cobranÇa de Água bruta na bacia hidrogrÁfica do rio paraÍba do norte – brasil: discussÃo,...

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XII Simposio Iberoamericano sobre planificación de sistemas de abastecimiento y drenaje COBRANÇA DE ÁGUA BRUTA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA DO NORTE BRASIL: DISCUSSÃO, APROVAÇÃO E PERSPECTIVAS DE IMPLEMENTAÇÃOMárcia Maria Rios Ribeiro (1) * ,José Augusto de Souza (2),Zédna Mara de Castro Lucena Vieira (3) (1) Universidade Federal de Campina Grande, (Caixa Postal 505, 58.400-971 - Campina Grande- PB, Brasil), (+55 83 2101-1085), ([email protected]); (2) Universidade Federal de Campina Grande, (Caixa Postal 505, 58.400-971 - Campina Grande- PB, Brasil), (+55 83 2101-1422), ([email protected]); (3) Universidade Federal de Campina Grande, (Caixa Postal 505, 58.400-971 - Campina Grande- PB, Brasil), (+55 83 2101-1157), ([email protected]). RESUMO Apresenta-se o processo vivenciado em torno do instrumento da “cobrança pelo uso da água bruta” no Estado da Paraíba, Brasil, enfocando-se a Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Norte. A cobrança é um dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos e tem, dentre outros, o objetivo de reconhecer a água como bem econômico. O Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba discutiu e aprovou, em 2008, valores e mecanismos para a cobrança. O sistema de cobrança da Bacia em foco tem o mérito de propiciar o início do pagamento pelo uso de um bem público, mas necessita de aprimoramentos. Palavras-chave: cobrança pelo uso da água, abastecimento público, comitê de bacia ABSTRACT This paper aims to present the process related to the bulk water charges (so called “cobrança”) in Paraíba State, Brazil, focusing on Paraíba River Basin. The “cobrança” is a water resources management instrument of the Brazilian Water Resources Management Policy which recognizes the economic value of water. The Paraíba River Basin Committee has already discussed and approved the “cobrança” (2008). This bulk water charges system is important for having been initialized the payment related to a public good, but it needs to be improved. Key-words: bulk water charges, public water supply, basin committee * SOBRE O AUTOR PRINCIPAL Graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraíba Brasil, mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraíba e doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com um período (sanduíche) na Universidade de East Anglia (Inglaterrra), pós-doutorado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. É professora da Universidade Federal de Campina Grande, Brasil, atuando nos Programas de Pós-graduação em Recursos Naturais e no de Engenharia Civil e Ambiental. Atua no tema da gestão de recursos hídricos com ênfase para os seus aspectos econômicos, sociais, legais e institucionais abordando, entre outros, os instrumentos de gestão, a análise de conflitos e o gerenciamento da demanda de água.

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COBRANÇA DE ÁGUA BRUTA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA DO NORTE – BRASIL: DISCUSSÃO, APROVAÇÃO E PERSPECTIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO”

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  • XII Simposio Iberoamericano sobre planificacin de sistemas de

    abastecimiento y drenaje

    COBRANA DE GUA BRUTA NA BACIA HIDROGRFICA DO RIO PARABA DO NORTE BRASIL: DISCUSSO, APROVAO E

    PERSPECTIVAS DE IMPLEMENTAO

    Mrcia Maria Rios Ribeiro (1)*,Jos Augusto de Souza (2),Zdna Mara de Castro Lucena

    Vieira (3)

    (1) Universidade Federal de Campina Grande, (Caixa Postal 505, 58.400-971 - Campina Grande-PB, Brasil), (+55 83 2101-1085), ([email protected]);

    (2) Universidade Federal de Campina Grande, (Caixa Postal 505, 58.400-971 - Campina Grande-PB, Brasil), (+55 83 2101-1422), ([email protected]);

    (3) Universidade Federal de Campina Grande, (Caixa Postal 505, 58.400-971 - Campina Grande-PB, Brasil), (+55 83 2101-1157), ([email protected]).

    RESUMO

    Apresenta-se o processo vivenciado em torno do instrumento da cobrana pelo uso da gua bruta no Estado da Paraba, Brasil, enfocando-se a Bacia Hidrogrfica do rio Paraba do Norte. A cobrana

    um dos instrumentos da Poltica Nacional de Recursos Hdricos e tem, dentre outros, o objetivo de

    reconhecer a gua como bem econmico. O Comit da Bacia Hidrogrfica do rio Paraba discutiu e

    aprovou, em 2008, valores e mecanismos para a cobrana. O sistema de cobrana da Bacia em foco

    tem o mrito de propiciar o incio do pagamento pelo uso de um bem pblico, mas necessita de

    aprimoramentos.

    Palavras-chave: cobrana pelo uso da gua, abastecimento pblico, comit de bacia

    ABSTRACT

    This paper aims to present the process related to the bulk water charges (so called cobrana) in Paraba State, Brazil, focusing on Paraba River Basin. The cobrana is a water resources management instrument of the Brazilian Water Resources Management Policy which recognizes the

    economic value of water. The Paraba River Basin Committee has already discussed and approved the

    cobrana (2008). This bulk water charges system is important for having been initialized the payment related to a public good, but it needs to be improved.

    Key-words: bulk water charges, public water supply, basin committee

    *SOBRE O AUTOR PRINCIPAL

    Graduao em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraba Brasil, mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraba e doutorado em Recursos Hdricos e

    Saneamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com um perodo (sanduche)

    na Universidade de East Anglia (Inglaterrra), ps-doutorado no Instituto de Cincias Sociais da

    Universidade de Lisboa. professora da Universidade Federal de Campina Grande, Brasil, atuando

    nos Programas de Ps-graduao em Recursos Naturais e no de Engenharia Civil e Ambiental. Atua

    no tema da gesto de recursos hdricos com nfase para os seus aspectos econmicos, sociais, legais e

    institucionais abordando, entre outros, os instrumentos de gesto, a anlise de conflitos e o

    gerenciamento da demanda de gua.

  • INTRODUO

    A Poltica de Recursos Hdricos brasileira foi

    instituda pela Lei 9.433/97 e considera, entre

    seus fundamentos, que a gua um bem de

    domnio pblico; recurso natural limitado

    com valor econmico (o que permite, portanto,

    a sua cobrana); que a bacia hidrogrfica a

    unidade de planejamento e que a gesto deve

    ser participativa e descentralizada. Para

    viabilizar a gesto, a lei estabelece enquanto

    instrumentos: os planos de recursos hdricos, a

    outorga de direito de uso da gua, o

    enquadramento dos corpos dgua, a cobrana

    pelo uso da gua e o sistema de informaes.

    O Sistema Nacional de Gerenciamento de

    Recursos Hdricos (SINGREH) foi criado pela

    Lei 9.433/97 com o objetivo de implementar a

    Poltica Nacional de Recursos Hdricos PNRH (Figura 1). O SINGREH constitudo

    pelos seguintes organismos colegiados: o

    Conselho Nacional de Recursos Hdricos

    (instncia mxima do SINGREH), os conselhos

    estaduais de recursos hdricos e os comits de

    bacia hidrogrfica. Os comits de bacia

    possuem na sua composio representantes da

    sociedade civil, usurios da gua e poder

    pblico e so a instncia de base do SINGREH

    na qual se exerce a participao pblica. atravs dos colegiados (em especial, dos

    comits de bacia) que ocorre a participao dos

    grupos de interesse e a descentralizao da

    gesto. Alm disso, h a Agncia Nacional de

    guas (ANA) e as agncias estaduais com a responsabilidade de implementar os

    instrumentos de gesto. O SINGREH ainda

    contempla as agncias de bacia que do o apoio

    tcnico aos comits de bacia.

    A cobrana pelo uso da gua bruta discutida neste artigo - o instrumento da PNRH que

    possibilita a aplicao do princpio

    utilizador/poluidor-pagador. Segundo a Lei

    9.433/97, a cobrana tem por objetivos (Art.

    19): I. reconhecer a gua como bem econmico e dar ao usurio uma indicao de

    seu real valor; II - incentivar a racionalizao

    do uso da gua e III - obter recursos

    financeiros para o financiamento dos

    programas e intervenes contemplados nos

    planos de recursos hdricos.

    De forma geral, nas bacias de rios de domnio

    da Unio (aquelas cujo rio atravessa mais de um

    estado) identifica-se um maior avano na

    implementao da cobrana pelo uso da gua

    bruta doque naquelas de rios de domnio

    estadual. Exemplo j considerado de sucesso

    o caso da Bacia do rio Paraba do Sul

    (abrangendo os estados de So Paulo, Minas

    Gerais e Rio de Janeiro) com sistema de

    cobrana em atuao desde 2003. A Figura 2

    apresenta informaes sobre a situao atual de

    cobrana no Brasil.

    Figura 1 Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos do Brasil

    SINGREH.

    FORMULAO DA POLTICA

    IMPLEMENTAO DOS

    INSTRUMENTOS DA POLTICA

    ESFERA DE

    AO

    ORGANISMOS

    COLEGIADOS

    ADMINISTRAO DIRETA

    RGO GESTOR

    ENTIDADE DE BACIA CONSELH

    O NACIONAL

    DE RECURSO

    S HDRICOS

    MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE/

    SRHU

    AGNCIA NACIONAL DE GUAS

    (ANA)

    NACIONAL AGNCI

    A DE BACIA

    COMIT DE BACIA

    ESTADUAL

    CONSELHO

    ESTADUAL DE

    RECURSOS

    HDRICOS

    SECRETARIA

    ESTADUAL

    AGNCIA ESTADUA

    L DE GUA

    COMIT DE BACIA

    AGNCIA DE

    BACIA Fonte: MMA, 2010

  • Fonte: ANA (2013)

    Figura 2 - Situao da cobrana em rios de domnios dos Estados e da Unio no Brasil.

    Para o caso de bacias estaduais e, alm

    disso,localizadas no semirido brasileiro, a

    cobrana adquire complexidades especficas: a

    gua, por ser muito escassa, tem o maio valor

    econmico, por outro lado, considerada baixa

    a capacidade de pagamento de muitos dos seus

    usurios. Um potencial de arrecadao de

    cobrana baixo no possibilita, por exemplo, a

    implantao da agncia de bacia do respectivo

    comit. Esse o caso da Bacia Hidrogrfica do

    rio Paraba do Norte, no estado da Paraba,

    nordeste brasileiro. Com cobrana aprovada

    pelo sistema de gesto hdrica (comit de bacia

    e conselho estadual de recursos hdricos) desde

    2008, mas s regulamentada ao final de 2012, a

    bacia vivenciou atravs, sobretudo, do seu comit um rico processo de discusso e aprovao da cobrana e, neste momento,

    precisa vencer os desafios para a

    implementao do respectivo instrumento.

    A BACIA HIDROGRFICA DO RIO

    PARABA DO NORTE, O CBH-PB E A

    COBRANA

    A Bacia Hidrogrfica do rio Paraba do

    Norte(Figura 3) um dos sistemas

    hidrogrficos mais importantes do semirido

    nordestino brasileiro e a segunda maior bacia

    do Estado, compreendendo 38% do territrio

    estadual, drenando uma rea de 20.071,69 km

    e com populao de 2.214.381 habitantes. Na

    rea da Bacia situa-se a cidade de Joo Pessoa

    (capital do Estado com 723.515 habitantes,

    IBGE, 2010). A bacia composta pela Sub-

    Bacia do rio Tapero e Regies do Alto, Mdio

    e Baixo Curso do rio Paraba. Trata-se de uma

    bacia estadual (no h rios atravessando mais

    de um estado da federao) sendo a gesto das

    suas guas de responsabilidade da AESA Agncia Executiva de Gesto das guas do

    Estado da Paraba. Entretanto, o seu mais

    importante reservatrio (o Epitcio Pessoa conhecido como Boqueiro) foi construdo com recursos federais o que torna as suas guas de domnio da Unio (com gesto sob a

    responsabilidade da Agncia Nacional de

    guas ANA).

  • Figura 3 Bacia Hidrogrfica do rio Paraba do Norte

    A Bacia caracterizada por uma srie de

    conflitos pelo uso da gua, poluio de rios e

    mananciais, intensas atividades extrativistas

    (como a carcinicultura), registro de elevado

    ndice de assoreamento dos rios principais e

    presena de olarias nas margens dos rios

    (AESA, 2011). Para os diversos usos

    (abastecimento, irrigao, indstria, turismo)

    so utilizados os audes construdos pelo Poder

    Pblico estadual e federal. Dentre os conflitos

    pelo uso da gua, acirrados nas pocas de

    estiagem, destaca-se o conflito pelo uso das

    guas do Reservatrio Boqueiro entre o

    abastecimento humano e a irrigao. No

    perodo 1998-2003, a cidade de Campina

    Grande (segunda maior cidade da bacia, com

    populao atual de 385.213 habitantes) j foi

    submetida a um racionamento de gua, no seu

    pior momento, de quatro dias por semana. Essa

    situao tende a se repetir pelos prximos anos

    (a regio encontra-se em mais um perodo de

    severa estiagem), se medidas de gesto no

    forem efetivadas (Rgo et al., 2013)

    No Estado da Paraba, a gesto das guas foi

    regulamentada em 1996, atravs da Lei

    6.308/96 (modificada, em 2007, pela Lei

    8.446/07, para adequao s diretrizes da

    Poltica Nacional de Recursos Hdricos).

    Quatro comits de bacia hidrogrfica (CBH)

    encontram-se instalados na Paraba, trs de rios

    de domnio do estado (CBH-Paraba, CBH-

    Litoral Sul e CBH-Litoral Norte), e um de rio

    de domnio da Unio (CBH-Piranhas). A

    cobrana pelo uso da gua bruta considerada

    um dos instrumentos de gesto da poltica

    hdrica estadual. O Comit da Bacia

    Hidrogrfica do rio Paraba - CBH-PB (objeto

    dessa pesquisa)tem rea de atuao na Bacia

    Hidrogrfica do rio Paraba do Norte.

    O CBH-PBfoi instalado em 18 de junho de

    2007, aps um processo de mobilizao

    iniciado em 2003 (Ribeiro et al., 2012),

    realizando-se a posse dos membros do comit e

    a eleio da mesa diretora, composta por

    representantes dos usurios de gua (39.29%),

    do poder pblico (28.57%) e da sociedade civil

    organizada (32.14%). Atualmente, a Diretoria

    do CBH-PB composta por um representante

    dos usurios de gua (presidente), um

    representante da sociedade civil (vice-

    presidente) e um representante do poder pblico

    federal (secretaria geral).

    Naquele ano de 2007, o instrumento da

    cobrana pelo uso da gua encontrava-se, ento,

    em discusso no rgo estadual gestor de

    recursos hdricos (AESA). A cobrana

    precisava, entretanto, em atendimento aos

    preceitos da gesto participativa e

    descentralizada, ser apreciada pelos comits do

    estado. O CBH-PB, recm-instalado, estava

    diante do desafio de entender, discutir e

    deliberar sobre um polmico instrumento de

    gesto hdrica. Confrontos e, posteriormente,

    consensos observados pela anlise das atas das reunies e participao nas mesmas foram estabelecidos no CBH-PB at a votao da

    cobrana. Entre os consensos, a crena de que a

    cobrana s poderia ser aprovada se atendesse

    ao objetivo de incentivar a racionalizao do

  • uso da gua. Produto desse processo a Deliberao CBH-PB 01/2008 que normatiza os

    procedimentos e os valores para a cobrana na

    bacia (Tabela 1).Os demais comits de rios de

    domnio do Estado (CBH-LS e CBH-LN)

    tambm vivenciaram o processo de discusso e

    aprovao em torno do instrumento da cobrana

    pelo uso da gua bruta. Em 2009, o Conselho

    Estadual de Recursos Hdricos (CERH-PB)

    aprovou a Resoluo n 07, a qual retifica as

    deliberaes dos trs comits. O instrumento da

    cobrana, entretanto mesmo que j aprovado pelas instncias do sistema estadual de gesto

    hdrica , precisava ser regulamentado atravs de decreto governamental. A assinatura do

    decreto ocorreu em dezembro de 2012, quase

    quatro anos aps a deliberao de cobrana do

    CBH-PB. Esse fato muito desmotivou o

    processo de participao pblica fazendo com

    que, por exemplo, o CBH-PB, a partir de 2008,

    reduzisse o nmero de suas reunies. O texto a

    seguir apresenta uma condensao de

    fatos,elaborada por Batista (2013), em torno da

    cobrana pelo uso da gua bruta na Paraba.

    2007

    Minuta de decreto, elaborada pela AESA, encaminhada pelo CERH-PB CTOCOL

    (Cmara Tcnica de Outorga, Cobrana e

    Licena de Obras Hdricas e Aes

    Reguladoras)

    Insero dos CBHs no processo decisrio Discusses no mbito dos CBHs sobre a reviso da PERH (Poltica Estadual de

    Recursos Hdricos) e sobre a minuta de decreto

    de cobrana, passando em Grupos de Trabalhos

    dos prprios comits, visando anlise tcnica

    aprofundada

    Lei Estadual 8.446/07 - Reviso e atualizao da Lei Estadual 6.308/96, revogando a Lei

    8.042/06 (que destinava 70% da arrecadao da

    cobrana para a AESA).

    2008

    Assinatura das Deliberaes dos CBHs, aprovando a cobrana nas respectivas bacias

    Encaminhamento, pela Secretaria do CERH-PB, da minuta de resoluo do CERH-PB e da

    minuta de decreto sobre cobrana, fruto das

    discusses nos comits, para relatoria no

    CERH-PB.

    2009

    15 Reunio do CERH Encaminhamento das minutas para relatoria

    17 Reunio do CERH Apresentao do Trabalho da Relatoria

    Apreciao e votao do parecer do relator, relativo s minutas de decreto e de resoluo

    sobre cobrana pelo uso da gua bruta.

    2011

    Resoluo CERH 07/09 aprova a cobrana Resoluo CERH 11/11 alguns ajustes na Resoluo CERH 07/09

    Minuta de Decreto que trata da cobrana pelo uso da gua bruta na Paraba

    Encaminhamento da resoluo aprovada, juntamente com minuta de Decreto, ao Governo

    do Estado para apreciao.

    2012

    Assinatura do Decreto Governamentalque regulamenta a cobrana na Paraba (Decreto

    33.613 de 14 de dezembro de 2012).

    VALORES, ISENES E

    EQUACIONAMENTO PARA A

    COBRANA

    Valores a serem cobrados

    Os preos unitrios aprovados pelos comits na

    Paraba em suas deliberaes de cobrana

    (CBH-PB, 2008; CBH-LN, 2008; CBH-LS,

    2008), ratificados pela Resoluo CERH 07/09,

    Resoluo CERH 11/11 e Decreto 33.613/12,

    so os apresentados na Tabela 1.

  • Tabela 1 Preos Unitrios adotados pelos comits de bacias hidrogrficas do Estado da Paraba.

    Setor Preos unitrios

    Irrigao e outros usos agropecurios R$ 0,003/m, no 1 ano deaplicao R$ 0,004/m, no 2 ano de aplicao R$ 0,005/m, no 3 ano de aplicao

    Piscicultura intensiva e carcinicultura R$ 0,005/m

    Abastecimento pblico R$ 0,012/m

    Comrcio R$ 0,012/m

    Lanamento de esgotos e demais efluentes R$ 0,012/m

    Indstria R$ 0,015/m

    Agroindstria R$ 0,005/m

    Nas bacias hidrogrficas do Litoral Norte,

    respeitando as decises do comit, o valor da

    cobrana para irrigao e outros usos

    agropecurios ser constante durante os trs

    anos de aplicao da cobrana provisria e

    igual a R$ 0,003/m.

    Limites de iseno de cobrana

    Estaro isentas de cobrana as derivaes ou

    captaes de gua, cujo somatrio das

    demandas, em manancial nico ou separado,

    registradas nas respectivas outorgas, tenha valor

    inferior ou igual ao limite indicado na Tabela 2,

    conforme estabelecido nas deliberaes dos

    comits (CBH-PB, 2008; CBH-LN, 2008;

    CBH-LS, 2008),Resoluo CERH 07/09,

    Resoluo CERH 11/11 e Decreto 33.613/12.

    Tabela 2 Volumes limites para efeito de iseno da cobrana. Setor Limite (m

    3/ano)

    Abastecimento de gua e esgotamento sanitrio

    200.000

    Indstria 200.000

    Uso agropecurio

    Nas bacias hidrogrficas do Litoral Sul 1.500.000

    Na bacia hidrogrfica do rio Paraba 350.000

    Nas bacias hidrogrficas do Litoral Norte 350.000

    Sem comit institudo 350.000

    Os usos da piscicultura intensiva e

    carcinicultura, do comrcio, do lanamento de

    esgotos e demais efluentes, sero

    cobradosindependentemente do volume anual

    outorgado.

    A frmula da cobrana

    As deliberaes, resolues e decretos j

    citados, alm de terem definidos os valores

    unitrios e limites de iseno,os mecanismos e

    critrios para a cobrana pelo uso da gua bruta

    de domnio do Estado da Paraba,

    estabeleceram uma formulao de cobrana

    conforme Equao 1, a seguir.

    = .. (1)

    Sendo:

    VT = valor total a ser cobrado (R$/ano);

    k = conjunto de coeficientes de caractersticas

    especficas (adimensional);

    P = preo unitrio para cada tipo de uso

    (R$/m3);

    Vol = volume mensal proporcional ao volume

    anual outorgado (m3)

    O conjunto de coeficientes k ter valor unitrio,

    durante o perodo de vigncia do modelo

    provisrio de cobrana (trs anos). Aps esse

    perodo, dever ser substitudo por outros

    valores, a serem estabelecidos a partir de

    estudos tcnicos elaborados pelo rgo gestor e

    submetidos aos comits de bacia. Com relao

    aos aspectos que devem ser considerados para o

    conjunto de coeficientes k (isto , os critrios

    para a cobrana), as normas determinam, dentre

    outros: a natureza do corpo de gua; a classe em

    que estiver enquadrado o corpo de gua; a

    disponibilidade hdrica; a vazo consumida; a

    sazonalidade; a sustentabilidade econmica da

    cobrana por parte dos segmentos usurios.

  • SIMULAES DA COBRANA PELO

    USO DA GUA BRUTA

    Cobrana pelo uso das guas superficiais

    Para o caso das guas superficiais, considerou-

    se o modelo arrecadatrio aprovado pelo

    sistema de gesto (preos, isenes e

    formulao j apresentados) e a simulao

    realizada por Costa e Ribeiro (2011). Para essa

    simulao foram utilizados os dados do Sistema

    de Informaes de Recursos Hdricos do Estado

    da Paraba, gerido pela AESA. No foram

    includos, na simulao, aqueles usurios de

    gua que captam gua de rios e audes de

    domnio da Unio. As Tabelas 3 e 4

    apresentam, respectivamente, os valores

    arrecadados considerando todos os usurios

    pagantes e os usurios do setor de

    abastecimento pblico. grande a participao

    do usurio do abastecimento pblico na

    arrecadao da cobrana nas regies do Alto e

    Mdio Curso do rio Paraba e na sub-bacia do

    rio Tapero (Tabela 4). Essa participao

    diminuda para o caso da Regio do Baixo

    Curso do rio Paraba (nesta, outros usurios se

    fazem presentes mais fortemente como o setor

    sucroalcooleiro e indstrias).

    Tabela 3 - Arrecadao da cobrana de todos os setores usurios na Bacia Hidrogrfica do rio Paraba do Norte.

    Regio da Bacia Valor da arrecadao (R$/ano)

    gerada por todos os usurios pagantes Alto Curso do rio Paraba 425.049,17

    Sub-bacia do rio Tapero 385.315,90

    Mdio Curso do rio Paraba 22.238,82

    Baixo Curso do rio Paraba 1.392.131,72

    Total 2.224.735,61

    Usurios considerados: Abastecimento humano, Irrigao, Aquicultura, Comrcio, Lanamentode Efluentes, Indstria, Agroindstria e Lazer. Preos unitrios: apresentados na Tabela 1.

    Tabela 4 Arrecadao da cobrana do setor de abastecimento pblico na Bacia Hidrogrfica do rio Paraba do Norte.

    Regio da Bacia Valor da arrecadao (R$/ano)

    gerada pelo abastecimento pblico

    Alto Curso do rio Paraba 424.586,75

    Sub-bacia do rio Tapero 385.280,24

    Mdio Curso do rio Paraba 16.046,57

    Baixo Curso do rio Paraba 644.237,00

    Total 1.470.150,56

    Preo unitrio: R$ 0,012/m

    Poder-se-ia considerar que 7,5% do montante

    arrecadado com a cobrana (que, no caso em

    estudo, equivaleriam a um valor de R$

    166.855,17/ano) poderiam ser destinados ao

    sistema de gesto (conforme preconiza a Lei

    9.433/97) e que todo esse recurso seria alocado

    para a criao de uma agncia de bacia do

    CBH-PB (a atuar, portanto, como secretaria

    tcnica do comit). Entretanto, aquele valor

    seria insuficiente para implantar a agncia,

    conforme estudos de Costa e Ribeiro (2011),os

    quais indicam ser necessrio um valor de R$

    1.566.200,00/ano para essa implantao.

    Cobrana pelo uso das guas subterrneas

    Estudo especfico para a cobrana pelo uso das

    guas subterrneas na bacia sedimentar costeira

    da Regio do Baixo Curso do rio Paraba foi

    realizado por Souza et al. (2010). Essa a

    poro da bacia com maior potencial hdrico

    subterrneo. Os autores adotaram duas ticas: i)

    a arrecadatria, conforme aprovado no sistema

    de gesto hdrica da Paraba, com preos e

    formulao apresentados anteriormente e; ii) a

    econmica, segundo a metodologia do Preo timo (Carrera-Fernandez e Garrido, 2000; Hall e Lieberman, 2003),a qual considera

    fatores como a disponibilidade a pagar do

    usurio, as demandas reais, marginais e

    ordinrias, a elasticidade-preo da demanda por

    gua, os custos de operao e manuteno, os

    investimentos no gerenciamento do recurso e os

  • custos do recurso em situaes de extrema

    escassez.

    Para o modelo arrecadatrio foram inseridos

    coeficientes ponderadores (o k da Equao 1) como a sazonalidade, a classe de

    enquadramento e a disponibilidade do recurso

    (de acordo com os sistemas aquferos aos quais

    a regio est submetida).A arrecadao anual

    derivada desse modelo de R$ 979.542,15/ano.

    No caso do modelo econmico, os seguintes

    preos timos foram encontrados: R$ 0,004/m

    para uso humano; R$ 0,0103/m para uso

    industrial e R$ 0,0241/mpara uso na

    irrigao.Nesse sistema, o usurio da irrigao

    arcar com o maior valor a ser pago refletindo a necessidade de ser mais eficiente. Esses

    preos so, portanto, diferentes daqueles

    propostos pelo sistema de gesto (Tabela 1) R$ 0,012 (abastecimento pblico); R$ 0,015/m

    (industrial); e R$ 0,003/m (irrigao) aplicados nas simulaes com o modelo

    arrecadatrio.A arrecadao anual derivada do

    modelo econmico de R$ 2.050.595,01/ano.

    Os impactos da cobrana (calculados pelos dois

    modelos) so, em mdia, de: i) 0,018% para os

    usurios do abastecimento humano renda de 1 salrio mnimo, famlia com 5 membros e

    consumo per capita de 250 l/hab.dia (salrio

    mnimo da poca R$ 510,00) e; ii) 0,03%/t para a irrigao (de cana-de-acar e abacaxi) sendo R$ 34,00 o custo da produo de uma

    tonelada de cana-de-acar (preo de 2008).

    CONCLUSO

    A assinatura do decreto de cobrana na Paraba,

    em dezembro de 2012, concluiu o que se

    poderia denominar da primeira etapa visando implementao do instrumento em bacias de

    rios de domnio do Estado. O processo

    vivenciado pelo sistema de gesto hdrica da

    Paraba, em especial, aquele protagonizado pelo

    CBH-PB em torno da cobrana em que pese as suas falhas cumpre o que preconiza a gesto participativa e descentralizada da

    Poltica Nacional de Recursos Hdricos. A

    demora da assinatura do decreto governamental

    alheia ao processo participativo representou um retrocesso ao processo de cobrana

    construdo pelo sistema de gesto. Apesar

    disso, uma vez assinado o decreto, uma nova

    etapa se inicia: a da plena implementao do

    sistema de cobrana na Bacia do rio Paraba e

    demais bacias de rios de domnio do Estado.

    Nessa perspectiva, caber aos comits (entre os

    quais, o CBH-PB) retomar as discusses em

    torno da cobrana e exigir a sua adequada

    aplicao tarefa que necessita de uma grande eficincia por parte dos demais entes do sistema

    de gesto (conselho de recursos hdricos -

    CERH-PB e rgo gestor AESA)

    Os preos unitrios aprovados pelo sistema de

    gesto (Deliberao CBH-PB, Resoluo

    CERH-PB, Decreto de cobrana)para a Bacia

    do rio Paraba refletem uma negociao que

    parece ter sido necessria para viabilizar a

    prpria aprovao da cobrana. Nesse sistema

    de preos, enquanto o usurio do abastecimento

    pblico pagar R$ 0,012 por cada metro cbico

    consumido (desde o primeiro ano da cobrana),

    o usurio do setor agrcola pagar R$ 0,003

    pelo mesmo metro cbico. Assim, alcanou-se

    um preo poltico, o qua no reflete o valor econmico da gua mas que possibilita o incio

    do pagamento pelo uso de um bem que

    pblico.

    certo, portanto, que o sistema de cobrana da

    Bacia Hidrogrfica do rio Paraba do Norte (e

    das demais bacias estaduais) necessita de

    aprimoramentos, a fim de que se torne

    economicamente e socialmente mais justo para

    todos, sendo capaz de promover a

    racionalizao do uso da gua. Isso fica claro

    quando das simulaes realizadas com o

    modelo econmico, no qual se buscou o valor

    econmico da gua e foram gerados preos

    unitrios diversos daqueles aprovados pelos

    comits de bacia.

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