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COMO A EUROPA SUBDESENVOLVEU A ÁFRICA WALTER RODNEY (1942 – 1980) HTTP://WWW.WALTERRODNEYFOUNDATION.ORG/

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COMO A EUROPA SUBDESENVOLVEU A ÁFRICA

WALTER RODNEY

(1942 – 1980)

HTTP://WWW.WALTERRODNEYFOUNDATION.ORG/

DESENVOLVIMENTO HUMANO (2008)

██ acima de 0,950

██ 0,900–0,949

██ 0,850–0,899

██ 0,800–0,849

██ 0,750–0,799

██ 0,700–0,749

██ 0,650–0,699

██ 0,600–0,649

██ 0,550–0,599

██ 0,500–0,549

██ 0,450–0,499

██ 0,400–0,449

██ 0,350–0,399

██ abaixo de 0,350

██ não disponível

O que é desenvolvimento?

"O nosso PIB (…) inclui a poluição do ar, a publicidade dos cigarros e as corridas das ambulâncias que recolhem os feridos nas ruas. Inclui a destruição das nossas florestas e o desaparecimento da natureza. Inclui as napalms e o custo da estocagem dos rejeitos radioativos. Em compensação, o PIB não contabiliza a saúde das nossas crianças, a qualidade da sua educação, a alegria dos seus jogos, a beleza da nossa poesia ou a solidez dos nossos matrimônios. Não leva em consideração a nossa coragem, a nossa integridade, a nossa inteligência, a nossa sabedoria. Mede qualquer coisa, mas não aquilo pelo qual a vida vale a pena ser vivida". Robert Kennedy

O que é desenvolvimento?

“O desenvolvimento é uma totalidade. É um processo cultural integrado que inclui valores como o ambiente natural, as relações sociais, a educação, a produção, o consumo e o bem-estar. O desenvolvimento é endógeno, só pode vir do interior da sociedade, a qual define soberanamente a sua visão e a sua estratégia, e conta primeiramente e sobretudo com as suas forças internas e com a cooperação com as sociedades que partilham com ela os seus problemas e aspirações.”

Fundação Dag Hammarksjold, 1975 (Suécia)

ÁFRICA SOB DOMINAÇÃO COLONIAL

(1880-1935)

A cultura negra no vale

do Nilo

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Fronteira islâmica

Ocidente, tríplice fronteira

As rotas transaarianas

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• Tráfico de escravizados

Crises e reestruturações

sociedades militarizadas

reorganização no século XIX

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Causa e justificativas para a colonização

Formação e crises do estado colonial

Culturas africanas contemporâneas

A construção nacional na África

A encruzilhada dos Estados africanos

PER

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O M

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DÊN

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• 1880 – 1935:

• 1880 – 1910: CONQUISTA E OCUPAÇÃO DE QUASE TODO O CONTINENTE AFRICANO PELAS

POTÊNCIAS IMPERIALISTAS E A INSTAURAÇÃO DO SISTEMA COLONIAL

• LIMITES ATÉ 1880

• ZONAS COSTEIRAS E ILHAS DO SENEGAL

• CIDADE DE FREETOWN

• REGIÕES MERIDIONAIS DA COSTA DO OURO

• ABIDJAN

• PORTO NOVO

• LAGOS

REORGANIZAÇÃO NO SÉCULO XIX

COLONIZAÇÃO

ÁFRICA EM 1880

Zonas costeiras e ilhas do Senegal

Cidade de Freetown

Costa do Ouro

Abidjan

Porto novo

Lagos

Argélia

Angola

Moçambique

Em 1880, em cerca de 80% do seu território, a África era

governada por seus próprios reis, rainhas, chefes de clã e de

linhagens, impérios, reinos, comunidades e unidades políticas

de porte e natureza variados.

Nos 30 anos seguintes, assiste-se a uma transmutação radical

dessa situação.

Em 1914 a África inteira vê-se submetida à dominação de

potências e dividida em colônias

Ferhat Abbas (1930) a propósito da

colonização da Argélia pelos franceses

Para a França a colonização constitui apenas uma

empreitada militar e econômica, posteriormente

defendida por um regime administrativo apropriado.

Para os argelinos, contudo, e uma verdadeira

revolução, que vem transtornar todo um antigo mundo

de crenças e ideias, um modo secular de existência.

Coloca todo um povo diante de súbita mudança. Uma

nação inteira, sem estar preparada para isso, vê-se

obrigada a se adaptar ou, se não, sucumbir. Tal

situação conduz necessariamente a um desequilíbrio

moral e material, cuja esterilidade não esta longe da

desintegração completa.

1895 1914

Em 1891, quando os britânicos ofereceram

proteção a Prempeh I

A proposta para o país Ashanti, na presente situação, colocar-se sob a proteção de Sua Majestade, a Rainha e Imperatriz da Índia, foi objeto de exame aprofundado, mas me permitam dizer que chegamos a seguinte conclusão: meu reino, o Ashanti, jamais aderirá a uma tal política. O país Ashanti deve continuar a manter, como até agora, laços de amizade com todos os brancos. Não é por ufanismo que escrevo isto, mas tendo clareza do significado das palavras [...]. A causa dos Ashanti progride, e nenhum Ashanti tem a menor razão para se preocupar com o futuro ou para acreditar, por um só instante, que as hostilidades passadas tenham prejudicado a nossa causa.

A guerra dos Ashanti, em 1896 (Costa do Ouro): o invasor britânico

equipado com metralhadora Maxim. (Fonte: Musee de l’Homme).

Em 1891, Menelik, imperador da Etiópia, envia

uma mensagem à rainha Vitória...

Não tenho a menor intenção de ser um espectador indiferente,

caso ocorra a potências distantes dividir a África, pois a Etiópia há

quatorze séculos tem sido uma ilha cristã num mar de pagãos.

Dado que o Todo-Poderoso até agora tem protegido a Etiópia,

tenho a esperança de que continuará a protegê-la e a

engrandecê-la e não penso sequer um instante que Ele permita

que a Etiópia seja dividida entre outros Estados. Antigamente, as

fronteiras da Etiópia eram o mar. Não tendo recorrido à força nem

recebido ajuda dos cristãos, nossas fronteiras marítimas caíram em

mãos dos muçulmanos. Não abrigamos hoje a pretensão de

recuperá-las pela força, mas esperamos que as potências cristãs,

inspiradas por nosso Salvador, Jesus Cristo, as devolvam a nós ou

nos concedam pelo menos alguns pontos de acesso ao mar.

Quais foram as origens desse fantástico desafio, o colonialismo?

Como é que se instalou o sistema colonial na África e que medidas – políticas e econômicas, psicológicas e ideológicas – foram adotadas para sustentar esse sistema?

Até que ponto a África estava preparada para enfrentar tal desafio, como é que o enfrentou e com que resultado?

Entre as inovações, quais as que foram aceitas e quais as rejeitadas?

O que subsistiu do antigo sistema e que elementos foram destruídos?

Que adaptações, que arranjos foram feitos? Quantas instituições foram abaladas e quantas se desintegraram?

Quais os efeitos de todos esses fenômenos sobre a África, seus povos, suas estruturas e instituições políticas, sociais e econômicas?

OS LEGADOS DO PASSADO

A configuração atual das fronteiras dos Estados

africanos foi moldada praticamente no final do século

XIX. A conquista colonial subjugou pela força o

conjunto do continente, com exceção da Etiópia e da

Libéria, à dominação da Europa.

A divisão do continente pôs fim, na maior parte dos

casos, a um processo interno de reestruturação do

espaço por forças sociais e políticas relacionadas com

a história do continente no longo prazo.

As fronteiras são, portanto, resultado de uma longa

história, que deve ser levada em consideração para

além do acidente da divisão colonial para se

compreender as lógicas internas de fragmentação e

unificação desse continente.

O Fardo do homem Branco,

R. Kipling, 1899

Tomai o fardo do Homem Branco,

Enviai vossos melhores filhos.

Ide, condenai seus filhos ao exílio

Para servirem aos seus cativos;

Para esperar, com arreios

Com agitadores e selváticos

Seus cativos, servos obstinados,

Metade demônios, metade crianças.

Para a construção de “Como a Europa

Subdesenvolveu a África” Walter Rodney criou um

método operacional formado por quatro

operações: a) Reconstituir o caráter do

desenvolvimento africano anterior à chegada dos

europeus; b) Reconstituir o caráter da evolução

registrada na Europa antes da Expansão;

c)Analisar o contributo da África ao

desenvolvimento presente da Europa; d) Analisar o

grau de responsabilidade da Europa no atual

subdesenvolvimento africano (Rodney,1972).

No quarto capítulo intitulado “A Europa e as

Raízes do Subdesenvolvimento Africano”

Rodney explora quatro teses:

a primeira sobre os impactos socioeconômicos do

processo de guerra, captura, comércio e tráfico europeu

de escravizados enquanto elemento básico no

subdesenvolvimento africano.

a segunda tese relaciona o tráfico de pessoas com a

estagnação e distorção tecnológica na economia africana

anterior à colonização,

em sua terceira tese Rodney apresenta um conjunto de

aspectos sobre o desenvolvimento político e militar de

Estados africanos como Oyo, Daomé e Rwanda entre

1500 e 1885 e sua insustentabilidade frente a falta de

desenvolvimento econômico e tecnológico.

a quarta tese aborda uma série de elementos

específicos do colonialismo imperialista do século XIX,

tanto em relação a resistência africana quanto ao

racismo “penetrante e viciado” europeu (Rodney,1972).

As duas primeiras teses: o tráfico europeu de

escravos, a partir do século XVI, se deslocou do nível

regional em zonas portuárias da África Ocidental (

atuais Senegal e Angola) para um nível continental.

As guerras produzidas para captura de escravizados

envolveram inúmeras sociedades do interior do

continente em regiões da África Oriental e Central (

atuais Tanzânia, Moçambique, Malawi, Norte da

Zâmbia e Estado o Congo) . A violência social do

tráfico atingiram diretamente a demografia africana

em dezenas e milhões. Entre os anos de 1650 e 1900

o continente africano registrou uma profunda

estagnação demográfica se comparado à Europa

e Ásia. (Rodney:1972).

Em sua segunda tese Walter Rodney trabalha outra consequência

do tráfico de africanos, a estagnação e distorção tecnológica da

economia. A tecnologia europeia no século XV não era superior a de

outras partes do mundo, como por exemplo em relação a indústria

textil dos ashante (Costa do Ouro), as técnicas de manipulação do

ferro do Reino do Congo e da madeira em Madagascar, a medicina

e agricultura entre os Yoruba da Nigéria. Portugueses, seguidos por

franceses e ingleses, investiram no monopólio de matérias primas

como o algodão, que passou a ser controlado por Portugal através

dos rios Senegal e Gâmbia. A consequência pode ser observada no

impedimento da integração entre economias locais criando assim

entidades econômicas diretamente ligadas a Europa e dispersas

entre si (Rodney:1972) .

Crítica historiográfica. Walter Rodney entendia que

havia uma tentativa da historiografia europeia em se

eximir da responsabilidade pelo tráfico de africanos e

suas consequências, passando a responsabilidade

para chefes e comerciantes africanos e

desconsiderando que as supostas vantagens

africanas com o tráfico nunca existiram. A escravidão

na África foi condicionada e desencadeada por

fatores externos, e as suas consequências entre os

séculos XVI e XVIII formaram um fator básico para o

subdesenvolvimento africano (Rodney:1972)

“Seria preferível , num certo sentido , ignorar esse lixo e afastar

os nossos jovens desses insultos, mas, infelizmente, um dos

aspectos do atual subdesenvolvimento africano é o fato de os

editores capitalistas e os acadêmicos burgueses dominarem a

cena cultural e assim ajudarem a moldar as opiniões do Mundo

inteiro. É precisamente por isso que, escritos desse calibre que

justificam o tráfico de escravos devem ser denunciados como

propaganda racista burguesa absolutamente afastados da

realidade(…)interpretações erradas das causas do

subdesenvolvimento são provocadas pelo preconceito de

pensar e pelo erro de crer que se poderão descobrir as razões

do subdesenvolvimento dentro da economia subdesenlvolvida.

Só se conseguirá uma explicação verdadeira se se analisarem

as relações entre África e certos países desenvolvidos e se

reconhecerem nelas relações de exploração”( Rodney:1972)

Walter Rodney é indicado como referencial de

base teórica fundamental pelo historiador

congolês Elikia M´Bokolo na obra “África - História

e Civilizações (Tomo I – até seculo XVIII)”. Para

M’Bokolo a importância da análise histórico

econômica de Rodney concatenou a visão

radical de historiadores africanos e afro-

americanos sobre o contexto real de estagnação

tecnológica e distorção econômica em África a

partir dos agentes externos que a provocaram e a

conduziram, sem incorrer no erro de demonizar

europeu e vitimizar africanos , preferindo analisar a

orientação externa das forças produtivas e

renovar análises sobre as relações entre islã e

sociedades tradicionais africanas (Bokolo: 2010).

O que é desenvolvimento?

O espaço nacional é limitado e ao mesmo tempo estratégico para formar as bases de um processo de desenvolvimento que rompa com a dependência.

A maneira do capitalismo articular seus níveis de agregação inferiores e superiores, impede que se crie uma instância decisória global e democrática expressiva, sem que se tenha acumulado alguns choques importantes em níveis mais anárquicos de gestão. A capacidade da instância nacional suportar o choque com as estruturas globalizantes do capital internacional e de influenciá-las dependerá:

a) do seu nível de heterogeneidade educacional, tecnológica e econômica, da disponibilidade e subutilização de seus insumos naturais e da capacidade de integrar todos esses recursos nacionalmente;

b) da capacidade de estabelecer níveis de gestão ampliados através de acordos regionais;

c) da capacidade de estabelecer alianças internacionais que apoiem projetos de desenvolvimento que priorizem a elevação dos padrões de vida das grandes massas e o desenvolvimento científico e tecnológico.

Albert Kasanda sobre El Estado como agente del desarrollo