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TER. T JORNAL AUTOGESTIONARIO Ano XVII Ne 89 Santa Maria da Vitória - BA - Junho de 1995 - R$ 1,00 Coimidêntia ou não... FHC homenageia Santa Maria da Vitória e o Prefeito-Mártir Dr. José Borba C P V 25 JUL 1995 Lançamento do Programa Mmàmwl ée Nurmçm ieitmm de persoamtidmdes c de jornalistas em mossa cidade tom wmpmofíetose cultuou a meatória do Leònidas Cardoso (pai de FHC) de "0 Petróleo é Nosso" - 0 "foro da lei Verbènia" dos especiais de FHC, por se desta- carem no parlamento como incansá- veis propulsores da educação. O nú- mero de jornalistas foi enorme e se calculam em dezenas os enviados pelos meios de comunicação social do país e do exterior. Para algumas pessoas, a pri- meira coisa que mais intriga é o fato de FHC ter escolhido, dentre 5 mil cidades brasileiras. Santa Maria da Vitória. E a segunda é o presidente da República dar uma aula justa- mente na escola "Dr. José Borba" e não em outro estabelecimento dos mais de dez colégios da cidade. Coincidentemente ou não, o que é certo é que o presidente e cientista social FHC lançou para o país todo o seu mais importante e primeiro Programa de Governo em Santa Maria da Vitória, onde funci- ona, desde 1980, a Biblioteca Campesina, atualmente a maior bi- blioteca privada de Ciências Sociais do interior do Brasil, com quase quin- ze mil volumes, aos quais se inclui um exemplar da Bíblia editado em 1635, em Genebra (Suíça) e outras raridades. Continua na página 3 A escolha da cidade de Santa Maria da Vitória pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para lançar o Programa Nacional de Edu- cação constitui um fato transcendental para esta cidade e para a cidade-irmã de São Félix e uma justa promoção nacional e internaci- onal da mais culta cidade do Oeste Baiano, no Além São Francisco. A visita presidencial durou apenas 4 horas, mas foi o suficiente para visitar a Prefeitura e a Câmara de Vereadores, além de alinhavar uma aula magna para adolescentes e crianças em uma das salas do Grupo Escolar "Dr. José Borba", na qual tratou de explicar o que é um presi- dente da República, o que deve fazer e o que não pode fazer. Esse importantíssimo evento determinou uma enorme afluência de personalidades a Santa Maria da Vitória, na manhã de 9 de fevereiro passado, destacando-se o governa- dor do Estado, o senador Antônio Carlos Magalhães e o presidente da -Câmara de Deputados. Estiveram também na caravana presidencial o ex-senador do Espírito Santo, jorna- lista João Calmon e o deputado Os- valdo Coelho, dePetrolina, convida-

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TER. T

JORNAL AUTOGESTIONARIO Ano XVII Ne 89 Santa Maria da Vitória - BA - Junho de 1995 - R$ 1,00

Coimidêntia ou não...

FHC homenageia Santa Maria da Vitória e o Prefeito-Mártir Dr. José Borba

C P V

25 JUL 1995

Lançamento do Programa Mmàmwl ée Nurmçm ieitmm de persoamtidmdes c de jornalistas em mossa cidade • tom wmpmofíetose cultuou a meatória do Leònidas Cardoso (pai de FHC) de "0 Petróleo é Nosso" - 0 "foro da lei Verbènia"

dos especiais de FHC, por se desta- carem no parlamento como incansá- veis propulsores da educação. O nú- mero de jornalistas foi enorme e se calculam em dezenas os enviados pelos meios de comunicação social do país e do exterior.

Para algumas pessoas, a pri- meira coisa que mais intriga é o fato de FHC ter escolhido, dentre 5 mil cidades brasileiras. Santa Maria da Vitória. E a segunda é o presidente da República dar uma aula justa- mente na escola "Dr. José Borba" e não em outro estabelecimento dos mais de dez colégios da cidade.

Coincidentemente ou não, o que é certo é que o presidente e cientista social FHC lançou para o país todo o seu mais importante e primeiro Programa de Governo em Santa Maria da Vitória, onde funci- ona, desde 1980, a Biblioteca Campesina, atualmente a maior bi- blioteca privada de Ciências Sociais do interior do Brasil, com quase quin- ze mil volumes, aos quais se inclui um exemplar da Bíblia editado em 1635, em Genebra (Suíça) e outras raridades.

Continua na página 3

A escolha da cidade de Santa Maria da Vitória pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para lançar o Programa Nacional de Edu- cação constitui um fato transcendental para esta cidade e para a cidade-irmã de São Félix e uma justa promoção nacional e internaci- onal da mais culta cidade do Oeste Baiano, no Além São Francisco.

A visita presidencial durou apenas 4 horas, mas foi o suficiente para visitar a Prefeitura e a Câmara de Vereadores, além de alinhavar uma aula magna para adolescentes e crianças em uma das salas do Grupo

Escolar "Dr. José Borba", na qual tratou de explicar o que é um presi- dente da República, o que deve fazer e o que não pode fazer.

Esse importantíssimo evento determinou uma enorme afluência de personalidades a Santa Maria da Vitória, na manhã de 9 de fevereiro passado, destacando-se o governa- dor do Estado, o senador Antônio Carlos Magalhães e o presidente da

-Câmara de Deputados. Estiveram também na caravana presidencial o ex-senador do Espírito Santo, jorna- lista João Calmon e o deputado Os- valdo Coelho, dePetrolina, convida-

SANTA MARIA DA VITóRIA - BA - JUNHO DE 1995 C POSSBTZO Problema da Terra no Brasil e na China

"A imprensainforma sobre um cidadão do Pará (Carlos Medeiros) que possui 1% das terras do nosso imenso país, totalizando uma área que daria para conter 4 estados de Israel e 2 Suíças. Como além dele existem os Olacyrs de Morais, os Sameys, os Camargos, Os Odebrechts, os Marinhos e vários outros mandatários desse imenso campo de concentração de rendas em que se transformou o Brasil, e como também o presidente da República foi eleito com o apoio e financiamen- to deles, não cogita de cobrar impos- tos desses latifundiários e, pelo con- trário, está a fim de "privatizar" ainda mais o que é propriedade de todos, entendemos porque a nossa campa-

nha contra a fome não apresenta pers- pectivas muito promissoras a curto ou médio prazo.

No campo oposto, a China comu- nista consegue alimentar uma popula- ção 8 vezes maior que a do Brasil, tendo apenas 7% do seu território aproveitável para a agricultura. Por que tanta con- centração de terras nas mãos de tão poucos em nosso país? O valor total do Imposto Territorial Rural cobrado de todos os proprietários de terras deste imenso Brasil em 1993 foi inferior ao IPTU cobrado nos bairros da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro no mesmo período..."

laraAssunes Silva - SP Tribuna da Imprensa (RJ),

15/4/95-pág. 4

Clodonúr Morais lança novos "Contos Verossinieis"

A CASA DA CULTURA "ANTÔNIO LISBOA DE MORAIS" editou o segundo volume dos Contos Verossímeis, de dodomir Morais.

Compõem o livro os contos Mestre Ambrósío è O ladrão da calça de casimira, baseados em fatos que ocorreram em Santa Maria da Vitória nos anos 50.

Morais, ao mesmo tempo em que descreve de forma descontraída e bem humorada nossa realidade daquelesperíodos^ mosfrando como os humildes eram (e ainda são, infelizmente) humilhados e ofendidos pela sociedade santa- mariense, vai analisando sociologicaimeíjte nossa cultura.

Esses novos contos -assim como os dó jpriméiro volume, Pedro Bunda e "Causos de Sentinela'1- são gostosíssimos de se lere não é à toa que estão fazendo exlraordinário sucesso junto ao público de Santa Maria da Vitória e cidades adjacentes (Santana, Correntina, Bom Jesus da Lapa, dentre outras).

Para quem deseja conhecer nosso passado histórico e, conseqüentemente^ entender mais claramente a realidade atual santa-mariense, toma-se imprescin- dível a leitura de Mestre Ambrósío e O ladrão da calça de casimira.

(Pedidos: veja página 6).

Poesia Revolucionária Minha última batalha

Otacilio Pereira da Silva*

Acossado no pic^duma colina, / metida no centro duma caatinga... /como em Angico,parece... /quando Lampião se bateu, algum dia/e ganhou o combate, antes que o traíra... / Que bonito! / Aquilo não foi sonho, / nem quimera desfeita, / no infinito da fé, muitas vezes. /No pico daminha colina, / com o meu batalhão, / tendo àretaguarda, /não sei se em vão... /umareservamoral, apenas. / O tempo fechou, meus irmãos! / Como sempre...: Chegaram os anjos-da-guarda, / dos maiorais. / Enviados por Deus, com certeza, /os seus generais. / E apagaram as luzes! / O forró começou, sem lamparinas. / Inexpugnável deve ser a fortaleza, / para se vencer a um inimigo invisível / numa guerra de defesa (corpo-a-corpo) / aminha, no escuro. /Nesta última batalha: Socorro, Corisco!

Karlstad-Suécia, 2 e 3.4.93 * Marinheiro nordestino exilado na Suécia, que estudou na RDA e colaborou com os governos populares de Moçambique e da Nicarágua Sandinista. Pouco tempo antes de expirar, corroído por um câncer, Otacilio ditou à sua esposa chilena, Margarita Concha, esses seus derradeiros versos, buscando descrever como seriam seus últimos momentos. Otacilio foi quem denunciou o Cabo Anselmo para os revolucionáriosbrasileiros.

Tipografia Mestre Zinza

Imprimindo oprogresso social e econômico

Rua Antônio Barbosa, 209 Tel.: (073) 483-1130

Santa Maria da Vitória - Bahia

0 PCSSSVZO Jornal Autogestlonário Pubiicaçáo da ADERI

CGC/MF 13.243.977/0001-81 Ano XVII - N? 89 - Junho/95

Coordenador Joaquim Lisboa Neto Finanças WashingtonA. S. Simões Revisão BethGriffi Colaboradores: AfonsoMagalhães, Andréa Cerqueira, Angé- lica Rodrigues de Oliveira, Cláudio Thomás Bomstein, Cyro Camargo, Décio Paulo Spaniol, Emiliano José, Fernando Borba, Jaime Sautchuk, José Fernando F. da Silva, José QueirozM. Sobrinho, Lia Santana, Pau- lo Cezar L. Cerqueira, Rogério Ataide, Raimundo da Cruz Pereira. Editoração Eletrônica/Diagramação Franca A. Santana & Carlos Alberto Redação Rua Antônio Barbosa, 53 - Santa Maria da Vitória (BA) - CEP: 47640-000 Tel: (073)483-1130 Apoio: Sindicato dos Bancados de Brasil ia-DF Na próxima edição O POSSEIRO dará inicio à publicação de crônicas, contos e poesias de auto- ria de Bruno Martins da Cruz Neto. Ele foi o segundo santa-mariense a se/ormar em medicina. 0 primeiro foi Péricles Laranjeira (pai do juiz Raymtmdo Laranjeira). Em 1954, Bruno Neto candidatou-se a deputado estadual pela UDN na Boina. Bruno Neto foi homenageado em Maceió (AL), onde há uma rua com seu nome. E em Santa Maria da Vitória existe uma Escola Municipal de 1 ° Grau também com o nome desse filho do Coro- nel Antônio de Bruno.

VIAJE BEM..

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õ P0SSS7Z0 SANTA MARIA DA VITóRIA - BA - JUNHO DE 1995

Reportagem de capa

f l/f homenageia Santa Maria da Vitória Essa biblioteca constitui, ade-

mais, o maior centro de pesquisas uti- lizado orgânica e oficialmente pelos colégios desta cidade de 50 mil habi- tantes. Ela funcionana Casa da Cultura "Antônio Lisboa de Morais", que este ano realizará a XV Semana de Arte e Cultura, acontecimento de que anual- mente participam milhares de pessoas, na maioria jovens e trabalhadores.

Nesse particular, ao próprio pre- sidente e às 2 mil pessoas de sua recep- ção foi entregue um panfleto (que trans- crevemos nesta edição) no qual se mostra que em Santa Maria da Vitória persistem os ideais do general Leônidas Cardoso - velho lutador pela naciona- lização dos recursos estratégicos naci- onais.

Coincidentemente ou não, o que é certo é que FHC promoveu para o país todo o Grupo Escolar "Dr. José Borba" - o prefeito-mártir, fuzilado fria e covardemente em praça pública, em 1953,porum cabo daPohcia baiana, esbirro de latifundiários locais, pelo fato de ele, minutos antes, ter resgatado das mãos desse policial atrabiliário - na base do corpo-a-corpo - o mediaao proprietário de terras Vidigal do Fura- do. ^

José Borba foi o prefeito que

estimulou a fundação, em 1950, da Liga (Sociedade) dos Trabalhadores de Santa Maria da Vitória e, pessoalmente, com uma caravana de políticos e músicos, lan- çou as bases das suas sucursais no Desco- berto (na casa de Peba) e em São José dos Arrudas (na casa de Arnaldo Pereira).

Coincidência ou não, FHC havia escolhido a cidade que, depois do assassi- nato do Dr. José Borba, foi palco do assassinato a sangue frio e em plena Rua Teixeira de Freitas, no centro da cidade, do advogado do Sindicato dos Trabalha- dores Rurais de Santa Maria da Vitória e Coribe (com 3 mil associados), Dr. Eugê- nio Lyra, em 22 de setembro de 1977, dois anos antes de se fundar o periódico O POSSEIRO; palco, também, de outros bárbaros assassinatos, impunes, de cam- poneses no interior do Município, como foi o caso de Basílio Caldeira da Silva e outros.

Palco cujo povo, já cansado de tanta impunidade e da corrupção judicial, instituiu, na prática, a LEI VERBÊNIA, tomando a justiça nas suas próprias mãos. Essa "lei" surgiu quando um juiz corrupto (apoiado em políticos não menos corrup- tos), em 1988, mandou soltar os 3 bárba- ros assassinos da linda jovem estudante de medicina Verbênia Assunção Silva. O povo revoltado chegou à prisão e só encon-

•••

trou um dos delinqüentes, que foi ar- rancado das mãos dos soldados e linchado. Aindanãosaciadodasuasede de justiça, o povo queimou semivivo esse assassino, Zé de Adélia e, rápido, em caminhões, saiu perseguindo o carro da polícia, que, com o juiz, ia soltar os outros dois criminosos - Lourival e Jabiraca - na cidade vizi- nha.

Lá em Santana, centenas de po- pulares já os esperavam para aplicar a LEI VERBÊNIA, duas horas antes instituída em Santa Maria da Vitória, com pleno êxito.

O juiz escapuliu travestido de mulher e até hoje anda escondido, te- mendo ser queimado vivo.

De 1980para cá, em Santa Maria da Vitória, foro da LEI VERBÊNIA, que corrige a justiça dos corruptos, já houve cinco punições populares de delinqüentes e, no Estado da Bahia, esse tipo de linchamento já soma vári- as dezenas.

Em suma, coincidentemente ou não, o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, escolheu o melhor lugar para lançar um Progra- ma Nacional de Educação - Santa Maria da Vitória, onde existe sede de cultura e de justiça.

Viva a memória do general Leônidas Cardoso! Aqui em Sanfo Maria da Vitória persiste a espirito do Grupo de Jovens* do Jovem Fernando Henrique Cardoso

Esse Grupo de Jovens se inspirou nos ideais do saudoso general Leônidas Cardoso (pai de Fernando Henrique), pa- triota que, com outros generais e com outros Cardoso, fez nascer a Petrobrás e a política nacionalista do presidente Vargas.

Em 1954, no mesmo ano em que as transnacionais levaram Vargas ao sui- cídio, os trabalhadores de Pernambuco elegeram Clodomir Morais deputado es- tadual, enquanto os trabalhadores de São Paulo elegeram á Câmara Federal o gene- ral Leônidas Cardoso, inspirador dos ide-

ais do Grupo de Jovens do Jovem Fernando Henrique - ideais cujos frutos aqui em Santa Maria da Vitória são: 1) o jornal O POSSEIRO (16 anos circulando); 2) a Bi- blioteca Campesina (15 anos e com 15 mil volumes) e as bibliotecas infantis "Eugênio Lyra" e "Ninho de Letras"; 3) a Casa da Cultura "Antônio Lisboa de Morais" (pro- motora de 14 Semanas anuais de Arte e Cultura, o mais importante evento cultural do Oeste Baiano); 4) o Museu-Escola de Tecnologia Rural - METRU; 5) a Escola "Donos do Futuro"; 6) a videotecapohtico- cultural "Osório Alves de Castro"; e 7) a

Gráfica Mestre Zinza. São essas as entidades que com-

põem a ADERI - Associação de Desen- volvimento Rural Integrado, cujo atual presidente é Washington Antônio Sou- za Simões.

Com os mesmos ideais do gene- ral Leônidas Cardoso, um novo grupo de jovens ressurgiu, em 1950, no Con- gresso de Estudantes do Rio São Fran- cisco, composto pelos jovens: Nizan Guanaes, Litelto Guanaes, Clodomir Santos de Morais, Dilson Ribeiro, Jehová de Carvalho e Dante Batista França.

* O Grupo de Jovens do Grêmio Estudantil do Colégio São Paulo, em 194 7, impulsionou o movimento dos estudantes secundaristas. Seus dirigentes eram: Luís Ventura -presidente (hojepintormuralista);FemandoHenrique Cardoso - vice-presidente (hoje presidente

daRepübUca):SérgioIhaéPires-secretáriogeral(depoisempresário);RadahMramo-secretáriadePropaganda(liojecriticadean^ de Lorenzo -secretário de Cultura (depois vereador de São Paulo) e o santa-mariense Clodomir Santos de Morais -secretário de Divulgação (hoje coordenador do Conselho Constdtivq do Instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo, lATTERMUND).

Sérgio Ibaé Pires eDario de Lorenzo, componentes do Grupo de Jovens do Jovem Fernando Henrique Cardoso, já faleceram. Dentre os que estão vivos (e que purgaram o exílio) apenasaescrítoraRadahAbramoaindanãovisiíouSantaMariada Vitória parater a oportunidade de conhecer os resultados inspirados nos ideais do general Léonidas Cardoso.

Leia BLOCOS : o mais importante jornal poátlco-cultural brasileiro - Pedidos para Leila Míccolls ■ Caixa Postal 25.029 • 20552-970-Rlo de Janeiro-RJ - te/.: (021)208-0745

SANTA MARIA DA VITóRIA - BA - JUNHO DE 1995 0 P0SSS9R0 _ Memória Camponesa

Para agraristas, 94 foi um ano de luto Faleceram Lázaro Pena, Iracema Amaral, Joaquim Camilo, Luís Serafim e "Rochinha"

Depois de mais de um ano padecendo de uma enfermidade in- curável, faleceu, em Havana (Cuba), Lázaro Pena, fundador e presidente da Associação Nacional de Peque- nos Agricultores, ANAP.

Na Assembléia de fundação da ANAP, em maio de 1961, as Ligas Camponesas do Brasil, LCB, foram representadas por uma delegação de 120 pessoas, entre as quais os diri- gentes Francisco Julião, Clodomir Morais e Alexina Crespo.

Em dezembro, no Rio de Ja- neiro, faleceu, vítima de um aneurisma na aorta, a Dra. Iracema Amaral (psiquiatra), sergipana, diri- gente do Conselho Estadual das Li-

gas Camponesas do Estado do Rio e membro da Direção Nacional das Ligas Camponesas do Brasil.

Iracema Amaral foi encarregada da segurança dos militantes estrangei- ros: os portugueses padre Alípio de Freitas, o professor José Lima e o estu- dante angolano José Gonçalves, antes e depois do Golpe Militar de 64.

O seu comportamento de mili- tante conseqüente levou-a várias vezes às prisões da ditadura militar. Antes de falecer mostrava-se feliz com a vitória de sua filha, Dra. Solange Amaral, ex- secretária de Estado da Ação Social do Estado do Rio de Janeiro, eleita no último pleito deputada estadual pelo Partido Verde (PV).

Joaquim Camilo e Antônio Rocha ("Rochinha") faleceram com 75 e 62 anos respectivamente. O primeiro era o quadro das Ligas no município de Moreno (PE) e o segundo foi organizador de Ligas Camponesas em Pernambuco e membro do disposi- tivo de treinamento guerrilheiro em Dianópolis (GO), em 1962. O "Preto Camilo", como era mais conhecido, e "Rochinha", no final da década dos 60, estavam integrados à unidade de luta guerrilheira urbana e rural chefiada por um dos Dirigentes Militares das Li- gas, Mariano da Silva (alcunhado "Sacristão" e, depois, "Loyola", até ser preso, torturado e assassinado pelas forças de repressão da ditadura).

Faleceu Luís Serafim das Ligas Camponesas Faleceu Luís Serafim, agitador

e combatente das Ligas Camponesas de Francisco Julião, que, na última semana ou quinzena de março de 64, em uma reunião com o governador Miguel Arraes, às 4 horas da manhã, na casa grande do Engenho "Serra", de Alarico Bezerra, foi induzido a convencer tís três mil camponeses (que invadiram aquela propriedade) de que deveriam desocupá-la, sob pena de intervenção federal em Pernambuco, para fazer valer a decisão da Justiça.

Tarefa difícil e ingrata, porque ele e a Direção Nacional das Ligas Camponesas do Brasil, de há muito, desde a queda de Jânio Quadros sabi- am que o golpe militar de direita era questão de tempo e, por isso, poderia ser no mês seguinte. Daí por que as LIGAS tratavam de levar o campesinato aexercíciosreais de ações de massas a fim de aprender como resistir ao golpe de direita dos latifun- diários.

Luís Serafim tinha ficado fa- moso desde abril de 1961, quando recrutou 3 mil pessoas do campo e da cidade para formar a Brigada Campo- nesa que iria combater em Cuba contra os invasores de Playa Girón, naquela frustrada ação dos anticastristas, pa- trocinada pela CIA na Baya Cochinos.

Foi naquela oportunidade que Fidel, ao saber que também os argen-

tinos haviam recrutado 5 mil pessoas para sua brigada, formulou um singular agrade- cimento a esses dois atos de solidariedade. dizendo a Julião e a Ghioldi que em Cuba já havia suficientes combatentes e que o me- lhor seria que aquelas brigadas de solidari- edade ficassem lá mesmo em seus respecti- vos países preparando-se para enfrentar os golpes militares pró-imperialistas. Dizia o líder cubano que essa seria a melhor forma de "solidariedade proletária", porque, com a resistência armada no Brasil e na Argenti- na, evitar-se-ia que os exércitos desses paí- ses dispusessem de soldados para somar-se aos "gringos" na intervenção nos países que não rezassem por sua cartilha, como acon- teceu, meses depois, com a intervenção na República Dominicana.

Apartir dessa reflexão é que as Ligas Camponesas trataram, desde 1961, de im- provisar um esquema armado, cuja "cons- trução" estava prevista somente para 1968/ 69.

A ocupação de Vitória de Santo Antão-PE (25 mil habitantes) constituiu a mais importante, senão a única no país, ação armada de resistência ao Golpe de 64. Foi uma manobra digna de elogio, apesar do tradicional atraso dos camponeses em ma- téria de organização. Com efeito, armados de foices^yarapaus e escopetas, cercaram a Delegacia de Polícia. O delegado, que pen- sava que aquela ação era mais uma passeata de camponeses, foi surpreendido pela inva- são da delegacia-quartel e a exigência de

abandonar imediatamente a cidade. Uma vez distribuídos os fuzis e revól- veres dos policiais com camponeses reservistas, tomaram a seguir a estação de rádio local, os postos de gasolina e os silos da CAGEP.

Ocupada por 2 mil camponeses desnutridos, não houve, no entanto, saques nem violência a indivíduos ou ao patrimônio individual, pois esta- vam certos de que logo chegariam da capital armas e alimentos resultantes da resistência do Recife ao Golpe Mi- litar. Como a "banda não tocou", frus- trados os milhares de camponeses e seus líderes (Serafim, Maria Celeste, Miro, Rochinha e outros) abandona- ram a cidade e se esconderam, no dia 2 de abril.

Por ser militante das Ligas nes- sas horas. Serafim purgou 7 anos na Detenção do Recife, onde foi assassi- nado aquele que, em 1964, o tinha recrutado para o PC do B - Amaro Luís de Carvalho, "Palmeira", mais tarde conhecido como "Capivara".

Esse famoso Líder das Ligas, Luís Serafim, foi carregado às costas pela história do campesinato, pois, como sapateiro remendão urbano, não acalentava outro sonho maior do que de ser, algum dia, eleito vereador de Chã de Alegria, sua terra natal..., se- gundo revelou aos seus companheiros de prisão.

Õ PõSSSVZO SANTA MARIA DA VITóRIA - BA - JUNHO DE 1995

Crime em 5anfo Maria ia Vitória

Presos acusados da morte do italiano Um advogado, um fazendeiro eatéo delegado

de Santa Maria da Vitória estão envolvidos

0 misterioso desaparecimento do industrial italiano Doménico Masetti, que no final de 1993 saiu do Rio de Janeiro para adquirir terras no Oeste baiano, foi desvendado ontem pela policia baiana. O industrial foi enve- nenado, sepultado vivo em uma cova rasa no Cemitério da Cigana, na pe- riferia da cidade de Correntina, no Além São Francisco, depois de ter pago 220 mil dólares poruma área de terra em Santa Maria da Vitória que não existia.

Já estão presos, com preventivas decretadas, os autores do crime, o advogado Moisés de Oliveira, o se- cretário da Prefeitura de Santa Maria da Vitória, Erasmo Carneiro Monteiro, o fazendeiro Manoel Alves da Rocha e o pistoleiro Lourenço PereiraNovais, oNem. Também está envolvido no crime o delegado regi- onal de Santa Maria da Vitória, te- nente Luiz Augusto Normanha de Carvalho, que ontem mesmo foi exo- nerado da função, em ato do gover- nador Paulo Souto.

As investigações foram realiza- das pelo delegado especial Carlos Anselmo da Fonseca, regional de Brumado, designado para a missão pelo secretário da Segurança Públi- ca, Francisco de Andrade Netto, a pedido do Ministério Público e do Consulado Italiano.

Para desvendar o crime, inicial- mente o delegado, usando um carro chapa, fria, prendeu o pistoleiro Nem quando ele saía do fórum de Santa Maria da Vitória. Levado paraomeio do mato e julgando que tinha sido seqüestrado por bandidos vindos do Rio de Janeiro, o pistoleiro concor- dou em apontar o local onde o italia- no estava sepultado.

Feita a exumação (coleta de res- tos mortais), Nem confessou tudo. O italiano tinha sido envenenado du- rante um chunasco na chácara do advo- gado Moisés de Oliveira e, a título de socorro, foi levado até Correntina, onde acabou sendo enterrado vivo. O delegado Carlos Anselmo pediu a" prisão provisória de todos os impli- cados, logo decretada pelo juiz de Caetité e substituto de Correntina, Argemiro de Azevedo Dutra.

De posse do documento, o dele- gado agiu rápido e prendeu Erasmo Carneiro Monteiro quando ele viajava de SantaMariada VitóriaparaBrumado. O fazendeiro Manoel Alves da Rocha foi preso em Santa Maria da Vitória, e o advogado Moisés de Oliveira foi detido pela advogada Isolda Amorim, ao sair ontem de uma audiência no fórum de Barreiras. Jornal Bahia Hoje, 15.3.95

Envenenado durante churrasco

O italiano morreu ao tentar se estabelecer no Oeste baiano com um vultoso projeto agropastoril. Seu advogado, com escritório no Rio de Janeiro, o colocou em contato com o advo- gado Moisés de Oliveira, em Santa Maria da Vitória/e o acer- to para a compra da terra foi definido.

O italiano chegou a sobrevo- ar de helicóptero a área a ser adquirida, efetuando cinco pa- gamentos ao grupo. Inicialmen- te foi 45 mil dólares, depois 35 mil, 100 mil na assinatura da promessa de compra e venda e, finalmente, em 26 de dezembro de 1993, de 40 mil dólares na assinatura dá escritura. Um chur- rasco foi marcado e realizado no dia 2 de janeiro do ano passado no sítio do advogado Moisés de Oliveira, para comemof ar a pos- se do italiano.

Só que não havia terra algu- ma e tudo não passava de arma- ção do advogado e dos seus comparsas para extorquir© em- presário. Por isso mesmo, o ita- liano Doménico Masetti foi en- venenado. Como havia muitas pessoas no churrasco, eles si- mularam um socorro e levaram Doménico Masetti em seu pró- prio carro, um Opala, e o enter- raram vivo em Correntina. O carro, eles abandonaram no lo- cal depois de tentar incendiá-lo.

Jornal Bahia Hoje, 15.3.95

Advogado tramou assassinato de italiano

Foi encontrado enterrado em cova rasa no Cemitério dos Ciganos, na estrada que liga os municípios de Santa Maria da Vitória a Correntina, o corpo do industrial italiano Doménico Masetti. Segundo denúncias da mu- lher que mora no Rio de Janeiro, Maria Helena de Oliveira Masetti, ele estava desaparecido desde janeiro de 93. Há indícios, inclusive, que o estrangeiro tenha sido enterrado ainda com vida, depois de um churrasco na fazenda do advogado Moysés de Oliveira, onde foi envene- nado, depois de pagar US$220 mil pela compra de uma fazenda fictícia.

A prisão do pistoleiro Lourenço Perei- ra Novaes, 34 anos, conhecido por "Nê", facili- tou as investigações, conforme revelou o dele- gado designado para o caso, Carlos Anselmo Pereira da Fonseca, diretor da 24" Divisão Regi- onal de Polícia de Brumado. após confissões de "Nê", foram presos o secretário da Prefeitura de Santa Maria da Vitória, Erasmo Carneiro; o advogado Moysés de Oliveira, e Manoel Alves

^da Rocha, um fazendeiro próspero da região. O tenente PM Luiz Augusto Normanha de Carva- lho, que, na época, era titular da Delegacia de Polícia da cidade, está com prisão preventiva decretada e sua exoneração foi determinada ontem, no final da tarde, pelo secretário da Segurança Pública, Francisco Andrade Neto. Todos deverão ser transferidos para Salvador, por medida de segurança, conforme entendi- mento que o secretário está mantendo com o juiz Argemiro de Azevedo Dutra.

Em meados de junho de 1993, Doménico manteve uma transação comerciai com Mário da Silva, estabelecido em Copacabana (Rio de Janeiro), e foi apresentado a Moysés, que advogava em Santa Maria da Vitória, onde o industrial pretendia investir na agrupecuária, conforme relato da mulher, Ma- ria Helena Masetti. Por diversas vezes, o advo- gado baiano visitou Doménico, no Rio de Janei- ro, conquistando a confiança da família, intermediando, inclusive, a compra de uma fazenda por US$220 mil - a primeira parcela de US$40 mil, a segunda de US$35 mil; mais US$100 mil no ato da assinatura da escritura e outros US$40 mil pagos no dia 26 de dezembro de 1993, via agência bancária, em nome do fazendeiro Manoel Alves da Rocha.

Conforme relato do delegado Anselmo, após ouvir Lourenço. o industrial chegou à cidade e foi apresentado a Erasmo Carneiro. Soube que Doménico queria comprar uma fa- zenda e citou o nome de Manoel da Rocha, apresentando, em seguida, toda a documenta- ção do fazendeiro, da qual tinha posse, porque estava formando com ele uma empresa de ex- ploração de minério, conforme alegou no depo- imento tomado na delegacia. Os documentos foram parar nas mãos de Moysés, que providen- ciou o contrato de compra e venda e, estranhamente, assinou por Manoel, estabele- cendo também as parcelas.

Todas as prestações foram pagas atra- vés da agência bancária do Bradesco e, ao receber a última, no valor de US$40 mil, ficou acertado um churrasco na fazenda do advoga- do, quando o industrial deixou de dar notícias à família, no dia 26 de janeiro. Após a prisão de Lourenço, o delegado ficou sabendo que a tra- ma estava arquitetada antes mesmo de o italiano chegar à cidade. Fariam a festa e, durante a comemoração, ele seria envenenado.

A Tarde (Salvador-BA), 15-02-95

SANTA MARIA DA VITóRIA - BA - JUNHO DE 1995 0 PõSSSTRõ

CASA DE LENÇÓIS Um livro

encantador

Fanny Abramovich

Eis que surge um novo livropra crianças. Edi- tado pela CASA DA CUL- TURA "ANTÔNIO LISBOA DE MORAIS", um centro cultural ativo e incansável de Santa Maria da Vitória, na Bahia. Mais uma vez a Casa da Cultura mostra au- dácia e preocupação com a literatura para crianças. Depois de atividades inces- santes na Biblioteca Campesina (e suas inúme- ras "filhotas "), agora a edi- ção. Quantas cidades pode- riam imitara exemplo... Até as bem maiores não estão nem aí para abarcar essa tare/a. Uma iniciativa que se aplaude de pé, se pede bis e se torce para que tenha uma rica continuidade.

Flora Maria, de Teresina (PJ), moradora de Porto Velhp, em Rondônia, lança seu primeiro livro. Um todo sensíveC um texto deli- cado. Sua linguagem poéti- ca escorrega pelas páginas:

"Aquecido em vários sóis", "Pelas frestas das cadeiras", "Neste mundo de menina / Que estou a seu aguardo". Flora Maria narra uma história cur- ta, falando das sensações e emo- ções da meninice ensegregada. Mantém viva a proporção in- fantil, não perde de vista a per- cepção da criança. Tudo num tom aconchegante, carinhoso, que nos faz ler embalando com a voz macia. Uma autora que se inicia dando provas de talento. Mais uma torcida para que te- nha um futuro promissor e che- inho de novas e envolventes pro- duções.

As ilustrações de S. Néry, arte-finalizadas por Sandra Castro, mantêm a delicadeza do texto. Mais insinuam do que revelam. Fazem com que o ima- ginário do leitor vá complementando as situações/ momentos/ângulos. Suaves.

Um livro que deve en- cantar a quem o ler. Que você seja um dos primeiros e passe logo adiante seu encantamento e alegria pelos momentos boni- tos que essa leitura lhe propor- cionará.

De parabéns a autora, o ilustrador e a editora. São Paulo, 31 de março de 1995.

A REVOLUÇÃO IMPOSSÍVEL DE LUÍS MIR

Nesse excelente livro, lamentavelmente, Luís Mir comete várias incorreções baseado em declarações ir- responsáveis de Paulo Schilling (membro do PCB) e Brizola, que tinham ciúme e despeito das Ligas Campo- nesas. Mir registra Julião como um covarde e um men- tiroso. Covarde por mergu- lhar na clandestinidade nos dias da queda de Jânio Qua- dros; e mentiroso porque dis- se ao governador Brizola que contava com cem mil campo- neses capazes de tomar as cidades nordestinas e, no entanto, os camponeses não afizeram.

Puro subjetivismo tendencioso. Onde estaria o medo de Julião se ele.

durante dois lustros, liderou as lutas camponesas em uma re- gião onde os latifundiários freqüentemente assassinavam partidários da Reforma Agrá- ria? Ademais, não se precisa ser psicólogo para saber que um líder carismático desconhe- ce o medo e, não raro, até chega a buscar corajosamente o mar- tírio, como ocorreu com Antô- nio Conselheiro, Sandino e ou- tros.

E quanto aos cem mil camponeses, Brizola os confun- dia com soldados aquartelados cdmo os da Brigada Militar ou do Exército, que basta tocar uma cometa para reuni-los to- dos em poucas horas. Mir se esquece, ou desconhece, que, no início de 1964, apesar de o Governo de Pernambuco e o PCB (participante do governo) serem contra Julião, lhes foi impossível impedir que duzen- tos mil trabalhadores das usi- nas e engenhos acatassem a

Luta Armada no Brasil dos anos 60/70

Movimentos de Resistência sob uma ótica honesta

Se formos nos orientar pelo que relata a grande imprensa bra- sileira sobre a luta do nosso povo embuscadaliberação, correremos o inevitável risco de sermos ludi- briados, pois os meios de comuni- cação (capitaneados pela Rede Globo) primam pela distorção dos fatos, sempre em favor dos opres- sores.

Os verdadeiros heróis bra- sileiros são, quase sempre, trata- dos pela imprensa burguesa como terroristas, bandidos, baderneiros, etc. Assim também são considera- dos os movimentos que se caracte- rizavam pela resistência e pelo combate à ditadura militar.

A luta dos brasileiros pela derrubada do capitalismo e conse- qüente implantação do socialismo em nosso país foi, é e sempre será combatida a ferro efogo pelos que monopolizam a imprensa no Bra- sil.

Mas nem tudo está perdi- do. A resistência dos revolucioná- rios é indestrutível.

Como prova disso, acaba de ser editado o livro Luta armada no Brasil dos anos 60 e 70. O jornalista Jaime Sautchuk, seu au-

tor, um dos autores da primeira obra escrita sobre a guerrilha do Araguaia (1978) e do livro Projeto Jari - A Invasão Americana,analisa com hones- tidade aquele período de nossa história, quandoa repressão era exercida da maneira mais per- versa possível. Sautchuk, como repórter, sempre atuou em ques- tões de interesse popular e com o vídeo Balbina - Destruição e morteganhou o prêmio Vladimir Herzog e o Festival de Havana (Cuba), em 88.

O livro é recomendado principalmente para estudantes de 2°grau, se bem que a leitura é, inegavelmente, importante para todos aqueles que preten- dam saber sobre os movimentos armados, a influenciada revolu- ção cubana nesses movimentos, as guerrilhas de Formoso, Trom- bas, do Araguaia e outras (co- mandadas por Lamarca e Marighella, por exemplo), as Ligas Camponesas e os antece- dentes do golpe militar de 64, dentre tantos outros temas de grande interesse no que tange à História Brasileira de passado recente.

Esse novo livro de Jaime Sautchukvem, portanto, em boa hora. E tomara que tenha o me- recido êxito nas livrarias, nas escolas e que ao povo lhe seja dada a oportunidade de lê-lo, estudá-lo.

palavra de ordem da greve ge- ral do Conselho Estadual das Ligas Camponesas.

Evidentemente, essa mobilização exigiu meses de preparação. Se Brizola e Schilling desejavam que com um toque de cometa as Ligas pusessem em marcha cem mil camponeses, por que, então, eles, que estavam no poder no Rio Grande do Sul, não toca- ram o clarim para que sua Bri- gada Militar e seu aliado, gene- ral Machado Lopes (comandan- te do III Exército, o mais bem- armado do país), ocupassem pelo menos as capitais mais pró- ximas, Florianópolis e Curitiba?

Vai ver é que estavam, outra vez, esperando primeiro correr sangue de algum novo João Pessoa... Porque os márti- res têm que ser do Nordeste, já que o Sul só dá heróis... Eis aí um dos "porquês" ignorados por Mir em A Revolução Impos- sível.

Clodomir Morais Contos Verossímeis

Volume! • Pedro Bunda • "Causos" de Sentinela Volume 2 •Mestre Ambrosia • O ladrão da calça de casimira

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SANTA MARIA DA VITóRIA - BA - JUNHO DE 1995

Inquiefações da adolestêntia Fanny Abramovich * Especial para O POSSEIRO

Período turbulento esse da ado- lescência. Desabrocha a sexualidade e aí começam os namorícos, os flertes, as dúvidas sobre "ficar" ou não com o paquera, as perguntas sobre a perda da virgindade, as primeiras e marcantes transas.

Momento em que o grupo, a patota se toma mais importante do que a família. E há a culpa por não confiar mais tanto nos pais e as totais confiden- cias para as/os amigas/amigos. Peito aberto para tudo contar, para tudo par- tilhar, para fazer pactos e planos alta-

mente secretos. Momento em que há a necessidade de participar dum grupo: seja político, teatral, ecológico ou de zorrar mesmo. Mas fazer parte dum conjunto. Não se manter só, desalinhado duma pa- tota cobiçada e esperada.

Fase em que a escola começa a perturbar muito, o trabalho se impõe como vontade maior. Necessidade de ser inde- pendente, deixar de ser rpau-mandado, realizar cortes com tudo qu| refreia, que cobra, que aperta. É quando se quer morar sozinho, mudar de cidade, sair de casa, alterar a atividade básica e por anos repe-

tida, sonhar com grandesviagens. Man- dar no próprio nariz, ser capaz de tomar decisões e arcar com elas. Deixar de lado a meninice com tudo que traz de impotência e amarras.

É quando também surgem os caminhos escapistas, quando a realida- de é mais forte do que o desejado. E aí experiências com drogas, porres homéricos, fugas de todo tipo e quali- dade. Que não ajudam nada a enfrentar o que precisa mesmo ser encarado. Com cara limpa.

Sobretudo a fase dos grandes conflitos. Começam a se avolumar as dúvidas sobre tudo e sobre todos. Inde- cisões e inseguranças. Necessidadede romper com a autoridade, de dizer NÃO para a família,para osprofessores, para o padre, para o pastor, para o bibliote- cário e quem mais passar pela frente. Mostrar-se capaz de romper, de abrir a facadas o seu próprio caminho.

Bonitas as inquietações da ado- lescência. Uma fase vibrante, rica, tur- bulenta. Cansativa para quem está do lado. Sofrida para quemaestá vivendo. Passos importantes do crescimento. Adolescência é uma fase para ser cur- tida com tudo que se tem direito. Por inteiro. Pra valer.

Fanny Abramovich, escritora, pedagoga, autora de - entre outros -

Quem manda em mim sou eu!; As voltas do meu coração; Espelho, espelho meu; O

professor não duvida! Duvida?; O estranho mundo que se mostra às crianças e Que

raio de professora sou eu?

Nasce uma biblioteca em Rondônia

O vôo do pássaro Umpá Camila Magalhães*

O sol dourado nasce esquentan- do as matas e o solo fértil. Urupa (leia-se Umpá) arrepia suas penas brilhantes e lustrosas, estufa o peito, enchendo-o de ar, o canto melodioso e nostálgico toma parte do coral composto por araras, pe- riquitos, macacos, tucanos, etc. Urupa levanta vôo para mais um dia.

Homens, mulheres, jovens e cri- anças saltam da cama cedo. Os homens se preparam para a labuta, a luta pela sobrevivência, enquanto as mulheres pre- param o líquido preto e quente; as crian- ças vão para a escola e, preguiçosamen- te, cachorros e gatos tomam sol.

E os jovens ? Ganham a imensidão azul, as águas turvas, os verdes das ma- tas e o colorido dos pássaros. Sim, mas também vão para a escola ou para o trabalho. Jovens ansiosos, que têm den- tro do peito um sentimento, uma força que quer sair mas não pode, não dá; e a juventude não agüenta mais sersufocada. Este é um povo humilde, com jovens que

querem conhecera mundo, o seu povo easi mesmo através dos livros.

Como? Onde? Aqui, na BIBLIOTE- CA COMUNITÁRIA "RODA-VWA", pe- quena e apertada fisicamente, mas já aguer- rida e disposta a contribuir decisivamente para o crescimento cultural de nosso povo, principalmente as crianças e os jovens. Em lugar do marasmo e da apatia, nossa bibli- oteca se propõe instaurar a ludicidade, o alvoroço, a agitação, enfim muitas traqui- nagens e estripulias.

Essa é a primeira biblioteca de Urupa, e vai ser por intermédio dela que nossos habitantes, nossos leitores bus- carão conhecer mais do mundo, da vida, expandindo o horizonte de quem não quer se deixar oprimir.

A BIBLIOTECA COMUNITÁRIA "RODA-VIVA ", sem sombra de dúvida, vai desempenhar um papel de grande impor- tância para nossa região, que, diga-se de

■passagem, está em fase de desenvolvimen- to. O que impede, pelo menos em parte, nosso crescimento social, econômico, cul- tural e político é o comodismo da maioria, que acha que tudo pode e deve ser feito pelos governantes. Não sabem viver sem prefeito, padre ou delegado. E o governo é

um ser que so quer sugar nosso povo, não lhe dá a mínima assistência.

A nossa biblioteca está surgindo graças ao esforço de alguns jovens desta cidade, que acreditam na cultura como força transformadora da sociedade. En- frentando todo tipo de obstáculos, dentre os quais a falta de recursos financeiros, o fato de Urupa estar distante dos grandes centros, a dificuldade para adquirir li- vros, além da maldita politicagem que certamente vai tentar reprimir nosso tra- balho, mesmo assim combateremos com garra para levar nossa causa adiante. Ressalte-se o grande e incondicional apoio que o vereador Antônio Ferreira de Sousa Dias está dando ao nosso pro- jeto.

Nós nos empenharemos em difun- dir o "vício " (como diz a escritora Fanny Abramovich) da leitura, contribuir para o desenvolvimento da consciência critica e organizativa de nossa gente, para, des- sa maneira, formar cidadãos livres, cons- trutores de uma sociedade progressista, justa e igualitária.

^Fundadora e coordenadora da Biblioteca Comunitária "Roda-Viva"

SANTA MARIA DA VITóRIA - BA - JUNHO DE 1995

De olho no Congresso

Governo velho e olho-gordo!

ô PõSSSVZO

Tendo feito uma campanha base- ada em seu passado de esquerda e prome- tendo "reformas necessárias e urgentes", FHC chega ao terceiro mês de governo. Governo já com cara de velho. Durante a campanha era "o Real está dando certo". Agora, reivindica mudanças na Consti- tuição, para o Plano andar. Um plano "barriga-d^gua", como bem disse o se- nador Lauro Campos (PT-DF), já que baseado em reservas de capitais especulativos (cerca de 40 bilhões de dólares), utilizados para subsidiar im- portações. Baixaram a cesta básica das classes média e média alta e subiram a cesta básica dos pobres!

Dentre as reformas prioritárias para o governo, figuravam: reformas previdenciária e tributária, fim dos mo- nopólios, mudança no conceito de em- presa brasileira Agora, viraram tudo de cabeça pra baixo. Sorte nossa estarmos a dois passos do México e a um passo da Argentina.

"Se vocês querem fazer um go- verno para salvar o Brasil, têm que seguir o mc*ielo mexicano", dizia Lloyd Bentsen, Secretário do Tesouro dos EUA, em maio de 1993. O modelo mexicano - abertura comercial irrestrita, desempre- go, privatização, balança comercial em

Andréa Cerqueira*

déficit - ruiu e provocou um efeito tão daninho, similar a uma bomba de efeito retardado. Tendo vendido praticamente tudo que tinha, o México teve que empenhar o próprio petróleo como garantia para obter mais empréstimos internacionais e sair do buraco. E a soberania daquele país saindo pelo ralo.

Com um olho aqui e outro lá, o governo FHC mudou de "banda" e, ao invés de desvalorizar o real, optou por aumentar as alíquotas de importação. Agradou a seto- res do empresariado nacional e adiou a chegada da avalanche ao Brasil.

Junte-se a isso o fato de os próprios aliados do governo estarem divididos em relação a alguns temas polêmicos, como a Reforma da Previdência. (Estima-se que, em 10 anos, os fundos de previdência po- dem acumular recursos de 150 bi de dólares, ou 30% do PIB brasileiro). Seguradoras privadasebanqueirosestão quietinhos, guar- dando esse grande tesouro para a agiotagem internacional. Resultado: pé no freio das Reformas da Previdência. O PT, em boa hora, também decidiu retirar o projeto sobre o mesmo assunto, do deputado federal Eduardo Jorge (PT-SP), bastante similar ao do governo.

Agora, o governo pretende centrar fogo na Reforma Tributária e na venda das

estatais. Quer fazer caixa para cobrir o déficit público. Até a Companhia Vale do Rio Doce, a maior produtora de minério de ferro do mundo, deve entrar na dança. E, nessas lutas, os partidos de esquerda (não todos: o PPS do senador Roberto Freire apoia as privatizações) estão jun- tos e contam com figuras ilustres "do outro lado", que têm assumido posturas nacionalistas e antiprivatizantes, melho- res que as de muitos parlamentares ditos "de esquerda". Alguns exemplos: os se- nadores Odacir Soares e Josaphat Mari- nho (PFL), Gilvan Borges e Roberto Requião (PMDB).

Quanto à Reforma Tributária, o PT pretende defender a progressividade dos impostos diretos, a regulamentação do imposto sobre grandes fortunas (pro- jeto do ex-senador FHC - sic) e o fim do sigilo bancário para efeito de fiscalização tributária.

A tendência dos parlamentares comprometidos com o patrimônio e a soberania nacional é dizer "não" à venda do que é público e b ater na tecla de que só a redistribuição da renda e o conseqüente aumento do mercado consumidor interno (e não a contenção da demanda e o conge- lamento da pobreza) permitirão o desen- volvimento e a verdadeira estabihdade social do país.

* Andréa Cerqueira é jornalista, colabora- dora d'O POSSEIRO, componente do

CDR/DF - Comitê de Defesa da Revolução Cubana e assessora do senador Lauro

Campos (PT-DF)

Vem aí a terceira ADERI A primeira Associação de Desenvolvimento Rural Integrado

(ADERI), foi fundada em 1982, em Santa Maria da Vitória (BA), por Joaquim Lisboa Neto, fundador de O POSSEIRO. De lá para cá a constelação de módulos que forma a ADERI, além deste jornal, apareceram a Casa da Cultura "Antônio Lisboa de Morais", a Tipografia Mestre Zinza, o Museu-Escola de Tecnologia Rural - METRU, a Videoteca 'Osório Alves de Castro", a Biblioteca Infantil "Ninho de Letras", a escola primária "Donos do Futuro" o a Biblioteca Campesina (com 15 mil volumes), onde os colégios locais pagam para que sejam atendidas anualmente milhares de pesquisas feitas por seus alunos.

A segunda surgiu em Pernambuco, depois que Luis de Carva- lho participou, em 1988, do Laboratório Organizacional de Centro realizado pelo Movimento do* Trabalhadores Rurais Sem Terra, em Palmeira das Missões (RS) e em seguida fez um curto estágio na ADERI baiana. Com efeito, juntamente com Epitácio Ferreira, Luis fundou no ano seguinte a ADERI de Joaquim Nabuco (PE). O módulo principal da segunda ADERI é a Unidade de Mecanização Agrícola que mantém associados 96 pequenos produtores.

Uma terceira ADERI está prestes a ser registrada no município de Urupa (RO), cujo projeto encabeçam os mesmos técnicos em capacitação massiva que dirigiram, em 1989, o Laboratório Organizacional de Sextinha, em Alvorada do Oeste (RO), o técnico agrícola Antônio Ferreira Dias e a professora Adelaide Magalhães, coadjuvada por Camila Magalhães, bolsista do Instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo (IATTERMUND) e estagiária da primeira ADERI. Os módulos principais da terceira ADERI, ao que tudo indica, serão as estruturas associativas que cuidarão dos serviços de Água Potável e de Eletrificação Rural.

(publicado originalmente no Informativo Interno do IATTERMUND, n' 1 - feverelro/95)

a ADERI pernambucana A Associação de Desenvolvimento Rural Integrado -

ADERI do município de Joaquim Nabuco, Estado de Pernambuco, completou três anos de vida. Os dois primeiros anos foram duros, como costuma ocorrer com as empresas de participação social autogestionária nas áreas mais atrasadas do país.

Depois de acumular experiências, a ADERI-PE conse- guiu financiamento regular para um grande projeto de estrutura associativa, integrada por 87produtores rurais, parceleiros. A sede da ADERI de Joaquim Nabuco e um grande trator com todos os seus implementos constituem os insumos indivisíveis ao redor dos quais se reúnem seus associados.

A ADERI pernambucana foi fundada por Epitácio Ferreira e Luís de Carvalho, depois que este esteve no Labora- tório Organizacional de Palmeira das Missões, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST, em 1988, e de haver visitado a ADERI de Santa Maria da Vitória, no Estado da Bahia.

O projeto com que se criou a ADERI de Joaquim Nabuco contempla a organização de uma Biblioteca dos Trabalhadores, a Casa da Cultura "Amaro Luís de Carvalho" e um Museu- Escola de Tecnologia Rural, orientado pelo artista plástico de fama nacional Alves Dias. Tudo isso tem o objetivo de contribuir para a redução do desemprego da área úmida do Estado de Pernambuco.