coluna do senador aécio neves da folha - emenda 29

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Page 1: Coluna do Senador Aécio Neves da Folha - Emenda 29

Emenda 29

Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 12 de dezembro de 2012

Aproxima-se o final do primeiro ano da atual legislatura e, infelizmente, o saldo é negativo.

Sabe-se que o primeiro ano de uma administração é aquele em que o governante reúne as

melhores condições para iniciar as reformas pactuadas nas urnas com a população, sobretudo

aquelas mais difíceis, que contrariam interesses localizados, mas são necessárias ao país.

Costuma ser um bom período para os governos: a popularidade confirmada pelas eleições está

mantida, a distância de novos pleitos facilita a manutenção de uma base legislativa

heterodoxa, alimentada pela principal matéria prima de todo arranjo político: espaços de

poder. Quanto mais o tempo avança, mais essas condições se relativizam.

Infelizmente, o que vimos em 2011 foram inúmeras agendas frustradas.

A regulamentação da Emenda 29 poderia ter sido uma boa exceção entre elas. Depois de

protelar durante anos a sua votação, o governo federal mobilizou a sua base para votar contra

a essência da proposta que o seu próprio partido havia apresentado e que defendia um piso

sobre a receita de 10% para a União, 12% para os Estados e 15% para municípios, como

investimentos obrigatórios em saúde.

Na votação, o governo atuou no sentido de manter o percentual dos Estados e municípios,

impedindo, no entanto, que fosse fixado também para a União o mesmo compromisso.

Estados e municípios, muitos deles enfrentando sérias dificuldades financeiras, vão precisar se

adaptar às exigências da lei. Paradoxalmente, o governo federal, que vem batendo recordes de

arrecadação, não fará a sua parte.

A votação estabeleceu uma injusta dicotomia entre Estados e municípios, de um lado,

comprometidos com responsabilidades crescentes, e, de outro, a União, agora

descompromissada do percentual de investimentos de 10%.

Essa posição agride todos os brasileiros que aguardam atendimento nos postos de saúde e nas

filas dos hospitais. É indefensável. A regulamentação da Emenda 29 é uma importante

conquista da sociedade, mas aconteceu sem o desfecho esperado. Com sua aprovação, nos

termos em que se deu, a saúde ficou sem os recursos necessários para a principal agenda da

população, já que o patamar atual de investimentos federais é muito inferior ao piso proposto.

Vale a pena conhecer alguns números. Em 2000 a administração federal respondia por 60%

dos gastos públicos em saúde, os Estados por 18% e os municípios por 22%. Em 2008, apesar

da crescente concentração de receitas na União, o governo federal respondia por 43%, os

Estados por 27% e os municípios por 30%. Essa tendência agride o princípio da Federação, que

prevê, antes de tudo, solidariedade e responsabilidades partilhadas.