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Analise Matematica III
Texto de apoio
Mest. Int. Engenharia Mecanica e Lic. Eng. Gestao Industrial
Susana Domingues de Moura
Departamento de Matematica
Universidade de Coimbra
2013/2014
Conteudo
I Calculo integral em R2 e R3 1
1 Integral duplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1 Definicao e propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Mudanca de variavel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 Aplicacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2 Integral triplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.1 Definicao e propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Aplicacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 Mudanca de variavel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3 Integral curvilıneo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.1 Generalidades sobre curvas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.2 Integral curvilıneo de funcoes escalares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.3 Integral curvilıneo de campos vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.4 Campos vetoriais conservativos e independencia do caminho . . . . . . . . . . . . . 24
3.5 Teorema de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4 Integral de superfıcie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.1 Superfıcies parametrizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.2 Integral de superfıcie de uma funcao escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.3 Integral de superfıcie de um campo vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.4 Teoremas da Divergencia e de Stokes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
II Equacoes diferenciais de ordem n 40
1 Conceitos gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2 Equacoes diferenciais lineares homogeneas. Sistema fundamental de solucoes. . . . . . . . 42
3 Equacoes diferenciais lineares homogeneas com coeficientes constantes . . . . . . . . . . . 44
4 Equacoes diferenciais lineares nao homogeneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
5 Metodo do polinomio anulador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
6 Metodo de Lagrange ou da variacao das constantes arbitrarias . . . . . . . . . . . . . . . . 51
7 Metodo de abaixamento de ordem ou metodo de D’Alembert . . . . . . . . . . . . . . . . 53
8 Equacoes de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
9 Sistemas de equacoes diferenciais com coeficientes constantes . . . . . . . . . . . . . . . . 55
10 Transformada de Laplace e aplicacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Bibliografia 65
i
Capıtulo I
Calculo integral em R2 e R3
1 Integral duplo
1.1 Definicao e propriedades
A definicao de integral duplo segue um raciocınio muito semelhante ao que se usa para definir integral
simples (no sentido de Riemann). Definimos primeiro o integral duplo numa regiao retangular e depois
estendemos o conceito ao caso de uma regiao limitada mais geral.
Seja R um retangulo fechado de R2 definido por
R = [a, b]× [c, d] = {(x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}
com a < b e c < d. Consideremos uma particao do intervalo [a, b] em n subintervalos [xi−1, xi], i = 1, . . . , n,
com o mesmo comprimento ∆x = (b−a)/n, e uma particao do intervalo [c, d] em n subintervalos [yj−1, yj ],
j = 1, . . . , n, de comprimento ∆y = (d− c)/n. Estas duas particoes permitem definir n2 retangulos
Rij = [xi−1, xi]× [yj−1, yj ] ={
(x, y) ∈ R2 : xi−1 ≤ x ≤ xi, yj−1 ≤ y ≤ yj},
com i, j = 1, . . . , n, com lados paralelos aos eixos coordenados e cada um deles com area ∆A = ∆x∆y,
que no seu conjunto constituem uma particao P da regiao R.
Definicao. Seja f : R→ R uma funcao limitada. Uma soma de Riemann de f relativamente a particao
P e uma soma do tipo
Sn =
n∑i=1
n∑j=1
f(x∗ij , y∗ij) ∆A (1)
onde (x∗ij , y∗ij) e um qualquer ponto em Rij .
Dizemos que a funcao f e integravel (a Riemann) no retangulo R se existir o limite limn→+∞
Sn e se este for
independente da escolha dos pontos (x∗ij , y∗ij) ∈ Rij . Em tal caso, ao valor deste limite chamamos integral
duplo de f sobre R e designamo-lo por∫∫R
f(x, y) dx dy ou
∫∫R
f(x, y) dA.
Como saber se uma dada funcao e integravel? O uso da definicao para este fim torna-se impraticavel.
O resultado seguinte fornece uma condicao suficiente para a integrabilidade.
1
2
Teorema. Se f : R→ R for contınua, entao f e integravel em R.
Interpretacao do integral duplo como volume de um solido
Suponhamos que, alem de contınua, a funcao f e nao negativa em R, isto e, f(x, y) ≥ 0 para todo o
(x, y) ∈ R. Consideremos o solido
E = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ R, 0 ≤ z ≤ f(x, y)}, (2)
limitado superiormente pela superfıcie de equacao z = f(x, y), inferiormente por R e lateralmente pelos
planos de equacoes x = a, x = b, y = c e y = d.
Se tomarmos (x∗ij , y∗ij) ∈ Rij como sendo um ponto onde a restricao de f a Rij tem um mınimo
(sendo f contınua em R temos a garantia da existencia de um tal ponto), entao f(x∗ij , y∗ij) ∆A representa
o volume de um paralelepıpedo de base Rij e altura f(x∗ij , y∗ij) e a soma (1) representa o volume de um
solido contido em E. Analogamente, se (x∗ij , y∗ij) ∈ Rij for um ponto onde a restricao de f a Rij tem um
maximo, a soma (1) representa o volume de um solido que contem E. Assim, sendo f integravel em R,
existe o limite das somas (1) independentemente da escolha dos pontos (x∗ij , y∗ij) ∈ Rij , pelo que o volume
dos solidos acima referidos (que estao contidos ou que contem E) tendem para o mesmo limite, que sera
o volume de E. Temos assim o seguinte resultado.
Proposicao. Se f for uma funcao nao negativa e contınua numa regiao retangular R, entao o integral
duplo ∫∫R
f(x, y) dx dy
representa o volume do solido
E = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ R, 0 ≤ z ≤ f(x, y)}.
Integrais iterados
Conforme ja referimos, a excecao dos casos mais simples, o calculo de integrais duplos usando a definicao
nao e viavel. Veremos em seguida como calcular estes integrais atraves do calculo de dois integrais simples
sucessivos.
Seja f uma funcao real contınua no retangulo R = [a, b]× [c, d]. Mantendo x fixo, f(x, y) e uma funcao
apenas da variavel y e podemos calcular o integral definido
∫ d
c
f(x, y) dy. Este procedimento e chamado
integracao parcial em relacao a y. Naturalmente o integral assim calculado depende de x, isto e, e uma
funcao de x, digamos
A(x) =
∫ d
c
f(x, y) dy.
Podemos agora calcular ∫ b
a
A(x) dx =
∫ b
a
(∫ d
c
f(x, y) dy
)dx. (3)
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3
De modo analogo, comecando por fixar a variavel y, podemos fazer a integracao parcial em relacao a x
para calcular
∫ b
a
f(x, y) dx = B(y) e, integrando em seguida em ordem a y, obtemos
∫ d
c
B(y) dy =
∫ d
c
(∫ b
a
f(x, y) dx
)dy. (4)
Nos segundos membros de (3) e (4), e habitual omitirem-se os parenteses, escrevendo-se∫ b
a
(∫ d
c
f(x, y) dy
)dx =
∫ b
a
∫ d
c
f(x, y) dy dx
e ∫ d
c
(∫ b
a
f(x, y) dx
)dy =
∫ d
c
∫ b
a
f(x, y) dx dy.
Estes integrais sao designados por integrais iterados.
Exemplo. Calcule
(a)
∫ 1
0
∫ 3
2
(1 + xy) dx dy (b)
∫ 3
2
∫ 1
0
(1 + xy) dy dx
O teorema seguinte mostra que nao e coincidencia que os dois integrais iterados do exemplo anterior
tenham o mesmo valor.
Teorema de Fubini. Se f for uma funcao real integravel no retangulo R = [a, b]× [c, d], entao∫∫R
f(x, y) dA =
∫ b
a
∫ d
c
f(x, y) dy dx =
∫ d
c
∫ b
a
f(x, y) dx dy.
Observacoes.
(i) O teorema anterior permite-nos calcular um integral duplo numa regiao retangular convertendo-o num
integral iterado. Podemos fazer isso de duas maneiras, originando ambas o mesmo resultado.
(ii) Vejamos como interpretar geometricamente o resultado anterior no caso em que f e contınua e nao
negativa em R. Neste caso o integral duplo representa o volume V do solido E definido em (2). Pelo
princıpio de Cavalieri, o volume de E e dado por V =
∫ b
a
A(x) dx, onde A(x) e a area da seccao
transversal de E no plano Px, perpendicular ao eixo dos xx e que passa pelo ponto (x, 0, 0). Ora,
fixado x, A(x) e a area da regiao limitada pela curva de equacao z = f(x, y) com c ≤ y ≤ d. Portanto,
A(x) =
∫ d
c
f(x, y) dy e, consequentemente,
∫∫R
f(x, y) dA = V =
∫ b
a
A(x) dx =
∫ b
a
∫ d
c
f(x, y) dy dx.
Analogamente, usando a seccao transversal perpendicular ao eixo dos yy e que passa por (0, y, 0),
verificamos tambem que ∫∫R
f(x, y) dA = V =
∫ d
c
∫ b
a
f(x, y) dx dy.
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Embora seja suficiente, nao e necessario que uma funcao seja contınua em R para que seja integravel
em R. Com efeito, podemos ainda garantir a integrabilidade, sobre um retangulo, de funcoes que sejam
descontınuas em subconjuntos que se possam desprezar do ponto de vista da integracao dupla (do mesmo
modo que um numero finito de pontos se pode desprezar na integracao simples), o que tambem nos permi-
tira estender a definicao de integral duplo a regioes do plano mais gerais do que retangulos. Comecemos
por dar um sentido preciso a esta ideia de conjuntos que se podem desprezar na integracao dupla.
Definicao. Diz-se que um conjunto S ⊂ R2 tem conteudo nulo se, para qualquer ε > 0, existe um numero
finito de retangulos (do tipo anteriormente considerado) cuja uniao contenha S e tal que a soma das suas
areas e inferior a ε.
Por outras palavras, um subconjunto do plano tem conteudo nulo se for possıvel cobri-lo por unioes de
retangulos com areas totais arbitrariamente pequenas. Verifica-se facilmente que a uniao de um numero
finito de conjuntos de conteudo nulo tem conteudo nulo. E ainda possıvel provar que um segmento de reta
tem conteudo nulo e, mais geralmente, o grafico de uma funcao contınua φ : [a, b]→ R tem conteudo nulo.
Proposicao. Sejam f, g : R→ R tais que f e integravel e g e limitada no retangulo R. Se f e g diferem
somente num conjunto de conteudo nulo, entao g tambem e integravel em R e∫∫R
g(x, y) dA =
∫∫R
f(x, y) dA.
O resultado que se segue e consequencia da proposicao anterior e do facto de, como referimos anteri-
ormente, toda a funcao contınua ser integravel.
Proposicao. Se f : R→ R for limitada e se o conjunto dos pontos de descontinuidade de f tiver conteudo
nulo, entao f e integravel em R.
Exemplos.
(a) Calcule
∫∫R
f(x, y) dA, onde R = [0, 2]× [1, 3] e f(x, y) = 2x+ 3x2y.
(b) Determine o volume do solido limitado superiormente pelo paraboloide elıptico x2 + y2 + z = 9 e
inferiormente pela regiao retangular R = {(x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 2}.
De seguida vamos estender a definicao de integral duplo para regioesD mais gerais, nao necessariamente
retangulares.
Sejam D ⊂ R2 uma regiao limitada e f : D → R uma funcao limitada. Seja R uma regiao retangular
que contenha D e consideremos a funcao F , definida em R por
F (x, y) =
{f(x, y) se (x, y) ∈ D0 se (x, y) ∈ R \D
. (5)
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Definicao. A funcao limitada f : D ⊂ R2 → R diz-se integravel (em D) se F for integravel (em R).
Nesse caso, define-se o integral duplo de f sobre D por∫∫D
f(x, y) dx dy =
∫∫R
F (x, y) dx dy. (6)
Notemos que a definicao anterior faz sentido, uma vez que R e uma regiao retangular e
∫∫R
F (x, y) dx dy
foi definido anteriormente. Alem disso, verifica-se que (6) nao depende da regiao retangular R que contenha
D.
No caso de f ser nao negativa em D, podemos ainda interpretar
∫∫D
f(x, y) dx dy como o volume do
solido limitado inferiormente por D e superiormente pelo grafico de f . Basta, para tal, atender ao facto de
que os pontos do grafico da funcao F , definida em (5), que nao pertencem ao grafico de f , estao no plano
XOY (isto e, tem cota nula); pelo que o volume do solido limitado inferiormente por R e superiormente
pelo grafico de F coincide com o volume de E.
A integrabilidade de f em D depende nao so da funcao f mas tambem da regiao D. Suponhamos
que f e contınua em D. Pode acontecer que F nao seja contınua em R, ja que pode nao ser contınua em
pontos na fronteira ∂D de D. Contudo, para determinado tipo de regioes D, ditas regioes elementares,
que definiremos em seguida, ∂D e a uniao finita de graficos de funcoes contınuas definidas em intervalos
fechados e limitados em R, logo e um conjunto de conteudo nulo e, portanto, F e integravel em R.
Definicao.
(i) Uma regiao D ⊂ R2 diz-se verticalmente simples ou do tipo I se puder ser expressa na forma
D = {(x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, g1(x) ≤ y ≤ g2(x)}, (7)
onde g1, g2 : [a, b]→ R sao funcoes contınuas tais que g1(x) ≤ g2(x) para todo o x ∈ [a, b].
(ii) Uma regiao D ⊂ R2 diz-se horizontalmente simples ou do tipo II se puder ser expressa na forma
D = {(x, y) ∈ R2 : c ≤ y ≤ d, h1(y) ≤ x ≤ h2(y)}, (8)
onde h1, h2 : [c, d]→ R sao funcoes contınuas tais que h1(y) ≤ h2(y) para todo o y ∈ [c, d].
(iii) Uma regiao D ⊂ R2 diz-se elementar se for do tipo I ou do tipo II e diz-se simples se for simulta-
neamente do tipo I e do tipo II.
A proposicao seguinte, que e consequencia do teorema de Fubini, vai permitir-nos calcular integrais
duplos em regioes elementares usando integrais iterados.
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Proposicao. Seja f : D → R uma funcao contınua.
(i) Se D for uma regiao de tipo I, de acordo com (10), entao f e integravel em D e∫∫D
f(x, y) dA =
∫ b
a
(∫ g2(x)
g1(x)
f(x, y) dy)dx.
(ii) Se D for uma regiao de tipo II, de acordo com (11), entao f e integravel em D e∫∫D
f(x, y) dA =
∫ d
c
(∫ h2(y)
h1(y)
f(x, y) dx)dy.
(iii) Se D for uma regiao simples, entao o integral de f sobre D nao so existe como pode ser calculado
por qualquer um dos processos indicados em (i) e (ii).
Exemplos.
(a) Calcule
∫∫D
(x+ 1) dx dy, onde D e o triangulo de vertices (0, 0), (0, 1) e (2, 2).
(b) Calcule
∫∫D
2xy dA, onde D e a regiao limitada pela reta y = x− 1 e pela parabola y2 = x+ 1.
(c) Determine o volume do solido que e limitado superiormente pelo paraboloide z = x2+y2 e inferiormente
pela regiao D do plano XOY limitada pela reta y = 2x e pela parabola y = x2.
Inversao da ordem de integracao
No caso de funcoes contınuas em regioes simples, isto e, que sao simultaneamente de tipo I e de tipo
II, pela alınea (iii) da proposicao anterior, temos as formulas∫∫D
f(x, y) dA =
∫ b
a
(∫ g2(x)
g1(x)
f(x, y) dy)dx =
∫ d
c
(∫ h2(y)
h1(y)
f(x, y) dx)dy.
Podemos assim obter o valor de um dos integrais iterados mediante o calculo do outro integral iterado;
a este processo diz-se inversao (ou troca) da ordem de integracao. Num exercıcio pratico pode acontecer
que um dos integrais iterados seja mais facil de calcular do que o outro; no entanto, existem situacoes em
que e impossıvel calcular um dos integrais iterados (nomeadamente pela impossibilidade de determinar
uma primitiva da funcao dada relativamente a variavel em causa). Vejamos os exemplos seguintes.
Exemplos. Verifique que, usando os metodos de primitivacao conhecidos, nao e possıvel calcular cada
um dos seguintes integrais pela ordem de integracao indicada. Esboce a regiao de integracao, inverta a
ordem de integracao e calcule cada um dos integrais.
(a)
∫ 1
0
∫ √1−x2
0
√1− y2 dy dx (b)
∫ 1
0
∫ 1
x
ey2
dy dx.
Em seguida sumariamos algumas propriedades do integral duplo, as quais sao similares as do integral
simples.
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Propriedades do integral duplo. Seja D uma regiao limitada de R2. Sejam f e g funcoes reais
integraveis em D e seja c ∈ R. Entao
(i) A funcao f + g e integravel em D e∫∫D
(f(x, y) + g(x, y)
)dA =
∫∫D
f(x, y) dA+
∫∫D
g(x, y) dA.
(ii) A funcao cf e integravel em D e∫∫D
cf(x, y) dA = c
∫∫D
f(x, y) dA.
(iii) Se f(x, y) = 1 em D, entao ∫∫D
f(x, y) dA = A(D),
onde A(D) representa a area de D.
(iv) Se f(x, y) ≥ g(x, y), ∀(x, y) ∈ D, entao∫∫D
f(x, y) dA ≥∫∫D
g(x, y) dA.
(v) Se D = D1∪D2, onde D1 e D2 sao duas regioes que se intersetam, quando muito, nas suas fronteiras,
entao ∫∫D
f(x, y) dA =
∫∫D1
f(x, y) dA+
∫∫D2
f(x, y) dA.
Exemplo. Calcule o integral do exemplo (a) da pagina 6, usando regioes do tipo II e a propriedade (v)
acima referida.
1.2 Mudanca de variavel
Os alunos devem estar familiarizados com a mudanca de variavel no integral simples. Com efeito,∫ b
a
f(x) dx =
∫ d
c
f(x(u))dx
dudu
onde a = x(c), b = x(d), f e contınua e u 7→ x(u) e de classe C1 em [a, b].
Uma mudanca de variaveis pode tambem ser util para integrais duplos.
Genericamente, consideremos uma mudanca de variavel dada pela transformacao T (u, v) = (x, y) com
x = x(u, v), y = y(u, v).
Vamos supor que a aplicacao (u, v) → T (u, v) e de classe C1 (isto e, e contınua e tem derivadas parciais
de 1a ordem contınuas) num aberto de R2 contendo D∗ e que T : D∗ −→ D e uma aplicacao bijetiva.
Vamos admitir ainda que o Jacobiano de T , isto e, o determinante da matriz Jacobiana da transformacao
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T , dado por
∂(x, y)
∂(u, v)=
∣∣∣∣∣∣∣∣∂x
∂u
∂x
∂v
∂y
∂u
∂y
∂v
∣∣∣∣∣∣∣∣ =∂x
∂u
∂y
∂v− ∂x
∂v
∂y
∂u,
nao se anula em D∗.
Teorema. Nas condicoes anteriores, para toda a funcao f : D → R integravel sobre D, temos∫∫D
f(x, y) dx dy =
∫∫D∗
f(x(u, v), y(u, v)
) ∣∣∣∣∂(x, y)
∂(u, v)
∣∣∣∣ du dv.
Observacoes.
(i) Notemos que, sendo T bijetiva, D∗ = T−1(D). O teorema anterior e ainda valido mesmo que
T : D∗ → D nao seja injetiva, desde que o conjunto dos pontos onde ela nao e injetiva seja um
subconjunto de conteudo nulo de D∗.
(ii) O teorema da mudanca de variavel da-nos um metodo atraves do qual o calculo de integrais duplos
pode ser simplificado. Podemos encontrar integrais
∫∫D
f(x, y) dA, cuja funcao integranda f ou cuja
regiao de integracao D tornam complicado o calculo direto do integral. Escolhendo uma mudanca de
variavel apropriada o calculo desse integral pode, em muitos casos, ser substancialmente simplificado.
Exemplo. Calcule o integral duplo
∫∫D
cos(x− y)
sin(x+ y)dx dy, onde
D = {(x, y) ∈ R2 : 1 ≤ x+ y ≤ 2, x ≥ 0, y ≥ 0},
fazendo a mudanca de variavel u = x− y e v = x+ y.
Coordenadas polares
Um ponto P = (x, y) em coordenadas retangulares tem coordenadas polares (r, θ) onde r e a distancia
de P a origem e θ e o angulo formado pelo semi-eixo positivo dos xx e pelo segmento de reta que une a
origem a P . A relacao entre as coordenadas (x, y) e (r, θ) e dada por
r =√x2 + y2, θ = arctan
(yx
), se x 6= 0,
ou ainda
x = r cos θ, y = r sin θ.
Notemos que a aplicacao definida por T (r, θ) = (x(r, θ), y(r, θ)), onde x(r, θ) = r cos θ e y(r, θ) = r sin θ, e
injetiva em D∗ = {(r, θ) : r > 0, θ0 ≤ θ < θ0 + 2π}, com θ0 constante. Alem disso, o Jacobiano de T e
igual a
∂(x, y)
∂(r, θ)=
∣∣∣∣∣∣∣∣∂x
∂r
∂x
∂θ
∂y
∂r
∂y
∂θ
∣∣∣∣∣∣∣∣ =
∣∣∣∣∣ cos θ −r sin θ
sin θ r cos θ
∣∣∣∣∣ = r cos2 θ + r sin2 θ = r,
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e, como consequencia do teorema anterior, temos:
Corolario. Se f for uma funcao contınua numa regiao D do plano XOY e sendo D∗ a mesma regiao
expressa em coordenadas polares, temos∫∫D
f(x, y) dx dy =
∫∫D∗
f(r cos θ, r sin θ
)r dr dθ.
A mudanca para coordenadas polares e particularmente importante quando a regiao de integracao,
vista em termos das coordenadas polares, tem fronteiras ao longo das quais r ou θ e constante. Notemos
que, por exemplo, a regiao circular D = {(x, y) : x2 + y2 ≤ a2}, a > 0, corresponde, em coordenadas
polares, a regiao retangular D∗ = {(r, θ) : 0 ≤ r ≤ a, 0 ≤ θ ≤ 2π} = [0, a]× [0, 2π].
Exemplos.
(a) Calcule
∫∫D
(x2+y2) dA, onde D e a regiao do 1o quadrante limitada pelas circunferencias x2+y2 = 1
e x2 + y2 = 5 e pelas retas y = x e y =√
3.
(b) Seja a > 0 e Da = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ a2}. Prove que∫∫Da
e−(x2+y2) dx dy = π(1− e−a
2
). (9)
Notemos que nao ha forma direta de calcular este integral usando as coordenadas (x, y).
(c) Usando coordenadas polares, calcule
∫∫D
y dx dy, onde D = {(x, y) ∈ R2 : (x− 1)2 + y2 ≤ 1}.
Exercıcio. Use a igualdade (9) para mostrar que∫ ∞−∞
e−x2
dx =√π.
Este integral, dito integral de Euler-Poisson ou integral Gaussiana, e muito util em estatıstica. E de
realcar que nao se conhece forma de calcular este integral usando ferramentas do calculo de uma variavel.
1.3 Aplicacoes
Calculo de volumes
Vimos anteriormente que se D for uma uma regiao retangular de R2 ou, mais geralmente, se for a
uniao de um numero finito de regioes elementares de R2 (isto, e de regioes de um dos tipos I ou II) e f
for uma funcao contınua e nao negativa em D, isto e, f(x, y) ≥ 0, (x, y) ∈ D, entao, o volume do solido
E = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ D, 0 ≤ z ≤ f(x, y)}
e
V (E) =
∫∫D
f(x, y) dA.
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10
No caso de E ser dado por
E = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ D, g(x, y) ≤ z ≤ f(x, y)}
onde f e g sao funcoes reais contınuas em D, temos
V (E) =
∫∫D
(f(x, y)− g(x, y)
)dA.
Exemplo. Calcule o volume do solido E = {(x, y, z) ∈ R3 : z ≥ 32 , x
2 + y2 + (z − 1)2 ≤ 1}.
Calculo de areas
Seja D uma regiao limitada de R2, uniao de um numero finito de regioes elementares de R2. A area
de D e determinada pelo integral duplo sobre D da funcao identicamente igual a 1, ou seja
A(D) =
∫∫D
1 dA.
Exemplos. Usando integrais duplos, calcule a area de cada uma das seguintes regioes.
(a) D = {(x, y) ∈ R2 : 1 ≤ x2 + y2 ≤ 4, −x ≤ y ≤√
3x}.
(b) D ={
(x, y) ∈ R2 :x2
a2+y2
b2≤ 1}
, com a, b > 0.
(Sugestao: usar a mudanca de variavel x = ar cos θ, y = br sin θ.)
Calculo da massa, centro de massa e momentos de uma figura plana
Suponhamos que uma lamina fina, de espessura desprezavel, ocupa uma regiao plana D, uniao de um
numero finito de regioes elementares de R2, e que a densidade e dada pela funcao ρ(x, y), contınua em D.
Entao, a massa total m e dada por
m =
∫∫D
ρ(x, y) dA,
os momentos em relacao a OX e OY sao dados respetivamente por
Mx =
∫∫D
yρ(x, y) dA e My =
∫∫D
xρ(x, y) dA,
sendo o seu centro de massa o ponto de coordenadas (x0, y0) definidas por
x0 =My
m=
∫∫D
xρ(x, y) dA
me y0 =
∫∫D
yρ(x, y) dA
m.
Exemplo. Determine a massa e o centro de massa de uma lamina semicircular que ocupa a regiao
D = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ a2, y ≥ 0}, com a > 0, em que a densidade em (x, y) e diretamente
proporcional a distancia desse ponto a origem.
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11
Calculo do valor medio de uma funcao
Seja f uma funcao real integravel em D, uniao de um numero finito de regioes elementares de R2. O
valor medio de f em D e dado pelo quociente∫∫D
f(x, y) dA
A(D)=
∫∫D
f(x, y) dA∫∫D
1 dA
.
Exemplo. Calcule o valor medio de f(x, y) = x sin(y) em D = [0, π]× [0, π].
2 Integral triplo
O processo que iremos usar para definir integral triplo e analogo ao utilizado no caso do integral duplo.
As regioes de integracao serao agora subconjuntos de R3. Vamos em primeiro lugar considerar regioes de
integracao paralelepıpedicas e, depois, considerar regioes limitadas mais gerais.
2.1 Definicao e propriedades
Seja B um paralelepıpedo em R3 definido por
B = [a, b]× [c, d]× [r, s] = {(x, y, z) ∈ R3 : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d, r ≤ z ≤ s},
com a < b, c < d e r < s.
Consideremos uma particao em n subintervalos de igual comprimento para cada um dos intervalos
[a, b], [c, d] e [r, s]:
[xi−1, xi], i = 1, · · · , n, [yj−1, yj ], j = 1, · · · , n, e [zk−1, zk], k = 1, · · · , n,
respetivamente. Estas particoes permitem-nos definir n3 paralelepıpedos
Wijk = [xi−1, xi]× [yj−1, yj ]× [zk−1, zk], i, j, k = 1, · · · , n,
de faces paralelas aos planos coordenados e cada um dos quais com volume ∆x∆y∆z, onde ∆x = (b−a)/n,
∆y = (d− c)/n e ∆z = (s− r)/n, que no seu conjunto constituem uma particao P de B.
Definicao. Seja f : B → R uma funcao limitada definida no paralelepıpedo B. Uma soma de Riemann
de f relativamente a particao P e uma soma do tipo
Sn =
n∑i=1
n∑j=1
n∑k=1
f(x∗ijk, y∗ijk, z
∗ijk) ∆x∆y∆z,
onde (x∗ijk, y∗ijk, z
∗ijk) e um qualquer ponto em Wijk, para i, j, k = 1, · · · , n.
Dizemos que a funcao f e integravel (a Riemann) no paralelepıpedo B se existir o limite limn→+∞
Sn e se
este for independente da escolha dos pontos (x∗ijk, y∗ijk, z
∗ijk) ∈ Wijk. Em tal caso, ao valor do limite
denominamos integral triplo de f sobre B e designamo-lo por∫∫∫B
f(x, y, z) dx dy dz ou
∫∫∫B
f(x, y, z) dV.
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12
Tal como no caso dos integrais duplos prova-se que, se f for uma funcao contınua em B, entao f e
integravel em B. A nocao de conjunto de conteudo nulo em R2 pode ser estendida naturalmente a R3,
bastando mudar retangulos por paralelepıpedos e area por volume. Verifica-se analogamente que, se f
for limitada e o conjunto dos seus pontos de descontinuidade tiver conteudo nulo, entao f integravel em
B. Em particular as funcoes limitadas cujo conjunto dos pontos de descontinuidade se restringe a uma
uniao finita de graficos de funcoes contınuas (tais como x = ϕ(y, z), y = ψ(x, z) ou z = γ(x, y)) sao
integraveis. O teorema seguinte diz-nos como calcular o valor do integral usando os chamados integrais
iterados. Notemos que existem agora 3! = 6 possıveis integrais iterados.
Teorema de Fubini. Se f for uma funcao real integravel no paralelepıpedo B = [a, b] × [c, d] × [r, s],
entao ∫∫∫B
f(x, y, z) dV =
∫ b
a
∫ d
c
∫ s
r
f(x, y, z) dz dy dx =
∫ b
a
∫ s
r
∫ d
c
f(x, y, z) dy dz dx
=
∫ d
c
∫ b
a
∫ s
r
f(x, y, z) dz dx dy =
∫ d
c
∫ s
r
∫ b
a
f(x, y, z) dx dz dy
=
∫ s
r
∫ d
c
∫ b
a
f(x, y, z) dx dy dz =
∫ s
r
∫ b
a
∫ d
c
f(x, y, z) dy dx dz.
Exemplo. Calcule
∫∫∫B
3x2yz3 dx dy dz sendo B = [1, 2]× [−1, 3]× [0, 1].
Seja agora E uma regiao limitada generica em R3 e seja f uma funcao real e limitada definida em E.
Consideremos um paralelepıpedo B que contenha E e a funcao F definida por
F (x, y, z) =
f(x, y, z), se (x, y, z) ∈ E
0, se (x, y, z) ∈ B \ E.
Definicao. Diz-se que f : E ⊂ R3 → R e integravel em E se F for integravel em B e define-se o integral
triplo de f sobre E por ∫∫∫E
f(x, y, z) dV =
∫∫∫B
F (x, y, z) dV.
Se f for contınua em E e se a fronteira de E tiver conteudo nulo (em particular se for uma uniao
finita de conjuntos definidos por equacoes da forma x = ϕ(y, z), y = ψ(x, z) ou z = γ(x, y), com ϕ, ψ e γ
funcoes contınuas em regioes limitadas e fechadas de R2), entao f e integravel em E.
Vamos agora considerar tres tipos especiais de regioes de R3, ditas regioes elementares em R3, que sao
do tipo acima referido.
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Definicao.
(i) Uma regiao E ⊂ R3 diz-se de tipo I, se existir uma regiao elementar D do plano XOY tal que
E = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ D, u1(x, y) ≤ z ≤ u2(x, y)}, (10)
sendo u1 e u2 funcoes contınuas em D.
(iii) Uma regiao E ⊂ R3 diz-se de tipo II, se existir uma regiao elementar D do plano Y OZ tal que
E = {(x, y, z) ∈ R3 : (y, z) ∈ D, u1(y, z) ≤ x ≤ u2(y, z)}, (11)
sendo u1 e u2 funcoes contınuas em D.
(iii) Uma regiao E ⊂ R3 diz-se de tipo III, se existir uma regiao elementar D do plano XOZ tal que
E = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, z) ∈ D, u1(x, z) ≤ y ≤ u2(x, z)}, (12)
sendo u1 e u2 funcoes contınuas em D.
(iv) Uma regiao E ⊂ R3 diz-se elementar se for do tipo I, II ou III e diz-se simples se for simultaneamente
do tipo I, II e III.
Proposicao. Sejam E ⊂ R3 e f : E → R contınua.
(i) Se E e do tipo I, com(10), entao∫∫∫E
f(x, y, z) dV =
∫∫D
(∫ u2(x,y)
u1(x,y)
f(x, y, z) dz
)dA. (13)
(iii) Se E e do tipo I, com (11), entao∫∫∫E
f(x, y, z) dV =
∫∫D
(∫ u2(y,z)
u1(y,z)
f(x, y, z) dx
)dA.
(iii) Se E e do tipo I, com (12), entao∫∫∫E
f(x, y, z) dV =
∫∫D
(∫ u2(x,z)
u1(x,z)
f(x, y, z) dy
)dA.
Observacao. Notemos que, por exemplo, uma regiao do tipo I trata-se de um solido cuja projecao no
plano XOY e D e que e limitado superiormente pela superfıcie de equacao z = u2(x, y) e inferiormente
pela superfıcie de equacao z = u1(x, y). Neste caso, para efectuar o calculo do segundo membro de
(13), devemos ter em conta que se trata de um integral duplo em que a funcao integranda e a funcao
g(x, y) =
∫ u2(x,y)
u1(x,y)
f(x, y, z) dz.
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Exemplos. Calcule cada um dos seguintes integrais triplos.
(a)
∫∫∫E
x dV onde E e a regiao limitada pelos planos coordenados e pelo plano x+ y + z = 1.
(b)
∫∫∫E
y dx dy dz, onde E e limitado pelas superfıcies de equacoes y = x2 + z2 e y =√
20− x2 − z2.
Para o integral triplo sao validas propriedades analogas as anteriormente referidas para o integral
duplo, conforme se seguem.
Propriedades do integral triplo. Seja E uma regiao limitada de R3. Sejam f e g funcoes reais
integraveis em E e seja c ∈ R. Entao
(i) A funcao f + g e integravel em E e∫∫∫E
(f(x, y, z) + g(x, y, z)
)dV =
∫∫∫E
f(x, y, z) dV +
∫∫∫E
g(x, y, z) dV.
(ii) A funcao cf e integravel em E e∫∫∫E
c f(x, y, z) dV = c
∫∫∫E
f(x, y, z) dV.
(iii) Se f(x, y, z) = 1 em E, entao ∫∫∫E
f(x, y, z) dV = V (E),
onde V (E) representa o volume de E.
(iv) Se f(x, y, z) ≥ g(x, y, z), ∀(x, y, z) ∈ E, entao∫∫∫E
f(x, y, z) dV ≥∫∫∫
E
g(x, y, z) dV.
(v) Se E = E1 ∪ E2, onde E1 e E2 sao duas regioes de R3 que se intersetam, quando muito, nas suas
fronteiras, e que cada um delas e a uniao de um numero finito de regioes elementares, entao∫∫∫E
f(x, y, z) dV =
∫∫∫E1
f(x, y, z) dV +
∫∫∫E2
f(x, y, z) dV.
2.2 Aplicacoes
Calculo de volumes
Ja vimos anteriormente que podemos calcular o volume de solidos usando integrais duplos. Porem,
como consta da proposicao anterior tambem podemos faze-lo usando integrais triplos. Verifiquemos este
facto para o caso de E ser uma regiao do tipo I:
E = {(x, y.z) ∈ R3 : (x, y) ∈ D, u1(x, y) ≤ z ≤ u2(x, y)}.
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Entao, ∫∫∫E
1 dx dy dz =
∫∫D
(∫ u2(x,y)
u1(x,y)
1 dz
)dx dy =
∫∫D
(u2(x, y)− u1(x, y)
); dx dy,
e, de acordo com o que vimos anteriormente, o valor do ultimo integral duplo e o volume de E, solido
limitado superiormente pela superfıcie de equacao z = u2(x, y) e inferiormente pela superfıcie de equacao
z = u1(x, y).
Exemplo. Use um integral triplo para calcular o volume do solido
E = {(x, y, z) ∈ R3 : y2 + z2 ≤ 2, (x− 4) ≤ −(y2 + z2) e x ≥ 0}.
Calculo da massa, momentos relativamente a planos coordenados e centro de massa
Estudamos aplicacoes fısicas do integral duplo a massa, momentos relativamente aos eixos coordenados
e centro de massa de uma lamina fina. Se quisermos estudar as nocoes correspondentes para um solido
que ocupe uma regiao limitada do espaco, recorremos ao integral triplo. Assim, se E representa um solido
cuja densidade e, no ponto (x, y, z) de E, igual a ρ(x, y, z), a sua massa total m e dada por
m =
∫∫∫E
ρ(x, y, z) dx dy dz.
Para o mesmo solido, os momentos em relacao aos planos coordenados Y OZ, XOZ e XOY sao dados
respetivamente por
Myz =
∫∫∫E
xρ(x, y, z) dx dy dz, Mxz =
∫∫∫E
yρ(x, y, z) dx dy dz e Mxy =
∫∫∫E
zρ(x, y, z) dx dy dz,
sendo o seu centro de massa o ponto de coordenadas (x0, y0, z0) definidas por
x0 =Myz
m, y0 =
Mxz
me z0 =
Mxy
m.
Exemplo. Determine o centro de massa do solido que ocupa a regiao
E = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y2 + z2 ≤ 1, z ≥ 0},
supondo que a densidade e constante.
Calculo do valor medio de uma funcao
Seja f uma funcao real integravel na regiao E ⊂ R3. O valor medio de f em E e dado pelo quociente∫∫∫E
f(x, y, z) dx dy dz
V (D)=
∫∫∫E
f(x, y, z) dx dy dz∫∫∫E
1 dx dy dz
.
Exemplo. A temperatura num ponto (x, y, z) do paralelepıpedo B = [−1, 1]× [−1, 1]× [−2, 2] e propor-
cional ao quadrado da distancia desse ponto a origem.
(a) Qual e a temperatura media em B?
(b) Em que pontos do paralelepıpedo B e que a temperatura coincide com a temperatura media?
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2.3 Mudanca de variavel
Vimos anteriormente que o calculo de um integral duplo pode ser bastante simplificado efetuando uma
mudanca de variavel conveniente. A mesmo se verifica no caso do integral triplo. A mudanca de variavel
no integral triplo toma a forma descrita no seguinte teorema.
Teorema. Sejam f : E ⊂ R3 → R uma funcao integravel,
T : E∗ −→ E
(u, v, w) 7→ T (u, v, w) = (x(u, v, w), y(u, v, w), z(u, v, w))
uma aplicacao bijetiva e de classe C1 (isto e, com funcoes componentes com derivadas parciais de 1a ordem
contınuas) cujo Jacobiano, dado por
∂(x, y, z)
∂(u, v, w)=
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣
∂x
∂u
∂x
∂v
∂x
∂w
∂y
∂u
∂y
∂v
∂y
∂w
∂z
∂u
∂z
∂v
∂z
∂w
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣nao se anula em E∗. Entao,∫∫∫
E
f(x, y, z) dx dy dz =
∫∫∫E∗f(x(u, v, w), y(u, v, w), z(u, v, w)
) ∣∣∣∣ ∂(x, y, z)
∂(u, v, w)
∣∣∣∣ du dv dw.
De particular importancia sao as mudancas de variavel para coordenadas cilındricas e para coordenadas
esfericas.
Coordenadas cilındricas
As coordenadas cilındricas de um ponto P de coordenadas cartesianas (x, y, z) sao (r, θ, z), onde (r, θ)
sao as coordenadas polares da projecao ortogonal de P sobre o plano XOY , e sao definidas por
x = r cos θ, y = r sin θ, z = z. (14)
Observacao. Notemos que a designacao de “coordenadas cilındricas” e motivada pelo facto de, sendo c
uma constante positiva, a equacao r = c representar um cilindro de raio c.
Notemos que a aplicacao definida por T (r, θ, z) = (r cos θ, r sin θ, z) e injetiva em D∗ = {(r, θ, z) : r >
0, θ0 ≤ θ < θ0 + 2π, z ∈ R}, com θ0 constante, e tem Jacobiano
∂(x, y, z)
∂(r, θ, z)=
∣∣∣∣∣∣∣cos θ −r sin θ 0
sin θ r cos θ 0
0 0 1
∣∣∣∣∣∣∣ = r.
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Corolario. Se f for uma funcao contınua numa regiao W de R3 definida em coordenadas cartesianas e
W ∗ for a correspondente regiao em coordenadas cilındricas, entao∫∫∫W
f(x, y, z) dx dy dz =
∫∫∫W∗
f(r cos θ, r sin θ, z) r dr dθ dz.
Exemplo. Usando integrais triplos, calcule o volume do solido limitado pelo cone z =√x2 + y2 e pelo
paraboloide z = x2 + y2.
Coordenadas esfericas
Se P e um ponto de coordenadas cartesianas (x, y, z), as suas coordenadas esfericas sao (ρ, θ, φ), onde
ρ e a distancia de P a origem, φ e o angulo em [0, π] definido pelo semi-eixo positivo OZ com o segmento
orientado OP e θ coincide com a coordenada cilındrica θ, isto e, e o angulo formado pelo semi-eixo positivo
OX e pelo segmento orientado OP ′, onde P ′ = (x, y, 0) e a projecao ortogonal de P sobre o plano XOY .
E claro que ρ =√x2 + y2 + z2. Por forma a representar as coordenadas cartesianas em termos das
coordenadas esfericas, notemos que
cosφ =z
ρe sinφ =
r
ρ,
sendo r a coordenada cilındrica r =√x2 + y2. Assim, z = ρ cosφ e, tendo em consideracao que x = r cos θ
e y = r sin θ, vem
x = ρ sinφ cos θ, y = ρ sinφ sin θ, z = ρ cosφ, (15)
onde ρ ≥ 0, 0 ≤ θ < 2π e 0 ≤ φ ≤ π.
Exemplos. Determine:
(a) as coordenadas esfericas do ponto (x, y, z) = (1,−1, 1);
(b) as coordenadas cartesianas de (ρ, θ, φ) = (1,3π
2,π
4).
Observemos que φ e θ funcionam com a latitude e longitude em coordenadas geograficas. As coorde-
nadas esfericas sao uteis no caso em que ha simetria relativamente a origem. Notemos que:
(i) para c > 0, a superfıcie esferica centrada na origem e de raio c e representada, em coordenadas
esfericas, simplesmente por ρ = c;
(ii) para c ∈ [0, 2π], a equacao θ = c representa um semi-plano vertical que faz um angulo de c radianos
com o semi-plano definido por y = 0 e x ≥ 0;
(iii) a equacao φ = c, representa parte de uma superfıcie conica que fica acima ou abaixo do plano XOY ,
consoante c ∈ (0, π/2) ou c ∈ (π/2, π), respetivamente.
Verificamos, de (15), que o Jacobiano da mudanca de variavel para coordenadas esfericas e
∂(x, y, z)
∂(ρ, θ, φ)=
∣∣∣∣∣∣∣sinφ cos θ −ρ sinφ sin θ ρ cosφ cos θ
sinφ sin θ ρ sinφ cos θ ρ cosφ sin θ
cosφ 0 −ρ sinφ
∣∣∣∣∣∣∣ = −ρ2 sinφ.
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Corolario. Se f for uma funcao contınua numa regiao W de R3 definida em coordenadas cartesianas e
W ∗ for a correspondente regiao em coordenadas esfericas, entao∫∫∫W
f(x, y, z) dx dy dz =
∫∫∫W∗
f(ρ sinφ cos θ, ρ sinφ sin θ, ρ cosφ) ρ2 sinφ dρ dθ dφ.
Exemplo. Determine a massa do solido que ocupa a regiao
E = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y2 + z2 ≤ 9, z ≥ 0, z2 ≥ x2 + y2}
sabendo que a densidade e ρ(x, y, z) = (x2 + y2 + z2)−1/2.
3 Integral curvilıneo
3.1 Generalidades sobre curvas
E intuitivo pensar que uma curva no plano ou no espaco pode ser considerada como a trajetoria de
uma partıcula movel que se desloca no plano ou no espaco durante um intervalo de tempo. Uma forma de
estudar tais trajetorias consiste em determinar as coordenadas de um ponto da curva em funcao de um
so parametro, como por exemplo, o tempo t. Podemos descrever tais curvas atraves de funcoes de R em
Rn, com n = 2 ou n = 3, consoante se tratem de curvas no plano ou no espaco. Esta descricao e chamada
forma parametrica da curva.
Iremos apresentar os conceitos para curvas no espaco. As respetivas nocoes para curvas no plano sao
analogas, com obvias e devidas adaptacoes.
Seja I um intervalo em R e seja
~r : I −→ R3
t 7−→ ~r(t) = r1(t)ı+ r2(t)+ r3(t)k(16)
uma funcao. Dizemos que ~r e contınua, diferenciavel ou de classe C1, se cada uma das funcoes componentes
ri : I → R, i = 1, 2, 3, for contınua, diferenciavel ou de classe C1, respetivamente. Supondo que ~r e
contınua e considerando fixado em R3 um referencial ortonormado OXY Z, quando t percorre o intervalo
I, a extremidade do vetor ~r(t), aplicado na origem, descreve uma curva, C, no espaco. Para simplificar a
linguagem, muitas vezes confundiremos o ponto P da curva tal que−−→OP = ~r(t) com o vetor ~r(t) aplicado
na origem e do qual P e a extremidade.
As equacoes
x = r1(t), y = r2(t), z = r3(t), t ∈ I,
dizem-se equacoes parametricas de C e ~r diz-se uma parametrizacao de C.
Se ~r for de classe C1, existe e e contınua
~r ′(t) = r′1(t)ı+ r′2(t)+ r′3(t)k, t ∈ I,
e teremos ‖~r ′(t)‖ =√
(r′1(t))2 + (r′2(t)2) + (r′3(t))2, t ∈ I. Neste caso diz-se que a curva C e de classe C1
ou suave. Se ~r ′(t) 6= ~0 para todo o t ∈ I, C diz-se regular.
No caso em que I = [a, b], diz-se que ~r(a) e o ponto inicial e ~r(b) o ponto final da curva. Se o ponto
inicial e o ponto final da curva coincidirem diz-se que a curva e fechada. A curva diz-se simples se nao
Analise Matematica III 2013/2014
19
se intersetar a si mesma exceto eventualmente nas extremidades, mais precisamente, se ~r for injectiva em
]a, b[, o que significa que ~r(t1) 6= ~r(t2) para a < t1 < t2 < b.
Uma funcao contınua
~s : [c, d] −→ R3
u 7−→ ~s(u) = s1(u)ı+ s2(u)+ s3(u)k
e tambem uma parametrizacao da curva C se existir uma funcao bijetiva e contınua
ϕ : [a, b]→ [c, d] tal que ϕ(a) = c, ϕ(b) = d e ~r = ~s ◦ ϕ.
Notemos que neste curso uma curva no espaco nao sera vista meramente como um conjunto de pontos.
Uma curva tem um sentido especıfico, a que chamamos orientacao da curva, um ponto inicial e um ponto
final.
Exemplos.
(a) Seja C a curva plana de equacoes parametricas
x = cos t, y = sin t, t ∈ [0, 2π].
Interpretando t como a coordenada θ das coordenadas polares, verificamos que quando t aumenta de
0 a 2π, o ponto (x, y) = (cos t, sin t) move-se ao longo da circunferencia de equacao x2 + y2 = 1 no
sentido anti-horario partindo do ponto (1, 0). Trata-se de uma curva fechada simples.
As equacoes parametricas
x = cos(2t), y = sin(2t), t ∈ [0, π],
sao tambem equacoes parametricas de C, atendendo a que a funcao ϕ : [0, 2π] → [0, π] definida por
ϕ(t) = t/2 e bijetiva, contınua e verifica ϕ(0) = 0 e ϕ(2π) = π.
A curva de equacoes parametricas
x = cos t, y = sin t, t ∈ [0, 4π],
nao e C, porque neste caso a circunferencia x2 + y2 = 1 e percorrida duas vezes.
Tambem a curva de equacoes parametricas
x = sin t, y = cos t, t ∈ [0, 2π],
nao e C, porque esta curva tem ponto inicial (0, 1) e o ponto inicial de C e (1, 0).
(b) A reta, em R3, que passa pelo ponto (x0, y0, z0) e e paralela ao vetor nao nulo ~v = v1 ı+ v2+ v3k tem
equacoes parametricas
x = x0 + tv1, y = y0 + tv2, z = z0 + tv3, t ∈ R.
(c) Sendo A = (a1, a2, a3) e B = (b1, b2, b3) dois pontos distintos em R3, uma parametrizacao do segmento
de reta de A para B e dada por
~r(t) = (a1 + t(b1 − a1))ı+ (a2 + t(b2 − a2))+ (a3 + t(b3 − a3))k, t ∈ [0, 1].
(d) Seja f : [a, b] → R uma funcao contınua. O grafico de f e uma curva plana de equacao cartesiana
y = f(x), x ∈ [a, b], que podemos representar atraves das equacoes parametricas
x = t, y = f(t), t ∈ [a, b].
Analise Matematica III 2013/2014
20
3.2 Integral curvilıneo de funcoes escalares
Seja C uma curva no espaco, suave e regular, parametrizada por
~r(t) = x(t)ı+ y(t)+ z(t)k, t ∈ [a, b], (17)
e seja f uma funcao real de tres variaveis reais cujo domınio inclui a curva C. Usando somas semelhantes
as somas de Riemann e possıvel definir o integral curvilıneo de f sobre C. Prova-se que, se f for contınua
entao e integravel e o integral pode ser calculado pela formula que a seguir se indica, que tomaremos como
definicao.
Definicao. Se f : D ⊂ R3 → R e uma funcao contınua cujo domınio contem a curva C, entao o integral
curvilıneo de f sobre C e dado por∫C
f(x, y, z) ds =
∫ b
a
f(~r(t)) ‖~r ′(t)‖ dt =
∫ b
a
f(x(t), y(t), z(t))
√(x′(t))
2+ (y′(t))
2+ (z′(t))
2dt.
Observacoes.
(i) E possıvel provar que o valor do integral curvilıneo nao depende da parametrizacao da curva que se
considere.
(ii) Se f(x, y, z) = 1, entao
L =
∫C
ds =
∫ b
a
√(x′(t))
2+ (y′(t))
2+ (z′(t))
2dt =
∫ b
a
‖~r ′(t)‖ dt
representa o comprimento da curva C.
(iii) Com a adaptacao natural, o que foi dito anteriormente tambem se verifica para curvas planas.
Exemplo. Calcule
∫C
x sin z ds, onde C e a helice cilındrica de equacoes parametricas
x = cos t, y = sin t, z = t, t ∈ [0, 3π].
Suponhamos agora que C e uma curva seccionalmente de classe C1 e regular, ou seja, C consiste na
justaposicao de um numero finito de curvas de classe C1 e regulares C1, C2, . . . , Cn, onde o ponto inicial
de Ci+1 e o ponto final de Ci para i = 1, · · ·n− 1. Nestas condicoes usamos a notacao C = C1 + · · ·+Cn
e definimos o integral curvilıneo de f ao longo de C como a soma dos integrais curvilıneos de f ao longo
de cada uma das curvas Ci: ∫C
f(x, y, z) ds =
n∑i=1
∫Ci
f(x, y, z) ds.
Exemplo. Calcule
∫C
x ds, onde C = C1 +C2, sendo C1 o arco da parabola y = x2 de (0, 0) a (1, 1) e C2
o segmento de reta de (1, 1) para (0, 0).
Analise Matematica III 2013/2014
21
Observacao. Tal como no caso dos integrais simples, podemos interpretar o integral curvilıneo de uma
funcao positiva como uma area. De facto, se f(x, y) ≥ 0 entao∫Cf(x, y) ds representa a area da superfıcie
que se eleva desde a base descrita pela curva C e cuja altura no ponto (x, y) e f(x, y). Tanto no caso de
curvas planas como curvas espaciais, simples, o integral curvilıneo pode ser interpretado como a massa de
um filamento que ocupa a posicao da curva e que tenha densidade dada por f .
Vamos verificar em seguida que o integral curvilıneo de uma funcao escalar nao depende da orientacao
da curva.
Dada uma curva C, designa-se por −C a curva constituıda pelos mesmos pontos que C mas percorrida
em sentido contrario.
Proposicao. Seja C uma curva de classe C1 e regular e seja f uma funcao real contınua cujo domınio
contem a curva C. Entao ∫−C
f(x, y, z) ds =
∫C
f(x, y, z) ds.
Demonstracao. Se ~r dada por
~r(t) = x(t)ı+ y(t)+ z(t)k, t ∈ [a, b], (18)
for uma parametrizacao de C, entao
~s(u) = ~r(a+ b− u), t ∈ [a, b], (19)
e uma parametrizacao de −C. Temos∫−C
f(x, y, z) ds =
∫ b
a
f(~s(u)) ‖~s ′(u)‖ du =
∫ b
a
f(~r(a+ b− u)) ‖ − ~r ′(a+ b− u)‖ du
e, efetuando a mudanca de variavel t = a+ b− u,∫−C
f(x, y, z) ds =
∫ a
b
f(~r(t)) ‖~r ′(t)‖ − dt =
∫ b
a
f(~r(t)) ‖~r ′(t)‖ dt =
∫C
f(x, y, z) ds.
3.3 Integral curvilıneo de campos vetoriais
Um campo vetorial (ou campo de vetores) em R2 e uma funcao ~F : D ⊂ R2 → R2, que a cada ponto
(x, y) de D faz corresponder um vetor de R2
~F (x, y) = M(x, y)ı+N(x, y),
sendo as funcoes (reais de duas variaveis reais) M e N designadas por funcoes componentes de ~F .
Um campo vetorial (ou campo de vetores) em R3 e uma funcao ~F : E ⊂ R3 → R3, que a cada ponto
(x, y, z) de E faz corresponder um vetor de R3
~F (x, y, z) = M(x, y, z)ı+N(x, y, z)+ P (x, y, z)k,
sendo as funcoes (reais de tres variaveis reais) M , N e P designadas por funcoes componentes de ~F .
Analise Matematica III 2013/2014
22
Diz-se que um campo de vetores e contınuo se as suas funcoes componentes forem contınuas e diz-se
de classe C1 se as suas funcoes componentes forem de classe C1.
Existem inumeras situacoes da Fısica que envolvem o estudo de campos de vetores. Por exemplo,
quando um fluido se desloca numa corrente, a funcao que a cada partıcula do fluido associa o seu vetor
velocidade, e um campo de vetores, dito campo de velocidades.
O exemplo seguinte envolve nocoes estudadas em Analise Matematica II. Seja f uma funcao real de duas
(respetivamente tres) variaveis reais. A aplicacao ∇f que a cada ponto (x, y) (respetivamente (x, y, z))
do domınio de f faz corresponder o vetor ∇f(x, y) = fx(x, y)ı + fy(x, y) (respetivamente ∇f(x, y, z) =
fx(x, y, z)ı + fy(x, y, z) + fz(x, y, z)k) e um campo de vetores em R2 (respetivamente R3) a que se da o
nome de campo de vetores gradiente.
O campo de vetores gradiente esta na origem da nocao de campo de vetores conservativo. Um campo
de vetores ~F (em R2 ou em R3) diz-se conservativo se existir uma funcao real f tal que
~F = ∇f. (20)
Toda a funcao f que verifica (20) diz-se um potencial para ~F .
Exemplo. O campo de vetores definido em R2 por ~F (x, y) = 2xı+2y, e um campo vetorial conservativo.
Seja C uma curva de R3, de classe C1 e regular, que admite uma parametrizacao ~r dada por
~r(t) = x(t)ı+ y(t)+ z(t)k, t ∈ [a, b], (21)
e seja um campo vetorial contınuo cujo domınio E contem a curva C.
Definicao. O integral curvilıneo de ~F ao longo de C e dado por∫C
~F · d~r =
∫ b
a
~F (~r(t)) · ~r ′(t) dt.
Aparentemente esta definicao de integral curvilıneo depende nao apenas do campo de vetores ~F mas
tambem da parametrizacao considerada para a curva; pode, no entanto, provar-se que este nao depende
da parametrizacao considerada.
Se o campo vetorial ~F for dado por
~F : E ⊂ R3 → R3
(x, y, z) 7→ M(x, y, z)ı+N(x, y, z)+ P (x, y, z)k
entao ∫C
~F · d~r =
∫ b
a
~F (~r(t)) · ~r ′(t) dt
=
∫ b
a
[M(x(t), y(t), z(t)
)x′(t) +N
(x(t), y(t), z(t)
)y′(t) + P
(x(t), y(t), z(t)
)z′(t)
]dt.
Por isso e tambem comum designar-se o integral curvilıneo de ~F ao longo de C por∫C
~F · d~r =
∫C
M dx+N dy + P dz.
Analise Matematica III 2013/2014
23
Exemplos.
(a) Calcule
∫C
~F ·d~r, onde ~F (x, y, z) = (x+y)ı+y2+(x2+z)k e C e o segmento de reta de A = (−1, 0, 0)
para B = (2, 1, 1).
(b) Calcule
∫C
cos z dx+ ex dy + ey dz, onde C e a curva definida por
x = 1, y = t, z = et, t ∈ [0, 2].
Veremos agora a interpretacao fısica do integral curvilıneo de um campo de vetores como o trabalho de
um campo de forcas. Seja ~F uma forca constante. O trabalho realizado por ~F ao deslocar uma partıcula
de um ponto P para um ponto Q segundo uma trajetoria retilınea e W = ~F ·−−→PQ. Em geral, podendo a
forca nao ser constante, tem-se o seguinte:
Definicao. O trabalho realizado pelo campo de forcas contınuo ~F para deslocar uma partıcula ao longo
da curva C e dado pelo integral curvilıneo de ~F ao longo de C,
W =
∫C
~F · d~r.
Exemplo. Calcule o trabalho realizado pelo campo de forcas
~F (x, y, z) = −xı− y+ 2k
sobre uma partıcula que se move ao longo de uma helice dada por
~r(t) = cos tı+ sin t+ tk, t ∈ [0, 3π].
Vamos verificar em seguida que o integral curvilıneo de um campo vetorial depende do sentido em que
a curva e percorrida, contrariamente ao caso do integral curvilıneo de uma funcao escalar.
Proposicao. Seja C uma curva de classe C1 e regular e seja ~F um campo vetorial contınuo numa regiao
de R3 que contem C. Entao ∫−C
~F · d~r = −∫C
~F · d~r.
Demonstracao. Como vimos anteriormente, se
~r(t) = x(t)ı+ y(t)+ z(t)k, t ∈ [a, b], (22)
for uma parametrizacao de C, entao
~s(u) = ~r(a+ b− u), t ∈ [a, b], (23)
e uma parametrizacao de −C. Temos∫−C
~F · d~r =
∫ b
a
~F (~s(u)) · ~s ′(u) du =
∫ b
a
−~F (~r(a+ b− u)) · ~r ′(a+ b− u) du
Analise Matematica III 2013/2014
24
e, efetuando a mudanca de variavel t = a+ b− u,∫−C
~F · d~r = −∫ a
b
~F (~r(t)) · ~r ′(t) − dt = −∫ b
a
~F (~r(t)) · ~r ′(t) dt = −∫C
~F · d~r.
Podemos estender a definicao de integral curvilıneo de um campo vetorial a curvas seccionalmente de
classe C1 e regulares. Se C = C1 + C2 + · · · + Cn, com C1, C2, · · · , Cn, curvas de classe C1 e regulares,
onde o ponto inicial de Ci+1 e o ponto terminal de Ci, i = 1, · · · , n− 1, e ~F e um campo vetorial contınuo
numa regiao de R3 que contem C, entao define-se∫C
~F · d~r =
n∑i=1
∫Ci
~F · d~r.
Exemplo. Calcule
∫C
x dx + y dy, sendo C a curva fechada constituıda pelo arco da circunferencia
(x − 1)2 + y2 = 1 de O = (0, 0) para A = (1, 1), no sentido horario, seguido dos segmentos de reta de A
para B = (2, 0) e de B para O.
3.4 Campos vetoriais conservativos e independencia do caminho
Consideremos de seguida um resultado util para o calculo de certos integrais curvilıneos. Recordemos
que um campo vetorial diz-se conservativo se for um campo de vetores gradiente. Em particular, no caso
de um campo vetorial em R3, ~F : E ⊂ R3 → R3 diz-se conservativo se existir uma funcao real de tres
variaveis reais f tal que ~F = ∇f , isto e,
~F (x, y, z) =∂f
∂x(x, y, z)ı+
∂f
∂y(x, y, z)+
∂f
∂z(x, y, z)k, (x, y, z) ∈ E.
O teorema fundamental do calculo, dado em Analise Matematica I, diz-nos que, se g e G forem funcoes
reais contınuas definidas num intervalo [a, b], em que g e derivavel em (a, b) com g′ = G, entao∫ b
a
G(x) dx = g(b)− g(a).
Assim o valor do integral de G em [a, b] depende somente do valor de g nas extremidades do intervalo
[a, b]. Este resultado e generalizado para integrais curvilıneos, de acordo com o seguinte teorema.
Teorema fundamental do calculo para integrais curvilıneos. Seja ~F um campo vetorial (em R2 ou
em R3) contınuo e conservativo definido num aberto E. Seja C uma curva contida em E, seccionalmente
de classe C1 e regular, que tem ponto inicial A e ponto final B. Se f for um potencial para ~F , isto e, se~F = ∇f , entao ∫
C
~F · d~r = f(B)− f(A).
Demonstracao. Suponhamos que ~F e um campo vetorial em R3, nas condicoes do enunciado.
Facamos primeiro a demonstracao para o caso de C ser uma curva de classe C1 e regular. Seja
~r(t) = x(t)ı+ y(t)+ z(t)k, t ∈ [a, b],
Analise Matematica III 2013/2014
25
uma parametrizacao de C; funcao de classe C1 e tal que ~r ′(t) 6= ~0, t ∈ [a, b]. Temos∫C
~F · d~r =
∫ b
a
~F (~r(t)) · ~r ′(t) dt =
∫ b
a
∇f(~r(t)) · ~r ′(t) dt
=
∫ b
a
(∂f
∂x(~r(t))
dx
dt(t) +
∂f
∂y(~r(t))
dy
dt(t) +
∂f
∂z(~r(t))
dz
dt(t)
)dt
=
∫ b
a
d
dt
[f(~r(t))
]dt = f (~r(b))− f(~r(a)) = f(B)− f(A).
Usamos a regra da cadeia (consequencia de f ser de classe C1 e, portanto, diferenciavel) e o teorema
fundamental do calculo para integrais simples.
Suponhamos agora que C = C1 + C2 + · · · + Cn, onde cada Ci e uma curva de classe C1 e regular
com ponto inicial Ai e ponto final Bi, para i = 1, · · · , n. Entao Ai+1 = Bi, i = 1, · · · , n − 1, A1 = ~r(a),
Bn = ~r(b) e∫C
~F · d~r =
n∑j=1
∫Cj
~F · d~r =
n∑j=1
f(Bi)− f(Ai)
=(f(A2)− f(A1)
)+(f(A3)− f(A2)
)+ · · ·+
(f(An)− f(An−1)
)+(f(Bn)− f(An)
)= f(Bn)− f(A1) = f(B)− f(A).
O teorema anterior estabelece uma forma simples de calcular o integral curvilıneo ao longo de uma
curva seccionalmente de classe C1 e regular de um campo conservativo contınuo a partir do conhecimento
de uma funcao potencial.
Exemplo. Calcule
∫C
y dx+ x dy, onde C e a curva de equacoes parametricas
x = et cos(2πt), y = cos(πt), t ∈ [0, 1].
Observacao. Sejam C1 e C2 curvas seccionalmente de classe C1 e regulares que unem os mesmos pontos
A e B. Em geral, apesar das duas curvas terem o mesmo ponto inicial e o mesmo ponto final, os integrais
curvilıneos de um mesmo campo de vetores ~F ao londo de C1 e de C2 tem valores diferentes:∫C1
~F · d~r 6=∫C2
~F · d~r.
O teorema anterior diz-nos que o integral curvilıneo de um campo vetorial conservativo contınuo e inde-
pendente da curva (ou do caminho), isto e,∫C1
~F · d~r =
∫C2
~F · d~r (24)
para quaisquer curvas seccionalmente de classe C1 e regulares C1 e C2 que tenham o mesmo ponto inicial
e o mesmo ponto final.
Usualmente, quando C e uma curva fechada o integral curvilıneo de um campo de vetores ~F ao longo
de C e representado por ∮C
~F · d~r.
Analise Matematica III 2013/2014
26
O teorema seguinte da-nos uma condicao necessaria e suficiente para que o integral curvilıneo de um
campo de vetores contınuo seja independente do caminho.
Teorema da independencia do caminho. Seja ~F um campo de vetores (em R2 ou em R3) contınuo
definido num aberto E. O integral curvilıneo de ~F e independente do caminho em E se e so se∮C
~F · d~r = 0
para toda a curva C, fechada, seccionalmente de classe C1 e regular contida em E.
Demonstracao. Suponhamos que
∫C
~F ·d~r e independente do caminho em E e seja C uma curva fechada,
seccionalmente de classe C1 e regular, contida em E. E possıvel representar C na forma C = C1 + C2,
sendo C1 uma curva que vai de um ponto A para um ponto B e C2 uma curva que vai de B para A. Entao∮C
~F · d~r =
∫C1
~F · d~r +
∫C2
~F · d~r =
∫C1
~F · d~r −∫−C2
~F · d~r = 0,
onde na ultima igualdade se usou o facto de C1 e −C2 serem duas curvas que vao de A para B e a hipotese
de que o integral curvilıneo e independente do caminho.
Suponhamos agora que se tem
∮C
~F · d~r = 0 para toda a curva fechada, seccionalmente de classe
C1 e regular, contida em E. Sejam A e B dois quaisquer pontos em E e sejam C1 e C2 duas curvas
seccionalmente de classe C1 e regulares, contidas em E, com ponto inicial A e ponto final B. Consideremos
a curva C consistindo de C1 seguida de −C2, isto e, C = C1 + (−C2). A curva C e fechada, pelo que
0 =
∮C
~F · d~r =
∫C1
~F · d~r +
∫−C2
~F · d~r =
∫C1
~F · d~r −∫C2
~F · d~r.
Portanto, ∫C1
~F · d~r =
∫C2
~F · d~r.
Como vimos o integral curvilıneo de um campo de vetores conservativo ~F e independente do caminho e,
pelo teorema anterior, conluımos que
∮C
~F ·d~r = 0, para toda a curva fechada C, seccionalmente de classe
C1 e regular, contida no domınio de ~F . A interpretacao fısica para este facto e que o trabalho realizado
por qualquer campo de forcas conservativo (tal como o campo gravitacional ou o campo electrico) para
mover um objeto em redor de um caminho fechado e 0.
Na proposicao seguinte consideramos um campo de vetores ~F cujo domınio E, alem de ser um aberto,
e conexo, o que e equivalente a dizer que quaisquer dois pontos de E podem ser unidos por uma curva em
E.
Proposicao 1. Seja ~F um campo de vetores (em R2 ou em R3) contınuo, definido num conjunto aberto
e conexo E, tal que o integral curvilıneo de ~F e independente do caminho em E. Entao ~F e um campo
vetorial conservativo, ou seja, ~F = ∇f para alguma funcao f .
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27
Demonstracao. Facamos a demonstracao para o caso em que ~F e um campo de vetores em R2. Seja
~F (x, y) = M(x, y)ı+N(x, y), (x, y) ∈ E.
Fixemos um ponto A = (a1, a2) em E. Dado (x, y) ∈ E, pelo facto de E ser conexo, existe uma curva C
contida em E com ponto inicial A e ponto final (x, y). Definimos
f(x, y) =
∫C
~F · d~r.
Notemos que, dada a hipotese do integral curvilıneo de ~F ser independente do caminho em E, a funcao
f esta bem definida e f(x, y) pode ser calculado usando qualquer curva em E de (a1, a2) para (x, y).
Atendendo a que E e aberto, existe uma bola centrada em (x, y) contida em E. Escolhamos um ponto
(x1, y) nessa bola com x1 < x e consideremos a curva C = C1 + C2, onde C1 e o segmento de reta de A
para (x1, y) e C2 e o segmento de reta de (x1, y) para (x, y). Entao
f(x, y) =
∫C
~F · d~r =
∫C1
~F · d~r +
∫C2
~F · d~r =
∫C1
~F · d~r +
∫ x
x1
M(t, y) dt, (25)
onde a ultima igualdade resulta do facto de C2 poder ser parametrizada por
~r2(t) = tı+ y, t ∈ [x1, x].
Tendo em conta que a primeira parcela no segundo membro de (25) nao depende de x, resulta
∂f
∂x(x, y) =
∂
∂x
∫C1
~F · d~r +∂
∂x
∫ x
x1
M(t, y) dt = M(x, y).
Escolhendo agora um ponto (x, y1) ∈ E com y1 < y e tomando C = C3 + C4, onde C3 e o segmento de
reta de A para (x, y1) e C4 e o segmento de reta de (x, y1) para (x, y), temos
f(x, y) =
∫C
~F · d~r =
∫C3
~F · d~r +
∫C4
~F · d~r =
∫C3
~F · d~r +
∫ y
y1
N(x, t) dt,
pelo que∂f
∂y(x, y) =
∂
∂y
∫C3
~F · d~r +∂
∂y
∫ y
y1
N(x, t) dt = N(x, y).
Assim,
~F (x, y) = M(x, y)ı+N(x, y) =∂f
∂x(x, y)ı+
∂f
∂y(x, y) = ∇f(x, y), (x, y) ∈ E,
e, portanto, ~F e conservativo.
Uma questao permanece: como saber se um dado campo vetorial e ou nao conservativo?
Suponhamos que ~F e um campo vetorial conservativo num aberto D de R2, dado por
~F (x, y) = M(x, y)ı+N(x, y), (x, y) ∈ D,
e que M e N tem derivadas parciais de primeira ordem contınuas em D. Sendo ~F conservativo, ~F = ∇f ,
ou seja
M(x, y) =∂f
∂x(x, y) e N(x, y) =
∂f
∂y(x, y), (x, y) ∈ D.
Segue-se, por aplicacao do teorema de Clairaut,
∂M
∂y(x, y) =
∂2f
∂x∂y(x, y) =
∂2f
∂y∂x(x, y) =
∂N
∂x(x, y), (x, y) ∈ D.
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28
Provamos assim a seguinte proposicao.
Proposicao 2. Seja ~F (x, y) = M(x, y)ı+N(x, y), um campo vetorial de classe C1 num aberto D ⊂ R2.
Se ~F for conservativo entao
∂M
∂y(x, y) =
∂N
∂x(x, y) para todo o (x, y) ∈ D. (26)
O resultado anterior da-nos um criterio que nos permite concluir que dado campo de vetores nao e
conservativo. Um resultado recıproco do exposto na Proposicao 2, somente valido para determinado tipo
de regioes, sera consequencia do Teorema de Green que apresentamos na seccao seguinte. Em geral a
igualdade em (26) nao e suficiente para que o campo vetorial seja conservativo, ou seja, pode acontecer
que (26) seja satisfeito sem que ~F seja conservativo, como e o caso do campo de vetores definido em
R2 \ {(0, 0)} por~F (x, y) = − y
x2 + y2ı+
x
x2 + y2. (27)
Exemplos.
(a) Averigue se o campo de vetores ~F (x, y) = ey ı+ (2− x) e conservativo.
(b) Mostre que o campo de vetores definido em (27) satisfaz (26) e que, no entanto, nao e conservativo.
Sugestao: Calcule o integral curvilıneo de ~F ao longo da circunferencia x2 + y2 = 1.
3.5 Teorema de Green
O Teorema de Green relaciona o integral curvilıneo de um campo de vetores em R2 ao longo de curvas
em R2 e integrais duplos sobre regioes em R2. Tais curvas e regioes do plano nao podem porem ser
quaisquer.
Recordemos que uma curva C diz-se simples se nao se intersetar a si mesma, com eventual excecao
das extremidades. Isto e, se ~r : [a, b]→ R2 for uma parametrizacao de uma curva simples C, ~r(t1) 6= ~r(t2)
para a < t1 < t2 < b.
Seja C uma curva do plano, simples e fechada. Seja D a regiao do plano delimitada pela curva C,
isto e, D e a regiao do plano constituıda pelos pontos de C e pelos pontos que C circunda. Diz-se que
a curva tem orientacao positiva se, para um observador que se desloque ao longo de C, a regiao D se
apresente sempre a sua esquerda. Assim a orientacao positiva coincide, neste caso, com a orientacao no
sentido anti-horario.
Teorema de Green. Seja C uma curva simples, fechada, seccionalmente de classe C1 e regular, orientada
positivamente. Seja D a regiao do plano delimitada pela curva C. Seja
~F (x, y) = M(x, y)ı+N(x, y)
um campo de vetores em R2 de classe C1 num aberto contendo D. Entao∮C
~F · d~r ≡∮C
M dx+N dy =
∫∫D
(∂N
∂x− ∂M
∂y
)dA.
Analise Matematica III 2013/2014
29
Demonstracao. Vamos apresentar a demonstracao para o caso em que a regiao D e simples, isto e,
simultaneamente verticalmente simples e horizontalmente simples. O resultado pretendido ficara provado
se verificarmos que ∮C
M dx = −∫∫D
∂M
∂ydA e
∮C
N dy =
∫∫D
∂N
∂xdA. (28)
Para provarmos a primeira igualdade vamos tirar partido do facto da regiao D ser verticalmente simples
e, portanto, poder ser representada na forma
D = {(x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, g1(x) ≤ y ≤ g2(x)},
onde g1, g2 : [a, b]→ R sao funcoes contınuas. Calculando o integral duplo, temos∫∫D
∂M
∂ydA =
∫ b
a
∫ g2(x)
g1(x)
∂M
∂y(x, y) dy dx =
∫ b
a
M(x, g2(x))−M(x, g1(x)) dx. (29)
Para calcular o integral curvilıneo, decompomos a curva C como a justaposicao de quatro curvas,
C = C1 + C2 + C3 + C4,
tais que: C1 e a curva parametrizada por
x = t, y = g1(t), t ∈ [a, b],
C2 e parametrizada por
x = b, y = t, t ∈ [g1(b), g2(b)],
−C3 e parametrizada por
x = t, y = g2(t), t ∈ [a, b],
e −C4 e parametrizada por
x = a, y = t, t ∈ [g1(a), g2(a)].
Temos sucessivamente,∮C
M dx =
∫C1
M(x, y) dx+
∫C2
M(x, y) dx−∫−C3
M(x, y) dx−∫−C4
M(x, y) dx
=
∫ b
a
M(t, g1(t)) dt−∫ b
a
M(t, g2(t)) dt =
∫ b
a
M(t, g1(t))−M(t, g2(t)) dt, (30)
sendo a penultima igualdade justificada pelo facto dos integrais curvilıneos ao longo de C2 e de −C3 serem
ambos nulos, ja que para as respetivas parametrizacoes se verifica x′(t) = 0. De (29) e (30), concluımos
entao que ∮C
M dx = −∫∫D
∂M
∂ydA.
A segunda igualdade em (28) pode ser provada de forma analoga, representando D como uma regiao
horizontalmente simples.
Exemplos.
(a) Calcule
∮C
y3 dx + (x3 + 3xy2) dy, onde C e a curva de (0, 0) para (1, 1) ao longo de y = x3 seguida
da curva de (1, 1) para (0, 0) ao longo de x = y.
Analise Matematica III 2013/2014
30
(b) Calcule o trabalho realizado pelo campo de forcas ~F (x, y) = xı + xy ao deslocar uma partıcula do
ponto (0, 0) ate ao mesmo ponto, ao longo da fronteira do retangulo R = [0, 2] × [0, 1], orientada no
sentido horario.
Nos exemplos anteriores torna-se mais facil calcular o integral duplo que o integral curvilıneo (tente cal-
cular o integral curvilıneo diretamente!...). Noutros casos pode ser mais facil calcular o integral curvilıneo,
casos esses em que devemos usar o Teorema de Green na ordem inversa. Por exemplo, se soubermos que
M(x, y) = 0 = N(x, y) na curva C, entao∫∫D
(∂N
∂x− ∂M
∂y
)dx dy =
∫C
M dx+N dy = 0
independentemente dos valores que M e N tomam em D.
Outra aplicacao do Teorema de Green e ao calculo de areas. Sabemos que a area de uma regiao D e∫∫D
1 dA, devemos assim escolher M e N de modo que
∂N
∂x− ∂M
∂y= 1.
Existem varias possibilidades, nomeadamente,
M(x, y) = 0 e N(x, y) = x, ou M(x, y) = −y e N(x, y) = 0, ou M(x, y) = −y2
e N(x, y) =x
2,
que dao origem as seguintes formulas para a area de D.
Aplicacao do integral curvılineo ao calculo de uma area. Se D e uma regiao do plano limitada
por uma curva fechada simples C, seccionalmente de classe C1 e regular, orientada positivamente, entao
a area de D e dada por
A(D) =
∮C
x dy = −∮C
y dx =1
2
∮C
x dy − y dx.
Exemplo. Use um integral curvilıneo para determinar a area da elipsex2
a2+y2
b2= 1.
Como consequencia do teorema de Green, temos o seguinte resultado, recıproco da Proposicao 2.
Proposicao 3. Seja ~F (x, y) = M(x, y)ı + N(x, y) um campo vetorial definido numa regiao D de
R2, aberta e simplesmente conexa (isto e, conexa e, alem disso, qualquer curva fechada contida em D,
circunda apenas pontos de D). Se ~F for de classe C1 e∂M
∂y=∂N
∂xem D, entao ~F e conservativo.
Demonstracao. Sejam C uma qualquer curva em D, simples, fechada, de classe C1 e regular, com
orientacao positiva; e seja D′ a regiao delimitada por C. Pelo Teorema de Green∮C
~F · d~r =
∮C
M dx+N dy =
∫∫D′
(∂N
∂x− ∂M
∂y
)dx dy = 0,
Analise Matematica III 2013/2014
31
uma vez que∂M
∂y=∂N
∂xem D ⊃ D′. Temos entao que
∫C
~F · d~r = 0, para toda a curva simples, fechada,
seccionalmente de classe C1 e regular em D.
Se considerarmos uma curva fechada que nao seja simples, esta e sempre susceptıvel de ser decomposta
em curvas simples fechadas Ci, i = 1, · · · , n. Uma vez que o integral curvilıneo ao longo de cada uma das
curvas Ci e zero, temos que
∮C
~F · d~r =
n∑i=1
∮Ci
~F · d~r = 0, para toda a curva fechada C em D.
Entao, pelo Teorema da independencia do caminho,
∫C
~F · d~r e independente do caminho em D.
Finalmente a Proposicao 1 garante-nos que o campo de vetores ~F e conservativo.
Para campos vetoriais definidos em todo o R2 (aberto e simplesmente conexo), dos resultados apre-
sentados, obtemos a seguinte caracterizacao.
Corolario. Seja ~F : R2 → R2, com ~F (x, y) = M(x, y)ı+N(x, y), um campo de vetores de classe C1. As
seguintes condicoes sobre ~F sao equivalentes.
(i)
∮C
~F · d~r = 0, para toda a curva C, fechada, seccionalmente de classe C1 e regular.
(ii)
∫C1
~F · d~r =
∫C2
~F · d~r, para quaisquer curvas seccionalmente de classe C1 e regulares, C1 e C2, que
tenham o mesmo ponto inicial e o mesmo ponto final.
(iii) ~F e conservativo; isto e, ~F = ∇f para alguma funcao f : R2 → R.
(iv)∂N
∂x(x, y) =
∂M
∂y(x, y), para todo o (x, y) ∈ R2.
Exemplo. Considere o campo de vetores de R2 definido por ~F (x, y) = (2xy3 + y)ı+ (3x2y2 + x).
(a) Justifique que ~F e conservativo e determine um potencial para ~F .
(b) Calcule
∫C
~F · d~r, onde C e a curva parametrizada por ~r(t) = (sin t+ t)ı+ cos t, t ∈ [0, π].
4 Integral de superfıcie
4.1 Superfıcies parametrizadas
Em termos de superfıcies, ate este momento trabalhamos com superfıcies que sao o grafico de funcoes
reais de duas variaveis reais, como as que sao representadas por uma equacao do tipo z = f(x, y), ou com
superfıcies quadricas. Neste ultimo caso, nem sempre e globalmente possıvel escrever uma das variaveis
em funcao das restantes. O mesmo acontece com outras superfıcies, como por exemplo o torus, que nao
sao o grafico de uma funcao real de duas variaveis reais.
Existe um metodo para descrever uma superfıcie, e de um modo explıcito, que e o uso de equacoes pa-
rametricas ou vetoriais. De modo semelhante a descricao de curvas espaciais por uma funcao vetorial ~r(t),
de um unico parametro t, podemos descrever uma superfıcie por uma funcao vetorial de dois parametros
u e v.
Analise Matematica III 2013/2014
32
Seja ~r : D ⊂ R2 → R3 uma funcao vetorial, definida e contınua num conjunto conexo e aberto de R2
~r(u, v) = x(u, v)ı+ y(u, v)+ z(u, v)k, (u, v) ∈ D.
Designa-se por superfıcie o conjunto dos pontos de R3 que constituem o contradomınio de ~r, isto e, os
pontos (x, y, z) ∈ R3 tais que
x = x(u, v), y = y(u, v), z = z(u, v), (u, v) ∈ D. (31)
As equacoes (31) sao as chamadas equacoes parametricas da superfıcie. Se a partir de (31) procedermos
a eliminacao dos parametros u e v, a equacao em x, y e z assim obtida designa-se por equacao cartesiana
da superfıcie: F (x, y, z) = 0.
Exemplos.
(a) Seja S a superfıcie parametrizada definida por
~r(u, v) = 3 cosuı+ 3 sinu+ vk, u ∈ [0, 2π], v ∈ [0, 4].
Cada ponto (x, y, z) da superfıcie satisfaz x2 + y2 = 32 e z = v ∈ [0, 4]; assim, S e a porcao do cilindro
elıptico x2 + y2 = 32 compreendida entre os planos z = 0 e z = 4.
(b) Determinemos uma representacao parametrica da superfıcie esferica
x2 + y2 + z2 = a2.
A superfıcie esferica tem uma representacao simples em termos de coordenadas esfericas: ρ = a.
Vamos assim escolher os angulos φ e θ como parametros. Tomando ρ = a nas equacoes para conversao
de coordenadas esfericas para coordenadas cartesianas, obtemos
x = a sinφ cos θ, y = a sinφ sin θ, z = a cosφ
como equacoes parametricas da esfera. A equacao vetorial correspondente e
~r(φ, θ) = a sinφ cos θ ı+ a sinφ sin θ + a cosφ k, φ ∈ [0, π], θ ∈ [0, 2π].
(c) Consideremos o plano que passa pelos pontos P1 = (1, 0, 0), P2 = (0, 2, 0) e P3 = (1, 2, 3). Sendo nao
colineares, existe um unico plano contendo estes pontos, de equacao vetorial
(x, y, z) = (1, 0, 0) + t(−1, 2, 0) + s(0, 2, 3), t, s ∈ R.
De onde se obtem as respetivas equacoes parametricas:x = 1− ty = 2t+ 2s
z = 3s
t, s ∈ R.
Neste caso, a funcao vetorial correspondente e
~r(u, v) = (1− u)ı+ (2u+ 2v)+ 3vk, u, v ∈ R.
(d) Uma superfıcie que seja o grafico de uma funcao f : D ⊂ R2 → R, ou seja, com equacao da forma
z = f(x, y), pode ser representada pelas seguintes equacoes parametricas
x = x, y = y, z = f(x, y), (x, y) ∈ D.
A representacao vetorial correspondente e
~r(u, v) = uı+ v+ f(u, v)k, (u, v) ∈ D.
Analise Matematica III 2013/2014
33
Seja S uma superfıcie parametrizada por
~r(u, v) = x(u, v)ı+ y(u, v)+ z(u, v)k,
definida sobre uma regiao aberta e conexa D, tal que x, y e z tenham derivadas parciais contınuas em D.
As derivadas parciais de ~r em ordem a u e a v sao definidas por
~ru(u, v) =∂x
∂u(u, v)ı+
∂y
∂u(u, v)+
∂z
∂u(u, v)k
e
~rv(u, v) =∂x
∂v(u, v)ı+
∂y
∂v(u, v)+
∂z
∂v(u, v)k.
Se o vetor ~ru×~rv for nao nulo para todo o (u, v) ∈ D, a superfıcie S e dita regular. Informalmente, dizemos
que uma superfıcie e regular se nao apresenta regioes pontiagudas. Esferas, elipsoides, paraboloides sao
exemplos de superfıcies regulares, enquanto o cone nao e uma superfıcie regular. Para uma superfıcie
regular S, o plano tangente a S em P0 = (x(u0, v0) y(u0, v0), z(u0, v0)) e o plano que contem P0 e e
perpendicular ao vetor ~ru(u0, v0)× ~rv(u0, v0).
Exemplo. Determine o plano tangente a superfıcie parametrizada por
~r(u, v) = v cosuı+ v sinu+1
v2k, 0 ≤ u ≤ 2π, v > 0,
no ponto (√22 ,√22 , 1).
4.2 Integral de superfıcie de uma funcao escalar
Seja S uma superfıcie regular parametrizada por
~r(u, v) = x(u, v)ı+ y(u, v)+ z(u, v)k, (u, v) ∈ D.
Definicao. Seja f uma funcao real contınua definida em S. O integral de superfıcie de f sobre S e dado
por ∫∫S
f(x, y, z) dS =
∫∫D
f(~r(u, v)) ‖~ru × ~rv‖ dA. (32)
Observacoes.
(i) Comparemos a formula (32) com a formula obtida para o integral curvilıneo, nomeadamente∫C
f(x, y, z) ds =
∫ b
a
f(~r(t)) ‖~r′(t)‖ dt.
(ii) Se a cada ponto da superfıcie S corresponde um unico ponto em D, entao a area da superfıcie S e
dada por
Area da superfıcie =
∫∫S
1 dS =
∫∫D
‖~ru × ~rv‖ dA.
Analise Matematica III 2013/2014
34
(iii) Consideremos o caso particular em que S e o grafico de uma funcao real de duas variaveis reais.
Suponhamos que S tem equacao z = g(x, y), (x, y) ∈ D, com g, gx e gy contınuas em D. Recordemos
– cf. o exemplo (d) – que uma parametrizacao de S e
~r(x, y) = xı+ y+ g(x, y)k, (x, y) ∈ D.
Tendo-se
~rx(x, y) = ı+ 0+ gx(x, y)k, ~ry(x, y) = 0ı+ + gy(x, y)k,
segue-se
~rx(x, y)× ~ry(x, y) =
∣∣∣∣∣∣∣ı k
1 0 gx(x, y)
0 1 gy(x, y)
∣∣∣∣∣∣∣ = −gx(x, y)ı− gy(x, y)+ k (33)
e, consequentemente, a formula (32) traduz-se em∫∫S
f(x, y, z) dS =
∫∫D
f(x, y, g(x, y))√gx(x, y)2 + gy(x, y)2 + 1 dA.
Se S for uma uniao finita de superfıcies regulares S1, S2, . . . , Sn, que se intersetam somente nas
fronteiras, entao o integral de superfıcie de f sobre S e definido por∫∫S
f(x, y, z) dS =
n∑i=1
∫∫Si
f(x, y, z) dS.
Exemplos.
(a) Calcule o integral de superfıcie
∫∫S
z2 dS, onde S e a superfıcie esferica unitaria x2 + y2 + z2 = 1.
(b) Determine a area de S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 4− x2 − y2, z ≥ 0}.
4.3 Integral de superfıcie de um campo vetorial
Vamos definir integral de superfıcie de campos vetoriais sobre superfıcies ditas orientaveis.
(Nota: um exemplo classico de uma superfıcie que nao e orientavel e a fita de Mobius.)
Vamos ver entao o que e uma superfıcie orientavel. Seja S uma superfıcie limitada que tenha plano
tangente em todos os seus pontos, com eventual excecao dos pontos do bordo, B. Seja (x, y, z) um ponto
em S \B. Existem dois vetores unitarios paralelos a reta normal a S em (x, y, z): n1(x, y, z) e n2(x, y, z) =
−n1(x, y, z).
Se for possıvel definir um campo vetorial contınuo n : S \B → R3, que a cada ponto (x, y, z) de S \Bassocia um vetor unitario n(x, y, z) normal a superfıcie S, a superfıcie S diz-se orientavel. Uma escolha
de n determina uma orientacao de S e, uma vez fixada uma orientacao, S diz-se orientada. Isto significa
que a superfıcie tem 2 lados ou 2 faces e que se escolhe uma delas para face positiva e a outra para face
negativa. A face positiva e aquela na qual um observador com os pes colocados no ponto (x, y, z) fica com
a cabeca a apontar no sentido de n(x, y, z).
Se S for uma superfıcies orientada regular, dada na forma parametrica por ~r(u, v), entao ela pode ser
orientada pelo campo de vetores normais unitarios
n(~r(u, v)
)=
~ru × ~rv‖~ru × ~rv‖
(34)
Analise Matematica III 2013/2014
35
a que chamamos orientacao positiva da superfıcie. A orientacao oposta, determinada por −n, e chamada
orientacao negativa da superfıcie.
Para uma superfıcie dada pelo grafico de uma funcao real de duas variaveis reais g : D ⊂ R2 → R de
classe C1 (isto e, g contınua, com derivadas parciais de primeira ordem contınuas), usamos a formula (33)
para verificar que existem duas orientacoes possıveis, consoante se escolha
n1(x, y, g(x, y)
)=−gx(x, y)ı− gy(x, y)+ k√gx(x, y)2 + gy(x, y)2 + 1
(35)
ou n2 = −n1. A orientacao canonica ou positiva (aquela que e usada quando nada for dito sobre a
orientacao) e a de n1, que corresponde ao vetor normal unitario cuja a componente na direcao k e positiva.
Para uma superfıcie fechada, isto e, uma superfıcie que seja a fronteira de uma regiao solida E, a
convencao e que a orientacao positiva e aquela para a qual os vetores normais apontam para fora de E.
Definicao. Se ~F for um campo vetorial contınuo, definido numa superfıcie orientada S e n e o campo
de vetores normal unitario que determina a orientacao de S, entao o integral de superfıcie de ~F sobre S e
definido por ∫∫S
~F · d~S =
∫∫S
~F · n dS
Interpretacao fısica: Suponhamos que ~F representa um campo de velocidades associado ao escoamento
de um fluido atraves de uma superfıcie S (membrana permeavel, por exemplo). O integral de superfıcie∫∫S
~F · d~S representa o fluxo de ~F atraves de S (a diferenca entre o volume de fluido que atravessa S,
por unidade de tempo, da face negativa para a face positiva e o volume de fluido que atravessa S, por
unidade de tempo, da face positiva para a face negativa).
Nos pontos onde ~F fizer um angulo agudo com o vetor normal a S teremos uma contribuicao positiva
para o fluxo e onde ~F fizer um angulo obtuso com o vetor normal a S teremos uma contribuicao negativa
para o fluxo. Notemos que o facto de a contribuicao ser positiva ou negativa depende da orientacao
escolhida.
Observacoes.
(i) Se S for parametrizada por ~r(u, v), (u, v) ∈ D, e orientada pelo campo de vetores normais unitarios n
definidos em (34), pela definicao anterior temos∫∫S
~F · d~S =
∫∫S
~F · n dS =
∫∫D
~F (~r(u, v)) · ~ru × ~rv‖~ru × ~rv‖
‖~ru × ~rv‖ dA
=
∫∫D
~F (~r(u, v)) · (~ru × ~rv) dA.
(ii) Consideremos o caso particular em que S e uma superfıcie de equacao z = g(x, y), (x, y) ∈ D, onde
g : D ⊂ R2 → R e de classe C1, e seja ~F (x, y, z) = P (x, y, z)ı+Q(x, y, z)+R(x, y, z)k. Temos∫∫S
~F · d~S =
∫∫D
(P ı+Q+Rk) · −gx(x, y)ı− gy(x, y)+ k√gx(x, y)2 + gy(x, y)2 + 1
√gx(x, y)2 + gy(x, y)2 + 1 dA,
isto e,∫∫S
~F · d~S =
∫∫D
(−P (x, y, g(x, y)) gx(x, y)−Q(x, y, g(x, y)) gy(x, y) +R(x, y, g(x, y))
)dA.
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36
Exemplos.
(a) Seja ~F o campo vetorial dado por ~F (x, y, z) = x2 ı + y2 + zk. Calcule
∫∫S
~F · d~S, sendo S o grafico
da funcao g(x, y) = x+ y + 1 definida do retangulo R = [0, 1]× [0, 1].
(b) Determine o fluxo de ~F (x, y, z) = −yı+ x+ zk atraves da superfıcie esferica x2 + y2 + z2 = 4.
4.4 Teoremas da Divergencia e de Stokes
Vamos comecar por introduzir as nocoes de rotacional e divergencia de um campo vetorial em R3.
Estes conceitos tem origem no estudo do campo de velocidades de um fluido, caso em que a divergencia
refere-se a maneira como o fluido flui para ou afasta-se de um ponto, e o rotacional refere-se a propriedades
de rotacao do fluido num ponto.
Seja~F : D ⊂ R3 → R3
(x, y, z) 7→ P (x, y, z)ı+Q(x, y, z)+R(x, y, z)k(36)
um campo de vetores definido num aberto D ⊂ R3 e tal que P , Q e R tem derivadas parciais de 1a ordem
em todos os pontos de D.
O rotacional de ~F e o campo de vetores rot ~F : D ⊂ R3 → R3 definido por
rot ~F =
(∂R
∂y− ∂Q
∂z
)ı+
(∂P
∂z− ∂R
∂x
)+
(∂Q
∂x− ∂P
∂y
)k.
A divergencia de ~F e a funcao escalar div ~F : D ⊂ R3 → R definida por
div ~F =∂P
∂x+∂Q
∂y+∂R
∂z.
Vejamos uma mnemonica simples para o rotacional de um campo de vetores. Consideremos o “vetor
simbolico”
∇ =∂
∂xı+
∂
∂y+
∂
∂zk.
O “produto vetorial” entre ∇ e ~F pode ser calculado atraves do determinante simbolico
∇× ~F =
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ı k
∂
∂x
∂
∂y
∂
∂z
P Q R
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣=
(∂R
∂y− ∂Q
∂z
)ı+
(∂P
∂z− ∂R
∂x
)+
(∂Q
∂x− ∂P
∂y
)k = rot ~F .
Assim o rotacional de ~F e tambem representado por ∇× ~F . O “produto escalar” entre ∇ e ~F e
∇ · ~F =∂P
∂x+∂Q
∂y+∂R
∂z= div ~F .
Assim, a divergencia de ~F e tambem representada por ∇ · ~F .
Recorde-se que se f for uma funcao real de 3 variaveis reais, o vetor gradiente de f em (x, y, z) e o
vetor∂f
∂x(x, y, z)ı+
∂f
∂y(x, y, z)+
∂f
∂z(x, y, z)k
que pode ser encarado como o resultado de “multiplicar”o vetor ∇ pelo escalar f(x, y, z). Por isso o
gradiente de f e tambem designado por ∇f .
Analise Matematica III 2013/2014
37
Exemplo. Calcule o rotacional e a divergencia do campo vetorial definido em R3 por ~F (x, y, z) =
x2yı+ 2y3z+ 3zk.
Proposicao. Seja D um aberto de R3.
(i) Se f : D ⊂ R3 → R tem derivadas parciais de 2a ordem contınuas, entao
rot (∇f) = ~0.
(ii) Se ~F : D ⊂ R3 → R3, dado em (36), e tal que P , Q e R tem derivadas parciais de 2a ordem contınuas,
entao
div (rot~F ) = 0.
Corolario. Seja ~F : D ⊂ R3 → R3 um campo vetorial de classe C1. Se ~F for conservativo entao
rot ~F = ~0.
Em geral o recıproco do resultado anterior e falso. E verdadeiro se o domınio de ~F for simplesmente
conexo.
Observacao. O rotacional de um campo de vetores que representa a velocidade de um fluido, esta
relacionado com o fenomeno de rotacao do fluido. De facto, se ~F for um campo de vetores que representa
o campo de velocidades de um fluido e considerarmos uma partıcula situada no ponto (x, y, z), entao as
partıculas situadas numa vizinhanca deste ponto tendem a rodar em torno do eixo formado pelo vetor
rot~F , o comprimento deste vetor e a velocidade com que as partıculas se movem em redor daquele eixo.
Se rot~F (x, y, z) = ~0, o fluido esta livre de rotacoes na vizinhanca do ponto (x, y, z).
A divergencia pode tambem ser interpretada no contexto anterior. Se ~F representar um campo de
velocidades de um gas ou de um fluido, entao a divergencia do campo div~F (x, y, z) e a taxa de variacao da
densidade do fluido no ponto (x, y, z) e mede a tendencia do fluido em se a expandir ou contrair a partir
daquele ponto.
Vamos em seguida enunciar o Teorema da Divergencia, tambem conhecido por Teorema de Gauss, que
relaciona determinado tipo de integrais de superfıcie de campos vetoriais com integrais triplos.
Recordemos que uma regiao de R3 diz-se uma regiao solida simples se for uma regiao elementar
simultaneamente dos tipos I, II e III.
Teorema da Divergencia. Seja E uma regiao solida simples cuja fronteira e uma superfıcie S orientada
pela normal exterior. Seja ~F um campo vetorial de classe C1 numa regiao aberta de R3 contendo E.
Entao ∫∫S
~F · d~S =
∫∫∫E
div ~F dV.
O Teorema da Divergencia pode ser generalizado a uniao de regioes solidas simples que se intersetam
duas a duas quando muito nas respetivas fronteiras.
Analise Matematica III 2013/2014
38
Exemplos.
(a) Determine o fluxo de ~F (x, y, z) = 2xı+ 3y+ z2k atraves do cubo unitario [0, 1]× [0, 1]× [0, 1].
(b) Determine o fluxo de ~F (x, y, z) = −yı+ x+ zk atraves da superfıcie esferica x2 + y2 + z2 = 4.
Em seguida iremos enunciar o Teorema de Stokes, o qual pode ser visto como uma versao em maior
dimensao do Teorema de Green. Enquanto que o Teorema de Green relaciona um integral duplo sobre uma
regiao plana D com o integral curvilıneo em torno da sua curva fronteira, o Teorema de Stokes relaciona
um integral de superfıcie sobre uma superfıcie S com um integral curvilıneo sobre o seu bordo.
Seja S uma superfıcie que e “limitada” no sentido de “S apoia-se em C” por uma curva C, fechada
e simples. Suponhamos que S esta orientada sendo n o campo de vetores normal e unitario que lhe
determina a orientacao. Esta orientacao induz uma orientacao positiva na curva C do seguinte modo:
um observador caminhando ao longo de C, no sentido positivo e de modo a que a sua cabeca aponte na
direcao e sentido de n deve ter a superfıcie S sempre a sua esquerda.
Teorema de Stokes. Seja S uma superfıcie regular orientada e limitada por uma curva C fechada
simples seccionalmente de classe C1 e regular, e com orientacao positiva induzida pela orientacao de S.
Seja ~F um campo vetorial de classe C1 numa regiao aberta de R3 que contenha S. Entao∫∫S
rot ~F · d~S =
∮C
~F · d~r.
Observacoes.
(i) O teorema de Stokes estabelece que o fluxo do rotacional de um campo de vetores ~F de classe C1
atraves de uma superfıcie orientavel S e igual ao trabalho realizado por ~F ao longo do bordo C, cuja
orientacao e compatıvel com a de S.
(ii) Se S estiver contida no plano XOY , entao, n = k. Se ~F = F1 ı+F2+F3k, entao rot ~F ·n =∂F2
∂x− ∂F1
∂ye, nas condicoes do teorema de Stokes,∫∫
S
(∂F2
∂x− ∂F1
∂y
)dS =
∮C
~F · d~r,
um resultado analogo ao teorema de Green.
Exemplos.
(a) Calcule
∫∫S
rot ~F · d~S, onde S = {(x, y, z) ∈ R3 : y = −1 + x2 + z2, y ≤ 0} e o campo ~F e definido
por ~F (x, y, z) = eyzı+ yz− xk.
(b) Calcule o integral curvilıneo
∫C
−y2 dx + x dy + z2 dz, onde C e a curva de interseccao do plano
y+z = 2 com o cilindro x2 +y2 = 1, com orientacao correspondente ao sentido anti-horario em XOY .
Como aplicacao do teorema de Stokes obtemos uma caracterizacao dos campos vetoriais em R3, con-
forme o seguinte resultado.
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Teorema. Seja ~F : R3 → R3 um campo de vetores de classe C1. As seguintes condicoes sobre ~F sao
equivalentes.
(i)
∮C
~F · d~r = 0, para toda a curva, C, fechada simples seccionalmente de classe C1 e regular.
(ii)
∫C1
~F · d~r =
∫C2
~F · d~r, para quaisquer curvas simples seccionalmente de classe C1 e regulares, C1 e
C2, que tenham o mesmo ponto inicial e o mesmo ponto final.
(iii) ~F e conservativo; isto e, ~F = ∇f para alguma funcao f : R3 → R.
(iv) rot ~F = ~0.
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Capıtulo II
Equacoes diferenciais de ordem n
1 Conceitos gerais
Uma equacao diferencial e uma equacao que envolve derivadas de uma variavel dependente em relacao
a uma ou mais variaveis independentes.
As equacoes diferenciais sao um instrumento importante na resolucao de problemas em areas tao
diversas como a mecanica, a astronomia, a fısica, a biologia, etc. Tal facto deve-se a que as leis que
governam certos fenomenos podem ser expressas na forma de equacoes diferenciais.
Uma equacao diferencial ordinaria e aquela que envolve apenas uma unica variavel independente, e
assim uma equacao do tipo
F (x, y, y′, · · · , y(n)) = 0, (1)
onde F e uma funcao real em n+ 2 variaveis reais.
A ordem de uma equacao diferencial e a ordem da derivada de maior ordem presente na equacao.
Exemplo. As equacoes
y′′ − 2y′ + 6y = 0 e y′′′ + 5(y′)3 − 4y = x
sao equacoes diferenciais ordinarias, de ordens 2 e 3, respetivamente.
Dizemos que uma funcao f , real de variavel real, definida num intervalo real I, e uma solucao da
equacao diferencial (1) em I, se
F (x, f(x), f ′(x), · · · , f (n)(x)) = 0, para todo o x em I.
Exemplo. A funcao f(x) = xex e solucao da equacao diferencial y′′ − 2y′ + y = 0.
Observacao. Nem toda a equacao diferencial tem necessariamente solucao. Por exemplo a equacao
diferencial (y′)2 + 1 = 0 nao tem solucoes reais. Ja a equacao (y′′)2 + 10y2 = 0 possui apenas a solucao
y = 0 e a equacao y′ = 2xy tem uma infinidade de solucoes (y = cex2
, c ∈ R, e solucao).
O que se segue e um caso especial de (1). Seja n ∈ N e I um intervalo em R. Uma equacao diferencial
de ordem n, em I, diz-se linear se puder ser escrita na forma
an(x) y(n) + an−1(x) y(n−1) + · · ·+ a1(x) y′ + a0(x) y = g(x), x ∈ I, (2)
40
41
onde a0, a1, . . . , an e g sao funcoes apenas da variavel independente x, definidas em I, e an nao e nula
em I, isto e, existe x0 ∈ I tal que an(x0) 6= 0. As funcoes a0, a1, . . . , an dizem-se os coeficientes e
a funcao g diz-se o termo independente da equacao diferencial (2). Se g(x) = 0, para todo o x ∈ I, a
equacao diferencial (2) diz-se homogenea; caso contrario, isto e, se g nao e a funcao nula em I, a equacao
diferencial (2) diz-se nao homogenea ou completa.
E obvio que y = 0 e sempre uma solucao de qualquer equacao homogenea e designa-se por solucao
trivial.
Quanto aos coeficientes, a equacao (2) pode classificar-se:
• de coeficientes constantes, se ai(x), i = 0, 1, · · · , n, forem constantes;
• de coeficientes variaveis, se ai(x), para algum i = 0, 1, · · · , n, nao for uma funcao constante.
Exemplos.
(a) A equacao
x2y′′ − 2xy′ + 2y = 6
e uma equacao diferencial linear de 2a ordem, nao homogenea e de coeficientes variaveis.
(b) A equacao
3y′′′ + 5y′′ − y′ + 2y = 0
e uma equacao diferencial linear de 3a ordem, homogenea e de coeficientes constantes.
(c) As equacoes
yy′′ − 2y′ = x ed3y
dx3+ y2 = 0
sao equacoes diferenciais ordinarias nao lineares, de ordens 2 e 3, respetivamente.
Uma equacao diferencial surge, muitas vezes, associada a condicoes definidas num ponto pertencente
ao intervalo em estudo. Neste caso o problema constituıdo pela equacao diferencial e pelas referidas
condicoes, isto e,
an(x) y(n) + an−1(x) y(n−1) + · · ·+ a1(x) y′ + a0(x) y = g(x), x ∈ I,
y(x0) = β0,
y′(x0) = β1,
...
y(n−1)(x0) = βn−1,
(3)
onde β0, β1, · · · , βn−1 ∈ R e x0 ∈ I, diz-se um problema de valores iniciais (PVI).
O teorema seguinte estabelece condicoes que garantem a existencia e unicidade de solucao para um
problema de valores iniciais.
Teorema de existencia e unicidade. Sejam a0, a1, · · · , an e g funcoes reais de uma variavel real,
contınuas em I, com an(x) 6= 0 para todo o x ∈ I. Sejam x0 ∈ I e β0, β1, · · · , βn−1 ∈ R. Entao o
problema (3) tem uma e uma so solucao.
Analise Matematica III 2013/2014
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Exemplo. O problema y′′ − 4y = 12x
y(0) = 4
y′(0) = 1
e um PVI cuja solucao e y = 3e2x + e−2x − 3x.
2 Equacoes diferenciais lineares homogeneas. Sistema funda-
mental de solucoes.
Sejam n ∈ N e I um intervalo em R. Consideremos a equacao diferencial linear homogenea
an(x) y(n) + an−1(x) y(n−1) + · · ·+ a1(x) y′ + a0(x) y = 0, x ∈ I, (4)
onde supomos que a0, a1, . . . , an sao contınuas em I e an(x) 6= 0 para todo o x ∈ I.
Sejam F o espaco vetorial real das funcoes reais definidas em I e E o subespaco de F constituıdo pelas
funcoes reais com derivadas ate a ordem n definidas em I. Seja L : E → F a aplicacao definida por
L(y) = an(x) y(n) + an−1(x) y(n−1) + · · ·+ a1(x) y′ + a0(x) y.
Atendendo as regras basicas da derivacao, deduz-se facilmente que L e linear, isto e,
L(c1y1 + c2y2) = c1L(y1) + c2L(y2),
para quaisquer y1, y2 ∈ E e c1, c2 ∈ R.
Notemos que equacao (4) e equivalente a L(y) = 0. Da linearidade de L resulta que, se y1 e y2 forem
solucoes da equacao homogenea L(y) = 0, entao c1y1 + c2y2, com c1, c2 ∈ R, tambem e solucao, o que
prova a parte (i) da proposicao seguinte.
Proposicao. Seja N o conjunto das solucoes da equacao diferencial linear homogenea (4).
(i) N e um subespaco vetorial de E.
(ii) Seja x0 ∈ I. A aplicacao ϕ : Rn → N que a (β0, β1, · · · , βn−1) ∈ Rn associa a unica solucao que
satisfaz o PVI (3), com g(x) = 0, e um isomorfismo.
Corolario. N e um espaco vetorial real de dimensao n.
Um sistema fundamental de solucoes (SFS) da equacao (4) e uma qualquer base de N , isto e, um
qualquer conjunto constituıdo por n solucoes de (4) que seja linearmente independente.
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43
Corolario.
(i) A equacao diferencial linear homogenea (4) admite um SFS.
(ii) Seja {y1, y2, · · · , yn} um sistema fundamental de solucoes de (4). Se y e uma solucao de (4), entao
existem constantes reais c1, c2, . . . , cn tais que
y(x) = c1y1(x) + c2y2(x) + · · ·+ cnyn(x), x ∈ I.
Uma questao que se coloca e de saber se um dado conjunto com n solucoes de (4) constitui um SFS, isto
e, se e linearmente independente. Tal pode ser verificado por definicao ou recorrendo a um determinante
construıdo a custa das referidas funcoes e das suas derivadas.
Sejam f1, f2, . . . , fn funcoes reais de uma variavel real derivaveis, pelo menos, ate a ordem n − 1 no
intervalo I. O Wronskiano do sistema de funcoes {f1, f2, . . . , fn} e a funcao W (f1, f2, . . . , fn) : I → R,
definida por
W (f1, f2, . . . , fn)(x) =
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣f1(x) f2(x) · · · fn(x)
f ′1(x) f ′2(x) · · · f ′n(x)...
.... . .
...
f(n−1)1 (x) f
(n−1)2 (x) · · · f
(n−1)n (x)
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣.
Na proposicao seguinte estabelece-se uma condicao necessaria e suficiente para que n solucoes de (4)
constituam um SFS de (4).
Proposicao. Sejam y1, y2, · · · , yn, n solucoes da equacao diferencial linear homogenea de ordem n, (4).
Entao {y1, y2, · · · , yn} e um SFS de (4) se e so se
W (y1, y2, · · · , yn)(x) 6= 0, para todo o x ∈ I.
Seja {y1, y2, · · · , yn} um sistema fundamental de solucoes da equacao diferencial (4), linear homogenea
de ordem n. A famılia de funcoes yH ,
yH = c1y1 + c2y2 + · · ·+ cnyn
com c1, c2, · · · , cn constantes reais arbitrarias, chamamos solucao geral ou integral geral, da equacao dife-
rencial (4).
Uma solucao particular de (4) e uma qualquer funcao que seja solucao da equacao e, portanto, pode
ser obtida do integral geral yH por atribuicao de valores reais concretos as constantes c1, c2, · · · , cn.
Exemplo. As funcoes y1 = ex, y2 = e2x e y3 = e3x sao solucoes, em R, da equacao diferencial homogenea
de ordem 3
y′′′ − 6y′′ + 11y′ − 6y = 0.
Como
W (ex, e2x, e3x) =
∣∣∣∣∣∣∣ex e2x e3x
ex 2e2x 3e3x
ex 4e2x 9e3x
∣∣∣∣∣∣∣ = 2e6x 6= 0, ∀x ∈ R,
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{y1, y2, y3} e um sistema fundamental de solucoes da equacao. Concluımos assim que
y = c1ex + c2e
2x + c3e3x, c1, c2, c3 ∈ R,
e a solucao geral da equacao diferencial.
3 Equacoes diferenciais lineares homogeneas com coeficientes
constantes
Nesta seccao veremos como determinar um SFS e, assim, a solucao geral, de uma equacao linear
homogenea com coeficientes constantes.
Consideremos a equacao diferencial linear homogenea de ordem n de coeficientes constantes
L(y) = an y(n) + an−1 y
(n−1) + · · ·+ a1 y′ + a0 y = 0, x ∈ I, (5)
onde a0, a1, · · · , an sao constantes reais e an 6= 0.
Verificamos que
L(eλx) = anλneλx + an−1λ
n−1eλx + · · ·+ a1λeλx + a0e
λx
= eλx(anλn + an−1λ
n−1 + · · ·+ a1λ+ a0)
= P (λ)eλx,
onde
P (λ) = anλn + an−1λ
n−1 + · · ·+ a1λ+ a0.
Logo, eλx e solucao da equacao diferencial (5) se e so se P (λ) = 0, ou seja, se λ for raiz do polinomio
P (λ). O polinomio P (λ) e designado por polinomio caracterıstico da equacao diferencial. Note-se que
este polinomio tem exatamente n raızes em C e as raızes complexas aparecem aos pares, uma vez que se
z ∈ C e uma raiz de P (λ) entao tambem z e raiz de P (λ). Se λ1, λ2, · · · , λn designarem as n raızes de
P (λ) entao eλ1x, eλ2x, · · · eλnx sao solucoes da equacao (5). Para analisar a independencia linear destas
solucoes e como determinar um SFS da equacao homogenea (5), consideremos tres casos.
1o – O polinomio caracterıstico tem n raızes reais e distintas
Tal como para o Wronskiano calculado no exemplo da pagina 43, verificamos no caso geral que
W (eλ1x, eλ2x, · · · eλnx) =
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣eλ1x eλ2x · · · eλnx
λ1eλ1x λ2e
λ2x · · · λneλnx
......
. . ....
λn−11 eλ1x λn−12 eλ2x · · · λn−1n eλnx
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣= e(λ1+λ2+···λn)x
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣1 1 · · · 1
λ1 λ2 · · · λn...
.... . .
...
λn−11 λn−12 · · · λn−1n
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣= e(λ1+λ2+···λn)x
∏1≤j<i≤n
(λi − λj) 6= 0,
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45
pois λ1, λ2, · · · , λn sao todos distintos. Entao {eλ1x, eλ2x, · · · eλnx} constitui um SFS da equacao diferencial
(5) e a solucao geral daquela equacao e
y = c1eλ1x + c2e
λ2x + · · ·+ cneλnx, c1, c2, · · · , cn ∈ R.
Exemplos.
(a) Escreva uma equacao diferencial linear de ordem 3 que admita as funcoes ex, e−x, e−2x como solucoes
e escreva a solucao geral dessa equacao.
(b) Determine a solucao geral da equacao diferencial y′′′ − y′′ − 4y′ + 4y = 0.
2o – O polinomio caracterıstico tem raızes reais e multiplas
Se m for uma raiz real de P (λ) com multiplicidade k, entao pode-se mostrar que
emx, xemx, x2emx, · · · , xk−1emx
sao solucoes linearmente independentes da equacao diferencial homogenea (5).
Exemplo. Considere a equacao diferencial y′′′ − 3y′′ + 3y′ − y = 0.
(a) Determine as raızes do polinomio caracterıstico.
(b) Mostre que {ex, xex, x2ex} constitui um SFS da equacao diferencial e escreva a solucao geral dessa
equacao.
3o – O polinomio caracterıstico tem raızes complexas
Se a ± ib forem raızes complexas do polinomio caracterıstico de multiplicidade k, prova-se que as 2k
funcoes
eax cos(bx), xeax cos(bx), · · · , xk−1eax cos(bx) e eax sin(bx), xeax sin(bx), · · · , xk−1eax sin(bx),
sao solucoes linearmente independentes da equacao diferencial homogenea (5).
Exemplo. Determine a solucao geral da equacao diferencial y′′ − 4y′ + 5y = 0.
Em sıntese, dada uma equacao diferencial linear homogenea de ordem n com coeficientes constantes,
depois de achar as n raızes do polinomio caracterıstico, associa-se:
• a cada raiz real simples λ, a funcao eλx;
• a cada raiz real λ, de multiplicidade k, as k funcoes: eλx, xeλx, x2eλx, · · · , xk−1eλx;
• a cada par a± ib de raızes complexas simples, as funcoes: eax cos(bx), eax sin(bx);
• a cada par a± ib de raızes complexas de multiplicidade k, as 2k funcoes:
eax cos(bx), xeax cos(bx), · · · , xk−1eax cos(bx) e eax sin(bx), xeax sin(bx), · · · , xk−1eax sin(bx).
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As n solucoes y1, y2, · · · , yn da equacao diferencial homogenea (5) assim obtidas, a partir das raızes
do polinomio caracterıstico, constituem um SFS, pelo que o integral geral daquela equacao diferencial e
dado por
y = c1y1 + c2y2 + · · ·+ cnyn, ci ∈ R, i = 1, · · · , n.
Exemplos.
(a) Determine a solucao geral da equacao
y(6) − 2y(5) + 3y(4) − 4y(3) + 3y(2) − 2y′ + y = 0.
(b) Escreva uma equacao diferencial linear com coeficientes constantes de ordem 3 que admita as funcoes
e2x, ex cos 2x como solucoes e escreva a solucao geral dessa equacao.
4 Equacoes diferenciais lineares nao homogeneas
Consideremos agora a equacao diferencial linear de ordem n, completa,
L(y) ≡ an(x) y(n) + an−1(x) y(n−1) + · · ·+ a1(x) y′ + a0(x) y = g(x), x ∈ I, (6)
onde a1, a2, · · · , an, g sao funcoes contınuas em I e an(x) 6= 0 para todo o x ∈ I. A equacao homogenea
associada a (6) e a equacao diferencial linear homogenea
an(x) y(n) + an−1(x) y(n−1) + · · ·+ a1(x) y′ + a0(x) y = 0, x ∈ I, (7)
A solucao geral da equacao completa (6) pode ser obtida a partir de uma solucao particular desta equacao
e da solucao geral da equacao homogenea associada (7), conforme e estabelecido na seguinte proposicao.
Proposicao. Sejam yp uma solucao particular da equacao completa (6) e {y1, y2, · · · , yn} um SFS da
equacao homogenea associada. Entao a solucao geral da equacao diferencial (6) e
y = yp + c1y1 + c2y2 + · · ·+ cnyn, c1, c2, · · · , cn ∈ R.
Demonstracao. Por linearidade,
L(yp + c1y1 + c2y2 + · · ·+ cnyn) = L(yp) + L(c1y1 + c2y2 + · · ·+ cnyn) = L(yp) + 0 = g(x),
alem disso, se y e uma qualquer solucao de (6), isto e, L(y) = g(x), entao L(y − yp) = L(y) − L(yp) =
g(x)− g(x) = 0. Logo, y − yp e solucao da equacao homogenea associada e, portanto, existem constantes
reais c1, c2, · · · , cn tais que
y − yp = c1y1 + c2y2 + · · ·+ cnyn,
ou ainda, y = yp + c1y1 + c2y2 + · · ·+ cnyn.
Em sıntese, se yp for uma solucao particular da equacao diferencial linear completa e yH a solucao geral
da equacao homogenea associada, entao a solucao geral ou integral geral da equacao completa e dado por
y = yp + yH .
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Exemplo. Pode facilmente verificar-se que a funcao yp = − 1112 −
12x e uma solucao particular da equacao
diferencial linear completa
y′′′ − 6y′′ + 11y′ − 6y = 3x. (8)
Atendendo ao exemplo na pagina 40, podemos afirmar que o integral geral da equacao (8) e dado por
y = yH + yp = −11
12− 1
2x+ c1e
x + c2e2x + c3e
3x, c1, c2, c3 ∈ R.
Nas seccoes seguintes veremos metodos que nos permitem determinar uma solucao particular de algu-
mas equacoes diferenciais nao-homogeneas.
5 Metodo do polinomio anulador
O metodo do polinomio anulador e um metodo que permite determinar uma solucao particular de
determinados tipos de equacoes diferenciais lineares de coeficientes constantes e completas.
Consideremos a equacao diferencial linear nao-homogenea de ordem n e coeficientes constantes
L(y) ≡ an y(n) + an−1 y(n−1) + · · ·+ a1 y
′ + a0 y = g(x), x ∈ I, (9)
onde a0, a1, · · · , an sao constantes reais, an 6= 0 e g e uma funcao contınua em I.
Designando por Dn, n ∈ N, a aplicacao linear que a cada funcao y faz corresponder a sua derivada de
ordem n, ou seja, Dny = y(n), temos L = P (D), onde
P (D) = anDn + an−1D
n−1 + · · · a1D + a0
e designado por polinomio diferencial caracterıstico da equacao diferencial. A equacao (9) pode entao
escrever-se na forma P (D)y = g(x).
Exemplo. A equacao y′′ + y′ = 0 e equivalente a (D2 +D)y = 0.
Sendo ai, i = 0, · · · , n, constantes, pode provar-se que:
(i) P (D) pode ser factorizado em operadores diferenciais de ordem 1 (admitindo o uso de numeros
complexos e tratando P (D) como se fosse um polinomio);
(ii) Os factores referidos em (i) comutam.
Exemplo. Pode verificar-se que a equacao (D2 +D)y = 0 e equivalente a
D(D + 1)y = 0 ou (D + 1)Dy = 0,
equacoes essas que se obtiveram tratando P (D) = D2 +D como se fosse um polinomio “normal”.
Recordando o que foi dito na seccao 3, notemos que
(i) y = eλx e solucao de (D − λ)y = 0;
(ii) y1 = eλ1x e y2 = eλ2x sao solucoes de (D − λ1)(D − λ2)y = 0;
(iii) y1 = eλx e y2 = xeλx sao solucoes de (D − λ)2y = 0;
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(iv) y1 = eαx cos(βx) e y2 = eαx cos(βx) sao solucoes de
(D − (α+ iβ))(D − (α− iβ))y = 0⇐⇒((D − α)2 + β2
)y = 0.
Sejam P (D) um polinomio diferencial e y uma funcao real de variavel real. Diz-se que P (D) e um
polinomio anulador para y, ou que P (D) anula y se P (D)y = 0.
Exemplos.
(a) Verifica-se facilmente que o polinomio diferencial Dn, n ∈ N, e um polinomio anulador para as funcoes
1, x, · · · , xn−1. Mais ainda, quaisquer que sejam c0, c1, · · · , cn−1 ∈ R,
Dn(c0 + c1x+ · · ·+ cn−1xn−1) = 0,
portanto, Dn e um polinomio anulador para qualquer funcao polinomial de grau inferior ou igual a
n− 1.
(b) Vimos anteriormente que xe−2x e solucao da equacao (D + 2)2y = 0, tal significa que (D + 2)2 e
polinomio anulador para xe−2x.
Na proposicao seguinte sao sumariados alguns resultados relativamente a polinomios anuladores de
certas funcoes.
Proposicao. Sejam n ∈ N e α, β ∈ R. Temos:
(i) O polinomio diferencial Dn anula cada uma das funcoes
1, x, · · · , xn−1.
(ii) O polinomio diferencial (D − α)n anula cada uma das funcoes
eαx, xeαx, x2eαx, · · · , xn−1eαx.
(iii) O polinomio diferencial (D2 − 2αD + (α2 + β2))n =((D − α)2 + β2
)nanula cada uma das funcoes
eαx cosβx, xeαx cosβx, x2eαxcosβx, · · · , xn−1eαx cosβx
e
eαx sinβx, xeαx sinβx, x2eαx sinβx, · · · , xn−1eαx sinβx.
Proposicao. Sejam P (D) e Q(D) dois polinomios diferenciais tais que P (D) anula a funcao y1 e Q(D)
anula a funcao y2. Entao o produto (composicao) P (D)Q(D) anula y1 + y2.
Exemplo. Dos exemplos anteriores sabemos que D4 anula x3 − x e (D + 2)2 anula xe−2x. Usando a
proposicao anterior podemos dizer que D4(D + 2)2 = D6 + 4D5 + 4D4 anula xe−2x + x3 − x.
Analise Matematica III 2013/2014
49
Exemplo. Determine um operador diferencial que anule a funcao real de variavel real y = 1 − 3x2 +
5e−x cos 2x.
Vejamos entao em que consiste o metodo do polinomio anulador. Considere-se a equacao diferencial
linear de coeficientes constantes completa
any(n) + an−1y
(n−1) + · · ·+ a1y + a0 = g(x), x ∈ I, (10)
com an 6= 0, a qual pode ser escrita na forma
P (D)y = g(x), x ∈ I,
onde P (D) = anD(n) + an−1D
(n−1) + · · ·+ a1D + a0 e polinomio diferencial caracterıstico de (10).
Suponhamos que g(x) e de uma das formas:
• g(x) e um polinomio em x;
• g(x) = xkeαx, com k ∈ N0 e α ∈ R;
• g(x) = xkeαx cosβx, com k ∈ N0 e α, β ∈ R;
• g(x) = xkeαx sinβx, com k ∈ N0 e α, β ∈ R;
• g(x) e uma combinacao linear de funcoes de uma das formas anteriores.
Usando as proposicoes anteriores e possıvel determinar um polinomio anulador para g(x), que desig-
naremos por Q(D). Seja yp uma solucao particular de (10). Temos
P (D)yp = g(x), x ∈ I =⇒ Q(D)P (D)yp = Q(D)g(x), x ∈ I
=⇒ Q(D)P (D)yp = 0, x ∈ I.
Assim, se yp e uma solucao particular de (10) entao yp e uma solucao particular da equacao diferencial
linear homogenea de coeficientes constantes
Q(D)P (D)y = 0, x ∈ I. (11)
Mas o resultado recıproco e falso. Nem toda a solucao de (11) e solucao de (10). Suponhamos que
{y1, y2, · · · , yk} e um SFS da equacao auxiliar (11). Entao yp pode representar-se na forma
yp = C1y1 + C2y2 + · · ·+ Ckyk,
com C1, C2, · · · , Ck ∈ R. O objetivo consiste em procurar constantes reais C1, C2, · · · , Ck tais que
P (D)(C1y1 + C2y2 + · · ·+ Ckyk
)= g(x), x ∈ I.
Exemplo. Determinemos a solucao geral da equacao diferencial
y′′ + y′ − 6y = 3e2x + 1, x ∈ R. (12)
O integral geral desta equacao e soma de uma sua solucao particular com o integral geral da equacao
homogenea associada,
y′′ + y′ − 6y = 0, x ∈ R.
Analise Matematica III 2013/2014
50
Procedendo de acordo com o exposto na seccao 3, a solucao geral desta equacao homogenea e
yH = c1e2x + c2e
−3x, c1, c2 ∈ R.
Determinemos agora uma solucao particular, yp, de (12), usando o metodo do polinomio anulador.
O polinomio Q1(D) = D−2 anula 3e2x e Q2(D) = D anula 1. Entao Q(D) = D(D−2) anula 3e2x+1.
Sendo P (D) = (D − 2)(D + 3), temos
P (D)yp = 3e2x + 1 =⇒ Q(D)P (D)yp = 0⇐⇒ D(D − 2)2(D − 3)yp = 0.
A equacao homogenea auxiliar que temos de resolver e
D(D − 2)2(D − 3)y = 0, x ∈ R.
O conjunto {1, e−3x, e2x, xe2x} e um SFS desta equacao homogenea. Assim, existem constantes C1, C2, C3, C4 ∈R tais que
yp = C1 + C2e−3x + C3e
2x + C4xe2x.
Entao
P (D)(C1 + C2e
−3x + C3e2x + C4xe
2x)
= 3e2x + 1
⇔ P (D)(C2e
−3x + C3e2x)
+ P (D)(C1 + C4xe
2x)
= 3e2x + 1
⇔ 0 + (D − 2)(D + 3)(C1 + C4xe
2x)
= 3e2x + 1
⇔ (D2 +D − 6)(C1 + C4xe
2x)
= 3e2x + 1. (13)
Uma vez que
D(xe2x
)= e2x + 2xe2x = (1 + 2x)e2x
e
D2(xe2x
)= D
((1 + 2x)e2x
)= 2e2x + 2(1 + 2x)e2x = 4(1 + x)e2x
de (13) obtemos
4C4(1 + x)e2x + C4(1 + 2x)e2x − 6C1 − 6C4xe2x = 3e2x + 1
⇔ 5C4e2x − 6C1 = 3e2x + 1
⇔ (5C4 − 3)e2x + (−6C1 − 1)1 = 0.
Atendendo a que {1, e2x} e linearmente independente em R, resulta{5C4 − 3 = 0
−6C1 − 1⇔
{C4 = 3
5
C1 = − 16
.
Entao uma solucao particular de (12) e
yp = −1
6+
3
5xe2x,
e a solucao geral de (12) e
y = yp + yH = −1
6+
3
5xe2x + c1e
2x + c2e−3x, c1, c2 ∈ R.
Analise Matematica III 2013/2014
51
6 Metodo de Lagrange ou da variacao das constantes arbitrarias
O metodo da variacao das constantes arbitrarias ou metodo de Lagrange permite determinar uma
solucao particular de uma equacao diferencial linear completa a partir do conhecimento de um sistema
fundamental de solucoes da equacao homogenea que lhe esta associada.
Consideremos uma equacao diferencial linear completa na forma
y(n) + an−1(x)y(n−1) + · · ·+ a1(x)y′ + a0(x)y = g(x), x ∈ I, (14)
onde I e um intervalo real e a0, a1, · · · , an−1, g sao funcoes contınuas em I. A equacao homogenea que
lhe esta associada e
y(n) + an−1(x)y(n−1) + · · ·+ a1(x)y′ + y = 0, x ∈ I. (15)
Tem-se o seguinte resultado.
Proposicao. Seja {y1, y2, · · · , yn} um SFS da equacao homogenea (15). Sejam c1(x), c2(x), · · · , cn(x)
funcoes derivaveis em I verificando
c′1(x)y1(x) + c′2(x)y2(x) + · · ·+ c′n(x)yn(x) = 0
c′1(x)y′1(x) + c′2(x)y′2(x) + · · ·+ c′n(x)y′n(x) = 0
... ∀x ∈ I.
c′1(x)y(n−2)1 (x) + c′2(x)y
(n−2)2 (x) + · · ·+ c′n(x)y
(n−2)n (x) = 0
c′1(x)y(n−1)1 (x) + c′2(x)y
(n−1)2 (x) + · · ·+ c′n(x)y
(n−1)n (x) = g(x)
(16)
Entao a funcao yp definida por
yp(x) = c1(x)y1(x) + c2(x)y2(x) + · · ·+ cn(x)yn(x), x ∈ I,
e uma solucao da equacao completa (14).
O metodo de Lagrange consiste entao em resolver o sistema (16), para todo o x ∈ I. Notemos que, para
cada x ∈ I fixo, (16) e um sistema de n equacoes lineares nas n incognitas c′1(x), · · · c′n(x). O determinante
da matriz dos coeficientes e W (y1, · · · , yn)(x) 6= 0 e, portanto, aquele sistema e possıvel e determinado.
Apos resolver-se (16), para todo o x ∈ I, obtem-se as funcoes c′1(x), · · · c′n(x). Primitivando estas n funcoes
obtem-se c1(x), · · · cn(x), podendo entao calcular-se yp.
Exemplo. Determinemos a solucao geral da equacao diferencial
y′′ − 3y′ + 2y =e2x
5 + ex. (17)
O polinomio caracterıstico da equacao homogenea associada a (17) e λ2 − 3λ + 2 que tem por raızes 1
e 2. Assim as funcoes y1 = ex e y2 = e2x constituem um SFS da equacao homogenea associada a (17).
Notemos que nao se pode usar o metodo do polinomio anulador para determinar uma solucao particular
de (17), uma vez que nao conhecemos um polinomio diferencial que anulee2x
5 + ex. Usemos o metodo de
Analise Matematica III 2013/2014
52
Lagrange. Para tal precisamos de resolver o sistema (16), que neste caso ec′1(x)ex + c′2(x)e2x = 0
c′1(x)ex + c′2(x)2e2x =e2x
5 + ex,
o qual e equivalente a [ex e2x
ex 2e2x
][c′1(x)
c′2(x)
]=
0
e2x
5 + ex
.Temos
W (ex, e2x) =
∣∣∣∣∣ ex e2x
ex 2e2x
∣∣∣∣∣ = e3x
e, usando a regra de Cramer, resulta
c′1(x) =
∣∣∣∣∣∣0 e2x
e2x
5 + ex2e2x
∣∣∣∣∣∣e3x
= − ex
5 + exe c′2(x) =
∣∣∣∣∣∣ex 0
exe2x
5 + ex
∣∣∣∣∣∣e3x
=1
5 + ex=
e−x
5e−x + 1.
Assim
c1(x) = − ln(5 + ex) + k1 e c2(x) = −1
5ln(5e−x + 1) + k2, k1, k2 ∈ R.
Como se procura apenas uma solucao particular podemos escolher k1 = k2 = 0. Uma solucao particular
da equacao completa dada e entao
yp = c1(x)y1(x) + c2(x)y2(x) = − ln(5 + ex)ex − 1
5ln(5e−x + 1)e2x.
A solucao geral da equacao completa e
y = yp + yH = − ln(5 + ex)ex − 1
5ln(5e−x + 1)e2x + c1e
x + c2e2x, c1, c2 ∈ R.
Observacao. O metodo da variacao das constantes arbitrarias e aplicavel a qualquer equacao diferencial
linear de ordem n, mesmo de coeficientes variaveis, desde que, obviamente, se conheca um SFS (i.e. n
solucoes linearmente independentes) da equacao homogenea correspondente. Em geral nao e facil obter
um SFS duma equacao equacao diferencial linear de ordem n, de coeficientes variaveis, mas vejamos o
seguinte exemplo.
Exemplo. Encontre o integral geral da equacao
x2y′′ + xy′ − y = 2x, x ∈ R+,
sabendo que y1 = x e y2 = 1/x sao solucoes particulares da equacao homogenea associada.
Temos
W (x,1
x) =
∣∣∣∣∣ x1x
1 − 1x2
∣∣∣∣∣ = − 2
x6= 0, x ∈ R+,
Analise Matematica III 2013/2014
53
logo {x, 1x} e um SFS da equacao homogenea. Aplicando o Metodo de Lagrange, ha que resolver o sistema c′1(x)x+ c′2(x) 1x = 0
c′1(x)− c′2(x) 1x2 = 2x
⇔
[x 1
x
1 − 1x2
][c′1(x)
c′2(x)
]=
[0
2x
].
Pela regra de Cramer, obtemos
c′1(x) = −x2
∣∣∣∣∣ 0 1x
2x − 1x2
∣∣∣∣∣ = x e c′2(x) = −x2
∣∣∣∣∣ x 0
1 2x
∣∣∣∣∣ = −x3.
Entao c1(x) = x2
2 + k1 e c2(x) = −x4
4 + k2, k1, k2 ∈ R. Uma solucao particular da equacao completa dada
e
yp =x2
2x− x4
4
1
x=x3
4
e o integral geral daquela equacao e
y =x3
4+ c1x+ c2
1
x, c1, c2 ∈ R.
7 Metodo de abaixamento de ordem ou metodo de D’Alembert
O metodo de D’Alembert permite determinar o integral geral de uma equacao diferencial linear de
ordem n, homogenea ou completa, de coeficientes constantes ou variaveis, a partir do conhecimento de
(n− 1) solucoes linearmente independentes da equacao diferencial homogenea associada.
Vejamos o caso n = 2. Consideremos assim a equacao diferencial linear de 2a ordem,
a2(x)d2y
dx2+ a1(x)
dy
dx+ a0(x)y = g(x), x ∈ I, (18)
em que as funcoes a0, a1, a2 e g sao contınuas em I e a2(x) 6= 0 para todo o x ∈ I.
Suponhamos que y1 e uma solucao nao trivial da equacao homogenea associada, isto e,
a2(x)d2y1dx2
+ a1(x)dy1dx
+ a0(x)y1 = 0, x ∈ I. (19)
Efectuemos a mudanca de variavel y = y1u na equacao diferencial (18). Temos
dy
dx=dy1dx
u+ y1du
dxe
d2y
dx2=d2y1dx2
u+ 2dy1dx
du
dx+ y1
d2u
dx2,
e, substituindo em (18) obtem-se
a2(x)
(d2y1dx2
u+ 2dy1dx
du
dx+ y1
d2u
dx2
)+ a1(x)
(dy1dx
u+ y1du
dx
)+ a0(x)y1u = g(x), x ∈ I
⇔ a2(x)y1d2u
dx2+
(a1(x)y1 + 2a2(x)
dy1dx
)du
dx+
+
(a2(x)
d2y1dx2
+ a1(x)dy1dx
+ a0(x)y1
)u = g(x), x ∈ I. (20)
Atendendo a (19) o coeficiente de u em (20) e zero. Fazendo a mudanca de variaveldu
dx= v, a equacao
diferencial (20) toma a forma
a2(x)y1dv
dx+
(a1(x)y1 + 2a2(x)
dy1dx
)v = g(x), x ∈ I, (21)
Analise Matematica III 2013/2014
54
que e uma equacao diferencial linear de primeira ordem, que deverao ter estudado em Analise Matematica
I. Seja
vc = vp + c1v1, c1 ∈ R, (22)
a solucao geral desta equacao (21), onde vp e uma solucao particular da equacao (21) e v1 e uma solucao
nao trivial da equacao homogenea associada a (21). Integrando (22) membro a membro, obtem-se
u = up + c1u1 + c2, c1, c2 ∈ R,
onde up e uma primitiva de vp e u1 e uma primitiva de v1. Segue-se que
y = y1up + c1y1u1 + c2y1, c1, c2 ∈ R,
e o integral geral da equacao (18).
Exemplo. Determinemos a solucao geral da equacao
x2y′′ − 6y = 1, x ∈]0,+∞[, (23)
sabendo que y1 = x3 e solucao da equacao homogenea associada a (23).
Facamos em (23) a mudanca de variavel y = x3u. Como
y′ = 3x2u+ x3u′ e y′′ = 6xu+ 6x2u′ + x3u′′,
substituindo em (23), vem
x2(6xu+ 6x2u′ + x3u′′
)− 6x2u = 1, x ∈]0,+∞[,
⇔ x5u′′ + 6x4u′ = 1, x ∈]0,+∞[,
⇔ u′′ +6
xu′ =
1
x5, x ∈]0,+∞[.
Fazendo a mudanca de variavel u′ = v, obtemos a equacao diferencial de 1a ordem:
v′ +6
xv =
1
x5, x ∈]0,+∞[,
equacao esta que admite e∫
6xdx = e6 ln x = x6 como factor integrante. Entao
x6v′ + 6x5v = x, x ∈]0,+∞[,
⇔ d
dx[x6v] = x, x ∈]0,+∞[,
⇔ x6v =x2
2+ c1, x ∈]0,+∞[, c1 ∈ R,
⇔ v =1
2x−4 + c1x
−6, x ∈]0,+∞[, c1 ∈ R,
⇔ u = −1
6x−3 − c1
5x−5 + c2, x ∈]0,+∞[, c1, c2 ∈ R.
A solucao geral da equacao (23) e entao
y = x3u = −1
6− c1
5x−2 + c2x
3, c1, c2 ∈ R.
Analise Matematica III 2013/2014
55
8 Equacoes de Euler
Uma equacao diferencial de Euler e uma equacao diferencial da forma
anxnyn(x) + an−1x
n−1y(n−1)(x) + · · ·+ a1xy′(x) + a0y = g(x), x ∈ I,
com a0, a1, · · · , an ∈ R, e g uma funcao contınua em I.
Uma equacao de Euler pode ser transformada numa equacao diferencial de coeficientes constantes
efetuando uma mudanca de variavel conveniente.
Se I ⊂ ]0,+∞[, faz-se a mudanca de variavel x = et, o que e equivalente a t = lnx. Se I ⊂ ] −∞, 0[,
faz-se a mudanca de variavel x = −et.
Exemplo. Consideremos a equacao de Euler
x2y′′ − 6y = 1, x ∈]0,+∞[, (24)
Facamos a mudanca de variavel acima indicada, isto e, x = et ⇔ t = lnx. Temos
dy
dx=dy
dt
dt
dx=dy
dt
1
xe
d2y
dx2= − 1
x2dy
dt+
1
x2d2y
dt2.
Subsituindo em (24), resultad2y
dt2− dy
dt− 6y = 1. (25)
Uma vez que o polinomio caracterıstico associado a equacao homogenea correspondente a (25) e
P (λ) = λ2 − λ − 6, que possui as raızes reais -2 e 3; e que, claramente, yp = − 16 e uma solucao par-
ticular de (25), a solucao geral de (25) e
y(t) = −1
6+ c1e
−2t + c2e3t, c1, c2 ∈ R.
Segue-se que a solucao geral de (24) e
y(x) = −1
6+ c1x
−2 + c2x3, c1, c2 ∈ R.
9 Sistemas de equacoes diferenciais com coeficientes constantes
Um sistema de equacoes diferenciais ordinarias e um sistema em que se consideram simultaneamente
duas ou mais equacoes envolvendo derivadas, relativamente a uma unica variavel independente, de duas
ou mais funcoes a determinar. Consideraremos apenas sistemas em que o numero de variaveis dependentes
(funcoes a determinar) e igual ao numero de equacoes e em que as equacoes diferenciais sao lineares de
coeficientes constantes em todas as variaveis dependentes.
Exemplo. O sistema {y′′1 + y2 = 0
y′1 + y′2 = x, x ∈ R,
e um sistema do tipo dos que consideraremos. y1 e y2 sao funcoes de x que pretendemos determinar.
Usando polinomios diferenciais este sistema pode ser escrito na forma{D2y1 + y2 = 0
Dy1 +Dy2 = x, x ∈ R.
Analise Matematica III 2013/2014
56
Um sistema de n equacoes diferenciais lineares de coeficientes constantes nas variaveis dependentes
y1, y2, · · · , yn pode ser escrito na formaP11(D)y1 + P12(D)y2 + · · ·+ P1n(D)yn = f1(x)
P21(D)y1 + P22(D)y2 + · · ·+ P2n(D)yn = f2(x)...
Pn1(D)y1 + Pn2(D)y2 + · · ·+ Pnn(D)yn = fn(x)
, x ∈ I, (26)
onde f1, f2, · · · , fn sao funcoes definidas em I e Pij(D) e um polinomio diferencial, para i, j = 1, 2, · · · , n.
Uma solucao deste sistema e um conjunto de funcoes definidas em I, y1 = y1(x), y2 = y2(x), · · · , yn =
yn(x), que satisfazem, para todo o x ∈ I, cada uma das equacoes do sistema.
Metodo dos operadores diferenciais
Consideremos um sistema de n equacoes diferenciais lineares de coeficientes constantes nas variaveis
dependentes y1, y2, · · · , yn, como em (26), onde f1, f2, · · · , fn sao funcoes contınuas em I. O determinante
caracterıstico do sistema (26) e o polinomio diferencial
∆(D) = det[Pij(D)]i,j=1,··· ,n.
Ao grau deste polinomio chama-se ordem do sistema.
O metodo dos operadores diferenciais consiste em usar o resultado da proposicao seguinte para procurar
solucoes de (26).
Proposicao. Sejam ∆(D) o determinante caracterıstico de (26) e {y1, y2, · · · , yn} uma solucao do sistema
(26). Entao {y1, y2, · · · , yn} e tambem solucao do sistema∆(D)y1 = ∆1(x)
∆(D)y2 = ∆2(x)...
∆(D)yn = ∆n(x)
, x ∈ I, (27)
onde, para j = 1, · · · , n, ∆j(x) e a funcao que se obtem desenvolvendo o “determinante”∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣P1,1(D) · · · P1,j−1(D) f1(x) P1,j+1(D) · · · P1,n(D)
P2,1(D) · · · P2,j−1(D) f2(x) P2,j+1(D) · · · P2,n(D)...
. . ....
......
. . ....
Pn,1(D) · · · Pn,j−1(D) fn(x) Pn,j+1(D) · · · Pn,n(D)
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣.
Observacao.
1. Em cada uma das equacoes em (27) so aparece uma variavel dependente.
2. De acordo com o resultado anterior, se {y1, y2, · · · , yn} e uma solucao de (26) entao {y1, y2, · · · , yn} e
uma solucao de (27), mas o resultado recıproco e falso. Nem toda a solucao de (27) e solucao de (26).
Vejamos entao como se usa a proposicao anterior para resolver (26). Para i = 1, · · · , n resolve-se a
equacao ∆(D)yi = ∆i(x), que e uma equacao diferencial linear de coeficientes constantes e cuja ordem e
Analise Matematica III 2013/2014
57
igual ao grau de ∆(D), isto e, igual a ordem do sistema, que representamos por m. Seja yi o integral geral
de ∆(D)yi = ∆i(x). Nesta famılia de funcoes aparecem m constantes. Assim ao todo, nas n famılias yi,
i = 1, · · · , n, aparecem mn constantes. Para determinar o integral geral de (26) substitui-se yi por yi em
(26), para i = 1, · · · , n, e procuram-se as solucoes do sistema (26). Isto permite diminuir o numero de
constantes arbitrarias. No final o numero de constantes deve ser igual a ordem do sistema, m.
Exemplo. Apliquemos o metodo descrito para resolver o sistema{y′′1 + y2 = 0
y′1 + y′2 = x, x ∈ R⇔
{D2y1 + y2 = 0
Dy1 +Dy2 = x, x ∈ R
O determinante caracterıstico deste sistema e
∆(D) =
∣∣∣∣∣ D2 1
D D
∣∣∣∣∣ = D3 −D
e assim o sistema tem ordem 3. Temos
∆1(x) =
∣∣∣∣∣ 0 1
x D
∣∣∣∣∣ = D0− x = −x
e
∆2(x) =
∣∣∣∣∣ D2 0
D x
∣∣∣∣∣ = D2x−D0 = 0.
Resolvendo a equacao
∆(D)y1 = ∆1(x)⇔ D(D − 1)(D + 1)y1 = −x
usando, por exemplo, o metodo polinomio anulador obtem-se
y1 =1
2x2 + c1 + c2e
x + c3e−x, c1, c2, c3 ∈ R.
A equacao
∆(D)y2 = ∆2(x)⇔ D(D − 1)(D + 1)y2 = 0
tem solucao
y2 = c4 + c5ex + c6e
−x, c4, c5, c6 ∈ R.
Temos
y′1 = x+ c2ex − c3e−x, y′′1 = 1 + c2e
x + c3e−x e y′2 = c5e
x − c6e−x.
Substituindo no sistema inicial resulta{1 + c2e
x + c3e−x + c4 + c5e
x + c6e−x = 0
x+ c2ex − c3e−x + c5e
x − c6e−x = x
⇔
{(1 + c4) + (c2 + c5)ex + (c3 + c6)e−x = 0
x+ (c2 + c5)ex + (−c3 − c6)e−x = x
⇔
1 + c4 = 0
c2 + c5 = 0
c3 + c6 = 0
⇔
c4 = −1
c5 = −c2c6 = −c3
.
Assim a solucao geral do sistema dado e{y1 = c1 + c2e
x + c3e−x + 1
2x2
y2 = −1− c2ex − c3e−x, c1, c2, c3 ∈ R.
Observacao. Se ∆(D) = 0 o sistema em causa pode ser impossıvel.
Analise Matematica III 2013/2014
58
10 Transformada de Laplace e aplicacoes
Transformada de Laplace: definicao e propriedades
Seja f uma funcao real de variavel real definida em [0,+∞[. Chama-se transformada de Laplace de f
(se existir) a funcao F definida por
F (s) :=
∫ +∞
0
e−st f(t) dt, (28)
cujo domınio e constituıdo pelos valores de s, com s ∈ R, para os quais o integral improprio converge.
Recorde-se que o integral improprio (28) converge se para todo o b ∈ R+ existir o integral definido∫ b
0
e−st f(t) dt e, alem disso, existir limb→+∞
∫ b
0
e−st f(t) dt. A transformada de Laplace de f(t) e represen-
tada ora por F (s) ou por L {f(t)} L .
Exemplo. Seja f(t) = eat, t ∈ [0,+∞[, com a uma constante real. Averiguemos se f admite transformada
de Laplace. Seja b ∈ R+. Temos
∫ b
0
e−st f(t) dt =
∫ b
0
e(a−s)t dt =
e(a−s)b − 1
a− s, se s 6= a
b, se s = a
.
Segue-se que, se s > a,
limb→+∞
∫ b
0
e−st f(t) dt =1
s− a,
mas se s ≤ a, aquele limite nao existe. Assim,
F (s) = L {eat} =1
s− a, s > a.
Em particular, para a = 0, obtemos
L {1} =1
s, s > 0.
Uma vez que a transformada de Laplace e definida atraves de um integral improprio, e de interesse
analisar condicoes que garantam a convergencia desse integral e que, portanto, assegurem a existencia da
transformada de Laplace. Comecemos por introduzir a seguinte definicao.
Uma funcao f , real de variavel real, diz-se de ordem exponencial α (quando t → ∞) se existem
constantes positivas t0 e M , tais que
|f(t)| ≤M eαt, para todo o t ≥ t0. (29)
Exemplos.
(a) A funcao f(t) = eat e de ordem exponencial, pois satisfaz a condicao (29) com M = 1, α = a e para
qualquer t0 > 0.
(b) Para a ∈ R, a funcao f(t) = sin(at) e de ordem exponencial, ja que |f(t)| ≤ 1 e, portanto, (29)
verifica-se para M = 1, α = 0 e qualquer t0 > 0. O mesmo se verifica para a funcao f(t) = cos(at).
Analise Matematica III 2013/2014
59
(c) Para n ∈ N, a funcao f(t) = tn e de ordem exponencial. Com efeito, pelo facto de
limt→+∞
tn
et= 0,
e usando a definicao de limite,
∃ t0 > 0 : t ≥ t0 ⇒tn
et≤ 1.
Assim,
|f(t)| = tn ≤ et, para todo o t ≥ t0,
e, portanto, f e de ordem exponencial.
Antes de enunciarmos o resultado seguinte, recordemos que uma funcao real de variavel real, f , e dita
seccionalmente contınua em I = [0,+∞[, se em cada subintervalo limitado de I a funcao for contınua em
todos os pontos desse intervalo com eventual excepcao de um numero finito de pontos, pontos esses que
devem ser de descontinuidades de primeira especie, isto e, os limites laterais nos pontos de descontinuidade
devem existir e ser finitos.
Teorema (existencia da Transformada de Laplace). Seja f uma funcao real de variavel real
seccionalmente contınua em [0,+∞[ e de ordem exponencial α. Entao existe a transformada de Laplace
de f definida, pelo menos, em ]α,+∞[.
Demonstracao. Aula Teorica
Atendendo a linearidade do integral, e facil deduzir a seguinte propriededade.
Proposicao (linearidade da transformada de Laplace). Sejam f e g duas funcoes nas condicoes
do teorema anterior. Suponhamos que L {f(t)} esta definida para s > α e que L {g(t)} esta definida
para s > β. Entao, para quaisquer c1, c2 ∈ R, a funcao c1f + c2g admite transformada de Laplace e, para
s > max(α, β),
L {(c1f + c2g)(t)} = c1L {f(t)}+ c2L {g(t)}.
Exemplo. Determine L {3 + 4e2t}.
Pelo que dissemos anteriormente, sabemos que as funcoes f(t) = sin(at), f(t) = cos(at) ou f(t) = tn
admitem transformada de Laplace. Na proposicao seguinte apresentamos as transformadas de Laplace
destas funcoes e de outras, bem como os respetivos domınios.
Proposicao.
1. Para a ∈ R, L {a} =a
s, s > 0;
2. Para n ∈ N, L {tn} =n!
sn+1, s > 0;
3. L {t−1/2} =
√π
s, s > 0;
4. Para a ∈ R, L {eat} =1
s− a, s > a;
5. Para a ∈ R, L {sin at} =a
s2 + a2, s > 0;
6. Para a ∈ R, L {cos at} =s
s2 + a2, s > 0;
7. Para a ∈ R, L {sinh at} =a
s2 − a2, s > |a|;
8. Para a ∈ R, L {cosh at} =s
s2 − a2, s > |a|.
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Exemplos. Calcule:
(a) L {−e2t + 3 cos(5t)}; (b) L {sin2(t)}.
Teorema (da primeira translacao). Seja f uma funcao real definida em [0,+∞[ que admite trans-
formada de Laplace, F (s), definida para s > α. Entao, para a ∈ R,
L {eat f(t)} = F (s− a), definida para s tal que s > a+ α.
Demonstracao. Aula teorica
Exemplo. Calcule L {e2t sin t+ e4t sin2 t}.
Teorema (da segunda translacao). Seja f uma funcao real definida em [0,+∞[ que admite trans-
formada de Laplace, F (s), definida para s > α. Entao, para a ∈ R,
L {ua(t) f(t− a)} = e−asF (s), s > α,
onde ua e a funcao de Heaviside associada ao numero real a, definida por
ua(t) =
{0, t < a
1, t ≥ a.
Demonstracao. Aula teorica
No resultado seguinte veremos como calcular derivadas de transformadas de Laplace.
Teorema (Derivadas da transformada de Laplace). Seja n ∈ N e seja f uma funcao seccionalmente
contınua em [0,+∞[ de ordem exponencial α. Entao, para s > α,
L {tnf(t)} = (−1)nF (n)(s).
Exemplos. Calcule:
(a) L {t sin(at)}, com a ∈ R; (b) L {te−4t sin t}.
Vejamos agora como sao as transformadas de Laplace de derivadas.
Teorema (Transformada de Laplace de derivadas). Sejam n ∈ N, f, f ′, · · · , f (n−1) funcoes
contınuas e f (n) seccionalmente contınua em [0,+∞[. Suponhamos que todas estas funcoes sao de or-
dem exponencial α. Entao existe a transformada de Laplace de f (n) e
L {f (n)(t)} = snL {f(t)} − sn−1f(0)− sn−2f ′(0)− · · · − sf (n−2)(0)− f (n−1)(0), para s > α.
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Notemos que, em particular,
L {f ′(t)} = sL {f(t)} − f(0) e L {f ′′(t)}(s) = s2L {f(t)} − sf(0)− f ′(0).
Veremos de seguida como se calculam transformadas de Laplace de certo tipo de integrais.
Sejam f e g funcoes reais seccionalmente contınuas em [0,+∞[. O produto de convolucao de f e g e
a funcao real, denotada por f ∗ g, definida por
(f ∗ g)(t) =
∫ t
0
f(τ)g(t− τ) dτ, t ≥ 0.
Exemplo. Se f(t) = t e g(t) = 1, temos
(f ∗ g)(t) =
∫ t
0
τ dτ =t2
2, t ≥ 0.
O exemplo anterior evidencia que o produto de convolucao e diferente do produto usual de funcoes.
No entanto o produto de convolucao partilha algumas das propriedades da multiplicacao usual.
Teorema (propriedades da convolucao). Sejam f, g, h funcoes reais seccionalmente contınuas em
[0,+∞[. Entao
1. f ∗ g = g ∗ f ,
2. f ∗ (g + h) = (f ∗ g) + (f ∗ h),
3. (f ∗ g) ∗ h = f ∗ (g ∗ h),
4. f ∗ 0 = 0.
Teorema. Sejam f e g funcoes reais seccionalmente contınuas em [0,+∞[, de ordem exponencial α.
Entao
L {(f ∗ g)(t)} = F (s)G(s)
onde F (s) = L {f(t)} e G(s) = L {g(t)}.
Corolario. Seja f uma funcao real seccionalmente contınua em [0,+∞[ e de ordem exponencial α. Entao
L
{∫ t
0
f(τ) dτ
}=F (s)
s, s > max(0, α).
Transformada de Laplace inversa
Recordemos que: dada uma funcao f : [0,+∞[→ R a sua transformada de Laplace, se existir, e uma
funcao de variavel s definida por
F (s) =
∫ +∞
0
e−st f(t) dt,
para os valores de s para os quais este integral improprio converge. Vimos que se f for seccionalmente
contınua e de ordem exponencial α entao existe a transformada de Laplace de f , F (s) = L {f(t)}, s > α.
Analise Matematica III 2013/2014
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Consideremos agora o problema inverso: dada uma funcao F , na variavel s, existira uma funcao f(t)
tal que F (s) = L {f(t)}? Pode existir ou nao. A funcao f , se existir, diz-se a transformada de Laplace
inversa de F e escreve-se f(t) = L −1{F (s)}.Notemos que a transformada de Laplace inversa de uma funcao F (s) pode nao ser unica. Pode
acontecer que L {f1(t)} = L {f2(t)} com f1 6= f2. Tal deve-se ao facto de a transformada de Laplace
ser definida atraves de um integral, cujo valor nao e afectado se forem alterados os valores da funcao
integranda num numero finito de pontos isolados. No entanto, se f1 e f2 forem contınuas em [0,+∞[ e
L {f1(t)} = L {f2(t)}, entao f1 = f2 em [0,+∞[.
Antes de prosseguirmos, vejamos a utilidade do calculo da transformada de Laplace inversa. Conside-
remos o seguinte problema de valor inicial
y′′ − y = −t, y(0) = 0, y′(0) = 1.
Se aplicarmos a transformada de Laplace a ambos os membros da equacao diferencial e usarmos a linea-
ridade da transformada, obtemos
L {y′′(t)} − Y (s) = − 1
s2,
onde Y (s) = L {y(t)}. Usando as propriedades da transformada de Laplace e as condicoes iniciais, temos
sucessivamente
s2Y (s)− sy(0)− y′(0)− Y (s) = − 1
s2
⇔ s2Y (s)− 1− Y (s) = − 1
s2
⇔ (s2 − 1)Y (s) =s2 − 1
s2.
⇔ Y (s) =1
s2.
Entao y(t) = L −1{1/s2} = t e a solucao do problema de valor inicial. Notemos que y(t) = t nao e a unica
funcao cuja transformada de Laplace e 1/s2. Por exemplo, se g for a funcao definida por
g(t) =
{t, se t 6= 3
0, se t = 3,
a transformada de Laplace de g tambem e 1/s2. Como foi acima referido, tal deve-se ao facto de a
transformada de Laplace ser definida atraves de um integral, cujo valor nao e afectado se forem alterados
os valores da funcao integranda num numero finito de pontos isolados. No entanto ha uma diferenca
importante entre y e g, e que a funcao y e contınua em [0,+∞[ enquanto g nao e. Interessam-nos funcoes
contınuas, uma vez que o objetivo e encontrar solucoes de equacoes diferenciais.
Exemplos. Determine L −1{F (s)}, em cada um dos seguintes casos.
(a) F (s) =2
s3; (b) F (s) =
2
s2 + 4; (c) F (s) =
s− 1
s2 − 2s+ 5.
Nos exemplos anteriores foi possıvel usar diretamente a informacao disponibilizada na Tabela da Trans-
formada de Laplace. Contudo, nem sempre as funcoes das quais se pretende calcular a transformada de
Laplace inversa estao nesta forma. Podera assim ser util o seguinte resultado, o qual e consequencia da
linearidade de L .
Analise Matematica III 2013/2014
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Proposicao. Sejam F e G funcoes que admitem transformadas de Laplace inversas e sejam c1, c2 ∈ R.
Entao
L −1{c1F (s) + c2G(s)} = c1L−1{F (s)}+ c2L
−1{G(s)}.
Exemplos. Determine L −1{F (s)}, onde
(a) F (s) =1
s4; (b) F (s) =
1
(s+ 1)5; (c) F (s) =
2s+ 1
s2 + 3.
Para determinar a transformada de Laplace inversa de funcoes racionais na forma P (s)Q(s) , onde P (s)
e Q(s) sao polinomios com o grau de P inferior ao de Q, e importante decompor a funcao em fracoes
simples, tal como e feito para o calculo de primitivas de funcoes racionais. Assim ha tres casos a distinguir,
consoante as raızes de Q sejam reais simples, reais multiplas ou complexas. Recordemos que:
1) Se todas as raızes de Q(s) sao reais e distintas; sejam elas r1, r2, · · · , rn, entao existem numeros reais
A1, A2, · · ·An, tais queP (s)
Q(s)=
A1
s− r1+
A2
s− r2+ · · ·+ An
s− rn.
2) Se Q(s) tem alguma raiz real r de multiplicidade m, na expansao em fracoes simples correspondem
as parcelasA1
s− r+
A2
(s− r)2+ · · · Am
(s− r)m,
com A1, A2, · · ·Am numeros reais.
3) Se a±bi sao raızes complexas conjugadas de Q(s) com multiplicidade m, entao a parte correspondente
na expansao em fracoes simples e
C1s+D1
(s− a)2 + b2+
C2s+D2
[(s− a)2 + b2]2+ · · · Cms+Dm
[(s− a)2 + b2]m,
com Ci, Di, i = 1, · · · ,m numeros reais.
As constantes podem ser determinadas usando, por exemplo, o metodo dos coeficientes indetermina-
dos.
Exemplos. Calcule:
(a) L −1{
3
s2 + 3s− 10
}; (b) L −1
{3s− 1
s3 − 2s2 + 2s
}; (c) L −1
{s2 + 9s+ 2
(s− 1)2(s+ 3)
}; (d) L −1
{1
(s2 + 1)2
}.
Aplicacao a resolucao de equacoes diferenciais lineares com coeficientes constantes
A transformada de Laplace pode ser usada para resolver equacoes diferenciais lineares com coeficien-
tes constantes sujeitas a condicoes iniciais em t = 0. Estudamos anteriormente metodos para resolver
este tipo de problemas. Os metodos usados anteriormente consistiam em encontrar em primeiro lugar a
solucao geral da equacao diferencial e usar depois as condicoes iniciais para encontrar a solucao particular
pretendida. Como veremos a transformada de Laplace permite encontrar a solucao do problema de valor
inicial sem necessidade de encontrar a solucao geral da equacao diferencial. Outra vantagem do metodo da
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transformada de Laplace, e que este permite considerar equacoes diferenciais em que o termo independente
tenha algumas descontinuidades, em particular funcoes definidas por recurso a funcao de Heaviside.
Vejamos entao de que modo a transformada de Laplace pode ser aplicada para resolver problemas de
valor inicial.
Seja I ⊂ [0,+∞[ um intervalo tal que 0 ∈ I. Consideremos o problema de valor inicial{any
(n) + an−1y(n−1) + · · ·+ a1y
′ + a0y = g(t), t ∈ Iy(j)(0) = cj , j = 0, · · · , n− 1
onde an 6= 0. Se necessario estendemos g a [0,+∞[ definindo g(t) = 0 para t /∈ I e suponhamos que
g admite transformada de Laplace (basta que seja seccionalmente contınua e de ordem exponencial).
Suponhamos ainda que a equacao diferencial dada tem solucoes admitindo transformadas de Laplace (na
pratica tal sera constatado no final, apos a obtencao da solucao).
Apliquemos o seguinte metodo:
(i) Tomemos a transformada de Laplace a ambos os membros da equacao diferencial.
(ii) Usemos as propriedades da transformada de Laplace e as condicoes iniciais de modo a obter uma
equacao para a transformada de Laplace da funcao incognita Y (s) = L {y(t)} e resolvamos essa
equacao de modo a obter uma expressao para Y (s).
(iii) Determinemos a transformada de Laplace inversa de Y (s), obtendo-se y(t) = L −1{Y (s)} a solucao
do problema de valor inicial dado.
Exemplo. Utilizemos a transformada de Laplace para resolver o problema de valor inicial
y′′ + y = t, y(0) = 1, y′(0) = 2, t ≥ 0.
Seja Y (s) = L {y(t)}. A partir da equacao diferencial dada, usando as propriedades da transformada
de Laplace e as condicoes iniciais, temos sucessivamente
L {y′′ + y} = L {t}
⇔ s2Y (s)− sy(0)− y′(0) + Y (s) =1
s2
⇔ (s2 + 1)Y (s) =1
s2+ s+ 2
⇔ Y (s) =1
s2(s2 + 1)+
s
s2 + 1+
2
s2 + 1.
⇔ Y (s) =1
s2− 1
s2 + 1+
s
s2 + 1+
2
s2 + 1.
A solucao do problema de valor inicial dado e entao
y(t) = L −1{
1
s2− 1
s2 + 1+
s
s2 + 1+
2
s2 + 1
}= L −1
{1
s2
}+ L −1
{1
s2 + 1
}+ L −1
{s
s2 + 1
}= t+ sin t+ cos t.
Analise Matematica III 2013/2014
65
Exemplo. Determine a solucao de cada um dos seguintes problemas:
(a) y′′ + 4y =
{t, t < 2
5, t > 2, y(0) = −1, y′(0) = 0.
(b) y′′ − y = t− 2, y(2) = 3, y′(2) = 0.
A transformada de Laplace pode tambem ser utilizada para determinar a solucao de um sistema de
equacoes diferenciais de ordem n (n ≥ 1), de coeficientes constantes, sujeito a condicoes iniciais. Aplicando
a transformada de Laplace a cada uma das equacoes diferenciais que constituem o sistema, obtemos um
sistema de equacoes algebricas nas variaveis que sao as transformadas de Laplace das funcoes que intervem
nas equacoes diferenciais dadas. Apos se proceder a determinacao da solucao do sistema de equacoes
algebricas, as funcoes solucao do sistema de equacoes diferenciais obtem-se aplicando L −1 as solucoes do
sistema algebrico.
Exemplo. Determinemos a solucao do sistema{x′(t)− 2x(t) + 2y(t) = 0
y′(t)− y(t) + 3x(t) = 0
sujeito as condicoes iniciais x(0) = 5 e y(0) = 0.
Aplicando a transformada de Laplace a cada uma das equacoes diferencias que constituem o sistema
e considerando X(s) = L {x(t)} e Y (s) = L {y(t)}, resulta{sX(s)− x(0)− 2X(s) + 2Y (s) = 0
sY (s)− y(0)− Y (s) + 3X(s) = 0⇔
{(s− 2)X(s) + 2Y (s) = 5
3X(s) + (s− 1)Y (s) = 0.
Usando a regra de Cramer, vem
X(s) =
∣∣∣∣∣ 5 2
0 s− 1
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ s− 2 2
3 s− 1
∣∣∣∣∣=
5(s− 1)
s2 − 3s− 4e Y (s) =
∣∣∣∣∣ s− 2 5
3 0
∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ s− 2 2
3 s− 1
∣∣∣∣∣=
−15
s2 − 3s− 4.
Como5(s− 1)
s2 − 3s− 4=
3
s− 4+
2
s+ 1e
−15
s2 − 3s− 4=−3
s− 4+
3
s+ 1
a solucao do problema e dada por
x(t) = L −1{
3
s− 4+
2
s+ 1
}= 3e4t + 2e−t
e
y(t) = L −1{−3
s− 4+
3
s+ 1
}= −3e4t + 3e−t.
Analise Matematica III 2013/2014
Bibliografia
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