ciro - rev fides

Upload: di-benatti

Post on 23-Feb-2018

242 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    1/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN

    0000-0000

    104

    Recebido 5 jul. 2010

    Aceito 21 ago. 2010

    AS INTERAES COMUNICATIVAS COMO EXPRESSES OU

    MANIFESTAES DA IDEIA DE TOLERNCIA

    Ciro Di Benatti Galvo

    RESUMO

    As expresses tolerncia e dignidade da pessoa humana apresentam-se normativamente

    interdependentes em uma democracia constitucional. Embora a ideia de Estado Neutral (ao

    qual, em se tratando de aspectos subjetivos de comportamento individual, no dada a

    possibilidade de interferncia ou dirigismo) deva ser preservada, quando houver

    comprometimento dos processos de integrao social, a conexo entre os dois conceitos deve

    ser estabelecida e, neste sentido, percebe-se que ela poder ser feita mediante a utilizao da

    ideia de ao comunicativa habermasiana.

    Palavras-chave: Tolerncia. Dignidade humana. Ao Comunicativa.

    1 INTRODUO

    O referente trabalho visa construo e desenvolvimento do raciocnio de que

    mediante os elementos que integram os processos de interao dialgica ou comunicativos

    descritos por Jrgen Habermas em sua teoria da ao comunicativa (1999) pode-se chegar

    de forma mais otimizada ideia de obteno de tolerncia e, consequentemente, de integrao

    social.

    Por mais que se saiba que mediante os processos de integrao discursiva ou atos de

    fala em que cada ator social pode expor suas razes, debater e confrontar ideias com os

    Mestrando em Cincias Jurdico-Polticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL-Portugal). Especialista em Direito Pblico pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UniSUL). Graduado emDireito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Advogado.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    2/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    105

    demais participantes para tentarem chegar, eventualmente, a um determinado consenso sobre

    determinada problemtica, o que ser defendido aqui no exatamente o obteno desse

    entendimento ou consenso como defendido pelo filsofo alemo em sua obra.

    Neste trabalho ser feita a utilizao dos elementos dessa teoria para que possa ser

    defendido o argumento segundo o qual, mediante a sua utilizao, mesmo que o processo

    discursivo no obtenha xito no seu intento (ou seja, mesmo que no se alcance o citado

    entendimento ou consenso), os participantes acabam exercendo uma postura tolerante perante

    os demais ao se valerem dos atos de comunicao.

    O ideal que haja a formao do consenso acerca de determinada problemtica ou

    questo de relevncia social, mas se o mesmo no puder ser alcanado, o prvio

    comportamento comunicativo no deixar de ter tido importncia ou significado. Explica-se:

    durante a relao dialgica possvel que os indivduos, ao exteriorizarem seus pontos de

    vista (s vezes, totalmente divergentes ou opostos), exercendo seu direito de manifestao de

    pensamento e, tentando (estrategicamente, como assevera Habermas) convencer os demais ou

    permitindo-se deixar convencer pela fora do melhor argumento ou plausibilidade de

    pensamento alheio, percebam que esse convencimento no venha ser aperfeioado. Contudo,

    mesmo frustrando-se nesse intento, preservaro suas prprias vises ou ideias, ao mesmo

    tempo em que se tornam aptos a respeitar as dos demais que com ele participaram da relao

    dialgica.

    Reconhece-se que nas sociedades e nos Estados Constitucionais atuais a

    consensualidade exerce papel de excelncia. Contudo, nem sempre o consenso ou

    entendimento ser alcanado levando-se em considerao a existncia da prpria pluralidade

    social. justamente em face desse pluralismo que a questo da tolerncia acaba incidindo,

    pressupondo a existncia concomitante de divergncias ou antagonismos de pontos de vista

    entre os atores sociais para que ela prpria possa, socialmente, ser praticada. Alis, ter em

    mente que ela corresponde a um processo e que, portanto, tem que ser praticada, de sumaimportncia. A dinamicidade , por assim dizer, algo que a ela est atrelada de acordo com a

    proposta aqui adotada.

    Portanto, tentar-se- demonstrar que, embora no havendo a obteno de um

    consenso, o simples exerccio argumentativo (usado pelos falantes ou participantes de

    determinada discusso com vistas ao convencimento) ter significado e utilidade em algumas

    vezes, pois o debate representar a prtica da prpria noo de tolerncia e, tambm, da

    manifestao da ideia de dignidade da pessoa humana, consubstanciada no conceito derespeito derivado e desenvolvido, aqui, a partir da viso kantiana (2003).

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    3/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    106

    Dessa forma, o itinerrio a ser desenvolvido e seguido neste trabalho ser o seguinte:

    1) desenvolver uma estrutura bsica acerca da Teoria da Ao Comunicativa, extraindo -se

    os elementos necessrios para a aproximao com o tema em anlise; 2) traar uma

    formulao compreensiva acerca da expresso tolerncia, realizando a conexo entre esta e a

    noo de dignidade da pessoa humana (tendo como base inicial a viso kantiana); 3)

    demonstrar que diante de todo esse processo discursivo e de prtica da tolerncia cabe ao

    Estado (enquanto ente neutral) propiciar a sua defesa ou preservao chegando-se ideia de

    Estado como guardio da tolerncia e, em ltima anlise, guardio da prpria dignidade

    enquanto valor constitucionalmente positivado.

    2 DOS ELEMENTOS DA TEORIA DA AO COMUNICATIVA

    HABERMASIANA

    O foco metodolgico do presente trabalho est na teoria da ao comunicativa

    desenvolvida por Habermas e, atravs dela, pode-se dizer que o agir comunicativo nada mais

    do que a resposta indagao de como se elaborar ou alcanar, de forma legtima, a

    integrao social1. Explica-se: se antigamente essa integrao dava-se, principalmente, pela

    tradio e, at mesmo, pelo fascnio e medo causado pela sacralidade de instituies arcaicas,

    atualmente, nas sociedades modernas, complexas e, plurais, ela se dar, principalmente,

    mediante a razo comunicativa que, valendo-se da utilizao da linguagem

    intersubjetivamente compartilhadaatos de fala , traz acoplados a si critrios pblicos de

    racionalidade.

    De acordo com o que diz Srgio Lus Silva (2001, p. 5), a teoria Habermas busca

    explorar uma sociologia do mundo da relao dos sujeitos, ou seja, uma sociologia da ao

    comunicativa em que o universo subjetivo, a ao poltica e a racionalidade dos indivduos ,acabando por se constituir em elementos estruturados de formao e revitalizao da esfera

    pblica no intuito de alcanar a denominada emancipao social.

    Segundo Habermas (1999, p. 171), a ao comunicativa se baseia em um processo

    cooperativo de interpretao em que os participantes se referem simultaneamente a algo no

    mundo objetivo, no mundo social e no mundo subjetivo. Em se tratando especificamente da

    1Nesta pesquisa, para alm da defesa e promoo da integrao social que, fortemente, guarda relao com a

    noo de incluso social, ser defendido que a prtica comunicativa mediante a utilizao dos atos de fala trazidos por Habermas nesta teoriafaz com que a promoo e a defesa do respeito para com o outro tambmresulte tutelada, chegando-se, portanto, ideia de proteo da prpria dignidade da pessoa humana.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    4/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    107

    tolerncia em ambientes plurais, pode-se dizer que questes pertencentes conjugao desses

    trs submundos a serem objetos de diferentes pontos de vista ou diversas ticas valorativas

    no iro faltar e, portanto, faro com que a noo de linguagem intersubjetivamente

    compartilhada ou de razo comunicativa seja perfeitamente utilizada.

    Essas trs esferas conjuntamente formam o que se denomina mundo da vida, que

    nada mais do que a representao da relao indivduos-instituies intermediada por aes

    lingusticas garantidoras da racionalidade comunicativa. Na viso de Herrero (2004, p.45)

    essa relao baseada nos atos de fala que levam a pretenses de validade sujeitas a crticas

    e fundamentadas sobre a fora do melhor argumento.

    De acordo com Pinent (2004, p. 50-51) no processo dialgico estabelecido, os atos

    de fala constituiriam as relaes que os falantes estabelecem entre si quando se referem a

    alguma coisa no mundo.

    No so atos meramente comunicativos, mas atos de um discurso a ser estabelecido,

    ou seja, eles possuem no apenas uma funo de mera ou simples exteriorizao de ideias,

    valores, opinies, mas detm uma funo muito mais nobre: a de causar algum efeito ou

    impacto no discurso alheio seja convencendo os demais participantes do debate, seja

    forando-os, pelo melhor argumento, a question-los ou, a inverter o desejo de

    convencimento. A funo argumentativa lhe mais importante, afinal. Trata-se, como observa

    Nogueira (2006, p. 4), de uma coao no-coativa, pois no h uma coao explcita, mas

    implcita atravs daquele que possui o melhor argumento.

    O mundo da vida no qual eles se manifestam , por essncia, um mundo

    comunitrio que pressupe a co-presena de outros, ou seja, um mundo plural, garantidor

    dos atos de fala que, teoricamente, levam ao possvel entendimento. Sintetizando essa ideia,

    Luiz Moreira (2004, p. 102) diz que na na razo comunicativa o agir orientado para o

    entendimento, pois, tendo a linguagem como medium, o entendimento lhe acoplado.

    O mundo objetivo representa a relao indivduos-instituies intermediada poraes lingusticas e racionais. Sintetizando, o cenrio ontolgico do ser social e legitima-se

    atravs da linguagem, que o seu veculo de mediao.

    J o mundo social totaliza o processo de relaes sociais interpessoalizadas na vida

    dos sujeitos como lembra Srgio Lus Silva (2001, p. 8). O ambiente cotidiano o local onde

    se pode definir a existncia desse mundo, pois, nele, os sujeitos vivem e se relacionam

    comunicativamente, expressando o conhecimento adquirido em experincias prprias do

    mundo subjetivo e, exteriorizando seus argumentos, que constituiro novos valores e novasverdades determinadas a partir do processo social de construo da realidade.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    5/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    108

    Dessa forma, ser socialmente vlido aquilo que for objeto de prvia e mltipla

    anlise entre os diferentes atores sociais e suas perspectivas pessoais, muitas vezes

    divergentes, mas que auxiliam ao alcance de um denominador comum (ao menos o que se

    espera. Mas, j se adianta que, para efeitos deste trabalho, mesmo que o entendimento final

    no seja alcanado, o mero exerccio ou prtica de tolerncia para com a opinio ou viso

    alheia divergente, j representa um ponto favorvel incluso ou integrao social, por

    facilit-la posteriori).

    Nesse sentido, o que socialmente verdadeiro socialmente processado pelos

    indivduos e legitimamente expressado de forma interpretativa por eles na cotidianidade. Por

    isso, esse mundosocial fundamentado pelo contedo das relaes, nas quais o pressuposto

    de verdade, a partir da interao dos sujeitos pelos atos comunicativos, construdo com base

    legtima nas aes e, na viso de mundo expressada na busca de uma razo consensual. Aqui

    cabe, ainda, um registro para o fato de que mediante a prtica da tolerncia, mais facilmente

    ser obtido ou construdo um contexto social que expresse, verdadeiramente, o sentido de

    pluralidade.

    A esfera subjetiva, diferentemente das esferas anteriormente explicadas, no est

    situada no universo externo da vida dos sujeitos. Est ligada aos limites internos dos mesmos,

    nos quais se totalizam as experincias adquiridas, os valores transmitidos atravs da educao

    familiar, experincias vivenciadas e transformadas em conhecimento subjetivo (pessoal), que

    reconhecidamente vlido e necessrio para exteriorizar a ao e razo no aspecto

    comunicativo.

    Todas essas trs esferas se referem a totalizaes diferentes que abarcam desde o

    processo de relao formal entre sujeito e instituies formais constitudas, at as experincias

    cognitivas adquiridas pelo sujeito no processo cotidiano de suas relaes sociais, ou seja, com

    os demais indivduos.

    Dessa forma, os integrantes (atores) ou participantes desse processo de comunicaoe convivncia dialgica se valem dessas trs esferas como marco de interpretao dentro do

    qual elaboram as definies comuns acerca de uma dada situao real, representativa de um

    fragmento do mundo da vida, tentando perseguir uma ao orientada para o entendimento ou,

    como ser defendido aqui, tentando, ao menos, chegar a uma aproximao da ideia de

    tolerncia, quando as divergncias de pensamento ou comportamentais no restarem

    ultrapassadas, comprometendo o consenso almejado.

    Explica-se: a ideia de diversos atores comunicativos se referirem a determinadasituao-problema pertencente ao mundo da vida tais como: as questes ligadas

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    6/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    109

    ideologia poltica ou religiosa, bem como acerca da expresso da sexualidade humanatodas

    com repercusso na seara da cincia poltica e, tambm, do direito traz consigo a noo de

    prtica ou exerccio da tolerncia para com o outro de forma que, mesmo tendo a teoria

    habermasiana o compromisso com a obteno ou alcance do entendimento, se este se mostrar

    frustrado, o processo de integrao social ou incluso social poder ser preservado ou, at

    mesmo, indiretamente alcanado pela interao dialgica visando o atingimento da tolerncia

    para com aquele que se mostra como o diferente ou divergente de quem se apresenta como ou

    assume o papel de tolerante.

    Correto dizer, portanto, que embora se diga que o processo do agir comunicativo

    possua dois aspectos que devem ser considerados (um teleolgico, ou seja, de execuo de um

    plano de ao e realizao de fins; e outro denominado comunicativo de interpretao de

    determinada situao para o alcance ou obteno de um acordo), valendo-se da ideia de

    sociedade pluralista, h outro aspecto que pode ser levantado mediante adoo da teoria

    habermasiana em questo: a possibilidade de obteno da prtica da tolerncia para com o

    outro. Por isso a utilizao dos elementos trazidos por essa teoria (principalmente, os atos de

    fala) para a sua contextualizao com o tema escolhido.

    3 DA COMPREENSO DA TOLERNCIA E SUA CONEXO COM A DIGNIDADE

    DA PESSOA HUMANA

    Gregorio Robles (2003, p. 125-126) inicia seu artigo acerca da temtica em estudo

    com a exemplificao de duas situaes que a envolvem e, em seguida questiona o que seria a

    tolerncia e por qual razo se fala tanto nela nos dias atuais. Embora parea ser um

    questionamento de fcil elucidao, apresenta-se como sendo essencial, pois a sua

    compreenso necessita da abordagem de outros pontos tais como os dos contextos sociais emque se quer trat-la, a sua respectiva adequao a determinado Estado, bem como sua

    receptividade pela ordem jurdica correspondente.

    Com relao aos contextos sociais em que se insere, o seu entendimento ser feito

    nas sociedades ditas plurais nas quais diversas e, at mesmo, antagnicas formas de pensar e

    de se comportar acabam por ter que conviver e respeitar umas as outras com o escopo de

    manter a pacificao e convivncia social, digamos, harmnica.

    Em consequncia e, por uma questo de lgica, como esses contextos no existemdesvinculados de certa forma de Estado, ser pensado o tratamento e a insero da tolerncia

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    7/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    110

    nos chamados Estados Sociais de Direito contemporneos nos quais, de alguma forma, feito

    o enquadramento jurdico da dignidade da pessoa humana enquanto valor moral qual tenha

    sido conferida normatividade mediante sua previso como princpio jurdico, ou seja, norma-

    princpio (por isso, inclusive, a ligao da dignidade com a expresso em comento que, em

    momento oportuno, ser devidamente explicada).

    Tendo este panorama como referncia, passa-se a um exame geral da compreenso

    acerca da expresso tolerncia, iniciando por dizer e, de certa forma, compartilhando do

    entendimento de Marcello Ciotola (2007, p. 422), que a tolerncia uma virtude moral2de

    forma que, sendo assim considerada, ou seja, em um sentido tico, ela uma caracterstica

    positiva do homem que faz com que ele aja de forma a fazer o bem para si e para os outros,

    podendo, de acordo com a viso de Aristteles (1973, p. 273) a respeito da ideia de virtude,

    ser um trao que no inato ou intrnseco ao ser humano, mas algo derivado ou fruto de um

    hbito, susceptvel de ser adquirida e, inclusive, ensinada.

    Por isso se dizer e ressaltar o carter dinmico da expresso tolerncia, bem como

    seu entendimento como um processo contnuo do qual necessita, apenas, mas no to

    facilmente, da pr-disposio individual para nele se inserir.

    Lembra ainda Ciotola, citando Jacqueline Russ (2007, p. 423), que a tolerncia deve

    ser compreendida como atitude ou disposio de esprito pela qual deixamos a cada um a

    liberdade de exprimir suas opinies (mesmo quando no as compartilhamos) ou viver

    segundo modos que no so os nossos. Significa, portanto, no intervir na ao ou

    comportamento alheio mesmo que estes se mostrem diversos da nossa prpria viso e, at

    mesmo, que sejam tidos por ns como reprovveis.

    Em oportuna observao, Ciotola (2007, p. 424) ressalta que a tolerncia acaba por

    se apresentar como mediadora fundamental entre dois polos ligados noo do indivduo: o

    eu e, o outro (ponto que mais a seguir ser aprofundado ao se dizer que se trata de uma

    expresso relacional) 3.Contudo, apresentada dessa forma, a partir de uma compreenso, digamos, liberal,

    deve-se ter cautela para no se chegar concluso de que tudo deva ser tolerado. Como ser

    2Caracterizando-a tambm como virtude, Michael Walzer assevera que dos que so capazes de assim agir (nocaso, de serem aptos convivncia com a alteridade), sem levar em conta sua posio no continuum daresignao, indiferena, aceitao estica, curiosidade e entusiasmo, que se trata de pessoas que possuem avirtude da tolerncia. Cf. Michael Walzer (1999, p.18).3

    Ser esta viso do eu para com o outro que justificar (como ser visto) a ligao entre a tolerncia e adignidade da pessoa humana, especificamente ao considerar esta como manifestao da viso kantiana dereciprocidade de tratamento respeitoso entre os indivduos.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    8/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    111

    visto, h limites4 que merecem ser observados. Por enquanto, necessrio dizer que em se

    tratando de um processo crescente de pluralismo social, a contextualizao da tolerncia a ele

    deve ser feita. John Stuart Mill, segundo aponta Ciotola, foi o primeiro filsofo a relacionar a

    expresso tolerncia com o pluralismo social em 1859 com a obra intitulada Sobre a

    Liberdade. No pensamento de Mill, um aspecto que o diferencia de pensadores anteriores

    como, por exemplo, Locke , justamente, o espao concedido para a valorizao da

    diversidade e dos diversos modos de viver ou experincias de vida5.

    Pode ser dito que sendo a tolerncia uma expresso que implica, hoje, a noo ou

    ideia de convivncia em um ambiente plural, ou seja, de mltiplas impresses ou acepes

    sobre diversos aspectos da vida social (religio; sexualidade; posicionamento ideolgico-

    poltico, etc.), no pode ser um conceito reduzido a simplificaes de significado

    injustificadas.

    Como bem observa Paulo Mota Pinto (2007, p. 748), a compreenso que se deve ter

    ou que se deve extrair da palavra tolerncia no o de uma simples condescendncia ou, at

    mesmo, de uma mera sensao de suportabilidade para com o comportamento ou ideia

    apresentada pelo outro e que se mostra contrrio ou dissidente ao daquele que, teoricamente,

    tolera (tolerante). Da mesma forma, a tolerncia no se traduz em indiferena, pois, ento,

    seria melhor falar em irrelevncia.

    Com isso se quer dizer, como bem lembra Mota Pinto (2007, p. 748), que: a

    indiferena e a concordncia excluem a tolerncia: se o sujeito for indiferente ou se estiver

    de acordo com as idias, comportamentos ou pessoa em causa, no faz sentido falar em

    toler-los. Dessa maneira, deve a tolerncia supor uma divergncia, que

    pode cobrir atitudes ambivalentes, tanto se considerando que as idias ou

    comportamentos em causa esto errados, como mascarando realmente uma

    aprovao tcita ou encoberta. Aparentemente, porm, mesmo a tolerncia exige

    uma aprovao do objeto em causa (MOTA PINTO, 2007, p. 748)

    4Neste sentido, com clareza argumentativa, explica Gregorio Robles (2003, p.128) que a questo atual sobre atemtica em anlise refere-se sobre o debate acerca de seus limites. Nas palavras do autor espanhol: ... lacuestin de la tolerncia, hoy, se centra em el debate sobre sus limites. No se discute, o al menos no discuto yo,

    el prncipio general, sino sencillamente su alcance.5 Neste sentido, cfr. a passagem traduzida por Ciotola (2007, p. 430) do original da autora francesa SuzanMendus.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    9/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    112

    A instaurao da ideia de tolerncia, justamente por se remeter ou fazer referncia

    pluralidade6social mencionada, necessariamente se aperfeioa quando se constata a existncia

    do outro no contexto social em que se est inserido. O outro deve ser o referencial para

    aquele que tolera, ou seja, para o tolerante.

    Sem a compreenso e o reconhecimento7 do outro no se pode falar em

    comportamento tolerante. ideia de reconhecimento do outro, ou seja, daquele que diverge

    (em termos de pensamento ou comportamento) do ator social que se diz tolerante, numa

    determinada relao de convivncia dialgica e social, pode ser remetida a noo de respeito

    para com ele.

    Reconhecer8 o outro como indivduo provido de capacidade racional ou com

    potencialidade racional tal como si prprio, facilita o trnsito da tolerncia. Alis, no apenas

    facilita como condiciona a existncia desta. A essa compreenso de reconhecimento e de

    respeito pelo outro e pela sua potencial ou concreta racionalidade em expressar suas razes se

    vincula a compreenso da prpria ideia de dignidade da pessoa humana que, agora, passa-se a

    fazer meno.

    Lembra-nos Jorge Miranda (2000, p.182 e ss.) que o homem, situado no mundo

    plural e conflitual v-se, muitas vezes, divido em interesses e desafios discrepantes, tendo

    somente na conscincia de sua dignidade pessoal a retomada de vida e de destino. A partir

    dessa viso, tem-se que a convivncia em ambientes plurais somente se mostra menos

    traumtica ou mais facilmente realizvel face conscientizao que cada indivduo deve ter

    6Lembra-nos Michael Walzer (1999, p. 17) que em qualquer sociedade pluralista sempre haver pessoas, pormais firme que seja o seu compromisso com a realidade pluralista, para as quais ser difcil conviver comdeterminada diferena comportamental, de opinio, cultural, de organizao familiar, etc.. Para o autor, no

    prefcio sua obra, a tolerncia torna a diferencia possvel; a diferena torna a tolerncia necessria. Contudo,acredita-se que os atos de fala presentes no discurso habermasiano da Ao Comunicativa, possam facilitar essa

    convivncia ou, ao menos, preparar estas pessoas para que sejam consideradas como tolerantes.7Alerta-nos Michael Walzer (1999, p. 109 e ss.) que a tolerncia moderna e ps-moderna caracteriza-se pelaassimilao individual e pelo reconhecimento do grupo, acabando por serem, estes, pontos centrais da polticademocrtica moderna. Entende-se, aqui, que a assimilao e o reconhecimento esto direcionados para acompreenso das razes daqueles que discordam de ns em determinada problemtica. E, essa assimilao tantomais existente ser, se pudermos faz-la mediante atos de comunicao que nada mais so do que atosrelacionais, ou seja, que tm o outro como referncia.8 Sobre a poltica do reconhecimento, assevera Robles (2003, p. 129), de forma lcida e completa, que hmatizes ou variaes de tolerncia sendo que, de acordo com sua viso, uma vertente seria positiva e outranegativa. Pela primeira, o reconhecimento do outro agrega valor ao que se diz tolerante. Podemos dizer, nestasituao, que aquele se que mostra aberto a ouvir as razes e argumentos alheios acaba podendo ter, de certaforma, o seu prprio discurso, pensamento ou comportamento, modificado, se assim lhe convir. De outro lado, oautor citado ressalta a vertente negativa da expresso tolerncia, dizendo que neste caso, h, to somente, uma

    coexistncia pacfica, mas fria, ou seja, no haveria uma comunicao enriquecedora, de modo que cada qualseguiria seu prprio caminho. Adotar-se-ia e, preservar-se-ia seu prprio modo de pensar, refletir e de secomportar, respeitando a maneira com que o faz o outro, de forma a no terem contato de espcie alguma.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    10/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    113

    de si prprio para que possa ver no outro a mesma correspondncia e, portanto, chegando

    ideia de reciprocidade de tratamento respeitoso (igual dignidade).

    Explica-se: ao se introjetar e criar toda uma expectativa com relao aos demais

    atores sociais acerca da noo de merecimento de respeito pelas suas ideias e, pelas formas de

    expressividade pessoal e, desde que delas no decorra prejuzo para outrem o indivduo

    acaba sendo, ele prprio, foco de anlise dessa mesma expectativa de forma que, somente

    assim, o convvio salutar no ambiente comunitrio (no sentido de viver em comunidade) pode

    se aperfeioar.

    Explica Ana Paula Barbosa (2007, p. 160) que, de acordo com uma viso liberal da

    sociedade, a dignidade da pessoa humana enquanto princpio pode se estendida para abranger

    as crenas e opinies das pessoas, pois se pode extrair das mesmas a sua deciso ou o seu

    consentimento com relao a algo. Por esse motivo, esclarece a autora, que devem ser levadas

    a srio. Com relao seriedade da questo, indaga Carlos Santiago Nino (1989, p.289):

    qual o significado de levar a srio as decises ou o consentimento de um indivduo?

    Responde o prprio autor que respeitar a vontade de algum no significa o mesmo que

    atender a todos os seus desejos. Para ele, respeitar a vontade de algum consiste

    fundamentalmente em permitir que a pessoa assuma ou suporte as consequncias de duas

    decises, tendo possibilidade de transformar a realidade, desde que haja um consenso entre as

    suas decises e as decises dos demais. Para tanto, acredita-se que os atos de fala ou de

    comunicao tm muito a auxiliar neste aspecto.

    Acredita-se que a dignidade da pessoa humana, na perspectiva do discurso moral,

    acaba tendo um papel central, pois ao respeitar as decises livremente tomadas, ao escutar as

    razes dos demais, ao tratar de confrontar os seus argumentos com os dos outros e, ao

    procurar conciliar sua ao com a dos demais, os indivduos acabam se comportando de forma

    moralmente desejvel, conforme observa Ana Paula Costa Barbosa (2007, p. 161).

    O princpio da dignidade da pessoa humana entendido como expresso dapreservao dessa relao de respeito mtuo entre os conviventes sociais, pressupondo a

    autonomia vital de cada pessoa, a sua autodeterminao relativa ao Estado e s demais

    entidades pblicas, bem como s demais pessoas que com ele compartilham o mesmo

    contexto de relao ou mundo da vida9, ganha, nestes aspectos, relevante incidncia quando

    se analisa a variada gama de questes que abarcam impresses subjetivas ou pessoais numa

    9 Cfr. neste mesmo sentido, Jorge Miranda (2000, p. 184).

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    11/21

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    12/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    115

    como legtimo, representa, sim, uma real disponibilidade para a comunicao ou dilogo e

    potencial ou pretenso entendimento mesmo que ambos alimentem diferentes projetos de vida

    que se baseiam em diferentes razes ou fundamentos.

    Sem incorrer no equivocado discurso de que ao se tolerar algo (ideia, pensamento ou

    comportamento) ou algum se estaria, sempre, relativizando valores, Nlson Jos Machado

    lembra (sem data, p.3), de forma clara e lcida, que dificuldades tericas renitentes devem ser

    evitadas, tais como: o relativismo radical de ideias ou valores que fatalmente condenariam a

    prpria subsistncia da noo de tolerncia (pois, tolerar incondicionalmente, ou seja,

    indiscriminadamente, os intolerantes significaria, eventualmente, permitir a destruio dos

    prprios tolerantes), bem como a assertiva de que pela tolerncia pode-se construir uma

    hierarquizao (em termos de graus de relevncia) desses mesmos valores ou impresses de

    cunho subjetivo acerca de determinada questo do mundo da vida (a ponto de se chegar, na

    verdade, a uma hierarquizao ou reduo em escalas valorativas dos prprios indivduos,

    gerando uma situao de desigualdade13).

    Tendo em vista estas mesmas dificuldades tericas, compartilha-se da preocupao

    pertencente a Walzer (1999, p. 104) com relao tolerncia para com os intolerantes. Ela se

    justifica e se apresenta como significativa e importante, devendo ser feitas algumas

    observaes a este respeito.

    Trata-se da possibilidade de existncia de um verdadeiro paradoxo da intolerncia,

    constitudo a partir da ideia de que se tudo e todos devem ser tolerados, o que era para ser

    uma virtude deixa-o de ser porque, eventualmente, determinado indivduo ou grupo queira se

    beneficiar da incidncia dessa virtude para de certa forma, infringir determinadas delimitaes

    ou parmetros provenientes do mtuo respeito para com o outro, para a prtica de algo que

    possa prejudicar algum que dele discorde.

    Chega-se, ento, a um ponto que merece meno e desenvolvimento adequado,

    mesmo que breve. A questo a ser apontada, aqui, o da existncia ou no de limites para atolerncia. Como j adiantado no pargrafo anterior, em virtude da possibilidade de

    ocorrncia de um dos equvocos apresentados, pode ser afirmado que ideia de tolerncia

    cabe, certamente, a fixao de determinados limites.

    13Afinal, como bem lembra Nlson Jos Machado, (sem data, p.4): em termos coletivos a diversidade a regrae a norma saber-se lidar com as diferenas, tanto individuais, quanto entre os grupos. E, ainda, acrescenta oautor: O reconhecimento do outro ou reconhecer-se como diferente do outro, no me condiciona, portanto, em

    qualquer sentido, a uma comparao entre mim e ele, da qual resultaria uma desigualdade, um maior e ummenor. Tal fato, muitas vezes, no parece ser levado suficientemente em considerao em situaes onde aconvivncia de diferentes perspectivas vital para a construo da autonomia [...].

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    13/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    116

    Embora o comportamento tolerante seja considerado algo desejado para a boa

    convivncia e para o aperfeioamento do processo de integrao ou incluso social face ao

    cenrio social pluralista que acaba suscitando possveis divergncias de pontos de vista com

    relao a aspectos da vida coletiva, consideradas significativas para as ordens jurdicas e

    polticas atuais (tais como a liberdade de expresso e de conscincia; a expressividade da

    sexualidade como sendo um elemento para a caracterizao e desenvolvimento da prpria

    personalidade individual; a liberdade de crena religiosa e seu respectivo exerccio, bem como

    a liberdade de expressividade ou exteriorizao do pensamento ideolgico e poltico)haver

    ocasies para as quais a incidncia de determinados limites se apresentam imprescindveis.

    Esses limites ligam-se noo de violao aos princpios da reciprocidade e da

    proporcionalidade como bem observa Yossi Nehushtan (2007, p. 230) para quem a

    assimilao compreensiva desses conceitos pressupe a convivncia coletiva, permitindo com

    que a compreenso do outro seja mais bem captada, entendida14.

    Pode ser dito que a inobservncia desses dois aspectos acaba por configurar ou por

    consubstanciar comportamentos intolerantes, podendo-se, ento, falar que o limite principal

    imposto tolerncia a prpria ideia de intolerncia, ou seja, para comportamentos que

    violem a noo de reciprocidade e de proporcionalidade no h de haver, em contrapartida,

    qualquer comportamento tolerante ou de mtuo respeito ou considerao ( claro, deve-se

    esclarecer, que a no tolerncia para com os intolerantes deve guardar relao com o outro

    aspecto a seguir analisadoa proporcionalidade).

    Resumidamente, a ideia de reciprocidade vincula-se noo de respeito pelo outro

    de acordo com o comportamento apresentado por ele em dada situao da vida social. (seria o

    mtuo respeito, citado acima). O mtuo respeito significa que aqueles que divergem entre si

    em termos de opinio ou comportamento devem garantir que no mbito de discusso dessas

    questes, ou seja, na arena pblica de discusso, deva haver o reconhecimento de que tanto

    um ponto de vista quanto o outro so dignos de serem vlidos e legtimos, muito emboradiferentes entre si15(e, desde que respeitadores de alguns limites que lhes so impostos).

    Da mesma forma, h de haver proporcionalidade nesse reconhecimento mtuo de

    forma que exista plausibilidade na apresentao dos argumentos que sustentam tanto uma

    quanto a outra viso ou ponto de vista, no intuito de que no haja o cometimento de excessos,

    14Cfr., neste sentido, Yossi Nehushtan (2007, p.237-251).15Por reciprocidade pode ser dito que se espera que quem se apresente como tolerante para com o outro, atuede forma que, se houvesse uma inverso de posies numa determinada relao ou situao dialgica

    estabelecida (em que houvesse expressividade de pensamento ou comportamento), aquele pudesse esperar queeste tivesse para com ele o mesmo tipo de atitude respeitosa. Portanto, a noo de mtuo respeito vincula-se ideia de limite pela reciprocidade.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    14/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    117

    ingerncias/ arbitrariedades que possam tornar uma ou outra anlise subjetiva (acerca da

    questo ou assunto a ser debatido) invivel ou violvel indiscriminadamente.

    Se o comportamento do outro no obstante divergente do comportamento ou ponto

    de vista do que se diz tolerante no se mostrar atentatrio ou prejudicial a este, deve ser

    tolerado. Contudo, caso haja inviabilizao da preservao do pleno exerccio da opinio de

    qualquer um dos participantes da relao dialgica acerca de determinada questo ou assunto

    controverso, haver a incidncia desses dois aspectos limitativos que acabaro por d ensejo a

    um comportamento legalmente intolervel por qualquer um deles, haja vista o

    comprometimento do exerccio com a liberdade necessria de determinado comportamento

    que julga correto para si ou, ainda, de expressar, expor suas opinies ou pontos de vista.

    De certo que, perante a situao descrita acima, embora um dos sujeitos da relao

    dialgica estabelecida tenha sido alvo de restries16ou de injustificadas inviabilizaes em

    seu comportamento ou na expresso de suas ideias na arena pblica de debate social, no

    poder por si prprio, ser tido como a pessoa competente para eventualmente responsabilizar

    aquele imps a sua opinio ou argumento, no agindo de forma a respeitar os limites citados

    (reciprocidade mtua e proporcionalidade).

    Nestes casos, o Estado que, at ento, se mostrava ou se apresentava, de forma

    justificada, neutral, deve se manifestar (de maneira tambm proporcional, diga-se de

    passagem), para coibir tais comportamentos desvirtuantes do ideal de tolerncia e, por

    consequncia, comprometedores da prpria noo de integrao ou incluso social. Visto a

    necessidade dessa interferncia estatal nestes casos, aproveita-se, ento, para dizer que ela

    ser mais bem analisada no captulo seguinte.

    4 DO ESTADO NEUTRAL AO ESTADO GUARDIO DA TOLERNCIA

    Com relao a este ponto, primeiramente, deve ser esclarecido que no se defende,

    aqui, e, de acordo com a noo de neutralidade estatal aqui utilizada, a ausncia do Poder

    Pblico nos vrios aspectos da vida dos cidados. sabido, a partir de concepes

    sociolgicas da figura estatal, que a ele compete o desenvolvimento e/ou aprimoramento

    social em muitos dos casos, principalmente, em termos de polticas pblicas sociais voltadas

    16

    Neste sentido, ressalta Arthur Ripstein (2006, p. 229) que: The sovereignty principle rests on a simple butpowered idea: the only legitimate restrictions on conduct are those that secure the mutual independence of freepersons from each other.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    15/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    118

    para o alcance de um melhor benefcio coletivo e para a implementao do ideal de igualdade

    material.17

    A ideia aqui proposta salientar que o Estado deve se quedar neutro no que tange

    determinao dos aspectos de subjetividade social. Explica-se: a neutralidade ser algo

    desejado quando relacionada com aspectos subjetivos das pessoas, como as questes da

    crena, f, definio e entendimento de sexualidade, etc.. Nestes aspectos, no cabe ao Estado

    dizer ou determinar o que certo ou aceitvel, bem como o que moralmente desejado. So

    questes para as quais deve ser preservada certa imunidade pessoal contra intervenes e

    dirigismos do Poder Pblico.

    Embora seja entendida principalmente no campo da religiosidade e, na relao desta

    com o Estado (religio e Estado ou, ento, religio X Estado, de acordo com a viso de

    compatibilizao ou de oposio adotada), tem-se a dizer, em conformidade com o que

    asseveram Karl-Heinz Ladeur e Ino Augsberg18 (2007, p.114 e ss.) que h de incidir uma

    relao de equidistncia entre o prprio Poder Pblico e os mais variados aspectos da

    subjetividade humana, no que tange saber o que deve ou o que no deve ser pensado,

    acreditado, devotado, ideologicamente aceito, etc. Essa equidistncia ser, pois, a justificativa

    racional para que, em no havendo, de antemo, comprometimento da esfera de autonomia

    decisria de cada pessoa, no haja qualquer adoo de uma postura pr-ativa pelo Estado. (a

    no ser quando se julgar pertinente ou necessrio manuteno do equilbrio do contexto

    social relacional).

    Conforme salientado no capitulo anterior, por ser a tolerncia um conceito relacional

    que pressupe a existncia de sujeitos que, na arena pblica de discusso, apresentam os mais

    variados estilos comportamentais, bem como diferenas ou divergncias de pensamento e

    valores, ela acaba por ser de difcil realizao caso no haja a observncia de seus limites,

    17Neste sentido, tem-se o posicionamento de Joaquim B. Barbosa Gomes (2001, p. 36), em artigo dedicado s

    aes afirmativas, para quem A sociedade liberal-capitalista ocidental tem como uma de suas idias-chave anoo de neutralidade estatal que se expressa de diversas maneiras: no interveno em matria econmica, nodomnio espiritual e na esfera ntima das pessoas. No campo do Direito, tais idias tiveram e continuam a terconseqncias relevantes, especialmente no que diz respeito postura do Estado em relao aos diversos gruposcomponentes da Nao, bem como no que concerne interao desses grupos entre si. De especial importncia,nesse sentido, o tratamento jurdico do problema da igualdade. Na maioria das naes pluritnicas e

    pluriconfessionais, o abstencionismo estatal se traduziu na crena de que a mera introduo nas respectivasConstituies de princpios e regras asseguradoras de uma igualdade formal perante a lei de todos os grupostnicos componentes da Nao seria suficiente para garantir a existncia de sociedades harmnicas, onde seriaassegurado a todos, independentemente de raa, credo, gnero ou origem nacional, efetiva igualdade de acessoao que comumente se tem como conducente ao bem-estar individual e coletivo.18 Para os autores, a neutralidade estatal deve ser encarada como essa concepo de equidistncia. Nas suas

    palavras tem-se que: This concept of equidistance is known as the principle of state neutrality: it commits the

    state to generally withdraw from religious issues, especially the political act of defining what can legitimately beclassified as religion and religious behavior.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    16/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    119

    chegando-se, no raras vezes, a situaes de intolerncia ou de opresses, comprometedoras

    do bem-estar do cenrio social.

    No tendo os indivduos, por si prprios competncia ou legitimidade autnoma e,

    em conformidade com a ordem social (estabelecida ou fixada constitucionalmente),

    capacidade de se valerem de sua prpria fora fsica (com exceo dos casos de legtima

    defesa ou fora maior) para coibir os comportamentos ou situaes de intolerncia (pois, do

    contrrio, voltar-se-ia ao Estado animalesco descrito por Thomas Hobbes), a interveno das

    figuras do Poder Pblico e de suas instituies se mostram imprescindveis para preservar

    e/ou restabelecer o pacto social de integrao ou incluso social, com respeito a cada

    manifestao da diversidade humana, mas desde que no sejam atentatrias ou prejudiciais

    umas s outras.

    Por isso a inteno dada neste captulo ser reforar a relevncia do papel do Estado

    nestas situaes excepcionais susceptveis de comprometer o bom relacionamento ou

    convvio social, de forma a poder-se dizer que ele deixa de se apresentar como neutral,

    passando a ter uma postura mais proativa, tendo em vista o objetivo ou finalidade maior de

    preservar a ordem pblica e/ou estabilidade social. A essa forma de manifestao da figura

    estatal ser dada a denominao de Estado Guardio da Tolerncia em consonncia com o

    que diz Paulo Mota Pinto (2007, p. 757).

    Identificado inicialmente o princpio da neutralidade estatal com as questes de

    fundo religioso (conforme se pode depreender da anlise feita por Karl-Heinz Ladeur e Ino

    Augsberg em seu artigo), cabe ao Estado no se imiscuir nessas questes. Da mesma forma,

    pode-se ampliar o leque de incidncia desse raciocnio, exigindo que o mesmo seja aplicado e

    obedecido pelo Estado, em qualquer situao de cunho ou de valorao subjetiva para se

    evitar alegao de afronta igualdade19.

    Diz-se que se trata, portanto, de uma figura do Estado enquanto guardiona medida

    em que ele intervir para coibir abusos decorridos do mau uso da faculdade de expresso depensamento ou opinio ou do mau ou prejudicial comportamento de qualquer dos cidados

    dentro do contexto social relacional, passveis de configurar situaes de intolerncia. De fato,

    h um imperativo de neutralidade tica que faz com que o Estado somente atue nestes

    19 Ao se adotar o pensamento de que no deve haver qualquer tipo de envolvimento ou determinao, peloEstado, em questes que envolvam valoraes subjetivas, no se quer referir s questes de igualdade socialcomo, por exemplo, as decorrentes das chamadas aes afirmativas em termos educacionais, principalmente noensino superior. Nestes casos, como se deve saber, a inteno estatal promover a igualdade material entres os

    indivduos, mas sob a anlise de critrios objetivos, como, por exemplo, alunos que frequentam a mais dedeterminado nmero X de anos escolares em reparties pblicas de ensino ao contrrio do critrio (a, sim,subjetivo) de escolha por cor ou raa.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    17/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    120

    momentos de defesa ou conformao da ordem pblica na medida em que, em virtude da

    exigncia de igualdade oposta a ele, o seu comportamento para com os seus cidados no

    pode ser tendencioso, parcial em temticas valorativamente subjetivas.

    Neste mesmo sentido, sendo os indivduos fundamentalmente diferentes uns dos

    outros, no cabe nem ao Estado nem sociedade intrometer-se nas atividades e formas

    comportamentais destes, salvo para proteger aqueles que se virem ameaados, por infrao

    aos limites citados acima, em suas opinies, crenas e demais maneiras de posicionamento

    pessoal.

    Segundo Ciotola (2007, p. 431), Stuart Mill acaba por defender a tolerncia em

    nome da soberania individual, mas tambm em virtude da diversidade dos seres humanos.

    Quer-se com isto dizer que embora tenha um cunho individual, a tolerncia acaba

    inevitavelmente e, devido a sua perspectiva relacional, se voltando para a observncia de

    certos limites ou parmetros de forma a se evitar o chamado paradoxo da tolerncia,

    caracterizado pela possibilidade de se ter que tolerar os intolerveis como j dito

    anteriormente.

    Realmente, a exigncia do imperativo de tolerncia que pode ser depreendido nas

    ordens constitucionais da anlise das normas que as compem, somente oposta aos

    indivduos, vigorando para o Estado o imperativo de se quedar inerte ou de se abster de

    qualquer valorao de carter subjetivo, sob pena de se ter configurado tratamento desigual

    em determinadas situaes.

    Da se afirmar, sem receio de cometer qualquer forma de incongruncia

    argumentativa, que o Estado no pode ser fundador ou causador de qualquer divergncia entre

    os indivduos, ou seja, de qualquer situao da qual decorra o mnimo prejuzo para qualquer

    indivduo dentro do contexto social relacional, em especial, no que tange a questes

    valorativas ou de cunho subjetivo20. O Estado no tem que se comportar de forma a garantir o

    que seja bom, mas o que seja justo e, para o alcance deste ideal, deve atuar com base emcritrios objetivos e no subjetivos ou valorativos.

    20Neste mesmo sentido tem-se a viso de Paulo Mota Pinto (2007, p. 759) para quem: Importa na verdade,distinguir entre o imperativo de tolerncia e o imperativo de neutralidade nos domnios por exemplo, religioso

    em que este imperativo de neutralidade deve ser aceito, ele afigura-se incompatvel com a idia de um Estadotolerante, o qual pressuporia j, como vimos, a assuno pelo Estado de uma posio parcial, susceptvel defundar a divergncia que torna possvel a tolerncia. Tal situao, favorecendo uma determinada posio, est

    vedada pelo imperativo de neutralidade ticapelo menos em matria religiosa ou mundividencial ou ideolgicaao Estado, mas no aos particulares.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    18/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    121

    5 CONSIDERAES FINAIS

    A partir do itinerrio traado para o desenvolvimento da temtica proposta, pde-se

    perceber que a tolerncia um conceito cuja compreenso, devido existncia do cenrio

    do pluralismo social, de incerta ou imprecisa determinao. Contudo, tentou-se deixar claro

    que mediante a incidncia da realidade dialgica em que os indivduos exercem sua

    capacidade argumentativa (mediante os atos de fala) com relao s questes significativas

    socialmente, ela (tolerncia) acaba tendo contornos mais bem traados, de modo a melhor

    identificar o seu ncleo compreensivo, bem como os seus limites.

    Resumidas e esclarecidas estas ideias, possvel dizer que a tolerncia uma prtica

    ou, para alguns, uma virtude social preconizada pelos Estados Constitucionais atuais e pela

    pluralidade de sues contextos, tendo referncia expressa em seus textos constitucionais (como

    ocorre em Portugal) ou no (como se d na realidade brasileira) 21. Deve ser considerada

    como um pilar da prpria existncia dos mesmos, na medida em que enquanto expresso de

    cunho relacional (e, portanto, tendo estreita relao com a capacidade de discursividade

    racional e dialgica) acaba por favorecer o processo de incluso do outro pelo

    reconhecimento dele como pessoa merecedora de respeito em seu comportamento social ou

    na exposio de suas ideias ou pensamentos, desde que sejam atitudes pautadas em certos

    limites e no prejudiciais, muito embora divergentes ou diferentes, na maioria das vezes, das

    dos que se dizem ou se coloquem na posio de tolerantes.

    Havendo prejuzo de parte a parte ou de uma para com a outra na relao de

    discusso traada, verificou-se que a iniciativa do Estado se mostra necessria, pois sabido

    que, embora ele no deva incitar ou promover a divergncia social com relao s questes

    que invariavelmente se ligam a uma valorao subjetiva, precisa coibir os abusos na

    exteriorizao dos argumentos apresentados na arena pblica, de forma a evitar que haja a

    constatao da existncia de um nexo de causalidade de eventual prejuzo e o comportamentoexteriorizado de qualquer uma das partes envolvidas.

    Quer-se com isto dizer que o Estado quando diante de situaes em que

    perceptvel que da discursividade estabelecida decorre uma pretensa inteno de sobreposio

    21Paulo Mota Pinto (2007, p. 750) assevera, oportunamente, que a compreenso da tolerncia pode decorrer apesar de na Constituio da Repblica Portuguesa haver, apenas, uma disposio expressa em seu texto comrelao a elade normas dos textos constitucionais que se referem ao pluralismo; aos consagradores de direitosfundamentais, bem como dignidade da pessoa humana. Da dizer-se que se trata ou que possa vir a ser tratada

    como um verdadeiro imperativo constitucional. Contudo, apesar dessa caracterizao como imperativoconstitucional, lembra o referido autor que o Tribunal Constitucional portugus tem se mostrado relutante ementend-lo e aplic-lo como um fundamento autnomo propcio a embasar ou fundamentar as suas decises.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    19/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    122

    arbitrria ou desproporcional de um dos argumentos face aos outros, de forma que haja

    comprometimento da viabilidade de permanncia ou do respeito para com eles deve agir,

    deixando sua posio anterior de inrcia e/ou neutralidade.

    No deve ser ele causador da polmica ou da divergncia, devendo, pelo contrrio,

    permitir que no mbito de convvio social a pluralidade reste preservada como forma de

    manifestao de parte da prpria personalidade dos diferentes atores detentores de ideias,

    argumentos, pensamentos opostos.

    REFERNCIAS

    ARISTTELES. tica a Nicmaco. So Paulo: Abril Cultural, 1973.

    BARBOSA, Ana Paula Costa. A Legitimao Moral da Dignidade Humana e dos

    Princpios de Direitos Humanos. In:TORRES, Ricardo Lobo (Org.). Legitimao dos

    Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.

    CIOTOLA, Marcello. A Tolerncia em Michael Walzer. In: TORRES, Ricardo Lobo

    (Org.). Legitimao dos Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.

    GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ao afirmativa e princpio constitucional da igualdade: O

    direito como instrumento de transformao social: a experincia dos Estados Unidos.Rio de

    Janeiro: Renovar, 2001.

    HABERMAS, Jrgen. Teoria de la accin comunicativa: Racionalidad de la accin y

    racionalizacin social. Trad. de Manuel Jimnez Redondo. Madrid: Taurus, 1999, t. I.

    KANT, Immanuel. A Metafsica dos Costumes.Trad. Edson Bini. So Paulo: Edipro, 2003.

    LADEUR, Karl-Heinz; AUGSBERG, Ino. The Myth of the Neutral State: The relationship

    between state and religion in the face of new challenges. German Law Journal, v. 8, n. 2, 01

    February 2007. Disponvel em: . Acesso em: 15 jul. 2010.

  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    20/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    123

    MACHADO, Nlson Jos. Sobre a Idia de Tolerncia. Instituto de Estudos Avanados da

    USP, So Paulo: (sem data). Disponvel em: . Acesso em: 15 jul. 2010.

    MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Coimbra: Coimbra Editora, 2000, t.

    IV.

    MOREIRA, Luiz. Fundamentao do Direito em Habermas. 3. ed. Belo Horizonte:

    Mandamentos, 2004.

    NEHUSHTAN, Yossi. The Limits of Tolerance: A substantive-Liberal Perspective.In:

    Ratio Juris, v. 20, n. 2, jun. 2007.

    NINO, Carlos Santiago. tica y Derecho Humanos. Um ensayo de fundamentacin.

    Buenos Aires: Astrea de Alfredo y Ricardo De Palma, 1989.

    NOGUEIRA, Clayton Ritnel. A Teoria Discursiva de Jrgen Habermas. Jus Vigilantibus,19

    jun. 2006. Disponvel em: . Acesso em: 01 maio 2009.

    PINENT, Carlos Eduardo. Sobre os mundos de Habermas e sua ao comunicativa. Revista

    da ADPPUCRS,Porto Alegre, n. 5, dez. 2004, p. 49-56. Disponvel em:

    . Acesso em: 01 maio 2009.

    PINTO, Paulo Mota. Nota sobre o imperativo de tolerncia e seus limites. Estudos em

    homenagem do conselheiro Lus Nunes de Almeida. Coimbra: Coimbra Editora, 2007.

    RIPSTEIN, Arthur. Beyond the Harm Principle. In: Philosophy & Public Affairs, v. 34, n.

    3, summer 2006.

    ROBLES, Gregorio. Tolerancia y Sociedad Multicultural.In: Persona y Derecho. Revista

    de Fundamentacin de las Instituciones Jurdicas y de Derechos Humanos, n. 49. Instituto de

    Derechos Humanos. Facultad de Derecho de la Universidad de Navarra, 2003.

    http://jusvi.com/artigos/21586http://jusvi.com/artigos/21586
  • 7/24/2019 Ciro - Rev Fides

    21/21

    FIDS

    FIDES,

    Natal,v.

    1,n.

    2,ago./

    dez.

    2010.

    ISSN0

    000-0000

    SILVA, Srgio Lus P.. Razo instrumental e razo comunicativa: Um ensaio sobre duas

    sociologias da racionalidade. Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Cincias Humanas,

    n.18, maio 2001. Disponvel em: . Acesso em: 01 maio 2009.

    WALZER, Michael. Da Tolerncia. Trad. de Almiro Pisetta. So Paulo: Marins Fontes,

    1999.

    COMMUNICATIVE INTERACTIONS AS EXPRESSIONS OF THE IDEA OF

    TOLERANCE

    ABSTRACT

    Tolerance and human dignity must be understood as expressions

    normatively connected to a constitutional democracy. In spite of the

    fact that Neutral State concept (which refers to the inability of the

    State to interfere unduly on peoples behavior) must bepreserved, if

    some kind of danger or risk exist to the social integration process, the

    connection between that two expressions must be made to keep it

    intact and this can be easily done using the elements of the theory of

    communicative action developed by Jurgen Habermas.

    Keywords: Tolerance, Human dignity, Communicative Action.