circuitos, suportes e gestão de informação.pdf
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Circuitos, Suportes e Gestão de Informação
Cuidados de Saúde Respiratórios Domiciliários em Portugal
CIRCUITOS, SUPORTES E GESTÃO DE
INFORMAÇÃO
CUIDADOS DE SAÚDE RESPIRATÓRIOS DOMICILIÁRIOS EM
PORTUGAL
2011
Comissão Nacional para os Cuidados Respiratórios Domiciliários 01-03-2011
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CONSTITUIÇÃO DA COMISSÃO NACIONAL PARA OS CUIDADOS RESPIRATÓRIOS DOMICILIÁRIOS (CNCRD)
PLENÁRIO E NÚCLEO EXECUTIVO (NE)
PROF. DOUTOR ANTÓNIO DE SOUSA UVA (NE)
MÉDICO E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
PRESIDENTE
DR.ª ELSA JARA (NE)
ASSISTENTE HOSPITALAR GRADUADA DE PNEUMOLOGIA. UNIDADE DE INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA, CHLN -
HPV
DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE
DR.ª ISABEL CASTELÃO
ASSISTENTE GRADUADA DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR
DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE
PROF. DOUTOR ANTÓNIO BUGALHO DE ALMEIDA
COORDENADOR DO PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLO DA ASMA
DR.ª RAQUEL MARIA MACEDO PIRES DEVEZA
LICENCIADA EM MATEMÁTICA E CIÊNCIA DE COMPUTAÇÃO, UNIVERSIDADE MINHO
RESPONSÁVEL PELA ANÁLISE E DESENHO DO PROCESSO DE PRESCRIÇÃO ELECTRÓNICA DE CUIDADOS
RESPIRATÓRIOS DOMICILIÁRIOS
ADMINISTRAÇÃO CENTRAL DO SISTEMA DE SAÚDE, I.P.
DR. RICARDO SANTOS
ADMINISTRADOR HOSPITALAR
UNIDADE OPERACIONAL DE GESTÃO FINANCEIRA, UNIDADE DE APOIO À GESTÃO DO RISCO E AUDITORIA,
ADMINISTRAÇÃO CENTRAL DO SISTEMA DE SAÚDE, I.P.
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DR.ª SOFIA MARIZ (NE)
LICENCIADA EM ECONOMIA, UNIVERSIDADE DE COIMBRA
ADMINISTRADORA HOSPITALAR
UNIDADE OPERACIONAL DE FINANCIAMENTO E CONTRATUALIZAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO CENTRAL DO SISTEMA DE
SAÚDE, I.P.
DR. JOÃO ALMEIDA
CHEFE SERVIÇO PNEUMOLOGIA H. S. JOÃO
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO NORTE, I.P.
DR. JOAQUIM MOITA (NE)
ASSISTENTE GRADUADO DE PNEUMOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE COIMBRA
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO CENTRO, I.P.
DR. ANTÓNIO CARVALHEIRA SANTOS
CHEFE DE SERVIÇO DE PNEUMOLOGIA
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO LISBOA E VALE DO TEJO, I.P.
DR.ª TERESA CARDOSO
DIRECTORA DO SERVIÇO DE PNEUMOLOGIA DO HOSPITAL DO ESPÍRITO SANTO DE ÉVORA
MEMBRO DA COMISSÃO DE PREVENÇÃO E CONTROLO DA DPOC
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO ALENTEJO, I.P.
DR. ULISSES BRITO
DIRECTOR DO SERVIÇO DE PNEUMOLOGIA DO HOSPITAL DE FARO
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO ALGARVE, I.P.
DR. EURICO CASTRO ALVES
ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE
PROF. DOUTOR CARLOS ROBALO CORDEIRO
PRESIDENTE DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE PNEUMOLOGIA
PROFESSOR ASSOCIADO DA FACULDADE DE MEDICINA DE COIMBRA
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PROF.ª DOUTORA CRISTINA BÁRBARA (NE)
DIRECTORA DO SERVIÇO DE PNEUMOLOGIA II DO HPV-CHLN
PROFESSORA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
DR. ARTUR TELES DE ARAÚJO
PNEUMOLOGISTA
FUNDAÇÃO PORTUGUESA DO PULMÃO, PRESIDENTE
PROF.ª DOUTORA PAULA PINTO (NE)
COORDENADORA DA UNIDADE DE FISIOPATOLOGIA RESPIRATÓRIA II DO HPV-CHLN
PROFESSORA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
FUNDAÇÃO PORTUGUESA DO PULMÃO
DR.ª PAULA SIMÃO (NE)
ASSISTENTE GRADUADA EM PNEUMOLOGIA
COORDENADORA EM PORTUGAL DA GOLD – GLOBAL INITIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUCTIVE LUNG DISEASE
DR. CÂNDIDO MATOS CAMPOS (NE)
ASSISTENTE GRADUADO DE CLÍNICA GERAL
COORDENADOR DO CDP DE VALE DE CAMBRA
COORDENADOR DISTRITAL DA EXTINTA SUB-REGIÃO DE SAÚDE DE AVEIRO PARA AS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS
CRÓNICAS (CENTRO DE SAÚDE DE VALE DE CAMBRA)
PROF.ª DR.ª CELESTE BARRETO (NE)
CHEFE DE SERVIÇO DE PEDIATRIA MÉDICA
DIRECTORA DO SERVIÇO DE PEDIATRIA DO DEPARTAMENTO DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA DO HSM-CHLN
SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA
DR.ª LUÍSA SOARES BRANCO
PSICÓLOGA
PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA ASSOCIAÇÃO RESPIRA – ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE PESSOAS COM DPOC
E OUTRAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS CRÓNICAS
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ÍNDICE
ÍNDICE DE TABELAS ...................................................................................................................................... VII
I - ENQUADRAMENTO ...................................................................................................................................... 1
II – CIRCUITOS ACTUAIS DE PRESCRIÇÃO, MONITORIZAÇÃO, AUDITORIA E AVALIAÇÃO EM CRD ......................... 2
2.1. Circuitos actuais na prescrição de CRD ............................................................................................................. 2
2.2. Circuitos actuais de monitorização, auditoria e avaliação em CRD ................................................................... 3
2.3. Circuitos actuais de conferência de facturação de CRD .................................................................................... 4
III – PROPOSTA DE REFORMULAÇÃO DE CIRCUITOS DE PRESCRIÇÃO, MONITORIZAÇÃO, AUDITORIA E AVALIAÇÃO
EM CRD ......................................................................................................................................................... 4
3.1. Proposta de circuito de prescrição de CRD ....................................................................................................... 4
3.2. Proposta de circuito de monitorização de CRD ................................................................................................. 6
3.3. Proposta de circuito de auditoria em CRD ......................................................................................................... 7
3.4. Proposta de circuito de avaliação em CRD ........................................................................................................ 7
3.5. Proposta de circuito de conferência de facturas em CRD ................................................................................. 7
IV – ASPECTOS CRÍTICOS PARA A MELHORIA DOS CIRCUITOS DE PRESTAÇÃO DE CRD ..................................... 9
4.1. Implementação da prescrição electrónica de CRD a nível nacional .................................................................. 9
4.2. Aquisição de CRD ao abrigo dos Contratos Públicos de Aprovisionamento ..................................................... 9
4.3. Formação de doentes e prescritores ................................................................................................................ 11
4.4. Articulação de cuidados ................................................................................................................................... 11
4.5. Controlo de custos, monitorização, auditoria e avaliação ................................................................................ 12
V – CONCLUSÕES ......................................................................................................................................... 13
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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Grelha de auditoria da ARS de Lisboa e Vale do Tejo ................................................................................ 4
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I - ENQUADRAMENTO
Os Cuidados Respiratórios Domiciliários (CRD) correspondem ao fornecimento de serviços e
equipamentos no local de residência dos doentes e suas famílias, com o objectivo de suprir necessidades
maioritariamente resultantes de condições respiratórias crónicas, com incapacidade permanente ou
doença terminal.
Os CRD, para além das principais terapêuticas, envolvem também aspectos relativos à reabilitação e à
integração social e familiar que deverão ser valorizados, assim como a “integração” com a prestação de
outros cuidados de saúde.
Entende-se que a qualidade do serviço prestado por empresas creditadas e contratadas para o efeito
pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem a mesma importância que as características técnicas dos
equipamentos e que estes deverão corresponder ao “estado da arte” do conhecimento médico numa
perspectiva de eficiência e racionalização para responder ao tratamento padronizado de cada doença.
Em Portugal, a prescrição de CRD é efectuada ao abrigo de normativo da Direcção-Geral da Saúde
(Circular Normativa DGS, N.º 06/DSPCS de 07/06/06), que estabelece os circuitos de prescrição com o
objectivo de procurar melhorar a qualidade da prática de prescrição de CRD, nomeadamente através de:
Definição de regras de boa prática na prescrição de CRD, por terapêutica respiratória
domiciliária (Oxigenoterapia de Longa Duração, Aerossolterapia e Ventiloterapia) e por patologia
(Síndrome de Apneia do Sono, deformação de caixa torácica e Doenças Neuromusculares,
Insuficiência Respiratória Crónica e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica e outras patologias);
Concepção e definição de regras de preenchimento de impresso de prescrição de CRD;
Concepção da possibilidade de prescrição por via electrónica;
Articulação da norma com o concurso público para a celebração de contratos públicos de
aprovisionamento para a área da saúde, com vista à prestação de serviços de cuidados técnicos
respiratórios domiciliários aos utentes do SNS.
O presente relatório visa dar cumprimento à alínea d) do n.º 1 do Despacho n.º 10336/2010 de 7 de
Junho de 2010 do Senhor Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, propondo a “redefinição dos
circuitos de prescrição, monitorização, auditoria e avaliação dos cuidados respiratórios domiciliários e o
aperfeiçoamento dos suportes informativos associados, que permitam uma mais adequada gestão da
informação”, tomando em consideração a informação obtida pela Comissão Nacional de Cuidados
Respiratórios Domiciliários (CNCRD) para elaboração do Relatório de Situação Actual sobre CRD em
Portugal, entregue à tutela em 3 de Dezembro de 2010.
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II – CIRCUITOS ACTUAIS DE PRESCRIÇÃO, MONITORIZAÇÃO, AUDITORIA E AVALIAÇÃO EM CRD
Conforme já foi anteriormente referido, as regras para prescrição adequada de CRD estão actualmente
definidas na Circular Normativa da Direcção-Geral da Saúde (DGS), N.º06/DSPCS de 07/06/06,
competindo às Administrações Regionais de Saúde (ARS) a implementação do impresso de prescrição
de CRD a nível local, salvaguardando as regras de boa prática definidas naquela Circular.
Assim, a CNCRD solicitou às ARS informação sobre os circuitos de prescrição, monitorização, auditoria e
avaliação observados a nível regional, para efeitos de avaliação do cumprimento da norma e da avaliação
da adequabilidade dos procedimentos adoptados a nível local para monitorização, auditoria e avaliação
da prestação de CRD em Portugal.
A informação remetida pelas cinco ARS demonstra a existência de diferentes procedimentos quer a nível
regional, quer dentro de uma mesma região, a nível “sub-regional”.
2.1. Circuitos actuais na prescrição de CRD
Em relação à prescrição de CRD, ficou claro, pela análise da informação enviada pelas cinco ARS, que
esta não é efectuada mediante o impresso publicado na Circular Normativa da DGS, N.º06/DSPCS de
07/06/06, na maioria das Regiões de Saúde.
Por outro lado, o facto de não se ter conseguido implementar a nível nacional a prescrição electrónica de
CRD (apesar de implementada uma ferramenta criada pela ACSS para o efeito, no Serviço de
Pneumologia do Hospital de S. João, E.P.E. e da Unidade Local de Saúde de Matosinhos, E.P.E.),
implica que não se consiga validar de uma forma célere se a prescrição por cada terapêutica respiratória
domiciliária é feita ao abrigo das disposições da referida Circular.
Apesar de nalguns locais se ter adoptado o Sistema de Apoio ao Médico (SAM) para efeitos de
prescrição informatizada de CRD (e.g. Agrupamento de Centros de Saúde do Douro 1), esta prática não
está generalizada a nível nacional, pelo que quaisquer análises ficam prejudicadas pela falta de
representatividade da informação. Acresce, ainda, o facto de a actual funcionalidade de prescrição
informatizada de CRD disponibilizada pelo SAM não respeitar as regras de prescrição definidas na
Circular Normativa da DGS, N.º06/DSPCS de 07/06/06, nem implementar o conjunto de validações
necessárias para o seu cumprimento integral.
Com efeito, a informação obtida através das ARS quanto aos circuitos e meios de prescrição em
utilização apenas permite concluir que a prescrição de CRD é feita quer em meio hospitalar, quer no
âmbito dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), não havendo cabal esclarecimento de que esteja em
utilização a nível nacional quer o modelo de impresso definido na Circular Normativa da DGS,
N.º06/DSPCS de 07/06/06, quer as regras de prescrição nela plasmadas.
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A ARS de Lisboa e Vale do Tejo é a única que remete o modelo de impresso utilizado para a prescrição
de CRD, verificando-se que se trata de modelo semelhante ao publicado na Circular da DGS.
As ARS do Norte e Lisboa e Vale do Tejo remetem, ainda, informação escrita relativa aos procedimentos
de prescrição a adoptar, verificando-se que se trata de procedimentos adaptados da Circular da DGS.
A ARS do Centro refere que nos casos da Oxigenoterapia e da Ventiloterapia, a primeira prescrição é
habitualmente efectuada em ambiente hospitalar.
As ARS do Alentejo e Algarve informam que têm contratos estabelecidos com empresas fornecedoras de
CRD e que as prescrições são efectuadas ao seu abrigo. No entanto, e a título de exemplo, sublinha-se o
caso da ARS do Alentejo em que o contrato ao abrigo do qual estão a ser feitas as aquisições (e
prescrições) de CRD é de 1988.
Da análise efectuada à informação remetida pelas ARS, conclui-se não haver procedimentos uniformes a
nível nacional quer quanto aos meios de prescrição, quer quanto às regras de prescrição, apesar de
existir um normativo para o efeito.
2.2. Circuitos actuais de monitorização, auditoria e avaliação em CRD
A CNCRD solicitou às ARS informação sobre os actuais circuitos de monitorização, auditoria e avaliação
da prestação de CRD tendo obtido informação diversa por região de saúde.
O facto de não haver prescrição electrónica de CRD a nível nacional, inviabiliza a efectiva monitorização
da prestação de CRD nas vertentes de prescrição, facturação e conferência dessa facturação.
Com efeito, e à excepção da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, que atribui às Direcções dos Centros de
Saúde e à Direcção de Serviços de Administração Geral das (ex) Sub-Regiões a responsabilidade pela
monitorização, nenhuma das restantes ARS manifestou ter instituído mecanismos de monitorização da
prescrição de CRD.
No tocante à auditoria e avaliação, apenas as ARS do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo têm instituídos
mecanismos - no primeiro caso, a responsabilidade do desencadeamento de auditorias “externas”
compete ao conselho clínico dos Agrupamentos de Centros de Saúde (mecanismo instituído no
Agrupamento de Centros de Saúde do Douro 1), enquanto no segundo caso existem grelhas de avaliação
e auditoria com a definição dos parâmetros a auditar quer em caso de auditoria interna, quer em caso de
auditoria externa. Entre 2001 e 2006, a ARS de Lisboa e Vale do Tejo efectuou auditorias internas com
validação das prescrições e realização de visitas domiciliárias acompanhadas dos fornecedores de CRD,
o que proporcionou um impacto de redução da despesa desnecessária com prescrições de
aerossolterapia inadequadas. Em 2008, a mesma região de saúde propôs-se desencadear auditorias
internas ao nível dos Centros de Saúde e hospitais, tendo tido algumas dificuldades na sua condução.
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Com efeito, foi implementada uma base de dados regional, com um conjunto de dados referentes à
prescrição, sendo suposto que as entidades prescritoras enviassem mensalmente a informação para
alimentar a base de dados. Seria esta base de dados que possibilitaria desencadear auditorias às
instituições com o objectivo de validar quer os registos quer a utilização dos impressos para prescrição.
No entanto, por falta de informação ou informação incompleta nas fontes prescritoras, não foi possível
desenvolver as auditorias em causa.
A tabela 1 demonstra as grelhas de auditoria utilizadas na ARS de Lisboa e Vale do Tejo.
Tabela 1 – Grelha de auditoria da ARS de Lisboa e Vale do Tejo
Ainda no caso da ARS de Lisboa e Vale do Tejo que demonstra a existência de alguma organização
relativa à realização de auditoria e avaliação da prestação de CRD, esta recai, sobretudo, na vertente de
prescrição, não havendo lugar à ligação entre a prescrição e o continuum do processo de prestação de
CRD até à conferência de facturas.
2.3. Circuitos actuais de conferência de facturação de CRD
Em relação à conferência de facturas, a maioria das ARS que responderam à questão colocada pela
CNCRD manifestaram que esta é feita mediante confronto “físico” entre a folha de prescrição e ficheiro
EXCEL enviado pelos fornecedores de CRD, não demonstrando ter implementados outros instrumentos
de controlo internos nesta matéria.
III – PROPOSTA DE REFORMULAÇÃO DE CIRCUITOS DE PRESCRIÇÃO, MONITORIZAÇÃO, AUDITORIA E AVALIAÇÃO
EM CRD
3.1. Proposta de circuito de prescrição de CRD
A prescrição de CRD deve passar a ser efectuada electronicamente, através de sistema de prescrição a
preparar para o efeito, que integre as normas plasmadas na Circular Normativa que define as regras de
prescrição deste tipo de cuidados.
Esta solução apresenta numerosas vantagens de entre as quais se destacam as seguintes:
PRESSUPOSTOS PARÂMETROS A AUDITAR RESPONSÁVEL
AUDITORIA
INTERNA
Existência, nas entidades que prescrevem, de uma
base de dados fornecida pela Região onde, através
do processo de auditoria interna se valide a
prescrição.
Quantitativos:
•Tipo de equipamento prescrito e disponibilizado;
•Parâmetros prescritos e efectuados;
•Horas de utilização prescritas e efectuadas.
Qualitativos:
•Indicação da prescrição;
•Adesão à prescrição.
Elementos afectos aos
Cuidados Continuados.
AUDITORIA
EXTERNA
Auditoria à prescrição suportada na base de dados da
Regiião, através de amostra à qual devem
corresponder mais do que uma factura.
Grelha de auditoria:
•Existência de auditoria interna;
•Indicação da prescrição;
•Suporte de prescrição correctamente efectuado;
•Parâmetros precritos e facturados.
Entidade externa não
identificada.
ARSLVTCIRCUITOS DE AUDITORIA E AVALIAÇÃO
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Unicidade e uniformidade do sistema de prescrição utilizado a nível nacional, garantindo o
cumprimento das regras de prescrição (e.g. através de criação de mecanismos que impeçam a
prescrição se não forem cumpridos todos os requisitos do normativo em vigor);
Facilitação da comunicação entre os prestadores de cuidados nos diferentes locais, através da
disponibilização da informação relativa a prescrições anteriores, permitindo uma melhor
articulação entre CSP e hospitalares;
Facilitação dos processos de monitorização, análise de dados e auditoria (e.g. através de
criação de mecanismos que permitam a recolha de informação agregada do sistema);
Aumento da celeridade e rigor dos circuitos administrativos, na medida em que através de um
único instrumento se pode monitorizar todo o processo relativo à prestação de CRD;
Aumento do rigor dos mecanismos de conferência de facturas, se houver lugar à interligação do
sistema de prescrição electrónica com o sistema de conferência de facturas electrónico.
O Ministério da Saúde, através da Administração Central do Sistema de Saúde, I.P. (ACSS), desenvolveu
um sistema de informação de Prescrição Electrónica de CRD que funciona, actualmente, em dois
hospitais piloto. Este sistema representa um ponto de partida adequado para o cumprimento do objectivo
da implementação da prescrição electrónica a nível nacional constituindo, a sua expansão às restantes
unidades de saúde, uma mais-valia. Há, no entanto, factores críticos para o sucesso da implementação
da prescrição electrónica a nível nacional, que abaixo se salientam:
Alteração do actual sistema de informação de Prescrição Electrónica de CRD, em conformidade
com as seguintes linhas:
Incorporação das alterações e requisitos que serão identificados na proposta de norma
em revisão pela CNCRD;
Dotação do sistema com mecanismos de interoperabilidade que permitam a sua
integração com outros sistemas de informação, nomeadamente outras aplicações
instaladas nas unidades de cuidados de saúde cuja responsabilidade não seja da
ACSS;
Criação dos mecanismos necessários para a integração electrónica com o Sistema de
Informação do Centro de Conferência de Facturas;
Dotação do sistema com a capacidade para disponibilizar informação que permita o
controlo e a monitorização de todo o processo de prescrição – prestação – pagamento.
Criação das infra-estruturas tecnológicas de suporte ao sistema central, salvaguardando
aspectos como a redundância, disponibilidade, escalabilidade, para que o sistema possa ser
disponibilizado a nível nacional com robustez e segurança;
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Garantia das condições necessárias para a utilização, por parte dos profissionais de saúde, de
um sistema central, nomeadamente assegurando a qualidade de comunicações (RIS);
Criação das condições (a nível central) que garantam o suporte e a manutenção do sistema a
nível nacional, nomeadamente assegurando recursos humanos e técnicos;
Criação de um projecto para a implantação do sistema a nível nacional, desejavelmente
acompanhado por um Grupo de Acompanhamento, que tivesse a seu cargo as seguintes linhas
de acção:
Criação do plano para a implementação a nível nacional, que inclua a formação de
utilizadores no uso da aplicação, mas também na área clínica, sobretudo a nível dos
prestadores dos CSP, para uma melhor formação/informação nas terapêuticas
utilizadas nos CRD;
Coordenação da implementação do plano;
Monitorização e avaliação dos resultados;
Definição de acções de melhoria e a sua coordenação na sua implementação;
Estabelecimento do plano de comunicação com as entidades prescritoras (ARS e
Hospitais).
Ressalva-se, no entanto, a necessidade de acautelar a existência de um sistema de prescrição “manual”,
uniforme a nível nacional, enquanto não houver as condições intrínsecas à generalização do sistema de
prescrição electrónica.
3.2. Proposta de circuito de monitorização de CRD
Entendendo-se por monitorização o sistema que dá conhecimento, a todos os responsáveis internos, dos
dados agregados relativos à prescrição, facturação e pagamento de CRD, e que permite o
acompanhamento do processo quer do ponto de vista clínico, quer de gestão, a monitorização em CRD
proporcionará, então, a avaliação sistemática deste processo, aferição do sucesso das políticas internas
implementadas, e a adopção de medidas correctivas em caso de verificação de desvios.
Nestes termos, as entidades responsáveis pela prestação de CRD devem promover a monitorização
mensal do processo, focando, de entre outros, os seguintes aspectos agregados:
Número de prescrições por tipo de terapêutica respiratória domiciliária (Oxigenoterapia,
Ventiloterapia, Aerossolterapia);
Número de doentes por tipo de terapêutica respiratória domiciliária (novos doentes e doentes
com renovação de prescrições);
Custos por tipo de terapêutica respiratória domiciliária;
Desvios face à produção estimada;
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Desvios face ao orçamento.
Eventualmente, poderia ser criada uma comissão de acompanhamento nacional, que integrasse
elementos de cada uma das ARS que teria a missão de:
Definir indicadores de avaliação;
Coordenar a implementação;
Monitorizar e avaliar resultados;
Identificar acções de melhorias;
3.3. Proposta de circuito de auditoria em CRD
A auditoria constitui um instrumento periódico de análise ao cumprimento de todos os procedimentos
referentes a um determinado processo com vista a avaliar os riscos (clínicos e financeiros) inerentes ao
seu incumprimento propondo, nos casos aplicáveis, recomendações de melhoria dos processos para
ultrapassar constrangimentos detectados.
Nestes termos, a auditoria interna, da responsabilidade da entidade que gere o processo (ARS), deve ser
feita de forma sistemática, tendo por base uma avaliação do risco, podendo ser feitas auditorias ad hoc
sempre que resultem do processo de monitorização ou análise de dados, constrangimentos que o
justifiquem. Idealmente, a auditoria deve recair sobre aspectos como:
Circuitos e critérios cínicos em CRD – análise do cumprimento das normas de prescrição;
Circuitos administrativos e contabilísticos em CRD – verificação do cumprimento dos
procedimentos administrativos (e.g. aquisição dos CRD ao abrigo dos Contratos Públicos de
Aprovisionamento, cumprimento das normas de procedimentos administrativos e contabilísticos).
3.4. Proposta de circuito de avaliação em CRD
A avaliação em CRD deve ser feita anualmente, dando lugar a relatório de actividade contendo os
principais indicadores clínico e económico-financeiros, bem como a análise da evolução da prestação de
cuidados nesta área, de forma a que dela possam resultar propostas de melhoria para os anos seguintes.
3.5. Proposta de circuito de conferência de facturas em CRD
Idealmente, a conferência de facturas deve ser realizada electronicamente e estar interligada ao sistema
electrónico de prescrição de CRD em desenvolvimento. Só assim será possível garantir que são
cumpridas as especificações necessárias para a conferência de facturas e a sua ligação à prescrição.
Neste caso, a conferência deverá ser feita de forma automática, comparando os dados da factura com os
dados constantes da requisição informatizada.
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A aplicação informática deverá estar estruturada por níveis de acesso que permitam identificar quem
procedeu à conferência da factura, bem como, contemplar um campo que permita o registo do motivo em
caso de divergência (não conferência) entre os dados da factura e aqueles que aí deveriam constar.
O sistema de informação deverá, ainda, produzir listas/relatórios de dados que permitam identificar os
montantes conferidos e não conferidos, por entidade, com identificação da factura e da respectiva
requisição, bem como dos motivos da não conferência, de forma a possibilitar uma análise de gestão
adequada e informação fidedigna e atempada na esfera da auditoria dos processos.
Deverá ser realizada, de forma sistemática, por pessoa diferente de quem procedeu ao acto de
conferência, a validação das facturas conferidas, por amostragem, de forma a identificar possíveis erros
ocorrentes ou recorrentes de conferência. As especificidades e dimensão da amostra deverão também
constar de manual de procedimentos do serviço/unidade, tendo em consideração o volume de facturação,
o “leque” de serviços prestados e o número de fornecedores envolvido.
No que diz respeito a esta matéria, a conferência das facturas pela ARS deveria ter sempre em
consideração os seguintes aspectos:
• O preenchimento da requisição de acordo com as regras constantes no normativo em vigor
discriminando, para este efeito, o tipo de terapêutica, os dispositivos associados e a duração do
tratamento;
• O confronto dos itens constantes da factura apresentada, com os itens que foram prescritos pelo
médico (através de cópia legível da requisição a reter na ARS, e a enviar ao Serviço de Gestão
Financeira), bem como o valor facturado com o valor que resultaria da aplicação da respectiva
convenção/contrato e duração do tratamento, devendo a factura evidenciar sempre o período a
que se refere a prestação do serviço, sendo obrigatoriamente (não obstante a possibilidade de
factura resumo) individual (por doente), indicando o número ou a referência da requisição a que
diz respeito;
• Quando, por qualquer motivo, o serviço facturado não corresponder ao serviço requisitado pela
ARS (tipo e/ou período), deverá a respectiva facturação ser devolvida ao prestador para análise
e correcção. Ainda assim, e em caso de alegação de necessidade clínica (casos em que a
factura traduz os cuidados efectivamente prestados, embora divergentes dos requisitados)
deverá averiguar-se se existem documentos não apensos ao processo que justifiquem a
divergência, nomeadamente alterações à prescrição médica (observando as regras e
procedimentos de prescrição) que, a não existirem, determinarão o não pagamento da factura,
devendo a mesma ser devolvida como não conferida;
• No acto de conferência, deverá ser aposto carimbo ou marcação distinguível, apenas sobre os
originais das facturas, onde conste a data e a assinatura de quem conferiu e a expressão
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“conferido” pelo que, apenas neste caso, as facturas deverão ser assumidas (compromisso
orçamental) e pagas;
• Das facturas devolvidas deverá existir cópia arquivada onde conste o motivo da devolução, com
assinatura de quem procedeu à conferência, bem como cópia do ofício/carta de devolução
enviado à entidade prestadora;
• Neste âmbito deverá ser dado conhecimento ao respectivo Conselho Directivo da ARS, através
de informação mensal, do número de facturas devolvidas por entidade e causa.
IV – ASPECTOS CRÍTICOS PARA A MELHORIA DOS CIRCUITOS DE PRESTAÇÃO DE CRD
4.1. Implementação da prescrição electrónica de CRD a nível nacional
A informatização de todo o processo desde a prescrição à conferência de facturas, salvaguardados os
aspectos críticos já focalizados no capítulo anterior, é entendida, pela CNCRD, como o aspecto chave
para a melhoria dos circuitos no âmbito da prestação de CRD.
Com efeito, a revisão das boas práticas na prescrição destas terapêuticas é facilmente actualizável em
conformidade com o estado da arte. No entanto, a melhoria dos circuitos desde a prescrição à
conferência de facturas em CRD, carece de um sistema comunicante que, por sua vez, permita o
desenvolvimento do processo de monitorização e auditoria a esta prestação, actualmente quase
inexistente.
Com um sistema electrónico que permita a recolha e tratamento de informação agregada, todo o circuito
poderá ser facilitado, permitindo aos vários stakeholders o controlo e conhecimento dos aspectos
relevantes desta prestação.
4.2. Aquisição de CRD ao abrigo dos Contratos Públicos de Aprovisionamento
A Portaria n.º 939/2009, do Ministério da Saúde, de 7 de Outubro, refere que “Na sequência da Portaria
n.º 1176-A/2000, de 14 de Dezembro (1ª série - B), a Administração Central do Sistema de Saúde, I.P.,
no âmbito das suas competências, levou a efeito o concurso público para celebração de contratos
públicos de aprovisionamento com vista à prestação de serviços de cuidados técnicos respiratórios
domiciliários de aerossolterapia, de oxigenoterapia, de ventiloterapia com colocação e manutenção do
equipamento de monitorização e apoio destes tratamentos aos utentes do Serviço Nacional de Saúde...”.
Assim, trata-se de uma Portaria que regula aspectos quanto aos Contratos Públicos de Aprovisionamento
(CPA) para prestação de Cuidados de Saúde Respiratórios Domiciliários.
Por sua vez, o concurso 2008/100, tem por objecto a celebração de contratos públicos de
aprovisionamento na área dos CRD, visando reconhecer a qualidade dos prestadores de serviços na
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prestação de cuidados técnicos respiratórios domiciliários de aerossolterapia, de oxigenoterapia e de
ventiloterapia, na colocação e manutenção do equipamento, e na monitorização e apoio à realização
desses tratamentos a utentes beneficiários do SNS.
A aquisição de CRD via CPA está no âmbito das áreas de intervenção das Administrações Regionais de
Saúde (ARS) do Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. No entanto, os CPA podem
ainda abranger, quaisquer outras entidades públicas que manifestem à Administração Central do Sistema
de Saúde, I.P. (ACSS) a intenção de beneficiar das condições contratuais homologadas.
Adicionalmente, o Despacho n.º 20872/2009, do Ministério da Saúde, de 17 de Setembro, refere que,
“...para efeitos da execução dos contratos públicos de aprovisionamento relativos à prestação de serviços
de cuidados técnicos respiratórios domiciliários de aerossolterapia, de oxigenoterapia, de ventiloterapia
com colocação e manutenção do equipamento de monitorização e apoio destes tratamentos aos utentes
do Serviço Nacional de Saúde e a verificar do cumprimento das obrigações dos prestadores é designada
uma comissão de acompanhamento...”. O Despacho n.º 2830/2011, de 1 de Fevereiro altera a
composição da presidência da comissão de acompanhamento, que passa a ser assegurada por um
representante da Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, E.P.E.
Não tendo, a CNCRD conseguido obter informação, quer das ARS, quer de outras entidades consultadas,
que demonstre que os CRD em Portugal estão a ser adquiridos ao abrigo do concurso 2008/100, ficou
dificultada a aferição da existência de ganhos (e.g. em saúde, de eficiência) com a implementação do
concurso, bem como a garantia da desejável uniformização da forma de prestação de CRD a nível
nacional através da mudança das regras de aquisição estabelecidas em 2008.
Ressalva-se, no entanto, que dois dos membros da Comissão de Acompanhamento, que são
simultaneamente membros da CNCRD (e do seu Núcleo Executivo) informaram, com base nos trabalhos
efectuados no seio das cinco reuniões da Comissão de Acompanhamento realizadas em 2010, a
existência de uma situação de impasse na aplicação do Concurso 2008/100 pelas entidades, pelo que as
aquisições de CRD continuam a ser feitas nos moldes anteriores ao do concurso, com os prejuízos
financeiros e de garantia de qualidade daí resultantes para o SNS.
Deste modo, e tal como proposto no seu primeiro relatório, a CNCRD entendeu ser necessária a
condução de uma auditoria sobre a forma actual de aquisição de CRD em Portugal, trabalho esse, que a
Unidade de Apoio à Gestão do Risco e Auditoria (UAGRA) da ACSS já despoletou a esta data.
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4.3. Formação de doentes e prescritores
A monitorização da adesão do doente e a eficácia terapêutica dos CRD devem ser avaliadas
periodicamente e com a maior objectividade não devendo, a prestação deste tipo de cuidados, confinar-
se à disponibilização de equipamentos e serviços. A existência de normas de prescrição e de um
concurso com regras para aquisição destas terapêuticas asseguram, em princípio, o acesso do doente à
prestação de CRD.
No entanto, para efeitos de garante da eficácia e adequação das prescrições para a condução da
situação de doença, deve ser garantido o ensino do doente e a sua capacitação para a gestão da sua
condição, enquanto vectores fundamentais para o sucesso da prestação de cuidados em CRD (e.g.
instituição de um programa de formação e acompanhamento domiciliário por profissionais de saúde
treinados).
Acresce, que a formação e ensino de doentes e cuidadores deve co-responsabilizá-los para a gestão da
sua condição, permitindo a efectiva partilha de responsabilidade entre prestadores e doentes. Deste
modo, poder-se-ão adoptar medidas com impacto quer em ganhos de saúde, proporcionados pela melhor
condução dos tratamentos pelos seus beneficiários, quer em ganhos de eficiência, alcançáveis pela
redução do desperdício podendo, ainda, vir a adoptar-se medidas concretas de responsabilização dos
utilizadores de CRD (e.g. instituir a responsabilidade financeira pelos encargos, quando o doente não
comunique a suspensão dos tratamentos em prazo a definir).
Em relação aos prescritores, e considerando que cerca de 90% das prescrições poderão estar a ser
efectuadas no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários, deve ser promovida a realização de acções de
formação direccionadas aos prescritores. Com efeito, ao “disciplinar-se” a prescrição garantindo que esta
é efectuada em conformidade com as normas, as necessidades de formação a prescritores deverão
privilegiar a divulgação e cumprimento das normas vigentes.
A formação inicial, caso se opte pela recomendação desta Comissão de criar a obrigatoriedade da
prescrição informatizada, será indispensável para a obtenção de um sistema harmonioso, a nível
nacional, quanto a vários parâmetros, de entre os quais se destacam:
Adequabilidade da prescrição (incluindo a sua renovação e cessação);
Controlo da adesão terapêutica;
Garante do acesso aos mesmos tratamentos para situações clínicas idênticas.
4.4. Articulação de cuidados
A prestação de CRD, para além do acesso às principais terapêuticas envolve, igualmente, aspectos
relativos à reabilitação e à integração social e familiar. Assim, deve ser implementado um sistema de
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articulação de cuidados que começa na prescrição inicial das terapêuticas com posterior aferição nos
serviços especializados de referência e se prolonga pelos cuidados de saúde primários que, através do
seu serviço de proximidade e apoio domiciliário, asseguram uma melhor adesão e compliance (ou
cumprimento) do doente e família à terapêutica.
A articulação entre CSP e cuidados hospitalares é o meio que permite a optimização da eficácia dos
tratamentos, adequabilidade das prescrições e, consequentemente, da eficiência do sistema de CRD. Ao
doente com patologia crónica e incapacitante devem, portanto, ser prestados cuidados de saúde de
proximidade que permitam o controlo da terapêutica para a obtenção dos melhores ganhos em saúde.
A prescrição inicial de CRD deve, em casos concretos e estabelecidos nas normas de prescrição, ser
efectuada em consulta de especialidade, sem prejuízo de que a manutenção da terapêutica se baseie
numa boa articulação entre CSP e cuidados especializados como garante da adequabilidade dos
tratamentos no continuum da prestação de CRD.
A reforma dos CSP em curso criou os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES), constituídos por
Unidades Funcionais (UF). Os ACES podem compreender as seguintes unidades funcionais: Unidade de
Saúde Familiar (USF), Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), Unidade de Cuidados na
Comunidade (UCC), Unidade de Saúde Pública (USP) e Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados
(URAP). Dentro desta realidade, passa a haver contratualização interna com cada UF e contratualização
externa entre a ARS e cada ACES, baseada em indicadores de desempenho.
Em 2010, a contratualização interna decorreu com todas as USF a nível nacional e com as UCSP da
região Norte e Alentejo. Nesse contexto, a articulação nesta área entre cuidados diferenciados e cuidados
de saúde primários deve ser bem estruturada, de modo a aumentar a eficácia da prestação de CRD e o
efectivo controlo de custos.
Considerando que um dos ganhos resultantes da melhoria da prestação em CRD, tal como demonstra a
bibliografia internacional, é a diminuição do número de internamentos, entende-se a articulação de
cuidados como um aspecto crítico para a melhoria da gestão dos CRD em Portugal.
4.5. Controlo de custos, monitorização, auditoria e avaliação
O controlo da prescrição e de todo o processo de prestação de CRD deve ser garantido através dos
mecanismos de monitorização, auditoria (interna e externa) e avaliação, com suporte num sistema de
informação capaz de fornecer informação de forma agregada.
Analisando a informação sobre custos remetida pelas ARS à CNRD, existem alguns aspectos críticos que
um sistema de prescrição electrónica interligado ao sistema de conferência de facturas pode permitir
ultrapassar. Verificou-se, em função dos dados obtidos, a inexistência de um sistema integrado na gestão
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dos CRD em Portugal, dificultando a possibilidade de poder dispor de elementos rigorosos da actual
situação no país.
Com efeito, para além de ser ter verificado a existência de diferenças muitíssimo acentuadas (milhões de
euros) entre os custos totais com CRD reportados pelas ARS/Unidades Locais de Saúde e os custos
efectivamente contabilizados, a desagregação contabilística por tipo de terapêutica de CRD só ocorreu no
ano de 2010.
Aparentemente, problemas de contabilização poderão estar na origem das diferenças verificadas, sendo
que também se verificou a impossibilidade de obtenção de dados fiáveis quanto ao número total de
doentes em tratamento por terapêutica respiratória domiciliária, inviabilizando a análise global de custos
per capita com base no número de doentes tratados.
Assim, a CNCRD entende dever reforçar a necessidade de criação de instrumentos que permitam, com
celeridade, recolher informação sobre o número de doentes em tratamento, e que proporcionem às
entidades responsáveis pela gestão desta prestação, a contabilização correcta e atempada destes
cuidados, não só para efeitos de controlo da prescrição, mas também da despesa com a prestação de
CRD.
V – CONCLUSÕES
A análise dos resultados obtidos pela CNCRD através dos contactos estabelecidos com os diversos
intervenientes no sistema, permite concluir que é fundamental a implementação de um sistema que
garanta o cumprimento estrito das normas de prescrição em CRD, bem como a agilização da sua
operacionalização. De facto, decorridos cerca de cinco anos desde a publicação da Circular Normativa da
DGS, pode-se concluir que raramente foram respeitados os preceitos nela contidos.
Em simultâneo, os processos de monitorização, auditoria e avaliação da prestação em CRD vêem-se
dificultados pela falta de informação uniformizada e em formato electrónico que permita a recolha de
dados agregados e proporcione a sua análise.
Com efeito, a inconsistência verificada nos dados fornecidos pelas diversas fontes de informação, implica
a adopção de medidas rigorosas que permitam melhorar a qualidade da prescrição e controlar os
encargos com CRD em Portugal, de entre as quais se destacam as seguintes:
Cumprimento estrito da observância dos critérios de prescrição de CRD pelos médicos
prescritores;
Informatização do processo desde a prescrição à conferência de facturas;
Monitorização e avaliação do cumprimento das normas de prescrição de CRD;
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Adopção de metodologias de monitorização e controlo do uso continuado de terapêuticas
respiratórias domiciliárias por parte dos utentes;
Interoperabilidade entre os sistemas de prescrição e facturação, com desagregação das
diferentes terapêuticas e com periodicidade adaptada ao procedimento administrativo
normalizado (mensal);
Contabilização atempada dos encargos com CRD para melhoria do controlo financeiro dos
encargos.
Efectivamente, a Comissão entende que os grandes desafios que a prescrição de CRD em Portugal hoje
coloca podem ser sistematizados da seguinte forma:
Prescrição adequada (Quem? Como? Quando?)
Controlo da prescrição de forma continuada e sistemática;
Adesão aos cuidados.
Relativamente à adequação e forma de prescrição, a informatização de todo o processo (desde a
prescrição à conferência de facturas, através de um sistema coerente e intercomunicável) é considerada
pela Comissão como o “gold standard” (ou a melhor prática) da reforma no âmbito da prestação de CRD.
Para o efeito, deve ser instituída a obrigatoriedade da prescrição electrónica de CRD e a “universalidade”
desse método no território continental.
Por outro lado, em relação à prescrição e comparticipação das terapêuticas respiratórias domiciliárias, a
CNCRD entende dever ser equacionado o facto cerca de 15 a 20% dos custos totais com CRD serem
atribuídos à “aerossolterapia” (inaloterapia com uso de sistemas de nebulização) para administração
provável de broncodilatadores ou apenas para humidificação (idade pediátrica). Este tipo de prescrição
consubstancia má prática clínica, pelo que não parece aceitável que a aerossolterapia continue a ser
comparticipada pelo SNS nos moldes actuais. Tal decisão relativa a comparticipação de cuidados
pressupõe, necessariamente, a decisão política de comparticipação da prescrição de câmaras
expansoras (à semelhança do que hoje acontece para a prescrição de glicofitas). A serem tomadas tais
decisões, a CNCRD entende que, simultaneamente, se reduzirão os custos associados a aerossolterapia
e se diminuirá o grau de má prática de prescrição nesta área.
Considerada a legislação de enquadramento dos contratos públicos de aprovisionamento relativos à
prestação de serviços de cuidados técnicos respiratórios domiciliários de Aerossolterapia, de
Oxigenoterapia, de Ventiloterapia, e os normativos da DGS sobre a matéria, os CRD (e sua aquisição)
são matérias cuja regulação parece já assegurada. Os fluxos de informação, desde a prescrição até à
conferência de facturas, suscitam algumas questões quanto ao controlo interno, por não resultar
totalmente claro, qual a validação utilizada nos procedimentos de conferência de facturação e pagamento
nesta área. Assim, a auditoria desencadeada pela ACSS para verificação do processo de aquisição de
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CRD pelas entidades responsáveis, poderá não só trazer informação adicional sobre a matéria para
fundamentar futuras decisões quanto à forma de aquisição destes cuidados, como contribuir com
propostas de melhoria relevantes a integrar no processo.
O controlo da prescrição, conforme já referido, só é possível com a monitorização e a avaliação
sistemática do cumprimento das normas de prescrição de CRD, o que pressupõe o desenvolvimento de
metodologias de monitorização e controlo do uso continuado das terapêuticas respiratórias domiciliárias
por parte dos utentes e, portanto, a adesão aos CRD tem que ser francamente mais valorizada do que se
verifica actualmente.
Os CRD não se podem confinar à disponibilização de equipamentos e serviços. Um bom investimento
num sistema de promoção da saúde respiratória contribuirá, certamente, para a diminuição do consumo
de medicamentos, consultas médicas e hospitalizações, promovendo uma melhor qualidade de vida e
integração familiar e social dos doentes. Consequentemente, torna-se indispensável e inadiável a
necessidade de criar uma verdadeira rede de prestação de CRD que coloque o doente e a sua família no
centro, dando-lhes poder, autonomia e informação numa perspectiva de responsabilidade partilhada para
a adopção de um papel mais activo, esclarecido e participativo na gestão da sua doença.