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Coleção Kimono de Ouro - Vol. 1 PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ Um manual para treinadores de equipes de base

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Coleção Kimono de Ouro - Vol. 1PEDAGOGIA COMPLEXA

DO JUDÔUm manual para treinadores de

equipes de base

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1ª Edição2015

José Alfredo Olivio JuniorAlexandre Janotta Drigo

Coleção Kimono de Ouro - Vol. 1

PEDAGOGIA COMPLEXADO JUDÔ

Um manual para treinadores deequipes de base

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© by José Alfredo Olivio Junior & Alexandre Janotta Drigo© by Editora e Distribuidora de Livros Mundo Jurídico Ltda.

Comissão Editorial especial, responsável por esta obra:Prof. Dr. Carlos Alexandre Fett - UFMTProf. Dr. Claudio Joaquim Borba Pinheiro - UFPAProf. Dr. Mário Mateus Sugizaki - UFMTProf. Dr. Mauro C. G. A. Carvalho - IF - “Colégio Pedro II” – Rio de Janeiro

Revisão Acadêmica:Professor Ms: Tiago Volpi Braz

Diagramação e Capa:Silas Renato da Cruz

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

OLIVIO JUNIOR. José Alfredo & DRIGO, Alexandre Janotta

Coleção kimono de ouro - Vol. 1 - Pedagogia complexado judô - um manual para treinadores de equipes de base 1ªedição / José Alfredo Olivio Junior e Alexandre Janotta Drigo -Leme/SP: Mundo Jurídico, 2015.

ISBN: 978-85-8085-078-9

1. Pedagogia complexa do judô - Brasil I. Título

Índices para catálogo sistemático:1. Brasil: Pedagogia complexa do judô

Proibida a reprodução total ou parcial sem permissão expressado Editor (Lei nº 9.619/98).

Direitos desta edição reservados à:Editora e Distribuidora de Livros Mundo Jurídico Ltda.

Rua Álvaro Pacheco Silveira, 125 - Vl. SantucciTelefax: (19) 3571-8027 - Cep: 13614-170 – Leme-SP

http://www.editoramundojuridico.com.bre-mail: [email protected]

Coleção Kimono de Ouro:Alexandre Janotta DrigoJosé Alfredo Olivio JuniorMarcos Elias Mercadante

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“De modo geral, o ponto forte dos esportes é o fato deserem competitivos, o que desperta o interesse dos jovens.Não importa o quanto seja valioso o método de educação

física, se não for colocado em prática, ele não servirá anenhum propósito – e aí está a vantagem dos esportes.

Mas neste sentido também há questões que devemosconsiderar cuidadosamente. Primeiro, o principal propósito

dos esportes não é a educação física; as pessoas competem poroutra razão, ou seja, para vencer. Assim os músculos nãosão necessariamente desenvolvidos de maneira equilibrada;em alguns casos, o corpo é muito exigido ou até lesionado.

Por esta razão mesmo não havendo dúvidas de que émuito bom praticar esportes, é preciso analisar com

cuidado o tipo do esporte e o método de treinamento. Osesportes não devem ser praticados de maneira descuidada,com exageros ou sem restrições. Entretanto, é seguro dizer

que os esportes competitivos são uma forma de educaçãofísica que deveria ser promovida com essa ressalva em mente”.

JIGORO KANO(Kano, J. ENERGIA MENTAL E FÍSICA: Escritos do

fundador do judô. Editora Pensamento, São Paulo, 2008; pag 49)

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Dedicatória

A todos os judocas, professores e profissionais quecontribuíram para a minha formação e, principalmente, àminha família, na qual destaco o papel da minha esposa

Karina, parceira para todas as horas que, mesmo grávidado meu filho Vitor, durante o processo de elaboração destelivro, se manteve paciente e me deu forças para continuar...

José Alfredo Olivio Junior

Aos que ousaram estudar o judô e aos praticantes que nãoganharam as competições que participaram e, mesmo assim,

jamais deixaram de treinar e serem judocas. Agradeçotambém a Ju, o Arthur e a Beatriz que me ensinaram parte

da vida, que só é possível pelas pessoas que amamos...Alexandre Janotta Drigo

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APOIO

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AGRADECIMENTO

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PREFÁCIO 1

A etimologia da palavra Judô é composta por: Ju, quequer dizer suavidade, sem resistência; e Dô, que pode sertraduzido por caminho ou vai, com isto, se pretende explicarque a forma de vencer uma força não é opor-se a ela, masredirecioná-la para nosso propósito. Em outras palavras: usara força e peso do oponente contra ele.

Com essa definição conseguimos entender melhor afilosofia do Judô e, paralelamente poder entender mais sobrea arte do Caminho Suave ou Caminho da Suavidade.

Esse “caminho suave” representa a vida equilibrada,regrada e disciplinada que um judoca precisa ter paraatingir seus objetivos. Por isso que é comum encontraratletas que buscam aperfeiçoar a sua técnica estudando emeditando fora do tatame.

O judô assentou as bases para as modernas artesmarciais, tanto em seus objetivos quanto em seus métodosde ensino. Seu fundador, mestre Kano, dizia que o judô é “aarte em que se usa ao máximo a força física e espiritual”.

Os professores Alexandre Janotta Drigo e José AlfredoOlivio Junior bem encarnam esta centenária filosofia desta

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arte marcial, ao nos legarem esta obra intitulada a Pedagogiacomplexa do Judô.

Por sua vez a palavra complexo vem do latim complexus,cujo significado é “o que abraça, liga”. Em espanhol, adquireo significado de “amálgama, conjunto”. Para Edgar Morin,complexidade é uma composição cujos elementos hetero-gêneos são inseparáveis entre si, tal como uma colcha deretalhos formada por partes muito diferentes, mas queformam uma unidade coerente, na perspectiva do conjunto,do todo. É também conexão das partes, uma vez que osvários retalhos que formam a colcha são emendados uns aosoutros, fazendo aparecer ao final algo totalmente diferentedas partes, tomadas isoladamente. “A complexidade éefetivamente a rede de eventos, ações, interações, retroações,determinações, acasos que constituem nosso mundo feno-mênico” (MORIN, 2003, p. 44). A complexidade vai alémdo jogo semântico que a palavra poderia propor. Comoproblema epistemológico, a complexidade aparece comouma rendição. A ciência clássica abomina a contradição econsidera erro tudo que não é habitar o mundo perfeita-mente conceitual, harmonioso e perfeito, ao eliminar asimpurezas da vida. Para ela, a regra é filtrar do imponde-rável, do fluir da vida, as imperfeições, para criar leis que,análogas à natureza, devem conduzir a resultados como atecnologia, que se quer neutra dos valores que impregnam avida (RIBEIRO, 2005).

Associar estes dois conceitos: judô e complexidade, tãoamplos, no contexto da Pedagogia do Esporte, faz deste livrouma fonte de consulta indispensável aos profissionais queutilizar-se-ão do judô como ferramenta pedagógica deaperfeiçoamento da motricidade humana.

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15PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ

A obra se desenvolve em três partes básicas, nasquais se apresentam o judô, a Pedagogia Complexa, cul-minando nas aplicações práticas da Pedagogia Complexa,trazendo para o campo da práxis as formulações teóricas doscapítulos anteriores.

Estão de parabéns os autores por tão profunda eoportuna abordagem do tema, mas estão de parabéns,principalmente os profissionais de Educação Física em gerale os sensei de judô em particular, por poderem, à partir deagora contar com tão importante fonte de consulta,

Professor Dr: Estélio Henrique Martin Dantas

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PREFÁCIO 2

Quando tive contato com a pedagogia do esporte nocurso de Educação Física, sempre me apresentaram que asdiscussões se focavam nos esportes coletivos. Neste sentido,ao ter contato com esta obra, fiquei bem surpreso ao verificara união presente entre o esporte que amo, o judô, com oselementos teóricos que aprendi na faculdade, tudo de formaharmônica entre a teoria e a prática que os autores tiveram ocuidado de apresentar.

Na leitura da Pedagogia complexa do Judô, tanto ostreinadores como os estudantes e praticantes terão infor-mações a respeito da forma que um projeto de judô devalorização esportiva tem se organizado para atender osanseios de crianças e jovens no desenvolvimento para ocenário competitivo sem perder os anseios da formação deum cidadão autônomo em vistas à cidadania brasileira. Assim,através do financiamento do Governo Federal, via Ministériodo Esporte, pela Lei de Incentivo ao Esporte, o projeto“Kimono de Ouro” apresenta além dos resultados da formaçãode jovens e dos resultados esportivos de seus participantes,um registro que torna público a forma de organização, ateoria e os conceitos envolvidos na construção de seus tra-balhos, e também os processos de avaliação e consolidaçãodos métodos empregados.

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Desta forma, os autores compartilham seus métodos edados para que treinadores, pesquisadores e outros profissionaispossam ter acesso para compreender, estudar e, principal-mente, debater seus achados, no intuito de cada vez maispossibilitar melhorias no nível do esporte nacional e naformação de tecnologia de inovação pedagógica específicapara o meio esportivo. Reconheço assim, o esforço do JoséOlivio Junior, que participou de vários treinos comigo naépoca em que estava na seleção brasileira de judô e doprofessor Dr. Alexandre Drigo, por trazer este material originalem relação ao treinamento de jovens e que, de forma alguma,fere os princípios da ética e moral tão defendidos peloprofessor Jigoro Kano, criador do judô.

Abraço e boa leitura!

João DerlyBi-campeão mundial de judô (2005 e 2007)

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APRESENTAÇÃO

Este manual tem como objetivo proporcionar ou convidaros técnicos de equipes de base do judô, estudantes deEducação Física e outros que trabalham, praticam ou apreciamas lutas e a pedagogia dos esportes, para reflexões acerca dotreinamento de crianças e jovens, focado na metodologia quedenominamos de complexa focada no judô.

Neste sentido, convidamos os leitores a adentrar aométodo que temos empregado no Projeto Kimono de Ouro eque apresenta os caminhos teóricos que levaram aos resultadosesportivos que nossos atletas conquistaram em nível nacionale internacional no judô esportivo. Assim, cabe ressaltar que oapoio do Ministério do Esporte, com a Lei de Incentivo aoEsporte do Governo Federal, possibilitou construir a infraes-trutura necessária para elevar o judô da cidade de Araras-SPpara o nível em que hoje se encontra. Com o apoio recebidofoi possível profissionalizar o espaço que o Projeto Kimonode Ouro ocupa, principalmente no que tange a equipe multi-profissional. Desta forma, considero indispensáveis as Equi-pes Administrativa e de Marketing, às quais me enquadro, aEquipe de Saúde dos Participantes (Psicóloga Aline Olivio eo Fisioterapeuta Leonardo Silva) e, finalmente, a EquipeTécnica, principal responsável por esta obra, composta pelostécnicos de judô: José Olivio Junior e Bruno Pasqualotto, epelo preparador físico Paulo Roveroni.

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Durante os quatro anos de desenvolvimento do projeto,que teve início em 01 de abril de 2011, os jovens e atletasenvolvidos foram submetidos a um processo de treinamentoe avaliações sistemáticas que permitiram, através dos registros,elaborar métodos próprios de treinamento para o judô,baseados em teorias pedagógicas que contribuíram para odesenvolvimento esportivo e também para os processoseducacionais focando na formação de um judoca consciente.

Com o crescimento dos resultados que os atletas apresen-taram o Projeto Kimono de Ouro se consolidou e, em 2015,iniciamos uma nova fase com a preocupação da divulgaçãode nossos dados e metodologias, através de artigos científicose resumos em congressos específicos, tanto em relação aComunidade Acadêmica, como na área técnica do esporte edas lutas, especialmente ao judô, porém sem perder o teoracadêmico que este manual possui. Desta forma, nós, doProjetos Kimono de Ouro, confirmamos nosso compromissodemocrático com a Lei de Incentivo ao Esporte, de retornar àsociedade, o que foi investido em nós, não somente em relaçãoa atender os jovens de nossa comunidade, mas em divulgar o quefazemos com o intuito de melhorar o debate, tanto teórico comoprático, da preparação das crianças e jovens para o judô.

Finalmente, agradecemos aos parceiros que propor-cionaram a existência de nosso projeto: Arteris, Elektro,Carmelo Fior, Usina Santa Lúcia, Unimed Araras, Flores eVegetais, Itauna e Bioativa, ao Ministério do Esporte e àscrianças, jovens, atletas e pais participantes.

Boa leitura!

Prof. Marcos MercadanteCoordenador do Projeto Kimono de Ouro

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1Introdução ........................................................................ 23

CAPÍTULO 2O Judô no Brasil - Uma localização histórico-profissional .. 27

2.1. O modelo artesanal no ensino do Judô: do praticante aotécnico ......................................................................... 28

2.2. Profissionalismo no Judô e a concepção contemporâneade técnico ..................................................................... 33

2.3. O Judô como modalidade esportiva: o foco desta obra ... 38

CAPÍTULO 3A Pedagogia complexa .................................................... 41

3.1. Unidades funcionais da luta como norteadores do processo .. 513.2. O método situacional como forma de ensino-aprendizagem-treinamento .................................................................. 77

3.3. A tática como objeto central da aprendizagem e do treina-mento .......................................................................... 86

3.4. A progressão espiral do processo de ensino-aprendizagem-treinamento .................................................................. 89

3.5. As questões éticas e culturais envolvidas no processo deformação humana ......................................................... 93

CAPÍTULO 4Aplicações práticas da pedagogia complexa .................. 97

4.1. Uma abordagem complexa na iniciação e no direciona-

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mento esportivo ............................................................ 994.2. O Treinamento e a competição no desenvolvimento daautonomia de judocas .................................................... 136

4.3. Exemplos práticos da utilização da pedagogia complexapara especialização e rendimento ................................... 154

CAPÍTULO 5Considerações finais ....................................................... 167

CAPÍTULO 6Referências ...................................................................... 169

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Ao desenvolver o material que constitui este manualforam utilizados os dados referentes ao Projeto Kimono deOuro, financiado pelo governo federal através da Lei deIncentivo ao Esporte, pelo Ministério do Esporte do Brasil,constando do desenvolvimento do judô para crianças e jovens,na perspectiva educacional e da preparação esportiva.Assim, o objetivo deste manual é trazer aos leitores, técnicos,estudantes e profissionais de Educação Física e admiradoresdo esporte, os conceitos teóricos e práticos, baseados napedagogia e ciência do desporto acerca da preparação destascrianças e jovens praticantes.

O desenho teórico-metodológico, presente nesta obra,possui um caráter inovador em relação à prática do judô eem relação a um esporte que tem características prioritaria-mente individual. A maioria das publicações que a literaturaapresenta, sobre os métodos de preparação através das uni-dades funcionais e da utilização da tática, enquanto preparaçãodesportiva, incidem nos jogos coletivos. Com isso, ao apre-sentar esta obra descreve-se uma metodologia original parao judô e também apresenta-se um método de desenvolvimentode tecnologia pedagógica de impacto no ensino do judô. Tal

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

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método desenvolve-se no Brasil através da participação vo-luntária de atletas, jovens e crianças que conviveram com oProjeto Kimono de Ouro, durante quatro anos, com a obser-vação sistemática de seus técnicos e profissionais envolvidosno processo. Os dados desta observação foram registrados,estudados e reorganizados, a fim de que pudessem ser cata-logados e apresentados neste estudo, para proporcionar aosinteressados um registro dos conhecimentos referentes aoensino do judô. Com isso, espera-se trazer informações quesejam utilizadas para a melhoria do esporte nacional e para adiscussão pedagógica e científica, baseadas no desenvolvi-mento pedagógico fora do ambiente escolar. Também é deinteresse dos autores tornar público tais dados, resultados emétodos, pois, como foi utilizado dinheiro público para talfim, também foi objetivo o retorno para que todos os brasileirostenham acesso, permitindo o desenvolvimento do país.

Portanto, este manual tem como objetivo apresentaruma metodologia complexa para o treinamento de jovensjudocas, mediante ao que foi proposto pelas teorias peda-gógicas voltadas ao esporte e constituir um manual deaplicação, conhecimento e desenvolvimento da metodologiapara treinadores de judô e interessados.

A metodologia utilizada nesta obra foi baseada na pes-quisa qualitativa com a utilização de dados quantitativos,através de uma triangulação de dados (Alves-Mazzotti;Gewandsznajder, 1998), que permitiram a elaboração dosconceitos, técnicas e métodos apresentados. A triangulaçãofoi efetuada por:

a - Análise documental: formada pelos registros detreino e acompanhamento individual dos participantes eatletas, com vistas à análise quali-quantitativa do estudo.

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b - Organização da estrutura teórica, norteada pelostécnicos e profissionais envolvidos no projeto enquanto infor-mantes-participantes do estudo. Esses profissionais torna-ram-se parte do corpo teórico e de desenvolvimento dasações técnico-táticas da equipe e a base da revisão da litera-tura e as referências de seus trabalhos são explicitados nestetexto. Assim os informantes são colaboradores ativos e nãoempíricos, em relação aos meios e métodos empregados nodesenvolvimento dos trabalhos referentes ao judô, compondoa principal fonte de dados qualitativos do estudo.

c - Análise do desempenho e dados competitivos dosatletas envolvidos em competições nacionais e internacionais,enquanto dados quantitativos da avaliação dos resultadosesportivos do projeto. Consequentemente, outros registros,principalmente oriundos do departamento psicológico dosparticipantes do projeto farão parte da análise de formaçãoe preocupação com a autonomia no processo de desenvolvi-mento pessoal em vista à formação prevista no projeto.

Por fim, este manual coloca-se como fonte de registroda atuação de técnicos e profissionais que trabalham comesporte, indo, de certa forma em direção, a uma necessidadenacional, onde registros e documentos referentes a métodosempregados na preparação desportiva de atletas, ainda sãoraros, dificultando o debate e o desenvolvimento da áreatécnica esportiva no Brasil.

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Ao abordar o tema sobre judô e esporte, visando àformação relacionada à educação e o desenvolvimento deum trabalho que direcione da iniciação ao alto rendimento, emnosso país, esbarra-se com vários fatores que compreendem anossa cultura esportiva e social. Percebe-se que esportescomo o judô ainda possuem limites da releitura tradicionaljaponesa feita pelos técnicos ocidentais e brasileiros quemuitas vezes se perdem, tanto nos significados, quanto noengessamento e estagnação em relação ao desenvolvimentode novas tecnologias e práticas pedagógicas. Esquece-seque, ao criar o Judô Kodokan, o próprio Sensei Jigoro Kanosubverteu as formas de ensinar do antigo ju-jutsu para seadequar as novas realidades vividas pela sociedade japonesano final do século XIX:

No meu entender, com algumas melhorias o ju-jutsupoderia se tornar um método abrangente de educaçãofísica, treinamento intelectual e educação moral.Então passei vários anos desenvolvendo minhas idei-as, até finalmente criar o Judô Kodokan. Eu fiz issopesquisando tanto quanto possível o ju-jutsu que atéentão existia, mantendo o que, no meu entender,

CAPÍTULO 2

O JUDÔ NO BRASIL - UMA LOCALI-ZAÇÃO HISTÓRICO-PROFISSIONAL

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valia a pena manter e descartando o restante, estu-dando profundamente as técnicas e teorias e refor-mulando-as de uma maneira que fosse aplicável paraa sociedade atual (KANO, 2008, p.19).

Considerando a colocação de Kano (2008) deve-setambém entender que novas demandas, realidades e desafi-os permitem e possibilitam novos olhares pedagógicos decor-rente da universalização do judô e da distância temporal quea sociedade atual se encontra. Assim, em virtude da espeta-cularização, da importância dada ao esporte nos dias atuaise principalmente no modelo adotado pelo Brasil, que o judôacaba sofrendo influência do meio, da cultura, da mídia, deoutras lutas e outros esportes. Já os clubes que, não obstante,confunde-se e oferecem receitas para a sua prática quegeralmente são focados apenas no resultado competitivo ena miniaturização do treinamento de adultos.

Neste panorama aparentemente caótico que se insereo treinador de judô nos tempos atuais, fruto da discussãoentre tradição e modernização do esporte que, de certaforma, está caminhando para sua profissionalização.

2.1. O modelo artesanal no ensino do judô: do praticanteao técnico

A proposta deste manual está no desenvolvimento denovas tecnologias pedagógicas para serem utilizadas no judô,com enfoque no desenvolvimento de um corpo de conhecimentoque possam ser utilizados pelos técnicos e também na formação

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29PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ

de novos profissionais. Desta forma, serão apresentadas aspropostas durante a leitura dos próximos capítulos que buscandoassociar a teoria e prática, com a tentativa de não perder oenfoque nas ciências voltadas ao esporte. Assim possibilitandoum direcionamento em vistas a profissionalização da atividadede técnico de judô. Para tanto, cabe justificar de onde está oolhar sobre a atividade a partir do estado da arte em que ojudô se encontra atualmente.

Em alguns estudos (DRIGO, 2007, 2008 e 2011) de-senvolvem a ideia de uma pedagogia da prática, denominadade artesanato, é a forma que se enquadra os processos deensino e aprendizagem no judô, a qual apresenta-se na for-mação que tradicionalmente os faixas pretas, instrutores,técnicos e dirigentes se enquadram no Brasil. Este processo écomum em nossa sociedade e tem grande influência naforma em que entendemos os esportes e várias atividadescotidianas e até mesmo a questão laboral do trabalho comum.

Na forma da educação artesanal, o caminho do apren-dizado se dá, segundo Rugiu (1998), por ser pautada narelação mestre e discípulo e no aprendizado ser essencial-mente prático. Desta forma a educação artesanal no judô sedá ao longo dos anos de participação em um dojô, orientadopor um sensei e progressivamente ao acumular conhecimentosdos golpes e técnicas o aluno se tornaria um instrutor, técnicoou mestre na modalidade. Está lógica de formação possuigrande aceitação social perante os praticantes, o público e asociedade brasileira em geral.

O caminho do aprendizado (RUGIU, 1998) e que seriade suma importância para o aperfeiçoamento em uma peda-gogia artesanal seria “capacidade de um jovem de captar no

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ar aqueles ensinamentos que o mestre não sabia ou nãoqueria dar-lhe” (p.40), dando grande valia as capacidadesindividuais de: adivinhar; induzir; deduzir; concatenar poriniciativa própria.

Estas questões da forma de agir artesanal é avaliadapor Drigo (2013) em relação ao judô como:

O judô durante seu desenvolvimento no Brasil possuíacaracterísticas que perduraram durante quase umséculo. Da imigração japonesa que aportou em Santosem 1908 no navio Kassato Marú até os anos 80 ou90, o funcionamento, a lógica interna do judôapresentava-se, no que considero modelo artesanalde ensino ou pratica do Judô.

Considerar a estrutura artesanal do ensino de formanenhuma desmerece o modelo ou põe limites a suaeficiência ou desempenho, pois não é o judô funda-mentalmente que mudou, mas sim a sociedade emque está inserido. O modelo artesanal é o mais antigomeio de ensino-aprendizagem que a sociedade humanaapresentou, desde que um pai ensinou a seu filhopescar ou caçar este modelo foi configurado, incluindoposteriormente a própria terminologia de mestre. (p.56)

Desta forma ao pensar como se ensina judô e suacorrespondência com o artesanato permite verificar que,além da presença do mestre como figura central e molde deaprendizagem, percebe-se que todo ou quase a totalidade doaprendizado é prático, através do treinamento até um certodomínio ou competência técnica. E finalmente, a atividade

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31PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ

prática tem como objetivo a formação do caráter do aprendizda mesma forma que os estudos formais (escolar) formamo indivíduo.

Outras características comuns entre os meios de for-mação são apresentadas por Drigo (2013):

... percebe-se a oficina, onde se aprendia o oficio ematividades práticas, assim como nas academias, asentidades diretoras do ensino e controle da ativida-de, as corporações de ofício, semelhantes as nossasfederações e o exame prático para ser consideradoartesão, em bancas específica de mestres, assimcomo acontece atualmente nos exames de faixas-pretas que ocorrem em ambos os casos em eventoespecífico na capital correspondente. (p.56)

Assim a formação no judô tinha um objetivo simples eclaro do ensino, fundamentado no desenvolvimento do prati-cante da faixa branca até a faixa preta (DRIGO, 2013). Ocontexto do ensino girava em torno disto e as competiçõeseram testes de confirmação do aprendizado e domínio téc-nico, geralmente visto como quem se dedicou mais e,portanto, teria o melhor desempenho, lembrando que eraprioritário o gesto técnico.

Esta forma de gerenciar o judô se apresenta suficientepara a demanda social em que se inseriu no Brasil e sedesenvolveu durante a história do país. Porém, transfor-mações sociais ocorreram que, de certa forma, tambémexigem mudanças no espaço do judô. Drigo (2013) apontaestas mudanças:

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Mudanças na complexidade da sociedade:

a) Biológica – crescimento do conhecimento biológicoinsere no entendimento da fisiologia humana concei-tos de diferenciação cria divisões de elementos sepa-rando individualidades biológicas em relação à idadee sexo. Desenvolvimento de teorias tanto de bioener-gética, comportamento motor, crescimento e desen-volvimento.

b) Comportamentais – advindo dos conhecimentos depsicologia e das mudanças do mundo moderno,como as normas de consumo, políticas educacionais,entre outras.

c) Tecnológica – iniciação, especialização inicial, es-pecialização profunda, treinamento de alto nível.

d) Social - legislativa - regulamentação da profissão elegislação interveniente como o ECA, código de defe-sa do consumidor - entendimento de direitos - espor-te enquanto direito do cidadão nas suas múltiplasconfigurações - não apenas direito do desportista dealto rendimento Acesso a informação - tudo isso estáfacilmente disponível no universo atual consideradoera da informação. (p.57)

Estas mudanças sociais acabam de certa forma direcio-nando a prática desportiva para um contexto profissional.Onde os espaços se tornam diferenciados e as possibilidadesmais restritas perante a sociedade contemporânea, mas éinteressante constar a citação de Cunha (2000):

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“A educação artesanal desenvolve-se mediante proces-sos não sistemáticos, a partir do trabalho de um jovemaprendiz com um mestre de ofício, em sua própriaoficina, com seus próprios instrumentos e até mesmomorando em sua própria casa. Ajudando-o em peque-nas tarefas, que lhe são atribuídas de acordo com alógica da produção, o aprendiz vai dominando aos pou-cos o ofício.” (p.2)

Nesta apresentação, identifica-se a história de vida devários mestres conhecidos do judô em seu período de apren-dizagem, o mais conhecido é Shiro Saigo um dos pilares doJudô Kodokan, que sai de Fukoshima para viver e aprenderjudô com Jigoro Kano, como retrata o filme Sugata Sanshiro(que indica-se a visualização).

Assim, da mesma forma que a sociedade começa a sedirecionar para um profissionalismo, pensa-se que a educaçãopelo ofício não deve ser menosprezada. Concordando comRugiu (1998), percebe-se que a experiência artesã aindapode ser considerada por muitos autores, como possuidorade aspectos essenciais de formação, visto como experiênciaideal para instruir e se educar, para tornar-se “hábil com asmãos e rápido com a cabeça” (RUGIU, 1998)

2.2. Profissionalismo no judô e a concepção contem-porânea de técnico

Referindo-se judô brasileiro há um embate que seoriginaram na concepção do treinador em relação aos ditospráticos e os teóricos, que são os formados pela prática doesporte contrapondo-se aos formados na Universidade,

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particularmente nos cursos de educação física, esta visão étão extremada em certos casos que se apresentam comopolos excludentes não passíveis de terem, no discurso,ambas as vivências.

A formação do técnico geralmente advém dos conheci-mentos adquiridos como lutador de judô, e isto determina odesempenho desportivo do seu atleta na relação imediata deseus processos empíricos de aquisição de conhecimentos, ouseja, da tentativa e erro em relação ao treinamento (DRIGO,2007). Neste sentido é apontado que questões técnicasapresentavam lacunas quanto aos conhecimentos oriundosda Educação Física e das bases fundadas nas Ciências doDesporto, mais voltadas para os conhecimentos de Ana-tomia, Biomecânica e Fisiologia relacionados ao rendimentodesportivo, Pedagogia, Psicologia e Sociologia do Desporto eBases Teóricas e Metodológicas do Treinamento objetivandoo rendimento ótimo e máximo de atletas ou mesmo doensino da modalidade.

Ao apontar anteriormente as mudanças sociais de-corrente na modernidade do mundo contemporâneo, valepensar que, todas estas transformações determinaram alte-rações na forma de como o judô está expresso na sociedade,pois apesar de parecer de forma sutil, às reconfigurações sãograduais e nos adaptamos a ela, pois fazemos parte doprocesso (DRIGO, 2013). Porém ao olhar para as academiasde judô há vinte anos, as mesmas possuíam o tatame eacessórios (alguns aparelhos para musculação geralmente),percebe-se que ela está em extinção. Atualmente, segundoDrigo (2013), no estado de São Paulo percebe-se que apenasuma minoria de espaços apresentam estas características, omercado direcionou o judô para clubes ou prefeituras, emacademias com múltiplas atividades e que se inclui lutas,

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projetos sociais, em atividades de saúde vinculados a hospitaise SUS e em espaços educacionais como escolas e faculdades,ao contrário da antiga academia que funcionava como oficinade ofício (vide item anterior).

Outra questão que incide nesta mudança é que não hámais necessariamente a figura definida do mestre. O senseide judô ficou refém, nos últimos tempos, de contratos econcursos para sua sobrevivência e, dependendo do local emque a modalidade funciona vários instrutores fazem parte daformação do judoca especificando as funções entre eles quecuidam de iniciações e gêneros como técnicos especializadospara cada fase. Devido a isto, Drigo (2013) ainda aponta:

Nas lutas a demanda de profissionais está em umperíodo de transição, pois acredito estarmos no finalde uma faze e, neste sentido é imprescindível o pla-nejamento para o futuro. O que considero importanteé iniciar políticas de incentivo a cursos superiorescom propostas curriculares, cursos de extensão eespecialização e pesquisas que supram a necessidadesprofissionais do trabalho em judô. Considero os cursosde Educação Física como legalmente instituídos paraformação profissionais no esporte e práticas corporaise hoje deve-se focar esforços para que estes cursosauxiliem nesta meta. E por outro lado, em momentosde transição, deve-se tomar os devidos cuidados paraque a essência do judô, expressos nos ensinamentosde Jigoro Kano, não se percam, alterem-se ou secontaminem. (p;57)

Devido a estes fatores que neste manual apontamos anecessidade de repensar o valor da aprendizagem do judô ecaminhar, em direção à mudança estrutural da sociedade

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moderna, em que, o saber fazer aos poucos são substituídospelo saber científico e tecnológico. Assim, a base teórico-prática da dimensão dos conhecimentos necessários a atua-ção como técnico está perante a profissionalização e na açãode capacitar, gerar, consumir e produzir conhecimento.

Desta forma o processo de ensino e aprendizagemdesloca-se do mestre, no caso do artesanato, e direciona-separa a realidade do que o aluno é capaz de aprender e nasconsequências desta aprendizagem enquanto preparaçãopara a vida e formação esportiva. Assim ao colocar o foco naaprendizagem, determina-se também o envolvimento dasquestões éticas, morais e comportamento que, obrigatoria-mente, devem envolver os conceitos da tradição, respeito evalores do judô. Por isso, na proposta deste livro, não nega-seas particularidades da cultura japonesa expressa no judô,mas pelo contrário, e sim a valoriza. Pois considera-se que aprofissionalização poderá trazer instrumentos mais atuaispara a comunicação entre os mestres e seus discípulos emétodos pedagógicos mais interessantes para o ensino etreinamento da modalidade, incluindo tópicos sobre aorigem e o respeito dentro da modalidade (fato que seráabordado posteriormente).

Da mesma forma pensa-se que ao efetivar o processode planejamento do treinamento como um todo, das sessõesdiárias, da relação interdependente de cada ano que setreina e sua relação com o desenvolvimento da criança,jovem ou atleta envolvido e que percebe-se a necessidade deum conhecimento maior e mais adequado a nossos dias.

Nesse caminho, Verkhoshansky (1990) discursa sobre aimportância do conhecimento científico relacionado ao de-senvolvimento atlético. Em suas argumentações aborda a

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relação entre o saber fazer e a ciência, mencionando apossibilidade de sucesso, em um passado recente, ser devidoapenas a experiência pessoal do treinador, da tentativa eerro baseado apenas na instrução e princípios lógicos, con-trapondo-se à atual evolução do desporto que se baseia empressupostos mais objetivos, relacionada à planificação eestruturação. Essas conotariam as bases científicas do treina-mento desportivo. Verkhoshansky (1990) remete a impor-tância da ciência na solução dos problemas metodológicos dotreinamento, e informa que:

“A preparação dos atletas de alto nível está ligadasobretudo a grandes estímulos dos sistemas funcionaisvitais para o organismo e produzir um efeito de aumentodos níveis de trabalho a pontos muito elevados queatualmente, sem conhecimentos científicos e sim-plesmente apelando ao bom senso e intuição, não épossível resolver os complexos problemas do treinamentomoderno.” (p.16).

Embora o alto rendimento não seja o foco deste ma-nual é na preocupação com metodologias para a aprendizagemem relação a modernidade e a aplicação para formação eprática de treinadores que se incorpora os conceitos daciência aplicada ao esporte enquanto colaboradora de umapedagogia esportiva.

Como consequência destes apontamentos e somadosas questões que envolvem a nossa sociedade é que se apostana forma que Bento (1989) descreve a função do treinadormoderno enquanto gestor tanto das questões do desportocomo na ética moderna. Assim, estre treinador seria umgerente de conflitos entre os processos e os envolvidos noambiente esportivo em suas múltiplas manifestações, e que

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se pode anunciar como: processo de treinamento como umtodo; gerenciamento de equipe multiprofissional; envolvi-mento das mídias, dirigentes e da família no processo;relacionamento com árbitros, outros técnicos e torcida; pressãode patrocinadores e financiadores; pressões sobre resultados,entre outros fatores e personagens.

Com isto, ao contrário do que foi enunciado na primeirafrase deste item, acredita-se que tanto a formação dentro dojudô, quanto a formação acadêmica em educação física,corroboram para um melhor entendimento da modalidade,dos processos vinculados ao cotidiano do treino e da formaçãopedagógica necessária aos novos desafios contemporâneos

2.3. O judô como modalidade esportiva: o foco destaobra

Aproveitando as discussões anteriores, é de consensoatual que o esporte, incluindo o judô, possui vertentes maioresque a competição propriamente dita. Desta forma, a Consti-tuição brasileira apresenta o esporte como direito e assim,reconhece a sua divisão enquanto atividade participação,bem-estar e convivência social. Nesse sentido, pensar únicae exclusivamente em um judô competitivo é limitar-se emrelação às possibilidades que a prática pode proporcionar,porém, indica-se que este manual está focado nas dimensõesdo treinamento e desenvolvimento físico, ético e moral atravésda pratica esportiva.

Ao reconhecer que o judô assume diferentes possibi-lidades de manifestações e em espaços diferentes comoacademias, clubes ou prefeituras, locais de lazer, escolas e

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serviços de saúde com atividade física. Sobre isto, Drigo ecol. (2012) reflete:

Uma academia deve priorizar a participação de dife-rentes personagens da vida cotidiana não apenas ocompetidor ou ainda o campeão se quer sobreviver.As Federações desportivas nesse mesmo aspectodevem criar mecanismos que estimulem a prática doesporte judô em suas amplas dimensões não só acompetitiva mas também na promoção de saúde e naparticipação vinculada a prática de atividade físicaou mesmo lazer caso busque uma massificação doesporte pois, o campeão continua sendo o exemplo,porém são os praticantes que custeiam a maioria dosgastos das Federações. (p.64)

Evidente que ao descrever o projeto que foi testada aproposta pedagógica, assume-se a realidade competitiva dojudô, porém um dos pontos que precisa ser repensado é quevisar o esporte competitivo para jovens, a vitória não é aúnica possibilidade de desenvolvimento ou finalidade. Aquestão lógica sobre o assunto é uma reflexão proposta porDrigo e col. (2012) consideramos dois fatores:

1. Crianças, jovens ou atletas incluídos os vencedoressão altamente estimulados, pois as conquistas retroalimentamseu interesse pelo esporte;

2. Os atletas que não vencem, que são a grandemaioria, tendem a ter um estímulo menos evidenciado e queirá diminuir o interesse pela prática se o fim do processo forapenas a competição.

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Desta forma a estrutura que devesse pensar no trabalhocom judô consiste em, por um lado reconhecer a grandiosi-dade das conquistas competitivas, mas, somado a umavalorização do esforço e do prazer de praticar o esporte.Com isto, torna-se necessário relembrar os valores do esporteque, as vezes esquecidos, são essenciais para o desenvolvi-mento individual e social.

Estes fatores remeterão aos capítulos posteriores quetratarão sobre o trabalho direcionado ao processo de auto-nomia dos jovens praticantes e o envolvimento ético para odesenvolvimento moral no treinamento. As atividades pro-postas nestes capítulos não diferem os melhores competidoresdos menos habilidosos, pois, preocupam-se exclusivamentecom a formação dos jovens em direção aos processos decidadania. Consequentemente, visando estar de acordo comJigoro Kano que identifica a prática de judô como atividadeque busca essencialmente o benefício mútuo, ou seja, umaprática de inclusão e não de exclusão.

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A partir do contexto apresentado anteriormente, per-cebe-se a necessidade de desenvolver uma proposta detrabalho para o judô que corresponda às demandas atuais.Dentre estas, podemos elencar: O elevado número depraticantes de judô no Brasil, o judô como modalidadeolímpica de grande visibilidade midiática, devido aos re-sultados em Jogos Olímpicos com 19 medalhas conquis-tadas até os Jogos de 2012 (CBJ -2015), sendo o esportenacional com maior número de conquistas olímpicas etambém devido ao trabalho da gestão atual da modalidade,que angariou inúmeros recursos para o desenvolvimentoda modalidade.

Outro aspecto é a mudança no perfil social que vemocorrendo no país, seja em decorrência de programas gover-namentais de distribuição de renda, ou ainda com os inúmerosprojetos sociais e de rendimento que vem surgindo com amodalidade e principalmente a mudança no perfil dos sistemaseducacionais, pois com o advento, cada vez mais acessível,da tecnologia da informação tem tornado mais desafiador osprocessos pedagógicos em qualquer esfera.

CAPÍTULO 3

A PEDAGOGIA COMPLEXA

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Esta mudança da sociedade deve ser acompanhada demudanças pedagógicas para que consigamos atingir as ex-pectativas de aprendizagem, pois se o perfil dos alunos - oque não difere do atleta - mudou, a maneira de conduzir oprocesso - pedagogia - deverá evoluir concomitantemente(TARDIF, 2002).

Neste sentido, à proposta pedagógica que será defen-dida nesta obra, parte do princípio do saber experiencial(TARDIF, 2002), no qual, as observações práticas em anosde atuação como técnico de judô em diferentes níveis, atestagem e registro de diversos métodos apoiados na lite-ratura e o debate com outros treinadores, permitiu elencar esistematizar um método próprio, que vem apresentando re-sultados (OLIVIO JUNIOR, et al., 2015; OLIVIO JUNIOR eDRIGO, 2015) consistentes e duradouros, o qual nomeou-sede Pedagogia Complexa.

A nomenclatura “pedagogia complexa” foi adotadapor se entender que esta proposta é a compilação e aorganização de meios e métodos de ensino-aprendizagem(GRECO, 1998) e treinamento (GARGANTA, 1997) emmodalidades esportivas coletivas, que foram adaptadas, testadase convergidas para um método que busca evoluir conceitosdo método tradicional no intuito de atender as necessidadesatuais da modalidade, tanto no aspecto do judô competitivo,quanto no que tange a modalidade enquanto meio auxiliarpara a educação e formação pessoal do indivíduo, uma vezque centra suas ações no desenvolvimento sócio motor dopraticante, sobretudo na sua autonomia.

E uma vez que “pedagogia” é a “forma de conduzir” oprocesso de ensino-aprendizagem, no campo o esportivo,

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pode ser entendida como os fundamentos teóricos para aprática do esporte (BARBANTI, 2003). Desta forma, é ne-cessário estabelecer parâmetros e buscar compreender ojudô e o judoca, enquanto indivíduo, e suas relações comple-xas, sendo que neste trabalho, se propõe um método no qualo judoca em construção, no caso o aprendiz, é o ator ativodeste caminho, sendo os técnicos os mediadores. Desta forma,esta pedagogia centra sua atenção na “aprendizagem”,partindo dos pré-requisitos que o indivíduo domina e suaspossibilidades e dificuldades pessoais, busca-se ofertar subsí-dios para a sua evolução adequando à suas característicasbio-pisico-sociais.

Tal escolha se contrasta com o processo de ensino-aprendizagem-tradicional no judô, que centra as ações no“ensino”, ou seja, um modelo considerado adequado, sejaeste um golpe, uma configuração de pegada ou uma série decomportamentos considerados padrões, deverá ser copiado eatingido pelo judoca, independente da sua individualidade.Desta forma, o desenvolvimento do judoca estará comprometidose o mesmo não corresponder às expectativas de “ensino”.

Com esta abordagem, espera-se que o judoca se desen-volva, tanto na esfera social quanto na esfera competitiva,uma vez que, sendo ativo no processo, terá maior capacidadede “se perceber” perante o meio, bem como, uma maiorcapacidade de escolher suas ações e quando necessárioadaptar-se as demandas encontradas. Neste sentido, acredi-tamos que o judoca que tiver condições individuais inerentesa prática competitiva de judô, desenvolverá uma série depré-requisitos cognitivos, emocionais, motores, técnicos etáticos que lhe permitirão alcançar o alto rendimento.

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O papel do técnico de judô migra de uma perspectivaartesanal (DRIGO, 2007) na qual é detentor do conhecimentoespecífico - saber fazer – e condutor do processo de ensino-aprendizagem-treinamento para uma perspectiva de mediadorda aprendizagem do judoca. Esta alteração de perspectivatorna o trabalho do técnico ainda mais significativo, poisnecessita de um corpo de conhecimentos que não seja so-mente o “saber fazer”, mas também: compreender o judô,enquanto arte e objeto de trabalho, e compreender o judoca– no que se refere a suas diferentes escolhas, fases dedesenvolvimento, objetivos com a prática, entre outros.

Para perspectiva deste trabalho, o judô, enquanto mo-dalidade esportiva será classificado pela ótica da praxiologiamotriz, como modalidade sócio motriz, ou seja, que as inte-rações entre os adversários é constante e determinante paraas ações escolhidas em situações práticas (PARLEBAS,2001; RIBAS, 2002). Desta forma, o fator “tomada dedecisão - tática” é condicionante em relação à evolução edesempenho. Por este motivo, os métodos tradicionais doprocesso de ensino-aprendizagem-treinamento no judô deixampossíveis lacunas, que por meio da pedagogia complexapoderão ser abordadas e possivelmente sanadas em relaçãoà formação dos judocas.

Partido desta caracterização do judô, enquanto modali-dade sócio motriz, o foco deste método é desenvolver nojudoca a “inteligência de jogo”, descrita por Garganta (1997)como a capacidade do jogador de perceber as alterações doambiente e se adaptar rapidamente a elas, no caso do judô,pode-se chamar de “inteligência para a luta”. Desta forma,desenvolver pré-requisitos técnicos e táticos por meio de um

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método hierárquico e racional para que o mesmo escolha asações técnicas e táticas que lhe sejam pertinentes e possíveisde executar.

Neste sentido, duas concepções, originalmente adotadasem modalidades coletivas dão suporte à pedagogia complexano judô enquanto método, sendo estas a periodização tática,baseada no pressuposto teórico do método de jogos condicio-nados (GARGANTA, 1997) e o método situacional (GRECO,1998) ambas ressignificadas e testadas ao longo de anos emsituações práticas com diferentes judocas.

Não obstante, a proposta se baseia em publicações daliteratura nacional e internacional, que serviu como basepara a escolha dos meios e métodos utilizados. Dentre estas,a obra “Judô: desempenho competitivo” (FRANCHINI, 2001),que traz uma caracterização da modalidade, principalmenteno alto rendimento, que permitiu traçar as primeiras linhasdesta pedagogia.

Outro ponto que permitiu a discussão e elaboraçãodeste trabalho foi a testagem de propostas de treinamento,principalmente da escola Russa como as obras de Matveev(1996 e 1997), Platonov (2004 e 2008), Filin (1996), Zakharove Gomes (1992) e Verkhoshanky (2001), que foram determi-nantes para estabelecer uma relação dialética entre as de-mandas da modalidade (FRANCHINI, 2001) e como formatarum processo de treinamento que conduzisse o judoca acaracterística desejada.

No entanto, do ponto de vista técnico e tático, princi-palmente se tratando de judocas iniciantes e em formação,foi identificado que outras informações seriam necessárias

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para a elaboração de um método de ensino-aprendizagemque convergisse e possibilitasse o desenvolvimento dos ju-docas de acordo com as características apresentadas poratletas da elite da modalidade, apresentado nos trabalhosCalmet e Ahmaidi (2004), Calmet et al. (2006), Franchini etal. (2008) e Lech et al. (2007).

Partindo destas inquietações, buscou-se meios paradesenvolver no judoca a capacidade de imprevisibilidade,como apontado anteriormente, quanto mais possibilidadesde atacar, sobretudo, quanto mais direções de ataque, maiora possibilidade de alcançar sucesso em um ataque e semanter no alto-nível (CALMET et. al., 2006; FRANCHINI etal., 2008).

É fato, que por muito tempo resultados em nível inter-nacional foram obtidos por atletas brasileiros submetidos aométodo tradicional, porém, ao observar a dinâmica dacarreira dos mesmos, nota-se uma relação altíssima com aespecialização e treinamento precoce, no qual, sete de oitoatletas entrevistados relataram cargas de treinamento su-periores a 15 horas semanais antes de completar 12 anos deidade (OLIVIO JUNIOR, dados não publicados).

Porém cabe cautela ao analisar a carreira apenas destesatletas, pois uma divergência é encontrada nos estudos deMassa (2010) e Cavazani (2012) que demonstram que osresultados competitivos nas classes iniciais e elevadas quanti-dades de treinamento nestas etapas como não sendo deter-minantes para o sucesso nas classes adultas.

Segundo Cavazani (2012), apenas 5,8% dos judocasque conquistaram resultados nas classes inferiores (9 e 10anos) em campeonatos paulistas conseguiram se manter

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constantemente entre os melhores do estado nos anos sub-sequentes e Massa (2010) indica que 83,3% dos judocasolímpicos brasileiros, nos jogos de Atenas 2004, não foramtalentos precoces. Desta forma, o processo de ensino-aprendizagem, sobretudo com judocas jovens, deverá ter umenfoque qualitativo, que oferte estímulos adequados para odesenvolvimento em longo prazo e não com foco nos resultadoscompetitivos nas classes jovens.

Para atender os aspectos, tanto da formação esportivapara o longo prazo, quanto das características técnicas etáticas do judô competitivo, das quais consideramos determi-nantes: a) tática: entendido neste trabalho como tática indi-vidual e “tomada de decisão” em relação às situações de lutae; b) imprevisibilidade de ações: entendido como a variabilidadede opções de ataque (repertório técnico) provocando a incertezano adversário. Encontrou-se em dois métodos, originalmentedesenvolvidos para modalidades coletivas, a possibilidaderesponder a estas demandas. Sendo estes: o método situacionalde Greco (1998) e a periodização tática, a qual, neste trabalho,será remetido como fonte Garganta (1997).

Ao tentar aplicar este método, foi encontrado um novoponto de ajuste, pois havia ainda um paradigma do judô, noqual consideram-se técnicas, os golpes em pé e no solo, e assituações propostas em treinos eram baseadas somente paraestas tais técnicas. Buscando na literatura, nas observaçõespráticas e no debate com técnicos de diferentes níveis brasi-leiros e de outros países, como Japão, França, Alemanha,Bélgica e Canadá, uma nova linha de raciocínio começou aser traçada, sendo esta: como tornar o judoca mais efetivo nosataques, rompendo com o modelo tradicional brasileiro quepreconiza a repetição de gestos, com alto volume de repetições.

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Analisando o trabalho de Drigo (2007), nota-se umacaracterística no judô nacional de baixa eficiência, ou seja,aplicação de ações em pé sem a real intenção de projetar,buscando penalidades em detrimento da pontuação e oucondução da luta para o solo. Esta característica fica evidenteao observar o trabalho de Olivio Junior (2010), que apresentamuma relação muito baixa entre técnicas executadas e técnicasque geram pontuação nas classes juvenis no campeonatopaulista de 2008, sendo que 17% das ações geraram pontuaçãopara os vencedores e apenas 2% para os derrotados.

Inicialmente, buscou-se maneiras de tornar os atletaseficientes, ou seja de produzir ações mais determinantes naluta em pé, que pontuem ou conduzam a luta ao solo.Partindo destes questionamentos, ao observar competiçõesinternacionais sênior e de categorias de base (OLIVIO JUNIOR,anotações pessoais), sobretudo, a conduta dos atletas demaior êxito e o tipo de orientação que os técnicos ofereciama estes, um novo ponto de vista passou a ser desenvolvido,que para tornar o atleta mais eficiente, seria necessáriofragmentar a luta em unidades funcionais (OLIVIO JUNIORet al., 2015), para que pudesse tanto identificar falhas noprocesso de aplicação de golpes, quanto para criar situaçõespadrões que atendessem cada uma das fases da luta.

Ponto que corrobora com a criação das unidades fun-cionais, são os trabalhos feitos com análise de lutas nacionaise internacionais (MIARKA et al., 2012; MIARKA, 2014;MIARKA et al., 2014), que classificam a luta em cincomomentos: aproximação, pegada, situação ataque e defesa,luta de solo e pausa. Estas etapas descritas são importantespara a compreensão dos fatores técnicos e táticos inerentesà competição de judô, bem como para entender o fluxo de

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ações que ocorrem na luta, devido à inter-relação entre cadauma das fases.

Partindo destas informações, buscou-se sistematizar apedagogia complexa, no intuito de responder as questõesregistradas e observadas, pedagogia que vem sendo testadana prática e alguns aspectos desta aplicação serão trazidos àtona ao decorrer dos próximos capítulos.

Pois, ao analisar a modalidade, pode-se inferir que ainterferência contextual no ambiente de aprendizagem eaplicação é alta dentro do judô, remetendo-nos a buscar umplano metodológico que contemple todos esses quesitos dedesenvolvimento dos indivíduos e também em relação aodesenvolvimento do judô.

Desenvolver ações próximas ao contexto real e àscaracterísticas apresentadas pode ser determinante naaprendizagem e aquisição de habilidades, visto que, aotrabalhar com variações de prática e contexto é um dosfatores primordiais para obtenção de sucesso em transfe-rências futuras, conseguindo fazer com que o praticanteexecute o que aprendeu em situações diversas e com mu-danças constantes. (MAGILL, 2000).

A interferência contextual é um fator que vem mos-trando ter grande importância dentro do ambiente de iniciaçãoe direcionamento do judô, principalmente quando atrelamosa modalidade à classificação da praxiologia motriz como jáapontado, pois as interferências causadas pelo adversário naprática da modalidade são inúmeras. Sendo as ações realizadasnestes momentos, resultado de situações de aprendizagemconstante do praticante. Logo, é necessário traçar um planometodológico e estruturação da prática que contemple estas

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questões, pois a versatilidade de prática, interferênciacontextual assim como os seus níveis e também os tipos deprática são os fatores primordiais num processo de aprendi-zagem quando trabalhado de forma objetiva e correta.(SCHIMIDT E WRISBERG, 2001; MAGILL, 2000; UGRINO-WITSCH E MANOEL, 2005; CORREA, 1997).

Outro ponto de reflexão está relacionado na importânciade uma pedagogia específica ao judô, que se deu mediantea leitura de “Memórias de Jigoro Kano: o início da história dojudô” (WATSON, 2012), livro que traz uma reflexão sobre osvalores que o judô deve trazer a sociedade, por este fato,embora este trabalho vise o desenvolvimento esportivo,acredita-se, como o professor Jigoro Kano, que um processoconduzido com sabedoria, ética e responsabilidade pelossenseis, ofertará ao praticante de judô tanto uma formaçãofísica quanto social em busca de sua “liberdade”, seja estecompetidor ou não.

Para finalizar, duas obras complementam este trabalho,os livros “Kodokan Judô” (1986) e “Uma abordagem Didacticado Judo: ideias e sugestões de trabalho” (VELOSO et al.,2010), foram utilizados como norteadores de termos e de-finições das nomenclaturas em língua japonesa, sendo que agrafia escolhida será baseada nestas duas obras.

Iniciamos a seguir uma descrição dos princípios meto-dológicos da pedagogia complexa, a qual se incide em cincopilares, sendo necessária a compreensão de todos para aaplicação plena do método, uma vez que se inter-relacionamenquanto meio para atingir a pedagogia complexa, sendo estes:

1 - As unidades funcionais da luta como norteadores doprocesso;

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2 - O método situacional como forma de ensino-apren-dizagem-treinamento;

3 - A tática como objeto central da aprendizagem e dotreinamento;

4 - A progressão espiral do processo de ensino-apren-dizagem-treinamento e;

5 - As questões éticas e culturais envolvidas no processode formação humana.

3.1. Unidades funcionais da luta como norteadores doprocesso

A luta de judô é composta de diferentes momentos,contendo nestes momentos, inúmeras possibilidades deações, que podem ocorrer em diferentes planos. A complexi-dade da luta de judô se dá pelas possibilidades de variáveisem que uma ação ou intenção técnica e tática pode sedesdobrar. Neste sentido, para uma melhor compreensão daluta e consequentemente para a elaboração de um processopedagógico para ensino-aprendizagem-treinamento queresponda a esta complexidade é necessário uma análise dasunidades funcionais da luta.

Por Unidades Funcionais (OLIVIO JUNIOR e DRIGO,2015; OLIVIO JUNIOR et al., 2015) entende-se: pequenasunidades que compõem o todo da luta, sendo estas unidadesidentificáveis e quantificáveis, ou seja, tem claramente um “mo-mento início” e um “momento fim”, tendo função determinantepara as unidades subsequentes. Entende-se ainda que unidades

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funcionais podem ser treinadas e desenvolvidas tanto individual-mente quanto em um relação complexa com outras unidades.

Antes de adentrar as unidades funcionais propriamenteditas, cabe resgatar alguns pontos referentes à divisão peda-gógica do treinamento técnico no judô.

Logo, a abordagem complexa aponta para o ensino-aprendizagem-treinamento das técnicas baseadas nos dife-rentes momentos que se apresentam na luta. Desta forma,alguns questionamentos são pertinentes para compreender ométodo, sendo assim, ao observarmos uma luta de judô emquantos momentos podemos dividi-la?

No que tange aos aspectos técnicos da execução deum golpe vem logo à mente a divisão: kumi-kata - kuzushi -tsukuri - kake ou pegada - desequilíbrio - execução - projeção,apresentado largamente no ensino das técnicas, porém, paranortearmos um processo de ensino-aprendizagem-treina-mento eficiente somente atentarmos estes aspectos é suficiente?Voltando ao ponto de que o judô por ser uma modalidadeaberta, que proporciona variadas possibilidades para a exe-cução de uma única técnica em situação de luta, seria estadivisão pedagógica relativamente incompleta?

Ou ainda, pode-se afirmar que um processo de ensinoque contemple apenas estes aspectos, poderá refinar a habi-lidade a ponto de utilizá-la em situação de combate aberto eimprevisível?

Algumas soluções são propostas em aulas e treinamento,porém será buscado aqui sistematizar as ações por meio deuma divisão pedagógica da luta. Fazendo um resgate dealgumas propostas observadas, chama-se a atenção para aproposta do medalhista Olímpico e técnico de judô de nível

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internacional Douglas Vieira, que no seu caderno didático(VIEIRA, s.d.), inseriu neste sistema o aspecto “movimentaçãode oportunidade”, que consiste na criação ativa ou passivapara uma aplicação de golpe que se dá após a pegada eantes do desequilíbrio, configurando os aspectos da questãotécnica conforme a figura 1.

Figura 1: Configuração da técnica no judô

A inserção da “movimentação de oportunidade” nosistema de ensino-aprendizagem-treinamento da técnica dejudô é um importante aspecto devido à característica damodalidade, uma vez que a execução de uma técnica emsituação de luta se dará mediante a uma resistência externaativa do adversário, sendo que a “oportunidade” poderásurgir de quatro maneiras sendo:

a) passiva, uma movimentação na qual o adversário secoloca em posição adequada para a realização de um golpe;

b) ativa, o posicionamento do adversário é criado pelotori por meio de ações de controle como puxar, empurrar ebalançar o adversário;

c) reativa, por meio de uma ação de reação do adver-sário, por exemplo o tori empurra com a intenção que o ukeresista e empurre de volta se desequilibrando para frenteoportunizando a aplicação e;

d) combinada, na qual o atleta cria a oportunidade deexecutar uma técnica alvo por meio de uma técnica depreparação ou aproximação.

PegadaMovimentação

deoportunidade

Desequilíbrio Execução Projeção

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Esta questão deve ser atentada na elaboração dassessões de judô pelos técnicos e instrutores, pois, os aspectosda movimentação de oportunidade tem papel importante naaquisição técnica e tática do judoca, lhe permitindo aperfeiçoaras ações que já executa em situações fechadas, levando aação técnica a uma situação mais contextualizada. Porém,ao atentarmos a situações competitivas ao longo dos anos,em particular dos atletas por nós orientados e observando asorientações que outros técnicos realizam aos seus atletas emcompetições, presume-se que há uma necessidade de evoluireste modelo de ensino-aprendizagem-treinamento no judô.

Sendo a luta de judô um sistema mutável e dinâmico,no qual há um fluxo de ações ocorrendo a cada instante ouestímulos da luta, gerando respostas e adaptações entre osadversários (CALMET e AHMAID, 2004). E sabedores queuma maior variabilidade técnica e tática é condição de su-cesso competitivo (CALMET e AHMAID, 2004; CALMETet al., 2006; FRANCHINI et al., 2008; WEERS, 2015),torna-se necessário uma abordagem pedagógica que con-temple estes aspectos.

Para tal fim, é necessário compreender a dinâmica docombate de judô, neste sentido, Franchini (2006) apresentaum modelo com uma sequência lógica do combate da luta dejudô, apresentado na figura 2 abaixo na qual apresenta aspossíveis situações que poderão ocorrer em uma luta. Nestalinha Miarka (2010) apresenta parâmetros para análise deuma luta, na qual estrutura a luta em cinco fases distintas,sendo estas: aproximação, pegada, situação de ataque, lutade solo e momento de pausa. Sendo que ações de uma fasetendem a determinar o fluxo de ações nas fases seguintes(MIARKA et al., 2012).

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Figura 2: Modelo de combate de judô (adaptado de Franchini, 2006).

Uma vez conhecedores da complexidade da luta dejudô e dos fatores que podem determinar o sucesso competitivo,bem como as possibilidades que poderão ocorrer em umasituação de luta (FRANCHINI, 2006) o processo de ensino-aprendizagem-treinamento deverá abordar estas característicadesde a iniciação no esporte até as fases de competição ealto rendimento. Sendo assim, será apresentado uma divisãopedagógica da luta de judô, baseada em unidades funcionais,o que permitirá uma abordagem complexa da modalidade.

As unidades funcionais aqui apresentadas serão divididashierarquicamente sendo inicialmente em quatro momentos,sendo estes momentos diluídos em oito unidades funcionais, apartir destas unidades serão 23 subunidades e estes diluídos em48 microunidades que permitirão as ações técnicas específicas.

Apresentaremos a tabela das Unidades Funcionais demaneira vertical, para melhor compreensão, apresentandoinicialmente os momentos, subsequentemente as unidades,subunidades e microunidades.

Desequilibrar o adversário

Aproximação Kumi-kata

Com vantagem Com desvantagem Impede a movimentação

Movimentação Pegada desligada

Não Pretendida

Não Sim

Ataque em

Contra- Projeção Completo (Ippon)

DefenderIncompletoProjeçãoSem

Em Luta de Domínio ouSem domínioCompleto Incompleto Atacar

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No que tange aos momentos, a divisão consiste quatrodiferentes momentos, sendo estes: pré-contato, controleem pé, controle em transição e controle no solo, conformeFigura 3: Unidades funcionais da luta de judô: momentos.

Figura 3: Unidades funcionais, momentos da luta.

Por pré-contato entendem-se todas as ações queocorrem na luta sem que os atletas estejam se tocando,podendo ser no início da luta, no reinício ou com o desligamentode pegadas, acreditamos que este momento é o mais negligen-ciado nos processos de ensino-aprendizagem-treinamento,porém uma ênfase qualitativa neste processo poderá determinarsucesso no fluxo de ações dos momentos subsequentes. Abordareste momento durante as aulas e treinamentos, pode terrelação de transferência de habilidades de outras modalidadesesportivas para o judô e do judô para outras modalidadesesportivas, sendo este ponto corroborado por técnicos de sucessono Brasil (OLIVIO JUNIOR e PEROTTI JUNIOR, 2008).

Por Controle em pé, entende-se todas as ações queocorrem após o contato inicial até que um dos atletas vá aosolo sem possibilidade de retornar a luta em pé imediata-mente, normalmente este aspecto é o mais atentado nasaulas e treinamentos.

Por Controle em transição considera-se todas asações que ocorrem após o desequilíbrio, consequentementea queda ou defesa da queda e a dinâmica que ocorre antes

Unidadesfuncionais daluta de judô

Momento Pré-contato Controle emtransição

Controle em pé Controle nosolo

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de iniciar a luta de solo em si, acredita-se que neste momen-to ocorre uma disputa entre os indivíduos para se colocar emsituação de vantagem ou defesa para a luta de solo. Acredi-tamos que este momento deva ser melhor atentado, uma vezque a ocorrência de lesões, principalmente em adolescentese adultos ocorrem durante a projeção (STERKOWICZ, 2015)ou após serem projetados (JAMES e PETER, 2015). Relacio-nado ao aspecto competitivo, este momento é determinantepara a sequência da luta no solo.

Finalmente por Controle no solo são as ações queocorrem após a dinâmica da disputa durante o controle detransição, o que caracteriza a luta de solo.

A importância de conhecer os diferentes momentos naestruturação de treinos e aulas se dá devido ao fluxo da luta.Para ilustrar tal fato, cabe relatar que ao observar atletas dabase da seleção brasileira* (classe sub18 e sub 21) comgrande capacidade técnica na luta em pé e na luta de soloem competições na Europa, acabavam sendo derrotadas porataques nas primeiras pegadas ou por imobilizações, princi-palmente imobilizadas pela posição de sankaku.

Esta ocorrência se dava devido à falta de treinamento nopré-contato, ou seja, antes da realização da pegada, nos quaisas atletas europeias atacavam ao mesmo tempo em que toca-vam no judogi prejudicando o fluxo de luta das brasileiras,não oportunizando as mesmas a chance de atacar na luta em pé.

Em relação ao sankaku, o problema detectado pelacomissão técnica não residia no controle do solo, mas sim,durante o controle em transição, momento no qual as

*. Realizadas em etapas do circuito mundial sub18 e sub21, vídeos 2010,2011, 2012 e 2013 e in lócus 2014 e 2015.

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atletas europeias intencionalmente se colocavam em condiçãode vantagem quando as brasileiras tentavam defender os ata-ques em pé, possibilitando a execução da técnica de formadinâmica, sem oportunizar a defesa (OLIVIO JUNIOR, sd).

A comissão técnica do Brasil buscou formas de corrigiras situações, inicialmente atentando ao Pré-contato, orien-tando e treinando as atletas nacionais para mudar a posiçãodas mãos e braços antes de estabelecer contato na luta empé e focando atenção para o Controle em transição,estabelecendo possibilidades de defesa e contra-ataque, antesde iniciar a luta de solo em situação de desvantagem peranteas atletas europeias, estes ajustes embora não mensurados,mostraram ser eficazes no que tange ao desempenho dasatletas do Brasil, conforme observado pela comissão técnica*.

Este exemplo foi utilizado, para remeter a questão dosistema tradicional priorizar os momentos controle em pé econtrole no solo em detrimento ao pré-contato e aocontrole de transição sendo que no processo de ensino-aprendizagem-treinamento estes momentos não podem sernegligenciados. Tanto relacionado à questão do desempenhocomo a questão de um trabalho preventivo de lesões uma vezque a maioria das lesões ocorre nas trocas de pegada (pré-contato) e durante as quedas e defesas de quedas (controlede transição) (STERKOWICZ, 2015; JAMES e PETER, 2015).

Destaca-se a divisão da luta em momentos se dá apenaspor questões pedagógicas, porém, deve-se ressaltar que osmomentos são ligados e que um influencia e é influenciadopelo outro. Ao avançar para o próximo nível da tabela de

*. Observações realizadas com as técnicas Andrea Berti e Danuza Shira, nascompetições do circuito mundial sub18 e sub21 feminino.

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Unidades Funcionais, nos quais os momentos são diluídosem oito unidades funcionais, que são apresentados nafigura 4: Unidades funcionais: Nível 2. Destaca-se aqui quealgumas Unidades Funcionais estão relacionadas a um oudois momentos diferentes, isto ocorre devido à dinâmica daluta de judô ser extremamente complexa e rápida.

Obs: o traço contínuo representa relação direta entre o momento e a UF,enquanto o tracejado representa uma relação indireta.

Figura 4: Unidades Funcionais: Nível 2.

Para elucidar as Unidades Funcionais (UF) atentemosao momento “Pré-contato”, tal momento divide-se em duasUF, sendo a primeira, é exclusiva deste momento, a “apro-ximação” que consiste em todas as ações que ocorrem naluta entre o comando para iniciar “hajime” até o momentoem que os atletas se tocam com uma ou ambas as mãos.Muitas vezes a movimentação de deslocamento frontal oulateral executada pelo judoca em direção ao oponente éconhecida como shintai, porém acreditamos que o termoaproximação se adequa melhor em relação à UF.

Em relação ao “contato”, consideramos todas asações que se relacionam diretamente com o tocar no corpo

Unidades

Ap

roximação

Contato

Criação de

oportunidade

Desequilíbrio

Aplicação

Projeção

Transição

Luta noS

olo

Unidadesfuncionais daluta de judô

Momento Pré-contato Controle emtransição

Controle em pé Controle nosolo

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do adversário, seja este com estabelecimento de pegada ounão, o fato de bloquear uma ação do adversário é consideradoaqui como contato, diferindo-se da definição de kumikata.Esta UF tem relação indireta com o momento Pré-contato edireta com o momento controle em pé.

Estas duas UF merecem atenção especial no processode ensino-aprendizagem-treinamento de judô, uma vez que acaracterística da modalidade é a intermitência das ações(RIBEIRO ROSA, 2008; CASTARLENAS e PLANAS, 1997;STERKOWICZ e MASLEJ, 1998; SIKORSKI et al., 1997;MARKON, 2010), ou seja, durante a situação de competiçãoa luta é interrompida inúmeras vezes devido aos mais diferentesmotivos, como por exemplo, saída de área, penalizações,ataques sem sucesso, ataques e continuação no solo sem sucesso.

Neste sentido, a questão de como se aproximar e comorealizar o contato com o adversário é determinante para acontinuidade e o fluxo das ações que serão realizadas posterior-mente uma vez que a configuração da pegada tem relação comas ações realizadas (KAJIMOVIC, 2014). Pois uma aproxi-mação e um contato que coloque o judoca em desvantagem napegada pode levá-lo a sofrer uma pontuação ou punição porficar em situação defensiva, ou ainda, ser levado a uma situaçãode desvantagem para a luta de solo como descrito acima.

Outro ponto a destacar é que quando colocado em si-tuação de desvantagem o judoca necessita de um grandedispêndio de energia para se colocar novamente em situação devantagem perante o adversário, podendo assim executar suasações. Esta dinâmica intermitente esta presente tanto em lutasdas classes sênior (RIBEIRO ROSA, 2008; CASTARLENASe PLANAS, 1997; STERKOWICZ e MASLEJ, 1998; SIKOR-SKI et al., 1997; MARKON, 2010), quanto nas classes maisjovens (OLIVIO JUNIOR et al., 2009; OLIVIO JUNIOR, 2010;

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DEVAL et al., 2008). Logo, acreditamos que esta característicadeve ser abordada nos treinos técnicos, bem como nostrabalhos com randori, ou seja, estabelecer uma dinâmica naqual os judocas por diversas vezes necessitarão se desligar doadversário, para novamente aproximar e estabelecer contato.

Com um trabalho intermitente e direcionado a questãode como se aproximar do adversário e consequentementecomo buscar o melhor contato para a realização de seusgolpes o judoca desenvolverá um repertório de configuraçõesde pegada que lhe permitirão criar incertezas no adversárioem relação as suas ações (WEERS, 1997) facilitando o de-senvolvimento das unidades funcionais subsequentes.

Por criação de oportunidade entende-se todas asações que o judoca executa com o intuito de desequilibrar(LEHMANN, 1984) para projetar ou levar ao solo o adversárioem situação de vantagem. Esta UF, tem relação direta com omomento de controle em pé, porém é influenciado pelosduas UFs anteriores, uma vez que, se a aproximação e ocontato forem realizados de maneira insatisfatória, a criaçãode oportunidade poderá se restringir apenas a contra-ataquesou ainda uma nova disputa para estabelecer uma configuraçãode pegadas que permita criar a oportunidade.

Neste sentido, cabe refletir sobre estes três primeirosprincípios, pois é por meio destes que uma situação deaplicação dos golpes em pé serão possibilitados, ou seja,uma dinâmica estabelecida para se criar uma “janela deoportunidade” para a execução de um ataque. Conformeesta dinâmica, pode-se afirmar que quando se obtém umaaproximação e consequentemente um contato satisfatório acriação da oportunidade é facilitada, porém quando os duasprimeiras UFs não propiciam oportunidade de um ataque, oatleta é conduzido a duas possíveis situações, sendo uma assumiruma postura defensiva ou tentar estabelecer-restabelecer

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uma situação que lhe permita a criação de uma oportunidade.Conforme figura 5: Dinâmica da criação da oportunidade.

Figura 5: Dinâmica da criação da oportunidade

Por desequilíbrio, pode-se entender o Kuzushi citadoanteriormente, como uma UF, localiza-se na sequência peda-gógica após, ou durante, a criação de oportunidade. Salien-tamos que a criação da oportunidade e o desequilíbrio sediferem enquanto UF, pois considera-se o desequilíbrio omomento em que a estabilidade dos pontos de apoio doadversário no solo é perturbado, projetando o centro degravidade para fora da plataforma de sustentação criada nosolo, enquanto a criação da oportunidade se caracteriza peloconjunto de ações realizadas para que se possa induzir oadversário para uma situação que permita ser desequilibrado.

Para situar o leitor, nesta diferenciação, em uma situaçãode disputa de pegadas, na qual o tori está em desvantagem,a movimentação para se colocar em vantagem – condiçãopara executar um golpe - seja esta por meio da movimentaçãodo membros inferiores, superiores, a combinação dos dois oucom ações complexas como técnicas de ashi-waza, configuracomo a criação da oportunidade, o desequilíbrio se dá após acriação da oportunidade ou concomitante.

Por aplicação, entende-se o tsukuri enquanto fase dodesenvolvimento da execução do golpe de projeção após o

Movimentaçãode oportunidade

Buscar avantagem no

kumi-kata

Assumir umapostura

defensiva

Cortar ocontato

Desvantagem nokumi-kata

Vantagem nokumi-kata

Aproximação ContatoJanela de

oportunidade

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desequilíbrio, também traduzida por “fase aérea do golpe”,normalmente está relacionada com a ação que se dá mediantea retirada de um ou os dois pés do chão pelo tori. Nestesentido, é imprescindível que o uke esteja desequilibradopara que a execução seja mais eficaz e com menor chancede contragolpe. Consideramos que o judô brasileiro careçade atentar para a efetividade dos ataques realizados, poisconforme Drigo (2007) os atletas brasileiros de nível olímpicotendem a realizar menos ações determinantes - técnicas empé que originem pontuação ou que levem o adversário a umaposição de desvantagem - do que seus adversários, deixandoa dinâmica da luta menos eficiente. Este dado encontraaprofundamento nos achados de Olivio Junior (2010) queverifica que atletas da classe juvenil, apresentam um total de17% de eficiência de ações para os atletas que vencem as lutas.

Por projeção, entende-se o kake, ou seja, todas asações realizadas após a aplicação do golpe até o uke chegarao solo. Como citado anteriormente, é observado baixaefetividade nos golpes de atletas brasileiros (DRIGO, 2007;OLIVIO JUNIOR et al., 2009; OLIVIO JUNIOR, 2010). Éfato que, em sessões de treinamento nas quais os atletasrealizam muitas quedas pode se tornar desconfortável, nestesentido, outras estratégias para minimizar os riscos relacio-nados ao impacto podem ser adotadas, dentre estas o uso decolchões, ou o uchi-komi de força com um terceiro parceirorealizando resistência. Porém, acreditamos que o número deprojeções deverá ser maior que o usual, sendo mais próximoao número de aplicações, uma vez que a mecânica da projeçãoe consequentemente a finalização do golpe difere-se da suarealização apenas “encaixando” ou “carregando”. Quando ojudoca faz a projeção cria e encontra mecanismos que possi-bilitem ajustar seu golpe durante a situação de luta.

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Por Transição se entende todas as ações que ocorremapós a aplicação, durante a projeção e antes de iniciar a lutade solo. Todas as ações realizadas para estabelecer situaçãode vantagem - possibilidade de atacar no solo - ou de proteção- defender-se de um possível ataque no solo do adversário(WEERS, 2015; MIARKA et al., 2010).

Quando a transição é realizada de maneira insatisfa-tória, a possibilidade de ser derrotado na luta de solo é maior(WEERS, 2015). Conforme relatado anteriormente, a comissãotécnica da seleção brasileira de base vem apontando estedéficit há anos em diferentes atletas. Corroboram com estaconstatação, a análise de lutas da seleção japonesa femininasub 21, em uma competição europeia, na qual conquistouseis medalhas de ouro e duas de bronze com oito atletas, denove lutas analisadas aleatoriamente, sete destas lutas foramterminadas no solo, em todos os casos o ataque no solo foirealizado em sequência de um golpe em pé e na mesmaposição de pegada de pelo menos uma das mãos (OLIVIOJUNIOR, s.d.), ou seja, o controle durante a transição entre aluta em pé e a luta de solo foi determinante para a eficiência.

A luta no solo consiste em todas as ações realizadas apósa projeção e a transição, neste caso, considera-se aqui, todasas ações realizadas com a intenção de imobilizar ou provocara desistência do adversário por meio de estrangulamentos echaves de articulações. Para diferir as unidades transição e lutano solo, entende-se que durante a transição é possível pontuarpor meio de uma queda, enquanto a luta de solo se configuraa partir do momento em que não é mais possível se estabeleceruma pontuação em pé, apenas pelas ações supracitadas.

No próximo nível das unidades funcionais, será abor-dado as subunidades (SUF), neste caso, consideramos queum judoca quando encontra-se em fase de direcionamento

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esportivo (PLATONOV, 2004; PLATONOV, 2008; FILIN, 1996),deverá ter contato com estas unidades constantemente e demaneira espiral para contribuir a construção da sua táticaindividual e consequentemente dos seu repertório técnico.São apresentadas a seguir 29 subunidades, na figura 6 queserão descritos individualmente.

Obs: o traço contínuo representa relação direta entre os níveis, enquantoo tracejado representa uma relação indireta, leg; inc: Incompleta

Figura 6: Unidades Funcionais: Nível 3: subunidades

A UF de aproximação se subdivide em três SUF sendo estas:

- aproximação ativa, situação na qual o tori toma a ini-ciativa de se aproximar do uke, invadindo seu espaço de domínio;

- aproximação passiva o tori aguarda o uke dentrode sua base de equilíbrio, permitindo que o mesmo invadaseu espaço de domínio;

Ofensiva

Defensiva

Engajam

entoativo

Engajam

entopassivo

Intencionalprovocada

Sem

contato

Incompleta com

desvantagemIncom

pleta comvantagem

Incompleta

Com

pleta

Direita

Com

binada

Reativa

Direto

Passivo

Ativa

Passiva

Lado contrário

Mesm

o ladoN

ão ortodoxo

Passiva

Com

plexa

Ativa

Ap

roximação

Contato

Criação de

oportunidade

Desequilíbrio

Aplicação

Projeção

Transição

Luta noS

olo

Unidadesfuncionais daluta de judô

Pré-contato Controle emtransição

Controle em pé Controle nosolo

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- aproximação complexa, quando a aproximaçãoocorre concomitantemente ao contato e a criação de opor-tunidade.

Ao atentar estas SUF em treinamento, permitirão aojudoca agregar ao seu repertório técnico e tático, ações quedificultarão a aproximação do adversário bem como tornarãomais incerto a forma como vai se aproximar do mesmo.Desta forma, o judoca poderá criar uma gama de possibili-dades para que a realização do contato seja produtiva a ele,facilitando o controle do espaço entre os mesmos. Conse-quentemente, quem controlar primeiro e melhor terá vantagemem relação ao adversário para poder propor a luta conformelhe for conveniente.

Após as diferentes formas de se aproximar do adversáriovem as diferentes possibilidades de estabelecer contato, enas SUF elencou-se quatro diferentes formas, sendo estas:

- complexo: conforme descrito acima, acontece con-comitante a aproximação;

- não ortodoxo: este tipo de contato ocorre quandoao estabelecer contato o judoca utiliza-se de configuraçõesde pegadas que não as convencionais, ou seja, com umadas mãos na manga e a outra mão na gola, sendo que aspossibilidades de contatos não ortodoxos estarão descritosnas microunidades;

- mesmo lado: ocorre quando o contato estabelecidopelos judocas se dá com a mesma configuração, ou seja, seambos são destros, a mão direita de ambos buscará contatocom a gola esquerda enquanto a mão esquerda buscaracontato com a manga direita do oponente;

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67PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ

- lado contrário: a configuração exatamente contrária,ou seja enquanto um busca a gola direita o outro busca a golaesquerda e consequentemente as mangas contrárias.

O estudo e o treinamento da forma de se aproximarbem como de estabelecer contato com o adversário, mereceatenção especial nas sessões de judô, pois cabe ressaltar queocorrem muito mais disputas de pegada, devido à intermi-tência da luta, do que aplicação de técnicas que geram pontos.Neste caso, um judoca que muitas vezes não consegue aplicargolpes na luta em pé, provavelmente careça de ajustes nestasunidades funcionais, tendo em vista que a forma que realizao contato tem relação com os golpes aplicados (KAJIMOVICet al., 2014; MIARKA et al., 2010).

Subsequentemente e após o estabelecimento do contato,as SUF a serem abordados tangem a criação da oportunidade,neste caso, considera-se que esta pode ser:

- complexa: conforme descrito anteriormente, temrelação direta com a aproximação e o contato, ou seja, nomomento que se aproxima do adversário e estabelece ocontato já é criada a oportunidade, para exemplificar seria o“pegar e entrar”, neste caso não há uma movimentaçãoentre os judocas, mas a aplicação imediata de um golpe.

- passiva: ocorre quando, após o contato, o atletaaguarda a movimentação do adversário para a execução desua ação, ou seja, aguarda “o tempo certo” para executar asua entrada;

- ativa: que se dá por meio da execução de movimentoscom a intenção de posicionar o adversário de uma formaadequada e que ofereça menos riscos para aplicação de umgolpe em pé;

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JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO68

- reativa: que se dá mediante a reação de um adver-sário ao se deparar com a ação do outro, normalmenteassociado à finta, ou engajamento de técnicas.

Como ponto de destaque destas SUF, está a relaçãodinâmica que ocorre na luta, uma vez que ambos estarãotentando estabelecer uma “janela de oportunidade” paraprojetar o adversário. Neste sentido, remetemos as SUF ante-riores, quando a aproximação e o contato são realizados parase colocar em vantagem em relação ao adversário, consequen-temente a criação da oportunidade estará facilitada, uma vezque um contato em desvantagem torna necessário o dispêndiode energia para reestabelecer uma situação de vantagem ouainda para executar uma postura ou ações defensivas.

Logo, acredita-se que o judoca que tem estas SUFsdesenvolvidas, será condutor da luta e consequentementeterá mais oportunidades para desequilibrar o adversário, sendoque o desequilíbrio poderá ocorrer de três maneiras, sendo estas:

- passivo, que se dá quando a o deslocamento docentro de gravidade do adversário ocorre devido a sua própriamovimentação, normalmente associado à criação de oportu-nidade passiva;

- ativo, que ocorre por meio de uma ação de desloca-mento do centro de gravidade em direção à movimentaçãoproposta pelo tori, por exemplo, no caso de um ippon-seoi-nage, o tori puxa o adversário para que o mesmo sedesloque para frente;

- reativo, que ocorre quando ao reagir para defenderou evitar uma ação do adversário para uma direção acabadeslocando o centro de gravidade para a direção contrária,normalmente associado à criação de oportunidade reativa.

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Cabe aqui novamente destacar que a criação deoportunidade e o desequilíbrio podem ser confundidos comoUnidade Funcional, devido à estreita relação entre uma uni-dade e outra, porém, se diferem enquanto conceito e aplicaçãoem treinamento. Para exemplificar será utilizado o golpeosoto-gari, hipoteticamente em atletas com lados opostos,um destro e um canhoto - kenka yotsu (WEERS, 1997) - acriação de oportunidade está no ato de se deslocar, ou deslocaro adversário, por meio de movimentação, finta, combinaçãode técnicas entre outros, para uma situação na qual é possívelaplicar o golpe, enquanto que o desequilíbrio consiste no atode deslocar o centro de gravidade do adversário para fora dasua base de sustentação, após ou durante a criação da opor-tunidade. Ou seja, sem criar a oportunidade, possivelmenteo desequilíbrio seria impedido devido à posição corporal, naqual neste caso a perna de apoio está distante do adversário.

No caso da aplicação, tsukuri, consideramos duas SUFspossíveis, a aplicação direta e a aplicação combinada, noentanto, cabe destacar que optamos por considerar 10 direçõesde aplicação de golpes, enquanto outros trabalhos propõemquatro (CALMET e AHMAID, 2004; CALMET et al., 2006;FRANCHINI et al., 2008). Para fins pedagógicos consideramosas direções como: laterais direita e esquerda, para frente epara trás, diagonais para trás direita e esquerda, diagonaispara frente direita e esquerda e as direções circulares horáriae anti-horária, As direções são consideradas a partir da pers-pectiva do uke, ou seja, consideramos a direção do golpe deacordo com o deslocamento do centro de gravidade emrelação a sua orientação, conforme a figura 7: Possíveisdireções de aplicação de golpes em pé.

Por aplicação direta considera-se a situação após a criaçãoda oportunidade, o judoca aproveitando o movimento de de-sequilíbrio do adversário realiza a ação na mesma direção do

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JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO70

deslocamento do centro de gravidade, enquanto a ação combi-nada, o judoca realiza um golpe na direção do deslocamento eum segundo golpe, após reação do uke para uma direção dife-rente configurando o engajamento de técnicas, ou ranraku-waza.

Para efeito de conceituação, a definição da SUF deaplicação combinada, se dá quando o primeiro golpe aplicadotem intenção real de projetar o adversário, porém a partir desua defesa, reação à primeira aplicação, é executado umsegundo golpe. Tal fato diferencia-se da criação de oportuni-dade por meio das fintas, situação na qual o tori executatotalmente ou demonstra que vai executar um golpe apenascom a intenção que o uke reaja para que ele aplique golpeem outra direção. Ou seja, a diferença da finta para oengajamento se dá mediante a intenção do tori.

Exemplificando esta situação utilizaremos do kouchi-garicomo o primeiro golpe e o seoi-nage como segundo golpe.Neste caso, se a realização do kouchi-gari se dá com intençãode projetar o judoca para trás ou para alguma diagonal paratrás provocando o desequilíbrio do mesmo, o que o obriga ase defender, reagindo para a direção contrária possibilitandoa aplicação do seoi-nage, configurando como aplicaçãocombinada, pois o primeiro golpe foi realizado com a intençãoreal de projetar o que gerou uma reação do uke possibilitandoo segundo golpe. No entanto, quando o primeiro golpe éexecutado sem a real intenção de projetar o adversário, ouseja, apenas para ludibriar, fintar e provocar uma reação quepossibilite a realização do seoi-nage considera-se a primeiraação como uma criação de oportunidade para a segunda,não configurando como engajamento de golpes.

Cabe salientar que não esta sendo abordado nenhumadas divisões tradicionais dos golpes de projeções - nage-waza -pois considera-se que os golpes são individualizações das

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unidades funcionais, e acredita-se que o judoca, que conseguirdesenvolver todas as unidades funcionais satisfatoriamenteterá pré-requisitos para optar pelos golpes que lhe convém elhe for melhor adaptado, desenvolvendo assim seus golpesmais funcionais e preferidos – tokui-waza.

Neste sentido, ao observar as possibilidades de aplicaçãode golpes, sem definir qual golpe e considerando apenas adireção de desequilíbrio do mesmo, existem 110 possibilidadesde aplicação, sendo 10 diretas e 100 aplicações combinadas(10 (primeiro golpe) X 10 (segundo golpe). Por isso, considera-seque desenvolver a variabilidade de aplicações, enquanto tipode golpes e direções dos mesmos, em detrimento da especia-lização de um ou alguns golpes, promove um desenvolvimentotécnico e tático mais completo em longo prazo, pois além deofertar maior repertório motor ao judoca, torna o mesmomais imprevisível para o adversário, aumentando suas possi-blidades de obter pontuação em uma luta.

Legenda: D: direita; E: esquerda; F: para frente; T: para trás; dDT diagonaispara trás direita e dET diagonais para trás esquerda; dDF: diagonais para frente

direita e dEF: diagonal para frente esquerda; H: circulares horária; aH: anti-horária.Figura 7: Possíveis direções de aplicação de golpes em pé.

aH H

dDT

T

dET

ED

dDFF

dEF

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JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO72

As SUFs referentes à projeção se dão mediante aoresultado da mesma, ou seja, se a aplicação foi determinante,e entende-se por determinante a ação de levar o adversárioao solo. Neste sentido, a projeção poderá ser:

- completa, quando a mesma resultar em ippon, oque determina o encerramento da luta;

- incompleta, quando obter pontuação (waza-ari ou yuko);

- incompleta com vantagem, quando o atleta queexecutou a projeção mesmo não pontuando encontra-se emsituação que lhe possibilite atacar o adversário na luta de solo;

- incompleta com desvantagem, quando o atletaque promoveu a projeção, conquistando ou não pontuação,vai ao solo em situação que o adversário encontra-se emcondição mais favorável a promover ataque no solo;

- projeção intencional ou provocada, ou seja, otori, executa um golpe não com a intenção de projetar oadversário, mas sim de levá-lo a luta de solo em um situaçãona qual promoverá um ataque no solo.

As projeções completa e incompleta estão claras aospraticantes do judô, porém cabe exemplificar as questões paraa demais possibilidades. No que tange a projeção com vantagem,utilizaremos para exemplificar o golpe Tai-otoshi, neste caso,após a aplicação do golpe o uke se desequilibra e vai ao solonão sofrendo pontuação, porém para se defender se colocaem situação que cede as costas para o tori, dando oportunidadedo tori atacar na luta de solo, já na situação da projeção comdesvantagem, utilizaremos do exemplo do mesmo golpe, porémquando o adversário defende o golpe promove o desequilíbriodo tori que vai ao solo de joelhos com o adversário posicionadonas costas com condição de atacá-lo na luta de solo.

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Salienta-se que a projeção pode gerar pontuação eainda ser considerada com vantagem ou desvantagem deacordo com a possibilidade de continuidade no solo. Outroponto que merece destaque é a projeção intencional ouprovocada, ou seja, a realização das ações em pé com aintenção de produzir pontuação na luta de solo.

Como exemplo, utilizaremos duas situações diferentes,sendo a primeira no caso do tomoe-nage, na qual o tori executaa ação intencionado do adversário defender para que possapromover uma chave de articulação no cotovelo (kansetsu-waza)promovendo o engajamento dos golpes. Outra situação, utili-zando o sasae-tsurikomi-ashi, o tori executa a ação do dese-quilíbrio do lado da mão que segura a gola com a intençãoque o adversário defenda a queda se deslocando para frente eajoelhando para que ele possa promover um estrangulamento- shime-waza - com a mesma mão que já está na gola.

As vivências das situações de projeções tornam a com-preensão das unidades funcionais de transição mais simples,uma vez que há uma relação direta entre as unidades funcionais.Neste sentido, entende-se que a transição poderá ser:

- sem contato, quando, durante ou após a projeçãoocorra um desligamento do contato entre os atletas;

- intencional ou provocada, conforme descrito ante-riormente tem relação direta com a projeção, ou seja, aprojeção é executada na intenção de atacar no solo e não depromover pontuação em pé;

- engajamento ativo, quando após a projeção incom-pleta o atleta se encontra em possibilidade imediata deatacar o adversário no solo:

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JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO74

- engajamento passivo, o atleta encontra-se emsituação em que após a projeção encontra-se em posiçãoimediata de ser atacado pelo adversário, sendo necessárioprimeiro defender-se.

Em análise de lutas do campeonato mundial, Weers(2015) observou a dinâmica da transição após a aplicação deum golpe de projeção, apontando que 30,3% das situações oatleta que aplicou o golpe em pé terminava em condições deatacar no solo (engajamento ativo), enquanto 28,7% dassituações o atleta que promoveu o ataque em pé encontrava-seem situação defensiva (engajamento passivo), e 41% dassituações, ocorreram sem contato ou vantagem.

Além deste fato, o mesmo trabalho, aponta que ojudoca que controla o espaço durante a projeção, seja este oque executa o ataque ou o que defende o ataque, tem maiorpossibilidade de controlar a luta de solo.(Roux, 1990 apudMiarka, 2014), nesta linha aponta que dentre as posiçõescorporais que o uke assume após tentativa de projeção asque mais ocorrem são quatro apoios (31,3%) e decúbitodorsal (17,8%) sendo exploradas pelo tori em 59,1% e81,9% das vezes que ocorre.

Há uma relação estreita entre as unidades funcionaisde projeção e de transição, sendo que, a abordagem destasem sessões de judô permitirão ao judoca antecipar possíveissituações possam ocorrer em competição, bem como tornarãoo fluxo da luta de solo favorável. O treinamento destasunidades fundamental para o desenvolvimento competitivo.

Reforçam esta premissa os estudos de Castarlena ePlanas (1997) e Markon (2010) que apontam que em umacompetição ocorrem cerca de 11 sequências de luta sendoestas com 3 e 4 sequências de solo. Consideramos que

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75PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ

ocorre no solo 18% do tempo total da luta (SIKORSKI et al.,1997), o controle da projeção bem como as possibilidadesde transição são determinantes para o sucesso na luta de solo.

Ao observar uma relação estreita entre as projeções eas transições (WEERS, 2015), tal característica não se dife-rencia para as SUFs da luta de solo que terão relação diretacom as transições no que tangem ao seu início. Neste sentido,considera-se três possibilidades para a luta de solo sendo aintencional ou provocada, fato que não difere-se das ex-plicações acima, cabendo ainda a SUF da luta ofensiva,quando as ações do atleta tem a intenção de buscar apontuação na luta de solo enquanto a SUF defensiva asações se dão no sentido de evitar os ataques do adversário.Salientamos que estas SUF correspondem à dinâmica da lutade judô em situação competitiva, porém a luta de solo temuma dinâmica na qual as situações ofensivas e defensivas sealternam constantemente.

Em relação a esta SUF aponta-se a necessidade da lutade solo ser desenvolvida concomitante a luta em pé, uma vezque as situações que ocorrem com as transições diferem-sedas situações que ocorrem nas tradicionais lutas de chão -randori de ne-waza. Bem como a criação de “situaçõespadrão” - tratando-se do método situacional – que abordeme que promovam o desenvolvimento destes SUF.

Será apresentado na figura 8 a seguir divisão completadas unidades funcionais propostas, sendo que as microunidadesapresentadas caminham para as possibilidades de situaçõesindividuais, tornando a compreensão e a “leitura” da lutamais pontuais, sendo possível identificar pontos de ajuste deatletas em fase de especialização profunda e fase de resultadosinternacionais, cabendo ajustes tanto no que tange a táticaquanto a estratégia de luta.

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JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO76

Figura 8: Unidades funcionais da luta de judô.

Circular horário

Circular anti horário

Diagonal esquerda para frente

Esquerda

Diagonal esqueda para trás

TrásD

iagonal direita para trásD

ireitaD

iagononal direita para frenteFrente

10 direções

Circular horário

Circular anti horário

Diagonal esquerda para frente

Esquerda

Diagonal esqueda para trás

TrásD

iagonal direita para trásD

ireitaD

iagononal direita para frenteFrente

10 direções

Ofensiva

Defensiva

Engajam

entoativo

Engajam

entopassivo

Intencionalprovocada

Sem

contato

Incompleta com

desvantagemIncom

pleta comvantagem

Incompleta

Com

pleta

Direita

Com

binada

Reativa

Direto

Passivo

Ativa

Passiva

Lado contrário

Mesm

o ladoN

ão ortodoxo

Passiva

Com

plexa

Ativa

Subunidades

Unidades

Ap

roximação

Contato

Criação de

oportunidade

Desequilíbrio

Aplicação

Projeção

Transição

Luta noS

olo

Unidadesfuncionais daluta de judô

Momento Pré-contato Controle emtransição

Controle em pé Controle nosolo

frontalN

as costasN

a guardafrontal

Nas costas

Na guarda

Retom

ada de luta em pé

Fuga do contatoB

usca do contatoB

raço dominado

Pescoço dom

inadoD

ominado na guarda

Meia guarda por baixo

Adversário nas costas

Imobilizado

Com

domínio de braço

Com

domínio de pescoço

Na guarda com

domínio

Em

meia guarda em

cima

Nas costas do adversário

Situação de im

obilizaçãoW

aza-ari / yukoIppon

10 direções

10 x 1

0 direções

engajamento

fintaM

ovimentação reativa

Movim

entação direcionadaM

ovimentação aguardada

Reativa

Desvantagem

na pegadaV

antagem na pegada

Dom

ínio altoM

anga e manga

Gola e gola

Manga e gola

Pegada e golpeC

om pegada

Trás-frenteC

ircularM

icrounidades

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3.2. O método situacional como forma de ensino-aprendizagem-treinamento

Desta forma, o judô apresenta-se como modalidadeesportiva de características abertas (SILVA, 2010) com varia-bilidade de situações que são presentes na prática, o quetorna desafiador o ensino e aprendizagem técnico e tático,cabendo um olhar sobre o método situacional proposto origi-nalmente por Greco (1998) para as modalidades esportivascoletivas. Porém devido a sua estruturação, se adéqua anossa proposta pedagógica uma vez que busca o desenvolvi-mento técnico de forma contextualizada.

Originalmente, na prática do judô utiliza-se tradicional-mente os métodos analíticos (sequência de exercícios), sendoestes, na sua maioria, cíclicos e repetitivos como os uchi-komi,no qual se preconiza a aprendizagem, aquisição e estabilizaçãoda técnica por meio da repetição do gesto, o que caracterizaestas práticas como atividades psicomotora (PARLEBAS,2001; RIBAS, 2002), pois a preocupação está na plasticidadedo gesto em detrimento a sua funcionalidade.

Porém remetendo novamente aos esportes coletivos,cabe refletir sobre o uso exclusivo do método analítico-sinté-tico, conforme Graça (1995), que aponta que o ensino dosesportes coletivos não deverá ser perspectivado como aquisiçãode um somatório de habilidades isoladas que se autojustificam.Assim como no judô, o método de ensino, também não deveráser apenas um somatório de gestos isolados, que espera-seque o judoca realize em situações complexas.

É fato que o método analítico-sintético proporcionaaprendizagem e tem utilidade para correção de determinadasetapas da aplicação de um golpe, porém, destaca-se que

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esta prática isolada acaba se tornando descontextualizadadas exigências competitivas, uma vez que, em raríssimassituações o adversário em uma competição se colocará emposição corporal e em movimentação similar a adotada peloparceiro de treino durante a prática do uchi-komi.

Como forma de buscar a contextualização, inúmerostreinadores adotam outras práticas, dentre estas, o uchi-komiem movimento, ou “em linha”, situação na qual os parceirosdeslocam-se linearmente de um lado ao outro no tatameaplicando as técnicas em movimento unidirecional. Aindanesta linha, outra forma adotada é o engajamento de técnicasou chamados de uchi-komi em movimentação de luta, métodopelo qual as técnicas são combinadas em diferentes direçõese movimentação não é linear.

Há ainda outros meios, como yaku-soku-gueyko,kakari-gueyko, nague-komi, entre outros que intencionam odesenvolvimento técnico do judoca. Todos estes meios paradesenvolver o repertório motor e técnico do judoca são válidose devem ser utilizados.

Por outro lado, a outra forma largamente utilizada é ométodo global, no caso do judô o randori, ou treino livre.Fazendo um paralelo aos esportes coletivos, o randori, seriao jogo, propriamente dito, ou seja, o momento do judocatestar as hipóteses e tentar aplicar as técnicas trabalhadaspelo método analítico em uma situação totalmente aberta(SILVA, 2010). Este método, por si só é insuficiente paraaprendizagem, aquisição e estabilização das técnicas dojudô, devido a alta complexidade das ações motoras que amodalidade contempla.

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79PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ

Neste sentido, propõe-se aqui um olhar crítico sobre osdois métodos tradicionais utilizados nas aulas e treinos dejudô, no qual utiliza-se prioritariamente o método analítico(diferentes formas de uchi-komi) para desenvolver a técnicae o método global (randori) para testar e tentar aplicar astécnicas em situação aberta, bem como, desenvolver a tática.Desta forma, há uma “lacuna metodológica” entre osmeios de ensino-aprendizagem da técnica e o objetivo finalda aplicação da mesma no contexto esportivo que é a com-petição (shiai) conforme a figura 9.

Esta “necessidade metodológica” ocorre devido a faltamétodos que proporcionem desenvolver as técnicas damodalidade de uma forma contextualizada. Se por um lado,a metodologia tradicional preconiza a repetição cíclica dogolpe e a correção de aspectos motores como posicionamentodo corpo ou a coordenação de passos entre outros, paraexecução de um gesto estereotipado considerado ideal. Poroutro lado, no randori ou shiai a ocorrência destes gestosestará possibilitada pouquíssimas vezes, sendo que muitas vezeso judoca deverá adaptar totalmente o padrão do movimentopara conseguir executar as técnicas devido ao ambiente maisinstável (tempo para execução, biótipo do adversário, tipo depegada do adversário, tipo de movimentação e resistênciaque o adversário vai promover) que vai encontrar.

Destaca-se ainda que nas modalidades coletivas esteponto vem sendo discutido a décadas, pois, ao se identificara dicotomia entre a aprendizagem técnica e a tática relacio-nado a tomada de decisão, relacionado ao método analíticoe o global respectivamente, uma série de propostas para oensino e treinamento das modalidades coletivas passou a ser

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desenvolvido e testado dentre estes o “modelo de ensino do jogopara a compreensão”, “modelo desenvolvimental” e “modelode abordagem progressiva ao jogo” (MESQUITA et al., 2009)

Convida-se aqui a refletir sobre esta questão da dicotomiaentre o ensino das técnicas e a aplicação das mesmas nocontexto global (luta) durante o processo de ensino-aprendi-zagem-treinamento no judô, Desta forma ao analisar a figura 9,deve-se entender como:

Ambiente: as características do parceiro ou adversário(biótipo, tipo de pegada, tipo de movimentação e resistênciaque vai promover) e o controle do espaço;

Tempo para execução: o momento ou momentosque o individuo tem para tomar a decisão e executar a açãomotora;

Característica do movimento: refere-se a repetiçãoe a ligação entre uma ação e outra, sendo cíclico o movi-mento que se repete sem alterar o padrão e acíclico o quenão se repete;

Oportunidade para a execução: o número de vezesque é oportunizado ao indivíduo para executar a ação técnica;

Contexto: entende-se a relação da situação com acompetição;

Possibilidade e momento de correção: a quantidadede informações pontuais e em que momento da execuçãoque um instrutor ou técnico poderá inferir na execução doexercício sem interromper sua prática.

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Figura 9 - Relação entre os meios tradicionais de ensino-aprendizagem-treinamento no judô com a necessidade metodológica identificada.

Neste sentido, são necessários meios e métodos quevenham a suprir esta lacuna, ou seja, um método que possi-bilite um ambiente relativamente perturbado, um tem-po de execução condicionado e dirigido para a oportuni-dade de execução, com característica de movimentos ací-clicos, mas com repetições sistematizadas para que sepossibilite mais oportunidades de execução, porém com umcontexto mais aproximado da situação aberta oportu-nizando aos técnicos observar e inferir sobre as ações identi-ficando possíveis pontos de evolução.

Neste caso, propõem-se aqui o método situacional(GRECO,1998), pois, este método apresentará característicasque permitam direcionar o processo de ensino-aprendizagem-treinamento uma vez que contempla aspectos tanto do método

Ambiente

Tempo paraexecuçãoda técnica

Característicado

movimento

Oportuni-dades paraexecução

Estável

Qualquermomento

Cíclico

Muitaoportunidade

Poucopertubado

Condicionadopela

oportunidade

Cíclico ouacíclico

descontex-tualizado

PertubadoAltamentepertubado

Condicionadopelo

movimento

Condicionadopela

oportunidadee arbitragem

Acíclico Acíclico

Poucaoportunidade

Pouquíssimaoportunidade

Contexto

Possibilidadee momentode correção

Semcontexto

Alta eimediata

Baixocontexto

Alta eimediata

Altocontexto

Contextototal

Baixa e pós-situação

identificada

Baixa e pós-situação

identificada

Muitaoportunidade

Uchi-komiparado

Uchi-komiem mov.

Lacunatradicional

Randori Shiai

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global quanto do método analítico, suprindo a necessidademetodológica permitindo assim, desenvolver os diferentesaspectos técnicos do judô de uma forma contextualizada,com o aspecto tático sendo mais significativo.

No método situacional jogadas básicas são extraídas desituações padrões de jogo e utilizadas como meio para o paraa execução de tarefas e resoluções de problemas técnicos etáticos. Iniciando com situações menos complexas, porémcontextualizadas com o jogo, estas situações conforme aevolução dos exercícios vai agregando elementos e se apro-ximando cada vez mais do jogo formal (GRECO, 1998).

Tanto aspectos técnicos e quanto os táticos são abor-dados, possibilita-se a combinação de objetivos e situações,o que cada vez mais vai aproximando da realidade da moda-lidade esportiva. Logo, preconiza-se nesta proposta que estemétodo se adeque ao judô. Desta forma, situações padrõesda luta, pautada pelas unidades funcionais, permitem a ade-quação a modalidade.

Como forma de exemplificar diferenças entre o métodotradicional (analítico-sintético) e o método situacional adaptadoao judô, será utilizado uma técnica como objeto de aprendi-zagem, aqui utilizaremos o “osoto-gari”.

Tradicionalmente utiliza-se um processo pedagógico naqual iniciaria com o kumi-kata adequado, depois o uchi-komicom o parceiro parado, na qual seria corrigido a posição dospés, depois o kusushi, depois o tsukuri e por ultimo o kake.Após dominar estes aspectos o uchi-komi passa a ser emmovimento. Considera-se o golpe correto quando o mesmoalcança alguns pontos característicos desta técnica, comoposição dos pés, do tronco o equilíbrio adequado, entreoutros aspectos que o técnico considere ideal.

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Após este processo, ou durante este processo com estatécnica e com outras (parte técnica da aula ou treino técnico)o judoca é submetido à luta, ou randori (método global),situação na qual o adversário, não fica estático, não semovimenta linearmente, não deixa segurar com o kumi-kataadequado e se deixa, coloca resistência contra impedindo odesequilíbrio correto para a execução do tsukuri e do kake.

Desta forma, o ensino da técnica e o seu objetivo finalque é conseguir executá-lo em situação de luta estão dis-tantes. É fato que inúmeros judocas encontraram e encontrarãomeios de executar as técnicas adquiridas pelo método analí-tico-sintético em situação de luta, pois o método permiteautomatizar e ajustar pontos de execução. Porém, poderácondicionar a aplicação das técnicas à situações na qualexecute apenas algumas técnicas e apenas em situações emque o adversário se apresente em relação a posição corporale movimentação de uma forma adequada (vivenciada) a exe-cução, reduzindo a capacidade de adaptações e impedindoao judoca o desenvolvimento de outras soluções técnicas.

Dentre os pontos negativos que esta abordagem podeter é a especialização ou treinamento precoce, uma vez quea quantidade de repetições e consequentemente o temponecessário para as mesmas é extenso. Embora, como salien-tado anteriormente, muitos judocas que foram formados pormétodos tradicionais conseguiram desenvolvimento técnico edesempenho competitivo satisfatório, houve no processoduas situações importantes a serem atentadas, uma delas éque muito dos judocas que obtiveram resultados competitivossatisfatórios durante os primeiros anos de carreira não conse-guiram manter seus resultados (CAVAZANI, 2012) e outroponto é que a maioria dos atletas brasileiros que conquistaram

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resultados internacionais foram submetidos a treinamentoprecoce antes mesmo de completar 12 anos de idade, comquantidades superiores a 15 horas semanais (OLIVIO JUNIORet al., 2015). Logo esta abordagem atualmente, talvez nãocontemplem as necessidades e as características sociais atuais.

Acreditamos que ao optar pelo método situacional, ojudoca também desenvolverá aspectos básicos da técnica,porém, deve estar inserido em situações padrões e funcionaispara o desenvolvimento, correção e adaptação do mesmo.Utilizando exclusivamente o osoto-gari como objeto, sugere-sealguns meios para o seu desenvolvimento situacional. Exemplos:

Situação 1: o tori deverá tentar executar o osoto-gariporém o uke, deverá impedir que o tori segure as duas mãosno judogui;

Situação 2: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,porém o uke não vai parar de se movimentar, e o tori terá10 segundos para a execução;

Situação 3: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,porém o uke vai pressionar o tori para que ele saia da áreade luta;

Situação 4: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,porém o uke vai segurar as duas mangas do tori;

Situação 5: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,porém o uke vai se movimentar sem desligar o kumi-kata epoderá contra golpear;

Situação 6: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,porém o uke vai se movimentar sem desligar o kumi-kata e

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poderá contra golpear, mas será permitido ao tori executaroutras técnicas como finta ou combinações, entre outros. Pormeio do aumento da complexidade e de outros elementos, otori, estará desenvolvendo tanto o aspecto técnico (gesto) comoas soluções para executar o gesto, adaptá-lo as situações ouainda na tentativa de executar o osoto-gari (objetivo primário)executar outra ação que for possibilitada.

Salienta-se que foi apresentada apenas uma possibili-dade de utilizar o método, mas em essência cabe ao técnico,de acordo com a necessidade dos seus alunos ou atletas,extrair situações que ocorram com constância nas lutas epartindo destas propor diferentes objetivos. Cabe ressaltarque é necessário que se coloque parâmetros de execução epressão, como por exemplo: tempo, número de tentativasdurante determinada configuração de pegada, durante de-terminada configuração de espaço, entre outros, para que oindivíduo que está executando a técnica busque solucionar oproblema proposto dentro de uma estrutura pré-determinadapelos parâmetros.

Logo, o método situacional (GRECO, 1998) se adéquaa esta proposta pedagógica por criar mecanismos quepermitem direcionar a aprendizagem da técnica de formacontextualizada e adequada a capacidades motoras, cogni-tivas e maturacionais do judoca. Salienta-se que não deve-sedescartar os métodos tradicionais, mas sim, utilizar do métodosituacional para tornar mais contextualizada e adaptável aaprendizagem do judoca.

Destaca-se ainda que este método pode e deve ser usadopor toda a vida esportiva do judoca, da iniciação ao altorendimento, buscando as adaptações e contextualizações ne-cessárias a cada etapa.

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3.3. A tática como objeto central da aprendizagem edo treinamento

Partindo do principio abordado por Garganta (1997),no qual a organização e consciência tática de uma equipe écondição de sucesso competitivo. Tendo em vista o judô,modalidade na qual a complexidade de ações motoras epossibilidades de se alcançar a vitória em uma disputa é alta,uma vez que o atleta pode atingir pontuações por meio dequedas, imobilizações, estrangulamentos, chaves de articulaçãoe punições do adversário, torna a questão da sua “tomada dedecisão”, ou tática, fundamental para o sucesso competitivo.

Os judocas interagem constantemente na luta, de formaque ação de um atleta se torna condição para uma respostado adversário e um estímulo para adaptação das ações pre-tendidas (CALMET e AHMAID, 2004). Logo esta relaçãoestímulo resposta reforça a premissa de que a tática deve sero objeto central do ensino aprendizagem no judô.

Em nosso caso, entendemos que um atleta ou esportistapoderá ser autônomo em sua prática esportiva, no que tangea tática individual e consequentemente a tomada de decisão,quando este tiver a capacidade de escolher por si só, asrespostas às situações esportivas a que for submetido, demaneira produtiva e adequada as suas potencialidades edificuldades. No judô a questão das tomadas de decisão é tãopresente em relação às ações da luta que se pode remeter aLavega (2008) no qual aponta “Significa pensar que o outropensa que eu estou pensando e então posso antecipar-me assuas antecipações”.

Para tanto, é necessário ao longo da sua formação espor-tiva o mesmo ser suprido de pré-requisitos que possibilitem

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desenvolver as suas escolhas, sendo estes pré-requisitosmotores, cognitivos e psicológicos.

Sendo o judô, como as modalidades esportivas coletivase outras lutas, uma modalidade de característica aberta eimprevisível, entende-se que a capacidade de compreenderas situações esportivas e executar uma resposta imediata éuma das condições determinantes para se obter sucesso namodalidade e, no alto rendimento, possivelmente seja a prin-cipal (RÉ e BARBANTI, 2010).

Neste sentido, será entendido por tática um processointerno do atleta dentro de uma situação esportiva no qual omesmo deve fazer observações, analisar opções e tomardecisões e tomar decisões rápidas baseadas nas hipótesespor ele observadas elencando quais vão gerar respostas posi-tivas com menos ou mais riscos (SILVA e DE ROSE, 2005).

Cabe aqui diferenciar estratégia e tática, por táticaentende-se a execução de um planejamento estratégico, ouseja, o “como utilizar da técnica” em uma situação aberta,sendo um processo dinâmico, que vai se alternando conformeestímulos produzidos e induzidos pela dinâmica da intençãodo atleta e das respostas do adversário, gerando uma novaintenção e uma nova resposta sucessivamente. Por estratégia,entende-se como o plano de ação com um objetivo, partindodas potencialidades e dificuldades físicas, técnicas e táticasdo atleta e do adversário, elaborado previamente a situaçãoesportiva pelo treinador e/ou pelo atleta. De maneira geral,a estratégia é a intenção ou conjunto de intenções previas(planejamento) a luta e a tática é o como cumprir as intençõesdurante a luta (adaptação).

Partindo desta conceituação, propõe-se aqui uma me-todologia de ensino-aprendizagem na qual a tática é o objeto

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central, ou seja, tornar o judoca autônomo em relação decomo utilizar “a técnica”, ofertando ao mesmo o máximo desituações que permitam antecipar, adaptar e executar suasintenções técnicas previamente estabelecidas.

Cabe destacar que a técnica não estará descartada demaneira alguma do processo, pois o refinamento técnico écondição importante para a proteção do organismo, bemcomo para o rendimento esportivo principalmente nas fasesmais avançadas de direcionamento e especialização no trei-namento, porém busca-se aqui um olhar crítico para a táticae sua relação com a técnica. O ponto a destacar é o objetivodo processo de ensino-aprendizagem-treinamento técnico,ele não deverá ter um fim em si mesmo, ou seja, na execuçãocorreta e estereotipada e sim estar engajado aos objetivostáticos do judoca que é a luta em si (KOZUB e KOZUB, 2004).

Referindo-se as aulas e/ou treinos, uma atitude táticado judoca, no que tange a “tomada de decisão” será pré-requisito central de quase todas as sessões, uma vez que oprincipal objetivo desta pedagogia é desenvolver no judoca a“inteligência tática” voltada à luta de judô. Entende-se destaforma que um judoca autônomo além de buscar as melhoresações dentro de uma luta, poderá ter maiores condições deoptar por qual caminho adotar em relação a modalidade,sendo esta competitiva, educativa ou de saúde e qualidadede vida.

Para tal fim a escolha das atividades em aulas e treinos,sempre deve abordar a questão da “tomada de decisão”,mais uma vez, o método situacional é uma forma de abordaresta questão. Pois permite ao judoca encontrar diferentescaminhos para resolver o problema proposto.

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3.4. A progressão espiral do processo de ensino-aprendizagem-treinamento

As metodologias de treinamento mais consolidadas(MATVEEV, 1996 e 1997; PLATONOV, 2004 e 2008;VERKHOSHANKY, 2001) tratam do processo de organizaçãoda preparação de atletas, as concepções pedagógicas preo-cupam-se principalmente com a relação entre o desporto e odesenvolvimento infanto-juvenil (SILVA, 2010). Neste trabalho,os argumentos buscam compreender estas concepções pe-dagógicas e metodológicas na proposta de trabalhar umaconstrução ao longo dos anos, desde o início direcionando apossibilidade do alto rendimento.

Devido a isso, a preocupação desta proposta é consolidara estrutura corporal do atleta para o alto rendimento e, aomesmo tempo, não desenvolver padrões motores iniciaiscaracterísticos da especialização precoce. Neste sentido, aproposta pedagógica incide no entendimento de que nemtodos que treinam podem alcançar o alto rendimento, poréma estrutura corporal devido ao treino deve objetivar melhorano rendimento global do praticante. Consequentemente aproposta poderá não resultar em ganhos expressivos naconquista de medalhas, porém, em relação aos aspectosmotores, tomadas de decisão, (inteligência tática) e formaçãoética o ganho deverá ser considerável.

Logo para que o processo atinja os objetivos almejados,entende-se que o planejamento e aplicação das sessões deprática de judô necessitam ter um caráter formativo e osaspectos pedagógicos necessitam interagir-se de maneiraespiral ao longo dos anos.

Por Progressão Espiral do processo de ensino-aprendizagem-treinamento, entende-se que o processo não

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deverá esgotar as possibilidades de execução e adaptação de ummovimento ou de uma das unidades funcionais da luta em umbloco de aulas ou treinos, sendo necessária uma sistematizaçãodo processo pedagógico de forma que sempre após algumtempo este movimento ou unidade funcional seja retomadapara que o judoca possa agregar novas possibilidades de res-posta com sua atitude tática “alimentada” pela abordagem deoutras etapas e outras unidades funcionais dentro do processo.

Logo, uma mesma habilidade, movimento ou unidadefuncional deverá constantemente alternar entre estar presentee ausente do processo de ensino-aprendizagem-treinamentopara que o judoca desenvolva outras habilidades, movimen-tos ou unidades funcionais sempre ampliando seu repertóriomotor, técnico e tático, agregando cada vez mais elementosque possam contribuir para suas tomadas de decisões emsituações de luta.

Neste sentido, o processo pedagógico tem um caráter deespiral, na qual tem como eixo central a tática, ou seja, o fator“tomada de decisão” deverá estar presente constantemente nostreinamentos, em um plano mediano as unidades funcionaise periféricos ao processo os movimentos específicos e as indivi-dualidades de cada judoca (tokuy-waza), conforme figura 10.

Leg: Apr: aproximação; Con: contato; Mov op: movimentaçãode oportunidade; Des: desequilíbrio; Pro: projeção; Tran: transição;

Lut sol; luta de solo e; Apli: aplicação.Figura 10: Caracterização espiral do processo pedagógico complexo.

Tática Tática

Apr

Con

Movop

Des

Pro Tran

Lutsol

Apr Con

Des Apli

Pro

TranLutsol

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Cabe destacar que por meio deste processo, espera-seque dentro de um clube, academia ou qualquer outro espaço deprática do judô, que os judocas tenham diferentes percepçõesda modalidade e desta forma busquem e desenvolvam o reper-torio técnico e tático que mais se adéquem as suas condiçõesmotoras e cognitivas, porém sem negligenciar as outras pos-sibilidades de movimento que o judô contém e que em umnovo momento poderá fazer parte do repertório deste judoca.

Ao utilizar-se desta metodologia o técnico poderá pos-sibilitar ao judoca ampliar seu repertório técnico, porém semse especializar em alguns movimentos, pois permitirá aomesmo experienciar outros segmentos da prática bem comoresolver problemas táticos que poderão ocorrer pré ou pós aexecução dos movimentos que o judoca domina.

Para exemplificar esta questão imaginemos hipoteti-camente um judoca que domine o osoto-gari de maneirasatisfatória em diferentes condições de uchi-komi, porém, omesmo não consegue executar em situações de luta. Inúmerosfatores pré-execução podem estar ocorrendo para que omesmo não execute com êxito em situação de luta, dentreestes, pode-se elencar, a forma que ele se aproxima doadversário, a forma do adversário se aproximar do judoca, amaneira que o adversário posiciona a sua pegada, a maneiraque o próprio judoca posiciona a sua pegada, o tipo demovimentação do adversário, a antecipação do adversárioao movimento, entre outras várias hipóteses. Além destasainda há situações que ocorrerão pós-aplicação do movimento,sendo estas uma queda completa (ippon), incompleta (que nãogerou ippon), um contragolpe, uma situação de desvantagemou vantagem para a luta no solo, entre outras possibilidades.

Todas estas possibilidades pré e pós-execução de umaação técnica (intenção) são previstas e abordadas neste processo

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em espiral, desta forma o judoca cada vez, que aborda aunidade funcional novamente, agregará elementos quepossibilitam resolver as situações problemas que surgirão seapropriando de elementos novos para os possíveis desdobra-mentos para a sua intenção tática, tornando o judoca cadavez mais capaz de adaptar a suas possibilidades na luta.

A necessidade do planejamento em espiral, principal-mente das Unidades funcionais, se dá como um “currículo”de habilidades e competências que o judoca deverá tercontato intermitentemente para cada vez mais agregarelementos em seu repertório de ações e decisões, pois, espera-seque os elementos adquiridos no trabalho com uma unidadefuncional, possibilite ao judoca adaptar seu repertório e agregarmais elementos para a o desenvolvimento de uma novaunidade, ampliando as opções de resposta a uma situaçãoproblema encontrada.

Por tanto, não é necessário o judoca dominar umadeterminada unidade funcional para iniciar um trabalho comoutra unidade, pois pequenas lacunas são esperadas, e opensamento tático será desenvolvido quando o judoca pormeio de novos elementos adquiridos tente resolver tais lacunas.

Para exemplificar, em uma situação de aproximação econtato, na qual o judoca não consiga dominar a manga doadversário em situação de kenka-yotsu para executar umseoi-nage. Ao identificar esta dificuldade, a mesma poderáser abordada no treinamento com a unidade funcional criaçãode oportunidade, na qual, poderão ser produzidas ações emecanismos para três outras opções táticas, como porexemplo: 1 - uma movimentação, após o contato, que permitadominar a manga; 2 - um ataque direto, antecipando a situação

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que dificulta o kumi-kata e; 3 - movimentação e ataque parao lado que já estabelece o domínio, no caso, lado contrárioao dominante do Tori.

Neste exemplo, utilizou-se de uma dificuldade encon-trada em uma unidade funcional (aproximação e contato)para criar situações e possibilitar outras opções de resoluçãode problemas, desta maneira o fluxo de luta não estaráprejudicado e sim estará ampliando o repertório de açõestécnicas do judoca. Desta forma, o processo espiral, no qualas unidades funcionais alternam em estarem presentes eausentes, possibilitam ao técnico e ao judoca: identificardificuldades, propor soluções, testar as soluções propostasestabelecendo metas de treinamento.

Neste sentido, ao utilizar-se das unidades funcionais demaneira espiral o técnico poderá propor uma séries de situaçõesque possibilitarão concomitantemente o desenvolvimentotécnico do judoca, uma vez, que ampliará possibilidades deexecução, bem como o repertório tático, pois com a sobre-posição das unidades funcionais estará possibilitando dife-rentes aplicações para o repertório técnico adquirido.

3.5. As questões éticas e culturais envolvidas no processode formação humana

“EducaçãoNão há nada maior no mundo.A educação moral de uma pessoa se estende a dez milpessoas.A educação de uma geração se expande por umacentena de gerações.

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EducaçãoNão há nada mais agradável no mundo.Cultivando o talento e melhorando o mundo,essa fragrância perfuma para sempre após a morte.(KANO, 2008 p.121)”

A formação para os esportes configura também naorganização dos aspectos éticos e morais do envolvido (MA-TVEEV, 1996), sendo o fair play a consolidação das normasde conduta ética para os atletas. Em virtude da espetaculari-zação do esporte e, no caso do Brasil, das Mídias que sepreocupam com notícias rendáveis e polêmicas e assim,pouco divulgam os valores do espírito esportivo. Porém, afim de ampliar o conceito de ética presente na prática deesportes, trazendo para o tatame, torna-se especial pois fazparte da essência da modalidade e sem a educação ética emoral, proposta por Jigoro Kano, não é possível praticar ouidentificar como judô.

Convém ressaltar que ética é entendido, neste livro,enquanto valores coletivos que facilitam a convivência mútuae a moral enquanto valor individual baseado em crençaspessoais, conforme Cortella e Barros Filho (2014) definem.Da mesma forma, pensar sobre estes conceitos para o judô,está se referindo a educação pela modalidade e, no caso, nãode forma superficial, mas indissociável com a prática. Conformeo valor da educação presente no discurso de Jigoro Kano:

Quando eu era jovem, após me graduar na Universi-dade, pensei me tornar primeiro ministro ou milionário,mas achei que nenhuma dessas opções seria satisfa-tória. Eu concluí que a educação é a única coisa à qualum homem poderia devotar sua vida sem arrepen-dimentos, e assim busquei uma carreira na área daeducação. (KANO, 2008 p.120)

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Neste sentido, o espírito esportivo se relaciona aosconceitos de educação pelo esporte de forma geral, nãoespecífica para o judô, porém, ao entender que a educaçãoé valorizada pelo sensei Kano, também faz sentido paraformar judocas. Porém não se deve confundir os conceitos.Neste sentido, Cavazani (2012) aponta:

... dentro do imaginário dos participantes os saberesda prática, nesse caso os valores do judô tradição sãomais relacionados aos conceitos do espírito desportivoou fair-play do que a tradição oriental proposta porJigoro kano para o judô. Os relatos dos participantesdirecionam a questões de respeito aos adversários,respeito aos árbitros e regras e conduta ética perante otreinamento e competições. (p.123)

Assim, entender os valores propostos por Jigoro Kanopara a prática do judô são, o “Ju” (suavidade) em relação anão contraposição de forças para que leve o judoca a conseguirutilizar o segundo princípio, da eficiência máxima, (seiryokusaizen Katsuyo ou apenas seiryoku zenyo) que é a energiamental e física deve ser usada da maneira mais eficientepossível para que se chegue ao resultado desejado indepen-dente do objetivo e não apenas por meio da luta. Outroprincípio é o chamado de sojo sojou jita kyoei ou apenasjitakyoei que significa prosperidade mútua por meio da assis-tência e da concessão mútua o que leva a perceber quedessa maneira, a situação traz para todos, vantagens quenão teriam sozinhos, indo além da obediência sem reflexão(KANO, 2008, p. 38). Tudo isto relacionado com a práticapelo caminho (DÔ), ou seja, vivenciar e trazer para vidacotidiana como um conjunto de sabedoria para vida.

Desta forma, essas concepções da tradição que funda-mentam o pensamento de Kano para o judô não são relacionadas

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ao esporte (CAVAZANI, 2012), mas se relaciona a conceitosde crescimento pessoal que deve atingir o praticante de judôna sua trajetória de vida relacionado aos processos de cida-dania e convívio dentro de uma concepção maior ao bemuniversal. Neste caso, reatar com os ensinamentos de Jigorokano possibilita perceber o quanto os valores esportivosacabaram naturalizando-se ao judô. Devido a isto, ambas asformas de entendimento de ética devem ser abordadas notreinamento da modalidade, pois ambas possuem valoresimportantes e que devem ser inseridos na formação moral dopraticante. Porém, deve-se evitar confusões, pois, alertaCavazani (2012):

...a falta de formação adequada somada à valorizaçãoesportiva competitiva, contribuiu para que os conceitosda tradição fossem reorganizados em relação aos seussignificados, miscigenando-se e substituindo os origi-nários, vindos dos preceitos de Jigoro Kano, em relaçãoao crescimento individual e a cidadania, conceitos estesque vão além das medalhas. (p.127)

• Ficando o cuidado de perceber quando utilizar adiscussão sobre o fair play em relação ao respeito aos adver-sários, árbitros e todos do ambiente esportivo sem, portanto,ressignificar em relação à tradição do judô e dos seus valorespróprios. E, o componente tradicional do judô, expresso pelosvalores de Jigoro Kano enquanto aspectos identificadores do judôdevem estar presentes no cotidiano da vivência da modalidade.

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Serão apresentadas neste capítulo algumas aplicaçõespráticas da pedagogia complexa. Para tal fim, foram convi-dados dois profissionais que atuam com equipes de judô eque em suas práxis adotam os aspectos da pedagógica com-plexa, descritos acima, como norteadores do trabalho.

Partindo da perspectiva do conhecimento experiencial(TARDIF, 2002) os capítulos a seguir flutuam entre ospressupostos teóricos e a aplicação prática dos mesmos,sendo apresentadas algumas possibilidades de aplicação dométodo que concatenam ao mesmo tempo com a formaçãodo cidadão autônomo e para o direcionamento do judocapara o rendimento e alto rendimento, caso seja a opçãodo indivíduo.

Neste sentido, será apresentado no “4.1 Umaabordagem complexa na iniciação e no direciona-mento esportivo”, uma caracterização do indivíduo nestafase da vida e algumas propostas de atividade para estasfaixas etárias.

A proposta parte do desenvolvimento do indivíduo emsua totalidade, tendo o judô como "o meio" para tal fim.

CAPÍTULO 4

APLICAÇÕES PRÁTICAS DAPEDAGOGIA COMPLEXA

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Propõe-se aqui uma breve discussão sobre a aplicação dométodo, no qual, crê-se que deva ser sistematizado, organizadoe direcionado com objetivos e perspectivas de desempenho,porém, que estes objetivos de desempenho não sejamconfundidos com desempenho competitivo imediato e precoce.Não obstante, que os jogos, propostas de exercícios e outrosmeios não sejam abordadas nas sessões de judô apenas umaperspectiva lúdica, e apenas lúdica, mas sim que emboraseja prazerosas aos judocas iniciantes tenham objetivos pe-dagógicos que atendam as necessidades da preparaçãoesportiva a longo prazo.

Complementando, o capítulo 3.2 “O treinamento ecompetição no desenvolvimento da autonomia dejudocas”, apresenta a competição com uma significaçãodiferente da comumente adotada, pois acredita-se que énecessário o indivíduo competir para se avaliar, tanto nosaspectos psicológicos quanto técnicos e táticos, e que com-preender a competição como "meio" tanto pelo técnico, peloatleta como pelos familiares envolvidos trará a mesma,significados positivos ao processo de formação tanto do cidadãocomo do atleta de judô.

Finalmente, no capitulo 3.3 “Exemplos práticos dautilização da pedagogia complexa para especializaçãoe rendimento” apresenta uma perspectiva da pedagogiacomplexa a longo prazo, bem como alguns exemplos deexercícios e organização para atletas em especialização,especialização profunda. Destaca-se também uma brevediscussão sobre o método adotado para atletas de rendimentoe alto rendimento.

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4.1. Uma abordagem complexa na iniciação e no dire-cionamento esportivo

Participação: Bruno Bohm Pasqualoto*

A iniciação esportiva é compreendida como o períodoem que a criança inicia a prática de esporte, sendo apresentadapara variadas modalidades esportivas. Esse processo deveter como foco o desenvolvimento pleno das crianças, criandoadaptações nos indivíduos para possíveis direcionamentos eespecializações dentro do esporte, não sendo foco nessaetapa as competições e o treinamento esportivo (TSUKA-MOTO e NONOMURA, 2005).

Esse processo de iniciação é dependente de um en-gajamento de estímulos que ocorrem durante as diferentesetapas que os indivíduos passam, para que então consigamobter sucesso em relação a esse processo complexo deformação esportiva.

Todo esse contexto deve ser pautado em um processoplanejado e sistematizado que se inicia na infância, semnegligenciar fases essenciais de desenvolvimento das crianças.A janela de oportunidades e desenvolvimento pleno de todosos indivíduos são fatores primordiais para o sucesso e práticade habilidades esportivas complexas, assim como para odesenvolvimento motor e biopsicossocial essencial para avida dos envolvidos. (GRECO e BENDA, 2007).

A melhor fase para a iniciação é por volta dos seis anosde idade e deve-se ofertar nesse momento aos participantes

*. Pasqualoto, B.B.; Olivio Junior, J.A.; Drigo, A.J. Uma abordagem com-plexa na iniciação e no direcionamento esportivo. In: Olivio Junior, J.A.;Drigo, A.J. Pedagogia complexa no judô: um manual para treinadoresde base. Ed. Mundo Jurídico: Leme-SP, 2015.

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o maior número possível de estímulos e situações, para quefuturamente tenham bagagens motoras, cognitivas e sociaisquanto à prática de atividades, podendo escolher quais praticar(GRECO e BENDA, 2007). Essa variabilidade deveria ocorrercom prática de diversas atividades e esportes, sem umaespecialização precoce, para que em uma próxima fase,que pode ser definida como direcionamento, as criançascomeçassem a se direcionar as modalidades com maiorespecificidade e que mais se identificam, podendo aliar aprática específica a outras atividades. Por fim, caso opte porseguir o caminho do esporte competitivo, segue para a fasede especialização e os envolvidos nesse momento passarão atreinar sistematicamente uma única modalidade esportiva(TSUKAMOTO e NONOMURA, 2005).

Percebe-se que atualmente é crescente o número decrianças que iniciam a prática esportiva entre seis e 12 anosde idade, o que deve ser compreendido como uma situaçãobenéfica aos envolvidos, se todo processo de desenvolvimentofor ofertado de maneira sistematizada e organizada medianteas características deles, respeitando as fases desse processoe não os especializando precocemente, o que poderá influ-enciar negativamente tanto o desenvolvimento geral, quanto odesenvolvimento esportivo (GIMENEZ e UGRINOWITSH, 2002).

Devido a essa grande procura pela prática de esportesna atualidade, deve-se proporcionar situações que possamofertar um desenvolvimento pleno dos indivíduos conformeas suas características, primando pelo desenvolvimento motor,cognitivo e social dos participantes. O processo deve tambémauxiliar a busca pela autonomia desses praticantes, uma vezque, esta característica será importante para desenvolver nojudoca a "tomada de decisão" mediante as situações problemas

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que serão encontradas. Além dos beneficio sócio educativos,um processo de iniciação organizado e direcionado, forneceuma base sólida a esses participantes, para que futuramenteeles tenham repertório necessário para desenvolver outrasatividades ou se especializar no esporte que pratica.

O judô é uma modalidade que têm grande procura porcrianças que encontram-se nas faixas etárias correspondentesà iniciação esportiva. Portanto, o judô pode se tornar umaferramenta no desenvolvimento desses praticantes, uma vezque, acaba se tornando algumas vezes a única prática es-portiva dos sujeitos. Porém, em alguns casos, ocorre o direci-onamento antecipado dentro da modalidade que atropelafases e principalmente que não oferta estímulos necessáriospara o desenvolvimento desses indivíduos.

Tsukamoto e Nonomura (2005) reforçam essa questãoapontando que queimar etapas nesse processo de iniciaçãoesportiva pode prejudicar o desenvolvimento dos esportistas,além de que, nem sempre campeões nas fases adultas foramcampeões nas fases iniciais (CAVAZANI, 2012). Portanto asfases de desenvolvimento das crianças devem ser respeitadas.Outro ponto de reflexão é em relação ao custo de umaespecialização precoce a uma criança, bem como a expecta-tiva exacerbada construída devido a resultados esportivos nasclasses mais jovens.

Um fator que deve ser levado em conta nesse processoé que esse desempenho, em relação à conquista de medalhas,que muitas crianças apresentam pode estar ligado simples-mente a uma antecipação nos seus processos de maturaçãoem relação as outras crianças, ou ainda a idade relativa, oque certamente fará que ela obtenha maiores resultadosnesse momento, porém posteriormente essa vantagem pode

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ser igualada e os resultados não serem mantidos (FERREIRA,2015). Sendo assim é necessário estimular a participação detodos os participantes de uma aula ou treino, e não apenasdos pequenos campeões, e organizar a iniciação esportivacom base nestas premissas.

Contudo, observa-se então a grande complexidade queexiste nesse processo, uma vez que, as situações encontra-das diferem do contexto ideal de iniciação esportiva, muitasvezes por falta de informação, metodologias adequadas, quenão contemplam esses processos, fatores ambientais, sociaise econômicos.

Neste sentido, aponta-se para a pedagogia complexano judô, como uma possibilidade para a iniciação esportiva,que por meio da sistematização proposta possibilitará eoportunizará estímulos diferentes que contemplem um grandenúmero de ações e atitudes, contribuindo para o desenvolvi-mento dos indivíduos na sua forma plena e principalmente,caso seja a intenção futura do judoca, possibilitará o seudirecionamento e especialização no que tange a modalidadecomo esporte competitivo. Desta forma o processo estácentrado no sujeito e na sua aprendizagem, respeitandoseus limites e potencialidades, tornando o judô nesta fase dapreparação esportiva a longo prazo, um meio para o desen-volvimento e não um fim.

Para caracterizar os sujeitos que estão presentes nestafase, temos que centrar esta abordagem em relação às faixasetárias que se encontram presentes em grande escala nosprocessos de iniciação, direcionamento ou especialização,principalmente no judô, evidenciando então crianças entreseis e 12 anos de idade.

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Crianças que estão nessa faixa etária começam a par-ticipar de vários projetos relacionados ao judô, sendo escolasespecíficas da modalidade, clubes recreativos, projetos sociaisatrelados ao desenvolvimento do esporte etc. Nota-se queatualmente a iniciação esportiva muitas vezes negligencia asfases de desenvolvimento das crianças, utilizando métodosque não contemplam os objetivos de desenvolvimento dasfaixas etárias correspondentes, estimulando pouco e erronea-mente os processos de aprendizagem, comprometendo odesenvolvimento dos participantes nesta fase.

Este suposto engano ocorre devido a dois extremos deordem metodológica no que tange a preparação esportiva alongo prazo, sendo: a) a exacerbação da importância dosresultados competitivos neste período o que deturpa a abor-dagem das aulas provocando uma especialização e ou treina-mento precoce e; b) o distanciamento das ações em aula damodalidade específica, tornando a aula pouco sistematizadae com ações extremamente lúdicas, tornando um momentoque pode ser significativo no processo de ensino-aprendi-zagem-treinamento do judoca em atividades que configuremapenas como recreação.

Logo, aponta-se para a pedagogia complexa comouma opção que se adeque para todos os lócus de iniciaçãoem judô, pois a iniciação e o direcionamento na modalidadedevem ser sempre com duas intenções principais: a) desen-volver um indivíduo autônomo e estimulado a prática esportiva,seja esta o judô ou outra modalidade e b) oferecer subsídiosmotores, técnicos, táticos, psicológicos e sociais para aquele queintenciona inserir-se em um processo competitivo da modalidade.

Primeiramente, as crianças não devem ser compreen-didas e tratadas como adultos, ou adultos em miniatura, pois

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elas estão em processo de desenvolvimento e possuem assuas particularidades mediante a fase da vida que se encon-tram, sendo fator de sucesso e permanência dentro da práti-ca que estão iniciando, respeitar e trabalhar conforme essasfases (SILVA, 2010).

Utilizando das divisões de classes no Judô que ocorreem relação as faixas etárias e dentro destas classes temosainda a divisão em categorias em relação ao peso corporal,essa organização que já faz parte da modalidade terá grandeimportância em todo processo organizacional em relação aestrutura pedagógica da modalidade. Essa divisão por clas-ses facilita o processo de iniciação e direcionamento dentroda modalidade, assim como caracterizar os participantes decada classe é fator primordial para execução das ações nosprocessos de ensino-aprendizagem-treinamento.

As classes são divididas (FPJ):

Sub-7: menores de 6 anos;Sub-9: 7e 8 anos;Sub-11: 9 e 10 anos;Sub-13: 11 e 12 anos;Sub-15: 13 e 14 anos;Sub-18: 15, 16 e 17 anos;Sub-21: 18, 19 e 20 anos;Sênior: acima de 21anos

O nosso foco será em relação às crianças com idade entre06 e 12 anos e pertencentes as classe sub 07, sub 09, sub 11e sub 13 no judô que se encontram na terceira infância,podendo essa ser caracterizada como fase dos anos escolares.(PAPALIA e OLDS, 1998). Nesta fase, as crianças se desen-volvem em todos os aspectos, ficando mais altas, mais pesadas,mais fortes, além de se desenvolverem cognitiva e socialmente.

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Esses variados desenvolvimentos que ocorrem nessasfaixas etárias podem ser melhor entendidos quando observa-seas mudanças, ou seja, em relação a altura as crianças crescem2,5cm a 7,6cm ao ano, já relacionado ao peso elas ganham2,2kg a 3,6kg, ou mais, ao ano. Outra questão que deve serobservada é o ganho de habilidades, capacidades cognitivase seu desenvolvimento social. Em relação às habilidades mo-toras, todas as crianças continuam a se aperfeiçoar, tornando-semais rápidas, mais fortes e tentam continuamente obteravanços de desempenho nas diversas tarefas que realizam.Cognitivamente as crianças fazem avanços significativos nospensamentos lógicos e criativos, avançam significativamentena questão do juízo moral e socialmente elas se tornam maisinfluentes na sociedade. A autoestima delas melhora e pormais que os pais ainda as influenciem diretamente, a sociedadee, principalmente, suas companhias começam a ter um papelimportante na evolução dessas crianças (PAPALIA e OLDS, 1998).

Durante este período, as crianças começam a adquirirhabilidades que as deixam capazes de participar de atividadesmais sistematizadas, organizadas e com níveis de complexidadediferentes, como jogos e esportes (PAPALIA e OLDS, 1998).

Greco e Benda (2007) também caracterizam as fasesde preparação desportiva a longo prazo, segundo a classifi-cação dos autores e atrelando as mesmas as divisões encon-tradas no judô, crianças entre 06 e 12 anos correspondenteao ultimo ano da classe sub 07 no judô até o final da classesub-13 se encontram na fase universal de desenvolvimento,onde elas se apresentam com movimentos básicos emprocesso de refinamento constante, são dependentes doprocesso metodológico de estimulação e desenvolvimentopara alcançar os objetivos preconizados. Estes estímulos serãobase sólida e apropriada em relação ao movimento e às

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interferências de contexto surgidas na fase seguinte. Pos-teriormente surge a fase de orientação que inicia-se entre 11e 12 anos (classe sub-13) como primeira etapa e, após comoum segundo momento ela abrange também os 13 e 14 anos(classe sub-15).

Na fase de orientação os esportistas começam a espe-cializar os seus movimentos em direção a habilidades esportivasdiversas e aumentam gradualmente a complexidade destashabilidades e suas combinações em relação às diversas ativi-dades que participam, para então se direcionarem posterior-mente a modalidades esportivas específicas.

O judô, enquanto modalidade esportiva, é desenvolvidoem um contexto amplamente construído de situações abertascom interferências contextuais variadas e em diferentesgraus. Nestas situações construídas ocorrem ações discretase seriadas e a "tomada de decisão" é constante na modalidadeem relação as suas ações. Logo, estes fatores a indicam queo processo deve ter um planejamento de conteúdos e umapedagogia que contemple estas características, aproxi-mando o processo de ensino-aprendizagem-treinamento dascaracterísticas reais que ocorrem na modalidade (SCHMIDTe WRISBERG, 2001).

Neste sentido, a proposta da pedagogia complexacorresponde tanto às exigências da modalidade, quanto seadequa as fases de preparação desportiva a longo prazo.Para isso, é necessário adequar às atividades propostas deacordo com o organograma proposto nas Unidades Funcionaisda Figura 8, pois, conforme o judoca vai se aprofundamentoe especializando modalidade, vai aumentando o nível decomplexidade que deverá ser abordado as unidades funcionais.

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Desta forma, na fase de iniciação, as atividades propostasdeverão estar pautadas nos quatro momentos: pré-contato,controle em pé, controle em transição e controle no solo,pois embora possuam dentro dos seus contextos todas asunidades funcionais, permite a elaboração de jogos e exercíciosmais gerais, que proporcionam concomitantemente: a) de-senvolvimento motor geral, podendo inclusive promover atransferência para outras modalidades esportivas; b) desen-volvimento da inteligência tática, tanto para aplicação emjudô, quanto em outras modalidades e; c) pré-requisitos técnicose táticos para o direcionamento e especialização na modalidade.

As atividades devem primeiramente englobar caracte-rísticas gerais referente aos momentos e posteriormente seguirpara um direcionamento das unidades funcionais maiscomplexas que correspondem aos momentos, aproximandodo contexto real da luta formal de judô. Logo as atividadesnão devem ser propostas aleatoriamente, mas sim, organizadasde forma que tenham uma sequencia metodológica.Exemplificando o aumento gradual da complexidade, aoexecutar a atividade “pegar o nó da faixa”*, que se configuranos momentos: "pré-contato" e "controle em pé", a atividadepermite direcionamentos e contextualizações para as uni-dades funcionais de aproximação, contato e criação deoportunidade. No entanto, a atividade, não deixa de secaracterizar como uma atividade de caráter geral.

*. A atividade é realizada em duplas, causando inicialmente um processo deinteração. Antes de iniciar o jogo propriamente dito, as saudações nojudô já podem ser ensinadas às crianças; ao iniciar a atividade. Em relaçãoao processo de desenvolvimento motor geral, ocorre quando a criançapara resolver o problema proposto, opta por deslocamentos variados,tentativas de fintas e defesas, que promovem o desenvolvimento geralda sua agilidade, podendo futuramente ser transferido para outras modali-dades esportivas.

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Por meio deste exemplo, evidenciam-se alguns pontos:1- o caráter sócio motriz da atividade, 2- a possibilidade dedesenvolvimento multilateral com esta atividade, pois temcaracterísticas gerais e específicas, 3 - a adequação a faixaetária contextualizando uma brincadeira com as unidadesmotoras propostas neste trabalho, 4 - o caráter lúdico,tornando atrativo, motivacional e dinâmico o processo deaprendizagem, 5 - o caráter específico de desenvolvimento,uma vez que contempla situações padrões encontradas emcompetição, reorganizadas e adequadas para a faixa etária,6 - o desenvolvimento da capacidade tática - tomada dedecisão (KOZUB e KOZUB, 2004), 7 - a possibilidade espiralcontida, uma vez que poderá ser inserida atividades quedeem continuidade a unidade proposta e 8 - a possibilidadede contextualização com situações especificas de judô quepoderão a vir ocorrer em competições.

Ressaltando o processo em espiral, no qual ocorre umasobreposição das unidades funcionais em um processo enga-jado, ressalta-se que não há necessidade de domínio total deuma unidade funcional para iniciar a unidade subsequente.Pois, espera-se que prováveis déficits relacionados à resoluçãodos problemas ocorram, tornando-se lacunas que provoquemdesconfortos no judoca e que por meio de aquisições obtidasna abordagem de novas unidades vão paulatinamente tentarsuprir este problema, criando outras opções de solução equando retornar.ao problema original terá provavelmentemais de uma via de solução.

Será proposto aqui algumas atividades pautadas nométodo, muitas das quais já são utilizadas em aulas e treinospor outros técnicos, mas buscando aqui uma forma de con-textualiza-las.

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Momento: Aproximação; Atividade: relógio

Em duplas, parceiros estar de frente um para o outroa uma distância que permita que façam o kumi-kata se ne-cessário. Um dos parceiros deverá se movimentar em váriasdireções aleatoriamente e o outro deverá sempre tentar ficarde frente com o parceiro que está movimento, sendo que todavez que chegar a frente do outro deve tocar as mãos nooponente para que ele pare de se movimentar. Realizar a ativi-dade em um raio de 1,5 metros ou 2,0 metros no máximo.

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Momento: Aproximação; Atividade: Pega o pé

Em duplas, devem tentar tocar o pé do oponente eaquele que tocar primeiro realiza o ponto. É necessário quenessa atividade haja uma grande movimentação e aproximaçãovariada dos participantes. Realizar a atividade em um raiode 1,5 metros a 2,0 metros.

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Momento aproximação; Atividade: Pega a bola

Em duplas ou em grupos realizando uma vez cada um aatividade. Um dos parceiros deve estar com uma bola, sendoque o mesmo irá quicar na sua frente e em várias direções eo parceiro que estiver próximo deve se deslocar e apanhar abola. Essa atividade pode ser contextualizada com outrasmodalidades, porém possui características muito próximasaos princípios de aproximação no judô. Realizar a atividadeem raio de 1,5 metros ou 2,0 metros no máximo.

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Momento: aproximação; Atividade: Bagunça Kimono

Em duplas e os parceiros devem se movimentar con-forme a luta, porém o objetivo é o contato rápido e constantetentando "bagunçar" o kimono do colega, ou seja, tirá-lo dedentro da faixa. Na ausência de kimono, essa atividadepoderá ser realizada com os integrantes com a camiseta pordentro da calça.

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Momento: Aproximação; Atividade: Pega primeiro

Em duplas com movimentação de luta sem contato aocomando do instrutor os indivíduos devem realizar as açõesantes do adversário Ex: pegar manga e manga, gola e gola,manga e gola etc.

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Momento: Aproximação e controle em pé; Atividade:Pegar a faixa

Em duplas e com o nó da faixa de ambos os parceirosvirado para trás. A atividade tem como objetivo trazer o nó dafaixa do adversário para frente, sendo que tal atividade requerbastante aproximação, contato rápido e pontual e controle dooponente em pé durante a tentativa de executar o objetivo daatividade para trazer o nó para frente. Essa atividade pode serrealizada em grupos e, na ausência de faixas, pode ser usadoalgum objeto que eles consigam deixar pendurado atrás para osparceiros tentarem pegar. Ex: tira de pano presa no elásticoda calça - faz ponto quem consegue tirar a tira do adversário.

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Momento: Aproximação e controle em pé; Atividade:Abraçar a cintura

Em duplas e os adversários devem tentar abraçar acintura do oponente, sendo que realiza ponto aquele queconseguir abraçar a cintura primeiro. Essa atividade requer umaaproximação variada e um contato rápido com o adversário.

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Momento: Controle em pé; Atividade: Rouba tesouro

Em duplas em um raio de 2,0 metros no máximo, cadaparticipante precisará ter um objeto atrás de si mesmo nosolo, sendo que o objetivo do adversário é colocar a mão noobjeto do oponente. Essa atividade requer muito contato,pois para evitar que o adversário pegue o seu objeto ou parapegar o dele o contato entre eles será enorme. Deixar claroque eles devem ter contato e não correr um do outro, massim desenvolver ações que facilitem ou possibilitem queconsigam chegar ao objetivo.

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Momento: Controle em pé; Atividade: Controle deterritório

Em duplas e o objetivo é não deixar que o outro entreno seu espaço, podendo ser um arco ou círculo criado com afaixa no tatame. O indivíduo que irá defender o territóriodeve ficar fora do espaço. Outras variações podem ocorrernessa atividade usando espaços diferentes ou situaçõesdiversas. Ex: com dois territórios, sendo que um tem queinvadir e também tenho que defender o seu espaço.

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Momento: Controle em pé; Atividade: Sumô adaptado

A atividade pode ser realizada em duplas, individual-mente - sendo um contra todos - ou em equipes. O objetivo écausar o desequilíbrio do adversário fazendo com que elecoloque alguma parte do corpo no solo que não seja os pés.O vencedor é aquele que conseguir causar o desequilíbrio nooponente. Podemos também variar essa atividade: ao invésde se desequilibrar o adversário para colocar alguma parte docorpo no solo que não seja os pés, tenta-se tirar ele doespaço estabelecido como limite.

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Momento: Controle em pé; Atividade: Bate as mãos

Em duplas, um de frente para o outro em uma distânciaque eles conseguirão se tocar; deve-se tentar desequilibrar oadversário batendo as palmas da mão, sendo que o ganhadoré o que conseguir fazer com que o outro mude os pés deposição ou caia.

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Momento: Controle em pé; Atividade: Sumô demãos

Em duplas e um do lado do outro em direções opostas.Os participantes devem dar as mãos e um tentar desequilibraro outro, fazendo com que um deles mude os pés de posição.Ganha a atividade aquele que conseguir tirar o oponentedo lugar.

Nessa atividade podemos ter inúmeras variações quecaminham em direção aos mesmos objetivos, sendo: realizara atividade com auxilio de um cabo de vassoura onde cadaparticipante deverá segurar uma extremidade do cabo comuma mão e movimentar (puxar, empurrar para ambas asdireções) tentando desequilibrar o oponente fazendo com queele se movimente e troque seus pés de local (desequilibre);usando o cabo de vassoura também podemos colocar o mesmona frente dos adversários horizontalmente e ambos devempegar no cabo com as duas mãos e através de movimentaçõesaleatórias tentar tirar o oponente do seu ponto de equilíbrio;realizar a atividade segurando a mão do adversário de frentepra ele, sendo que as mãos que estarão em contato devemser de lados diferentes (direita, esquerda ou esquerda, direita)e através de movimentações aleatórias tentar tirar o oponentedo seu ponto de equilíbrio;

Realizar essas variações com disposições diferentes dopés no solo, ou seja, os parceiros com os pé paralelos, direito

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a frente, esquerdo a frente, pés opostos ao adversário, sendoque essas variações devem ser constantemente anexadas aocontexto de prática.

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Momento: Controle em pé; Atividade: Luta de ganchos

Em duplas e os oponentes devem tentar projetar oadversário ao solo realizando somente ganchos nas pernas.Essa atividade é uma ótima iniciação para a compreensãodas técnicas de ashi-waza.

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Momento: Controle em pé; Atividade: Uchi-komi variado

Podem ser realizadas entradas de golpes variadas, po-rém sempre contextualizadas e próximas às característicasda luta, além de ser de muito importante a variação dedireções e contextos. Ex: empurrando, puxando, deslocandoaleatoriamente, deslocando para direita, esquerda, girandoetc. Nessa atividade a variação de direções é fator primordiale, uma maneira de contextualizar essa grande variação éabordar nessa atividade todas as movimentações possíveisque podem ocorrer dentro da luta, fazendo com que o alunose relacione e vivenciei essas mudanças de contextos, exem-plos: para frente, para trás, direita, esquerda, girando para adireita, girando para a esquerda, diagonais pra frente direitae esquerda e diagonais para trás direita e esquerda.

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Momento: Controle em pé; Atividade: Abraça acintura e ganchos

Em duplas e os parceiros deverão tentar abraçar acintura do adversário e realizar ganchos nas pernas tentandoprojetar o oponente. Essa atividade é muito produtiva para oinício da aprendizagem de técnicas de ashi-waza e contragolpes.

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Momento: Controle em transição; Sentar o parceiro

Em duplas e um parceiro deve começar a atividadeabraçando a cintura do outro, porém esse que abraçou deveestar nas costas do adversário e tentar fazer com que elesente-se. O objetivo é desenvolver a projeção e transição(uma vez que tenta controlar o contato em direção ao solo)em relação às técnicas de kaeshi-waza (contragolpes) para oque está atacando e para o parceiro que está se defendendodesenvolver mae-ukemi.

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Momento: Controle em transição; Atividade: Cascode Tartaruga

Em duplas e um parceiro deve ficar na posição de oitoapoios de maneira compacta, fazendo evidência ao casco datartaruga, sendo que o objetivo da atividade é não deixar oadversário virar o parceiro que está no casco da tartaruga.Nessa atividade, conseguimos contextualizar situações queacontecem frequentemente durante as lutas de judô referentesà transição.

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Momento: Controle em transição; Atividade: Rolinho

Em duplas e de joelhos. Um parceiro realizará umkoshi-guruma no adversário e esse, após cair, rolará o outropor cima do seu corpo, realizando transição e já caindo emposição de imobilização.

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Momento: Controle em transição e no solo; Atividade:Pegar primeiro

Em duplas e sentados. Um deve estar de costas para ooutro e ao sinal do técnico devem virar-se e tentar segurar oadversário com as costas no chão. Para que eles possamcompreender o tempo que eles devem segurar, pode-setrabalhar com a contagem até 10, ou seja, quem seguradeve ficar segurando até que termine de contar.

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Momento: Controle em transição e no solo; Atividade:Controle no espaço de joelhos

Em duplas e de joelhos um parceiro deve ficar em umespaço pré-estabelecido e o outro tentar manter ele dentrodesse espaço não permitindo que ele saia. A atividade deveser realizada o tempo todo de joelhos, estimulando o controleno solo e as variações próximas a situações de transição.

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Momento: Controle no solo; Atividade: Segura escapa

Em duplas e um parceiro deve segurar o outro comas costas no chão e da maneira que se sentir confortável,sendo que ao sinal do instrutor esse que está embaixo deverátentar sair.

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Momento: Controle no solo; Atividade: Passagens

Trabalhar com as crianças o ensino de passagens simplesque possam auxiliar o seu desenvolvimento quando estiveremem situações que necessitem de algo técnico para realizar atransição. Ex: ganchos nos braços, rolinho segurando calça emanga etc. Essa atividade poderá subsidiar as crianças narealização de atividades citadas acima.

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Momento: Controle no solo; Atividade: Rei da guarda

Em duplas e um deve ficar na posição de guarda e ooutro tentar passar e imobilizar. É importante ressaltar que oparceiro que está na guarda deve tentar ficar na posição enão dar as costas para o outro parceiro. Nessa atividadepodemos realizar algumas variações, como: realizar a mesmaatividade porém em meia guarda; com a guarda ou meiaguarda aberta e fechada etc.

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Em relação às crianças e alunos pertencentes ao direcio-namento, também devemos pautar o trabalho sobre essesmomentos da luta, porém enfatizando agora com mais di-recionamento as oito unidades funcionais. (OLIVIO JUNIORet. al., 2015). Atribui-se que os indivíduos pertencentes aodirecionamento dentro do judô já se apresentam em umafase mais avançada de desenvolvimento de acordo com ascaracterísticas motoras e cognitivas preconizadas para essessujeitos, conseguindo combinar habilidades e realizar açõesque envolvam situações mais complexas, fato esse apontadopor Gallahue e Osmun (2005) colocando que conforme ossujeitos são estimulados e a aquisição de repertório motorevolui mediante a aquisição de habilidades diversas e rela-cionadas com as suas fases de desenvolvimento, os sujeitospertencentes a esse processo começam a adquirir capacidadepara combinar habilidades e participar de jogos ou situaçõesmotoras com maior complexidade, situação essa encontradadentro do direcionamento no judô.

Sabe-se que é extremamente dependente essa fase dedirecionamento dos estímulos recebidos na fase de iniciação,pois, caso esta fase tenha sido pobre em relação aos estí-mulos recebidos, possivelmente os indivíduos pertencentesao direcionamento apresentarão um aproveitamento eacompanhamento dificultado em relação às atividades, tendomuitas vezes que realizar atividades referentes à iniciação.

Em relação a exemplos de atividades que contemplemos momentos da luta e suas unidades funcionais para a fasede direcionamento, cabe citar, primeiramente, que todos osexercícios que são utilizados na fase de iniciação tambémpodem ser usados nessa fase, modificando apenas a comple-xidade e os objetivos da atividade, focando sobre as unidades

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funcionais existentes nos momentos e não somente sobreeles, sendo essas modificações atreladas ao desenvolvi-mento dos indivíduos. As atividades propostas serãoapresentadas na figura 11. Atividades propostas para odirecionamento.

Momentos Descrição

Aproximaçãoe contato

Em duplas e os parceiros deverão realizar diferentes formas de contato epegada ao sinal do professor, podendo também estabelecer situaçõesespecíficas como realizar a pegada para a direita, esquerda, costas, nasmangas etc.

Aplicaçãoe desequilíbrio

Nessa atividade é muito importante a variabilidade de ações e contextos,buscando um desenvolvimento pleno do indivíduo. Ex: devem ser realizadosuchi-komis em movimentações aleatórias com e sem resistência, uchi-komiem pizza onde o tori realiza as suas ações para as 10 direções possíveis,conforme figura 7.

Realizar randori em situações diversas de desvantagens , para que o quetori em desvantagem busque criar soluções e mudar o contexto que estáocorrendo. Essas desvantagens podem estar relacionadas a uma pegadadominada, a uma situação de canto de área, desvantagem em placar ouainda configurações de kumi-kata que dificultem o tori a executar seu tokui-waza.

Realizar randori com o tempo reduzido para que os parceiros busquemcriações a fim de obterem uma situação determinante (ponto ou levar aosolo com condição de ataque) com parâmetro de pressão do tempo.

Realizar o randori com o tempo normal de competição de cada categoria,porém durante os combates colocar pausas intermitentes e aleatórias,conforme acontecem na competição, para que assim criem o hábito debuscar a oportunidade e recriar um plano de ação constantementemediante as diferentes variáveis que surgem no contexto.

Desequilíbrio,criação de

oportunidade eprojeção

Em duplas o uke deve dificultar as ações do tori estabelecendo kumi-katadiversos conforme as orientações do sensei. Ex: o tori deve desequilibrar ecriar a oportunidade buscando a aplicação, porém o uke vai dificultarestando segurando nas duas mangas, nas duas golas, de canhoto, destro,manga e gola etc. Essa atividade faz com que o tori crie continuadamenteum plano de ação perante as diferentes situações encontradas.

Aplicação

Em duplas e colocando o uke como agente principal da atividade o tori irámovimentar conforme a luta e aplicar o golpe, sendo que o uke nessemomento irá realizar ações de contra golpes, buscando estabelecervantagem perante a situação seja pontuando ou não. Engajado a essaatividade uma variação que pode acontecer é o uke realizando o contragolpe e automaticamente após já realizar a transição para a luta de solo.Outra variação é o tori tentar impedir o contra golpe e se colocarnovamente em vantagem, seja conseguindo completar a projeção ouretornando a uma posição confortável sem ser contra golpeado.

Criação deoportunidade

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Figura 11: Atividades propostas para o direcionamento

Esses são alguns exemplos de atividades que podemser ofertadas a atletas que encontram-se em direcionamento(após os 10 anos de idade). Devemos observar que nessegrupo há uma combinação maior de unidades e momentos,pois, essa complexidade deve acompanhar os níveis dedesenvolvimento dos indivíduos.

Todas as atividades podem ser realizadas pelas turmasde iniciação ou direcionamento, diferenciando na maneirade serem orientadas pelos técnicos e em relação aos seusobjetivos, pois o principal de toda ação é o modo comoserá contextualizada com seu aluno sobre os seus objetivos,sendo fator primordial o entendimento dos processos dedesenvolvimento, características da modalidade, os mo-mentos da luta de judô e as unidades funcionais referentes acada momento.

Os parceiros devem realizar variação de aplicação com projeçãojuntamente com as situações de transição, sendo muito importante anexara atividades como essa, situações diversas. Ex: com o adversário correndopara cima, andando para traz, segurando em lados opostos ao seu,somente com uma mão no judogui etc.

Em duplas e realizando a atividade uma vez cada, o tori do momento deverealizar uma projeção com técnica de sutemi waza e a partir dessa realizara sua ação de transição. Uma variação para essa atividade pode ser o torientrando o sutemi-waza como estabelecimento de fuga e uke buscandorealizar a transição perante o momento.

Desenvolver com as praticantes ações juntamente com a transição criandouma visualização da área de combate, ou seja, próximo ao limite da área,na parte central da área, tentando atrelar as ações para que essas sejamúteis para o momento e o contexto que está ocorrendo.

Tansiçãofaz-se em duplas e o uke deve realizar ataques em pé com pouca energiapara se tornarem falidos ou ineficientes de maneiras diversas, desta forma otori poderá realizar as ações de defesa da queda e de transição

Luta desolo

Os participantes devem realizar luta de solo a partir de diferentes formas deiniciar como na guarda, meia-guarda, nas costas, com o adversário jásegurando, quatro apoios, etc.

Projeção etransição

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Esse planejamento pode ter ainda mais êxito se acopladoa planos de aulas individuais que farão com que os técnicospensem nos objetivos constantemente e nas possibilidadesmetodológicas.

4.2. O Treinamento e a competição no desenvolvimentoda autonomia de judocas

Participação: Aline Beatriz Olivio*

Quando iniciamos um trabalho pedagógico como pro-fessor escolar, técnico de uma equipe ou de uma seleção,voluntário em um projeto social, ou qualquer outra esfera deatuação profissional é exigido uma responsabilidade em relaçãoa direcionar esforços para contribuir com seres humanos emformação. Não se deve, portanto, perder de vista o papel de"formador" que o cargo confere, estando à frente de umgrupo requer avaliação da finalidade e a objetividade dasações, neste sentido, este capítulo coaduna com a ideia deScaglia (1999, p.26)

Ensinar não é, e nunca será, tarefa simples e desprovidade responsabilidades. Ao ensinar tem-se o compromissocom o formar. Formar o cidadão que, para se superar eser sujeito histórico no mundo, necessita desenvolversua criticidade, sua autonomia, sua liberdade de ex-pressão, sua capacidade de reflexão, sintetizando suacidadania. Assim sendo, aluno/sujeito/cidadão, lapidado

*. Olivio, A.B.; Olivio Junior, J.A.; Drigo, A.J. O Treinamento e a compe-tição no desenvolvimento da autonomia de judocas. In: Olivio Junior,J.A.; Drigo, A.J. Pedagogia complexa no judô: um manual paratreinadores de base. Ed. Mundo Jurídico: Leme-SP, 2015.

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por quem ensina, não será mais aquele que simples-mente se adapta ao mundo, mas o que se insere,deixando sua marca na história.

Ao tratar o método como a pedagogia complexa, éimprescindível avaliar. Neste sentido, como a proposta serefere à prática do judô, no que tange ao desenvolvimento alongo prazo, a proposta para avaliar o atleta ao longo dosanos poderá ser por meio da própria competição. Conse-quentemente, ao avaliar a competição não se deve entendercomo avaliar o resultado dela e sim os aspectos desenvol-vidos ao longo do processo que, dentro deste ambiente,surgem de forma mais espontânea e menos controlada queno treino. Assim ela serve como a verificação do conteúdopassado nas atividades do treinamento, colocados em umambiente ecologicamente distinto e particular. Desta formao jovem enfrentará sozinho seus desafios e dilemas, dentreeles os técnicos, os táticos, os atitudinais, os cognitivos, osemocionais e os psicológicos.

Logo, a competição enquanto avaliação do processonão deve ser classificatória, excludente e taxativa. As com-petições deverão ao longo do processo ofertar subsídiospontuais para serem trabalhados e desenvolvidos, com obje-tivo de evolução do judoca, na direção a sua autonomiacomo atleta e como cidadão, principalmente quando o tra-balho é com judocas em formação.

Neste sentido, as competições ao serem ressignifi-cadas para avaliação não podem ser uma via de mão única,técnico-atleta, mas necessita tornar -se processual, dialéticae contínua, atleta-técnico-atleta, pois, por meio de uma autoavaliação sistêmica e dirigida o judoca desenvolverá maior

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autoconsciência. Consequentemente busca-se torna-lo maisautônomo em relação a suas escolhas, sejam estas na esferaesportiva ou não.

Esta abordagem se faz necessária quando se trabalhacom o método da pedagogia complexa, uma vez que o pontocentral desta é o fator tática, compreendida aqui comotomada de decisão perante uma situação. Logo, desenvolvera inteligência de jogo, a autoconsciência, auto avaliação eportanto autonomia são condições sine qua non para odesenvolvimento pleno do judoca. Assim, o contexto da fraseatribuída a Jigoro Kano que, o judoca não se aperfeiçoa paralutar, mas luta para se aperfeiçoar, tem sentido nestecontexto, tornando a proposta altamente adequada no quese refere ao judô.

Para melhor compreensão dos critérios a ser avaliadosem competição, bem como os itens a ser desenvolvido aolongo dos anos de prática do judô, cabe uma reflexão sobrealguns aspectos, dentre estes o relacionado ao caráter for-mativo do indivíduo vem em um primeiro e em seguida oesportivo. Salientamos que a partir de um amadurecimentocom o método a divisão tornará aos poucos desnecessária,assumindo um formato que ambos podem ser trabalhados demaneira concomitante, e assim coadunem na formaçãointegral do judoca, seja este competidor ou não.

Partindo da perspectiva da formação integral do indi-víduo, considera-se que a autonomia tem o papel centralpara o desenvolvimento deste método. Autonomia nestecaso é definida como a capacidade do individuo em analisar,comparar, decidir e arcar com as consequências da sua ação,de forma que este entende que existe a regra e por si só

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sabe o que pode ou não executar, porque está internalizadoe não por temer a punição (PIAGET, 1932).

Diferente da autonomia, as fases que antecedem aela são caracterizadas pela falta de reflexão pelo próprioindividuo. A primeira delas, chamada de anomia, se refereao primeiro período de vida da criança, quando ainda nãoconhece o que pode ou não pode perante a sociedade.Durante esse processo a criança chora porque está comfome, independente do lugar onde se encontra. Conformecomeça a interagir com o meio, passa a perceber que existemregras e que, portanto há comportamentos que pode ou nãoemitir em determinados ambientes, chegando à segundafase que é conhecida como heteronomia. Nesse momento acriança age baseada na reflexão do outro, e então segue aregra porque o outro verbaliza que precisa seguir, e nãoporque compreende (PIAGET, 1932).

Em estados autoritários o desenvolvimento do juízomoral estaciona no estágio da heteronomia. Muitas vezes oambiente força o indivíduo a obedecer às normas e regras apartir da coerção, então por medo, ele cumpre o que osoutros ordenam, não internalizando as regras necessárias(PIAGET, 1932). Neste sentido, observa-se que o ambienteonde este indivíduo está inserido, neste caso o local em queele pratica o judô, tem uma contribuição significativa paradesenvolver no mesmo, um ser humano que se comportacom base em um processo de reflexão ou de coerção.

Pensando no desenvolvimento do indivíduo, atleta ounão, um dos passos que podem auxiliar o desenvolvimentoda autonomia, capacidade de reflexão e criticidade, é oestabelecimento de metas. Uma vez que, uma meta a ser

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atingida identifica e sugere quais comportamentos podemser executados, em que situações devem ocorrer e quaisserão as consequências (MARTIN E TKACHUK, 2001). Oestabelecimento de metas torna-se o maior auxiliar naavaliação do processo, uma vez que permite ao atleta tomarconsciência de quais são suas limitações que precisam sersuperadas a fim de conquistar seu objetivo e, portanto,melhorar sua capacidade.

Segundo Weinberg e Gould (2001) alguns critérios devemser adotados para estabelecer metas. O primeiro deles serefere a que tipo de metas deve ser definida, variando entresubjetivas e objetivas. Ao trabalharmos com metas objetivas,que direciona a atenção para o padrão específico de compe-tência em uma tarefa, os autores sugerem a seguinte divisãopara que se alcance melhores resultados na aplicação:

1 - Metas de resultados;

2 - Metas de desempenho;

3 - Metas de processo;

A primeira delas se refere às metas de resultados com-petitivos, ou seja, a vitória em uma competição. Portanto,essa meta depende não apenas do atleta em si, mas tambémdo seu adversário. Já as metas de desempenho, estão rela-cionadas ao próprio desempenho do atleta. Elas são estipu-ladas baseadas em padrões de desempenho que o atletaquer atingir, como por exemplo, um judoca que gostaria detornar um determinado golpe eficiente.

Por último, as metas de processo, são ações que oatleta precisa realizar para conseguir atingir o desempenho

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desejado. E então partindo do exemplo anterior, em queposição os braços, pernas e/ou quadris poderiam estar quefacilitariam a projeção do adversário.

Não se pode desconsiderar nenhuma das três metastendo em vista que todas são importantes na orientação demudança do comportamento. Porém enquanto as metas deresultado estão relacionadas aos resultados competitivos e aoutras duas estão relacionadas ao próprio atleta, então, inde-pendem do adversário para serem atingidas. O fato de depen-derem apenas do próprio atleta além de possibilitar ajustesmais precisos, pode contribuir para diminuir ansiedade eaumentar autoconfiança. Apesar de não ser o foco do trabalho,as metas de resultados também precisam estar presentes, alongo prazo, para que o atleta se sinta motivado fora doperíodo de competição, sem perder de vista as demais metas.

Weinberg e Gould (2001) ainda citam outros princípiosa serem seguidos para o estabelecimento das metas, são eles:

1 - Definir metas específica;

2 - Estabelecer metas tangíveis de serem atingidas;

3 - Elencar metas a curto e longo prazo;

4 - Desenvolver metas de treino e competição;

5 - Realizar registro das metas;

6 - Criar estratégias;

7 - Levar em consideração personalidade e motivaçãodos atletas;

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8 - Apoios e incentivos;

9 - Fornecer feedback;

As metas quando são declaradas com especificidadeapresentam melhores resultados, pois clareiam os objetivosque o individuo está em busca.

O segundo principio, diz respeito ao nível de dificuldadeda meta e está ligada a motivação. Metas com níveis baixosde dificuldade podem gerar desinteresse por parte do atletapor serem fáceis de atingir, enquanto que as metas comníveis muito elevados podem gerar ansiedade por julgar-seincapaz de corresponder. Para que o atleta se mantenhamotivado para conquistar a meta declarada, ele precisasentir-se desafiado e ao mesmo tempo capaz de cumpri-ladentro de um período de tempo. Cabe lembrar que mudançasrequerem tempo, portanto é necessário que as metascompreendam o período em que devem ser executadas. Hánecessidade de se criar metas a longo e a curto prazo deforma que ambas estejam ligadas e que caminhem para omesmo fim, ou seja, as metas de curto prazo usadas comoestágios para a conquista da meta a longo prazo (WEINBERGe GOULD, 2001).

Outro ponto, ainda seguindo o mesmo autor, se refereàs diferentes metas para competição e treinamento. Tercomo objetivo apenas a primeira, não é visto como umaproposta ideal, já que o atleta passa a maior parte do seutempo nos treinamentos, o que pode ser um fator desmo-tivador sem a presença delas. Por outro lado, ao se inserirmetas de treinamento, pode-se aproximar mais das condiçõesde competição e suas metas específicas, possibilitar oufacilitando que estas sejam atingidas.

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Registra-las também é um item importante nesseprocesso e pode ser realizado de diversas formas, ou seja,através de cadernos, cartões e diários. O registro é necessáriopara que os atletas revisem com frequência quais metasbuscam atingir e quais foram atingidas, não as perdendo devista. Desenvolver estratégias também é um item importanteuma vez que direciona as ações, indica a quantidade delas ea frequência com que deve ser realizada. Quanto maisespecificas são essas estratégias, melhor o direcionamento.Finalmente, como cada atleta tem uma personalidade e umamotivação específica, cabe ao aplicador conhecer essas ca-racterísticas, para que se estabeleçam as metas e assimpermaneçam no processo até que o objetivo seja alcançado,sem que a motivação seja um item que atrapalhe.

Ainda como um dos princípios básicos para aplicaçãodas metas observa-se o incentivo ao compromisso e apoio. Érelevante que o atleta esteja diretamente relacionado aoprocesso e não seja apenas parte dele, de forma que otécnico tenha apenas o papel de orientador, permitindo quecada um dos participantes estabeleça as suas próprias metas.Também é necessário entender que pessoas envolvidas nocontexto, seja elas familiares ou técnicos, ao demonstrareminteresse pelas metas estipuladas pelos atletas e ao acom-panhar a evolução delas, contribuem para a motivação epermanências principalmente tratando-se de crianças e jovensem formação.

O último item se refere à avaliação e Feedback, ouseja, a resposta do aplicador diante das ações do atleta.Além de ser um item relevante para a realização das metas,é também um importante orientador das escolhas, principal-mente quando se trata de jovens atletas. Ele pode ser tanto

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de caráter motivacional, quando aponta ao atleta o que temfeito incorretamente e fornece um referencial para melhorar;como de caráter instrutivo que informa o atleta sobre oscomportamentos específicos a serem executados e os níveisde competência atual e os a serem alcançados (WEINBERGE GOULD, 2001).

Nesse sentido para que o feedback seja realmente efetivoele deve ser aplicado de formas diferentes. Dependendo doestágio de aprendizagem que o atleta se encontra, ou seja,durante o desenvolvimento de novas habilidades o feedbackcontinuo é importante, pois funciona como motivador e for-nece informações necessárias. Quando o atleta já dominauma habilidade e realiza com uma frequência desejada, ofeedback intermitente tem mais utilidade, porque nesse casoo comportamento persistirá por mais tempo na ausência dereforço (WEINBERG e GOULD, 2001). Para que então ofeedback apresente um caráter construtor no atleta é precisoentender os princípios de reforço. Reforço são recompensasque aumentam a probabilidade de um determinado compor-tamento ocorrer de forma semelhante em outro momento(SKINNER, 1974).

Partindo desta perspectiva, para que se alcance muitasvezes a mudança de comportamento desejado em um atleta,é necessário conhecer o que para ele é realmente importantee, portanto reforçador (WEINBERG E GOULD, 2001). Aorealizar uma ação, a consequência dela será determinantepara que o mesmo comportamento volte ou não a acontecer.Caso a consequência seja positiva, e então ele se sintarecompensado, a possibilidade de ocorrer novamente au-menta, mas em uma situação onde a consequência sejadesagradável a tendência é não ter o comportamento repetido(SKINNER, 1974).

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Ainda nesse sentido, um mesmo reforçador pode terefeitos diferentes em dois atletas, em função da significaçãoque cada um deles estabelece, ou o mesmo reforço pode nãoter um valor muito elevado quando concorre com outrosreforçadores externos. Dessa forma, fortalece a razão de seconhecer muito bem o atleta que se trabalha para aumenta aprobabilidade de encontrar o reforço ideal (WEINBERG EGOULD, 2001).

Dentre os tipos de reforços e estratégias que os treina-dores podem utilizar e que dessa forma podem aumentar apercepção de competência e sucesso do atleta, além deinfluenciar o nível de motivação intrínseca (BARBANTI,2005) está: os reforçadores sociais (ex: elogios); os reforça-dores materiais (ex: medalhas); os reforçadores de atividade(ex: descansar) e as saídas especiais (ex: assistir uma compe-tição) (WEINBERG e GOULD, 2001).

Apesar de algumas vezes punições, por meio de críticas,por exemplo, serem usadas no processo de treinamento paraeliminação dos comportamentos indesejados, esse não é vistocomo o processo adequado, uma vez que a motivação principalse torna o medo. Diante dessa situação o atleta perde o foconas ações efetivas para obter sucesso e se prende nas conse-quências do perder, além do ambiente de aprendizagemaversivo que se é criado, de forma que o atleta possa vir aemitir alguns comportamentos somente na presença daameaça de punição, ou até mesmo com o intuito de conseguiratenção (WEINBERG e GOULD, 2001).

Ao recompensar as tentativas bem sucedidas, de-sempenho, esforço e as habilidades emocionais e sociais, aoinvés do resultado competitivo, o técnico contribui para oatleta entender melhor a competição como parte do processo

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e não como determinante para o momento em que seencontra. Com isso o técnico pode possibilitar com que oatleta lide melhor com as emoções negativas decorrentes daderrota e do fracasso.

Sendo assim, as metas ao serem atingidas levam anovos e maiores desafios e a referência passa a ser o desem-penho e não mais as expectativas externas. O resultado acurto prazo deixa de ser o foco principal e a motivaçãointrínseca passa a ser um alvo, já que o atleta agora está sobinfluência dos padrões de desempenho que deseja atingir enas ações que deverá executar.

Motivação aqui é entendida como uma força queimpulsiona a ação (FIGUEIREDO, 2000). Enquanto a motivaçãoextrínseca depende de recompensas externas, a motivaçãointrínseca não, nessa o atleta é movido por suas questõesinternas e a tarefa por si só tem esse caráter. Quanto mais oatleta foca em seu próprio desempenho, maior a chancedele desenvolver a motivação intrínseca e menor será a in-fluência das questões externas, mais uma vez diminuindo orisco de se abalar diante de resultados negativos (WEING-BERG E GOULD, 2001).

Baseado nas discussões apresentadas até esse momentoobserva-se que quanto maior a percepção de competênciadesse atleta, maior é a chance dele se manter motivado paraa prática esportiva (WEINGBERG E GOULD, 2001), enten-dendo a percepção como capacidade de selecionar e analisaras informações recebidas e orientar sua ação (GRECO,2009) e, portanto é um item que também merece atenção.

Levando em conta que o judô é um esporte individual,com características de esportes coletivos no que tange a sua

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práxis (PARLEBAS,2001; RIBAS, 2002), a percepção necessi-taria ser observada nos dois processos definidos por Grego(2009), são elas: percepção externa e auto percepção. Aprimeira diz respeito às informações do meio ambiente(espaço, tempo, movimento do adversário, etc.) e a segundaas informações da própria pessoa (movimento corporal).

Melhorar a percepção desses atletas influencia tantoem competições, quando o atleta precisa analisar as infor-mações recebidas no encontro com o adversário - tática, quantonos treinamentos para conhecer suas capacidades e limites.

Uma proposta para desenvolver as percepções de su-cesso e competência, assim como também a motivaçãointrínseca, é citada por Weingberg e Gould (2001). Nela, osautores sugerem proporcionar experiências de sucessos,criando condições para que o atleta seja capaz de executarsuas ações; recompensá-los com base em seus desempenhospor meio de feedback positivo; variar o conteúdo e a sequênciados exercícios para assim diminuir a monotonia e oportunizara testagem de novas possibilidades pelos atletas; envolver osatletas nas tomadas de decisão para que aumentem a per-cepção de controle e realização pessoal; além das metas dedesempenho já discutidas anteriormente.

A percepção é um processo presente em todas asações esportivas e são importantes para organizar e orientaro atleta. Quanto maior a capacidade de perceber e processaros sinais significativos para uma ação, melhor será a suaresposta para as exigências de um exercício ou de uma luta.Nesse sentido, quanto maior e melhor a experiência ao longodos anos, ou seja, quanto melhor for a aquisição de conheci-mento no processo de aprendizagem, maior será a quantidade

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de experiências acumuladas e arquivadas na memória, au-mentando a capacidade de processar e elaborar os estímulos einformações (Greco, 2009).

Observou-se até aqui que a busca pela autonomia estárelacionada ao fato do atleta conhecer melhor suas necessi-dades, capacidades e limitações, e que fatores externoscomo família, amigos e técnicos apresentam papel funda-mental nessa trajetória (CAVAZANI, 2012). O ser humano,além de suas características genéticas, é constituído pelo seuhistórico de aprendizagem selecionado pelas consequênciasreforçadoras e pela sua interação social. Nesse sentido, oambiente tem uma função significativa na seleção doscomportamentos também. Desde a infância, essa interaçãopermite a construção de ideias muitas vezes negativas edistorcidas da realidade, em função da percepção que temosdos eventos que ocorrem ao longo da vida. À medida queesses eventos são observados sempre pelas mesmas pers-pectivas, essa noção é confirmada e a crença é instalada.

Desta forma, a competição deve tomar um novo sig-nificado, remetendo a outros valores que muitas vezes dife-rencem do senso comum e da crença popular, na qual sóimporta o campeão. Como profissionais do esporte é precisoentender e atribuir significados que sejam condizentes aodesenvolvimento integral do judoca.

Neste sentido, a competição para Coakley (1994) éentendida como um processo social onde pessoas ao realizarema mesma tarefa, são recompensadas quando apresentam umdesempenho melhor que o desempenho de seus adversários.Nesse sentido, ao competir há uma comparação direta dosparticipantes, de maneira que a estrutura de recompensafortalece a noção de sucesso de um participante e de fracassodo outro.

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Quando se tem a perspectiva de que fracassou diantede um adversário e não se tem a ideia da competição comoprocesso, o sentimento negativo é instalado, podendo afetara motivação do atleta, assim como outras característicaspsicológicas, dificultando o processo de aprendizagem. Ao sepensar na repetição desse evento ao longo do período, como porexemplo, perder campeonatos com frequência, o risco dedesenvolver uma crença desfavorável para um bom desempenho,ou até mesmo para se manter praticando o esporte é aumentado.

Sendo assim o modelo elaborado por Martens (1975)concorda com essa definição, mas discute a competiçãocomo um processo que está sob influências sociais e que,portanto, tem a qualidade da liderança (técnico) como deter-minante, muitas vezes, para criar uma experiência positivaou negativa ao atleta. Para esse autor, ao usar como padrãode comparação a vitória sobre um adversário, ao invés deusar o próprio desempenho, acaba-se acentuando a compe-tição, aumentando assim, algumas vezes, a sensação depressão e ansiedade no atleta (WEINBERG e GOULD,2001). Para que essa crença não seja instalada ou para queseja desconstruída, é preciso que a melhora no desempenhodo atleta, comparado a ele mesmo em momentos passadostornem-se o objeto da avaliação.

Concordando com Roffé (1999) quando afirma que aoaumentar a confiança dos atletas em si mesmos, trará maiorsegurança para realizar as ações, as capacidades de decisãoe de agir, e o controle dos medos na prática esportiva.Entende-se, portanto que à medida que o atleta conhece asi mesmo e percebe suas evoluções tem sua confiançamelhorada, aumentando com isso a probabilidade de emitircomportamentos bem sucedidos em outros momentos,diminuindo a ansiedade e o medo, e melhorando a capaci-dade de tomar decisões.

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Munidos destes pressupostos que remete ao treinamentoe a competição como um meio para desenvolver o judoca demaneira integral, ou seja, que busca o desenvolvimentoesportivo e social, cabe agora refletir em como aplicar estesaspectos no dia-a-dia, com judocas de diferentes níveis deaprendizagem, treinamento e maturidade.

Pelos conceitos utilizados no cotidiano do projeto, ini-cia-se a reflexão sobre os ocorridos em competições nasclasses anteriores ao sub-15 pela classificação supracitada dePiaget (1932). Segundo ele, os judocas encontram-se na fasede desenvolvimento da autonomia, definindo que o papeldos instrutores e familiares é fundamental para conduzir oindivíduo para um estado de preparação para a propostaapresentada, da consciência autônoma do indivíduo. Logo,as inferências realizadas pré e pós competições são determi-nantes no processo e, são estes momentos, que os técnicosdeverão promover reflexões acerca das competições baseadasem questões simples, mas que levam a inferir sobre asocorrências e sua localização em relação ao desempenhoindividual, nível competitivo, metas traçadas, nível de adver-sários, limitações e possibilidades, tudo isto relacionado aotempo de prática que cada criança tem enquanto judoca doprojeto. Para tal fim, sugere-se que após competições, ostécnicos promovam aos judocas questionamentos como:

“Quais dificuldades encontradas nesta competição?”

“Quais dificuldades você conseguiu resolver e quaisnão conseguiu?”

“O que precisa ser feito para resolver estas dificuldades?”

“Como se sentiu durante as lutas?”

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“Ficou satisfeito com seu desempenho? Se sim por quê?Se não por quê?”

“Conseguiu cumprir alguma meta nesta competição?”

“Quais metas para a próxima competição?”

A partir destes questionamentos, convida-se o judoca anortear sua percepção e consequentemente a capacidade deauto avaliar e autocriticar resultando numa prática reflexiva.Tanto o técnico como o atleta, trarão consigo aspectospositivos para o processo de formação social e esportivo dojudoca, uma vez que, facilitarão os feedbacks entre as partes,promoverá a reflexão ativa por parte do judoca e, em novassituações deverá transferir o que foi vivenciado anteriormentee, assim, possibilitará aos mesmos desenvolver diferentessoluções a desafios futuros.

Pensando no aspecto competitivo e seus efeitos bené-ficos para o desempenho e aprimoramento enquanto atletas,foi verificado no projeto Kimono de Ouro, que conduzir destaforma no que tange a prática sistemática da pedagogiacomplexa e a utilização das competições secundarias comoavaliações, promoveram no grupo considerável ganho emaspectos técnicos e táticos em situação competitiva. Umavez que os atletas, na competição que objetivaram, encon-traram diversas maneiras de obter ponto ou vantagem naslutas da seletiva nacional brasileira em 2014, por exemplo.A aplicação das avaliações e feedback em competiçõessecundárias permitiu aos atletas, mesmo nos casos de insu-cessos em relação a classificação, identificar que apresentaramrepertório técnico e tático criativo e relacionado com asatitudes desenvolvidas no treinamento.

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Outro ponto, este reportado pelos atletas, foi o fato deque tinham plena consciência das possibilidades e dificuldadesantes de cada uma das lutas, o que permitiu aos mesmos,traçar planos (estratégias) para cada uma delas, partindo deum conhecimento prévio e não dependendo exclusivamentedos apontamentos dos técnicos.

Além dos fatores de avaliação e reflexão citados,tratando-se do judô competitivo, alguns aspectos merecemser abordados:

Quantas direções promoveu ataques nas lutas;

Quantas direções conseguiu pontuar nas lutas;

Que tipo de pegada obteve dificuldade.

Conseguiu estabelecer a pegada que queria.

Conseguiu promover ataques no solo.

Conseguiu promover soluções para situações emdesvantagem.

Conhecia o "jogo" do adversário antes da luta.

Se deparou com situações que não tinha treinado.

Quais pontos acertou na competição.

Quais pontos errou na competição.

Quais metas técnicas e táticas conseguiu e não conseguiuatingir.

Quais pontos a evoluir para a próxima competição.

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Estes são alguns dos questionamentos que auxiliam naavaliação técnica e tática, e como salientado anteriormente,o registro destas avaliações permite a técnico e atletaacompanharem o desenvolvimento e o processo em que ojudoca se encontra. No projeto adota-se o caderno do atleta,em que são registradas todas as avaliações a que são subme-tidos e fazem pequenos relatórios de todas as competiçõesbem como registram metas de treinamento, competição edesempenho, ficando a cargo de cada um, individualmente,elaborar os registros.

A realização de feedback também durante os treina-mentos é um item presente na metodologia, de forma que deveser realizado com base no nível competitivo e de autonomiaque o judoca se encontra. Para que o técnico apresentecondições de reconhecer o estado que o seu atleta se encontra,é imprescindível permitir o acesso e entrar em contato com asingularidade de cada um deles.

Assim toda a discussão realizada nesse capítulo, trouxealguns pontos considerados importantes para o desenvolvimentoda autonomia do ser humano tanto no campo de treinamento,como na competição e as influências sofridas e causadaspelo ambiente. Cabe lembrar que a apresentação não englobatodas as questões necessárias para esse desenvolvimento,mas levanta algumas que exercem grande colaboração.

Baseado no trabalho desenvolvido com os atletas dejudô que foram a referencia para a construção deste capítulo,observou-se que não é possível a dissociação entre o atleta eo ser humano, desta forma, quanto mais reflexivo e capaz dearcar com as consequências de seu próprio comportamento,melhor será seu desempenho esportivo e sua formação pessoalperante a sociedade.

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Depositar no atleta apenas conhecimento técnico, nãocontribui para o seu desenvolvimento integral, mas sim parao que Scaglia (1999) chama de adestramento, pois nãodesenvolve a capacidade crítica sobre os conteúdos ensi-nados, e assim, o comportamento é resultante de imitação enão do entendimento e da aprendizagem a partir de seupróprio pensamento. Isso contribui para o ser humano nãoapenas enquanto atleta, mas enquanto ser pertencente auma sociedade.

4.3. Exemplos práticos da utilização da pedagogiacomplexa para especialização e rendimento

A metodologia proposta pode ser adequada a qualquerlócus em que o judô esteja presente, seja este competitivo ounão, pois objetiva o desenvolvimento integral do judoca pormeio do judô e para o judô. Desta forma, os parâmetros decarga (BARBANTI, 2003) e escolha dos exercícios se darãomediante a necessidade que cada treinador optar para seugrupo de judocas.

Oferece-se aqui um meio para direcionar as escolhas eauxiliar os técnicos no desenvolvimento do judoca. Destaforma, a elaboração dos meios de treinamento devemresponder aos cinco pilares descritos no Capítulo 2, ou seja,na elaboração de um exercício correspondente a pedagogiacomplexa, devemos ater a cinco perguntas, sendo:

1 - Este exercício corresponde a possível situação en-contrada na luta? (Método situacional) (GRECO, 1998)

2 - Com este exercício eu possibilito a criatividade e atomada de decisão de quem executa? (Tática comoobjeto central)

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3 - Este exercício está engajado com a situação anterior,ou seguinte, a ele em situação de luta? É possívelprosseguir para outra situação após este e retornar aele com outras soluções? (Progressão espiral)

4 - Este exercício corresponde a qual(is) Unidade(s)Funcional(is) do judô?(Unidades Funcionais como norte-adoras do processo)

5 - Estou desenvolvendo algo positivo no repertórioesportivo e social do judoca? (Questões éticas e cultu-rais envolvidas no processo).

Ao responder estes questionamentos o técnico poderánortear a escolha dos meios utilizados.

Outro aspecto a destacar na aplicação prática dapedagogia complexa se insere na quantidade de UF abor-dadas em cada sessão de treinamento. Pois, para promoveruma aprendizagem significativa, com a capacidade de en-contrar soluções e em níveis mais avançados de treinamentopoder automatizá-las, um número reduzido de unidades deveser abordado.

É fato que na luta, no caso o shiai, todas as UF estarãopresentes, porém, ao aplicar a metodologia, para que possacentrar em aspectos tangíveis que queira desenvolver, o técnicodeverá direcionar a atenção as UF daquela sessão. Devemosdeixar claro, que o randori, não deve ser descartado (AGOS-TINHO, 2012), mas sim contextualizado, para que o judocaao lutar consiga identificar suas possibilidades e dificuldadesinerentes a UF abordada nas sessões de treinamento.

Além deste ponto, merece destaque a crescente com-plexidade da metodologia, pois diferente de outras nações

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como França, Alemanha e Japão (OLIVIO JUNIOR, s.d.),em que no processo de desenvolvimento a longo prazo dojudoca, o mesmo passará durante a sua carreira esportivaem diferentes locais de prática do judô, no Brasil muitasvezes este processo se dará por toda a vida esportiva, ou emalguns casos por muitos anos, no mesmo local em que seinicia em uma perspectiva artesanal (DRIGO et al., 2011).

Logo, indicamos que além da adequação das cargas(BARBANTI, 2003) o técnico de judô deverá ter uma leituracrítica da figura 8 das unidades funcionais e conforme ojudoca evolui dentro da preparação esportiva a longo prazode uma condição de iniciante, para um direcionamentoesportivo e treinamento (SMITH, 2003) deverá evoluir osníveis de aplicação das UF também.

Neste sentido, o modelo de organização proposto noJudô Canadá, pode servir de parâmetro para a aplicação dapedagogia complexa na realidade nacional, pois a organizaçãoproposta contempla a prática do judô em diferentes faixasetárias e com diferentes objetivos, pois vai apresentandoum aumento da complexidade de trabalho, bem como deaumento de carga.

Serão apresentadas algumas opções de trabalho para asunidades funcionais para judocas em especialização, especiali-zação profunda, rendimento e alto rendimento (PLATONOV,2004; PLATONOV, 2008; FILIN, 1996; ZAKHAROV eGOMES, 1992). Cabe ressaltar que quanto mais situaçõesdiferentes forem ofertadas maior repertório técnico tático oatleta vai adquirir. Neste sentido, aponta-se a necessidade,de se utilizar as UF a partir das Subunidades e das microuni-dades sendo esta ultima a individualização do trabalho, ou

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seja, as microunidades partem da escolha de repertório dopróprio judoca.

A oferta de situações problema, baseada na luta dejudô já foi proposto em outros momentos (AGOSTINHO,2012; MONTEL, 2012), porém neste método devem estarbaseadas nas unidades funcionais e em caráter espiral, porémnão é intenção deste trabalho esgotar as possibilidades derealização, mas apenas apresentar algumas opções de trabalhoe possíveis engajamentos entre as UF e a preparação des-portiva a longo prazo.

Exemplo 1, UF aproximação e contato: em umgrupo de atletas (de três a cinco) um dos judocas ficará afrente do grupo, e tem como objetivo realizar uma determi-nada configuração e pegada, podendo ser sua pegada favo-rita ou determinada pelo técnico, lembrando que deve sercontextualizado ao tori que o mesmo deverá buscar umaconfiguração de pegada que lhe permita promover ataques enão apenas bloquear os adversários. Após estas orientaçõesos ukes deverão, similar ao hajime em uma competição seaproximar, alternadamente do tori, e também tentar pro-mover a sua pegada, impedindo que o tori execute a dele.Este exercício deve ser executado com parâmetros de tempo(5 a 20 segundos) para que não vire apenas "briga de pegada",mas sim a busca por uma configuração que permita executarseus ataques favoritos.

Dentre as adaptações, o tempo para se estabelecer apegada, as orientações aos ukes, ou seja, podendo ser livre(qualquer kumikata) ou ainda partindo de situações especificas,como por exemplo: todos os ukes deverão se aproximar demaneira circular, todos deverão tentar realizar determinada

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configuração de pegada, todos deverão apenas tentar anulara movimentação e a configuração de pegada do tori, entreoutras. Considera-se que para judocas em especialização omaior número possível de situações deve ser vivenciada paraaumentar o repertório.

No caso do rendimento e alto rendimento, acreditamosque o mesmo exercícios deva ser utilizado, porém a viésdeverá ser a estratégia e não a tática, ou seja, as situaçõespropostas devem se ater as características de aproximação econtato dos principais adversários do atleta, neste caso, umestudo prévio deve ser executado, para que as ações sejamdirecionadas. Outro ponto, importante, é estabelecer umplanejamento das ações técnicas e táticas com a periodizaçãodo treinamento (OLIVIO JUNIOR e DRIGO, 2015), para queseja otimizado o trabalho.

Exemplo 2, contato e criação de oportunidade.Dentro do mesmo sistema proposto anteriormente, o judocaapós estabelecer o contato deverá por meio de fintas, movi-mentação, ou engajamento de golpes posicionar o uke deuma forma que lhe permita atacar em pé. Formas de adaptare evoluir o exercício é realiza-lo concomitante ao exemplo 1,porém é necessário que tori e uke conheçam bem as ações,para que a ação de "criar a oportunidade" não seja facilitadaem demasia pelo uke, o que não corresponde ao que vaiocorrer na competição.

A oportunidade poderá ser criada mediante a anteci-pação do contato, porém muitas vezes não é possível, sendouma forma de enriquecer o exercício é iniciar a criação daoportunidade com o tori em desvantagem relativa, como por

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exemplo, tendo uma ou duas das mãos dominadas pelo uke,ou ainda, iniciar em uma configuração de pegada que difi-culte a realização dos seus principais ataques, obrigando otori a desenvolver mecanismos que possibilitem posicionar ouke para a aplicação dos golpes.

Novamente se tratando do rendimento e alto rendimento,cabe a mesma linha registrada anteriormente, é muito impor-tante, conhecer a característica dos principais adversários epropor situações similares para a execução do treinamento,bem como a adequação da periodização.

Exemplo 3, desequilíbrio, aplicação e projeção:A execução do desequilíbrio poderá ser complexa, ouseja, conforme descrito nos exemplos anteriores, ao ante-cipar uma situação de contato o tori pode realizar o ata-que - pegar e entrar - aproveitando o próprio estabeleci-mento do contato como oportunidade e desequilíbrio para aaplicação.

Outra forma é solicitar ao uke que estabeleça determi-nadas movimentações com diferentes formas de resistênciapara que o tori execute os desequilíbrios e aplicação dosgolpes. Nesta linha, sugere-se que o desequilíbrio e aplicaçãode um determinado golpe deva ser realizado para diferentesdireções de movimentação do uke, para que o tori analise,entenda e promova suas ações de maneira efetiva, ou seja,poderá optar por realizar o golpe com desequilíbrio passivo(aguardando a movimentação do uke para a direção dogolpe), ativo (provocando o deslocamento do uke em direçãoao golpe) ou reativo (por meio de uma ação finta ou engaja-mento de dois ou mais golpes).

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Ainda nesta linha a utilização da figura 7 como forma debalizar as direções dos golpes pode ser auxiliar na construçãodo repertório técnico e tático do judoca. Outro ponto impor-tante é realizar o treino destas UF após algumas sessões detrabalho com as UF do exemplo 1 e 2 poderá potenciar arealização dos golpes, uma vez que o judoca vai adquirindomecanismos de ajuste para a realização dos mesmos.

Outra forma de utilizar figura 7 é solicitar ao judocaque realize diferentes ações para cada uma das direçõespropostas, pois vai ampliando seu repertório e identificandoquais golpes consegue realizar com maior facilidade.

Ainda em relação ao desequilíbrio, aplicação e pro-jeção, quando se trata de engajamento de golpes, acredita-seque devemos deixar claro para os atletas que a realização doprimeiro golpe deve ter a intenção de projetar, ou pelomenos de provocar a defesa da primeira técnica, para quecrie a oportunidade e desequilibre o uke na direção datécnica pretendida.

Outro ponto a ser trabalhado é o de produzir ataquescom diferentes configurações de pegadas, sendo característicapresente no alto rendimento, o atleta apresentar ínfimavariabilidade de ações, para diferentes direções (CALMET eAHMAID, 2004; CALMET et al., 2006; FRANCHINI et al.,2008) e produzir ataques rápidos após estabelecer umapegada com possibilidade de atacar (CALMET, et al.,2010). Neste sentido, as ações descritas nos três exemplosanteriores, também devem ser adaptados para que o atletatambém consiga realizar ações determinantes - ações queconduzam a luta ao solo em vantagem - com configuraçõesde pegadas alternativas a sua preferida.

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Neste ponto cabe uma ressalva, pois muitas vezes osjudocas tendem a realizar configurações de pegada alternativaas suas habituais com intenção única de defender possíveisataques do adversário. Esta prática deve ser analisada comcautela, pois cremos que a busca pela pegada deve ter aintenção de promover a criação da oportunidade, ou seja, aênfase da ação deve ser em oportunizar o ataque (AGOS-TINHO, 2010). Porém, com atletas de rendimento e altorendimento, muitas vezes, treinar pegadas defensivas poderáter consequências positivas, uma vez que dependendo asituação da luta, no que se refere a pontuações, o atleta emvantagem se expõe menos a possíveis ataques do adversáriose conseguir uma pegada defensiva e não punitiva.

Exemplo 4, projeção, transição e luta de solo: Otrabalho de projeções deverá seguir a linha descrita no de-sequilíbrio e aplicação, porém, indica-se que sempre querealizar uma projeção o judoca deve manter contato no soloalguns instantes após a queda, pois, mesmo que não sejaexecutada a transição, o mesmo deverá criar o hábito decontrolar o adversário no solo.

Neste sentido, um trabalho de engajamento de golpesem pé para o solo deve estar presente nas sessões de treina-mento, assim como os randoris ou situações de combatedevem sempre conter continuidade na luta de solo, para queos atletas se habituem a atacar rápido quando em vantageme defender rápido quando em desvantagem.

Realizar ações em pé com objetivo exclusivo do ad-versário defender oportunizando atacar no solo é uma for-ma de tornar a transição mais efetiva. Outra proposta é o

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tori executar uma defesa de queda, associado à condução daluta para o solo, ou seja, utilizando de um ataque falido ouineficiente do adversário como ponto de início do trabalho detransição e luta de solo.

Já em relação a luta de solo, indicamos para este nívelque inicie de situações padrões, dentre estas, um atleta dequatro apoios com o outro em pé na lateral ou nas costas, amesma situação porém com o atleta que esta em pé locali-zado a frente e por ultimo a meia-guarda, pois são situaçõesmais presentes em competição.

Outra sugestão de trabalhar com transição e luta desolo é solicitar a um dos atletas que inicie a luta em pé pormeio de um ataque que leve os dois atletas ao solo, como porexemplo ouchi-gari, kouchi-makikomi, sumi-gaeshi, tomoe-nage, entre outros.

Ressalta-se que é importante trabalhar dentro de pa-râmetros de tempo mais aproximados a competição, su-gerimos lutas de solo partindo das situações descritas entre20 e 60 segundos.

Estas são apenas sugestões de como executar sessõesde treino com a pedagogia complexa, apresentaremos algu-mas formas de organizar um período de treinamento com assessões descritas, para atletas em especialização.

Na figura 12 exemplo de organização de todas asunidades em uma semana de treinamento, na qual existemsessões de judô todos os dias, já na figura 13 um exemplo deorganização para duas semanas com sessões todos os dias.

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Legenda: Cr: Criação; Des: desequilíbrio; L.O: Luta Olímpica; D e E:Direita e esquerda; Fal: Falido; Est. Pos.: Estudo de posições; Sit: Situação.Figura 12: Organização de todas as unidades funcionais em uma semana.

Legenda: Cr: Criação; Ex: Exercícios; uck: Uchi-komi; Engaj: Engajamentode golpes; Pos: Posições; sit: Situação; T: Tempo; ": Segundos; ?: Pausa;Obj: Objetivo; Desv: Desvantagem; Vant: Vantagem; GS: Golden Score.

Figura 13: Exemplo de organização de duas semanas.

Com atletas em especialização profunda, a propostadeve estar associada à preparação física dos atletas, logo,sugere-se a organização das UF associadas às possibilidadesde exercícios no treinamento físico. Não será apontado aqui

Dias Segunda Terça Quarta Quinta SextaUnidade

FuncionalAproximação e

ContatoContato e

Cr. OportunidadeCr. Oportunidadedes. e projeção

Projeção e Transição

transição e luta de solo

Aquecimento Ex. Ginásticos e saltos

Exercícios com apoio das mãos

Ex. Ginásticos jogos de sumô

Uchi-komi Jogos de L.O.

Educativos de solo

Parteprincipal 1

Sit. Antecipação DSit. Antecipação E

Sit. Desvantagem D e ESit. Desvantagem var.

Sit. Antecipação var.Sit. desvantagem dir.

CG no ataque fal.ashi-waza + ne-waza

sutemi + ne-waza

est. pos. costas e

meia-guarda

Parteprincipal 2

Randori situação:uke dirigido

(T 20" ? 7" x 4 ) x 3uke livre

(T 20" ? 7" x 4) x 3

Randori situação:Desvantagem dirigidas(T 30" ? 7" x 4) x 3

Desvantagem variadas(T 30" ? 7" x 4) x 3

Randori com desv.Randori com vant.

T 60" ? 10" x 4 x 3GS para tori

Randori sit. Pósataque falido

T 40" ? 7" x 3 randori ênfase final.

T 60" ? 60" GS para ambos

Randori sit.costas

(T 40" ? 40") x 3 meia-guarda

(T 40" ? 40") x 3 Gs tachi-ne

Dias Segunda Terça Quarta Quinta SextaUnidade

FuncionalDesequilíbrioe aplicação

Aproximaçãoe Contato

Cr. Oportunidadedes. e projeção

Aplicação, Projeção e Transição

Transição e luta de solo

Aquecimento Ex. Ginásticos e coordenativos

Exercícios Ginásticos

Ex. Ginásticos jogos de sumô

Uchi-komi Jogos de L.O.

Educativos de solo

Parteprincipal 1

uck forçauck força + engaj.

Ashi + livre

Controle do espaçocontrole do espaço dir.

sit. Antecipação var.sit. desvantagem dir.

CG no ataque fal.ashi-waza + ne-waza

sutemi + ne-waza

est. pos. costas e

meia-guarda

Parteprincipal 2

randori situação:uke livre

3 entradas resistidas +sit. Randori

(T 20" ? 7" x 4) x 8

situaçãoaproximação dirigida(T 15" ? 7" x 3) x 3

aproximação variadas(T 15" ? 7" x 4) x 3obj. pegada favorita

Randori com desv.Randori com vant.

T 60" ? 10" x 4 x 3GS para tori

Randori sit. Pósataque falido

T 40" ? 7" x 3 randori ênfase final.

T 60" ? 60" GS para ambos

Randori sitcostas

(T 40" ? 40") x 3 meia-guarda

(T 40" ? 40") x 3 Gs tachi-ne

Dias Segunda Terça Quarta Quinta SextaUnidade

FuncionalDesequilíbrio e aplicação

Aproximaçãoe Contato

Cr. Oportunidadee apicação

Desequilíbrio eTransição

Transição eluta de solo

Aquecimento Ex. Ginásticos e coordenativos

Exercícios Ginásticos

Uchi-komi carregandouchi-komi linha

Nague-komi sutemiJogos de controle

Educativos de solo

Parteprincipal 1

uck forçauck força + engaj.

Ashi + livre

Controle do espaçocontrole do espaço dir.

Desvantagem em1 gola e gola

2 manga e manga

Engajamentoouchi para ne-wazasassae para ne-waza

Pos. ne-waza lateral efrontal

Parteprincipal 2

randori situação:uke livre

3 entradas resistidas +sit. randori

(T 20" ? 7" x 4) x 8

Situaçãoaproximação dirigida(T 15" ? 7" x 3) x 3

aproximação variadas(T 15" ? 7" x 4) x 3obj. pegada favorita

Randori com desv.Randori com vant.T 60" ? 60" x 10GS para ambos

Defesa de ataque ajoelhados

com ataque ne-wazadefesa de ashi

com ataque ne-waza

Randori sitlateral

(T 40" ? 40") x 3 Frontal

(T 40" ? 40") x 3 Gs tachi-ne

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para nenhum modelo de periodização, porém, a escolha dosexercícios e as capacidades motoras desenvolvidas por estes,devem corroborar enquanto objetivo com as sessões dejudô, proporcionando maior desenvolvimento dos aspectostécnicos e táticos.

Neste sentido, a Figura 14. Proposta de exercícios combi-nados as Unidades Funcionais, apresenta exercícios que pode-rão ser desenvolvidos concomitantes a abordagem das unidadesfuncionais nos ciclos de treinamento. Lembrando que a comple-xidade da luta, bem como parâmetros de carga dos exercíciospermite que outros ajustes possam ser organizados para arealização do treinamento, sendo esta apenas uma sugestão.

UnidadeFuncional

Possibilidades decombinações

AproximaçãoDeslocamentos variados, com alternância de direções

Coordenativos de corrida com uso de escadas de coordenação Circuitos de agilidade utilizando de cones, arcos e outros

Contato

Pliométricos de membros superioresSuspensão e barras em judogi

Subidas em cordasExercícios isométricos

Trabalho de agilidade com as mãos

Criação deOportunidade

Circuitos de forçaCircuitos de potência

Resistência de força dinâmica Complexos: força + Potência

DesequilíbrioExercícios com Polias

Exercícios de levantamento de potênciaExercícios com elásticos de tração

Aplicação

Exercícios com PoliasExercícios de levantamento de potênciaExercícios com arremessos de objetos

Exercícios de ginástica (rolamentos, mortais e outros)

Projeção

Exercícios de força máxima e sub máximaExercícios de levantamento de potênciaExercícios com arremessos de objetos

Complexos: Levantamento+ arremesso de objetos

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165PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ

Figura 14. Proposta de exercícios combinados as unidades funcionais

No caso de atletas de rendimento e alto rendimento, aaplicação de exercícios que se complementem deve sersimilar ao proposto para atletas em especialização profunda,porém, a carga adotada, bem como o modelo de periodizaçãoutilizado, deverá se pautar nas necessidades e característicaspertinentes a etapa que os atletas se encontram. Apontamosque além das diferenças na organização da preparação físicaentre os grupos, no que tange a técnica, tática e estratégia,o trabalho com os grupos também deverá ser abordado demaneira diferenciada.

O foco do treinamento com atletas em especializaçãoprofunda será prioritariamente o desenvolvimento técnico etático, ou seja, agregando elementos ao seu repertório deações que permita resolver um montante de situações quepossam surgir em situações competitivas futuras, baseado natática individual do atleta para inúmeras situações. Já comatletas de rendimento e alto-rendimento, espera-se que osmesmos já tenham adquirido repertório durante a suaformação, sendo que o foco do treinamento dos mesmos,deverá se pautar prioritariamente na estratégia de lutapara com os principais adversários.

Transição

Exercícios de sustentação corporalExercícios de sustentação corporal em duplas

Exercícios de levantamento de potência Exercícios de ginástica (rolamentos, mortais e outros)

Exercícios de força máxima e sub máximaExercícios isométricos

Luta no solo

Complexos de COREExercícios de sustentação corporal em duplas

Exercícios de levantamento de potência Exercícios de ginástica (rolamentos, mortais e outros)

Coordenativos no solo com troca de planos

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Logo, se por um lado o treinamento balizado pelasunidades funcionais do atleta de rendimento e alto-rendi-mento deverá ser prioritariamente orientado na característicados adversários, estabelecendo uma estratégia para cadapossível adversário que vira a enfrentar em uma competição.Por outro lado, o treinamento para atletas em especializaçãoprofunda deverá estar balizado nas características do próprioatleta, desenvolvendo seu repertório tático.

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Este livro apresenta a forma teórica e prática da orga-nização de treinamentos visando o desenvolvimento esportivode jovens judocas. Espera-se registrar para conhecimentosdos treinadores de judô e pares acadêmicos na expectativade gerar novas iniciativas de registros, aumentando assim aspossibilidades de diálogos, estudos e formas de pensar emrelação ao futuro esportivo da modalidade. De forma nenhumapensou-se em ser referência no treinamento de jovens oumesmo de apresentar o melhor método, mas sim, ao expor aforma de trabalho considera-se que:

• Foram diversos erros que permitiram chegar a umformato teórico prático suficiente para possibilitaresta publicação;

• O grupo de trabalho acredita que conhecimento geraconhecimento e assim, espera-se que novas publi-cações deste teor possa desestabilizar que hoje écerto. Assim proporcionar novas investidas teóricas epráticas para novos horizontes metodológicos;

• O método que foi utilizado foi o melhor para osprofissionais envolvidos e, além de não ser o único,

CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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outros profissionais podem não obter os mesmos re-sultados. Desta forma não é possível generalizar aproposta, mas entende-la é fundamental para boastomadas de decisões enquanto treinador de jovemjudocas;

• Por fim, apesar das limitações, a escolha do métodoe da forma de organizar o treinamento baseado emtodas as vertentes abordadas, incluindo os valoresextracompetitivos, corresponde aos ideais de profissi-onalismo presente no projeto. Assim, na perspectivaprofissional abordou-se um arcabouço teórico, a apli-cação prática e a produção e publicação de novosconhecimentos baseados na forma que se identifica aação de um treinador profissional na essência destadenominação. Por este fator, foram elaborados trei-namentos, avaliações, propostas baseado em teoriasconhecidas pelo grupo, possibilitando bons resultadose, por conhecer o que foi feito, permitiu a divulgaçãopara outros treinadores através deste manual.

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CAPÍTULO 6

REFERÊNCIAS

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