coluna do senador aécio neves da folha - Ética pública

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Page 1: Coluna do Senador Aécio Neves da Folha - Ética pública

Ética Pública

Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 01 de outubro de 2012

Há poucos dias, lamentei, neste espaço, a aposentadoria compulsória do ministro Cezar

Peluso, do STF, em momento crucial da Corte, atendendo à legislação que fixa a idade-limite

de 70 anos no setor público brasileiro.

A ela soma-se agora outra baixa relevante para o país: o jurista, e também ex-ministro do STF,

Sepúlveda Pertence renunciou à presidência da Comissão de Ética Pública da Presidência da

República. E não por limite de idade.

Elegante como sempre, Pertence atribuiu sua saída à “radical mudança na composição da

comissão”, consumada com o afastamento de dois membros indicados por ele, substituídos

por nomes agora avalizados pelo Planalto.

Pertence não disse, mas é fato, que os afastados emitiram pareceres desfavoráveis ao governo

e, certamente por este motivo, não foram reconduzidos às suas posições.

A falta de uma explicação clara por parte da Presidência da República para este importante

desfalque em um grupo de tão alto nível, autoriza a sociedade brasileira a buscá-la em atos e

fatos que emanam do Palácio do Planalto.

Não há novidade no jeito petista de ver e tratar a questão da ética pública. Lembro que, em

2008, o então presidente dessa mesma comissão, Marcílio Marques Moreira, entregou o cargo

três meses antes do fim do seu mandato. Ao renunciar, lamentou: “Não temos nenhuma força.

Temos apenas a nossa consciência e a nossa autoridade moral”. E mais não disse -e nem

precisava.

Este episódio reforça a compreensão de que alguns pretensos avanços propagados pelo

governo Dilma Rousseff não se concretizaram. A faxina ética é uma delas.

Não se conhece providência efetiva para as graves denúncias que derrubaram um número

recorde de ministros. Os problemas continuam -obras e projetos inacabados, orçamentos

multiplicados a esmo, benevolências de toda ordem para alguns grandes grupos econômicos, o

veto, contraditório, feito à isenção dos impostos que incidem sobre a cesta básica, e agora a

confirmação do pífio crescimento da economia representado pelo PIBinho de 1,5%.

As práticas políticas também são as mesmas. A deselegante troca da ministra da Cultura em

razão da disputa eleitoral em São Paulo e a publicação de uma nota oficial da Presidência da

República em resposta a críticas feitas ao PT por um adversário, o ex-presidente FHC, não

deixam mais qualquer dúvida quanto à irremediável mistura entre o público e o partidário. É a

prevalência das causas de um partido -o PT- sobre os interesses de Estado.

Como dizem os antigos, não há como tapar o sol com a peneira. A emblemática desistência de

Sepúlveda é mais um alerta. Mais uma vez perde o Brasil e perdem os brasileiros.