cistatina c: um novo marcador precoce de funÇÃo renal

33
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL Saura Nayane de Souza Orientador: Maria Clorinda Soares Fioravanti GOIÂNIA 2012

Upload: others

Post on 12-Jul-2022

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS

CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

Saura Nayane de Souza Orientador: Maria Clorinda Soares Fioravanti

GOIÂNIA

2012

Page 2: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

ii

SAURA NAYANE DE SOUZA

CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

Seminário apresentado junto à Disciplina Seminários Aplicados do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Escola de

Veterinária da Universidade Federal de Goiás. Nível: Doutorado

Área de concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Linha de Pesquisa: Alterações clínicas, metabólicas e toxêmicas dos

animais e meios auxiliares de diagnóstico

Orientadora:

Profª Drª Maria Clorinda Soares Fioravanti – UFG

Comitê de Orientação: Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno- UFG

Profª Drª Naida Cristina Borges – UFG

GOIÂNIA 2012

Page 3: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

iii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................1

2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................3

2.1 Doença renal crônica (DRC)..............................................................................3

2.2 Determinação da TFG........................................................................................6

2.2.1 Creatinina sérica.............................................................................................7

2.2.2 Cistatina C.....................................................................................................10

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................21

REFERÊNCIAS......................................................................................................23

Page 4: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

iv

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Modelo da evolução dos estágios da DRC e intervenções

terapêuticas. Elipses sombreadas representam os estágios

da DRC; elipses sem sombra representam antecedentes

potenciais ou consequências da DRC. Setas espessas entre

elipses representam fatores de risco associados com o

início e progressão da doença: seta preta - fatores de

susceptibilidade; seta cinza escura - fatores de iniciação;

seta cinza claro - fatores de progressão; e seta branca -

fatores de estágio final. TFG: taxa de filtração glomerular;

IR: insuficiência renal..............................................................

04

FIGURA 2 Estrutura terciária da cistatina C humana, evidenciando o

sítio de ligação (círculo vermelho)..........................................

14

FIGURA 3 Dímero da cistatina C humana............................................... 15

FIGURA 4 Aparelho de nefelometria (BN Prospec® - Siemens

Healthcare Diagnósticos Ltda)...............................................

19

Page 5: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

v

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Estágios da DRC em cães e gatos................................................ 05

QUADRO 2 Classificação da proteinúria de acordo com a relação

proteína/creatinina urinária (PU/CU).............................................

06

QUADRO 3 Subestágios da DRC de acordo com a pressão arterial em cães

e gatos...........................................................................................

06

QUADRO 4 Equações de estimativa da taxa de filtração glomerular

baseadas na creatinina sérica no qual, TFG: taxa de filtração

glomerular; Cr: creatinina sérica; k é 0,7 para mulheres e 0,9

para homens; α é -0,329 para mulheres e -0,411 para homens;

min indica o mínimo de creatinina sérica ou 1; max indica o

máximo de creatinina sérica ou 1..................................................

09

QUADRO 5 Denominações atribuídas para uma proteína com padrão de

migração em eletroforese na região γ e atividade inibidora das

cisteíno-proteinases......................................................................

11

QUADRO6 Classificação da superfamília das cistatina humanas................... 12

QUADRO 7 Equações para a estimativa da taxa de filtração glomerular com

base na cistatina C sérica (mg/L) isoladamente ou em

combinação com a creatinina sérica (mg/dL)................................

18

Page 6: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

1 INTRODUÇÃO

A avaliação da função renal é de extrema importância em cães

doentes renais crônicos. Sabe-se que a doença renal crônica (DRC), com

evolução para insuficiência renal crônica, é uma das principais causas de

morbidade e mortalidade em cães. Portanto, o acompanhamento clínico e

laboratorial de pacientes com DRC deve ser constante e a monitoração da função

renal é decisiva na condução ao diagnóstico e à terapêutica.

A determinação da taxa de filtração glomerular (TFG) é o principal

parâmetro para avaliação da função renal em pacientes com DRC. A TFG é

definida como o volume de fluido plasmático que é filtrado para dentro da cápsula

de Bowman por unidade de tempo (NOVO, 2009). A determinação da TFG é

estimada por meio da depuração plasmática (clearance) de determinadas

substâncias endógenas ou exógenas pelos rins (NERI, 2007).

Para que o clearance de uma substância possa refletir a TFG, esta

substância deve apresentar as seguintes características: não se ligar a proteínas

plasmáticas, ser livremente filtrada pelos glomérulos, possuir ritmo de produção

estável, manutenção constante do seu nível circulante por não ser influenciado

por outras doenças e não deve sofrer a interferência tubular, como secreção ou

reabsorção (GABRIEL et al., 2011). Entretanto, os métodos disponíveis para

determinação da TFG nem sempre preenchem todos esses requisitos.

Apesar da evolução e modernização das técnicas laboratoriais nas

últimas décadas, os pesquisadores ainda estudam um marcador de função renal

que seja próximo do ideal e de fácil determinação laboratorial. Sabe-se que a

TFG diminui anteriormente ao aparecimento dos sinais clínicos de insuficiência

renal, portanto a utilização de marcadores precoces de função renal pode

direcionar o médico veterinário a estabelecer um diagnóstico precoce da lesão

renal e classificar a doença de base.

Estudos realizados em humanos têm indicado a cistatina C como um

marcador confiável e de rápida execução na análise da função renal pelo fato de

que a cistatina C não sofre influência de fatores extrarrenais (ANTOGNONI et al.,

Page 7: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

2

2005). Assim, a cistatina C tem se tornado popular entre os nefrologistas pelo seu

papel promissor como um novo marcador sensível de mudanças na TFG.

Na medicina veterinária existem poucos estudos a respeito da

utilização da cistatina C como marcador de função renal. O objetivo deste

seminário foi discutir a aplicabilidade do uso da cistatina C sérica como marcador

precoce de disfunção renal em cães doentes renais e discorrer as principais

vantagens e desvantagens quanto à sua inserção na rotina laboratorial na clínica

de pequenos animais.

Page 8: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

3

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Doença renal crônica (DRC)

A prevalência de doenças renais em pequenos animais aumenta com o

avançar da idade. Em cães acima de 15 anos o percentual pode chegar até 10%

(MELO et al., 2006). A doença renal crônica (DRC) é uma afecção

frequentemente diagnosticada em cães, sendo os cães de meia idade os mais

acometidos (SOUZA, 2011).

A DRC é definida como presença de lesão renal persistente pelo

período mínimo de três meses, podendo ocasionar ou não decréscimo da taxa de

filtração glomerular (TFG) (POLZIN, 2011). A DRC é caracterizada pela perda

definitiva e irreversível de massa funcional e/ou estrutural de um ou de ambos os

rins, e pode-se observar redução da TFG de até 50% em relação ao seu normal

(WAKI et al., 2010).

As consequências da DRC em humanos, independentemente da

causa, incluem a progressão para insuficiência renal, doença cardiovascular e

complicações decorridas da diminuição da função renal (LEVEY et al., 2003).

WAKI et al. (2010) relatou a hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus,

nefrolitíase, glomerulopatia, glomeruloesclerose associada à proteinúria e

ureterolitíase, como algumas das complicações da DRC em cães, favorecendo a

perda precoce da função renal.

Em 2002, a Kidney Disease Outcome Quality Initiative (KDOQI),

patrocinada pela National Kidney Foundation (NKF), publicou uma diretriz sobre

DRC que compreendia avaliação, classificação e estratificação de risco de DRC

em humanos (Figura 1). A definição de DRC foi baseada em três componentes:

um componente anatômico ou estrutural (marcadores de dano renal); um

componente funcional (baseado na TFG) e um componente temporal. Com base

nessa definição, seria portador de DRC qualquer indivíduo que, independente da

causa, apresentasse TFG < 60 mL/min/1,73m2 ou a TFG > 60 mL/min/1,73m2

associada a pelo menos um marcador de dano renal parenquimatoso (por

Page 9: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

4

exemplo, proteinúria) presente há pelo menos três meses (BASTOS &

KIRSZTAJN, 2011).

FIGURA 1 – Modelo da evolução dos estágios da DRC e intervenções terapêuticas. Elipses sombreadas representam os estágios da DRC; elipses sem sombra representam antecedentes potenciais ou consequências da DRC. Setas espessas entre elipses representam fatores de risco associados com o início e progressão da doença: seta preta - fatores de susceptibilidade; seta cinza escura - fatores de iniciação; seta cinza claro - fatores de progressão; e seta branca - fatores de estágio final. TFG: taxa de filtração glomerular; IR: insuficiência renal

Fonte: LEVEY et al. (2003)

A diferenciação dos estágios da DRC é muito importante no

estabelecimento das condutas terapêuticas, a fim de melhorar a qualidade de

vida, retardar a progressão da doença, aumentar a expectativa de vida e reduzir

as complicações inerentes a sua evolução (POLZIN, 2009).

A DRC também foi definida a partir da classificação em estadiamentos

para cães e gatos (Quadro 1). A IRIS (International Renal Interest Society) propôs

um sistema de classificação da DRC para cães e gatos baseada na concentração

plasmática de creatinina e dividida em quatro estágios e após em subcategorias

por meio da mensuração da proteinúria e pressão arterial (Quadros 2 e 3) (IRIS,

2009). Esses estágios foram estabelecidos de acordo com as concentrações

séricas de creatinina, pois esse marcador de taxa de filtração glomerular (TFG)

ainda é o mais utilizado na rotina veterinária, sendo considerada a melhor variável

laboratorial para emprego na rotina clínica por muitos autores (POLZIN, 2010).

Page 10: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

5

QUADRO 1 – Estágios da DRC em cães e gatos

Estágios Creatinina plasmática

mmol/l

mg/dl

Comentários

Cães Gatos

Grupos

de risco

<125

<1.4

<140

<1.6

Para os pacientes identificados como

"em risco" considerar triagem normal

e tomar medidas para reduzir os

fatores de risco

Estágio I <125

<1.4

<140

<1.6

Animal não-azotêmico

Algumas anormalidades renais

presentes, por exemplo, capacidade

de concentração urinária diminuída

sem identificação de causas

extrarrenais; palpação renal anormal

e/ou alterações renais observadas no

exame de imagem; proteinúria

persistente de origem renal;

alterações observadas na biópsia

renal com elevação progressiva dos

níveis de creatinina; Presença de

hipertensão e/ou proteinúria

Estágio II 125 – 179

1.4 - 2.0

140 - 249

1.6 - 2.8

Azotemia renal discreta

Sinais clínicos discretos ou ausentes.

Extremidade inferior do intervalo

encontra-se dentro do intervalo de

referência para muitos laboratórios,

mas a baixa sensibilidade da

creatinina como teste de triagem

sugere que os animais com valores de

creatinina perto do limite superior da

normalidade, muitas vezes possuem

falha na excreção

Estágio

III

180 – 439

2.1 - 5.0

250 - 439

2.9 – 5.0

Azotemia renal moderada

Sinais clínicos de uremia podem estar

presentes

Estágio

IV

>440

>5.0

>440

>5.0

Azotemia renal grave

Sinais clínicos referentes ao quadro

de síndrome urêmica

Fonte: IRIS (2009)

Page 11: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

6

QUADRO 2 - Classificação da proteinúria de acordo com a relação proteína/creatinina urinária (PU/CU)

Classificação PU/CU

Cães Gatos

Não-proteinúrico <0,2 <0,2

Proteinúria limítrofe 0,2 - 0,5 0,2 - 0,4

Proteinúrico >0,5 >0,4

Fonte: IRIS (2009) QUADRO 3 – Subestágios da DRC de acordo com a pressão arterial em cães e

gatos

Estágios Pressão arterial

sistólica

Pressão arterial

diastólica

0 <150 mmHg <95 mmHg

1 150 - 159 mmHg 95 - 99 mmHg

2 160 - 179 mmHg 100 - 119 mmHg

3 >180 mmHg >120 mmHg

Fonte: Adaptado de IRIS (2009)

2.2 Determinação da TFG

A determinação da TFG é a maneira mais eficaz para avaliação da

função renal e a medida da filtração glomerular (FG) é o método de escolha para

classificar o estágio de gravidade da DRC (LEVEY et al., 2003).

Até o momento, apenas substâncias exógenas têm sido consideradas

como marcadores ideais para a determinação da TFG, entre elas destacam-se a

inulina, o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), o ácido

etilenodiaminopentacético (DTPA), o iotalamato e, recentemente, o iohexol

(SARKAR et al., 2005). Entretanto, o uso de tais substâncias é limitado, uma vez

que não estão presentes na circulação e, consequentemente, precisam ser

infundidas. Além disso, as técnicas possuem custo oneroso, requerem tempo

prolongado para sua realização e não são práticas para uso rotineiro

(KIRSZTAJN, 2007).

Page 12: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

7

Na prática clínica, a TFG é avaliada por meio da mensuração das

concentrações de substâncias endógenas (BASTOS & KIRSZTAJN, 2011).

Marcadores endógenos são de determinação menos complexa e oferecem

resultados mais rápidos. Até pouco tempo, a creatinina plasmática era

considerada o marcador endógeno cujo perfil mais se assemelhava àquele de

uma substância endógena ideal para medir a TFG (GABRIEL et al., 2011).

Entretanto, a National Kidney Foundation (NKF) não recomenda o uso isolado da

creatinina sérica para avaliar o nível de função renal (LEVEY et al., 2003).

A avaliação da TFG é pouco praticada na medicina veterinária. Os

testes de clearance na urina (que na maioria das vezes são usados a creatinina

ou inulina como indicadores) são complicados e exigem coleta precisa de

amostras de urina em tempos cronometrados (WATSON et al., 2002).

Diversas proteínas plasmáticas de baixo peso molecular vêm sendo

estudadas com o intuito de identificar um marcador de TFG mais eficiente. Em

condições normais, essas proteínas são filtradas, quase que livremente, através

da membrana glomerular e algumas são reabsorvidas e degradadas pelas células

tubulares proximais (FILLER et al., 2005). A cistatina C tem sido apontada como

um marcador mais sensível da função renal, embora sua acurácia para

determinar a TFG não tenha sido completamente definida (FELÍCIO et al., 2009).

2.2.1 Creatinina sérica

A avaliação da FG em humanos é realizada em indivíduos que

possuem risco aumentado em desenvolver DRC. Nesse grupo estão incluídos

pessoas acima de 65 anos, com diagnóstico de hipertensão arterial, diabetes

mellitus, com histórico familiar de diálise ou transplante renal e pessoas

provenientes de grupos étnicos de risco. A avaliação laboratorial básica sugerida

é a medida da albumina urinária e de creatinina sérica (PRATES et al., 2007).

A depuração de creatinina sérica continua sendo um dos marcadores

mais utilizados na avaliação da função renal em cães. Entretanto, a utilização

isolada da concentração de creatinina para avaliação da função renal não é um

parâmetro fidedigno, visto que ela é influenciada por vários fatores como a massa

Page 13: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

8

muscular, idade, sexo, dieta alimentar, alterações da secreção tubular e excreção

extrarrenal (FERREIRA, 2006). Além disso, o nível sérico de creatinina não se

eleva significativamente até que a TFG reduza em menos que 50% dos valores

normais (FELICIO et al., 2009).

Muitos fatores limitam a acurácia da creatinina, uma vez que sua

concentração sérica é o reflexo da produção, que é proporcional à massa

muscular, sendo influenciada especialmente pela idade e sexo. Outro fator que

interfere na utilização da creatinina como marcador ideal da TFG é o fato de ser

secretada pelos túbulos renais em cães machos, superestimando, dessa forma, a

TFG (WATSON et al., 2002). Em condições normais, a depuração tubular de

creatinina corresponde a aproximadamente 10% a 20% da depuração renal

dessa substância. Como o percentual de creatinina depurada do plasma por

secreção depende de seu nível plasmático e da massa de tecido tubular

funcionante, em algumas situações a depuração tubular da creatinina pode atingir

50% a 70% da depuração renal (GABRIEL et al., 2011).

Muitas drogas aumentam as concentrações de creatinina sérica sem

diminuir a TFG. A cimetidina, trimetoprim, pirimetamina e salicilatos inibem a

secreção de creatinina pelo túbulo proximal. Os corticosteróides e os metabólitos

de vitamina D modificam a taxa de produção e a liberação de creatinina

(WEINERT et al., 2011).

Em humanos, devido às diferenças na geração da creatinina a partir de

fatores determinantes da massa muscular como idade, gênero e etnia, é

recomendado o uso da creatinina em equações de estimativa da TFG que

considerem em conta essas variáveis (Quadro 4). Atualmente são recomendadas

as equações de Cockcroft-Gault do estudo Modification of Diet in Renal Disease

(MDRD) e a do estudo CKD-EPI (Chronic Kidney Disease Epidemiology

Collaboration) (LEVEY et al., 2003).

A precisão das equações para diagnosticar os estágios da DRC é

limitada. A equação do estudo MDRD subestima a FG em indivíduos sem perda

significativa de função renal (PRATES et al., 2007). Além disso, essas equações

não foram validadas em algumas nefropatias como, por exemplo, a nefropatia

diabética, pois apresentam acentuada subestimativa da TFG nas faixas normais

ou elevadas de filtração glomerular. Esse desempenho insatisfatório das

Page 14: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

9

equações parece estar relacionado às limitações da própria creatinina sérica

como marcador pouco sensível e pouco específico da TFG (CAMARGO, 2011).

QUADRO 4 – Equações de estimativa da taxa de filtração glomerular baseadas na creatinina sérica no qual, TFG: taxa de filtração glomerular; Cr: creatinina sérica; k é 0,7 para mulheres e 0,9 para homens; α é -0,329 para mulheres e -0,411 para homens; min indica o mínimo de creatinina sérica ou 1; max indica o máximo de creatinina sérica ou 1

Equação Cockcroft-Gault

TFG (ml/min)= [140-idade] x peso/ [72 x Cr] x 0,85 (mulher)

Equação MDRD (Modification of Diet in Renal Disease)

TFG (ml/min/1,73m2)= 186 x (Cr)-1,154 x (idade)-0,203 x 1,212 (negro) x 0,742

(mulher)

Equação MDRD (re-expressa com creatinina calibrada)

TFG (ml/min/1,73m2)= 175 x (Cr)-1,154 x (idade)-0,203 x 1,212 (negro) x 0,742

(mulher)

Equação QCM (Quadrática Clínica Mayo)

TFG (ml/min/1,73m2)= exp [1,911 + 5,249/Cr - 2,114/Cr - 0,00686 x idade – 0,

205 (mulher)]

Observação: creatinina <0,8 = fixada como 0,8 mg/dl

CKD-EPI (Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration)

TFG (ml/min/1,73m2)= 141 x min (Cr/k, 1)α x max (Cr/k, 1)-1,209 x 0,993 idade x

1,018 [mulher] x 1,159 [negro]

Fonte: CAMARGO (2011)

O clearance urinário de creatinina endógena e exógena produz

avaliações precisas da TFG em cães. A pouca utilização desse exame deve-se

ao fato dos protocolos serem poucos práticos na medicina veterinária, pois

exigem coletas frequentes de urina por cateterização uretral ou gaiolas

metabólicas (NOLAN et al., 2009)

Na medicina veterinária o clearance de creatinina endógena (Ccr) é

calculado pela seguinte fórmula (BRUM, 2007):

Page 15: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

10

Ccr (ml/kg/min) = Ucr (mg/mL) x Uv (mL) / peso (kg)

Scr (mg/mL) x T (min)

onde Ccr: clearance de creatinina; Ucr: creatinina urinária; Scr: creatinina sérica;

Uv: vomume urinário; T: tempo

2.2.2 Cistatina C

A cistatina C é uma proteína inibidora das cisteíno-proteases. As

proteases ou proteinases são enzimas cuja atividade é regulada por seus

inibidores e estão envolvidas em processos de degradação proteica intra e

extracelular e em uma variedade de reações metabólicas. As cistatinas atuam

formando complexos com suas enzimas alvo na proteção dos tecidos do

hospedeiro contra a destruição proteolítica (SHLIPAK et al., 2006).

a) Histórico

A cistatina C foi identificada pela primeira vez em 1961, quando Jorgen

Clausen descreveu a ocorrência no líquido cefalorraquidiano humano de uma

proteína específica que apresentava um padrão de migração em eletroforese na

região γ (gama). No mesmo ano, Butler e Flynn identificaram uma proteína com

as mesmas características na urina em humanos. Em 1962, Hochwald e

Thorbecke isolaram a mesma proteína em outros fluidos biológicos, entre eles

plasma sanguíneo, urina, líquidos ascítico e pleural. Entre 1961 e 1981, a

sequência parcial de aminoácidos foi determinada e neste período a proteína foi

designada por nomes diferentes ao longo dos anos (Quadro 5). Em 1981, Anders

Grubb e Helge Löfberg demonstraram a presença da proteína na hipófise

humana e determinaram a sequência completa de aminoácidos. Em 1983, Turk e

colaboradores isolaram a partir do soro de um paciente com uma doença auto-

imune, um inibidor que se assemelhava ao traço γ na sequência de aminoácidos

e relacionaram essa sequência a da cistatina presente na clara de ovo. Com base

nos estudos realizados para estabelecer o papel desta proteína como um inibidor

das cisteíno-proteinases e para comparar as suas propriedades com as das

Page 16: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

11

cistatinas A e B (estefinas), o novo nome cistatina C foi finalmente atribuído a

essa proteína por Barrett e colaboradores em 1984 (MUSSAP & PLEBANI, 2004).

Somente em 1985, foi demonstrada pela primeira vez a forte

correlação inversa da cistatina C sérica com a TFG. Desde então, tem havido um

interesse crescente na cistatina C como um marcador da TFG, sendo atualmente

um forte concorrente da creatinina na avaliação de pacientes com doenças renais

(PRATES et al., 2007).

QUADRO 5 – Denominações atribuídas para uma proteína com padrão de migração em eletroforese na região γ e atividade inibidora das cisteíno-proteinases

Nomes designados Autores e anos

Post-γ -protein BUTLER & FLYNN (1961)

γ -CSF (γ -cerebrospinal fluid) CLAUSEN (1961)

Human γ -trace HOCHWALD & THORBECKE (1962)

γc-Globulin MACPHERSON (1962)

δaT LATERRE, HEREMANS & CARBONARA

(1964)

Post-γ –globulin MANUEL (1965)

Cystatin C BARRETT, DAVIES & GRUBB (1984)

Cystatin C BRZIN (1984)

Fonte: MUSSAP & PLEBANI (2004)

b) Classificação

As cistatinas são proteínas com uma sequência estrutural particular o

que as tornam capazes de se ligar às cisteíno-proteases de forma reversível,

formando um complexo enzimático inativo (BOBEK & LEVINE, 1992).

As cistatinas estão amplamente distribuídas em plantas, animais e

protozoários. Estima-se que há mais de 1 bilhão de anos plantas e animais

divergiram de um ancestral comum que possuía o mesmo tipo de cistatina

(MUSSAP & PLEBANI, 2004).

Segundo NOVO (2009), todas as cistatinas apresentam três porções

que se conservaram ao longo da evolução, as quais formam um sítio de ligação

Page 17: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

12

com a enzima. Esta característica permitiu classificar as cistatinas em uma única

superfamília, subdivididas em quatro grandes grupos (Quadro 6).

QUADRO 6 - Classificação da superfamília das cistatina humanas

Grupos Cistatinas Característica

Tipo 1 (estefinas) A e B Predominantemente

intracelulares

Tipo 2 C, S, SN, SA, D, E/M, F Proteínas não-glicosiladas

extracelulares

Tipo 3 Cininogênios Proteínas glicosiladas

intravasculares

Tipo 4 Fetuínas Importantes na osteogênese,

reabsorção óssea e na

recuperação de processos

inflamatórios

Fonte: NOVO (2009)

c) Estrutura

A cistatina C humana é uma proteína não glicosilada, de cadeia única,

formada por 120 aminoácidos, que tem baixo peso molecular (13.343 Da na

forma não hidroxilada). Espacialmente, constitui-se de cinco folhas β paralelas,

envolvendo uma longa α-hélice (α1). Apresenta ainda uma α-hélice curta (α2). As

alças L1 (entre as folhas β2 e β3) e L2 (entre as folhas β4 e β5) e a extremidade

N-terminal da folha β1 ficam alinhadas na forma de uma cunha (Figura 2). Esta

cunha, ao ligar-se ao sítio catalítico da enzima, inibe sua ação (MUSSAP &

PLEBANI, 2004).

O gene que codifica a cistatina C foi sequenciado e localiza-se no

cromossomo 20. A estrutura do gene parece ser do tipo housekeeping, que é

compatível com um ritmo de produção estável pela maioria das células nucleadas

(PÉREZ-CALVO et al., 2011). Os genes housekeeping são tipicamente genes

constitutivos que são necessários para a manutenção da função celular básica

(ABRAHAMSON et al., 1990).

Existe um alto grau de homologia (68% a 73%) entre a sequência

Page 18: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

13

completa de cistatina C em seres humanos e outras espécies como o rato,

camundongo e bovinos. No cão, apenas uma curta sequência de 27 aminoácidos

C-terminal foi determinada, apresentando homologia com a cistatina C humana

entre 46% a 79% (BRAUN et al., 2002).

FIGURA 2 – Estrutura terciária da cistatina C humana, evidenciando o sítio de ligação (círculo vermelho)

Fonte: Modificado de JANOWSKI et al. (2001)

d) Papel fisiológico e metabolização

A cistatina C é considerada a inibidora fisiologicamente mais

importante das proteases endógenas da cisteína, pois seu papel é o de inibir tais

proteases secretadas ou “vazadas” dos lisossomos de células doentes ou

rompidas, protegendo o tecido conjuntivo. A cistatina C é sintetizada e secretada

de forma constante por todas as células nucleadas. Portanto, mesmo em

processos infecciosos, a sua concentração sérica depende fundamentalmente da

TFG e não é influenciada pela massa muscular, estado nutricional ou febre

(SHLIPAK et al., 2006; PRATES et al., 2007).

A cistatina C está amplamente distribuída nos fluidos biológicos

(GABRIEL et al., 2011). Em cães ela foi identificada principalmente no soro,

Page 19: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

14

líquido cefalorraquidiano, glândulas parótidas, rins e sistema nervoso central. A

cistatina C também foi identificada nos depósitos de placas amiloides no cérebro

em seres humanos (BRAUN et al., 2002).

A distribuição intracelular de cistatina C é predominante no retículo

endoplasmático e nos corpúsculos de Golgi, na forma de dímeros, que são

inativos. Os dímeros são formados a partir da troca de três subdomínios (α1, β1 e

β2) entre dois monômeros de cistatina C (Figura 3). Como consequência a alça

L1 desaparece, e por esse motivo, o dímero não é capaz de inibir a ação das

cisteínas proteases. Nas vesículas secretoras os dímeros dissociam-se de modo

que só são secretados monômeros ativos (NOVO, 2009).

FIGURA 3 - Dímero da cistatina C humana Fonte: JANOWSKI et al. (2001)

Devido à sua pequena massa molecular e à sua carga positiva em pH

fisiológico, a cistatina C é livremente filtrada pelos glomérulos, sendo quase

totalmente removida da circulação. Sua metabolização se dá nos túbulos

proximais distais, onde ocorre reabsorção quase completa (99%) pelas células

tubulares, e posterior degradação enzimática dentro dos lisossomos

(ROYAKKERS et al., 2011). Assim, em condições fisiológicas, a concentração

urinária de cistatina C é mínima, e por esse motivo não pode ser utilizada para

determinar o clearance da TFG (SCHWARTZ & FURTH, 2007).

Várias funções da cistatina C são bem conhecidas. Além de seu papel

fisiológico como inibidora das proteinases, ela possui outras funções como

Page 20: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

15

modulação do sistema imunológico, atividade antibacteriana e antiviral e proteção

à lesão cerebral (MUSSAP & PLEBANI, 2004).

e) Interferências na medida da cistatina C

A cistatina C, quando comparada com a creatinina sérica, tem melhor

acurácia e é considerada um melhor marcador para estimar a TFG, em indivíduos

com pequenas perdas de função renal. Entretanto, alguns fatores têm sido

relacionados a variações da medida da cistatina C independente da função renal

(CAMARGO, 2011).

RANDERS & ERLANDSEN (1999) relataram que o melanoma, câncer

de cólon e infecção pelo HIV são causas extrarrenais associadas a níveis

elevados de cistatina C sérica em humanos. Segundo BRAUN et al. (2002) os

tumores devem ser investigados quanto aos efeitos sobre a concentração de

cistatina C em cães.

O uso de doses elevadas de corticoides tem sido associado ao

aumento da produção de cistatina C e elevação de seus níveis séricos, o que

resulta em uma subestimativa da TFG devido à elevação da cistatina C

(CAMARGO, 2011). Entretanto, OKAY (2002) afirma que somente a

metilprednisolona aumenta os níveis de cistatina C, enquanto que a ciclosporina

causa a sua diminuição.

A cistatina C também é influenciada pela ação dos hormônios

tireoidianos. Possivelmente essa interferência ocorre por influência direta do

hormônio tireoidiano na taxa de produção desta proteína. Assim, ao contrário do

que acontece com a creatinina, os níveis de cistatina são mais baixos no

hipotireoidismo e mais elevados no hipertireoidismo (NOVO, 2009). Possíveis

explicações para esses achados baseiam-se nos efeitos dos hormônios

tireoideanos sobre a hemodinâmica renal, a homeostase renal de sal e água e o

transporte tubular ativo de sódio, potássio e íons hidrogênio (GABRIEL et al.,

2011).

Alguns autores relatam que a vantagem da cistatina C sobre a

creatinina sérica é o fato da cistatina não ser influenciada por fatores como sexo,

idade e massa corporal (ANTOGNONI et al., 2005). No entanto, KNIGHT et al.

(2004) observaram em estudo em humanos que idade mais elevada, sexo

Page 21: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

16

masculino, maior peso, maior altura, hábito de fumar e altos níveis de proteína C

reativa estavam positivamente associados com níveis mais altos de cistatina C

após o ajuste para a depuração de creatinina. Em estudo em cães, o sexo não

influenciou na concentração de cistatina C plasmática. Em relação ao peso, os

maiores valores de cistatina C foram observados nos cães acima de 15 Kg

(BRAUN et al., 2002).

A cistatina C tem a sua concentração aumentada de acordo com a

idade, enquanto a filtração glomerular cai, paralelamente. Estudos sugerem que o

volume renal diminui em pacientes idosos, acarretando diminuição na TFG e na

perfusão renal. Dessa forma, a cistatina C é considerada como melhor marcador

de função renal do que a creatinina sérica em idosos (PRATES et al., 2007). Em

estudo em cães, BRAUN et al. (2002) observaram valores mais baixos de

cistatina C plasmática nos adultos jovens e de meia idade, do que nos filhotes e

idosos. No entanto, foi utilizado o mesmo limiar de referência para qualquer

idade.

Outro aspecto importante na avaliação da função renal é a

interferência da ingestão de proteínas e o estado nutricional. Estudos

evidenciaram que a cistatina C sérica, diferentemente da creatinina sérica, não foi

afetada pelo conteúdo proteico da dieta independente de mudanças na TFG,

indicando que a cistatina pode fornecer estimativas mais precisas da TFG que a

creatinina em pacientes com ingestão reduzida de proteínas (GABRIEL et al.,

2011).

g) Fórmulas baseadas na cistatina C em humanos

Na medicina vários estudos foram desenvolvidos para avaliar a

acurácia da dosagem de cistatina C para estimar a TFG. De forma análoga às

equações baseadas na creatinina sérica para avaliar a TFG, nos últimos anos

foram desenvolvidas várias equações incluindo a cistatina C (Quadro 7) e

validadas em várias populações (WEINERT et al., 2011).

Algumas dessas fórmulas que envolvem a cistatina C apresentaram,

segundo os investigadores que as utilizaram, melhor desempenho que equações

que utilizam a creatinina ou foram similares. Para outros, a combinação das

dosagens séricas de creatinina e cistatina C em fórmulas foi a melhor opção,

Page 22: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

17

particularmente quando foram considerados dados demográficos (CAMARGO,

2011).

QUADRO 7 - Equações para a estimativa da taxa de filtração glomerular com base na cistatina C sérica (mg/L) isoladamente ou em combinação com a creatinina sérica (mg/dL)

Autores Fórmulas propostas

HOEK et al. TFG = -4,32 + 80,35 x 1/ cistatina

TAN et al. TFG = 87,1 / cistatina - 6,87

RULE et al. TFG = 66,8 x cistatina -1,30

GRUBB et al. TFG = 99,19 x cistatina -1,713 x 0,823 (se sexo feminino)

GRUBB et al. TFG = 87,62 x cistatina-1,693 x 0,94 (se sexo feminino)

MACISAAC et al. TFG = 86,7 / cistatina - 4,2

LARSSON et al. TFG = 77,239 x cistatina -1,2623

STEVENS et al. TFG = 177,6 x creatinina-0,65x cistatina-0,57x idade-0,20x 0,82 (se sexo feminino) x 1,11 (se raça negra)

Fonte: GABRIEL et al. (2011)

g) Determinação laboratorial

Várias metodologias já foram empregadas para a mensuração da

cistatina C, tais como: enzimaimunoensaio, radioimunoensaio, fluoroimunoensaio

e imunodifusão radial simples, porém ainda não estão adequadamente

padronizados. A imunodifusão radial simples é um processo lento, necessitando

de pelo menos 10 a 20 h e tem um coeficiente de variação relativamente elevado

(cerca 10%), diminuindo a acurácia do exame (FILLER et al., 2005).

Após diversas tentativas de padronização, desenvolveram-se métodos

imunológicos baseados na turbidimetria - PETIA (Particle-Enhanced Turbidimetric

Immunoassay) e nefelometria - PENIA (Particle-Enhanced Nephelometric

Immunoassay). Esses ensaios são mais simples, acurados, rápidos e requerem

pequenas amostras e apresentam possibilidade de automatização, permitindo o

uso clínico em larga escala (PRATES et al., 2007).

O ensaio PENIA é realizado no aparelho de nefelometria automatizada

com necessidade de 80 µl de amostra de plasma, o tempo de duração do ensaio

é de 6 minutos e tem coeficientes de variação (CV) intra e interensaio de 1,8% e

Page 23: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

18

1,1% respectivamente (PRATES et al., 2007). O ensaio PETIA apresenta a

vantagem de ser realizado em qualquer espectrofotômetro automatizado ou

analisador clínico, enquanto o PENIA (Figura 4) foi desenvolvido apenas para

analisadores do seu mesmo fabricante (RAMOS, 2010).

FIGURA 4 – Aparelho de nefelometria (BN Prospec® - Siemens Healthcare Diagnósticos Ltda)

Fonte: http://www.labpack.com.br/

A variabilidade biológica intraindividual e interindividual, definida com

índice de individualidade, fornece informações relevantes para a escolha de um

ensaio laboratorial. Quando o índice de individualidade é maior ou igual a 1,4, a

variação de um indivíduo particular estará próxima à dos limites dos valores de

referência populacionais, o que facilita o uso diagnóstico desse marcador (NERI,

2007).

Valores de referência baseados em dados populacionais não devem

ser usados quando um índice de individualidade de um ensaio é menor que 0,6.

PAGITZ et al. (2007) em estudo sobre a variabilidade biológica em cães,

empregaram o PETIA para mensuração da cistatina C e encontraram valores

para o índice de individualidade de 0,96 e 0,85 para a cistatina C e creatinina,

respectivamente. Esses autores concluíram que os componentes de variância

biológica de cistatina C e creatinina estavam no mesmo intervalo. Além disso,

enfatizaram que a aplicação das diferenças fundamentais para creatinina ou

cistatina C pode ser útil na detecção de um decréscimo na taxa de filtração

glomerular, quando as mensurações sequenciais em um indivíduo aumentam

Page 24: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

19

excedendo as diferenças críticas, mas não o limite superior de referência.

ANTOGNONI et al. (2005) afirmaram que o método PENIA, disponível

em um reagente comercial para uso humano, pode ser usado para mensurar a

cistatina C sérica em cães. Em estudo comparativo entre os ensaios PETIA e

PENIA para mensuração da cistatina C em cães, foi observado que o PENIA

mostrou-se mais sensível e estreitamente correlacionado com outros indicadores

de função renal do que o PETIA (JONKISZ et al., 2010).

f) Cistatina C como marcador de função renal

Além de seu papel fisiológico como inibidora das proteinases, a

cistatina C atua como marcador de função renal e como marcador prognóstico em

diferentes aspectos da fisiopatologia cardiovascular (PÉREZ-CALVO et al., 2011).

Várias pesquisas em humanos relataram que a concentração da

cistatina C sérica possui alta correlação com a TFG e consideraram um teste de

triagem confiável para a avaliação precoce de lesão renal e melhor marcador

para a detecção de alterações bruscas na função renal em indivíduos com

doença renal estabelecida (UZUM et al., 2005).

Alguns estudos realizados em cães apontaram a cistatina C sérica

como potente marcador de TFG. BRAUN et al. (2002) mensuraram a cistatina C

sérica em 179 cães clinicamente saudáveis utilizando ensaio imunoturbidimétrico

para a cistatina C humana. O limite superior de referência para a cistatina C

sérica foi 1,3 mg/L. No mesmo estudo avaliaram 27 cães com sinais clínicos de

insuficiência renal e elevação concomitante dos níveis plasmáticos de ureia e

creatinina e observaram que 98% dos cães apresentaram níveis de cistatina C

sérica acima de 1,3 mg/L. Os autores também observaram aumento nas

concentrações de cistatina C em alguns cães que apresentaram sinais clínicos de

insuficiência renal e que tinham concentrações de creatinina nos níveis normais

ou discretamente aumentadas e concluíram que a cistatina C pode auxiliar a

discriminar elevações limítrofes de creatinina plasmática quando a insuficiência

renal é suspeita. Em outro estudo, foi observado valor médio de cistatina C sérica

igual a 0,93 mg/L em 24 cães saudáveis utilizando o ensaio imunoturbidimétrico

(PAGITZ et al., 2007).

Em estudo em cães, ANTOGNONI et al. (2005) utilizaram o ensaio

Page 25: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

20

nefelométrico para mensurar a cistatina C. Esses autores relataram alta

correlação entre os valores séricos de cistatina C e creatinina, ureia e fósforo e

afirmaram que o aumento nas concentrações de cistatina C sérica é indicativo de

progressão da doença como consequência da alteração da função renal. Esses

autores observaram valor de cistatina C sérica igual a 0,25 ± 0,14 mg/l em cães

que não apresentavam disfunção renal.

Em estudo posterior, ANTOGNONI et al. (2007) avaliaram 53 cães que

apresentavam insuficiência renal e azotemia associada à nefrite crônica,

leishmaniose visceral (LV) e diabetes mellitus (DM) cetoacidótica e 31 cães não-

azotêmicos que apresentavam LV e DM compensada. Nesse estudo utilizaram o

ensaio nefelométrico e observaram que as concentrações de cistatina C sérica

foram maiores no grupo que apresentava azotemia (0,59 ± 0,34 mg/L). Em

relação ao grupo não-azotêmico, os níveis de cistatina C sérica foram

significativamente maiores em cães com LV do que em cães com DM

compensada, sugerindo que cães afetados por LV são mais propensos à lesão

renal que cães com DM. Para esses autores a mensuração da cistatina C é

bastante importante em pacientes que possuem alto risco em desenvolver

nefropatias.

PASA et al. (2009) determinaram a concentração de cistatina C sérica

em 16 cães com diagnóstico de LV. Os autores observaram que o valor médio de

cistatina C sérica nos cães com LV (1,07 ± 0,62 mg/L) foi significativamente maior

do que nos cães do grupo controle (0,56 ± 0,15 mg/L) e relacionaram o aumento

da concentração de cistatina C como consequência da deposição de

imunocomplexos na membrana basal glomerular e possível lesão renal. Nesse

estudo, somente um dos cães com LV apresentou valor de cistatina C sérica

menor do que o limite superior de referência <1,3 mg/L proposto por BRAUN et

al. (2002).

Page 26: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

21

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A doença renal crônica no cão tem merecido atenção especial em

diversas pesquisas, pois se sabe que ela é uma das principais causas de

morbidade e mortalidade nessa espécie. É muito importante detectar pequenas

alterações na função renal a modo de impedir a progressão para insuficiência

renal crônica, pois o diagnóstico precoce permite estabilizar o paciente e assim

obter maiores chances de sucesso no tratamento.

Cães com idade superior a sete anos possuem maiores chances de

apresentarem doença renal do que animais jovens. Portanto, o acompanhamento

clínico e laboratorial de cães de meia idade é a principal medida profilática para

retardar a instalação da doença renal, aumentando a expectativa de vida desses

animais.

Várias ferramentas de diagnóstico têm surgido para auxiliar os médicos

veterinários quanto ao diagnóstico da doença renal crônica nos estágios iniciais.

A cistatina C tem sido relatada como marcador precoce na avaliação da função

renal em humanos além de ser útil na avaliação de pacientes com alto risco de

desenvolver nefropatias. Entretanto, a principal desvantagem da cistatina C é que

sua determinação possui um custo elevado se comparado ao custo da creatinina.

Na medicina veterinária a cistatina C tem sido utilizada somente na

pesquisa e existem poucos estudos a respeito de sua eficiência como marcador

precoce de função renal, especialmente no contexto da doença renal crônica. A

maioria dos estudos avalia o desempenho da cistatina C comparando-a com a

creatinina e não com marcadores diretos da taxa de filtração glomerular. A

mensuração direta da taxa de filtração glomerular, independente de creatinina, é

importante para a correta avaliação do desempenho da cistatina C. Sabe-se que

a creatinina possui várias limitações como a produção de creatinina pelas células

tubulares e o consequente erro de estimativa da TFG. Além disso, os valores de

referência da cistatina C para cães citados pela literatura possuem alta

discrepância. São necessários novos estudos com maior número de animais, que

avaliem a cistatina C em diferentes populações de cães, assim como em

diferentes nefropatias.

Page 27: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

22

REFERÊNCIAS

1. ABRAHAMSON, M.; OLAFSSON, I.; PALSDOTTIR, A.; ULVSBACK, M.;

LUNDWALL, A.; JENSSON, O.; GRUBB, A. Structure and expression of the

human cystatin C gene. The Biochemical Journal, Great Britain, v. 268, p. 287-

294, 1990.

2. ANTOGNONI, M. T.; SIEPI, D.; PORCIELLO, F.; FRUGANTI, G. Use of

serum cistatin C determination as a marker of renal function in the dog.

Veterinary Research Communications, Amsterdam, v. 29, n. 2, p. 265–267,

2005.

3. ANTOGNONI, M. T.; SIEPI, D.; PORCIELLO, F.; RUECA, F.; FRUGANTI, G.

Serum cystatin-C evaluation in dogs affected by different diseases associated or

not with renal insufficiency. Veterinary Research Communications, Amsterdam,

v. 31, n. 1, p. 269-271, 2007.

4. BASTOS, M. G.; KIRSZTAJN, G. M. Doença renal crônica: importância do

diagnóstico precoce, encaminhamento imediato e abordagem interdisciplinar

estruturada para melhora do desfecho em pacientes ainda não submetidos à

diálise. Jornal Brasileiro de Nefrologia, São Paulo, v. 33, n. 1, p. 93-108, 2011.

5. BOBEK, L. A; LEVINE, M. J. Cystatins-inhibitors of cysteine proteinases.

Critical Reviews in Oral Biology & Medicine, Washington, v. 3, p. 307-332,

1992.

6. BRAUN, J. P.; PERXACHS, A.; PECHEREAU, D.; DE LA FARGE, F.

Plasma cystatin C in the dog: reference values and variations with renal failure.

Comparative Clinical Pathology, London, v. 11, p. 44-49, 2002.

Page 28: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

23

7. BRUM, A. M. Avaliação da função renal de cães sadios e nefropatas

sob infusão de dopamina. 2007. 46 f. Dissertação (Mestrado em Medicina

Veterinária) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade

Estadual Paulista, Jaboticabal.

8. CAMARGO, E. G. Estimativa da taxa de filtração glomerular com

equações baseadas na creatinina e cistatina C séricas em pacientes com

diabete melito tipo 2. 2011. 89 f. Tese (Doutorado em Ciências Médicas) –

Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto

Alegre.

9. FELICIO, M. L.; ANDRADE, R. R.; CASTIGLIA, Y. M. M.; SILVA, M. A. M.;

VIANNA, P. T. G.; MARTINS, A. S. Cistatina C e taxa de filtração glomerular em

cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea. Revista Brasileira de Cirurgia

Cardiovascular, São Paulo, v. 24, n. 3, p. 305-311, 2009.

10. FERREIRA, R. P. Função renal de cães adultos sadios alimentados

com diferentes teores de proteína bruta. 2006. 81 f. Dissertação (Mestrado em

Ciência Animal) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

11. FILLER, G.; BÖKENKAMP, A.; HOFMANN, W.; LE BRICON, T.;

MARTÍNEZ-BRÚ, C.; GRUBB, A. Cystatin C as a marker of GFR - history,

indications, and future research. Clinical Biochemistry, Toronto, v. 38, p. 1-8,

2005.

12. GABRIEL, I. C.; NISHIDA, S. K.; KIRSZTAJN, G. M. Cistatina C sérica: uma

alternativa prática para avaliação de função renal? Jornal Brasileiro de

Nefrologia, São Paulo, v. 33, n. 2, p. 261-267, 2011.

13. INTERNATIONAL RENAL INTEREST SOCIETY – IRIS, Staging of CKD

[online], 2009. Disponível em: http://www.iris-kidney.com. Acesso em: 01 ago.

2012.

Page 29: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

24

14. JANOWSKI, R.; KOZAK, M.; JANKOWSKA, E.; GRZONKA, Z.; GRUBB,

A.; ABRAHAMSON, M.; JASKOLSKI, M. Human cystatin C, an amyloidogenic

protein, dimerizes through three dimensional domain swapping. Nature

Structural Biology, New York, v. 8, n. 4, p. 316-320, 2001.

15. JONKISZ, P.; KUNGL, K.; SIKORSKA, A.; KUROSAD, A.; NICPÓN, J.

Cystatin C analysis in the dog: a comparison of turbidimetric and nephelometric

assay results. Acta Veterinaria Hungarica, Budapest, v. 58, n. 1, p. 59-67, 2010.

16. KIRSZTAJN, G. M. Avaliação do ritmo de filtração glomerular. Jornal

Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro, v. 43, n. 4, p.

257-264, 2007.

17. KNIGHT, E. L.; VERHAVE, J. C.; SPIEGELMAN, D.; HILLEGE, H. L.;

ZEEUW, D. D.; CURHAN, G. C.; JONG, P. E. Factors influencing serum cystatin

C levels other than renal function and the impact on renal function measurement.

Kidney International, Malden, v. 65, p. 1416-21, 2004.

18. LEVEY, A. S.; CORESH, J.; BALK, E.; KAUSZ, A. T.; LEVIN, A.; STEFFES,

M. W.; HOGG, R. J.; PERRONE, R. D.; LAU, J.; EKNOYAN, G. National kidney

foundation practice guidelines for chronic kidney disease: evaluation,

classification, and stratification. Annals of Internal Medicine, Philadelphia, v.

139, p. 137-147, 2003.P

19. MELO, M. B.; VEADO, J. C. C.; SILVA, E. F.; MOREIRA, S. M.; PASSOS,

L. M. F. Dopplerfluxometria das artérias renais: valores normais das velocidades

sistólica e diastólica e do índice resistivo nas artérias renais principais. Arquivo

Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 58, n. 4, p.

691-693, 2006.

20. MUSSAP, M.; PLEBANI, M. Biochemistry and clinical role of human

cystatin C. Critical Reviews in Clinical Laboratory Sciences, Boca Raton, v.

41, n. 5-6, p. 467-550, 2004.

Page 30: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

25

21. NERI, L. A. L. Validação do método imunonefelométrico para dosagem

de cistatina C, como marcador de função renal. 2007. 76 f. Dissertação

(Mestrado em Ciências) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo,

São Paulo.

22. NOLAN, B. G.; ROSS, L. A.; VACCARO, D. E.; GROMAN, E. V.;

REINHARDT, C. P. Estimation of glomerular filtration rate in dogs by plasma

clearance of gadolinium diethylenetriamine pentaacetic acid as measured by use

of an ELISA. American Journal of Veterinary Research, Chicago, v. 70, p. 547-

552, 2009.

23. NOVO, A. C. A. C. F. Evolução dos níveis séricos de cistatina C em

recém-nascidos de termo no primeiro mês de vida. 2009. 111 f. Dissertação

(Mestrado em Ciências) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo,

São Paulo.

24. OKAY, T. S. Cistatina C: um novo marcador de função renal em crianças.

Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 48, n. 2, p. 112-113,

2002.

25. PAGITZ, M.; FROMMLET, F.; SCHWENDENWEIN, I. Evaluation of

biological variance of cystatin C in comparison with other endogenous markers of

glomerular filtration rate in healthy dogs. Journal of Veterinary Internal

Medicine, Lawrence, v. 21, p. 936-942, 2007.

26. PASA, S.; BAYRAMLI, G.; ATASOY, A.; KARUL, A.; ERTUG, S.; TOZ, S. O.

Evaluation of serum cystatin-C in dogs with visceral leishmaniasis. Veterinary

Research Communications, Amsterdam, v. 33, 529-534, 2009.

27. PÉREZ-CALVO, J. I.; RULL, J. L. M.; RUIZ, F. J. R. La cistatina C: una

proteína para la insuficiencia cardíaca. Medicina Clínica, Barcelona, v. 136, n. 4,

p.158-162, 2011.

Page 31: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

26

28. POLZIN, D. J. Diagnosing & staging kidney disease in dogs and cats. In:

WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 34., 2009, São Paulo.

Proceedings…[online]. São Paulo: WSAVA, 2009. Disponível em:

http://www.ivis.org/proceedings/wsava/2009/lecture28/1.pdf. Acesso em 16 jul.

2012.

29. POLZIN, D. J. Chronic kidney disease. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E.

C. Textbook of veterinary internal medicine. 7.ed. St. Louis: Saunders Elsevier,

2010, p. 1990-2021.

30. POLZIN, D. J. Chronic kidney disease in small animals. Veterinary Clinics

of North America Small Animal Practice, Philadelphia, v. 41, p. 15-30, 2011.

31. PRATES, A. B.; AMARAL, F. B.; VACARO, M. Z.; GROSS, J. L.;

CAMARGO, J. L.; SILVEIRO, S. P. Avaliação da filtração glomerular através da

medida da cistatina C sérica. Jornal Brasileiro de Nefrologia, São Paulo, v. 29,

n. 1, 2007.

32. RAMOS, R. C. Cistatina c: um novo marcador de filtração glomerular.

2010. 30 f. Monografia (Especialização em Terapia Intensiva Pediátrica) - Hospital

Regional da Asa Sul, Secretaria de Estado de Saúde do Governo do Distrito

Federal, Brasília.

33. RANDERS, E.; ERLANDSEN, E. J. Serum cystatin C as an endogenous

marker of the renal function - a review. Clinical Chemistry and Laboratory

Medicine, Padova, v. 37, n. 4, p.389-395, 1999.

34. ROYAKKERS, A. A. N. M.; KOREVAAR, J. C.; VAN SUIJLEN, J. D. E.;

HOFSTRA, L. S.; KUIPER, M. A.; SPRONK, P. E.; SCHULTZ, M. J.; BOUMAN, C.

S. C. Serum and urine cystatin C are poor biomarkers for acute kidney injury and

renal replacement therapy. Intensive Care Medicine, Berlin, v. 37, p. 493-501,

2011.

Page 32: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

27

35. SARKAR, P. D.; RAJESHWARI, G.; SHIVAPRAKASH, T. M. Cystatin C - a

novel marker of glomerular filtration rate: a review. Indian Journal of Clinical

Biochemistry, New Delhi, v. 20, n. 1, p.139-144, 2005.

36. SCHWARTZ, G. J.; FURTH, S. L. Glomerular filtration rate measurement

and estimation in chronic kidney disease. Pediatric Nephrology, Berlin, v. 22, n.

11, p. 1839-48, 2007.

37. SHLIPAK, M. G.; PRAUGHT, M. L.; SARNAK, M. J. Update on cystatin C:

new insights into the importance of mild kidney dysfunction. Current opinion in

nephrology & hypertension, Philadelphia, v. 15, n. 3, p. 270-275, 2006.

38. SOUZA, S. N. Aplicação dos exames complementares no diagnóstico

da insuficiência renal crônica em cães. 2011. 72 f. Dissertação (Mestrado em

Ciência Animal) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

39. UZUN, H.; KELES, M. O.; ATAMAN, R.; AYDIN, S.; KALENDER, B.; USLU,

E.; SIMSEK, G.; HALAC, M.; KAYA, S. Serum cystatin C level as a potentially

good marker for impaired kidney function. Clinical Biochemistry, Toronto, v. 38,

p. 792-798, 2005.

40. WAKI, M. F.; MARTORELLI, C. R.; MOSKO, P. E.; KOGIKA, M. M.

Classificação em estágios da doença renal crônica em cães e gatos - abordagem

clínica, laboratorial e terapêutica. Ciência Rural, Santa Maria, v. 40, n. 10, p.

2226-2234, 2010.

41. WATSON, A. D. J.; LEFEBVRE, H. P.; CONCORDET, D.; LAROUTE, V.;

FERRE´, J. P.; BRAUN, J. P.; CONCHOU, F.; TOUTAIN, P. L. Plasma exogenous

creatinine clearance test in dogs: comparison with other methods and proposed

limited sampling strategy. Journal of Veterinary Internal Medicine, Lawrence, v.

16, p. 22-33, 2002.

Page 33: CISTATINA C: UM NOVO MARCADOR PRECOCE DE FUNÇÃO RENAL

28

42. WEINERT, L. S.; CAMARGO, E. G.; SOARES, A. A.; SILVEIRO, S. P.

Glomerular filtration rate estimation: performance of serum cystatin C-based

prediction equations. Clinical Chemistry and Laboratory Medicine, Padova, v.

49, n. 11, p. 1761-1771, 2011.