vÉritas mouseion - xv encontro regional de história · linguagem e do design da exposição...

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VÉRITAS MOUSEION – ESTUDO ACERCA DA MUSEOGRAFIA Sendy Santos Matos Graduanda em Museologia pela UFS/ Bolsista PIBITI-FAPITEC-SE [email protected] Orientadora: Dra. Janaína Cardoso de Mello Professora do Núcleo de Museologia e do Mestrado em Arqueologia da UFS [email protected] 1. Introdução Em 2007 a Universidade Federal de Sergipe implantou na cidade de Laranjeiras (SE) o Curso de graduação em Museologia. Desde então se notou a dificuldade dos estudantes em encontrar materiais sistematizados relacionados à sua área de formação, sendo assim, através de pesquisas de anterioridade tecnológica realizadas pela Drª Janaína Cardoso de Mello (NMS/PROARQ) constatou-se a inexistência de um suporte computacional no formato de um dicionário eletrônico terminológico que auxilie os estudantes, profissionais da Museologia e áreas afins. Daí surgiu à idéia da elaboração de um produto de inovação tecnológica capaz de facilitar o contato com a linguagem das instituições com perfil museal, bem como nas universidades, possibilitando o acesso para atualização continuada: o “Véritas Mouseion Dicionário Eletrônico de Termos Museológicos”. A construção do corpus terminológico será realizada através da seleção/extração de um vocabulário museológico integrante das áreas do Projeto Pedagógico do Curso de Bacharelado em Museologia da UFS 1 , definido pelo diagrama abaixo: 1 O PP do bacharelado em Museologia da UFS, foi elaborado entre 2010 e 2011 com base no Referencial da Rede de Professores de Museologia e comparação dos projetos pedagógicos e fluxogramas das graduações em Museologia no país, norteando-se pelos projetos da UniRio e na UFBA, os mais antigos formadores de museólogos no Brasil, sendo aprovado pelo CONEPE-UFS em 2011 para implantação pelo DAA-UFS em 2012- 1.

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VÉRITAS MOUSEION – ESTUDO ACERCA DA MUSEOGRAFIA

Sendy Santos Matos Graduanda em Museologia pela UFS/ Bolsista PIBITI-FAPITEC-SE

[email protected]

Orientadora: Dra. Janaína Cardoso de Mello Professora do Núcleo de Museologia e do Mestrado em Arqueologia da UFS

[email protected]

1. Introdução

Em 2007 a Universidade Federal de Sergipe implantou na cidade de Laranjeiras (SE) o

Curso de graduação em Museologia. Desde então se notou a dificuldade dos estudantes em

encontrar materiais sistematizados relacionados à sua área de formação, sendo assim, através

de pesquisas de anterioridade tecnológica realizadas pela Drª Janaína Cardoso de Mello

(NMS/PROARQ) constatou-se a inexistência de um suporte computacional no formato de um

dicionário eletrônico terminológico que auxilie os estudantes, profissionais da Museologia e

áreas afins.

Daí surgiu à idéia da elaboração de um produto de inovação tecnológica capaz de

facilitar o contato com a linguagem das instituições com perfil museal, bem como nas

universidades, possibilitando o acesso para atualização continuada: o “Véritas Mouseion –

Dicionário Eletrônico de Termos Museológicos”.

A construção do corpus terminológico será realizada através da seleção/extração de

um vocabulário museológico integrante das áreas do Projeto Pedagógico do Curso de

Bacharelado em Museologia da UFS1, definido pelo diagrama abaixo:

1 O PP do bacharelado em Museologia da UFS, foi elaborado entre 2010 e 2011 com base no Referencial da Rede de Professores de Museologia e comparação dos projetos pedagógicos e fluxogramas das graduações em Museologia no país, norteando-se pelos projetos da UniRio e na UFBA, os mais antigos formadores de museólogos no Brasil, sendo aprovado pelo CONEPE-UFS em 2011 para implantação pelo DAA-UFS em 2012-1.

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A estrutura seguirá a metodologia de aplicação dos tesauros tendo como base a

hierarquia de assuntos configurados em uma relação associativa e não de simples palavras

isoladas, conceituadas em ordem alfabética. Desse modo, a ênfase do dicionário estará em

palavras cujo significado tenha um sentido integrador, de fácil reconhecimento e uso.

Será considerada ainda a freqüência de uso dos termos, a ordem alfabética dentro dos

parâmetros de associação, a atualização ortográfica, a inclusão de siglas e abreviaturas, os

homônimos, as palavras compostas, os subverbetes, os estrangeirismos e os regionalismos.

Nesse artigo, trataremos especificamente de situar o leitor na área da “Museografia”

que compreende o conjunto de conhecimentos e termos da Expologia, Expografia, Gestão

Museológica e Administração de Coleções, Ética em Museologia e Objetos e Coleções,

centrando um estudo de caso mais aproximado na parte referente à “Expografia”, uma vez que

a pesquisa encontra-se em seu início.

2. Museografia

A Museografia é responsável pela organização do espaço museal que vai desde a

climatização do local até a salvaguarda do acervo. De acordo com Marília Xavier Cury

(2008): “a museografia abrange toda a práxis da instituição museu, compreendendo

administração, avaliação e parte do processo curatorial (aquisição, salvaguarda

ecomunicação)”.

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Segundo Francisca Hernandés (2001), os estudos do aspecto técnico da Museografia,

ou seja: a instalação das colecções, a arquitectura, a climatologia do edifício administrativo, e

assim por diante constituem-se como uma atividade essencialmente técnica e prática.

Sob esse aspecto o museu é identificado como um sistema orgânico com um conjunto

de procedimentos metodológicos, infra-estrutura, recursos humanos e materiais, técnicas,

tecnologias, políticas, informações, procedimentos e experiências necessárias para o

desenvolvimento de processos museais que interagem e agregam valor ao patrimônio cultural.

O Curador é o profissional responsável pela execução da Museografia. Apesar de que

ainda hoje existem diferentes concepções em algumas regiões sobre o que é ser Curador. Para

Ulpiano Bezerra de Menezes curadoria significa:

[...] o ciclo completo de atividades relativas ao acervo, compreendendo a execução e/ou orientação científica das seguintes tarefas: formação e desenvolvimento de coleções, conservação física das coleções, o que implica soluções pertinentes de armazenamento e eventuais medidas de manutenção e restauração; estudo científico e documentação; comunicação e informação, que deve abranger de forma mais aberta possível, todos os tipos de acesso, apresentação e circulação do patrimônio constituído e dos conhecimentos produzidos, para fins científicos, de formação profissional ou de caráter educacional genérico e cultural (exposições permanentes (sic) e temporárias, publicações, reproduções, experiências pedagógicas, etc.) (apud CURY, 2010, p.274)

A Curadoria elabora o dia-a-dia do processo Museológico, tendo como auxiliares

fundamentais a Expologia e Expografia (HAINARD, 2007). Seu objetivo principal é fazer

com que o público visitante sinta-se a vontade ao visitar uma instituição museal. Segundo

Elisa Guimarães Ennes (2003, p.7): “as exposições têm o enfoque na comunicação do

conteúdo e nos mecanismos de informação para ampliação do espaço de troca e possível

interação do visitante com o espetáculo museológico”. Nesse contexto, alguns termos

dialógicos que estão sempre presentes no cotidiano museográfico são:

EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR

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EXPOSIÇÃO Interação = encontro = dialógica

Fonte: CURY, 2008, p.17.

O ato de musealizar compreende a seleção de um objeto, valorizando-o, por meio da

retirada de seu circuito original (ou in situ) conformando-o à um padrão de

institucionalização, e assim transformando-os em vetor de conhecimento e de comunicação

para um público mais amplo (CURY, 2005, p. 52).

Nas exposições a narrativa atua como um ativador cultural na forma monológica, mas

redimensionando-se para uma interação capaz de estabelecer uma troca de experiências e

intersubjetividade agradável aos usuários e profissionais de museus. Sua organização busca

tornar visível uma ordem não explícita das coisas e se realiza quando a linguagem se

entrecruza com o espaço. Por isso, o objeto descontextualizado (retirado de um meio ou

funcionalidade) necessita de introdução em um contexto, sendo possível assim, ampliar suas

significações para torná-lo inteligível ao público visitante (ENNES, 2003, p.7).

3. Expografia

As exposições são montadas a partir do desejo de comunicar uma idéia, um tema, um

conjunto de artefatos, uma coleção inusitada, parte da obra de um artista, um recorte

conceitual sobre determinado acervo museológico, enfim, abrange ações de selecionar,

pesquisar, documentar, organizar, exibir e difundir. Assim:

a Expografia é a área da Museografia que se ocupa da definição da linguagem e do design da exposição museológica, englobando a criação de circuitos, suportes expositivos, recursos multimeios e projeto gráfico, incluindo programação visual, diagramação de textos explicativos, imagens, legendas, além de outros recursos comunicacionais (FRANCO, 2008, p.61).

Sob esse aspecto a Museografia congrega a Expologia e a Cenografia como

pressupostos essenciais do discurso expositivo:

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Fonte: FRANCO, 2008, p.62.

Desse modo, a montagem de uma exposição implica definir a metodologia, pensar o

processo de gestão, elaborar o planejamento, organizar o cronograma, captar recursos

financeiros e promover a avaliação. Sendo os profissionais responsáveis pela elaboração e

montagem da exposição: o Curador, o Arquiteto, o Designer Gráfico e o Coordenador/Gestor.

A distribuição de produtos gráficos como cartazes e folder, convite, propagandas em

redes sociais e material educativo são de extrema importância para que a exposição seja bem

sucedida. Seguindo-se então o diagrama abaixo:

Realização da Exposição

1- Evento Inaugural

2- Manutenção (obras, equipamentos, espaço)

3- Monitoramento das condições ambientais e de segurança.

4 – Organização e monitoramento dos eventos relacionados.

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Fonte: CURY, 2008.

O projeto expográfico deve levar em consideração a interface com a edificação, as

condições de segurança, o conhecimento antecipado do espaço expositivo, a identificação, a

criação e a definição de linguagens expositivas, a consonância de projetos e os discursos

complementares, o discurso da iluminação do ambiente, o dimensionamento e atuação das

equipes.

Imagem 1 – Exposição “No Rastro do Cangaço” no Memorial do Poder Judiciário do Estado de Sergipe (Aracaju)

Fonte: Foto Janaina C. Mello, Acervo GEMPS/CNPq (2011)

Na exposição “No rastro do Cangaço” organizada no Memorial do Poder Judiciário do

Estado de Sergipe (imag.1) aproveitou-se a estrutura da exposição anterior da Caixa Cultural

para que fossem plotadas as imagens (fotografias, xilogravuras), textos curtos e dessa

maneiras as janelas do Palácio Sílvio Roméro fossem ocultadas [mesmo que parcialmente]. A

iluminação conduzia o olhar do visitante e no piso de madeira corrida setas amarelas

indicavam o percurso.

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No que diz respeito aos termos museológicos que podem ser elencados dentro do

conjunto de discussões apresentadas até o momento encontram-se: expografia, curador,

expologia, cenografia, expositor, objeto descontextualizado, narrativa expositiva,

monitoramento guiado, dentre outros.

Pensando-se na diferenciação entre um dicionário léxicográfico da Língua Portuguesa,

cujas palavras são dispostas em ordem alfabética sem interligação de conjunto e sentido

temático, o dicionário eletrônico terminológico ao trabalhar eixos de compreensão orgânica

confere o entendimento do termo em sua ambiência de uso funcional. Assim, por exemplo a

palavra “expositor” é definida pelo Minidicionário Aurélio (2001, p.307) como: “Aquele que

expõe”, que pode identificar tanto um indivíduo que apresenta algo em público em qualquer

contexto. No caso dos museus, expositor (imag. 2) é um “mobiliário específico utilizado para

acondicionar objetos, fotografias, documentos, podendo ser confeccionado em madeira, aço,

ferro, vime, vidro, acrílico, concreto, de diversos tamanhos (altura x largura), possuindo ou

não iluminação interna”.

Imagem. 2 – Expositor no Memorial do Poder Judiciário do Estado de Sergipe (Aracaju)

Fonte: Foto Janaina C. Mello, Acervo GEMPS/CNPq (2011)

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Enquanto o expositor do Memorial do Poder Judiciário (imag. 2) apresenta uma

estética tradicional, o expositor destinado à exposição permanente sobre as obras urbanas da

prefeitura de Maringá – PR (imag. 3) apresenta um formato dinâmico e interativo, podendo

ser tocado, girado, manuseado e experimentado pelo visitante.

Imagem. 3 – Expositor interativo na Prefeitura de Maringá – PR

Fonte: Foto Janaina C. Mello, Acervo GEMPS/CNPq (2011)

4. Conclusão

O museu é um local de aprendizado, onde atitudes de dinamização e interação da

experiência cultural proporcionam a aquisição de conhecimentos de forma prazerosa.

Contudo, a comunicação de um museu depende da “Museografia” para a troca de informações

entre a instituição e o público. Assim, é necessário que os profissionais de uma instituição

museológica ao trabalhar com termos específicos da Museologia possam compreendê-los

dentro de um corpus de sentido coletivo.

A discussão buscou apresentar os papéis e técnicas em curso na Museografia e na

Expografia apontando para uma profunda interdependência entre os conceitos que mostram-se

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fluidos e intercambiantes. A criação de um dispositivo eletrônico, que suprirá as necessidades

de compreensão terminológica dos profissionais da Museologia e áreas afins, auxiliará no

desenvolvimento da interdisciplinaridade nas instituições museais, padronizando a linguagem

e tornando assim o trabalho mais eficiente.

5. Referências Bibliográficas

CURY, Marília Xavier . Novas perspectivas para a comunicação museológica e os desafios da pesquisa de recepção em museus. In: Seminário de Investigação em Museologia dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola, 2010, Porto. Actas do I Seminário de Investigação em Museologia dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola. Porto : Universidade do Porto, 2009. v. 1. pp. 269-279. ______. Oficina Expografia e Comunicação. 2008. [Slides em Powerpoint/ PDF, pp.1-31]. Disponível em: <www.unifal-mg.edu.br> (Acesso em: 10/11/2011) ENNES, Guimarães Elisa. A Narrativa na Exposição Museológica. [texto digitado apresentado à disciplina de Pós-graduação em Design – O lugar do narrativo na mídia visual: temporalidade paralela]. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-Rio, 2003. pp.1-9. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI: o minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. FRANCO, Maria Ignez Mantovani. Processos e métodos de planejamento e gerenciamento de exposições In: 3º Fórum Nacional de Museus. Planejamento e organização de exposições (Parte II). 2008 [Slides em Powerpoint/ PDF, pp.1-31]. Disponível em: <http://www.difusaocultural.ufrgs.br/admin/artigos/arquivos/Planejamentoeorganizacaodeexposicoes2.pdf> (Acesso em: 10/11/2011). HAINARD, J. “L’expologie bien tempérée”. Quaderns-e, nº 9, 2007a, Institut Català d’Antropologia. Disponível em: <http://www.antropologia.cat//antiga/quadernse/09/Hainard.htm> (Acesso: 09/11/2011). HERNANDÉS, F. Manual de Museología. Madrid: Editora Síntesis, 2001.