cogniÇÕes de educadores/cuidadores de instituiÇÃo de … · 2019. 12. 12. · estou. agradeço...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO
ANDRÉA IMBIRIBA DA SILVA
COGNIÇÕES DE EDUCADORES/CUIDADORES DE
INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO SOBRE ATIVIDADES
LÚDICAS E HABILIDADES SOCIAIS
Santarém - PA
2019
ANDRÉA IMBIRIBA DA SILVA
COGNIÇÕES DE EDUCADORES/CUIDADORES DE
INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO SOBRE ATIVIDADES
LÚDICAS E HABILIDADES SOCIAIS
Dissertação de Mestrado Acadêmico apresentada junto
ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em
Educação (PPGE) da Universidade Federal do Oeste do
Pará (Ufopa) como requisito para a obtenção do título de
Mestre em Educação.
Orientadora: Prof. Drª. Irani Lauer Lellis
Linha de Pesquisa 3: Formação humana em contextos
formais e não formais na Amazônia.
Santarém - PA
2019
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/UFOPA
S586c Silva, Andréa Imbiriba da Cognições de educadores/cuidadores de instituição de acolhimento sobre
atividades lúdicas e habilidades sociais. / Andréa Imbiriba da Silva. – Santarém,
2019.
156 p.: il.
Inclui bibliografias.
Orientadora: Irani Lauer Lellis
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Oeste do Pará, Instituto de Ciências
da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação.
1. Atividades lúdicas. 2. Cognições. 3. Habilidades sociais. I. Lellis, Irani Lauer,
orient. II. Título.
CDD: 23 ed. 370.152 Bibliotecário - Documentalista: Renata Ferreira – CRB/2 1440
ANDRÉA IMBIRIBA DA SILVA
COGNIÇÕES DE EDUCADORES/CUIDADORES DE
INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO SOBRE ATIVIDADES
LÚDICAS E HABILIDADES SOCIAIS
Dissertação de Mestrado Acadêmico apresentada junto
ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em
Educação (PPGE) da Universidade Federal do Oeste do
Pará (Ufopa) como requisito para a obtenção do título de
Mestre em Educação.
Orientadora: Prof. Drª. Irani Lauer Lellis
Linha de Pesquisa 3: Formação humana em contextos
formais e não formais na Amazônia.
Conceito:
Data de Aprovação: 16 /04/2019
Dedico esta pesquisa a Deus, à minha família e
a todas as pessoas que lutam pela igualdade
social e pelos direitos de crianças e
adolescentes.
AGRADECIMENTOS
Muitas vezes achei impossível chegar ao final do mestrado, mas finalmente aqui
estou. Agradeço primeiramente a Deus, o senhor de todas as coisas e responsável por minha
existência, responsável por tudo que acontece na minha vida, ele que me dá força para enfrentar
os momentos em que senti medo, insegurança, tristeza, por me fazer entender que nada acontece
por acaso.
A meus pais, Edna e Vallindo (in memorian), pois mesmo com dificuldades nunca
deixaram de proporcionar educação para todos os filhos, ensinando valores através do exemplo
de vida, incentivando sempre a buscar mais estudo, apoiando as minhas decisões. Em especial
minha mãe, que me ajuda com o cuidado de meus filhos, quando por infinitas vezes tive que
me ausentar para desenvolver atividades do mestrado.
À minha família, ao meu marido, Adarlindo, e aos nossos filhos, Ágatha e Ândreo,
por estarem sempre comigo, meus companheiros, que a todo momento me faziam lembrar que
estavam por perto, obrigada por me ajudarem tanto e por aguentarem as minhas ausências
enquanto eu estudava e escrevia, me dando forças quando eu achava que não ia conseguir
realizar essa travessia.
A todos os professores do Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal do Oeste do Pará - PPGE/Ufopa por compartilhar seus conhecimentos
aos acadêmicos da Turma de Mestrado 2017, proporcionando discussões e momentos de
aprendizados.
À minha querida professora orientadora, Dra. Irani Lauer Lellis, profissional
dedicada, serena e sábia, por ter me acompanhado durante este período, compartilhando seus
conhecimentos e colaborando com minha formação acadêmica. Registro a minha admiração e
respeito por sua pessoa, exemplo de ser humano digno e íntegro em todas as suas ações.
Agradeço pela confiança e o incentivo para a conclusão deste trabalho.
À Professora Drª. Sheila Giardini Murta – UnB, a professora Dr. Iani Dias Lauer
Leite e ao Professor Dr. Hergos Ritor Fróes de Couto- Ufopa, membros da banca desde a
qualificação. Registro meus agradecimentos por suas contribuições e por tê-los na banca
avaliadora desta dissertação de mestrado.
Aos integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas Habilidades Sociais e Educação
(Ghasoe) por contribuírem com as discussões e aprofundamento dos estudos sobre habilidades
sociais, em especial às amigas Nizianne Andrade Picanço e Núbia dos Santos Oliveira por terem
contribuído incansavelmente nas análises dos dados, meu muito obrigada.
A todos os meus amigos de trabalho, principalmente as amigas Ananda, Fabíola e
Maria, pelo incentivo, demonstração de amizade, gestos de carinho e apreço, estando sempre
na torcida e em orações para que esta etapa fosse concluída com êxito.
A Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTRAS) de Santarém
por autorizar a realização da pesquisa na casa de acolhimento municipal. À coordenadora da
instituição, Ironeide Pereira dos Santos Sales, por ter atendido sempre que possível as demandas
desta pesquisadora.
RESUMO
A pesquisa intitulada “Cognições de Educadores/Cuidadores de Instituição de Acolhimento
sobre Atividades Lúdicas e Habilidades Sociais” tem como lócus o Centro de Acolhimento em
Santarém. Seu objetivo foi investigar as cognições da equipe de educadores/cuidadores sobre
atividades lúdicas no desenvolvimento das habilidades sociais das crianças acolhidas.
Especificamente, propõe: I) levantar o perfil sociodemográfico dos educadores/cuidadores do
Centro de Acolhimento; II) identificar os tipos de atividades lúdicas desenvolvidas pelos
educadores/cuidadores da Casa de Acolhimento; III) conhecer as cognições da equipe de
educadores/cuidadores a respeito de atividades lúdicas e habilidades sociais; e IV) analisar o
conhecimento da equipe de educadores/cuidadores acerca da possível relação entre atividades
lúdicas e habilidades sociais. Estudar as cognições dos educadores/cuidadores, isto é, suas
concepções, crenças, ideias, metas e práticas, é importante por fornecer subsídios para a
compreensão dos aspectos da cognição, sendo possível entender como as atitudes tomadas por
educadores influenciam diretamente o comportamento e desenvolvimento da criança. A
amostra desta pesquisa foi composta por educadores/cuidadores da casa de acolhimento de
Santarém-PA. O estudo é uma pesquisa de campo do tipo exploratória e descritiva desenvolvida
a partir dos pressupostos da pesquisa qualitativa. Os instrumentos para coleta de dados
utilizados foram: questionário sociodemográfico e entrevista semiestruturada. Os dados foram
analisados mediante estatística descritiva e técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)
respectivamente. A fundamentação teórica apoia-se nos estudos referentes às temáticas. A
relevância desta pesquisa está relacionada ao melhoramento do atendimento de crianças e
adolescentes em casas de acolhimento e, com esse atendimento, também em poder contribuir
com o desenvolvimento do acolhido. Os resultados apontam que para os educadores/cuidadores
ainda existem muitos desafios para a atuação dentro da casa de acolhimento. Assim, os
participantes revelam cognições positivas em relação ao desenvolvimento de momentos lúdicos
dentro do contexto de acolhimento. Entretanto, demostram ter dificuldades para desenvolver
tais atividades, pois não se acham capacitados para este fim, acreditando que esta é uma função
da pedagoga da casa. Com relação às habilidades sociais, entende-se que estas estão ligadas a
atividades fora da casa de acolhimento. No entanto, os participantes compreendem que as
atividades lúdicas podem contribuir com o desenvolvimento das habilidades sociais.
Palavras-chave: Atividades lúdicas. Cognições. Educadores/cuidadores. Habilidades sociais.
ABSTRACT
The research entitled "Cognitions of Educators / Caregivers of Host Institution on Play
Activities and Social Skills" has as a locus the Reception Center in Santarém. Its objective was
to investigate the cognitions of the team of educators / caregivers about play activities in the
development of the social skills of the children. Specifically, it proposes: I) to raise the
sociodemographic profile of the educators / caregivers of the Reception Center; II) to identify
the types of play activities developed by the caregiver / caregivers of the Casa de Acolhimento;
III) to know the cognitions of the team of educators / caregivers regarding play activities and
social skills; and IV) analyze the knowledge of the team of educators / caregivers about the
possible relationship between play activities and social skills. It is important to study the
cognitions of the educators / caregivers, that is, their conceptions, beliefs, ideas, goals and
practices, to provide insights into the aspects of cognition, and to understand how attitudes
taken by educators directly influence behavior and development of child. The sample of this
research was composed by educators / caregivers of the host house of Santarém-PA. The study
is an exploratory and descriptive field research developed from the assumptions of qualitative
research. The instruments for data collection used were: sociodemographic questionnaire and
semi-structured interview. Data were analyzed using descriptive statistics and the Collective
Subject Discourse (DSC) technique, respectively. The theoretical basis is based on the studies
referring to the themes. The relevance of this research is related to the improvement of the care
of children and adolescents in shelters and, with this assistance, also being able to contribute to
the development of the reception. The results point out that for educators / caregivers there are
still many challenges for working within the host family. Thus, the participants reveal positive
cognitions regarding the development of playful moments within the host context. However,
they may have difficulty in developing such activities, as they are not qualified for this purpose,
believing that this is a function of the house teacher. With regard to social skills, it is understood
that these are linked to activities outside the host family. However, participants understand that
play activities can contribute to the development of social skills.
Keywords: Play activities. Cognitions. Educators / caregivers. Social skills.
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
AC – Ancoragem
CNCA - Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Abrigadas
CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social
CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
DSC - Discurso do Sujeito Coletivo
ECA - Estatuto da Criança e Adolescente
ECH – Expressões-Chave
FEBEM - Fundação Estadual do Bem-estar do Menor
FUNABEM - Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor
GHASOE- Grupo Habilidades Sociais e Educação
HSE - Habilidades Sociais Educativas
IAD – Instrumento de Análise de Discurso
IC – Ideias Centrais
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências Sociais e de Saúde
LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MBDH - Modelo Bioecológico de Desenvolvimento Humano
OMS – Organização Mundial de Saúde
ONGs - Organizações Não-Governamentais
PPP - Projeto Político Pedagógico
PNAS - Política Nacional de Assistência Social
PNBEM - Política Nacional de Bem-Estar do Menor
PPGE – Programa de Pós-graduação em Educação
RIHS/UFSCar - Relações Interpessoais e Habilidades Sociais da Universidade Federal de São
Carlos
SAM - Serviço de Assistência ao Menor
SCIELO - Scientific Eletronic Online
SDH/PR - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
SHSE - Sistema de Habilidades Sociais Educativas
THS - Treinamento de Habilidades Sociais
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa Conceitual Norteador da Pesquisa ................................................................. 22
Figura 2 - Nicho de desenvolvimento ...................................................................................... 29
Figura 3 - Esquema de interação do desenvolvimento infantil ................................................ 41
Figura 4 - Roda de expostos ..................................................................................................... 49
Figura 5 - Quadro comparativo dos projetos político-pedagógicos escolar e institucional...... 57
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Sistematização dos trabalhos .................................................................................. 43
Quadro 2 - Critérios de contratação de profissionais para casa de acolhimento no Brasil....... 61
Quadro 3 - Componentes e definições de habilidades de vida ................................................. 66
Quadro 4 - Classes e subclasses de habilidades propostas como relevantes na infância ......... 68
Quadro 5 - Classes e definições de Habilidades Sociais Educativas ........................................ 70
Quadro 6 - Sistematização dos trabalhos .................................................................................. 73
Quadro 7 - Equipe de funcionários da casa de acolhimento de Santarém em 2018 ................. 82
Quadro 8 - Parte do IAD I de um educador/cuidador de 20 anos ............................................ 87
Quadro 9 - Síntese das ideias centrais – Atividades desenvolvidas na casa de acolhimento ... 98
Quadro 10 - Síntese das ideias centrais – Atividades lúdica .................................................. 103
Quadro 11 - Síntese das ideias centrais – Habilidades sociais ............................................... 113
Quadro 12 - Síntese das ideias centrais – atividades lúdicas e a relação com o desenvolvimento
das habilidades sociais ............................................................................................................ 126
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Condição da primeira atividade profissional de educadores/cuidadores da casa de
acolhimento de Santarém: 2018 ............................................................................................... 90
Gráfico 2 - Realização de cursos de capacitação. Educadores/cuidadores da casa de
acolhimento: 2018 .................................................................................................................... 91
Gráfico 3 - Características consideradas cansativas no trabalho. Educadores/Cuidadores da
Casa de Acolhimento Reviver: 2018 ........................................................................................ 94
Gráfico 4 - Futuro profissional ................................................................................................. 94
Gráfico 5 - Atividades desenvolvidas por educadores/cuidadores da casa de acolhimento, 2018
.................................................................................................................................................. 96
Gráfico 6 - Comportamentos dos educadores/cuidadores buscando a relação entre as crianças
da casa de acolhimento, 2018 ................................................................................................... 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Resultados encontrados nas bases de dados por descritores da pesquisa ................. 42
Tabela 2 - Resultados encontrados nas bases de dados por descritores da pesquisa ................ 72
Tabela 3 - Situação funcional e ano de admissão de educadores/cuidadores da casa de
acolhimento de Santarém.......................................................................................................... 89
Tabela 4 - Grau de importância para o aperfeiçoamento de educadores/cuidadores da casa de
acolhimento, 2018 .................................................................................................................... 91
Tabela 5 - Grau de satisfação dos educadores/cuidadores da casa de acolhimento, 2018 ....... 93
Tabela 6 - Influência do educador/cuidador no desenvolvimento da criança da casa de
acolhimento, 2018 .................................................................................................................... 95
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 17
2 COGNIÇÕES E DESENVOLVIMENTO HUMANO ..................................................... 25
2.1 ENTENDENDO AS COGNIÇÕES ................................................................................ 26
2.2 NICHO DE DESENVOLVIMENTO ............................................................................. 28
2.3 COGNIÇÕES DE EDUCADORES/CUIDADORES ..................................................... 30
3 LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ........................................................ 36
3.1 AS POSSIBILIDADES DE CONTEXTUALIZAR O LÚDICO .................................... 36
3.2 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E NA
APRENDIZAGEM ............................................................................................................... 38
3.3 CASA DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O DESENVOLVIMENTO DE
ATIVIDADES LÚDICAS .................................................................................................... 42
4 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: CASA DE
ACOLHIMENTO/ABRIGO.................................................................................................. 49
4.1 ASPECTOS LEGAIS ..................................................................................................... 49
4.2 CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE ABRIGO E/OU CASA DE ACOLHIMENTO ....... 53
4.3 OS EDUCADORES/CUIDADORES DA CASA DE ACOLHIMENTO ...................... 59
5 HABILIDADES SOCIAIS .................................................................................................. 64
5.1 CONCEITUANDO AS HABILIDADES SOCIAIS ....................................................... 64
5.2 ESTUDOS DESENVOLVIDOS SOBRE HABILIDADES SOCIAIS........................... 71
5.3 HABILIDADES SOCIAIS NA INFÂNCIA E POSSIBILIDADES DE
DESENVOLVIMENTO NA CASA DE ACOLHIMENTO ................................................ 77
6 CAMINHO METODOLÓGICO ....................................................................................... 81
6.1 DESENHO DA PESQUISA ........................................................................................... 81
6.2 LÓCUS DA PESQUISA ................................................................................................. 81
6.3 PARTICIPANTES .......................................................................................................... 82
6.4 CRITÉRIO DE INCLUSÃO ........................................................................................... 83
6.5 CRITÉRIO DE EXCLUSÃO .......................................................................................... 83
6.6 ASPECTOS ÉTICOS PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA ..................................... 83
6.7 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .............................................................. 84
6.7.1 Questionário sociodemográfico ............................................................................... 84
6.7.2 Entrevista semiestruturada ....................................................................................... 84
6.8 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ........................................................... 85
6.9 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS ............................................................ 86
7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................................ 89
7.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL E
CAPACITAÇÃO .................................................................................................................. 89
7.2 DADOS SOBRE A SATISFAÇÃO COM A PROFISSÃO ............................................ 92
7.3 EDUCADOR/CUIDADOR E O DESENVOLVIMENTO DOS ACOLHIDOS ............ 95
7.4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA CASA DE ACOLHIMENTO ........................ 95
8 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO: ANÁLISE DO INSTRUMENTO
ENTREVISTA ........................................................................................................................ 98
8.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA CASA DE ACOLHIMENTO ........................ 98
8.2 ATIVIDADES LÚDICAS ............................................................................................ 103
8.3 COGNIÇÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES LÚDICAS NO
CONTEXTO DA CASA DE ACOLHIMENTO ................................................................ 107
8.4 COGNIÇÕES DOS EDUCADORES/CUIDADORES DE COMO DEVERIA
ACONTECER AS ATIVIDADES LÚDICAS DENTRO DA INSTITUIÇÃO DE
ACOLHIMENTO ............................................................................................................... 109
8.5 HABILIDADES SOCIAIS ........................................................................................... 113
8.6 DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS EM CASA DE
ACOLHIMENTO ............................................................................................................... 114
8.7 HABILIDADES SOCIAIS IMPORTANTE PARA CRIANÇA .................................. 119
8.8 COMO DESENVOLVER HABILIDADES SOCIAIS NA INFÂNCIA ...................... 121
8.9 ATIVIDADES LÚDICAS E A RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO DAS
HABILIDADES SOCIAIS ................................................................................................. 126
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 129
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 136
ANEXO A - CARTA DE ACEITE DA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO ............ 147
ANEXO B – APROVAÇÃO EM COMITÊ DE ÉTICA ................................................... 148
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRAFICO ....................................... 150
APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA ................................................................ 155
APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .......... 156
17
1 INTRODUÇÃO
O crescimento populacional sem ordenamento promove inúmeros problemas
sociais diariamente noticiados pelos meios de comunicação. Exemplo disso é o abandono de
crianças e adolescentes, cujos resultados estatísticos constituem grande preocupação para a
sociedade. Somente no Brasil, segundo o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes
Abrigadas (CNCA), em 2017 haviam mais de 47 mil crianças e adolescentes vivendo em
abrigos (BRASIL, 2017). Tal problemática exige que os estados e municípios criem e
mantenham instituições responsáveis pela proteção à criança e ao adolescente. Estas devem
possuir planejamento, organização e estrutura para atendê-los de forma satisfatória,
contribuindo para seu pleno desenvolvimento, além de colaborar para o seu bem-estar e
dignidade humana na preservação de seus direitos previstos na legislação vigente.
O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA define de duas formas as instituições
de atendimento referentes a crianças e adolescentes. A primeira forma é denominada abrigo ou
casa de acolhimento, que atende crianças e adolescentes em situação de abandono familiar,
violência física e/ou sexual ou que, por determinação judicial, precisam passar algum tempo
fora do seu contexto familiar. A segunda forma são os locais determinados para abrigar crianças
em conflito com a lei, ou seja, aqueles que, de alguma maneira, possuem problemas com a
justiça. Para fins deste estudo, será explorada a primeira forma, mediante pesquisa em uma casa
de acolhimento de Santarém, Oeste do Pará.
Nesta pesquisa foi priorizada a escolha do termo educador/cuidador, pois foi
sugerido pelas Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes,
que mostram que “a postura dos educadores/cuidadores e das famílias acolhedoras e a qualidade
da interação estabelecida com a criança e o adolescente representam importantes referenciais
para seu desenvolvimento” (BRASIL, 2009, p. 47). Apesar da utilização deste termo, é
importante enfatizar que serão respeitadas todas as formas terminológicas dos autores citados.
Segundo a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente, mais precisamente no art. 4º, é dever da família, da sociedade e do
poder público garantir a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à educação, ao
esporte, ao lazer, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (BRASIL,
1990).
Assim, observa-se que, ao ser encaminhada uma criança ou adolescente para uma
casa de acolhimento, independentemente do motivo, é dever do Estado manter os seus direitos
básicos de subsistência e desenvolvimento, contribuindo para uma vida digna e com qualidade
18
dentro da instituição.
Na casa de acolhimento existe, ou deveria existir, atividades voltadas para o
desenvolvimento integral dos acolhidos, ocorrendo de forma organizada. Para tanto, Brasil
(2009) sugerem a elaboração e efetivação de projeto político pedagógico institucional (PPP),
considerando a relação existente entre os profissionais que no cotidiano promovem atendimento
especializado. Para Cavalcante, Magalhães e Pontes (2007a), o abrigo é visto na perspectiva de
um ambiente de proteção social, cuidado e desenvolvimento humano. Segundo Mello (2010),
a estrutura do abrigo ou casa de acolhimento deve ser propícia para o desenvolvimento de
inúmeras atividades, como atividades do cotidiano as mais próximas possíveis da rotina de uma
família.
Para se manter um abrigo organizado, faz-se necessário planejamento das
atividades desenvolvidas diariamente, como previsto nas Orientações Técnicas: Serviço de
Acolhimento para Crianças e Adolescentes, que enfatizam a importância da elaboração de um
PPP que oriente o funcionamento do serviço de acolhimento. A elaboração do planejamento é
uma tarefa coletiva, com participação dos servidores, das crianças, adolescentes e suas famílias.
O projeto deve passar por avaliação de sua efetividade a partir de sua prática no dia a dia
(BRASIL, 2009).
No contexto do desenvolvimento humano, estudos como os de Motta et al. (2006)
e Barros e Fiamenghi Jr. (2007, p. 1268) mostram que, para tornar o abrigo um espaço de
desenvolvimento humano, é necessário que o educador/cuidador se torne um mediador. Para
estes autores, “o cuidador é o mediador de muitos comportamentos que a criança desenvolverá,
regulando sua atenção, curiosidade, cognição, linguagem, emoções, entre outros”. E, para que
isso aconteça, é importante que se promova um programa de capacitação voltado para os
envolvidos nas atividades diárias, como os educadores/cuidadores, que são as pessoas que
possuem maior envolvimento com os acolhidos.
As normas e leis que amparam o funcionamento dos abrigos e casas de
acolhimentos no Brasil têm o objetivo de organizar um ambiente seguro e previsível, com
flexibilidade e espaço para o lúdico, o coletivo e para a construção ou reconstrução de regras que
incluam a participação das crianças e dos adolescentes, de modo a facilitar o seu
desenvolvimento. Tais atividades devem proporcionar ao abrigado um ambiente o mais familiar
possível a fim de que a criança possa se desenvolver de forma natural e segura.
A brincadeira, uma das manifestações lúdicas, é uma atividade que acontece
principalmente durante a infância, promovendo uma gama de conhecimentos, podendo ser
dirigida ou não por um adulto. Melz e Varoto (2015, p. 4) apontam a “brincadeira como um
19
instrumento de trabalho indispensável para o educador na tarefa de mediar à educação de seus
alunos e no propósito de buscar o desenvolvimento integral da criança”.
É necessário ressaltar ainda a importância do lúdico para o desenvolvimento físico
e mental da criança, auxiliando na construção do seu conhecimento e na sua socialização,
englobando aspectos cognitivos e afetivos. Assim, o lúdico é um importante instrumento
pedagógico, que tem o poder de melhorar a autoestima e aumentar os conhecimentos da criança
quando utilizados com objetivo de desenvolver habilidades. “O ensino utilizando meios lúdicos
cria um ambiente gratificante e atraente, servindo como estímulo para o desenvolvimento
integral da criança” (ALVES; BIANCHIN, 2010, p. 286).
Em se tratando do aspecto motor, a atividade lúdica proporciona à criança o
desenvolvimento do corpo como um todo, não apenas por partes, mas sim em todos
os aspectos motores, pois as atividades recreativas trabalham a criança em sua
totalidade, sem cobrança de perfeição de gestos motores. Assim, a criança vai se
desenvolvendo em seus aspectos motores de acordo com sua própria maturação. Ou
seja, a criança vai se tornando independente para a realização das atividades diárias,
sem precisar de ajuda de terceiros, passa a reconhecer seu corpo, a si mesma, começa
a ter noção de tempo e espaço (MELZ; VAROTO,2015, p. 16).
Como os educadores/cuidadores são as pessoas que passam mais tempo com os
acolhidos, torna-se primordial que suas cognições sejam voltadas para atividades que
possibilitem a interação entre todos os envolvidos. Entende-se que brincadeiras e as
manifestações lúdicas, podem contribuir com o desenvolvimento de habilidades sociais,
motoras, cognitivas, entre outras, pois esses momentos possuem inúmeras possibilidades de
intervenção por parte dos educadores/cuidadores.
Desse modo, as políticas de atendimento às crianças e aos adolescentes devem
voltar sua atenção com prioridade para a formação e capacitação dos educadores/cuidadores, pois
suas cognições são primordiais para o desenvolvimento dos acolhidos. Sendo os
educadores/cuidadores os responsáveis pelo desenvolvimento das atividades diárias na casa de
acolhimento, espera-se que possam contribuir para o desenvolvimento de habilidades que
promovam o amadurecimento das crianças e dos adolescentes dentro de cada faixa etária.
Segundo Teixeira e Barca (2017, p. 5), “o desenvolvimento humano é uma
possibilidade, pois depende das experiências das vivências, das aprendizagens que as gerações
mais velhas propõem para as novas gerações”. No caso de crianças em situação de acolhimento,
suas relações sociais são permeadas também pelas vivências dos educadores/cuidadores, já que
estes fazem parte do nicho de desenvolvimento da criança. Eles tornam-se os responsáveis por
promover atividades voltadas para o cuidado e bem-estar dos acolhidos, buscando o objetivo
20
de desenvolver integralmente o acolhido, possibilitando a aprendizagem através das vivências
e do meio social.
No processo de desenvolvimento humano são identificadas ao menos três fases,
sendo elas: a infantil, fase em que a criança possui em sua maioria somente relacionamento
familiar e escolar; a adolescência, em que a criança passa aos poucos para o convívio mais
efetivo com pessoas externas ao seu ciclo familiar; e a vida adulta, em que o adolescente chega
à fase de assumir responsabilidades perante a sociedade. A transição da fase infantil para a fase
da adolescência é a mais preocupante para o desenvolvimento humano, pois, de acordo com
Paiva e Rodrigues (2008), este estágio da vida carrega a aquisição de novas responsabilidades
e de novos papéis sociais.
Como se pode observar, a adolescência promove novas convivências e
envolvimento com outras culturas e meios sociais, por vezes, perigosas para o seu
desenvolvimento. A exemplo disso, para um adolescente ser aceito em grupos de amigos, corre
o risco de ser obrigado a utilizar substâncias entorpecentes, álcool e outros tipos de drogas.
Como consequências das más influências vêm os furtos, assaltos e roubos. Assim, a criança
deve ter desenvolvida as habilidades sociais e a competência social, para que a adolescência
não seja um problema para seu desenvolvimento integral.
Pensando em como melhorar o desenvolvimento das crianças, Del Prette e Del
Prette (2005) sugeriram um conjunto de sete classes de habilidades sociais e suas respectivas
subclasses, que são relevantes para a infância, são elas: autocontrole e expressividade
emocional, civilidade, empatia, assertividade, fazer amizades, solução de problemas
interpessoais e habilidades sociais acadêmicas.
Entende-se que essas habilidades são importantes para melhorar o desenvolvimento
da criança e do adolescente em qualquer contexto, no caso de abrigos ou casas de acolhimento
é fundamental que os educadores/cuidadores e toda a equipe técnica, tenham bem definido seu
papel frente aos desafios de trabalhar com esse público, proporcionando um ambiente saudável
e propício ao desenvolvimento das habilidades sociais em cada criança ou adolescente.
Nesta perspectiva, para subsidiar esse posicionamento, busca-se o conceito
elaborado por Ribas (2002. p. 30), para quem a cognição “é um amplo conjunto de produtos
(por exemplo: crenças, valores, estereótipo, expectativas) e processos psicológicos (por
exemplo: atribuições de causalidade, auto percepção, julgamento)”.
As perspectivas de estudos em casas de acolhimentos parecem inesgotáveis. Esta
pesquisa propõe o estudo acerca da seguinte problemática: quais as cognições que os
21
educadores/cuidadores possuem sobre atividades lúdicas, habilidade sociais e a possível relação
entre elas?
Como objetivo geral, busca-se investigar as cognições da equipe de
educadores/cuidadores sobre atividades lúdicas para desenvolvimento das habilidades sociais
das crianças acolhidas. Especificamente, pretende-se: a) levantar o perfil sociodemográfico dos
educadores/cuidadores da casa de acolhimento; b) identificar que tipos de atividades lúdicas
são desenvolvidos pelos educadores/cuidadores; c) conhecer as cognições da equipe de
educadores/cuidadores a respeito de atividades lúdicas e habilidades sociais; e d) verificar a
existência da relação entre atividades lúdicas e o desenvolvimento de habilidades sociais.
Para melhor entendimento do caminho percorrido durante a pesquisa, foi elaborado
um mapa conceitual, conforme Figura 1, que demostra as etapas da pesquisa com a
fundamentação teórica do estudo e a trajetória metodológica para a construção do texto
dissertativo.
22
Espera-se que este estudo
colabore com o melhoramento do
atendimento dentro de casas de
acolhimento em todo o Brasil,
possibilitando que, a partir deste referencial teórico, sejam desenvolvidas outras pesquisas na
área de cognições de educadores/cuidadores e seus resultados sejam publicados, tornando-se
fontes de informação e desenvolvimento científico e educacional.
Fonte: Modelo conceitual de Carvalho Filho (2015), remodelado pela autora.
A pesquisa está subdividida em quatro seções de referencial teórico – referentes a
Cognições e desenvolvimento humano; O lúdico e o desenvolvimento infantil; A
institucionalização de crianças e adolescentes: casa de acolhimento/abrigos; e Habilidades
sociais, além de uma seção referente ao percurso metodológico; Análise e discussão dos dados
e considerações finais.
Na seção sobre Cognições e desenvolvimento humano, buscou-se a compreensão
Fonte: Modelo conceitual de Carvalho Filho (2015), remodelado pela autora.
OBJETIVO GERAL
Investigar as cognições da
equipe de educadores/cuidadores sobre
atividades lúdicas para o
desenvolvimento das habilidades sociais
das crianças acolhidas.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Levantar o perfil sociodemográfico dos educadores/cuidadores
da casa de acolhimento;
QUESTÃO NORTEADORA
Quais as cognições dos educadores/cuidadores possuem sobre atividades lúdicas e habilidades sociais e a
possível relação entre elas?
TEÓRICOS NORTEADORES DA PESQUISA
Verificar a existência da relação entre atividades lúdicas e o
desenvolvimento de habilidades sociais.
Conhecer as cognições da equipe de educadores/cuidadores a
respeito de atividades lúdicas e habilidades sociais;
Identificar que tipos de atividades lúdicas são desenvolvidos
pelos educadores/cuidadores;
Habilidades sociais
Barros e Fiamenghi Jr.
(2007), Caballo (2003),
Costa et al. (2016), Del
Prette e Del Prette (2001,
2005, 2008, 2009, 2011,
2013, 2017), Garcia
Terán, Moran e Olaz
(2012), Mangrulkar,
Whitman e Posner (2001),
Murta, Del Prette e Del
Prette (2010) e
Organização Mundial de
Saúde. (1997)
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
FASE 1
Análise doc. legais e pesquisas
FASE 2
Educadores/
cuidadores
Entrevista
FASE 3
Educadores/
cuidadores
Questionário
Institucionalização de
crianças e adolescentes
Baptista (2010), Brasil
(1988), Cavalcante,
Magalhães e Pontes
(2007a), Cavalcante,
Magalhães e Pontes
(2007b), Brasil (1990),
Giroto e Vieira (2007),
Jurdi e Scridelli (2014),
Marcílio (1997), Brasil
(2009), Rizzini e Rizzini
(2004) e Torres (2015).
Lúdico e o
desenvolvimento infantil
Alves (2009), Couto
(2011), Dallabona e
Mendes (2004), Gomes
(2004), Kishimoto (1995),
Leontiev (2010), Luckesi
(2002), Marcellino
(2001), Marcelino,
(1990), Pereira (2014),
Santana; Hammes e Silva
(2016), Soares (2005),
Rolim, Guerra e Tassigny
(2008).
Cognição e
desenvolvimento humano
Bronfenbrenner (1996),
Harkness e Super (2002),
Harkness e Super (1996),
Oliveira (2014), Pereira
(2014), Ribas, Seidl-de-
Moura e Bornstein (2007),
Ribas (2002), Rolim,
Guerra e Tassigny (2008),
Simonete (2012), Stieler
(2012), Sameroff (2010),
Santana, Hammes e Silva
(2016), Teixeira (2015) e
Vygotsky (2010).
Figura 1 - Mapa Conceitual Norteador da Pesquisa
23
A pesquisa está subdividida em quatro seções de referencial teórico – referentes a
cognições e desenvolvimento humano; o lúdico e o desenvolvimento infantil; a
institucionalização de crianças e adolescentes: casa de acolhimento/abrigos; e habilidades
sociais, além de seções referentes ao percurso metodológico; à análise e discussão dos dados e
às considerações finais.
Na seção sobre cognições e desenvolvimento humano, buscou-se a compreensão de
autores acerca de como as cognições dos responsáveis pelo cuidado de crianças e adolescentes
contribuem para o desenvolvimento humano, nesta perspectiva encontram-se os seguintes
autores: Bronfenbrenner (1996), Harkness e Super (2002), Harkness e Super (1996), Kishimoto
(1995), Marcelino (1990), Oliveira (2014), Pereira (2014), Ribas, Seidl-de-Moura e Bornstein
(2007), Ribas (2002), Rolim, Guerra e Tassigny (2008), Seidl-de-Moura et al. (2004), Simonetti
(2012), Stieler (2012), Sameroff (2010), Santana, Hammes e Silva (2016), Teixeira (2015) e
Vygotsky (2010), os quais contribuem de forma direta ou indireta para a pesquisa.
Na seção com relação ao lúdico e o desenvolvimento infantil, buscou-se agregar o
entendimento dos autores que possuem publicações acerca da contribuição do lúdico para o
desenvolvimento da criança, dentro de um apanhado geral selecionaram-se autores que
contribuem com essa discussão como: Alves (2009), Couto (2011), Dallabona e Mendes (2004),
Gomes (2004), Kishimoto (1995), Leontiev (2010), Luckesi (2002), Marcellino (2001),
Marcelino, (1990), Pereira (2014), Santana, Hammes e Silva (2016), Soares (2005), Rolim,
Guerra e Tassigny (2008).
Na seção sobre a institucionalização de crianças e adolescentes: casa de
acolhimento/abrigos, buscou-se a compreensão dos autores como Baptista (2010), Brasil (1988,
1990, 2009), Cavalcante, Magalhães e Pontes (2007a), Cavalcante, Magalhães e Pontes
(2007b), Giroto e Vieira (2007), Jurdi e Scridelli (2014), Marcílio (1997), Rizzini e Rizzini
(2004) e Torres (2015). Estes autores contribuem com diretrizes para melhorar o atendimento
em casas de acolhimento ou abrigos.
Na seção sobre habilidades sociais, buscou-se o entendimento dos autores que
trazem contribuições acerca do campo teórico, prático e de pesquisa ligados direta e
indiretamente ao contexto de casa de acolhimento. Assim, conhecem-se os autores e
organizações que tratam sobre o assunto: Barros e Fiamenghi Jr. (2007), Caballo (2003), Costa
et al. (2016), Del Prette e Del Prette (2001, 2005, 2008, 2009, 2013, 2017), Garcia Terán, Moran
e Olaz (2012), Mangrulkar, Whitman e Posner (2001), Murta, Del Prette e Del Prette (2010) e
Organização Mundial de Saúde (1997).
24
A quinta seção aborda o percurso metodológico da pesquisa, de natureza qualitativa
exploratória e descritiva (GIL, 2002). O estudo contou com a participação de dez (10)
educadores/cuidadores da instituição de acolhimento de crianças de Santarém- PA. Nessa seção
estão a descrição da instituição e dos participantes, os critérios de inclusão e exclusão, assim
como os procedimentos utilizados para coleta e análise dos dados. Foram utilizados estatística
descritiva, para a análise do questionário sociodemográfico, e o Discurso do Sujeito Coletivo-
DSC, de Lefèvre e Lefèvre (2003, 2005), para analisar as entrevistas.
A sexta seção contempla a análise e discussão dos resultados do estudo, na qual
foram apresentados os aspectos sociodemográficos dos participantes e os discursos que foram
construídos utilizando a técnica do DSC. Os resultados foram agrupados por temas em tabelas
que trazem as ideias centrais de cada tema investigado, os quais foram analisados e discutidos
posteriormente.
25
2 COGNIÇÕES E DESENVOLVIMENTO HUMANO
O atual entendimento sobre o desenvolvimento da cognição humana supera
conceitos anteriores que subestimavam as competências da mente infantil. Entende-se que a
cognição começa a se desenvolver nos primeiros meses de vida, a partir do relacionamento
familiar, uma vez que é na interação que a percepção de si e do mundo vai sendo construída e
transformada.
De tal modo, o desenvolvimento e as cognições humanas são compreendidos
sempre na perspectiva das interações, do contexto e da cultura. Estes exercem fortes influências
nas práticas desenvolvidas por educadores/cuidadores. As cognições acabam por conduzir as
práticas dos educadores em suas finalidades para o desenvolvimento das crianças, interferindo
em suas práticas e consequentemente no desenvolvimento infantil (MILLER, 1988;
GOODNOW, 1996; HARKNESS, SUPER, 1986).
O ser humano se desenvolve a partir de suas experiências individuais e coletivas,
nas relações com a família, grupo de amigos, trabalho, etc., relações fundamentais para o
aprimoramento e o desenvolvimento humano. O nível de desenvolvimento individual é baseado
a partir da relação social, tornando-se complementares entre si.
Percebe-se assim que as interações sociais ocupam um lugar de destaque na
compreensão do desenvolvimento humano, em especial aquelas que acontecem nos primeiros
anos de vida da criança. Autores como Bronfenbrenner (1996) e Harkness e Super (2002)
apontam para a construção das interações como resultantes de múltiplos contextos de referência
somados às características individuais de cada pessoa, bem como aos processos de maturação
que constituem os indivíduos. Desta forma, acredita-se que o desenvolvimento humano abarca
as interações entre as práticas culturais, o contexto e o indivíduo, sempre numa relação
recíproca e complexa, tornando assim essencial entender o contexto de vida das pessoas.
O desenvolvimento humano se constrói a partir da articulação entre diferentes
níveis de desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor, ocorrendo de forma simultânea e
interligada. Dentro da perspectiva da psicologia, o desenvolvimento humano conta com a
influência de fatores “históricos, culturais e sociais, sem, contudo, descartar a relação com
aspectos biológicos” (VYGOTSKY, 2000, p. 11).
Neste estudo, ressalta-se a importância de compreender o contexto de
desenvolvimento, em especial, a cognição dos educadores/cuidadores, sobretudo na totalidade
em que a criança interage socialmente, como é o caso da casa de acolhimento. O ambiente
consiste numa parte ativa do contexto de desenvolvimento, uma vez que nele há interação entre
26
as pessoas. Portanto, torna-se importante primeiramente definir o que está sendo apontado como
cognição.
2.1 ENTENDENDO AS COGNIÇÕES
O desenvolvimento humano ocorre a partir das interações do cotidiano, essas
relações possibilitam o conhecimento de inúmeros assuntos, como: regras de comportamento,
respeito, empatia, entre outros, potencializando o desenvolvimento individual. Para Borges
(2005, p. 78), o “conhecimento significa conduta adequada em um meio relacional, no qual
cada comportamento é um ato cognitivo”. Isso mostra que, mesmo o indivíduo participando de
ações que podem influenciar seu comportamento, existem comportamentos próprios da pessoa
que devem ser respeitados e levados em consideração.
Estudar as cognições dos educadores/cuidadores, isto é, suas concepções, crenças,
ideias, metas e práticas, é importante por fornecer subsídios para a compreensão dos aspectos
da cognição, sendo possível entender como as atitudes tomadas por educadores influenciam
diretamente o comportamento e desenvolvimento da criança. Entretanto, a literatura tem
demonstrado divergências em relação ao entendimento desses constructos e tem utilizado
múltiplas terminologias (etnoteorias, concepções, representação, crenças etc.) com
significados semelhantes ao atribuído ao termo cognição.
Para Harkness e Super (1996), etnoteorias encontram-se “no fato de que estas, se
desenvolvem e se organizam com base no contexto cultural e social”, já, para Silva (2008, p.
2), “etnoteorias são compreendidas como crenças e valores sobre o desenvolvimento da criança
e podem interferir no processo de desenvolvimento infantil”.
Por sua vez, Vasconcelos (2017), em sua tese, optou por utilizar o termo concepções
por acreditar que é “uma forma de transmitir uma ideia mais dinâmica, em que estão implícitos
fatores cognitivos e emocionais”.
Utilizando a nomenclatura representação, Sameroff (2010, p. 12) conceitua como
“estruturas cognitivas onde a experiência está codificada em níveis abstraídos que fornecem
uma estrutura interpretativa para novas experiências, bem como um senso de si mesmo e outro”.
Moreira e Monteiro (2010, p. 01) utilizam o termo crença, “pois acreditam que estas
influenciam as percepções, decisões e ações do ser humano”. Seidl-de-Moura et al. (2004, p.
422), em seu estudo, empregam a denominação crenças, pois acreditam que as “crenças como
parte da psicologia de cuidadores, afetarão as práticas de cuidado”. Ribas (2002, p. 14) fala que
27
o “termo crenças é um conceito mais específico, não devendo ser utilizado
indiscriminadamente”.
Mas, apesar da falta de conformidade quanto ao termo cognições, autores como
Seidl-de-Moura et al. (2004, p. 422) apontam para a existência de um “consenso quanto a
influência destas no desenvolvimento infantil, destacando que as cognições meneiam as
práticas de cuidado e comportamento dos educadores/cuidadores”. Ressalta-se a importância
do estudo das cognições na área da educação, em especial no que acena para as repercussões
na qualidade das práticas docentes e consequentemente no desenvolvimento da criança
(RIBAS; SEIDL-DE-MOURA; BORNSTEIN, 2007; SEIDL-DE-MOURA et al., 2004).
Alguns autores como Simonetti (2012), Stieler (2012), Ribas (2002), Teixeira
(2015) e Vygotsky (2010), ao estudarem a cognição humana na perspectiva do desenvolvimento
infantil, discutem o termo cognição. Simonetti (2012, p. 01), por exemplo, a define como “um
conjunto de habilidades cerebrais/mentais necessárias para a obtenção de conhecimento sobre
o mundo”. Stieler (2012, p. 4) conceitua cognição como um “conjunto de habilidades mentais
denominadas funções cognitivas, como a percepção, a atenção, a memória, a linguagem e as
funções executivas – responsáveis pelo planejamento de tarefas, resolução de problemas,
estratégias para enfrentar desafios”.
Ribas (2002, p. 30), após realizar uma ampla revisão da literatura sobre cognições
parentais, as definiu como “produtos (crenças, valores, estereótipos, expectativas) e processos
psicológicos (atribuição de causalidade, autopercepção, julgamento), relacionados ao
desenvolvimento humano, à maternidade e à paternidade”.
As cognições, conforme a definição de Ribas (2002, p. 30), podem ser importantes
fontes para a compreensão do processo de desenvolvimento e socialização de crianças. O autor
ressalta ainda que as “crenças são produtos de vários processos cognitivos, sendo
representações mentais que assumem papéis importantes na execução de processos
psicológicos, como perceber, raciocinar, generalizar, julgar e acreditar”. E, como as crenças e
metas estão incluídas dentro do conceito mais amplo de cognições descrito por Ribas (2002),
optou-se pelo uso do termo cognições de educadores/cuidadores, por acreditar ser ele o mais
apropriado e abranger o amplo conjunto do modo de pensar dos educadores/cuidadores acerca
do desenvolvimento das crianças, das atividades lúdicas na interface com o incremento das
habilidades sociais.
Teixeira (2015, p. 01), ao articular sobre o desenvolvimento cognitivo na
perspectiva da teoria de Piaget, aponta que a cognição se origina enormemente “de dentro para
fora” mediante o processo de maturação. Esse processo consiste na compreensão de que a
28
criança precisa se desenvolver primeiramente de maneira biológica para começar a
desenvolver-se cognitivamente. Em contrapartida, Vygotsky (2010, p. 103) enfatiza o “papel
do ambiente no desenvolvimento intelectual das crianças, acreditando que seu desenvolvimento
ocorrerá a partir das possibilidades que o ambiente irá lhe oferecer”.
Concorda-se com o posicionamento de Vygotsky (2010), pois se acredita que, na
rotina diária (família, creche, escola, lazer), a criança tem a possibilidade de absorver os
acontecimentos do cotidiano e transformar-se, ressignificando a aprendizagem para sua vida,
sendo suas relações sociais potencializadoras de aprendizado e desenvolvimento cognitivo.
Desta forma, compreende-se que o processo de aprendizagem é construído dentro do contexto
coletivo e enriquecido pelas relações colaborativas pertencentes a esse ambiente.
Estudar a criança em seu contexto de aprendizagem e desenvolvimento é
primordial, uma vez que está inserida no que Harkness e Super (1986) chamam de nicho de
desenvolvimento infantil.
2.2 NICHO DE DESENVOLVIMENTO
Na década de 1970, Harkness e Super buscaram identificar semelhanças e
diferenças na educação de crianças de diferentes grupos socioculturais. Elaboraram para isso o
conceito de nicho de desenvolvimento a partir de seus estudos sobre desenvolvimento infantil
e modos de vida familiar em comunidades rurais do Quênia e dos Estados Unidos (HARKESS;
SUPER, 2002).
O modelo proposto por Harkness e Super (1986) enfatiza que o desenvolvimento
infantil acontece em um nicho que tem como centro a criança com suas características
particulares (sexo, idade, temperamento e outras disposições psicológicas). “O nicho de
desenvolvimento é introduzido como uma estrutura para examinar a estruturação cultural do
desenvolvimento infantil” (HARKNESS; SUPER, 1986, p. 01). O nicho é composto por três
subsistemas, ambiente físico e social, costumes de cuidado e psicologia dos cuidadores, que
estão articulados entre si, exercendo forte influência no desenvolvimento da criança.
Apesar de a criança se apresentar no centro desse sistema com suas particularidades,
história pessoal, disposições e composição familiar, possui ao seu redor outros subsistemas que
também exercerão influência no seu desenvolvimento, conforme visualizado na figura 1.
29
Fonte: Adaptado de SUPER, C.; HARKNESS, S. The cultural structuring of child development. In: BERRY, J.
W.; DASEN, P. R.; SARASWATHI, T. S. (Ed.) Handbook of cross-cultural psychology. 2. ed. Needham
Heights, MA: Allyn; Bacon, 1997, p. 1-39. 2 v. (Basic processes and human development).
Conforme o modelo do nicho, o desenvolvimento e o comportamento humano são
compreendidos como coproduzidos pelo indivíduo e pelo ambiente, gerando um sistema
interativo. Para os pesquisadores, o mediador focal na relação de interação e desenvolvimento
é a família, uma vez que está no centro da vida da criança, em especial nos seus primeiros anos,
e esta família passa a mediar a experiência infantil com a cultura mais ampla (HARKNESS;
SUPER, 2002).
O nicho de desenvolvimento é um sistema no qual as partes que o compõem interagem
e funcionam de maneira coordenada. Todos esses sistemas estão inter-relacionados e
possuem a função de mediar a experiência individual da criança com o grupo cultural
ao qual ela pertence. Ele é considerado um sistema aberto, pois seus componentes
estão ligados com outros aspectos do meio ambiente, e o meio ao indivíduo. O
organismo e o nicho de desenvolvimento se adaptam um ao outro, ou seja, o indivíduo
adapta-se ao meio (LELLIS, 2013, p. 16).
O primeiro subsistema ou nicho que interage entre si é o ambiente físico e social do
cotidiano da criança. Este ambiente envolve a família, a escola, o grupo religioso e, de maneira
mais ampla, o contexto cultural da comunidade local. Ele é composto pelos lugares e pelas
pessoas que fazem parte do ambiente de desenvolvimento e aprendizagem da criança,
influenciando as interações nas quais ela está envolvida. Especificamente no ambiente físico
estão inclusos a organização do lar/moradia e os objetos disponíveis nele.
O ambiente social abarca as características dos pais e das crianças, a organização
familiar, a estrutura social e as relações estabelecidas entre elas. Nesta perspectiva, conhecer
Psicologia dos
cuidadores
Ambiente
físico e social
Costumes de
cuidados
Criança
Figura 2 - Nicho de desenvolvimento
30
onde, como e com quem a criança passa o dia, bem como a maneira como seu contexto físico
e social se organiza, é primordial para a compreensão do desenvolvimento infantil e dos efeitos
que este contexto pode ter no indivíduo (HARKNESS; SUPER, 2002).
O segundo subsistema é composto por práticas de cuidado e educação de crianças
que são utilizadas pelos pais e cuidadores baseados em uma determinada cultura, as quais são
prescritas socialmente. Os estudos de Lellis (2013, p. 15), em uma comunidade particular do
norte do Brasil, possibilitaram afirmar que “os comportamentos de cuidado comumente
utilizados pelos membros de uma comunidade influenciam e são influenciados por adaptações
culturais oriundas dos costumes e práticas de cuidado”.
O terceiro subsistema abrange as características psicológicas dos pais, isto é, todas
as crenças e valores dos cuidadores, seus entendimentos de infância, desenvolvimento e
educação, as quais podem ser determinadas pela cultura do grupo ao qual pertencem. Em
contexto de casa de acolhimento é necessário entender quais as cognições dos
educadores/cuidadores, tendo em vista que estes passam a desenvolver atividades direcionadas
ao cuidado e educação das crianças e adolescentes moradoras desses espaços. Apesar da teoria
englobar esses três subsistemas para esta pesquisa será analisado somente a psicologia dos
cuidadores, tendo em vista que o tempo para a realização da pesquisa é curto.
2.3 COGNIÇÕES DE EDUCADORES/CUIDADORES
Com a finalidade de compreender como se desenvolve a cognição de
educadores/cuidadores, buscaram-se estudos que apontem considerações teóricas de pesquisas
desenvolvidas em diversos contextos nos quais assinalem a cognição de educadores/cuidadores
como guia para suas práticas de cuidados e educação de crianças e adolescentes.
Devido ao crescente avanço nos campos de investigação das ciências biológicas e
comportamentais que abordam a primeira infância, Sameroff (2010, p. 7) assegurou que o “atual
desafio é atenuar a distância entre o que já foi estudado e comprovado e o que pode ser feito
para aprimorar o desenvolvimento saudável da criança”. De acordo com o autor, as cognições
das pessoas levam a ação que se torna efetivamente parte da sua prática cotidiana, sendo que a
natureza muda a própria educação e, inversamente, a educação muda a própria natureza.
A cognição humana possibilita o desenvolvimento de atitudes que refletem
diretamente nas formas de comportamento e nas práticas profissionais, esses conjuntos de ações
possibilitam a construção do mundo e sua ressignificação. O homem transforma o mundo a
31
partir dos seus conhecimentos. “A perspectiva dialética da natureza e da educação organizam-
se mutualmente” (SAMEROFF, 2010, p. 7).
Desta forma, a dialética torna possível a progressão e o desenvolvimento social dos
seres humanos. O coletivo se constitui a partir de inúmeros seres únicos, com suas cognições
promovem os relacionamentos interpessoais; sem esta interação não existiria progresso social.
Leontiev (1978, p. 261) afirma que o “homem é um ser de natureza social, que tudo o que tem
de humano nele provém da sua vida em sociedade, no seio da cultura criada pela humanidade”.
Compartilhando das concepções dos autores acima relacionados acredita-se que é importante
que pais, educadores, cuidadores, professores tenham suas cognições voltadas para a construção
de um mundo mais colaborativo, no qual as relações interpessoais sejam fortalecidas.
Destarte, entende-se que o educador/cuidador de casa de acolhimento é parte
importante no processo de desenvolvimento de crianças e que suas cognições guiam suas
práticas para sua atuação. Vários estudos, tais como os de Alves-Mazzotti (1996), Ferreira e
Acioly-Régnier (2010), Moraes e Rubio (2012), Moreira e Monteiro (2010), Ribas, Seidl-de-
Moura e Bornstein (2007), Silva (2009) e Vasconcelos (2017), destacam o papel das cognições
dos educadores/cuidadores no desenvolvimento infantil.
Os autores Ribas, Seidl-de-Moura e Bornstein (2007) e Vasconcelos (2017)
buscaram em suas pesquisas compreender as cognições parentais e de educadores sobre
desenvolvimento infantil, respectivamente. Ribas, Seidl-de-Moura e Bornstein (2007)
investigaram três tipos de cognições parentais: conhecimentos acerca do desenvolvimento
infantil e da criação de filhos, autopercepções parentais e, por fim, atribuições de causalidade
parentais. O estudo objetivou ampliar o conhecimento sobre cognições de mães brasileiras
acerca da maternidade comparando os resultados com estudos anteriores e investigar
associações entre as cognições maternas e entre essas cognições e determinadas variáveis
sociodemográficas.
A pesquisa permitiu ampliar o conhecimento sobre cognições de mães brasileiras a
respeito de temas relacionados à maternidade e ao desenvolvimento humano, participaram da
pesquisa 66 mães primíparas, com idades acima de 18 anos.
Um importante resultado que foi revelado diz respeito à escolaridade. Foi
identificado na pesquisa de Ribas, Seidl-de-Moura e Bornstein (2007) que o nível de
escolaridade materna influência nas cognições sobre desenvolvimento infantil. Estudos como
o supracitado fornecem ainda informações sobre como as cognições maternas estão associadas
entre si e como essas cognições se correlacionam com outras variáveis consideradas relevantes,
como o nível educacional. Foram identificadas diversas associações entre o nível de
32
escolaridade, o conhecimento sobre o desenvolvimento infantil, as autopercepções parentais e
as atribuições de causalidade parentais nos estudos (RIBAS; SEIDL-DE-MOURA;
BORNSTEIN, 2007).
Na perspectiva do que pais e educadores pensam sobre crianças, Vasconcelos
(2017) realizou um estudo tendo como público 40 mães – 20 de meninas e 20 de meninos –, 40
pais com a mesma distribuição, e 20 educadoras – 10 de centros de educação infantil públicos
e 10 de centros de educação infantil privados. Objetivou identificar e analisar as concepções de
mães, pais e educadoras de crianças de dois e três anos de idades a respeito do desenvolvimento
infantil e das relações de gênero na infância.
Os principais resultados de Vasconcelos (2017) indicaram que as concepções sobre
desenvolvimento infantil dos participantes influenciam na forma de cuidado que utilizam e
também que as metas de socialização apresentadas pelos investigados influenciam seus
comportamentos. Mães, pais e educadores definem meninas e meninos de forma antagônica,
porquanto afirmam que as meninas se mostram delicadas, com maior disciplina, gostando de
meninas. Por outro lado, os meninos foram descritos como indisciplinados, ativos, agitados, se
atendo a brincadeiras típicas de meninos.
Para Vasconcelos (2017), as concepções de pais, mães e educadores influenciam
diretamente nas formas de cuidados e, consequentemente, interferem no desenvolvimento
infantil. Por outro lado, autores como Ferreira e Acioly-Régnier (2010) e Moraes e Rubio
(2012) trazem outro constructo importante sobre desenvolvimento infantil – a afetividade.
Segundo os autores, a afetividade contribui para o desenvolvimento infantil e a relação entre
cognição e afetividade influencia diretamente o processo de ensino e aprendizagem.
Contribuindo com a discussão entre afetividade e cognição, Ferreira e Acioly-
Régnier (2010) apresentam as contribuições de Henri Wallon em relação à cognição e
afetividade na educação. Eles situam e definem os complexos afetivos e cognitivos na teoria
waloniana e destacam a noção de pessoa engajada como síntese fundamental para o
entendimento da relação entre afetividade e cognição no campo educacional.
Dessa forma, as contribuições de modelos de desenvolvimento integral, propostas
na teoria de Wallon (1979 apud WALLON, 2013) com suas visões engajadas, são
fundamentais, pois não dissociam a relação cognição/afetividade, corpo/mente, teoria/prática e
sujeito/objeto, apresentando-se assim como uma alternativa à meta educativa humana de
privilegiar uma das dimensões do ser humano como essencial e determinante de todas as outras.
Ainda em relação à afetividade e cognição, Moraes e Rubio (2012), em sua pesquisa
“Cognição e Afeto se Entrelaçam no Processo de Ensino e Aprendizagem”, trazem à tona a
33
importância do vínculo família-afeto-escola no processo cognitivo, enfatizando que a relação
afetiva entre membros familiares, professores e alunos possui relevância para o processo de
ensino-aprendizagem. A falta de afeto pode influir no emocional de uma criança e intervir na
construção do conhecimento, salientando a importância que pais e professores devem dar para
a afetividade relacionada ao processo de aprendizagem.
Os estudos aqui relacionados mostram a importância de enxergar a criança como
um ser integral sem dicotomias, tendo a afetividade como base e influência no desenvolvimento
cognitivo e no processo de aprendizagem da criança.
No que diz respeito às cognições, Moreira e Monteiro (2010), em seu artigo “O Uso
de Instrumentos e Procedimentos de Pesquisa Sobre Crenças: Promovendo Formação
Reflexiva”, cujo objetivo foi pesquisar quais tipos de crenças é possível detectar com o uso de
diferentes instrumentos e procedimentos e se estes afetam a maneira como os professores
refletem sobre suas crenças e quais combinações entre eles são eficazes para a promoção de
reflexão, mostraram que é possível levantar crenças sobre aprendizagem e ensino com os
instrumentos e procedimentos selecionados (questionário, grupo focal, autorrelato, observação
de aula e entrevista) e que estes interferem na maneira como os professores refletem sobre suas
crenças, entretanto, a combinação desses instrumentos pode ser um bom caminho para o
desencadeamento do processo reflexivo. As crenças de professores foram abordadas no estudo
de Moreira e Monteiro (2010) como influenciadoras de suas práticas antes, durante e depois da
aula.
Dentro do aspecto apontado por Moreira e Monteiro (2010), que as crenças
influenciam as práticas, entende-se que no contexto social, isto é, do educador social, como é o
caso das casas de acolhimento, as cognições dos educadores/cuidadores sobre práticas de
cuidado e educação e ainda sobre si interferem na maneira com que vão lidar com o outro,
refletindo diretamente no desenvolvimento e aprendizagem das crianças e dos adolescentes.
Buscando conhecer as características da identidade que o educador social de nível
universitário da cidade de São Paulo vem construindo na sua prática cotidiana, Silva (2009)
desenvolveu uma pesquisa que apontou a desvalorização, a impotência e a resignação como
características marcantes dessa identidade em construção. A precariedade para o
desenvolvimento do trabalho e a descontinuidade (principalmente dos programas de assistência
social) sustentam a queixa instaurada no discurso desses sujeitos. Constatou-se também certo
apelo à necessidade de aprimoramento da formação (especialização, qualificação etc.), o que
traz como pauta para discussão a urgência da profissionalização do educador. A universidade
34
foi apontada como campo dinâmico de reflexão, discussão, acolhimento e construção de saberes
específicos e facilitadora da ressignificação do trabalho desenvolvido.
Outra discussão envolvendo os educadores sociais foi levantada por Alves-Mazzotti
(1996), que investigou os educadores sociais que atuam em programas de atendimento a
meninos e meninas de rua no município do Rio de Janeiro. Considerando-se o conjunto das
representações apresentadas pelos educadores, a autora identificou o seguinte núcleo figurativo:
Os meninos de rua são vítimas dos processos de exclusão social a que resistem...
munidos de coragem, organização social e autonomia, lutam para sobreviver ao
complô social que se instalou contra eles, representado pelo modelo socioeconómico
iníquo que levou suas famílias à desagregação e à violência; pela escola que os excluiu
e pela sociedade que os discrimina (ALVES-MAZZOTTI, 1996, p. 497).
Como principais resultados dos estudos de Alves-Mazzotti (1996), foi possível
identificar o modelo socioeconômico vigente no país como o principal fator responsável pela
existência dos “meninos de rua”. Segundo a opinião unânime dos educadores sociais, o sistema
capitalista, a estrutura socioeconômica, a má distribuição de renda, a miséria, o desemprego
crescente, o êxodo rural, o crescimento da economia informal e a ausência de políticas públicas
que garantam à população carente os serviços básicos, como educação, saúde e programas
habitacionais, são os principais aspectos apontados. A desestruturação familiar, a falta de afeto
e a violência encontrada em muitas dessas famílias seriam decorrentes das causas econômicas
apontadas.
A pesquisa supracitada aponta ainda que não há consenso dos educadores sociais
sobre suas funções. Porém, é possível identificar um pequeno grupo que parece ter uma visão
mais clara do que propõe fazer em sua esfera de ação. Os indivíduos deste grupo afirmam que
o educador social deve ter por objetivo levar os meninos à conquista da cidadania e que, para
isso, deve agir como um mediador entre eles e a sociedade da qual foram excluídos. Consideram
que, na medida em que os "meninos de rua" são produto de uma estrutura social perversa, não
se pode restringir a atuação deles, como se eles fossem o problema, sendo necessário atuar
também junto à sociedade, denunciando as injustiças, lutando pelos direitos deles, dando-lhes
voz (ALVES-MAZZOTTI ,1996).
As pesquisas acima expostas fazem refletir sobre a necessidade de mudanças sociais
e políticas para que o desenvolvimento das crianças em situação de vulnerabilidade seja
revertido com maior eficácia. Portanto, como o contexto social é composto pelas cognições
humanas, torna-se primordial investigar tais cognições, e, em se tratando de desenvolvimento
35
infantil, conhecer as cognições de educadores/cuidadores sobre o lúdico e as habilidades sociais
como estratégia para a promoção do desenvolvimento torna-se urgente.
Dentro da perspectiva de que as práticas de cuidado e educação são guiadas pela
cognição humana, torna-se fundamental que os educadores/cuidadores de instituições de
acolhimento tenham a compreensão da importância do lúdico para desenvolvimento infantil,
pois, como aponta Jurdi e Scridelli (2014), mediante o lúdico a criança terá a chance de se
apropriar da cultura. O relacionamento interpessoal promove intercâmbio entre diversas
culturas, permitindo experiências diversificadas e criativas entre os seres humanos. A seguir
serão apresentadas pesquisas que conceituam o lúdico e sua importância para o
desenvolvimento infantil.
36
3 LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Nesta seção apresenta-se o entendimento dos autores sobre a contribuição do lúdico
para o desenvolvimento da criança. Selecionaram-se autores que contribuem com essa
discussão como: Alves (2009), Couto (2011), Dallabona e Mendes (2004), Gomes (2004),
Kishimoto (1995), Leontiev (2010), Luckesi (2002), Marcellino (2001), Marcelino, (1990),
Pereira (2014), Santana, Hammes e Silva (2016), Soares (2005), Rolim, Guerra e Tassigny
(2008).
3.1 AS POSSIBILIDADES DE CONTEXTUALIZAR O LÚDICO
Dentro das inúmeras possibilidades de investigação, a palavra lúdico traz
consideráveis interpretações, possibilidades e aplicabilidades, Marcellino (2001) enfatiza que
o número de palavras atribuídos ao lúdico não contribuem para sua especificação, e sim traz
uma dificuldade de definição da palavra relacionada ao lúdico. Nesta perspectiva não é intenção
discutir com afinco a questão epistemológica da palavra, no entanto, apresentam-se alguns
conceitos e aplicabilidade voltados para o termo lúdico.
No campo específico da filosofia, vários termos como divertimento e júbilo/alegria
têm aparecido como sinônimo de lúdico. Na área das ciências humanas, os autores clássicos
procuram a caracterização do lúdico como “jogo, brinquedo e brincadeira”. Percebe-se que o
“jogo e a brincadeira possuem a característica de trabalho em grupo; já o brinquedo se mostra
como ferramenta para se desenvolver a brincadeira” (MARCELLINO, 1990, p. 25).
Contextualizando o lúdico, Alves (2009, p. 46) mostra que é “convencionado
socialmente que o lúdico – isto é, as brincadeiras e os jogos – são atividades que servem ao
espírito infantil”, ou seja, neste entendimento o lúdico é equivocadamente atribuído a uma
atividade inerente à criança, deixando de atender ao público adolescente e adulto.
Para Marcelino (1990), o lúdico é um componente da cultura historicamente situada
e pode significar uma experiência revolucionária, uma vez que permite não só consumir cultura,
mas também criá-la e recriá-la, vivenciando valores e papéis externos a ela. Gomes (2004, p.
145) entende que o lúdico é “expressão humana de significados da/na cultura referenciada no
brincar consigo, com o outro e com o contexto”. Desta forma, o lúdico abrange as tradições, os
valores, os costumes e as contradições presentes em nossa sociedade, sendo fundamental a
vivência da cultura lúdica em todas as faixas etárias e classes sociais.
37
A partir dos conceitos aqui relacionados, observou-se que existem diferenças entre
as definições atribuídas para o lúdico. Esta pesquisa aborda o termo atividades lúdicas como
um mecanismo que possibilita a vivência do lúdico. Desta forma, entende-se ser importante
abordar o conceito de tais atividades, para isso buscaram-se autores que tratassem dessa
temática.
Assim, Soares (2005, p. 15) apresenta conceitos distintos para ludicidade e
atividades lúdicas, sendo que ludicidade seria um “fenômeno subjetivo que possibilita ao
indivíduo se sentir inteiro, sem divisão entre o pensamento, a emoção e a ação”. Atividade
lúdica, por sua vez, é considerada como a “expressão que se refere aos jogos, às brincadeiras,
às festas, são assim denominadas por possibilitarem a manifestação do elemento lúdico”.
Assim, as atividades lúdicas tornam-se uma possibilidade para se promover a ludicidade, e o
lúdico está presente em inúmeras atividades, sejam elas individuais ou coletivas.
O relacionamento entre indivíduo e ambiente promove o envolvimento do ser
humano em atividades lúdicas, desta forma estas atividades proporcionam relacionamentos
interpessoais. Para Luckesi (2002, p. s/p), a “ludicidade é um fenômeno interno do sujeito, que
possui manifestações no exterior”. Nesta compreensão a ludicidade torna-se uma manifestação
interior de cada pessoa, sendo revelada no ambiente em que se está envolvido.
Existem autores que atribuem as atividades lúdicas à função de proporcionar um
determinado conhecimento e aprendizado, dando origem à função educativa. Kishimoto (1995,
p. 60) faz a distinção entre função lúdica do brincar e a função educativa.
Ao assumir a função lúdica e educativa, o brinquedo educativo merece algumas
considerações: Função lúdica – O brinquedo propicia diversão, prazer e até desprazer,
quando escolhido voluntariamente; e Função educativa – O brinquedo ensina qualquer
coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão de
mundo.
Na perspectiva de a atividade lúdica ser voltada para a aprendizagem de um
determinado assunto, Coscrato, Pina e Melo (2010) enfatizam que o lúdico possibilita uma
aprendizagem efetiva, no aspecto de chamar a atenção para um determinado assunto, em que
seu significado pode ser debatido entre um determinado grupo, e o fruto dessa discussão pode
construir novos conhecimentos. Este entendimento corrobora Couto (2011, p. 131), que entende
que as “atividades físicas e lúdicas devem ser observadas como instrumentos que possam
facilitar o processo de ensino-aprendizagem”.
Tendo em vista a existência de inúmeras possibilidades de se referenciar a
manifestação lúdica, optou-se por utilizar o conceito de Soares (2005), pois contextualiza o
38
lúdico em diversas formas, como brincar, brincadeira e atividades lúdicas, e ainda o conceito
de Luckesi (2002), o qual trata a ludicidade como uma manifestação interior que possibilita
interação social.
3.2 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E NA
APRENDIZAGEM
O lúdico contribui para o desenvolvimento infantil, pois facilita o processo de
compartilhamento de experiência, potencializando o ensino e aprendizagem de inúmeros
comportamentos. Autores como Rolim, Guerra e Tassigny (2008) entendem o lúdico como uma
proposta educacional que possibilita o enfrentamento das dificuldades que permeiam o processo
ensino-aprendizagem. Santana; Hammes e Silva (2016) mostram que é fundamental o professor
compreender o lúdico no cotidiano diversificado, confirmando a sua relevância como estratégia
no processo ensino-aprendizagem. Kishimoto (1995, p. 59) contextualiza que o “uso de
brinquedo/jogo com fins pedagógicos remete-nos para a relevância desse instrumento para
situações de ensino e aprendizagem e de desenvolvimento infantil”.
O lúdico permite um desenvolvimento global e uma visão de mundo mais real. Por
meio das descobertas e da criatividade, a criança pode se expressar, analisar, criticar
e transformar a realidade. Se bem aplicada e compreendida, a educação lúdica poderá
contribuir para a melhoria do ensino, quer na qualificação ou formação crítica do
educando, quer para redefinir valores e para melhorar o relacionamento das pessoas
na sociedade (DALLABONA; MENDES, 2004, p. 107).
Por sua vez, Couto (2011) enfatiza que durante a ação pedagógica o educador
precisa realizar aproximação entre o conhecimento que a criança possui e o objetivo a ser
atingido durante a atividade proposta, possibilitando assim que sua experiência de vida
contribua para a superação de dificuldades dentro de uma determinada atividade lúdica.
Dallabona e Mendes (2004, p. 107) destacam “o lúdico como uma das maneiras mais eficazes
de envolver o aluno nas atividades, pois a brincadeira é algo inerente na criança, é sua forma
de trabalhar, refletir e descobrir o mundo que a cerca”.
Na perspectiva de Leontiev (2010), a conjuntura em que a criança está inserida
influencia diretamente no seu processo de crescimento. O autor enumera uma relação de
estágios reais de desenvolvimento da criança, sendo eles: a infância pré-escolar, na qual as
realidades humanas passam a ser conhecidas pela criança cada vez mais; período escolar, nesta
fase de amadurecimento a criança passa a integrar um novo ciclo de vida, aqui a criança começa
39
a ter compromisso com pais e professores e com a sociedade; e a idade escolar secundária,
marcada pelo crescimento de exigências de comportamento, nesta fase está o período de
transição para a adolescência.
No período pré-escolar, a criança vê o mundo como se fosse dois grupos, um que
“consiste em pessoas inteiramente relacionadas com ela, sendo: mãe, pai, irmãos ou aquelas
que ocupam lugares junto à criança. O segundo círculo é mais amplo, abrangendo colegas de
escola, professores, etc.” (LEONTIEV, 2010, p. 60). A faixa etária de 3 a 5 anos desenvolve
uma grande interação com ambos os grupos de convivência. Em se tratando de crianças em
situação de acolhimento institucional, no qual os vínculos familiares foram temporariamente
separados, entende-se que os educadores/cuidadores possuem grande influência sobre o
desenvolvimento da psique infantil. Pois o “desenvolvimento da psique infantil depende de suas
condições reais de vida” (LEONTIEV, 2010, p. 63).
Considerando que a criança aprende de modo intuitivo, através do contato com
outros seres humanos com suas respectivas cognições, relações sociais e afetividade, é possível
afirmar que o brincar desempenha relevante contribuição para o desenvolvimento infantil.
Tendo em vista que o amadurecimento do infante ocorre a partir do contexto em que está
inserido, é importante conhecer as atividades de que a criança participa dentro da sua realidade.
Entende-se por atividade “os processos psicologicamente caracterizados por aquilo
a que o processo, como um todo, se dirige (seu objeto), coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar esta atividade, isto é, o motivo” (LEONTIEV, 2010, p. 68).
Assim, Pereira (2014) mostra que o meio natural será apresentado à criança através
da brincadeira, dando-lhe a chance de conhecer a si e os outros, além de aprender as normas do
contexto social relacionadas à maneira de se comportar, resolver seus conflitos, conhecer os
hábitos determinados pela cultura, os objetos e ainda desenvolver a linguagem e o trabalho
imaginário tão importante na constituição humana. O ato de brincar possibilita inúmeras
vantagens para o desenvolvimento humano. No período da infância promove importantes
estruturações para o progresso motor, intelectual, cultural e social.
No seu processo de desenvolvimento, a criança participa de diversos contextos,
entre eles, o familiar, o social, o escolar e o de lazer, influenciando e também sendo influenciado
pelo meio. Cada um destes contribui de forma individualizada para o aprendizado, sendo que
os cuidadores, os educadores e os professores precisam entender que possuem papel
fundamental nesse processo. Santana, Hammes e Silva (2016, p. 39) afirmam que a “ludicidade
está presente na vida de toda criança independentemente da época, cultura ou classe social como
fator indispensável à saúde física, emocional e intelectual”. O brincar quando incentivado
40
principalmente durante a infância possibilita o desenvolvimento de habilidades que serão
necessárias na vida adulta.
O brincar promove experiências sociais, as quais contribuem com o desenvolvimento
cognitivo, seja indiretamente promovendo o crescimento da habilidade de se colocar
no lugar do outro, seja diretamente fornecendo oportunidade das crianças perceberem
como são os outros (OLIVEIRA, 1995, p. 135).
Marcellino (2001, p. 69) enfatiza que o adulto utiliza o “brinquedo como
instrumento de dominação do grande sobre o pequeno”, deste modo, usa o brinquedo para tornar
as crianças iguais aos adultos. Entende-se que a infância é vista como esperança, na
possibilidade de mudança, de transformação social, como uma forma de renascimento. Assim,
não se pode atribuir ao lúdico o significado de passatempo, e sim utilizá-lo como uma
possibilidade de evidenciar novas possibilidades de se desenvolver.
Considera-se que durante as atividades lúdicas o sentimento de prazer é aflorado.
Isso possibilita à criança o compartilhamento de experiência com outros infantes ou até mesmo
com adultos, contribuindo significativamente para sua formação humana. Assim, acredita-se
que momentos de brincadeiras nos mais diversos ambientes contribuem para o desenvolvimento
infantil, possibilitando seu envolvimento social.
Tendo em vista os benefícios que o brincar proporciona, é fundamental que sejam
assegurados tempo e espaços para o desenvolvimento de atividades lúdicas, e que estes sejam
vivenciados com intensidade durante a infância.
Compreende-se que o lúdico, quando desenvolvido de forma diversificada como
uma estratégia de ensino, poderá promover e potencializar o processo de ensino-aprendizagem
da criança. Os contextos escolares e não escolares precisam entender a importância da
ludicidade para o desenvolvimento humano (SANTANA; HAMMES; SILVA, 2016). Entende-
se que a escola é um ambiente propício para ressignificar a ludicidade. No entanto, a família é
o primeiro local de desenvolvimento e de aprendizagem para a criança, sendo fundamental que
os cuidadores entendam que atividades lúdicas podem promover o avanço psicológico,
emocional e cognitivo.
Segundo Couto (2011) diversos ambientes como rua, parques e escola tornam-se
espaços propícios para o desenvolvimento de brincadeiras e jogos, estes por sua vez incentivam
a criatividade, proporcionando novas descobertas e conhecimentos, desenvolvendo sentimentos
como autonomia, cooperação, competição, respeito ao próximo e amizade.
41
Dentro da possibilidade de desenvolvimento de crianças em situação de
acolhimento, Oliveira (2014) enfatiza que as brincadeiras são de grande valia dentro de
ambientes institucionais, enfatizando a importância do desenvolvimento social, afetivo e
cognitivo.
A atividade lúdica é entendida como uma forma de desenvolvimento e
aprendizagem, pois possibilita a interação com outros sujeitos, e, assim, existe a oportunidade
de expandir opiniões e conhecimentos. Nesse sentido, ao analisar a casa de acolhimento como
um espaço de desenvolvimento, apresenta-se a triangulação na qual o lúdico se apresenta como
possibilidade de aprimorar a aprendizagem, tendo em vista que os relacionamentos
proporcionados pelo ambiente constituem parte fundamental para o desenvolvimento infantil
integral dos acolhidos.
Fonte: esquema explicativo criado pela autora (2019).
Propõe-se através do esquema de interação que o desenvolvimento infantil se
manifesta por meio da relação entre lúdico e o ambiente, propiciando a aprendizagem, bem
como o desenvolvimento infantil. Portanto, as atividades lúdicas, quando desenvolvidas com o
objetivo de promover o aprendizado, possibilitam inúmeros benefícios para o desenvolvimento
infantil, como interação social, resolução de problemas, empatia, entre outras habilidades.
Considerando que a casa de acolhimento deve proporcionar um ambiente próximo ao ambiente
familiar, torna-se importante o desenvolvimento de atividades lúdicas como jogos, brincadeira
e divertimento, possibilitando que os acolhidos possam, por meio das interações sociais, rever
seus comportamentos, valores, condutas, atitudes, princípios, etc.
DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
LÚDICO
APRENDIZAGEM RELAÇÃO COM O
AMBIENTE
Figura 3 - Esquema de interação do desenvolvimento infantil
42
3.3 CASA DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E O DESENVOLVIMENTO DE
ATIVIDADES LÚDICAS
Para conhecer o que se tem pesquisado em relação às crianças abrigadas,
institucionalizadas ou acolhidas, buscou-se pesquisar produções científicas de acordo com a
temática da pesquisa em apreço. Procurou-se investigar contributos teóricos que colocaram o
desenvolvimento infantil e atividades lúdicas de criança em situação de acolhimento como foco
em suas pesquisas. Entende-se que a brincadeira promove a relação social não sendo diferente
em crianças em situação de vulnerabilidade social, afetivas moradoras de abrigos ou casas de
acolhimento.
Buscou-se nas bases de dados Google Acadêmico; Scientific Eletronic Online –
Scielo; Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes; Literatura
Latino Americana e do Caribe em Ciências Sociais e de Saúde -Lilacs, utilizando os seguintes
descritores: atividades lúdicas, atividades lúdicas e casa de acolhimento, atividades lúdicas e
desenvolvimento infantil, atividades lúdicas e educadores.
Dentro dos inúmeros estudos encontrados selecionaram-se estudos que tratam sobre
atividades lúdicas em contextos escolares e não escolares. Partindo deste levantamento, foi
elaborada a Tabela 1 (resultado do levantamento dos descritores a partir das bases de dados).
Tabela 1- Resultados encontrados nas bases de dados por descritores da pesquisa
Nº DESCRITORES GOOGLE
ACADÊMICO SCIELO CAPES LILACS
01 Atividades Lúdicas 88.200 2 1.150 223
02 Atividades Lúdicas e Casa de
Acolhimento 20.300 0 35 0
03 Atividades Lúdicas e Desenvolvimento
Infantil
48.600
17 294 43
04 Atividades Lúdicas e Educadores 41.500 4 156 7
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Ao finalizar as buscas, foram identificados os totais apresentados na tabela 1, fazendo-
se necessário um detalhamento dos estudos para leitura dos resumos, que foi realizado a partir
de refinamento de descritores na base de dados. No Google Acadêmico, refinaram-se os dados
43
através da classificação por período (1990-2018) e idioma português. No Scielo, foi realizado
refinamento a partir dos descritores utilizando os filtros: estudos realizados no Brasil; idioma –
português; ano de publicação de 1990 a 2018; temática ciências humanas - educação.
No periódico Capes, o refinamento dos resultados foi realizado através das seguintes
áreas: ciências humanas, educação, ano de publicação 1990 a 2018 e o tipo de literatura artigos.
No Lilacs, a realização da pesquisa ocorreu a partir da seleção dos filtros: país – Brasil, idioma
– português; assunto – educação.
Foram destacados os artigos que abordavam as atividades lúdicas em outras
perspectivas que não a de criança, desenvolvimento infantil e educadores. Identificou-se que
no campo das atividades lúdicas existem inúmeros estudos abrangendo diversos contextos e
áreas: ludicidade na vida das educadoras (JURDI; SCRIDELLI, 2014; JURDI et al., 2014),
jogo como instrumento educativo (MIRANDA, 2002), o brincar de crianças abrigadas
(OLIVEIRA, 2014), o brincar e o desenvolvimento infantil (QUEIROZ; MACIEL; BRANCO,
2006), lúdico na educação (OLIVEIRA; DIAS, 2017), lúdico na educação infantil (RESENDE;
COSTA, 2017; KISHIMOTO, 2001), atividade lúdica e o desenvolvimento cognitivo
(SCARPINELLI; MATTOS, 2015).
Realizou-se a leitura dos resumos das produções científicas selecionadas, separando-
se nove para leitura completa, conforme Quadro 1
Quadro 1 - Sistematização dos trabalhos
TÍTULO AUTOR PERIÓDICO BASE DE
DADOS ANO
Brinquedos e materiais
pedagógicos nas escolas
infantis
KISHIMOTO, Tizuko
Morchida
Educação e Pesquisa Capes 2001
O fascínio do jogo, a alegria
de aprender
MIRANDA, simão de Linhas críticas-
UNB
Acadêmico
2002
Brincadeira e
Desenvolvimento Infantil:
Um Olhar Sociocultural
Construtivista
QUEIROZ, Norma
Lucia Neris de
MACIEL, Diva
Albuquerque
BRANCO, Ângela
Uchôa
Revista Paidéia Capes 2006
A ludicidade presente na vida
das educadoras sociais:
reflexos no trabalho com
crianças abrigadas
JURDI, Andrea
Perosa Saigh;
SCRIDELLI,
Caroline
Cadernos
Brasileiros de
Terapia
Ocupacional
Acadêmico
2014
Oficinas Lúdicas:
Favorecendo Espaços de
JURDI, Andrea
Perosa Saigh et al.
Revista Ciência em
Extensão
Acadêmico
2
2014
44
TÍTULO AUTOR PERIÓDICO BASE DE
DADOS ANO
Encontro para Crianças
Abrigadas
Brincadeiras de Crianças
Abrigadas ― Estudo
Etnográfico
em Instituição de
Acolhimento
OLIVEIRA, Sonia
Cristina de
Educere Google
Acadêmico
2014
A Importância de Atividades
Lúdicas no
Desenvolvimento
Cognitivo de Crianças na
Pré-Escola de 3 a 6 anos.
SCARPINELLI,
Daniela; MATTOS,
Gabriel Gonçalves,
Revista Cientifica
de Psicologia
Acadêmico
2015
O Lúdico na Educação
Infantil e suas Interfaces
com a
Psicomotricidade
RESENDE, Clara
Duarte
COSTA, Célia Regina
Bernardes
Revista Núcleo do
Conhecimento
Acadêmico
2017
A Criança e a Importância
do Lúdico na Educação
OLIVEIRA, Carla
Mendes de
DIAS, Adiclecio
Ferreira
Revista Núcleo do
Conhecimento
Acadêmico
2017
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Entre as publicações mais relevantes, pode-se referenciar a tese de doutorado de
Oliveira (2014), que investigou a “brincadeira de crianças abrigadas”, esta pesquisa objetivou
conhecer como as brincadeiras se ajustam ou se integram numa perspectiva de acolhimento,
desenvolvimento e aprendizagens para a vida social das crianças. Durante sua observação, a
pesquisadora verificou atitudes dos cuidadores que separavam grupo de irmãos que queriam
brincar juntos, explicando que estavam seguindo a regra da instituição para não se misturarem.
Segundo a autora, essa separação acaba por excluir as crianças da convivência entre irmãos no
momento das brincadeiras.
A autora observou que, quando as crianças estavam brincando com brinquedos como
bonecas, as cuidadoras ficavam falando para as crianças não tirarem a roupa das bonecas, para
terem cuidado para não quebrar e etc., desta forma, repreendendo o ato de brincar da criança.
Assim, Oliveira (2014) destaca que o brincar é uma prática importante para o desenvolvimento
infantil, pois quanto mais a criança brinca, mais suas relações sociais crescem. A autora
supracitada pontua que historicamente a criança passou por um processo de conquistas
legitimadas em leis, entretanto na prática ainda é precária a sua efetivação.
45
Oliveira (2014) afirma que, com base nos dados sobre este aspecto de superar velhas
práticas que contradizem a expectativa e as necessidades dos novos tempos, um caminho
apontado é a capacitação dos orientadores que vivem no dia a dia a prática da proteção em
detrimento dos direitos. Sendo assim, a formação pode reorientar a prática, inclusive, com
maior percepção da importância das crianças se envolverem nas atividades brincantes,
eximindo-se então os educadores/cuidadores do restrito papel de cuidadores sentinela, que
apenas vigiam. Por outro lado, o comportamento e a prática, destes, refletem o papel filosófico
exercido pela instituição que, ao contrário, deveria acolher a criança, antecipando por meio de
metodologias lúdicas abertas o prazer, a curiosidade e o espírito criativo e puro que as crianças
deixam fluir por meio das brincadeiras.
O estudo de Oliveira (2014) mostra que a instituição possuía uma profissional
responsável por desenvolver atividades recreativas, no entanto as atividades não eram
desenvolvidas com perspectiva de integração entre as crianças abrigadas.
Com relação à ludicidade em contextos de casa de acolhimento, uma pesquisa,
desenvolvida por Jurdi e Scridelli (2014), investigou a ludicidade na vida de educadoras,
buscando conhecer como a ludicidade está presente no trabalho e no cotidiano de oito
educadoras sociais que têm por função cuidar de crianças abrigadas em uma instituição de
acolhimento no município de Santos - SP.
Como resultado, observou-se que a atividade de brincar das crianças está em sua
maioria dissociada da prática das profissionais responsáveis pelo cuidado das crianças. O
brincar deveria ser uma atividade diária para as crianças. O papel do adulto é fundamental para
que a experiência de estar com o outro humano, em uma relação de confiança, possa possibilitar
a criatividade de ambos, crianças e adultos.
Jurdi e Scridelli (2014) procuraram mostrar a necessidade de preocupar-se com a
infância com o intuito de possibilitar à criança uma vida adulta mais saudável, criativa e capaz
de permitir que a essência da ludicidade perdure na fase adulta do desenvolvimento.
Ainda sobre situação de abrigo, Jurdi et al. (2014) mostram que um grupo de
extensionistas envolvendo alunos e profissionais de diversas áreas do conhecimento
desenvolveram em uma instituição de abrigo atividades voltadas para o brincar. Durante a
observação na instituição, foi notado que o brincar estava presente na rotina diária da
instituição, de forma geral, como uma atividade direcionada para entretenimento das crianças
menores. Foi observado que as monitoras, que deveriam ser responsáveis pelo cuidado e pelas
atividades de lazer, entre outras atividades das crianças institucionalizadas, desempenhavam
em sua maioria somente o papel de apartar brigas e distribuir brinquedos, não participando da
46
brincadeira. O que se observou foi que os cuidadores acreditavam que a sua função era somente
cuidar do espaço físico, dos brinquedos e da segurança das crianças.
Com o desenrolar das oficinas, os extensionistas colocaram o brincar na perspectiva
de desenvolvimento, buscando o envolvimento dos monitores e participando efetivamente do
momento de aprendizado.
Como resultados, foi observado que, em relação às crianças, apesar de certa
rotatividade na instituição, foram verificadas algumas mudanças de comportamento em todas
as crianças participantes das oficinas. Uma dessas mudanças se refere ao fato de que no início
as crianças não entendiam o motivo pelo qual estavam participando daquelas atividades, mas
depois, com o passar do tempo, as próprias crianças formavam a roda para iniciar as atividades
(JURDI et al., 2014).
As oficinas lúdicas propiciaram o brincar tanto na dimensão da presença, de estar
junto, quanto na dimensão de uma sustentação física. Na interação entre adultos e crianças,
importa que o brincar mútuo possa oferecer o espaço do diálogo, da comunicação e do
acolhimento. O trabalho desenvolvido pelas oficinas lúdicas confirmou que a atenção às
crianças deve ser feita com a ética da delicadeza e a ética do encontro.
Observa-se que as atividades lúdicas proporcionam através do brincar momentos
de descontração e divertimento, podendo esses momentos terem função estritamente lúdica ou
educativa. No entanto, percebe-se, através da pesquisa realizada, que dentro do contexto de
abrigo ou casa de acolhimento essas práticas são pouco evidenciadas, pois os envolvidos com
os cuidados e a educação das crianças não percebem o brincar como uma forma de
desenvolvimento.
Buscando identificar o significado de brinquedos e materiais pedagógicos para
professores de educação infantil de São Paulo, Kishimoto (2001) realizou uma pesquisa do tipo
survey, acompanhada de recursos etnográficos como entrevistas, observações e vídeos, no
período de 1996 a 1998. Utilizou-se triangulação dos dados obtidos através dos recursos
escolhidos para coleta de dados em busca das razões para escolha e uso de determinados
brinquedos e materiais pedagógicos.
Os resultados apontaram que o público investigado apresenta concepção de criança
desprovida de autonomia e de educação infantil voltada para a aprendizagem de conteúdos
específicos. Os brinquedos e materiais pedagógicos mais significativos são nomeados de
educativos para trabalho dentro da sala de aula, já em ambientes externos são desenvolvidas as
atividades das aulas de educação física. Brinquedos que incentivem o simbolismo e a interação,
47
como jogos de faz-de-conta, construção e socialização, aparecem com percentuais desprezíveis,
apontando o pouco valor da representação simbólica e do brincar.
Scarpinelli e Mattos (2015) realizaram uma revisão da literatura e observaram que
o brincar não é apenas natural da criança, mas o processo de brincar e as brincadeiras abrangem
aprendizagens importantes para o desenvolvimento infantil, por isso deve receber atenção de
um mediador durante o desdobramento da brincadeira, buscando melhorar o aprendizado para
a vida da criança e promovendo o desenvolvimento integral da criança. Levando para dentro
do contexto da casa de acolhimento, vê-se que é fundamental que o educador/cuidador participe
do momento do brincar das crianças e dos adolescentes acolhidos com o intuito de potencializar
a aprendizagem dos envolvidos, constituindo-se um momento de compartilhamento.
A pesquisa realizada por Resende e Costa (2017) buscou compreender a
importância do lúdico na educação infantil e suas interfaces com a psicomotricidade visando o
desenvolvimento integral das crianças. Percebe-se que os autores buscaram investigar o lúdico
dentro da educação formal, especificamente da educação infantil. Pode-se perceber que as
atividades lúdicas com ajuda da psicomotricidade ajudam a criança a ter consciência corporal
integrada às emoções, aos gestos, às atitudes e às posturas, tornando-se uma criança mais
criativa e segura de si mesma por meio de sua práxis (RESENDE; COSTA, 2017).
Com o intuito de investigar o lúdico no processo educativo, Oliveira e Dias (2017)
desenvolveram um estudo mostrando a importância da ludicidade como indispensável para o
desenvolvimento e a apreensão de conhecimento, pois proporciona a percepção, imaginação,
fantasia e os sentimentos. Por meio das atividades lúdicas o infante comunica-se, fala consigo
e com o mundo, cria relações sociais, conhecimentos, desenvolvendo-se integralmente
(OLIVEIRA; DIAS, 2017). Apesar de a pesquisa em questão estar voltada para a realidade da
educação formal, acredita-se que as atividades lúdicas possuem as mesmas atribuições quando
direcionadas para o desenvolvimento integral da criança.
Miranda (2002) buscou investigar o jogo como instrumento para o processo
educativo. O autor enfatiza que é comum encontrar nos planejamentos das séries iniciais o jogo
como estratégia para aprendizagem, mostra que o jogo promove aprendizagem de habilidades
como socialização, motivação, afeição e criatividade, e a sua cognição volta-se para o
aprendizado, proporcionando o desenvolvimento integrado da criança.
Abordar a brincadeira de faz de conta como atividade que promove a representação
e a metarepresentação no desenvolvimento da criança e o papel do professor no
desenvolvimento e na educação infantil foi a tarefa de Queiroz, Maciel e Branco (2006). Os
resultados mostram que ainda existem lacunas referentes a estudos com relação a brincadeiras.
48
Baseado nessa conclusão, pode-se afirmar que nos inúmeros estudos desenvolvidos dentro do
campo do lúdico existe uma grande vertente que aponta para o termo relacionado à
aprendizagem em contextos formais de educação. Entretanto, compreende-se que os espaços
de educação não formal possuem características que possibilitam o desenvolvimento do brincar
como estratégia para a evolução de habilidades tanto na infância como na adolescência.
49
4 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: CASA DE
ACOLHIMENTO/ABRIGO
4.1 ASPECTOS LEGAIS
As primeiras instituições de atendimento a crianças em situação de abandono
surgiram no Brasil no período colonial, por volta do século XVIII, denominadas casas de
expostos. Essas casas eram administradas pelos representantes da corte e da igreja católica.
Vale ressaltar que esse atendimento tinha um caráter meramente assistencialista destinado à
criança abandonada, pois, na época do Brasil-Colônia, não existia nenhum tipo de política
pública para o atendimento deste público. O receptáculo de metal ou madeira, no qual as
crianças eram deixadas, era instalado nas portas das Casas de Expostos, mantendo o anonimato
do autor ou da autora do abandono. Essa foi a instituição brasileira que mais tempo perdurou
no recebimento de crianças abandonadas. “Criado na época do Brasil colônia perpassou e
multiplicou-se no período imperial, conseguiu manter-se durante a república e só foi extinta
definitivamente na década de 1950” (MARCÍLIO, 1997, p. 51).
Figura 4 - Roda de expostos
Fonte: Baptista (2010, p. 29)
50
No Brasil, três rodas de expostos foram utilizadas nas cidades mais importantes da
época: Salvador, Rio de Janeiro e Recife, respectivamente (MARCÍLIO, 1997). A roda de
expostos perdurou por praticamente um século e meio, sendo a única forma de atendimento e
assistência às crianças abandonadas no Brasil. Esse instrumento era utilizado por famílias que
não tinham condições de criar seus filhos, portanto os deixavam em uma roda colocada na
entrada de uma instituição, girando para dentro da casa de expostos.
No período colonial, o Brasil seguia as determinações de Portugal em relação ao
tratamento de crianças em situação de abandono, sendo responsabilidade da câmara de cada
município buscar meios para atender crianças sem família e remunerar as amas de leite ou
enviar para Santa Casa de Misericórdia (BAPTISTA, 2010).
Após a Independência, em 1822, ocorreu o crescimento populacional no Brasil,
havendo também o desenvolvimento social, industrial, entre outros. Junto a isso veio,
automaticamente, a falta de emprego para a população, as desigualdades sociais, o desemprego
e a violência, refletindo diretamente no aumento de moradores de rua, os quais muitos eram
crianças e adolescentes. Na maioria das vezes eram simplesmente abandonadas por suas
famílias.
Frente a essa problemática, sentiu-se a necessidade da efetivação de leis para
amparar e proporcionar melhor atendimento social e educacional para os abandonados.
Sedimentava-se a idéia de que o aumento populacional afetava negativamente o
desempenho econômico, uma vez que a pobreza tornava-se onerosa ao Estado e
propiciava o aumento do número de crianças abandonadas. Essas idéias
desencadearam iniciativas, tanto públicas quanto privadas, para enfrentar essas
questões, efetivando um processo que gradativamente substituiu a atenção individual
pela asilar, por meio da institucionalização maciça, mantendo, em condição de órfãos
e abandonados, aqueles que, carentes de apoio familiar, foram assumidos como
problemas sociais (BAPTISTA, 2010, p. 23).
Com o advento da Proclamação da República em 1889, um novo método de
assistência à infância começa a ser pensado, mas, agora, discutindo-se sob o olhar da ciência
médica, jurídica e pedagógica, e não apenas da igreja (GIROTO; VIEIRA, 2007).
Em meados do século XIX, têm início no Brasil as inquietações de como atender
ao público que sofria com a miséria e o abandono. Neste período, começam os debates para a
efetivação de políticas públicas voltadas para a infância na tentativa de organizar o atendimento
e a assistência a esse público. Assim, o Estado tomou a frente para desenvolvimento de leis
específicas a fim melhor atender as crianças e os adolescentes em situação de vulnerabilidade
social. Rizzini e Rizzini (2004) apontam para a triste situação vivida pelas famílias que
51
enfrentavam a pobreza e a miséria na época, ressaltando que as crianças nascidas nestas
situações tinham quase sempre seu destino definido, pois eram encaminhadas pelo Estado a
instituições como se fossem órfãs ou abandonadas.
O crescimento demográfico das cidades evidenciou o número de crianças e
adolescentes em situação de abandono. Essas crianças passaram a ser consideradas como
estando em situação irregular perante o Estado. E passaram a ser nomeadas como menores
infratores, despertando o interesse e a necessidade de políticas públicas voltadas para o
atendimento a essas demandas. Em 1921 foi criada a lei nº 4242, que trata da despesa geral do
país. Em seu artigo terceiro, entre outros tópicos, autoriza o governo a organizar o serviço de
assistência e proteção à infância abandonada e delinquente (BAPTISTA, 2010).
Com a finalidade de proteger e dar assistência às crianças, foi criado no Rio de
Janeiro o primeiro Juízo de Menores do país, responsável pela elaboração do Código de
Menores em 1927, idealizado por Melo Mattos – primeiro juiz de menores do Brasil. A partir
deste marco histórico, o Estado passou a assumir a responsabilidade legal pela tutela de crianças
órfãs e abandonadas. Este foi o primeiro ato legal que o Brasil institucionalizou com relação às
crianças e adolescentes em situação de risco. Cabe ressaltar que as políticas de assistência do
Estado eram baseadas em ações de repreensão ou violência, pois focavam na punição e não na
recuperação dos jovens (RIZZINI; RIZZINI, 2004).
Em 1942, foi instituído o Serviço de Assistência ao Menor - SAM. Tratava-se de
um órgão ligado ao Ministério da Justiça que funcionava como um equivalente do sistema
penitenciário, para a população menor de idade (IZAR, 2011). O sistema previa atendimento
diferenciado para o adolescente autor de ato infracional e para o menor carente ou abandonado.
Os que cometiam atos infracionais eram encaminhados para reformatórios e casas de correção,
e os menores carentes ou abandonados seguiam para patronatos agrícolas e escolas de
aprendizagem de ofícios urbanos.
Em 1964, o sistema SAM encontrava-se em decadência, sendo extinto
posteriormente. Foi criada então a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (Funabem),
órgão normativo que tinha a finalidade de criar e implementar a política nacional de bem-estar
do menor, através da elaboração de diretrizes políticas e técnicas, direcionadas para o
enfrentamento da herança deixada pelo sistema SAM.
A Fundação tinha por missão inicial instituir o “Anti-SAM”, com diretrizes que se
opunham àquelas criticadas no SAM. As propostas que surgem para a instauração de
um novo órgão nacional centram-se na autonomia financeira e administrativa da
instituição e na rejeição aos “depósitos de menores”, nos quais se transformaram os
52
internatos para crianças e adolescentes das camadas populares (RIZZINI; RIZZINI,
2004, p. 35).
As unidades da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) ficariam sob
a responsabilidade dos governos estaduais, sujeitas à supervisão das políticas gerais
estabelecidas pela Funabem (BAPTISTA, 2010). No mesmo ano da instituição da Funabem foi
criada a Política Nacional de Bem-Estar do Menor - PNBEM. Sua finalidade era valorizar a
vida familiar e a integração do menor na comunidade, uma vez que o internato deveria ser a
última possibilidade (BRASIL, 1964).
A partir desse nicho de desenvolvimento social, observou-se que o Código de
Menores e as inúmeras tentativas de institucionalizar o atendimento de crianças em situação de
vulnerabilidade social não atendiam de forma adequada os envolvidos nessa questão de
desamparo. Felizmente essa situação de abandono foi sensivelmente considerada junto à
promulgação da Constituição Federal de 1988. Nela, as crianças passaram a ser vistas como
sujeitos de direito, conforme determina o artigo 227:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,
1988).
A Constituição Federal de 88 proporcionou novos debates e diálogos acerca de
como estava sendo tratada a situação de crianças e adolescentes no Brasil. A partir dessas
inquietações, foi elaborada a lei 8.069, de 13 de julho 1990, denominada Estatuto da Criança e
do Adolescente - ECA.
Analisando o conteúdo da referida lei, verificou-se que esta proporcionou
significativas contribuições para o público infanto-juvenil, efetivando as formas de atendimento
para crianças e adolescentes abandonadas ou vítimas de algum tipo de violência e/ou maus-
tratos. Significa dizer que, com relação à efetivação de leis, houve muitos avanços a partir da
promulgação do ECA.
O ECA traz um novo olhar para o atendimento de crianças e adolescentes em
contextos de vulnerabilidade social, criando sistemas de atendimento como uma forma de
garantir seus direitos.
Em 1991, foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
– Conanda (BRASIL, 1991), o qual integra a estrutura básica da Secretaria de Direitos Humanos
53
da Presidência da República - SDH/PR, sendo um órgão colegiado permanente de caráter
deliberativo e composição paritária, previsto no artigo 88 da lei no 8.069/90 - ECA.
O ECA também promoveu mudanças na forma de tratamento destinado às crianças
e aos adolescentes que se encontravam em situação de abandono, situação observada
diariamente na sociedade brasileira. Entre os motivos estão: abandono familiar, tráfico de
drogas, violências físicas e sexuais. Esses são apenas alguns dos motivos que levam crianças e
adolescentes para as instituições de abrigo.
A doutrina de proteção integral considera a criança e o adolescente como sujeito de
direitos e deveres, com prioridades absolutas e como pessoas em desenvolvimento,
sem enfoque na pobreza, no trabalho ou no assistencialismo, destacando a proteção
integral como direito e as medidas socioeducativas não como repressão, isolamento,
mas como um processo de sanção educativa para mudanças de trajetória, com ênfase
nas políticas públicas e no apoio sócio familiar (GIROTO; VIEIRA 2007, p. 6).
Conforme as Orientações Técnicas: Serviço de Acolhimento para Crianças e
Adolescente, “o melhor lugar para o desenvolvimento da criança e do adolescente é o ambiente
familiar saudável” (BRASIL, 2009, p. 13). Assim, entende-se que, quando o Estado recebe uma
criança ou adolescente em situação de vulnerabilidade, seja qual for o motivo, e a encaminha
para um abrigo e/ou casa de acolhimento, deverá garantir uma estrutura adequada que contribua
para seu desenvolvimento. Estrutura, neste caso, deve ser entendida no sentido amplo, como
um local adequado para o desenvolvimento integral da criança ou adolescente, do ponto de vista
educacional, social e afetivo.
Diversas pesquisas concluíram que o afastamento do convívio familiar pode ter
repercussões negativas sobre o processo de desenvolvimento da criança e do
adolescente quando o atendimento prestado no serviço de acolhimento não for de
qualidade e prolongar-se desnecessariamente (BRASIL, 2009, p. 13).
O fato de ser abandonado ou retirado do convívio familiar é traumático para a
criança ou o adolescente, os quais precisam encontrar no abrigo uma rede de sustentação e apoio
básico e essencial, a fim de poder restabelecer a autoestima, o autocontrole e o equilíbrio
emocional e, assim, enfrentar os problemas decorrentes do período de institucionalização.
4.2 CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE ABRIGO E/OU CASA DE ACOLHIMENTO
O atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade dentro do
contexto brasileiro passou por vários episódios de reformulação. A partir da estruturação do
54
ECA, os abrigos e/ou casa de acolhimento receberam uma nova configuração, possibilitando às
crianças e aos adolescentes direitos ao atendimento humanizado.
No artigo 101 do ECA, a institucionalização de crianças ou adolescentes ocorre por
meio de decisão do conselho tutelar ou de medida judicial. De acordo com os artigos 22 e 24,
“a medida de perda do poder da família deve ser aplicada apenas quando os pais ou responsáveis
não cumprirem com seus deveres de sustento, guarda e educação dos filhos menores, bem como
estarem sofrendo maus-tratos, abuso” (BRASIL, 1990, p. 7).
O abrigo é definido como uma “instituição de caráter residencial para pequenos
grupos de crianças e adolescentes, a primeira providência das organizações foi a adaptação
física dos espaços” (GUARÁ, 2010, p. 59). Está implícito, de acordo com as mudanças
recomendadas pelo ECA, que as alterações físicas devem ser acompanhadas de um novo
modelo socioeducativo.
Um programa de acolhimento institucional para um pequeno grupo deve ser capaz de
contemplar a complexidade das questões que envolvem a responsabilidade de educar
e proteger crianças – e famílias – que se encontram em situação de grande
vulnerabilidade e sofrimento. Uma tarefa que exige, além de espírito de solidariedade
e boa vontade, uma equipe bem preparada, com a intenção de educar (GUARÁ, 2010,
p. 59).
A publicação do ECA mudou as nomenclaturas de orfanato, educandário ou
colégio interno para abrigo. Para Cavalcante, Magalhães e Pontes (2007b, p. 332), a definição
de abrigo é “asilo, esconderijo, recanto, albergue, refúgio, moradia, ninho ou acolhida”.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010), as instituições de
acolhimento podem estar vinculadas aos governos e municípios, assumindo o caráter de
instituições consideradas públicas, ou podem ser privadas. Sendo do segundo tipo, podem ou
não contar com recursos públicos para o financiamento de seus serviços prestados às crianças
e aos adolescentes.
O ECA veio promover a proteção integral da criança e do adolescente como sujeitos
de direitos, em que a convivência familiar e comunitária passa a ter relação com as redes de
assistência, buscando a reintegração familiar, como está previsto no Art. 92 e seus incisos
(BRASIL, 1990). Nesse caso, passam a ser responsáveis pelo cuidado da criança: a família, a
sociedade e o Estado, os quais devem garantir o direito à vida, à saúde, à alimentação, ao lazer,
à cultura, à dignidade, à liberdade à convivência familiar e comunitária.
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família
e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada convivência familiar e
55
comunitária, em ambiente livre de presença de pessoas dependentes de substância
entorpecentes (BRASIL, 1990, p. 5).
Dentro da perspectiva de formar uma nova identidade para a instituição de
acolhimento, Guará (2010) mostra que a comunidade pode tornar este acolhimento mais eficaz
em relação à função social. Tanto as crianças quanto os educadores juntos compartilham o
mesmo objetivo: a inclusão social plena dos menores.
O ECA estabelece que nos processos de abrigamento deve-se priorizar o menor
tempo possível dos menores nas casas de acolhimento, apressando a reintegração ou reinserção
familiar. Nesse caso, cabe à equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude supervisionar
o desenvolvimento das ações em busca de reintegrar a criança a sua família (BRASIL, 1990).
Segundo as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes, essas instituições de abrigo e/ou casa de acolhimento devem atender pelo menos
três características: aspectos externos, internos e as atividades que devem ser desenvolvidas
diariamente gerando, assim, uma rotina.
Na configuração externa, deve-se evitar placas e construções que configurem
claramente ser uma instituição. O abrigo e/ou casa de acolhimento deve assemelhar-se às
residências próximas possibilitando a convivência comunitária. Os espaços internos devem
assemelhar-se a uma residência, evitando quartos e refeitórios grandes, bem como cozinhas e
lavanderias inacessíveis às crianças e adolescentes, e proporcionando acessibilidade para
crianças com deficiência se locomoverem e se envolverem nas atividades propostas (BRASIL,
2009).
A estrutura interna também deve possibilitar o desenvolvimento de atividades mais
próximas do cotidiano de uma família com ambientes próprios para brincadeiras e atividades
infantis. É também importante a existência de brinquedos e livros acessíveis às crianças.
Sempre que for possível é ainda importante um espaço para recreação ao ar livre (INSTITUTO
DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2010), bem como local reservado para estudo e
realização de tarefas escolares, sendo necessários espaços individuais para guardar roupas e
pertences particulares e espelhos na altura da criança ou do adolescente, possibilitando a visão
da própria imagem.
A casa de acolhimento, enquanto instituição, deve servir à criança e/ou ao
adolescente abrigados como um lar, um porto seguro, um lugar de acolhimento no qual eles
possam se sentir acolhidos, assistidos e seguros, sendo que todas as atividades desenvolvidas
são importantes para seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor.
56
Cavalcante, Magalhães e Pontes (2007a) apontam que o abrigo é um lugar de
desenvolvimento infantil, uma vez que proporciona condições para que a criança desenvolva
habilidades e competências fundamentais na sua personalidade e na interação social.
No Brasil foram elaborados, ainda, outros planos, programas e leis voltados para o
atendimento da criança e do adolescente em situação de vulnerabilidade social, como é o caso
da Lei Orgânica de Assistência Social – Loas e do Plano Nacional de Promoção, Proteção e
Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, que serão
tratados a seguir.
Em 1993, foi publicada a lei 8.742, denominada Lei Orgânica de Assistência Social
- Loas. Essa lei dispõe sobre a organização da assistência social e regulamenta, entre outras
questões, o atendimento às crianças em situação de risco e vulnerabilidade social realizado em
instituições de abrigo. Alguns dos princípios que balizam as determinações previstas na Loas,
referentes à assistência social, são:
I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de
rentabilidade econômica; II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o
destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III –
Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e
serviços de qualidade, bem como a convivência familiar e comunitária, vedando-se
qualquer comprovação vexatória de necessidade (BRASIL, 1993, p. 2).
Em 2006, o Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e Adolescentes - Conanda
e o Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS elaboraram o Plano Nacional de
Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e
Comunitária, que reflete o interesse do Governo Federal em dar prioridade para essa temática.
Este tinha como objetivo fortalecer o paradigma da proteção integral e da preservação dos
vínculos familiares e comunitários na qualificação do atendimento dos serviços de acolhimento.
Dentro do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças
e Adolescentes estão previstos os marcos normativos e regulatórios de proteção à criança e ao
adolescente. Entre os tópicos levantados está o reconhecimento da ocupação de educador social
nos programas de proteção à criança e ao adolescente, e verifica-se uma preocupação em
formalizar a profissão do educador/cuidador de abrigos ou casas de acolhimento.
Esse plano adota o termo acolhimento institucional em programas de abrigos e
entidades, conforme determina o Art. 90, Inciso IV, do ECA, como aquele que atende crianças
e adolescentes que se encontram sob medida protetiva, aplicadas nas situações dispostas no Art.
98, por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso dos pais ou
57
responsável e em razão de sua conduta. Segundo o Art. 101, Parágrafo Único, o abrigo é uma
medida provisória e excepcional, não implicando privação de liberdade (BRASIL, 2006).
Para o Plano Nacional de Promoção, Defesa e Garantia do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, o acolhimento institucional para crianças
e adolescentes pode ser oferecido em diferentes modalidades como: Abrigo Institucional para
pequenos grupos, Casa Lar e Casa de Passagem, independentemente da nomenclatura, sendo
que todas fazem parte da rede de programas de abrigos (BRASIL, 2006).
Como forma de organização metodológica das casas de acolhimento, está prevista
a elaboração de Projeto Político Pedagógico - PPP, o qual deve estabelecer estratégias de
atendimentos diferenciados para demandas específicas, mediante acompanhamento
especializado. A postura dos educadores/cuidadores e das famílias acolhedoras e a qualidade
da interação estabelecida com as crianças e os adolescentes representam importantes
referenciais para seu desenvolvimento.
Para tanto, o PPP deve prever estratégias para sua seleção, capacitação e
acompanhamento/supervisão (BRASIL, 2009). Izar (2007) mostra a diferença entre PPP
escolar e PPP de instituições de acolhimento:
Figura 5 - Quadro comparativo dos projetos político-pedagógicos escolar e institucional
Fonte: Izar (2007, p. 87).
A partir da Figura 5, percebe-se que a relação entre o PPP escolar e o PPP
institucional está centrada na sua finalidade, variando conforme as ações dos profissionais
envolvidos em cada situação, as quais por sua vez levam a uma consequência específica. No
58
caso do PPP escolar, objetivo, conteúdo e tempo são determinados, e a ação do professor volta-
se para o grupo seriado (classe escolar) com foco no desenvolvimento cognitivo e na formação
profissional. Como consequência, sua ação pode ou não repercutir na dinâmica familiar e
comunitária. Com relação ao PPP institucional, objetivo, ação e tempo são personalizados, e a
ação da equipe multidisciplinar está voltada para a situação individual de cada criança e
adolescente, buscando o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Consequentemente sua ação repercute diretamente na dinâmica familiar e comunitária.
Apesar da busca por um PPP institucional coerente e que se materialize em ações
eficazes para as crianças e adolescentes abrigados, a família estruturada ainda é o melhor lugar
para a criança se desenvolver. Uma vez que cada família possui uma dinâmica própria de educar
e cuidar e a criança que não pode ser educada por sua família precisará ser recolhida pelo
Estado, as instituições necessitam trabalhar em busca da melhor forma de proteger e educar.
Torres (2015) comenta que, quando a criança não pode ser criada e educada por sua
família, priorizando sua proteção, será necessário inseri-la nas instituições de abrigo. Entende-
se que o melhor local para uma criança crescer e se desenvolver é o convívio familiar. No
entanto, segundo Freitas (2010), muitas crianças não têm o privilégio de compor uma família
unida e organizada, necessitando, por diversos fatores, viver em locais de abrigo, também
conhecidos como casas de apoio, de passagem, lares substitutos, entre outras denominações. O
que se percebe na legislação e nas normas de acolhimento é que o atendimento
institucionalizado deve ser o mais próximo possível da rotina de uma família, assim
minimizando os traumas da institucionalização.
Instituição abrigo tem a função de zelar, de proteger à criança e ao adolescente, por
tempo determinado ou indeterminado, reivindicando mediante iniciativas judiciais a
volta às famílias de origem ou a destituição de pátrio poder, que culminará em
processos de adoção (VECTORE; CARVALHO, 2008, p. 442).
Com a finalidade de abrandar o impacto da institucionalização, as casas de
acolhimento devem promover atividades diárias voltadas para a socialização e a formação para
a vida, dentro e fora do contexto de institucionalização. O abrigo precisa, portanto, promover
um ambiente favorável para o desenvolvimento integral de seus abrigados, gerando atividades
que possam promover a interação social e construir o conhecimento para a vida em sociedade,
pois, por mais que o ECA enfatize que a permanência em abrigos seja provisória, muitos
abrigados ficam institucionalizados até os 18 anos.
59
A análise do abrigo como contexto de desenvolvimento da criança institucionalizada
requer a identificação e a percepção da dinâmica de funcionamento de três sistemas
distintos, mas interligados de maneira inexorável: o ambiente físico e social (estrutura,
espaços, equipamento, rotinas, dinâmicas), a psicologia dos educadores (Crenças e
valores dos cuidadores habituais, professores e técnicos) e suas práticas cotidianas
atitudes e padrões de comportamento (CAVALCANTE; MAGALHÃES; PONTES,
2007a, p. 338).
O último sistema que abrange a psicologia dos cuidadores recebe destaque por
envolver diretamente as práticas que acabam por influenciar o desenvolvimento das crianças.
Para Prada e Williams (2007), faz-se necessário capacitar os cuidadores a fim de tornar o
sistema de acolhimento mais educacional. A capacitação envolverá práticas educativas que
proporcionem o desenrolar, a instalação e manutenção de comportamentos pró-sociais, mas,
acima de tudo, que preparem os monitores de abrigo sobre a melhor forma de cuidar.
Para os autores supracitados, tanto a formação profissional quanto a formação
continuada para a equipe técnica e equipe de educadores/cuidadores são fundamentais, com o
intuito de o serviço de acolhimento tornar-se mais eficiente, constituindo um ambiente integral
para os acolhidos.
4.3 OS EDUCADORES/CUIDADORES DA CASA DE ACOLHIMENTO
A situação de abandono, a ruptura de vínculos familiares e a institucionalização de
crianças e adolescentes são investigadas no meio acadêmico em seus mais variados aspectos
(AYRES et al., 2010; BERGER, 2005; RIZZINI; RIZZINI, 2004).
Entretanto, existe a necessidade de se desenvolver “novos estudos que investiguem
as características ambientais e a qualidade do cuidado infantil que possam ser reconhecidas
como favorável a uma trajetória de desenvolvimento” (CAVALCANTE; MAGALHÃES;
PONTES, 2007a, p. 336).
Conforme explicam Jurdi e Scridelli (2014), a função precípua do
educador/cuidador é o acolhimento para o desenvolvimento integral da criança:
Educadoras sociais/cuidadoras são profissionais que cuidam física e emocionalmente
das crianças em acolhimento institucional, sendo as responsáveis pelos cuidados
diários de alimentação, higiene, bem como pelo afeto e pela ludicidade inerente a essa
fase do desenvolvimento (JURDI; SCRIDELLI, 2014, p. 551).
O que de fato se percebe na função do educador/cuidador dentro de instituições que
atendem crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social é a realização de um
trabalho voluntário e, ao mesmo tempo, solidário, cujo objetivo é a manutenção da
60
sobrevivência dos menores abandonados. Após a efetivação do ECA, esta prática passa a ter
caráter efetivamente protetor, culminando com a institucionalização da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS) em 2004, a qual trouxe regras para o desenvolvimento dessa função
dentro dos abrigos e/ou casa de acolhimento.
A PNAS também mostra as situações em que atualmente se demanda acolhimento,
tais como situações de desastres, abandono de menor, separação da família ou da parentela,
violência familiar ou social, drogas, alcoolismo, desemprego prolongado e convivência com a
criminalidade (BRASIL, 2004).
Para que o atendimento possa se efetivar, é necessária a contratação de funcionários
multiprofissionais, cuja a finalidade é desenvolver as atividades diárias, como: acolhimento,
educação, saúde e lazer, sendo que cada um desenvolverá suas atribuições específicas para o
atendimento do acolhido e de sua família, são eles: coordenador (a), psicólogo (a), pedagogo
(a), assistente social, educador/cuidador (a), vigias, serventes e outros funcionários que tornam
possível o funcionamento da casa de acolhimento.
As orientações técnicas do Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes
definem como papel do educador/cuidador: a promoção do vínculo afetivo com as crianças e
os adolescentes, contribuindo para a efetivação de um ambiente familiar, sem, contudo, ter a
pretensão de ocupar o lugar da família (BRASIL, 2009). Para potencializar o atendimento,
deve-se promover espaços de estudos, na realização de compartilhamentos de ideias entre os
educadores/cuidadores e equipe técnica. Barros e Fiamenghi Jr. (2007) comentam que o
cuidador é o responsável por mediar muitos comportamentos que serão desenvolvidos pela
criança, contribuindo para a regulação da atenção, curiosidade, cognições, linguagem, emoções,
etc.
A equipe técnica tem a função de promover suporte especializado aos
educadores/cuidadores para que seja realizado um atendimento individualizado para cada
criança ou adolescente, baseado em sua história de vida, contribuindo com a construção de
estratégias eficientes e possibilitando o desenvolvimento de um ambiente propício e fortalecido
para crianças e adolescentes.
Para que essa proposta seja efetivada, as Orientações Técnicas: Serviço de
Acolhimento para Crianças e Adolescentes enumeram uma relação de critérios para contratação
da equipe de profissionais que atuarão no serviço de acolhimento, possibilitando atendimento
de qualidade:
61
Quadro 2 - Critérios de contratação de profissionais para casa de acolhimento no Brasil
01 Ampla divulgação, com informações claras sobre o serviço, o perfil dos usuários, as atribuições e
exigências do cargo a ser ocupado, salário e carga horária, dentre outros.
02 Processo seletivo, com atenção à exigência da formação mínima para cada função e experiência
profissional.
03 Avaliação de documentação mínima a ser exigida: documentos pessoais, certidão negativa de
antecedentes criminais, atestado de saúde física e mental.
04 Avaliação psicológica e social: análise da vida pregressa, entrevista individual e atividade de grupo
Fonte: Brasil (2009, p. 56).
Para a contratação do coordenador, da equipe técnica e do educador/cuidador,
constituem habilidades e conhecimentos técnicos desejáveis:
1. Coordenador: gestão; trabalho em rede; crianças e adolescentes em situação de
risco; conhecimentos sobre seleção e desenvolvimento de Recursos Humanos;
conhecimento aprofundado do ECA, SUAS, Sistema de Justiça e PNCFC. 2. Equipe
Técnica: violência e exclusão social, crianças e adolescentes em situação de risco,
separações, vinculações, dependência química; desenvolvimento infanto-juvenil;
seleção e desenvolvimento de Recursos Humanos; atendimento a criança, adolescente
e família; atendimento em grupo; trabalho em rede; acesso a serviços, programas e
benefícios; ECA; SUAS; Sistema de Justiça e PNCFC. 3. Educador/Cuidador:
cuidados com crianças e adolescentes; noções sobre desenvolvimento infanto-juvenil;
noções sobre ECA; SUAS; Sistema de Justiça e PNCFC (BRASIL, 2009, p. 57).
Jurdi e Scridelli (2014) apontam que muitos educadores que trabalham com
crianças abrigadas não possuem formação necessária para compreenderem e saberem lidar com
a complexidade apresentada por cada criança acolhida. E Freitas (2010) complementa ao
apontar que o despreparo e a falta de capacitação dos cuidadores empobrecem o
estabelecimento de vínculo entre cuidadores e crianças. Observa-se, assim, que os cuidadores
ocupam um papel fundamental no dia a dia dessas crianças, sendo importante que a equipe
esteja capacitada e estruturada para receber os acolhidos. Assim, se a equipe não souber lidar
com as diversidades que cada criança traz da sua vida em família e em comunidade, poderá
dificultar o desenvolvimento da capacidade plena dessas crianças e adolescentes.
Nessa perspectiva, acredita-se que a educação de crianças e adolescentes não se
desenvolve somente nos meios de educação formal, como salas de aula, mas em todos os
contextos em que se inserem, constituindo a educação não formal. Desse modo, as casas de
acolhimento passam a ser ambientes de efetivo desenvolvimento educacional. Torres (2015)
afirma que a educação acontece também em ambientes não escolares, como é o caso das ONGs,
dos abrigos e de outras instituições que atuam com crianças e adolescentes de zero até 18 anos
de idade, vítimas de violência, abandono ou negligência.
62
Para que a proposta de educação não formal seja efetivada na realidade das casas
de acolhimento, se faz necessária a formação básica e continuada de todos os colaboradores e
envolvidos no desenvolvimento das atividades diárias. Desse modo, observa-se que o nível de
formação ou qualificação dos profissionais das casas de acolhimento é bem diversificado,
variando entre pessoas que possuem o nível fundamental até aquelas com formação em nível
superior. Isso sugere que a formação em nível superior não é requisito obrigatório para a
contratação da equipe de educadores/cuidadores de casas de acolhimento.
Um estudo realizado por Magalhães, Costa e Cavalcante (2011) apontou que a
contratação de educadores para o abrigo mais antigo da região metropolitana de Belém (PA)
aconteceu mediante concurso público. Verifica-se nesse exemplo importante diferença na
forma de contratação demonstrada por Vectore e Carvalho (2008) em seu estudo, no qual
demonstraram que a contratação se efetivava levando em consideração a idade (ter mais de 40
anos), os dependentes (sem dependentes) e a condição civil (sem cônjuge). Nas palavras do
gestor entrevistado, os contratados deveriam ser “sem filhos pequenos, sem mãezinha velha
para cuidar, sem filhas mulheres, porque a mãe de mulher se apega muito a função de avó”
(VECTORE; CARVALHO, 2008, p. 444).
Por outro lado, os estudos realizados por Magalhães, Costa e Cavalcante (2011)
demonstraram um nível de exigência profissional maior, sendo, para efeito de análise
comparativa, o mais adequado para a contratação de educadores/cuidadores de casa de
acolhimento, pois estes tecnicamente não seriam apenas cuidadores, mas sim educadores com
formação adequada.
Nesse sentido, é necessária a efetivação de políticas que regulamentem a
contratação de educadores/cuidadores de casa de acolhimento. Além disso, a formação
continuada desses profissionais deve ser promovida constantemente, a fim de garantir a
excelência e o zelo no cuidado desses abrigados. Uma opção para melhorar o atendimento social
dos abrigados seria a efetivação de programas de formação e capacitação de profissionais
atuantes em tais instituições, a fim de propiciar o pleno desenvolvimento social e intelectual
dos abrigados e possibilitar a construção de uma concepção mais homogênea e integradora da
constituição humana entre os envolvidos (VECTORE; CARVALHO, 2008).
A formação continuada, neste contexto, tem a finalidade de promover o
aperfeiçoamento pessoal de cada profissional numa perspectiva de crescimento individual,
sendo possível criar um espaço de reflexão constante de suas práticas, uma vez que a casa de
acolhimento é um ambiente de educação não formal repleto de possibilidades e diversidades.
Na atualidade, percebem-se avanços com relação aos diálogos acerca da educação não formal,
63
principalmente quando se encontra respaldado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional- LDB (1996), a qual enfatiza e reconhece como “processos educativos aqueles
desenvolvidos em movimentos sociais e organizações da sociedade civil em que a educação
não formal prevalece” (BRASIL, 1996, p. 01).
A casa de acolhimento também deverá promover mudanças nas experiências
vividas por seus acolhidos, desenvolvendo atividades voltadas para cultura, lazer, educação e
profissionalização, pois, quando o adolescente completa 18 anos e não retorna para sua família
nem é colocado em família substituta, ele, necessariamente, deixará a casa de acolhimento e
deverá ser capaz de viver em sociedade.
Diante disso, observou-se que, mesmo com a instituição do ECA, os abrigos
enfrentam dificuldades para mudar certos preconceitos antigos, como, por exemplo, quando os
acolhidos eram tidos como pessoas rotuladas por sua situação social. É necessário que essas
crianças e esses adolescentes sejam vistos como sujeitos de direitos, e não como prejuízo para
a sociedade.
Sendo uma questão de sobrevivência física da criança, é importante considerar em
primeiro lugar suas fragilidades e necessidades afetivas para o enfrentamento da situação
vivida. Daí a importância da qualificação profissional dos educadores/cuidadores de casas de
acolhimento para a garantia mínima desses direitos. Não se pode esquecer que se trata de seres
humanos e crianças e/ou adolescentes em pleno desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e
motor, portanto necessitam de um ambiente saudável, seguro e adequado para promover seu
desenvolvimento.
64
5 HABILIDADES SOCIAIS
O desenvolvimento humano acontece a partir das interações sociais, promovendo
mudanças nas características pessoais e ainda no relacionamento com o ambiente. As interações
sociais ocupam um lugar de destaque frente ao desenvolvimento integral do ser humano. Dentro
do mundo globalizado é fundamental que as pessoas mantenham um relacionamento agradável,
enfrentando atitudes antissociais como violência, bullying, desrespeito, entre outros
comportamentos socialmente não habilidosos.
O senso comum pode entender as habilidades sociais como sinônimo de uma classe
de comportamentos pertencentes a uma pessoa considerada bem-educada, sendo esse um
entendimento parcial e equivocado dessa área de conhecimento. De qualquer forma, esses
comportamentos fazem parte das interações sociais e, portanto, abrangem as habilidades
sociais.
Os comportamentos que ocorrem nas interações sociais podem ser agrupados em
três grandes classes: os antissociais, os passivos e as habilidades sociais. Os antissociais
envolvem atitudes agressivas, podendo ser externalizadas de forma verbal ou física,
comprometendo as relações interpessoais, os comportamentos passivos refletem atitudes como
isolamento e/ou omissão perante as relações sociais e as habilidades sociais, por sua vez, podem
contribuir para relacionamentos socialmente desejáveis (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2017).
Acrescentam-se a esse pensamento as questões tecnológicas, que cada vez mais
parecem afastar as pessoas das relações interpessoais, dando maior importância para a
comunicação por meios eletrônicos. Além disso, observa-se que cada vez mais cedo as crianças
começam a utilizar meios tecnológicos para se comunicar e ocupar seu tempo livre. Este
capítulo tratará sobre as habilidades sociais, seus conceitos, estudos desenvolvidos e a
importância de seu desenvolvimento em abrigos e/ou casa de acolhimento, articulando as
habilidades sociais dos educadores/cuidadores na promoção do desenvolvimento infantil.
5.1 CONCEITUANDO AS HABILIDADES SOCIAIS
Os seres humanos possuem a capacidade de relacionarem-se uns com os outros
gerando, dessa forma, as relações interpessoais. Para que esse relacionamento seja efetivo e
agradável, é necessário o desenvolvimento de habilidades sociais e competência social.
A origem das habilidades sociais, segundo Del Prette e Del Prette (1999), ocorreu
a partir dos conhecimentos de diferentes áreas da psicologia, destacando-se as abordagens
65
cognitiva, comportamental e sociocognitiva. No Brasil, este campo de investigação vem
crescendo, no seu contexto teórico, prático e de pesquisa. Entende-se que, para uma disciplina
ser científica, são necessárias teorias que expliquem o funcionamento humano no âmbito dos
temas que investiga. Prático e de pesquisa porque a base teórica disponível subsidia os avanços
das pesquisas científicas (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2017).
Na perspectiva do desenvolvimento infantil, o relacionamento interpessoal
acontece dentro do ambiente familiar, constituindo-se uma relação de confiança. Esta,
oportuniza à criança um contexto agradável de desenvolvimento. A partir do crescimento
biológico, a criança passa a integrar outros ambientes sociais, como, por exemplo, a relação na
escola com professores e seus pares, possibilitando o desenvolvimento de habilidades sociais.
A família é o primeiro grupo social da criança, onde ela começa o longo e interminável
processo de aprendizagem de convivência social. A escola possui funcionalidade,
muita semelhança com o ambiente familiar no processo de socialização da criança
(DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2014, p. 40).
Dentro do seio familiar os responsáveis pelo desenvolvimento de habilidades
sociais são, na maioria das vezes os adultos responsáveis pelo cuidado e educação,
proporcionando ambientes favoráveis para o aumento das relações sociais de crianças e
adolescentes. Na inexistência dos vínculos familiares, essa função passa ser exercida pelo
cuidador responsável, exemplo disso são crianças que são criadas pelos avos ou aquelas que
são encaminhadas para casas de acolhimento onde os educadores/cuidadores possuem a missão
de cuidar possibilitando um ambiente saudável e promovendo atividades que contribuam para
o desenvolvimento integral dos acolhidos.
O campo de investigação habilidades sociais vem se aprimorando ao longo do
tempo, reunindo diferentes contribuições teóricas da psicologia, como se pode ver em Caballo
(2003), que ressalta o olhar das habilidades sociais a partir de um contexto cultural específico,
não sendo possível avaliá-las fora deste contexto, uma vez que os padrões de comunicação se
diferenciam de uma cultura para outra e mesmo dentro da própria cultura, dependendo de
variáveis como idade, sexo, classe social e educação. Garcia Terán, Moran e Olaz (2012)
consideram as habilidades sociais como um construto multidimensional constituído por
condutas diversas e que se agrupa segundo seu conteúdo e funcionalidade.
No Brasil, os autores Del Prette e Del Prette têm se destacado nas produções
científicas que tratam de habilidades sociais nos seus mais diversos contextos, por esse motivo
serão utilizados como referencial.
66
Para alguns autores, podem existir conceitos distintos com relação as habilidades
sociais e competência social. Por isso, Del Prette e Del Prette (2017) reconhecem e explicitam
a diferença entre esses dois termos utilizados dentro do campo investigativo.
Habilidades sociais referem-se a um construto descritivo dos comportamentos sociais
valorizados em determinada cultura com alta probabilidade de resultados favoráveis
para o indivíduo, seu grupo e comunidade que podem contribuir para um desempenho
socialmente competente em tarefas interpessoais (DEL PRETTE; DEL PRETTE,
2017, p.24). Competência social é um construto avaliativo do desempenho de um
indivíduo (pensamentos, sentimentos e ações) em uma tarefa interpessoal que atende
aos objetivos do indivíduo e as demandas da situação e cultura, produzindo resultados
positivos conforme critérios instrumentais e éticos (DEL PRETTE; DEL PRETTE,
2017, p. 37).
Para lidar com os desafios e demandas do cotidiano, a criança precisa desenvolver
um repertório cada vez mais elaborado de habilidades sociais, tendo em vista que os
relacionamentos com outras pessoas e culturas acontecem cedo na perspectiva do
desenvolvimento, pois as crianças se inserem no ambiente escolar na atualidade ainda bem
pequenas, da mesma forma que utilizam os meios eletrônicos como forma de comunicação e
entretenimento.
Essa área vem recebendo grande atenção de psicólogos, psiquiatras e educadores.
Existe diferentes concepções acerca da relação e divergências entre os conceitos de habilidades
sociais e habilidades de vida. A Organização Pan-americana de Saúde utiliza o temo
habilidades para vida, e são identificadas três categorias principais dessas habilidades:
“habilidades sociais ou interpessoais; habilidades cognitivas; e habilidades para enfrentar
emoções” (MANGRULKAR; WHITMAN; POSNER, 2001, p. 6).
As habilidades de vida sugeridas pela OMS são: “autoconhecimento,
relacionamento interpessoal, empatia, lidar com os sentimentos, lidar com o estresse,
comunicação eficaz, pensamento crítico, pensamento criativo, tomada de decisão e resolução
de problemas” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1997, p. 01).
Quadro 3 - Componentes e definições de habilidades de vida
HABILIDADES DE VIDA DEFINIÇÃO
Autoconhecimento Habilidade de observar o próprio comportamento e reconhecer as próprias
qualidades, dificuldades e recursos.
Pensamento crítico Capacidade de refletir e analisar os aspectos positivos e negativos de diferentes
situações e identificar armadilhas impostas pela mídia, religião, pares, cultura
etc.
Tomada de decisão Habilidade de analisar consequências, riscos e benefícios de diferentes
comportamentos e adotar o mais vantajoso.
Resolução de problemas
Habilidade de enfrentar os problemas de maneira construtiva, utilizando os
próprios recursos e os do meio, sem prejudicar o outro.
67
HABILIDADES DE VIDA DEFINIÇÃO
Pensamento criativo
Capacidade de usar as experiências para explorar recursos e alternativas
disponíveis, respondendo com flexibilidade às situações do dia-a-dia.
Relacionamento interpessoal
Capacidade de fazer, manter, aprofundar e terminar relacionamentos sociais,
afetivos e sexuais.
Empatia
Capacidade de se colocar no lugar do outro, com compreensão e respeito às
diferenças interpessoais.
Lidar com as emoções
Reconhecimento das próprias emoções e sua expressão assertiva, sem danos
para com a própria saúde.
Comunicação eficaz
Capacidade de expressar opiniões, desejos, necessidades e sentimentos de
forma direta e socialmente apropriada, buscando conciliar os direitos de ambas
as partes.
Lidar com o estresse
Habilidade de reconhecer as fontes estressoras e desenvolver estratégias de
enfrentamento para solucioná-las ou reduzir os seus efeitos.
Fonte: Murta, Del Prette e Del Prette (2010).
Com relação as habilidades sociais, Murta, Del Prette e Del Prette (2010, p. 79)
definem como: “como comportamentos sociais que somam no desenvolvimento da
competência social potencializando relacionamentos saudáveis”. Elas são descritas na obra de
Del Prette e Del Prette (2017, p. 28) como um sistema de classes e subclasses, respectivamente:
“comunicação; civilidade; fazer e manter amizades; empatia; assertivas; expressar
solidariedade; manejar e resolver problemas interpessoais; expressar afeto e intimidade
(namoro, sexo); coordenar grupo e falar em público”.
Percebe-se que existe uma zona de relação entre os conceitos de habilidades de vida
e habilidades sociais: empatia, resolver problemas interpessoais e comunicação eficaz fazem
parte do conjunto de habilidades de vida e de habilidades sociais. Para Murta; Del Prette e Del
Prette (2010, p. 80), essa relação acontece quando “algumas das classes de habilidades de vida
se concentram nas relações interpessoais, que é precisamente o foco das habilidades sociais”.
No entanto, nem todas as habilidades de vida são habilidades sociais e vice e versa.
[...] enquanto a noção de habilidades de vida se apoia em categorias empíricas de
comportamentos que remetem a diferentes áreas de conhecimento, a noção de
habilidades sociais se apoia em um campo de aplicação e produção de conhecimento
e, especificamente, em critérios de competência social [...] (MURTA; DEL PRETTE;
DEL PRETTE, 2010, p. 80).
Assim, entende-se que as habilidades sociais são comportamentos que contribuem
para a competência social. Nessa perspectiva, os educadores/cuidadores de crianças e
adolescentes são fundamentais na promoção da aprendizagem das habilidades sociais e
competência social, em contextos considerados como formais, informais e não formais, pois
em todos os contextos os processos cognitivo, afetivo e comportamental estarão presentes nesse
aprendizado.
68
Segundo Del Prette e Del Prette (2001), dentro dos processos de aprendizagem de
habilidades estão presentes pelo menos três processos de desenvolvimento humano: o
cognitivo, afetivo e comportamental, os quais compõem as fases do desenvolvimento humano.
Para elucidar a construção das habilidades sociais, alguns conceitos básicos destacam-se,
respectivamente: desempenho social, habilidades sociais e competência social.
O desempenho social refere-se a qualquer tipo de comportamento emitido na
relação com outras pessoas. Ele inclui tanto os desempenhos que favorecem como os que
interferem na qualidade dos relacionamentos. Nesse sentido, os desempenhos sociais que se
caracterizam como habilidades sociais precisam ser inferidos e definidos (DEL PRETTE; DEL
PRETTE, 2005).
O termo habilidades sociais é geralmente utilizado no plural e refere-se a diferentes
classes de comportamentos sociais do repertório de um indivíduo, as quais contribuem para a
competência social, favorecendo um relacionamento saudável. Competência social define-se
como a capacidade de articular pensamentos, sentimentos e ações em decorrência de objetivos
pessoais e de demandas da situação e da cultura. A competência social pode proporcionar à
pessoa consequências positivas e se estender para sua relação com as demais pessoas (DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 2005).
Para o desenvolvimento desta pesquisa, optou-se por fundamentá-la nas sete classes
e subclasses elaboradas por Del Prette e Del Prette (2005), tendo-as como fundamental para o
desenvolvimento interpessoal da criança.
Quadro 4 - Classes e subclasses de habilidades propostas como relevantes na infância
CLASSES PRINCIPAIS SUBCLASSES
Autocontrole e
expressividade
emocional
Reconhecer e nomear as emoções próprias e dos outros, controlar a ansiedade, falar sobre
emoções e sentimentos, acalmar-se, lidar com os próprios sentimentos, controlar o humor,
tolerar frustrações, mostrar espírito esportivo, expressar as emoções positivas e negativas.
Civilidade
Cumprimentar pessoas, despedir-se, usar locuções como: por favor, obrigado, desculpe,
com licença, aguardar a vez para falar, fazer e aceitar elogios, seguir regras ou instruções,
fazer perguntas, responder perguntas, chamar o outro pelo nome.
Empatia
Observar, prestar atenção, ouvir e demonstrar interesse pelo outro, reconhecer/inferir
sentimentos do interlocutor, compreender a situação (assumir perspectiva), demostrar
respeito às diferenças, expressar compreensão pelo sentimento ou experiência do outro,
oferecer ajuda, compartilhar.
Assertividade Expressar sentimentos negativos (raiva e desagrado), falar sobre as próprias qualidades ou
defeitos, concordar ou discordar de opiniões, fazer e recusar pedidos, lidar com críticas e
69
CLASSES PRINCIPAIS SUBCLASSES
gozações, pedir mudança de comportamento, negociar interesses conflitantes, defender os
próprios direitos, resistir à pressão de colegas.
Fazer amizades
Fazer perguntas pessoais, responder perguntas oferecendo informação livre (auto-
revelação), aproveitar as informações livres oferecidas pelo interlocutor, sugerir atividade,
cumprimentar, apresentar-se, elogiar, aceitar elogios, oferecer ajuda, cooperar, iniciar e
manter conversação ("enturmar-se"), identificar e usar jargões apropriados.
Solução de
problemas
interpessoais
Acalmar-se diante de uma situação-problema, pensar antes de tomar decisões, reconhecer
e nomear diferentes tipos de problemas, identificar e avaliar possíveis alternativas de
solução, escolher, implementar e avaliar uma alternativa, avaliar o processo de tomada de
decisão.
Habilidades
sociais
acadêmicas
Seguir regras ou instruções orais, observar, prestar atenção, ignorar interrupções dos
colegas, imitar comportamentos socialmente competentes, aguardar a vez para falar, fazer
e responder perguntas, oferecer, solicitar e agradecer ajuda, buscar aprovação por
desempenho realizado, elogiar e agradecer elogios, reconhecer a qualidade do
desempenho do outro, atender pedidos, cooperar e participar de discussões.
Fonte: Del Prette e Del Prette (2005).
As classes de habilidades sociais abrangem coincidência em seus elementos, bem
como semelhanças complementares entre si. Isso acontece em decorrência dos agrupamentos
que possuem especificidade no que diz respeito às reações pontuais, mas que, quando avaliados
como um todo, necessitam das habilidades que fazem parte dos demais (DEL PRETTE; DEL
PRETTE, 2005).
Verifica-se, por exemplo, que a competência social no desempenho de habilidades
empáticas requer habilidades de autocontrole, expressividade emocional e civilidade;
que a empatia é um importante componente das habilidades de fazer amizades e que,
ao mesmo tempo, o desempenho assertivo parece ser mais efetivo quando articulado
a habilidades empáticas e de civilidade; que a competência na solução de problemas
necessita de habilidades de autocontrole emocional e das demais classes (DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 2005, p. 48).
Os referidos autores ainda estabelecem uma relação sobre as habilidades sociais
educativas - HSE, apresentando que as atividades educativas podem ocorrer nos mais diversos
meios e sob a responsabilidade de diferentes pessoas, como exemplo, pais, psicólogos, médicos,
assistentes sociais, educadores e cuidadores. As habilidades sociais educativas estão voltadas
para a ascensão do desenvolvimento e aprendizagem do outro. Elas são consideradas
intencionais e acontecem em situações formais ou informais (DEL PRETTE; DEL PRETTE,
2014).
70
Essa definição é basicamente funcional: as habilidades sociais são chamadas de
educativas em função dos efeitos que produzem ou da probabilidade de gerarem
mudanças no repertório comportamental dos educandos, caracterizando um processo
que deve ser realimentado por esses efeitos. Portanto, é importante ressaltar que não
basta a atribuição social do papel de educador e a emissão de determinados
comportamentos, ainda que alguns possam ter maior probabilidade de serem efetivos:
a ação educativa implica em avaliação e monitoramento dos efeitos desses
comportamentos sobre o educando. Por exemplo, para caracterizar uma ação, uma
instrução como educativa, é necessário verificar se o educando aprendeu (DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 2008, p. 520).
A casa de acolhimento é um local de aprendizagem, assim, percebe-se a importância
de o educador/cuidador trabalhar o desenvolvimento das HS e competência social. Del Prette e
Del Prette (2014) elaboraram quatro classes de HSE, sendo nomeadas como: habilidades de
apresentação das atividades, habilidades de transmissão dos conteúdos, habilidades de
mediação de interações educativas entre os alunos e habilidades de avaliação da atividade.
Quadro 5 - Classes e definições de Habilidades Sociais Educativas
HABILIDADE DEFINIÇÃO
Habilidades de apresentação das atividades Explicitar o objetivo ou produto esperado da atividade e os
comportamentos intermediários requeridos, destacando aqueles
que contribuem para o bom andamento da atividade; enfatizar a
sua importância e objetivos; estabelecer e liberar consequências
para os desempenhos e a consecução satisfatória da atividade;
promover a participação do aluno por meio de estratégias de
condução, como jogos e brincadeiras, visando despertar
curiosidade, motivar, desafiar etc.
Habilidades de transmissão dos conteúdos Expor oralmente com clareza; verificar compreensão; apresentar
modelos; fazer perguntas que exige maior ou menor elaboração;
fazer pausa para o aluno elaborar a resposta; parafrasear, repetir,
complementar e resumir as respostas dadas; encorajar; apresentar
a ajuda mínima necessária; esclarecer dúvidas; questionar e pedir
reelaboração da tarefa; observar o desempenho; orientar
individualmente; corrigir e solicitar mudança de comportamento;
promover feedback, especialmente o positivo.
Habilidades de mediação de interações
educativas entre alunos
Chamar a atenção de um aluno para desempenho de outro;
diferenciar a pergunta de um aluno para um colega; solicitar e
valorizar a cooperação, incentivar feedback e elogio entre alunos
como forma de estabelecer uma subcultura do grupo nessa
71
HABILIDADE DEFINIÇÃO
direção.
Habilidades de avaliação da atividade Explicitar critérios e condições; desenvolver habilidades de
autoavaliação dos alunos para que estes também avaliem a
atividade, o próprio desempenho e o dos demais.
Fonte: adaptado de Del Prette e Del Prette (2014).
As HSE podem melhorar o desenvolvimento e o aprendizado da criança. Para a
concretização desse aprendizado, é necessário que os responsáveis pelas atividades diárias
tenham conhecimento e proporcionem programas adequados para se trabalhar essas
habilidades.
Em contextos de educação formal (sala de aula) ou em contextos não formais
(reuniões de comunidades, igrejas ou casas de acolhimento), a possibilidade de realizar trabalho
em grupo com o intuito de promover debates ou resolução de problemas é uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de habilidades sociais, pois fortalece os laços entre os
envolvidos, possibilitando a efetivação de atitudes como respeito, solidariedade,
companheirismo, entre outros.
Os estudos que versam sobre as habilidades sociais têm se expandido, tratando de
grupos de indivíduos específicos e de grupos mais amplos, além de abranger vários contextos
educacionais, conforme será explicitado a seguir.
5.2 ESTUDOS DESENVOLVIDOS SOBRE HABILIDADES SOCIAIS
Visando o melhor aprofundamento no tema das habilidades sociais, buscaram-se
estudos a partir das bases de dados Google Acadêmico; Scientific Eletronic Online - Scielo;
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes; e Literatura Latino
Americana e do Caribe em Ciências Sociais e de Saúde - Lilacs. Nas bases de dados, foram
utilizados os seguintes descritores: habilidades sociais, habilidades sociais e abrigo, habilidades
sociais e casa de acolhimento, habilidades sociais e educadores e habilidades sociais de
cuidadores/educadores de abrigo.
Foram encontradas inúmeras publicações. Todavia, os resultados listaram temáticas
de outras áreas do conhecimento, como: habilidades sociais e tecnologia, habilidades sociais e
72
a punção arterial de estudantes de enfermagem, entre outras. Verificaram-se ainda vários
estudos envolvendo as habilidades sociais como tema secundário.
Entretanto, para o universo desta pesquisa, buscou-se selecionar estudos que
versassem sobre as habilidades sociais dentro de contextos escolares e não escolares
envolvendo preferencialmente as cognições de educadores. A partir deste levantamento, foi
construída a Tabela 2 (resultado do levantamento dos descritores a partir das bases de dados).
Tabela 2 - Resultados encontrados nas bases de dados por descritores da pesquisa
Nº DESCRITORES GOOGLE
ACADÊMICO SCIELO CAPES LILACS
01 Habilidades Sociais 547.000 340 9.210 763
02 Habilidades sociais e
abrigo 34.700 0 180 2
03 Habilidades sociais e casa
de acolhimento 51.300 0 255 0
04 Habilidades sociais e
educadores 154.000 9 860 27
05
Habilidades sociais de
cuidadores educadores
abrigo
449 20 1 0
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Ao término das buscas, foram identificados os totais apresentados na Tabela 2,
sendo necessário um detalhamento do tema para a leitura dos resumos, que foi realizado a partir
do acréscimo de descritores em cada base de dados. No Google Acadêmico, refinaram-se os
dados a partir dos descritores utilizando a classificação por período (1990-2018) e idioma
(português).
No Scielo, a busca foi realizada através dos descritores utilizando os filtros: estudos
realizados no Brasil; idioma – português; ano de publicação – de 2000 a 2018; temática –
Ciências Humanas; área temática – Educação e Psicologia; e tipo de literatura – artigos.
No periódico Capes, o refinamento dos resultados foi feito a partir das seguintes
áreas: Ciências Humanas, Educação e Psicologia; em que foi obtido um número elevado de
pesquisas, contudo, os trabalhos identificados estavam ligados à Psicologia, sendo o ano de
73
publicação de 1990 a 2018 e o tipo de literatura artigos. No Lilacs, a realização da pesquisa dos
descritores ocorreu a partir da seleção dos filtros: país – Brasil; idioma – português; assunto
principal – Relações Interpessoais e Educação; e assunto – Educação e Psicologia.
Desse universo, foram descartados os textos que abordavam as habilidades sociais
em outras perspectivas que não a de educadores, professores e cuidadores. Verificou-se que os
estudos sobre as habilidades sociais têm crescido e abarcado diversos contextos e áreas:
habilidades sociais e práticas educativas relacionadas a problemas de comportamento
(BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2002); habilidades sociais infantis e prática docente
(BOLSONI-SILVA et al., 2013); habilidades sociais e valores de crianças e adolescentes de
rua (CAMPOS; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2000); habilidades sociais e comportamento
escolar (CASALI-ROBALINHO; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2015; SILVA;
CAVALCANTE, 2015); habilidades sociais e o relacionamento entre pais e filhos (COMODO;
DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2017); intervenção de habilidades sociais com professores
(DEL PRETTE et al., 1998); e treinamento de habilidades sociais em estudantes de psicologia
(MAGALHÃES; MURTA, 2003).
Portanto, realizou-se a leitura dos resumos das produções científicas selecionadas,
separando-se 10 para leitura completa, conforme Quadro 6.
Quadro 6 - Sistematização dos trabalhos
TÍTULO AUTOR PERIÓDICO BASE DE
DADOS ANO
Efeitos de uma intervenção sobre
a topografia das habilidades
sociais de professores.
DEL PRETTE, A.;
DEL PRETTE, Z. A.
P.; TORRES, A. C.;
PONTES, A. C.
Psicologia Escolar e
Educacional.
Capes 1998
Práticas educativas e problemas
de comportamento: uma análise à
luz das habilidades sociais
BOLSONI-SILVA,
Alessandra Turini;
MARTURANO, Edna
Maria.
Estudos de
Psicologia
Scielo 2002
Treinamento de habilidades
sociais em estudantes de
psicologia: um estudo pré-
experimental.
MAGALHÃES,
Pethymã P.; MURTA,
Sheila Giardini.
Temas em
Psicologia da SBP.
Acadêmico
2003
74
TÍTULO AUTOR PERIÓDICO BASE DE
DADOS ANO
Contexto escolar: práticas
educativas do professor,
comportamento e habilidades
sociais infantis
BOLSONI-SILVA,
Alessandra Turini et al.
Associação
Brasileira de
Psicologia Escolar e
Educacional
Capes 2013
Inclusão Escolar, Formação de
Professores e a Assessoria
Baseada em Habilidades Sociais
Educativas
ROSIN-PINOLA,
Andréa Regina; DEL
PRETTE, Zilda
Aparecida Pereira.
Educação Especial Scielo 2014
Habilidades Sociais como
Preditoras de Problemas de
Comportamento em Escolares
CASALI-
ROBALINHO, I. G.;
DEL PRETTE, Z. A. P.
DEL PRETTE
Psicologia: Teoria e
Pesquisa
Acadêmico
2015
Habilidades Sociais e
Características Pessoais em
Escolares de Belém
SILVA, Thaciana
Araújo da,
CAVALCANTE, Lilia
Iêda Chaves.
Psicologia:
Reflexão e Crítica
Capes 2015
Habilidades Sociales y Éxito
Académico: Expectativas de los
Profesores de Educación
Secundaria
MUDARRA, María J.;
GARCIA-
SALGUERO, Berta I.
Revista Española de
Orientación y
Psicopedagogía
Acadêmico
2016
Intergeracionalidade das
Habilidades Sociais entre Pais e
Filhos Adolescentes.
COMODO, C. N.; DEL
PRETTE, A; DEL
PRETTE, Z. A.P.
Psicologia: Teoria e
Pesquisa
Scielo 2017
Ensinando habilidades sociais
educativas para professores no
contexto da inclusão escolar
ROSIN-PINOLA,
Andréa Regina et. al.
Educação Especial Scielo 2017
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Entre as produções mais importantes, pode-se citar o estudo de Bolsoni-Silva et al.
(2013), que objetivou analisar as habilidades sociais relacionando as práticas educativas de
professores e o comportamento infantil. O público investigado foram 15 professores e 28 alunos
75
de 6 a 9 anos. A avaliação aconteceu através da aplicação de questionário (Q-RSH-Pr) e de
entrevista semiestruturada (RE-HSE-Pr). Como resultado, verificaram-se diferenças
significativas entres os gêneros. Meninos apresentaram mais problemas de comportamento.
Suas professoras relataram utilizar mais práticas negativas de educação com os meninos. Por
outro lado, as meninas apresentaram mais habilidades sociais.
Estes pesquisadores apontam para a existência de uma ligação entre práticas
educativas e comportamento antissocial dos educandos. Entende-se que os comportamentos
socialmente adequados dependem da forma como os pais educam seus filhos. Entretanto, para
se desenvolver tais comportamentos, é necessário que os pais tenham HSE. Os autores destacam
que a comparação entre as práticas educativas dos professores e os comportamentos das
crianças é relevante para investigações futuras.
O estudo de Comodo, Del Prette e Del Prette (2017) também buscou investigar essa
ligação entre educadores e crianças ao investigar a possível transmissão do repertório de
habilidades sociais de pais e mães para filhos adolescentes. Responderam aos inventários IHS-
Del-Prette e IHSA-Del-Prette 142 adolescentes e seus genitores, e os resultados apontaram mais
correlações entre habilidades sociais de adolescentes e suas mães do que em relação a seus pais.
Uma hipótese para tal resultado é o fato de as mães participantes do estudo, em sua maioria,
passarem mais tempo cuidando dos filhos e gerenciando suas atividades do que os pais.
Outro importante estudo que apresenta uma avaliação entre as habilidades sociais
dos educadores e o comportamento de crianças foi desenvolvido por Casali-Robalinho, Del
Prette e Del Prette (2015), que investigou 220 crianças do 3º ao 6º ano do ensino fundamental,
bem como seus pais ou responsáveis. Estes responderam ao Sistema de Avaliação de
Habilidades Sociais (SSRS-BR), e os resultados apontaram que as habilidades sociais de maior
peso preditivo sobre problemas comportamentais foram: autoavaliação e responsabilidade, na
avaliação dos pais ou responsáveis, autocontrole e civilidade.
Quanto à caracterização da amostra, em termos de habilidades sociais, os resultados
de Casali-Robalinho, Del Prette e Del Prette (2015) mostraram que os pais ou responsáveis
avaliaram seus filhos como mais habilidosos do que eles mesmos se avaliaram. Segundo os pais
ou responsáveis, os filhos teriam dificuldades para iniciar e manter interações sociais, para
conversar, apresentar-se, fazer convites, pedir informações e juntar-se a grupos. Esta
investigação identificou o impacto específico de cada classe de habilidades sociais sobre os
problemas de comportamento. Entende-se que novos estudos na área são importantes para
orientar o planejamento de intervenções mais focadas em determinadas classes de habilidades
76
sociais, conforme os problemas apresentados pela criança, e, dessa forma, ampliar sua
viabilidade e efetividade junto à família e à escola.
Estudos mais focados em treino de habilidades sociais também foram encontrados,
como o apresentado por Magalhães e Murta (2003), que objetivou avaliar os efeitos de um
treinamento em HS sobre o repertório socialmente habilidoso de 13 estudantes de Psicologia.
Foram realizadas 10 sessões grupais em que os participantes responderam ao Inventário de
Habilidades Sociais de Del Prette e Del Prette (2001), antes e após a intervenção. Os resultados
mostraram que sete participantes progrediram quanto à classificação clínica do repertório de
HS. O grupo melhorou em todos os escores fatoriais de HS, e o repertório de HS grupal
progrediu na classificação clínica em todos os fatores. Os autores ressaltaram que, apesar de o
ensino formal de habilidades sociais fazer parte da grade curricular do curso de Psicologia, os
graduandos vêm sofrendo com essa negligência.
Nesta perspectiva de treino de habilidades sociais, um outro estudo que se destaca
é o realizado por Del Prette et al. (1998). Eles descrevem uma intervenção com professores
visando o desenvolvimento de habilidades interpessoais para o estabelecimento de condições
interativas de ensino. Foram realizadas 12 sessões grupais de uma hora e meia cada ao longo
de dois meses com seis professores com idade entre 26 e 47 anos. Os dados foram coletados
através de filmagem das aulas pré e pós-intervenção. Os resultados demonstraram que todos os
professores foram avaliados positivamente em vários componentes e que expressão facial,
entonação, humor e entusiasmo foram objetos de "melhora" de praticamente todos os
professores após a intervenção.
Apesar de o estudo descrito acima ser com docentes, ele buscou avaliar a eficácia
de um treino em habilidades sociais e não necessariamente a relação entre as habilidades sociais
docentes e o comportamento dos alunos. Entretanto, sabe-se, pelos demais estudos descritos
anteriormente, a enorme influência das habilidades sociais de educadores no desenvolvimento
infantil. Dessa forma, é possível ordenar os estudos em habilidades sociais em três tendências:
os que estão focados na relação entre as habilidades sociais de educadores, crianças e/ou
adolescentes; os que estão focados no treino de habilidades sociais; e ainda os que buscam
identificar as habilidades sociais de uma classe específica (pacientes oncológicos, crianças em
contexto de vulnerabilidade, universitários etc.) sem necessariamente comparar a outros
contextos ou constructos ou estudos.
Ressalta-se ainda uma característica interessante no universo das habilidades
sociais: o estudo de apenas uma classe de habilidades sociais de forma separada. Como exemplo
desse tipo de estudo, tem-se o apresentado por Motta et al. (2006). Seu estudo merece destaque
77
pelos insumos encontrados e ainda por seu foco em crianças em contexto de acolhimento. Eles
buscaram investigar uma das classes de habilidades sociais, observando a relação entre as
práticas educativas e os níveis de empatia em 77 crianças com idades entre 6 e 12 anos. Destas,
37 viviam em abrigos: oito, em um abrigo de longa permanência (Abrigo Pq) e 29, viviam em
um abrigo de curta permanência (Abrigo Gr). As demais 40 crianças residiam com as próprias
famílias (Lar).
A empatia foi avaliada com a Escala de Empatia para Crianças e Adolescentes e
mediante entrevistas baseadas em cenas de vídeo, selecionadas para eliciar raiva, tristeza,
alegria e medo. As práticas educativas foram avaliadas através de entrevistas. As crianças do
Abrigo Gr apresentaram escores inferiores aos das crianças do Abrigo Pq e do Lar tanto em
termos de empatia quanto de práticas educativas. Assim, as crianças moradoras de abrigos de
longa permanência tiveram desempenho mais próximo ao desempenho das crianças do lar.
Estes resultados mostram a existência de uma relação entre as práticas educativas adotadas
pelos pais ou responsáveis e o desenvolvimento da empatia em crianças (MOTTA et al., 2006).
Frente à investigação científica, percebe-se a existência de inúmeras pesquisas
desenvolvidas sobre habilidades sociais, no entanto poucas relacionadas ao desenvolvimento
de habilidades sociais no contexto de abrigo e/ou casa de acolhimento. Nesse contexto,
pretende-se conhecer as cognições dos educadores de abrigo sobre as habilidades sociais e as
atividades lúdicas, uma vez que os estudos confirmam a forte relação entre as cognições de
educadores com o desenvolvimento infantil e sabe-se que as crianças que se encontram nas
casas de acolhimento serão influenciadas pelos seus educadores/cuidadores quanto ao
desenvolvimento de suas habilidades sociais.
5.3 HABILIDADES SOCIAIS NA INFÂNCIA E POSSIBILIDADES DE
DESENVOLVIMENTO NA CASA DE ACOLHIMENTO
A infância é apresentada por vários autores como um período propício para o
desenvolvimento de habilidades, sendo este constituído pelas idades de zero a seis anos. Nessa
fase, todas as experiências vivenciadas serão base para a vida adulta. Costa et al. (2016, p. 4)
afirmam que a plasticidade cerebral é elevada a partir do nascimento, possibilitando maiores
transformações através dos estímulos e vivências. Entende-se que as habilidades desenvolvidas
nessa época possibilitam base para o desenvolvimento de habilidades mais complexas.
As concepções de desenvolvimento humano destacam que o estímulo, seja ele
físico, afetivo e/ou cognitivo, durante a infância é importante. Pois as relações sociais
78
promovem mudanças no comportamento humano, refletindo nas suas características pessoais,
bem como no padrão de suas interações com o ambiente.
A criança inicia o processo de socialização através do reconhecimento das pessoas
do seu ciclo social, qualquer alteração no cotidiano gera mudança no seu desenvolvimento
cognitivo. O desenvolvimento da sociabilidade humana ocorre a partir das mudanças que
acontece no cotidiano (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2014). O ser humano, ao entrar em
contato com os diferentes meios, inicia o processo de socialização, pois a natureza das relações
e interações estabelecidas envolve processos cognitivos e afetivos. Dessa forma, o ambiente
social está estritamente relacionado com a cognição, emoção e comoção, sendo compreendidos
como pertencentes a um único sistema.
Ao nascer os seres humanos necessitam de cuidados para manterem-se vivos. O
contato físico entre o adulto e o bebê ocorre nos mais diversos momentos, e essa relação
proporciona o desenvolvimento das primeiras relações sociais da criança. Para que isso
aconteça, é necessário que os pais e/ou responsáveis estimulem a criança através da conversa,
do contato físico, do olhar, etc. A expressão de sentimentos dos pais é percebida pela criança
através de gestos e atitudes, tornando-se importante para o desenvolvimento dessa habilidade.
A família é o primeiro agente de socialização da criança. As figuras da mãe, do pai
e dos irmãos ou cuidadores tornam-se referência para o desenvolvimento de habilidades na
infância. A estimulação para a exploração do meio onde vive é importante para promover o
desenvolvimento de indivíduos confiantes e independentes.
Bolsoni-Silva e Marturano (2002, p. 1) afirmam que a forma como os pais educam
seus filhos parece ser crucial à promoção de comportamentos socialmente adequados. Porém,
com frequência, as famílias acabam estimulando comportamentos inadequados por meio de
disciplina inconsistente, pouca interação positiva, pouco monitoramento e supervisão
insuficiente das atividades da criança.
Percebe-se que a criança se desenvolve primeiramente a partir da relação social com
a família, observando o comportamento dos pais ou cuidadores. Os responsáveis pelo cuidado
da criança têm a função de ir aprimorando as habilidades desenvolvidas, fornecendo instruções
necessárias.
Quando a criança passa a frequentar o ambiente escolar já possui um repertório de
habilidades desenvolvidas dentro da família e em suas relações sociais. A inserção no contexto
educacional formal e o relacionamento com novas habilidades trazidas pelos colegas de turma
e professores promovem o desenvolvimento de novas experiências e desafios a serem vencidos.
79
Segundo Del Prette e Del Prette (2005), as crianças que possuem um repertório forte de
habilidades sociais apresentam boas relações com os outros e melhor rendimento acadêmico.
Dessa forma, a infância torna-se base para o desenvolvimento de habilidades
sociais. Entretanto, é de fundamental importância que os pais, responsáveis e educadores
tenham suas habilidades sociais desenvolvidas, pois tornam-se exemplo para as crianças. As
habilidades sociais bem desenvolvidas podem promover qualidade de vida, bem como tornar-
se meio de evitar problemas na infância e adolescência. Entretanto, as crianças que são
recolhidas de suas casas pelo Estado e passam a ocupar os espaços das casas de acolhimento
terão seus educadores/cuidadores como exemplo a seguir.
Sabe-se que as habilidades sociais começam a se desenvolver a partir da infância,
perdurando por toda a vida. Nessa perspectiva, existem crianças que ao nascer possuem um
ambiente propício para o desenvolvimento dessas habilidades, sendo a família um exemplo.
Entretanto, existem outras que, pelos mais diversos motivos, são abandonadas e encaminhadas
para abrigos e/ou casa de acolhimento. Nestes locais recebem atendimento institucionalizado
por parte de uma equipe de educadores/cuidadores.
A aprendizagem de comportamentos sociais e de normas de convivência inicia-se na
infância, primeiramente com a família e depois em outros ambientes como vizinhança,
creche, pré-escola e escola. Essa aprendizagem depende das condições que a criança
encontra nesses ambientes, o que influi sobre a qualidade de suas relações
interpessoais subsequentes (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005, p. 51)
O relacionamento familiar promove um sistema de normas que muitas vezes pune
os comportamentos que não agradam e recompensa os que estão de acordo com os padrões que
os pais desejam. Nesse início, os pais se tornam modelos de comportamentos sociais para os
filhos, e os demais membros da família, como irmãos, podem fornecer à criança o conhecimento
de novas relações e comportamentos diferenciados.
Del Prette e Del Prette (2005, p. 50) descrevem que a “aprendizagem dos
comportamentos sociais deve levar em consideração diferentes ambientes, como a família,
escola e lazer”. No entanto, é importante destacar que existem crianças que não possuem família
ou foram afastadas por decisão judicial e moram em abrigos ou casa de acolhimento. Entende-
se que é um desafio tornar o abrigo ou casa de acolhimento um ambiente propício para o
desenvolvimento de habilidades sociais. Acredita-se que o educador/cuidador é item
fundamental para a estimulação das competências sociais dos acolhidos.
O desenvolvimento de habilidades sociais em crianças abrigadas por vezes torna-
se difícil por despreparo dos próprios cuidadores, como apontou os estudos realizados por
80
Magalhães, Costa e Cavalcante (2011), que demonstraram a existência de crenças negativas
norteando as práticas de cuidadores de abrigos. Os educadores/cuidadores relacionaram seu
trabalho em instituições de abrigo à sobrevivência física da criança, e não ao seu
desenvolvimento como ser social e intelectual.
A manutenção de crianças em abrigos ou casa de acolhimento sem uma estrutura
adequada, tanto no que diz respeito ao aspecto pessoal e ao espaço físico, dificulta o
desenvolvimento cognitivo, afetivo, motor e social. Nestes termos, Del Prette e Del Prette
(2008) apresentaram um estudo sobre Sistema de Habilidades Sociais Educativas – SHSE, com
o intuito de ser aplicado a pais, professores e pessoas comprometidas com a promoção do
desenvolvimento e aprendizagem do outro.
As instituições de abrigo ou casa de acolhimento precisam receber investimento na
formação da equipe técnica e de educador/cuidador, para que compreendam seu papel frente ao
desafio de cuidar de crianças que se encontram nessa situação social. Para que o abrigo torne-
se um ambiente possível de desenvolvimento de habilidades sociais, todos os envolvidos com
a rotina institucional devem se sentir responsáveis pelo desenvolvimento das crianças e dos
adolescentes que são encaminhados para o atendimento especializado. Dessa forma, se fazem
necessários a estimulação e o treinamento de habilidades sociais nos educadores/cuidadores de
instituições de abrigo ou casa de acolhimento, pois, assim, poderão possibilitar aos acolhidos
um repertório de habilidades sociais, promovendo seu pleno desenvolvimento.
81
6 CAMINHO METODOLÓGICO
Nesta sessão será apresentado o percurso metodológico percorrido para alcançar os
objetivos da pesquisa. Será descrita toda a metodologia utilizada nesta investigação.
6.1 DESENHO DA PESQUISA
O estudo se caracteriza como uma pesquisa de campo exploratória e descritiva,
desenvolvida a partir dos pressupostos da pesquisa qualitativa. Raupp e Beuren (2006, p. 80)
afirmam que a “pesquisa exploratória normalmente ocorre quando há pouco conhecimento
sobre a temática a ser abordada”. Andrade (2002) ressalta que existem finalidades primordiais
para a pesquisa exploratória, sendo elas: proporcionar maiores informações sobre o assunto que
se vai investigar; facilitar a delimitação do tema de pesquisa; orientar a fixação dos objetivos e
a formulação de hipótese; ou descobrir um novo tipo de enfoque sobre o assunto. Desta forma,
a presente pesquisa buscou contribuir com conhecimento sobre educadores/cuidadores de
instituição de acolhimento.
Para Gil (2008, p. 28), as pesquisas do tipo descritiva têm como objetivo a
“descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de
relações entre variáveis”. Bogdan e Biklen (1994) definem algumas características da
investigação qualitativa: a) ambiente natural como fonte direta dos dados; b) caráter descritivo;
c) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida; d) os dados são analisados de forma
indutiva, logo, o significado é de importância vital.
6.2 LÓCUS DA PESQUISA
O estudo teve como lócus a Casa de Acolhimento em Santarém, no Oeste do Pará,
a qual atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social das diversas faixas
etárias.
O município de Santarém está localizado no estado do Pará, na região da Amazônia
Legal. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2017), a população de
Santarém é de aproximadamente 296.302 habitantes.
A instituição de acolhimento foi inaugurada em 22 de junho de 1999 e está
vinculada à Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social - SEMTRAS, é uma
instituição sem fins lucrativos e seu atendimento é em sistema de plantão de 24 horas. É uma
82
casa de acolhimento de caráter provisório e excepcional para crianças e adolescentes de ambos
os sexos, na faixa etária de 0 a 18 incompletos. Também acolhe crianças e adolescentes com
deficiência, devendo garantir proteção integral a todos sem distinção socioeconômica, etnia,
religião, gênero, orientação sexual, ou ainda, por serem pessoas com necessidades especiais em
decorrência de deficiências, físicas ou mentais ou outras necessidades específicas de saúde.
A equipe técnica está trabalhando na organização do Projeto Político Pedagógico
(PPP) da instituição para o biênio 2019/2020. Teve-se acesso ao último PPP, que foi elaborado
em 2014. De acordo com o este documento, o objetivo principal da instituição é “atender as
Crianças e Adolescentes que estão acolhidas na C.A.R, dando-lhes proteção integral, garantindo
seus direitos, através de planejamento e atendimento sistemático possibilitando uma melhoria
na história de vida de cada um” (SANTARÉM, 2014, p. 6).
A instituição tem como meta esgotar todas as possibilidades de inserção das
crianças e adolescentes em seu núcleo familiar; melhoria na qualidade de vida das crianças e
adolescentes; desenvolvimento de sua autonomia, melhoria de sua autoestima; e que eles se
reconheçam como sujeitos de direitos e seres em pleno desenvolvimento e prepará-los para boa
convivência na sociedade.
6.3 PARTICIPANTES
Os participantes da pesquisa foram dez (10) educadores/cuidadores da casa de
acolhimento que atendem crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social em
Santarém-PA.
A casa possui 31 funcionários divididos em: 1 coordenadora; 1 pedagoga; 2
assistentes sociais; 1 psicóloga; 1 assistente administrativo; 14 educadores/cuidadores; 2
motoristas; 4 vigias; 3 assistentes de serviços gerais; 2 serventes.
O Projeto Político Pedagógico possui um histórico detalhado da organização da
instituição, que versa sobre:
Quadro 7 - Equipe de funcionários da casa de acolhimento de Santarém em 2018
FUNÇÃO/CARGO QUANTIDADE VÍNCULO ESCOLARIDADE
Coordenador(a) 1 Temporário Superior
Pedagogo (a) 1 Temporário Superior
Assistente Social (a) 2 Temporário Superior
Psicólogo (a) 1 Temporário Superior
Assistente administrativo 1 Temporário Médio
Educador/cuidador 12 Temporário Médio
Educador/cuidador 2 Temporário Superior
A.S.G. 3 Temporário Médio
83
FUNÇÃO/CARGO QUANTIDADE VÍNCULO ESCOLARIDADE
Auxiliar de limpeza 2 Temporário Médio
Vigia 4 Temporário Médio
Motoristas 2 Temporário Médio
6.4 CRITÉRIO DE INCLUSÃO
Ser educador/cuidador da casa de acolhimento no período da pesquisa e assinar o
termo consentimento livre esclarecido.
6.5 CRITÉRIO DE EXCLUSÃO
Foram excluídos da pesquisa os educadores/cuidadores que, por motivo de férias e
atestado médico, não puderam participar. Além de um grupo de educadores/cuidadores que
estavam iniciando suas atividades no período da pesquisa e foram orientados pela coordenação
a não participarem, e ainda os que não se mostraram dispostos para responder aos instrumentos
utilizados e não concordaram com os termos da pesquisa.
6.6 ASPECTOS ÉTICOS PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA
Esta investigação levou em consideração a resolução 510/2016 (BRASIL, 2016),
que trata sobre ética na pesquisa com seres humanos, sendo garantidos todos os direitos dos
participantes.
A autorização de coleta de dados na casa de acolhimento foi emitida pela Secretaria
Municipal de Trabalho e Assistência Social - Semtras, após envio de ofício, disponível no
Anexo A, e aprovação em comitê de ética mediante Parecer Número 2.569.958, de 28 de março
de 2018 (Anexo B).
A participação de todos os educadores/cuidadores na pesquisa ocorreu de forma
voluntária. Cuidados éticos, morais e emocionais foram tomados na coleta dos dados para
preservar a integridade física e mental destes. Antes da realização da entrevista, o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C) foi assinado, com garantia do sigilo e
anonimato dos participantes. Com a finalidade de minimizar qualquer situação desagradável,
foram esclarecidos previamente a temática da pesquisa e o assunto abordado, havendo espaço
para sanar dúvidas, dando-se a liberdade de interrupção a qualquer momento.
84
6.7 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Utilizaram-se dois instrumentos com a finalidade de levantar informações dos
educadores/cuidadores sobre as cognições relacionadas a atividades lúdicas e habilidades
sociais, a saber: questionário sociodemográfico e entrevista semiestruturada.
6.7.1 Questionário sociodemográfico
Com este instrumento obtiveram-se dados referentes às informações sobre perfil
sociodemográfico, formação profissional, capacitação, satisfação com a profissão, o
educador/cuidador e o desenvolvimento do acolhido e atividades desenvolvidas na casa de
acolhimento. O referido questionário foi utilizado por Cavalcante (2008) em pesquisa anterior
desenvolvida em contexto de acolhimento institucional, utilizando como base os instrumentos
construídos por Ongari e Molina (2003). O conteúdo do questionário foi alterado de acordo
com os objetivos da presente pesquisa, com o intuito de atender as peculiaridades do trabalho
desenvolvido pelos educadores/cuidadores da instituição de acolhimento participante do
presente estudo (Apêndice A).
6.7.2 Entrevista semiestruturada
A entrevista foi constituída por temas e subtemas abertos organizados por um
roteiro, relacionados à visão que o educador/cuidador possui sobre os temas em questão, com
o intuito de que os sujeitos pesquisados respondessem livremente de acordo com suas
concepções (Apêndice B).
Sobre a investigação qualitativa, Bogdan e Biklen (1994) esclarecem que a
entrevista é usada para coletar dados descritivos, aproveitando a linguagem dos próprios
participantes da pesquisa, o que permite ao investigador intuitivamente desenvolver uma ideia
acerca de como os participantes interpretam os aspectos do mundo. Como não foi encontrado
um roteiro de entrevista previamente validado sobre as cognições e as práticas dos
educadores/cuidadores acerca do uso das atividades lúdicas como possibilidade do
desenvolvimento de habilidades sociais, o roteiro de entrevista a ser utilizado nesta pesquisa foi
elaborado pela pesquisadora.
85
6.8 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Para que os participantes se sentissem à vontade, foi necessário um período de
ambientação. Conforme os autores Ribeiro, Azevedo e Turato (2013, p. 1829), esse é
“entendido como processo de adaptação geral à rotina dos lócus pesquisados, coletando dados,
bem como se apropriando de informações sobre o cotidiano das pessoas que ali trabalham e
daquelas que são atendidas”.
Para isso, no dia 21 de maio de 2018, iniciou-se a participação com um projeto de
extensão da Ufopa coordenado pela professora Dra. Irani Lauer Lellis, que consistia em
desenvolver atividades lúdicas com as crianças e adolescentes, buscando conhecer as emoções
e as habilidades sociais dos acolhidos, com o objetivo de posteriormente desenvolver um
projeto de intervenção. Durante as visitas pôde-se conhecer a rotina da casa, bem como manter
contato com a equipe através de encontros individualizados, foi constituído contato com os
envolvidos na amostra, a fim de apresentar os objetivos e o método do estudo proposto e, com
isso, motivar sua participação. Após todos os procedimentos éticos do período de ambientação
e adaptação dos instrumentos, iniciou- se o levantamento de dados.
Após aprovação em banca de qualificação no dia 13 de julho de 2018, pôde-se
iniciar o procedimento de produção de dados, para isso foi necessário reorganizar os
instrumentos, com o intuito de validar e verificar a clareza dos questionamentos. Desta forma,
realizou-se no dia 01 de agosto de 2018 um pré-teste com 3 (três) cuidadores que trabalharam
na casa de acolhimento e que atualmente desenvolvem outras atividades profissionais. Para
formalizar a pesquisa perante a coordenação da casa no dia 02 de agosto de 2018, apresentou-
se a carta de aceite como autorização da Secretária Municipal de Trabalho e Assistência Social-
Departamento de Proteção Especial de Santarém, durante a apresentação foi mostrado para a
psicóloga e para a pedagoga o objetivo da pesquisa e respondido todos os questionamentos e
dúvidas das servidoras que estavam responsáveis pela casa de acolhimento nesse período, tendo
em vista que a coordenadora estava de férias.
Após contato prévio com a coordenação, solicitou-se a relação de
educadores/cuidadores da instituição, existindo 16 educadores/cuidadores, deste quantitativo
conseguiu-se aplicar os instrumentos com dez (10) participantes, três (3) não participaram
porque estavam iniciando suas atividades na casa de acolhimento.
A aplicação do questionário sociodemográfico e das entrevistas foi realizada à
medida que ocorreram as visitas e conforme a disponibilidade dos participantes. A pesquisadora
teve a disponibilidade de 8 horas diárias para as visitas, realização de entrevista e questionário
86
até o término do período de levantamentos de dados. Durante o desenvolvimento das atividades
na casa de acolhimento foram realizados os primeiros contatos e o convite para participar da
pesquisa, explicando aos educadores/cuidadores os objetivos do estudo.
Antes de iniciar a aplicação dos instrumentos de levantamento de dados cada
educador/cuidador assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C)
autorizando sua participação. Após assinatura, foram explicados os procedimentos de coleta de
dados. Em todos os casos o local da realização da entrevista foi privativo e com ventilação
adequada. As entrevistas foram gravadas, posteriormente transcritas e analisadas. Para não
interromper a atividade do educador/cuidador, foi proposto horário alternativo para as
entrevistas, como horário de folga.
Com o desvelamento do objeto de estudo pertinente ao tema proposto, a presente
pesquisa expõe os resultados de forma diversificada de acordo com a especificidade de cada
instrumento.
6.9 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS
Os dados coletados por meio do questionário sociodemográfico foram analisados a
partir de estatística descritiva, com o intuito de organizar e descrever os dados coletados,
observando-se variáveis como sexo, idade, tempo de serviço e escolaridade, capacitação,
satisfação com a profissão, desenvolvimento dos acolhidos e atividades desenvolvidas na casa
de acolhimento.
Os seres humanos são dotados de opiniões construídas culturalmente dentro de uma
coletividade e passam a ser individuais dentro do processo de socialização. Dessa forma, os
dados obtidos nesta pesquisa, através do instrumento entrevista, foram analisados mediante a
técnica do Discurso do Sujeito Coletivo - DSC, técnica utilizada para análise de dados de
pesquisas qualitativas, que permite a expressão de ideias, concepções, crenças e cognições
acerca de um determinado campo de investigação.
“O DSC é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de
natureza verbal, obtidos de depoimentos” [...] (LEFÈVRE; LEFÈVRE 2003, p. 15). Sua análise
é processada de forma discursiva, e não em forma de categoria, assim possibilita conhecer
maiores detalhes do sentido individual frente a uma opinião coletiva. Este tipo de análise
possibilita evidenciar as mais variadas concepções sobre um determinado assunto (LEFÈVRE;
LEFÈVRE, 2005).
87
Para processar as informações obtidas em pesquisas qualitativas, as quais têm a
finalidade de coletar depoimentos e opiniões, Lefèvre e Lefèvre (2005) enfatizam que é
necessário agrupar e dar sentido aos relatos coletados. Para que os investigados possam
contribuir de forma mais efetiva para a pesquisa, é necessário que sejam estimulados através de
perguntas abertas, possibilitando o discurso livre e enfatizando sua opinião com relação a um
referido assunto.
O DSC é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular, composto
por figuras metodológicas, expressões-chave (ECH), ideias centrais (IC) ou ancoragem (AC)
(LEFÈVRE; LEFÈVRE 2003). Cada figura metodológica possui suas características próprias.
As ECH são partes ou reproduções fieis das verbalizações dos participantes, que devem ser
marcadas pelo pesquisador e que revelam a parte essencial do depoimento. IC é a expressão
mais sucinta e verdadeira, que revela e descreve o sentido de cada um dos discursos analisados
e de cada conjunto homogêneo de ECH, que dará nascimento, posteriormente, ao DSC. AC é a
manifestação verbal explícita de uma teoria, de ideias ou crenças (LEFÈVRE; LEFÈVRE,
2003).
Assim, o DSC consiste em selecionar de cada resposta individual uma questão, as
expressões-chave, que são trechos mais significativos destas respostas, e as ideias centrais, que
são as sínteses do conteúdo discursivo manifestado pelo indivíduo ou sua ancoragem.
Após a coleta de dados, foram seguidas as instruções de Lefèvre e Lefèvre (2003)
de transcrever os áudios na íntegra para uma tabela em Word construindo o IAD 1,
posteriormente analisados na ordem a seguir:
a) primeiro passo: foram analisadas isoladamente as respostas de todos os sujeitos
entrevistados, primeiramente todas as respostas dadas para a primeira questão,
posteriormente todas as respostas referentes à segunda questão e assim por diante. Em
uma página de documento Word foi criada uma tabela com três colunas. Na primeira
coluna, Expressões-chave, devem constar integralmente as respostas de cada pergunta;
Quadro 8 - Parte do IAD I de um educador/cuidador de 20 anos
ECH IC AC
E 1- Lá a gente tem de um tudo, atividades
internas, externas, de cognição, lúdicas, tem os
parceiros que ajudam muito, porque sem os
parceiros ia ser complicado o trabalho, não pra
gente mais para as crianças porque ali o
ambiente e fechado
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa
88
b) segundo passo: consiste em destacar e identificar com cores ou recursos
computacionais, em cada respostas as ideias centrais ou ancoragem, como, por exemplo,
ideias centrais estando sublinhadas e as ancoragens, em negrito;
c) terceiro passo: copiar as ideias centrais e as ancoragens para as colunas correspondentes
na planilha, identificando-as, quando houver mais de uma, como 1ª ideia, 2ª ideia e
assim consecutivamente;
d) quarto passo: juntar as ideias centrais e ancoragens, de acordo com o mesmo sentido,
equivalentes ou complementares, organizando-as, por exemplo, com letras A, B, C, etc.
em todas as colunas e linhas da tabela;
e) quinto passo: denominar todas as ideias centrais e ancoragens de um grupo com um
termo que as expresse. Ao “Grupo A”, por exemplo, será dada uma denominação que
expresse da melhor maneira possível todas as suas ideias centrais ou ancoragem;
f) sexto passo: construir o DSC utilizando o Instrumento de Análise de Discurso; para isso,
deve-se utilizar o IAD 2.
A cada agrupamento identificado é construído um DSC, para isso é necessário
copiar para a coluna da planilha as expressões-chave do mesmo agrupamento criando-se o IAD
2. A segunda etapa é a construção do DSC.
Para estabelecer coerência do discurso, foi necessário incluir conectivos, como, por
exemplo: assim, então, logo, enfim. Eliminaram-se as particularidades relacionadas a sexo e
idade. Também foi preciso eliminar as repetições de ideias.
Na análise de dados utilizando o DSC, não é permitido o uso de aspas, como se
fosse uma indicação de citação, emprega-se itálico para indicar a fala referente ao depoimento
coletivo. Os entrevistados foram identificados com os termos E1 até E10, abaixo de cada
discurso consta a sigla identificando os participantes que contribuíram para a construção do
determinado DSC.
89
7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
7.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL E CAPACITAÇÃO
O perfil dos educadores/cuidadores da casa de acolhimento considera a variável da
amostra de 10 servidores que trabalham diariamente com o cuidado de crianças e adolescentes.
Fizeram-se as seguintes observações: 50% dos entrevistados são do sexo feminino, com média
de idade entre 26 e 40 anos, e 50% do sexo masculino, com idade entre 20 e 53 anos; 80%
possuem filhos. Com relação à escolaridade, 80% possuem ensino médio, 10% possuem
graduação em serviço social e 10% estão cursando pedagogia. Analisando a variável situação
funcional, observou-se que 50% se identifica como temporário, 40% contratado e 10% efetivo,
conforme Tabela 3. Observa-se ainda que no ano de 2017 ocorreu maior número de contratação
temporária, para este episódio tem-se a hipótese de que a mudança de governo gerou tais
contratações.
Tabela 3 - Situação funcional e ano de admissão de educadores/cuidadores da casa de acolhimento de Santarém
Admissão 2014 2015 2016 2017 2018 Todos
Contratado 0 0 0 2 2 4
Efetivo 0 0 1 0 0 1
Temporário 1 1 0 3 0 5
Todos 1 1 1 5 2 10
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Segundo as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e
Adolescentes (2009), a seleção de profissionais para trabalharem em casas de acolhimento deve
seguir um rigoroso processo, atendendo os seguintes critérios: processo seletivo com ampla
divulgação, com informações claras sobre o serviço, o perfil dos usuários, as atribuições e
exigências do cargo a ser ocupado, salário, carga horária, experiência profissional; avaliação de
documentação mínima a ser exigida: documentos pessoais, certidão negativa de antecedentes
criminais, atestado de saúde física e mental; e avaliação psicológica e social: análise da vida
pregressa, entrevista individual e atividade de grupo. Estes critérios são essenciais para garantir
o perfil adequado para o desenvolvimento da função de educador/cuidador, possibilitando desse
modo o atendimento melhor.
90
Observa-se que, dentro da realidade investigada, a forma de contratação não segue
tais procedimentos, tendo em vista que a escolha de educadores/cuidadores é informal e
desvinculada de tais orientações, mais uma evidência de que tais profissionais não atendem os
critérios exigidos para o exercício do cuidado de crianças e adolescentes em situação de
acolhimento institucional, como está demonstrado no Gráfico 1.
Gráfico 1 - Condição da primeira atividade profissional de educadores/cuidadores da casa de acolhimento de
Santarém: 2018
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Observa-se que, para 60% dos educadores/cuidadores, as atividades profissionais
desenvolvidas na casa de acolhimento referem-se ao primeiro emprego com relação ao cuidado
ou educação de crianças e adolescentes, e apenas 40% desenvolveram algum tipo de trabalho
relacionado a tais práticas de cuidado anteriormente.
Quando questionados sobre os cursos de atualização ou capacitação profissional
para aprimorar seu trabalho dentro da casa de acolhimento, o Gráfico 2 mostra que 60% dos
entrevistados falaram que realizaram cursos de capacitação e 40% mencionaram não ter
realizado nenhuma atualização ou capacitação nos últimos dois anos.
91
Gráfico 2 - Realização de cursos de capacitação. Educadores/cuidadores da casa de acolhimento: 2018
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Constata-se que, mesmo que os profissionais tenham iniciado suas atividades de
cuidado de crianças e adolescentes em situação de acolhimento pela primeira vez dentro da
instituição investigada, tal fato revela uma possível inexperiência com relação ao cuidado e à
educação. Entretanto, verifica-se que existiu uma preocupação por parte da instituição de
promover a capacitação da equipe, coadunando com os escritos de Barros e Fiamenghi Jr.
(2007), em que se entende que a casa de acolhimento é um local de desenvolvimento, entretanto,
precisa-se manter uma política de atualização ou capacitação para o trabalho no intuito de
melhorar o atendimento.
Um dos questionamentos abordados teve o objetivo de conhecer as fontes de
informação que os educadores/cuidadores utilizam para aprimorar suas práticas dentro da
instituição. Por meio do questionário preenchido individualmente, os investigados
posicionaram-se em relação ao grau de importância para cada uma das fontes de
aprimoramento. A Tabela 4 mostra as variáveis mais bem classificadas quanto ao quesito de
maior importância para aperfeiçoar a prática de cuidado das crianças e dos adolescentes.
Tabela 4 - Grau de importância para o aperfeiçoamento de educadores/cuidadores da casa de acolhimento, 2018
Variável Média
Cursos 6,8
Comportamento dos pais 5,7
Internet 4,8
Comportamento dos colegas 4,4
Troca de ideias com colegas 3,8
Experiência familiar 3,8
92
Variável Média
Formação escolar 3,2
Prática profissional 3,1
Livros e revistas 3
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Os dados apresentados demonstram que os educadores/cuidadores buscam cursos
como principal fonte para aprimorar o trabalho institucional, seguido de observação do
comportamento dos pais, acesso à internet, comportamento dos colegas de trabalho e troca de
ideias com colegas que desenvolvem a mesma atividade dentro da instituição. As fontes de
informações experiência familiar, formação escolar, prática profissional, livros e revistas
obtiveram grau menor dentro da classificação. Observa-se que as fontes utilizadas pelos
educadores/cuidadores estão relacionadas às possibilidades que a instituição pode promover,
sejam elas desenvolvidas pela equipe técnica ou por parceiros da instituição.
A proposta de curso para aprimoramento dos profissionais da equipe deve constar
no PPP da instituição (BRASIL, 2009). Observando o planejamento institucional da casa de
acolhimento investigada, verifica-se que existe proposta de cursos voltados para a capacitação
da equipe, como: relacionamento interpessoal; a importância do brincar no contexto do
acolhimento institucional; relação cotidiana no serviço de acolhimento institucional; o papel
dos profissionais que atuam no serviço de acolhimento; fortalecimento de vínculos e
reintegração familiar e comunitária de crianças e adolescentes institucionalizados, etc.
7.2 DADOS SOBRE A SATISFAÇÃO COM A PROFISSÃO
Dentre os índices de satisfação, notou-se que o relacionamento com os colegas de
trabalho teve o maior índice de satisfação, revelando que a comunicação entre os pares é
mantida dentro de uma perspectiva horizontal, mostrando existir espírito de cooperação e
relação social. A comunicação é a primeira classe de habilidades sociais apresentada por Del
Prette e Del Prette (2017), é considerada uma habilidade importante para se manter a relação
social.
Inversamente, os baixos percentuais de satisfação em relação ao salário foram
apresentados pelos participantes. Esse fator pode estar relacionado com a situação funcional
anteriormente apresentada, talvez se a secretaria responsável pela contratação de
93
educadores/cuidadores realizasse concurso público, conforme estabelece Brasil (2009), essa
insatisfação fosse amenizada, pois a efetivação traria o sentimento de estabilidade no emprego.
O segundo critério que não está contribuindo para a satisfação dos
educadores/cuidadores é o reconhecimento dos pais e demais familiares das crianças e/ou
adolescentes em situação de acolhimento. Este fato deve acontecer por que a relação entre os
pais e a casa de acolhimento acontece de forma direta com a equipe técnica da casa, sendo os
psicólogos, assistente social e a coordenação da instituição, conforme Tabela 5.
Tabela 5 - Grau de satisfação dos educadores/cuidadores da casa de acolhimento, 2018
Variável Média
Relacionamento com colegas 4,1
Trabalho desenvolvido 4,0
Horário de trabalho 3,9
Aspecto educativo do trabalho 3,8
Reconhecimento da coordenação 3,8
Possibilidade de escolher livremente o trabalho 3,7
Estabilidade no emprego 3,4
Ambiente físico 3,3
Reconhecimento dos pais 3,3
Salário 2,5
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Buscou‐se ainda avaliar os aspectos denominados mais cansativos e os menos
cansativos dentro das tarefas desenvolvidas na casa de acolhimento. O Gráfico 3 revela que os
três fatores mais cansativo são: a falta de colaboração entre os colegas de trabalho; a
comunicação com os pais; e o relacionamento com a coordenação da instituição.
Observa-se que, mesmo que os educadores/cuidadores tenham um bom
relacionamento entre eles, é bastante cansativa a falta de colaboração durante as atividades
diárias, assim dificultando o desenvolvimento do trabalho. A comunicação com os pais teve a
segunda maior pontuação, este fato revela-se pelo pouco contato entre os
educadores/cuidadores e os pais das crianças e dos adolescentes institucionalizado. O terceiro
ponto apresentado foi o relacionamento com a coordenação, vê-se que esse aspecto é bastante
preocupante, tendo em vista que, para que o trabalho seja efetivado de forma harmoniosa, é
necessário existir uma equipe unida e focada em proporcionar um melhor atendimento.
Pelo exposto, observa‐se que turno de trabalho, esforço físico, emoções intensas e
a atenção contínua são os aspectos menos cansativos, apontados pelos educadores/cuidadores,
representando 2,8%, 2,8%, 2,7% e 2,4 respectivamente.
94
Gráfico 3 - Características consideradas cansativas no trabalho. Educadores/Cuidadores da Casa de Acolhimento
Reviver: 2018
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Com relação ao futuro profissional dos educadores/cuidadores, observou-se que a
dimensão trabalhar com outras modalidades de cuidado e educação foi a mais referenciada,
dessa forma, mostrando uma insatisfação com a função atualmente desenvolvida, Gráfico 4.
Gráfico 4 - Futuro profissional
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Tal resultado mostra que há necessidade de valorização e efetivação da profissão
de educador/cuidador e coaduna com os encontrados por Silva (2009), que apontou a
desvalorização, a impotência e a resignação como características marcantes dessa identidade
em construção, o que traz como pauta a discussão e a urgência da profissionalização do
educador.
5,75,1 5
2,8 2,8 2,7 2,4
0
1
2
3
4
5
6
Méd
ia
Aspectos mais cansativos Aspectos menos cansativo
95
7.3 EDUCADOR/CUIDADOR E O DESENVOLVIMENTO DOS ACOLHIDOS
Como forma de aprofundar a investigação, buscou-se através de questionamentos
conhecer que pontos os educadores/cuidadores acreditam possuir maior influência no
desenvolvimento dos acolhidos. Dentro dos aspectos elencados observou-se que o critério
segurança obteve a média de 4,6%, demonstrando que os educadores acreditam que a função
da casa de acolhimento e dos profissionais envolvidos no cuidado está voltada à proteção dos
acolhidos, conforme Tabela 6.
Tabela 6 - Influência do educador/cuidador no desenvolvimento da criança da casa de acolhimento, 2018
Variável Média
Segurança 4,6
Obediência 4,4
Autonomia 4,1
Concentração 4
Capacidade de relacionar-se com o outro 3,9
Capac. lógica 3,9
Colaboração de criança e adolescentes da mesma idade 3,9
Curiosidade 3,7
Controle de emoções 3,7
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
A casa de acolhimento dentro da perspectiva de direito tem a função de proteção,
segurança e zelo pelos direitos das crianças e adolescentes (VECTORE; CARVALHO, 2008).
Entretanto, dentro do entendimento dos autores Jurdi e Scridelli (2014) e Guará (2010), as
instituições de acolhimento devem zelar pelos cuidados físicos e emocionais dos acolhidos,
contribuindo para as relações sociais. Assim, entende-se que é fundamental haver um equilíbrio
entre a manutenção de direitos e o desenvolvimento social das crianças institucionalizadas, para
que sua passagem pela casa de acolhimento não seja vista como uma punição, e sim como a
possibilidade de desenvolvimento.
7.4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA CASA DE ACOLHIMENTO
Com relação às atividades desenvolvidas pelos educadores/cuidadores dentro da
casa de acolhimento, constata-se que as atividades de artes, brincadeiras dirigidas, esporte e
lazer foram melhor classificadas, conforme Gráfico 5.
96
Gráfico 5 - Atividades desenvolvidas por educadores/cuidadores da casa de acolhimento, 2018
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Durante o período da pesquisa foram realizadas visitas à casa de acolhimento com
o intuito de observar a rotina da casa, durante esse tempo pôde-se observar que as atividades de
artes aqui detalhadas pelos educadores/cuidadores se tratavam de desenho para pintar e papel e
lápis para desenhar, não foi presenciado o desenvolvimento de atividades lúdicas dirigidas e
poucas vezes foi presenciado o desenvolvimento de atividades de esporte por parte da equipe
de educadores/cuidadores. Apesar de aparecer com baixa classificação, o que se observou na
prática foi o desenvolvimento de brincadeiras não dirigidas, em que os educadores/cuidadores
disponibilizam brinquedos e as crianças brincam sozinhas.
Nesta linha de investigação sobre a importância do desenvolvimento de
brincadeiras dentro da casa de acolhimento, Oliveira (2014) enfatiza que tais atividades são de
grande valia em ambientes institucionais para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo, a
brincadeira proporciona o exercício das relações de apego entre as crianças. Entende-se que
para se desenvolver essas capacidades nas crianças em situação de acolhimento institucional é
necessário haver participação efetiva dos funcionários da casa, direcionando o aprendizado.
Com relação às crianças e aos adolescentes institucionalizados que possuem
deficiências ou problemas de locomoção, foi investigado se os educadores/cuidadores
possibilitam a participação deles em atividades recreativas e qual a finalidade para o
desenvolvimento dos envolvidos, conforme gráfico 6.
97
Gráfico 6 - Comportamentos dos educadores/cuidadores buscando a relação entre as crianças da casa de
acolhimento, 2018
Fonte: A autora (2019), dados da pesquisa.
Dentro das possibilidades elencadas para resposta estavam: desenvolvimento de
locomoção, linguagem, interação social, outros. As respostas alcançadas nessa pergunta deram
origem ao Gráfico 6. Nota-se que 4,6% apontam que essas atividades contribuem para o
desenvolvimento da locomoção; já o desenvolvimento da linguagem recebeu 4,4% das opiniões
e por último, com 4,3%, a interação social como finalidade para o desenvolvimento.
Levando em consideração a importância do educador/cuidador para o
desenvolvimento da criança, Barros e Fiamenghi Jr. (2007) mostram que o cuidador é o
mediador de muitos comportamentos da criança, entre eles está o desenvolvimento da
linguagem e capacidades motoras. Em relação à interação social, Cavalcante, Magalhães e
Pontes (2007a) destacam que o abrigo é um ambiente de desenvolvimento infantil, uma vez que
proporciona condições para que a criança melhore habilidades e competências para sua
personalidade e avance na interação social.
Entende-se que existe a necessidade de priorizar atividades que possibilitem o
desenvolvimento da interação social entre os envolvidos no trabalho diário da casa de
acolhimento, tendo como objetivo o desenvolvimento integral dos acolhidos e, assim,
possibilitar o crescimento socioemocional de todos.
98
8 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO: ANÁLISE DO INSTRUMENTO
ENTREVISTA
A análise dos dados obtidos através da entrevista se deu a partir da técnica do
Discurso do Sujeito Coletivo - DSC, de Lefèvre e Lefèvre (2005). Os autores sugerem que se
possível as análises sejam realizadas de forma conjunta, com pesquisadores que conheçam o
método. Para seguir essa orientação, foram realizados encontros entre três pesquisadoras
pertencentes ao Grupo de Pesquisa Habilidades Sociais e Educação-GHASOE, da Universidade
Federal do Oeste do Pará, para realizar os passos que a técnica recomenda. Com a finalidade de
melhor apresentar e discutir os achados, escolheu-se agrupar os resultados por temas que
apresentam vários discursos com suas ideias centrais. Os discursos estão dispostos em uma
tabela que traz as ideias centrais de cada tema investigado, os quais serão analisados e discutidos
posteriormente.
8.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA CASA DE ACOLHIMENTO
Em relação a pergunta, dentro da proposta pedagógica da casa de acolhimento quais
as atividades desenvolvidas? surgiram quatro ideias centrais, a seguir no quadro síntese 9, a
descrição das IC, os educadores/cuidadores que colaboram, idade, sexo e tempo de trabalho na
instituição.
Quadro 9 - Síntese das ideias centrais – Atividades desenvolvidas na casa de acolhimento
Classificação Ideia Central Participantes
A Atividades internas,
externas, cognitivas e
lúdicas
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E10, 37 anos, masculino, 1 ano na instituição
B Diferentes atividades
desenvolvidas pelos
cuidadores e parceiros
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
E6, 38 anos, feminino, 1 ano na instituição
E7, 34 anos, feminino, 10 meses na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
C Brincadeiras sem foco e de
maneira precária
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
D Atividades lúdicas
desenvolvidas no abrigo:
pintura, jogos educativos,
recreativos e atividades
esportivas
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
E6, 38 anos, feminino, 1 ano na instituição
99
E7, 34 anos, feminino, 10 meses na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
A ideia central “A” foi constituída de expressões chaves (ECH) que contribuíram
para o DSC, mostrando uma possível classificação das atividades desenvolvidas na casa de
acolhimento. Nota-se que os educadores da casa englobam as atividades realizadas no espaço
interno e externo, as cognitivas, de desenho, de recreação e de assistir filmes como atividades
lúdicas. A seguir serão apresentadas as IC e seus respectivos DSC:
A- Atividades internas, externas, cognitivas e lúdicas
Lá a gente tem de um tudo, atividades internas, externas, de cognição, lúdicas,
tem os parceiros que ajudam muito, porque sem os parceiros ia ser complicado
o trabalho, não pra gente, mas para as crianças porque ali o ambiente é fechado.
São desenvolvidas várias atividades. Em relação à pedagoga, ela desenvolve
vários trabalhos lúdicos, desenhos, atividade de recreação, cineminha (E1 e
E10)
No discurso verifica-se que os entrevistados acreditam que as atividades
desenvolvidas na casa de acolhimento proporcionam a ludicidade. Tal ludicidade é descrita por
Soares (2005) como um fenômeno subjetivo. O autor mostra que existe diferença entre
ludicidade e atividades lúdicas. A ludicidade refere-se a um sentimento pessoal; e as atividades
lúdicas, vinculadas a jogos, brincadeiras e festas. Nesse sentido, os educadores/cuidadores
descreveram atividades lúdicas, que podem ou não estar relacionadas à ludicidade. Os
educadores/cuidadores entendem que têm realizado atividades na instituição que promovem a
inter-relação entre os sistemas destacados por Cavalcante, Magalhães e Pontes (2007a), como:
ambiente físico, social e a psicologia dos educadores, tendo como referência, respectivamente,
espaços, rotinas, dinâmica, crenças, valores, etc. Segundo os autores, em se tratando de
desenvolvimento infantil em situação de institucionalização é necessário realizar uma
interligação entre os três sistemas para que se fortaleça o desenvolvimento adequado das
crianças.
Outra ideia central prevalente na temática que envolve as atividades desenvolvidas
na casa de acolhimento diz respeito às diferentes atividades desenvolvidas pelos cuidadores e
parceiros, conforme se apresenta no discurso a seguir:
100
B- Diferentes atividades desenvolvidas pelos cuidadores e parceiros
Na casa existe uma rotina: eles acordam, tomam banho, café; quem vai pra
creche vai, quem vai pra escola vai, os que ficam lá têm brincadeira. Eu acho
bem legal a parte que eles brincam. Tem a volta do banho, aí almoçam,
descansam, aí à tarde eles brincam de novo. Tem um tema, às vezes; têm os
parceiros que vão e, assim, é o dia deles. Existe a proposta mensal, aí tem várias
atividades, elas variam de acordo com o mês ou semestre; são desenvolvidas
atividades diferentes como, jogos, brincadeira, pinturas, filmes, filmes
educativos, atividades lúdicas, como: brincadeira no campinho, brincadeira na
maloca, atividades recreativas, pula corda, amarelinha, guerra de balão, [...]
capoeira, leitura, conversas, orientação, palestras sobre nosso cotidiano ou
sobre higiene pessoal e religião. Todos os tipos de jogos pedagógicos, eles são
bem vindos e aceitos pelas crianças; às vezes eles mesmo pedem pra gente, às
vezes tem uma atividade que está no cronograma, e às vezes eles não querem
aquela: “- não tio deixa eu pintar um desenho”, “- vamos brincar de bola”, “-
vamos brincar de futebol de salão no campinho”. A gente sempre coloca e eles
gostam. Existem as atividades lúdicas que são desenvolvidas quando vem alguém
de fora. Exemplo: atividade com a igreja batista, assembleia de Deus, igreja da
paz, MCC e outros; aí traz atividade lúdica, brincadeira; assim, páscoa vem,
carnaval vem, eles trazem essas atividades lúdicas [...]. Enquanto nosso mesmo
só no início quando a pedagoga entrou que ela fazia ela fazia muito, hoje em dia
acabou, ela brinca com a gente pra gente fazer, aí eu falo: - é minha amiga você
é a pedagoga se você não estiver no meio não vai! Temos um cronograma que
tentamos seguir porque, muitas das vezes, não é viável fazer o que tá escrito ou
porque tem pouco número de crianças ou porque tem demanda; sair do abrigo
pra fazer outros atendimentos, como: levar ao médico, pra escola. Assim, todo
planejamento elaborado é o melhor que a instituição pode proporcionar,
geralmente no mês de férias e final de ano. Como as aulas terminam essas
programações de lazer e entretenimento aumentam bastante (E2, E3, E4, E5, E6,
E7, E8 e E9).
No que concerne à IC “B”, percebe-se nas verbalizações que as atividades
desenvolvidas dentro do contexto da casa de acolhimento são elaboradas tanto pela equipe de
educadores/cuidadores, como por equipe de parceiros. Observa-se que os
educadores/cuidadores da casa de acolhimento referem-se às atividades que geram uma rotina
diária de cuidados, como: atividades de tomar café, banho, ir para as escolas ou creches; e os
acolhidos que não estão envolvidos nessas atividades ficam na casa, brincando. Infere-se que
existem atividades elaboradas dentro da casa pelos cuidadores e outras por parceiros da
instituição.
Fazem-se necessários, dentro da rotina da casa de acolhimento, espaços para
atividades lúdicas no intuito de proporcionar uma aproximação entre os educadores e os
acolhidos, estreitando os vínculos e possibilitando um relacionamento mais próximo da rotina
de uma família. Corroborando os discursos dos participantes, o Ipea (2010) enfatiza a
101
importância da existência de brinquedos e livros acessíveis às crianças e, ainda, sempre que
possível, a existência de espaços para recreação ao ar livre.
Dentro da proposta para o atendimento de crianças e adolescentes em situação de
acolhimento institucional existem normas que devem ser observadas, como as que se referem
à estrutura externa e interna, as quais os cuidadores têm tentado cumprir.
A terceira ideia central, ainda na perspectiva das atividades que são desenvolvidas
no abrigo, gerou a ideia de que as brincadeiras são sem foco e de maneira precária.
C- Brincadeiras sem foco e de maneira precária
Tem muito quebra cabeça, joguinho, brincadeira no campinho, brincadeira de
amarelinha, pula-pula, pula corda, jogar bola, brincar de roda, assistir filme.
Entretanto, existe uma dificuldade de um trabalho interno da pedagoga, de
montar essas coisas para as crianças, essas brincadeiras que chamam de lúdica,
por isso que foi proposto a brinquedoteca pra tá inserindo as crianças mais
nisso; a gente oferece poucas coisas pra crianças como cuidador. O que é
colocado é assim: a atividade de hoje é por conta dos cuidadores, aí vai no
empurrão; assim a gente inventa umas brincadeiras, mas sem aquele foco, sabe
[...]. A Semtras, ela cobra a atividade dos acolhidos; é uma proposta que a
secretaria tem de a gente transmitir aos acolhidos tudo que eles têm de direito e
as atividades elas fazem parte desse contexto (E3 e E9).
Nota-se que as verbalizações apontaram que as brincadeiras desenvolvidas na casa
de acolhimento são sem preparo prévio e sem um método dirigido, acontecendo de forma
desordenada. Os entrevistados mostram que existem atividades voltadas para o
desenvolvimento de brincadeiras; entretanto, são realizadas de maneira incerta e indefinida. Os
educadores/cuidadores da casa de acolhimento destacam as atividades desenvolvidas como:
quebra cabeça, jogos, brincadeiras, filmes, entre outras. Aponta-se, portanto, uma fragilidade
do trabalho proposto pelo serviço pedagógico da instituição.
Segundo Cavalcante, Magalhães e Pontes (2007a), o abrigo é um lugar de
desenvolvimento infantil. Desta forma, entende-se que os educadores/cuidadores precisam
melhorar as práticas e atividades desenvolvidas dentro da casa, para que as crianças tenham a
possibilidade de desenvolvimento. O planejamento institucional precisa prever a capacitação
dos cuidadores e técnicos, para que estes possam contribuir de forma efetiva no
desenvolvimento dos acolhidos.
A respeito, constata-se que as atividades lúdicas são realizadas dentro da casa de
acolhimento somente quando vem alguém de fora da instituição. É possível averiguar
102
divergência entre o discurso “B” e o “C”. Observa-se no discurso “B” que as atividades lúdicas
desenvolvidas dentro da casa de acolhimento são promovidas por parceiros e cuidadores.
Entretanto, no DSC “C”, verificou-se que os educadores/cuidadores enfrentam
dificuldade para desenvolver esse tipo de atividade e, quando o fazem, é de forma desordenada,
sendo enfatizado pelos cuidadores que as atividades lúdicas deveriam ser desenvolvidas pela
pedagoga.
A proposição acima remete à ideia proposta por Jurdi e Scridelli (2014) ao
enfatizarem que a função do educador/cuidador está direcionada para os cuidados físico e
emocional, estando responsável por todos os cuidados diários voltados para a questão de
alimentação e higiene pessoal, bem como pelo desenvolvimento da ludicidade. Barros e
Fiamenghi Jr. (2007) mostram que o cuidador é o responsável por mediar muitos
comportamentos que serão desenvolvidos pela criança, contribuindo para a regulação da
atenção, da curiosidade, das cognições, da linguagem, das emoções, etc. Dessa forma, entende-
se que a equipe técnica tem a função de promover a base especializada para os
educadores/cuidadores estabelecerem atividades voltadas para o desenvolvimento integral do
acolhido, não esperando apenas que a equipe técnica desenvolva todas as atividades voltadas
para o atendimento das crianças e adolescentes.
Com relação às atividades desenvolvidas dentro da instituição, observa-se ainda
que as cognições dos educadores/cuidadores estão relacionadas a jogos educativos, pintura,
recreação e atividades esportivas, como evidenciado na IC “D”:
D- Atividades lúdicas desenvolvidas no abrigo: pintura, jogos educativos,
recreativos e atividades esportivas
Geralmente, nós cuidadores cantamos, brincamos de roda, jogos, dama, dominó,
jogos educativos, contação de história, amarelinha, desenho e guerra de balão,
pula corda, pinturas que despertam no adolescente uma certa vontade de pintar,
todo tipo de brincadeira de roda [...] tem criança que chega aqui não sabe o que
é uma brincadeira de roda, incentivamos contarem história, tentando fazer elas
criarem. Várias atividades são desenvolvidas pelos parceiros, criação de
brinquedos com material reciclado, brincadeiras, cinema, audiovisual,
palestras, arte, pintura, brincadeirinha na maloca e outras. A gente reuniu as
crianças, pra ir pro campinho brincar, jogar futebol, vôlei; claro não vai todos,
porque tem aquelas faixas etárias que alguns podem, outros não podem
participar e, como tem um miniparque, desenvolvemos atividades no miniparque.
As brincadeiras são desenvolvidas no sentido de que a criança possa exercer
essa atividade, dentro da segurança que o abrigo oferece (E1, E2, E4, E5, E6,
E7, E8 e E9).
103
Nota-se que as verbalizações apontaram para o entendimento sobre atividades
lúdicas no sentido de contribuir com o desenvolvimento das crianças. Entende-se que o brincar
possibilita o desenvolvimento infantil. Nesse contexto é possível verificar que os entrevistados
enumeraram uma relação de atividades desenvolvidas dentro da casa de acolhimento,
enfatizando que algumas delas são desenvolvidas por parceiros.
Segundo Oliveira (1995, p. 135), o “brincar promove experiências sociais e
contribui com o desenvolvimento cognitivo”. Assim, percebe-se que os educadores/cuidadores
visualizam que são desenvolvidas atividades lúdicas dentro do contexto da casa de acolhimento.
Cavalcante, Magalhães e Pontes (2007a) corroboram a discussão ao afirmarem que a concepção
de abrigo, como medida política e de proteção social da infância, deve ser um ambiente de
cuidados coletivos e de contexto de desenvolvimento.
Os educadores/cuidadores ressaltaram, também, que várias atividades
desenvolvidas dentro da instituição são levadas pelos parceiros externos, como demonstra a
próxima ideia central referente ao desenvolvimento de atividades no abrigo:
Observando os quatros discursos acima, nota-se que a maioria dos
educadores/cuidadores apontaram para o desenvolvimento de atividades lúdicas dentro da casa,
enfatizando a existência de parceiros. Os educadores/cuidadores entendem que as atividades
fazem parte do direito das crianças, entretanto, enfatizam que enfrentam dificuldades para o
desenvolvimento de tais atividades.
8.2 ATIVIDADES LÚDICAS
Em relação à temática atividades lúdicas foi possível caracterizar nove ideias
centrais, subdivididas em duas IC voltadas para responder à pergunta: Para você o que são
atividades lúdicas? Três IC direcionadas para resposta aos questionamentos: São desenvolvidas
atividades lúdicas na casa de acolhimento? Quais? E o que você pensa sobre o desenvolvimento de
atividades lúdicas no contexto da casa de acolhimento? Além de quatro IC focadas para o
questionamento: Como você acha que devem acontecer as atividades lúdicas na casa de
acolhimento?
Quadro 10 - Síntese das ideias centrais – Atividades lúdica
Pergunta: Para você o que são atividades lúdicas?
Classificação Ideia Central Participantes
A Função das atividades
lúdicas: o aprender com
prazer
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
104
B Atividades do cotidiano,
que ensina no dia-a-dia
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
E7, 34 anos, feminino, 10 meses na instituição
E10, 37 anos, masculino, 1 ano na instituição
Perguntas: São desenvolvidas atividades lúdicas na casa de acolhimento? Quais? e O que você
pensa sobre o desenvolvimento de atividades lúdicas no contexto da casa de acolhimento?
Classificação Ideia Central Participantes
A Atividade importante para o
desenvolvimento da criança
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
E7, 34 anos, feminino, 10 meses na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
E10, 37 anos, masculino, 1 ano na instituição
B Atividade bem aceita pelas
crianças, quando
desenvolvidas pelos
parceiros.
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E6, 38 anos, feminino, 1 ano na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
C Deveria haver mais
investimento
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
Pergunta: Como você acha que devem acontecer as atividades lúdicas na casa de acolhimento?
Classificação Ideia Central Participantes
A Deveria acontecer
diariamente e de forma mais
diversificada e
desenvolvida por parceiros.
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
E7, 34 anos, feminino, 10 meses na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
B As atividades deveriam ser
divididas por faixa etária e
estabelecer regras.
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
C Com interação, organização
e participação de todos
E6, 38 anos, feminino, 1 ano na instituição
E10, 37 anos, masculino, 1 ano na instituição
D Garantir o bem-estar da
criança
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
A partir da temática atividades lúdicas, buscou-se saber o que pensam os
educadores/cuidadores sobre o assunto. Identificou-se que na IC “A” as atividades lúdicas
significaram, além do brincar, atividades que estimulam o aprender, os sentidos e a coordenação
motora, além, inclusive, de despertar o sentimento de alegria, conforme pode ser observado no
discurso a seguir:
A-Função das atividades lúdicas: o aprender com prazer
É um a atividade que estimula ele a aprender as coisas, estimula os sentidos,
coordenação motora, e que deixa eles feliz ao mesmo tempo, porque não
adianta ser uma atividade que estimule várias coisas que eles não querem fazer.
A pintura também é uma atividade lúdica, que a pessoa vai se desenvolvendo
105
através da arte [...]. O significado de atividades lúdicas é brincadeira, quando
a gente coloca uma atividade pra elas terem um conhecimento, um
conhecimento do mundo da vida, através da brincadeira. Tudo que você
apresenta vai trazer um conhecimento uma reflexão pra ela sobre a vida. Então,
Atividade lúdica é uma atividade sadia, [...] que faz a criança interagir, toda
brincadeira lúdica, ela não é só uma brincadeira, ela tem que ter um grau de
conhecimento. Você pra brincar com uma criança você vai ter que demonstrar
pra aquela criança no joguinho educativo, alguma coisa que faça ela pensar,
que faça ela raciocinar, pode ser com números, com cores, com nomes, com
objetos, a brincadeira lúdica, envolve muito isso você ensinar brincando, o
direcionamento disso é assim, você vai educar a criança brincando, e eu tenho
certeza que a resposta que ela tem de aprender brincando é muito melhor (E1,
E2, E3, E9).
Em relação à ideia central A-Função das atividades lúdicas: o aprender com
prazer, verifica-se grande riqueza no discurso acima. As verbalizações apontaram para
cognições dos educadores/cuidadores relacionando as atividades lúdicas a constructos como
desenvolvimento de atividades que estimulam a aprendizagem, sentidos e coordenação motora
e, ainda, as brincadeiras e interações.
Os participantes mostraram que uma das funções das atividades lúdicas é a
interação. Assim, Oliveira (2014) destaca que o brincar é uma prática importante para o
desenvolvimento infantil, pois quanto mais a criança brinca mais suas relações sociais crescem.
Os cuidadores/educadores também relacionaram o lúdico a atividades de pintura
como promotora da arte. Observa-se que o significado de atividades lúdicas está voltado para a
execução de atividades que promovam algum tipo de conhecimento. Segundo a verbalização
nos discursos, o lúdico relacionou-se também a brincadeiras. Entretanto, as brincadeiras
deverão propor conhecimento, estimulando o pensamento e desenvolvendo a aprendizagem.
Para os cuidadores, as atividades lúdicas proporcionam o ensinar brincando e o
aprender brincando, gerando prazer na criança, o que incita a aprendizagem. Dentro da
perspectiva do lúdico como metodologia para promover aprendizado, Kishimoto (1995, p. 59)
contextualiza que a utilização do “brinquedo/jogo como proposta pedagógica destina-se a sua
importância como instrumento de ensino, aprendizagem e de desenvolvimento infantil”. Nas
atividades lúdicas, o infante comunica-se, fala consigo mesmo e com o mundo, cria relações
sociais, conhecimentos, desenvolvendo-se integralmente (OLIVEIRA; DIAS, 2017). Assim, as
verbalizações dos educadores/cuidadores se coadunam com a referência aqui exposta.
Este DSC fundamenta-se na compreensão de Dallabona e Mendes (2004), os quais
apontam que, quando as atividades lúdicas são bem aplicadas e compreendidas pelos
envolvidos, poderão contribuir na melhora dos relacionamentos entre as pessoas da sociedade.
106
Assim, conforme Barros e Fiamenghi Jr. (2007), para que o abrigo seja um ambiente de
desenvolvimento, é necessário que o cuidador tenha a missão também de mediador.
Na perspectiva de que o educador/cuidador é mediador do comportamento dos
acolhidos, foi levantada a IC “B”, em que o lúdico foi apontado como atividade desenvolvida
fora da rotina, sendo o cuidador o responsável por essas atividades, como evidenciado no
discurso a seguir:
B-Atividades do cotidiano, que ensina no dia-a-dia
A atividade lúdica é uma atividade diferente do cotidiano do dia-a-dia, é uma
atividade no qual a gente mostra um pouco sobre alguma coisa que é diferente,
no qual a criança aprende, e, se desenvolve através das atividades lúdicas, são
atividades que mudam um pouco a rotina da casa [...] as brincadeiras, assim às
vezes a gente conversa com eles, atividade lúdica, é mostrar para os acolhidos
que nós estamos lá pra brincar com eles e servir eles (E5,E7e E10).
Observou-se que, no contexto de casa de acolhimento, os participantes da pesquisa
apontam as atividades lúdicas como práticas voltadas para descontração, mudança da rotina
diária e, ainda, com a finalidade de aprendizado.
Entende-se que a criança se desenvolve a partir das suas relações com o meio no
qual está inserida. Desta forma, Santana, Hammes e Silva (2016) enfatizam que a ludicidade
faz parte da vida do infante independentemente da faixa etária, cultura e do nível social,
tornando-se fator imprescindível para a saúde física, emocional e intelectual.
Observa-se que as cognições dos educadores/cuidadores, com relação ao que são
atividades lúdicas, estão fundamentadas na possibilidade de promover conhecimentos, como
enfatiza Kishimoto (1995), ao apontar que uma das funções do lúdico está ligada ao campo
educacional, ou seja, com o propósito de contribuir com o aprendizado. Entretanto, falta
incentivar a função lúdica do brincar, no qual o brinquedo proporciona alegria, entusiasmo e
até desprazer, quando escolhido voluntariamente.
Dentro dos relatos aqui apresentados evidenciaram-se verbalizações sobre as
atividades lúdicas e a importância dessas atividades. Assim, entendeu-se ser importante
aprofundar a temática para o desenvolvimento de atividades lúdicas dentro da casa de
acolhimento, emergindo quatro novas IC, as quais serão apresentadas a seguir.
107
8.3 COGNIÇÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES LÚDICAS NO
CONTEXTO DA CASA DE ACOLHIMENTO
A partir da proposta de aprofundar o que pensam os educadores/cuidadores sobre
atividades lúdicas, surgiu um subtópico que foi nomeado como cognições sobre
desenvolvimento de atividades lúdicas dentro da casa de acolhimento, o qual gerou três IC, que
serão apresentadas a seguir:
É possível averiguar no discurso A que os educadores/cuidadores entendem que as
atividades lúdicas possuem importância e promovem benefícios como desenvolvimento motor,
além de possibilitar a interação entre acolhidos e os educadores/cuidadores. Observou-se que
os investigados acreditam que, durante as atividades lúdicas, os acolhidos ficam mais calmos,
promovendo a interação por meio do canto e da dança, assim, tornando as rotinas da casa menos
monótonas.
A-Atividade importante para o desenvolvimento da criança
É importante, beneficente e estimulante para os acolhidos, além de ser
estimulante, é uma coisa divertida, é uma coisa que interagem entre nós, a gente
consegue interagir com eles, ajuda manter as crianças o desenvolvimento motor,
sem fazer nada, elas ficam agitadas, elas choram, aí quando elas tão em uma
atividade lúdica elas não ficam tão agitada, elas interagem entre si, cantam,
dançam e aquilo acaba distraindo passando o tempo, deixando menos monótono,
tira um pouco o estresse das crianças, dos adolescentes. Na verdade, assim,
qualquer atividade que a gente desenvolve com as crianças e adolescentes, é de
suma importância, nós temos lá na casa hoje bastante parceiros que nos dão esse
suporte aos finais de semana (E1, E4, E5, E7, E8, E9 e E10).
No que tange à interação apontada pelos investigados, Oliveira (2014) enfatiza que
as brincadeiras são atividades de grande valia em ambientes institucionais para o
desenvolvimento social, afetivo e cognitivo. Além disso, proporcionam o exercício das relações
de apego entre as crianças. Verifica-se que esse momento de interação deve ser promovido não
somente entre as crianças, mas entre todos os envolvidos no trabalho diário de cuidado e
educação.
Dentro da proposta do desenvolvimento das atividades lúdicas na casa de
acolhimento foi evidenciado na IC “B” que as atividades são bem recebidas por todos os
acolhidos; entretanto, quando são promovidas por parceiros.
108
B-Atividade bem aceita pelas crianças, quando desenvolvidas pelos parceiros.
É uma atividade bem recebida pelas crianças e adolescentes, que no momento que
eles estão fazendo uma atividade eles estão com a imaginação naquilo, ele se
concentrou no filme, aquele filme tá passando pra ele uma coisa boa, uma
importância para educação deles, e às vezes passa um filme sobre respeito, sobre
famílias, então eles se concentram, a pintura através da arte, e bem aceita, eles
participam, eles criam [...] essa atividade lúdica para crianças e adolescentes,
quando acontecem é quando tem parceiros diferente que vem de fora, a gente
percebe que os acolhidos eles reagem positivamente, até porque são dinâmicas
diferentes do que eles estão acostumados, por mais que a gente tente fazer diferente
quando chega um parceiro geralmente ele vem com uma metodologia, um trabalho
diferente do que a gente executa lá, [...] até porque foge um pouco da rotina deles,
aquela dinâmica de brincadeira com os parceiros elas têm uma importância muito
grande, no desenvolvimento do acolhido (E2, E6, E9 ).
Observou-se no discurso acima que os educadores/cuidadores entendem que as
atividades lúdicas são bem recebidas por todos os acolhidos, quando desenvolvidas por
parceiros, sendo que as crianças e os adolescentes, durante as atividades, estão distraindo o
pensamento. Dessa forma, possibilitam ensinamentos positivos que serão levados para vida
toda. Verificou-se, ainda, que quando essas atividades são desenvolvidas por parceiros tornam-
se mais atrativas, pois é apresentada uma nova metodologia, brincadeiras diferentes e
diversificadas.
Entretanto, pode-se verificar que os educadores/cuidadores não se sentem na
obrigação de desenvolver atividades lúdicas, esperando-se que tenham parceiros para promover
momentos de brincadeiras para os acolhidos. Oliveira (2014), em seu estudo, mostra que dentro
de uma casa de acolhimento o brincar destaca-se como uma prática importante para o
desenvolvimento infantil, pois, quanto mais a criança brinca mais suas relações sociais crescem.
Acredita-se que a prática de atividades lúdicas dentro do contexto de acolhimento
deve ser desenvolvida por todos os envolvidos no cuidado diário. Entretanto, observa-se na IC
“C” a necessidade de maior investimento em atitude dos envolvidos, conforme demonstra o
discurso a seguir:
C-Deveria haver mais investimento
A gente podia investir mais nas atividades lúdicas, porque agora por exemplo
uma tarde de sábado ou um dia de tarde assim eles não estão fazendo nada, eles
ficam ociosos, acho que ainda falta mais um pouquinho de algumas coisas, que
às vezes as atividades elas acabam ficando repetitivas, as crianças dizem de novo
isso, de novo aquilo, é ai só tem isso só tem aquilo (E3 e E5).
109
O maior investimento em atividades lúdicas é um ponto levantado neste discurso.
Pois existem dias em que as crianças e os adolescentes ficam ociosos, sem participar de
nenhuma brincadeira. Evidencia-se que as atividades promovidas pela equipe de cuidadores
tornam-se repetitivas; desta forma, as crianças acabam não se envolvendo nas atividades.
Dentro da perspectiva de mais investimento no desenvolvimento das atividades
lúdicas, entende-se que a capacitação da equipe de educadores/cuidadores seria uma alternativa
para proporcionar momentos de lazer adequados e voltados para as realidades de casas de
acolhimento, tendo em vista que as Orientações técnicas: Serviços de Acolhimento para
Crianças e Adolescentes, em seu escopo, mostra que a capacitação da equipe que trabalha nas
casas de acolhimento ou família acolhedora deve ser uma constante (BRASIL, 2009).
Assim, dentro das três ideias centrais que emergiram neste subtópico pode-se
observar que os educadores/cuidadores entendem que as atividades lúdicas são importantes para
o desenvolvimento dos acolhidos; entretanto, necessitam de aperfeiçoamento para o
desenvolvimento de atividades voltadas para o lazer e o lúdico.
8.4 COGNIÇÕES DOS EDUCADORES/CUIDADORES DE COMO DEVERIA
ACONTECER AS ATIVIDADES LÚDICAS DENTRO DA INSTITUIÇÃO DE
ACOLHIMENTO
Aprofundando, ainda, a temática atividades lúdicas, foi necessário conhecer qual a
perspectiva dos educadores/cuidadores com relação a como deveria acontecer essas atividades
dentro do contexto de abrigamento. Com o desenvolvimento dessa análise surgiram cinco ideias
centrais, que serão discutidas a seguir:
A- Deveria acontecer diariamente e de forma mais diversificada e
desenvolvida por parceiros.
Está bem, assim com os parceiros, com as atividades acontecendo regularmente,
dependendo da época, da semana, porque às vezes não dá por causa das aulas,
mas de certa forma está correndo bem, assim as situações das brincadeiras de
tudo. Mas agora assim, eu acho que deveria ter mais de forma diferente, ter
pessoas de fora trazer coisas nova, trazendo novas ideias, porque muitas das
vezes nos cuidadores sabemos de um tipo de brincadeiras, mais outras pessoas
podem vir com coisas novas teatro, dança, por exemplo que se espera muito da
brinquedoteca, que quando começou era uma coisa bem nova, uma coisa
diferente, porque eles já ficam dentro da casa, querendo ou não eles ficam
fechados que eles não podem sair diariamente, tendo brincadeira é importante
110
pra eles, eu acho que todo dia tem que ter, quando não tem parceiros a gente que
faz com eles (E1, E4, E5, E7, E8).
Percebe-se no discurso “A” que os educadores/cuidadores do abrigo relatam que as
atividades lúdicas, no contexto da casa de acolhimento, são desenvolvidas pelos parceiros,
acontecendo regularmente, tendo em vista a existência de época que, motivada pelo período
letivo, não acontecem diariamente. Entretanto, foi apontado nas verbalizações que essas
atividades deveriam existir de forma diversificada, o que se espera muito da brinquedoteca que
está sendo construída.
O resultado aqui apresentado coincide com os observados por Jurdi e Scridelli
(2014), os quais mostram que atividades como o brincar das crianças estão em sua maioria
dissociadas da prática dos educadores/cuidadores, enfatizando-se que o brincar deveria ser uma
atividade diária para as crianças. É fundamental a presença de um adulto como referência para
crianças, tendo em vista os laços de confiança estabelecido entre o responsável pelo cuidado e
as crianças.
Percebe-se, ainda, que as verbalizações aqui evidenciadas apontam para a
importância do desenvolvimento de atividades de cunho lúdico. Observa-se que foi atribuído
relevância para atividades elaboradas por parceiros, pois estes trazem novas metodologias,
sendo na visão dos entrevistados mais atrativas para os acolhidos. Observa-se, ainda, que foi
apontado importância nas atividades externas, ou seja, fora da instituição.
Este entendimento está corroborando os resultados encontrados no estudo de Jurdi
et al. (2014), no qual os cuidadores, que deveriam ser responsáveis pelo cuidado e pelas
atividades de lazer, entre outras atividades, das crianças institucionalizadas, desempenhavam
na maioria das vezes somente a função de separar brigas e distribuir brinquedos, não interagindo
no momento do brincar.
A segunda IC que surgiu dentro deste subtópico está relacionada à possibilidade de
separação por faixa etária entre os acolhidos, sendo observada no discurso a seguir:
B- As atividades deveriam ser divididas por faixa etária e estabelecer
regras.
Creio que, no momento das atividades a gente teria que diferenciar criança por
faixa etária, por exemplo: esporte para os adolescentes, brincadeira de xadrez,
jogo de dama, as criancinhas já eram separadas para outra atividade, porque as
vezes acontece que a gente mistura, por exemplo: eu vou fazer uma atividade eu
levo uma atividade de casa por exemplo, chego lá tem criança de 3 anos, de 2
anos de 4, de 5, e adolescente, ai eu vou ficar perdido, então o que eu faço, eu
111
vou criar uma atividade hoje, vou ver quais as crianças que tem, aí a faixa etária
de cada um [...], não é como chega a capoeira, todo mundo na roda de capoeira,
acho que a criança não tem nada a ver com capoeira, quem tem é adolescente,
também quando chega alguma coisa pra criancinha os adolescentes ficam
perdidos, olhando. Então acho que deveria fazer mais assim, separadamente um
tipo para crianças e outra para adolescentes, era um investimento. Entretanto,
sozinho é ruim de conduzir (E2 e E3).
Percebe-se no discurso “B” a ênfase de que, para se obter maior participação,
evitando que adolescentes ou crianças fiquem sem participar da atividade proposta, se faz
necessária a separação por faixa etária. Relata-se ainda que as atividades desportivas deveriam
ser direcionadas para o público adolescente, e para as crianças outras atividades voltadas para
a faixa etária. Dessa forma, na visão dos educadores/cuidadores, atividades direcionadas para
um determinado grupo seria um investimento.
Evidenciou-se, ainda, que existe dificuldade para promover as atividades lúdicas
dentro da casa, tanto pela diferença de idade entre os acolhidos quanto pela quantidade de
funcionários por turno de trabalho.
Frente às arguições apontadas, entende-se que a separação por idade poderia ser
uma alternativa para se desenvolver as atividades lúdicas dentro do contexto de acolhimento.
Entretanto, essa separação por faixa etária depende muito do envolvimento dos
educadores/cuidadores nas atividades diárias ou até mesmo a contratação de um profissional
para promover atividades recreativas para os acolhidos, utilizando o momento do brincar para
desenvolver psique infantil, pois segundo Leontiev (2010) as condições reais da vida interferem
diretamente no desenvolvimento das funções psíquicas.
Além de ser observado na análise que os educadores/cuidadores entendem que as
atividades devem acontecer por faixa etária, atribuiu-se aos parceiros esta responsabilidade,
como se observa abaixo:
Identifica-se que o público entrevistado possui ideias divergentes. Um grupo
entende que as atividades devem ser direcionadas por parceiros, e outro demonstra que devem
ser desenvolvidas por todos os responsáveis pelo atendimento dentro da casa, como se observa
a seguir:
C- Com interação, organização e participação de todos
Tem que ter a participação de todos, porque nem todo dia tem um parceiro para
desenvolver as atividades deles, nem todos os dias tem um técnico, tem os
cuidadores, assim o que dificulta a parte dos cuidadores é a prática para
112
desenvolver atividades, mais nós temos cuidadoras que desenvolve muito bem essa
parte, mais sempre que tem todos participam, então acredito que tem que ser
conjunta de todos, desde que seja feita, porque se a criança não tiver nada pra
fazer ela vai ficar muito agitada, e vai te dar mais trabalho, se ela tiver fazendo
uma atividade, alguma coisa que desperte o interesse, a atenção, deles pra ficar
naquele momento ali. Então, assim a interação de todos os participantes, também
com organização e participação dos responsáveis da brincadeira desenvolvida
(E6 e E10).
Constata-se no referido discurso que a participação de toda a equipe da casa é
necessária para o desenvolvimento das atividades, pois não é possível ter todos os dias parceiros
disponíveis para realizar brincadeiras. Observa-se que os educadores/cuidadores apontam ter
dificuldades para desenvolver atividades, por não possuírem prática para isso. Evidencia-se que
alguns cuidadores conseguem desenvolver brincadeiras. Quando isso acontece, todos os
cuidadores participam, enfatizando a união de todos. Ressaltam que deve ter atividades lúdicas
na casa, pois, assim, diminui a agitação de todos.
Em contrapartida, a observação de Jurdi et al. (2014) mostra que a atitude dos
cuidadores durante as brincadeiras era separar as crianças que estavam brigando por causa de
brinquedos e colocar de castigo, observando-se que esse momento do brincar não era utilizado
para ensinar comportamentos habilidosos, dessa forma, dificultando os relacionamentos
interpessoais. Os autores também relatam que, com o desenrolar das oficinas, pôde-se observar
a mudança de comportamento dos cuidadores, tornando-se mais participativos durante os
momentos do brincar.
A última IC que surgiu para esse subtópico de como deveriam acontecer as
atividades lúdicas dentro da casa de acolhimento enfatiza que se deve garantir o bem-estar dos
acolhidos, como se pode averiguar no discurso da IC “E”:
D- Garantir o bem-estar da criança
Assim, o bem estar do acolhido, a brincadeira tem que existir, mas primeiro tem
que garantir o bem estar dos acolhidos, são crianças que estão muito fragilizadas
naquele momento, então você vê a situação muito clara de como se vai produzir
essa brincadeira, de que maneira você vai produzir essa brincadeira, e a gente
preza pela harmonia, pela segurança, pelo bem estar de todos (E9).
Infere-se no discurso que as brincadeiras devem acontecer dentro da instituição,
porém deve-se garantir, em primeiro lugar, o bem-estar dos acolhidos, tendo em vista que são
crianças que estão fragilizadas pelos acontecimentos que as levaram para a instituição. Jurdi et
113
al. (2014) mostram, a partir da observação de oficinas desenvolvidas dentro de uma casa de
acolhimento, que os cuidadores acreditam que a sua função era somente cuidar do espaço físico,
dos brinquedos e da segurança das crianças, corroborando, assim, o discurso aqui apresentado.
Entende-se que os educadores/cuidadores possuem a função de zelar pela segurança dos
acolhidos; entretanto, devem promover atividades voltadas para seu desenvolvimento integral.
Dentro da proposta de pesquisa, além das atividades lúdicas e sua importância para
o desenvolvimento integral, têm-se as habilidades sociais como possibilidade de melhorar as
relações sociais das crianças em situação de acolhimento. Com relação a este campo do
conhecimento será apresentado, a seguir, os discursos sobre as cognições que os
educadores/cuidadores possuem sobre as HS.
8.5 HABILIDADES SOCIAIS
Em relação às habilidades sociais foi possível caracterizar doze ideias centrais,
subdivididas em três IC que estão relacionadas a pergunta: Quando eu falo de habilidades sociais,
o que passa na sua cabeça?, duas IC que respondem o questionamento: O que você acha do
desenvolvimento das habilidades sociais nas crianças da casa de acolhimento?, duas IC refletindo
sobre quais habilidades sociais você considera importantes para as crianças desenvolverem?, cinco
IC que respondem os questionamentos: Quais habilidades sociais você considera importantes para
as crianças desenvolverem? e O que você pensa que pode ser feito para que as habilidades sociais
sejam desenvolvidas pela criança? a seguir no quadro síntese 11, a descrição das IC, os
educadores/cuidadores que colaboram com os DSC, idade, sexo e tempo de trabalho na
instituição.
Quadro 11 - Síntese das ideias centrais – Habilidades sociais
Pergunta: Quando eu falo de habilidades sociais, o que passa na sua cabeça?
Classificação Ideia Central Participantes
A Habilidades de socializar,
conviver com as pessoas e
trabalhar em equipe
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
E6, 38 anos, feminino, 1 ano na instituição
E7, 34 anos, feminino, 10 meses na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
B Todo humano tem
habilidades sociais e
precisam ser desenvolvidas
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
114
C É influenciar o meio em que
se vive
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
Pergunta: O que você acha do desenvolvimento das habilidades sociais nas crianças da casa de
acolhimento?
Classificação Ideia Central Participantes
A Ajuda distrair e absorver
conhecimento
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
B É desenvolvida entre as
crianças e os cuidadores,
através de atividades
externas
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
E6, 38 anos, feminino, 1 ano na instituição
E7, 34 anos, feminino, 10 meses na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
Perguntas: Quais habilidades sociais você considera importantes para as crianças
desenvolverem?
Classificação Ideia Central Participantes
A Interação entre eles, amor
ao próximo e raciocínio
lógico
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
E10, 37 anos, masculino, 1 ano na instituição
B Comunicação, respeito,
leitura, diálogo e
concentração
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
E6, 38 anos, feminino, 1 ano na instituição
Perguntas: Quais habilidades sociais você considera importantes para as crianças
desenvolverem? e O que você pensa que pode ser feito para que as habilidades sociais sejam
desenvolvidas pela criança?
Classificação Ideia Central Participantes
A Através de atividades
estimulantes, brincadeiras e
jogos
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
E7, 34 anos, feminino, 10 meses na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
B A partir dos ensinamentos
que vem da família e por
meio dos exemplos das
pessoas do convívio
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E10, 37 anos, masculino, 1 ano na instituição
C Através do diálogo e
palestras e brincadeiras
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
E6, 38 anos, feminino, 1 ano na instituição
E7, 34 anos, feminino, 10 meses na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
D Estimular o trabalho em
equipe, com planejamento
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
115
sensibilizando e
incentivando os cuidadores
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
E10, 37 anos, masculino, 1 ano na instituição
E Por meio de
acompanhamento
individual
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
Dentro da perspectiva de investigação do que pensam os educadores/cuidadores
sobre as habilidades sociais foi possível levantar os seguintes discursos:
Nota-se neste DSC que os educadores/cuidadores da casa de acolhimento entendem
que as habilidades sociais direcionam as crianças e os adolescentes para um processo de
interação, socialização e convivência dentro do grupo, criando-se amizades e priorizando-se os
trabalhos em equipe. Enfatiza-se que a casa de acolhimento é um ambiente fechado, por esse
motivo é importante a socialização entre todos da casa.
A- Habilidades de socializar, conviver com as pessoas e trabalhar em equipe
Eu creio que habilidade sociais é a criança ou adolescente interagir com os
outros, participar, socializar, conviver em pequeno grupo de pessoa, que estão
convivendo ali no dia a dia, criar amizades, trabalhar em equipe, não
individualmente, e essa interação vem contribuir para cada um aprendizado,
uma socialização deles, a convivência na casa que é fechada, não posso sair se
eu sair vou ter que ser acompanhado por alguém, então essa socialização deles
é muito importante (E1, E2, E4, E5,E6, E7, E8).
Nesta perspectiva, Murta, Del Prette e Del Prette (2010) apontam que as habilidades
sociais são comportamentos sociais que contribuem para o desenvolvimento da competência
social, assim favorecendo os relacionamentos saudáveis. Acredita-se que os relacionamentos
dentro da casa de acolhimento devem ser fortalecidos, tendo em vista o estado de vitimização
em que essas crianças chegam na casa de acolhimento.
Na análise desse discurso nota-se que os educadores/cuidadores entendem que as
habilidades sociais proporcionam a interação e a socialização entre os acolhidos. Por outro lado,
também entendem que o ser humano possui HS sendo necessário o desenvolvimento de tais
habilidades. Esse entendimento pode ser observado na análise do próximo discurso, sobre as
habilidades sociais que precisam ser desenvolvidas no ser humano, conforme descrição abaixo:
B- Todo humano tem habilidades sociais e precisam ser desenvolvidas
Cada criança do abrigo ela tem habilidade social, só falta ser desenvolvida, a
gente vê que tem umas crianças que fazem ótimos desenhos, tem criança que sabe
contar história, que gravam as coisas, tem criança que são boas em esporte, já
116
passou uma menina por lá que fazia docinho, fazia brigadeiro, fazia outras
coisas, outra fazia crochê. Todo ser humano tem habilidade social, [...]a gente
ter numa sociedade, no ambiente que a gente vive, fazer uma diferença naquilo
que a gente aprendeu que foi desenvolvido, porque eu sei fazer uma coisa, mas
precisa ser desenvolvido, para ter essa habilidade social. Então, habilidades
sociais é todo um projeto, um modo de agir que vai de encontro a segurança, ao
trabalho que é desenvolvido, a gente não trabalha só entretenimento na criança,
o lado social é muito importante, então as crianças quando chegam na casa, do
lado social importante, chegar lá você vai educar, orientar, tem a parte jurídica,
na parte pedagógica, tudo é um contexto (E3 e E9).
Percebe-se nas verbalizações que as crianças têm habilidades sociais. Entretanto, é
necessário aprimorar essas habilidades. Verifica-se que as habilidades sociais a que os
educadores/cuidadores fazem referência estão direcionadas para atividades diárias e práticas de
esporte e trabalhos manuais, ou seja, sendo confundidas com o senso comum.
Segundo Del Prette e Del Prette (2014), a família é o primeiro grupo social da
criança, no qual inicia-se o processo de desenvolvimento e aprendizagem. Tendo em vista que
existem acolhidos de diferentes faixas etárias na casa de acolhimento, entende-se que a maioria
dessas crianças tiveram contato mínimo com a sua família biológica, assim, possuem
comportamentos que podem ser habilidosos ou não habilidosos. Compreende-se também que o
educador/cuidador, em alguns casos, se torna o primeiro núcleo de relacionamento dos
acolhidos. Desta forma, percebe-se que estes são responsáveis pelo desenvolvimento de tais
habilidades nos acolhidos.
Ainda com relação ao entendimento sobre HS, foi evidenciado que essas
habilidades são necessárias para influenciar o contexto em que se está inserido. Este é o discurso
que pode ser observado a seguir:
C- É influenciar o meio em que se vive
Habilidades sociais, é ela a influenciar o meio que se vive com alguma coisa que
ela sabe, e essas habilidades até a gente é responsável (E3).
Percebe-se que o discurso acima representa o entendimento de que habilidades
sociais é influenciar o ambiente em que se vive com os conhecimentos que a pessoa possui,
referindo-se que os educadores/cuidadores são responsáveis por estimular e desenvolver tais
habilidades nos acolhidos.
As verbalizações aqui apontadas confirmam o posicionamento de Garcia Terán,
Moran e Olaz (2012), os quais acreditam que as habilidades sociais são um conjunto
117
multidimensional construído a partir de comportamentos diversos, agrupando-se segundo seu
conteúdo e funcionalidade. Dessa forma, a casa de acolhimento possui um conjunto de inúmeras
possibilidades para o desenvolvimento de habilidades sociais, sendo necessário que os
educadores/cuidadores sejam elo fundamental para possibilitar essa evolução no
comportamento dos acolhidos.
8.6 DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS EM CASA DE ACOLHIMENTO
Dentro da temática habilidades sociais emergiram verbalizações que apontam para
o desenvolvimento das habilidades sociais dentro da casa de acolhimento, como as relacionadas
abaixo.
A- Ajuda distrair e absorver conhecimento
Muito importante, porque ajuda a distrair, eles absorvem algum tipo de
conhecimento, por mim teria mais atividades visando isso pelos parceiros,
porque de certa forma, mesmo morando junto, eles se fracionam muito, se
separam muito, pelo fato de ser muito maçante tá todo tempo com uma pessoa,
num espaço que de certa forma é fechado, aí acaba tendo muitas desavenças uns
com os outros, principalmente entre os adolescentes. Quando tem atividade eles
brincam todos juntos, pra eles não tem diferença, a gente percebe que tem umas
crianças que são mais fácil de você lidar, apesar de ser criança, existe umas
crianças que têm uma dificuldade muito grande, a gente vai trabalhando esse
lado, na brincadeira, essa interação (E1, E4, E8 e E9).
Dentro do campo de investigação das habilidades sociais existem as habilidades
sociais educativas, as quais são destinadas para ao aprendizado do outro, podendo ser
estimuladas em ambientes formais e informais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2014). Dessa
forma, os educadores/cuidadores mesmo sem conhecer o conceito de HSE fizeram emergir em
seus discursos que entendem a importância do desenvolvimento de habilidades sociais voltadas
para a distração e como forma de absorver conhecimentos. Entretanto, os participantes apontam
que atividades voltadas para aprendizagem de algum tipo de conhecimento deveriam ser
desenvolvidas pelos parceiros. Evidencia-se que é necessário haver a interação entre os
acolhidos, pois, mesmo dividindo a mesma casa, existe o fracionamento, principalmente entre
os adolescentes.
118
Quanto ao desenvolvimento das habilidades sociais dentro da casa de acolhimento,
nota-se que os educadores/cuidadores entendem que desenvolvimento social está em promover
momentos de lazer fora da instituição, conforme se verifica no discurso a seguir:
B- É desenvolvida entre as crianças e os cuidadores, através de atividades
externas
Esse desenvolvimento social é [...] a gente já tentou fazer isso fora com eles, mas
a gente enfrenta uma dificuldade de não terem o costume de obedecer regras,
horário, às vezes não estão bem porque estão afastados da família, um dia eles
estão bem, outro estão triste, deprimido, seria mais fácil trazer pra dentro do
abrigo alguma coisa do que sair com eles, porque lá dentro do abrigo não tem
como eles não participarem. Com o tempo, com o amor, carinho que os cuidadores
vão passando pra eles, eles começam socializar, começam fazer essa convivência,
de estar sempre junto. As habilidades sociais entre eles sempre vão depender de
um cuidador, da cuidadora, para saber lidar com essas habilidades [...] tem horas
que elas se comunicam bem com as outras crianças, tem horas que elas brigam,
elas se desentendem, uma belisca, aí choram [...]. Quando os parceiros vão, é
importante pra eles, tudo que vai de novo é bom pra eles, eu penso, 60% dessas
crianças estão em fase de desenvolvimento, ela precisa de muita orientação,
precisa realizar muita roda de conversa, para orientar, mas a gente entende
também que os adolescentes que nós temos na casa, apesar do número ser menos,
eles já tem uma condição social muito boa, tem uma dimensão muito exata do que
aconteceu, e porque ele chegou na casa, em que situação ele chegou lá, então ele
consegue desenvolver muito mais fácil esse lado social dele (E2, E3, E5, E6, E7e
E9).
Neste discurso os educadores/cuidadores apresentam verbalizações nas quais as
habilidades sociais devem ser desenvolvidas em atividades externas à casa de acolhimento.
Entretanto, eles enfrentam dificuldades para promover esses momentos de interação, tendo em
vista que os acolhidos não possuem o costume de obedecer a regras e horários. Existe um outro
fator preponderante a considerar: a questão de humor dos acolhidos. Pelo fato de estarem
separados da família, existem dias em que eles estão bem e, em outros, nem tanto.
Enfatiza-se que o desenvolvimento das habilidades sociais nas crianças vai
depender dos responsáveis que estão na casa, pois esses devem possuir habilidade para lidar
com os acontecimentos dentro da casa. É relevante também observar, na verbalização do
discurso dos participantes, que os parceiros são importantes para as atividades desenvolvidas
dentro da instituição, pois estes promovem atividades diversificadas e com novas metodologias
que clamam a atenção dos acolhidos, promovendo, assim, a participação.
119
Del Prette e Del Prette (2014) mostram que o papel da família é indispensável para
o desenvolvimento das habilidades sociais. Dentro da perspectiva de casa de acolhimento, os
acolhidos, no período que estão dentro da instituição, têm os funcionários da casa como sua
família. Assim, é fundamental que todos tenham esse comprometimento com o
desenvolvimento integral dos acolhidos.
8.7 HABILIDADES SOCIAIS IMPORTANTE PARA CRIANÇA NA PESPECTIVA DOS
EDUCADORES/CUIDADORES
Com o aprofundamento da temática HS, observa-se nas verbalizações a importância
que os educadores/cuidadores direcionam para essas habilidades na infância. Isso pode ser
verificado nos discursos a seguir:
A- Interação entre eles, amor ao próximo e raciocínio lógico
Uma das habilidades sociais que é muito importante para o desenvolvimento da
criança, é a convivência um com o outro [...] no carinho deles e das pessoas que
trabalham, o trabalho em equipe, o amar ao próximo, porque eles pensam muito
em si e não pensam nos outros, principalmente os adolescentes, [...] o participar
deles nas atividades, estarem junto, criarem juntos com a gente. Habilidade
social na brincadeira a gente tenta trabalhar, o raciocínio lógico das crianças,
a gente entende que você fazer a criança pensar, fazer a criança raciocinar de
uma maneira positiva, dentro do limite do que ela pode entender, claro avaliando
a faixa etária de idade, o que serve pra um adolescente não serve pra uma
criança, todas as brincadeiras que são propostas são colocadas no
planejamento, é no sentido que a criança possa desenvolver de alguma forma
essa habilidade social, no sentido de interação, desenvolvimento da fala, porque
tem criança que chega no abrigo que tem dificuldade na fala, olhando pra esse
lado também esse lado social é importante, trabalhando a relação aos
cuidadores com as crianças também (E1, E2, E8, E9, E10).
Há no discurso acima a compreensão de que as habilidades sociais são importantes
para o desenvolvimento da criança, enfatizando que o relacionamento com o outro é
fundamental. Verifica-se que os educadores/cuidadores acreditam que, de alguma forma, o
afeto deve ser desenvolvido nas crianças, trabalhando a empatia entre eles.
Infere-se na legislação brasileira que “a postura dos educadores/cuidadores e das
famílias acolhedoras e a qualidade da interação estabelecida com a criança e do adolescente
representam importantes referenciais para seu desenvolvimento” (BRASIL, 2009, p. 47).
Revela-se que o desenvolvimento de habilidades sociais através de brincadeiras tem o objetivo
120
de promover o raciocínio lógico, desenvolvimento da fala, da interação, trabalhando também a
relação dos cuidadores.
Ainda com relação às habilidades importantes para a criança, observa-se que
algumas classes e subclasses de habilidades sociais são apresentadas de forma direta e indireta,
como, por exemplo, a comunicação, a civilidade, o autocontrole, entre outras. Segundo os
entrevistados, essas habilidades são importantes para a concentração, para o desenvolvimento
geral e para a vida em sociedade, conforme se observa no discurso apresentado na interação a
seguir:
B- Comunicação, respeito, leitura, diálogo e concentração
As habilidades sociais, para desenvolver primeiro a comunicação, o respeito com
as pessoas, e depois vem pra mim leitura, aprendizagem na escola. É importante
o senso de religião, de direção, independente de igreja, educação, tanto no abrigo,
como na escola, aí vem uns que gostam de música, outras que gostam de pintar,
desenhar, de fazer unha, fazer maquiagem, então as habilidades sociais que acho
importante desenvolver nelas são essas básicas, para elas viverem na sociedade.
Em contexto geral se concentrar naquilo que estão fazendo, sempre que está ali
qualquer coisa chama a atenção, brincadeira, tudo isso é importante. O diálogo,
a interatividade com a sociedade, costumo a pintura ela desenvolve muito o que a
criança tem, ou o que a criança sente, ela revela um pouco o sentimento dela, a
gente deixa livre e elas ficam pensando, às vezes desenha o pai, desenha a mãe de
mão dada, então a pintura, o diálogo contribui muito. Porque eles são muito
pequenininhos pra gente colocar muita informação na cabeça deles, pra eles
entenderem a gente consegue com o passar do tempo, assim, que não pode, que
não pode fazer isso, tem que viver bem, vocês são coleguinhas ou irmãos, tem
primos, então a gente tenta mostrar esse lado pra eles, pra eles não fique assim,
na parte do beliscão, da briguinha, e devido eles serem crianças que vem de uma
realidade bem dura eles xingam, eles não escolhem as palavras pra xingar, assim,
a conversa, o diálogo permanente, acredito que seja um forma de ajudá-los nesse
convívio (E3, E4, E5, E6).
Verifica-se que os investigados acreditam que as habilidades sociais são
importantes e estão relacionadas a questões de relação interpessoal e comportamento dentro e
fora da instituição. Enfatiza-se, ainda, que as cognições dos investigados estão ligadas a práticas
de atividades, como: desenhar, pintar, fazer unha, maquiagem. O discurso apresenta que os
educadores/cuidadores executam atitudes para diminuir os atritos entre os acolhidos.
Na intervenção realizada por Jurdi et al. (2014) as oficinas direcionadas para
atividades lúdicas desenvolvidas dentro da instituição de acolhimento buscavam a interação
entre adultos e crianças, o diálogo e comunicação. Esta pode ser uma alternativa para promover
o desenvolvimento de habilidades sociais dentro da realidade encontrada neste estudo. Caballo
121
(2003) mostra que a comunicação entre as pessoas possibilita o conhecimento de novas culturas
e o desenvolvimento de habilidades sociais.
8.8 COMO DESENVOLVER HABILIDADES SOCIAIS NA INFÂNCIA
Com o intuito de estreitar o entendimento e promover maior participação dos
educadores/cuidadores na pesquisa, surgiram os questionamentos de como desenvolver as
habilidades sociais na infância e como relacionar o desenvolvimento de tais habilidades para
o contexto das crianças que estão na casa de acolhimento, este último representando o lócus
investigativo desta pesquisa. Assim, surgiram as verbalizações que podem ser observadas a
seguir:
A- Através de atividades estimulantes, brincadeiras e jogos
Eu penso que deveria ter várias atividades, para estimular um ajudar o outro. E
brincadeiras, jogos para crianças, aqueles jogos que trocar de lugar, da memória,
ajuda colocar uma criança pra andar brincando, com uma bola por exemplo ou
outro brinquedo que chame atenção dela para que ela possa desenvolver. Criança
de faixa etária de um ano que ainda não ande é sempre bom colocar eles pra
andar, tentar andar desenvolver a capacidade motora, seu jeito de pensar, tudo
isso é importante. A conversa, porque tem criança e adolescente, pra criança deve
ser mais brincadeira, e para os adolescentes mais na conversa, que elas pegam
mais as coisas. A pintura, atividades pedagógicas, [...]os passeios fora, as
atividades nos lugares ao ar livre, como no campinho, jogo de bola, a gente os
leva para outros caminhos fora da instituição. Deve existir na pedagogia, um
mecanismo que possa orientar aquela criança no sentido de produzir resultados
no crescimento dela, a criança ela tem numa faixa etária de idade um
desenvolvimento, quanto mais ela tiver relação de atividades que façam ela
pensar, raciocinar deve se desenvolver ( E1, E4, E7, E8, E9).
Percebe-se no discurso aqui apresentado que, para o desenvolvimento das
habilidades sociais, é necessária a existência de várias atividades para estimular os acolhidos a
participarem nas interações.
Constata-se que os educadores/cuidadores enumeraram atividades de jogos e
brincadeiras como ferramenta para possibilitar o aprendizado de atividades motoras, como
andar. Ressalta-se, também, que para conseguir promover o desenvolvimento de habilidades é
necessário diferenciar as atividades, sendo revelado que, para as crianças, é bom promover
brincadeiras e, para os adolescentes, a metodologia utilizada seria baseada na conversa. Foi
enfatizado, ainda, que as atividades pedagógicas e atividades fora da casa são práticas
valorizadas pelos acolhidos.
122
Marcellino (2001) nomeou a prática do lúdico como mediadora para o aprendizado
da “pedagogia da animação”, a qual é apontada pelos entrevistados, de forma empírica, como
uma metodologia para promover o desenvolvimento de capacidades motoras.
No tocante, Bolsoni-Silva e Marturano (2002) afirmam que a condição em que a
criança é educada aparenta ser importante para o desenvolvimento de comportamentos
socialmente adequados. As autoras apontam que comportamentos vivenciados durante o
desenvolvimento da criança influenciam diretamente na sua conduta. Dessa forma, dentro do
contexto de acolhimento é de suma importância que a equipe de educadores/cuidadores
estimule e promova atividades voltadas para o desenvolvimento das habilidades sociais.
O questionamento sobre como desenvolver as habilidades sociais na infância
possibilitou a organização do discurso que revela que o ensinamento dentro do ambiente
familiar é importante para o desenvolvimento da criança. Essa revelação pode ser observada na
análise do discurso da IC “B” a seguir:
B- A partir dos ensinamentos que vem da família e por meio dos exemplos
das pessoas do convívio
Acho que essas habilidades sociais devem ser desenvolvidas sempre no princípio
do ensinamento, dos princípios básicos que vem da família, de casa, então se for
passado para eles os princípios básicos, de educação, ensinamento, do que é certo,
do que é errado, porque às vezes muitos não sabem, quando eles chegam na casa
que tem toda uma regra, todos uns princípios que devem ser seguidos, algumas
possuem dificuldade para conseguir cumprir, quando eles conseguem aí fica tudo
bem. Na infância habilidade social, para ela ser desenvolvida ela vem primeiro
como um espelho, a criança ela vai sempre reproduzir o que ela vê, então a gente
tá como se tivesse reformulando a vida delas, elas aprenderam uma coisa, na casa
delas, quando elas chegam na casa de acolhimento, a gente tá introduzindo elas
novamente na infância. As principais habilidades que a gente desenvolve no
abrigo, é essas coisas básicas: ir pra escola, cuidar da higiene pessoal,
alimentação e saúde, essas quatro coisas que é básico pra gente tentamos ensinar
com muita sabedoria, amor e paciência (E2, E3 e E10).
Verifica-se nesse discurso que as habilidades sociais, segundo o público
participante, devem ser desenvolvidas primeiramente nas famílias, dando ensinamentos sobre
comportamento certo ou errado. Em se tratando de crianças em situação de abrigamento, a
maioria não possui esses ensinamentos por não possuírem uma família estruturada ou
conhecedora da importância de tais habilidades, ou por serem encaminhadas para instituição de
acolhimento logo ao nascer, entre outros motivos. Assim, quando chegam na instituição existem
123
as regras para serem seguidas, sendo enfrentadas dificuldades por parte das crianças para o
cumprimento da rotina da instituição.
Entende-se que as habilidades sociais são desenvolvidas através da observação de
comportamentos de todos os envolvidos no dia a dia. Dessa forma, quando as crianças chegam
na casa, aprendem comportamentos novos, sendo os educadores/cuidadores um espelho para
todos os acolhidos.
Bolsoni-Silva e Marturano (2002) mostram que atitudes como: disciplina
inconsistente, pouca interação positiva, pouco monitoramento e supervisão insuficiente das
atividades da criança promovem o desempenho de comportamentos não habilidosos. Tendo em
vista que se está tratando do cuidado de crianças e adolescentes em situação de acolhimento, é
fundamental conhecer o local, como e por quem essas crianças estão sendo cuidadas, além de
verificar a sanidade do ambiente físico, pois, segundo Harkness e Super (2002), essas
características são essenciais para compreender o desenvolvimento infantil e os efeitos que o
ambiente pode ter no infante.
C- Através do diálogo e palestras e brincadeiras
O diálogo, a conversa, é muito importante, principalmente da parte dos
adolescentes, e tem palestras que a gente mesmo cuidadores faz, as vezes assim os
técnicos faz pra chamar a atenção deles para uma boa convivência, na questão do
respeito, então a gente tenta mostrar alguma coisa pra eles, pra tornar mais fácil
a convivência deles lá dentro, porque é difícil, e porque principalmente tratando
de adolescentes. Os cuidadores chamam para o diálogo, eles conversam, tentam
mostrar pra eles que não tem como eles viverem desse jeito lá dentro, sendo que
eles habitam no mesmo lugar, ocupam o mesmo espaço, é banho, refeição, é o
lazer, é todo mundo junto, a gente tenta chamar atenção deles para isso. Elas se
desentendem, a gente conversa com elas, depois que a gente conversa bem, explica
tudo o ocorrido o que é certo, o que é errado, aí elas têm que pedir desculpa, vai
lá, pede desculpa e dá um abraço na coleguinha. Tem umas que são resistentes
apesar de serem crianças, e a gente sempre consegue contornar a situação com
diálogo, sempre com o diálogo é a melhor maneira de resolver a situação entre
eles. Pra criança é melhor mesmo brincadeiras, assim esse estímulo em forma de
brincadeira, em forma até mesmo de uma conversa, com uma atividade mais
cantante, conversar mais sobre temas que eles podem entender, as crianças são
diferentes dos adolescentes, com criança sinceramente pra te passar alguma coisa,
é na base da interação com ele na brincadeira (E5, E6, E7 e E8).
Verifica-se que os entrevistados revelam a importância do diálogo, principalmente
no trabalho com os adolescentes. Os participantes enfatizaram que os cuidadores e a equipe
técnica realizam palestras com o intuito de chamar a atenção para a boa convivência entre os
acolhidos. Os educadores/cuidadores destacam, também, que o relacionamento é bem difícil
124
entre os adolescentes e, quando acontecem episódios de desavenças entre eles, os cuidadores
buscam conversar tentando obter um melhor relacionamento entre os acolhidos. Para promover
o desenvolvimento de interações entre as crianças, é melhor brincadeiras e atividades cantantes.
Mello (2010) destaca que a configuração interna da instituição de acolhimento deve
proporcionar um ambiente para o desenvolvimento de atividades mais próximo da realidade
familiar. Devem haver brincadeiras típicas por idade, além de espaço ao ar livre para recreação.
Paiva e Rodrigues (2008) mostram que a transição entre a infância e a adolescência
promove novas atribuições frente à sociedade. Essas mudanças promovem transformações nas
relações, principalmente com os pais. Em se tratando de casa de acolhimento, os
educadores/cuidadores executam o papel de responsável; assim, é fundamental que sejam
realizadas rodas de conversa com esses adolescentes, para tentar construir uma relação de
confiança.
O trabalho em equipe surgiu nas verbalizações como uma técnica eficiente para o
desenvolvimento das HS em contexto de abrigamento, enfatizando a importância da
participação dos educadores/cuidadores nas diversas atividades. Este foi o discurso observado
a seguir:
D- Estimular o trabalho em equipe, com planejamento sensibilizando e
incentivando os cuidadores
Estimular o trabalho em equipe, atividades que estimule, nesse sentido, assim,
porque tem que começar daí porque não adianta a gente querer dar um passo
maior que a perna, tem que começar do básico. Primeiro eu tenho que incentivar
participando junto com a criança, buscar mais a interação deles, seria
importante. Com mais interação dos cuidadores e das técnicas em desenvolver
certo trabalho pra que isso venha a ser concretizado em relação às crianças. A
gente trabalha em cima de um planejamento, claro que o cuidador tem que ter a
sensibilidade de como ele vai produzir essa dinâmica de grupo, tem que ter a
sensibilidade do que se vai colocar em prática, essas atividades muita da vezes,
encontra-se certos desafios, dessas atividades, porque a criança muita das vezes
até por ser um ser em constante aprendizado ela vai ter dificuldade, o cuidador
em particular tem que ter a sensibilidade de entender a dinâmica e produzir da
melhor maneira possível, respeitar ele como uma criança, dando respeito pra ele
e o cuidado devido, e o ensinamento também correto, se ele tem o ensinamento
correto ele vai ter essas habilidades na sua vida, por eles vê o adulto fazendo
uma coisa errada, ele vai fazer então, o que a gente tem que fazer é ensinar a ele
as coisas certas, ensinando o certo ele vai aprender o que é certo (E2, E3, E4,
E9 e E10).
125
Observa-se que as atividades devem ser estimulantes e que se deve fortalecer o
trabalho em equipe para buscar mais interação entre os acolhidos, os cuidadores e a equipe
técnica. Dessa forma, Jurdi el al. (2014) chegaram à conclusão que a rede de proteção à infância
precisa ser fortalecida por parcerias que possam ampliar o relacionamento com a comunidade,
a autonomia e participação das crianças com os serviços oferecidos, possibilitando a
aproximação com as diversas culturas existentes. Para que isso seja possível se faz necessário
voltar o olhar para a instituição de acolhimento e para as pessoas que ali exercem a função de
cuidador.
Percebe-se que as arguições mostram que os cuidadores acreditam ser importante
que as crianças aprendam sobre o respeito. Assim, eles terão esse ensinamento para vida. Os
cuidadores entendem que as habilidades são aprendidas através de exemplo. Dessa forma,
devem observar suas atitudes para ensinar comportamentos corretos voltados para a
assertividade. Prada e Williams (2007) apresentam como resultado de sua pesquisa que é
necessária a efetivação de capacitação da equipe de cuidadores a fim de tornar o sistema de
acolhimento mais educacional.
Ainda foi enfatizado pela equipe participante que as atividades realizadas na
instituição são baseadas em planejamento flexível, no qual o cuidador tem a possibilidade de
elaborar suas dinâmicas de acordo com suas possibilidades e conhecimento. Neste aspecto, a
legislação brasileira mostra que, como forma de organizar as atividades que geram a rotina
dentro da casa de acolhimento, é necessário que seja elaborado o planejamento institucional
(BRASIL, 2009).
Enfatizou-se, ainda, que além do trabalho em equipe, em alguns casos, é
indispensável o acompanhamento individual. Segundo os entrevistados, esse acompanhamento
individual deveria ser dedicado a cada um acolhido ou por etapas para se tornar mais efetivo.
Esse é o entendimento da análise do discurso a seguir:
E- Por meio de acompanhamento individual
Eu acho que fazer um acompanhamento individual, assim focado na própria
criança, e quando eu falo da criança da casa de acolhimento, a gente sabe que
quando ela chega sem nenhuma noção, que precisa ter um acompanhamento
mais profundo. Às vezes é um pouco difícil, porque tem muita criança, se a
atenção fosse dedicada ou por etapa, a gente dedicasse a uma pessoa, a um
acolhido, a uma criança, acho que ia desenvolver melhor as habilidades sociais
dela no cotidiano (E5).
126
Observa-se que esse discurso apresenta uma abordagem que busca um
acompanhamento personalizado das crianças, pois foi evidenciado que as crianças chegam na
casa precisando de acompanhamento mais especializado. Corroborando esse discurso, Izar
(2007) enfatiza que o projeto político pedagógico institucional deve possuir objetivo, tempo e
ação personalizados; que a ação da equipe de educadores/cuidadores deve estar voltada para a
situação de cada criança ou adolescente.
8.9 ATIVIDADES LÚDICAS E A RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO DAS
HABILIDADES SOCIAIS
Em relação a pergunta: Você acha que as atividades lúdicas têm relação com o
desenvolvimento de habilidades sociais?, foi possível caracterizar duas ideias centrais, as quais
estão apresentadas no quadro síntese 12, e posteriormente discutidas junto com seus respectivos
DSC.
Quadro 12 - Síntese das ideias centrais – atividades lúdicas e a relação com o desenvolvimento das habilidades
sociais
Classificação Ideia Central Participantes
A As habilidades individuais
contribuem para o
desenvolvimento do grupo
contribuindo com as relações
sociais
E1, 20 anos, masculino, 1 ano na instituição
E3, 40 anos, feminino, 1 ano na instituição
E9, 53 anos, masculino, 2 anos na instituição
E10, 37 anos, masculino, 1 ano na instituição
B Sim, porque nas atividades
lúdicas acontece a interação
social
E2, 41 anos, masculino, 1 ano na instituição
E4, 26 anos, feminino, 1 ano na instituição
E5, 36 anos, masculino, 4 anos na instituição
E6, 38 anos, feminino, 1 ano na instituição
E8, 40 anos, feminino, 3 anos na instituição
O primeiro discurso mostra que as habilidades de cada pessoa contribuem para o
desenvolvimento de um determinado grupo. Dessa forma, as interações sociais possibilitam o
fortalecimento das relações sociais que são fruto do convívio dentro da casa de acolhimento.
A- As habilidades individuais contribuem para o
desenvolvimento do grupo contribuindo com as relações sociais
Sim, porque eles vão estar aprendendo habilidades individualmente, que eles
poderão exercer em grupo, e nesse sentido, é um conhecimento de vida,
conhecimento, assim inconscientemente elas vão levar o que elas conheceram
naquela brincadeira, pra vida inteira delas, então no meio social, na escola, lá
fora elas sempre vão lembrar. Na verdade elas estão ligadas, dentro de uma
relação muito grande, e as relações sociais, é o que você entende que a criança
127
futuramente vai desenvolver lá na frente, e então assim, quando você trata uma
criança melhor consegue educar uma criança dentro do limite, dentro da
proposta que toda criança tem que ter na segurança, dos seus direitos, com
certeza essa criança vai se transformar num adolescente melhor,
principalmente uma pessoa adulta melhor, mais é todo um contexto, você não
vai conseguir que ela tenha um hábito melhor se não trabalhar essa criança, se
não conseguir desenvolver na criança habilidades que elas talvez não tenham
descoberto, em relação ao tratamento, ao respeito e também a coordenação
motora, e também o desenvolvimento em relação ao respeito ao próximo (E1,
E3, E9, E10).
Verifica-se nessas verbalizações muito claramente que as atividades lúdicas
promovem o desenvolvimento de habilidades sociais, as quais os acolhidos levarão para seu
cotidiano fora da instituição, tendo em vista que essas habilidades podem influenciar as
relações, tanto no meio social ou escolar quanto dentro e fora da casa de acolhimento.
Percebe-se a existência do entendimento de que dentro da instituição há um
relacionamento grande entre todos. Enfatiza-se que a forma de tratamento influencia o
desenvolvimento, a educação, segurança e os direitos, promovendo na criança uma nova
perspectiva de desenvolvimento, tanto na adolescência como na fase adulta. Compreende-se
ainda que é fundamental que os educadores/cuidadores incentivem os acolhidos no
desenvolvimento de habilidades que ainda não possuem, como em relação ao tratamento,
respeito, à coordenação motora e ao respeito ao próximo.
Dentro dessa perspectiva, Bronfenbrenner (1996), Harkness e Super (2002)
apontam que a construção das interações é produto de inúmeros contextos, como as
características individuais de cada pessoa ou os processos de maturação que constituem os
indivíduos. Essas relações que ocorrem nos diversos meios contribuem para o desenvolvimento
humano. Assim, é fundamental que seja promovido na casa de acolhimento atividades voltadas
para o desenvolvimento de habilidades sociais e comportamentos assertivos frente às situações
do cotidiano.
O segundo discurso que emergiu para o questionamento sobre a relação entre
atividades lúdicas e o desenvolvimento de habilidades sociais mostra que existe conexão entre
os dois construtos aqui investigados, pois entende-se que durante as atividades lúdicas
acontecem as interações sociais e estas influenciam o desenvolvimento das habilidades sociais.
Essas interações foram as conclusões observadas no discurso da IC “B” a seguir:
128
B- Sim, porque nas atividades lúdicas acontece a interação social
Contribui bastante, de modo geral tem todo processo de aprendizagem, exige ter
uma base, então vamos dizer, o desenvolvimento de atividades lúdicas ajuda
bastante as crianças principalmente as crianças de 0 a 7 anos, ou seja, aquelas
que já entendem. Você contar uma história, tentando que elas coloquem outros
personagens no meio da história isso é importante. Assim, as atividades, elas têm
um pouco a contribuir para questão social das crianças, porque as atividades
lúdicas elas não são feitas individual, elas são feitas com a participação de todos,
a interação entre eles, é realmente o momento que a gente vê que existe a
interação entre eles, que participam todos juntos, eu acredito que seja nesse
momento que eles desenvolvem também as habilidades sociais (E2, E4, E5, E6,
E8).
Ocorre nesse discurso a afirmação de que as atividades lúdicas contribuem para o
desenvolvimento das crianças, principalmente na faixa etária de 0 a 7 anos. Enfatiza-se que
atividades como a contação de história com a participação dos acolhidos vestidos de
personagens promovem a interação. Percebe-se que os entrevistados possuem a convicção de
que as atividades lúdicas promovem as relações interpessoais, sendo possível verificar a relação
entre os acolhidos e os educadores/cuidadores, que, por sua vez, acreditam que é nesse
momento que se desenvolvem as habilidades sociais.
Dessa forma, as atitudes dos educadores/cuidadores e a qualidade das interações
realizadas entre todos são aspectos importantes para o desenvolvimento dos acolhidos
(BRASIL, 2009). Nesta perspectiva, Leontiev (2010) mostra que o desenvolvimento da
psicologia infantil depende das condições reais de vida. Em se tratando de crianças e
adolescentes em situação de acolhimento, é fundamental que as cognições dos
educadores/cuidadores sejam voltadas para o desenvolvimento das interações sociais de todos
os acolhidos.
Assim, percebe-se que o modelo de nicho de desenvolvimento proposto por
Harkness e Super (1986) tem relevância para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes
e que o ambiente físico e social, os costumes de cuidado e a psicologia dos cuidadores estão
articulados e influenciam as relações e o desenvolvimento dos acolhidos.
129
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo objetivou investigar as cognições da equipe de
educadores/cuidadores sobre atividades lúdicas para o desenvolvimento das habilidades sociais
das crianças acolhidas. Especificamente, buscou-se levantar o perfil sociodemográfico dos
educadores/cuidadores do Centro de Acolhimento Reviver; identificar os tipos e características
das atividades lúdicas desenvolvidas pelos educadores/cuidadores do Centro de Acolhimento
Reviver; conhecer as cognições da equipe de educadores/cuidadores a respeito de atividades
lúdicas e habilidades sociais; analisar o conhecimento da equipe de educadores/cuidadores
acerca da possível relação entre atividades lúdicas e habilidades sociais.
Os dados produzidos através do questionário sociodemográfico e da entrevista com
dez educadores/cuidadores participantes da pesquisa atuantes na casa de acolhimento de
Santarém possibilitaram a análise da cognição desses educadores/cuidadores acerca da
importância das atividades lúdicas e do desenvolvimento de habilidades sociais das crianças
em situação de acolhimento institucional.
O resultado obtido com o questionário sociodemográfico possibilitou conhecer
informações sobre 1-perfil sociodemográfico, formação profissional, 2-capacitação, satisfação
com a profissão, 3- educador/cuidador e o desenvolvimento do acolhido e 4- atividades
desenvolvidas na casa de acolhimento.
Os resultados do questionário mostraram que os educadores/cuidadores possuem
em sua maioria escolaridade em nível médio e que esta é a primeira experiência com cuidado e
educação de crianças e adolescentes. Com relação à capacitação para desenvolver as atividades
diárias, os participantes responderam que a instituição responsável pela casa promove esses
momentos. Com relação à satisfação com a profissão, apontaram que a relação com os colegas
de trabalhos possui maior satisfação e que o maior nível de insatisfação está relacionado a
questões salariais. Os questionamentos sobre a influência do educador/cuidador no
desenvolvimento dos acolhidos mostraram que o quesito em que eles têm maior interferência é
o da segurança e o em que eles possuem menor influência é o controle das emoções,
demostrando despreparo para lidar com as emoções dos acolhidos.
A respeito das atividades desenvolvidas na casa de acolhimento, os resultados das
entrevistas também expuseram que as atividades de artes são as mais desenvolvidas no
ambiente de acolhimento, seguidas de brincadeiras dirigidas, esporte, lazer e, com menor
percentual, atividades de movimento e música.
130
Os resultados obtidos através das entrevistas ainda demostram que as atividades
desenvolvidas dentro da casa de acolhimento estão direcionadas para momentos de
entretenimento dentro e fora da instituição, além de atividades cognitivas e lúdicas. Enfatiza-
se que as atividades são diversificadas e desenvolvidas pelos educadores/cuidadores e
parceiros externos da instituição. Especificamente, foram enumeradas atividades como: quebra
cabeça, joguinho, brincadeira no campinho, brincadeira de amarelinha, pula-pula, pula corda,
jogar bola, brincar de roda, assistir filme. Entretanto, os investigados referenciam ter
dificuldade para desenvolver essas atividades, pois entendem que esses momentos de brincar
devem ser organizados pela pedagoga da instituição.
Com relação ao entendimento sobre o que é atividade lúdica, os
educadores/cuidadores observam que tais atividades devem promover o aprendizado com
prazer e que possuem a possibilidade de ensinar através do cotidiano. Focando nas atividades
lúdicas desenvolvidas na casa de acolhimento, é atribuída importância para o desenvolvimento
das crianças, que são atividades bem aceitas pelos acolhidos e que deveriam receber mais
incentivos para seu desenvolvimento.
Aprofundando a temática, foi necessário conhecer como os educadores/cuidadores
entendem que deveriam ocorrer as atividades lúdicas dentro da casa de acolhimento. Para este
questionamento surgiram posicionamentos que estão voltados para necessidade de manter
diariamente atividades lúdicas e de forma diversificada; cada atividade deveria ser dividida por
faixa etária para facilitar a participação de todos e favorecendo o bem-estar das crianças.
No tocante às perguntas das entrevistas sobre habilidades sociais, os participantes
apresentaram resultados divididos em: 1- Pensam os educadores/cuidadores sobre HS, 2-
Desenvolvimento da HS na casa de acolhimento, 3- HS importantes para criança e 4- Como
desenvolver as HS na infância.
A respeito das cognições sobre as habilidades sociais, emergiram resultados que
apontam que elas possibilitam a interação entre os pares, socialização e trabalho em equipe;
que os seres humanos possuem habilidades sociais e precisam ser desenvolvidas. Acerca do
desenvolvimento das HS no contexto de acolhimento institucional, o desfecho salienta que os
educadores/cuidadores acreditam ser importante o desenvolvimento das HS dentro da casa de
acolhimento, pois essas possibilitam a distração e absorver conhecimento e que essas
habilidades são desenvolvidas entre educadores/cuidadores e acolhidos durante as atividades
externas.
Sobre as HS importantes para a criança, nota-se que os educadores/cuidadores
entendem que a convivência com o outro, comunicação, o respeito, a leitura, o diálogo e a
131
concentração são habilidades importantes para a criança desenvolver. Os resultados a respeito
de como desenvolver as HS na infância mostraram atividades lúdicas como: brincadeiras e
jogos, além de comportamentos familiares, diálogo, palestras, trabalho em equipe e
acompanhamento individual.
A entrevista também apontou resultados sobre a relação entre atividade lúdicas e o
desenvolvimento das habilidades sociais. Os investigados relataram que: as habilidades
individuais contribuem com o desenvolvimento do coletivo e com as relações sociais e que
durante as atividades lúdicas acorrem as interações sociais.
A utilização da entrevista serviu para aprofundar sobre o cotidiano da casa de
acolhimento, tornando possível conhecer as cognições dos educadores/cuidadores acerca da
questão norteadora desta pesquisa. Segundo Harkness e Super (1986), o nicho de
desenvolvimento é uma estrutura utilizada para examinar a estruturação cultural do
desenvolvimento infantil, e dentro desta está a relação entre ambiente físico e social, costumes
de cuidado e psicologia dos cuidadores. Para se entender a casa de acolhimento como um espaço
de desenvolvimento infantil, é necessário conhecer as cognições dos educadores/cuidadores
tendo em vista que estes desenvolvem suas atividades laborais diárias com o cuidado das
crianças e dos adolescentes em situação de acolhimento institucional.
Além disso, rever a história de acolhimento de crianças e adolescentes no Brasil
para compreender seus contextos de origem é marco fundamental para analisar os atuais
conceitos acerca da institucionalização. Esse processo é marcado por diferentes culturas, leis e
códigos que foram aprimorando esta forma de atendimento às crianças e aos adolescentes cujos
direitos foram violados. Acredita-se que estes espaços podem contribuir para o
desenvolvimento de todos que passam por essas instituições.
9.1 SOBRE A PESQUISADORA E SUAS IMPRESSÕES
Minha trajetória profissional iniciou em 2003 em projetos sociais vinculados a
Universidade do Estado do Pará (UEPA). No ano de 2004, conclui o curso de Licenciatura em
Educação Física e trabalhei em escolas da rede municipal de ensino como professora de
disciplina educação física para alunos do 1° ao 9° ano.
Atualmente, estou afastada das atividades inerentes a minha formação, atuo na
Universidade Federal do Oeste do Pará como técnica em assuntos educacionais. A motivação
para esta pesquisa está relacionada com o desejo de conhecer possibilidades de pesquisas
direcionadas para o desenvolvimento infantil.
132
Em 2017, o ingresso no curso de mestrado em Educação do Programa de Pós-
graduação em Educação da Universidade Federal do Oeste do Para (UFOPA), momentos
importantes para a construção do projeto de pesquisa, Cognições de Educadores/Cuidadores de
Instituição de Acolhimento sobre Atividades Lúdicas e Habilidades Sociais, além de conhecer
novos ambientes de pesquisa para além da educação formal. Esta experiência possibilitou
conhecer diferentes contextos de educação não formal. Por isso optei por investigar os
educadores/cuidadores de casa de acolhimento, para conhecer como estes pesavam sobre o
desenvolvimento de atividades lúdicas e habilidades sociais e a relação com o desenvolvimento
infantil.
A casa de acolhimento proporcionou conhecer não somente o espaço físico,
experiências, pensamentos, mas esta realidade ocasionou uma profunda reflexão sobre as
desigualdades sociais e de educação. Os participantes da pesquisa expressaram
espontaneamente o que pensavam sobre suas condições de atendimento das crianças na
instituição. Quando das nossas visitas como parceiros para desenvolver atividades com as
crianças podíamos conversar e conhecer melhor que era casa educador/cuidador, apresentaram
as suas visões referentes a casa, e por vezes tentavam justificar alguns comportamentos frete ao
choro das crianças. Esses momentos me fizeram crescer como pessoa, pois diversas vezes me
deparei com crianças chorando chamando a mãe, o que eu percebia era que naquele momento
eles só precisam de atenção, carinho e muitas vezes comida.
Portanto, é válido ressaltar que antes de iniciar a coleta de dados, estive participando
por 8 meses como voluntária levando atividades para as crianças, e paralelo a isso conhecer
como ocorria a rotina da casa. Logo nos primeiros contatos com a coordenação da casa sobre a
pesquisa fomos recebidos com muitas dúvidas, a respeito da finalidade, objetivo, questões
éticas e preservação da identidade das crianças, quanto a isso informamos que a pesquisa seria
realizada com os educadores/cuidadores, entretanto, era inevitável o contato com as crianças
tendo em vista que pelo menos duas vezes na semana nos colocamos a disposição para
desenvolver atividades lúdicas e esportivas com os acolhidos.
Observei que a casa possui uma estrutura apropriada para os acolhidos, há o espaço
da maloca, um parque com brinquedos ao ar livre. Entretanto, por vezes não utilizados pelos
educadores/cuidadores o que dificultava a realização atividades lúdicas. As crianças pouco
podem vivenciar a sua infância e não são motivados momentos de brincadeiras por parte da
equipe de servidores da instituição. Na maioria das vezes quando chegava na casa eles estavam
assistindo televisão, geralmente com programação não apropriada. Gomes (2004, p. 145)
entende que o lúdico é “expressão humana de significados da/na cultura referenciada no brincar
133
consigo, com o outro e com o contexto”. Dessa forma, existe a necessidade de promover
momentos do brincar e construir sua própria relação dentro da instituição.
Pesquisar o ambiente da casa de acolhimento possibilitou adentrar um universo
repleto de possibilidades. Ouvir os educadores/cuidadores e conhecer seus pensamentos sobre
os assuntos aqui investigados proporcionou aprofundar os conhecimentos sobre as atividades
lúdicas e habilidades sociais e a possibilidade de tais atividades influenciarem o
desenvolvimento dos acolhidos. Entretanto, por vezes quando se entrava em contato com os
pesquisados, para participarem da pesquisa, alguns educadores/cuidadores demostravam
retraimento e medo em participar. É possível presumir que, além da timidez, esses
educadores/cuidadores não estavam acostumados a serem questionados sobre suas atividades
diárias e sobre a sua influência na vida das crianças e dos adolescentes institucionalizados.
Os resultados da pesquisa apontaram que para os educadores/cuidadores ainda são
muitos os desafios para a atuação dentro da casa de acolhimento. Nessa pesquisa, os
participantes mostraram cognições positivas com relação ao desenvolvimento de atividades
lúdicas e habilidades sociais dentro da instituição de acolhimento. Entretanto, demostram ter
dificuldades para desenvolver tais atividades, pois não se acham capacitados para este fim,
acreditando que esta é uma função da pedagoga da casa.
9.2 PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES
Assim, foram realizadas considerações sobre a pesquisa no que se refere às
limitações e à disponibilidade dos educadores/cuidadores para participar, tendo em vista o
horário de trabalho que é em sistema de plantão; e sobre a dúvida em contribuir para a pesquisa,
pois havia o receio de que as informações disponibilizadas à investigação pudessem, de alguma
forma, gerar demissão. Cabe ressaltar que foi possível realizar a pesquisa com quase a totalidade
do público-alvo, em razão da disponibilidade da pesquisadora.
As principais contribuições desta pesquisa giram em torno de incluir a casa de
acolhimento dentro do ambiente de investigação, voltando os olhares para este contexto como
promotor do desenvolvimento dos atendidos na instituição; também possibilitar momentos de
reflexão sobre a prática de cuidado e das atividades desenvolvidas. Sua contribuição se estende,
ainda, às pesquisas interdisciplinares, que utilizam o aporte de diversas áreas do conhecimento
para compreender o sujeito e seu ambiente.
Assim, ao final desta pesquisa, acredita-se ter contribuído com a comunidade
científica para a ampliação das discussões que permeiam a casa de acolhimento como contexto
134
de desenvolvimento, considerando que as cognições dos educadores/cuidadores são
fundamentais para promover o bem-estar e o desenvolvimento dos acolhidos.
Quanto à aplicabilidade deste estudo, apontam-se: a Secretaria Municipal de
Trabalho e Assistência Social – SEMTRAS, a casa de acolhimento, a equipe técnica da
instituição e os educadores/cuidadores.
Para a SEMTRAS, o conhecimento gerado através dos resultados pode subsidiar a
forma de contratação da equipe de educadores/cuidadores, fortalecendo as formas de
atendimento.
Para a casa de acolhimento, considera-se que esta tem uma função importante na
vida dos acolhidos, tendo em vista que essa instituição é legalmente responsável por atender
crianças e adolescentes que tiveram seus direitos violados e, como tal, deve zelar pelo
atendimento das necessidades dos acolhidos.
Para a equipe técnica, os resultados da pesquisa podem contribuir na
(re)organização de estratégias pedagógicas para estabelecer as atividades do cotidiano. Deve-
se promover discussão entre todos da casa para aprimoramento do trabalho.
Para os participantes desta pesquisa, não somente os resultados, mas o percurso da
pesquisa foi relevante, a divisão e o compartilhamento de conhecimentos nos momentos dentro
da casa de acolhimento, em entrevistas, quando relatavam suas experiências e ficavam curiosos
para conhecer melhor sobre o que eram atividades lúdicas e habilidades sociais. Todas essas
ações contribuíram com os participantes na busca de melhorias em seu nível de conhecimento
técnico e profissional.
Ao incentivar o desenvolvimento de pesquisas futuras envolvendo o contexto de
acolhimento institucional, aponta-se a necessidade de outros estudos que busquem contribuir
para a construção de conhecimento e favorecer o melhoramento do atendimento institucional.
Ainda partindo da concepção do nicho de desenvolvimento de Harkess e Super (2002),
compreende-se que a estrutura cultural na qual a criança está inserida interfere diretamente no
seu desenvolvimento, fato que pode guiar a própria autora desta dissertação, bem como os
demais pesquisadores interessados em conhecer e aprofundar as questões aqui apresentadas, à
continuidade deste estudo. Sugerem-se, neste caso, pesquisas complementares e estudos
comparativos, como: o brincar na perspectiva das crianças e educadores/cuidadores; a
importância do brincar em instituições de acolhimento; treinamento de habilidades sociais dos
educadores/cuidadores; o ambiente institucional como possibilidade de desenvolvimento, entre
outras possibilidades.
135
Espera-se que o estudo possa contribuir para a ampliação dos conhecimentos sobre
a importância de atividades lúdicas para o desenvolvimento de habilidades sociais e desta forma
promover um melhor desenvolvimento dos acolhidos. Pretende-se, que o estudo sirva de
referencial teórico para novas pesquisas na área das cognições e práticas dos
educadores/cuidadores de casa de acolhimento e que os resultados possam ser publicados,
tornando-se mais uma fonte de informações sobre o tema e possibilitando novas descobertas
para melhorar a qualidade do atendimento institucionalizado.
9.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
Em resumo, esta pesquisa trouxe alguns desafios. Inicialmente o desafio foi traçar
um percurso metodológico adequado para a realidade investigada. Acordado os instrumentos,
os desafios foram de ordem prática: como se inserir no campo e como abordar os sujeitos
investigados? Esses momentos contribuíram para o amadurecimento pessoal da pesquisadora.
Outro desafio relacionou-se aos campos teóricos da psicologia e da educação. Estudar a história
da institucionalização no Brasil foi fundamental para conhecer a evolução desta forma de
atendimento de crianças e adolescentes e criar um olhar crítico sobre a atualidade.
Portanto, a pesquisa representou grande avanço à vida pessoal, profissional e
acadêmica da pesquisadora. A investigação acerca das cognições dos educadores/cuidadores da
casa de acolhimento sobre atividades lúdicas e habilidades sociais voltou seu olhar para a
possibilidade dessas atividades promoverem o desenvolvimento dos acolhidos. O melhor e,
também, o maior desafio desta pesquisa foi frequentar o ambiente da casa de acolhimento, que
significou, em outras palavras, enfrentar o desconhecido, superar e vencer o fato de não
imaginar o que se iria a vivenciar e o que esses educadores/cuidadores e as crianças poderiam
revelar.
136
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147
ANEXO A - CARTA DE ACEITE DA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO
148
ANEXO B – APROVAÇÃO EM COMITÊ DE ÉTICA
149
150
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRAFICO
QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO
Este questionário tem como objetivo coletar dados para o desenvolvimento do
estudo de investigação, dirigido aos cuidadores/educadores que desenvolvem suas atividades
laborais no Centro de Acolhimento Reviver em Santarém-PA.
DATA:____________ENTREVISTADOR:______________CÓDIGO:______
A. DADOS PESSOAIS:
1.Nome:________________________________________________________
2. Data de Nascimento: __________________________ Idade: __________
3. Naturalidade:_________________________
4. Escolaridade: ______________ Completo ( ) Incompleto ( )
Se parou de estudar, em que série parou?_____________
5. Graduação: ____________________________________________________
6. Pós-graduação: ( ) Sim ( ) Não Curso?______________________________
7. Possui filhos: ( )Sim ( ) Não Em caso positivo, quantos?__________
8. Telefone: ________________________________________
9. Bairro: __________________________________________
B. DADOS PROFISSIONAIS:
10. Qual é a sua situação funcional?
( )Concursado ( ) Efetivo ( ) Temporário ( ) Contratado ( ) Voluntário
Outro:_______________________________________
11. Em que ano começou a trabalhar na instituição de acolhimento? ________
12. Qual a função que ocupava?_____________________________________
13. Que tipo de atividade realizava? ___________________________________
14. Hoje, você ainda ocupa a mesma função? ( ) Sim ( ) Não
15. Desenvolve a mesma atividade? ( )Sim ( ) Não
16. No momento, você exerce outra atividade profissional? ( )Sim ( )Não
Se sim, qual?_____________________________________
17. Antes de trabalhar na instituição, você já desenvolveu atividades profissionais similares
com crianças? (indicar atividades profissionais que envolviam o cumprimento de uma rotina de
educador/cuidador).
Atividade Tempo que desenvolveu
a atividade
Não, é o meu primeiro trabalho.
Sim, já trabalhei em instituições de acolhimento para crianças
Sim, em creche.
Sim, em unidade de educação infantil.
Sim, em escolas, nas séries iniciais do ensino fundamental.
Sim, como babá (trabalho contínuo).
Sim, como baby-sitter (trabalho eventual).
Outras atividades. Especificar:
151
18- Antes de trabalhar na instituição, você já desenvolveu atividades profissionais similares
com adolescentes? (indicar atividades profissionais que envolviam o cumprimento de uma
rotina de educador/cuidador)
Atividade Tempo que desenvolveu
a atividade
Não, é o meu primeiro trabalho.
Sim, já trabalhei em instituições de acolhimento para
adolescentes.
Sim, em unidades de medida socioeducativa. Qual?
Sim, em escolas, nas séries do ensino médio.
Sim, em projetos socioculturais.
Outras atividades. Especificar:
19- Nos últimos dois anos, você frequentou algum curso de atualização ou capacitação
profissional para aprimorar seu trabalho?
( ) Não ( ) Sim
Em caso positivo, quais?
1.______________________________________________________________
2.______________________________________________________________
3.______________________________________________________________
4.______________________________________________________________
5.______________________________________________________________
C. DADOS SOBRE A SATISFAÇÃO COM A PROFISSÃO
20. Quais são as fontes de informação que você utiliza para exercer e aprimorar o seu trabalho
na instituição? (Coloque em ordem de importância, marcando o número 1 na principal fonte, 2
na segunda mais importante, e assim por diante, até o 9):
( ) A observação do comportamento das colegas
( ) A formação escolar básica
( ) A experiência e a prática profissional
( ) Os cursos de atualização com técnicos ou especialistas
( ) Os livros e revistas, eventual documentação relativa a acolhimento
( ) Internet (sites, redes sociais)
( ) A troca de ideias com as colegas no grupo de trabalho
( ) A observação do comportamento dos pais
( ) A sua experiência pessoal e familiar
21. Pensando no seu trabalho na instituição de acolhimento, poderia nos dizer qual o grau de
satisfação para cada uma das características mencionadas abaixo? (Responda a cada uma de
acordo com as seguintes modalidades: muito insatisfeito = 1; insatisfeito = 2; nem satisfeito
nem insatisfeito = 3; satisfeito = 4; muito satisfeito = 5).
Características 1 2 3 4 5
O ambiente físico (espaço, mobília, equipamentos e decoração)
O horário de trabalho (escalas, plantões)
O relacionamento com as colegas de trabalho
O tipo de trabalho desenvolvido
152
O cuidar de crianças e/ou adolescentes na faixa etária que trabalha na
instituição.
A estabilidade no emprego
O reconhecimento dos pais e demais familiares da criança e/ou
adolescentes
A possibilidade de escolher livremente seu modo de trabalhar
O aspecto educativo do trabalho
O reconhecimento da coordenação da instituição de acolhimento
O salário
22. Pensando no seu trabalho na instituição, indique o que você pensa para o seu futuro como
educador? (Indicar uma só resposta, assinalando o parêntese correspondente).
( ) Continuar sendo educador da instituição
( ) Mudar completamente o tipo de trabalho
( ) Fazer um concurso para mudar de função na instituição
( ) Aposentar-se assim que possível
( ) Pedir transferência para outras unidades de acolhimento
( ) Trabalhar com outras modalidades de cuidado e educação
( ) Outros. Qual?______________________________________
23. Em geral, o trabalho de educador de instituição é considerado cansativo. Indique em ordem
de importância os aspectos mais cansativos para você. (Atribuir o número 1 ao aspecto mais
cansativo, o número 2 ao segundo mais cansativo, e assim por diante até o número 7).
( ) O esforço físico
( ) A atenção contínua
( ) As emoções intensas no relacionamento com as crianças e/ou adolescentes
( ) A comunicação com os pais
( ) Os turnos de trabalho
( ) A falta de colaboração entre as colegas de trabalho
( ) O relacionamento com a coordenação da instituição
24. Indique o grau de influência que o educador pode ter nos seguintes aspectos do
desenvolvimento da criança e/ou adolescentes no ambiente de acolhimento: (Responda a cada
uma de acordo com as seguintes modalidades: nenhuma influência = 1; pouca influência = 2;
nenhuma influência nem pouca influência= 3; influência suficiente = 4; muita influência=5).
O educador exerce influência sobre: 1 2 3 4 5
Curiosidade
Capacidade de relacionar-se com os outros
Segurança
Capacidades lógicas e de raciocínio
Autonomia
Obediência
Concentração
Colaboração com as crianças e/ou adolescentes da mesma idade
Controle das emoções
25. Quais das atividades abaixo você desenvolve com as crianças e/ou adolescentes na
instituição? (Indicar uma ou mais respostas, assinalando o parêntese correspondente).
153
( ) Atividades que envolvem movimento e música (dança, teatro, canto, instrumentalização/
violão, flauta, etc);
( ) Atividades de arte (desenho livre, pintura, colagem, modelagem)
( ) Atividades/brincadeiras dirigidas (jogos: cemitério, bandeirinha, cabo de garro, dominó,
dama, baralho, etc.);
( ) Atividades/brincadeiras não dirigidas (deixa a criança e/ou adolescente livre)
( ) Leitura de histórias
( ) Atividades esportivas (vôlei, futebol, futsal, capoeira, basquete, etc.);
( ) Atividade de lazer (assistir filmes, artesanato, acompanhar em festas e shows)
( ) Outras
Especifique:_________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______________________________________
26. De modo geral o que observa em relação às práticas de cuidado na instituição que você
trabalha. (Responda a cada uma das questões de acordo com as seguintes modalidades: nunca
= 1; poucas vezes =2; nem poucas nem muitas vezes=3; muitas vezes= 4; sempre = 5).
Com que frequência o (a) educador (a)... 1 2 3 4 5
26.1 Recebe as crianças e/ou adolescentes em sua chegada a instituição
de maneira calorosa e afetuosa
26.2 Prepara (acompanhar, encorajar, organizar) as crianças e/ou
adolescentes para a sua saída (desligamento) da instituição de maneira
calorosa e afetuosa
26.3 Senta com as crianças e/ou adolescentes e usa o tempo da refeição
(café, almoço, lanche, jantar) para aprendizagem.
a) Fala o nome dos alimentos
b) Encoraja as crianças pequenas a falarem
c) Incentiva a criança a se alimentar sozinha
d) Incentiva a criança e/ou adolescente a ter uma alimentação saudável
e) Experimentar e/ou conhecer novos alimentos
f) Pergunta sobre preferências de alimentos
g) Outros. Especifique:___________________________
26.4 Ajuda as crianças e/ou adolescentes a relaxar e a dormir 1 2 3 4 5
a) Canta
b) Coloca música calma
c) Faz carinho
d) Conta histórias
e) Dá atenção individualizada quando a criança e/ou adolescente está com
dificuldade para dormir
f) Incentivam que a criança e/ou adolescentes arrume a própria cama
g) Outros. Especifique:
26.5 Traz as crianças e/ou adolescentes que não se locomovem para fora
do berço/cama ou com desenvolvimento atípico para que brinquem, com
supervisão e perto dos outros visando o desenvolvimento da:
1 2 3 4 5
a) Locomoção
b) Linguagem
c) Interação social
154
d) Outros. Especifique:
26.6 Geralmente sabe mediar e apaziguar as interações de conflito 1 2 3 4 5
a) Intervém em agressões físicas, verbais e gestuais
b) Media as brigas relacionadas a dificuldades nas relações afetivas
(namoro, paquera e amizades).
c) Media os conflitos advindos de pegar os pertences do outro.
d) Intervém em situações de bullying
e) Outros. Especifique:
26.7 Serve de referência para interações sociais positivas 1 2 3 4 5
a) Demonstrar carinho no toque, no olhar, no tom de voz
b) Incentivar a participação no cuidado das crianças e/ou adolescentes
das maiores para com os menores
c) Incentivar a colocação de limites
d) Outros. Especifique:
26.8 Incentiva a construção e manutenção dos vínculos da criança com 1 2 3 4 5
a) Grupos de irmãos dentro da instituição
b) Com os pais ou responsáveis
c) Com a família extensa (avós, tios, primos ou outros parentes)
d) Em caso de adoção, os pais adotivos
e) Outros. Especifique:
27. Reflita e avalie a relação entre experiência de trabalho como educador/cuidador e a
experiência como mãe e/ou pai no cuidado (Responda a cada uma das questões de acordo com
as seguintes modalidades: nunca = 1; poucas vezes = 2; nem poucas nem muitas vezes=3;
muitas vezes= 4; sempre = 5).
Experiência 1 2 3 4 5
O educador que é mãe e/ou pai entende melhor as exigências das crianças
e/ou adolescentes e dos pais
Ter filhos ajuda apenas em certos aspectos práticos (reconhecer as
doenças, trocar fraldas, etc.)
A condição de maternidade e/ou paternidade interferem negativamente
no exercício da profissão
155
APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA
ROTEIRO DE ENTREVISTA DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO
CÓDIGO IDENTIFICADOR DO CUIDADOR/EDUCADOR: __________
TEMA: Cognições de educadores/cuidadores de instituição de acolhimento sobre atividades
lúdicas e habilidades sociais
OBJETIVO DA PESQUISA: Investigar as cognições da equipe de educadores/cuidadores
sobre atividades lúdicas no desenvolvimento das habilidades sociais das crianças acolhidas.
ROTEIRO DE ENTREVISTA
01. Dentro da proposta pedagógica da casa de acolhimento quais as atividades desenvolvidas?
02. Para você o que são atividades lúdicas?
03. São desenvolvidas atividades lúdicas na casa de acolhimento? Quais?
04. O que você pensa sobre o desenvolvimento de atividades lúdicas no contexto da casa de
acolhimento?
05. Como você acha que devem acontecer as atividades lúdicas na casa de acolhimento?
06.Quando eu falo de habilidades sociais, o que passa na sua cabeça?
07. O que você acha do desenvolvimento das habilidades sociais nas crianças da casa de
acolhimento?
08. Quais habilidades sociais você considera importantes para as crianças desenvolverem?
9. Como você acha que devem ser desenvolvidas as habilidades sociais na infância?
10. O que você pensa que pode ser feito para que as habilidades sociais sejam desenvolvidas
pela criança?
11. Você acha que as atividades lúdicas têm relação com o desenvolvimento de habilidades
sociais?
156
APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título da pesquisa: Cognições de Educadores/Cuidadores de Instituição de Acolhimento
Sobre Atividades Lúdicas e Habilidades Sociais
Responsável: Andréa Imbiriba da Silva e Irani Lauer Lellis
Você está sendo convidado(a) para participar da pesquisa acima intitulada, esta pesquisa
tem como responsáveis as pesquisadoras Andréa Imbiriba da Silva e Irani Lauer Lellis,
respectivamente, mestranda e orientadora do Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal do Oeste do Pará.
Este projeto tem o objetivo de: investigar as cognições da equipe de
educadores/cuidadores sobre atividades lúdicas no desenvolvimento das habilidades sociais das
crianças abrigadas.
Para tanto, será necessário realizar os seguintes procedimentos: a minha participação no
referido estudo será no sentido de responder a um questionário e a entrevista sobre minha
trajetória profissional formativa e cognições acerca do tema investigado. Por isso, estou
consciente de que a fidelidade e veracidade das informações aqui prestadas serão tratadas com
a mais absoluta responsabilidade, no intuito de elucidar o objetivo geral deste estudo.
Durante a execução do projeto os riscos que a pesquisa pode apresentar referem-se aos
instrumentos que podem ser considerados como possíveis causadores de desconfortos quando
se fala em relação à formação e ao contexto social, de modo que há possibilidade de
experimentação de níveis incomuns de retraimentos, causados por prováveis experiências
negativas relacionadas aos ambientes da casa de acolhimento. Como forma de amenizar
desconfortos, as entrevistas serão realizadas em local apropriado e reservado, e em horário mais
conveniente para o participante, a entrevista será gravada, transcrita e analisada, a gravação será
mantida sobre a guarda da pesquisadora até o término da pesquisa, após será descartada.
Pretende-se com esta pesquisa dar voz para que estes sujeitos pesquisados possam se expressar,
além de possibilitar um conhecimento mais amplo sobre as experiências vivenciadas por estes
educadores/cuidadores.
Serão informados aos participantes da pesquisa todos os processos e procedimentos de
maneira clara e objetiva, além de proporcionar um momento favorável à reflexão coletiva.
Após ler e receber explicações sobre a pesquisa, você tem o direito de: receber cópia
157
do TCLE e resposta a qualquer pergunta e esclarecimento sobre os procedimentos, riscos,
benefícios e outros relacionados à pesquisa; retirar o consentimento a qualquer momento e
deixar de participar do estudo; não ser identificado e ser mantido o caráter confidencial das
informações relacionadas à privacidade.
Para maiores esclarecimentos, entrar em contato com Andréa Imbiriba da Silva, por
meio do número de telefone (93) 99110-0024, ou em caso de dúvidas, reclamação ou qualquer
tipo de denúncia com relação ao projeto de pesquisa deve-se procurar Irani Lauer Lellis –
Orientadora da Pesquisa – fone: (93) 99975-0434, e-mail: [email protected].
Em caso de dúvidas com relação aos aspectos éticos, dirigir-se ao comitê de ética do
Instituto Esperança de Ensino Superior, localizado Av: Deputado Icoaraci Nunes, nº 3344,
Caranazal, CEP 68040-100, fone 3529 1763, e-mail [email protected], em caso de dúvidas
ou notificação de acontecimentos não previstos.
Eu,_____________________________________________________, declaro estar
ciente do anteriormente exposto e concordo voluntariamente em participar desta pesquisa,
assinando este consentimento em duas vias, ficando com a posse de uma delas.
Santarém - PA, ____de___________ de _______.
________________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
Eu,_____________________________________________________, declaro que
forneci todas as informações referentes à pesquisa ao participante, de forma apropriada e
voluntária.
Santarém-PA, ____de___________ de _______.
_____________________________________________________
Assinatura do pesquisador
Contato do pesquisador (93) 99110-0024