coluna do senador aécio neves da folha - esperança

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Esperança Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 24 de setembro de 2012 Já se vão mais de quatro décadas desde que o peito do lavrador João Boiadeiro recebeu o primeiro coração transplantado no Brasil, pelas mãos do cirurgião Euryclides de Jesus Zerbini, no Hospital das Clínicas, na cidade de São Paulo. O paciente viveu 28 dias com o novo órgão e inaugurou um caminho de esperança na vida de famílias em todo o país. É uma história marcante para ser lembrada na data de hoje, em que iniciamos a semana em que se comemora o Dia Mundial da Doação de Órgãos. Há muito tempo que o Brasil é destaque internacional e possui um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. Foi decisiva para esse avanço a participação do Sistema Único de Saúde (SUS), que hoje financia a maior parte das cirurgias realizadas no país. O grande salto estrutural, como tantos outros, em campos diversos, se deu durante o governo do PSDB, com a edição da Lei dos Transplantes e sua regulamentação, em 1997. Na ocasião, firmaram-se os princípios e as diretrizes, como o consentimento e a gratuidade da doação, estabelecendo-se direitos e garantias para receptores, doadores e suas famílias. Em seguida, o Ministério da Saúde, em particular na gestão de José Serra, dedicou-se com afinco à organização do Sistema Nacional de Transplantes, à implantação de listas únicas de receptores e à criação de centrais estaduais de transplantes. Em 1997, os transplantes não superavam 4 mil por ano. Em 2011, foram mais de 23 mil cirurgias. Apesar dessa manifestação de solidariedade, o número ainda é insuficiente. O desafio continua sendo o baixo número de doadores. Em 2011, pela primeira vez, o Brasil chegou ao índice de 11,4 doadores por milhão de habitantes. A meta é alcançar 15 por milhão em 2015. Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos mostram que quase a metade de 1.915 famílias consultadas por equipes médicas em 2011 não autorizou doação. A maior parte das negativas se baseia no fato de a família não saber se a pessoa concordava com a doação. Na dúvida, prevalece a recusa. Diante desse cenário, precisam ser multiplicadas ações para que mais brasileiros aceitem e declarem sua opção como doadores. Esse tipo de iniciativa cabe tanto à administração pública -federal, estadual, municipal- quanto à sociedade civil. Uma solução criativa recente foi a parceria entre o Ministério da Saúde e o Facebook, permitindo ao usuário da rede social fazer sua opção publicamente. Embora de alcance jurídico limitado, há um efeito simbólico evidente. O transplante é a única alternativa para cerca de 20 mil pacientes por ano, no país, portadores de doenças graves. Eu sou doador. E você?

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Page 1: Coluna do Senador Aécio Neves da Folha - Esperança

Esperança

Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 24 de setembro de 2012

Já se vão mais de quatro décadas desde que o peito do lavrador João Boiadeiro recebeu o

primeiro coração transplantado no Brasil, pelas mãos do cirurgião Euryclides de Jesus Zerbini,

no Hospital das Clínicas, na cidade de São Paulo.

O paciente viveu 28 dias com o novo órgão e inaugurou um caminho de esperança na vida de

famílias em todo o país. É uma história marcante para ser lembrada na data de hoje, em que

iniciamos a semana em que se comemora o Dia Mundial da Doação de Órgãos.

Há muito tempo que o Brasil é destaque internacional e possui um dos maiores programas

públicos de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. Foi decisiva para esse avanço a

participação do Sistema Único de Saúde (SUS), que hoje financia a maior parte das cirurgias

realizadas no país.

O grande salto estrutural, como tantos outros, em campos diversos, se deu durante o governo

do PSDB, com a edição da Lei dos Transplantes e sua regulamentação, em 1997.

Na ocasião, firmaram-se os princípios e as diretrizes, como o consentimento e a gratuidade da

doação, estabelecendo-se direitos e garantias para receptores, doadores e suas famílias.

Em seguida, o Ministério da Saúde, em particular na gestão de José Serra, dedicou-se com

afinco à organização do Sistema Nacional de Transplantes, à implantação de listas únicas de

receptores e à criação de centrais estaduais de transplantes.

Em 1997, os transplantes não superavam 4 mil por ano. Em 2011, foram mais de 23 mil

cirurgias. Apesar dessa manifestação de solidariedade, o número ainda é insuficiente.

O desafio continua sendo o baixo número de doadores. Em 2011, pela primeira vez, o Brasil

chegou ao índice de 11,4 doadores por milhão de habitantes. A meta é alcançar 15 por milhão

em 2015.

Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos mostram que quase a metade de

1.915 famílias consultadas por equipes médicas em 2011 não autorizou doação.

A maior parte das negativas se baseia no fato de a família não saber se a pessoa concordava

com a doação. Na dúvida, prevalece a recusa.

Diante desse cenário, precisam ser multiplicadas ações para que mais brasileiros aceitem e

declarem sua opção como doadores. Esse tipo de iniciativa cabe tanto à administração pública

-federal, estadual, municipal- quanto à sociedade civil.

Uma solução criativa recente foi a parceria entre o Ministério da Saúde e o Facebook,

permitindo ao usuário da rede social fazer sua opção publicamente. Embora de alcance

jurídico limitado, há um efeito simbólico evidente.

O transplante é a única alternativa para cerca de 20 mil pacientes por ano, no país, portadores

de doenças graves. Eu sou doador. E você?