como “navegar” a guerra: análise e comentário do tratado militar … · 2019. 11. 12. · ii...
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Joatildeo Pedro Gomes Paiva
Como ldquoNavegarrdquo a Guerra
Anaacutelise e Comentaacuterio do tratado militar Taktikaacute
de Leatildeo VI (seacutecX)
2018
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Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Militar orientada pelo Professor Doutor
Joatildeo Manuel Filipe Gouveia Monteiro apresentada ao Departamento de
Histoacuteria Estudos Europeus Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra
Faculdade de Letras
Ficha Teacutecnica
Tipo de trabalho Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Tiacutetulo Como ldquoNavegarrdquo a Guerra ndash Anaacutelise e Comentaacuterio do tratado
militar Taktikaacute de Leatildeo VI (seacuteculo X)
Autor Joatildeo Pedro Gomes Paiva
Orientador Doutor Joatildeo Manuel Filipe Gouveia Monteiro
Juacuteri Presidente Doutora Maria Alegria Fernandes Marques
Vogais
1 Doutor Pedro Gomes Barbosa
2 Doutor Joatildeo Manuel Filipe Gouveia Monteiro
Identificaccedilatildeo do Curso 2ordm Ciclo em Histoacuteria
Aacuterea cientiacutefica Histoacuteria
EspecialidadeRamo Histoacuteria Militar
Data da defesa 22-2-2018
Classificaccedilatildeo 17 valores
Como ldquoNavegarrdquo a Guerra
Anaacutelise e Comentaacuterio do tratado militar Taktikaacute
de Leatildeo VI (seacuteculo X)
ii
Resumo
A Histoacuteria do Impeacuterio Bizantino eacute um assunto muito pouco estudado em Portugal
algo que esta tese pretende ajudar a colmatar A dissertaccedilatildeo aqui apresentada tem como
objetos de estudo principais o basileuacutes Leatildeo VI o Saacutebio (886-912) e uma das obras mais
importantes que lhe satildeo atribuiacutedas o Taktikaacute uma enciclopeacutedia militar que aborda temaacuteticas
muito diversificadas como o armamento de tropas movimentaccedilotildees no campo de batalha e
guerra naval O Taktikaacute foi o primeiro manual militar da segunda eacutepoca de ouro da produccedilatildeo
literaacuteria beacutelica bizantina (seacutec X-XI) e serve como se pretende mostrar nesta tese como elo
de ligaccedilatildeo da tradiccedilatildeo antiga com os paradigmas militares bizantinos da eacutepoca que se
encontravam em mudanccedila no reinado deste imperador No contexto deste trabalho
pretendemos desmistificar a alegada falta de interesse por questotildees beacutelicas de Leatildeo VI um
imperador reconhecido pela sua ausecircncia de participaccedilatildeo em campanhas militares bem como
mostrar quais as preocupaccedilotildees que tinha patentes no tratado em estudo Quanto ao Taktikaacute
pretende-se demonstrar que apesar de ter sido muito influenciado por manuais congeacuteneres
anteriores (como o Stratēgikoacuten de Mauriacutecio do seacuteculo VI) refletia a realidade militar da
eacutepoca da sua escrita incorporava o pensamento estrateacutegico bizantino de entatildeo e serviu como
foco de influecircncia para as obras de literatura militar que se lhe seguiram Para isto recorremos
agrave leitura de fontes histoacutericas e tratados militares bizantinos anteriores e posteriores ao objeto
de estudo como o Perigrave Paradromeacutes de Niceacuteforo II Focas (governou entre 962-969) ou o Perigrave
Strategiacuteas de Siriano (possivelmente do seacuteculo IX) bem como a obras de especialidade que
versam tanto temaacuteticas beacutelicas como o principado do Saacutebio
Palavras-chave
Histoacuteria Militar Impeacuterio Bizantino Leatildeo VI Taktikaacute Themaacuteta
iii
Abstract
The History of the Byzantine Empire has been absent from the Portuguese research
agenda an issue this thesis attempts to address The following dissertation focuses its study
on the basileuacutes Leo VI the Wise (886-912) and the Taktikaacute a military encyclopaedia
accredited to him which approaches a vast set of subjects such as arming the troops moving
in the battlefield or waging war at sea The Taktikaacute was the first military field book from the
second golden era of byzantine war literature (X-XI centuries AD) and as we attempt to
showcase it served as a link between the ancient tradition with the byzantine military
standards of its time which were undergoing some changes by then Further we intend to
debunk Leo VIrsquos alleged lack of interest in military concerns an argument based on his
absence in military campaigns As for the Taktikaacute we defend that while influenced by similar
previous manuals (such as the 6th century Mauricersquos Stratēgikoacuten) it reflected the military
reality as well as the Byzantine strategic thinking of its time while serving as an influence
focus for the military literature that followed it To meet the set goals we have read historical
accounts and other byzantine military treatises such as Nikephoros II Phokasrsquos (who ruled
between 962 and 969) Perigrave Paradromeacutes or Sirianorsquos Perigrave Strategiacuteas (possibly 9th century) as
well as specific bibliography versing both military subjects and the reign of the Wise
Keywords
Military History Byzantine Empire Leo VI Taktikaacute Themaacuteta
iv
Aos meus avoacutes Luacute e Narciso por tudo o que fizeram por mim
ao longo da minha efeacutemera existecircncia por todas as aventuras e todos os ensinamentos Esta
dissertaccedilatildeo foi feita com vocecircs sempre no meu pensamento
v
Tal como natildeo eacute possiacutevel navegar um navio sobre os mares sem conhecimentos de navegaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute possiacutevel derrotar o inimigo sem disciplina e sem lideranccedila Ao passo que com isto
e com a ajuda de Deus natildeo soacute eacute possiacutevel prevalecer sobre um inimigo de igual forccedila mas tambeacutem
sobre um que supere largamente em nuacutemeros as vossas forccedilas
Leatildeo VI o Saacutebio in Taktikaacute Proacutelogo (9)
Entre as boas coisas que agrave vida trazem benefiacutecio a Histoacuteria natildeo eacute das menos mas sim das mais
importantes pois eacute por sua proacutepria natureza algo de uacutetil e proveitoso Eacute que ela relata uma
multiplicidade de feitos de toda a espeacutecie tais como eacute haacutebito acontecerem no decorrer do tempo e
dos eventos e em particular pelas escolhas dos homens que nesses eventos participam prescreve
tambeacutem aos homens que tomem como modelos e emulem alguns feitos enquanto rejeitam e evitam
outros de tal modo que natildeo negligenciem inadvertidamente o que eacute uacutetil e beneacutefico e se prendam
ao que eacute nocivo e abominaacutevel eacute Eacute portanto considerada a Histoacuteria como tatildeo proveitosa quanto
todas as outras coisas da vida na medida em que restitui vida ou juventude aos assuntos mortais
e natildeo permite que eles se apaguem e se confinem agraves profundezas do esquecimento
Leatildeo o Diaacutecono in A Histoacuteria Livro I
A paz era o objetivo principal (para Bizacircncio) ainda que a
guerra fosse necessaacuteria para o assegurar
John Haldon in Critical Commentary
on the Taktika of Leo VI p22
vi
Agradecimentos
A realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo de mestrado natildeo foi uma jornada faacutecil e foi repleta de
percalccedilos de duacutevidas e desalento por muito deleite que tal empreendimento me tenha dado Eacute
por este motivo que devo agradecer a todos os que me auxiliaram nesta fase e me
incentivaram a seguir em frente
Em primeiro lugar ao meu orientador mestre e amigo o Professor Doutor Joatildeo
Gouveia Monteiro Muito haacute a agradecer desde logo por ter acompanhado o meu percurso
acadeacutemico desde o meu segundo ano da faculdade quando semeou em mim a paixatildeo por
Histoacuteria Militar Por ter apontado o caminho para Constantinopla Por toda a ajuda todas as
oportunidades e todas as palavras de forccedila A mais sentida gratidatildeo por tudo isto e pelo que
espero viraacute
Os meus agradecimentos devem agora estender-se aos outros eruditos que me
aconselharam e me deram apoio bibliograacutefico para este trabalho Primeiro e em especial ao
Professor Salvatore Cosentino de Ravena pela hospitalidade durante a viagem a Itaacutelia e pela
disponibilidade incansaacutevel em me ajudar Ao Professor John Haldon da Universidade de
Princeton o meu obrigado natildeo soacute pelos conselhos que me deu mas tambeacutem pela longa obra
que jaacute tem parte do meu entusiasmo pelo exoacutetico Impeacuterio Romano do Oriente eacute devido a ele
E por fim agrave Professora Helena Catarino da Universidade de Coimbra por tudo o que me
ensinou e por ter dado o empurratildeozinho final para entrar no Mestrado Interuniversitaacuterio em
Histoacuteria Militar
Um agradecimento especial ao Mestre Joatildeo Nisa natildeo soacute em tiacutetulo mas tambeacutem em
conhecimento Por todos os conselhos e todas as ideias que me deu e por todas as duacutevidas que
me esclareceu A todos os outros que me ajudaram durante a realizaccedilatildeo deste trabalho Ao
Rodrigo Gomes e ao Gustavo Gonccedilalves amigos e companheiros de guerra que sempre me
ajudaram alegraram e impeliram a seguir em frente Que venham muitos mais anos de duros
combates pela nossa frente Uma palavra de gratidatildeo para o Anton Stark e para o Maacuterio
Coelho por me terem ajudado na traduccedilatildeo do inglecircs mais traiccediloeiro Aos camaradas Joatildeo Neto
e Jorge Wolfs pelo apoio graacutefico terreno desconhecido e exoacutetico para mim E ao meu
afilhado de amizade Pedro Baptista por todos os remendos palavras de forccedila e gargalhadas
A minha gratidatildeo estende-se tambeacutem a todos os outros que me ajudaram nesta
dissertaccedilatildeo somente pela boa-disposiccedilatildeo e amizade em especial a Caacutetia a Laura o Luiacutes o
vii
Joatildeo Rainho o Emanuel e o Pedro Parreira Ah e um agradecimento especial agrave Sara Serra
pelos raspanetes quando a ansiedade teimava em aparecer
Deixo um agradecimento emotivo aos que me apoiaram desde sempre Ao meu pai Zeacute
por nunca me deixar ir abaixo pelas palavras saacutebias e por todas as correccedilotildees que fez Agrave minha
matildee Rosa pelos sermotildees pela companhia nas uacuteltimas noites e pelo lanchinho das ldquotrecircs da
manhatilderdquo Um agradecimento tambeacutem para a minha avoacute Fernanda por tudo o que fez por mim
durante a minha breve vida e a toda a restante famiacutelia por nunca ter deixado de acreditar no
ldquoJoatildeozinhordquo ldquoJoatildeo Pedrordquo
Por fim e porque os uacuteltimos satildeo sempre os primeiros agrave Sofia pela inspiraccedilatildeo o
encorajamento e pelo carinho (e pela paciecircncia) Por nunca ter deixado de acreditar em mim e
por ser o meu grande porto de abrigo O meu mais sentido obrigado milady
PS Ao Professor Doutor Pedro Barbosa da Universidade de Lisboa meu arguente
por todas as suas construtivas opiniotildees e comentaacuterios que serviram para beneficiar a versatildeo
final desta dissertaccedilatildeo O meu mais sentido agradecimento por tudo isto
viii
Foto de capa Leatildeo VI do livro ldquoRulers of the Byzantine Empirerdquo publicado pela KIBEA
Fonte httpsthehistoryofbyzantiumcom20160705episode-109-leo-the-wiseleo-vi-from-
rulers-of-the-byzantine-empire-published-by-kibea Verificado agraves 2346 de 05032018
Iacutendice
Resumo ii
Abstract iii
Agradecimentos vi
Introduccedilatildeo 6
Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o exeacutercito
bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X 12
11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando da ascensatildeo
da dinastia macedoacutenica 12
12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial 15
13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados dos
primeiros basileicircs macedoacutenicos 18
Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte de Leatildeo VI
(867-912) 28
21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886) 28
22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912) 37
Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina 50
31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina 50
32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI) 52
Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute 56
41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza 56
42 ndash Estrutura interna da fonte 61
43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees 64
Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general 67
51 ndash O strategoacutes de Leatildeo 67
52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros 70
53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos 73
Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar 79
61 ndash O armamento e o treino 79
62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra 83
63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta 87
Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas 91
71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade 91
72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval 96
73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X 101
Conclusatildeo 106
Bibliografia 110
Fontes 110
Estudos 112
Iacutendice de Anexos
Anexos I ndash Mapas e Esquemas I
Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino XIV
Seacuteculo V XIV
Seacuteculo VI XIV
Seacuteculo VII XV
Seacuteculo VIII XXIX
Seacuteculo IX XXXV
Seacuteculo X XLIV
Seacuteculo XI LI
Seacuteculo XII LIX
Seacuteculo XIII LXIV
Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos LXVI
Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana) LXVI
Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica) LXVIII
Reinado de Leatildeo VI LXXIV
Reinado de Alexandre LXXXIII
Reinado de Constantino VII LXXXIV
Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees LXXXVI
a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados LXXXVI
b) Tratadistas e cronistas XCII
c) Outras personagens relevantes XCIII
d) Dinastias XCIV
e) Organizaccedilotildees e unidades militares XCV
Anexos V ndash Listas de Titulares XCVI
a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca meacutedio-bizantina XCVI
b) Califas Aacuterabes C
c) Outros governantes aacuterabes CI
d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria CIII
e) Priacutencipes de Rus CIV
f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia CV
Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico CIX
a) Termos militares e navais CIX
b) Tiacutetulos CXIV
c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura CXVI
d) Povos CXVIII
e) Outros termos CXX
Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico CXXI
a) Regiotildees CXXI
b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc) CXXIII
c) Centros populacionais (cidades vilas etc) e fortificaccedilotildees CXXIV
d) Referecircncias topograacuteficas mariacutetimas e fluviais CXXVII
e) Campos de batalha CXXVIII
Anexo VIII ndash Excertos do Taktikaacute CXXIX
a) Evitar batalha CXXIX
b) Sobre natildeo guerrear com os Buacutelgaros e a paz de 896 CXXIX
c) Preferecircncia de recrutamento de soldados economicamente confortaacuteveis CXXIX
d) Acerca do financiamento de soldados pobres por homens (stratioacutetai) ricos CXXX
e) Menccedilatildeo da alianccedila entre Bizantinos e Magiares do iniacutecio da guerra Bizantino-Buacutelgara de
984 e da participaccedilatildeo Magiar nesse conflito CXXX
f) O Proeacutemio CXXXI
g) A travessia do rio Paradeisos por Basiacutelio (877-878) CXXXI
h) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (I) CXXXI
i) Os Aacuterabes como motivo para a escrita do Taktikaacute (II) CXXXI
j) Sobre a lealdade do general CXXXII
k) As caracteriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos Aacuterabes contra Bizacircncio CXXXII
l) O problema em causa no Taktikaacute CXXXII
m) A soluccedilatildeo do basileuacutes CXXXIII
n) O Epilogus CXXXIV
o) A guerra como ldquomal necessaacuteriordquo CXXXIV
p) Formas de agir em caso de ataques vindos da Ciliacutecia CXXXV
q) O perfil psicoloacutegico de um bom strategoacutes CXXXV
Anexos IX ndash Excertos de outras fontes CXXXVII
a) Listas da Expediccedilatildeo a Creta em 910-911 CXXXVII
b) A primeira ldquomaldaderdquo de 809810 CXLIV
c) A segunda ldquomaldaderdquo CXLIV
6
Introduccedilatildeo
O que eacute Bizacircncio Para muitos eacute um mundo exoacutetico algo distante desconhecido
intrigante Quando tal nome eacute pronunciado vecircm-nos agrave mente algumas imagens palavras
iconografias personagens Constantinopla Hagia Sophia Guarda Varangiana as figuras de
Justiniano e Teodora imortalizadas na Basiacutelica de Satildeo Vital em Ravena No entanto para
noacutes estudantes de Histoacuteria e do Impeacuterio Bizantino tem outro significado e outra essecircncia eacute
Roma noutro local centrada noutra capital (que une hoje dois continentes) que tenta manter
por todos os meios o seu esplendor e o seu legado eacute um mundo dominado pelo Grego na
escrita na cultura e na lei e por fim eacute um baluarte da Cristandade Ortodoxa onde o poder
do Estado sobre a religiatildeo se mescla sinergicamente com a influecircncia da religiatildeo sobre o
Estado como o atestam os vaacuterios conflitos entre imperadores papas e patriarcas que diversas
vezes minaram a estabilidade do Estado e da sociedade bizantina Se pudeacutessemos definir este
Impeacuterio tatildeo diversificado a partir de trecircs caracteriacutesticas principais seriam estas um Impeacuterio
Romano de liacutengua grega e com uma religiatildeo cristatilde ortodoxa
Todavia o objeto deste trabalho natildeo satildeo os mil anos de histoacuteria bizantina (romana)
nem tatildeo pouco as tipologias de exeacutercitos que os basileicircs ao longo da existecircncia do Impeacuterio
tiveram ao seu dispor O nosso trabalho encontra-se situado num espaccedilo de tempo preciso na
Histoacuteria de Bizacircncio o reinado de Leatildeo VI entre os finais do seacuteculo IX e os iniacutecios do seacuteculo
X Mais especificamente a nossa investigaccedilatildeo incide no tratado militar Taktikaacute atribuiacutedo a
esse mesmo soberano que apesar de natildeo ser original em grande parte do seu conteuacutedo
possui caracteriacutesticas inovadoras como demonstraremos mais adiante
Que razotildees nos levaram a optar por esta temaacutetica (a tratadiacutestica) e por esta fonte em
particular Uma das principais razotildees para a escolha desta enciclopeacutedia militar do seacuteculo X
prende-se exatamente com a diversidade do seu conteuacutedo que abrange todas as disciplinas da
tratadiacutestica claacutessico-bizantina das quais falaremos mais adiante Um tratado militar tatildeo
abrangente parece-nos uma excelente ferramenta para o estudo das forccedilas armadas deste
periacuteodo desde que tal como acontece com todas as fontes histoacutericas coevas sejam aplicados
os devidos cuidados durante a sua apreciaccedilatildeo A outra razatildeo que entendemos ter sido
fundamental para a proposiccedilatildeo do estudo deste tratado eacute o periacuteodo cronoloacutegico em que foi
redigido De facto os iniacutecios do seacuteculo X satildeo uma etapa fundamental para aquilo que muitos
apelidam de laquoReconquista Bizantinaraquo Durante o reinado de Leatildeo VI Bizacircncio encontrava-se
sob a dinastia Macedoacutenica uma das dinastias mais bem-sucedidas da histoacuteria bizantina (salvo
talvez a dinastia dos herdeiros de Justiniano) e embora ainda natildeo estivessem reunidas as
7
melhores condiccedilotildees para o Impeacuterio se lanccedilar em grandes ofensivas este tambeacutem natildeo estava
numa situaccedilatildeo de dificuldade in extremis tal como a que existiu entre 640 e 740 E se por um
lado ainda se mantinha um impasse no limes oriental entre Constantinopla e os emirados
aacuterabes sedeados em torno dos thugucircr da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia tambeacutem eacute verdade que a
balanccedila tendia cada vez mais a favor do Impeacuterio algo que se manteve ateacute agrave ascensatildeo de Sayf
al-Dawlah em 936 ao emirado de Alepo
Por outro lado os Buacutelgaros continuavam a constituir um enorme perigo na
laquoretaguarda bizantinaraquo e novos adversaacuterios como os Russos e os Magiares comeccedilavam a ser
uma presenccedila cada vez mais constante na lista de inimigos que os basileicircs tinham de
enfrentar Infelizmente a necessidade de valorizar o fulcro desta dissertaccedilatildeo (o estudo do
tratado) conjugado com o limite de paacuteginas que temos ao nosso dispor natildeo nos permitem
uma anaacutelise pormenorizada e detalhada dos principais inimigos de Bizacircncio nesta eacutepoca
desde o seu surgimento enquanto tal ateacute ao status quo poliacutetico-militar dos iniacutecios do seacuteculo X
Temos trecircs objetivos principais na realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo o primeiro eacute
comprovar que Leatildeo VI tinha um empenho claro na governaccedilatildeo do impeacuterio inclusive nos
assuntos de natureza militar o segundo eacute demonstrar que o Taktikaacute natildeo eacute apenas uma
enciclopeacutedia militar que compila os conhecimentos beacutelicos dos eruditos claacutessicos e de
Mauriacutecio para preencher as suas paacuteginas antes reflete sob diversas formas a realidade da
eacutepoca o terceiro consiste em comparar a informaccedilatildeo presente no Taktikaacute com o modelo
militar dos themaacuteta em especial com a guerra travada no limes oriental e no Mediterracircneo
Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir a nossa dissertaccedilatildeo em duas partes principais a
contextualizaccedilatildeo e a anaacutelise do tratado A primeira secccedilatildeo eacute constituiacuteda por trecircs capiacutetulos que
versam o periacuteodo histoacuterico em que este manual se encontra situado a passagem do seacuteculo IX
para o X Cada um dos capiacutetulos aborda uma temaacutetica particular O primeiro refere assuntos
de natureza geopoliacutetica e militares e vamos tentar aferir qual era a situaccedilatildeo estrateacutegica do
Impeacuterio nesta fase quais eram as principais ameaccedilas agrave supremacia romana de que forma
Constantinopla respondia a essas ameaccedilas em termos estrateacutegicos e por fim que meios
militares eacute que Bizacircncio possuiacutea para se defender com sucesso De seguida vamos retratar os
principados de Leatildeo VI e do seu pai Basiacutelio I o fundador da dinastia Macedoacutenica uma
dinastia que durou mais de um seacuteculo e que teve um importante papel na chamada
laquoReconquista Bizantinaraquo um conjunto de campanhas militares que tornou Bizacircncio a maior
potecircncia do Mediterracircneo oriental no primeiro quartel do seacuteculo XI Aqui daremos ecircnfase agraves
questotildees beacutelicas poliacuteticas e diplomaacuteticas dos primeiros basileicircs dessa linha dinaacutestica Este
tipo de digressatildeo eacute crucial para podermos entender as motivaccedilotildees que levaram Leatildeo VI a
8
redigir o Taktikaacute e os desafios que o Saacutebio teraacute enfrentado durante o tempo em que esteve
sentado no trono puacuterpura de Constantinopla
Finalmente ainda dentro da contextualizaccedilatildeo vamos dedicar um capiacutetulo agrave tratadiacutestica
militar A produccedilatildeo literaacuteria de obras beacutelicas jaacute possuiacutea uma longa histoacuteria quando Leatildeo
iniciou (ou mandou iniciar) a escrita do Taktikaacute Natildeo iremos aqui evocar a longa histoacuteria da
escrita de guerra em Bizacircncio porque outros jaacute o fizeram1 mas vamos proceder agrave exposiccedilatildeo
das principais disciplinas da tratadiacutestica bizantina ateacute porque as utilizaremos para estruturar a
parte desta dissertaccedilatildeo direcionada agrave anaacutelise do tratado Assim sendo temos cinco disciplinas
importantes para a caracterizaccedilatildeo da escrita militar bizantina a strategikaacute relacionada com a
arte de comandar preparar e organizar exeacutercitos a taktikaacute que engloba os preceitos taacutecticos e
a forma de organizar e de comandar soldados no campo de batalha a poliorketikaacute que
descreve os meios e engenhos usados na guerra de cerco defensiva e ofensiva a naumachikaacute
que aborda o modo como se pratica a guerra naval e por fim os tratados baseados na
strategemataacute que podemos distinguir em dois geacuteneros os que abordam meacutetodos indiretos de
praticar a guerra estratagemas ardis e guerra de guerrilha no geral e a rethoacuterika ou maacuteximas
beacutelicas2 Na segunda parte deste capiacutetulo analisaremos algumas das principais caracteriacutesticas
da lsquosegunda eacutepoca douradarsquo da erudiccedilatildeo militar literaacuteria de Bizacircncio que se estendeu do
Taktikaacute de Leatildeo VI ateacute aos meados do seacuteculo XI e aferiremos ateacute que ponto esses atributos se
enquadram no contexto politico-estrateacutegico que o impeacuterio entatildeo vivia
Na segunda parte desta dissertaccedilatildeo vamos analisar a grande obra militar de Leatildeo o
Taktikaacute Optaacutemos por dividir o seu estudo segundo as cinco disciplinas da literatura beacutelica
coeva de forma a natildeo nos fixarmos na anaacutelise individual de cada Constitutio um trabalho
pesado e demorado A anaacutelise do tratado comeccedilaraacute com uma introduccedilatildeo onde abordaremos
questotildees como a estrutura a autoria e a dataccedilatildeo Os restantes capiacutetulos tratam de cada uma
das disciplinas jaacute referidas mas dedicaremos especial atenccedilatildeo agrave strategikaacute e agrave taktikaacute
vertentes mais expressivas do que as restantes trecircs (poliorketikaacute strategemataacute e naumachikaacute)
na fonte em apreccedilo
1 Vide COSENTINO Salvatore (2009) Writting about War in Byzantium in Revista de Histoacuteria das Ideias
volume 30 Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 85-90 Mais recentemente a dissertaccedilatildeo de
Mestrado apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pelo Mestre Joatildeo Nisa possui
tambeacutem um excelente resumo da produccedilatildeo tratadiacutestica bizantina ao longo dos tempos com pequenos resumos
acerca dos conteuacutedos e principais caracteriacutesticas dos tratados mais importantes vide NISA Joatildeo (2016) Arte
Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria Militar
apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra pp 11-16 2 Vide MCGEER Eric (2008a) Military Texts In JEFFREYS Elizabeth HALDON John e CORMACK Robin
The Oxford Handbook of Byzantine Studies Nova Iorque Oxford University Press p 907
9
Em relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo utilizada tivemos agrave nossa disposiccedilatildeo uma pequena
quantidade de fontes histoacutericas que podemos dividir em duas aacutereas as croacutenicas e os tratados
militares As principais croacutenicas que utilizaacutemos foram a Histoacuteria de Joatildeo Skylitzes e a
Histoacuteria de al-Tabari A primeira apresenta-se como uma coleccedilatildeo de trabalhos
historiograacuteficos que se mostra fundamental para entender a histoacuteria do Impeacuterio Bizantino
desde o iniacutecio do seacuteculo IX ateacute aos meados do seacuteculo X Apesar de ser dada especial atenccedilatildeo
ao reinado de Basiacutelio II os principados de Basiacutelio I e Leatildeo VI tambeacutem se encontram bem
retratados pelo que decidimos usar esta obra A traduccedilatildeo que usaacutemos desta recolha
historiograacutefica eacute da autoria de John Wortley e foi publicada em 2010 pela Universidade de
Cambridge3 Quanto a al-Tabari o seu trabalho oferece um relato exaustivo da histoacuteria da
civilizaccedilatildeo islacircmica ateacute ao ano 915 Tendo em conta o objeto de estudo do nosso tratado
utilizaacutemos os volumes XXXVII e XXXVIII por relatarem os acontecimentos alusivos aos
reinados dos basileicircs em apreccedilo As traduccedilotildees que dispusemos foram respetivamente
realizadas por Phillip M Fields (XXXVII)4 e Franz Rosenthal (XXXVIII)5 as quais foram
editadas pela Universidade de Nova Iorque
Em relaccedilatildeo agrave tratadiacutestica utilizaacutemos vaacuterias obras das quais destacamos o
indispensaacutevel Taktikaacute O Stratēgikoacuten foi outra enciclopeacutedia militar a que recorremos
frequentemente pelo facto de ser uma das principais influecircncias (senatildeo a maior) do manual
atribuiacutedo a Leatildeo Escrito no seacuteculo VI trata-se da primeira enciclopeacutedia militar bizantina
apesar de atribuir maior relevo agrave cavalaria6 Outra obra muito importante que usaacutemos foi o
Perigrave Paradromeacutes atribuiacutedo a Niceacuteforo II Focas pelas suas descriccedilotildees do combate travado no
limes oriental algo que entendemos ser pertinente para alcanccedilarmos os nossos objetivos7
Para aleacutem das fontes primaacuterias recorremos ainda a um grande conjunto de estudos
seja de cariz mais especiacutefico seja mais generalista da histoacuteria bizantina Em especial
destacamos ldquoA Critical Comentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo8 de John Haldon um
3 WORTLEY John (2010) A Synopsis of Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press 4 FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid Recovery Nova Iorque
New York University Press 5 ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVIII The Return of the Caliphate to
Baghdad Nova Iorque New York University Press 6 Utilizaacutemos a traduccedilatildeo inglesa de George T Dennis cuja referecircncia eacute DENNIS George T (1984) Mauricersquos
Strategikon ndash Handbook of Byzantine Military Strategy Filadeacutelfia University of Pennsylvania Press 7 A traduccedilatildeo de que dispusemos foi realizada em inglecircs por George T Dennis DENNIS George T (1985)
Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 8 HALDON John (2014) A Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VI Washington DC Dumbarton
Oaks Research Library and Collection
10
excelente companheiro da traduccedilatildeo feita por George T Dennis9 e que foi muito uacutetil para
orientar o nosso trabalho e as nossas ideias Em relaccedilatildeo agrave Histoacuteria do Impeacuterio Bizantino no
periacuteodo em apreccedilo demos relevacircncia ao artigo de Karlin-Hayter sobre os aspetos militares da
governaccedilatildeo de Leatildeo VI10 assim como ao estudo da vida deste imperador que remete para
eventos do reinado do pai devido a Shaun Tougher na sua obra ldquoThe Reign of Leo VIrdquo11 por
fim utilizaacutemos o relato da histoacuteria do Impeacuterio Bizantino da autoria de Warren Treadgold12
Quanto a obras de estudo mais no acircmbito especializado da histoacuteria militar salientamos o
ldquoWarfare State and Societyrdquo de John Haldon13 (uma obra excelente e que aborda
detalhadamente muitos aspetos relativos ao funcionamento do exeacutercito bizantino e do seu
pensamento estrateacutegico) bem como alguns estudos assinados por Eric McGeer como por
exemplo o pequeno capiacutetulo sobre tratadiacutestica militar inserido no Oxford Handbook of
Byzantine Studies que possui algumas informaccedilotildees relevantes para todos aqueles que
tencionam iniciar o seu estudo da tratadiacutestica bizantina14 Por fim natildeo podiacuteamos deixar de
referir o livro ldquoThe Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-1204rdquo de John Pryor
e Elizabeth Jeffreys que aborda os mais diversos aspetos da poliacutetica naval bizantina
incluindo um estudo da evoluccedilatildeo da embarcaccedilatildeo predileta de Bizacircncio ndash o droacutemōn15
Qual a importacircncia da bizantiniacutestica para a historiografia portuguesa Esta eacute uma
questatildeo que se pode colocar a esta dissertaccedilatildeo sendo pertinente identificar uma resposta para
ela A invocaccedilatildeo de motivaccedilotildees geograacutefico-histoacutericas gera sentimentos contraditoacuterios se por
um lado a presenccedila bizantina no sul da Peniacutensula Ibeacuterica (incluindo possivelmente no
Algarve) foi muito efeacutemera por outro lado as suas influecircncias culturais em especial na
disciplina arquitetoacutenica satildeo evidentes como bem atesta o caso da Capela de Satildeo Frutuoso de
Monteacutelios em Braga Ainda assim a curta permanecircncia de Bizacircncio na Hispacircnia tambeacutem natildeo
pode representar um pretexto para natildeo se estudar o Impeacuterio Romano do Oriente bastando
para isso recordar que algumas das grandes escolas mundiais de bizantiniacutestica estatildeo sedeadas
9 Nesta dissertaccedilatildeo utilizaremos a traduccedilatildeo mais recente DENNIS George T (2014) The Taktika of Leo VI
Text Translation and Commentary (Revised Edition) Washington DC Dumbarton Oaks Research Library and
Collection 10 KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Hands A Note on Byzantine
Foreign Policy (886-912) Traditio (23) pp 15-40 11 TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 12 TREADGOLD Warren (1997) A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University
Press 13 HALDON John (1999) Warfare State and Society in the Byzantine World 565-1204 Londres University
College of London Press 14 MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit pp 907 a 914 15 PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-
1204 Leiden e Boston Brill
11
em paiacuteses onde os basilecircis natildeo exerceram qualquer tipo de poder poliacutetico ou militar direto em
Franccedila na Alemanha no Reino Unido e claro em Harvard nos Estados Unidos onde existe
a maior coleccedilatildeo de fontes bizantinas a Research Library and Collection in Byzantine Studies
em Dumbarton Oaks (um trustee da melhor universidade do mundo) O trabalho que se
segue no qual pusemos o nosso maior empenho demonstra a atualidade de Bizacircncio e a
necessidade de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre este tema de grande relevacircncia histoacuterica para
compreendermos melhor o presente em que vivemos e entendermos mais em profundidade a
Europa de hoje Os historiadores portugueses natildeo devem furtar-se agrave participaccedilatildeo neste debate
12
Capiacutetulo 1 ndash O plano beacutelico geografia de guerra estrateacutegia romana e o
exeacutercito bizantino nos iniacutecios do seacuteculo X
O primeiro capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo versa a guerra e a sua relaccedilatildeo com a sociedade e
o Estado bizantinos antes e durante o tempo da escrita do Taktikaacute nos primeiros anos do
seacuteculo X Este capiacutetulo estaacute dividido em trecircs subcapiacutetulos principais que focam
respetivamente i) a geografia poliacutetica e militar do impeacuterio nos primeiros anos da dinastia
Macedoacutenica ii) o panorama do pensamento estrateacutegico do impeacuterio sedeado em
Constantinopla neste periacuteodo bem como as formas de fazer a guerra em Bizacircncio iii) os
apparati militares bizantinos que se encontravam ao dispor de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Neste
uacuteltimo subcapiacutetulo daremos especial relevacircncia aos themaacuteta pois eacute aos generais destes
exeacutercitos que Leatildeo VI dedica a sua obra Apesar de o Taktikaacute natildeo se dirigir por exemplo aos
taacutegmata (plural de taacutegma laquoregimentoraquo) que compunham a guarda imperial e eram a coluna
vertebral dos exeacutercitos de campanha coevos atribuiremos tambeacutem algum espaccedilo a tais
contingentes bem como a outras componentes das forccedilas armadas bizantinas caso dos
mercenaacuterios e da marinha de guerra
11 ndash A geografia poliacutetico-militar do Mediterracircneo Oriental e de Itaacutelia aquando
da ascensatildeo da dinastia macedoacutenica
A epopeia milenar bizantina estaacute repleta de acontecimentos militares e constroacutei-se
sobre um impeacuterio em permanente estado de guerra maioritariamente defensiva Esta
caracteriacutestica torna-se ainda mais nefasta quando nos apercebemos de que os territoacuterios sob
soberania bizantina16 estavam dispersos por terras distantes separadas por mares A
insuficiecircncia econoacutemica ou militar romanas para conseguir acorrer a cada regiatildeo da mesma
forma quando mais do que uma delas estava em perigo apresenta-se como uma agravante
daquela dificuldade Veja-se por exemplo o caso dos herdeiros do imperador Justiniano
(527-565) que apoacutes um grande nuacutemero de vitoacuterias espetaculares deste no Norte de Aacutefrica e
em Itaacutelia se viram perante um enorme conjunto de invasotildees e de guerras por todo o territoacuterio
imperial17 as quais soacute a muito custo conseguiram parar ou retardar
A situaccedilatildeo que Bizacircncio vivia na altura da ascensatildeo dos primeiros Macedoacutenicos era
pouco diferente daquela que Justiniano tivera de enfrentar depois da conquista final da Itaacutelia
16 Quer sob controlo direto quer sob o domiacutenio de um vassalo de Bizacircncio 17 A Peacutersia a Oriente os Lombardos em Itaacutelia tribos mouriscas no Norte de Aacutefrica e os sempre permanentes
raides dos ldquoPovos das Estepesrdquo nos Balcatildes
13
por Narseacutes apoacutes a batalha de Mons Lactarius em 553554 Quanto muito tinham mudado os
protagonistas (ou os antagonistas neste caso) em cada uma das frentes o Norte de Aacutefrica e o
Sul da Peniacutensula Ibeacuterica estavam perdidos como principal inimigo no lugar dos Sassacircnidas
erguiam-se os califados e os emirados muccedilulmanos na Siacuteria na Ciliacutecia e no Norte de Aacutefrica
em Itaacutelia para aleacutem dos principados lombardos no Sul e dos Francos no norte os Aacuterabes
faziam sentir a sua presenccedila apoacutes a invasatildeo da Siciacutelia em 827 os Buacutelgaros mantinham-se
como o principal rival bizantino nos Balcatildes e a situaccedilatildeo mariacutetima mostrava-se pouco
favoraacutevel com a Siciacutelia a ser invadida pelos Aglaacutebidas (uma dinastia muccedilulmana do Norte de
Aacutefrica) Creta em matildeos de corsaacuterios sarracenos a ilha de Chipre a manter o status quo vigente
desde o tratado entre Justiniano II (685-695705-711) e al-Malik (685-705) em 688 e a
supremacia naval entregue nas matildeos dos emirados de Tarso e dos Tuluacutenidas do Egito e
(assim) indiretamente dos Abaacutessidas Tal era o ponto geral da situaccedilatildeo aquando da ascensatildeo
da dinastia macedoacutenica
Olhemos agora mais especificamente para cada regiatildeo Comecemos por aquela que eacute a
frente mais simboacutelica do periacuteodo-meacutedio bizantino a Aacutesia Menor Nos finais do reinado de
Miguel III (842-867) a guerra neste territoacuterio tinha comeccedilado a abrandar apoacutes duas
importantes batalhas em Marj al-Usquf e em Lalacatildeo ambas em 863 das quais resultou o
enfraquecimento do poderio terrestre dos emirados de Tarso e de Melitene Nesta regiatildeo
mantinha-se o perigo que representava o ldquoEstadordquo Pauliciano sedeado em torno de Tephrike
(atual Divriği na Turquia) que continuava a enviar expediccedilotildees de saque para o interior da
Anatoacutelia No entanto os raides muccedilulmanos de maiores dimensotildees tinham terminado e a
vantagem comeccedilava a tender cada vez mais para os Bizantinos ao menos no virar do seacuteculo
A guerra que se praticava naquela regiatildeo era tipicamente perniciosa para as
populaccedilotildees locais em especial para aquelas que habitavam junto agraves cordilheiras do Tauro e do
Antitauro A modalidade beacutelica aiacute praticada com semelhanccedilas ao que noacutes chamamos hoje de
ldquoguerrilhardquo assentava em escaramuccedilas e emboscadas e muitas vezes implicava que o inimigo
invadisse o territoacuterio imperial e saqueasse escravizasse e destruiacutesse com impunidade O
recurso de Bizacircncio a este tipo de guerra naquela aacuterea durante quase dois seacuteculos provocou
mudanccedilas de espectro demograacutefico como a criaccedilatildeo de uma terra-de-ningueacutem no limes
bizantino-aacuterabe e a reduccedilatildeo do nuacutemero de grandes cidades18 que foram substituiacutedas por
centros populacionais mais seguros bem fortificados e localizados em zonas de difiacutecil acesso
18 Estas passaram a existir apenas como centros administrativos ou refuacutegio ocasional para as populaccedilotildees
circundantes em caso de ameaccedila Vide HALDON John e KENNEDY Hugh (1980) The Arab-Byzantine
14
Tambeacutem a economia anatoacutelica (e por consequecircncia bizantina) foi viacutetima da estrateacutegia
militar romana tendo sofrido alteraccedilotildees Comeccedilou-se a verificar uma centralizaccedilatildeo da
agricultura anatoacutelica nas zonas costeiras da peniacutensula pois possuiacuteam terrenos mais feacuterteis e
estavam protegidas pelo terreno montanhoso que separava aquelas aacutereas do planalto anatoacutelico
e pela frota do Kibirrhaiotai Por sua vez os principais recursos econoacutemicos do planalto
anatoacutelico passam a ser produzidos a partir da pecuaacuteria visto que esta era muito mais rentaacutevel
no terreno rochoso e no clima frio da regiatildeo em muito semelhante ao da estepe ateacute porque se
tratava de uma fonte de rendimento muito mais faacutecil de proteger ou de deslocar
comparativamente agrave agricultura estaacutetica e muito vulneraacutevel perante as depredaccedilotildees aacuterabes
Nos Balcatildes o impasse permanecia entre Bizacircncio e a Bulgaacuteria a conversatildeo deste
uacuteltimo povo ao cristianismo em 864 afetou profundamente a relaccedilatildeo entre os ditos reinos
mudanccedila esta refletida em diversos acordos comerciais firmados A ascensatildeo de um novo
czar Simeatildeo (893-927) iria contribuir para o reforccedilo da cristianizaccedilatildeo do Estado buacutelgaro
mas se os Bizantinos pensavam que isso era sinoacutenimo de paz rapidamente viram as suas
ideias viradas do avesso quando o primeiro conflito entre os dois Estados desde a conversatildeo
dos Buacutelgaros comeccedilou a tomar forma Em 894 irrompe a guerra entre Preslav e
Constantinopla talvez catalisada pelo czar Simeatildeo Este confronto teraacute um teor diferente dos
anteriores um seacuteculo antes aquando da batalha de Priska os Buacutelgaros eram pagatildeos mas
agora eram cristatildeos e o basileuacutes Leatildeo VI (886-912) natildeo demonstrava (ou natildeo aparentava
demonstrar) qualquer inclinaccedilatildeo para travar um combate contra um reino cristatildeo ortodoxo19
tal como declara no seu tratado militar20 como veremos mais adiante
Em Itaacutelia os Bizantinos veem-se novamente frente-a-frente com os Aacuterabes apoacutes a
invasatildeo aglaacutebida da Siciacutelia em 827 Os confrontos com os muccedilulmanos alcanccedilariam mais
tarde a Calaacutebria e a Apuacutelia onde Bizacircncio combatia tanto pelas armas como pela diplomacia
a fim de submeter os principados lombardos agrave soberania bizantina quer de forma direta quer
por vassalagem A norte Bizacircncio mantinha relaccedilotildees cordiais com os Francos o que
possibilitou uma alianccedila contra os Sarracenos de Bari e permitiu cercar a cidade em 869 jaacute no
reinado de Basiacutelio I (867-886) Apesar de desacordos entre as duas partes e do abandono do
cerco pelas forccedilas bizantinas Bari caiu para os Francos em 871 tendo os habitantes entregado
a cidade anos depois a Constantinopla Esta urbe vai-se mostrar fundamental para alcanccedilar
Frontier in the Eighth and Ninth Centuries Military Organization and Society in the Borderlands Zbornik
Radova Visantoloskog InstitutaI (19) pp 92-94 19 Vide KARLIN-HAYTER Patricia (1967) lsquoWhen Military Affairs Were in Leos Handsrsquo A Note on Byzantine
Foreign Policy (886-912) Traditio 23 p 40 20 Vide Anexo IX b)
15
os dois principais objetivos estrateacutegicos na regiatildeo a expulsatildeo da ameaccedila aacuterabe e a subjugaccedilatildeo
das cidades lombardas agrave soberania romana duas metas para as quais Basiacutelio I e Leatildeo VI natildeo
vatildeo despender esforccedilos de forma a garantir a supremacia bizantina no sul de Itaacutelia ainda que
para isso tenham que sacrificar a Siciacutelia mesmo que acidentalmente como no caso de
Basiacutelio I
Por fim a situaccedilatildeo mostrava-se ingrata para os Bizantinos na guerra mariacutetima as
grandes ilhas do Mediterracircneo Oriental e Central estavam em matildeos muccedilulmanas (Creta) ou
em vias de ser conquistadas (Siciacutelia) Por outro lado o poder mariacutetimo dos emirados
cilicianos e do Califado mantinha-se superior agrave forccedila naval bizantina com ataques frequentes
agraves ilhas do Mar Egeu agrave costa anatoacutelica e agrave Greacutecia Soacute na costa italiana eacute que Bizacircncio parecia
manter a supremacia conseguindo inverter com certa facilidade os reveses naquelas aacuteguas
Na passagem do seacuteculo IX para o X eacute esta a situaccedilatildeo de Bizacircncio Os primeiros
imperadores macedoacutenicos Basiacutelio I e Leatildeo VI agrave semelhanccedila dos seus antecessores veem-se
confrontados com um conjunto de antagonismos por todo o espaccedilo imperial Pressionados
pela necessidade de legitimar a nova dinastia os basileicircs em especial Basiacutelio I vatildeo tentar
inverter a situaccedilatildeo recorrendo agrave revisatildeo da estrateacutegia militar bizantina e agrave diplomacia
12 ndash O pensamento estrateacutegico imperial
Face ao tipo de adversidades enunciadas anteriormente o Impeacuterio Bizantino eacute
obrigado a proceder a reformas na sua maacutequina de guerra para conseguir responder com
sucesso agraves agressotildees estrangeiras ou intestinas que emergem no seu territoacuterio A maior parte
destas reformas como veremos adiante teve como laboratoacuterio de ensaio a peniacutensula da
Anatoacutelia onde os Romanos enfrentavam aqueles que sem grande margem para duacutevidas eram
os seus arqui-inimigos os califados aacuterabes de Damasco e de Bagdade
Este tipo de evoluccedilatildeo no entanto natildeo se prende apenas com a guerra no sentido fiacutesico
pois o pensamento estrateacutegico bizantino vai sofrer algumas alteraccedilotildees a partir do principado
de Heraacuteclio (610-641) Com efeito Bizacircncio ao tomar uma atitude completamente defensiva
comeccedila a ver-se obrigada a tomar decisotildees bastante difiacuteceis em relaccedilatildeo a alguns dos seus
territoacuterios para garantir a proteccedilatildeo de outros com maior interesse estrateacutegico Em casos mais
graves e alarmantes estas opccedilotildees tornavam-se de tal modo draacutesticas que os basilecircis optavam
por abandonar certas regiotildees para fortalecer outras Exemplo disto foi a ordem de retirada
dada por Heraacuteclio agraves tropas bizantinas da Siacuteria-Palestina apoacutes a derrota face aos Aacuterabes na
batalha de Yarmuk em 636 recuaram para a Mesopotacircmia e para a Anatoacutelia de forma a
garantir a sobrevivecircncia do que restava dos exeacutercitos moacuteveis do Oriente e da Armeacutenia bem
16
como das forccedilas auxiliares romanas naquela regiatildeo (tropas armeacutenias e gassacircnidas
principalmente) e para criar uma nova barreira nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro21
Por outro lado como eacute verificaacutevel em alguns tratados militares bizantinos como o
Taktikaacute a palavra de ordem era evitar a todo o custo a batalha campal22 jaacute que esta tinha na
maior parte dos casos um resultado incerto e acarretava grandes baixas humanas muitas
vezes ateacute para o vencedor23 Portanto Bizacircncio e em certa medida os seus inimigos em
especial os Aacuterabes preferiam combater a ldquoguerra pequenardquo tipicamente de fronteira com
recurso a ardis a espionagem a um bom estudo do terreno e muitas vezes a poliacuteticas de
terra-queimada24 Poreacutem isto natildeo implicava a inexistecircncia de batalhas campais que se
continuaram a travar durante o periacuteodo meacutedio bizantino e que na maior parte dos casos
contribuiacuteam para a alteraccedilatildeo do status quo entre Bizacircncio e o seu adversaacuterio na regiatildeo25
A guerra de fronteira no entanto natildeo era o uacutenico pilar da estrateacutegia defensiva
bizantina existindo mais dois que contribuiacuteam para o bom funcionamento da primeira a
diplomacia e a espionagem A primeira era porventura o maior trunfo do Impeacuterio Romano
do Oriente que tirava partido do seu elevado nuacutemero de diplomatas experientes para
neutralizar alguns inimigos por meio de subornos ou de tributos traziam-se novos aliados
para o lado de Constantinopla ou convenciam-se naccedilotildees estrangeiras a entrar em guerra e a
lidar com inimigos indesejaacuteveis para Bizacircncio (de forma a evitar que fossem os basilecircis a
combatecirc-los) Jaacute a espionagem era vital para o impeacuterio pois permitia reconhecer as
principais ameaccedilas agrave sua seguranccedila bem como os meios ao dispor e o alvo principal das suas
ambiccedilotildees a situaccedilatildeo interna dos vizinhos bizantinos e no caso da contraespionagem
confundir os serviccedilos de informaccedilatildeo inimigos atraveacutes da alimentaccedilatildeo de falsa informaccedilatildeo que
encaminhava o inimigo para emboscadas ou para zonas mais bem preparadas para reagir a
uma invasatildeo Ao referirmo-nos agrave estrateacutegia defensiva bizantina eacute imperativo que natildeo se
21 Vide KAEGI Walter E (2005) Byzantium and the Early Islamic Conquests Cambridge Cambridge
University Press pp 147-150 22 Contra os Aacuterabes esta praacutetica comeccedilou a aplicar-se relativamente cedo logo apoacutes a derrota bizantina frente a
forccedilas sarracenas na batalha de Yarmuk Vide HALDON John (2001) The Byzantine Wars Battles and
Campaigns of the Byzantine Era Gloucestershire Tempus Publishing Ltd pp 65 23 Para alguns autores como Walter Kaegi este pensamento estrateacutegico de evitar a batalha campal decisiva foi
uma das razotildees principais para a sobrevivecircncia milenar do Impeacuterio Bizantino Vide KAEGI Walter (1983)
Some Thoughts on Byzantine Military Strategy Brooklyn Massachussets Helenic College Press p 9 24 Existe um tratado bizantino especialmente dedicado a esta praacutetica marcial o Περiacute παραδρομής (Periacute
paradromeacutes) ou De velitatione bellica traduzido para inglecircs por George T Dennis vide DENNIS George
(1985) Three Byzantine Military Treatises Washington DC Dumbarton Oaks pp 137-240 25 Como por exemplo Yarmuk a grande batalha inaugural do periacuteodo intermeacutedio que a curto-meacutedio prazo vai
contribuir para a reduccedilatildeo do territoacuterio imperial para pouco menos de metade ou a batalha de Akroinos em 740
que em conjunto com a deposiccedilatildeo do Califado Omiacuteada vai pocircr fim no geral agraves tentativas aacuterabes de conquistar
Constantinopla e a Aacutesia Menor Para o primeiro caso vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp 56-57 e 66 Para o
segundo vide HALDON John (2016) The Empire that would not die ndash The Paradox of Eastern Roman
Survival 640-740 Cambridge e Londres Harvard University Press pp1 e 54
17
esqueccedila que a guerra perpeacutetua pela defesa de Bizacircncio se travava tanto no ldquocampo de
batalhardquo como agrave mesa de negociaccedilotildees
Outra modalidade beacutelica preferida dos Bizantinos era a poliorceacutetica com cercos
bastante recorrentes a fortalezas aacuterabes nas regiotildees limiacutetrofes dos seus territoacuterios ou a cidades
lombardas no Sul de Itaacutelia Aliaacutes nesta uacuteltima disciplina beacutelica Bizacircncio mantinha-se eficaz
como seguidora legiacutetima do Impeacuterio Romano Este legado era tanto taacutetico como teacutecnico
Bizacircncio recorria muitas vezes a armas de cerco pesadas26 que requeriam a presenccedila de
engenheiros e de teacutecnicos especializados no uso destas os techniacutetai por outro lado a guerra
psicoloacutegica era frequentemente praticada de forma a reduzir o nuacutemero de baixas e o custo de
asseacutedios a uma fortaleza A importacircncia da guerra psicoloacutegica eacute evidenciada tendo em conta
a preferecircncia dos generais bizantinos em recorrer mais vezes ao bloqueio do que ao assalto e
bombardeamento de muralhas para o qual eram empregues taacuteticas como a destruiccedilatildeo ou o
roubo de fontes de abastecimento27 que geralmente eram aproveitadas pelos sitiantes os
ataques noturnos o controlo de vias de comunicaccedilatildeo e obviamente a interdiccedilatildeo de entrada e
saiacuteda de indiviacuteduos do local sitiado a natildeo ser que fossem negociadores
A poliorketikaacute era tambeacutem uma importante disciplina da tratadiacutestica antiga e
bizantina estando presente na maior parte dos manuais de guerra (Stratēgikoacuten Taktikaacute28 e
Perigrave Strategiacuteas29) ou possuindo tratados que se dedicavam exclusivamente agrave guerra de cerco
nas suas duas vertentes defensiva e ofensiva Entre estes tratados figuram as duas obras de
Heacuteron de Bizacircncio o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia que se encontram
direcionados para uma boa aplicaccedilatildeo de maacutequinas de guerra e o De obsidione toleranda que
se dedica exclusivamente agrave componente defensiva da poliorketikaacute ou seja agrave defesa de uma
cidade ou de outro tipo de baluarte sitiado
Por fim eacute importante natildeo esquecer a relevante componente que a marinha de guerra
representava para o pensamento estrateacutegico bizantino Embora a guerra terrestre fosse
importante para a defesa da integridade territorial bizantina o controlo dos mares era vital
para o impeacuterio por diversas razotildees garantir a proteccedilatildeo do comeacutercio e das vilas e cidades
costeiras da pirataria sarracena e russa manter boas vias de comunicaccedilatildeo entre os territoacuterios
dispersos sob alccedilada bizantina e obviamente proteger a capital Constantinopla uma cidade
26 Tais como trabucos de traccedilatildeo (e mais tarde de contrapeso) escadas de assalto coberturas para equipas de
assalto como laisacirci vineae e tartarugas torres de assalto e ariacuteetes Cf NISA Joatildeo (2017) ldquoIII Parte ndash A
Poliorceacutetica e o Poder Naval Bizantinosrdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) (2017) Histoacuteria de Roma
Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra pp 434 e 438 27 P ex Destruiccedilatildeo de aquedutos e colheitas roubo de cabeccedilas de gado Vide Idem Ibidem pp 436-437 28 Vide Anexo IX a) 29 A traduccedilatildeo que vamos usar ao longo desta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Perigrave Strategiacuteas Texto Traduccedilatildeo
e Comentaacuterio DENNIS G T (1986) ndash Op cit pp 1-136
18
que era impossiacutevel de conquistar sem o apoio de um forte braccedilo naval De forma a tentar
manter (ou recuperar) o seu estatuto de talassocracia30 Bizacircncio via-se obrigada a apostar
fortemente em reformas na marinha e na conquista (ou manutenccedilatildeo) de pontos estrateacutegicos no
Mar Mediterracircneo casos das ilhas de Creta de Chipre e como eacute oacutebvio da Siciacutelia
Durante os seacuteculos IX e X a naumachikaacute a disciplina da tratadiacutestica bizantina
direcionada para a guerra naval recebeu algum relevo com a escrita e publicaccedilatildeo de tratados
que pela primeira vez em muito tempo se debruccedilaram sobre esta modalidade e a forma como
esta deveria ser feita Entre as obras que abordam estas temaacuteticas encontramos a Constitutio
XIX do Taktikaacute de Leatildeo VI e o tratado Naumachiacuteai31 atribuiacutedo a Siriano Esta tendecircncia
verificada no virar de mileacutenio opotildee-se agrave da ldquoPrimeira Idade de Ourordquo da tratadiacutestica bizantina
(seacutec V-VI) onde a guerra no mar natildeo estaacute presente veja-se o Strategikoacuten que refere apenas
aspetos de confrontos em contextos fluviais Este facto pode ser facilmente explicado na
nossa opiniatildeo pela reduzida dimensatildeo que a marinha e o mar ocupavam no horizonte
estrateacutegico de Constantinopla entre a laquoReconquista Justinianaraquo (533-554) e a expansatildeo aacuterabe
eacutepoca em que possuiria uma frota restritamente utilizada e condicionada para garantir a
proteccedilatildeo do comeacutercio e vocacionada para o apoio logiacutestico aos exeacutercitos romanos em
especial em teatros fluviais como a fronteira do Danuacutebio tendo o droacutemon a embarcaccedilatildeo por
excelecircncia bizantina sido afetada por estes condicionalismos perdeu tonelagem e tamanho e
as tripulaccedilotildees tornaram-se mais reduzidas32
Concluiacuteda esta digressatildeo pelas bases da estrateacutegia defensiva bizantina e pelas
tipologias mais favorecidas de combate podemos entatildeo analisar os apparati militares de
Bizacircncio durante a eacutepoca-meacutedia bizantina em especial durante os primeiros Macedoacutenicos
13 ndash As forccedilas armadas bizantinas e a defesa do territoacuterio durante os reinados
dos primeiros basileicircs macedoacutenicos
Falar do sistema militar bizantino eacute bastante delicado e requer um certo cuidado Isto
porque dissecar o exeacutercito bizantino implica olhar para o funcionamento do Estado bizantino
30 A necessidade de Bizacircncio ser uma talassocracia pelas razotildees acimas referidas natildeo deixava de ser um pouco
paradoxal pela conceccedilatildeo tardo-romana de mar considerado um elemento peacuterfido e perigoso Por outras
palavras a necessidade bizantina de controlar o mar natildeo significava que estes nutrissem grande afeiccedilatildeo por ele
um sentimento baseado em vaacuterios fatores de cariz religioso e social Vide COSENTINO Salvatore (2004) III ndash
La flota bizantina e lrsquoIslam aspetti di storia istituzionale e sociale In CARILE Antonio e COSENTINO
Salvatore (2004) Storia della Marineria Bizantina Bolonha Lo Scarabeo pp 272 e 273 31 A versatildeo usada nesta dissertaccedilatildeo eacute [Siriano] magister Naumachiai Sirianoi Magistroi Texto e traduccedilatildeo
PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy ca 500-
1204 Leiden e Boston Brill pp 455-482 32 Vide COSENTINO Salvatore (2008) Constans II and the Byzantine Navy Byzantinische Zeitschrift 100 (2)
pp 581-583
19
para a sua componente fiscal e para o teacutenue balanccedilo de poderes entre a administraccedilatildeo civil e a
aristocracia militar que sobretudo apoacutes o reinado de Constantino VII (913-959) comeccedilaram
a travar um perigoso braccedilo-de-ferro pela supremacia na laquorainha das cidadesraquo
Sendo assim quais eram os principais braccedilos armados de Bizacircncio aquando da
ascensatildeo de Leatildeo VI Na nossa opiniatildeo Bizacircncio possuiria quatro importantes componentes
militares i) os themaacuteta e as kleisocircurai circunscriccedilotildees territoriais que combinavam poder
poliacutetico e militar nas quais o Impeacuterio Bizantino se encontrava dividido ii) os taacutegmata a
guarda de elite dos basileicircs e a coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha de Bizacircncio iii) a
marinha bizantina e as tropas mariacutetimas que disputavam a supremacia naval com o poderio
aacuterabe iv) os ocasionais mas sempre presentes bandos mercenaacuterios que integravam os
exeacutercitos de campanha imperiais Satildeo estes apparati que servem Leatildeo VI em vaacuterios pontos do
impeacuterio enquanto o Saacutebio (segundo se atribui) redige o seu tratado ou confronta o
patriarcado33 Examinemos agora cada uma daquelas componentes
Comecemos pelos themaacuteta Muito se debateu acerca destes corpos militares ao longo
dos anos a sua criaccedilatildeo organizaccedilatildeo como foram distribuiacutedas as suas terras o que eram
quem eram os soldados que eram recrutados em cada um entre outras questotildees Cremos que
as definiccedilotildees mais concretas que podemos dar a esta palavra satildeo as seguintes (a) eram
distritos provinciais que conjugavam de forma equitativa os poderes militares e poliacuteticos em
torno de um oficial o strategoacutes (b) eram os exeacutercitos dessas mesmas regiotildees Na nossa
opiniatildeo as principais caracteriacutesticas dos themaacuteta satildeo o facto de providenciarem uma forccedila de
defesa raacutepida contra raides inimigos a capacidade dos soldados que os integravam de
conseguirem manter-se de forma autoacutenoma na maior parte dos casos poupando ao Estado
alguma despesa na manutenccedilatildeo dos exeacutercitos e a combinaccedilatildeo do poder civil e militar sob o
strategoacutes (poder militar) e o protonotaacuterios (poder civil e fiscal) o que permitia um acesso
mais faacutecil da parte da componente militar dos themaacuteta aos recursos humanos e materiais da
regiatildeo
Em relaccedilatildeo agrave etimologia da palavra ateacute haacute pouco pensou-se que a origem da palavra
theacutema tal como eacute usada neste caso provinha do grego theacutema (corpo armado) ou do turco
toumen (divisatildeo de dez mil homens) natildeo retirando creacutedito a estas definiccedilotildees acredita-se que
uma outra possiacutevel palavra original para theacutema eacute o verbo τίθημι (tiacutetemi que significa colocar
depositar estabelecer ou atribuir) o que faz todo o sentido se estes foram estabelecidos
33 Aqui referimo-nos ao duro conflito entre Leatildeo VI e o patriarca Nicolau em torno do 4ordm casamento do basileuacutes
e portanto da legitimaccedilatildeo do seu filho (o futuro Constantino VII) com a 4ordf esposa Zoeacute Carbonopsina Cf infra
22
20
durante as reformas fiscais de Niceacuteforo I uma vez que elas ldquodepositaramrdquo soldados da Aacutesia
Menor nos receacutem-conquistados territoacuterios dos Balcatildes tal como veremos adiante34
As origens apresentam-se mais discutiacuteveis tendo ao longo da segunda metade do
seacuteculo XX surgido duas correntes para o aparecimento dos themaacuteta a primeira que podemos
apelidar de laquoimplementacionistaraquo foi sugerida por Ostrogorsky e defendia que o laquosistema
temaacuteticoraquo tinha surgido durante ou imediatamente apoacutes a uacuteltima guerra bizantino-persa (602-
628) A sua criaccedilatildeo teria sido uma reforma deliberada de Heraacuteclio e teria como objetivo obter
uma forma de recrutar e de abastecer homens para os exeacutercitos de campanha romanos durante
aquele conflito e mais tarde durante os primeiros confrontos contra os Aacuterabes35 A base desta
corrente teoacuterica era a distribuiccedilatildeo de terras e propriedades aos soldados do impeacuterio em troca
do seu serviccedilo militar de onde retiravam o rendimento necessaacuterio para as suas armas e
mantimentos (a isto acrescentamos a importante componente psicoloacutegica pois incentivava-se
o proprietaacuterio o militar portanto a combater qualquer ameaccedila agrave sua propriedade)36 Por outro
lado e colocando-se contra esta teoria de Ostrogorsky encontramos Agostino Pertusi e
Johanes Karayannopoulos que apresentam teorias a que podemos chamar de laquogradualistasraquo
Pertusi contradizendo o historiador jugoslavo defendeu que o surgimento dos themaacuteta se
prende com uma evoluccedilatildeo do sistema administrativo romano que foi moldada pelas vaacuterias
pressotildees que o impeacuterio sofreu entre os seacuteculos VII e X por sua vez Karayannopoulos
argumentou que o laquosistema temaacuteticoraquo era o resultado da evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees militares
tardo-romanas37 desde o seacuteculo VI ateacute ao seacuteculo X38
A discussatildeo passou a gerar-se em torno de um conjunto cada vez maior de
bizantinistas que tomavam o partido de uma das duas correntes teoacutericas alguns como Warren
Treadgold Martha Gregoriou-Iounnidou e Michael Hendy (este uacuteltimo com ideias proacuteprias)
tomavam o partido da teoria claacutessica de Ostrogorsky na laquofaccedilatildeo gradualistaraquo alinharam nomes
como John Haldon Walter Kaegi Heacutelegravene Ahrweiler Nicolas Oikonomiacutedes e Paul Lemerle
34Para as primeiras definiccedilotildees vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia (2017) ldquoI Parte ndash Histoacuteria Concisa do Impeacuterio
Bizantino (das Origens agrave Queda de Constantinopla)rdquo In MONTEIRO Joatildeo Gouveia (dir) Histoacuteria de Roma
Antiga Volume III ndash O Sangue de Bizacircncio Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra p 53 Para a
segunda HALDON John (2016) A context for two ldquoevil deedsrdquo Nikephoros I and the origins of the themata In
DELOUIS Olivier MEacuteTIVIER Sophie e PAGEgraveS Paule (ed) (2016) Le Saint Le Moine et le Paysan
Meacutelanges drsquohistoire byzantine offerts agrave Michel Kaplan Paris Publications de la Sorbonne p 259 35 Vide HALDON John (1993) Military Service Lands and the Status of Soldiers Current Problems and
Interpretations In Dumbarton Oaks Papers vol 23 p4 36 Vide MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit pp 53-54 37 Referimo-nos aos exeacutercitos moacuteveis aos quais pertenciam os soldados que chamamos de comitatenses e aos
limitanei que guarneciam as regiotildees fronteiriccedilas 38 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit pp 4-5
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entre outros Mais recentemente apoacutes vaacuterios anos de discussatildeo a corrente teoacuterica que tem
ganho mais importacircncia eacute a laquogradualistaraquo
Apesar da existecircncia de um enorme conjunto de teses parece-nos pertinente referir a
teoria que John Haldon apresentou recentemente O artigo onde ela se encontra assenta no
estudo das vexilationes39 de Niceacuteforo I e Haldon data os themaacuteta para o reinado deste
basileuacutes De acordo com o autor as reformas que implementaram os themaacuteta e que tinham
um cariz mais intrinsecamente fiscal do que militar foram a transferecircncia de soldados da
Aacutesia Menor para os territoacuterios recentemente conquistados aos Eslavos nos Balcatildes com a
obrigaccedilatildeo de venda das suas propriedades40 e posterior compra ou oferta (pelo Estado) de
novas terras a suacutebita apariccedilatildeo do cargo de protonotaacuterios nos iniacutecios do seacuteculo IX
(paralelamente agraves primeiras menccedilotildees dos themaacuteta em fontes) e a instituiccedilatildeo de uma doaccedilatildeo
comunitaacuteria para o pagamento de impostos e de equipamento dos soldados mais pobres41 o
que contribuiria para alicerccedilar as ligaccedilotildees entre os soldados e as comunidades onde eles
estavam inseridos Estas reformas teratildeo alastrado aos comandos militares42 da Aacutesia Menor
onde os contributos comunitaacuterios para os soldados mais pobres (que no entanto natildeo parece
que se tenham mantido por muito tempo) e os protonotaacuterios melhoraram a eficiecircncia dos
sistemas de manutenccedilatildeo e de abastecimento dos exeacutercitos provinciais assim como as ligaccedilotildees
entre o strategoacutes e o poder civil De acordo com Haldon os themaacuteta tiveram a sua origem por
essa altura comeccedilando a crescer em nuacutemero a partir daiacute (ou pela conquista de novos
territoacuterios ou mais provavelmente pela divisatildeo do territoacuterio dos themaacuteta jaacute existentes para
melhor consolidar a defesa do impeacuterio) sendo certo que pela altura do reinado de Leatildeo VI
existiriam mais de vinte distritos administrativo-militares deste tipo43
O debate entre as duas correntes teoacutericas sobre a origem dos themaacuteta tinha poreacutem
outro core para aleacutem deste a forma como os soldados eram recrutados bem como a relaccedilatildeo
destes com os proacuteprios themaacuteta44 Este uacuteltimo toacutepico interessa-nos muito porque envolve a
questatildeo das terras militares ou laquoestratioacuteticasraquo (as stratiotikagrave kteacutemata) O nome destas terras eacute
39 Ou kakoacuteseis (em portuguecircs ldquomaldadesrdquo) configuram um conjunto de reformas fiscais implementadas por
Niceacuteforo I que o clero bizantino viu com maus olhos devido aos alegadamente pesados impostos que o
basileuacutes lhes impocircs Destas reformas as duas primeiras satildeo de extrema importacircncia para se apurar a origem dos
themaacuteta de acordo com John Haldon Vide HALDON J (2016) ndash Op cit p 249 40 Vide Anexo IX b) 41 O valor deste equipamento estaacute apontado como sendo 185 nomismata Vide Anexo IX c) 42 As proviacutencias onde habitavam de acordo com Leif Inge-Petersen denominavam-se ldquoterras de um strategoacutesrdquo
Vide PETERSEN Leif Inge (2013) Siege Warfare and Military Organization in the Successor States (400-800
AD) Boston Brill p 105 43 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 91 Para uma possiacutevel lista dos themaacuteta no virar do seacuteculo IX para o X
vide HEATH Ian (1980) Armies of the Dark Ages 600-1066 ndash Organisation tactics dress and weapons 2ordf
Ediccedilatildeo Sussex Wargames Research Group Publication p7 44 Vide HALDON J (1993) ndash Op cit p 7
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um pouco traiccediloeiro porque a posse dita de laquoterras militaresraquo natildeo eacute implicitamente indicadora
da possessatildeo de terrenos pelos soldados mas sim da possessatildeo de strateiacutea (isto eacute da
implicaccedilatildeo de cumprir serviccedilo militar) pela propriedade ou pelo respetivo proprietaacuterio
Dentro dos recursos para recrutamento dos thematikoiacute (os soldados destes exeacutercitos) a
strateiacutea era sem duacutevida o principal e ter-se-aacute mantido como tal ateacute ao seacuteculo XII Todavia foi
sofrendo alteraccedilotildees pois ateacute agraves reformas juriacutedicas de Constantino VII encontrava-se associada
ao indiviacuteduo e natildeo agrave propriedade algo que soacute seria oficializado pelas reformas jaacute referidas45
Assim de entre os thematikoiacute deduzimos que a maior parte dos soldados recrutados para
campanha ateacute ao reaparecimento em forccedila de mercenaacuterios nos meados do seacuteculo X46 eram
aqueles que estavam registados juntamente com a sua strateiacutea47 nos koacutedikes do logotheacutesion
militar de cada theacutema48
Existiriam ainda alguns soldados voluntaacuterios natildeo registados que fora a participaccedilatildeo
em campanhas tambeacutem podiam servir a tiacutetulo permanente como membros de guarniccedilotildees e
dos corpos de guarda juntamente com voluntaacuterios possuidores de strateiacutea Seria este conjunto
de homens que alguns anos apoacutes o desaparecimento do Saacutebio formaria os taacutegmata
provinciais49 corpos permanentes e muito melhor sustentados pelo Estado que se tornaram
um dos alicerces para a mudanccedila de interesses estrateacutegicos de Bizacircncio Esta viragem foi
concretizada a partir do reinado do co-imperador Romano I Lecapeno (920-944) e
caracterizou-se por uma postura cada vez mais ofensiva do impeacuterio e possibilitando a
chamada laquoReconquista Bizantinaraquo da segunda metade do seacuteculo X50
Por fim teccedilamos algumas consideraccedilotildees breves sobre a logiacutestica (abordaremos de
forma mais aprofundada alguns destes temas durante a anaacutelise do Taktikaacute) em especial sobre
o pagamento e abastecimento destes soldados Esta mateacuteria vai-nos obrigar a retomar ao
assunto das stratiotikagrave kteacutemata porque a partir da retirada de Heraacuteclio para Aacutesia Menor o
principal sustentador do soldado vai passar a ser o proacuteprio combatente Ainda hoje o
fenoacutemeno do crescimento da propriedade militar em Bizacircncio entre os seacuteculos VII e X
suscita alguma discussatildeo no seio dos bizantinistas Warren Treadgold considera que este
crescimento se deveu ao pagamento aos soldados apoacutes a grande desvalorizaccedilatildeo dos
45 Ateacute esta altura nas palavras do basileuacutes apesar do caraacuteter pessoal de strateiacutea as propriedades dos soldados
bizantinos eram inalienaacuteveis por tradiccedilatildeo e natildeo por coacutedigo legal Vide HALDON J ndash Op cit 2016 p 264 46 Vide NISA Joatildeo (2016) Arte Militar Bizantina O Tratado De Velitatione Bellica (seacutec X) Dissertaccedilatildeo de
Mestrado em Histoacuteria Militar apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra p 39 47 Que era hereditaacuteria 48 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p123 49 Que natildeo devem ser confundidos com os taacutegmata da capital dos quais falaremos mais adiante apesar de terem
funccedilotildees taacuteticas e benefiacutecios idecircnticos 50 Para um resumo destas reformas militares vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 38-39
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numeraacuterios destes no reinado de Heraacuteclio em terras alegando o virtual desaparecimento da
maior parte da propriedade imperial entre os seacuteculos VII e X51
Por outro lado a visatildeo mais aceite presentemente eacute a de um conjunto de fatores como
um longo periacuteodo de casamentos entre as famiacutelias dos locais para onde os soldados dos
exeacutercitos moacuteveis tinham retirado bem como um processo de compra de propriedade efetuado
pelos soldados mais ricos52 um constante processo de recrutamento e substituiccedilatildeo dos
soldados dos antigos exeacutercitos provinciais por membros da populaccedilatildeo indiacutegena dos distritos
dos novos comandos militares poacutes-heraclianos53 Apoacutes esta apropriaccedilatildeo de terreno por
membros do exeacutercito o Estado rapidamente se comeccedilou a aperceber das vantagens do
processo particularmente a possibilidade de autossustentaccedilatildeo de um grande conjunto deles
Contudo efetuar uma generalizaccedilatildeo das condiccedilotildees econoacutemicas de todos os thematikoiacute eacute um
erro crasso existindo muitos soldados pobres que natildeo possuiacuteam meios para comprar o seu
equipamento montada e viacuteveres A responsabilidade de equipar estes soldados mais pobres
recaiu entatildeo sobre a sua famiacutelia nas comunidades em que se inseriam54 ou ateacute sobre os
stratioacutetai mais abastados dos themaacuteta caso estes natildeo quisessem participar ativamente em
alguma campanha algo aconselhado por Leatildeo VI55 no Taktikaacute56
De entre estas possibilidades a mais interessante parece-nos ser a uacuteltima porque
demonstra que a strateiacutea natildeo era apenas uma obrigaccedilatildeo militar para o serviccedilo efetivo mas
podia ser usada para apoio logiacutestico57 Assim os stratioacutetai mais ricos em vez de participarem
ativamente nas campanhas poderiam enviar no seu lugar um outro soldado equipado por eles
que natildeo possuiacutesse strateiacutea ou contribuir para o equipamento e provisotildees de um stratioacutetes
mais pobre Mais tarde a partir da legislaccedilatildeo oficial das terras militares por Constantino VII
passou a diferenciar-se o stratioacutetes ndash aquele que possuiacutea uma propriedade com strateiacutea58 ndash do
stratiouacutemenos o efetivo militar que era patrocinado por uma stratiotikagrave kteacutemata
A flexibilidade taacutetica dos themaacuteta bizantinos assentava tambeacutem nestas condiccedilotildees
sociais e econoacutemicas estando a tipologia do soldado condicionada pelos seus recursos
51 Vide TREADGOLD Warren (1995) Byzantium and Its Army Stanford Stanford University Press p 24 52 Cf MONTEIRO Joatildeo Gouveia ndash Op cit p 57 e tambeacutem HALDON J (2016) ndash Op cit p148 53 HALDON J (2016) ndash Op cit p148 54 Algo que como jaacute vimos teraacute sido instituiacutedo no principado de Niceacuteforo I 55 Apesar de o basileuacutes aconselhar ao strategoacutes que recrute preferencialmente para as campanhas os soldados
mais ricos e com maior capacidade de se equiparem e sustentarem autonomamente Vide Anexo VIII c) 56 Vide Anexo VIII d) 57 Praacutetica que se verificaria mais a partir dos meados do seacuteculo quando os basileicircs bizantinos comeccedilaram a
preferir que a strateiacutea fosse satisfeita atraveacutes de um pagamento que possibilitasse a contrataccedilatildeo de mercenaacuterios e
a compra de melhor equipamento para os exeacutercitos de campanha em vez da prestaccedilatildeo de um serviccedilo militar
ativo Vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 39 58 Ou strateiacutea parcial que eacute o resultado das divisotildees de ldquoterras estratioacuteticasrdquo apoacutes a morte do proprietaacuterio pelos
seus herdeiros ou em caso do cometimento de um crime pelo proprietaacuterio
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financeiros Assim apesar de a cavalaria ligeira representar o principal modelo taacutetico em uso
ateacute ao seacuteculo X59 apenas os stratioacutetes com meios para angariar um ou dois cavalos o
equipamento e armamento baacutesico e ainda indiviacuteduos60 que conseguissem cuidar dos seus
terrenos durante campanha (caso os possuiacutessem claro) eacute que poderiam servir nessa funccedilatildeo61
Os stratioacutetai que natildeo detivessem os recursos necessaacuterios para tal serviriam como infantaria
que apesar de ainda natildeo possuir a importacircncia que viria a ter meio seacuteculo mais tarde
comeccedilou na altura de Leatildeo VI a ver-lhe imputada um papel cada vez mais destacado para
aleacutem das funccedilotildees defensivas no campo de batalha e em posiccedilotildees estrateacutegicas o regresso lento
mas seguro do treino da eficiecircncia e da disciplina apregoado tambeacutem no Taktikaacute vai permitir
que se comece a praticar neste periacuteodo um conjunto de taacuteticas combinadas com a cavalaria62
Taacuteticas essas que representaratildeo uma das especialidades dos exeacutercitos de Basiacutelio II (963-1025)
e dos seus co-imperadores Niceacuteforo II Focas (963-969) e Joatildeo I Zimisce (969-976) na
segunda metade do seacuteculo X e nos primeiros anos do seacuteculo seguinte
O perfil taacutetico dos thematikoiacute natildeo se adequava a campanhas ofensivas63 sendo usados
principalmente na defesa do territoacuterio imperial frente a incursotildees aacuterabes por meacutetodos tiacutepicos
de guerra de fronteira (emboscadas terra queimada ataques noturnos a acampamentos) e
numa ocasional batalha campal A preparaccedilatildeo destas campanhas defensivas durava algum
tempo pelo que a responsabilidade de ganhar tempo e vigiar o invasor estava nas matildeos de
outros distritos militares as kleisoucircrarchiai Estes distritos militares foram o resultado da
separaccedilatildeo de touacutermai dos themaacuteta fronteiriccedilos que se encontravam junto ao Tauro e ao
Antitauro Ao comandante destas circunscriccedilotildees o kleisouraacutercha era atribuiacutedo um enorme
grau de autonomia sendo responsaacutevel pela aplicaccedilatildeo dos meacutetodos enunciados no Perigrave
Paradromeacutes de forma a deter os raides muccedilulmanos mais pequenos antes que estes
penetrassem demasiado e a perseguir e atrasar os exeacutercitos sarracenos de maiores dimensotildees
ateacute agrave chegada de forccedilas bizantinas de maior envergadura Estas divisotildees geograacuteficas tinham
um estatuto volaacutetil acabando muitas delas a ser elevadas a theacutema64 sobretudo nos iniacutecios do
seacuteculo X onde as kleisoucircrarchiai foram promovidas aos laquothemaacuteta armeacuteniosraquo65 no seio do
59 Os exeacutercitos dos themaacuteta eram denominados de kaballarika themata por serem compostos maioritariamente
por cavalaria ligeira Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 97 60 Referimo-nos essencialmente a membros da famiacutelia ou outros servos 61 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 99 62 MCGEER Eric (1988) Infantry versus Cavalry The Byzantine Response In Revue des eacutetudes byzantines 46
p 145 63 Com a exclusatildeo de contra raides que muitas vezes eram realizados pelos themaacuteta na mesma altura em que os
Aacuterabes realizavam as suas accedilotildees de rapina 64 P ex Selecircucia e Charsianon durante o reinado de Romano I e 873 respetivamente HALDON J (2014) ndash
Op cit p 108 65 Idem Ibidem p 111
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conjunto de reformas que possibilitou a Bizacircncio passar agrave ofensiva No reinado de Leatildeo VI os
elementos militares bizantinos com melhores aptidotildees para realizar operaccedilotildees ofensivas e
combater em batalhas campais caso as houvesse eram os taacutegmata
Ateacute ao reinado de Constantino V (741-775) quem ocupava as funccedilotildees de exeacutercito
pessoal dos basileicircs e de guarniccedilatildeo de Constantinopla era o exeacutercito do Opsikiacuteon66 No
entanto por estas mesmas razotildees este comando militar exercia enorme poder sobre quem
governava a partir de Constantinopla Durante muito tempo os basileicircs viram-se obrigados a
tomar certas medidas para apaziguar este corpo militar por exemplo atraveacutes da persuasatildeo ou
da escolha de liacutederes leais ao basileuacutes para comandar esta divisatildeo do exeacutercito67 A revolta de
Artavasdo (koacutemes e kouropalaacutetēs68) em 741 foi a quinta revolta do Opsikiacuteon em meio seacuteculo
e apoacutes a supressatildeo desta no ano seguinte obrigou o basileuacutes Constantino V a tomar duas
medidas para suprimir o poder dos koacutemes daquela unidade militar i) divisatildeo do territoacuterio cujo
Opsikiacuteon era responsaacutevel por trecircs circunscriccedilotildees territoriais mais pequenas (a do Opsikiacuteon a
dos Optimates e a dos Bucelaacuterios)69 ii) criaccedilatildeo de um novo corpo de elite leal ao imperador
capaz de o proteger das insurreiccedilotildees dos exeacutercitos provinciais e de tomar parte em accedilotildees
ofensivas atraveacutes da (re)militarizaccedilatildeo dos obsoletos regimentos da guarda palatina O
resultado foram os taacutegmata que apesar de pouco diferentes em eficiecircncia e disciplina
relativamente aos restantes exeacutercitos provinciais bizantinos70 no tempo de Leatildeo VI jaacute
ocupavam a funccedilatildeo para o qual tinham sido criados
Durante o reinado de Leatildeo VI existiriam quatro taacutegmata de cavalaria o das Scholaiacute o
dos Excubitores o da Vigla (ou Arithmos) e o dos Hikanatocirci71 Para aleacutem dos regimentos a
cavalo existiriam ainda mais quatro os Optimates que serviam principalmente de apoio
logiacutestico aos restantes os Noumera e o laquodas Muralhasraquo que funcionavam como contingentes
de infantaria e a Hetaireia um regimento de soldados estrangeiros que soacute participava em
66 Vide HALDON John (1984) Byzantine Praetorians An Administrative Institutional and Social Survey of the
Opsikion and Tagmata c580-900 Bona Dr Rudolph Habelt p 196 67 Idem Ibidem 208 68 Vide entradas respetivas no Glossaacuterio Temaacutetico b) Tiacutetulos 69 Um processo que teraacute demorado ainda alguns anos e que provavelmente se viu apoiado por uma nova revolta
do Opsikiacuteon em 766 No final deste processo a proviacutencia do Opsikiacuteon estava dividida entre o Opsikiacuteon os
Bucelaacuterios em 766 e o Optimaacuteton formado em 773 Vide Idem Ibidem 209 70 Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 108 Bizacircncio por esta altura era protegida por exeacutercitos provinciais
sediados em regiotildees que tinham o mesmo nome que esses corpos militares (laquoterras de um strategoacutesraquo) pe
Anatolikoacuten Armenikoacuten etc Por sua vez o nome desses exeacutercitos provinha dos antigos exeacutercitos provinciais do
Impeacuterio Romano do Oriente que foram evacuados para a Aacutesia Menor apoacutes o desastre de Yarmuk Estas
organizaccedilotildees militares e as proviacutencias que habitavam foram os antecedentes do sistema dos themaacuteta 71 Este uacuteltimo com uma data de criaccedilatildeo mais recente que os restantes tendo sido formado durante o reinado de
Niceacuteforo I em preparaccedilatildeo da campanha que terminou com a batalha de Priska (811)
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operaccedilotildees militares se o basileuacutes estivesse presente72 Pelas funccedilotildees que os taacutegmata
ocupavam e como forma de manter a sua lealdade ao basileuacutes os soldados destes regimentos
eram os mais privilegiados do impeacuterio tendo em conta que recebiam do Estado a roga73
forragem raccedilotildees donativos o seu armamento (que no entanto continuava a pertencer a
Constantinopla e natildeo ao individuo) e a sua montada74 havia ainda o caso de muitos que
recebiam terras no termo do seu serviccedilo militar Para aleacutem disso tal como os thematikoiacute
estavam isentos de todos os impostos75 menos do demoacutesion (o imposto base) e do kapnikoacuten
(o imposto sobre as famiacutelias) Por fim faltaraacute referir que o comandante dos taacutegmata o
domestikoacutes acabaria por se tornar o comandante supremo dos exeacutercitos bizantinos Uma vez
que Leatildeo VI e o filho Constantino VII Porfirogeneta nunca comandaram pessoalmente
campanhas teratildeo sido muito possivelmente estes oficiais (escolhidos pessoalmente pelos
basileicircs) a comandarem as campanhas mais importantes deste periacuteodo76
Para aleacutem dos contingentes autoacutectones ao serviccedilo do impeacuterio Bizacircncio sempre contou
com o apoio de importantes componentes mercenaacuterias e auxiliares Durante o reinado de Leatildeo
VI temos informaccedilatildeo da presenccedila de soldados de vaacuterias nacionalidades os Khazars que
serviam na Hetaireia77 os Armeacutenios que tiveram sempre uma presenccedila quase permanente
como aliados e auxiliares de Bizacircncio e Russos que por exemplo participaram na campanha
falhada de reconquista de Creta empreendida por Leatildeo VI em 91178 No uacuteltimo quartel do
seacuteculo X estes laquosoldados de fortunaraquo tornar-se-iam um dos fatores marcantes para o sucesso
da laquoReconquista Bizantinaraquo especialmente a Guarda Varangiana de Basiacutelio II algo que se
espelha no facto de a strateiacutea comeccedilar a ser cumprida em numeraacuterio e natildeo em participaccedilatildeo
ativa inclusivamente para pagar a estes profissionais efetivos militares mais eficientes
Resta-nos dedicar algumas linhas agraves forccedilas navais bizantinas Como anteriormente
referido a embarcaccedilatildeo mais referida em Bizacircncio era o droacutemōn apesar disso jaacute durante o
reinado de Leatildeo VI este termo comeccedila a ter um valor mais generalista ou seja a referir-se a
todas as embarcaccedilotildees de guerra bizantinas79 No caso do Taktikaacute haacute menccedilatildeo a quatro tipos de
embarcaccedilotildees referidos nas listas de navios homens e apoio logiacutestico da expediccedilatildeo de
72 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 251 73 Salaacuterio mensal 74 Vide HALDON J (1984) ndash Op cit p 318 75 Vide HALDON J (1999) ndash Op cit p 260 76 Como as importantes expediccedilotildees militares em Itaacutelia e na Bulgaacuteria que ficaram sob o comando de Niceacuteforo
Focas o Velho 77 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 279 78 Vide Constantino VII basileuacutes The fitting out and the cost and the sum of the pay and of the force sent
against the impious Crete with the patrikios and logothetes tou dromou Himerios in the time of the Lord Leo
beloved of Christ Texto e Traduccedilatildeo PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 548 79 Vide PRYOR J H e JEFFREYS E ndash Op cit p 192
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Himeacuterio contra Creta em 911 Estes navios eram as chelandia os droacutemōnes os pamphylos e
as galea80 Os primeiros eram usados para o combate naval e o transporte de tropas enquanto
os uacuteltimos mais pequenos e ligeiros eram usados principalmente como batedores apesar de
possuiacuterem tambeacutem capacidades beacutelicas e de transporte81
Apesar da posse de um grande nuacutemero de embarcaccedilotildees o virar de seacuteculo revelar-se-ia
ingrato para as forccedilas navais bizantinas um facto evidenciado pelo aumento de forccedilas
adversaacuterias no Mar Mediterracircneo (onde se daacute o aparecimento de novas marinhas hostis no
Egipto e na Tuniacutesia) e no Mar Baacuteltico onde a ameaccedila russa desperta e as pretensotildees de
Simeatildeo obrigam ao reforccedilo da presenccedila bizantina Este conjunto de circunstacircncias forccedilou os
primeiros Macedoacutenicos a reformar o seu poder naval A primeira reforma efetuada durante o
reinado de Basiacutelio I segundo levam a crer as fontes82 foi a instituiccedilatildeo de um oficium sob o
droungaacuterios totilden ploiumlmon o oficial maacuteximo da frota imperial sedeada em Constantinopla
Este cargo reunia em si poderes militares e civis por um lado era o almirante da frota imperial
e assim o homem mais importante da marinha bizantina por outro era tambeacutem o que hoje
chamariacuteamos de laquoMinistro dos Assuntos do Marraquo83 As outras reformas foram a criaccedilatildeo de
mais dois themaacuteta navais o do Mar Egeu e o de Samos estes themaacuteta reforccedilaram o theacutema
mariacutetimo dos Kibirrhaiotai e tinham como objetivo aumentar o poder das frotas provinciais
que eram mantidas e tripuladas por estas circunscriccedilotildees territoriais
80 Vide Idem Ibidem pp 548-553 81 Idem Ibidem pp 190-192 82 Cf AHRWEILER Heacutelegravene (1966) Byzance et la Mer La Marine de guerre la politique et les institutions
maritimes de Byzance aux VIIe-XVe siegravecles Paris Presses Universitaries de France p 98 83 Vide Idem Ibidem p 98
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Capiacutetulo 2 ndash O plano poliacutetico Da ascensatildeo da dinastia Macedoacutenica agrave morte
de Leatildeo VI (867-912)
laquoQuando Miguel se apercebeu de que Basiacutelio se opunha a ele planeou uma
monstruosa intriga contra ele esta foi a seguinte Ele arranjou algueacutem para arremessar uma
lanccedila como se visasse uma besta selvagem mas que na verdade visava Basiacutelio Isto veio ao
de cima porque o homem a quem isso tinha sido ordenado o confessou na hora da sua morte
Ele arremessou o dardo mas falhou miseravelmente o alvo e Basiacutelio foi salvo Quando foi
salvo ele decidiu-se a passar agrave accedilatildeo em vez de ser viacutetima dela Miguel foi morto no palaacutecio
de Satildeo Mamede no AM84 637685 agrave terceira hora da noiteraquo86
Este episoacutedio podia ter passado apenas por mais um entre muitos outros que marcaram
a intriga poliacutetica bizantina natildeo fora o caso de ter contribuiacutedo para depor toda uma dinastia
Quando Miguel III sucumbiu agraves matildeos do seu favorito Basiacutelio tambeacutem a linha amoriana se
finou e a famiacutelia macedoacutenica emergiu em seu lugar Tomada por muitos como a casa imperial
mais brilhante na histoacuteria de Bizacircncio87 pretendemos neste segundo capiacutetulo analisar os
primeiros anos desta linhagem Estabelecemos como espetro cronograacutefico o periacuteodo entre o
ano de 867 quando Basiacutelio I sobe ao poder e instaura a dinastia macedoacutenica e 912 o ano em
que o autor (atribuiacutedo) do Taktikaacute o basileuacutes Leatildeo VI abandona o mundo dos vivos Nesse
sentido decidimos dividir este capiacutetulo em dois subcapiacutetulos o primeiro estaacute direcionado
para o reinado de Basiacutelio I e para as medidas que tomou para legitimar a sua posiccedilatildeo muitas
delas centradas em torno de algumas bem-sucedidas campanhas militares o segundo iraacute
abordar o reinado de Leatildeo VI em especial os conflitos beacutelicos que pautaram o seu reinado e a
forma como o basileuacutes os enfrentou bem como alguns aspetos de cariz cultural e religioso
21 ndash O reinado de Basiacutelio I (867-886)
O novo basileuacutes era um haacutebil jogador poliacutetico que ascendeu rapidamente por entre as
principais esferas de poder bizantinas apoacutes a sua chegada a Constantinopla Esta vertiginosa
ascensatildeo deveu-se agrave constituiccedilatildeo fiacutesica de Basiacutelio ao apadrinhamento do Macedoacutenico por
vaacuterias personalidades importantes da capital e no que toca por exemplo ao lsquoSynopsis
Historion de Joatildeo Skylitzes a certos auspiacutecios divinos88 A progressatildeo acabou por chamar a
84 Anno Mundi 85 867 dC 86 Vide Joatildeo Skylitzes lsquoSynopsis Historion Traduccedilatildeo WORTLEY John (2010) John Skylitzes A Synopsis of
Byzantine History 811-1057 Cambridge Cambridge University Press pp 114-115 87 MONTEIRO J G ndash Op cit p 74 88 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 121-123
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atenccedilatildeo do basileuacutes (aparentemente apoacutes uma demonstraccedilatildeo de forccedila durante um combate
com um buacutelgaro) que lhe outorgou vaacuterios tiacutetulos de relevo proacuteximos da autoridade imperial
Assim tornou-se membro da Hetaireia em 856857 prostrator e por fim parakoimṓmenos
em 864 apoacutes a queda em desgraccedila do seu antecessor Damiano por ofender o ceacutesar de entatildeo
(Bardas o tio de Miguel III)89 No ano seguinte casou com a amante de Miguel III Eudoacutexia
Ingerina com quem havia de gerar o seu secundogeacutenito o futuro Leatildeo VI em 86690
Foi durante o tempo em que exerceu estas funccedilotildees que as tensotildees entre o basileuacutes e o
seu tio atingiram o cliacutemax resultando no assassinato de Bardas em 867 pouco antes do
lanccedilamento de uma expediccedilatildeo para reconquistar a ilha de Creta Quem substituiu o ceacutesar foi
Basiacutelio que muito rapidamente viu a sua amistosa relaccedilatildeo com Miguel III deteriorar-se ateacute
culminar no assassinato do uacuteltimo dos Amorianos As razotildees disto ainda satildeo discutidas teraacute o
ato sido cometido em ldquoautodefesardquo como aponta Skylitzes com Basiacutelio a ver-se nas mesmas
circunstacircncias que o seu antecessor Bardas Ou teratildeo antes sido as ambiccedilotildees do co-imperador
a levar a melhor sobre a lealdade ao basileuacutes levando-o a cobiccedilar o trono
Independentemente das circunstacircncias e de acordo com o professor de Cardiff Shaun
Tougher laquoo assassinato era talvez inevitaacutevel de uma maneira ou de outraraquo91
O impeacuterio que Basiacutelio usurpou encontrava-se na nossa opiniatildeo relativamente bem
Apesar de ainda natildeo ser a superpotecircncia em que se iria tornar um seacuteculo depois foi
porventura entatildeo que se comeccedilaram a dar os primeiros passos nessa direccedilatildeo em grande parte
graccedilas agrave accedilatildeo da dinastia de Amoacuterio e dos seus associados Durante o reinado de Miguel III
em termos religiosos foi posto um ponto final na Questatildeo Iconoclasta que exerceu uma
grande pressatildeo sobre os oacutergatildeos de poder do Impeacuterio e gerou uma violenta clivagem na
estabilidade interna de Bizacircncio e da Igreja Ortodoxa Com o fim do Iconoclasmo
continuaram a existir diferenccedilas e divisotildees na Igreja mas estas jaacute natildeo se mostravam tatildeo
evidentes Apesar disso as clivagens mantinham-se e traduziam a rivalidade entre o poder
temporal e o espiritual forccedilas que em Bizacircncio se mostravam mescladas ou ateacute sinergeacuteticas
Assim foi tambeacutem com a deposiccedilatildeo do patriarca Inaacutecio que foi substituiacutedo pelo laico Foacutecio92
em 858 Inaacutecio havia sido deposto quando se comeccedilou a opor a vaacuterias decisotildees do ceacutesar
Bardas num processo que nunca seria aceite pelo papado e demais apoiantes do antigo
patriarca que se opuseram veementemente a Foacutecio durante o seu primeiro ldquomandatordquo
89 Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill 90 Ainda hoje se discute se Leatildeo seraacute realmente filho de Basiacutelio ou se porventura seraacute antes filho de Miguel III
Para natildeo nos dispersarmos nesta questatildeo vide TOUGHER S (1997) ndash Op cit pp 42-67 91 Idem Ibidem p 30 92 Foacutecio foi tonsurado a 20 de dezembro e ascendeu ao patriarcado no dia de Natal Cf Idem Ibidem p 69
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Em termos militares Bizacircncio comeccedilava a entrar no seu apogeu pelo menos a
Oriente Na Aacutesia Menor apoacutes vaacuterios anos de conflito os Bizantinos tinham quebrado a
empunhadura da espada aacuterabe o exeacutercito do emirado de Melitene foi destroccedilado nas batalhas
de Marj al-Usquf e Lalacatildeo93 tendo com ele sido eliminados o emir Omar e o seu filho bem
como Karbeias o liacuteder da seita pauliciana que se tinha aliado aos Aacuterabes Graccedilas a estes
resultados os exeacutercitos romanos conseguiram invadir o emirado de Melitene e o ldquoEstadordquo
Pauliciano tendo sido no decurso desta expediccedilatildeo que tombou Ali o Armeacutenio emir de Tarso
Esta atitude ofensiva pouco tiacutepica da estrateacutegia bizantina natildeo teraacute rendido grandes ganhos
territoriais pois tinha como principal objetivo a recolha de prisioneiros e de botim bem como
o enfraquecimento dos poderes regionais muccedilulmanos da Ciliacutecia e da Mesopotacircmia centrados
em torno dos al-thugur os emirados de Melitene e de Tarso No entanto pode servir como
exemplo para um comportamento mais audacioso de Bizacircncio que passava a levar com cada
vez mais frequecircncia a guerra ao territoacuterio dos seus inimigos
Os sucessos militares da Aacutesia Menor natildeo se repercutiam no entanto no Ocidente Em
827 forccedilas muccedilulmanas ao serviccedilo da dinastia aglaacutebida desembarcam na Siciacutelia a convite de
um oficial da marinha chamado Eufeacutemio Este foi o iniacutecio do moroso processo de conquista
da ilha estrategicamente mais importante do Mar Mediterracircneo pelo emirado da Ifriacutequia Em
setembro de 831 a cidade de Palermo capital bizantina da Siciacutelia caiu Dez anos depois os
muccedilulmanos jaacute eram senhores de um terccedilo do territoacuterio da ilha a parte ocidental com a
conquista das cidades de Platani Cantabellota Corleone e do porto de Trapaacuteni94 Entre 841 e
849 aproximam-se perigosamente dos centros fortificados da ilha com a conquista de
Messina (entre 842-843) de Moacutedica (845) e de Lentini (846) e com o extermiacutenio da
guarniccedilatildeo de Ragusa (848)95 A ameaccedila aglaacutebida tornou-se ainda mais perigosa com a queda
de Castrogiovanni (atual Enna) em 859 o que permitiu consolidar a conquista do interior da
ilha e almejar o controlo da costa oriental ainda em matildeos bizantinas96 As ambiccedilotildees
muccedilulmanas projetaram-se entatildeo para Taormina e Siracusa Miguel III ainda tentou reverter a
situaccedilatildeo mas a frota e o exeacutercito que enviou sob o comando de Constantino Contomita
foram derrotados por al-Abbas ibn al-Fadl97
Noutra frente no Sul de Itaacutelia os Sarracenos tambeacutem fizeram sentir a sua presenccedila
Em 835 a convite do ducado de Naacutepoles os primeiros soldados aacuterabes entraram em Itaacutelia para
93 Sobre esta batalha vide WORTLEY J ndash Op cit pp 100-101 94 Vide METCALFE Alex (2009) The Muslims of Medieval Italy Edinburgo Edinburgh University Press p9
e RAVEGNANI Giorgio (2004) I Bizantini in Italia Bolonha Il Mulino p149 95 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p 149 96 Vide METCALFE A ndash Op cit pp 14-15 97 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p149
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servir como auxiliares na luta contra o principado de Benevento98 Natildeo demorou ateacute
comeccedilarem a agir por vontade proacutepria em 838 saquearam Brindisi derrotaram um exeacutercito
enviado pelo priacutencipe Sicardo de Benevento e tomaram ainda Tarento uma das cidades mais
importantes da Apuacutelia onde formaram um emirato99 Em 840 uma frota aacuterabe derrota a
marinha veneziana e saqueia a costa do Adriaacutetico enquanto no ano seguinte Bari cai em
matildeos sarracenas tornando-se outro emirato O arrojo aacuterabe aliado agrave falta de acordo entre as
principais potecircncias de Itaacutelia (Lombardos Francos e Bizantinos) fecirc-los atacar Roma e
saquear as basiacutelicas de Satildeo Pedro e de Satildeo Paulo em 846100 Com o principado de Benevento
destroccedilado pela guerra civil e pelas depredaccedilotildees aacuterabes apenas os impeacuterios dos Francos e dos
Romanos poderiam fazer frente agraves incursotildees e conquistas muccedilulmanas no Sul de Itaacutelia mas a
resposta ainda demorou a vir Soacute vinte anos depois eacute que o rei Luiacutes II de Itaacutelia decidiu agir
pessoalmente comandando o seu exeacutercito contra a ameaccedila norte-africana natildeo logrando
contudo alcanccedilar vitoacuterias significativas Quando Basiacutelio I sobe ao trono encontra a Siciacutelia
presa por um fio e o Sul de Itaacutelia em anarquia dividido em confrontos entre os Aglaacutebidas do
Norte de Aacutefrica os priacutencipes lombardos locais e os caroliacutengios italianos de Luiacutes II
As primeiras poliacuteticas do novo basileuacutes tinham de ser direcionadas para legitimar a
sua dinastia e ele sabia bem o que fazer tendo em conta as circunstacircncias que o impeacuterio vivia
Em primeiro lugar comeccedilou por associar ao poder os seus filhos mais velhos Constantino
(um fruto do primeiro casamento) e Leatildeo Prometeu ainda o primogeacutenito em noivado agrave filha
do rei caroliacutengio de Itaacutelia Luiacutes II de forma a poder selar tambeacutem uma alianccedila com este De
seguida encerrou a questatildeo religiosa que dilacerava a igreja de Roma e o patriarcado de
Constantinopla ao depor Foacutecio e ao colocar Inaacutecio de novo no patriarcado101 enquanto
lanccedilava uma campanha de conversatildeo forccedilada dos Judeus102
O Macedoacutenico tambeacutem impocircs a legitimidade do seu trono pelas armas Abordemos
este assunto geograficamente O que faltava a Basiacutelio fazer a Oriente Com os emirados
orientais ainda debilitados restava a Basiacutelio um grande problema na regiatildeo o ldquoEstadordquo
Pauliciano Apoacutes a morte de Karbeias em 864 a naccedilatildeo desta heresia ficou aos cuidados de
Crisoacutequero o seu sobrinho e cunhado que recomeccedilou os saques na Anatoacutelia no ano da morte
de Bardas103 O novo liacuteder pauliciano mostrou-se um general capaz e os seus raides jaacute
98 Vide Idem Ibidem p 152 99 Vide METCALFE A ndash Op cit p17 100 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p153 101 Para uma histoacuteria breve do Cisma cf TOUGHER S ndash Op cit pp31 e 32 e TREADGOLD Warren (1997)
A History of the Byzantine State and Society Stanford Stanford University Press pp 451-452 e 454-455 102 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 33 103 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 454
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atingiam as imediaccedilotildees de Niceia de Nicomeacutedia e de Eacutefeso104 aquando da entronizaccedilatildeo de
Basiacutelio I Foi contra esta seita que Basiacutelio virou a sua atenccedilatildeo a leste De acordo com Joatildeo
Skylitzes105 em 871 Basiacutelio comandou pessoalmente uma expediccedilatildeo contra Tephrike a
capital dos Paulicianos mas incapaz de a tomar voltou-se para as regiotildees envolventes
chegando a assediar (e ateacute pensou subjugar) Melitene Esta campanha apesar de natildeo ter posto
fim agrave ameaccedila hereacutetica teraacute resultado em muitos prisioneiros e despojos foi tal o seu sucesso
que se organizou numa marcha triunfal aquando do regresso a Constantinopla106
No ano seguinte Crisoacutequero voltou a atacar territoacuterio bizantino conseguindo atingir a
cidade de Ancyra (atual Ancara) Desta vez veio ao seu encontro o domestikoacutes de Basiacutelio
Cristoacutevatildeo que seguiu os preceitos da estrateacutegia bizantina e natildeo deu de imediato luta ao liacuteder
pauliciano preferindo segui-lo de longe limitando o raio de accedilatildeo dos saques inimigos
sempre que possiacutevel Quando Crisoacutequero decide voltar para leste Cristoacutevatildeo envia um
pequeno exeacutercito composto por membros dos themaacuteta de Charsianon e dos Armeniacuteacos (c
4000 a 5000 homens) liderado pelos respetivos strateacutegoicedil para o seguir de forma a perceber
o seu objetivo retirar para Tephrike ou atacar as terras bizantinas no limes Consoante a
resposta tambeacutem mudaria a atitude da forccedila laquotemaacuteticaraquo no primeiro caso natildeo pensaria mais
no assunto e voltaria para traacutes no uacuteltimo avisaria o domestikoacutes e aguardaria novas ordens
Em uacuteltima anaacutelise segundo Skylitzes e Haldon107 o objetivo de Crisoacutequero natildeo
chegou a ser descoberto pois as forccedilas bizantinas atacaram o acampamento pauliciano no
vale de Bathys Ryax durante a noite colocando o adversaacuterio em debandada e matando
Crisoacutequero108 O decesso do liacuteder e a destruiccedilatildeo do seu exeacutercito puseram fim agrave capacidade
ofensiva dos Paulicianos e obrigaram os emirados a manterem-se por algum tempo na
defensiva apoacutes terem perdido um precioso aliado no limes oriental bizantino O coup de
gracircce no ldquoEstadordquo da heresia dualista foi dado em 879 quando Cristoacutevatildeo tomou Tephrike no
decorrer de uma campanha de Basiacutelio contra o emirado de Tarso
O que mais haveraacute a dizer sobre os conflitos nesta regiatildeo durante o reinado do
Macedoacutenico Que tiveram uma periodicidade quase anual e que salvo raras exceccedilotildees se
traduziram num grande nuacutemero de vitoacuterias bizantinas em especial na deacutecada de 870 Destes
104 Vide Idem Ibidem p457 105 Vide WORTLEY J ndash Op cit pp 133-135 106 De acordo com Warren Treadgold esta campanha teve um desfecho diferente tendo as forccedilas bizantinas sido
derrotadas e o imperador quase capturado Por outro lado os eventos vitoriosos desta campanha enunciada por
Skylitzes satildeo situados soacute em 873 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 457 107 Haldon no entanto remete esta batalha para 87 HALDON J (2001) ndash Op cit p 85 108 Supostamente este ataque teraacute sido motivado pela necessidade de descobrir qual dos themaacuteta tinha os
homens mais corajosos vide HALDON J (2001) Op cit p 87 e WORTLEY J ndash Op cit p 136
33
anos bem sucedidos a leste destacamos 879 quando o exeacutercito imperial109 arrasou o emirado
de Tarso saqueou as fortalezas de Germaniceia e Adana e ainda conseguiu saquear o Norte da
Mesopotacircmia (supostamente) tendo ainda posto um fim ao chamado laquoEstado paulicianoraquo A
deacutecada seguinte por outro lado mostrou-se algo perniciosa para Constantinopla nesta regiatildeo
mas para jaacute voltemos o nosso olhar para o Ocidente
A Itaacutelia e a Siciacutelia foram dois alvos de atenccedilatildeo prioritaacuteria para Basiacutelio ao longo do seu
principado O domiacutenio sarraceno na regiatildeo tanto na Siciacutelia como no Sul de Itaacutelia era um
risco que o basileuacutes natildeo queria correr pelo que decidiu aplicar medidas no sentido de evitar
esse cenaacuterio Logo no ano que se seguiu agrave sua ascensatildeo Basiacutelio enviou duas frotas para oeste
destinadas agrave Siciacutelia e agrave Dalmaacutecia O resultado foi agridoce a frota que socorreu Ragusa sob o
comando do almirante Niquetas Oryfas conseguiu afugentar o inimigo aacuterabe110 por seu lado
a forccedila enviada para a Siciacutelia foi desbaratada pouco depois de desembarcar111
Em 869 as coroas imperiais do Ocidente e do Oriente aliam-se para pocircr fim ao
emirado de Bari o exeacutercito franco de Luiacutes II cercou a cidade por terra enquanto a marinha
bizantina bloqueava o acesso pelo mar Esta operaccedilatildeo redundaria num fracasso parcial
Apesar de Luiacutes II ter logrado conquistar a cidade em 871 fecirc-lo sozinho dado que os
Romanos abandonaram o asseacutedio antes de este ser concluiacutedo por desentendimentos entre os
dois lados112 No entanto este foi um dos uacuteltimos contratempos bizantinos no sul de Itaacutelia
No ano 872 um exeacutercito bizantino liberta a cidade de Salerno cercada pelos Aacuterabes
desde o ano anterior enquanto em 873 uma outra forccedila reclama Otranto em nome do
impeacuterio A agressatildeo aacuterabe natildeo ameaccedilava abrandar pois em 875 raides aacuterabes na Campacircnia
voltam a ameaccedilar Roma o que resultou num pedido de ajuda papal a Bizacircncio ao mesmo
tempo que uma outra forccedila sarracena assola Comacchio junto ao Golfo de Trieste No ano
seguinte os Bizantinos entram em Bari a pedido dos habitantes da cidade
Enquanto isso o poder aglaacutebida comeccedilava a fazer soccedilobrar o poder bizantino na
Siciacutelia No ano 869 o governador aacuterabe da Siciacutelia tentou tomar Taormina mas foi assassinado
por um dos seus soldados antes de ser bem-sucedido tendo um cerco aacuterabe a Siracusa falhado
tambeacutem por essa altura A cidade de Arquimedes foi cercada de novo sem sucesso em 873
mas a tenaz aglaacutebida fechou-se firmemente sobre ela em 877 causando a sua queda no ano
seguinte A razatildeo disto teraacute sido uma alegada indisponibilidade da frota imperial para socorrer
a cidade pois estava demasiado atarefada com o transporte de material para a construccedilatildeo de
109 Neste caso usamos ldquoimperialrdquo para indicar que estava sob o comando do basileuacutes 110 Vide WORTLEY J ndash Op cit p143 111 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p456 112 Ainda assim a cidade cairia nas matildeos de Luiacutes II dois anos mais tarde
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uma igreja em Constantinopla113 A conquista aglaacutebida da ilha estava praticamente concluiacuteda
com apenas a fortaleza de Taormina a manter-se em matildeos bizantinas um ponto isolado em
territoacuterio agora hostil e que nada podia fazer para conter as ambiccedilotildees aglaacutebidashellip
A consumaccedilatildeo da conquista da Siciacutelia abriu novas portas ao emirado do Norte de
Aacutefrica Em 880 o emir Ibrahim II liderou pessoalmente a sua frota numa expediccedilatildeo ao mar
Joacutenico onde saqueou as cidades de Kefaleacutenia e de Zakynthos O arrojado ataque norte-
africano foi respondido de forma ceacutelere por Basiacutelio que envia o droungaacuterios totilden ploiumlmon
Nasar ao comando de 45 navios de guerra e desbarata a frota adversaacuteria durante um audaz (e
praticamente impossiacutevel) ataque noturno114 No contra-ataque que se seguiu Nasar ataca a
Siciacutelia coloca a ferro e fogo os arredores de Palermo e derrota uma frota aacuterabe em Punta di
Stilo (zona litoral sul da Calaacutebria) durante o seu regresso ao territoacuterio romano
O iacutempeto desta accedilatildeo levou os Bizantinos a lanccedilarem um conjunto de campanhas no
Sul de Itaacutelia que foram bem-sucedidas no mesmo ano Uma primeira expediccedilatildeo naval sob o
comando de trecircs oficiais o spathaacuterios Gregoacuterio o turmarca Teophylaktos e o komeacutes
Dioacutegenes derrota uma frota muccedilulmana ao largo de Naacutepoles De seguida uma expediccedilatildeo
tambeacutem com trecircs comandantes o protovestiaacuterio Procoacutepio o strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo e o
almirante Nasar derrota outra forccedila naval muccedilulmana desta feita junto a Milazzo na Siciacutelia
A expediccedilatildeo percorreu depois a Calaacutebria e a Apuacutelia oriental tomando grande parte das
possessotildees aacuterabes na regiatildeo enquanto se encaminhava para Tarento Na batalha que se seguiu
na proximidade desta cidade as forccedilas bizantinas derrotaram as tarentinas e apesar de
Procoacutepio ter morrido em combate entraram vitoriosas na cidade As vitoacuterias bizantinas na
regiatildeo prosseguiram depois em 885 com Niceacuteforo Focas o Velho115 que submeteu as
restantes fortalezas aacuterabes na Calaacutebria (como Amantea Tropea e Santa Severina) pela forccedila e
que submeteu os Lombardos da Apuacutelia pela via diplomaacutetica116
Este personagem da histoacuteria bizantina merece que lhe sejam dedicadas algumas
palavras alusivas ao seu percurso no reinado de Basiacutelio I e de Leatildeo VI Niceacuteforo Focas eacute o
primeiro membro da famiacutelia dos Focas uma importante linhagem da aristocracia militar
bizantina que teraacute um papel preponderante na laquoReconquistaraquo Aparentemente Niceacuteforo seria
descendente de um aacuterabe convertido ao cristianismo vindo de Tarso117 O Velho teraacute nascido
113 Vide TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 33 114 Vide PRYOR John H e JEFFREYS Elizabeth M (2006) The Age of the ΔΡΟΜΩΝ ndash The Byzantine Navy
ca 500-1204 Leiden e Boston Brill pp 65 e 66 115 Que teria sob o seu comando um conjunto de soldados paulicianos liderados por Diacoacutenitzes o mesmo que
presenciou a morte de Crisoacutequero Vide WORTLEY J ndash Op cit p 185 116 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 157-158 117 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 62
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por volta de 855 e serviu Basiacutelio com distinccedilatildeo sendo agraciado com vaacuterios tiacutetulos
manglabiacutetēs118 em 872873 quando atingiu a idade adulta depois foi promovido a
protostraacutetor tornou-se strategoacutes de Charsianon antes de 885 e nesse ano foi o comandante
da expediccedilatildeo que projetou o poderio bizantino no Sul de Itaacutelia119 depois de ser chamado de
volta a Constantinopla apoacutes a morte de Basiacutelio foi condecorado com o tiacutetulo de domestikoacutes
por Leatildeo VI e combateu contra Simeatildeo em 895 tendo abandonado o cargo no ano seguinte
Para aleacutem das operaccedilotildees militares jaacute referidas teraacute acompanhado Basiacutelio I numa
campanha contra Samosata em 873 Liderou ainda um contra-ataque contra o emirado de
Tarso quando ainda era domestikoacutes no qual conseguiu recolher muito botim e prisioneiros120
enquanto o exeacutercito tarsiano atacava territoacuterio bizantino Este registo mostra que o Velho era
um excelente general com enorme capacidade de comando e um estratego brilhante Para
Leatildeo VI este strategoacutes era o modelo ideal para aqueles que ambicionassem ocupar esse
cargo tendo direito a vaacuterias menccedilotildees no Taktikaacute Por outro lado Niceacuteforo o Velho teria tal
fama que era temido por Simeatildeo pois (supostamente) o czar da Bulgaacuteria soacute se teraacute lanccedilado ao
ataque novamente contra Constantinopla apoacutes a morte do primeiro Focas em 896121
No interluacutedio das campanhas de conquista de Tarento e das de Niceacuteforo Focas entre
880-885 destacamos a realizaccedilatildeo de duas alianccedilas entre os principados lombardos de Naacutepoles
e Salerno primeiro em 881 e depois em 883 Esta coligaccedilatildeo conseguiu destruir vaacuterias bases
de saqueadores sarracenos e empurraacute-los para a foz do rio Garigliano junto a Gaeta onde os
Aacuterabes se fortificaram e a partir de onde passaram a iniciar os seus raides sobre a Campacircnia
Mau grado a perda de importantes pontos estrateacutegicos no Mediterracircneo como
Siracusa e Malta por volta de 870 a marinha bizantina conseguiu vencer algumas vezes as
forccedilas que se lhe opunham O droungaacuterios Niquetas Oryfas enfrentou os Aacuterabes em duas
ocasiotildees no ano de 873 derrotou os piratas cretenses no Golfo de Saros tendo feito naufragar
vinte navios e em 874 venceu novamente uma frota aacuterabe desta feita no Golfo de
Corinto122 Por outro lado deu-se uma reconquista temporaacuteria da ilha de Chipre entre 875 e
118 Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas portas no palaacutecio Vide KAZDHAN
P (ed) (1991) The Oxford Dictionary of Byzantium Volume II Oxford Oxford University Press p 1284 119 Cf supra I21 120 Esta campanha teraacute decorrido em 886 e 895 ano em que abandona o cargo de domestikoacutes de acordo com
Cheynet vide CHEYNET J ndash Op cit p480 Shaun Tougher alega que de acordo com Dagron existiraacute a
possibilidade de esta campanha se ter realizado apoacutes a guerra contra Simeatildeo ou seja apoacutes 896 Vide DAGRON
Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore Phocas (963-969)
Paris pp 168-169 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 121 Existem outras teorias sobre o destino de N Focas o Velho cf TOUGHER S ndash Op cit pp 205 e 206 122 Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 23
36
882 cuja repetida perda parece ter sido contrabalanccedilada pela criaccedilatildeo dos novos themaacuteta
mariacutetimos de que falaacutemos no capiacutetulo anterior123
Os anos felizes de Basiacutelio I no que respeita agrave sua vida pessoal e agrave frente oriental
parecem ter terminado em 879 Nesse mesmo ano o seu primogeacutenito Constantino morre o
que o obriga a associar ao poder em conjunccedilatildeo com Leatildeo outro filho dele Alexandre
Apesar do descontentamento de Leatildeo ele foi obrigado a casar com uma parente afastada
Teoacutefano e a sua amante Zoeacute Zautzina foi obrigada a casar mais tarde Quem parece ter
valido ao imperador durante o seu luto foi o patriarca Foacutecio (regressado ao seu anterior ofiacutecio
apoacutes a morte de Inaacutecio em 877) e o bispo de Euceta Teodoro Santabarenos Nesse ano Foacutecio
conseguiu ainda consolidar o seu tiacutetulo patriarcal num Conciacutelio Ecumeacutenico apesar de natildeo
contar com o apoio total do papa Joatildeo VII ainda assim desta vez natildeo houve nenhum Cisma
Em 882 Basiacutelio foi derrotado pessoalmente agraves portas de Melitene enquanto no ano
seguinte o eunuco Yazaman emir de Tarso derrotou decisivamente uma forccedila bizantina
tendo passado pela espada os strateacutegoi da Capadoacutecia e da Anatoacutelia num ataque noturno Mais
tarde nesse ano Yazaman foi derrotado enquanto atacava Euripos pelo strategoacutes da Heacutelade
Oiniates A relaccedilatildeo de Basiacutelio com o filho mais velho deteriora-se novamente em 883 quando
o basileuacutes eacute informado por Santabarenos de que Leatildeo (supostamente) conjurava contra o pai
para tomar o trono Esta intriga levou ao aprisionamento do seu herdeiro por trecircs anos tendo
sido apenas libertado apoacutes Basiacutelio ter esmagado um conluio liderado por Joatildeo Curcuas contra
ele O basileuacutes apercebera-se de que precisava de manter a sua famiacutelia unida e forte e
reassegurar uma sucessatildeo legiacutetima ao trono pelo que tentou reconciliar-se com o filho124 Um
mecircs depois por causas ainda desconhecidas Basiacutelio deixa o mundo dos vivos e no trono
puacuterpura passa-se a sentar Leatildeo VI mais tarde conhecido como o Saacutebio125
O que haveraacute a dizer do reinado de Basiacutelio I Em grande parte acreditamos que foi
um reinado bem-sucedido A ameaccedila sarracena apesar de ter arrebatado a ilha de Malta e a
quase totalidade da Siciacutelia foi controlada e ateacute rechaccedilada tanto na Itaacutelia meridional como no
limes oriental nestas regiotildees podemos ateacute dizer que a soberania bizantina se comeccedilou a fazer
sentir graccedilas agrave aniquilaccedilatildeo da seita pauliciana Em termos navais Bizacircncio tambeacutem natildeo
atravessou dificuldades de maior apesar de ter perdido importantes possessotildees no
Mediterracircneo Nos Balcatildes a situaccedilatildeo manteve-se relativamente calma graccedilas agrave conversatildeo dos
Buacutelgaros ao cristianismo o que gerou uma relaccedilatildeo paciacutefica algo fraterna entre
123 Cf supra 13 124 Vide TOUGHER S ndash Op cit p35 125 Poderaacute ter morrido num acidente de caccedila viacutetima de doenccedila prolongada ou embora menos provaacutevel a mando
de Leatildeo Vide WORTLEY J ndash Op cit p 163
37
Constantinopla e Preslav Onde a governaccedilatildeo de Basiacutelio I parece ter corrido pior foi mesmo a
niacutevel interno primeiro com a morte precoce do primogeacutenito126 depois com os
desentendimentos com o seu segundo filho e herdeiro e por fim com o aprisionamento de
Leatildeo Ainda assim a sucessatildeo foi relativamente tranquila A niacutevel religioso a Igreja Ortodoxa
atingiu um niacutevel satisfatoacuterio de unidade e de estabilidade sob a lideranccedila de Foacutecio e conseguiu
expandir a sua esfera de influecircncia para a Bulgaacuteria e para a Seacutervia127
22 ndash O reinado de Leatildeo VI o Saacutebio (886-912)
laquoUm imperador deve fazer a guerra como Basiacutelio I ou escrever sobre a guerra como Leatildeo VIraquo128
O homem que sobe ao poder em 886 e que mais tarde seraacute apelidado de O Saacutebio
distingue-se pelo seu interesse pela cultura pela religiatildeo e na nossa opiniatildeo pela guerra
Leatildeo eacute autor de uma obra imensa A niacutevel judicial temos as Novelle uma adiccedilatildeo agraves Basilikaacute
uma revisatildeo juriacutedica (a primeira do geacutenero que se saiba) do Corpus Iuris Iustinianos (seacutec
VI) iniciada no reinado do seu pai (possivelmente incitada por Foacutecio129) e promulgada em
888 Leatildeo escreveu um livro oracular que parece ter atingido uma enorme popularidade
sendo copiado vaacuterias vezes durante a Baixa Idade Meacutedia130 A ele satildeo-lhe ainda atribuiacutedas
muitas outras produccedilotildees literaacuterias como homilias trabalhos teoloacutegicos compilaccedilotildees de
maacuteximas e livros interpretativos dos fenoacutemenos Mais importante para o contexto da nossa
dissertaccedilatildeo eacute o facto de ter escrito ainda dois tratados militares o primeiro quando ainda era
jovem ndash o Problemaacuteta que natildeo passaria de um conjunto de perguntas relacionadas com
diversas situaccedilotildees militares as quais eram respondidas de seguida com paraacutefrases de trechos
do Stratēgikoacuten e o outro o Taktikaacute de que falaremos na segunda parte desta dissertaccedilatildeo
Para introduzir o reinado de Leatildeo devemos comeccedilar por referir que foram anos de
governaccedilatildeo incendiados pela necessidade de produzir um herdeiro Infelizmente esta questatildeo
iria colocar o autokraacutetor131 em rota de colisatildeo com o patriarcado organizaccedilatildeo com quem
aliaacutes teve uma relaccedilatildeo difiacutecil Centremo-nos nas raiacutezes desta rivalidade o bispo Teodoro
126 Uma circunstacircncia incontrolaacutevel por ele no entanto 127 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 456 128 Frase de Paul Lemerle citada por Eric McGeer in MCGEER E (2003a) ndash Two military orations of
Constantine VII In NESBITT John W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden
e Boston Brill p 111 129 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 10 130 Idem Ibidem p 11 131 Cf infra 41
38
Santabarenos a quem Leatildeo VI nunca perdoou o envolvimento no seu encarceramento por trecircs
anos tornando-se assim no primeiro alvo a abater
A busca de justiccedila (ou de vinganccedila) que o autokraacutetor empreendeu permitiu-lhe matar
dois coelhos de uma soacute cajadada vingar-se de Santabarenos132 e livrar-se de Foacutecio que na
oacutetica de Leatildeo representava conjuntamente com os seus apoiantes um perigo para a sua
soberania133 Esta parece ser a uacutenica razatildeo para ter sido deposto e julgado uma vez que o
culto patriarca teraacute salvo em conjunto com Styliano Zaotzeacute (o pai da amante de Leatildeo) o
Saacutebio de ter ficado cego quando Basiacutelio o prendeu134 Independentemente das circunstacircncias
o antigo mestre do imperador135 foi deposto e encerrado num mosteiro em 887 enquanto
Teodoro foi julgado aprisionado e cegado ainda no ano da ascensatildeo de Leatildeo
Os patriarcas que se seguiram estiveram sob a responsabilidade deste basileuacutes que
desejava exercer a sua autoridade sobre o patriarcado de Constantinopla Logo em 886 elege
um dos seus irmatildeos mais novos136 Estevatildeo137 como patriarca cargo que iraacute ocupar ateacute agrave sua
morte em 893 Segue-se Antoacutenio Cauleias que logrou com Leatildeo reconciliar os disciacutepulos de
Foacutecio e os seus opositores pondo fim agrave queziacutelia Agrave morte de Cauleias em 901 seguiu-se
Nicolau o Miacutestico um amigo pessoal do imperador mas que lhe iraacute fazer a vida negra138
A grande questatildeo religiosa do reinado de Leatildeo VI foi a Tetragamia uma violenta
poleacutemica religiosa (e poliacutetica) que opocircs o Saacutebio ao patriarca Nicolau O que estava em causa
era o quarto casamento do imperador que jaacute era viuacutevo pela terceira vez e a legitimidade do
filho dessa nova relaccedilatildeo A sua uniatildeo com Teoacutefane com quem fora obrigado a casar pelos
pais em 879 tinha sido bastante atribulada primeiro com a oposiccedilatildeo de Leatildeo ao casamento
depois com o isolamento dele no Palaacutecio em regime de prisatildeo seguidamente pela morte da
filha de ambos Eudoacutecia em 983 e por fim pelo espetro do romance reatado de Leatildeo e Zoeacute
Zautzina conhecido de todos na corte imperial Todos estes fatores contribuiacuteram para um
casamento frio e complicado que terminou em 895 ou 896 com a morte de Teoacutefane139
132 Alegadamente este teria engendrado a prisatildeo de Leatildeo quando este tentou advertir o pai dos efeitos da
influecircncia de Teodoro vide TOUGHER S ndash Op cit p73 133 De acordo com Shaun Tougher Foacutecio teria exercido algum domiacutenio nas accedilotildees de Basiacutelio apoacutes a sua segunda
ascensatildeo ao patriarcado em especial apoacutes a morte de Constantino por intermeacutedio de Teodoro Santabarenos
Vide TOUGHER S ndash Op cit pp 71-72 134 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p460 135 Foacutecio havia voltado agrave corte nos iniacutecios da deacutecada de 70 do seacuteculo IX a pedido de Basiacutelio para ser tutor dos
filhos do basileuacutes Vide TOUGHER S ndash Op cit p32 136 O seu irmatildeo mais novo Alexandre tinha sido associado ao trono com a morte de Constantino e tornou-se co-
imperador quando este se tornou imperador Seria Alexandre que iria suceder ao Saacutebio apoacutes a sua morte em 912 137 Supostamente como este nascera no tempo em que Miguel III ainda era vivo tambeacutem haacute a possibilidade de
ser filho do uacuteltimo Amoriano Estevatildeo foi castrado e tornou-se monge a mando de Basiacutelio 138 Ironicamente nas palavras de Shaun Tougher TOUGHER S ndash Op cit p38 139 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 140
39
Zoeacute tornou-se basiacutelissa apoacutes um casamento que natildeo foi digno de um imperador
presidido por um padre e natildeo pelo patriarca em 898 Tambeacutem esta uniatildeo foi muito curta pois
Zoeacute faleceu em 899 ou 900 sem ter produzido um filho varatildeo O terceiro enlace teraacute
suscitado algumas resistecircncias no patriarcado mas foi aceite e Leatildeo casou com Eudoacutecia
Baianeacutes que teraacute ateacute engravidado Tambeacutem este conjuacutegio teraacute um final infeliz devido agrave morte
de Eudoacutecia durante o parto seguida da do filho Basiacutelio pouco tempo depois
As relaccedilotildees entre o basileuacutes e a Igreja azedaram a partir daiacute Impossibilitado de casar
novamente140 Leatildeo tomou uma amante Zoeacute Carbonopsina de quem teve um filho em 905 o
futuro Constantino VII Porfirogeneta Finalmente com um herdeiro direto Leatildeo esforccedilou-se
para o legitimar tendo para isso de o batizar e de casar com Carbonopsina141 O filho foi
batizado pelo patriarca em 906 mas o casamento natildeo foi tatildeo faacutecil de ser concretizado pois
surgiu-lhe um obstaacuteculo em frente o seu amigo Nicolau o Miacutestico O confronto entre os dois
levou primeiro agrave realizaccedilatildeo de vaacuterios siacutenodos depois ao casamento ldquopela caladardquo de Leatildeo
no Grande Palaacutecio que resultou na sua proibiccedilatildeo de participar em algumas cerimoacutenias
religiosas celebradas pelo patriarca142 e por fim agrave deposiccedilatildeo e exiacutelio de Nicolau em 907
pouco antes de um conciacutelio que tinha como objetivo perdoar o autokraacutetor
O novo patriarca escolhido pelo basileuacutes foi o synkellos Eutiacutemio por estar laquoacima de
repreensatildeo estar marcado com um selo de santidade e ser conspiacutecuo pelos seus grandes
feitos143raquo No entanto Eutiacutemio soacute autorizaria o quarto casamento144 se Leatildeo aceitasse certas
condiccedilotildees o basileuacutes teria de fazer penitecircncia o padre que realizara o casamento deveria ser
expulso da igreja Eutiacutemio natildeo coroaria a nova basiacutelissa na igreja e por fim a proibiccedilatildeo legal
definitiva de laquoquartos casamentosraquo Leatildeo VI aceitou os requisitos patriarcais e natildeo mais a
Igreja contestou a sua governaccedilatildeo
Onde o reinado de Leatildeo VI parece ter suscitado mais debate na historiografia
contemporacircnea foi mesmo nos assuntos militares e relacionados com o estrangeiro No seacuteculo
XX muitos bizantinistas que escreveram sobre o assunto (como Ostrogorksy por exemplo)
trataram o autokraacutetor como se este natildeo tivesse qualquer apreccedilo ou preocupaccedilatildeo pelos
problemas externos que assolaram o impeacuterio (e natildeo foram poucos) enquanto esteve no
trono145 A imagem de Leatildeo VI comeccedilou a mudar desde as publicaccedilotildees de Romily Jenkins e
140 Ironicamente por uma lei que o proacuteprio criara Vide Idem Ibidem p156 141 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p468 142 Vide MONTEIRO J ndash Op cit p 76 143 Vide Life of Euthymios 95 4-5 apud TOUGHER S ndash Op cit p 162 144 Que entretanto havia sido legitimado por uma bula papal vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 76 145 Vide TOUGHER S ndash Op cit pp164 e 166
40
de Patrice Karlin-Hayter146 ateacute ao capiacutetulo 7 da obra Reign of Leo VI de Shaun Tougher onde
este assunto foi abordado com detalhe Faremos um balanccedilo sucinto deste problema quando
acabarmos de relatar os principais episoacutedios militares do principado do Saacutebio e de descrever a
maneira como ele teraacute reagido a esses problemas
De que forma mudou o cenaacuterio geopoliacutetico e militar entre Basiacutelio I e Leatildeo VI A boa
sorte que Bizacircncio parecia atravessar a Oriente parecia ter comeccedilado a mudar novamente para
o lado muccedilulmano apesar de se manter o status quo na regiatildeo e de o Impeacuterio Bizantino se
manter mais na ofensiva do que os seus adversaacuterios na regiatildeo No Sul de Itaacutelia a supremacia
bizantina conquistada no reinado de Basiacutelio I parecia aguentar-se o reino caroliacutengio de Itaacutelia
caiacutera no caos poliacutetico apoacutes a deposiccedilatildeo de Carlos o Gordo (884-887) o principado de
Benevento o principal poder lombardo na regiatildeo tinha ficado em segundo plano e os dois
emirados aacuterabes da Itaacutelia meridional (Bari e Tarento) estavam destruiacutedos No entanto nesta
frente as coisas estavam prestes a mudar ainda que temporariamente No Impeacuterio da Bulgaacuteria
eacute que a situaccedilatildeo piorou para Bizacircncio quando Simeatildeo o terceiro filho de Boacuteris147 ascendeu
ao trono apoacutes uma guerra civil entre o pai e o imperador de entatildeo o seu irmatildeo Vladimir que
tentara retornar ao paganismo Como veremos Simeatildeo seria um dos grandes adversaacuterios de
Leatildeo e disputaria ativamente com Bizacircncio a supremacia sobre os Balcatildes
Comecemos por Itaacutelia onde logo em 886 Leatildeo ordena a Niceacuteforo Focas o Velho que
regresse a Constantinopla para tomar o manto de domestikoacutes A estrateacutegia bizantina de impor
e consolidar a hegemonia na regiatildeo manteve-se estabelecer laccedilos de vassalagem com os
poderes lombardos do Sul de Itaacutelia muitas vezes recorrendo agrave diplomacia ou ao envio de
tropas auxiliares para fazer frente agrave ameaccedila aacuterabe do Norte de Aacutefrica e da Siciacutelia148 Por
exemplo o priacutencipe Guaimar I de Salerno (880-901) aceitou a soberania bizantina quando
tropas imperiais o auxiliaram entre 886 e 887 tendo sido recompensado por Leatildeo VI com o
tiacutetulo de patriacutecio149 Os priacutencipes lombardos no entanto eram aliados de natureza duacutebia que
soacute aceitavam o auxiacutelio bizantino quando precisavam e que tanto se podiam unir aos
Bizantinos contra os Sarracenos como vice-versa150
Em 887 o priacutencipe Aiatildeo de Benevento (884-891) quis vingar-se de uma campanha
empreendida pelo strategoacutes Teoacutefilato na Campacircnia e tomou Bari de assalto com o apoio de
auxiliares sarracenos A resposta bizantina natildeo se fez esperar e no ano seguinte uma
146 Natildeo tivemos acesso agrave bibliografia de Jenkins 147 O czar responsaacutevel pela conversatildeo do estado buacutelgaro ao cristianismo 148 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 23 149 Vide RAVEGNANI G ndash Op cit pp 158-159 150 Sendo o duque-bispado de Naacutepoles o melhor exemplo desta praacutetica
41
expediccedilatildeo liderada pelo patriacutecio Constantino recupera a cidade quando Aiatildeo eacute abandonado
pelos mercenaacuterios sarracenos e lhe eacute recusado auxiacutelio pelo ducado de Espoleto e pelo condado
de Caacutepua Apoacutes a morte do priacutencipe em 891 o strategoacutes Symbatikios comanda um exeacutercito a
partir de Bari e toma Benevento aproveitando-se da menoridade de Urso o herdeiro de
Aiatildeo151 A conquista de Benevento foi efeacutemera pois a cidade caiu em 895 agraves matildeos do
priacutencipe Guido de Espoleto152 A reconquista foi facilitada pelo apoio da populaccedilatildeo da cidade
que estava descontente com as autoridades bizantinas que a estariam a oprimir153 ndash assim o
diz uma fonte lombarda do seacuteculo X154
Por outro lado no iniacutecio do seacuteculo X os Aglaacutebidas lanccedilaram-se novamente agrave
conquista de Itaacutelia Em 901 voltam a atacar a Calaacutebria conquistam Reacutegio e empreendem uma
nova incursatildeo naquela regiatildeo No ano a seguir eacute o proacuteprio emir aglaacutebida Ibrahim II (875-
902) a liderar as suas forccedilas em direccedilatildeo agrave Itaacutelia meridional Foi no seio dessa campanha em
902 que caiu Taormina a uacuteltima possessatildeo bizantina na Siciacutelia Apoacutes a consolidaccedilatildeo do
poder aglaacutebida naquela ilha o emir embarcou quase de imediato em direccedilatildeo ao sul de Itaacutelia
onde cercou Cosenza O asseacutedio acabou por ser mal sucedido porque Ibrahim morreu de
disenteria e a sua hoste privada da sua lideranccedila acabou por se desintegrar
Antes de prosseguirmos voltemos a nossa atenccedilatildeo para a tomada de Taormina A
questatildeo da queda de Taormina eacute uma das razotildees utilizadas para considerar Leatildeo um mau
imperador no sentido dos assuntos militares Por que razatildeo teraacute o basileuacutes entregado agrave sua
sorte a uacuteltima possessatildeo num dos pontos mais estrateacutegicos do Mediterracircneo Na nossa
opiniatildeo natildeo nos parece que tenha sido ele a deixar cair a Siciacutelia tendo em conta que ele
proacuteprio soacute tinha herdado Taormina A defesa da cidade soacute se justificava por trecircs razotildees uma
questatildeo de prestiacutegio para o Impeacuterio155 a manutenccedilatildeo dos seus habitantes na orla do poder
bizantina e a possibilidade da utilizaccedilatildeo da fortaleza como um ponto de partida para a
reconquista da Siciacutelia uma hipoacutetese completamente fora de questatildeo na altura156 porque a
grande preocupaccedilatildeo dos Bizantinos na regiatildeo era consolidar a sua hegemonia no Sul de Itaacutelia
e natildeo havia meios e condiccedilotildees navais157 para se empreender a reconquista da Siciacutelia num
151 Idem Ibidem p 159 152 Conveacutem salientar que a prioridade do Impeacuterio Bizantino na altura eram os Balcatildes onde Leatildeo VI e Simeatildeo
da Bulgaacuteria combatiam pela supremacia 153 O comando do theacutema da Lombardia que estava sedeado naquela cidade abandonou Benevento em 894 sob o
strategoacutes Barsaacutequio por estas razotildees 154 Idem Ibidem p 160 155 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 24 156 Idem Ibidem p 24 157 Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI enfrentou uma grave vaga de pirataria tanto no Mar Egeu como no
Mediterracircneo oriental
42
futuro proacuteximo Por estas razotildees concordamos com a afirmaccedilatildeo de Karlin-Hayter que diz
laquo(hellip) Taormina naquele tempo natildeo era um recurso mas sim um encargoraquo158
Enquanto isso o paradigma lombardo-bizantino no Sul de Itaacutelia muda pois as
relaccedilotildees entre Guido e Benevento rapidamente se deterioraram um facto que culminou na
uniatildeo do principado de Benevento com o ducado de Caacutepua em 901 para que ambos
pudessem fazer frente ao Imperador do Sacro Impeacuterio Esta mudanccedila no estado de situaccedilatildeo
possibilitou uma reaproximaccedilatildeo entre Lombardos e Bizantinos que se aliam para fazer frente
aos Aacuterabes que realizavam raides na Campacircnia a partir do seu laquoninhoraquo na foz do rio
Garigliano Foi com a intenccedilatildeo de criar uma espeacutecie de Liga Cristatilde para expulsar os Aacuterabes da
Campacircnia de uma vez por todas que o priacutencipe Atenolfo I de Benevento e Caacutepua enviou em
909 uma embaixada a Constantinopla presidida pelo filho Landolfo Leatildeo teraacute concordado
com o priacutencipe requerendo soacute que este se tornasse vassalo da coroa puacuterpura A operaccedilatildeo natildeo
se chegou a realizar enquanto o basileuacutes era vivo no entanto mais tarde formou-se uma nova
alianccedila cristatilde organizada pelo papa Joatildeo II em 915 que possuiacutea um importante corpo militar
bizantino sob o comando do strategoacutes da Lombardia Nicolau Piccingli A Liga Cristatilde
apoiada pela frota bizantina cercou entatildeo a base sarracena na foz do Garigliano Os Aacuterabes
natildeo conseguiram fazer frente agrave alianccedila das principais potecircncias do sul de Itaacutelia159 e foram
massacrados Com o fim daquele enclave terminaram tambeacutem as expediccedilotildees de saque
muccedilulmanas no interior da Campacircnia e da Itaacutelia Central160
Viajemos agora para os Balcatildes Como jaacute foi referido lamentavelmente para Leatildeo VI
as relaccedilotildees entre o Impeacuterio Bizantino e a Bulgaacuteria cristatilde deterioraram-se durante o seu
reinado Na segunda metade do seacuteculo IX o Estado buacutelgaro evoluiu de um khaganato pagatildeo
para um impeacuterio cristatildeo sob a alccedilada do czar Boacuteris161 O antigo khan por sua vez tornou-se
tatildeo religioso que abdicou do trono para vestir o haacutebito em 889 apoacutes ter entregado a coroa ao
seu primogeacutenito Vladimir O novo soberano foi deposto pelo proacuteprio pai em 893 quando
comeccedilou a tomar um conjunto de medidas anticristatildes e anti-bizantinas Depois de depor
158 Idem Ibidem p 24 159 Para aleacutem da frota e dos contingentes do Impeacuterio Bizantino estavam presentes corpos militares do papado e
dos principados lombardos de Caacutepua Salerno Espoleto e ateacute de Naacutepoles e Gaeta (que Ravegnani chega a
considerar filossarracenas) cidades que foram convencidas por Nicolau Piccingli a participar RAVEGNANI G
ndash Op cit p 161 160 Idem Ibidem p162 161 Para um resumo deste processo e da autonomizaccedilatildeo da Igreja Buacutelgara vide HUPCHIK Dennis P (2017) The
Bulgarian-Byzantine Wars for Early Medieval Balkan Hegemony ndash Silver-lined Skulls and Blinded Armies
Estados Unidos da Ameacuterica Palgrave Macmillan pp 136-143
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Vladimir Boacuteris voltou agrave sua vida religiosa natildeo sem antes ter colocado no seu lugar um outro
filho mais novo chamado Simeatildeo em 893162
O novo soberano dos Buacutelgaros era tambeacutem muito culto fora educado em
Constantinopla era piamente cristatildeo e tinha um enorme apreccedilo pela coacutepia de textos sagrados
Tudo razotildees que possivelmente trariam alguma paz a Bizacircncio tanto que Leatildeo natildeo estava
interessado em guerrear com uma naccedilatildeo ortodoxa mais a mais com o impeacuterio cercado por
inimigos natildeo-cristatildeos163 No entanto Simeatildeo era tambeacutem um ambicioso governante que
queria formar um Impeacuterio Bizantino-Buacutelgaro encabeccedilado por ele164hellip As tensotildees comeccedilaram
de imediato a borbulhar no ano que se seguiu agrave ascensatildeo do jovem soberano buacutelgaro165
quando o braccedilo direito do basileuacutes Styliano Zaotzeacute conseguiu convencer Leatildeo a transferir o
mercado buacutelgaro de Constantinopla166 para Tessaloacutenica Simeatildeo ao tomar conhecimento
destes acontecimentos tentou mostrar o seu desagrado ao imperador que por sua vez o
ignorou Foi aiacute que o jovem suserano buacutelgaro desenterrou o machado da guerra
A duacutevida de quem teraacute realmente provocado essa guerra ainda hoje eacute discutida As
croacutenicas bizantinas parecem querer demonstrar que a questatildeo do laquomercado buacutelgaroraquo fora
apenas um pretexto para uma guerra que o ambicioso Simeatildeo desejava167 Por outro lado ateacute
que ponto estas alegaccedilotildees satildeo vaacutelidas E se Leatildeo tivesse aquiescido a Simeatildeo Teria este
forccedilado uma guerra de qualquer das formas numa etapa tatildeo prematura da sua governaccedilatildeo O
que nos parece mais provaacutevel eacute que o czar buacutelgaro tambeacutem natildeo estivesse interessado em
combater contra Bizacircncio (pelo menos naquela altura) mas viu-se obrigado a fazecirc-lo para
garantir os interesses comerciais do seu povo para consolidar o seu trono e citamos aqui
Hupchik para mostrar ao mundo que laquoos interesses (da Bulgaacuteria) podiam ser ignorados pelos
estrangeiros apenas sob um grande riscoraquo168 Por outro lado eacute muito provaacutevel que Leatildeo natildeo
contasse com esta retaliaccedilatildeo de Simeatildeo ou por natildeo esperar uma resposta tatildeo draacutestica do seu
vizinho ou porque confiava na sustentaccedilatildeo da longa paz entre a Bulgaacuteria e Bizacircncio169
Independentemente das circunstacircncias foi com a guerra que Leatildeo se deparou e esta veio
(tendo em conta a regiatildeo onde decorreu) numa peacutessima altura para o lado bizantino
162 Idem Ibidem p 143 163 Os Aacuterabes na Itaacutelia no Mar Egeu e na Ciliacutecia e os Russos na estepe euroasiaacutetica na margem norte do Mar
Negro 164 MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 165 Estaria nos seus 20 anos aproximadamente Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p151 166 Para uma pequena descriccedilatildeo dos efeitos desta mudanccedila no comeacutercio buacutelgaro e da razatildeo desses efeitos cf
Idem Ibidem p 154 167 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 174 e WORTLEY J ndash Op cit pp 169-170 168 Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p153 169 Vide TOUGHER S ndash Op cit p173
44
A invasatildeo buacutelgara do theacutema da Macedoacutenia foi arrasadora e brutal uma vez que aquela
aacuterea estava relativamente indefesa e porque o impeacuterio contava apenas com tropas de segunda
categoria laquotemaacuteticasraquo e somente um contingente de soldados profissionais estava em
Constantinopla a guarda-pessoal do basileuacutes a Hetaireia170 Este exeacutercito mobilizado agrave
uacuteltima da hora foi trucidado por Simeatildeo os seus comandantes foram mortos e os membros da
Hetaireia (e o proacuteprio basileuacutes) foram humilhados ao verem os seus narizes cortados O
primeiro laquoroundraquo da guerra fechou portanto com uma vitoacuteria de Simeatildeo
No ano a seguir Leatildeo jaacute estava mais preparado para fazer frente a Simeatildeo e ateacute para
passar agrave ofensiva A estrateacutegia que o basileuacutes engendrou envolvia trecircs peccedilas principais a
habilidade de Niceacuteforo Focas o Velho a inatacaacutevel (pelos Buacutelgaros) marinha bizantina e uma
manobra diplomaacutetica que visava chamar um novo jogador ao tabuleiro ndash os Magiares171 da
regiatildeo da atual Romeacutenia e da Panoacutenia (Hungria) Para conseguir o apoio daquele povo Leatildeo
enviou um diplomata (carregado com um tributo em ouro) aos respetivos liacutederes Arpaacuted e
Kurszaacuten que aceitaram combater ao lado dos Bizantinos Assim enquanto os Magiares se
dirigiam ao Danuacutebio na primavera de 895 para invadir a Bulgaacuteria pelo norte o ceacutelebre
Niceacuteforo Focas reuniu o exeacutercito imperial na fronteira com Simeatildeo de modo a desviar a sua
atenccedilatildeo Depois de Simeatildeo ter prendido um diplomata que Leatildeo enviara a fim de negociar a
paz a hoste de Niceacuteforo invadiu as possessotildees buacutelgaras no Norte da Traacutecia
Com Simeatildeo distraiacutedo pelo ataque do exeacutercito romano a frota sob o droungaacuterios
Eustaacutecio ajudou os Magiares a atravessarem o Danuacutebio e a invadir o limes indefeso de
Simeatildeo O czar ainda tentou reagir mas as suas tentativas foram goradas pelos arqueiros da
estepe que o derrotam e obrigaram a refugiar-se na fortaleza de Dorostolon172 Os Magiares
saquearam o territoacuterio inimigo ateacute Preslav a capital da Bulgaacuteria173 e regressaram depois agraves
suas terras para laacute do Danuacutebio onde venderam os seus prisioneiros de guerra a Bizacircncio
conforme ficara acordado na alianccedila com Leatildeo
170 O domestikoacutes e o grosso das forccedilas da capital incluindo os taacutegmata estavam em campanha a oriente quando
Simeatildeo invadiu Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVIII O Regresso do Califado a Bagdade
Traduccedilatildeo e anotaccedilotildees de Franz Rosenthal ROSENTHAL Franz (1987) The History of al-Tabari Volume
XXXVIII The Return of the Caliphate to Baghdad Nova Iorque New York University Press p 11 171 Os antecessores dos Huacutengaros 172 Satildeo Skylitzes e Hupchik que referem Dorostolon vide WORTLEY J ndash Op cit p 171 e HUPCHIK D P ndash
Op cit p 158 Shaun Tougher refere que ele retirou para uma fortaleza chamada Moundraga mas natildeo
encontraacutemos nenhuma referecircncia a este local (ou ao facto de ser o mesmo siacutetio que Dorostolon) nas nossas
pesquisas Vide TOUGHER S ndash Op cit p177 173 Que supostamente teraacute sido salva pelas preces e por um voto de fome por trecircs dias expresso pelo antigo
imperador Boacuteris Hupchik diz que o que parou os Magiares foram as muralhas da cidade Por nosso lado
sentimo-nos tentados a aceitar a hipoacutetese de que teraacute sido uma conjugaccedilatildeo das muralhas e do facto de Boacuteris ter
liderado a defesa da cidade Vide HUPCHIK D P ndash Op cit p 159
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Por sua vez Simeatildeo enviou uma mensagem a Eustaacutecio informando-o de que estava
disposto a assinar a paz Leatildeo estava desejoso de sair daquela guerra que natildeo lhe interessava
e pretendia distribuir as tropas daquele teatro de operaccedilotildees por outras frentes prioritaacuterias pelo
que aceitou e ordenou a retirada quase imediata de Niceacuteforo Focas o Velho e de Eustaacutecio Para
assinar os termos da paz Leatildeo enviou o seu melhor diplomata Leatildeo Coirosfactes a Simeatildeo
No entanto a ordem de retirada prematura e depois a entrega dos seus prisioneiros de guerra
antes de assinar a paz foram erros crassos do basileuacutes Simeatildeo no interluacutedio da assinatura da
paz aliou-se aos Pechenegues um povo das estepes hostil aos Magiares e preparou o seu
exeacutercito para o terceiro ano de guerra Ainda em 895 atravessou o Danuacutebio e com a ajuda
dos Pechenegues derrotou os Magiares empurrando-os para a Panoacutenia174
No ano seguinte possivelmente apoiado na morte ou na remoccedilatildeo de Niceacuteforo Focas
do cargo de domestikoacutes Simeatildeo lanccedilou-se ao ataque e derrotou as forccedilas do novo
ldquocomandante do Estado-maiorrdquo Leatildeo Katakalon na batalha de Bulgarophygon A derrota
naquela batalha saiu cara ao Saacutebio que viu as forccedilas buacutelgaras saquearem a Traacutecia bizantina e
ateacute ameaccedilar Constantinopla Por fim Leatildeo acedeu a assinar a paz nos termos propostos por
Simeatildeo que nos satildeo desconhecidos mas que muito provavelmente envolviam um retorno agrave
situaccedilatildeo dos mercados tal como esta estava antes da guerra e ao pagamento de um pesado
tributo anual175 De resto ao longo do reinado de Leatildeo Simeatildeo natildeo mais pegaria em armas
contra Bizacircncio natildeo soacute porque durante o resto do tempo de principado do basileuacutes se
concentrou no desenvolvimento cultural do seu domiacutenio176 mas porque Leatildeo fez os possiacuteveis
(e os impossiacuteveis pode-se dizer) para conservar a paz
Falta-nos dedicar algumas palavras agrave guerra naval e ao limes oriental Decidimos
juntar estas duas frentes numa uacutenica secccedilatildeo do nosso texto porque estatildeo diretamente
relacionadas Em primeiro lugar referimos que a guerra naval foi o que correu pior a Leatildeo
VI deu-se a perda definitiva da Siciacutelia como jaacute falaacutemos e as frotas bizantinas foram
derrotadas vaacuterias vezes Vamos agora tentar sucintamente fazer um relato das principais
accedilotildees navais e das campanhas orientais que ocorreram durante o reinado do Saacutebio
Na Ciliacutecia o principal adversaacuterio no iniacutecio do reinado de Leatildeo VI continuava a ser o
eunuco Yazaman que da sua base de Tarso atacava Bizacircncio tanto por terra como por mar
Em 888 Yazaman organiza uma expediccedilatildeo naval capturando quatro navios bizantinos
enquanto no Mediterracircneo central uma frota muccedilulmana derrota uma armada bizantina ao
174 De onde eles partiriam para os seus ataques recorrentes contra a Europa ocidental e a Bulgaacuteria durante a
primeira metade do seacuteculo X ateacute serem derrotados agraves matildeos de Otatildeo I na batalha de Lechfeld (em 955) 175 Vide MONTEIRO J G ndash Op cit p 77 176 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 175
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largo de Milazzo Esta vitoacuteria no entanto seria anulada no ano seguinte com um sucesso
militar romano a repor o controlo sobre o Estreito de Messina Em 891 no contexto de uma
alianccedila entre Yazaman e os Tuluacutenidas do Egipto o eunuco eacute morto por um fragmento de um
projeacutetil de balista durante um ataque a Salandu uma fortaleza costeira bizantina na Ciliacutecia177
A este governante de Tarso seguiu-se anos mais tarde o eunuco Raghib que em 898 derrotou
uma frota bizantina e teraacute decapitado 3000 marinheiros romanos o que a ser verdade poderaacute
ter representado um duro golpe na operacionalidade naval do impeacuterio178 No entanto o
sucesso de Raghib teraacute sido sol de pouca dura porque no ano seguinte ele eacute preso e a frota de
Tarso queimada a mando do califa uma mais-valia para Bizacircncio naqueles tempos
conturbados179
Apesar dos feitos de Raghib de Yazaman e ateacute de Simeatildeo na nossa opiniatildeo natildeo
houve personagens mais nefastas para Bizacircncio durante o reinado de Leatildeo VI do que Leatildeo o
Tripolitano e Damiano Por coincidecircncia tanto um como o outro tinham origem grega180 e
conseguiram ascender no mundo muccedilulmano ateacute ocuparem altos cargos militares181 Jaacute em
891 (ou em 893) Leatildeo o Tripolitano desferira um golpe profundo na aptidatildeo mariacutetima do
impeacuterio quando atacou e saqueou Samos (a capital do theacutema mariacutetimo do Mar Egeu) e
capturou o seu strategoacutes Paspalas182 Dez anos depois foi a vez de Damiano atacar o impeacuterio e
saquear a cidade de Demeacutetrias na Tessaacutelia mas nesse mesmo ano deu-se um bem-sucedido
ataque naval bizantino no litoral da Ciliacutecia (possibilitado pela destruiccedilatildeo da frota de Tarso
provavelmente) e uma ofensiva terrestre na regiatildeo de Kaysun entre Maras e Samosata183 Os
Aacuterabes retaliaram com um raide agrave ilha de Lemnos que fez dos seus habitantes cativos dos
Muccedilulmanos184
Mas nenhum ataque chocou mais o Impeacuterio Bizantino do que o saque de Tessaloacutenica
em 904 e natildeo era para menos tendo em conta que esta era a segunda cidade mais importante
do Impeacuterio A frota que estava sob o comando de Leatildeo o Tripolitano tinha dimensotildees maiores
do que o normal e o seu objetivo principal seria com alguma probabilidade
177 Vide AL-TABARI A Histoacuteria Volume XXXVII A Restauraccedilatildeo Abaacutessida Traduccedilatildeo de Phillip M Fields e
Notas de Jacob Lassner FIELDS Phillip M (1987) The History of al-Tabari Volume XXXVII The Abbasid
Recovery Nova Iorque New York University Press p 175 178 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 73 179 Vide Idem Ibidem p 79 e 91 180 Leatildeo seria oriundo da cidade de Ataleia na Ciliacutecia onde foi capturado relativamente jovem Damiano seria
mesmo grego e serviu o eunuco Yazaman em Tarso 181 Leatildeo o Tripolitano seria almirante por exemplo 182 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 185 183 Al-Tabari diz que teratildeo sido presos cerca de 15 000 muccedilulmanos Cf ROSENTHAL Franz ndash Op cit p 97 184 Tougher diz que para Vasiliev o sucesso dos ataques muccedilulmanos cada vez mais proacuteximos de
Constantinopla se deveu ao desaire bizantino frente a Raghib em 898 Cf TOUGHER S ndash Op cit p 185
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Constantinopla185 Leatildeo enviou a sua frota para fazer frente agrave armada aacuterabe quando esta se
comeccedilou a aproximar do Helesponto mas o almirante Eustaacutecio retirou frente ao poderio
aacuterabe O impeacuterio acabado de sair da crise administrativa provocada pela morte de Zaotzeacute186 e
da filha a basiacutelissa em 899 e com uma seacuterie de derrotas navais sofridas frente aos Aacuterabes
(mau grado algumas vitoacuterias tambeacutem) via agora a sua proacutepria capital ameaccedilada
Leatildeo colocou um novo droungaacuterios Himeacuterio agrave cabeccedila da frota imperial e enviou-o
contra o Tripolitano O almirante muccedilulmano entretanto por razotildees desconhecidas mudara
de curso e dirigira-se a Tessaloacutenica sem que o novo droungaacuterios o tentasse deter Uma
duacutevida se coloca por que razatildeo teraacute o Tripolitano mudado de alvo Natildeo haacute muitas certezas
mas parece-nos que se Tessaloacutenica natildeo era um objetivo mais tentador do que
Constantinopla187 certamente era bem mais faacutecil de tomar188 Alegadamente Tessaloacutenica soacute
teraacute sido resgatada por acaso quando um oficial imperial encontrou uma avultada soma
monetaacuteria destinada agrave Bulgaacuteria189 e a ofereceu ao almirante muccedilulmano que soacute entatildeo teraacute
levantado acircncora deixando uma grande parte dos cativos em terra e regressado agrave Siacuteria190
O saque de Tessaloacutenica teve consequecircncias nefastas como eacute expectaacutevel a niacutevel
regional porque metade da populaccedilatildeo foi morta ou capturada incluindo a guarniccedilatildeo e o
strategoacutes Leatildeo Katzilaacutequio a niacutevel psicoloacutegico-religioso porque o padroeiro da cidade Satildeo
Demeacutetrio que sempre tinha protegido a cidade na opiniatildeo dos Bizantinos a teraacute abandonado
naquele ano tendo-se entatildeo discutido as implicaccedilotildees que isso teria na vontade da Virgem em
defender Constantinopla191 a niacutevel diplomaacutetico porque Leatildeo VI se viu obrigado a enviar uma
nova embaixada a Simeatildeo da Bulgaacuteria para o convencer a natildeo se aproveitar daquele evento
para conquistar aquela cidade192 e possivelmente teraacute afetado o prestiacutegio do Saacutebio
Karlin-Hayter no artigo em que defende a poliacutetica externa de Leatildeo VI considera o
saque de Tessaloacutenica como uma das trecircs grandes manchas do reinado drsquo O Saacutebio a par da
eclosatildeo da guerra contra Simeatildeo e da retirada apressada de Niceacuteforo Focas o Velho e de
185 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 186 186 A famiacutelia de Zaotzeacute conspirara contra o imperador mas este foi salvo quando o eunuco aacuterabe Samonas
denunciou a Leatildeo VI esta conspiraccedilatildeo 187 Um ataque agrave capital do impeacuterio consumiria muito tempo e necessitaria de um bom apoio terrestre 188 Treadgold explica que as muralhas mariacutetimas de Tessaloacutenica estavam a ser reparadas por aquela altura pelo
que eacute muito provaacutevel que o Tripolitano se tenha aproveitado da circunstacircncia para atacar aquela cidade Vide
TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 189 Possivelmente o tributo destinado a Simeatildeo 190 Shaun Tougher sempre empenhado em defender a imagem de Leatildeo alega que foi Leatildeo VI a pagar aos
Aacuterabes a libertaccedilatildeo da cidade TOUGHER S ndash Op cit p 188 191 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 p189 192 Vide TOUGHER S ndash Op cit p 181
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Eustaacutecio no segundo ano dessa guerra193 No entanto ateacute que ponto as circunstacircncias da
queda de Tessaloacutenica satildeo da culpa do basileuacutes Treadgold194 por exemplo desculpa Leatildeo ao
defender que o ataque tinha sido de surpresa195 Na nossa opiniatildeo poreacutem parece-nos muito
difiacutecil o basileuacutes natildeo ter sabido com antecedecircncia da preparaccedilatildeo desta enorme frota pois de
outra forma esta natildeo podia sequer sonhar em conquistar Constantinopla se a capital fosse
realmente o primeiro alvo do Tripolitano Aliaacutes as accedilotildees de Leatildeo nesse ano mostram que ele
jaacute deveria contar com um ataque naval muccedilulmano procedeu agrave reparaccedilatildeo das muralhas de
Tessaloacutenica a armada imperial permaneceu nas proximidades da capital e talvez mais
relevante de tudo lanccedilou-se uma ofensiva terrestre a oriente196 pouco antes do saque Este
uacuteltimo ponto em particular encaixa no pensamento estrateacutegico do basileuacutes que defende no
Taktikaacute que um ataque naval muccedilulmano deve ser retaliado com uma invasatildeo terrestre197 uma
opiniatildeo que partilhamos com Shaun Tougher198 Em jeito de vinganccedila o basileuacutes lanccedilaria
ainda uma expediccedilatildeo por terra contra a Ciliacutecia sob o comando de Androacutenico Ducas que
culminaria numa vitoacuteria bizantina na batalha de Maras
Em 906 no seguimento da traiccedilatildeo e fuga de Androacutenico Ducas para o Califado199
Himeacuterio derrota uma forccedila naval aacuterabe no dia de Satildeo Tomeacute (6 de outubro) enquanto um
exeacutercito romano saqueia a cidade de Qurus nos arredores de Alepo Em 909 Bizacircncio assola
a costa da Siacuteria e toma as fortalezas de al-Qubba e Laodiceia ataques estes que iratildeo
prosseguir no ano seguinte e que se estendem aos habitantes muccedilulmanos da ilha de Chipre
Em 911 em jeito de represaacutelia Damiano ataca os residentes bizantinos desta ilha no mesmo
ano em que se realiza uma importante expediccedilatildeo talvez direcionada a Creta liderada por
Himeacuterio
Esta expediccedilatildeo representa o uacuteltimo marco relevante no reinado de Leatildeo VI e ao
observarmos a lista dos preparativos para esta expediccedilatildeo200 rapidamente nos apercebemos do
esforccedilo de mobilizaccedilatildeo do Impeacuterio para aquele laquomonumentalraquo empreendimento 177
embarcaccedilotildees 34 mil e duzentos remadores 7140 soldados 700 Russos 5087 Mardaiacutetas201
uma mobilizaccedilatildeo de meios que teraacute custado cerca de 230 000 nomismata soacute no que respeita
193 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 194 Em 1997 195 Vide TREADGOLD W (1997) ndash Op cit p 467 196 Vide ROSENTHAL F ndash Op cit p 147 197 Vide Anexos VIII p) 198 Vide TOUGHER S ndash Op cit p190 199 Que teraacute afetado visivelmente o imperador como veremos mais agrave frente 200 Vide Anexos IX a) 201 Descendentes de refugiados cristatildeos da Siacuteria que foram recebidos por Justiniano II e colocados ao serviccedilo da
divisatildeo mariacutetima dos Caribisianos onde se tornaram remadores e tropas de infantaria mariacutetima de renome Vide
TREADGOLD W (1995) ndash Op cit p 26
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ao pagamento das rocircgai Uma observaccedilatildeo dos dados desta expediccedilatildeo confirma que a
conquista de Creta era um objetivo fulcral para Leatildeo VI202 Se a ilha voltasse para matildeos
bizantinas tambeacutem se retomava o controlo do sul do Mar Egeu e eliminava-se o ninho de
piratas sarracenos mais perigoso para Constantinopla Infelizmente para os Romanos Himeacuterio
acabou por ser obrigado a retirar apoacutes natildeo ter logrado conquistar Chandax (a capital da
ilha)203 tendo a sua frota sido derrotada na viagem de regresso por Leatildeo o Tripolitano e por
Damiano ao largo da ilha de Quios em 912 o ano em que Leatildeo VI adormeceu para sempre
O que podemos dizer acerca de Leatildeo VI em termos militares Na nossa opiniatildeo este
basileuacutes preocupava-se com os assuntos militares do impeacuterio Aliaacutes como natildeo podia Tal
como basileicircs anteriores ele governava um reino rodeado de inimigos circunstacircncia que o
obrigou a fazer escolhas difiacuteceis p ex o ldquosacrifiacuteciordquo de Taormina quando os Aacuterabes se
tornaram muito mais agressivos no Mediterracircneo oriental ou abandonar Tessaloacutenica ao saque
para talvez poupar a frota imperial a um duro combate sem vitoacuteria garantida (apesar de neste
caso a responsabilidade estar mais nas matildeos dos seus dois almirantes Eustaacutecio e Himeacuterio)
Por outro lado conveacutem lembrar que agrave morte de Leatildeo VI o Impeacuterio estava muito
possante noutras frentes Tinha-se expandido para oriente tanto por meios militares como
diplomaacuteticos (no caso de alguns principados armeacutenios) destacando-se tambeacutem uma certa
superioridade militar bizantina neste limes Por outro lado assegurou-se a supremacia no Sul
de Itaacutelia o que permitiu assumir um papel preponderante na expulsatildeo dos Aacuterabes da
Campacircnia Em relaccedilatildeo a Simeatildeo com o qual se assinou a paz em 896 este natildeo deu mais
nenhum sinal de querer atacar Bizacircncio e o basileuacutes fez todos os possiacuteveis por manter essa
paz pois era uma guerra que natildeo tinha desejo de travar por razotildees ideoloacutegicas204 Por fim
devemos recordar que o interesse de Leatildeo VI nos assuntos militares se encontra refletido no
Taktikaacute um tratado que conjuga uma compilaccedilatildeo de alguns conhecimentos praacuteticos e teacutecnicos
com retoacuterica teoloacutegica Estes dois fatores tornam este manual militar uma ferramenta
essencial para compreender o pensamento estrateacutegico bizantino do seacuteculo X
202 John Haldon defende que esta expediccedilatildeo natildeo teria como objectivo principal somente a conquista de Creta (se
o tivesse) mas que seria uma continuaccedilatildeo do empreendimento do ano anterior direcionado agrave costa litoral da
Siacuteria com o objetivo a longo prazo de restabelecer o estatuto de talassocracia a Bizacircncio no que concerne o
Mediterracircneo oriental e o Mar Egeu Vide HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century
Military Administration ndash Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies In Travaux et Memoacuteires (13) pp
240-242 203 Idem Ibidem p 240 204 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40
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Capiacutetulo 3 ndash O plano cultural-militar a tratadiacutestica bizantina
Neste uacuteltimo capiacutetulo de contextualizaccedilatildeo orientaremos a nossa visatildeo para o estudo da
cultura literaacuteria bizantina com maior enfoque na tratadiacutestica para esse efeito dividimos o
capiacutetulo em dois segmentos Primeiramente vamos analisar algumas questotildees introdutoacuterias
relacionadas com esta praacutetica cultural tipologias motivaccedilotildees e principais caracteriacutesticas De
seguida vamos observar o segundo periacuteodo dourado da respetiva produccedilatildeo o que o motivou
o que o fez diferir do primeiro e quais os protagonistas
31 ndash Algumas consideraccedilotildees acerca da tratadiacutestica bizantina
Cremos que uma das coisas mais importantes a realccedilar sobre esta atividade eacute a de que
mais do que tudo era um exerciacutecio cultural tivesse ele algum efeito praacutetico ou natildeo Isso
revela-se desde logo na circunstacircncia de muitos dos autores dos tratados beacutelicos serem civis
grande parte deles sem qualquer experiecircncia militar205 Qual a razatildeo para o interesse por estes
assuntos entre a elite intelectual bizantina
Quanto a este ponto talvez seja importante relembrar a relaccedilatildeo de osmose entre
religiatildeo poliacutetica e guerra em Bizacircncio Muitas foram as vezes em que questotildees de iacutendole
religiosa provocaram periacuteodos de amargura intestina na administraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino
como sucedeu com o Iconoclasmo Eacute evidente que quando a instabilidade governativa
imperava em Constantinopla isso irradiava por todo o Impeacuterio acabando por acarretar
consequecircncias natildeo apenas a niacutevel interno206 mas tambeacutem externo207 Esta interaccedilatildeo entre a
religiatildeo e o poder militar transpunha-se tambeacutem para a produccedilatildeo cultural Um dos grandes
exemplos disto eacute o Taktikaacute de Leatildeo VI que frente a ameaccedilas em muacuteltiplas frentes (em
especial a muccedilulmana) defendia que a condiccedilatildeo cristatilde e a fidelidade a Deus por parte dos
seus generais assim como a condiccedilatildeo de laquodefensores da feacuteraquo era um dos ingredientes
principais para a vitoacuteria em qualquer conflito208 Por outro lado a guerra era considerada
como um mal necessaacuterio na sociedade bizantina eacute certo que sendo uma comunidade cristatilde a
odiava todavia necessitava dela para ironicamente alcanccedilar a paz209hellip
Se por um lado existia esta relaccedilatildeo entre a religiatildeo e o pensamento estrateacutegico o
mesmo acontecia no sentido inverso O pensamento militar em Bizacircncio comeccedilou tambeacutem
205 Como por exemplo Leatildeo VI Urbiacutecio e Siriano 206 A revolta de Artavasdo por exemplo parece tambeacutem ter motivos religiosos pois este era iconoduacutelio 207 Enquanto a questatildeo iconoclaacutestica afetou a sociedade bizantina apesar de natildeo ter havido grandes perdas
territoriais o territoacuterio tambeacutem natildeo aumentou muito (pelo menos na frente oriental) 208 Vide cf infra capiacutetulo 4 209 Vide Anexo VIII o)
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ele a influenciar a religiatildeo e a cultura em geral Enquanto os soldados travavam a guerra
terreste as autoridades religiosas (o cristianismo oriental em geral) combatiam contra o mal
Na literatura teoloacutegica verifica-se a apropriaccedilatildeo de vocabulaacuterio militar para exaltar esse
combate tratando-o tambeacutem como uma guerra com as suas campanhas e batalhas proacuteprias o
qual era travado com armas espirituais como a reza e a contemplaccedilatildeo210 Enquanto isso
verifica-se na produccedilatildeo historiograacutefica bizantina uma predominacircncia das temaacuteticas beacutelicas
(campanhas batalhas e triunfos) como mote para embelezar a narrativa e tambeacutem como
criacutetica da parte do autor um basileuacutes vitorioso e bravo era presenteado com elogios um
imperador que natildeo o fosse era tratado como fraco e castigado por Deus (especialmente se
tivesse matildeo pesada para a Igreja financeiramente falando como sucedeu com Niceacuteforo I)
A tratadiacutestica bizantina eacute conhecida por possuir um grande cariz antiquaacuterio e
enciclopeacutedico211 Isto eacute verificaacutevel ao longo de todo o percurso da literatura militar em
Bizacircncio onde rapidamente se verifica que satildeo muito poucas (senatildeo praticamente
inexistentes) as obras totalmente originais Todas elas retiram informaccedilatildeo e conhecimento de
fontes mais antigas quer claacutessicas quer bizantinas verificando-se paraacutefrases inteiras de
secccedilotildees desses antecedentes212 Apesar disto alguns manuais alteram esses trechos para os
adequar agraves circunstacircncias da eacutepoca com novas taacuteticas e armamento e com a eliminaccedilatildeo de
conhecimento obsoletos tal facto observa-se com maior frequecircncia em tratados produzidos
por autores com experiecircncia militar como no caso de um strategoacutes de um domestikoacutes (como
Niceacuteforo Ouranos autor de um Taktikaacute escrito no seacutec XI) ou ateacute de certos imperadores (como
Mauriacutecio ou Niceacuteforo II Focas) Podemos observar ainda inserido neste uacuteltimo fenoacutemeno o
aparecimento de palavras oriundas de outras liacutenguas que natildeo o grego como do armeacutenio do
aacuterabe e obviamente modificaccedilotildees de alguns termos latinos213 por influecircncia do leacutexico militar
bizantino O pragmatismo da tratadiacutestica bizantina revela-se nestes uacuteltimos fatores bem como
o seu caraacuteter evolutivo (ainda que pouco inovador) nos aspetos militares Todavia mesmo que
esse aspeto criativo natildeo existisse de todo tal natildeo retiraria importacircncia a tais obras uma vez
que estas natildeo deveriam ser lidas como algo que decidisse de imediato a forma como um
210 laquoThe vocabulary of warfare permeated theological and religious literature too so that monastic
communities were described as regiments of spiritual fighters for the faith and the struggle of the Church
against evil was phrased in terms of a military campaign in which the weapons of prayer contemplation and
spiritual purification were part of the armory of the east Roman churchraquo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit
p21 211 Muitos dos seus autores como eram filoacutesofos ou retoacutericos sem qualquer praacutetica nas artes da guerra natildeo
possuiacuteam interesse sequer que as suas obras tivessem alguma utilidade praacutetica ou que o seu uso fosse somente
militar Vide MCGEER Eric (2008a) ndash Op cit p 907 212 O Taktikaacute de Leatildeo VI eacute muito influenciado por vaacuterios tratados anteriores natildeo soacute do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio
mas tambeacutem das obras de Onasandro Aeliano possivelmente Siriano entre outros 213 Para uma pequena suma de alguns destes termos vide NISA J (2016) ndash Op cit p 9
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general deveria agir O strategoacutes deveria usaacute-las como uma fonte de ideias e de
conhecimentos para no momento de passar agrave accedilatildeo poder deliberar em consonacircncia com a
sua experiecircncia pessoal sobre qual a melhor forma de agir nas situaccedilotildees que enfrentava214
Ora em conformidade com esta continuaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de literatura beacutelica claacutessica e
romana verificamos a manutenccedilatildeo na cultura bizantina das mesmas disciplinas que vigoraram
na produccedilatildeo de tratados ateacute aiacute a strategikaacute a taktikaacute a naumachikaacute a poliorketikaacute e a
strategemataacute215 Finalizada esta pequena descriccedilatildeo da tratadiacutestica bizantina olhemos para o
estado dela na sua segunda fase de ouro ou seja nos seacuteculos X e XI
32 ndash A tratadiacutestica bizantina durante os seacuteculos da laquoReconquistaraquo (seacutecs X e XI)
O que suscitou o reaparecimento da produccedilatildeo literaacuteria militar nos iniacutecios do seacuteculo X
Consideramos que eacute possiacutevel afirmar ter-se tratado de um momento uacutenico para que tal
acontecesse Pela primeira vez em seacuteculos o Impeacuterio Bizantino atravessava um periacuteodo de
relativa estabilidade interna Longe iam os tempos do laquoseacuteculo negroraquo de 640-740 quando
Bizacircncio se confrontara com o iacutempeto inicial e avassalador dos Aacuterabes com o aparecimento
dos Buacutelgaros e com a longa guerra de atrito com os Lombardos em Itaacutelia O Iconoclasmo a
dura questatildeo religiosa que tinha fraturado a sociedade bizantina por um seacuteculo tinha tambeacutem
sido resolvido nos iniacutecios do reinado de Miguel III
Estes eventos natildeo trouxeram perfeiccedilatildeo agrave vida em Constantinopla pois a guerra as
questotildees religiosas e as intrigas de palaacutecio eram quase endeacutemicas mas geraram um periacuteodo de
maior calma na capital Isto permitiu a Bizacircncio revisitar o passado e iniciar um novo
processo de produccedilatildeo cultural a que podemos chamar de laquoRenascimento Macedoacutenicoraquo Este
percurso iniciou-se na segunda metade do seacuteculo X sob a tutela de homens cultos como o
patriarca Foacutecio que resumiu e compilou segmentos de 279 manuscritos claacutessicos pagatildeos ou
cristatildeos numa obra chamada Bibliotheacuteka216 Mais tarde durante o principado de Basiacutelio I
deu-se uma revisatildeo do Corpus Iuris Iustinianus numa obra chamada Basilikaacute que seria
terminada no reinado de Leatildeo VI e que contou ainda com algumas leis novas (as Novelle)217
Em relaccedilatildeo aos aspetos da literatura militar podemos afirmar que este renascimento se
deu com o Compecircndio de Siriano magistros (que podemos datar com alguma certeza para o
seacuteculo IX) Apesar de se inspirar muito mais nos manuais militares claacutessicos do que no
Stratēgikoacuten paradigma comum na cultura militar bizantina esta compilaccedilatildeo foi um regresso agrave
214 Vide MCGEER E (2008a) ndash Op cit p908 215 Cf supra Introduccedilatildeo 216 Vide MONTEIRO J (2017) ndash Op cit p72 217 Vide Idem Ibidem p 75
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tratadiacutestica estagnada desde o De Militari Scientia218 Aleacutem disso os segmentos sobre guerra
naval e retoacuterica Naumachiacuteai e Rhetorica Militaris mostram-se inovadores O primeiro
porque a escrita sobre a guerra naval natildeo tinha tido grande expressatildeo durante a produccedilatildeo
tratadiacutestica dos seacuteculos V e VI o segundo porque (possivelmente) alertava para a ameaccedila
ideoloacutegica islacircmica para o seu cariz antagoacutenico aos valores cristatildeos e para a sua hostilidade
para com a existecircncia do impeacuterio da Ortodoxia219
Obviamente que o renascimento cultural natildeo pode ser tratado como a causa uacutenica para
o reaparecimento da tratadiacutestica A enorme quantidade de sucessos militares bizantinos
tambeacutem foi razatildeo para tal os triunfos em Marj al-Usquf Lalacatildeo e Bathys Riax a Oriente e a
subjugaccedilatildeo do sul de Itaacutelia a Ocidente poderatildeo ter sido os motes iniciais para este fenoacutemeno
Tambeacutem natildeo nos podemos esquecer das vitoacuterias bizantinas nos finais do seacuteculo X e iniacutecios do
seacuteculo XI que tornaram Bizacircncio a principal potecircncia do Mediterracircneo Oriental
Ateacute certo ponto parece-nos que podemos distinguir soacute por estes fatores duas fases
neste periacuteodo Uma primeira mais relacionada com o aspeto enciclopeacutedico da tratadiacutestica
protagonizada por Leatildeo VI e pelo seu filho Constantino VII (que ainda assim conseguiram
inovar em alguns aspetos de que falaremos mais adiante) A segunda prende-se com um
aspeto mais praacutetico e inovador sendo encabeccedilada por Niceacuteforo II Focas que deu letra de
forma natildeo soacute aos principais aspetos da guerra ofensiva travada por Bizacircncio mas
adicionalmente deu relevacircncia a alguns geacuteneros menos trabalhados como a guerra de
guerrilha ou a logiacutestica Em resumo a tratadiacutestica mudou com o reorientar da guerra de uma
estrateacutegia defensiva para uma mais ofensiva um facto que teraacute obrigado (apesar de natildeo ser o
uacutenico fator) a que as alteraccedilotildees taacuteticas necessaacuterias a essa mudanccedila fossem registadas em livro
Por fim natildeo devemos esquecer a ideologia cristatilde de Bizacircncio que teve um efeito geral
na produccedilatildeo literaacuteria bizantina deste periacuteodo de modo a construir (ou afirmar) uma identidade
cultural cristatilde e tambeacutem a fazer transparecer isso na forma de fazer (e escrever) a guerra220
Para Bizacircncio a guerra era uma coisa maacute e sabia-se que era endeacutemica e inevitaacutevel tendo de
ser defensiva para ser justa221 (ainda que pudesse envolver a reconquista de antigos territoacuterios
romanos222) Natildeo importava que o inimigo fosse islacircmico pagatildeo ou ateacute cristatildeo para Bizacircncio
a grande questatildeo era a sobrevivecircncia do Impeacuterio Bizantino Cristatildeo cujo soberano era o
218 Um pequeno tratado de autoria anoacutenima datado da segunda metade do seacuteculo VII que daacute grande ecircnfase agrave
cavalaria Este tratado eacute composto por muacuteltiplas locuccedilotildees vernaculares sem precedente e teria como objetivo
adaptar as informaccedilotildees do Stratēgikoacuten agrave realidade da altura Vide COSENTINO S (2009) ndash Op cit p 86 219 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p19 220 Para o caso do Taktikaacute cf infra II1 Para o caso Perigrave Paradromeacutes cf NISA J (2016) ndash Op cit pp 52-55 221 Vide Anexo VIII o) 222 HALDON J (1999) ndash Op cit p25
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escolhido por Deus e apenas aiacute residia a santidade da guerra travada por Bizacircncio na defesa
do seu territoacuterio e do povo cristatildeo Para garantir a vitoacuteria era necessaacuterio o strategoacutes para aleacutem
do conhecimento de todas as artes da guerra ser bom homem e bom cristatildeo de forma a
garantir o apoio de Deus e assim a vitoacuteria um fator que alguns tratados deste periacuteodo natildeo se
cansam de enfatizar
A tratadiacutestica deste periacuteodo tinha novas prioridades Em primeiro lugar verifica-se um
afastamento direto das fontes mais claacutessicas em especial as heleniacutesticas ainda que se
mantivesse (como natildeo podia deixar de ser) uma ligaccedilatildeo indireta a estas em primeiro lugar
pela principal inspiraccedilatildeo literaacuteria militar deste periacuteodo o Stratēgikoacuten de Mauriacutecio em
segundo pelo descendente direto desta obra o Taktikaacute de Leatildeo VI Neste ponto conveacutem
realccedilar que este afastamento natildeo foi abrupto o compecircndio de Siriano por exemplo ainda vai
beber nessas fontes A retoacuterica de guerra em especial a que se debruccedilava mais sobre os
assuntos religiosos tambeacutem foi um dos aspetos que mais evoluiu durante este periacuteodo
Para aleacutem da questatildeo religiosa de que falaremos adiante comeccedilou-se a verificar um
incremento no uso da tratadiacutestica para fins propagandiacutesticos natildeo soacute para consolidar a posiccedilatildeo
do cristianismo como a verdadeira religiatildeo mas tambeacutem a niacutevel poliacutetico e em especial
militar com esforccedilos para reduzir as vitoacuterias dos grandes inimigos de Bizacircncio223 enquanto
por outro lado se tentava consolidar a legitimidade divina da dinastia reinante ou a
superioridade de uma famiacutelia em especial224 por meio da divulgaccedilatildeo de sucessos militares225
Por fim em termos temaacuteticos podemos verificar um florescimento na naumachikaacute
Como jaacute foi referido226 este geacutenero natildeo teve grande divulgaccedilatildeo durante a primeira fase de
escrita beacutelica Por que razatildeo teraacute ressurgido nesta altura227 A nosso ver foi uma questatildeo de
necessidade Conveacutem recordar que a segunda metade do seacuteculo IX foi marcada por uma seacuterie
de derrotas a niacutevel naval que se traduziram na expulsatildeo das forccedilas romanas das ilhas
estrateacutegicas mais importantes do Mediterracircneo de Creta logo em 828 e da Siciacutelia uma
conquista morosa para os Aglaacutebidas mas que alegadamente terminou em sucesso com a
captura e saque de Siracusa em 878 e na praacutetica com a tomada do uacuteltimo enclave bizantino
em Taormina em 902 Estes reveses navais continuaram nas primeiras deacutecadas do seacuteculo X
tendo o saque de Tessaloacutenica (em 904) e a destruiccedilatildeo da frota de Himeacuterio ao largo da ilha de
Chios (em 912) configurado os principais momentos desses acontecimentos
223 Cf Constantino VII basileuacutes [Oraccedilatildeo Militar do Imperador Constantino] Traduccedilatildeo e Comentaacuterio
NESBITT J W (ed) Byzantine Authors Literary Activities and Preoccupations Leiden e Boston Brill p 117 224 O caso da famiacutelia Focas Vide NISA J (2016) ndash Op cit p 65 225 Vide MCGEER Eric (2003) ndash Op cit p 115 226 Cf supra 11 227 Para um conjunto de obras sobre guerra naval neste periacuteodo cf infra 43
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A comparaccedilatildeo que se pode traccedilar entre o estado de Bizacircncio como potecircncia naval
entre as duas fases da literatura militar com quase trecircs seacuteculos de distacircncia eacute notaacutevel Quanto
ao primeiro caso eacute seguro afirmar que Bizacircncio era a principal potecircncia naval do
Mediterracircneo oriental se natildeo de todo o Mediterracircneo sem grandes adversaacuterios em termos
mariacutetimos o Impeacuterio Romano do Oriente pocircde-se dar ao luxo de natildeo possuir uma poderosa
armada de guerra tendo apenas ao seu dispor uma frota ligeira destinada simplesmente a
proteger o comeacutercio de quaisquer ameaccedilas que pudessem surgir bem como servir de apoio no
limes do Danuacutebio228
Esta situaccedilatildeo tinha mudado completamente de figura nos finais do seacuteculo IX quando
Bizacircncio se viu obrigada a esforccedilos redobrados para se impor como talassocracia De facto e
como salienta a bizantinista Heacutelegravene Ahrweiller natildeo deixa de ser paradoxal que no iniacutecio da
dinastia Macedoacutenica apesar de os basileicircs possuiacuterem a maior marinha que o impeacuterio jaacute tinha
visto e mesmo depois de terem implementado vaacuterias reformas administrativo-militares (a
remodelaccedilatildeo dos themaacuteta mariacutetimos e a criaccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo de cargos oficiais navais)
natildeo conseguiram garantir a supremacia mariacutetima229 Teratildeo sido entatildeo o aumento da
importacircncia do controlo dos mares230 conjugado com vaacuterias derrotas navais sofridas que
justificaram o reavivar da produccedilatildeo tratadiacutestica direcionada para a guerra naval231
228 Vide cf supra 12 229 Vide AHRWEILLER H ndash Op cit p 105 230 Refletido no aumento da tonelagem dos droacutemōnes de guerra da marinha de guerra e de reformas relacionadas
com a frota imperial e temaacutetica 231 Outra inovaccedilatildeo na naumachikaacute foi o aparecimento do fogo greguecircs com os tratados a ensinarem como este
deveria ser utilizado
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Capiacutetulo 4 ndash Introduccedilatildeo ao Taktikaacute
A segunda parte desta tese constitui certamente o seu cerne Optaacutemos por iniciaacute-la
com um pequeno capiacutetulo acerca da fonte em si e ainda natildeo sobre o seu conteuacutedo Sendo
assim este segmento da dissertaccedilatildeo comeccedilaraacute por tratar da autoria da dataccedilatildeo e da
motivaccedilatildeo bem como da discussatildeo daiacute resultante na medida em que isso seja pertinente No
subcapiacutetulo seguinte abordaremos a tipologia da fonte e a estrutura interna da mesma com
um breve resumo do que conteacutem cada Constitutio onde teremos em conta as disciplinas da
tratadiacutestica bizantina (que segue com alguma exatidatildeo os princiacutepios da claacutessica) Por fim
dedicaremos um subcapiacutetulo agrave histoacuteria do Taktikaacute desde a sua escrita ateacute hoje elencando os
manuscritos onde se encontra transcrito bem como as traduccedilotildees que dele foram feitas ao
longo dos tempos
41 ndash Autoria dataccedilatildeo motivaccedilotildees e natureza
As duacutevidas que se colocam acerca da identidade do autor do Taktikaacute e que existem a
propoacutesito de inuacutemeros escritos do mesmo geacutenero (como as obras atribuiacutedas ao co-imperador
Niceacuteforo II Focas232 ou mesmo a imputaccedilatildeo do Stratēgikoacuten a Mauriacutecio233) natildeo parecem
colocar-se no que diz respeito ao tratado que vamos analisar De facto as nossas pesquisas e a
anaacutelise deste manual militar permitem-nos concluir que se a escrita direta da obra natildeo
resultou das matildeos de Leatildeo VI pelo menos a sua organizaccedilatildeo e algumas das passagens
certamente tiveram essa origem Os uacutenicos obstaacuteculos existentes a esta atribuiccedilatildeo prendiam-se
com o facto de Leatildeo VI natildeo ter participado em campanhas militares o que levou muitos
historiadores a concluir que ele natildeo teria interesse por estes assuntos Esta ideia foi
entretanto contrariada por vaacuterios estudiosos como Shaun Tougher e Karlin-Hayter como jaacute
referimos que conseguiram demonstrar que o Saacutebio teve um papel preponderante na
governaccedilatildeo dos assuntos militares do seu impeacuterio mesmo raramente tendo deixado
Constantinopla234 Outros fatores dentro do tratado em apreccedilo reforccedilam esta nossa opiniatildeo
232 Para o tratado de campanhas na Bulgaacuteria o De re militaris vide COSENTINO Salvatore (2009) Writing
about War in Byzantium In ldquoRevista de Histoacuteria das Ideiasrdquo (30) Coimbra Para o Perigrave Paradromeacutes vide NISA
J (2016) ndash Op cit p60 233 Vide COSENTINO Salvatore (2009) ndash Op cit p 85 234 John Haldon refere ainda que Leatildeo VI natildeo participou ativamente em ocupaccedilotildees beacutelicas para tentar emular o
imperador Justiniano um dos principais organizadores da chamada ldquoReconquista Justinianardquo mantendo assim
grande interesse pelos assuntos militares do Impeacuterio Bizantino Vide HALDON J (2004) ndash Op cit pp 13-14
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a identificaccedilatildeo de Leatildeo VI como basileuacutes na intitulatio235 do livro236 bem como a
identificaccedilatildeo do imperador Basiacutelio como o pai do autor237
Por outro lado indicar Leatildeo VI como autor238 eacute algo falacioso pois efetivamente
dentro do Taktikaacute verificam-se poucas entradas originais Este manual militar agrave semelhanccedila
de muitos outros bizantinos natildeo conjuga somente conteuacutedos ineacuteditos tratando-se de uma
obra que transcreve inuacutemeras passagens de diversos tratados precedentes algumas delas
adaptadas de forma a corresponder agrave realidade coeva a que satildeo acrescentadas ideias e
informaccedilotildees pertinentes pelo autor neste caso por Leatildeo VI Assim a atribuiccedilatildeo da autoria do
Taktikaacute a Leatildeo VI assenta mais na forma como ele organizou os vaacuterios excertos copiados de
tratados antecedentes e na seleccedilatildeo dos comentaacuterios morais e gnoacutemicos239
Nos uacuteltimos anos tecircm surgido vaacuterias propostas relacionadas com a data da compilaccedilatildeo
deste manual Kulakovskiy propotildee o periacuteodo cronoloacutegico entre 890-891240 Dagron sugere
895241 surgiram tambeacutem propostas para a primeira deacutecada do seacuteculo X especialmente para o
periacuteodo entre 904 e 908 algum tempo apoacutes 904 ou para depois dos anos 906 e 907242 No seu
comentaacuterio ao Taktikaacute John Haldon considera que haacute quatro elementos principais para balizar
a dataccedilatildeo deste tratado243 a utilizaccedilatildeo do termo autokraacutetor para o tiacutetulo de Leatildeo VI uma
nomenclatura que se passou a atribuir a este imperador a partir de 904244 passagens
relacionadas com o conflito bizantino-buacutelgaro de 894245-896246 ainda com utilidade mais
contestaacutevel a referecircncia ao Taktikaacute com o termo Proacutecheiros Noacutemos que se reporta a um
coacutedigo juriacutedico escrito anteriormente ao tratado247 e por fim uma passagem248 vista como
algo emocional249 relacionada com a traiccedilatildeo de strateacutegoi mas que pode aludir a niacutevel mais
pessoal agrave deserccedilatildeo para os Aacuterabes do strategoacutes Androacutenico Ducas e do filho Constantino em
235 Voltaremos a referi-nos a este ponto quando falarmos da estrutura da obra 236 Vide Anexo VIII f) 237 Vide Anexo VIII g) 238 No sentido de produtor de uma obra completamente original 239 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 25 240 Kulakovskij J (1898) Lev Mudryj ili Lev Isavr byl avtorom lsquoTaktikirsquo In Vizantiiskii Vremmenik 5 pp
400-401 Apud HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 241 Vide DAGRON Gilbert (1983) Byzance et le modegravele islamique au Xe siegravecle A propos des Constitutions
tactiques de lempereur Leacuteon VI In Comptes rendus des seacuteances de lAcadeacutemie des Inscriptions et Belles-
Lettres ano 127 nordm 2 p 219 242 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p 59 243 Vide Idem Ibidem pp 59-61 244 Vide Idem Ibidem p 60 245 Vide Anexo VIII e) 246 Vide Anexo VIII b) 247 A contestaccedilatildeo referente a este ponto eacute feita devido a duacutevidas da dataccedilatildeo desta obra alguns autores atribuem
uma dataccedilatildeo para a deacutecada de 70 do seacuteculo IX outros para o ano de 907 Vide Idem Ibidem pp 60-61 248 Vide Anexo VIII j) 249 Vide Idem Ibidem p61
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905 e posterior regresso deste uacuteltimo em 908250 Todos estes fatores levam-nos a crer que este
tratado (ou a sua versatildeo final) teraacute sido concluiacutedo no seacuteculo X
Eacute importante referir e voltaremos ao assunto mais adiante que o Taktikaacute teve vaacuterias
fases de produccedilatildeo que se refletiram em conteuacutedos novos temaacuteticas distintas e ateacute certas
alteraccedilotildees na motivaccedilatildeo da escrita do tratado Voltaremos a este ponto quando evocarmos um
pouco da histoacuteria do tratado desde a sua escrita ateacute hoje
Por fim resta-nos discutir uma questatildeo qual foi a motivaccedilatildeo por detraacutes da escrita do
tratado Ateacute muito recentemente inuacutemeros especialistas acreditavam baseando-se num dos
seus segmentos251 que o principal motivo para a escrita do Taktikaacute era este servir como
resposta agrave ameaccedila que os Aacuterabes protagonizavam no reinado de Leatildeo VI chegando-se a
afirmar de uma forma laquogeralmente aceiteraquo (de acordo com J Haldon) que o tratado fora
escrito especificamente por causa dos Muccedilulmanos e da sua religiatildeo252 De facto e como bem
salienta Gilbert Dagron253 o tratado refere duas carateriacutesticas uacutenicas da guerra praticada pelos
Aacuterabes contra Bizacircncio o facto de ter uma orientaccedilatildeo religiosa que noacutes conhecemos como
jihad e que impelia um grande nuacutemero de voluntaacuterios fervorosos a pegar em armas os
chamados ghazi mas que concomitantemente atribuiacutea grande prestiacutegio e especialmente
lealdade a quem comandasse a guerra em nome do Islatildeo254 e a influecircncia da guerra na
estrutura social do mundo muccedilulmano (geograficamente proacuteximo de Bizacircncio)255
Sobre este uacuteltimo ponto Dagron256 refere que os exemplos principais desta praacutetica
eram a organizaccedilatildeo dos al-thugucircr o sistema militar na fronteira do Califado mais organizado
e sofisticado alguma vez criado pelos califas de acordo com Hugh Kennedy257 que seria mais
tarde herdado pelos emirados da Ciliacutecia da Armeacutenia e da Siacuteria e que persistiria ateacute agrave queda
do uacuteltimo thugucircr Antioquia agraves matildeos de Niceacuteforo II Focas (em 969) a existecircncia dos jaacute
referidos ghazi e o apoio providenciado pelas doaccedilotildees caridosas islacircmicas as waqf agrave causa
das campanhas (e dos soldados nela envolvidos) realizadas em nome da religiatildeo
No entanto Haldon natildeo concorda plenamente com esta visatildeo pois defende que no
excerto usado para apontar as questotildees relacionadas com a ameaccedila sarracena como principal
250 O pai entretanto havia morrido no Califado 251 Anexos VIII h) e i) 252 Vide HALDON John (2014) ndash Op cit p22 253 Vide DAGRON Gilbert ndash Op cit p22 254 Ateacute ao decliacutenio do Califado Abaacutessida a organizaccedilatildeo das expediccedilotildees de Veratildeo a territoacuterio bizantino as saifa
era uma tarefa tatildeo importante no sentido ritual e espiritual como a preparaccedilatildeo da peregrinaccedilatildeo anual a Meca a
hajj Vide KENNEDY Hugh (2001) The Armies of the Caliphs Military and Society in the Early Islamic State
Londres e Nova Iorque Routledge p 106 255 Vide Anexos VIII k) 256 DAGRON G ndash Op cit p 221 257 HALDON J e KENNEDY H ndash Op cit p 106
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motivo para a escrita do Taktikaacute258 natildeo se indica uma razatildeo para a escrita do tratado em si
mas sim da Constitutio onde se encontra presente ou ateacute apenas para aquela secccedilatildeo da
mesma259 No seu comentaacuterio Haldon defende ainda que apesar de grande parte do conteuacutedo
sobre os Aacuterabes jaacute estar presente na versatildeo original do tratado a maior parte dos comentaacuterios
relacionados com eles bem como as preocupaccedilotildees do basileuacutes manifestadas com o seu
inimigo daquele tempo seratildeo uma adiccedilatildeo posterior ao tratado260 Ainda que natildeo se trate de
um dos motivos principais para a escrita do Taktikaacute estas adendas satildeo uma das componentes
mais importantes e originais do tratado e teratildeo sido ativadas a nosso ver pelos desaires que
Bizacircncio sofreu agraves matildeos dos Aacuterabes especialmente no contexto da guerra naval e talvez de
preponderante importacircncia pelo saque de Tessaloacutenica a segunda maior cidade do impeacuterio
por dois corsaacuterios muccedilulmanos (ainda por cima de origem bizantina) em 904
Posto isto quais satildeo as motivaccedilotildees originais De acordo com Haldon o Taktikaacute
configura laquouma tentativa de legislar a guerra como uma atividade que cai sob a sua supervisatildeo
e autoridade tal como jaacute tinha feito em outras esferasraquo261 bem como um guia para uma
conduta moral cristatilde da guerra na lealdade a laquoDeus e ao imperador escolhido divinamenteraquo
Assim sendo a principal motivaccedilatildeo do basileuacutes na ediccedilatildeo deste tratado eacute a necessidade de
incutir nos seus generais um certo fervor religioso (embora natildeo tatildeo fanaacutetico quanto o dos
muccedilulmanos) bem como a lealdade ao imperador que se viu perante vaacuterios traidores ao
longo do seu reinado os quais lhe provocaram grande maacutegoa tal como as traiccedilotildees de
Androacutenico Ducas e do filho mais tardias que o afligiram pessoalmente262 Eacute destes uacuteltimos
pontos que se deve apurar o teor de obrigatoriedade na leitura do Taktikaacute aos strategoacutei
incutida por Leatildeo VI e natildeo nos aspetos praacuteticos desta obra
Por sua vez o Taktikaacute natildeo deve ser considerado como um manual militar per se uma
vez que os seus destinataacuterios (isto eacute os strateacutegoi do impeacuterio) tinham muito mais experiecircncia
do que Leatildeo VI no que toca aos aspetos praacuteticos e teacutecnicos da guerra263 Esta opiniatildeo no que
respeita agrave questatildeo religiosa eacute apoiada tambeacutem por Meredith Riedel da Universidade de
Duke que defende que o basileuacutes pretendeu criar uma identidade cultural bizantina assente na
258 Vide Anexo VIII h) 259 HALDON John (2014) - Op cit pp 22-23 260 Idem Ibidem p23 261 Idem Ibidem p23 262 Vide Anexo VIII j) 263 Idem Ibidem p25
60
piedade cristatilde apelando aos seus generais para que fossem o modelo ideal do bom cristatildeo ao
comando dos seus soldados os laquodefensores da Feacuteraquo264
Evocadas as principais teses cabe-nos agora tecer a nossa proacutepria apreciaccedilatildeo Apesar
daqueles pontos a nosso ver bastante vaacutelidos acreditamos que podemos acrescentar ainda um
outro motivo para a escrita deste tratado o enciclopedismo cultural Leatildeo no aspeto temporal
natildeo aparenta qualquer intenccedilatildeo de criar algo ineacutedito Na questatildeo muccedilulmana por exemplo
natildeo apresenta soluccedilotildees originais de cariz taacutetico ou estrateacutegico Isto parece-nos natural pois
apesar do seu visiacutevel interesse pelas questotildees de iacutendole militar e a sua dedicaccedilatildeo ao tomar
conta dos assuntos de governaccedilatildeo militar do Impeacuterio Romano este basileuacutes nunca comandou
campanhas militares na frente de guerra contentando-se em liderar a resposta estrateacutegica agraves
ameaccedilas de que o Impeacuterio sofria Parece-nos possiacutevel conjugar este interesse do imperador
com um interesse renovado pela cultura claacutessica que comeccedilou a surgir em Bizacircncio a partir do
iniacutecio do reinado de Basiacutelio I uma vez que Leatildeo VI condensou muita informaccedilatildeo da
tratadiacutestica militar antiga no Taktikaacute Por outro lado eacute importante recordar que o basileuacutes
encomendara tambeacutem a um dos seus domestikoacutes Leatildeo Katakalon um tratado sobre as
expediccedilotildees militares exatamente aquilo que natildeo estaacute presente no Taktikaacute265 cuja versatildeo
incompleta teraacute sido aproveitada mais tarde por Constantino VII266 Isto demonstra que o
Saacutebio apesar de natildeo participar na guerra se sentia muito atraiacutedo por estes assuntos o que o
teraacute levado a organizar uma obra que refletisse a forma como a guerra era feita no seu tempo
O que se tivermos em conta a dataccedilatildeo duvidosa do Compecircndio de Siriano (seacutec VI IX ou X)
teraacute sido a primeira versatildeo atualizada do geacutenero267 em quase dois seacuteculos
Assim na nossa opiniatildeo parece-nos possiacutevel concluir que o Taktikaacute deve ser exposto
natildeo soacute como um manual militar mas tambeacutem como um documento cujos propoacutesitos
principais natildeo eram praacuteticos O primeiro seria de iacutendole religiosa-legislativa e tencionava de
certo modo consolidar uma filosofia de guerra cristatilde (natildeo estamos a falar de guerra santa) em
que a piedade e o caraacuteter do general (devia ser bom inteligente leal entre outros atributos)
eram fatores tatildeo importantes para a vitoacuteria militar como a taacutetica a estrateacutegia ou os ardis Mais
tarde com o reafirmar da ameaccedila aacuterabe este propoacutesito saiu reforccedilado com a intenccedilatildeo do
basileuacutes em encontrar uma soluccedilatildeo espiritual e natildeo temporal para fazer frente agrave jihad
264Vide RIEDEL Meredith The Sacrality of a Sovereign Leo VI and Politics in Middle Byzantium p8 in
httpswwwacademiaedu3831861The_Sacrality_of_a_Sovereign_Leo_VI_and_Politics_in_Middle_Byzantiu
m Consultado agraves 330 do dia 4 de outubro de 2017 265 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p76 266 Vide TOUGHER S ndash Op cit p16 267 Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 21
61
O outro propoacutesito eacute cultural baseando-se natildeo soacute no chamado laquoRenascimento
Macedoacutenicoraquo que comeccedilou a crescer exponencialmente neste periacuteodo mas tambeacutem no
interesse de Leatildeo VI pelas questotildees militares Estes dois fatores em conjunto com o
enciclopedismo caracteriacutestico do Saacutebio motivaram-no tambeacutem a escrever um tratado onde
combinava o conhecimento dos antigos com a experiecircncia dos seus generais de forma a
reportar a forma como os exeacutercitos ditos temaacuteticos praticavam a guerra ao que acrescentou
alguns comentaacuterios pessoais relacionados com a retoacuterica da guerra em especial na vertente
religiosa Na nossa visatildeo eacute desta forma que o tratado deve ser visto um manual militar que
visava conservar e atualizar a informaccedilatildeo pertinente agraves praacuteticas da guerra ao mesmo tempo
que impulsionava os seus destinataacuterios os strateacutegoi a seguirem um coacutedigo eacutetico moralmente
bom e de base religiosa que ndash segundo Leatildeo VI ndash acabaria por os conduzir agrave vitoacuteria
42 ndash Estrutura interna da fonte
Na sua organizaccedilatildeo o Taktikaacute apresenta-se como um conjunto de Constitutiones ou
seja como um conjunto de decretos imperiais direcionados a um oficial ou a algueacutem que
estivesse encarregado de um qualquer posto estatal268 o que condiz com o objetivo principal
deste manual de legislar a guerra sob a autoridade imperial De facto o proeacutemio269 que
inaugura este tratado encontra-se modelado de forma muito semelhante aos que servem como
introduccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo imperial particularmente o do Proacutecheiros Noacutemos seguindo um
formato proacuteprio que pertence ao chamado laquomodelo tripartidoraquo a invocatio a intitulatio e a
inscriptio270 Desta forma o proeacutemio do Taktikaacute comeccedila com uma invocatio nomeadamente agrave
Sagrada Trindade seguido de uma intitulatio com o nome e os tiacutetulos do imperador Do
modelo tripartido a uacutenica coisa que falta eacute a inscriptio porque o tratado natildeo se dirige a um
general em especial mas sim ao conjunto dos strateacutegoi271
No Proacutelogo segue-se o corpo principal da ldquolegislaccedilatildeordquo constituiacutedo por trecircs partes a
narratio a dispositio e o epilogus A narratio272 do Taktikaacute ocupa os espaccedilos entre as linhas
25 e 54 do Proacutelogo e relata o problema e a forma como este chegou agrave atenccedilatildeo imperial273
Leatildeo VI diz enfrentar o facto de os comandantes bizantinos se terem esquecido
completamente das miacutenimas noccedilotildees de estrateacutegia e de taacutetica Este efeito teraacute sido causado pela
268 Vide LUTTWAK Edward N (2009) The Grand Strategy of the Byzantine Empire Cambridge e Londres
The Belknap Press of Harvard University Press p 305 269 Prefaacutecio 270 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 121 271 Vide Anexos VIII f) 272 Secccedilatildeo onde eacute abordado o problema que a legislaccedilatildeo quer resolver 273 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121
62
negligecircncia dos ensinamentos dos antigos pela timidez dos seus generais ou pela falta de
treino e cobardia dos soldados bizantinos Ora de acordo com o autor isto teraacute levado os
Romanos a perder o favor divino e a aura de triunfo militar que tanto emanava deste povo274
Posteriormente o autor propotildee as medidas com as quais vai enfrentar o problema na
dispositio275 que estaacute entre as linhas 55-89276 A soluccedilatildeo que Leatildeo apresenta eacute a ediccedilatildeo de um
pequeno manual militar para que citamos os que laquodesejam comandar tropas possam ter
raacutepido acesso a uma vasta reserva de experiecircncia no que respeita a combate e a campanhas
militaresraquo277 Nesta obra juntam-se os dados das fontes antigas (eliminando aqueles acerca de
formaccedilotildees que considera obsoletas ou natildeo claramente descritas e traduzindo os termos em
Latim para Grego) que considera mais uacuteteis na praacutetica da guerra bem como laquoa limitada
experiecircnciaraquo dos seus generais numa linguagem laquopraacutetica clara (hellip) e simplesraquo278 O Proacutelogo
conclui com um epilogus279 que indica os conteuacutedos (pela forma como estatildeo ordenados) que
vatildeo ser abordados no manual280
Apoacutes esta breve anaacutelise do Proacutelogo e da sua natureza legislativa procedemos a uma
raacutepida enumeraccedilatildeo das Constitutiones da ordem em que se encontram dispostas e dos seus
conteuacutedos Como jaacute se avisou o Taktikaacute possui duas versotildees integrais tendo uma estrutura
diferente em cada uma delas A versatildeo mais antiga estaacute no coacutedice Mediceo-Laurentianus
graecus 554 e encontra-se dividida em 16 constitutiones seguidas por um conjunto de
maacuteximas um epiacutelogo e trecircs tratados sobre ataques surpresa poliorceacutetica e guerra naval281
Por sua vez no coacutedex Vindobonensis phil graecus 275 as secccedilotildees que natildeo faziam
inicialmente parte do tratado satildeo incluiacutedas e ordenadas dentro deste da seguinte forma
Constitutio XIV ndash O Dia de Batalha Constitutio XV ndash Guerra de Cerco Constitutio XVI ndash O
Dia a seguir agrave batalha Constitutio XVII ndash Ataques Surpresa Constitutio XVIII ndash Costumes
de Diferentes Naccedilotildees Constitutio XIX ndash Guerra Naval Constitutio XX ndash laquoMaacuteximas
Concisasraquo Epiacutelogo De acordo com G Dennis eacute este o manuscrito que segue a ordem do
Proacutelogo282
O que podemos dizer em relaccedilatildeo agrave estrutura Desde jaacute que se encontra dividida de
uma forma temaacutetica e extremamente bem planeada O autor comeccedila por um capiacutetulo
274 Vide Anexos VIII l) 275 Vide Idem Ibidem p 121 276 Vide Anexos VIII m) 277 Vide DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 6-7 278 Vide Idem Ibidem pp 6-7 279 Vide Anexos VIII n) 280 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit p 121 281 DENNIS G T (2014) ndash Op cit p x 282 Idem Ibidem p x
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introdutoacuterio (Const I) onde define o que satildeo laquotaacuteticasraquo a forma como a guerra deve ser
preparada que tipos de unidades envolve (cavalaria infantaria marinha) e o general
(strategoacutes) em si o que eacute o que o deve caracterizar e quais satildeo os seus objetivos Leatildeo fala
destas questotildees de forma mais detalhada no capiacutetulo seguinte (Const II) que se chama
laquoSobre as Qualidades Requeridas num Generalraquo Na Constitutio III explica ao general de que
forma ele deve fazer os planos como deliberar e em que pessoas deve confiar
Eacute no quarto capiacutetulo (Const IV) que o Taktikaacute se comeccedila a debruccedilar sobre as questotildees
relativas agrave preparaccedilatildeo da guerra que homens se devem escolher para o exeacutercito e como
colocaacute-los em cada uma das suas divisotildees quem deve ser escolhido para oficial de que forma
a hierarquia militar estaacute dividida e o que compete a cada um dos seus membros e os nuacutemeros
e formas em que cada divisatildeo devia estar organizada Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre
armamento (Const V) que natildeo eacute mais que uma lista de todo o tipo de armas ofensivas e
defensivas ferramentas logiacutesticas maacutequinas de cerco e seu material de apoio transportes
fluviais animais para montar e bestas de carga entre outros conselhos p ex sobre a
importacircncia de um almirante ter navios prontos para as mais diversificadas funccedilotildees A secccedilatildeo
seguinte (Const VI) trata de forma detalhada que equipamento e armamento cada homem
deve ter (organizando no fundo o que tinha sido exposto no capiacutetulo anterior) em funccedilatildeo da
sua tipologia (oficial cavalaria infantaria pesada infantaria ligeira e apoio logiacutestico) seguido
de uma Constitutio (VII) sobre a forma como o treino de cavalaria e infantaria deve ser feito
O conjunto de capiacutetulos seguintes eacute inaugurado por um segmento acerca de puniccedilotildees
militares (Const VIII) que relata vaacuterios crimes e malfeitorias e a respetiva puniccedilatildeo As
Constitutiones que se lhe seguem aludem a questotildees logiacutesticas Marchas (Const IX) Trem-
de-apoio (Const X) e Acampamentos (Const XI) Ateacute aqui os capiacutetulos podem ser inseridos
(salvo alguns segmentos excecionais como as Constitutiones relativas a armamento e treino)
na disciplina da strategikaacute
A partir daqui a taktikaacute vai ocupar uma grande parte do tratado comeccedila com uma
Constitutio (XII) sobre a preparaccedilatildeo para o combate onde se volta a referir um grande
nuacutemero de exerciacutecios taacuteticos incluindo sinaleacutetica e comandos vocais A secccedilatildeo seguinte
(Const XIII) aborda o que deve ser feito imediatamente antes do combate nomeadamente
formas de levantar a moral e distribuiccedilatildeo de mantimentos e vinho A Constitutio XIV refere o
que deve ser feito na batalha envolvendo um grande nuacutemero de formaccedilotildees movimentaccedilotildees
taacuteticas e estratagemas Segue-se um pequeno capiacutetulo sobre a poliorceacutetica (Const XV) nas
suas duas vertentes ofensiva e defensiva Por fim o capiacutetulo XVI debruccedila-se sobre o que
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deve ser feito no final da batalha accedilatildeo de graccedilas a Deus reparticcedilatildeo dos despojos tratamento
de prisioneiros entre outros
A Constitutio XVII estaacute inserida na strategemataacute pois frisa os embustes a guerra de
guerrilha e os meios de contrariar ataques-surpresa adversaacuterios ou de limitar os ganhos do
rival Segue-se um capiacutetulo (Const XVIII) que expotildee a forma como os Romanos devem fazer
a guerra contra os seus adversaacuterios enfatizando o armamento os haacutebitos e as formaccedilotildees
proacuteprias destes em especial dos Aacuterabes A naumachikaacute forma uma secccedilatildeo uacutenica (Cons XIX)
e o uacuteltimo capiacutetulo (Const XX) reuacutene um conjunto de maacuteximas militares que pretendem no
fundo resumir o que foi tratado ao longo do Taktikaacute Por fim o Epiacutelogo estaacute dividido em trecircs
partes uma claramente religiosa que aborda a relaccedilatildeo entre Deus e a Humanidade uma
segunda que reuacutene as principais noccedilotildees de cada Constitutio que compotildeem a obra finalmente
exorta-se o strategoacutes a seguir os preceitos do Taktikaacute (ainda que de um modo flexiacutevel)
referindo tambeacutem como motivo principal para a escrita deste manual a ameaccedila sarracena283 O
tratado encerra com um Amen o que alude agrave possiacutevel dimensatildeo (e intento) religioso que o
autor teria porquanto enfatiza a autoridade tanto legislativa como divina do autokraacutetor284
Como conclusatildeo a este subcapiacutetulo resta-nos situar aqui as afirmaccedilotildees de Meredith
Riedel que defende que o Taktikaacute eacute tambeacutem uma laquoteia de ligaccedilotildeesraquo onde a informaccedilatildeo de
uma Constitutio complementa os dados de outra A historiadora utiliza ainda alguns exemplos
como o facto de a Constitutio XX e o Proacutelogo partilharem a mesma foacutermula teoloacutegica
enquanto a Constitutio II e o Epiacutelogo apresentam informaccedilotildees diferentes mas
complementares acerca do tipo de pessoa que o general deveria ser285
43 ndash A obra ndash dos manuscritos agraves traduccedilotildees
O percurso histoacuterico do Taktikaacute comeccedila obviamente no seu aparecimento durante o
reinado de Leatildeo VI na passagem do seacuteculo IX para o X Depois disto verificamos que este
manual foi copiado e incluiacutedo em trecircs famiacutelias de manuscritos compiladas entre
aproximadamente 950 e 1050 dC Dentro do corpo de manuscritos mais antigos verifica-se
a existecircncia de coacutepias do Taktikaacute em dois documentos Uma transcriccedilatildeo deste manual estaacute
inserida no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 uma compilaccedilatildeo de tratados militares
gregos datada dos meados do seacuteculo X possivelmente de pouco antes da morte de
283 Vide HALDON J (2017) ndash Op cit pp 443 e 444 284 Idem Ibidem p 444 285 Vide RIEDEL M ndash Op cit p 5
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Constantino VII Porfirogeneta em 959 Como jaacute foi referido286 a coacutepia do Taktikaacute neste
corpus (que comeccedila no foacutelio 281 em 404) possui 16 constitutiones a que se seguem o
epiacutelogo uma coleccedilatildeo de maacuteximas e trecircs tratados sobre strategemataacute poliorketikaacute e
naumachikaacute287 Estes segmentos em separado vatildeo ser compilados e organizados no corpo
principal do tratado no outro coacutedice o Vindobonensis phil graecus 275 (que tambeacutem faz
parte desta famiacutelia de textos) Esta versatildeo da obra trata-se ainda de uma versatildeo expandida
daquela inserida no Mediceo-Laurentianus pois possui um conjunto de comentaacuterios nas
margens que pretendem clarificar certos termos do texto288 No entanto esta transcriccedilatildeo
apresenta algumas partes em falta das quais John Haldon realccedila a abertura do proeacutemio a
integralidade do Epiacutelogo e a maior parte da Constitutio XX289
A segunda famiacutelia de manuscritos estaacute datada para a segunda metade do seacuteculo X e eacute
inaugurada pelo coacutedex Ambrosianus B 119 A versatildeo do Taktikaacute neste corpus (que comeccedila no
foacutelio 189 em 347) natildeo deve no entanto ser tratada como uma coacutepia integral mas sim como
uma paraacutefrase onde vaacuterias palavras se encontram transpostas De acordo com George Dennis
a utilidade deste texto para a traduccedilatildeo do Taktikaacute prende-se apenas com o facto de
providenciar certos segmentos de texto completos ou corretos que natildeo figuram desse modo no
Mediceo-Laurentianus graecus 554 Esta transcriccedilatildeo apresenta ainda uma estrutura diferente
das anteriores estando a Constitutio XX original ordenada como sendo a XIX uma vez que o
capiacutetulo que se ocupa da Naumachikaacute eacute considerado neste corpus como um tratado
independente290 que inaugura uma secccedilatildeo acerca dessa disciplina da tratadiacutestica291
Por uacuteltimo a terceira famiacutelia eacute aquela que inclui o maior nuacutemero de manuscritos mas
dentro destes apenas trecircs satildeo importantes para a traduccedilatildeo e o estudo do texto o coacutedice
Vaticanus graecus que conteacutem uma versatildeo incompleta do Taktikaacute que comeccedila na Constitutio
V a laquocombinaccedilatildeoraquo (mal separada) do Parisinus graecus 2442 e do Barberinianus graecus II
97 e por fim o manuscrito que resulta da conjugaccedilatildeo do Neapolitanus graecus 284 e do
Scorialensis graecus Y-III-11 Estes trecircs textos tiveram origem no scriptorium de Ephraim
em Constantinopla292
286 Cf supra 42 287 Vide DENNIS G (2014) ndash Op cit px 288 Idem Ibidem p xi 289 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 56 290 Batizado de Ναυμαχικὰ Λέοντος βασιλέως (a Naumachikaacute do basileuacutes Leatildeo) cf Idem Ibidem p 389 291 Por ordem estatildeo nesta secccedilatildeo os seguintes tratados (ou excertos de) a Constitutio XIX seis paraacutegrafos do
Taktikaacute uma secccedilatildeo do Stratēgikoacuten acerca da travessia de rios o Naumachiacuteai de Siriano e por fim o
Naumachikaacute do parakoimṓmenos Basiacutelio datado dos finais dos anos 50 do seacuteculo X cf Idem Ibidem p389 292 Vide Idem Ibidem p 58
66
Durante o seacuteculo XVI mais precisamente em 1552 foram impressas algumas paacuteginas
da Constitutio IV que estavam no coacutedice Monacensis graecus 244 em Veneza293 Deste
seacuteculo existem ainda mais alguns manuscritos que contecircm partes ou coacutepias completas do
tratado mas como Dennis294 natildeo os considera pertinentes ou particularmente uacuteteis para um
estudo ou uma reconstituiccedilatildeo do texto original tambeacutem natildeo seratildeo mencionados aqui295
A primeira versatildeo completa da obra foi publicada na cidade de Leyden em 1612 por
Joanes Meurs mais tarde corrigida e comparada com o texto presente no Mediceo-
Laurentianus e publicada em 1745 na cidade de Florenccedila por J Lami Uma coacutepia desta
ediccedilatildeo foi incluiacuteda na Patrologia graeca de J P Migne compilada entre 1857-1861 Mais
tarde o tradutor huacutengaro Rudolfi Vaacuteri publicou a primeira ediccedilatildeo criacutetica do Taktikaacute em dois
volumes296 onde estavam presentes apenas as Constitutiones entre o Proacutelogo (inclusive) e a
Constitutio XIV (nesta o texto ia ateacute agrave linha 228) e mais tarde a Constitutio XVIII bem
como uma traduccedilatildeo huacutengara297 da mesma298
Por fim natildeo podiacuteamos deixar de referir a primeira traduccedilatildeo e criacutetica do Taktikaacute em
inglecircs realizada pelo Padre George T Dennis e publicada em 2010 que conteacutem tambeacutem o
texto original organizado de acordo com o Vindobonensis phil graecus 275 Posteriormente
em 2014 esta publicaccedilatildeo acabaria por ser reeditada299 tendo-se procedido agrave correccedilatildeo de
alguns erros do livro original Esta ediccedilatildeo revista da traduccedilatildeo do Padre Dennis foi
acompanhada no mesmo ano por um livro de John Haldon com comentaacuterios agrave obra300 o qual
contribuiu decisivamente para o enriquecimento da traduccedilatildeo
293 DENNIS G (2014) ndash Op cit p xiii 294 Idem Ibidem p xii 295 Um dos transcritores do texto Vaacuteri teraacute contado cerca de 88 manuscritos Vide VAacuteRI Rudolfi (ed) (1917-
1922) Leonis imperatoris tactica Sylloge Tacticorum Graecorum 3 Budapeste pp 1xv-xxix Apud DENNIS
G (2014) ndash Op cit p xii 296 Denominada ldquoLeonis imperatoris taacutecticardquo 297 A referecircncia bibliograacutefica desta traduccedilatildeo eacute VAacuteRI Rudolfi (1900) Boles Leo Hadi Taktikajanak XVIII
Fejezete In PAULER G e SZILAacuteGYI S (ed) A Magyar Honfoglalas Kutfoi [As fontes da conquista
huacutengara] Budapeste pp 3-89 Apud DENNIS G (2014) ndash Op cit p xii 298 Cf Idem Ibidem p xiii 299 Cf Idem Ibidem p vii 300 O ldquoA Critical Commentary on THE TAKTIKA of Leo VIrdquo jaacute referido nesta dissertaccedilatildeo
67
Capiacutetulo 5 ndash Strategikaacute a arte de ser um bom general
laquoA ciecircncia da estrateacutegia consiste na praacutetica conjunta de bons generais ou seja (eacute) o
estudo e exerciacutecio atraveacutes de estratagemas ou mesmo da recolha dos siacutembolos da vitoacuteriaraquo
(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio 1 linhas 7-8301)
O tratado de Leatildeo VI inicia o seu percurso com um conjunto de preceitos estrateacutegicos
relacionados com o general (Const I e II) a importacircncia de deliberaccedilatildeo e de um bom
planeamento (Const III) as divisotildees do exeacutercito bizantino oficiais e outros encargos no
periacuteodo de escrita do tratado (Const IV) as puniccedilotildees militares e os toacutepicos da logiacutestica -
ordens de marcha trens-de-apoio e acampamentos (Const VIII-XI)
Assim tomaacutemos a iniciativa de dividir este capiacutetulo de acordo com os temas
relacionados com esta disciplina claacutessica No primeiro ponto vamos abordar a figura do
general a forma como Leatildeo VI o idealizava e de que maneira eacute que esse cariz tinha realmente
influecircncia no combate De seguida observaremos o exeacutercito bizantino no Taktikaacute a forma
como se encontrava estruturado o perfil dos recrutas os seus oficiais entre outros Por fim
vamos observar questotildees de acircmbito logiacutestico entre as quais movimentaccedilotildees de exeacutercitos
organizaccedilatildeo de trens-de-apoio construccedilatildeo de acampamentos
51 ndash O strategoacutes de Leatildeo
laquoO general eacute a pessoa que depois do imperador tem mais autoridade do que
qualquer outra no conjunto da proviacutencia subordinada a ele O general eacute o chefe do
theacutema militar sob o seu comandoraquo
(Leatildeo VI in Taktikaacute Constitutio I linhas 28-30)
O strategoacutes eacute o ponto fulcral do manual militar e eacute sem duacutevida o destinataacuterio deste
coacutedigo legislativo Atrevemo-nos a dizer que se o proeacutemio do Taktikaacute possuiacutesse uma
inscriptio quem laacute estaria designado seriam os generais do Impeacuterio Bizantino ndash os strateacutegoi
dos themaacuteta Na nossa opiniatildeo eacute claro (talvez oacutebvio) os generais ndash ou quem desejasse
comandar tropas ndash serem o ldquopuacuteblico-alvordquo desta produccedilatildeo militar Afinal eram estes oficiais a
mente do exeacutercito encarregados de tomar as decisotildees que ditavam a vitoacuteria ou a derrota
dentro ou fora do campo de batalha Tatildeo importante como estes fatores era a condiccedilatildeo do
301 Para o grego vide DENNIS George T (2014) ndash Op cit p 12 Sobre a maneira como a traduccedilatildeo inglesa
deste excerto deve ser feita vide HALDON J (2014) ndash Op cit p129
68
general como exemplo para os homens sob o seu comando ou como forccedila de oposiccedilatildeo aos
viacutecios mais destrutivos do homem (como a ganacircncia)
Logo na sua primeira Constitutio o basileuacutes esboccedila o perfil do homem que quer ao
comando das suas forccedilas saacutebio corajoso justo discreto302 e leal303 Na Constitutio seguinte
acrescenta mais algumas qualidades serem autocontrolados no que toca aos seus viacutecios terem
um modo de vida frugal serem incansaacuteveis304 gentis mas natildeo lenientes para com os seus
soldados exigentes mas natildeo demasiado severos305 Neste uacuteltimo aspeto o imperador defende
que o general deve ser amado pelos seus soldados306 pois tal efeito motivaacute-los-aacute a obedecer agraves
ordens dele mais rapidamente e a lutarem com mais fervor a seu lado307
A justiccedila a gentileza e a humildade revelam-se nas palavras do imperador no capiacutetulo
sobre guerra de cerco sendo cruciais apoacutes a tomada de um siacutetio fortificado Leatildeo VI defende
que as populaccedilotildees devem ser tratadas daquela forma para que aceitem os seus
conquistadores citando os feitos de Niceacuteforo Focas O Velho O reputado strategoacutes teraacute
conquistado os Lombardos natildeo soacute pela forccedila das armas mas tambeacutem pelo seu caraacuteter quando
tratou com justiccedila os habitantes das povoaccedilotildees da Calaacutebria os isentou de impostos e os salvou
da escravidatildeo308 Por outro lado recordamos a perda de Benevento pelos Bizantinos em
895309 que teratildeo sido traiacutedos pela populaccedilatildeo depois de a terem oprimido e maltratado
Para o autor a inteligecircncia constitui uma virtude quase sem paralelo em todas as suas
vertentes (perspicaacutecia arguacutecia eloquecircncia entre outros) como se vecirc no seguinte excerto
laquoQuando se trata dos prazeres do corpo ele deve praticar o autocontrolo Mas nos
aspetos da mente ele eacute insaciaacutevel e nunca fica satisfeito nos seus esforccedilos de praticar accedilotildees
bem-sucedidas Quando a situaccedilatildeo ainda natildeo eacute clara ele apercebe-se do que tem de ser feito
Inteligente e perspicaz ele estaacute sempre certo quando avalia o que estaacute escondido naquilo que
estaacute visiacutevel Ele eacute experiente em armar e formar o seu exeacutercito em posiccedilotildees de batalha As
suas palavras satildeo capazes de ressuscitar o moral do exeacutercito quando estaacute baixo preenchecirc-lo
com boas expectativas e preparaacute-lo para enfrentar perigos Ele deve ser muito rigoroso no que
302 Vide Anexo VIII q) 303 Vide Anexo VIII j) 304 Taktikaacute II3-10 305 Taktikaacute II131-136 Esta secccedilatildeo eacute uma paraacutefrase de Onasandro vide Onasandro Strategikoacutes II (a partir de
agora as referecircncias desta obra vatildeo passar a ser feitas da seguinte forma Onas livro) 306 Devendo fazer por ter uma relaccedilatildeo paternal com eles e ateacute viver comcomo eles Taktikaacute XX36-37
paraacutegrafo que acusa influecircncia do Stratēgikoacuten VIII1(3) ndash que por sua vez a fora buscar a Onas I 307 Taktikaacute II46-50 308 Taktikaacute XV201-206 309 Cf supra 22 natildeo tivemos acesso agrave fonte lombarda pelo que remetemos para Giorgio Ravegnani de onde
obtivemos esta informaccedilatildeo em primeiro lugar Vide RAVEGNANI G ndash Op cit p160
69
toca a acordos ou promessas natildeo ser demovido por bons falantes que o querem afastar do seu
deverraquo310
A capacidade de decisatildeo eacute outra valecircncia fundamental para um general para que ele
evite grandes riscos em certas accedilotildees311 Este ponto eacute reforccedilado na Constitutio III ndash laquoSobre
como eacute necessaacuterio fazer planosraquo ndash num capiacutetulo onde Leatildeo exorta o general a ter cabeccedila fria e
a ser cuidadoso nas suas decisotildees312 mas tambeacutem a ser prudente na escolha dos seus
conselheiros313 Em relaccedilatildeo ao processo deliberativo o autor aconselha o general a manter
uma postura imparcial no que respeita ao que possa estar associado agrave accedilatildeo em causa a
preservar a mente aberta relativamente a todas as possibilidades que possam desbloquear o
plano e particularmente a ser determinado na altura de agir314
Leatildeo no entanto natildeo se prende a questotildees apenas relacionadas com as virtudes de um
general na altura de o escolher Salienta tambeacutem razotildees de natureza econoacutemica familiar ou
de forma fiacutesica que podem ter importacircncia na altura de selecionar algueacutem para o cargo de
strategoacutes Nas valecircncias sociais o autokraacutetor confessa a sua preferecircncia por generais que
tenham famiacutelia sejam ricos e pertenccedilam a uma boa linhagem desde que claro cumpram os
requisitos das virtudes315 Por outro lado admite que homens pobres e de origens humildes
tambeacutem tecircm direito a ocupar esta funccedilatildeo316 desde que mostrem habilidade e probidade
Em termos de idade Leatildeo informa-nos que os melhores generais satildeo aqueles que jaacute
possuem alguma experiecircncia militar evidenciando boa forma fiacutesica317 De outra maneira nas
palavras do imperador seratildeo criados strateacutegoi com boa laquomente deficitaacuteria em forccedila fiacutesicaraquo ou
com laquoforccedila desprovidos de inteligecircnciaraquo e qualquer uma destas foacutermulas natildeo resultaraacute em
nada de produtivo e natildeo seraacute capaz de gerar algum feito proveitoso318
Por fim o strategoacutes deve-se preocupar em estar nas graccedilas de Deus em cumprir os
seus mandamentos e em amaacute-Lo arguindo que qualquer plano ou taacutetica soacute teraacute sucesso se o
general contar com a providecircncia divina O autor remata esta questatildeo comparando um general
310 Taktikaacute II120-128 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 311 Taktikaacute II183-184 312 O processo de planeamento deve decorrer durante algum tempo a natildeo ser que seja necessaacuterio tomar accedilatildeo
imediata vide Taktikaacute III 41-42 Influecircncia principal em Stratēgikoacuten II e VIII1(5) e em Onas III 313 Leatildeo refere duas categorias preferenciais para essa escolha uma primeira de tipo militar onde aconselha o
general a pedir opiniotildees aos turmarcas e oficiais que se seguem na hierarquia em segundo a niacutevel psicoloacutegico
onde a escolha deve recair sobre sujeitos experientes perspicazes e de confianccedila em especial se a decisatildeo estiver
relacionada com uma operaccedilatildeo sigilosa devendo-se evitar indiviacuteduos calculistas que possam fazer perigar o
plano em questatildeo em resultado dos seus interesses Vide Taktikaacute III26-33 e 37-40 314 Taktikaacute III41-42 315 Taktikaacute II114-115 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 316 Taktikaacute II115-116 O paraacutegrafo destas linhas encontra influecircncia em Onas I-II 317 Conjugando as duas qualidades que ele atribui aos jovens (forccedila) e aos mais velhos (experiecircncia) 318 Taktikaacute II43-45
70
sem o apoio de Deus mas com grandes habilitaccedilotildees estrateacutegicas ou taacuteticas a um timoneiro
que apesar de ter muita experiecircncia natildeo pode conduzir o seu navio para onde quer porque o
vento sopra no sentido oposto ao que deseja319 O comandante deve ainda assegurar-se de que
a guerra que iraacute travar tem uma causa justa pois soacute assim desfrutaraacute do apoio divino tentando
sempre zelar pela paz320
52 ndash O exeacutercito provincial bizantino soldados oficiais estrutura e nuacutemeros321
A Constitutio que aborda principalmente este tema (IV) comeccedila com um trecho
original da pena de Leatildeo Aqui satildeo abordadas questotildees relacionadas com o recrutamento de
soldados Que tipo de guerreiros devem ser mobilizados Que condiccedilotildees financeiras devem
ter Devem ter famiacutelia Muito sucintamente a resposta a esta questatildeo eacute a seguinte o
thematikoiacute deve ser corajoso ter boa forma fiacutesica ser nem muito velho nem muito novo e
financeiramente estaacutevel322 Neste ponto o basileuacutes acentua a importacircncia de um soldado se
conseguir equipar sozinho ou com o apoio dos membros do seu lar (familiares ou servos)
A alegaccedilatildeo no final do primeiro paraacutegrafo da Constitutio IV323 permite remeter para
uma preferecircncia de Leatildeo na recruta de stratioacutetai (aqueles que possuem obrigaccedilotildees
militares324) No entanto na Constitutio XX natildeo se descarta a possibilidade de soldados que
natildeo possuiacutessem strateiacutea ou meios econoacutemicos suficientes de participarem na guerra
implicando que estes podiam ser patrocinados por homens ricos com strateiacutea que natildeo
desejassem participar em campanhas Assim aqueles que natildeo possuiacutessem meios econoacutemicos
para se equiparem autonomamente poderiam combater enquanto por outro lado os stratioacutetai
ricos seriam dispensados de participar em campanhas e de cumprir o serviccedilo militar ativo325
O autokraacutetor dedica ainda algumas palavras agrave personalidade ideal do oficial mas
utiliza a mesma descriccedilatildeo (de forma mais sucinta) que dedica para os generais deve ser de
confianccedila crente leal corajoso entre outros predicados Apesar disso refere que deve existir
alguma solidariedade do oficial para com os seus soldados defendendo que caso estes sejam
319 Taktikaacute II 163-167 Encontra influecircncia em Stratēgikoacuten Proacutelogo 320 Vide Anexo VIII o) 321 As Constitutiones referentes a esta temaacutetica satildeo IV e XX 322 Taktikaacute IV3-14 323 Que nos informa ainda de alguns benefiacutecios que o guerreiro bizantino possuiacutea como as isenccedilotildees fiscais de
todos os impostos excluindo o demoacutesion (e de acordo com Haldon subtilmente o kapnikoacuten) vide HALDON J
(2017) - Op cit p 143 324 Cf supra 13 325 Apesar de o homem rico ser algo criticado por Leatildeo que ali o apelida de cobarde Vide Anexos VIII d)
71
ricos devem partilhar alguns dos seus fundos com os seus soldados que por sua vez lhe seratildeo
mais fieacuteis e estaratildeo prontos a enfrentar qualquer adversidade ao seu lado326
Quanto agrave estrutura do exeacutercito Leatildeo informa-nos que a unidade baacutesica do exeacutercito
imperial eacute o taacutegma ou o baacutendon327 que deveria ter cerca de 300 homens preferencialmente e
ser comandado pelo koacutemes Caso este nuacutemero natildeo se pudesse cumprir devia ter entre 200 e
400 soldados natildeo podendo ter menos ou mais que este nuacutemero Mauriacutecio indica que o
nuacutemero de homens nos seus taacutegmata deveria estar entre 300 a 400 efetivos328 enquanto um
tratado mais tardio o Sylloge Tacticorum informa que a quantidade de soldados dependeria
do tipo de unidade se fosse de cavalaria ia dos 50 aos 400 homens se fosse de infantaria dos
200 aos 400329 Cada baacutendon deveria possuir ainda um porta-estandarte
Na altura de combater os baacutenda eram divididos em decarquias (fileiras) que podiam
conter um nuacutemero variado de homens nela dependendo da extensatildeo das fileiras podendo ter
quatro cinco oito dez ou dezasseis soldados organizados por laccedilos familiares ou de
amizade330 A fileira devia ser liderada por um decarca tendo de possuir ainda um pentarca331
para ocupar o centro da fileira e dois tetrarcas332 para as posiccedilotildees de retaguarda333 Em caso
de desdobramento das decarquias uma das colunas seria liderada pelo decarca e encerrada
por um tetrarca enquanto outra era encabeccedilada pelo pentarca334 e fechada por outro tetrarca335
Estas unidades deviam ser compostas por membros das mesmas comunidades ou famiacutelias de
forma a motivaacute-los a combater melhor na hora da batalha
326 Vide Taktikaacute IV25-29 327 Para evitar confusatildeo com os corpos militares imperiais com a mesma atribuiccedilatildeo passaremos a referir-nos a
esta unidade apenas como baacutendon (ou baacutenda caso seja plural) Poderemos eventualmente utilizar
taacutegmataacutegmata se nos estivermos a referir agrave unidade baacutesica do exeacutercito de Mauriacutecio 328 Stratēgikoacuten I4 329 Tendo em conta a proximidade de escrita dos dois tratados (o Sylloge seraacute da primeira metade do seacuteculo X se
natildeo do proacuteprio reinado de Leatildeo) John Haldon acredita que podemos estimar que a realidade militar na altura da
escrita do Taktikaacute se pode aproximar mais dos valores do Sylloge do que dos do Taktikaacute que eacute muito
influenciado pelo Stratēgikoacuten vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 59 330 Taktikaacute IV162-167 Influecircncia de Onasandro Onas XXIX 331 No Stratēgikoacuten este homem ocupa a segunda posiccedilatildeo da fileira Stratēgikoacuten III2 Leatildeo no entanto parece
misturar o pentarca com o tetrarca Na Constitutio XVIII quando fala da organizaccedilatildeo preferiacutevel para um exeacutercito
de um theacutema em batalha refere que o pentarca tambeacutem eacute o ouraacutegos ou seja o homem que fecha a linha
Taktikaacute XVIII770-776 332 Leatildeo natildeo informa diretamente que deva haver dois tetrarcas mas informa que devem existir dois ldquoguardas-
de-colunardquo que ocupam as duas uacuteltimas posiccedilotildees da fileira Uma vez que haveraacute a possibilidade de desdobrar a
fileira advindo daiacute a necessidade de haver dois tetrarcas eacute provaacutevel que os homens que ocupassem esta posiccedilatildeo
jaacute estivessem escolhidos numa fileira singela 333 Taktikaacute IV79-84 334 Haldon adverte para o facto de estas unidades taacuteticas (pentarca e tetrarca) natildeo serem permanentes pois soacute
aparecem em tratados militares Daiacute deduzimos que os homens que ocupam estas posiccedilotildees soacute eram escolhidos na
altura de organizar o exeacutercito Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 152 335 Idem Ibidem p162
72
Mas regressemos agrave estrutura do exeacutercito Um conjunto de bandaacute forma um
drouacutengos336 liderado por um drungaacuterio natildeo devendo ultrapassar os 3000 homens Vaacuterios
drouacutengoi formam uma touacuterma337 comandada por turmarca que natildeo pode ter mais de 6000
homens338 Finalmente trecircs touacutermai339 formam um exeacutercito sob o strategoacutes existindo ainda
um hypostrategoacutes que eacute o comandante da segunda touacuterma que poderaacute tomar conta das
funccedilotildees do strategoacutes se assim for necessaacuterio340
Por fim Leatildeo adverte que se deve ter cuidado com o tamanho das touacutermai e dos
drouacutengoi natildeo podendo ser demasiado numerosos para natildeo comprometer a capacidade de
lideranccedila dessas unidades341 Qualquer excesso de homens deve ser utilizado para proteger a
retaguarda e os flancos da primeira formaccedilatildeo de batalha ou para participar em emboscadas ou
flanqueamentos Por outro lado aconselha o general a ter cuidado com o nuacutemero dos bandaacute
recomendando que estes tenham quantidades de soldados distintas para evitar que os
batedores inimigos consigam estimar com clareza quantos homens tem o exeacutercito romano342
Relativamente ao nuacutemero de soldados por exeacutercito Leatildeo pressupotildee que uma hoste de
tamanho meacutedio deveria ter entre 5000 e 12 000 homens343 O valor maacuteximo apresentado
envolveria uma mobilizaccedilatildeo quase integral dos stratioacutetai laquotemaacuteticosraquo uma quantidade de
homens sem duacutevida exagerada para um exeacutercito de um uacutenico theacutema344 Natildeo nos podemos
esquecer de que quanto maior eacute o nuacutemero de homens em campanha maiores seratildeo os
problemas logiacutesticos para essa hoste (vai necessitar de um trem-de-apoio maior de mais natildeo-
combatentes o que por sua vez pressuporaacute uma velocidade mais lenta visto natildeo se tratar de
um exeacutercito noacutemada) O valor mais provaacutevel seriam os 4000 homens (usuais) que ele refere
quando fala das campanhas a Oriente contra os Aacuterabes345 tendo em conta a velocidade de
deslocaccedilatildeo de que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam para conseguir agir contra estas
investidas inimigas346
336 No Stratēgikoacuten de Mauriacutecio a unidade equivalente era a moira ou quiliarquia comandada por um moirarca ou
quiliarca Stratēgikoacuten I4 337 Corresponde aos meros de Mauriacutecio liderados por um merarca Vide Stratēgikoacuten I4 338 Taktikaacute IV194-196 339 Leatildeo adverte que cada uma destas divisotildees tem de ter o mesmo nuacutemero de homens Taktikaacute IV 189-193
Encontra reflexo em Stratēgikoacuten I4 340 Taktikaacute IV186-188 Stratēgikoacuten I4 341 Taktikaacute IV202-204 Conselho tambeacutem presente em Stratēgikoacuten I4 342 Taktikaacute IV205-208 Stratēgikoacuten I4 343 Taktikaacute XII174-175 Strategikoacuten II4 344 Taktikaacute IV74-175 e HALDON J (2014) ndash Op cit p103 345 Taktikaacute XVIII841-843 346 Neste caso seriam possivelmente quatro mil homens de cavalaria ligeira a kaballarika themata talvez com
algumas tropas de infantaria (montada quiccedilaacute) para os apoiar caso fosse necessaacuterio O grosso da infantaria (mal
equipada e treinada) ficaria encarregada de guarnecer fortificaccedilotildees e outros pontos estrateacutegicos Vide HALDON
J (2001) ndash Op cit p52
73
De facto hostes mais numerosas soacute seriam viaacuteveis se resultassem da conjugaccedilatildeo de
meios e de soldados de vaacuterios themaacuteta para fazer frente a uma invasatildeo de elevadas
proporccedilotildees Tal parece ter sido o caso de Lalacatildeo quando um exeacutercito bizantino formado por
soldados de vaacuterios themaacuteta e dos taacutegmata aniquilou uma hoste aacuterabe em prol de possuir
superioridade numeacuterica347 ou do exeacutercito de Leatildeo Katakalon derrotado em Bulgarophygon
no ano de 896348
Regressando aos oficiais Leatildeo refere ainda mais alguns bem como certos tipos de
soldados apesar de isto ser quase uma paraacutefrase do Stratēgikoacuten onde a terminologia eacute
alterada (ou adicionada) para corresponder agrave realidade do tempo do basileuacutes Por exemplo as
tropas de assalto (kouacutersores) responsaacuteveis por carregar ou perseguir soldados inimigos satildeo
apelidadas de proklaacutestai ou proacutemachoi enquanto os militares encarregados de os apoiar caso
tenham de retirar satildeo chamados defensores (agrave semelhanccedila do tempo de Mauriacutecio) ou
ekdiacutekous349 No Taktikaacute os espiotildees chamam-se skoulkaacutetores enquanto no Stratēgikoacuten satildeo
denominados de batedores350 Por exemplo o porta-capas351 natildeo estaacute presente no Taktikaacute Os
restantes encargos352 apontados pelo autor tecircm exatamente a mesma nomenclatura que no
Stratēgikoacuten
Leatildeo refere ainda alguns cargos civis mas que satildeo de extrema importacircncia para o
exeacutercito de um theacutema o protonotaacuterio o cartulaacuterio e o pretor Acerca do protonotaacuterio jaacute
aludimos agrave sua importacircncia no primeiro capiacutetulo353 O cartulaacuterio era um oficial escolhido pelo
logotheacutesion totilden genikon sendo o responsaacutevel pelos registos militares de um theacutema por fim o
pretor era o oficial que tratava das questotildees juriacutedicas numa proviacutencia354
53 ndash Logiacutestica marchas trens-de-apoio e acampamentos
A seguranccedila de um exeacutercito enquanto se desloca de regiatildeo em regiatildeo eacute uma questatildeo
central Primeiro porque uma hoste em andamento eacute extremamente vulneraacutevel caso se veja a
braccedilos com um ataque-surpresa ou a atravessar terreno difiacutecil Segundo porque uma multidatildeo
de soldados em movimento representa um grave risco para as populaccedilotildees locais caso o
347 HALDON J (2001) ndash Op cit p85 348 TOUGHER S ndash Op cit p79 349 Taktikaacute IV100-102 Stratēgikoacuten IV3 350 Taktikaacute IV110-111 Stratēgikoacuten IV3 351 Oficial responsaacutevel por escoltar o porta-estandarte HALDON J (2014) ndash Op cit p153 Stratēgikoacuten IV3 352 Flanqueadores guarda-flancos corpos meacutedicos e responsaacuteveis de aquartelamento entre outros 353 Cf supra 11 354 Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp 159-160
74
percurso seja efetuado no proacuteprio territoacuterio bizantino ou aliado Terceiro porque no caso de
Bizacircncio o ato de marcha em formaccedilatildeo representa tambeacutem ele um treino de disciplina e um
exerciacutecio praacutetico para o soldado355 bem como um exerciacutecio de comando para quem estiver agrave
frente dessa forccedila (o strategoacutes o turmarca ou outro)
As primeiras indicaccedilotildees de Leatildeo remetem para a seguranccedila dos suacutebditos do imperador
e natildeo dos soldados em si O basileuacutes emite dois avisos nesse sentido primeiramente que o
general deve manter os seus soldados sob controlo e evitar a todo custo que estes saqueiem e
destruam as possessotildees dos suacutebditos de Constantinopla em segundo abandonar o territoacuterio
bizantino o mais cedo possiacutevel de forma a evitar que se gastem os recursos alimentares
romanos (frisando ainda que quanto mais rico for o territoacuterio do adversaacuterio melhor)356
Enquanto o exeacutercito avanccedila os soldados devem comeccedilar a exercer as suas funccedilotildees os
minsouratores357 devem ser enviados para bater o terreno (caso este seja desconhecido e natildeo
haja acesso a guias locais) e para montar o acampamento Quanto aos esquadrotildees de
aquartelamento devem comeccedilar a procurar fontes de aacutegua e locais para forragens358
O basileuacutes procede ainda a uma clarificaccedilatildeo sobre a forma como o exeacutercito em marcha
deve proceder em alguns terrenos com muito arvoredo ou desnivelado359 em territoacuterio
cultivado bizantino360 ou inimigo (onde aconselha que se pilhe o que se puder e se destrua o
que natildeo se puder aproveitar)361 a atravessar rios onde Leatildeo utiliza uma experiecircncia do pai
como jaacute referimos362 e nos desfiladeiros Das marchas assinaladas decidimos dar preferecircncia
agrave forma de atravessar terrenos difiacuteceis ou desfiladeiros o que se afigurava de elevada
importacircncia para a conjuntura estrateacutegica da eacutepoca saber como ocupar uma kleisoucircrarchia363
era algo fundamental na guerra travada a Oriente e a Ocidente (contra os Buacutelgaros) tanto a
niacutevel defensivo como ofensivo
Assim se um exeacutercito provincial desejasse atravessar uma garganta montanhosa
deveria enviar contingentes agrave sua frente para ocuparem os pontos altos e as embocaduras
dessas passagens antes que os seus inimigos o pudessem fazer colocando em risco a
355 Taktikaacute IX23-25 356 Taktikaacute IX3-13 Assinalem-se as influecircncias de Onas VI 357 Batedor responsaacutevel por encontrar um lugar ideal para se construir um acampamento Taktikaacute IV103-105 358 Taktikaacute IX33-41 359 Taktikaacute IX42-46 O autor informa o general de que deve enviar um grupo de soldados para nivelar o terreno
e cortar as aacutervores ao longo do percurso pretendido caso fosse necessaacuterio 360 Taktikaacute IX73-82 361 Taktikaacute IX97-103 362 Vide Anexo VIII g) 363 Aqui natildeo nos referimos aos pequenos distritos militares mas sim aos desfiladeiros
75
seguranccedila da hoste bizantina364 Soacute depois disto acontecer eacute que o strategoacutes deveria ordenar
aos seus soldados365 que atravessassem o desfiladeiro ordenadamente formados em duas
colunas paralelas com o trem-de-apoio (com ou sem botim) no centro contando ainda com
uma vanguarda e uma retaguarda (dita saka) De forma a fortalecer os flancos deviam ser
colocadas tropas ligeiras sobre o desfiladeiro nos quatro lados da disposiccedilatildeo taacutetica com o
objetivo de proteger a formaccedilatildeo em movimento e de evitar que ataques inimigos a
desorganizassem com ataques nas laterais Para aleacutem da carriagem no centro deviam estar as
montadas suplentes ou que natildeo estivessem a ser usadas para evitar a fuga dos homens da
falange em caso de pacircnico366 No caso deste exeacutercito possuir um grande contingente de
infantaria entatildeo dever-se-ia organizar mais ou menos da mesma forma excetuando se natildeo
conseguissem caber todas as forccedilas no desfiladeiro Nesse caso deviam desfazer a
formaccedilatildeo367 passar uma de cada vez e voltar a formar assim que a passagem tivesse sido feita
Para evitar problemas na viagem de regresso era recomendaacutevel deixar um
destacamento a guardar a garganta368 No regresso da expediccedilatildeo era aconselhaacutevel usar
novamente esta formaccedilatildeo ateacute porque um ataque nestas regiotildees era entatildeo mais provaacutevel pois a
hoste estava carregada de despojos e prisioneiros No caso de o exeacutercito ficar encurralado no
desfiladeiro Leatildeo propunha duas opccedilotildees negociar com o inimigo a libertaccedilatildeo atraveacutes do
retorno parcial ou total do botim ou matar os prisioneiros369 A hoste deveria entatildeo dar meia-
volta e destruir o territoacuterio do inimigo ou tentar escapar de alguma forma
Concluiacuteda esta sucinta anaacutelise das marchas que consideramos mais importantes nesta
altura observemos agora a importacircncia da carriagem
laquoO trem-de-apoio consiste nos mantimentos e tudo mais que eacute necessaacuterio para os
soldados isto eacute servos370 animais de carga e outras bestas bem como tudo o resto
que eacute trazido para o serviccedilo do exeacutercitoraquo371
364 Apesar de as forccedilas dos themaacuteta terem um propoacutesito maioritariamente defensivo haveria a hipoacutetese de
realizarem contra raides contra o territoacuterio inimigo 365 Caso houvesse cavalaria esta deveria desmontar 366 Taktikaacute IX195-234 Stratēgikoacuten IX 367 A frente com duas ou quatro divisotildees de infantaria pesada dependendo do tamanho seguidas pelo trem-de-
apoio a cavalaria e uma saka com infantaria pesada e ligeira Taktikaacute IX284-291 Stratēgikoacuten XII19-20 368 Muitas vezes em termos defensivos os Bizantinos deixavam os Aacuterabes da Ciliacutecia passar pelos desfiladeiros
ocupando-os posteriormente e atacando quando estes se encontravam mais vulneraacuteveis O caso mais espetacular
desta estrateacutegia eacute a batalha de Andrassos em 960 quando forccedilas bizantinas sob Leatildeo Focas ocuparam o
desfiladeiro que o emir hamdacircnida Sayf ad-Dawlah tencionava usar para regressar a Alepo e o emboscaram na
viagem de regresso Para esta batalha e estrateacutegia vide NISA J (2016) ndash Op cit pp 80-81 369 Taktikaacute IX241-247 Os prisioneiros tambeacutem podiam servir como escudo da falange frente agraves flechas do
inimigo Taktikaacute IX235-238 370 Ou familiares dos soldados caso ainda estivessem em territoacuterio amigaacutevel De acordo com John Haldon a
importacircncia destes natildeo-combatentes prendia-se com a sua utilidade em ajudar a organizar a bagagem bem como
a ajudar nas tarefas mais ordinaacuterias Natildeo obstante eram mais uma boca a alimentar abrandavam o exeacutercito em
76
Durante uma marcha em territoacuterio hostil a carriagem pela sua grande importacircncia372
ocupava sempre o meio da coluna (para se encontrar permanentemente protegida) e a alguma
distacircncia do resto da hoste para natildeo causar desorganizaccedilatildeo na hoste em movimento373 Antes
de o exeacutercito partir para uma batalha o trem e todos o que o acompanhavam deviam ser
deixados num lugar seguro374 sob os cuidados do oficial responsaacutevel pela sua proteccedilatildeo e por
guiar as bestas de carga (burros ou mulas) vigiadas por soldados pobres ou por servos375
Em relaccedilatildeo agraves montadas cada baacutendon deveria guardar a forragem necessaacuteria para um
dia para o caso de o resultado da batalha ser adverso a recolher feno fora do acampamento376
Quando os soldados partiam para o combate deviam deixar as montadas de reserva na
carriagem377 para natildeo entrarem em pacircnico durante a peleja Apenas deveriam ser levadas para
o confronto se isso fosse preciso transportando o soldado responsaacutevel por elas uma tenda
pequena ou dois mantos pesados378 No caso de ser preciso empreender uma operaccedilatildeo
ofensiva ou de saque os soldados deviam manter os seus cavalos armados e vigorosos
Algo original na Constitutio de Leatildeo sobre trem-de-apoios eacute a distinccedilatildeo de meios de
transporte de mantimentos e de utensiacutelios no caso de ser um exeacutercito de infantaria o trem-de-
apoio devia ser constituiacutedo por carroccedilas se fosse uma hoste maioritariamente de cavalaria a
carriagem consistiria em bestas de carga como burros ou mulas379
Dediquemos as uacuteltimas palavras ao acampamento militar bizantino o qual
representava um outro aspeto essencial da forma de fazer a guerra em Bizacircncio constituindo
um fator importante que condicionava a vitoacuteria ou a derrota de um exeacutercito Toda a orgacircnica
do acampamento tinha de funcionar bem para se garantir o maacuteximo de organizaccedilatildeo possiacutevel
evitar engarrafamentos de unidades durante situaccedilotildees de retirada e assegurar uma boa defesa
(em caso de estarem em territoacuterio inimigo ou com o adversaacuterio nas proximidades a infantaria
deveria ocupar posiccedilatildeo do lado da paliccedilada de forma a poder proteger a cavalaria quando esta
voltava de campanhas no exterior)
marcha e eram um risco para a seguranccedila e disciplina no acampamento Taktikaacute X6 e 12-16 Organizaccedilatildeo de
uma Campanha XV (daqui em diante OdC) HALDON J (2014) ndash Op cit p232 371 Taktikaacute IV120-122 372 Na viagem de regresso de raides a territoacuterio inimigo podia incluir o despojo 373 Taktikaacute X66-70 Praecepta Militaria IV (daqui em diante PrM) OdC X 374 Acampamento ou siacutetio fortificado que tenha bom acesso a forragem e aacutegua Taktikaacute X36-50 Veja-se um
conselho parecido em Perigrave Paradroacutemes XVI (daqui em diante PP) 375 De acordo com Leatildeo e Mauriacutecio cada soldado poderia tomar conta de trecircs a quatro animais Taktikaacute IV154-
155 Stratēgikoacuten I5 376 Taktikaacute X56-62 Stratēgikoacuten I5 377 Um para servir de proteccedilatildeo e outro para servir de tenda ou de canoacutepia 378 Vide Taktikaacute X48-50 Stratēgikoacuten V 379 Taktikaacute X76-78
77
Assim sendo quais eram os fatores predominantes na altura de escolher um siacutetio para
acampar em territoacuterio inimigo A seguranccedila era o primordial tendo os minsouratores de
encontrar um local apto a ser defendido e caso tal circunstacircncia natildeo fosse possiacutevel fortificar
o acampamento por meio de trincheiras e paliccediladas O abastecimento das tropas era outro
fator muito importante e o arraial devia ser instalado num local com bom acesso a aacutegua e a
forragens Caso a fonte de aacutegua fosse um rio o acampamento devia ser instalado de forma a
permitir que o curso de aacutegua o atravessasse no meio devendo para esse efeito o arraial ser
montado num local onde a travessia fosse faacutecil ou (se o rio tivesse um caudal muito grande
ou demasiado intenso para possibilitar a travessia) num dos flancos do recinto de forma a
servir de defesa natural contra o inimigo380
Por fim a sauacutede e o bem-estar dos homens eram tambeacutem cruciais pelo que o siacutetio
onde estes pernoitavam e se protegiam deveria ser instituiacutedo num local longe de pacircntanos e
outros locais huacutemidos (com lama por exemplo) de forma a evitar surtos de doenccedila que
pusessem em causa a sauacutede (e ateacute a vida) do soldado381 Por outro lado natildeo se recomendava a
manutenccedilatildeo do exeacutercito num mesmo siacutetio durante muito tempo devido agrave quantidade de
dejetos humanos (e animais pois os cavalos tambeacutem estavam no acampamento)
produzidos382 mas tambeacutem para conforto dos proacuteprios homens383
Para terminar vamos abordar a estrutura e a defesa do acampamento De acordo com
o basileuacutes o acampamento deveria ter uma forma retangular dividindo-se em quatro
quadrantes separados por duas ruas perpendiculares que fizessem uma forma de cruz as quais
ligavam as entradas do acampamento384 e o centro deste A infantaria ligeira e os vagotildees da
carriagem385 deviam ocupar posiccedilotildees ao longo do periacutemetro e a cavalaria deveria ser
aquartelada mais para o interior do arraial386 Quanto aos oficiais principais os turmarcas
deviam ser posicionados no meio das forccedilas que comandavam enquanto o strategoacutes devia
380 Neste caso o autor procede a um conjunto de conselhos para preservar a pureza da aacutegua relacionados com o
siacutetio onde os cavalos bebessem se o rio fosse pequeno devia ser-lhes dada aacutegua a beber por meio de baldes se o
caudal fosse grande entatildeo deveriam ser guiados para beber a jusante Taktikaacute XI165-172 381 Taktikaacute XI15-20 382 Que deveriam ser largados no exterior do acampamento Leatildeo alegava ser pelo odor mas a razatildeo principal
deveria ser a proteccedilatildeo sanitaacuteria Taktikaacute XI162-164 383 A uacutenica exceccedilatildeo a esta regra parecem ser os aquartelamentos de Inverno onde existiam edifiacutecios para os
homens habitarem Taktikaacute XI23-27 384 Para aleacutem destas entradas protegidas por um enorme portatildeo deviam-se instalar vaacuterias laquopoternasraquo
possivelmente para permitir a entrada e saiacuteda de pequenos grupos de homens 385 Que tambeacutem poderiam servir para criar uma barreira improvisada em torno do acampamento chamada
karagos Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p245 386 A um intervalo de 94 a 125 metros de acordo com Mauriacutecio e Leatildeo para proteger os animais de carga e os
cavalos dos projeacuteteis inimigos O Praecepta Militaria refere que a distacircncia deveria ser de ldquoum tiro de arcordquo
(possivelmente 330 metros de acordo com o Sylloge Tacticorum) existindo discussatildeo de outros valores
Taktikaacute XI80-87 Stratēgikoacuten XIIB22 PrM V5 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 248-249
78
estar longe do centro (Leatildeo indica laquopara o ladoraquo pelo que supomos a mesma condiccedilatildeo que no
caso dos turmarcas) para natildeo obstruir o tracircnsito e natildeo ser perturbado pelas tropas a passar387
Para aleacutem da escolha dos bandaacute mais experientes de forma a guardar os portotildees
dever-se-ia proceder ainda agrave escolha de soldados para executar patrulhas noturnas e para
servirem de vigias fora do periacutemetro Em relaccedilatildeo agraves fortificaccedilotildees do arraial eram constituiacutedas
por trincheiras que deviam ter cerca de 180 m de largura e entre 210 e 240 metros de altura
devendo ser precedidas por covas-de-lobo e por estrepes388 Por fim deveria existir ainda uma
paliccedilada ou fortificaccedilatildeo em torno do acampamento389
387 Taktikaacute XI91-95 388 Niceacuteforo Focas o Velho teraacute criado uma espeacutecie de estrepe que consistiria num geacutenero de tripeacute com trecircs
pedaccedilos de madeira os que serviam de base deviam ter 70 cm de comprimento e o superior devia possuir entre
117 a 140 metros Nesta estrutura colocar-se-ia depois uma lacircmina larga com 4680 cm de comprimento na
ldquoperna maiorrdquo o que tornava esta arma uma excelente invenccedilatildeo contra a cavalaria e extremamente faacutecil de
transportar de acordo com Leatildeo Taktikaacute XI128-142 O Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos refere um dispositivo
parecido Taktikaacute de Niceacuteforo Ouranos LXV (de aqui em diante seraacute referido como Ouranos) 389 Leatildeo refere uma stabarotildesai uma paliccedilada de estacas pontiagudas construiacuteda com madeira trabalhada ou a
partir de aacutervores cortadas no local Taktikaacute XI40-42
79
Capiacutetulo 6 ndash Taktikaacute a arte de bem comandar
laquoA Taacutetica eacute a ciecircncia do movimento na guerra Nesta existem dois
movimentos os feitos em terra e os praticados no mar
A Taacutecica eacute a periacutecia militar que diz respeito a formaccedilotildees de batalha
ao armamento e agrave movimentaccedilatildeo de tropasraquo
Leatildeo VI in Taktikaacute I linhas 3-6390
Fazendo jus ao nome do tratado a Taktikaacute eacute a disciplina mais abordada ao longo da
obra e recolhe em si um grande conjunto de assuntos que preocupam o basileuacutes a distribuiccedilatildeo
de armamento o treino de tropas a disposiccedilatildeo no campo de batalha e a forma como a guerra
deve ser encarada contra outros povos Tendo em conta estas caracteriacutesticas decidimos
dividir este capiacutetulo em trecircs subcapiacutetulos um primeiro onde abordamos o armamento e o
treino dos soldados bizantinos quer de cavalaria ou da infantaria um outro onde
examinamos a forma como Bizacircncio encarava o conflito com outras naccedilotildees de onde
salientaremos os Aacuterabes e ateacute certo ponto os Buacutelgaros e por fim um terceiro onde
referimos a forma como o exeacutercito romano devia agir no campo de batalha perante as mais
variadas desvantagens
61 ndash O armamento e o treino
laquoAgora noacutes ordenamos a Sua Excelecircncia que dirija a sua atenccedilatildeo para as armas que
deve empregar na guerra assim para o equipamento das forccedilas de infantaria e de
cavalariaraquo
Leatildeo VI in Taktikaacute V linhas 3-4391
Antes de nos lanccedilarmos no resumo e anaacutelise do que Leatildeo escreve sobre estas questotildees
conveacutem tecermos algumas consideraccedilotildees introdutoacuterias acerca destes assuntos Primeiramente
a forma como o equipamento era distribuiacutedo neste periacuteodo da histoacuteria de Bizacircncio Logo no
iniacutecio da Constitutio V o basileuacutes refere que parte do provimento do material que equipava o
exeacutercito dependia do general e dos turmarcas seus segundos-em-comando Isto parece-nos
um pouco contraproducente se tivermos em conta que o impeacuterio vivia uma fase em que os
uacutenicos soldados que eram equipados com apoios estatais eram os dos taacutegmata da capital Por
outro lado o basileuacutes mais tarde admite que eacute preferiacutevel serem os soldados ricos a participar
390 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 12-13 391 Idem Ibidem pp 74-75
80
nas campanhas392 Por estas razotildees pensamos que aquilo a que Leatildeo se refere natildeo seraacute o
equipamento alusivo aos stratioacutetai que dispunham de melhores meios econoacutemicos mas sim
os soldados que natildeo tivessem meio de se equipar sozinhos393
Por outro lado haacute a possibilidade de os apetrechos aqui mencionados serem algo de
diferente natildeo relacionado com o equipamento dos soldados em si como por exemplo tendas
municcedilotildees maacutequinas de cerco394 entre outros Estes agrave semelhanccedila dos mantimentos deviam
ser adquiridos com a ajuda dos artesatildeos do theacutema pelo que natildeo seraacute de estranhar que fossem
os principais responsaacuteveis pela manutenccedilatildeo do corpo armado (os primeiros homens do
comando e o protonotaacuterio) a tratar destes assuntos No entanto existe ainda a possibilidade de
o equipamento aqui referido tambeacutem incluir material suplente (aqui aludimos a armamento
ofensivo e defensivo) que por qualquer razatildeo tivesse de ser reposto durante a campanha395
Em relaccedilatildeo ao treino para Leatildeo este mostrava-se essencial natildeo soacute para melhorar as
aptidotildees dos seus soldados e os preparar para as vicissitudes do combate396 mas tambeacutem para
combater o teacutedio e evitar que eles afrouxassem e em virtude disso se tornassem cobardes em
batalha397 Podemos referir dois tipos de treino um individual que consistia na exercitaccedilatildeo
das capacidades militares de cada guerreiro e um treino geral que correspondia agrave praacutetica das
mais diversas taacuteticas e formaccedilotildees com o intuito de preparar o exeacutercito para as situaccedilotildees mais
diacutespares no campo de batalha Por outro lado a disciplina e a organizaccedilatildeo dos soldados
provinciais em batalha natildeo era a mais brilhante398 em especial da parte da infantaria399 pelo
que se devia dar grande enfoque a estes aspetos no decorrer dos periacuteodos de treino
Finalizada esta introduccedilatildeo passemos agrave anaacutelise do equipamento e do treino de cada
uma das laquoarmasraquo (cavalaria e infantaria) Uma vez que a cavalaria eacute o nuacutecleo central do
tratado parece-nos justo comeccedilar por esta categoria O soldado montado dos themaacuteta natildeo eacute o
catafractaacuterio completamente equipado a que estamos habituados quando pensamos em
Bizacircncio mas sim um guerreiro a cavalo mais leve e capaz de percorrer grandes distacircncias
De acordo com Leatildeo eacute possiacutevel pressupor dois tipos de equipamento ofensivo para
392 Vide Anexos VIII c) 393 Existindo ainda a possibilidade de estes serem equipados e montados com o patrociacutenio de stratioacutetai mais
ricos caso fosse necessaacuterio (cf supra 13) 394 No caso dos exeacutercitos ldquotemaacuteticosrdquo natildeo se aplicava a questatildeo das maacutequinas de cerco estas a estarem
presentes em campanha seria no contexto de uma expediccedilatildeo dos corpos palatinos da capital sob o comando do
domestikoacutes 395 HALDON J (2014) ndash Op cit p169 396 laquoHomens destreinados mostram-se totalmente ignorantes e cegos quando enfrentam accedilatildeo suacutebitas e
inesperadasraquo Taktikaacute VII6-7 397 Taktikaacute VII8-20 398 Algo que o proacuteprio imperador admite Taktikaacute XVIII832-843 399 Cf HALDON J (2001) ndash Op cit p69
81
cavaleiros que se encontravam dependentes de um fator a aptidatildeo no uso do arco400 Caso o
cavaleiro soubesse usaacute-lo devia estar equipado com arco aleacutem das ferramentas necessaacuterias
para o manter da aljava para guardar as flechas e de uma lanccedila ldquopequenardquo401 uma espada e
uma adaga ou faca para defesa pessoal402 Por outro lado um cavaleiro que natildeo soubesse usar
o arco devia estar equipado com duas lanccedilas (ou dardos) e um escudo403 Quanto ao
equipamento defensivo Leatildeo refere que deviam estar vestidos com o klibaacutenion404 com grevas
chamadas de podoacutepsella e com elmos munidos de uma pequena pluma no topo405 O cavalo
tambeacutem deveria estar protegido desta feita com uma defesa de ferro ou de couro colocada
sobre a cabeccedila e o peito que era conjugada com uma neurikaacute406 que deveria cobrir o peito a
cabeccedila e se possiacutevel o abdoacutemen da montada407
Em relaccedilatildeo ao treino da cavalaria Leatildeo salienta a relevacircncia do treino com o arco
com o recruta a ter de saber disparar rapidamente e em todas as direccedilotildees e ateacute a dominar o
laquotiro partoraquo (para traacutes) A versatilidade tambeacutem era incentivada com o basileuacutes (agrave
semelhanccedila de Mauriacutecio) a incitar o comandante a treinar sucessivamente o soldado com o
arco e com a lanccedila na mesma montada408 Os cavaleiros tambeacutem deviam praticar cargas
simuladas a pares algo que podia ser realizado durante uma marcha409 Quanto ao cavalo
devia ser preparado para cavalgar em terrenos difiacuteceis e para suportar a ausecircncia de aacutegua por
algum tempo bem como a habituar-se aos sons da batalha e agrave presenccedila de camelos410
400 Este fator eacute uma das grandes preocupaccedilotildees de Leatildeo ao longo do tratado que refere que a negligecircncia no uso
do arco provocou grandes complicaccedilotildees aos Bizantinos Talvez a maior prova deste facto tenha sido a derrota do
basileuacutes Teodoacutesio na batalha de Anzen em 838 quando o impeacuterio se viu derrotado frente aos experientes
arqueiros montados turcos Este foi o primeiro confronto onde os Turcos teratildeo combatido os Romanos (ainda
que ao lado dos Aacuterabes) uma tendecircncia que se iraacute repercutir nos seacuteculos vindouros (em especial a partir do
seacuteculo XI) Taktikaacute VI30-34 HALDON J (2001) ndash Op cit pp78-83 KAEGI Walter (1964) The
Contribution of Archery to the Turkish Conquest of Anatolia Speculum 39(1) 99-101 O facto de Siriano jaacute dar
grande importacircncia aos arqueiros no Perigrave Strategiacuteas pode revelar que esta preocupaccedilatildeo jaacute teria algum tempo a
confirmar-se que o tratado eacute do seacuteculo IX Cf Siriano magister in Perigrave Strategiacuteas XLIV ndash XLVII (de aqui em
adiante passaremos a fazer a referecircncia a este tratado da seguinte forma Sir Strat) 401 Em jeito algo jocoso Haldon refere que esta lanccedila teria trecircs metros de comprimento pelo que natildeo vecirc onde eacute
que ela poderia ser pequena 402 Taktikaacute VI9-20 Por outro lado Leatildeo realccedila a existecircncia de um machado de dupla-lacircmina uma com a forma
de uma espada e outra em formato de ponta-de-lanccedila Taktikaacute VI53-55 403 Taktikaacute VI21-22 404 Termo de origem persa que refere uma armadura lamelar que cobria o corpo de um guerreiro ateacute pouco
abaixo da cintura Vide NISA J (2016) ndash Op cit p41 405 Apresentando assim o mesmo tipo de armamento defendido por Mauriacutecio muitiacutessimo influenciado pelos
Aacutevaros Stratēgikoacuten I 406 Uma proteccedilatildeo para equiacutedeos que era o resultado da conjugaccedilatildeo de pedaccedilos de couro acolchoados PrM III 407 Taktikaacute VI40-47 408 laquo(hellip) deve libertar uma ou duas flechas rapidamente e arrumar o arco montado com a corda no seu estojo (hellip)
Depois [deve] agarrar a lanccedila que carrega ao ombro Enquanto o arco estaacute no estojo ele deve agarrar a lanccedila e
reposicionaacute-la rapidamente no ombro e agarrar o arcoraquo Taktikaacute VII35-40 cf Stratēgikoacuten I 409 Taktikaacute VII41-45 410 Taktikaacute XVIII675-685 Os camelos eram reconhecidos como uma causa de medo para os cavalos desde a
derrota do rei Creso da Liacutedia frente a Ciro da Peacutersia em 536 aC A causa deste resultado foi a criaccedilatildeo in
82
Relativamente ao treino em conjunto de um exeacutercito de cavalaria Leatildeo VI afirma que
eacute absolutamente necessaacuterio o general aprender a treinar os seus soldados tendo em
consideraccedilatildeo os preceitos taacuteticos dos antigos com o intuito de os ensinar a alterar as
formaccedilotildees do seu baacutendon por meio de comandos verbais ou de sinais com bandeiras411 Por
outro lado tambeacutem se deveriam praticar batalhas simuladas com recurso a armas de treino412
para testar os soldados num grande conjunto de dispositivos e movimentaccedilotildees tais como
manobras de envolvimento cargas flanqueamentos e emboscadas Este adestramento eacute
bastante complexo e articulado porque envolve o treino das vaacuterias categorias do exeacutercito em
separado numa batalha simulada os soldados vatildeo alternando as suas funccedilotildees como kouacutersores
ou ekdiacutekous ora carregando ora apoiando os kouacutersores413 enquanto isso os flanqueadores
treinam manobras de envolvimento em bandaacute destacados para essa funccedilatildeo414 Para aleacutem
destas questotildees o autor realccedila que estas manobras devem ser praticadas em todo o geacutenero de
terrenos e temperaturas para adaptar a hoste a todo o tipo de circunstacircncias e vicissitudes415
A infantaria no Taktikaacute estaacute dividida da mesma forma que eacute explicitada no
Stratēgikoacuten de Mauriacutecio416 em skoutatoacutes ou skoutatoacutei (infantaria pesada) tropas ligeiras e
peltai mas o autor refere que este termo jaacute natildeo eacute utilizado por esta altura porque jaacute natildeo eacute
reconhecido pelos contemporacircneos do autor Em relaccedilatildeo ao armamento o skoutatoacutes devia
estar armado com um escudo largo e em forma oblonga com uma espada e com uma lanccedila
obrigatoriamente A estas armas podiam-se juntar machados de lacircmina-dupla417 e fundas
Quanto ao armamento defensivo devia ser necessariamente composto de um elmo com
plumas Em especiacutefico Leatildeo informa-nos que os dois homens de uma coluna destinados agraves
linhas da frente deveriam envergar uma zaacuteba418 ou uma loriacutekia (cota-de-malha) luvas de ferro
ou madeira (denominadas cheiroacutepsella) e grevas dos mesmos materiais419 Os skoutatoacutei eram
treinados individualmente por meio de combates pessoais420
promptu de um contingente de cameleiros (que anteriormente tinham estado adscritos ao trem-de-apoio persa)
que incutiu o medo na cavalaria liacutedia SEKUNDA Nick The Persians in HACKET Sir John (ed) (1989)
Warfare in the Ancient World Alemanha Ocidental Facts on File p 85 411 Por exemplo cerrar ou alargar fileiras mudanccedilas de frente 412 Como flechas sem pontas e cajados para substituir as lanccedilas 413 Taktikaacute VII206-219 e 220-223 Stratēgikoacuten III 414 Taktikaacute VII235-240 Stratēgikoacuten III 415 Taktikaacute VII241-248 Stratēgikoacuten III 416 Cf Stratēgikoacuten XII(B) 417 Estes natildeo estatildeo presentes no texto de Mauriacutecio 418 Palavra de origem turca que agrave altura da escrita do tratado remete para pedaccedilos de malha fixados a outras
partes da vestimenta de um soldado HALDON J (2014) ndash Op cit p186 419 Taktikaacute VI114-126 Influecircncias de Mauriacutecio (Stratēgikoacuten XII(B)) 420 Taktikaacute VII21-28 Cf Stratēgikoacuten XII(B) e Onas X
83
No que respeita agrave infantaria ligeira esta deveria estar armada com arco flechas
dardos421 e fundas como armas principais enquanto utilizaria escudos e machados para defesa
pessoal Quanto a equipamento defensivo deviam vestir tuacutenicas e a epiloriacuteka enquanto
calccedilavam sapatos recomendados para a marcha providos de tachas e com biqueira quadrada
A infantaria ligeira era treinada para disparar rapidamente com o arco e para conseguir atirar
os dardos a uma distacircncia longa devendo ainda melhorar as suas capacidades atleacuteticas com
recurso a corridas e a saltos em todo o tipo de terrenos422 Em relaccedilatildeo ao treino conjunto da
infantaria aplicam-se os mesmos preceitos acima enunciados para a cavalaria tendo o
strategoacutes de ensinar a infantaria a executar um grande conjunto de manobras e de formaccedilotildees
como o fulcum O adestramento das forccedilas de infantaria era fundamental para situaccedilotildees de
marcha uma vez que era pouco provaacutevel que dentro do exeacutercito provincial chegassem a
combater devido ao seu fraco equipamento e ao baixo moral que as caraterizava
62 ndash O Impeacuterio Bizantino e os seus vizinhos visatildeo e guerra
laquoDe seguida vou ensinaacute-lo acerca de vaacuterias formaccedilotildees de batalha empregues por outras
naccedilotildees bem como acerca daquelas que os comandantes dos exeacutercitos romanos desde eacutepocas
remotas usaram contra outros povos Depois de conhececirc-las natildeo soacute vai puder usar esses
estratagemas na altura proacutepria como vai tambeacutem poder acrescentar-lhes muitos mais Porque
um comandante astuto quando agarra uma oportunidade para pocircr em praacuteticas as estrateacutegias
militares natildeo se limita agravequelas [jaacute conhecidas] e eacute capaz de inventar muitas outrasraquo
Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 3-9423
A Constitutio XVIII do Taktikaacute surge na nossa opiniatildeo como uma das mais
interessantes do tratado pois aborda a forma como o Saacutebio via as maacutequinas militares do seu
adversaacuterio Natildeo obstante acusar uma forte influecircncia do Livro XI do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio
Leatildeo VI atualiza alguma da informaccedilatildeo presente na obra do seu antecessor de maneira a
corresponder melhor agrave realidade do seu tempo em especial no que toca aos Aacuterabes que
reconhece como sendo o maior perigo para o Impeacuterio O interesse etnograacutefico-militar natildeo se
converte na uacutenica valecircncia desta Constitutio pois na nossa interpretaccedilatildeo o primeiro paraacutegrafo
pode revelar-se como uma indicaccedilatildeo da disponibilidade do Impeacuterio Bizantino para adaptar o
seu estilo militar consoante as taacuteticas e o armamento de outros povos424 Por outro lado esta
421 Para aqueles que natildeo soubessem usar o arco 422 Taktikaacute VII21-28 Para o treino de arqueiros cf Sir Strat XLV - XLVII 423 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 436-437 424 Fenoacutemeno esse visualizado tambeacutem a niacutevel linguiacutestico vide NISA J (2014) ndash Op cit pp 9-10 Por outro
lado Mauriacutecio parece admitir que o equipamento militar romano durante o seu principado encontrava muitas
influecircncias no Aacutevaro Stratēgikoacuten I
84
secccedilatildeo mostra-se fundamental para consolidar a contemporaneidade do manual de Leatildeo e
claro o interesse dele pelos problemas militares e estrangeiros que afligiram o Impeacuterio
durante o seu reinado Neste aspeto mostram-se cruciais na nossa abordagem trecircs povos os
Buacutelgaros os Lombardos e como natildeo podia deixar de ser os Aacuterabes
A questatildeo buacutelgara torna-se curiosa no sentido em que Leatildeo parece subestimar este
povo no Taktikaacute425 ao aparentar desinteresse numa guerra contra ele e nas suas taacuteticas e
armamento usando como argumento a recente conversatildeo dos Buacutelgaros ao Cristianismo426
Este fundamento parece estar tambeacutem na base das alegaccedilotildees de Karlin-Hayter427 e Runciman
chegando o uacuteltimo a alegar que laquoa sua (de Leatildeo) terna consciecircncia cristatilde fazia-o desgostar de
combater os seus companheiros crentesraquo428 Shaun Tougher no entanto refuta estas alegaccedilotildees
e contra-argumenta referindo que na realidade a secccedilatildeo direcionada aos Magiares (referidos
como Turcos no Taktikaacute) estaacute na realidade orientada para os suacutebditos de Simeatildeo429 Apoiamos
esta interpretaccedilatildeo pois Leatildeo natildeo se cansa de salientar que em termos militares os Magiares e
os Buacutelgaros satildeo muitiacutessimo parecidos430 demonstrando que natildeo confiava tanto nos seus
vizinhos balcacircnicos como aparentava e que queria os seus strateacutegoi preparados para uma
possiacutevel revanche com Simeatildeo e os seus na eventual possibilidade de esta acontecer431
Relativamente aos Lombardos as palavras de Leatildeo VI afiguram-se como um relato da
relaccedilatildeo entre os Bizantinos e os Lombardos laquoaliados correligionaacuterios e suacutebditos432raquo Esta
afirmaccedilatildeo a nosso ver revela o estado da situaccedilatildeo no Sul de Itaacutelia onde estavam os uacuteltimos
redutos da independecircncia lombarda durante o reinado do Saacutebio Como jaacute acima foi
salientado433 os ducados de Benevento e de Salerno tinham outras preocupaccedilotildees por esta
altura nomeadamente o reino de Itaacutelia sob os duques de Espoleto os Aglaacutebidas da Siciacutelia e a
principal ameaccedila muccedilulmana sedeada na foz do rio Garigliano Naquele momento portanto
425 Vide DAGRON Gilbert e MIHAESCU Halambie (1986) Le traiteacute sur la gueacuterilla de lrsquoempereur Niceacutephore
Phocas (963-969) Paris pp 152 Apud TOUGHER S ndash Op cit p 206 426 Vide Anexo VIII b) 427 laquoA Guerra Buacutelgara no entanto natildeo apelava ideologicamente Os Buacutelgaros seriam supostamente os filhos
espirituais de Bizacircncio e de mostrar comportamento como se filhos desta fossem e ele (Leatildeo VI) sentiu que
guerra contra este povo ia contra a ordem proacutepria das coisas ao mesmo tempo que interrompia as guerras que ele
queria executarraquo Vide KARLIN-HAYTER P ndash Op cit p 40 428 TOUGHER S ndash Op cit p 181 429 Idem Ibidem p 182 A mesma opiniatildeo eacute expressa por Haldon vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 339 430 P ex Taktikaacute XVIII233-236 350-352 refere ainda que laquoestas caracteriacutesticas dos Turcos satildeo diferentes das
dos Buacutelgaros na medida em que estes abraccedilaram a feacute dos Cristatildeos e - gradualmente - adotaram as caracteriacutesticas
dos Romanos Quando o fizeram despojaram-se do seu modo de vida selvagem e noacutemada bem como da sua
falta de feacuteraquo vide Taktikaacute XVIII295-298 431 Este reencontro beacutelico acabaria por acontecer em 913 apoacutes a morte de Leatildeo quando as reacutedeas do Impeacuterio
passaram para as matildeos de Alexandre seu irmatildeo que natildeo cumpriu os acordos com Simeatildeo da Bulgaacuteria A guerra
soacute terminaria com a morte de Simeatildeo em 927 apoacutes vaacuterios cercos a Constantinopla 432 Taktikaacute XVIII365 433 Cf supra 22
85
natildeo estavam interessados em encetar um conflito com Constantinopla antes pelo contraacuterio
pois o principado de Benevento-Caacutepua enviou uma embaixada a Leatildeo para oferecer a sua
lealdade a Bizacircncio em troca de uma alianccedila contra os Sarracenos na Campacircnia
independentemente do lsquomau sanguersquo que poderia ter jorrado da laquoquestatildeo beneventinaraquo434 O
autokraacutetor aproveita ainda para referir que Bizacircncio natildeo se sentia atraiacuteda pela ideia de
guerrear com eles alegando que uma das razotildees para isto era a partilha da mesma feacute com os
Romanos
Algo que nos suscitou a atenccedilatildeo foi um comentaacuterio de Leatildeo VI a Mauriacutecio nesta
secccedilatildeo Apesar de parafrasear o uacuteltimo imperador da dinastia justiniana no iniacutecio do paraacutegrafo
76435 o basileuacutes retorque logo de seguida que perderam muito dessa virtude436 Isto seraacute
possivelmente uma forma de o autor se referir ao estatuto de muitas cidades lombardas que
estariam sob a soberania bizantina apoacutes a sua laquolibertaccedilatildeoraquo de matildeos muccedilulmanas na segunda
metade do seacuteculo IX (ex Bari e Tarento) Por outro lado o basileuacutes reitera a necessidade de
se aprenderem as taacuteticas e o armamento dos Lombardos e dos Francos de forma ao strategoacutes
pode usar aquilo que achasse pertinente no campo de batalha constituindo um outro exemplo
da disponibilidade de Bizacircncio para adaptar haacutebitos beacutelicos de outros povos desde que os
achasse uacuteteis ou necessaacuterios437
Apesar de tudo isto a principal inovaccedilatildeo de Leatildeo VI para a tratadiacutestica bizantina foi o
trecho que respeita os Aacuterabes Esta secccedilatildeo da Constitutio XVIII que vai da linha 495 ateacute agrave
696 aborda um grande conjunto de temaacuteticas referentes agrave arte da guerra bizantina contra os
Aacuterabes pensamento estrateacutegico retoacuterica religiosa e claro organizaccedilatildeo taacutetica A primeira
coisa de que nos apercebemos eacute que Leatildeo identifica a cidade de Tarso (na Ciliacutecia) como a
principal fonte da ameaccedila aacuterabe Natildeo eacute por acaso que tal eacute indicado pois Tarso era o maior
dos al-thugucircr e foi o ponto de partida das maiores expediccedilotildees de saque muccedilulmanas desde a
segunda metade do seacuteculo IX ateacute agrave reconquista da cidade por forccedilas bizantinas sob o comando
de Niceacuteforo II Focas em 965438 De facto era na Ciliacutecia que tambeacutem se realizava a maior
434 Chamamos laquoquestatildeo beneventinaraquo ao periacuteodo entre 891 e 895 desde a conquista de Benevento pelos
Bizantinos ateacute aacute sua reconquista pelos Lombardos (apoiados pelo priacutencipe de Salerno) alegadamente causada
pela opressatildeo romana 435 laquoOs Francos e os Lombardos datildeo muito valor agrave liberdaderaquo Taktikaacute XVIII377 Strategikoacuten XI3 436 Taktikaacute XVIII378 437 Taktikaacute XVIII360-369 Este comentaacuterio natildeo parece ter paralelo no Stratēgikoacuten ao contraacuterio do resto desta
secccedilatildeo (linhas 377-440) que vai buscar muita influecircncia agrave obra de Mauriacutecio demonstrando que Leatildeo natildeo estava
muito atualizado em relaccedilatildeo agraves praacuteticas militares dos Francos por exemplo Cf Stratēgikoacuten XI3 438 Vide PP VII
86
parte das expediccedilotildees de saque bizantinas com o objetivo de desgastar a capacidade guerreira
muccedilulmana a qual embora mais ativa no veratildeo continuava a fazer ofensivas no inverno439
Mas Tarso natildeo era apenas uma boa base para campanhas terrestres era tambeacutem o
porto de partida da grande parte das expediccedilotildees navais sarracenas no Mediterracircneo oriental
Natildeo obstante no Taktikaacute440 a Ciliacutecia natildeo parece ainda possuir o poder que vai ter quase meio
seacuteculo mais tarde sob Sayf ad-Daulah O autokraacutetor refere que apesar de os homens de
Tarso estarem aptos a lutar tatildeo bem em terra como no mar natildeo eram capazes de conseguir
realizar uma campanha nas duas frentes podendo os Bizantinos aproveitar-se disso para
lanccedilar um contra-ataque quase sem contestaccedilatildeo por qualquer um dos outros meios441
Na escrita desta secccedilatildeo Leatildeo tambeacutem fala de certas fraquezas que atribui aos
Sarracenos442 como a sua vulnerabilidade face agraves condiccedilotildees meteoroloacutegicas da Aacutesia
Menor443 Embora esta visatildeo seja algo estereotipada444 existem casos em que forccedilas
muccedilulmanas foram derrotadas ou se viram estorvadas por fenoacutemenos climateacutericos445 Por
outro lado o basileuacutes informa-nos que o arco era a principal arma contra eles devendo ser
usado contra os cavalos e contra as tropas menos bem protegidas destes como os Etiacuteopes ou
os restantes arqueiros446
Por fim o autor enceta uma discussatildeo das caracteriacutesticas religiosas da guerra travada
pelos Muccedilulmanos Aqui parece-nos que ele considera os seguidores dos Islatildeo como o
principal antagonista agrave sobrevivecircncia do Impeacuterio natildeo soacute pelo poder militar mas tambeacutem pelo
seu fervor religioso um facto enunciado pela comparaccedilatildeo que tece com os Persas Esta
Constitutio apresenta-se como a primeira obra bizantina a falar de trecircs caracteriacutesticas da
guerra realizada pelos muccedilulmanos nesta altura447 Baseando-se nos trecircs pilares da guerra
439 Taktikaacute XVIII579-583 440 Taktikaacute XVIII667-668 laquoPois o exeacutercito dos baacuterbaros cilicianos natildeo eacute muito numeroso uma vez que os
mesmos homens natildeo podiam realizar campanha tanto em terra como no marraquo Isto poderaacute levar a supor que
apesar de ser o principal foco de atividade beacutelica muccedilulmana a concentraccedilatildeo de esforccedilos nesta regiatildeo natildeo seria
tatildeo grande como se supocircs Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 489 441 Por exemplo se os Cilicianos optassem por um raide terrestre os Bizantinos deviam responder com um
ataque naval com a frota do theacutema do Kibirrhaiotai Se o ataque fosse por mar os Bizantinos podiam invadir a
Ciliacutecia por terra Taktikaacute XVIII662-668 Leatildeo chega ainda a propor que agrave semelhanccedila do que o pai fizera em
877 se realizasse um ataque combinado do exeacutercito e da frota contra Tarso Taktikaacute XVIII669-674 442 Como John Haldon salienta sem ser quando menciona os ldquoEtiacuteopesrdquo Leatildeo refere-se aos Sarracenos como um
todo natildeo referindo a diversidade de povos que participavam nas campanhas de saque muccedilulmanas como os
Dailamitas os Turcos ou os Curdos entre outros 443 Taktikaacute XVIII573-578 444 HALDON J (2014) ndash Opcit p 362 445 Durante a batalha de Anzen em 838 a chuva teraacute molhado e afetado os arcos turcos Por outro lado no
inverno de 666 para 667 uma forccedila bizantina teraacute reconquistado Amorion aos Aacuterabes num ataque de surpresa
Vide PETERSEN L I ndash Op cit p 453 446 Taktikaacute XVIII635-646 447 Cf supra 41
87
(jihad ghazis e waqf) o autor conclui que os Aacuterabes satildeo um povo guerreiro que natildeo
contando com a sua admiraacutevel vontade de combater pelo seu Deus soacute parece lutar para
conseguir despojos448 Ora esta ganacircncia parece dar soacute mais razatildeo aos Romanos para
combaterem os Sarracenos uma vez que torna justa a sua guerra defensiva449 No conflito
contra os Aacuterabes era crucial um movimento geral da populaccedilatildeo para apoiar o exeacutercito naquilo
que fosse necessaacuterio tornando-se um fator essencial para o Impeacuterio obter a vitoacuteria450
63 ndash A batalha travada pelos themaacuteta
laquoComo jaacute frequentemente dissemos eacute muito perigoso para qualquer um arriscar
uma batalha campal mesmo quando nos parece frequentemente claro que [as nossas
forccedilas] ultrapassam muito as do inimigo Os desiacutegnios da fortuna satildeo incertosraquo
Leatildeo VI in Taktikaacute XVIII linhas 589-591451
A batalha natildeo era o principal foco da estrateacutegia defensiva bizantina como jaacute foi
referido e caso se travasse natildeo deveriam ser os themaacuteta a encetaacute-la sozinhos estando essa
missatildeo nas matildeos do domestikoacutes e dos corpos profissionais da capital Ainda assim haveria
sempre a possibilidade de um strategoacutes provincial ter de a travar pelo que Leatildeo dedica vaacuterias
Constitutiones452 do seu tratado agrave preparaccedilatildeo de um evento deste geacutenero e ao comando de
soldados nestas situaccedilotildees No entanto a maior parte destas parecem encontrar mais influecircncia
do que o normal no Stratēgikoacuten de Mauriacutecio com exceccedilatildeo do uacuteltimo trecho da XVIII (linhas
696-855) que parece ter tido origem na pena de Leatildeo bem como na experiecircncia dos seus
generais453 Assim esta secccedilatildeo parece ser aquela que descreve melhor a disposiccedilatildeo taacutetica da
448 Taktikaacute XVIII647-653 449 Trata-se de uma visatildeo algo depreciativa e redutora por parte do basileuacutes pois a noccedilatildeo de guerrear apenas para
obter botim mostra-se desconforme ao cariz religioso da guerra muccedilulmana No Islatildeo pelejar por mero ganho
pessoal ou por prestiacutegio era o equivalente a procurar a condenaccedilatildeo eterna HALDON J (2014) ndash Op cit p 374 450 Taktikaacute XVIII607-611 Haldon refere no entanto que os grandes problemas que provocaram as derrotas que
o impeacuterio tinha sofrido entre seacuteculo VII e o X foram a fraca lideranccedila e a pobre disciplina das tropas Vide
HALDON J (2014) ndash Op cit p 373 Vaacuterias hostes romanas conseguiram agrave base de boa lideranccedila infligir
pesadas derrotas aos seus adversaacuterios como no caso de Heraacuteclio irmatildeo de Tibeacuterio II que ainda no seacuteculo VII
conduziu expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo ou de Leatildeo III que fez abortar o uacuteltimo cerco a
Constantinopla pelos Omiacuteadas e esmagou a uacuteltima grande ofensiva omiacuteada juntamente com o filho o futuro
Constantino V na batalha de Akroinos Para Heraacuteclio vide HALDON J (2001) ndash Op cit p68 Para Leatildeo III
vide HALDON J (2016) ndash Op cit pp 53-54 451 DENNIS George T (2014) ndash Op cit pp 482-483 452 Satildeo as Constitutiones XII XIII XIV e XVIII 453 HALDON J (2014) ndash Op cit p384
88
eacutepoca de Leatildeo pelo que nos vamos basear nesta ao inveacutes da Constitutio XII454 que aborda as
mesmas temaacuteticas mas vai recuperar muita informaccedilatildeo ao Stratēgikoacuten455
Antes de a batalha comeccedilar havia certos procedimentos que deveriam ser seguidos A
feacute divina mostrava-se novamente necessaacuteria tendo os estandartes de ser abenccediloados por
sacerdotes enquanto as puniccedilotildees de alguns castigos deviam ser adiadas ateacute depois da batalha
ou afastar-se-iam os infratores das restantes tropas As horas de refeiccedilotildees e a alimentaccedilatildeo dos
soldados deviam ser bem planeadas para que os militares natildeo se encontrassem em jejum
quando o combate comeccedilasse456 tendo de se proceder da mesma maneira no que dizia
respeito agraves bebidas das montadas457
Chegado o momento da batalha o basileuacutes utiliza como exemplo um exeacutercito de 4000
homens458 para explicitar a forma como este devia ser disposto para a batalha Em primeiro
lugar o strategoacutes deveria mobilizar 1500 homens para a linha da frente a proacutemachos
divididos em trecircs divisotildees estando cada divisatildeo composta por cinquenta decarquias com dez
homens cada organizadas como mencionaacutemos anteriormente459 e comandadas por um
turmarca Depois disto dever-se-ia formar uma linha de apoio composta por quatro divisotildees
separadas por um laquotiro de flecharaquo de distacircncia cada uma com 250 homens perfazendo 1000
soldados no total Cada um dos espaccedilos nesta formaccedilatildeo deveria estar ocupado por cavaleiros
para dar a impressatildeo de a segunda linha ser muito extensa estando destacados 100 guerreiros
para cada uma das interrupccedilotildees Por fim em formaccedilatildeo regular obrigatoacuteria encontramos as
fileiras da retaguarda divididas em duas alas esquerda e direita com 250 homens cada (o que
resulta em 500 soldados no total)
Os restantes efetivos aproximadamente 700 deviam ocupar outras posiccedilotildees no campo
de batalha Dois bandaacute de 200 homens cada responsaacuteveis por fazer emboscadas deviam ser
estacionados a alguma distacircncia das linhas para emboscar o inimigo a partir de lugares que
permitissem aos Bizantinos esconder-se Na linha de frente deveriam existir dois batalhotildees
avanccedilados de cada uma das alas que funcionariam como flanqueadores (se estivessem no
454 Natildeo vamos poreacutem abster-nos de referir esta Constitutio bem como a influecircncia da obra de Mauriacutecio nela 455 Seraacute uma paraacutefrase quase integral dos livros II III e VII de Mauriacutecio Cf HALDON J (2014) ndash Op cit p
259 456 Taktikaacute XIII43-46 457 Taktikaacute XIII54-57 458 O nuacutemero meacutedio de homens que Leatildeo aconselha para um exeacutercito de um theacutema pelo que nos poderaacute levar a
supor (ateacute pela exatidatildeo dos nuacutemeros) que este era realmente o principal modelo taacutetico usado pelas forccedilas
ldquotemaacuteticasrdquo caso combatessem sozinhas Taktikaacute XVIII841-843 Cf Taktikaacute XII127-212 e Stratēgikoacuten II2-5 459 Cf supra 51
89
lado direito) ou guarda-flancos (se estivessem no esquerdo) cada um tendo 100 soldados460
Os uacuteltimos 100 cavaleiros estariam sob o comando pessoal do strategoacutes ou do oficial maacuteximo
naquela batalha Este grupo deveria servir com reserva pronta a auxiliar qualquer uma das
divisotildees caso fosse necessaacuterio estando para isso localizado na divisatildeo central da linha da
frente ou noutra localizaccedilatildeo que permitisse ao general aferir o estado da batalha e de cada um
dos setores do dispositivo taacutetico461
Como eacute que este dispositivo funcionava em batalha A forma parece basear-se num
jogo de ldquobate-e-fogerdquo A proacutemachos era divida em dois tipos de soldados os kouacutersores e os
ekdiacutekoi numa proporccedilatildeo de um para dois Enquanto os kouacutersores atacavam o inimigo os
defensores estavam encarregados de os apoiar caso estes precisassem de retirar bem como de
evitar possiacuteveis envolvimentos Caso a primeira linha tivesse de recuar os homens nos
intervalos da segunda linha recuavam para a retaguarda para permitir a passagem dos
cavaleiros em debandada e possibilitar-lhes que se reorganizassem em seguranccedila antes de
voltarem agrave refrega enquanto evitavam que possiacuteveis desertores abandonassem o campo de
batalha Estes homens mantinham-se depois na retaguarda ateacute ser necessaacuterio suportar a
segunda linha Enquanto isso os flanqueadores e os guarda-flancos deviam manter a pressatildeo
sobre o exeacutercito adversaacuterio bem como os grupos de emboscada
Relativamente a combates com forccedilas numericamente superiores o basileuacutes aconselha
o strategoacutes a convocar alguns dos seus colegas para que com o triplo dos homens pudessem
fazer frente agravequela ameaccedila462 Leatildeo natildeo menciona quem seria o comandante deste conjunto de
themaacuteta mas era provaacutevel que fosse o comandante local por conhecer melhor o terreno ou
entatildeo o strategoacutes mais experiente mas isto satildeo meras suposiccedilotildees da nossa parte463 Por outro
lado se a hoste adversaacuteria fosse mais pequena o basileuacutes aconselhava a que se praticasse uma
manobra de envolvimento que poderia ou natildeo envolver as trecircs linhas464
460 Mais tarde Leatildeo refere que estes homens deviam atuar em conjunto com os 4000 homens que jaacute mencionara
fazendo supor que estes natildeo estariam presentes entre o conjunto da forccedila recrutada Isto natildeo faz sentido porque
sem estes homens a conta natildeo chegaraacute aos quatro mil homens Taktikaacute XVIII765-769 461 A existecircncia de um corpo de reserva mostrou-se essencial para a vitoacuteria bizantina em certas batalhas No
uacuteltimo grande confronto entre Russos e Bizantinos agraves portas de Dorostolon em 971 a vitoacuteria bizantina esteve
presa por um fio ateacute Joatildeo II Zimisces (969-976) o co-imperador de entatildeo carregar sobre o centro da linha russo
com os seus catafractaacuterios e quebrar as formaccedilotildees noacuterdicas A carga do basileuacutes juntamente com as condiccedilotildees
atmosfeacutericas que se fizeram sentir entatildeo permitiu agraves linhas romanas empurrar o centro adversaacuterio enquanto a
cavalaria pesada sob Bardas Sclero no flanco direito esmagava os Russos com uma manobra de envolvimento
Vide Leatildeo o Diaacutecono A Histoacuteria VIII e HALDON J (2001) ndash Op cit p 104 462 Taktikaacute XVIII808-819 463 Exemplos de encontros onde mais do que uma forccedila de um themaacuteta se reuniram para confrontar o inimigo
podem ser as batalhas de Lalacatildeo e Bathys Ryax apesar de a uacuteltima se tratar mais de um ardil bizantino que
provocou uma debandada no seio das forccedilas paulicianas a que se seguiu o massacre na perseguiccedilatildeo 464 Taktikaacute XVIII819-829
90
A principal vantagem desta formaccedilatildeo era a de permitir manter a pressatildeo ou uma defesa
soacutelida frente a exeacutercitos das mais variadas dimensotildees pois havia sempre tropas frescas
prontas para auxiliar as restantes caso estas necessitassem de retirar Para aleacutem disso nas
palavras de Leatildeo e de Mauriacutecio organizar um exeacutercito numa soacute linha gerava muitos
problemas a niacutevel de comando465 Por outro lado este modelo organizativo permitia que
fossem realizadas muitas mais movimentaccedilotildees taacuteticas do que aquelas que seria possiacutevel
concretizar se o exeacutercito formasse em apenas uma linha enquanto a extensatildeo de tal fila
provocaria problemas na coesatildeo das fileiras em caso de o combate se dar em terreno difiacutecil466
Outras desvantagens parecem ser o facto de uma grande linha permitir a fuga de certos
homens sem que o comando se aperceba enquanto por outro lado eventuais perseguiccedilotildees a
inimigos em fuga acabariam em desastre caso os soldados bizantinos fossem emboscados
sem apoio de qualquer outra forccedila de apoio467
465 Stratēgikoacuten II1 466Taktikaacute XII31-46 467 Taktikaacute XII51-65
91
Capiacutetulo 7 ndash Outras Disciplinas
Apesar de Leatildeo dedicar vaacuterios capiacutetulos agraves questotildees relacionadas com a batalha
campal eacute importante voltar salientar que esta natildeo era uma praacutetica muito apreciada pelos
Bizantinos porque poderia acarretar graves consequecircncias e muitas baixas Para Leatildeo VI o
preferiacutevel era combater por meio de assaltos a fortificaccedilotildees ou por estratagemas por outro
lado e como jaacute salientaacutemos o mar era um meio crucial para combater os muccedilulmanos O
nosso proacuteximo capiacutetulo abordaraacute estas questotildees que entendemos serem mais pertinentes para
a questatildeo da guerra travada pelos thematikoiacute do que propriamente as batalhas campais
71 ndash Poliorketikaacute ndash A arte de tomar e defender uma cidade
laquoA guerra de cerco exige um general que seja corajoso e perspicaz que tenha
conhecimento militar senso comum e que consiga preparar maacutequinas de guerra Ele
deve zelar pela seguranccedila ao acampar em redor de uma cidade ou de uma fortaleza ou
fortificaccedilatildeo e deve dedicar muita atenccedilatildeo a essa seguranccedilaraquo
Leatildeo VI in Taktikaacute XV linhas 9-12468
A poliorceacutetica (isto eacute a disciplina militar que se ocupa do cerco de cidades) eacute da
maacutexima importacircncia para Bizacircncio e representava uma das teacutecnicas beacutelicas mais empregues
por este impeacuterio Eacute inconcebiacutevel imaginar este Estado sem o domiacutenio desta vertente da arte de
guerra tendo em conta os muacuteltiplos inimigos que enfrentou nas mais variadas frentes o que
lhe fez tirar partido da falta de experiecircncia da maior parte dos seus vizinhos nessa
modalidade Apesar de Leatildeo VI natildeo apresentar muitos conteuacutedos originais neste aspeto da sua
obra tomaacutemos a iniciativa de fazer uma pequena resenha do que ele escreveu neste
subcapiacutetulo ndash pelas razotildees acima enunciadas ndash dividindo-o em trecircs aspetos principais o
assalto a uma fortaleza a defesa de um recinto fortificado e a construccedilatildeo de postos-de-vigia
Relativamente ao asseacutedio de uma fortificaccedilatildeo podemos comeccedilar por verificar como eacute
que um strategoacutes tomava uma cidade inimiga alcanccedilando a vitoacuteria numa operaccedilatildeo desta
natureza Tal podia ser feito atraveacutes de um bloqueio rigoroso de forma a obrigar a guarniccedilatildeo
a render-se caso natildeo houvesse tempo ou mantimentos para tal empreendimento poder-se-ia
tentar um assalto agraves muralhas com recurso a maacutequinas de cerco ou entatildeo o general recorria a
ardis e a estratagemas para enganar os defensores e conseguir tomar a cidade Por outro lado
468 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 350-351
92
poder-se-ia fazer uso dos engenhos de cerco para demolir o moral da guarniccedilatildeo e dos
habitantes forccedilando-os agrave rendiccedilatildeo podendo igualmente consumar-se a tomada desse siacutetio
atraveacutes da traiccedilatildeo por algueacutem de dentro do periacutemetro defensivo Por fim se o objetivo fosse
apenas o botim havia ainda a alternativa de os sitiados pagarem um tributo469 podendo a
hoste retirar-se se tal bastasse para saciar os desejos desta forccedila militar
Tendo em conta o acima referido quais eram os procedimentos para a tomada de um
siacutetio amuralhado A primeira regra de acordo com Leatildeo VI seria enviar cavaleiros agrave frente
do exeacutercito de forma a capturar todos aqueles que pudessem avisar com antecedecircncia a
povoaccedilatildeo da aproximaccedilatildeo da hoste bizantina470 A isto segue-se a construccedilatildeo de um
acampamento fortificado em torno do objetivo (uma circunvalaccedilatildeo) um procedimento fulcral
para garantir o bloqueio da cidade e para proteger a hoste sitiadora O comandante bizantino
de seguida deve comeccedilar a distribuir logo tarefas espalhar batedores pelo terreno circundante
para o avisarem de ameaccedilas quer de dentro da cidade quer de fora colocar homens a montar
armas de cerco e estacionar soldados nas entradas do siacutetio sujeito ao assalto
O general deve entatildeo ponderar as suas opccedilotildees a cidade tem mantimentos suficientes
para aguentar o cerco O exeacutercito bizantino possui provisotildees necessaacuterias para conseguir
bloquear com sucesso a cidade E quanto agraves fortificaccedilotildees e agrave guarniccedilatildeo seratildeo suficientemente
fortes para aguentar um assalto Apesar de todas estas questotildees para os Bizantinos era
preferiacutevel capturar a praccedila pelo bloqueio471 ou obrigaacute-la a render-se de outras formas visando
o menor nuacutemero de baixas possiacutevel
A grande arma para se atingir este objetivo eacute o medo Leatildeo VI aconselha o general a
tirar proveito da noite para bombardear a cidade alegando que isto poderaacute criar uma confusatildeo
algo paranoica por entre os habitantes facilitando a sua subjugaccedilatildeo472 Por outro lado essa
sensaccedilatildeo de pacircnico e talvez de cansaccedilo apoacutes algumas noites atrevemo-nos a dizer iria tornaacute-
los mais descuidados nas palavras do autokraacutetor pelo que seria possiacutevel enganaacute-los fazendo
subir laquodois homensraquo agrave muralha De acordo com o basileuacutes com algum exagero os indiviacuteduos
469 Como no caso do cerco aacuterabe de Tessaloacutenica em que a cidade foi libertada (aparentemente) depois do
pagamento de um avultado tributo Cf supra 22 470 Taktikaacute XV229-233 Onas XXXIX Stratēgikoacuten X 471 Uma das teacutecnicas que visava este objetivo era em caso da captura de cidadatildeos inimigos nas proximidades da
fortaleza aprisionar todos os que pudessem participar na defesa do local e enviar para o siacutetio assediado todos os
outros (mulheres crianccedilas e idosos) de forma a aumentar a velocidade com que os mantimentos eram comidos
Taktikaacute XV132-138 Onas XLI 472 A conquista de Antioquia em 969 por forccedilas leais a Niceacuteforo Focas parece ter-se dado em circunstacircncias
proacuteximas destas Um pequeno grupo de homens trepou as muralhas durante a noite matou alguns vigias e
incendiou vaacuterios setores da cidade espalhando o pacircnico pela cidade Este grupo teraacute depois aberto os portotildees o
que permitiu aos Romanos entrar A populaccedilatildeo ter-se-aacute entatildeo rendido e os fogos foram apagados pelas forccedilas
bizantinas Vide A Histoacuteria de Leatildeo o Diaacutecono V
93
responsaacuteveis pelas muralhas pensaratildeo que eacute o exeacutercito inimigo que estaacute a subir pelo que de
imediato fugiratildeo deixando as ameias agraves matildeos do invasor473 Em alternativa o strategoacutes
deveria exibir (suficientemente longe das muralhas) alguns dos seus soldados com cota de
malha e armadura completa de forma a intimidar o adversaacuterio474 Por fim na altura de impor
os termos de rendiccedilatildeo estes deviam ser modestos e sensatos ndash como a entrega das armas e das
montadas por exemplo ndash de forma a aplacar a populaccedilatildeo da cidade mas tambeacutem para lhe
minar a vontade de combater475 Quando o empreendimento tem sucesso o imperador
aconselha o general a ser misericordioso gentil ateacute para com a populaccedilatildeo de maneira a
suprimir os seus desejos de resistecircncia476 Para aleacutem disso demonstrava a outras cidades que
pudessem ser cercadas no futuro que os novos suacutebditos do impeacuterio natildeo seriam oprimidos477
O strategoacutes soacute deveria encetar um assalto agraves muralhas caso o bloqueio natildeo fosse viaacutevel
por falta de mantimentos da parte da hoste atacante tirava entatildeo proveito das maacutequinas de
guerra ao seu dispor tais como ariacuteetes escadas de assalto tartarugas e outros engenhos478 A
persistecircncia no ataque (com ataques interminaacuteveis por turnos contra a cidade para natildeo cansar
os soldados479) e a conjugaccedilatildeo dos meios de assalto480 eram os dois principais fatores que o
imperador aconselhava para o sucesso no asseacutedio Apesar de todo este aparato beacutelico
Niceacuteforo Ouranos considera um seacuteculo depois que o melhor meacutetodo para tomar uma
fortaleza por meio de um assalto satildeo os trabalhos de escavaccedilatildeo sob as fundaccedilotildees da muralha
por meio de laisacirci481 Natildeo obstante Leatildeo VI natildeo mencionar estes dispositivos parece que
473 Taktikaacute XV27-35 Onas XLI 474 Os que natildeo cumprissem estes requisitos podiam usar o almofre da armadura de outro soldado e apresentar-se
de armas completas Para aleacutem disso o acampamento devia estar suficientemente longe da cidade para que a
maior parte dos apetrechos neste parecessem soldados ao inimigo assediado e para natildeo impor aos soldados nas
suas horas de descanso o stressante som dos combates (gritos e terccedilar de armas) Taktikaacute XV56-57 e 139-143
Stratēgikoacuten X1 475 Caso contraacuterio se os termos forem muito rigorosos os habitantes poderiam entender que mais valeria resistir
do que renderem-se Taktikaacute XV64-66 476 Cf supra 51 477 Taktikaacute XV210-216 e 238-249 Onas XXXV XXXVIII e XLII 478 Aqui possivelmente devem-se incluir os engenhos de artilharia neurobaliacutestica possivelmente sifotildees manuais
de fogo grego (que natildeo deveriam disparar material flamejante no entanto) e as laisacirci das quais falaremos a
seguir Quanto aos sifotildees manuais vide Taktikaacute XIX356-361 Parangelmata Poliorcetica XLIX (de aqui em
diante citada por Polio) e HALDON John et alli (2006) Greek fire revisited recent and current research In
JEFFREYS Elizabeth Byzantine Style Religion and Civilization ndash In Honour of Steven Runciman Cambridge
Cambridge University Press pp 295-296 e 314-315 479 Que de acordo com Leatildeo seria o suficiente para tomar um recinto fortificado pequeno Taktikaacute XV149-153
Stratēgikoacuten X1 480 Por exemplo incendiar casas por meio de flechas e de projeacuteteis flamejantes ou colocar escadas para trepar as
muralhas enquanto os habitantes estatildeo ocupados a apagar os fogos 481 Uma estrutura amoviacutevel feita de ramos entrelaccedilados e com uma cobertura iacutengreme de construccedilatildeo simples e
faacutecil transporte com vaacuterias entradas Servia para proteger os homens que as transportavam durante a
aproximaccedilatildeo agraves muralhas ou para garantir o seu descanso McGeer diz que elas tambeacutem poderiam ser utilizadas
pelos sapadores durante os seus trabalhos para os proteger dos projeacuteteis vindos das muralhas Vide MCGEER
94
estes teratildeo sido utilizados pelos Buacutelgaros para evitar que os Magiares atravessassem o
Danuacutebio em 895 pelo que natildeo seraacute de excluir a hipoacutetese de os Bizantinos os conhecerem e
utilizarem na eacutepoca do Taktikaacute482
As reminiscecircncias de Ouranos afiguram-se interessantes porque podem refletir-se na
eacutepoca de Leatildeo VI Ao ter em conta que o principal objetivo da guerra neste periacuteodo era o
saque e que os exeacutercitos dos themaacuteta necessitariam de alguma mobilidade para a praticar eacute
pouco provaacutevel que se dessem ao trabalho de trazer maquinaria pesada para cercar
fortalezas483 Para tal seria mais viaacutevel a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de cerco mais raacutepidas e baratas
como o bloqueio484 as minas os ardis e as laisacirci em detrimento da utilizaccedilatildeo de engenhos de
cerco que necessitassem de vir de longe e que sem duacutevida tornariam mais lenta a marcha de
hostes que precisavam de ser raacutepidas por natureza Uma possiacutevel exceccedilatildeo para isso poderia
acontecer caso o exeacutercito estivesse numa campanha para conquistar um baluarte ou cidade em
particular no entanto tal seria uma responsabilidade mais facilmente atribuiacuteda a uma hoste
expedicionaacuteria de um basileuacutes ou de um domestikoacutes do que a um exeacutercito provincial485
E se o strategoacutes estivesse do outro lado da muralha o que deveria fazer Em primeiro
lugar preparar-se atempadamente para o cerco armazenar provisotildees486 evacuar quem natildeo
fosse estritamente necessaacuterio para a defesa montar engenhos de cerco nos topos das torres e
planear muito bem a distribuiccedilatildeo de homens a fim de garantir que natildeo houvesse zonas por
defender487 Para aleacutem disso teria de colocar guardas a patrulhar (em especial durante a noite)
bem como a proteger as provisotildees enquanto os portotildees deviam estar sob a proteccedilatildeo de
homens de confianccedila488
Quanto a formas de defender as muralhas489 Leatildeo aconselha a que sejam pendurados
troncos grandes ou rochas para esmagar os homens e as escadas do inimigo caso ensaiem
Eric (1995) Tradition and Reality in the Taktika of Nikephoros Ouranos In Dumbarton Oaks Papers 45 p
135 482 Vide MCGEER E (1995) ndash Op cit p137 483 Tome-se o caso da expediccedilatildeo de Basiacutelio I a Tephrike e a Melitene em 871 infrutiacutefera por causa das
respetivas defesas e da incapacidade de as bloquear devido agrave enorme quantidade de provisotildees que possuiacuteam 484 Se houvesse provisotildees suficientes e tempo para tal 485 Tome-se como exemplo a expediccedilatildeo a Creta em 949 que estaria equipada com peccedilas para maacutequinas de
cerco que seriam montadas na altura de tomar a capital Chandax Vide Constantino VII basileuacutes ldquoThe
expedition which took place against the island of Crete and the equipping of the naval and cavalry forces in the
seventh indiction in the time of Constantine and Romanos purple-born and faithful emperors in Christrdquo Texto
traduccedilatildeo e comentaacuterio HALDON John (2000) Theory and Practice in Tenth-Century Military Administration ndash
Chapters II 44 and 45 of the Book of Ceremonies Travaux et Memoacuteires (13) pp 224-225 486 E impor raccedilotildees diaacuterias caso natildeo haja em quantidade suficiente em especial de aacutegua Taktikaacute XV324-329 487 E que houvesse uma reserva pronta a atuar onde fosse preciso 488 Taktikaacute XV306 489 E caso natildeo fosse possiacutevel derrotar o inimigo antes de este assediar a fortificaccedilatildeo Taktikaacute XV250-255 Estas
seratildeo palavras originais de Leatildeo de acordo com John Haldon que indica o caso da derrota de Teoacutefilo (829-842)
95
uma escalada dos muros Se o inimigo usasse torres-de-assalto os defensores deveriam
utilizar misseis incendiaacuterios ou recorrer aos projeacuteteis das maacutequinas de lanccedilamento de pedras
ou agrave construccedilatildeo de torres nas ameias maiores do que as torres do adversaacuterio490 As surtidas
eram proibidas por mais valorosos que os militares e os cidadatildeos fossem491 a natildeo ser em
casos de extrema necessidade para destruir as armas de cerco inimigas492 Para aleacutem destes
conselhos o basileuacutes recomendava ao strategoacutes que pensasse ele proacuteprio em formas de
contrariar os ataques e estratagemas do inimigo493 ou ateacute em expedientes para enganar o
adversaacuterio enquanto mantinha o moral da populaccedilatildeo alto ateacute o cerco terminar494
Por fim em relaccedilatildeo agrave poliorceacutetica Leatildeo dedica algumas palavras agrave raacutepida construccedilatildeo
de fortalezas fronteiriccedilas495 Estas fortificaccedilotildees496 tanto nos Balcatildes como especialmente na
Aacutesia Menor tornam-se importantes no contexto da eacutepoca pelas seguintes razotildees
laquo(hellip) Primeiro para observar a aproximaccedilatildeo de um inimigo segundo para receber
desertores do inimigo terceiro para conter quaisquer fugitivos do nosso proacuteprio lado A quarta
(razatildeo) eacute para facilitar a preparaccedilatildeo de raides contra territoacuterios inimigos perifeacutericos Estes satildeo
empreendidos natildeo tanto para saquear mas mais para descobrir o que o inimigo estaacute a fazer e
que planos urde contra noacutesraquo497
Para este empreendimento eacute uma vez mais necessaacuterio averiguar de certas
necessidades haacute materiais de construccedilatildeo na zona onde se pretende construir o recinto E
quanto agrave aacutegua existe ou eacute necessaacuterio procuraacute-la ou trazecirc-la de outro siacutetio Seguem-se os
conselhos para a edificaccedilatildeo enviar artesatildeos (canteiros carpinteiros entre outros)
acompanhados por toda a logiacutestica de que precisassem e uma escolta para comeccedilarem a
construir os alicerces das fortificaccedilotildees enquanto estavam protegidos por um karagos Novas
na batalha de Anzen (838) numa tentativa de destruir uma de duas colunas aacuterabes que se dirigiam agrave cidade
como um exemplo praacutetico de um falhanccedilo desta estrateacutegia HALDON J (2014) ndash Op cit p301 490 Taktikaacute XV273-285 Stratēgikoacuten X3 491 Karlin-Hayter considera o excerto que diz isto como uma reflexatildeo da mentalidade estrateacutegica bizantina de
poupar soldados tambeacutem inserida no pensamento militar do Saacutebio ldquo(hellip) Os homens eram preciosos em
particular aqueles mais corajosos e Leatildeo estava preocupado em economizaacute-los A tarefa em matildeos consistia em
defender o impeacuterio e ele tinha pouca paciecircncia para heroiacutesmosrdquo Vide KARLIN-HAYTER ndash Op cit p19 492 A defesa da fortificaccedilatildeo devia ser feita nas muralhas quase que exclusivamente Taktikaacute XV306-316 493 Taktikaacute XV337-342 Paraacutefrase de Onas XL 494 Veja-se o caso do cerco aacuterabe a Constantinopla em 717718 quando Leatildeo III a fim de preparar as defesas da
cidade informou um dos comandantes aacuterabes de que a cidade de Amorion seria entregue aos invasores
Enquanto as forccedilas aacuterabes divergiam no seu percurso para a capital da divisatildeo dos Anatoacutelicos ele conseguiu
guarnecer eficazmente aquela cidade obrigando depois aquela hoste a retirar O resultado deste estratagema
para Constantinopla foi que ao inveacutes de ser cercada por dois exeacutercitos aacuterabes foi assediada apenas por uma
hoste Tal foi uma das razotildees para a vitoacuteria dos defensores em 718 Vide HALDON J (2016a) ndash Op cit p53 495 Esta secccedilatildeo (Taktikaacute XV343-402) eacute quase uma paraacutefrase de Mauriacutecio Strategikon X4 496 John Haldon refere que estas fortalezas tendo em conta a sua localizaccedilatildeo na fronteira podem muito bem ser
os phouacuteria de Siriano que tinham funccedilotildees de vigia e natildeo tanto de proteccedilatildeo do territoacuterio Vide HALDON J
(2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 497 Siriano magister in Sir Strat IX
96
forccedilas seguidas de um acampamento fortificado dever-se-iam seguir a estas assim que as
presenccedilas inimigas locais tivessem sido afastadas pela manha bizantina498 Findos os
primeiros trabalhos dever-se-iam comeccedilar a erguer as primeiras fortificaccedilotildees per se
especialmente com a utilizaccedilatildeo de argamassa para as fortalecer A aacutegua a ser usada pela
guarniccedilatildeo tambeacutem era de extrema importacircncia inicialmente dever-se-ia armazenar a aacutegua em
barris ou em jarros de ceracircmica499 juntamente com pedras do rio limpas para a preservar ateacute
ao inverno De seguida iniciava-se a construccedilatildeo de cisternas para preservar a aacutegua da chuva
para a futura guarniccedilatildeo500
72 ndash Naumachikaacute ndash a arte da guerra naval
A Constitutio XIX do Taktikaacute dedica-se quase que por exclusivo a este tema e chegou
a ser considerada como um escrito distinto do manual de Leatildeo por se encontrar em separado
deste no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 501 Esta secccedilatildeo eacute tambeacutem uma das
primeiras a referirem a guerra naval desde o seacuteculo V e o tratado de Vegeacutecio502 algo que se
enquadra muito bem no paradigma da eacutepoca e do reinado de Leatildeo como jaacute referimos503
O manual militar discrimina vaacuterios tipos de droacutemōnes ainda que muito
subsidariamente ao longo das paacuteginas referentes a esta disciplina evocando dois em especial
uns mais pequenos com capacidade para 100 remadores e os maiores com capacidade para
200 homens que deviam ter dimensatildeo suficiente para manter a velocidade e a resistecircncia O
tratado menciona a existecircncia de galeacutes (ou monorremes) que eram mais pequenas e velozes do
que os outros droacutemōnes e eram bastante uacuteteis em taacuteticas que necessitassem de velocidade ou
de alguma discriccedilatildeo504 Ao serviccedilo do strategoacutes naval505 deviam existir ainda embarcaccedilotildees
498 Esta manha eacute constituiacuteda por um rumor de que a cidade inimiga mais proacutexima seria atacada seguido do envio
de uma forccedila fantoche para corroborar o rumor Enquanto o exeacutercito inimigo se dirige a este grupo de soldados
os trabalhos de construccedilatildeo devem prosseguir In Taktikaacute XV350-362 499 Dever-se ia colocar uma pequena bacia junto dos barris para que gota-a-gota a aacutegua escoasse para esta e
assim se mantivesse em movimento e natildeo estagnasse Assim que a bacia enchesse despejava-se novamente a
aacutegua no recipiente maior 500 Sob a forma como construir uma cisterna vide Taktikaacute XV 394-402 Stratēgikoacuten X4 501 Cf supra 43 502 laquoConquanto natildeo encontraacutemos nenhuma regulaccedilatildeo acerca disto (guerra naval) nos velhos tratados taacuteticos
ainda assim a partir do que lemos aqui e ali e do que aprendemos da experiecircncia ordinaacuteria dos nossos
comandantes da frota no tempo presente dos seus sucessos bem como dos seus falhanccedilos selecionaacutemos alguns
exemplos os suficientes para fazer esta apresentaccedilatildeo agravequeles que desejam combater no mar no que antigamente
se chamavam trirremes mas que agora se chamam droacutemōnesraquo Taktikaacute XIX3-8 Haldon acredita que por laquoaqui
e aliraquo o autor se refere ao Naumachiacuteai de Siriano Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 390 503 Cf supra 32 504 Em batalha eram uacuteteis para emboscadas para flanquear e como ldquoiscordquo para fugas simuladas Em campanha
eram usados como batedores Taktikaacute XIX66-68 Para utilizaccedilatildeo de galeacutes como batedores mariacutetimos no
contexto da expediccedilatildeo de 911 veja-se o Anexo IX a)
97
destinadas especificamente para o transporte de cavalos506 mantimentos e equipamento de
reserva que serviriam como trem-de-apoio naval507 A uacuteltima embarcaccedilatildeo mencionada eacute o
pamphylos que no contexto do Taktikaacute eacute o droacutemōn pessoal do strategoacutes508 tendo por isso de
ser superior aos outros em todos os aspetos incluindo a tripulaccedilatildeo que devia ser escolhida ao
pormenor pelo oficial superior509 Por sua vez esta tendecircncia devia ser seguida pelos que
seguiam o strategoacutes na linha de comando510
Dentro desta Constitutio eacute possiacutevel ainda aferir de certo modo a estrutura de um
droacutemōn na proa estariam os sifotildees de laquofogo greguecircsraquo cujos operadores estariam protegidos
dos projeacuteteis inimigos dentro de uma cabina de madeira511 Por cima dessa cabina existia uma
plataforma que servia para proteger a frente da embarcaccedilatildeo em caso de abordagem ou para
disparar projeacuteteis contra o inimigo512 O laquocasteloraquo nas embarcaccedilotildees maiores como jaacute foi
referido encontrava-se entre o mastro mais alto da frente e o segundo do meio Cada droacutemōn
possuiacutea duas filas de remadores uma sob o conveacutes513 e a outra sobre este Por fim eacute indicada
a presenccedila de uma cabina para o capitatildeo da embarcaccedilatildeo o keacutentarcos na popa514
Neste capiacutetulo procede-se igualmente agrave enumeraccedilatildeo de vaacuterias peccedilas de equipamento
que precisariam de estar em cada embarcaccedilatildeo ferramentas materiais suplentes para
reparaccedilotildees sifotildees515 (que deveriam estar na proa do navio) para o disparo do chamado laquofogo
greguecircsraquo laquotorresraquo para os navios maiores516 e gruas para virar as naves adversaacuterias517 Podiam
ainda possuir uma pequena balista na proa chamada toxobaliacutestrai que disparava projeacuteteis
505 Ao contraacuterio das restantes Constitutiones os destinataacuterios desta (como esperado) satildeo os strateacutegoi dos themaacuteta
mariacutetimos ou ateacute possivelmente droungaacuterios totilden ploiumlmon 506 Pryor e Jeffreys referem que a tipologia da embarcaccedilatildeo para transportar montadas dependia do tipo de missatildeo
a que a frota estivesse destinada Caso o objetivo fosse transportar um exeacutercito de um porto para outro dar-se-ia
preferecircncia a navios maiores por possuiacuterem espaccedilo para mais cavalos Se o objetivo fosse um desembarque
anfiacutebio entatildeo era mais apropriado usar galeacutes que apesar de terem menos tonelagem conseguiam atracar na praia
sem correr o risco de naufragar PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 307 507 Taktikaacute XIX66-68 508 Ou droungaacuterios caso fosse um almirante da frota imperial 509 Taktikaacute XIX247-252 510 Taktikaacute XIX253-255 Naumachiacuteai de Siriano 9 (doravante citado por Sir Naum) 511 HALDON J (2014) ndash Op cit p 397 512 Taktikaacute XIX34-37 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 203 513 Apesar de Leatildeo natildeo mencionar se o droacutemōn tinha um conveacutes inteiro esta frase (laquoQue cada droacutemōn seja de
grande comprimento e tamanho apropriado com duas filas de remadores como satildeo chamadas uma por baixo e
outra por cimaraquo) leva Pryor e Jeffreys a concluir que tal deveria ser o caso Taktikaacute XIV45-46 PRYOR JH e
JEFFREYS EM ndash Op cit p 232 514 Taktikaacute XIX56-60 O keacutentarcos tambeacutem se podia chamar naacuteuarchos HALDON J (2014) ndash Op cit p398 515 Apesar de a conjuntura dizer que seria apenas um havia casos onde parecem existir mais do que um em
certas embarcaccedilotildees como na expediccedilatildeo a Creta em 949 Vide HALDON J (2000) ndash Op cit pp 278-281 516 Estas torres serviriam de plataforma de lanccedilamento de projeacuteteis Seriam constituiacutedas por duas plataformas
fortificadas e estariam localizadas entre o maior masto da frente e o segundo masto a meio do navio Vide
HALDON J (2014) ndash Op cit pp396-397 A traduccedilatildeo de Dennis (feita a partir de uma expressatildeo corrompida
do texto grego) eacute ldquoa meio do masto principalrdquo algo nada praacutetico e que acabaria com o derrubar do ldquocastelordquo em
caso de receber um impacto forte Taktikaacute XIX38-39 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 230 517 Taktikaacute XIX369-383
98
chamados de laquomoscasraquo ou laquoratosraquo Cada droacutemōn tinha que ter tambeacutem um conjunto de outras
armas tais como estrepes para serem lanccediladas para os conveses inimigos potes com laquocal
vivaraquo jarros recheados de laquofogo greguecircsraquo e apesar de isso pouco aceite pelos historiadores
contemporacircneos Leatildeo sugere (ele proacuteprio de forma ambiacutegua) que se poderiam utilizar
animais venenosos contra as naves inimigas518
Relativamente agrave tripulaccedilatildeo de cada droacutemōn esta dependeria do tamanho de
embarcaccedilatildeo De acordo com o Taktikaacute os navios maiores teriam cerca de 200 remadores
enquanto os medianos teriam cerca de 100 Para aleacutem destes efetivos de tropa mariacutetima havia
ainda um pequeno grupo de oficiais um porta-estandarte519 dois timoneiros na popa520 o
sifonaacutetor isto eacute o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de laquofogo greguecircsraquo e outro pela acircncora
ambos na proa e por fim o keacutentarcos que capitaneava a partir da sua cabina na popa
O que Leatildeo natildeo refere no entanto eacute a presenccedila de marinheiros e de outros indiviacuteduos
experientes em navegaccedilatildeo entre a tripulaccedilatildeo521 atribuindo a responsabilidade desses
conhecimentos unicamente ao comandante da forccedila naval522 De acordo com a traduccedilatildeo de
Dennis para aleacutem destes oficiais seguiria ainda a bordo um carpinteiro523 No entanto isto
apresenta-se como o resultado da omissatildeo de uma parte do texto pelo editor querendo Leatildeo
informar que o carpinteiro seria um dos remadores e natildeo algueacutem destacado para isso524
Quanto agrave tripulaccedilatildeo devia toda ela envergar uma armadura todos os que se pudessem
equipar agrave maneira catafractaacuteria (com cota de malha ou klibaacutenion soacute agrave frente ou tambeacutem atraacutes
caso possuiacutesse meios financeiros para tal) deveriam fazecirc-lo os que estavam na proa ou onde o
combate decorresse mais ferozmente deviam ter elmos e grevas de ferro Todos os outros
deviam vestir a neurikaacute uma sobreveste com duas camadas de couro Quanto agraves armas
deviam ser bastante variadas arco e flecha dardos525 escudos meacutenaula pedras para
arremessar526 e algo a que Leatildeo chama laquosifatildeo manualraquo ou cheirosiacutefona que devia ser
disparado ou atirado por detraacutes de uma muralha de escudos de ferro527 O basileuacutes refere ainda
alguns exerciacutecios de treino tanto para os soldados como para a movimentaccedilatildeo de droacutemōnes
518 Taktikaacute XIX344-347 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 403 519 Que possivelmente seria tambeacutem responsaacutevel pelos sinais com as bandeiras e por transmitir as ordens do
keacutentarcos ao resto da tripulaccedilatildeo Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 398 520 Tambeacutem chamados de protokaraacuteboi Idem Ibidem p398 521 Algo que eacute referido no Naumachiacuteai de Siriano magister por exemplo Sir Naum 5 522 Taktikaacute XIX9-15 Cf Sir Naum 5 523 Taktikaacute XIX30-31 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp506-507 524 HALDON J (2014) ndash Op cit pp 396-397 Para traduccedilotildees corretas vide COSENTINO S (2004) ndash Op cit
p293 e PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit p 487 525 Estes dois em especial satildeo aconselhados aos marinheiros dos navios de apoio para se poderem defender em
caso de necessidade Taktikaacute XIX78-84 Cf Strategikoacuten XII(B)21 526 Para a importacircncia deste tipo de projeacutetil vide Taktikaacute XIX96-107 527 TaktikaacuteXIX 357-361
99
em batalha com o objetivo de exercitar os marinheiros para todas as situaccedilotildees em caso de
combate mas tambeacutem para os habituar ao que ele chama de laquoturbulecircncia da guerraraquo528 Soacute
quando os seus subordinados estivessem adequadamente equipados e treinados eacute que ele se
devia lanccedilar ao mar529
A frota comandada pelo strategoacutes tambeacutem possuiacutea como eacute oacutebvio uma estrutura
taacutetica Como jaacute referimos cada navio estava sob o comando de um keacutentarcos o seu capitatildeo
que estava sob o comando de um komeacutes que lideraria entre trecircs a cinco droacutemōnes Leatildeo
refere ainda que agrave semelhanccedila dos themaacuteta terrestres tambeacutem existiam droungaacuterios e
turmarcas natildeo aludindo no entanto ao nuacutemero de forccedilas que comandavam530
A expediccedilatildeo naval comeccedilaria entatildeo com uma becircnccedilatildeo aos navios com rezas a Deus
para pedir uma boa viagem contra os inimigos e com um discurso do strategoacutes para encorajar
a armada531 Esta partiria entatildeo em formaccedilatildeo com os navios suficientemente afastados para
evitar atrapalhaccedilotildees a favor do vento No que concerne ao atracar da frota este devia ser
realizado tambeacutem em boa ordem e vaacuterios cuidados deviam ser tidos em conta dependendo do
local de ancoragem poucos ou nenhuns num porto bizantino a natildeo ser evitar destruir as
propriedades dos habitantes Por outro lado se fosse em territoacuterio inimigo ou amigaacutevel onde
se suspeitava existirem forccedilas hostis na regiatildeo a histoacuteria era outra a vigilacircncia tanto em terra
como no mar devia ser redobrada e a frota deveria manter-se pronta para a batalha532
Tambeacutem sobre as aacuteguas do mar era preferiacutevel recorrer a ardis e a estratagemas O
basileuacutes recorda novamente o conselho dado aos exeacutercitos terrestres sempre que possiacutevel
evitar um confronto direto em batalha533 Caso esta ocorrecircncia fosse inevitaacutevel a providecircncia
divina era novamente preciosa bem como avaliar se a causa do combate era injusta ou natildeo534
A ocorrer junto ao litoral a batalha deveria ser travada perto da costa inimiga para evitar as
deserccedilotildees do lado bizantino e incentivar as do adversaacuterio
Durante a batalha era necessaacuterio ter uma sinaleacutetica variada que permitisse dar ordens
com clareza em qualquer parte ou momento do combate uma vez que comandos vocais e
528 Taktikaacute XIX161-169 529 Taktikaacute XIX174-175 Stratēgikoacuten XII(B)21 530 Taktikaacute XIX157-161 531 Taktikaacute XIX142-147 532 Taktikaacute XIX191-198 Cf Stratēgikoacuten XII(B)21 Sir Naum5679 e ainda no livro I dos Estratagemas de
Polieno (de aqui em diante Pol Strat a traduccedilatildeo que vamos usar desta fonte eacute MARTIacuteN GARCIacuteA Francisco
(1991) Estratagemas In Biblioteca Claacutesica Gredos (153) pp 146-568) 533 O conselho mostra-se ainda mais fulcral em batalhas navais porque o autokraacutetor refere que neste tipo de
confrontos eacute impossiacutevel retirar qualquer tipo de vantagem assim que o combate corpo-a-corpo (consequente da
ligaccedilatildeo entre navios) comeccedila Taktikaacute XIX215-219 Haldon refere que este pensamento se deve ao facto de a
opiniatildeo bizantina justificada pelas grandes derrotas navais sofridas natildeo confiar no mar como caminho para a
vitoacuteria na guerra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 407 534 Taktikaacute XIX222-228 Stratēgikoacuten VIII(B)21
100
sons de trompa se perdiam no barulho provocado pela peleja Assim sinais que usavam
bandeiras ou flacircmulas eram essenciais devendo cada ordem especiacutefica estar associada a cada
um dos movimentos destes objetos ou de outros pedaccedilos de tecido como turbantes desde
que suficientemente visiacuteveis535
Leatildeo aparentemente coloca a decisatildeo sobre o dispositivo taacutetico a ser utilizado nas
matildeos do strategoacutes na maior parte dos casos536 no entanto informa-nos de duas formaccedilotildees em
especial em crescente (ou semicircular) e em linha537 A primeira devia ser utilizada para
envolver a frota adversaacuteria e bloquear a sua retirada538 ou entatildeo para possibilitar um
abandono ordenado do laquocampo de batalharaquo539 devia ter o pamphylos do strategoacutes na
concavidade para que ele pudesse controlar a frota e ter sempre uma visatildeo completa da
situaccedilatildeo das suas forccedilas540 Jaacute a formaccedilatildeo em linha era melhor para usar os sifotildees nas proas do
navio durante a abertura do combate O basileuacutes aconselha tambeacutem o strategoacutes a dividir as
suas formaccedilotildees em dois ou trecircs grupos para natildeo estarem sempre todos a combater e para
existirem reservas ou flanqueadores541
Natildeo obstante os estratagemas continuam a ser o meacutetodo eleito pelo basileuacutes para se
travar a guerra naval Leatildeo menciona vaacuterios como a utilizaccedilatildeo de fugas simuladas por parte
de droacutemōnes mais pequenos e de galeacutes para atrair as embarcaccedilotildees inimigas para as ciladas542
ou conseguir passar um navio pelas linhas opostas com o intuito de atacar as naves mais
pequenas do adversaacuterio543 Outro estratagema consistia em atacar o inimigo depois de
naufraacutegios ou tempestades o terem atingido ou quando este se encontrava entretido em
operaccedilotildees terrestres544 Curiosamente Leatildeo natildeo refere mais estratagemas considerando que o
inimigo pode tomar conhecimento deles e assim contrariaacute-los545
Por fim no contexto deste capiacutetulo Leatildeo deixa uma nota aos comandantes de frotas546
sobre a escolha de navios esta deveria depender tambeacutem do inimigo que o almirante fosse
confrontar Assim se o oficial fosse fazer frente a uma frota sarracena dos emirados ou de
535 Taktikaacute XIX259-266 e 271-275 Cf Strategikoacuten VII(B)16 Sir Naum VII Sir Strat XXX 536 Taktikaacute XIX287-291 537 Eacute interessante notar que Leatildeo agrave semelhanccedila de outros tratadistas claacutessicos ou medievais refere formaccedilotildees
utilizadas em terra para a realidade do combate naval 538 Taktikaacute XIX292-298 539 Taktikaacute XIX432-435 Pol Strat III 540 Taktikaacute XIX295-297 541 Taktikaacute XIX302-306 542 Taktikaacute XIX310-313 e 322-327 Cf Pol Strat I e III 543 Taktikaacute XIX310-315 Cf Pol Strat I e III 544 Taktikaacute XIX328-332 545 Por ironia os Aacuterabes fizeram duas traduccedilotildees do Taktikaacute de Leatildeo VI uma sumaacuteria e outra integral Vide
HALDON J (2014) ndash Op cit p392 PRYOR JH e JEFFREYS EM ndash Op cit pp 645-666 546 Dado o contexto deste paraacutegrafo supomos que o destinataacuterio principal seja o droungaacuterios totilden ploiumlmon
101
Creta tinha de se preparar para enfrentar os chamados koumbariacutea que eram de grande
tonelagem mas lentos de acordo com o autor Por outro lado caso a forccedila naval adversaacuteria
fosse de origem russa o strategoacutes devia fazer os preparativos necessaacuterios para enfrentar
navios mais pequenos e raacutepidos uma espeacutecie de monoxyla547
73 ndash Strategemataacute ndash o paradigma da guerra bizantina no iniacutecio do seacuteculo X
laquoUma maacutexima antiga (hellip) ensina-nos a lanccedilar ataques e raides contra o inimigo sem causar
ferimentos a noacutes mesmos Noacutes podemos alcanccedilar isto se os nossos assaltos contra o inimigo
forem planeados de maneira inteligente e cuidadosa e forem executados com celeridade Tais
assaltos satildeo eficazes natildeo soacute contra forccedilas com o mesmo poder (militar) mas tambeacutem contra
adversaacuterios claramente superioresraquo
Leatildeo VI in Taktikaacute XVII linhas 9-12548
Este excerto do Taktikaacute poderia muito bem corresponder ao lema do pensamento
estrateacutegico bizantino os danos tecircm de ser reduzidos ao maacuteximo possiacutevel e o poder militar
deve ser conservado entre recursos humanos ou estrateacutegicos Os estratagemas e a guerra de
fronteira eram a praacutetica beacutelica por predileccedilatildeo bizantina exatamente por permitirem derrotar o
inimigo sem grandes sacrifiacutecios Eacute este fator que torna a Constitutio XV relativa a esta
disciplina numa das mais importante do tratado549 Trata-se igualmente de um dos capiacutetulos
fundamentais para se atestar que a realidade contemporacircnea do tempo de Leatildeo VI tinha
repercutido nos seus escritos Natildeo obstante manteacutem o cariz de colecionismo do restante
tratado retirando do Stratēgikoacuten de Mauriacutecio (mais especificamente do livro IX) e de alguns
excertos de Onasandro a maior parte da informaccedilatildeo que apresenta 550
Consequentemente esta Constitutio estaacute grosso modo dividida em quatro partes
principais emboscadas e outras artimanhas raides a territoacuterios inimigos onde descreve a
forma como se devem realizar as accedilotildees de pilhagem da parte do impeacuterio os melhores
procedimentos para a defesa do impeacuterio frente a operaccedilotildees desse mesmo tipo e por fim uma
pequena secccedilatildeo onde refere a importacircncia de batedores e espiotildees e onde satildeo abordadas
maneiras de descobrir agentes inimigos no seio de exeacutercitos ou dos acampamentos No
547 Taktikaacute XIX425-431 548 DENNIS G T (2014) ndash Op cit pp 392-393 549 Esta Constitutio estava separada do resto do tratado no coacutedex Mediceo-Laurentianus graecus 554 apesar de
Leatildeo fazer referecircncia nesta a outros segmentos da obra Vide HALDON J (2014) ndash Op cit p 312 550 Idem Ibidem p 312
102
entanto vamos focar-nos nas accedilotildees de pilhagem tanto bizantinas como inimigas aludindo
aos outros aspetos sempre que seja relevante
Posto isto vamos principiar a anaacutelise destes toacutepicos com a forma como Bizacircncio devia
preparar expediccedilotildees de saque a territoacuterio inimigo Comecemos entatildeo pelo lado de
Constantinopla A primeira recomendaccedilatildeo que o basileuacutes faz ao general eacute a de que este
prepare mantimentos para a expediccedilatildeo para o caso de o inimigo proceder a uma poliacutetica de
laquoterra queimadaraquo O autokraacutetor aconselha o general a recolher informaccedilatildeo sobre o territoacuterio e
sobre as estradas que vai utilizar para laacute chegar a partir da captura de habitantes dessas zonas
ou da recolha de desertores inimigos antes da expediccedilatildeo551
Relativamente agraves marchas aquelas que satildeo realizadas durante a noite satildeo muito
desaconselhadas a natildeo ser que o objetivo seja a ocupaccedilatildeo de uma posiccedilatildeo defensiva sem o
inimigo o saber Deviam constituir-se patrulhas sempre em movimento e a saka devia ser
excecionalmente forte para evitar ataques pela retaguarda Quanto ao trem-de-apoio este
devia estar na cauda da coluna de marcha aquando da entrada em territoacuterio inimigo poreacutem se
o adversaacuterio se comeccedilasse a aproximar devia deslocar-se progressivamente para o meio da
coluna552 a fim de ficar melhor protegido553 Por fim os acampamentos natildeo deviam ser
montados junto a fortificaccedilotildees inimigas ou a zonas com muita floresta a natildeo ser que fosse
estritamente necessaacuterio sendo certo que nesse caso a vigilacircncia deveria ser redobrada554
Por outro lado o autor propotildee dois tipos de formas de invadir o territoacuterio inimigo a
primeira caso haja mais do que uma entrada para este eacute dividir o exeacutercito colocando o
comando de uma parte nas matildeos de um turmarca Esta forccedila mais leve e sem trem-de-apoio
acederia ao territoacuterio inimigo por um dos pontos de entrada enquanto o strategoacutes entraria por
outro Com um ponto de encontro previamente marcado ambas as divisotildees pilhariam o
territoacuterio que percorressem ateacute se reunirem ao mesmo tempo que empurravam o inimigo uma
contra a outra555
Outro meacutetodo de invasatildeo tambeacutem envolvia a divisatildeo da hoste em duas colunas e era
utilizado quando soacute havia uma estrada disponiacutevel Neste caso metade do exeacutercito
551 Para isso recomenda que seja o proacuteprio comandante a interrogar os prisioneiros Taktikaacute XVII161-165
inversamente aconselha a que no caso da fonte de informaccedilatildeo ser um desertor inimigo lhe sejam prometidas
recompensas ou ameaccedilas de morte para evitar que este minta ao general e ponha em risco a seguranccedila do
exeacutercito Taktikaacute XVII166-174 Taktikaacute XVII559-570 Onas X Stratēgikoacuten IX Estes medos natildeo parecem
ser infundados uma vez que a queda da fortaleza de Amorion em 838 eacute atribuiacuteda a um desertor HALDON J
(2014) ndash Op cit p330 552 Taktikaacute XVII266-267 Stratēgikoacuten VIII 553 Devendo no entanto de estar suficientemente afastado das restantes forccedilas para natildeo perturbar a formaccedilatildeo 554 Taktikaacute XVII257-261 555 Taktikaacute XVII210-223 Stratēgikoacuten XI2 (relativo agraves formas de combater os ldquoCitasrdquo ndash ou seja os povos das
estepes tais como os Aacutevaros e os Turcos entre outros)
103
acompanhava o turmarca durante a invasatildeo e ia-se dispersando ao longo do caminho com um
ou dois bandaacute por regiatildeo a saquear ateacute o turmarca ficar apenas com mil homens ao seu
serviccedilo e chegar ao seu destino Depois retornaria ao mesmo tempo que o strategoacutes (ou outro
oficial responsaacutevel) seguia a rota usada pela divisatildeo anterior e recolhia os bandaacute Soacute quando
as duas divisotildees se reencontrassem eacute que se montaria o acampamento556
Chegados ao destino a seguranccedila tornava-se fundamental Todos os destacamentos
que fossem pilhar ou recolher mantimentos deviam ser protegidos por outro contingente para
evitar emboscadas inimigas557 Como jaacute referimos o acampamento devia ser fortificado558 e
as patrulhas deviam ser constantemente enviadas para averiguar as posiccedilotildees do inimigo nos
arredores A comida a bebida e a forragem recolhidas em territoacuterio inimigo deviam ser
provadas pelos prisioneiros antes de ser consumidas Por fim ataques a siacutetios fortificados ou
bem defendidos deviam ser preparados em segredo ateacute mesmo junto das proacuteprias tropas559
Os uacuteltimos conselhos de Leatildeo nesta vertente prendem-se com a deteccedilatildeo e captura de
espiotildees Neste aspeto haacute duas formas de se lidar com espiotildees captura ou libertaccedilatildeo com o
objetivo de intimidar A primeira maneira devia ser utilizada caso a forccedila bizantina fosse mais
fraca do que a opositora e havia duas formas de a realizar de acordo com Leatildeo numa
primeira soava-se uma trompa agrave segunda ou terceira hora do dia para ordenar aos soldados
para voltarem agraves suas tendas caso algum ficasse de fora seria um espiatildeo por outro lado se
entrasse numa tenda aleatoriamente seria preso pelos soldados dessa tenda que o
identificariam como um intruso560 A segunda forma consistia na atribuiccedilatildeo de uma ordem por
meio de uma palavra ou de um siacutembolo secreto por parte dos oficiais aos homens sob o seu
comando se algum homem natildeo soubesse o que fazer quando a palavra ou o gesto fossem
feitos possivelmente seria o espiatildeo561hellip Se por outro lado a forccedila bizantina fosse mais
poderosa do que a adversaacuteria entatildeo o imperador aconselhava o strategoacutes a deixar o espiatildeo
vivo e a mostrar-lhe a sua hoste em toda a sua pujanccedila de forma a impressionaacute-lo Depois
disso deveria deixar o agente partir para que ele informasse o povo que o enviou do poder do
exeacutercito romano semeando assim o medo no seio da hoste adversaacuteria562
556 Taktikaacute XVII224-249 Stratēgikoacuten XI2 557 Taktikaacute XVII191-197 Stratēgikoacuten IX 558 Cf supra 53 559 Taktikaacute XVII254-256 Leatildeo natildeo refere razotildees para isto mas possivelmente seria na nossa opiniatildeo para
evitar deserccedilotildees na marcha para territoacuterio inimigo ou para evitar que a informaccedilatildeo do alvo caiacutesse nas matildeos de
espiotildees 560 Taktikaacute XVII517-533 cf Pol Strat III Sir Strat II e PrMVI 561 Taktikaacute XVII534-544 Stratēgikoacuten IX Vegeacutecio Epitoma rei militaris III26 (a traduccedilatildeo que usaacutemos para
este tratado eacute MONTEIRO Joatildeo Gouveia e BRAGA Joseacute Eduardo (2004) Vegeacutecio Compecircndio da arte
militar Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 562 Taktikaacute XVII545-558
104
Quando a invasatildeo se realizava no sentido oposto a resposta tinha de ser ceacutelere e
eficaz A melhor arma ao serviccedilo do strategoacutes era a prevenccedilatildeo ou seja os batedores e os
espiotildees Leatildeo realccedila a importacircncia destes soldados destacando que tinham de ser os melhores
soldados ao serviccedilo do seu general ou turmarca que deviam seguir o inimigo e conseguir
estimar com alguma seguranccedila a composiccedilatildeo do exeacutercito adversaacuterio563 Como eacute oacutebvio a
rapidez e a discriccedilatildeo eram as valecircncias principais de um batedor que devia ter um cavalo
raacutepido e estar armado de forma ligeira As patrulhas deviam ser feitas por turnos para evitar
que o cansaccedilo tomasse conta dos seus responsaacuteveis e ser avaliadas pelo proacuteprio strategoacutes
que organizaria algumas inspeccedilotildees surpresa564 Por fim sempre que possiacutevel os proacuteprios
batedores deviam arriscar-se a capturar prisioneiros inimigos565
Leatildeo natildeo fala muito mais do que nestes pormenores mas o autor do Perigrave Paradromeacutes
um tratado que incide especificamente sobre este tipo de atividade beacutelica elucida-nos melhor
sobre a maneira como o trabalho de vigia deve ser feito Nesse manual militar ele indica que
existiriam postos de vigia ao longo das estradas bem como nas cordilheiras montanhosas que
limitavam as circunscriccedilotildees provinciais orientais566 Graccedilas a este sistema de vigia poder-se-
ia enviar mensageiros ao strategoacutes para o avisarem da ocorrecircncia de uma invasatildeo567
Por outro lado aos espiotildees mostravam-se determinantes para indagar quando eacute que
uma expediccedilatildeo aacuterabe deveria partir para territoacuterio bizantino568 Leatildeo natildeo explica como eacute que
eles eram recrutados ou escolhidos mas o autor do Perigrave Paradromeacutes por exemplo refere que
os mercadores eram os melhores espiotildees569 Os comerciantes deviam tentar tornar-se amigos
dos emires de forma a tomarem conhecimento do nuacutemero de soldados inimigos bem como
dos destinos das suas expediccedilotildees Por outro lado Siriano refere que a famiacutelia dos espiotildees
devia habitar em territoacuterio bizantino para que o amor familiar servisse como cadeado agrave
563 Para meacutetodos de fazer parecer um exeacutercito maior do que ele realmente eacute vide Taktikaacute XVII425-432 564 Taktikaacute XVII492-495 565 Taktikaacute XVII505-512 No Perigrave Paradromeacutes esta missatildeo estaacute incluiacuteda em pequenas accedilotildees de saque
empreendidas por espiotildees bizantinos (no contexto militar em Bizacircncio espiatildeo e batedor tecircm o mesmo
significado em certas circunstacircncias como neste caso) Natildeo nos parece despropositado acreditar que os
batedores do tempo do Taktikaacute tivessem as mesmas funccedilotildees PP II 566 Possivelmente as ldquofortalezasrdquo cuja construccedilatildeo Leatildeo orienta na Constitutio XVII Cf supra 71
Possivelmente seriam os phouacuteria de Siriano por possuiacuterem as mesmas funccedilotildees as mesmas localizaccedilotildees (em
terreno montanhoso mas com bom controlo de estradas) serem discretos e natildeo terem uma guarniccedilatildeo
permanente Vide HALDON J (2014) ndash Op cit pp307-308 PP I-II Sir Strat IX 567 PP II 568 Taktikaacute XVIII661-668 569 PP VII
105
lealdade do agente no estrangeiro570 Por fim John Haldon menciona que os padres e os
monges especialmente os missionaacuterios tambeacutem podiam servir para esta finalidade571
Leatildeo aconselha entatildeo o general a preparar-se para um ataque recolher todos os bens
possiacuteveis de se guardar queimar as colheitas recolher os cavalos (e muito possivelmente o
gado) e encaminhaacute-los para um lugar seguro e ocupar os lugares fortificados bem como as
reservas de aacutegua da regiatildeo sob ataque e dos desfiladeiros se for possiacutevel572 Uma vez mais
uma batalha decisiva deve ser prevenida e as forccedilas inimigas devem ser desgastadas por meio
de emboscadas e de ataques surpresa573 quer de dia quer de noite574 Outra taacutetica a utilizar eacute a
do contra raide575 ou seja responder a uma expediccedilatildeo de ataque inimiga com um raide das
forccedilas bizantinas O objetivo deste ardil parece ser separar ou obrigar a retirar a hoste
adversaacuteria com um ataque agraves suas terras indefesas576 O basileuacutes recorre a uma experiecircncia do
seu domestikoacutes Niceacuteforo Focas o Velho como exemplo disto577 mas a sua proacutepria atuaccedilatildeo
antes e depois do saque de Tessaloacutenica tambeacutem pode ser um destes casos578
Natildeo obstante caso se devesse realizar um ataque sobre as forccedilas inimigas este devia
ser feito quando estas estavam a abandonar o territoacuterio bizantino carregadas de despojos Esta
altura era a predileta porque de acordo com o autor do Perigrave Paradromeacutes era quando os
soldados inimigos se encontravam mais cansados e desejosos de voltar a casa e porque a
marcha era mais lenta por estarem carregados de despojos e de prisioneiros579
570 Sir Strat XLII 571 HALDON J (2014) ndash Op cit p381 572 Estes uacuteltimos satildeo referidos no Perigrave Paradromeacutes PP V 573 Sendo para isso necessaacuterio que o strategoacutes mantivesse um olho no inimigo por meio dos seus batedores para
saber em que altura os bandos de pilhagem abandonavam o corpo principal ou o acampamento adversaacuterio 574 Para um conjunto de taacuteticas realizadas durante a noite Taktikaacute XVII70-106 Stratēgikoacuten IX O tratado de
guerrilha tem um capiacutetulo exclusivamente dedicado a esta temaacutetica cf PP XVIII 575 Ironicamente o emir Sarsquoif al-Dawlah tambeacutem usou esta taacutetica em 956 quando forccedilas bizantinas do distrito de
Anzitene comeccedilaram a pilhar o seu territoacuterio O emir hamdacircnida comandou entatildeo uma expediccedilatildeo contra
Anzitene que obrigou o comandante da cidade a retirar para o seu territoacuterio O sucesso da expediccedilatildeo sarracena
no entanto natildeo terminou aiacute porque o emir conseguiu ainda recolher uma grande quantidade de despojos E de
prisioneiros antes de regressar a casa derrotando ainda uma forccedila romana que bloqueava o desfiladeiro que ele
pretendia utilizar para o retorno Vide HALDON J (2001) ndash Op cit pp91-94 576 Taktikaacute XVII366-376 Stratēgikoacuten X 577 Taktikaacute XVII373-376 PP XX Haldon no entanto corrige Dennis referindo que a campanha em causa
natildeo foi na Calaacutebria mas sim na Ciliacutecia contra o emir Yazaman HALDON J (2014) ndash Op cit p 324 578 Cf supra 22 579 PP IV
106
Conclusatildeo
Natildeo nos arrependemos do caminho que escolhemos Bizacircncio apesar de tatildeo longe eacute
um mundo proacuteximo visto natildeo soacute atraveacutes do desbravar das paacuteginas de um livro mas tambeacutem
pela realidade beacutelica tatildeo semelhante agrave nossa no mesmo periacuteodo histoacuterico Pois eacute ou natildeo
verdade que enquanto os basilecircis bizantinos enfrentavam os califados de Damasco e Bagdade
os reinos dos cristatildeos da Peniacutensula Ibeacuterica se defendiam e contra-atacavam as hostes
muccedilulmanas de Coacuterdova e dos restantes poderes islacircmicos que dominavam a Hispacircnia Natildeo
deixam de ser interessantes certos paralelos que se podem traccedilar de um lado e de outro do
Mediterracircneo inclusive a niacutevel cronoloacutegico por exemplo em 718 no mesmo ano em que
Pelaacutegio vence a escaramuccedila em Covadonga pondo um ponto final agrave expansatildeo muccedilulmana na
Peniacutensula Ibeacuterica o geacutenio e a arguacutecia de Leatildeo III levavam a melhor sobre a uacuteltima tentativa
aacuterabe de tomar Constantinopla Um reveacutes em duas frentes que a nossa ver eacute uma
coincidecircncia curiosa
Mas o que dizer drsquo O Saacutebio Ateacute certo ponto achamos que cumprimos o objetivo que
nos propusemos de investigar a sua preocupaccedilatildeo com a situaccedilatildeo que o Impeacuterio atravessava
Bizacircncio natildeo vivia naquela eacutepoca um periacuteodo muito mau ainda embalada pela capacidade
governativa de Basiacutelio I e dos Amorianos que a Oriente pagaram o preccedilo de ferro e sangue
para garantir a supremacia bizantina nas cordilheiras do Tauro e do Antitauro Por outro lado
Constantinopla conseguiu recuperar territoacuterios haacute algum tempo perdidos no Sul de Itaacutelia natildeo
obstante a perda da Siciacutelia A ascensatildeo de Leatildeo foi algo inesperada uma vez que natildeo era ele o
primogeacutenito de Basiacutelio pelo que muito possivelmente natildeo teraacute sido treinado para a
governaccedilatildeo ou para o comando militar No entanto a nosso ver ele demonstrou possuir um
pensamento estrateacutegico manifestando que as suas prioridades em termos beacutelicos estavam
bem definidas o poderio muccedilulmano bem estabelecido no Mediterracircneo Oriental Isto
acarretou erros noutras frentes como na Bulgaacuteria onde a acircnsia em voltar a enviar os seus
exeacutercitos contra os infieacuteis do Oriente virou a mareacute de uma guerra que na praacutetica estava
ganha algo que lhe custaria uma paz bastante onerosa no final do conflito Mas Leatildeo parece
ter aprendido pois o laquocavaleiro da guerraraquo natildeo voltou a galopar nos Balcatildes e a paz manteve-
se entre os dois povos cristatildeos ateacute agrave sua morte
O saque da segunda maior cidade do Impeacuterio eacute uma questatildeo algo indefinida mas no
nosso entendimento se realmente a cidade pudesse ter sido salva Leatildeo tecirc-lo-ia tentado de
alguma maneira A nosso ver soacute natildeo realizou tal empreendimento porque sabia que de uma
forma ou de outra os custos seriam elevados e natildeo estava disposto a arriscar uma pesada
107
derrota naval no Mar Egeu colocando efetivamente em risco a capital Em vez disso ordenou
o lanccedilamento de campanhas terrestres na Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria para vingar o que tinha
acontecido na Greacutecia aproveitando-se da ausecircncia das tropas muccedilulmanas na regiatildeo
estrateacutegia por ele proacuteprio defendida no Taktikaacute Quanto a Taormina a natildeo ser que os
Bizantinos tencionassem empreender a reconquista da Siciacutelia teria sido muito difiacutecil de
manter de qualquer das formas Com as preocupaccedilotildees nos Balcatildes primeiro e com a escalada
da ameaccedila naval no Mediterracircneo Oriental teria sido muito complicado reunir esforccedilos e
recursos econoacutemicos e humanos para encetar um tal projeto
Foi nas aacuteguas do Mediterracircneo Oriental que Leatildeo VI mais tentou brilhar
empreendendo expediccedilotildees para garantir que a pirataria sarracena proveniente da Ciliacutecia e de
Creta fosse travada e parasse de assolar as ilhas do Egeu e a faixa costeira bizantina Natildeo
obstante o facto de ter enfrentado dois experientes almirantes muccedilulmanos Leatildeo o
Tripolitano e Damiano as frotas imperiais e laquotemaacuteticasraquo bizantinas continuaram a fazer sentir
a sua presenccedila e mantiveram-se suficientemente fortes para atacar o Levante e a ilha de Creta
entre 910 e 912 Em face destes eventos atrevemo-nos a dizer que apesar de alguns
descalabros Leatildeo natildeo soacute mostrou interesse na situaccedilatildeo estrateacutegica do seu impeacuterio como
conseguiu manter o impeacuterio na moacute de cima Isto soacute foi possiacutevel garantindo a supremacia
bizantina no sul de Itaacutelia onde o impeacuterio contribuiria decisivamente para a expulsatildeo dos
Sarracenos em 915 e graccedilas agrave expansatildeo para Este por meio da diplomacia e da criaccedilatildeo de
novos themaacuteta fronteiriccedilos como foi o caso de Tephrike
Na nossa opiniatildeo natildeo haacute melhor prova do fasciacutenio que Leatildeo nutria pelas questotildees do
exeacutercito do que a escrita do Taktikaacute Este tratado militar recolhendo os ensinamentos do
passado parte da realidade do presente (de Leatildeo) e do pensamento do basileuacutes No iniacutecio
desta dissertaccedilatildeo propusemo-nos aferir ateacute que ponto este manual correspondia ao seu tempo
ou agrave conjuntura em que foi escrito e natildeo seria apenas um exerciacutecio do conservadorismo
cultural bizantino Natildeo nos parece crediacutevel afirmar que se tratasse apenas de um manuscrito
que pretendia tatildeo soacute recolher a erudiccedilatildeo militar do passado O Taktikaacute eacute algo mais do que isso
eacute um guia do que o pensamento estrateacutegico bizantino deveria ser
Natildeo descurando a importante mensagem religiosa das suas paacuteginas durante a leitura
do Taktikaacute conseguimos assinalar vaacuterias caracteriacutesticas do pensamento estrateacutegico bizantino
da eacutepoca a primeira a gestatildeo de soldados e recursos pois natildeo obstante o facto de possuir
capiacutetulos sobre a batalha campal o imperador salienta por vaacuterias vezes que aquele tipo de
atividades beacutelicas bem como outras de grande risco como surtidas deve ser evitado Depois
um reencontro com a ambiccedilatildeo bizantina de se voltar a tornar uma talassocracia estatuto esse
108
perdido desde a batalha dos Mastros em 654 um desejo demonstrado na inserccedilatildeo de uma
Constitutio exclusivamente dedicada a temaacuteticas navais A secccedilatildeo sobre os Aacuterabes tambeacutem eacute
muito importante no que concerne agrave estrateacutegia bizantina e consubstancia-se numa grande
contribuiccedilatildeo de Leatildeo VI para o conjunto da tratadiacutestica Apesar de deturpado em certos
aspetos o estudo que o imperador faz dos costumes beacutelicos aacuterabes eacute muito interessante pelo
detalhe que apresenta o fervor religioso a origem e modo de equipamento dos soldados
muccedilulmanos (voluntaacuterios religiosos na maior parte das vezes) a localizaccedilatildeo das bases de
invasatildeo o tipo de guerra que fazem entre outras caracteriacutesticas apresentadas que
demonstram que o autokraacutetor sabia quem era o seu inimigo e queria ensinar (ou partilhar a
experiecircncia) com os seus leitores sobre como lidar com o adversaacuterio sedeado do outro lado do
Tauro
Obviamente o Taktikaacute natildeo deve ser lido lsquopreto no brancorsquo pois nem tudo o que laacute estaacute
eacute representa a realidade militar ao tempo de Leatildeo Apesar de importante a descriccedilatildeo do
equipamento e das taacuteticas de infantaria natildeo eacute fundamental para se compreender o periacuteodo em
estudo e muito menos para servir de aplicaccedilatildeo aos exeacutercitos de que Leatildeo falava os dos
themaacuteta A infantaria dos themaacuteta seria importante para cumprir certas funccedilotildees como de
guarniccedilatildeo por exemplo mas nesta altura colocar thematikoiacute apeados a combater numa
batalha era um erro crasso pois eram homens que natildeo tinham nem equipamento nem treino
nem disciplina para participar nela
No decorrer desta dissertaccedilatildeo tecemos algumas opiniotildees pessoais sobre o tipo de
informaccedilotildees que se poderiam melhor aplicar aos themaacuteta A primeira Constitutio que nos
ocorre quando pensamos nestes exeacutercitos provinciais eacute a XVII uma vez que aiacute se abordam
as questotildees referentes agraves praacuteticas de guerrilha indubitavelmente as que se encontravam mais
em vigor no contexto da atividade beacutelica provincial bizantina Mas natildeo soacute a repeticcedilatildeo de
meacutetodos de guerra psicoloacutegica para tomar uma fortaleza pode servir como liccedilatildeo a um
strategoacutes de um theacutema sobre como se poderia conquistar uma fortificaccedilatildeo de forma
relativamente ceacutelere se tal fosse necessaacuterio no contexto de um laquocontra raideraquo por exemplo
Por outro lado a descriccedilatildeo do equipamento de cerco pesado e das taacuteticas que o envolvem
parece-nos algo exagerada para o tipo de hoste em questatildeo que tinha de ser raacutepida por
natureza caracteriacutestica que natildeo seria facilitada (antes pelo contraacuterio) caso transportasse um
pesado comboio-de-cerco durante a campanha
Neste trabalho tivemos a preocupaccedilatildeo de desenvolver o nosso espirito criacutetico indo
aleacutem do que outros autores antes de noacutes disseram sobre estas mateacuterias e ousando acrescentar
as nossas interpretaccedilotildees pessoais nomeadamente no que toca agrave questatildeo crucial dos themaacuteta
109
Por outro lado alargaacutemos a nossa contextualizaccedilatildeo aos reinados de Leatildeo e de Basiacutelio algo
que outros autores (como por exemplo John Haldon) natildeo fizeram de forma a podermos tecer
comparaccedilotildees entre alguns eventos destes reinados e certas praacuteticas enunciadas no tratado
No entanto temos de admitir que uma dissertaccedilatildeo de mestrado sobre o Taktikaacute eacute algo
de demasiado ambicioso para as poucas paacuteginas que nos satildeo atribuiacutedas num trabalho desta
natureza Por isso haacute outras questotildees e temas que gostariacuteamos de ter aprofundado se
houvesse espaccedilo para tal nomeadamente a questatildeo do pensamento teoloacutegico e social no
Taktikaacute por exemplo Ou entatildeo de que forma o Taktikaacute poderaacute esclarecer a vexata quaestio
da organizaccedilatildeo dos exeacutercitos dos taacutegmata apesar de estes natildeo configurarem o foco principal
do tratado Uma anaacutelise da preocupaccedilatildeo de Leatildeo quanto agrave negligecircncia do arco nos seacuteculos
anteriores com a explicaccedilatildeo das causas para o decliacutenio da utilizaccedilatildeo deste e a anaacutelise da
importacircncia que ele tinha no paradigma beacutelico do reinado do Saacutebio e do periacuteodo
compreendido entre os seacuteculos VII e X tambeacutem poderia constituir um estudo interessante
Por fim tecemos algumas consideraccedilotildees sobre o processo de produccedilatildeo do nosso
trabalho Natildeo foi faacutecil primeiro porque nos vimos confrontados com a falta de acesso agraves
fontes respeitantes ao reinado de Leatildeo VI o que logo nos causou algum incoacutemodo e nos
redirecionou para outras fontes (tais como a croniacutestica aacuterabe ou a Histoacuteria de Skylitzes) e
para algumas obras de estudo Natildeo subvalorizamos a importacircncia de nenhuma destas
tipologias mas sentimos que o nosso trabalho tendo em conta o periacuteodo que aborda fica um
pouco mais pobre sem referecircncias agrave Vita Euthymii por exemplo Por outro lado encetaacutemos
este projeto com conhecimentos adquiridos maioritariamente por autodidatismo o que
dificultou a compreensatildeo de certas temaacuteticas No entanto algumas aulas com o Professor Joatildeo
Gouveia Monteiro possibilitaram esclarecer algumas dessas duacutevidas pelo que renovamos os
agradecimentos que foram feitos no iniacutecio da presente dissertaccedilatildeo
Apesar de tudo tivemos um enorme prazer na realizaccedilatildeo deste trabalho e esperamos
ter contribuiacutedo ainda que modestamente para impulsionar os estudos bizantinos em Portugal
Realccedilamos ainda que o conhecimento da milenar aventura do Impeacuterio Romano do Oriente
poderaacute ser uma ajuda imprescindiacutevel para a interpretaccedilatildeo de alguns dos factos do nosso tempo
e da nossa proacutepria Histoacuteria Por tudo o exposto estamos disponiacuteveis para continuar este
percurso
110
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I
Anexos I ndash Mapas e Esquemas
Mapa 11 ndash Os themaacuteta da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X
Fonte - HALDON John (2005) The Palgrave Atlas of Byzantine History Londres
Palgrave Macmillan p 71
Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto
II
Mapa 12 ndash As principais cidades da Aacutesia Menor no iniacutecio do seacuteculo X
Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71
Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto
III
Mapa 21 ndash Os themaacutetas dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X
Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71
Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto
IV
Mapa 22 ndash As principais cidades dos Balcatildes no iniacutecio do seacuteculo X
Fonte - HALDON J (2005) ndash Op cit p 71
Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva e Joatildeo Neto
V
Mapa 3 ndash Mapa geopoliacutetico do sul de Itaacutelia e das suas principais cidades no iniacutecio do
seacuteculo X
Fonte - httpswwwalternatehistorycomforumthreadsa-blank-map-thread25312
Consultado a 31 de outubro pelas 2345
Ediccedilatildeo de imagem ndash Joatildeo Paiva
VI
Esquema 1 ndash Marcha em territoacuterio hostil
Autoria ndash Joatildeo Paiva
VII
Esquema 2 ndash Marcha em territoacuterio hostil com infantaria
Autoria ndash Joatildeo Paiva
VIII
Esquema 3 ndash Passagem de um desfiladeiro
Autoria ndash Joatildeo Paiva
IX
X
XI
Esquema 6 ndash Constituiccedilatildeo de um Proacutemachos
Autoria ndash Joatildeo Paiva
XII
Esquema 7 ndash Constituiccedilatildeo da segunda linha
Autoria ndash Joatildeo Paiva
XIII
Esquema 8 ndash Hipoacutetese de um dispositivo taacutetico de um theacutema
Autoria ndash Joatildeo Paiva
XIV
Anexos II ndash Cronologia poliacutetico-militar do periacuteodo meacutedio bizantino
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
Seacuteculo V
476
Itaacutelia Queda do Impeacuterio
Romano do Ocidente com
a deposiccedilatildeo de Roacutemulo
Augusto por Odoacro
Seacuteculo VI
Ca
579
Itaacutelia Constituiccedilatildeo dos
ducados de Benevento e de
Espoleto
580
Balcatildes Os Aacutevaros
conquistam Siacutermio
581
Balcatildes e Greacutecia
Penetraccedilatildeo dos Eslavos
nestas aacutereas e posterior
fixaccedilatildeo
582
Iniacutecio do principado de
Mauriacutecio
XV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
584
Itaacutelia 4 de outubro ndash
Formaccedilatildeo do Exarcado de
Ravenna em moldes
similares ao Exarcado de
Aacutefrica formado pela
mesma altura
590
Peacutersia Deposiccedilatildeo do
imperador Cosroeacutes II da
Peacutersia que foge para o
Impeacuterio Bizantino e apela
a ajuda do imperador
Mauriacutecio
591
Itaacutelia Roma eacute cercada
pelo duque Ariulfo de
Espoleto
Peacutersia Com ajuda
bizantina Cosroeacutes II
recupera o trono do
Impeacuterio Sassacircnida
Seacuteculo VII
600
Balcatildes Assinatura de um
tratado com os Aacutevaros
apoacutes vaacuterios sucessos
bizantinos na regiatildeo (como
a reconquista de Belgrado)
que fixa a fronteira no rio
Danuacutebio
XVI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
602
Rebeliatildeo das tropas da
fronteira do Danuacutebio e
execuccedilatildeo de Mauriacutecio
Proclamaccedilatildeo de Focas
como Imperador
Iniacutecio da uacuteltima Guerra
Bizantino-Persa Cosroeacutes
II sustenta esta guerra na
falta de legitimidade de
Focas ao trono bizantino e
apoia um pretendente
supostamente filho de
Mauriacutecio
Iniacutecio da eacutepoca meacutedia bizantina
610
Deposiccedilatildeo e assassinato de
Focas por Heraacuteclio filho
do exarca de Aacutefrica
Proclamaccedilatildeo do mesmo
como Imperador
614
Conquista de Jerusaleacutem
por Cosroeacutes II captura da
Vera Cruz
620
Egipto Conquista do
Egipto pelos Persas
Sassacircnidas
622
Expulsatildeo das forccedilas persas
presentes na Aacutesia Menor
Araacutebia Realiza-se a
Heacutegira ndash a fuga de Maomeacute
de Meca para Medina
XVII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
624
Reconquista da Armeacutenia a
Cosroeacutes II e posterior
vitoacuteria de Heraacuteclio sobre
trecircs exeacutercitos persas
Destruiccedilatildeo do Grande
Templo Zoroastra em
Takht-I-Suleiman
626
Cerco Aacutevaro-Persa de
Constantinopla termina
com vitoacuteria bizantina
O general Shahrbaraz e o
khan aacutevaro retiram
627
Iraque Batalha de Niacutenive
- Grande vitoacuteria de
Heraacuteclio sobre os Persas
em Niacutenive abre caminho
para Ctesifonte
628
Peacutersia A 28 de fevereiro
um golpe de estado
encetado por Xeroeacute filho
de Cosroeacutes II termina com
o regime do pai
Iniacutecio de negociaccedilotildees para
pocircr fim agrave (uacuteltima) Guerra
Bizantino-Persa
Usurpaccedilatildeo de Shahrbaraz
XVIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
629
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente Celebraccedilatildeo da
paz entre Bizantinos e
Persas as aacutereas territoriais
ocupadas pelas duas
potecircncias voltam ao estado
em que se encontravam
antes do iniacutecio dos
conflitos
630
Entrada vitoriosa de
Heraacuteclio em Jerusaleacutem
com o retorno das reliacutequias
sagradas capturadas pelos
Persas celebra a vitoacuteria
final do Impeacuterio Bizantino
Araacutebia Regresso e
conquista de Meca pelo
Profeta Maomeacute que a
transforma no centro
espiritual do Islatildeo
632
Araacutebia Morte de Maomeacute
que eacute sucedido pelo
primeiro Califa Abu Bakr
o seu sogro Guerras da
Ridda para unificar a
Peniacutensula Araacutebica
633
Primeiras incursotildees
Aacuterabes na Siacuteria-Palestina
634
Palestina Batalha de
Ajnadain ndash O primeiro
confronto campal entre
Bizacircncio e Muccedilulmanos
termina com a vitoacuteria dos
seguidores do Islatildeo
Araacutebia Morte do Califa
Abu-Bakr eacute sucedido por
Omar
XIX
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
634
(cont)
Iraque laquoBatalha da
Ponteraquo entre Aacuterabes e
Persas termina com a
vitoacuteria do Imperador
Yazdarij da Peacutersia
636
Palestina Batalha de
Yarmuk ndash Vitoacuteria
esmagadora do general
Khalid ibn al-Walid sobre
as forccedilas bizantinas de
Teodoro e Baanes
possibilita a conquista
aacuterabe quase absoluta da
Siacuteria-Palestina com
excepccedilatildeo de Jerusaleacutem e
Cesareia
Heraacuteclio ordena a retirada
para a Aacutesia Menor e que o
combate campal seja
evitado a todo o custo
637
Batalha de Qadisyia Uma
vitoacuteria muccedilulmana
decisiva permite a
conquista de Ctesifonte e a
conquista do Iraque Os
Persas retiram para o
planalto do Iratildeo
Batalha de Jalula nova
vitoacuteria muccedilulmana sobre
os Sassacircnidas culmina
com a consolidaccedilatildeo da
conquista da Mesopotacircmia
e do Crescente Feacutertil
XX
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
638
Conquista aacuterabe de
Jerusaleacutem
639
Egipto ndash 12 de dezembro
Iniacutecio da conquista
muccedilulmana do Egipto com
o ataque ao posto
fronteiriccedilo de Al-Arisch
Itaacutelia O rei Rotaacuterio dos
Lombardos conquista a
regiatildeo de Veneza menos o
lago
640
Conquista aacuterabe de
Cesareia
Egipto ndash julho de 640
Iniacutecio do cerco agrave fortaleza
bizantina de Babiloacutenia
junto ao local do atual
Cairo
Itaacutelia ndash O exarca Isaacutecio
ordena o saque do tesouro
papal
641
11 de fevereiro Morte de
Heraacuteclio
Egipto ndash Rendiccedilatildeo de
Babiloacutenia que isola
Alexandria como uacutenica
cidade do Egipto em matildeos
bizantinas
XXI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
642
Iniacutecio da anexaccedilatildeo
muccedilulmana da Armeacutenia
que seraacute findada no ano
seguinte
Iratildeo ndash Batalha de
Nehawend -a lsquovitoacuteria das
vitoacuteriasrsquo dos Aacuterabes potildee
fim ao que restava das
forccedilas militares persas
Egipto Submissatildeo de
Alexandria marca o fim
da conquista aacuterabe do
Egipto
644
Itaacutelia Rotaacuterio rei dos
Lombardos conquista a
Liguacuteria
Assassinato de Omar eacute
substituiacutedo pelo secretaacuterio
do Profeta Uthman um
primo afastado membro da
famiacutelia Ummayya
645
Egipto Reocupaccedilatildeo
bizantina de Alexandria
646
Egipto Rendiccedilatildeo
definitiva de Alexandria
fim da uacuteltima tentativa de
reconquista do Egipto
Norte de Aacutefrica Rebeliatildeo
no Exarcado de Aacutefrica
648
Norte de Aacutefrica Fim da
rebeliatildeo do Exarcado de
Aacutefrica quando o exarca eacute
morto por saqueadores
aacuterabes
XXII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
649
Uma frota bizantina
derrota uma das primeiras
frotas muccedilulmanas apoacutes
esta saquear a ilha de
Chipre
651
Khorasan Batalha do rio
Oxus ndash Vitoacuteria decisiva
aacuterabe e fim oficial do
Impeacuterio Persa Sassacircnida
654
Batalha dos Mastros ndash
Vitoacuteria naval aacuterabe junto agrave
Liacutecia potildee fim agrave
talassocracia bizantina e
assegura a conquista de
vaacuterias ilhas como Rodes e
Chipre
656
Araacutebia 17 de Junho ndash
Assassinato de Uthman em
Medina Eleiccedilatildeo quase
imediata de Ali o genro
do Profeta como califa
Outubro ndash Batalha do
Camelo ndash Ali derrota o
triunvirato encabeccedilado
pela viuacuteva de Maomeacute
Aisha O seu poder passa a
ser disputado apenas por
Muawiya parente de
Othman membro da
famiacutelia Ummayya e
governador da Siacuteria que
XXIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
656
(cont)
recusa ser substituiacutedo pelo
novo governador enviado
por Ali
657
Siacuteria 26 de Julho
Batalha de Siffin ndash quase-
vitoacuteria de Ali que soacute natildeo eacute
alcanccedilada porque o
Alcoratildeo eacute elevado numa
lanccedila pelos Siacuterios que
apelam a Deus para decidir
a querela
Discussotildees no seio das
forccedilas de Ali provocam
confrontos violentos com
um grande conjunto dos
apoiantes do califa os
Kharijitas que resultam na
expulsatildeo dos mesmos
Enfraquecimento da causa
do genro do profeta
658
Balcatildes Ataques bem-
sucedidos de Constante II
aos Eslavos culminam na
reconquista de vaacuterios
territoacuterios e no
reconhecimento da
soberania bizantina na
Macedoacutenia
XXIV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
659-
662
Periacuteodo em que Warren
Treadgold defende que os
themaacuteta teratildeo sido
fundados que tambeacutem
corresponde a uma treacutegua
bizantino-aacuterabe
661
Siacuteria Depois de vaacuterios
reveses como a perda do
Egipto para Muawiyia Ali
eacute assassinado por um
Kharijita O seu filho
Hussein transfere os
poderes para Muawiyia
que se torna Califa
Fim do Califado Rashidun
e iniacutecio do Califado
Omiacuteada
662
Constante II abandona
Constantinopla para
fortalecer as defesas da
Itaacutelia e Aacutefrica deixando
Constantino IV a governar
em Constantinopla
668
Itaacutelia Assassinato de
Constante II em Siracusa
a mando do komeacutes do
Opsikiacuteon Rebeliatildeo no
theacutema dos Armeniacuteacos
XXV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
670
Estabelecimento de bases
avanccediladas aacuterabes em
Kairouan no Norte de
Aacutefrica e Ciacutezico na regiatildeo
do Opsikiacuteon
674
Ocupaccedilatildeo aacuterabe da cidade
de Ciacutezico que eacute usada
como base para ataques
navais que iam do Mar de
Marmara ateacute aos subuacuterbios
de Constantinopla Iniacutecio
do primeiro cerco Aacuterabe a
Constantinopla
677
Reocupaccedilatildeo de Ciacutezico
pelos Bizantinos
678
Fim do cerco a
Constantinopla quando
Constantino IV comanda a
frota bizantina que pela
primeira vez emprega o
fogo greguecircs O exeacutercito
aacuterabe eacute derrotado por
forccedilas provinciais
680
Siacuteria Morte do Califa
Muawiya que eacute sucedido
por Yazicircd o seu filho
Movimento favoraacutevel a
Hussein filho de Ali eacute
esmagado pelo exeacutercito
omiacuteada na batalha de
XXVI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
680
(cont)
Karbala Morte de Hussein
e de vaacuterios partidaacuterios
681
Traacutecia Subjugaccedilatildeo dos
Eslavos do Norte da Traacutecia
pelos Buacutelgaros Tentativas
de os expulsar fracassaram
e os Buacutelgaros capturam
vaacuterios postos bizantinos na
costa do Mar Negro
682
Araacutebia Revolta em
Medina contra Yazicircd
683
Araacutebia Forccedilas siacuterias leais
ao califa esmagam a
revolta em Medina
Cerco a Meca eacute
interrompido pela morte
de Yazicircd que eacute sucedido
pelo filho Muawiya II
que morreraacute pouco tempo
depois
Iniacutecio da Segunda Fitna
684
Siacuteria Batalha de Marj-
Rahit nas imediaccedilotildees de
Damasco vitoacuteria dos
apoiantes de Marwan
sobre os apoiantes do
senhor da Peniacutensula
Araacutebica al-Zubayr
Marwan eacute aclamado
Califa Iniacutecio da dinastia
XXVII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
684
(cont)
dos Marwanidas
685
Siacuteria Morte de Marwan
Ascensatildeo de al-Malik ao
trono de Damasco
687
Chegada de Mardaiacutetas
(refugiados cristatildeos da
Siacuteria) que satildeo feitos
remadores permanentes da
divisatildeo dos Carabisiani
por Justiniano II
Iraque Morte de al-
Mukhtar senhor xiita de
Kufa agraves matildeos de Jaacutersquosab
irmatildeo de Zubayr A
Segunda Fitna passa a ser
disputada apenas pelos
senhores de Damasco e da
Araacutebia
688
A ilha de Chipre eacute
declarada territoacuterio neutro
apoacutes um tratado assinado
por Justiniano II e al-
Malik
689
A divisatildeo mariacutetima da
Heacutelade recebe os seus
proacuteprios Mardaiacutetas
691
Califado Derrota de
Musrsquoab agraves matildeos do califa
al-Malik
XXVIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
692
Araacutebia Cerco e tomada
de Meca por forccedilas de al-
Malik Morte de al-Zubayr
e fim da Segunda Fitna
695
Revolta do strategoacutes dos
Anatoacutelicos Leocircncio que
depotildee Justinano II apoacutes
ter sido libertado Tinha
sido preso por o
considerarem como
principal culpado pela
deserccedilatildeo de Eslavos que
tinham sido conscritos na
divisatildeo do Opsikiacuteon na
sua primeira batalha com
Aacuterabes
697
Norte de Aacutefrica
Conquista de Cartago
pelos Aacuterabes A cidade eacute
reconquistada mais tarde
por uma expediccedilatildeo
transportada pela frota dos
Carabisiani
698
Norte de Aacutefrica
Expulsatildeo da expediccedilatildeo e
perda definitiva de Cartago
para o Califado Aacuterabe
Regresso da expediccedilatildeo a
Constantinopla onde depotildee
Leocircncio e aclama o
almirante Tibeacuterio
XXIX
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
698
(cont)
Apsimar como basileus
Seacuteculo VIII
705
Apoiado pelos Buacutelgaros
Justiniano II recupera o
poder em Constantinopla e
executa Tibeacuterio
Norte de Aacutefrica A
expansatildeo islacircmica atinge a
costa atlacircntica sob a alccedilada
do governador Musa
Nusair
711
Apoacutes um bem-sucedido
raid aacuterabe agrave circunscriccedilatildeo
territorial dos Anatoacutelicos
Justiniano II eacute destronado
por uma frota que enviara
para a Crimeia
Peniacutensula Ibeacuterica ndash 19 de
julho Batalha de
Guadelete - as forccedilas
araacutebico-berberes de Tariq
comandante de Musa
Nusair derrotam o rei
visigodo Rodrigo
Iniacutecio da conquista aacuterabe
da Peniacutensula Ibeacuterica
717
Apoacutes os curtos reinados de
Filiacutepico e Anastaacutecio II o
strategoacutes dos Anatoacutelicos
Leatildeo toma
Constantinopla e depotildee
Teodoacutesio III
Iniacutecio de um novo cerco
aacuterabe agrave capital do Impeacuterio
Bizantino
Gaacutelia Primeira expediccedilatildeo
aacuterabe transpirenaica
XXX
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
718
Fim do uacuteltimo cerco aacuterabe
a Constantinopla ndash Os
Aacuterabes abandonam o cerco
de Constantinopla apoacutes a
destruiccedilatildeo de alguns
navios pelos Bizantinos
uma doenccedila que vitimou
muitos soldados um
inverno duro e a destruiccedilatildeo
de um exeacutercito de reforccedilo
enviado pelo Califa numa
emboscada bizantina
Peniacutensula Ibeacuterica
Batalha de Covadonga -A
conquista aacuterabe da
Peniacutensula nas Astuacuterias
por soldados cristatildeos sob o
comando de Pelaacutegio
720
Gaacutelia Conquista de
Narbonne por forccedilas
muccedilulmanas
721
Gaacutelia O Duque Eudo da
Aquitacircnia derrota forccedilas
aacuterabes nas proximidades
de Toulose
724
Califado Ascensatildeo do
Califa Hisham que vai
conseguir recuperar a
Transoxania e o Magrebe
durante o seu reinado
XXXI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
727
O basileuacutes Leatildeo III potildee
fim a uma revolta na
proviacutencia dos Carabisiani
que o incita a mudar o
quartel-general destes de
Samos para o sul da
Anatoacutelia
A divisatildeo dos Carabisiani
passa a chamar-se de
Kibirrhaiotai por passar a
ter a sua base no porto de
Cibyra
732
Gaacutelia O emir Abd al-
Rahman al-Ghaffiqi
comanda um enorme
exeacutercito para a Gaacutelia e
derrota Eudo
Batalha de ToursPoitiers
ndash Al-Ghaffiqi eacute derrotado
e morto por forccedilas francas
sob Carlos Martel
740
Batalha de Akroinos ndash
Vitoacuteria de Leatildeo III e do
futuro Constantino V
sobre forccedilas do Califado
Omiacuteada
741
Morte de Leatildeo III que eacute
sucedido por Constantino
V Revolta do Conde do
Opsikiacuteon Artavasdo
Constantinopla eacute tomada
XXXII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
741
(cont)
por Artavasdo
743
Forccedilas das divisotildees dos
Anatoacutelicos e dos
Traceacutesicos reconquistam
Constantinopla e cegam
Artavasdo
Fim da quinta revolta do
Opsikion Como resultado
destes acontecimentos
Constantino V forma os
taacutegmata atribuindo-lhes
parte do territoacuterio do
Opsikiacuteon e territoacuterios na
Traacutecia
Califado Morte de
Hisham Uacuteltima fase de
soberania Omiacuteada pautada
de rebeliotildees tem inicio
744
Califado Ascensatildeo do
uacuteltimo califa omiacuteada
Marwan II o Burro
Selvagem
745
Siacuteria Ao comando dos
taacutegmata Constantino V
realiza uma campanha
militar nos territoacuterios do
califado com sucesso Seraacute
a primeira invasatildeo bem-
sucedida bizantina a
territoacuterios aacuterabes numa
geraccedilatildeo
XXXIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
747
Khorasan Rebenta a
Revoluccedilatildeo Abaacutessida
749
Iraque Vitoacuteria abaacutessida
junto a Kufa apesar da
morte do seu general
Qahtaba
750
Iraque Batalha do rio
Zab Vitoacuteria abaacutessida
decisiva Massacre dos
Omiacuteadas Iniacutecio do
Califado Abaacutessida com o
califa Al-Saffah
751
Itaacutelia Queda de Ravena ndash
Destruiccedilatildeo do Exarcado de
Ravena pelos Lombardos
Bizacircncio perde as uacuteltimas
possessotildees na Itaacutelia
Central para os
Lombardos
752
Gaacutelia Os muccedilulmanos
abandonam Narbonne a
sua uacuteltima posiccedilatildeo
transpirenaica
XXXIV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
759
Califado Morte de Al-
Saffah que eacute sucedido por
Abu Jaacutersquofah Al-Mansur
762
Iraque O califa muda-se
para o seu novo palaacutecio na
ldquoCidade da Pazrdquo
Fundaccedilatildeo de Bagdade
Al-Mansur esmaga o as
forccedilas xiitas de Muhamad
durante o Ramadatildeo
766
Nova revolta no seio da
divisatildeo do Opsikiacuteon
767
Esmagada a revolta o
territoacuterio do Opsikiacuteon eacute
novamente dividido desta
vez com um novo distrito
o dos Bucelaacuterios
775
Morte de Constantino V
apoacutes um reinado bem-
sucedido com vaacuterias
conquistas na Traacutecia e
vitoacuterias sobre os Buacutelgaros
Califado Morte de Al-
Mansur no decurso de
uma peregrinaccedilatildeo a Meca
Ascensatildeo de al-Mahdi
776
Itaacutelia Fim do reino
lombardo agraves matildeos de
Carlos Magno
Peacutersia Iniacutecio da revolta
de al-Muqqana
XXXV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
780
Peacutersia A revolta eacute
subjugada
785
Califado Morte de al-
Mahdi
786
Califado Iniacutecio do
califado de Harun al-
Rashid que lideraraacute vaacuterios
raides a territoacuterio
bizantino
789
Traacutecia Irene divide o
theacutema da Traacutecia com um
novo theacutema o da
Macedoacutenia apoacutes uma seacuterie
de conquistas bizantinas
na Traacutecia
797
Iniacutecio da governaccedilatildeo de
Irene como Basileuacutes apoacutes
cegar o filho por
incompetecircncia e por este
ter cometido moicheacutea
(adulteacuterio)
Seacuteculo IX
802
Deposiccedilatildeo do Irene que
apoacutes uma desastrosa
poliacutetica econoacutemica eacute
substituiacuteda num golpe de
XXXVI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
802
(cont)
Estado pelo logoacuteteta
Niceacuteforo depois Niceacuteforo
I
809
Vexilationes de Niceacuteforo I
tomadas por John Haldon
como o iniacutecio do sistema
dos themaacuteta
Greacutecia Conquista destes
territoacuterios O basileuacutes
Niceacuteforo I procede agrave
criaccedilatildeo de vaacuterios themaacuteta
na regiatildeo Peloponeso
Cefaloacutenia e Tessaloacutenica
Bulgaacuteria Niceacuteforo I
saqueia a capital do
Impeacuterio Buacutelgaro Priska
Califado Morte de Harun
al-Rashid Al-Amin torna-
se califa em Bagdade
811
Staurakios o filho de
Niceacuteforo eacute deposto apoacutes
ser ferido fatalmente na
batalha de Priska e
substituiacutedo por Miguel I
Rangabeacute
Bulgaacuteria Campanha de
Niceacuteforo contra este
territoacuterio volta a saquear
Priska
Batalha de Priska ndash Vitoacuteria
do khan Krum numa
emboscada e morte de
Niceacuteforo e a destruiccedilatildeo da
maior parte do exeacutercito e
da cadeia de comando
bizantina
Traacutecia O Impeacuterio da
Bulgaacuteria conquista a maior
parte dos territoacuterios
reconquistados por
Niceacuteforo com excepccedilatildeo
da Greacutecia
Califado Iniacutecio da Quarta
Fitna entre o califa al-
Amin e o irmatildeo al-
Mamun governador de
Khorasan O primeiro
confronto termina com a
vitoacuteria das forccedilas
ldquorebeldesrdquo
XXXVII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
812
Iraque Apoacutes vaacuterios
embates al-Mamun cerca
Bagdade
813
Traacutecia Batalha de
Versinikia ndash nova vitoacuteria
de Khrum sobre forccedilas
bizantinas
Como consequecircncia o
basileuacutes Miguel abandona
o cargo e eacute substituiacutedo por
Leatildeo V denominado de laquoo
Armeacutenioraquo
Iraque Fim do cerco de
Bagdade e da Quarta
Fitna Execuccedilatildeo de al-
Amin e ascensatildeo de al-
Mamun ao cargo de califa
814
Impeacuterio Buacutelgaro Morte
do khan Krum
819
Iraque Apoacutes uma seacuterie de
vaacuterias guerras civis al-
Mamun entra em Bagdade
820
Assassinato de Leatildeo V
Guerra civil entre Miguel
II laquoo Amorianoraquo e Tomaacutes
o Eslavo
823
Morte de Tomaacutes o Eslavo
a guerra perduraraacute mais
um ano no entanto
XXXVIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
824
Os uacuteltimos apoiantes de
Tomaacutes satildeo esmagados na
Anatoacutelia
826
Siciacutelia Revoltosos gregos
da ilha apelam ao auxiacutelio
de aacuterabes do Norte de
Aacutefrica
827
Siciacutelia Invasatildeo aglaacutebida
da ilha
828
Creta Os Bizantinos
perdem esta ilha para
piratas andaluzes
829
Morte de Miguel II eacute
substituiacutedo por Teoacutefilo
831
Siciacutelia Os Aacuterabes
conquistam Palermo
833
Califado Morte de al-
Mamun eacute substituiacutedo no
trono pelo irmatildeo que
reinaraacute sob o nome de al-
Mutasim (iniacutecio do
periacuteodo abaacutessida meacutedio)
XXXIX
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
834
Teoacutefilo acolhe refugiados
Curramitas que se juntam
ao exeacutercito e se convertem
ao Cristianismo
837
Expediccedilotildees de saque
bizantinas contra o
Califado Chegada de mais
Curramitas ao Impeacuterio
838
Revoltas Curramitas no
Impeacuterio
Batalha de Anzen entre o
basileus Teoacutefilo de
Bizacircncio e forccedilas
abaacutessidas (que incluiacuteam
cavaleiros turcos) sob al-
Afshin culmina com a
vitoacuteria aacuterabe
Saque de Ancyra e Amoacuterio
por forccedilas abaacutessidas
839
Submissatildeo dos Curramitas
por Teoacutefilo
840
Reformas militares de
Teoacutefilo aumento de
soldos e reorganizaccedilatildeo da
cadeia de comando
XL
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
840-
841
As kleisocircurai da
Capadoacutecia e Charsianon
derrotam raids aacuterabes
Como recompensa a
kleisocircura da Capadoacutecia eacute
promovida a theacutema
841
Itaacutelia Os Aacuterabes tomam
Bari
842
Morte do basileus Teoacutefilo
Ascensatildeo de Miguel III
Morte de al-Mutasim eacute
substituiacutedo pelo filho al-
Wathiq
843
Creta Tentativa falhada
de reconquista de Creta
pelos Bizantinos Criaccedilatildeo
do theacutema do Mar Egeu
844
Estabelecimento de um
ldquoPrincipado Paulicianordquo
nas imediaccedilotildees da cidade
de Tephrice
847
Morte de al-Wathiq que
natildeo tem sucessor definido
Uma shura (espeacutecie de
concelho) acaba por eleger
um irmatildeo de al-Wathiq
como califa que ascenderaacute
com o nome de al-
Mutawakill
XLI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
861
Criaccedilatildeo do theacutema de
Coloacutenia no Alto Eufrates
863
Batalha de Marj al-Usquf
termina com uma vitoacuteria
piacuterrica muccedilulmana do
Emirato de Melitene
Batalha de Lalacatildeo
termina numa vitoacuteria
decisiva do domeacutestico das
Escolas Petronas sobre
Omar que cai na batalha
O outro grande emir da
fronteira o de Tarsus eacute
morto num contra raide
bizantino
866
Itaacutelia O imperador Luiacutes II
comeccedila a intervir no sul de
Itaacutelia
869
Siciacutelia Tentativa de
conquista de Taormina
pelo Emirato Aglaacutebida
Itaacutelia Cerco de Bari pelo
imperador Luiacutes II conta
com a participaccedilatildeo de
forccedilas bizantinas
c 870
Reformas militares de
Basiacutelio I agrave frota bizantina
XLII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
871
Itaacutelia Capitulaccedilatildeo de Bari
para as forccedilas francas
872
Batalha de Bathys Ryax ndash
vitoacuteria bizantina onde as
forccedilas militares strategoacutes
satildeo esmagadas O liacuteder da
heresia Crisoacutequero eacute
morto na batalha
876
Itaacutelia Bari passa para o
controlo do Impeacuterio
Bizantino
878
Siciacutelia 21 de maio ndash
conquista aglaacutebida de
Siracusa
879
Reconquista bizantina de
Tephrike potildee fim agrave naccedilatildeo
da heresia pauliciana
880
Itaacutelia Campanhas gregas
na regiatildeo permitem
reconquistar algumas
fortalezas como Taranto e
derrotar forccedilas navais
muccedilulmanas junto a
Milazzo
XLIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
886
Itaacutelia Reconquista da
Calaacutebria e da Apuacutelia por
Niceacuteforo Focas o Velho
889
Itaacutelia Importante vitoacuteria
bizantina no Estreito de
Messina permite repor o
controlo naval sobre
aquela zona apoacutes uma
derrota no ano interior
890
Provenccedila Criaccedilatildeo do
enclave pirata sarraceno
em Saint Tropez
891
Ataques corsaacuterios de Leatildeo
o Tripolitano e Damiano agrave
ilha de Samnos
Itaacutelia Conquista bizantina
de Benevento No ano
seguinte formar-se-aacute o
theacutema da Lombardia
centrado naquela cidade
894
Iniacutecio da guerra bizantino-
buacutelgara entre o basileuacutes
Leatildeo VI e o czar Simeatildeo
da Bulgaacuteria com o uacuteltimo
a demonstrar vantagem
inicialmente
895
Bulgaacuteria Contraofensiva
conjunta bizantina e
magiar contra os buacutelgaros
acarreta grandes sucessos
Mais tardes os bizantinos
XLIV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
895
(cont)
retiram e os buacutelgaros
conseguem derrotar os
Magiares com apoio
pechenegue
896
Bulgaacuteria Apoacutes uma
marcante derrota bizantina
na batalha de
Bulgarophygon Leatildeo VI
assina a paz com Simeatildeo
Seacuteculo X
901
Itaacutelia Conquista de Reacutegio
pelos Aglaacutebidas da Siciacutelia
902
Siciacutelia Fim da presenccedila
bizantina na Siciacutelia com a
queda de Taormina para os
Aacuterabes
904
Saque de Tessaloacutenica agraves
matildeos de Leatildeo o
Tripolitano e Damiano
906
Panoacutenia Derrotados pelos
Pechenegues os Magiares
fogem para esta regiatildeo
onde arrasam o reino da
Moraacutevia
XLV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
911
Creta Expediccedilatildeo enviada
agrave ilha por Leatildeo VI o Saacutebio
falha a reconquista da ilha
915
Itaacutelia As forccedilas do
strategoacutes de Bari Nicolau
Piccingli juntam-se agrave Liga
Santa de Joatildeo X e
destroem o enclave pirata
sarraceno na foz do rio
Garigliano
917
Bulgaacuteria Batalha de
Acheloos ndash derrota do
strategoacutes Leatildeo Focas
frente agraves forccedilas buacutelgaras
do czar Simeatildeo
919
Romano Lecapeno o
droungaacuterios tou ploiumlmon
depotildee a regente Zoeacute
Carbonopsina e ascende
ao trono como co-
imperador de Constantino
VII
924
Cerco de Constantinopla
por Simeatildeo da Bulgaacuteria
termina em insucesso
Greacutecia Destruiccedilatildeo da
frota de Leatildeo o Tripolitano
na costa de Lemnos
XLVI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
927
Impeacuterio Buacutelgaro A
morte do czar Simeatildeo potildee
fim aos seus planos de
criar um impeacuterio
Bizantino-Buacutelgaro
934
Uma hoste bizantina sob
Joatildeo Kourkoas conquista
a cidade de Melitene
941
Expediccedilatildeo de saque russa
ataca a margem asiaacutetica do
Boacutesforo mas eacute derrotada
por Romano Lecapeno
944
Usurpaccedilatildeo do poder pelos
filhos de Romano I eacute
repudiada pela populaccedilatildeo
de Constantinopla que
restitui ao trono o basileuacutes
Constantino VII
949
Creta Nova tentativa de
reconquista de Creta
falhada
Armeacutenia Bizacircncio ocupa
Teodosioacutepolis a principal
base aacuterabe nesta regiatildeo
955
Bavaacuteria Otatildeo I derrota
decisivamente os magiares
na batalha de Lechfeld
XLVII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
959
Divisatildeo dos comandos dos
taacutegmata entre o Ocidente e
Oriente comandados por
um domeacutestico do Ocidente
e Oriente respetivamente
960
Batalha de Andrassos ndash
vitoacuteria de Leatildeo Focas
sobre Sayf al-Dawlah
961
Creta Reconquista da
ilha por Niceacuteforo Focas
962
Campanha bizantina sob
Niceacuteforo Focas na Ciliacutecia
e na Siacuteria contra o
Emirado Hamdacircnida
Conquista temporaacuteria de
Aleppo
963
Morte do Imperador
Romano II no decorrer de
uma caccedilada
Casamento de Niceacuteforo
Focas com a viuacuteva
Teoacutefane subindo ao trono
como o co-imperador
Niceacuteforo II Focas
964
Ocupaccedilatildeo total da ilha de
Chipre pelos Bizantinos
XLVIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
965
Conquista da Ciliacutecia ndash
apoacutes a tomada de Tarso a
capital daquela regiatildeo
Bulgaacuteria O priacutencipe
Svyatoslav de Kiev invade
a Bulgaacuteria apoacutes o apelo de
Niceacuteforo II
966
Os exeacutercitos bizantinos
avanccedilam na direccedilatildeo de
Antioquia conquistando
algumas fortalezas nas
imediaccedilotildees desta como
Arka e Hierapoacutelis
Iniacutecio do cerco de
Antioquia
967
O Impeacuterio Bizantino
recebe em testamento o
principado de Taron na
Armeacutenia
969
Conquista de Antioquia
Deposiccedilatildeo e assassinato de
Niceacuteforo II Focas pelo
sobrinho Joatildeo I Tzimiskeacute
Itaacutelia Derrota bizantina
frente a Otatildeo I na batalha
de Ascoli potildee em risco as
uacuteltimas possessotildees
romanas no sul de Itaacutelia
970
Bulgaacuteria Tomada de
Filipopoacutelis pelos Russos
a uacuteltima fortaleza em matildeos
buacutelgaras
XLIX
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
970
(cont)
Traacutecia Batalha de
Arcadioupolis ndash Daacute tempo
suficiente ao co-imperador
Joatildeo I Tzimiskeacute para
preparar a invasatildeo da
Bulgaacuteria
971
Bulgaacuteria Batalha de
Dorostolon termina numa
vitoacuteria decisiva bizantina
que expele os Rus da
Bulgaacuteria
Svyatloslav morre pouco
depois agraves matildeos dos
Pechenegues
972
Mesopotacircmia Invasatildeo
romana da regiatildeo permite
a conquista de algumas
cidades como Niacutesibe
974
Siacuteria Joatildeo I Tzimiskeacute
tenta alcanccedilar Bagdade
mas eacute parado pelo deserto
da Siacuteria
975
Campanhas bizantinas na
Siacuteria culminam com a
conquista de Damasco e de
vaacuterias cidades na Siacuteria
Joatildeo I Tzimiskeacute promete
reconquistar Jerusaleacutem
L
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
976
Morte de Joatildeo I Tzimiskeacute
eacute sucedido pelo filho de
Romano II Basiacutelio
Insurreiccedilatildeo de Bardas
Sclero
978
O basileuacutes Basiacutelio II
incapaz de esmagar a
revolta sozinho apela ao
auxiacutelio do aristocrata
Bardas Focas
Batalha de Pankaleia
culmina na derrota de
Focas frente a Sclero
979
A revolta de Bardas Sclero
eacute esmagada por Bardas
Focas
986
Traacutecia Ataques buacutelgaros
que tinham comeccedilado em
985 atingem Tessaloacutenica
Bulgaacuteria Basiacutelio II eacute
derrotado por Samuel da
Bulgaacuteria numa emboscada
989
Batalha de Crisopoacutelis ndash
vitoacuteria de Basiacutelio II e dos
seus aliados Varangues
sobre as forccedilas rebeldes de
Barda Focas
LI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
989
(cont)
Batalha de Abido ndash vitoacuteria
decisiva de Basiacutelio II sobre
Barda Focas Morte do
uacuteltimo
997
Greacutecia Batalha do rio
Spercheios ndash Vitoacuteria das
forccedilas bizantinas de
Niceacuteforo Ouranos sobre as
forccedilas buacutelgaras do czar
Samuel
Seacuteculo XI
1001
Bulgaacuteria Realiza-se a
primeira campanha de
Basiacutelio II depois da sua
derrota anos antes
Treacuteguas entre Basiacutelio II e
o Califado Fatimita apoacutes
seis anos de conflito
1011
Itaacutelia Reconquista de
Bari a Meles um revoltoso
local
1014
Bulgaacuteria Batalha do
desfiladeiro de Kleidion
onde Basiacutelio II captura
cerca de 15 mil soldados
buacutelgaros e de acordo com
as fontes cega-os
Morte do czar Samuel
LII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1018
Bulgaacuteria Anexaccedilatildeo final
deste territoacuterio por Basiacutelio
II
Itaacutelia Batalha de Otranto
resulta numa vitoacuteria de
Niceacuteforo Boianeacutes o
katepaacutenō de Itaacutelia sobre
Meles e os seus aliados
normandos
1025
Morte de Basiacutelio II eacute
substituiacutedo pelo irmatildeo
Constantino
Itaacutelia Conquista de
Messina por Boianeacutes abre
caminho a uma possiacutevel
reconquista da Siciacutelia
1032
Siacuteria Durante o reinado
de Romano III Argiro
Bizacircncio reconquista
Edessa sob Jorge
Maniakeacutes
1040
Armeacutenia morte do rei
Joatildeo III Smbat Iniacutecio de
uma guerra civil entre o
sobrinho Gagik II e outros
priacutencipes armeacutenios com
incursotildees bizantinas
durante o conflito
Khorasan Vitoacuteria dos
Turcos Seljuacutecidas sobre o
sultatildeo Masrsquoud do Impeacuterio
Gaznaacutevida na batalha de
Dandanaqan
1041
Uacuteltimo cerco russo a
Constantinopla
Bulgaacuteria Revolta buacutelgara
eacute esmagada por forccedilas
leais a Constantinopla
LIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1042
Siciacutelia Jorge Maniakeacutes
acaba a reconquista da
parte oriental da ilha
1045
Armeacutenia Tomada de Ani
por forccedilas bizantinas e
purga da Igreja Miafisita
1048
Armeacutenia e Geoacutergia ndash Um
exeacutercito de ghazis Oguzes
invade estas regiotildees e
captura o priacutencipe Liparit
1050
Iraque Toghril Beg
invade o norte da regiatildeo
1053
Itaacutelia Batalha de Civitate
ndash os Normandos capturam
o papa Leatildeo IX
Peacutersia Graccedilas agraves tribos
turcomanas ao seu dispor
Toghril Beg toma conta da
regiatildeo de Fars no sudoeste
iraniano
1054
Expediccedilatildeo de Toghril Beg
na Armeacutenia e cerco de
Manzikert durante esta
expediccedilatildeo Toghril Beg
consegue chegar a
Trebizonda saquear a
zona de Van e ainda cercar
Manzikert ainda que sem
sucesso
LIV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1055
Peacutersia Toghril Beg
conquista o Khuzistatildeo
Iraque dezembro - Os
Turcos Seljuacutecidas ocupam
Bagdade
1056
Morte de Teodora potildee fim
agrave dinastia Macedoacutenica
1057
Aacutesia Menor A cidade de
Melitene eacute saqueada e
arrasada por saqueadores
turcomanos
1058
Iraque O general turco
Arslan Basasiri recupera
Bagdade para os xiitas
1060
Iraque Basasiri eacute morto
em batalha Purga dos
xiitas de Bagdade
1063
Peacutersia Morte de Toghril
Beg em Rey Iniacutecio de
uma guerra civil
sucessoacuteria
LV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1064
Armeacutenia A cidade de
Ani e grande parte da
Armeacutenia eacute conquistada
por Alp Arslan
Balcatildes Conquista huacutengara
de Belgrado O povo Uzi
saqueia grande parte do
territoacuterio ocidental
bizantino ateacute agrave Greacutecia
Impeacuterio Seljuacutecida Alp
Arslan vence a guerra civil
e torna-se sultatildeo
1065
Armeacutenia Anexaccedilatildeo deste
territoacuterio pelo Sultanato
Seljuacutecida
1067
Aacutesia Menor Saque
turcomano de Cesareia
1068
Romano IV Dioacutegenes
torna-se co-imperador
Aacutesia Menor Conquista e
saque turcomano de
Amoacuterio sob Afsin
Siacuteria Campanha de
Romano IV Dioacutegenes nos
arredores de Alepo
termina em falhanccedilo a natildeo
ser pela conquista de
Hieraacutepolis
1069
Aacutesia Menor Ataque
turcomano a Icoacutenio no
coraccedilatildeo da Anatoacutelia
Nova campanha romana na
regiatildeo termina em
fracasso
1071
Armeacutenia Batalha de
Khliat Derrota das forccedilas
bizantinas sob Joseacute
Tarcaniotes e Roussel de
Bailleul frente a um
exeacutercito seljuacutecida sob
Sanduq al-Turki
Itaacutelia Roberto Guiscard
ocupa Bari e potildee fim a
mais de quinhentos anos
de presenccedila bizantina na
regiatildeo
Siacuteria Cercos turcomanos
a Edessa e Alepo Falham
pelas falsas treacuteguas
bizantinas no caso do
primeiro e pela declaraccedilatildeo
de guerra de Romano IV
Dioacutegenes no segundo
LVI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1071
(cont)
Batalha de Manzikert ndash o
coimperador Romano IV
Diogenes eacute derrotado pelo
sultatildeo turco Alp Arslan
Apesar das baixas
relativamente pequenas
bizantinas vai marcar o
iniacutecio de um periacuteodo de
extrema instabilidade
poliacutetica para Bizacircncio
Batalha de Sebasteia ndash
Romano IV Dioacutegenes eacute
derrotado por forccedilas leais agrave
dinastia Ducas que
aprisionara a imperatriz
Eudoacutexia em
Constantinopla
1072
Batalha de Adana ndash Nova
derrota de Romano IV
Dioacutegenes frente aos
Ducas O co-imperador eacute
aprisionado cegado e
encerrado num mosteiro
onde morre pouco depois
Iratildeo ndash Assassinato de Alp
Arslan
1078
Golpe de estado do
strategoacutes da Anatoacutelia
Niceacuteforo Botaniates que
sobe ao trono como o
terceiro de seu nome
Formaccedilatildeo do Sultanato de
Rum pelo priacutencipe
Suleimatildeo
LVII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1081
Niceacuteforo III eacute deposto por
Aleixo Comneno que o
substitui no trono
Balcatildes Cerco de
Dirraacutequio por Roberto
Guiscard
Os Normandos tomam a
ilha de Corfu
Aleixo Comneno eacute
derrotado pelas forccedilas de
Guiscard na batalha de
Dirraacutequio
1084
Balcatildes Nova campanha
de Roberto Guiscardo na
regiatildeo
1085
Balcatildes Morte de Roberto
Guiscardo durante o cerco
de Cefaloacutenia
1087
Traacutecia A regiatildeo eacute
invadida por Pechenegues
1091
Traacutecia Batalha do Monte
Levuniatildeo ndash vitoacuteria de
Aleixo Comneno sobre os
Pechenegues
Batalha de Anchialos
Aleixo Comneno derrota
os Cumanos
LVIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1095
Franccedila Conciacutelio de
Clermont daacute iniacutecio agrave
Primeira Cruzada
1096
Primavera Chegada a
Constantinopla dos
primeiros regimentos
cruzados incluindo a
chamada ldquoCruzada
Popularrdquo liderada por
Pedro ldquoo Eremitardquo e
Gualter ldquoSem Haverrdquo Os
ldquoverdadeirosrdquo cruzados
chegaratildeo mais tarde
Batalha de Civetot A
Cruzada Popular eacute
derrotada por forccedilas
seljuacutecidas sob o Sultatildeo
Kilij Arslan
1097
Primavera Cerco
bizantino-cruzado a
Niceia A guarniccedilatildeo turca
rende-se a Constantinopla
que proiacutebe os Cruzados de
saquearem a cidade
1098
Siacuteria Balduiacuteno de
Bolonha conquista Edessa
e forma o primeiro Estado
cruzado o condado de
Edessa
LIX
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1098
(cont)
Junho ndash Os Cruzados
tomam Antioquia e
formam o segundo Estado
cruzado o principado de
Antioquia sob Boemundo
de Tarento filho de
Roberto Guiscardo
1099
Palestina julho ndash
Conquista saque e purga
de Jerusaleacutem pelos
Cruzados O reino de
Jerusaleacutem eacute criado e a
coroa entregue a
Godofredo de Bulhatildeo
duque da Baixa Lorena
Seacuteculo XII
1102
Palestina Raimundo de
Saint-Gilles o conde de
Toulose cria o condado de
Triacutepoli (apesar de ainda
natildeo controlar a cidade)
1104
Piroska filha do rei
magiar Ladislau I casa
com o futuro basileuacutes Joatildeo
II
LX
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1108
Balcatildes A campanha
iniciada no ano anterior
por Boemundo de Tarento
sai gorada pelo uso de
taacuteticas de guerrilha por
Aleixo I Comneno
Siacuteria Apoacutes a recusa dos
Cruzados a entregarem
Antioquia Aleixo I
vassaliza o principado de
Antioquia agrave forccedila
1117
Batalha de Nicomeacutedia
Aleixo I Comneno derrota
o sultatildeo turco Malik Sha
1118
Ascensatildeo de Joatildeo II ao
trono de Constantinopla
apoacutes a morte do pai
Aleixo I Comneno
1120
Cerco de Panfiacutelia O
basileuacutes Joatildeo II captura a
cidade graccedilas agrave utilizaccedilatildeo
de taacuteticas de fuga
simulado
1122
Balcatildes Batalha de
Verroia ndash vitoacuteria de Joatildeo II
sobre os Pechenegues
1137
Siacuteria Joatildeo II submete o
priacutencipe de Antioquia
Raimundo de Poitiers agrave
soberania bizantina
LXI
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1143
Joatildeo II morre num
acidente durante uma
caccedilada O seu filho mais
novo Manuel substitui-o
1147
Escaramuccedila agraves portas de
Constantinopla entre
Bizantinos e cavaleiros da
Segunda Cruzada
1159
Siacuteria Submissatildeo de
Antioquia por Manuel I
1167
Balcatildes Manuel Comneno
derrota a Hungria e
submete a Dalmaacutecia a
Boacutesnia a Croaacutecia e
Siacutermio
1171
A ordem de detenccedilatildeo de
todos os Venezianos em
territoacuterio bizantino suscita
o iniacutecio de uma guerra
bizantino-veneziana
1172
Uma frota veneziana sob
o comando do doge Vital
II Miguel eacute destroccedilada por
uma epidemia e uma
tempestade durante uma
campanha contra algumas
ilhas gregas
Balcatildes Bizacircncio esmaga a
rebeliatildeo do priacutencipe
seacutervio Estevatildeo Nemanja
LXII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1176
Setembro ndash Manuel I perde
a batalha de Mirioceacutefalo
que mutila severamente as
capacidades ofensivas do
impeacuterio
1179
Iniacutecio das negociaccedilotildees de
paz entre Bizacircncio e
Veneza Manuel aceita
libertar alguns dos
venezianos presos em
1171
1180
Manuel I morre e Aleixo II
substitui-o
1182
Maio ndash Massacre da
populaccedilatildeo latina de
Constantinopla
1183
Androacutenico I primo de
Manuel ascende ao trono
apoacutes assassinar a
imperatriz-regente Maria
e o basileuacutes Aleixo II
LXIII
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1185
Androacutenico I eacute linchado
pela populaccedilatildeo de
Constantinopla a dinastia
dos Comnenos termina
Satildeo substituiacutedos pela
dinastia dos Anjos com
Isaac II a ser coroado
imperador
Tessaloacutenica A cidade eacute
tomada pelos Normandos
agravando a hostilidade
bizantina ao reinado cruel
de Androacutenico I
1187
Bulgaacuteria Formaccedilatildeo do
segundo Impeacuterio Buacutelgaro
Palestina As forccedilas
militares do Reino de
Jerusaleacutem satildeo derrotadas
por Saladino o sultatildeo
aiuacutebida do Egipto e da
Siacuteria na batalha dos
Cornos de Hattin
Saladino o sultatildeo aiuacutebida
do Egipto e da Siacuteria
reconquista Jerusaleacutem
1189
Formaccedilatildeo da Terceira
Cruzada liderada por
Frederico I ldquoBarba Ruivardquo
Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de
Leatildeordquo e Filipe II
ldquoAugustordquo
1190
Ciliacutecia Frederico ldquoBarba
Ruivardquo morre afogado
num lago
LXIV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1191
Chipre Forccedilas cruzadas
sob Ricardo ldquoCoraccedilatildeo de
Leatildeordquo conquistam a ilha a
Bizacircncio
1195
Isaac II eacute cegado e deposto
pelo irmatildeo Aleixo III
1198
Tratada de reposiccedilatildeo da
alianccedila bizantino-
veneziana apoacutes Aleixo III
tentar acabar com a
alianccedila
Itaacutelia Inocecircncio III lanccedila
a Quarta Cruzada
Seacuteculo XIII
1202
Dalmaacutecia A Quarta
Cruzada conquista e
saqueia a cidade cristatilde de
Zama a pedido dos
Venezianos
1203
As forccedilas da Quarta
Cruzada depotildeem Aleixo
III e repotildeem Aleixo III no
trono O filho deste
Aleixo IV torna-se
imperador associado
LXV
Ano Impeacuterio Bizantino
Constantinopla Aacutesia
Menor e possessotildees
na Armeacutenia e Siacuteria-
Palestina
Europa e
Mediterracircneo
Ocidental
Balcatildes Itaacutelia Siciacutelia
Proacuteximo e Meacutedio
Oriente
1204
Janeiro Aleixo V Ducas
Murzuflo depotildee e prende
Isaac II Aleixo IV eacute
morto O novo basileuacutes
recusa-se a pagar o que
Aleixo IV prometera pagar
aos Cruzados
Abril Conquista e saque
da maior cidade cristatilde do
mundo pelos Cruzados O
Impeacuterio Bizantino eacute
dividido entre Venezianos
e Cruzados e no seu
lugar surge o Impeacuterio
Latino de Ocidente e um
conjunto de estados
vassalos Por outro lado
os gregos formam vaacuterios
na Aacutesia Menor e no Epiro
que vatildeo resistir ferozmente
aos Cruzados e tentar
reconquistar
Constantinopla
Fim da eacutepoca meacutedia bizantina
1261
O ldquoimpeacuteriordquo de Niceia
recupera Constantinopla
sob o comando de Miguel
Paleoacutelogo Deposiccedilatildeo de
Joatildeo VI Lascaris e
ascensatildeo de Miguel ao
poder Reformaccedilatildeo do
Impeacuterio Bizantino
LXVI
Anexo III ndash Cronologia dos antecedentes proacuteximos
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
Reinado de Miguel III (dinastia Amoriana)
Ca 850
Basiacutelio chega a
Constantinopla
856857
Basiacutelio entra ao serviccedilo
do basileuacutes Miguel III
como membro da
Hetaireia um regimento
da Guarda Imperial
858
Miguel III e o seu tio
Bardas potildeem fim agrave
regecircncia de Teodora e do
seu tio Seacutergio
Miguel III e o seu tio
Bardas substituem o
patriarca Inaacutecio por
Foacutecio que nas palavras
da famiacutelia real
conspirava contra esta
20 de dezembro Foacutecio eacute
tonsurado Num periacuteodo
de quatro dias torna-se
padre
25 de dezembro Foacutecio
ascende ao Patriarcado
860
Primeiros ataques russos a
Constantinopla
Aacutesia Menor Uma frota de
Tarso ataca Antalya
LXVII
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
861
Num Conciacutelio realizado
em Constantinopla os
legados papais aprovam a
ascensatildeo de Foacutecio ao
patriarcado
863
Batalha de Marj al-Usquf
- Vitoacuteria piacuterrica
muccedilulmana do Emirato de
Melitene sobre o exeacutercito
bizantino de Miguel III
Batalha do Lalacatildeo -
vitoacuteria decisiva do
domeacutestico das Escolas
Petronas sobre as forccedilas
aacuterabes que sobreviveram agrave
batalha de Marj al-Usquf
O emir de Melitene morre
na batalha
Mesopotacircmia O emir de
Tarso eacute morto num contra
raide bizantino
864
Eacute outorgado a Basiacutelio o
cargo de parakoimṓmenos
do basileuacutes apoacutes a
remoccedilatildeo do seu
predecessor Damiano
que ofendera o ceacutesar
Bardas
Bulgaacuteria Conversatildeo da
Bulgaacuteria ao
Cristianismo580
Teodoro Santabarenos
torna-se abade do
mosteiro de Stoudios
c865
Casamento de Basiacutelio
com Eudoacutexia Ingerina a
amante de Miguel III
580 Ou 845 in TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912)
LXVIII
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
866
Basiacutelio torna-se co-
imperador de Miguel III
apoacutes o assassinato do tio
do Imperador Bardas
Nasce o segundogeacutenito de
Basiacutelio o futuro Leatildeo
VI581
Reinado de Basiacutelio I (dinastia Macedoacutenica)
867
Ascensatildeo de Basiacutelio I
apoacutes o assassinato pelas
suas proacuteprias matildeos de
Miguel III Instituiccedilatildeo da
dinastia Macedoacutenica
No mecircs de agosto o
patriarca Foacutecio depotildee o
Papa Nicolau I
Apoacutes a ascensatildeo de
Basiacutelio as decisotildees do
Conciacutelio Constantinopla-
867 satildeo repudiadas e
Foacutecio eacute deposto por
condenar o assassinato de
Miguel III Reinstalaccedilatildeo
de Inaacutecio no Patriarcado
Teodoro Santabarenos eacute
expulso de Stoudios
868
Egipto Formaccedilatildeo do
Emirato Tuluacutenida
581 Natildeo haacute um consenso sobre o dia e o mecircs em que o futuro basileuacutes teraacute nascido Jorge o Monge indica 1 de
setembro Pseudo-Simeatildeo indica apenas o mecircs de setembro e Leatildeo o Gramaacutetico aponta o nascimento para 1 de
dezembro o proacuteprio Leatildeo na homilia de reedificaccedilatildeo da Igreja de Satildeo Tomeacute refere que o seu nascimento
acontece alguns dias antes do dia de Satildeo Tomeacute (8 de outubro) por fim Grumel refere que Leatildeo na realidade diz
que o seu aniversaacuterio foi no mesmo dia da reedificaccedilatildeo ou seja a 19 de setembro
Vide TOUGHER Shaun (1997) The Reign of Leo VI (886-912) Leiden Nova Iorque e Coloacutenia Brill p 42
LXIX
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
869
Siciacutelia Tentativas de
conquista de Taormina e
Siracusa pelo Emirato
Aglaacutebida
Itaacutelia Uma frota bizantina
dirige-se a Bari para em
concertaccedilatildeo com uma
forccedila franca sob o
comando do imperador
Luiacutes II tomar a cidade
c870
O ex-patriarca Foacutecio
torna-se tutor dos filhos
do basileuacutes
Malta Conquista aglaacutebida
da ilha
871
Itaacutelia A 3 de fevereiro a
cidade de Bari rende-se ao
rei Luiacutes II
Itaacutelia Iniacutecio de um cerco
aacuterabe a Salerno
872
Aacutesia Menor batalha de
Bathys Riax582 Um
exeacutercito bizantino derrota
uma forccedila pauliciana e
mata o seu liacuteder
Crisoacutequero
Dalmaacutecia Corsaacuterios da
ilha de Creta saqueiam a
regiatildeo
582 A bibliografia que lemos discorda da data em que se realizou a batalha John Haldon refere 878 Shaun
Tougher refere 872
LXX
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
872
(cont)
Itaacutelia Libertaccedilatildeo do cerco
aacuterabe de Salerno
873
Itaacutelia O Impeacuterio
Bizantino ocupa Otranto
na Apuacutelia
Golfo de Saros Niquetas
Orifas destroacutei 20 navios
aacuterabes
Siciacutelia Nova tentativa de
conquista de Siracusa
pelos Aglaacutebidas
875
Mar Adriaacutetico
Expediccedilatildeo de saque aacuterabe
chega ao Golfo de Trieste
e cerca Grado O cerco
falha e durante a retirada
os Muccedilulmanos desolam
Comacchio
Itaacutelia Raides aacuterabes na
Campacircnia e na costa
ocidental italiana
chegando a atingir a zona
de Roma O papa Joatildeo
VIII apela ao auxiacutelio de
Bizacircncio frente agrave ameaccedila
876
Itaacutelia Com a crescente
ameaccedila aacuterabe no sul de
Itaacutelia a populaccedilatildeo de Bari
entrega a cidade a
Bizacircncio
LXXI
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
877
Siciacutelia Iniacutecio do uacuteltimo
cerco aacuterabe a Siracusa
Itaacutelia Novo apelo papal
dirigido ao strategos
Gregoacuterio
Morte de Inaacutecio Foacutecio
volta a tornar-se
patriarca
Foacutecio aponta Teodoro
Santabarenos como bispo
de Euceta na Greacutecia
878
Siciacutelia 21 de maio -
Queda de Siracusa
Massacre e saque da
cidade
878-
882
Ciliacutecia Periacuteodo de
ocupaccedilatildeo tuluacutenida
c879
Morte do filho
primogeacutenito de Basiacutelio
Constantino
Basiacutelio I casa o seu
segundo filho o futuro
Leatildeo VI com Teoacutefane
Golfo de Corinto Derrota
de uma frota sarracena que
saqueava o Mar Joacutenico agraves
matildeos de Niquetas Oryfas
Aacutesia Menor Forccedilas
bizantinas sob o comando
pessoal do basileuacutes
conquistam a capital dos
Paulicianos Tephrike
880
Mar Joacutenico Expediccedilatildeo
naval de Ibrahim II saqueia
Kefaleacutenia e Zakynthos O
droungaacuterios tou ploiumlmon
Nasar destroacutei a frota
adversaacuteria ao largo da
costa ocidental grega num
ataque noturno
O papado aprova a
(re)ascensatildeo de Foacutecio ao
patriarcado
LXXII
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
880
(cont)
Siciacutelia Nasar saqueia e
desola os arredores de
Palermo captura
embarcaccedilotildees aglaacutebidas e
derrota forccedilas navais
aacuterabes junto a Punta di
Stilo durante o regresso
Itaacutelia Graccedilas aos sucessos
de Nasar um esquadratildeo
bizantina dirige-se a
Naacutepoles sob o comando
do spathaacuterios Gregoacuterio o
turmarca Teophylaktos e o
komeacutes Diogeacutenes onde
arrecadam uma nova
vitoacuteria para os Bizantinos
Siciacutelia Vitoacuteria naval
bizantina junto a Milazzo
no decorrer de uma
contraofensiva liderada
pelo protovestiaacuterio
Procoacutepio do strategoacutes
Leatildeo Apoacutestipo e do
almirante Nassar
Itaacutelia As forccedilas enviadas
para a regiatildeo por Basiacutelio I
conquistam quase todas as
fortalezas aacuterabes na
Calaacutebria e na Apuacutelia
oriental Apoacutes uma
importante batalha campal
agraves portas de Taranto onde
morre Procoacutepio o
strategoacutes Leatildeo Apoacutestipo
conquista a cidade
LXXIII
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
880
(cont)
Itaacutelia Apelo papal a
Basiacutelio I de uma frota
bizantina
Itaacutelia Com a autorizaccedilatildeo
do bispo-duque Atanaacutesio
II uma forccedila muccedilulmana
fixa-se no sopeacute do Monte
Vesuacutevio Enquanto isso
um outro bando de
soldados sediado em
Sapenium saqueia toda a
regiatildeo a norte ateacute Espoleto
881
Itaacutelia Naacutepoles e Salerno
combinam forccedilas para
tentar destruir as bases de
saqueadores sarracenos na
Calaacutebria e na Campacircnia
883
Aprisionamento do novo
herdeiro Leatildeo durante
trecircs anos por suspeitas de
conspirar contra Basilio
Ciliacutecia Uma hoste
bizantina eacute derrotada na
regiatildeo de Tarso pelo emir
Yazaman Mais tarde
Yazaman seraacute tambeacutem ele
derrotado pelo strategoacutes
Oiniates
Itaacutelia Nova alianccedila
lombarda Os vaacuterios
grupos muccedilulmanos
retiram para norte e juntam
forccedilas no rio Garigliano
onde criam uma base de
operaccedilotildees
LXXIV
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
884
Itaacutelia Saque sarraceno do
mosteiro de Montecassino
885
Moraacutevia Morte do
monge Metoacutedio um dos
principais responsaacuteveis
pela conversatildeo dos
Eslavos e da transcriccedilatildeo
dos textos biacuteblicos para
Ciriacutelico
886
25 de marccedilo Um conluio
organizado por Joatildeo
Kourkouas e outros
sessenta e seis senadores eacute
descoberto e rapidamente
destroccedilado por Basiacutelio I
21 de julho Leatildeo eacute
libertado da sua prisatildeo no
dia de Satildeo Elias
29 de agosto morte de
Basiacutelio I no seguimento
de um acidente ocorrido
numa caccedilada
Itaacutelia A expediccedilatildeo que
Basiacutelio I envia para Itaacutelia
sob o comando de
Niceacuteforo Focas o Velho
em 885 consegue
reconquistar as uacuteltimas
possessotildees muccedilulmanas na
Calaacutebria e submeter os
Lombardos da Apuacutelia agrave
supremacia bizantina
Reinado de Leatildeo VI
886
Agosto Ascensatildeo de Leatildeo
VI ao trono imperial O
seu irmatildeo Alexandre
torna-se co-imperador
Foacutecio eacute deposto do
patriarcado Um irmatildeo
do novo basileuacutes
Estevatildeo substitui Foacutecio
naquele cargo
LXXV
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
887
Julgamento de Foacutecio e
Santabarenos Teodoro eacute
cegado e exilado em
Atenas Foacutecio eacute
encerrado num mosteiro
888
Aacutesia Menor Hipsele no
theacutema de Charsianon eacute
capturada por forccedilas
aacuterabes
Ciliacutecia O governador de
Tarso Yazaman captura
quatro navios bizantinos
durante um raide naval
Estreito de Messina
Vitoacuteria naval aacuterabe sobre
uma frota bizantina nas
imediaccedilotildees de Milazzo
Saque posterior de Reacutegio
Leatildeo VI redige um
Epitaphios dos pais
889
Bulgaacuteria O czar Boris
abdica e entrega o trono
ao filho Vladimir
Estreito de Messina um
almirante bizantino derrota
a frota muccedilulmana que
vencera em Milazzo e
consegue repor o controlo
sobre o estreito
890
Provenccedila Fixaccedilatildeo de um
enclave muccedilulmano de
piratas em Saint Tropez
que perduraraacute ateacute 972
LXXVI
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
891
Itaacutelia Guido de Espoleto
eacute coroado Imperador pelo
Papa Estevatildeo VI
Ciliacutecia Yazaman ataca
Salandu uma cidade
costeira na Ciliacutecia
ocidental
Itaacutelia O strategos
Symbatikios conquista a
cidade lombarda de
Benevento a 18 de
outubro
Mar Egeu A ilha de
Samos eacute atacada por
saqueadores aacuterabes
liderados por Leatildeo o
Tripolitano e Damiano583
892-
897
Ciliacutecia Novo periacuteodo de
ocupaccedilatildeo tuluacutenida
892
Itaacutelia Formaccedilatildeo do tema
da Lombardia sediado em
Benevento
893
Bulgaacuteria Boacuteris depotildee
Vladimir e substitui-o por
outro filho Simeatildeo
Substituiccedilatildeo da capital
buacutelgara passa de Priska
para Preslav
A transferecircncia do
mercado buacutelgaro de
Constantinopla para
Tessaloacutenica suscita o iniacutecio
de uma guerra entre Leatildeo
VI e Simeatildeo no ano
seguinte
O patriarca Estevatildeo
morre Antoacutenio Caulias eacute
escolhido para o
substituir
Bulgaacuteria Simeatildeo
envolve-se na traduccedilatildeo
de textos biacuteblicos do
Grego para o Eslaacutevico
583 Shaun Tougher indica que este ataque ter-se-aacute realizado entre 891 e 893
LXXVII
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
894
Iniacutecio da guerra entre Leatildeo
VI e Simeatildeo
Itaacutelia O strategos
Barsaacutequio muda a capital
do tema da Lombardia
para Bari Esta decisatildeo eacute
tomada devido ao grande
sentimento de hostilidade
por parte dos habitantes da
cidade de Benevento
895
Apoacutes os desaires do ano
anterior Leatildeo VI inicia
uma contraofensiva
terrestre e naval que conta
com o apoio dos Magiares
O questor Konstantinakis eacute
preso durante uma
embaixada a Simeatildeo
Os Magiares invadem a
Bulgaacuteria pelo norte e
obrigam Simeatildeo a
refugiar-se em Moundraga
Com a vitoacuteria bizantina
quase decidida Leatildeo envia
a Moundraga o diplomata
Leatildeo Coirosfactes Leatildeo
ordena aos seus
comandantes o Domeacutestico
Niceacuteforo Focas e o
almirante Eustaacutecio para
retirarem
Apoiado pelos
Pechenegues Simeatildeo
derrota marcadamente os
Magiares
LXXVIII
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
Itaacutelia Os Lombardos
recuperam Benevento
Anatoacutelia dezembro - troca
de prisioneiros
895896
Morte de Teoacutefane Leatildeo
casa-se com a sua amante
Zoeacute Zautzina
896
Os Bizantinos sob a
lideranccedila de Leatildeo
Katakalon satildeo derrotados
na batalha de
Bulgarophygon na Traacutecia
A derrota permite aos
Buacutelgaros saquear toda a
regiatildeo e ateacute ameaccedilar
Constantinopla
Por meio de Leatildeo
Coirosfactes Leatildeo assina a
paz com Simeatildeo pela
resoluccedilatildeo da questatildeo dos
mercados e o
comprometimento do
basileuacutes em pagar um
tributo anual
898
O eunuco Raghib captura e
mata trecircs mil marinheiros
bizantinos e queima os
seus navios
LXXIX
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
899900
Morte de Zoeacute Zautzina
Califado O eunuco
Raghib eacute aprisionado pelo
califa al-Mutatid Mais
tarde morreraacute no cativeiro
900
Casamento de Leatildeo com
Eudoacutexia Baineacute
Ciliacutecia Os navios usados
pelos saqueadores aacuterabes
de Tarso satildeo queimados agraves
ordens do califa Forccedilas
bizantinas chegam ao
portatildeo Qalamya de Tarso
derrotando e capturando o
emir pouco depois durante
uma surtida
Leatildeo VI e Antoacutenio
reconciliam a Igreja e um
grupo de opositores a
Foacutecio
901
Morte da basiacutelissa e do
seu filho durante o parto
Itaacutelia 10 de julho - O
Emirado Aglaacutebida toma e
saqueia Reacutegio
Tessaacutelia Leatildeo o
Tripolitano e Damiano
capturam Demeacutetrias
Bulgaacuteria Embaixada de
Leatildeo Coirosfactes com o
objetivo de persuadir
Simeatildeo a devolver trinta
fortalezas na regiatildeo de
Dirraacutequio
Ciliacutecia Um exeacutercito
bizantino ataca Kaysum e
captura alegadamente
cerca de quinze mil
muccedilulmanos
LXXX
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
902
Mar Egeu Ataque aacuterabe agrave
ilha de Lemnos no Egeu
Norte584
Siciacutelia Queda de
Taormina frente ao emir
Ibrahim II Fim da
presenccedila bizantina na
Siciacutelia
Itaacutelia Cerco de Cosenza
por Ibrahim II O emir
morre durante o cerco e o
seu exeacutercito desbanda
904
Himeacuterio eacute escolhido para
substituir Eustaacutecio como
almirante
Tessaloacutenica julho ndash
Depois de obrigarem o
Drungaacuterio da Frota
Eustaacutecio a retirar Leatildeo e
Damiano atacam e
saqueiam a segunda maior
cidade do Impeacuterio As
baixas bizantinas585
chegam aos mil homens
incluindo o strategos Leatildeo
Katzilakios que eacute
capturado pelo seu
homoacutenimo pirata
A libertaccedilatildeo da cidade eacute
comprada a Leatildeo o
Tripolitano atraveacutes de um
tributo que estava a ser
levado para a Bulgaacuteria
584 Ou 903 585 Entre mortos e prisioneiros de guerra
LXXXI
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
904
(cont)
Bulgaacuteria Coirosfactes eacute
enviado para evitar que
Simeatildeo aproveitasse o
ataque aacuterabe a Tessaloacutenica
para conquistar a cidade
Ciliacutecia Saque de Hadat
Novembro ndash Androacutenico
Ducas vence uma batalha
junto a Maras
905
Leatildeo VI e uma amante
Zoeacute Carbonopsina tecircm
um filho o futuro
Constantino VI
Revolta de Androacutenico
Ducas A rebeliatildeo eacute
derrotada nesse ano apoacutes
uma pequena escaramuccedila e
o general revoltoso foge
para territoacuterio aacuterabe
Egipto Um exeacutercito
enviado pelo califa al-
Muktafi potildee fim ao
emirato tuluacutenida e coloca
a regiatildeo sob o controlo
direto dos Abaacutessidas
906
906
(cont)
Constantino eacute batizado e
declarado herdeiro Leatildeo
casa com Zoeacute
Importante vitoacuteria naval
bizantina durante a
contraofensiva levada a
cabo por Himeacuterio no dia
de Satildeo Tomeacute (6 de
outubro)
Siacuteria Saque bizantino de
Qurus nos arredores de
Aleppo
Leatildeo VI eacute excomungado
por ter casado pela quarta
vez
Bulgaacuteria Constantino
bispo de Preslav e
disciacutepulo de Metoacutedio
traduz os sermotildees de
Atanaacutesio de Alexandria
LXXXII
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
907
Ataque de Olev de Kiev a
Constantinopla
O synkellos Eutiacutemio
ascende ao patriarcado
apoacutes a deposiccedilatildeo do
patriarca Nicolau que se
opotildee ao quarto
casamento do imperador
Um siacutenodo que reuacutene
representantes das cinco
sedes da Pentarquia
perdoa Leatildeo VI
909
Constantinopla O
priacutencipe Atenolfo I de
Caacutepua e Benevento envia o
seu filho primogeacutenito agrave
capital bizantina para pedir
ajuda militar a Leatildeo VI
para fazer frente agraves
depredaccedilotildees dos
Sarracenos sediados em
Garigliano
Siacuteria 20 de Setembro ndash
Iniacutecio de uma incursatildeo
naval bizantina na costa
siacuteria que conquista as
fortalezsa de al-Qubba e
Laodiceia
910
Levante Ataques de
Himeacuterios no Levante e na
ilha de Chipre
911
Chipre586 Como
represaacutelia por um ataque
de Himeacuterio agrave populaccedilatildeo
muccedilulmana da ilha
586 Ou 912
LXXXIII
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
911
(cont)
Damiano ataca os
habitantes bizantinos da
ilha capturando alguns
destes
Creta A tentativa de
reconquistar a ilha numa
campanha lanccedilada por
Leatildeo VI acaba numa
derrota das forccedilas
bizantinas lideradas por
Himeacuterio agraves matildeos de Leatildeo
o Tripolitano e Damiano
912
Morte de Leatildeo VI em
Constantinopla Eacute
substituiacutedo pelo irmatildeo
Alexandre
Chios Aniquilaccedilatildeo da
frota de Himeacuterio
Apoacutes a morte de Leatildeo
VI realiza-se o siacutenodo de
Magnaura que depotildee
Eutiacutemio e repotildee Nicolau
Reinado de Alexandre
912
Apoacutes a morte de Leatildeo VI
realiza-se o siacutenodo de
Magnaura que depotildee
Eutiacutemio e repotildee Nicolau
913
Morte de Alexandre
ldquoAscensatildeordquo do filho de
Leatildeo VI Constantino VII
com a regecircncia do
patriarca Nicolau
Bulgaacuteria Apoacutes Alexandre
se recusar a pagar o
habitual tributo a Simeatildeo
a guerra entre as duas
potecircncias eacute renovada
LXXXIV
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
Reinado de Constantino VII
914
Zoeacute Carbonopsina e Leatildeo
Focas depotildeem Nicolau da
regecircncia
915
Itaacutelia O papa Joatildeo X
funda uma liga cristatilde que
une a maior parte das
potecircncias do sul de Itaacutelia
contra Garagliano
incluindo um conjunto de
forccedilas bizantinas sob o
comando de Nicolau
Picingli o strategoacutes de
Bari Depois de um cerco
de trecircs meses os
Muccedilulmanos satildeo
derrotados quando tentam
abandonar as fortificaccedilotildees
917
Traacutecia Batalha de
Acheloos ndash O czar Simeatildeo
derrota Leatildeo Focas
decisivamente o Impeacuterio
da Bulgaacuteria expande-se
pela Traacutecia
919
O droungaacuterios tou
ploiumlmon Romano
Lecapeno encerra Zoeacute
Carbonopsina num
mosteiro e torna-se no
primeiro coimperador
macedoacutenico
LXXXV
Ano Eventos biograacuteficos e
poliacuteticos
Eventos Militares e
Diplomaacuteticos
Eventos Culturais e
religiosos
923
Lemnos O patriacutecio Joatildeo
Radenes derrota Leatildeo o
Tripolita que teraacute morrido
no combate
924
Aacutesia Menor Morte de
Damiano durante o cerco a
Strobilos no theacutema dos
Kibirrhaiotai
Simeatildeo da Bulgaacuteria cerca
Constantinopla que eacute
defendida por Romano I
Lecapeno
927
Bulgaacuteria Morte do Czar
Simeatildeo potildee fim agraves suas
ambiccedilotildees de criar um
impeacuterio bizantino-
buacutelgaro
LXXXVI
Anexo IV Biografias dinastias e organizaccedilotildees
a) Soberanos de impeacuterios califados e outros Estados
lsquoAbd al-Malik (seacuteculos VII-VIII dC) ndash Califa omiacuteada entre 685-705 e um dos
participantes principais na Segunda Fitna que acabou por vencer em 692 Em relaccedilatildeo a
Bizacircncio assina em 688 um tratado com Justiniano que declara a ilha de Chipre como
territoacuterio bipartido Quando morre o califado torna-se um impeacuterio burocraacutetico centralizado
escorado sobre o exeacutercito da Siacuteria587
lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que
teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso
Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid
comeccedilara a ganhar
Alp Arslan (seacuteculo XI dC) ndash Sultatildeo seljuacutecida que derrotou o co-imperador Romano
IV Diogenes na batalha de Manzikert em 1071 Foi assassinado no ano seguinte por um
rebelde coraacutesmio
Artavasdo (seacuteculo VIII) ndash Genro de Leatildeo III que ocupou as funccedilotildees kouropalaacutetēs e
koacutemes do Opsikiacuteon durante o seu reinado Apoacutes a ascensatildeo ao trono do sobrinho o basileuacutes
Constantino V tenta usurpar o trono com o apoio dos seus homens em 742 Apesar de ter
tomado Constantinopla natildeo logra capturar o imperador que consegue se refugiar em
Amorion No ano seguinte o basileuacutes legiacutetimo regressa com o apoio dos themaacuteta dos
Traceacutesicos e dos Anatolikoacuten e derrota o usurpador que eacute capturado e cegado em conjunto
com o filho A revolta de Artavasdo eacute considerada um dos principais catalisadores para a
formaccedilatildeo dos taacutegmata
Basiacutelio I (seacuteculo IX dC) ndash Basileuacutes que precedeu Leatildeo VI reinando entre 867 e 886
Depois de ter usurpado o trono a Miguel III fundou a dinastia Macedoacutenica Durante o seu
reinado os Bizantinos obtiveram importantes vitoacuterias militares como a reconquista de Bari
no sul de Itaacutelia em 876 ou a vitoacuteria na batalha de Bathys Ryax em 878 um passo decisivo
na derrota da seita pauliciana e para a consolidaccedilatildeo do poder bizantino na Anatoacutelia oriental
587 Vide KENNEDY Hugh (2004) The Prophet and the Age of Caliphs Segunda Ediccedilatildeo Gratilde-Bretanha Pearson
Longman p 103
LXXXVII
Basiacutelio II (seacuteculo X dC) ndash Penuacuteltimo basileuacutes macedoacutenico reinou entre 976 e 1025
Apesar de um iniacutecio de reinado bastante atribulado consegue apoacutes a vitoacuteria sobre os
apoiantes de Bardas Focas na batalha de Abido em 989 encetar vaacuterias campanhas militares
vitoriosas na Bulgaacuteria na Armeacutenia e em Itaacutelia No final do seu reinado o Impeacuterio Romano do
Oriente assiste por um lado agrave recuperaccedilatildeo de muitos territoacuterios de jure bizantinos em
especial os territoacuterios do czar Samuel da Bulgaacuteria e por outro agrave afirmaccedilatildeo da sua
superioridade sobre o Mediterracircnio oriental e os Balcatildes
Constante II (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes bizantino neto de Heraacuteclio que reina entre 641 e
668 Durante o seu principado enfrenta uma das primeiras expediccedilotildees aacuterabes contra
Constantinopla e sofre uma derrota devastadora numa batalha naval na Costa da Liacutecia a
conhecida laquobatalha dos Mastrosraquo Apoacutes vaacuterias tentativas com pouco ou nenhum sucesso de
estabilizar a fronteira oriental e garantir a fidelidade da Armeacutenia viaja para ocidente onde
tenta repor as defesas dessas regiotildees e criar boas bases de apoio fiscal para apoiar o esforccedilo de
guerra e em especial a Marinha Eacute assassinado na Siciacutelia em 668
Constantino I (seacuteculo IV) ndash Imperador romano entre 324-337 Constantino torna-se no
imperador absoluto do Impeacuterio apoacutes a vitoacuteria sob Liciacutenio o Augusto do Oriente na batalha de
Crisoacutepolis em 324 Mais tarde em 330 dC refunda a cidade de Bizacircncio desta feita com o
nome de Constantinopla
Constantino V o Coproacutenimo (seacuteculo VIII) ndash Basileuacutes entre 741-755 A este imperador
eacute-lhe atribuiacuteda a fundaccedilatildeo dos taacutegmata apoacutes a sua vitoacuteria sobre o conde do Opsikiacuteon
Artavasdo quando este tentou usurpar o poder entre 741-743 Com o apoio deste exeacutercito
central conseguiu conquistar vaacuterios territoacuterios nos Balcatildes e atacar territoacuterio califal
Constantino VII (seacuteculo X) ndash Terceiro Basileuacutes macedoacutenico reinou entre 913-959
Filho e herdeiro de Leatildeo VI herdou o legado cultural do pai A ele satildeo-lhes atribuiacutedas vaacuterias
obras de renome como o De Ceremoniis (laquoo Livro das Cerimoacuteniasraquo) o De Administrando
Imperii o De Thematibus e o Vita Basilii uma biografia do avocirc bem como um pequeno
tratado sobre a funccedilatildeo e importacircncia do basileuacutes numa expediccedilatildeo militar Durante o seu
reinado e do seu co-imperador Romano I Lecapeno o impeacuterio vai tomando uma postura cada
vez mais ofensiva algo verificaacutevel numa seacuterie de reformas empreendidas e na expansatildeo para
Oriente com destaque para a conquista de Melitene por Joatildeo Curcuas em 934
Cosroeacutes II (seacuteculos VI e VII) ndash Rei do Impeacuterio Sassacircnida em 590 e entre 591-628
Apoacutes o assassinato de Hormisdas seu pai em 590 o jovem Cosroeacutes II foge para a corte do
LXXXVIII
imperador Mauriacutecio em Constantinopla que o ajuda a recuperar o trono um ano depois Apoacutes
a morte do seu protetor em 602 Cosroeacutes invade o Impeacuterio Bizantino naquela que seria a
uacuteltima guerra BizantinoRomano-Persa Apesar de um iniacutecio de guerra bastante bem-
sucedido com a conquista de vastas porccedilotildees de territoacuterio bizantino a mareacute acaba por se virar
contra ele sofrendo vaacuterias derrotas agraves matildeos de Heraacuteclio Eacute deposto e assassinado pelo filho
em 628
Focas (seacuteculo VII) ndash Imperador bizantino entre 602-610 Inicialmente um oficial da
armada do Danuacutebio Focas eacute declarado imperador pelo seu exeacutercito em 602 apoacutes mais uma
tentativa falhada de Mauriacutecio de reduzir custos nas despesas do exeacutercito atacando
posteriormente Constantinopla onde depotildee e assassina Mauriacutecio Apoacutes oito anos de um
reinado bastante fraco onde para aleacutem da instabilidade interna causada pela sua falta de
legitimidade se viu frente-a-frente com uma guerra com o Impeacuterio Persa Sassacircnida e novas
invasotildees Aacutevaro-Eslavas acaba deposto e morto por Heraacuteclio em 610
Harun al-Rashid (seacuteculos VIII-IX) ndash Califa abaacutessida entre 786-809 Considerado um
dos grandes califas muccedilulmanos Harun al-Rashid conduziu vaacuterias campanhas com sucesso agrave
Aacutesia Menor obrigando Bizacircncio a pagar um pesado tributo Quando morre tem iniacutecio a
Quarta Fitna entre os seus filhos al-Amin e Al-Mamun conflito que permite ao Impeacuterio
Bizantino ter algum descanso na fronteira oriental e concentrar-se na (tentativa) de
erradicaccedilatildeo do Impeacuterio Buacutelgaro que termina em fracasso no ano de 811 com a morte de
Niceacuteforo I
Heraacuteclio (seacuteculo VII) ndash Basileuacutes entre 610-640 Apoacutes ter deposto Focas em 610
Heraacuteclio consegue lentamente virar a mareacute da guerra contra os Persas e os Aacutevaros
Finalmente vitorioso em 628 Heraacuteclio consegue governar em paz ateacute 633 quando comeccedilam
os primeiros confrontos com o Califado Rashidun Apoacutes a derrota na batalha de Yarmouk em
636 Heraacuteclio abandona a Siacuteria-Palestina para fortalecer as defesas da Aacutesia Menor Quando
morre em 641 forccedilas califais sob Amr ibn lsquoal-Aas jaacute tinham conquistado alguns territoacuterios
romanos no Egipto
Joatildeo I Zimisce (seacuteculo X) ndash co-imperador bizantino entre 969 e 976 ascende ao trono
apoacutes assassinar o tio o co-imperador Niceacuteforo II Focas Apoacutes derrotar o priacutencipe russo
Svyatoslav em 971 nas batalhas de Dorostolon empreende uma seacuterie de campanhas na Siacuteria-
Palestina que expandem o territoacuterio imperial naquela regiatildeo Antes de morrer pretenderia
reconquistar Jerusaleacutem aos Fatiacutemidas
LXXXIX
Justiniano (seacuteculo VI) ndash Imperador bizantino entre 527-565 Possivelmente o mais
conhecido imperador bizantino Foi durante o principado deste augusto que o Impeacuterio
Romano do Oriente conquistou um grande nuacutemero de territoacuterios sob a alccedilada de
emblemaacuteticos generais como Belisaacuterio e Narseacutes que antes pertenciam ao Impeacuterio Romano do
Ocidente Norte de Aacutefrica Itaacutelia e uma boa parte do sul da Peniacutensula Ibeacuterica Para aleacutem desta
importante obra militar deixou ainda um legado juriacutedico relevante (com a redaccedilatildeo de uma
compilaccedilatildeo de leis denominada Corpus Iuris Iulianos) e de obras puacuteblicas como a Hagia
Sophia e a basiacutelica de Satildeo Vitalle em Ravenna Os anos finais do seu reinado ficaram
manchados pela peste pelas criacuteticas internas dos senadores e dos grandes intelectuais bem
como pelas controveacutersias eclesiaacutesticas Apesar disto agrave sua morte em 565 o Impeacuterio
Bizantino tinha atingido a sua maior extensatildeo
Justiniano II (seacuteculo VII e VIII) ndash Basileuacutes bizantino de 685 a 695 e de 705 a 711
Apesar de ter um iniacutecio de reinado algo bem-sucedido (com a conquista de territoacuterio nos
Balcatildes e uma treacutegua favoraacutevel com o califado) a derrota em Sebastoacutepolis em 693 e uma
seacuterie de conflitos com o papado e o califado vatildeo provocar um golpe de estado que o depotildee
sendo substituiacutedo por Leocircncio Dez anos apoacutes estes acontecimentos em que Bizacircncio perde
definitivamente o Norte de Aacutefrica Justiniano regressa violentamente a Constantinopla com o
apoio do khan Tervel dos Buacutelgaros e consegue recuperar o poder executando Leocircncio e o
basileuacutes Tibeacuterio Apsimar no decurso do seu regresso ao trono Apoacutes um segundo principado
cruel protagonizado pela perseguiccedilatildeo aos (ou quem ele pensava ser) seus adversaacuterios
poliacuteticos Justiniano II e o filho acabam depostos e executados pondo fim agrave dinastia
Heracliana
Leatildeo III (seacuteculo VIII) ndash Suserano bizantino entre 717 e 741 Leatildeo ascendeu ao trono
pouco antes do uacuteltimo cerco aacuterabe a Constantinopla com a deposiccedilatildeo de Teodoacutesio III pelo
theacutema dos Anatoacutelicos Entre os principais eventos do seu reinado estatildeo a derrota do cerco
aacuterabe a Constantinopla de 717-718 com recurso agrave frota agrave diplomacia agrave guerra de guerrilha e
agraves muralhas de Teodoacutesio o iniacutecio da questatildeo iconoclaacutestica que iria dividir de maior ou
menor forma a sociedade bizantina durante mais ou menos um seacuteculo ateacute ao reinado de
Miguel III e a batalha de Akroinos em 740 que se demonstra um ponto marcante no conflito
entre Aacuterabes e Bizantinos pois depois desta os primeiros nunca mais tentariam conquistar a
capital do adversaacuterio e a guerra de formal geral circunscrever-se-ia a expediccedilotildees de saque e
contra-raides
XC
Leatildeo VI (seacuteculos IX-X) ndash segundo basileuacutes Macedoacutenico reina entre 886 e 912 Apesar
de natildeo ter exercido comando dos seus exeacutercitos o seu principado encontra-se caracterizado
por episoacutedios beacutelicos marcantes como a guerra buacutelgara com Simeatildeo (894-896) a perda
definitiva da Siciacutelia com a queda de Taormina (902) e o saque de Tessaloacutenica por Leatildeo o
Tripolitano e Damiano Apesar destes desaires o impeacuterio consegue vencer noutras frentes e
impor a sua supremacia no sul de Itaacutelia e ateacute expandir o territoacuterio imperial para Oriente Eacute o
autor de dois tratados militares o Problemaacuteta e o Taktikaacute e promulgou a publicaccedilatildeo de um
novo coacutedigo de leis em continuaccedilatildeo do trabalho do pai denominado Basilica
Mauriacutecio (seacuteculos VI-VII) ndash Imperador bizantino entre 582 e 602 Ficou conhecido
por participar na guerra civil no seu mais poderoso vizinho a Peacutersia Sassacircnida onde
contribuiu para recolocar no trono o soberano legiacutetimo Cosroeacutes II pelas campanhas
vitoriosas nos Balcatildes e pela escrita de um dos mais importantes tratados militares bizantinos
o Stratēgikoacuten Apesar destes sucessos antes de conseguir confrontar a ameaccedila lombarda em
Itaacutelia eacute assassinado em conjunto com a famiacutelia pelas tropas da fronteira do Danuacutebio apoacutes
lhes ordenar que se guarnecessem para laacute daquele rio durante o inverno Eacute substituiacutedo por
Focas
Miguel III (seacuteculo IX) ndash Basileuacutes entre 842 e 867 Durante o seu principado as forccedilas
bizantinas derrotam as forccedilas muccedilulmanas dos emirados de Tarso e Melitene que permitem
estabilizar o balanccedilo de poderes na fronteira Eacute deposto e morto pelo parakoimṓmenos
Basiacutelio que o sucede como Basiacutelio I Seraacute sepultado dignamente durante o reinado de Leatildeo
VI
Muawiyia (seacuteculo VII) ndash Primeiro califa omiacuteada reina entre 661 e 680 Inicialmente
apenas governador de Damasco consegue tornar-se califa apoacutes a vitoacuteria na Primeira Fitna
(656-661) Foi um dos principais impulsionadores da criaccedilatildeo de uma marinha de guerra aacuterabe
comandou vaacuterias campanhas contra Bizacircncio e conseguiu cercar a capital bizantina em 674
Niceacuteforo I (seacuteculos VIII-IX) ndash Inicialmente logoacuteteta das financcedilas de Irene (797-802)
torna-se basileuacutes em 802 reinando ateacute 811 Durante o seu principado o Impeacuterio Bizantino
reafirmou o seu poderio na Greacutecia e nos Balcatildes Eacute considerado um dos fundadores dos
themaacuteta que teratildeo sido criados no seio de um conjunto de reformas fiscais implementadas por
ele Morre na batalha de Priska na Bulgaacuteria contra o khan Krum em 811
Niceacuteforo II Focas (seacuteculo X) ndash Domestikoacutes do Oriente de Romano II torna-se co-
imperador agrave morte deste e reina entre 963-969 Tem a cargo dele uma seacuterie de sucessos
XCI
bizantinos na regiatildeo da Ciliacutecia e no Norte da Siacuteria onde destroacutei o poder dos Hamdacircnidas e
conquista Antioquia Antes de ser co-imperador logra conquistar a ilha de Creta em 961
Niceacuteforo II eacute considerado como um dos grandes organizadores militares bizantinos e satildeo-lhe
atribuiacutedos trecircs tratados militares o Praecepta Militaria sobre os novos exeacutercitos de
campanha bizantinos o De velitatione bellica sobre a guerra de guerrilha e um tratado sobre
a guerra na Bulgaacuteria
Romano IV Diogenes (seacuteculo XI) ndash Co-imperador bizantino entre 1068 e 1071 Foi um
experiente comandante militar que tentou reverter os reveses bizantinos frente aos
Turcomanos Eacute derrotado por Alp Arslan na batalha de Manzikert no seio de uma campanha
em que tentava repor uma linha defensiva na Armeacutenia Mais tarde eacute derrotado pela famiacutelia
dos Ducas cegado e encerrado num mosteiro onde viria a morrer em 1072
Sayf al-Daulah (seacuteculo X) ndash Emir hamdacircnida de Alepo entre 944 e 967 Ao longo do
seu reinado foi o inimigo mais energeacutetico de Bizacircncio e tentou desarticular o sistema
defensivo romano no limes oriental Durante a primeira metade do seu principado consegue
conduzir raides de grandes dimensotildees ao interior de territoacuterio bizantino mas apoacutes a ascensatildeo
de Niceacuteforo Focas ao cargo de domestikoacutes em 957 vecirc-se cada vez mais colocado na
defensiva Nos anos anteriores agrave sua morte vai ver o seu territoacuterio cada vez mais reduzido
com as perdas da Ciliacutecia e de Antioquia e com a cidade de Alepo (apesar de a cidadela ter
resistido) tomada e saqueada
Simeatildeo (seacuteculo X) ndash Czar buacutelgaro entre 893 e 927 Eacute um dos primeiros governantes
cristatildeos da Bulgaacuteria e dedicou-se agrave traduccedilatildeo de textos religiosos Em termos militares travou
duros combates com forccedilas bizantinas tendo-as derrotado em vaacuterias ocasiotildees como em
Bulgarophygon (896) e Acheloos (917) Tinha o sonho de conseguir criar uma dinastia
bizantino-buacutelgara mas natildeo o conseguiu realizar
XCII
b) Tratadistas e cronistas
Aeliano (seacuteculo II dC) ndash Autor grego que escreveu um importante tratado militar
chamado Περὶ Στρατηγικῶν Τάξεων Ἑλληνικῶν (laquoSobre os dispositivos taacuteticos gregosraquo) o
qual se debruccedilava sobre o exeacutercito e a forma de fazer guerra nos Estados dos Diadochii e que
teve grande influecircncia na escrita do Taktikaacute e na Idade Moderna
Arriano (seacuteculo III dC) ndash Historiador e tratadista grego eacute considerado por Alphonse
Dain como o personagem de primeiro plano entre todos os tratadistas da Antiguidade588
Redigiu vaacuterias obras ilustres como o Anabasis Alexandri que relata as campanhas do rei
macedoacutenico o Ars Tactica um importante manual de taacuteticas que descreve de forma
ambivalente as taacuteticas militares macedoacutenicas e romanas e ainda o Ἔκταξις κατὰ Ἀλανῶν (ldquoA
ordem de batalha contra os Alanosrdquo)
ldquoHeacuteron de Bizacircnciordquo (seacuteculo X) ndash Autor anoacutenimo de dois tratados militares bizantinos
sobre poliorceacutetica o Parangeacutelmata Poliorkētikaacute e o Geodesia
Leatildeo o Diaacutecono (seacuteculo X) ndash monge bizantino que escreveu a Histoacuteria que relata os
reinados e as campanhas de Niceacuteforo II Focas e Joatildeo I Tzimiskeacute
Onasandro (seacuteculo I dC) ndash filoacutesofo grego oriundo da ilha de Chipre que escreveu
um dos mais importantes tratados militares da Antiguidade o Στρατηγικός (Strategikoacutes) Esta
obra eacute uma das principais influecircncias de tratados como o Stratēgikoacuten e o Taktikaacute
Siriano magistros (seacuteculo VI IX dC) ndash autor anoacutenimo de trecircs tratados militares
bizantinos o Periacute Strateacutegias um manual militar o Naumachiacuteai obra que discute aspetos de
guerra naval e o Rhetorica Militaris que visa aspetos de oratoacuteria da arte beacutelica
588 Vide DAIN Alphonse (1967) Les strateacutegistes byzantins In Travaux et Meacutemoires 2 p331
XCIII
c) Outras personagens relevantes
lsquoAbd al-Rahman ibn al-Walid (seacuteculo VII dC) ndash Filho de Khalid ibn al-Walid que
teraacute herdado o talento taacutetico do pai e liderou uma campanha na Anatoacutelia com grande sucesso
Foi envenenado agraves ordens do califa Muawiyia em 667 que temia o poder que al-Walid
comeccedilara a ganhar
Khalid ibn al-Walid (seacuteculo VII) ndash Experiente comandante aacuterabe em vaacuterios
confrontos como a batalha de Yarmuk Eacute considerado um dos principais responsaacuteveis pela
conquista muccedilulmana da Siacuteria-Palestina
Narseacutes (seacuteculo VI) ndash Um dos generais a par de Belisaacuterio mais importantes de
Justiniano durante as chamadas Guerras Goacuteticas Apoacutes a vitoacuteria em Mons Lactarius que potildee
fim ao reino dos Ostrogodos enfrenta e derrota uma coligaccedilatildeo de Francos e Alamanos na
batalha do rio Volturno em 554 onde acaba de consolidar a reconquista romana da Peniacutensula
Itaacutelica
Saporios (seacuteculo VII) ndash strategoacutes da divisatildeo do Armeniakon que se aliou a lsquoAbd al-
Rahman ibn al-Walid durante as suas campanhas na Aacutesia Menor permitindo a invasatildeo da
Aacutesia Menor pelos Omiacuteadas Depois da sua morte em 667 o Armeniakon volta para o lado de
Bizacircncio
XCIV
d) Dinastias
Aglaacutebidas Dinastia muccedilulmana da Tuniacutesia entre 800 e 909 sediada em Kairouan na
Tuniacutesia Em 827 invadem a Siciacutelia e terminam a conquista desta com a tomada de Taormina
em 902
Amoriana Dinastia bizantina que governou entre 820 e 867 Durante o periacuteodo em que
esta governou verificou-se uma estabilizaccedilatildeo da fronteira oriental graccedilas agrave criaccedilatildeo das
kleisoucircrarchiai e ao fim definitivo da questatildeo iconoclaacutestica
Hamdacircnidas Dinastia muccedilulmana do Norte da Siacuteria que atingiu o seu expoente
maacuteximo no reinado de Sayf al-Dawlah governando a Mesopotacircmia e a Ciliacutecia a partir de
Alepo
Macedoacutenica Uma das mais ilustres dinastias bizantinas governa o impeacuterio desde a
usurpaccedilatildeo de Basiacutelio I em 867 ateacute agrave morte de Teodora em 1056 Durante o seu reinado
Bizacircncio atinge a sua maior extensatildeo desde Mauriacutecio e consolida-se como a maior potecircncia
do Mediterracircneo oriental
Tuluacutenidas Dinastia muccedilulmana do Egipto entre 868 e 905
XCV
e) Organizaccedilotildees e unidades militares
Excubitores ndash contingente dos taacutegmata resultou da reorganizaccedilatildeo do regimento da
guarda imperial do mesmo nome obtendo novamente funcionalidade militar No campo de
batalha funcionavam taticamente como cavalaria
Hetaireia ndash contingente dos taacutegmata que reunia em si soldados de outras
nacionalidades como Khazars Inicialmente tratar-se-ia apenas de uma divisatildeo da Vigla
(Noumera) mas tornaram-se num corpo militar independente durante o reinado de Miguel II
Hikanatocirci ndash divisatildeo de cavalaria dos taacutegmata formada por Niceacuteforo I Era constituiacuteda
pelos filhos dos archontes da capital tendo sido criada para esse propoacutesito de forma a servir o
filho do basileuacutes Staurakios
Vigla ndash unidade da guarda imperial formada pela basilissa Irene por volta de 780 Era
composta por cavalaria
Noumera ndash Regimento dos taacutegmata que servia como guarniccedilatildeo permanente de
Constantinopla sendo por essa razatildeo constituiacutedo por infantaria
Opsikiacuteon ndash comando militar bizantino que desempenhava as funccedilotildees de guarniccedilatildeo de
Constantinopla e de exeacutercito pessoal do basileuacutes Perdeu muita da sua importacircncia apoacutes a
revolta falhada de Artavasdo em 743 tendo os taacutegmata ocupado as suas funccedilotildees
Optimates ndash regimento dos taacutegmata que se encontrava encarregue da logiacutestica
Scholaiacute ndash um dos contingentes mais importantes dos taacutegmata foi o resultado da
remilitarizaccedilatildeo do regimento da guarda imperial com o mesmo nome Militarmente eram
constituiacutedos por cavalaria O seu oficial maacuteximo era o domestikoacutes Scholae que acabaria por se
tornar no comandante maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos depois do basileuacutes
XCVI
Anexos V ndash Listas de Titulares
a) Imperadores Bizantinos desde Mauriacutecio ao final da eacutepoca
meacutedio-bizantina (582-1204)
Dinastia Justiniana
582-602 ndash Mauriacutecio Tibeacuterio
Natildeo Dinaacutestico
602-610 ndash Focas
Dinastia Heracliana
610-641 ndash Heraacuteclio
641 ndash Constantino III Heraacuteclio
641- Heraclonas
regecircncia de Martina
641-668 ndash Constante II
668-685 ndash Constantino IV
685-695 ndash Justiniano II
695-698 ndash Leocircncio
698-705 ndash Tibeacuterio II Absimaro
705-711 ndash Justiniano II (2ordm principado)
Natildeo Dinaacutesticos
711-713 ndash Filipico Bardaneacutes
713-715 ndash Anastaacutecio II
715-717 ndash Teodoacutesio III
XCVII
Dinastia Isauriana
717-741 ndash Leatildeo III ldquoO Isaurianordquo
741-775 ndash Constantino V ldquoO Coproacutenimordquo
775-780 ndash Leatildeo IV
780-797 ndash Constantino VI (regecircncia de Irene)
797-802 ndash Irene ldquoA Atenienserdquo
Natildeo Dinaacutestico
802-811 ndash Niceacuteforo I
811 ndash Staurakios
811-813 ndash Miguel I Rangabeacute
813-820 ndash Leatildeo V ldquoO Armeacuteniordquo
Dinastia Amoriana
820-829 ndash Miguel II ldquoO Amorianordquo
829-842 ndash Teoacutefilo
842-867 ndash Miguel III
842-856 ndash Regecircncia de Teodora
XCVIII
Dinastia Macedoacutenica
867-886 ndash Basiacutelio I O Macedoacutenico
886-912 ndash Leatildeo VI O Saacutebio
912-913 ndash Alexandre
913-959 ndash Constantino VII Porfirogeneta
913-914 ndash Regecircncia de Nicolau Miacutestico
914-920 ndash Regecircncia de Zoe Carbonopsina
920-944 ndash Co-imperador Romano I Lecapeno
959-963 ndash Romano II Porfirogeneta
963-1025 ndash Basiacutelio II Boulgaroktoacutenos (o exterminador de Buacutelgaros)
963 ndash Regecircncia de Teoacutefane
963-969 ndash Co-imperador Niceacuteforo II Focas
969-976 ndash Co-imperador Joatildeo I Zimisce
1025-1028 ndash Constantino VIII Porfirogeneta
1028-1034 ndash Romano III Argiro
1034-1041 ndash Miguel IV ldquoO Paflagoacutenicordquo
1041-1042 ndash Miguel V ldquoO Calafaterdquo
1042 ndash Zoeacute
1042-1055 ndash Constantino IX Monoacutemaco
1055-1056 ndash Teodora
Natildeo Dinaacutestico
1056-1057 ndash Miguel VI Bringas
Dinastia Comnena
1057-1059 ndash Isaac I Comneno
XCIX
Dinastia Ducas
1059-1067 ndash Constantino X Ducas
1067-1078 ndash Miguel VII Ducas
1067-1068 - Regecircncia de Eudoacutexia
1068-1071 - Co-imperador Romano IV Dioacutegenes
Natildeo-dinaacutestico
1078-1081 ndash Niceacuteforo III Botaniate
Dinastia Comnena
1081-1118 ndash Aleixo I Comneno
1118-1143 ndash Joatildeo II Comneno
1143-1180 ndash Manuel I Comneno
1180-1183 ndash Aleixo II Comneno
1183-1185 ndash Androacutenico I Comneno
Dinastia Acircngelo (dos Anjos)
1185-1195 ndash Isaac II Anjo
1195-1203 ndash Aleixo III
1204 ndash Aleixo IV
1204 ndash Aleixo V Ducas Murzuflo
C
b) Califas Aacuterabes
Califas Rashidun Califas Abaacutessidas
632-634 ndash Abu-Bakr
634-644 ndash Omar
644-656 ndash Uthman
656-661 ndash Ali
750-754 ndash Al-Saffah
754-775 ndash Al-Mansur
775-785 ndash Al-Mahdi
785-786 ndash Al-Hadi
786-809 ndash Harun al-Rashid
809-813 ndash Al-Amin
813-833 ndash Al-Mamun
833-842 ndash Al-Mutasim
842-847 ndash Al-Wathiq
847-861 - Al-Mutawakill
861-862 ndash Al-Muntasir
862-866 ndash Al-Mustarsquoin
866-869 ndash Al-Mursquotazz
869-870 ndash Al-Mutahdi
870-892 ndash Al-Mursquotamid
892-902 ndash Al-Mursquotadid
902-908 ndash Al-Muktafi
908-932 ndash Al-Muqtadir
932-934 ndash Al-Qahir
934-940 ndash Al-Radi
940-944 ndash Al-Muttaqi
944-946 ndash Al-Mustakfi
946-974 ndash Al-Muti
974-991 ndash Al-Tarsquoi
991-1031 ndash Al-Qadir
1031-1075 ndash Al-Qarsquoim
Califas Omiacuteadas 661-680 ndash Muawiyia I
680-683 ndash Yazicircd I
683-684 - Muawiya II
684-685 ndash Marwan I
685-705 ndash Abd al-Malik
705-715 - Al-Walid I
715-720 ndash Sulayman
720-724 - Yazicircd II
724-743 ndash Hisham
743-744 ndash Al-Walid II
744-750 ndash Marwan II
CI
c) Outros governantes aacuterabes
Governantes Omiacuteadas do Al-Andalus
Governadores
714-716 ndash lsquoAbd al-lsquoAziz ibn Musa
716 ndash Ayyub ibn Habib al-Lakhmi
717-719 ndash Al-Hurr ibn lsquoAbd al-Rahman al Thaqafi
719-721 ndash lsquoAl-Samh ibn Malik al-Khawlani
721 ndash Abd al-Rahman al-Ghafiqi
721-725 ndash lsquoAnbasa ibn Suhaym al-Kalbi
725-726 ndash lsquoUdhra ibn lsquoAbd Allah al-Fihri
726-728 ndash Yahya ibn Salama al-Kalbi
728-729 ndash Hudhayfa ibn al-Ahwas al-Qaysi
729 ndash lsquoUthman ibn Abi Nasr al-Khathrsquoami
729-730 ndash Al-Haytham ibn lsquoUbayd al-Kilabi
730 ndash Muhammad ibn lsquoAbd Allah al-Ashja lsquoi
730-732 ndash lsquoAbd al-Rhaman ibn lsquoAbd Allah al-Ghafiqi
732-734 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri
734-740 ndash lsquoUqba ibn al-Hajjaj al-Saluli
740-741 ndash lsquoAbd al-Malik ibn Qatan al-Fihri
742-743 ndash Tharsquolaba ibn Salama al-lsquoAmili
743-745 ndash Abu al-Qattar al-Husam
745-746 ndash Thawaba ibn Yazid
746-756 ndash Usuf ibn lsquoAbd al-Rahman al-Fihri
Instauraccedilatildeo do Emirato Omiacuteada
822-852 ndash lsquoAbd al-Rahman II
852-886 - Muhammad I
886-888 ndash Al-Mundhir
888-912 ndash lsquoAbd Allah
912-929 ndash lsquoAbd al-Rahman III
lsquoAbd al-Rahman III eacute proclamado califa
Califas Omiacuteadas
929-961 ndash lsquoAbd al-Rahman III
961-976 ndash Al-Hakam II
976-1009 ndash Hisham II
1009 ndash Muhammad II
1010-1013 ndash Hisham II
1013-1018 ndash Sulayman al-Mustarsquoin
1018-1023 ndash lsquoAbd al-Rahman IV al-Murtada
1023-1024 ndash Abd al-Rahman V al-Mustazhir
1024-1027 - Muhammad III al-Mustakfi
1027-1031 ndash Hisham III al-Mursquotadd
Fim da dinastia iniacutecio do primeiro periacuteodo
de reis de taifa
Emires Omiacuteadas
756-788 ndash lsquoAbd al-Rahman I
788-796 ndash Hisham I
796-822 ndash Al-Hakam I
CII
Governantes Almoraacutevidas e Almoacuteadas
Almoraacutevidas (emires) Almoacuteadas (califas)
Primeiro periacuteodo dos reinos de taifa
1061-1106 ndash Yusuf ibn Tashufin
1106-1142 ndash Ali
1143-1145 ndash Tashufin
1146 ndash Ibrahim
1146-1147 ndash Ishaq
1130-1163 ndash lsquoAbd al-Mursquomin
1163-1184 ndash Abu Yarsquoqub Yusuf
1184-1199 ndash Abu-Yusuf Yarsquoqub al-Mansur
1199-1214 ndash Muhammad al-Nasir
Governantes Aglaacutebidas
812-817 ndash lsquoAbd Allah
817-838 ndash Ziyadat Allah I
838-841 ndash Abu lsquoIqal al-Aghlab
841-856 ndash Muḥammad I
856-863 ndash Aḥmad
863 - Ziyadat Allah II
863-875 ndash Abu rsquol-Gharaniq Muḥammad II
875-902 ndash Ibrahim II
902-903 ndash lsquoAbd Allah II
CIII
d) Khagan e czares (a partir de Boacuteris I) da Bulgaacuteria
739-756 ndash Kormisos
756-ca761 ndash Vinekh
Ca 761-764 ndash Telec
Ca 764-767 ndash Sabin
767 ndash Umar
767-ca769 ndash Toktu
770 ndash Pagan
Ca 770 ndash 777 ndash Telerig
777-ca803 ndash Kardam
Ca 803-813 ndash Krum
814-831 ndash Omurtag
831-836 ndash Malamir
836-852 ndash Presiam
852-889 ndash Boacuteris I
889-893 ndash Vladimir
893-927 ndash Simeatildeo
927-967 ndash Pedro
967-971 ndash Boacuteris II
976-986 ndash Cometopuli Aratildeo Moiseacutes David e Samuel
986-1014 ndash Samuel
1014-1015 ndash Gabriel Radomir
1015-1019 ndash Joatildeo Vladislav
Conquista Bizantina de Basiacutelio II
CIV
e) Priacutencipes de Rus
ndash 945 ndash Igor
945-972 ndash Svyatoslav
972-978 ndash Yaropolk
978-1015 ndash Vladimir I
1015-1019 ndash Svjatopolk
1019-1036 ndash Msistlav
1036-1054 ndash Yaroslav I
1054-1057 ndash Vyacheslav
1057-1060 ndash Igor
1060-1076 ndash Svjatoslav II
1076-1078 ndash Izyaslav
1078-1093 ndash Vsevolod
1093-1113 ndash Svjatopolk II
1113-1115 ndash Oleg
1115-11123 ndash Yaroslav II
1123-1125 ndash Vladimir II
1125-1132 ndash Mstislav-Harald
1132-1139 ndash Yaropolk II
1139-1157 ndash Yuri Dolgoruky
CV
f) Reis e Duques lombardos de Itaacutelia
Reis Lombardos
568-572 ndash Alboim
572-574 ndash Clefo
574-584 - Interregno
584-590 ndash Autari
590-616 ndash Agilolfo
616-626 ndash Adaloaldo
626-636 ndash Arioldo
636-652 ndash Rotaacuterio
652 ndash Rodoaldo
652-661 ndash Ariberto I
661-662 ndash Godeberto Perctarit
662-671 ndash Grimoaldo
671-688 ndash Perctarit
688-700 ndash Cuniperto
700 ndash Liutberto
700-712 ndash Ariberto II
712 ndash Ansprando
713-744 ndash Liutprando
744 ndash Hildebrando
744-749 ndash Ratchis
749-756 ndash Astolfo
756-774 ndash Desideacuterio
CVI
Duques e Priacutencipes (a partir de 774) de Benevento
571-591 ndash Zotto
591-641 ndash Arechis I
641-642 ndash Aio I
642-646 ndash Radoaldo
646-662 ndash Grimoaldo I
662-687 ndash Romoaldo I
687-692 ndash Grimoaldo II
692-706 ndash Gisulfo
706-730 ndash Romoaldo II
730-732 ndash Audelaio
732-739 ndash Gregoacuterio
739-742 ndash Godescalco
742-751 ndash Gisulfo II
751-758 ndash Liutprando
758-787 ndash Arichis II
787-806 ndash Grimoaldo III
806-817 ndash Grimoaldo IV
817-833 ndash Sico
833-839 ndash Sicardo
839-851 ndash Radeacutelchio I
839-849 ndash Siquenolfo
851-853 ndash Radelgar
853-878 ndash Adeacutelchio
878-881 ndash Gaideacuterio
881-884 ndash Radeacutelchio II
884-891 ndash Aio II
891-892 ndash Urso
895-897 ndash Guido IV de Espoleto
897-900 ndash Radeacutelchio II
900-910 ndash Atenolfo I
910-940 ndash Atenolfo II
910-943 ndash Landolfo I
933-943 ndash Atenolfo III
939-961 ndash Landolfo II
959-968969 ndash Landolfo III
961-981 ndash Pandolfo I
96869-982 ndash Landolfo IV
982-1014 ndash Pandolfo II
987-1033 ndash Landolfo V
1011-1060 ndash Pandolfo III
1038-1077 ndash Landolfo VI
1054-1074 ndash Pandolfo IV
Conquista Normanda do Ducado
CVII
Priacutencipes de Salerno Princiacutepes de Caacutepua
853-856 ndash Pedro
856-861 ndash Ademaro
861-880 ndash Guaifer
880-900 ndash Guaimar I
900-946 ndash Guaimar II
946-977 ndash Gisulfo I
977-981 ndash Pandolfo I
981-983 ndash Manso e Joatildeo I
983-989 ndash Joatildeo II
989-1027 ndash Guaimar III
1027-1052 ndash Guaimar IV
1052-1077 ndash Gisulfo II
Conquista Normanda do Principado
887-910 ndash Atenolfo I
910-940 ndash Atenolfo II
910-943 ndash Landolfo I
933-943 ndash Atenolfo III
939-961 ndash Landolfo II
959-968969 ndash Landolfo III
961-981 ndash Pandolfo I
96869-982 ndash Landolfo IV
982-993 ndash Ladenolfo
993-999 ndash Laidolfo
1000-1007 ndash Landolfo V
1007-1022 ndash Pandolfo II
1014-1026 ndash Pandolfo III
1016-1049 ndash Pandolfo IV
1020-1057 ndash Pandolfo V
1022-1026 ndash Pandolfo VI
1047-1058 ndash Landolfo VI
1049-1057 ndash Pandolfo IV
Conquista Normanda do Ducado
CVIII
Duques de Espoleto
580-592 ndash Faroaldo I
592-601 ndash Ariulfo
601-653 ndash Teudelaacutepio
653-663 ndash Ato
663-703 ndash Trasamundo I
703-724 ndash Faroaldo II
724-739 ndash Trasamundo II
739-740 ndash Hilderico
740-742 ndash Trasamundo II
742-744 ndash Agiprando
744-745 ndash Trasamundo II
745-752 ndash Lupo
752-756 ndash Astolfo (rei dos Lombardos)
756-757 ndash Ratchis
757-759 ndash Alboiacuteno
758-759 ndash Desideacuterio (rei dos Lombardos)
758-763 ndash Gisulfo
763-773 ndash Teodiacutesio
774-788 ndash Hildebrando
789-822 ndash Guinisigio I
822-824 ndash Supatildeo I
824 ndash Adelardo
824 ndash Mauringo
824-834 ndash Adeacutelchio I
834-836 ndash Lamberto I de Nantes
836-841 ndash Berengaacuterio de Espoleto
842-860 ndash Guido I de Espoleto
860-871 ndash Lamberto I de Espoleto
871 ndash Supatildeo II
871-874 ndash Supatildeo III
875-880 ndash Lamberto I de Espoleto
880-883 ndash Guido III
883-889 ndash Guido II
889-897 ndash Guido IV
898-922 ndash Alberico
923-928 ndash Bonifaacutecio I
924-928 ndash Pedro
929-936 ndash Teobaldo
937-940 ndash Anscaacuterio II
940-943 ndash Sarleatildeo
943-946 ndash Uberto de Espoleto
946-953 ndash Bonifaacutecio II
953-959 ndash Teobaldo II
959-967 ndash Trasimundo III
966-1001 ndash Conrado de Ivreia
967-981 ndash Pandolfo I Cabeccedila-de-ferro
982-989 ndash Trasimundo IV
999- ndash Ademaro
1003- ndash Romano
1010-1020 ndash Ranieri da Toscacircnia
1020-1035 ndash Hugo II
1036-1043 ndash Hugo III
1043-1056 ndash Controlo do Marquesado da
Toscacircnia
1057-1070 ndash Godofredo III da Lorena
1070-1082 ndash Controlo do Marquesado da
Toscacircnia
CIX
Anexo VI - Glossaacuterio temaacutetico
a) Termos militares e navais
Baacutendon (pl bandaacute) ndash Unidade taacutetica baacutesica de um exeacutercito bizantino De acordo com o
Taktikaacute deveria ter entre 200 a 400 homens
Cheirosiacutefona ndash meio de projetar ou atirar fogo greguecircs Possivelmente um sifatildeo manual
Chelandia ndash Nave de Guerra bizantina que teria esse nome por inicialmente ter
capacidade de transporte de montadas
Comitatenses ndash soldados dos exeacutercitos moacuteveis tardo-romanos
Decarca ndash Comandante de uma decarquia ou de uma fila de soldados
Droacutemōn pl Droacutemōnes ndash designaccedilatildeo geral para os vasos de guerra bizantinos No seacuteculo
X era usado a par da chelandia como o principal termo designativo para os navios de guerra
efetiva
Ekdiacutekoi ndash Tambeacutem chamados de ldquodefensoresrdquo eram os cavaleiros responsaacuteveis por apoiar
os kouacutersores caso estes necessitassem de retirar
Fogo greguecircs ndash Substacircncia inflamaacutevel utilizada como arma pelos Bizantinos
especialmente em contextos navais Apesar de ainda natildeo se conhecer a sua composiccedilatildeo na
totalidade sabe-se que pelo menos contaria com oacuteleo crude e resina nesta Uma das suas
propriedades principais seria a ineficaacutecia da aacutegua em apagar o fogo provocado por este
composto
Fulcrum ndash Dispositivo taacutetico anti-cavalaria Neste as trecircs primeiras fileiras de infantaria
erguiam os escudos e apoiavam as lanccedilas no chatildeo de forma a trespassar o peito dos cavalos
Galea ndash pequeno navio designado essencialmente para funccedilotildees de recolha de informaccedilatildeo
e de reconhecimento
Ghazi ndash Soldado voluntaacuterio religioso muccedilulmano As expediccedilotildees cilicianas em particular
as de veratildeo contavam com muitos guerreiros deste geacutenero
CX
Hypostrategoacutes ndash Comandante da segunda touacuterma de um theacutema e segundo homem com
mais poder do exeacutercito ldquotemaacuteticordquo
Kaballarika themaacuteta ndash Atribuiccedilatildeo dada agraves forccedilas dos themaacuteta por estes serem
constituiacutedos maioritariamente de tropas da cavalaria ligeira
Karagos ndash Recinto defensivo formado in promptu pelas carroccedilas do trem-de-apoio
Keacutentarcos ndash Capitatildeo de um droacutemōn
Kouacutersores ndash Numa formaccedilatildeo de cavalaria eram os soldados responsaacuteveis por carregar e
atacar o inimigo
Kleisocircura pl kleisocircurai ndash Pequenos distritos que serviam para proteger as regiotildees mais
orientais do impeacuterio e garantir a vigia dos desfiladeiros das cordilheiras do Tauro e do
Antitauro contra expediccedilotildees aacuterabes Teratildeo sido criados durante o reinado de Teoacutefilo (829-
842) e na segunda metade do seacuteculo X convertidos em laquopequenos themaacutetaraquo
Klibaacutenion ndash Armadura lamelar
Laisaacute pl Laisacirci ndash Estrutura amoviacutevel leve e de faacutecil construccedilatildeo que servia como abrigo
aos soldados atacantes durante um assalto a uma muralha Tambeacutem podia ser colocada no
topo de uma torre para proteger arqueiros e maacutequinas de guerra de projeacuteteis inimigos
Limitanei ndash soldados dos impeacuterios tardo-romanos que serviam como guarniccedilatildeo de postos
fronteiriccedilos e policiamento nessas regiotildees
Loriacutekia ndash Cota-de-malha
Minsouratores ndash Batedores responsaacuteveis por encontrar um siacutetio para construir um
acampamento
Ouraacutegos ndash soldado que ocupava o final de uma fila podendo ser um tetrarca ou ainda que
com certas suspeitas um pentarca (de acordo com o Taktikaacute)
Pamphylos ndash pequena embarcaccedilatildeo bizantina destinada inicialmente a transportar tropas
mais tarde passou a ser usada como navio de guerra O seu nome proviria da regiatildeo de
CXI
Panfiacutelia ou pelo facto de ser tripulado por uma equipa de indiviacuteduos escolhidos de todo o
impeacuterio589 No Taktikaacute eacute o nome atribuiacutedo ao navio do comandante da frota
Pentarca - Numa decarquia eacute o oficial responsaacutevel por comandar dez homens
Proacutemachos ndash Linha da frente numa formaccedilatildeo em trecircs linhas
Skoutatoacutes pl Skoutatoacutei ndash Soldado de infantaria pesada
Saka ndash Nome de origem aacuterabe utilizado para referenciar a retaguarda de um exeacutercito
bizantino
Sifonaacutetor ndash Numa embarcaccedilatildeo era o oficial responsaacutevel pelo sifatildeo de ldquofogo greguecircsrdquo
Strateiacutea ndash Obrigaccedilatildeo ao serviccedilo militar Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino a sua posse
esteve dividida entre o indiviacuteduo e a propriedade (a partir do seacuteculo X) consoante os
interesses do Estado O serviccedilo militar no entanto natildeo precisava de ser ativo sendo muitas
vezes feito por meio de apoio financeiro e logiacutestico a um soldado A partir dos meados do
seacuteculo X a strateiacutea passa a ser cumprida atraveacutes de comutaccedilatildeo monetaacuteria em vez de serviccedilo
efetivo em campanha de forma ao Estado poder pagar o equipamento dos taacutegmata
fronteiriccedilos e agrave contrataccedilatildeo de mercenaacuterios
Stratioacutetes pl Stratioacutetai ndash Cidadatildeo bizantino que possuiacutea strateiacutea
Stratiotikagrave kteacutemata ndash Terras militares ou ldquoestratioacuteticasrdquo ou seja que tinham imbuiacutedas
nela a strateiacutea Comeccedilam a existir oficialmente apoacutes as reformas de Constantino VII no
seacuteculo X que formalizam a posse de strateiacutea pelo terreno e natildeo pelo indiviacuteduo
Stratiouacutemenos ndash Soldado bizantino cujo equipamento montada e provisotildees eram
fornecidos pela strateiacutea mesmo que este natildeo a tivesse
Taacutegma pl Taacutegmata (contingentes) ndash Organizaccedilotildees das forccedilas militares bizantinas
criadas durante o reinado de Constantino V de forma a garantir a seguranccedila dos basilecircis em
caso de insurreiccedilatildeo de outro corpo militar Foram criadas pela remilitarizaccedilatildeo dos regimentos
das guardas palatinas bizantinas que teriam apenas funccedilotildees cerimoniais neste periacuteodo De
589 O nome da embarcaccedilatildeo ser a junccedilatildeo das palavras ldquoπᾶνrdquo (ldquopanrdquo) que significa todas e ldquoφῦλονrdquo (Lecirc-se
ldquopfiulonrdquo) grupos ou tribos
CXII
forma a garantir a sua lealdade eram extremamente bem pagos e o seu equipamento era
providenciado pelo Estado e bem treinados o que lhes permitiu tornarem-se mais tarde nos
corpos de elite do Impeacuterio Bizantino e assim na coluna-vertebral dos exeacutercitos de campanha
de Constantinopla
Techniacutetai -ndash Oficiais bizantinos especializados em guerra de cerco Entre as suas
valecircncias estatildeo a manobra a construccedilatildeo e a subsistecircncia de maacutequinas de cerco bem como a
construccedilatildeo e manutenecircncia de recintos fortificados
Tetrarca ndash Comandante de quatro homens dentro de uma decarquia podia ser tambeacutem o
ouraacutegos
Theacutema pl Themaacuteta ndash Circunscriccedilotildees territoriais bizantinas e tambeacutem os exeacutercitos nelas
guarnecidos Apesar de uma origem muito discutiacutevel acredita-se agora mais seguramente
que teratildeo sido criadas nos iniacutecios do seacuteculo IX como forma de garantir apoio logiacutestico
melhorado aos strategoacutes ao facilitarem a relaccedilatildeo entre o poder militar e civil atraveacutes de um
oficial o protonotaacuterios Os exeacutercitos dos themaacuteta comeccedilam a perder importacircncia a partir dos
finais do seacuteculo X uma vez que o Estado comeccedila a preferir contratar tropas mercenaacuterias mais
eficientes e assim melhor direcionadas para campanhas ofensivas
laquoThemaacuteta armeacuteniosraquo (ou pequenos themaacuteta) ndash Themaacuteta pequenos criados no limes
oriental durante a segunda metade do seacuteculo X de forma a garantir a proteccedilatildeo de territoacuterios
recentemente conquistados e para garantir a raacutepida mobilizaccedilatildeo de soldados para campanhas
(cada vez mais ofensivas nessas regiotildees) Eram chamados tambeacutem de laquoarmeacuteniosraquo por a maior
parte dos seus soldados serem dessa nacionalidade
Thematikoiacute ndash Soldados dos themaacuteta
Thugucircr ndash Centros urbanos de cariz militar que serviam como base para as expediccedilotildees de
saque bizantinas Os mais importantes eram Tarso Melitene e Antioquia
Touacuterma pl Touacutermai (distrito) ndash divisotildees geograacuteficas dos themaacuteta Em tempos de
campanha um conjunto de soldados desta regiatildeo perfazia uma unidade taacutetica do exeacutercito
ldquotemaacuteticordquo
Touacuterma pl Touacutermai (unidade taacutetica) ndash Unidade taacutetica do exeacutercito bizantino Deveria
possuir entre mil soldados a seis mil (o uacuteltimo valor de acordo com o Taktikaacute)
CXIII
Toxobaliacutestrai ndash Maacutequina de guerra de torccedilatildeo que disparava dardos que eram apelidados
de ldquomoscasrdquo ou ldquoratosrdquo Podia ser colocada na proa de um navio ou em vagotildees para servir de
arma campal
CXIV
b) Tiacutetulos
Autokraacutetor ndash tiacutetulo designativo de governante para Leatildeo VI e Alexandre
Basileuacutes pl Basileicircs ndash tiacutetulo designativo para os governantes de Bizacircncio a partir de
Heraacuteclio (610-641)
Czar ndash tiacutetulo designativo para os imperadores buacutelgaros a partir da conversatildeo daquele
Estado ao Cristianismo em 864
Domestikoacutes ndash Eram os oficiais principais da maior parte dos taacutegmata agrave excepccedilatildeo da Vigla
que tinha um droungaacuterios
Domestikoacutes Scholae ndash Principal comandante militar das forccedilas bizantinas depois do
basileuacutes A partir de Romano I Lecapeno passam a existir dois um para as proviacutencias
ocidentais e outro para as orientais
Droungaacuterios totilden ploiumlmon ndash Almirante da frota imperial sediada em Constantinopla e
que exercia funccedilotildees civis relacionadas com o mar
Kleisouraacutercha ndash O principal oficial de uma kleisocircura
Koacutemes ndash Tiacutetulo que poderia ter vaacuterias atribuiccedilotildees No contexto militar poderia ser um
ajudante do strategoacutes ou o liacuteder de um bandaacute
Koacutemes (do Opsikiacuteon) ndash Oficial maacuteximo do comando militar do Opsikiacuteon
Kouropalaacutetēs - alto dignitaacuterio responsaacutevel pelas construccedilotildees de novas secccedilotildees e
organizaccedilatildeo do palaacutecio imperial inferior na hierarquia apenas ao ceacutesar e ao nobiliacutessimos
Manglabiacutetēs - Guarda-costas do basileuacutes que o precedia nas cerimoacutenias e abria certas
portas no palaacutecio
Prōtonotaacuteriosndash principal oficial civil nos themaacuteta que comeccedila a aparecer em fontes do
seacuteculo IX para a frente Estava responsaacutevel natildeo soacute pela coordenaccedilatildeo dos cobradores de
impostos imperiais naquelas circunscriccedilotildees mas tambeacutem pelo aprovisionamento dos exeacutercitos
provinciais bizantinos servindo como principal elo de ligaccedilatildeo entre o strategoacutes e o
logotheacutesion
CXV
Protostraacutetor ndash Oficial responsaacutevel pelos estaacutebulos imperiais
Protovestiaacuterio - Inicialmente oficial responsaacutevel pelo guarda-roupas imperial Nos
seacuteculos IX e X poderia comandar exeacutercitos bizantinos
Spathaacuterios ndash tiacutetulo dignitaacuterio Antes do seacuteculo X era designativo dos guarda-costas do
imperador
Strategoacutes pl Strateacutegoi ndash Oficial maacuteximo dos exeacutercitos bizantinos ateacute ao seacuteculo IX A
partir desse seacuteculo comeccedila tambeacutem a supervisionar o poder civil a partir de outro oficial o
protonotaacuterio
Turmarca ndash Oficial responsaacutevel por liderar uma touacuterma
CXVI
c) Termos relacionados com a tratadiacutestica e outra literatura
Constitutio pl Constitutiones ndash Denominaccedilatildeo dos ldquocapiacutetulosrdquo ou ldquolivrosrdquo do Taktikaacute Eacute
um decreto imperial sob a forma de uma letra pessoal que pretendia informar o recetor de
novas ordens ou instruccedilotildees O Taktikaacute ao estar seccionado neste tipo de documentos
apresenta-se como um conjunto de instruccedilotildees enviadas aos strateacutegoi pelo basileuacutes Leatildeo VI
Dispositio ndash Elemento do modelo tripartido que aborda as medidas a serem tomadas para
resolver certo problema
Epilogus ndash Divisatildeo de um documento legislativo que aborda os conteuacutedos do mesmo
Intitulatio ndash Elemento do modelo tripartido que invoca o nome do imperador e os seus
tiacutetulos
Inscriptio ndash Nome do destinataacuterio da obra legislativa
Invocatio ndash Elemento da primeira parte do modelo tripartido de uma obra legislativa que
invoca a Santa Trindade
Naumachikaacute - Geacutenero de tratadiacutestica antigo-bizantina que explica como praticar guerra
naval
Narratio ndash Secccedilatildeo de um documento legislativo onde eacute retratada a natureza do problema
a ser resolvido
Poliorketikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina descreve meacutetodos e engenhos que
permitem atacar ou defender fortalezas com sucesso
Strategemataacute - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que reporta estratagemas maacuteximas
e erudiccedilotildees militares
Strategikaacute ndash Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que apresenta princiacutepios gerais da arte
de comandar
Strategikoacuten ndash Tratado militar bizantino possivelmente redigido pelo imperador Mauriacutecio
(582-602) eacute considerado como um dos mais importantes e influentes manuais militares
bizantinos tendo influenciado vaacuterios tratados posteriores como por exemplo o Taktikaacute
CXVII
Taktikaacute (disciplina) - Geacutenero da tratadiacutestica antigo-bizantina que aborda o
posicionamento e a manobra de forccedilas no campo de batalha Este geacutenero define igualmente
terminologias taacuteticas
Taktikaacute (tratado) ndash Tratado militar bizantino escrito por Leatildeo VI (886-912) Eacute
considerado por vaacuterios autores como o tratado inaugural do segundo periacuteodo de produccedilatildeo
tratadiacutestica bizantina (seacuteculos X e XI)
CXVIII
d) Povos
Aacuterabes ndash Povo indiacutegena da Peniacutensula Araacutebica que apoacutes a unificaccedilatildeo sob o profeta
Maomeacute inicia um processo de expansatildeo territorial ao comando dos califas No seguimento da
derrota dos Bizantinos e dos Persas em 636 o Califado torna-se a principal potecircncia poliacutetico-
militar do Proacuteximo e do Meacutedio Oriente estatuto que soacute viraacute a perder no seacuteculo X para os
Bizantinos e para o califado xiita dos Fatiacutemidas
Armeacutenios - Povo oriundo da Armeacutenia uma regiatildeo a sul do Caacuteucaso Satildeo de extrema
relevacircncia para o Impeacuterio Bizantino por terem sido recrutados como mercenaacuterios e auxiliares
para os seus exeacutercitos Como povo autoacutenomo estiveram sempre envolvidos nos jogos
diplomaacuteticos entre Bizacircncio e os Persas Sassacircnidas inicialmente e com os califados aacuterabes
mais tarde que se digladiavam para obter o apoio dos principados daquela regiatildeo
Bizantinos ndash Designaccedilatildeo para os habitantes do Impeacuterio Bizantino durante a sua duraccedilatildeo
na historiografia atual Nas fontes histoacutericas deste ldquopovordquo esta designaccedilatildeo parece ser apenas
usada para os habitantes de Constantinopla No geral e nas suas fontes escritas este povo
designava-se como romano
Buacutelgaros ndash Inicialmente um povo semi-noacutemada da estepe euro-asiaacutetica formaram uma
confederaccedilatildeo com vaacuterios povos eslavos a sul do Danuacutebio e na Traacutecia por volta de 681 Ao
longo da duraccedilatildeo do Impeacuterio Bizantino existiram dois impeacuterios buacutelgaros o primeiro de 681 a
1018 ano da conquista dos uacuteltimos territoacuterios buacutelgaros por Basiacutelio II e o segundo de 1185 a
1386 data da conquista final da Bulgaacuteria pelos Turcos Otomanos
Magiares ndash Povo fino-uacutegrico que habitava na Estepe Euroasiaacutetica que foi a principal
potecircncia diretamente a norte do Danuacutebio na segunda metade do seacuteculo IX Apoacutes a sua
expulsatildeo desses territoacuterios agraves matildeos dos Pechenegues no rescaldo da guerra entre Leatildeo VI e
Simeatildeo da Bulgaacuteria fugiram para a Panoacutenia de onde lanccedilaram os seus raides sobre a Bulgaacuteria
e a Europa Ocidental e onde formariam o reino da Hungria
Lombardos ndash Povo germacircnico que no seacuteculo VI invadiu a Peniacutensula Itaacutelica pouco depois
da reconquista bizantina da mesma Foram a principal potecircncia italiana (quer pelo seu reino
no Norte ou pelos principados independentes do Sul) ateacute agrave conquista do reino da Lombardia
por Carlos Magno no iniacutecio no seacuteculo VIII e agrave chegada dos Aglaacutebidas ao sul de Itaacutelia e
posterior revitalizaccedilatildeo dos interesses bizantinos na peniacutensula nos meados do seacuteculo IX
CXIX
Russos ndash Povos de origem escandinava que durante o seacuteculo IX se confederaram com
povos eslavos que habitavam na zona onde hoje se localiza a Ucracircnia e fundaram uma
entidade poliacutetica o Principado do Rusrsquo
CXX
e) Outros termos
Demoacutesion ndash imposto base
Iconoclasmo ndash Doutrina religiosa que defende o fim ao culto de imagens que gerou
periacuteodos de tensatildeo teoloacutegica e poliacutetica em Bizacircncio por duas vezes uma primeira de 726 a
787 quando eacute repudiada no VII Conciacutelio Ecumeacutenico de Niceia e o segundo de 813 a 843
quando o culto das imagens eacute restaurado definitivamente por Miguel III num siacutenodo
Jihad ndash Um dos pilares dos Islatildeo que significa ldquocombaterdquo ou ldquoesforccedilordquo Apesar de ter
vaacuterios significados pode ser a luta de superaccedilatildeo individual de um muccedilulmano para se tornar
numa pessoa ou num crente melhor ou apesar de natildeo ser tatildeo frequente nesse sentido uma
forma de proteger a religiatildeo islacircmica ou espalhaacute-la por vaacuterios meios em especial pelos
militares
Kapnikoacuten ndash imposto sobre as famiacutelias
Logotheacutesion ndash departamento financeiro em Bizacircncio Existiam vaacuterios destes
departamentos no impeacuterio para as mais variadas aacutereas (militares agriacutecolas civis entre
outras)
Koacutedikes ndash Livros de registo No caso dos logotheacutesion dos themaacuteta listavam informaccedilatildeo
sobre os seus soldados bem como de quem possuiacutea strateiacutea
Paulicianismo ndash seita hereacutetica do Cristianismo oriental que praticava o iconoclasmo e
tinha raiacutezes no Maniqueiacutesmo Formou um ldquoEstadordquo na Anatoacutelia oriental em meados do
seacuteculo IX que foi destruiacutedo por Basiacutelio I em 879
Roga ndash Salaacuterio monetaacuterio
Vexilationes ndash laquofeitos malvadosraquo Eacute a designaccedilatildeo de Teoacutefanes o Confessor para um
conjunto de reformas de Niceacuteforo I que hoje se discutem terem sido fundamentais para
formaccedilatildeo do sistema dos themaacuteta e que foram muito mal vistas pelo clero de entatildeo
Waqf - Doaccedilotildees caridosas islacircmicas que no contexto da guerra no limes oriental podiam
servir para pagar o equipamento e os soldos dos soldados dos al-thugucircr
CXXI
Anexo VII ndash Glossaacuterio Geograacutefico
a) Regiotildees
Apuacutelia ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia que faz fronteira com a Calaacutebria e que eacute banhada a
oriente pelo Mar Adriaacutetico Possui cidades importantes para Bizacircncio no periacuteodo em estudo
como Tarento e especialmente Bari Atualmente eacute o nome da regiatildeo italiana do mesmo
nome e tem a sua capital na comuna de Bari
Armeacutenia ndash regiatildeo montanhosa localizada a sul da cordilheira do Caacuteucaso Tinha grande
valor estrateacutegico pois permitia alcanccedilar a Aacutesia Menor e o Iraque sem atravessar o deserto da
Siacuteria foi sempre contestada pelas principais potecircncias regionais (Roma e Peacutersia Sassacircnida e
Bizacircncio e Califado mais tarde) Atualmente esta zona encontra-se dividida entre vaacuterios
paiacuteses Armeacutenia Azerbaijatildeo Turquia Iratildeo e Geoacutergia
Aacutesia MenorAnatoacutelia ndash Peniacutensula localizada na Aacutesia ocidental rodeada pelo Mar
Mediterracircneo a sul e pelo Mar Negro a norte Durante grande parte do periacuteodo meacutedio-
bizantino foi fundamental para a defesa e economia do Impeacuterio Bizantino e foi aqui que a
maior parte dos combates entre Bizantinos e Aacuterabes se travaram Apesar disto os Bizantinos
perderam o controlo completo sobre a regiatildeo entre 1071 a batalha de Manzikert e 1081 ano
da ascensatildeo da dinastia Comnena quando uma seacuterie de tribos turcomanas se fixaram planalto
central Bizacircncio foi definitivamente expulsa da Anatoacutelia em 1337 com a perda de
Nicomeacutedia Atualmente esta regiatildeo faz parte da Turquia
Calaacutebria ndash Regiatildeo no sul de Itaacutelia localizada no lado oriental do estreito de Messina
Durante os reinados de Basiacutelio I e Leatildeo VI foi disputada pelos Bizantinos pelos Ducados
Lombardos e pelos receacutem-chegados Aacuterabes do Norte de Aacutefrica Atualmente eacute o nome da
regiatildeo italiana do mesmo nome com capital em Catanzaro
Ciliacutecia ndash Trato territorial que une a Aacutesia Menor agrave Siacuteria-Palestina Estaacute delimitada pelas
cordilheiras do Tauro e do Antitauro a norte e pelo mar Mediterracircneo a sul Durante o periacuteodo
em estudo era nesta aacuterea que estavam localizados os thugucircr os distritos militares
muccedilulmanos que protegiam o territoacuterio do califado e mais tarde dos emirados de expediccedilotildees
bizantinas e de onde partiam as razias muccedilulmanas A cidade mais importante da Ciliacutecia era
CXXII
Tarso Na contemporaneidade esta regiatildeo faz parte da Turquia denomina-se Ccedilukurova e estaacute
dividida em quatro proviacutencias Mersin Adana Osmaniye e Hatay
Ifriacutequia ndash Atribuiccedilatildeo medieval muccedilulmana ao territoacuterio da atual Tuniacutesia principalmente
Mesopotacircmia ndash Regiatildeo localizada a nordeste da Ciliacutecia que tambeacutem reunia um grande
conjunto de thugucircr dos quais se destacava Melitene Estaacute atualmente dividida entre a Siacuteria e a
Turquia
Siacuteria-Palestina ndash Corredor territorial localizado no Proacuteximo Oriente Estaacute dividido
topograficamente em trecircs regiotildees as zonas costeiras do litoral uma zona montanhosa ao
centro e a maior parte pelo deserto da Siacuteria Durante o periacuteodo meacutedio-bizantino esta zona
esteve maioritariamente nas matildeos dos califados aacuterabes da Siacuteria Iraque e Egito e de alguns
emirados muccedilulmanos na regiatildeo Registou-se tardiamente uma ressurgente presente
bizantina (entre os seacuteculos X-XI) e a existecircncia dos chamados laquoestados Cruzadosraquo no litoral
(seacuteculos X-XIII) Atualmente esta regiatildeo estaacute dividida entre os seguintes paiacuteses Siacuteria
Palestina Israel Liacutebano Jordacircnia e Turquia
Siciacutelia ndash Ilha localizada no Mediterracircneo central e essencial para o controlo da passagem
das duas passagens do Mar Mediterracircneo Esteve em posse bizantina ateacute agrave conquista de
Taormina pelos Aglaacutebidas em 902 no reinado de Leatildeo VI passando depois ao controlo de
vaacuterias entidades emirado Aglaacutebida califado Fatiacutemida principados normandos domiacutenio
alematildeo francecircs entre outros Atualmente eacute uma regiatildeo autoacutenoma italiana cuja capital eacute
Palermo
CXXIII
b) Circunscriccedilotildees territoriais (themaacuteta thugucircr etc)
Bucelaacuterios ndash Novo distrito militar que comeccedila a aparecer nas fontes a partir de 766
resultante da divisatildeo dos territoacuterios do comando do Opsikiacuteon apoacutes a revolta de Artavasdo
Kibirrhaiotai ndash Territoacuterio sob a posse do themaacuteta mariacutetimo com o mesmo nome
localizado no sul da Aacutesia Menor formado em 732 tinha a sua capital em Antaacutelia (atualmente
Antalya na Turquia)
Mar Egeu (theacutema) ndash Theacutema naval que reunia como o nuacutemero indica vaacuterias ilhas do Mar
Egeu No periacuteodo em estudo o seu quartel-general estava em Lesbos
Opsikiacuteon ndash Distrito militar que pertencia ao corpo militar do mesmo nome Inicialmente
compreendia territoacuterios no noroeste da Aacutesia Menor e na Traacutecia mas no final do seacuteculo VIII jaacute
soacute tinha uma fraccedilatildeo desse territoacuterio estando os restantes entregues a outros distritos
Bucelaacuterios Optimaton e Traacutecia
Optimates ndash Territoacuterio no noroeste da Aacutesia Menor que pertenceu ao Opsikiacuteon ateacute 773
ano em que se formou um novo distrito militar apoacutes uma nova revolta do corpo militar do
Opsikiacuteon
Samos (theacutema) ndash Theacutema naval bizantino responsaacutevel pelas ilhas do Mar Egeu oriental e
da costa ocidental anatoacutelica A sua base de operaccedilotildees era Esmirna (atual İzmir na Turquia
oriental)