“civilidade” para os “desvalidos” – a tensÃo estÁ … · 2 afinco, dado o foco deste...

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1 “CIVILIDADE” PARA OS “DESVALIDOS” – A TENSÃO ESTÁ POSTA - DO DIA-A-DIA DO ASILO ÀS PÁGINAS DOS RELATÓRIOS MINISTERIAIS Maria Zélia Maia de Souza - UNIRIO 1 Este trabalho foi escrito através da história de muitas vidas. Vidas dos personagens que fizeram parte do cotidiano do Asilo de Meninos Desvalidos – entre os anos de 1875- 1894 - vidas que já não existem mais, senão nas linhas das fontes consultadas. Relatórios ministeriais e dissertações de mestrado que trataram do tema, sendo, portanto as fontes utilizadas para esse estudo. A necessidade de educar as crianças ditas pobres, órfãs, enjeitadas, e muitas outras denominações que estas receberam e recebem; esteve presente nas falas dos mais diferentes sujeitos preocupados com esta questão no Brasil. Nesse sentido, o Brasil através de diversos segmentos, sejam eles educacionais ou não, particulares ou governamentais, viveu intensos debates e ações, voltadas para atender meninos e meninas, das classes menos favorecidas. Neste trabalho me dedico a examinar uma dessas experiências: o Asilo de Meninos Desvalidos que teve seu funcionamento entre os anos 1875 a 1894, conforme já assinalado. O estudo com esse modelo de instituição que proliferou por grande parte do território brasileiro, será realizado entendo que as autoridades constituídas empenharam-se pela manutenção da ordem e difusão da “civilidade”. Para alcançarem seus objetivos trabalharam para a organizar a instrução pública em diferentes espaços. Portanto, é nesse ambiente que o Asilo para os Meninos Desvalidos 2 , foi fundado em 1875, na Corte, na Chácara dos Macacos, em Vila Isabel, e a ele nos dedicaremos com 1 Mestranda em Educação – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Orientadora: Nailda Marinho da Costa Bonato 2 Série Instrução Pública.ARGRJ - Códice 13-3-36 – Asylo dos Meninos Desvalidos, Ensino profissional e Commercial (1875 – 1880). Pág.. 12 - Relação dos meninos recolhidos e existentes no Asilo de Meninos Desvalidos desde o dia de sua inauguração (14 / 03 / 1875). Pág. 13, 14, 15, 16 e 17 - Relação de alunos matriculados no Asilo. São 5 páginas que comportam uma lista de nomes das crianças, sua filiação, naturalidade, idade e data de matrícula. Observa-se que na característica filiações, aparecem além dos nomes dos pais, especificam se os meninos são filhos legítimos ou não, se são órfãos de pai ou mãe ou dos dois. A grande maioria é filho legítimo de pai falecido, têm entre 6 e 12 anos e, a data de matrícula é de 13/03/1875. Aparecem apenas 2 meninos registrados como filhos natural, na maioria das vezes, aparece somente o nome

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“CIVILIDADE” PARA OS “DESVALIDOS” – A TENSÃO ESTÁ POSTA - DO DIA-A-DIA DO ASILO ÀS PÁGINAS DOS

RELATÓRIOS MINISTERIAIS

Maria Zélia Maia de Souza - UNIRIO1

Este trabalho foi escrito através da história de muitas vidas. Vidas dos personagens

que fizeram parte do cotidiano do Asilo de Meninos Desvalidos – entre os anos de 1875-

1894 - vidas que já não existem mais, senão nas linhas das fontes consultadas. Relatórios

ministeriais e dissertações de mestrado que trataram do tema, sendo, portanto as fontes

utilizadas para esse estudo.

A necessidade de educar as crianças ditas pobres, órfãs, enjeitadas, e muitas outras

denominações que estas receberam e recebem; esteve presente nas falas dos mais

diferentes sujeitos preocupados com esta questão no Brasil. Nesse sentido, o Brasil através

de diversos segmentos, sejam eles educacionais ou não, particulares ou governamentais,

viveu intensos debates e ações, voltadas para atender meninos e meninas, das classes

menos favorecidas. Neste trabalho me dedico a examinar uma dessas experiências: o Asilo

de Meninos Desvalidos que teve seu funcionamento entre os anos 1875 a 1894, conforme

já assinalado. O estudo com esse modelo de instituição que proliferou por grande parte do

território brasileiro, será realizado entendo que as autoridades constituídas empenharam-se

pela manutenção da ordem e difusão da “civilidade”. Para alcançarem seus objetivos

trabalharam para a organizar a instrução pública em diferentes espaços.

Portanto, é nesse ambiente que o Asilo para os Meninos Desvalidos2, foi fundado

em 1875, na Corte, na Chácara dos Macacos, em Vila Isabel, e a ele nos dedicaremos com

1 Mestranda em Educação – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Orientadora: Nailda Marinho da Costa Bonato 2Série Instrução Pública.ARGRJ - Códice 13-3-36 – Asylo dos Meninos Desvalidos, Ensino profissional e Commercial (1875 – 1880). Pág.. 12 - Relação dos meninos recolhidos e existentes no Asilo de Meninos Desvalidos desde o dia de sua inauguração (14 / 03 / 1875). Pág. 13, 14, 15, 16 e 17 - Relação de alunos matriculados no Asilo. São 5 páginas que comportam uma lista de nomes das crianças, sua filiação, naturalidade, idade e data de matrícula. Observa-se que na característica filiações, aparecem além dos nomes dos pais, especificam se os meninos são filhos legítimos ou não, se são órfãos de pai ou mãe ou dos dois. A grande maioria é filho legítimo de pai falecido, têm entre 6 e 12 anos e, a data de matrícula é de 13/03/1875. Aparecem apenas 2 meninos registrados como filhos natural, na maioria das vezes, aparece somente o nome

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afinco, dado o foco deste estudo centrar-se na escolarização de “meninos desvalidos” na

Corte Imperial, analisando algumas estratégias assinadas para atingir tal finalidade. No

entanto, aquele Asilo não pode ser percebido como uma excepcionalidade visto que este

tipo de instituição proliferou pelo país no século XIX, combinando filantropia, instrução e

trabalho.

No caso desde Asilo da Corte, este estabelecimento atendia meninos pobres,

órfãos ou em “estado de pobreza”, entre os 6 e 12 anos, até completarem 21 anos. Esta

instituição tinha o ensino aí administrado composto em bases assemelhadas às do currículo

das demais escolas primárias públicas da Corte: leitura, escrita e aritmética, instrução moral

e religiosa. Já o nível secundário visava à formação profissional.3 Os jovens aprenderiam

ofícios mecânicos de encanador, alfaiate, carpinteiro, marceneiro, torneiro e entalhador,

funileiro, ferreiro, serralheiro, serrador, correeiro e sapateiro. Para se ter acesso à matrícula,

os responsáveis precisavam apresentar uma série de documentos comprovando a condição

financeira da família e da criança. Lopes. (1994), ao mapear as 711 pastas que integram o

arquivo do asilo, (sob a guarda do PROEDES, UFRJ) observou que, na grande maioria das

cartas escritas, solicitando uma vaga, a expressão: “... a fim de aí [no Asylo de Meninos

Desvalidos] obter a educação necessária para que se torne útil a si e à sua Pátria”

(LOPES, p.143), era recorrente.

As cartas de solicitação de matrícula eram dirigidas às seguintes autoridades:

- ao senhor, sua Majestade Imperial;

- ao conselheiro Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império;

- ao Conselheiro Comissário do Asylo de Meninos Desvalidos junto ao Governo

Imperial;

da mãe. Há apenas 2 órfãos de pai e mãe. Há um menino que na relação de paternidade vem só o nome da mãe com a seguinte característica entre parênteses: (“preta africana”) pág. 16. Outro caso de caracterização especifica a condição da mãe da criança – (surdo – muda). pág. 17. O último aluno da lista consta que é filho de Maria Joaquina (escrava do Barão da Várzea Alegre). Para um estudo mais detalhado à respeito deste estabelecimento, consultar BRAGA, 1925 E LOPES, 1994. 3 A partir de 1894, quando o Asilo passa a funcionar como, Instituto Profissional João Alfredo, o mesmo tem a sua estrutura curricular organizada da seguinte forma: -- Do Curso de Ciências e Letras: noções elementares de língua portuguesa, de aritmética, instrução moral e cívica, de língua francesa, de história e geografia do Brasil, de álgebra e geometria prática, mecânica geral e aplicada, de física e química práticas; _ Do curso de Artes: desenho geométrico, de máquinas, de ornatos de figuras; escultura, música, ginástica, exercícios militares, esgrima e trabalhos manuais; _ Do curso profissional: encadernação, alfaiate, carpinteiro, torneiro, entalhador, funileiro, ferreiro, serralheiro, surrador, correeiro, sapateiro e marceneiro. (LOPES, pág.132)

3

- ao Diretor do Asylo de Meninos Desvalidos;

- ao Diretor da Secretaria de Estado dos Negócios do Império;

- ao Prefeito do Distrito Federal, Cidade do Rio de Janeiro;

- ao Senador da República;

- ao Deputado da República;

- ao Delegado do Distrito Policial;

- ao Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal.

Foto - Vista panorâmica do Asylo de Meninos Desvalidos – Vila Isabel

Acervo – PROEDES/FE/UFRJ

A grande maioria das correspondências, conforme indicação de Lopes (op. cit), são

cartas escritas por autoridades públicas ou não que, intermediam a solicitação das

matrículas junto ao diretor do Asilo. Dentre os sujeitos que assinavam as cartas, encontram-

se médicos, senhores de escravos, advogados, militares com cargos vitalícios, como os de

escrivão de Varas de Órfãos, professores, funcionários públicos, enfim pessoas idôneas e

que os responsáveis ou tutores dos “meninos desvalidos” tinham de alguma forma acesso.

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Indício de uma prática de apadrinhamento, de procedimento pouco transparente para a

matrícula que adentra o período republicano.

Contudo, há indícios que o diretor do asilo sofreu “pressão”, ou que era um

praticante das políticas praticadas em nosso país, conhecidas como “troca de favores”.

Nesse Sentido, as cartas, ou eram de autoridades públicas, ou de membros importantes

dentro da sociedade como, por exemplo: o Sr. Gastão de Orleans e Bragança, Conde D’eu,

e até mesmo de uma certa comadre, para admissão de seus protegidos.Um exemplo talvez

de não concordância com a atitude do Diretor, seja de uma carta assinada pelo médico do

Asilo, “João Joaquim Pizzarro”, que escreve ao “Juiz de Direito da 2ª Vara de Órfãos,

Conselheiro Tito A. P. de Mattos”, solicitando “que dê ordens4 para que o menor seja

admitido no Asylo”. (apud LOPES 1994, p.171).

Este comportamento do médico pode indicar tensão entre o mesmo e o diretor do asilo? O

que o teria levado a entrar com um pedido na Vara de Órfãos para que um menor fosse

admitido? Essas questões podem ser um indício de que as relações entre o diretor e o

médico estariam impregnadas por disputas de poder e competências dentro daquela

instituição.

Entretanto, parece que a prática da atenção “especial” que o Diretor do Asilo deu

para estes cidadãos pertencentes ao segundo escalão do governo ou a outros sujeitos das

camadas mais favorecidas da então sociedade carioca oitocentista foi uma prática freqüente

conforme mostra o conjunto de 34 pastas, dentre as 103, que compõem o arquivo do Asilo,

no ano de 1883. Destas, apenas uma vaga foi recusada porque o menor tinha mais de 12

anos de idade. Dentre os intermediários que solicitaram a matrícula, nove eram

proprietários de escravos e uma certa Senhora Narcisa, amiga e comadre do Diretor do

Asilo.No caso seguinte, a mãe do menor, viúva de um maquinista, encaminha carta ao

Comissário do Governo no Asylo de Meninos Desvalidos. ...Viúva em estado de pobreza e com um filho de nome... de idade de 9 anos ao qual deseja dar preciosa educação e como lhe faltam os meios não só para educá-lo como também para mantê-lo, vem a V. M. Imperial implorando a graça de o mandar admitir5. (apud LOPES 1994. p.190)

4 Grifos nossos 5 Grifos nossos

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Há indícios, portanto que as indicações poderiam levar o Diretor a aceitar as matrículas

imediatamente, cedendo às “pressões” que eram-lhe impostas.

Outro dado sobre as cartas que pediam vaga no referido estabelecimento é que, em

alguns casos, as mesmas foram escritas por terceiros conforme já discutido, informando que

“a rogo de não saber ler e escrever”.O que, no entanto, não causa estranheza, uma vez ser

sabido que o índice de analfabetos era elevado, contribuindo para que uma grande parcela

da população ficasse dependente de uma minoria letrada. Entretanto, Martinez (1998) em

seus estudos esclarece que, em se tratando da cidade do Rio de Janeiro, devido à política de

difusão do ensino primário, em 1890, mais da metade da população da Corte sabia ler e

escrever6. Aparecem também cartas solicitando/demandando o ingresso de filhos de ex-

escravos, meninos de cor parda e também crianças com uma história anterior de vida em

instituições assistenciais. O Asilo recebia também crianças cujas profissões de seus

responsáveis levam crer que essas crianças não se encaixariam na proposta daquela

instituição. As mesmas eram filhas de funcionários do Palácio Imperial ou filhos de

serviçais das classes dominantes da época, as quais pareciam obter, como tudo indica,

grandes facilidades de matrícula no referido estabelecimento, que funcionava, para estes,

talvez, como uma espécie de internato público.

Para não concluir, cabe dizer que para o modelo de sociedade existente nos anos em

que funcionou o Asilo, a elite discursava que através da instrução e aprendizado de um

ofício, as pessoas das classes menos favorecidas seriam “ordeiras”, “obedientes”, “bons

pais de família”. Partiam do pressuposto que os cidadãos se realizariam através de seu

trabalho. No entanto, durante o funcionamento do Asilo, de 1874 a 1894, o mesmo recebeu

4817 alunos. Destes, 365 concluíram os cursos primário e profissional. Sendo que um

asilado foi remetido ao Internato de D. Pedro II, vinte e dois para Curso do Instituto de

6Em dados numéricos, José Murilo de Carvalho, diz: “ (...) no que se refere à Corte, 50,4% da população era alfabetizada no final do Império, número muito mais alto do que a média nacional, de 15% apenas” (Apud, MARTINEZ. P.93). Cabe a ressalva de que os dados apresentados são posteriores à criação do Asilo, embora possam ser empregados como indicador de que o estado da difusão da leitura e escrita no Brasil é bastante heterogêneo, levando-nos a trabalhar com a hipótese de que, na Corte, os equipamentos e procedimentos voltados para aquisição de ler e escrever talvez fossem mais numerosos, de mais fácil acesso e mais eficazes.

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Música para a formação de professores e um para o Curso de Escola de Belas Artes,

também para a formação de professores. cultural.

“Fôlego” para o futuro Contudo, podemos afirmar, com base em nossa realidade, que os docentes do Asilo

contribuíram para a formação de dois homens ilustres de nosso país: 1 – Francisco Braga,

autor da música do Hino da Bandeira; 2 – João Batista da Costa, importante pintor

paisagista, cujas exposições freqüentam os espaços privilegiados da arte. Sendo assim,

abriremos um parêntese de modo a indicar alguns aspectos da trajetória destes dois

personagens egressos do Asilo de Meninos Desvalidos.

Francisco Braga

Enquanto a música popular florescia e ganhava fama internacional, os

compositores e as orquestras clássicas brasileiras lutaram durante todo o Século XX com

problemas da continuidade. Não obstante, houve alguns sucessos. Francisco Braga (1868-

1945), cujas Variações sobre um tema brasileiro serão publicadas em breve pelo Centro

de Documentação da Sinfônica de São Paulo, começou a estudar música no Asilo de

Meninos Desvalidos7, no Rio de Janeiro. Em 1889 ganhou uma bolsa para estudar em

Paris, onde foi o primeiro colocado no concurso para entrar no Conservatório de Música.

Permaneceu na Europa por uma década, executando, compondo e tornando-se partidário

da música de Richard Wagner, antes de retornar ao Brasil em 1900 para ensinar, reger e

produzir muitas obras de câmara e para orquestra. Em 1920 Richard Strauss regeu no Rio

de Janeiro o poema sinfônico Marabá de autoria de Braga. Esse, no entanto, não deve ser

considerado como um caso isolado. Uma outra trajetória de egresso do Asilo que foi

possível acompanhar é a de João Baptista da Costa.

7 Grifos nossos

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João Batista da Costa.

João Baptista da Costa8 inicia formação artística em 1877 no Asilo dos Meninos

Desvalidos, Rio de Janeiro, onde estuda desenho com Antônio de Souza Lobo. Em 1885

ingressa na Academia Imperial de Belas Artes e é aluno de Zeferino da Costa, José Maria

de Medeiros e Rodolfo Amoedo. Em 1894 recebe o prêmio viagem ao estrangeiro na

Exposição Geral de Belas Artes. Viaja para a Europa e, em 1897, estuda com Jules

Lefèbvre e Robert Fleury na Académie Julien, em Paris. Em 1906 torna-se professor da

Escola Nacional de Belas Artes, ENBA, substituindo Rodolfo Amoedo na cadeira de

pintura. Tem como alunos Candido Portinari, Orlando Teruz e Quirino Campofiorito, entre

outros. A partir de 1915, assume a direção da ENBA, cargo que ocupa até 1926. Em 1923 é

homenageado com um busto de bronze realizado pelo escultor Correia de Lima.

Conclusão

No caso especifico do Asilo de Meninos Desvalidos, situado em Vila Isabel, na

Corte Imperial, captamos que a forma de ingresso dos meninos pobres, desamparados,

filhos de escravos e ex-escravos, ocorria de forma não muito transparente, uma vez que um

dos diretores do Asilo, foi um praticante da política do “favor”, política esta, presente nos

dias atuais. Com relação ao corpo discente, apesar das adversidades de uma vida reclusa,

uma parte conseguiu “resistir” e exerceram seus ofícios com bastante “utilidade”. Dentre

os meninos que viveram e estudaram no Asilo, João Batista, pintor de renome internacional

e, Francisco Braga, autor da música do Hino à Bandeira, foram exemplos de “resistência”,

afastando-se, portanto, da rígida prescrição contida na proposta educacional do Asilo, ou

seja, formação de mão-de-obra braçal.

João Batista da Costa e Francisco Braga nos possibilitou ir além de nome, idade e

filiação dos internos no Asilo. Foi possível “observar” suas atuações em vários seguimentos

sociais, culturais e políticos do país. Torna-se possível, assim, perceber que o Asilo atuou

para além de sua primeira proposta: preparar crianças para o trabalho braçal, apontando

flexibilidade, proporcionando diferentes oportunidades. Nesse sentido, se o Asilo teve 8 O primeiro quadro pintado por João Baptista foi a paisagem do Asilo. O mesmo faz parte da coleção da família. CF. REBENS, 1947.

8

realmente importância na vida de Francisco e de João Batista, não podemos afirmar.

Entretanto foi naquele espaço, com aqueles docentes, que os dois tiveram oportunidade de

aquisição dos conhecimentos básicos para as suas futuras profissões.

Cabe ressaltar que nos vinte anos de atuação deste estabelecimento, apenas 7,58%

de seus educandos, foram formados. Significa com isso, que pode-se pensar que a

instituição falhou na sua proposta de formar cidadãos que fossem “úteis a si e a sua

Pátria”, ou então que a utilidade a si e à sua Pátria - tão proclamada - implicava

exatamente em uma distribuição desigual, precária e rudimentar do capital cultural.

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Referências Bibliográficas FOUCAULT, Michel (1986). Microfisíca doPoder. Rio de Janeiro: Graal

LOPES, Luiz Carlos Barreto. (1994) Projeto educacional Asilo de Meninos Desvalidos: Rio de Janeiro (1875-1894) – Uma contribuição história social da educação no Brasil. Dissertação de mestrado. UFRJ. Rio de Janeiro. MARTINEZ, Alessandra F. (1998) Educar e Instruir: A Instrução Pública na Corte Imperial (1870 – 1889). Niterói: Dissertação de mestrado em educação. UFF.

SOUZA, Maria Zélia Maia de (2003). “Útil a si e a sua Pátria”: Educação e Instrução na Corte Imperial. (1870-1889). Monografia. Faculdade de Educação. UERJ.

Biblioteca Nacional

BRAGA, Theodoro de Medeiros. (1925). Subsídios para a memória histórica do Instituto Profissional João Alfredo – desde a sua criação até o presente. ( 1875 – 14 de março de 1925). Rio de Janeiro: Santa Cruz.

Museu Nacional de Belas Artes

RUBENS, Carlos (1947). Vida e Glória de Baptista da Costa. Rio de Janeiro: Edição da Sociedade Brasileira de Belas Artes.

Fontes primárias Série Instrução Pública

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Códice 13-3-36 – Asylo dos Meninos Desvalidos, Ensino profissional e Commercial 1875 a 1880. Internet: site

RELATÓRIOS MINISTERIAIS (1876-1889). Disponível em: Center for Research Libraries. Universidade de Chicago www.itau.cultura.org.br/AplicExternas/Enciclopedia/artesvisuais/index.cfm

Consultas realizadas em 2003 e 2006

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