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  • EMERJ ESCOLA DE MAGISTRATURA DO

    ESTADO DO RIO DE JANEIRO

    CEDES CENTRO DE ESTUDOS E DEBATES

    COMENTRIOS AOS VERBETES SUMULARES DO

    TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

    Rio de Janeiro Novembro/2013

  • 2

    NDICE

    COMENTARISTAS SMULAS

    Desembargador Ademir Paulo Pimentel 183

    Juza de Direito Admara Falante Schneider 144 273 275

    Desembargador Adolpho Correa de A. Mello Junior 123

    Juza de Direito Adriana Therezinha C. S. C. Carvalho 236

    Desembargador Adriano Celso Guimares 118

    Desembargador Agostinho Teixeira de A. Filho 154

    Desembargador Alexandre A. Franco Freitas Cmara 114 158 159

    Juiz de Direito Alexandre de Carvalho Mesquita 262

    Juiz de Direito lvaro Henrique T. de Almeida 240

    Desembargadora Ana Maria Pereira de Oliveira 155 - 156

    Desembargador Andr Emlio R. Von Melentovitch 231

    Desembargador Andr Gustavo C. de Andrade 216 280

    Juza de Direito Andra de A. Quintela da Silva 224

    Desembargador Antonio Carlos Esteves Torres 282 - 290

    Desembargador Antonio Iloizio Barros Bastos 122 189

    Desembargador Benedicto Ultra Abicair 166

    Desembargador Cairo talo Frana David 260

    Desembargador Camilo Ribeiro Ruliere 124

    Desembargador Carlos Azeredo de Arajo 132

    Desembargador Carlos Eduardo Fonseca Passos 167 168 169 170

    Desembargador Carlos Eduardo Moreira da Silva 160

    Desembargador Carlos Santos de Oliveira 138

    Desembargador Cezar Augusto R. Costa 197

    Desembargador Cherubin H. Schwartz Jnior 139

    Juza de Direito Claudia Maria de Oliveira Motta 177 244 251 252 285 Desembargadora Claudia Pires dos S. Ferreira 117

    Juiz de Direito Claudio Augusto Annuza Ferreira 243 292

    Desembargador Claudio Brando de Oliveira 195 196 226

    Desembargador Claudio de Mello Tavares 164

  • 3

    Desembargador Claudio Luiz Braga DellOrto 223

    Desembargador Cleber Ghelfenstein 228 230

    Desembargadora Cristina Tereza Gaulia 210 211

    Desembargador Custdio de Barros Tostes 111

    Desembargadora Denise Levy Tredler 171 172

    Desembargadora Denise Vaccari Machado Paes 173

    Desembargador Edson Aguiar de Vasconcelos 126

    Desembargador Edson Queiroz Scisinio Dias 176

    Juiz de Direito Eduardo Antonio Klausner 241 255

    Desembargador Eduardo de Azevedo Paiva 142 284

    Desembargador Eduardo Gusmo A. de Brito Neto 115

    Desembargadora Elizabete Alves Aguiar 200

    Desembargadora Elisabete Filizzola Assuno 185

    Desembargador Fabio Dutra 190

    Desembargador Fernando Cerqueira Chagas 232

    Desembargador Fernando Fernandy Fernandes 136

    Desembargadora Flavia Romano de Rezende 271

    Desembargadora Gergia Vasconcellos da Cruz 263

    Juiz de Direito Gilberto Clvis Faria Matos 162

    Desembargadora Gilda Maria Dias Carrapatoso 247 276

    Juiz de Direito Gustavo Quintanilha T. de Menezes 295

    Desembargadora Helda Lima Meireles 121

    Desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira 225

    Desembargadora Ins da Trindade Chaves de Melo 227

    Juza de Direito Isabel Teresa Pinto Coelho 281

    Desembargadora Jacqueline Lima Montenegro 137

    Desembargador Jess Torres Pereira Junior 192 193 194 288 289 Juiz de Direito Joo Luiz Amorim Franco 125 - 299

    Desembargador Joo Paulo Fernandes Pontes 205

    Juiz de Direito Joo Paulo K. Capanema de Souza 278

    Desembargador Jos Carlos de Figueiredo 229

    Desembargador Jos Carlos Maldonado de Carvalho 112

    Desembargador Jos Carlos Paes 175

  • 4

    Desembargador Jos Geraldo Antonio 152

    Desembargadora

    Katya M de Paula Menezes Monnerat

    120

    Juza de Direito Leise Rodrigues de Lima E. Santo 249 250

    Juiz de Direito Leonardo de Castro Gomes 267

    Desembargadora Leticia de Faria Sardas 163

    Desembargador Lindolpho de Moraes Marinho 148

    Desembargador Luciano Saboya R. de Carvalho 217 277

    Desembargadora Lusa Cristina Bottrel Souza 212 213

    Desembargador Luiz Felipe M. Medeiros Francisco 219 220

    Desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho

    143 - 150

    Juiz de Direito Marcel Laguna Duque Estrada 245

    Desembargador Marcelo Lima Buhatem

    133

    Juza de Direito Marcia Cunha S. A. de Carvalho 161

    Juza de Direito Mrcia Santos Capanema de Souza 279

    Juiz de Direito Marcius da Costa Ferreira 235

    Desembargador Marco Aurlio Bezerra de Melo 127

    Desembargador Marcos Alcino de A. Torres 191

    Desembargador Marcos Bento de Souza 208

    Desembargadora Mrcia Pereira Alvarenga 214

    Juza de Direito Margaret Olivaes Valle dos Santos 248 283

    Desembargadora Maria Augusta Vaz Figueiredo 151

    Juza de Direito Maria Christina Berardo Rucker 242

    Juza de Direito Maria da Penha Nobre Mauro 146

    Juza de Direito Maria Isabel Paes Gonalves 234 269

    Juza de Direito Maria Paula Gouva Galhardo 221 268 294

    Desembargadora Maria Regina Fonseca Nova Alves 187 257

    Desembargadora Marilene Melo Alves 186

    Desembargadora Marilia de Castro Neves Vieira 165

    Desembargador Mrio dos Santos Paulo 209

    Desembargador Mario Robert Manheimer 149 207

    Desembargador Maurcio Caldas Lopes 237

    Desembargador Mauro Dickstein 129

    Juiz de Direito Mauro Nicolau Junior 198

  • 5

    Juiz de Direito Mauro Pereira Martins 147

    Desembargador Maurcio Caldas Lopes 131 179 180 184

    Desembargadora Mnica Maria Costa di Piero 128

    Desembargadora Mnica Tolledo de Oliveira 259

    Juza de Direito Mylene Glria Pinto Vassal 270

    Desembargadora Myriam Medeiros da F. Costa 110

    Desembargador Nagib Slaibi Filho 113

    Juza de Direito Neusa Regina Larsen de Alvarenga Leite 286

    Juza de Direito Paloma Rocha Dout Pessanha 293

    Desembargadora Patrcia Ribeiro Serra Vieira 188 274

    Juza de Direito Patrcia Rodrigues Whately 246

    Desembargador Paulo de O. Lanzellotti Baldez 199

    Desembargador Paulo Maurcio Pereira

    181 182

    Juiz de Direito Paulo Roberto Campos Fragoso 256

    Desembargador Paulo S. Prestes dos Santos 119

    Desembargador Pedro Freire Raguenet 204

    Juiz de Direito Pedro Henrique Alves 141

    Desembargador Reinaldo Pinto Alberto Filho 201 202 203

    Juza de Direito Renata Gil de Alcntara Videira 253

    Juiz de Direito Renato Lima Charnaux Sert 222

    Desembargador Ricardo Couto de Castro 215

    Juiz de Direito Ricardo Cyfer 238 266

    Desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo 174

    Desembargador Roberto de Abreu e Silva 206

    Desembargador Roberto Guimares 130

    Desembargador Rogrio de Oliveira Souza 134

    Desembargador Ronaldo Jos O. Rocha Passos 178

    Juiz de Direito Rossidlio Lopes da Fonte 239

    Juiz de Direito Rubens Roberto Rebello Casara 261

    Juiz de Direito Sandro Lcio Barbosa Pitassi 140

    Desembargador Srgio Seabra Varella 218 264 265

    Juiz de Direito Srgio Wajzenberg 254

    Desembargador Sidney Hartung Buarque 153

  • 6

    Juza de Direito Simone Lopes da Costa 233

    Desembargadora Teresa de A. Castro Neves 157

    Desembargadora Valria Dacheux Nascimento 258

    Desembargador Valmir de Oliveira Silva 145

    Desembargador Wagner Cinelli de Paula Freitas 116 135

    Juza de Direito Yedda Cristina C.S.Filizzola Assuno 272

  • 7

    APRESENTAO

    Em seu esforo de veicular a produo cientfica e jurdica de seus magistrados,

    a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro EMERJ e o Centro de Estudos e

    Debates CEDES - trazem a pblico o presente trabalho, em que so apresentados

    Comentrios aos Verbetes Sumulares do Tribunal de Justia do Rio de Janeiro.

    Como de sabena comum, a Carta Magna de 1988 incluiu srie alentada de

    garantias e direitos, o que estimulou o entusiasmo dos cidados pelo exerccio dos direitos

    individuais e coletivos, abrindo espao para que recorram ao Judicirio, quando se deparam

    com conflitos ou com lacunas na efetividade dos comandos constitucionais.

    A frustrao quanto aos resultados de medidas governamentais, a ausncia de

    polticas pblicas efetivas, entre outras providncias, fomenta profuso de demandas nas

    distintas instncias. No raro, tais providncias versam sobre matrias de natureza anloga, o

    que resulta em sobrecarga do Poder Judicirio, a exigir solues rpidas e de qualidade.

    Dentre as solues propostas pelo TJRJ est a tentativa de se uniformizar a

    jurisprudncia a partir de enunciados, sendo relevante o trabalho do CEDES Centro de

    Estudos e Debates, sob a direo geral do Desembargador Carlos Eduardo da Rosa da Fonseca

    Passos, neste sentido.

    Essa produo parte da seleo de acrdos paradigmas da Corte, sendo as

    teses submetidas ao crivo dos Desembargadores, das reas respectivas e, apenas aquelas que

    lograrem obter 70% de aprovao, submetidos votao do plenrio.

    Assim se pretende atingir, alm da rapidez, tambm a segurana jurdica,

    cumprindo a previso do art. 5o da C.R.

    Desembargadora Leila Mariano Diretora da Escola de Magistratura

    do Estado do Rio de Janeiro

  • 8

    SMULA NO 110

    Com fundamento no artigo 5 XXXII da Lei Maior e art 6, III do Cdigo de Defesa do Consumidor, somente a partir de 1 de janeiro de 2006, a empresa de telefonia fixa estar obrigada a instalar aparelho medidor de pulsos telefnicos, discriminando nas faturas o nmero chamado, a durao, o valor, a data e a hora da chamada. Referncia1

    Myriam Medeiros da Fonseca Costa Desembargadora

    O Programa Nacional de Desestatizao, iniciado no Governo Collor e

    paralisado por razes polticas durante o governo Itamar Franco, foi retomado durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

    A jornalista Miriam Leito2

    A matria referente ao estabelecido no contrato de concesso, cujo cumprimento devidamente fiscalizado pela Agncia Reguladora, a ANATEL, e em

    comenta que a Telebrs foi criada no intuito de propiciar comunicaes estratgicas e integradoras em um pas de dimenses continentais. Adotava-se, ento, um modelo de nacionalismo exacerbado. O presidente Fernando Henrique Cardoso, ao assumir, enviou ao Congresso uma emenda, tendo em mira a reforma da Constituio no captulo relativo Ordem Econmica, propondo o fim do monoplio da Telebrs, entre outras empresas, eliminando a diferena entre capital nacional e empresa estrangeira.

    A mais bem sucedida privatizao foi a da telefonia, mas a venda tambm produziu controvrsias. Aconteceu no finalzinho do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso. A venda foi mais bem planejada e os ganhos para os consumidores mais palpveis... O Brasil passou a ter telefone. A regulao buscou duas metas: universalizar os servios e produzir competio entre as empresas.

    A privatizao era a chance de fazer a grande revoluo em que o telefone deixasse de ser um bem, que se declarava no Imposto de Renda para ser um servio acessvel a todos. Era previsto elaborar um modelo de venda que obrigasse as empresas a cumprir metas de universalizao. Era o momento em que explodia no mundo a revoluo das telecomunicaes e da Internet. O Brasil estava espantosamente atrasado. (op.cit.p.312).

    Segundo dados da ANATEL, em 1997, antes da privatizao, o Brasil

    tinha 17 milhes de linhas fixas, ao passo que, em julho de 2007, j haviam sido instalados 52,7 milhes de telefones fixos, registrando-se 39,4 milhes em uso.

    Paralelamente a esse panorama, os consumidores, cada vez mais conscientes dos seus direitos e amparados pela legislao especial (Lei 8078/90) e pela Constituio (artigo 5 XXXII), abarrotavam os tribunais com demandas referentes cobrana de pulsos excedentes, sem a respectiva discriminao por parte da operadora de telefonia, a qual, amparada no contrato de concesso, estava autorizada a postergar tais informaes para momento futuro, previsto inicialmente na Resoluo 423/2005 da ANATEL, cujo prazo foi prorrogado para 31 de julho de 2007, nos termos da Resoluo 432/2006.

    1 Uniformizao de Jurisprudncia n 2005.018.00004. Julgamento em 07/01/2005. Relator Desembargador Paulo Ventura. Votao por maioria. Registro do Acrdo em 26/12/2005. 2 LEITO, Miriam. Saga Brasileira: a longa luta um povo por sua moeda, 2 ed. Rio de Janeiro Record 2011, PP. 309/319.

  • 9

    conformidade com as resolues editadas pela autarquia, no sentido de assegurar concessionria um prazo de carncia para implantao da nova tecnologia, com a substituio do sistema analgico pelo digital e, por conseguinte, a partir de ento, com a discriminao dos servios prestados, cumprindo-se os princpios basilares da doutrina consumerista, tal qual previsto no artigo 6, III do CDC, atendendo-se ao direito informao e ao princpio da transparncia no foi analisada pelo Supremo Tribunal Federal, que se limitou a reconhecer a inconstitucionalidade de uma lei distrital, que pretendeu impor a instalao de contadores de giros em cada ponto de consumo, como se extrai da ementa adiante transcrita:

    ADI 3533 / DF - DISTRITO FEDERAL AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. EROS GRAU Julgamento: 02/08/2006 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 6-10-2006 PP-00032

    EMENTA: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAO DA LEI DISTRITAL N. 3.596. IMPOSIO, S EMPRESAS DE TELEFONIA FIXA QUE OPERAM NO DISTRITO FEDERAL, DE INSTALAO DE CONTADORES DE PULSO EM CADA PONTO DE CONSUMO. VIOLAO DO ARTIGO 22, IV, DA CONSTITUIO DO BRASIL.

    1. A Lei distrital n. 3.596 inconstitucional, visto que dispe sobre matria de competncia da Unio, criando obrigao no prevista nos respectivos contratos de concesso do servio pblico, a serem cumpridas pelas concessionrias de telefonia fixa --- artigo 22, inciso IV, da Constituio do Brasil. 2. Pedido julgado procedente para declarar inconstitucional a Lei distrital n. 3.596/05.

    Em outros julgados submetidos quela Corte, decidiu-se pelo

    descabimento da interveno da Agncia Reguladora, a ANATEL, nos processos em que se questionava a cobrana dos pulsos excedentes sem discriminao, concluindo-se no sentido da simplicidade das questes postas nos recursos examinados, que deveriam ser julgados pela justia estadual, no havendo qualquer restrio tramitao dos processos perante os Juizados Especiais.

    AI 747428 AgR / MG - MINAS GERAIS NO AGRAVO DE INSTRUMENTO Relator(a): Min.CRMENLCIA Julgamento: 25/08/2009 rgo Julgador: Primeira Turma Publicao DJe-181- DIVULG 24-09-2009 - PUBLIC 25-09-2009 - EMENTA VOL-02375-09-PP-02

    EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. TELEFONIA. COBRANA DE PULSOS ALM DA FRANQUIA. DETALHAMENTO NA FATURA. CONTROVRSIA SOBRE A RELAO DE CONSUMO E O EQUILBRIO ECONMICO-FINANCEIRO DO CONTRATO DE CONCESSO. MATRIA INFRACONSTITUCIONAL. PRECEDENTE DO PLENRIO. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

    AI 708345 ED / MG - MINAS GERAIS EMB.DECL.NO AGRAVO DE INSTRUMENTO Relator(a): Min. CEZAR PELUSO Julgamento: 14/04/2009 rgo Julgador: Segunda Turma Publicao DJe-094 DIVULG 21-05-2009 PUBLIC 22-05-2009

    EMENTAS: 1. RECURSO. Embargos de declarao. Carter infringente. Embargos recebidos como agravo. Recurso. Extraordinrio. Inadmissibilidade. Preliminar de repercusso geral. Existncia. Comprovao. Deciso agravada. Reconsiderao. Demonstrada a existncia da preliminar de repercusso geral do recurso, deve este ser conhecido. 2. RECURSO. Extraordinrio. Inadmissibilidade. Telefonia. Pulsos alm da franquia. Competncia, complexidade da causa e desequilbrio contratual. Alegaes rejeitadas. Precedente do Pleno. Deciso mantida. Agravo regimental no provido. O Plenrio da Corte assentou que, nas aes que versem cobrana de pulsos alm da franquia, a competncia da Justia Comum, no h complexidade para julgamento e o mrito se restringe ao mbito infraconstitucional

  • 10

    EMENTA: TELEFONIA. COBRANA DE PULSOS ALM DA FRANQUIA. COMPETNCIA DA JUSTIA ESTADUAL. MATRIA QUE SE INSERE NO MBITO DE COGNIO DOS JUIZADOS ESPECIAIS. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA ANATEL. CARTER INFRACONSTITUCIONAL DA MATRIA QUE ENVOLVE ANLISE DO CONTRATO DE CONCESSO.

    1. Por no figurar na relao jurdica de consumo, a Agncia Nacional de Telecomunicaes - ANATEL carece de legitimidade para compor o plo passivo de ao movida pelo particular, usurio do servio de telefonia mvel, contra a concessionria. 2. Ausente participao da autarquia federal, sob qualquer das hipteses previstas no art. 109, I, da Constituio, a competncia da Justia Estadual. 3. Em se tratando de demanda que se resolve pela anlise de matria exclusivamente de direito, a dispensar instruo complexa, cabvel seu processamento no Juizado Especial. 4. Reveste-se de natureza infraconstitucional a matria relacionada relao de consumo e ao equilbrio econmico-financeiro do contrato de concesso. 5. Recurso conhecido em parte e, nesta extenso, desprovido.

    O egrgio Superior Tribunal de Justia submeteu ao regime do artigo

    543-C do CPC e Resoluo STJ 08/08, o REsp 1.074.799/MG, paradigma de controvrsia, restando assentado que:

    EMENTA: TELEFONIA FIXA. DETALHAMENTO DAS CHAMADAS. OBRIGATORIEDADE. TERMO INICIAL. SOLICITAO DO USURIO. OBRIGATORIEDADE. EMBARGOS DE DECLARAO TIDOS COMO PROTELATRIOS. MULTA. AFASTAMENTO. SUMULA 98/STJ.

    I. O Estado, com a edio do Decreto no. 4.733/2003, entre outras medidas necessrias para a alterao do sistema de tarifao de pulsos para tempo de utilizao, determinou o detalhamento de todas as ligaes locais e de longa distncia. II. O prazo para converso do sistema, inicialmente previsto para 31 de julho de 2006 pela Resoluo 423/2005, foi ampliado em doze meses pela Resoluo 432/2006, para no prejudicar os usurios da internet discada, os quais, neste prezo, foram atendidos com plano alternativo apresentado na Resoluo 450/2006. III. Assim, a partir de 01 de agosto de 2007, data da implantao total do sistema, passou a ser exigido das concessionrias o detalhamento de todas as ligaes na modalidade local, independentemente de ser dentro ou fora da franquia contratada, por inexistir qualquer restrio a respeito, conforme se observa do constante do art. 83 do anexo Resoluo 426/2005, que regulamentou o sistema de telefonia fixa. IV. Tambm no artigo 83 do anexo Resoluo 426/2005, restou reafirmada a determinao para que a concessionria fornea, mediante solicitao do assinante, documento de cobrana contendo o detalhamento das chamadas locais, entretanto ficou consignado que o fornecimento do detalhamento seria gratuito para o assinante, modificando, neste ponto, o constante do artigo 7, X, do Decreto no. 4.733/2003. V. A solicitao do fornecimento das faturas discriminadas, sem nus para o assinante basta ser feita uma nica vez, marcando para a concessionria o momento a partir do qual o consumidor pretende obter suas faturas com detalhamento. VI. Revogao da Smula 357/STJ que se impe. VII. Recurso especial parcialmente provido (Acrdo sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resoluo STJ 08/08).

    e ainda:

    TELEFONIA FIXA. DETALHAMENTO DAS CHAMADAS. OBRIGATORIEDADE. TERMO INICIAL. SOLICITAO DO USURIO. GRATUIDADE. EMBARGOS DE DECLARAO TIDOS COMO PROTELATRIOS. MULTA. AFASTAMENTO. SMULA 98/STJ.

    I - O Estado, com a edio do Decreto n 4.733/2003, entre outras medidas necessrias para a alterao do sistema de tarifao de pulsos para tempo de utilizao, determinou o detalhamento de todas as ligaes locais e de longa distncia. II - O prazo para a converso do sistema, inicialmente previsto para 31 de julho de 2006 pela Resoluo 423/2005, foi ampliado em doze meses pela Resoluo 432/2006, para no prejudicar os usurios da internet discada, os quais, neste prazo, foram atendidos com plano alternativo apresentado na Resoluo 450/2006.

  • 11

    III - Assim, a partir de 01 de Agosto de 2007, data da implementao total do sistema, passou a ser exigido das concessionrias o detalhamento de todas as ligaes na modalidade local, independentemente de ser dentro ou fora da franquia contratada, por inexistir qualquer restrio a respeito, conforme se observa do constante do artigo 83 do anexo Resoluo 426/2005, que regulamentou o sistema de telefonia fixa. IV - Tambm no artigo 83 do anexo Resoluo 426/2005, restou reafirmada a determinao para que a concessionria fornea, mediante solicitao do assinante, documento de cobrana contendo o detalhamento das chamadas locais, entretanto ficou consignado que o fornecimento do detalhamento seria gratuito para o assinante, modificando, neste ponto, o constante do artigo 7, X, do Decreto n 4.733/2003. V - A solicitao do fornecimento das faturas discriminadas, sem nus para o assinante basta ser feita uma nica vez, marcando para a concessionria o momento a partir do qual o consumidor pretende obter suas faturas com detalhamento. VI - Revogao da smula 357/STJ que se impe. VII - Recurso especial parcialmente provido (Acrdo sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resoluo STJ 08/08). (REsp 1074799/MG, Rel. Ministro FRANCISCO FALCO, PRIMEIRA SEO, julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009)

    ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. CONCESSO DE SERVIO PBLICO. SERVIO DE TELECOMUNICAO. DISCRIMINAO DE PULSOS. NO-OBRIGATORIEDADE. RELAO DE CONSUMO. LESO AO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NO-RECONHECIDA.

    1. A Corte Especial, na questo de ordem no Ag 845.784/DF, entre partes Brasil Telecom S/A (agravante) e Zenon Luiz Ribeiro (agravado), resolveu, em 18.04.2007, que, em se tratando de aes envolvendo questionamentos sobre a cobrana mensal de "assinatura bsica residencial" e de "pulsos excedentes", em servios de telefonia, por serem preos pblicos, a competncia para processar e julgar os feitos da Primeira Seo, independentemente de a Anatel participar ou no da lide. 2. As empresas que exploram os servios concedidos de telecomunicaes no estavam obrigadas a discriminar todos os pulsos nas contas telefnicas, especialmente os alm da franquia, bem como as ligaes de telefone fixo para celular, at o dia 01 de janeiro de 2006, quando entrou em vigor o Decreto n. 4.733/2003, art. 7. A partir dessa data, o detalhamento s se tornou obrigatrio quando houvesse pedido do consumidor com custo sob sua responsabilidade. 3. Leso a direito do consumidor que no est caracterizada. 4. Ausncia de violao do art. 6 III, da Lei n. 8.078, de 1990 (Cdigo de Defesa do Consumidor). 5. Recurso especial no-provido. (REsp 925.523/MG, Rel. Ministro JOS DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/08/2007, DJ 30/08/2007, p. 235). No Tribunal do Rio de Janeiro, a matria foi objeto do INCIDENTE DE

    UNIFORMIZAO DE JURISPRUDNCIA com o julgamento do processo n 0021381-89.2005.8.19.0000 (2005.018.00004), em 07/11/2005, cuja relatoria coube ao saudoso Desembargador Paulo Ventura, da resultando a Smula em comento, aprovada pela maioria.

    EMPRESA DE TELEFONIA. MEDIDOR DE PULSOS DISCRIMINACAO NAS FATURAS. OBRIGATORIEDADE SUMULA 110, DO T.J.E.R.J.

    Uniformizao de Jurisprudncia. Usuria exigindo que a concessionria dos servios de telefonia local discrimine, de forma detalhada, os pulsos inseridos na franquia e aqueles tidos como excedentes, informando-se o numero chamado, durao, valor, data e hora de cada uma de suas chamadas, alegando no estar, caso contrario, obrigada a aceitar valores que reputa como discricionariamente lanados . Contraposio do artigo 7., X, do Decreto n. 4.733, de 10/07/2003, editado pelo atual Governo Federal para regulamentar a Lei n. 9.472, de 16/07/1997, e da Resoluo n.30/98 - Plano Geral de Metas de Qualidade -, da ANATEL. Cr-se que, em tal ponderao de valores, devam prevalecer as normas ditadas para o prprio setor de telefonia, entendendo-se que as mesmas no atritam com as disposies genricas do Cdigo de Defesa do Consumidor, na medida em que no e' razovel exigir-se um

  • 12

    progresso de tal rea em um Pais de dimenses continentais e desigualdades inigualveis em to pouco tempo. O incremento tecnolgico necessrio a tal avano encontra-se intimamente relacionado com o equilbrio econmico-financeiro previsto em clausulas do respectivo contrato de concesso. O ansiado detalhamento s' poder' ocorrer ou ser cobrado a partir de 1. de janeiro de 2006, apos o completo redimensionamento do sistema. Vencido o Des. Fabrcio Bagueira Filho. Ementrio: 08/2006 - N. 24 - 23/02/2006 REV. DIREITO DO T.J.E.R.J., vol 67, pag 166.

    Analisando-se todos os julgados, verifica-se que prevaleceu o

    entendimento de que no havia violao ao previsto no CDC, seno preponderncia do interesse coletivo, que era a universalizao do acesso telefonia e, por conseguinte, a observncia dos prazos para complementar a implantao do sistema digitalizado, com a conseqente discriminao dos pulsos excedentes, tal qual determinado no Decreto 4733/2003 e nas Resolues da ANATEL. A Smula em exame, em homenagem simetria que se busca alcanar desde a implantao da Reforma Processual (artigo 543 B e C do Cdigo de Processo Civil), em sua substncia, est conforme a orientao do julgado paradigma, do qual diverge apenas no que se refere data em que se entendeu exigvel a discriminao dos pulsos excedentes, mas em razo da data do julgamento pelo colendo STJ.

  • 13

    SMULA NO 111

    Competncia para a execuo de alimentos. A regra a da competncia do juzo da ao salvo quando este no for mais o foro do domiclio do alimentando. Referncia3

    3 Uniformizao de Jurisprudncia n. 2006.018.00001. Julgamento em 14/08/2006. Relator: Desembargador Luiz Eduardo Rabello. Votao unnime.

    Custdio de Barros Tostes

    Desembargador

    O Cdigo de Processo Civil de 1973 estabeleceu como regra para fixao de competncia a que vem insculpida no seu artigo 94, que consagra ao ru o direito de responder demanda que lhe proposta no foro do seu domiclio.

    A opo do legislador razovel, haja vista que, at que seja proferida sentena judicial que reconhea o direito do autor, no h como presumir, ab initio, que o mesmo tenha dado causa para a propositura da demanda, e, assim, o CPC deixa a cargo do autor e seu patrono o nus de deslocar-se para o domiclio do demandado, no escopo de perseguir a tutela de sua pretenso, e, apenas ao final da demanda, vencido o ru, o Cdigo restabelece o equilbrio, impondo ao julgador que considere na fixao de honorrios o lugar da prestao do servio (art. 20, 3, b do CPC), incluindo nas despesas processuais as indenizaes de viagem.

    Noutras situaes, o CPC diligencia no sentido de evitar que a parte mais frgil da relao jurdica processual seja mais onerada com o deslocamento para participao nos atos processuais, elencando inmeras hipteses nas quais se faz possvel verificar, de plano, as condies que fazem das partes merecedoras do favor legal.

    Assim que o art. 100, II do CPC, redigido de modo a assegurar a paridade de armas, facilita o acesso justia, bem como o exerccio da ampla defesa e do contraditrio, ao alimentado, permitindo que, nas aes em que so pleiteados alimentos, a demanda seja ajuizada no foro do seu prprio domiclio.

    V-se, pois, que a ratio do dispositivo a facilitao em favor daquele que vem a juzo, no para postular qualquer bem da vida, mas os meios indispensveis para a sua subsistncia, no que andou muito bem o legislador federal.

    Noutro passo, o art. 575 do CPC, antes mesmo da reforma processual promovida pela Lei 11.232/2005, j determinava que A execuo, fundada em ttulo judicial, processar-se- perante: (...) II - o juzo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdio.

    Dessa forma, tendo o juzo fixado alimentos por sentena, a execuo das prestaes deve atender a essa regra de competncia, ainda que nos moldes do processo sincrtico, com espeque no art. 475-J do CPC.

    Ocorre, contudo, que os captulos do CPC que tratam de execuo, e, bem assim, do cumprimento de sentena, deixaram de atentar para o plo mais fraco da relao processual no particular, o credor de alimentos , nada dispondo sobre as hipteses em que a regra de competncia destinada execuo contraria a mens legis do j referido art. 100, II. Assim que, luz daqueles captulos, uma vez obtida a sentena que fixa alimentos, caberia ao credor manejar os mecanismos destinados execuo forada do julgado perante o mesmo juzo em que a obrigao foi estabelecida.

  • 14

    Ora, a aplicao pura e simples do art. 575, ou mesmo do art. 475-J, ambos do CPC, viria a consagrar indisfarvel desproporcionalidade. Diante desse quadro, o que dizer ao jurisdicionado quando, na fase cognitiva, lhe permitido postular no foro de sua residncia, e depois, ao promover a execuo, se lhe nega o mesmo benefcio, em caso de mudana de domiclio?

    Com efeito, o legislador no poderia ter previsto todas as hipteses em que convinha tornar flexvel a regra geral do art. 94 do CPC, sendo que a mesma dificuldade remanesce no que concerne ao art. 575 do diploma legal.

    Nesse panorama, esta Corte de Justia editou o verbete n 111 de sua Smula de Jurisprudncia, nos seguintes termos: A competncia para conhecer de execuo de alimentos do juzo que os fixou, salvo nos casos de alterao de domiclio do exeqente.

    A feliz redao do enunciado, a um s tempo, reitera a necessidade de obedincia regra de competncia funcional estabelecida no art. 575 do CPC, como tambm orienta que a aplicao do dispositivo seja feita mediante interpretao lgico-sistemtica, sem perder de vista a ratio do art. 100, II da Lei de Ritos.

    Segundo o verbete, pode o alimentando obter sentena condenatria, assegurando-lhe o necessrio para sua manuteno material, mudar-se de residncia para fora da rea de competncia do juzo onde litigou, e, nas varas com competncia para apreciao dos feitos de famlia, prximo de sua nova residncia, ajuizar a competente execuo.

    Deve-se destacar, por oportuno, que a ao de alimentos, regrada pela Lei 5.478/1968, processada sob rito especial, que prev a designao de audincia de conciliao, instruo e julgamento, qual ambas as partes devem comparecer, sob pena de arquivamento do feito, no caso de ausncia do autor (art. 7).

    A presena das partes, em especial do alimentado, indispensvel para que o julgador possa colher elementos que o guiem com mais segurana na ponderao das necessidades de quem pede alimentos em face das possibilidades de quem os deve.

    Do mesmo modo, no caso de execuo da verba alimentar, de igual ou maior relevncia a possibilidade de o alimentando comparecer em juzo, no s pela extrema dificuldade de obter seu crdito, quando o alimentante maliciosamente oculta seus bens e recursos, mas tambm para facilitar-lhe o comparecimento a audincias destinadas composio da dvida.

    Importa consignar, outrossim, que a orientao consubstanciada na Smula 111 no impe ao alimentando o nus de executar a prestao alimentcia no foro de seu novo domiclio trata-se de prerrogativa, no imposio, a exemplo do que reiteradamente decide a jurisprudncia no caso das aes de conhecimento para fixao de alimentos.

    Por fim, no se pode olvidar a aplicao do entendimento sumulado quando esto envolvidos juzos regionais.

    Os foros regionais atendem dupla finalidade de facilitar o acesso justia e tambm permitir melhor organizao judiciria, com a repartio mais harmoniosa da distribuio dos feitos, tomando como parmetro os territrios das regies administrativas.

    Portanto, o mesmo entendimento deve ser aplicado quando o alimentando muda de residncia para rea abrangida pela competncia de outro foro regional, dentro de uma mesma comarca, eis que a jurisprudncia deste Tribunal, em peso, reconhece aos autores o direito de postular alimentos no juzo mais prximo, como j foi decidido nos Conflitos de Competncia autuados sob os nmeros 0027063-49.2010.8.19.0000 e 0054924-10.2010.8.19.0000, e no Agravo de Instrumento n 0000216-10.2010.8.19.0000.

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    SUMULA NO 112 nula, por abusiva, a clusula que exclui de cobertura a rtese que integre, necessariamente, cirurgia ou procedimento coberto por plano ou seguro de sade, tais como stent e marcapasso. Referncia4

    De acordo com a literatura mdica, rteses so aparelhos destinados a suprir ou corrigir a alterao morfolgica de um rgo, de um membro ou de um segmento de um membro ou, ainda, a deficincia de uma funo. J as prteses, na toada da mesma doutrina, so conceituadas como aparelhos ou dispositivos destinados a substituir um rgo, um membro ou parte do membro destrudo ou gravemente acometido.

    Jos Carlos Maldonado de Carvalho

    Desembargador

    5

    Na verdade, como fazem ver MAURY NGELO BOTTESINI e MAURO CONTI MACHADO, "as prteses tm a finalidade de substituio de partes do corpo humano destrudo ou danificado parcialmente em razo de doenas, acidentes, ou excisadas em atos cirrgicos curativos". J as rteses, "so aparelhos com a funo complementar ou auxiliar de alguma funo orgnica diagnosticada como deficitria".

    6

    4 Smula da Jurisprudncia Predominante n 2006.146.00003. Julgamento em 11/09/2006. Relator: Desembargadora Maria Henriqueta Lobo. Votao unnime. 5 Manual operativo para dispensao e concesso de rteses, prteses e meios auxiliares de locomoo do Estado do Rio Grande do Sul. 6 BOTTESINI, Maury Antelo e MACHADO, Mauro Conti. Lei dos Planos e Seguros Sade. So Paulo, RT, 2005, p. 85.

    A Lei 9.656, de 3 de junho de 1998, com a redao que lhe foi dada pela Medida Provisria n 2.177-44 de 2001, prev, no art. 10, inciso VII, a no obrigatoriedade de cobertura apenas para rteses, prteses e seus acessrios, no ligados ao ato cirrgico, nos planos abrangentes de internao hospitalar.

    A Agncia Nacional de Sade Suplementar ANS, alis, ao editar a Resoluo Normativa n 167, de 9 de janeiro de 2008, autorizando as excluses assistenciais previstas no artigo 10 da Lei 9.656/98, deixa expresso em seu artigo 13, inciso VII, que o fornecimento de prteses e rteses obrigatrio, sempre que sua implantao se faa atravs de ato cirrgico, qualquer que seja a sua natureza.

    O direito sade consagrado em norma constitucional reproduzida nos artigos 2, 3 e 15, 2, da Lei 10.741/2003, alm disso, tambm assegura ao idoso, por intermdio do Sistema nico de Sade SUS, o fornecimento gratuito de medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como prteses, rteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitao ou reabilitao.

    Logo, a clusula contratual que exclui de cobertura a rtese ou prtese que integrem, necessariamente, cirurgia ou procedimento coberto por plano ou seguro sade, como, por exemplo, stent e marcapasso so abusivas, por restringir direitos e obrigaes fundamentais inerentes natureza do contrato, ameaando seu objeto e equilbrio, nos termos do art. 51, IV, e seu pargrafo 1, inciso II, do CDC.

    A negativa de cobertura de prteses ou rteses, alm de configurar conduta abusiva por parte do fornecedor, tambm fonte geradora de dano moral, in re ipsa, uma vez que, por ser atentatria dignidade da pessoa humana, viola os princpios do direito fundamental sade e vida, impondo ao paciente-consumidor sofrimento, submisso e humilhao exacerbada que extrapolam o simples aborrecimento, ou o mero inadimplemento contratual.

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    SMULA NO 113 Comprovado o nexo entre a doena decorrente de esforo repetitivo (LER) e a atividade laborativa desempenhada, o auxlio-doena no pode ser condicionado ao fato de a doena ser passvel de tratamento. Referncia7

    A legislao prev doenas de segregao compulsria que dispensam a carncia para o auxlio-doena previdencirio, como a tuberculose ativa, hansenase, alienao mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversvel e incapacitante, cardiopatia grave,

    Nagib Slaib Filho

    Desembargador

    Comprovado o nexo entre a doena decorrente de esforo repetitivo (LER) e a atividade laborativa desempenhada, o auxlio-doena no pode ser condicionado ao fato de a doena ser passvel de tratamento.

    O enunciado surgiu de proposio do CEDES e foi aprovado pelo rgo Especial, atravs do procedimento de estabelecimento de Smulas, consoante o disposto no art. 122 do Regimento Interno do Tribunal de Justia.

    Refere-se o enunciado ao auxlio-doena, prestao previdenciria paga ao segurado que ficar por mais de 15 dias incapacitado para o trabalho, ou para sua atividade habitual, sem que seja de modo definitivo. Assim, o evento doena a enfermidade que causa a incapacidade, conduzindo obrigao previdenciria do pagamento da prestao pecuniria substitutiva, total ou parcialmente, da remunerao percebida pelo segurado.

    O auxlio-doena era, sem tal denominao, previsto at pelo Cdigo Comercial de 1850, dizendo que os acidentes imprevistos e inculpados que impedirem o preposto de exercitar as suas funes no interrompia o recebimento de seus salrios desde que no ficasse inabilitado por mais de trs meses.

    A primeira lei brasileira sobre o acidente de trabalho foi o Decreto n 3.724, de 15 de janeiro de 1919, que exigia para a caracterizao do auxlio-doena a incapacidade total, mas temporria, pagando-se metade do salrio at o mximo de um ano. Se, aps, permanecesse a incapacidade total, seria paga uma indenizao.

    O auxlio-doena voltou com este nome na unificao dos institutos, pela Lei Orgnica da Previdncia Social, a Lei federal n 3.807/60. Hoje est previsto na Constituio da Repblica, que dispe no art. 201, I, de acordo com a Emenda Constitucional n 20, de 1998:

    A previdncia social ser organizada sob a forma de regime geral, de carter contributivo e de filiao obrigatria, observados critrios que preservem o equilbrio financeiro e atuarial, e atender, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doena, invalidez, morte e idade avanada;... A lei reguladora a Lei n 8.213/91 (arts. 59 a 63; Decreto n 3.048/99,

    arts. 71 a 81), que distingue entre o auxlio-doena previdencirio e acidentrio, o primeiro com a doena sem nexo com o trabalho e o segundo com nexo com o trabalho ou atividade exercida pelo segurado. O primeiro tem prazo de carncia mnima de doze contribuies mensais e o segundo independe de carncia, bastando como requisito a filiao previdncia social.

    7 Smula da Jurisprudncia Predominante n. 2006.146.00008. Julgamento em 18/09/2006. Relator: Desembargador Roberto Wider. Votao unnime.

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    doena de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, doena de Page (ostete deformante) em estado avanado, sndrome de deficincia imunolgica adquirida (AIDS), contaminao por radiao e, a partir de 2001, a hepatopatia grave.

    O auxlio-doena acidentrio, por sua vez, no alcana todo o universo de segurados, mas somente o segurado empregado, exceto o domstico, o segurado especial e o trabalhador avulso; nem alcana o segurado que, ao se filiar, j tinha a doena ou leso que geraria o benefcio, salvo quando a incapacidade resulta de agravamento da enfermidade.

    A Lei n 9.032/95 alterou alguns dispositivos da Lei n 8.213, restando poucas diferenas entre o auxlio-doena comum e o concedido por acidente do trabalho, destacando-se antes que havia distino na alquota aplicada sobre o salrio de benefcio, unificando as alquotas em 91%. Persiste a diferena de que somente podem requerer auxlio-doena acidentrio os segurados empregados, trabalhadores avulsos, segurados especiais e o mdico residente.

    O auxlio-doena, seja qual for a sua modalidade, tem carter temporrio e ser pago ao trabalhador enquanto durar a enfermidade e at sua recuperao total que o habilite ao retorno s atividades anteriores, ou para outra que se mostre adequada em decorrncia de eventuais sequelas do infortnio.

    A constatao e a extenso da doena ou da leso, como causas do auxlio, so feitas atravs de percia mdica, submetido o segurado tambm a exames mdicos peridicos e a processo de reabilitao, se for o caso, em face do carter provisrio da contribuio que percebe.

    De regra, a competncia para processar e julgar demandas previdencirias da Justia federal (Constituio, art. 109, I, pois so demandas em face da autarquia INSS), que dispe de varas especializadas em temas da previdncia nacional nas capitais. Quanto ao auxlio-doena acidentrio, em se tratando de causa com fundamento no acidente de trabalho, a competncia tradicionalmente da justia estadual, porque antigamente havia poucas varas federais. Em decorrncia de tal competncia residual e pela existncia de milhares de demandas sobre o mesmo tema, a exigir a uniformizao de entendimentos, justifica-se que o Tribunal de Justia estadual tenha editado smula sobre a previdncia nacional, como a Smula 113 ora sob comento.

    Como cedio, LER (ou L.E.R.) a abreviatura de Leso por Esforo Repetitivo (em Ingls RSI (Repetitive Strain Injury) que apresenta uma sndrome de dor nos membros superiores, com queixa de grande incapacidade funcional, causada primariamente pelo prprio uso dos membros superiores, em tarefas que desenvolvem movimentos locais ou posturas foradas. Tambm conhecido por L.T.C. (Leso por Trauma Cumulativo) e por D.O.R.T. (Distrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho) mas, na realidade, entre todas essas designaes, talvez a mais correto tecnicamente seria de Sndrome da Dor Regional. Contudo, como o nome L.E.R. se tornou comum e at popular, esta a denominao adotada no Brasil, e representa exatamente o que se trata a doena, pois relaciona sempre tais manifestaes com certas atividades no trabalho. O diagnstico diferencial deve incluir as tendinites e tenossinovites primarias a outros patos, como reumatismo, esclerose sistmica, gota, infeco gonoccica, osteoartrite, diabetes, mixedema etc., uma vez que estas tambm representam frequentes leses causadas por esforo repetitivo.

    As leses inflamatrias causadas por esforos repetitivos j eram conhecidas desde a antiguidade sob outros nomes, como por exemplo, na Idade Mdia, a "Doena dos Quibes", que nada mais era do que uma tenossinovite, praticamente desaparecendo com a inveno da imprensa. J em 1891, De Quervain descrevia o "Entorse das Lavadeiras".

    O fundamento de o enunciado sumular foi abordado em diversos precedentes do Tribunal de Justia, escolhendo-se recente, de lavra do eminente

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    Desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, que destacou na Apelao/Reexame necessrio n 0045327-19.2007.8.19.0001:

    Como j relatado, em primeiro lugar foi o laudo pericial mdico que constatou, s fls. 118/121, que a doena adquirida pela Apelada possivelmente foi causada pelos movimentos repetitivos realizados no desempenho da atividade profissional. Assim, utilizando base emprico-estatstica, o referido laudo apontou provvel relao de causa e efeito entre a atividade profissional e a molstia denominada LER, dependendo a certeza da afirmao do resultado do laudo de nexo local, que por sua vez reconheceu, s fls. 180/182 e fls. 27, a relao de causa e efeito entre a patologia diagnosticada e a atividade laboral. De outro turno, igualmente no merece acolhida o argumento de que a doena LER passvel de cura e, portanto, no pode ensejar o percebimento de auxlio-acidente. Deve-se ressaltar neste ponto que a Lei 8.213/91, em seu art. 86, exige como requisito para a concesso do benefcio to-somente a consolidao da incapacidade, o que no significa de modo algum irreversibilidade, tendo a inteno de exigir apenas a idia de que a leso alcanou estado duradouro. Neste sentido j se posicionou o Superior Tribunal de Justia: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAO. LESES POR EFEITOS REPETITIVOS. AUXLIO-ACIDENTE. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. - No razovel afastar a possibilidade da concesso do benefcio de auxlio-acidente, ante a possibilidade futura de cura da doena que determinou a reduo permanente da capacidade laborativa. (EDcl nos EDcl no REsp 249412 / SP, Relator(a) Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA DJ 03/05/2001).

    A irreversibilidade da molstia no constitui requisito legal para a concesso de auxlio-acidente. Assim, comprovada a existncia do nexo causal e da reduo da capacidade laborativa, como ocorre no caso em tela, h de ser concedido o aludido benefcio. (...) (AgRg no Ag 1108738/SP, Rela. Mina. Laurita Vaz, DJ 11/05/2009); Desse modo, estando clara a existncia de nexo de causalidade entre a doena e o trabalho, devido o auxlio-doena acidentrio. Por outro lado, quanto data de incio do benefcio, novamente est correta a sentena. O auxlio-doena, seja ele previdencirio ou acidentrio, devido ao segurado aps o 15 dia de afastamento do trabalho. Note-se que ao prever o auxlio-doena, a lei no faz qualquer distino entre a origem previdenciria ou acidentria do afastamento do trabalhador, sendo certo inclusive que d tratamento a ambos no mesmo captulo da lei 8.213/91: Art. 59. O auxlio-doena ser devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o perodo de carncia exigida nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. (...) 3o Durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doena, incumbir empresa pagar ao segurado empregado o seu salrio integral. Art. 61. O auxlio-doena, inclusive o decorrente de acidente do trabalho, consistir numa renda mensal correspondente a 91% (noventa e um por cento) do salrio-de-benefcio, observado o disposto na Seo III, especialmente no art. 33 desta Lei. Assim, considerando que o reconhecimento do direito ao auxlio-doena previdencirio se deu na esfera administrativa, deve-se contar tal data como o incio da mora do INSS, que desde ento deveria ter concedido o benefcio acidentrio em virtude da CAT emitida pelo empregador (fls. 28), devendo, desse modo, a converso retroagir at a data de concesso do auxlio-doena previdencirio. Ressalte-se que se trata por ora do auxlio-doena acidentrio, que benefcio distinto do auxlio-acidente, que somente ter lugar a partir da consolidao das leses decorrentes do acidente laboral que resulte em diminuio da capacidade laborativa, caso venha a ocorrer. No mesmo sentido a jurisprudncia do STJ: PREVIDENCIRIO. AFASTAMENTO DA ATIVIDADE LABORATIVA. RELEVNCIA PARA A CONCESSO DE AUXLIO-DOENA. AUXLIOACIDENTE CONCEDIDO NA VIGNCIA DA LEI N. 9.528/1997. CUMULAO COM APOSENTADORIA. IMPOSSIBILIDADE. VALOR DO AUXLIO-ACIDENTE INCORPORADO AO SALRIO-DE-CONTRIBUIO.

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    1. O auxlio-doena substitutivo da renda do segurado e, a teor do disposto nos artigos 59 e 60 da Lei n. 8.213/1991, deve ser pago a partir do 16 dia do afastamento e enquanto durar a incapacidade. 2. Diversamente, o auxlio-acidente no tem carter substitutivo, mas indenizatrio. devido a partir do dia seguinte ao da cessao do auxlio-doena, na hiptese em que o segurado, aps a consolidao das leses, resultar com seqelas que lhe reduzam a capacidade para o trabalho (art. 86, caput, e 2, Lei n. 8.213/1991). 3. O afastamento do trabalho ocorrido em 21/6/1995 deu-lhe o direito ao auxlio-doena, e no ao auxlio-acidente; este somente teve incio em fevereiro de 1998, quando foi considerada apta a retornar atividade, todavia, com seqelas que lhe reduziam a capacidade. 4. Como o benefcio acidentrio somente se deu na vigncia da nova regra proibitiva, no pode ser cumulado com aposentadoria de qualquer espcie, sob pena de ofender o artigo 86, 1, da Lei n. 8.213/1991. 5. Desde a edio da Lei n. 9.528/1997, o valor percebido a ttulo de auxlio acidentrio deixou de ser vitalcio e passou a integrar o salrio-de-contribuio da aposentadoria (art. 31 da Lei de Benefcios). 6. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1076520/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 18/11/2008, DJe 09/12/2008.) O enunciado sumular ora comentado mostra-se necessrio e altamente

    instrutivo para os casos futuros, merc da orientao dada a caso previdencirio muito comum nesta Era Digital.

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    SMULA NO 114 Legitimado passivo do mandado de segurana o ente pblico a que est vinculada a autoridade coatora. Referncia8

    8 Smula da Jurisprudncia Predominante n. 2006.146.00004. Julgamento em 09/10/2006. Relator: Desembargador Marcus Tullius Alves. Votao por maioria.

    Alexandre Antnio Franco Freitas Cmara

    Desembargador

    Trata-se de verbete que enuncia a adoo, por esta Corte, de entendimento acerca de matria que desde sempre despertou e ainda desperta profunda divergncia doutrinria e jurisprudencial, tendo-se optado pela soluo que, realmente, deve ser considerada a melhor.

    A demanda de mandado de segurana gerou uma srie de perplexidades nos estudiosos e aplicadores do instituto, o que, provavelmente se deve ao fato de que raramente o fenmeno tem sido estudado luz da teoria geral do direito processual. Da, por exemplo, a dvida acerca da aplicabilidade subsidiria do Cdigo de Processo Civil legislao prpria do mandado de segurana, bem assim as discusses acerca do cabimento do agravo de instrumento contra as decises interlocutrias que eventualmente sejam proferidas no curso desse tipo de processo. Mas, entre todas as discusses, nenhuma foi e to intensa quanto a referente determinao da pessoa legitimada para ocupar o polo passivo da demanda.

    Em doutrina, identificaram-se duas correntes principais a respeito deste assunto. A primeira sustenta a legitimidade passiva da autoridade coatora (HELY LOPES MEIRELLES), ao passo que a segunda afirma a legitimidade passiva da pessoa jurdica pblica ou privada a que se vincula a autoridade coatora (CELSO AGRCOLA BARBI).

    Recentemente, ganhou fora a tese segundo a qual haveria entre a autoridade coatora e a pessoa jurdica a que se vincula um litisconsrcio passivo necessrio (CSSIO SCARPINELLA BUENO). E houve, mesmo, quem afirmasse ser a demanda de mandado de segurana atpica, no se voltando contra qualquer demandado (JOS IGNCIO BOTELHO DE MESQUITA, para quem a demanda de mandado de segurana no proposta contra uma pessoa, mas contra um ato).

    A jurisprudncia sempre se dividiu, principalmente entre as duas primeiras correntes. Pareceu melhor, porm, sustentar-se que o polo passivo da demanda do mandado de segurana deve ser ocupado pela pessoa jurdica a que tal autoridade se vincula.

    Foi este, precisamente, o entendimento acolhido pelo verbete sumular objeto do presente comentrio. Como sabido, o polo passivo de uma demanda deve ser, ordinariamente, ocupado por aquele cuja esfera jurdica ser, em tese, afetada pelos efeitos do provimento postulado pelo demandante. a esta pessoa que se atribui, ordinariamente, a legitimidade passiva ad causam.

    Assim que, por exemplo, em demanda de investigao de paternidade, a legitimidade passiva ordinria daquele que se supe seja o pai do demandante. Do mesmo modo, em uma demanda de cobrana de dinheiro, a legitimidade passiva ordinria da pessoa apontada pelo demandante como o devedor da obrigao.

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    O que acaba de ser dito est em plena consonncia com a tcnica mais aceita para aferio das condies da ao (entre as quais se encontra a legitimidade das partes), conhecida como teoria da assero. Cumpre sublinhar que, no mandado de segurana, tambm atravs das asseres que se ir aferir a legitimidade passiva ad causam. Tendo o impetrante (que ordinariamente ser aquele que afirma ser o titular do direito lquido e certo para o qual se busca proteo) atribudo a determinada pessoa jurdica a posio passiva da relao jurdica, impondo-lhe o dever jurdico de respeitar seu afirmado direito lquido e certo, tal pessoa jurdica ser a legitimada passiva para a causa. Afinal, sobre a esfera da pessoa jurdica, e no sobre a da autoridade, que incidiro os efeitos da deciso judicial concessiva da segurana que o impetrante postula.

    Conseqncia direta de se reconhecer a legitimidade passiva da pessoa jurdica (e no da autoridade) est em que o erro na indicao da autoridade coatora no poder ser considerado caso de falta de condio da ao e, por conseguinte, esta no ser uma hiptese de extino do processo, sem resoluo do mrito.

    No caso de o impetrante indicar equivocadamente a autoridade coatora, ser preciso que o juzo de ofcio ou a requerimento promova a correo do vcio. Isso, porm, pode ter conseqncias importantes.

    Cumpre notar que a modificao da autoridade coatora pode ter conseqncias sobre a fixao da competncia. que, como sabido, a competncia originria para conhecer da demanda de mandado de segurana estabelecida intuitu person, levando-se em conta a autoridade apontada como coatora. Basta pensar na hiptese de ter o impetrante indicado como autoridade coatora o Governador do Estado (competncia originria do rgo Especial do Tribunal de Justia), quando a autoridade verdadeiramente responsvel pelo ato impugnado o Comandante-Geral da Polcia Militar (competncia originria do juzo fazendrio de primeira instncia). Neste caso, promovida a correo da autoridade apontada como coatora, impe-se, tambm, o reconhecimento da incompetncia absoluta do rgo jurisdicional, determinando-se a remessa dos autos ao juzo competente.

    Pode acontecer, contudo, de a autoridade indicada pelo impetrante como responsvel pelo ato ilegal ou abusivo ser ligada a pessoa jurdica distinta daquela a que se vincula a autoridade realmente responsvel pelo ato (imagine-se o caso de se ter apontado como autoridade coatora um Secretrio de Estado quando na verdade a autoridade responsvel pelo ato impugnado o Presidente de uma autarquia estadual). Neste caso, ento, a modificao da autoridade coatora implicaria a modificao da prpria pessoa jurdica demandada, e a conseqncia disso, nesta hiptese, ser a extino do processo (agora sim por falta de condio da ao, j que a pessoa jurdica originariamente demandada no a legitimada passiva ad causam).

    Em outros termos: pode o juzo modificar a autoridade apontada como coatora, mas no pode ele alterar a pessoa jurdica demandada.

    Diante do exposto, permanece outra questo a ser enfrentada: se o polo passivo da demanda de mandado de segurana ocupado pela pessoa jurdica, e no pela autoridade coatora, qual a posio por esta ltima ocupada no processo?

    A resposta simples: a autoridade coatora atua, no processo do mandado de segurana, como fonte de prova. A ela cabe fornecer ao juzo informaes acerca dos fatos relevantes para a causa, fornecendo ao juzo elementos que lhe permitam aferir os motivos que levaram prtica do ato impugnado. Estas informaes, ento, vm ao processo como meio de prova, e no como defesa.

    A defesa, isto , a contestao, cabe pessoa jurdica demandada. Alis, extrai-se do art. 9 da Lei n 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurana) que cabe Unio,

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    ao Estado, ao Municpio ou entidade apontada como coatora a defesa do ato apontado como ilegal ou abusivo de poder (art. 9, in fine).

    Impe-se, pois, distinguir dois atos do processo distintos: a) as informaes, a serem prestadas pela autoridade apontada como coatora, que tm natureza probatria; b) a defesa, a ser apresentada pela pessoa jurdica apontada como responsvel pelo ato impugnado, que tem natureza de verdadeira contestao.

    Outra conseqncia que da se extrai a inexistncia de revelia no caso de a autoridade coatora no apresentar informaes, j que no dela a misso de oferecer defesa. Revelia s haver se a pessoa jurdica demandada, regularmente citada, no apresentar sua defesa.

    Impe-se, a esta altura, uma crtica terminologia adotada em alguns pontos da Lei n 12.016/2009. que em seu art. 7, I, fala a lei em notificao da autoridade coatora, quando certa que tal ato de comunicao processual uma verdadeira intimao. Ademais, em seu art. 7, II, fala a lei em se dar cincia do feito ao rgo de representao judicial da pessoa jurdica interessada, sendo certo que este ato uma verdadeira citao. Alis, a parte final deste mesmo inciso estabelece que a pessoa jurdica receber essa cincia (rectius, citao) para que, querendo, ingresse no feito, quando evidente que ela no ingressa na relao processual apenas se quiser, mas se torna parte do processo pelo mero fato de ter sido citada. Oferecer resposta, porm, se quiser (arcando, evidentemente, com as conseqncias de sua revelia).

    De toda sorte, o fundamental perceber que todas essas (e algumas outras, que nesta sede no podem ser colacionadas diante das limitaes espaciais deste trabalho) so conseqncias lgicas de se reconhecer, como fez o enunciado ora em exame, que o polo passivo da demanda de mandado de segurana ocupado pela pessoa jurdica interessada, e no pela autoridade coatora.

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    SMULA NO 115

    A solidariedade dos entes pblicos, no dever de assegurar o direito sade, no implica na admisso do chamamento do processo. Referncia9

    O inconveniente do chamamento nas aes de medicamentos outro. Como se cuida, no mais das vezes, de prestao continuada e por tempo indeterminado,

    Eduardo Gusmo Alves de Brito Neto

    Desembargador

    Um dos principais traos da solidariedade passiva aquele consagrado no artigo 275 do Cdigo Civil, reproduo do artigo 904 do Cdigo de 1916: o credor tem o direito de exigir de qualquer devedor a dvida toda. No foi, portanto, sem resistncias que o Cdigo de Processo Civil de 1973 transps para o Ordenamento Brasileiro a regra do chamamento demanda do CPC portugus de 1967 (artigos 330 a 333). Com o chamamento defere-se ao ru a faculdade de fazer citar os coobrigados de molde a estender-lhes a coisa julgada e, mais importante, permitir a cobrana de cada um pela respectiva quota, na proporo que lhe tocar (artigo 80 do CPC).

    Eis ento que o credor se encontra na contingncia de litigar contra vrios devedores, malgrado fosse seu desejo combater somente um deles, alm de aguardar por tantas contestaes, recursos e protestos de prova quantos forem os chamados, com todos os inconvenientes de um tpico litisconsrcio.

    Quanto natureza da obrigao em que admissvel o emprego do chamamento ao processo, sustenta Cndido Dinamarco (Instituies, vol. III, pg 413), com razo, ser este permitido apenas nas causas que tenham por objeto dinheiro ou coisas determinadas pelo gnero e quantidade, porque somente estas podem ser reembolsadas ao chamador (artigo 80 do CPC).

    Apesar de envolverem bens de tal natureza, no se estende o chamamento s aes que buscam a entrega de medicamentos, consoante consagrado no Verbete 115 da smula do Tribunal de Justia do Rio de Janeiro: A solidariedade dos entes pblicos, no dever de assegurar o direito sade, no implica na admisso do chamamento ao processo.

    Quanto s justificativas, no podem ser elas encontradas no voto condutor do feito 2006.146.00004, quando se deu aprovao do verbete. Da anlise dos votos anteriores edio da smula, encontram-se inmeros argumentos: inaplicabilidade do chamamento s hipteses de responsabilidade concorrente entre todos os entes pblicos, em que garantida ao interessado a faculdade de eleger contra qual deles pretende litigar (Apelao Cvel 2005.001.20487); a insuscetibilidade de aplicar o chamamento solidariedade legal, restrito que est aos vnculos obrigacionais (AP. Cvel 2005.001.46157); a limitao do instituto s obrigaes de pagar quantia certa (Proc. 2005.001.26975), esse ltimo no mesmo sentido de recentssimo acrdo do STJ, quando do julgamento do AgRg no REsp 1009622, relator o Ministro Herman Benjamim.

    No parece que a referncia a dvida no inciso III do artigo 77 signifique a restrio do chamamento s obrigaes em dinheiro e, muito menos, que a meno a fiana, no inciso anterior, traduza a excluso da solidariedade legal. O chamamento til para toda espcie de prestao entrega de coisa fungvel, seja ela dinheiro ou no, provenha a obrigao do contrato ou da lei.

    9 Smula da Jurisprudncia Predominante n. 2006.146.00004. Julgamento em 09/10/2006. Relator: Desembargador Marcus Tullius Alves. Votao unnime.

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    permitir o instituto ofereceria ao chamador a porta para inmeras liquidaes do preo de cada medicamento, com sucessivas execues, em um eterno movimento totalmente incompatvel com um processo que pretenda ser eficaz.

    Com efeito, sendo o medicamento de valor incerto, porquanto varia o preo conforme as circunstncias da compra a cada nova entrega, deveria o chamador buscar a fixao judicial da quota dos demais entes federativos para deles haver, por precatrio, o respectivo reembolso.

    Por outra perspectiva, que leva a idnticas concluses, o reembolso das despesas da sade d-se, no ambiente do SUS, atravs das formas de repasse de verbas da Unio para os Estados e Municpios e dos Estados para os Municpios, na forma dos artigos 195, 10 e 198, 3, II, da Constituio Federal. Da porque no cabe cogitar de ressarcimento processo a processo daquilo que j ser financiado com verbas pblicas partilhadas na respectiva legislao de regncia.

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    SMULA NO 116

    Na condenao do ente pblico entrega de medicamento necessrio ao tratamento de doena, a sua substituio no infringe o princpio da correlao, desde que relativa mesma molstia. Referncia10

    10 Smula da Jurisprudncia Predominante n. 2006.146.00004. Julgamento em 09/10/2006. Relator: Desembargador Marcus Tullius Alves. Votao unnime.

    Wagner Cinelli de Paula Freitas Desembargador

    O exerccio do direito sade exige o correspondente dever solidrio das

    administraes federal, estadual e municipal. Alis, essa solidariedade est proclamada na Smula 65 de nosso Tribunal, assim formulada:

    "Deriva-se dos mandamentos dos artigos 6 e 196 da Constituio Federal de 1988 e da Lei n 8080/90, a responsabilidade solidria da Unio, Estados e Municpios, garantindo o fundamental direito sade e conseqente antecipao da respectiva tutela".

    Portanto, o jurisdicionado, com prescrio mdica pode obter os

    medicamentos necessrios ao seu tratamento junto a qualquer um dos entes estatais, que tm o dever de prest-los populao carente, prestigiando, assim, o princpio de proteo sade, que est consagrado nos dispositivos constitucionais acima referidos.

    A smula trata das hipteses em que a Fazenda condenada a fornecer determinado medicamento e, posteriormente, h a sua substituio. Os juzes admitiam a substituio do medicamento e a Fazenda argumentava no sentido de que referida condenao era genrica, j que admitida a substituio do medicamento.

    O entendimento firmado pela smula foi no sentido de que no se trata de condenao genrica, j que a obrigao de fornecer medicamento para combater a molstia indicada na inicial, qualquer que seja o medicamento.

    Isso assim se d em razo do crescente surgimento de novos medicamentos mais eficazes para controle, combate e cura das doenas. Dessa forma, no se justifica que a parte seja obrigada a propor nova ao, a cada novo medicamento que surge. O que a populao pleiteia o tratamento da molstia, seja pelo medicamento existente no mercado, seja por outro que venha a aparecer. A nica ressalva que a substituio do medicamento tem que se referir a mesma molstia; em se tratando de nova molstia, outra ao dever ser ajuizada.

    Por fim, inexiste impedimento para a incluso de novos medicamentos, ainda que posteriormente prolao da sentena, desde que devidamente prescrito pelo mdico, por se tratar de obrigao de trato sucessivo e no haver justificativa para que o paciente, a cada novo remdio prescrito, seja obrigado a ingressar em Juzo, o que contribui para a efetividade e a celeridade da Justia.

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    SMULA NO 117

    A penhora on line, de regra, no ofende o princpio da execuo menos gravosa para o devedor. Referncia11

    Na mesma oportunidade, o legislador consagrou a penhora eletrnica (on line) como forma preferencial de ato processual executrio, com a incluso no art. 655-A no

    Claudia Pires dos Santos Ferreira

    Desembargadora

    A penhora ato de constrio sobre o patrimnio do devedor, cuja finalidade garantir a satisfao do crdito. Trata-se de ato que se submete aos princpios norteadores do processo de execuo, dentre os quais se encontram o princpio da efetividade da execuo, pelo qual deve ser garantido ao exeqente tudo aquilo a que ele tem direito, pois a execuo se processa no interesse do credor (art. 612 do CPC) e o princpio da menor onerosidade ao devedor (art. 620 do CPC), que tem por objetivo impedir a transformao do processo judicial em espcie de vingana privada.

    Como se trata de situaes antagnicas e conflitantes adotam-se os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade, do modo a buscar o equilbrio na efetivao do comando judicial expresso na sentena ou, do comando executrio, constante do ttulo executivo extrajudicial.

    Com a penhora, o patrimnio do devedor deve ficar constrito na medida justa e proporcional satisfao do crdito, de forma a no impor ao devedor mais do que necessrio.

    Nessa linha, a determinao de bloqueio de numerrio em conta corrente, pela forma denominada de penhora on line, inclui-se no mbito dos encargos, legalmente, admitidos para a satisfao do direito do credor, nos termos do artigo 5, incisos XXXV e LIV, da CRFB e dos artigos 620, 664, 655 e 678, todos do CPC. De fato, tal modalidade de penhora nada mais do que a constrio de valores, depositados em instituies financeiras, com a nica diferena de que, ao invs do envio de ofcio escrito ao Banco Central, este feito por meio eletrnico, consoante convnios, celebrados entre a autarquia federal e os Tribunais de Justia.

    Cumpre salientar que, de acordo com a ordem de preferncia constante do artigo 655 do CPC, a penhora deve recair preferencialmente sobre dinheiro em espcie, sendo certo que a redao original do dispositivo silenciava acerca dos valores em depsito, dando margem a acirrada controvrsia jurisprudencial a respeito da abrangncia do termo dinheiro em relao aos numerrios, depositados em instituies financeiras. Por esse motivo, o bloqueio on line somente se adotava em carter excepcional, aps esgotadas outras diligncias para localizao de bens do patrimnio do devedor.

    Contudo, a Lei n 11.382/06 alterou o ordenamento processual, no mesmo esprito da Emenda Constitucional nmero 45/04, com o objetivo de conferir maior celeridade e efetividade no cumprimento das decises judiciais, eis que a garantia do acesso justia pressupe a efetividade e a celeridade como valores essenciais ao processo. A referida inovao legislativa incluiu, expressamente, a penhora de dinheiro, depositado ou aplicado em instituies financeiras no primeiro lugar da ordem de preferncia do art. 655 do CPC, em grau de equivalncia com a constrio de dinheiro em espcie.

    11 Smula da Jurisprudncia Predominante n. 2006.146.00004. Julgamento em 09/10/2006. Relator: Desembargador Marcus Tullius Alves. Votao por maioria.

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    CPC, com a seguinte redao: Para possibilitar a penhora de dinheiro em depsito ou aplicao financeira, o juiz, a requerimento do exeqente, requisitar autoridade supervisora do sistema bancrio, preferencialmente por meio eletrnico, informaes sobre a existncia de ativos em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, at o valor indicado na execuo. (grifei).

    Acrescente-se que, na seo de 22/09/2010, o Superior Tribunal de Justia pacificou a questo, nos termos do artigo 543-C do CPC, julgando o Resp n 1.112.943/MA (Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe 23/11/2010), onde ficou estabelecido que a) a penhora on line, antes da entrada em vigor da Lei n 11.382/2006, configura-se como medida excepcional, cuja efetivao est condicionada comprovao de que o credor tenha tomado todas as diligncias no sentido de localizar bens livres e desembaraados de titularidade do devedor. b) aps o advento da Lei n. 11.382/2006, o Juiz, ao decidir acerca da realizao da penhora on line, no pode mais exigir a prova, por parte do credor, de exaurimento de vias extrajudiciais na busca de bens a serem penhorados. (grifei).

    O legislador processual, a fim de salvaguardar casos especiais, em que haveria violao da dignidade humana, contemplou as hipteses de impenhorabilidade, em que poder ser desconstituda a penhora on line, prevendo no 2 do art. 655-A do CPC: Compete ao executado comprovar que as quantias depositadas em conta corrente referem-se hiptese do inciso IV do caput do art. 649 desta Lei ou que esto revestidas de outra forma de impenhorabilidade. Tal impugnao poder ocorrer por mera petio nos autos, eis que se trata de matria de ordem pblica, devendo o juiz conceder vista ao exeqente, em respeito ao contraditrio, para ento decidir o incidente.

    O direito ao sigilo bancrio do devedor, insculpido no art. 5, inciso X, da Constituio Federal mitigado em confronto com o interesse pblico, social e da Justia, proporcionalmente ao indispensvel para se promover a pacificao social dos conflitos de interesses com o cumprimento das obrigaes, assumidas pelos contratantes, que devem atuar numa relao de colaborao.

    Assim, de acordo com o 1 do art. 655-A do CPC, as informaes referentes a existncia de depsitos ou aplicaes, prestadas pelo banco, no dizem respeito ao total de numerrios em conta do devedor, mas restam limitadas ao montante, atualizado do dbito executado. Ademais, j se manifestou o Egrgio Supremo Tribunal Federal no sentido de que: O sigilo bancrio, espcie de direito privacidade protegido pela Constituio de 1988, no absoluto, pois deve ceder diante dos interesses pblico, social e da Justia. Assim, deve ceder tambm na forma e com observncia de procedimento legal e com respeito ao princpio da razoabilidade (Min. Eros Grau, Segunda Turma, julgado em 04/09/2007 e publicado em 28/09/2007).

    Finalmente, cabe observar que a penhora de dinheiro, ainda que depositado, em regra se apresenta menos gravosa ao devedor que, j descapitalizado pela execuo, no encontra qualquer interesse legtimo na realizao de hasta pblica, a qual implicaria no agravamento de sua situao econmica. Isso porque a penhora sobre bens demanda a existncia de uma fase de realizao e liquidao, que envolve custos como avaliao e editais, a serem arcados pelo prprio devedor. Assim, no h dvidas de que a penhora de bens, nos casos em que h numerrio disponvel para a quitao do crdito, s aproveita queles que pretendem protelar a execuo, expediente esprio, que sempre deve ser reprimido.

    Como se v, a penhora on line instrumento essencial a uma execuo clere, econmica e efetiva, tratando-se de instrumento j incorporado por nossa legislao e, reconhecido pela jurisprudncia, que est perfeitamente ajustada ao princpio da execuo menos gravosa para o devedor. Ao contrrio, a penhora eletrnica meio de efetivao da

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    garantia do acesso justia, insculpida no inciso XXXV do art. 5 da Constituio da Repblica.

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    SMULA NO 118

    A citao postal comprovadamente entregue pessoa fsica, bem assim na sede ou filial da pessoa jurdica, faz presumir o conhecimento e a validade do ato. Referncia12

    RECURSO ESPECIAL. CITAO POR VIA POSTAL. AVISO DE RECEBIMENTO. ASSINATURA DO PRPRIO CITANDO. ARTIGO 223,

    Adriano Celso Guimares

    Desembargador

    A citao revela-se indispensvel validade do processo, constituindo-se no ato pelo qual se chama a Juzo o Ru ou o interessado para se defender.

    O Cdigo de Processo Civil prev, em seu artigo 221, quatro formas para se dar conhecimento ao Ru da pretenso autoral: 1) a citao pelo correio; 2) a citao por Oficial de Justia; 3) a citao por edital; e 4) a citao por meio eletrnico, regulado em lei prpria.

    O ato citatrio, portanto, como pressuposto de existncia e validade do processo, necessita exceo das duas ltimas espcies acima mencionadas , observar o requisito da pessoalidade.

    Quanto modalidade de citao pelo correio, preconiza a legislao processual civil que a mesma poder ser endereada tanto pessoa fsica como jurdica, verbis:

    Artigo 223: ... Pargrafo nico - A carta ser registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o carteiro, ao fazer a entrega, que assine o recibo. Sendo o ru pessoa jurdica, ser vlida a entrega a pessoa com poderes de gerncia geral ou de administrao. Neste sentido, objetivando harmonizar o texto legal aos casos concretos

    reiteradamente enfrentados, firmou-se a jurisprudncia desta Corte de Justia nos termos do verbete de seu Enunciado n 118, segundo o qual

    A citao postal comprovadamente entregue pessoa fsica, bem assim na sede ou filial da pessoa jurdica, faz presumir o conhecimento e a validade do ato.

    No que pertine ao procedimento de citao da pessoa fsica, dvida no

    h quanto necessidade de cumprimento do requisito da pessoalidade, sendo imprescindvel que o aviso de recebimento seja assinado pelo destinatrio da carta, de quem o carteiro dever colher o ciente, no se aceitando a entrega da correspondncia, no endereo do citando, a pessoa diversa, pois no se coaduna com a natureza do ato citatrio, podendo causar leso gravssima ao demandado em razo da deficincia dos chamados servios de portaria nos edifcios e condomnios.

    Esse , alis, o entendimento consolidado pela E. Corte Especial de

    Justia:

    12 Smula da Jurisprudncia Predominante n. 2006.146.00004. Julgamento em 09/10/2006. Relator: Desembargador Marcus Tullius Alves. Votao: unnime.

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    PARGRAFO NICO DO CDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL. DIVERGNCIA COMPROVADA.

    Conforme posicionamento sufragado pela Corte Especial (ERESP n 117.949/SP), a citao da pessoa fsica pelo correio deve obedecer ao disposto no artigo 223, pargrafo nico, do Cdigo de Processo Civil, sendo necessria a entrega direta ao destinatrio, de quem o carteiro deve colher o ciente. Recurso especial conhecido e provido.

    RESP 884.164/SP, Rel. Ministro Castro Filho, 3 Turma, julg. 27/03/2007. J no que toca pessoa jurdica, em que pese a segunda parte do

    pargrafo nico do artigo 223 do Cdigo de Processo Civil dispor que ser vlida a entrega a pessoa com poderes de gerncia geral ou de administrao, possvel uma interpretao extensiva da norma, considerando que a organizao das empresas que dispem de pessoal para o especial fim de receber a correspondncia, mediante protocolo, admitindo-se, com base na teoria da aparncia, que a citao pelo correio seja recebida por quem, no endereo onde se encontra o estabelecimento-Ru, ape a sua assinatura, sem ressalva, presumindo-se ser autorizado para tanto, pois no se pode exigir que o funcionrio do Correio examine o contrato social da pessoa jurdica, antes de entregar a carta de citao, aliado tambm ao fato de no ser o carteiro ordinariamente recebido pelos representantes legais das empresas.

    De fato, assim se pronunciou o E. Superior Tribunal de Justia:

    PROCESSO CIVIL. CITAO POSTAL. Adotando a citao por carta, o legislador acomodou-se s caractersticas desse servio, no desempenho do qual o carteiro no ordinariamente recebido pelos representantes legais das empresas, bastando que a correspondncia seja entregue a preposto. Agravo regimental no provido. AGRG no RESP 262.979/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, 3 Turma, julg. 07/08/2001

    Em igual sentido, pronunciou-se esta Corte Estadual de Justia: CITAO. Via Postal. Pessoa Jurdica. Teoria da Aparncia. Desnecessidade de Recebimento por Representante Legal ou Procurador com Poderes Especiais. Revelia Configurada.

    Considera-se vlida a citao via postal da pessoa jurdica realizada no endereo de um dos seus estabelecimentos, recebida por preposto seu, ainda que destitudo de poderes de gerncia e de administrao, com base na teoria da aparncia.

    Verbete n 118 da Smula do TJ-RJ. Desprovimento do recurso. Artigo 557 do CPC.

    Agravo de Instrumento n 37.361/2008, Rel. Desembargador Srgio Cavalieri Filho, 13 Cmara Cvel, julg. 11/12/2008.

    Nulidade. Pessoa Jurdica. Citao por via postal recebida por empregado do banco. A jurisprudncia do STJ pacificou entendimento de que vlida a citao por via postal encaminhada ao endereo correto do ru. Desnecessrio o recebimento por pessoa com poderes especficos. Revelia caracterizada. Seguimento negado pelo relator.

    Agravo de Instrumento n 1280/2009, Rel. Desembargador Bernardo Moreira Garcez Neto, 10 Cmara Cvel, julg. 27/01/2009.

    AO DE COBRANA. CITAO DO RU, BANCO, VIA POSTAL. AR RECEBIDO NO ENDEREO DO RU, INDICADO NA INICIAL. DECISO INTERLOCUTRIA QUE DECRETOU A REVELIA DO RU, APS CERTIFICADO NOS AUTOS A INTEMPESTIVIDADE DA CONTESTAO POR ELE APRESENTADA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISO DESTE RELATOR NEGANDO SEGUIMENTO AO RECURSO. AGRAVO PREVISTO NO 1 DO ART. 557 CPC. H que se conferir validade da citao em questo, posto que realizada na sede do agravante e recebida por pessoa que se apresentou como seu representante legal, sem fazer qualquer ressalva quanto inexistncia de poderes especficos para tanto. Aplica-se hiptese a teoria da aparncia, nos termos da Smula n 118 desta E. Corte [A citao postal comprovadamente entregue pessoa fsica, bem assim na sede ou filial da pessoa jurdica, faz presumir o conhecimento e a validade do ato.]. RECURSO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. POR TAIS RAZES, NEGUEI SEGUIMENTO AO RECURSO. RECURSO DESPROVIDO.

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    Agravo de Instrumento n 23266/2009, Rel. Desembargador Ronaldo Rocha Passos, 3 Cmara Cvel, julg. 10/11/2009. Dentro desse quadro, a presuno mencionada no verbete do Enunciado

    n 118 somente diz respeito citao postal remetida pessoa jurdica posto que admite que o empregado que no exera poderes de gerncia ou de administrao validamente a receba-, na medida em que, no que se refere pessoa fsica, o prprio texto condiciona a validade do ato consoante dispositivo legal comprovada entrega da carta ao Ru.

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    SMULA NO 119 A garantia do juzo da execuo, deferida penhora de receita, efetiva-se com a lavratura do termo e a intimao do depositrio, fluindo o prazo para a impugnao do devedor, independente da arrecadao. Referncia13

    13 Smula da Jurisprudncia Predominante n. 2006.146.00004. Julgamento em 09/10/2006. Relator: Desembargador Marcus Tullius Alves. Votao unnime.

    Paulo Srgio Prestes dos Santos

    Desembargador

    O verbete n 119 da Smula de Jurisprudncia deste Tribunal trata do prazo para impugnao do devedor de devedor, aps o deferimento da penhora de receita, independentemente do efetivo recolhimento do valor penhorado.

    Atualmente, o referido verbete somente tem aplicao quanto impugnao ao cumprimento de sentena e aos Embargos Execuo Fiscal, pois, em razo do disposto na Lei n 11.382/2006, o contedo do referido verbete restou um pouco esvaziado, visto que para oposio de embargos de devedor, em Ao de Execuo de Ttulo Extrajudicial no h mais necessidade de se garantir o Juzo.

    A garantia do Juzo serve para um resguardo do credor a fim de impedir mecanismos processuais protelatrios do devedor, que somente poder discutir valores aps a devida garantia do valor devedor.

    A Lei n 11.382/2006 veio para adequar o processo ao mais moderno entendimento de adequao aos preceitos constitucionais, pois a exigncia de prvia garantia ao Juzo constituiria ntido bice ao acesso pleno ao Judicirio.

    A prvia garantia do Juzo persiste quanto ao devedor que pretende opor embargos Execuo Fiscal, o que entendo que vai de encontro ao preceito constitucional, derrogando parcialmente em favor da Fazenda Pblica, direitos e garantias, integrantes de clusulas ptreas da Constituio.

    Quanto impugnao ao cumprimento da sentena, entendo que a exigncia de prvia garantia do Juzo ser efetivamente necessria, tendo em vista a existncia de efetivo ttulo judicial, e o ento devedor j teve direito ampla defesa, na fase de cognio, razo pela qual a garantia do Juzo se faz necessria, a fim de garantir o direito do credor e de se evitar mecanismos protelatrios por parte do devedor.

    Como sabido, ao artigo 475-J, 1 do CPC prev que o prazo para oferecimento de impugnao ser de 15 dias a contar da intimao do executado do auto de penhora e de avaliao. No entanto, em se tratando de penhora de receita, prevista no artigo 655, VII do CPC resta a dvida acerca de quando se considera realizada a penhora para fins de garantia do juzo.

    Resta indagar se o ato de arrecadao integra a penhora, ou se basta a lavratura do termo de intimao do depositrio.

    Por certo, na esteira do disposto no artigo 655-A, pargrafo terceiro do Cdigo de Processo Civil no h meno a arrecadao como ato integrante da penhora que recai sobre faturamento ou receita da empresa, bastando a lavratura do termo de intimao do depositrio, sendo certo que da j surge a sua responsabilidade, inclusive de prestar contas em juzo.

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    SMULA CANCELADA

    O verbete foi cancelado em virtude do decidido no Processo Administrativo n 0063257-14.2011.8.19.0000.

    SMULA NO 120

    A competncia para conhecer de execuo de alimentos do juzo que os fixou, salvo nos casos de alterao de domiclio do exeqente. Referncia14

    Os dois dispositivos legais (art. 475-P, pargrafo nico e art.575, II do Cdigo de Processo Civil) coexistem, pois necessria a regra prpria do procedimento incidental de cumprimento de sentena em geral e uma disciplina aplicvel aos casos em que persiste a execuo de sentena nos moldes tradicionais de ao autnoma, como a execuo de sentena penal condenatria (art.475-N, II Cdigo de Processo Civil), de sentena arbitral

    Katya Maria de Paula Menezes Monnerat

    Desembargadora

    A deciso interlocutria que fixou os alimentos provisrios (art.4 da Lei 5478/68), a deciso que estipula alimentos provisionais (art.852 do Cdigo de Processo Civil), a sentena condenatria, homologatria de transao ou conciliao, que reconhece a obrigao de pagar alimentos so ttulos executivos judiciais sujeitos execuo por quantia certa, conforme os procedimentos previstos nos arts. 732 a 735 do Cdigo de Processo Civil, mediante expropriao de bens, execuo por quantia certa contra devedor solvente; ou o procedimento da coero pessoal (priso civil do devedor), disciplinado no art. 733 do mesmo diploma legal.

    A competncia para a execuo do provimento condenatrio segundo o art. 575, II do Cdigo de Processo Civil do juzo que decidiu a causa em primeiro grau. A competncia (art. 575, II Cdigo de Processo Civil) funcional, portanto absoluta. Assim, presente o interesse pblico, qualquer causa superveniente no modificaria a competncia, salvo a supresso do rgo judicirio (art. 87 do Cdigo de Processo Civil perpetuatio jurisdictionis).

    A Lei 11.232 de 22 de dezembro de 2005 modificou o sistema processual brasileiro que cingia o processo de conhecimento e o processo de execuo, segundo o modelo de Liebman. A execuo de ttulo judicial passou a ser um prolongamento do processo de conhecimento no qual foi prolatada a sentena.

    A efetividade do processo de execuo, o objetivo de garantir o meio executrio, o domiclio do executado, o local do cumprimento da obrigao, a situao dos bens penhorveis, a coero, a comodidade e eficincia mostram a inadequao da regra prevista no art. 575, II do Cdigo de Processo Civil a reclamar a modificao da competncia prevista no art.475-P, pargrafo nico, do Cdigo de Processo Civil, introduzida pela Lei 11.232 de 22 de dezembro de 2005. A competncia passou a ser relativa e ao exeqente cabe a escolha foros eletivos e concorrentes. Mas uma vez realizada a escolha incide o art. 87 do Cdigo de Processo Civil.

    14 Smula da Jurisprudncia Predominante n. 2006.146.00004. Julgamento em 09/10/2006. Relator: Desembargador Marcus Tullius Alves. Votao unnime.

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    (art.475, IV do Cdigo de Processo Civil), de sentena estrangeira (art. 475, VI Cdigo de Processo Civil) e execuo contra a Fazenda Pblica (art.730 do Cdigo de Processo Civil).

    Em que pese a alterao do art.475-P, pargrafo nico do Cdigo de Processo Civil, no atende s execues de alimentos quando modificado o domiclio ou residncia do alimentando, no caso, exeqente, aps a sentena na ao de alimentos. No h previso da possibilidade do alimentando escolher o foro para executar a sentena que fixou os alimentos, na hiptese de mudana de domiclio, quando frustrado pagamento da penso devida.

    A competncia para processar a execuo de alimentos , em regra, do juzo que prolatou a sentena, ou seja, o Juzo de Famlia que processou e julgou a ao de alimentos - aplicao do art. 575, II, do Cdigo de Processo Civil. Mas a regra prevista no art.100, II do Cdigo de Processo Civil deve preponderar tambm na fase de execuo, pois se na ao de conhecimento o foro privilegiado do domiclio ou residncia do alimentando se justifica pelos objetivos sociais e de ordem pblica para a proteo da famlia, tambm a mesma ratio vigora para a fase de execuo.

    Assim, caso haja alterao de endereo do alimentando, poder propor a ao executiva no foro do seu novo domiclio ou residncia, inteligncia do art. 100, II, do Cdigo de Processo Civil, que deve prevalecer sobre a regra do art. 575, II e do art.475-P, do Cdigo de Processo Civil.

    Esta a posio dominante da jurisprudncia conforme o disposto nos verbetes n. 111 e 120 da Smula do TJRJ:

    SUMULA TJ N. 111, DE 24/10/2006 (ESTADUAL) - DORJ-III, S-I 196 (2) - 24/10/2006 - Competncia para a execuo de alimentos. A regra e a da competncia do juzo da ao salvo quando este no for mais o foro do domicilio do alimentando. SUMULA TJ N. 120, DE 08/01/2007 (ESTADUAL) - DORJ-III, S-I 6 (3) - 08/01/2007 - A competncia para conhecer de execuo de alimentos do juzo que os fixou, salvo nos casos de alterao de domicilio do exeqente.

    A regra de competncia territorial da ao de alimentos prevista no

    art.100, II do Cdigo de Processo Civil tem a mesma funo na propositura da ao de conhecimento e na fase de cumprimento da sentena, se modificado o domiclio do alimentario: facilitar o acesso justia ao credor dos alimentos, haja vista que a execuo de alimentos, como referido, exige maior presteza do judicirio, dada a importncia e premncia da verba alimentar. Assim, conforme jurisprudncia dominante em nosso pas, deve ser mitigada a regra de competncia territorial prevista para a execuo, no caso de cumprimento de deciso que fixou os alimentos.

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    SMULA NO 121

    A gratuidade de justia a pessoa jurdica no filantrpica somente ser deferida em casos excepcionais, diante da comprovada impossibilidade do pagamento das despesas processuais. Referncia15

    "O direito mencionado recebe inmeras designaes. Elas carecem de importncia. Sua tnica avulta no carter universal. Iniciando pelas pessoas naturais, da sua concepo morte, e abrangendo as pessoas jurdicas; os nacionais e os estrangeiros;

    Helda Lima Meireles

    Desembargadora

    Esta Smula vem atender aos reclamos do mundo jurdico, eis que somente em 1988 a garantia da gratuidade do acesso justia tornou-se garantia constitucional (artigo 5 inciso LXXIV), in verbis: o Estado prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos".

    Na lio de Mauro Cappelletti deve-se destacar a evoluo do conceito ao acesso justia que, segundo ele, passava por trs ondas, resumidas em trs grupos que refletem as finalidades a serem perseguidas pelos operadores do direito no aperfeioamento da atividade jurisdicional. So elas:

    a) assistncia judiciria ao economicamente incapaz de arcar com os

    custos do processo;

    b) representao adequada de direitos difusos

    c) reforma das normas procedimentais, adequando-se aos direitos a

    serem tutelados de modo a torn-los exeqveis.

    O princpio do amplo acesso justia encontra forte pilar na justia gratuita. Tal prerrogativa, alm de importante garantia constitucional, disponibiliza ao postulante a certeza de que, caso comprove impossibilidade de arcar com as despesas, estar dispensado das mesmas.

    Note-se que a norma constitucional, ampla e genrica, somente exigiu em seu artigo 5, LXXIV a comprovao da insuficincia de recursos, no acrescentando a a inexistncia absoluta de bens, ou a miserabilidade total do requerente. O mesmo caminho foi trilhado pela Lei n. 1.060/50, em seu art. 4. O princpio supramencionado impe ao Estado prestar assistncia judiciria integral e gratuita a todos os que dela necessitem para exercer o direito de litigar, quer no pleitear uma pretenso de direito material, quer em se opondo mesma pretenso.

    A Carta Magna de 1988 e a lei especfica (Lei n. 1060/50) no restringiram o benefcio pessoa fsica. Essa interpretao atende ao princpio da mxima efeti