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0 CÍNTIA FREY A DIFERENÇA ENTRE O PERFIL DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO DE JOVENS E ADULTOS E DO ENSINO FUNDAMENTAL/MÉDIO REGULAR CANOAS, 2012

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CÍNTIA FREY

A DIFERENÇA ENTRE O PERFIL DE PROFESSORES DE MATEMÁ TICA DO

ENSINO DE JOVENS E ADULTOS E DO ENSINO FUNDAMENTAL/ MÉDIO

REGULAR

CANOAS, 2012

1

CÍNTIA FREY

A DIFERENÇA ENTRE O PERFIL DE PROFESSORES DE MATEMÁ TICA DO

ENSINO DE JOVENS E ADULTOS E DO ENSINO FUNDAMENTAL/ MÉDIO

REGULAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Matemática do Centro Universitário La Salle – UNILASALLE, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Matemática.

Orientação, Prof.ª Mª Rute Henrique da Silva Ferreira.

CANOAS, 2012.

2

CÍNTIA FREY

A DIFERENÇA ENTRE O PERFIL DE PROFESSORES DE MATEMÁ TICA DO

ENSINO DE JOVENS E ADULTOS E DO ENSINO FUNDAMENTAL/ MÉDIO

REGULAR

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Licenciatura do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para obtenção de grau.

Aprovado pelo avaliador em 12 de dezembro de 2012.

_____________________________________________________________ Prof.ª Mª Rute Henrique da Silva Ferreira

3

Aos meus pais, Carlos e

Angela, grandes incentivadores. “A sabedoria não nos é dada. É

preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós.”

Marcel Proust

4

AGRADECIMENTOS

Ao apoio incondicional de meus pais, Carlos e Angela, de meus irmãos Ismael

e Lucas, e minha cunhada Michele, incentivadores durante toda minha trajetória.

Ao Juliano, pela compreensão e companheirismo durante a construção deste

trabalho.

Aos mestres, em especial a Prof.ª Mª. Rute Henrique da Silva Ferreira, que

oportunizaram a complementação de meu conhecimento, incentivando o

pensamento investigatório pela educação matemática.

Aos meus colegas e amigos, que aprenderam junto comigo e tornaram os

estudos alegres e divertidos, deixando momentos inesquecíveis.

Ao Centro Universitário La Salle, por oferecer ótimas instalações e ser a casa

de meus estudos.

Enfim, agradeço a todos que de uma forma ou outra contribuíram para o

enriquecimento de minha formação e terem sido coadjuvantes desta conquista tão

sonhada.

5

RESUMO

Esta pesquisa é um estudo de caso que busca esclarecer por que após o processo

de formação, os professores optam por lecionar em diferentes modalidades da

educação básica, bem como procura identificar seus perfis, verificando suas

possíveis diferenças. Tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio, os

conteúdos a serem abordados são definidos através de resoluções e leis e os

professores destas áreas desenvolvem metodologias para a abordagem dos

conteúdos necessários. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade

de ensino que disponibiliza a quem não obteve acesso ao ensino na idade

apropriada, a oportunidade da conclusão da educação básica, tanto do ensino

fundamental quanto do ensino médio. Conforme os Parâmetros Curriculares

Nacionais, os conteúdos necessários para o ensino fundamental e médio regular são

os mesmos utilizados na EJA, porém os perfis dos estudantes são diferentes, o que

necessita de um modelo pedagógico próprio, consequentemente a preparação do

professor deve ser diferente e adaptada. Assim, os professores precisam preparar-

se para esta realidade e caso não tenham abordado essa temática durante a

graduação, essa preparação deve ser através de formação continuada e trocas de

experiências. Neste trabalho, a partir de uma reflexão sobre o processo de ensino e

aprendizagem de matemática à luz da teoria da aprendizagem significativa de

Ausubel, foram realizadas entrevistas com professores que atuam no ensino regular

e na EJA, a fim de traçar seus perfis.

Palavras-chave: Formação de professores. Educação básica. EJA.

6

ABSTRACT

This research is a case study that seeks to explain why after the training process,

teachers choose to teach in different types of basic education, and it also seeks to

identify their profiles, verifying their possible differences. Both in elementary school

and in high school, the contents to be addressed are defined by laws and resolutions

and teachers of these areas develop methodologies for addressing the necessary

contents. The Youth and Adult Education (EJA) is a teaching modality that provides

access to those who received no education at an appropriate age, the chance to

finish basic education, both elementary school and high school. According to the

National Curriculum Parameters, the contents needed for the regular elementary and

high schools are the same used in EJA, but the student’s profiles are different, which

requires a pedagogical model of itself. Therefore the teacher preparation should be

different and adapted. Thus, teachers need to prepare for this reality and if they have

not addressed this issue during graduation, this preparation should be continued

through training and exchange of experiences. Based on a reflection on the teaching

and learning of mathematics in light of Ausubel’s Meaningful Learning Theory, this

paper presents interviews whichwere conducted with teachers that work in regular

education and in EJA in order to race their profiles.

Keywords: Teacher Training. Basic Education. EJA.

7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro1 – Questões que nortearam as entrevistas ........................................... 15

Gráfico 1 – Tempo de atuação e formação ......................................................... 34

Gráfico 2 – Realização de cursos de aperfeiçoamento........................................ 34

Gráfico 3 – Motivação para as aulas ................................................................... 35

Gráfico 4 – Tempo dedicado ao preparo das aulas ............................................ 37

Gráfico 5 – Percepção das diferenças nos níveis de ensino .............................. 38

Gráfico 6 – Motivo que levou a escolha do nível em que atua ............................ 39

8

LISTA DE SIGLAS

EJA Educação de Jovens e Adultos

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEB/CNE Câmara de Educação Básica / Conselho Nacional de Educação

CNE/CES Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior

CP/CNE Conselho Pleno / Conselho Nacional de Educação

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

DOU Diário Oficial da União

EAD Educação à Distância

ENCCEJA Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

PARFOR Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais.

PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio

SMEC Secretaria de Educação do Município de Canoas

9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11

2 METODOLOGIA .............................................................................................. 13

2.1 O Estudo de caso ........................................................................................ 13

2.2 Etapas da pesquisa ..................................................................................... 14

2.3 Coleta de dados ........................................................................................... 14

2.4 Análise dos dados ....................................................................................... 16

3 REFERÊNCIAL TEÓRICO .............................................................................. 17

3.1 A educação básica no Brasil ...................................................................... 17

3.1.1 Diretrizes Curriculares Nacionais ............................................................... 17

3.1.2 Parâmetros Curriculares Nacionais ............................................................ 18

3.2. O ensino fundamental regular .................................................................. 18

3.3 O ensino médio regular .............................................................................. 19

3.4 A Educação de Jovens e Adultos .............................................................. 19

3.5 Formação de professores .......................................................................... 21

3.5.1 A formação em licenciatura matemática .................................................... 22

3.5.2 Adaptação à Educação de Jovens e Adultos ............................................. 23

3.6 A Teoria de aprendizagem significativa de Ausub el ............................... 23

3.6.1 Definição da teoria ..................................................................................... 24

3.6.2 Tipos de aprendizagem significativa .......................................................... 25

3.6.3 Influência de Ausubel na análise das entrevistas ...................................... 25

4 A PESQUISA REALIZADA ............................................................................. 26

4.1 O perfil dos professores entrevistados .................................................... 26

4.1.1 O professor A ............................................................................................. 26

4.1.2 O professor B ............................................................................................. 27

4.1.3 O professor C ............................................................................................. 28

4.1.4 O professor D ............................................................................................. 29

4.1.5 O professor E ............................................................................................. 30

4.1.6 O professor F ............................................................................................. 32

4.2 Diferenças apresentadas entre EJA e ensino regu lar ............................. 33

4.2.1 Tempo de atuação e formação .................................................................. 33

4.2.2 Realização de cursos de aperfeiçoamento ................................................ 34

10

4.2.3 Motivação para as aulas ............................................................................ 35

4.2.4 Tempo dedicado ao preparo das aulas ..................................................... 36

4.2.5 Percepção das diferenças nos níveis de ensino ........................................ 37

4.2.6 Motivo que levou a escolha do nível em que atua ..................................... 39

5 CONCLUSÃO .................................................................................................. 40

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 43

11

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa busca o esclarecimento sobre os motivos que levam os

professores após o processo de formação a optarem por lecionar em diferentes

modalidades da educação básica além de procurar identificar seus perfis, verificando

suas possíveis diferenças. O foco dado à pesquisa é a importância da formação de

professores para adaptarem-se aos diversos níveis de ensino.

A partir de uma análise sobre as vivências ocorridas durante minha formação

no curso de Matemática através de estágios obrigatórios e trabalhos de pesquisa foi

possível observar os diversos níveis de ensino, principalmente em aulas de

Matemática e verificar que os professores empregam diversas metodologias e

seguem teorias como Paulo Freire, Piaget, Vygotsky, Ausubel entre outros. Devido a

todas as informações obtidas ao longo do curso, que enriqueceram a formação de

meu conhecimento, surgiram algumas dúvidas em relação à adaptação de

professores ao nível em que atuam.

Os sujeitos da pesquisa foram seis professores de Matemática da educação

básica com o objetivo de identificar suas metodologias e motivações utilizadas nos

níveis em que atuam.

Durante a realização deste trabalho consultamos as leis e resoluções do

governo e da secretaria de educação, para investigar quais as obrigações e deveres

das instituições de ensino em nível de graduação bem como nas escolas de

educação básica. Além disto, também foi pesquisado cada nível de ensino

fundamental e médio regular e ensino de jovens e adultos procurando organizar

todas as informações necessárias para averiguar o objeto de estudo.

A partir das considerações acima, formulamos a seguinte pergunta diretriz:

Qual a diferença entre o perfil dos professores de matemática do ensino de jovens e

adultos e do ensino fundamental/médio regular?

Para respondê-la, nosso trabalho está estruturado como segue:

a) No Capítulo 2, abordamos a metodologia a ser utilizada neste trabalho de

pesquisa: o estudo de caso, bem como colocamos as etapas que

passamos para responder nossa pergunta diretriz;

b) No Capítulo 3, descrevemos o referencial teórico com base na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/1996, nas Diretrizes Curriculares

12

Nacionais, nos Parâmetros Curriculares Nacionais e na Teoria de

Aprendizagem Significativa de Ausubel;

c) No Capítulo 4, apresentamos a descrição da pesquisa de campo, realizada

com seis professores de Matemática através de entrevistas;

d) No capítulo 5, apresentamos as conclusões a que chegamos ao longo do

trabalho, bem como sugestões para futuras investigações.

Esperamos que nosso trabalho possa contribuir para a escolha dos

professores, após seu processo de formação, nos diferentes níveis da educação

básica, seja o ensino regular ou a educação de jovens e adultos além de auxiliar nas

adaptações necessárias aos alunos destes níveis.

13

2 METODOLOGIA

Este trabalho busca esclarecer por que após o processo de formação os

professores optam por lecionar em diferentes modalidades da educação básica, e

identificar seus perfis, verificando suas possíveis diferenças.

Com esse fim, formulamos a pergunta diretriz: existe diferença no perfil de

professores de matemática do ensino de jovens e adultos e do ensino

fundamental/médio regular?

A metodologia utilizada foi o estudo de caso, que descreveremos a seguir.

2.1 O Estudo de caso

O estudo de caso tem como principal objetivo investigar, através de pesquisas,

um determinado assunto, fato ou processo em si. Podemos dizer que o estudo de

caso é uma forma particular de estudo onde são utilizadas algumas técnicas de

coletas de dados como observação, entrevista, análise de documentos, gravações,

anotações de campo, sendo o conhecimento adquirido a definição do estudo, e não

as técnicas utilizadas (ANDRÉ, 2005).

Existem alguns tipos de estudos de caso, como intrínseco, instrumental e

coletivo (STAKE apud ANDRÉ, 2005). O estudo intrísenco, visa a pesquisa baseado

no assunto em si, ou seja, quando o pesquisador tem interesse em um determinado

caso particular. O estudo instrumental, baseia-se em uma situação onde o

pesquisador deseja esclarecer determinado assunto através de um meio. E o estudo

coletivo busca respostas em mais de um caso, como por exemplo pesquisas

realizadas em várias escolas.Esta pesquisa aborda o estudo de caso intrínseco.

O estudo de caso também pode ser dividido, conforme Stenhouse (apud

ANDRÉ, 2005, p. 21-22), em quatro grandes grupos: a) etnográfico: estuda a

compreenção dos sujeitos da pesquisa e possibilita a oferta de explicações sobre

padrões causais ou estruturais que não eram claros; b) avaliativo: estudo único de

um caso ou de um conjunto de casos com profundidade com a inteção de fornecer

aos sujeitos educacionais informações que auxíliam no julgamento de valores de

políticas, programas ou instituições; c) educaional: quando o estudo de caso é

utilizado por pesquisadores que procuram a compreensão da ação educativa; e d)

ação: estudo para a contribuição do desenvolvimento do(s) caso(s) através de

14

informção que sirva como guia da revisão e aperfeiçoamento da ação estudada.A

pesquisa realizada integra o estudo de caso educacional.

2.2. Etapas da pesquisa

Durante a realização da pesquisa, passamos pelas seguintes etapas:

a) Delimitação do tema;

b) Busca do referencial teórico;

c) Escolha dos sujeitos da pesquisa;

d) Pesquisa de campo;

e) Análise de dados.

2.3 Coleta de dados

O instrumento utilizado para a coleta de dados durante a realização da

pesquisa foi a entrevista.

Em um estudo de caso, a utilização de entrevista é muito comum, pois permite

que se obtenham fontes essenciais de informação para a pesquisa. No entanto,

exige que o pesquisador satisfaça as necessidades da linha de investigação ao

mesmo tempo em que procura apresentar questões “amigáveis” e não

“ameaçadoras” numa entrevista aberta. (YIN, 2010). Através da entrevista se cria

uma interação que proporciona uma atmosfera recíproca entre o entrevistador e o

entrevistado (ANDRÉ, 1986).

O objetivo da entrevista é averiguar através de perguntas pré-selecionadas se

há uma relação entre a pesquisa anteriormente feita e com as respostas obtidas.

Podemos classificar as entrevistas, de acordo com Lüdke e André (1986), em

três tipos: entrevistas abertas ou não totalmente estruturadas, na qual não há uma

imposição de ordem rígida de questões, transcorre baseado no tema que é a razão

da entrevista; entrevistas estruturadas ou padronizadas, que visam a obtenção de

resultados uniformes entre os entrevistados permitindo uma comparação imediata; e

as entrevistas semiestruturadas, que seguem um esquema básico, sem ser rígido,

mas permite que o entrevistador faça adaptações.

Conforme Yin (2010) as entrevistas de estudo de caso podem ser classificadas

como: entrevista em profundidade, que possibilita que o entrevistado proponha

15

algumas proposições que podem servir como base para futuras investigações além

de sugerir outras pessoas para serem entrevistadas para obter-se outras fontes de

evidência; a entrevista focada, que ocorre em um curto espaço de tempo (poucas

horas), possibilitando a abertura de conversas, mas em sua maioria segue um

conjunto de questões pré-determinadas sobre o estudo de caso; e a entrevista feita

para um levantamento formal, pode fazer parte de um estudo de caso integrado para

a produção de dados quantitativos como componente das evidências do estudo.

Neste caso foram utilizadas entrevistas do tipo semiestruturada ou focada,

baseadas em perguntas pré-estabelecidas conforme quadro 1.

Quadro 1 – Questões que nortearam as entrevistas

Perguntas Objetivo

1. Qual a sua formação?

Obter o tipo de formação, para verificar se é adequada ao nível de ensino em que atua.

2. Há quanto tempo exerce a profissão?

Descobrir o tempo de atuação para verificar se influencia em sua prática docente.

3. Você costuma fazer cursos de aperfeiçoamento? Qual (quais) já realizou? Quando foi o último? Foi espontâneo ou por exigência da Escola?

Verificar a relação entre a formação continuada e a prática docente nos níveis pesquisados.

4. Por quanto tempo atua neste nível de ensino (ensino fundamental regular ou EJA, ensino médio regular ou EJA)?

Saber o tempo de experiência neste nível para traçar o perfil deste tipo de professor.

5. Como descreve sua motivação para o preparo das aulas e uso de metodologias durante suas aulas?

Fazer um comparativo com a pergunta 2 para identificar se o tempo influencia na motivação do professor.

6. Quantas horas semanais você utiliza no preparo de suas aulas?

Verificar o tempo dedicado ao planejamento e reflexão.

7. Como define o comprometimento de seus alunos com suas aulas?

Perceber qual o retorno que o professor identifica de seus alunos baseado nas perguntas anteriores.

8. Que tipo de métodos e avaliações utiliza?

Identificar a qualidade de metodologias adotadas pelo professor.

9. De que maneira incentiva o estudo (e talvez a pesquisa) para seus alunos?

Observar o nível de responsabilidade e comprometimento do professor perante os alunos.

10 Percebe ou acredita que exista diferença entre lecionar para o ensino regular e ensinar para EJA? Por quê?

Verificar a opinião do professor baseado na pergunta chave do estudo de caso.

11. Por que você escolheu atuar neste nível de ensino?

Verificar se o fato de ter escolhido (ou não) o nível de atuação se reflete em sua prática docente.

Fonte: Autoria própria, 2012.

16

2.4 Análise dos dados

Para realizar a análise de dados organizamos as ideias através do processo de

categorização. Conforme Fiorentini e Lorenzato (2007), este processo tem o objetivo

de organizar informações em categorias que contenham características em comum.

Um fator importante a ser considerado é de que essas categorias sejam disjuntas,

ou seja, exclusivas de forma que cada elemento esteja relacionado com apenas uma

categoria.

De acordo com Fiorentini e Lorenzato (2007), existem três tipos de categorias,

classificadas como: definidas a priori; o pesquisador vai a campo com as categorias

previamente estabelecidas; emergentes, obtidas a partir do material de campo

através de interpretação; e mistas, quando as categorias são obtidas a partir de uma

análise comparativa entre a literatura e os registros encontrados em campo. Nesta

pesquisa serão abordadas as categorias do tipo mistas.

A partir das informações adquiridas através das entrevistas realizadas, foram

analisadas as características que traçam os perfis dos professores. Tais informações

foram organizadas por categorias separadas por assuntos em comum, de forma

disjunta. As categorias também foram ilustradas através de gráficos representativos.

17

3 REFERÊNCIAL TEÓRICO

3.1 A educação básica no Brasil

A legislação brasileira no campo da educação estabelece através da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/1996, art. 21 que a educação básica é

formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Para quem não

teve acesso ou não continuou os estudos na sua idade própria, há a modalidade de

educação para jovens e adultos. Além disto, estabelece todos os parâmetros

necessários para a efetividade da educação, tanto na educação básica, como na

educação superior.

Quanto aos currículos, tanto o ensino fundamental, quanto o ensino médio

devem ter uma base nacional comum, e pode ser complementada conforme as

características regionais e locais. Para isto, o governo estabeleceu as Diretrizes

Curriculares Nacionais (DCN) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

3.1.1 Diretrizes Curriculares Nacionais

Para que cada parte da educação básica seja atendida com suas

especificações, o governo elaborou através do Conselho Nacional de Educação as

Diretrizes Curriculares Nacionais. São organizadas em resoluções. Neste trabalho

será abordado a resolução nº 2/98 CEB/CNE de 7 de abril de 1998 nº3/2005, que

institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental; resolução

nº3/98 CEB/CNE de 26 de junho de 1998 que institui as DCN para o Ensino Médio e

resolução nº1/2000 CEB/CNE de 5 de julho de 2000 que estabelece as DCN para a

EJA.

As DCN são o conjunto de definições sobre princípios, fundamentos e

procedimentos da educação básica que auxiliam as escolas nos sistemas de ensino,

desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas. (BRASIL, art. 2º,

1998).

Todavia o currículo escolar do ensino fundamental, ensino médio e ensino de

jovens e adultos são norteados por estas resoluções, que estabelecem meios de

como a educação deve ser abordada nas escolas se adaptando de acordo com a

cultura de cada região, buscando princípios éticos e cumprindo direitos e deveres.

18

3.1.2 Parâmetros Curriculares Nacionais

O governo federal estabeleceu os PCN, que foi elaborado por diversos

educadores brasileiros, com o intuito de organizar os conteúdos necessários para a

educação básica. Foram respeitadas as diversidades culturais, regionais e políticas

existentes no país para a construção de referências nacionais comuns ao processo

educativo de todo o Brasil (BRASIL, 1998, p.5).

Os PCN tem a intenção de apoiar o processo educativo nas escolas, as

práticas pedagógicas, planejamento de aulas e a seleção de materiais didáticos que

contribuem para a formação e atualização profissional dos professores.

De forma geral, se tem como objetivo principal, praticar o exercício pleno da

cidadania, onde todos possam ter acesso à educação com o direito de seus

costumes regionais, culturais e políticos. Para isso a proposta é de que haja a

interação entre alunos, professores e conhecimento para o desenvolvimento da

educação.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) além de

exercer o direito à cidadania incentiva ao preparo dos alunos para o mercado de

trabalho, utilizando os conhecimentos adquiridos no ensino fundamental

aperfeiçoando-os com estudos mais avançados.

A última edição do PCN para o ensino fundamental foi em 1998, enquanto que

os PCNEM foi em 2000.

3.2 O ensino fundamental regular

As propostas pedagógicas a serem definidas pelas escolas devem atender a

Resolução nº 2/98 – DCN Ensino Fundamental que prevê os direitos e deveres,

princípios éticos e a valorização da identidade pessoal de alunos, professores e

demais profissionais.

Além disto, o PCN tem como objetivo definir quais os principais conteúdos a

serem desenvolvidos durante o ensino fundamental. De acordo com os Parâmetros

Curriculares Nacionais (1998, p. 5): “[...] pretende-se criar condições, nas escolas,

que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos

socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da

cidadania”.

19

3.3 O ensino médio regular

A Resolução nº 3/98 – DCN Ensino Médio especifica os princípios a serem

observados na organização pedagógica dando enfoque ao vínculo entre a educação

e o trabalho.

Especificamente, no currículo das ciências, encontra-se o ensino da

matemática, que tem grande importância para formar o pensamento dedutivo e o

raciocínio lógico dos alunos. O PCNEM (BRASIL, 2000, p. 40) define o ensino da

Matemática como:

A Matemática no Ensino Médio tem um valor formativo, que ajuda a estruturar o pensamento e o raciocínio dedutivo, porém também desempenha um papel instrumental, pois é uma ferramenta que serve para a vida cotidiana e para muitas tarefas específicas em quase todas as atividades humanas.

Conforme já vimos, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio, os

conteúdos a serem abordados são definidos através de resoluções e leis. Os

professores destas áreas possuem métodos para seguirem os conteúdos

necessários e seguem pela sua formação e pelo que a escola valoriza.

3.4 A Educação de Jovens e Adultos

Conforme o que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação de Jovens e Adultos (EJA), resolução nº1/2000 – CEB/CNE são

observadas na oferta e na estrutura dos componentes curriculares do ensino

fundamental e médio, sendo desta forma uma modalidade da educação básica.

Conforme os artigos 7º e 8º a idade mínima para a inscrição e realização de

exames supletivos para a conclusão do ensino fundamental, é de 15 anos completos

e de 18 anos completos para a inscrição e realização de exames supletivos para a

conclusão do ensino médio. Conforme Portaria Ministerial nº 2.270, de 14 de agosto

de 2002, foi instituído para a conclusão do ensino fundamental o Exame Nacional de

Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA). Para a conclusão

do ensino médio, foi estabelecido através do DOU, Portaria n 109 de 27 de maio de

2009, art. 2º item V – objetivos do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)

promover a certificação de jovens e adultos no nível de conclusão do ensino médio

nos termos do artigo 38, §§ 1ºe 2ºda Lei nº 9.394/96, LDB.

20

A EJA é uma modalidade de ensino que disponibiliza a quem não obteve

acesso ao ensino em idade apropriada, a oportunidade da conclusão da educação

básica, tanto no ensino fundamental quanto o ensino médio. O Ministério da

Educação define através dos Parâmetros Curriculares Nacionais os conteúdos

necessários para o ensino fundamental e médio regular que são os mesmos

utilizados no ensino de jovens e adultos, porém os perfis dos estudantes são

diferentes, o que necessita de um modelo pedagógico próprio.

Os conteúdos necessários para a EJA são tão importantes quanto os

conteúdos do ensino fun9damental e médio. Baseado nisto e na realidade que

muitos alunos de EJA se encontram, se faz necessária uma adaptação para que se

possa desenvolver a capacidade dos alunos em menos tempo, sem deixar falhas.

A Proposta Curricular para a educação de jovens e adultos publicada pelo

Ministério da Educação, MEC (BRASIL, 2002, p.11-12) descreve:

O aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA) vive, em geral, uma história de exclusão, que limita seu acesso a bens culturais e materiais produzidos pela sociedade. Com a escolarização, ele busca construir estratégias que lhe permitam reverter esse processo. Um currículo de Matemática para jovens e adultos deve, portanto, contribuir para a valorização da pluralidade sociocultural e criar condições para que o aluno se torne agente da transformação de seu ambiente, participando mais ativamente no mundo do trabalho, das relações sociais, da política e da cultura.

Visto que o ensino da EJA requer um processo metodológico diferenciado do

professor, o conteúdo deve ser adaptado conforme a característica dos alunos. Pois

muitos apresentam mais dificuldades por estarem muito tempo sem estudar além de

driblarem o cansaço por serem trabalhadores para encarar o estudo.

Independente do perfil de nossos alunos, devemos valorizar como um ser

capaz de pensar e desenvolver sua aprendizagem. O aluno é mais importante que

programas e conteúdos. A educação é a melhor maneira de levar o indivíduo a estar

em paz consigo mesmo e com seu entorno social, cultural e natural (D’AMBRÓSIO,

1996).

Os alunos da EJA são formados em boa parte por adultos. A característica

comum entre esses alunos é o trabalho, onde a maioria procurou a EJA para

terminar os estudos e poder ter melhor reconhecimento profissional e digno como

cidadão. Para isto é necessário que todo o aprendizado seja direcionado ao meio

social, ou seja, os conteúdos necessários devem ser direcionados com exemplos do

cotidiano com utilizações práticas. Os adultos possuem seu conhecimento baseado

21

em suas vivências e é necessário aproveitar esta experiência em tudo o que se fizer

em sala de aula, de forma que o trabalho individualizado tende a apresentar

melhores resultados já que são grupos heterogêneos em conhecimentos (SARAIVA,

2004).

3.5 Formação de professores

Durante o decorrer do curso de licenciatura, são oportunizadas através dos

estágios supervisionados algumas experiências que marcam os primeiros passos na

vida de um educador. Encontramos crianças, jovens e até adultos que carregam

suas ideias e vivências diferentes e estão fazendo parte da formação de professor

levando um pouco do conhecimento através da aprendizagem alcançada pelas

nossas aulas.

E geralmente no final do curso que nos deparamos com uma situação, a

relação entre o que devemos fazer entre as teorias e metodologias estudadas

através das disciplinas e a didática a ser utilizada que se aprimora com experiências

práticas. Conforme Schön (2000, p.224):

Inerente à situação problemática da escola profissional está um relacionamento em dois níveis, com os mundos da prática e da universidade como um todo – um relacionamento que se espelha no relacionamento de componentes da escola orientados pela disciplina e componentes orientados pela prática [...]

Os direitos e deveres para a formação de professores são estabelecidos pela

Resolução nº01/2002-CP/CNE de 18 de novembro de 2002 (com as alterações da

resolução nº02/04-CP/CNE) que institui as diretrizes curriculares nacionais para a

formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de

licenciatura, de graduação plena. Esta resolução reúne princípios e procedimentos a

serem observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento

de ensino que são aplicados a todas as etapas e modalidades da educação básica,

conforme prevê o art. 1º.

3.5.1 A formação em licenciatura matemática

Os cursos de licenciatura em Matemática devem seguir o Parecer CNE/CES

1.302/2001 que determina as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de

22

Matemática, Bacharelado e Licenciatura. Este parecer tem o objetivo de informar o

perfil dos formandos, as competências e habilidades do curso, bem como sua

estrutura e os conteúdos curriculares.

O professor de matemática, assim como os professores das demais matérias

necessárias ao currículo da educação básica, busca a relação entre a educação e

sua especialidade. Neste caso, a educação matemática, de acordo com as ideias de

Lorenzato e Fiorentini (2007) é promovida pelo educador matemático, que tende a

conceber a matemática como um meio ou instrumento importante à formação de

crianças, jovens e adultos de forma e que assim possa colocar a matemática a

serviço da educação.

A licenciatura em matemática possibilita que seus estudantes realizem estágios

em duas modalidades da educação básica, ensino fundamental e médio, seja no

ensino regular ou EJA. É comum a procura pela EJA, devido à rotina de muitos

estudantes que trabalham e por ocorrer no turno da noite.

A Secretaria da Educação Básica criou em 2004 a Rede Nacional de Formação

Continuada de Professores, para contribuir com a melhoria da formação dos

professores e alunos. Prioritariamente, o público-alvo são professores de educação

básica dos sistemas públicos de educação. São feitos cursos à distância e

semipresenciais, com carga horária de 120 horas, com materiais elaborados por

instituições de ensino público, federais e estaduais que integram esta rede. Os

cursos são feitos na área de alfabetização e linguagem, educação matemática e

científica, ensino de ciências humanas e sociais, artes e educação física. Esta

pesquisa abordará a área de educação matemática e científica.

O órgão responsável pela formação de professores da educação básica é a

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) atribuído

pela Lei nº 11.502, de julho de 2007. Tem como objetivo assegurar a qualidade da

formação dos professores que atuarão ou que já estejam em exercício nas escolas

públicas, visando à qualidade do ensino público, que integra também a educação

básica e superior. Para a melhoria da qualidade da educação básica, foi criado o

Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR). Que

prioriza a oferta emergencial de vagas em cursos de educação superior, gratuitos e

de qualidade, para professores em exercício na rede pública de educação básica, a

fim de que estes profissionais obtenham a formação exigida pela LDB.

23

Conforme DOU nº 21, seção 1, de 30 de janeiro de 2009 menciona a promoção

da equalização nacional para professores a oportunidades em instituições públicas

de educação superior. Bem como outras formas de ensino como a educação

inclusiva, educação no campo, educação de jovens e adultos e apoio a formação de

professores em comunidades indígenas.

3.5.2 Adaptação à Educação de Jovens e Adultos

Para a formação de professores em licenciatura em Matemática, não há um

estudo específico para a EJA. Durante a formação são estudados os conteúdos e

suas didáticas baseadas no ensino básico, fundamental e médio. As metodologias

que podem ser utilizadas são adaptadas quando vivenciadas na EJA, seja através

de pesquisas e estágios supervisionados.

Conforme já foi abordado, a EJA possui alunos com perfis diferentes e que

necessitam de maior atenção devido ao grau maior de dificuldades, portanto

consequentemente a preparação do professor deve ser diferente e adaptada.

Considerando sobre a formação de um educador de jovens e adultos que

Arroyo (2006, p.17):

Costumo dizer que a formação do educador e da educadora de jovens e adultos sempre foi um pouco pelas bordas, nas próprias fronteiras onde estava acontecendo a EJA. Recentemente passa a ser reconhecida como uma habilitação ou como uma modalidade, como acontece em algumas faculdades de educação.

Trazendo esta ideia para a formação de professores de matemática,

enfrentamos o mesmo dilema, onde ainda não há uma formação específica para o

ensino de jovens e adultos. Exige-se que os professores se adaptem através de

formação continuada, participando de cursos e trocas de experiências.

3.6 A Teoria de aprendizagem significativa de Ausub el

Neste trabalho, a partir de uma reflexão sobre o processo de ensino e

aprendizagem de matemática à luz da teoria da aprendizagem significativa de

Ausubel, foram elaboradas as questões que nortearam as entrevistas com

professores que atuam no ensino regular e na EJA e, posteriormente, foram

analisadas a fim de traçar seus perfis.

24

Assim, neste item faremos um breve apanhado da teoria de Ausubel para que

o leitor compreenda os pontos básicos utilizados em nossa análise de dados.

3.6.1 Definição da teoria

De acordo com Moreira (1999), a Teoria de Aprendizagem Significativa de

David Ausubel (1918-2008) se centraliza na aprendizagem significativa, que consiste

na relação de uma nova informação com uma estrutura de conhecimento específica,

definido por Ausubel como o conceito subsunçor, que está presente na estrutura

cognitiva do indivíduo através de conceitos, ideias e experiências sensoriais. Com

isto, à medida que a aprendizagem começa a ter um significado, os conceitos

subsunçores tornam-se mais elaborados permitindo que novas informações sejam

armazenadas.

Para que de fato ocorra a aprendizagem significativa, é importante que haja

algum aspecto relevante nas ideias a serem absorvidas que façam a ligação com as

ideias que o indivíduo já possui. Estes aspectos podem ser representações, figuras,

símbolos, imagens, conceitos que são classificados como potencialmente

significativos. Esta relação é determinada por Ausubel como uma relação de

maneira substantiva e não-arbitrária, na qual se o indivíduo não tiver intenção de

querer aprender ocorrerá aprendizagem mecânica (automática) em vez da

aprendizagem significativa.

Moreira descreve Ausubel (1999, p.154):

Ele argumenta que uma longa experiência em fazer exames faz com que os estudantes se habituem a memorizar não só proposições e fórmulas, mas também causas, exemplos, explicações e maneiras de resolver “problemas típicos”. Propõe, então, que ao procurar evidência de compreensão significativa, a melhor maneira de evitar a “simulação da aprendizagem significativa” é formular questões e problemas de uma maneira nova e não familiar, que requeira máxima transformação do conhecimento adquirido.

3.6.2 Tipos de aprendizagem significativa

São distinguidos por Ausubel, três tipos de aprendizagem significativa:

aprendizagem representacional, que envolve atribuição de significados a

determinados símbolos (como as palavras); aprendizagem de conceitos, também

25

representados por símbolos, mas com abstrações, sendo genéricos ou categóricos;

e aprendizagem proposicional, representação de ideias em forma de proposição.

3.6.3 Influência de Ausubel na análise das entrevistas

Estudando a Teoria de Aprendizagem Significativa de Ausubel, percebe-se que

existem muitos fatores que refletem no perfil do professor. Sabemos que para a

ocorrência de uma aprendizagem significativa, é necessário que haja fatores que

provoquem e motivem o aluno para de fato ocorrer a aprendizagem. Com isto

valorizou-se na formulação das perguntas para as entrevistas a motivação do

professor para o preparo das aulas e a percepção de comprometimento de seus

alunos. Partindo deste pressuposto é possível comparar as respostas dadas nas

entrevistas com as ideias da teoria de Ausubel, possibilitando traçar o perfil dos

professores. Além disto, Ausubel retrata o processo de aprendizagem em três tipos,

conforme citado anteriormente, que são muito frequentes em aulas de Matemática,

ou seja, os símbolos e representações matemáticas são meios para significar o

aprendizado, assim como os conceitos que devem ser utilizados em toda a trajetória

escolar.

Acredito que a teoria de Ausubel possa ser utilizada em todos os níveis

escolares, seja regular ou de jovens e adultos, e o estudo de caso, através da

análise dos perfis dos professores, possibilitará esta verificação.

26

4 A PESQUISA REALIZADA

Neste capitulo, descreveremos nossa pesquisa de campo, realizada com

professores de matemática da rede estadual, municipal e particular nas cidades de

Canoas, Esteio e Alvorada. Para que os objetivos pudessem ser atingidos foram

selecionados professores da seguinte forma:

a) Professor A: professor de matemática do ensino fundamental EJA;

b) Professor B: professor de matemática do ensino médio EJA;

c) Professor C: professor de matemática do ensino fundamental regular;

d) Professor D: professor de matemática do ensino médio regular;

e) Professor E: professor de matemática do ensino fundamental regular e EJA;

f) Professor F: professor de matemática do ensino médio regular e EJA

4.1 O perfil dos professores entrevistados

Neste item traçamos o perfil de cada professor, a partir de suas respostas às

questões das entrevistas.

4.1.1 O professor A

Trabalha atualmente no ensino fundamental na modalidade EJA como

professora de Matemática, em uma escola particular na cidade de Esteio, RS.

Possui formação em licenciatura em Matemática. Apesar do pouco tempo de

exercício (em torno de seis meses), já realizou um curso sobre Logaritmos e

Trigonometria, por conta própria e pretende realizar outros. Enfatizou que é

importante a sintonia com a área de atuação.

Sua dedicação ao preparo das aulas demonstra que existe motivação para

aulas com métodos mais atrativos, mesmo não sendo exigência da escola. Através

desta explicação, percebe-se que por se tratar do ensino para EJA, os conteúdos

são abordados em menos tempo, basicamente um conteúdo por aula (a aula dura

uma noite). Para o preparo das aulas, se dispõe de uma noite e possui mais tempo

livre se for necessário.

Relata o comprometimento de seus alunos reconhecendo que gostam das

aulas, mas procura valorizar a importância do estudo, pois a maioria dos alunos

27

frequenta as aulas por pressão dos pais e não tanto como reconhecimento de

necessidade de estudo.

Sua metodologia demonstra-se “tradicional” (não adota um método específico)

e costuma avaliar através de trabalhos (em duplas) e a participação em aula.

Incentiva os alunos para o estudo através da importância da participação das aulas,

sempre questionando e provocando a interação entre alunos e professor.

Quando foi questionado se acredita na diferença entre lecionar para o ensino

regular e ensino para EJA afirmou que acredita que há diferença na maneira de

aplicar os conteúdos, pois na EJA o conteúdo é mais resumido em relação ao ensino

regular.

Atua nesta área pela oportunidade que surgiu para iniciar na profissão, mas

também se identifica com o ensino médio.

4.1.2 O professor B

Com formação em licenciatura Matemática, o professor de Matemática do

ensino médio modalidade EJA atua há um ano e meio e exerce a profissão de

professor de Matemática há 2 anos, em uma escola particular na cidade de Esteio,

RS. Tem o hábito de realizar cursos de aperfeiçoamento e realizou o último por

exigência da escola, mas também costuma fazer cursos por conta própria.

Sua motivação para o preparo das aulas baseia-se na teoria de Paulo Freire,

pois acredita que seja o melhor método para se trabalhar com a EJA. Identifica na

EJA uma constante evolução e interesse por parte dos alunos. O preparo de suas

aulas semanais leva em torno de duas horas. Tem o costume de observar muitos

seus alunos para fazer suas avaliações, além de aplicar provas e trabalhos.

Afirma que os alunos são comprometidos em sua maioria, pois voltaram a

estudar por necessidades, mas existem casos em que não há comprometimento

algum. Costuma utilizar exemplos do cotidiano para incentivar a participação dos

alunos em aula e acredita que as pesquisas são importantes, tendo o costume de

solicitar a investigação de algum matemático famoso.

Acredita que exista uma grande diferença entre lecionar para o ensino regular e

para a EJA, em função da linguagem que é utilizada, e também da demora de

aprendizado dos alunos da EJA que acaba havendo um envolvimento maior por

parte dos professores (discentes).

28

Encara a oportunidade de lecionar para a EJA como uma experiência

motivadora, pois os alunos são resgatados da sociedade como alunos que eram

desmotivados e que têm a oportunidade de poder desenvolver suas habilidades, se

sentindo mais inteligentes.

4.1.3 O professor C

O professor entrevistado que atua como professor de matemática no ensino

fundamental é formado em licenciatura em matemática e ciências. Exerce a

profissão há 11 anos e sempre atuou neste nível de ensino. Atualmente trabalha em

escola estadual no município de Alvorada, RS. Na formação continuada, está

sempre se atualizando, participando de fóruns sobre educação, educação

matemática e educação ambiental, além de realizar outros cursos como a Trajetória

Criativa, da UFRGS que é um novo método de ensino. Salientou que está sempre se

atualizando, procurando por algo novo que nunca foi exigência do estado.

Sobre sua motivação, procura sempre se identificar com os alunos, permitindo

um vínculo maior para que possa entender quais as suas dificuldades de

aprendizagem. Utiliza métodos de acordo com cada série (grau), mas costuma

utilizar figuras, proposições e muitos jogos para auxiliar na aprendizagem. Como

método de avaliação, utiliza provas, trabalhos, pesquisas e saídas de campo.

Para o planejamento de suas aulas, não tem um tempo específico, nunca

parou para contar, mas dedica bastante tempo. Já aconteceu de ficar em torno de

dois dias fazendo planos de aula.

Define o comprometimento de seus alunos baseados em três critérios que julga

importante em primeiro lugar está sempre falando da importância dos conteúdos, em

segundo costuma sempre perguntar aos alunos: o que vocês querem da vida e em

terceiro cobra a dedicação. Desta maneira consegue acompanhar o

desenvolvimento de seus alunos tornando-os comprometidos. Seguindo esta mesma

linha de raciocínio, procurar motivar os alunos, se aproximando para conhecer

melhor suas características e assim fazer com que se sintam livres para se

expressar, e falar sobre os mais variados assuntos.

Opinando sobre a diferença entre lecionar para o ensino regular e EJA acredita

que há diferença, e salienta que no ensino regular existe mais facilidade de

aprendizagem, pois o tempo maior favorece os estudos.

29

Atua neste nível de ensino, pois sempre se identificou com a profissão da mãe

(professora) e com a lembrança de seu primeiro professor, que lecionava

Matemática. Sempre quis ser professor e sente realizado com o que faz.

4.1.4 O professor D

Professor de matemática do ensino médio regular, exerce a profissão há 15

anos e 12 deles dedicado a este nível de ensino. Atualmente é professor da rede

estadual na cidade de Canoas. É formado em licenciatura em Matemática e possui

pós-graduação em Novas Tecnologias na Educação e cursa a pós-graduação em

Orientação, Supervisão e Administração escolar. Costuma participar dos congressos

internacionais de matemática promovidos pela Ulbra, mas o último que participou já

faz três anos, sempre por conta própria. Como leciona em escola estadual, não é

frequente a oferta de cursos, mas este ano ocorreu um sobre Lições do Rio Grande,

na cidade de Lajeado, RS, na qual participou. Salientou que na formação continuada

promovida entre as escolas do estado os assuntos são geralmente interdisciplinares,

este ano, por exemplo, falou-se do ensino médio politécnico.

Sua motivação ocorre de acordo com as turmas. Neste ano possui turmas bem

legais. Acredita que as turmas que geralmente não causam muita motivação são os

primeiros anos.

Para o preparo das aulas, costuma levar em torno de 4 horas, pois realiza este

procedimento nos finais de semana.

Reconhece que seus alunos são comprometidos nas aulas, o problema de falta

de comprometimento vem de casa, pois muitos não fazem as tarefas escolares que

ficam para casa (acontece mais nos primeiros anos), mas no geral os alunos são

tranquilos. Disse que seus alunos são comprometidos, pois os cobra muito.

Em suas avaliações costuma utilizar métodos quantitativos e qualitativos, aplica

provas e trabalhos. Suas aulas são em sua maioria tradicionais e de vez em quando

abre espaço para atividades diferenciadas, como jogos e gincanas (neste ano

promoveu com alunos do terceiro ano para o ensino de geometria analítica e

espacial). Também avalia os alunos pela participação e interesse e atitudes nas

aulas.

30

O incentivo para os estudos de seus alunos é feito através de lista de

exercícios dos conteúdos abordados além de uma planilha para controle de correção

de cadernos. Não chega a cobrar pesquisas.

Acredita que existe diferença entre lecionar para o ensino regular e para a EJA,

pois na EJA não há uma preocupação muito grande com conteúdos, devido ao

tempo curto para ensinar. A visão dos alunos de EJA é diferente, pois muitos estão

há muito tempo sem estudar.

Atua no ensino médio regular por ter se identificado com a característica destes

alunos e também pelo turno que costuma ser oferecido, manhãs e noites (turnos que

prefere lecionar).

4.1.5 O professor E

Tem formação em magistério, licenciatura curta em Ciências Físicas e

Biológicas, licenciatura plena em Matemática e está cursando mestrado em

Educação Matemática. Atua em mais de uma escola da rede municipal de Canoas.

Exerce a profissão há 21 anos, atuando há 18 anos no ensino fundamental regular e

9 anos no ensino fundamental EJA. Costuma realizar cursos de aperfeiçoamento por

conta própria como congressos internacionais na área da Matemática (realizado em

2012 na Ulbra) e participa de todos os congressos promovidos pela Ulbra. Também

realiza todos os cursos obrigatórios promovidos pela Secretaria de Educação do

município de Canoas (SMEC) e alguns por interesse próprio, que depende da

disponibilidade, pois seu tempo livre é curto (leciona nos três turnos). Frisou que a

SMEC promove cursos de aperfeiçoamento para adequação a EJA.

Sua motivação para o ensino é igual tanto para o ensino regular quanto para a

EJA no sentido de estar educando. O que difere no preparo das aulas são as idades

dos alunos, pois para a EJA envolve os alunos dentro do contexto, fazendo com que

as aulas sejam mais dinâmicas devido ao grande número de reprovações e evasão

escolar. E para o ensino fundamental como os alunos são crianças e adolescentes,

o planejamento acaba sendo adequado às suas idades. Procura motivar sempre

seus alunos, pois o rendimento acaba sendo melhor.

Para preparo de suas aulas não tem horário estipulado, mas define que seu

planejamento é diário já que leciona nos três turnos e utiliza o tempo livre entre uma

aula e outra. Não costuma levar o trabalho para casa. O conteúdo utilizado

31

geralmente é o mesmo de um ano para outro, mas está sempre introduzindo alguma

ideia nova em atividades e jogos diferentes. Quando classifica uma atividade como

velha, deixa separada para atividade extra (reforço).

Identifica que atualmente o comprometimento dos alunos é menor, pois há

muitas faltas, principalmente na EJA. Leva em consideração o resgate dos alunos

para o comprometimento mostrando o quanto é importante o aprendizado. As idades

dos alunos da EJA são muito diferenciadas, e os alunos mais velhos que costumam

ser mais responsáveis. No ensino fundamental a responsabilidade é maior devido

aos alunos ter acompanhamento dos pais e as idades são as mesmas,

proporcionando melhor domínio e controle.

Define seu método como intermediário entre tradicional e construtivista. Na

EJA a avaliação é mais aberta, pois há flexibilidade entre participação e

envolvimento dos alunos que conta muito mais do que a nota em si. Aplica

trabalhos, provas e diversas atividades. No ensino regular a avaliação é mais

limitada, pois é feita a partir de notas. Realiza provas, trabalhos, jogos, pesquisa e

apresentações de trabalhos.

O incentivo para os estudos é feito através da demonstração da importância e

o porquê do que está sendo estudado. Percebe que os alunos necessitam saber de

onde vem o ensinamento. Dentro deste contexto, a família tem importante papel,

que é mais frequente para os alunos do ensino regular. Na EJA o incentivo aos

estudos é mais difícil devido a esta deficiência.

Identifica que há diferença entre lecionar para o ensino regular e para a EJA.

No ensino fundamental regular, o professor tem o papel de construir o conhecimento

matemático das crianças e adolescentes. Na EJA os alunos são adultos e

trabalhadores em sua maioria e já tem este conhecimento pela trajetória de vida,

possuem a visão matemática mais sólida, pois a utilizam no seu dia a dia. O ensino

para a EJA serve para adequar, consertar e melhor este conhecimento.

Atua no ensino fundamental, pois fez concurso para o município que é o único

nível disponível, mas para a EJA foi convidada. No município os professores

costumam dizer que para lecionar para a EJA é necessário ter um perfil diferente,

pois é a última etapa, onde há muitos alunos de inclusão.

32

4.1.6 O professor F

Leciona matemática para o ensino médio regular e EJA tem formação em

Licenciatura Plena em Matemática e exerce a profissão há 3 anos, atuando há 2

anos tanto no ensino médio regular quanto na EJA. Atualmente, trabalha em escola

particular do município de Canoas. Iniciou mestrado em educação Matemática (mas

atualmente está trancado). Os cursos de aperfeiçoamento que costuma fazer são

espontâneos, como curso EAD (educação à distância), seminários (propostos pelas

escolas). Acredita que muitos professores fazem os cursos mais pelo título em si do

que o assunto abordado e que em sua opinião procura os cursos por interesses

pessoais e não profissionais. Apesar de reconhecer que há problemas quanto a

educação no Brasil nas escolas públicas reconhece que as aulas ministradas após

participar dos cursos se modificam.

Se sente motivado para lecionar e frisou que é adepto ao ensino tradicional,

mas costuma trazer fatos ligados à realidade. Seu preparo é “conteudísta”, visando o

vestibular (para o ensino regular). Em suas aulas prefere interagir com os alunos

para tornar a aula mais alegre, pois sendo carrancudo não irá conquistar os alunos.

Para o preparo das aulas, na EJA tem o conteúdo pronto, por ser simples e

básico, mas para o ensino regular costuma utilizar as tardes que antecipam as aulas

que ocorrem à noite durante 2 horas. Salienta que na EJA acaba retornando aos

conteúdos do ensino fundamental sendo uma espécie de resgate de autoestima e

afirma que os alunos estão lá mais para ter o diploma do que para aprender.

Os alunos tanto do regular quanto da EJA são comprometidos, mas os da EJA

não tem ritmo para o aprendizado, pois são mais lentos. 70% dos alunos da EJA são

carentes de atenção. Suas avaliações são feitas através de notas no ensino regular,

aplicando provas, trabalhos e avaliando atos e atitudes, também realiza como

atividade extra a aplicação de questões do ENEM. Na EJA as avaliações são feitas

através de conceitos, mas também aplica provas e trabalhos e avalia a participação.

O incentivo para o estudo de seus alunos vem da valorização do sentimento e

da convivência que é reforçado com os alunos da EJA, pois necessitam deste apoio.

Muitos alunos já trabalham e procura dar enfoque ao dia a dia. Para o ensino regular

incentiva indicando filmes, livros de Malba Taham e também a pesquisa para o

cálculo.

33

Sobre a diferença entre lecionar para o ensino regular e lecionar para a EJA

destaca uma diferença básica: o tempo de estudo. No ensino médio regular o tempo

de estudo é de 3 anos que ainda acha pouco para ensinar tudo que é necessário e

já para a EJA o tempo é reduzido pela metade, para 1 ano e meio sendo muito

pouco tempo para estudar para alunos que apresentam tantas dificuldades.

Escolheu atuar nestes níveis de ensino por necessidade da escola, pois na

educação pública não é muito fácil escolher devido a grande quantidade de falta de

professores. Gosta de lecionar para os terceiros anos devido a melhor preparo dos

alunos, pode investir em cálculos mais avançados para melhor prepará-los para o

vestibular. Encara o EJA como uma experiência não muito cativante por acreditar

que o conteúdo é restrito.

4.2 Diferenças apresentadas entre EJA e ensino regu lar

Para analisar as diferenças apresentadas optamos por construir gráficos,

separando as respostas dadas em categorias.

4.2.1 Tempo de atuação e formação

O gráfico abaixo mostra a formação e o tempo de atuação dos professores.

Podemos perceber que todos os entrevistados tem formação específica na área de

Matemática, seja em Licenciatura Plena em Matemática ou Ciências.

Podemos perceber que atendem a LDB nº 9.394/96, artigo 62 onde descreve a

formação de profissionais da educação que deve ser a nível superior, em curso de

licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de

educação. Assim como é determinado pelo Parecer CNE/CES 1.302/2001 que os

cursos de Licenciatura em Matemática tem como objetivo principal a formação de

professores para a educação básica.

34

Gráfico 1 – Tempo de atuação e formação.

Fonte: autoria própria, 2012.

4.2.2 Realização de cursos de aperfeiçoamento

No gráfico a seguir são apresentados os números de professores que realizam

cursos de aperfeiçoamento. É visível que metade dos professores realiza cursos por

espontaneidade e a outra metade realiza cursos tanto por exigência da escola como

por conta própria.

Gráfico 2 – Realização de cursos de aperfeiçoamento.

Fonte: autoria própria, 2012

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

Licenciatura

Matemática

Lic. Matemática e

Ciências

Outros

Prof. A

Prof. B

Prof. C

Prof. D

Prof. E

Prof. F

0

1

2

3

4

5

6

exigência da

escola

espontâneo ambos não realiza

Professores

35

Percebemos que a realização de cursos de aperfeiçoamento tem fundamental

importância para o crescimento profissional dos professores. Quando a escola em

que atuam não exige cursos, cabe aos professores a procura de cursos de seus

interesses. Na prática podemos perceber que nem sempre os governos públicos

valorizam o que é previsto nas leis e resoluções, conforme lei nº 11.502, de julho de

2007, que institui a CAPES, assegura a qualidade da formação de professores em

escolas públicas. Os professores acabam procurando cursos para atualização por

conta própria.

A escolha de cursos para o aperfeiçoamento da carreira de um professor deve

ser valorizada, independente das necessidades da escola em que se atua.

Conforme Bedoya (2008) os cursos da formação continuada não podem ser

encarados como uma despesa financeira, e sim como um investimento institucional,

social e econômico.

4.2.3 Motivação para as aulas

O gráfico a seguir mostra a intensidade de motivação dos professores

entrevistados. Percebe-se que apenas um professor apresentou motivação acima do

normal.

Gráfico 3 – Motivação para as aulas.

Fonte: autoria própria, 2012.

0

1

2

3

4

5

6

Pouca motivação Motivação normal Muita motivação

Professores

36

Ao questionar os professores sobre a motivação, verificou-se que o ato de

motivar os alunos foi interpretado como forma de ser um professor motivado.

Sabendo que dos seis professores entrevistados apenas dois lecionam apenas para

o ensino regular, a motivação é normal tanto para o nível regular quanto para o

ensino de jovens e adultos. As características dos alunos foi o principal fator de

motivação conforme análise das entrevistas, como suas idades, interesses e

comportamentos. Para cada nível de ensino os conteúdos aplicados são abordados

de acordo com suas características. Para a EJA, sua característica própria é fator

fundamental para a motivação dos professores.

Ausubel (2003, p.35) destacou a motivação como questão relevante para o

pensamento educacional:

De facto, uma das funções essenciais da educação deveria ser o estímulo para o desenvolvimento de motivações e de interesses que, actualmente, não existem. É verdade que os resultados académicos são melhores quando os alunos manifestam que sentiram necessidade de adquirir conhecimentos como um objectivo por si só. Contudo, tais necessidades não são endógenas, mas adquiridas – em grande parte através da exposição a uma instrução provocadora, significativa e apropriada em termos de desenvolvimento.

Neste sentido, independente do nível e modalidade de ensino, há motivação

por parte de todos os professores entrevistados.

4.2.4 Tempo dedicado ao preparo das aulas

Este gráfico representa o tempo dedicado para o preparo das aulas. Dois

professores informaram que nunca contaram o tempo, mas declararam que utilizam

o tempo livre diariamente.

37

Gráfico 4 – Tempo dedicado ao preparo das aulas.

Fonte: autoria própria, 2012.

A LDB assegura que os sistemas de ensino promoverão a valorização dos

profissionais de educação, ou seja, conforme item V é direito dos professores terem

um período durante seu horário de trabalho para estudos, planejamento e avaliação.

Desta forma é correto os professores reservarem os períodos livres entre suas aulas

para elaborarem suas aulas. A escolha para a elaboração enquanto estiverem nas

horas de folga em casa é facultativa, mas alguns professores declararam utilizar

este tempo para um melhor preparo de suas aulas.

4.2.5 Percepção das diferenças nos níveis de ensino

O gráfico mostra a percepção dos professores quanto às diferenças entres os

níveis de ensino. Verificamos que todos os professores percebem estas diferenças.

0

1

2

3

4

5

6

Até 2h Até 3h Até 4h tempo livre /

diariamente

Prof. A

Prof. B

Prof. C

Prof. D

Prof. E

Prof. F

38

Gráfico 5 – Percepção das diferenças nos níveis de ensino.

Fonte: autoria própria, 2012.

Entre os entrevistados, verificou-se que uma das principais diferenças entre os

níveis de ensino são as idades dos alunos. E sabe-se que de acordo com a

resolução nº1/2000-CEB/CNE, art. 7 e 8 as idades mínimas para ingressar na EJA,

no ensino fundamental são 15 anos completos e no ensino médio 17 anos

completos, tornando as turmas com idades muito variadas. Desta forma o professor

necessita investigar a melhor maneira de aplicar as atividades abrangendo a todos.

Diferente do ensino regular, que possuem turmas mais homogêneas quanto às

idades, permitindo que as atividades sejam aplicadas de forma comum.

A aprendizagem é feita em qualquer idade, mas é diferente seu processo,

conforme Ausubel (2003, p. 13), que definiu as fases da maturidade cognitiva:

A maioria dos educadores também aceita, implicitamente, o pressuposto de que existe uma idade de prontidão para todos os tipos de aprendizagem. O adiamento da experiência de aprendizagem para além da idade de prontidão desperdiça oportunidades de aprendizagem valiosas e, muitas vezes, insuspeitas, reduzindo, assim, de forma desnecessária, a quantidade e complexidade do conteúdo das matérias que se pode dominar num determinado período da aprendizagem escolar.

Quanto aos conteúdos, os professores também declararam haver diferenças na

forma de aplicar, lembrando que conforme a LDB, os conteúdos são os mesmos,

porém o tempo de duração é diferenciado.

0

1

2

3

4

5

6

7

Percebe diferenças Não percebe diferenças

Professores

39

4.2.6 Motivo que levou a escolha do nível em que atua

O gráfico a seguir, mostra o motivo para a escolha do nível em que os

professores atuam. Verifica-se que os motivos são variados.

Foi identificado que muitas vezes as escolhas não foram feitas por vontade

própria, sendo necessária a adaptação por solicitação da escola ou até pela

oportunidade de trabalho que surgiu. Mas sabemos que para lecionar na EJA não há

uma formação específica na graduação para esta modalidade, conforme Arroyo

(2006) que o perfil do educador de jovens e adultos, bem como sua formação

encontra-se em construção. Assim, os professores devem adaptar-se, na maioria

das vezes às características dos alunos da turma em que estão trabalhando, e a

partir disto verificar quais são as principais necessidades e dificuldades a serem

desenvolvidas para o progresso destes alunos.

Gráfico 6 – Motivo que levou a escolha do nível em que atua.

Fonte: autoria própria, 2012.

33%

17%

50%

Oportunidade Necessidade da escola Escolha própria

40

5 CONCLUSÃO

Este estudo de caso permitiu a investigação de diferentes perfis de professores

de matemática. A partir da pesquisa realizada com base nas leis e resoluções

públicas pelo governo e pela secretaria da educação foi possível ter a base da

educação brasileira. Determinado o foco da pesquisa, foram escolhidos os

professores de cada nível, ensino fundamental e ensino médio, nas duas

modalidades, ensino regular e EJA. Para que o objetivo da pesquisa fosse atingido,

foi necessário que houvesse professores somente de ensino regular e somente EJA,

além de professores que abrangessem as duas modalidades.

Analisando as respostas dos professores, obtidas nas entrevistas, norteada

pela Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, constata-se que é mais raro

encontrar os professores que atuam apenas da EJA. Os dois professores escolhidos

se formaram recentemente e possuem pouco tempo de atuação como professores

de matemática, apesar de lecionarem um para o ensino fundamental e o outro para

o ensino médio, apresentam metodologias e motivações semelhantes. Valorizam as

características específicas dos alunos da EJA de acordo com o que prevê os

Parâmetros Curriculares Nacionais e contribuem para a valorização da pluralidade

sociocultural ao fazer com que haja participação ativa no mundo do trabalho.

Sabendo que muitos dos alunos da EJA trabalham é possível utilizar noções do dia

a dia para facilitar o processo de aprendizagem, baseando-se no conceito de

Ausubel de que o fator mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que

o aluno já sabe, basta descobri-lo e ensinar de acordo.

Ao traçar o perfil dos professores apenas do ensino regular, viu-se que o

professor do ensino médio realizou poucos cursos, mesmo não sendo exigência da

escola, mas possui pós-graduação. Já possui mais tempo de carreira e demonstra

seguir um ensino padrão, sem grandes atualizações metodológicas. Motiva os

alunos, mas acaba não incentivando à pesquisa. O professor do ensino fundamental

demonstrou maior dedicação pela educação e apesar da escola nunca ter exigido

cursos, está sempre se atualizando, realizando cursos e se preocupando com a

motivação e comprometimentos dos alunos. Em suas aulas procura utilizar figuras,

proposições e jogos e incentivar a pesquisa através de pesquisas de campo. Aqui se

verifica o quanto é importante a motivação defendida por Ausubel em sua teoria, ou

seja, a utilização de material potencialmente significativo aliado à preocupação em

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provocar a motivação dos alunos são fatores essenciais para uma aprendizagem

significativa.

Os professores do ensino regular e EJA apresentaram primeiramente uma

grande diferença, um leciona em escola estadual para o ensino médio e o outro em

escola municipal para o ensino fundamental. As diferenças existem em relação aos

cursos e projetos oferecidos aos professores para a formação continuada, na qual o

município valoriza e proporciona mais em relação ao estado. Além de apresentarem

perfis diferentes, percebe-se que é possível encarar como ensinos diferentes entre

regular e EJA, além da preparação e motivação serem diferentes. No ensino médio

o professor declarou que há uma grande diferença entre o método de aplicação do

conteúdo, sendo mais valorizado o ensino regular devido ao tempo maior. No ensino

fundamental o empenho e motivação do professor são iguais nas duas modalidades,

mas o conteúdo é aplicado com adaptações às idades dos alunos. Conforme Arroyo

(2006), a formação do educador e da educadora de jovens e adultos sempre foi um

pouco pelas bordas, nas próprias fronteiras onde estava acontecendo a EJA, e com

isso percebemos que às vezes a maneira que o professor encara a EJA é diferente

do ensino regular e esta adaptação acaba acontecendo na própria prática.

Portanto, independente dos níveis e modalidades de ensino, podemos nos

embasar na Teoria de Aprendizagem Significativa de Ausubel. As diferenças entre

professores de níveis e modalidades diferentes existem e o mais importante é

conhecer as caraterísticas dos alunos, valorizando o pensamento cognitivo e a

aprendizagem através da motivação, utilizando material potencialmente significativo.

Sabe-se que a EJA tem características totalmente diferentes do ensino regular, os

alunos necessitam de acompanhamento diferenciado, apresentam maiores

dificuldades, e atualmente a formação de professores não tem um campo específico

para adaptações à EJA.

Após a conclusão da graduação em licenciatura, os professores devem

procurar valorizar sua área de atuação e investir em cursos de aperfeiçoamento e

formação continuada para estarem aptos aos níveis e modalidades que a educação

brasileira oferece.

Quanto às escolhas de níveis, não podemos generalizar a partir da pesquisa

feita com seis professores, mesmo sabendo que metade dos professores puderam

escolher os níveis e modalidades em que atuam. Devemos compreender que

principalmente na educação pública o professor não obtém muitas escolhas,

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devendo atender às necessidades da escola e cabe aos professores aliar suas

motivações ao nível em que atuam.

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REFERÊNCIAS

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