cisterna possibilita volta de agricultor e produção de hortaliças vira realidade

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Realização Apoio O casal Rosenaide de Jesus Oliveira Santana, 45 anos e Valdemiro Araujo Santana, 50 anos, moram na Fazenda Maria Preta em Teofilandia e durante muitos anos viveram separados pela distância, pois seu Valdomiro trabalhava em outro estado para garantir a renda da família. Eles contam que não tinham como produzir porque não tinha água, mas que a vontade sempre foi viver da terra. Este ano (2013) o casal conquistou uma cisterna de enxurrada, começou a produção de hortaliças. Rosa, como é conhecida, sempre teve vontade de estudar, mas passou por algumas dificuldades. Conseguiu se formar em magistério durante o período que morou em Serrinha e se casou com Valdo, como é conhecido seu Valdormiro. “No ano de 1985 eu fui morar em Serrinha, conclui finalmente os estudos, casei e continuei lá. Meu marido ia para as firmas, quando eu tive os filhos que hoje tem 15 anos e outro tem 07 anos, voltei e comecei a trabalhar na roça. Esse ano meu marido parou de trabalhar na firma e tá dando certo. O objetivo dele era trabalhar com a horta, criar peixe e galinha. A maior dificuldade era a água. Quando veio a cisterna ele deixou tudo pra trás e veio em janeiro tentar. Graças a Deus, não voltou mais”, diz Dona Rosa, feliz com o retorno do esposo. “A gente tem alface, coentro, cebolinha, pimentão, couve, berinjela. Sempre teve um canteirinho só para o consumo por que não tinha água, agora que tá dando por causa da cisterna, que encheu em abril. A renda da família é só a horta e o Bolsa Família. Vende aqui mesmo de porta em porta. Vou de moto com ele com a bacia na cabeça toda sexta pela manhã. Vamos colocar o reboque na moto por que tá pesado carregar assim. A média de lucro de 150 reais por semana. A gente compra a semente na cooperativa em Serrinha ou na casa rural. Eu já visitei outras hortas em Retirolandia pelo Programa Uma Terra e Duas Águas, quando tava fazendo o curso. Seu Valdo conta sobre o desejo de trabalhar com as hortaliças. “Eu tinha na minha cabeça vontade de trabalhar com horta, mas não tinha água, aí quando surgiu a cisterna a gente agarrou com as duas mãos. Eu tava em Minas quando minha mulher me falou da cisterna, eu disse que a gente tinha que fazer de qualquer jeito. Quando eu cheguei já fui colocando a mão na massa, e já comecei com a horta. Eu tinha a vontade mais não tinha os meios. Com os cursos que Rosa participou me animei, abracei logo essa ideia de trabalhar a horta com o plástico. E tou aqui até hoje, estamos sempre aprendendo, e vendo que precisa saber mais, as pessoas vem e incentiva a gente a tá investindo nisso”. Ele tem feito a gestão da água na propriedade e tem obtido bons resultados, ele usa a água por gravidade. “A gente molha com o regador, por que a água já tá perto, pois vem através da gravidade. Usei o ponto mais alto a água vai sozinha, sem precisar bombear. Tenho um tanque no chão e nesse lugar mais alto da propriedade tem uma dorna que encho com essa água. Através do cano levo a água para a propriedade toda. Sempre trabalhei na terra, mas com 18 anos comecei a trabalhar em firma, construção civil, aqui não tinha muito serviço, eu fui para muitos estados mais sempre com vontade de voltar a viver na minha terra, eu tinha vontade, mas não sabia como viver aqui. Agora tou tentando ampliar a horta, já tou preparando outra área pra plantio”. Para Dona Rosa, as mudanças são muitas. “Melhorou bastante, antes além do marido tá distante, a gente pensava no desemprego, em como ia viver. A plantação só no inverno não dura o ano todo, estamos com 90% de melhoria. Acho que o que precisamos é produzir mais, aumentar. Aqui eu já tenho meus clientes certos. A gente molha de oito horas em diante até 10horas, quando o sol começa esquentar a gente molha de novo. A gente tá na segunda etapa de produção. Pega aqui na caatinga a terra de quixaba, no futuro a gente quer fazer a compostagem e usar o esterco de animal. Só nós dois trabalhamos com a roça, nosso filho dá uma ajuda quando tem tempo, mais o tempo dele é mais para o estudo”, explica Rosa “A produção orgânica é meu maior desafio” “A minha produção é toda natural e esse é meu maior desafio, o consumidor já conhece, eles mesmos falam e sentem a diferença, vê que dura mais tempo, pergunta que é orgânico e eu garanto que não estraga, em pelo menos uma semana. Com oito dias elas voltam para falar que ainda tem e que tava bom. É muito bom poder dar essa garantia, eu fico muito feliz, é gratificante”, relata seu Valdo. “Eu fazia os canteiros pequenos só para o consumo e sonhava em ver aquilo em quantidade, eu hoje sobrevivo da horta e do Bolsa Família que ajuda bastante. Eu não tenho experiência, as pessoas que visitam a gente vêm passando seu conhecimento. Quando veio os insetos fiquei triste, mas a gente tá correndo atrás para não botar química, por que aí a gente não pode dá aquela garantia. Semeio a terra fina para cobrir a semente de alface, nem deixo fundo, nem deixo exposto para as formigas carregarem a semente. Eu aprendi a usar a peneira para a terra ficar fininha, vendo o dia a dia, pensando e descobrindo como fazer”, ensina. Seu Valdo agora está mais tranquilo, e sente a mudança na vida depois que começou a produzir, agora ele está próximo da sua família. “Dia dos pais, fim de ano, eu tava longe. Meu filho teve a comemoração da 8 ª série e eu só vi as imagens. Os meninos sempre tavam com as coisas guardadas para me mostrar quando eu chegava. Eu vejo essa segurança de tá aqui, perto deles, quando faltava um dia para viajar já ficavam triste, pediam para eu ficar, eu ia explicando que tinha que trabalhar, era difícil. Mudou isso, eu estar perto dos meus filhos é a melhor coisa”, diz Seu Valdo, emocionado.

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Realização Apoio

O casal Rosenaide de Jesus Oliveira Santana, 45 anos e Valdemiro Araujo Santana, 50 anos, moram na Fazenda Maria Preta em Teofilandia e durante muitos anos viveram separados pela distância, pois seu Valdomiro trabalhava em outro estado para garantir a renda da família. Eles contam que não tinham como produzir porque não tinha água, mas que a vontade sempre foi viver da terra. Este ano (2013) o casal conquistou uma cisterna de enxurrada, começou a produção de hortaliças.

Rosa, como é conhecida, sempre teve vontade de estudar, mas passou por algumas dificuldades. Conseguiu se formar em magistério durante o período que morou em Serrinha e se casou com Valdo, como é conhecido seu Valdormiro. “No ano de 1985 eu fui morar em Serrinha, conclui finalmente os estudos, casei e continuei lá. Meu marido ia para as firmas, quando eu tive os filhos que hoje tem 15 anos e outro tem 07 anos, voltei e comecei a trabalhar na roça. Esse ano meu marido parou de trabalhar na firma e tá dando certo. O objetivo dele era trabalhar com a horta, criar peixe e galinha. A maior dificuldade era a água. Quando veio a cisterna ele deixou tudo pra trás e veio em janeiro tentar. Graças a Deus, não voltou mais”, diz Dona Rosa, feliz com o retorno do esposo. “A gente tem alface, coentro, cebolinha, pimentão, couve, berinjela. Sempre teve um canteirinho só para o consumo por que não tinha água, agora que tá dando por causa da cisterna, que encheu em abril. A renda da família é só a horta e o Bolsa Família. Vende aqui mesmo de porta em porta. Vou de moto com ele com a bacia na cabeça toda sexta pela manhã. Vamos colocar o reboque na moto por que tá pesado carregar assim. A média de lucro de 150 reais por semana. A gente compra a semente na cooperativa em Serrinha ou na casa rural. Eu já visitei outras hortas em Retirolandia pelo Programa Uma Terra e Duas Águas, quando tava fazendo o curso.

Seu Valdo conta sobre o desejo de trabalhar com as hortaliças. “Eu tinha na minha cabeça vontade de trabalhar com horta, mas não tinha água, aí quando surgiu a cisterna a gente agarrou com as duas mãos. Eu tava em Minas quando minha mulher me falou da cisterna, eu disse que a gente tinha que fazer de qualquer jeito. Quando eu cheguei já fui colocando a mão na massa, e já comecei com a horta. Eu tinha a vontade mais não tinha os meios. Com os cursos que Rosa participou me animei, abracei logo essa ideia de trabalhar a horta com o plástico. E tou aqui até hoje, estamos sempre aprendendo, e vendo que precisa saber mais, as pessoas vem e incentiva a gente a tá investindo nisso”.

Ele tem feito a gestão da água na propriedade e tem obtido bons resultados, ele usa a água por gravidade. “A gente molha com o regador, por que a água já tá perto, pois vem através da gravidade. Usei o ponto mais alto a água vai sozinha, sem precisar bombear. Tenho um tanque no chão e nesse lugar mais alto da propriedade tem uma dorna que encho com essa água. Através do cano levo a água para a propriedade toda. Sempre trabalhei na terra, mas com 18 anos comecei a trabalhar em firma, construção civil, aqui não tinha muito serviço, eu fui para muitos estados mais sempre com vontade de voltar a viver na minha terra, eu tinha vontade, mas não sabia como viver aqui. Agora tou tentando ampliar a horta, já tou preparando outra área pra plantio”.

Para Dona Rosa, as mudanças são muitas. “Melhorou bastante, antes além do marido tá distante, a gente pensava no desemprego, em como ia viver. A plantação só

no inverno não dura o ano todo, estamos com 90% de melhoria. Acho que o que precisamos é produzir mais, aumentar. Aqui eu já tenho meus clientes certos. A gente molha de oito horas em diante até 10horas, quando o sol começa esquentar a gente molha de novo. A gente tá na segunda etapa de produção. Pega aqui na caatinga a terra de quixaba, no futuro a gente quer fazer a compostagem e usar o esterco de animal. Só nós dois trabalhamos com a roça, nosso filho dá uma ajuda quando tem tempo, mais o tempo dele é mais para o estudo”, explica Rosa

“A produção orgânica é meu maior desafio”“A minha produção é toda natural e esse é meu maior desafio, o consumidor já conhece, eles mesmos falam e sentem a diferença, vê que dura mais tempo, pergunta que é orgânico e eu garanto que não estraga, em pelo menos uma semana. Com oito dias elas voltam para falar que ainda tem e que tava bom. É muito bom poder dar essa garantia, eu fico muito feliz, é gratificante”, relata seu Valdo.

“Eu fazia os canteiros pequenos só para o consumo e sonhava em ver aquilo em quantidade, eu hoje sobrevivo da horta e do Bolsa Família que ajuda bastante. Eu não tenho experiência, as pessoas que visitam a gente vêm passando seu conhecimento. Quando veio os insetos fiquei triste, mas a gente tá correndo atrás para não botar química, por que aí a gente não pode dá aquela garantia. Semeio a terra fina para cobrir a semente de alface, nem deixo fundo, nem deixo exposto para as formigas carregarem a semente. Eu aprendi a usar a peneira para a terra ficar fininha, vendo o dia a dia, pensando e descobrindo como fazer”, ensina.

Seu Valdo agora está mais tranquilo, e sente a mudança na vida depois que começou a produzir, agora ele está próximo da sua família. “Dia dos pais, fim de ano, eu tava longe. Meu filho teve a comemoração da 8 ª série e eu só vi as imagens. Os meninos sempre tavam com as coisas guardadas para me mostrar quando eu chegava. Eu vejo essa segurança de tá aqui, perto deles, quando faltava um dia para viajar já ficavam triste, pediam para eu ficar, eu ia explicando que tinha que trabalhar, era difícil. Mudou isso, eu estar perto dos meus filhos é a melhor coisa”, diz Seu Valdo, emocionado.