coletanea - poemas e poesias - consciÊncia negra profº eduardo rohling

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Num mundo de competição e individualismo, a diferença é motivo de discriminação e dominação. Num mundo de solidariedade, a diferença é motivo de enriquecimento e complementação. O caminho é distante? Quando sabemos a direção, basta caminhar. Neste Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, não vamos perder a oportunidade de dar mais um passo.

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Page 1: COLETANEA - POEMAS E POESIAS - CONSCIÊNCIA NEGRA PROFº EDUARDO ROHLING

Num mundo de competição e individualismo, a diferença é motivo de discriminação e dominação. Num mundo de solidariedade, a diferença é motivo de enriquecimento e complementação. O caminho é

distante? Quando sabemos a direção, basta caminhar. Neste Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, não vamos perder a oportunidade de dar mais um

passo.

Page 2: COLETANEA - POEMAS E POESIAS - CONSCIÊNCIA NEGRA PROFº EDUARDO ROHLING

CONSCIÊNCIA NEGRA

Chega de racismoDe história mal contadaChega de hipocrisiaDe mentira esfarrapadaEsse preconceito infelizQue por aí dizQue negro não vale nada.O negro também precisaSer privilegiadoChega de arrogânciaBranco tenha cuidadoCom o preconceito em altaPois quem muito se exaltaÉ sempre humilhado.Preto, branco e mulatoVamos nos unirO preconceito é horrívelE não é para existirJá que todos somos irmãosEssa grande naçãoEspalhada por aí.

A consciência negraQuer exatamenteProvar que somos iguaisE não diferentesSão lutas popularesComo as de Zumbi dos PalmaresQue morreu pela sua gente.

É preciso desde jáCom amor todo gentilAcabar com o preconceitoE ver em nosso BrasilO negro sorrindo tantoComo a Daiane dos Santos,Pelé e Gilberto Gil.

de Francisco Carneiro BarbosaTrairi - CE - por carta

AINDA SOMOS ESCRAVOS

Cada símbolo cada gestoCada momento em açãoEsse é o espaço da gente

Demolir a escravidãoQue ainda corrói agente

Falar de consciência negra Não é coisa tão banalÉ um jeito diferenteDe se questionarNão queremos troféuSó que saia do papelLeis que protegem a gente

20 de novembroÉ uma data especial Para juntos refletirmosA indiferença socialCada irmão em seu deverJuntos combaterEssa questão racial

Dia da consciência negraÉ símbolo de luta e liberdadeQue nossas mãos não se cansemNossa voz não se caleDevemos ter na memóriaSe guiemos as mesmas trilhas Do nosso herói zumbiModelo da igualdade

Nosso povo nossa genteNossos heróis nossos irmãosDeu a vida pelos seus Não queria guerra nãoSó queria ser mais genteViver a vida decenteSem chicote, sem grilhões

A cada canto da terra Há uma senzala, um porão Há um engenho, um troncoUm negro é chicoteadoHá um feitor de plantão

Cada hora cada minutoCada momento em vão Um irmão é tombado achoCada momento é cruelUma mulher é estupradaMorta violentada Essa é a triste questão

Essa tal desigualdadeParece não ter solução Já não podemos aceitar Tanta discriminaçãoChega de hipocrisiaQueremos mais respeito

Nossa cidadania.

de Maria da Conceição Amparo AlvesIpiaú - BA - por correio eletrônico

OPOSTOS

Há opostos que se atraem comprovadamente, o positivo e o negativo o dia e a noite, a sombra e a luz, o giz e o carvão o leite e o café. Como dizia o escritor Pedro Bandeira, somos todos muito diferentes, mas dependemos um do outro.

Para vivermos não dependemos de nossas cores e sim do propósito de nossas vidas.

de Amanda Carolina Lopes do CoutoTombos - MG - por correio eletrônico

IGUALDADE

Nem sempre o negro gosta da sua cor, mas como podemos ver que muitas coisas combinam entre o preto e o branco. O arroz e o feijão que dá um colorido em nosso prato.O cacau e o chocolate e que delícia! Tanto o branco quanto o preto.O céu à noite com as estrelas cintilantes.O carvão e a fumaça. E é assim que todos devem pensar, que tudo na vida tem com o que combinar.de Cristiane Lourenço Bernardo

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Tombos - MG - por correio eletrônico

CONDIÇÃO RACIAL

Quebre os grilhõesE receba os medalhões.

Este é o assunto do momentoA luta pela cota da razãoBaseado na divisão da cota racial.

Meu irmão não divida a sociedadeNeste tema ficcionalOs limites precisam ser quebradosQuebre os limitesE sente-se no topoDa cadeia social.

Preconceito é feioPuxa o freioPara este assunto da chacota nacionalNão seja racistaNem egoístaNo momento da divisão percentual.

Lá se vão às coresE todos os valoresEstamos acima da condição racialSomos o resultadoDa nossa condição natural.

Grite!Sente-se com a eliteVença o limiteSem depender de cota racial.

de Cesar Mourapor correio eletrônico

SER NEGRO É SER

Ser negro é ter a pelepintada de dor e beleza.

É ter consciência de queconsciência, ainda nãoexiste.Ser negro é ser dono daalegria, e generosamente

dividi-la entre os filhosdo preconceito.

Ser negro é ser brasileiroduas vezes.

É gritar não aos nãosda vida.

Ser negro é ter a liberdadedisfarçada de alma.

Ser negro é ser.

de Sintia Regina de Lima e LiraPlanaltina - DF - por correio eletrônico

ZUMBI, REI E POVO

Nas senzalas os negros escravos viviam em condições desumanas...Trabalhavam o dia inteiro e no momento de dormireram amontoados uns em cima dos outros.

As vestimentas tão surradas,Não sabiam decifrar as letras,não entendiam de geometria,nem tão pouco as ciências,comiam qualquer coisa sem direitos civis.

Os Negros assim seguiam sua saga até aparecer entre eles,Zumbi dos Palmares aquele que fez das senzalas,salas de reunião, pela libertação de seu povo,que lutou até o fim por justiça,que derramou seu suor eseu sangue precioso em favor dos irmãos Zumbi,aquele que foi rei e foi povo,que foi povo e foi rei,que não foi Jesus Cristomas queria um mundo mais

justo.

Zumbi Dos Palmares a Honra de uma nação.

de Nadja Araújo da SilvaSerrolândia - BA - por correio eletrônico

SOU NEGRO, QUERO LIBERDADE

Das veias D’África o negro saiuDeixando pra trás mulheres e criançasOs quais jamais os veria outra vezNa sua bagagem apenas lembrançasDe um tempo que não volta mais

Pra terras distantes em mares navegouCaminhos abertos em alto marFeridas na almaPra não mais fechar

Presos e acorrentadosMuitas lágrimas e gemidosAçoitados e castigadosNas senzalas machucados e feridos

Hoje luto por igualdadeNas senzalas da sociedadePorque sou cidadãoQuero liberdade.

de Cledineia Carvalho SantosJaguaquara - BA - por correio eletrônico

CONSEQÜÊNCIA? NÃO! CONSCIÊNCIA

Meu amigo...Meu irmão!Ser honesto

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e encontrar um lugar ao solNão é fácil, não!E se for afro, então?!

Pra qualquer povo ou raçaCom Deus, com fé, com esperançaHá! E com muita perseverança.

Mesmo que seja negroCom atitude otimista alcança.Nunca valorize o negativoNão valorize um "não” É apenas um não.

Quando isso acontecerDuvide! Critique! Determine!Busque o sim...A solução

É isso aí meu irmão!

de Aparecida dos Santos AndradeAmaporã - PR - por correio eletrônico

ASCENSÃO DO NEGRO NO BRASIL

Os negros vieram da ÁfricaPara no Brasil trabalharArrancados de suas terrasSem direito a opinar.

Transportados em naviosAcorrentados e maltratadosChegaram a nossa terraPara serem escravizados.

A situação no BrasilEm nada melhorouTrabalhando sem descansoObedecendo ao feitor.

Começaram a se rebelarMuita luta aconteceuApós anos de agruraA liberdade apareceu.

Finalmente a esperançaO seu valor é reconhecidoCom a lei 10.639O negro se sente incluído.

de Rivannilde Madalena SalomãoCordeiros - BA - por correio eletrônico

AMA DE LEITE

Venderam o meu sonhoVenderam o amorVenderam meu sorrisoVenderam minha dor Vendido em leilãoMoendo em moinhoPlantei meu suorReguei com o meu sangueMeu sonho maior

Meu corpo bonitoMinha bela corO filho no ventrePertencem ao senhor

Filho nos braçosFoste arrancadoVendido em leilãoPraças e mercados

Gritos e gemidosLágrimas roladas ao chãoLeite esbanjadoServe ao filho patrão

Dança, minha negra, dançaAo som dos tamboresGrita, minha negra, gritaGrita teus clamores

Canta, minha negra, canta,Que alguém há de te escutarDança, minha negra, dançaQue a liberdade virá.

de Maria da Conceição do Amparo AlvesIpiaú - BA - por correio eletrônico

SEM VOLTASer arrancado dos seus,sem direito de choraruns já tendo até filhossem o direito de amar

sabendo que não vão poderver seu filho amado crescersó viram quando corriamcompartilhando a agoniade ver seus pais açoitadossendo presos acorrentadostratados como animaiso que eles não sabiampor ser tão pequeninosé que aquela seriaa última vez que eles viame nem sequer podiamsentir um último carinho.

de Inácia Santospor correio eletrônico

MÃE ÁFRICA

Com certeza, fostes o berço da humanidade, Em minhas veias, ainda corre o teu sangue.Teus filhos foram arrancados com maldades E ainda o teu rico solo é regado com sangue.

Tuas raízes históricas são ricas e milenares, Da humanidade, és patrimônio rico e natural, Pelas tuas diversidades culturais e valores, Há a cobiça do capitalismo descomunal.

És negra e original na riqueza da tua pele, E os teus filhos ainda lutam pela liberdade, Repudiando o capitalismo sujo da maldade.

Mãe negra, dividida e palco de exploração, És rica não precisando de ofertas e esmolas,Por direito e justiça é necessário reparação.

de Everaldo Cerqueira

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Salvador - BA - por correio eletrônico

DISCRIMINAÇÃO RELIGIOSA

Epa baba ifá!Queria falar de esperançaQue fosse sem discriminaçãoDá-me então OrunmiláReferencial de anjosQue não sejam somente ocidentaisPra eu poder, quando chegar perto de ti,Sentir que também faço parte de teu céuSinto-me só, Orunmilá! Sinto-me só!Como negro de orfanatoQue todo mundo olha e quase ninguém quer!Os anjos deveriam parecer com ÓsúnmaréDe todas as cores, mas cor preta também!

*Epa baba ifá - Saudações*Órunmilá - Deus do destino*Ósunmaré - Deusa do arco-íris.

de Jeremias BrasileiroUberlândia - MG - por correio eletrônico

SOU NEGRO PORQUE ENCARO MINHAS ORIGENS

Não precisa ter cor, nem raça, nem etnia.É preciso amarÉ preciso respeitarNão sou negro porque minha pele é negraNão sou negro porque tenho cabelo embolado de “pixain”Não sou negro porque danço a capoeiraNão sou negro porque vivo ÁfricaNão sou negro porque canto

reggae.No sou negro porque tenho o candomblé como minha religião Não sou negro porque tenho Zumbi como um dos mártires da nossa raça.Não sou negro porque grito por liberdade Não sou negro porque declamo Navio Negreiro Não sou negro porque gosto das músicas de Edson Gomes, Margareth Menezes ou Cidade Negra.Não sou negro porque venho do gueto.Não sou negro porque defendo as idéias e Nelson Mandela Não sou negro porque conheço os rituais afro.Sou negro porque sou filho da naturezaTenho o direito de ser livre.Sou negro porque sei encarar e reconhecer as minhas origens.Sou negro porque sou cidadão.Porque sou gente.Sou negro porque sou lágrimasSou negro porque sou água e pedra.Sou negro porque amo e sou amadoSou negro porque sou palco, mas também sou platéia.Sou negro porque meu coração se apertaDesperta,Deseja,Peleja por liberdade.Sou negro na igualdade do serPara o bem à nossa nação.Porque acredito no valor de ser livrePorque acredito na força do meu sangue numa canção que jamais será calada.Sou negro porque a minha energia vem do meu coração.E a minha alma jamais se entrega não.Sou negro porque a noite sempre virá antecedendo o alvorecer de um novo dia.Acreditando num povo afro-descendente que ACORDA,

LEVANTA E LUTA.

de Genivaldo Pereira dos SantosFloresta Azul - BA - por correio eletrônico

MENINO DE COR

Sou defensor de minha raça,De minha cor, de minha culturaDe meu povo.Se defendo meu ideais,É por que cresci sendo chamado de menino de cor, É por que não tenho mais medo As ofensas, deixei pra trás Junto com a recusa e o desrespeito por minha cor.

Se defendo minha cultura,É por que, como menino de corMe tornei rapaz de corE hoje sou um homem de cor

É porque sigo de cabeça erguida cantando o ilê aiê.Viva o negro trabalhador...Que em seu canto sedutorOuve agora o meu cantar.

Se saio agora do anonimatoE sou reconhecido pelo meu nomeÉ por que conquistei o meu lugarE enfim serei lembrado,Mas sempre me orgulhareiDe ter a minha cor.de José Sérgio CostaUbaitaba - BA - por correio eletrônico

SEBASTIÃO

Nasci desta cor, não fui eu que escolhi, Não pedi pra ser preto, não dependeu de mim;

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Foi a mãe natureza quem fez a escolha, a opção; Podia ter sido você, já pensou nisso, por que não?Pois me chamam “negão,” “tição,” até mesmo de “carvão”, Uns nem se incomodam de meu nome não saber, Pra que nome? Se apelido é mais fácil, difícil esquecer.Vivo e convivo com as piadas, a gozação sem sentido para mim, Sem motivo para eles, apenas diversão.Destas pessoas sem brios, sem alma, nem coração.Pois sou negro nato, não sou mulato, sou puro de pai e mãe,

Descendentes do Sudão, sou preto e sem preconceito, goste de mim quem quiser, Me faça entender você que ainda não sabe o que quer, Que vive em um passado que há muito já se foi, Um tempo de desgraças, de aflição do meu povo.Agora, grito de novo suplicando liberdade, procurando nas pessoas, Os traços da igualdadeQue fazem de uma Nação sua força, seu patrimônio. O povo, o ser Humano.Tanto faz a cor que tem, pois é a ele que convém Escrever a sua história e a mudá-la também.Cabe-nos, porém, mudar todo este conceito, Para que nem nas piadas esbraveje o preconceito fantasiado de alegria, Demonstrando a hipocrisia que o povo ainda tem.Sou negão, não sou mulato, sou negro nato e meu nome é...

de Wilmar Gama de SouzaCamaquã - RS - por correio eletrônico

NEGRO É FORÇAO negro veio da ÁfricaSem ter direito de escolhaNão esqueceu sua práticaEnsinando remédios de folhas.

Trouxe consigo a culturaQue hoje aqui se apresentaSua arte está na molduraQue a sua história sustenta.

Ao Brasil deu identidadeMostrando sua força e valorSofreu a pior crueldadeDo país a quem tanto ensinou.

de Adriano Souza ParaísoUbaitaba - BA - por correio eletrônico

CORAÇÃO NEGRO CHORA

Encontrei outro dia um negro,Que estava a chorar.A partir destas lágrimas,Que comecei a pensar...

O que há naquela pele que levou à escravidão?Será que essa cor é condenação?O negro ainda é visto com olhar inferior que me atenta.Concluo que é olhar de gente que não chega nem aos pés do que a cor representa.

Representa luta, conquistas, raça.Negro é esperto, bonito, e tem olhar forte.Tão forte que identifica a desgraça do preconceito de pessoas sem porte.

E a partir daquela lágrima, pude perceber Que o negro ainda sofre, por isso devemos saber:

Racismo é uma coisa inútil e deve o mais rápido morrer!

de Ana Carla Campregher da SilvaRegistro - SP - por correio eletrônico

NEGRO, NEGRITUDE

Negro, negritudena vida, no sangue, no povonos lábios do poeta, no artesanatonos focos da luz em sonhosna história da gente vivana marca dos que se foramnos olhos dos que o são

Negro, negritudena consciência dos que têmnos porões da imanênciana memória de Zumbinos corpos negros da dançana culinária saborosanas marcas da inteligência

Negro, negritudena beleza da mulher negranas cores incalculáveisnos rostos tão incansáveisnos labirintos do preconceitonas lembranças de dor e vitóriana vida de nossa gente brasileira.

de Rogério MedradoBarro Preto - BA - por correio eletrônico

ISSO É SER NEGRO

Dos porões para a vida.Do mundo para a históriaIsso é ser negro.

Agora, quando nos oferecerem correntesEu lhes mostrarei a liberdade,Plantarei a semente da igualdadeE exterminarei as raízes do preconceitoPor quê?

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Porque não custa nada sonharPorque essa realidade deve ser vistaE vivida por nós negros queConstruímos a história do Brasil

Se hoje saio dos porões, saioDe cabeça erguida, mesmoSabendo que lá fora vai ser bem piorSe caminho para a vida, é porqueChegou o momento de dizer chega.E se entrei na história,É porque eles reconheceram, nossa importância.

E agora irmãos, quando nos oferecemCorrentes, eu lhes mostrarei a liberdade As minhas mãos sem calos, meu coração sem mágoas E minha mente sem preconceitos.

de José Sérgio CostaUbaitaba - BA - por correio eletrônico

A ÁFRICA ESTÁ EM NÓS

A discriminação racialExiste de todos os lados:De pardos, negros e escravos.Por que tanta desumanidadeSe a África está em nós?O Brasil, segundo paísQue a discriminação racial traz.Por que tanto preconceito?Vivemos num país Em que a tecnologia predomina.Por que tanta escravidãoSe somos uma miscigenação?

de Maria Aparecida NunesSão José do Belmonte - PE - por carta

FILHOS D´ÁFRICA

Criaturas nobres da mãe África,Jogados nos imundos porões,Dos tumbeiros para a América,Como animais sem corações...

Nos desumanos e fétidos porões,Vivia-se com a cor da dor e horror,Na promessa de outras civilizações,Identificados pelo racismo da cor...

Uns agonizantes na triste travessia,Ainda vivos eram lançados ao mar,Muitos se iam na diabólica fantasia...

Ao chegarem na terra santa e prometida,Sob a égide marcada pela cruz e espada,Produziam para a aristocracia abastada...

de Everaldo da Silva CerqueiraSalvador - BA - por correio eletrônico

ALFORRIA

Ouviu-se distanteUm som estridenteSem dúvida, um grito,Angustiado e reverente...

Uma voz de súplica,De desespero e terrorCuja intenção na noiteEra demonstrar a dor!

Chegando a ser sinistroAquele grito ecoouE na noite vazia de nuvensComo um bicho noturno voou.

Estremecendo as estrelas,Em meio à agonia,No tronco, uma negra escrava imploravaPela carta de alforria!

de Fernanda LisboaCandiba - BA - por carta

TODAS AS CORES

Todas as cores refletemA beleza dos seres, das coisasPaisagens, personagens, animados, inanimadosFundamentais na construção do mundoComo um imenso mosaico multicorQue esbanja graça, luz,essência do amorNegra, negro, raça e liberdadeConsciência de lutar do desigual pra igualdadeSem se prender ao medo, ao mito, aos ismosA vida é muito mais, o ser bem mais aindaA cor é um detalhe, o ser é uma escolhaO importante é se integrar no universoE se revelar como artesão da vidaManufatura de esperança, arte vivaEspelho interior, brilho transcendentePassado que quase beira o futuroMas não sai do presenteSalve a luta e a dignidadeSalvem as riquezas das coresOs ancestrais,os que já se foram ...Engrandeçam os valoresLuz, cor, sonho, poesiaAxé da vida, benção da alegriaA música mais bela sempre teráNotas que cantam a liberdade

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Porque a vida baila no palco onde brilha o sol...E a primavera é sempre esperada.

de Luiz Claudio Bezerra CostaRibeirão Pires - SP - por correio eletrônico

MINHA DOR E VIDA

Sou negroSou genteQue dá jeito e que constrói. Fizeram de mimInjustiças migrações que não pude caminharE sim, apanhar.

Amor de mãe, que tive.Sendo escrava, ela me disse.Amamentou o filho do branco.Fraca, sofrida e dando a vida.

Lá vou eu...Derramando o meu sangue por toda essa terraQue eu ajudei.

Tiraram nossas vidas.Espancaram-me de dorCom essa violenta burguesiaSomos sem valor.

Hoje sou discriminado,Não sou aceito,Não tenho valor no cargo,E sou marginalizado.Vivo sofrendo,Sempre escutando e sem alegriaNo dia-a-dia.

Quero romper.Criar asas e voar.Unidos iremos formarLiberdade irá conquistar.

Formaremos a vida pura

Formando a nossa cultura,Nossa organização e nosso futuro.

Meu corpo cansado e torturado,Mas não fracassadoPra lutar e se unirSempre ao teu lado.

Tenho tanto amor.Como tenho valor,O sistema é contra nós porque nos deve favor.

Vamos levantar as mãosDando grito para libertaçãoDe dentro e fora do coraçãoFormamos essa nação.

É muito bonito quando a gente vai à lutaPra esse povo humilde que sofre escravidão.Hoje, multiplicaremos a união,Para que haja libertaçãoDessa raça negra que sofre escravidão.

de Gilberto Soares da SilvaMontanhas - RN - por correio eletrônico

NEGRO É ISSO AÍ

Negro, semente africana jogada em terras brasileiras!Negro, germinou força, fez crescer a união e produziu trabalho!Negro, marcado em brasa, maltratado na senzala, sedento e faminto!Negro, acorrentado, chicoteado, derramando suor e sangue!Negro, fugindo para o quilombo por não suportar tanta dor!Negro, homem de fé e

esperança, sonhando com justiça e liberdade!Negro: monumento de fortaleza,retrato da beleza,inspiração da nostalgia,morada da saudade,espelho da fraternidade,voz que implora por igualdade,cor destaque da humanidade!

de Maria do Carmo da S. SantosMutuipe - BA - por carta

RECORDAR E SENTIR

Lá na mãe ÁfricaÉramos reis, rainha, gente.Como com rolo compressor,Definiram-nos diferentes.E como animais ou sacos de batatas.Dos porões para o mundo,Imundo, desmundo...Comeram fogo, feito ratos, baratas...Aqui no país tropicalDos porões para o canavial.E do torrão, cada vez mais distante,Arrancaram tudo,Sua terra, sua gente...Arrancaram, separaram,Pisaram, humilharam, exploraram...Por mais de 300 anos,Foram infinitos os danos,Gente forte, gente brava,Não se entrega, dá às mãos.Forma cordão, não fica no chão.Salve Zumbi, Martin Luter King, Mandela...

de Márcia Marcolina Santos de Freitas SantanaLuis Eduardo Magalhães - BA - por carta

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FILHOS DA ÁFRICA

Tu, que do ventre da mãe África,Nasceste forte e libertoTornando fecundas, as terras do desertoTinhas a liberdade como tua meta. Por que te roubaram esta liberdade?Que lei criaram com esse direito?Por que ainda hoje há preconceitoDa tua cor na sociedade?

Por que os meios de comunicação,Nos seus filmes e novelas,Fazem da mulher negra: gerente de panelaE do homem, motorista e guarda de portão?

A Constituição, em um dos seus artigos,Garante a ti, direito de igualdade.Mas ainda existe na sociedade,Discriminações, desde os mais antigos.

Vamos levar a todos, a conscientizaçãoDe que, da tua cor (este pigmento)Não interfere no teu sentimentoNem nos teus direitos perante a nação.

de Hélvia CallouCampina Grande - PB - por correio eletrônico

ANJOS NEGROS

As “pragas devastadoras”

invadiram a Diáspora,E embranqueceram nossa cultura.Transformaram em vovós e vovôs,Nossas iaiás e ioiôs.Instituíram um “bem” brancoE um “mal” negro...Uma “paz” branca,E um “luto” negro...Almas brancas que vão pro céu,Almas negras, pro inferno.Deuses brancos que são benéficos,Deuses negros que são maléficos...Anjos brancos que são “cristos”,Anjos negros que são demônios.

Chega!!!A negritude dá seu grito de desabafo!As crianças negras querem anjos da guarda negros.O povo negro quer magia negra.O povo negro quer cultura negra!Repudiamos sua prepotência,Repudiamos sua divisão racial,Repudiamos sua aquarela racista.Queremos anjos negros!Faremos um “bem negro”.Somos povo N E G R O!!!

de Shirley Pimentel de SouzaIbotirama - BA - por correio eletrônico

SONHO DE DEUS

Querem calar o poetaQue canta a libertaçãoQue resgata a memória

De resistência à escravidão. Querem silenciar os atabaquesA dança da negra gente,Que na força do AxéSonha um Brasil diferente.

Querem emudecer nosso gritoDe denúncia e indignaçãoContra o sistema corruptoQue gera miséria e opressão.

Querem nos negar a terra,O pão, a dignidade,O direito de marcharEm busca de liberdade.

Mas o sonho, a dança e o canto,Calados não serão,Pois é sonho de Olorum,O Deus da Libertação!

de Arlekson Barreto RamosIlhéus - BA - por carta