacutesia Menor Quando

morre em 641 forccedilas califais sob Amr ibn lsquoal-Aas jaacute tinham conquistado alguns territoacuterios

romanos no Egipto

Joatildeo I Zimisce (seacuteculo X) ndash co-imperador bizantino entre 969 e 976 ascende ao trono

apoacutes assassinar o tio o co-imperador Niceacuteforo II Focas Apoacutes derrotar o priacutencipe russo

Svyatoslav em 971 nas batalhas de Dorostolon empreende uma seacuterie de campanhas na Siacuteria-

Palestina que expandem o territoacuterio imperial naquela regiatildeo Antes de morrer pretenderia

reconquistar Jerusaleacutem aos Fatiacutemidas

LXXXIX

Justiniano (seacuteculo VI) ndash Imperador bizantino entre 527-565 Possivelmente o mais

conhecido imperador bizantino Foi durante o principado deste augusto que o Impeacuterio

Romano do Oriente conquistou um grande nuacutemero de territoacuterios sob a alccedilada de

emblemaacuteticos generais como Belisaacuterio e Narseacutes que antes pertenciam ao Impeacuterio Romano do

Ocidente Norte de Aacutefrica Itaacutelia e uma boa parte do sul da Peniacutensula Ibeacuterica Para aleacutem desta

importante obra militar deixou ainda um legado juriacutedico relevante (com a redaccedilatildeo de uma

compilaccedilatildeo de leis denominada Corpus Iuris Iulianos) e de obras puacuteblicas como a Hagia

Sophia e a basiacutelica de Satildeo Vitalle em Ravenna Os anos finais do seu reinado ficaram

manchados pela peste pelas criacuteticas internas dos senadores e dos grandes intelectuais bem

como pelas controveacutersias eclesiaacutesticas Apesar disto agrave sua morte em 565 o Impeacuterio

Bizantino tinha atingido a sua maior extensatildeo

Justiniano II (seacuteculo VII e VIII) ndash Basileuacutes bizantino de 685 a 695 e de 705 a 711

Apesar de ter um iniacutecio de reinado algo bem-sucedido (com a conquista de territoacuterio nos

Balcatildes e uma treacutegua favoraacutevel com o califado) a derrota em Sebastoacutepolis em 693 e uma

seacuterie de conflitos com o papado e o califado vatildeo provocar um golpe de estado que o depotildee

sendo substituiacutedo por Leocircncio Dez anos apoacutes estes acontecimentos em que Bizacircncio perde

definitivamente o Norte de Aacutefrica Justiniano regressa violentamente a Constantinopla com o

apoio do khan Tervel dos Buacutelgaros e consegue recuperar o poder executando Leocircncio e o

basileuacutes Tibeacuterio Apsimar no decurso do seu regresso ao trono Apoacutes um segundo principado

cruel protagonizado pela perseguiccedilatildeo aos (ou quem ele pensava ser) seus adversaacuterios

poliacuteticos Justiniano II e o filho acabam depostos e executados pondo fim agrave dinastia

Heracliana

Leatildeo III (seacuteculo VIII) ndash Suserano bizantino entre 717 e 741 Leatildeo ascendeu ao trono

pouco antes do uacuteltimo cerco aacuterabe a Constantinopla com a deposiccedilatildeo de Teodoacutesio III pelo

theacutema dos Anatoacutelicos Entre os principais eventos do seu reinado estatildeo a derrota do cerco

aacuterabe a Constantinopla de 717-718 com recurso agrave frota agrave diplomacia agrave guerra de guerrilha e

agraves muralhas de Teodoacutesio o iniacutecio da questatildeo iconoclaacutestica que iria dividir de maior ou

menor forma a sociedade bizantina durante mais ou menos um seacuteculo ateacute ao reinado de

Miguel III e a batalha de Akroinos em 740 que se demonstra um ponto marcante no conflito

entre Aacuterabes e Bizantinos pois depois desta os primeiros nunca mais tentariam conquistar a

capital do adversaacuterio e a guerra de formal geral circunscrever-se-ia a expediccedilotildees de saque e

contra-raides

XC

Leatildeo VI (seacuteculos IX-X) ndash segundo basileuacutes Macedoacutenico reina entre 886 e 912 Apesar

de natildeo ter exercido comando dos seus exeacutercitos o seu principado encontra-se caracterizado

por episoacutedios beacutelicos marcantes como a guerra buacutelgara com Simeatildeo (894-896) a perda

definitiva da Siciacutelia com a queda de Taormina (902) e o saque de Tessaloacutenica por Leatildeo o

Tripolitano e Damiano Apesar destes desaires o impeacuterio consegue vencer noutras frentes e

impor a sua supremacia no sul de Itaacutelia e ateacute expandir o territoacuterio imperial para Oriente Eacute o

autor de dois tratados militares o Problemaacuteta e o Taktikaacute e promulgou a publicaccedilatildeo de um

novo coacutedigo de leis em continuaccedilatildeo do trabalho do pai denominado Basilica

Mauriacutecio (seacuteculos VI-VII) ndash Imperador bizantino entre 582 e 602 Ficou conhecido

por participar na guerra civil no seu mais poderoso vizinho a Peacutersia Sassacircnida onde

contribuiu para recolocar no trono o soberano legiacutetimo Cosroeacutes II pelas campanhas

vitoriosas nos Balcatildes e pela escrita de um dos mais importantes tratados militares bizantinos

o Stratēgikoacuten Apesar destes sucessos antes de conseguir confrontar a ameaccedila lombarda em

Itaacutelia eacute assassinado em conjunto com a famiacutelia pelas tropas da fronteira do Danuacutebio apoacutes

lhes ordenar que se guarnecessem para laacute daquele rio durante o inverno Eacute substituiacutedo por

Focas

Miguel III (seacuteculo IX) ndash Basileuacutes entre 842 e 867 Durante o seu principado as forccedilas

bizantinas derrotam as forccedilas muccedilulmanas dos emirados de Tarso e Melitene que permitem

estabilizar o balanccedilo de poderes na fronteira Eacute deposto e morto pelo parakoimṓmenos

Basiacutelio que o sucede como Basiacutelio I Seraacute sepultado dignamente durante o reinado de Leatildeo

VI

Muawiyia (seacuteculo VII) ndash Primeiro califa omiacuteada reina entre 661 e 680 Inicialmente

apenas governador de Damasco consegue tornar-se califa apoacutes a vitoacuteria na Primeira Fitna

(656-661) Foi um dos principais impulsionadores da criaccedilatildeo de uma marinha de guerra aacuterabe

comandou vaacuterias campanhas contra Bizacircncio e conseguiu cercar a capital bizantina em 674

Niceacuteforo I (seacuteculos VIII-IX) ndash Inicialmente logoacuteteta das financcedilas de Irene (797-802)

torna-se basileuacutes em 802 reinando ateacute 811 Durante o seu principado o Impeacuterio Bizantino

reafirmou o seu poderio na Greacutecia e nos Balcatildes Eacute considerado um dos fundadores dos

themaacuteta que teratildeo sido criados no seio de um conjunto de reformas fiscais implementadas por

ele Morre na batalha de Priska na Bulgaacuteria contra o khan Krum em 811

Niceacuteforo II Focas (seacuteculo X) ndash Domestikoacutes do Oriente de Romano II torna-se co-

imperador agrave morte deste e reina entre 963-969 Tem a cargo dele uma seacuterie de sucessos

XCI

bizantinos na regiatildeo da Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria onde destroacutei o poder dos Hamdacircnidas e

conquista Antioquia Antes de ser co-imperador logra conquistar a ilha de Creta em 961

Niceacuteforo II eacute considerado como um dos grandes organizadores militares bizantinos e satildeo-lhe

atribuiacutedos trecircs tratados militares o Praecepta Militaria sobre os novos exeacutercitos de

campanha bizantinos o De velitatione bellica sobre a guerra de guerrilha e um tratado sobre

a guerra na Bulgaacuteria

Romano IV Diogenes (seacuteculo XI) ndash Co-imperador bizantino entre 1068 e 1071 Foi um

experiente comandante militar que tentou reverter os reveses bizantinos frente aos

Turcomanos Eacute derrotado por Alp Arslan na batalha de Manzikert no seio de uma campanha

em que tentava repor uma linha defensiva na Armeacutenia Mais tarde eacute derrotado pela famiacutelia

dos Ducas cegado e encerrado num mosteiro onde viria a morrer em 1072

Sayf al-Daulah (seacuteculo X) ndash Emir hamdacircnida de Alepo entre 944 e 967 Ao longo do

seu reinado foi o inimigo mais energeacutetico de Bizacircncio e tentou desarticular o sistema

defensivo romano no limes oriental Durante a primeira metade do seu principado consegue

conduzir raides de grandes dimensotildees ao interior de territoacuterio bizantino mas apoacutes a ascensatildeo

de Niceacuteforo Focas ao cargo de domestikoacutes em 957 vecirc-se cada vez mais colocado na

defensiva Nos anos anteriores agrave sua morte vai ver o seu territoacuterio cada vez mais reduzido

com as perdas da Ciliacutecia e de Antioquia e com a cidade de Alepo (apesar de a cidadela ter

resistido) tomada e saqueada

Simeatildeo (seacuteculo X) ndash Czar buacutelgaro entre 893 e 927 Eacute um dos primeiros governantes

cristatildeos da Bulgaacuteria e dedicou-se agrave traduccedilatildeo de textos religiosos Em termos militares travou

duros combates com forccedilas bizantinas tendo-as derrotado em vaacuterias ocasiotildees como em

Bulgarophygon (896) e Acheloos (917) Tinha o sonho de conseguir criar uma dinastia

bizantino-buacutelgara mas natildeo o conseguiu realizar

XCII

b) Tratadistas e cronistas

Aeliano (seacuteculo II dC) ndash Autor grego que escreveu um importante tratado militar

chamado Περὶ Στρατηγικῶν Τάξεων Ἑλληνικῶν (laquoSobre os dispositivos taacuteticos gregosraquo) o

qual se debruccedilava sobre o exeacutercito e a forma de fazer guerra nos Estados dos Diadochii e que

teve grande influecircncia na escrita do Taktikaacute e na Idade Moderna

Arriano (seacuteculo III dC) ndash Historiador e tratadista grego eacute considerado por Alphonse

Dain como o personagem de primeiro plano entre todos os tratadistas da Antiguidade588

Redigiu vaacuterias obras ilustres como o Anabasis Alexandri que relata as campanhas do rei

macedoacutenico o Ars Tactica um importante manual de taacuteticas que descreve de forma

ambivalente as taacuteticas militares macedoacutenicas e romanas e ainda o Ἔκταξις κατὰ Ἀλανῶν (ldquoA

ordem de batalha contra os Alanosrdquo)

ldquoHeacuteron de Bizacircnciordquo (seacuteculo X) ndash Autor anoacutenimo de dois tratados militares bizantinos

sobre poliorceacutetica o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia

Leatildeo o Diaacutecono (seacuteculo X) ndash monge bizantino que escreveu a Histoacuteria que relata os

reinados e as campanhas de Niceacuteforo II Focas e Joatildeo I Tzimiskeacute

Onasandro (seacuteculo I dC) ndash filoacutesofo grego oriundo da ilha de Chipre que escreveu

um dos mais importantes tratados militares da Antiguidade o Στρατηγικός (Strategikoacutes) Esta

obra eacute uma das principais influecircncias de tratados como o Stratēgikoacuten e o Taktikaacute

Siriano magistros (seacuteculo VI IX dC) ndash autor anoacutenimo de trecircs tratados militares

bizantinos o Periacute Strateacutegias um manual militar o Naumachiacuteai obra que discute aspetos de

guerra naval e o Rhetorica Militaris que visa aspetos de oratoacuteria da arte beacutelica

588 Vide DAIN Alphonse (1967) Les strateacutegistes byzantins In Travaux et Meacutemoires 2 p331

XCIII

c) Outras personagens relevantes

lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que

teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso

Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid

comeccedilara a ganhar

Khalid ibn al-Walid (seacuteculo VII) ndash Experiente comandante aacuterabe em vaacuterios

confrontos como a batalha de Yarmuk Eacute considerado um dos principais responsaacuteveis pela

conquista muccedilulmana da Siacuteria-Palestina

Narseacutes (seacuteculo VI) ndash Um dos generais a par de Belisaacuterio mais importantes de

Justiniano durante as chamadas Guerras Goacuteticas Apoacutes a vitoacuteria em Mons Lactarius que potildee

fim ao reino dos Ostrogodos enfrenta e derrota uma coligaccedilatildeo de Francos e Alamanos na

batalha do rio Volturno em 554 onde acaba de consolidar a reconquista romana da Peniacutensula

Itaacutelica

Saporios (seacuteculo VII) ndash strategoacutes da divisatildeo do Armeniakon que se aliou a lsquoAbd al-

Rahman ibn al-Walid durante as suas campanhas na Aacutesia Menor permitindo a invasatildeo da

Aacutesia Menor pelos Omiacuteadas Depois da sua morte em 667 o Armeniakon volta para o lado de

Bizacircncio

XCIV

d) Dinastias

Aglaacutebidas Dinastia muccedilulmana da Tuniacutesia entre 800 e 909 sediada em Kairouan na

Tuniacutesia Em 827 invadem a Siciacutelia e terminam a conquista desta com a tomada de Taormina

em 902

Amoriana Dinastia bizantina que governou entre 820 e 867 Durante o periacuteodo em que

esta governou verificou-se uma estabilizaccedilatildeo da fronteira oriental graccedilas agrave criaccedilatildeo das

kleisoucircrarchiai e ao fim definitivo da questatildeo iconoclaacutestica

Hamdacircnidas Dinastia muccedilulmana do Norte da Siacuteria que atingiu o seu expoente

maacuteximo no reinado de Sayf al-Dawlah governando a Mesopotacircmia e a Ciliacutecia a partir de

Alepo

Macedoacutenica Uma das mais ilustres dinastias bizantinas governa o impeacuterio desde a

usurpaccedilatildeo de Basiacutelio I em 867 ateacute agrave morte de Teodora em 1056 Durante o seu reinado

Bizacircncio atinge a sua maior extensatildeo desde Mauriacutecio e consolida-se como a maior potecircncia

do Mediterracircneo oriental

Tuluacutenidas Dinastia muccedilulmana do Egipto entre 868 e 905

XCV

e) Organizaccedilotildees e unidades militares

Excubitores ndash contingente dos taacutegmata resultou da reorganizaccedilatildeo do regimento da

guarda imperial do mesmo nome obtendo novamente funcionalidade militar No campo de

batalha funcionavam taticamente como cavalaria

Hetaireia ndash contingente dos taacutegmata que reunia em si soldados de outras

nacionalidades como Khazars Inicialmente tratar-se-ia apenas de uma divisatildeo da Vigla

(Noumera) mas tornaram-se num corpo militar independente durante o reinado de Miguel II

Hikanatocirci ndash divisatildeo de cavalaria dos taacutegmata formada por Niceacuteforo I Era constituiacuteda

pelos filhos dos archontes da capital tendo sido criada para esse propoacutesito de forma a servir o

filho do basileuacutes Staurakios

Vigla ndash unidade da guarda imperial formada pela basilissa Irene por volta de 780 Era

composta por cavalaria

Noumera ndash Regimento dos taacutegmata que servia como guarniccedilatildeo permanente de

Constantinopla sendo por essa razatildeo constituiacutedo por infantaria

Opsikiacuteon ndash comando militar bizantino que desempenhava as funccedilotildees de guarniccedilatildeo de

Constantinopla e de exeacutercito pessoal do basileuacutes Perdeu muita da sua importacircncia apoacutes a

revolta falhada de Artavasdo em 743 tendo os taacutegmata ocupado as suas funccedilotildees

Optimates ndash regimento dos taacutegmata que se encontrava encarregue da logiacutestica

Scholaiacute ndash um dos contingentes mais importantes dos taacutegmata foi o resultado da

remilitarizaccedilatildeo do regimento da guarda imperial com o mesmo nome Militarmente eram

constituiacutedos por cavalaria O seu oficial maacuteximo era o domestikoacutes Scholae que acabaria por se

tornar no comandante maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos depois do basileuacutes

XCVI

Anexos V ndash Listas de Titulares

a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca

meacutedio-bizantina (582-1204)

Dinastia Justiniana

582-602 ndash Mauriacutecio Tibeacuterio

Natildeo Dinaacutestico

602-610 ndash Focas

Dinastia Heracliana

610-641 ndash Heraacuteclio

641 ndash Constantino III Heraacuteclio

641- Heraclonas

regecircncia de Martina

641-668 ndash Constante II

668-685 ndash Constantino IV

685-695 ndash Justiniano II

695-698 ndash Leocircncio

698-705 ndash Tibeacuterio II Absimaro

705-711 ndash Justiniano II (2ordm principado)

Natildeo Dinaacutesticos

711-713 ndash Filipico Bardaneacutes

713-715 ndash Anastaacutecio II

715-717 ndash Teodoacutesio III

XCVII

Dinastia Isauriana

717-741 ndash Leatildeo III ldquoO Isaurianordquo

741-775 ndash Constantino V ldquoO Coproacutenimordquo

775-780 ndash Leatildeo IV

780-797 ndash Constantino VI (regecircncia de Irene)

797-802 ndash Irene ldquoA Atenienserdquo

Natildeo Dinaacutestico

802-811 ndash Niceacuteforo I

811 ndash Staurakios

811-813 ndash Miguel I Rangabeacute

813-820 ndash Leatildeo V ldquoO Armeacuteniordquo

Dinastia Amoriana

820-829 ndash Miguel II ldquoO Amorianordquo

829-842 ndash Teoacutefilo

842-867 ndash Miguel III

842-856 ndash Regecircncia de Teodora

XCVIII

Dinastia Macedoacutenica

867-886 ndash Basiacutelio I O Macedoacutenico

886-912 ndash Leatildeo VI O Saacutebio

912-913 ndash Alexandre

913-959 ndash Constantino VII Porfirogeneta

913-914 ndash Regecircncia de Nicolau Miacutestico

914-920 ndash Regecircncia de Zoe Carbonopsina

920-944 ndash Co-imperador Romano I Lecapeno

959-963 ndash Romano II Porfirogeneta

963-1025 ndash Basiacutelio II Boulgaroktoacutenos (o exterminador de Buacutelgaros)

963 ndash Regecircncia de Teoacutefane

963-969 ndash Co-imperador Niceacuteforo II Focas

969-976 ndash Co-imperador Joatildeo I Zimisce

1025-1028 ndash Constantino VIII Porfirogeneta

1028-1034 ndash Romano III Argiro

1034-1041 ndash Miguel IV ldquoO Paflagoacutenicordquo

1041-1042 ndash Miguel V ldquoO Calafaterdquo

1042 ndash Zoeacute

1042-1055 ndash Constantino IX Monoacutemaco

1055-1056 ndash Teodora

Natildeo Dinaacutestico

1056-1057 ndash Miguel VI Bringas

Dinastia Comnena

1057-1059 ndash Isaac I Comneno

XCIX

Dinastia Ducas

1059-1067 ndash Constantino X Ducas

1067-1078 ndash Miguel VII Ducas

1067-1068 - Regecircncia de Eudoacutexia

1068-1071 - Co-imperador Romano IV Dioacutegenes

Natildeo-dinaacutestico

1078-1081 ndash Niceacuteforo III Botaniate

Dinastia Comnena

1081-1118 ndash Aleixo I Comneno

1118-1143 ndash Joatildeo II Comneno

1143-1180 ndash Manuel I Comneno

1180-1183 ndash Aleixo II Comneno

1183-1185 ndash Androacutenico I Comneno

Dinastia Acircngelo (dos Anjos)

1185-1195 ndash Isaac II Anjo

1195-1203 ndash Aleixo III

1204 ndash Aleixo IV

1204 ndash Aleixo V Ducas Murzuflo

C

b) Califas Aacuterabes

Califas Rashidun Califas Abaacutessidas

632-634 ndash Abu-Bakr

634-644 ndash Omar

644-656 ndash Uthman

656-661 ndash Ali

750-754 ndash Al-Saffah

754-775 ndash Al-Mansur

775-785 ndash Al-Mahdi

785-786 ndash Al-Hadi

786-809 ndash Harun al-Rashid

809-813 ndash Al-Amin

813-833 ndash Al-Mamun

833-842 ndash Al-Mutasim

842-847 ndash Al-Wathiq

847-861 - Al-Mutawakill

861-862 ndash Al-Muntasir

862-866 ndash Al-Mustarsquoin

866-869 ndash Al-Mursquotazz

869-870 ndash Al-Mutahdi

870-892 ndash Al-Mursquotamid

892-902 ndash Al-Mursquotadid

902-908 ndash Al-Muktafi

908-932 ndash Al-Muqtadir

932-934 ndash Al-Qahir

934-940 ndash Al-Radi

940-944 ndash Al-Muttaqi

944-946 ndash Al-Mustakfi

946-974 ndash Al-Muti

974-991 ndash Al-Tarsquoi

991-1031 ndash Al-Qadir

1031-1075 ndash Al-Qarsquoim

Califas Omiacuteadas 661-680 ndash Muawiyia I

680-683 ndash Yazicircd I

683-684 - Muawiya II

684-685 ndash Marwan I

685-705 ndash Abd al-Malik

705-715 - Al-Walid I

715-720 ndash Sulayman

720-724 - Yazicircd II

724-743 ndash Hisham

743-744 ndash Al-Walid II

744-750 ndash Marwan II

CI

c) Outros governantes aacuterabes

Governantes Omiacuteadas do Al-Andalus

Governadores

714-716 ndash lsquoAbd al-lsquoAziz ibn Musa

716 ndash Ayyub ibn Habib al-Lakhmi

717-719 ndash Al-Hurr ibn lsquoAbd al-Rahman al Thaqafi

719-721 ndash lsquoAl-Samh ibn Malik al-Khawlani

721 ndash Abd al-Rahman al-Ghafiqi

721-725 ndash lsquoAnbasa ibn Suhaym al-Kalbi

725-726 ndash lsquoUdhra ibn lsquoAbd Allah al-Fihri

726-728 ndash Yahya ibn Salama al-Kalbi

728-729 ndash Hudhayfa ibn al-Ahwas al-Qaysi

729 ndash lsquoUthman ibn Abi Nasr al-Khathrsquoami

729-730 ndash Al-Haytham ibn lsquoUbayd al-Kilabi

730 ndash Muhammad ibn lsquoAbd Allah al-Ashja lsquoi

730-732 ndash lsquoAbd al-Rhaman ibn lsquoAbd Allah al-Ghafiqi

732-734 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri

734-740 ndash lsquoUqba ibn al-Hajjaj al-Saluli

740-741 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri

742-743 ndash Tharsquolaba ibn Salama al-lsquoAmili

743-745 ndash Abu al-Qattar al-Husam

745-746 ndash Thawaba ibn Yazid

746-756 ndash Usuf ibn lsquoAbd al-Rahman al-Fihri

Instauraccedilatildeo do Emirato Omiacuteada

822-852 ndash lsquoAbd al-Rahman II

852-886 - Muhammad I

886-888 ndash Al-Mundhir

888-912 ndash lsquoAbd Allah

912-929 ndash lsquoAbd al-Rahman III

lsquoAbd al-Rahman III eacute proclamado califa

Califas Omiacuteadas

929-961 ndash lsquoAbd al-Rahman III

961-976 ndash Al-Hakam II

976-1009 ndash Hisham II

1009 ndash Muhammad II

1010-1013 ndash Hisham II

1013-1018 ndash Sulayman al-Mustarsquoin

1018-1023 ndash lsquoAbd al-Rahman IV al-Murtada

1023-1024 ndash Abd al-Rahman V al-Mustazhir

1024-1027 - Muhammad III al-Mustakfi

1027-1031 ndash Hisham III al-Mursquotadd

Fim da dinastia iniacutecio do primeiro periacuteodo

de reis de taifa

Emires Omiacuteadas

756-788 ndash lsquoAbd al-Rahman I

788-796 ndash Hisham I

796-822 ndash Al-Hakam I

CII

Governantes Almoraacutevidas e Almoacuteadas

Almoraacutevidas (emires) Almoacuteadas (califas)

Primeiro periacuteodo dos reinos de taifa

1061-1106 ndash Yusuf ibn Tashufin

1106-1142 ndash Ali

1143-1145 ndash Tashufin

1146 ndash Ibrahim

1146-1147 ndash Ishaq

1130-1163 ndash lsquoAbd al-Mursquomin

1163-1184 ndash Abu Yarsquoqub Yusuf

1184-1199 ndash Abu-Yusuf Yarsquoqub al-Mansur

1199-1214 ndash Muhammad al-Nasir

Governantes Aglaacutebidas

812-817 ndash lsquoAbd Allah

817-838 ndash Ziyadat Allah I

838-841 ndash Abu lsquoIqal al-Aghlab

841-856 ndash Muḥammad I

856-863 ndash Aḥmad

863 - Ziyadat Allah II

863-875 ndash Abu rsquol-Gharaniq Muḥammad II

875-902 ndash Ibrahim II

902-903 ndash lsquoAbd Allah II

CIII

d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria

739-756 ndash Kormisos

756-ca761 ndash Vinekh

Ca 761-764 ndash Telec

Ca 764-767 ndash Sabin

767 ndash Umar

767-ca769 ndash Toktu

770 ndash Pagan

Ca 770 ndash 777 ndash Telerig

777-ca803 ndash Kardam

Ca 803-813 ndash Krum

814-831 ndash Omurtag

831-836 ndash Malamir

836-852 ndash Presiam

852-889 ndash Boacuteris I

889-893 ndash Vladimir

893-927 ndash Simeatildeo

927-967 ndash Pedro

967-971 ndash Boacuteris II

976-986 ndash Cometopuli Aratildeo Moiseacutes David e Samuel

986-1014 ndash Samuel

1014-1015 ndash Gabriel Radomir

1015-1019 ndash Joatildeo Vladislav

Conquista Bizantina de Basiacutelio II

CIV

e) Priacutencipes de Rus

ndash 945 ndash Igor

945-972 ndash Svyatoslav

972-978 ndash Yaropolk

978-1015 ndash Vladimir I

1015-1019 ndash Svjatopolk

1019-1036 ndash Msistlav

1036-1054 ndash Yaroslav I

1054-1057 ndash Vyacheslav

1057-1060 ndash Igor

1060-1076 ndash Svjatoslav II

1076-1078 ndash Izyaslav

1078-1093 ndash Vsevolod

1093-1113 ndash Svjatopolk II

1113-1115 ndash Oleg

1115-11123 ndash Yaroslav II

1123-1125 ndash Vladimir II

1125-1132 ndash Mstislav-Harald

1132-1139 ndash Yaropolk II

1139-1157 ndash Yuri Dolgoruky

CV

f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia

Reis Lombardos

568-572 ndash Alboim

572-574 ndash Clefo

574-584 - Interregno

584-590 ndash Autari

590-616 ndash Agilolfo

616-626 ndash Adaloaldo

626-636 ndash Arioldo

636-652 ndash Rotaacuterio

652 ndash Rodoaldo

652-661 ndash Ariberto I

661-662 ndash Godeberto Perctarit

662-671 ndash Grimoaldo

671-688 ndash Perctarit

688-700 ndash Cuniperto

700 ndash Liutberto

700-712 ndash Ariberto II

712 ndash Ansprando

713-744 ndash Liutprando

744 ndash Hildebrando

744-749 ndash Ratchis

749-756 ndash Astolfo

756-774 ndash Desideacuterio

CVI

Duques e Priacutencipes (a partir de 774) de Benevento

571-591 ndash Zotto

591-641 ndash Arechis I

641-642 ndash Aio I

642-646 ndash Radoaldo

646-662 ndash Grimoaldo I

662-687 ndash Romoaldo I

687-692 ndash Grimoaldo II

692-706 ndash Gisulfo

706-730 ndash Romoaldo II

730-732 ndash Audelaio

732-739 ndash Gregoacuterio

739-742 ndash Godescalco

742-751 ndash Gisulfo II

751-758 ndash Liutprando

758-787 ndash Arichis II

787-806 ndash Grimoaldo III

806-817 ndash Grimoaldo IV

817-833 ndash Sico

833-839 ndash Sicardo

839-851 ndash Radeacutelchio I

839-849 ndash Siquenolfo

851-853 ndash Radelgar

853-878 ndash Adeacutelchio

878-881 ndash Gaideacuterio

881-884 ndash Radeacutelchio II

884-891 ndash Aio II

891-892 ndash Urso

895-897 ndash Guido IV de Espoleto

897-900 ndash Radeacutelchio II

900-910 ndash Atenolfo I

910-940 ndash Atenolfo II

910-943 ndash Landolfo I

933-943 ndash Atenolfo III

939-961 ndash Landolfo II

959-968969 ndash Landolfo III

961-981 ndash Pandolfo I

96869-982 ndash Landolfo IV

982-1014 ndash Pandolfo II

987-1033 ndash Landolfo V

1011-1060 ndash Pandolfo III

1038-1077 ndash Landolfo VI

1054-1074 ndash Pandolfo IV

Conquista Normanda do Ducado

CVII

Priacutencipes de Salerno Princiacutepes de Caacutepua

853-856 ndash Pedro

856-861 ndash Ademaro

861-880 ndash Guaifer

880-900 ndash Guaimar I

900-946 ndash Guaimar II

946-977 ndash Gisulfo I

977-981 ndash Pandolfo I

981-983 ndash Manso e Joatildeo I

983-989 ndash Joatildeo II

989-1027 ndash Guaimar III

1027-1052 ndash Guaimar IV

1052-1077 ndash Gisulfo II

Conquista Normanda do Principado

887-910 ndash Atenolfo I

910-940 ndash Atenolfo II

910-943 ndash Landolfo I

933-943 ndash Atenolfo III

939-961 ndash Landolfo II

959-968969 ndash Landolfo III

961-981 ndash Pandolfo I

96869-982 ndash Landolfo IV

982-993 ndash Ladenolfo

993-999 ndash Laidolfo

1000-1007 ndash Landolfo V

1007-1022 ndash Pandolfo II

1014-1026 ndash Pandolfo III

1016-1049 ndash Pandolfo IV

1020-1057 ndash Pandolfo V

1022-1026 ndash Pandolfo VI

1047-1058 ndash Landolfo VI

1049-1057 ndash Pandolfo IV

Conquista Normanda do Ducado

CVIII

Duques de Espoleto

580-592 ndash Faroaldo I

592-601 ndash Ariulfo

601-653 ndash Teudelaacutepio

653-663 ndash Ato

663-703 ndash Trasamundo I

703-724 ndash Faroaldo II

724-739 ndash Trasamundo II

739-740 ndash Hilderico

740-742 ndash Trasamundo II

742-744 ndash Agiprando

744-745 ndash Trasamundo II

745-752 ndash Lupo

752-756 ndash Astolfo (rei dos Lombardos)

756-757 ndash Ratchis

757-759 ndash Alboiacuteno

758-759 ndash Desideacuterio (rei dos Lombardos)

758-763 ndash Gisulfo

763-773 ndash Teodiacutesio

774-788 ndash Hildebrando

789-822 ndash Guinisigio I

822-824 ndash Supatildeo I

824 ndash Adelardo

824 ndash Mauringo

824-834 ndash Adeacutelchio I

834-836 ndash Lamberto I de Nantes

836-841 ndash Berengaacuterio de Espoleto

842-860 ndash Guido I de Espoleto

860-871 ndash Lamberto I de Espoleto

871 ndash Supatildeo II

871-874 ndash Supatildeo III

875-880 ndash Lamberto I de Espoleto

880-883 ndash Guido III

883-889 ndash Guido II

889-897 ndash Guido IV

898-922 ndash Alberico

923-928 ndash Bonifaacutecio I

924-928 ndash Pedro

929-936 ndash Teobaldo

937-940 ndash Anscaacuterio II

940-943 ndash Sarleatildeo

943-946 ndash Uberto de Espoleto

946-953 ndash Bonifaacutecio II

953-959 ndash Teobaldo II

959-967 ndash Trasimundo III

966-1001 ndash Conrado de Ivreia

967-981 ndash Pandolfo I Cabeccedila-de-ferro

982-989 ndash Trasimundo IV

999- ndash Ademaro

1003- ndash Romano

1010-1020 ndash Ranieri da Toscacircnia

1020-1035 ndash Hugo II

1036-1043 ndash Hugo III

1043-1056 ndash Controlo do Marquesado da

Toscacircnia

1057-1070 ndash Godofredo III da Lorena

1070-1082 ndash Controlo do Marquesado da

Toscacircnia

CIX

Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico

a) Termos militares e navais

Baacutendon (pl bandaacute) ndash Unidade taacutetica baacutesica de um exeacutercito bizantino De acordo com o

Taktikaacute deveria ter entre 200 a 400 homens

Cheirosiacutefona ndash meio de projetar ou atirar fogo greguecircs Possivelmente um sifatildeo manual

Chelandia ndash Nave de Guerra bizantina que teria esse nome por inicialmente ter

capacidade de transporte de montadas

Comitatenses ndash soldados dos exeacutercitos moacuteveis tardo-romanos

Decarca ndash Comandante de uma decarquia ou de uma fila de soldados

Droacutemōn pl Droacutemōnes ndash designaccedilatildeo geral para os vasos de guerra bizantinos No seacuteculo

X era usado a par da chelandia como o principal termo designativo para os navios de guerra

efetiva

Ekdiacutekoi ndash Tambeacutem chamados de ldquodefensoresrdquo eram os cavaleiros responsaacuteveis por apoiar

os kouacutersores caso estes necessitassem de retirar

Fogo greguecircs ndash Substacircncia inflamaacutevel utilizada como arma pelos Bizantinos

especialmente em contextos navais Apesar de ainda natildeo se conhecer a sua composiccedilatildeo na

totalidade sabe-se que pelo menos contaria com oacuteleo crude e resina nesta Uma das suas

propriedades principais seria a ineficaacutecia da aacutegua em apagar o fogo provocado por este

composto

Fulcrum ndash Dispositivo taacutetico anti-cavalaria Neste as trecircs primeiras fileiras de infantaria

erguiam os escudos e apoiavam as lanccedilas no chatildeo de forma a trespassar o peito dos cavalos

Galea ndash pequeno navio designado essencialmente para funccedilotildees de recolha de informaccedilatildeo

e de reconhecimento

Ghazi ndash Soldado voluntaacuterio religioso muccedilulmano As expediccedilotildees cilicianas em particular

as de veratildeo contavam com muitos guerreiros deste geacutenero

CX

Hypostrategoacutes ndash Comandante da segunda touacuterma de um theacutema e segundo homem com

mais poder do exeacutercito ldquotemaacuteticordquo

Kaballarika themaacuteta ndash Atribuiccedilatildeo dada agraves forccedilas dos themaacuteta por estes serem

constituiacutedos maioritariamente de tropas da cavalaria ligeira

Karagos ndash Recinto defensivo formado in promptu pelas carroccedilas do trem-de-apoio

Keacutentarcos ndash Capitatildeo de um droacutemōn

Kouacutersores ndash Numa formaccedilatildeo de cavalaria eram os soldados responsaacuteveis por carregar e

atacar o inimigo

Kleisocircura pl kleisocircurai ndash Pequenos distritos que serviam para proteger as regiotildees mais

orientais do impeacuterio e garantir a vigia dos desfiladeiros das cordilheiras do Tauro e do

Antitauro contra expediccedilotildees aacuterabes Teratildeo sido criados durante o reinado de Teoacutefilo (829-

842) e na segunda metade do seacuteculo X convertidos em laquopequenos themaacutetaraquo

Klibaacutenion ndash Armadura lamelar

Laisaacute pl Laisacirci ndash Estrutura amoviacutevel leve e de faacutecil construccedilatildeo que servia como abrigo

aos soldados atacantes durante um assalto a uma muralha Tambeacutem podia ser colocada no

topo de uma torre para proteger arqueiros e maacutequinas de guerra de projeacuteteis inimigos

Limitanei ndash soldados dos impeacuterios tardo-romanos que serviam como guarniccedilatildeo de postos

fronteiriccedilos e policiamento nessas regiotildees

Loriacutekia ndash Cota-de-malha

Minsouratores ndash Batedores responsaacuteveis por encontrar um siacutetio para construir um

acampamento

Ouraacutegos ndash soldado que ocupava o final de uma fila podendo ser um tetrarca ou ainda que

com certas suspeitas um pentarca (de acordo com o Taktikaacute)

Pamphylos ndash pequena embarcaccedilatildeo bizantina destinada inicialmente a transportar tropas

mais tarde passou a ser usada como navio de guerra O seu nome proviria da regiatildeo de

CXI

Panfiacutelia ou pelo facto de ser tripulado por uma equipa de indiviacuteduos escolhidos de todo o

impeacuterio589 No Taktikaacute eacute o nome atribuiacutedo ao navio do comandante da frota

Pentarca - Numa decarquia eacute o oficial responsaacutevel por comandar dez homens

Proacutemachos ndash Linha da frente numa formaccedilatildeo em trecircs linhas

Skoutatoacutes pl Skoutatoacutei ndash Soldado de infantaria pesada

Saka ndash Nome de origem aacuterabe utilizado para referenciar a retaguarda de um exeacutercito

bizantino

Sifonaacutetor ndash Numa embarcaccedilatildeo era o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de ldquofogo greguecircsrdquo

Strateiacutea ndash Obrigaccedilatildeo ao serviccedilo militar Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino a sua posse

esteve dividida entre o indiviacuteduo e a propriedade (a partir do seacuteculo X) consoante os

interesses do Estado O serviccedilo militar no entanto natildeo precisava de ser ativo sendo muitas

vezes feito por meio de apoio financeiro e logiacutestico a um soldado A partir dos meados do

seacuteculo X a strateiacutea passa a ser cumprida atraveacutes de comutaccedilatildeo monetaacuteria em vez de serviccedilo

efetivo em campanha de forma ao Estado poder pagar o equipamento dos taacutegmata

fronteiriccedilos e agrave contrataccedilatildeo de mercenaacuterios

Stratioacutetes pl Stratioacutetai ndash Cidadatildeo bizantino que possuiacutea strateiacutea

Stratiotikagrave kteacutemata ndash Terras militares ou ldquoestratioacuteticasrdquo ou seja que tinham imbuiacutedas

nela a strateiacutea Comeccedilam a existir oficialmente apoacutes as reformas de Constantino VII no

seacuteculo X que formalizam a posse de strateiacutea pelo terreno e natildeo pelo indiviacuteduo

Stratiouacutemenos ndash Soldado bizantino cujo equipamento montada e provisotildees eram

fornecidos pela strateiacutea mesmo que este natildeo a tivesse

Taacutegma pl Taacutegmata (contingentes) ndash Organizaccedilotildees das forccedilas militares bizantinas

criadas durante o reinado de Constantino V de forma a garantir a seguranccedila dos basilecircis em

caso de insurreiccedilatildeo de outro corpo militar Foram criadas pela remilitarizaccedilatildeo dos regimentos

das guardas palatinas bizantinas que teriam apenas funccedilotildees cerimoniais neste periacuteodo De

589 O nome da embarcaccedilatildeo ser a junccedilatildeo das palavras ldquoπᾶνrdquo (ldquopanrdquo) que significa todas e ldquoφῦλονrdquo (Lecirc-se

ldquopfiulonrdquo) grupos ou tribos

CXII

forma a garantir a sua lealdade eram extremamente bem pagos e o seu equipamento era

providenciado pelo Estado e bem treinados o que lhes permitiu tornarem-se mais tarde nos

corpos de elite do Impeacuterio Bizantino e assim na coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha

de Constantinopla

Techniacutetai -ndash Oficiais bizantinos especializados em guerra de cerco Entre as suas

valecircncias estatildeo a manobra a construccedilatildeo e a subsistecircncia de maacutequinas de cerco bem como a

construccedilatildeo e manutenecircncia de recintos fortificados

Tetrarca ndash Comandante de quatro homens dentro de uma decarquia podia ser tambeacutem o

ouraacutegos

Theacutema pl Themaacuteta ndash Circunscriccedilotildees territoriais bizantinas e tambeacutem os exeacutercitos nelas

guarnecidos Apesar de uma origem muito discutiacutevel acredita-se agora mais seguramente

que teratildeo sido criadas nos iniacutecios do seacuteculo IX como forma de garantir apoio logiacutestico

melhorado aos strategoacutes ao facilitarem a relaccedilatildeo entre o poder militar e civil atraveacutes de um

oficial o protonotaacuterios Os exeacutercitos dos themaacuteta comeccedilam a perder importacircncia a partir dos

finais do seacuteculo X uma vez que o Estado comeccedila a preferir contratar tropas mercenaacuterias mais

eficientes e assim melhor direcionadas para campanhas ofensivas

laquoThemaacuteta armeacuteniosraquo (ou pequenos themaacuteta) ndash Themaacuteta pequenos criados no limes

oriental durante a segunda metade do seacuteculo X de forma a garantir a proteccedilatildeo de territoacuterios

recentemente conquistados e para garantir a raacutepida mobilizaccedilatildeo de soldados para campanhas

(cada vez mais ofensivas nessas regiotildees) Eram chamados tambeacutem de laquoarmeacuteniosraquo por a maior

parte dos seus soldados serem dessa nacionalidade

Thematikoiacute ndash Soldados dos themaacuteta

Thugucircr ndash Centros urbanos de cariz militar que serviam como base para as expediccedilotildees de

saque bizantinas Os mais importantes eram Tarso Melitene e Antioquia

Touacuterma pl Touacutermai (distrito) ndash divisotildees geograacuteficas dos themaacuteta Em tempos de

campanha um conjunto de soldados desta regiatildeo perfazia uma unidade taacutetica do exeacutercito

ldquotemaacuteticordquo

Touacuterma pl Touacutermai (unidade taacutetica) ndash Unidade taacutetica do exeacutercito bizantino Deveria

possuir entre mil soldados a seis mil (o uacuteltimo valor de acordo com o Taktikaacute)

CXIII

Toxobaliacutestrai ndash Maacutequina de guerra de torccedilatildeo que disparava dardos que eram apelidados

de ldquomoscasrdquo ou ldquoratosrdquo Podia ser colocada na proa de um navio ou em vagotildees para servir de

arma campal

CXIV

b) Tiacutetulos

Autokraacutetor ndash tiacutetulo designativo de governante para Leatildeo VI e Alexandre

Basileuacutes pl Basileicircs ndash tiacutetulo designativo para os governantes de Bizacircncio a partir de

Heraacuteclio (610-641)

Czar ndash tiacutetulo designativo para os imperadores buacutelgaros a partir da conversatildeo daquele

Estado ao Cristianismo em 864

Domestikoacutes ndash Eram os oficiais principais da maior parte dos taacutegmata agrave excepccedilatildeo da Vigla

que tinha um droungaacuterios

Domestikoacutes Scholae ndash Principal comandante militar das forccedilas bizantinas depois do

basileuacutes A partir de Romano I Lecapeno passam a existir dois um para as proviacutencias

ocidentais e outro para as orientais

Droungaacuterios totilden ploiumlmon ndash Almirante da frota imperial sediada em Constantinopla e

que exercia funccedilotildees civis relacionadas com o mar

Kleisouraacutercha ndash O principal oficial de uma kleisocircura

Koacutemes ndash Tiacutetulo que poderia ter vaacuterias atribuiccedilotildees No contexto militar poderia ser um

ajudante do strategoacutes ou o liacuteder de um bandaacute

Koacutemes (do Opsikiacuteon) ndash Oficial maacuteximo do comando militar do Opsikiacuteon

Kouropalaacutetēs - alto dignitaacuterio responsaacutevel pelas construccedilotildees de novas secccedilotildees e

organizaccedilatildeo do palaacutecio imperial inferior na hierarquia apenas ao ceacutesar e ao nobiliacutessimos

Manglabiacutetēs - Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas

portas no palaacutecio

Prōtonotaacuteriosndash principal oficial civil nos themaacuteta que comeccedila a aparecer em fontes do

seacuteculo IX para a frente Estava responsaacutevel natildeo soacute pela coordenaccedilatildeo dos cobradores de

impostos imperiais naquelas circunscriccedilotildees mas tambeacutem pelo aprovisionamento dos exeacutercitos

provinciais bizantinos servindo como principal elo de ligaccedilatildeo entre o strategoacutes e o

logotheacutesion

CXV

Protostraacutetor ndash Oficial responsaacutevel pelos estaacutebulos imperiais

Protovestiaacuterio - Inicialmente oficial responsaacutevel pelo guarda-roupas imperial Nos

seacuteculos IX e X poderia comandar exeacutercitos bizantinos

Spathaacuterios ndash tiacutetulo dignitaacuterio Antes do seacuteculo X era designativo dos guarda-costas do

imperador

Strategoacutes pl Strateacutegoi ndash Oficial maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos ateacute ao seacuteculo IX A

partir desse seacuteculo comeccedila tambeacutem a supervisionar o poder civil a partir de outro oficial o

protonotaacuterio

Turmarca ndash Oficial responsaacutevel por liderar uma touacuterma

CXVI

c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura

Constitutio pl Constitutiones ndash Denominaccedilatildeo dos ldquocapiacutetulosrdquo ou ldquolivrosrdquo do Taktikaacute Eacute

um decreto imperial sob a forma de uma letra pessoal que pretendia informar o recetor de

novas ordens ou instruccedilotildees O Taktikaacute ao estar seccionado neste tipo de documentos

apresenta-se como um conjunto de instruccedilotildees enviadas aos strateacutegoi pelo basileuacutes Leatildeo VI

Dispositio ndash Elemento do modelo tripartido que aborda as medidas a serem tomadas para

resolver certo problema

Epilogus ndash Divisatildeo de um documento legislativo que aborda os conteuacutedos do mesmo

Intitulatio ndash Elemento do modelo tripartido que invoca o nome do imperador e os seus

tiacutetulos

Inscriptio ndash Nome do destinataacuterio da obra legislativa

Invocatio ndash Elemento da primeira parte do modelo tripartido de uma obra legislativa que

invoca a Santa Trindade

Naumachikaacute - Geacutenero de tratadiacutestica antigo-bizantina que explica como praticar guerra

naval

Narratio ndash Secccedilatildeo de um documento legislativo onde eacute retratada a natureza do problema

a ser resolvido

Poliorketikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina descreve meacutetodos e engenhos que

permitem atacar ou defender fortalezas com sucesso

Strategemataacute - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que reporta estratagemas maacuteximas

e erudiccedilotildees militares

Strategikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que apresenta princiacutepios gerais da arte

de comandar

Strategikoacuten ndash Tratado militar bizantino possivelmente redigido pelo imperador Mauriacutecio

(582-602) eacute considerado como um dos mais importantes e influentes manuais militares

bizantinos tendo influenciado vaacuterios tratados posteriores como por exemplo o Taktikaacute

CXVII

Taktikaacute (disciplina) - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que aborda o

posicionamento e a manobra de forccedilas no campo de batalha Este geacutenero define igualmente

terminologias taacuteticas

Taktikaacute (tratado) ndash Tratado militar bizantino escrito por Leatildeo VI (886-912) Eacute

considerado por vaacuterios autores como o tratado inaugural do segundo periacuteodo de produccedilatildeo

tratadiacutestica bizantina (seacuteculos X e XI)

CXVIII

d) Povos

Aacuterabes ndash Povo indiacutegena da Peniacutensula Araacutebica que apoacutes a unificaccedilatildeo sob o profeta

Maomeacute inicia um processo de expansatildeo territorial ao comando dos califas No seguimento da

derrota dos Bizantinos e dos Persas em 636 o Califado torna-se a principal potecircncia poliacutetico-

militar do Proacuteximo e do Meacutedio Oriente estatuto que soacute viraacute a perder no seacuteculo X para os

Bizantinos e para o califado xiita dos Fatiacutemidas

Armeacutenios - Povo oriundo da Armeacutenia uma regiatildeo a sul do Caacuteucaso Satildeo de extrema

relevacircncia para o Impeacuterio Bizantino por terem sido recrutados como mercenaacuterios e auxiliares

para os seus exeacutercitos Como povo autoacutenomo estiveram sempre envolvidos nos jogos

diplomaacuteticos entre Bizacircncio e os Persas Sassacircnidas inicialmente e com os califados aacuterabes

mais tarde que se digladiavam para obter o apoio dos principados daquela regiatildeo

Bizantinos ndash Designaccedilatildeo para os habitantes do Impeacuterio Bizantino durante a sua duraccedilatildeo

na historiografia atual Nas fontes histoacutericas deste ldquopovordquo esta designaccedilatildeo parece ser apenas

usada para os habitantes de Constantinopla No geral e nas suas fontes escritas este povo

designava-se como romano

Buacutelgaros ndash Inicialmente um povo semi-noacutemada da estepe euro-asiaacutetica formaram uma

confederaccedilatildeo com vaacuterios povos eslavos a sul do Danuacutebio e na Traacutecia por volta de 681 Ao

longo da duraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino existiram dois impeacuterios buacutelgaros o primeiro de 681 a

1018 ano da conquista dos uacuteltimos territoacuterios buacutelgaros por Basiacutelio II e o segundo de 1185 a

1386 data da conquista final da Bulgaacuteria pelos Turcos Otomanos

Magiares ndash Povo fino-uacutegrico que habitava na Estepe Euroasiaacutetica que foi a principal

potecircncia diretamente a norte do Danuacutebio na segunda metade do seacuteculo IX Apoacutes a sua

expulsatildeo desses territoacuterios agraves matildeos dos Pechenegues no rescaldo da guerra entre Leatildeo VI e

Simeatildeo da Bulgaacuteria fugiram para a Panoacutenia de onde lanccedilaram os seus raides sobre a Bulgaacuteria

e a Europa Ocidental e onde formariam o reino da Hungria

Lombardos ndash Povo germacircnico que no seacuteculo VI invadiu a Peniacutensula Itaacutelica pouco depois

da reconquista bizantina da mesma Foram a principal potecircncia italiana (quer pelo seu reino

no Norte ou pelos principados independentes do Sul) ateacute agrave conquista do reino da Lombardia

por Carlos Magno no iniacutecio no seacuteculo VIII e agrave chegada dos Aglaacutebidas ao sul de Itaacutelia e

posterior revitalizaccedilatildeo dos interesses bizantinos na peniacutensula nos meados do seacuteculo IX

CXIX

Russos ndash Povos de origem escandinava que durante o seacuteculo IX se confederaram com

povos eslavos que habitavam na zona onde hoje se localiza a Ucracircnia e fundaram uma

entidade poliacutetica o Principado do Rusrsquo

CXX

e) Outros termos

Demoacutesion ndash imposto base

Iconoclasmo ndash Doutrina religiosa que defende o fim ao culto de imagens que gerou

periacuteodos de tensatildeo teoloacutegica e poliacutetica em Bizacircncio por duas vezes uma primeira de 726 a

787 quando eacute repudiada no VII Conciacutelio Ecumeacutenico de Niceia e o segundo de 813 a 843

quando o culto das imagens eacute restaurado definitivamente por Miguel III num siacutenodo

Jihad ndash Um dos pilares dos Islatildeo que significa ldquocombaterdquo ou ldquoesforccedilordquo Apesar de ter

vaacuterios significados pode ser a luta de superaccedilatildeo individual de um muccedilulmano para se tornar

numa pessoa ou num crente melhor ou apesar de natildeo ser tatildeo frequente nesse sentido uma

forma de proteger a religiatildeo islacircmica ou espalhaacute-la por vaacuterios meios em especial pelos

militares

Kapnikoacuten ndash imposto sobre as famiacutelias

Logotheacutesion ndash departamento financeiro em Bizacircncio Existiam vaacuterios destes

departamentos no impeacuterio para as mais variadas aacutereas (militares agriacutecolas civis entre

outras)

Koacutedikes ndash Livros de registo No caso dos logotheacutesion dos themaacuteta listavam informaccedilatildeo

sobre os seus soldados bem como de quem possuiacutea strateiacutea

Paulicianismo ndash seita hereacutetica do Cristianismo oriental que praticava o iconoclasmo e

tinha raiacutezes no Maniqueiacutesmo Formou um ldquoEstadordquo na Anatoacutelia oriental em meados do

seacuteculo IX que foi destruiacutedo por Basiacutelio I em 879

Roga ndash Salaacuterio monetaacuterio

Vexilationes ndash laquofeitos malvadosraquo Eacute a designaccedilatildeo de Teoacutefanes o Confessor para um

conjunto de reformas de Niceacuteforo I que hoje se discutem terem sido fundamentais para

formaccedilatildeo do sistema dos themaacuteta e que foram muito mal vistas pelo clero de entatildeo

Waqf - Doaccedilotildees caridosas islacircmicas que no contexto da guerra no limes oriental podiam

servir para pagar o equipamento e os soldos dos soldados dos al-thugucircr

CXXI

Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico

a) Regiotildees

Apuacutelia ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia que faz fronteira com a Calaacutebria e que eacute banhada a

oriente pelo Mar Adriaacutetico Possui cidades importantes para Bizacircncio no periacuteodo em estudo

como Tarento e especialmente Bari Atualmente eacute o nome da regiatildeo italiana do mesmo

nome e tem a sua capital na comuna de Bari

Armeacutenia ndash regiatildeo montanhosa localizada a sul da cordilheira do Caacuteucaso Tinha grande

valor estrateacutegico pois permitia alcanccedilar a Aacutesia Menor e o Iraque sem atravessar o deserto da

Siacuteria foi sempre contestada pelas principais potecircncias regionais (Roma e Peacutersia Sassacircnida e

Bizacircncio e Califado mais tarde) Atualmente esta zona encontra-se dividida entre vaacuterios

paiacuteses Armeacutenia Azerbaijatildeo Turquia Iratildeo e Geoacutergia

Aacutesia MenorAnatoacutelia ndash Peniacutensula localizada na Aacutesia ocidental rodeada pelo Mar

Mediterracircneo a sul e pelo Mar Negro a norte Durante grande parte do periacuteodo meacutedio-

bizantino foi fundamental para a defesa e economia do Impeacuterio Bizantino e foi aqui que a

maior parte dos combates entre Bizantinos e Aacuterabes se travaram Apesar disto os Bizantinos

perderam o controlo completo sobre a regiatildeo entre 1071 a batalha de Manzikert e 1081 ano

da ascensatildeo da dinastia Comnena quando uma seacuterie de tribos turcomanas se fixaram planalto

central Bizacircncio foi definitivamente expulsa da Anatoacutelia em 1337 com a perda de

Nicomeacutedia Atualmente esta regiatildeo faz parte da Turquia

Calaacutebria ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia localizada no lado oriental do estreito de Messina

Durante os reinados de Basiacutelio I e Leatildeo VI foi disputada pelos Bizantinos pelos Ducados

Lombardos e pelos receacutem-chegados Aacuterabes do Norte de Aacutefrica Atualmente eacute o nome da

regiatildeo italiana do mesmo nome com capital em Catanzaro

Ciliacutecia ndash Trato territorial que une a Aacutesia Menor agrave Siacuteria-Palestina Estaacute delimitada pelas

cordilheiras do Tauro e do Antitauro a norte e pelo mar Mediterracircneo a sul Durante o periacuteodo

em estudo era nesta aacuterea que estavam localizados os thugucircr os distritos militares

muccedilulmanos que protegiam o territoacuterio do califado e mais tarde dos emirados de expediccedilotildees

bizantinas e de onde partiam as razias muccedilulmanas A cidade mais importante da Ciliacutecia era

CXXII

Tarso Na contemporaneidade esta regiatildeo faz parte da Turquia denomina-se Ccedilukurova e estaacute

dividida em quatro proviacutencias Mersin Adana Osmaniye e Hatay

Ifriacutequia ndash Atribuiccedilatildeo medieval muccedilulmana ao territoacuterio da atual Tuniacutesia principalmente

Mesopotacircmia ndash Regiatildeo localizada a nordeste da Ciliacutecia que tambeacutem reunia um grande

conjunto de thugucircr dos quais se destacava Melitene Estaacute atualmente dividida entre a Siacuteria e a

Turquia

Siacuteria-Palestina ndash Corredor territorial localizado no Proacuteximo Oriente Estaacute dividido

topograficamente em trecircs regiotildees as zonas costeiras do litoral uma zona montanhosa ao

centro e a maior parte pelo deserto da Siacuteria Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino esta zona

esteve maioritariamente nas matildeos dos califados aacuterabes da Siacuteria Iraque e Egito e de alguns

emirados muccedilulmanos na regiatildeo Registou-se tardiamente uma ressurgente presente

bizantina (entre os seacuteculos X-XI) e a existecircncia dos chamados laquoestados Cruzadosraquo no litoral

(seacuteculos X-XIII) Atualmente esta regiatildeo estaacute dividida entre os seguintes paiacuteses Siacuteria

Palestina Israel Liacutebano Jordacircnia e Turquia

Siciacutelia ndash Ilha localizada no Mediterracircneo central e essencial para o controlo da passagem

das duas passagens do Mar Mediterracircneo Esteve em posse bizantina ateacute agrave conquista de

Taormina pelos Aglaacutebidas em 902 no reinado de Leatildeo VI passando depois ao controlo de

vaacuterias entidades emirado Aglaacutebida califado Fatiacutemida principados normandos domiacutenio

alematildeo francecircs entre outros Atualmente eacute uma regiatildeo autoacutenoma italiana cuja capital eacute

Palermo

CXXIII

b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc)

Bucelaacuterios ndash Novo distrito militar que comeccedila a aparecer nas fontes a partir de 766

resultante da divisatildeo dos territoacuterios do comando do Opsikiacuteon apoacutes a revolta de Artavasdo

Kibirrhaiotai ndash Territoacuterio sob a posse do themaacuteta mariacutetimo com o mesmo nome

localizado no sul da Aacutesia Menor formado em 732 tinha a sua capital em Antaacutelia (atualmente

Antalya na Turquia)

Mar Egeu (theacutema) ndash Theacutema naval que reunia como o nuacutemero indica vaacuterias ilhas do Mar

Egeu No periacuteodo em estudo o seu quartel-general estava em Lesbos

Opsikiacuteon ndash Distrito militar que pertencia ao corpo militar do mesmo nome Inicialmente

compreendia territoacuterios no noroeste da Aacutesia Menor e na Traacutecia mas no final do seacuteculo VIII jaacute

soacute tinha uma fraccedilatildeo desse territoacuterio estando os restantes entregues a outros distritos

Bucelaacuterios Optimaton e Traacutecia

Optimates ndash Territoacuterio no noroeste da Aacutesia Menor que pertenceu ao Opsikiacuteon ateacute 773

ano em que se formou um novo distrito militar apoacutes uma nova revolta do corpo militar do

Opsikiacuteon

Samos (theacutema) ndash Theacutema naval bizantino responsaacutevel pelas ilhas do Mar Egeu oriental e

da costa ocidental anatoacutelica A sua base de operaccedilotildees era Esmirna (atual İzmir na Turquia

oriental)

CXXIV

c) Centros populacionais (cidades vilas etc) e fortificaccedilotildees

Amorion ndash Importante cidade da Aacutesia Menor que serviu como capital do theacutema do

Anatolikoacuten ateacute agrave sua destruiccedilatildeo durante uma expediccedilatildeo de saque muccedilulmana em 838 A sua

localizaccedilatildeo corresponde agrave da atual cidade de Hisarkoumly na Turquia

Ancyra ndash Atual Ancara na Turquia foi saqueada por forccedilas abaacutessidas em 838 agrave

semelhanccedila de Amorion

Bagdade ndash Capital do califado abaacutessida fundada em 762 pelo califa al-Mansur

Atualmente eacute a capital do Iraque

Bari ndash Cidade italiana e capital da regiatildeo Apuacutelia Durante os reinados dos basilecircis

macedoacutenicos foi a capital do theacutema da Lombardia e uma cidade essencial para o controlo do

sul de Itaacutelia e do Mar Adriaacutetico Caiu em 1071 frente aos Normandos de Roberto Guiscardo

Benevento ndash Capital de um importante principado lombardo no sul de Itaacutelia entre 571 e

1081 altura em que foi entregue a Roberto Guiscardo pelo papa Esteve temporariamente em

posse bizantina entre 891 e 895 quando foi recuperada por forccedilas do Principado de Salerno

Castrogiovanni ndash Atual Enna era uma importante cidade bizantina no centro da Siciacutelia

A sua conquista pelos Aglaacutebidas em 859 restringiu a presenccedila bizantina agrave costa ocidental da

ilha

Corleone ndash Atualmente eacute uma comuna siciliana Foi tomada aos bizantinos pelos

aglaacutebidas entre 831 e 841

Damasco ndash Capital do califado omiacuteada Atualmente eacute a capital da Siacuteria

Eacutefeso ndash Antigo aglomerado provincial localizado a 3 quiloacutemetros da atual Selccediluk na

proviacutencia de Izmir na Turquia ocidental Foi uma importante cidade mercantil podendo ter

sido a capital do theacutema dos Traceacutesicos e depois de Samos

Germaniceia (ou Marash) ndash Importante thugucircr muccedilulmano na Cilliacutecia foi conquistada

definitivamente por Niceacuteforo II Focas em 962 Eacute a atual cidade de Kahramanmaraş na

proviacutencia com o mesmo nome no sudeste da Turquia

CXXV

Melitene ndash Um dos principais thugucircr da regiatildeo de Al-Jazira foi tomada por Bizacircncio em

934 por um exeacutercito sob o domestikoacutes Joatildeo Curcuas Eacute a atual Malatya capital da proviacutencia

homoacutenima na Turquia

Messina ndash Cidade siciliana localizada no estreito homoacutelogo controlando uma das

passagens entre o Mediterracircneo ocidental e oriental A sua conquista por um grupo de

mercenaacuterios foi uma das razotildees para a Primeira Guerra Puacutenica Foi conquistada pelos

Aglaacutebidas ao Impeacuterio Romano do Oriente entre 842 e 843

Niceia ndash Antiga cidade localizada onde hoje se localiza Izrik Foi a capital do theacutema do

Opsikiacuteon Um dos grandes momentos histoacutericos desta povoaccedilatildeo eacute o VII Conciacutelio Ecumeacutenico

que potildee fim ao primeiro periacuteodo iconoclaacutestico Foi a capital do Impeacuterio Bizantino quando

este se encontrava no exiacutelio entre 1204 e 1261

Nicomeacutedia ndash Capital do theacutema dos Optimates localizada no noroeste da atual Turquia

Ragusa (Croaacutecia) ndash Atual Dubrovnik foi uma importante cidade na costa da Dalmaacutecia

tornando-se mais tarde na capital de uma poderosa repuacuteblica mercantil em 1358 ateacute agrave usa

anexaccedilatildeo pelo reino de Itaacutelia em 1808 No periacuteodo em estudo foi cercada pelos Aacuterabes em

868 mas uma frota enviada por Basiacutelio conseguiu obrigar ao levantamento do cerco

Ragusa (Siciacutelia) ndash Cidade na Siciacutelia foi tomada pelos aglaacutebidas em 848 apoacutes o

extermiacutenio da sua guarniccedilatildeo

Palermo ndash Importante cidade siciliana durante toda a Idade Meacutedia tendo servido como

capital desta vaacuterias vezes estatuto que ocupa nos dias de hoje

Preslav ndash Capital do Impeacuterio da Bulgaacuteria apoacutes 893 por ordens do czar Simeatildeo Foi

tomada por Bizacircncio em 971 durante a campanha de Joatildeo I Zimisce contra o priacutencipe

Svyatoslav do Rus Atualmente eacute a cidade de Veliki Preslav na Bulgaacuteria

Prisca ndash Capital do Impeacuterio da Bulgaacuteria antes de 893 Foi saqueada vaacuterias vezes por

Bizacircncio com especial destaque para o ano de 811 quando a cidade eacute tomada por Niceacuteforo I

O basileuacutes e o seu exeacutercito seriam massacrados dias depois na batalha de Prisca Na

contemporaneidade eacute a cidade de Plĭskovŭ na Bulgaacuteria

Siracusa ndash Uma das mais importantes cidades sicilianas e berccedilo de Aristoacuteteles Durante

as duas primeiras Guerras Puacutenicas foi uma das contestantes nesses conflitos ora do lado

CXXVI

cartaginecircs ora do lado romano ora de nenhum A sua conquista pelos Aglaacutebidas em 877

limita a presenccedila bizantina na Siciacutelia agrave fortaleza de Taormina

Tarento ndash Atualmente eacute chamada de Taranto e localiza-se na Apuacutelia Durante o periacuteodo

em estudo foi a capital de um emirado muccedilulmano ateacute agrave sua conquista por uma expediccedilatildeo

militar ofensiva bizantina em 880

Taormina ndash Uacuteltima possessatildeo bizantina na Siciacutelia foi tomada pelos Aacuterabes em 901

Atualmente estaacute localizada na comuna com o mesmo nome

Tarso ndash Considerada por muitos historiadores como o mais importante dos thugucircr era

desta cidade que partiam muitas das razias muccedilulmanas direcionadas a territoacuterio bizantino

Apesar de ter sido muitas vezes saqueadas soacute seria definitivamente conquistada por Niceacuteforo

II Focas em 965 Faz parte da proviacutencia de Mersin na Turquia

Tephrike ndash Capital do ldquoEstadordquo pauliciano foi tomada por Basiacutelio I em 879

Atualmente eacute a cidade de Divriği na proviacutencia de Sivas na Turquia oriental

Trapaacuteni ndash Atualmente eacute uma comuna italiana com o mesmo nome Foi conquistada aos

Bizantinos pelos Aacuterabes entre 831 e 841

CXXVII

d) Referecircncias topograacuteficas mariacutetimas e fluviais

Antitauro ndash Cordilheira montanhosa localizada na Turquia oriental e sudoeste que

durante a primeira metade do periacuteodo-meacutedio bizantino serviu de fronteira natural entre o

Impeacuterio e as possessotildees muccedilulmanas na Siacuteria e na Mesopotacircmia

Chipre ndash Ilha localizada no Mediterracircneo Oriental Durante a primeira metade do

periacuteodo-meacutedio bizantino foi territoacuterio contestado e desmilitarizado pelo Impeacuterio Bizantino e

pelo Califado Em 964 no reinado de Niceacuteforo II Focas os Romanos retomam o controlo

efetivo da ilha Bizacircncio perde a ilha em 1195 para as forccedilas do rei inglecircs Ricardo ldquoCoraccedilatildeo-

de-Leatildeordquo no seio da Terceira Cruzada

Creta ndash Ilha localizada na periferia sul do Mar Egeu com enorme importacircncia

estrateacutegica para o seu controlo Entre 828 e 961 a ilha esteve sob domiacutenio muccedilulmano sendo

a principal base da pirataria sarracena no Mar Egeu ateacute agrave sua reconquista pelo domestikoacutes do

Oriente Niceacuteforo Focas590 apoacutes vaacuterias tentativas falhadas (como em 843 911 e 949) Creta

manteve-se em matildeos bizantinas ateacute 1204 o ano da conquista de Constantinopla pelos

cavaleiros da Quarta Cruzada

Mar Egeu ndash Corpo hidrograacutefico localizado entre a Greacutecia e a Turquia atuais Apoacutes a

perda de Creta em 828 as ilhas do Mar Egeu foram viacutetimas constantes da pirataria aacuterabe que

de melhor ou pior forma assolou aquela regiatildeo ateacute agrave reconquista de Creta em 961 Nos

reinados de Basiacutelio I e Leatildeo VI o Mar Egeu estava sob a proteccedilatildeo de trecircs themaacuteta navais

Kibirrhaiotai Mar Egeu e Samos A maior parte destas ilhas passou para o controlo das

repuacuteblicas mercantis italianas apoacutes a queda de Constantinopla para a Quarta Cruzada em

1204

Tauro ndash Cordilheira montanhosa no sul da Turquia que separa o planalto central da

Anatoacutelia e as regiotildees costeiras do sul As forccedilas bizantinas retiraram para esta cordilheira apoacutes

a derrota de Yarmuk e esta manteve-se um dos principais obstaacuteculos entre os territoacuterios

califais e dos emirados e o coraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino

590 Futuro Niceacuteforo II Focas

CXXVIII

e) Campos de batalha

Campo da batalha de Lalacatildeo ndash O nome proveacutem do rio que atravessava o territoacuterio

onde se travou a batalha De acordo com John Haldon esta batalha ter-se-aacute travado na regiatildeo

fronteiriccedila dos themaacuteta de Paflagoacutenia e dos Armeniacuteacos a cerca de 130 km de Amisos

(Samsun atualmente) num local rodeado pelos sopeacutes de Deveci Dag591

Marj al-Usquf ndash Tambeacutem conhecido na bizantiniacutestica angloacutefona como Bishoprsquos

Meadow (o laquoPrado do Bisporaquo na traduccedilatildeo literal para portuguecircs) Foi o local onde se deu a

batalha com o mesmo nome num pequeno planalto onde se localizava a sede episcopal de

Doara junto agrave estrada que ligava Tyana (a moderna Kemarhisar) a Coloneia (atual Aksaray)

Doara eacute atualmente Duvarli na proviacutencia de Niğde Turquia

Mons Lactarius ndash Local onde se travou a batalha com o mesmo nome Atualmente este

lugar faz parte dos Montes Lattari uma cadeia montanhosa na Campacircnia no sul de Itaacutelia e

faz parte da cordilheira dos Montes Apeninos

Yarmuk ndash Nome atribuiacutedo agrave grande batalha entre Muccedilulmanos e Bizantinos em 636

Ter-se-aacute travado no leito seco do rio Yarmuk a sul da capital dos Aacuterabes Gassacircnidas Jabiya

Apesar de hoje a povoaccedilatildeo natildeo existir estava localizada na Siacuteria sudeste proacutexima da fronteira

atual com a Jordacircnia

591 HALDON John (2001) The Byzantine Wars Battles and Campaigns of the Byzantine Era Gloucestershire

Tempus Publishing Ltd p84

CXXIX

Anexo VIII ndash Excertos do Taktikaacute

a) Evitar batalha

ldquoEacute bom causar injuacuteria ao inimigo pelo dolo por raides pela fome e fazecirc-los sofrer

por um longo periacuteodo de tempo por meio de assaltos muito frequentes e outras accedilotildees (O

general) nunca deve ser incitado a uma batalha campal Pela maior parte noacutes observamos que

o sucesso eacute mais uma questatildeo de sorte do que coragem comprovadardquo ndash Constitutio XX

paraacutegrafo 51 linhas 265-266592

b) Sobre natildeo guerrear com os Buacutelgaros e a paz de 896

ldquoDesde que os Buacutelgaros no entanto adotaram a paz de Cristo e partilham a mesma feacute

nele que os Romanos depois do que eles passaram como resultado de quebrarem o seu

juramento noacutes natildeo pensamos em pegar em armas contra eles Agora remetemos qualquer

accedilatildeo militar contra eles a Deus Presentemente portanto na medida em que noacutes somos irmatildeos

pela nossa feacute uacutenica e porque eles prometeram ouvir os nossos conselhos noacutes natildeo estamos

interessados em descrever quer as suas formaccedilotildees em batalha contra noacutes quer as nossas

contra elesrdquo ndash Constitutio XVIII paraacutegrafo 42 linhas 227-232593

c) Preferecircncia de recrutamento de soldados economicamente confortaacuteveis

ldquoNoacutes ordenamos a Sua Excelecircncia que mantenha o costume que vai muito atraacutes ateacute ao

iniacutecio de selecionar soldados e oficiais que julgue qualificados de cumprirem os criteacuterios para

guerrear Selecione soldados de todo o theacutema sob o seu comando nem rapazes nem idosos

mas homens bravos vigorosos corajosos e financeiramente confortaacuteveis Enquanto estes

homens estiverem ocupados com o seu proacuteprio serviccedilo militar em campanha ou ao inveacutes

disso com o reunir do exeacutercito eles devem ter outros nas suas famiacutelias que faccedilam o trabalho

do campo e que consigam providenciar os objetos requeridos para o equipar e armar completo

de um soldado Isto significa que as cabeccedilas dessas famiacutelias devem encontrar-se libertas de

todos os outros serviccedilos devidos ao Estado Porque noacutes natildeo desejamos que o nosso

companheiro soldado ndash assim chamo eu ao homem que vai em frente para se empenhar

valentemente em feitos beacutelicos em nome de Nossa Majestade e da comunidade amante de

Cristo dos Romanos - para aleacutem da excepccedilatildeo uacutenica do imposto puacuteblico a ser sujeito a

592 Vide DENNIS G T (2014) ndash Op cit p 555 593 Idem Ibidem pp453-454

CXXX

qualquer outro tipo de imposiccedilatildeo qualquer que sejardquo - Constitutio IV paraacutegrafo 1 linhas

3-14594

d) Acerca do financiamento de soldados pobres por homens (stratioacutetai) ricos

ldquoQuando vocecirc se encontrar sem armamento para os seus soldados decirc ordens aqueles

que estatildeo bem providenciados para (campanha) mas que natildeo participem que se natildeo

desejarem participarem nesta devem cada um deles providenciar um cavalo e um homem no

seu lugar Desta forma os valentes (homens) pobres seratildeo armados e os cobardes ricos iratildeo

servir igualmente com aqueles que realmente estatildeo em campanhardquo - Constitutio XX

paraacutegrafo 205 linhas 1056-1059595

e) Menccedilatildeo da alianccedila entre Bizantinos e Magiares do iniacutecio da guerra

Bizantino-Buacutelgara de 984 e da participaccedilatildeo Magiar nesse conflito

ldquoJaacute que eu mencionei os Turcos natildeo julgamos que seja despropositado laquodescreverraquo

como estes se formavam em batalha e como se podia formar para combater contra eles

Coloquemos por escrito o que aprendemos a partir de uma certa quantidade de experiecircncia de

quando eles eram nossos aliados Naquele tempo os Buacutelgaros tinham desrespeitado o tratado

de paz e andavam a saquear pelos campos da Traacutecia A justiccedila perseguiu-os por quebrar o seu

juramento a Cristo nosso Deus o imperador de todos e eles rapidamente se encontraram com

a sua puniccedilatildeo Enquanto as nossas forccedilas enfrentavam os Sarracenos a Providecircncia divina

levou os Turcos ao inveacutes dos Romanos a (lanccedilar uma) campanha contra os Buacutelgaros A frota

de navios de nossa Majestade apoiou-os e transportou-os sobre o Danuacutebio laquoProvidecircnciaraquo

enviou-os contra o exeacutercito dos Buacutelgaros que tinha tatildeo maliciosamente pegado em armas

contra os Cristatildeos e tal como se fossem carrascos puacuteblicos derrotaram-nos decisivamente em

trecircs embates para que os Cristatildeos Romanos natildeo se sujassem voluntariamente com o sangue

dos Cristatildeos Buacutelgarosraquo - Constitutio XVIII paraacutegrafo 40 linhas 210-221596

594 Idem Ibidem pp 46-47 595 Idem Ibidem pp 610-611 596 Idem Ibidem pp 452-453

CXXXI

f) O Proeacutemio

ldquoEm nome do Pai e do Filho e do Espiacuterito Santo a sagrada consubstancial e

veneraacutevel Trindade nosso uacutenico e verdadeiro Deus Leatildeo paciacutefico autokraacutetor em Cristo fiel

pio sempre reverenciado Augustordquo ndash Proacutelogo paraacutegrafo 1 linhas 3-6597

g) A travessia do rio Paradeisos por Basiacutelio (877-878)

ldquoNoacutes recordamos que o nosso sempre-memoraacutevel pai e imperador Basiacutelio fez isto

quando estava em campanha contra Germaniceia na Siacuteria Ele chegou ao rio chamado

Paradeisos e estacionou-se ele mesmo no meio deste com lanternas e na sua presenccedila e em

seguranccedila o exeacutercito inteiro sob o seu comando fez a travessia facilmente e de forma segura

Ele frequentemente deu a matildeo e ele mesmo salvou vaacuterios soldados de grande perigordquo ndash

Constitutio IX paraacutegrafo 14 linhas 60-66598

h) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (I)

ldquoPara sumariar tudo o que escrevemos sobre teoria taacutetica do iniacutecio ateacute ao fim tudo o

que foi dito de armas armamento exerciacutecios formaccedilotildees em batalha e outros meacutetodos

militares relacionados com o povo Sarraceno foi transmitido e demonstrado por noacutes Esta

gente que rodeia a nossa naccedilatildeo provoca-nos natildeo menos anguacutestia do que o povo Persa de

antigamente fazia aos antigos imperadores Eles provocam prejuiacutezo aos nossos suacutebditos todos

os dias Eacute por esta razatildeo que nos encarregaacutemos da nossa presente tarefa de formular

instruccedilotildees para a guerra Em adiccedilatildeo ao que jaacute havemos dito noacutes encontraacutemos outros modelos

de formaccedilotildees de batalha que pode muito bem considerar Oh general contra este povo

barbaacuterico Eles satildeo os seguintesrdquo ndash Constitutio XVIII paraacutegrafo 135 linhas 686-695599

i) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (II)

ldquoQuanto a todos os outros toacutepicos que naturalmente emergem em cada periacuteodo de

guerra ou em preparaccedilatildeo para ela e especialmente contra a naccedilatildeo dos Sarracenos que agora

nos causa tanto transtorno ndash em cuja responsabilidade como jaacute dissemos o presente livro foi

compilado ndash mesmo que noacutes natildeo tenhamos conseguido pegar em tudo ainda assim pelo que

jaacute foi escrito bem como pela experiecircncia e muito pela natureza das coisas (o general) tem de

fazer estimativas com o maacuteximo alcance e tem de se acomodar para as situaccedilotildees que surgem

Eu natildeo acho possiacutevel tanto para noacutes como para qualquer outro que escreva acerca de tudo que

597 Idem Ibidem pp 2-3 598 Idem Ibidem pp 158-159 599 Idem Ibidem pp 488-489

CXXXII

eacute provaacutevel que aconteccedila de forma a poder estar guardado contra tudo tendo em conta que as

diversas circunstacircncias em cada caso satildeo ilimitadas em nuacutemerordquo ndash Epiacutelogo paraacutegrafo 71

linhas 318-326600

j) Sobre a lealdade do general

ldquoO verdadeiro objetivo do muito estimado general eacute apreciar tudo que o divino e o

imperial favorecem ao inveacutes de prestando pouca atenccedilatildeo a assuntos adequados e

apropriados chegar ao opostordquo ndash Constitutio I paraacutegrafo 13 linhas 44-45601

k) As caracteriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos Aacuterabes contra Bizacircncio

ldquoEles natildeo satildeo reunidos para o serviccedilo militar a partir de uma lista de recrutamento

mas juntam-se cada homem de sua livre vontade e com todos os membros da sua Casa Os

ricos laquoconsideravam comoraquo recompensa suficiente morrer pela sua proacutepria naccedilatildeo os pobres

pela causa de recolher botim Os seus companheiros de tribo homens e especialmente

mulheres providenciam-nos com armas como se participassem com eles na expediccedilatildeo

Porque a sua fraqueza fiacutesica natildeo lhes permitia transportar armas elas mesmas consideravam

como recompensa providenciar armamento aos soldados Estes entatildeo satildeo os Sarracenos um

barbaacuterico e iacutempio povordquo ndash Constitutio XVIII linhas 592-598602

l) O problema em causa no Taktikaacute

ldquoPois assim parece sempre que as forccedilas armadas dos Romanos estavam em boa

ordem o Estado desfrutou de assistecircncia divina por natildeo poucos anos e o labor dos mais

valorosos estava misturado com disciplina e por muitas vezes foi coroado com o esplendor

da vitoacuteria Mas por muitos anos agora a persecuccedilatildeo das taacuteticas e a estrateacutegia foram

negligenciadas para natildeo dizer que caiacuteram tatildeo completamente no esquecimento que aqueles

que assumem o comando de um exeacutercito natildeo compreendem sequer as mateacuterias mais oacutebvias

Noacutes podemos observar que isto leva a um nuacutemero bastante grande de situaccedilotildees diferentes

Pois com o desaparecimento deste conhecimento produtivo de tantas coisas boas e pelo meio

do qual a naccedilatildeo dos Romanos floresceu no passado noacutes contemplamos agora o oposto o

favor divino estaacute ausente e o triunfo acostumado da naccedilatildeo dos Romanos fugiu dos seus

combatentes Pois juntamente com a negligecircncia gradual da disciplina militar e do treino a

coragem dos nossos bravos guerreiros assim parece tambeacutem declinou Algumas vezes noacutes

600 Idem Ibidem pp 640-643 601 Idem Ibidem pp 14-15 602 Idem Ibidem pp 482-483

CXXXIII

atribuiacutemos a causa agrave falta de treino e agrave cobardia dos soldados algumas vezes colocamos a

culpa na inexperiecircncia e na timidez dos seus comandantes e algumas vezes negligenciamos o

ensinamento claro dos antigos taacuteticos pela sua obscuridade Desejando assim com a ajuda de

Deus restaurar este conhecimento muito proveitoso e depois de ter quase sido expulso da

nossa naccedilatildeo Romana de o trazer de volta para a existecircncia noacutes natildeo hesitamos em com

grande seriedade assumir esta tarefa noacutes mesmos e desta forma graciosamente oferecer um

benefiacutecio aos nossos suacutebditosrdquo ndash Proacutelogo linhas 36-54603

m) A soluccedilatildeo do basileuacutes

ldquoDepois de devotadamente darmos atenccedilatildeo aos antigos bem como aos mais recentes

meacutetodos estrateacutegicos e taacuteticos e tendo lido mais detalhes noutros relatos tendo encontrado

algo nessas fontes que parecesse uacutetil para as necessidades da guerra noacutes recolhemo-lo e

colecionaacutemo-lo Essas coisas aleacutem do mais que noacutes aprendemos da nossa proacutepria e limitada

experiecircncia em serviccedilo militar e que satildeo aplicaacuteveis e uacuteteis para o nosso dia e na presente

situaccedilatildeo noacutes agora transmitimo-lo da melhor forma possiacutevel Noacutes oferecemo-la como uma

modesta assistecircncia nestes assuntos sucintamente como outro Proacutecheiros Noacutemos

apresentando na praacutetica em vez de em palavras o que eacute uacutetil e digno de respeito Eacute uma espeacutecie

de livro introdutoacuterio em taacuteticas para os nossos subcomandantes (hypostrategoĩ604) e para

aqueles a quem foram confiadas responsabilidades de combate Noacutes asseguramos-lhe que isto

deveraacute tornar mais faacutecil como avanccedilar de uma maneira ordeira a todos o que o desejarem e ateacute

certo ponto para um melhor conhecimento daqueles velhos autores taacuteticos e das teorias

antigas Noacutes natildeo prestaacutemos atenccedilatildeo agraves escrituras de boa dicccedilatildeo ou palavras que soassem bem

A nossa preocupaccedilatildeo ao inveacutes disso foi o pragmatismo a claridade de expressatildeo e a

simplicidade de estilo Com isto em mente noacutes frequentemente clarificamos os termos taacuteticos

do Grego antigo e traduzimos aqueles em Latim para os seus equivalentes em Grego Noacutes

tambeacutem utilizaacutemos algumas outras expressotildees militares de utilizaccedilatildeo comum para ser mais

faacutecil para o leitor compreendecirc-las A uacutenica coisa que descartaacutemos foram as formaccedilotildees que natildeo

satildeo mais necessaacuterias porque satildeo supeacuterfluas inuacuteteis e a sua descriccedilatildeo natildeo eacute clara Assim

aqueles que desejam comandar tropas possam ter raacutepido acesso a uma vasta reserva de

experiecircncia no que respeita a combate e a campanhas militares A utilidade deste manual

deriva natildeo soacute daquilo que foi escrito mas tambeacutem do facto de ter sido posto em praacutetica pelas

603 Vide Idem Ibidem p7 604 Haldon defende que Leatildeo VI com este termo se refere aos strateacutegoi Isto porque se considerava o basileuacutes

como o comandante supremo o que tornava os restantes generais (os strategoacutes) seus subalternos logo

hypostrategoi vide HALDON J (2014) ndash Op cit p126

CXXXIV

autoridades antigas e ter sido transmitido ateacute aos nossos dias Mesmo que natildeo tenha sido

acompanhado por essas accedilotildees que conduziram a situaccedilatildeo dos Romanos a um grande poder

pelo menos as palavras que foram condenadas ao esquecimento foram trazidas de volta agrave vida

relembradas e novamente restauradas na sua antiga posiccedilatildeordquo ndash Proacutelogo paraacutegrafo 6

linhas 55-78605

n) O Epilogus

ldquoPrimeiro eacute necessaacuterio sumariar as taacuteticas empregues na arte da guerra Entatildeo o que eacute

um general Quem e que tipo de pessoal ele deve ser Como deve ele fazer planos Depois

disso vamos explicar as divisotildees do exeacutercito em oficiais e nas tropas que eles comandam

bem como no seu equipamento as armas a eles providenciadas e o armamento de cada um

dos seus combatentes Antes do mais o treino do exeacutercito antes do combate Depois a leitura

oficial das puniccedilotildees em vigor Segue-se uma discussatildeo sobre o exeacutercito em marcha tanto no

nosso como em territoacuterio hostil e sobre o assim-chamado trem-de-apoio e claro acerca da

preparaccedilatildeo e instruccedilotildees relativamente a acampamentos O que deve ser feito no dia antes da

batalha e o que tem de ser feito no dia da batalha Para aleacutem do mais acerca de guerra de

cerco Depois o que deve ser feito depois da batalha E o que dizer sobre ataques inesperados

e emboscadas tanto pelas nossas tropas como do inimigo Para aleacutem destas o treino em vaacuterias

formaccedilotildees de batalha estrangeiras e Romanas A nossa compilaccedilatildeo seraacute entatildeo seguida por

uma pequena exposiccedilatildeo de guerra naval Para concluir tudo isto foram recolhidas e

apresentadas individualmente certas maacuteximas taacuteticas e estrateacutegicas aquelas isto eacute que a

natureza sumaacuteria dos capiacutetulos natildeo permite que sejam inseridas no seu lugar Noacutes esperamos

que o estudo disto leve o saacutebio e perspicaz comandante a tornar-se ainda mais saacutebio ndash

Proacutelogo paraacutegrafo 10 linhas 97-113606

o) A guerra como ldquomal necessaacuteriordquo

ldquoNoacutes temos sempre de abraccedilar a paz para os nossos proacuteprios suacutebditos bem como para

os baacuterbaros por causa de Cristo o imperador e Deus de todos Se as naccedilotildees partilharem estes

sentimentos e se mantiverem dentro das suas fronteiras e prometerem natildeo agir injustamente

contra noacutes entatildeo tambeacutem vocecirc abster-se-aacute de pegar em armas contra eles Natildeo manche o chatildeo

com o sangue das suas proacuteprias gentes ou com aquele dos baacuterbaros (hellip) Noacutes devemos

sempre que possiacutevel da nossa parte estar em paz com todos os homens especialmente com

605 Vide DENNIS George T (2014) ndash Op cit pp 6-9 606 Idem Ibidem pp 8-11

CXXXV

aquelas naccedilotildees que desejem viver em paz e que natildeo fazem nada de injusto aos nossos

suacutebditos Noacutes devemos sempre preferir paz acima de tudo e devemos estar em paz com essas

naccedilotildees e abstermo-nos da guerra

Mas se o nosso adversaacuterio agir de forma pouco saacutebia iniciar hostilidades injustas e

invadir o nosso territoacuterio entatildeo deveras teraacute uma causa justa ainda mais que uma guerra

injusta foi iniciada pelo inimigo Com confianccedila e entusiasmo pegue em armas contra eles

Foram eles que providenciaram a causa por injustamente levantarem as matildeos contra os nossos

suacutebditos Seja corajoso entatildeo (O general) teraacute a justiccedila de Deus ao seu lado Ao tomar parte

na luta em nome dos seus irmatildeos (o general) e a sua forccedila inteira seratildeo vitoriosos Por esta

razatildeo assim noacutes apelamos a Sua Excelecircncia para se assegurar que as causas das guerras satildeo

justas Soacute entatildeo deveraacute pegar em armas contra os homens que atuam injustamenterdquo ndash

Constitutio II paraacutegrafos 30 e 31 linhas 196-201 e 208-216

p) Formas de agir em caso de ataques vindos da Ciliacutecia

ldquoOs Sarracenos da Ciliacutecia colocam muito valor no treino exaustivo das suas forccedilas de

infantaria para entrar em combate em duas frentes isto eacute na terra ao longo da estrada que sai

das montanhas do Tauro e no mar por meio dos seus navios chamados koumbaacuteria Quando

eles natildeo fazem campanha em terra firma eles embarcam para o mar pilham os povoados ao

longo da costa e algumas vezes se tal acontecer envolvem-se em batalhas navais Quando

natildeo vatildeo para o mar eles fazem campanhas contra os territoacuterios dos Romanos por terra

Vocecirc portanto oacute general deve manter olho neles por meio de espiotildees de confianccedila

Quando eles fazem campanha pelo mar vocecirc vai por terra e se possiacutevel lanccedilar ataques contra

eles no seu proacuteprio territoacuterio Mas se os espiotildees relatarem que eacute intenccedilatildeo deles fazer

campanha por terra entatildeo vocecirc deve avisar o comandante do Kibirrhaiotai para que com os

droacutemōnes sob o seu comando ele possa cair sobre os territoacuterios dos Tarseotes e dos de Adana

que se encontrem na costa Porque o exeacutercito dos baacuterbaros cilicianos natildeo eacute muito numeroso

uma vez que os homens que praticam campanha em terra tambeacutem o fazem no marrdquo ndash

Constitutio XVIII paraacutegrafos 131 e 132 linhas 654-678

q) O perfil psicoloacutegico de um bom strategoacutes

ldquoEacute caracteriacutestico de um general que ele seja superior a todos os que estatildeo sob o seu

comando em sabedoria praacutetica coragem justiccedila e discriccedilatildeo reservando a ele a administraccedilatildeo

da proviacutencia atribuiacuteda a ele incluindo assuntos militares privado e puacuteblicos Ao receber um

CXXXVI

exeacutercito indisciplinado ele deve dispocirc-lo apropriadamente para a batalha de acordo com a

formaccedilatildeo taacutetica adequada agrave ocasiatildeordquo ndash Constitutio I paraacutegrafo 11 linhas 39-42

CXXXVII

Anexos IX ndash Excertos de outras fontes607

a) Listas da Expediccedilatildeo a Creta em 910-911608

Da preparaccedilatildeo e custo e soma dos pagamentos e do exeacutercito

enviado contra a iacutempia (ilha de) Creta

com o patrikios e logothetecircs tou droumou Himeacuterio

no tempo do Soberano Leatildeo amado de Cristo

A frota imperial 12000 Rusrsquo 700

O strategoacutes do Kibirrhaiotai responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 5600 e

1000 reservas 6600 no total

O strategoacutes de Samos responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 4000 e 1000

reservas 5000 no total

O strategoacutes do Mar Egeu responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 3000 e

1000 reservas 4000 total Todas estas juntas 28300

Em relaccedilatildeo agraves unidades de cavalaria que deveriam ir em campanha com a frota

Scholarioi Traceacutesicos e Macedoacutenicos 1037

Do themaacute dos Traceacutesicos 1000 do theacutema de Sebasteia 1000 Armeacutenios de Platanion

500 Armeacutenios de Prine 500 O total de cavalaria 6037609 e o total da frota e da cavalaria

34037610

607 Estas traduccedilotildees satildeo feitas do inglecircs para portuguecircs a partir de 608 Constantino VII basileuacutes ldquoThe fitting out and cost and sum of the pay and of the army sent against the

impious (island of) Crete with the patrikios and logothetecircs tou droumou Himerios in the time of the Lord Leo

beloved of Christrdquo Texto Traduccedilatildeo e Comentaacuterio HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-

Century Military Administration ndash Chapters II 44 and 45 of the Book of Cerimonies Travaux et Memoacuteires (13)

pp 202-213 609 De acordo com John Haldon faltam 2000 cavaleiros traceacutesicos que natildeo satildeo mencionados Vide HALDON J

(2000) ndash Op cit p 202 610 Trata-se de 34337 no total de verdade vide Idem Ibidem p 202

CXXXVIII

Em relaccedilatildeo agrave frota imperial

60 droacutemōnes tendo 230 remadores e 70 soldados cada no total 18000 40 pamphyloi

dos quais 20 tinham 160 homens cada e outros 20 tinham 130 homens cada e 700 Rusrsquo no

total 5800 O total eacute 23800611

Em relaccedilatildeo ao theacutema dos Kibirrhaiotai

15 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 4500

16 pamphyloi 6 com 160 remadores os outros 10 com 130 homens totalizando 2260

Ao todo 6760

Em relaccedilatildeo ao theacutema de Samos

10 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

12 pamphyloi 4 com 160 remadores 8 com 130 homens totalizando 1680

Ao todo para o theacutema de Samos 4680

Em relaccedilatildeo ao theacutema do Mar Egeu

7 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

7 pamphyloi 3 com 160 homens os outros 4 com 130 homens totalizando 1000

Ao todo para o theacutema do Mar Egeu 3000

Em relaccedilatildeo ao theacutema da Heacutelade

10 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

611 23002 na realidade por um erro do copista Vide Idem Ibidem p 203

CXXXIX

Em relaccedilatildeo aos Mardaiacutetas

Mardaiacutetas exeacutercito com oficiais 4087 e como suplemento 1000 adicionais

totalizando 5087

Ao todo o total para a frota imperial e para os themaacuteta 112 droacutemōnes 75 pamphyloi

34000612 remadores e 7340613 soldados e 700 Rusrsquo e 5087 Mardaiacutetas

Os pagamentos para a frota imperial

Exeacutercito com oficiais de 12502 pagamento de 15 kentecircnaria 90 litrai e 10

nomismata614

O seu suplemente de 1000 5 nomismata cada fazendo 69 litrai 32 nomismata~

700 Rusrsquo 1 kentecircnarion

O total para a frota e para os Rusrsquo equivale a 17 (kentecircnaria) 59 (litrai) 42

(nomismata)

Em relaccedilatildeo ao theacutema dos Kibirrhaiotai

Exeacutercito com oficiais de 5750 pagamento de 2 (kentecircnaria) 21 (litrai) e 42

(nomismata) com as reservas

Em relaccedilatildeo ao theacutema de Samos

Exeacutercito com oficiais de 4680 e 1000 das reservas pagamento de 2 (kentecircnaria) 1

(litrai) e 11 (nomismata)

Em relaccedilatildeo ao theacutema do Mar Egeu

Exeacutercito com oficiais de 3100 e 1000 das reservas pagamento de 1 (kentecircnaria) 54

(litrai) e 3 (nomismata)

612 O total no texto equivale a 34200 Idem Ibidem 204 613 O total no texto eacute 7140 Idem Ibidem 204 614 Kentecircnarion = 100 litrai de ouro Litra = 72 nomismata de ouro Vide Idem Ibidem 204

CXL

Em relaccedilatildeo aos Mardaiacutetas do Ocidente

Exeacutercito com oficiais de 4087 pagamento de 4 (kentecircnaria) 66 (litrai) e 32

(nomismata) o seu suplemento de 1000 homens em 8 nomismata cada faz 1 (kentecircnaria)

11 (litrai) e 8 (nomismata)

Ao todo o total para os Mardaiacutetas do Ocidente pagamento de 5 (kentecircnaria) 77

(litrai) e 42 (nomismata)615

Ao todo o total para a frota imperial para os Rusrsquo para as frotas ldquotemaacuteticasrdquo e para os

Mardaiacutetas do Ocidente pagamento de 29 (kentecircnaria) 13 (litrai) e 66 (nomismata)

Em relaccedilatildeo ao pagamento das unidades de cavalaria

No que respeita aos scholarioi dos Traceacutesicos e Macedoacutenicos para 1037 homens

pagamento de 1 (kentecircnarion) 41 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita ao theacutema dos Traceacutesicos para 3000 homens a 2 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 83 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita ao theacutema de Sebasteia para 1000 homens pagamento de 1

(kentecircnarion) 13 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios Platanitai616 para 500 homens a 6 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 41 (litrai) e 48 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios de Prine para 400 homens a 5 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 27 (litrai) e 56 (nomismata)

O total para 2037 cavaleiros pagamento de 2 (kentecircnaria) 54 (litrai) e 48

(nomismata)

E para os 3900 homens adicionais pagamento de 1 (kentecircnarion) 52 (litrai) e 56

(nomismata)

O total para a cavalaria pagamento de 4 (kentecircnaria) 7 (litrai) e 22 (nomismata)

615 Deveriam ser 40 nomismata sendo que os 2 nomismata adicionais satildeo um erro do copista Idem Ibidem 206 616 De Platanion portanto

CXLI

Em relaccedilatildeo ao pagamento da mobilizaccedilatildeo

No que respeita agraves frotas dos 3 themaacuteta dos Kibyrrhaiotai Samos e Mar Egeu para

3000 homens a 2 nomismata cada 83 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita aos Mardaiacutetas do Ocidente 3 tourmarchai a 36 nomismata cada 42

drouggarioi a 12 nomismata cada 42 komecirctes a 6 nomismata cada 5000 soldados a 4

nomismata cada fazem todos juntos 2 (kentecircnaria) 99 (litrai) e 56 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios do theacutema de Sebasteia 5 tourmarchai a 12 nomismata

cada 10 drouggarioi a 6 nomismata cada 8 komecirctes a 5 nomismata cada 965 soldados a 4

nomismata cada fazem todos juntos 55 (litrai) e 60 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios de Prine 500 homens a 2 nomismata cada fazendo 12

(litrai) e 64 (nomismata)

O conjunto para o pagamento da mobilizaccedilatildeo 4 (kentecircnaria) 52 (litrai) e 60

(nomismata)

Observe-se que o stratecircgos dos Kibirrhaiotai e o katepanocirc dos Mardaiacutetas de Attaacutelia

responsabilizaram-se que numa matildeo o stratecircgos prepararia duas chelandia das unidades dos

tourmarchai enquanto na outra o katepanocirc dos Mardaiacutetas prepararia galeacutes617 e durante o mecircs

de marccedilo as enviaria para a Siacuteria para que elas pudesse trazer de volta um relatoacuterio e o

verdadeiro relato de tudo preparado e feito laacute

Observe-se que o procirctospatharios e archocircn de Chipre Leatildeo Symbatikes

responsabilizou-se por enviar batedores vigilantes para o Golfo de Tarso e para a regiatildeo de ta

Stomia (as planiacutecies da Ciliacutecia) bem como para Triacutepolis e Laodiceia para que de ambas as

regiotildees pudessem trazer relatos se os Sarracenos estavam a fazer alguma coisa por meio de

treino

Observe-se que o strategoacutes de Tessaloacutenica responsabilizou-se pela produccedilatildeo de

200000 flechas e 3000 menaulia e de quantos escudos pudesse Observe que o kritecircs da

Helaacutede responsabilizou-se pela produccedilatildeo de 1000 menaulia que completou Ele

responsabilizou-se da produccedilatildeo de outra remessa e de levaacute-la para onde tinha sido acordado

617 Galea

CXLII

Observe-se que o archocircn de Chrecircpos no theacutema da Heacutelada responsabilizou-se pela

produccedilatildeo de 200000 flechas e 3000 menaulia do mesmo modo que o stratecircgos de Nicoacutepolis

e o (stratecircgos) do Peloponeso

Observe-se que o procirctospatharios Teodoro Pagkrates responsabilizou-se de viajar para

o Anatolikoi618 e de recrutar os Platinatiai e a partir deles e de outros do theacutema de reunir 500

homens selecionados pela sua abilidade como arqueiros especialmente se algum deles fosse

um cavaleiro competente quer fossem dos oficiais ou dos scholarioi Se os scholarioi tiverem

o seu pagamento na iacutentegra deixem-nos equipar-se dos seus proacuteprios recursos com a panoacuteplia

de cavaleiro Mas se forem escassos no que respeita ao seu pagamento deixem-nos levar os

animais do mecirctata ou por imposiccedilotildees pessoais dentro do theacutema dos Anatoacutelicos

Em relaccedilatildeo ao que devia ter sido preparado no theacutema dos Traceacutesicos

20000 (modioi) de cevada 40000 (modioi) cada de trigo biscoito e farinha 30000

medidas de vinho 10000 animais para abate

E em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 10000 medidas de fibra de linho para a propyra619 e o

encalcar deixem-nas armazenadas em Phygela e 6000 pregos para pregar os droacutemōnes o

protonotaacuterios do theacutema dos Traceacutesicos responsabilizou-se por estes objetos o (oficial) para

Limnogalaktos encarregou-se igualmente de assisti-lo com o vinho

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 30000 pregos de cinco-dedos620 para os conveacutes dos

droacutemōnes para as pranchas de embarque e para os estaleiros deixem que sejam tambeacutem

levados para Phygella o stratecircgos de Samos responsabilizou-se de obter as despesas para

estes objetos pelo protonotaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 3000 ldquopregos-garrardquo de cabeccedila-uacutenica para

ldquoTartarugasrdquocoberturas escadas e outros trabalhos e dos 3000 pregos de um palmo o

stratecircgos de Samos responsabilizou-se por isto

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 4000 (pregos) de seis-dedos621 4000 (pregos) de cinco-

dedos e 4000 pregos de quatro-dedos622 para as gruas os passadiccedilos e outras necessidades o

stratecircgos de Samos responsabilizou-se por isto

618 Anatoacutelicos 619 Os fornos ou braseiros utilizados para aquecer o oacuteleo usado nos sifotildees de fogo liacutequido (greguecircs) Vide Idem

Ibidem 210 620 975 cms 621 117 cm

CXLIII

Em relaccedilatildeo ao empreendimento do oficial imperial presente na regiatildeo dos Anatoacutelicos

para preparar 20000 modioi de cevada e 60000 modioi de hardtack e trigo e farinha dos

Kibirrhaiotai e Anatoacutelicos e deixem-nos ser trazidos da regiatildeo dos Anatoacutelicos para Ataacutelia

em vez de irem para Kalon Oros

Em relaccedilatildeo agrave compra pelo protonotaacuterios do Kibirrhaiotai de 60000 pregos pequenos

para prender as peles

Em relaccedilatildeo aos esquifes feitos para a dromocircnia o carteiro enviem-no da hetaireia

com uma ordem para o katepanocirc que deve dar-lhe um procirctokagkellarios e apoio total e

deixem-lhe entatildeo os Korphitianoi de Heracleia e levar quatro marinheiros para cada esquife

Ele devem entatildeo enviaacute-los (aos esquifes) sem atrasos pelo procirctokagkellarios Cada esquife

deve ter o seu masto verga e quatro remes bem como um leme Em adiccedilatildeo 6 escaleres de

oito remes

Em relaccedilatildeo aos estrepes perguntem ao koitocircnites Theodoretos o que lhes aconteceu

de igual modo em relaccedilatildeo aos sacos do ano passado e agraves picaretas e marretas aneacuteis parafusos

grilhetas e bate-estacas e deve enviar o seu notaacuterio a noacutes com o registo de tudo

Em relaccedilatildeo ao parathalassitecircs tendo sido ordenados para equipar 1200 homens a

partir de contribuiccedilotildees conjuntas (pelos habitantes da Cidade)

Observe que os Kibirrhaiotes o katepano dos Mardaiacutetas de Ataacutelia e Leatildeo Symbatikes

responsabilizaram-se por manter a seguranccedila e uma vigia rigorosa e a natildeo permitir a

nenhuma pessoa que vaacute para a Siacuteria e que a partir deles que a informaccedilatildeo sobre o Estado

Romano seja enviada para a Siacuteria

622 78 cm

CXLIV

b) A primeira ldquomaldaderdquo de 809810

ldquoNeste ano Niceacuteforo apoacutes as suas puniccedilotildees iacutempias [que tinha sofrido] e tencionando

humilhar o exeacutercito no seu todo removeu cristatildeos de todos os themaacuteta e ordenou-lhes que

seguissem para as Sklavinias depois de venderem as suas propriedades Este estado de coisas

natildeo era menos grave que o cativeiro muitos na sua insensatez proferiram blasfeacutemias e

rezaram para ser invadidos pelo inimigo outros choraram junto das sepulturas dos seus

ancestrais e enalteceram a felicidade dos mortos alguns ateacute se enforcaram para se salvarem de

tal terriacutevel situaccedilatildeo Uma vez que as suas possessotildees eram difiacuteceis de transportar eles natildeo se

encontravam em posiccedilatildeo de as trazer consigo e presenciaram a perda das propriedades

adquiridas pelo trabalho dos seus parentes Todos estavam em completa anguacutestia os pobres

por causa das circunstacircncias acima enunciadas e por causa daquelas que seratildeo contadas mais

tarde enquanto os mais ricos simpatizavam com os pobres aos quais se encontravam

incapazes de ajudar e esperavam infortuacutenios piores Estas medidas comeccedilaram a ser aplicadas

no mecircs de Setembro e foram completadas na Santa Paacutescoardquo ndash Croacutenica de Teoacutefanes o

Confessor entrada relativa a 809810623

c) A segunda ldquomaldaderdquo

ldquoPara aleacutem disto ele ordenou uma segunda maldade mais propriamente o alistamento

de pessoas pobres no exeacutercito e que estas deviam ser equipadas pelos habitantes da sua

comunidade pagando ainda 185 nomismata por homem mais os impostos por

responsabilidade solidaacuteriardquo ndash Croacutenica de Teoacutefanes o Confessor entrada para 809810624

623 Vide SCOTT Roger (1997) The Chronicle of Teophanes the Confessor Oxford Clarendon Press p 383 624 Vide Idem Ibidem p 383

Page 4: Como “Navegar” a Guerra: Análise e Comentário do tratado militar … · 2019. 11. 12. · ii Resumo A História do Império Bizantino é um assunto muito pouco estudado em Portugal,

iii

Abstract

The History of the Byzantine Empire has been absent from the Portuguese research

agenda an issue this thesis attempts to address The following dissertation focuses its study

on the basileuacutes Leo VI the Wise (886-912) and the Taktikaacute a military encyclopaedia

accredited to him which approaches a vast set of subjects such as arming the troops moving

in the battlefield or waging war at sea The Taktikaacute was the first military field book from the

second golden era of byzantine war literature (X-XI centuries AD) and as we attempt to

showcase it served as a link between the ancient tradition with the byzantine military

standards of its time which were undergoing some changes by then Further we intend to

debunk Leo VIrsquos alleged lack of interest in military concerns an argument based on his

absence in military campaigns As for the Taktikaacute we defend that while influenced by similar

previous manuals (such as the 6th century Mauricersquos Stratēgikoacuten) it reflected the military

reality as well as the Byzantine strategic thinking of its time while serving as an influence

focus for the military literature that followed it To meet the set goals we have read historical

accounts and other byzantine military treatises such as Nikephoros II Phokasrsquos (who ruled

between 962 and 969) Perigrave Paradromeacutes or Sirianorsquos Perigrave Strategiacuteas (possibly 9th century) as

well as specific bibliography versing both military subjects and the reign of the Wise

Keywords

Military History Byzantine Empire Leo VI Taktikaacute Themaacuteta

iv

Aos meus avoacutes Luacute e Narciso por tudo o que fizeram por mim

ao longo da minha efeacutemera existecircncia por todas as aventuras e todos os ensinamentos Esta

dissertaccedilatildeo foi feita com vocecircs sempre no meu pensamento

v

Tal como natildeo eacute possiacutevel navegar um navio sobre os mares sem conhecimentos de navegaccedilatildeo

tambeacutem natildeo eacute possiacutevel derrotar o inimigo sem disciplina e sem lideranccedila Ao passo que com isto

e com a ajuda de Deus natildeo soacute eacute possiacutevel prevalecer sobre um inimigo de igual forccedila mas tambeacutem

sobre um que supere largamente em nuacutemeros as vossas forccedilas

Leatildeo VI o Saacutebio in Taktikaacute Proacutelogo (9)

Entre as boas coisas que agrave vida trazem benefiacutecio a Histoacuteria natildeo eacute das menos mas sim das mais

importantes pois eacute por sua proacutepria natureza algo de uacutetil e proveitoso Eacute que ela relata uma

multiplicidade de feitos de toda a espeacutecie tais como eacute haacutebito acontecerem no decorrer do tempo e

dos eventos e em particular pelas escolhas dos homens que nesses eventos participam prescreve

tambeacutem aos homens que tomem como modelos e emulem alguns feitos enquanto rejeitam e evitam

outros de tal modo que natildeo negligenciem inadvertidamente o que eacute uacutetil e beneacutefico e se prendam

ao que eacute nocivo e abominaacutevel eacute Eacute portanto considerada a Histoacuteria como tatildeo proveitosa quanto

todas as outras coisas da vida na medida em que restitui vida ou juventude aos assuntos mortais

e natildeo permite que eles se apaguem e se confinem agraves profundezas do esquecimento

Leatildeo o Diaacutecono in A Histoacuteria Livro I

A paz era o objetivo principal (para Bizacircncio) ainda que a

guerra fosse necessaacuteria para o assegurar

John Haldon in Critical Commentary

on the Taktika of Leo VI p22

vi

Agradecimentos

A realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo de mestrado natildeo foi uma jornada faacutecil e foi repleta de

percalccedilos de duacutevidas e desalento por muito deleite que tal empreendimento me tenha dado Eacute

por este motivo que devo agradecer a todos os que me auxiliaram nesta fase e me

incentivaram a seguir em frente

Em primeiro lugar ao meu orientador mestre e amigo o Professor Doutor Joatildeo

Gouveia Monteiro Muito haacute a agradecer desde logo por ter acompanhado o meu percurso

acadeacutemico desde o meu segundo ano da faculdade quando semeou em mim a paixatildeo por

Histoacuteria Militar Por ter apontado o caminho para Constantinopla Por toda a ajuda todas as

oportunidades e todas as palavras de forccedila A mais sentida gratidatildeo por tudo isto e pelo que

espero viraacute

Os meus agradecimentos devem agora estender-se aos outros eruditos que me

aconselharam e me deram apoio bibliograacutefico para este trabalho Primeiro e em especial ao

Professor Salvatore Cosentino de Ravena pela hospitalidade durante a viagem a Itaacutelia e pela

disponibilidade incansaacutevel em me ajudar Ao Professor John Haldon da Universidade de

Princeton o meu obrigado natildeo soacute pelos conselhos que me deu mas tambeacutem pela longa obra

que jaacute tem parte do meu entusiasmo pelo exoacutetico Impeacuterio Romano do Oriente eacute devido a ele

E por fim agrave Professora Helena Catarino da Universidade de Coimbra por tudo o que me

ensinou e por ter dado o empurratildeozinho final para entrar no Mestrado Interuniversitaacuterio em

Histoacuteria Militar

Um agradecimento especial ao Mestre Joatildeo Nisa natildeo soacute em tiacutetulo mas tambeacutem em

conhecimento Por todos os conselhos e todas as ideias que me deu e por todas as duacutevidas que

me esclareceu A todos os outros que me ajudaram durante a realizaccedilatildeo deste trabalho Ao

Rodrigo Gomes e ao Gustavo Gonccedilalves amigos e companheiros de guerra que sempre me

ajudaram alegraram e impeliram a seguir em frente Que venham muitos mais anos de duros

combates pela nossa frente Uma palavra de gratidatildeo para o Anton Stark e para o Maacuterio

Coelho por me terem ajudado na traduccedilatildeo do inglecircs mais traiccediloeiro Aos camaradas Joatildeo Neto

e Jorge Wolfs pelo apoio graacutefico terreno desconhecido e exoacutetico para mim E ao meu

afilhado de amizade Pedro Baptista por todos os remendos palavras de forccedila e gargalhadas

A minha gratidatildeo estende-se tambeacutem a todos os outros que me ajudaram nesta

dissertaccedilatildeo somente pela boa-disposiccedilatildeo e amizade em especial a Caacutetia a Laura o Luiacutes o

vii

Joatildeo Rainho o Emanuel e o Pedro Parreira Ah e um agradecimento especial agrave Sara Serra

pelos raspanetes quando a ansiedade teimava em aparecer

Deixo um agradecimento emotivo aos que me apoiaram desde sempre Ao meu pai Zeacute

por nunca me deixar ir abaixo pelas palavras saacutebias e por todas as correccedilotildees que fez Agrave minha

matildee Rosa pelos sermotildees pela companhia nas uacuteltimas noites e pelo lanchinho das ldquotrecircs da

manhatilderdquo Um agradecimento tambeacutem para a minha avoacute Fernanda por tudo o que fez por mim

durante a minha breve vida e a toda a restante famiacutelia por nunca ter deixado de acreditar no

ldquoJoatildeozinhordquo ldquoJoatildeo Pedrordquo

Por fim e porque os uacuteltimos satildeo sempre os primeiros agrave Sofia pela inspiraccedilatildeo o

encorajamento e pelo carinho (e pela paciecircncia) Por nunca ter deixado de acreditar em mim e

por ser o meu grande porto de abrigo O meu mais sentido obrigado milady

PS Ao Professor Doutor Pedro Barbosa da Universidade de Lisboa meu arguente

por todas as suas construtivas opiniotildees e comentaacuterios que serviram para beneficiar a versatildeo

final desta dissertaccedilatildeo O meu mais sentido agradecimento por tudo isto

viii

Foto de capa Leatildeo VI do livro ldquoRulers of the Byzantine Empirerdquo publicado pela KIBEA

Fonte httpsthehistoryofbyzantiumcom20160705episode-109-leo-the-wiseleo-vi-from-

rulers-of-the-byzantine-empire-published-by-kibea Verificado agraves 2346 de 05032018

Iacutendice

Resumo ii

Abstract iii

Agradecimentos vi

Introduccedilatildeo 6

Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o exeacutercito

bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X 12

11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando da ascensatildeo

da dinastia macedoacutenica 12

12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial 15

13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados dos

primeiros basileicircs macedoacutenicos 18

Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte de Leatildeo VI

(867-912) 28

21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886) 28

22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912) 37

Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina 50

31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina 50

32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI) 52

Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute 56

41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza 56

42 ndash Estrutura interna da fonte 61

43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees 64

Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general 67

51 ndash O strategoacutes de Leatildeo 67

52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros 70

53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos 73

Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar 79

61 ndash O armamento e o treino 79

62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra 83

63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta 87

Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas 91

71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade 91

72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval 96

73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X 101

Conclusatildeo 106

Bibliografia 110

Fontes 110

Estudos 112

Iacutendice de Anexos

Anexos I ndash Mapas e Esquemas I

Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino XIV

Seacuteculo V XIV

Seacuteculo VI XIV

Seacuteculo VII XV

Seacuteculo VIII XXIX

Seacuteculo IX XXXV

Seacuteculo X XLIV

Seacuteculo XI LI

Seacuteculo XII LIX

Seacuteculo XIII LXIV

Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos LXVI

Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana) LXVI

Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica) LXVIII

Reinado de Leatildeo VI LXXIV

Reinado de Alexandre LXXXIII

Reinado de Constantino VII LXXXIV

Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees LXXXVI

a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados LXXXVI

b) Tratadistas e cronistas XCII

c) Outras personagens relevantes XCIII

d) Dinastias XCIV

e) Organizaccedilotildees e unidades militares XCV

Anexos V ndash Listas de Titulares XCVI

a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca meacutedio-bizantina XCVI

b) Califas Aacuterabes C

c) Outros governantes aacuterabes CI

d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria CIII

e) Priacutencipes de Rus CIV

f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia CV

Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico CIX

a) Termos militares e navais CIX

b) Tiacutetulos CXIV

c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura CXVI

d) Povos CXVIII

e) Outros termos CXX

Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico CXXI

a) Regiotildees CXXI

b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc) CXXIII

c) Centros populacionais (cidades vilas etc) e fortificaccedilotildees CXXIV

d) Referecircncias topograacuteficas mariacutetimas e fluviais CXXVII

e) Campos de batalha CXXVIII

Anexo VIII ndash Excertos do Taktikaacute CXXIX

a) Evitar batalha CXXIX

b) Sobre natildeo guerrear com os Buacutelgaros e a paz de 896 CXXIX

c) Preferecircncia de recrutamento de soldados economicamente confortaacuteveis CXXIX

d) Acerca do financiamento de soldados pobres por homens (stratioacutetai) ricos CXXX

e) Menccedilatildeo da alianccedila entre Bizantinos e Magiares do iniacutecio da guerra Bizantino-Buacutelgara de

984 e da participaccedilatildeo Magiar nesse conflito CXXX

f) O Proeacutemio CXXXI

g) A travessia do rio Paradeisos por Basiacutelio (877-878) CXXXI

h) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (I) CXXXI

i) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (II) CXXXI

j) Sobre a lealdade do general CXXXII

k) As caracteriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos Aacuterabes contra Bizacircncio CXXXII

l) O problema em causa no Taktikaacute CXXXII

m) A soluccedilatildeo do basileuacutes CXXXIII

n) O Epilogus CXXXIV

o) A guerra como ldquomal necessaacuteriordquo CXXXIV

p) Formas de agir em caso de ataques vindos da Ciliacutecia CXXXV

q) O perfil psicoloacutegico de um bom strategoacutes CXXXV

Anexos IX ndash Excertos de outras fontes CXXXVII

a) Listas da Expediccedilatildeo a Creta em 910-911 CXXXVII

b) A primeira ldquomaldaderdquo de 809810 CXLIV

c) A segunda ldquomaldaderdquo CXLIV

6

Introduccedilatildeo

O que eacute Bizacircncio Para muitos eacute um mundo exoacutetico algo distante desconhecido

intrigante Quando tal nome eacute pronunciado vecircm-nos agrave mente algumas imagens palavras

iconografias personagens Constantinopla Hagia Sophia Guarda Varangiana as figuras de

Justiniano e Teodora imortalizadas na Basiacutelica de Satildeo Vital em Ravena No entanto para

noacutes estudantes de Histoacuteria e do Impeacuterio Bizantino tem outro significado e outra essecircncia eacute

Roma noutro local centrada noutra capital (que une hoje dois continentes) que tenta manter

por todos os meios o seu esplendor e o seu legado eacute um mundo dominado pelo Grego na

escrita na cultura e na lei e por fim eacute um baluarte da Cristandade Ortodoxa onde o poder

do Estado sobre a religiatildeo se mescla sinergicamente com a influecircncia da religiatildeo sobre o

Estado como o atestam os vaacuterios conflitos entre imperadores papas e patriarcas que diversas

vezes minaram a estabilidade do Estado e da sociedade bizantina Se pudeacutessemos definir este

Impeacuterio tatildeo diversificado a partir de trecircs caracteriacutesticas principais seriam estas um Impeacuterio

Romano de liacutengua grega e com uma religiatildeo cristatilde ortodoxa

Todavia o objeto deste trabalho natildeo satildeo os mil anos de histoacuteria bizantina (romana)

nem tatildeo pouco as tipologias de exeacutercitos que os basileicircs ao longo da existecircncia do Impeacuterio

tiveram ao seu dispor O nosso trabalho encontra-se situado num espaccedilo de tempo preciso na

Histoacuteria de Bizacircncio o reinado de Leatildeo VI entre os finais do seacuteculo IX e os iniacutecios do seacuteculo

X Mais especificamente a nossa investigaccedilatildeo incide no tratado militar Taktikaacute atribuiacutedo a

esse mesmo soberano que apesar de natildeo ser original em grande parte do seu conteuacutedo

possui caracteriacutesticas inovadoras como demonstraremos mais adiante

Que razotildees nos levaram a optar por esta temaacutetica (a tratadiacutestica) e por esta fonte em

particular Uma das principais razotildees para a escolha desta enciclopeacutedia militar do seacuteculo X

prende-se exatamente com a diversidade do seu conteuacutedo que abrange todas as disciplinas da

tratadiacutestica claacutessico-bizantina das quais falaremos mais adiante Um tratado militar tatildeo

abrangente parece-nos uma excelente ferramenta para o estudo das forccedilas armadas deste

periacuteodo desde que tal como acontece com todas as fontes histoacutericas coevas sejam aplicados

os devidos cuidados durante a sua apreciaccedilatildeo A outra razatildeo que entendemos ter sido

fundamental para a proposiccedilatildeo do estudo deste tratado eacute o periacuteodo cronoloacutegico em que foi

redigido De facto os iniacutecios do seacuteculo X satildeo uma etapa fundamental para aquilo que muitos

apelidam de laquoReconquista Bizantinaraquo Durante o reinado de Leatildeo VI Bizacircncio encontrava-se

sob a dinastia Macedoacutenica uma das dinastias mais bem-sucedidas da histoacuteria bizantina (salvo

talvez a dinastia dos herdeiros de Justiniano) e embora ainda natildeo estivessem reunidas as

7

melhores condiccedilotildees para o Impeacuterio se lanccedilar em grandes ofensivas este tambeacutem natildeo estava

numa situaccedilatildeo de dificuldade in extremis tal como a que existiu entre 640 e 740 E se por um

lado ainda se mantinha um impasse no limes oriental entre Constantinopla e os emirados

aacuterabes sedeados em torno dos thugucircr da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia tambeacutem eacute verdade que a

balanccedila tendia cada vez mais a favor do Impeacuterio algo que se manteve ateacute agrave ascensatildeo de Sayf

al-Dawlah em 936 ao emirado de Alepo

Por outro lado os Buacutelgaros continuavam a constituir um enorme perigo na

laquoretaguarda bizantinaraquo e novos adversaacuterios como os Russos e os Magiares comeccedilavam a ser

uma presenccedila cada vez mais constante na lista de inimigos que os basileicircs tinham de

enfrentar Infelizmente a necessidade de valorizar o fulcro desta dissertaccedilatildeo (o estudo do

tratado) conjugado com o limite de paacuteginas que temos ao nosso dispor natildeo nos permitem

uma anaacutelise pormenorizada e detalhada dos principais inimigos de Bizacircncio nesta eacutepoca

desde o seu surgimento enquanto tal ateacute ao status quo poliacutetico-militar dos iniacutecios do seacuteculo X

Temos trecircs objetivos principais na realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo o primeiro eacute

comprovar que Leatildeo VI tinha um empenho claro na governaccedilatildeo do impeacuterio inclusive nos

assuntos de natureza militar o segundo eacute demonstrar que o Taktikaacute natildeo eacute apenas uma

enciclopeacutedia militar que compila os conhecimentos beacutelicos dos eruditos claacutessicos e de

Mauriacutecio para preencher as suas paacuteginas antes reflete sob diversas formas a realidade da

eacutepoca o terceiro consiste em comparar a informaccedilatildeo presente no Taktikaacute com o modelo

militar dos themaacuteta em especial com a guerra travada no limes oriental e no Mediterracircneo

Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir a nossa dissertaccedilatildeo em duas partes principais a

contextualizaccedilatildeo e a anaacutelise do tratado A primeira secccedilatildeo eacute constituiacuteda por trecircs capiacutetulos que

versam o periacuteodo histoacuterico em que este manual se encontra situado a passagem do seacuteculo IX

para o X Cada um dos capiacutetulos aborda uma temaacutetica particular O primeiro refere assuntos

de natureza geopoliacutetica e militares e vamos tentar aferir qual era a situaccedilatildeo estrateacutegica do

Impeacuterio nesta fase quais eram as principais ameaccedilas agrave supremacia romana de que forma

Constantinopla respondia a essas ameaccedilas em termos estrateacutegicos e por fim que meios

militares eacute que Bizacircncio possuiacutea para se defender com sucesso De seguida vamos retratar os

principados de Leatildeo VI e do seu pai Basiacutelio I o fundador da dinastia Macedoacutenica uma

dinastia que durou mais de um seacuteculo e que teve um importante papel na chamada

laquoReconquista Bizantinaraquo um conjunto de campanhas militares que tornou Bizacircncio a maior

potecircncia do Mediterracircneo oriental no primeiro quartel do seacuteculo XI Aqui daremos ecircnfase agraves

questotildees beacutelicas poliacuteticas e diplomaacuteticas dos primeiros basileicircs dessa linha dinaacutestica Este

tipo de digressatildeo eacute crucial para podermos entender as motivaccedilotildees que levaram Leatildeo VI a

8

redigir o Taktikaacute e os desafios que o Saacutebio teraacute enfrentado durante o tempo em que esteve

sentado no trono puacuterpura de Constantinopla

Finalmente ainda dentro da contextualizaccedilatildeo vamos dedicar um capiacutetulo agrave tratadiacutestica

militar A produccedilatildeo literaacuteria de obras beacutelicas jaacute possuiacutea uma longa histoacuteria quando Leatildeo

iniciou (ou mandou iniciar) a escrita do Taktikaacute Natildeo iremos aqui evocar a longa histoacuteria da

escrita de guerra em Bizacircncio porque outros jaacute o fizeram1 mas vamos proceder agrave exposiccedilatildeo

das principais disciplinas da tratadiacutestica bizantina ateacute porque as utilizaremos para estruturar a

parte desta dissertaccedilatildeo direcionada agrave anaacutelise do tratado Assim sendo temos cinco disciplinas

importantes para a caracterizaccedilatildeo da escrita militar bizantina a strategikaacute relacionada com a

arte de comandar preparar e organizar exeacutercitos a taktikaacute que engloba os preceitos taacutecticos e

a forma de organizar e de comandar soldados no campo de batalha a poliorketikaacute que

descreve os meios e engenhos usados na guerra de cerco defensiva e ofensiva a naumachikaacute

que aborda o modo como se pratica a guerra naval e por fim os tratados baseados na

strategemataacute que podemos distinguir em dois geacuteneros os que abordam meacutetodos indiretos de

praticar a guerra estratagemas ardis e guerra de guerrilha no geral e a rethoacuterika ou maacuteximas

beacutelicas2 Na segunda parte deste capiacutetulo analisaremos algumas das principais caracteriacutesticas

da lsquosegunda eacutepoca douradarsquo da erudiccedilatildeo militar literaacuteria de Bizacircncio que se estendeu do

Taktikaacute de Leatildeo VI ateacute aos meados do seacuteculo XI e aferiremos ateacute que ponto esses atributos se

enquadram no contexto politico-estrateacutegico que o impeacuterio entatildeo vivia

Na segunda parte desta dissertaccedilatildeo vamos analisar a grande obra militar de Leatildeo o

Taktikaacute Optaacutemos por dividir o seu estudo segundo as cinco disciplinas da literatura beacutelica

coeva de forma a natildeo nos fixarmos na anaacutelise individual de cada Constitutio um trabalho

pesado e demorado A anaacutelise do tratado comeccedilaraacute com uma introduccedilatildeo onde abordaremos

questotildees como a estrutura a autoria e a dataccedilatildeo Os restantes capiacutetulos tratam de cada uma

das disciplinas jaacute referidas mas dedicaremos especial atenccedilatildeo agrave strategikaacute e agrave taktikaacute

vertentes mais expressivas do que as restantes trecircs (poliorketikaacute strategemataacute e naumachikaacute)

na fonte em apreccedilo

1 Vide COSENTINO Salvatore (2009) Writting about War in Byzantium in Revista de Histoacuteria das Ideias

volume 30 Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 85-90 Mais recentemente a dissertaccedilatildeo de

Mestrado apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pelo Mestre Joatildeo Nisa possui

tambeacutem um excelente resumo da produccedilatildeo tratadiacutestica bizantina ao longo dos tempos com pequenos resumos

acerca dos conteuacutedos e principais caracteriacutesticas dos tratados mais importantes vide NISA Joatildeo (2016) Arte

Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Militar

apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pp 11-16 2 Vide MCGEER Eric (2008a) Military Texts In JEFFREYS Elizabeth HALDON John e CORMACK Robin

The Oxford Handbook of Byzantine Studies Nova Iorque Oxford University Press p 907

9

Em relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo utilizada tivemos agrave nossa disposiccedilatildeo uma pequena

quantidade de fontes histoacutericas que podemos dividir em duas aacutereas as croacutenicas e os tratados

militares As principais croacutenicas que utilizaacutemos foram a Histoacuteria de Joatildeo Skylitzes e a

Histoacuteria de al-Tabari A primeira apresenta-se como uma coleccedilatildeo de trabalhos

historiograacuteficos que se mostra fundamental para entender a histoacuteria do Impeacuterio Bizantino

desde o iniacutecio do seacuteculo IX ateacute aos meados do seacuteculo X Apesar de ser dada especial atenccedilatildeo

ao reinado de Basiacutelio II os principados de Basiacutelio I e Leatildeo VI tambeacutem se encontram bem

retratados pelo que decidimos usar esta obra A traduccedilatildeo que usaacutemos desta recolha

historiograacutefica eacute da autoria de John Wortley e foi publicada em 2010 pela Universidade de

Cambridge3 Quanto a al-Tabari o seu trabalho oferece um relato exaustivo da histoacuteria da

civilizaccedilatildeo islacircmica ateacute ao ano 915 Tendo em conta o objeto de estudo do nosso tratado

utilizaacutemos os volumes XXXVII e XXXVIII por relatarem os acontecimentos alusivos aos

reinados dos basileicircs em apreccedilo As traduccedilotildees que dispusemos foram respetivamente

realizadas por Phillip M Fields (XXXVII)4 e Franz Rosenthal (XXXVIII)5 as quais foram

editadas pela Universidade de Nova Iorque

Em relaccedilatildeo agrave tratadiacutestica utilizaacutemos vaacuterias obras das quais destacamos o

indispensaacutevel Taktikaacute O Stratēgikoacuten foi outra enciclopeacutedia militar a que recorremos

frequentemente pelo facto de ser uma das principais influecircncias (senatildeo a maior) do manual

atribuiacutedo a Leatildeo Escrito no seacuteculo VI trata-se da primeira enciclopeacutedia militar bizantina

apesar de atribuir maior relevo agrave cavalaria6 Outra obra muito importante que usaacutemos foi o

Perigrave Paradromeacutes atribuiacutedo a Niceacuteforo II Focas pelas suas descriccedilotildees do combate travado no

limes oriental algo que entendemos ser pertinente para alcanccedilarmos os nossos objetivos7

Para aleacutem das fontes primaacuterias recorremos ainda a um grande conjunto de estudos

seja de cariz mais especiacutefico seja mais generalista da histoacuteria bizantina Em especial

destacamos ldquoA Critical Comentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo8 de John Haldon um

3 WORTLEY John (2010) A Synopsis of Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press 4 FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid Recovery Nova Iorque

New York University Press 5 ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVIII The Return of the Caliphate to

Baghdad Nova Iorque New York University Press 6 Utilizaacutemos a traduccedilatildeo inglesa de George T Dennis cuja referecircncia eacute DENNIS George T (1984) Mauricersquos

Strategikon ndash Handbook of Byzantine Military Strategy Filadeacutelfia University of Pennsylvania Press 7 A traduccedilatildeo de que dispusemos foi realizada em inglecircs por George T Dennis DENNIS George T (1985)

Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 8 HALDON John (2014) A Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VI Washington DC Dumbarton

Oaks Research Library and Collection

10

excelente companheiro da traduccedilatildeo feita por George T Dennis9 e que foi muito uacutetil para

orientar o nosso trabalho e as nossas ideias Em relaccedilatildeo agrave Histoacuteria do Impeacuterio Bizantino no

periacuteodo em apreccedilo demos relevacircncia ao artigo de Karlin-Hayter sobre os aspetos militares da

governaccedilatildeo de Leatildeo VI10 assim como ao estudo da vida deste imperador que remete para

eventos do reinado do pai devido a Shaun Tougher na sua obra ldquoThe Reign of Leo VIrdquo11 por

fim utilizaacutemos o relato da histoacuteria do Impeacuterio Bizantino da autoria de Warren Treadgold12

Quanto a obras de estudo mais no acircmbito especializado da histoacuteria militar salientamos o

ldquoWarfare State and Societyrdquo de John Haldon13 (uma obra excelente e que aborda

detalhadamente muitos aspetos relativos ao funcionamento do exeacutercito bizantino e do seu

pensamento estrateacutegico) bem como alguns estudos assinados por Eric McGeer como por

exemplo o pequeno capiacutetulo sobre tratadiacutestica militar inserido no Oxford Handbook of

Byzantine Studies que possui algumas informaccedilotildees relevantes para todos aqueles que

tencionam iniciar o seu estudo da tratadiacutestica bizantina14 Por fim natildeo podiacuteamos deixar de

referir o livro ldquoThe Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-1204rdquo de John Pryor

e Elizabeth Jeffreys que aborda os mais diversos aspetos da poliacutetica naval bizantina

incluindo um estudo da evoluccedilatildeo da embarcaccedilatildeo predileta de Bizacircncio ndash o droacutemōn15

Qual a importacircncia da bizantiniacutestica para a historiografia portuguesa Esta eacute uma

questatildeo que se pode colocar a esta dissertaccedilatildeo sendo pertinente identificar uma resposta para

ela A invocaccedilatildeo de motivaccedilotildees geograacutefico-histoacutericas gera sentimentos contraditoacuterios se por

um lado a presenccedila bizantina no sul da Peniacutensula Ibeacuterica (incluindo possivelmente no

Algarve) foi muito efeacutemera por outro lado as suas influecircncias culturais em especial na

disciplina arquitetoacutenica satildeo evidentes como bem atesta o caso da Capela de Satildeo Frutuoso de

Monteacutelios em Braga Ainda assim a curta permanecircncia de Bizacircncio na Hispacircnia tambeacutem natildeo

pode representar um pretexto para natildeo se estudar o Impeacuterio Romano do Oriente bastando

para isso recordar que algumas das grandes escolas mundiais de bizantiniacutestica estatildeo sedeadas

9 Nesta dissertaccedilatildeo utilizaremos a traduccedilatildeo mais recente DENNIS George T (2014) The Taktika of Leo VI

Text Translation and Commentary (Revised Edition) Washington DC Dumbarton Oaks Research Library and

Collection 10 KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Hands A Note on Byzantine

Foreign Policy (886-912) Traditio (23) pp 15-40 11 TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 12 TREADGOLD Warren (1997) A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University

Press 13 HALDON John (1999) Warfare State and Society in the Byzantine World 565-1204 Londres University

College of London Press 14 MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit pp 907 a 914 15 PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-

1204 Leiden e Boston Brill

11

em paiacuteses onde os basilecircis natildeo exerceram qualquer tipo de poder poliacutetico ou militar direto em

Franccedila na Alemanha no Reino Unido e claro em Harvard nos Estados Unidos onde existe

a maior coleccedilatildeo de fontes bizantinas a Research Library and Collection in Byzantine Studies

em Dumbarton Oaks (um trustee da melhor universidade do mundo) O trabalho que se

segue no qual pusemos o nosso maior empenho demonstra a atualidade de Bizacircncio e a

necessidade de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre este tema de grande relevacircncia histoacuterica para

compreendermos melhor o presente em que vivemos e entendermos mais em profundidade a

Europa de hoje Os historiadores portugueses natildeo devem furtar-se agrave participaccedilatildeo neste debate

12

Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o

exeacutercito bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X

O primeiro capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo versa a guerra e a sua relaccedilatildeo com a sociedade e

o Estado bizantinos antes e durante o tempo da escrita do Taktikaacute nos primeiros anos do

seacuteculo X Este capiacutetulo estaacute dividido em trecircs subcapiacutetulos principais que focam

respetivamente i) a geografia poliacutetica e militar do impeacuterio nos primeiros anos da dinastia

Macedoacutenica ii) o panorama do pensamento estrateacutegico do impeacuterio sedeado em

Constantinopla neste periacuteodo bem como as formas de fazer a guerra em Bizacircncio iii) os

apparati militares bizantinos que se encontravam ao dispor de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Neste

uacuteltimo subcapiacutetulo daremos especial relevacircncia aos themaacuteta pois eacute aos generais destes

exeacutercitos que Leatildeo VI dedica a sua obra Apesar de o Taktikaacute natildeo se dirigir por exemplo aos

taacutegmata (plural de taacutegma laquoregimentoraquo) que compunham a guarda imperial e eram a coluna

vertebral dos exeacutercitos de campanha coevos atribuiremos tambeacutem algum espaccedilo a tais

contingentes bem como a outras componentes das forccedilas armadas bizantinas caso dos

mercenaacuterios e da marinha de guerra

11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando

da ascensatildeo da dinastia macedoacutenica

A epopeia milenar bizantina estaacute repleta de acontecimentos militares e constroacutei-se

sobre um impeacuterio em permanente estado de guerra maioritariamente defensiva Esta

caracteriacutestica torna-se ainda mais nefasta quando nos apercebemos de que os territoacuterios sob

soberania bizantina16 estavam dispersos por terras distantes separadas por mares A

insuficiecircncia econoacutemica ou militar romanas para conseguir acorrer a cada regiatildeo da mesma

forma quando mais do que uma delas estava em perigo apresenta-se como uma agravante

daquela dificuldade Veja-se por exemplo o caso dos herdeiros do imperador Justiniano

(527-565) que apoacutes um grande nuacutemero de vitoacuterias espetaculares deste no Norte de Aacutefrica e

em Itaacutelia se viram perante um enorme conjunto de invasotildees e de guerras por todo o territoacuterio

imperial17 as quais soacute a muito custo conseguiram parar ou retardar

A situaccedilatildeo que Bizacircncio vivia na altura da ascensatildeo dos primeiros Macedoacutenicos era

pouco diferente daquela que Justiniano tivera de enfrentar depois da conquista final da Itaacutelia

16 Quer sob controlo direto quer sob o domiacutenio de um vassalo de Bizacircncio 17 A Peacutersia a Oriente os Lombardos em Itaacutelia tribos mouriscas no Norte de Aacutefrica e os sempre permanentes

raides dos ldquoPovos das Estepesrdquo nos Balcatildes

13

por Narseacutes apoacutes a batalha de Mons Lactarius em 553554 Quanto muito tinham mudado os

protagonistas (ou os antagonistas neste caso) em cada uma das frentes o Norte de Aacutefrica e o

Sul da Peniacutensula Ibeacuterica estavam perdidos como principal inimigo no lugar dos Sassacircnidas

erguiam-se os califados e os emirados muccedilulmanos na Siacuteria na Ciliacutecia e no Norte de Aacutefrica

em Itaacutelia para aleacutem dos principados lombardos no Sul e dos Francos no norte os Aacuterabes

faziam sentir a sua presenccedila apoacutes a invasatildeo da Siciacutelia em 827 os Buacutelgaros mantinham-se

como o principal rival bizantino nos Balcatildes e a situaccedilatildeo mariacutetima mostrava-se pouco

favoraacutevel com a Siciacutelia a ser invadida pelos Aglaacutebidas (uma dinastia muccedilulmana do Norte de

Aacutefrica) Creta em matildeos de corsaacuterios sarracenos a ilha de Chipre a manter o status quo vigente

desde o tratado entre Justiniano II (685-695705-711) e al-Malik (685-705) em 688 e a

supremacia naval entregue nas matildeos dos emirados de Tarso e dos Tuluacutenidas do Egito e

(assim) indiretamente dos Abaacutessidas Tal era o ponto geral da situaccedilatildeo aquando da ascensatildeo

da dinastia macedoacutenica

Olhemos agora mais especificamente para cada regiatildeo Comecemos por aquela que eacute a

frente mais simboacutelica do periacuteodo-meacutedio bizantino a Aacutesia Menor Nos finais do reinado de

Miguel III (842-867) a guerra neste territoacuterio tinha comeccedilado a abrandar apoacutes duas

importantes batalhas em Marj al-Usquf e em Lalacatildeo ambas em 863 das quais resultou o

enfraquecimento do poderio terrestre dos emirados de Tarso e de Melitene Nesta regiatildeo

mantinha-se o perigo que representava o ldquoEstadordquo Pauliciano sedeado em torno de Tephrike

(atual Divriği na Turquia) que continuava a enviar expediccedilotildees de saque para o interior da

Anatoacutelia No entanto os raides muccedilulmanos de maiores dimensotildees tinham terminado e a

vantagem comeccedilava a tender cada vez mais para os Bizantinos ao menos no virar do seacuteculo

A guerra que se praticava naquela regiatildeo era tipicamente perniciosa para as

populaccedilotildees locais em especial para aquelas que habitavam junto agraves cordilheiras do Tauro e do

Antitauro A modalidade beacutelica aiacute praticada com semelhanccedilas ao que noacutes chamamos hoje de

ldquoguerrilhardquo assentava em escaramuccedilas e emboscadas e muitas vezes implicava que o inimigo

invadisse o territoacuterio imperial e saqueasse escravizasse e destruiacutesse com impunidade O

recurso de Bizacircncio a este tipo de guerra naquela aacuterea durante quase dois seacuteculos provocou

mudanccedilas de espectro demograacutefico como a criaccedilatildeo de uma terra-de-ningueacutem no limes

bizantino-aacuterabe e a reduccedilatildeo do nuacutemero de grandes cidades18 que foram substituiacutedas por

centros populacionais mais seguros bem fortificados e localizados em zonas de difiacutecil acesso

18 Estas passaram a existir apenas como centros administrativos ou refuacutegio ocasional para as populaccedilotildees

circundantes em caso de ameaccedila Vide HALDON John e KENNEDY Hugh (1980) The Arab-Byzantine

14

Tambeacutem a economia anatoacutelica (e por consequecircncia bizantina) foi viacutetima da estrateacutegia

militar romana tendo sofrido alteraccedilotildees Comeccedilou-se a verificar uma centralizaccedilatildeo da

agricultura anatoacutelica nas zonas costeiras da peniacutensula pois possuiacuteam terrenos mais feacuterteis e

estavam protegidas pelo terreno montanhoso que separava aquelas aacutereas do planalto anatoacutelico

e pela frota do Kibirrhaiotai Por sua vez os principais recursos econoacutemicos do planalto

anatoacutelico passam a ser produzidos a partir da pecuaacuteria visto que esta era muito mais rentaacutevel

no terreno rochoso e no clima frio da regiatildeo em muito semelhante ao da estepe ateacute porque se

tratava de uma fonte de rendimento muito mais faacutecil de proteger ou de deslocar

comparativamente agrave agricultura estaacutetica e muito vulneraacutevel perante as depredaccedilotildees aacuterabes

Nos Balcatildes o impasse permanecia entre Bizacircncio e a Bulgaacuteria a conversatildeo deste

uacuteltimo povo ao cristianismo em 864 afetou profundamente a relaccedilatildeo entre os ditos reinos

mudanccedila esta refletida em diversos acordos comerciais firmados A ascensatildeo de um novo

czar Simeatildeo (893-927) iria contribuir para o reforccedilo da cristianizaccedilatildeo do Estado buacutelgaro

mas se os Bizantinos pensavam que isso era sinoacutenimo de paz rapidamente viram as suas

ideias viradas do avesso quando o primeiro conflito entre os dois Estados desde a conversatildeo

dos Buacutelgaros comeccedilou a tomar forma Em 894 irrompe a guerra entre Preslav e

Constantinopla talvez catalisada pelo czar Simeatildeo Este confronto teraacute um teor diferente dos

anteriores um seacuteculo antes aquando da batalha de Priska os Buacutelgaros eram pagatildeos mas

agora eram cristatildeos e o basileuacutes Leatildeo VI (886-912) natildeo demonstrava (ou natildeo aparentava

demonstrar) qualquer inclinaccedilatildeo para travar um combate contra um reino cristatildeo ortodoxo19

tal como declara no seu tratado militar20 como veremos mais adiante

Em Itaacutelia os Bizantinos veem-se novamente frente-a-frente com os Aacuterabes apoacutes a

invasatildeo aglaacutebida da Siciacutelia em 827 Os confrontos com os muccedilulmanos alcanccedilariam mais

tarde a Calaacutebria e a Apuacutelia onde Bizacircncio combatia tanto pelas armas como pela diplomacia

a fim de submeter os principados lombardos agrave soberania bizantina quer de forma direta quer

por vassalagem A norte Bizacircncio mantinha relaccedilotildees cordiais com os Francos o que

possibilitou uma alianccedila contra os Sarracenos de Bari e permitiu cercar a cidade em 869 jaacute no

reinado de Basiacutelio I (867-886) Apesar de desacordos entre as duas partes e do abandono do

cerco pelas forccedilas bizantinas Bari caiu para os Francos em 871 tendo os habitantes entregado

a cidade anos depois a Constantinopla Esta urbe vai-se mostrar fundamental para alcanccedilar

Frontier in the Eighth and Ninth Centuries Military Organization and Society in the Borderlands Zbornik

Radova Visantoloskog InstitutaI (19) pp 92-94 19 Vide KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Handsrsquo A Note on Byzantine

Foreign Policy (886-912) Traditio 23 p 40 20 Vide Anexo IX b)

15

os dois principais objetivos estrateacutegicos na regiatildeo a expulsatildeo da ameaccedila aacuterabe e a subjugaccedilatildeo

das cidades lombardas agrave soberania romana duas metas para as quais Basiacutelio I e Leatildeo VI natildeo

vatildeo despender esforccedilos de forma a garantir a supremacia bizantina no sul de Itaacutelia ainda que

para isso tenham que sacrificar a Siciacutelia mesmo que acidentalmente como no caso de

Basiacutelio I

Por fim a situaccedilatildeo mostrava-se ingrata para os Bizantinos na guerra mariacutetima as

grandes ilhas do Mediterracircneo Oriental e Central estavam em matildeos muccedilulmanas (Creta) ou

em vias de ser conquistadas (Siciacutelia) Por outro lado o poder mariacutetimo dos emirados

cilicianos e do Califado mantinha-se superior agrave forccedila naval bizantina com ataques frequentes

agraves ilhas do Mar Egeu agrave costa anatoacutelica e agrave Greacutecia Soacute na costa italiana eacute que Bizacircncio parecia

manter a supremacia conseguindo inverter com certa facilidade os reveses naquelas aacuteguas

Na passagem do seacuteculo IX para o X eacute esta a situaccedilatildeo de Bizacircncio Os primeiros

imperadores macedoacutenicos Basiacutelio I e Leatildeo VI agrave semelhanccedila dos seus antecessores veem-se

confrontados com um conjunto de antagonismos por todo o espaccedilo imperial Pressionados

pela necessidade de legitimar a nova dinastia os basileicircs em especial Basiacutelio I vatildeo tentar

inverter a situaccedilatildeo recorrendo agrave revisatildeo da estrateacutegia militar bizantina e agrave diplomacia

12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial

Face ao tipo de adversidades enunciadas anteriormente o Impeacuterio Bizantino eacute

obrigado a proceder a reformas na sua maacutequina de guerra para conseguir responder com

sucesso agraves agressotildees estrangeiras ou intestinas que emergem no seu territoacuterio A maior parte

destas reformas como veremos adiante teve como laboratoacuterio de ensaio a peniacutensula da

Anatoacutelia onde os Romanos enfrentavam aqueles que sem grande margem para duacutevidas eram

os seus arqui-inimigos os califados aacuterabes de Damasco e de Bagdade

Este tipo de evoluccedilatildeo no entanto natildeo se prende apenas com a guerra no sentido fiacutesico

pois o pensamento estrateacutegico bizantino vai sofrer algumas alteraccedilotildees a partir do principado

de Heraacuteclio (610-641) Com efeito Bizacircncio ao tomar uma atitude completamente defensiva

comeccedila a ver-se obrigada a tomar decisotildees bastante difiacuteceis em relaccedilatildeo a alguns dos seus

territoacuterios para garantir a proteccedilatildeo de outros com maior interesse estrateacutegico Em casos mais

graves e alarmantes estas opccedilotildees tornavam-se de tal modo draacutesticas que os basilecircis optavam

por abandonar certas regiotildees para fortalecer outras Exemplo disto foi a ordem de retirada

dada por Heraacuteclio agraves tropas bizantinas da Siacuteria-Palestina apoacutes a derrota face aos Aacuterabes na

batalha de Yarmuk em 636 recuaram para a Mesopotacircmia e para a Anatoacutelia de forma a

garantir a sobrevivecircncia do que restava dos exeacutercitos moacuteveis do Oriente e da Armeacutenia bem

16

como das forccedilas auxiliares romanas naquela regiatildeo (tropas armeacutenias e gassacircnidas

principalmente) e para criar uma nova barreira nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro21

Por outro lado como eacute verificaacutevel em alguns tratados militares bizantinos como o

Taktikaacute a palavra de ordem era evitar a todo o custo a batalha campal22 jaacute que esta tinha na

maior parte dos casos um resultado incerto e acarretava grandes baixas humanas muitas

vezes ateacute para o vencedor23 Portanto Bizacircncio e em certa medida os seus inimigos em

especial os Aacuterabes preferiam combater a ldquoguerra pequenardquo tipicamente de fronteira com

recurso a ardis a espionagem a um bom estudo do terreno e muitas vezes a poliacuteticas de

terra-queimada24 Poreacutem isto natildeo implicava a inexistecircncia de batalhas campais que se

continuaram a travar durante o periacuteodo meacutedio bizantino e que na maior parte dos casos

contribuiacuteam para a alteraccedilatildeo do status quo entre Bizacircncio e o seu adversaacuterio na regiatildeo25

A guerra de fronteira no entanto natildeo era o uacutenico pilar da estrateacutegia defensiva

bizantina existindo mais dois que contribuiacuteam para o bom funcionamento da primeira a

diplomacia e a espionagem A primeira era porventura o maior trunfo do Impeacuterio Romano

do Oriente que tirava partido do seu elevado nuacutemero de diplomatas experientes para

neutralizar alguns inimigos por meio de subornos ou de tributos traziam-se novos aliados

para o lado de Constantinopla ou convenciam-se naccedilotildees estrangeiras a entrar em guerra e a

lidar com inimigos indesejaacuteveis para Bizacircncio (de forma a evitar que fossem os basilecircis a

combatecirc-los) Jaacute a espionagem era vital para o impeacuterio pois permitia reconhecer as

principais ameaccedilas agrave sua seguranccedila bem como os meios ao dispor e o alvo principal das suas

ambiccedilotildees a situaccedilatildeo interna dos vizinhos bizantinos e no caso da contraespionagem

confundir os serviccedilos de informaccedilatildeo inimigos atraveacutes da alimentaccedilatildeo de falsa informaccedilatildeo que

encaminhava o inimigo para emboscadas ou para zonas mais bem preparadas para reagir a

uma invasatildeo Ao referirmo-nos agrave estrateacutegia defensiva bizantina eacute imperativo que natildeo se

21 Vide KAEGI Walter E (2005) Byzantium and the Early Islamic Conquests Cambridge Cambridge

University Press pp 147-150 22 Contra os Aacuterabes esta praacutetica comeccedilou a aplicar-se relativamente cedo logo apoacutes a derrota bizantina frente a

forccedilas sarracenas na batalha de Yarmuk Vide HALDON John (2001) The Byzantine Wars Battles and

Campaigns of the Byzantine Era Gloucestershire Tempus Publishing Ltd pp 65 23 Para alguns autores como Walter Kaegi este pensamento estrateacutegico de evitar a batalha campal decisiva foi

uma das razotildees principais para a sobrevivecircncia milenar do Impeacuterio Bizantino Vide KAEGI Walter (1983)

Some Thoughts on Byzantine Military Strategy Brooklyn Massachussets Helenic College Press p 9 24 Existe um tratado bizantino especialmente dedicado a esta praacutetica marcial o Περiacute παραδρομής (Periacute

paradromeacutes) ou De velitatione bellica traduzido para inglecircs por George T Dennis vide DENNIS George

(1985) Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 25 Como por exemplo Yarmuk a grande batalha inaugural do periacuteodo intermeacutedio que a curto-meacutedio prazo vai

contribuir para a reduccedilatildeo do territoacuterio imperial para pouco menos de metade ou a batalha de Akroinos em 740

que em conjunto com a deposiccedilatildeo do Califado Omiacuteada vai pocircr fim no geral agraves tentativas aacuterabes de conquistar

Constantinopla e a Aacutesia Menor Para o primeiro caso vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp 56-57 e 66 Para o

segundo vide HALDON John (2016) The Empire that would not die ndash The Paradox of Eastern Roman

Survival 640-740 Cambridge e Londres Harvard University Press pp1 e 54

17

esqueccedila que a guerra perpeacutetua pela defesa de Bizacircncio se travava tanto no ldquocampo de

batalhardquo como agrave mesa de negociaccedilotildees

Outra modalidade beacutelica preferida dos Bizantinos era a poliorceacutetica com cercos

bastante recorrentes a fortalezas aacuterabes nas regiotildees limiacutetrofes dos seus territoacuterios ou a cidades

lombardas no Sul de Itaacutelia Aliaacutes nesta uacuteltima disciplina beacutelica Bizacircncio mantinha-se eficaz

como seguidora legiacutetima do Impeacuterio Romano Este legado era tanto taacutetico como teacutecnico

Bizacircncio recorria muitas vezes a armas de cerco pesadas26 que requeriam a presenccedila de

engenheiros e de teacutecnicos especializados no uso destas os techniacutetai por outro lado a guerra

psicoloacutegica era frequentemente praticada de forma a reduzir o nuacutemero de baixas e o custo de

asseacutedios a uma fortaleza A importacircncia da guerra psicoloacutegica eacute evidenciada tendo em conta

a preferecircncia dos generais bizantinos em recorrer mais vezes ao bloqueio do que ao assalto e

bombardeamento de muralhas para o qual eram empregues taacuteticas como a destruiccedilatildeo ou o

roubo de fontes de abastecimento27 que geralmente eram aproveitadas pelos sitiantes os

ataques noturnos o controlo de vias de comunicaccedilatildeo e obviamente a interdiccedilatildeo de entrada e

saiacuteda de indiviacuteduos do local sitiado a natildeo ser que fossem negociadores

A poliorketikaacute era tambeacutem uma importante disciplina da tratadiacutestica antiga e

bizantina estando presente na maior parte dos manuais de guerra (Stratēgikoacuten Taktikaacute28 e

Perigrave Strategiacuteas29) ou possuindo tratados que se dedicavam exclusivamente agrave guerra de cerco

nas suas duas vertentes defensiva e ofensiva Entre estes tratados figuram as duas obras de

Heacuteron de Bizacircncio o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia que se encontram

direcionados para uma boa aplicaccedilatildeo de maacutequinas de guerra e o De obsidione toleranda que

se dedica exclusivamente agrave componente defensiva da poliorketikaacute ou seja agrave defesa de uma

cidade ou de outro tipo de baluarte sitiado

Por fim eacute importante natildeo esquecer a relevante componente que a marinha de guerra

representava para o pensamento estrateacutegico bizantino Embora a guerra terrestre fosse

importante para a defesa da integridade territorial bizantina o controlo dos mares era vital

para o impeacuterio por diversas razotildees garantir a proteccedilatildeo do comeacutercio e das vilas e cidades

costeiras da pirataria sarracena e russa manter boas vias de comunicaccedilatildeo entre os territoacuterios

dispersos sob alccedilada bizantina e obviamente proteger a capital Constantinopla uma cidade

26 Tais como trabucos de traccedilatildeo (e mais tarde de contrapeso) escadas de assalto coberturas para equipas de

assalto como laisacirci vineae e tartarugas torres de assalto e ariacuteetes Cf NISA Joatildeo (2017) ldquoIII Parte ndash A

Poliorceacutetica e o Poder Naval Bizantinosrdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) (2017) Histoacuteria de Roma

Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 434 e 438 27 P ex Destruiccedilatildeo de aquedutos e colheitas roubo de cabeccedilas de gado Vide Idem Ibidem pp 436-437 28 Vide Anexo IX a) 29 A traduccedilatildeo que vamos usar ao longo desta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Perigrave Strategiacuteas Texto Traduccedilatildeo

e Comentaacuterio DENNIS G T (1986) ndash Op cit pp 1-136

18

que era impossiacutevel de conquistar sem o apoio de um forte braccedilo naval De forma a tentar

manter (ou recuperar) o seu estatuto de talassocracia30 Bizacircncio via-se obrigada a apostar

fortemente em reformas na marinha e na conquista (ou manutenccedilatildeo) de pontos estrateacutegicos no

Mar Mediterracircneo casos das ilhas de Creta de Chipre e como eacute oacutebvio da Siciacutelia

Durante os seacuteculos IX e X a naumachikaacute a disciplina da tratadiacutestica bizantina

direcionada para a guerra naval recebeu algum relevo com a escrita e publicaccedilatildeo de tratados

que pela primeira vez em muito tempo se debruccedilaram sobre esta modalidade e a forma como

esta deveria ser feita Entre as obras que abordam estas temaacuteticas encontramos a Constitutio

XIX do Taktikaacute de Leatildeo VI e o tratado Naumachiacuteai31 atribuiacutedo a Siriano Esta tendecircncia

verificada no virar de mileacutenio opotildee-se agrave da ldquoPrimeira Idade de Ourordquo da tratadiacutestica bizantina

(seacutec V-VI) onde a guerra no mar natildeo estaacute presente veja-se o Strategikoacuten que refere apenas

aspetos de confrontos em contextos fluviais Este facto pode ser facilmente explicado na

nossa opiniatildeo pela reduzida dimensatildeo que a marinha e o mar ocupavam no horizonte

estrateacutegico de Constantinopla entre a laquoReconquista Justinianaraquo (533-554) e a expansatildeo aacuterabe

eacutepoca em que possuiria uma frota restritamente utilizada e condicionada para garantir a

proteccedilatildeo do comeacutercio e vocacionada para o apoio logiacutestico aos exeacutercitos romanos em

especial em teatros fluviais como a fronteira do Danuacutebio tendo o droacutemon a embarcaccedilatildeo por

excelecircncia bizantina sido afetada por estes condicionalismos perdeu tonelagem e tamanho e

as tripulaccedilotildees tornaram-se mais reduzidas32

Concluiacuteda esta digressatildeo pelas bases da estrateacutegia defensiva bizantina e pelas

tipologias mais favorecidas de combate podemos entatildeo analisar os apparati militares de

Bizacircncio durante a eacutepoca-meacutedia bizantina em especial durante os primeiros Macedoacutenicos

13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados

dos primeiros basileicircs macedoacutenicos

Falar do sistema militar bizantino eacute bastante delicado e requer um certo cuidado Isto

porque dissecar o exeacutercito bizantino implica olhar para o funcionamento do Estado bizantino

30 A necessidade de Bizacircncio ser uma talassocracia pelas razotildees acimas referidas natildeo deixava de ser um pouco

paradoxal pela conceccedilatildeo tardo-romana de mar considerado um elemento peacuterfido e perigoso Por outras

palavras a necessidade bizantina de controlar o mar natildeo significava que estes nutrissem grande afeiccedilatildeo por ele

um sentimento baseado em vaacuterios fatores de cariz religioso e social Vide COSENTINO Salvatore (2004) III ndash

La flota bizantina e lrsquoIslam aspetti di storia istituzionale e sociale In CARILE Antonio e COSENTINO

Salvatore (2004) Storia della Marineria Bizantina Bolonha Lo Scarabeo pp 272 e 273 31 A versatildeo usada nesta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Naumachiai Sirianoi Magistroi Texto e traduccedilatildeo

PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-

1204 Leiden e Boston Brill pp 455-482 32 Vide COSENTINO Salvatore (2008) Constans II and the Byzantine Navy Byzantinische Zeitschrift 100 (2)

pp 581-583

19

para a sua componente fiscal e para o teacutenue balanccedilo de poderes entre a administraccedilatildeo civil e a

aristocracia militar que sobretudo apoacutes o reinado de Constantino VII (913-959) comeccedilaram

a travar um perigoso braccedilo-de-ferro pela supremacia na laquorainha das cidadesraquo

Sendo assim quais eram os principais braccedilos armados de Bizacircncio aquando da

ascensatildeo de Leatildeo VI Na nossa opiniatildeo Bizacircncio possuiria quatro importantes componentes

militares i) os themaacuteta e as kleisocircurai circunscriccedilotildees territoriais que combinavam poder

poliacutetico e militar nas quais o Impeacuterio Bizantino se encontrava dividido ii) os taacutegmata a

guarda de elite dos basileicircs e a coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha de Bizacircncio iii) a

marinha bizantina e as tropas mariacutetimas que disputavam a supremacia naval com o poderio

aacuterabe iv) os ocasionais mas sempre presentes bandos mercenaacuterios que integravam os

exeacutercitos de campanha imperiais Satildeo estes apparati que servem Leatildeo VI em vaacuterios pontos do

impeacuterio enquanto o Saacutebio (segundo se atribui) redige o seu tratado ou confronta o

patriarcado33 Examinemos agora cada uma daquelas componentes

Comecemos pelos themaacuteta Muito se debateu acerca destes corpos militares ao longo

dos anos a sua criaccedilatildeo organizaccedilatildeo como foram distribuiacutedas as suas terras o que eram

quem eram os soldados que eram recrutados em cada um entre outras questotildees Cremos que

as definiccedilotildees mais concretas que podemos dar a esta palavra satildeo as seguintes (a) eram

distritos provinciais que conjugavam de forma equitativa os poderes militares e poliacuteticos em

torno de um oficial o strategoacutes (b) eram os exeacutercitos dessas mesmas regiotildees Na nossa

opiniatildeo as principais caracteriacutesticas dos themaacuteta satildeo o facto de providenciarem uma forccedila de

defesa raacutepida contra raides inimigos a capacidade dos soldados que os integravam de

conseguirem manter-se de forma autoacutenoma na maior parte dos casos poupando ao Estado

alguma despesa na manutenccedilatildeo dos exeacutercitos e a combinaccedilatildeo do poder civil e militar sob o

strategoacutes (poder militar) e o protonotaacuterios (poder civil e fiscal) o que permitia um acesso

mais faacutecil da parte da componente militar dos themaacuteta aos recursos humanos e materiais da

regiatildeo

Em relaccedilatildeo agrave etimologia da palavra ateacute haacute pouco pensou-se que a origem da palavra

theacutema tal como eacute usada neste caso provinha do grego theacutema (corpo armado) ou do turco

toumen (divisatildeo de dez mil homens) natildeo retirando creacutedito a estas definiccedilotildees acredita-se que

uma outra possiacutevel palavra original para theacutema eacute o verbo τίθημι (tiacutetemi que significa colocar

depositar estabelecer ou atribuir) o que faz todo o sentido se estes foram estabelecidos

33 Aqui referimo-nos ao duro conflito entre Leatildeo VI e o patriarca Nicolau em torno do 4ordm casamento do basileuacutes

e portanto da legitimaccedilatildeo do seu filho (o futuro Constantino VII) com a 4ordf esposa Zoeacute Carbonopsina Cf infra

22

20

durante as reformas fiscais de Niceacuteforo I uma vez que elas ldquodepositaramrdquo soldados da Aacutesia

Menor nos receacutem-conquistados territoacuterios dos Balcatildes tal como veremos adiante34

As origens apresentam-se mais discutiacuteveis tendo ao longo da segunda metade do

seacuteculo XX surgido duas correntes para o aparecimento dos themaacuteta a primeira que podemos

apelidar de laquoimplementacionistaraquo foi sugerida por Ostrogorsky e defendia que o laquosistema

temaacuteticoraquo tinha surgido durante ou imediatamente apoacutes a uacuteltima guerra bizantino-persa (602-

628) A sua criaccedilatildeo teria sido uma reforma deliberada de Heraacuteclio e teria como objetivo obter

uma forma de recrutar e de abastecer homens para os exeacutercitos de campanha romanos durante

aquele conflito e mais tarde durante os primeiros confrontos contra os Aacuterabes35 A base desta

corrente teoacuterica era a distribuiccedilatildeo de terras e propriedades aos soldados do impeacuterio em troca

do seu serviccedilo militar de onde retiravam o rendimento necessaacuterio para as suas armas e

mantimentos (a isto acrescentamos a importante componente psicoloacutegica pois incentivava-se

o proprietaacuterio o militar portanto a combater qualquer ameaccedila agrave sua propriedade)36 Por outro

lado e colocando-se contra esta teoria de Ostrogorsky encontramos Agostino Pertusi e

Johanes Karayannopoulos que apresentam teorias a que podemos chamar de laquogradualistasraquo

Pertusi contradizendo o historiador jugoslavo defendeu que o surgimento dos themaacuteta se

prende com uma evoluccedilatildeo do sistema administrativo romano que foi moldada pelas vaacuterias

pressotildees que o impeacuterio sofreu entre os seacuteculos VII e X por sua vez Karayannopoulos

argumentou que o laquosistema temaacuteticoraquo era o resultado da evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees militares

tardo-romanas37 desde o seacuteculo VI ateacute ao seacuteculo X38

A discussatildeo passou a gerar-se em torno de um conjunto cada vez maior de

bizantinistas que tomavam o partido de uma das duas correntes teoacutericas alguns como Warren

Treadgold Martha Gregoriou-Iounnidou e Michael Hendy (este uacuteltimo com ideias proacuteprias)

tomavam o partido da teoria claacutessica de Ostrogorsky na laquofaccedilatildeo gradualistaraquo alinharam nomes

como John Haldon Walter Kaegi Heacutelegravene Ahrweiler Nicolas Oikonomiacutedes e Paul Lemerle

34Para as primeiras definiccedilotildees vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia (2017) ldquoI Parte ndash Histoacuteria Concisa do Impeacuterio

Bizantino (das Origens agrave Queda de Constantinopla)rdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) Histoacuteria de Roma

Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra p 53 Para a

segunda HALDON John (2016) A context for two ldquoevil deedsrdquo Nikephoros I and the origins of the themata In

DELOUIS Olivier MEacuteTIVIER Sophie e PAGEgraveS Paule (ed) (2016) Le Saint Le Moine et le Paysan

Meacutelanges drsquohistoire byzantine offerts agrave Michel Kaplan Paris Publications de la Sorbonne p 259 35 Vide HALDON John (1993) Military Service Lands and the Status of Soldiers Current Problems and

Interpretations In Dumbarton Oaks Papers vol 23 p4 36 Vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit pp 53-54 37 Referimo-nos aos exeacutercitos moacuteveis aos quais pertenciam os soldados que chamamos de comitatenses e aos

limitanei que guarneciam as regiotildees fronteiriccedilas 38 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit pp 4-5

21

entre outros Mais recentemente apoacutes vaacuterios anos de discussatildeo a corrente teoacuterica que tem

ganho mais importacircncia eacute a laquogradualistaraquo

Apesar da existecircncia de um enorme conjunto de teses parece-nos pertinente referir a

teoria que John Haldon apresentou recentemente O artigo onde ela se encontra assenta no

estudo das vexilationes39 de Niceacuteforo I e Haldon data os themaacuteta para o reinado deste

basileuacutes De acordo com o autor as reformas que implementaram os themaacuteta e que tinham

um cariz mais intrinsecamente fiscal do que militar foram a transferecircncia de soldados da

Aacutesia Menor para os territoacuterios recentemente conquistados aos Eslavos nos Balcatildes com a

obrigaccedilatildeo de venda das suas propriedades40 e posterior compra ou oferta (pelo Estado) de

novas terras a suacutebita apariccedilatildeo do cargo de protonotaacuterios nos iniacutecios do seacuteculo IX

(paralelamente agraves primeiras menccedilotildees dos themaacuteta em fontes) e a instituiccedilatildeo de uma doaccedilatildeo

comunitaacuteria para o pagamento de impostos e de equipamento dos soldados mais pobres41 o

que contribuiria para alicerccedilar as ligaccedilotildees entre os soldados e as comunidades onde eles

estavam inseridos Estas reformas teratildeo alastrado aos comandos militares42 da Aacutesia Menor

onde os contributos comunitaacuterios para os soldados mais pobres (que no entanto natildeo parece

que se tenham mantido por muito tempo) e os protonotaacuterios melhoraram a eficiecircncia dos

sistemas de manutenccedilatildeo e de abastecimento dos exeacutercitos provinciais assim como as ligaccedilotildees

entre o strategoacutes e o poder civil De acordo com Haldon os themaacuteta tiveram a sua origem por

essa altura comeccedilando a crescer em nuacutemero a partir daiacute (ou pela conquista de novos

territoacuterios ou mais provavelmente pela divisatildeo do territoacuterio dos themaacuteta jaacute existentes para

melhor consolidar a defesa do impeacuterio) sendo certo que pela altura do reinado de Leatildeo VI

existiriam mais de vinte distritos administrativo-militares deste tipo43

O debate entre as duas correntes teoacutericas sobre a origem dos themaacuteta tinha poreacutem

outro core para aleacutem deste a forma como os soldados eram recrutados bem como a relaccedilatildeo

destes com os proacuteprios themaacuteta44 Este uacuteltimo toacutepico interessa-nos muito porque envolve a

questatildeo das terras militares ou laquoestratioacuteticasraquo (as stratiotikagrave kteacutemata) O nome destas terras eacute

39 Ou kakoacuteseis (em portuguecircs ldquomaldadesrdquo) configuram um conjunto de reformas fiscais implementadas por

Niceacuteforo I que o clero bizantino viu com maus olhos devido aos alegadamente pesados impostos que o

basileuacutes lhes impocircs Destas reformas as duas primeiras satildeo de extrema importacircncia para se apurar a origem dos

themaacuteta de acordo com John Haldon Vide HALDON J (2016) ndash Op cit p 249 40 Vide Anexo IX b) 41 O valor deste equipamento estaacute apontado como sendo 185 nomismata Vide Anexo IX c) 42 As proviacutencias onde habitavam de acordo com Leif Inge-Petersen denominavam-se ldquoterras de um strategoacutesrdquo

Vide PETERSEN Leif Inge (2013) Siege Warfare and Military Organization in the Successor States (400-800

AD) Boston Brill p 105 43 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 91 Para uma possiacutevel lista dos themaacuteta no virar do seacuteculo IX para o X

vide HEATH Ian (1980) Armies of the Dark Ages 600-1066 ndash Organisation tactics dress and weapons 2ordf

Ediccedilatildeo Sussex Wargames Research Group Publication p7 44 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit p 7

22

um pouco traiccediloeiro porque a posse dita de laquoterras militaresraquo natildeo eacute implicitamente indicadora

da possessatildeo de terrenos pelos soldados mas sim da possessatildeo de strateiacutea (isto eacute da

implicaccedilatildeo de cumprir serviccedilo militar) pela propriedade ou pelo respetivo proprietaacuterio

Dentro dos recursos para recrutamento dos thematikoiacute (os soldados destes exeacutercitos) a

strateiacutea era sem duacutevida o principal e ter-se-aacute mantido como tal ateacute ao seacuteculo XII Todavia foi

sofrendo alteraccedilotildees pois ateacute agraves reformas juriacutedicas de Constantino VII encontrava-se associada

ao indiviacuteduo e natildeo agrave propriedade algo que soacute seria oficializado pelas reformas jaacute referidas45

Assim de entre os thematikoiacute deduzimos que a maior parte dos soldados recrutados para

campanha ateacute ao reaparecimento em forccedila de mercenaacuterios nos meados do seacuteculo X46 eram

aqueles que estavam registados juntamente com a sua strateiacutea47 nos koacutedikes do logotheacutesion

militar de cada theacutema48

Existiriam ainda alguns soldados voluntaacuterios natildeo registados que fora a participaccedilatildeo

em campanhas tambeacutem podiam servir a tiacutetulo permanente como membros de guarniccedilotildees e

dos corpos de guarda juntamente com voluntaacuterios possuidores de strateiacutea Seria este conjunto

de homens que alguns anos apoacutes o desaparecimento do Saacutebio formaria os taacutegmata

provinciais49 corpos permanentes e muito melhor sustentados pelo Estado que se tornaram

um dos alicerces para a mudanccedila de interesses estrateacutegicos de Bizacircncio Esta viragem foi

concretizada a partir do reinado do co-imperador Romano I Lecapeno (920-944) e

caracterizou-se por uma postura cada vez mais ofensiva do impeacuterio e possibilitando a

chamada laquoReconquista Bizantinaraquo da segunda metade do seacuteculo X50

Por fim teccedilamos algumas consideraccedilotildees breves sobre a logiacutestica (abordaremos de

forma mais aprofundada alguns destes temas durante a anaacutelise do Taktikaacute) em especial sobre

o pagamento e abastecimento destes soldados Esta mateacuteria vai-nos obrigar a retomar ao

assunto das stratiotikagrave kteacutemata porque a partir da retirada de Heraacuteclio para Aacutesia Menor o

principal sustentador do soldado vai passar a ser o proacuteprio combatente Ainda hoje o

fenoacutemeno do crescimento da propriedade militar em Bizacircncio entre os seacuteculos VII e X

suscita alguma discussatildeo no seio dos bizantinistas Warren Treadgold considera que este

crescimento se deveu ao pagamento aos soldados apoacutes a grande desvalorizaccedilatildeo dos

45 Ateacute esta altura nas palavras do basileuacutes apesar do caraacuteter pessoal de strateiacutea as propriedades dos soldados

bizantinos eram inalienaacuteveis por tradiccedilatildeo e natildeo por coacutedigo legal Vide HALDON J ndash Op cit 2016 p 264 46 Vide NISA Joatildeo (2016) Arte Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de

Mestrado em Histoacuteria Militar apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra p 39 47 Que era hereditaacuteria 48 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p123 49 Que natildeo devem ser confundidos com os taacutegmata da capital dos quais falaremos mais adiante apesar de terem

funccedilotildees taacuteticas e benefiacutecios idecircnticos 50 Para um resumo destas reformas militares vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 38-39

23

numeraacuterios destes no reinado de Heraacuteclio em terras alegando o virtual desaparecimento da

maior parte da propriedade imperial entre os seacuteculos VII e X51

Por outro lado a visatildeo mais aceite presentemente eacute a de um conjunto de fatores como

um longo periacuteodo de casamentos entre as famiacutelias dos locais para onde os soldados dos

exeacutercitos moacuteveis tinham retirado bem como um processo de compra de propriedade efetuado

pelos soldados mais ricos52 um constante processo de recrutamento e substituiccedilatildeo dos

soldados dos antigos exeacutercitos provinciais por membros da populaccedilatildeo indiacutegena dos distritos

dos novos comandos militares poacutes-heraclianos53 Apoacutes esta apropriaccedilatildeo de terreno por

membros do exeacutercito o Estado rapidamente se comeccedilou a aperceber das vantagens do

processo particularmente a possibilidade de autossustentaccedilatildeo de um grande conjunto deles

Contudo efetuar uma generalizaccedilatildeo das condiccedilotildees econoacutemicas de todos os thematikoiacute eacute um

erro crasso existindo muitos soldados pobres que natildeo possuiacuteam meios para comprar o seu

equipamento montada e viacuteveres A responsabilidade de equipar estes soldados mais pobres

recaiu entatildeo sobre a sua famiacutelia nas comunidades em que se inseriam54 ou ateacute sobre os

stratioacutetai mais abastados dos themaacuteta caso estes natildeo quisessem participar ativamente em

alguma campanha algo aconselhado por Leatildeo VI55 no Taktikaacute56

De entre estas possibilidades a mais interessante parece-nos ser a uacuteltima porque

demonstra que a strateiacutea natildeo era apenas uma obrigaccedilatildeo militar para o serviccedilo efetivo mas

podia ser usada para apoio logiacutestico57 Assim os stratioacutetai mais ricos em vez de participarem

ativamente nas campanhas poderiam enviar no seu lugar um outro soldado equipado por eles

que natildeo possuiacutesse strateiacutea ou contribuir para o equipamento e provisotildees de um stratioacutetes

mais pobre Mais tarde a partir da legislaccedilatildeo oficial das terras militares por Constantino VII

passou a diferenciar-se o stratioacutetes ndash aquele que possuiacutea uma propriedade com strateiacutea58 ndash do

stratiouacutemenos o efetivo militar que era patrocinado por uma stratiotikagrave kteacutemata

A flexibilidade taacutetica dos themaacuteta bizantinos assentava tambeacutem nestas condiccedilotildees

sociais e econoacutemicas estando a tipologia do soldado condicionada pelos seus recursos

51 Vide TREADGOLD Warren (1995) Byzantium and Its Army Stanford Stanford University Press p 24 52 Cf MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit p 57 e tambeacutem HALDON J (2016) ndash Op cit p148 53 HALDON J (2016) ndash Op cit p148 54 Algo que como jaacute vimos teraacute sido instituiacutedo no principado de Niceacuteforo I 55 Apesar de o basileuacutes aconselhar ao strategoacutes que recrute preferencialmente para as campanhas os soldados

mais ricos e com maior capacidade de se equiparem e sustentarem autonomamente Vide Anexo VIII c) 56 Vide Anexo VIII d) 57 Praacutetica que se verificaria mais a partir dos meados do seacuteculo quando os basileicircs bizantinos comeccedilaram a

preferir que a strateiacutea fosse satisfeita atraveacutes de um pagamento que possibilitasse a contrataccedilatildeo de mercenaacuterios e

a compra de melhor equipamento para os exeacutercitos de campanha em vez da prestaccedilatildeo de um serviccedilo militar

ativo Vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 39 58 Ou strateiacutea parcial que eacute o resultado das divisotildees de ldquoterras estratioacuteticasrdquo apoacutes a morte do proprietaacuterio pelos

seus herdeiros ou em caso do cometimento de um crime pelo proprietaacuterio

24

financeiros Assim apesar de a cavalaria ligeira representar o principal modelo taacutetico em uso

ateacute ao seacuteculo X59 apenas os stratioacutetes com meios para angariar um ou dois cavalos o

equipamento e armamento baacutesico e ainda indiviacuteduos60 que conseguissem cuidar dos seus

terrenos durante campanha (caso os possuiacutessem claro) eacute que poderiam servir nessa funccedilatildeo61

Os stratioacutetai que natildeo detivessem os recursos necessaacuterios para tal serviriam como infantaria

que apesar de ainda natildeo possuir a importacircncia que viria a ter meio seacuteculo mais tarde

comeccedilou na altura de Leatildeo VI a ver-lhe imputada um papel cada vez mais destacado para

aleacutem das funccedilotildees defensivas no campo de batalha e em posiccedilotildees estrateacutegicas o regresso lento

mas seguro do treino da eficiecircncia e da disciplina apregoado tambeacutem no Taktikaacute vai permitir

que se comece a praticar neste periacuteodo um conjunto de taacuteticas combinadas com a cavalaria62

Taacuteticas essas que representaratildeo uma das especialidades dos exeacutercitos de Basiacutelio II (963-1025)

e dos seus co-imperadores Niceacuteforo II Focas (963-969) e Joatildeo I Zimisce (969-976) na

segunda metade do seacuteculo X e nos primeiros anos do seacuteculo seguinte

O perfil taacutetico dos thematikoiacute natildeo se adequava a campanhas ofensivas63 sendo usados

principalmente na defesa do territoacuterio imperial frente a incursotildees aacuterabes por meacutetodos tiacutepicos

de guerra de fronteira (emboscadas terra queimada ataques noturnos a acampamentos) e

numa ocasional batalha campal A preparaccedilatildeo destas campanhas defensivas durava algum

tempo pelo que a responsabilidade de ganhar tempo e vigiar o invasor estava nas matildeos de

outros distritos militares as kleisoucircrarchiai Estes distritos militares foram o resultado da

separaccedilatildeo de touacutermai dos themaacuteta fronteiriccedilos que se encontravam junto ao Tauro e ao

Antitauro Ao comandante destas circunscriccedilotildees o kleisouraacutercha era atribuiacutedo um enorme

grau de autonomia sendo responsaacutevel pela aplicaccedilatildeo dos meacutetodos enunciados no Perigrave

Paradromeacutes de forma a deter os raides muccedilulmanos mais pequenos antes que estes

penetrassem demasiado e a perseguir e atrasar os exeacutercitos sarracenos de maiores dimensotildees

ateacute agrave chegada de forccedilas bizantinas de maior envergadura Estas divisotildees geograacuteficas tinham

um estatuto volaacutetil acabando muitas delas a ser elevadas a theacutema64 sobretudo nos iniacutecios do

seacuteculo X onde as kleisoucircrarchiai foram promovidas aos laquothemaacuteta armeacuteniosraquo65 no seio do

59 Os exeacutercitos dos themaacuteta eram denominados de kaballarika themata por serem compostos maioritariamente

por cavalaria ligeira Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 97 60 Referimo-nos essencialmente a membros da famiacutelia ou outros servos 61 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 99 62 MCGEER Eric (1988) Infantry versus Cavalry The Byzantine Response In Revue des eacutetudes byzantines 46

p 145 63 Com a exclusatildeo de contra raides que muitas vezes eram realizados pelos themaacuteta na mesma altura em que os

Aacuterabes realizavam as suas accedilotildees de rapina 64 P ex Selecircucia e Charsianon durante o reinado de Romano I e 873 respetivamente HALDON J (2014) ndash

Op cit p 108 65 Idem Ibidem p 111

25

conjunto de reformas que possibilitou a Bizacircncio passar agrave ofensiva No reinado de Leatildeo VI os

elementos militares bizantinos com melhores aptidotildees para realizar operaccedilotildees ofensivas e

combater em batalhas campais caso as houvesse eram os taacutegmata

Ateacute ao reinado de Constantino V (741-775) quem ocupava as funccedilotildees de exeacutercito

pessoal dos basileicircs e de guarniccedilatildeo de Constantinopla era o exeacutercito do Opsikiacuteon66 No

entanto por estas mesmas razotildees este comando militar exercia enorme poder sobre quem

governava a partir de Constantinopla Durante muito tempo os basileicircs viram-se obrigados a

tomar certas medidas para apaziguar este corpo militar por exemplo atraveacutes da persuasatildeo ou

da escolha de liacutederes leais ao basileuacutes para comandar esta divisatildeo do exeacutercito67 A revolta de

Artavasdo (koacutemes e kouropalaacutetēs68) em 741 foi a quinta revolta do Opsikiacuteon em meio seacuteculo

e apoacutes a supressatildeo desta no ano seguinte obrigou o basileuacutes Constantino V a tomar duas

medidas para suprimir o poder dos koacutemes daquela unidade militar i) divisatildeo do territoacuterio cujo

Opsikiacuteon era responsaacutevel por trecircs circunscriccedilotildees territoriais mais pequenas (a do Opsikiacuteon a

dos Optimates e a dos Bucelaacuterios)69 ii) criaccedilatildeo de um novo corpo de elite leal ao imperador

capaz de o proteger das insurreiccedilotildees dos exeacutercitos provinciais e de tomar parte em accedilotildees

ofensivas atraveacutes da (re)militarizaccedilatildeo dos obsoletos regimentos da guarda palatina O

resultado foram os taacutegmata que apesar de pouco diferentes em eficiecircncia e disciplina

relativamente aos restantes exeacutercitos provinciais bizantinos70 no tempo de Leatildeo VI jaacute

ocupavam a funccedilatildeo para o qual tinham sido criados

Durante o reinado de Leatildeo VI existiriam quatro taacutegmata de cavalaria o das Scholaiacute o

dos Excubitores o da Vigla (ou Arithmos) e o dos Hikanatocirci71 Para aleacutem dos regimentos a

cavalo existiriam ainda mais quatro os Optimates que serviam principalmente de apoio

logiacutestico aos restantes os Noumera e o laquodas Muralhasraquo que funcionavam como contingentes

de infantaria e a Hetaireia um regimento de soldados estrangeiros que soacute participava em

66 Vide HALDON John (1984) Byzantine Praetorians An Administrative Institutional and Social Survey of the

Opsikion and Tagmata c580-900 Bona Dr Rudolph Habelt p 196 67 Idem Ibidem 208 68 Vide entradas respetivas no Glossaacuterio Temaacutetico b) Tiacutetulos 69 Um processo que teraacute demorado ainda alguns anos e que provavelmente se viu apoiado por uma nova revolta

do Opsikiacuteon em 766 No final deste processo a proviacutencia do Opsikiacuteon estava dividida entre o Opsikiacuteon os

Bucelaacuterios em 766 e o Optimaacuteton formado em 773 Vide Idem Ibidem 209 70 Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 108 Bizacircncio por esta altura era protegida por exeacutercitos provinciais

sediados em regiotildees que tinham o mesmo nome que esses corpos militares (laquoterras de um strategoacutesraquo) pe

Anatolikoacuten Armenikoacuten etc Por sua vez o nome desses exeacutercitos provinha dos antigos exeacutercitos provinciais do

Impeacuterio Romano do Oriente que foram evacuados para a Aacutesia Menor apoacutes o desastre de Yarmuk Estas

organizaccedilotildees militares e as proviacutencias que habitavam foram os antecedentes do sistema dos themaacuteta 71 Este uacuteltimo com uma data de criaccedilatildeo mais recente que os restantes tendo sido formado durante o reinado de

Niceacuteforo I em preparaccedilatildeo da campanha que terminou com a batalha de Priska (811)

26

operaccedilotildees militares se o basileuacutes estivesse presente72 Pelas funccedilotildees que os taacutegmata

ocupavam e como forma de manter a sua lealdade ao basileuacutes os soldados destes regimentos

eram os mais privilegiados do impeacuterio tendo em conta que recebiam do Estado a roga73

forragem raccedilotildees donativos o seu armamento (que no entanto continuava a pertencer a

Constantinopla e natildeo ao individuo) e a sua montada74 havia ainda o caso de muitos que

recebiam terras no termo do seu serviccedilo militar Para aleacutem disso tal como os thematikoiacute

estavam isentos de todos os impostos75 menos do demoacutesion (o imposto base) e do kapnikoacuten

(o imposto sobre as famiacutelias) Por fim faltaraacute referir que o comandante dos taacutegmata o

domestikoacutes acabaria por se tornar o comandante supremo dos exeacutercitos bizantinos Uma vez

que Leatildeo VI e o filho Constantino VII Porfirogeneta nunca comandaram pessoalmente

campanhas teratildeo sido muito possivelmente estes oficiais (escolhidos pessoalmente pelos

basileicircs) a comandarem as campanhas mais importantes deste periacuteodo76

Para aleacutem dos contingentes autoacutectones ao serviccedilo do impeacuterio Bizacircncio sempre contou

com o apoio de importantes componentes mercenaacuterias e auxiliares Durante o reinado de Leatildeo

VI temos informaccedilatildeo da presenccedila de soldados de vaacuterias nacionalidades os Khazars que

serviam na Hetaireia77 os Armeacutenios que tiveram sempre uma presenccedila quase permanente

como aliados e auxiliares de Bizacircncio e Russos que por exemplo participaram na campanha

falhada de reconquista de Creta empreendida por Leatildeo VI em 91178 No uacuteltimo quartel do

seacuteculo X estes laquosoldados de fortunaraquo tornar-se-iam um dos fatores marcantes para o sucesso

da laquoReconquista Bizantinaraquo especialmente a Guarda Varangiana de Basiacutelio II algo que se

espelha no facto de a strateiacutea comeccedilar a ser cumprida em numeraacuterio e natildeo em participaccedilatildeo

ativa inclusivamente para pagar a estes profissionais efetivos militares mais eficientes

Resta-nos dedicar algumas linhas agraves forccedilas navais bizantinas Como anteriormente

referido a embarcaccedilatildeo mais referida em Bizacircncio era o droacutemōn apesar disso jaacute durante o

reinado de Leatildeo VI este termo comeccedila a ter um valor mais generalista ou seja a referir-se a

todas as embarcaccedilotildees de guerra bizantinas79 No caso do Taktikaacute haacute menccedilatildeo a quatro tipos de

embarcaccedilotildees referidos nas listas de navios homens e apoio logiacutestico da expediccedilatildeo de

72 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 251 73 Salaacuterio mensal 74 Vide HALDON J (1984) ndash Op cit p 318 75 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p 260 76 Como as importantes expediccedilotildees militares em Itaacutelia e na Bulgaacuteria que ficaram sob o comando de Niceacuteforo

Focas o Velho 77 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 279 78 Vide Constantino VII basileuacutes The fitting out and the cost and the sum of the pay and of the force sent

against the impious Crete with the patrikios and logothetes tou dromou Himerios in the time of the Lord Leo

beloved of Christ Texto e Traduccedilatildeo PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 548 79 Vide PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 192

27

Himeacuterio contra Creta em 911 Estes navios eram as chelandia os droacutemōnes os pamphylos e

as galea80 Os primeiros eram usados para o combate naval e o transporte de tropas enquanto

os uacuteltimos mais pequenos e ligeiros eram usados principalmente como batedores apesar de

possuiacuterem tambeacutem capacidades beacutelicas e de transporte81

Apesar da posse de um grande nuacutemero de embarcaccedilotildees o virar de seacuteculo revelar-se-ia

ingrato para as forccedilas navais bizantinas um facto evidenciado pelo aumento de forccedilas

adversaacuterias no Mar Mediterracircneo (onde se daacute o aparecimento de novas marinhas hostis no

Egipto e na Tuniacutesia) e no Mar Baacuteltico onde a ameaccedila russa desperta e as pretensotildees de

Simeatildeo obrigam ao reforccedilo da presenccedila bizantina Este conjunto de circunstacircncias forccedilou os

primeiros Macedoacutenicos a reformar o seu poder naval A primeira reforma efetuada durante o

reinado de Basiacutelio I segundo levam a crer as fontes82 foi a instituiccedilatildeo de um oficium sob o

droungaacuterios totilden ploiumlmon o oficial maacuteximo da frota imperial sedeada em Constantinopla

Este cargo reunia em si poderes militares e civis por um lado era o almirante da frota imperial

e assim o homem mais importante da marinha bizantina por outro era tambeacutem o que hoje

chamariacuteamos de laquoMinistro dos Assuntos do Marraquo83 As outras reformas foram a criaccedilatildeo de

mais dois themaacuteta navais o do Mar Egeu e o de Samos estes themaacuteta reforccedilaram o theacutema

mariacutetimo dos Kibirrhaiotai e tinham como objetivo aumentar o poder das frotas provinciais

que eram mantidas e tripuladas por estas circunscriccedilotildees territoriais

80 Vide Idem Ibidem pp 548-553 81 Idem Ibidem pp 190-192 82 Cf AHRWEILER Heacutelegravene (1966) Byzance et la Mer La Marine de guerre la politique et les institutions

maritimes de Byzance aux VIIe-XVe siegravecles Paris Presses Universitaries de France p 98 83 Vide Idem Ibidem p 98

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Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte

de Leatildeo VI (867-912)

laquoQuando Miguel se apercebeu de que Basiacutelio se opunha a ele planeou uma

monstruosa intriga contra ele esta foi a seguinte Ele arranjou algueacutem para arremessar uma

lanccedila como se visasse uma besta selvagem mas que na verdade visava Basiacutelio Isto veio ao

de cima porque o homem a quem isso tinha sido ordenado o confessou na hora da sua morte

Ele arremessou o dardo mas falhou miseravelmente o alvo e Basiacutelio foi salvo Quando foi

salvo ele decidiu-se a passar agrave accedilatildeo em vez de ser viacutetima dela Miguel foi morto no palaacutecio

de Satildeo Mamede no AM84 637685 agrave terceira hora da noiteraquo86

Este episoacutedio podia ter passado apenas por mais um entre muitos outros que marcaram

a intriga poliacutetica bizantina natildeo fora o caso de ter contribuiacutedo para depor toda uma dinastia

Quando Miguel III sucumbiu agraves matildeos do seu favorito Basiacutelio tambeacutem a linha amoriana se

finou e a famiacutelia macedoacutenica emergiu em seu lugar Tomada por muitos como a casa imperial

mais brilhante na histoacuteria de Bizacircncio87 pretendemos neste segundo capiacutetulo analisar os

primeiros anos desta linhagem Estabelecemos como espetro cronograacutefico o periacuteodo entre o

ano de 867 quando Basiacutelio I sobe ao poder e instaura a dinastia macedoacutenica e 912 o ano em

que o autor (atribuiacutedo) do Taktikaacute o basileuacutes Leatildeo VI abandona o mundo dos vivos Nesse

sentido decidimos dividir este capiacutetulo em dois subcapiacutetulos o primeiro estaacute direcionado

para o reinado de Basiacutelio I e para as medidas que tomou para legitimar a sua posiccedilatildeo muitas

delas centradas em torno de algumas bem-sucedidas campanhas militares o segundo iraacute

abordar o reinado de Leatildeo VI em especial os conflitos beacutelicos que pautaram o seu reinado e a

forma como o basileuacutes os enfrentou bem como alguns aspetos de cariz cultural e religioso

21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886)

O novo basileuacutes era um haacutebil jogador poliacutetico que ascendeu rapidamente por entre as

principais esferas de poder bizantinas apoacutes a sua chegada a Constantinopla Esta vertiginosa

ascensatildeo deveu-se agrave constituiccedilatildeo fiacutesica de Basiacutelio ao apadrinhamento do Macedoacutenico por

vaacuterias personalidades importantes da capital e no que toca por exemplo ao lsquoSynopsis

Historion de Joatildeo Skylitzes a certos auspiacutecios divinos88 A progressatildeo acabou por chamar a

84 Anno Mundi 85 867 dC 86 Vide Joatildeo Skylitzes lsquoSynopsis Historion Traduccedilatildeo WORTLEY John (2010) John Skylitzes A Synopsis of

Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press pp 114-115 87 MONTEIRO J G ndash Op cit p 74 88 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 121-123

29

atenccedilatildeo do basileuacutes (aparentemente apoacutes uma demonstraccedilatildeo de forccedila durante um combate

com um buacutelgaro) que lhe outorgou vaacuterios tiacutetulos de relevo proacuteximos da autoridade imperial

Assim tornou-se membro da Hetaireia em 856857 prostrator e por fim parakoimṓmenos

em 864 apoacutes a queda em desgraccedila do seu antecessor Damiano por ofender o ceacutesar de entatildeo

(Bardas o tio de Miguel III)89 No ano seguinte casou com a amante de Miguel III Eudoacutexia

Ingerina com quem havia de gerar o seu secundogeacutenito o futuro Leatildeo VI em 86690

Foi durante o tempo em que exerceu estas funccedilotildees que as tensotildees entre o basileuacutes e o

seu tio atingiram o cliacutemax resultando no assassinato de Bardas em 867 pouco antes do

lanccedilamento de uma expediccedilatildeo para reconquistar a ilha de Creta Quem substituiu o ceacutesar foi

Basiacutelio que muito rapidamente viu a sua amistosa relaccedilatildeo com Miguel III deteriorar-se ateacute

culminar no assassinato do uacuteltimo dos Amorianos As razotildees disto ainda satildeo discutidas teraacute o

ato sido cometido em ldquoautodefesardquo como aponta Skylitzes com Basiacutelio a ver-se nas mesmas

circunstacircncias que o seu antecessor Bardas Ou teratildeo antes sido as ambiccedilotildees do co-imperador

a levar a melhor sobre a lealdade ao basileuacutes levando-o a cobiccedilar o trono

Independentemente das circunstacircncias e de acordo com o professor de Cardiff Shaun

Tougher laquoo assassinato era talvez inevitaacutevel de uma maneira ou de outraraquo91

O impeacuterio que Basiacutelio usurpou encontrava-se na nossa opiniatildeo relativamente bem

Apesar de ainda natildeo ser a superpotecircncia em que se iria tornar um seacuteculo depois foi

porventura entatildeo que se comeccedilaram a dar os primeiros passos nessa direccedilatildeo em grande parte

graccedilas agrave accedilatildeo da dinastia de Amoacuterio e dos seus associados Durante o reinado de Miguel III

em termos religiosos foi posto um ponto final na Questatildeo Iconoclasta que exerceu uma

grande pressatildeo sobre os oacutergatildeos de poder do Impeacuterio e gerou uma violenta clivagem na

estabilidade interna de Bizacircncio e da Igreja Ortodoxa Com o fim do Iconoclasmo

continuaram a existir diferenccedilas e divisotildees na Igreja mas estas jaacute natildeo se mostravam tatildeo

evidentes Apesar disso as clivagens mantinham-se e traduziam a rivalidade entre o poder

temporal e o espiritual forccedilas que em Bizacircncio se mostravam mescladas ou ateacute sinergeacuteticas

Assim foi tambeacutem com a deposiccedilatildeo do patriarca Inaacutecio que foi substituiacutedo pelo laico Foacutecio92

em 858 Inaacutecio havia sido deposto quando se comeccedilou a opor a vaacuterias decisotildees do ceacutesar

Bardas num processo que nunca seria aceite pelo papado e demais apoiantes do antigo

patriarca que se opuseram veementemente a Foacutecio durante o seu primeiro ldquomandatordquo

89 Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 90 Ainda hoje se discute se Leatildeo seraacute realmente filho de Basiacutelio ou se porventura seraacute antes filho de Miguel III

Para natildeo nos dispersarmos nesta questatildeo vide TOUGHER S (1997) ndash Op cit pp 42-67 91 Idem Ibidem p 30 92 Foacutecio foi tonsurado a 20 de dezembro e ascendeu ao patriarcado no dia de Natal Cf Idem Ibidem p 69

30

Em termos militares Bizacircncio comeccedilava a entrar no seu apogeu pelo menos a

Oriente Na Aacutesia Menor apoacutes vaacuterios anos de conflito os Bizantinos tinham quebrado a

empunhadura da espada aacuterabe o exeacutercito do emirado de Melitene foi destroccedilado nas batalhas

de Marj al-Usquf e Lalacatildeo93 tendo com ele sido eliminados o emir Omar e o seu filho bem

como Karbeias o liacuteder da seita pauliciana que se tinha aliado aos Aacuterabes Graccedilas a estes

resultados os exeacutercitos romanos conseguiram invadir o emirado de Melitene e o ldquoEstadordquo

Pauliciano tendo sido no decurso desta expediccedilatildeo que tombou Ali o Armeacutenio emir de Tarso

Esta atitude ofensiva pouco tiacutepica da estrateacutegia bizantina natildeo teraacute rendido grandes ganhos

territoriais pois tinha como principal objetivo a recolha de prisioneiros e de botim bem como

o enfraquecimento dos poderes regionais muccedilulmanos da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia centrados

em torno dos al-thugur os emirados de Melitene e de Tarso No entanto pode servir como

exemplo para um comportamento mais audacioso de Bizacircncio que passava a levar com cada

vez mais frequecircncia a guerra ao territoacuterio dos seus inimigos

Os sucessos militares da Aacutesia Menor natildeo se repercutiam no entanto no Ocidente Em

827 forccedilas muccedilulmanas ao serviccedilo da dinastia aglaacutebida desembarcam na Siciacutelia a convite de

um oficial da marinha chamado Eufeacutemio Este foi o iniacutecio do moroso processo de conquista

da ilha estrategicamente mais importante do Mar Mediterracircneo pelo emirado da Ifriacutequia Em

setembro de 831 a cidade de Palermo capital bizantina da Siciacutelia caiu Dez anos depois os

muccedilulmanos jaacute eram senhores de um terccedilo do territoacuterio da ilha a parte ocidental com a

conquista das cidades de Platani Cantabellota Corleone e do porto de Trapaacuteni94 Entre 841 e

849 aproximam-se perigosamente dos centros fortificados da ilha com a conquista de

Messina (entre 842-843) de Moacutedica (845) e de Lentini (846) e com o extermiacutenio da

guarniccedilatildeo de Ragusa (848)95 A ameaccedila aglaacutebida tornou-se ainda mais perigosa com a queda

de Castrogiovanni (atual Enna) em 859 o que permitiu consolidar a conquista do interior da

ilha e almejar o controlo da costa oriental ainda em matildeos bizantinas96 As ambiccedilotildees

muccedilulmanas projetaram-se entatildeo para Taormina e Siracusa Miguel III ainda tentou reverter a

situaccedilatildeo mas a frota e o exeacutercito que enviou sob o comando de Constantino Contomita

foram derrotados por al-Abbas ibn al-Fadl97

Noutra frente no Sul de Itaacutelia os Sarracenos tambeacutem fizeram sentir a sua presenccedila

Em 835 a convite do ducado de Naacutepoles os primeiros soldados aacuterabes entraram em Itaacutelia para

93 Sobre esta batalha vide WORTLEY J ndash Op cit pp 100-101 94 Vide METCALFE Alex (2009) The Muslims of Medieval Italy Edinburgo Edinburgh University Press p9

e RAVEGNANI Giorgio (2004) I Bizantini in Italia Bolonha Il Mulino p149 95 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p 149 96 Vide METCALFE A ndash Op cit pp 14-15 97 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p149

31

servir como auxiliares na luta contra o principado de Benevento98 Natildeo demorou ateacute

comeccedilarem a agir por vontade proacutepria em 838 saquearam Brindisi derrotaram um exeacutercito

enviado pelo priacutencipe Sicardo de Benevento e tomaram ainda Tarento uma das cidades mais

importantes da Apuacutelia onde formaram um emirato99 Em 840 uma frota aacuterabe derrota a

marinha veneziana e saqueia a costa do Adriaacutetico enquanto no ano seguinte Bari cai em

matildeos sarracenas tornando-se outro emirato O arrojo aacuterabe aliado agrave falta de acordo entre as

principais potecircncias de Itaacutelia (Lombardos Francos e Bizantinos) fecirc-los atacar Roma e

saquear as basiacutelicas de Satildeo Pedro e de Satildeo Paulo em 846100 Com o principado de Benevento

destroccedilado pela guerra civil e pelas depredaccedilotildees aacuterabes apenas os impeacuterios dos Francos e dos

Romanos poderiam fazer frente agraves incursotildees e conquistas muccedilulmanas no Sul de Itaacutelia mas a

resposta ainda demorou a vir Soacute vinte anos depois eacute que o rei Luiacutes II de Itaacutelia decidiu agir

pessoalmente comandando o seu exeacutercito contra a ameaccedila norte-africana natildeo logrando

contudo alcanccedilar vitoacuterias significativas Quando Basiacutelio I sobe ao trono encontra a Siciacutelia

presa por um fio e o Sul de Itaacutelia em anarquia dividido em confrontos entre os Aglaacutebidas do

Norte de Aacutefrica os priacutencipes lombardos locais e os caroliacutengios italianos de Luiacutes II

As primeiras poliacuteticas do novo basileuacutes tinham de ser direcionadas para legitimar a

sua dinastia e ele sabia bem o que fazer tendo em conta as circunstacircncias que o impeacuterio vivia

Em primeiro lugar comeccedilou por associar ao poder os seus filhos mais velhos Constantino

(um fruto do primeiro casamento) e Leatildeo Prometeu ainda o primogeacutenito em noivado agrave filha

do rei caroliacutengio de Itaacutelia Luiacutes II de forma a poder selar tambeacutem uma alianccedila com este De

seguida encerrou a questatildeo religiosa que dilacerava a igreja de Roma e o patriarcado de

Constantinopla ao depor Foacutecio e ao colocar Inaacutecio de novo no patriarcado101 enquanto

lanccedilava uma campanha de conversatildeo forccedilada dos Judeus102

O Macedoacutenico tambeacutem impocircs a legitimidade do seu trono pelas armas Abordemos

este assunto geograficamente O que faltava a Basiacutelio fazer a Oriente Com os emirados

orientais ainda debilitados restava a Basiacutelio um grande problema na regiatildeo o ldquoEstadordquo

Pauliciano Apoacutes a morte de Karbeias em 864 a naccedilatildeo desta heresia ficou aos cuidados de

Crisoacutequero o seu sobrinho e cunhado que recomeccedilou os saques na Anatoacutelia no ano da morte

de Bardas103 O novo liacuteder pauliciano mostrou-se um general capaz e os seus raides jaacute

98 Vide Idem Ibidem p 152 99 Vide METCALFE A ndash Op cit p17 100 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p153 101 Para uma histoacuteria breve do Cisma cf TOUGHER S ndash Op cit pp31 e 32 e TREADGOLD Warren (1997)

A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University Press pp 451-452 e 454-455 102 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 33 103 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 454

32

atingiam as imediaccedilotildees de Niceia de Nicomeacutedia e de Eacutefeso104 aquando da entronizaccedilatildeo de

Basiacutelio I Foi contra esta seita que Basiacutelio virou a sua atenccedilatildeo a leste De acordo com Joatildeo

Skylitzes105 em 871 Basiacutelio comandou pessoalmente uma expediccedilatildeo contra Tephrike a

capital dos Paulicianos mas incapaz de a tomar voltou-se para as regiotildees envolventes

chegando a assediar (e ateacute pensou subjugar) Melitene Esta campanha apesar de natildeo ter posto

fim agrave ameaccedila hereacutetica teraacute resultado em muitos prisioneiros e despojos foi tal o seu sucesso

que se organizou numa marcha triunfal aquando do regresso a Constantinopla106

No ano seguinte Crisoacutequero voltou a atacar territoacuterio bizantino conseguindo atingir a

cidade de Ancyra (atual Ancara) Desta vez veio ao seu encontro o domestikoacutes de Basiacutelio

Cristoacutevatildeo que seguiu os preceitos da estrateacutegia bizantina e natildeo deu de imediato luta ao liacuteder

pauliciano preferindo segui-lo de longe limitando o raio de accedilatildeo dos saques inimigos

sempre que possiacutevel Quando Crisoacutequero decide voltar para leste Cristoacutevatildeo envia um

pequeno exeacutercito composto por membros dos themaacuteta de Charsianon e dos Armeniacuteacos (c

4000 a 5000 homens) liderado pelos respetivos strateacutegoicedil para o seguir de forma a perceber

o seu objetivo retirar para Tephrike ou atacar as terras bizantinas no limes Consoante a

resposta tambeacutem mudaria a atitude da forccedila laquotemaacuteticaraquo no primeiro caso natildeo pensaria mais

no assunto e voltaria para traacutes no uacuteltimo avisaria o domestikoacutes e aguardaria novas ordens

Em uacuteltima anaacutelise segundo Skylitzes e Haldon107 o objetivo de Crisoacutequero natildeo

chegou a ser descoberto pois as forccedilas bizantinas atacaram o acampamento pauliciano no

vale de Bathys Ryax durante a noite colocando o adversaacuterio em debandada e matando

Crisoacutequero108 O decesso do liacuteder e a destruiccedilatildeo do seu exeacutercito puseram fim agrave capacidade

ofensiva dos Paulicianos e obrigaram os emirados a manterem-se por algum tempo na

defensiva apoacutes terem perdido um precioso aliado no limes oriental bizantino O coup de

gracircce no ldquoEstadordquo da heresia dualista foi dado em 879 quando Cristoacutevatildeo tomou Tephrike no

decorrer de uma campanha de Basiacutelio contra o emirado de Tarso

O que mais haveraacute a dizer sobre os conflitos nesta regiatildeo durante o reinado do

Macedoacutenico Que tiveram uma periodicidade quase anual e que salvo raras exceccedilotildees se

traduziram num grande nuacutemero de vitoacuterias bizantinas em especial na deacutecada de 870 Destes

104 Vide Idem Ibidem p457 105 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 133-135 106 De acordo com Warren Treadgold esta campanha teve um desfecho diferente tendo as forccedilas bizantinas sido

derrotadas e o imperador quase capturado Por outro lado os eventos vitoriosos desta campanha enunciada por

Skylitzes satildeo situados soacute em 873 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 457 107 Haldon no entanto remete esta batalha para 87 HALDON J (2001) ndash Op cit p 85 108 Supostamente este ataque teraacute sido motivado pela necessidade de descobrir qual dos themaacuteta tinha os

homens mais corajosos vide HALDON J (2001) Op cit p 87 e WORTLEY J ndash Op cit p 136

33

anos bem sucedidos a leste destacamos 879 quando o exeacutercito imperial109 arrasou o emirado

de Tarso saqueou as fortalezas de Germaniceia e Adana e ainda conseguiu saquear o Norte da

Mesopotacircmia (supostamente) tendo ainda posto um fim ao chamado laquoEstado paulicianoraquo A

deacutecada seguinte por outro lado mostrou-se algo perniciosa para Constantinopla nesta regiatildeo

mas para jaacute voltemos o nosso olhar para o Ocidente

A Itaacutelia e a Siciacutelia foram dois alvos de atenccedilatildeo prioritaacuteria para Basiacutelio ao longo do seu

principado O domiacutenio sarraceno na regiatildeo tanto na Siciacutelia como no Sul de Itaacutelia era um

risco que o basileuacutes natildeo queria correr pelo que decidiu aplicar medidas no sentido de evitar

esse cenaacuterio Logo no ano que se seguiu agrave sua ascensatildeo Basiacutelio enviou duas frotas para oeste

destinadas agrave Siciacutelia e agrave Dalmaacutecia O resultado foi agridoce a frota que socorreu Ragusa sob o

comando do almirante Niquetas Oryfas conseguiu afugentar o inimigo aacuterabe110 por seu lado

a forccedila enviada para a Siciacutelia foi desbaratada pouco depois de desembarcar111

Em 869 as coroas imperiais do Ocidente e do Oriente aliam-se para pocircr fim ao

emirado de Bari o exeacutercito franco de Luiacutes II cercou a cidade por terra enquanto a marinha

bizantina bloqueava o acesso pelo mar Esta operaccedilatildeo redundaria num fracasso parcial

Apesar de Luiacutes II ter logrado conquistar a cidade em 871 fecirc-lo sozinho dado que os

Romanos abandonaram o asseacutedio antes de este ser concluiacutedo por desentendimentos entre os

dois lados112 No entanto este foi um dos uacuteltimos contratempos bizantinos no sul de Itaacutelia

No ano 872 um exeacutercito bizantino liberta a cidade de Salerno cercada pelos Aacuterabes

desde o ano anterior enquanto em 873 uma outra forccedila reclama Otranto em nome do

impeacuterio A agressatildeo aacuterabe natildeo ameaccedilava abrandar pois em 875 raides aacuterabes na Campacircnia

voltam a ameaccedilar Roma o que resultou num pedido de ajuda papal a Bizacircncio ao mesmo

tempo que uma outra forccedila sarracena assola Comacchio junto ao Golfo de Trieste No ano

seguinte os Bizantinos entram em Bari a pedido dos habitantes da cidade

Enquanto isso o poder aglaacutebida comeccedilava a fazer soccedilobrar o poder bizantino na

Siciacutelia No ano 869 o governador aacuterabe da Siciacutelia tentou tomar Taormina mas foi assassinado

por um dos seus soldados antes de ser bem-sucedido tendo um cerco aacuterabe a Siracusa falhado

tambeacutem por essa altura A cidade de Arquimedes foi cercada de novo sem sucesso em 873

mas a tenaz aglaacutebida fechou-se firmemente sobre ela em 877 causando a sua queda no ano

seguinte A razatildeo disto teraacute sido uma alegada indisponibilidade da frota imperial para socorrer

a cidade pois estava demasiado atarefada com o transporte de material para a construccedilatildeo de

109 Neste caso usamos ldquoimperialrdquo para indicar que estava sob o comando do basileuacutes 110 Vide WORTLEY J ndash Op cit p143 111 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p456 112 Ainda assim a cidade cairia nas matildeos de Luiacutes II dois anos mais tarde

34

uma igreja em Constantinopla113 A conquista aglaacutebida da ilha estava praticamente concluiacuteda

com apenas a fortaleza de Taormina a manter-se em matildeos bizantinas um ponto isolado em

territoacuterio agora hostil e que nada podia fazer para conter as ambiccedilotildees aglaacutebidashellip

A consumaccedilatildeo da conquista da Siciacutelia abriu novas portas ao emirado do Norte de

Aacutefrica Em 880 o emir Ibrahim II liderou pessoalmente a sua frota numa expediccedilatildeo ao mar

Joacutenico onde saqueou as cidades de Kefaleacutenia e de Zakynthos O arrojado ataque norte-

africano foi respondido de forma ceacutelere por Basiacutelio que envia o droungaacuterios totilden ploiumlmon

Nasar ao comando de 45 navios de guerra e desbarata a frota adversaacuteria durante um audaz (e

praticamente impossiacutevel) ataque noturno114 No contra-ataque que se seguiu Nasar ataca a

Siciacutelia coloca a ferro e fogo os arredores de Palermo e derrota uma frota aacuterabe em Punta di

Stilo (zona litoral sul da Calaacutebria) durante o seu regresso ao territoacuterio romano

O iacutempeto desta accedilatildeo levou os Bizantinos a lanccedilarem um conjunto de campanhas no

Sul de Itaacutelia que foram bem-sucedidas no mesmo ano Uma primeira expediccedilatildeo naval sob o

comando de trecircs oficiais o spathaacuterios Gregoacuterio o turmarca Teophylaktos e o komeacutes

Dioacutegenes derrota uma frota muccedilulmana ao largo de Naacutepoles De seguida uma expediccedilatildeo

tambeacutem com trecircs comandantes o protovestiaacuterio Procoacutepio o strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo e o

almirante Nasar derrota outra forccedila naval muccedilulmana desta feita junto a Milazzo na Siciacutelia

A expediccedilatildeo percorreu depois a Calaacutebria e a Apuacutelia oriental tomando grande parte das

possessotildees aacuterabes na regiatildeo enquanto se encaminhava para Tarento Na batalha que se seguiu

na proximidade desta cidade as forccedilas bizantinas derrotaram as tarentinas e apesar de

Procoacutepio ter morrido em combate entraram vitoriosas na cidade As vitoacuterias bizantinas na

regiatildeo prosseguiram depois em 885 com Niceacuteforo Focas o Velho115 que submeteu as

restantes fortalezas aacuterabes na Calaacutebria (como Amantea Tropea e Santa Severina) pela forccedila e

que submeteu os Lombardos da Apuacutelia pela via diplomaacutetica116

Este personagem da histoacuteria bizantina merece que lhe sejam dedicadas algumas

palavras alusivas ao seu percurso no reinado de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Niceacuteforo Focas eacute o

primeiro membro da famiacutelia dos Focas uma importante linhagem da aristocracia militar

bizantina que teraacute um papel preponderante na laquoReconquistaraquo Aparentemente Niceacuteforo seria

descendente de um aacuterabe convertido ao cristianismo vindo de Tarso117 O Velho teraacute nascido

113 Vide TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 33 114 Vide PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy

ca 500-1204 Leiden e Boston Brill pp 65 e 66 115 Que teria sob o seu comando um conjunto de soldados paulicianos liderados por Diacoacutenitzes o mesmo que

presenciou a morte de Crisoacutequero Vide WORTLEY J ndash Op cit p 185 116 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 157-158 117 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 62

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por volta de 855 e serviu Basiacutelio com distinccedilatildeo sendo agraciado com vaacuterios tiacutetulos

manglabiacutetēs118 em 872873 quando atingiu a idade adulta depois foi promovido a

protostraacutetor tornou-se strategoacutes de Charsianon antes de 885 e nesse ano foi o comandante

da expediccedilatildeo que projetou o poderio bizantino no Sul de Itaacutelia119 depois de ser chamado de

volta a Constantinopla apoacutes a morte de Basiacutelio foi condecorado com o tiacutetulo de domestikoacutes

por Leatildeo VI e combateu contra Simeatildeo em 895 tendo abandonado o cargo no ano seguinte

Para aleacutem das operaccedilotildees militares jaacute referidas teraacute acompanhado Basiacutelio I numa

campanha contra Samosata em 873 Liderou ainda um contra-ataque contra o emirado de

Tarso quando ainda era domestikoacutes no qual conseguiu recolher muito botim e prisioneiros120

enquanto o exeacutercito tarsiano atacava territoacuterio bizantino Este registo mostra que o Velho era

um excelente general com enorme capacidade de comando e um estratego brilhante Para

Leatildeo VI este strategoacutes era o modelo ideal para aqueles que ambicionassem ocupar esse

cargo tendo direito a vaacuterias menccedilotildees no Taktikaacute Por outro lado Niceacuteforo o Velho teria tal

fama que era temido por Simeatildeo pois (supostamente) o czar da Bulgaacuteria soacute se teraacute lanccedilado ao

ataque novamente contra Constantinopla apoacutes a morte do primeiro Focas em 896121

No interluacutedio das campanhas de conquista de Tarento e das de Niceacuteforo Focas entre

880-885 destacamos a realizaccedilatildeo de duas alianccedilas entre os principados lombardos de Naacutepoles

e Salerno primeiro em 881 e depois em 883 Esta coligaccedilatildeo conseguiu destruir vaacuterias bases

de saqueadores sarracenos e empurraacute-los para a foz do rio Garigliano junto a Gaeta onde os

Aacuterabes se fortificaram e a partir de onde passaram a iniciar os seus raides sobre a Campacircnia

Mau grado a perda de importantes pontos estrateacutegicos no Mediterracircneo como

Siracusa e Malta por volta de 870 a marinha bizantina conseguiu vencer algumas vezes as

forccedilas que se lhe opunham O droungaacuterios Niquetas Oryfas enfrentou os Aacuterabes em duas

ocasiotildees no ano de 873 derrotou os piratas cretenses no Golfo de Saros tendo feito naufragar

vinte navios e em 874 venceu novamente uma frota aacuterabe desta feita no Golfo de

Corinto122 Por outro lado deu-se uma reconquista temporaacuteria da ilha de Chipre entre 875 e

118 Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas portas no palaacutecio Vide KAZDHAN

P (ed) (1991) The Oxford Dictionary of Byzantium Volume II Oxford Oxford University Press p 1284 119 Cf supra I21 120 Esta campanha teraacute decorrido em 886 e 895 ano em que abandona o cargo de domestikoacutes de acordo com

Cheynet vide CHEYNET J ndash Op cit p480 Shaun Tougher alega que de acordo com Dagron existiraacute a

possibilidade de esta campanha se ter realizado apoacutes a guerra contra Simeatildeo ou seja apoacutes 896 Vide DAGRON

Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore Phocas (963-969)

Paris pp 168-169 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 121 Existem outras teorias sobre o destino de N Focas o Velho cf TOUGHER S ndash Op cit pp 205 e 206 122 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 23

36

882 cuja repetida perda parece ter sido contrabalanccedilada pela criaccedilatildeo dos novos themaacuteta

mariacutetimos de que falaacutemos no capiacutetulo anterior123

Os anos felizes de Basiacutelio I no que respeita agrave sua vida pessoal e agrave frente oriental

parecem ter terminado em 879 Nesse mesmo ano o seu primogeacutenito Constantino morre o

que o obriga a associar ao poder em conjunccedilatildeo com Leatildeo outro filho dele Alexandre

Apesar do descontentamento de Leatildeo ele foi obrigado a casar com uma parente afastada

Teoacutefano e a sua amante Zoeacute Zautzina foi obrigada a casar mais tarde Quem parece ter

valido ao imperador durante o seu luto foi o patriarca Foacutecio (regressado ao seu anterior ofiacutecio

apoacutes a morte de Inaacutecio em 877) e o bispo de Euceta Teodoro Santabarenos Nesse ano Foacutecio

conseguiu ainda consolidar o seu tiacutetulo patriarcal num Conciacutelio Ecumeacutenico apesar de natildeo

contar com o apoio total do papa Joatildeo VII ainda assim desta vez natildeo houve nenhum Cisma

Em 882 Basiacutelio foi derrotado pessoalmente agraves portas de Melitene enquanto no ano

seguinte o eunuco Yazaman emir de Tarso derrotou decisivamente uma forccedila bizantina

tendo passado pela espada os strateacutegoi da Capadoacutecia e da Anatoacutelia num ataque noturno Mais

tarde nesse ano Yazaman foi derrotado enquanto atacava Euripos pelo strategoacutes da Heacutelade

Oiniates A relaccedilatildeo de Basiacutelio com o filho mais velho deteriora-se novamente em 883 quando

o basileuacutes eacute informado por Santabarenos de que Leatildeo (supostamente) conjurava contra o pai

para tomar o trono Esta intriga levou ao aprisionamento do seu herdeiro por trecircs anos tendo

sido apenas libertado apoacutes Basiacutelio ter esmagado um conluio liderado por Joatildeo Curcuas contra

ele O basileuacutes apercebera-se de que precisava de manter a sua famiacutelia unida e forte e

reassegurar uma sucessatildeo legiacutetima ao trono pelo que tentou reconciliar-se com o filho124 Um

mecircs depois por causas ainda desconhecidas Basiacutelio deixa o mundo dos vivos e no trono

puacuterpura passa-se a sentar Leatildeo VI mais tarde conhecido como o Saacutebio125

O que haveraacute a dizer do reinado de Basiacutelio I Em grande parte acreditamos que foi

um reinado bem-sucedido A ameaccedila sarracena apesar de ter arrebatado a ilha de Malta e a

quase totalidade da Siciacutelia foi controlada e ateacute rechaccedilada tanto na Itaacutelia meridional como no

limes oriental nestas regiotildees podemos ateacute dizer que a soberania bizantina se comeccedilou a fazer

sentir graccedilas agrave aniquilaccedilatildeo da seita pauliciana Em termos navais Bizacircncio tambeacutem natildeo

atravessou dificuldades de maior apesar de ter perdido importantes possessotildees no

Mediterracircneo Nos Balcatildes a situaccedilatildeo manteve-se relativamente calma graccedilas agrave conversatildeo dos

Buacutelgaros ao cristianismo o que gerou uma relaccedilatildeo paciacutefica algo fraterna entre

123 Cf supra 13 124 Vide TOUGHER S ndash Op cit p35 125 Poderaacute ter morrido num acidente de caccedila viacutetima de doenccedila prolongada ou embora menos provaacutevel a mando

de Leatildeo Vide WORTLEY J ndash Op cit p 163

37

Constantinopla e Preslav Onde a governaccedilatildeo de Basiacutelio I parece ter corrido pior foi mesmo a

niacutevel interno primeiro com a morte precoce do primogeacutenito126 depois com os

desentendimentos com o seu segundo filho e herdeiro e por fim com o aprisionamento de

Leatildeo Ainda assim a sucessatildeo foi relativamente tranquila A niacutevel religioso a Igreja Ortodoxa

atingiu um niacutevel satisfatoacuterio de unidade e de estabilidade sob a lideranccedila de Foacutecio e conseguiu

expandir a sua esfera de influecircncia para a Bulgaacuteria e para a Seacutervia127

22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912)

laquoUm imperador deve fazer a guerra como Basiacutelio I ou escrever sobre a guerra como Leatildeo VIraquo128

O homem que sobe ao poder em 886 e que mais tarde seraacute apelidado de O Saacutebio

distingue-se pelo seu interesse pela cultura pela religiatildeo e na nossa opiniatildeo pela guerra

Leatildeo eacute autor de uma obra imensa A niacutevel judicial temos as Novelle uma adiccedilatildeo agraves Basilikaacute

uma revisatildeo juriacutedica (a primeira do geacutenero que se saiba) do Corpus Iuris Iustinianos (seacutec

VI) iniciada no reinado do seu pai (possivelmente incitada por Foacutecio129) e promulgada em

888 Leatildeo escreveu um livro oracular que parece ter atingido uma enorme popularidade

sendo copiado vaacuterias vezes durante a Baixa Idade Meacutedia130 A ele satildeo-lhe ainda atribuiacutedas

muitas outras produccedilotildees literaacuterias como homilias trabalhos teoloacutegicos compilaccedilotildees de

maacuteximas e livros interpretativos dos fenoacutemenos Mais importante para o contexto da nossa

dissertaccedilatildeo eacute o facto de ter escrito ainda dois tratados militares o primeiro quando ainda era

jovem ndash o Problemaacuteta que natildeo passaria de um conjunto de perguntas relacionadas com

diversas situaccedilotildees militares as quais eram respondidas de seguida com paraacutefrases de trechos

do Stratēgikoacuten e o outro o Taktikaacute de que falaremos na segunda parte desta dissertaccedilatildeo

Para introduzir o reinado de Leatildeo devemos comeccedilar por referir que foram anos de

governaccedilatildeo incendiados pela necessidade de produzir um herdeiro Infelizmente esta questatildeo

iria colocar o autokraacutetor131 em rota de colisatildeo com o patriarcado organizaccedilatildeo com quem

aliaacutes teve uma relaccedilatildeo difiacutecil Centremo-nos nas raiacutezes desta rivalidade o bispo Teodoro

126 Uma circunstacircncia incontrolaacutevel por ele no entanto 127 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 456 128 Frase de Paul Lemerle citada por Eric McGeer in MCGEER E (2003a) ndash Two military orations of

Constantine VII In NESBITT John W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden

e Boston Brill p 111 129 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 10 130 Idem Ibidem p 11 131 Cf infra 41

38

Santabarenos a quem Leatildeo VI nunca perdoou o envolvimento no seu encarceramento por trecircs

anos tornando-se assim no primeiro alvo a abater

A busca de justiccedila (ou de vinganccedila) que o autokraacutetor empreendeu permitiu-lhe matar

dois coelhos de uma soacute cajadada vingar-se de Santabarenos132 e livrar-se de Foacutecio que na

oacutetica de Leatildeo representava conjuntamente com os seus apoiantes um perigo para a sua

soberania133 Esta parece ser a uacutenica razatildeo para ter sido deposto e julgado uma vez que o

culto patriarca teraacute salvo em conjunto com Styliano Zaotzeacute (o pai da amante de Leatildeo) o

Saacutebio de ter ficado cego quando Basiacutelio o prendeu134 Independentemente das circunstacircncias

o antigo mestre do imperador135 foi deposto e encerrado num mosteiro em 887 enquanto

Teodoro foi julgado aprisionado e cegado ainda no ano da ascensatildeo de Leatildeo

Os patriarcas que se seguiram estiveram sob a responsabilidade deste basileuacutes que

desejava exercer a sua autoridade sobre o patriarcado de Constantinopla Logo em 886 elege

um dos seus irmatildeos mais novos136 Estevatildeo137 como patriarca cargo que iraacute ocupar ateacute agrave sua

morte em 893 Segue-se Antoacutenio Cauleias que logrou com Leatildeo reconciliar os disciacutepulos de

Foacutecio e os seus opositores pondo fim agrave queziacutelia Agrave morte de Cauleias em 901 seguiu-se

Nicolau o Miacutestico um amigo pessoal do imperador mas que lhe iraacute fazer a vida negra138

A grande questatildeo religiosa do reinado de Leatildeo VI foi a Tetragamia uma violenta

poleacutemica religiosa (e poliacutetica) que opocircs o Saacutebio ao patriarca Nicolau O que estava em causa

era o quarto casamento do imperador que jaacute era viuacutevo pela terceira vez e a legitimidade do

filho dessa nova relaccedilatildeo A sua uniatildeo com Teoacutefane com quem fora obrigado a casar pelos

pais em 879 tinha sido bastante atribulada primeiro com a oposiccedilatildeo de Leatildeo ao casamento

depois com o isolamento dele no Palaacutecio em regime de prisatildeo seguidamente pela morte da

filha de ambos Eudoacutecia em 983 e por fim pelo espetro do romance reatado de Leatildeo e Zoeacute

Zautzina conhecido de todos na corte imperial Todos estes fatores contribuiacuteram para um

casamento frio e complicado que terminou em 895 ou 896 com a morte de Teoacutefane139

132 Alegadamente este teria engendrado a prisatildeo de Leatildeo quando este tentou advertir o pai dos efeitos da

influecircncia de Teodoro vide TOUGHER S ndash Op cit p73 133 De acordo com Shaun Tougher Foacutecio teria exercido algum domiacutenio nas accedilotildees de Basiacutelio apoacutes a sua segunda

ascensatildeo ao patriarcado em especial apoacutes a morte de Constantino por intermeacutedio de Teodoro Santabarenos

Vide TOUGHER S ndash Op cit pp 71-72 134 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p460 135 Foacutecio havia voltado agrave corte nos iniacutecios da deacutecada de 70 do seacuteculo IX a pedido de Basiacutelio para ser tutor dos

filhos do basileuacutes Vide TOUGHER S ndash Op cit p32 136 O seu irmatildeo mais novo Alexandre tinha sido associado ao trono com a morte de Constantino e tornou-se co-

imperador quando este se tornou imperador Seria Alexandre que iria suceder ao Saacutebio apoacutes a sua morte em 912 137 Supostamente como este nascera no tempo em que Miguel III ainda era vivo tambeacutem haacute a possibilidade de

ser filho do uacuteltimo Amoriano Estevatildeo foi castrado e tornou-se monge a mando de Basiacutelio 138 Ironicamente nas palavras de Shaun Tougher TOUGHER S ndash Op cit p38 139 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 140

39

Zoeacute tornou-se basiacutelissa apoacutes um casamento que natildeo foi digno de um imperador

presidido por um padre e natildeo pelo patriarca em 898 Tambeacutem esta uniatildeo foi muito curta pois

Zoeacute faleceu em 899 ou 900 sem ter produzido um filho varatildeo O terceiro enlace teraacute

suscitado algumas resistecircncias no patriarcado mas foi aceite e Leatildeo casou com Eudoacutecia

Baianeacutes que teraacute ateacute engravidado Tambeacutem este conjuacutegio teraacute um final infeliz devido agrave morte

de Eudoacutecia durante o parto seguida da do filho Basiacutelio pouco tempo depois

As relaccedilotildees entre o basileuacutes e a Igreja azedaram a partir daiacute Impossibilitado de casar

novamente140 Leatildeo tomou uma amante Zoeacute Carbonopsina de quem teve um filho em 905 o

futuro Constantino VII Porfirogeneta Finalmente com um herdeiro direto Leatildeo esforccedilou-se

para o legitimar tendo para isso de o batizar e de casar com Carbonopsina141 O filho foi

batizado pelo patriarca em 906 mas o casamento natildeo foi tatildeo faacutecil de ser concretizado pois

surgiu-lhe um obstaacuteculo em frente o seu amigo Nicolau o Miacutestico O confronto entre os dois

levou primeiro agrave realizaccedilatildeo de vaacuterios siacutenodos depois ao casamento ldquopela caladardquo de Leatildeo

no Grande Palaacutecio que resultou na sua proibiccedilatildeo de participar em algumas cerimoacutenias

religiosas celebradas pelo patriarca142 e por fim agrave deposiccedilatildeo e exiacutelio de Nicolau em 907

pouco antes de um conciacutelio que tinha como objetivo perdoar o autokraacutetor

O novo patriarca escolhido pelo basileuacutes foi o synkellos Eutiacutemio por estar laquoacima de

repreensatildeo estar marcado com um selo de santidade e ser conspiacutecuo pelos seus grandes

feitos143raquo No entanto Eutiacutemio soacute autorizaria o quarto casamento144 se Leatildeo aceitasse certas

condiccedilotildees o basileuacutes teria de fazer penitecircncia o padre que realizara o casamento deveria ser

expulso da igreja Eutiacutemio natildeo coroaria a nova basiacutelissa na igreja e por fim a proibiccedilatildeo legal

definitiva de laquoquartos casamentosraquo Leatildeo VI aceitou os requisitos patriarcais e natildeo mais a

Igreja contestou a sua governaccedilatildeo

Onde o reinado de Leatildeo VI parece ter suscitado mais debate na historiografia

contemporacircnea foi mesmo nos assuntos militares e relacionados com o estrangeiro No seacuteculo

XX muitos bizantinistas que escreveram sobre o assunto (como Ostrogorksy por exemplo)

trataram o autokraacutetor como se este natildeo tivesse qualquer apreccedilo ou preocupaccedilatildeo pelos

problemas externos que assolaram o impeacuterio (e natildeo foram poucos) enquanto esteve no

trono145 A imagem de Leatildeo VI comeccedilou a mudar desde as publicaccedilotildees de Romily Jenkins e

140 Ironicamente por uma lei que o proacuteprio criara Vide Idem Ibidem p156 141 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p468 142 Vide MONTEIRO J ndash Op cit p 76 143 Vide Life of Euthymios 95 4-5 apud TOUGHER S ndash Op cit p 162 144 Que entretanto havia sido legitimado por uma bula papal vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 76 145 Vide TOUGHER S ndash Op cit pp164 e 166

40

de Patrice Karlin-Hayter146 ateacute ao capiacutetulo 7 da obra Reign of Leo VI de Shaun Tougher onde

este assunto foi abordado com detalhe Faremos um balanccedilo sucinto deste problema quando

acabarmos de relatar os principais episoacutedios militares do principado do Saacutebio e de descrever a

maneira como ele teraacute reagido a esses problemas

De que forma mudou o cenaacuterio geopoliacutetico e militar entre Basiacutelio I e Leatildeo VI A boa

sorte que Bizacircncio parecia atravessar a Oriente parecia ter comeccedilado a mudar novamente para

o lado muccedilulmano apesar de se manter o status quo na regiatildeo e de o Impeacuterio Bizantino se

manter mais na ofensiva do que os seus adversaacuterios na regiatildeo No Sul de Itaacutelia a supremacia

bizantina conquistada no reinado de Basiacutelio I parecia aguentar-se o reino caroliacutengio de Itaacutelia

caiacutera no caos poliacutetico apoacutes a deposiccedilatildeo de Carlos o Gordo (884-887) o principado de

Benevento o principal poder lombardo na regiatildeo tinha ficado em segundo plano e os dois

emirados aacuterabes da Itaacutelia meridional (Bari e Tarento) estavam destruiacutedos No entanto nesta

frente as coisas estavam prestes a mudar ainda que temporariamente No Impeacuterio da Bulgaacuteria

eacute que a situaccedilatildeo piorou para Bizacircncio quando Simeatildeo o terceiro filho de Boacuteris147 ascendeu

ao trono apoacutes uma guerra civil entre o pai e o imperador de entatildeo o seu irmatildeo Vladimir que

tentara retornar ao paganismo Como veremos Simeatildeo seria um dos grandes adversaacuterios de

Leatildeo e disputaria ativamente com Bizacircncio a supremacia sobre os Balcatildes

Comecemos por Itaacutelia onde logo em 886 Leatildeo ordena a Niceacuteforo Focas o Velho que

regresse a Constantinopla para tomar o manto de domestikoacutes A estrateacutegia bizantina de impor

e consolidar a hegemonia na regiatildeo manteve-se estabelecer laccedilos de vassalagem com os

poderes lombardos do Sul de Itaacutelia muitas vezes recorrendo agrave diplomacia ou ao envio de

tropas auxiliares para fazer frente agrave ameaccedila aacuterabe do Norte de Aacutefrica e da Siciacutelia148 Por

exemplo o priacutencipe Guaimar I de Salerno (880-901) aceitou a soberania bizantina quando

tropas imperiais o auxiliaram entre 886 e 887 tendo sido recompensado por Leatildeo VI com o

tiacutetulo de patriacutecio149 Os priacutencipes lombardos no entanto eram aliados de natureza duacutebia que

soacute aceitavam o auxiacutelio bizantino quando precisavam e que tanto se podiam unir aos

Bizantinos contra os Sarracenos como vice-versa150

Em 887 o priacutencipe Aiatildeo de Benevento (884-891) quis vingar-se de uma campanha

empreendida pelo strategoacutes Teoacutefilato na Campacircnia e tomou Bari de assalto com o apoio de

auxiliares sarracenos A resposta bizantina natildeo se fez esperar e no ano seguinte uma

146 Natildeo tivemos acesso agrave bibliografia de Jenkins 147 O czar responsaacutevel pela conversatildeo do estado buacutelgaro ao cristianismo 148 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 23 149 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 158-159 150 Sendo o duque-bispado de Naacutepoles o melhor exemplo desta praacutetica

41

expediccedilatildeo liderada pelo patriacutecio Constantino recupera a cidade quando Aiatildeo eacute abandonado

pelos mercenaacuterios sarracenos e lhe eacute recusado auxiacutelio pelo ducado de Espoleto e pelo condado

de Caacutepua Apoacutes a morte do priacutencipe em 891 o strategoacutes Symbatikios comanda um exeacutercito a

partir de Bari e toma Benevento aproveitando-se da menoridade de Urso o herdeiro de

Aiatildeo151 A conquista de Benevento foi efeacutemera pois a cidade caiu em 895 agraves matildeos do

priacutencipe Guido de Espoleto152 A reconquista foi facilitada pelo apoio da populaccedilatildeo da cidade

que estava descontente com as autoridades bizantinas que a estariam a oprimir153 ndash assim o

diz uma fonte lombarda do seacuteculo X154

Por outro lado no iniacutecio do seacuteculo X os Aglaacutebidas lanccedilaram-se novamente agrave

conquista de Itaacutelia Em 901 voltam a atacar a Calaacutebria conquistam Reacutegio e empreendem uma

nova incursatildeo naquela regiatildeo No ano a seguir eacute o proacuteprio emir aglaacutebida Ibrahim II (875-

902) a liderar as suas forccedilas em direccedilatildeo agrave Itaacutelia meridional Foi no seio dessa campanha em

902 que caiu Taormina a uacuteltima possessatildeo bizantina na Siciacutelia Apoacutes a consolidaccedilatildeo do

poder aglaacutebida naquela ilha o emir embarcou quase de imediato em direccedilatildeo ao sul de Itaacutelia

onde cercou Cosenza O asseacutedio acabou por ser mal sucedido porque Ibrahim morreu de

disenteria e a sua hoste privada da sua lideranccedila acabou por se desintegrar

Antes de prosseguirmos voltemos a nossa atenccedilatildeo para a tomada de Taormina A

questatildeo da queda de Taormina eacute uma das razotildees utilizadas para considerar Leatildeo um mau

imperador no sentido dos assuntos militares Por que razatildeo teraacute o basileuacutes entregado agrave sua

sorte a uacuteltima possessatildeo num dos pontos mais estrateacutegicos do Mediterracircneo Na nossa

opiniatildeo natildeo nos parece que tenha sido ele a deixar cair a Siciacutelia tendo em conta que ele

proacuteprio soacute tinha herdado Taormina A defesa da cidade soacute se justificava por trecircs razotildees uma

questatildeo de prestiacutegio para o Impeacuterio155 a manutenccedilatildeo dos seus habitantes na orla do poder

bizantina e a possibilidade da utilizaccedilatildeo da fortaleza como um ponto de partida para a

reconquista da Siciacutelia uma hipoacutetese completamente fora de questatildeo na altura156 porque a

grande preocupaccedilatildeo dos Bizantinos na regiatildeo era consolidar a sua hegemonia no Sul de Itaacutelia

e natildeo havia meios e condiccedilotildees navais157 para se empreender a reconquista da Siciacutelia num

151 Idem Ibidem p 159 152 Conveacutem salientar que a prioridade do Impeacuterio Bizantino na altura eram os Balcatildes onde Leatildeo VI e Simeatildeo

da Bulgaacuteria combatiam pela supremacia 153 O comando do theacutema da Lombardia que estava sedeado naquela cidade abandonou Benevento em 894 sob o

strategoacutes Barsaacutequio por estas razotildees 154 Idem Ibidem p 160 155 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 24 156 Idem Ibidem p 24 157 Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI enfrentou uma grave vaga de pirataria tanto no Mar Egeu como no

Mediterracircneo oriental

42

futuro proacuteximo Por estas razotildees concordamos com a afirmaccedilatildeo de Karlin-Hayter que diz

laquo(hellip) Taormina naquele tempo natildeo era um recurso mas sim um encargoraquo158

Enquanto isso o paradigma lombardo-bizantino no Sul de Itaacutelia muda pois as

relaccedilotildees entre Guido e Benevento rapidamente se deterioraram um facto que culminou na

uniatildeo do principado de Benevento com o ducado de Caacutepua em 901 para que ambos

pudessem fazer frente ao Imperador do Sacro Impeacuterio Esta mudanccedila no estado de situaccedilatildeo

possibilitou uma reaproximaccedilatildeo entre Lombardos e Bizantinos que se aliam para fazer frente

aos Aacuterabes que realizavam raides na Campacircnia a partir do seu laquoninhoraquo na foz do rio

Garigliano Foi com a intenccedilatildeo de criar uma espeacutecie de Liga Cristatilde para expulsar os Aacuterabes da

Campacircnia de uma vez por todas que o priacutencipe Atenolfo I de Benevento e Caacutepua enviou em

909 uma embaixada a Constantinopla presidida pelo filho Landolfo Leatildeo teraacute concordado

com o priacutencipe requerendo soacute que este se tornasse vassalo da coroa puacuterpura A operaccedilatildeo natildeo

se chegou a realizar enquanto o basileuacutes era vivo no entanto mais tarde formou-se uma nova

alianccedila cristatilde organizada pelo papa Joatildeo II em 915 que possuiacutea um importante corpo militar

bizantino sob o comando do strategoacutes da Lombardia Nicolau Piccingli A Liga Cristatilde

apoiada pela frota bizantina cercou entatildeo a base sarracena na foz do Garigliano Os Aacuterabes

natildeo conseguiram fazer frente agrave alianccedila das principais potecircncias do sul de Itaacutelia159 e foram

massacrados Com o fim daquele enclave terminaram tambeacutem as expediccedilotildees de saque

muccedilulmanas no interior da Campacircnia e da Itaacutelia Central160

Viajemos agora para os Balcatildes Como jaacute foi referido lamentavelmente para Leatildeo VI

as relaccedilotildees entre o Impeacuterio Bizantino e a Bulgaacuteria cristatilde deterioraram-se durante o seu

reinado Na segunda metade do seacuteculo IX o Estado buacutelgaro evoluiu de um khaganato pagatildeo

para um impeacuterio cristatildeo sob a alccedilada do czar Boacuteris161 O antigo khan por sua vez tornou-se

tatildeo religioso que abdicou do trono para vestir o haacutebito em 889 apoacutes ter entregado a coroa ao

seu primogeacutenito Vladimir O novo soberano foi deposto pelo proacuteprio pai em 893 quando

comeccedilou a tomar um conjunto de medidas anticristatildes e anti-bizantinas Depois de depor

158 Idem Ibidem p 24 159 Para aleacutem da frota e dos contingentes do Impeacuterio Bizantino estavam presentes corpos militares do papado e

dos principados lombardos de Caacutepua Salerno Espoleto e ateacute de Naacutepoles e Gaeta (que Ravegnani chega a

considerar filossarracenas) cidades que foram convencidas por Nicolau Piccingli a participar RAVEGNANI G

ndash Op cit p 161 160 Idem Ibidem p162 161 Para um resumo deste processo e da autonomizaccedilatildeo da Igreja Buacutelgara vide HUPCHIK Dennis P (2017) The

Bulgarian-Byzantine Wars for Early Medieval Balkan Hegemony ndash Silver-lined Skulls and Blinded Armies

Estados Unidos da Ameacuterica Palgrave Macmillan pp 136-143

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Vladimir Boacuteris voltou agrave sua vida religiosa natildeo sem antes ter colocado no seu lugar um outro

filho mais novo chamado Simeatildeo em 893162

O novo soberano dos Buacutelgaros era tambeacutem muito culto fora educado em

Constantinopla era piamente cristatildeo e tinha um enorme apreccedilo pela coacutepia de textos sagrados

Tudo razotildees que possivelmente trariam alguma paz a Bizacircncio tanto que Leatildeo natildeo estava

interessado em guerrear com uma naccedilatildeo ortodoxa mais a mais com o impeacuterio cercado por

inimigos natildeo-cristatildeos163 No entanto Simeatildeo era tambeacutem um ambicioso governante que

queria formar um Impeacuterio Bizantino-Buacutelgaro encabeccedilado por ele164hellip As tensotildees comeccedilaram

de imediato a borbulhar no ano que se seguiu agrave ascensatildeo do jovem soberano buacutelgaro165

quando o braccedilo direito do basileuacutes Styliano Zaotzeacute conseguiu convencer Leatildeo a transferir o

mercado buacutelgaro de Constantinopla166 para Tessaloacutenica Simeatildeo ao tomar conhecimento

destes acontecimentos tentou mostrar o seu desagrado ao imperador que por sua vez o

ignorou Foi aiacute que o jovem suserano buacutelgaro desenterrou o machado da guerra

A duacutevida de quem teraacute realmente provocado essa guerra ainda hoje eacute discutida As

croacutenicas bizantinas parecem querer demonstrar que a questatildeo do laquomercado buacutelgaroraquo fora

apenas um pretexto para uma guerra que o ambicioso Simeatildeo desejava167 Por outro lado ateacute

que ponto estas alegaccedilotildees satildeo vaacutelidas E se Leatildeo tivesse aquiescido a Simeatildeo Teria este

forccedilado uma guerra de qualquer das formas numa etapa tatildeo prematura da sua governaccedilatildeo O

que nos parece mais provaacutevel eacute que o czar buacutelgaro tambeacutem natildeo estivesse interessado em

combater contra Bizacircncio (pelo menos naquela altura) mas viu-se obrigado a fazecirc-lo para

garantir os interesses comerciais do seu povo para consolidar o seu trono e citamos aqui

Hupchik para mostrar ao mundo que laquoos interesses (da Bulgaacuteria) podiam ser ignorados pelos

estrangeiros apenas sob um grande riscoraquo168 Por outro lado eacute muito provaacutevel que Leatildeo natildeo

contasse com esta retaliaccedilatildeo de Simeatildeo ou por natildeo esperar uma resposta tatildeo draacutestica do seu

vizinho ou porque confiava na sustentaccedilatildeo da longa paz entre a Bulgaacuteria e Bizacircncio169

Independentemente das circunstacircncias foi com a guerra que Leatildeo se deparou e esta veio

(tendo em conta a regiatildeo onde decorreu) numa peacutessima altura para o lado bizantino

162 Idem Ibidem p 143 163 Os Aacuterabes na Itaacutelia no Mar Egeu e na Ciliacutecia e os Russos na estepe euroasiaacutetica na margem norte do Mar

Negro 164 MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 165 Estaria nos seus 20 anos aproximadamente Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p151 166 Para uma pequena descriccedilatildeo dos efeitos desta mudanccedila no comeacutercio buacutelgaro e da razatildeo desses efeitos cf

Idem Ibidem p 154 167 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 174 e WORTLEY J ndash Op cit pp 169-170 168 Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p153 169 Vide TOUGHER S ndash Op cit p173

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A invasatildeo buacutelgara do theacutema da Macedoacutenia foi arrasadora e brutal uma vez que aquela

aacuterea estava relativamente indefesa e porque o impeacuterio contava apenas com tropas de segunda

categoria laquotemaacuteticasraquo e somente um contingente de soldados profissionais estava em

Constantinopla a guarda-pessoal do basileuacutes a Hetaireia170 Este exeacutercito mobilizado agrave

uacuteltima da hora foi trucidado por Simeatildeo os seus comandantes foram mortos e os membros da

Hetaireia (e o proacuteprio basileuacutes) foram humilhados ao verem os seus narizes cortados O

primeiro laquoroundraquo da guerra fechou portanto com uma vitoacuteria de Simeatildeo

No ano a seguir Leatildeo jaacute estava mais preparado para fazer frente a Simeatildeo e ateacute para

passar agrave ofensiva A estrateacutegia que o basileuacutes engendrou envolvia trecircs peccedilas principais a

habilidade de Niceacuteforo Focas o Velho a inatacaacutevel (pelos Buacutelgaros) marinha bizantina e uma

manobra diplomaacutetica que visava chamar um novo jogador ao tabuleiro ndash os Magiares171 da

regiatildeo da atual Romeacutenia e da Panoacutenia (Hungria) Para conseguir o apoio daquele povo Leatildeo

enviou um diplomata (carregado com um tributo em ouro) aos respetivos liacutederes Arpaacuted e

Kurszaacuten que aceitaram combater ao lado dos Bizantinos Assim enquanto os Magiares se

dirigiam ao Danuacutebio na primavera de 895 para invadir a Bulgaacuteria pelo norte o ceacutelebre

Niceacuteforo Focas reuniu o exeacutercito imperial na fronteira com Simeatildeo de modo a desviar a sua

atenccedilatildeo Depois de Simeatildeo ter prendido um diplomata que Leatildeo enviara a fim de negociar a

paz a hoste de Niceacuteforo invadiu as possessotildees buacutelgaras no Norte da Traacutecia

Com Simeatildeo distraiacutedo pelo ataque do exeacutercito romano a frota sob o droungaacuterios

Eustaacutecio ajudou os Magiares a atravessarem o Danuacutebio e a invadir o limes indefeso de

Simeatildeo O czar ainda tentou reagir mas as suas tentativas foram goradas pelos arqueiros da

estepe que o derrotam e obrigaram a refugiar-se na fortaleza de Dorostolon172 Os Magiares

saquearam o territoacuterio inimigo ateacute Preslav a capital da Bulgaacuteria173 e regressaram depois agraves

suas terras para laacute do Danuacutebio onde venderam os seus prisioneiros de guerra a Bizacircncio

conforme ficara acordado na alianccedila com Leatildeo

170 O domestikoacutes e o grosso das forccedilas da capital incluindo os taacutegmata estavam em campanha a oriente quando

Simeatildeo invadiu Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVIII O Regresso do Califado a Bagdade

Traduccedilatildeo e anotaccedilotildees de Franz Rosenthal ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume

XXXVIII The Return of the Caliphate to Baghdad Nova Iorque New York University Press p 11 171 Os antecessores dos Huacutengaros 172 Satildeo Skylitzes e Hupchik que referem Dorostolon vide WORTLEY J ndash Op cit p 171 e HUPCHIK D P ndash

Op cit p 158 Shaun Tougher refere que ele retirou para uma fortaleza chamada Moundraga mas natildeo

encontraacutemos nenhuma referecircncia a este local (ou ao facto de ser o mesmo siacutetio que Dorostolon) nas nossas

pesquisas Vide TOUGHER S ndash Op cit p177 173 Que supostamente teraacute sido salva pelas preces e por um voto de fome por trecircs dias expresso pelo antigo

imperador Boacuteris Hupchik diz que o que parou os Magiares foram as muralhas da cidade Por nosso lado

sentimo-nos tentados a aceitar a hipoacutetese de que teraacute sido uma conjugaccedilatildeo das muralhas e do facto de Boacuteris ter

liderado a defesa da cidade Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p 159

45

Por sua vez Simeatildeo enviou uma mensagem a Eustaacutecio informando-o de que estava

disposto a assinar a paz Leatildeo estava desejoso de sair daquela guerra que natildeo lhe interessava

e pretendia distribuir as tropas daquele teatro de operaccedilotildees por outras frentes prioritaacuterias pelo

que aceitou e ordenou a retirada quase imediata de Niceacuteforo Focas o Velho e de Eustaacutecio Para

assinar os termos da paz Leatildeo enviou o seu melhor diplomata Leatildeo Coirosfactes a Simeatildeo

No entanto a ordem de retirada prematura e depois a entrega dos seus prisioneiros de guerra

antes de assinar a paz foram erros crassos do basileuacutes Simeatildeo no interluacutedio da assinatura da

paz aliou-se aos Pechenegues um povo das estepes hostil aos Magiares e preparou o seu

exeacutercito para o terceiro ano de guerra Ainda em 895 atravessou o Danuacutebio e com a ajuda

dos Pechenegues derrotou os Magiares empurrando-os para a Panoacutenia174

No ano seguinte possivelmente apoiado na morte ou na remoccedilatildeo de Niceacuteforo Focas

do cargo de domestikoacutes Simeatildeo lanccedilou-se ao ataque e derrotou as forccedilas do novo

ldquocomandante do Estado-maiorrdquo Leatildeo Katakalon na batalha de Bulgarophygon A derrota

naquela batalha saiu cara ao Saacutebio que viu as forccedilas buacutelgaras saquearem a Traacutecia bizantina e

ateacute ameaccedilar Constantinopla Por fim Leatildeo acedeu a assinar a paz nos termos propostos por

Simeatildeo que nos satildeo desconhecidos mas que muito provavelmente envolviam um retorno agrave

situaccedilatildeo dos mercados tal como esta estava antes da guerra e ao pagamento de um pesado

tributo anual175 De resto ao longo do reinado de Leatildeo Simeatildeo natildeo mais pegaria em armas

contra Bizacircncio natildeo soacute porque durante o resto do tempo de principado do basileuacutes se

concentrou no desenvolvimento cultural do seu domiacutenio176 mas porque Leatildeo fez os possiacuteveis

(e os impossiacuteveis pode-se dizer) para conservar a paz

Falta-nos dedicar algumas palavras agrave guerra naval e ao limes oriental Decidimos

juntar estas duas frentes numa uacutenica secccedilatildeo do nosso texto porque estatildeo diretamente

relacionadas Em primeiro lugar referimos que a guerra naval foi o que correu pior a Leatildeo

VI deu-se a perda definitiva da Siciacutelia como jaacute falaacutemos e as frotas bizantinas foram

derrotadas vaacuterias vezes Vamos agora tentar sucintamente fazer um relato das principais

accedilotildees navais e das campanhas orientais que ocorreram durante o reinado do Saacutebio

Na Ciliacutecia o principal adversaacuterio no iniacutecio do reinado de Leatildeo VI continuava a ser o

eunuco Yazaman que da sua base de Tarso atacava Bizacircncio tanto por terra como por mar

Em 888 Yazaman organiza uma expediccedilatildeo naval capturando quatro navios bizantinos

enquanto no Mediterracircneo central uma frota muccedilulmana derrota uma armada bizantina ao

174 De onde eles partiriam para os seus ataques recorrentes contra a Europa ocidental e a Bulgaacuteria durante a

primeira metade do seacuteculo X ateacute serem derrotados agraves matildeos de Otatildeo I na batalha de Lechfeld (em 955) 175 Vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 176 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 175

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largo de Milazzo Esta vitoacuteria no entanto seria anulada no ano seguinte com um sucesso

militar romano a repor o controlo sobre o Estreito de Messina Em 891 no contexto de uma

alianccedila entre Yazaman e os Tuluacutenidas do Egipto o eunuco eacute morto por um fragmento de um

projeacutetil de balista durante um ataque a Salandu uma fortaleza costeira bizantina na Ciliacutecia177

A este governante de Tarso seguiu-se anos mais tarde o eunuco Raghib que em 898 derrotou

uma frota bizantina e teraacute decapitado 3000 marinheiros romanos o que a ser verdade poderaacute

ter representado um duro golpe na operacionalidade naval do impeacuterio178 No entanto o

sucesso de Raghib teraacute sido sol de pouca dura porque no ano seguinte ele eacute preso e a frota de

Tarso queimada a mando do califa uma mais-valia para Bizacircncio naqueles tempos

conturbados179

Apesar dos feitos de Raghib de Yazaman e ateacute de Simeatildeo na nossa opiniatildeo natildeo

houve personagens mais nefastas para Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI do que Leatildeo o

Tripolitano e Damiano Por coincidecircncia tanto um como o outro tinham origem grega180 e

conseguiram ascender no mundo muccedilulmano ateacute ocuparem altos cargos militares181 Jaacute em

891 (ou em 893) Leatildeo o Tripolitano desferira um golpe profundo na aptidatildeo mariacutetima do

impeacuterio quando atacou e saqueou Samos (a capital do theacutema mariacutetimo do Mar Egeu) e

capturou o seu strategoacutes Paspalas182 Dez anos depois foi a vez de Damiano atacar o impeacuterio e

saquear a cidade de Demeacutetrias na Tessaacutelia mas nesse mesmo ano deu-se um bem-sucedido

ataque naval bizantino no litoral da Ciliacutecia (possibilitado pela destruiccedilatildeo da frota de Tarso

provavelmente) e uma ofensiva terrestre na regiatildeo de Kaysun entre Maras e Samosata183 Os

Aacuterabes retaliaram com um raide agrave ilha de Lemnos que fez dos seus habitantes cativos dos

Muccedilulmanos184

Mas nenhum ataque chocou mais o Impeacuterio Bizantino do que o saque de Tessaloacutenica

em 904 e natildeo era para menos tendo em conta que esta era a segunda cidade mais importante

do Impeacuterio A frota que estava sob o comando de Leatildeo o Tripolitano tinha dimensotildees maiores

do que o normal e o seu objetivo principal seria com alguma probabilidade

177 Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVII A Restauraccedilatildeo Abaacutessida Traduccedilatildeo de Phillip M Fields e

Notas de Jacob Lassner FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid

Recovery Nova Iorque New York University Press p 175 178 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 73 179 Vide Idem Ibidem p 79 e 91 180 Leatildeo seria oriundo da cidade de Ataleia na Ciliacutecia onde foi capturado relativamente jovem Damiano seria

mesmo grego e serviu o eunuco Yazaman em Tarso 181 Leatildeo o Tripolitano seria almirante por exemplo 182 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 185 183 Al-Tabari diz que teratildeo sido presos cerca de 15 000 muccedilulmanos Cf ROSENTHAL Franz ndash Op cit p 97 184 Tougher diz que para Vasiliev o sucesso dos ataques muccedilulmanos cada vez mais proacuteximos de

Constantinopla se deveu ao desaire bizantino frente a Raghib em 898 Cf TOUGHER S ndash Op cit p 185

47

Constantinopla185 Leatildeo enviou a sua frota para fazer frente agrave armada aacuterabe quando esta se

comeccedilou a aproximar do Helesponto mas o almirante Eustaacutecio retirou frente ao poderio

aacuterabe O impeacuterio acabado de sair da crise administrativa provocada pela morte de Zaotzeacute186 e

da filha a basiacutelissa em 899 e com uma seacuterie de derrotas navais sofridas frente aos Aacuterabes

(mau grado algumas vitoacuterias tambeacutem) via agora a sua proacutepria capital ameaccedilada

Leatildeo colocou um novo droungaacuterios Himeacuterio agrave cabeccedila da frota imperial e enviou-o

contra o Tripolitano O almirante muccedilulmano entretanto por razotildees desconhecidas mudara

de curso e dirigira-se a Tessaloacutenica sem que o novo droungaacuterios o tentasse deter Uma

duacutevida se coloca por que razatildeo teraacute o Tripolitano mudado de alvo Natildeo haacute muitas certezas

mas parece-nos que se Tessaloacutenica natildeo era um objetivo mais tentador do que

Constantinopla187 certamente era bem mais faacutecil de tomar188 Alegadamente Tessaloacutenica soacute

teraacute sido resgatada por acaso quando um oficial imperial encontrou uma avultada soma

monetaacuteria destinada agrave Bulgaacuteria189 e a ofereceu ao almirante muccedilulmano que soacute entatildeo teraacute

levantado acircncora deixando uma grande parte dos cativos em terra e regressado agrave Siacuteria190

O saque de Tessaloacutenica teve consequecircncias nefastas como eacute expectaacutevel a niacutevel

regional porque metade da populaccedilatildeo foi morta ou capturada incluindo a guarniccedilatildeo e o

strategoacutes Leatildeo Katzilaacutequio a niacutevel psicoloacutegico-religioso porque o padroeiro da cidade Satildeo

Demeacutetrio que sempre tinha protegido a cidade na opiniatildeo dos Bizantinos a teraacute abandonado

naquele ano tendo-se entatildeo discutido as implicaccedilotildees que isso teria na vontade da Virgem em

defender Constantinopla191 a niacutevel diplomaacutetico porque Leatildeo VI se viu obrigado a enviar uma

nova embaixada a Simeatildeo da Bulgaacuteria para o convencer a natildeo se aproveitar daquele evento

para conquistar aquela cidade192 e possivelmente teraacute afetado o prestiacutegio do Saacutebio

Karlin-Hayter no artigo em que defende a poliacutetica externa de Leatildeo VI considera o

saque de Tessaloacutenica como uma das trecircs grandes manchas do reinado drsquo O Saacutebio a par da

eclosatildeo da guerra contra Simeatildeo e da retirada apressada de Niceacuteforo Focas o Velho e de

185 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 186 186 A famiacutelia de Zaotzeacute conspirara contra o imperador mas este foi salvo quando o eunuco aacuterabe Samonas

denunciou a Leatildeo VI esta conspiraccedilatildeo 187 Um ataque agrave capital do impeacuterio consumiria muito tempo e necessitaria de um bom apoio terrestre 188 Treadgold explica que as muralhas mariacutetimas de Tessaloacutenica estavam a ser reparadas por aquela altura pelo

que eacute muito provaacutevel que o Tripolitano se tenha aproveitado da circunstacircncia para atacar aquela cidade Vide

TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 189 Possivelmente o tributo destinado a Simeatildeo 190 Shaun Tougher sempre empenhado em defender a imagem de Leatildeo alega que foi Leatildeo VI a pagar aos

Aacuterabes a libertaccedilatildeo da cidade TOUGHER S ndash Op cit p 188 191 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 p189 192 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 181

48

Eustaacutecio no segundo ano dessa guerra193 No entanto ateacute que ponto as circunstacircncias da

queda de Tessaloacutenica satildeo da culpa do basileuacutes Treadgold194 por exemplo desculpa Leatildeo ao

defender que o ataque tinha sido de surpresa195 Na nossa opiniatildeo poreacutem parece-nos muito

difiacutecil o basileuacutes natildeo ter sabido com antecedecircncia da preparaccedilatildeo desta enorme frota pois de

outra forma esta natildeo podia sequer sonhar em conquistar Constantinopla se a capital fosse

realmente o primeiro alvo do Tripolitano Aliaacutes as accedilotildees de Leatildeo nesse ano mostram que ele

jaacute deveria contar com um ataque naval muccedilulmano procedeu agrave reparaccedilatildeo das muralhas de

Tessaloacutenica a armada imperial permaneceu nas proximidades da capital e talvez mais

relevante de tudo lanccedilou-se uma ofensiva terrestre a oriente196 pouco antes do saque Este

uacuteltimo ponto em particular encaixa no pensamento estrateacutegico do basileuacutes que defende no

Taktikaacute que um ataque naval muccedilulmano deve ser retaliado com uma invasatildeo terrestre197 uma

opiniatildeo que partilhamos com Shaun Tougher198 Em jeito de vinganccedila o basileuacutes lanccedilaria

ainda uma expediccedilatildeo por terra contra a Ciliacutecia sob o comando de Androacutenico Ducas que

culminaria numa vitoacuteria bizantina na batalha de Maras

Em 906 no seguimento da traiccedilatildeo e fuga de Androacutenico Ducas para o Califado199

Himeacuterio derrota uma forccedila naval aacuterabe no dia de Satildeo Tomeacute (6 de outubro) enquanto um

exeacutercito romano saqueia a cidade de Qurus nos arredores de Alepo Em 909 Bizacircncio assola

a costa da Siacuteria e toma as fortalezas de al-Qubba e Laodiceia ataques estes que iratildeo

prosseguir no ano seguinte e que se estendem aos habitantes muccedilulmanos da ilha de Chipre

Em 911 em jeito de represaacutelia Damiano ataca os residentes bizantinos desta ilha no mesmo

ano em que se realiza uma importante expediccedilatildeo talvez direcionada a Creta liderada por

Himeacuterio

Esta expediccedilatildeo representa o uacuteltimo marco relevante no reinado de Leatildeo VI e ao

observarmos a lista dos preparativos para esta expediccedilatildeo200 rapidamente nos apercebemos do

esforccedilo de mobilizaccedilatildeo do Impeacuterio para aquele laquomonumentalraquo empreendimento 177

embarcaccedilotildees 34 mil e duzentos remadores 7140 soldados 700 Russos 5087 Mardaiacutetas201

uma mobilizaccedilatildeo de meios que teraacute custado cerca de 230 000 nomismata soacute no que respeita

193 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 194 Em 1997 195 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 196 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 147 197 Vide Anexos VIII p) 198 Vide TOUGHER S ndash Op cit p190 199 Que teraacute afetado visivelmente o imperador como veremos mais agrave frente 200 Vide Anexos IX a) 201 Descendentes de refugiados cristatildeos da Siacuteria que foram recebidos por Justiniano II e colocados ao serviccedilo da

divisatildeo mariacutetima dos Caribisianos onde se tornaram remadores e tropas de infantaria mariacutetima de renome Vide

TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 26

49

ao pagamento das rocircgai Uma observaccedilatildeo dos dados desta expediccedilatildeo confirma que a

conquista de Creta era um objetivo fulcral para Leatildeo VI202 Se a ilha voltasse para matildeos

bizantinas tambeacutem se retomava o controlo do sul do Mar Egeu e eliminava-se o ninho de

piratas sarracenos mais perigoso para Constantinopla Infelizmente para os Romanos Himeacuterio

acabou por ser obrigado a retirar apoacutes natildeo ter logrado conquistar Chandax (a capital da

ilha)203 tendo a sua frota sido derrotada na viagem de regresso por Leatildeo o Tripolitano e por

Damiano ao largo da ilha de Quios em 912 o ano em que Leatildeo VI adormeceu para sempre

O que podemos dizer acerca de Leatildeo VI em termos militares Na nossa opiniatildeo este

basileuacutes preocupava-se com os assuntos militares do impeacuterio Aliaacutes como natildeo podia Tal

como basileicircs anteriores ele governava um reino rodeado de inimigos circunstacircncia que o

obrigou a fazer escolhas difiacuteceis p ex o ldquosacrifiacuteciordquo de Taormina quando os Aacuterabes se

tornaram muito mais agressivos no Mediterracircneo oriental ou abandonar Tessaloacutenica ao saque

para talvez poupar a frota imperial a um duro combate sem vitoacuteria garantida (apesar de neste

caso a responsabilidade estar mais nas matildeos dos seus dois almirantes Eustaacutecio e Himeacuterio)

Por outro lado conveacutem lembrar que agrave morte de Leatildeo VI o Impeacuterio estava muito

possante noutras frentes Tinha-se expandido para oriente tanto por meios militares como

diplomaacuteticos (no caso de alguns principados armeacutenios) destacando-se tambeacutem uma certa

superioridade militar bizantina neste limes Por outro lado assegurou-se a supremacia no Sul

de Itaacutelia o que permitiu assumir um papel preponderante na expulsatildeo dos Aacuterabes da

Campacircnia Em relaccedilatildeo a Simeatildeo com o qual se assinou a paz em 896 este natildeo deu mais

nenhum sinal de querer atacar Bizacircncio e o basileuacutes fez todos os possiacuteveis por manter essa

paz pois era uma guerra que natildeo tinha desejo de travar por razotildees ideoloacutegicas204 Por fim

devemos recordar que o interesse de Leatildeo VI nos assuntos militares se encontra refletido no

Taktikaacute um tratado que conjuga uma compilaccedilatildeo de alguns conhecimentos praacuteticos e teacutecnicos

com retoacuterica teoloacutegica Estes dois fatores tornam este manual militar uma ferramenta

essencial para compreender o pensamento estrateacutegico bizantino do seacuteculo X

202 John Haldon defende que esta expediccedilatildeo natildeo teria como objectivo principal somente a conquista de Creta (se

o tivesse) mas que seria uma continuaccedilatildeo do empreendimento do ano anterior direcionado agrave costa litoral da

Siacuteria com o objetivo a longo prazo de restabelecer o estatuto de talassocracia a Bizacircncio no que concerne o

Mediterracircneo oriental e o Mar Egeu Vide HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century

Military Administration ndash Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies In Travaux et Memoacuteires (13) pp

240-242 203 Idem Ibidem p 240 204 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40

50

Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina

Neste uacuteltimo capiacutetulo de contextualizaccedilatildeo orientaremos a nossa visatildeo para o estudo da

cultura literaacuteria bizantina com maior enfoque na tratadiacutestica para esse efeito dividimos o

capiacutetulo em dois segmentos Primeiramente vamos analisar algumas questotildees introdutoacuterias

relacionadas com esta praacutetica cultural tipologias motivaccedilotildees e principais caracteriacutesticas De

seguida vamos observar o segundo periacuteodo dourado da respetiva produccedilatildeo o que o motivou

o que o fez diferir do primeiro e quais os protagonistas

31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina

Cremos que uma das coisas mais importantes a realccedilar sobre esta atividade eacute a de que

mais do que tudo era um exerciacutecio cultural tivesse ele algum efeito praacutetico ou natildeo Isso

revela-se desde logo na circunstacircncia de muitos dos autores dos tratados beacutelicos serem civis

grande parte deles sem qualquer experiecircncia militar205 Qual a razatildeo para o interesse por estes

assuntos entre a elite intelectual bizantina

Quanto a este ponto talvez seja importante relembrar a relaccedilatildeo de osmose entre

religiatildeo poliacutetica e guerra em Bizacircncio Muitas foram as vezes em que questotildees de iacutendole

religiosa provocaram periacuteodos de amargura intestina na administraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino

como sucedeu com o Iconoclasmo Eacute evidente que quando a instabilidade governativa

imperava em Constantinopla isso irradiava por todo o Impeacuterio acabando por acarretar

consequecircncias natildeo apenas a niacutevel interno206 mas tambeacutem externo207 Esta interaccedilatildeo entre a

religiatildeo e o poder militar transpunha-se tambeacutem para a produccedilatildeo cultural Um dos grandes

exemplos disto eacute o Taktikaacute de Leatildeo VI que frente a ameaccedilas em muacuteltiplas frentes (em

especial a muccedilulmana) defendia que a condiccedilatildeo cristatilde e a fidelidade a Deus por parte dos

seus generais assim como a condiccedilatildeo de laquodefensores da feacuteraquo era um dos ingredientes

principais para a vitoacuteria em qualquer conflito208 Por outro lado a guerra era considerada

como um mal necessaacuterio na sociedade bizantina eacute certo que sendo uma comunidade cristatilde a

odiava todavia necessitava dela para ironicamente alcanccedilar a paz209hellip

Se por um lado existia esta relaccedilatildeo entre a religiatildeo e o pensamento estrateacutegico o

mesmo acontecia no sentido inverso O pensamento militar em Bizacircncio comeccedilou tambeacutem

205 Como por exemplo Leatildeo VI Urbiacutecio e Siriano 206 A revolta de Artavasdo por exemplo parece tambeacutem ter motivos religiosos pois este era iconoduacutelio 207 Enquanto a questatildeo iconoclaacutestica afetou a sociedade bizantina apesar de natildeo ter havido grandes perdas

territoriais o territoacuterio tambeacutem natildeo aumentou muito (pelo menos na frente oriental) 208 Vide cf infra capiacutetulo 4 209 Vide Anexo VIII o)

51

ele a influenciar a religiatildeo e a cultura em geral Enquanto os soldados travavam a guerra

terreste as autoridades religiosas (o cristianismo oriental em geral) combatiam contra o mal

Na literatura teoloacutegica verifica-se a apropriaccedilatildeo de vocabulaacuterio militar para exaltar esse

combate tratando-o tambeacutem como uma guerra com as suas campanhas e batalhas proacuteprias o

qual era travado com armas espirituais como a reza e a contemplaccedilatildeo210 Enquanto isso

verifica-se na produccedilatildeo historiograacutefica bizantina uma predominacircncia das temaacuteticas beacutelicas

(campanhas batalhas e triunfos) como mote para embelezar a narrativa e tambeacutem como

criacutetica da parte do autor um basileuacutes vitorioso e bravo era presenteado com elogios um

imperador que natildeo o fosse era tratado como fraco e castigado por Deus (especialmente se

tivesse matildeo pesada para a Igreja financeiramente falando como sucedeu com Niceacuteforo I)

A tratadiacutestica bizantina eacute conhecida por possuir um grande cariz antiquaacuterio e

enciclopeacutedico211 Isto eacute verificaacutevel ao longo de todo o percurso da literatura militar em

Bizacircncio onde rapidamente se verifica que satildeo muito poucas (senatildeo praticamente

inexistentes) as obras totalmente originais Todas elas retiram informaccedilatildeo e conhecimento de

fontes mais antigas quer claacutessicas quer bizantinas verificando-se paraacutefrases inteiras de

secccedilotildees desses antecedentes212 Apesar disto alguns manuais alteram esses trechos para os

adequar agraves circunstacircncias da eacutepoca com novas taacuteticas e armamento e com a eliminaccedilatildeo de

conhecimento obsoletos tal facto observa-se com maior frequecircncia em tratados produzidos

por autores com experiecircncia militar como no caso de um strategoacutes de um domestikoacutes (como

Niceacuteforo Ouranos autor de um Taktikaacute escrito no seacutec XI) ou ateacute de certos imperadores (como

Mauriacutecio ou Niceacuteforo II Focas) Podemos observar ainda inserido neste uacuteltimo fenoacutemeno o

aparecimento de palavras oriundas de outras liacutenguas que natildeo o grego como do armeacutenio do

aacuterabe e obviamente modificaccedilotildees de alguns termos latinos213 por influecircncia do leacutexico militar

bizantino O pragmatismo da tratadiacutestica bizantina revela-se nestes uacuteltimos fatores bem como

o seu caraacuteter evolutivo (ainda que pouco inovador) nos aspetos militares Todavia mesmo que

esse aspeto criativo natildeo existisse de todo tal natildeo retiraria importacircncia a tais obras uma vez

que estas natildeo deveriam ser lidas como algo que decidisse de imediato a forma como um

210 laquoThe vocabulary of warfare permeated theological and religious literature too so that monastic

communities were described as regiments of spiritual fighters for the faith and the struggle of the Church

against evil was phrased in terms of a military campaign in which the weapons of prayer contemplation and

spiritual purification were part of the armory of the east Roman churchraquo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit

p21 211 Muitos dos seus autores como eram filoacutesofos ou retoacutericos sem qualquer praacutetica nas artes da guerra natildeo

possuiacuteam interesse sequer que as suas obras tivessem alguma utilidade praacutetica ou que o seu uso fosse somente

militar Vide MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit p 907 212 O Taktikaacute de Leatildeo VI eacute muito influenciado por vaacuterios tratados anteriores natildeo soacute do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio

mas tambeacutem das obras de Onasandro Aeliano possivelmente Siriano entre outros 213 Para uma pequena suma de alguns destes termos vide NISA J (2016) ndash Op cit p 9

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general deveria agir O strategoacutes deveria usaacute-las como uma fonte de ideias e de

conhecimentos para no momento de passar agrave accedilatildeo poder deliberar em consonacircncia com a

sua experiecircncia pessoal sobre qual a melhor forma de agir nas situaccedilotildees que enfrentava214

Ora em conformidade com esta continuaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de literatura beacutelica claacutessica e

romana verificamos a manutenccedilatildeo na cultura bizantina das mesmas disciplinas que vigoraram

na produccedilatildeo de tratados ateacute aiacute a strategikaacute a taktikaacute a naumachikaacute a poliorketikaacute e a

strategemataacute215 Finalizada esta pequena descriccedilatildeo da tratadiacutestica bizantina olhemos para o

estado dela na sua segunda fase de ouro ou seja nos seacuteculos X e XI

32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI)

O que suscitou o reaparecimento da produccedilatildeo literaacuteria militar nos iniacutecios do seacuteculo X

Consideramos que eacute possiacutevel afirmar ter-se tratado de um momento uacutenico para que tal

acontecesse Pela primeira vez em seacuteculos o Impeacuterio Bizantino atravessava um periacuteodo de

relativa estabilidade interna Longe iam os tempos do laquoseacuteculo negroraquo de 640-740 quando

Bizacircncio se confrontara com o iacutempeto inicial e avassalador dos Aacuterabes com o aparecimento

dos Buacutelgaros e com a longa guerra de atrito com os Lombardos em Itaacutelia O Iconoclasmo a

dura questatildeo religiosa que tinha fraturado a sociedade bizantina por um seacuteculo tinha tambeacutem

sido resolvido nos iniacutecios do reinado de Miguel III

Estes eventos natildeo trouxeram perfeiccedilatildeo agrave vida em Constantinopla pois a guerra as

questotildees religiosas e as intrigas de palaacutecio eram quase endeacutemicas mas geraram um periacuteodo de

maior calma na capital Isto permitiu a Bizacircncio revisitar o passado e iniciar um novo

processo de produccedilatildeo cultural a que podemos chamar de laquoRenascimento Macedoacutenicoraquo Este

percurso iniciou-se na segunda metade do seacuteculo X sob a tutela de homens cultos como o

patriarca Foacutecio que resumiu e compilou segmentos de 279 manuscritos claacutessicos pagatildeos ou

cristatildeos numa obra chamada Bibliotheacuteka216 Mais tarde durante o principado de Basiacutelio I

deu-se uma revisatildeo do Corpus Iuris Iustinianus numa obra chamada Basilikaacute que seria

terminada no reinado de Leatildeo VI e que contou ainda com algumas leis novas (as Novelle)217

Em relaccedilatildeo aos aspetos da literatura militar podemos afirmar que este renascimento se

deu com o Compecircndio de Siriano magistros (que podemos datar com alguma certeza para o

seacuteculo IX) Apesar de se inspirar muito mais nos manuais militares claacutessicos do que no

Stratēgikoacuten paradigma comum na cultura militar bizantina esta compilaccedilatildeo foi um regresso agrave

214 Vide MCGEER E (2008a) ndash Op cit p908 215 Cf supra Introduccedilatildeo 216 Vide MONTEIRO J (2017) ndash Op cit p72 217 Vide Idem Ibidem p 75

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tratadiacutestica estagnada desde o De Militari Scientia218 Aleacutem disso os segmentos sobre guerra

naval e retoacuterica Naumachiacuteai e Rhetorica Militaris mostram-se inovadores O primeiro

porque a escrita sobre a guerra naval natildeo tinha tido grande expressatildeo durante a produccedilatildeo

tratadiacutestica dos seacuteculos V e VI o segundo porque (possivelmente) alertava para a ameaccedila

ideoloacutegica islacircmica para o seu cariz antagoacutenico aos valores cristatildeos e para a sua hostilidade

para com a existecircncia do impeacuterio da Ortodoxia219

Obviamente que o renascimento cultural natildeo pode ser tratado como a causa uacutenica para

o reaparecimento da tratadiacutestica A enorme quantidade de sucessos militares bizantinos

tambeacutem foi razatildeo para tal os triunfos em Marj al-Usquf Lalacatildeo e Bathys Riax a Oriente e a

subjugaccedilatildeo do sul de Itaacutelia a Ocidente poderatildeo ter sido os motes iniciais para este fenoacutemeno

Tambeacutem natildeo nos podemos esquecer das vitoacuterias bizantinas nos finais do seacuteculo X e iniacutecios do

seacuteculo XI que tornaram Bizacircncio a principal potecircncia do Mediterracircneo Oriental

Ateacute certo ponto parece-nos que podemos distinguir soacute por estes fatores duas fases

neste periacuteodo Uma primeira mais relacionada com o aspeto enciclopeacutedico da tratadiacutestica

protagonizada por Leatildeo VI e pelo seu filho Constantino VII (que ainda assim conseguiram

inovar em alguns aspetos de que falaremos mais adiante) A segunda prende-se com um

aspeto mais praacutetico e inovador sendo encabeccedilada por Niceacuteforo II Focas que deu letra de

forma natildeo soacute aos principais aspetos da guerra ofensiva travada por Bizacircncio mas

adicionalmente deu relevacircncia a alguns geacuteneros menos trabalhados como a guerra de

guerrilha ou a logiacutestica Em resumo a tratadiacutestica mudou com o reorientar da guerra de uma

estrateacutegia defensiva para uma mais ofensiva um facto que teraacute obrigado (apesar de natildeo ser o

uacutenico fator) a que as alteraccedilotildees taacuteticas necessaacuterias a essa mudanccedila fossem registadas em livro

Por fim natildeo devemos esquecer a ideologia cristatilde de Bizacircncio que teve um efeito geral

na produccedilatildeo literaacuteria bizantina deste periacuteodo de modo a construir (ou afirmar) uma identidade

cultural cristatilde e tambeacutem a fazer transparecer isso na forma de fazer (e escrever) a guerra220

Para Bizacircncio a guerra era uma coisa maacute e sabia-se que era endeacutemica e inevitaacutevel tendo de

ser defensiva para ser justa221 (ainda que pudesse envolver a reconquista de antigos territoacuterios

romanos222) Natildeo importava que o inimigo fosse islacircmico pagatildeo ou ateacute cristatildeo para Bizacircncio

a grande questatildeo era a sobrevivecircncia do Impeacuterio Bizantino Cristatildeo cujo soberano era o

218 Um pequeno tratado de autoria anoacutenima datado da segunda metade do seacuteculo VII que daacute grande ecircnfase agrave

cavalaria Este tratado eacute composto por muacuteltiplas locuccedilotildees vernaculares sem precedente e teria como objetivo

adaptar as informaccedilotildees do Stratēgikoacuten agrave realidade da altura Vide COSENTINO S (2009) ndash Op cit p 86 219 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p19 220 Para o caso do Taktikaacute cf infra II1 Para o caso Perigrave Paradromeacutes cf NISA J (2016) ndash Op cit pp 52-55 221 Vide Anexo VIII o) 222 HALDON J (1999) ndash Op cit p25

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escolhido por Deus e apenas aiacute residia a santidade da guerra travada por Bizacircncio na defesa

do seu territoacuterio e do povo cristatildeo Para garantir a vitoacuteria era necessaacuterio o strategoacutes para aleacutem

do conhecimento de todas as artes da guerra ser bom homem e bom cristatildeo de forma a

garantir o apoio de Deus e assim a vitoacuteria um fator que alguns tratados deste periacuteodo natildeo se

cansam de enfatizar

A tratadiacutestica deste periacuteodo tinha novas prioridades Em primeiro lugar verifica-se um

afastamento direto das fontes mais claacutessicas em especial as heleniacutesticas ainda que se

mantivesse (como natildeo podia deixar de ser) uma ligaccedilatildeo indireta a estas em primeiro lugar

pela principal inspiraccedilatildeo literaacuteria militar deste periacuteodo o Stratēgikoacuten de Mauriacutecio em

segundo pelo descendente direto desta obra o Taktikaacute de Leatildeo VI Neste ponto conveacutem

realccedilar que este afastamento natildeo foi abrupto o compecircndio de Siriano por exemplo ainda vai

beber nessas fontes A retoacuterica de guerra em especial a que se debruccedilava mais sobre os

assuntos religiosos tambeacutem foi um dos aspetos que mais evoluiu durante este periacuteodo

Para aleacutem da questatildeo religiosa de que falaremos adiante comeccedilou-se a verificar um

incremento no uso da tratadiacutestica para fins propagandiacutesticos natildeo soacute para consolidar a posiccedilatildeo

do cristianismo como a verdadeira religiatildeo mas tambeacutem a niacutevel poliacutetico e em especial

militar com esforccedilos para reduzir as vitoacuterias dos grandes inimigos de Bizacircncio223 enquanto

por outro lado se tentava consolidar a legitimidade divina da dinastia reinante ou a

superioridade de uma famiacutelia em especial224 por meio da divulgaccedilatildeo de sucessos militares225

Por fim em termos temaacuteticos podemos verificar um florescimento na naumachikaacute

Como jaacute foi referido226 este geacutenero natildeo teve grande divulgaccedilatildeo durante a primeira fase de

escrita beacutelica Por que razatildeo teraacute ressurgido nesta altura227 A nosso ver foi uma questatildeo de

necessidade Conveacutem recordar que a segunda metade do seacuteculo IX foi marcada por uma seacuterie

de derrotas a niacutevel naval que se traduziram na expulsatildeo das forccedilas romanas das ilhas

estrateacutegicas mais importantes do Mediterracircneo de Creta logo em 828 e da Siciacutelia uma

conquista morosa para os Aglaacutebidas mas que alegadamente terminou em sucesso com a

captura e saque de Siracusa em 878 e na praacutetica com a tomada do uacuteltimo enclave bizantino

em Taormina em 902 Estes reveses navais continuaram nas primeiras deacutecadas do seacuteculo X

tendo o saque de Tessaloacutenica (em 904) e a destruiccedilatildeo da frota de Himeacuterio ao largo da ilha de

Chios (em 912) configurado os principais momentos desses acontecimentos

223 Cf Constantino VII basileuacutes [Oraccedilatildeo Militar do Imperador Constantino] Traduccedilatildeo e Comentaacuterio

NESBITT J W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden e Boston Brill p 117 224 O caso da famiacutelia Focas Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 65 225 Vide MCGEER Eric (2003) ndash Op cit p 115 226 Cf supra 11 227 Para um conjunto de obras sobre guerra naval neste periacuteodo cf infra 43

55

A comparaccedilatildeo que se pode traccedilar entre o estado de Bizacircncio como potecircncia naval

entre as duas fases da literatura militar com quase trecircs seacuteculos de distacircncia eacute notaacutevel Quanto

ao primeiro caso eacute seguro afirmar que Bizacircncio era a principal potecircncia naval do

Mediterracircneo oriental se natildeo de todo o Mediterracircneo sem grandes adversaacuterios em termos

mariacutetimos o Impeacuterio Romano do Oriente pocircde-se dar ao luxo de natildeo possuir uma poderosa

armada de guerra tendo apenas ao seu dispor uma frota ligeira destinada simplesmente a

proteger o comeacutercio de quaisquer ameaccedilas que pudessem surgir bem como servir de apoio no

limes do Danuacutebio228

Esta situaccedilatildeo tinha mudado completamente de figura nos finais do seacuteculo IX quando

Bizacircncio se viu obrigada a esforccedilos redobrados para se impor como talassocracia De facto e

como salienta a bizantinista Heacutelegravene Ahrweiller natildeo deixa de ser paradoxal que no iniacutecio da

dinastia Macedoacutenica apesar de os basileicircs possuiacuterem a maior marinha que o impeacuterio jaacute tinha

visto e mesmo depois de terem implementado vaacuterias reformas administrativo-militares (a

remodelaccedilatildeo dos themaacuteta mariacutetimos e a criaccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo de cargos oficiais navais)

natildeo conseguiram garantir a supremacia mariacutetima229 Teratildeo sido entatildeo o aumento da

importacircncia do controlo dos mares230 conjugado com vaacuterias derrotas navais sofridas que

justificaram o reavivar da produccedilatildeo tratadiacutestica direcionada para a guerra naval231

228 Vide cf supra 12 229 Vide AHRWEILLER H ndash Op cit p 105 230 Refletido no aumento da tonelagem dos droacutemōnes de guerra da marinha de guerra e de reformas relacionadas

com a frota imperial e temaacutetica 231 Outra inovaccedilatildeo na naumachikaacute foi o aparecimento do fogo greguecircs com os tratados a ensinarem como este

deveria ser utilizado

56

Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute

A segunda parte desta tese constitui certamente o seu cerne Optaacutemos por iniciaacute-la

com um pequeno capiacutetulo acerca da fonte em si e ainda natildeo sobre o seu conteuacutedo Sendo

assim este segmento da dissertaccedilatildeo comeccedilaraacute por tratar da autoria da dataccedilatildeo e da

motivaccedilatildeo bem como da discussatildeo daiacute resultante na medida em que isso seja pertinente No

subcapiacutetulo seguinte abordaremos a tipologia da fonte e a estrutura interna da mesma com

um breve resumo do que conteacutem cada Constitutio onde teremos em conta as disciplinas da

tratadiacutestica bizantina (que segue com alguma exatidatildeo os princiacutepios da claacutessica) Por fim

dedicaremos um subcapiacutetulo agrave histoacuteria do Taktikaacute desde a sua escrita ateacute hoje elencando os

manuscritos onde se encontra transcrito bem como as traduccedilotildees que dele foram feitas ao

longo dos tempos

41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza

As duacutevidas que se colocam acerca da identidade do autor do Taktikaacute e que existem a

propoacutesito de inuacutemeros escritos do mesmo geacutenero (como as obras atribuiacutedas ao co-imperador

Niceacuteforo II Focas232 ou mesmo a imputaccedilatildeo do Stratēgikoacuten a Mauriacutecio233) natildeo parecem

colocar-se no que diz respeito ao tratado que vamos analisar De facto as nossas pesquisas e a

anaacutelise deste manual militar permitem-nos concluir que se a escrita direta da obra natildeo

resultou das matildeos de Leatildeo VI pelo menos a sua organizaccedilatildeo e algumas das passagens

certamente tiveram essa origem Os uacutenicos obstaacuteculos existentes a esta atribuiccedilatildeo prendiam-se

com o facto de Leatildeo VI natildeo ter participado em campanhas militares o que levou muitos

historiadores a concluir que ele natildeo teria interesse por estes assuntos Esta ideia foi

entretanto contrariada por vaacuterios estudiosos como Shaun Tougher e Karlin-Hayter como jaacute

referimos que conseguiram demonstrar que o Saacutebio teve um papel preponderante na

governaccedilatildeo dos assuntos militares do seu impeacuterio mesmo raramente tendo deixado

Constantinopla234 Outros fatores dentro do tratado em apreccedilo reforccedilam esta nossa opiniatildeo

232 Para o tratado de campanhas na Bulgaacuteria o De re militaris vide COSENTINO Salvatore (2009) Writing

about War in Byzantium In ldquoRevista de Histoacuteria das Ideiasrdquo (30) Coimbra Para o Perigrave Paradromeacutes vide NISA

J (2016) ndash Op cit p60 233 Vide COSENTINO Salvatore (2009) ndash Op cit p 85 234 John Haldon refere ainda que Leatildeo VI natildeo participou ativamente em ocupaccedilotildees beacutelicas para tentar emular o

imperador Justiniano um dos principais organizadores da chamada ldquoReconquista Justinianardquo mantendo assim

grande interesse pelos assuntos militares do Impeacuterio Bizantino Vide HALDON J (2004) ndash Op cit pp 13-14

57

a identificaccedilatildeo de Leatildeo VI como basileuacutes na intitulatio235 do livro236 bem como a

identificaccedilatildeo do imperador Basiacutelio como o pai do autor237

Por outro lado indicar Leatildeo VI como autor238 eacute algo falacioso pois efetivamente

dentro do Taktikaacute verificam-se poucas entradas originais Este manual militar agrave semelhanccedila

de muitos outros bizantinos natildeo conjuga somente conteuacutedos ineacuteditos tratando-se de uma

obra que transcreve inuacutemeras passagens de diversos tratados precedentes algumas delas

adaptadas de forma a corresponder agrave realidade coeva a que satildeo acrescentadas ideias e

informaccedilotildees pertinentes pelo autor neste caso por Leatildeo VI Assim a atribuiccedilatildeo da autoria do

Taktikaacute a Leatildeo VI assenta mais na forma como ele organizou os vaacuterios excertos copiados de

tratados antecedentes e na seleccedilatildeo dos comentaacuterios morais e gnoacutemicos239

Nos uacuteltimos anos tecircm surgido vaacuterias propostas relacionadas com a data da compilaccedilatildeo

deste manual Kulakovskiy propotildee o periacuteodo cronoloacutegico entre 890-891240 Dagron sugere

895241 surgiram tambeacutem propostas para a primeira deacutecada do seacuteculo X especialmente para o

periacuteodo entre 904 e 908 algum tempo apoacutes 904 ou para depois dos anos 906 e 907242 No seu

comentaacuterio ao Taktikaacute John Haldon considera que haacute quatro elementos principais para balizar

a dataccedilatildeo deste tratado243 a utilizaccedilatildeo do termo autokraacutetor para o tiacutetulo de Leatildeo VI uma

nomenclatura que se passou a atribuir a este imperador a partir de 904244 passagens

relacionadas com o conflito bizantino-buacutelgaro de 894245-896246 ainda com utilidade mais

contestaacutevel a referecircncia ao Taktikaacute com o termo Proacutecheiros Noacutemos que se reporta a um

coacutedigo juriacutedico escrito anteriormente ao tratado247 e por fim uma passagem248 vista como

algo emocional249 relacionada com a traiccedilatildeo de strateacutegoi mas que pode aludir a niacutevel mais

pessoal agrave deserccedilatildeo para os Aacuterabes do strategoacutes Androacutenico Ducas e do filho Constantino em

235 Voltaremos a referi-nos a este ponto quando falarmos da estrutura da obra 236 Vide Anexo VIII f) 237 Vide Anexo VIII g) 238 No sentido de produtor de uma obra completamente original 239 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 25 240 Kulakovskij J (1898) Lev Mudryj ili Lev Isavr byl avtorom lsquoTaktikirsquo In Vizantiiskii Vremmenik 5 pp

400-401 Apud HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 241 Vide DAGRON Gilbert (1983) Byzance et le modegravele islamique au Xe siegravecle A propos des Constitutions

tactiques de lempereur Leacuteon VI In Comptes rendus des seacuteances de lAcadeacutemie des Inscriptions et Belles-

Lettres ano 127 nordm 2 p 219 242 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 243 Vide Idem Ibidem pp 59-61 244 Vide Idem Ibidem p 60 245 Vide Anexo VIII e) 246 Vide Anexo VIII b) 247 A contestaccedilatildeo referente a este ponto eacute feita devido a duacutevidas da dataccedilatildeo desta obra alguns autores atribuem

uma dataccedilatildeo para a deacutecada de 70 do seacuteculo IX outros para o ano de 907 Vide Idem Ibidem pp 60-61 248 Vide Anexo VIII j) 249 Vide Idem Ibidem p61

58

905 e posterior regresso deste uacuteltimo em 908250 Todos estes fatores levam-nos a crer que este

tratado (ou a sua versatildeo final) teraacute sido concluiacutedo no seacuteculo X

Eacute importante referir e voltaremos ao assunto mais adiante que o Taktikaacute teve vaacuterias

fases de produccedilatildeo que se refletiram em conteuacutedos novos temaacuteticas distintas e ateacute certas

alteraccedilotildees na motivaccedilatildeo da escrita do tratado Voltaremos a este ponto quando evocarmos um

pouco da histoacuteria do tratado desde a sua escrita ateacute hoje

Por fim resta-nos discutir uma questatildeo qual foi a motivaccedilatildeo por detraacutes da escrita do

tratado Ateacute muito recentemente inuacutemeros especialistas acreditavam baseando-se num dos

seus segmentos251 que o principal motivo para a escrita do Taktikaacute era este servir como

resposta agrave ameaccedila que os Aacuterabes protagonizavam no reinado de Leatildeo VI chegando-se a

afirmar de uma forma laquogeralmente aceiteraquo (de acordo com J Haldon) que o tratado fora

escrito especificamente por causa dos Muccedilulmanos e da sua religiatildeo252 De facto e como bem

salienta Gilbert Dagron253 o tratado refere duas carateriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos

Aacuterabes contra Bizacircncio o facto de ter uma orientaccedilatildeo religiosa que noacutes conhecemos como

jihad e que impelia um grande nuacutemero de voluntaacuterios fervorosos a pegar em armas os

chamados ghazi mas que concomitantemente atribuiacutea grande prestiacutegio e especialmente

lealdade a quem comandasse a guerra em nome do Islatildeo254 e a influecircncia da guerra na

estrutura social do mundo muccedilulmano (geograficamente proacuteximo de Bizacircncio)255

Sobre este uacuteltimo ponto Dagron256 refere que os exemplos principais desta praacutetica

eram a organizaccedilatildeo dos al-thugucircr o sistema militar na fronteira do Califado mais organizado

e sofisticado alguma vez criado pelos califas de acordo com Hugh Kennedy257 que seria mais

tarde herdado pelos emirados da Ciliacutecia da Armeacutenia e da Siacuteria e que persistiria ateacute agrave queda

do uacuteltimo thugucircr Antioquia agraves matildeos de Niceacuteforo II Focas (em 969) a existecircncia dos jaacute

referidos ghazi e o apoio providenciado pelas doaccedilotildees caridosas islacircmicas as waqf agrave causa

das campanhas (e dos soldados nela envolvidos) realizadas em nome da religiatildeo

No entanto Haldon natildeo concorda plenamente com esta visatildeo pois defende que no

excerto usado para apontar as questotildees relacionadas com a ameaccedila sarracena como principal

250 O pai entretanto havia morrido no Califado 251 Anexos VIII h) e i) 252 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p22 253 Vide DAGRON Gilbert ndash Op cit p22 254 Ateacute ao decliacutenio do Califado Abaacutessida a organizaccedilatildeo das expediccedilotildees de Veratildeo a territoacuterio bizantino as saifa

era uma tarefa tatildeo importante no sentido ritual e espiritual como a preparaccedilatildeo da peregrinaccedilatildeo anual a Meca a

hajj Vide KENNEDY Hugh (2001) The Armies of the Caliphs Military and Society in the Early Islamic State

Londres e Nova Iorque Routledge p 106 255 Vide Anexos VIII k) 256 DAGRON G ndash Op cit p 221 257 HALDON J e KENNEDY H ndash Op cit p 106

59

motivo para a escrita do Taktikaacute258 natildeo se indica uma razatildeo para a escrita do tratado em si

mas sim da Constitutio onde se encontra presente ou ateacute apenas para aquela secccedilatildeo da

mesma259 No seu comentaacuterio Haldon defende ainda que apesar de grande parte do conteuacutedo

sobre os Aacuterabes jaacute estar presente na versatildeo original do tratado a maior parte dos comentaacuterios

relacionados com eles bem como as preocupaccedilotildees do basileuacutes manifestadas com o seu

inimigo daquele tempo seratildeo uma adiccedilatildeo posterior ao tratado260 Ainda que natildeo se trate de

um dos motivos principais para a escrita do Taktikaacute estas adendas satildeo uma das componentes

mais importantes e originais do tratado e teratildeo sido ativadas a nosso ver pelos desaires que

Bizacircncio sofreu agraves matildeos dos Aacuterabes especialmente no contexto da guerra naval e talvez de

preponderante importacircncia pelo saque de Tessaloacutenica a segunda maior cidade do impeacuterio

por dois corsaacuterios muccedilulmanos (ainda por cima de origem bizantina) em 904

Posto isto quais satildeo as motivaccedilotildees originais De acordo com Haldon o Taktikaacute

configura laquouma tentativa de legislar a guerra como uma atividade que cai sob a sua supervisatildeo

e autoridade tal como jaacute tinha feito em outras esferasraquo261 bem como um guia para uma

conduta moral cristatilde da guerra na lealdade a laquoDeus e ao imperador escolhido divinamenteraquo

Assim sendo a principal motivaccedilatildeo do basileuacutes na ediccedilatildeo deste tratado eacute a necessidade de

incutir nos seus generais um certo fervor religioso (embora natildeo tatildeo fanaacutetico quanto o dos

muccedilulmanos) bem como a lealdade ao imperador que se viu perante vaacuterios traidores ao

longo do seu reinado os quais lhe provocaram grande maacutegoa tal como as traiccedilotildees de

Androacutenico Ducas e do filho mais tardias que o afligiram pessoalmente262 Eacute destes uacuteltimos

pontos que se deve apurar o teor de obrigatoriedade na leitura do Taktikaacute aos strategoacutei

incutida por Leatildeo VI e natildeo nos aspetos praacuteticos desta obra

Por sua vez o Taktikaacute natildeo deve ser considerado como um manual militar per se uma

vez que os seus destinataacuterios (isto eacute os strateacutegoi do impeacuterio) tinham muito mais experiecircncia

do que Leatildeo VI no que toca aos aspetos praacuteticos e teacutecnicos da guerra263 Esta opiniatildeo no que

respeita agrave questatildeo religiosa eacute apoiada tambeacutem por Meredith Riedel da Universidade de

Duke que defende que o basileuacutes pretendeu criar uma identidade cultural bizantina assente na

258 Vide Anexo VIII h) 259 HALDON John (2014) - Op cit pp 22-23 260 Idem Ibidem p23 261 Idem Ibidem p23 262 Vide Anexo VIII j) 263 Idem Ibidem p25

60

piedade cristatilde apelando aos seus generais para que fossem o modelo ideal do bom cristatildeo ao

comando dos seus soldados os laquodefensores da Feacuteraquo264

Evocadas as principais teses cabe-nos agora tecer a nossa proacutepria apreciaccedilatildeo Apesar

daqueles pontos a nosso ver bastante vaacutelidos acreditamos que podemos acrescentar ainda um

outro motivo para a escrita deste tratado o enciclopedismo cultural Leatildeo no aspeto temporal

natildeo aparenta qualquer intenccedilatildeo de criar algo ineacutedito Na questatildeo muccedilulmana por exemplo

natildeo apresenta soluccedilotildees originais de cariz taacutetico ou estrateacutegico Isto parece-nos natural pois

apesar do seu visiacutevel interesse pelas questotildees de iacutendole militar e a sua dedicaccedilatildeo ao tomar

conta dos assuntos de governaccedilatildeo militar do Impeacuterio Romano este basileuacutes nunca comandou

campanhas militares na frente de guerra contentando-se em liderar a resposta estrateacutegica agraves

ameaccedilas de que o Impeacuterio sofria Parece-nos possiacutevel conjugar este interesse do imperador

com um interesse renovado pela cultura claacutessica que comeccedilou a surgir em Bizacircncio a partir do

iniacutecio do reinado de Basiacutelio I uma vez que Leatildeo VI condensou muita informaccedilatildeo da

tratadiacutestica militar antiga no Taktikaacute Por outro lado eacute importante recordar que o basileuacutes

encomendara tambeacutem a um dos seus domestikoacutes Leatildeo Katakalon um tratado sobre as

expediccedilotildees militares exatamente aquilo que natildeo estaacute presente no Taktikaacute265 cuja versatildeo

incompleta teraacute sido aproveitada mais tarde por Constantino VII266 Isto demonstra que o

Saacutebio apesar de natildeo participar na guerra se sentia muito atraiacutedo por estes assuntos o que o

teraacute levado a organizar uma obra que refletisse a forma como a guerra era feita no seu tempo

O que se tivermos em conta a dataccedilatildeo duvidosa do Compecircndio de Siriano (seacutec VI IX ou X)

teraacute sido a primeira versatildeo atualizada do geacutenero267 em quase dois seacuteculos

Assim na nossa opiniatildeo parece-nos possiacutevel concluir que o Taktikaacute deve ser exposto

natildeo soacute como um manual militar mas tambeacutem como um documento cujos propoacutesitos

principais natildeo eram praacuteticos O primeiro seria de iacutendole religiosa-legislativa e tencionava de

certo modo consolidar uma filosofia de guerra cristatilde (natildeo estamos a falar de guerra santa) em

que a piedade e o caraacuteter do general (devia ser bom inteligente leal entre outros atributos)

eram fatores tatildeo importantes para a vitoacuteria militar como a taacutetica a estrateacutegia ou os ardis Mais

tarde com o reafirmar da ameaccedila aacuterabe este propoacutesito saiu reforccedilado com a intenccedilatildeo do

basileuacutes em encontrar uma soluccedilatildeo espiritual e natildeo temporal para fazer frente agrave jihad

264Vide RIEDEL Meredith The Sacrality of a Sovereign Leo VI and Politics in Middle Byzantium p8 in

httpswwwacademiaedu3831861The_Sacrality_of_a_Sovereign_Leo_VI_and_Politics_in_Middle_Byzantiu

m Consultado agraves 330 do dia 4 de outubro de 2017 265 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p76 266 Vide TOUGHER S ndash Op cit p16 267 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 21

61

O outro propoacutesito eacute cultural baseando-se natildeo soacute no chamado laquoRenascimento

Macedoacutenicoraquo que comeccedilou a crescer exponencialmente neste periacuteodo mas tambeacutem no

interesse de Leatildeo VI pelas questotildees militares Estes dois fatores em conjunto com o

enciclopedismo caracteriacutestico do Saacutebio motivaram-no tambeacutem a escrever um tratado onde

combinava o conhecimento dos antigos com a experiecircncia dos seus generais de forma a

reportar a forma como os exeacutercitos ditos temaacuteticos praticavam a guerra ao que acrescentou

alguns comentaacuterios pessoais relacionados com a retoacuterica da guerra em especial na vertente

religiosa Na nossa visatildeo eacute desta forma que o tratado deve ser visto um manual militar que

visava conservar e atualizar a informaccedilatildeo pertinente agraves praacuteticas da guerra ao mesmo tempo

que impulsionava os seus destinataacuterios os strateacutegoi a seguirem um coacutedigo eacutetico moralmente

bom e de base religiosa que ndash segundo Leatildeo VI ndash acabaria por os conduzir agrave vitoacuteria

42 ndash Estrutura interna da fonte

Na sua organizaccedilatildeo o Taktikaacute apresenta-se como um conjunto de Constitutiones ou

seja como um conjunto de decretos imperiais direcionados a um oficial ou a algueacutem que

estivesse encarregado de um qualquer posto estatal268 o que condiz com o objetivo principal

deste manual de legislar a guerra sob a autoridade imperial De facto o proeacutemio269 que

inaugura este tratado encontra-se modelado de forma muito semelhante aos que servem como

introduccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo imperial particularmente o do Proacutecheiros Noacutemos seguindo um

formato proacuteprio que pertence ao chamado laquomodelo tripartidoraquo a invocatio a intitulatio e a

inscriptio270 Desta forma o proeacutemio do Taktikaacute comeccedila com uma invocatio nomeadamente agrave

Sagrada Trindade seguido de uma intitulatio com o nome e os tiacutetulos do imperador Do

modelo tripartido a uacutenica coisa que falta eacute a inscriptio porque o tratado natildeo se dirige a um

general em especial mas sim ao conjunto dos strateacutegoi271

No Proacutelogo segue-se o corpo principal da ldquolegislaccedilatildeordquo constituiacutedo por trecircs partes a

narratio a dispositio e o epilogus A narratio272 do Taktikaacute ocupa os espaccedilos entre as linhas

25 e 54 do Proacutelogo e relata o problema e a forma como este chegou agrave atenccedilatildeo imperial273

Leatildeo VI diz enfrentar o facto de os comandantes bizantinos se terem esquecido

completamente das miacutenimas noccedilotildees de estrateacutegia e de taacutetica Este efeito teraacute sido causado pela

268 Vide LUTTWAK Edward N (2009) The Grand Strategy of the Byzantine Empire Cambridge e Londres

The Belknap Press of Harvard University Press p 305 269 Prefaacutecio 270 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 121 271 Vide Anexos VIII f) 272 Secccedilatildeo onde eacute abordado o problema que a legislaccedilatildeo quer resolver 273 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121

62

negligecircncia dos ensinamentos dos antigos pela timidez dos seus generais ou pela falta de

treino e cobardia dos soldados bizantinos Ora de acordo com o autor isto teraacute levado os

Romanos a perder o favor divino e a aura de triunfo militar que tanto emanava deste povo274

Posteriormente o autor propotildee as medidas com as quais vai enfrentar o problema na

dispositio275 que estaacute entre as linhas 55-89276 A soluccedilatildeo que Leatildeo apresenta eacute a ediccedilatildeo de um

pequeno manual militar para que citamos os que laquodesejam comandar tropas possam ter

raacutepido acesso a uma vasta reserva de experiecircncia no que respeita a combate e a campanhas

militaresraquo277 Nesta obra juntam-se os dados das fontes antigas (eliminando aqueles acerca de

formaccedilotildees que considera obsoletas ou natildeo claramente descritas e traduzindo os termos em

Latim para Grego) que considera mais uacuteteis na praacutetica da guerra bem como laquoa limitada

experiecircnciaraquo dos seus generais numa linguagem laquopraacutetica clara (hellip) e simplesraquo278 O Proacutelogo

conclui com um epilogus279 que indica os conteuacutedos (pela forma como estatildeo ordenados) que

vatildeo ser abordados no manual280

Apoacutes esta breve anaacutelise do Proacutelogo e da sua natureza legislativa procedemos a uma

raacutepida enumeraccedilatildeo das Constitutiones da ordem em que se encontram dispostas e dos seus

conteuacutedos Como jaacute se avisou o Taktikaacute possui duas versotildees integrais tendo uma estrutura

diferente em cada uma delas A versatildeo mais antiga estaacute no coacutedice Mediceo-Laurentianus

graecus 554 e encontra-se dividida em 16 constitutiones seguidas por um conjunto de

maacuteximas um epiacutelogo e trecircs tratados sobre ataques surpresa poliorceacutetica e guerra naval281

Por sua vez no coacutedex Vindobonensis phil graecus 275 as secccedilotildees que natildeo faziam

inicialmente parte do tratado satildeo incluiacutedas e ordenadas dentro deste da seguinte forma

Constitutio XIV ndash O Dia de Batalha Constitutio XV ndash Guerra de Cerco Constitutio XVI ndash O

Dia a seguir agrave batalha Constitutio XVII ndash Ataques Surpresa Constitutio XVIII ndash Costumes

de Diferentes Naccedilotildees Constitutio XIX ndash Guerra Naval Constitutio XX ndash laquoMaacuteximas

Concisasraquo Epiacutelogo De acordo com G Dennis eacute este o manuscrito que segue a ordem do

Proacutelogo282

O que podemos dizer em relaccedilatildeo agrave estrutura Desde jaacute que se encontra dividida de

uma forma temaacutetica e extremamente bem planeada O autor comeccedila por um capiacutetulo

274 Vide Anexos VIII l) 275 Vide Idem Ibidem p 121 276 Vide Anexos VIII m) 277 Vide DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 6-7 278 Vide Idem Ibidem pp 6-7 279 Vide Anexos VIII n) 280 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121 281 DENNIS G T (2014) ndash Op cit p x 282 Idem Ibidem p x

63

introdutoacuterio (Const I) onde define o que satildeo laquotaacuteticasraquo a forma como a guerra deve ser

preparada que tipos de unidades envolve (cavalaria infantaria marinha) e o general

(strategoacutes) em si o que eacute o que o deve caracterizar e quais satildeo os seus objetivos Leatildeo fala

destas questotildees de forma mais detalhada no capiacutetulo seguinte (Const II) que se chama

laquoSobre as Qualidades Requeridas num Generalraquo Na Constitutio III explica ao general de que

forma ele deve fazer os planos como deliberar e em que pessoas deve confiar

Eacute no quarto capiacutetulo (Const IV) que o Taktikaacute se comeccedila a debruccedilar sobre as questotildees

relativas agrave preparaccedilatildeo da guerra que homens se devem escolher para o exeacutercito e como

colocaacute-los em cada uma das suas divisotildees quem deve ser escolhido para oficial de que forma

a hierarquia militar estaacute dividida e o que compete a cada um dos seus membros e os nuacutemeros

e formas em que cada divisatildeo devia estar organizada Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre

armamento (Const V) que natildeo eacute mais que uma lista de todo o tipo de armas ofensivas e

defensivas ferramentas logiacutesticas maacutequinas de cerco e seu material de apoio transportes

fluviais animais para montar e bestas de carga entre outros conselhos p ex sobre a

importacircncia de um almirante ter navios prontos para as mais diversificadas funccedilotildees A secccedilatildeo

seguinte (Const VI) trata de forma detalhada que equipamento e armamento cada homem

deve ter (organizando no fundo o que tinha sido exposto no capiacutetulo anterior) em funccedilatildeo da

sua tipologia (oficial cavalaria infantaria pesada infantaria ligeira e apoio logiacutestico) seguido

de uma Constitutio (VII) sobre a forma como o treino de cavalaria e infantaria deve ser feito

O conjunto de capiacutetulos seguintes eacute inaugurado por um segmento acerca de puniccedilotildees

militares (Const VIII) que relata vaacuterios crimes e malfeitorias e a respetiva puniccedilatildeo As

Constitutiones que se lhe seguem aludem a questotildees logiacutesticas Marchas (Const IX) Trem-

de-apoio (Const X) e Acampamentos (Const XI) Ateacute aqui os capiacutetulos podem ser inseridos

(salvo alguns segmentos excecionais como as Constitutiones relativas a armamento e treino)

na disciplina da strategikaacute

A partir daqui a taktikaacute vai ocupar uma grande parte do tratado comeccedila com uma

Constitutio (XII) sobre a preparaccedilatildeo para o combate onde se volta a referir um grande

nuacutemero de exerciacutecios taacuteticos incluindo sinaleacutetica e comandos vocais A secccedilatildeo seguinte

(Const XIII) aborda o que deve ser feito imediatamente antes do combate nomeadamente

formas de levantar a moral e distribuiccedilatildeo de mantimentos e vinho A Constitutio XIV refere o

que deve ser feito na batalha envolvendo um grande nuacutemero de formaccedilotildees movimentaccedilotildees

taacuteticas e estratagemas Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre a poliorceacutetica (Const XV) nas

suas duas vertentes ofensiva e defensiva Por fim o capiacutetulo XVI debruccedila-se sobre o que

64

deve ser feito no final da batalha accedilatildeo de graccedilas a Deus reparticcedilatildeo dos despojos tratamento

de prisioneiros entre outros

A Constitutio XVII estaacute inserida na strategemataacute pois frisa os embustes a guerra de

guerrilha e os meios de contrariar ataques-surpresa adversaacuterios ou de limitar os ganhos do

rival Segue-se um capiacutetulo (Const XVIII) que expotildee a forma como os Romanos devem fazer

a guerra contra os seus adversaacuterios enfatizando o armamento os haacutebitos e as formaccedilotildees

proacuteprias destes em especial dos Aacuterabes A naumachikaacute forma uma secccedilatildeo uacutenica (Cons XIX)

e o uacuteltimo capiacutetulo (Const XX) reuacutene um conjunto de maacuteximas militares que pretendem no

fundo resumir o que foi tratado ao longo do Taktikaacute Por fim o Epiacutelogo estaacute dividido em trecircs

partes uma claramente religiosa que aborda a relaccedilatildeo entre Deus e a Humanidade uma

segunda que reuacutene as principais noccedilotildees de cada Constitutio que compotildeem a obra finalmente

exorta-se o strategoacutes a seguir os preceitos do Taktikaacute (ainda que de um modo flexiacutevel)

referindo tambeacutem como motivo principal para a escrita deste manual a ameaccedila sarracena283 O

tratado encerra com um Amen o que alude agrave possiacutevel dimensatildeo (e intento) religioso que o

autor teria porquanto enfatiza a autoridade tanto legislativa como divina do autokraacutetor284

Como conclusatildeo a este subcapiacutetulo resta-nos situar aqui as afirmaccedilotildees de Meredith

Riedel que defende que o Taktikaacute eacute tambeacutem uma laquoteia de ligaccedilotildeesraquo onde a informaccedilatildeo de

uma Constitutio complementa os dados de outra A historiadora utiliza ainda alguns exemplos

como o facto de a Constitutio XX e o Proacutelogo partilharem a mesma foacutermula teoloacutegica

enquanto a Constitutio II e o Epiacutelogo apresentam informaccedilotildees diferentes mas

complementares acerca do tipo de pessoa que o general deveria ser285

43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees

O percurso histoacuterico do Taktikaacute comeccedila obviamente no seu aparecimento durante o

reinado de Leatildeo VI na passagem do seacuteculo IX para o X Depois disto verificamos que este

manual foi copiado e incluiacutedo em trecircs famiacutelias de manuscritos compiladas entre

aproximadamente 950 e 1050 dC Dentro do corpo de manuscritos mais antigos verifica-se

a existecircncia de coacutepias do Taktikaacute em dois documentos Uma transcriccedilatildeo deste manual estaacute

inserida no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 uma compilaccedilatildeo de tratados militares

gregos datada dos meados do seacuteculo X possivelmente de pouco antes da morte de

283 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit pp 443 e 444 284 Idem Ibidem p 444 285 Vide RIEDEL M ndash Op cit p 5

65

Constantino VII Porfirogeneta em 959 Como jaacute foi referido286 a coacutepia do Taktikaacute neste

corpus (que comeccedila no foacutelio 281 em 404) possui 16 constitutiones a que se seguem o

epiacutelogo uma coleccedilatildeo de maacuteximas e trecircs tratados sobre strategemataacute poliorketikaacute e

naumachikaacute287 Estes segmentos em separado vatildeo ser compilados e organizados no corpo

principal do tratado no outro coacutedice o Vindobonensis phil graecus 275 (que tambeacutem faz

parte desta famiacutelia de textos) Esta versatildeo da obra trata-se ainda de uma versatildeo expandida

daquela inserida no Mediceo-Laurentianus pois possui um conjunto de comentaacuterios nas

margens que pretendem clarificar certos termos do texto288 No entanto esta transcriccedilatildeo

apresenta algumas partes em falta das quais John Haldon realccedila a abertura do proeacutemio a

integralidade do Epiacutelogo e a maior parte da Constitutio XX289

A segunda famiacutelia de manuscritos estaacute datada para a segunda metade do seacuteculo X e eacute

inaugurada pelo coacutedex Ambrosianus B 119 A versatildeo do Taktikaacute neste corpus (que comeccedila no

foacutelio 189 em 347) natildeo deve no entanto ser tratada como uma coacutepia integral mas sim como

uma paraacutefrase onde vaacuterias palavras se encontram transpostas De acordo com George Dennis

a utilidade deste texto para a traduccedilatildeo do Taktikaacute prende-se apenas com o facto de

providenciar certos segmentos de texto completos ou corretos que natildeo figuram desse modo no

Mediceo-Laurentianus graecus 554 Esta transcriccedilatildeo apresenta ainda uma estrutura diferente

das anteriores estando a Constitutio XX original ordenada como sendo a XIX uma vez que o

capiacutetulo que se ocupa da Naumachikaacute eacute considerado neste corpus como um tratado

independente290 que inaugura uma secccedilatildeo acerca dessa disciplina da tratadiacutestica291

Por uacuteltimo a terceira famiacutelia eacute aquela que inclui o maior nuacutemero de manuscritos mas

dentro destes apenas trecircs satildeo importantes para a traduccedilatildeo e o estudo do texto o coacutedice

Vaticanus graecus que conteacutem uma versatildeo incompleta do Taktikaacute que comeccedila na Constitutio

V a laquocombinaccedilatildeoraquo (mal separada) do Parisinus graecus 2442 e do Barberinianus graecus II

97 e por fim o manuscrito que resulta da conjugaccedilatildeo do Neapolitanus graecus 284 e do

Scorialensis graecus Y-III-11 Estes trecircs textos tiveram origem no scriptorium de Ephraim

em Constantinopla292

286 Cf supra 42 287 Vide DENNIS G (2014) ndash Op cit px 288 Idem Ibidem p xi 289 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 56 290 Batizado de Ναυμαχικὰ Λέοντος βασιλέως (a Naumachikaacute do basileuacutes Leatildeo) cf Idem Ibidem p 389 291 Por ordem estatildeo nesta secccedilatildeo os seguintes tratados (ou excertos de) a Constitutio XIX seis paraacutegrafos do

Taktikaacute uma secccedilatildeo do Stratēgikoacuten acerca da travessia de rios o Naumachiacuteai de Siriano e por fim o

Naumachikaacute do parakoimṓmenos Basiacutelio datado dos finais dos anos 50 do seacuteculo X cf Idem Ibidem p389 292 Vide Idem Ibidem p 58

66

Durante o seacuteculo XVI mais precisamente em 1552 foram impressas algumas paacuteginas

da Constitutio IV que estavam no coacutedice Monacensis graecus 244 em Veneza293 Deste

seacuteculo existem ainda mais alguns manuscritos que contecircm partes ou coacutepias completas do

tratado mas como Dennis294 natildeo os considera pertinentes ou particularmente uacuteteis para um

estudo ou uma reconstituiccedilatildeo do texto original tambeacutem natildeo seratildeo mencionados aqui295

A primeira versatildeo completa da obra foi publicada na cidade de Leyden em 1612 por

Joanes Meurs mais tarde corrigida e comparada com o texto presente no Mediceo-

Laurentianus e publicada em 1745 na cidade de Florenccedila por J Lami Uma coacutepia desta

ediccedilatildeo foi incluiacuteda na Patrologia graeca de J P Migne compilada entre 1857-1861 Mais

tarde o tradutor huacutengaro Rudolfi Vaacuteri publicou a primeira ediccedilatildeo criacutetica do Taktikaacute em dois

volumes296 onde estavam presentes apenas as Constitutiones entre o Proacutelogo (inclusive) e a

Constitutio XIV (nesta o texto ia ateacute agrave linha 228) e mais tarde a Constitutio XVIII bem

como uma traduccedilatildeo huacutengara297 da mesma298

Por fim natildeo podiacuteamos deixar de referir a primeira traduccedilatildeo e criacutetica do Taktikaacute em

inglecircs realizada pelo Padre George T Dennis e publicada em 2010 que conteacutem tambeacutem o

texto original organizado de acordo com o Vindobonensis phil graecus 275 Posteriormente

em 2014 esta publicaccedilatildeo acabaria por ser reeditada299 tendo-se procedido agrave correccedilatildeo de

alguns erros do livro original Esta ediccedilatildeo revista da traduccedilatildeo do Padre Dennis foi

acompanhada no mesmo ano por um livro de John Haldon com comentaacuterios agrave obra300 o qual

contribuiu decisivamente para o enriquecimento da traduccedilatildeo

293 DENNIS G (2014) ndash Op cit p xiii 294 Idem Ibidem p xii 295 Um dos transcritores do texto Vaacuteri teraacute contado cerca de 88 manuscritos Vide VAacuteRI Rudolfi (ed) (1917-

1922) Leonis imperatoris tactica Sylloge Tacticorum Graecorum 3 Budapeste pp 1xv-xxix Apud DENNIS

G (2014) ndash Op cit p xii 296 Denominada ldquoLeonis imperatoris taacutecticardquo 297 A referecircncia bibliograacutefica desta traduccedilatildeo eacute VAacuteRI Rudolfi (1900) Boles Leo Hadi Taktikajanak XVIII

Fejezete In PAULER G e SZILAacuteGYI S (ed) A Magyar Honfoglalas Kutfoi [As fontes da conquista

huacutengara] Budapeste pp 3-89 Apud DENNIS G (2014) ndash Op cit p xii 298 Cf Idem Ibidem p xiii 299 Cf Idem Ibidem p vii 300 O ldquoA Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo jaacute referido nesta dissertaccedilatildeo

67

Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general

laquoA ciecircncia da estrateacutegia consiste na praacutetica conjunta de bons generais ou seja (eacute) o

estudo e exerciacutecio atraveacutes de estratagemas ou mesmo da recolha dos siacutembolos da vitoacuteriaraquo

(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio 1 linhas 7-8301)

O tratado de Leatildeo VI inicia o seu percurso com um conjunto de preceitos estrateacutegicos

relacionados com o general (Const I e II) a importacircncia de deliberaccedilatildeo e de um bom

planeamento (Const III) as divisotildees do exeacutercito bizantino oficiais e outros encargos no

periacuteodo de escrita do tratado (Const IV) as puniccedilotildees militares e os toacutepicos da logiacutestica -

ordens de marcha trens-de-apoio e acampamentos (Const VIII-XI)

Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir este capiacutetulo de acordo com os temas

relacionados com esta disciplina claacutessica No primeiro ponto vamos abordar a figura do

general a forma como Leatildeo VI o idealizava e de que maneira eacute que esse cariz tinha realmente

influecircncia no combate De seguida observaremos o exeacutercito bizantino no Taktikaacute a forma

como se encontrava estruturado o perfil dos recrutas os seus oficiais entre outros Por fim

vamos observar questotildees de acircmbito logiacutestico entre as quais movimentaccedilotildees de exeacutercitos

organizaccedilatildeo de trens-de-apoio construccedilatildeo de acampamentos

51 ndash O strategoacutes de Leatildeo

laquoO general eacute a pessoa que depois do imperador tem mais autoridade do que

qualquer outra no conjunto da proviacutencia subordinada a ele O general eacute o chefe do

theacutema militar sob o seu comandoraquo

(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio I linhas 28-30)

O strategoacutes eacute o ponto fulcral do manual militar e eacute sem duacutevida o destinataacuterio deste

coacutedigo legislativo Atrevemo-nos a dizer que se o proeacutemio do Taktikaacute possuiacutesse uma

inscriptio quem laacute estaria designado seriam os generais do Impeacuterio Bizantino ndash os strateacutegoi

dos themaacuteta Na nossa opiniatildeo eacute claro (talvez oacutebvio) os generais ndash ou quem desejasse

comandar tropas ndash serem o ldquopuacuteblico-alvordquo desta produccedilatildeo militar Afinal eram estes oficiais a

mente do exeacutercito encarregados de tomar as decisotildees que ditavam a vitoacuteria ou a derrota

dentro ou fora do campo de batalha Tatildeo importante como estes fatores era a condiccedilatildeo do

301 Para o grego vide DENNIS George T (2014) ndash Op cit p 12 Sobre a maneira como a traduccedilatildeo inglesa

deste excerto deve ser feita vide HALDON J (2014) ndash Op cit p129

68

general como exemplo para os homens sob o seu comando ou como forccedila de oposiccedilatildeo aos

viacutecios mais destrutivos do homem (como a ganacircncia)

Logo na sua primeira Constitutio o basileuacutes esboccedila o perfil do homem que quer ao

comando das suas forccedilas saacutebio corajoso justo discreto302 e leal303 Na Constitutio seguinte

acrescenta mais algumas qualidades serem autocontrolados no que toca aos seus viacutecios terem

um modo de vida frugal serem incansaacuteveis304 gentis mas natildeo lenientes para com os seus

soldados exigentes mas natildeo demasiado severos305 Neste uacuteltimo aspeto o imperador defende

que o general deve ser amado pelos seus soldados306 pois tal efeito motivaacute-los-aacute a obedecer agraves

ordens dele mais rapidamente e a lutarem com mais fervor a seu lado307

A justiccedila a gentileza e a humildade revelam-se nas palavras do imperador no capiacutetulo

sobre guerra de cerco sendo cruciais apoacutes a tomada de um siacutetio fortificado Leatildeo VI defende

que as populaccedilotildees devem ser tratadas daquela forma para que aceitem os seus

conquistadores citando os feitos de Niceacuteforo Focas O Velho O reputado strategoacutes teraacute

conquistado os Lombardos natildeo soacute pela forccedila das armas mas tambeacutem pelo seu caraacuteter quando

tratou com justiccedila os habitantes das povoaccedilotildees da Calaacutebria os isentou de impostos e os salvou

da escravidatildeo308 Por outro lado recordamos a perda de Benevento pelos Bizantinos em

895309 que teratildeo sido traiacutedos pela populaccedilatildeo depois de a terem oprimido e maltratado

Para o autor a inteligecircncia constitui uma virtude quase sem paralelo em todas as suas

vertentes (perspicaacutecia arguacutecia eloquecircncia entre outros) como se vecirc no seguinte excerto

laquoQuando se trata dos prazeres do corpo ele deve praticar o autocontrolo Mas nos

aspetos da mente ele eacute insaciaacutevel e nunca fica satisfeito nos seus esforccedilos de praticar accedilotildees

bem-sucedidas Quando a situaccedilatildeo ainda natildeo eacute clara ele apercebe-se do que tem de ser feito

Inteligente e perspicaz ele estaacute sempre certo quando avalia o que estaacute escondido naquilo que

estaacute visiacutevel Ele eacute experiente em armar e formar o seu exeacutercito em posiccedilotildees de batalha As

suas palavras satildeo capazes de ressuscitar o moral do exeacutercito quando estaacute baixo preenchecirc-lo

com boas expectativas e preparaacute-lo para enfrentar perigos Ele deve ser muito rigoroso no que

302 Vide Anexo VIII q) 303 Vide Anexo VIII j) 304 Taktikaacute II3-10 305 Taktikaacute II131-136 Esta secccedilatildeo eacute uma paraacutefrase de Onasandro vide Onasandro Strategikoacutes II (a partir de

agora as referecircncias desta obra vatildeo passar a ser feitas da seguinte forma Onas livro) 306 Devendo fazer por ter uma relaccedilatildeo paternal com eles e ateacute viver comcomo eles Taktikaacute XX36-37

paraacutegrafo que acusa influecircncia do Stratēgikoacuten VIII1(3) ndash que por sua vez a fora buscar a Onas I 307 Taktikaacute II46-50 308 Taktikaacute XV201-206 309 Cf supra 22 natildeo tivemos acesso agrave fonte lombarda pelo que remetemos para Giorgio Ravegnani de onde

obtivemos esta informaccedilatildeo em primeiro lugar Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p160

69

toca a acordos ou promessas natildeo ser demovido por bons falantes que o querem afastar do seu

deverraquo310

A capacidade de decisatildeo eacute outra valecircncia fundamental para um general para que ele

evite grandes riscos em certas accedilotildees311 Este ponto eacute reforccedilado na Constitutio III ndash laquoSobre

como eacute necessaacuterio fazer planosraquo ndash num capiacutetulo onde Leatildeo exorta o general a ter cabeccedila fria e

a ser cuidadoso nas suas decisotildees312 mas tambeacutem a ser prudente na escolha dos seus

conselheiros313 Em relaccedilatildeo ao processo deliberativo o autor aconselha o general a manter

uma postura imparcial no que respeita ao que possa estar associado agrave accedilatildeo em causa a

preservar a mente aberta relativamente a todas as possibilidades que possam desbloquear o

plano e particularmente a ser determinado na altura de agir314

Leatildeo no entanto natildeo se prende a questotildees apenas relacionadas com as virtudes de um

general na altura de o escolher Salienta tambeacutem razotildees de natureza econoacutemica familiar ou

de forma fiacutesica que podem ter importacircncia na altura de selecionar algueacutem para o cargo de

strategoacutes Nas valecircncias sociais o autokraacutetor confessa a sua preferecircncia por generais que

tenham famiacutelia sejam ricos e pertenccedilam a uma boa linhagem desde que claro cumpram os

requisitos das virtudes315 Por outro lado admite que homens pobres e de origens humildes

tambeacutem tecircm direito a ocupar esta funccedilatildeo316 desde que mostrem habilidade e probidade

Em termos de idade Leatildeo informa-nos que os melhores generais satildeo aqueles que jaacute

possuem alguma experiecircncia militar evidenciando boa forma fiacutesica317 De outra maneira nas

palavras do imperador seratildeo criados strateacutegoi com boa laquomente deficitaacuteria em forccedila fiacutesicaraquo ou

com laquoforccedila desprovidos de inteligecircnciaraquo e qualquer uma destas foacutermulas natildeo resultaraacute em

nada de produtivo e natildeo seraacute capaz de gerar algum feito proveitoso318

Por fim o strategoacutes deve-se preocupar em estar nas graccedilas de Deus em cumprir os

seus mandamentos e em amaacute-Lo arguindo que qualquer plano ou taacutetica soacute teraacute sucesso se o

general contar com a providecircncia divina O autor remata esta questatildeo comparando um general

310 Taktikaacute II120-128 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 311 Taktikaacute II183-184 312 O processo de planeamento deve decorrer durante algum tempo a natildeo ser que seja necessaacuterio tomar accedilatildeo

imediata vide Taktikaacute III 41-42 Influecircncia principal em Stratēgikoacuten II e VIII1(5) e em Onas III 313 Leatildeo refere duas categorias preferenciais para essa escolha uma primeira de tipo militar onde aconselha o

general a pedir opiniotildees aos turmarcas e oficiais que se seguem na hierarquia em segundo a niacutevel psicoloacutegico

onde a escolha deve recair sobre sujeitos experientes perspicazes e de confianccedila em especial se a decisatildeo estiver

relacionada com uma operaccedilatildeo sigilosa devendo-se evitar indiviacuteduos calculistas que possam fazer perigar o

plano em questatildeo em resultado dos seus interesses Vide Taktikaacute III26-33 e 37-40 314 Taktikaacute III41-42 315 Taktikaacute II114-115 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 316 Taktikaacute II115-116 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 317 Conjugando as duas qualidades que ele atribui aos jovens (forccedila) e aos mais velhos (experiecircncia) 318 Taktikaacute II43-45

70

sem o apoio de Deus mas com grandes habilitaccedilotildees estrateacutegicas ou taacuteticas a um timoneiro

que apesar de ter muita experiecircncia natildeo pode conduzir o seu navio para onde quer porque o

vento sopra no sentido oposto ao que deseja319 O comandante deve ainda assegurar-se de que

a guerra que iraacute travar tem uma causa justa pois soacute assim desfrutaraacute do apoio divino tentando

sempre zelar pela paz320

52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros321

A Constitutio que aborda principalmente este tema (IV) comeccedila com um trecho

original da pena de Leatildeo Aqui satildeo abordadas questotildees relacionadas com o recrutamento de

soldados Que tipo de guerreiros devem ser mobilizados Que condiccedilotildees financeiras devem

ter Devem ter famiacutelia Muito sucintamente a resposta a esta questatildeo eacute a seguinte o

thematikoiacute deve ser corajoso ter boa forma fiacutesica ser nem muito velho nem muito novo e

financeiramente estaacutevel322 Neste ponto o basileuacutes acentua a importacircncia de um soldado se

conseguir equipar sozinho ou com o apoio dos membros do seu lar (familiares ou servos)

A alegaccedilatildeo no final do primeiro paraacutegrafo da Constitutio IV323 permite remeter para

uma preferecircncia de Leatildeo na recruta de stratioacutetai (aqueles que possuem obrigaccedilotildees

militares324) No entanto na Constitutio XX natildeo se descarta a possibilidade de soldados que

natildeo possuiacutessem strateiacutea ou meios econoacutemicos suficientes de participarem na guerra

implicando que estes podiam ser patrocinados por homens ricos com strateiacutea que natildeo

desejassem participar em campanhas Assim aqueles que natildeo possuiacutessem meios econoacutemicos

para se equiparem autonomamente poderiam combater enquanto por outro lado os stratioacutetai

ricos seriam dispensados de participar em campanhas e de cumprir o serviccedilo militar ativo325

O autokraacutetor dedica ainda algumas palavras agrave personalidade ideal do oficial mas

utiliza a mesma descriccedilatildeo (de forma mais sucinta) que dedica para os generais deve ser de

confianccedila crente leal corajoso entre outros predicados Apesar disso refere que deve existir

alguma solidariedade do oficial para com os seus soldados defendendo que caso estes sejam

319 Taktikaacute II 163-167 Encontra influecircncia em Stratēgikoacuten Proacutelogo 320 Vide Anexo VIII o) 321 As Constitutiones referentes a esta temaacutetica satildeo IV e XX 322 Taktikaacute IV3-14 323 Que nos informa ainda de alguns benefiacutecios que o guerreiro bizantino possuiacutea como as isenccedilotildees fiscais de

todos os impostos excluindo o demoacutesion (e de acordo com Haldon subtilmente o kapnikoacuten) vide HALDON J

(2017) - Op cit p 143 324 Cf supra 13 325 Apesar de o homem rico ser algo criticado por Leatildeo que ali o apelida de cobarde Vide Anexos VIII d)

71

ricos devem partilhar alguns dos seus fundos com os seus soldados que por sua vez lhe seratildeo

mais fieacuteis e estaratildeo prontos a enfrentar qualquer adversidade ao seu lado326

Quanto agrave estrutura do exeacutercito Leatildeo informa-nos que a unidade baacutesica do exeacutercito

imperial eacute o taacutegma ou o baacutendon327 que deveria ter cerca de 300 homens preferencialmente e

ser comandado pelo koacutemes Caso este nuacutemero natildeo se pudesse cumprir devia ter entre 200 e

400 soldados natildeo podendo ter menos ou mais que este nuacutemero Mauriacutecio indica que o

nuacutemero de homens nos seus taacutegmata deveria estar entre 300 a 400 efetivos328 enquanto um

tratado mais tardio o Sylloge Tacticorum informa que a quantidade de soldados dependeria

do tipo de unidade se fosse de cavalaria ia dos 50 aos 400 homens se fosse de infantaria dos

200 aos 400329 Cada baacutendon deveria possuir ainda um porta-estandarte

Na altura de combater os baacutenda eram divididos em decarquias (fileiras) que podiam

conter um nuacutemero variado de homens nela dependendo da extensatildeo das fileiras podendo ter

quatro cinco oito dez ou dezasseis soldados organizados por laccedilos familiares ou de

amizade330 A fileira devia ser liderada por um decarca tendo de possuir ainda um pentarca331

para ocupar o centro da fileira e dois tetrarcas332 para as posiccedilotildees de retaguarda333 Em caso

de desdobramento das decarquias uma das colunas seria liderada pelo decarca e encerrada

por um tetrarca enquanto outra era encabeccedilada pelo pentarca334 e fechada por outro tetrarca335

Estas unidades deviam ser compostas por membros das mesmas comunidades ou famiacutelias de

forma a motivaacute-los a combater melhor na hora da batalha

326 Vide Taktikaacute IV25-29 327 Para evitar confusatildeo com os corpos militares imperiais com a mesma atribuiccedilatildeo passaremos a referir-nos a

esta unidade apenas como baacutendon (ou baacutenda caso seja plural) Poderemos eventualmente utilizar

taacutegmataacutegmata se nos estivermos a referir agrave unidade baacutesica do exeacutercito de Mauriacutecio 328 Stratēgikoacuten I4 329 Tendo em conta a proximidade de escrita dos dois tratados (o Sylloge seraacute da primeira metade do seacuteculo X se

natildeo do proacuteprio reinado de Leatildeo) John Haldon acredita que podemos estimar que a realidade militar na altura da

escrita do Taktikaacute se pode aproximar mais dos valores do Sylloge do que dos do Taktikaacute que eacute muito

influenciado pelo Stratēgikoacuten vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 59 330 Taktikaacute IV162-167 Influecircncia de Onasandro Onas XXIX 331 No Stratēgikoacuten este homem ocupa a segunda posiccedilatildeo da fileira Stratēgikoacuten III2 Leatildeo no entanto parece

misturar o pentarca com o tetrarca Na Constitutio XVIII quando fala da organizaccedilatildeo preferiacutevel para um exeacutercito

de um theacutema em batalha refere que o pentarca tambeacutem eacute o ouraacutegos ou seja o homem que fecha a linha

Taktikaacute XVIII770-776 332 Leatildeo natildeo informa diretamente que deva haver dois tetrarcas mas informa que devem existir dois ldquoguardas-

de-colunardquo que ocupam as duas uacuteltimas posiccedilotildees da fileira Uma vez que haveraacute a possibilidade de desdobrar a

fileira advindo daiacute a necessidade de haver dois tetrarcas eacute provaacutevel que os homens que ocupassem esta posiccedilatildeo

jaacute estivessem escolhidos numa fileira singela 333 Taktikaacute IV79-84 334 Haldon adverte para o facto de estas unidades taacuteticas (pentarca e tetrarca) natildeo serem permanentes pois soacute

aparecem em tratados militares Daiacute deduzimos que os homens que ocupam estas posiccedilotildees soacute eram escolhidos na

altura de organizar o exeacutercito Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 152 335 Idem Ibidem p162

72

Mas regressemos agrave estrutura do exeacutercito Um conjunto de bandaacute forma um

drouacutengos336 liderado por um drungaacuterio natildeo devendo ultrapassar os 3000 homens Vaacuterios

drouacutengoi formam uma touacuterma337 comandada por turmarca que natildeo pode ter mais de 6000

homens338 Finalmente trecircs touacutermai339 formam um exeacutercito sob o strategoacutes existindo ainda

um hypostrategoacutes que eacute o comandante da segunda touacuterma que poderaacute tomar conta das

funccedilotildees do strategoacutes se assim for necessaacuterio340

Por fim Leatildeo adverte que se deve ter cuidado com o tamanho das touacutermai e dos

drouacutengoi natildeo podendo ser demasiado numerosos para natildeo comprometer a capacidade de

lideranccedila dessas unidades341 Qualquer excesso de homens deve ser utilizado para proteger a

retaguarda e os flancos da primeira formaccedilatildeo de batalha ou para participar em emboscadas ou

flanqueamentos Por outro lado aconselha o general a ter cuidado com o nuacutemero dos bandaacute

recomendando que estes tenham quantidades de soldados distintas para evitar que os

batedores inimigos consigam estimar com clareza quantos homens tem o exeacutercito romano342

Relativamente ao nuacutemero de soldados por exeacutercito Leatildeo pressupotildee que uma hoste de

tamanho meacutedio deveria ter entre 5000 e 12 000 homens343 O valor maacuteximo apresentado

envolveria uma mobilizaccedilatildeo quase integral dos stratioacutetai laquotemaacuteticosraquo uma quantidade de

homens sem duacutevida exagerada para um exeacutercito de um uacutenico theacutema344 Natildeo nos podemos

esquecer de que quanto maior eacute o nuacutemero de homens em campanha maiores seratildeo os

problemas logiacutesticos para essa hoste (vai necessitar de um trem-de-apoio maior de mais natildeo-

combatentes o que por sua vez pressuporaacute uma velocidade mais lenta visto natildeo se tratar de

um exeacutercito noacutemada) O valor mais provaacutevel seriam os 4000 homens (usuais) que ele refere

quando fala das campanhas a Oriente contra os Aacuterabes345 tendo em conta a velocidade de

deslocaccedilatildeo de que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam para conseguir agir contra estas

investidas inimigas346

336 No Stratēgikoacuten de Mauriacutecio a unidade equivalente era a moira ou quiliarquia comandada por um moirarca ou

quiliarca Stratēgikoacuten I4 337 Corresponde aos meros de Mauriacutecio liderados por um merarca Vide Stratēgikoacuten I4 338 Taktikaacute IV194-196 339 Leatildeo adverte que cada uma destas divisotildees tem de ter o mesmo nuacutemero de homens Taktikaacute IV 189-193

Encontra reflexo em Stratēgikoacuten I4 340 Taktikaacute IV186-188 Stratēgikoacuten I4 341 Taktikaacute IV202-204 Conselho tambeacutem presente em Stratēgikoacuten I4 342 Taktikaacute IV205-208 Stratēgikoacuten I4 343 Taktikaacute XII174-175 Strategikoacuten II4 344 Taktikaacute IV74-175 e HALDON J (2014) ndash Op cit p103 345 Taktikaacute XVIII841-843 346 Neste caso seriam possivelmente quatro mil homens de cavalaria ligeira a kaballarika themata talvez com

algumas tropas de infantaria (montada quiccedilaacute) para os apoiar caso fosse necessaacuterio O grosso da infantaria (mal

equipada e treinada) ficaria encarregada de guarnecer fortificaccedilotildees e outros pontos estrateacutegicos Vide HALDON

J (2001) ndash Op cit p52

73

De facto hostes mais numerosas soacute seriam viaacuteveis se resultassem da conjugaccedilatildeo de

meios e de soldados de vaacuterios themaacuteta para fazer frente a uma invasatildeo de elevadas

proporccedilotildees Tal parece ter sido o caso de Lalacatildeo quando um exeacutercito bizantino formado por

soldados de vaacuterios themaacuteta e dos taacutegmata aniquilou uma hoste aacuterabe em prol de possuir

superioridade numeacuterica347 ou do exeacutercito de Leatildeo Katakalon derrotado em Bulgarophygon

no ano de 896348

Regressando aos oficiais Leatildeo refere ainda mais alguns bem como certos tipos de

soldados apesar de isto ser quase uma paraacutefrase do Stratēgikoacuten onde a terminologia eacute

alterada (ou adicionada) para corresponder agrave realidade do tempo do basileuacutes Por exemplo as

tropas de assalto (kouacutersores) responsaacuteveis por carregar ou perseguir soldados inimigos satildeo

apelidadas de proklaacutestai ou proacutemachoi enquanto os militares encarregados de os apoiar caso

tenham de retirar satildeo chamados defensores (agrave semelhanccedila do tempo de Mauriacutecio) ou

ekdiacutekous349 No Taktikaacute os espiotildees chamam-se skoulkaacutetores enquanto no Stratēgikoacuten satildeo

denominados de batedores350 Por exemplo o porta-capas351 natildeo estaacute presente no Taktikaacute Os

restantes encargos352 apontados pelo autor tecircm exatamente a mesma nomenclatura que no

Stratēgikoacuten

Leatildeo refere ainda alguns cargos civis mas que satildeo de extrema importacircncia para o

exeacutercito de um theacutema o protonotaacuterio o cartulaacuterio e o pretor Acerca do protonotaacuterio jaacute

aludimos agrave sua importacircncia no primeiro capiacutetulo353 O cartulaacuterio era um oficial escolhido pelo

logotheacutesion totilden genikon sendo o responsaacutevel pelos registos militares de um theacutema por fim o

pretor era o oficial que tratava das questotildees juriacutedicas numa proviacutencia354

53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos

A seguranccedila de um exeacutercito enquanto se desloca de regiatildeo em regiatildeo eacute uma questatildeo

central Primeiro porque uma hoste em andamento eacute extremamente vulneraacutevel caso se veja a

braccedilos com um ataque-surpresa ou a atravessar terreno difiacutecil Segundo porque uma multidatildeo

de soldados em movimento representa um grave risco para as populaccedilotildees locais caso o

347 HALDON J (2001) ndash Op cit p85 348 TOUGHER S ndash Op cit p79 349 Taktikaacute IV100-102 Stratēgikoacuten IV3 350 Taktikaacute IV110-111 Stratēgikoacuten IV3 351 Oficial responsaacutevel por escoltar o porta-estandarte HALDON J (2014) ndash Op cit p153 Stratēgikoacuten IV3 352 Flanqueadores guarda-flancos corpos meacutedicos e responsaacuteveis de aquartelamento entre outros 353 Cf supra 11 354 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp 159-160

74

percurso seja efetuado no proacuteprio territoacuterio bizantino ou aliado Terceiro porque no caso de

Bizacircncio o ato de marcha em formaccedilatildeo representa tambeacutem ele um treino de disciplina e um

exerciacutecio praacutetico para o soldado355 bem como um exerciacutecio de comando para quem estiver agrave

frente dessa forccedila (o strategoacutes o turmarca ou outro)

As primeiras indicaccedilotildees de Leatildeo remetem para a seguranccedila dos suacutebditos do imperador

e natildeo dos soldados em si O basileuacutes emite dois avisos nesse sentido primeiramente que o

general deve manter os seus soldados sob controlo e evitar a todo custo que estes saqueiem e

destruam as possessotildees dos suacutebditos de Constantinopla em segundo abandonar o territoacuterio

bizantino o mais cedo possiacutevel de forma a evitar que se gastem os recursos alimentares

romanos (frisando ainda que quanto mais rico for o territoacuterio do adversaacuterio melhor)356

Enquanto o exeacutercito avanccedila os soldados devem comeccedilar a exercer as suas funccedilotildees os

minsouratores357 devem ser enviados para bater o terreno (caso este seja desconhecido e natildeo

haja acesso a guias locais) e para montar o acampamento Quanto aos esquadrotildees de

aquartelamento devem comeccedilar a procurar fontes de aacutegua e locais para forragens358

O basileuacutes procede ainda a uma clarificaccedilatildeo sobre a forma como o exeacutercito em marcha

deve proceder em alguns terrenos com muito arvoredo ou desnivelado359 em territoacuterio

cultivado bizantino360 ou inimigo (onde aconselha que se pilhe o que se puder e se destrua o

que natildeo se puder aproveitar)361 a atravessar rios onde Leatildeo utiliza uma experiecircncia do pai

como jaacute referimos362 e nos desfiladeiros Das marchas assinaladas decidimos dar preferecircncia

agrave forma de atravessar terrenos difiacuteceis ou desfiladeiros o que se afigurava de elevada

importacircncia para a conjuntura estrateacutegica da eacutepoca saber como ocupar uma kleisoucircrarchia363

era algo fundamental na guerra travada a Oriente e a Ocidente (contra os Buacutelgaros) tanto a

niacutevel defensivo como ofensivo

Assim se um exeacutercito provincial desejasse atravessar uma garganta montanhosa

deveria enviar contingentes agrave sua frente para ocuparem os pontos altos e as embocaduras

dessas passagens antes que os seus inimigos o pudessem fazer colocando em risco a

355 Taktikaacute IX23-25 356 Taktikaacute IX3-13 Assinalem-se as influecircncias de Onas VI 357 Batedor responsaacutevel por encontrar um lugar ideal para se construir um acampamento Taktikaacute IV103-105 358 Taktikaacute IX33-41 359 Taktikaacute IX42-46 O autor informa o general de que deve enviar um grupo de soldados para nivelar o terreno

e cortar as aacutervores ao longo do percurso pretendido caso fosse necessaacuterio 360 Taktikaacute IX73-82 361 Taktikaacute IX97-103 362 Vide Anexo VIII g) 363 Aqui natildeo nos referimos aos pequenos distritos militares mas sim aos desfiladeiros

75

seguranccedila da hoste bizantina364 Soacute depois disto acontecer eacute que o strategoacutes deveria ordenar

aos seus soldados365 que atravessassem o desfiladeiro ordenadamente formados em duas

colunas paralelas com o trem-de-apoio (com ou sem botim) no centro contando ainda com

uma vanguarda e uma retaguarda (dita saka) De forma a fortalecer os flancos deviam ser

colocadas tropas ligeiras sobre o desfiladeiro nos quatro lados da disposiccedilatildeo taacutetica com o

objetivo de proteger a formaccedilatildeo em movimento e de evitar que ataques inimigos a

desorganizassem com ataques nas laterais Para aleacutem da carriagem no centro deviam estar as

montadas suplentes ou que natildeo estivessem a ser usadas para evitar a fuga dos homens da

falange em caso de pacircnico366 No caso deste exeacutercito possuir um grande contingente de

infantaria entatildeo dever-se-ia organizar mais ou menos da mesma forma excetuando se natildeo

conseguissem caber todas as forccedilas no desfiladeiro Nesse caso deviam desfazer a

formaccedilatildeo367 passar uma de cada vez e voltar a formar assim que a passagem tivesse sido feita

Para evitar problemas na viagem de regresso era recomendaacutevel deixar um

destacamento a guardar a garganta368 No regresso da expediccedilatildeo era aconselhaacutevel usar

novamente esta formaccedilatildeo ateacute porque um ataque nestas regiotildees era entatildeo mais provaacutevel pois a

hoste estava carregada de despojos e prisioneiros No caso de o exeacutercito ficar encurralado no

desfiladeiro Leatildeo propunha duas opccedilotildees negociar com o inimigo a libertaccedilatildeo atraveacutes do

retorno parcial ou total do botim ou matar os prisioneiros369 A hoste deveria entatildeo dar meia-

volta e destruir o territoacuterio do inimigo ou tentar escapar de alguma forma

Concluiacuteda esta sucinta anaacutelise das marchas que consideramos mais importantes nesta

altura observemos agora a importacircncia da carriagem

laquoO trem-de-apoio consiste nos mantimentos e tudo mais que eacute necessaacuterio para os

soldados isto eacute servos370 animais de carga e outras bestas bem como tudo o resto

que eacute trazido para o serviccedilo do exeacutercitoraquo371

364 Apesar de as forccedilas dos themaacuteta terem um propoacutesito maioritariamente defensivo haveria a hipoacutetese de

realizarem contra raides contra o territoacuterio inimigo 365 Caso houvesse cavalaria esta deveria desmontar 366 Taktikaacute IX195-234 Stratēgikoacuten IX 367 A frente com duas ou quatro divisotildees de infantaria pesada dependendo do tamanho seguidas pelo trem-de-

apoio a cavalaria e uma saka com infantaria pesada e ligeira Taktikaacute IX284-291 Stratēgikoacuten XII19-20 368 Muitas vezes em termos defensivos os Bizantinos deixavam os Aacuterabes da Ciliacutecia passar pelos desfiladeiros

ocupando-os posteriormente e atacando quando estes se encontravam mais vulneraacuteveis O caso mais espetacular

desta estrateacutegia eacute a batalha de Andrassos em 960 quando forccedilas bizantinas sob Leatildeo Focas ocuparam o

desfiladeiro que o emir hamdacircnida Sayf ad-Dawlah tencionava usar para regressar a Alepo e o emboscaram na

viagem de regresso Para esta batalha e estrateacutegia vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 80-81 369 Taktikaacute IX241-247 Os prisioneiros tambeacutem podiam servir como escudo da falange frente agraves flechas do

inimigo Taktikaacute IX235-238 370 Ou familiares dos soldados caso ainda estivessem em territoacuterio amigaacutevel De acordo com John Haldon a

importacircncia destes natildeo-combatentes prendia-se com a sua utilidade em ajudar a organizar a bagagem bem como

a ajudar nas tarefas mais ordinaacuterias Natildeo obstante eram mais uma boca a alimentar abrandavam o exeacutercito em

76

Durante uma marcha em territoacuterio hostil a carriagem pela sua grande importacircncia372

ocupava sempre o meio da coluna (para se encontrar permanentemente protegida) e a alguma

distacircncia do resto da hoste para natildeo causar desorganizaccedilatildeo na hoste em movimento373 Antes

de o exeacutercito partir para uma batalha o trem e todos o que o acompanhavam deviam ser

deixados num lugar seguro374 sob os cuidados do oficial responsaacutevel pela sua proteccedilatildeo e por

guiar as bestas de carga (burros ou mulas) vigiadas por soldados pobres ou por servos375

Em relaccedilatildeo agraves montadas cada baacutendon deveria guardar a forragem necessaacuteria para um

dia para o caso de o resultado da batalha ser adverso a recolher feno fora do acampamento376

Quando os soldados partiam para o combate deviam deixar as montadas de reserva na

carriagem377 para natildeo entrarem em pacircnico durante a peleja Apenas deveriam ser levadas para

o confronto se isso fosse preciso transportando o soldado responsaacutevel por elas uma tenda

pequena ou dois mantos pesados378 No caso de ser preciso empreender uma operaccedilatildeo

ofensiva ou de saque os soldados deviam manter os seus cavalos armados e vigorosos

Algo original na Constitutio de Leatildeo sobre trem-de-apoios eacute a distinccedilatildeo de meios de

transporte de mantimentos e de utensiacutelios no caso de ser um exeacutercito de infantaria o trem-de-

apoio devia ser constituiacutedo por carroccedilas se fosse uma hoste maioritariamente de cavalaria a

carriagem consistiria em bestas de carga como burros ou mulas379

Dediquemos as uacuteltimas palavras ao acampamento militar bizantino o qual

representava um outro aspeto essencial da forma de fazer a guerra em Bizacircncio constituindo

um fator importante que condicionava a vitoacuteria ou a derrota de um exeacutercito Toda a orgacircnica

do acampamento tinha de funcionar bem para se garantir o maacuteximo de organizaccedilatildeo possiacutevel

evitar engarrafamentos de unidades durante situaccedilotildees de retirada e assegurar uma boa defesa

(em caso de estarem em territoacuterio inimigo ou com o adversaacuterio nas proximidades a infantaria

deveria ocupar posiccedilatildeo do lado da paliccedilada de forma a poder proteger a cavalaria quando esta

voltava de campanhas no exterior)

marcha e eram um risco para a seguranccedila e disciplina no acampamento Taktikaacute X6 e 12-16 Organizaccedilatildeo de

uma Campanha XV (daqui em diante OdC) HALDON J (2014) ndash Op cit p232 371 Taktikaacute IV120-122 372 Na viagem de regresso de raides a territoacuterio inimigo podia incluir o despojo 373 Taktikaacute X66-70 Praecepta Militaria IV (daqui em diante PrM) OdC X 374 Acampamento ou siacutetio fortificado que tenha bom acesso a forragem e aacutegua Taktikaacute X36-50 Veja-se um

conselho parecido em Perigrave Paradroacutemes XVI (daqui em diante PP) 375 De acordo com Leatildeo e Mauriacutecio cada soldado poderia tomar conta de trecircs a quatro animais Taktikaacute IV154-

155 Stratēgikoacuten I5 376 Taktikaacute X56-62 Stratēgikoacuten I5 377 Um para servir de proteccedilatildeo e outro para servir de tenda ou de canoacutepia 378 Vide Taktikaacute X48-50 Stratēgikoacuten V 379 Taktikaacute X76-78

77

Assim sendo quais eram os fatores predominantes na altura de escolher um siacutetio para

acampar em territoacuterio inimigo A seguranccedila era o primordial tendo os minsouratores de

encontrar um local apto a ser defendido e caso tal circunstacircncia natildeo fosse possiacutevel fortificar

o acampamento por meio de trincheiras e paliccediladas O abastecimento das tropas era outro

fator muito importante e o arraial devia ser instalado num local com bom acesso a aacutegua e a

forragens Caso a fonte de aacutegua fosse um rio o acampamento devia ser instalado de forma a

permitir que o curso de aacutegua o atravessasse no meio devendo para esse efeito o arraial ser

montado num local onde a travessia fosse faacutecil ou (se o rio tivesse um caudal muito grande

ou demasiado intenso para possibilitar a travessia) num dos flancos do recinto de forma a

servir de defesa natural contra o inimigo380

Por fim a sauacutede e o bem-estar dos homens eram tambeacutem cruciais pelo que o siacutetio

onde estes pernoitavam e se protegiam deveria ser instituiacutedo num local longe de pacircntanos e

outros locais huacutemidos (com lama por exemplo) de forma a evitar surtos de doenccedila que

pusessem em causa a sauacutede (e ateacute a vida) do soldado381 Por outro lado natildeo se recomendava a

manutenccedilatildeo do exeacutercito num mesmo siacutetio durante muito tempo devido agrave quantidade de

dejetos humanos (e animais pois os cavalos tambeacutem estavam no acampamento)

produzidos382 mas tambeacutem para conforto dos proacuteprios homens383

Para terminar vamos abordar a estrutura e a defesa do acampamento De acordo com

o basileuacutes o acampamento deveria ter uma forma retangular dividindo-se em quatro

quadrantes separados por duas ruas perpendiculares que fizessem uma forma de cruz as quais

ligavam as entradas do acampamento384 e o centro deste A infantaria ligeira e os vagotildees da

carriagem385 deviam ocupar posiccedilotildees ao longo do periacutemetro e a cavalaria deveria ser

aquartelada mais para o interior do arraial386 Quanto aos oficiais principais os turmarcas

deviam ser posicionados no meio das forccedilas que comandavam enquanto o strategoacutes devia

380 Neste caso o autor procede a um conjunto de conselhos para preservar a pureza da aacutegua relacionados com o

siacutetio onde os cavalos bebessem se o rio fosse pequeno devia ser-lhes dada aacutegua a beber por meio de baldes se o

caudal fosse grande entatildeo deveriam ser guiados para beber a jusante Taktikaacute XI165-172 381 Taktikaacute XI15-20 382 Que deveriam ser largados no exterior do acampamento Leatildeo alegava ser pelo odor mas a razatildeo principal

deveria ser a proteccedilatildeo sanitaacuteria Taktikaacute XI162-164 383 A uacutenica exceccedilatildeo a esta regra parecem ser os aquartelamentos de Inverno onde existiam edifiacutecios para os

homens habitarem Taktikaacute XI23-27 384 Para aleacutem destas entradas protegidas por um enorme portatildeo deviam-se instalar vaacuterias laquopoternasraquo

possivelmente para permitir a entrada e saiacuteda de pequenos grupos de homens 385 Que tambeacutem poderiam servir para criar uma barreira improvisada em torno do acampamento chamada

karagos Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p245 386 A um intervalo de 94 a 125 metros de acordo com Mauriacutecio e Leatildeo para proteger os animais de carga e os

cavalos dos projeacuteteis inimigos O Praecepta Militaria refere que a distacircncia deveria ser de ldquoum tiro de arcordquo

(possivelmente 330 metros de acordo com o Sylloge Tacticorum) existindo discussatildeo de outros valores

Taktikaacute XI80-87 Stratēgikoacuten XIIB22 PrM V5 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 248-249

78

estar longe do centro (Leatildeo indica laquopara o ladoraquo pelo que supomos a mesma condiccedilatildeo que no

caso dos turmarcas) para natildeo obstruir o tracircnsito e natildeo ser perturbado pelas tropas a passar387

Para aleacutem da escolha dos bandaacute mais experientes de forma a guardar os portotildees

dever-se-ia proceder ainda agrave escolha de soldados para executar patrulhas noturnas e para

servirem de vigias fora do periacutemetro Em relaccedilatildeo agraves fortificaccedilotildees do arraial eram constituiacutedas

por trincheiras que deviam ter cerca de 180 m de largura e entre 210 e 240 metros de altura

devendo ser precedidas por covas-de-lobo e por estrepes388 Por fim deveria existir ainda uma

paliccedilada ou fortificaccedilatildeo em torno do acampamento389

387 Taktikaacute XI91-95 388 Niceacuteforo Focas o Velho teraacute criado uma espeacutecie de estrepe que consistiria num geacutenero de tripeacute com trecircs

pedaccedilos de madeira os que serviam de base deviam ter 70 cm de comprimento e o superior devia possuir entre

117 a 140 metros Nesta estrutura colocar-se-ia depois uma lacircmina larga com 4680 cm de comprimento na

ldquoperna maiorrdquo o que tornava esta arma uma excelente invenccedilatildeo contra a cavalaria e extremamente faacutecil de

transportar de acordo com Leatildeo Taktikaacute XI128-142 O Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos refere um dispositivo

parecido Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos LXV (de aqui em diante seraacute referido como Ouranos) 389 Leatildeo refere uma stabarotildesai uma paliccedilada de estacas pontiagudas construiacuteda com madeira trabalhada ou a

partir de aacutervores cortadas no local Taktikaacute XI40-42

79

Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar

laquoA Taacutetica eacute a ciecircncia do movimento na guerra Nesta existem dois

movimentos os feitos em terra e os praticados no mar

A Taacutecica eacute a periacutecia militar que diz respeito a formaccedilotildees de batalha

ao armamento e agrave movimentaccedilatildeo de tropasraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute I linhas 3-6390

Fazendo jus ao nome do tratado a Taktikaacute eacute a disciplina mais abordada ao longo da

obra e recolhe em si um grande conjunto de assuntos que preocupam o basileuacutes a distribuiccedilatildeo

de armamento o treino de tropas a disposiccedilatildeo no campo de batalha e a forma como a guerra

deve ser encarada contra outros povos Tendo em conta estas caracteriacutesticas decidimos

dividir este capiacutetulo em trecircs subcapiacutetulos um primeiro onde abordamos o armamento e o

treino dos soldados bizantinos quer de cavalaria ou da infantaria um outro onde

examinamos a forma como Bizacircncio encarava o conflito com outras naccedilotildees de onde

salientaremos os Aacuterabes e ateacute certo ponto os Buacutelgaros e por fim um terceiro onde

referimos a forma como o exeacutercito romano devia agir no campo de batalha perante as mais

variadas desvantagens

61 ndash O armamento e o treino

laquoAgora noacutes ordenamos a Sua Excelecircncia que dirija a sua atenccedilatildeo para as armas que

deve empregar na guerra assim para o equipamento das forccedilas de infantaria e de

cavalariaraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute V linhas 3-4391

Antes de nos lanccedilarmos no resumo e anaacutelise do que Leatildeo escreve sobre estas questotildees

conveacutem tecermos algumas consideraccedilotildees introdutoacuterias acerca destes assuntos Primeiramente

a forma como o equipamento era distribuiacutedo neste periacuteodo da histoacuteria de Bizacircncio Logo no

iniacutecio da Constitutio V o basileuacutes refere que parte do provimento do material que equipava o

exeacutercito dependia do general e dos turmarcas seus segundos-em-comando Isto parece-nos

um pouco contraproducente se tivermos em conta que o impeacuterio vivia uma fase em que os

uacutenicos soldados que eram equipados com apoios estatais eram os dos taacutegmata da capital Por

outro lado o basileuacutes mais tarde admite que eacute preferiacutevel serem os soldados ricos a participar

390 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 12-13 391 Idem Ibidem pp 74-75

80

nas campanhas392 Por estas razotildees pensamos que aquilo a que Leatildeo se refere natildeo seraacute o

equipamento alusivo aos stratioacutetai que dispunham de melhores meios econoacutemicos mas sim

os soldados que natildeo tivessem meio de se equipar sozinhos393

Por outro lado haacute a possibilidade de os apetrechos aqui mencionados serem algo de

diferente natildeo relacionado com o equipamento dos soldados em si como por exemplo tendas

municcedilotildees maacutequinas de cerco394 entre outros Estes agrave semelhanccedila dos mantimentos deviam

ser adquiridos com a ajuda dos artesatildeos do theacutema pelo que natildeo seraacute de estranhar que fossem

os principais responsaacuteveis pela manutenccedilatildeo do corpo armado (os primeiros homens do

comando e o protonotaacuterio) a tratar destes assuntos No entanto existe ainda a possibilidade de

o equipamento aqui referido tambeacutem incluir material suplente (aqui aludimos a armamento

ofensivo e defensivo) que por qualquer razatildeo tivesse de ser reposto durante a campanha395

Em relaccedilatildeo ao treino para Leatildeo este mostrava-se essencial natildeo soacute para melhorar as

aptidotildees dos seus soldados e os preparar para as vicissitudes do combate396 mas tambeacutem para

combater o teacutedio e evitar que eles afrouxassem e em virtude disso se tornassem cobardes em

batalha397 Podemos referir dois tipos de treino um individual que consistia na exercitaccedilatildeo

das capacidades militares de cada guerreiro e um treino geral que correspondia agrave praacutetica das

mais diversas taacuteticas e formaccedilotildees com o intuito de preparar o exeacutercito para as situaccedilotildees mais

diacutespares no campo de batalha Por outro lado a disciplina e a organizaccedilatildeo dos soldados

provinciais em batalha natildeo era a mais brilhante398 em especial da parte da infantaria399 pelo

que se devia dar grande enfoque a estes aspetos no decorrer dos periacuteodos de treino

Finalizada esta introduccedilatildeo passemos agrave anaacutelise do equipamento e do treino de cada

uma das laquoarmasraquo (cavalaria e infantaria) Uma vez que a cavalaria eacute o nuacutecleo central do

tratado parece-nos justo comeccedilar por esta categoria O soldado montado dos themaacuteta natildeo eacute o

catafractaacuterio completamente equipado a que estamos habituados quando pensamos em

Bizacircncio mas sim um guerreiro a cavalo mais leve e capaz de percorrer grandes distacircncias

De acordo com Leatildeo eacute possiacutevel pressupor dois tipos de equipamento ofensivo para

392 Vide Anexos VIII c) 393 Existindo ainda a possibilidade de estes serem equipados e montados com o patrociacutenio de stratioacutetai mais

ricos caso fosse necessaacuterio (cf supra 13) 394 No caso dos exeacutercitos ldquotemaacuteticosrdquo natildeo se aplicava a questatildeo das maacutequinas de cerco estas a estarem

presentes em campanha seria no contexto de uma expediccedilatildeo dos corpos palatinos da capital sob o comando do

domestikoacutes 395 HALDON J (2014) ndash Op cit p169 396 laquoHomens destreinados mostram-se totalmente ignorantes e cegos quando enfrentam accedilatildeo suacutebitas e

inesperadasraquo Taktikaacute VII6-7 397 Taktikaacute VII8-20 398 Algo que o proacuteprio imperador admite Taktikaacute XVIII832-843 399 Cf HALDON J (2001) ndash Op cit p69

81

cavaleiros que se encontravam dependentes de um fator a aptidatildeo no uso do arco400 Caso o

cavaleiro soubesse usaacute-lo devia estar equipado com arco aleacutem das ferramentas necessaacuterias

para o manter da aljava para guardar as flechas e de uma lanccedila ldquopequenardquo401 uma espada e

uma adaga ou faca para defesa pessoal402 Por outro lado um cavaleiro que natildeo soubesse usar

o arco devia estar equipado com duas lanccedilas (ou dardos) e um escudo403 Quanto ao

equipamento defensivo Leatildeo refere que deviam estar vestidos com o klibaacutenion404 com grevas

chamadas de podoacutepsella e com elmos munidos de uma pequena pluma no topo405 O cavalo

tambeacutem deveria estar protegido desta feita com uma defesa de ferro ou de couro colocada

sobre a cabeccedila e o peito que era conjugada com uma neurikaacute406 que deveria cobrir o peito a

cabeccedila e se possiacutevel o abdoacutemen da montada407

Em relaccedilatildeo ao treino da cavalaria Leatildeo salienta a relevacircncia do treino com o arco

com o recruta a ter de saber disparar rapidamente e em todas as direccedilotildees e ateacute a dominar o

laquotiro partoraquo (para traacutes) A versatilidade tambeacutem era incentivada com o basileuacutes (agrave

semelhanccedila de Mauriacutecio) a incitar o comandante a treinar sucessivamente o soldado com o

arco e com a lanccedila na mesma montada408 Os cavaleiros tambeacutem deviam praticar cargas

simuladas a pares algo que podia ser realizado durante uma marcha409 Quanto ao cavalo

devia ser preparado para cavalgar em terrenos difiacuteceis e para suportar a ausecircncia de aacutegua por

algum tempo bem como a habituar-se aos sons da batalha e agrave presenccedila de camelos410

400 Este fator eacute uma das grandes preocupaccedilotildees de Leatildeo ao longo do tratado que refere que a negligecircncia no uso

do arco provocou grandes complicaccedilotildees aos Bizantinos Talvez a maior prova deste facto tenha sido a derrota do

basileuacutes Teodoacutesio na batalha de Anzen em 838 quando o impeacuterio se viu derrotado frente aos experientes

arqueiros montados turcos Este foi o primeiro confronto onde os Turcos teratildeo combatido os Romanos (ainda

que ao lado dos Aacuterabes) uma tendecircncia que se iraacute repercutir nos seacuteculos vindouros (em especial a partir do

seacuteculo XI) Taktikaacute VI30-34 HALDON J (2001) ndash Op cit pp78-83 KAEGI Walter (1964) The

Contribution of Archery to the Turkish Conquest of Anatolia Speculum 39(1) 99-101 O facto de Siriano jaacute dar

grande importacircncia aos arqueiros no Perigrave Strategiacuteas pode revelar que esta preocupaccedilatildeo jaacute teria algum tempo a

confirmar-se que o tratado eacute do seacuteculo IX Cf Siriano magister in Perigrave Strategiacuteas XLIV ndash XLVII (de aqui em

adiante passaremos a fazer a referecircncia a este tratado da seguinte forma Sir Strat) 401 Em jeito algo jocoso Haldon refere que esta lanccedila teria trecircs metros de comprimento pelo que natildeo vecirc onde eacute

que ela poderia ser pequena 402 Taktikaacute VI9-20 Por outro lado Leatildeo realccedila a existecircncia de um machado de dupla-lacircmina uma com a forma

de uma espada e outra em formato de ponta-de-lanccedila Taktikaacute VI53-55 403 Taktikaacute VI21-22 404 Termo de origem persa que refere uma armadura lamelar que cobria o corpo de um guerreiro ateacute pouco

abaixo da cintura Vide NISA J (2016) ndash Op cit p41 405 Apresentando assim o mesmo tipo de armamento defendido por Mauriacutecio muitiacutessimo influenciado pelos

Aacutevaros Stratēgikoacuten I 406 Uma proteccedilatildeo para equiacutedeos que era o resultado da conjugaccedilatildeo de pedaccedilos de couro acolchoados PrM III 407 Taktikaacute VI40-47 408 laquo(hellip) deve libertar uma ou duas flechas rapidamente e arrumar o arco montado com a corda no seu estojo (hellip)

Depois [deve] agarrar a lanccedila que carrega ao ombro Enquanto o arco estaacute no estojo ele deve agarrar a lanccedila e

reposicionaacute-la rapidamente no ombro e agarrar o arcoraquo Taktikaacute VII35-40 cf Stratēgikoacuten I 409 Taktikaacute VII41-45 410 Taktikaacute XVIII675-685 Os camelos eram reconhecidos como uma causa de medo para os cavalos desde a

derrota do rei Creso da Liacutedia frente a Ciro da Peacutersia em 536 aC A causa deste resultado foi a criaccedilatildeo in

82

Relativamente ao treino em conjunto de um exeacutercito de cavalaria Leatildeo VI afirma que

eacute absolutamente necessaacuterio o general aprender a treinar os seus soldados tendo em

consideraccedilatildeo os preceitos taacuteticos dos antigos com o intuito de os ensinar a alterar as

formaccedilotildees do seu baacutendon por meio de comandos verbais ou de sinais com bandeiras411 Por

outro lado tambeacutem se deveriam praticar batalhas simuladas com recurso a armas de treino412

para testar os soldados num grande conjunto de dispositivos e movimentaccedilotildees tais como

manobras de envolvimento cargas flanqueamentos e emboscadas Este adestramento eacute

bastante complexo e articulado porque envolve o treino das vaacuterias categorias do exeacutercito em

separado numa batalha simulada os soldados vatildeo alternando as suas funccedilotildees como kouacutersores

ou ekdiacutekous ora carregando ora apoiando os kouacutersores413 enquanto isso os flanqueadores

treinam manobras de envolvimento em bandaacute destacados para essa funccedilatildeo414 Para aleacutem

destas questotildees o autor realccedila que estas manobras devem ser praticadas em todo o geacutenero de

terrenos e temperaturas para adaptar a hoste a todo o tipo de circunstacircncias e vicissitudes415

A infantaria no Taktikaacute estaacute dividida da mesma forma que eacute explicitada no

Stratēgikoacuten de Mauriacutecio416 em skoutatoacutes ou skoutatoacutei (infantaria pesada) tropas ligeiras e

peltai mas o autor refere que este termo jaacute natildeo eacute utilizado por esta altura porque jaacute natildeo eacute

reconhecido pelos contemporacircneos do autor Em relaccedilatildeo ao armamento o skoutatoacutes devia

estar armado com um escudo largo e em forma oblonga com uma espada e com uma lanccedila

obrigatoriamente A estas armas podiam-se juntar machados de lacircmina-dupla417 e fundas

Quanto ao armamento defensivo devia ser necessariamente composto de um elmo com

plumas Em especiacutefico Leatildeo informa-nos que os dois homens de uma coluna destinados agraves

linhas da frente deveriam envergar uma zaacuteba418 ou uma loriacutekia (cota-de-malha) luvas de ferro

ou madeira (denominadas cheiroacutepsella) e grevas dos mesmos materiais419 Os skoutatoacutei eram

treinados individualmente por meio de combates pessoais420

promptu de um contingente de cameleiros (que anteriormente tinham estado adscritos ao trem-de-apoio persa)

que incutiu o medo na cavalaria liacutedia SEKUNDA Nick The Persians in HACKET Sir John (ed) (1989)

Warfare in the Ancient World Alemanha Ocidental Facts on File p 85 411 Por exemplo cerrar ou alargar fileiras mudanccedilas de frente 412 Como flechas sem pontas e cajados para substituir as lanccedilas 413 Taktikaacute VII206-219 e 220-223 Stratēgikoacuten III 414 Taktikaacute VII235-240 Stratēgikoacuten III 415 Taktikaacute VII241-248 Stratēgikoacuten III 416 Cf Stratēgikoacuten XII(B) 417 Estes natildeo estatildeo presentes no texto de Mauriacutecio 418 Palavra de origem turca que agrave altura da escrita do tratado remete para pedaccedilos de malha fixados a outras

partes da vestimenta de um soldado HALDON J (2014) ndash Op cit p186 419 Taktikaacute VI114-126 Influecircncias de Mauriacutecio (Stratēgikoacuten XII(B)) 420 Taktikaacute VII21-28 Cf Stratēgikoacuten XII(B) e Onas X

83

No que respeita agrave infantaria ligeira esta deveria estar armada com arco flechas

dardos421 e fundas como armas principais enquanto utilizaria escudos e machados para defesa

pessoal Quanto a equipamento defensivo deviam vestir tuacutenicas e a epiloriacuteka enquanto

calccedilavam sapatos recomendados para a marcha providos de tachas e com biqueira quadrada

A infantaria ligeira era treinada para disparar rapidamente com o arco e para conseguir atirar

os dardos a uma distacircncia longa devendo ainda melhorar as suas capacidades atleacuteticas com

recurso a corridas e a saltos em todo o tipo de terrenos422 Em relaccedilatildeo ao treino conjunto da

infantaria aplicam-se os mesmos preceitos acima enunciados para a cavalaria tendo o

strategoacutes de ensinar a infantaria a executar um grande conjunto de manobras e de formaccedilotildees

como o fulcum O adestramento das forccedilas de infantaria era fundamental para situaccedilotildees de

marcha uma vez que era pouco provaacutevel que dentro do exeacutercito provincial chegassem a

combater devido ao seu fraco equipamento e ao baixo moral que as caraterizava

62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra

laquoDe seguida vou ensinaacute-lo acerca de vaacuterias formaccedilotildees de batalha empregues por outras

naccedilotildees bem como acerca daquelas que os comandantes dos exeacutercitos romanos desde eacutepocas

remotas usaram contra outros povos Depois de conhececirc-las natildeo soacute vai puder usar esses

estratagemas na altura proacutepria como vai tambeacutem poder acrescentar-lhes muitos mais Porque

um comandante astuto quando agarra uma oportunidade para pocircr em praacuteticas as estrateacutegias

militares natildeo se limita agravequelas [jaacute conhecidas] e eacute capaz de inventar muitas outrasraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 3-9423

A Constitutio XVIII do Taktikaacute surge na nossa opiniatildeo como uma das mais

interessantes do tratado pois aborda a forma como o Saacutebio via as maacutequinas militares do seu

adversaacuterio Natildeo obstante acusar uma forte influecircncia do Livro XI do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio

Leatildeo VI atualiza alguma da informaccedilatildeo presente na obra do seu antecessor de maneira a

corresponder melhor agrave realidade do seu tempo em especial no que toca aos Aacuterabes que

reconhece como sendo o maior perigo para o Impeacuterio O interesse etnograacutefico-militar natildeo se

converte na uacutenica valecircncia desta Constitutio pois na nossa interpretaccedilatildeo o primeiro paraacutegrafo

pode revelar-se como uma indicaccedilatildeo da disponibilidade do Impeacuterio Bizantino para adaptar o

seu estilo militar consoante as taacuteticas e o armamento de outros povos424 Por outro lado esta

421 Para aqueles que natildeo soubessem usar o arco 422 Taktikaacute VII21-28 Para o treino de arqueiros cf Sir Strat XLV - XLVII 423 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 436-437 424 Fenoacutemeno esse visualizado tambeacutem a niacutevel linguiacutestico vide NISA J (2014) ndash Op cit pp 9-10 Por outro

lado Mauriacutecio parece admitir que o equipamento militar romano durante o seu principado encontrava muitas

influecircncias no Aacutevaro Stratēgikoacuten I

84

secccedilatildeo mostra-se fundamental para consolidar a contemporaneidade do manual de Leatildeo e

claro o interesse dele pelos problemas militares e estrangeiros que afligiram o Impeacuterio

durante o seu reinado Neste aspeto mostram-se cruciais na nossa abordagem trecircs povos os

Buacutelgaros os Lombardos e como natildeo podia deixar de ser os Aacuterabes

A questatildeo buacutelgara torna-se curiosa no sentido em que Leatildeo parece subestimar este

povo no Taktikaacute425 ao aparentar desinteresse numa guerra contra ele e nas suas taacuteticas e

armamento usando como argumento a recente conversatildeo dos Buacutelgaros ao Cristianismo426

Este fundamento parece estar tambeacutem na base das alegaccedilotildees de Karlin-Hayter427 e Runciman

chegando o uacuteltimo a alegar que laquoa sua (de Leatildeo) terna consciecircncia cristatilde fazia-o desgostar de

combater os seus companheiros crentesraquo428 Shaun Tougher no entanto refuta estas alegaccedilotildees

e contra-argumenta referindo que na realidade a secccedilatildeo direcionada aos Magiares (referidos

como Turcos no Taktikaacute) estaacute na realidade orientada para os suacutebditos de Simeatildeo429 Apoiamos

esta interpretaccedilatildeo pois Leatildeo natildeo se cansa de salientar que em termos militares os Magiares e

os Buacutelgaros satildeo muitiacutessimo parecidos430 demonstrando que natildeo confiava tanto nos seus

vizinhos balcacircnicos como aparentava e que queria os seus strateacutegoi preparados para uma

possiacutevel revanche com Simeatildeo e os seus na eventual possibilidade de esta acontecer431

Relativamente aos Lombardos as palavras de Leatildeo VI afiguram-se como um relato da

relaccedilatildeo entre os Bizantinos e os Lombardos laquoaliados correligionaacuterios e suacutebditos432raquo Esta

afirmaccedilatildeo a nosso ver revela o estado da situaccedilatildeo no Sul de Itaacutelia onde estavam os uacuteltimos

redutos da independecircncia lombarda durante o reinado do Saacutebio Como jaacute acima foi

salientado433 os ducados de Benevento e de Salerno tinham outras preocupaccedilotildees por esta

altura nomeadamente o reino de Itaacutelia sob os duques de Espoleto os Aglaacutebidas da Siciacutelia e a

principal ameaccedila muccedilulmana sedeada na foz do rio Garigliano Naquele momento portanto

425 Vide DAGRON Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore

Phocas (963-969) Paris pp 152 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 426 Vide Anexo VIII b) 427 laquoA Guerra Buacutelgara no entanto natildeo apelava ideologicamente Os Buacutelgaros seriam supostamente os filhos

espirituais de Bizacircncio e de mostrar comportamento como se filhos desta fossem e ele (Leatildeo VI) sentiu que

guerra contra este povo ia contra a ordem proacutepria das coisas ao mesmo tempo que interrompia as guerras que ele

queria executarraquo Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40 428 TOUGHER S ndash Op cit p 181 429 Idem Ibidem p 182 A mesma opiniatildeo eacute expressa por Haldon vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 339 430 P ex Taktikaacute XVIII233-236 350-352 refere ainda que laquoestas caracteriacutesticas dos Turcos satildeo diferentes das

dos Buacutelgaros na medida em que estes abraccedilaram a feacute dos Cristatildeos e - gradualmente - adotaram as caracteriacutesticas

dos Romanos Quando o fizeram despojaram-se do seu modo de vida selvagem e noacutemada bem como da sua

falta de feacuteraquo vide Taktikaacute XVIII295-298 431 Este reencontro beacutelico acabaria por acontecer em 913 apoacutes a morte de Leatildeo quando as reacutedeas do Impeacuterio

passaram para as matildeos de Alexandre seu irmatildeo que natildeo cumpriu os acordos com Simeatildeo da Bulgaacuteria A guerra

soacute terminaria com a morte de Simeatildeo em 927 apoacutes vaacuterios cercos a Constantinopla 432 Taktikaacute XVIII365 433 Cf supra 22

85

natildeo estavam interessados em encetar um conflito com Constantinopla antes pelo contraacuterio

pois o principado de Benevento-Caacutepua enviou uma embaixada a Leatildeo para oferecer a sua

lealdade a Bizacircncio em troca de uma alianccedila contra os Sarracenos na Campacircnia

independentemente do lsquomau sanguersquo que poderia ter jorrado da laquoquestatildeo beneventinaraquo434 O

autokraacutetor aproveita ainda para referir que Bizacircncio natildeo se sentia atraiacuteda pela ideia de

guerrear com eles alegando que uma das razotildees para isto era a partilha da mesma feacute com os

Romanos

Algo que nos suscitou a atenccedilatildeo foi um comentaacuterio de Leatildeo VI a Mauriacutecio nesta

secccedilatildeo Apesar de parafrasear o uacuteltimo imperador da dinastia justiniana no iniacutecio do paraacutegrafo

76435 o basileuacutes retorque logo de seguida que perderam muito dessa virtude436 Isto seraacute

possivelmente uma forma de o autor se referir ao estatuto de muitas cidades lombardas que

estariam sob a soberania bizantina apoacutes a sua laquolibertaccedilatildeoraquo de matildeos muccedilulmanas na segunda

metade do seacuteculo IX (ex Bari e Tarento) Por outro lado o basileuacutes reitera a necessidade de

se aprenderem as taacuteticas e o armamento dos Lombardos e dos Francos de forma ao strategoacutes

pode usar aquilo que achasse pertinente no campo de batalha constituindo um outro exemplo

da disponibilidade de Bizacircncio para adaptar haacutebitos beacutelicos de outros povos desde que os

achasse uacuteteis ou necessaacuterios437

Apesar de tudo isto a principal inovaccedilatildeo de Leatildeo VI para a tratadiacutestica bizantina foi o

trecho que respeita os Aacuterabes Esta secccedilatildeo da Constitutio XVIII que vai da linha 495 ateacute agrave

696 aborda um grande conjunto de temaacuteticas referentes agrave arte da guerra bizantina contra os

Aacuterabes pensamento estrateacutegico retoacuterica religiosa e claro organizaccedilatildeo taacutetica A primeira

coisa de que nos apercebemos eacute que Leatildeo identifica a cidade de Tarso (na Ciliacutecia) como a

principal fonte da ameaccedila aacuterabe Natildeo eacute por acaso que tal eacute indicado pois Tarso era o maior

dos al-thugucircr e foi o ponto de partida das maiores expediccedilotildees de saque muccedilulmanas desde a

segunda metade do seacuteculo IX ateacute agrave reconquista da cidade por forccedilas bizantinas sob o comando

de Niceacuteforo II Focas em 965438 De facto era na Ciliacutecia que tambeacutem se realizava a maior

434 Chamamos laquoquestatildeo beneventinaraquo ao periacuteodo entre 891 e 895 desde a conquista de Benevento pelos

Bizantinos ateacute aacute sua reconquista pelos Lombardos (apoiados pelo priacutencipe de Salerno) alegadamente causada

pela opressatildeo romana 435 laquoOs Francos e os Lombardos datildeo muito valor agrave liberdaderaquo Taktikaacute XVIII377 Strategikoacuten XI3 436 Taktikaacute XVIII378 437 Taktikaacute XVIII360-369 Este comentaacuterio natildeo parece ter paralelo no Stratēgikoacuten ao contraacuterio do resto desta

secccedilatildeo (linhas 377-440) que vai buscar muita influecircncia agrave obra de Mauriacutecio demonstrando que Leatildeo natildeo estava

muito atualizado em relaccedilatildeo agraves praacuteticas militares dos Francos por exemplo Cf Stratēgikoacuten XI3 438 Vide PP VII

86

parte das expediccedilotildees de saque bizantinas com o objetivo de desgastar a capacidade guerreira

muccedilulmana a qual embora mais ativa no veratildeo continuava a fazer ofensivas no inverno439

Mas Tarso natildeo era apenas uma boa base para campanhas terrestres era tambeacutem o

porto de partida da grande parte das expediccedilotildees navais sarracenas no Mediterracircneo oriental

Natildeo obstante no Taktikaacute440 a Ciliacutecia natildeo parece ainda possuir o poder que vai ter quase meio

seacuteculo mais tarde sob Sayf ad-Daulah O autokraacutetor refere que apesar de os homens de

Tarso estarem aptos a lutar tatildeo bem em terra como no mar natildeo eram capazes de conseguir

realizar uma campanha nas duas frentes podendo os Bizantinos aproveitar-se disso para

lanccedilar um contra-ataque quase sem contestaccedilatildeo por qualquer um dos outros meios441

Na escrita desta secccedilatildeo Leatildeo tambeacutem fala de certas fraquezas que atribui aos

Sarracenos442 como a sua vulnerabilidade face agraves condiccedilotildees meteoroloacutegicas da Aacutesia

Menor443 Embora esta visatildeo seja algo estereotipada444 existem casos em que forccedilas

muccedilulmanas foram derrotadas ou se viram estorvadas por fenoacutemenos climateacutericos445 Por

outro lado o basileuacutes informa-nos que o arco era a principal arma contra eles devendo ser

usado contra os cavalos e contra as tropas menos bem protegidas destes como os Etiacuteopes ou

os restantes arqueiros446

Por fim o autor enceta uma discussatildeo das caracteriacutesticas religiosas da guerra travada

pelos Muccedilulmanos Aqui parece-nos que ele considera os seguidores dos Islatildeo como o

principal antagonista agrave sobrevivecircncia do Impeacuterio natildeo soacute pelo poder militar mas tambeacutem pelo

seu fervor religioso um facto enunciado pela comparaccedilatildeo que tece com os Persas Esta

Constitutio apresenta-se como a primeira obra bizantina a falar de trecircs caracteriacutesticas da

guerra realizada pelos muccedilulmanos nesta altura447 Baseando-se nos trecircs pilares da guerra

439 Taktikaacute XVIII579-583 440 Taktikaacute XVIII667-668 laquoPois o exeacutercito dos baacuterbaros cilicianos natildeo eacute muito numeroso uma vez que os

mesmos homens natildeo podiam realizar campanha tanto em terra como no marraquo Isto poderaacute levar a supor que

apesar de ser o principal foco de atividade beacutelica muccedilulmana a concentraccedilatildeo de esforccedilos nesta regiatildeo natildeo seria

tatildeo grande como se supocircs Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 489 441 Por exemplo se os Cilicianos optassem por um raide terrestre os Bizantinos deviam responder com um

ataque naval com a frota do theacutema do Kibirrhaiotai Se o ataque fosse por mar os Bizantinos podiam invadir a

Ciliacutecia por terra Taktikaacute XVIII662-668 Leatildeo chega ainda a propor que agrave semelhanccedila do que o pai fizera em

877 se realizasse um ataque combinado do exeacutercito e da frota contra Tarso Taktikaacute XVIII669-674 442 Como John Haldon salienta sem ser quando menciona os ldquoEtiacuteopesrdquo Leatildeo refere-se aos Sarracenos como um

todo natildeo referindo a diversidade de povos que participavam nas campanhas de saque muccedilulmanas como os

Dailamitas os Turcos ou os Curdos entre outros 443 Taktikaacute XVIII573-578 444 HALDON J (2014) ndash Opcit p 362 445 Durante a batalha de Anzen em 838 a chuva teraacute molhado e afetado os arcos turcos Por outro lado no

inverno de 666 para 667 uma forccedila bizantina teraacute reconquistado Amorion aos Aacuterabes num ataque de surpresa

Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 453 446 Taktikaacute XVIII635-646 447 Cf supra 41

87

(jihad ghazis e waqf) o autor conclui que os Aacuterabes satildeo um povo guerreiro que natildeo

contando com a sua admiraacutevel vontade de combater pelo seu Deus soacute parece lutar para

conseguir despojos448 Ora esta ganacircncia parece dar soacute mais razatildeo aos Romanos para

combaterem os Sarracenos uma vez que torna justa a sua guerra defensiva449 No conflito

contra os Aacuterabes era crucial um movimento geral da populaccedilatildeo para apoiar o exeacutercito naquilo

que fosse necessaacuterio tornando-se um fator essencial para o Impeacuterio obter a vitoacuteria450

63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta

laquoComo jaacute frequentemente dissemos eacute muito perigoso para qualquer um arriscar

uma batalha campal mesmo quando nos parece frequentemente claro que [as nossas

forccedilas] ultrapassam muito as do inimigo Os desiacutegnios da fortuna satildeo incertosraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 589-591451

A batalha natildeo era o principal foco da estrateacutegia defensiva bizantina como jaacute foi

referido e caso se travasse natildeo deveriam ser os themaacuteta a encetaacute-la sozinhos estando essa

missatildeo nas matildeos do domestikoacutes e dos corpos profissionais da capital Ainda assim haveria

sempre a possibilidade de um strategoacutes provincial ter de a travar pelo que Leatildeo dedica vaacuterias

Constitutiones452 do seu tratado agrave preparaccedilatildeo de um evento deste geacutenero e ao comando de

soldados nestas situaccedilotildees No entanto a maior parte destas parecem encontrar mais influecircncia

do que o normal no Stratēgikoacuten de Mauriacutecio com exceccedilatildeo do uacuteltimo trecho da XVIII (linhas

696-855) que parece ter tido origem na pena de Leatildeo bem como na experiecircncia dos seus

generais453 Assim esta secccedilatildeo parece ser aquela que descreve melhor a disposiccedilatildeo taacutetica da

448 Taktikaacute XVIII647-653 449 Trata-se de uma visatildeo algo depreciativa e redutora por parte do basileuacutes pois a noccedilatildeo de guerrear apenas para

obter botim mostra-se desconforme ao cariz religioso da guerra muccedilulmana No Islatildeo pelejar por mero ganho

pessoal ou por prestiacutegio era o equivalente a procurar a condenaccedilatildeo eterna HALDON J (2014) ndash Op cit p 374 450 Taktikaacute XVIII607-611 Haldon refere no entanto que os grandes problemas que provocaram as derrotas que

o impeacuterio tinha sofrido entre seacuteculo VII e o X foram a fraca lideranccedila e a pobre disciplina das tropas Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit p 373 Vaacuterias hostes romanas conseguiram agrave base de boa lideranccedila infligir

pesadas derrotas aos seus adversaacuterios como no caso de Heraacuteclio irmatildeo de Tibeacuterio II que ainda no seacuteculo VII

conduziu expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo ou de Leatildeo III que fez abortar o uacuteltimo cerco a

Constantinopla pelos Omiacuteadas e esmagou a uacuteltima grande ofensiva omiacuteada juntamente com o filho o futuro

Constantino V na batalha de Akroinos Para Heraacuteclio vide HALDON J (2001) ndash Op cit p68 Para Leatildeo III

vide HALDON J (2016) ndash Op cit pp 53-54 451 DENNIS George T (2014) ndash Op cit pp 482-483 452 Satildeo as Constitutiones XII XIII XIV e XVIII 453 HALDON J (2014) ndash Op cit p384

88

eacutepoca de Leatildeo pelo que nos vamos basear nesta ao inveacutes da Constitutio XII454 que aborda as

mesmas temaacuteticas mas vai recuperar muita informaccedilatildeo ao Stratēgikoacuten455

Antes de a batalha comeccedilar havia certos procedimentos que deveriam ser seguidos A

feacute divina mostrava-se novamente necessaacuteria tendo os estandartes de ser abenccediloados por

sacerdotes enquanto as puniccedilotildees de alguns castigos deviam ser adiadas ateacute depois da batalha

ou afastar-se-iam os infratores das restantes tropas As horas de refeiccedilotildees e a alimentaccedilatildeo dos

soldados deviam ser bem planeadas para que os militares natildeo se encontrassem em jejum

quando o combate comeccedilasse456 tendo de se proceder da mesma maneira no que dizia

respeito agraves bebidas das montadas457

Chegado o momento da batalha o basileuacutes utiliza como exemplo um exeacutercito de 4000

homens458 para explicitar a forma como este devia ser disposto para a batalha Em primeiro

lugar o strategoacutes deveria mobilizar 1500 homens para a linha da frente a proacutemachos

divididos em trecircs divisotildees estando cada divisatildeo composta por cinquenta decarquias com dez

homens cada organizadas como mencionaacutemos anteriormente459 e comandadas por um

turmarca Depois disto dever-se-ia formar uma linha de apoio composta por quatro divisotildees

separadas por um laquotiro de flecharaquo de distacircncia cada uma com 250 homens perfazendo 1000

soldados no total Cada um dos espaccedilos nesta formaccedilatildeo deveria estar ocupado por cavaleiros

para dar a impressatildeo de a segunda linha ser muito extensa estando destacados 100 guerreiros

para cada uma das interrupccedilotildees Por fim em formaccedilatildeo regular obrigatoacuteria encontramos as

fileiras da retaguarda divididas em duas alas esquerda e direita com 250 homens cada (o que

resulta em 500 soldados no total)

Os restantes efetivos aproximadamente 700 deviam ocupar outras posiccedilotildees no campo

de batalha Dois bandaacute de 200 homens cada responsaacuteveis por fazer emboscadas deviam ser

estacionados a alguma distacircncia das linhas para emboscar o inimigo a partir de lugares que

permitissem aos Bizantinos esconder-se Na linha de frente deveriam existir dois batalhotildees

avanccedilados de cada uma das alas que funcionariam como flanqueadores (se estivessem no

454 Natildeo vamos poreacutem abster-nos de referir esta Constitutio bem como a influecircncia da obra de Mauriacutecio nela 455 Seraacute uma paraacutefrase quase integral dos livros II III e VII de Mauriacutecio Cf HALDON J (2014) ndash Op cit p

259 456 Taktikaacute XIII43-46 457 Taktikaacute XIII54-57 458 O nuacutemero meacutedio de homens que Leatildeo aconselha para um exeacutercito de um theacutema pelo que nos poderaacute levar a

supor (ateacute pela exatidatildeo dos nuacutemeros) que este era realmente o principal modelo taacutetico usado pelas forccedilas

ldquotemaacuteticasrdquo caso combatessem sozinhas Taktikaacute XVIII841-843 Cf Taktikaacute XII127-212 e Stratēgikoacuten II2-5 459 Cf supra 51

89

lado direito) ou guarda-flancos (se estivessem no esquerdo) cada um tendo 100 soldados460

Os uacuteltimos 100 cavaleiros estariam sob o comando pessoal do strategoacutes ou do oficial maacuteximo

naquela batalha Este grupo deveria servir com reserva pronta a auxiliar qualquer uma das

divisotildees caso fosse necessaacuterio estando para isso localizado na divisatildeo central da linha da

frente ou noutra localizaccedilatildeo que permitisse ao general aferir o estado da batalha e de cada um

dos setores do dispositivo taacutetico461

Como eacute que este dispositivo funcionava em batalha A forma parece basear-se num

jogo de ldquobate-e-fogerdquo A proacutemachos era divida em dois tipos de soldados os kouacutersores e os

ekdiacutekoi numa proporccedilatildeo de um para dois Enquanto os kouacutersores atacavam o inimigo os

defensores estavam encarregados de os apoiar caso estes precisassem de retirar bem como de

evitar possiacuteveis envolvimentos Caso a primeira linha tivesse de recuar os homens nos

intervalos da segunda linha recuavam para a retaguarda para permitir a passagem dos

cavaleiros em debandada e possibilitar-lhes que se reorganizassem em seguranccedila antes de

voltarem agrave refrega enquanto evitavam que possiacuteveis desertores abandonassem o campo de

batalha Estes homens mantinham-se depois na retaguarda ateacute ser necessaacuterio suportar a

segunda linha Enquanto isso os flanqueadores e os guarda-flancos deviam manter a pressatildeo

sobre o exeacutercito adversaacuterio bem como os grupos de emboscada

Relativamente a combates com forccedilas numericamente superiores o basileuacutes aconselha

o strategoacutes a convocar alguns dos seus colegas para que com o triplo dos homens pudessem

fazer frente agravequela ameaccedila462 Leatildeo natildeo menciona quem seria o comandante deste conjunto de

themaacuteta mas era provaacutevel que fosse o comandante local por conhecer melhor o terreno ou

entatildeo o strategoacutes mais experiente mas isto satildeo meras suposiccedilotildees da nossa parte463 Por outro

lado se a hoste adversaacuteria fosse mais pequena o basileuacutes aconselhava a que se praticasse uma

manobra de envolvimento que poderia ou natildeo envolver as trecircs linhas464

460 Mais tarde Leatildeo refere que estes homens deviam atuar em conjunto com os 4000 homens que jaacute mencionara

fazendo supor que estes natildeo estariam presentes entre o conjunto da forccedila recrutada Isto natildeo faz sentido porque

sem estes homens a conta natildeo chegaraacute aos quatro mil homens Taktikaacute XVIII765-769 461 A existecircncia de um corpo de reserva mostrou-se essencial para a vitoacuteria bizantina em certas batalhas No

uacuteltimo grande confronto entre Russos e Bizantinos agraves portas de Dorostolon em 971 a vitoacuteria bizantina esteve

presa por um fio ateacute Joatildeo II Zimisces (969-976) o co-imperador de entatildeo carregar sobre o centro da linha russo

com os seus catafractaacuterios e quebrar as formaccedilotildees noacuterdicas A carga do basileuacutes juntamente com as condiccedilotildees

atmosfeacutericas que se fizeram sentir entatildeo permitiu agraves linhas romanas empurrar o centro adversaacuterio enquanto a

cavalaria pesada sob Bardas Sclero no flanco direito esmagava os Russos com uma manobra de envolvimento

Vide Leatildeo o Diaacutecono A Histoacuteria VIII e HALDON J (2001) ndash Op cit p 104 462 Taktikaacute XVIII808-819 463 Exemplos de encontros onde mais do que uma forccedila de um themaacuteta se reuniram para confrontar o inimigo

podem ser as batalhas de Lalacatildeo e Bathys Ryax apesar de a uacuteltima se tratar mais de um ardil bizantino que

provocou uma debandada no seio das forccedilas paulicianas a que se seguiu o massacre na perseguiccedilatildeo 464 Taktikaacute XVIII819-829

90

A principal vantagem desta formaccedilatildeo era a de permitir manter a pressatildeo ou uma defesa

soacutelida frente a exeacutercitos das mais variadas dimensotildees pois havia sempre tropas frescas

prontas para auxiliar as restantes caso estas necessitassem de retirar Para aleacutem disso nas

palavras de Leatildeo e de Mauriacutecio organizar um exeacutercito numa soacute linha gerava muitos

problemas a niacutevel de comando465 Por outro lado este modelo organizativo permitia que

fossem realizadas muitas mais movimentaccedilotildees taacuteticas do que aquelas que seria possiacutevel

concretizar se o exeacutercito formasse em apenas uma linha enquanto a extensatildeo de tal fila

provocaria problemas na coesatildeo das fileiras em caso de o combate se dar em terreno difiacutecil466

Outras desvantagens parecem ser o facto de uma grande linha permitir a fuga de certos

homens sem que o comando se aperceba enquanto por outro lado eventuais perseguiccedilotildees a

inimigos em fuga acabariam em desastre caso os soldados bizantinos fossem emboscados

sem apoio de qualquer outra forccedila de apoio467

465 Stratēgikoacuten II1 466Taktikaacute XII31-46 467 Taktikaacute XII51-65

91

Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas

Apesar de Leatildeo dedicar vaacuterios capiacutetulos agraves questotildees relacionadas com a batalha

campal eacute importante voltar salientar que esta natildeo era uma praacutetica muito apreciada pelos

Bizantinos porque poderia acarretar graves consequecircncias e muitas baixas Para Leatildeo VI o

preferiacutevel era combater por meio de assaltos a fortificaccedilotildees ou por estratagemas por outro

lado e como jaacute salientaacutemos o mar era um meio crucial para combater os muccedilulmanos O

nosso proacuteximo capiacutetulo abordaraacute estas questotildees que entendemos serem mais pertinentes para

a questatildeo da guerra travada pelos thematikoiacute do que propriamente as batalhas campais

71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade

laquoA guerra de cerco exige um general que seja corajoso e perspicaz que tenha

conhecimento militar senso comum e que consiga preparar maacutequinas de guerra Ele

deve zelar pela seguranccedila ao acampar em redor de uma cidade ou de uma fortaleza ou

fortificaccedilatildeo e deve dedicar muita atenccedilatildeo a essa seguranccedilaraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XV linhas 9-12468

A poliorceacutetica (isto eacute a disciplina militar que se ocupa do cerco de cidades) eacute da

maacutexima importacircncia para Bizacircncio e representava uma das teacutecnicas beacutelicas mais empregues

por este impeacuterio Eacute inconcebiacutevel imaginar este Estado sem o domiacutenio desta vertente da arte de

guerra tendo em conta os muacuteltiplos inimigos que enfrentou nas mais variadas frentes o que

lhe fez tirar partido da falta de experiecircncia da maior parte dos seus vizinhos nessa

modalidade Apesar de Leatildeo VI natildeo apresentar muitos conteuacutedos originais neste aspeto da sua

obra tomaacutemos a iniciativa de fazer uma pequena resenha do que ele escreveu neste

subcapiacutetulo ndash pelas razotildees acima enunciadas ndash dividindo-o em trecircs aspetos principais o

assalto a uma fortaleza a defesa de um recinto fortificado e a construccedilatildeo de postos-de-vigia

Relativamente ao asseacutedio de uma fortificaccedilatildeo podemos comeccedilar por verificar como eacute

que um strategoacutes tomava uma cidade inimiga alcanccedilando a vitoacuteria numa operaccedilatildeo desta

natureza Tal podia ser feito atraveacutes de um bloqueio rigoroso de forma a obrigar a guarniccedilatildeo

a render-se caso natildeo houvesse tempo ou mantimentos para tal empreendimento poder-se-ia

tentar um assalto agraves muralhas com recurso a maacutequinas de cerco ou entatildeo o general recorria a

ardis e a estratagemas para enganar os defensores e conseguir tomar a cidade Por outro lado

468 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 350-351

92

poder-se-ia fazer uso dos engenhos de cerco para demolir o moral da guarniccedilatildeo e dos

habitantes forccedilando-os agrave rendiccedilatildeo podendo igualmente consumar-se a tomada desse siacutetio

atraveacutes da traiccedilatildeo por algueacutem de dentro do periacutemetro defensivo Por fim se o objetivo fosse

apenas o botim havia ainda a alternativa de os sitiados pagarem um tributo469 podendo a

hoste retirar-se se tal bastasse para saciar os desejos desta forccedila militar

Tendo em conta o acima referido quais eram os procedimentos para a tomada de um

siacutetio amuralhado A primeira regra de acordo com Leatildeo VI seria enviar cavaleiros agrave frente

do exeacutercito de forma a capturar todos aqueles que pudessem avisar com antecedecircncia a

povoaccedilatildeo da aproximaccedilatildeo da hoste bizantina470 A isto segue-se a construccedilatildeo de um

acampamento fortificado em torno do objetivo (uma circunvalaccedilatildeo) um procedimento fulcral

para garantir o bloqueio da cidade e para proteger a hoste sitiadora O comandante bizantino

de seguida deve comeccedilar a distribuir logo tarefas espalhar batedores pelo terreno circundante

para o avisarem de ameaccedilas quer de dentro da cidade quer de fora colocar homens a montar

armas de cerco e estacionar soldados nas entradas do siacutetio sujeito ao assalto

O general deve entatildeo ponderar as suas opccedilotildees a cidade tem mantimentos suficientes

para aguentar o cerco O exeacutercito bizantino possui provisotildees necessaacuterias para conseguir

bloquear com sucesso a cidade E quanto agraves fortificaccedilotildees e agrave guarniccedilatildeo seratildeo suficientemente

fortes para aguentar um assalto Apesar de todas estas questotildees para os Bizantinos era

preferiacutevel capturar a praccedila pelo bloqueio471 ou obrigaacute-la a render-se de outras formas visando

o menor nuacutemero de baixas possiacutevel

A grande arma para se atingir este objetivo eacute o medo Leatildeo VI aconselha o general a

tirar proveito da noite para bombardear a cidade alegando que isto poderaacute criar uma confusatildeo

algo paranoica por entre os habitantes facilitando a sua subjugaccedilatildeo472 Por outro lado essa

sensaccedilatildeo de pacircnico e talvez de cansaccedilo apoacutes algumas noites atrevemo-nos a dizer iria tornaacute-

los mais descuidados nas palavras do autokraacutetor pelo que seria possiacutevel enganaacute-los fazendo

subir laquodois homensraquo agrave muralha De acordo com o basileuacutes com algum exagero os indiviacuteduos

469 Como no caso do cerco aacuterabe de Tessaloacutenica em que a cidade foi libertada (aparentemente) depois do

pagamento de um avultado tributo Cf supra 22 470 Taktikaacute XV229-233 Onas XXXIX Stratēgikoacuten X 471 Uma das teacutecnicas que visava este objetivo era em caso da captura de cidadatildeos inimigos nas proximidades da

fortaleza aprisionar todos os que pudessem participar na defesa do local e enviar para o siacutetio assediado todos os

outros (mulheres crianccedilas e idosos) de forma a aumentar a velocidade com que os mantimentos eram comidos

Taktikaacute XV132-138 Onas XLI 472 A conquista de Antioquia em 969 por forccedilas leais a Niceacuteforo Focas parece ter-se dado em circunstacircncias

proacuteximas destas Um pequeno grupo de homens trepou as muralhas durante a noite matou alguns vigias e

incendiou vaacuterios setores da cidade espalhando o pacircnico pela cidade Este grupo teraacute depois aberto os portotildees o

que permitiu aos Romanos entrar A populaccedilatildeo ter-se-aacute entatildeo rendido e os fogos foram apagados pelas forccedilas

bizantinas Vide A Histoacuteria de Leatildeo o Diaacutecono V

93

responsaacuteveis pelas muralhas pensaratildeo que eacute o exeacutercito inimigo que estaacute a subir pelo que de

imediato fugiratildeo deixando as ameias agraves matildeos do invasor473 Em alternativa o strategoacutes

deveria exibir (suficientemente longe das muralhas) alguns dos seus soldados com cota de

malha e armadura completa de forma a intimidar o adversaacuterio474 Por fim na altura de impor

os termos de rendiccedilatildeo estes deviam ser modestos e sensatos ndash como a entrega das armas e das

montadas por exemplo ndash de forma a aplacar a populaccedilatildeo da cidade mas tambeacutem para lhe

minar a vontade de combater475 Quando o empreendimento tem sucesso o imperador

aconselha o general a ser misericordioso gentil ateacute para com a populaccedilatildeo de maneira a

suprimir os seus desejos de resistecircncia476 Para aleacutem disso demonstrava a outras cidades que

pudessem ser cercadas no futuro que os novos suacutebditos do impeacuterio natildeo seriam oprimidos477

O strategoacutes soacute deveria encetar um assalto agraves muralhas caso o bloqueio natildeo fosse viaacutevel

por falta de mantimentos da parte da hoste atacante tirava entatildeo proveito das maacutequinas de

guerra ao seu dispor tais como ariacuteetes escadas de assalto tartarugas e outros engenhos478 A

persistecircncia no ataque (com ataques interminaacuteveis por turnos contra a cidade para natildeo cansar

os soldados479) e a conjugaccedilatildeo dos meios de assalto480 eram os dois principais fatores que o

imperador aconselhava para o sucesso no asseacutedio Apesar de todo este aparato beacutelico

Niceacuteforo Ouranos considera um seacuteculo depois que o melhor meacutetodo para tomar uma

fortaleza por meio de um assalto satildeo os trabalhos de escavaccedilatildeo sob as fundaccedilotildees da muralha

por meio de laisacirci481 Natildeo obstante Leatildeo VI natildeo mencionar estes dispositivos parece que

473 Taktikaacute XV27-35 Onas XLI 474 Os que natildeo cumprissem estes requisitos podiam usar o almofre da armadura de outro soldado e apresentar-se

de armas completas Para aleacutem disso o acampamento devia estar suficientemente longe da cidade para que a

maior parte dos apetrechos neste parecessem soldados ao inimigo assediado e para natildeo impor aos soldados nas

suas horas de descanso o stressante som dos combates (gritos e terccedilar de armas) Taktikaacute XV56-57 e 139-143

Stratēgikoacuten X1 475 Caso contraacuterio se os termos forem muito rigorosos os habitantes poderiam entender que mais valeria resistir

do que renderem-se Taktikaacute XV64-66 476 Cf supra 51 477 Taktikaacute XV210-216 e 238-249 Onas XXXV XXXVIII e XLII 478 Aqui possivelmente devem-se incluir os engenhos de artilharia neurobaliacutestica possivelmente sifotildees manuais

de fogo grego (que natildeo deveriam disparar material flamejante no entanto) e as laisacirci das quais falaremos a

seguir Quanto aos sifotildees manuais vide Taktikaacute XIX356-361 Parangelmata Poliorcetica XLIX (de aqui em

diante citada por Polio) e HALDON John et alli (2006) Greek fire revisited recent and current research In

JEFFREYS Elizabeth Byzantine Style Religion and Civilization ndash In Honour of Steven Runciman Cambridge

Cambridge University Press pp 295-296 e 314-315 479 Que de acordo com Leatildeo seria o suficiente para tomar um recinto fortificado pequeno Taktikaacute XV149-153

Stratēgikoacuten X1 480 Por exemplo incendiar casas por meio de flechas e de projeacuteteis flamejantes ou colocar escadas para trepar as

muralhas enquanto os habitantes estatildeo ocupados a apagar os fogos 481 Uma estrutura amoviacutevel feita de ramos entrelaccedilados e com uma cobertura iacutengreme de construccedilatildeo simples e

faacutecil transporte com vaacuterias entradas Servia para proteger os homens que as transportavam durante a

aproximaccedilatildeo agraves muralhas ou para garantir o seu descanso McGeer diz que elas tambeacutem poderiam ser utilizadas

pelos sapadores durante os seus trabalhos para os proteger dos projeacuteteis vindos das muralhas Vide MCGEER

94

estes teratildeo sido utilizados pelos Buacutelgaros para evitar que os Magiares atravessassem o

Danuacutebio em 895 pelo que natildeo seraacute de excluir a hipoacutetese de os Bizantinos os conhecerem e

utilizarem na eacutepoca do Taktikaacute482

As reminiscecircncias de Ouranos afiguram-se interessantes porque podem refletir-se na

eacutepoca de Leatildeo VI Ao ter em conta que o principal objetivo da guerra neste periacuteodo era o

saque e que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam de alguma mobilidade para a praticar eacute

pouco provaacutevel que se dessem ao trabalho de trazer maquinaria pesada para cercar

fortalezas483 Para tal seria mais viaacutevel a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de cerco mais raacutepidas e baratas

como o bloqueio484 as minas os ardis e as laisacirci em detrimento da utilizaccedilatildeo de engenhos de

cerco que necessitassem de vir de longe e que sem duacutevida tornariam mais lenta a marcha de

hostes que precisavam de ser raacutepidas por natureza Uma possiacutevel exceccedilatildeo para isso poderia

acontecer caso o exeacutercito estivesse numa campanha para conquistar um baluarte ou cidade em

particular no entanto tal seria uma responsabilidade mais facilmente atribuiacuteda a uma hoste

expedicionaacuteria de um basileuacutes ou de um domestikoacutes do que a um exeacutercito provincial485

E se o strategoacutes estivesse do outro lado da muralha o que deveria fazer Em primeiro

lugar preparar-se atempadamente para o cerco armazenar provisotildees486 evacuar quem natildeo

fosse estritamente necessaacuterio para a defesa montar engenhos de cerco nos topos das torres e

planear muito bem a distribuiccedilatildeo de homens a fim de garantir que natildeo houvesse zonas por

defender487 Para aleacutem disso teria de colocar guardas a patrulhar (em especial durante a noite)

bem como a proteger as provisotildees enquanto os portotildees deviam estar sob a proteccedilatildeo de

homens de confianccedila488

Quanto a formas de defender as muralhas489 Leatildeo aconselha a que sejam pendurados

troncos grandes ou rochas para esmagar os homens e as escadas do inimigo caso ensaiem

Eric (1995) Tradition and Reality in the Taktika of Nikephoros Ouranos In Dumbarton Oaks Papers 45 p

135 482 Vide MCGEER E (1995) ndash Op cit p137 483 Tome-se o caso da expediccedilatildeo de Basiacutelio I a Tephrike e a Melitene em 871 infrutiacutefera por causa das

respetivas defesas e da incapacidade de as bloquear devido agrave enorme quantidade de provisotildees que possuiacuteam 484 Se houvesse provisotildees suficientes e tempo para tal 485 Tome-se como exemplo a expediccedilatildeo a Creta em 949 que estaria equipada com peccedilas para maacutequinas de

cerco que seriam montadas na altura de tomar a capital Chandax Vide Constantino VII basileuacutes ldquoThe

expedition which took place against the island of Crete and the equipping of the naval and cavalry forces in the

seventh indiction in the time of Constantine and Romanos purple-born and faithful emperors in Christrdquo Texto

traduccedilatildeo e comentaacuterio HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century Military Administration ndash

Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies Travaux et Memoacuteires (13) pp 224-225 486 E impor raccedilotildees diaacuterias caso natildeo haja em quantidade suficiente em especial de aacutegua Taktikaacute XV324-329 487 E que houvesse uma reserva pronta a atuar onde fosse preciso 488 Taktikaacute XV306 489 E caso natildeo fosse possiacutevel derrotar o inimigo antes de este assediar a fortificaccedilatildeo Taktikaacute XV250-255 Estas

seratildeo palavras originais de Leatildeo de acordo com John Haldon que indica o caso da derrota de Teoacutefilo (829-842)

95

uma escalada dos muros Se o inimigo usasse torres-de-assalto os defensores deveriam

utilizar misseis incendiaacuterios ou recorrer aos projeacuteteis das maacutequinas de lanccedilamento de pedras

ou agrave construccedilatildeo de torres nas ameias maiores do que as torres do adversaacuterio490 As surtidas

eram proibidas por mais valorosos que os militares e os cidadatildeos fossem491 a natildeo ser em

casos de extrema necessidade para destruir as armas de cerco inimigas492 Para aleacutem destes

conselhos o basileuacutes recomendava ao strategoacutes que pensasse ele proacuteprio em formas de

contrariar os ataques e estratagemas do inimigo493 ou ateacute em expedientes para enganar o

adversaacuterio enquanto mantinha o moral da populaccedilatildeo alto ateacute o cerco terminar494

Por fim em relaccedilatildeo agrave poliorceacutetica Leatildeo dedica algumas palavras agrave raacutepida construccedilatildeo

de fortalezas fronteiriccedilas495 Estas fortificaccedilotildees496 tanto nos Balcatildes como especialmente na

Aacutesia Menor tornam-se importantes no contexto da eacutepoca pelas seguintes razotildees

laquo(hellip) Primeiro para observar a aproximaccedilatildeo de um inimigo segundo para receber

desertores do inimigo terceiro para conter quaisquer fugitivos do nosso proacuteprio lado A quarta

(razatildeo) eacute para facilitar a preparaccedilatildeo de raides contra territoacuterios inimigos perifeacutericos Estes satildeo

empreendidos natildeo tanto para saquear mas mais para descobrir o que o inimigo estaacute a fazer e

que planos urde contra noacutesraquo497

Para este empreendimento eacute uma vez mais necessaacuterio averiguar de certas

necessidades haacute materiais de construccedilatildeo na zona onde se pretende construir o recinto E

quanto agrave aacutegua existe ou eacute necessaacuterio procuraacute-la ou trazecirc-la de outro siacutetio Seguem-se os

conselhos para a edificaccedilatildeo enviar artesatildeos (canteiros carpinteiros entre outros)

acompanhados por toda a logiacutestica de que precisassem e uma escolta para comeccedilarem a

construir os alicerces das fortificaccedilotildees enquanto estavam protegidos por um karagos Novas

na batalha de Anzen (838) numa tentativa de destruir uma de duas colunas aacuterabes que se dirigiam agrave cidade

como um exemplo praacutetico de um falhanccedilo desta estrateacutegia HALDON J (2014) ndash Op cit p301 490 Taktikaacute XV273-285 Stratēgikoacuten X3 491 Karlin-Hayter considera o excerto que diz isto como uma reflexatildeo da mentalidade estrateacutegica bizantina de

poupar soldados tambeacutem inserida no pensamento militar do Saacutebio ldquo(hellip) Os homens eram preciosos em

particular aqueles mais corajosos e Leatildeo estava preocupado em economizaacute-los A tarefa em matildeos consistia em

defender o impeacuterio e ele tinha pouca paciecircncia para heroiacutesmosrdquo Vide KARLIN-HAYTER ndash Op cit p19 492 A defesa da fortificaccedilatildeo devia ser feita nas muralhas quase que exclusivamente Taktikaacute XV306-316 493 Taktikaacute XV337-342 Paraacutefrase de Onas XL 494 Veja-se o caso do cerco aacuterabe a Constantinopla em 717718 quando Leatildeo III a fim de preparar as defesas da

cidade informou um dos comandantes aacuterabes de que a cidade de Amorion seria entregue aos invasores

Enquanto as forccedilas aacuterabes divergiam no seu percurso para a capital da divisatildeo dos Anatoacutelicos ele conseguiu

guarnecer eficazmente aquela cidade obrigando depois aquela hoste a retirar O resultado deste estratagema

para Constantinopla foi que ao inveacutes de ser cercada por dois exeacutercitos aacuterabes foi assediada apenas por uma

hoste Tal foi uma das razotildees para a vitoacuteria dos defensores em 718 Vide HALDON J (2016a) ndash Op cit p53 495 Esta secccedilatildeo (Taktikaacute XV343-402) eacute quase uma paraacutefrase de Mauriacutecio Strategikon X4 496 John Haldon refere que estas fortalezas tendo em conta a sua localizaccedilatildeo na fronteira podem muito bem ser

os phouacuteria de Siriano que tinham funccedilotildees de vigia e natildeo tanto de proteccedilatildeo do territoacuterio Vide HALDON J

(2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 497 Siriano magister in Sir Strat IX

96

forccedilas seguidas de um acampamento fortificado dever-se-iam seguir a estas assim que as

presenccedilas inimigas locais tivessem sido afastadas pela manha bizantina498 Findos os

primeiros trabalhos dever-se-iam comeccedilar a erguer as primeiras fortificaccedilotildees per se

especialmente com a utilizaccedilatildeo de argamassa para as fortalecer A aacutegua a ser usada pela

guarniccedilatildeo tambeacutem era de extrema importacircncia inicialmente dever-se-ia armazenar a aacutegua em

barris ou em jarros de ceracircmica499 juntamente com pedras do rio limpas para a preservar ateacute

ao inverno De seguida iniciava-se a construccedilatildeo de cisternas para preservar a aacutegua da chuva

para a futura guarniccedilatildeo500

72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval

A Constitutio XIX do Taktikaacute dedica-se quase que por exclusivo a este tema e chegou

a ser considerada como um escrito distinto do manual de Leatildeo por se encontrar em separado

deste no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 501 Esta secccedilatildeo eacute tambeacutem uma das

primeiras a referirem a guerra naval desde o seacuteculo V e o tratado de Vegeacutecio502 algo que se

enquadra muito bem no paradigma da eacutepoca e do reinado de Leatildeo como jaacute referimos503

O manual militar discrimina vaacuterios tipos de droacutemōnes ainda que muito

subsidariamente ao longo das paacuteginas referentes a esta disciplina evocando dois em especial

uns mais pequenos com capacidade para 100 remadores e os maiores com capacidade para

200 homens que deviam ter dimensatildeo suficiente para manter a velocidade e a resistecircncia O

tratado menciona a existecircncia de galeacutes (ou monorremes) que eram mais pequenas e velozes do

que os outros droacutemōnes e eram bastante uacuteteis em taacuteticas que necessitassem de velocidade ou

de alguma discriccedilatildeo504 Ao serviccedilo do strategoacutes naval505 deviam existir ainda embarcaccedilotildees

498 Esta manha eacute constituiacuteda por um rumor de que a cidade inimiga mais proacutexima seria atacada seguido do envio

de uma forccedila fantoche para corroborar o rumor Enquanto o exeacutercito inimigo se dirige a este grupo de soldados

os trabalhos de construccedilatildeo devem prosseguir In Taktikaacute XV350-362 499 Dever-se ia colocar uma pequena bacia junto dos barris para que gota-a-gota a aacutegua escoasse para esta e

assim se mantivesse em movimento e natildeo estagnasse Assim que a bacia enchesse despejava-se novamente a

aacutegua no recipiente maior 500 Sob a forma como construir uma cisterna vide Taktikaacute XV 394-402 Stratēgikoacuten X4 501 Cf supra 43 502 laquoConquanto natildeo encontraacutemos nenhuma regulaccedilatildeo acerca disto (guerra naval) nos velhos tratados taacuteticos

ainda assim a partir do que lemos aqui e ali e do que aprendemos da experiecircncia ordinaacuteria dos nossos

comandantes da frota no tempo presente dos seus sucessos bem como dos seus falhanccedilos selecionaacutemos alguns

exemplos os suficientes para fazer esta apresentaccedilatildeo agravequeles que desejam combater no mar no que antigamente

se chamavam trirremes mas que agora se chamam droacutemōnesraquo Taktikaacute XIX3-8 Haldon acredita que por laquoaqui

e aliraquo o autor se refere ao Naumachiacuteai de Siriano Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 390 503 Cf supra 32 504 Em batalha eram uacuteteis para emboscadas para flanquear e como ldquoiscordquo para fugas simuladas Em campanha

eram usados como batedores Taktikaacute XIX66-68 Para utilizaccedilatildeo de galeacutes como batedores mariacutetimos no

contexto da expediccedilatildeo de 911 veja-se o Anexo IX a)

97

destinadas especificamente para o transporte de cavalos506 mantimentos e equipamento de

reserva que serviriam como trem-de-apoio naval507 A uacuteltima embarcaccedilatildeo mencionada eacute o

pamphylos que no contexto do Taktikaacute eacute o droacutemōn pessoal do strategoacutes508 tendo por isso de

ser superior aos outros em todos os aspetos incluindo a tripulaccedilatildeo que devia ser escolhida ao

pormenor pelo oficial superior509 Por sua vez esta tendecircncia devia ser seguida pelos que

seguiam o strategoacutes na linha de comando510

Dentro desta Constitutio eacute possiacutevel ainda aferir de certo modo a estrutura de um

droacutemōn na proa estariam os sifotildees de laquofogo greguecircsraquo cujos operadores estariam protegidos

dos projeacuteteis inimigos dentro de uma cabina de madeira511 Por cima dessa cabina existia uma

plataforma que servia para proteger a frente da embarcaccedilatildeo em caso de abordagem ou para

disparar projeacuteteis contra o inimigo512 O laquocasteloraquo nas embarcaccedilotildees maiores como jaacute foi

referido encontrava-se entre o mastro mais alto da frente e o segundo do meio Cada droacutemōn

possuiacutea duas filas de remadores uma sob o conveacutes513 e a outra sobre este Por fim eacute indicada

a presenccedila de uma cabina para o capitatildeo da embarcaccedilatildeo o keacutentarcos na popa514

Neste capiacutetulo procede-se igualmente agrave enumeraccedilatildeo de vaacuterias peccedilas de equipamento

que precisariam de estar em cada embarcaccedilatildeo ferramentas materiais suplentes para

reparaccedilotildees sifotildees515 (que deveriam estar na proa do navio) para o disparo do chamado laquofogo

greguecircsraquo laquotorresraquo para os navios maiores516 e gruas para virar as naves adversaacuterias517 Podiam

ainda possuir uma pequena balista na proa chamada toxobaliacutestrai que disparava projeacuteteis

505 Ao contraacuterio das restantes Constitutiones os destinataacuterios desta (como esperado) satildeo os strateacutegoi dos themaacuteta

mariacutetimos ou ateacute possivelmente droungaacuterios totilden ploiumlmon 506 Pryor e Jeffreys referem que a tipologia da embarcaccedilatildeo para transportar montadas dependia do tipo de missatildeo

a que a frota estivesse destinada Caso o objetivo fosse transportar um exeacutercito de um porto para outro dar-se-ia

preferecircncia a navios maiores por possuiacuterem espaccedilo para mais cavalos Se o objetivo fosse um desembarque

anfiacutebio entatildeo era mais apropriado usar galeacutes que apesar de terem menos tonelagem conseguiam atracar na praia

sem correr o risco de naufragar PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 307 507 Taktikaacute XIX66-68 508 Ou droungaacuterios caso fosse um almirante da frota imperial 509 Taktikaacute XIX247-252 510 Taktikaacute XIX253-255 Naumachiacuteai de Siriano 9 (doravante citado por Sir Naum) 511 HALDON J (2014) ndash Op cit p 397 512 Taktikaacute XIX34-37 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 203 513 Apesar de Leatildeo natildeo mencionar se o droacutemōn tinha um conveacutes inteiro esta frase (laquoQue cada droacutemōn seja de

grande comprimento e tamanho apropriado com duas filas de remadores como satildeo chamadas uma por baixo e

outra por cimaraquo) leva Pryor e Jeffreys a concluir que tal deveria ser o caso Taktikaacute XIV45-46 PRYOR JH e

JEFFREYS EM ndash Op cit p 232 514 Taktikaacute XIX56-60 O keacutentarcos tambeacutem se podia chamar naacuteuarchos HALDON J (2014) ndash Op cit p398 515 Apesar de a conjuntura dizer que seria apenas um havia casos onde parecem existir mais do que um em

certas embarcaccedilotildees como na expediccedilatildeo a Creta em 949 Vide HALDON J (2000) ndash Op cit pp 278-281 516 Estas torres serviriam de plataforma de lanccedilamento de projeacuteteis Seriam constituiacutedas por duas plataformas

fortificadas e estariam localizadas entre o maior masto da frente e o segundo masto a meio do navio Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit pp396-397 A traduccedilatildeo de Dennis (feita a partir de uma expressatildeo corrompida

do texto grego) eacute ldquoa meio do masto principalrdquo algo nada praacutetico e que acabaria com o derrubar do ldquocastelordquo em

caso de receber um impacto forte Taktikaacute XIX38-39 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 230 517 Taktikaacute XIX369-383

98

chamados de laquomoscasraquo ou laquoratosraquo Cada droacutemōn tinha que ter tambeacutem um conjunto de outras

armas tais como estrepes para serem lanccediladas para os conveses inimigos potes com laquocal

vivaraquo jarros recheados de laquofogo greguecircsraquo e apesar de isso pouco aceite pelos historiadores

contemporacircneos Leatildeo sugere (ele proacuteprio de forma ambiacutegua) que se poderiam utilizar

animais venenosos contra as naves inimigas518

Relativamente agrave tripulaccedilatildeo de cada droacutemōn esta dependeria do tamanho de

embarcaccedilatildeo De acordo com o Taktikaacute os navios maiores teriam cerca de 200 remadores

enquanto os medianos teriam cerca de 100 Para aleacutem destes efetivos de tropa mariacutetima havia

ainda um pequeno grupo de oficiais um porta-estandarte519 dois timoneiros na popa520 o

sifonaacutetor isto eacute o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de laquofogo greguecircsraquo e outro pela acircncora

ambos na proa e por fim o keacutentarcos que capitaneava a partir da sua cabina na popa

O que Leatildeo natildeo refere no entanto eacute a presenccedila de marinheiros e de outros indiviacuteduos

experientes em navegaccedilatildeo entre a tripulaccedilatildeo521 atribuindo a responsabilidade desses

conhecimentos unicamente ao comandante da forccedila naval522 De acordo com a traduccedilatildeo de

Dennis para aleacutem destes oficiais seguiria ainda a bordo um carpinteiro523 No entanto isto

apresenta-se como o resultado da omissatildeo de uma parte do texto pelo editor querendo Leatildeo

informar que o carpinteiro seria um dos remadores e natildeo algueacutem destacado para isso524

Quanto agrave tripulaccedilatildeo devia toda ela envergar uma armadura todos os que se pudessem

equipar agrave maneira catafractaacuteria (com cota de malha ou klibaacutenion soacute agrave frente ou tambeacutem atraacutes

caso possuiacutesse meios financeiros para tal) deveriam fazecirc-lo os que estavam na proa ou onde o

combate decorresse mais ferozmente deviam ter elmos e grevas de ferro Todos os outros

deviam vestir a neurikaacute uma sobreveste com duas camadas de couro Quanto agraves armas

deviam ser bastante variadas arco e flecha dardos525 escudos meacutenaula pedras para

arremessar526 e algo a que Leatildeo chama laquosifatildeo manualraquo ou cheirosiacutefona que devia ser

disparado ou atirado por detraacutes de uma muralha de escudos de ferro527 O basileuacutes refere ainda

alguns exerciacutecios de treino tanto para os soldados como para a movimentaccedilatildeo de droacutemōnes

518 Taktikaacute XIX344-347 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 403 519 Que possivelmente seria tambeacutem responsaacutevel pelos sinais com as bandeiras e por transmitir as ordens do

keacutentarcos ao resto da tripulaccedilatildeo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 398 520 Tambeacutem chamados de protokaraacuteboi Idem Ibidem p398 521 Algo que eacute referido no Naumachiacuteai de Siriano magister por exemplo Sir Naum 5 522 Taktikaacute XIX9-15 Cf Sir Naum 5 523 Taktikaacute XIX30-31 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp506-507 524 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 396-397 Para traduccedilotildees corretas vide COSENTINO S (2004) ndash Op cit

p293 e PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 487 525 Estes dois em especial satildeo aconselhados aos marinheiros dos navios de apoio para se poderem defender em

caso de necessidade Taktikaacute XIX78-84 Cf Strategikoacuten XII(B)21 526 Para a importacircncia deste tipo de projeacutetil vide Taktikaacute XIX96-107 527 TaktikaacuteXIX 357-361

99

em batalha com o objetivo de exercitar os marinheiros para todas as situaccedilotildees em caso de

combate mas tambeacutem para os habituar ao que ele chama de laquoturbulecircncia da guerraraquo528 Soacute

quando os seus subordinados estivessem adequadamente equipados e treinados eacute que ele se

devia lanccedilar ao mar529

A frota comandada pelo strategoacutes tambeacutem possuiacutea como eacute oacutebvio uma estrutura

taacutetica Como jaacute referimos cada navio estava sob o comando de um keacutentarcos o seu capitatildeo

que estava sob o comando de um komeacutes que lideraria entre trecircs a cinco droacutemōnes Leatildeo

refere ainda que agrave semelhanccedila dos themaacuteta terrestres tambeacutem existiam droungaacuterios e

turmarcas natildeo aludindo no entanto ao nuacutemero de forccedilas que comandavam530

A expediccedilatildeo naval comeccedilaria entatildeo com uma becircnccedilatildeo aos navios com rezas a Deus

para pedir uma boa viagem contra os inimigos e com um discurso do strategoacutes para encorajar

a armada531 Esta partiria entatildeo em formaccedilatildeo com os navios suficientemente afastados para

evitar atrapalhaccedilotildees a favor do vento No que concerne ao atracar da frota este devia ser

realizado tambeacutem em boa ordem e vaacuterios cuidados deviam ser tidos em conta dependendo do

local de ancoragem poucos ou nenhuns num porto bizantino a natildeo ser evitar destruir as

propriedades dos habitantes Por outro lado se fosse em territoacuterio inimigo ou amigaacutevel onde

se suspeitava existirem forccedilas hostis na regiatildeo a histoacuteria era outra a vigilacircncia tanto em terra

como no mar devia ser redobrada e a frota deveria manter-se pronta para a batalha532

Tambeacutem sobre as aacuteguas do mar era preferiacutevel recorrer a ardis e a estratagemas O

basileuacutes recorda novamente o conselho dado aos exeacutercitos terrestres sempre que possiacutevel

evitar um confronto direto em batalha533 Caso esta ocorrecircncia fosse inevitaacutevel a providecircncia

divina era novamente preciosa bem como avaliar se a causa do combate era injusta ou natildeo534

A ocorrer junto ao litoral a batalha deveria ser travada perto da costa inimiga para evitar as

deserccedilotildees do lado bizantino e incentivar as do adversaacuterio

Durante a batalha era necessaacuterio ter uma sinaleacutetica variada que permitisse dar ordens

com clareza em qualquer parte ou momento do combate uma vez que comandos vocais e

528 Taktikaacute XIX161-169 529 Taktikaacute XIX174-175 Stratēgikoacuten XII(B)21 530 Taktikaacute XIX157-161 531 Taktikaacute XIX142-147 532 Taktikaacute XIX191-198 Cf Stratēgikoacuten XII(B)21 Sir Naum5679 e ainda no livro I dos Estratagemas de

Polieno (de aqui em diante Pol Strat a traduccedilatildeo que vamos usar desta fonte eacute MARTIacuteN GARCIacuteA Francisco

(1991) Estratagemas In Biblioteca Claacutesica Gredos (153) pp 146-568) 533 O conselho mostra-se ainda mais fulcral em batalhas navais porque o autokraacutetor refere que neste tipo de

confrontos eacute impossiacutevel retirar qualquer tipo de vantagem assim que o combate corpo-a-corpo (consequente da

ligaccedilatildeo entre navios) comeccedila Taktikaacute XIX215-219 Haldon refere que este pensamento se deve ao facto de a

opiniatildeo bizantina justificada pelas grandes derrotas navais sofridas natildeo confiar no mar como caminho para a

vitoacuteria na guerra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 407 534 Taktikaacute XIX222-228 Stratēgikoacuten VIII(B)21

100

sons de trompa se perdiam no barulho provocado pela peleja Assim sinais que usavam

bandeiras ou flacircmulas eram essenciais devendo cada ordem especiacutefica estar associada a cada

um dos movimentos destes objetos ou de outros pedaccedilos de tecido como turbantes desde

que suficientemente visiacuteveis535

Leatildeo aparentemente coloca a decisatildeo sobre o dispositivo taacutetico a ser utilizado nas

matildeos do strategoacutes na maior parte dos casos536 no entanto informa-nos de duas formaccedilotildees em

especial em crescente (ou semicircular) e em linha537 A primeira devia ser utilizada para

envolver a frota adversaacuteria e bloquear a sua retirada538 ou entatildeo para possibilitar um

abandono ordenado do laquocampo de batalharaquo539 devia ter o pamphylos do strategoacutes na

concavidade para que ele pudesse controlar a frota e ter sempre uma visatildeo completa da

situaccedilatildeo das suas forccedilas540 Jaacute a formaccedilatildeo em linha era melhor para usar os sifotildees nas proas do

navio durante a abertura do combate O basileuacutes aconselha tambeacutem o strategoacutes a dividir as

suas formaccedilotildees em dois ou trecircs grupos para natildeo estarem sempre todos a combater e para

existirem reservas ou flanqueadores541

Natildeo obstante os estratagemas continuam a ser o meacutetodo eleito pelo basileuacutes para se

travar a guerra naval Leatildeo menciona vaacuterios como a utilizaccedilatildeo de fugas simuladas por parte

de droacutemōnes mais pequenos e de galeacutes para atrair as embarcaccedilotildees inimigas para as ciladas542

ou conseguir passar um navio pelas linhas opostas com o intuito de atacar as naves mais

pequenas do adversaacuterio543 Outro estratagema consistia em atacar o inimigo depois de

naufraacutegios ou tempestades o terem atingido ou quando este se encontrava entretido em

operaccedilotildees terrestres544 Curiosamente Leatildeo natildeo refere mais estratagemas considerando que o

inimigo pode tomar conhecimento deles e assim contrariaacute-los545

Por fim no contexto deste capiacutetulo Leatildeo deixa uma nota aos comandantes de frotas546

sobre a escolha de navios esta deveria depender tambeacutem do inimigo que o almirante fosse

confrontar Assim se o oficial fosse fazer frente a uma frota sarracena dos emirados ou de

535 Taktikaacute XIX259-266 e 271-275 Cf Strategikoacuten VII(B)16 Sir Naum VII Sir Strat XXX 536 Taktikaacute XIX287-291 537 Eacute interessante notar que Leatildeo agrave semelhanccedila de outros tratadistas claacutessicos ou medievais refere formaccedilotildees

utilizadas em terra para a realidade do combate naval 538 Taktikaacute XIX292-298 539 Taktikaacute XIX432-435 Pol Strat III 540 Taktikaacute XIX295-297 541 Taktikaacute XIX302-306 542 Taktikaacute XIX310-313 e 322-327 Cf Pol Strat I e III 543 Taktikaacute XIX310-315 Cf Pol Strat I e III 544 Taktikaacute XIX328-332 545 Por ironia os Aacuterabes fizeram duas traduccedilotildees do Taktikaacute de Leatildeo VI uma sumaacuteria e outra integral Vide

HALDON J (2014) ndash Op cit p392 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit pp 645-666 546 Dado o contexto deste paraacutegrafo supomos que o destinataacuterio principal seja o droungaacuterios totilden ploiumlmon

101

Creta tinha de se preparar para enfrentar os chamados koumbariacutea que eram de grande

tonelagem mas lentos de acordo com o autor Por outro lado caso a forccedila naval adversaacuteria

fosse de origem russa o strategoacutes devia fazer os preparativos necessaacuterios para enfrentar

navios mais pequenos e raacutepidos uma espeacutecie de monoxyla547

73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X

laquoUma maacutexima antiga (hellip) ensina-nos a lanccedilar ataques e raides contra o inimigo sem causar

ferimentos a noacutes mesmos Noacutes podemos alcanccedilar isto se os nossos assaltos contra o inimigo

forem planeados de maneira inteligente e cuidadosa e forem executados com celeridade Tais

assaltos satildeo eficazes natildeo soacute contra forccedilas com o mesmo poder (militar) mas tambeacutem contra

adversaacuterios claramente superioresraquo

Leatildeo VI in Taktikaacute XVII linhas 9-12548

Este excerto do Taktikaacute poderia muito bem corresponder ao lema do pensamento

estrateacutegico bizantino os danos tecircm de ser reduzidos ao maacuteximo possiacutevel e o poder militar

deve ser conservado entre recursos humanos ou estrateacutegicos Os estratagemas e a guerra de

fronteira eram a praacutetica beacutelica por predileccedilatildeo bizantina exatamente por permitirem derrotar o

inimigo sem grandes sacrifiacutecios Eacute este fator que torna a Constitutio XV relativa a esta

disciplina numa das mais importante do tratado549 Trata-se igualmente de um dos capiacutetulos

fundamentais para se atestar que a realidade contemporacircnea do tempo de Leatildeo VI tinha

repercutido nos seus escritos Natildeo obstante manteacutem o cariz de colecionismo do restante

tratado retirando do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio (mais especificamente do livro IX) e de alguns

excertos de Onasandro a maior parte da informaccedilatildeo que apresenta 550

Consequentemente esta Constitutio estaacute grosso modo dividida em quatro partes

principais emboscadas e outras artimanhas raides a territoacuterios inimigos onde descreve a

forma como se devem realizar as accedilotildees de pilhagem da parte do impeacuterio os melhores

procedimentos para a defesa do impeacuterio frente a operaccedilotildees desse mesmo tipo e por fim uma

pequena secccedilatildeo onde refere a importacircncia de batedores e espiotildees e onde satildeo abordadas

maneiras de descobrir agentes inimigos no seio de exeacutercitos ou dos acampamentos No

547 Taktikaacute XIX425-431 548 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 392-393 549 Esta Constitutio estava separada do resto do tratado no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 apesar de

Leatildeo fazer referecircncia nesta a outros segmentos da obra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 312 550 Idem Ibidem p 312

102

entanto vamos focar-nos nas accedilotildees de pilhagem tanto bizantinas como inimigas aludindo

aos outros aspetos sempre que seja relevante

Posto isto vamos principiar a anaacutelise destes toacutepicos com a forma como Bizacircncio devia

preparar expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo Comecemos entatildeo pelo lado de

Constantinopla A primeira recomendaccedilatildeo que o basileuacutes faz ao general eacute a de que este

prepare mantimentos para a expediccedilatildeo para o caso de o inimigo proceder a uma poliacutetica de

laquoterra queimadaraquo O autokraacutetor aconselha o general a recolher informaccedilatildeo sobre o territoacuterio e

sobre as estradas que vai utilizar para laacute chegar a partir da captura de habitantes dessas zonas

ou da recolha de desertores inimigos antes da expediccedilatildeo551

Relativamente agraves marchas aquelas que satildeo realizadas durante a noite satildeo muito

desaconselhadas a natildeo ser que o objetivo seja a ocupaccedilatildeo de uma posiccedilatildeo defensiva sem o

inimigo o saber Deviam constituir-se patrulhas sempre em movimento e a saka devia ser

excecionalmente forte para evitar ataques pela retaguarda Quanto ao trem-de-apoio este

devia estar na cauda da coluna de marcha aquando da entrada em territoacuterio inimigo poreacutem se

o adversaacuterio se comeccedilasse a aproximar devia deslocar-se progressivamente para o meio da

coluna552 a fim de ficar melhor protegido553 Por fim os acampamentos natildeo deviam ser

montados junto a fortificaccedilotildees inimigas ou a zonas com muita floresta a natildeo ser que fosse

estritamente necessaacuterio sendo certo que nesse caso a vigilacircncia deveria ser redobrada554

Por outro lado o autor propotildee dois tipos de formas de invadir o territoacuterio inimigo a

primeira caso haja mais do que uma entrada para este eacute dividir o exeacutercito colocando o

comando de uma parte nas matildeos de um turmarca Esta forccedila mais leve e sem trem-de-apoio

acederia ao territoacuterio inimigo por um dos pontos de entrada enquanto o strategoacutes entraria por

outro Com um ponto de encontro previamente marcado ambas as divisotildees pilhariam o

territoacuterio que percorressem ateacute se reunirem ao mesmo tempo que empurravam o inimigo uma

contra a outra555

Outro meacutetodo de invasatildeo tambeacutem envolvia a divisatildeo da hoste em duas colunas e era

utilizado quando soacute havia uma estrada disponiacutevel Neste caso metade do exeacutercito

551 Para isso recomenda que seja o proacuteprio comandante a interrogar os prisioneiros Taktikaacute XVII161-165

inversamente aconselha a que no caso da fonte de informaccedilatildeo ser um desertor inimigo lhe sejam prometidas

recompensas ou ameaccedilas de morte para evitar que este minta ao general e ponha em risco a seguranccedila do

exeacutercito Taktikaacute XVII166-174 Taktikaacute XVII559-570 Onas X Stratēgikoacuten IX Estes medos natildeo parecem

ser infundados uma vez que a queda da fortaleza de Amorion em 838 eacute atribuiacuteda a um desertor HALDON J

(2014) ndash Op cit p330 552 Taktikaacute XVII266-267 Stratēgikoacuten VIII 553 Devendo no entanto de estar suficientemente afastado das restantes forccedilas para natildeo perturbar a formaccedilatildeo 554 Taktikaacute XVII257-261 555 Taktikaacute XVII210-223 Stratēgikoacuten XI2 (relativo agraves formas de combater os ldquoCitasrdquo ndash ou seja os povos das

estepes tais como os Aacutevaros e os Turcos entre outros)

103

acompanhava o turmarca durante a invasatildeo e ia-se dispersando ao longo do caminho com um

ou dois bandaacute por regiatildeo a saquear ateacute o turmarca ficar apenas com mil homens ao seu

serviccedilo e chegar ao seu destino Depois retornaria ao mesmo tempo que o strategoacutes (ou outro

oficial responsaacutevel) seguia a rota usada pela divisatildeo anterior e recolhia os bandaacute Soacute quando

as duas divisotildees se reencontrassem eacute que se montaria o acampamento556

Chegados ao destino a seguranccedila tornava-se fundamental Todos os destacamentos

que fossem pilhar ou recolher mantimentos deviam ser protegidos por outro contingente para

evitar emboscadas inimigas557 Como jaacute referimos o acampamento devia ser fortificado558 e

as patrulhas deviam ser constantemente enviadas para averiguar as posiccedilotildees do inimigo nos

arredores A comida a bebida e a forragem recolhidas em territoacuterio inimigo deviam ser

provadas pelos prisioneiros antes de ser consumidas Por fim ataques a siacutetios fortificados ou

bem defendidos deviam ser preparados em segredo ateacute mesmo junto das proacuteprias tropas559

Os uacuteltimos conselhos de Leatildeo nesta vertente prendem-se com a deteccedilatildeo e captura de

espiotildees Neste aspeto haacute duas formas de se lidar com espiotildees captura ou libertaccedilatildeo com o

objetivo de intimidar A primeira maneira devia ser utilizada caso a forccedila bizantina fosse mais

fraca do que a opositora e havia duas formas de a realizar de acordo com Leatildeo numa

primeira soava-se uma trompa agrave segunda ou terceira hora do dia para ordenar aos soldados

para voltarem agraves suas tendas caso algum ficasse de fora seria um espiatildeo por outro lado se

entrasse numa tenda aleatoriamente seria preso pelos soldados dessa tenda que o

identificariam como um intruso560 A segunda forma consistia na atribuiccedilatildeo de uma ordem por

meio de uma palavra ou de um siacutembolo secreto por parte dos oficiais aos homens sob o seu

comando se algum homem natildeo soubesse o que fazer quando a palavra ou o gesto fossem

feitos possivelmente seria o espiatildeo561hellip Se por outro lado a forccedila bizantina fosse mais

poderosa do que a adversaacuteria entatildeo o imperador aconselhava o strategoacutes a deixar o espiatildeo

vivo e a mostrar-lhe a sua hoste em toda a sua pujanccedila de forma a impressionaacute-lo Depois

disso deveria deixar o agente partir para que ele informasse o povo que o enviou do poder do

exeacutercito romano semeando assim o medo no seio da hoste adversaacuteria562

556 Taktikaacute XVII224-249 Stratēgikoacuten XI2 557 Taktikaacute XVII191-197 Stratēgikoacuten IX 558 Cf supra 53 559 Taktikaacute XVII254-256 Leatildeo natildeo refere razotildees para isto mas possivelmente seria na nossa opiniatildeo para

evitar deserccedilotildees na marcha para territoacuterio inimigo ou para evitar que a informaccedilatildeo do alvo caiacutesse nas matildeos de

espiotildees 560 Taktikaacute XVII517-533 cf Pol Strat III Sir Strat II e PrMVI 561 Taktikaacute XVII534-544 Stratēgikoacuten IX Vegeacutecio Epitoma rei militaris III26 (a traduccedilatildeo que usaacutemos para

este tratado eacute MONTEIRO Joatildeo Gouveia e BRAGA Joseacute Eduardo (2004) Vegeacutecio Compecircndio da arte

militar Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 562 Taktikaacute XVII545-558

104

Quando a invasatildeo se realizava no sentido oposto a resposta tinha de ser ceacutelere e

eficaz A melhor arma ao serviccedilo do strategoacutes era a prevenccedilatildeo ou seja os batedores e os

espiotildees Leatildeo realccedila a importacircncia destes soldados destacando que tinham de ser os melhores

soldados ao serviccedilo do seu general ou turmarca que deviam seguir o inimigo e conseguir

estimar com alguma seguranccedila a composiccedilatildeo do exeacutercito adversaacuterio563 Como eacute oacutebvio a

rapidez e a discriccedilatildeo eram as valecircncias principais de um batedor que devia ter um cavalo

raacutepido e estar armado de forma ligeira As patrulhas deviam ser feitas por turnos para evitar

que o cansaccedilo tomasse conta dos seus responsaacuteveis e ser avaliadas pelo proacuteprio strategoacutes

que organizaria algumas inspeccedilotildees surpresa564 Por fim sempre que possiacutevel os proacuteprios

batedores deviam arriscar-se a capturar prisioneiros inimigos565

Leatildeo natildeo fala muito mais do que nestes pormenores mas o autor do Perigrave Paradromeacutes

um tratado que incide especificamente sobre este tipo de atividade beacutelica elucida-nos melhor

sobre a maneira como o trabalho de vigia deve ser feito Nesse manual militar ele indica que

existiriam postos de vigia ao longo das estradas bem como nas cordilheiras montanhosas que

limitavam as circunscriccedilotildees provinciais orientais566 Graccedilas a este sistema de vigia poder-se-

ia enviar mensageiros ao strategoacutes para o avisarem da ocorrecircncia de uma invasatildeo567

Por outro lado aos espiotildees mostravam-se determinantes para indagar quando eacute que

uma expediccedilatildeo aacuterabe deveria partir para territoacuterio bizantino568 Leatildeo natildeo explica como eacute que

eles eram recrutados ou escolhidos mas o autor do Perigrave Paradromeacutes por exemplo refere que

os mercadores eram os melhores espiotildees569 Os comerciantes deviam tentar tornar-se amigos

dos emires de forma a tomarem conhecimento do nuacutemero de soldados inimigos bem como

dos destinos das suas expediccedilotildees Por outro lado Siriano refere que a famiacutelia dos espiotildees

devia habitar em territoacuterio bizantino para que o amor familiar servisse como cadeado agrave

563 Para meacutetodos de fazer parecer um exeacutercito maior do que ele realmente eacute vide Taktikaacute XVII425-432 564 Taktikaacute XVII492-495 565 Taktikaacute XVII505-512 No Perigrave Paradromeacutes esta missatildeo estaacute incluiacuteda em pequenas accedilotildees de saque

empreendidas por espiotildees bizantinos (no contexto militar em Bizacircncio espiatildeo e batedor tecircm o mesmo

significado em certas circunstacircncias como neste caso) Natildeo nos parece despropositado acreditar que os

batedores do tempo do Taktikaacute tivessem as mesmas funccedilotildees PP II 566 Possivelmente as ldquofortalezasrdquo cuja construccedilatildeo Leatildeo orienta na Constitutio XVII Cf supra 71

Possivelmente seriam os phouacuteria de Siriano por possuiacuterem as mesmas funccedilotildees as mesmas localizaccedilotildees (em

terreno montanhoso mas com bom controlo de estradas) serem discretos e natildeo terem uma guarniccedilatildeo

permanente Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 567 PP II 568 Taktikaacute XVIII661-668 569 PP VII

105

lealdade do agente no estrangeiro570 Por fim John Haldon menciona que os padres e os

monges especialmente os missionaacuterios tambeacutem podiam servir para esta finalidade571

Leatildeo aconselha entatildeo o general a preparar-se para um ataque recolher todos os bens

possiacuteveis de se guardar queimar as colheitas recolher os cavalos (e muito possivelmente o

gado) e encaminhaacute-los para um lugar seguro e ocupar os lugares fortificados bem como as

reservas de aacutegua da regiatildeo sob ataque e dos desfiladeiros se for possiacutevel572 Uma vez mais

uma batalha decisiva deve ser prevenida e as forccedilas inimigas devem ser desgastadas por meio

de emboscadas e de ataques surpresa573 quer de dia quer de noite574 Outra taacutetica a utilizar eacute a

do contra raide575 ou seja responder a uma expediccedilatildeo de ataque inimiga com um raide das

forccedilas bizantinas O objetivo deste ardil parece ser separar ou obrigar a retirar a hoste

adversaacuteria com um ataque agraves suas terras indefesas576 O basileuacutes recorre a uma experiecircncia do

seu domestikoacutes Niceacuteforo Focas o Velho como exemplo disto577 mas a sua proacutepria atuaccedilatildeo

antes e depois do saque de Tessaloacutenica tambeacutem pode ser um destes casos578

Natildeo obstante caso se devesse realizar um ataque sobre as forccedilas inimigas este devia

ser feito quando estas estavam a abandonar o territoacuterio bizantino carregadas de despojos Esta

altura era a predileta porque de acordo com o autor do Perigrave Paradromeacutes era quando os

soldados inimigos se encontravam mais cansados e desejosos de voltar a casa e porque a

marcha era mais lenta por estarem carregados de despojos e de prisioneiros579

570 Sir Strat XLII 571 HALDON J (2014) ndash Op cit p381 572 Estes uacuteltimos satildeo referidos no Perigrave Paradromeacutes PP V 573 Sendo para isso necessaacuterio que o strategoacutes mantivesse um olho no inimigo por meio dos seus batedores para

saber em que altura os bandos de pilhagem abandonavam o corpo principal ou o acampamento adversaacuterio 574 Para um conjunto de taacuteticas realizadas durante a noite Taktikaacute XVII70-106 Stratēgikoacuten IX O tratado de

guerrilha tem um capiacutetulo exclusivamente dedicado a esta temaacutetica cf PP XVIII 575 Ironicamente o emir Sarsquoif al-Dawlah tambeacutem usou esta taacutetica em 956 quando forccedilas bizantinas do distrito de

Anzitene comeccedilaram a pilhar o seu territoacuterio O emir hamdacircnida comandou entatildeo uma expediccedilatildeo contra

Anzitene que obrigou o comandante da cidade a retirar para o seu territoacuterio O sucesso da expediccedilatildeo sarracena

no entanto natildeo terminou aiacute porque o emir conseguiu ainda recolher uma grande quantidade de despojos E de

prisioneiros antes de regressar a casa derrotando ainda uma forccedila romana que bloqueava o desfiladeiro que ele

pretendia utilizar para o retorno Vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp91-94 576 Taktikaacute XVII366-376 Stratēgikoacuten X 577 Taktikaacute XVII373-376 PP XX Haldon no entanto corrige Dennis referindo que a campanha em causa

natildeo foi na Calaacutebria mas sim na Ciliacutecia contra o emir Yazaman HALDON J (2014) ndash Op cit p 324 578 Cf supra 22 579 PP IV

106

Conclusatildeo

Natildeo nos arrependemos do caminho que escolhemos Bizacircncio apesar de tatildeo longe eacute

um mundo proacuteximo visto natildeo soacute atraveacutes do desbravar das paacuteginas de um livro mas tambeacutem

pela realidade beacutelica tatildeo semelhante agrave nossa no mesmo periacuteodo histoacuterico Pois eacute ou natildeo

verdade que enquanto os basilecircis bizantinos enfrentavam os califados de Damasco e Bagdade

os reinos dos cristatildeos da Peniacutensula Ibeacuterica se defendiam e contra-atacavam as hostes

muccedilulmanas de Coacuterdova e dos restantes poderes islacircmicos que dominavam a Hispacircnia Natildeo

deixam de ser interessantes certos paralelos que se podem traccedilar de um lado e de outro do

Mediterracircneo inclusive a niacutevel cronoloacutegico por exemplo em 718 no mesmo ano em que

Pelaacutegio vence a escaramuccedila em Covadonga pondo um ponto final agrave expansatildeo muccedilulmana na

Peniacutensula Ibeacuterica o geacutenio e a arguacutecia de Leatildeo III levavam a melhor sobre a uacuteltima tentativa

aacuterabe de tomar Constantinopla Um reveacutes em duas frentes que a nossa ver eacute uma

coincidecircncia curiosa

Mas o que dizer drsquo O Saacutebio Ateacute certo ponto achamos que cumprimos o objetivo que

nos propusemos de investigar a sua preocupaccedilatildeo com a situaccedilatildeo que o Impeacuterio atravessava

Bizacircncio natildeo vivia naquela eacutepoca um periacuteodo muito mau ainda embalada pela capacidade

governativa de Basiacutelio I e dos Amorianos que a Oriente pagaram o preccedilo de ferro e sangue

para garantir a supremacia bizantina nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro Por outro lado

Constantinopla conseguiu recuperar territoacuterios haacute algum tempo perdidos no Sul de Itaacutelia natildeo

obstante a perda da Siciacutelia A ascensatildeo de Leatildeo foi algo inesperada uma vez que natildeo era ele o

primogeacutenito de Basiacutelio pelo que muito possivelmente natildeo teraacute sido treinado para a

governaccedilatildeo ou para o comando militar No entanto a nosso ver ele demonstrou possuir um

pensamento estrateacutegico manifestando que as suas prioridades em termos beacutelicos estavam

bem definidas o poderio muccedilulmano bem estabelecido no Mediterracircneo Oriental Isto

acarretou erros noutras frentes como na Bulgaacuteria onde a acircnsia em voltar a enviar os seus

exeacutercitos contra os infieacuteis do Oriente virou a mareacute de uma guerra que na praacutetica estava

ganha algo que lhe custaria uma paz bastante onerosa no final do conflito Mas Leatildeo parece

ter aprendido pois o laquocavaleiro da guerraraquo natildeo voltou a galopar nos Balcatildes e a paz manteve-

se entre os dois povos cristatildeos ateacute agrave sua morte

O saque da segunda maior cidade do Impeacuterio eacute uma questatildeo algo indefinida mas no

nosso entendimento se realmente a cidade pudesse ter sido salva Leatildeo tecirc-lo-ia tentado de

alguma maneira A nosso ver soacute natildeo realizou tal empreendimento porque sabia que de uma

forma ou de outra os custos seriam elevados e natildeo estava disposto a arriscar uma pesada

107

derrota naval no Mar Egeu colocando efetivamente em risco a capital Em vez disso ordenou

o lanccedilamento de campanhas terrestres na Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria para vingar o que tinha

acontecido na Greacutecia aproveitando-se da ausecircncia das tropas muccedilulmanas na regiatildeo

estrateacutegia por ele proacuteprio defendida no Taktikaacute Quanto a Taormina a natildeo ser que os

Bizantinos tencionassem empreender a reconquista da Siciacutelia teria sido muito difiacutecil de

manter de qualquer das formas Com as preocupaccedilotildees nos Balcatildes primeiro e com a escalada

da ameaccedila naval no Mediterracircneo Oriental teria sido muito complicado reunir esforccedilos e

recursos econoacutemicos e humanos para encetar um tal projeto

Foi nas aacuteguas do Mediterracircneo Oriental que Leatildeo VI mais tentou brilhar

empreendendo expediccedilotildees para garantir que a pirataria sarracena proveniente da Ciliacutecia e de

Creta fosse travada e parasse de assolar as ilhas do Egeu e a faixa costeira bizantina Natildeo

obstante o facto de ter enfrentado dois experientes almirantes muccedilulmanos Leatildeo o

Tripolitano e Damiano as frotas imperiais e laquotemaacuteticasraquo bizantinas continuaram a fazer sentir

a sua presenccedila e mantiveram-se suficientemente fortes para atacar o Levante e a ilha de Creta

entre 910 e 912 Em face destes eventos atrevemo-nos a dizer que apesar de alguns

descalabros Leatildeo natildeo soacute mostrou interesse na situaccedilatildeo estrateacutegica do seu impeacuterio como

conseguiu manter o impeacuterio na moacute de cima Isto soacute foi possiacutevel garantindo a supremacia

bizantina no sul de Itaacutelia onde o impeacuterio contribuiria decisivamente para a expulsatildeo dos

Sarracenos em 915 e graccedilas agrave expansatildeo para Este por meio da diplomacia e da criaccedilatildeo de

novos themaacuteta fronteiriccedilos como foi o caso de Tephrike

Na nossa opiniatildeo natildeo haacute melhor prova do fasciacutenio que Leatildeo nutria pelas questotildees do

exeacutercito do que a escrita do Taktikaacute Este tratado militar recolhendo os ensinamentos do

passado parte da realidade do presente (de Leatildeo) e do pensamento do basileuacutes No iniacutecio

desta dissertaccedilatildeo propusemo-nos aferir ateacute que ponto este manual correspondia ao seu tempo

ou agrave conjuntura em que foi escrito e natildeo seria apenas um exerciacutecio do conservadorismo

cultural bizantino Natildeo nos parece crediacutevel afirmar que se tratasse apenas de um manuscrito

que pretendia tatildeo soacute recolher a erudiccedilatildeo militar do passado O Taktikaacute eacute algo mais do que isso

eacute um guia do que o pensamento estrateacutegico bizantino deveria ser

Natildeo descurando a importante mensagem religiosa das suas paacuteginas durante a leitura

do Taktikaacute conseguimos assinalar vaacuterias caracteriacutesticas do pensamento estrateacutegico bizantino

da eacutepoca a primeira a gestatildeo de soldados e recursos pois natildeo obstante o facto de possuir

capiacutetulos sobre a batalha campal o imperador salienta por vaacuterias vezes que aquele tipo de

atividades beacutelicas bem como outras de grande risco como surtidas deve ser evitado Depois

um reencontro com a ambiccedilatildeo bizantina de se voltar a tornar uma talassocracia estatuto esse

108

perdido desde a batalha dos Mastros em 654 um desejo demonstrado na inserccedilatildeo de uma

Constitutio exclusivamente dedicada a temaacuteticas navais A secccedilatildeo sobre os Aacuterabes tambeacutem eacute

muito importante no que concerne agrave estrateacutegia bizantina e consubstancia-se numa grande

contribuiccedilatildeo de Leatildeo VI para o conjunto da tratadiacutestica Apesar de deturpado em certos

aspetos o estudo que o imperador faz dos costumes beacutelicos aacuterabes eacute muito interessante pelo

detalhe que apresenta o fervor religioso a origem e modo de equipamento dos soldados

muccedilulmanos (voluntaacuterios religiosos na maior parte das vezes) a localizaccedilatildeo das bases de

invasatildeo o tipo de guerra que fazem entre outras caracteriacutesticas apresentadas que

demonstram que o autokraacutetor sabia quem era o seu inimigo e queria ensinar (ou partilhar a

experiecircncia) com os seus leitores sobre como lidar com o adversaacuterio sedeado do outro lado do

Tauro

Obviamente o Taktikaacute natildeo deve ser lido lsquopreto no brancorsquo pois nem tudo o que laacute estaacute

eacute representa a realidade militar ao tempo de Leatildeo Apesar de importante a descriccedilatildeo do

equipamento e das taacuteticas de infantaria natildeo eacute fundamental para se compreender o periacuteodo em

estudo e muito menos para servir de aplicaccedilatildeo aos exeacutercitos de que Leatildeo falava os dos

themaacuteta A infantaria dos themaacuteta seria importante para cumprir certas funccedilotildees como de

guarniccedilatildeo por exemplo mas nesta altura colocar thematikoiacute apeados a combater numa

batalha era um erro crasso pois eram homens que natildeo tinham nem equipamento nem treino

nem disciplina para participar nela

No decorrer desta dissertaccedilatildeo tecemos algumas opiniotildees pessoais sobre o tipo de

informaccedilotildees que se poderiam melhor aplicar aos themaacuteta A primeira Constitutio que nos

ocorre quando pensamos nestes exeacutercitos provinciais eacute a XVII uma vez que aiacute se abordam

as questotildees referentes agraves praacuteticas de guerrilha indubitavelmente as que se encontravam mais

em vigor no contexto da atividade beacutelica provincial bizantina Mas natildeo soacute a repeticcedilatildeo de

meacutetodos de guerra psicoloacutegica para tomar uma fortaleza pode servir como liccedilatildeo a um

strategoacutes de um theacutema sobre como se poderia conquistar uma fortificaccedilatildeo de forma

relativamente ceacutelere se tal fosse necessaacuterio no contexto de um laquocontra raideraquo por exemplo

Por outro lado a descriccedilatildeo do equipamento de cerco pesado e das taacuteticas que o envolvem

parece-nos algo exagerada para o tipo de hoste em questatildeo que tinha de ser raacutepida por

natureza caracteriacutestica que natildeo seria facilitada (antes pelo contraacuterio) caso transportasse um

pesado comboio-de-cerco durante a campanha

Neste trabalho tivemos a preocupaccedilatildeo de desenvolver o nosso espirito criacutetico indo

aleacutem do que outros autores antes de noacutes disseram sobre estas mateacuterias e ousando acrescentar

as nossas interpretaccedilotildees pessoais nomeadamente no que toca agrave questatildeo crucial dos themaacuteta

109

Por outro lado alargaacutemos a nossa contextualizaccedilatildeo aos reinados de Leatildeo e de Basiacutelio algo

que outros autores (como por exemplo John Haldon) natildeo fizeram de forma a podermos tecer

comparaccedilotildees entre alguns eventos destes reinados e certas praacuteticas enunciadas no tratado

No entanto temos de admitir que uma dissertaccedilatildeo de mestrado sobre o Taktikaacute eacute algo

de demasiado ambicioso para as poucas paacuteginas que nos satildeo atribuiacutedas num trabalho desta

natureza Por isso haacute outras questotildees e temas que gostariacuteamos de ter aprofundado se

houvesse espaccedilo para tal nomeadamente a questatildeo do pensamento teoloacutegico e social no

Taktikaacute por exemplo Ou entatildeo de que forma o Taktikaacute poderaacute esclarecer a vexata quaestio

da organizaccedilatildeo dos exeacutercitos dos taacutegmata apesar de estes natildeo configurarem o foco principal

do tratado Uma anaacutelise da preocupaccedilatildeo de Leatildeo quanto agrave negligecircncia do arco nos seacuteculos

anteriores com a explicaccedilatildeo das causas para o decliacutenio da utilizaccedilatildeo deste e a anaacutelise da

importacircncia que ele tinha no paradigma beacutelico do reinado do Saacutebio e do periacuteodo

compreendido entre os seacuteculos VII e X tambeacutem poderia constituir um estudo interessante

Por fim tecemos algumas consideraccedilotildees sobre o processo de produccedilatildeo do nosso

trabalho Natildeo foi faacutecil primeiro porque nos vimos confrontados com a falta de acesso agraves

fontes respeitantes ao reinado de Leatildeo VI o que logo nos causou algum incoacutemodo e nos

redirecionou para outras fontes (tais como a croniacutestica aacuterabe ou a Histoacuteria de Skylitzes) e

para algumas obras de estudo Natildeo subvalorizamos a importacircncia de nenhuma destas

tipologias mas sentimos que o nosso trabalho tendo em conta o periacuteodo que aborda fica um

pouco mais pobre sem referecircncias agrave Vita Euthymii por exemplo Por outro lado encetaacutemos

este projeto com conhecimentos adquiridos maioritariamente por autodidatismo o que

dificultou a compreensatildeo de certas temaacuteticas No entanto algumas aulas com o Professor Joatildeo

Gouveia Monteiro possibilitaram esclarecer algumas dessas duacutevidas pelo que renovamos os

agradecimentos que foram feitos no iniacutecio da presente dissertaccedilatildeo

Apesar de tudo tivemos um enorme prazer na realizaccedilatildeo deste trabalho e esperamos

ter contribuiacutedo ainda que modestamente para impulsionar os estudos bizantinos em Portugal

Realccedilamos ainda que o conhecimento da milenar aventura do Impeacuterio Romano do Oriente

poderaacute ser uma ajuda imprescindiacutevel para a interpretaccedilatildeo de alguns dos factos do nosso tempo

e da nossa proacutepria Histoacuteria Por tudo o exposto estamos disponiacuteveis para continuar este

percurso

110

Bibliografia

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I

Anexos I ndash Mapas e Esquemas

Mapa 11 ndash Os themaacuteta da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON John (2005) The Palgrave Atlas of Byzantine History Londres

Palgrave Macmillan p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

II

Mapa 12 ndash As principais cidades da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

III

Mapa 21 ndash Os themaacutetas dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

IV

Mapa 22 ndash As principais cidades dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X

Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto

V

Mapa 3 ndash Mapa geopoliacutetico do sul de Itaacutelia e das suas principais cidades no iniacutecio do

seacuteculo X

Fonte - httpswwwalternatehistorycomforumthreadsa-blank-map-thread25312

Consultado a 31 de outubro pelas 2345

Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva

VI

Esquema 1 ndash Marcha em territoacuterio hostil

Autoria ndash Joatildeo Paiva

VII

Esquema 2 ndash Marcha em territoacuterio hostil com infantaria

Autoria ndash Joatildeo Paiva

VIII

Esquema 3 ndash Passagem de um desfiladeiro

Autoria ndash Joatildeo Paiva

IX

X

XI

Esquema 6 ndash Constituiccedilatildeo de um Proacutemachos

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XII

Esquema 7 ndash Constituiccedilatildeo da segunda linha

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XIII

Esquema 8 ndash Hipoacutetese de um dispositivo taacutetico de um theacutema

Autoria ndash Joatildeo Paiva

XIV

Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

Seacuteculo V

476

Itaacutelia Queda do Impeacuterio

Romano do Ocidente com

a deposiccedilatildeo de Roacutemulo

Augusto por Odoacro

Seacuteculo VI

Ca

579

Itaacutelia Constituiccedilatildeo dos

ducados de Benevento e de

Espoleto

580

Balcatildes Os Aacutevaros

conquistam Siacutermio

581

Balcatildes e Greacutecia

Penetraccedilatildeo dos Eslavos

nestas aacutereas e posterior

fixaccedilatildeo

582

Iniacutecio do principado de

Mauriacutecio

XV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

584

Itaacutelia 4 de outubro ndash

Formaccedilatildeo do Exarcado de

Ravenna em moldes

similares ao Exarcado de

Aacutefrica formado pela

mesma altura

590

Peacutersia Deposiccedilatildeo do

imperador Cosroeacutes II da

Peacutersia que foge para o

Impeacuterio Bizantino e apela

a ajuda do imperador

Mauriacutecio

591

Itaacutelia Roma eacute cercada

pelo duque Ariulfo de

Espoleto

Peacutersia Com ajuda

bizantina Cosroeacutes II

recupera o trono do

Impeacuterio Sassacircnida

Seacuteculo VII

600

Balcatildes Assinatura de um

tratado com os Aacutevaros

apoacutes vaacuterios sucessos

bizantinos na regiatildeo (como

a reconquista de Belgrado)

que fixa a fronteira no rio

Danuacutebio

XVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

602

Rebeliatildeo das tropas da

fronteira do Danuacutebio e

execuccedilatildeo de Mauriacutecio

Proclamaccedilatildeo de Focas

como Imperador

Iniacutecio da uacuteltima Guerra

Bizantino-Persa Cosroeacutes

II sustenta esta guerra na

falta de legitimidade de

Focas ao trono bizantino e

apoia um pretendente

supostamente filho de

Mauriacutecio

Iniacutecio da eacutepoca meacutedia bizantina

610

Deposiccedilatildeo e assassinato de

Focas por Heraacuteclio filho

do exarca de Aacutefrica

Proclamaccedilatildeo do mesmo

como Imperador

614

Conquista de Jerusaleacutem

por Cosroeacutes II captura da

Vera Cruz

620

Egipto Conquista do

Egipto pelos Persas

Sassacircnidas

622

Expulsatildeo das forccedilas persas

presentes na Aacutesia Menor

Araacutebia Realiza-se a

Heacutegira ndash a fuga de Maomeacute

de Meca para Medina

XVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

624

Reconquista da Armeacutenia a

Cosroeacutes II e posterior

vitoacuteria de Heraacuteclio sobre

trecircs exeacutercitos persas

Destruiccedilatildeo do Grande

Templo Zoroastra em

Takht-I-Suleiman

626

Cerco Aacutevaro-Persa de

Constantinopla termina

com vitoacuteria bizantina

O general Shahrbaraz e o

khan aacutevaro retiram

627

Iraque Batalha de Niacutenive

- Grande vitoacuteria de

Heraacuteclio sobre os Persas

em Niacutenive abre caminho

para Ctesifonte

628

Peacutersia A 28 de fevereiro

um golpe de estado

encetado por Xeroeacute filho

de Cosroeacutes II termina com

o regime do pai

Iniacutecio de negociaccedilotildees para

pocircr fim agrave (uacuteltima) Guerra

Bizantino-Persa

Usurpaccedilatildeo de Shahrbaraz

XVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

629

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente Celebraccedilatildeo da

paz entre Bizantinos e

Persas as aacutereas territoriais

ocupadas pelas duas

potecircncias voltam ao estado

em que se encontravam

antes do iniacutecio dos

conflitos

630

Entrada vitoriosa de

Heraacuteclio em Jerusaleacutem

com o retorno das reliacutequias

sagradas capturadas pelos

Persas celebra a vitoacuteria

final do Impeacuterio Bizantino

Araacutebia Regresso e

conquista de Meca pelo

Profeta Maomeacute que a

transforma no centro

espiritual do Islatildeo

632

Araacutebia Morte de Maomeacute

que eacute sucedido pelo

primeiro Califa Abu Bakr

o seu sogro Guerras da

Ridda para unificar a

Peniacutensula Araacutebica

633

Primeiras incursotildees

Aacuterabes na Siacuteria-Palestina

634

Palestina Batalha de

Ajnadain ndash O primeiro

confronto campal entre

Bizacircncio e Muccedilulmanos

termina com a vitoacuteria dos

seguidores do Islatildeo

Araacutebia Morte do Califa

Abu-Bakr eacute sucedido por

Omar

XIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

634

(cont)

Iraque laquoBatalha da

Ponteraquo entre Aacuterabes e

Persas termina com a

vitoacuteria do Imperador

Yazdarij da Peacutersia

636

Palestina Batalha de

Yarmuk ndash Vitoacuteria

esmagadora do general

Khalid ibn al-Walid sobre

as forccedilas bizantinas de

Teodoro e Baanes

possibilita a conquista

aacuterabe quase absoluta da

Siacuteria-Palestina com

excepccedilatildeo de Jerusaleacutem e

Cesareia

Heraacuteclio ordena a retirada

para a Aacutesia Menor e que o

combate campal seja

evitado a todo o custo

637

Batalha de Qadisyia Uma

vitoacuteria muccedilulmana

decisiva permite a

conquista de Ctesifonte e a

conquista do Iraque Os

Persas retiram para o

planalto do Iratildeo

Batalha de Jalula nova

vitoacuteria muccedilulmana sobre

os Sassacircnidas culmina

com a consolidaccedilatildeo da

conquista da Mesopotacircmia

e do Crescente Feacutertil

XX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

638

Conquista aacuterabe de

Jerusaleacutem

639

Egipto ndash 12 de dezembro

Iniacutecio da conquista

muccedilulmana do Egipto com

o ataque ao posto

fronteiriccedilo de Al-Arisch

Itaacutelia O rei Rotaacuterio dos

Lombardos conquista a

regiatildeo de Veneza menos o

lago

640

Conquista aacuterabe de

Cesareia

Egipto ndash julho de 640

Iniacutecio do cerco agrave fortaleza

bizantina de Babiloacutenia

junto ao local do atual

Cairo

Itaacutelia ndash O exarca Isaacutecio

ordena o saque do tesouro

papal

641

11 de fevereiro Morte de

Heraacuteclio

Egipto ndash Rendiccedilatildeo de

Babiloacutenia que isola

Alexandria como uacutenica

cidade do Egipto em matildeos

bizantinas

XXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

642

Iniacutecio da anexaccedilatildeo

muccedilulmana da Armeacutenia

que seraacute findada no ano

seguinte

Iratildeo ndash Batalha de

Nehawend -a lsquovitoacuteria das

vitoacuteriasrsquo dos Aacuterabes potildee

fim ao que restava das

forccedilas militares persas

Egipto Submissatildeo de

Alexandria marca o fim

da conquista aacuterabe do

Egipto

644

Itaacutelia Rotaacuterio rei dos

Lombardos conquista a

Liguacuteria

Assassinato de Omar eacute

substituiacutedo pelo secretaacuterio

do Profeta Uthman um

primo afastado membro da

famiacutelia Ummayya

645

Egipto Reocupaccedilatildeo

bizantina de Alexandria

646

Egipto Rendiccedilatildeo

definitiva de Alexandria

fim da uacuteltima tentativa de

reconquista do Egipto

Norte de Aacutefrica Rebeliatildeo

no Exarcado de Aacutefrica

648

Norte de Aacutefrica Fim da

rebeliatildeo do Exarcado de

Aacutefrica quando o exarca eacute

morto por saqueadores

aacuterabes

XXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

649

Uma frota bizantina

derrota uma das primeiras

frotas muccedilulmanas apoacutes

esta saquear a ilha de

Chipre

651

Khorasan Batalha do rio

Oxus ndash Vitoacuteria decisiva

aacuterabe e fim oficial do

Impeacuterio Persa Sassacircnida

654

Batalha dos Mastros ndash

Vitoacuteria naval aacuterabe junto agrave

Liacutecia potildee fim agrave

talassocracia bizantina e

assegura a conquista de

vaacuterias ilhas como Rodes e

Chipre

656

Araacutebia 17 de Junho ndash

Assassinato de Uthman em

Medina Eleiccedilatildeo quase

imediata de Ali o genro

do Profeta como califa

Outubro ndash Batalha do

Camelo ndash Ali derrota o

triunvirato encabeccedilado

pela viuacuteva de Maomeacute

Aisha O seu poder passa a

ser disputado apenas por

Muawiya parente de

Othman membro da

famiacutelia Ummayya e

governador da Siacuteria que

XXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

656

(cont)

recusa ser substituiacutedo pelo

novo governador enviado

por Ali

657

Siacuteria 26 de Julho

Batalha de Siffin ndash quase-

vitoacuteria de Ali que soacute natildeo eacute

alcanccedilada porque o

Alcoratildeo eacute elevado numa

lanccedila pelos Siacuterios que

apelam a Deus para decidir

a querela

Discussotildees no seio das

forccedilas de Ali provocam

confrontos violentos com

um grande conjunto dos

apoiantes do califa os

Kharijitas que resultam na

expulsatildeo dos mesmos

Enfraquecimento da causa

do genro do profeta

658

Balcatildes Ataques bem-

sucedidos de Constante II

aos Eslavos culminam na

reconquista de vaacuterios

territoacuterios e no

reconhecimento da

soberania bizantina na

Macedoacutenia

XXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

659-

662

Periacuteodo em que Warren

Treadgold defende que os

themaacuteta teratildeo sido

fundados que tambeacutem

corresponde a uma treacutegua

bizantino-aacuterabe

661

Siacuteria Depois de vaacuterios

reveses como a perda do

Egipto para Muawiyia Ali

eacute assassinado por um

Kharijita O seu filho

Hussein transfere os

poderes para Muawiyia

que se torna Califa

Fim do Califado Rashidun

e iniacutecio do Califado

Omiacuteada

662

Constante II abandona

Constantinopla para

fortalecer as defesas da

Itaacutelia e Aacutefrica deixando

Constantino IV a governar

em Constantinopla

668

Itaacutelia Assassinato de

Constante II em Siracusa

a mando do komeacutes do

Opsikiacuteon Rebeliatildeo no

theacutema dos Armeniacuteacos

XXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

670

Estabelecimento de bases

avanccediladas aacuterabes em

Kairouan no Norte de

Aacutefrica e Ciacutezico na regiatildeo

do Opsikiacuteon

674

Ocupaccedilatildeo aacuterabe da cidade

de Ciacutezico que eacute usada

como base para ataques

navais que iam do Mar de

Marmara ateacute aos subuacuterbios

de Constantinopla Iniacutecio

do primeiro cerco Aacuterabe a

Constantinopla

677

Reocupaccedilatildeo de Ciacutezico

pelos Bizantinos

678

Fim do cerco a

Constantinopla quando

Constantino IV comanda a

frota bizantina que pela

primeira vez emprega o

fogo greguecircs O exeacutercito

aacuterabe eacute derrotado por

forccedilas provinciais

680

Siacuteria Morte do Califa

Muawiya que eacute sucedido

por Yazicircd o seu filho

Movimento favoraacutevel a

Hussein filho de Ali eacute

esmagado pelo exeacutercito

omiacuteada na batalha de

XXVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

680

(cont)

Karbala Morte de Hussein

e de vaacuterios partidaacuterios

681

Traacutecia Subjugaccedilatildeo dos

Eslavos do Norte da Traacutecia

pelos Buacutelgaros Tentativas

de os expulsar fracassaram

e os Buacutelgaros capturam

vaacuterios postos bizantinos na

costa do Mar Negro

682

Araacutebia Revolta em

Medina contra Yazicircd

683

Araacutebia Forccedilas siacuterias leais

ao califa esmagam a

revolta em Medina

Cerco a Meca eacute

interrompido pela morte

de Yazicircd que eacute sucedido

pelo filho Muawiya II

que morreraacute pouco tempo

depois

Iniacutecio da Segunda Fitna

684

Siacuteria Batalha de Marj-

Rahit nas imediaccedilotildees de

Damasco vitoacuteria dos

apoiantes de Marwan

sobre os apoiantes do

senhor da Peniacutensula

Araacutebica al-Zubayr

Marwan eacute aclamado

Califa Iniacutecio da dinastia

XXVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

684

(cont)

dos Marwanidas

685

Siacuteria Morte de Marwan

Ascensatildeo de al-Malik ao

trono de Damasco

687

Chegada de Mardaiacutetas

(refugiados cristatildeos da

Siacuteria) que satildeo feitos

remadores permanentes da

divisatildeo dos Carabisiani

por Justiniano II

Iraque Morte de al-

Mukhtar senhor xiita de

Kufa agraves matildeos de Jaacutersquosab

irmatildeo de Zubayr A

Segunda Fitna passa a ser

disputada apenas pelos

senhores de Damasco e da

Araacutebia

688

A ilha de Chipre eacute

declarada territoacuterio neutro

apoacutes um tratado assinado

por Justiniano II e al-

Malik

689

A divisatildeo mariacutetima da

Heacutelade recebe os seus

proacuteprios Mardaiacutetas

691

Califado Derrota de

Musrsquoab agraves matildeos do califa

al-Malik

XXVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

692

Araacutebia Cerco e tomada

de Meca por forccedilas de al-

Malik Morte de al-Zubayr

e fim da Segunda Fitna

695

Revolta do strategoacutes dos

Anatoacutelicos Leocircncio que

depotildee Justinano II apoacutes

ter sido libertado Tinha

sido preso por o

considerarem como

principal culpado pela

deserccedilatildeo de Eslavos que

tinham sido conscritos na

divisatildeo do Opsikiacuteon na

sua primeira batalha com

Aacuterabes

697

Norte de Aacutefrica

Conquista de Cartago

pelos Aacuterabes A cidade eacute

reconquistada mais tarde

por uma expediccedilatildeo

transportada pela frota dos

Carabisiani

698

Norte de Aacutefrica

Expulsatildeo da expediccedilatildeo e

perda definitiva de Cartago

para o Califado Aacuterabe

Regresso da expediccedilatildeo a

Constantinopla onde depotildee

Leocircncio e aclama o

almirante Tibeacuterio

XXIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

698

(cont)

Apsimar como basileus

Seacuteculo VIII

705

Apoiado pelos Buacutelgaros

Justiniano II recupera o

poder em Constantinopla e

executa Tibeacuterio

Norte de Aacutefrica A

expansatildeo islacircmica atinge a

costa atlacircntica sob a alccedilada

do governador Musa

Nusair

711

Apoacutes um bem-sucedido

raid aacuterabe agrave circunscriccedilatildeo

territorial dos Anatoacutelicos

Justiniano II eacute destronado

por uma frota que enviara

para a Crimeia

Peniacutensula Ibeacuterica ndash 19 de

julho Batalha de

Guadelete - as forccedilas

araacutebico-berberes de Tariq

comandante de Musa

Nusair derrotam o rei

visigodo Rodrigo

Iniacutecio da conquista aacuterabe

da Peniacutensula Ibeacuterica

717

Apoacutes os curtos reinados de

Filiacutepico e Anastaacutecio II o

strategoacutes dos Anatoacutelicos

Leatildeo toma

Constantinopla e depotildee

Teodoacutesio III

Iniacutecio de um novo cerco

aacuterabe agrave capital do Impeacuterio

Bizantino

Gaacutelia Primeira expediccedilatildeo

aacuterabe transpirenaica

XXX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

718

Fim do uacuteltimo cerco aacuterabe

a Constantinopla ndash Os

Aacuterabes abandonam o cerco

de Constantinopla apoacutes a

destruiccedilatildeo de alguns

navios pelos Bizantinos

uma doenccedila que vitimou

muitos soldados um

inverno duro e a destruiccedilatildeo

de um exeacutercito de reforccedilo

enviado pelo Califa numa

emboscada bizantina

Peniacutensula Ibeacuterica

Batalha de Covadonga -A

conquista aacuterabe da

Peniacutensula nas Astuacuterias

por soldados cristatildeos sob o

comando de Pelaacutegio

720

Gaacutelia Conquista de

Narbonne por forccedilas

muccedilulmanas

721

Gaacutelia O Duque Eudo da

Aquitacircnia derrota forccedilas

aacuterabes nas proximidades

de Toulose

724

Califado Ascensatildeo do

Califa Hisham que vai

conseguir recuperar a

Transoxania e o Magrebe

durante o seu reinado

XXXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

727

O basileuacutes Leatildeo III potildee

fim a uma revolta na

proviacutencia dos Carabisiani

que o incita a mudar o

quartel-general destes de

Samos para o sul da

Anatoacutelia

A divisatildeo dos Carabisiani

passa a chamar-se de

Kibirrhaiotai por passar a

ter a sua base no porto de

Cibyra

732

Gaacutelia O emir Abd al-

Rahman al-Ghaffiqi

comanda um enorme

exeacutercito para a Gaacutelia e

derrota Eudo

Batalha de ToursPoitiers

ndash Al-Ghaffiqi eacute derrotado

e morto por forccedilas francas

sob Carlos Martel

740

Batalha de Akroinos ndash

Vitoacuteria de Leatildeo III e do

futuro Constantino V

sobre forccedilas do Califado

Omiacuteada

741

Morte de Leatildeo III que eacute

sucedido por Constantino

V Revolta do Conde do

Opsikiacuteon Artavasdo

Constantinopla eacute tomada

XXXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

741

(cont)

por Artavasdo

743

Forccedilas das divisotildees dos

Anatoacutelicos e dos

Traceacutesicos reconquistam

Constantinopla e cegam

Artavasdo

Fim da quinta revolta do

Opsikion Como resultado

destes acontecimentos

Constantino V forma os

taacutegmata atribuindo-lhes

parte do territoacuterio do

Opsikiacuteon e territoacuterios na

Traacutecia

Califado Morte de

Hisham Uacuteltima fase de

soberania Omiacuteada pautada

de rebeliotildees tem inicio

744

Califado Ascensatildeo do

uacuteltimo califa omiacuteada

Marwan II o Burro

Selvagem

745

Siacuteria Ao comando dos

taacutegmata Constantino V

realiza uma campanha

militar nos territoacuterios do

califado com sucesso Seraacute

a primeira invasatildeo bem-

sucedida bizantina a

territoacuterios aacuterabes numa

geraccedilatildeo

XXXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

747

Khorasan Rebenta a

Revoluccedilatildeo Abaacutessida

749

Iraque Vitoacuteria abaacutessida

junto a Kufa apesar da

morte do seu general

Qahtaba

750

Iraque Batalha do rio

Zab Vitoacuteria abaacutessida

decisiva Massacre dos

Omiacuteadas Iniacutecio do

Califado Abaacutessida com o

califa Al-Saffah

751

Itaacutelia Queda de Ravena ndash

Destruiccedilatildeo do Exarcado de

Ravena pelos Lombardos

Bizacircncio perde as uacuteltimas

possessotildees na Itaacutelia

Central para os

Lombardos

752

Gaacutelia Os muccedilulmanos

abandonam Narbonne a

sua uacuteltima posiccedilatildeo

transpirenaica

XXXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

759

Califado Morte de Al-

Saffah que eacute sucedido por

Abu Jaacutersquofah Al-Mansur

762

Iraque O califa muda-se

para o seu novo palaacutecio na

ldquoCidade da Pazrdquo

Fundaccedilatildeo de Bagdade

Al-Mansur esmaga o as

forccedilas xiitas de Muhamad

durante o Ramadatildeo

766

Nova revolta no seio da

divisatildeo do Opsikiacuteon

767

Esmagada a revolta o

territoacuterio do Opsikiacuteon eacute

novamente dividido desta

vez com um novo distrito

o dos Bucelaacuterios

775

Morte de Constantino V

apoacutes um reinado bem-

sucedido com vaacuterias

conquistas na Traacutecia e

vitoacuterias sobre os Buacutelgaros

Califado Morte de Al-

Mansur no decurso de

uma peregrinaccedilatildeo a Meca

Ascensatildeo de al-Mahdi

776

Itaacutelia Fim do reino

lombardo agraves matildeos de

Carlos Magno

Peacutersia Iniacutecio da revolta

de al-Muqqana

XXXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

780

Peacutersia A revolta eacute

subjugada

785

Califado Morte de al-

Mahdi

786

Califado Iniacutecio do

califado de Harun al-

Rashid que lideraraacute vaacuterios

raides a territoacuterio

bizantino

789

Traacutecia Irene divide o

theacutema da Traacutecia com um

novo theacutema o da

Macedoacutenia apoacutes uma seacuterie

de conquistas bizantinas

na Traacutecia

797

Iniacutecio da governaccedilatildeo de

Irene como Basileuacutes apoacutes

cegar o filho por

incompetecircncia e por este

ter cometido moicheacutea

(adulteacuterio)

Seacuteculo IX

802

Deposiccedilatildeo do Irene que

apoacutes uma desastrosa

poliacutetica econoacutemica eacute

substituiacuteda num golpe de

XXXVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

802

(cont)

Estado pelo logoacuteteta

Niceacuteforo depois Niceacuteforo

I

809

Vexilationes de Niceacuteforo I

tomadas por John Haldon

como o iniacutecio do sistema

dos themaacuteta

Greacutecia Conquista destes

territoacuterios O basileuacutes

Niceacuteforo I procede agrave

criaccedilatildeo de vaacuterios themaacuteta

na regiatildeo Peloponeso

Cefaloacutenia e Tessaloacutenica

Bulgaacuteria Niceacuteforo I

saqueia a capital do

Impeacuterio Buacutelgaro Priska

Califado Morte de Harun

al-Rashid Al-Amin torna-

se califa em Bagdade

811

Staurakios o filho de

Niceacuteforo eacute deposto apoacutes

ser ferido fatalmente na

batalha de Priska e

substituiacutedo por Miguel I

Rangabeacute

Bulgaacuteria Campanha de

Niceacuteforo contra este

territoacuterio volta a saquear

Priska

Batalha de Priska ndash Vitoacuteria

do khan Krum numa

emboscada e morte de

Niceacuteforo e a destruiccedilatildeo da

maior parte do exeacutercito e

da cadeia de comando

bizantina

Traacutecia O Impeacuterio da

Bulgaacuteria conquista a maior

parte dos territoacuterios

reconquistados por

Niceacuteforo com excepccedilatildeo

da Greacutecia

Califado Iniacutecio da Quarta

Fitna entre o califa al-

Amin e o irmatildeo al-

Mamun governador de

Khorasan O primeiro

confronto termina com a

vitoacuteria das forccedilas

ldquorebeldesrdquo

XXXVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

812

Iraque Apoacutes vaacuterios

embates al-Mamun cerca

Bagdade

813

Traacutecia Batalha de

Versinikia ndash nova vitoacuteria

de Khrum sobre forccedilas

bizantinas

Como consequecircncia o

basileuacutes Miguel abandona

o cargo e eacute substituiacutedo por

Leatildeo V denominado de laquoo

Armeacutenioraquo

Iraque Fim do cerco de

Bagdade e da Quarta

Fitna Execuccedilatildeo de al-

Amin e ascensatildeo de al-

Mamun ao cargo de califa

814

Impeacuterio Buacutelgaro Morte

do khan Krum

819

Iraque Apoacutes uma seacuterie de

vaacuterias guerras civis al-

Mamun entra em Bagdade

820

Assassinato de Leatildeo V

Guerra civil entre Miguel

II laquoo Amorianoraquo e Tomaacutes

o Eslavo

823

Morte de Tomaacutes o Eslavo

a guerra perduraraacute mais

um ano no entanto

XXXVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

824

Os uacuteltimos apoiantes de

Tomaacutes satildeo esmagados na

Anatoacutelia

826

Siciacutelia Revoltosos gregos

da ilha apelam ao auxiacutelio

de aacuterabes do Norte de

Aacutefrica

827

Siciacutelia Invasatildeo aglaacutebida

da ilha

828

Creta Os Bizantinos

perdem esta ilha para

piratas andaluzes

829

Morte de Miguel II eacute

substituiacutedo por Teoacutefilo

831

Siciacutelia Os Aacuterabes

conquistam Palermo

833

Califado Morte de al-

Mamun eacute substituiacutedo no

trono pelo irmatildeo que

reinaraacute sob o nome de al-

Mutasim (iniacutecio do

periacuteodo abaacutessida meacutedio)

XXXIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

834

Teoacutefilo acolhe refugiados

Curramitas que se juntam

ao exeacutercito e se convertem

ao Cristianismo

837

Expediccedilotildees de saque

bizantinas contra o

Califado Chegada de mais

Curramitas ao Impeacuterio

838

Revoltas Curramitas no

Impeacuterio

Batalha de Anzen entre o

basileus Teoacutefilo de

Bizacircncio e forccedilas

abaacutessidas (que incluiacuteam

cavaleiros turcos) sob al-

Afshin culmina com a

vitoacuteria aacuterabe

Saque de Ancyra e Amoacuterio

por forccedilas abaacutessidas

839

Submissatildeo dos Curramitas

por Teoacutefilo

840

Reformas militares de

Teoacutefilo aumento de

soldos e reorganizaccedilatildeo da

cadeia de comando

XL

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

840-

841

As kleisocircurai da

Capadoacutecia e Charsianon

derrotam raids aacuterabes

Como recompensa a

kleisocircura da Capadoacutecia eacute

promovida a theacutema

841

Itaacutelia Os Aacuterabes tomam

Bari

842

Morte do basileus Teoacutefilo

Ascensatildeo de Miguel III

Morte de al-Mutasim eacute

substituiacutedo pelo filho al-

Wathiq

843

Creta Tentativa falhada

de reconquista de Creta

pelos Bizantinos Criaccedilatildeo

do theacutema do Mar Egeu

844

Estabelecimento de um

ldquoPrincipado Paulicianordquo

nas imediaccedilotildees da cidade

de Tephrice

847

Morte de al-Wathiq que

natildeo tem sucessor definido

Uma shura (espeacutecie de

concelho) acaba por eleger

um irmatildeo de al-Wathiq

como califa que ascenderaacute

com o nome de al-

Mutawakill

XLI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

861

Criaccedilatildeo do theacutema de

Coloacutenia no Alto Eufrates

863

Batalha de Marj al-Usquf

termina com uma vitoacuteria

piacuterrica muccedilulmana do

Emirato de Melitene

Batalha de Lalacatildeo

termina numa vitoacuteria

decisiva do domeacutestico das

Escolas Petronas sobre

Omar que cai na batalha

O outro grande emir da

fronteira o de Tarsus eacute

morto num contra raide

bizantino

866

Itaacutelia O imperador Luiacutes II

comeccedila a intervir no sul de

Itaacutelia

869

Siciacutelia Tentativa de

conquista de Taormina

pelo Emirato Aglaacutebida

Itaacutelia Cerco de Bari pelo

imperador Luiacutes II conta

com a participaccedilatildeo de

forccedilas bizantinas

c 870

Reformas militares de

Basiacutelio I agrave frota bizantina

XLII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

871

Itaacutelia Capitulaccedilatildeo de Bari

para as forccedilas francas

872

Batalha de Bathys Ryax ndash

vitoacuteria bizantina onde as

forccedilas militares strategoacutes

satildeo esmagadas O liacuteder da

heresia Crisoacutequero eacute

morto na batalha

876

Itaacutelia Bari passa para o

controlo do Impeacuterio

Bizantino

878

Siciacutelia 21 de maio ndash

conquista aglaacutebida de

Siracusa

879

Reconquista bizantina de

Tephrike potildee fim agrave naccedilatildeo

da heresia pauliciana

880

Itaacutelia Campanhas gregas

na regiatildeo permitem

reconquistar algumas

fortalezas como Taranto e

derrotar forccedilas navais

muccedilulmanas junto a

Milazzo

XLIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

886

Itaacutelia Reconquista da

Calaacutebria e da Apuacutelia por

Niceacuteforo Focas o Velho

889

Itaacutelia Importante vitoacuteria

bizantina no Estreito de

Messina permite repor o

controlo naval sobre

aquela zona apoacutes uma

derrota no ano interior

890

Provenccedila Criaccedilatildeo do

enclave pirata sarraceno

em Saint Tropez

891

Ataques corsaacuterios de Leatildeo

o Tripolitano e Damiano agrave

ilha de Samnos

Itaacutelia Conquista bizantina

de Benevento No ano

seguinte formar-se-aacute o

theacutema da Lombardia

centrado naquela cidade

894

Iniacutecio da guerra bizantino-

buacutelgara entre o basileuacutes

Leatildeo VI e o czar Simeatildeo

da Bulgaacuteria com o uacuteltimo

a demonstrar vantagem

inicialmente

895

Bulgaacuteria Contraofensiva

conjunta bizantina e

magiar contra os buacutelgaros

acarreta grandes sucessos

Mais tardes os bizantinos

XLIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

895

(cont)

retiram e os buacutelgaros

conseguem derrotar os

Magiares com apoio

pechenegue

896

Bulgaacuteria Apoacutes uma

marcante derrota bizantina

na batalha de

Bulgarophygon Leatildeo VI

assina a paz com Simeatildeo

Seacuteculo X

901

Itaacutelia Conquista de Reacutegio

pelos Aglaacutebidas da Siciacutelia

902

Siciacutelia Fim da presenccedila

bizantina na Siciacutelia com a

queda de Taormina para os

Aacuterabes

904

Saque de Tessaloacutenica agraves

matildeos de Leatildeo o

Tripolitano e Damiano

906

Panoacutenia Derrotados pelos

Pechenegues os Magiares

fogem para esta regiatildeo

onde arrasam o reino da

Moraacutevia

XLV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

911

Creta Expediccedilatildeo enviada

agrave ilha por Leatildeo VI o Saacutebio

falha a reconquista da ilha

915

Itaacutelia As forccedilas do

strategoacutes de Bari Nicolau

Piccingli juntam-se agrave Liga

Santa de Joatildeo X e

destroem o enclave pirata

sarraceno na foz do rio

Garigliano

917

Bulgaacuteria Batalha de

Acheloos ndash derrota do

strategoacutes Leatildeo Focas

frente agraves forccedilas buacutelgaras

do czar Simeatildeo

919

Romano Lecapeno o

droungaacuterios tou ploiumlmon

depotildee a regente Zoeacute

Carbonopsina e ascende

ao trono como co-

imperador de Constantino

VII

924

Cerco de Constantinopla

por Simeatildeo da Bulgaacuteria

termina em insucesso

Greacutecia Destruiccedilatildeo da

frota de Leatildeo o Tripolitano

na costa de Lemnos

XLVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

927

Impeacuterio Buacutelgaro A

morte do czar Simeatildeo potildee

fim aos seus planos de

criar um impeacuterio

Bizantino-Buacutelgaro

934

Uma hoste bizantina sob

Joatildeo Kourkoas conquista

a cidade de Melitene

941

Expediccedilatildeo de saque russa

ataca a margem asiaacutetica do

Boacutesforo mas eacute derrotada

por Romano Lecapeno

944

Usurpaccedilatildeo do poder pelos

filhos de Romano I eacute

repudiada pela populaccedilatildeo

de Constantinopla que

restitui ao trono o basileuacutes

Constantino VII

949

Creta Nova tentativa de

reconquista de Creta

falhada

Armeacutenia Bizacircncio ocupa

Teodosioacutepolis a principal

base aacuterabe nesta regiatildeo

955

Bavaacuteria Otatildeo I derrota

decisivamente os magiares

na batalha de Lechfeld

XLVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

959

Divisatildeo dos comandos dos

taacutegmata entre o Ocidente e

Oriente comandados por

um domeacutestico do Ocidente

e Oriente respetivamente

960

Batalha de Andrassos ndash

vitoacuteria de Leatildeo Focas

sobre Sayf al-Dawlah

961

Creta Reconquista da

ilha por Niceacuteforo Focas

962

Campanha bizantina sob

Niceacuteforo Focas na Ciliacutecia

e na Siacuteria contra o

Emirado Hamdacircnida

Conquista temporaacuteria de

Aleppo

963

Morte do Imperador

Romano II no decorrer de

uma caccedilada

Casamento de Niceacuteforo

Focas com a viuacuteva

Teoacutefane subindo ao trono

como o co-imperador

Niceacuteforo II Focas

964

Ocupaccedilatildeo total da ilha de

Chipre pelos Bizantinos

XLVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

965

Conquista da Ciliacutecia ndash

apoacutes a tomada de Tarso a

capital daquela regiatildeo

Bulgaacuteria O priacutencipe

Svyatoslav de Kiev invade

a Bulgaacuteria apoacutes o apelo de

Niceacuteforo II

966

Os exeacutercitos bizantinos

avanccedilam na direccedilatildeo de

Antioquia conquistando

algumas fortalezas nas

imediaccedilotildees desta como

Arka e Hierapoacutelis

Iniacutecio do cerco de

Antioquia

967

O Impeacuterio Bizantino

recebe em testamento o

principado de Taron na

Armeacutenia

969

Conquista de Antioquia

Deposiccedilatildeo e assassinato de

Niceacuteforo II Focas pelo

sobrinho Joatildeo I Tzimiskeacute

Itaacutelia Derrota bizantina

frente a Otatildeo I na batalha

de Ascoli potildee em risco as

uacuteltimas possessotildees

romanas no sul de Itaacutelia

970

Bulgaacuteria Tomada de

Filipopoacutelis pelos Russos

a uacuteltima fortaleza em matildeos

buacutelgaras

XLIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

970

(cont)

Traacutecia Batalha de

Arcadioupolis ndash Daacute tempo

suficiente ao co-imperador

Joatildeo I Tzimiskeacute para

preparar a invasatildeo da

Bulgaacuteria

971

Bulgaacuteria Batalha de

Dorostolon termina numa

vitoacuteria decisiva bizantina

que expele os Rus da

Bulgaacuteria

Svyatloslav morre pouco

depois agraves matildeos dos

Pechenegues

972

Mesopotacircmia Invasatildeo

romana da regiatildeo permite

a conquista de algumas

cidades como Niacutesibe

974

Siacuteria Joatildeo I Tzimiskeacute

tenta alcanccedilar Bagdade

mas eacute parado pelo deserto

da Siacuteria

975

Campanhas bizantinas na

Siacuteria culminam com a

conquista de Damasco e de

vaacuterias cidades na Siacuteria

Joatildeo I Tzimiskeacute promete

reconquistar Jerusaleacutem

L

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

976

Morte de Joatildeo I Tzimiskeacute

eacute sucedido pelo filho de

Romano II Basiacutelio

Insurreiccedilatildeo de Bardas

Sclero

978

O basileuacutes Basiacutelio II

incapaz de esmagar a

revolta sozinho apela ao

auxiacutelio do aristocrata

Bardas Focas

Batalha de Pankaleia

culmina na derrota de

Focas frente a Sclero

979

A revolta de Bardas Sclero

eacute esmagada por Bardas

Focas

986

Traacutecia Ataques buacutelgaros

que tinham comeccedilado em

985 atingem Tessaloacutenica

Bulgaacuteria Basiacutelio II eacute

derrotado por Samuel da

Bulgaacuteria numa emboscada

989

Batalha de Crisopoacutelis ndash

vitoacuteria de Basiacutelio II e dos

seus aliados Varangues

sobre as forccedilas rebeldes de

Barda Focas

LI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

989

(cont)

Batalha de Abido ndash vitoacuteria

decisiva de Basiacutelio II sobre

Barda Focas Morte do

uacuteltimo

997

Greacutecia Batalha do rio

Spercheios ndash Vitoacuteria das

forccedilas bizantinas de

Niceacuteforo Ouranos sobre as

forccedilas buacutelgaras do czar

Samuel

Seacuteculo XI

1001

Bulgaacuteria Realiza-se a

primeira campanha de

Basiacutelio II depois da sua

derrota anos antes

Treacuteguas entre Basiacutelio II e

o Califado Fatimita apoacutes

seis anos de conflito

1011

Itaacutelia Reconquista de

Bari a Meles um revoltoso

local

1014

Bulgaacuteria Batalha do

desfiladeiro de Kleidion

onde Basiacutelio II captura

cerca de 15 mil soldados

buacutelgaros e de acordo com

as fontes cega-os

Morte do czar Samuel

LII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1018

Bulgaacuteria Anexaccedilatildeo final

deste territoacuterio por Basiacutelio

II

Itaacutelia Batalha de Otranto

resulta numa vitoacuteria de

Niceacuteforo Boianeacutes o

katepaacutenō de Itaacutelia sobre

Meles e os seus aliados

normandos

1025

Morte de Basiacutelio II eacute

substituiacutedo pelo irmatildeo

Constantino

Itaacutelia Conquista de

Messina por Boianeacutes abre

caminho a uma possiacutevel

reconquista da Siciacutelia

1032

Siacuteria Durante o reinado

de Romano III Argiro

Bizacircncio reconquista

Edessa sob Jorge

Maniakeacutes

1040

Armeacutenia morte do rei

Joatildeo III Smbat Iniacutecio de

uma guerra civil entre o

sobrinho Gagik II e outros

priacutencipes armeacutenios com

incursotildees bizantinas

durante o conflito

Khorasan Vitoacuteria dos

Turcos Seljuacutecidas sobre o

sultatildeo Masrsquoud do Impeacuterio

Gaznaacutevida na batalha de

Dandanaqan

1041

Uacuteltimo cerco russo a

Constantinopla

Bulgaacuteria Revolta buacutelgara

eacute esmagada por forccedilas

leais a Constantinopla

LIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1042

Siciacutelia Jorge Maniakeacutes

acaba a reconquista da

parte oriental da ilha

1045

Armeacutenia Tomada de Ani

por forccedilas bizantinas e

purga da Igreja Miafisita

1048

Armeacutenia e Geoacutergia ndash Um

exeacutercito de ghazis Oguzes

invade estas regiotildees e

captura o priacutencipe Liparit

1050

Iraque Toghril Beg

invade o norte da regiatildeo

1053

Itaacutelia Batalha de Civitate

ndash os Normandos capturam

o papa Leatildeo IX

Peacutersia Graccedilas agraves tribos

turcomanas ao seu dispor

Toghril Beg toma conta da

regiatildeo de Fars no sudoeste

iraniano

1054

Expediccedilatildeo de Toghril Beg

na Armeacutenia e cerco de

Manzikert durante esta

expediccedilatildeo Toghril Beg

consegue chegar a

Trebizonda saquear a

zona de Van e ainda cercar

Manzikert ainda que sem

sucesso

LIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1055

Peacutersia Toghril Beg

conquista o Khuzistatildeo

Iraque dezembro - Os

Turcos Seljuacutecidas ocupam

Bagdade

1056

Morte de Teodora potildee fim

agrave dinastia Macedoacutenica

1057

Aacutesia Menor A cidade de

Melitene eacute saqueada e

arrasada por saqueadores

turcomanos

1058

Iraque O general turco

Arslan Basasiri recupera

Bagdade para os xiitas

1060

Iraque Basasiri eacute morto

em batalha Purga dos

xiitas de Bagdade

1063

Peacutersia Morte de Toghril

Beg em Rey Iniacutecio de

uma guerra civil

sucessoacuteria

LV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1064

Armeacutenia A cidade de

Ani e grande parte da

Armeacutenia eacute conquistada

por Alp Arslan

Balcatildes Conquista huacutengara

de Belgrado O povo Uzi

saqueia grande parte do

territoacuterio ocidental

bizantino ateacute agrave Greacutecia

Impeacuterio Seljuacutecida Alp

Arslan vence a guerra civil

e torna-se sultatildeo

1065

Armeacutenia Anexaccedilatildeo deste

territoacuterio pelo Sultanato

Seljuacutecida

1067

Aacutesia Menor Saque

turcomano de Cesareia

1068

Romano IV Dioacutegenes

torna-se co-imperador

Aacutesia Menor Conquista e

saque turcomano de

Amoacuterio sob Afsin

Siacuteria Campanha de

Romano IV Dioacutegenes nos

arredores de Alepo

termina em falhanccedilo a natildeo

ser pela conquista de

Hieraacutepolis

1069

Aacutesia Menor Ataque

turcomano a Icoacutenio no

coraccedilatildeo da Anatoacutelia

Nova campanha romana na

regiatildeo termina em

fracasso

1071

Armeacutenia Batalha de

Khliat Derrota das forccedilas

bizantinas sob Joseacute

Tarcaniotes e Roussel de

Bailleul frente a um

exeacutercito seljuacutecida sob

Sanduq al-Turki

Itaacutelia Roberto Guiscard

ocupa Bari e potildee fim a

mais de quinhentos anos

de presenccedila bizantina na

regiatildeo

Siacuteria Cercos turcomanos

a Edessa e Alepo Falham

pelas falsas treacuteguas

bizantinas no caso do

primeiro e pela declaraccedilatildeo

de guerra de Romano IV

Dioacutegenes no segundo

LVI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1071

(cont)

Batalha de Manzikert ndash o

coimperador Romano IV

Diogenes eacute derrotado pelo

sultatildeo turco Alp Arslan

Apesar das baixas

relativamente pequenas

bizantinas vai marcar o

iniacutecio de um periacuteodo de

extrema instabilidade

poliacutetica para Bizacircncio

Batalha de Sebasteia ndash

Romano IV Dioacutegenes eacute

derrotado por forccedilas leais agrave

dinastia Ducas que

aprisionara a imperatriz

Eudoacutexia em

Constantinopla

1072

Batalha de Adana ndash Nova

derrota de Romano IV

Dioacutegenes frente aos

Ducas O co-imperador eacute

aprisionado cegado e

encerrado num mosteiro

onde morre pouco depois

Iratildeo ndash Assassinato de Alp

Arslan

1078

Golpe de estado do

strategoacutes da Anatoacutelia

Niceacuteforo Botaniates que

sobe ao trono como o

terceiro de seu nome

Formaccedilatildeo do Sultanato de

Rum pelo priacutencipe

Suleimatildeo

LVII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1081

Niceacuteforo III eacute deposto por

Aleixo Comneno que o

substitui no trono

Balcatildes Cerco de

Dirraacutequio por Roberto

Guiscard

Os Normandos tomam a

ilha de Corfu

Aleixo Comneno eacute

derrotado pelas forccedilas de

Guiscard na batalha de

Dirraacutequio

1084

Balcatildes Nova campanha

de Roberto Guiscardo na

regiatildeo

1085

Balcatildes Morte de Roberto

Guiscardo durante o cerco

de Cefaloacutenia

1087

Traacutecia A regiatildeo eacute

invadida por Pechenegues

1091

Traacutecia Batalha do Monte

Levuniatildeo ndash vitoacuteria de

Aleixo Comneno sobre os

Pechenegues

Batalha de Anchialos

Aleixo Comneno derrota

os Cumanos

LVIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1095

Franccedila Conciacutelio de

Clermont daacute iniacutecio agrave

Primeira Cruzada

1096

Primavera Chegada a

Constantinopla dos

primeiros regimentos

cruzados incluindo a

chamada ldquoCruzada

Popularrdquo liderada por

Pedro ldquoo Eremitardquo e

Gualter ldquoSem Haverrdquo Os

ldquoverdadeirosrdquo cruzados

chegaratildeo mais tarde

Batalha de Civetot A

Cruzada Popular eacute

derrotada por forccedilas

seljuacutecidas sob o Sultatildeo

Kilij Arslan

1097

Primavera Cerco

bizantino-cruzado a

Niceia A guarniccedilatildeo turca

rende-se a Constantinopla

que proiacutebe os Cruzados de

saquearem a cidade

1098

Siacuteria Balduiacuteno de

Bolonha conquista Edessa

e forma o primeiro Estado

cruzado o condado de

Edessa

LIX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1098

(cont)

Junho ndash Os Cruzados

tomam Antioquia e

formam o segundo Estado

cruzado o principado de

Antioquia sob Boemundo

de Tarento filho de

Roberto Guiscardo

1099

Palestina julho ndash

Conquista saque e purga

de Jerusaleacutem pelos

Cruzados O reino de

Jerusaleacutem eacute criado e a

coroa entregue a

Godofredo de Bulhatildeo

duque da Baixa Lorena

Seacuteculo XII

1102

Palestina Raimundo de

Saint-Gilles o conde de

Toulose cria o condado de

Triacutepoli (apesar de ainda

natildeo controlar a cidade)

1104

Piroska filha do rei

magiar Ladislau I casa

com o futuro basileuacutes Joatildeo

II

LX

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1108

Balcatildes A campanha

iniciada no ano anterior

por Boemundo de Tarento

sai gorada pelo uso de

taacuteticas de guerrilha por

Aleixo I Comneno

Siacuteria Apoacutes a recusa dos

Cruzados a entregarem

Antioquia Aleixo I

vassaliza o principado de

Antioquia agrave forccedila

1117

Batalha de Nicomeacutedia

Aleixo I Comneno derrota

o sultatildeo turco Malik Sha

1118

Ascensatildeo de Joatildeo II ao

trono de Constantinopla

apoacutes a morte do pai

Aleixo I Comneno

1120

Cerco de Panfiacutelia O

basileuacutes Joatildeo II captura a

cidade graccedilas agrave utilizaccedilatildeo

de taacuteticas de fuga

simulado

1122

Balcatildes Batalha de

Verroia ndash vitoacuteria de Joatildeo II

sobre os Pechenegues

1137

Siacuteria Joatildeo II submete o

priacutencipe de Antioquia

Raimundo de Poitiers agrave

soberania bizantina

LXI

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1143

Joatildeo II morre num

acidente durante uma

caccedilada O seu filho mais

novo Manuel substitui-o

1147

Escaramuccedila agraves portas de

Constantinopla entre

Bizantinos e cavaleiros da

Segunda Cruzada

1159

Siacuteria Submissatildeo de

Antioquia por Manuel I

1167

Balcatildes Manuel Comneno

derrota a Hungria e

submete a Dalmaacutecia a

Boacutesnia a Croaacutecia e

Siacutermio

1171

A ordem de detenccedilatildeo de

todos os Venezianos em

territoacuterio bizantino suscita

o iniacutecio de uma guerra

bizantino-veneziana

1172

Uma frota veneziana sob

o comando do doge Vital

II Miguel eacute destroccedilada por

uma epidemia e uma

tempestade durante uma

campanha contra algumas

ilhas gregas

Balcatildes Bizacircncio esmaga a

rebeliatildeo do priacutencipe

seacutervio Estevatildeo Nemanja

LXII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1176

Setembro ndash Manuel I perde

a batalha de Mirioceacutefalo

que mutila severamente as

capacidades ofensivas do

impeacuterio

1179

Iniacutecio das negociaccedilotildees de

paz entre Bizacircncio e

Veneza Manuel aceita

libertar alguns dos

venezianos presos em

1171

1180

Manuel I morre e Aleixo II

substitui-o

1182

Maio ndash Massacre da

populaccedilatildeo latina de

Constantinopla

1183

Androacutenico I primo de

Manuel ascende ao trono

apoacutes assassinar a

imperatriz-regente Maria

e o basileuacutes Aleixo II

LXIII

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1185

Androacutenico I eacute linchado

pela populaccedilatildeo de

Constantinopla a dinastia

dos Comnenos termina

Satildeo substituiacutedos pela

dinastia dos Anjos com

Isaac II a ser coroado

imperador

Tessaloacutenica A cidade eacute

tomada pelos Normandos

agravando a hostilidade

bizantina ao reinado cruel

de Androacutenico I

1187

Bulgaacuteria Formaccedilatildeo do

segundo Impeacuterio Buacutelgaro

Palestina As forccedilas

militares do Reino de

Jerusaleacutem satildeo derrotadas

por Saladino o sultatildeo

aiuacutebida do Egipto e da

Siacuteria na batalha dos

Cornos de Hattin

Saladino o sultatildeo aiuacutebida

do Egipto e da Siacuteria

reconquista Jerusaleacutem

1189

Formaccedilatildeo da Terceira

Cruzada liderada por

Frederico I ldquoBarba Ruivardquo

Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de

Leatildeordquo e Filipe II

ldquoAugustordquo

1190

Ciliacutecia Frederico ldquoBarba

Ruivardquo morre afogado

num lago

LXIV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1191

Chipre Forccedilas cruzadas

sob Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de

Leatildeordquo conquistam a ilha a

Bizacircncio

1195

Isaac II eacute cegado e deposto

pelo irmatildeo Aleixo III

1198

Tratada de reposiccedilatildeo da

alianccedila bizantino-

veneziana apoacutes Aleixo III

tentar acabar com a

alianccedila

Itaacutelia Inocecircncio III lanccedila

a Quarta Cruzada

Seacuteculo XIII

1202

Dalmaacutecia A Quarta

Cruzada conquista e

saqueia a cidade cristatilde de

Zama a pedido dos

Venezianos

1203

As forccedilas da Quarta

Cruzada depotildeem Aleixo

III e repotildeem Aleixo III no

trono O filho deste

Aleixo IV torna-se

imperador associado

LXV

Ano Impeacuterio Bizantino

Constantinopla Aacutesia

Menor e possessotildees

na Armeacutenia e Siacuteria-

Palestina

Europa e

Mediterracircneo

Ocidental

Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia

Proacuteximo e Meacutedio

Oriente

1204

Janeiro Aleixo V Ducas

Murzuflo depotildee e prende

Isaac II Aleixo IV eacute

morto O novo basileuacutes

recusa-se a pagar o que

Aleixo IV prometera pagar

aos Cruzados

Abril Conquista e saque

da maior cidade cristatilde do

mundo pelos Cruzados O

Impeacuterio Bizantino eacute

dividido entre Venezianos

e Cruzados e no seu

lugar surge o Impeacuterio

Latino de Ocidente e um

conjunto de estados

vassalos Por outro lado

os gregos formam vaacuterios

na Aacutesia Menor e no Epiro

que vatildeo resistir ferozmente

aos Cruzados e tentar

reconquistar

Constantinopla

Fim da eacutepoca meacutedia bizantina

1261

O ldquoimpeacuteriordquo de Niceia

recupera Constantinopla

sob o comando de Miguel

Paleoacutelogo Deposiccedilatildeo de

Joatildeo VI Lascaris e

ascensatildeo de Miguel ao

poder Reformaccedilatildeo do

Impeacuterio Bizantino

LXVI

Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana)

Ca 850

Basiacutelio chega a

Constantinopla

856857

Basiacutelio entra ao serviccedilo

do basileuacutes Miguel III

como membro da

Hetaireia um regimento

da Guarda Imperial

858

Miguel III e o seu tio

Bardas potildeem fim agrave

regecircncia de Teodora e do

seu tio Seacutergio

Miguel III e o seu tio

Bardas substituem o

patriarca Inaacutecio por

Foacutecio que nas palavras

da famiacutelia real

conspirava contra esta

20 de dezembro Foacutecio eacute

tonsurado Num periacuteodo

de quatro dias torna-se

padre

25 de dezembro Foacutecio

ascende ao Patriarcado

860

Primeiros ataques russos a

Constantinopla

Aacutesia Menor Uma frota de

Tarso ataca Antalya

LXVII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

861

Num Conciacutelio realizado

em Constantinopla os

legados papais aprovam a

ascensatildeo de Foacutecio ao

patriarcado

863

Batalha de Marj al-Usquf

- Vitoacuteria piacuterrica

muccedilulmana do Emirato de

Melitene sobre o exeacutercito

bizantino de Miguel III

Batalha do Lalacatildeo -

vitoacuteria decisiva do

domeacutestico das Escolas

Petronas sobre as forccedilas

aacuterabes que sobreviveram agrave

batalha de Marj al-Usquf

O emir de Melitene morre

na batalha

Mesopotacircmia O emir de

Tarso eacute morto num contra

raide bizantino

864

Eacute outorgado a Basiacutelio o

cargo de parakoimṓmenos

do basileuacutes apoacutes a

remoccedilatildeo do seu

predecessor Damiano

que ofendera o ceacutesar

Bardas

Bulgaacuteria Conversatildeo da

Bulgaacuteria ao

Cristianismo580

Teodoro Santabarenos

torna-se abade do

mosteiro de Stoudios

c865

Casamento de Basiacutelio

com Eudoacutexia Ingerina a

amante de Miguel III

580 Ou 845 in TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912)

LXVIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

866

Basiacutelio torna-se co-

imperador de Miguel III

apoacutes o assassinato do tio

do Imperador Bardas

Nasce o segundogeacutenito de

Basiacutelio o futuro Leatildeo

VI581

Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica)

867

Ascensatildeo de Basiacutelio I

apoacutes o assassinato pelas

suas proacuteprias matildeos de

Miguel III Instituiccedilatildeo da

dinastia Macedoacutenica

No mecircs de agosto o

patriarca Foacutecio depotildee o

Papa Nicolau I

Apoacutes a ascensatildeo de

Basiacutelio as decisotildees do

Conciacutelio Constantinopla-

867 satildeo repudiadas e

Foacutecio eacute deposto por

condenar o assassinato de

Miguel III Reinstalaccedilatildeo

de Inaacutecio no Patriarcado

Teodoro Santabarenos eacute

expulso de Stoudios

868

Egipto Formaccedilatildeo do

Emirato Tuluacutenida

581 Natildeo haacute um consenso sobre o dia e o mecircs em que o futuro basileuacutes teraacute nascido Jorge o Monge indica 1 de

setembro Pseudo-Simeatildeo indica apenas o mecircs de setembro e Leatildeo o Gramaacutetico aponta o nascimento para 1 de

dezembro o proacuteprio Leatildeo na homilia de reedificaccedilatildeo da Igreja de Satildeo Tomeacute refere que o seu nascimento

acontece alguns dias antes do dia de Satildeo Tomeacute (8 de outubro) por fim Grumel refere que Leatildeo na realidade diz

que o seu aniversaacuterio foi no mesmo dia da reedificaccedilatildeo ou seja a 19 de setembro

Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill p 42

LXIX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

869

Siciacutelia Tentativas de

conquista de Taormina e

Siracusa pelo Emirato

Aglaacutebida

Itaacutelia Uma frota bizantina

dirige-se a Bari para em

concertaccedilatildeo com uma

forccedila franca sob o

comando do imperador

Luiacutes II tomar a cidade

c870

O ex-patriarca Foacutecio

torna-se tutor dos filhos

do basileuacutes

Malta Conquista aglaacutebida

da ilha

871

Itaacutelia A 3 de fevereiro a

cidade de Bari rende-se ao

rei Luiacutes II

Itaacutelia Iniacutecio de um cerco

aacuterabe a Salerno

872

Aacutesia Menor batalha de

Bathys Riax582 Um

exeacutercito bizantino derrota

uma forccedila pauliciana e

mata o seu liacuteder

Crisoacutequero

Dalmaacutecia Corsaacuterios da

ilha de Creta saqueiam a

regiatildeo

582 A bibliografia que lemos discorda da data em que se realizou a batalha John Haldon refere 878 Shaun

Tougher refere 872

LXX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

872

(cont)

Itaacutelia Libertaccedilatildeo do cerco

aacuterabe de Salerno

873

Itaacutelia O Impeacuterio

Bizantino ocupa Otranto

na Apuacutelia

Golfo de Saros Niquetas

Orifas destroacutei 20 navios

aacuterabes

Siciacutelia Nova tentativa de

conquista de Siracusa

pelos Aglaacutebidas

875

Mar Adriaacutetico

Expediccedilatildeo de saque aacuterabe

chega ao Golfo de Trieste

e cerca Grado O cerco

falha e durante a retirada

os Muccedilulmanos desolam

Comacchio

Itaacutelia Raides aacuterabes na

Campacircnia e na costa

ocidental italiana

chegando a atingir a zona

de Roma O papa Joatildeo

VIII apela ao auxiacutelio de

Bizacircncio frente agrave ameaccedila

876

Itaacutelia Com a crescente

ameaccedila aacuterabe no sul de

Itaacutelia a populaccedilatildeo de Bari

entrega a cidade a

Bizacircncio

LXXI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

877

Siciacutelia Iniacutecio do uacuteltimo

cerco aacuterabe a Siracusa

Itaacutelia Novo apelo papal

dirigido ao strategos

Gregoacuterio

Morte de Inaacutecio Foacutecio

volta a tornar-se

patriarca

Foacutecio aponta Teodoro

Santabarenos como bispo

de Euceta na Greacutecia

878

Siciacutelia 21 de maio -

Queda de Siracusa

Massacre e saque da

cidade

878-

882

Ciliacutecia Periacuteodo de

ocupaccedilatildeo tuluacutenida

c879

Morte do filho

primogeacutenito de Basiacutelio

Constantino

Basiacutelio I casa o seu

segundo filho o futuro

Leatildeo VI com Teoacutefane

Golfo de Corinto Derrota

de uma frota sarracena que

saqueava o Mar Joacutenico agraves

matildeos de Niquetas Oryfas

Aacutesia Menor Forccedilas

bizantinas sob o comando

pessoal do basileuacutes

conquistam a capital dos

Paulicianos Tephrike

880

Mar Joacutenico Expediccedilatildeo

naval de Ibrahim II saqueia

Kefaleacutenia e Zakynthos O

droungaacuterios tou ploiumlmon

Nasar destroacutei a frota

adversaacuteria ao largo da

costa ocidental grega num

ataque noturno

O papado aprova a

(re)ascensatildeo de Foacutecio ao

patriarcado

LXXII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

880

(cont)

Siciacutelia Nasar saqueia e

desola os arredores de

Palermo captura

embarcaccedilotildees aglaacutebidas e

derrota forccedilas navais

aacuterabes junto a Punta di

Stilo durante o regresso

Itaacutelia Graccedilas aos sucessos

de Nasar um esquadratildeo

bizantina dirige-se a

Naacutepoles sob o comando

do spathaacuterios Gregoacuterio o

turmarca Teophylaktos e o

komeacutes Diogeacutenes onde

arrecadam uma nova

vitoacuteria para os Bizantinos

Siciacutelia Vitoacuteria naval

bizantina junto a Milazzo

no decorrer de uma

contraofensiva liderada

pelo protovestiaacuterio

Procoacutepio do strategoacutes

Leatildeo Apoacutestipo e do

almirante Nassar

Itaacutelia As forccedilas enviadas

para a regiatildeo por Basiacutelio I

conquistam quase todas as

fortalezas aacuterabes na

Calaacutebria e na Apuacutelia

oriental Apoacutes uma

importante batalha campal

agraves portas de Taranto onde

morre Procoacutepio o

strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo

conquista a cidade

LXXIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

880

(cont)

Itaacutelia Apelo papal a

Basiacutelio I de uma frota

bizantina

Itaacutelia Com a autorizaccedilatildeo

do bispo-duque Atanaacutesio

II uma forccedila muccedilulmana

fixa-se no sopeacute do Monte

Vesuacutevio Enquanto isso

um outro bando de

soldados sediado em

Sapenium saqueia toda a

regiatildeo a norte ateacute Espoleto

881

Itaacutelia Naacutepoles e Salerno

combinam forccedilas para

tentar destruir as bases de

saqueadores sarracenos na

Calaacutebria e na Campacircnia

883

Aprisionamento do novo

herdeiro Leatildeo durante

trecircs anos por suspeitas de

conspirar contra Basilio

Ciliacutecia Uma hoste

bizantina eacute derrotada na

regiatildeo de Tarso pelo emir

Yazaman Mais tarde

Yazaman seraacute tambeacutem ele

derrotado pelo strategoacutes

Oiniates

Itaacutelia Nova alianccedila

lombarda Os vaacuterios

grupos muccedilulmanos

retiram para norte e juntam

forccedilas no rio Garigliano

onde criam uma base de

operaccedilotildees

LXXIV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

884

Itaacutelia Saque sarraceno do

mosteiro de Montecassino

885

Moraacutevia Morte do

monge Metoacutedio um dos

principais responsaacuteveis

pela conversatildeo dos

Eslavos e da transcriccedilatildeo

dos textos biacuteblicos para

Ciriacutelico

886

25 de marccedilo Um conluio

organizado por Joatildeo

Kourkouas e outros

sessenta e seis senadores eacute

descoberto e rapidamente

destroccedilado por Basiacutelio I

21 de julho Leatildeo eacute

libertado da sua prisatildeo no

dia de Satildeo Elias

29 de agosto morte de

Basiacutelio I no seguimento

de um acidente ocorrido

numa caccedilada

Itaacutelia A expediccedilatildeo que

Basiacutelio I envia para Itaacutelia

sob o comando de

Niceacuteforo Focas o Velho

em 885 consegue

reconquistar as uacuteltimas

possessotildees muccedilulmanas na

Calaacutebria e submeter os

Lombardos da Apuacutelia agrave

supremacia bizantina

Reinado de Leatildeo VI

886

Agosto Ascensatildeo de Leatildeo

VI ao trono imperial O

seu irmatildeo Alexandre

torna-se co-imperador

Foacutecio eacute deposto do

patriarcado Um irmatildeo

do novo basileuacutes

Estevatildeo substitui Foacutecio

naquele cargo

LXXV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

887

Julgamento de Foacutecio e

Santabarenos Teodoro eacute

cegado e exilado em

Atenas Foacutecio eacute

encerrado num mosteiro

888

Aacutesia Menor Hipsele no

theacutema de Charsianon eacute

capturada por forccedilas

aacuterabes

Ciliacutecia O governador de

Tarso Yazaman captura

quatro navios bizantinos

durante um raide naval

Estreito de Messina

Vitoacuteria naval aacuterabe sobre

uma frota bizantina nas

imediaccedilotildees de Milazzo

Saque posterior de Reacutegio

Leatildeo VI redige um

Epitaphios dos pais

889

Bulgaacuteria O czar Boris

abdica e entrega o trono

ao filho Vladimir

Estreito de Messina um

almirante bizantino derrota

a frota muccedilulmana que

vencera em Milazzo e

consegue repor o controlo

sobre o estreito

890

Provenccedila Fixaccedilatildeo de um

enclave muccedilulmano de

piratas em Saint Tropez

que perduraraacute ateacute 972

LXXVI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

891

Itaacutelia Guido de Espoleto

eacute coroado Imperador pelo

Papa Estevatildeo VI

Ciliacutecia Yazaman ataca

Salandu uma cidade

costeira na Ciliacutecia

ocidental

Itaacutelia O strategos

Symbatikios conquista a

cidade lombarda de

Benevento a 18 de

outubro

Mar Egeu A ilha de

Samos eacute atacada por

saqueadores aacuterabes

liderados por Leatildeo o

Tripolitano e Damiano583

892-

897

Ciliacutecia Novo periacuteodo de

ocupaccedilatildeo tuluacutenida

892

Itaacutelia Formaccedilatildeo do tema

da Lombardia sediado em

Benevento

893

Bulgaacuteria Boacuteris depotildee

Vladimir e substitui-o por

outro filho Simeatildeo

Substituiccedilatildeo da capital

buacutelgara passa de Priska

para Preslav

A transferecircncia do

mercado buacutelgaro de

Constantinopla para

Tessaloacutenica suscita o iniacutecio

de uma guerra entre Leatildeo

VI e Simeatildeo no ano

seguinte

O patriarca Estevatildeo

morre Antoacutenio Caulias eacute

escolhido para o

substituir

Bulgaacuteria Simeatildeo

envolve-se na traduccedilatildeo

de textos biacuteblicos do

Grego para o Eslaacutevico

583 Shaun Tougher indica que este ataque ter-se-aacute realizado entre 891 e 893

LXXVII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

894

Iniacutecio da guerra entre Leatildeo

VI e Simeatildeo

Itaacutelia O strategos

Barsaacutequio muda a capital

do tema da Lombardia

para Bari Esta decisatildeo eacute

tomada devido ao grande

sentimento de hostilidade

por parte dos habitantes da

cidade de Benevento

895

Apoacutes os desaires do ano

anterior Leatildeo VI inicia

uma contraofensiva

terrestre e naval que conta

com o apoio dos Magiares

O questor Konstantinakis eacute

preso durante uma

embaixada a Simeatildeo

Os Magiares invadem a

Bulgaacuteria pelo norte e

obrigam Simeatildeo a

refugiar-se em Moundraga

Com a vitoacuteria bizantina

quase decidida Leatildeo envia

a Moundraga o diplomata

Leatildeo Coirosfactes Leatildeo

ordena aos seus

comandantes o Domeacutestico

Niceacuteforo Focas e o

almirante Eustaacutecio para

retirarem

Apoiado pelos

Pechenegues Simeatildeo

derrota marcadamente os

Magiares

LXXVIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Itaacutelia Os Lombardos

recuperam Benevento

Anatoacutelia dezembro - troca

de prisioneiros

895896

Morte de Teoacutefane Leatildeo

casa-se com a sua amante

Zoeacute Zautzina

896

Os Bizantinos sob a

lideranccedila de Leatildeo

Katakalon satildeo derrotados

na batalha de

Bulgarophygon na Traacutecia

A derrota permite aos

Buacutelgaros saquear toda a

regiatildeo e ateacute ameaccedilar

Constantinopla

Por meio de Leatildeo

Coirosfactes Leatildeo assina a

paz com Simeatildeo pela

resoluccedilatildeo da questatildeo dos

mercados e o

comprometimento do

basileuacutes em pagar um

tributo anual

898

O eunuco Raghib captura e

mata trecircs mil marinheiros

bizantinos e queima os

seus navios

LXXIX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

899900

Morte de Zoeacute Zautzina

Califado O eunuco

Raghib eacute aprisionado pelo

califa al-Mutatid Mais

tarde morreraacute no cativeiro

900

Casamento de Leatildeo com

Eudoacutexia Baineacute

Ciliacutecia Os navios usados

pelos saqueadores aacuterabes

de Tarso satildeo queimados agraves

ordens do califa Forccedilas

bizantinas chegam ao

portatildeo Qalamya de Tarso

derrotando e capturando o

emir pouco depois durante

uma surtida

Leatildeo VI e Antoacutenio

reconciliam a Igreja e um

grupo de opositores a

Foacutecio

901

Morte da basiacutelissa e do

seu filho durante o parto

Itaacutelia 10 de julho - O

Emirado Aglaacutebida toma e

saqueia Reacutegio

Tessaacutelia Leatildeo o

Tripolitano e Damiano

capturam Demeacutetrias

Bulgaacuteria Embaixada de

Leatildeo Coirosfactes com o

objetivo de persuadir

Simeatildeo a devolver trinta

fortalezas na regiatildeo de

Dirraacutequio

Ciliacutecia Um exeacutercito

bizantino ataca Kaysum e

captura alegadamente

cerca de quinze mil

muccedilulmanos

LXXX

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

902

Mar Egeu Ataque aacuterabe agrave

ilha de Lemnos no Egeu

Norte584

Siciacutelia Queda de

Taormina frente ao emir

Ibrahim II Fim da

presenccedila bizantina na

Siciacutelia

Itaacutelia Cerco de Cosenza

por Ibrahim II O emir

morre durante o cerco e o

seu exeacutercito desbanda

904

Himeacuterio eacute escolhido para

substituir Eustaacutecio como

almirante

Tessaloacutenica julho ndash

Depois de obrigarem o

Drungaacuterio da Frota

Eustaacutecio a retirar Leatildeo e

Damiano atacam e

saqueiam a segunda maior

cidade do Impeacuterio As

baixas bizantinas585

chegam aos mil homens

incluindo o strategos Leatildeo

Katzilakios que eacute

capturado pelo seu

homoacutenimo pirata

A libertaccedilatildeo da cidade eacute

comprada a Leatildeo o

Tripolitano atraveacutes de um

tributo que estava a ser

levado para a Bulgaacuteria

584 Ou 903 585 Entre mortos e prisioneiros de guerra

LXXXI

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

904

(cont)

Bulgaacuteria Coirosfactes eacute

enviado para evitar que

Simeatildeo aproveitasse o

ataque aacuterabe a Tessaloacutenica

para conquistar a cidade

Ciliacutecia Saque de Hadat

Novembro ndash Androacutenico

Ducas vence uma batalha

junto a Maras

905

Leatildeo VI e uma amante

Zoeacute Carbonopsina tecircm

um filho o futuro

Constantino VI

Revolta de Androacutenico

Ducas A rebeliatildeo eacute

derrotada nesse ano apoacutes

uma pequena escaramuccedila e

o general revoltoso foge

para territoacuterio aacuterabe

Egipto Um exeacutercito

enviado pelo califa al-

Muktafi potildee fim ao

emirato tuluacutenida e coloca

a regiatildeo sob o controlo

direto dos Abaacutessidas

906

906

(cont)

Constantino eacute batizado e

declarado herdeiro Leatildeo

casa com Zoeacute

Importante vitoacuteria naval

bizantina durante a

contraofensiva levada a

cabo por Himeacuterio no dia

de Satildeo Tomeacute (6 de

outubro)

Siacuteria Saque bizantino de

Qurus nos arredores de

Aleppo

Leatildeo VI eacute excomungado

por ter casado pela quarta

vez

Bulgaacuteria Constantino

bispo de Preslav e

disciacutepulo de Metoacutedio

traduz os sermotildees de

Atanaacutesio de Alexandria

LXXXII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

907

Ataque de Olev de Kiev a

Constantinopla

O synkellos Eutiacutemio

ascende ao patriarcado

apoacutes a deposiccedilatildeo do

patriarca Nicolau que se

opotildee ao quarto

casamento do imperador

Um siacutenodo que reuacutene

representantes das cinco

sedes da Pentarquia

perdoa Leatildeo VI

909

Constantinopla O

priacutencipe Atenolfo I de

Caacutepua e Benevento envia o

seu filho primogeacutenito agrave

capital bizantina para pedir

ajuda militar a Leatildeo VI

para fazer frente agraves

depredaccedilotildees dos

Sarracenos sediados em

Garigliano

Siacuteria 20 de Setembro ndash

Iniacutecio de uma incursatildeo

naval bizantina na costa

siacuteria que conquista as

fortalezsa de al-Qubba e

Laodiceia

910

Levante Ataques de

Himeacuterios no Levante e na

ilha de Chipre

911

Chipre586 Como

represaacutelia por um ataque

de Himeacuterio agrave populaccedilatildeo

muccedilulmana da ilha

586 Ou 912

LXXXIII

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

911

(cont)

Damiano ataca os

habitantes bizantinos da

ilha capturando alguns

destes

Creta A tentativa de

reconquistar a ilha numa

campanha lanccedilada por

Leatildeo VI acaba numa

derrota das forccedilas

bizantinas lideradas por

Himeacuterio agraves matildeos de Leatildeo

o Tripolitano e Damiano

912

Morte de Leatildeo VI em

Constantinopla Eacute

substituiacutedo pelo irmatildeo

Alexandre

Chios Aniquilaccedilatildeo da

frota de Himeacuterio

Apoacutes a morte de Leatildeo

VI realiza-se o siacutenodo de

Magnaura que depotildee

Eutiacutemio e repotildee Nicolau

Reinado de Alexandre

912

Apoacutes a morte de Leatildeo VI

realiza-se o siacutenodo de

Magnaura que depotildee

Eutiacutemio e repotildee Nicolau

913

Morte de Alexandre

ldquoAscensatildeordquo do filho de

Leatildeo VI Constantino VII

com a regecircncia do

patriarca Nicolau

Bulgaacuteria Apoacutes Alexandre

se recusar a pagar o

habitual tributo a Simeatildeo

a guerra entre as duas

potecircncias eacute renovada

LXXXIV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

Reinado de Constantino VII

914

Zoeacute Carbonopsina e Leatildeo

Focas depotildeem Nicolau da

regecircncia

915

Itaacutelia O papa Joatildeo X

funda uma liga cristatilde que

une a maior parte das

potecircncias do sul de Itaacutelia

contra Garagliano

incluindo um conjunto de

forccedilas bizantinas sob o

comando de Nicolau

Picingli o strategoacutes de

Bari Depois de um cerco

de trecircs meses os

Muccedilulmanos satildeo

derrotados quando tentam

abandonar as fortificaccedilotildees

917

Traacutecia Batalha de

Acheloos ndash O czar Simeatildeo

derrota Leatildeo Focas

decisivamente o Impeacuterio

da Bulgaacuteria expande-se

pela Traacutecia

919

O droungaacuterios tou

ploiumlmon Romano

Lecapeno encerra Zoeacute

Carbonopsina num

mosteiro e torna-se no

primeiro coimperador

macedoacutenico

LXXXV

Ano Eventos biograacuteficos e

poliacuteticos

Eventos Militares e

Diplomaacuteticos

Eventos Culturais e

religiosos

923

Lemnos O patriacutecio Joatildeo

Radenes derrota Leatildeo o

Tripolita que teraacute morrido

no combate

924

Aacutesia Menor Morte de

Damiano durante o cerco a

Strobilos no theacutema dos

Kibirrhaiotai

Simeatildeo da Bulgaacuteria cerca

Constantinopla que eacute

defendida por Romano I

Lecapeno

927

Bulgaacuteria Morte do Czar

Simeatildeo potildee fim agraves suas

ambiccedilotildees de criar um

impeacuterio bizantino-

buacutelgaro

LXXXVI

Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees

a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados

lsquoAbd al-Malik (seacuteculos VII-VIII dC) ndash Califa omiacuteada entre 685-705 e um dos

participantes principais na Segunda Fitna que acabou por vencer em 692 Em relaccedilatildeo a

Bizacircncio assina em 688 um tratado com Justiniano que declara a ilha de Chipre como

territoacuterio bipartido Quando morre o califado torna-se um impeacuterio burocraacutetico centralizado

escorado sobre o exeacutercito da Siacuteria587

lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que

teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso

Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid

comeccedilara a ganhar

Alp Arslan (seacuteculo XI dC) ndash Sultatildeo seljuacutecida que derrotou o co-imperador Romano

IV Diogenes na batalha de Manzikert em 1071 Foi assassinado no ano seguinte por um

rebelde coraacutesmio

Artavasdo (seacuteculo VIII) ndash Genro de Leatildeo III que ocupou as funccedilotildees kouropalaacutetēs e

koacutemes do Opsikiacuteon durante o seu reinado Apoacutes a ascensatildeo ao trono do sobrinho o basileuacutes

Constantino V tenta usurpar o trono com o apoio dos seus homens em 742 Apesar de ter

tomado Constantinopla natildeo logra capturar o imperador que consegue se refugiar em

Amorion No ano seguinte o basileuacutes legiacutetimo regressa com o apoio dos themaacuteta dos

Traceacutesicos e dos Anatolikoacuten e derrota o usurpador que eacute capturado e cegado em conjunto

com o filho A revolta de Artavasdo eacute considerada um dos principais catalisadores para a

formaccedilatildeo dos taacutegmata

Basiacutelio I (seacuteculo IX dC) ndash Basileuacutes que precedeu Leatildeo VI reinando entre 867 e 886

Depois de ter usurpado o trono a Miguel III fundou a dinastia Macedoacutenica Durante o seu

reinado os Bizantinos obtiveram importantes vitoacuterias militares como a reconquista de Bari

no sul de Itaacutelia em 876 ou a vitoacuteria na batalha de Bathys Ryax em 878 um passo decisivo

na derrota da seita pauliciana e para a consolidaccedilatildeo do poder bizantino na Anatoacutelia oriental

587 Vide KENNEDY Hugh (2004) The Prophet and the Age of Caliphs Segunda Ediccedilatildeo Gratilde-Bretanha Pearson

Longman p 103

LXXXVII

Basiacutelio II (seacuteculo X dC) ndash Penuacuteltimo basileuacutes macedoacutenico reinou entre 976 e 1025

Apesar de um iniacutecio de reinado bastante atribulado consegue apoacutes a vitoacuteria sobre os

apoiantes de Bardas Focas na batalha de Abido em 989 encetar vaacuterias campanhas militares

vitoriosas na Bulgaacuteria na Armeacutenia e em Itaacutelia No final do seu reinado o Impeacuterio Romano do

Oriente assiste por um lado agrave recuperaccedilatildeo de muitos territoacuterios de jure bizantinos em

especial os territoacuterios do czar Samuel da Bulgaacuteria e por outro agrave afirmaccedilatildeo da sua

superioridade sobre o Mediterracircnio oriental e os Balcatildes

Constante II (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes bizantino neto de Heraacuteclio que reina entre 641 e

668 Durante o seu principado enfrenta uma das primeiras expediccedilotildees aacuterabes contra

Constantinopla e sofre uma derrota devastadora numa batalha naval na Costa da Liacutecia a

conhecida laquobatalha dos Mastrosraquo Apoacutes vaacuterias tentativas com pouco ou nenhum sucesso de

estabilizar a fronteira oriental e garantir a fidelidade da Armeacutenia viaja para ocidente onde

tenta repor as defesas dessas regiotildees e criar boas bases de apoio fiscal para apoiar o esforccedilo de

guerra e em especial a Marinha Eacute assassinado na Siciacutelia em 668

Constantino I (seacuteculo IV) ndash Imperador romano entre 324-337 Constantino torna-se no

imperador absoluto do Impeacuterio apoacutes a vitoacuteria sob Liciacutenio o Augusto do Oriente na batalha de

Crisoacutepolis em 324 Mais tarde em 330 dC refunda a cidade de Bizacircncio desta feita com o

nome de Constantinopla

Constantino V o Coproacutenimo (seacuteculo VIII) ndash Basileuacutes entre 741-755 A este imperador

eacute-lhe atribuiacuteda a fundaccedilatildeo dos taacutegmata apoacutes a sua vitoacuteria sobre o conde do Opsikiacuteon

Artavasdo quando este tentou usurpar o poder entre 741-743 Com o apoio deste exeacutercito

central conseguiu conquistar vaacuterios territoacuterios nos Balcatildes e atacar territoacuterio califal

Constantino VII (seacuteculo X) ndash Terceiro Basileuacutes macedoacutenico reinou entre 913-959

Filho e herdeiro de Leatildeo VI herdou o legado cultural do pai A ele satildeo-lhes atribuiacutedas vaacuterias

obras de renome como o De Ceremoniis (laquoo Livro das Cerimoacuteniasraquo) o De Administrando

Imperii o De Thematibus e o Vita Basilii uma biografia do avocirc bem como um pequeno

tratado sobre a funccedilatildeo e importacircncia do basileuacutes numa expediccedilatildeo militar Durante o seu

reinado e do seu co-imperador Romano I Lecapeno o impeacuterio vai tomando uma postura cada

vez mais ofensiva algo verificaacutevel numa seacuterie de reformas empreendidas e na expansatildeo para

Oriente com destaque para a conquista de Melitene por Joatildeo Curcuas em 934

Cosroeacutes II (seacuteculos VI e VII) ndash Rei do Impeacuterio Sassacircnida em 590 e entre 591-628

Apoacutes o assassinato de Hormisdas seu pai em 590 o jovem Cosroeacutes II foge para a corte do

LXXXVIII

imperador Mauriacutecio em Constantinopla que o ajuda a recuperar o trono um ano depois Apoacutes

a morte do seu protetor em 602 Cosroeacutes invade o Impeacuterio Bizantino naquela que seria a

uacuteltima guerra BizantinoRomano-Persa Apesar de um iniacutecio de guerra bastante bem-

sucedido com a conquista de vastas porccedilotildees de territoacuterio bizantino a mareacute acaba por se virar

contra ele sofrendo vaacuterias derrotas agraves matildeos de Heraacuteclio Eacute deposto e assassinado pelo filho

em 628

Focas (seacuteculo VII) ndash Imperador bizantino entre 602-610 Inicialmente um oficial da

armada do Danuacutebio Focas eacute declarado imperador pelo seu exeacutercito em 602 apoacutes mais uma

tentativa falhada de Mauriacutecio de reduzir custos nas despesas do exeacutercito atacando

posteriormente Constantinopla onde depotildee e assassina Mauriacutecio Apoacutes oito anos de um

reinado bastante fraco onde para aleacutem da instabilidade interna causada pela sua falta de

legitimidade se viu frente-a-frente com uma guerra com o Impeacuterio Persa Sassacircnida e novas

invasotildees Aacutevaro-Eslavas acaba deposto e morto por Heraacuteclio em 610

Harun al-Rashid (seacuteculos VIII-IX) ndash Califa abaacutessida entre 786-809 Considerado um

dos grandes califas muccedilulmanos Harun al-Rashid conduziu vaacuterias campanhas com sucesso agrave

Aacutesia Menor obrigando Bizacircncio a pagar um pesado tributo Quando morre tem iniacutecio a

Quarta Fitna entre os seus filhos al-Amin e Al-Mamun conflito que permite ao Impeacuterio

Bizantino ter algum descanso na fronteira oriental e concentrar-se na (tentativa) de

erradicaccedilatildeo do Impeacuterio Buacutelgaro que termina em fracasso no ano de 811 com a morte de

Niceacuteforo I

Heraacuteclio (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes entre 610-640 Apoacutes ter deposto Focas em 610

Heraacuteclio consegue lentamente virar a mareacute da guerra contra os Persas e os Aacutevaros

Finalmente vitorioso em 628 Heraacuteclio consegue governar em paz ateacute 633 quando comeccedilam

os primeiros confrontos com o Califado Rashidun Apoacutes a derrota na batalha de Yarmouk em

636 Heraacuteclio abandona a Siacuteria-Palestina para fortalecer as defesas da Aacutesia Menor Quando

morre em 641 forccedilas califais sob Amr ibn lsquoal-Aas jaacute tinham conquistado alguns territoacuterios

romanos no Egipto

Joatildeo I Zimisce (seacuteculo X) ndash co-imperador bizantino entre 969 e 976 ascende ao trono

apoacutes assassinar o tio o co-imperador Niceacuteforo II Focas Apoacutes derrotar o priacutencipe russo

Svyatoslav em 971 nas batalhas de Dorostolon empreende uma seacuterie de campanhas na Siacuteria-

Palestina que expandem o territoacuterio imperial naquela regiatildeo Antes de morrer pretenderia

reconquistar Jerusaleacutem aos Fatiacutemidas

LXXXIX

Justiniano (seacuteculo VI) ndash Imperador bizantino entre 527-565 Possivelmente o mais

conhecido imperador bizantino Foi durante o principado deste augusto que o Impeacuterio

Romano do Oriente conquistou um grande nuacutemero de territoacuterios sob a alccedilada de

emblemaacuteticos generais como Belisaacuterio e Narseacutes que antes pertenciam ao Impeacuterio Romano do

Ocidente Norte de Aacutefrica Itaacutelia e uma boa parte do sul da Peniacutensula Ibeacuterica Para aleacutem desta

importante obra militar deixou ainda um legado juriacutedico relevante (com a redaccedilatildeo de uma

compilaccedilatildeo de leis denominada Corpus Iuris Iulianos) e de obras puacuteblicas como a Hagia

Sophia e a basiacutelica de Satildeo Vitalle em Ravenna Os anos finais do seu reinado ficaram

manchados pela peste pelas criacuteticas internas dos senadores e dos grandes intelectuais bem

como pelas controveacutersias eclesiaacutesticas Apesar disto agrave sua morte em 565 o Impeacuterio

Bizantino tinha atingido a sua maior extensatildeo

Justiniano II (seacuteculo VII e VIII) ndash Basileuacutes bizantino de 685 a 695 e de 705 a 711

Apesar de ter um iniacutecio de reinado algo bem-sucedido (com a conquista de territoacuterio nos

Balcatildes e uma treacutegua favoraacutevel com o califado) a derrota em Sebastoacutepolis em 693 e uma

seacuterie de conflitos com o papado e o califado vatildeo provocar um golpe de estado que o depotildee

sendo substituiacutedo por Leocircncio Dez anos apoacutes estes acontecimentos em que Bizacircncio perde

definitivamente o Norte de Aacutefrica Justiniano regressa violentamente a Constantinopla com o

apoio do khan Tervel dos Buacutelgaros e consegue recuperar o poder executando Leocircncio e o

basileuacutes Tibeacuterio Apsimar no decurso do seu regresso ao trono Apoacutes um segundo principado

cruel protagonizado pela perseguiccedilatildeo aos (ou quem ele pensava ser) seus adversaacuterios

poliacuteticos Justiniano II e o filho acabam depostos e executados pondo fim agrave dinastia

Heracliana

Leatildeo III (seacuteculo VIII) ndash Suserano bizantino entre 717 e 741 Leatildeo ascendeu ao trono

pouco antes do uacuteltimo cerco aacuterabe a Constantinopla com a deposiccedilatildeo de Teodoacutesio III pelo

theacutema dos Anatoacutelicos Entre os principais eventos do seu reinado estatildeo a derrota do cerco

aacuterabe a Constantinopla de 717-718 com recurso agrave frota agrave diplomacia agrave guerra de guerrilha e

agraves muralhas de Teodoacutesio o iniacutecio da questatildeo iconoclaacutestica que iria dividir de maior ou

menor forma a sociedade bizantina durante mais ou menos um seacuteculo ateacute ao reinado de

Miguel III e a batalha de Akroinos em 740 que se demonstra um ponto marcante no conflito

entre Aacuterabes e Bizantinos pois depois desta os primeiros nunca mais tentariam conquistar a

capital do adversaacuterio e a guerra de formal geral circunscrever-se-ia a expediccedilotildees de saque e

contra-raides

XC

Leatildeo VI (seacuteculos IX-X) ndash segundo basileuacutes Macedoacutenico reina entre 886 e 912 Apesar

de natildeo ter exercido comando dos seus exeacutercitos o seu principado encontra-se caracterizado

por episoacutedios beacutelicos marcantes como a guerra buacutelgara com Simeatildeo (894-896) a perda

definitiva da Siciacutelia com a queda de Taormina (902) e o saque de Tessaloacutenica por Leatildeo o

Tripolitano e Damiano Apesar destes desaires o impeacuterio consegue vencer noutras frentes e

impor a sua supremacia no sul de Itaacutelia e ateacute expandir o territoacuterio imperial para Oriente Eacute o

autor de dois tratados militares o Problemaacuteta e o Taktikaacute e promulgou a publicaccedilatildeo de um

novo coacutedigo de leis em continuaccedilatildeo do trabalho do pai denominado Basilica

Mauriacutecio (seacuteculos VI-VII) ndash Imperador bizantino entre 582 e 602 Ficou conhecido

por participar na guerra civil no seu mais poderoso vizinho a Peacutersia Sassacircnida onde

contribuiu para recolocar no trono o soberano legiacutetimo Cosroeacutes II pelas campanhas

vitoriosas nos Balcatildes e pela escrita de um dos mais importantes tratados militares bizantinos

o Stratēgikoacuten Apesar destes sucessos antes de conseguir confrontar a ameaccedila lombarda em

Itaacutelia eacute assassinado em conjunto com a famiacutelia pelas tropas da fronteira do Danuacutebio apoacutes

lhes ordenar que se guarnecessem para laacute daquele rio durante o inverno Eacute substituiacutedo por

Focas

Miguel III (seacuteculo IX) ndash Basileuacutes entre 842 e 867 Durante o seu principado as forccedilas

bizantinas derrotam as forccedilas muccedilulmanas dos emirados de Tarso e Melitene que permitem

estabilizar o balanccedilo de poderes na fronteira Eacute deposto e morto pelo parakoimṓmenos

Basiacutelio que o sucede como Basiacutelio I Seraacute sepultado dignamente durante o reinado de Leatildeo

VI

Muawiyia (seacuteculo VII) ndash Primeiro califa omiacuteada reina entre 661 e 680 Inicialmente

apenas governador de Damasco consegue tornar-se califa apoacutes a vitoacuteria na Primeira Fitna

(656-661) Foi um dos principais impulsionadores da criaccedilatildeo de uma marinha de guerra aacuterabe

comandou vaacuterias campanhas contra Bizacircncio e conseguiu cercar a capital bizantina em 674

Niceacuteforo I (seacuteculos VIII-IX) ndash Inicialmente logoacuteteta das financcedilas de Irene (797-802)

torna-se basileuacutes em 802 reinando ateacute 811 Durante o seu principado o Impeacuterio Bizantino

reafirmou o seu poderio na Greacutecia e nos Balcatildes Eacute considerado um dos fundadores dos

themaacuteta que teratildeo sido criados no seio de um conjunto de reformas fiscais implementadas por

ele Morre na batalha de Priska na Bulgaacuteria contra o khan Krum em 811

Niceacuteforo II Focas (seacuteculo X) ndash Domestikoacutes do Oriente de Romano II torna-se co-

imperador agrave morte deste e reina entre 963-969 Tem a cargo dele uma seacuterie de sucessos

XCI

bizantinos na regiatildeo da Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria onde destroacutei o poder dos Hamdacircnidas e

conquista Antioquia Antes de ser co-imperador logra conquistar a ilha de Creta em 961

Niceacuteforo II eacute considerado como um dos grandes organizadores militares bizantinos e satildeo-lhe

atribuiacutedos trecircs tratados militares o Praecepta Militaria sobre os novos exeacutercitos de

campanha bizantinos o De velitatione bellica sobre a guerra de guerrilha e um tratado sobre

a guerra na Bulgaacuteria

Romano IV Diogenes (seacuteculo XI) ndash Co-imperador bizantino entre 1068 e 1071 Foi um

experiente comandante militar que tentou reverter os reveses bizantinos frente aos

Turcomanos Eacute derrotado por Alp Arslan na batalha de Manzikert no seio de uma campanha

em que tentava repor uma linha defensiva na Armeacutenia Mais tarde eacute derrotado pela famiacutelia

dos Ducas cegado e encerrado num mosteiro onde viria a morrer em 1072

Sayf al-Daulah (seacuteculo X) ndash Emir hamdacircnida de Alepo entre 944 e 967 Ao longo do

seu reinado foi o inimigo mais energeacutetico de Bizacircncio e tentou desarticular o sistema

defensivo romano no limes oriental Durante a primeira metade do seu principado consegue

conduzir raides de grandes dimensotildees ao interior de territoacuterio bizantino mas apoacutes a ascensatildeo

de Niceacuteforo Focas ao cargo de domestikoacutes em 957 vecirc-se cada vez mais colocado na

defensiva Nos anos anteriores agrave sua morte vai ver o seu territoacuterio cada vez mais reduzido

com as perdas da Ciliacutecia e de Antioquia e com a cidade de Alepo (apesar de a cidadela ter

resistido) tomada e saqueada

Simeatildeo (seacuteculo X) ndash Czar buacutelgaro entre 893 e 927 Eacute um dos primeiros governantes

cristatildeos da Bulgaacuteria e dedicou-se agrave traduccedilatildeo de textos religiosos Em termos militares travou

duros combates com forccedilas bizantinas tendo-as derrotado em vaacuterias ocasiotildees como em

Bulgarophygon (896) e Acheloos (917) Tinha o sonho de conseguir criar uma dinastia

bizantino-buacutelgara mas natildeo o conseguiu realizar

XCII

b) Tratadistas e cronistas

Aeliano (seacuteculo II dC) ndash Autor grego que escreveu um importante tratado militar

chamado Περὶ Στρατηγικῶν Τάξεων Ἑλληνικῶν (laquoSobre os dispositivos taacuteticos gregosraquo) o

qual se debruccedilava sobre o exeacutercito e a forma de fazer guerra nos Estados dos Diadochii e que

teve grande influecircncia na escrita do Taktikaacute e na Idade Moderna

Arriano (seacuteculo III dC) ndash Historiador e tratadista grego eacute considerado por Alphonse

Dain como o personagem de primeiro plano entre todos os tratadistas da Antiguidade588

Redigiu vaacuterias obras ilustres como o Anabasis Alexandri que relata as campanhas do rei

macedoacutenico o Ars Tactica um importante manual de taacuteticas que descreve de forma

ambivalente as taacuteticas militares macedoacutenicas e romanas e ainda o Ἔκταξις κατὰ Ἀλανῶν (ldquoA

ordem de batalha contra os Alanosrdquo)

ldquoHeacuteron de Bizacircnciordquo (seacuteculo X) ndash Autor anoacutenimo de dois tratados militares bizantinos

sobre poliorceacutetica o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia

Leatildeo o Diaacutecono (seacuteculo X) ndash monge bizantino que escreveu a Histoacuteria que relata os

reinados e as campanhas de Niceacuteforo II Focas e Joatildeo I Tzimiskeacute

Onasandro (seacuteculo I dC) ndash filoacutesofo grego oriundo da ilha de Chipre que escreveu

um dos mais importantes tratados militares da Antiguidade o Στρατηγικός (Strategikoacutes) Esta

obra eacute uma das principais influecircncias de tratados como o Stratēgikoacuten e o Taktikaacute

Siriano magistros (seacuteculo VI IX dC) ndash autor anoacutenimo de trecircs tratados militares

bizantinos o Periacute Strateacutegias um manual militar o Naumachiacuteai obra que discute aspetos de

guerra naval e o Rhetorica Militaris que visa aspetos de oratoacuteria da arte beacutelica

588 Vide DAIN Alphonse (1967) Les strateacutegistes byzantins In Travaux et Meacutemoires 2 p331

XCIII

c) Outras personagens relevantes

lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que

teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso

Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid

comeccedilara a ganhar

Khalid ibn al-Walid (seacuteculo VII) ndash Experiente comandante aacuterabe em vaacuterios

confrontos como a batalha de Yarmuk Eacute considerado um dos principais responsaacuteveis pela

conquista muccedilulmana da Siacuteria-Palestina

Narseacutes (seacuteculo VI) ndash Um dos generais a par de Belisaacuterio mais importantes de

Justiniano durante as chamadas Guerras Goacuteticas Apoacutes a vitoacuteria em Mons Lactarius que potildee

fim ao reino dos Ostrogodos enfrenta e derrota uma coligaccedilatildeo de Francos e Alamanos na

batalha do rio Volturno em 554 onde acaba de consolidar a reconquista romana da Peniacutensula

Itaacutelica

Saporios (seacuteculo VII) ndash strategoacutes da divisatildeo do Armeniakon que se aliou a lsquoAbd al-

Rahman ibn al-Walid durante as suas campanhas na Aacutesia Menor permitindo a invasatildeo da

Aacutesia Menor pelos Omiacuteadas Depois da sua morte em 667 o Armeniakon volta para o lado de

Bizacircncio

XCIV

d) Dinastias

Aglaacutebidas Dinastia muccedilulmana da Tuniacutesia entre 800 e 909 sediada em Kairouan na

Tuniacutesia Em 827 invadem a Siciacutelia e terminam a conquista desta com a tomada de Taormina

em 902

Amoriana Dinastia bizantina que governou entre 820 e 867 Durante o periacuteodo em que

esta governou verificou-se uma estabilizaccedilatildeo da fronteira oriental graccedilas agrave criaccedilatildeo das

kleisoucircrarchiai e ao fim definitivo da questatildeo iconoclaacutestica

Hamdacircnidas Dinastia muccedilulmana do Norte da Siacuteria que atingiu o seu expoente

maacuteximo no reinado de Sayf al-Dawlah governando a Mesopotacircmia e a Ciliacutecia a partir de

Alepo

Macedoacutenica Uma das mais ilustres dinastias bizantinas governa o impeacuterio desde a

usurpaccedilatildeo de Basiacutelio I em 867 ateacute agrave morte de Teodora em 1056 Durante o seu reinado

Bizacircncio atinge a sua maior extensatildeo desde Mauriacutecio e consolida-se como a maior potecircncia

do Mediterracircneo oriental

Tuluacutenidas Dinastia muccedilulmana do Egipto entre 868 e 905

XCV

e) Organizaccedilotildees e unidades militares

Excubitores ndash contingente dos taacutegmata resultou da reorganizaccedilatildeo do regimento da

guarda imperial do mesmo nome obtendo novamente funcionalidade militar No campo de

batalha funcionavam taticamente como cavalaria

Hetaireia ndash contingente dos taacutegmata que reunia em si soldados de outras

nacionalidades como Khazars Inicialmente tratar-se-ia apenas de uma divisatildeo da Vigla

(Noumera) mas tornaram-se num corpo militar independente durante o reinado de Miguel II

Hikanatocirci ndash divisatildeo de cavalaria dos taacutegmata formada por Niceacuteforo I Era constituiacuteda

pelos filhos dos archontes da capital tendo sido criada para esse propoacutesito de forma a servir o

filho do basileuacutes Staurakios

Vigla ndash unidade da guarda imperial formada pela basilissa Irene por volta de 780 Era

composta por cavalaria

Noumera ndash Regimento dos taacutegmata que servia como guarniccedilatildeo permanente de

Constantinopla sendo por essa razatildeo constituiacutedo por infantaria

Opsikiacuteon ndash comando militar bizantino que desempenhava as funccedilotildees de guarniccedilatildeo de

Constantinopla e de exeacutercito pessoal do basileuacutes Perdeu muita da sua importacircncia apoacutes a

revolta falhada de Artavasdo em 743 tendo os taacutegmata ocupado as suas funccedilotildees

Optimates ndash regimento dos taacutegmata que se encontrava encarregue da logiacutestica

Scholaiacute ndash um dos contingentes mais importantes dos taacutegmata foi o resultado da

remilitarizaccedilatildeo do regimento da guarda imperial com o mesmo nome Militarmente eram

constituiacutedos por cavalaria O seu oficial maacuteximo era o domestikoacutes Scholae que acabaria por se

tornar no comandante maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos depois do basileuacutes

XCVI

Anexos V ndash Listas de Titulares

a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca

meacutedio-bizantina (582-1204)

Dinastia Justiniana

582-602 ndash Mauriacutecio Tibeacuterio

Natildeo Dinaacutestico

602-610 ndash Focas

Dinastia Heracliana

610-641 ndash Heraacuteclio

641 ndash Constantino III Heraacuteclio

641- Heraclonas

regecircncia de Martina

641-668 ndash Constante II

668-685 ndash Constantino IV

685-695 ndash Justiniano II

695-698 ndash Leocircncio

698-705 ndash Tibeacuterio II Absimaro

705-711 ndash Justiniano II (2ordm principado)

Natildeo Dinaacutesticos

711-713 ndash Filipico Bardaneacutes

713-715 ndash Anastaacutecio II

715-717 ndash Teodoacutesio III

XCVII

Dinastia Isauriana

717-741 ndash Leatildeo III ldquoO Isaurianordquo

741-775 ndash Constantino V ldquoO Coproacutenimordquo

775-780 ndash Leatildeo IV

780-797 ndash Constantino VI (regecircncia de Irene)

797-802 ndash Irene ldquoA Atenienserdquo

Natildeo Dinaacutestico

802-811 ndash Niceacuteforo I

811 ndash Staurakios

811-813 ndash Miguel I Rangabeacute

813-820 ndash Leatildeo V ldquoO Armeacuteniordquo

Dinastia Amoriana

820-829 ndash Miguel II ldquoO Amorianordquo

829-842 ndash Teoacutefilo

842-867 ndash Miguel III

842-856 ndash Regecircncia de Teodora

XCVIII

Dinastia Macedoacutenica

867-886 ndash Basiacutelio I O Macedoacutenico

886-912 ndash Leatildeo VI O Saacutebio

912-913 ndash Alexandre

913-959 ndash Constantino VII Porfirogeneta

913-914 ndash Regecircncia de Nicolau Miacutestico

914-920 ndash Regecircncia de Zoe Carbonopsina

920-944 ndash Co-imperador Romano I Lecapeno

959-963 ndash Romano II Porfirogeneta

963-1025 ndash Basiacutelio II Boulgaroktoacutenos (o exterminador de Buacutelgaros)

963 ndash Regecircncia de Teoacutefane

963-969 ndash Co-imperador Niceacuteforo II Focas

969-976 ndash Co-imperador Joatildeo I Zimisce

1025-1028 ndash Constantino VIII Porfirogeneta

1028-1034 ndash Romano III Argiro

1034-1041 ndash Miguel IV ldquoO Paflagoacutenicordquo

1041-1042 ndash Miguel V ldquoO Calafaterdquo

1042 ndash Zoeacute

1042-1055 ndash Constantino IX Monoacutemaco

1055-1056 ndash Teodora

Natildeo Dinaacutestico

1056-1057 ndash Miguel VI Bringas

Dinastia Comnena

1057-1059 ndash Isaac I Comneno

XCIX

Dinastia Ducas

1059-1067 ndash Constantino X Ducas

1067-1078 ndash Miguel VII Ducas

1067-1068 - Regecircncia de Eudoacutexia

1068-1071 - Co-imperador Romano IV Dioacutegenes

Natildeo-dinaacutestico

1078-1081 ndash Niceacuteforo III Botaniate

Dinastia Comnena

1081-1118 ndash Aleixo I Comneno

1118-1143 ndash Joatildeo II Comneno

1143-1180 ndash Manuel I Comneno

1180-1183 ndash Aleixo II Comneno

1183-1185 ndash Androacutenico I Comneno

Dinastia Acircngelo (dos Anjos)

1185-1195 ndash Isaac II Anjo

1195-1203 ndash Aleixo III

1204 ndash Aleixo IV

1204 ndash Aleixo V Ducas Murzuflo

C

b) Califas Aacuterabes

Califas Rashidun Califas Abaacutessidas

632-634 ndash Abu-Bakr

634-644 ndash Omar

644-656 ndash Uthman

656-661 ndash Ali

750-754 ndash Al-Saffah

754-775 ndash Al-Mansur

775-785 ndash Al-Mahdi

785-786 ndash Al-Hadi

786-809 ndash Harun al-Rashid

809-813 ndash Al-Amin

813-833 ndash Al-Mamun

833-842 ndash Al-Mutasim

842-847 ndash Al-Wathiq

847-861 - Al-Mutawakill

861-862 ndash Al-Muntasir

862-866 ndash Al-Mustarsquoin

866-869 ndash Al-Mursquotazz

869-870 ndash Al-Mutahdi

870-892 ndash Al-Mursquotamid

892-902 ndash Al-Mursquotadid

902-908 ndash Al-Muktafi

908-932 ndash Al-Muqtadir

932-934 ndash Al-Qahir

934-940 ndash Al-Radi

940-944 ndash Al-Muttaqi

944-946 ndash Al-Mustakfi

946-974 ndash Al-Muti

974-991 ndash Al-Tarsquoi

991-1031 ndash Al-Qadir

1031-1075 ndash Al-Qarsquoim

Califas Omiacuteadas 661-680 ndash Muawiyia I

680-683 ndash Yazicircd I

683-684 - Muawiya II

684-685 ndash Marwan I

685-705 ndash Abd al-Malik

705-715 - Al-Walid I

715-720 ndash Sulayman

720-724 - Yazicircd II

724-743 ndash Hisham

743-744 ndash Al-Walid II

744-750 ndash Marwan II

CI

c) Outros governantes aacuterabes

Governantes Omiacuteadas do Al-Andalus

Governadores

714-716 ndash lsquoAbd al-lsquoAziz ibn Musa

716 ndash Ayyub ibn Habib al-Lakhmi

717-719 ndash Al-Hurr ibn lsquoAbd al-Rahman al Thaqafi

719-721 ndash lsquoAl-Samh ibn Malik al-Khawlani

721 ndash Abd al-Rahman al-Ghafiqi

721-725 ndash lsquoAnbasa ibn Suhaym al-Kalbi

725-726 ndash lsquoUdhra ibn lsquoAbd Allah al-Fihri

726-728 ndash Yahya ibn Salama al-Kalbi

728-729 ndash Hudhayfa ibn al-Ahwas al-Qaysi

729 ndash lsquoUthman ibn Abi Nasr al-Khathrsquoami

729-730 ndash Al-Haytham ibn lsquoUbayd al-Kilabi

730 ndash Muhammad ibn lsquoAbd Allah al-Ashja lsquoi

730-732 ndash lsquoAbd al-Rhaman ibn lsquoAbd Allah al-Ghafiqi

732-734 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri

734-740 ndash lsquoUqba ibn al-Hajjaj al-Saluli

740-741 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri

742-743 ndash Tharsquolaba ibn Salama al-lsquoAmili

743-745 ndash Abu al-Qattar al-Husam

745-746 ndash Thawaba ibn Yazid

746-756 ndash Usuf ibn lsquoAbd al-Rahman al-Fihri

Instauraccedilatildeo do Emirato Omiacuteada

822-852 ndash lsquoAbd al-Rahman II

852-886 - Muhammad I

886-888 ndash Al-Mundhir

888-912 ndash lsquoAbd Allah

912-929 ndash lsquoAbd al-Rahman III

lsquoAbd al-Rahman III eacute proclamado califa

Califas Omiacuteadas

929-961 ndash lsquoAbd al-Rahman III

961-976 ndash Al-Hakam II

976-1009 ndash Hisham II

1009 ndash Muhammad II

1010-1013 ndash Hisham II

1013-1018 ndash Sulayman al-Mustarsquoin

1018-1023 ndash lsquoAbd al-Rahman IV al-Murtada

1023-1024 ndash Abd al-Rahman V al-Mustazhir

1024-1027 - Muhammad III al-Mustakfi

1027-1031 ndash Hisham III al-Mursquotadd

Fim da dinastia iniacutecio do primeiro periacuteodo

de reis de taifa

Emires Omiacuteadas

756-788 ndash lsquoAbd al-Rahman I

788-796 ndash Hisham I

796-822 ndash Al-Hakam I

CII

Governantes Almoraacutevidas e Almoacuteadas

Almoraacutevidas (emires) Almoacuteadas (califas)

Primeiro periacuteodo dos reinos de taifa

1061-1106 ndash Yusuf ibn Tashufin

1106-1142 ndash Ali

1143-1145 ndash Tashufin

1146 ndash Ibrahim

1146-1147 ndash Ishaq

1130-1163 ndash lsquoAbd al-Mursquomin

1163-1184 ndash Abu Yarsquoqub Yusuf

1184-1199 ndash Abu-Yusuf Yarsquoqub al-Mansur

1199-1214 ndash Muhammad al-Nasir

Governantes Aglaacutebidas

812-817 ndash lsquoAbd Allah

817-838 ndash Ziyadat Allah I

838-841 ndash Abu lsquoIqal al-Aghlab

841-856 ndash Muḥammad I

856-863 ndash Aḥmad

863 - Ziyadat Allah II

863-875 ndash Abu rsquol-Gharaniq Muḥammad II

875-902 ndash Ibrahim II

902-903 ndash lsquoAbd Allah II

CIII

d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria

739-756 ndash Kormisos

756-ca761 ndash Vinekh

Ca 761-764 ndash Telec

Ca 764-767 ndash Sabin

767 ndash Umar

767-ca769 ndash Toktu

770 ndash Pagan

Ca 770 ndash 777 ndash Telerig

777-ca803 ndash Kardam

Ca 803-813 ndash Krum

814-831 ndash Omurtag

831-836 ndash Malamir

836-852 ndash Presiam

852-889 ndash Boacuteris I

889-893 ndash Vladimir

893-927 ndash Simeatildeo

927-967 ndash Pedro

967-971 ndash Boacuteris II

976-986 ndash Cometopuli Aratildeo Moiseacutes David e Samuel

986-1014 ndash Samuel

1014-1015 ndash Gabriel Radomir

1015-1019 ndash Joatildeo Vladislav

Conquista Bizantina de Basiacutelio II

CIV

e) Priacutencipes de Rus

ndash 945 ndash Igor

945-972 ndash Svyatoslav

972-978 ndash Yaropolk

978-1015 ndash Vladimir I

1015-1019 ndash Svjatopolk

1019-1036 ndash Msistlav

1036-1054 ndash Yaroslav I

1054-1057 ndash Vyacheslav

1057-1060 ndash Igor

1060-1076 ndash Svjatoslav II

1076-1078 ndash Izyaslav

1078-1093 ndash Vsevolod

1093-1113 ndash Svjatopolk II

1113-1115 ndash Oleg

1115-11123 ndash Yaroslav II

1123-1125 ndash Vladimir II

1125-1132 ndash Mstislav-Harald

1132-1139 ndash Yaropolk II

1139-1157 ndash Yuri Dolgoruky

CV

f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia

Reis Lombardos

568-572 ndash Alboim

572-574 ndash Clefo

574-584 - Interregno

584-590 ndash Autari

590-616 ndash Agilolfo

616-626 ndash Adaloaldo

626-636 ndash Arioldo

636-652 ndash Rotaacuterio

652 ndash Rodoaldo

652-661 ndash Ariberto I

661-662 ndash Godeberto Perctarit

662-671 ndash Grimoaldo

671-688 ndash Perctarit

688-700 ndash Cuniperto

700 ndash Liutberto

700-712 ndash Ariberto II

712 ndash Ansprando

713-744 ndash Liutprando

744 ndash Hildebrando

744-749 ndash Ratchis

749-756 ndash Astolfo

756-774 ndash Desideacuterio

CVI

Duques e Priacutencipes (a partir de 774) de Benevento

571-591 ndash Zotto

591-641 ndash Arechis I

641-642 ndash Aio I

642-646 ndash Radoaldo

646-662 ndash Grimoaldo I

662-687 ndash Romoaldo I

687-692 ndash Grimoaldo II

692-706 ndash Gisulfo

706-730 ndash Romoaldo II

730-732 ndash Audelaio

732-739 ndash Gregoacuterio

739-742 ndash Godescalco

742-751 ndash Gisulfo II

751-758 ndash Liutprando

758-787 ndash Arichis II

787-806 ndash Grimoaldo III

806-817 ndash Grimoaldo IV

817-833 ndash Sico

833-839 ndash Sicardo

839-851 ndash Radeacutelchio I

839-849 ndash Siquenolfo

851-853 ndash Radelgar

853-878 ndash Adeacutelchio

878-881 ndash Gaideacuterio

881-884 ndash Radeacutelchio II

884-891 ndash Aio II

891-892 ndash Urso

895-897 ndash Guido IV de Espoleto

897-900 ndash Radeacutelchio II

900-910 ndash Atenolfo I

910-940 ndash Atenolfo II

910-943 ndash Landolfo I

933-943 ndash Atenolfo III

939-961 ndash Landolfo II

959-968969 ndash Landolfo III

961-981 ndash Pandolfo I

96869-982 ndash Landolfo IV

982-1014 ndash Pandolfo II

987-1033 ndash Landolfo V

1011-1060 ndash Pandolfo III

1038-1077 ndash Landolfo VI

1054-1074 ndash Pandolfo IV

Conquista Normanda do Ducado

CVII

Priacutencipes de Salerno Princiacutepes de Caacutepua

853-856 ndash Pedro

856-861 ndash Ademaro

861-880 ndash Guaifer

880-900 ndash Guaimar I

900-946 ndash Guaimar II

946-977 ndash Gisulfo I

977-981 ndash Pandolfo I

981-983 ndash Manso e Joatildeo I

983-989 ndash Joatildeo II

989-1027 ndash Guaimar III

1027-1052 ndash Guaimar IV

1052-1077 ndash Gisulfo II

Conquista Normanda do Principado

887-910 ndash Atenolfo I

910-940 ndash Atenolfo II

910-943 ndash Landolfo I

933-943 ndash Atenolfo III

939-961 ndash Landolfo II

959-968969 ndash Landolfo III

961-981 ndash Pandolfo I

96869-982 ndash Landolfo IV

982-993 ndash Ladenolfo

993-999 ndash Laidolfo

1000-1007 ndash Landolfo V

1007-1022 ndash Pandolfo II

1014-1026 ndash Pandolfo III

1016-1049 ndash Pandolfo IV

1020-1057 ndash Pandolfo V

1022-1026 ndash Pandolfo VI

1047-1058 ndash Landolfo VI

1049-1057 ndash Pandolfo IV

Conquista Normanda do Ducado

CVIII

Duques de Espoleto

580-592 ndash Faroaldo I

592-601 ndash Ariulfo

601-653 ndash Teudelaacutepio

653-663 ndash Ato

663-703 ndash Trasamundo I

703-724 ndash Faroaldo II

724-739 ndash Trasamundo II

739-740 ndash Hilderico

740-742 ndash Trasamundo II

742-744 ndash Agiprando

744-745 ndash Trasamundo II

745-752 ndash Lupo

752-756 ndash Astolfo (rei dos Lombardos)

756-757 ndash Ratchis

757-759 ndash Alboiacuteno

758-759 ndash Desideacuterio (rei dos Lombardos)

758-763 ndash Gisulfo

763-773 ndash Teodiacutesio

774-788 ndash Hildebrando

789-822 ndash Guinisigio I

822-824 ndash Supatildeo I

824 ndash Adelardo

824 ndash Mauringo

824-834 ndash Adeacutelchio I

834-836 ndash Lamberto I de Nantes

836-841 ndash Berengaacuterio de Espoleto

842-860 ndash Guido I de Espoleto

860-871 ndash Lamberto I de Espoleto

871 ndash Supatildeo II

871-874 ndash Supatildeo III

875-880 ndash Lamberto I de Espoleto

880-883 ndash Guido III

883-889 ndash Guido II

889-897 ndash Guido IV

898-922 ndash Alberico

923-928 ndash Bonifaacutecio I

924-928 ndash Pedro

929-936 ndash Teobaldo

937-940 ndash Anscaacuterio II

940-943 ndash Sarleatildeo

943-946 ndash Uberto de Espoleto

946-953 ndash Bonifaacutecio II

953-959 ndash Teobaldo II

959-967 ndash Trasimundo III

966-1001 ndash Conrado de Ivreia

967-981 ndash Pandolfo I Cabeccedila-de-ferro

982-989 ndash Trasimundo IV

999- ndash Ademaro

1003- ndash Romano

1010-1020 ndash Ranieri da Toscacircnia

1020-1035 ndash Hugo II

1036-1043 ndash Hugo III

1043-1056 ndash Controlo do Marquesado da

Toscacircnia

1057-1070 ndash Godofredo III da Lorena

1070-1082 ndash Controlo do Marquesado da

Toscacircnia

CIX

Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico

a) Termos militares e navais

Baacutendon (pl bandaacute) ndash Unidade taacutetica baacutesica de um exeacutercito bizantino De acordo com o

Taktikaacute deveria ter entre 200 a 400 homens

Cheirosiacutefona ndash meio de projetar ou atirar fogo greguecircs Possivelmente um sifatildeo manual

Chelandia ndash Nave de Guerra bizantina que teria esse nome por inicialmente ter

capacidade de transporte de montadas

Comitatenses ndash soldados dos exeacutercitos moacuteveis tardo-romanos

Decarca ndash Comandante de uma decarquia ou de uma fila de soldados

Droacutemōn pl Droacutemōnes ndash designaccedilatildeo geral para os vasos de guerra bizantinos No seacuteculo

X era usado a par da chelandia como o principal termo designativo para os navios de guerra

efetiva

Ekdiacutekoi ndash Tambeacutem chamados de ldquodefensoresrdquo eram os cavaleiros responsaacuteveis por apoiar

os kouacutersores caso estes necessitassem de retirar

Fogo greguecircs ndash Substacircncia inflamaacutevel utilizada como arma pelos Bizantinos

especialmente em contextos navais Apesar de ainda natildeo se conhecer a sua composiccedilatildeo na

totalidade sabe-se que pelo menos contaria com oacuteleo crude e resina nesta Uma das suas

propriedades principais seria a ineficaacutecia da aacutegua em apagar o fogo provocado por este

composto

Fulcrum ndash Dispositivo taacutetico anti-cavalaria Neste as trecircs primeiras fileiras de infantaria

erguiam os escudos e apoiavam as lanccedilas no chatildeo de forma a trespassar o peito dos cavalos

Galea ndash pequeno navio designado essencialmente para funccedilotildees de recolha de informaccedilatildeo

e de reconhecimento

Ghazi ndash Soldado voluntaacuterio religioso muccedilulmano As expediccedilotildees cilicianas em particular

as de veratildeo contavam com muitos guerreiros deste geacutenero

CX

Hypostrategoacutes ndash Comandante da segunda touacuterma de um theacutema e segundo homem com

mais poder do exeacutercito ldquotemaacuteticordquo

Kaballarika themaacuteta ndash Atribuiccedilatildeo dada agraves forccedilas dos themaacuteta por estes serem

constituiacutedos maioritariamente de tropas da cavalaria ligeira

Karagos ndash Recinto defensivo formado in promptu pelas carroccedilas do trem-de-apoio

Keacutentarcos ndash Capitatildeo de um droacutemōn

Kouacutersores ndash Numa formaccedilatildeo de cavalaria eram os soldados responsaacuteveis por carregar e

atacar o inimigo

Kleisocircura pl kleisocircurai ndash Pequenos distritos que serviam para proteger as regiotildees mais

orientais do impeacuterio e garantir a vigia dos desfiladeiros das cordilheiras do Tauro e do

Antitauro contra expediccedilotildees aacuterabes Teratildeo sido criados durante o reinado de Teoacutefilo (829-

842) e na segunda metade do seacuteculo X convertidos em laquopequenos themaacutetaraquo

Klibaacutenion ndash Armadura lamelar

Laisaacute pl Laisacirci ndash Estrutura amoviacutevel leve e de faacutecil construccedilatildeo que servia como abrigo

aos soldados atacantes durante um assalto a uma muralha Tambeacutem podia ser colocada no

topo de uma torre para proteger arqueiros e maacutequinas de guerra de projeacuteteis inimigos

Limitanei ndash soldados dos impeacuterios tardo-romanos que serviam como guarniccedilatildeo de postos

fronteiriccedilos e policiamento nessas regiotildees

Loriacutekia ndash Cota-de-malha

Minsouratores ndash Batedores responsaacuteveis por encontrar um siacutetio para construir um

acampamento

Ouraacutegos ndash soldado que ocupava o final de uma fila podendo ser um tetrarca ou ainda que

com certas suspeitas um pentarca (de acordo com o Taktikaacute)

Pamphylos ndash pequena embarcaccedilatildeo bizantina destinada inicialmente a transportar tropas

mais tarde passou a ser usada como navio de guerra O seu nome proviria da regiatildeo de

CXI

Panfiacutelia ou pelo facto de ser tripulado por uma equipa de indiviacuteduos escolhidos de todo o

impeacuterio589 No Taktikaacute eacute o nome atribuiacutedo ao navio do comandante da frota

Pentarca - Numa decarquia eacute o oficial responsaacutevel por comandar dez homens

Proacutemachos ndash Linha da frente numa formaccedilatildeo em trecircs linhas

Skoutatoacutes pl Skoutatoacutei ndash Soldado de infantaria pesada

Saka ndash Nome de origem aacuterabe utilizado para referenciar a retaguarda de um exeacutercito

bizantino

Sifonaacutetor ndash Numa embarcaccedilatildeo era o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de ldquofogo greguecircsrdquo

Strateiacutea ndash Obrigaccedilatildeo ao serviccedilo militar Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino a sua posse

esteve dividida entre o indiviacuteduo e a propriedade (a partir do seacuteculo X) consoante os

interesses do Estado O serviccedilo militar no entanto natildeo precisava de ser ativo sendo muitas

vezes feito por meio de apoio financeiro e logiacutestico a um soldado A partir dos meados do

seacuteculo X a strateiacutea passa a ser cumprida atraveacutes de comutaccedilatildeo monetaacuteria em vez de serviccedilo

efetivo em campanha de forma ao Estado poder pagar o equipamento dos taacutegmata

fronteiriccedilos e agrave contrataccedilatildeo de mercenaacuterios

Stratioacutetes pl Stratioacutetai ndash Cidadatildeo bizantino que possuiacutea strateiacutea

Stratiotikagrave kteacutemata ndash Terras militares ou ldquoestratioacuteticasrdquo ou seja que tinham imbuiacutedas

nela a strateiacutea Comeccedilam a existir oficialmente apoacutes as reformas de Constantino VII no

seacuteculo X que formalizam a posse de strateiacutea pelo terreno e natildeo pelo indiviacuteduo

Stratiouacutemenos ndash Soldado bizantino cujo equipamento montada e provisotildees eram

fornecidos pela strateiacutea mesmo que este natildeo a tivesse

Taacutegma pl Taacutegmata (contingentes) ndash Organizaccedilotildees das forccedilas militares bizantinas

criadas durante o reinado de Constantino V de forma a garantir a seguranccedila dos basilecircis em

caso de insurreiccedilatildeo de outro corpo militar Foram criadas pela remilitarizaccedilatildeo dos regimentos

das guardas palatinas bizantinas que teriam apenas funccedilotildees cerimoniais neste periacuteodo De

589 O nome da embarcaccedilatildeo ser a junccedilatildeo das palavras ldquoπᾶνrdquo (ldquopanrdquo) que significa todas e ldquoφῦλονrdquo (Lecirc-se

ldquopfiulonrdquo) grupos ou tribos

CXII

forma a garantir a sua lealdade eram extremamente bem pagos e o seu equipamento era

providenciado pelo Estado e bem treinados o que lhes permitiu tornarem-se mais tarde nos

corpos de elite do Impeacuterio Bizantino e assim na coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha

de Constantinopla

Techniacutetai -ndash Oficiais bizantinos especializados em guerra de cerco Entre as suas

valecircncias estatildeo a manobra a construccedilatildeo e a subsistecircncia de maacutequinas de cerco bem como a

construccedilatildeo e manutenecircncia de recintos fortificados

Tetrarca ndash Comandante de quatro homens dentro de uma decarquia podia ser tambeacutem o

ouraacutegos

Theacutema pl Themaacuteta ndash Circunscriccedilotildees territoriais bizantinas e tambeacutem os exeacutercitos nelas

guarnecidos Apesar de uma origem muito discutiacutevel acredita-se agora mais seguramente

que teratildeo sido criadas nos iniacutecios do seacuteculo IX como forma de garantir apoio logiacutestico

melhorado aos strategoacutes ao facilitarem a relaccedilatildeo entre o poder militar e civil atraveacutes de um

oficial o protonotaacuterios Os exeacutercitos dos themaacuteta comeccedilam a perder importacircncia a partir dos

finais do seacuteculo X uma vez que o Estado comeccedila a preferir contratar tropas mercenaacuterias mais

eficientes e assim melhor direcionadas para campanhas ofensivas

laquoThemaacuteta armeacuteniosraquo (ou pequenos themaacuteta) ndash Themaacuteta pequenos criados no limes

oriental durante a segunda metade do seacuteculo X de forma a garantir a proteccedilatildeo de territoacuterios

recentemente conquistados e para garantir a raacutepida mobilizaccedilatildeo de soldados para campanhas

(cada vez mais ofensivas nessas regiotildees) Eram chamados tambeacutem de laquoarmeacuteniosraquo por a maior

parte dos seus soldados serem dessa nacionalidade

Thematikoiacute ndash Soldados dos themaacuteta

Thugucircr ndash Centros urbanos de cariz militar que serviam como base para as expediccedilotildees de

saque bizantinas Os mais importantes eram Tarso Melitene e Antioquia

Touacuterma pl Touacutermai (distrito) ndash divisotildees geograacuteficas dos themaacuteta Em tempos de

campanha um conjunto de soldados desta regiatildeo perfazia uma unidade taacutetica do exeacutercito

ldquotemaacuteticordquo

Touacuterma pl Touacutermai (unidade taacutetica) ndash Unidade taacutetica do exeacutercito bizantino Deveria

possuir entre mil soldados a seis mil (o uacuteltimo valor de acordo com o Taktikaacute)

CXIII

Toxobaliacutestrai ndash Maacutequina de guerra de torccedilatildeo que disparava dardos que eram apelidados

de ldquomoscasrdquo ou ldquoratosrdquo Podia ser colocada na proa de um navio ou em vagotildees para servir de

arma campal

CXIV

b) Tiacutetulos

Autokraacutetor ndash tiacutetulo designativo de governante para Leatildeo VI e Alexandre

Basileuacutes pl Basileicircs ndash tiacutetulo designativo para os governantes de Bizacircncio a partir de

Heraacuteclio (610-641)

Czar ndash tiacutetulo designativo para os imperadores buacutelgaros a partir da conversatildeo daquele

Estado ao Cristianismo em 864

Domestikoacutes ndash Eram os oficiais principais da maior parte dos taacutegmata agrave excepccedilatildeo da Vigla

que tinha um droungaacuterios

Domestikoacutes Scholae ndash Principal comandante militar das forccedilas bizantinas depois do

basileuacutes A partir de Romano I Lecapeno passam a existir dois um para as proviacutencias

ocidentais e outro para as orientais

Droungaacuterios totilden ploiumlmon ndash Almirante da frota imperial sediada em Constantinopla e

que exercia funccedilotildees civis relacionadas com o mar

Kleisouraacutercha ndash O principal oficial de uma kleisocircura

Koacutemes ndash Tiacutetulo que poderia ter vaacuterias atribuiccedilotildees No contexto militar poderia ser um

ajudante do strategoacutes ou o liacuteder de um bandaacute

Koacutemes (do Opsikiacuteon) ndash Oficial maacuteximo do comando militar do Opsikiacuteon

Kouropalaacutetēs - alto dignitaacuterio responsaacutevel pelas construccedilotildees de novas secccedilotildees e

organizaccedilatildeo do palaacutecio imperial inferior na hierarquia apenas ao ceacutesar e ao nobiliacutessimos

Manglabiacutetēs - Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas

portas no palaacutecio

Prōtonotaacuteriosndash principal oficial civil nos themaacuteta que comeccedila a aparecer em fontes do

seacuteculo IX para a frente Estava responsaacutevel natildeo soacute pela coordenaccedilatildeo dos cobradores de

impostos imperiais naquelas circunscriccedilotildees mas tambeacutem pelo aprovisionamento dos exeacutercitos

provinciais bizantinos servindo como principal elo de ligaccedilatildeo entre o strategoacutes e o

logotheacutesion

CXV

Protostraacutetor ndash Oficial responsaacutevel pelos estaacutebulos imperiais

Protovestiaacuterio - Inicialmente oficial responsaacutevel pelo guarda-roupas imperial Nos

seacuteculos IX e X poderia comandar exeacutercitos bizantinos

Spathaacuterios ndash tiacutetulo dignitaacuterio Antes do seacuteculo X era designativo dos guarda-costas do

imperador

Strategoacutes pl Strateacutegoi ndash Oficial maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos ateacute ao seacuteculo IX A

partir desse seacuteculo comeccedila tambeacutem a supervisionar o poder civil a partir de outro oficial o

protonotaacuterio

Turmarca ndash Oficial responsaacutevel por liderar uma touacuterma

CXVI

c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura

Constitutio pl Constitutiones ndash Denominaccedilatildeo dos ldquocapiacutetulosrdquo ou ldquolivrosrdquo do Taktikaacute Eacute

um decreto imperial sob a forma de uma letra pessoal que pretendia informar o recetor de

novas ordens ou instruccedilotildees O Taktikaacute ao estar seccionado neste tipo de documentos

apresenta-se como um conjunto de instruccedilotildees enviadas aos strateacutegoi pelo basileuacutes Leatildeo VI

Dispositio ndash Elemento do modelo tripartido que aborda as medidas a serem tomadas para

resolver certo problema

Epilogus ndash Divisatildeo de um documento legislativo que aborda os conteuacutedos do mesmo

Intitulatio ndash Elemento do modelo tripartido que invoca o nome do imperador e os seus

tiacutetulos

Inscriptio ndash Nome do destinataacuterio da obra legislativa

Invocatio ndash Elemento da primeira parte do modelo tripartido de uma obra legislativa que

invoca a Santa Trindade

Naumachikaacute - Geacutenero de tratadiacutestica antigo-bizantina que explica como praticar guerra

naval

Narratio ndash Secccedilatildeo de um documento legislativo onde eacute retratada a natureza do problema

a ser resolvido

Poliorketikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina descreve meacutetodos e engenhos que

permitem atacar ou defender fortalezas com sucesso

Strategemataacute - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que reporta estratagemas maacuteximas

e erudiccedilotildees militares

Strategikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que apresenta princiacutepios gerais da arte

de comandar

Strategikoacuten ndash Tratado militar bizantino possivelmente redigido pelo imperador Mauriacutecio

(582-602) eacute considerado como um dos mais importantes e influentes manuais militares

bizantinos tendo influenciado vaacuterios tratados posteriores como por exemplo o Taktikaacute

CXVII

Taktikaacute (disciplina) - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que aborda o

posicionamento e a manobra de forccedilas no campo de batalha Este geacutenero define igualmente

terminologias taacuteticas

Taktikaacute (tratado) ndash Tratado militar bizantino escrito por Leatildeo VI (886-912) Eacute

considerado por vaacuterios autores como o tratado inaugural do segundo periacuteodo de produccedilatildeo

tratadiacutestica bizantina (seacuteculos X e XI)

CXVIII

d) Povos

Aacuterabes ndash Povo indiacutegena da Peniacutensula Araacutebica que apoacutes a unificaccedilatildeo sob o profeta

Maomeacute inicia um processo de expansatildeo territorial ao comando dos califas No seguimento da

derrota dos Bizantinos e dos Persas em 636 o Califado torna-se a principal potecircncia poliacutetico-

militar do Proacuteximo e do Meacutedio Oriente estatuto que soacute viraacute a perder no seacuteculo X para os

Bizantinos e para o califado xiita dos Fatiacutemidas

Armeacutenios - Povo oriundo da Armeacutenia uma regiatildeo a sul do Caacuteucaso Satildeo de extrema

relevacircncia para o Impeacuterio Bizantino por terem sido recrutados como mercenaacuterios e auxiliares

para os seus exeacutercitos Como povo autoacutenomo estiveram sempre envolvidos nos jogos

diplomaacuteticos entre Bizacircncio e os Persas Sassacircnidas inicialmente e com os califados aacuterabes

mais tarde que se digladiavam para obter o apoio dos principados daquela regiatildeo

Bizantinos ndash Designaccedilatildeo para os habitantes do Impeacuterio Bizantino durante a sua duraccedilatildeo

na historiografia atual Nas fontes histoacutericas deste ldquopovordquo esta designaccedilatildeo parece ser apenas

usada para os habitantes de Constantinopla No geral e nas suas fontes escritas este povo

designava-se como romano

Buacutelgaros ndash Inicialmente um povo semi-noacutemada da estepe euro-asiaacutetica formaram uma

confederaccedilatildeo com vaacuterios povos eslavos a sul do Danuacutebio e na Traacutecia por volta de 681 Ao

longo da duraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino existiram dois impeacuterios buacutelgaros o primeiro de 681 a

1018 ano da conquista dos uacuteltimos territoacuterios buacutelgaros por Basiacutelio II e o segundo de 1185 a

1386 data da conquista final da Bulgaacuteria pelos Turcos Otomanos

Magiares ndash Povo fino-uacutegrico que habitava na Estepe Euroasiaacutetica que foi a principal

potecircncia diretamente a norte do Danuacutebio na segunda metade do seacuteculo IX Apoacutes a sua

expulsatildeo desses territoacuterios agraves matildeos dos Pechenegues no rescaldo da guerra entre Leatildeo VI e

Simeatildeo da Bulgaacuteria fugiram para a Panoacutenia de onde lanccedilaram os seus raides sobre a Bulgaacuteria

e a Europa Ocidental e onde formariam o reino da Hungria

Lombardos ndash Povo germacircnico que no seacuteculo VI invadiu a Peniacutensula Itaacutelica pouco depois

da reconquista bizantina da mesma Foram a principal potecircncia italiana (quer pelo seu reino

no Norte ou pelos principados independentes do Sul) ateacute agrave conquista do reino da Lombardia

por Carlos Magno no iniacutecio no seacuteculo VIII e agrave chegada dos Aglaacutebidas ao sul de Itaacutelia e

posterior revitalizaccedilatildeo dos interesses bizantinos na peniacutensula nos meados do seacuteculo IX

CXIX

Russos ndash Povos de origem escandinava que durante o seacuteculo IX se confederaram com

povos eslavos que habitavam na zona onde hoje se localiza a Ucracircnia e fundaram uma

entidade poliacutetica o Principado do Rusrsquo

CXX

e) Outros termos

Demoacutesion ndash imposto base

Iconoclasmo ndash Doutrina religiosa que defende o fim ao culto de imagens que gerou

periacuteodos de tensatildeo teoloacutegica e poliacutetica em Bizacircncio por duas vezes uma primeira de 726 a

787 quando eacute repudiada no VII Conciacutelio Ecumeacutenico de Niceia e o segundo de 813 a 843

quando o culto das imagens eacute restaurado definitivamente por Miguel III num siacutenodo

Jihad ndash Um dos pilares dos Islatildeo que significa ldquocombaterdquo ou ldquoesforccedilordquo Apesar de ter

vaacuterios significados pode ser a luta de superaccedilatildeo individual de um muccedilulmano para se tornar

numa pessoa ou num crente melhor ou apesar de natildeo ser tatildeo frequente nesse sentido uma

forma de proteger a religiatildeo islacircmica ou espalhaacute-la por vaacuterios meios em especial pelos

militares

Kapnikoacuten ndash imposto sobre as famiacutelias

Logotheacutesion ndash departamento financeiro em Bizacircncio Existiam vaacuterios destes

departamentos no impeacuterio para as mais variadas aacutereas (militares agriacutecolas civis entre

outras)

Koacutedikes ndash Livros de registo No caso dos logotheacutesion dos themaacuteta listavam informaccedilatildeo

sobre os seus soldados bem como de quem possuiacutea strateiacutea

Paulicianismo ndash seita hereacutetica do Cristianismo oriental que praticava o iconoclasmo e

tinha raiacutezes no Maniqueiacutesmo Formou um ldquoEstadordquo na Anatoacutelia oriental em meados do

seacuteculo IX que foi destruiacutedo por Basiacutelio I em 879

Roga ndash Salaacuterio monetaacuterio

Vexilationes ndash laquofeitos malvadosraquo Eacute a designaccedilatildeo de Teoacutefanes o Confessor para um

conjunto de reformas de Niceacuteforo I que hoje se discutem terem sido fundamentais para

formaccedilatildeo do sistema dos themaacuteta e que foram muito mal vistas pelo clero de entatildeo

Waqf - Doaccedilotildees caridosas islacircmicas que no contexto da guerra no limes oriental podiam

servir para pagar o equipamento e os soldos dos soldados dos al-thugucircr

CXXI

Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico

a) Regiotildees

Apuacutelia ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia que faz fronteira com a Calaacutebria e que eacute banhada a

oriente pelo Mar Adriaacutetico Possui cidades importantes para Bizacircncio no periacuteodo em estudo

como Tarento e especialmente Bari Atualmente eacute o nome da regiatildeo italiana do mesmo

nome e tem a sua capital na comuna de Bari

Armeacutenia ndash regiatildeo montanhosa localizada a sul da cordilheira do Caacuteucaso Tinha grande

valor estrateacutegico pois permitia alcanccedilar a Aacutesia Menor e o Iraque sem atravessar o deserto da

Siacuteria foi sempre contestada pelas principais potecircncias regionais (Roma e Peacutersia Sassacircnida e

Bizacircncio e Califado mais tarde) Atualmente esta zona encontra-se dividida entre vaacuterios

paiacuteses Armeacutenia Azerbaijatildeo Turquia Iratildeo e Geoacutergia

Aacutesia MenorAnatoacutelia ndash Peniacutensula localizada na Aacutesia ocidental rodeada pelo Mar

Mediterracircneo a sul e pelo Mar Negro a norte Durante grande parte do periacuteodo meacutedio-

bizantino foi fundamental para a defesa e economia do Impeacuterio Bizantino e foi aqui que a

maior parte dos combates entre Bizantinos e Aacuterabes se travaram Apesar disto os Bizantinos

perderam o controlo completo sobre a regiatildeo entre 1071 a batalha de Manzikert e 1081 ano

da ascensatildeo da dinastia Comnena quando uma seacuterie de tribos turcomanas se fixaram planalto

central Bizacircncio foi definitivamente expulsa da Anatoacutelia em 1337 com a perda de

Nicomeacutedia Atualmente esta regiatildeo faz parte da Turquia

Calaacutebria ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia localizada no lado oriental do estreito de Messina

Durante os reinados de Basiacutelio I e Leatildeo VI foi disputada pelos Bizantinos pelos Ducados

Lombardos e pelos receacutem-chegados Aacuterabes do Norte de Aacutefrica Atualmente eacute o nome da

regiatildeo italiana do mesmo nome com capital em Catanzaro

Ciliacutecia ndash Trato territorial que une a Aacutesia Menor agrave Siacuteria-Palestina Estaacute delimitada pelas

cordilheiras do Tauro e do Antitauro a norte e pelo mar Mediterracircneo a sul Durante o periacuteodo

em estudo era nesta aacuterea que estavam localizados os thugucircr os distritos militares

muccedilulmanos que protegiam o territoacuterio do califado e mais tarde dos emirados de expediccedilotildees

bizantinas e de onde partiam as razias muccedilulmanas A cidade mais importante da Ciliacutecia era

CXXII

Tarso Na contemporaneidade esta regiatildeo faz parte da Turquia denomina-se Ccedilukurova e estaacute

dividida em quatro proviacutencias Mersin Adana Osmaniye e Hatay

Ifriacutequia ndash Atribuiccedilatildeo medieval muccedilulmana ao territoacuterio da atual Tuniacutesia principalmente

Mesopotacircmia ndash Regiatildeo localizada a nordeste da Ciliacutecia que tambeacutem reunia um grande

conjunto de thugucircr dos quais se destacava Melitene Estaacute atualmente dividida entre a Siacuteria e a

Turquia

Siacuteria-Palestina ndash Corredor territorial localizado no Proacuteximo Oriente Estaacute dividido

topograficamente em trecircs regiotildees as zonas costeiras do litoral uma zona montanhosa ao

centro e a maior parte pelo deserto da Siacuteria Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino esta zona

esteve maioritariamente nas matildeos dos califados aacuterabes da Siacuteria Iraque e Egito e de alguns

emirados muccedilulmanos na regiatildeo Registou-se tardiamente uma ressurgente presente

bizantina (entre os seacuteculos X-XI) e a existecircncia dos chamados laquoestados Cruzadosraquo no litoral

(seacuteculos X-XIII) Atualmente esta regiatildeo estaacute dividida entre os seguintes paiacuteses Siacuteria

Palestina Israel Liacutebano Jordacircnia e Turquia

Siciacutelia ndash Ilha localizada no Mediterracircneo central e essencial para o controlo da passagem

das duas passagens do Mar Mediterracircneo Esteve em posse bizantina ateacute agrave conquista de

Taormina pelos Aglaacutebidas em 902 no reinado de Leatildeo VI passando depois ao controlo de

vaacuterias entidades emirado Aglaacutebida califado Fatiacutemida principados normandos domiacutenio

alematildeo francecircs entre outros Atualmente eacute uma regiatildeo autoacutenoma italiana cuja capital eacute

Palermo

CXXIII

b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc)

Bucelaacuterios ndash Novo distrito militar que comeccedila a aparecer nas fontes a partir de 766

resultante da divisatildeo dos territoacuterios do comando do Opsikiacuteon apoacutes a revolta de Artavasdo

Kibirrhaiotai ndash Territoacuterio sob a posse do themaacuteta mariacutetimo com o mesmo nome

localizado no sul da Aacutesia Menor formado em 732 tinha a sua capital em Antaacutelia (atualmente

Antalya na Turquia)

Mar Egeu (theacutema) ndash Theacutema naval que reunia como o nuacutemero indica vaacuterias ilhas do Mar

Egeu No periacuteodo em estudo o seu quartel-general estava em Lesbos

Opsikiacuteon ndash Distrito militar que pertencia ao corpo militar do mesmo nome Inicialmente

compreendia territoacuterios no noroeste da Aacutesia Menor e na Traacutecia mas no final do seacuteculo VIII jaacute

soacute tinha uma fraccedilatildeo desse territoacuterio estando os restantes entregues a outros distritos

Bucelaacuterios Optimaton e Traacutecia

Optimates ndash Territoacuterio no noroeste da Aacutesia Menor que pertenceu ao Opsikiacuteon ateacute 773

ano em que se formou um novo distrito militar apoacutes uma nova revolta do corpo militar do

Opsikiacuteon

Samos (theacutema) ndash Theacutema naval bizantino responsaacutevel pelas ilhas do Mar Egeu oriental e

da costa ocidental anatoacutelica A sua base de operaccedilotildees era Esmirna (atual İzmir na Turquia

oriental)

CXXIV

c) Centros populacionais (cidades vilas etc) e fortificaccedilotildees

Amorion ndash Importante cidade da Aacutesia Menor que serviu como capital do theacutema do

Anatolikoacuten ateacute agrave sua destruiccedilatildeo durante uma expediccedilatildeo de saque muccedilulmana em 838 A sua

localizaccedilatildeo corresponde agrave da atual cidade de Hisarkoumly na Turquia

Ancyra ndash Atual Ancara na Turquia foi saqueada por forccedilas abaacutessidas em 838 agrave

semelhanccedila de Amorion

Bagdade ndash Capital do califado abaacutessida fundada em 762 pelo califa al-Mansur

Atualmente eacute a capital do Iraque

Bari ndash Cidade italiana e capital da regiatildeo Apuacutelia Durante os reinados dos basilecircis

macedoacutenicos foi a capital do theacutema da Lombardia e uma cidade essencial para o controlo do

sul de Itaacutelia e do Mar Adriaacutetico Caiu em 1071 frente aos Normandos de Roberto Guiscardo

Benevento ndash Capital de um importante principado lombardo no sul de Itaacutelia entre 571 e

1081 altura em que foi entregue a Roberto Guiscardo pelo papa Esteve temporariamente em

posse bizantina entre 891 e 895 quando foi recuperada por forccedilas do Principado de Salerno

Castrogiovanni ndash Atual Enna era uma importante cidade bizantina no centro da Siciacutelia

A sua conquista pelos Aglaacutebidas em 859 restringiu a presenccedila bizantina agrave costa ocidental da

ilha

Corleone ndash Atualmente eacute uma comuna siciliana Foi tomada aos bizantinos pelos

aglaacutebidas entre 831 e 841

Damasco ndash Capital do califado omiacuteada Atualmente eacute a capital da Siacuteria

Eacutefeso ndash Antigo aglomerado provincial localizado a 3 quiloacutemetros da atual Selccediluk na

proviacutencia de Izmir na Turquia ocidental Foi uma importante cidade mercantil podendo ter

sido a capital do theacutema dos Traceacutesicos e depois de Samos

Germaniceia (ou Marash) ndash Importante thugucircr muccedilulmano na Cilliacutecia foi conquistada

definitivamente por Niceacuteforo II Focas em 962 Eacute a atual cidade de Kahramanmaraş na

proviacutencia com o mesmo nome no sudeste da Turquia

CXXV

Melitene ndash Um dos principais thugucircr da regiatildeo de Al-Jazira foi tomada por Bizacircncio em

934 por um exeacutercito sob o domestikoacutes Joatildeo Curcuas Eacute a atual Malatya capital da proviacutencia

homoacutenima na Turquia

Messina ndash Cidade siciliana localizada no estreito homoacutelogo controlando uma das

passagens entre o Mediterracircneo ocidental e oriental A sua conquista por um grupo de

mercenaacuterios foi uma das razotildees para a Primeira Guerra Puacutenica Foi conquistada pelos

Aglaacutebidas ao Impeacuterio Romano do Oriente entre 842 e 843

Niceia ndash Antiga cidade localizada onde hoje se localiza Izrik Foi a capital do theacutema do

Opsikiacuteon Um dos grandes momentos histoacutericos desta povoaccedilatildeo eacute o VII Conciacutelio Ecumeacutenico

que potildee fim ao primeiro periacuteodo iconoclaacutestico Foi a capital do Impeacuterio Bizantino quando

este se encontrava no exiacutelio entre 1204 e 1261

Nicomeacutedia ndash Capital do theacutema dos Optimates localizada no noroeste da atual Turquia

Ragusa (Croaacutecia) ndash Atual Dubrovnik foi uma importante cidade na costa da Dalmaacutecia

tornando-se mais tarde na capital de uma poderosa repuacuteblica mercantil em 1358 ateacute agrave usa

anexaccedilatildeo pelo reino de Itaacutelia em 1808 No periacuteodo em estudo foi cercada pelos Aacuterabes em

868 mas uma frota enviada por Basiacutelio conseguiu obrigar ao levantamento do cerco

Ragusa (Siciacutelia) ndash Cidade na Siciacutelia foi tomada pelos aglaacutebidas em 848 apoacutes o

extermiacutenio da sua guarniccedilatildeo

Palermo ndash Importante cidade siciliana durante toda a Idade Meacutedia tendo servido como

capital desta vaacuterias vezes estatuto que ocupa nos dias de hoje

Preslav ndash Capital do Impeacuterio da Bulgaacuteria apoacutes 893 por ordens do czar Simeatildeo Foi

tomada por Bizacircncio em 971 durante a campanha de Joatildeo I Zimisce contra o priacutencipe

Svyatoslav do Rus Atualmente eacute a cidade de Veliki Preslav na Bulgaacuteria

Prisca ndash Capital do Impeacuterio da Bulgaacuteria antes de 893 Foi saqueada vaacuterias vezes por

Bizacircncio com especial destaque para o ano de 811 quando a cidade eacute tomada por Niceacuteforo I

O basileuacutes e o seu exeacutercito seriam massacrados dias depois na batalha de Prisca Na

contemporaneidade eacute a cidade de Plĭskovŭ na Bulgaacuteria

Siracusa ndash Uma das mais importantes cidades sicilianas e berccedilo de Aristoacuteteles Durante

as duas primeiras Guerras Puacutenicas foi uma das contestantes nesses conflitos ora do lado

CXXVI

cartaginecircs ora do lado romano ora de nenhum A sua conquista pelos Aglaacutebidas em 877

limita a presenccedila bizantina na Siciacutelia agrave fortaleza de Taormina

Tarento ndash Atualmente eacute chamada de Taranto e localiza-se na Apuacutelia Durante o periacuteodo

em estudo foi a capital de um emirado muccedilulmano ateacute agrave sua conquista por uma expediccedilatildeo

militar ofensiva bizantina em 880

Taormina ndash Uacuteltima possessatildeo bizantina na Siciacutelia foi tomada pelos Aacuterabes em 901

Atualmente estaacute localizada na comuna com o mesmo nome

Tarso ndash Considerada por muitos historiadores como o mais importante dos thugucircr era

desta cidade que partiam muitas das razias muccedilulmanas direcionadas a territoacuterio bizantino

Apesar de ter sido muitas vezes saqueadas soacute seria definitivamente conquistada por Niceacuteforo

II Focas em 965 Faz parte da proviacutencia de Mersin na Turquia

Tephrike ndash Capital do ldquoEstadordquo pauliciano foi tomada por Basiacutelio I em 879

Atualmente eacute a cidade de Divriği na proviacutencia de Sivas na Turquia oriental

Trapaacuteni ndash Atualmente eacute uma comuna italiana com o mesmo nome Foi conquistada aos

Bizantinos pelos Aacuterabes entre 831 e 841

CXXVII

d) Referecircncias topograacuteficas mariacutetimas e fluviais

Antitauro ndash Cordilheira montanhosa localizada na Turquia oriental e sudoeste que

durante a primeira metade do periacuteodo-meacutedio bizantino serviu de fronteira natural entre o

Impeacuterio e as possessotildees muccedilulmanas na Siacuteria e na Mesopotacircmia

Chipre ndash Ilha localizada no Mediterracircneo Oriental Durante a primeira metade do

periacuteodo-meacutedio bizantino foi territoacuterio contestado e desmilitarizado pelo Impeacuterio Bizantino e

pelo Califado Em 964 no reinado de Niceacuteforo II Focas os Romanos retomam o controlo

efetivo da ilha Bizacircncio perde a ilha em 1195 para as forccedilas do rei inglecircs Ricardo ldquoCoraccedilatildeo-

de-Leatildeordquo no seio da Terceira Cruzada

Creta ndash Ilha localizada na periferia sul do Mar Egeu com enorme importacircncia

estrateacutegica para o seu controlo Entre 828 e 961 a ilha esteve sob domiacutenio muccedilulmano sendo

a principal base da pirataria sarracena no Mar Egeu ateacute agrave sua reconquista pelo domestikoacutes do

Oriente Niceacuteforo Focas590 apoacutes vaacuterias tentativas falhadas (como em 843 911 e 949) Creta

manteve-se em matildeos bizantinas ateacute 1204 o ano da conquista de Constantinopla pelos

cavaleiros da Quarta Cruzada

Mar Egeu ndash Corpo hidrograacutefico localizado entre a Greacutecia e a Turquia atuais Apoacutes a

perda de Creta em 828 as ilhas do Mar Egeu foram viacutetimas constantes da pirataria aacuterabe que

de melhor ou pior forma assolou aquela regiatildeo ateacute agrave reconquista de Creta em 961 Nos

reinados de Basiacutelio I e Leatildeo VI o Mar Egeu estava sob a proteccedilatildeo de trecircs themaacuteta navais

Kibirrhaiotai Mar Egeu e Samos A maior parte destas ilhas passou para o controlo das

repuacuteblicas mercantis italianas apoacutes a queda de Constantinopla para a Quarta Cruzada em

1204

Tauro ndash Cordilheira montanhosa no sul da Turquia que separa o planalto central da

Anatoacutelia e as regiotildees costeiras do sul As forccedilas bizantinas retiraram para esta cordilheira apoacutes

a derrota de Yarmuk e esta manteve-se um dos principais obstaacuteculos entre os territoacuterios

califais e dos emirados e o coraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino

590 Futuro Niceacuteforo II Focas

CXXVIII

e) Campos de batalha

Campo da batalha de Lalacatildeo ndash O nome proveacutem do rio que atravessava o territoacuterio

onde se travou a batalha De acordo com John Haldon esta batalha ter-se-aacute travado na regiatildeo

fronteiriccedila dos themaacuteta de Paflagoacutenia e dos Armeniacuteacos a cerca de 130 km de Amisos

(Samsun atualmente) num local rodeado pelos sopeacutes de Deveci Dag591

Marj al-Usquf ndash Tambeacutem conhecido na bizantiniacutestica angloacutefona como Bishoprsquos

Meadow (o laquoPrado do Bisporaquo na traduccedilatildeo literal para portuguecircs) Foi o local onde se deu a

batalha com o mesmo nome num pequeno planalto onde se localizava a sede episcopal de

Doara junto agrave estrada que ligava Tyana (a moderna Kemarhisar) a Coloneia (atual Aksaray)

Doara eacute atualmente Duvarli na proviacutencia de Niğde Turquia

Mons Lactarius ndash Local onde se travou a batalha com o mesmo nome Atualmente este

lugar faz parte dos Montes Lattari uma cadeia montanhosa na Campacircnia no sul de Itaacutelia e

faz parte da cordilheira dos Montes Apeninos

Yarmuk ndash Nome atribuiacutedo agrave grande batalha entre Muccedilulmanos e Bizantinos em 636

Ter-se-aacute travado no leito seco do rio Yarmuk a sul da capital dos Aacuterabes Gassacircnidas Jabiya

Apesar de hoje a povoaccedilatildeo natildeo existir estava localizada na Siacuteria sudeste proacutexima da fronteira

atual com a Jordacircnia

591 HALDON John (2001) The Byzantine Wars Battles and Campaigns of the Byzantine Era Gloucestershire

Tempus Publishing Ltd p84

CXXIX

Anexo VIII ndash Excertos do Taktikaacute

a) Evitar batalha

ldquoEacute bom causar injuacuteria ao inimigo pelo dolo por raides pela fome e fazecirc-los sofrer

por um longo periacuteodo de tempo por meio de assaltos muito frequentes e outras accedilotildees (O

general) nunca deve ser incitado a uma batalha campal Pela maior parte noacutes observamos que

o sucesso eacute mais uma questatildeo de sorte do que coragem comprovadardquo ndash Constitutio XX

paraacutegrafo 51 linhas 265-266592

b) Sobre natildeo guerrear com os Buacutelgaros e a paz de 896

ldquoDesde que os Buacutelgaros no entanto adotaram a paz de Cristo e partilham a mesma feacute

nele que os Romanos depois do que eles passaram como resultado de quebrarem o seu

juramento noacutes natildeo pensamos em pegar em armas contra eles Agora remetemos qualquer

accedilatildeo militar contra eles a Deus Presentemente portanto na medida em que noacutes somos irmatildeos

pela nossa feacute uacutenica e porque eles prometeram ouvir os nossos conselhos noacutes natildeo estamos

interessados em descrever quer as suas formaccedilotildees em batalha contra noacutes quer as nossas

contra elesrdquo ndash Constitutio XVIII paraacutegrafo 42 linhas 227-232593

c) Preferecircncia de recrutamento de soldados economicamente confortaacuteveis

ldquoNoacutes ordenamos a Sua Excelecircncia que mantenha o costume que vai muito atraacutes ateacute ao

iniacutecio de selecionar soldados e oficiais que julgue qualificados de cumprirem os criteacuterios para

guerrear Selecione soldados de todo o theacutema sob o seu comando nem rapazes nem idosos

mas homens bravos vigorosos corajosos e financeiramente confortaacuteveis Enquanto estes

homens estiverem ocupados com o seu proacuteprio serviccedilo militar em campanha ou ao inveacutes

disso com o reunir do exeacutercito eles devem ter outros nas suas famiacutelias que faccedilam o trabalho

do campo e que consigam providenciar os objetos requeridos para o equipar e armar completo

de um soldado Isto significa que as cabeccedilas dessas famiacutelias devem encontrar-se libertas de

todos os outros serviccedilos devidos ao Estado Porque noacutes natildeo desejamos que o nosso

companheiro soldado ndash assim chamo eu ao homem que vai em frente para se empenhar

valentemente em feitos beacutelicos em nome de Nossa Majestade e da comunidade amante de

Cristo dos Romanos - para aleacutem da excepccedilatildeo uacutenica do imposto puacuteblico a ser sujeito a

592 Vide DENNIS G T (2014) ndash Op cit p 555 593 Idem Ibidem pp453-454

CXXX

qualquer outro tipo de imposiccedilatildeo qualquer que sejardquo - Constitutio IV paraacutegrafo 1 linhas

3-14594

d) Acerca do financiamento de soldados pobres por homens (stratioacutetai) ricos

ldquoQuando vocecirc se encontrar sem armamento para os seus soldados decirc ordens aqueles

que estatildeo bem providenciados para (campanha) mas que natildeo participem que se natildeo

desejarem participarem nesta devem cada um deles providenciar um cavalo e um homem no

seu lugar Desta forma os valentes (homens) pobres seratildeo armados e os cobardes ricos iratildeo

servir igualmente com aqueles que realmente estatildeo em campanhardquo - Constitutio XX

paraacutegrafo 205 linhas 1056-1059595

e) Menccedilatildeo da alianccedila entre Bizantinos e Magiares do iniacutecio da guerra

Bizantino-Buacutelgara de 984 e da participaccedilatildeo Magiar nesse conflito

ldquoJaacute que eu mencionei os Turcos natildeo julgamos que seja despropositado laquodescreverraquo

como estes se formavam em batalha e como se podia formar para combater contra eles

Coloquemos por escrito o que aprendemos a partir de uma certa quantidade de experiecircncia de

quando eles eram nossos aliados Naquele tempo os Buacutelgaros tinham desrespeitado o tratado

de paz e andavam a saquear pelos campos da Traacutecia A justiccedila perseguiu-os por quebrar o seu

juramento a Cristo nosso Deus o imperador de todos e eles rapidamente se encontraram com

a sua puniccedilatildeo Enquanto as nossas forccedilas enfrentavam os Sarracenos a Providecircncia divina

levou os Turcos ao inveacutes dos Romanos a (lanccedilar uma) campanha contra os Buacutelgaros A frota

de navios de nossa Majestade apoiou-os e transportou-os sobre o Danuacutebio laquoProvidecircnciaraquo

enviou-os contra o exeacutercito dos Buacutelgaros que tinha tatildeo maliciosamente pegado em armas

contra os Cristatildeos e tal como se fossem carrascos puacuteblicos derrotaram-nos decisivamente em

trecircs embates para que os Cristatildeos Romanos natildeo se sujassem voluntariamente com o sangue

dos Cristatildeos Buacutelgarosraquo - Constitutio XVIII paraacutegrafo 40 linhas 210-221596

594 Idem Ibidem pp 46-47 595 Idem Ibidem pp 610-611 596 Idem Ibidem pp 452-453

CXXXI

f) O Proeacutemio

ldquoEm nome do Pai e do Filho e do Espiacuterito Santo a sagrada consubstancial e

veneraacutevel Trindade nosso uacutenico e verdadeiro Deus Leatildeo paciacutefico autokraacutetor em Cristo fiel

pio sempre reverenciado Augustordquo ndash Proacutelogo paraacutegrafo 1 linhas 3-6597

g) A travessia do rio Paradeisos por Basiacutelio (877-878)

ldquoNoacutes recordamos que o nosso sempre-memoraacutevel pai e imperador Basiacutelio fez isto

quando estava em campanha contra Germaniceia na Siacuteria Ele chegou ao rio chamado

Paradeisos e estacionou-se ele mesmo no meio deste com lanternas e na sua presenccedila e em

seguranccedila o exeacutercito inteiro sob o seu comando fez a travessia facilmente e de forma segura

Ele frequentemente deu a matildeo e ele mesmo salvou vaacuterios soldados de grande perigordquo ndash

Constitutio IX paraacutegrafo 14 linhas 60-66598

h) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (I)

ldquoPara sumariar tudo o que escrevemos sobre teoria taacutetica do iniacutecio ateacute ao fim tudo o

que foi dito de armas armamento exerciacutecios formaccedilotildees em batalha e outros meacutetodos

militares relacionados com o povo Sarraceno foi transmitido e demonstrado por noacutes Esta

gente que rodeia a nossa naccedilatildeo provoca-nos natildeo menos anguacutestia do que o povo Persa de

antigamente fazia aos antigos imperadores Eles provocam prejuiacutezo aos nossos suacutebditos todos

os dias Eacute por esta razatildeo que nos encarregaacutemos da nossa presente tarefa de formular

instruccedilotildees para a guerra Em adiccedilatildeo ao que jaacute havemos dito noacutes encontraacutemos outros modelos

de formaccedilotildees de batalha que pode muito bem considerar Oh general contra este povo

barbaacuterico Eles satildeo os seguintesrdquo ndash Constitutio XVIII paraacutegrafo 135 linhas 686-695599

i) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (II)

ldquoQuanto a todos os outros toacutepicos que naturalmente emergem em cada periacuteodo de

guerra ou em preparaccedilatildeo para ela e especialmente contra a naccedilatildeo dos Sarracenos que agora

nos causa tanto transtorno ndash em cuja responsabilidade como jaacute dissemos o presente livro foi

compilado ndash mesmo que noacutes natildeo tenhamos conseguido pegar em tudo ainda assim pelo que

jaacute foi escrito bem como pela experiecircncia e muito pela natureza das coisas (o general) tem de

fazer estimativas com o maacuteximo alcance e tem de se acomodar para as situaccedilotildees que surgem

Eu natildeo acho possiacutevel tanto para noacutes como para qualquer outro que escreva acerca de tudo que

597 Idem Ibidem pp 2-3 598 Idem Ibidem pp 158-159 599 Idem Ibidem pp 488-489

CXXXII

eacute provaacutevel que aconteccedila de forma a poder estar guardado contra tudo tendo em conta que as

diversas circunstacircncias em cada caso satildeo ilimitadas em nuacutemerordquo ndash Epiacutelogo paraacutegrafo 71

linhas 318-326600

j) Sobre a lealdade do general

ldquoO verdadeiro objetivo do muito estimado general eacute apreciar tudo que o divino e o

imperial favorecem ao inveacutes de prestando pouca atenccedilatildeo a assuntos adequados e

apropriados chegar ao opostordquo ndash Constitutio I paraacutegrafo 13 linhas 44-45601

k) As caracteriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos Aacuterabes contra Bizacircncio

ldquoEles natildeo satildeo reunidos para o serviccedilo militar a partir de uma lista de recrutamento

mas juntam-se cada homem de sua livre vontade e com todos os membros da sua Casa Os

ricos laquoconsideravam comoraquo recompensa suficiente morrer pela sua proacutepria naccedilatildeo os pobres

pela causa de recolher botim Os seus companheiros de tribo homens e especialmente

mulheres providenciam-nos com armas como se participassem com eles na expediccedilatildeo

Porque a sua fraqueza fiacutesica natildeo lhes permitia transportar armas elas mesmas consideravam

como recompensa providenciar armamento aos soldados Estes entatildeo satildeo os Sarracenos um

barbaacuterico e iacutempio povordquo ndash Constitutio XVIII linhas 592-598602

l) O problema em causa no Taktikaacute

ldquoPois assim parece sempre que as forccedilas armadas dos Romanos estavam em boa

ordem o Estado desfrutou de assistecircncia divina por natildeo poucos anos e o labor dos mais

valorosos estava misturado com disciplina e por muitas vezes foi coroado com o esplendor

da vitoacuteria Mas por muitos anos agora a persecuccedilatildeo das taacuteticas e a estrateacutegia foram

negligenciadas para natildeo dizer que caiacuteram tatildeo completamente no esquecimento que aqueles

que assumem o comando de um exeacutercito natildeo compreendem sequer as mateacuterias mais oacutebvias

Noacutes podemos observar que isto leva a um nuacutemero bastante grande de situaccedilotildees diferentes

Pois com o desaparecimento deste conhecimento produtivo de tantas coisas boas e pelo meio

do qual a naccedilatildeo dos Romanos floresceu no passado noacutes contemplamos agora o oposto o

favor divino estaacute ausente e o triunfo acostumado da naccedilatildeo dos Romanos fugiu dos seus

combatentes Pois juntamente com a negligecircncia gradual da disciplina militar e do treino a

coragem dos nossos bravos guerreiros assim parece tambeacutem declinou Algumas vezes noacutes

600 Idem Ibidem pp 640-643 601 Idem Ibidem pp 14-15 602 Idem Ibidem pp 482-483

CXXXIII

atribuiacutemos a causa agrave falta de treino e agrave cobardia dos soldados algumas vezes colocamos a

culpa na inexperiecircncia e na timidez dos seus comandantes e algumas vezes negligenciamos o

ensinamento claro dos antigos taacuteticos pela sua obscuridade Desejando assim com a ajuda de

Deus restaurar este conhecimento muito proveitoso e depois de ter quase sido expulso da

nossa naccedilatildeo Romana de o trazer de volta para a existecircncia noacutes natildeo hesitamos em com

grande seriedade assumir esta tarefa noacutes mesmos e desta forma graciosamente oferecer um

benefiacutecio aos nossos suacutebditosrdquo ndash Proacutelogo linhas 36-54603

m) A soluccedilatildeo do basileuacutes

ldquoDepois de devotadamente darmos atenccedilatildeo aos antigos bem como aos mais recentes

meacutetodos estrateacutegicos e taacuteticos e tendo lido mais detalhes noutros relatos tendo encontrado

algo nessas fontes que parecesse uacutetil para as necessidades da guerra noacutes recolhemo-lo e

colecionaacutemo-lo Essas coisas aleacutem do mais que noacutes aprendemos da nossa proacutepria e limitada

experiecircncia em serviccedilo militar e que satildeo aplicaacuteveis e uacuteteis para o nosso dia e na presente

situaccedilatildeo noacutes agora transmitimo-lo da melhor forma possiacutevel Noacutes oferecemo-la como uma

modesta assistecircncia nestes assuntos sucintamente como outro Proacutecheiros Noacutemos

apresentando na praacutetica em vez de em palavras o que eacute uacutetil e digno de respeito Eacute uma espeacutecie

de livro introdutoacuterio em taacuteticas para os nossos subcomandantes (hypostrategoĩ604) e para

aqueles a quem foram confiadas responsabilidades de combate Noacutes asseguramos-lhe que isto

deveraacute tornar mais faacutecil como avanccedilar de uma maneira ordeira a todos o que o desejarem e ateacute

certo ponto para um melhor conhecimento daqueles velhos autores taacuteticos e das teorias

antigas Noacutes natildeo prestaacutemos atenccedilatildeo agraves escrituras de boa dicccedilatildeo ou palavras que soassem bem

A nossa preocupaccedilatildeo ao inveacutes disso foi o pragmatismo a claridade de expressatildeo e a

simplicidade de estilo Com isto em mente noacutes frequentemente clarificamos os termos taacuteticos

do Grego antigo e traduzimos aqueles em Latim para os seus equivalentes em Grego Noacutes

tambeacutem utilizaacutemos algumas outras expressotildees militares de utilizaccedilatildeo comum para ser mais

faacutecil para o leitor compreendecirc-las A uacutenica coisa que descartaacutemos foram as formaccedilotildees que natildeo

satildeo mais necessaacuterias porque satildeo supeacuterfluas inuacuteteis e a sua descriccedilatildeo natildeo eacute clara Assim

aqueles que desejam comandar tropas possam ter raacutepido acesso a uma vasta reserva de

experiecircncia no que respeita a combate e a campanhas militares A utilidade deste manual

deriva natildeo soacute daquilo que foi escrito mas tambeacutem do facto de ter sido posto em praacutetica pelas

603 Vide Idem Ibidem p7 604 Haldon defende que Leatildeo VI com este termo se refere aos strateacutegoi Isto porque se considerava o basileuacutes

como o comandante supremo o que tornava os restantes generais (os strategoacutes) seus subalternos logo

hypostrategoi vide HALDON J (2014) ndash Op cit p126

CXXXIV

autoridades antigas e ter sido transmitido ateacute aos nossos dias Mesmo que natildeo tenha sido

acompanhado por essas accedilotildees que conduziram a situaccedilatildeo dos Romanos a um grande poder

pelo menos as palavras que foram condenadas ao esquecimento foram trazidas de volta agrave vida

relembradas e novamente restauradas na sua antiga posiccedilatildeordquo ndash Proacutelogo paraacutegrafo 6

linhas 55-78605

n) O Epilogus

ldquoPrimeiro eacute necessaacuterio sumariar as taacuteticas empregues na arte da guerra Entatildeo o que eacute

um general Quem e que tipo de pessoal ele deve ser Como deve ele fazer planos Depois

disso vamos explicar as divisotildees do exeacutercito em oficiais e nas tropas que eles comandam

bem como no seu equipamento as armas a eles providenciadas e o armamento de cada um

dos seus combatentes Antes do mais o treino do exeacutercito antes do combate Depois a leitura

oficial das puniccedilotildees em vigor Segue-se uma discussatildeo sobre o exeacutercito em marcha tanto no

nosso como em territoacuterio hostil e sobre o assim-chamado trem-de-apoio e claro acerca da

preparaccedilatildeo e instruccedilotildees relativamente a acampamentos O que deve ser feito no dia antes da

batalha e o que tem de ser feito no dia da batalha Para aleacutem do mais acerca de guerra de

cerco Depois o que deve ser feito depois da batalha E o que dizer sobre ataques inesperados

e emboscadas tanto pelas nossas tropas como do inimigo Para aleacutem destas o treino em vaacuterias

formaccedilotildees de batalha estrangeiras e Romanas A nossa compilaccedilatildeo seraacute entatildeo seguida por

uma pequena exposiccedilatildeo de guerra naval Para concluir tudo isto foram recolhidas e

apresentadas individualmente certas maacuteximas taacuteticas e estrateacutegicas aquelas isto eacute que a

natureza sumaacuteria dos capiacutetulos natildeo permite que sejam inseridas no seu lugar Noacutes esperamos

que o estudo disto leve o saacutebio e perspicaz comandante a tornar-se ainda mais saacutebio ndash

Proacutelogo paraacutegrafo 10 linhas 97-113606

o) A guerra como ldquomal necessaacuteriordquo

ldquoNoacutes temos sempre de abraccedilar a paz para os nossos proacuteprios suacutebditos bem como para

os baacuterbaros por causa de Cristo o imperador e Deus de todos Se as naccedilotildees partilharem estes

sentimentos e se mantiverem dentro das suas fronteiras e prometerem natildeo agir injustamente

contra noacutes entatildeo tambeacutem vocecirc abster-se-aacute de pegar em armas contra eles Natildeo manche o chatildeo

com o sangue das suas proacuteprias gentes ou com aquele dos baacuterbaros (hellip) Noacutes devemos

sempre que possiacutevel da nossa parte estar em paz com todos os homens especialmente com

605 Vide DENNIS George T (2014) ndash Op cit pp 6-9 606 Idem Ibidem pp 8-11

CXXXV

aquelas naccedilotildees que desejem viver em paz e que natildeo fazem nada de injusto aos nossos

suacutebditos Noacutes devemos sempre preferir paz acima de tudo e devemos estar em paz com essas

naccedilotildees e abstermo-nos da guerra

Mas se o nosso adversaacuterio agir de forma pouco saacutebia iniciar hostilidades injustas e

invadir o nosso territoacuterio entatildeo deveras teraacute uma causa justa ainda mais que uma guerra

injusta foi iniciada pelo inimigo Com confianccedila e entusiasmo pegue em armas contra eles

Foram eles que providenciaram a causa por injustamente levantarem as matildeos contra os nossos

suacutebditos Seja corajoso entatildeo (O general) teraacute a justiccedila de Deus ao seu lado Ao tomar parte

na luta em nome dos seus irmatildeos (o general) e a sua forccedila inteira seratildeo vitoriosos Por esta

razatildeo assim noacutes apelamos a Sua Excelecircncia para se assegurar que as causas das guerras satildeo

justas Soacute entatildeo deveraacute pegar em armas contra os homens que atuam injustamenterdquo ndash

Constitutio II paraacutegrafos 30 e 31 linhas 196-201 e 208-216

p) Formas de agir em caso de ataques vindos da Ciliacutecia

ldquoOs Sarracenos da Ciliacutecia colocam muito valor no treino exaustivo das suas forccedilas de

infantaria para entrar em combate em duas frentes isto eacute na terra ao longo da estrada que sai

das montanhas do Tauro e no mar por meio dos seus navios chamados koumbaacuteria Quando

eles natildeo fazem campanha em terra firma eles embarcam para o mar pilham os povoados ao

longo da costa e algumas vezes se tal acontecer envolvem-se em batalhas navais Quando

natildeo vatildeo para o mar eles fazem campanhas contra os territoacuterios dos Romanos por terra

Vocecirc portanto oacute general deve manter olho neles por meio de espiotildees de confianccedila

Quando eles fazem campanha pelo mar vocecirc vai por terra e se possiacutevel lanccedilar ataques contra

eles no seu proacuteprio territoacuterio Mas se os espiotildees relatarem que eacute intenccedilatildeo deles fazer

campanha por terra entatildeo vocecirc deve avisar o comandante do Kibirrhaiotai para que com os

droacutemōnes sob o seu comando ele possa cair sobre os territoacuterios dos Tarseotes e dos de Adana

que se encontrem na costa Porque o exeacutercito dos baacuterbaros cilicianos natildeo eacute muito numeroso

uma vez que os homens que praticam campanha em terra tambeacutem o fazem no marrdquo ndash

Constitutio XVIII paraacutegrafos 131 e 132 linhas 654-678

q) O perfil psicoloacutegico de um bom strategoacutes

ldquoEacute caracteriacutestico de um general que ele seja superior a todos os que estatildeo sob o seu

comando em sabedoria praacutetica coragem justiccedila e discriccedilatildeo reservando a ele a administraccedilatildeo

da proviacutencia atribuiacuteda a ele incluindo assuntos militares privado e puacuteblicos Ao receber um

CXXXVI

exeacutercito indisciplinado ele deve dispocirc-lo apropriadamente para a batalha de acordo com a

formaccedilatildeo taacutetica adequada agrave ocasiatildeordquo ndash Constitutio I paraacutegrafo 11 linhas 39-42

CXXXVII

Anexos IX ndash Excertos de outras fontes607

a) Listas da Expediccedilatildeo a Creta em 910-911608

Da preparaccedilatildeo e custo e soma dos pagamentos e do exeacutercito

enviado contra a iacutempia (ilha de) Creta

com o patrikios e logothetecircs tou droumou Himeacuterio

no tempo do Soberano Leatildeo amado de Cristo

A frota imperial 12000 Rusrsquo 700

O strategoacutes do Kibirrhaiotai responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 5600 e

1000 reservas 6600 no total

O strategoacutes de Samos responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 4000 e 1000

reservas 5000 no total

O strategoacutes do Mar Egeu responsabilizou-se de providenciar uma forccedila de 3000 e

1000 reservas 4000 total Todas estas juntas 28300

Em relaccedilatildeo agraves unidades de cavalaria que deveriam ir em campanha com a frota

Scholarioi Traceacutesicos e Macedoacutenicos 1037

Do themaacute dos Traceacutesicos 1000 do theacutema de Sebasteia 1000 Armeacutenios de Platanion

500 Armeacutenios de Prine 500 O total de cavalaria 6037609 e o total da frota e da cavalaria

34037610

607 Estas traduccedilotildees satildeo feitas do inglecircs para portuguecircs a partir de 608 Constantino VII basileuacutes ldquoThe fitting out and cost and sum of the pay and of the army sent against the

impious (island of) Crete with the patrikios and logothetecircs tou droumou Himerios in the time of the Lord Leo

beloved of Christrdquo Texto Traduccedilatildeo e Comentaacuterio HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-

Century Military Administration ndash Chapters II 44 and 45 of the Book of Cerimonies Travaux et Memoacuteires (13)

pp 202-213 609 De acordo com John Haldon faltam 2000 cavaleiros traceacutesicos que natildeo satildeo mencionados Vide HALDON J

(2000) ndash Op cit p 202 610 Trata-se de 34337 no total de verdade vide Idem Ibidem p 202

CXXXVIII

Em relaccedilatildeo agrave frota imperial

60 droacutemōnes tendo 230 remadores e 70 soldados cada no total 18000 40 pamphyloi

dos quais 20 tinham 160 homens cada e outros 20 tinham 130 homens cada e 700 Rusrsquo no

total 5800 O total eacute 23800611

Em relaccedilatildeo ao theacutema dos Kibirrhaiotai

15 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 4500

16 pamphyloi 6 com 160 remadores os outros 10 com 130 homens totalizando 2260

Ao todo 6760

Em relaccedilatildeo ao theacutema de Samos

10 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

12 pamphyloi 4 com 160 remadores 8 com 130 homens totalizando 1680

Ao todo para o theacutema de Samos 4680

Em relaccedilatildeo ao theacutema do Mar Egeu

7 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

7 pamphyloi 3 com 160 homens os outros 4 com 130 homens totalizando 1000

Ao todo para o theacutema do Mar Egeu 3000

Em relaccedilatildeo ao theacutema da Heacutelade

10 droacutemōnes com 230 remadores e 70 soldados cada totalizando 3000

611 23002 na realidade por um erro do copista Vide Idem Ibidem p 203

CXXXIX

Em relaccedilatildeo aos Mardaiacutetas

Mardaiacutetas exeacutercito com oficiais 4087 e como suplemento 1000 adicionais

totalizando 5087

Ao todo o total para a frota imperial e para os themaacuteta 112 droacutemōnes 75 pamphyloi

34000612 remadores e 7340613 soldados e 700 Rusrsquo e 5087 Mardaiacutetas

Os pagamentos para a frota imperial

Exeacutercito com oficiais de 12502 pagamento de 15 kentecircnaria 90 litrai e 10

nomismata614

O seu suplemente de 1000 5 nomismata cada fazendo 69 litrai 32 nomismata~

700 Rusrsquo 1 kentecircnarion

O total para a frota e para os Rusrsquo equivale a 17 (kentecircnaria) 59 (litrai) 42

(nomismata)

Em relaccedilatildeo ao theacutema dos Kibirrhaiotai

Exeacutercito com oficiais de 5750 pagamento de 2 (kentecircnaria) 21 (litrai) e 42

(nomismata) com as reservas

Em relaccedilatildeo ao theacutema de Samos

Exeacutercito com oficiais de 4680 e 1000 das reservas pagamento de 2 (kentecircnaria) 1

(litrai) e 11 (nomismata)

Em relaccedilatildeo ao theacutema do Mar Egeu

Exeacutercito com oficiais de 3100 e 1000 das reservas pagamento de 1 (kentecircnaria) 54

(litrai) e 3 (nomismata)

612 O total no texto equivale a 34200 Idem Ibidem 204 613 O total no texto eacute 7140 Idem Ibidem 204 614 Kentecircnarion = 100 litrai de ouro Litra = 72 nomismata de ouro Vide Idem Ibidem 204

CXL

Em relaccedilatildeo aos Mardaiacutetas do Ocidente

Exeacutercito com oficiais de 4087 pagamento de 4 (kentecircnaria) 66 (litrai) e 32

(nomismata) o seu suplemento de 1000 homens em 8 nomismata cada faz 1 (kentecircnaria)

11 (litrai) e 8 (nomismata)

Ao todo o total para os Mardaiacutetas do Ocidente pagamento de 5 (kentecircnaria) 77

(litrai) e 42 (nomismata)615

Ao todo o total para a frota imperial para os Rusrsquo para as frotas ldquotemaacuteticasrdquo e para os

Mardaiacutetas do Ocidente pagamento de 29 (kentecircnaria) 13 (litrai) e 66 (nomismata)

Em relaccedilatildeo ao pagamento das unidades de cavalaria

No que respeita aos scholarioi dos Traceacutesicos e Macedoacutenicos para 1037 homens

pagamento de 1 (kentecircnarion) 41 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita ao theacutema dos Traceacutesicos para 3000 homens a 2 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 83 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita ao theacutema de Sebasteia para 1000 homens pagamento de 1

(kentecircnarion) 13 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios Platanitai616 para 500 homens a 6 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 41 (litrai) e 48 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios de Prine para 400 homens a 5 nomismata cada

pagamento de 0 (kentecircnarion) 27 (litrai) e 56 (nomismata)

O total para 2037 cavaleiros pagamento de 2 (kentecircnaria) 54 (litrai) e 48

(nomismata)

E para os 3900 homens adicionais pagamento de 1 (kentecircnarion) 52 (litrai) e 56

(nomismata)

O total para a cavalaria pagamento de 4 (kentecircnaria) 7 (litrai) e 22 (nomismata)

615 Deveriam ser 40 nomismata sendo que os 2 nomismata adicionais satildeo um erro do copista Idem Ibidem 206 616 De Platanion portanto

CXLI

Em relaccedilatildeo ao pagamento da mobilizaccedilatildeo

No que respeita agraves frotas dos 3 themaacuteta dos Kibyrrhaiotai Samos e Mar Egeu para

3000 homens a 2 nomismata cada 83 (litrai) e 24 (nomismata)

No que respeita aos Mardaiacutetas do Ocidente 3 tourmarchai a 36 nomismata cada 42

drouggarioi a 12 nomismata cada 42 komecirctes a 6 nomismata cada 5000 soldados a 4

nomismata cada fazem todos juntos 2 (kentecircnaria) 99 (litrai) e 56 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios do theacutema de Sebasteia 5 tourmarchai a 12 nomismata

cada 10 drouggarioi a 6 nomismata cada 8 komecirctes a 5 nomismata cada 965 soldados a 4

nomismata cada fazem todos juntos 55 (litrai) e 60 (nomismata)

No que respeita aos Armeacutenios de Prine 500 homens a 2 nomismata cada fazendo 12

(litrai) e 64 (nomismata)

O conjunto para o pagamento da mobilizaccedilatildeo 4 (kentecircnaria) 52 (litrai) e 60

(nomismata)

Observe-se que o stratecircgos dos Kibirrhaiotai e o katepanocirc dos Mardaiacutetas de Attaacutelia

responsabilizaram-se que numa matildeo o stratecircgos prepararia duas chelandia das unidades dos

tourmarchai enquanto na outra o katepanocirc dos Mardaiacutetas prepararia galeacutes617 e durante o mecircs

de marccedilo as enviaria para a Siacuteria para que elas pudesse trazer de volta um relatoacuterio e o

verdadeiro relato de tudo preparado e feito laacute

Observe-se que o procirctospatharios e archocircn de Chipre Leatildeo Symbatikes

responsabilizou-se por enviar batedores vigilantes para o Golfo de Tarso e para a regiatildeo de ta

Stomia (as planiacutecies da Ciliacutecia) bem como para Triacutepolis e Laodiceia para que de ambas as

regiotildees pudessem trazer relatos se os Sarracenos estavam a fazer alguma coisa por meio de

treino

Observe-se que o strategoacutes de Tessaloacutenica responsabilizou-se pela produccedilatildeo de

200000 flechas e 3000 menaulia e de quantos escudos pudesse Observe que o kritecircs da

Helaacutede responsabilizou-se pela produccedilatildeo de 1000 menaulia que completou Ele

responsabilizou-se da produccedilatildeo de outra remessa e de levaacute-la para onde tinha sido acordado

617 Galea

CXLII

Observe-se que o archocircn de Chrecircpos no theacutema da Heacutelada responsabilizou-se pela

produccedilatildeo de 200000 flechas e 3000 menaulia do mesmo modo que o stratecircgos de Nicoacutepolis

e o (stratecircgos) do Peloponeso

Observe-se que o procirctospatharios Teodoro Pagkrates responsabilizou-se de viajar para

o Anatolikoi618 e de recrutar os Platinatiai e a partir deles e de outros do theacutema de reunir 500

homens selecionados pela sua abilidade como arqueiros especialmente se algum deles fosse

um cavaleiro competente quer fossem dos oficiais ou dos scholarioi Se os scholarioi tiverem

o seu pagamento na iacutentegra deixem-nos equipar-se dos seus proacuteprios recursos com a panoacuteplia

de cavaleiro Mas se forem escassos no que respeita ao seu pagamento deixem-nos levar os

animais do mecirctata ou por imposiccedilotildees pessoais dentro do theacutema dos Anatoacutelicos

Em relaccedilatildeo ao que devia ter sido preparado no theacutema dos Traceacutesicos

20000 (modioi) de cevada 40000 (modioi) cada de trigo biscoito e farinha 30000

medidas de vinho 10000 animais para abate

E em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 10000 medidas de fibra de linho para a propyra619 e o

encalcar deixem-nas armazenadas em Phygela e 6000 pregos para pregar os droacutemōnes o

protonotaacuterios do theacutema dos Traceacutesicos responsabilizou-se por estes objetos o (oficial) para

Limnogalaktos encarregou-se igualmente de assisti-lo com o vinho

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 30000 pregos de cinco-dedos620 para os conveacutes dos

droacutemōnes para as pranchas de embarque e para os estaleiros deixem que sejam tambeacutem

levados para Phygella o stratecircgos de Samos responsabilizou-se de obter as despesas para

estes objetos pelo protonotaacuterios

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 3000 ldquopregos-garrardquo de cabeccedila-uacutenica para

ldquoTartarugasrdquocoberturas escadas e outros trabalhos e dos 3000 pregos de um palmo o

stratecircgos de Samos responsabilizou-se por isto

Em relaccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo de 4000 (pregos) de seis-dedos621 4000 (pregos) de cinco-

dedos e 4000 pregos de quatro-dedos622 para as gruas os passadiccedilos e outras necessidades o

stratecircgos de Samos responsabilizou-se por isto

618 Anatoacutelicos 619 Os fornos ou braseiros utilizados para aquecer o oacuteleo usado nos sifotildees de fogo liacutequido (greguecircs) Vide Idem

Ibidem 210 620 975 cms 621 117 cm

CXLIII

Em relaccedilatildeo ao empreendimento do oficial imperial presente na regiatildeo dos Anatoacutelicos

para preparar 20000 modioi de cevada e 60000 modioi de hardtack e trigo e farinha dos

Kibirrhaiotai e Anatoacutelicos e deixem-nos ser trazidos da regiatildeo dos Anatoacutelicos para Ataacutelia

em vez de irem para Kalon Oros

Em relaccedilatildeo agrave compra pelo protonotaacuterios do Kibirrhaiotai de 60000 pregos pequenos

para prender as peles

Em relaccedilatildeo aos esquifes feitos para a dromocircnia o carteiro enviem-no da hetaireia

com uma ordem para o katepanocirc que deve dar-lhe um procirctokagkellarios e apoio total e

deixem-lhe entatildeo os Korphitianoi de Heracleia e levar quatro marinheiros para cada esquife

Ele devem entatildeo enviaacute-los (aos esquifes) sem atrasos pelo procirctokagkellarios Cada esquife

deve ter o seu masto verga e quatro remes bem como um leme Em adiccedilatildeo 6 escaleres de

oito remes

Em relaccedilatildeo aos estrepes perguntem ao koitocircnites Theodoretos o que lhes aconteceu

de igual modo em relaccedilatildeo aos sacos do ano passado e agraves picaretas e marretas aneacuteis parafusos

grilhetas e bate-estacas e deve enviar o seu notaacuterio a noacutes com o registo de tudo

Em relaccedilatildeo ao parathalassitecircs tendo sido ordenados para equipar 1200 homens a

partir de contribuiccedilotildees conjuntas (pelos habitantes da Cidade)

Observe que os Kibirrhaiotes o katepano dos Mardaiacutetas de Ataacutelia e Leatildeo Symbatikes

responsabilizaram-se por manter a seguranccedila e uma vigia rigorosa e a natildeo permitir a

nenhuma pessoa que vaacute para a Siacuteria e que a partir deles que a informaccedilatildeo sobre o Estado

Romano seja enviada para a Siacuteria

622 78 cm

CXLIV

b) A primeira ldquomaldaderdquo de 809810

ldquoNeste ano Niceacuteforo apoacutes as suas puniccedilotildees iacutempias [que tinha sofrido] e tencionando

humilhar o exeacutercito no seu todo removeu cristatildeos de todos os themaacuteta e ordenou-lhes que

seguissem para as Sklavinias depois de venderem as suas propriedades Este estado de coisas

natildeo era menos grave que o cativeiro muitos na sua insensatez proferiram blasfeacutemias e

rezaram para ser invadidos pelo inimigo outros choraram junto das sepulturas dos seus

ancestrais e enalteceram a felicidade dos mortos alguns ateacute se enforcaram para se salvarem de

tal terriacutevel situaccedilatildeo Uma vez que as suas possessotildees eram difiacuteceis de transportar eles natildeo se

encontravam em posiccedilatildeo de as trazer consigo e presenciaram a perda das propriedades

adquiridas pelo trabalho dos seus parentes Todos estavam em completa anguacutestia os pobres

por causa das circunstacircncias acima enunciadas e por causa daquelas que seratildeo contadas mais

tarde enquanto os mais ricos simpatizavam com os pobres aos quais se encontravam

incapazes de ajudar e esperavam infortuacutenios piores Estas medidas comeccedilaram a ser aplicadas

no mecircs de Setembro e foram completadas na Santa Paacutescoardquo ndash Croacutenica de Teoacutefanes o

Confessor entrada relativa a 809810623

c) A segunda ldquomaldaderdquo

ldquoPara aleacutem disto ele ordenou uma segunda maldade mais propriamente o alistamento

de pessoas pobres no exeacutercito e que estas deviam ser equipadas pelos habitantes da sua

comunidade pagando ainda 185 nomismata por homem mais os impostos por

responsabilidade solidaacuteriardquo ndash Croacutenica de Teoacutefanes o Confessor entrada para 809810624

623 Vide SCOTT Roger (1997) The Chronicle of Teophanes the Confessor Oxford Clarendon Press p 383 624 Vide Idem Ibidem p 383

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