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Cláudia Marina Teixeira Martinho Os Recursos Didáticos no Ensino-Aprendizagem de Filosofia no Ensino Secundário Outubro de 2012

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  • Cludia Marina Teixeira Martinho

    Os Recursos Didticos noEnsino-Aprendizagem de Filosofia noEnsino Secundrio

    Outubro de 2012

  • Outubro 2012

    Relatrio de EstgioMestrado em Ensino de Filosofia no Ensino Secundrio

    Trabalho efetuado sob a orientao doDoutor Artur Manuel Sarmento Manso

    Cludia Marina Teixeira Martinho

    Os Recursos Didticos noEnsino-Aprendizagem de Filosofia noEnsino Secundrio

    Universidade do MinhoInstituto de Educao

  • ii

    DECLARAO

    Nome: Cludia Marina Teixeira Martinho

    Endereo Eletrnico: [email protected] Telefone: 933263902

    Nmero do Bilhete de Identidade: 10590745

    Ttulo do Relatrio: Os Recursos Didticos no Ensino-Aprendizagem de Filosofia no Ensino Secundrio

    Orientador: Doutor Artur Manuel Sarmento Manso

    Ano de concluso: 2012

    Designao do Mestrado: Mestrado em Ensino de Filosofia no Ensino Secundrio

    AUTORIZADA A REPRODUO INTEGRAL DESTE RELATRIO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAO,

    MEDIANTE DECLARAO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

    Universidade do Minho, ___/___/______

    Assinatura: ______________________________________________

    mailto:[email protected]

  • iii

    No se aprende, Senhor, na fantasia,

    Sonhando, imaginando ou estudando,

    Seno vendo, tratando e pelejando.

    Cames, Os Lusadas, Canto X, Estrofe 153

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria de registar o meu profundo apreo a todos aqueles que, de diferentes formas,

    me apoiaram na concretizao do presente trabalho.

    Agradeo Dr. Maria Clara Gomes, orientadora cooperante do meu estgio pedaggico,

    pelo seu exemplo, empenho e dedicao, que me permitiram refletir sobre as melhores

    metodologias a utilizar na sala de aula e a forma mais adequada de lecionar os contedos

    cientficos na rea de Filosofia.

    Agradeo ao meu supervisor de estgio, Doutor Artur Manso, por toda a sua

    disponibilidade, incentivo e acompanhamento ao longo do meu estgio.

    Escola Secundria Alberto Sampaio, em Braga, estou grata por ter permitido a

    realizao do meu estgio pedaggico e pela abertura com que me recebeu.

    Agradeo a todos os alunos da turma do 10 O, que partilharam comigo esta experincia

    e me permitiram aprender e refletir sobre o ensino-aprendizagem da filosofia.

    minha amiga e colega de estgio, Epifnia Oliveira, agradeo sobretudo a sua amizade,

    presena e companheirismo. A nossa cumplicidade e partilha constante tornaram, sem qualquer

    margem para dvidas, este caminho menos difcil de percorrer.

    Um agradecimento especial minha famlia e amigos pelo apoio incondicional em todos

    os momentos, e pelos momentos menos prximos, que permitiram a realizao deste trabalho.

    Expresso, por fim, a minha gratido a todas as pessoas que me acompanharam neste

    percurso que no foram mencionadas, mas que contriburam, indiscutivelmente, para a

    concretizao deste projeto.

    Muito obrigada a todos!

  • v

    RESUMO

    Os Recursos Didticos no Ensino-Aprendizagem de Filosofia no Ensino Secundrio

    O presente trabalho, intitulado Os Recursos Didticos no Ensino-Aprendizagem de Filosofia

    no Ensino Secundrio, o relatrio de estgio de Cludia Marina Teixeira Martinho e foi

    elaborado no mbito do Mestrado de Ensino de Filosofia no Ensino Secundrio, da Universidade

    do Minho. O referido estgio decorreu na Escola Secundria Alberto Sampaio, na cidade de

    Braga, durante o ano letivo de 2011/2012, e foi desenvolvido numa turma do 10 ano, em que

    se lecionaram as temticas relativas tica, filosofia poltica e filosofia da arte.

    Ao longo do relatrio defendemos que o ensino-aprendizagem da filosofia no ensino

    secundrio influenciado pelos recursos didticos utilizados na sala de aula. Neste sentido, ao

    longo do estgio, consideramos pertinente colocar em prtica diferentes estratgias e recursos

    pedaggicos que potenciassem a aprendizagem, o interesse, a motivao e o sucesso

    acadmico dos alunos.

    O trabalho composto por introduo, trs captulos centrais, concluso, referncias

    bibliogrficas e um apartado de anexos. No primeiro captulo procedemos caraterizao do

    contexto em que decorreu o estgio pedaggico e apresentamos a escola e a turma onde foi

    implementado o nosso plano geral de interveno, bem como os objetivos e as estratgias que o

    nortearam. No segundo captulo explicitamos, por um lado, o que so os recursos didticos e

    qual a sua importncia no processo de ensino-aprendizagem, e por outro, descrevemos a nossa

    prtica letiva e a respetiva estruturao das aulas. O terceiro captulo ocupa-se com a avaliao

    da nossa interveno pedaggica, que foi baseada na implementao do Projeto de Interveno

    Pedaggica Supervisionada.

    Palavras-Chave: Ensino de Filosofia, Recursos Didticos, Processo de Ensino-aprendizagem.

  • vi

    ABSTRACT

    The Didactic Resources in Philosophy Teaching-Learning Process in Secondary Education

    This paper, entitled The Didactic Resources in Philosophy Teaching-Learning Process in

    Secondary Education, is the probation report by Cludia Marina Teixeira Martinho. It was carried

    out in the course of the Philosophy Teaching Master in Secondary Education, in the University of

    Minho. The probationary period took place in Alberto Sampaio Secondary School, in Braga, in the

    2011/2012 school year. It was conducted with 10th-grade students who were taught the

    following philosophy branches: ethics, political philosophy and philosophy of art.

    Throughout the report we vindicate that the didactic resources used in the classroom have

    a great impact on philosophy teaching-learning process in secondary education. Thus, during the

    probationary period, we found it pertinent to use different strategies and pedagogical resources

    which might promote the learning, the interest, the motivation and the students academic

    success.

    The paper is formed by an introduction, three main chapters, a conclusion, bibliographical

    references and annexes. In the first chapter we characterise the context in which the pedagogical

    probationary period occurred and present the school and the class where our general plan of

    intervention was executed, as well as the goals and the strategies which guided it. In the second

    chapter, we explain, on one hand, what didactic resources are and their importance in the

    teaching-learning process, and, on the other hand, describe our teaching practice and its

    respective structure in class. The third and final chapter deals with the assessment of our

    pedagogic intervention which was based on the implementation of the Supervised Pedagogical

    Intervention Project.

    Keywords: Philosophy Teaching, Didactic Resources, Teaching-learning Process.

  • vii

    NDICE

    AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. IV

    RESUMO ............................................................................................................................... V

    ABSTRACT ........................................................................................................................... VI

    INTRODUO........................................................................................................................ 1

    CAPTULO 1: CONTEXTO E PLANO GERAL DE INTERVENO ................................................ 4

    1.1. O CONTEXTO DE INTERVENO ........................................................................................................... 5

    1.2. O PROJETO DE INTERVENO PEDAGGICA SUPERVISIONADA .................................................................... 8

    CAPTULO 2: DESENVOLVIMENTO DA INTERVENO ......................................................... 13

    2.1 OS RECURSOS DIDTICOS NO ENSINO-APRENDIZAGEM .......................................................................... 14

    2.2 A PRTICA DA LECIONAO .............................................................................................................. 23

    2.2.1 O PROJETO DE EDUCAO SEXUAL (PES) .................................................................................... 27

    2.2.2 TICA, FILOSOFIA POLTICA E FILOSOFIA DA ARTE ........................................................................... 33

    CAPTULO 3: AVALIAO DA INTERVENO ........................................................................ 46

    CONCLUSO ....................................................................................................................... 51

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................................................... 55

    ANEXOS .............................................................................................................................. 58

    ANEXO 1 PROJETO DE INTERVENO PEDAGGICA SUPERVISIONADA ............................................................. 59

    ANEXO 2 GUIO DE FILME E FICHA DE TRABALHO...................................................................................... 65

    ANEXO 3 EXEMPLO DE UMA PLANIFICAO ............................................................................................... 67

    ANEXO 4 EXEMPLO DE UM PLANO DE AULA ............................................................................................... 70

    ANEXO 5 EXEMPLO DE UM MATERIAL PARA LECIONAO .............................................................................. 72

    ANEXO 6 EXEMPLO DE UMA SNTESE TEXTUAL ........................................................................................... 76

    ANEXO 7 EXEMPLO DE UMA FICHA DE TRABALHO ....................................................................................... 77

    ANEXO 8 EXEMPLO DE UMA FICHA DE AVALIAO QUALITATIVA...................................................................... 78

    ANEXO 9 EXEMPLO DE UM EXERCCIO DE APLICAO .................................................................................. 80

    ANEXO 10 QUESTIONRIO .................................................................................................................... 82

  • 1

    INTRODUO

    A escola e o ensino so, indiscutivelmente, aspetos essncias no desenvolvimento dos

    indivduos, nomeadamente dos jovens. Os ensinamentos proporcionados pelas diferentes

    disciplinas podem levar os alunos a adquirir importantes competncias pessoais, socias e

    profissionais e por isso consideramos que todo o trabalho e reflexo feito para promover o

    sucesso educativo ser bem-vindo. neste mbito que o nosso trabalho se insere. Pretendemos

    evidenciar, tendo em conta o tema do nosso projeto de interveno, que o uso de recursos

    didticos adequados e variados promovem a motivao, o interesse e a aprendizagem escolar,

    nomeadamente no ensino de filosofia no ensino secundrio. Assim, para que o ensino-

    aprendizagem de filosofia decorra com sucesso, existem um conjunto de aspetos,

    nomeadamente de nvel didtico-pedaggico, que devemos ter em considerao na nossa prtica

    letiva.

    Consideramos que a educao deve contar, entre outros saberes, com o ensino da

    filosofia, isto no sentido de formar pessoas conscientes, que possam pensar por si mesmas,

    refletir criticamente e definir aes, considerando as mltiplas dimenses da vida do homem.

    Seja como for, no devemos esquecer que, quando ensinamos filosofia, to importantes quanto

    os contedos a aprender so os objetivos ou intenes gerais com que se ensina e aprende,

    tais como o desenvolvimento do sentido crtico e da capacidade de problematizao, a

    maturidade intelectual, a sensibilidade a valores morais, culturais, etc. (Boavida, 2010: 55).

    Tendo em conta estes objetivos consideramos que existem um conjunto de metodologias que

    sero mais adequadas para atingir esses propsitos. Assim, e como refere Boavida, para obter

    certos objetivos to importante defini-los com rigor como aplicar os mtodos mais adequados

    (ibidem). No nosso entender, dentro desses parmetros procedimentais podemos incluir, pelo

    impacto que podem ter na aprendizagem em sala de aula, a utilizao de recursos didticos

    adequados e variados. Dentro dos recursos didtico-pedaggicos de apoio podemos incluir os

    mtodos, tcnicas e estratgias de lecionao, as atividades implementadas e os materiais

    utilizados em sala de aula.

    Posto isto, julgamos que a escolha do tema do nosso projeto, Os Recursos Didticos no

    Ensino-Aprendizagem de Filosofia no Ensino Secundrio, pertinente e est plenamente

    justificada. Tendo em conta a nossa opo e a apropriao do tema que escolhemos, de referir

    que a preocupao pelo planeamento e pela utilizao de recursos didticos adequados esteve

  • 2

    sempre presente no desenvolvimento do nosso plano de interveno, plano este que esteve na

    base da realizao do estgio profissional. Assim, a utilizao desses recursos didticos

    adequados, aplicados ao ensino da filosofia na sala de aula, refletem, entre outros aspetos a

    considerar, toda a metodologia, a didtica e a prtica que consideramos adequada na lecionao

    da disciplina de filosofia no ensino secundrio.

    Este projecto, que engloba uma dimenso de investigao-ao, foi desenvolvido na

    Escola Secundria Alberto Sampaio, em Braga, no ano letivo de 2011/2012, com uma turma de

    10 ano de escolaridade, do agrupamento de artes visuais.

    Assim, as finalidades primordiais deste texto, que resulta da implementao do nosso

    plano de interveno, so as seguintes: mostrar a importncia dos recursos didticos no

    processo de ensino-aprendizagem; defender o uso de recursos didticos variados e adequados

    ao ensino da filosofia em contexto de sala de aula; relatar como se desenvolveu a nossa

    experincia de lecionao; procurar que os alunos compreendam e discutam os problemas,

    teorias, argumentos e conceitos da filosofia, num clima de liberdade e de pensamento crtico;

    avaliar o impacto da nossa interveno.

    No primeiro captulo abordamos o plano de interveno pedaggica supervisionada, que

    esteve na base da nossa investigao-ao, bem como os objetivos e as estratgias que o

    nortearam. De seguida descrevemos o contexto em que se desenvolveu o plano e o respetivo

    estgio pedaggico, caraterizando genericamente a Escola Secundria Alberto Sampaio e a

    turma do 10 O Curso Cientfico-Humanstico de Artes Visuais.

    No segundo captulo comeamos por explicitar o que so os recursos didticos, dando

    alguns exemplos da sua abrangncia e esclarecendo a importncia e o impacto que estes

    podem ter no processo de ensino-aprendizagem. Seguidamente, e agora mais no mbito da

    filosofia, descrevemos o modo como concretizamos na sala de aula o nosso plano de

    interveno, aplicando na prtica as evidncias encontradas na primeira parte do captulo.

    aqui que explicamos, com algum detalhe, a estrutura e os momentos principais da nossa

    lecionao, primeiramente no apoio ao Projeto de Educao Sexual (PES) e posteriormente na

    explicitao das temticas relativas tica, filosofia poltica e filosofia da arte. medida que

    descrevemos a nossa prtica letiva vamos obviamente valorizando os recursos didtico-

    pedaggicos, manifestos na metodologia, nas estratgias, nas atividades e nos materiais

    utilizados na lecionao.

  • 3

    No terceiro captulo procedemos a uma avaliao global do plano e do processo de

    interveno. No sentido de recolhermos os dados para proceder a esta apreciao recorremos a

    estratgias de observao e de inqurito, focando a nossa ateno sobretudo nos aspetos

    relativos aos recursos didtico-pedaggicos utilizados em sala de aula.

    Na concluso apresentamos uma sntese das principais ideias explicitadas ao longo do

    relatrio, bem como uma reflexo pessoal da experincia de implementao do plano de

    interveno. Englobamos ainda, na nossa anlise, uma apreciao mais alargada no mbito do

    nosso mestrado, pois no nos limitamos apenas experiencia da unidade curricular designada

    de estgio profissional.

  • 4

    CAPTULO 1: CONTEXTO E PLANO GERAL DE INTERVENO

  • 5

    1.1. O contexto de interveno

    O nosso projeto de interveno pedaggica supervisionada foi desenvolvido na Escola

    Secundria Alberto Sampaio, uma escola situada no centro de Braga, mais concretamente na

    freguesia de So Lzaro. Esta escola serve especialmente a zona centro e sul da cidade,

    contudo, nos ltimos anos, tem-se acentuado a tendncia para uma maior diversificao,

    integrando alunos provenientes de todas as freguesias da cidade. Do ponto de vista sociolgico,

    integra uma populao estudantil diversificada com alunos oriundos de diferentes estratos

    sociais. Na realidade, esta diversidade tem fomentado o desenvolvimento de inmeros projetos e

    um ambiente educativo que parece adequado ao desenvolvimento da formao e das

    aprendizagens dos seus alunos.

    Para que a misso educativa da escola seja alcanada com sucesso esta oferece um

    vasto conjunto de estruturas de apoio aos seus alunos, entre os quais salientamos: a

    biblioteca/centro de recursos, salas de aula, salas de estudo, reprografia/papelaria, bar, cantina,

    sala dos alunos e outros espaos de desenvolvimento de atividades de enriquecimento curricular

    (como desporto escolar, oficinas, clubes, ateliers, revista Defacto, entre outros). A nvel

    arquitetnico a escola est renovada e possui recursos novos e variados, como os quatro

    auditrios disponveis ou os equipamentos instalados nas salas de aula (quadros interativos,

    computadores e projetores multimdia). O edifcio da escola, requalificado, tem sido alvo de

    aprovao e agrado por parte da comunidade educativa, os seus espaos (interiores e exteriores)

    so consensualmente considerados como agradveis e propiciadores de um bom clima de

    trabalho e convvio.

    importante salientar que esta escola obteve resultados exemplares na ltima avaliao

    externa que lhe foi feita, no ano de 2007, sendo avaliada com Muito Bom nos cinco

    parmetros avaliados: Resultados; Prestao do servio educativo; Organizao e gesto escolar;

    Liderana; Capacidade de auto-regulao e melhoria da escola.

    No que concerne aos Resultados estes situaram-se, na sua generalidade, acima da mdia

    nacional. De acordo com o referido relatrio:

    Nos cursos cientfico-humansticos/gerais do ensino secundrio as taxas de transio dos 10 e 11 anos

    so superiores mdia nacional, enquanto que no 12 ano se apresentam ligeiramente abaixo desse

    referente. Nos cursos tecnolgicos, do mesmo nvel de ensino, as taxas de transio dos 10, 11 e 12

    anos de escolaridade situam-se bastante acima das mdias nacionais, com especial relevncia para o 12

    ano em que a taxa ultrapassa o referente nacional em 25,7%. (Fernandes, 2007: 4).

  • 6

    Relativamente Prestao do servio educativo, notria uma preocupao em

    responder s necessidades educativas dos alunos, destacando-se aqui, por exemplo, o apoio aos

    alunos surdos e o Servio de Psicologia e Orientao. Em relao Organizao e gesto

    escolar, existem vrias atividades de complemento curricular que tm como objetivo divulgar e

    promover diversos saberes. No que respeita ao aspeto da Liderana, so muitos os pontos fortes

    a destacar, mas salientamos que foi detetada uma liderana muito forte e determinada, que se

    foca nos problemas que vo surgindo e na sua resoluo. No que se refere questo da

    capacidade de auto-regulaco e melhoria da escola, evidenciamos a constituio de um

    observatrio interno permanente direcionado para as reas de interveno consideradas

    prioritrias tais como a avaliao dos resultados internos e externos dos alunos e a avaliao do

    desempenho das estruturas de articulao curricular (Fernandes, 2007: 6).

    So de realar os seguintes pontos fortes desta escola: a liderana forte e assente

    estruturalmente na organizao; a oferta alargada de atividades de enriquecimento curricular; a

    abertura diversidade e mudana e a cultura de incluso. Porm, destacamos tambm

    algumas debilidades, como a irregularidade da participao dos pais e encarregados de

    educao e o menor aproveitamento nas aulas de substituio.

    Dos objetivos gerais do Projeto Educativo da Escola Secundria Alberto Sampaio

    evidenciamos dois: Criar condies que permitam a consolidao e aprofundamento da

    autonomia pessoal conducente a uma realizao individual e socialmente gratificante; Promover

    uma cultura de liberdade, participao, reflexo, qualidade e avaliao (2011: 18). Estes

    objetivos esto tambm consagrados nos valores fundamentais no Regulamento Interno (2010)

    da Escola, nomeadamente nos pontos 3 e 4 do 2 artigo. Destacamos estes objetivos porque

    focam aspetos que procuramos cultivar na sala de aula ao longo da nossa lecionao.

    A turma onde desenvolvemos a lecionao, e implementmos o nosso projeto, foi o 10

    O, do Curso Cientfico-Humanstico de Artes Visuais, constituda por 27 alunos, 14 do sexo

    feminino e 13 do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 14 e os 16 anos, tendo a

    maioria dos alunos 15 anos (59%, equivalente a 16 alunos).

    Quanto aos comportamentos e participao dos elementos da turma em sala de aula

    podemos constatar que uma turma com um nvel mediano. So raros os comportamentos

    menos adequados, salvo alguma desateno ou conversa entre alunos e de uma forma geral

    eles so participativos. De qualquer forma conseguimos identificar dois grupos distintos de

    alunos, um mais atento, interessado e participativo e outro mais desinteressado e/ou desatento,

  • 7

    com estudantes que esto aparentemente desligados das atividades da sala de aula.

    Sublinhamos, do mesmo modo, um comportamento interessante e compreensvel: os alunos

    parecem gostar mais de aulas dinmicas, onde se possam discutir filosoficamente problemas,

    teorias e argumentos, aplicar os conhecimentos mais tericos e abstratos, onde haja um

    questionamento constante e recursos didticos variados, do que de lies meramente

    expositivas. Notamos, de forma genrica, que a maioria dos alunos colocava poucas dvidas e

    que alguns tinham dificuldade em expor uma opinio clara, coerente e devidamente

    fundamentada.

    Podemos tambm observar que esta foi uma turma razovel ao nvel dos resultados

    cognitivos. Dos vinte e sete alunos da turma foi notria uma melhoria de notas ao longo dos 3

    perodos. No final do ano letivo reprovaram 4 alunos disciplina de filosofia (todos estes

    estudantes ficaram retidos no 10 ano, pois tambm tiveram negativa a outras disciplinas), doze

    alunos obtiveram avaliaes entre 10 e 13 valores e onze tiveram notas entre os 14 e os 19

    valores.

    Ao longo da nossa lecionao procurmos atender s particularidades de cada aluno, s

    suas atitudes e dificuldades, de modo a ajud-los numa melhor aprendizagem da filosofia. A

    consulta e anlise da ficha socioeconmica da turma teve tambm bastante utilidade para

    comear a analisar o perfil da turma e averiguar as especificidades de cada aluno. Seja como

    for, da anlise dessa ficha de caraterizao, e apesar das diferenas interindividuais

    encontradas, no houve qualquer dado significativo que, por si s, nos pudesse indicar um

    impacto determinante no processo de ensino-aprendizagem. Consideramos que benfico para

    os nossos jovens alunos um ensino da filosofia com determinadas caratersticas, nomeadamente

    que seja crtico, que os ajude a refletir sobre a realidade, a examinar as diferentes

    mundividncias, a procurar boas razes para defenderem as suas posies, a saber argumentar;

    em suma, um ensino da filosofia que os ajude na sua formao enquanto cidados crticos,

    livres e autnomos.

  • 8

    1.2. O Projeto de Interveno Pedaggica Supervisionada

    O trabalho que agora encetamos tem na sua base um problema central que pretendemos

    analisar. Assim, com a nossa reflexo, procuramos indagar qual a forma mais adequada de

    ensinar filosofia no ensino secundrio, e mais especificamente tratamos de evidenciar o impacto

    dos recursos didticos no ensino-aprendizagem da filosofia.

    Quando pretendemos analisar que recursos so mais adequados para o ensino da filosofia

    estamos a investigar um problema que ao mesmo tempo didtico e metodolgico, que se

    prende particularmente com os mtodos, as tcnicas, as estratgias, os recursos e as prticas

    do ensino de filosofia. Podemos, ento, subdividir este problema em algumas outras questes,

    tais como: Quais os mtodos mais adequados para o ensino da filosofia em contexto escolar?

    Quais as melhores estratgias e prticas de ensino-aprendizagem da filosofia em sala de aula?

    Que materiais pedaggicos sero mais eficazes na lecionao da filosofia?

    Gostaramos agora de fazer notar que o ensino da filosofia dotado de algumas

    caratersticas que a distinguem do tratamento que dado a outras disciplinas. A forma como

    ensinamos filosofia diferente do modo como se ensina histria, geografia ou matemtica, por

    exemplo. Como refere Murcho (2002: 10) a filosofia uma atividade crtica, e no um corpo de

    conhecimentos, e continua afirmando que impossvel estudar e ensinar bem histria da

    filosofia ou das ideias sem saber filosofia primeiro. Neste sentido o professor de filosofia para

    alm de precisar de conhecer a disciplina que leciona, a sua histria, as suas teorias, os seus

    autores, os seus problemas e conceitos, tambm dever dominar o prprio processo de

    discusso filosfica. Assim, um professor de histria da filosofia tem de dominar a filosofia, tem

    de saber discutir os problemas, as teorias e os argumentos da filosofia, tem de saber distinguir

    os bons argumentos das falcias, tem de saber lgica e tem de saber pensar filosoficamente

    (ibidem).

    importante referirmos que o nosso Projeto de Interveno Pedaggica Supervisionada

    (cf. anexo 1) e a nossa lecionao, na disciplina de filosofia, vai de encontro ao estabelecido nos

    princpios gerais e organizativos da Lei de Bases do Sistema Educativo (1986), nomeadamente

    quando esta refere que: A educao promove o desenvolvimento do esprito democrtico e

    pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao dilogo e livre troca de opinies,

    formando cidados capazes de julgarem com esprito crtico e criativo o meio social em que se

    integram e de se empenharem na sua transformao progressiva.

  • 9

    Consideramos que a disciplina de filosofia (no ensino secundrio) fornece um contributo

    fundamental na concretizao dos objetivos que a lei de bases prope, nomeadamente ao

    contribuir para o desenvolvimento de cidados integralmente formados, com valores (estticos,

    espirituais, morais, cvicos, democrticos), com esprito reflexivo (crtico e aberto), e com uma

    cultura mais alargada.

    Pretendemos, assim, com o desenvolvimento do nosso projeto, contribuir igualmente para

    a promoo de uma cultura de liberdade, participao e reflexo, como proposto no projeto

    educativo da escola onde lecionamos e na legislao em vigor. Tendo em conta a temtica em

    estudo pretendemos ento averiguar quais os recursos e materiais didticos que promovem o

    ensino-aprendizagem de valores, do esprito reflexivo e da cultura mais alargada (como a lei de

    bases sugere nos seus princpios organizativos), em suma, investigar que recursos facilitam o

    sucesso no processo de ensino-aprendizagem da filosofia.

    Tendo em conta esta especificidade da filosofia podemos agora evidenciar que existe uma

    metodologia prpria para o seu ensino, isto , que promove mais adequadamente a

    aprendizagem de competncias que esta procura desenvolver, como o esprito crtico, a

    reflexividade, a autonomia, a criatividade, a capacidade de tomar decises, etc. neste sentido

    que consideramos que determinadas metodologias mais expositivas, ou o uso repetitivo e

    exclusivo de um determinado material, como o manual escolar ou o caderno dirio, no so os

    recursos mais adequados para promover o ensino motivado e eficaz da filosofia. preciso usar

    estratgias e mtodos que levem os alunos a desenvolver as competncias relativas ao filosofar

    e para isso h que fazer um esforo mltiplo e abrangente. H que planear bem as aulas,

    estudar cuidadosamente as matrias, contrastar teorias e argumentos, planear atividades,

    selecionar e efetuar materiais adaptados aos objetivos do ensino e do pblico alvo, enfim, h que

    escolher as estratgias mais adequadas para cada momento. Para fazer da filosofia o lugar

    crtico da razo no basta debitar aquilo que lemos ou ouvimos, mas preciso aprender a

    pensar.

    Atravs das observaes efetuadas na turma, enquanto assistamos lecionao da nossa

    orientadora cooperante, bem como por intermdio das pesquisas bibliogrficas que levamos a

    cabo, constatamos que determinados recursos eram os mais adequados para a aprendizagem

    da turma em que lecionmos. Estamos a falar da utilizao do mtodo dialgico; do

    questionamento constante; de representaes esquemticas; da leitura ativa; dos debates; das

    snteses; da realizao de jogos didticos; das fichas de trabalho/formativas; do uso de

  • 10

    powerpoints, com a explicao da matria, mas tambm com esquemas, imagens,

    documentrios ou excertos de filmes; do recurso a exemplos atuais e do dia a dia usados para

    comentar e reflectir criticamente os assuntos a estudar, entre outros recursos possveis.

    Julgamos que os alunos devem ser o centro da aprendizagem e servir de guia para o bom

    desenvolvimento da aula, desde que as problemticas levantadas sejam discutidas

    racionalmente, de forma livre e dialgica, usando as tcnicas relativas filosofia e ao

    desenvolvimento do pensamento reflexivo. O professor deve ento estimular os alunos a filosofar,

    incitando-os a argumentar, a pensar criticamente, de forma criativa, livre e autnoma. No

    podemos esquecer que a filosofia uma arte que implica um esprito de abertura, no sentido de

    se fundamentarem cada vez melhor as nossas ideias, levando a uma compreenso do mundo e

    da vida cada vez mais ampla.

    Tendo em conta o exposto, procuramos sempre, ao longo do desenvolvimento do nosso

    projeto, aplicar os princpios mais adequados ao ensino da filosofia, no sentido de tornar as

    aprendizagens mais interessantes e eficazes. Procuramos, ento, apostar em aulas mais

    dinmicas, que motivem os alunos, onde haja dilogo, debate e opinio crtica fundamentada,

    atravs de variados recursos didticos.

    Para que se possa ensinar melhor filosofia, e para que cada um de ns possa ser melhor

    professor, importante estudar, investigar e pr em prtica estas questes educativas, e este ,

    sem dvida, o momento ideal para o fazer, para experimentar diferentes metodologias, avaliar o

    seu impacto e refletir sobre elas, procurando melhorar e diversificar as estratgias e as

    atividades. Foi por isso que refletimos seriamente sobre diferentes questes didticas.

    Tendo em conta que vivemos num mundo cada vez mais global, com acesso facilitado a

    mltiplas informaes, e a recursos cada vez mais atrativos e variados, ambicionamos, com o

    nosso projeto, promover o ensino-aprendizagem da filosofia evidenciando a importncia da

    utilizao dos expedientes mais adequados para a sua lecionao. Acreditamos que os mtodos

    e as estratgias mais atuais podem ser dinamizados com mtodos e estratgias mais

    tradicionais, em prol de uma aprendizagem mais motivadora, eficaz e aprofundada.

    Pretendemos, neste sentido, demonstrar a importncia de rentabilizar os recursos didticos em

    benefcio de um ambiente de aprendizagem mais rico, desafiador e propcio melhoria das

    aprendizagens na disciplina de filosofia.

    Assim, e tendo em conta o exposto, pretendemos ao longo da nossa interveno

    pedaggica investigar as seguintes questes:

  • 11

    - Que representaes tm os alunos sobre os diversos mtodos/estratgias e recursos

    didticos usados no processo de ensino-aprendizagem da filosofia?

    - Quais as prticas de ensino-aprendizagem mais eficazes em filosofia, no campo da tica,

    da poltica e da esttica?

    - Quais os recursos didticos mais adequados no processo de ensino-aprendizagem em

    filosofia, no mbito da tica, da poltica e da esttica?

    Tendo em conta a temtica do nosso plano de interveno, os objetivos que nos

    propusemos atingir focaram-se essencialmente em quatro aspetos fundamentais: analisar as

    representaes dos alunos sobre os mtodos e recursos didticos utilizados na aula de filosofia;

    refletir sobre as melhores estratgias didticas e metodolgicas para o ensino da filosofia; avaliar

    criticamente a utilizao de diferentes recursos didticos na lecionao da filosofia em contexto

    de sala de aula; utilizar recursos didticos eficazes na lecionao da tica, da poltica e da

    esttica.

    Para executar o projeto planeamos implementar diversas estratgias, entre as quais:

    reflexo e anlise crtica da literatura referente s metodologias/estratgias e recursos didticos

    no processo de ensino-aprendizagem; reflexo e anlise crtica da literatura referente ao ensino

    da filosofia; observao, em sala de aula e por inqurito, dos mtodos e recursos didticos

    preferidos pelos alunos; aplicao das metodologias e recursos didticos que paream mais

    adequados ao ensino da filosofia no campo da lecionao da tica, da poltica e da esttica.

    Para recolher e posteriormente analisar a informao necessria para a implementao e

    avaliao do nosso projeto de interveno privilegiamos diversos instrumentos, tais como:

    grelhas de observao e de anlise dos alunos em sala de aula, questionrios sobre temas

    abordados, intervenes orais, fichas de trabalho, manuais e livros de apoio, tarefas escritas de

    sntese para compreender o tipo de conhecimento adquirido pelos alunos, questionrios sobre

    os recursos didticos usados no ensino da disciplina de filosofia.

    Ao longo do projeto centramo-nos numa metodologia de investigao-ao, em que a

    investigao se refletiu na escolha e estudo de um tema pertinente e relevante no ensino da

    disciplina de filosofia e o campo da ao se referiu implementao e ao desenvolvimento do

    projeto traado.

    O projeto que acabamos de expor, e que nos captulos seguintes passaremos a

    desenvolver, decorreu ao longo de 3 fases. Num primeiro momento passou pela observao e

    anlise das aulas da professora cooperante e pela investigao mais terica dos temas do

  • 12

    projeto. Posteriormente implementmos o nosso projeto atravs da prtica da lecionao, onde

    usamos um conjunto de estratgias, metodologias, atividades e materiais. Para finalizar o plano

    inicial procedemos a uma anlise e avaliao do projeto implementado (do processo e do

    produto).

    De seguida, passaremos a dar incio ao desenvolvimento da nossa interveno, no sem

    antes efetuarmos uma breve exposio sobre os recursos didticos no processo de ensino-

    aprendizagem.

  • 13

    CAPTULO 2: DESENVOLVIMENTO DA INTERVENO

  • 14

    2.1 Os Recursos Didticos no Ensino-Aprendizagem

    Os recursos didticos referem-se a todo e qualquer meio utilizado no contexto de um

    procedimento de ensino visando motivar o aluno e objetivando o aprimoramento do processo de

    ensino-aprendizagem, sendo frequentemente considerados como componentes do ambiente

    educacional que estimulam o aluno e as suas aprendizagens.

    De um modo genrico, os recursos didticos podem ser classificados como naturais

    (elementos de existncia real na natureza, como a gua, uma pedra ou animais, etc.);

    pedaggicos (o quadro, um cartaz, uma gravura, um filme, um slide, uma imagem, uma ficha de

    trabalho, um manual de apoio, etc.); tecnolgicos (rdio, gravador, televiso, CD, DVD,

    computador, projetor multimdia, ensino programado, laboratrio de lnguas, etc.) ou culturais

    (biblioteca pblica, museu, exposies, etc.). No caso da disciplina que lecionmos, e mais

    especificamente do presente trabalho, baseado no nosso projeto de interveno, so os recursos

    pedaggicos e tecnolgicos que mais nos interessam. Queremos ainda focar uma possvel

    classificao dos recursos mais tradicionais, como o dilogo/exposio oral, o manual, o

    caderno dirio, ou o quadro; ou mais modernos/tecnolgicos, que so dotados de um maior

    dinamismo e recorrem geralmente a meios mecnicos e tcnicos.

    Quando nos referimos aos recursos didticos estamos a falar de expedientes, de meios,

    que so colocados ao dispor da didtica, ou seja, so recursos e instrumentos que funcionam

    como auxiliares da pedagogia. Neste sentido, julgamos que o conceito de recursos didticos

    algo mais abrangente do que inicialmente poderamos pensar e no se refere apenas aos

    recursos materiais que usamos para dar apoio ao ensino. Para facilitar o processo de ensino-

    aprendizagem tambm utilizamos, juntamente com os materiais pedaggicos, um conjunto de

    atividades, de estratgias, de mtodos e tcnicas prprias do ensino.

    Os recursos didticos so assim utilizados, com maior ou menor frequncia, em diferentes

    disciplinas, reas de estudo ou atividades, e quer estes se constituam enquanto materiais,

    atividades, estratgias, tcnicas ou mtodos, so selecionados e utilizados no sentido de auxiliar

    o educando a realizar a sua aprendizagem mais eficientemente, constituindo-se num meio para

    facilitar, incentivar ou possibilitar o processo ensino-aprendizagem. Esta sem dvida a sua

    principal misso: coadjuvar o ensino, apoiar a aprendizagem, seja de contedos ou de

    competncias, seja de aspetos mais tericos ou prticos.

    Uma aula configura-se ento como um microssistema definido por determinados espaos,

    uma organizao social, certas relaes interativas, uma certa forma de distribuir o tempo e um

  • 15

    determinado uso de recursos didticos, numa interao entre todos os elementos (cf. Zabala,

    1998). Tendo em conta esta viso, apercebemo-nos de que os recursos so apenas um dos

    mltiplos aspetos a ter em conta na lecionao. No obstante a sua importncia, eles

    contribuem, juntamente com outros fatores, para auxiliar o processo de ensino-aprendizagem.

    Assim, devem ser sempre considerados como uma parte de um todo em interao, como um

    meio coadjuvante para alcanar um fim, e no como um fim em si mesmo.

    Se considerarmos que os recursos pedaggicos promovem a aprendizagem eficiente

    porque temos em conta que h alguma coisa alm da pessoa que ensina e da pessoa que

    aprende. Assim, defendemos, tal como Ferreira e Jnior (1975: 3), que o ambiente que cerca o

    aluno cria aspetos de grande importncia para a aprendizagem e se tivermos em considerao

    essas condicionantes que influenciam o processo de aprendizagem, poderemos at falar de

    uma ecologia da aprendizagem. Nessa ecologia, ocupam lugar de destaque os recursos

    audiovisuais. O recurso de ensino mais utilizado pelo professor continuar a ser a linguagem

    oral, mas esta pode ser bastante auxiliada por outros recursos que estimulem outros sentidos

    (ibidem).

    Ouvir e ver, olhar e escutar, so as formas bsicas de aprendizagem (cf. Wittich &

    Schuller, 1962: 9). No entanto, e tendo em conta os cinco mais importantes sentidos do

    homem, alguns cientistas concluram que a viso que apresenta maior possibilidade

    percentual de aprendizagem, com um valor de 83%, seguindo-se a audio com 11% (cf. Ferreira

    e Jnior, 1975: 3). Parece que a interao da capacidade de ver e ouvir influncia o quanto as

    pessoas aprendem e se isto verdade para os educandos de todas as idades, particularmente

    imperativo no que toca aos mais jovens.

    No sentido de promovermos a motivao e a aprendizagem dos alunos devemos criar,

    ento, um ambiente que permita estimular o maior nmero de sentidos possvel, especialmente

    a viso e a audio. Como podemos constatar a soma destes dois valores ronda uma

    possibilidade percentual de aprendizagem de 94%, sendo que os restantes sentidos somam

    entre si apenas 6%. Tendo em conta estes nmeros conclumos que as estratgias que mais

    devemos utilizar so aquelas que usam a voz e a imagem em simultneo. Constata-se ento que

    a combinao do oral e do visual permite uma alta reteno, e, portanto, uma facilidade muito

    maior na aprendizagem (Ferreira e Junior, 1986: 5).

    Quando o professor est a explicar oralmente a matria e ao mesmo tempo usa o quadro

    ou o manual escolar, ou promove a utilizao do caderno dirio, est a utilizar mtodos mais

  • 16

    tradicionais em que as estratgias mais orais e visuais esto a ser utilizadas. Mas pode tambm

    recorrer ao auxlio de recursos tecnolgicos mais modernos, nomeadamente de meios

    audiovisuais, que combinem som e imagem simultaneamente, nomeadamente atravs do uso

    de certos powerpoints, de jogos interativos, de filmes ou documentrios. Estes recursos

    permitem uma captao mais forte pelos nossos sentidos promovendo uma melhor aquisio de

    conhecimentos e apreenso de informaes, at porque muitas vezes apelam, exemplificando, a

    variadas situaes e exemplos prticos.

    Cada metodologia apresenta, obviamente, mais ou menos vantagens ou desvantagens.

    Comparativamente utilizao, na sala de aula, do tradicional quadro, por exemplo, h outros

    recursos, como o uso do projetor multimdia (com powerpoints, documentrios, exerccios

    prticos, exemplificaes, etc.) que pode trazer algumas vantagens. Com este tipo de recurso o

    professor permanece voltado para a turma, podendo assim manter o contato visual e controlar

    melhor os seus alunos, percebendo as suas reaes e, em funo dessa informao de retorno,

    desse feedback, pode modificar os seus procedimentos quando necessrio. Este material, que

    serve muitas vezes para orientar o processo de ensino-aprendizagem na aula, tem a vantagem

    de poder ser preparado em casa, de forma cuidada e pensada, e de poder ser utilizado

    posteriormente, permitindo novas melhorias. A mesma informao colocada no quadro seria

    menos atrativa, iria tomar muito mais tempo da aula e no poderia ser guardada para utilizaes

    posteriores. Mas o quadro tambm apresenta algumas vantagens, como a facilidade com que a

    qualquer momento pode ser utilizado. Sobretudo h que saber aproveitar as virtudes de cada

    recurso, e a sua adaptabilidade a cada momento.

    Estudos sobre a reteno de dados pelos estudantes revelam ainda mais informaes e

    evidenciam que os alunos aprendem: 10% do que lem, 20% do que escutam; 30% do que

    vem; 50% do que vem e escutam; 70% do que dizem e discutem e 90% do que dizem e

    realizam (cf. Socony-Vacuum Oil Co. Studies, cit. por Ferreira e Junior, 1986: 5). Daqui podemos

    concluir acerca da necessidade de utilizarmos os recursos mais adequados para obter uma

    maior rentabilizao no processo de ensino-aprendizagem. Se ler, ouvir e ver so estratgias

    importantes, ainda mais essenciais parecem ser outras metodologias que: promovam uma maior

    interao dos alunos com as matrias; facilitem a expresso daquilo que os alunos pensam, das

    suas reflexes; que evidenciem aquilo que eles fazem, isto , a aplicao das teorias e dos

    conceitos na prtica. Estas concluses mostram-nos que devemos variar os recursos e torn-los

    mais dinmicos, mais prticos, mais interativos, e adaptados s capacidades e interesses

  • 17

    daqueles alunos especficos, pois mais do que tudo eles existem ao servio do aluno e da sua

    aprendizagem.

    Os professores encontram-se hoje no vrtice das grandes mudanas que caraterizam os

    nossos tempos. A verdade que nunca as transformaes alcanadas ao longo do processo

    histrico exigiram tantos esforos do professor para se manter atualizado na sua matria e nos

    mtodos de comunicar conceitos (Wittich & Schuller, 1962: 13). Em apenas poucas dcadas o

    ensino libertou-se da sua quase completa dependncia da expresso verbal face a face e requer

    hoje a capacidade de seleo e utilizao de novos meios que permitam esclarecer melhor os

    contextos das matrias. Alm do papel tradicional do professor, como profissional competente

    na sua especialidade e tambm na rea da aprendizagem, um novo aspeto deve ser agora

    considerado - a sua responsabilidade no eficiente planeamento das aulas e na criao de

    condies de comunicao favorveis ao ensino (cf. ibidem).

    O aluno de hoje dominado pelo mundo da comunicao, durante o fim de semana ou

    noite, talvez se tenha dedicado ao cinema, televiso e internet. Quando chega sala de aula

    traz consigo as imagens vivas adquiridas pelo contacto com estas numerosas solicitaes a que

    foi submetido pelos vrios meios de comunicao. Parece compreensvel, tendo em conta esta

    realidade, que ele esteja aberto a experincias deste gnero na escola, e que seja penoso ficar

    horas seguidas apenas a ouvir o professor ou a ler o manual. Felizmente o professor de hoje,

    aquele que realmente se preocupa com a aprendizagem e a motivao dos seus alunos, sabe

    que as vivncias dos seus alunos so muito diferentes daquelas de 10 ou 20 anos atrs, e est

    preparado para enfrent-las. Muito embora o progresso alcanado na cincia e na tcnica das

    comunicaes tenha alterado radicalmente a comunicao fora da escola, constitui

    responsabilidade do professor compreender a natureza dessa alterao e adaptar o ambiente e

    as tcnicas de ensino, para que a aprendizagem e a instruo em sala de aula se enquadrem na

    forma por que hoje se acham organizadas. Em poucos anos a comunicao que se processava

    atravs da palavra, falada ou escrita, orientou-se no sentido dos meios mecnicos e o professor

    deve preparar-se para os poder utilizar em prol do processo de ensino-aprendizagem.

    Uma vez que a escola tem na sua misso a responsabilidade pela instruo que os jovens

    devem receber, ela deve dispor de meios de comunicao eficientes. Tambm o professor deve

    estabelecer uma comunicao eficaz em sala de aula adaptando-a s necessidades dos alunos

    e colocando-a em termos tais que lhes permitam alcanar com xito os objetivos da educao

    escolar tidos como vlidos (Wittich & Schuller, 1962: 17).

  • 18

    Hoje em dia, e tendo em conta a evoluo dos recursos de apoio, h especialmente uma

    preocupao em detetar como so desenvolvidas as aulas relativamente ao uso das tecnologias

    educacionais. As escolas, nomeadamente as portuguesas, esto a beneficiar agora de uma

    melhor cobertura no equipamento em diversas tecnologias de informao e comunicao

    aplicadas educao. A reorganizao curricular no sistema educativo portugus, ao valorizar a

    integrao curricular das tecnologias de informao e comunicao aplicadas educao, lana

    novos desafios escola e ao exerccio profissional dos professores. Assim, a utilizao dos

    recursos contempla dois aspetos distintos, mas complementares: por um lado o

    apetrechamento das escolas; por outro, a utilizao dos recursos pelos professores na prtica

    letiva (Oliveira, 1996: 237).

    Na seleo, adaptao e elaborao de recursos didticos, com o intuito de conseguir o

    melhor aproveitamento possvel desses instrumentos, o professor dever considerar alguns

    critrios para alcanar a desejada eficincia, entre os quais destacamos: o tipo de alunos que

    dispe, com as suas capacidades, interesses e motivaes especficas; as potencialidades e

    estrutura fsica da escola e da sala de aula onde est a lecionar; os seus saberes, disponibilidade

    e competncias; a utilizao variada dos recursos; os objetivos e contedos da disciplina que

    leciona, bem como as estratgias metodolgicas que pretende levar a cabo. Explicitamos, agora,

    de forma mais desenvolvida, estas importantes condies, dando at alguns exemplos, no

    sentido de melhor esclarecermos o impacto destes aspetos no uso adequado dos recursos

    didticos.

    O contacto com diversos alunos e diferentes realidades escolares leva-nos a constatar a

    existncia de uma pluralidade social, cultural e cognitiva nos diferentes estudantes, o que resulta

    seguramente numa grande variedade de formas de aprender que no devem ser ignoradas pelos

    professores. Baseando-nos nessa premissa julgamos que os professores sero melhor sucedidos

    nas suas prticas se dominarem o uso de diferentes recursos didtico-pedaggicos, pois s

    assim conseguiro atingir de forma mais ampla os alunos, fomentando a sua motivao,

    interesse e participao. Tendo em conta a variedade e a adequao desses mesmos recursos,

    o professor poder estabelecer mais facilmente estratgias que promovam um maior sucesso

    educativo junto daqueles estudantes especficos. Neste sentido, diversos autores atestam a

    importncia e at mesmo a necessidade dos professores inclurem diferentes recursos no

    planeamento das suas aulas, alegando que os mesmos contribuem consideravelmente no

    processo de ensino-aprendizagem (Marasini, 2010: 4).

  • 19

    A necessidade de dominar vrios recursos pode ainda ser melhor compreendida quando

    temos em conta que um professor pode lecionar em diferentes nveis de ensino, com escales

    etrios muito distintos, e por vezes at de forma simultnea. Damos apenas como exemplo o

    caso de um professor de filosofia que poder trabalhar com uma populao mais jovem, na rea

    de filosofia para crianas; que ao mesmo tempo est a ensinar adolescentes, no ensino

    secundrio (10 e 11 ano de escolaridade), e poder tambm dar formao a adultos sobre

    tica profissional. Um recurso, uma atividade, ou uma forma especfica de comunicar, que

    funcione muito bem com uma criana de 7 anos, ou com um adolescente de 16, pode no ser

    eficaz com num adulto de 45 anos. Assim, quanto maiores forem as competncias dos

    professores no conhecimento e no uso dos diversos recursos existentes, maiores sero as

    probabilidades de uma boa adaptao ao pblico-alvo.

    Um professor que lecione numa escola que possua todas as condies de trabalho, que

    tenha, por exemplo, aderido ao plano tecnolgico, que possua todos os recursos fsicos que ele

    necessita para as suas atividades letivas, tem o seu trabalho facilitado e pode possuir,

    obviamente, opes de escolha mais amplas. No entanto, tambm de pouco lhe serve poder

    usufruir dos instrumentos e dos materiais e no os saber utilizar, no ter disponibilidade ou at

    motivao para o fazer. Para o caso de haver poucos recursos disponveis na escola, a verdade

    que com alguma reflexo, criatividade e imaginao, podem-se alcanar bons resultados, pois

    por vezes esto ao nosso alcance tcnicas e materiais simples, que bem aproveitadas podem

    ser bastante interessantes. Para aqueles que tm pouca apetncia para lidar com novos

    recursos importante melhorarem a conscincia desta lacuna, dados os benefcios que os

    recursos podem trazer quando bem aplicados. Assim, investir com algum esforo pessoal de

    aprendizagem, procurar um colega disponvel para colaborar, ou assistir a uma ao de

    formao, so sempre opes viveis. A existncia de recursos no suficiente, preciso que o

    professor os utilize intencionalmente no decurso das atividades planeadas.

    Tal como em outros aspetos do nosso dia a dia, a variedade e a diferena podero

    tambm constituir-se como uma mais valia, no sentido em que podem aportar alguma inovao

    ou motivao extra. Assim, a aplicao de diferentes recursos deve ser uma realidade, pois a

    utilizao massiva e constante do mesmo procedimento pode resultar em desinteresse. O uso de

    diferentes materiais didticos servir ento para despertar a ateno e a motivao do aluno,

    possibilitando uma diversidade de experincias.

  • 20

    Os recursos didticos so instrumentos complementares que ajudam o professor a

    transmitir os contedos e a tornar a aprendizagem mais facilitada e significativa, mas que por si

    s, sem estarem ao servio de um determinado objetivo concreto, de nada valem. Existem

    diversos materiais, metodologias, estratgias, tcnicas e atividades, usadas no processo de

    ensino-aprendizagem, que se podem transformar em excelentes recursos didticos, desde que

    utilizados de forma adequada e correta. No devemos usar um recurso apenas para fazer algo

    diferente, o recurso um meio que serve para algo, um meio para um fim, que serve para

    facilitar uma aprendizagem, mas que no um fim em si da aprendizagem. Ainda que

    possamos ter materiais ou atividades que julguemos interessantes, este no um facto

    suficiente para passarmos prtica. Estes recursos devem estar seguramente ao servio de

    contedos e objetivos.

    Se verdade que os materiais didticos so de fundamental importncia para a

    aprendizagem e motivao dos alunos, no parece menos verdade que a carncia de material

    adequado pode conduzir a aprendizagem do aluno a um certo verbalismo, desvinculando a

    aprendizagem da realidade. A prpria formao e compreenso de conceitos depende, muitas

    vezes, da convivncia com as coisas do mundo, e pode ser fomentada pelo contacto com

    determinados materiais que promovem a motivao e a aprendizagem do aluno. Neste sentido,

    muitas vezes os meios de ensino levam as imagens, os fatos, as situaes, as experincias, as

    demonstraes conscincia dos alunos, sendo, a partir da, transformados em representaes

    abstratas, que vendo concretamente, mais fcil para os alunos transformarem a realidade

    e os factos em ideias (Barbosa, 2001: 25).

    Vrios estudos se tm preocupado em fazer uma anlise do uso de diferentes mtodos,

    tcnicas e recursos didticos aplicados na sala de aula. Assim, de uma forma geral, as

    pesquisas mostram que existe um rendimento escolar superior no grupo de alunos em que

    foram aplicadas as tcnicas e recursos didticos mais apropriados, ressaltando a importncia da

    utilizao desses mtodos e tcnicas como facilitadoras no processo ensino-aprendizagem

    (Barbosa, 2001: IX).

    Neste sentido, quando usados adequadamente em sala de aula, os recursos pedaggicos

    parecem permitir: motivar e despertar o interesse dos alunos; favorecer o desenvolvimento da

    capacidade de observao; aproximar o estudante da realidade; visualizar ou concretizar os

    contedos da aprendizagem; oferecer informaes e dados; a fixao da aprendizagem; ilustrar

    noes mais abstratas; desenvolver a experimentao concreta, entre outras vantagens. Os

  • 21

    recursos didticos auxiliam tambm a transferncia de situaes, experincias, demonstraes,

    sons, imagens e factos para o campo da conscincia, onde se transmutam em ideias claras e

    inteligveis, favorecendo a aquisio de conceitos e conhecimentos.

    Tendo em conta o exposto, normal que aqueles que se dedicam docncia e se

    confrontem diariamente com algum desinteresse e insucesso por parte dos estudantes,

    procurem tornar o ensino da sua disciplina mais atraente e de menos difcil compreenso, e que

    para isso procurem utilizar os variados recursos didticos ao seu dispor. At porque os

    pedagogos tm apontado como uma das solues para o problema o investimento em novas

    metodologias que facilitem o trabalho docente e a assimilao e produo dos contedos

    ministrados, por parte dos discentes (Filho, 2011: 166). Consideramos, ento, que o uso de

    materiais didticos adequados e variados, quando aplicados ao ensino, podem tornar as

    aprendizagens mais atrativas de modo a promover a aquisio e produo dos conhecimentos

    abordados em sala de aula. Muitas vezes a situao ideal consiste mesmo em usar de forma

    combinada vrios recursos que se reforcem mutuamente, a fim de se obter o maior rendimento

    possvel, de maneira que os alunos adquiram o perfeito domnio de conceitos e conhecimentos

    (Wittich & Schuller, 1962: 31).

    Dessa forma, fica evidente a necessria renovao no ensino, pois enquanto os

    professores continuarem a aplicar, ou se limitarem a utilizar, apenas um mtodo ou recurso

    didtico e transmitirem os contedos dessa disciplina como algo j pronto, para que os

    estudantes aceitem esses ensinamentos como verdade absoluta, no haver uma produo do

    saber e uma aprendizagem significativa por parte dos seus alunos (cf. Filho, 2011: 166).

    A verdade que h sempre aspetos a melhorar. No podemos deixar de ter em conta que

    a inovao causa geralmente uma certa resistncia e que alguns professores continuaro a

    desenvolvem uma prtica tradicional, nem sempre eficaz. Haver sempre professores que

    lecionam a sua disciplina sem mostrarem grandes preocupaes com a didtica ou com o

    alcance de uma aprendizagem significativa por parte dos seus alunos. Apesar de vivermos numa

    sociedade desenvolvida, inundada de recursos tecnolgicos, ainda h escolas excludas desta

    realidade e os professores preferem continuar na rotina, preocupados apenas em cumprir os

    contedos de forma sequencial tal como indica o manual escolar. Muitas vezes, nem sequer os

    textos complementares que os novos livros didticos trazem so aproveitados pelos professores

    em discusses em sala de aula, classificando-os como perda de tempo (Filho, 2011: 167).

  • 22

    Quando falamos em utilizar certas estratgias, como a realizao de powerpoints, de jogos

    didticos, a preparao de um debate sobre um tema em sala de aula, a realizao de fichas de

    trabalho feitas pelo prprio professor a adaptadas turma, a pesquisa e escolha de

    documentrios, de excertos de filmes, de msicas ou imagens, para serem usadas em

    atividades de sala de aula, temos a conscincia que apenas alguns professores investem neste

    tipo de estratgias. Cada vez mais necessrio que os professores se consciencializem que

    quanto melhor preparem as suas aulas, bem como as atividades e os materiais a utilizar,

    maiores sero as probabilidades do processo de ensino aprendizagem decorrer eficazmente.

    Os professores que utilizam recursos variados, nomeadamente os tecnolgicos, como

    meio de apoio para apresentar e transmitir os contedos a lecionar, fazem-no no s porque se

    constituem como modos atrativos e eficazes de ensinar, mas tambm porque assumem que

    esse modo de transmisso est mais prximo do tipo de experincia cognitiva conhecida pelos

    seus alunos. Os docentes sabem, como j evidencimos, que muitos alunos passam uma boa

    parte do seu tempo em frente ao televisor, na internet, a ouvir msica, a ver filmes, e percebem

    por isso que estes recursos lhes so familiares e lhes trazem maior motivao e interesse. O

    professor que utiliza eficazmente os recursos, na nossa perspetiva, no s mostra um maior

    interesse e respeito pelos seus alunos, e pela sua educao, como tambm se sentiro mais

    realizados na sua profisso, pois, previsivelmente, as aulas sero mais dinmicas, e os alunos

    estaro mais motivados e interessados e aprendero melhor.

    Por todos os motivos apresentados julgamos que os professores devero utilizar, de forma

    ajustada e eficaz, os vrios recursos didticos ao seu dispor, tudo isto em prol de uma educao

    melhor, de um processo de ensino-aprendizagem cada vez mais bem sucedido.

  • 23

    2.2 A prtica da lecionao

    Aps fundamentar teoricamente a importncia dos recursos didticos no processo de

    ensino-aprendizagem, chegou o momento de explicitar como concretizei a sua utilizao na sala

    de aula, mais especificamente no ensino da filosofia numa turma de 10. ano de escolaridade.

    Tendo em conta o tema do meu projeto de interveno pedaggica supervisionada

    procurei, em todas as aulas, ter um cuidado especial com os recursos didticos usados no

    decorrer do processo de ensino-aprendizagem. Mais uma vez evidencio a amplitude do termo

    recursos didticos, pois estes referem-se no apenas aos materiais de apoio utilizados no

    decurso das aulas, mas tambm s atividades que estes materiais permitiram realizar e s

    estratgias e mtodos utilizados no decurso da lecionao.

    Como j evidencimos no captulo anterior h uma especificidade prpria do ensino de

    uma disciplina como a filosofia. Sabemos que to importantes quanto os contedos a lecionar e

    os ensinamentos sobre a filosofia, a sua histria, teorias e conceitos, so as competncias que

    procuramos desenvolver nos alunos, nomeadamente as relativas ao pensamento crtico,

    reflexivo, livre e autnomo. Relembramos esta evidncia no sentido de alertar para a importncia

    de ter em conta estas especificidades quando passamos lecionao na rea da filosofia. O

    ensino desta disciplina precisa de mtodos adequados para atingir os seus objetivos. E isso nem

    sempre acontece. Por vezes, embora cheios de boa vontade, muitos professores no tm

    conscincia da distncia a que as intenes ficam da realidade (Boavida, 2010: 55). A questo

    que a preocupao com os contedos e com a posterior avaliao acabam por ser dominantes

    e ter um real reflexo sobre a forma como decorre o ensino. E assim se refora a estrutura

    clssica de um ensino e de uma aprendizagem assente nos contedos (ibidem). Neste sentido,

    as estratgias e os recursos que selecionmos procuraram ir de encontro a esta especificidade

    de pr os alunos a pensar de forma autnoma e a refletir criticamente sobre a realidade, sobre

    os valores, sobre os conceitos e os argumentos da filosofia.

    A opo por determinados recursos didticos, em detrimento de outros, resultou

    especialmente, do momento inicial de contacto com a turma atravs da observao da

    lecionao da nossa orientadora cooperante. Muitas das estratgias que observamos, e tendo

    em conta o seu impacto positivo, foram tambm transpostas para a nossa lecionao. As nossas

    escolhas foram ainda influenciadas pela especificidade prpria da filosofia e do seu ensino, pela

    nossa experincia pessoal, pelo domnio que possuamos desses recursos selecionados, pela

  • 24

    pesquisa bibliogrfica que efetumos e pela prtica letiva inicial que tivemos com a turma no

    Projeto de Educao Sexual.

    Assim, demos preferncias a variadssimos recursos didtico-pedaggicos, tais como: o

    mtodo dialgico, o questionamento oral, o uso de exemplos, a utilizao do manual adoptado (A

    Arte de Pensar), leitura e anlise de textos filosficos, o quadro, o caderno dirio, fichas de

    trabalho, trabalhos para casa (TPC), trabalhos de grupo, fichas de avaliao formativa, exerccios

    de aplicao, o debate, jogos didticos, a utilizao do projetor multimdia, a projeco de

    powerpoints de apoio aula - com esquemas, questes problema, imagens, msicas, excertos

    de filmes, documentrios e exerccios de aplicao. Procurmos, sempre que possvel, aproveitar

    as situaes de problematizao vividas pelos alunos, proporcionando ocasies para pensarem,

    para darem opinies e debaterem ideias. A procura por uma aprendizagem significativa, que

    diga algo aos alunos, esteve sempre presente e os exemplos prticos e de aplicao no seu dia a

    dia foram uma constante.

    Como j evidenciamos, a lecionao da filosofia deve procurar fundamentalmente ensinar

    os alunos a pensar e a examinar criticamente ideias e por isso o seu ensino deve estar inserido

    numa tradio dialgica, de um constante exame crtico. Neste sentido, e tendo em conta a sua

    eficcia demonstrada no ensino da filosofia, procuramos, na nossa lecionao valorizar e utilizar

    o mtodo dialgico. O questionamento constante, no sentido de manter os alunos atentos e

    participativos, fazendo-os pensar e levando-os a seguir uma determinada linha de raciocnio mais

    sistemtica, tambm esteve presente na base do nosso trabalho.

    Sabemos que a filosofia importante na educao dos nossos jovens, pois o contacto

    com esta disciplina poder contribuir para a sua formao enquanto pessoas mais criticas e

    criativas, pessoas que aprendem a problematizar a sua vida e o mundo em que vivem, a

    manter aberta a pergunta pelo sentido da forma em que pensam e agem, a exercer de forma

    reflexiva a sua liberdade, trabalhando assim na direo da autonomia (Kohan, 2000: 49). O

    compromisso da filosofia o de gerar a crtica dos modos de pensar e agir adquiridos e no

    refletidos, permitindo que as pessoas possam pensar por si mesmas e debater com outros as

    transformaes desejveis, pensando, ao mesmo tempo, nas suas condies de possibilidade.

    Consideramos que o ensino de filosofia para jovens na escola justifica-se se esse for o

    ensino de criao de conceitos que dem conta de seus problemas (Aspis, 2004: 305). Neste

    sentido, sempre que foi pertinente, procurmos estabelecer um dilogo interativo e crtico com

    os alunos, aplicando as matrias aprendidas sua realidade e do meio envolvente.

  • 25

    Procuramos tambm utilizar os seus interesses e valores, relacionando os contedos com as

    suas prprias vidas. Em matrias relativas filosofia moral e poltica ou at na rea da filosofia

    da arte, buscmos dar exemplos prticos, aplicar as teorias e os conceitos que fazem parte do

    programa ao seu dia a dia, procurando a sua reflexo sobre essas temticas. Mas, se por um

    lado o aluno o nosso foco, se trabalhamos para ele, para lhe tornar a aprendizagem mais

    significativa e interessante, tambm procuramos a sua interveno e o seu dinamismo e por isso

    o feedback constante fundamental, pois direciona-lhe a aprendizagem e responsabiliza-o pelo

    seu trabalho.

    neste sentido que a avaliao se revela fundamental, seja ela mais ou menos formal. O

    aluno deve ter a noo da avaliao, deve saber se est no bom ou no mau caminho. Sendo

    assim, ao longo das aulas tentei avaliar nos alunos na aquisio e no domnio de competncias

    filosficas fundamentais. Deste modo, procurmos averiguar se os alunos sabiam formular

    corretamente os problemas em estudo; se identificavam, compreendiam e avaliavam os

    principais argumentos e se conseguiam compreender, explicar e discutir as teorias em estudo.

    Houve sempre um interesse em questionar os alunos, em verificar se faziam os TPC, em ver se

    estavam atentos e a compreender a matria. Julgamos que se o aluno sente que o professor se

    preocupa com ele e se interessa pela sua compreenso da matria, tambm ir procurar

    corresponder a esse interesse, mostrando que sabe.

    Fruto do que investigmos sobre o tema, e daquilo que observamos da lecionao da

    orientadora cooperante, acabmos por organizar um modelo tpico de aula que consideramos

    que funcionou positivamente. A aula comeava geralmente por um perodo de revises, e/ou de

    correo dos TPC, posteriormente era recordado ou apresentado o problema filosfico em

    estudo e eram discutidas as questo levantadas por esse problema. Seguidamente, e

    procurando conhecer eventuais respostas ou solues dos alunos perante o tema, eram

    trabalhadas as teorias filosficas mais relevantes que respondiam ao problema principal, bem

    como os argumentos fundamentais e razes que os sustentavam. Neste procedimento procurava

    muitas vezes que os alunos chegassem s concluses antecipadamente e que refletissem, de

    forma sistemtica e crtica, sobre os argumentos. Para um melhor entendimento do processo

    filosfico e das prprias teorias, o decurso da aula terminava com as principais objees s

    teorias em estudo. Todo este trajeto decorria com a aplicao dos recursos didticos j

    evidenciados e utilizando o mtodo dialgico. Seja como for, h determinados recursos que

    usmos em praticamente todas as aulas, como observar no anexo 3, onde consta a planificao

  • 26

    de 7 aulas da sub-unidade A dimenso tico-poltica Anlise e compreenso da experincia

    convivencial. Estamos a falar do uso frequente do manual escolar, do quadro, do caderno dirio,

    da exposio dialogada, do questionamento, de exemplos prticos ou do powerpoint. Outros

    recursos, como a visualizao e anlise de excertos de filmes, a leitura e anlise de textos

    filosficos, ou o uso de snteses esquemticas, foram utilizados apenas em algumas aulas.

    Para que todo o processo de ensino-aprendizagem seja eficaz a ateno tambm se

    dever virar para o professor, no se ficando apenas pelos recursos, pelas metodologias ou

    pelos alunos. Tambm o professor deve investir em si, e no falamos apenas das suas

    competncias mais didtico-pedaggicas, de gesto da sala de aula, ou relacionais; ele deve

    procurar ter conhecimentos cientficos cada vez mais alargados. Assim, um professor de

    filosofia do secundrio que queira ser um bom professor ter de estudar por si, ter de formar-se

    em regime de autodidacta, procurando os livros que o ajudem nessa tarefa (Murcho, 2002:

    11). Ele no pode ficar pelas aprendizagens da universidade ou pela leitura mais atenta do

    manual. O professor deve investir em si, nas suas capacidades, nos seus conhecimentos e

    competncias, pois s assim poder ter a confiana e o respeito dos seus alunos. S assim

    poder cumprir plenamente a misso que lhe destinaram, a de educar os cidados do futuro, os

    homens e mulheres do amanh. E para isso tem que saber sempre mais do que aquilo que

    ensina. Partindo desta ideia procuramos sempre, no planeamento das aulas, trabalhar no

    sentido da nossa melhor preparao possvel. Investigando vrios manuais e vrios recursos,

    conseguimos obter conhecimentos adequados para a lecionao e para nos sentirmos

    confiantes nesta nova tarefa de trabalho.

    Passaremos de seguida a evidenciar a nossa primeira experincia de lecionao no

    decurso do apoio ao Projeto de Educao Sexual, que correspondeu a uma colaborao, parcial

    ou total, em 4 aulas, para posteriormente descrevermos a nossa prtica docente, que decorreu

    ao longo de 15 aulas e abarcou temticas na rea da tica, poltica e esttica.

  • 27

    2.2.1 O Projeto de Educao Sexual (PES)

    Aps a primeira fase do projeto geral de interveno, fase de observao da prtica letiva

    das aulas da orientadora cooperante, com todos os aspetos que lhe so inerentes, o primeiro

    contacto de lecionao com a turma do 10 O ocorreu com a nossa participao no Projeto de

    Educao Sexual (PES). Tendo em conta a proposta da orientadora cooperante, a nossa

    participao no PES ocorreu ao longo de 4 aulas, entre 15 novembro de 2011 e 17 de janeiro

    de 2012. Esta colaborao foi obviamente norteada pelas sugestes da nossa orientadora

    cooperante e foi desenvolvida conjuntamente com a nossa colega de estgio, Epifnia Oliveira.

    Na primeira e na terceira aula a nossa colaborao foi parcial, isto , a orientadora

    cooperante iniciou a aula com as temticas relativas aos contedos especficos do programa de

    filosofia e de seguida continumos a aula com os assuntos relativos ao PES, aplicando os

    conhecimentos adquiridos anteriormente pelos alunos e tendo em conta os contedos relativos

    primeira parte da aula. A segunda e a quarta aula em que colabormos neste projeto foram

    integralmente lecionadas por ns. Esta metodologia, de intervirmos apenas numa parte da aula,

    revelou-se interessante, especialmente por 3 motivos. Por um lado permitiu rentabilizar as aulas,

    ocupando uma aula para abordar duas temticas (os contedos do programa e a abordagem do

    PES); por outro lado tornou essas aulas mais dinmicas, pois havia assuntos diferentes, com

    momentos e estratgias tambm distintos, usados por diferentes professores; e por fim, mas

    no menos importante, permitiu comearmos a nossa interveno de forma mais segura e

    confiante, pois num primeiro momento de menor vontade, com a turma e com a matria,

    lecionar cerca de 40/50 minutos pode revelar-se mais gratificante e dar-nos mais segurana do

    que sermos responsveis pela totalidade da aula.

    O primeiro documento legal sobre a educao sexual nas escolas surge com a Lei

    n3/84, publicada em 24 de Maro de 1984. O artigo 1 define o papel do Estado Portugus

    nesta matria: O Estado garante o direito Educao Sexual como componente do direito

    fundamental Educao, enquanto o 2 artigo deste documento especifica ainda que os

    programas escolares incluiro, de acordo com os diferentes nveis de ensino, conhecimentos

    cientficos sobre anatomia, fisiologia, gentica e sexualidade humanas, devendo contribuir para a

    superao das discriminaes em razo do sexo e da diviso tradicional das funes entre

    homem e mulher.

    Posteriormente, a Lei n60/2009 de 6 Agosto e a portaria n196-A/2010,

    regulamentaram a aplicao da educao sexual em meio escolar. No ensino secundrio, os

  • 28

    contedos lecionados nesta rea tm que cumprir alguns objetivos mnimos, entre os quais

    destacamos os seguintes: compreender eticamente a dimenso da sexualidade humana; refletir

    sobre atitudes e comportamentos dos adolescentes na actualidade; fornecer informao

    estatstica sobre a idade de incio das relaes sexuais em Portugal e na EU, sobre as taxas de

    gravidez e aborto em Portugal, sobre os mtodos contraceptivos que esto disponveis e que so

    utilizados, sobre as consequncias fsicas, psicolgicas e sociais da maternidade/paternidade,

    gravidez na adolescncia e aborto, sobre as doenas e infeces sexualmente transmissveis,

    suas consequncias e preveno, e sobre a preveno dos maus tratos e aproximaes

    abusivas.

    O PES pretende, essencialmente, contribuir para a formao integral dos alunos e para o

    desenvolvimento de atitudes de responsabilidade pessoal e social, tendo como principais

    objetivos: adquirir conhecimentos cientficos do funcionamento dos mecanismos biolgicos

    reprodutores; inferir das consequncias negativas dos comportamentos sexuais de risco, tais

    como a gravidez no desejada e as infees sexualmente transmissveis; promover a melhoria

    dos relacionamentos afetivos e sexuais; incentivar a igualdade entre os sexos; eliminar

    comportamentos baseados na discriminao sexual ou na violncia em funo do sexo ou

    orientao sexual; valorizar uma sexualidade responsvel e informada.

    de salientar que este projeto no se desenvolve apenas no 10 ano, ou exclusivamente

    na disciplina de filosofia e que os assuntos que abordmos se incluem, de alguma forma, em

    temticas relativas filosofia. Para levar a cabo este projecto foi necessria a participao de

    professores de vrias reas disciplinares, que ajudaram o aluno a construir o conceito de

    sexualidade nas suas dimenses biolgica, social e espiritual, interpretando-as por etapas ao

    longo do seu crescimento com enfoque na gesto de emoes e na integrao de valores.

    A lecionao do PES, relativa disciplina de filosofia no 10. ano, insere-se na unidade II

    A aco humana e os valores; e nas subunidades 2.1 A ao humana Anlise e

    compreenso do agir, e 2.2 Os valores Anlise e compreenso da experincia valorativa.

    Deste modo, a estruturao dos contedos das intervenes centrou-se em componentes

    especialmente relacionadas com a ao humana e o comportamento sexual (1 e 2 aula) e com

    a experincia valorativa os valores/sentimentos e a sexualidade (3 aula) e o comportamento

    sexual luz de diferentes culturas (4 aula).

    Tivemos uma preocupao especial por elaborar materiais e atividades didticas que nos

    pareceram interessantes e adequadas temtica em estudo, at porque este o tema do nosso

  • 29

    projeto de interveno. Usamos powerpoints em todas as sesses, para servir de guia

    estruturador, exceo da segunda aula, em que optamos pelo excerto de um filme e por uma

    ficha de trabalho. Atravs dos powerpoints recorremos exposio de contedos de forma mais

    atrativa e esquematizada, mas tambm recorremos a exemplos, a imagens, a msicas, a

    documentrios ou a exerccios de aplicao.

    Passamos a expor, de forma resumida, a nossa colaborao no PES.

    Na primeira aula focamos a temtica relativa ao humana e ao comportamento sexual.

    Comeamos por questionar os alunos acerca do conceito de ao e da forma como se explicam

    as aes, e explicitamos seguidamente, usando um powerpoint de apoio, estes contedos. De

    seguida evidencimos, exemplificando, toda a estrutura da ao (motivo, inteno, finalidade,

    deciso, meios, resultado e consequncias). Na continuidade, e para promover a participao e

    o envolvimento de todos alunos, utilizamos a tcnica da tempestade de ideias ou brainstorming,

    onde cada aluno tinha que definir, numa palavra, o conceito de sexualidade humana. De seguida

    foram anotadas no quadro as palavras de todos os alunos. Esta tcnica foi bem acolhida e as

    respostas dos alunos ocorreram dentro daquilo que seria de esperar (exemplos: amor,

    confiana, sexo, amizade, segurana, responsabilidade, carinho, prazer, etc.). Seguidamente

    apresentmos um vdeo/documentrio denominado A Adolescncia e a Sexualidade

    (selecionado e retirado da internet, mais especificamente do youtube), com a durao de cerca

    de 10 minutos. Neste vdeo vrios agentes educativos de uma escola eram questionados para

    dizerem numa palavra o que entendiam por sexualidade, e as respostas anteriormente dadas

    pelos nossos alunos coincidiram em grande parte com as do vdeo apresentado. O vdeo segue

    com uma entrevista sobre alguns aspetos da educao sexual nas escolas. Aps a sua

    visualizao foi feita uma breve discusso acerca das temticas abordadas. Consideramos que

    este recurso audiovisual foi uma mais-valia, pois para alm de ser a primeira vez que na aula de

    filosofia se recorria a esta metodologia, introduzindo recursos mais modernos e apelativos, nele

    estavam bem patentes matrias e assuntos que foram trabalhados na aula e que fazem parte de

    um assunto e uma linguagem que lhes prxima, at porque o documentrio foi feito por jovens

    da idade deles. Posteriormente foi analisado o conceito de sexualidade, definido pela

    Organizao Mundial de Sade, e o conceito de educao sexual. Foram tambm abordadas as

    componentes da sexualidade humana, com maior nfase para a afectividade. Finalizamos a

    nossa interveno trabalhando o tema da educao para a afectividade e da educao para os

    valores, questionando os alunos e dando alguns exemplos de valores associados sexualidade.

  • 30

    Esta foi uma primeira aula introdutria sobre o tema onde se procurou fazer uma ligao

    entre o comportamento sexual e a rede concetual da ao, alertando para conceitos e valores

    importantes na compreenso da sexualidade humana.

    Na segunda aula continumos a tratar do tema relativo sexualidade como ao humana.

    Quanto s atividades implementadas optmos pelo visionamento de um excerto do filme Juno,

    que aborda a temtica da gravidez na adolescncia, e pela apresentao do guio do filme e de

    uma ficha de trabalho sobre o mesmo (cf. anexo 2). Posteriormente, e aps a resoluo da ficha

    de trabalho, procedeu-se sua correo com a colaborao dos alunos. Nos momentos finais da

    aula procedeu-se a um debate sobre problemticas relativas sexualidade que foram focadas no

    filme. Os objetivos por trs destas atividades foram os seguintes: identificar processos volitivos

    relativos sexualidade humana (curiosidade, desejos, incertezas, inseguranas, atrao);

    desenvolver atitudes de compreenso e respeito pelos comportamentos e emoes de cada um;

    Desenvolver a capacidade de reflexo sobre o direito de cada pessoa decidir sobre o seu

    prprio corpo; sensibilizar para a importncia do planeamento familiar e perceber que na

    adolescncia se fazem escolhas que afetam o futuro. de referir que tnhamos preparado a

    resoluo, por escrito, da ficha de trabalho, tendo em conta as questes da mesma e os

    objetivos especficos para esta aula. Algumas questes pertinentes para orientar o debate final

    tambm foram preparadas. Consideramos que as atividades implementadas e os recursos

    utilizados foram adequados e suscitaram interesse e participao. Houve alunos que no final da

    aula mostraram interesse e pediram para continuar a ver o filme. Tal no foi possvel dada a

    limitao de uma aula de 90 minutos para tratar destes objetivos, motivo pelo qual optmos por

    um excerto de cerca de 20 minutos e a respetiva ficha e debate, para refletir e cimentar as

    aprendizagens. Como j vimos na primeira parte deste captulo, usar um recurso, como por

    exemplo um filme, sem o tornar numa aprendizagem significativa em prol de determinados

    objetivos no faz qualquer sentido, pois um recurso um meio para a aprendizagem e no um

    fim em si mesmo.

    A terceira aula foi dedicada temtica dos valores e sentimentos associados

    sexualidade. Pretendeu-se sobretudo desenvolver um conjunto de atitudes que proporcionem a

    apreciao crtica dos valores consensualmente partilhados pela comunidade educativa; que

    ajudem os jovens a compreender a necessidade de analisar criticamente os sentimentos, que

    lhes permitam reconhecer a importncia da afetividade na vivncia da sexualidade e desenvolver

    uma abertura crtica para os diferentes comportamentos e orientaes sexuais. O

  • 31

    reconhecimento da sexualidade como fonte potencial de vida e a viso da vida humana como

    um valor fundamental, tambm faziam parte dos objetivos a desenvolver com as atividades

    propostas. Mais uma vez preparmos um powerpoint, bastante completo, que serviu de guio a

    todas as atividades da aula. Comeamos por recordar algumas ideias base de sesses

    anteriores e seguidamente, atravs da exposio dialogada, apresentmos a teoria relacional de

    Martin Buber, explicitando e comparando a relao eu-tu e eu-isso. Continuamos a aula

    abordando alguns exemplos, como o exemplo do lpis e do livro, aplicados teoria relacional e

    utilizamos tambm um estudo de caso (namoro de Joana e Rui). De seguida trabalhamos os

    valores e os sentimentos associados sexualidade (como a responsabilidade, a relao de

    paridade/igualdade, o respeito por si e pelo outro, a liberdade, a cordialidade, a veracidade, o

    dilogo, etc.) e efetuou-se um exerccio sobre sentimentos, emoes e afetos (o que sinto

    quando gostam/no gostam de mim). Para finalizar a aula procedemos audio da cano

    Jura, de Rui Veloso, e reflexo sobre a letra, analisando os sentimentos patentes.

    Rematamos com uma sntese dos temas tratados. Esta aula decorreu positivamente e, apesar

    de ter sido a nica na nossa participao no PES em que no utilizmos vdeos, que do sempre

    uma dinmica diferente aula, os alunos aderiram de forma empenhada. Seja como for, outros

    recursos foram utilizados para promover a aprendizagem motivada, como a interao professor

    aluno, o questionamento, a solicitao de participao, a utilizao de powerpoints, de imagens,

    de exemplos e de casos prticos, de msica, de esquemas, etc.

    A quarta e ltima aula, inserida no tema da diversidade e dilogo de culturas, focou-se

    especialmente na educao para o comportamento sexual luz de diferentes culturas. O

    relativismo cultural esteve patente ao longo da nossa exposio, nomeadamente sobre a atrao

    fsica, a contraceo, o sexo e a procriao, as doenas sexualmente transmissveis, o

    casamento e o adultrio; mas tambm foi evidenciada na visualizao de dois documentrios,

    um sobre a poligamia e outro sobre a exciso genital feminina. Mais uma vez a nossa

    participao decorreu com sucesso e os alunos mostraram-se interessados e participativos, o

    que decorreu seguramente das metodologias utilizadas e dos recursos escolhidos.

    O balano final da participao neste projeto foi bastante positivo. Consideramos, assim,

    que este momento inicial de lecionao na turma foi de extrema importncia, isto tendo em

    conta que nos permitiu uma maior convivncia e proximidade com os alunos da turma; um

    maior conhecimento das suas formas de interagir, um treino inicial no que respeita gesto do

    ambiente de sala de aula (intervenes, eventuais comportamentos disruptivos, etc.) e

  • 32

    metodologia dialgica da filosofia; a pesquisa e aquisio de conhecimentos relativos educao

    sexual; e por fim possibilitou o treino de competncias relativas elaborao de materiais

    pedaggicos e de preparao de planos de aula. Estas aulas foram enriquecedoras na medida

    em que pudemos contribuir para que os alunos ficassem mais informados e consciencializados

    sobre vrias temticas relacionadas com a sexualidade, mas tambm porque nos permitiram

    trabalhar um assunto que importante e interessante para todos, professores e alunos, onde

    tiveram oportunidade de contactar com outras realidades, de refletir, de dar a sua opinio e

    sugestes sobre um assunto prtico, do dia a dia, distante daqueles saberes que tantas vezes

    lhe dizem pouco ou nada. Os alunos participaram de forma ativa e empenhada nas aulas do

    PES, estiveram atentos e interessados, deram a sua opinio e contaram alguns exemplos de

    situaes de que tinham conhecimento. De uma forma geral mostraram grande receptividade

    perante as metodologias da professora estagiria, o que foi importante na lecionao das

    seguintes aulas.

  • 33

    2.2.2 tica, Filosofia Poltica e Filosofia da Arte

    A nossa atividade de lecionao iniciou-se no dia 23 de fevereiro de 2012 e terminou no

    dia 17 de maio do mesmo ano. Ao todo foram lecionadas 15 aulas de 90 minutos, onde

    analisamos criticamente com os alunos os problemas, as teorias, os argumentos e objees

    relativos s reas filosficas da tica, da poltica e da esttica. Este nmero inclui 12 aulas onde

    foram lecionados contedos, e tambm 3 aulas destinadas a revises, realizao de fichas de

    trabalho e respectiva correo, e preparao para o teste de avaliao. Este subcaptulo

    dedica-se inteiramente anlise das aulas lecionadas e forma como as estruturmos.

    Ao longo da nossa lecionao pretendemos, sobretudo, indagar a sensibilidade que os

    alunos tm para os diversos tipos de metodologias/estratgias e recursos didticos em filosofia.

    Como princpio regulador da lecionao procurmos utilizar as metodologias, as estratgias e os

    recursos de ensino-aprendizagem que nos pareceram mais adequados s caratersticas e

    necessidades dos nossos alunos.

    Relembramos que a disciplina de filosofia essencial para desenvolver nos jovens a

    reflexo crtica, o questionamento e a argumentao rigorosa e lgica