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Rev Esc Enferm USP2008; 42(1):181-6.

www.ee.usp.br/reeusp/ 181Classificação Internacional de Práticasde Enfermagem em Saúde Coletiva - CIPESC

Cubas MR, Egry EY

INTERNATIONAL CLASSIFICATION OF NURSING PRACTICESIN COLLECTIVE HEALTH – CIPESC

CLASIFICACIÓN DE LAS PRÁCTICAS DE ENFERMERÍA EN SALUD COLECTIVA - CIPESC

Marcia Regina Cubas1, Emiko Yoshikawa Egry2

RESUMENEl proyecto de Clasificación Internacionalde la Práctica de Enfermería en SaludColectiva – CIPESC

fue la contribuciónbrasileña para incorporar la noción delcolectivo en la Clasificación Internacionalde la Práctica de Enfermería CIPE. Elartículo tiene como objetivo analizar laproducción bibliográfica acerca de lasclasificaciones de enfermería en bases deinformaciones disponibles en la bibliotecavirtual en salud desde 1990. Se trata de unainvestigación bibliográfica acerca de lossistemas clasificatorios y es parte de unproyecto que pretende identificar la fazcolectiva del instrumento CIPESC utilizadoen la red municipal de salud de Curitiba,capital del estado de Paraná. La mayoríade los artículos referentes a los sistemasclasificatorios en general, son los que seasientan en el modelo clínico-individual,sendo una minoría los que se asientan enel modelo epidemiológico social. Aún, lamayoría de los estudios, con enfoque en elcolectivo están siendo divulgados por laspublicaciones de la Asociación Brasileña deEnfermería, volviéndola hegemónica en ladiseminación de los conocimientos a cercadel tema, en su faz colectiva.

DESCRIPTORESClasificación.Enfermería en salud pública.Enfermería en salud comunitaria.Diagnóstico de enfermería.Investigación en enfermería.

ABSTRACTThe project International Classification ofthe Nursing Practices in Collective Health– CIPESC was the Brazilian contributionfor the incorporation of the notion ofcollectiveness in the InternationalClassification of Nursing Practice – ICNP.This article aims at analyzing thebibliographical production concerningnursing classifications available in thevirtual library in health database since1990. This is a bibliographical survey ofnursing practice classification systems andis part of a larger research that intends toidentify the collective face of the CIPESC®

instrument in the municipal healthnetwork of the city of Curitiba, in the Stateof Paraná. The result shows that themajority of the texts are based on theclinical-individual model, and those thatemphasize the social-epidemiologicmodel are still a minority. In addition, moststudies focused on the collective weredisseminated through the publications ofthe Brazilian Nursing Association, whichhas the hegemony in the diffusion of theknowledge about the collective face ofclassification systems.

KEY WORDSClassification.Public health nursing.Community health nursing.Nursing diagnosis.Nursing research.

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Classificação Internacional de Práticas deEnfermagem em Saúde Coletiva - CIPESC

Recebido: 30/05/2006Aprovado: 02/01/2007

RESUMOO projeto da Classificação Internacional daPrática de Enfermagem em Saúde Coletiva– CIPESC

foi a contribuição brasileira paraincorporar a noção do coletivo naClassificação Internacional da Prática deEnfermagem CIPE. O artigo tem comoobjetivo analisar a produção bibliográficaacerca das classificações de enfermagem,disponíveis na base de dados da bibliotecavirtual em saúde, a partir de 1990. Trata-sede uma pesquisa bibliográfica sobre ossistemas classificatórios das práticas deenfermagem, e que faz parte de umapesquisa que pretende identificar a facecoletiva do instrumento CIPESC na redemunicipal de saúde de Curitiba-PR. Cons-tatou-se que, referente aos sistemasclassificatórios em geral, a maioria dostextos acessados baseia-se no modelo clí-nico-individual e os que enfatizam o mode-lo epidemiológico e social ainda é minoria.Além disso, a maioria dos estudos, comenfoque no coletivo, é divulgada pelaspublicações da Associação Brasileira deEnfermagem, tornando-a hegemônica nadisseminação dos conhecimentos acercado tema, em sua face coletiva.

DESCRITORESClassificação.Enfermagem em saúde pública.Enfermagem em saúde comunitária.Diagnóstico de enfermagem.Pesquisa em enfermagem.

1 Enfermeira. Mestre em Saúde Pública. Doutoranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo (EEUSP). ProfessoraAssistente da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba, PR, Brasil. [email protected] 2 Enfermeira. Professora Titular do Departamento deEnfermagem em Saúde Coletiva, Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo (EEUSP). São Paulo, SP, Brasil. [email protected]

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INTRODUÇÃO

Diante da constatação de que os sistemas de classifi-cação de enfermagem utilizados mundialmente evidenci-avam um direcionamento à área hospitalar, o ConselhoInternacional de Enfermeiros – CIE, decidiu orientar umprojeto internacional voltado para a extra-internação. AAssociação Brasileira de Enfermagem – ABEn assumiu ocompromisso de desenvolver o projeto no País e, em 1996,promoveu a primeira oficina de trabalho que deu origemao projeto Classificação Internacional de Práticas de En-fermagem em Saúde Coletiva - CIPESC, contribuição brasi-leira à Classificação Internacional de Práticas de Enfer-magem -CIPE(1).

O referido projeto ancorava-se nos princípios do SUS– Sistema Único de Saúde e seus propósitos centrais eram:

Estabelecer mecanismos de cooperação para a classifi-cação da prática de enfermagem em saúde coletiva noPaís; Revistar as práticas de enfermagem em saúde cole-tiva no País, contextualizadas no processo de produçãoem saúde, diante da implantação do Sistema Único deSaúde; Construir um sistema de informação das práticasde enfermagem em saúde coletiva que permitam a suaclassificação, troca de experiências e interlocução nosníveis nacional e internacional(1).

O referencial teórico-metodológico do projeto expli-citava a necessidade do repensar crítico acerca do pro-cesso de trabalho da enfermagem brasileira em seus ele-mentos constitutivos: objeto, finalidade e instrumentos/meios, articulados dialeticamente. Articulação esta quese realiza

mergulhada no saber-ideológico que rege o processo detrabalho, ou seja, teleologicamente posto pelas políticasque regulam a produção em saúde de dada época e dedada sociedade(2).

Sendo assim, a Classificação das Práticas de Enfer-magem é entendida como uma totalidade-parte do traba-lho da enfermagem e deve também ser aproximada, emsua concepção teórico-conceitual, pela totalidade-partedo processo de produção em saúde em suas diferentesdimensões(2).

Em 1998, já havia um resultado do projeto CIPESC aser compartilhado e que permitiu novas leituras e análi-ses, propiciando então, a geração do CIPESC - ABEn fase2(3) com o intuito de dar continuidade e contribuir para aefetiva aplicação dos resultados da primeira fase.

Em face desta possibilidade, em 2001, a ABEn SeçãoParaná apresentou uma tese na VI Conferência Municipalde Saúde (2001) de Curitiba-PR, aprovada na suaintegralidade, propondo a construção da Rede de Aten-ção Contínua de Enfermagem no Sistema Integrado de Ser-viços de Saúde com estratégias voltadas para: a) inclu-são de todas as atividades desempenhadas pelo profissi-onal Enfermeiro no relatório de produtividade; b) criação

de um campo específico para o registro da Enfermagemno prontuário eletrônico único do paciente; c) estabeleci-mento de parcerias com instituições de ensino paracapacitação da força de trabalho; e d) consulta de Enfer-magem integrada às programações locais(4). Neste mes-mo ano, impulsionado pela necessidade de adensar osconhecimentos acerca dos marcos teóricos das práticasde enfermagem, ocorreu um movimento de revisão daspráticas instituídas, antecedendo a sua inclusão no pron-tuário eletrônico. Esta revisão realizada à luz de novosparadigmas, possibilitou a implantação da CIPE/CIPESC

no sistema informatizado da Secretaria Municipal da Saú-de de Curitiba – SMS(5).

Nos últimos três anos, uma equipe de trabalho consti-tuída de um grupo condutor com seis enfermeiros, um gran-de grupo de trabalho com cerca de cinqüenta enfermeirose a assessoria da ABEn – nacional, dedicou-se ao estudo eà implantação dos elementos da prática de enfermagemno prontuário eletrônico da SMS de Curitiba, Paraná. Emjunho de 2004 foi oficializada a implantação municipalda CIPESC iniciando-se na área da Saúde da Mulher, em2005 incorporou a de Saúde da Criança e, em 2006, apósum movimento contínuo de avaliação, implementará anomenclatura com entrada pelas Necessidades HumanasBásicas(6).

É neste cenário de implementação que surgem as ques-tões desta revisão: como está o estado da arte do conheci-mento acerca da classificação das práticas de enferma-gem em saúde coletiva? Há experiências no Brasil quetenham desdobrado o projeto CIPESC?

Do ponto de vista do materialismo histórico e dialético,os sistemas de classificação podem ser vistos como mei-os ou instrumentos do processo de trabalho de enfermei-ro. Nesta perspectiva, os meios são distinguidos em: a)meios de sentido estrito que são os que servem de inter-mediário entre o trabalhador e o objeto e b) meios desentido amplo que agregam todas as condições que sãoindispensáveis à realização do processo de transforma-ção. Sendo o primeiro o mais significativo, pois revela otipo de trabalho a ser realizado, conseqüentemente o tipode relação entre o trabalhador e os meios de produção(7).

CIPESC pode ser pensada enquanto instrumento do pro-cesso de trabalho assistencial do enfermeiro, mas não só.Ela possibilita visibilizar as estruturas maiores que orga-nizam o trabalho da enfermagem, ao mesmo tempo, podemse tornar um poderoso instrumento potencializador da ava-liação processual dos resultados, benefícios e impactosda ação da enfermagem. Não sendo um mero sistema infle-xível no qual a realidade precisa se amoldar à teoriaclassificatória, ela permite a captura dos padrões diferen-ciados de práticas de enfermagem, que no nosso País seencontram multifacetadas e realizados por multiagentes.Assim pensado, a CIPESC é um potente instrumento de tra-balho do enfermeiro em saúde coletiva, tanto do ponto devista assistencial, quanto de gerência e de investigação.

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7,02

14,0415,79

29,82

33,33

0

5

10

15

20

25

30

35

levantamento

bibliográfico

relato de

experiência

artigo de

reflexão

pesquisa pesquisa

decorrente de

dissertação

ou tese

Trata-se neste artigo de conhecer e analisar a produ-ção científica acerca das classificações de enfermagem,em especial a produção referenciada a CIPESC em basesde dados disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde.

MÉTODO

Utilizou-se pesquisa bibliográfica nas bases de dadosdisponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde, realizada em2005 e estabeleceu-se o recorte de tempo das publicaçõesde 1990 a 2005, por ser o período em que surgiram aspublicações acerca dos sistemas classificatórios das prá-ticas de enfermagem em saúde coletiva. O método foi le-vantamento e revisão das literaturas especializadas maisimportantes publicadas a respeito do tema(8), que foramorganizadas de acordo com o tipo de sistema classifi-catório estudado, a face do objeto da assistência (indivi-dual ou coletivo) e o cenário de aplicação (intra ou extra-internação). Foram utilizados os seguintes descritores:Sistematização and saúde pública; Sistematização and

classificação and enfermagem; Sistematização or classi-ficação and enfermagem; CIPESC; Diagnóstico and enfer-magem. Após busca inicial, o material foi organizado deforma a excluir textos que não se referiam à enfermagem.

Ao acessar os textos nas bases de dados, também fo-ram excluídos os que se repetiam em diferentes descritorese nos distintos bancos. Em relação aos descritores: siste-

matização or classificação and enfermagem e diagnóstico

and enfermagem verificou-se que as Bases de Dados daEnfermagem - BDENF continham todas as referências en-contradas nas bases Lilacs, Adolec e Medline e, para nãohaver repetições serão citadas apenas na coluna do BDENF.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A busca dos artigos nas bases de dados através dosdescritores selecionados resultou em 179 textos divulga-dos, sendo que a maioria encontrava-se alojado no BDENFe dentro do descritor sistematização or classificação and

enfermagem, conforme pode-se verificar na Tabela 1.

Tabela 1Tabela 1Tabela 1Tabela 1Tabela 1 - Distribuição dos artigos referentes à classificação em enfermagem constantes nas bases de dados, de

acordo com os descritores, Biblioteca Regional de Medicina (BIREME) -São Paulo - 2005

Figura 1Figura 1Figura 1Figura 1Figura 1 - Distribuição das publicações referentes à classificação em enfermagem encontradas na Bireme, segundo o

tipo de pesquisa, Biblioteca Regional de Medicina (BIREME) – São Paulo -2005

A combinação de descritores sistematização e saúde

pública não foi encontrada nas bases consultadas, todasas demais combinações de descritores apareceram empelo menos uma das bases.

A Figura 1 apresenta a distribuição percentual daspublicações conforme o tipo de pesquisa, que foi feitasegundo a classificação indicada no periódico em que foi

publicado. Além disso, os artigos resultantes de disserta-ções ou teses foram classificados à parte das outras pes-quisas que não eram oriundas de trabalhos de pós-gra-duação. Ressalta-se que as produções científicas tipifi-cadas como pesquisa, quer seja derivada ou não de tesesou dissertações, representaram a maioria (63,15%) dosestudos encontrados nas bases de dados.

Base de dadosDescritores

Lilacs Medline Adolec BDENF OPAS Total

Sistematização and saúde pública - - - - - - - - - - - -

Sistematização and classificação

and enfermagem

27 22 2 7 1 59

Sistematização or classificação and enfermagem -- -- -- 73 -- 73

Cipesc 5 5 - - - - 1 11

Diagnóstico and enfermagem -- -- -- 36 -- 36

Total geral 32 27 2 116 2 179

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Estudos sobre a sistematização dos cuidados de enfer-magem nas diferentes fases do ciclo de vida do indivíduosomados aos relativos à sistematização dos cuidados deenfermagem a grupo de indivíduos portadores de doençascrônico-degenerativas representaram 25% dos objetosde estudo. A CIPESC foi objeto de estudo em menos de10% das publicações encontradas. Os estudos que reali-zam validações de diagnósticos e de termos representa-ram 13,84% das pesquisas que se relacionavam diretamentea sistemas classificatórios – NANDA e CIPE /CIPESC.

A análise das fontes referenciadas na busca sobre sis-

tematização e classificação e enfermagem, permitiu verifi-car o reflexo do modelo hegemônico assistencial: a maio-ria estava relacionada à área hospitalar e com a inserçãoda tecnologia, ou seja, estudos que se dizem respeito aouso de ferramentas computacionais. A classificaçãoNANDA - North American Nursing Diagnosis Association,apareceu em grande parte dos trabalhos, inclusive nasteses, bem como sua relação com CID-10 – ClassificaçãoInternacional das Doenças. A CIPESC aparece apenas emtrês: uma tese usando o material produzido pelo primeiroprojeto da ABEn recortada no tema processo de trabalhogerencial e dois artigos que discutem a adaptaçãotranscultural da CIPE e CIPESC, estas mesmas publica-ções estão também disponibilizadas na busca do descritorcipesc.

Uma das publicações que pesquisou a percepção dosenfermeiros hospitalares quanto à necessidade de regis-tro da enfermagem, revelou um conhecimento incipientesobre os sistemas de informação, bem como o pouco de-sejo de utilizar um sistema de classificação em todas asfases do processo de enfermagem(9). Essa pequena impor-tância dada ao assunto, poderá perpetuar as dificulda-des na construção do saber da enfermagem, devido àsinconsistências conceituais, termos vagos e ambíguos nadenominação das ações e dos fenômenos que envolvem aprofissão(10).

Um resumo publicado no Reino Unido chamou a aten-ção pelo fato do autor apontar para a importância dainclusão, nos sistemas classificatórios, de termos quecontenham a cultura própria das enfermeiras britâni-cas(11), concluindo que uma boa classificação internacio-nal deverá prever as diferentes inserções do cuidado nasdistintas sociedades.

Nos setenta e três resultados encontrados sob osdescritores sistematização ou classificação e enfermagem

foram realçados quarenta e dois textos que versavam so-bre o atendimento do enfermeiro na saúde coletiva ouclassificações de diagnóstico e dentre eles não houve ne-nhum referente à CIPESC e três estudos utilizaram ataxonomia NANDA. O que se observou é que a assistên-cia de enfermagem está direcionada, mesmo na saúdecoletiva, à sistematização do atendimento individual, vol-tada à atenção a grupos prioritários com o enfoque derisco biológico: hipertensos, diabéticos, crianças em cre-

ches, entre outros. Confirma isto o estudo sobre a pesqui-sa nacional da CIPESC, quando mesmo em se tratando deobjetos grupais ou coletivos, estes se encontram submeti-dos a recortes cronológicos, por patologias ou lugaresnos quais se dão a assistência, a exemplo de creches,escolas, entre outros(4).

Nas referências sobre a cipesc observou-se que o pro-duto do trabalho da ABEn ainda não alcançou a plenitudede suas possibilidades. As referências têm como base omaterial produzido pelo grupo de pesquisadores do pro-jeto CIPESC de 1996 a 2000, disponíveis na Série Didática:

Enfermagem no SUS (www.abennacional.org.br) e em arti-gos que se referem a estes trabalhos, ou seja, há muito aser pesquisado e escrito sobre a experiência.

As publicações da Série Didática não constam na suatotalidade neste descritor, sendo parte delas acessadasnos outros descritores. Ressalte-se que, apenas um den-tre os dezesseis cenários estudados pelo primeiro projetoCIPESC – o de Porto Alegre(12) - encontra-se publicado emperiódico indexado, tornando os demais invisíveis às bus-cas através do descritor cipesc. Se os pesquisadores nãobuscarem diretamente na base de publicações da Associ-ação Brasileira de Enfermagem, a imensa produção dapesquisa CIPESC realizada pela ABEn permanecerá escon-dida, pois elas não se encontram nas bases correntes dedados. Torna-se importante, pois, repensar nestas formasde disseminação das produções científicas.

Por fim a busca de informações em bases dos dadosatravés dos descritores diagnóstico e enfermagem resul-tou na seleção de 36 referências. A autora de um dos tex-tos escolhidos compreendia a taxonomia de diagnósticoe prescrição como instrumentos de trabalho do enfermei-ro e conseqüentemente com possibilidade de maior defi-nição do objeto de trabalho da enfermagem(13), um outrotexto estudou a relação entre o diagnóstico e os elemen-tos do processo de trabalho do enfermeiro(14), porém am-bos direcionados a área hospitalar e ao atendimento clí-nico e individualizado. Novamente não houve citação daCIPESC, tendo sido a taxonomia NANDA a preponderan-te em todas as publicações.

Nesta busca, dois estudos contribuíram para o resgatehistórico dos sistemas de classificação: um deles, demons-trou a evolução do movimento das definições que preten-dem explicar o diagnóstico de enfermagem(15), e o segun-do, que apresentou os diagnósticos como um desafio paraos anos 1990(16).

Os resultados apresentados nas das publicações, aomenos em parte delas, buscam orientar linhas de condu-tas sistematizadas para o cuidado de enfermagem, vincu-ladas ao uso de algum tipo de sistema de classificação.Observa-se que em cerca de 25% das divulgações, os au-tores apontam para a importância de sistemas de classi-ficação como subsídio ao cuidado de enfermagem, assimcomo para a importância da sistematização da assistên-cia ligada ao modelo assistencial.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca de informações nas bases de dados pode pa-recer uma tarefa solitária. No entanto, as sucessivas apro-ximações ao objeto recortado e as leituras decorrentesdesta busca ajudam a inserir o pesquisador num mundode questionamentos acerca deste mesmo objeto. Nesteponto é tarefa coletiva, descobrem-se lacunas, consistênci-

as e inconsistências na literatura(7) e desvela-se possibili-dades de intervenções na prática.

Em relação ao objeto recortado, ou seja a CIPESC,como instrumento do processo de trabalho do enfermeiroem saúde coletiva – muito se tem a descobrir e pesquisar.Os artigos encontrados estão voltados mais ao modelohegemônico clínico-individual, sendo que a face coletivaainda é pouco estudada, principalmente no âmbito dossistemas classificatórios. Para impacto no coletivo, en-tretanto, faz-se necessária a mudança de paradigmas,buscando a interpretação do processo saúde-doença ar-ticulado com os seus determinantes e com as necessida-des sociais, indo além do modelo voltado para as neces-sidades humanas básicas e intervenções sobre os valo-res vitais, biológicos e psicológicos, resultando numa for-ma de assistir cada vez mais totalizadora(17).

Os resultados apontam para a grande contribuição daABEn na divulgação dos conhecimentos acerca da classi-

ficação das práticas de enfermagem no âmbito da saúdecoletiva, tendo sido o mais importante veículo dissemi-nador da produção acerca do tema. Entretanto, isto nãose expressa nas bases de dados mais amplos, ou seja, osleitores e pesquisadores que não conhecem a contribui-ção específica da ABEn no Projeto CIPESC e não conhecemo site da Associação, dificilmente conseguirão ter idéiada totalidade desta importante produção.

No intuito de buscar não deixar hiato entre o conheci-

mento necessário para intervenção e o conhecimento que se

possui... (18), certamente há que mostrar a produção da ABEnno conjunto, composta por oito publicações disponibi-lizadas no site www.abennacional.org.br.

Além disso, há outros relatos importantes, tais comoas teses e dissertações produzidas na Escola de Enferma-gem da USP e na Universidade Federal do Paraná decor-rentes dos estudos da CIPESC que ainda não são encon-trados em bases de dados. Mais recentemente, uma expe-riência nacional que visa sistematizar as práticas da en-fermagem no âmbito da extra-internação foi retratada noartigo Avaliação da implantação do CIPESC em Curitiba(19)

em que autoras referem os sistemas de classificação daspráticas como projetos emancipatórios da profissão, poispossibilitam visibilizar as práticas da enfermagem, refle-tir sobre o cotidiano do cuidado, quer na face individual,quer na do coletivo.

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Correspondência: Márcia Regina CubasRua Arthur Leining, 561CEP 80810-300 - Curitiba, PR, Brasil