cinéfilos - 2ªedição

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2ª edição - Jul/2010 Revista digital de cinema da J. Júnior Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo Cruzadas: viagens na história A sobremesa de Pequena Miss Sunshine De bicicleta pelo Brasil Um guia para viajar pelo universo De leste a oeste dos EUA a pé Principal Cidades cinematográficas Viagens maravilhosas de pescador Top 10 As melhores viagens da telona Cine + Top 10 Trash O cinema em Lost As viagens do cinema

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Revista de cinema da J. Júnior - 2ª edição - Jul/2010

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Page 1: Cinéfilos - 2ªedição

2ª edição - Jul/2010Revista digital de cinema da J. Júnior

Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo

Cruzadas:viagens na

história

A sobremesade PequenaMiss Sunshine

De bicicleta pelo Brasil

Um guia para viajar pelouniverso

De leste aoeste dosEUA a pé

PrincipalCidades

cinematográficas

Viagensmaravilhosasde pescador

Top 10As melhores

viagens da telona

Cine + Top 10Trash

O cinemaem Lost

As viagens do cinema

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Boas histórias não são feitas só de satisfações ou só de dificuldades. E quem é ou já foi da equipe do Cinéfi-los tem muitas histórias para contar. No ano passado, lançamos a idéia da revista digital, o que foi uma grande evolução para o nosso projeto. Porém, apenas uma edição conseguiu chegar àquele formato que tanto queríamos.

A edição seguinte, com atraso, che-gou no limiar de ser publicada. A equipe ficou desfalcada e, por alguns meses, nossos textos voltaram ao formato antigo. Depois do ponto alto da revista digital, nossas produções foram publicadas no próprio blog. A equipe não queria que o projeto an-dasse para trás.

A cada ano, novos alunos de jorna-lismo entram na J. Júnior. Em maio, nossa equipe foi revigorada. Surgiu aquela vontade de superar o que já havia sido feito. Nova equipe, novas idéias. Felizmente, todos se enten-deram e cada etapa para a produção dessa revista foi realizada em conjun-to. Muitos dos nossos passos foram trabalhosos, mas posso afirmar que foi divertido e que valeu a pena.

O cinema é capaz de permear nos-sas vidas. Com a história do Cinéfilos não é diferente – nossa viagem tem de tudo um pouco. Espero que todos acompanhem nossos próximos episó-dios.

por Patrícia Chemin

Os e

Cinéfilos Revista Digital

2ª EdiçãoJulho/2010

Equipe Editora:Patrícia CheminRepórteres:Beatriz Montesanti, JulianaMalacarne, Meire Kusumoto,Paula Zogbi, Paulo Fávari eRafael Ciscati

Diagramação e edição de arte:Equipe do Cinéfilos eLucas Rodrigues

O Cinéfilos é um projeto daJornalismo Júnior | EmpresaJúnior de Jornalismo ECA/USPPresidente:Yasmin AbdallaVice-presidente:Rafael Ciscati

editorial

altosbaixos

Page 3: Cinéfilos - 2ªedição

índice

Page 4: Cinéfilos - 2ªedição

Inicialmente, um ferreiro que per-deu mulher e filho. Em seguida, um barão que foi até onde os homens falam italiano e continuou até falarem algo diferente.

Viagens que marcaram época não faltaram na história da humanidade. Dentre as mais célebres podem ser citadas as chamadas cruzadas. No século XI, com o início do declínio do feudalismo e a miséria do povo cris-tão, seria convocada pelo papa Urbano II a guerra aos infiéis (muçulmanos). Foram incentivadas viagens à Pales-tina e a Jerusalém, na tentativa de dominação cristã sobre essas áreas, sempre sob pretexto de que a morte de infiéis seria a vontade de Deus. E é uma dessas tentativas que o filme “Cruzada” retrata, à sua maneira.

No ano de 1099, em uma batalha extremamente sangrenta, Jerusalém fora invadida e conquistada pelos cruzados. Essa foi uma das ações da primeira cruzada oficial¹, chamada também de cruzada dos nobres ou

cavaleiros. Quase um século depois, os muçulmanos decidem, por um de-sentendimento, voltar a lutar pelo que fora deles um dia. É exatamente nesse momento que estamos no filme.

Balian (Orlando Bloom) é um pobre e bastardo ferreiro francês que aca-bou de perder filho e esposa quando conhece seu pai. E qual não é sua surpresa ao descobrir que este pai é barão de Ibelin, título que arrecada para si não muito tempo depois.

Como não poderia deixar de ser, com apenas poucas horas de lições de espada, o protagonista adquire habilidades impressionantes. Em seu caminho para Jerusalém, ainda mata um guerreiro muçulmano experiente em batalha, poupando heroicamente seu companheiro de viagem.

Ao chegar a seu destino, promove mudanças importantes pela prosperi-dade de seu feudo e desperta o amor da princesa Sybilla, insatisfeita em seu casamento com Guy de Lusignan. Posteriormente, Guy recebe dela a

¹Houve uma tentativa anterior (1096), denominada Cruzada dos mendigos, quando cristãos tentaram invadir a Palestina armados apenas com sua fé e vontade. Seu líder teria sido o monge Pedro, O Eremita.

Reino do céu e do heroísmo Por Paula Zogbi

fazendo história

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Por Paula Zogbi

Cruzada (Reino Unido, Es-tados Unidos, Espanha, Alemanha, 2005)

Título original:Kingdom of heavenDireção:Ridley ScottElenco:Orlando Bloom, Liam Nee-son, Eva Green, Jeremy IronsGênero:Ação | Aventura | Histórico

coroa, imediatamente antes de Rey-nald de Chatillon (cavaleiro da Ordem dos Templários) atacar uma caravana de muçulmanos, o que acaba com a trégua entre esses e os cristãos.

Ocorre daí o ataque a Jerusalém, a qual é defendida com garra por Balian. A batalha termina com um acordo en-tre este e o sultão Saladino, no qual foram poupados da morte todos os habitantes cristãos da cidade sob a ameaça do barão de destruir todos os símbolos sagrados que haviam lá.

O filme, como a grande maioria dos baseados em fatos históricos, não conta a verdade absoluta. Um dos maiores contrapontos com a realidade

é o de que Balian nunca foi um fer-reiro, era de uma família nobre fran-cesa. Além disso, ao que consta, ele não teve um caso com Sybilla, que seria mãe do herdeiro do trono, ain-da criança, que não recebe nenhuma menção na película.

Outra incoerência seria o suicídio da esposa de Balian no início do filme. Ao que consta, após a batalha, ao in-vés de fugir com Sybilla como no des-fecho retratado, o herói teria voltado a Tiro para viver justamente com sua verdadeira esposa.

Não são fatos exatamente irrel-evantes, mas são essas mentirinhas que trazem à história um tom de emoção e aumentam a curiosidade e a concentração do espectador. As mentirinhas e Orlando Bloom, que faz questão de assumir, sempre com uma desenvoltura só dele, seus inúmeros papéis como guerreiros temidos.

“Cruzada”, em seu geral, é um óti-mo filme, com algumas cenas médias. Apesar disso, vindo de um diretor ca-paz como Ridley Scott, seria possível esperar algo ainda melhor. Vê-se em títulos como “Gladiador” (2000), do mesmo estilo e vencedor de cinco es-

tatuetas do Oscar, e “Thelma & Lou-ise” (1999).

fazendo história

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deu fome

Se você sonha em ser uma super top model magérrima e tem um pai tão obcecado com o seu sucesso quanto Richard, interpretado por Greg Kin-near, pai da fofíssima, e sim, estou considerando as interpretações nega-tivas que esse termo pode ter, Olive (Abigail Breslin), de “Pequena Miss Sunshine”, sinto muito mas terá que mudar de página. Essa receita não é para você. Afinal, não consta nos nove passos para se tornar um vence-dor comer coisas calóricas.

Agora se você está a fim de cur-tir a vida sem se preocupar com os números minúsculos dos rótulos e com seus níveis de colesterol eleva-dos ou se você precisa de alguma coisa pra acompanhar a leitura de Ni-

etzsche e acabou de descobrir que álcool faz mal pro fígado... Vá

em frente. A solução para este problema pode estar na receita ao lado.Aparentemente tão doce

e inocente como o filme que inspira essa receita, o sorvete

de chocolate pode sim causar al-guns danos a saúde se consumi-

do em excesso. Porém, talvez seja isso que Pequena Miss Sunshine

queira nos mostrar, que todos os prazeres possuem efeitos colaterais,

mas que na maioria das vezes, vale correr o risco para aproveitar e ser quem se é. Então aproveite! A mod-eração fica por sua conta.

Ingredientes:1 tablete de chocolate meio amargo1 lata de leite condensado400 ml de leiteRaspas de chocolate ou granulado para dar um toque todo especial

Modo de preparo:Derreta o chocolate meio amargo em banho-maria. Depois coloque-o no liquidificador junto com o leite condensado e o leite. Bata bem. Despeje a mistura em um recipiente raso ou em uma fôrma de gelo. Leve ao congelador e deixe lá por três horas. Depois de esperar, o sorvete está pronto! Sirva em taças e pode abusar na criatividade ao distribuir o granulado e as raspas de choco-late pelo sorvete. Vale até distribuir no formato de carinha sorridente se ninguém estiver vendo. Boa di-versão só mesmo se for em família, então chame a parentada toda para apreciar essa maravilha da culinária que você acabou de aprender! Se tiver uma kombi velha envolvida, vai ser melhor ainda...

Pequena Miss Sunshine (EUA, 2006)

Título original: Little Miss Sun-shineDireção:Jonathan Dayton e Valerie FarisElenco:Abigail Breslin, Greg Kinnear, Paul Dano, Alan Arkin, Steve CarellGênero:Comédia | Dra-ma

Por Juliana Malacarne

Você tomasorvete?

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Romão, Rose, Antônio, Clévis, Rod-ney, Suelena e Cícero. Em busca de 1000 reais para viver. No Rio de Janei-ro tem emprego. A família não pode se separar. Pra ônibus não tem dinheiro, a pé não dá pra levar todo mundo, as crianças são pequenas, não agüentam. Vão todos de bicicleta, atravessar o sertão brasileiro.

E assim começa o longa nacional “O Caminho das Nuvens”: do “meio do mundo”, meio do país, meio do ser-tão. Não é um filme sobre o Brasil, mas “um filme dentro do Brasil”, como disse o diretor Vicente Amorim (ele próprio experiente viajante, que na juventude acompanhou o pai diplomata ao redor do globo).

A realidade brasileira serve então de cenário para contar a longa viagem da família de Romão. Uma livre e atraente interpretação de uma história verda-deira. De muitas histórias que viajam a paisagem vermelha e seca com o mes-mo objetivo.

E com a mesma trilha sonora: Rober-to Carlos, a voz mais ouvida em Jua-zeiro do Norte. O cantor é o laço entre os membros da família, suas músicas percorrem a trajetória dos persona-gens que as cantam debaixo do sol es-caldante, enquanto pedalam, enquanto

descansam, enquanto procuram o que comer e quando vêem uma oportuni-dade de conseguir algum dinheiro em um barzinho na beira da estrada. Rose (Cláudia Abreu) canta acompanhada do violão do filho Clévis (Felipe Rodrigues), Rodney (Manoel Sebastião Filho) passa para recolher o dinheiro, Romão (Wag-ner Moura) segura o bebê risonho nos braços. O almoço está garantido e ro-das de volta à estrada, ao som do rei.

O filme “dentro do Brasil”, dentro do Sertão, fala de assuntos universais: puberdade, valores, crenças, o convívio familiar. Uma viagem de seis meses e 3.200 km é o tempo de o jovem Antô-nio (Ravi Ramos Lacerda) amadurecer, brigar pelo respeito do pai, se aventu-rar no universo das bebidas, mulheres, cigarro. É o tempo de Romão fortalecer seus valores, recusar a submissão, o conformismo, o dinheiro fácil. É o tem-po de Rose fixar os pés no chão, cons-truir-se como mãe, esposa, mulher.

Os pneus das bicicletas murcham, fu-ram, mas as rodas não param antes do destino final. A poesia do cenário nor-destino, das quatro bicicletas movendo-se em consonância a um destino duvi-doso, faz de “O Caminho das Nuvens” uma viajem com pé no chão, sonhos no céu e rodas a rodar.

cá entre nósUm filme dentrodo Brasil

O Caminho das Nuvens (Brasil, 2003)

Direção:Vicente AmorimElenco:Wagner Moura, Cláudia Abreu, Ravi Ramos, Sidney Magal, Carol CastroGênero:Drama

Por Beatriz Montesanti

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“O espaço é grande. Grande, mesmo. Não dá pra acreditar o quanto ele é des-mesuradamente, inconcebivelmente, estonteantemente grande. Você pode achar que da sua casa até a farmácia é longe, mas isso não é nada em com-paração com o espaço.” Esse, segundo Douglas Adams, é o início do Guia do Mochileiro das Galáxias, um livro “real-mente admirável”, um tremendo Best-seller.

Douglas Adams foi um escritor real-mente admirável. Um verdadeiro Min-go*. Considerado por alguns o mestre da sátira, mostrou, em sua obra, inú-meras críticas ao modo de vida patético do nosso mundo. Ele ainda criou outro, aliás, vários outros mundos totalmen-te novos. Incluindo um planeta para onde vão todas as canetas esferográfi-cas perdidas. Ou até mesmo o planeta-indústria que... constrói planetas! Isso tudo em apenas um de seus livros.

E esse um de seus livros, que an-tes fora um programa de rádio, virou um filme. Totalmente admirável? Ve-jamos...

Arthur Dent (Martin Freeman) é um inglês comum, vivendo sua vida co-mum, quando resolvem derrubar sua

casa para construir um desvio. Mas esse não é nem de longe o pior proble-ma que ele terá nos próximos dias, até porque, seu planeta está prestes a ser destruído para a construção de uma via intergaláctica – coisa que os golfinhos estariam tentando avisar havia tempos. Por sorte, ele tinha alguém para conse-guir-lhe uma carona e lembrar-lhe de levar sua toalha.

A viagem é, possivelmente, a maior, em distância, da história do cinema e da literatura. Além de visitarem alguns planetas da maneira convencional, eles atravessam, mais de uma vez, campos de probabilidade infinita, o que os per-mite “percorrer imensas distâncias in-terestelares num simples zerézimo de segundo”. E por vezes os transformam em sofás ou bonecos de lã.

O filme, baseado no livro, possui al-terações feitas pelo próprio Adams. Ele preferia que cada uma de suas adap-tações fosse contada de uma maneira nova. O personagem Humma Kavula (John Malkovich), por exemplo, foi cria-do especialmente para a versão do ci-nema. Uma pena que essa versão não se saiu tão bem quanto as outras.

Pouco depois de suas últimas adap-

Don´t Panic!

letras na tela

Por Paula Zogbi

O Guia do Mo-chileiro das Galáxias (Reino Unido, 2005)

Título Original:The Hitchhiker’s Guide to the Gal-axyDireção:Garth JenningsElenco:Martin Freeman, Sam Rockwell, Mos Def, John MalkovichGênero:Comédia | Ficção científica

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tações no roteiro do filme, em 2001, Adams faleceu. As filmagens, então, se iniciaram em 2004, sem a sua supervi-são. O resultado foi um bom filme, com seus momentos engraçadíssimos, mas com algumas cenas fora de ritmo e tre-chos que dão a sensação de que algo está faltando.

Apesar dos pesares, vale a pena pre-senciar nas telas o bom humor inabalá-vel do computador Eddie (Thomas Len-non – voz) e a depressão profunda do fofíssimo Marvin, o andróide “paranói-de”. Esses e os efeitos especiais são al-guns dos pontos mais altos do filme. De certa forma, o diretor Garth Jennings soube, sim, trazer à vida esse universo.

Talvez seja a falta de passagens bri-lhantes como “As naves pairavam imó-veis no céu da mesma forma que os tijolos não o fazem”, ou “O maior nú-mero primo se acocorou, quietinho num canto, para nunca mais ser des-coberto”. Fato é que assistir ao filme “O guia do mochileiro das galáxias” (The Hitchhiker’s guide to the galaxy) é uma boa experiência, mas não chega aos pés da experiência de saborear o livro de mesmo título.

letras na tela

Verbetes

O Guia: parece uma grande calculadora. Tem cerca de 100 pequenos botões planos e uma tela quadrada de 10 cm na qual pode ser exibida qualquer uma das suas 1 milhão de pági-nas. Por parecer um artefato complicadíssimo, foi impressa na sua capa em letras garrafais e amigáveis a frase NÃO ENTRE EM PÂNICO!Dinamite Pangalática: O melhor drinque que existe. O efeito é como ter seu cérebro es-magado por uma fatia de limão colocada em volta de uma grande barra de ouro. O guia do mochileiro das galáxias explica detalhadamente como prepará-loPolegar eletrônico: bastão curto e grosso, preto, liso e fosco, com interruptores e ponteiros numa das extremidades. Usado por mochileiros para pedir caronas no espaço.Sancha: (gir.) conhecer, estar ciente de, encontrar, ter relações sexuais com.Dupal: (gir.) cara muito incrível*Mingo: (gir.) cara realmente muito incrívelHuluvu: Tonalidade de azul superinteligentePeixe-babel: pequeno, amarelo, semelhante a uma sanguessuga. Alimenta-se da energia mental não daquele que o hospeda, mas dos que estão em volta dele. Na prática, se você o introduz no ouvido, passa a compreender tudo o que lhe for dito em qualquer língua. (Alguns pensadores vêem no peixe-babel a prova definitiva da existência de Deus)

Don´t Panic! Algumas curiosidades

• Em homenagem a Adams, no dia 25 de maio (duas semanas após a data de sua morte) é comemorado pelo mundo todo o “dia da toalha”, quando fãs saem às ruas carregando suas respectivas toalhas para onde quer que forem.

• No filme (e no capítulo 7 do livro), é dito que a pior poesia do mundo foi escrita por Paula Nancy Millstone Jennings. No pro-grama original, o nome citado era de Paul Neil Milne Johnstone, que realmente existiu e escrevia poemas. Foi colega de escola de Adams, e a menção foi só uma brincadeira.

• Segue, em inglês, a pior poesia do mundo:The dead swans lay in the stagnant pool.

They lay. They rotted. They turnedAround occasionally.

Bits of flesh dropped off them fromTime to time.

And sank into the pool’s mire.They also smelt a great deal.

• O número de telefone de Tricia, mencio-nado em uma potência de improbabilidade, existe e pertencia a um amigo seu, que não se importava em receber ligações de estra-nhos.

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Ele correu da costa oeste à leste dos Estados Unidos por três anos e dois meses, criou frases de pára-choques de caminhões e estampas de camise-tas que ficaram famosas, foi para a guerra no Vietnã, jogou tênis de mesa na China, deu o pontapé inicial no que mais tarde se desenrolaria no Caso Watergate, conheceu três presidentes americanos, Elvis Presley e John Len-non e virou acionista da Apple. Tudo isso sem perder a simplicidade. Esse é Forrest Gump.

Se a vida é mesmo como uma caixa de chocolates, a de Forrest não podia ser mais cheia de boas surpresas. O QI de 75, abaixo da média, não impe-diu que ele vivenciasse toda a cultura americana e mais, tivesse influência no seu curso, sendo retratado como o responsável pela criação de grandes ícones sem ter consciência disso.

Com o seu caminho cheio de inter-venções das mais estranhas, ele nun-ca deixou de apenas tentar viver em paz e proteger Jenny, por quem se apaixonara desde o dia em que se co-nheceram.

No condado fictício de Greenbow, Alabama, Forrest foi criado por sua mãe, mas não permaneceu por muito tempo. Logo após terminar a faculda-de ele foi mandado para a Guerra do

Vietnã, onde combateu embaixo das chuvas torrenciais no meio da floresta e salvou as vidas de muitos compa-nheiros.

Quando em recuperação de um tiro que levara durante a guerra, apren-deu a jogar tênis de mesa e descobriu um novo talento. Foi para a China co-munista jogar e teve papel importan-te na abertura desse país para a visi-ta de Richard Nixon, o que mais tarde culminaria na reaproximação da China e dos Estados Unidos.

Após ser dispensado do exército com honrarias, decide cumprir uma promessa feita a seu amigo de guer-ra Bubba, de comprar um barco para pescar camarões. Apesar de no co-meço não ter sorte, isso muda quan-do apenas o barco “Jenny” resiste ao Furacão Carmen de 1974.

Quando abandonado por Jenny, mais ao fim do filme, Forrest decide correr. Simplesmente correr. Ele per-corre o território americano várias ve-zes, eventualmente arranjando com-panhia, até que fica cansado e pára. Essa é toda a simplicidade do perso-nagem, correndo sem destino quan-do tem vontade, parando quando tem vontade, sem se preocupar com cau-sa ou consequência, refém apenas de seu coração.

Forrest Gump – o contador de histórias (EUA, 1994)

Título original: Forrest GumpDireção:Robert ZemeckisElenco:Tom Hanks, Rob-in Wright Penn, Gary SiniseGênero:Comédia | Dra-ma

personagem

Por Meire Kusumoto

Do Alabama ao Vietnã

Page 11: Cinéfilos - 2ªedição

principal

Nas páginas a seguir você encontrará duas matérias: uma sobre os filmes da série Cities of Love e outra sobre pes-soas que visitaram locações de filmes em suas viagens. Então, pegue aquela almofada bem fofa, sente num sofá bem macio e se prepare para a leitura.E nem precisa andar por essa estrada aqui embaixo, hein!?

Bem-vindo à seção principal!

Page 12: Cinéfilos - 2ªedição

Emmanuel Benbihy, produtor francês, um belo dia teve uma ideia: convidar vários diretores, de todos os cantos do mundo, para retratar o amor em Paris e por Paris. O resul-tado foi 18 curtas-metragens que, re-unidos, deram vida a “Paris, Te Amo”.

Pois a ideia deu caldo, ganhou nome (Cidades do Amor; Cities of Love) e vi-rou série. “Nova York, Eu Te Amo” es-treou em 2008, “Rio, Eu Te Amo” está em fase de filmagens e a produção segue para Xangai e Jerusalém.

ParisParis é dividida em áreas e cada

uma é retratada em um curta. A mu-dança entre um e outro é clara e o que temos é uma reunião de curtas-metragens. Termina um, segue o títu-lo do próximo com algumas imagens do local a ser retratado e o curta em si. Apesar dessa opção dar a cara do filme, faz surgir seus maiores (e in-evitáveis) problemas: a inconstância e a comparação entre os diretores.

Assim, temos o momento “o quê que eu estou fazendo aqui?”, com o deva-neio absurdo de Christopher Doyle,

em “Porte de Choisy”, ao retratar um vendedor de produtos femininos se encontrando com a proprietária de um salão de beleza chinês. Não dá pra entender porquê diabos ele está lá.

Por outro lado, a briga para decidir o melhor é travada em duplas e com humor. De um lado, os irmãos Coen, com “Tuilieres”. A história se passa no metrô, onde um turista americano de repente se vê no olho do furacão de uma briga de casal francês. Vale pela direção inteligente dos irmãos e pela atuação excelente de Steve Buscemi.

Do outro lado, Frédéric Auburtin e Gérard Depardieu, com “Quartier Latin”. Ex-marido e ex-esposa se en-contram num bar para decidirem so-bre o divórcio. A conversa amigável aos poucos se torna uma sequência de patadas, sem, no entanto, nenhum dos dois perderem a pompa.

Além disso, há “Loin du 16ème”, dos brasileiros Walter Salles e Dan-iela Thomas, que conta a história de uma babá estrangeira. Simples, meio quadradão, mas o tom de crônica poética o eleva.

Já “Place des Victoires”, de Nobuhiro

principal

AmorMetropolitano Por Paulo Fávari

Page 13: Cinéfilos - 2ªedição

AmorMetropolitano

Suwa, tem um ar visionário. Essa é a história de uma mãe que está depres-siva por causa da morte recente de seu filho. Não, Suwa não perdeu seu filho. A premonição está no ator escol-hido para ser o cavaleiro (alucinação da mãe): Willem Dafoe, protagonista de “Anticristo”, longa de Lars Von Trier que explora uma temática parecida.

Nova YorkPara o segundo filme da série, a op-

ção foi por não haver mudanças claras entre os curtas. Se, por um lado, o filme fica mais homogêneo, como se fosse uma única história; por outro, o foco das histórias (o amor apenas) depõe contra. Parece não haver uma declaração à cidade, mas ao amor. As-sim sendo, trocar, no título, Nova York por São Paulo ou Londres faria pouca ou nenhuma diferença.

Dos 11 curtas, três valem o filme. A primeira, de Mira Nair, conta a história de uma judia que vai a uma joalheria de um janaísta negociar diamantes. Ela está prestes a se casar; a mulher dele voltou para a Índia e o deixou sozinho. Os dois se apaixonam.

Na segunda, de Shunji Iwai, um músico se vê às voltas para fazer a trilha sonora de um filme. A secre-tária do diretor do filme passa, então, a ajudá-lo – sempre por telefone. Desnecessário dizer que se encon-tram depois. Por fim, há o de Joshua Marston. Um casal de velhinhos vai celebrar o aniversário dela. As im-plicâncias de um com o outro rendem boas risadas e criam um vínculo quase imediato com o espectador.

Se o objetivo era mostrar o aspecto multicultural de Nova York, pode-se dizer que foi alcançado. No entanto, o preço a ser pago – histórias burocráti-cas e quase nenhuma Nova York – é alto demais.

Rio de JaneiroPara a próxima parada, dois dire-

tores brasileiros estão confirmados: José Padilha e Fernando Meirelles. Para os outros oito curtas, o time de diretores contará com mais um brasileiro, três americanos e quatro de outras nacionalidades. Os curtas estão sendo rodados e a previsão de estreia é para o ano que vem.

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Veja também

Flerte (Flirt, 1995): a mesma cena rodada em Nova York, Berlim e Tóquio, por diretores diferentes.

11 de Setembro (11’09’’01 – September 11): são 11 curtas so-bre o dia em que as Torres Gêmeas caíram. Cada um tem 11 minutos, 9 segundos e uma imagem.

Por Paulo Fávari

Page 14: Cinéfilos - 2ªedição

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Pontos turísticos são constantemente cenários de filmes. A torre Eiffel, por exemplo, tornou-se símbolo comum nos longas românticos. Cassinos em Las Vegas, praias do Caribe, e o próprio Cristo Redentor seguem a regra de per-sonagens esperados. Não se vai à Paris para ver onde pisou Ingrid Bergman em “Casablanca”, Gene Kelly em “Um Americano em Paris” ou Tom Hanks no “Código Da Vinci”: a cidade já possuía seu status turístico antes de todos eles.

Mas, uma vez em Nova York, porque não, após visitar a Estátua da Liberdade, comer um X-salada na charmosa lanchonete de “When Harry met Sally”? Ou, se passando pelo Sudeste Asiático, conhecer um dos históricos cenários de “Tomb Raider” ou do paradisíaco “A Praia”? Ali perto, no Oceano Pacífico, ver ao vivo as paisagens reais que fizeram

Luiza Barbato está concluindo o co-legial em Hong Kong e aproveitou as férias escolares para conhecer as re-dondezas com um grupo de amigos. Por ali, pisou nas areias outrora pisa-das por Leonardo DiCaprio. A praia tornou-se um dos principais pontos turísticos da Tailândia após o longa e foi incluído no roteiro dos mochil-eiros. “Ali também existe uma praia chamada ‘Bond Island’ (imagina por quê?), mas não deu tempo para con-hecer”. Em compensação, passaram pelo Templo de Angkor Wat, na cidade de Siem Reap, ao norte do Camboja. Uma das maiores cidades pré-indus-triais figurou como plano de fundo de Angelina Jolie, em “Tomb Raider”.

Foi aqui que filmaram...Por Beatriz Montesanti

Page 15: Cinéfilos - 2ªedição

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As paisagens naturais da Nova Zelândia também foram descobertas por grandes produções e serviram de set para ficções fantásticas como “As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian” e “O Senhor dos Anéis”. Ao vivo, talvez não sejam permeadas pela magia das ficções, porém não ficam tão atrás, provam as fotos de André Cavalieri, que fez intercâmbio no país em 2008.

Raquel Paiva passou as últimas férias em Nova York com a família. Após visitarem a Estátua da Liberdade, o Central Park e a Time Square, pararam para comer na lanchonete que ser-viu de cenário ao divertidíssimo diálogo en-tre Harry e Sally. “Recomendaram o lugar pra gente. Quando chegamos lá, vimos a plaquinha e descobrimos porque era famoso!”.

Page 16: Cinéfilos - 2ªedição

Senhoras e senhores, bem vindos ao mundo mágico de Tim Burton! Nele vocês terão a oportunidade única de ver gigantes, vietnamitas siamesas e lobisomens donos de circo. Atraves-sarão os perigos de um atalho maca-bro, conhecerão cidades com a grama tão fofa que ninguém usa sapato (ok, não é só por isso) e verão com os próprios olhos o maior peixe que já existiu na Terra. Acomodem-se bem em suas melhores poltronas, o show vai começar!

A saga contada em “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” é uma adaptação do livro Peixe Grande, de Daniel Wallace. De um lado, Edward Bloom (Perry Walston, Ewan Mc-Gregor e Albert Finney): um viajante de imaginação fértil que adora con-tar histórias. De outro, William Bloom (Grayson Stone e Billy Crudup), seu filho, que se sente frustrado por não saber ao certo a história verdadeira de seu pai, sem as fantasias habituais.

Após ter notícias do quadro de saúde irreversível de seu pai, William vai a seu encontro para visitá-lo, cuidar dele e tentar entendê-lo (leia-se: sa-ber sua real história).

O que se segue, diferentemente do que o começo triste pode sugerir, é uma sucessão de causos exagerada-mente fantásticos – marca registrada do diretor, Tim Burton – ocorridos nas andanças de Edward Bloom.

E não é só nos causos que tem dedo de Burton. A estética, as cores (ora vibrantes, ora sombrias), os formatos dos cenários e objetos não passam

incólumes ao diretor. Difícil não lem-brar de Edward Mãos de Tesoura ao ver as Handi-Matic ou todas as outras engenhocas. Como não identificar na sombria floresta do atalho Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet ou A Noiva Cadáver? Os grama-dos de Spectre parecem a inspiração para os seus primos adocicados de A Fantástica Fábrica de Chocolates (e o faz-tudo do circo/Oompa-Loompa também entra na dança).

Indo além do filme, difícil encontrar algum viciado em séries que não veja pontos em comum entre Peixe Grande e Pushing Daisies. Impossível cinéfi-los não identificarem Forrest Gump, o Contador de Histórias, seja no próprio título, nas andanças, no Vietnã, ou até mesmo nos acasos promotores de reviravoltas.

A cereja do bolo fica por conta do tom metalinguístico. Por meio de Bloom, Burton diz ao público (ou se-ria a seus filhos?) qual a razão de sua preferência por fábulas e histórias fantásticas. É assim que também se justifica pelas bruxas vividas por sua mulher (Helena Bonham Carter).

Peixe Grande é um pequeno grande filme, feito para mostrar o poder de uma história bem contada. Se peca pela falta de originalidade da história ou por não explorar melhor algumas personagens, no todo o lúdico e o so-turno são sabiamente dosados. É um filme a ser visto e revisto, principal-mente nos momentos em que o mun-do começa a ficar chato.

vale a pena ver

´Por Paulo Fávari

Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas (EUA, 2003)

Título original: Big FishDireção:Tim BurtonElenco:Ewan McGregor, Albert Finney, Billy Crudup, Jessica LangeGênero:Aventura | Dra-ma | Fantasia

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O pessoal da Pixar costuma dizer que ama o que faz. Verdade ou

não, o fato é que as platéias aprenderam a amar Wall-e, um dos robôs mais expressivos da sétima arte. Limpando montanhas de lixo em uma Terra desolada, apaixonado pela ro-bozinha Eve, Wall-e encantou o marmanjo mais casca-grossa.

top 10

As melhores

10.Wall-E

“Mas que coisa mais linda”. Uma família nada comum em

uma verdadeira bad trip. Para salvar um bebê humano, Manfred (um mamute), Sid (uma preguiça gigante e especialmente fol-gada) e Diego (um tigre dentes de sabre) precisam cruzar geleiras, e dar muitas gar-galhadas. Lançado em 2002, a Era do Gelo teve ainda duas sequências, além de arre-matar o Oscar de melhor animação.

9. A Era do Gelo

Por Rafael Ciscati e Lucas Rodrigues

Um pai traumatizado com a violência em sua vizinhan-

ça...submarina. Depois de ver o filho pescado por um dentista, cabe a Marlin, um atrapalhado peixe palhaço, cruzar os sete mares para salvá-lo. No meio do caminho, no entanto, não faltarão sur-presas. Esbanjando bons personagens, “Procurando Nemo” foi mais um daqueles grandes sucessos da Pixar, com visual impecável e piadas já clássicas (aposto que você já tentou falar baleiês).

8. Procurando Nemo

viagens da telona

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top 10

Viajar de costa a costa dos EUA demitindo pessoas. Não é lá o trabalho mais desejado do mundo, mas é o ganha pão de Ryan Bingham (George Clooney), e o que ele faz de melhor. Incapaz de se apegar a pes-soas e lugares, Ryan fez de voar um estilo de vida. Por isso quando uma novata aparece com uma idéia de demissões on-line, ele fica especial-mente contrariado. Com diálogos afi-ados e uma história bem amarrada, “Amor sem Escalas” tem direção de Jason Reiman.

7.Amor semEscalas

Um Hitchcock tão legítmo que mereceu ser refilmado, pelo próprio Hitchcock. Uma trama de assassinato em uma viagem pelo Marrocos e uma aparição especial do diretor fizeram de “O Homem que Sabia Demais” um clássico incontestável!

6.O Homem que Sabia Demais “We’ll always have Paris”. Há

aquelas frases memoráveis. E há os filmes inesquecíveis. Considerado um dos melhores filmes de todos os tempos, “Casa-blanca” conta as histórias dos que passa-vam pelo Mar-rocos a pro-cura do Novo Mundo, em plena Segunda Guerra. Isso tudo ao som de Frank Sina-tra “As Time Goes By”...

5.Casablanca

Chihiro é uma garota de 10 anos, mima-da e birrenta. Triste por ter que mudar de

cidade, ela está emburrada no banco de trás do carro quando seus pais decidem fazer uma pausa na viagem, e entram numa gruta que os leva para um mundo novo. Premissa ingênua? Longe disso! O diretor Hayao Mi-yazaki estava efastiado das histórias bobinhas que as crianças em sua casa liam quando decidiu criar Chihiro, uma heroína atípica que tem de aprender a deixar de ser aquela criança, para sobreviver em um mundo re-pleto de deuses, dragões, bruxas e... bebês gigantes.

4.A Viagem de Chihiro

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top 10

Vicky era a consciência. Cristina era o impulso. E Barcelona? Ah, Barcelona... Nesse filme de Woody Allen, a éxotica cidade é pano de fundo para o triângulo amoroso entre as amigas e Juan Antonio, espanhol que vive, ao mesmo tempo, uma turbulenta e intensa relação com a inconstante Maria Elena. O filme, que tem como ponto de par-tida a viagem de férias de Vicky e Cristina, é uma metáfora de como, em um período tão curto de tempo, as coisas tomam rumos tão diferentes.

3. Vicky Cristina Barcelona

Nessa histórica jornada, o bravo Rei Arthur parte em busca do Cálice Sagrado, enquan-to reúne os guerreiros mais corajosos para completar a sua Távola Redonda. Na “épica aventura”, enfrentar o Cavaleiro Negro e os temidos Guerreiros-Que-Dizem-Nii, e con-struir um coelho gigante de madeira para in-vadir o território inimigo eram só alguns dos desafios do grupo. Com situações hilárias, além de cenas e efeitos toscos, o diretor Ter-ry Gilliam conseguiu criar uma das paródias mais nonsense da história do cinema.

2.Monty PythonEm Busca do Cálice Sagrado

Um carro super-estiloso, um senhor que é o verdadeiro estereótipo de cientista maluco e todo o charme desencontrado dos anos 80. “De Volta para o Futuro” já ocupa o posto de clássico inquestionável entre os filmes de viagem. E nem poderia deixar de ser. O DeLorean envenenado do Dr. Emmett (Christopher Lloyd) resistiu ao tempo só para mostrar que aquela, afinal, não foi uma década assim tão perdida.

1. De Volta parao Futuro

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Típicos filmes infantis, “Sabrina vai a Roma” e “Sabrina na Austrália” têm como preocupação maior entre-ter com leveza, por isso a ambienta-ção em belos lugares e a ausência de personagens realmente antagônicos. Nessas produções, o que conta mais são o carisma da bruxinha, os misté-rios que são facilmente desvendados e os romances inocentes.

No primeiro deles, Sabrina tem que descobrir como abrir um medalhão de uma tia que desapareceu depois de ser traída pelo grande amor de sua vida. Ela deve liberar o poder contido nele, ou essa tia ficará perdida para sempre. Para isso, segue instruções de uma carta de seu pai, que afirma estar em Roma o segredo.

Lá ela conhece Paul, um jovem fotó-grafo americano por quem se apaixo-na à beira da “Fontana di Trevi” mas que, ao ver Sabrina fazendo mágica, bola um plano de documentar esse tipo de acontecimento para vender a história depois.

O filme se desenrola nisso, na ten-tativa de abrir o medalhão e na de gravar as magias. Só que, previsi-velmente, Paul também acaba por se

apaixonar por Sabrina, o que o im-pede de continuar com seu plano. A partir disso, a bruxinha descobre que o segredo do medalhão é confiar em seu próprio coração, acima de todas as coisas.

Já em “Sabrina na Austrália”, ela mostra todo seu interesse em se tor-nar bióloga. Isso se dá quando a bru-xinha protege uma colônia de sereias

cine trash

As viagens de Sabrina

1.

Por Meire Kusumoto

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da poluição marinha e do desejo de um biólogo famoso, o Doutor Julian Martin, de divulgar esse grupo, ame-açando sua segurança e privacidade.

Para isso, ela tem que conquistar a confiança das sereias, o que se dá inicialmente com a sua aproximação de um sereia-macho, Barnaby, que se encontrava com alergias graves no ombro em função da poluição. Eles se tornam amigos e há até a premissa de um romance, mas que não é leva-do adiante, já que Sabrina diz ter um namorado em casa.

Ao final, ela consegue salvar a co-lônia, já que faz o biólogo perceber que sua ambição era totalmente pre-judicial à vida das sereias. Além disso, Sabrina descobre que uma espécie de peixe que já era considerada extinta ainda podia ser encontrada nos mares da Austrália.

Como acompanhante nos dois fil-mes, ela tem seu gato falante Salém, que, apesar de variar entre gato me-cânico e animal de verdade, o que dá um efeito, no mínimo, estranho, pare-ce ser o protagonista das cenas mais divertidas. O seu comportamento

lembra o de Gar-field, com toda a preguiça e a aco-modação de um bi-chano que não tem muitas obrigações.

Os filmes têm his-tórias simples, per-sonagens planos e atores medianos, mas deve ter cum-prido seu papel de divertir crianças e pré-adolescentes da década de 1990, quando as produ-ções em 3D, agora tão em voga, ainda estavam começan-do.

cine trash

TOP 102. Crossroads - amigas para sempre (2002) - Brit-ney Spears poderia muito bem ter ido dormir sem essa tentativa fracassada de ser BFF do público.

3. Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida (2004) - Descendentes de vikings no subterrâneo da Amazônia?

4. O Carro Desgovernado (1997) - Pro rádio do carro falar com o motorista o filme tem de ser ruim...

5. Serpentes a bordo (2006) - Centenas de serpen-tes num avião só para matar uma testemunha? Nem Samuel L. Jackson salva.

6. Férias no Trailer (2006) - Faltou grana para a via-gem e para uma produção decente.

7. Eurotrip - passaporte para confusão (2004) - Um American Pie piorado e com o pé na estrada.

8. Um Vôo Muito Louco (2004) - Um avião roxo com muitos rappers, drogas, mulheres... Um avião roxo?

9. Recém-Casados (2003) - Ah, quantas dificuldades se deve superar para manter o amor...

10. 2001: Um maluco perdido no espaço (2000) - Kubrick morreu em 1999. Mal se decompôs, já se revi-rou no túmulo.

Viagens do cinemaAs piores

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cinetecetera

LOST, a viagem que começou com 48 passageiros sobreviventes à queda do avião Oceanic Airlines 815, termi-nou dia 23 de maio. Desses 48, pou-cos resistiram até o último episódio, porém os que restaram vivos não estavam sozinhos: contavam com o apoio de mais de 11,65 milhões de pessoas que assistiram ao grande fi-nal, torceram por eles durante seis anos e se emocionaram.

No meio dessa multidão estava uma das comunidades mais viciadas de to-dos os tempos, os lostmaníacos, ou lostfanáticos. Homens e mulheres de todas as idades que se organizavam em blogs e fóruns de discussão para comentar a série. Não faltaram entre eles teorias malucas, noites inteiras discutindo um episódio , easter eggs (pequenas pistas escondidas ao longo da série que, para um espectador de-satento nada significavam, mas podi-am ajudar a decifrar alguns mistérios da ilha) e cenas enigmáticas, que po-diam ter ficado apenas alguns segun-dos no ar, mas que rendiam semanas inteiras de interpretações.

LOST só foi um sucesso estrondoso por causa da Internet, sem ela, com certeza não teria sido tão interativo e viciante. Porém, ele agrupava vários outros elementos que podem justifi-car sua transformação em um fenô-meno mundial: um elenco interna-cional, a aplicação de conceitos de filosofia, mitologia, um pouco de ciên-cia (ou melhor, pseudociência, afinal é uma ficção) personagens cativantes de histórias misteriosas e inspiração no cinema.

As alusões feitas ao cinema não são poucas. Os escri-tores de LOST Damon Lindelof e Carlton Cuse já admiti-ram que são fãs de vários filmes citados nos episódios e se basearam neles para construir a série. “Star Wars” é um dos preferidos. No episódio final ouvimos o simpático e gordinho Hurley se referir a Jacob como Yoda. Na hora, pareceu uma piadinha, mas, de fato, Jacob assemelha-se a Yoda por ser sábio e enigmático. Em uma das viagens malucas no tempo, os personagens aparecem em 1977, ano em que Star Wars havia acabado de estrear e o mes-mo Hurley resolve escrever “The Empire Strikes Back”, a continuação do primeiro filme que ainda não havia sido

Os personagens de Lost e suas caras metades do cinema

entre sabres de luz,hobbits e ilhas mágicas

Ana Lucia e Rambo

Sawyer e Harry Potter

LOSTPor Juliana Malacarne

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cineteceteralançada. Infelizmente, ele não consegue enviar o manu-scrito a George Lucas, verdadeiro autor de “Star Wars”.

Além dessas citações mais sérias, os filmes que influen-ciaram os autores de alguma maneira vinham em forma de piada. Em uma cena, Charlie, Dominic Monaghan, diz que escuta as árvores e que estas são ótimas conversa-doras. Pensando que o mesmo ator já fez um hobbit em “O Senhor dos Anéis” e que este hobbit de fato conver-sava com árvores gigantes que podiam falar, entende-se o humor. Outra cena engraçadinha é quando Sawyer, Josh Holloway, um dos bonitões da série, é obrigado a usar um óculos remendado e Hurley, de novo o gordinho, passa e comenta: “parece que alguém copiou o Harry Potter!”. Houve também, uma cena no aeroporto em que o filme “Memórias de uma gueixa” é citado para descrever a rela-ção entre os coreanos Jin e Sun, passageiros do vôo 815. De fato, no começo, as tomadas entre esses dois perso-nagens se confundiriam com o filme.

Os espectadores de Lost parecem ser dotados de uma capacidade de associação não muito normal. Teve gente que viu no Black Rock, um navio antigo e abandonado en-contrado no meio da floresta, uma menção ao Black Pearl,

navio de Jack Sparrow em “Piratas do Caribe” e na cena em que Sawyer é quase atacado por um tubarão, na 1ª temporada, uma homenagem a um outro Tubarão, o de Steven Spielberg. Isso não é forçar a barra? Provavel-mente. Essas relações nunca tiveram nenhuma comprovação, mas pode ter sido uma forma sutil de trazer o brilho dessas produções para LOST.

Como se não bastassem todos es-ses diálogos relacionando situações, atores e momentos de LOST a film-es, ainda havia Sawyer. Sawyer, um dos mais engraçados da ilha, tinha a mania de dar apelidos, não importa para quem fosse, e bastava parecer com algum personagem de filme fa-moso que lá vinha a brincadeira. As-sim surgiram os apelidos: Chicken Little, Hulk, Sheena, Tinkerbell, Col-onel Kurtz, Tarzan, Zeke... Desde os mais óbvios como Rambina, usado para caracterizar Ana Lucia, que por sua tendência à violência e facilidade para lidar com armas se parecia com Rambo, até Chewie, em referência a Chewbacca de “Star Wars”, que, as-sim como o coreano apelidado dessa forma, não falava inglês. Todos arran-cavam pelo menos uma risadinha dos espectadores.

Quem foi realmente fã da série pro-curou saber mais sobre os filmes e livros citados ao longo dela e tentou entender de onde vinha aquele mar de associações. Quem sabe quantos novos fãs de “Star Wars” e “Jornada nas Estrelas” não surgiram a partir disso? LOST se foi e com ele todas as referências ao cinema que tanto o enriqueciam, mas o seu legado fica. A identificação dos espectadores foi tanta que é como se tivessem caído em uma ilha misteriosa também, da qual agora, de repente, vão ter que abrir mão e seguir em frente, mas sem nunca esquecer do que foi uma das melhores produções de todos os tempos.

Os personagens de Lost e suas caras metades do cinema

Jin e Chewbacca

Kate e Shenna

Mr. Eko e Shaft

Hurley e Jabba

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