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Coleção: Documenta S.J. — 12

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Coleção: Documenta S.J. — 12

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Coleção: DOCUMENTA S.J.

1. Vida religiosa do jesuíta2. Congregação Geral XXXIII — Decretos e Docu-

mentos3. Guia Vocacional da Companhia de Jesus no

Brasil4. Características da Educação da Companhia de

Jesus5. Antigos Alunos dos Jesuítas6. Carta dos Princípios7. Jornada Latino-americana sobre as Característi-

cas da Educação da Companhia de Jesus8. Nossa vida de jesuítas9. 1º Congresso Inaciano de Educação

10. Índice analítico das Características da Educaçãoda Companhia de Jesus

11. Pastoral Popular — Fundamentação Inaciana12. Pedagogia Inaciana — uma proposta prática

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PEDAGOGIAINACIANA

uma proposta prática

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Edições LoyolaRua 1822, 347 — Ipiranga04216-000 — São Paulo — SPCaixa Postal 42.33504299-970 — São Paulo — SP� (011) 914-1922FAX: (011) 63-4275

ISBN: 85-15-00882-3

© Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1993

Tradução:Pe. Mauricio Ruffier, S.J.

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ÍNDICE

CARTA DO SUPERIOR GERAL DOS JESUÍTAS AOSSUPERIORES PROVINCIAIS APRESENTANDO ODOCUMENTO PEDAGOGIA INACIANA ................. 7

PRÓLOGO.................................................................. 12

NOTAS INTRODUTÓRIAS ......................................... 16

PEDAGOGIA INACIANA ........................................... 22Objetivo da Educação da Companhia de Jesus 23Para uma Pedagogia pela Fé e a Justiça .......... 25A Pedagogia dos Exercícios Espirituais ............ 32Relação Professor-Discípulo .............................. 35O Paradigma Inaciano ...................................... 38Dinâmica do Paradigma ................................... 42Um processo contínuo ..................................... 65Traços predominantes do Paradigma Pedagógi-co Inaciano ........................................................ 66Objeções à prática da pedagogia inaciana ...... 70Da teoria à prática: Programas para a Forma-ção do Professorado .......................................... 78Alguns apoios concretos para entender o Para-digma ................................................................. 80Convite à cooperação ....................................... 80

APÊNDICES: ÍNDICE .............................................. 82

APÊNDICE I: ALGUNS PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOSIMPORTANTES. ANOTAÇÕESINACIANAS........................................ 84

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APÊNDICE II: A PEDAGOGIA INACIANA HOJE .... 89Discurso do Pe. Peter-Hans Kolvenbach

Contexto: O humanismo cristãohoje ............................................ 89Resposta da Companhia a estecontexto ..................................... 92Diretrizes pedagógicas ............... 99O Papel do professor é crucial . 105Métodos ..................................... 107Conclusão .................................. 113

APÊNDICE III:EXEMPLOS DE MÉTODOS PARAAJUDAR OS PROFESSORES NO USODO PARADIGMA PEDAGÓGICOINACIANO ......................................... 116

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CARTA DO SUPERIOR GERALDOS JESUÍTAS AOS SUPERIORESPROVINCIAIS APRESENTANDO ODOCUMENTO PEDAGOGIA INA-

CIANA

REVERENDO E CARO PADRE:

A Paz de Cristo!

Desde a publicação das Características da Edu-cação da Companhia de Jesus, há sete anos, muitoseducadores do mundo inteiro manifestaram suagratidão por este documento. Educadores leigos ejesuítas descobriram nele uma visão nova, atual eao mesmo tempo arraigada na espiritualidade ina-ciana. As Características acenaram, sobretudo, comidéias e objetivos que permitiram a nossos colé-gios e universidades avaliar seus esforços nesse im-portantíssimo ministério da educação.

Enquanto as Características confirmavam de ma-neira inédita os princípios inspiradores do nosso

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trabalho educativo, muitos jesuítas e colaboradoressolicitaram nesses últimos anos ajuda para pô-losem prática. Perguntaram-se: como podemos intro-duzir na sala de aula todos esses valores, princípiose diretrizes? Como podemos conseguir que nósmesmos e nossos colegas de trabalho realizemos naprática esses magníficos ideais? Como podemosincorporar a espiritualidade das Características nospormenores concretos da nossa vida cotidiana?

A Comissão Internacional do Apostolado Edu-cativo da Companhia (ICAJE) dedicou algum tem-po à elaboração duma resposta prática a essas per-guntas. Sem demora, caiu na conta de que umarenovação prática e eficaz deve visar à comunidadeeducativa e especialmente aos professores. A ICAJEprecisava de um modelo, um paradigma que im-pulsionasse nossos ideais educativos e não destoas-se das realidades práticas do processo de ensino eaprendizagem escolar. O Decreto I da 33ª Congre-gação Geral sugeria um padrão, ao exortar-nos àrevisão dos ministérios da Companhia que incluís-se, entre outros, “a mudança dos modos de pensar,que se obtém exercitando-se num esforço constan-te de integrar experiência, reflexão e ação” (n. 40).Fiel ao modo de proceder inaciano, esta tríplicepista contém uma sugestão para dar cumprimentoàs Características no quadro escolar cotidiano.

Ao elaborar este Paradigma, a ICAJE notouque, para ser completo, o novo modelo devia le-

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var em conta o contexto das experiências dos alu-nos e a avaliação, como fase essencial de toda aaprendizagem. Daí resultaram cinco etapas, incluí-das no Paradigma Pedagógico Inaciano: contexto,experiência, reflexão, ação e avaliação. Envio-lheum exemplar de Pedagogia Inaciana: Uma propostaprática, que expõe o Paradigma Inaciano e o pro-jeto subseqüente.

A ICAJE pensou, com toda a razão, que umProjeto de Pedagogia Inaciana devia conter algomais do que um documento introdutório. Paraserem eficientes, os professores precisariam fami-liarizar-se com os métodos pedagógicos que oanimam. Assim, uma vez elaborado o ParadigmaPedagógico Inaciano, a ICAJE tinha outras duastarefas a executar. A primeira, formular uma de-claração que explicasse a filosofia e os processosdo Paradigma, que apresento nesta carta. A segun-da, dar início a um programa de preparação doprofessorado para ensinar e difundir a pedagogiainaciana em nível regional, nacional e local. Estefoi o objetivo do recente encontro internacionalrealizado em Villa Cavalletti (Roma), de 20 a 30de abril. Projetado especificamente para iniciar esteprograma, delegados de 26 países se reuniram paratomar conhecimento do Paradigma, ensaiar a apli-cação de seus vários componentes e elaborar pro-jetos estratégicos de três a quatro anos de duraçãopara capacitar outras pessoas no ensino do Para-digma em seus respectivos países.

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Depois desta informação preliminar, faço-lhedois pedidos. Primeiro, convido-o a ler este docu-mento — Pedagogia Inaciana, uma proposta prática—, que situa claramente o Paradigma no seio danossa tradição espiritual e educativa. Peço-lhe que,como foi feito com as Características da Educaçãoda Companhia de Jesus, dê também a este a máxi-ma publicidade entre os professores, jesuítas eleigos, de suas instituições educativas e centros deensino não formal. Sugiro que cada professor,dirigente e membro da direção dos centros deensino, bem como nossos colaboradores em cen-tros de ensino formal e informal da sua Provínciadisponha de um exemplar. Um resumo do mesmopoderia ser distribuído entre os pais de alunos.Em muitos casos, isto importará numa tradução,e sempre numa edição, em forma atraente, quefacilite a leitura. Para tanto, poderia valer-se doseu Delegado de Educação, possivelmente em co-laboração com os demais Superiores Maiores doseu país ou Assistência.

O que mais importa, porém, não é o númerode leitores a atingir, mas o grau de renovação quea leitura inspire no processo de ensino e aprendi-zagem na sala de aula. Em vista disso, meu segun-do pedido, ainda mais importante. Rogo-lhe quepreste o seu mais firme apoio às equipes regionaisou provinciais que projetam e dirigem os progra-mas de preparação a longo prazo em nossas esco-las, colégios e universidades, bem como em cen-

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tros de ensino formal e informal, para capacitaremos nossos professores na aplicação do ParadigmaPedagógico Inaciano. A realização do projeto deve-rá levar em consideração as circunstâncias locais,sempre instáveis; cada país ou região deverá refletirsobre o significado e as conseqüências da Pedago-gia Inaciana em suas respectivas situações locais e,por conseguinte, elaborar material suplementar paraaplicação do presente documento e programa uni-versal a suas necessidades concretas e específicas.

Concluindo, desejo agradecer aos membros daComissão Internacional para o Apostolado Educa-tivo da Companhia pela realização deste projeto epelos planos para sua difusão no mundo inteiro.É um belo exemplo do “efeito multiplicador” e,como tal, autenticamente inaciano. Embora estedocumento já tenha passado por vários rascunhos,a redação final e definitiva será a que se efetuarquando sua mensagem houver logrado interessare inspirar nossos professores e alunos. Ao reco-mendar-lhe este documento, peço a Deus que elechegue a ser mais um passo importante rumo àconsecução do nosso ideal de educadores: formarhomens e mulheres que se distingam pela compe-tência, integridade e espírito de serviço.

Fraternalmente em Cristo

Pe. Peter-Hans Kolvenbach, S.J.Superior Geral

Roma, 31 de julho de 1993

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PRÓLOGO

A publicação, em 1986, das Características daEducação da Companhia de Jesus despertou renova-do interesse entre professores, dirigentes, alunos,pais e outras pessoas. Proporcionou-lhes um sen-tido de identidade e direção. O documento, tradu-zido em 13 línguas, tem sido o tema principal deseminários, reuniões e estudos. As reações foramfrancamente positivas.

Ultimamente, uma pergunta estava sendo for-mulada em vários lugares do mundo. Comotornaros princípios e a orientação das Características maisproveitosos para os professores? De que modo sepodem incorporar os ideais inacianos numa peda-gogia prática que, na aula, concorra para a intera-ção entre professores e alunos?

O Conselho Internacional de Educação Jesuíta(ICAJE) trabalhou por mais de três anos para darresposta a esta pergunta. Com a ajuda de contribui-ções e sugestões de educadores leigos e jesuítas detodo o mundo, escreveram-se sete rascunhos para

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a presente publicação, que introduz o ParadigmaPedagógico Inaciano. Desde o início, porém, tínha-mos a convicção de que um documento não pode-ria por si só ajudar os professores a realizar as adap-tações que a educação inaciana exige, quanto aoenfoque pedagógico e aos métodos de ensino. Osmembros do Conselho Internacional têm a convic-ção de que, para conseguir pôr em prática o Para-digma Pedagógico Inaciano, os programas de prepa-ração do professorado, em cada Província e centroeducativo, desempenham papel essencial. Os pro-fessores precisam de muito mais do que uma intro-dução teórica ao Paradigma. Necessitam de umacapacitação prática, que os mobilize e prepare pararefletir sobre a experiência de uma aplicação con-fiante e eficaz destes novos métodos. Foi por issoque o ICAJE trabalhou desde o começo neste pro-jeto, para ajudar os professores.

O PROJETO PEDAGÓGICO INCLUI:

1) um documento introdutório sobre o Pa-radigma Pedagógico Inaciano, como ex-planação da 10ª parte das Características; e

2) um programa de preparação do professo-rado em nível regional, provincial e local.

Os programas de iniciação do professoradodeveriam durar de três a quatro anos para

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uma capacitação e familiarização graduaiscom os enfoques pedagógicos inacianos.

No intuito de tornar este projeto efetivo e intro-duzir os programas de iniciação do professorado emnível de colégio, vários grupos de diversas Provínciasestão estudando o Paradigma Pedagógico Inaciano e trei-nando-se no emprego dos correspondentes métodos deensino. Todo este processo teve início numa reuniãointernacional celebrada em Villa Cavalletti, Roma, de20 a 30 de abril de 1993. Seis educadores de cada con-tinente (num total de uns 40, provenientes de 26 paí-ses) foram convidados a capacitar-se, ou seja, a conhe-cer, praticar e dominar alguns dos métodos pedagógi-cos mais relevantes. Estas pessoas, por sua vez, estãopreparando seminários de capacitação para equipes desuas respectivas regiões geográficas e essas equipes, porsua vez, poderão iniciar em nível de colégio programasde preparação do professorado.

Sem o auxílio da equipe de capacitação daVilla Cavalletti e sem a generosidade dos partici-pantes daquela reunião, não teria sido possível oprocesso de propiciar a nossos professores o Proje-to Pedagógico Inaciano. Sou muito grato a todoseles, por se terem posto a serviço da educação daCompanhia em nível verdadeiramente mundial.

Devo um agradecimento especial aos mem-bros da Comissão Internacional para o Apostola-do Educativo da Companhia (ICAJE), que tão as-siduamente trabalharam, ao longo de três anos,redigindo sete rascunhos deste documento

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introdutório, bem como elaborando os processospedagógicos que contém a substância do ProjetoPedagógico Inaciano. Os membros do ICAJE re-presentam a experiência e os pontos de vista dasmais remotas partes do mundo: PP. Agustín Alonso(Europa), Anthony Berridge (África e Madagascar),Charles Costello (América do Norte), Daven Day(Ásia Oriental), Gregory Naik (Ásia Meridional) ePablo Sada (América Latina).

De antemão, agradeço aos Provinciais, seusDelegados de Educação, professores, dirigentes,membros da diretoria de colégios, cujo apoio ecolaboração neste esforço global de renovação donosso apostolado educativo é crucial.

Finalmente, quero fazer constar a generosaajuda econômica recebida de três fundações, quedesejam permanecer anônimas. A sua participaçãoneste esforço é um exemplo notável de interessee colaboração que caracterizam a comunidadeeducativa da Companhia.

Pe. Vincent J. Duminuco, S.J.Secretário de Educação

da Companhia de Jesus

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NOTAS INTRODUTÓRIAS

(1) 1. Este documento deriva da décima partedas Características da Educação da Compa-nhia de Jesus, como resposta às numerosassolicitações recebidas no sentido de quese formulasse uma pedagogia prática, quefosse coerente com aquele texto e trans-mitisse eficazmente a visão do mundo eos valores inacianos nele propostos. Es-sencial é, por isso, que o que aqui se dizseja entendido como fazendo parte do es-pírito e impulso apostólico inaciano fun-damental que aparecem nas Característi-cas da Educação da Companhia de Jesus.

(2) 2. O sistema pedagógico da Companhia deJesus foi debatido em numerosos livrose trabalhos de pesquisa durante séculos.Neste documento, vamos tratar unica-mente de alguns aspectos desta pedago-gia, que sirvam de introdução a umaestratégia prática referente ao ensino-

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aprendizagem. O Paradigma PedagógicoInaciano aqui proposto nos ajudará aunificar e concretizar muitos dos princí-pios enunciados nas Características daEducação da Companhia de Jesus.

(3) 3. Hoje, obviamente, um currículo univer-sal para as escolas ou colégios dos jesuí-tas, semelhante ao proposto na Ratio Stu-diorum original, tornou-se impossível.Contudo, o que parece importante e deacordo com a tradição da Companhia édispor de uma pedagogia sistematicamen-te organizada, cuja substância e métodosimplementem a visão explícita da mis-são educativa contemporânea dos jesuí-tas. A responsabilidade de efetuar adap-tações culturais se dá melhor em nívelregional e local. Hoje, parece mais apro-priado formular com caráter universal umParadigma Pedagógico Inaciano capaz deajudar professores e alunos a enfocar opróprio trabalho de tal modo que sejasolidamente acadêmico e simultaneamen-te formador de “homens para os outros”.

(4) 4. O paradigma pedagógico aqui propostocomporta um estilo e processo didáticosparticulares. Exige a inserção do trata-mento de valores e o crescimento pes-soal, dentro do currículo existente, mais do

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que acréscimos de cursos específicos. Es-timamos que tal planejamento é prefe-rível, não só por ser mais realista, emrelação aos já sobrecarregados planosexistentes na maioria das instituiçõeseducativas, mas também por ser estemodo de proceder o mais eficaz para aju-dar os alunos a interiorizar e agir deacordo com os valores inacianos propos-tos nas Características da Educação daCompanhia de Jesus.

(5) 5. Chamamos este documento Pedagogia Ina-ciana por destinar-se não só à educaçãoformal nas escolas, colégios e universida-des da Companhia, mas porque pode serútil também a outros tipos de educaçãoque, de uma forma ou de outra, estejaminspiradas na experiência de Santo Ináciocompendiada nos Exercícios Espirituais, naquarta parte das Constituições da Compa-nhia de Jesus e na Ratio Studiorum.

(6) 6. A Pedagogia Inaciana inspira-se na fé.Todavia, mesmo aqueles que não com-partilham esta fé podem descobrir nestedocumento expectativas válidas, já quea pedagogia que se inspira em SantoInácio é profundamente humana e, porconseguinte, universal.

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(7) 7. Desde o começo, a pedagogia inacianafoi eclética na seleção de metodologiasde ensino e aprendizagem. O próprioInácio de Loyola adotou o “modusparisiensis”, sistema pedagógico usado naUniversidade de Paris em sua época. Estemétodo foi enriquecido com um conjun-to de princípios pedagógicos previamen-te desenvolvidos por ele ao dar os Exer-cícios Espirituais. É natural que, no séculoXVI, os jesuítas não dispusessem de mé-todos formais, cientificamente compro-vados, que hoje em dia se propõem, porexemplo, na psicologia pedagógica. Aatenção individual prestada a cada alunotornou esses professores jesuítas sensíveisao que realmente podia concorrer para aaprendizagem e a maturidade humana.Compartilharam suas descobertas em nu-merosas partes do mundo, e comprova-ram a validez universal de seus métodospedagógicos. Estes métodos foram inte-grados na Ratio Studiorum, código de edu-cação liberal, que chegou a se converterem norma para todos os seus colégios.

(8) 8. No decorrer dos séculos, foram-se inte-grando na pedagogia da Companhia bomnúmero de outros métodos específicosdesenvolvidos mais cientificamente poroutros educadores, à medida que contribu-

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íam para os fins da educação da Compa-nhia. Característica constante da pedago-gia inaciana é a incorporação sistemáticados métodos hauridos de diversas fontes,que podem contribuir melhor para aformação integral, intelectual, social, mo-ral e religiosa da pessoa.

(9) 9. Este documento é só uma parte de umprojeto integral de renovação visando a in-troduzir a pedagogia inaciana por meioda compreensão e prática de métodosapropriados para alcançar o objetivo daeducação jesuíta. Por isso este texto deveser acompanhado de programas práti-cos de capacitação pessoal, que ajudemos professores a assimilar com facilidadeas estruturas de ensino-aprendizagem doParadigma Pedagógico Inaciano,e de ou-tros métodos específicos que facilitemseus usos. Para garantir este objetivo, vãoser preparados educadores leigos e jesu-ítas de todos os continentes, para seremcapazes de liderar programas de desen-volvimento.

(10) 10.O Projeto Pedagógico Inaciano destina--se em primeiro lugar aos professores.Pois é especialmente na sua interaçãocom os alunos no processo de ensino--aprendizagem que se podem alcançar

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as metas e objetivos educativos da Com-panhia. Como se relaciona o professorcom seus alunos, como concebe a apren-dizagem, como desafia seus alunos a bus-car a verdade, o que espera deles, a in-tegridade e os ideais do professor — fa-tores que têm todos um tremendo efei-to formador no desenvolvimento doaluno. O Pe. Kolvenbach ressalta o fatode que “Santo Inácio antepõe claramen-te o exemplo pessoal do professor à suaciência ou talento oratório, como meioapostólico de ajudar o aluno a desen-volver-se nos valores positivos” (cf.Apêndice 2, 142). Compreende-se facil-mente que, nos colégios, os diretores,equipes de coordenação, funcionários eoutros membros da comunidade desem-penham funções chave, indispensáveisno que se refere a criar o ambiente eprocessos de aprendizagem que possamfavorecer os objetivos da pedagogia ina-ciana. Por esta mesma razão, importafazê-los participar do projeto.

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PEDAGOGIA INACIANA

(11) A pedagogia é o caminho pelo qual os pro-fessores acompanham o crescimento e de-senvolvimento dos seus alunos. A pedago-gia, arte e ciência de ensinar, não pode serreduzida a mera metodologia. Deve incluiruma perspectiva do mundo e uma visão dapessoa humana ideal que se pretende for-mar. Isto indica o objetivo e fim para oqual se orientam os diversos aspectos dumatradição educativa.Também proporciona oscritérios para a seleção dos recursos a seremusados no processo da educação. A visão domundo e o ideal da educação da Compa-nhia em nossos dias foram expostos nasCaracterísticas da Educação da Companhiade Jesus. A Pedagogia Inaciana assume estavisão do mundo e avança mais um passo,sugerindo modos mais explícitos que per-mitam aos valores inacianos integrarem-seno processo de ensino-aprendizagem.

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OBJETIVO DA EDUCAÇÃO DA

COMPANHIA DE JESUS

(12) Qual é o nosso objetivo? As Característicasda Educação da Companhia de Jesus nos pro-porcionam uma descrição que foi amplia-da pelo Pe.Geral Peter Hans Kolvenbach:

“A promoção do desenvolvimento intelectual decada aluno, para desenvolver os talentos recebi-dos de Deus, continua sendo com razão um ob-jetivo de destaque da educação da Companhia.Todavia, a sua finalidade jamais foi simplesmenteacumular quantidades de informação ou preparopara uma profissão, embora sejam estas impor-tantes em si e úteis para a formação de líderescristãos. O objetivo supremo da educação jesuítaé, antes, o desenvolvimento global da pessoa,que conduz à ação, ação inspirada pelo Espíritoe a presença de Jesus Cristo, filho de Deus e‘Homem para os outros’.Este objetivo orientado para a ação baseia-senuma compreensão reflexiva e vivificada pelacontemplação, e desafia os alunos ao domínio desi mesmos e à iniciativa, integridade e exatidão.Simultaneamente, distingue as formas de pensarfáceis e superficiais, indignas do indivíduo,e so-bretudo perigosas para o mundo que eles e elassão chamados a servir.”1

1. Características, n. 167; Pe. Peter-Hans Kolvenbach, Dis-curso na Universidade de Georgetown, 7 de julho de 1989.

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(13) O Pe. Arrupe resumiu tudo isso declarandoque a nossa meta educativa é a “formaçãode homens e mulheres para os outros”. Pe.Kolvenbach descreveu o aluno formadonum colégio jesuíta como uma pessoa“equilibrada, intelectualmente competen-te, aberta ao progresso, religiosa, amável ecomprometida com a justiça no serviço ge-neroso do povo de Deus”. Ele tambémdefine o nosso objetivo quando diz: “Pre-tendemos formar líderes no serviço e imi-tação de Cristo Jesus, homens e mulherescompetentes, conscientes e comprometidosna compaixão”.

(14) Tal objetivo requer uma formação total eprofunda da pessoa humana, um processoeducativo que aspire à excelência, um es-forço de superação no desenvolvimento daspróprias potencialidades, que integre o in-telectual, o acadêmico e todo o resto. Pro-cura alcançar uma excelência humana, cujomodelo é o Cristo do Evangelho, uma ex-celência que reflita o mistério e a realidadeda Encarnação, uma excelência que respei-te a dignidade de todo o mundo, e a san-tidade de toda a criação. Há inúmeros exem-plos na história de uma excelência educa-tiva concebida estreitamente, de pessoasmuito adiantadas do ponto de vista inte-lectual, mas que ao mesmo tempo perma-

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necem sem um adequado desenvolvimen-to emocional, e moralmente imaturas. Es-tamos começando a perceber que a educa-ção não humaniza necessariamente nemtransmite valores cristãos às pessoas e à so-ciedade. Vamos perdendo a fé na idéia in-gênua de que toda a educação, prescindin-do da sua qualidade, empenho ou finalida-de, conduz à virtude. Por conseguinte, per-cebemos cada vez mais claro que, se nossaeducação aspira exercer influência ética nasociedade, devemos conseguir que o pro-cesso educativo se desenvolva tanto noplano moral como intelectual. Não quere-mos um programa de doutrinação que aba-fe o espírito; nem tampouco pretendemosorganizar cursos teóricos especulativos ealheios à realidade. Precisamos é de umpadrão na busca do modo de abordar osproblemas e valores da vida, e professorescapazes e dispostos a orientar esta busca.

PARA UMA PEDAGOGIA PELA FÉ E A JUSTIÇA

(15) Os jovens deveriam sentir-se livres paraseguir o caminho que lhes permita crescere desenvolver-se como seres humanos. Nãoobstante, o nosso mundo tende a conside-rar o objetivo da educação em termos ex-

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cessivamente utilitários. A ênfase exagera-da posta no êxito econômico pode contri-buir para exacerbar a competitividade e aobsessão por interesses egoístas. Como re-sultado, o que há de humano numa maté-ria ou disciplina específica, passa desperce-bido à consciência do aluno. E isto podechegar facilmente a ofuscar os valores reaise os objetivos duma educação humanista.Para evitar tal distorção, os professores doscolégios da Companhia expõem os temasacadêmicos numa perspectiva humana,pondo ênfase em descobrir e analisar asestruturas, relações, fatos, questões, intui-ções, conclusões, problemas, soluções eimplicações que, em cada disciplina con-creta, iluminam o sentido do ser pessoa. Aeducação, por conseguinte, deve chegar aser uma investigação ciosamente pondera-da, mediante a qual os alunos formam oureformam suas atitudes costumeiras diantedos outros e ante o mundo.

(16) Do ponto de vista cristão, o modelo davida humana e, portanto, o ideal do indi-víduo educado humanamente — é a pes-soa de Jesus. Ele nos ensina com sua pala-vra e exemplo que, em última análise, arealização da nossa capacidade humana emplenitude consegue-se graças à nossa uniãocom Deus, união que se procura e alcança

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no relacionamento amoroso, justo e com-passivo com nossos irmãos. Então, o amorde Deus encontra sua expressão autênticaem nosso amor cotidiano ao próximo, emnossa solicitude compassiva pelos pobres esofredores, em nossa preocupação profun-damente humana pelos outros como povode Deus. É um amor que dá testemunhode fé e se exprime pela atuação em prol deuma nova comunidade de justiça, amor epaz.

(17) Hoje, a missão da Companhia de Jesus,como ordem religiosa dentro da IgrejaCatólica, é “o serviço da fé, da qual a pro-moção da justiça é elemento essencial”.Missão arraigada na crença de que um novomundo de justiça, amor e paz precisa degente formada e com competência profis-sional, responsabilidade e compaixão; ho-mens e mulheres que estejam preparadospara acolher e promover tudo o que forrealmente humano, comprometidos notrabalho em favor da liberdade e dignida-de de todos os povos, e decididos a agirassim, em cooperação com outros igual-mente empenhados em modificar a socie-dade e suas estruturas. Precisamos de gen-te perseverante e capaz de renovar nossossistemas sociais, econômicos e políticos, detal forma que fomentem e preservem nos-

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sa humanidade comum, e libertem as pes-soas para se dedicarem generosamente aoamor e cuidado dos outros. Precisamos depessoas educadas na fé e na justiça, quetenham a convicção possante e sempre cres-cente de que podem chegar a ser defenso-res eficazes, agentes e modelos da justiça,do amor e da paz de Deus, nas circunstân-cias habituais da vida e do trabalho cotidia-no, bem como fora delas.

(18) Por conseqüência, a educação na fé e pelajustiça começa pelo respeito à liberdade,ao direito e à capacidade dos indivíduos egrupos humanos de criarem para si mes-mos uma vida diferente. Isto significa aju-dar os jovens a se comprometerem no ser-viço e na alegria de partilhar suas vidascom outros. E sobretudo ajudá-los a desco-brir que o que realmente devem oferecer éo que eles mesmos são, mais do que aquiloque têm. Significa ensinar-lhes que a suamaior riqueza é compreender outras pes-soas. Significa acompanhá-los em seus pró-prios caminhos, rumo a um maior conhecimento, liberdade e amor. Eis uma parteessencial da nova evangelização a que noschama a Igreja.

(19) Portanto, a educação nos colégios da Com-panhia pretende transformar a maneirasegundo a qual a juventude vê-se a si

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mesma e aos outros, aos sistemas sociais esuas estruturas, ao conjunto da humanida-de e a toda a criação natural. A educaçãojesuíta, se realmente alcança o seu objeti-vo, deve conduzir finalmente a uma trans-formação radical, não só do modo ordiná-rio de pensar e agir, mas também do modode entender a vida, como homens e mu-lheres competentes, conscientes e compas-sivos, que buscam o “maior bem” na rea-lização do compromisso da fé e da justiça,para melhorar a qualidade de vida doshomens, especialmente dos pobres de Deus,oprimidos e desamparados.

(20) Para atingir o nosso objetivo como educa-dores dos colégios da Companhia, precisa-mos de uma pedagogia que lute por for-mar “homens e mulheres para os outros”,num mundo pós-moderno no qual estãoatuando forças antagônicas a este objeti-vo.2 Além disso, precisamos de uma forma-ção permanente para que, como mestres,possamos transmitir esta pedagogia com efi-cácia. Todavia, em muitos lugares, a admi-nistração pública impõe limites aos pro-

2. Por exemplo, o secularismo, o materialismo, o pragma-tismo, o utilitarismo, o fundamentalismo, o racismo, os nacio-nalismos, a pornografia, o consumismo… só para nomear al-guns.

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gramas educativos, e a formação do pro-fessorado contradiz uma pedagogia que es-timule a atividade do aluno na aprendiza-gem, fomento o crescimento e a qualidadehumana, e promova a formação na fé enos valores, além de transmitir conheci-mentos e habilidades, como dimensões in-tegrantes do processo formativo. Esta podeser a situação real que muitos de nós te-mos de enfrentar, professores ou dirigen-tes dos colégios da Companhia. Ela criaum desafio apostólico complexo em nos-so trabalho cotidiano de conquistar a con-fiança de novas gerações de jovens, acom-panhá-los na senda da verdade, ajudá-los atrabalhar em prol de um mundo justo,repleto da compaixão de Cristo.

(21) Como podemos fazer isso? Desde a publi-cação, em 1986, das Características da Edu-cação da Companhia de Jesus, uma perguntasurgiu, tanto da parte de professores, comode diretores de nossos colégios, em facedas realidades do mundo hodierno: comopodemos conseguir o que se nos propõeneste documento, a formação de jovenspara serem “homens e mulheres para osoutros”? A resposta precisa ser relevantepara culturas muito diferentes; útil parasituações diferentes; aplicável a diversasdisciplinas; atraente para estilos e preferên-

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cias múltiplas. E sobretudo que fale aos pro-fessores tanto das realidades como dosideais do ensino. Ademais, tudo isso deveser feito atendendo especialmente ao amorpreferencial pelos pobres que caracteriza amissão da Igreja atual. O desafio é difícil,mas não podemos esquecê-lo, porque afetao núcleo do apostolado educativo da Com-panhia. A solução não consiste simplesmen-te em exigir maior dedicação de nossos pro-fessores e diretores. O de que mais neces-sitamos é um modelo prático para sabercomo ha vemos de proceder no intuito depromover os objetivos da educação jesuíta,um paradigma que seja significativo para oprocesso de ensino-aprendizagem, para arelação professor-aluno, e que tenha umcunho prático e aplicável para a sala deaula.

(22) O primeiro decreto da 33ª CongregaçãoGeral da Companhia, Companheiros de Jesusenviados ao mundo de hoje, estimula os jesu-ítas a um constante discernimento apostó-lico sobre seus ministérios, tanto tradicio-nais como novos. Recomenda que esta revi-são seja atenta à Palavra de Deus e inspira-da pela tradição inaciana. Além disso, devedar vez a uma transformação dos modos depensar habituais, mediante uma constanteinter-relação de experiência, reflexão e

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ação.3 Nisto nos deparamos com o esque-ma de um modelo para conseguir que asCaracterísticas da Educação da Companhia deJesus adquiram vida em nossos colégiosatuais, graças a um modo de proceder pro-fundamente coerente com o objetivo daeducação jesuíta e perfeitamente alinhadocom a missão da Companhia de Jesus. Va-mos pois considerar um paradigma inacia-no que priorize a interação constante deEXPERIÊNCIA, REFLEXÃO e AÇÃO.

A PEDAGOGIA DOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

(23) Característica singular do paradigma da pe-dagogia inaciana é que, considerado à luzdos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, nãosó é uma descrição adequada da contínuainteração da experiência, reflexão e ação doprocesso de ensino-aprendizagem, mas tam-bém uma descrição ideal da inter-relaçãodinâmica entre o professor e o aluno, nacaminhada deste último, rumo à maturida-de do conhecimento e da liberdade.

(24) Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio sãoum livrinho que nunca foi concebido para

3. Decreto 1, n. 42-43. Grifo nosso

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ser lido como qualquer outro livro. A suaintenção era antes expor um modo de pro-ceder na direção de outras pessoas em suasexperiências de oração, nas quais elas po-deriam encontrar o Deus vivo e converter-se a Ele — para chegarem a confrontar-sehonestamente com seus autênticos valorese crenças, e assim poderem tomar decisõeslivres e conscientes acerca do futuro de suasvidas. Os Exercícios Espirituais, cuidadosa-mente estruturados e descritos nomanualzinho de Santo Inácio, não sãoconcebidos como objetos de atividadesmeramente cognoscitivas ou práticas dedevoção. Pelo contrário, são exercícios ri-gorosos do espírito, que comprometemtotalmente o corpo, a mente, o coração ea alma da pessoa humana. Por isso, pro-põem não só temas de meditação, mastambém realidades para a contemplação,cenas para a imaginação, sentimentos quese devem avaliar, possibilidades a seremexploradas, opções a considerar, alternati-vas a ponderar, juízos a formular e eleiçõesa fazer em vista de um objetivo único:ajudar as pessoas a “buscar e achar a von-tade divina na ordenação da própria vida”.

(25) Dinâmica fundamental dos Exercícios Espi-rituais é o convite contínuo a refletir naoração sobre o conjunto de toda a expe-

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riência pessoal, para poder discernir aondenos conduz o Espírito de Deus. Inácio exi-ge a reflexão sobre a experiência humanacomo meio indispensável para discernir suavalidade, pois sem uma reflexão prudente,há muito perigo de mera ilusão enganosae, sem uma consideração atenta, o sentidoda experiência individual pode ser desva-lorizado ou vulgarizado. Só depois de umareflexão adequada sobre a experiência e deuma interiorização do sentido e das impli-cações do que se estuda, é possível proce-der livre e confiadamente a uma eleiçãocorreta dos modos de proceder que favore-çam o desenvolvimento total de alguémcomo ser humano. Portanto, a reflexãoconstitui o ponto central para Inácio, napassagem da experiência para a ação; tan-to que ele confia ao diretor ou orientadordas pessoas que fazem os Exercícios Espiri-tuais a responsabilidade primordial deajudá-las no processo da reflexão.

(26) Para Inácio, a dinâmica vital dos ExercíciosEspirituais é o encontro da pessoa com oEspírito da Verdade. Não surpreende, pois,que encontremos em seus princípios e ori-entações para guiar a outros durante osExercícios Espirituais uma descrição perfei-ta da atitude pedagógica do professor, comoalguém cuja função não é a de meramente

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informar, mas de ajudar o estudante emseu progresso rumo à verdade.4 Para servir-se com êxito do Paradigma Pedagógico Ina-ciano, os professores devem estar cônsciosda própria experiência, atitudes, opiniões,para que não imponham aos alunos aspróprias idéias (cf. § 111).

RELAÇÃO PROFESSOR-DISCÍPULO

(27) Aplicando pois o paradigma inaciano àrelação professor-aluno na educação daCompanhia, a função primordial do pro-fessor será facilitar um relacionamentoprogressivo do aluno com a verdade, mor-mente nas matérias concretas que está es-tudando com a assistência do professor. Elecriará as condições, lançará os fundamen-tos, proporcionará as oportunidades para

4. A visão fundamental do paradigma inaciano dos Exer-cícios Espirituais e suas implicações na educação jesuíta foi es-tudada por François Charmot SJ, em La Pédagogie des Jésuites: sesprincipes, son actualité, Paris, Éditions Spes, 1943. “Podem-seencontrar mais razões convincentes nos dez primeiros capítulosdo diretório dos Exercícios Espirituais. Aplicados à educação,realçam o princípio pedagógico de que o professor não se podeconformar com informar, mas deve ajudar os alunos em seucaminho para a verdade” (texto do Pe. Michael Kurimay SJ,numa nota resumindo uma secção do livro de Charmot quetrata do papel do professor segundo os Exercícios, extraído dumcomentário e tradução particulares de trechos do livro citado).

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que o aluno possa levar a cabo um inter-relacionamento contínuo de EXPERIÊNCIA,REFLEXÃO e AÇÃO.

Figura 1 — Paradigma Inaciano e relação professor-aluno

(28) Começando pela EXPERIÊNCIA, o profes-sor cria as condições para que os alunosrecolham e recordem os dados da própriaexperiência, e selecionem o que conside-ram relevante para o tema que estão tra-tando, sobre fatos, sentimentos, valores,introspecções e intuições. Depois, o pro-fessor guia o aluno na assimilação da novainformação e experiência, de modo que oseu conhecimento progrida em amplitudee verdade. O professor assenta as bases paraque o aluno “aprenda como aprender”,iniciando-o nas técnicas da REFLEXÃO.Deve-se ativar a memória, o entendimen-

PROFESSORDiretor

Exercitante Deus

DISCÍPULO VERDADE

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to, a imaginação e os sentimentos, paracaptar o significado e valor essencial doque se está estudando, para relacioná-loscom outros aspectos do conhecimento eatividade humana, para avaliar suas impli-cações na busca contínua da verdade. Areflexão deve ser um processo formativo elivre, que construa a consciência dos alu-nos — suas atitudes habituais, seus valorese crenças, bem como seus modos de pen-sar — de tal sorte que se sintam impelidosa passar do conhecimento à AÇÃO. Porconseguinte, o papel do professor é garan-tir que haja oportunidades de desenvolvera imaginação e exercitar a vontade dosalunos, a fim de que optem pela melhorlinha de atuação, que derive do aprendidoe seja seu efeito. O que eles vão realizarcomo conseqüência sob a direção do pro-fessor, se bem que não consiga transfor-mar o mundo inteiro de imediato numacomunidade de justiça, paz e amor, aomenos poderá ser um passo educativo nes-te sentido e na direção deste objetivo, mes-mo que não sirva mais que para proporcio-nar novas experiências, ulteriores reflexõese ações coerentes com a matéria estudada.

(29) A contínua inter-relação de EXPERIÊNCIA,REFLEXÃO E AÇÃO na dinâmica do ensi-no-aprendizagem da sala de aula situa-se

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no coração mesmo da pedagogia inaciana.É o nosso modo peculiar de proceder noscolégios da Companhia, acompanhar osalunos na caminhada que os leva a serempessoas maduras. É um paradigma pedagó-gico inaciano que qualquer um de nós podeaplicar nas matérias que leciona e nos pro-gramas que organiza, sabendo que deveadaptá-los e aplicá-los às nossas situaçõesespecíficas.

O PARADIGMA INACIANO

(30) O Paradigma Inaciano, experiência, refle-xão, ação, sugere uma multidão de cami-nhos pelos quais os professores poderiamacompanhar seus alunos e facilitar-lhes aaprendizagem e amadurecimento, fazendo-os encarar a verdade e o sentido da vida. Éum Paradigma que pode fornecer respostamuito adequada aos problemas educativospor nós hoje enfrentados, e ter a capacida-de intrínseca de ultrapassar o meramenteteórico e chegar a ser um instrumento prá-tico e eficaz no sentido de efetuar mudan-ças em nossa maneira de ensinar e na deos nossos alunos aprenderem. O modeloexperiência, reflexão e ação não é somen-te uma idéia interessante, merecedora de

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um diálogo sério, nem uma simples pro-posta intrigante para provocar longos de-bates. Pelo contrário, é um Paradigma Ina-ciano educativo, simultaneamente novo efamiliar; um modo de proceder que todospodemos adotar confiadamente em nossatarefa de ajudar os alunos em seu desen-volvimento autêntico como pessoas com-petentes, conscientes e sensíveis à compai-xão.

Figura 2 — Paradigma Inaciano

(31) Característica de importância decisiva doParadigma Inaciano é a introdução da re-flexão como dinâmica essencial. Duranteséculos, considerou-se que a educação con-sistia em acumular conhecimentos adqui-

AÇÃO

REFLEXÃO

EXPERIÊNCIA

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ridos por meio de lições e provas.5 O ensi-no obedecia a um modelo primitivo decomunicação, segundo o qual a informa-ção se transmitia e o conhecimento setransferia do professor para o aluno. Osalunos recebiam um ponto claramenteexposto e totalmente explicado e, em tro-ca, o professor exigia deles a ação de de-monstrar, freqüentemente recitando de me-mória, que tinham assimilado o que lhesfora comunicado. Embora a pesquisa dasduas últimas décadas haja demonstradoreiteradas vezes, graças a múltiplos estu-dos, que a aprendizagem eficaz resulta da

5. A metodologia da “aula magistral” em que prevalecia aautoridade do professor (magister) como comunicador do co-nhecimento, chegou a ser o modelo predominante desde a Ida-de Média. A leitura em voz alta na aula constituía a “lectio” oulição, que os alunos deviam aprender e defender. Os progressosda técnica da imprensa proporcionaram maior facilidade no usode livros para a leitura e o estudo pessoal. Em épocas maisrecentes, a proliferação de textos e apostilas, escritos por espe-cialistas e maciçamente difundidos pelos editores, tiveram umimpacto significativo no ensino escolar. Em muitos casos, olivro de texto substitui o professor como autoridade máxima, aponto de a escolha de um texto talvez ser uma das decisõespedagógicas mais importantes a ser tomada pelo professor. Éprática comum que a matéria da disciplina seja definida peloscapítulos ou páginas do texto que os alunos devem saber parapassar no exame. É freqüente que se preste pouca atenção aomodo como o conhecimento e as idéias que se utilizam numadeterminada disciplina, não só podem aumentar o acervo deconhecimentos, mas também influir decisivamente na compreen-são e valorização do mundo em se vive.

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interação do aluno com a experiência, nãoobstante, grande parte do ensino que ain-da se ministra continuar restrita a um mo-delo educativo de duas fases: EXPERIÊN-CIA — AÇÃO, no qual o professor desem-penha um papel muito mais ativo do queo aluno.6 Há um modelo freqüentementeadotado, cujo objetivo pedagógico primor-dial é o desenvolvimento da capacidade dememorização dos alunos. Não obstante,como modelo de ensino para a educaçãoda Companhia de Jesus, é muito deficientepor dois motivos:

1) O intuito dos colégios da Companhia éque a experiência da aprendizagem con-duza, além do estudo memorístico, ao de-senvolvimento das habilidades de apren-dizagem mais complexas da compreen-são, aplicação, análise, síntese e avaliação.

2) Mas, se o ensino terminasse aqui, nãoseria inaciano. Faltar-lhe-ia o componen-te da REFLEXÃO, graças à qual os alu-nos são impelidos a considerar o signi-ficado e a importância humana daquiloque estão estudando, e a incorporar res-ponsavelmente este significado, para

6. Basta pensar nos “aprendizes” do mundo artesanal, paradar-nos conta de que nem sempre a pedagogia supôs tal passi-vidade no aluno.

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irem amadurecendo como pessoas com-petentes, conscientes e sensíveis à com-paixão.

DINÂMICA DO PARADIGMA

(32) A compreensão do Paradigma PedagógicoInaciano deve estender-se tanto ao contex-to da aprendizagem, como ao processo maisexplicitamente pedagógico. Além disso,deveria indicar os modos de fomentar aabertura ao desenvolvimento, mesmo apóster o aluno concluído um ciclo determina-do de estudos. Neste sentido, cinco pontosdevem ser levados em consideração: CON-TEXTO, EXPERIÊNCIA, REFLEXÃO,AÇÃO, AVALIAÇÃO.

(33) 1. CONTEXTO DA APRENDIZAGEM: Iná-cio, antes de dar início ao acompanha-mento de alguém nos Exercícios Espirituais,sempre fazia questão de conhecer-lhe aspredisposições para a oração e para comDeus. Dera-se conta de quão importanteé para uma pessoa estar aberta aos movi-mentos do Espírito, se quisesse conseguirde fato algum fruto do processo espiri-tual que se dispunha a realizar. Baseadoneste conhecimento prévio, Inácio podia

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formar uma idéia da aptidão do candida-to para começar a experiência; e da suapossibilidade de aproveitar dos Exercícioscompletos ou se mais lhe convinha umaexperiência abreviada.

(34) Nos Exercícios Espirituais, Inácio faz questãode que a experiência do exercitante sempredê forma e contexto aos exercícios que seestão fazendo. Não obstante, cabe ao dire-tor a responsabilidade, não só de selecionaros exercícios que pareçam mais proveitosose convenientes, mas também de modificá--los e adaptá-los para que sejam mais dire-tamente aplicáveis ao exercitante. Inácio es-timula o diretor dos Exercícios a inteirar-se omais de perto e previamente possível da vidado exercitante, para ter condições de me-lhor ajudá-lo a discernir as moções do Espí-rito, no decorrer do retiro.

(35) Da mesma forma, a atenção pessoal e apreocupação pelo aluno, que é um distinti-vo da educação jesuíta, requer do professorque conheça quanto for possível e conve-niente, a vida do aluno. E, como a expe-riência humana, ponto de partida da peda-gogia inaciana, nunca se produz no vazio,devemos conhecer, na medida do possível,o contexto concreto em que se processa oensino-aprendizagem. Como professores,

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portanto, precisamos entender o mundo doaluno, sem descuidar as formas pelas quaisa família, os amigos, os companheiros, asubcultura juvenil e seus costumes, bemcomo as pressões sociais, a vida escolar, apolítica, a economia, a religião, os meios decomunicação, a arte, a música e outras rea-lidades estão causando impacto nestemundo e influindo no aluno para o bemou para o mal. De vez em quando, devería-mos mover claramente nossos alunos a re-fletir seriamente sobre as realidades contex-tuais dos nossos dois mundos. Quais asforças que neles influem? Como percebemque essas forças estão atuando em suas ati-tudes, valores, crenças, e modelando suaspercepções, juízos e opções? E as realidadesdo mundo, como chegam a afetar seu modode aprender e os ajudam a moldar as pró-prias estruturas habituais de pensamento eação? Que medidas práticas estão dispostosa tomar para conseguir maior liberdade econtrole do seu futuro?

(36) Para que surja a relação de autenticidade everdade entre professores e alunos, reque-rem-se confiança e respeito, que se nutremde uma constante experiência do outrocomo genuíno companheiro de aprendiza-gem. Significa, além disso, ter profundaconsciência e estar atentos para o ambien-

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te institucional do colégio. Como profes-sores e diretores, é preciso também ficaratentos ao complexo e,não raro, sutil uni-verso de normas, comportamentos e rela-ções que geram o clima educativo.

(37) O apreço, o respeito e o serviço deveriamdistinguir a relação existente, não só entreprofessores e alunos, mas também entre to-dos os membros da comunidade escolar.Como ideal, os colégios da Companhia de-veriam ser lugares onde cada um se sintacompreendido, considerado e atendido; ondeos talentos naturais e a capacidade criativadas pessoas sejam reconhecidas e elogiadas;onde todos sejam tratados com justiça eeqüidade; onde seja normal o sacrifício emprol dos economicamente pobres, margina-lizados sociais, e intelectualmente menosbem dotados; onde cada um de nós encon-tre o desafio, o estímulo e a ajuda de queprecisa para realizar ao máximo as suas po-tencialidades individuais; onde nos ajude-mos uns aos outros e juntos trabalhemoscom entusiasmo e generosidade, esforçan-do-nos por tornar concretamente visíveis, porpalavras e obras, os ideais que defendemospara nossos alunos e para nós mesmos.

(38) Em conseqüência, os professores e de-mais membros da comunidade educati-va deveriam considerar:

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a) o contexto real da vida do alunoque abrange sua família, os compa-nheiros, as situações sociais, a pró-pria instituição educativa, a política,a economia, o clima cultural, a situa-ção eclesial, os meios de comunica-ção, a música e outras realidades.Tudo isso exerce um impacto positi-vo ou negativo sobre o estudante. Devez em quando, será útil e importan-te estimular os alunos a refletiremsobre os fatores ambientais cujo in-fluxo experimentam e como afetamsuas atitudes, suas maneiras de cap-tar a realidade, suas opiniões e pre-ferências. Especial importância teráisto, quando os alunos estejam estu-dando temas que provavelmente vãoprovocar neles sentimentos intensos;

(39) b) o contexto sócio-econômico, políti-co e cultural no qual o aluno vivepode afetar seriamente seu crescimen-to como “homem para os outros”. Porexemplo, uma cultura de pobrezaendêmica afeta em geral negativamen-te as expectativas de êxito escolar; osregimes políticos opressivos bloqueiamos questionamentos que possam pôrem perigo suas ideologias dominan-tes. Estes e muitos outros fatores po-

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dem restringir a liberdade que a peda-gogia inaciana tanto fomenta;

(40) c) o ambiente institucional do colégioou centro educativo, isto é, todo ocomplexo e, não raro, sutil conjuntode normas, expectativas e especial-mente relações criadas pela atmosferada vida escolar. Estudos recentes so-bre as escolas católicas destacam aimportância de um ambiente positi-vo na escola. No passado, as melho-rias na educação religiosa e dos valo-res foram promovidas com base naimplantação de novos programas, re-cursos audiovisuais e bons livros detexto. Todas essas melhorias produ-zem alguns resultados. Mas em geral,alcançam muito menos do que pro-metem. Os resultados de uma pesqui-sa recente indicam que o ambientegeral do colégio pode muito bem sera condição prévia e necessária paraque uma educação de valores possaaté mesmo chegar a começar, e que épreciso prestar muito mais atenção aoambiente ou clima escolar em que seestá processando o desenvolvimentomoral e a formação religiosa do ado-lescente. Concretamente, a preo-cupação por um ensino de qualidade,

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pela verdade, pelo respeito aos demais,malgrado as diferenças de opiniões, aambiência, o perdão e algumas mani-festações evidentes da crença da Ins-tituição no Transcendente, são carac-terísticas de um ambiente escolar queajuda na obtenção de um desenvolvi-mento humano integral. Um colégioda Companhia deve ser uma comuni-dade de fé, transparente, na qual pre-valeça uma autêntica relação pessoalentre professores e alunos. Sem estarelação, perder-se-ia praticamentegrande parte da nossa genuína forçaeducativa, já que a autêntica relação deconfiança e amizade entre professorese alunos é necessária como condição“sine qua non” para progredir de al-gum modo no compromisso com osvalores. Por conseguinte a “alumnorumcura personalis”, ou seja, o amor au-têntico e a atenção pessoal prestada acada um dos nossos alunos, é essen-cial para criar um ambiente que favo-reça o paradigma pedagógico inacianoproposto;

(41) d) conceitos adquiridos previamenteque os alunos trazem consigo noinício do processo de aprendiza-gem. Os seus pontos de vista e os

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conceitos que possam ter adquiridoem aprendizagens anteriores, ou tercaptado espontaneamente do seuambiente cultural, bem como os sen-timentos, atitudes e valores que di-zem respeito à matéria que vão estu-dar, tudo isto faz parte do contextoreal do ensino.

(42) 2. A EXPERIÊNCIA significa para Inácio“saborear as coisas internamente”. Istorequer, em primeiro lugar, ter conheci-mento de fatos, conceitos e princípios.Exige do indivíduo que seja sensível àsconotações e matizes das palavras e aosacontecimentos, que analise e avalie asidéias, que raciocine. Só mediante umacompreensão exata do que se está con-siderando é possível alcançar uma apre-ciação adequada do seu significado. Masa experiência inaciana ultrapassa a com-preensão puramente intelectiva. Inácioexige que “o homem todo” — mente,coração e vontade — se envolva na ex-periência educativa. Estimula a valer-setanto da experiência, da imaginação edos sentimentos, como do entendimen-to. As dimensões afetivas do ser huma-no devem ficar tão implicadas quantoas cognoscitivas, pois, se o sentimentointerno não se alia ao conhecimento in-

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telectual, a aprendizagem não moveráninguém à ação. Por exemplo, uma coi-sa é saber que Deus é Pai. Mas, para queesta verdade se torne vida e chegue a sereficiente, Inácio nos fará sentir a ternuracom que o Pai de Jesus nos ama e cuidade nós, perdoando-nos. E esta experiên-cia mais profunda pode fazer-nos cairna conta de que Deus partilha seu amorcom todos os irmãos e irmãs da grandefamília humana. No mais íntimo donosso ser, poderemos sentir-nos compe-lidos a nos preocupar com os outros —com suas alegrias e penas, esperanças,provações, pobreza, e com a injustiça quesofrem — e a querer fazer algo por eles.Nisto estão implicados o coração e acabeça, a pessoa em sua totalidade.

(43) Portanto, empregamos a palavra EXPE-RIÊNCIA para descrever qualquer ativi-dade em que, junto com uma aproxima-ção cognitiva da realidade em questão,o aluno percebe uma reação de caráterafetivo. Em qualquer experiência, o alunopercebe os dados cognitivamente. À forçade perguntar-se, imaginar e investigar seuselementos e relações, o aluno estrutura osdados numa hipótese. “Que é isto? É pare-cido com o que já conheço? Como funcio-na?” E, sem mediar uma escolha delibera-

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da, já surge a reação afetiva espontânea apor exemplo: “Gosto disso...Isto me dámedo... Não me dou com esse tipo de coi-sas... Isto é interessante... Isto me enjoa”.

(44) Ao começar matéria nova, o professor podeperceber freqüentemente quanto os senti-mentos dos alunos os ajudam a crescer. Poisé muito difícil que um aluno entre em con-tato com uma novidade no estudo semrelacioná-la com os conhecimentos anterio-res. Novos fatos, idéias, pontos de vista outeorias quase sempre representam um desa-fio ao que o aluno já sabe sobre o assunto.Isto implica um crescimento, uma com-preensão mais plena, que podem modificarou transformar os conhecimentos que elepensava já possuir satisfatoriamente. O con-fronto de um conhecimento novo com o jásabido, especialmente quando o novo nãoencaixa exatamente no já conhecido, nãose pode limitar simplesmente àmemorização ou assimilação passiva dedados adicionais. O aluno estranha ao per-ceber que não compreende as coisas perfei-tamente. E isto provoca novas tentativaspara melhor compreender — análise, com-parações, contrastes, sínteses, avaliação —todo o tipo de atividades mentais epsicomotoras, pelas quais os alunos tentamcaptar mais profundamente a realidade.

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(45) A experiência humana pode ser direta ouindireta:

— Direta

Uma coisa é ler num jornal que as cidadescosteiras de Porto Rico foram arrasadas porum furacão. Talvez se tenha notícia dealguns pormenores: a velocidade do ven-to, sua direção, o número de vítimas fataise de feridos, a extensão e localização dosdanos materiais. Mas este conhecimentopuramente intelectual pode deixar o leitordistante e frio, com referência às propor-ções humanas da tormenta. Há grandediferença entre estar alguém ao relentoquando o vento sopra, a sentir o ímpetodo temporal e o perigo imediato que amea-ça a sua vida, seu lar e tudo o que possui,e sentir o medo apoderar-se-lhe das entra-nhas porque teme pela própria vida e pelade seus familiares, enquanto o ensurdece osibilar do vento. Este exemplo mostraclaramente como a experiência direta é, viade regra, mais intensa e afeta mais a pes-soa. No contexto escolar, a experiênciadireta costuma ocorrer nas relações inter-pessoais, tais como conversas ou debates,descobertas de laboratório, pesquisas decampo, práticas de serviço social, ativida-des esportivas, ou similares.

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— Indireta

Nos estudos, a experiência direta nem sem-pre é possível. A aprendizagem estrutura--se, com freqüência, por meio de experiên-cias indiretas, lendo ou ouvindo uma lei-tura. Para empenhar os alunos numa expe-riência de aprendizagem mais profunda emnível humano, os professores são desafia-dos a estimular a imaginação deles e a apli-cação dos sentidos, de sorte que possamter acesso mais pleno à realidade estudada.Será necessário enriquecer o contexto his-tórico, as implicações temporais do temaem estudo, bem como os fatores culturais,sociais, políticos e econômicos que, naépoca, tenham afetado a vida das pessoas.As simulações, representações, o uso de ma-terial audiovisual e outros recursos seme-lhantes podem ser de grande valia.

(46) Nas fases iniciais da experiência, quer diretaquer indireta, os alunos percebem simulta-neamente os fatos e as próprias reações afe-tivas. Só articulando esses dados será possí-vel captar o significado cabal da experiência,respondendo a perguntas como: “Que é isto?”e “qual é a minha reação?” Por isso devemos alunos ficar atentos e ativos para conse-guir a percepção e a compreensão das rea-lidades humanas que os questionam.

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(47) 3. A REFLEXÃO: No decorrer da sua vida,Inácio conscientizou-se de que estiveraconstantemente sujeito a diferentes ten-dências e sugestões, quase sempre alter-nativas contraditórias. O seu maior em-penho foi procurar descobrir o que omovia em cada caso: o impulso que olevava ao bem ou o inclinava para omal; o desejo de servir aos outros ou apreocupação com sua própria afirmaçãoegoísta. Converteu-se assim em mestredo discernimento, e hoje continua a sê-lo, pois conseguiu distinguir esta dife-rença. Para Inácio, “discernir” significa-va esclarecer as próprias motivações in-ternas, os objetivos que agiam por trásde suas opiniões; pôr em questão ascausas e implicações do que experimen-tara, ponderar as possíveis opções eavaliá-las à luz de suas prováveis conse-qüências, para obter o objetivo preten-dido: ser uma pessoa livre, que busca,encontra e executa a vontade de Deusem cada situação.

(48) Neste nível da REFLEXÃO, a memória, oentendimento, a imaginação e os sentimen-tos são utilizados para captar o significadoe valor essencial do que está sendo estuda-do, para descobrir sua relação com outrosaspectos do conhecimento e da atividade

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humana, e para apreciar suas implicaçõesna constante busca da verdade e da liber-dade. Esta REFLEXÃO é um processo forma-tivo e libertador. Forma a consciência dosalunos (suas crenças, valores, atitudes e, atémesmo, sua forma de pensar), de tal sorteque os desafia a ir além do puro conheci-mento e passarem à ação.

(49) Com o termo reflexão, queremos significara reconsideração séria e ponderada de umtema determinado, experiência, idéia, pro-pósito ou reação espontânea, visando cap-tar o seu sentido mais profundo. Portanto,a reflexão é o processo pelo qual se traz àtona o sentido da experiência:

(50) • Quando se percebe com maior clarezaa verdade em estudo. Por exemplo: “Qualé o pressuposto desta teoria do átomo, detal exposição da história dos povos indí-genas, desta análise estatística? São váli-dos os resultados? São honestos? Seriapossível partir de outros pressupostos? Nocaso de se terem feito outras hipótesesiniciais, surgiriam resultados diferentes?”

(51) • Quando se diagnosticam as causas dossentimentos ou reações que se experi-mentam ao considerar atentamente al-guma coisa. Por exemplo: “Ao estudareste episódio, o que é que me interessa

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mais particularmente? Por quê? O que éque me deixa perplexo nesta tradução?Por quê?”

(52) • Quando se penetra mais a fundo nasimplicações do que se chegou a en-tender por si mesmo ou com a ajudaalheia. Por exemplo: “Dos esforços fei-tos para controlar o efeito estufa, queconseqüências podem resultar para aminha vida, a da minha família ou dosmeus amigos, e para a vida dos povosdos países pobres?”

(53) • Quando se conseguem convicções pes-soais sobre fatos opiniões, verdades —distorcidas ou não — e coisas seme-lhantes. Por exemplo: “A maioria daspessoas considera que seria desejáveluma repartição mais eqüitativa dos re-cursos do mundo; não só, mas é umimperativo moral. Poderiam o meu pró-prio estilo de vida pessoal e tantas coi-sas que me parecem normais e julgonaturais contribuir para tal desigualda-de? Estou disposto a reconsiderar dequanto preciso para ser feliz?”

(54) • Ao conseguir compreender quem sou(“O que é que me move, e por quê?”) equem deveria ser em relação aos ou-tros. Por exemplo: “Que influência tem

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sobre mim a problemática que estouponderando? Por quê? Vivo em paz es-tas reações que se produzem em mim?Por quê? Se não, por que não?”

(55) Desafio ainda maior para o professor, nes-ta etapa do paradigma da aprendizagem, éformular perguntas que ampliem a sensibi-lidade do aluno e o façam considerar oponto de vista dos outros, especialmentedos pobres. A tentação, para o professor,talvez venha a ser procurar impor os pró-prios pontos de vista. Caso isto aconteça,o risco de manipulação ou doutrinação(certamente não inaciano) seria grande, eos professores devem precaver-se de tudo oque favoreça este risco. Mas permanece odesafio de incrementar a sensibilidade dosalunos para as implicações humanas do queestudam, de sorte que progridam além daspróprias experiências anteriores e cresçamem qualidade humana.

(56) Como educadores, insistimos em que tudose deve fazer com total respeito à liberdadedo aluno. É possível que, mesmo depois deum processo reflexivo, um aluno resolvaagir de forma egoísta. Sabemos que, devi-do aos fatores evolutivos, à insegurança oua outras situações que ordinariamente afe-tam a vida do jovem, este pode não ser

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capaz, em tal conjuntura, de amadurecerna linha de um maior altruísmo, respeitoà justiça, etc. O próprio Jesus enfrentoureações dessas com o jovem rico do Evan-gelho. Cumpre ser respeitosos para com aliberdade individual de quem resiste aoamadurecimento. Nós somos simplesmen-te semeadores; a seu tempo, a providênciade Deus fará germinar a semente.

(57) A reflexão que estamos considerando podee deve estender-se onde quer seja conve-niente, de tal sorte que alunos e professo-res sejam capazes de partilhar suas refle-xões, e assim tenham a oportunidade decrescer juntos. Uma reflexão partilhadapode reforçar, desafiar, estimular a recon-sideração e, finalmente, dar maior segu-rança de que a ação que se vai empreender— individual ou coletiva — vai ficar maisintegrada e ser mais coerente com o quesignifica ser uma “pessoa para os outros”.

(58) (Os termos EXPERIÊNCIA e REFLEXÃOpodem ser definidos de maneiras diferen-tes, de acordo com as diversas escolas pe-dagógicas. E julgamos conveniente que hojese utilizem estes e outros termos semelhan-tes para exprimir ou promover um ensinopersonalizado e ativo, cujo objetivo nãoseja a mera assimilação de matérias, mas o

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desenvolvimento da pessoa. Na tradiçãoeducativa inaciana, contudo, esses termossão particularmente significativos, porquetraduzem o “modo de proceder” mais efi-caz para conseguir a “formação integral”do aluno, isto é, um modo de experimen-tar e refletir que leva o aluno, não só aaprofundar-se nas matérias, mas a buscarum significado para a vida e efetuar op-ções pessoais (AÇÃO) de acordo com umavisão integradora do mundo. Por outrolado, sabemos que a experiência e a refle-xão não são fenômenos separáveis. Não épossível ter uma experiência sem um mí-nimo de reflexão, e todas as reflexões im-plicam algumas experiências intelectuais ouafetivas, intuições ou ilustrações, uma vi-são do mundo e dos outros).

(59) 4. A AÇÃO: para Inácio, a prova mais con-tundente do amor é o que se faz, não oque se diz. “O amor demonstra-se comfatos, não com palavras.” O impulso dosExercícios Espirituais permitia precisamen-te ao exercitante conhecer a vontade deDeus, para livremente cumpri-la. Por issotambém, Inácio e os primeiros jesuítasocupavam-se principalmente da forma-ção das atitudes dos alunos, de seusvalores e ideais, à luz dos quais toma-riam decisões numa grande variedade de

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situações em que teriam de intervir. Noscolégios da Companhia, Inácio queriaformar jovens que pudessem contribuirinteligente e eficazmente para o bem-estar da sociedade.

(60) • A reflexão pedagógica inaciana seria umprocesso truncado se terminasse na com-preensão e nas reações afetivas. A refle-xão inaciana começa precisamente coma realidade da experiência e termina ne-cessariamente nesta mesma realidade,para atuar sobre ela. A reflexão só fazcrescer e amadurecer, quando resulta emdecisão e compromisso.

(6l) • Em sua pedagogia, Inácio distingue o es-tágio afetivo/avaliativo do processo de for-mação, por ter consciência de que os sen-timentos afetivos, além de permitir a “sen-tir e saborear”, ou seja, inserir-se na pró-pria experiência, são forças motivadorasque fazem o indivíduo passar da com-preensão à ação e ao compromisso. Res-peitando a liberdade de cada um, tratapreferentemente de animar à decisão e aocompromisso pelo “magis”, o maior ser-viço de Deus e de nossos irmãos e irmãs.

(62) • A palavra AÇÃO refere-se aqui ao cresci-mento humano interior baseado naexperiência na qual se refletiu, bem

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como à sua manifestação externa. Istosupõe duas etapas:

1) Opções interiorizadas

Após a reflexão, o aluno considera a expe-riência de um ponto de vista pessoal e hu-mano. À luz da compreensão intelectual daexperiência e dos sentimentos nela impli-cados — positivos ou negativos — é que avontade se sente mobilizada. Os conteúdospercebidos e analisados conduzem a opçõesconcretas. Estas podem ocorrer quando al-guém resolve que tal verdade vai ser o seuponto de referência pessoal, a atitude oupredisposição que influirá numa série dedecisões. E pode adquirir a forma de umesclarecimento gradual das próprias priori-dades. Neste momento, um aluno pode re-solver-se a assumir tal verdade como pró-pria, mantendo-se ainda aberto no sentidode perceber para onde esta verdade o leva.

2) As opções que se manifestamexternamente

Com o tempo, esses conteúdos, atitudes evalores interiorizados vão se incorporandoà pessoa, e impelem o aluno a agir, a fazeralgo coerente com suas convicções. Caso o

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conteúdo seja positivo , o aluno esforçar--se-á provavelmente por incrementar as con-dições ou circunstâncias em que a expe-riência original ocorreu. Por exemplo, umaluno que teve êxito na educação física,inclinar-se-á a praticar habitualmente al-gum esporte durante os tempos livres. Seuma aluna criou gosto pela história da li-teratura, tomará tempo para leitura. Ou-tro, que julga valioso ajudar os colegas nosestudos, pode oferecer-se como voluntárioem algum programa de ajuda aos colegasmais fracos. Se ele ou ela avaliam melhoras necessidades dos pobres, depois de te-rem passado por experiências de assistên-cia em áreas marginalizadas e refletidosobre elas, isto poderia influir na escolhada própria carreira, ou em sentir-se moti-vados a um trabalho voluntário em favordos pobres. Se o conteúdo tiver sido nega-tivo, então, provavelmente o aluno procu-rará reagir, mudar, discernir ou evitar con-dições e circunstâncias em que ocorreu aexperiência original. Por exemplo, se o alu-no se dá conta agora das causas do seufracasso escolar, poderá decidir-se a melho-rar seus hábitos de estudo, para evitaroutros fracassos.

(63) 5. A AVALIAÇÃO: Todos os professoressabem da importância de avaliar de vezem quando o progresso de cada aluno

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nos estudos. As perguntas diárias, asprovas semanais ou mensais e os exa-mes finais são instrumentos usuais deavaliação para apreciar o domínio dosconhecimentos e das capacidades adqui-ridas. As provas periódicas informam oprofessor e o aluno sobre o progressointelectual e detectam as lacunas quedevem ser preenchidas. Provavelmente,esse tipo de realimentação pode cons-cientizar o professor da necessidade derecorrer a métodos diferentes de ensino;e fornece-lhe a oportunidade de estimu-lar e aconselhar pessoalmente cada alu-no sobre o seu progresso acadêmico (porexemplo, revendo os hábitos de estudo).

(64) A pedagogia inaciana, contudo, visa con-seguir uma formação que, embora inclua odomínio das matérias, pretende ir mais lon-ge. Neste sentido, nós nos preocupamoscom o equilíbrio no desenvolvimento dosalunos como “pessoas para os outros”. Porisso, é essencial a avaliação periódica doseu progresso nas atitudes, prioridades,modo de proceder de acordo com o obje-tivo de ser “pessoas para os outros”. Prova-velmente esta avaliação integral não deve-rá ser tão freqüente como nos estudos, masprecisa programar-se periodicamente, pelomenos uma vez por trimestre. Um profes-

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sor observador perceberá, com muito maisfreqüência, indícios de maturidade ou ima-turidade nas discussões em aula, atitudesde generosidade dos alunos relativamenteàs necessidades comuns, etc.

(65) Há muitos modos de avaliar o processo dematuração humana. Tudo deve ser levadoem conta: a idade, o talento e o nível dedesenvolvimento de cada aluno. Nisto asrelações de respeito e confiança mútua, quesempre deveriam existir entre professor ealuno, são as que criam um clima propíciopara falar sobre a maturidade. Há métodospedagógicos adequados como o diálogopessoal, a revisão dos diários dos alunos, aauto-avaliação dos próprios alunos nasvárias etapas de desenvolvimento, bemcomo a revisão das atividades de tempolivre e o serviço voluntário a outros.

(66) Este pode ser um momento privilegiado,tanto para que o professor parabenize eanime o aluno pelo esforço despendido,como para estimular uma ulterior reflexãoà luz dos pontos obscuros ou lacunas detec-tados pelo próprio aluno. O professor podemotivá-lo a realizar as revisões oportunas,fazendo perguntas interessantes, abrindonovas perspectivas, fornecendo a informa-ção necessária e sugerindo modos de ver ascoisas de pontos de vista diferentes.

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(67) Com o correr do tempo, as atitudes dosalunos, suas prioridades e resoluções po-dem ser investigadas novamente à luz deulteriores experiências, mudanças de am-biente, desafios provocados por desloca-mentos sociais e culturais, ou coisas pare-cidas. O modo discreto de o professor per-guntar pode sugerir a necessidade de to-mar decisões ou compromissos mais ade-quados, o que Inácio de Loyola denomina“magis”. Esta nova consciência da necessi-dade de amadurecer pode servir ao alunopara novamente empreender o ciclo doparadigma da aprendizagem inaciana.

UM PROCESSO CONTÍNUO

(68) Este modo de proceder pode converter-senum exercício constante e eficiente deaprendizagem, bem como num estímulo

Avaliação Reflexão

Experiência

Ação

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para permanecer aberto ao crescimento du-rante a vida inteira.

(69) Uma reaplicação do Paradigma Inacianopode ajudar o aluno a amadurecer, pois este:

• aprenderá gradualmente a discernir eselecionar suas experiências;

• tornar-se-á capaz de adquirir maior ple-nitude e riqueza pessoais, a partir dareflexão sobre estas experiências; e

• conseguirá automotivar-se, baseado em suaprópria honestidade e humanidade, paraoptar consciente e responsavelmente.

(70) Além disso, e talvez seja o mais importante,o uso coerente do paradigma inaciano podelevar à aquisição de hábitos permanentesde aprendizagem, que fomentem a intensi-dade da experiência, a compreensão reflexi-va que supere o interesse individual, e oscritérios de uma ação responsável. Estasaquisições educativas caracterizavam os ex-alunos da Companhia de Jesus primitiva.Talvez sejam ainda mais necessárias para oscidadãos responsáveis do terceiro milênio.

TRAÇOS PREDOMINANTES DO PARADIGMAPEDAGÓGICO INACIANO

(71) É natural que nos satisfaça uma pedagogiainaciana que se refere às Características da

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Educação da Companhia de Jesus e a nossospróprios objetivos como professores. A con-tínua interação de EXPERIÊNCIA, REFLE-XÃO e AÇÃO nos propicia um modelopedagógico muito significativo no contextocultural do nosso tempo. É um modelobásico e sugestivo que se refere diretamenteao processo de ensino-aprendizagem. É ummodo de proceder cuidadoso e razoável, con-cebido em coerência lógica com os princí-pios da espiritualidade inaciana e com a edu-cação da Companhia. Mantém firmementea importância e conveniência da inter-rela-ção de professor, aluno e matéria. Aindamais importante, atende às realidades, comoaos ideais de formação, de maneira práticae sistemática, ao mesmo tempo que ofereceos recursos básicos de que necessitamos paradar sentido à nossa missão educativa deformar “homens e mulheres para os outros”.E, se queremos trabalhar para fazer da pe-dagogia inaciana uma característica essenci-al da educação jesuíta em nossos colégios eem nossas aulas, será útil recordar o seguin-te, relativamente ao paradigma proposto:

(72) • O Paradigma Pedagógico Inacianoadapta-se a todos os planos de estudo.Como atitude, mentalidade e enfoquepermanente que transcende todas asnossas programações curriculares, o Pa-

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radigma Pedagógico Inaciano adapta-sea todos os planos de estudo propostospelas administrações públicas. Não exi-ge o acréscimo de um só curso, masrequer a inclusão de novos enfoques nomodo de distribuir as aulas exigidas pelaprogramação curricular.

(73) • O Paradigma Pedagógico Inaciano éfundamental no processo da aprendi-zagem. Aplica-se, não só às disciplinasteóricas, mas também às áreas não-teóri-cas, tais como as atividades para-escola-res, esportes, programas de serviço social,convivências e outras semelhantes. Den-tro de uma disciplina concreta (história,matemática, línguas, literatura, física, arte,etc.), o Paradigma pode ser um instru-mento útil para preparar as aulas, plane-jar tarefas e escolher atividades formati-vas. O Paradigma é dotado de um poten-cial considerável para ajudar os alunos arelacionarem as matérias de cada disci-plina, e estas entre si, e para incorporarseus conteúdos ao já estudado. Sendousado constantemente no decurso de umprograma escolar, o Paradigma conferecoerência a toda a experiência educativado aluno. A aplicação regular do modelonas diversas situações escolares contribuipara criar nos alunos o hábito espontâ-

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neo de refletir sobre a experiência, antesde passar à ação.

(74) • O Paradigma Pedagógico Inacianopode contribuir para o aprimoramen-to do professorado. Permite enriquecero conteúdo e a estrutura do que os pro-fessores estão ensinando. Fornece ao pro-fessor meios adicionais de apoio às inici-ativas estudantis. Leva os professores amelhorarem suas expectativas com refe-rência aos alunos e a exigir deles maisresponsabilidade e cooperação na própriaformação. Ajuda o professor a motivaros alunos, proporcionando-lhes ocasiõese argumentos para animá-los a relacio-nar o que estão estudando com expe-riências efetuadas em seu ambiente.

(75) • O Paradigma Pedagógico Inaciano per-sonaliza o ensino. Induz os alunos a re-fletir sobre o conteúdo e significado doque estão estudando. Trata de motivá-los, envolvendo-os como participantesativos e críticos no processo do ensino.Empenha-se por uma aprendizagem maispessoal, que permita relacionar mais es-treitamente as experiências de alunos eprofessores. Convida-os a harmonizar asexperiências educativas feitas na aula comas de casa, do trabalho, dos colegas, etc.

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(76) • O Paradigma Pedagógico Inaciano acen-tua a dimensão social do ensino e daaprendizagem. Fomenta a estreita coope-ração e a comunicação mútua de expe-riências mediante o diálogo reflexivo en-tre os alunos. Relaciona o estudo e oamadurecimento próprios com a intera-ção pessoal e as relações humanas. Propi-cia um impulso firme e resoluto para aação que afetará positivamente a vida dosoutros. Os alunos aprendem gradualmen-te que suas mais profundas expectativasprovêm de suas relações humanas, rela-ções e experiências de e com outras pes-soas. A reflexão deveria levar sempre a ummaior respeito pela vida alheia e pelasações, normas de conduta ou estruturasque favorecem ou obstaculizam o desen-volvimento das pessoas. Isto, naturamente,supõe que os professores estejam conscien-tes e comprometidos com tais valores.

OBJEÇÕES À PRÁTICA DA PEDAGOGIA INACIANA

(77) Não é fácil cumprir metas que se orientampara valores, com as propostas nas Carac-terísticas da Educação da Companhia de Je-sus. Hoje elevam-se vozes poderosas agin-do em oposição aos nossos propósitos. Re-gistremos aqui algumas:

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1. Um enfoque restrito da educação

(78) Freqüentemente, o objetivo da educação nosé apresentado como simples transmissão decultura, por exemplo, transmitir às novasgerações a sabedoria acumulada durante sé-culos. Esta é, sem dúvida, uma função im-portante para a salvaguarda da coerênciado esforço humano, dentro de qualquer so-ciedade e da humanidade em geral. Deixarde informar a juventude e prepará-la acercado que já sabemos, resultaria na necessida-de de cada nova geração ter de reinventar aroda. De fato, em muitos lugares, a trans-missão da cultura é o objetivo supremo,senão o único da educação pública.

(79) Mas o objetivo da educação no mundo dehoje, marcado por tão rápidas mudançasem todos os níveis da iniciativa humana, epor sistemas e ideologias competitivas en-tre si, não pode permanecer tão restrito, sequisermos efetivamente preparar homense mulheres que sejam competentes e cons-cientes, capazes de contribuir significativa-mente para o futuro da humanidade. Doponto de vista puramente pragmático, aeducação que se restringe à transmissão decultura acaba efetuando uma preparaçãopara o que já está caindo em desuso. Istoé evidente quando organizamos programas

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de preparação tecnológica. Menos aparen-tes são, contudo, as conseqüências do equí-voco em avaliar as implicações humanasdas inovações que afetam realmente a vida,como a engenharia genética, a cultura daimagem, as novas formas de energia, opapel dos blocos econômicos emergentesdas nações e muitíssimas outras inovaçõesque o progresso nos promete. Muitas delasbrindam-nos com a esperança de melhorara vida humana. Mas a que preço? Não sepodem deixar simplesmente tais perguntaspor conta dos líderes políticos ou dirigen-tes da indústria; direito e responsabilidadede cada cidadão é julgar e agir de modoadequado em favor da comunidade huma-na que se está configurando. Cumpre edu-car as pessoas para exercerem uma cidada-nia responsável.

(80) Por conseguinte, é essencial acrescentar àtransmissão da cultura o preparo para aparticipação significativa no progresso des-ta cultura. Sem dúvida alguma, os homense mulheres do terceiro milênio precisarãode novas capacitações técnicas; mas, e istoé muito mais importante, precisarão habi-litar-se para compreender e criticar, basea-dos no amor, todos os aspectos vitais, demodo a tomar decisões (pessoais, sociais,morais, profissionais, religiosas) que in-

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fluam beneficamente em nossas vidas. Oscritérios deste desenvolvimento (fruto doestudo, da reflexão, da análise, da crítica eda evolução de alternativas eficazes) basei-am-se, inevitavelmente, em valores morais.E isto é certo, quer tais valores sejam rejei-tados explicitamente, quer não. Todo ensi-no fornece valores que podem promover,por exemplo, a justiça, ou podem agir to-tal ou parcialmente, contra a missão daCompanhia de Jesus.

(81) Por isso, precisamos de uma pegagogia quealerte os jovens sobre as complexas redesde valores que, não raro, se disfarçam tãosutilmente na vida moderna — através dapublicidade, da música, da propaganda po-lítica, etc. —, de tal modo que os alunospossam examiná-las e julgá-las e compro-meter-se livremente com elas, baseadosnuma autêntica compreensão.

2. O predomínio do pragmatismo

(82) Muitos governos estão acentuando exclu-sivamente os elementos pragmáticos daeducação, levados pela ânsia de galgarmetas de progresso econômico, que podemperfeitamente ser legítimas. O resultado éque a educação fica reduzida a uma prepa-ração para o trabalho. Tal tendência é fre-qüentemente fomentada pelos interesses

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comerciais, por mais que estes louvem teo-ricamente a extensão da educação a obje-tivos culturais. Nos últimos anos, em mui-tas regiões do mundo, numerosas institui-ções acadêmicas aderiram a esta perspecti-va estreita da educação. E é alarmante pre-senciar a enorme mudança havida na es-colha de especializações universitárias porparte dos estudantes, como abandonam ashumanidades, a sociologia, a psicologia, afilosofia e a teologia, e se inclinam exclu-sivamente para ciências empresariais, eco-nômicas, técnicas, físicas ou biológicas.

(83) Na educação jesuíta, não nos limitamos alamentar sem mais estes fatos da vida mo-derna. Queremos examiná-los e estudá-los.Cremos que cada disciplina acadêmica, sefor honesta consigo mesma, tem consciên-cia de que os valores que transmite depen-dem do ideal da pessoa e da sociedade quelhe servem de ponto de partida. Portanto,consideramos de grande relevância os pro-gramas educativos, o ensino e a pesquisa,e as metodologias que se aplicam nas esco-las, colégios e universidades, pois rejeita-mos qualquer versão parcial ou deformadada pessoa humana, imagem de Deus. Istocontrasta claramente com as instituiçõeseducativas que, não raro inconscientemen-te, descartam a preocupação fundamental

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pela pessoa humana, influenciadas por umenfoque fragmentário das especializações.

(84) Isto significa que a educação jesuíta deveinsistir na formação integral de seus alunoscom meios tais como a exigência dum currí-culo básico que inclua humanidades, filoso-fia, perspectivas teológicas, questões sociais eoutras semelhantes, como parte de todos osprogramas educativos especializados. E, alémdisso, dever-se-ia aplicar nas especializações osistema de complementação curricular paraestudar mais a fundo as implicações huma-nas, éticas, sociais do programa acadêmico.

3. O desejo de soluções simples

(85) A tendência a procurar soluções simples paraquestões e problemas humanos complexoscaracteriza muitas sociedades contemporâ-neas. O uso freqüente de slogans como res-posta aos problemas não ajuda precisamen-te a resolvê-los. Nem tampouco a tendênciaque vemos em muitos países do mundointeiro para o fundamentalismo, num ex-tremo do espectro, e para o secularismo,no extremo oposto. Ambos tendem a serreducionistas; não satisfazem cabalmente asede de crescimento humano integral, quetantos irmãs e irmãos nossos reclamam.

(86) Na realidade, a educação jesuíta, cujo obje-tivo é a formação integral da pessoa, en-

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frenta o desafio de traçar um caminho eaplicar uma pedagogia que evite esses ex-tremos e ajude nossos alunos a captar umaverdade mais plena, as implicações huma-nas do que aprendem, precisamente parapoderem contribuir mais eficazmente no sa-neamento da humanidade e na construçãode um mundo mais humano e mais divino.

4. Os sentimentos de insegurança

(87) Um dos motivos que mais contribuem paraa busca tão generalizada de respostas fáceisé a insegurança que muita gente experimen-ta, devida ao fracasso das instituições hu-manas essenciais, que normalmente propor-cionam contextos de crescimento. Tragica-mente, a família, sociedade humana funda-mental, está se desintegrando em todos ospaíses do mundo. Em muitos países doprimeiro mundo, de cada dois matrimônios,um acaba em divórcio, com efeitos devasta-dores para os cônjuges, e sobretudo, para osfilhos. Outra fonte de insegurança e confu-são é o fato de estarmos assistindo a umahistórica e maciça migração por toda a faceda terra. Milhões de homens, mulheres ecrianças são arrancados dos próprios am-bientes culturais, devido à opressão, às guer-ras civis, ou à escassez de comida ou meiosde manter-se. Talvez os adultos possam

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conservar elementos da própria herançacultural e religiosa, mas os jovens ficamgeralmente, sujeitos a conflitos culturais esentem-se obrigados a adotar os valores do-minantes em suas novas pátrias, para seremaceitos por elas. Apesar de tudo, no fundo,sentem dúvidas a respeito desses novosvalores. A insegurança traduz-se amiúde ematitudes defensivas e egoístas, num com-portamento do tipo “primeiro eu”, que blo-queia a capacidade de interessar-se pelasnecessidades alheias. A ênfase que o para-digma inaciano põe na reflexão, com ointuito de alcançar o sentido, pode ajudaros alunos a entender os motivos subjacen-tes às inseguranças que sentem, e a buscarformas mais construtivas de enfrentá-las.

5. Os programas de estudos impostos pelasadministrações públicas

(88) Para além de todos esses fatores, está arealidade do pluralismo do mundo atual.Ao contrário do que sucedia nos colégiosda Companhia no século XVI, não existemais um currículo único, reconhecidocomo “Trivium” ou “Quatrivium”, quepossa ser aplicado como estrutura exclusi-va de formação para o nosso tempo. Osprogramas atuais refletem, como é lógico,culturas locais e necessidades particulares

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consideravelmente mutáveis. Mas em nu-merosos países, os governos controlam ri-gorosamente os cursos que integram osprogramas de estudo nos níveis primário esecundário. E isto pode impedir um desen-volvimento curricular em consonância coma prioridade formativa dos colégios.

(89) Já que o processo inaciano de aprender re-quer certo estilo de ensino-aprendizagem,enfrenta as disciplinas do programa maispor infusão do que praticando modificaçõesou acréscimos nas unidades didáticas. As-sim fazendo, evitam-se novos acréscimos aoscurrículos escolares já sobrecarregados, e aomesmo tempo evita-se que determinadosconteúdos sejam vistos como suplementodecorativo das disciplinas “importantes”.Naturalmente, isto não descarta a possibili-dade de que alguma unidade específica deética ou outras matérias semelhantes possaser aconselhável num contexto particular.

DA TEORIA À PRÁTICA: PROGRAMAS PARAA FORMAÇÃO DO PROFESSORADO

(90) Ao refletir sobre o exposto, pode haver quemse pergunte como é possível pôr tudo isso emexecução. Na realidade, muito poucos são osprofessores que praticam esta metodologia de

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modo coerente. E a falta de experiência talvezseja o maior obstáculo para qualquer mudan-ça efetiva no comportamento de um profes-sor. Os membros da “Comissão Internacionalpara o Apostolado Educativo da Companhiade Jesus” (ICAJE) compreendem perfeitamen-te estes reparos. A experiência mostrou quemuitas inovações educacionais fracassaramprecisamente por causa deste problema.

(91) Neste sentido, estamos convencidos de quenos centros educativos, Províncias ou re-giões onde se utilizará este Paradigma Peda-gógico Inaciano, serão essenciais os progra-mas de formação do professorado que in-cluam uma preparação no local. Já que sóse consegue dominar as técnicas de ensinomediante a prática, os professores precisa-rão, não só de explicações sobre métodos,mas também de oportunidade para neles seexercitarem. Tais programas podem equi-par os professores com um conjunto demétodos pedagógicos inspirados na peda-gogia inaciana, dentre os quais poderãoadotar aqueles que forem mais adequados àsnecessidades dos alunos a seu cargo. Nestesentido, a formação do professorado em nívelde colégio ou de Província, faz parte essencialdo Projeto Pedagógico Inaciano.

(92) De acordo com isto, julgamos necessário se-lecionar e preparar equipes capacitadas para

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apresentar esses programas de formação agrupos locais ou provinciais de professores,visando à aplicação do Paradigma Pedagógi-co Inaciano. Neste sentido, já se estão orga-nizando cursos de formação; estes, natural-mente, procurarão adaptar a cada lugar osmétodos específicos que sejam coerentescom a pedagogia inaciana proposta.

ALGUNS APOIOS CONCRETOS PARA ENTENDERO PARADIGMA

(93) Os apêndices deste documento proporcionamuma compreensão mais ampla das raízes daPedagogia Inaciana, através dos próprios es-critos de Inácio (Apêndice I) e no resumoapresentado pelo Pe. Kolvenbach, sobre mé-todos mais relevantes que caracterizam aeducação jesuíta (Apêndice II). Uma brevelista de métodos e processos adequados a cadaetapa do Paradigma Pedagógico Inaciano (Apên-dice III). Os programas de formação deverãoorientar e capacitar os professores a praticare chegar a dominar esses métodos.

CONVITE À COOPERAÇÃO

(94) Só conseguiremos saber como adaptar e apli-car o Paradigma Pedagógico Inaciano à grande

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variedade de situações e circunstâncias edu-cativas dos colégios da Companhia no mun-do se nos pusermos a trabalhar à luz doParadigma em nossa interação cotidiana comos alunos, dentro e fora da aula, e descobrir-mos, através desses esforços concretos, os mo-dos práticos de utilizá-lo para aprimorar oprocesso de ensino-aprendizagem. Por outrolado, esperamos que apareçam em breve mui-tas propostas úteis e pormenorizadas do Pa-radigma Pedagógico Inaciano; elas se irão en-riquecendo com a experiência de professorespreparados e experimentados em sua aplica-ção, dentro de áreas concretas e disciplinasespecíficas. Todos nós, que labutamos na edu-cação, temos a doce esperança de nos bene-ficiar com a intuição e as sugestões que nospossam propiciar outros professores.

(95) De acordo com o espírito inaciano de coo-peração, confiamos em que os professoresque utilizem o Paradigma Inaciano, parti-lhem com outros as programações queimplementarem nas matérias específicas desuas disciplinas. Por isso, esperamos poderoferecer de vez em quando breves subsídi-os ilustrativos. Por esta razão, convidamosos professores a enviar-nos breves descri-ções de como aplicaram o Paradigma Ina-ciano em matérias específicas a:

The International Center for Jesuit EducationBorgo S. Spirito, 4C.P. 613900195 ROMA — ITÁLIA

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APÊNDICES: ÍNDICE

(96) Apêndice I: Alguns Princípios Pedagógi-cos Importantes:

Anotações Inacianas

Adaptação das notas introdutórias de San-to Inácio para quem dá os Exercícios Espi-rituais a outra pessoa. Apontam-se as im-plicações pedagógicas mais explícitas.

(97) Apêndice II: A Pedagogia Inaciana Hoje

Discurso do Pe. Peter-Hans Kolvenbach, S.J.aos participantes do grupo de trabalhosobre a A PEDAGOGIA INACIANA: UMAPROPOSTA PRÁTICA.

Villa Cavalletti, 29 de abril de 1993.

(98) Apêndice III: Breve lista de métodos e pro-cessos adequados para cada uma das eta-pas do Paradigma Pedagógico Inaciano. Osmétodos aqui selecionados provêm da tra-dição educativa da Companhia (Santo Iná-

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cio, Ratio Studiorum, etc.) ou de métodospedagógicos desenvolvidos mais recente-mente em outros círculos, que sejam coe-rentes com a Pedagogia Inaciana.

N.B. Os programas de formação deverãoorientar e capacitar os professores apraticar e conseguir dominar esses mé-todos.

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APÊNDICE I

ALGUNS PRINCÍPIOSPEDAGÓGICOS IMPORTANTES

(ANOTAÇÕES INACIANAS)

(99) A seguir, apresentamos as Anotações ounotas orientadoras para o Diretor dos Exer-cícios Espirituais, convertidas em princípiosintrodutórios da Pedagogia Inaciana:

(100) 1. Por “aprender”, entende-se qualquer tipode experiência, reflexão e ação referen-tes à verdade; qualquer modo de prepa-rar e dispor a pessoa para vencer todosos obstáculos que tolhem a liberdade eo crescimento (Anotação 1).

(101) 2. O professor explica ao aluno o modo ea ordem da matéria e narra os fatos fiel-mente. Atém-se ao que é importante nes-te ponto e só acrescenta uma curta ex-

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plicação. Motivo disto é que, quando seexpõe aos alunos o fundamental, e elestrabalham e refletem sobre isto, desco-brem que a matéria torna-se mais clarae se compreende melhor. A clareza pro-vém do seu próprio raciocínio e causamaior sensação de conquista e satisfa-ção do que se o professor houvesse ex-plicado e desenvolvido o significado porextenso. Não é o muito saber que saciae satisfaz os alunos, mas o sentir e sabo-rear intimamente a verdade (Anotação2).

(102) 3. Em toda a aprendizagem, usamos doentendimento para raciocinar e da von-tade para exprimir o nosso afeto (Anota-ção 3).

(103) 4. Determinam-se espaços de tempo espe-cíficos para o estudo, que via de regracorrespondem às divisões naturais damatéria. Contudo não se quer dizer comisto que cada parte deva efetuar-se ne-cessariamente num tempo fixo. Poispode suceder que alguns sejam maislentos em alcançar o que se pretende,ao passo que outros sejam mais diligen-tes e outros tenham mais problemas ouestejam mais cansados. Por isso, podeser preciso abreviar o tempo em certas

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ocasiões e estendê-lo em outras (Anota-ção 4).

(104) 5. O aluno que começa um estudo deveriafazê-lo com “grande ânimo e generosida-de”, empenhando livremente toda a suaação e vontade no que faz (Anotação 5).

(105) 6. Quando o professor repara que o alunonão se sente movido por nenhuma ex-periência, deveria assediá-lo com pergun-tas, inquirindo como e quando se dedi-ca ao estudo, examinando a compreen-são das instruções, perguntando pelosresultados da reflexão, e pedindo contas(Anotação 6).

(106) 7. Se o professor nota que o aluno está comproblemas, deveria conversar com elepausada e amavelmente. O professordeve animá-lo e confortá-lo com vistasao futuro, revendo os erros com delica-deza e sugerindo modos de melhorar(Anotação 7).

(107) 8. Se, durante a reflexão, um aluno sentealegria ou desalento, deveria pensar maisdetidamente nas causas destes sentimen-tos. Partilhar esta reflexão com um pro-fessor, pode ajudar o aluno a perceberáreas de satisfação ou estímulo, quepodem contribuir para seu maior cres-

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cimento pessoal ou se não, bloqueá-losutilmente (Anotações 8,9,10).

(108) 9. O aluno deveria propor-se a aprendiza-gem da matéria com que está lidandocomo se nada mais tivesse de aprender.Não deveria ter pressa em dar conta detudo. “Non multa, sed multum”: “Trata amatéria selecionada em profundidade;não pretendas dar conta de todos osassuntos de determinada área de estu-do” (Anotação 11).

(109) 10. O aluno deveria dedicar ao estudo todoo tempo marcado. Vale mais dar umtempo suplementar do que reduzi-lo,mormente quando a tentação de “en-curtar”, é forte e custa estudar. Assim, oaluno se acostumará a não se dar porvencido e fortalecer o seu estudo nofuturo (Anotações 12 e 13).

(110) 11. Caso o aluno progrida com grande êxito,o professor o aconselhará a avançar comcuidado e menos pressa (Anotação 14).

(111) 12. Enquanto o aluno aprende, convém maisque o que o motiva e dispõe seja a própriaverdade. O professor, como fiel da balan-ça, não se inclina mais para uma coisa doque para outra, mas deixa que o aluno serelacione diretamente com a verdade e sejainfluenciado por ela (Anotação 15).

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(112) 13. Para que o Criador e Senhor atue maisfielmente em sua criatura, convirá maisao aluno trabalhar contra qualquerobstáculo que impeça uma franca aber-tura à verdade total (Anotação 16).

(113) 14. O aluno deveria informar sinceramenteao professor sobre qualquer problemaou dificuldade que o afetem, para queo processo de aprendizagem possa seradequado e adaptado às suas necessida-des pessoais (Anotação 17).

(114) 15. A aprendizagem deveria ser sempreadaptada à situação do aluno que a re-aliza (Anotação 18).

(115) 16. (As duas últimas anotações permitemadaptações criativas para adequar-se àspessoas e circunstâncias. Esta disposi-ção para adaptar-se à experiência doensino e da aprendizagem do ensino eda aprendizagem é extraordinariamen-te criativa). (Anotações 19 e 20).

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APÊNDICE II

A PEDAGOGIAINACIANA HOJE

Discurso do Pe. Peter-Hans Kolvenbach S.J.,aos membros do grupo de trabalho sobre“A PEDAGOGIA INACIANA: UMA PROPOS-TA PRÁTICA”Villa Cavalletti, 29 de abril de 1993.

CONTEXTO: O HUMANISMO CRISTÃO HOJE

(116) Inicialmente, quero situar nossos esforçosno contexto da tradição educativa da Com-panhia. Desde suas origens, no século XVI,a educação jesuíta orientou-se para o de-senvolvimento e transmissão de um autên-tico humanismo cristão. Este humanismotem duas raízes: a experiência espiritualespecífica de Inácio de Loyola, e os desa-fios culturais, sociais e religiosos da Renas-cença e da Reforma na Europa.

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(117) A raiz espiritual deste humanismo desco-bre--se na contemplação final dos Exercí-cios Espirituais. Nela, Santo Inácio leva oexercitante a pedir conhecimento internode como Deus habita nas pessoas, dando-lhes o conhecimento e plasmando-as à Suaimagem e semelhança, e a considerar comoDeus trabalha e opera em todas as coisascriadas, em benefício de cada pessoa. Esteconhecimento da relação de Deus com omundo implica que a fé em Deus e a afir-mação de tudo o que é verdadeiramentehumano, sejam inseparáveis entre si. Estaespiritualidade habilitou os primeiros jesu-ítas a se apropriarem do humanismo daRenascença e fundarem uma rede de cen-tros educativos, que significavam uma re-novação e respondiam às necessidades ur-gentes do seu tempo. A Fé e o fomento da“humanitas” trabalhavam de mãos dadas.

(118) Desde o Concílio Vaticano II, vimos expe-rimentando um novo e profundo desafioque postula uma forma nova de humanis-mo cirstão, com ênfase particular no so-cial. O Concílio afirma que “o divórcioentre a fé que muita gente professa e arealidade de suas vidas no cotidiano mere-ce ser contado entre os erros mais gravesde nosso tempo” (GS 43). O mundo se nosdepara dividido, fragmentado.

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(119) O problema básico é o seguinte: que senti-do tem a fé em Deus, em face da Bósnia eAngola, Guatemala e Haiti, Auschwitz eHiroshima, as ruas regurgitantes da genterem Calcutá e os corpos destroçados na Pra-ça Tienanmen? Que vem a ser o humanis-mo cristão, em face dos milhões de homens,mulheres e crianças que morrem de fomena África? Que significa o humanismo cris-tão em face dos milhões de pessoas arran-cadas a seus países pela perseguição e o ter-ror, e obrigados a procurar novas terras es-trangeiras? Que significa o humanismo cris-tão, quando contemplamos os sem-teto quevagueiam por nossas cidades, e o crescentenúmero de marginalizados pela sociedade,que se vêem condenados à desesperança per-pétua? Que sentido tem a educação huma-nista neste contexto? A sensibilidade volta-da para a miséria e a exploração dos ho-mens não é simplesmente doutrina políticaou sistema econômico. É humanismo, sen-sibilidade humana que de novo deve serrecuperada em meio aos apelos de nossosdias, e como resultado de uma educaçãocujo ideal se inspira nos dois grandes man-damentos: amar a Deus e ao próximo.

(120) Por outras palavras, o humanismo cristão dofinal do século XX inclui necessariamente ohumanismo social. Como tal, compartilha em

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grande parte os ideais de outras crenças, delevar o amor a Deus a uma expressão eficaz,à construção no mundo de um Reino de Deusjusto e pacífico. Assim como os primeirosjesuítas contribuíram de modo peculiar parao humanismo do século XVI, graças às suasinovações educativas, assim também somosnós chamados hoje a uma tarefa semelhan-te. Isto requer criatividade em todas as áreasdo pensamento, da educação e da espiritua-lidade. Será fruto de uma pedagogia inacianaa serviço da fé, mediante uma auto-reflexãosobre o sentido pleno da mensagem cirstã ede suas exigências em nosso tempo. O servi-ço da fé e a promoção da justiça por eleimplicado são o fundamento do humanismocristão contemporâneo. Ele é o núcleo datarefa educativa católica e jesuíta de nossosdias. É o que as Características da educaçãojesuíta hoje chamam de “excelência huma-na”. É o que pretendemos dizer ao falar queo fim da educação dos jesuítas é a formaçãode homens e mulheres para os outros, pes-soas competentes, conscientizadas e sensibi-lizadas para o compromisso.

RESPOSTA DA COMPANHIA A ESTE CONTEXTO

(121) Faz precisamente dez anos, solicitava-se devários pontos do mundo uma exposição

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atualizada dos princípios essenciais da pe-dagogia jesuíta. Tal necessidade fazia-se sen-tir, diante das importantes mudanças e dasnovas normas dos governos que regulam ocurrículo, a composição do corpo estudan-til e outros aspectos similares da nossa Pe-dagogia, a um número crescente de profes-sores leigos, que não estavam familiariza-dos com a educação jesuíta; diante da Mis-são da Companhia na Igreja atual, e espe-cialmente diante do ambiente mutável ecada vez mais desnorteador em que vive ecresce a juventude atual. Nossa resposta foio documento que descreve as Característicasda educação jesuíta hoje. Mas este documen-to, cuja acolhida no mundo da educaçãojesuíta foi excelente, suscitou uma pergun-ta ainda mais premente. Como? Comotransferir-nos de um mero conhecimentodos princípios que hoje norteiam a educa-ção jesuíta para o nível prático da aplicaçãodestes princípios à realidade cotidiana, dointercâmbio — interação — entre professo-res e alunos? Pois é precisamente nesteponto, no desafio e atuação do processo deensino-aprendizagem, que estes princípiospodem produzir resultados. Este Grupo deTrabalho, do qual sois membros, pesquisaos métodos práticos que dêem resposta àpergunta crucial: como concretizar na aula

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as Características da Educação da Companhiade Jesus? O Paradigma Pedagógico Inacianopropõe linhas básicas para incorporar nadocência o fator crucial da reflexão. Estaproporciona aos alunos a oportunidade deconsiderar o significado humano e as con-seqüências decorrentes do que estudam.

(122) Em meio a tantas forças desencontradas quelhes reclamam o tempo e as energias, vossosalunos buscam sentido para suas vidas. Sa-bem que o holocausto nuclear é mais doque um pesadelo de louco. Pelo menosinconscientemente, padecem o medo davida, num mundo unificado mais pelo equi-líbrio do terror que pelos laços do amor. Jásão muitos os jovens que se sentiram alvode interpretações muito cínicas do homem:um amontoado de instintos egoístas, todosa exigir satisfação instantânea; vítimas ino-centes de sistemas desumanos, cujo contro-le lhes fugiu das mãos. Devido às crescentespressões econômicas que se registram em nãopoucas regiões do mundo, muitos alunos dospaíses desenvolvidos vivem na obsessão defazer carreira e auto-realizar-se, e rejeitam opróprio desenvolvimento humano maisamplo. Como não se sentiriam inseguros?Por baixo de seus medos, contudo, muitasvezes dissimulados por uma atitude de desa-fio, e por baixo da sua perplexidade devida

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às interpretações divergentes sobre o homem,jaz o desejo de uma visão unificadora dosignificado da vida e deles mesmos. Emmuitos países em desenvolvimento, os jo-vens com quem trabalhais sofrem a ameaçada fome e os terrores da guerrra. Queremesperar que a vida humana tenha valor efuturo entre as cinzas da devastação, que éo único mundo que conheceram. Em outrospaíses, onde a pobreza arrasa o espírito hu-mano, os meios de comunicação propalamcinicamente a vida boa em termos de opu-lência e consumismo. Seria para estranharque nossos alunos estejam confusos e incer-tos quanto ao sentido da vida?

(123) No decorrer do seu ensino secundário, osjovens, eles e elas, têm liberdade para ou-vir e explorar (no campo das idéias). Masnão se sentem imersos no mundo. Preocu-pam-se com as questões profundas, comos “por quê” e “para quê” da vida. Podemsonhar sonhos irrealizáveis e sentir-se atraí-dos por visões do que poderia ser. A Com-panhia destinou muitas pessoas e recursosaos alunos do curso secundário, precisa-mente por terem os olhos postos nas fon-tes da vida, em algo que ultrapassa “os maisaltos níveis acadêmicos”. Não há dúvidade que qualquer professor merecedor detal nome deva ter fé em seus alunos e deseje

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animá-los na procura de ideais elevados.Isto significa que a vossa visão unificadorada vida deve ser excitante e atraente paravossos alunos, estimulando-os ao diálogosobre os temas que realmente importam.Deve animá--los a assimilar atitudes deprofunda e universal compaixão por nos-sos irmãos e irmãs sofredores, e a se trans-formarem, eles mesmos, em homens emulheres de paz e justiça, comprometidosem serem agentes de mudança num mun-do que reconhece quão difundida está ainjustiça, e quão persuasivas são as forçasda opressão, o egoísmo e o consumismo.

(124) Claro está que essa tarefa não é fácil. Comotodos nós em nossos anos “pré-reflexivos”,vossos alunos aceitaram inconscientementevalores incompatíveis com o que realmenteconduz à felicidade humana. Mais do queos jovens de gerações anteriores, vossos alu-nos têm mais “motivos” para se retiraremtristes ao captar o sentido de uma visão cristãda vida, e a mudança fundamental de pers-pectivas, que exigem o repúdio da imagemda vida folgada, enganosamente brilhante,propalada pelas revistas sentimentais e osfilmes baratos. Como talvez nenhuma gera-ção anterior da história, estão expostos aofascínio das drogas e à fuga da realidadedolorosa que as drogas prometem.

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(125) Esses jovens precisam de confiança, ao en-carar o porvir; precism de força ao se veremàs voltas com a própria debilidade; preci-sam da compreensão e afeto maduros deseus professores de todas as disciplinas, comquem investigam o assombroso mistério davida. Não nos lembram eles aquele jovemestudante da Universidade de Paris, de háquatro séculos e meio, que Iñigo conquis-tou e transformou em Apóstolo das Índias?

(126) Estes são os jovens que sois chamados amoldar, para que se tornem abertos ao Espí-rito, dispostos a aceitar a aparente derrota doAmor Redentor; em última análise, para che-garem a ser líderes íntegros, dispostos a assu-mir os encargos mais onerosos da sociedadee ser testemunhas da fé que opera a justiça.

(127) Insisto por que tenhais confiança em quevossos alunos são chamados a serem líderesem seu mundo; ajudai-os a reconhecer quesão respeitados e dignos de apreço. Livres daescravidão da ideologia e da insegurança,iniciados numa visão mais completa do sen-tido do homem e da mulher, e proporcionai--lhes os meios de servirem a seus irmãos eirmãs, conscientes e profundamente resolvi-dos a valer-se da própria influência para cor-rigir injustiças sociais e para que suas vidas,profissional, social, e particular, fiquem im-buídas de valores sólidos. O exemplo de vossa

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sensibilidade e preocupação social será paraeles poderosa fonte de inspiração.

(128) Este ideal apostólico, entretanto, precisa ex-primir-se em programas práticos e métodosadequados ao mundo real das aulas. Umadas qualidades típicas de Santo Inácio, quese manifesta nos Exercícios Espirituais, na ParteIV das Constituições e em muitas cartas, é asua insistência em aliar os ideais mais eleva-dos às maneiras mais concretas de pô-los emprática. Ideal sem meio prático apropriado,soa a ilusão estéril, ao passo que métodospráticos sem visão unificadora resultam emmoda efêmera ou ferramenta inútil.

(129) Um exemplo desta integração do espíritoinaciano no ensino pode encontrar-se noProtepticon ou exortação aos professores dosCursos Secundários da Companhia de Jesus,escrito pelo Pe. Francisco Sacchini, segundohistoriador oficial da Companhia, poucosanos depois da publicação da Ratio em 1599.No Prefácio, escreve: “Entre nós, a educaçãoda juventude não se limita a explicar os ru-dimentos da gramática, mas estende-se aomesmo tempo à formação cristã”. O Epítome,adotando a distinção entre “instruir” e “edu-car” (entendido como formar o caráter), es-tabelece que os professores devem ser devi-damente formados nos métodos de instruire na arte de educar. A tradição educativa da

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Companhia sempre insistiu em que o crité-rio adequado ao êxito em nossos Colégiosnão é simplesmente o domínio de proposi-ções, fórmulas, filosofias, etc. A prova con-siste nas obras, não nas palavras: que farãonossos alunos com a capacitação que os es-tudos lhes confere? Inácio estava interessadoem que houvesse quem melhorasse os ou-tros, e para este objetivo a erudição não bas-ta. Quem aspira a empregar generosamenteo que adquiriu com os estudos deve ser bome educado. Se não for educado, não terácondições de ajudar o próximo como pode-ria; e, se não for bom, não os ajudará, oupelo menos não se pode esperar que o façaconsistentemente. Isto supõe que o nossotrabalho educativo deva visar, além do de-senvolvimento cognoscitivo, ao desenvolvi-mento humano, que comporta compreen-são, motivação e convicção.

DIRETRIZES PEDAGÓGICAS

(130) De acordo com o seu objetivo de educarcom efetividade, Santo Inácio e seus suces-sores formularam diretrizes pedagógicas decaráter geral. Eis algumas:

(131) a) Inácio acredita que a atitude própria dohomem é o assombro à vista do dom di-

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vino da criação, do universo e da existên-cia humana. Na sua contemplação da pre-sença de Deus na criação, convida-nos aavançar, para além da análise racional, atéa resposta afetiva a Deus, que por nós tra-balha em todas as coisas. Descobrindo aDeus em tudo, descobrimos o Seu desíg-nio de amor a nosso respeito. A imagina-ção, os sentimentos, a vontade, o entendi-mento desempenham papel central noenfoque inaciano. A educação da Compa-nhia abrange a pessoa inteira. Nossos co-légios devem integrar mais plenamenteesta dimensão, precisamente para que seusalunos possam penetrar no sentido da vida,que por sua vez nos pode ajudar a desco-brir o que somos e para que existimos.Pode proporcionar-nos critérios para fixarnossas prioridades e tomar decisões emmomentos críticos da vida. Por isso privi-legiam-se métodos que provocam uma ri-gorosa pesquisa, compreensão e reflexão.

(132) b) Nesta aventura de encontrar a Deus, Iná-cio respeita a liberdade humana. Istodescarta qualquer resquício de doutrina-ção ou manipulação. Nossa pedagogiadeveria equipar nossos alunos para ex-plorarem a realidade, de coração e menteabertos. E neste esforço de honradez,deveria alertar o educando contra a ar-

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madilha que se pode ocultar em seus pres-supostos e preconceitos, bem como nasredes grosseiras dos valores populares quenos podem cegar para a verdade. A nossaeducação estimula igualmente o aluno aconhecer e amar a verdade. Aspira a fa-zer dele um crítico da sociedade em quevive, tanto positiva como negativamen-te, para aderir aos valores sadios que lhesão propostos, e rejeitar os falsos.

(133) A contribuição das nossas instituições à so-ciedade consiste em incorporar no seu pro-cesso educativo um estudo rigoroso e pers-picaz dos problemas e preocupações cru-ciais do homem. Este é o motivo pelo qualos colégios da Companhia devem aspirar auma elevada qualidade de ensino. Por issomesmo, estamos falando de algo que distamuito do mundo de facilidades e superfi-cialidades, dos “slogans” ou ideologias, oudas reações puramente emotivas e egoís-tas; e de soluções momentâneas e simplis-tas. O ensino e a pesquisa e tudo o que fazparte do processo educativo têm a maiorimportância em nossas instituições, por-que rejeitam e refutam toda visão parcialou deformada da pessoa humana, em evi-dente contraste com as instituições educa-tivas que, devido a um conceito fragmen-tário da especialização, deixam muitas ve-

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zes de parte, sem cair na conta, o interessecentral pela pessoa humana.

(134) c) Inácio incute o ideal de um desenvolvi-mento completo da pessoa humana. Tí-pica é a sua insistência no “magis”, omais, a maior glória de Deus. Assim, naeducação, pede-nos que aspiremos a algoque ultrapasse o adestramento e o sabernormalmente verificado num bom alu-no. O “magis” não se refere unicamenteao acadêmico, mas também à ação. Anossa formação inclui experiências quenos levam a explorar as dimensões e ex-pressões do serviço cristão como meiode desenvolver nosso espírito de gene-rosidade. Nossos colégios deveriam in-cluir este traço da visão inaciana em pro-gramas de serviço que estimulem o alu-no a tentar e por à prova a sua assimi-lação do “magis”, o que, por sua vez, oinduziria simultaneamente a descobrir adialética da ação e contemplação.

(135) d) Nem toda a ação, contudo, redunda emglória de Deus. Por isso Inácio nos ofere-ce um meio de descobrir e acolher avontade de Deus. O “discernimento”desempenha uma função central. Assim,a reflexão e o discernimento devem serensinados e praticados em nossas esco-

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las, colégios e universidades. Com tantosapelos que nos solicitam de todos os la-dos, nem sempre é fácil decidir livremen-te. Raro é descobrir que todos os motivosinclinam para o mesmo lado. Sempre háuma ponderação a ser feita. É aí que odiscernimento se torna crucial. O discer-nimento exige que se recolham os dadose se reflita, distinguindo os motivos quenos movem, ponderando valores e prio-ridades, analisando as conseqüências, denossas decisões entre os pobres.

(136) e) Mais ainda. A resposta ao chamamentode Jesus não nos pode encerrar dentrode nós mesmos; exige que sejamos ho-mens para os outros e ensinemos nossosalunos a serem o mesmo. A cosmovisãode Inácio centra-se na pessoa de Jesus. Arealidade da Encarnação vai produzir seuimpacto no próprio cerne da educaçãoda Companhia. Pois o fim último e arazão de ser dos colégios é formar ho-mens e mulheres para os outros, à imi-tação de Cristo Jesus — o Filho de Deus,Homem para os outros por excelência. Éassim como a educação da Companhia,fiel ao princípio da encarnação, é hu-manista. O Pe. Arrupe escreveu:

(137) Que vem a ser humanizar o mundo, senãopô-lo a serviço da humanidade? O egoísta

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não só não humaniza a criação material,mas desumaniza as próprias pessoas. Trans-formando-as em coisas, ao dominá-las,explorá-las e apropriar-se do fruto do seutrabalho. O trágico é que, ao fazê-lo, o egoís-ta se desumaniza a si mesmo. Sujeita-se àsposses que ambiciona; faz-se escravo delas,deixa de ser pessoa com controle sobre si ese converte em não-pessoa, uma coisa go-vernada por seus desejos e objetivos cegos.

(138) Hoje, começamos a compreender que a edu-cação não humaniza ou cristianiza automa-ticamente. Já não acreditamos na idéia deque toda a educação, seja qual for sua qua-lidade ou objetivo, conduzirá à virtude. Estáficando cada vez mais evidente que, se qui-sermos ser uma força moral na sociedade,temos de insistir em que o processo educa-tivo se desenvolve num contexto moral. Istonão supõe um plano de doutrinação queabafe a mente, nem implica cursos teóricos,que se detenham numa especulação remo-ta. O que nos falta é um referencial de buscaque possibilite o processo de enfrentar osgrandes temas e valores complexos.

(139) f) Em todo este esforço para formar homense mulheres que se destaquem pela com-petência, integridade e compaixão, Iná-cio jamais perdeu de vista a pessoa con-creta. Sabia que Deus dá a cada um os

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seus talentos pessoais. Disso deriva dire-tamente um dos princípios gerais da nossapedagogia, a “alumnorum, cura perso-nalis”, um afeto e desvelo pessoal autên-ticos por cada um dos nossos alunos.

O PAPEL DO PROFESSOR É CRUCIAL

(140) Num centro educativo jesuíta, a responsabi-lidade principal da formação, tanto moralcomo intelectual, recai em última análise,não nos métodos ou em qualquer atividaderegulamentada ou extra-escolar, mas no pro-fessor, como responsável perante Deus. Umcentro da Companhia deve ser uma Comu-nidade aberta, na qual floresça um relacio-namento pessoal autêntico entre professorese alunos. Sem esta relação de amizade, nossaeducação perderá de fato a maior parte desua influência sobre os alunos. Porque umarelação autêntica de confiança e amizadeentre professor e aluno é uma condição degrande valor para fomentar um crescimentoautêntico na dedicação aos valores.

(141) Por isso, a Ratio de 1591 insiste em que osprofessores devem conhecer seus discípulos.Recomenda que os estudem detidamente ereflitam em suas qualidades, defeitos e nasimplicações de seu comportamento na aula.

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Pelo menos algum dos professores, deveriaestar bem informado do seu contexto fami-liar. Os professores devem respeitar, em to-das as circunstâncias, a dignidade e persona-lidade do discípulo. Na aula, aconselha aRatio, os professores deveriam ser pacientese saber como fechar os olhos a certos erros,ou deixar a correção para um momento psi-cologicamente oportuno. Deveriam estarmuito mais dispostos a louvar do que a cen-surar e, sendo necessária uma correção, deveser feita sem rancor. O clima de amizadeque se fomenta ao aconselhar o aluno, fre-qüente e casualmente, se possível fora dashoras de aula, pode contribuir muito paraisto. Esses mesmos conselhos só fazem acen-tuar o conceito subentendido da naturezado colégio como comunidade, e o papel doprofessor como crucial dentro da mesma.

(142) No preâmbulo da Parte IV das Constitui-ções, Santo Inácio propõe claramente oexemplo pessoal do professor, antepondo--o à sua ciência ou talento oratório, comomeio apostólico para ajudar o aluno a de-senvolver-se nos valores positivos. Dentroda comunidade escolar, o professor influi-rá decisivamente no caráter do aluno, parao bem ou para o mal, de acordo com aimagem de si mesmo que representa. Mes-mo em nossos dias, o Papa Paulo VI obser-

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va de forma marcante na Evangelii Nun-tiandi que “os estudantes de hoje não es-cutam atentamente os professores, mas astestemunhas e, se prestam atenção aos pro-fessores, é porque dão testemunho”.

(143) Como professores de colégios da Companhia,além de serdes profissionais qualificados daeducação, deveis ser homens e mulheres doEspírito. Sois a cidade edificada no topo dacolina. O que sois fala mais alto do que fazeisou dizeis. Em nossa cultura da imagem, osjovens aprendem a responder à imagem vivados ideais que vislumbram no coração. Aspalavras sobre entrega total, serviço ao po-bre, ordem social justa, sociedade não-racis-ta, abertura do espírito, etc. podem fazê-losrefletir. O exemplo vivo os arrastará a vivero que as palavras significam. Por isso o cres-cimento constante no Espírito da Verdadedeve conduzir-nos a uma vida de plenitudee bondade tais, que nosso exemplo suponhaum desafio para que nossos alunos cresçamcomo homens e mulheres que sobressaempela competência, integridade e compaixão.

MÉTODOS

(144) Inácio aprendeu à própria custa, através deum árduo processo educativo que, para ter

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êxito nos estudos, não basta o entusiasmo.São fundamentais a direção que se dá aoaluno e os métodos a que se recorre. Aofolhear as páginas da Ratio, nossa primeiraimpressão é de uma montoeira de normassobre horários e programas, a cuidadosagraduação das aulas, seleção de autores, di-versidade de métodos segundo as váriashoras da manhã ou da tarde, correção equalificação de deveres, o nível exato queum aluno deve atingir para passar de umaclasse à seguinte. Mas todas essas peculia-ridades são orientadas para criar umentrançado seguro e firme de ordem e cla-reza, dentro do qual tanto o professor comoo aluno possam alcançar sem obstáculo seusobjetivos. Menciono aqui unicamente al-gum dos métodos típicos empregados naeducação da Companhia.

(145) 1. Dado este ambiente de ordem e respeitoaos métodos, será relativamente fácil de-terminar os objetivos de ensino precisos elimitados para cada caso individual. Jul-gava-se que este era o primeiro requisitopara uma boa atuação de aprendizagem— saber o que se busca e como buscá-lo.O instrumento característico usado paraisto é a preleção, na qual o professor pre-para com todo o esmero seus alunos paraa própria atividade pessoal, que deve vir

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em seguida. Só esta pode produzir co-nhecimentos autênticos e hábitos firmes.

(146) 2. Mas os objetivos da docência devem serselecionados e adaptados aos alunos. Osprimeiros professores jesuítas acreditavamque até os meninos pequenos podiamaprender muito, caso não os empantur-rassem com excesso de matéria duma sóvez. Assim, a preocupação do objetivo edo caminho a seguir tinham prioridade,conforme os dotes de cada professor.

(147) 3. E porque Inácio conhecia bem a naturezahumana, dava-se conta de que até numaexperiência de oração devidamente orde-nada, ou na atividade escolar, não se podeajudar eficazmente alguém a progredir,se o próprio indivíduo não coopera ativa-mente. Nos Exercícios Espirituais, Ináciodestaca a importância da atividade pessoalpor parte do exercitante. Inácio bem sa-bia da tendência de todo professor, querensine a oração, quer história ou ciên-cias, de expor largamente os própriospontos de vista sobre a matéria de quetrata. Dava-se perfeita conta de que nãohá aprendizagem sem a atividade intelec-tual própria de quem deve aprender. Porisso, consideram-se tão importantes as ativi-dades em numerosas áreas e no estudo.

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(148) 4. O princípio de atividade pessoal porparte do aluno corrobora as instruçõespormenorizadas da Ratio sobre repetiçõesdiárias, semanais, mensais, anuais. O en-sino, quanto possível, deveria ser agra-dável, tanto pelo conteúdo como pelascircunstâncias externas. Um esforço ini-cial para orientar os alunos acerca damatéria que vai ser tratada provocará seuinteresse a respeito dela.

(149) 5. Dentro desse espírito, os próprios alunosrepresentavam peças teatrais e encenações,para estimular o estudo da literatura, pois“friget enim poesis sine theatro”7. Tambémsão sugeridos certames, jogos, etc., paraque a ânsia do adolescente de se avantajarpossa ajudá-lo a progredir no caminho dosaber. Estas práticas demonstram um in-teresse primordial em tornar o estudointeressante, e assim suscitar a atenção eaplicação dos jovens pelo estudo.

(150) Todos esses princípios pedagógicos estãoestreitamente relacionados entre si. Aaprendizagem que se pretende conseguir éum autêntico crescimento e se concebe emtermos de hábitos ou qualidades perma-nentes. Os hábitos se adquirem, não sim-plesmente compreendendo fatos e modosde proceder, mas pelo domínio e assimila-

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ção pessoal que os faz próprios. O domí-nio é resultado de um contínuo esforço eexercício intelectual; mas um esforço as-sim proveitoso é impossível sem motiva-ção adequada e ambiente humano reflexi-vo. Nesta cadeia, não há elo particularmen-te original, embora um dia tivesse novida-de a sua forte concatenação.

(151) Por conseguinte, para auxiliar os alunos achegarem ao compromisso da ação apostó-lica, há que oferecer-lhes oportunidades deobservar os valores humanos e testar ospróprios valores, de modo experimental.Uma assimilação pessoal dos valores éticose religiosos que estimulem à ação é maisimportante que a habilidade em memori-zar fatos e opiniões alheias. Cada dia tor-na-se mais patente que os homens e mu-lheres do terceiro milênio precisarão comtoda certeza de novas aptidões tecnológi-cas; mas o que mais importa é a vida, epara criticar todos os aspectos dessa vida,primeiro tomar decisões (nos campos pes-soal, social, moral, religioso) que deixarãoprofundos vestígios em suas vidas, e parasempre. Os critérios para alcançar tal ma-turidade (mediante o estudo, a reflexão, aanálise, avaliações e desenvolvimento de

7. “A poesia sem o teatro murcha”

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alternativas reais, baseiam-se inevitavel-mente em valores. E isto é certo, muitoembora tais valores não se tenham mani-festado explicitamente durante o processode aprendizagem. Na educação jesuíta, osvalores do Evangelho, tais como se con-templam nos Exercícios Espirituais, são asnormas norteadoras de um desenvolvimen-to humano integral.

(152) Para alcançar o objetivo, é evidente a im-portância, quer do método, quer dos con-teúdos. Pois um objetivo educacional, ori-entado como é o nosso para os valores —formar homens e mulheres para os outros— não se poderá alcançar sem que, tendoimbuído deste objetivo todos os nossos pro-gramas docentes, em cada nível, apresente-mos a nossos alunos este desafio, que con-siste em refletir sobre os valores implicadosno que estudam. Infelizmente nós aprende-mos que a mera assimilação de conheci-mentos não humaniza. É de se esperar queimplique valores. E que os valores incluídosem muitos aspectos da vida não sejam ex-postos com muita sutileza. Por isso, urgedescobrir meios que capacitem os alunos aadquirir hábitos de reflexão, e assim, poderaquilatar os valores, e suas conseqüênciaspara os seres humanos. Estes valores, que seacham incrustados nas ciências positivas e

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humanas que eles estudam, na tecnologiacrescente e em todo leque dos programaspolíticos e sociais que nos impingem polí-ticos e “profetas”. Um hábito não se adqui-re com atos isolados. Desenvolve-se median-te um exercício permanente e bem planeja-do. E assim o objetivo de formar hábitos dereflexão deve ser estudado e planejado portodos os professores nos vários níveis doscentros jesuítas, em todas as matérias quese ministram, e adotando métodos apropria-dos ao grau de maturidade dos alunos nosvários níveis educativos.

CONCLUSÃO

(153) Hoje, em nossa missão, a pedagogia básicade Inácio nos pode ajudar muito a cativaras mentes e os corações das novas gerações.Pois a pedagogia de Inácio está centrada naformação da pessoa, coração, inteligência evontade, não exclusivamente do entendi-mento; provoca os alunos a discernirem osentido do que estudam, mediante a refle-xão, em vez de uma memorização rotineira;estimula-os a se adaptarem, e isto exige emtodos nós abertura para o crescimento. Exi-ge que respeitemos as capacidades dos alu-nos nos vários níveis de seu desenvolvimen-

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to; e todo o processo é fomentado por umambiente escolar de consideração, respeitoe confiança, no qual o indivíduo pode en-frentar com toda a honradez a resolução,por vezes dolorosa, de ser humano com epara os outros.

(154) Nossos resultados, na certa, não alcançarãoo ideal. Mas o que sempre distinguiu a Com-panhia foi o esforço por conseguir este ideal.

(155) Caso vos sintais um tanto embaraçadosacerca de como podereis apresentar a pe-dagogia inaciana a professores dos cincocontinentes, ficai sabendo que não estaissós. Sabei outrossim que a cada dúvidacorresponde uma afirmação. As ironias deCharles Dickens não perderam sua atuali-dade. “Era o pior dos tempos, o melhordos tempos, a primavera da esperança, oinverno da desesperação.” A mim pessoal-mente alenta muito observar a crescenteaspiração existente, e que está muito di-fundida pelo mundo, de emular os objeti-vos da educação da Companhia. Bem en-tendidos, esses objetivos levarão à unida-de, não à fragmentação; à fé, não ao cinis-mo; ao respeito pela vida, não à destruiçãodo nosso planeta; a ações responsáveis, ba-seadas num juízo moral, não à covarde re-tirada nem à investida temerária.

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(156) Sem dúvida, sabeis que o melhor de umcolégio não é o que dele se diz, mas a vidaque seus alunos levam. O ideal da educa-ção da Companhia propugna uma vidaracional, íntegra, de justiça e serviço a Deuse ao próximo. Este é o chamamento queCristo nos faz — chamamento para cres-cer, para viver. Quem lhe dará resposta?Quem se não vós? Quando, se não agora?

(157) Concluo lembrando que, quando Cristo sedespediu dos seus discípulos, disse-lhes: “Idee ensinai”. Mas percebeu que, tanto elescomo nós somos homens e que, Deus bemsabe, quase sempre nos falha a confiança emnós mesmos. Por isso acrescentou: “Lembrai-vos de que não estais sós. Não estareis sós,porque eu estarei convosco. No vosso apos-tolado, tanto nas horas difíceis como nashoras de gozo e euforia, estarei convoscotodos os dias, até o fim dos tempos”. Nãocaiamos na armadilha do pelagianismo, pon-do a carga toda em nossos ombros, esque-cendo que estamos nas mãos de Deus, traba-lhando como instrumentos de suas mãos,na missão que é o ministério de sua Palavra.

(158) Que Deus vos abençoe neste esforço decooperação. Espero informações vossas so-bre o sucesso do vosso Projeto PedagógicoInaciano, nas várias regiões do mundo.Obrigado por tudo o que fizerdes.

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APÊNDICE III

EXEMPLOS DE MÉTODOSPARA AJUDAR OS

PROFESSORES NO USODO PARADIGMA

PEDAGÓGICO INACIANO

N.B.: Estes e outros intentos pedagógicos, relacionados coma Pedagogia Inaciana, serão explicados e postos emprática nos programas de formação, que são partefundamental do Projeto da Pedagogia Inaciana.

(159) O CONTEXTO DA APRENDIZAGEM

1. O aluno: sua disposição para o cresci-mento

a) A situação do aluno: Diagnóstico dosfatores que afetam a disposição do

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aluno para o estudo e o crescimen-to: físicos, intelectuais, psicológicos,sociopolíticos, econômicos, espiri-tuais.

b) Estilos de aprendizagem do aluno:como planejar um ensino eficaz.

c) Perfil do crescimento do aluno: umaestratégia para o crescimento.

2. A sociedade

a) Leitura dos sinais dos tempos: algunsinstrumentos para a análise socio--cultural.

3. O colégio

a) O ambiente do colégio: instrumen-tos de avaliação.

b) O currículo:

- Formal/Informal- Conteúdos e seqüência: possibili-

dades interdisciplinares- Avaliação de valores

c) Educação personalizada

d) Relações escolares entre dirigentes,professores e pessoal auxiliar

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4. O professor: expectativas erealidades

(160) A EXPERIÊNCIA

1. A preleção

a) Continuidadeb) Organizaçãoc) Objetivos clarosd) Fatores de interesse humanoe) Contexto histórico da matéria a ser

estudadaf) Pontos de vista / Pressupostos dos

autores do livro de textog) Um modelo de estudo

2. A habilidade de perguntar3. A atividade pessoal do aluno: os apon-

tamentos4. Solução de problemas/aprender desco-

brindo5. Aprendizagem cooperativa6. Processos em grupo pequeno7. A emulação8. Terminar a aula9. Tutoria entre companheiros

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(161) A REFLEXÃO

1. Tutoria2. Diário do aluno3. “Repetição” de tipo inaciano4. Estudo de casos5. Dilemas/Debates/”Role Playing”

(162) A AÇÃO

1. Projetos/Tarefas: preocupação pela qua-lidade

2. Experiências de serviço3. Redações e perguntas para uma redação4. Planejamento e Aplicação5. A escolha de carreira

(163) A AVALIAÇÃO

1. Exames: alternativas possíveis2. Auto-avaliação do aluno3. Ponderar a variedade de atuações do

aluno: a pasta do aluno4. Reuniões de professores5. Perguntas para professores6. Pesquisa sobre o perfil do aluno

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