coleção preservação e desenvolvimento - 03 praça tiradentes, rio de janeiro - rj
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PRAA TIRADENTESCALENDRIO CULTURAL | R I O D E JA N E IR O - R J | 3
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C r d i t o s
Presidente da Repblica do BrasilLuiz Incio Lula da Silva
Ministro de Estado da CulturaGilberto Passos Gil Moreira
Presidente do Instituto doPatrimnio Histrico e Artstico NacionalCoordenador Nacional do ProgramaMonumentaLuiz Fernando de Almeida
Coordenao editorialSylvia Maria Braga
EdioCaroline Soudant
Redao e PesquisaRogrio Furtado
Reviso e preparaoDenise Costa Felipe
Design grficoCristiane Dias
FotosArquivo do Monumenta /UEP/Monica Zarattini
P895 Praa Tiradentes: Calendrio Cultural Rio de Janeiro, RJ. Braslia, DF: IPHAN/Programa Monumenta, 2007.108 p.: il.; 15 cm. (Preservao e Desenvolvimento; 3)
ISBN 978-85-7334-048-8
1. Praa Tiradentes - Conservao. 2. PatrimnioCultural. 3. Instituto do Patrimnio Histrico eArtstico Nacional. II. Srie.
CDD 363.69
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PRAA TIRADENTESCALENDRIO CULTURAL | RIO DE JANEIRO-RJ | 3
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A p r e s e n t a o
Este pequeno livro pertence srie Preservao e Desenvolvimento, uma
coleo de registro das experincias desenvolvidas pelo Programa
Monumenta na rea da promoo de atividades econmicas, de educao
patrimonial, de formao profissional e de capacitao.
Na qualidade de programa do Ministrio da Cultura para a recuperao
sustentvel do patrimnio histrico brasileiro, o Monumenta se prope a
atacar as causas da degradao de stios histricos e conjuntos urbanos
tombados e a elevar a qualidade de vida das comunidades envolvidas.
Assim, muitas das aes propostas no mbito do Programa, com apoio deestados e municpios, vm permitindo a essas comunidades descobrir o
patrimnio cultural como fonte de conhecimento e de rentabilidade
financeira, como meio, portanto, de incluso social.
Esse novo conceito de preservao transformou alguns dos stiosbeneficiados em plos de atividades culturais, tursticas e de gerao de
empregos, garantindo ao mesmo tempo a conservao sustentada de nosso
patrimnio e melhores condies de vida para quem trabalha ou vive ali.
uma dessas experincias que voc vai conhecer agora.
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I n t r o d u o
Poucos centros histricos do pas tiveram tanta importncia na formao
cultural do povo brasileiro quanto a regio da Praa Tiradentes, no Rio
Janeiro. Nos primeiros sculos da dominao portuguesa, aquele territrio,
conhecido como Rossio Grande, passou despercebido. No apresentava
atrativos especiais, por isso recebeu poucas menes nos registros decronistas da poca. certo que o local ficou marcado para sempre pela
execuo de Joaquim Jos da Silva Xavier, em 1792. Mas o prprio sacrifcio
de Tiradentes s seria oficialmente reconhecido exatos cem anos mais tarde
pela Repblica, que deu seu nome praa. Por isso, o conjurado mineiro
terminou precedido por d. Pedro I nas honrarias que lhe foram prestadasnaquele espao pblico: uma esttua eqestre do primeiro imperador do
Brasil, com o ttulo Independncia ou Morte, est instalada ali desde 1861.
Contudo, pouco tempo depois da morte de Tiradentes, em 1808, um
exrcito de Napoleo Bonaparte ps a corte portuguesa em fuga. Ela veio
para o Rio de Janeiro, instalando-se no Rossio Grande. E logo cuidou de
conformar a regio s suas necessidades. Assim, com o tempo, a praa e seu
entorno, alm de construes senhoriais, ganharam teatros, academias de
belas artes, cafs e outros pontos de encontro para os donos do poder.
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A agitao cultural atingiu maior intensidade no decorrer do sculo 19,
enquanto a praa se tornava um lugar procurado por intelectuais e artistasbrasileiros principalmente msicos e gente do teatro. A lista de seus
freqentadores importantes enorme. Dela constam Machado de Assis e
Chiquinha Gonzaga, para citar apenas dois nomes. A regio, entretanto,
jamais deixou de ser tambm uma referncia para a cultura popular: o
bero do carnaval e do circo com feies brasileiras.
Por volta de 1930, o centro histrico do Rio de Janeiro entrou em decadncia
por razes econmicas e sociais. Nos ltimos anos, tem sido realizado um
grande esforo para recuper-lo. Nesse movimento, o Programa Monumenta
est presente com o Projeto de Revitalizao da Praa Tiradentes e Arredores,uma ao de grande envergadura, desenvolvida em parceria com a prefeitura
e organizaes privadas. Nas etapas iniciais do projeto, j foram alcanados
resultados no apenas no que diz respeito recuperao do patrimnio, mas
tambm na esfera da cultura e da requalificao social, o que permite prever,
para futuro prximo, o renascimento pleno do Rio Antigo como plo culturale turstico.
Luiz Fernando de AlmeidaCoordenador Nacional do Programa Monumenta
Presidente do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional
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H o r a d e r e n a s c e r
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H o r a d e r e n a s c e r
A Praa Tiradentes e seus arredores, no Rio de Janeiro, renem alguns dos
locais histricos mais importantes do Brasil. At fins do sculo 18,
constituam apenas um territrio limtrofe a separar o ncleo urbano do
mundo rural. Por isso foram pouco lembrados nos registros da poca. A
situao mudou de forma repentina a partir de 1808, com a chegada dafamlia real portuguesa, expulsa da metrpole por Napoleo Bonaparte.
Desde ento, os fatos ocorridos naquela rea repercutiram em todos os
recantos do pas. Isso porque a Praa e os arredores tornaram-se domnios da
corte e, portanto, o centro do poder. Mas sua herana histrica mais
destacada ficou na esfera cultural. Ainda sob o domnio portugus, lapareceram os primeiros teatros, escolas de msica e cafs. Depois, no
perodo do Imprio e nas dcadas iniciais da Repblica, a praa e os arredores
acolheram uma notvel galeria de artistas, intelectuais e msicos, cuja
influncia alcana o presente. Contudo, nos ltimos dois sculos, a regio
jamais deixou de ser tambm um ambiente do povo. No princpio, ciganos eescravos foram os principais freqentadores. Mais adiante, agregaram-se
prostitutas, moradores, comerciantes e multides de transeuntes annimos.
Das primeiras festas populares, nasceriam por ali, com feies brasileiras, o
circo e o carnaval, com as escolas de samba, dentre outras manifestaes.
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Por volta de 1930, o centro do Rio entrou em lento processo de decadncia.
E o interesse do pblico se deslocou para outros bairros. A Praa Tiradentese as vizinhanas perderam o vio, sob relativa obscuridade, que duraria at o
comeo da dcada de 80. Foi quando os cariocas se deram conta de que o
velho centro guardava um patrimnio histrico de valor inestimvel. Datam
dessa poca os primeiros esforos para resgat-lo e preserv-lo. Nos ltimos
anos, essa mobilizao ganhou apoio do Programa Monumenta e a devidacontrapartida local, isto , investimentos realizados pela prefeitura e por
entidades privadas que participam de diversas iniciativas, no mbito da ao
de grande envergadura denominada Projeto de Revitalizao da Praa
Tiradentes e Arredores. Para robustecer essa parte da cidade, em termos
econmicos e sociais, o projeto envolve a restaurao de monumentos,construes e a retomada do movimento cultural.
Assim, o velho esprito da Praa Tiradentes pde se manifestar no espao
que seu, por direito, em 23 de maio de 2005. A retomada simblica
ocorreu com crianas da comunidade pintando tapumes que na pocacercavam o conjunto de esttuas do interior da praa, em processo de
restaurao. As crianas foram orientadas por professores do Instituto Maria
Tereza Vieira, entidade especializada no ensino de artes plsticas, que
tambm atua na rea social. No dia seguinte, ao final da tarde, um cortejo
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formado por artistas de diversos grupos de teatro percorreu ruas centrais da
cidade, chamando o pblico para acompanh-lo at a praa, onde haveriaalguns espetculos ao ar livre. Um convite feito no melhor estilo circense:
atores fantasiados danavam, equilibravam-se sobre pernas-de-pau,
tocavam instrumentos musicais. Era o lanamento do Calendrio Cultural,
iniciativa ancorada no projeto de revitalizao. noite, a Cia de Mystrios e
Novidades apresentou Navelouca, espetculo de teatro, dana e msica, comparticipao da platia. Seguiu-se a exibio do documentrio Repblica
Tiradentes, de Zzimo Bulbul, que resgata a histria das irmandades negras,
das gafieiras e do teatro de revista, com depoimentos de antigos
freqentadores, atuais moradores, prostitutas e artistas. A festa de abertura
do Calendrio terminou com baile, ao som da Orquestra Pagode JazzSardinhas Club.
Em resumo, as atividades do Calendrio, concludas em dezembro, alm de
outras exibies do filme Repblica Tiradentes, envolveram um seminrio de
dois dias sobre a praa; oito oficinas de arte, teatro, circo e artesanato; um
rallyfotogrfico na regio e 18 apresentaes artsticas gratuitas sempre na
ltima quinta-feira do ms. O projeto atraiu milhares de pessoas: alunos da
rede escolar local, moradores do centro, transeuntes e cariocas de outros
bairros, motivados pela divulgao dos eventos, cuja temtica sempre esteve
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relacionada com a cultura popular. Durante a srie de apresentaes, ao lado
de grupos teatrais, msicos e cantores de grande expresso, tambm houveespao no palco para gente do lugar: crianas de escolas pblicas, ensaiadas
pela Cia Teatral Jos de Alencar, e as Mulheres Seresteiras, do Grupo Davida,
fundado por Gabriela Silva Leite, em 1991.
A Davida promove a cidadania entre as prostitutas, com aes nas reas de
educao, sade, comunicao e cultura. Dentre suas mltiplas atividades, a
organizao participa de discusses sobre polticas pblicas, inclusive quando
se trata de revitalizar reas histricas, onde as profissionais de sexo
costumam trabalhar. A preocupao impedir que elas sejam expulsas de
seus ambientes tradicionais. o caso da Praa Tiradentes. E, como prprio
do bom humor carioca, a performance das Seresteiras logo foi batizada de
Daspu in Concert, numa aluso disputa travada entre a Davida, criadora
da grife Daspu, e a famigerada Daslu, de So Paulo.
Em setembro, junto com a programao do Calendrio Cultural, o
Monumenta inaugurou o Projeto Tapume, que consistiu de uma exposiode educao patrimonial ao ar livre, contendo informaes referentes
capital carioca, histria do monumento a d. Pedro I, que estava sendo
recuperado, e aos procedimentos tcnicos utilizados no processo de
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restaurao. O contedo foi inscrito em sete painis, de 2,10 m x 1,10 m,
distribudos ao longo de uma das faces do tapume de madeira que protegia
a obra. No mesmo dia, o ministro Gilberto Gil assinou um termo decooperao entre o Ministrio da Cultura e a prefeitura, para a criao do
Museu da Cidade do Rio de Janeiro, que ter como sede o Solar do
Visconde do Rio Seco, na Praa Tiradentes.
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Lapa em alta
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L a p a e m a l t a
O Calendrio foi organizado pela Usina 21 Produes Artsticas, de Maria
Luiza (Biza) Ferreira Vianna, em estreita colaborao com a UEP local
Unidade Executora de Projetos, do Monumenta. Em 2001, com vrios
projetos em mente, Biza procurou a Secretaria das Culturas em busca de
apoio. Acabou recebendo a incumbncia de percorrer a regio da Praa
Tiradentes e sugerir possveis destinaes para os imveis pblicos aps as
obras de restaurao, de acordo com o objetivo de revitalizar a rea. Feito o
mapeamento, foram sugeridas algumas aes a serem trabalhadas em
conjunto com a Unidade de Execuo de Projeto do Programa Monumenta,
ento coordenada por Maria Cristina Lodi. O primeiro passo, organizar o
lanamento do Projeto de Revitalizao da Praa Tiradentes, se fez por meio
da apresentao de espetculos de canto e teatro, tendo como cenrio um
dos casares da praa.
Desde ento, a Usina 21 editou o livro Praa Tiradentes Do Imprio s
origens da cultura popular, do poeta Renato Rezende, com patrocnio da
iniciativa privada, em 2003 e, no ano seguinte, produziu o filme de Zzimo
Bulbul. Mas apesar de o envolvimento da Usina 21 com aquela parte do
centro histrico vir se aprofundando, no foi possvel instalar na Praa
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Tiradentes a sede da produtora, que terminou por encontrar acomodaes
convenientes numa casa antiga da Lapa, a poucas quadras de distncia.
Afinal, a revitalizao da rea central da cidade principiou ali, junto aos
Arcos, uma das obras mais importantes do perodo colonial. Tudo comeou
com o Circo Voador que, em 1982, assumiu o espao com uma programao
da melhor qualidade, marcando o incio da renovao cultural da regio.
Depois o estado cedeu casas para alguns grupos de teatro, dirigidos, porexemplo, por Amir Hadad e Augusto Boal. E a rea dos Arcos, antes muito
abandonada, ganhou vida.
O processo foi um tanto difcil. Alm de no existir patrocnio para as
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atividades artsticas, pelo menos um edifcio importante esteve sob ameaa
de demolio: uma antiga instalao industrial no corao da Lapa,
propriedade do estado. Surgiu, ento, um movimento que impediu sua
destruio, inclusive com manifestaes de artistas e intelectuais no centro
da cidade. O projeto de pr o prdio abaixo acabou engavetado. Hoje ele
um famoso centro cultural a Fundio Progresso, dirigida pelo produtor
Perfeito Fortuna, um dos fundadores do Circo Voador.
O panorama se alterou bastante de l para c. Alguns fatos se destacam: a
recuperao da Rua do Lavradio, a reabertura do Teatro Rival, na Cinelndia,
por ngela Leal, e o projeto da Praa Tiradentes. O olhar das pessoas sobre
a regio est mudando rapidamente.
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F e i r a d e e v e n t o s
Se a Lapa ganhou notoriedade de uns anos para c, o mesmo se pode dizer
quanto histrica Rua do Lavradio, aberta em 1771. A rua, que se tornou
mercado tradicional de antiguidades h algumas dcadas, comea a uma
quadra da Praa Tiradentes e passou por transformaes radicais em perodo
recente. Os empresrios Plnio Fres e Nelson Torzecki tm sido participantes
e testemunhas privilegiadas dessa metamorfose, caracterizada nos ltimos
anos pela presena marcante do Programa Monumenta. Scios, Fres e
Torzecki estabeleceram-se ali h tempos como antiqurios. Abriram a loja
Antique Center. Como se viu, a regio estava em decadncia. A Lavradio era
notcia s quando cheirava mal, literalmente: para a imprensa, durante anos,
inundaes freqentes, provocadas pelas chuvas, renderam imagens de
comerciantes desarvorados, com estoques quase a boiar no interior das lojas.
Bandidos perigosos se refugiavam no casario empobrecido das vizinhanas.
Crimes violentos no eram raridade por ali.
At o incio dos anos 1990, poucos cariocas sabiam ao certo a localizao daRua do Lavradio. Nos nibus que cruzavam a cidade, na direo nortesul,
no havia qualquer meno a ela. Hoje a rua est fora do limbo; citada com
freqncia at nos guias tursticos internacionais. A mudana da gua para
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