como a bÍblia chegou atÉ nÓs -...

1
11< > pode ser anulado em outro (como, por exemplo, a proibição do consumo de carne de porco, iiulrora imposta para o povo de Deus, foi suspensa em nossa era, l Tm 4:3). Isso é muito importante; doutra sorte, a Bíblia conteria contradições aparentemente insolúveis (como Mt 10:5-7 comparado a Mt 28:18-20). (5) Deve-se esperar que a Bíblia use o que tecnicamente se chama linguagem fenomenoló- gica. Isto significa simplesmente que ela freqüentemente descreve coisas e situações tal como parecem ser, e não em linguagem científica precisa. Falar do sol nascer e se pôr é um exemplo dessa linguagem (Mt 5:45; Mc 1:32), mas esta é uma maneira simples e normal de se comunicar. (6) Deve-se reconhecer as divisões importantes da Bíblia quando se vai interpretá-la. A di- ferença mais básica é entre o Antigo e o Novo Testamentos. Há, porém, outras distinções, co- mo aquelas entre os diversos tipos de literatura histórica, poética, profética que precisam ser reconhecidas por quem interpretar a Bíblia corretamente. Outros marcos bíblicos que afe- tam sua interpretação são fatos como a grande aliança feita por Deus com Abraão (Gn 12:1-3) e a aliança feita com Davi (2 Sm 7:4-17), o mistério da Igreja como o Corpo de Cristo (Ef 3:6) e a diferença entre a Lei e a graça (Jo 1:17; Rm 6:14). Estas sugestões são simples facetas do conceito básico de interpretação normal. Foi assim c 1111 Deus planejou que a Bíblia, que Ele inspirou, fosse entendida. r . . - : i COMO A BÍBLIA CHEGOU ATÉ NÓS A questão de quais livros pertencem à Bíblia é chamada questão canônica. A p.il.ivr.i c(tnon MC, nifica régua, vara de medir, regra, e, em relação à Bíblia, refere-se à coleção de livn >s que p.iss.i ram pelo teste de autenticidade e autoridade; significa ainda que esses livros s.io miss.i rcgr.i de vida. Como foi formada esta coleção? Os Testes de Canonicidade Em primeiro lugar é importante lembrarmos que certos livros eram canônicos antes de qual- quer teste lhes ser aplicado. Isto é como dizer que alguns alunos são inteligentes antes mesmo de se lhes ministrar uma prova. Os testes apenas provam aquilo que intrinsecamente existe. Do mesmo modo, nem a Igreja nem os concílios eclesiásticos jamais concederam canonicidade ou autoridade a qualquer livro; o livro era autêntico ou não no momento em que foi escrito. A Igreja ou seus concílios reconheceram certos livros como Palavra de Deus e, com o passar do tempo, aqueles assim reconhecidos foram colecionados para formar o que hoje chamamos Bíblia. Que testes a Igreja aplicou? (1) Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao Antigo Testamento, isto signifi- cava a autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em Israel. No caso do Novo Testa- mento, o livro deveria ter sido escrito ou influenciado por um apóstolo para ser reconhecido. Em outras palavras, deveria ter a assinatura ou a aprovação de um apóstolo. Pedro, por exem- plo, apoiou a Marcos, e Paulo a Lucas. (2) Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter peculiar, inspi- rado e autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria se demonstrar ao leitor como algo diferente de qualquer outro livro por comunicar a revelação de Deus. (3) O veredito das igrejas quanto à natureza canônica dos livros era importante. Na verda- de, houve uma surpreendente unanimidade entre as primeiras igrejas quanto aos livros que mereciam lugar entre os inspirados. Embora seja fato que alguns livros bíblicos tenham sido recusados ou questionados por uma minoria, nenhum livro cuja autenticidade foi questiona- da por um número grande de igrejas veio a ser aceito posteriormente como parte do cânon. A Formação do Cânon O cânon da Escritura estava-se formando, é claro, à medida que cada livro era escrito, e completou-se quando o último livro foi terminado. Quando falamos da "formação" do cânon estamos realmente falando do reconhecimento dos livros canônicos pela Igreja. Esse processo levou algum tempo. Alguns afirmam que todos os livros do Antigo Testamento haviam sido colecionados e reconhecidos por Esdras, no quinto século a.C. Referências nos escritos de Flá- vio Josefo (95 A.D.) e em 2 Esdras 14* (100 A.D.) indicam a extensão do cânon do Antigo Testa- mento como os 39 livros que hoje aceitamos. A discussão do chamado Sínodo de Jamnia (70-100 A.D.) parece ter partido desse cânon. Nosso Senhor delimitou a extensão dos livros canônicos do Antigo Testamento quando acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os pro- fetas que Deus enviara a Israel, de Abel a Zacarias (Lc 11:51). O relato da morte de Abel está, é claro, em Gênesis; o de Zacarias se acha em 2 Crônicas 24:20-21, que é o último livro na dis- posição da Bíblia hebraica (em lugar do nosso Malaquias). Para nós, é como se Jesus tivesse di- to: "Sua culpa está registrada em toda a Bíblia de Gênesis a Malaquias". Ele não incluiu qual- quer dos livros apócrifos que já existiam em Seu tempo e que continham relatos das mortes de outros mártires israelitas. O primeiro concilio eclesiástico a reconhecer todos os 27 livros do Novo Testamento foi o Con- cilio de Cartago, em 397 A.D. Alguns livros do Novo Testamento, individualmente, haviam sido reconhecidos como canônicos muito antes disso (2 3:16; l Tm5:18) e a maioria deles foi aceita como canônica no século posterior ao dos apóstolos (Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João Extniído de A Survey ufBibk Doctrine, por Charles C. Ryrie. * l.iviu (tsi-udepigráfico escrito pseudonimamente (N. do Trad.). 1651

Upload: vuongkhanh

Post on 08-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: COMO A BÍBLIA CHEGOU ATÉ NÓS - amfescrituras.weebly.comamfescrituras.weebly.com/uploads/4/4/7/7/4477150/14.pdf · Alguns afirmam que todos os livros do Antigo Testamento já

1 1 < > pode ser anulado em outro (como, por exemplo, a proibição do consumo de carne de porco,iiulrora imposta para o povo de Deus, foi suspensa em nossa era, l Tm 4:3). Isso é muitoimportante; doutra sorte, a Bíblia conteria contradições aparentemente insolúveis (como Mt 10:5-7comparado a Mt 28:18-20).

(5) Deve-se esperar que a Bíblia use o que tecnicamente se chama linguagem fenomenoló-gica. Isto significa simplesmente que ela freqüentemente descreve coisas e situações tal comoparecem ser, e não em linguagem científica precisa. Falar do sol nascer e se pôr é um exemplodessa linguagem (Mt 5:45; Mc 1:32), mas esta é uma maneira simples e normal de se comunicar.

(6) Deve-se reconhecer as divisões importantes da Bíblia quando se vai interpretá-la. A di-ferença mais básica é entre o Antigo e o Novo Testamentos. Há, porém, outras distinções, co-mo aquelas entre os diversos tipos de literatura — histórica, poética, profética — que precisamser reconhecidas por quem interpretar a Bíblia corretamente. Outros marcos bíblicos que afe-tam sua interpretação são fatos como a grande aliança feita por Deus com Abraão (Gn 12:1-3)e a aliança feita com Davi (2 Sm 7:4-17), o mistério da Igreja como o Corpo de Cristo (Ef 3:6) ea diferença entre a Lei e a graça (Jo 1:17; Rm 6:14).

Estas sugestões são simples facetas do conceito básico de interpretação normal. Foi assim c 1111 •Deus planejou que a Bíblia, que Ele inspirou, fosse entendida.r

.

.-

:

•i

••

COMO A BÍBLIA CHEGOU ATÉ NÓS

A questão de quais livros pertencem à Bíblia é chamada questão canônica. A p.il.ivr.i c(tnon MC,nifica régua, vara de medir, regra, e, em relação à Bíblia, refere-se à coleção de l i vn >s que p.iss.iram pelo teste de autenticidade e autoridade; significa ainda que esses livros s.io miss.i rcgr.ide vida. Como foi formada esta coleção?

Os Testes de Canonicidade

Em primeiro lugar é importante lembrarmos que certos livros já eram canônicos antes de qual-quer teste lhes ser aplicado. Isto é como dizer que alguns alunos são inteligentes antes mesmode se lhes ministrar uma prova. Os testes apenas provam aquilo que intrinsecamente já existe.Do mesmo modo, nem a Igreja nem os concílios eclesiásticos jamais concederam canonicidadeou autoridade a qualquer livro; o livro era autêntico ou não no momento em que foi escrito. AIgreja ou seus concílios reconheceram certos livros como Palavra de Deus e, com o passar dotempo, aqueles assim reconhecidos foram colecionados para formar o que hoje chamamos Bíblia.

Que testes a Igreja aplicou?(1) Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao Antigo Testamento, isto signifi-

cava a autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em Israel. No caso do Novo Testa-mento, o livro deveria ter sido escrito ou influenciado por um apóstolo para ser reconhecido.Em outras palavras, deveria ter a assinatura ou a aprovação de um apóstolo. Pedro, por exem-plo, apoiou a Marcos, e Paulo a Lucas.

(2) Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter peculiar, inspi-rado e autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria se demonstrar ao leitor como algo diferentede qualquer outro livro por comunicar a revelação de Deus.

(3) O veredito das igrejas quanto à natureza canônica dos livros era importante. Na verda-de, houve uma surpreendente unanimidade entre as primeiras igrejas quanto aos livros quemereciam lugar entre os inspirados. Embora seja fato que alguns livros bíblicos tenham sidorecusados ou questionados por uma minoria, nenhum livro cuja autenticidade foi questiona-da por um número grande de igrejas veio a ser aceito posteriormente como parte do cânon.

A Formação do Cânon

O cânon da Escritura estava-se formando, é claro, à medida que cada livro era escrito, ecompletou-se quando o último livro foi terminado. Quando falamos da "formação" do cânonestamos realmente falando do reconhecimento dos livros canônicos pela Igreja. Esse processolevou algum tempo. Alguns afirmam que todos os livros do Antigo Testamento já haviam sidocolecionados e reconhecidos por Esdras, no quinto século a.C. Referências nos escritos de Flá-vio Josefo (95 A.D.) e em 2 Esdras 14* (100 A.D.) indicam a extensão do cânon do Antigo Testa-mento como os 39 livros que hoje aceitamos. A discussão do chamado Sínodo de Jamnia (70-100A.D.) parece ter partido desse cânon. Nosso Senhor delimitou a extensão dos livros canônicosdo Antigo Testamento quando acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os pro-fetas que Deus enviara a Israel, de Abel a Zacarias (Lc 11:51). O relato da morte de Abel está,é claro, em Gênesis; o de Zacarias se acha em 2 Crônicas 24:20-21, que é o último livro na dis-posição da Bíblia hebraica (em lugar do nosso Malaquias). Para nós, é como se Jesus tivesse di-to: "Sua culpa está registrada em toda a Bíblia — de Gênesis a Malaquias". Ele não incluiu qual-quer dos livros apócrifos que já existiam em Seu tempo e que continham relatos das mortes deoutros mártires israelitas.

O primeiro concilio eclesiástico a reconhecer todos os 27 livros do Novo Testamento foi o Con-cilio de Cartago, em 397 A.D. Alguns livros do Novo Testamento, individualmente, já haviamsido reconhecidos como canônicos muito antes disso (2 Pé 3:16; l Tm 5:18) e a maioria deles foiaceita como canônica no século posterior ao dos apóstolos (Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João

Extniído de A Survey ufBibk Doctrine, por Charles C. Ryrie.* l . i v i u (tsi-udepigráfico — escrito pseudonimamente (N. do Trad.).

1651