colaborar para que?
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Colaborar para que?
Teste as respostas mais comuns: Colaborar é para ajudar pessoas necessitadas. Para
preservar o meio ambiente. Para ajudar um amigo. Em caso de crise ou de um acidente
a gente deve colaborar. No ambiente de trabalho ou estudo tem cartazes dizendo:
colabore para deixar o ambiente limpo. Jogue coisas usadas no lixo.
É de uso comum “colaborar” como um meio de juntar dinheiro para uma causa nobre ou
para financiar um projeto que de outra forma não teria como.
Entretanto existe um uso radical do que chamamos colaborar. Ele é radical porque vem
da raiz da palavra e faz sentido do que é essencial: trabalhar juntos (Co–Laborare).
Colaborar nesse sentido implica em relacionar-se trabalhando para atingir uma meta e
objetivos comuns.
Nossas primeiras relações não são com nossos iguais.
Bebês e todos mamíferos desse planeta não se desenvolvem interagindo só com outros
bebês, seus “egoais”. Precisam interagir com quem sabe mais que eles, os adultos. Quer
dizer, precisam aprender com quem sabe mais. Só aos poucos crescem e desenvolvem-
se a ponto de serem responsáveis pelos seus atos. Colaborar não acontece entre iguais.
Quando nos tornamos adultos poderemos colaborar. Trabalhar juntos.
A construção de situações coletivas é um desafio quando o coletivo já vem pronto.
Instituições cristalizadas não precisam de colaboradores no sentido de alguém que
trabalhe construindo novas possibilidades. Eles admitem ou rejeitam os “colaboradores”
de acordo com seus interesses. Nesse caso o colaborador é mais um para dar força ao
trabalho da instituição. Se quiser fazer da sua maneira, questionando ou perturbando a
ordem preestabelecida, será rejeitado. A menos que esse coletivo ainda esteja em
projeto, em fase de organização, com suas energias vitais abertas a novidades.
Congressos, cursos, treinamentos, reuniões de apresentação de projetos, relatórios e
outras atividades institucionais tendem a cristalizar-se e não abrir-se a mudanças.
E colaborar necessita de abertura para mudar coativamente. Ou seja, as pessoas
precisam fazer parte da construção institucional e não apenas serem contratadas para
executar o que já está pronto.
O enredamento relacional consiste em construir e construir-se como estruturas humanas
colaborativas desde o início, nas quais todos são corresponsáveis pelas missões, visões,
ações e resultados.
Sistemas humanos exageradamente hierarquizados tendem a cristalizar-se e desabar. É
só rever a história humana para verificar como impérios ruíram justamente por
funcionarem como impérios, sejam eles culturais ou econômicos.
Por outro lado, não há aprendizagem sem alguém, um sujeito ou grupo de pessoas para
reconhecerem que alguém sabe mais que eles e podem aprender por inspiração e
modelagem.
A aprendizagem colaborativa é essencialmente dialógica, estabelecendo pontes entre
quem demanda e quem oferta conhecimentos, serviços, produtos, construindo relações
de compra e venda ou de produção como uma atividade compartilhada. Fica mais
simples, fácil e dá muito mais resultados.
Exemplos de coletividades exageradamente hierárquicas. Stalinismo, nazismo,
fascismo, ditaduras. Muitos políticos para pouca política. Institutos com provas para
passar e normas estritas para agir. Cerimonialismo. Formalismo. Autocracias religiosas.
Exemplos de atividades não hierárquicas que se auto-organizam de forma plástica e
efetiva. O time do Barcelona. A Polis grega. Países nórdicos e sociedade japonesa.