coleção de pareceres pgr - vida privada(1)

Upload: douglas-santos

Post on 06-Jul-2015

67 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

VIDA PRIVADA (1)

O Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da Repblica pronunciou-se largamente sobre a temtica da proteco da vida privada. A comprov-lo, a diversidade de pareceres formulados, traduzindo, uns, a conflitualidade existente entre este direito e o direito informao, outros, a projeco que aquele direito assume, designadamente, no mbito do direito penal. Todos realam, todavia, a importncia da proteco da vida privada como valor a ser considerado na complexidade das relaes juridico-sociais. 1. A proteco da vida privada como uma das limitaes ao acesso informao 1.1. Os pareceres ns 133/76, 136/76, complementar e 138/83, pronunciam-se sobre a legalidade da prestao de informaes, por parte das autoridades policiais e instituies de crdito. Assim, o parecer n 133/76 aprecia a questo da legalidade da prestao de informaes, por parte das autoridades policiais, s companhias de seguros sobre elementos constantes de participaes dos acidentes de viao. Analisando a viabilidade de tal prtica, o parecer defende que a eventual vantagem, para os servios e para os sinistrados, resultante de uma mais clere informao sobre o acidente ... dever ceder perante os valores mais elevados que o instituto do sigilo tutela, referindo, a ttulo exemplificativo, o direito reserva da intimidade da vida privada como um dos obstculos prtica descrita. Deste modo, chega-se convico que o confronto entre os interesses em jogo pende desfavoravelmente prtica sugerida pelo Instituto Nacional de Seguros. O que, evidentemente, no prejudica o reconhecimento do acesso informao (v.g. o artigo 5, ns 1 e 2 do Decreto-Lei n 85-C/75, de 26 de Fevereiro) direito de que, todavia, no podem socorrer-se os profissionais de seguros. O parecer n 133/76, complementar, abordou a questo da adopo pela Polcia Judiciria de um documento (minuta), com o intuito de dar satisfao s companhias de seguros que solicitam aos segurados, sempre que estes lhes participam a ocorrncia de crime de furto, roubo ou dano, a comprovao de haverem apresentado queixa. Em abono da referida adopo o parecer defende: (...) quando a prpria vtima ou ofendido se presta a que se d publicidade dos factos, os problemas da proteco da intimidade da vida privada e a tutela penal desta acham-se consideravelmente atenuados. Ora, constata a Polcia Judiciria que as seguradoras exigem aos seus segurados

prova de terem participado s autoridades os crimes de que se queixam (furto, roubo ou dano). A esta luz, uma declarao do tipo da que vem proposta revestir-se-ia de inegvel interesse prtico e desbloqueador, no pondo em causa os valores relacionados com a vida privada na medida em que o prprio ofendido que solicita a declarao. Por ltimo o parecer defende que o exposto em nada contraria a doutrina dos pareceres ns 133/76 e 121/80. Com efeito, a problemtica submetida anlise do parecer n 121/80, a seguir publicado na ntegra, traduz as dvidas que se tm levantado sobre o (....) correcto relacionamento da Polcia Judiciria com os meios da comunicao social, mais especificamente, sobre o modo de conciliar o instituto do segredo de justia que tutela a presuno de inocncia e a eficcia das investigaes, o direito ao bom nome e privacidade, com o direito informao. A este propsito, colocam-se trs questes sua apreciao: 1- Pertencendo a direco da instruo criminal, por fora da Constituio da Repblica, a um Juiz de instruo, constituindo a Polcia Judiciria mero organismo auxiliar de administrao da Justia, que legitimidade pode ela ter para prestar informaes aos orgos de comunicao social no mbito dos processos em que se verifica a sua interveno? 2- Ser concilivel com o direito privacidade a pblica revelao, pela Polcia e pelos jornais , de que algum - que nessa divulgao eventualmente no estaria interessado - apresentou uma queixa no piquete da Polcia Judiciria ? Ser concilivel com tal direito a pblica divulgao - sem o seu consentimento expresso nesse sentido - da identidade do queixoso, sua residncia e lista exaustiva dos objectos que, por hiptese, possua e tenham sido furtados? 3- Que legitimidade tem a Policia Judiciria para fornecer Imprensa relatos sintticos das investigaes concludas, com ressalva da identidade dos arguidos? Como conciliar uma eventual inibio do exerccio de tal faculdade com o indiscutvel interesse que, em matria de preveno genrica e especfica resulta da pblica divulgao pelos orgos de comunicao social das actividades da Polcia no combate criminalidade? Pronunciando-se desenvolvidamente sobre os temas do segredo de justia e intimidade da vida privada o parecer considera a conflitualidade latente entre o valor da intimidade da vida privada, o direito informao e o direito a informar. No que respeita a esta ltima temtica, faz-se uma incurso no direito comparado, antes de se passar anlise do direito interno. O parecer n 138/83 opina sobre a orientao a seguir pelas instituies de crdito

nas suas relaes com a Administrao Fiscal, quando instadas a fornecer factos ou elementos das suas relaes com os clientes. Na respectiva abordagem, estabelece-se o confronto entre o interesse do cliente reserva sobre os dados e informaes que o banco possui relativamente s suas relaes com ele e o interesse de terceiros (...) em tomar conhecimento desses dados; a este propsito, analisa-se a temtica ao nvel do direito comparado e ao nvel do direito interno . No que respeita s derrogaes que o dever de sigilo comporta afirma-se no parecer que, em matria fiscal, o objectivo de conseguir a determinao correcta de matria colectvel das contribuies pode levar ao estabelecimento de derrogaes mais ou menos amplas ao dever de sigilo bancrio. lei que compete resolver o conflito entre a proteco da esfera privada do indivduo e a necessidade de assegurar o funcionamento eficaz da organizao social(2). Consoante a prevalncia que for dada a um ou a outro destes interesses, assim se acentuar a extenso do dever de segredo ou das derrogaes. E acrescenta, (...) na doutrina, ao lado de autores, como Farhat(3), que defendem um dever de sigilo bancrio muito amplo,( ), outros h, como o Di Amato (4), que sem esquecerem a necessidade de conservar aquele dever de sigilo, enquanto garantia necessria da esfera privada individual, do tambm nfase necessidade de proteco doutros interesses pblicos de maior importncia, tais como a luta contra a criminalidade organizada. Da que este ltimo autor proponha a criao de um centro de dados possudos pelas instituies bancrias, ao qual tenham acesso, em condies a definir, o fisco, as autoridades judicirias e os orgos de direco da economia. Assim se conseguiria, em sua opinio, um justo equilbrio entre a exigncia de tutela da esfera patrimonial reservada de cada indivduo e as exigncias da solidariedade social (5). 1.2. Proteco da vida privada versus direito a informar e a ser informado O parecer n 121/80, complementar, considera o "grau de divulgao" a conceder ao inqurito sobre os "acontecimentos do primeiro de Maio na cidade do Porto". Em causa, pois, o confronto entre o direito dos cidados a serem informados e esclarecidos, com o interesse pblico do Estado na boa administrao da justia. Colocada a questo nestes termos, o parecer invoca a Recomendao n R (81) 19 do Comit de Ministros do Conselho da Europa aos Estados Membros, sobre o acesso informao em poder das autoridades pblicas. Este documento elabora uma srie de princpios no sentido de ser assegurado esse acesso, no sem admitir que a aplicao dos mesmos (...) pode ser submetida a algumas limitaes e restries, necessrias numa sociedade democrtica, para a proteco de legtimos interesses pblicos,de entre as quais se destaca a proteco da vida privada a par da segurana pblica, do bem estar econmico do pas, e da preveno do crime, entre

outras. Deste modo, tem-se em conta o interesse particular do indivduo s informaes que, detidas pelas autoridades pblicas, lhe respeitem pessoalmente. Tambm o parecer n 23/86 (6), reala as restries impostas liberdade de informao ao nvel da apreciao do problema da definio dos limites do direito de acesso s fontes de informao na posse da Administrao Pblica como pressuposto do exerccio da liberdade de imprensa. Neste mbito, referem-se, a ttulo exemplificativo, ( ) os trabalhos preparatrios da Recomendao 854 (1979), relativos ao acesso do pblico aos documentos governamentais e liberdade de informao, adoptada pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa em 1 de Fevereiro de 1979, a qual precedeu a Recomendao n R (81) 19 do Comit de Ministros, j citada, [ e que] do conta de que, de maneira geral, os Estados no aplicam o princpio do livre acesso, (...), nomeadamente no domnio seguinte: " (...) "dossiers" pessoais ou mdicos e elementos de informao diversos cuja comunicao constituisse um atentado vida privada sem prejuzo do acesso dos cidados s informaes que lhes respeitem pessoalmente". Se bem que se afirme que "s uma sociedade informada pode ser democrtica", no se deixa, porm, de reconhecer "excepes inelutveis" regra da tansparncia. E acrescenta-se: "Parece tratar-se de uma matria (a das restries) que no se presta a uma harmonizao". O parecer prossegue afirmando que o Comit de Ministros, em 25 de Novembro de 1981, veio a adoptar a mencionada Recomendao n R(81)19 sobre o acesso informao detida pelas autoridades pblicas, onde se afirma que (...) a aplicao dos princpios precedentes [ que consagram o direito de acesso informao] no pode ser submetida seno s limitaes e restries que se revelem necessrias, numa sociedade democrtica, para a proteco de interesses pblicos legtimos (tais como, a segurana nacional, a segurana pblica, a ordem pblica, o bem-estar econmico do pas, a preveno do crime, a preveno da divulgao de informaes confidenciais) e proteco da vida privada e de outros interesses legtimos privados, sem prejuzo da considerao devida ao interesse particular do indivduo s informaes detidas pelas entidades pblicas que lhe respeitem pessoalmente (...). O parecer n 92/91 prope-se, averiguar se podem ser autorizadas escutas telefnicas antes da abertura do inqurito e com base na mera suspeita da prtica de um crime. Assim, regista-se que (...) a propsito do conflito entre o direito informao dos jornalistas e o direito intimidade da vida privada, considerou o Conselho de Imprensa, em parecer proferido em Maio de 1988, que era lcita a divulgao de

factos da vida privada quando o prprio nisso consentisse ou quando houvesse legtimo interesse do pblico em conhec-los. Salientou que o interesse legtimo do pblico em conhecer factos da vida privada era susceptvel de decorrer do facto de as pessoas haverem participado acidentalmente na "histria contempornea", serem personagens dessa histria, candidatos a cargos pblicos sujeitos a eleio, exercerem actividades pblicas conferentes de notoriedade, designadamente artistas, actores, desportistas, escritores. Mas ponderou que tal interesse pblico no legitima a notcia de todos e quaisquer factos da vida intma dessas pessoas, sob pena de a liberdade de imprensa esmagar o direito intimidade, antes devendo prevalecer o critrio de adequao da informao ao seu efeito til, em termos de conexo com os cargos ou actividades pblicas por eles desempenhados. E exemplificou ser lcito noticiar os eventos relativos vida ntima de um candidato a um lugar elegvel que devam ser ponderados pelos eleitores no processo relativo escolha. E concluiu que no contedo do direito privacidade, que perdura para alm da morte, sempre sero de incluir os factos relativos vida afectiva e familiar (7). 1.3. Proteco da vida privada versus principio da administrao aberta O parecer n 197/83 debrua-se sobre a passagem de certides comprovativas da inscrio no recenseamento eleitoral, por parte das Comisses Recenseadoras, a requerimento de terceiros, mais especificamente advogados no exerccio da sua profisso liberal. Neste contexto, analisa-se o direito obteno de certides em conjugao com os interesse da Administrao e os de terceiros a quem o contedo dos documentos possa respeitar. Assim, e reflectindo sobre o direito informao em geral, e sobre o direito obteno de certides em particular, seus limites ou restries, o parecer invoca entre estas, as que se prendem com a intimidade da vida privada e familiar dos cidados, que a Constituio da Repblica reconhece (artigos 26 e 35, n 3). No obstante, o parecer defende que no caso concreto no se suscitam ... limitaes dessa ndole. Com efeito, nenhum dos elementos que obrigatoriamente figuram no carto de eleitor - e que so, nos termos do artigo 24, n 1, da Lei n 69/78 o nmero de inscrio, o nome, a freguesia e o conselho da naturalidade, nmero e arquivo do bilhete de identidade, se o tiver, e a data de nascimento - pode razoavelmente entender-se como integrando a "intimidade da vida privada e familiar", cuja reserva o artigo 26, n 1, da Constituio reconhece (8).

Todos estes elementos - excepo do nmero de inscrio e do nmero e arquivo do bilhete de identidade - constam, alis, dos livros do registo civil e, neste domnio, (...) a lei confere legitimidade para requerer certido dos registos constantes dos livros de registo com a maior das amplitudes: "Qualquer pessoa tem legitimidade para requerer certido dos registos constantes dos livros do registo, salvo as excepes previstas nos nmeros seguintes" (artigo 265, n 1, do Cdigo do Registo Civil). Certo que a soluo do problema no se revela to fcil, quando se entenda que as certides "relativas ao recenseamento", a que se refere o n 2 do artigo 70, devem abranger no s os elementos que figuram no carto de eleitor (artigo 24, n 1) [ da Lei n 69/78 - Lei do Recenseamento Eleitoral] , mas ainda outros elementos que integram o teor da inscrio, como sejam a filiao e morada (artigo 20, n 19). Neste mbito, afirma-se, h que distinguir consoante a referncia seja a morada ou a filiao. Assim, e no que respeita primeira, considera-se no existir, sob o apontado ngulo da intimidade da vida privada e familiar, fundamento que se oponha passagem de certido que inclua referncia morada. Quanto ao elemento filiao j haver , porm, que ter em ateno as excepes previstas no n 2 do (...) artigo 265 do Cdigo de Registo Civil (9)). Desconhece-se como, em obedincia ao preceituado no artigo 20 da Lei 69/78, o elemento filiao levado inscrio. De qualquer modo, no pode deixar de entender-se que na passagem de certides relativas ao recenseamento as comisses recenseadoras tero que ter em ateno o disposto no [ j citado] n 2 do artigo 265 (...). O parecer n 76/84 (10), reportando-se s dvidas suscitadas pelo concurso de provimento para preenchimento de um lugar no quadro da Biblioteca Nacional, analisa um elenco de questes colocadas sua apreciao, de entre as quais se destaca a de saber se a confidencialidade das actas, prescrita no citado n 3 do artigo 22 do Regulamento em causa, obsta passagem de certido que delas peam os concorrentes. Nesta sequncia, depois de analisados o conceito de certido e o termo confidencial, aprecia-se a tese da inadmissibilidade de passagem de certides de documentos confidenciais, referindo-se, a esse propsito, o acrdo do Supremo Tribunal Administrativo, de 22 de Janeiro de 1981, onde se ponderou que a consagrao constitucional do direito informao importa a reduo dos assuntos que devem ser considerados confidenciais, secretos ou reservados. Em comentrio a esse acrdo Rodrigues Queir ponderou que "o direito informao, tal como se deve entender na Constituio, no um direito absoluto ou ilimitado. Comporta necessariamente excepes ou restries. Ao interesse de

transparncia ou da publicidade dos processos administrativos, que alimenta o direito fundamental informao, devero sobrepor-se, com restrio de interesse comum, as exigncias de segurana nacional e da poltica exterior do Pas, alm de outros direitos fundamentais, preponderantes, como o direito ao respeito pela vida privada dos cidados. Estas excepes, deduzidas por interpretao restritiva, no reduzem ou diminuem o contedo essencial dos preceitos constitucionais respeitantes ao direito fundamental em questo, contedo essencial de que se fala no artigo 18, n 3, da Constituio. Continuando a citar Rodrigues Queir, o parecer conclui que a passagem de certides dos processos arquivados ou em curso s pode ser recusada se se verificar alguma das referidas excepes (11). 2. A proteco da vida privada - projeco em matria de direito penal e processual penal. 2.1. O parecer n 17/83 aborda a tutela penal do direito reserva da vida privada no mbito da qual se faz referncia inexistncia de definio legal do direito intimidade da vida privada, "deixando-se a preciso do conceito doutrina e jurisprudncia". , no entanto, adiantada uma definio de vida privada como sendo " aquele conjunto de actividades, situaes, atitudes ou comportamentos individuais que, no tendo relao com a vida pblica (privado entendido como separado da coisa pblica), respeitam estritamente vida individual e familiar da pessoa (12) ". Ou ainda "atravs de uma conotao com a ideia de vida tranquila, salvaguarda da possibilidade de isolamento, da consagrao da liberdade interior, do desejo de estabelecer relaes pessoais sem interferncia externa (13). No se exclui, alis, que a noo respeite ao direito de se opor s ingerncias de outrem . Mas no ficam por aqui (...) as possibilidades de enriquecimento daqueles conceitos, a pressuporem elaborao doutrinal e jurisprudencial permanentes. A ideia de defesa contra ingerncias externas ilegtimas , no entanto, de reter como interesse fundamental da pessoa, a proteger juridicamente." O Conselho Consultivo, chamado a pronunciar-se sobre a questo de saber se o sigilo bancrio constitui limite ou obstculo execuo de despacho judicial que, em procedimento cautelar de arrolamento, determinou a uma entidade bancria que informe o montante de saldos de contas arroladas de depsito bancrio, formulou o parecer n 28/86 (14). Neste parecer so, nomeadamente, analisadas as teorias sobre a conjugao do dever de sigilo bancrio com o dever de cooperao com a justia "Teoria do

Banco" e "Teoria do Tribunal" (15) -, e respectivos fundamentos. Nesta sequncia, e no mbito das crticas formuladas primeira das mencionadas teorias, pondera-se o alcance do referido dever de cooperao com a justia: Trata-se, manifestamente, de um interesse superior da comunidade, que transcende os interesses particulares dos cidados e que com eles, por isso, se no confunde. Logo, no pode a realizao desse interesse superior ser inviabilizada, a nvel infraconstitucional, atrves de multiplicao indiscriminada de situaes e de casos em que seja lcito negar a colaborao com a justia. S em casos-limite, por assim dizer, se justifica o direito ou o dever de no concorrer para a realizao desta e para a salvaguarda de interesses tambm importantes para a comunidade: como quando se trata da proteco da liberdade religiosa, da liberdade de imprensa, da proteco da intimidade da vida privada. O parecer acrescenta, em nota marginal, que no certamente por acaso que o artigo 185 do Cdigo Penal est includo no Captulo VI (dos crimes contra a reserva da vida privada) do Ttulo I (Dos crimes contra as pessoas) da Parte Especial. E continua, acompanhamento de perto as consideraes proferidas por Maia Gonalves, nele esto abrangidos to s os segredos de profisses que assentam numa relao de confiana, segredos que, em si, no so redutveis a uma expresso econmica. O mesmo acontece no Cdigo Penal da Repblica Federal da Alemanha, onde o artigo 203 (violao de segredos privados) est incudo no Ttulo XV (Atentado esfera da vida pessoal e privada), que alis, no abrange a violao de segredo bancrio (...). L-se ainda, a propsito das criticas formuladas pelo parecer teoria do tribunal: (...) para assegurar "o clima de confiana na banca e estimular depsitos" no necessrio sacrificar o interesse pblico da administrao da justia. Tem-se dito - e com propriedade - que o sigilo bancrio tem por fundamento a prpria lei (...) seja porque se reconheceu o carcter de interesse pblico discrio da vida privada, seja porque se entendeu que o prestgio da funo reclamava a manuteno e o reforo da confiana do pblico em geral nas instituies de crdito (...), mas evidente que uma coisa so os fundamentos gerais da instituio do sigilo bancrio, outra o carcter absoluto deste. A confiana generalizada na banca e o prestgio desta no necessitam do sacrifcio do interesse pblico da cooperao com a justia, porque, se assim fosse, ficariam por compreender as diversas disposies legais que expressamente declaram que o segredo bancrio cede perante o dever de cooperar (...).

Quanto ao interesse da discrio da vida privada, o argumento provaria demais, porquanto, salvo o caso do segredo religioso, a ordem jurdica, que deve presumir-se unitria e coerente, nunca foi to longe que no lhe admitisse restries - e em domnios bem mais sensveis e importantes do que a discrio relativa a bens e haveres patrimoniais ou a relaes negociais. Por sua vez, o parecer n 16/94, complementar, (16) (17), visa a dilucidao das dvidas apresentadas pela TELEPAC, Servios de Telecomunicaes, S.A., sobre a definio e determinao dos limites de colaborao que possua ou deva manter com autoridades de investigao criminal relativamente ao servio de comunicaes que presta. Na anlise do sigilo de correspondncia e das telecomunicaes, instrumento de garantia do direito fundamental intimidade da vida privada, afirma-se no parecer: (...) S no domnio do processo penal que a lei ordinria pode prever restries referida garantia. E, correspondentemente, traduzindo o relevo e proteco na conformao de valores fundamentais, o Cdigo Penal incriminou condutas violadoras do direito dos cidados comunicao reservada - ao sigilo das comunicaes. Assim, tanto a intromisso da vida privada mediante acesso s comunicaes telefnicas, como a violao da correspodncia e das telecomunicaes, constituem infraces tipificadas no Cdigo Penal. Prevem a este respeito os artigos 192, n 1, alnea a), e 194, - cada um com o respectivo mbito de proteco definida - a reserva de intimidade da vida privada e, autonomamente, o prprio sigilo da correspondncia e das telecomunicaes (18) (19) (...). Intimamente relacionado com o direito intimidade da vida privada est, defende-se, o conceito de segredo. Com efeito, (...) o exerccio de certas profisses, como funcionamento de determinados servios exige ou pressupe, pela prpria natureza das necessidades que tais profisses ou servios visam satisfazer, que os indivduos que a elas tenham que recorrer revelem factos que interessam esfera ntima da sua personalidae, quer fsica, quer jurdica (...). Da que a violao da obrigao a que ficam adstritos certos agentes profissionais de no revelarem factos confidencias conhecidos atravs da sua actividade funcional obrigao que informa o conceito do segredo profissional - seja pnivel no s disciplinarmente mas tambm criminalmente (...) (20). E mais frente acrescenta o parecer (...) a problemtica do dever de segredo no tem, pois, adequada soluo dentro dos parmetros jusprivatisticos.

A natureza dos interesses pblicos envolvidos encontra o seu fundamento na referncia constitucional: o segredo profissional contm deveres que respeitam a um bem jurdico fundamental do ordenamento jurdico - a intimidade. Por isso, esta referncia constitui um guia interpretativo essencial na considerao e determinao da natureza dos interesses protegidos. A dignidade e a intimidade so irrenunciveis , como direitos fundamentais e como fundamentos da ordem poltica ou da convivncia social; por isso, o cidado apenas estar legitimado a dispr e a consentir na revelao de alguns aspectos da sua vida privada, enquanto aspectos parcelares relativamente aos quais a vontade prpria ser relevante (21). 2.2. Tambm o parecer n 92/91, j citado, reflecte a projeco que o direito intimidade da vida privada assume no mbito processual penal. Registe-se o que, a este propsito, nele se escreveu: (...) O direito ao sigilo das comunicaes privadas implica para terceiros a obrigao de no devassar e, no caso de acesso a elas, lcito ou ilcito, de no divulgarem o seu contedo (22). Extenso da pessoa humana, o direito comunicao privada sem intromisses no consentidas, , pois, em regra, inviolvel. Mas h excepes. Com efeito, as necessidades de perseguio penal, de obteno de provas, de que depende a administrao da justia penal, assaz essencial ao desenvolvimento tanto quanto possvel harmnico da sociedade politicamente organizada, justificam, porm, a compresso do direito individual comunicao reservada, naturalmente em razo da natureza axiolgica deste ltimo direito e necessariamente em termos de proporcionalidade. A toda a limitao de direitos devem estar presentes os princpios da necessidade, adequao e da proporcionalidade entre a gravidade do facto humano penalmente ilcito e doloso e a intensidade ou gravidade da ingerncia. Trata-se de princpios que so lgico corolrio daqueloutro da menor interveno possvel que a lei refere a propsito das medidas de coaco - artigo 193 do CPP-, mas que de ordem geral, por isso aplicveis em sede de meios de obteno de prova (...). Reconhecendo o relevo fundamental do direito dos cidados palavra e comunicao reservada, incriminou o Cdigo Penal de 1982 -CP-, com priso at um ano e multa at 60 dias, mediante queixa do ofendido, quem, com o propsito de devassar a intimidade da vida privada de outrem, interceptar, escutar, registar, utilizar, transmitir ou divulgar, sem consentimento de quem nela participe, qualquer conversa ou comunicao particular" (artigo 180, n 1, alnea a) ) (23).

patente na formulao deste tipo de ilcito a considerao da danosidade social derivada da violao ilcita e dolosa do direito dos cidados reserva da palavra e da comunicao privada, ideia matriz que deve estar presente no processo decisrio relativo obteno de prova em processo penal (...). Neste sentido, (...) a propsito do meio de obteno de prova que a escuta ou gravao de comunicaes privadas, afirmou Eduardo Correia, cerca de vinte anos antes da publicao do Cdigo de Processo Penal portugus actual, que a utilizao dos microfones ocultos, de registos relativos s conversaes privadas que um dos interlocutores ignora, violava a intimidade e colidia com as regras elementares da lealdade em termos tais que as regras ticas, que impem a verdade material, no podiam deixar de proibir, salientando o perigo das alteraes e a possibilidade de arranjos artificiais que a utilizao desses meios permitia, e concluiu que a sua proibio embora no expressamente prevista na lei portuguesa no poderia deixar de ser considerada como consequncia imposta por razes de tica que afloravam no nosso sistema jurdico (...) (24). E prossegue o parecer, mais adiante: A opo de poltica legislativa no sentido de permisso da obteno da prova relevante para o processo penal atravs das escutas telefnicas teve, naturalmente, em linha de conta a ponderao dos bens juridicamente protegidos, isto , o equilibrio entre a garantia do direito fundamental intimidade da vida privada e o interesse pblico quanto represso da actividade criminosa. Em confronto, pois, o malefcio da intromisso no consentida e a vantagem da perseguio penal dos autores dos factos anti-sociais graves (...). Mas em processo penal vigora o princpio da liberdade de prova, naturalmente com limites que derivam da dignidade da justia e do respeito que ela deve inspirar, designadamente no usando meios atentatrios contra os valores fundamentais da civilizao (25). A soluo encontrada nas diversas legislaes tem sido, (...), no sentido da admisso excepcional do referido meio de obteno de prova, inserindo rigorosa delimitao dos pressupostos da sua admissibilidade e da forma de o operar (26). Do mesmo modo, o parecer 92/91, complementar, acentua, reapreciando a questo, o carcter excepcional da recolha de provas em processo penal, ao analisar se do auto a que se reporta o artigo 188 do Cdigo do Processo Penal de 1987 -CPPdever constar a transcrio do contudo das gravaes ou comunicaes telefnicas. Assim, sustenta-se: (...) A excepcionalidade no mbito da recolha de provas em processo penal das

escutas telefnicas ou similares, face garantia dos direitos fundamentais constitucionalmente consagrados de liberdade de comunicao e de intimidade da vida privada, aponta no sentido de adopo de uma soluo que, sem afectar o fim daquele meio de obteno de prova, limite os efeitos nefastos da violao daqueles direitos. A transmisso do contedo das gravaes telefnicas ou similares, pelos meios materias e humanos que envolve, aumenta o risco da devassa da intimidade da vida privada dos cidados. No justificavel e, consequentemente, admissvel, que, gravadas comunicaes telefnicas com informaes da vida ntima dos cidados, sem a mnima conexo com o objecto material do processo em causa, devam ser objecto de transcrio integral nos autos em apreo. Desta forma, e reiterando o raciocnio explanado no parecer principal, considera-se: Atenta a finalidade da permisso excepcional das escutas telefnicas ou similares descoberta da verdade sobre a existncia de certos crimes ou a sua prova-, e a proporcionalidade que deve existir entre aquele fim e os meios instrumentais conducentes sua realizao, em que prepondera o princpio da necessidade ou da mnima interveno possvel na esfera dos cidados, bem como o princpio da utilidade processual, de que so corolrio os princpios da simplicidade e celeridade, impe-se a soluo de transcrio, no auto a que alude o n 1 do artigo 188 do CPP, do contedo das gravaes que seja estritamente necessrio realizao do fim a que serve de instrumento. Face excepcionalidade prevista na lei do meio excepcional de recolha de prova que so as escutas telefnicas ou similares, no pode deixar de se considerar a proibio de praticar no processo penal actos inteis, que resulta do disposto nos artigos 4 do Cdigo de Processo Penal e 137 Cdigo de Processo Civil (...). 3. A intimidade da vida privada como direito fundamental na ordem jurdica portuguesa e nos textos internacionais. A emisso da informao-parecer n 120/80 resulta de uma consulta formulada pelos familiares das vtimas do acidente de Camarate, na qual se pretende saber se a publicao do livro que inclui relatrios de autpsias efectuadas nos cadveres, na parte em que descrevem pormenores ntimos dos falecidos, constitui ofensa reserva da intimidade da vida privada. O parecer inicia a sua abordagem apreciando a definio e caracterizao doutrinria do termo "direito intimidade". Sobre este tema acompanham-se de perto as consideraes tecidas por Rabindranath Capelo de sousa (27) e De Cupis (28): Defende o primeiro dos autores citados: Os direitos de personalidade - entre os quais

se insere o direito intimidade da vida privada - podem ser definidos como direitos subjectivos, privados, absolutos (29), gerais, extrapatrimoniais, inatos perptuos, intransmissveis, relativamente indisponveis, tendo por objecto os bens e as manifestaes interiores da pessoa humana, visando tutelar a integridade e o desenvolvimento fsico e moral dos indivduos e obrigando todos os sujeitos de direito a absterem-se de praticar ou de deixar de praticar actos que ilicitamente ofendam ou ameacem ofender a personalidade alheia sem que incorrero em responsabilidade civil e/ou na sujeio s providncias cveis adequadas a evitar a consumao da ameaa ou a atenuar os efeitos da ofensa cometida (30). De Cupis (...) entende por esfera intima da vida privada aquele sector da vida que se desenvolve entre as paredes domsticas e no mbito da familia e considera o direito da pessoa conservar a discrio mesmo em torno dos acontecimentos e do desenvolvimento da sua vida como uma manifestao do direito de resguardo, a par do direito imagem. O direito ao resguardo o modo de ser da pessoa que consiste na excluso do conhecimento, por parte das outras pessoas, de quanto se refere prpria pessoa, incluindo todos os outros acontecimentos e o desenvolvimento da sua vida, com experincias, lutas e paixes pessoais que lhe esto intimamente ligadas no podendo, por isso, conceder-se livre acesso curiosidade do pblico. Admitem-se, porm, limitaes ao referido direito, pois, a notoriedade faz com que no possam opor-se difuso da prpria imagem e divulgao dos acontecimentos da sua vida privada. O interesse pblico sobreleva, nesses casos, o interesse privado. No entanto, mesmo nesses casos, as exigncias do pblico detm-se perante a esfera ntima da vida privada e, para alm disso, as mesmas exigncias so satisfeitas pelo modo menos prejudicial para o interesse individual (...). Regista-se, no entanto, que ( ) so, infelizmente, escassos os contributos da doutrina e praticamente nulos os da jurisprudncia para uma mais desenvolvida caracterizao do referido direito ou "diritto alla riservatezza", como dizem os italianos (...) (31). Posto isto, e atendendo a que a dilucidao da questo, objecto da consulta assenta na delimitao do alcance das normas legais que consagram o direito intimidade da vida privada, o parecer analisa o artigo 80 do Cdigo Civil (32), concluindo, porm, que (...) o legislador no d uma definio do direito intimidade da vida privada. Com efeito, defende-se que a indefinio resulta, desde logo, do disposto no n 2 in fine do artigo 80, na medida em que faz depender a sua aplicabilidade do critrio do julgador. No obstante, reconhece-se que, nos termos daquele mesmo dispositivo, o seu juzo deve obedincia a duas bases objectivas: uma, assenta na natureza do caso, dado que a divulgao dos factos da vida ntima da pessoa pode ofender em maior ou menor grau o seu decoro, respeitabilidade ou bom nome; a outra, reporta-se condio das pessoas, pois varia bastante, de acordo com ela, a reserva que as pessoas guardam ou exigem quanto sua vida particular.

Finalmente conclui a informao-parecer, regressando ao objecto da consulta, que a divulgao dos aludidos relatrios no ofende o direito intimidade da vida privada. A argumentao gravita em torno deste direito: Este - anota o parecer encontra-se fortemente influenciado pelo right of privacy anglo-saxnico, que pode ser definido como o right to be let alone, vida tranquila: salvaguarda a possibilidade de isolamento, a consagrao da liberdade interior, o desejo de estabelecer relaes pessoais sem interferncia externa (...) (33). Respeita, portanto, a actos ou situaes das pessoas enquanto vivas, visa garantir o resguardo da sua vida privada. A violao do dever de reserva h-de respeitar a actos ou a situaes da vida dos lesados, embora a consumao dessa violao possa vir a ter lugar apenas aps a morte dos interessados. Se h direitos de personalidade, como o direito ao nome, confidencialidade da correspondncia, imagem, que podem ser directamente violados aps a morte do respectivo titular, pelo contrrio, a prtica material do acto violador da intimidade da vida privada h-de ocorrer em vida do interessado, embora possa ser divulgado apenas aps a sua morte. Com o morto cessa a vida privada e familiar do defunto, no fazendo sentido que, aps aquela, se admitam violaes originrias intimidade desta. Para alm destas consideraes, importa assinalar que a descrio do vesturio de um cadver e da sua subsequente autpsia no viola aqueles interesses que, historicamente, estiveram sempre subjacentes tutela da intimidade da vida privada, desde que obviamente, tal descrio se cinja s exigncias legais e tcnicas de tal exame percial (...). Mais considera o parecer: (...) admitindo, por hiptese de raciocnio, que a divulgao em livro dos aludidos relatrios, violava a intimidade da vida privada dos falecidos (...) mesmo assim tal violao no seria ilcita. que o direito intimidade no um direito absoluto, no sentido de no consentir restries, mais ou menos amplas, por fora da afirmao de outros direitos. Trata-se de um direito relativo numa dupla acesso. Primeiro, porque a sua prpria extenso varia consoante factores objectivos e subjectivos. Entre aqueles - segundo Manuel Janurio Gomes, estudo e loc. cit., pgs. 31 e 32 - conta-se a actuao incisiva e constante do Estado, nomeadamente o direito informao, liberdade constitucional de expresso e de imprensa, e o modo de vida quotidiano actual, com desenvolvidssimas tcnicas de captao e armazenamento das informaes, com a prosmiscuidade dos transportes e habitaes. Os factores subjectivos tm a ver com

a pessoa, quer considerada isoladamente, quer focada enquanto membro do corpo social (...). Trata-se, manifestamente, de um caso em que o direito dos cidados informao e o correspondente dever de a prestar, aliado ao interesse pblico legtimo de evidenciar o correcto funcionamento das instituies polticas, jurdicas e policiais envolvidas, justificaria o sacrifcio do direito intimidade da vida privada (34). Sacrifcio que, como atrs se procurou demonstrar nem sequer ter existido no caso presente. Porque a afinidade da temtica o permite, abordar-se-o em conjunto a informao parecer n 66/84 e o parecer n 108/90. A citada informao dedica-se anlise de uma nota informativa sobre a preveno e sano do trfico ilegal de estupefacientes e sobre um projecto de convnio relativo comunicao de antecendentes penais. Por sua vez, o parecer n 108/90 aprecia a "Conveno sobre comunicao de antecedentes criminais e de informao sobre condenaes judiciais por trfico ilcito de estupefacientes ou substncias psicotrpicas", aprovada pela VI Conferncia de Ministros da Justia dos pases Hispano-Luso-Americanos. Ambos analisam a conformidade jurdica dos documentos face ao ordenamento jurdico portugus, fazendo referncia, ainda que breve, norma constante do artigo 26 da Constituio da Repblica Portuguesa. Sobre o direito intimidade da vida privada afirma-se que este assume um lugar relativo no quadro de proteco constitucional dos direitos fundamentais, nomeadamente sofrendo as restries impostas pela realizao cabal do direito segurana (artigo 27, n 1, da Constituio). O parecer n 103/86 opina, por seu turno, acerca da admissibilidade da publicao de uma lista das entidades em situao de dvida Segurana Social. No contexto da indagao, o parecer pronuncia-se sobre a determinao do sentido e alcance do artigo 26 da Constituio e respectiva aplicabilidade s pessoas colectivas. Assim, e invocando a Lei n 28/84, de 14 de Agosto, afirma-se no parecer que este diploma contm dispositivos legais que inviabilizam a prtica descrita no objecto: Trata-se dos ns 1 e 2 do (...) artigo 43 (35). De facto, a existncia de dvida segurana social um "dado da natureza estritamente privada", referente situao econmico-social dessas actividades, e aqueles normativos no permitem publicao desses dados, (...), pois no se trata de dados de que haja "obrigao geral de

comunicao" por parte dos contribuintes . Tais dados resultam apenas do "tratamento" de outros elementos em poder da Segurana Social, e, alm do mais, a sua publicidade contraria o princpio de que o tratamento da informao deve ter forma legal e ser adequado finalidade da recolha. Por outro lado, pondera-se na nota [ da Direco-Geral da Segurana Social enviada Procuradoria-Geral da Repblica] , que tal publicao atentaria contra o "bom nome e reputao" que o n 1 do artigo 26 da Constituio reconhece e garante "a todos" (...). Vejamos: Uma primeira questo levanta esta norma que, epigrafada de "outros direitos pessoais", reconhece tal direito a "todos", como que induzindo que se reporta (apenas) a "todos" os "cidados" e no tambm s "pessoas colectivas", tanto mais que o preceito abarca direitos que so claramente inerentes pessoa humana, como sejam a "cidadania" e a "reserva da intimidade da vida privada". Comentando o artigo 12 da Constituio escrevem J.J. Gomes Canotilho e Vital Moreira: "(...) As pessoas colectivas no podem ser titulares de todos os direitos e deveres fundamentais, mas sim apenas daqueles que sejam compatveis com a sua natureza (...). Saber quais so eles, eis um problema que s se pode resolver casusticamente. Assim, no sero aplicveis, por exemplo, o direito vida e integridade pessoal, o direito de constituir famlia; j sero aplicveis o direito de associao, a inviolabilidade de domiclio, o segredo de correspondncia. Noutros casos duvidosa a aplicabilidade de direitos fundamentais: Livre expresso do pensamento, liberdade de investimento e ensino, etc. claro que o ser ou no ser compatvel com a natureza das pessoas colectivas depende naturalmente da prpria natureza de cada um dos direitos fundamentais, sendo incompatveis aqueles direitos que no so concebveis a no ser em conexo com as pessoas fsicas, com os indivduos (...)". E prossegue o parecer, mais adiante: (...) afigura-se que o direito ao bom nome e reputao no postula uma referncia humana, sendo perfeitamente concebvel para alm das pessoas fsicas. O bom nome e reputao de uma pessoa colectiva manifestamente indispensvel ao regular e eficiente exerccio da sua actividade. De facto a falta de bom nome, a m reputao das pessoas colectivas necessariamente que comprometem as relaes

entre essas entidades e as demais, nomeadamente os seus parceiros e o pblico em geral, exactamente nos mesmos termos que a falta de bom nome e m reputao das pessoas singulares. Face ao exposto, questiona-se se a publicao das referidas listas constitui uma ameaa contra o bom nome e reputao das pessoas colectivas e singulares. Para o efeito considera-se necessrio indagar sobre a forma, o fim, e as consequncias dessa divulgao. O fim dessa publicao seria, essencialmente (seno unicamente), expor tais entidades ao juizo da opinio pblica, censura pblica, como forma de as coagir ao pagamento das suas dvidas, quando h meios normais para o fazer, como seja o recurso aos tribunais. Haveria assim, em tal medida, uma manifesta desproporo entre os fins desejados (pela Administrao) e os prejuzos causados a tais entidades. Em causa, pois, os princpios da necessidade e da proporcionalidade, nsitos no Diploma Fundamental que tal publicao no respeitara (...). Com este fundamento conclui-se no sentido de que a publicao pela Administrao Pblica das aludidas listas violaria, simultaneamente, os artigos 26, n 1, da Constituio, e 43, n 1, da Lei n 28/84, de 14 de Agosto. O j citado parecer 92/91 aflora o tema da intimidade da vida privada e sua consagrao ao nvel do direito internacional pblico, constitucional e civil. No mbito do direito internacional pblico e referindo-se ao objecto da consulta averiguar se podem ser autorizadas escutas telefnicas antes da abertura do inqurito e com base na mera suspeita da prtica de um crime - afirma-se no parecer: (...) Esta questo est intimamente relacionada com o direito de personalidade dos cidados intimidade da vida privada, cujo relevo no tem parado de crescer desde fins do sculo XIX (36). O grande impulso com vista consagrao nos vrios Estados do aludido direito ocorreu, porm, aps o termo da segunda guerra mundial - durante a qual os direitos do homem foram to subalternizados - atravs de vrios textos internacionais adoptados pela comunidade das naes. Na declarao Universal dos Direitos do Homem de 10 de Dezembro de 1948 e no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polticos - PIDCP - consignou-se, com efeito, que "ningum sofrer intromisses arbitrias na sua vida privada, na sua famlia, no seu domiclio ou na sua correspondncia, sem ataques sua honra e reputao", e que "contra tais intromisses ou ataques a pessoa tem direito proteco da lei" (artigos 12 e 17, respectivamente) (37).

A Conveno Europeia dos direitos do Homem -CEDH- proclama, por seu turno, que "qualquer pessoa tem direito ao respeito da sua vida privada e familiar, do seu domiclio e da sua correspondncia", e que "no pode haver ingerncia da autoridade pblica no exerccio deste direito seno quando esta ingerncia estiver prevista na lei e constituir uma providncia que, numa sociedade democrtica, seja necessria para a segurana nacional, para a segurana pblica, para o bem-estar econmico do pas, a defesa da ordem e a preveno de infraces criminais, a proteco da sade ou da moral, ou a proteco dos direitos e das liberdades de terceiros" (artigo 8, n 1 e 2, respectivamente) (38). O direito reserva das conversaes telefnicas protegido pelo referido artigo 8 da CEDH (39). O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem tem entendido o termo "Lei" em que deve estar prevista a ingerncia na correspondncia individual a que se reporta o n 2 do artigo 8 da Conveno no sentido material, nele incluindo os actos normativos infralegislativos e o prprio direito no escrito. No que concerne previsibilidade da lei quanto ao sentido e natureza das medidas em que a ingerncia se desenvolve, sob a ponderao de que as escutas e outras formas de intercepo das conversas telefnicas representam um grave atentado ao respeito de vida privada e da correspondncia, tem vindo aquele tribunal a decidir que tais medidas devem constar de uma lei particularmente precisa, isto , com regras claras de actuao (...) (40). Por sua vez, ao nvel do direito civil: (...) O direito privacidade foi expressamente consagrado em Portugal, pela primeira vez, no Cdigo de 1966, em termos de que "todos devem guardar reserva quanto intimidade da vida privada de outrem", e "a extenso da reserva definida conforme a natureza do caso e a condio das pessoas" (artigo 80). A lei no define o conceito de "intimidade da vida privada", e ressalta da ltima parte da referida disposio a variabilidade do mbito da reserva em funo da natureza do caso e da condio das pessoas. A referncia condio das pessoas aponta no sentido de que o mbito da vida particular depende do modo de ser do indivduo e varia em funo do seu estatuto de insero social. Tratando-se de uma pessoa clebre, por qualquer motivo, isto de uma figura pblica, o seu ncleo de reserva de vida privada reduz-se face ao interesse da colectividade em conhecer certas particularidades susceptveis de pesar em determinadas escolhas, como, por exemplo, face s eleies para cargos pblicos. A aluso natureza do caso tem em vista, j no a posio social do sujeito, mas a

especificidade da situao concreta , como o caso de o facto de a sua vida privada haver ocorrido em lugar pblico de modo a ser apreendido em razo da sua localizao espacial (41). Poder-se-o distinguir nesta matria trs dominos ou esferas, ou seja, a da vida ntima, abrangente dos gestos e factos relativos ao estado do sujeito enquanto separado do grupo e a certas relaes sociais que devem em absoluto ser subtrados ao conhecimento de outrem;a da vida privada, englobante dos acontecimentos partilhados com um nmero restrito de pessoas; e a da vida pblica que se estende aos eventos respeitantes participao de cada um na vida da colectividade e por isso susceptveis de ser conhecidos por todos (...) (42). (...) Em suma, existe, na vida das pessoas um reduto abrangente de sentimentos, paixes, hbitos, desejos, afectos, modos de ser e de estar na vida que deve ser preservado da devassa de outrem (43). Este corpo consultivo j ponderou, numa ocasio, que o direito intimidade da vida privada implica a faculdade de vedar a difuso de notcias relativas vida privada (44). E posteriormente afirmou que o direito intimidade no absoluto, podendo ceder em certas hipteses, face a direitos socialmente mais valiosos, como por exemplo o direito dos cidados informao, nomeadamente sobre casos de grande repercusso pblica (45). Acresenta, ainda, o parecer: Marco importante da proteco da intimidade da vida privada em Portugal foi, por outro lado, a Lei n 3/73, de 5 de Abril, atravs da qual foram incriminadas vrias aces injustificadas e intencionalmente dirigidas devassa da intimidade pessoal, tais como a intercepo, escuta, registo, utilizao, transmisso ou divulgao de conversas ou comunicaes particulares, a captao, o registo, ou a divulgao da imagem de pessoas ou de bens, a observao s ocultas de pessoas que se encontrassem em lugar privado (46). Finalmente, no plano constitucional sustenta-se: A Constituio da Repblica Portuguesa de 1976 -CRP- , de harmonia com o direito internacional pblico a que se fez referncia, consagrou, nesta rea, linhas de aco poltico-legislativa do maior relevo. A Repblica Portuguesa , nos termos da Lei Fundamental, um Estado de direito baseado, alm do mais, no respeito e na garantia de efectivao dos direitos e liberdades fundamentais dos cidados (artigo 2). Estado de direito significa, fundamentalmente, um modo de delimitao do poder

estadual quer atravs da diviso de poderes quer atravs do primado do direito (47). Nessa linha, marcando o passo ao legislador ordinrio na rea dos direitos fundamentais dos cidados, proclama a CRP que a integridade moral das pessoas inviolvel, que a todos so reconhecidos os direitos identidade pessoal, reserva da intimidade da vida privada, impondo-lhe o estabelecimento de garantias efectivas contra a utilizao abusiva ou contrria dignidade humana, da informao relativa s pessoas e s familias (artigos 25, n 1 e 26, ns 1 e 2 ) (...) (48). O parecer n 16/94 circunscreve a sua anlise s questes de saber se as duas empresas - TELECEL E TMN - detentoras da explorao dos servios de comunicao devem ou no satisfazer os pedidos de informao formulados pelo Ministrio Pblico, pela Polcia Judiciria e por outras entidades que procedam investigao criminal sobre elementos identificativos de assinantes do servio mvel terrestre de telecomunicaes, nmeros de telefones, destinatrios de chamadas ou facturao, e se as referidas informaes dependem ou no de autorizao judicial. As questes referenciadas encontram-se intimamente relacionadas com o direito intimidade da vida privada. Assim, e seguindo de perto as consideraes proferidas no parecer n 92/91, considera o mencionado parecer: (...) Os direitos de personalidade incidem sobre a vida, a integridade fsica e sade, liberdade fsica e psicolgica, honra, nome, imagem, e a reserva sobre a intimidade da vida privada das pessoas. Trata-se de direitos insusceptveis de alienao ou de renncia, sem prejuzo do relevo limitado do consentimento do lesado. O direito privacidade - anota ainda o parecer - estende-se para alm do espao relativo casa de morada de famlia, fora do qual as pessoas ainda so envolvidas de uma esfera privada, no obstante o esbatimento que deriva do exerccio da actividade profissional (49). A finalizar e reportando-se ao contedo do artigo 26 da Constituio, afirma-se: (...) Nos termos dos ns 1 e 2 do artigo 26, a todos reconhecido o direito palavra e reserva da intimidade da vida privada e familiar, e "a lei estabelecer garantias efectivas contra a utilizao abusiva, ou contrria dignidade humana, de informaes relativas s pessoas e famlias". O direito palavra abrange o direito voz, atributo da personalidade, donde resulta a ilicitude do seu registo e divulgao sem autorizao, a "palavra dita, em termos de garantia da sua autenticidade e rigor da reproduo dos seus termos (50). O direito reserva da intimidade da vida privada e familiar abrange as faculdades de impedir o acesso de estranhos s informaes sobre ela, bem como a sua divulgao

por outrem. O parecer n 20/94, a seguir publicado na ntegra, ocupa-se da anlise do sentido e alcance do artigo 17, alnea d), do Cdigo de Processo Tributrio combinando-o com o disposto nos artigos 26 e 35 da Constituio. No pedido de consulta foi concretamente solicitado ao Conselho Consultivo que tivesse em considerao a questo da (ina)acessibilidade informao por parte de particulares (pessoas singulares ou colectivas), de advogados e solicitadores, de deputados, de orgos da Administrao Pblica, do Ministrio Pblico, dos Tribunais e do Provedor de Justia, bem como a vertente passiva dos elementos solicitados respeitarem a pessoas singulares ou colectivas e comerciantes (...). No contexto da indagao, apreciou-se o conceito de intimidade da vida privada e o regime jurdico do artigo 26, na sua conjugao com o regime da proteco dos dados pessoais, previsto no artigo 35, e com o princpio da administrao aberta, consagrado no artigo 268, todos da Constituio. O parecer teve, tambm, presente a questo da confidencialidade fiscal (artigo 17 alnea d) do Cdigo Tributrio) na sua articulao com os dados ditos pessoais e com o princpio da administrao aberta (artigos 26, 35 e 268 da lei fundamental). Por sua vez, o parecer n 56/94 (51), aprecia a possibilidade de invocao do sigilo profissional por parte dos depoentes que prestam declaraes perante as Comisses Parlamentares de Inqurito. Embora centrado no tema segredo profissional, nele se fazem breves aluses ao direito intimidade da vida privada. Assim, a primeira referncia ao aludido direito surge como limite aos poderes das comisses parlamentares de inqurito, defendendo-se que mesmo em investigao criminal, este direito no pode ser afectado seno por deciso de um juiz (52). A segunda, verifica-se aquando da anlise ao regime jurdico dos inquritos parlamentares, onde o direito reserva da intimidade da vida privada invocado como bem juridico devidamente acautelado em matria de publicidade dos trabalhos da comisso (artigo 15, n 4, da Lei n 5/93, de 1 de Maro (53). O parecer n 15/95 avalia a licitude da abertura de pacotes e encomendas postais para efeitos de fiscalizao aduaneira. Ao abordar, a ttulo principal, a inviolabilidade da correspondncia constante do artigo 34 da Constituio da Repblica Portuguesa, o parecer refere a relao de instrumentalidade do preceito constitucional face norma constante do artigo 26 do mesmo diploma, na parte em que esta consagra o direito reserva da intimidade da vida privada. Assim, e acompanhando de perto as consideraes tecidas por Gomes Canotilho e

Vital Moreira (54) escreve-se no parecer: " ( ) O direito reserva da intimidade da vida privada e familiar (artigo 26, n 1, in fine, e n 2) analisa-se principalmente em dois direitos menores: (a) o direito a impedir o acesso de estranhos a informaes sobre a vida privada e familiar e (b) o direito a que ningum divulgue as informaes que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem (cfr. Cdigo Civil, artigo 80). Alguns outros direitos fundamentais funcionam como garantias deste; o caso do direito inviolabilidade do domiclio e da correspondncia (artigo 34) [...] A inviolabilidade do domiclio e da correspondncia est relacionada com o direito intimidade pessoal (esfera privada especial), previsto no artigo 26, considerando-se o domiclio como projeco espacial da pessoa e a correspondncia como extenso da prpria pessoa [ ] . Por outro lado dispe a Lei Fundamental no seu artigo 32, ns 4 e 6: "4. Toda a instruo da competncia de um juiz, o qual pode, nos termos da lei, delegar noutras entidades a prtica dos actos instrutrios que no se prendam directamente com os direitos fundamentais. ( ) 6. So nulas todas as provas obtidas mediante tortura, coaco, ofensa da integridade fsica ou moral da pessoa, abusiva intromisso na vida privada, no domiclio, na correspondncia ou nas telecomunicaes". Anotando estas disposies escrevem os mesmos autores (55): Garantia fundamental de defesa o princpio da judicializao da instruo, sendo esta da competncia de um juiz o juiz de instruo [ ]. Na actual redaco do preceito, decorrente da primeira reviso constitucional, permitida a delegao pelo juiz da prtica de certos actos de instruo noutras entidades (n 4, 2 parte). Duas questes se levantam ( ) . No que concerne segunda, sustenta-se: " ( ) Ao aludir a "direitos fundamentais", o texto constitucional sugere que a obrigatoriedade da instruo pelo juiz se estende a outros direitos no enquadrados no catlogo dos "direitos, liberdades e garantias". Devem ter-se por abrangidos todos os actos que, fora do processo penal, sempre se haveriam de ter por ofensas a direitos fundamentais (aplicao de medidas de coaco, reconhecimento e interrogatrio do arguido, buscas domicilirias, intercepo ou gravao de conversas telefnicas, exame de correspondncia, acesso a ficheiros informticos de dados

pessoais, exames que contendam com a privacidade, etc.) ( ) " Os interesses do processo criminal encontram limites na dignidade da pessoa humana (artigo 1) e nos princpios fundamentais do Estado de direito democrtico (artigo 2), no podendo portanto valer-se de actos que ofendam direitos fundamentais bsicos. Da a nulidade das provas obtidas com ofensa da integridade pessoal, da reserva da intimidade da vida privada, da inviolabilidade do domiclio e da correspondncia (n 6) ( ). A interdio absoluta no caso do direito integridade pessoal e relativa nos restantes casos, devendo ter-se por abusiva a intromisso quando efectuada fora dos casos previstos na lei e sem interveno judicial (artigo 34-2 e 4), quando desnecessria ou desproporcionada, ou quando aniquiladora dos prprios direitos (cfr. artigo 18-2 e 3) ". Por fim, considera-se no parecer que ( ) A inviolabilidade da correspondncia prevista naquele artigo 34 est assim relacionada com o direito reserva de intimidade da vida privada, previsto no n 1 do artigo 26 do mesmo preceito. Alis, o mesmo ocorre quanto a outros direitos fundamentais que so garantia deste da reserva da intimidade da vida privada -, como se v do elenco constante da anotao transcrita ( ): em todos estes casos[ nomeadamente artigos 25 (Direito integridade pessoal), e 32 (Garantias de processo criminal)] se pretende proteger o conhecimento e divulgao, por estranhos, de dados, informaes referentes vida privada ( ). O parecer n 26/95, debruando-se sobre a admissibilidade da passagem de atestado de robustez, a indivduos portadores do vrus de imunodeficincia humana (HIV) para apresentao num concurso de acesso funo pblica, levanta e desenvolve as seguintes questes fundamentais: a) saber se o atestado mdico de robustez, legalmente exigido, para o exerccio de funes pblicas deve ou no conter expressa meno de que o candidato no sofre de doena infecto-contagiosa; b) pode ou no ser emitido atestados de robustez para o exerccio de funes pblicas relativamente a indivduos portadores do HIV. Da anlise feita ressaltam vrias referncias, sobretudo ao nvel do debate tico-legal em torno do HIV e da Sida, ao direito intimidade da vida privada, mais precisamente no que concerne ao direito das pessoas manterem secreto o seu estado de sade: (...) Um autor mexicano refere a este propsito dever ser reconhecido a todos os cidados o direito de se protegerem contra a SIDA, e salvaguardar os pacientes infectados da proibio de injustas restries pelo facto da sua enfermidade, devendo a lei encontrar o ponto mdio da tica e dos direitos humanos, em termos de estes

no serem anulados por aquela. Acrecentou que a legislao mexicana assenta nos princpios tico-jurdicos da confidencialidade no que concerne aos doentes (...). Por sua vez, a Organizao Mundial de Sade, na 41 Assembleia Mundial da Sade, adoptou, em 13 de Maio de 1988, a Resoluo intitulada "Non-discrimination lgard des personnes infectes par le VIH et les sidens",(...) [ onde] tem sido insistentemente afirmado que a proteco da sade pblica no justifica a limitao dos direitos do homem em razo de cidados serem portadores do VIH ou da SIDA, e que a despistagem e os testes obrigatrios bem como os registos de seropositivos constituem um atentado vida privada, na medida em que no raro, comportam restries ao direito ao trabalho, liberdade de deslocao e de residncia e obteno de cuidados de sade (...). E o Tribunal de Primeira Instncia, em 18 de Setembro de 1992, decidiu que uma colheita de sangue efectuada no mbito do exame mdico previsto no artigo 33 do Estatuto, para efeitos de procurar a presena eventual de anticorpos VIH constitui um atentado integridade fsica do candidato (...) e s pode ser efectuado com o seu consentimento informado (56). O Tribunal de Justia, em recurso daquela deciso do Tribunal de Primeira Instncia entendeu (...) que o respeito pela vida privada implica que, quando o candidato haja recusado submeter-se a um teste de despistagem da SIDA, a Instituio no realize qualquer outro teste susceptvel de levar a suspeitar ou a constatar a existncia da doena (...) (57). Finalmente o parecer considera o disposto no artigo 8 da Conveno Europeia dos Direitos do Homem, de 4 de Novembro de 1950 (58) e a posio do Tribunal de Justia da Unio Europeia face temtica. Assim: Nos termos do artigo 8, qualquer pessoa tem o direito ao respeito da sua vida privada e familiar, sem que no seu exerccio possa haver ingerncia da autoridade pblica, salvo, alm do mais, para a proteco da sade ou dos direitos e liberdades de terceiros (...). O Tribunal de Justia da Unio Europeia tem entendido, por um lado, que o respeito pela vida privada consagrado no artigo 8 da CEDH e que resulta das tradies constitucionais comuns aos Estados-membros, um dos direitos fundamentais protegidos pela ordem jurdica comunitria, que comporta o direito das pessoas manterem secreto o estado de sade, e por outro lado, que podem ser impostas restries aos direitos fundamentais por ela protegidos desde que correspondam efectivamente a objectivos de interesse geral e no constituam, relativamente ao fim prosseguido, uma interveno desproporcionada e intolervel que atente contra a prpria essncia do direito protegido (acrdo de 5 de Outubro de 1994, "Colectnea de Jurisprudncia do Tribunal de Justia e do Tribunal de Primeira Instncia", 1994-

10, pginas I-4781 a 4793). Por ltimo, o parecer n 68/96 trata da compatibilidade do ante-projecto de decreto-lei sobre investigao de acidentes e incidentes na aviao civil com os princpios constitucionais. Assim, ponderando o contedo do artigo 14 do referido ante-projecto, o parecer questiona se a sujeio a exame de pessoas se traduz numa ingerncia na intimidade da sua vida privada. De acordo com o artigo 14 (...) o investigador responsvel poder requisitar s autoridades competentes relatrios de autpsias e resultados de colheitas de amostras nos corpos das vtimas (n 10), e ter acesso imediato aos resultados efectuados nas pessoas envolvidas na explorao da aeronave (n 11), como poder efectuar exames e estudos necessrios relativamente s pessoas e vestgios materiais de qualquer espcie, relacionados com o acidente (n 16). Neste contexto, reflecte o parecer que (...) a limitao ao gozo do direito sua integridade pessoal e a ingerncia na vida privada (59), estaro, proventura, justificadas na defesa de outros interesses como a aplicao de uma boa justia ou a preveno dos acidentes de aviao. No est em causa a possibilidade de restringir aqueles direitos fundamentais em nome de outros interesses relevantes da vida em sociedade: a ordem pblica, a tica ou a moral social, a autoridade do estado, a segurana nacional, etc; recorde-se, no entanto, que em cada direito fundamental existe um ncleo essencial de proteco mxima e, depois, afastando-se do centro, espaos de proteco progressivamente menos intensa (60). To pouco interessa saber, para o caso em anlise, se se trata de uma verdadeira restrio, que atinge ou afecta o contedo do direito fundamental, ou de uma simples regulamentao, que se limita a condicionar o exerccio dos direitos para assegurar praticamente a concordncia entre os valores prprios dos direitos ou entre esses e outros valores igualmente constitucionais, a traar fronteiras entre direitos. Segundo o artigo 168, n 1, alnea b) da Constituio, da exclusiva competncia da Assembleia da Repblica, legislar, salvo autorizao do Governo, sobre direitos, liberdades e garantias. E, para o Tribunal Constitucional, aquela alnea no distingue as restries dos condicionalismos ou regulamentaes:... mesmo na parte em que o pargrafo em causa no contenha uma verdadeira restrio ao direito de livre expresso do pensamento (...), mesmo a se verifica a inconstitucionalidade, pois a prpria regulamentao de direitos, liberdades e garantias deve ser feita por lei (61). Gomes Canotilho e Vital Moreira, escrevem que a reserva de competncia

legislativa da Assembleia da Repblica nesta matria vale no apenas para as restries (artigo 18) mas tambm para toda a interveno legislativa no mbito dos direitos, liberdades e garantias (62). Nesta linha, conclui-se no sentido de que o [ mencionado] Ante-projecto seja materializado atravs ou de uma lei formal da Assembleia da Repblica ou de um Decreto-lei autorizado, nos termos do artigo 201, n 1, alnea b) da Constituio da Repblica. 4. A temtica "proteco da vida privada" foi objecto de referncias pontuais em diversos pareceres, de entre os quais se destacam: - O parecer 162/79 que, acolhendo as crticas formuladas no parecer n 204/78 ao projecto de diploma formulado com o intuito de suplantar as dificuldades encontradas pela Polcia Judiciria nas relaes com as instituies de crdito, suscitadas pela aplicao do Decreto-Lei n 2/78, de 9 de Janeiro, aprecia uma proposta de lei sobre "o dever de segredo bancrio". A este nvel considera o parecer que o artigo 3 (63) da referida proposta sujeita a prestao de colaborao, em processo penal, por parte das instituies de crdito, interveno do juiz, soluo que, segundo o mesmo parecer, traduz um afloramento do direito proteco da intimidade da vida privada. - O parecer n 23/84, apreciando o problema do direito de acesso pelos membros da Comisso do Livro Negro Sobre o Regime Fascista aos "Arquivo Salazar" e "Arquivo Marcello Caetano" refere, nesse mbito, que o direito reserva da intimidade da vida privada e familiar constitui manifestao do direito integridade pessoal e que ambos, integrando matria de direitos, liberdades e garantias, so da competncia exclusiva da Assembleia da Repblica (alnea b) do artigo 168 da Lei Fundamental). - O parecer n 66/85 apura em que condies a Guarda Fiscal pode efectuar buscas e apreenses em residncias e outros locais fechados, no mbito da investigao de crimes aduaneiros e da instruo dos correspondentes processos. Neste contexto, feita referncia intimidade da vida privada a propsito dos meios admissveis de prova no processo por contra-ordenaes fiscais aduaneiras, afirmando-se: (...) admissvel a realizao de buscas, vistorias e apreenses no domicilrias, determinadas pela autoridade administrativa competente; mas as provas que colidam com a reserva da vida privada, buscas, vistorias e apreenses domicilrias, s so admissveis mediante o consentimento de quem de direito (n 2 do artigo 42 do Decreto-Lei n 433/82, de 27 de Outubro). - O parecer n 49/91 (64) tem por objecto a resoluo das dvidas acerca do acesso pelos orgos de polcia criminal aos arquivos clnicos e outra documentao afim existente nos servios tutelados pelo Ministrio da Sade.

Neste mbito, o parecer analisa desenvolvidamente o segredo mdico e respectivo regime no direito comparado e no direito interno, fazendo referncia intimidade da vida privada como um dos bens jurdicos por ele protegido. - O parecer n 51/92 visa apurar se o Alto Comissrio Contra a Corrupo e a Ilegalidade Administrativa em Macau pode ter acesso s contas bancrias no mbito dos seus poderes de investigao criminal. Nesta sequncia e invocando o disposto na alnea a) do n 1, do artigo 2 (65) do Decreto-Lei n 605/75, de 3 de Novembro (66), defende-se que esta regulamentao importante para assegurar os direitos integridade pessoal, e inviolabilidade do domiclio (artigos 26 e 34 da Constituio da Repblica) (67). - O parecer n 38/95 (68) analisa a definio das circunstncias em que uma estao televisiva deve fornecer gravaes quando estas so solicitadas pelas autoridades (Ministrio Pblico, Polcia Judiciria, Provedor de Justia e Comisses de Inqurito da Assembleia da Repblica). Neste mbito, invoca-se o direito intimidade da vida privada como forma de legitimar a recusa do dever de colaborao para a descoberta da verdade - artigo 519 do Cdigo de Processo Civil. Ao contrrio do que acontece em processo penal, a distino relativamente ao regime que vigora em processo civil s transparece no preceituado no n 3 doartigo 135. Deste modo, afirma-se (...) a diferena face ao processo civil passa pelo facto de se admitir a quebra do sigilo profissional. - O parecer n 13/96, aprecia a desobedincia a uma ordem de identificao proferida por um um militar da Guarda Nacional Republicana, denunciado num inqurito-crime. Neste mbito, defende-se que do "cruzamento do direito identidade pessoal, que inclui fundamentalmente o direito ao nome e o direito historicidade pessoal, com o direito intimidade da vida privada, poder-se- extrair uma proteco constitucional do anonimato (...). Em obdincia ao princpio da tipicidade legal das medidas de polcia, consagrado no n 2 do artigo 272 da Constituio da Repblica, e tendo em conta que a reserva de identidade expresso do direito intimidade da vida privada, consagrado no n 1 do artigo 26 da Constituio da Repblica, h-de derivar da lei o condicionalismo concreto de que depende a legitimidade da exigncia da identificao (...). ________________ NOTAS: 1) O presente volume intitula-se "Vida privada - Utilizao da informtica". Numa primeira fase abordar-se-, a temtica da proteco da vida privada em geral, relegando-se a sua anlise na perspectiva da utilizao da informtica para um segundo momento.

2) R. Henrion, Le secret bancaire en Belgique, pg. 62. 3) "R. Farhat, Le secret bancaire. tude de Droit compar (France, Suisse, Liban), Paris, 1970, pgs 57 e segs., 257 e segs., M. Vasseur, no prefcio da mesma obra". 4) "A. Di Amato, II segreto bancario, Camerino, 1979, pgs 279 e segs. . De algum modo neste sentido j P. Gulphe, "Le secret professionnel du banquier en droit franais et en droit compar", na Rev. Trim. Dr. Comm. 1948, pg 54. Entre ns, cfr. Alberto Lus, "O segredo bancrio em Portugal", Rev. Ord. Adv., ano 41 (1981) , pgs. 467 e segs.". 5) "Ob. cit., pg. 289". 6) Publicado na ntegra no mbito do VI volume - Os segredos e a sua tutela.. 7)" Conferncia dos Conselhos de Imprensa da Europa, Edio do Conselho de Imprensa, Lisboa, 1988, pgs. 163 a 165." 8) "Sobre este tema podem ver-se: Manuel Janurio Gomes, "O problema da salvaguarda da privacidade antes e depois do computador"; Garcia Marques, "Informtica e Liberdades"; discusso parlamentar no Dirio da Assembleia da Repblica, II Legislatura, 2 sesso legislativa (1981-1982), II Srie, 2 Sup. ao n 80, de 21-4-82, pgs. 1508-(29) e (30); pareceres deste corpo consultivo n 121/80 publicados no Boletim n 309, pg. 212, e no Dirio da Repblica, II Srie, n 46, de 25/2/82 e ns 151/82 e 129/83, no publicados. 9) Este normativo preceitua: "Tratando-se de assento de nascimento de filhos fora do casamento ou adoptivos, as certides de cpia integral ou fotocpia s podem ser passadas a pedido das pessoas a quem o registo respeita, seus ascendentes, descendentes, herdeiros ou a requisio das autoridades judiciais e policiais ou da Direco-Geral dos Registos e Notariados". 10) Publicado na ntegra no mbito do VI volume - Os segredos e a sua tutela.. 11) Revista de Legislao e de Jurisprudncia, ano 14, pg 309. 12) Definio constante do parecer n 121/80, publicado na ntegra. 13) "Estudo de M. Janurio Gomes, intitulado "O problema da salvaguarda da privacidade antes e depois do computador", publicado no Boletim, n 319, pg. 21 e segts." 14) Publicado na ntegra no mbito do VI volume- Os segredos e a sua tutela.

15) "Uma, defendida pelo Banco depositrio, apoiada em anteriores paraceres deste corpo consultivo e na jurisprudncia dominante dos tribunais superiores, que desagua na primazia (ou na prevalncia) do dever de sigilo sobre o dever de cooperao com a justia, recusando, desse modo, a prestao da informao requerida pelo tribunal de famlia que decretou o arrolamento dos depsitos e que consistia em saber o montante dos respectivos saldos de conta. Outra, a do referido tribunal, que entende no poder aplicar-se a doutrina deste conselho ao caso do arrolamento que oportunamente decretou." 16) Publicado na ntegra no mbito do VI volume- Os segredos e a sua tutela.. 17) Este parecer acompanhou de perto as consideraes formuladas nos pareceres ns. 92/91 e 16/94. 18) Dispem: Artigo 192, n 1: "Quem, sem consentimento e com inteno de devassar a vida privada das pessoas, designadamente a intimidade da vida privada ou sexual: a) Interceptar, gravar, registar, utilizar, transmitir ou divulgar conversa ou comunicao telefnica:" (...) " punido com pena de priso at 1 ano ou com pena de multa at 240 dias". Artigo 194: "1. Quem, sem consentimento, abrir encomenda, carta ou qualquer outro escrito que se encontre fechado e lhe no seja dirigido, ou tomar conhecimento, por processos tcnicos, do seu contedo, ou impedir por qualquer modo, que seja recebida pelo destinatrio, punido com pena de priso at um ano ou com pena de multa at 240 dias". 2. Na mesma pena incorre quem, sem consentimento, se intrometer no contedo de telecomunicaes ou dele tomar conhecimento". 3. Quem, sem consentimento, divulgar o contedo de cartas, encomendas, escritos fechados, ou telecomunicaes a que se referem os nmeros anteriores, punido com pena de priso at 1 ano ou com pena de multa at 240 dias". 19) Ainda no mbito da proteco dos mesmos valores, h que salientar o crime, constitudo como crime de perigo, do artigo 276: "Quem importar, fabricar, guardar, comprar, vender ou adquirir a qualquer ttulo, transportar, distribuir ou detiver instrumento ou aparelhagem especialmente destinadas montagem de escutas telefnicas, fora das condies legais ou em contrrio das prescries da entidade competente, punido com pena de priso at 2 anos ou com pena de multa at 240

dias". 20) "Cfr., parecer n 49/91, que neste passo se acompanha de perto." 21) "Cfr. FERMIN MORALES PRATS, "La Tutela penal de la Intimidad; privacy e informtica", Editiones, Destino, pgs. 209 e segs., que traa tambm uma perspectiva histrica dos segredos profissionais". 22) "J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, "Constituio da Repblica Portuguesa Anotada", 1., Coimbra, 1984, pgs. 223 e 224." 23) "No Projecto da Reviso do Cdigo Penal prev-se, em dois tipos criminais distintos, que a intercepo, gravao, registo, utilizao, transmisso ou divulgao de conversas ou comunicaes telefnicas, sem consentimento e com inteno de devassar a vida privada das pessoas, designadamente a intimidade da vida familiar ou sexual, e a intromisso no consentida na comunicao telefnica, ou dela tomar conhecimento so punidas com as penas de priso at 1 ano e multa at 240 dias, respectivamente (artigos 192, n 1, alnea a), e 194, n 2)." 24) "Les Preuvres en Droit Pnal Portugais", Revista de Direito e Estudos Sociais, 1967, pgs. 1 e segs." 25) "GASTON STEFANI, GEORGES LEVASSEUR, BERNARD BOULOC, "Procdure pnale, Paris, 1987, pgs 34 a 49;e AURLIA MARIA ROMERO COLOMA, "Derecho a la Intimidad, a la Informacin y Proceso Penal", Madrid, 1987." 26) As concluses do citado parecer encontram-se reproduzidas no mbito do VI volume dedicado aos segredos e sua tutela. 27) "A Constituio e os direitos de Personalidade", in "Estudos sobre a Constituio", coordenao de JORGE MIRANDA, 2 volume, Livraria Petrony, Lisboa, 1978, pgs. 93 e segs." 28) " Os Direitos da Personalidade, traduo portuguesa, Lisboa, 1961, pg. 142 e seguintes". 29) " Absolutos - esclarecer o autor citado - no sentido de que so oponveis erga ommes, gerando para todos os outros que no o seu titular a obrigao passiva, universal, de respeitarem tais direitos, e no no sentido de que nunca cedam face a outros direitos de igual ou superior valor." 30) "A responsabilidade exercitar-se nos termos dos artigis 483 e seguintes do Cdigo Civil, e as "providncia" atravs dos meios processuais previstos nos artigos 1474 e 1475 do cdigo de Processo Civil, ou de outras providncias cautelares no especificadas."

31) Existe, no entanto, um relativo "consenso entre os autores no sentido de que a "verdadeira ptri" do direito privacidade foram os Estados Unidos da Amrica do Norte, a partir do clebre artigo de SAMUEL WARREN E LOUIS BRANDEIS, "The right to privacy", publicado em 1980 na "HAVARD LAW REVIEW". "Sobre esta questo e sua evoluo posterior, cfr. Manuel Janurio Gomes, "O Problema da Salvaguarda da Privacidade antes e depois do computador, no "Boletim do Ministrio da Justia", n 319" pg. 25 e Mrio Raposo, "Sobre a Proteco da Intimidade da Vida Privada", separata da Revista da Ordem dos Advogados", Lisboa, 1973, pg. 7. 32) Dispe este normativo: "1.Todos devem guardar reserva quanto intimidade da vida privada de outrem. 2. A extenso da reserva definida conforme a natureza do caso e a condio das pessoas." 33) "Manuel Janurio Gomes, estudo e loc., pg 31" 34) "Cfr. Angelo de Mattia e outros, "Il Diritto alla- Riservatezza, Milo, 1963, pgs. 20 e seguintes, que indica entre as retries ao direito de resguardo as necessidades de justia ou de polcia. " 35) O artigo 43 ( Garantia de sigilo) estatui: "1- Qualquer pessoa ou entidade tem direito a que os dados de natureza estritamente privada, quer pessoais, quer referentes situao econmico-financeira, no sejam indevidamente divulgados pelas instituies de segurana social abrangidas pela presente lei. 2. Considera-se que no h divulgao indevida sempre que o interessado d a sua concordncia ou haja obrigao legal de comunicao". 36) "Atribui-se ao artigo intitulado "The right to privacy/The implicit made explicit", da autoria de SAMUEL WARREN e de LOUIS BRANDEIS, publicado na Revista "Harvard Law Review, n 4, Cambridge, 1980, pgs. 193 e segs., a origem do referido direito". 37) "O PIDCP foi aprovado para ratificao, em Portugal, pela Lei n 29/78, de12 de Junho". 38) "A CEDH foi aprovada para ratificao, em Portugal, pela Lei n 65/78, de 13 de Outubro". 39) "PINHEIRO FARINHA, "Conveno Europeia dos Direitos do Homem". Anotao,

Lisboa, 1980, pg. 40. 40) "Arrts du 24 Avril 1990, VICENT BERGER, "Jurisprudence de la Cour Europene des droits de l`homme et les coutes tlphoniques", RUDH 1990, vol. 2, n 5, Paris, pgs. 185 a 191." 41) "RITA AMARAL CABRAL, "O Direito Intimidade da Vida Privada (Breve Reflexo acerca do artigo 80 do Cdigo de Direito Civil", Lisboa, 1988 pgs. 25 a 28, e parecer deste Corpo Consultivo n 129/83, de 3 de Junho de 1983." 42) "RITA AMARAL CABRAL, obra citada, pgs. 30 e 31." 43) "Cfr. sobre esta problemtica RODRIGUES BASTOS, "Das Relaes jurdicas segundo o Cdigo Civil de 1966", vol. I., Lisboa, 1967, pg. 42; MRIO DE BRITO, "Cdigo Civil Anotado", Vol. I, Lisboa, 1968, pg. 96; MOTA PINTO, "Teoria Geral do Direito Civil", Coimbra 1976, pg. 225." 44) "Parecer n 121/80, de 23 de Julho de 1981, publicado no "Boletim do Ministrio da Justia", n 309, pgs. 121 e segs." 45) " Parecer n 129/83, de 3 de Junho de 1983, no qual se concluiu no integrar em princpio violao do direito intimidade da vida privada e familiar a publicao de relatrios de autpsias, em que de acordo com as normas regulamentares e tcnicas aplicveis se procede descrio do vesturio das vitimas e do hbito externo e orgos e tecidos internos do seu corpo." 46) "A lei n 3/73 foi revogada pelo artigo 6, n 2, do Decreto-Lei n 400/82, de 23 de Setembro, que aprovou o Cdigo Penal de 1982, cujo captulo VI insere vrios crimes contra a intimidade da vida privada (...)". 47) "KARL HEINZ GOSSEL, "A posio do Defensor no Processo Penal de um Estado de Direito", Coimbra, 1985, pg. 21." 48) "O artigo 26 da Constituio da Repblica Portuguesa corresponde ao artigo 33 do primitivo texto, no constando, porm, no n 1 os direitos capacidade civil, cidadania, palavra e imagem, nem o n 3. Por fora da Lei Constitucional n 1/82, de 30 de Setembro, passou o contedo do artigo 33 a integrar o do artigo 26, acrescentando ao n 1 os direitos capacidade civil, cidadania e imagem, e o n 3. A Lei constitucional n 1/89, de 8 de Julho, acrescentou ao n 1 o direito palavra." 49) DIOGO LEITE CAMPOS, "Lies de Direito de Personalidade", "Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra", vol. LXVII, 1991, pgs. 209 a 213, onde se refere que o direito privacidade da pessoa anterior e superior a qualquer outro direito de

carcter pblico, como por exemplo o direito informao." 50) "J.J. CANOTILHO e VITAL MOREIRA, "a Constituio da Repblica Portuguesa Anotada", Coimbra, 1983, pg. 181, que neste passo seguiremos de perto". 51) Publicado na ntegra no mbito do VI volume - Os segredos e sua tutela.. 52) "Este Acrdo n 195/94-Processo n 478/93-, do Tribunal Constitucional foi anotado por Gomes Canotilho e Vital Moreira , na Rev. Leg. Jur., ano 127, n 3845, pgs. 257-259 (...)". 53) Dispe o n 4, do artigo 15 da referida Lei: "( ) 4- As actas das Comisses, assim como todos os documentos na sua posse, podem ser consultados aps a aprovao do relatrio final, nas seguintes condies: a) No revelem matria sujeita ao segredo de Estado, a segredo de justia ou sujeita a sigilo por razes da reserva da intimidade das pessoas; b) ( )". 54) Constituio da Repblica Portuguesa Anotada", 3 ed., 1993, pgs. 177 e segs.". 55) "Ob. cit., pg. 205". 56) "Deciso publicada na "Colectnea de Jurisprudncia do Tribunal de Justia e do tribunal de Primeira Instncia", 1992-9, pg. II 2197". 57) "Publicada no "Dirio da Repblica", I Srie, de 9 de Maro de 1978". 58) "Publicada no "Dirio da Repblica", I Srie, de 9 de Maro de 1978". 59) "Cfr. o Parecer n 87/83, publicado no Dirio da Repblica, II Srie, de 31 de Janeiro de 1984, e no Boletim do Ministrio da Justia, n 332, pg. 267 e segs., que analisou a sujeio a exame de uma pessoa no mbito de um processo disciplinar. Os orgos de controlo da Conveno Europeia dos Direitos do Homem (Comisso e Tribunal Europeu dos Direitos do Homem) tm entendido que a obrigao de se sujeitar a um exame mdico constitui uma ingerncia na vida privada da pessoa, ingerncia que, para no constituir violao do artigo 8, deve ser justificada nos termos do n 2 deste artigo - ver, por todas, a Deciso de 6 de Abril de 1994, Queixa n 21132/94, Dcisions et Rapports, n 77-A, pgs. 75 e segs". 60) "Parecer n 1/89, publicado no Dirio da Repblica, II Srie, de 16 de Junho de 1989, para onde se remete para maiores desenvolvimentos".

61) "Recolhido em Joo Nabais, loc. cit., onde refere, no mesmo sentido, Jorge Miranda, "O Regime dos Direitos, Liberdades e Garantias", in "Estudos sobre a Constituio, vol III, Lisboa, 1979, pg 93, Gomes Canotilho, "Direito Constitucional", pg. 303, e Srvulo Correia, "Legalidade e Autonomia Contratual nos Contratos Administrativos", Coimbra, 1987, pg. 306". 62) "Constituio da Repblica Portuguesa Anotada, 3 edio, Coimbra, 1993, pg. 672". 63) Determina este normativo: "1. O disposto no presente diploma no prejudica o dever de colaborao em processo penal, no sendo aplicvel ao segredo bancrio o estabelecido no n 3 do artigo 217 do Cdigo de Processo Penal. 2. A colaborao deve ser prestada ao Juz, ou, por sua ordem, a qualquer oficial de justia ou agente de autoridade". 64) Publicado na ntegra no mbito do VI volume - Os segredos e sua tutela.. 65) Textualiza o referido normativo: "as buscas, autpsias, vistorias, apreenses domicilirias e exames que possam ofender o pudor das pessoas examinadas, bem como as diligncias referidas no artigo 210 do Cdigo de Processo Penal", devem ser autorizadas pelo juiz de instruo. 66) Este diploma sofreu " (...) alteraes introduzidas pelo Decreto-Lei n 377/77, de 6 de Setembro. As alteraes verificadas com a Lei n 25/81, de 21 de Agosto (ainda no publicada em Macau), assim como as do Decreto-Lei n 402/82, de 23 de Setembro (no publicada em Macau), estas ltimas essencialmente ditadas pela entrada em vigor do novo Cdigo Penal, no interessam economia do parecer". 67) "Assim, CASTRO SOUSA, "A Tramitao do Processo Penal", Coimbra, 1983, pgs. 167 e 170." 68) Publicado na ntegra no mbito do VI volume - Os segredos e sua tutela.