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DIREITO ADMINISTRATIVO QUESTÕES DE SEGUNDA FASE EXAME UNIFICADO 2010.2 WWW.PROVASDAOAB.COM.BR Instruções A presente apostila é composta de questões práticas de direito administrativo extraídas do exame anterior 2010.2, com as respectivas respostas. Sugerimos que tente respondê-las sem a consulta aos gabaritos, servindo estes apenas para conferência e correção. Confira as respostas e revise as questões que por ventura você tenha errado, pois esta é uma ótima maneira de aprender e fixar os conteúdos estudados. Bons Estudos e Boa Sorte. Equipe ProvasdaOab.com.br

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Page 1: Comentários Direito Administrativo

DIREITO ADMINISTRATIVO QUESTÕES DE SEGUNDA FASE

EXAME UNIFICADO 2010.2 WWW.PROVASDAOAB.COM.BR

Instruções

A presente apostila é composta de questões práticas de direito administrativo extraídas do exame anterior 2010.2, com as respectivas respostas. Sugerimos que tente respondê-las sem a consulta aos gabaritos, servindo estes apenas para conferência e correção. Confira as respostas e revise as questões que por ventura você tenha errado, pois esta é uma ótima maneira de aprender e fixar os conteúdos estudados. Bons Estudos e Boa Sorte. Equipe ProvasdaOab.com.br

Page 2: Comentários Direito Administrativo

QUESTÃO 1:

É realizado, junto a determinado Ofício de Notas, procuração falsa para a venda de

certo imóvel. Participa do ato fraudulento o “escrevente” do referido Ofício de Notas,

que era e é amigo de um dos fraudadores. Realizada a venda com a utilização da

procuração falsa, e após dois anos, desta, o verdadeiro titular do imóvel regressa ao

país, e descobre a venda fraudulenta.

Assim, tenso com a situação, toma várias medidas, sendo uma delas o ajuizamento de

ação indenizatória.

Diante do enunciado, responda: contra quem será proposta essa ação e qual a

natureza da responsabilidade?

COMENTÁRIOS

A ação deverá ser proposta em face do Notário.

Sabe-se que as atividades de registro, por expressa previsão constitucional (art. 236 da

Constituição Federal), são delegadas a particulares pelo Poder Público.

Tais particulares – Notários, Tabeliães ou Oficiais de registro – são responsáveis civil e

criminalmente pelos danos que causarem a terceiros na prática de atos próprios da

serventia. Caso os danos tenham sido causados por prepostos seus, de maneira

culposa ou dolosa (como, no caso, pelo escrevente), cabe ao notário ou oficial de

registro propor ação regressiva contra o preposto. Isso é o que prevê o art. 22 da Lei

8935/94.

É de se ressaltar que o cartório ou ofício de notas não tem personalidade jurídica, de

modo que a ação não pode ser proposta contra ele. Assim, quem deve ocupar o polo

passivo da ação de indenização é o Notário, Tabelião ou Oficial de Registro, e não o

cartório.

A natureza da responsabilidade do notário ou Oficial de Registro é objetiva e o

fundamento de tal afirmativa encontra-se no art. 37, §6º, da Constituição Federal e no

próprio art. 22 da Lei 8.935/94.

Embora a natureza objetiva da responsabilidade do Tabelião ainda seja assunto

controvertido na doutrina, o Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência firme

concernente à matéria, como é possível extrair da leitura do Resp 113652/PE, 2ª

Turma, julgado em 01/06/2010, no qual o mencionado Tribunal deixou assentado que

“Em se tratando de atividade notarial e de registro exercida por delegação, tal como in

casu, a responsabilidade objetiva por danos é do notário, diferentemente do que

ocorre quando se tratar de cartório ainda oficializado. Precedente do STF.”

Page 3: Comentários Direito Administrativo

QUESTÃO 2

Um determinado fiscal de vigilância sanitária do Estado, ao executar uma operação de

fiscalização em alguns restaurantes situados no centro da cidade do Rio de Janeiro,

acabou por destruir todo o estoque de gêneros alimentícios perecíveis que se

encontravam na câmara frigorífica de um dos estabelecimentos fiscalizados. A

destruição do estoque, alegou o fiscal posteriormente, deveu-se à impossibilidade de

separar os produtos que já estavam com o prazo de validade vencido, daqueles que,

ainda, se encontravam dentro da validade.

O dono do estabelecimento fiscalizado, um restaurante, procura um advogado com o

objetivo de se consultar acerca de possíveis medidas judiciais em face do Estado, em

virtude dos prejuízos de ordem material sofrido.

Na qualidade de advogado do dono do estabelecimento comercial, indique qual seria a

medida judicial adequada e se ele possui o direito a receber uma indenização em face

do Estado, em razão da destruição dos produtos que se encontravam dentro do prazo

de validade.

COMENTÁRIOS

A medida judicial cabível seria a propositura de uma ação indenizatória em face do

Estado, diante do excesso com que agiu o fiscal, na condição de agente público, ao

exercer o poder de polícia.

Sabe-se que, por força do princípio da supremacia do interesse público e com vistas à

preservação da ordem pública, o Estado exerce o chamado Poder de Polícia, que

consiste na “prerrogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza a

Administração Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em

favor do interesse da coletividade.” (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de

Direito Administrativo. 23ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 83).

Os atos que o Estado pratica no exercício do poder de polícia gozam dos atributos da

legitimidade, da presunção de legitimidade e da autoexecutoriedade. Há, todavia,

discussão sobre o seu caráter discricionário ou vinculado. Independentemente da

posição adotada a respeito da polêmica, o certo é que, ainda que discricionário, o

Poder de Polícia jamais pode ser exercido com arbitrariedade, pois num Estado

Democrático de Direito não se pode admitir que o Estado, por meio de seus agentes,

aja assim.

Desse modo, nota-se claramente que a conduta do fiscal referido na questão ingressou

no campo da arbitrariedade, pois ele não poderia ter destruído os produtos que não

estavam com data de validade vencida. Daí ser cabível a propositura de ação de

Page 4: Comentários Direito Administrativo

indenização em face do Estado, com fundamento no art. 37, §6º, parte final, da

Constituição Federal, tratando-se, portanto, de responsabilidade objetiva, com

possibilidade do Estado ingressar com ação regressiva em face do agente público

(fiscal), se este tiver agido culposa ou dolosa.

QUESTÃO 3

A Administração de certo estado da federação abre concurso para preenchimento de

100 (cem) cargos de professores, conforme constante do Edital. Após as provas e as

impugnações, vindo todos os incidentes a ser resolvidos, dá-se a classificação final,

com sua homologação.

Trinta dias após a referida homologação, a Administração nomeia os 10 (dez) primeiros

aprovados, e contrata, temporariamente, 90 (noventa) candidatos aprovados.

Teriam os noventa candidatos aprovados, em observância à ordem classificatória,

direito subjetivo à nomeação?

COMENTÁRIOS

Sim. Atualmente, o entendimento predominante na jurisprudência é da existência de

direito subjetivo à nomeação do candidato que é nomeado dentro do número de

vagas previstas no edital. Nesse sentido é que vem decidindo o Superior Tribunal de

Justiça .

Tal entendimento se fundamenta na circunstância de que, antes de lançar edital com

vagas para preenchimento no quadro da Administração Pública, é dever do órgão

público verificar qual o número de novos servidores de que necessita e ainda se há

disponibilidade orçamentária para a contratação de número de candidato

correspondente ao número de vagas previstas. Assim, ao lançar o edital, a

Administração se vincula àquilo que nele está escrito, devendo, em princípio, nomear

todos aqueles que foram aprovados dentro do número de vagas.

No caso em hipótese, ao contratar servidores temporários em detrimento daqueles

que foram aprovados dentro do número de vagas previsto no edital, a Administração

Pública acaba confirmando a necessidade de contratação de servidores, o que só

reforça o direito à nomeação dos servidores concursados.

Page 5: Comentários Direito Administrativo

QUESTÃO 4

A empresa W.Z.Z. Construções Ltda. vem a se sagrar vencedora de licitação, na

modalidade tomada de preço. Passado um mês, a referida empresa vem a celebrar o

contrato de obra, a que visava a licitação. Iniciada a execução, que se faria em quatro

etapas, e quando já se estava na terceira etapa da obra, a Administração constata erro

na escolha da modalidade licitatória, pois, diante do valor, esta deveria seguir o tipo

concorrência.

Assim, com base no art. 49, da Lei nº 8666/93, e no art. 53, da Lei nº 9784/98, declara

a nulidade da licitação e do contrato, notificando a empresa contratada para restituir

os valores recebidos, ciente de que a decisão invalidatória produz efeitos ex tunc.

Agiu corretamente a Administração? Teria a empresa algum direito?

COMENTÁRIOS

É dever da administração anular seus próprios atos, quando eivados de ilegalidade. É o

chamado poder de autotutela que compete ao Poder Público.

Em matéria de licitações, há previsão normativa (art. 49 da Lei 8.666/93) no sentido de

que é dever da administração anular a licitação, de ofício inclusive, sempre que

constatar vício de ilegalidade, bastando, para isso, emitir parecer escrito e

devidamente fundamentado.

Em complementação, o art. 59 da Lei 8.666/93 estabelece que “A declaração de

nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos

jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já

produzidos.” (art. 59 da Lei 8.666/93).

Como se vê, a regra é a de que a invalidade produz efeitos ex tunc.

Entretanto, se da invalidação a que não deu causa a empresa vencedora da licitação

decorrem prejuízos para esta, o art. 59, parágrafo único, da Lei 8.666/93, prevê que a

Administração deve “indenizar o contratado pelo que este houver executado até a

data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados,

contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe

deu causa.”

Com base nessas premissas, é possível afirmar que a Administração agiu corretamente

ao anular, com efeitos ex tunc, a licitação feita em desconforme com a lei. Porém,

como a empresa vencedora do certame não deu causa à nulidade, ela pode pleitear

uma indenização em face do Estado, para ser ressarcida do que gastou para executar o

Page 6: Comentários Direito Administrativo

contrato até a data em que foi declarada a nulidade e ainda para reparar outros

prejuízos que consiga regularmente comprovar.

QUESTÃO 5

Abílio, vendedor ambulante e camelô, comercializava os seus produtos em uma

calçada no centro da cidade do Rio de Janeiro, mediante autorização expedida pela

Prefeitura do Município do Rio de Janeiro. Em razão de obras no local, todos os

ambulantes foram retirados e impedidos de comercializar seus produtos na calçada

onde Abílio e seus companheiros vendiam seus produtos.

Abílio, não conformado com a decisão da Administração Pública municipal, resolve

ingressar com uma ação na Justiça, por meio da qual pretende uma indenização por

danos morais e materiais, em virtude do período em que ficou sem seu trabalho, além

do restabelecimento da autorização para que volte a vender seus produtos no mesmo

local.

Na qualidade de advogado de Abílio, identifique a natureza jurídica da autorização

municipal e exponha, de forma fundamentada, se Abílio possui ou não direito às

indenizações pelos danos morais e materiais, além do restabelecimento da

autorização.

COMENTÁRIOS

A situação narrada no enunciado da questão revela que Abílio detinha Autorização de

Uso que lhe permitia utilizar bem público de uso comum do povo, qual seja, uma

calçada existente no centro da cidade do Rio de Janeiro.

A autorização de uso, conforme ensina José dos Santos Carvalho Filho (Manual de

Direito Administrativo. 23ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 1273), “é o ato

administrativo pelo qual o Poder Público consente que determinado indivíduo utilize

bem público de modo privativo, atendendo primordialmente ao próprio interesse”.

A autorização de uso é ato unilateral (depende apenas da manifestação de vontade da

Administração) e discricionário (cabe à Administração fazer um juízo de conveniência e

oportunidade ao consentir com a autorização).

Além disso, e o que é decisivo para responder corretamente a questão, deve-se

registrar que a autorização de uso é ato precário: “a Administração pode revogar

posteriormente a autorização se sobrevierem razões administrativas para tanto, não

havendo, como regra, qualquer direito de indenização em favor do administrado.” (

Manual de Direito Administrativo. 23ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 11274).

Page 7: Comentários Direito Administrativo

A precariedade do ato, portanto, permite à Administração revogar a autorização

concedida, sem que o Administrado possa tomar alguma medida judicial para impedi-

la ou para se ressarcir dos danos causados pela revogação da autorização. Daí, no

caso em tela, Abílio não possui direito à indenização pelos danos morais e materiais

que alega ter sofrido, nem tampouco possui direito a ter restabelecida a autorização

de uso.

Note-se que a questão não menciona em nenhum momento que se tratava de

autorização de uso por tempo certo, o que, embora não seja comum (normalmente a

autorização é por tempo indeterminado), pode acontecer. Se fosse por tempo

determinado e a Administração resolvesse revogar a autorização antes do término do

prazo que ela mesma fixou, aí sim, o Administrado teria direito à indenização pelos

danos que lograsse comprovar.