ciências ambientais em perspectiva

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Ciências Ambientais em Perspectiva Criação Editora ORGANIZAÇÃO Maria José Nascimento Soares Laura Jane Gomes

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Page 1: Ciências Ambientais em Perspectiva

Ciecircncias Ambientaisem Perspectiva

Criaccedilatildeo Editora

ORGANIZACcedilAtildeOMaria Joseacute Nascimento Soares

Laura Jane Gomes

CONSELHO EDITORIAL Criaccedilatildeo Editora

Ana Maria de MenezesFaacutebio Alves dos SantosJorge Carvalho do NascimentoJoseacute Eduardo FrancoJoseacute Rodorval RamalhoJustino Alves LimaLuiz Eduardo Oliveira MenezesMartin Hadsell do NascimentoRita de Caacutecia Santos Souza

CONSELHO CIENTIacuteFICO

Dra Diana Alexandra Tovar Bonilla Direccioacuten de Descentralizacioacuten y Desarrollo Regional Departamento Nacional de Planeacioacuten de Colombia ndash DNP

Dra Divaniacutezia do Nascimento SouzaDepartamento de Fiacutesica Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Fiacutesica (PPGFI ) e do Pro-grama de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ensino de Ciecircncias e Matemaacutetica (PPGECIMA) da Universidade Federal de Sergipe

Dr Edson Vicente da Silva Departamento de Geografia do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universi-dade Federal do Cearaacute

Dr Mario Burgui Burgui Caacutetedra de Eacutetica Ambiental ldquoFundacioacuten Tatiana Peacuterez de Guzmaacuten el Buenordquo e do Departamento de Geografiacutea y Medio Ambiente da Universidad de Alcalaacute (Madrid Espantildea)

Dr Paulo Seacutergio MarotiCurso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do CampoLEDUCAR da UFRR do PPG em Ge-ografiaUFRR e do PPG Profissional Profaacutegua da Universidade Federal de Roraima (UFRR)

Dra Raquel Franco de SouzaDepartamento de Geologia e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimen-to e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Dra Veleida Anahiacute da SilvaDepartamento de Educaccedilatildeo Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (PPGED) e Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ensino de Ciecircncias e Matemaacutetica (PPGECIMA) da Universidade Federal de Sergipe

AracajuSE2020

Criaccedilatildeo Editora

Ciecircncias Ambientaisem Perspectiva

OrganizaccedilatildeoMaria Joseacute Nascimento Soares

Laura Jane Gomes

ColaboradoresJonielton Oliveira Dantas

Mariacutelia Barbosa dos SantosDelmira Santos da Conceiccedilatildeo Silva

Alessandra Barbosa Souza

zesIlustraccedilatildeo 103764185 copy Hilchtime | Dreamstimecom

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Ficha catalograacutefica elaborada pelo bibliotecaacuterio Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846

S676a Soares Maria Joseacute Nascimento (org) et al Ciecircncias Ambientais em perspectiva Organizadores Maria

Joseacute Nascimento Soares Laura Jane Gomes Jonielton Oliveira Dantas Mariacutelia Barbosa dos Santos Delmira Santos da Con-ceiccedilatildeo Silva e Alessandra Barbosa Souza Prefaacutecio Andreacute Luiz de Oliveira ndash 1 ed ndash Aracaju SE Criaccedilatildeo Editora 2020

322 p 21 cm ISBN 978-65-80067-74-9 1 Biodiversidade 2 Ciecircncias Ambientais 3 Meio Ambiente I Tiacutetulo II Assunto III Organizadores

CDD 577CDU 50406

IacuteNDICE PARA CATAacuteLOGO SISTEMAacuteTICO1 Meio Ambiente2 Cuidados e proteccedilatildeo ao Meio Ambiente REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICASOARES Maria Joseacute Nascimento (org) et al Ciecircncias Ambientais em perspectiva 1 ed Aracaju SE Criaccedilatildeo Editora 2020

Proibida a reproduccedilatildeo total ou parcial por qualquer meio ou processo com finalidade de comercializaccedilatildeo ou aproveitamento de lucros ou vantagens com observacircncia da Lei de regecircncia Poderaacute ser reproduzido texto entre aspas desde que haja expressa marcaccedilatildeo do nome do autor tiacutetulo da obra editora ediccedilatildeo e paginaccedilatildeoA violaccedilatildeo dos direitos de autor (Lei nordm 961998) eacute crime estabelecido pelo artigo 184 do Coacutedigo penal

O rigor e a exatidatildeo do conteuacutedo dos artigos publicados satildeo da responsabilidade exclu-siva dos seus autores Os autores satildeo responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo escrita para reproduccedilatildeo de materiais que tenham sido previamente publicados e que desejem que sejam reproduzidos neste livro

IN MEMORIUMDANIELA PINHEIRO BITENCURTI RUIZ-ESPARZA

A filha do Seo Darccedila (Darcy Bitencurti) e Dona Maria Luiza Pinheiro natildeo era faacutecil Sempre levada e de espiacuterito irrequieta sabia o que queria Nasceu em Junquei-roacutepolis interior paulista destinada ir para o mundo Desde menina sempre es-tava laacute no meio dos meninos jogando bola basquete sua paixatildeo desde crianccedila Para as irmatildes e sobrinhos era uma inspiraccedilatildeo todos apaixonadas pelo espiacuterito aventureiro e suas conquistas

Saiacute de casa ndash Dani saiu de casa para ir estudar Fiacutesica na Universidade Estadual de Londrina (95) pois jaacute sabia que queria o seu universo estava na matemaacutetica e fiacutesica espacial entatildeo seu proacuteximo destino iniciou (99) o mestrado inconcluso no INPE mas reiniciou para concluir o mestrado no Meacutexico (2006) na Universi-dad Michoacaacuten de San Nicolaacutes de Hidalgo a qual foi orientada pelo Prof Jean Franccedilois Mas Gaussi onde aprimorou seus conceitos e a praacutexis nas geotecnolo-gias de geoprocessamento e sensoriamento remoto e suas relaccedilotildees entre vege-taccedilatildeo e a ocupaccedilatildeo humana

Um peacute no Meacutexico - Ao voltar para o Brasil (2007) ela trouxe o bioacutelogo ndash orni-toacutelogo Mexicano Juan Esparza seu grande companheiro o qual fora tirado a laccedilo do sitio de Morelia Contava ela a todos com grande satisfaccedilatildeo e alegria que tem pelos Mexicanos durante as sessotildees de violatildeo e viola de Los Romacircnti-

6 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

cos de la Caatinga ldquoConheci a Dani e Juan nos corredores da Biologia da UFSrdquo quando passei a notiacutecia iamos abrir o programa de Poacutes em Ecologia em 2008 Mas tinham uma condiccedilatildeo pare eles entrarem o Juan entrar teria que casar Casaram-se em 2007 e a partir daiacute fizerem planos de se estabelecerem defini-tivamente em Sergipe e sair daqui jaacute era impensaacutevel para ela O seu grupo de amigos da UFS Petrobras IBGE Geologia soacute aumentava e essa era uma das coisas que Dani sabia fazer bem Amizade pois tudo mundo era bom para ela os ruins deixa para laacute dizia ela

Os desafios ndash Sabia de manter ativa devido a sua experiecircncia adquirida nas consultorias no IBGE Petrobras Governo do Estado o que natildeo impediu de noacutes converte-la em pesquisadora Em 2014 entrou doutorado do Prodema e sob a orientaccedilatildeo do Dr Stephen F Ferrari teve seu desafio problema fazer o diag-noacutestico sobre desmatamento na caatinga do baixo Rio Satildeo Francisco (Bahia ndash Sergipe) e seus efeitos sobre as populaccedilotildees de Callicebus ndash macaco Guigoacute Concluiu muito bem Outras duas passagens desse desafio fizeram Dani conso-lidar-se agora como professora e pesquisadora Como professora foi substituta no Departamento de Engenharia Ambiental e como pesquisadora foi Bolsista do Poacutes doutorado no Prodema com a supervisatildeo da Dra Rosemeri M e Souza Recentemente fora credenciada no Mestrado e Doutorado do Prodema e seu orgulho era ter orientado 3 alunos e vinha orientando 5 do mestrado e uma de doutorado

Tinha planos para o semiarido ndash Trabalhar morar e viver no semiarido era ateacute entatildeo uma coisa muito remota na cabeccedila da Dani pois Aracaju os amigos o Corinthians o basquete e as longas noites e cervejas no Rosa Else os churrascos no Adauuto as quartas no Minero e no entardecer ela fazia e dizia sempre Vo-cecircs satildeo o maacuteximo minha vida aqui se completa Na transiccedilatildeo de 2016 foi viver em Nossa Senhora da Gloacuteria agora como Professora do receacutem criado Campus Sertatildeo onde estava lotada no Nuacutecleo de Ciecircncias Agraacuterias e da Terra Tinha pla-nos projetos aprovados que envolvia pesquisas sobre as questotildees do desma-tamento da caatinga a sustentabilidade do sertanejo no semiarido os serviccedilos ecossistecircmicos e a conservaccedilatildeo planejamento e gestatildeo dos recursos hiacutedricos Seu conhecimento nos instrumentos em geotecnologias e em sensoriamen-to remoto estava no lugar certo o Campus do Sertatildeo e no Prodema Estava dando certo Consequentemente a procura dos alunos do mestrado e doutora-do lanccedilou-a em novos desafios O seu aprendizado adquirido dentre os vaacuterios

Simpoacutesios de Geotecnologias e Sensoriamento remoto cursos ministrados no Campus Sertatildeo Prodema deixo-a feacutertil na busca de soluccedilotildees para os problemas ambientais agora com autoridade

O casulo e a borboleta - Dani cresceu e comeccedilou a se transformar ao ver o mundo e seus problemas atraveacutes do poderio de suas ferramentas e como as so-luccedilotildees poderiam natildeo ser somente local Em 16 de abril 2018 na data de seu ani-versaacuterio ela nos informou que ia conhecer a Aacutefrica Angola Seu sonho Nos seus comentaacuterio ouviu nossos proacutes e contra mas apoiamos Ela dizia que natildeo conse-guia ver aquelas imagens das crianccedilas pobres da Aacutefrica vivendo em condiccedilotildees desagradaacuteveis e isso a incomodava doiacutea Que era inadmissiacutevel com as nossas tecnologias atuais poderia ajudar a resolver certos problemas de saneamento desmatamentos gestatildeo dos recursos naturais com uma governanccedila saudaacutevel Diante disso incentivamos e sugerimos que entrasse em contato com os nossos ex-alunos do Prodema em Angola e que buscasse espaccedilo nas Universidades locais e a recebesse para uma seacuterie de palestras sobre tais tecnologias Esteve na Universidade de Benguela e outros lugares Foi num espaccedilo de tempo con-traiu uma malaacuteria encefaacutelica e a nossa linda borboleta soltou diante dos nossos olhos e voou no dia 27 de junho 2018 Encerrou a sua missatildeo Missatildeo cumprida

Adauto de Souza Ribeiro (amigo)Consultas httplattescnpqbr6536448512154767

Juan Manuel Ruiz-Esparza

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 9

PREFAacuteCIO

Leitor amigo

Me sinto honrado sobremaneira em prefaciar o livro Ciecircn-cias Ambientais em Perspectiva Normalmente um prefaciador eacute quem apresenta ou ateacute introduz o livro diante de sua capacidade e competecircncia No entanto eu faccedilo-o na qualidade de aprendiz e amigo da homenageada Professora Doutora Daniela Pinheiro Bitencurti Ruiz Esparza Esta obra que eacute composta por dezesseis artigos eacute uma singela e honrosa homenagem de seus autores agrave Daniela Bitencurti por sua contribuiccedilatildeo ao Prodema e aos alunos o qual tive a honra de ser

O que me proponho a seguir eacute trazer um pouco da tra-jetoacuteria da amada Daniela oriunda de uma tiacutepica famiacute-lia brasileira interior paulista Junqueiroacutepolis Satildeo Paulo Daniela sempre foi dedicada e focada em seus estudos no espor-te e muito ligada ao meio ambiente Graduou-se em fiacutesica bem como realizou poacutes graduaccedilatildeo na aacuterea de ciecircncias ambientais com ecircnfase em georefenciamento Em decorrecircncia do seu amor pelo meio ambiente Daniela chegou ao Prodema

A Profa Dra Daniela gostava de ser chamada de forma simples sem rodeios apenas Dani Faacutecil de adjetiva-la agre-gadora amiga dedicada feliz sempre com um sorriso ami-go no rosto e uma palavra amiga em qualquer situaccedilatildeo Sempre muito cuidadosa com seus pares alunos e amigos foi re-ferecircncia e cresceu no programa tendo uma trajetoacuteria de sucesso ateacute sua efetivaccedilatildeo como docente do Campus de Gloacuteria

Em que pese seu enorme amor pelo Brasil Dani sonhava em conhecer o mundo principalmente o continente Africano Sonhava inclusive em dar continuidade aos estudos em Ango-la onde a mesma tinha fascinaccedilatildeo em conhecer e ajudar To-davia ao realizar um dos seus sonhos quis o destino abreviar sua estada neste plano causando seu desencarne prematuro Ficamos com a saudade apertando o peito e a certeza de sua grandeza como pessoa Seguimos com a maacutexima de que a vida continua plena de esperanccedila trabalho progresso e realizaccedilotildees ajustadas as leis de deus

Dani nunca vou esquecer o brilho do seu olhar o encanto do seu sorriso a maacutegica da sua vivacidade em relaccedilatildeo a tudo Para uma grande presenccedila uma grande saudade

Aracaju 17 de junho de 2020

Andreacute Luiz de Oliveira

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 11

APRESENTACcedilAtildeO

Durante o seacuteculo XX inuacutemeros eventos provocados pela accedilatildeo antroacutepica ndash em escala global ndash desafiaram ao mesmo tempo em que contribuiacuteram para o desenvolvimento cientiacutefico e tecno-loacutegico Nesse contexto o conhecimento cientiacutefico na linha das ciecircncias ambientais tem contribuiacutedo para o amadurecimento e a formaccedilatildeo de um sistema econocircmico que possa conciliar o de-senvolvimento em consonacircncia com equidade social e resiliecircncia ambiental

Chegamos ao seacuteculo XXI com desafios calcados nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentaacutevel proposto pela ONU em que os paiacuteses possam alcanccedilar a sustentabilidade ateacute 2030

No Brasil existem programas de poacutes-graduaccedilatildeo reconhecidos pela CAPES que contribuem para a preparaccedilatildeo de profissionais engajados com o paradigma da sustentabilidade Dentre eles destaca-se o Prodema que no decorrer dos uacuteltimos 30 anos vem atuando em vaacuterios estados brasileiros

Cabe destacar a contribuiccedilatildeo do PRODEMA atuante na Univer-sidade Federal de Sergipe desde 1995 Satildeo exatos 25 anos com docentes de vaacuterias aacutereas de conhecimento dedicados a pesquisas

12 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

focadas na aacuterea de ciecircncias ambientais e que contribuiacuteram so-bremaneira para o entendimento das relaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e ambientais regionais e locais Foram mais de 400 dissertaccedilotildees de mestrado defendidas desde entatildeo que aponta-ram proposiccedilotildees factiacuteveis para a aplicaccedilatildeo na esfera das poliacuteticas puacuteblicas em diversos segmentos sauacutede educaccedilatildeo meio ambien-te planejamento

Os organizadores do presente livro marcam dessa forma os 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE com uma coletacircnea de artigos assinados por docentes egressos mestrandos e convidados e que ilustram a identidade de um programa que contribuiu e con-tribuiraacute por muito tempo para a melhoria da qualidade de vida dos sergipanos

Satildeo artigos que perpassam assuntos relacionados ao antro-poceno eacutetica gestatildeo percepccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental com o registro da forma de ldquopensarrdquo PRODEMA a capacidade de aplicar o enfoque sistecircmico e consequentemente expressar um olhar integrado do meio ambiente e sociedade seja ele rural urbano ou natural

Desejo vida longa e proacutespera ao PRODEMAUFS e uma provei-tosa leitura a todos

24 de marccedilo de 2020

Laura Jane GomesCoordenadora Adjunta

PREFAacuteCIO 5Andreacute Luiz de Oliveira

APRESENTACcedilAtildeO 15Laura Jane Gomes

A EROSAtildeO DA BIODIVERSIDADE DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO

15

Raphaeumll Larregravere

A EacuteTICA AMBIENTAL E A CRIacuteTICA POLIacuteTICA AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE HANS JONAS

24

Antocircnio Carlos dos Santos

REFLEXOtildeES SOBRE EacuteTICA AMBIENTAL NA CONTEMPORANEIDADE 44Jonielton Oliveira Dantas Alessandra Barbosa SouzaMariacutelia Barbosa dos Santos Maria Joseacute Nascimento SoaresSuelane de Oliveira Silva Dantas

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E A QUESTAtildeO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS NA ESCOLA ESTADUAL DELCY BARRETO DE SOUZA DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

57

Rosangela Pereira Arauacutejo Seacutergio Luiz LopesSheila Mangolli Pedro Alves da Silva Filho

PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL ACERCA DA TRIacutePLICE EPIDEMIA (DENGUE-CHIKUNGUNYA-ZIKA) E SUA RELACcedilAtildeO COM OS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS DOS MORADORES NO POVOADO JUAacute MUNICIacutePIO DE PAULO AFONSO - BAHIA BRASIL

84

Andreacute Viniacutecius Bezerra de Andrade Silva Camilo Rafael Pereira Brandatildeo Kecircnia Dantas Alves Nadja Santos Vitoacuteria

A IDENTIFICACcedilAtildeO DE DESENHOS ANIMADOS COM CONTEUacuteDOS SOCIOAMBIENTAIS POR CRIANCcedilAS DO CICLO BAacuteSICO

96

Marilia Barbosa dos Santos Antocircnio Menezes Jonielton Oliveira Dantas

O PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA EM SERGIPE E A RELACcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL COM OS MORADORES DOS POVOADOS DO ENTORNO

116

Igor Azevedo Souza Giceacutelia Mendes da SilvaMaria Joseacute Nascimento Soares Daniela Teodoro Sampaio

SUMAacuteRIO

APLICACcedilAtildeO DO CICLO PDCA NO GERENCIAMENTO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS DE UMA FAacuteBRICA TEcircXTIL

140

Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr Antocircnio de Oliveira NettoGlessia Silva Jailton de Jesus Costa

NUANCES SOCIO-ESPACIAIS DO POVOADO ALOQUE EM ARACAJU-SE 159Eduardo de Souza Santos Eliene Oliveira da SilvaGleison Parente Pereira Keeze Montalvatildeo Fonseca da SilvaJailton de Jesus Costa

A MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE 175Ademilson de Jesus Silva Cassandra Mendonccedila de Oliveira Deniver Delma Souza Oliveira Milton Marques Fernandes

AGRICULTURA DE BASE AGROECOLOacuteGICA NOVAS PERSPECTIVAS PARA O (DES)ENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ESTADO DE SERGIPE

201

Amanda da Silva Santos Elis Gardecircnia dos SantosFranciley Santos Leite Nuacutebia Dias dos Santos

ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA NO BRASIL E O ACESSO AS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITOS 217Delmira Santos da Conceiccedilatildeo Silva Eliane de Souza Barbosa Joseacute Heleno Alves da Silva Nuacutebia Dias dos Santos

INTERDISCIPLINARIDADE E AS ldquoNOVASrdquo RELACcedilOtildeES CAMPO ndash CIDADE TERRITORIALIDADES EM FOCO

239

Jhersyka da Rosa Cleve Nicole Cavalcanti SilvaDiogo dos Santos Gonccedilalves Bahia Nuacutebia Dias dos Santos

DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE 263Clezyane Correia Arauacutejo Alceu Pedrotti Inaacutecio de Barros Sara Julliane Ribeiro Assunccedilatildeo Ana Paula Silva de Santana Francisco Sandro Rodrigues Holanda

POSSIBILIDADES DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA ADMINSTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA MUNICIPAL DE ARACAJUSE

274

Robertha Georgya de Barros e Silva Gicelia Mendes da SilvaIvana Ferreira Lermen

A CRISE DA CIEcircNCIA MODERNA E A CRIacuteTICA DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

294

Jonielton Oliveira Dantas Suelane de Oliveira Silva DantasFabriacutecio Nicacio Ferreira Eliane dos Santos da SilvaElenaldo Fonseca de Oliva Junior

SOBRE O AUTORES 310

A EROSAtildeO DA BIODIVERSIDADE DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO

Raphaeumll Larregravere1

INTRODUCcedilAtildeO

Em quecirc esta nova etapa da histoacuteria da Terra que nos acostumamos nomear Antropoceno difere da longa histoacuteria da antropizaccedilatildeo da natureza desde o ne-oliacutetico Desde haacute muito tempo natildeo haacute mais lugares do planeta onde laquo a matildeo do homem jamais tenha colocado os peacutes raquo Por toda parte sociedades humanas modificaram os meios naturais a fim de que sejam mais acolhedores Os diver-sos meios que nos cercam resultam assim de uma histoacuteria de longa duraccedilatildeo a do modo o qual sociedades muito diversas tiraram partido do campo dos possiacuteveis que a natureza lhes oferecia transformando-a toda e modificando o campo dos possiacuteveis (isto eacute modfiicando conjuntamente as restriccedilotildees impostas pelo contexto natural e as oportunidades que ele oferece) Mesmo quando os humanos cessaram por uma razatildeo ou outra de aiacute intervir os meios tecircm uma memoacuteria e os que parecem mais selvagens portam ainda a marca de suas uti-lizaccedilotildees passadas ndash assim como mostraram os trabalhos de histoacuteria ecoloacutegica da Amazocircnia2 Assim a antropizaccedilatildeo foi uma espeacutecie de co-evoluccedilatildeo ao longo do Holoceno sociedades humanas e outros viventes aleacutem dos humanos em di-ferentes tipos de contexto ecoloacutegico Esta antropizaccedilatildeo foi entatildeo traduzida por alteraccedilotildees irreversiacuteveis de ecossistemas locais e a desapariccedilatildeo de numerosas espeacutecies (a megafauna pleistocecircnica) A novidade que designa o termo Antro-

1 Texto traduzido por Marcelo de SantrsquoAnna Alves Primo bolsista PNPD-CAPESUFS docente cola-borador do Departamento de Filosofia e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Filosofia da Universi-dade Federal de Sergipe2 Ver notadamente William Baleacutee laquo Indigenous transformations of Amazonian forests an exemple from Maranaho Brazil raquo in Anne Christine Tayloramp Philippe Descola (eds) laquo La remonteacutee de lrsquoAma-zone raquo LrsquoHomme 33 (2-4) 1993 p235-258 Darell Posey laquo A preliminary report on diversified mana-gement of tropical rainforest by the Indians of the Brazilian Amazon raquo Advances in Economic Botany 1 1984 p112-126 Laura Rival laquo Amazonian historical ecologies raquo in Journal of the Royal Anthropo-logical Institute 12 (s1) 2006 S79-S94

16 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

poceno eacute que por suas atividades acumuladas a humanidade se tornou uma forccedila geofiacutesica (e talvez mesmo a forccedila geofiacutesica principal) a qual o impacto eacute global e far-se-aacute sentir durante seacuteculos A manifestaccedilatildeo emblemaacutetica do Antro-poceno eacute assim a mudanccedila climaacutetica mas nesse processo estatildeo associadas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a erosatildeo da diversidade das espeacutecies viventes

Tendo como projeto tratar da erosatildeo acelerada da biodiversidade eu vou em um primeiro momento evocar o acontecimento que inaugura a globali-zaccedilatildeo do impacto dos humanos sopre a reparticcedilatildeo das espeacutecies e a sua diver-sidade Em seguida seraacute questatildeo o modo pelo qual a modernidade ocidental acentuou uma erosatildeo da biodiverseteca3 a mudanccedila climaacutetica natildeo faraacute senatildeo amplificar Enfim evocarei o modo que certos interesses econocircmicos entendem orientar as inovaccedilotildees em mateacuteria de biotecnologia para se tornar a pressatildeo de seleccedilatildeo dominante na evoluccedilatildeo das espeacutecies

O HOMOGENOCENO

Haacute 250 milhotildees de anos as terras emergidas estavam reunidas em um uacutenico continente a Pangeia Apoacutes a deriva continentes tecircm progressivamente sepa-rado as Ameacutericas da Euraacutesia e da Aacutefrica Enquanto elas contecircm ainda espeacutecies comuns as floras e as faunas desses continentes seguiram evoluccedilotildees diferentes Em 1492 a laquo descoberta raquo da Ilha de Espagnola por Cristoacutevatildeo Colombo inagura o que Alfred Crosby chamou de laquo mudanccedila colombiana raquo4 Intensificando-se e generalizando-se a outros continentes esta vai segundo a expressatildeo de Char-les Mann laquo recolher as peccedilas da Pangeia raquo e fazer entrar a natureza e a humani-dade na era do Homogenoceno5 laquo A dinacircmica da mudanccedila prossegue Charles Mann terminou transformando o planeta em um sistema ecoloacutegico unificado desde o fim do seacuteculo XIXraquo6

A mudanccedila colombiana inaugurou uma reparticcedilatildeo radicalmente nova das culturas e criaccedilotildees7 o que contribuiu para melhorar e diversificar os recursos ali-mentares da humanidade Do mesmo modo as trocas mercantis entre o Novo

3 laquo Biodiversiteacuteque raquo no original (N do T)4 Alfred W Crosby 2003 The Columbian Exhange Biological and Cultural Consequences of 1492Westport CT Praeger 5 Charles C Mann 2013 1493 ndash Comment la deacutecouverte de lrsquoAmeacuterique a transformeacute le monde Paris Albin Michel pp 19-57 (introduccedilatildeo intitulada laquoLrsquoegravere de lrsquohomogeacutenocegraveneraquo) 6 Charles C Mann 2013 Idem (proacutelogo p14)7 ldquoEacutelevagerdquo no original (N do T)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 17

e o Antigo Mundo difundiram em todos os paiacuteses espeacutecies selvagens exoacuteticas que enriqueceram as suas flores e a sua fauna mas por vezes mostraram-se invasivas e prejudiciais seja aos meios naturais seja agraves culturas seja mesmo agrave saude humana

Os conquistadores certamente trouxeram com eles culturas europeias bo-vinos ovinos e porcos mas tambeacutem introduziram passageiros clandestinos ratos insetos ervas daninhas bacteacuterias e viacuterus desconhecidos no continente americano Um dos primeiros efeitos maiores da mudanccedila colombiana foi de disseminar entre as populaccedilotildees ameriacutendias germes patoacutegenos contra os quais eles natildeo estavam imunizados Os Ameriacutendios se mostraram particularmente vulneraacuteveis agrave zoonoses8 que os Europeus conheciam bem a tuberculose e a va-riacuteola Doenccedilas tatildeo banais entre noacutes como o sarampo ou a gripe foram tatildeo fatais agraves populaccedilotildees ameriacutendias que as contraiacuteram que as praacuteticas terapecircuticas que eles dominavam eram sem efeito sobre essas doenccedilas ineacuteditas

Quando os primeiros colonos ingleses desembarcaram na Ameacuterica do Norte no iniacutecio do seacuteculo XVII a populaccedilatildeo natildeo representava mais segundo William Denevan do que um deacutecimo senatildeo um vinte avos do que ela tinha sido antes de 14919 O mesmo colapso demograacutefico se reencontra na Ameacuterica do Sul As-sim a mudanccedila colombiana conduziu a uma verdadeira hecatombe ndash como se jamais conheceu na Euraacutesia mesmo durante a grande peste medieval na Euro-pa (1347-1351)

Portadores de viacuterus e de bacteacuterias dizimando as populaccedilotildees autoacutectones pioneiros largamente desarborizando arando caccedilando sem muita restriccedilatildeo transplantando cultivares e desenvolvendo a criaccedilatildeo de seus animais domeacutes-ticos os colonizadores ndash espanhois portugueses ou franceses ndash da mesma ma-neira que os wasps (natildeo as vespas mas os protestantes anglosaxotildees brancos) estavam na origem de cataacutestrofes ecoloacutegicas e humanas consideraacuteveis10

Seguiu-se o abandono das culturas ardentes e arroteamentos que pratica-vam os Ameriacutendios sobre vastos espaccedilos e o reflorestamento espontacircneo dos territoacuterios abandonados daiacute uma diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da atmosfera

8 Satildeo qualificadas de zoonoses doenccedilas virais ou bacterianas as quais os animais domeacutesticos satildeo os alojadores Criadores de bovinos ovelhas porcos e caprinos os Europeus eram mais resistentes a essas doenccedilas do que os ameriacutendios 9 William M Denevan laquoThe pristine myth the landscape of the Americas in 1492 raquo In Baird Callicot-tet Michael P Nelson(dir) The great new wilderness debate op cit p 414-44210 Jared Diamond 1997 Guns Germs and Steel The Fates of Human Societies New York WW Nor-ton

18 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

em CO2 de 7 agrave 10 ppm entre 1570 e 1620 de acordo com as anaacutelises da calota glaciaacuteria da Antaacutertica

Segundo certas hipoacuteteses a pequena era glaciaacuteria dos seacuteculos XVII e XVIII seria uma consequecircncia do colapso demograacutefico das populaccedilotildees ame-riacutendias11 Eacute entatildeo provaacutevel que a mudanccedila colombiana esteja na origem da primeira incidecircncia global dos humanos sobre o clima Entretanto se a causa foi pavorosa os efeitos dessa pequena era glaciaacuteria foram reversiacuteveis as clarei-ras dos colonos interviram antes mesmo que a revoluccedilatildeo industrial diminua na atmosfera o CO2 oriundo da utilizaccedilatildeo crescente das energias fosseacuteis Eacute porque a maior parte dos analistas vecircem na invenccedilatildeo da maacutequina agrave vapor agrave beira da revoluccedilatildeo industrial a origem do Antropoceno ndash o qual natildeo teria atingido um caraacuteter irreversiacutevel e encerrado um reaquecimento sensiacutevel senatildeo a partir da laquo grande aceleraccedilatildeo raquo apoacutes a segunda guerra mundial12 DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO

Os cientistas concordam em afirmar que haacute extinccedilatildeo de espeacutecies e que esta laquo sexta exitinccedilatildeo raquo excede por seu ritmo as que interviram no curso da evo-luccedilatildeo Por mais preocupantes e espetaculares que elas sejam as extinccedilotildees de espeacutecies natildeo satildeo senatildeo o sintoma de um fenocircmeno bem mais geral a erosatildeo da biodiversidade Antes de qualquer coisa sem que a proacutepria espeacutecie seja amea-ccedilada algumas de suas populaccedilotildees podem desaparecer de regiotildees inteiras Em seguida se esse processo eacute menos espetacular do que as extinccedilotildees haacute uma diminuiccedilatildeo dos efetivos de numerosas espeacutecies Logo da mesma maneira que a desapariccedilatildeo de uma de suas populaccedilotildees locais o decliacutenio dos efetivos glo-bais de uma espeacutecie tem por consequecircncia uma diminuiccedilatildeo de sua diversidade geneacutetica ndash o que tende a limitar as suas capacidades de adaptaccedilatildeo por seleccedilatildeo natural

11 Ver Robert A Dull 2010 laquo The Columbian Encounter and the Little Ice Age Abrupt Land Use Change Fire and Greenhouse forccediling raquo AAAG 100 p 755-771 Simon L Lewis Mark A Maslin 2015 laquo Defining the Anthropocene raquo Nature 519 (2) P 128-146 Simon L Lewis Mark A Maslin 2018 laquo Lrsquoan 1610 de notre egravere ndash Une date geacuteologiquement et historiquement coheacuterente pour le deacutebut de lrsquoAnthropocegravene raquo In Reacutemi Beau et Catherine Larregravere (eds) Penser lrsquoAnthropocegravene Paris Presses de SciencePo p77-9512 Will Steffen Jacques Grinevald Paul Crutzen e John Mc Neill 2011 laquo Anthropocene conceptual and historical perspectives raquo in Philosophical Transactions Royal Society Publishing

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 19

Desta erosatildeo as atividades humanas satildeo responsaacuteveis por um todo comple-xo de causas emaranhadas imposiccedilotildees abusivas desmatamento das florestas tropicais e equatoriais destruiccedilotildees sistemaacuteticas dos laquo nocivos raquo com um grande reforccedilo de pesticidas poluiccedilotildees de origem agriacutecola e industrial urbanizaccedilotildees e infraestruturas que fragmentam os habitats multiplicaccedilatildeo das introduccedilotildees de espeacutecies as quais algumas (uma minoria) se mostram invasivas Logo quando elas natildeo satildeo uma consequecircncia direta da mudanccedila colombiana mundializada (como satildeo as espeacutecies invasivas os arroteamentos e as plantaccedilotildees coloniais) todas essas causas surgem de um processo que Descola definiu como laquo uma parte da humanidade se [] apropriou da Terra e a devastou para assegurar o que ela definiu como o seu bem-estar em detrimento de uma multiplicidade de outros humanos e de natildeo-humanos que pagam a cada dia as consequecircncias desta rapacidaderaquo13

Entre essas causas eu queria insistir brevemente sobre duas dentre elas porque elas se acentuaram e se generalizaram na segunda metade do seacuteculo XX o desenvolvimento da agricultura produtivista e a mudanccedila climaacutetica

O desenvolvimento das formas de produccedilatildeo da laquo revoluccedilatildeo verde raquo como a da agricultura produtivista dos paiacuteses industrializados teve consequecircncias so-ciais e ambientais nefastas Os paiacuteses que puderam adotaacute-las inundam o resto do mundo com seus excedentes baratos Segue-se a ausecircncia de possibilidade de desenvolver mercados nacionais nos outros paiacuteses a destruiccedilatildeo de seu cam-pesinato a acumulaccedilatildeo de suas favelas14 e outras favelas pelos camponeses arruinados Mas essas formas de agricultura satildeo aleacutem disso muito poluentes tendo efeitos prejudiciais tanto sobre a sauacutede humans como sobre as capaci-dades produtivas dos solos (erosatildeo salinizaccedilatildeo perda de mateacuteria orgacircnica) e a diversidade bioloacutegica Enfim elas tecircm um mal rendimento energeacutetico e as suas exportaccedilotildees em direccedilatildeo dos paiacuteses deficitaacuterios (mas tambeacutem entre paiacuteses exportadores) supotildeem transportes pesados e volumosos Elas contribuem de modo importante agraves emissotildees de gaacutes com efeito estufae entatildeo agrave mudanccedila climaacutetica15

As espeacutecies tecircm (como elas tiveram nas flutuaccedilotildees climaacuteticas precedentes) dois modos de se adaptar agraves mudanccedilas climaacuteticas seja por seleccedilatildeo natural de

13 Philippe Descola 2018 laquo Humain trop humain raquo In Reacutemi Beau et Catherine Larregravere (eds) Penser lrsquoAnthropocegravene Paris Presses de Science p2014 ldquoBidonvillesrdquo no original (N do T)15 Para uma criacutetica mais detalhada da agricultura produtivista ver Catherine Larregravere e Raphaeumll Larregravere 2015 2018 Penser et agir avec la nature ndash Une enquecircte philosophique (p 265-284)

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genoacutetipos concedendo uma maior toleracircncia agraves novas condiccedilotildees climaacuteticas (o interesse da diversidade geneacutetica das populaccedilotildees de uma espeacutecie eacute que se tem mais chances de aiacute encontrar dos genoacutetipos adaptados agraves novas condiccedilotildees cli-maacuteticas) seja migrando para ceacuteus mais clementes A cada vez houve extinccedilatildeo das que aiacute natildeo chegaram Logo o que distingue a mudanccedila climaacutetica em curso daquelas que a precederam durante as eacutepocas glaciaacuterias do Pleistoceno eacute o seu ritmo este se mede em dececircnios e natildeo em seacuteculos ou milecircnios Estamos em di-reito de perguntar se as populaccedilotildees das espeacutecies mais vulneraacuteveis teratildeo tempo de se adaptar por seleccedilatildeo natural ou por migraccedilatildeo

DAS CONSEQUEcircNCIAS INVOLUNTAacuteRIAS AOS EFEITOS PRETENDIDOS

Assim como a mudanccedila climaacutetica a erosatildeo da diversidade bioloacutegica resulta de consequecircncias natildeo-intencionais das atividades produtivas O desenvolvi-mento da agricultura produtivista teve objetivos econocircmicos natildeo foi conce-bido com o objetivo de empobrecer a riqueza em espeacutecies das regiotildees onde ela se impocircs Entretanto a utilizaccedilatildeo cada vez mais massiva de herbicidas e de pesticidas para tentar remediar as consequecircncias involuntaacuterias da agricultura produtivista (vulnerabilidade das monoculturas especializadas sobre grandes superfiacutecies) ou da multiplicaccedilatildeo das espeacutecies invasivas com o desenvolvimento das trocas mercantis eacute uma intervenccedilatildeo intencional Entatildeo natildeo se trata senatildeo de eliminar ao menos controlar as populaccedilotildees de laquo ervas daninhas raquo insetos devastadores ou vetores de doenccedilas virais bacterianas ou fuacutengicas

Desde 1962 Rachel Carson tinha alertado contra a utilizaccedilatildeo sistemaacutetica e massiva do DDT o qual os efeitos sobre os insetos que eram o alvo repercutem no decurso das cadeias troacuteficas16 Essas advertecircncias natildeo impediram as firmas de agronegoacutecio de desenvolverem constantemente novos produtos quiacutemicos que elas impuseram sobre o mercado O resultado eacute por exemplo um colapso das populaccedilotildees de insetos Haacute 30 ou 40 anos nossos paacutera-brisas eram conste-lados de impactos de insetos desde que se utilizasse o carro para leves deslo-camentos Podemos nos nossos dias fazer longos trajetos com um paacutera-brisa imaculado Logo esta rarefaccedilatildeo dos insetos teve como consequecircncia uma forte depressatildeo das populaccedilotildees de paacutessaros comuns Assim de 1989 agrave 2012 os efe-

16 Rachel Carson 1962 Silent Spring Houghton Mifflin Compagny ndash Trad Fr Printemps silencieux 2009 (Prefaacutecio de Al Gore) Marseille Editions Wildproject

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tivos de paacutessaros comuns de paacutessaros segundo os especialistas diminuiacuteram 31 na Franccedila

Todo produto quiacutemico desde quando eacute utilizado massivamente e sobre um vasto territoacuterio seleciona entre seus alvos estirpes17 resistentes Os produtores de pesticidas satildeo assim engajados em uma laquo corrida armamentista raquo com orga-nismos que desenvolvem resistecircncias Mas eles sabem que teratildeo de encontrar outras maneiras de lutar contra o que prejudica os rendimentos agriacutecolas A utilizaccedilatildeo massiva dos pesticidas eacute cada vez mais contestada ndash por suas conse-quecircncias sanitaacuterias (primeiro sobre os produtores depois sobre a vizinhanccedila e enfim sobre os consumidores) tanto como por seus efeitos sobre a erosatildeo da biodiversidade Aleacutem disso a promoccedilatildeo das novas moleacuteculas eacute dispendiosa ela supotildee numerosos anos de ajustamento de tentativas e avaliaccedilatildeo dos riscos Assim a guerra quiacutemica que permitiu a acumulaccedilatildeo de seu capital as firmas do agronegoacutecio sonham em substituir agrave prazo uma guerra bioloacutegica que elas natildeo hesitam em justificar com argumentos ecoloacutegicos de circunstacircncia

Daiacute o interesse que elas tecircm em uma inovaccedilatildeo recente a forccedilagem18 geneacute-tica ou gene drive19 Trata-se de um procediment de mutaccedilatildeo que se autoreplica em razatildeo de uma construccedilatildeo geneacutetica que assegura uma propagaccedilatildeo expo-nencial de alguns indiviacuteduos laquo produzidos em laboratoacuterio raquo que satildeo providos Assim basta introduzir um pequeno nuacutemero de espeacutecimes munidos de um gene deleteacuterio para que esta mutaccedilatildeo ganhe em algumas dezenas de geraccedilotildees todos os indiviacuteduos (ou quase) de uma dada populaccedilatildeo A mais mediatizada das muacuteltiplas aplicaccedilotildees desse gene drive (que marcha avanccedila sobre todas as espeacutecies as quais ele foi testado) eacute a que concerne aos anofelinos (vetores do paludismo) Tratar-se-ia de deixar gene drive munidos de uma mutaccedilatildeo que os torna resistentes ao Plasmodium ndash o que natildeo faria mas vetores do paludismo e permitiria erradicar esta doenccedila de regiotildees inteiras onde ela eacute endecircmica Ou-tros trabalhos sobre os mosquitos (vetores da dengue ou chicungunya) visam largar na natureza mutantes os quais as descendentes fecircmeas seriam todas es-teacutereis

Resultaria entatildeo em uma eliminaccedilatildeo desses insetos Assim eacute provaacutevel que o projeto de utilizar o meacutetodo para erradicar doenccedilas que fazem tantas viacutetimas pelo mundo como o paludismo (a dengue ou o chicungunya) natildeo seja senatildeo o cavalo

17 ldquoSouchesrdquo no original (N do T)18 ldquoForccedilagerdquo no original (N do T)19 Para uma raacutepida apresentaccedilatildeo Catherine Larregravere et Raphaeumll Larregravere 2017 Bulles technologiques Marseille Editions Wildproject

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de Troacuteia do desenvolvimento de seu emprego para erradicar os laquo nocivos raquo inse-tos devoradores vetores de doenccedilas das culturas espeacutecies invasivas etc

Por mais nociva que seja a luta quiacutemica eacute reversiacutevel basta abandonar os tratamentos Enfim ela natildeo o eacute completamente na medida em que certas mo-leacuteculas toacutexicas utilizadas (por exemplo o clordecona) permanecem longo tem-po nos solos nas aacuteguase as ceacutelulas da maior parte dos humanos e natildeo-hu-manos Mas desde que os tratamentos satildeo abandonados vecirc-se localmente aumentar as populaccedilotildees d einsetos e de paacutessaros Em contrapatida o meacutetodo do gene drive eacute praticamente irreversiacutevel Enfim se as destruiccedilotildees quiacutemicas es-tavam localizadas em certos meios a populaccedilatildeo mutante pode potencialmente se difundir por toda parte Enfim se se chegar a erradicar uma espeacutecie outras espeacutecies (eventualmente nocivas) viratildeo ocupar seu nicho ecoloacutegico A guerra bioloacutegica natildeo faraacute cessar a corrida armamentista Logo as consequecircncias de tais operaccedilotildees satildeo enormemente imprevisiacuteveis algumas dentre elas podendo ser particularmente nocivas Se os bioacutelogos adotaram com entusiasmo a cons-truccedilatildeo geneacutetica CRISPRCas9 que entra na composiccedilatildeo da forccedilagem geneacutetica eacute que ela eacute mais fiaacutevel do que as manipulaccedilotildees anteriores (a despeito de modi-ficaccedilotildees off target do genoma) mas tambeacutem mais raacutepida e sobretudo nemos cara Ela eacute manipulaacutevel por qualquer indiviacuteduo diplomado em biologia mole-cular Uma rede associativa DIY (Do it Yourself) jaacute colocou agrave venda on line um laquo Borderial gene Engineering CRISPR Kit raquo Ele custa somente 140 $ (mas supotildee que se disponha de um centrifugador) e alicia seus clientes pela palavra de or-dem laquo Biohack the Planet raquo Se natildeo importa qual biohacker pode mutar em sua garagem tanto bacteacuterias como insetos ou plantas como evitar que alguns natildeo aproveitem para almejar objetivos criminosos graccedilas a um meacutetodo suscetiacutevel de oferecer grandes oportunidades de prejudicar Eacute sem duacutevida a razatildeo pela qual em fevereiro de 2016 a NSA classificou CRISPR na categoria das laquo armas de destruiccedilatildeo em massa raquo

Mesmo nos casos ou natildeo se saberia suspeitar das intenccedilotildees crminosas as consequecircncias desta guerra bioloacutegica aos nocivos satildeo imprevisiacuteveis Conside-rando a complexidade dos processos ecoloacutegicos estaacute excluiacutedo apreender as consequecircncias de um procedimento que substitui as mutaccedilotildees naturais aleatoacute-rias por mutaccedilotildees forccediladas os mecanismos da seleccedilatildeo natural por uma acelera-ccedilatildeo da difusatildeo de genoacutetipos mutantes (aiacute compreendido se eles natildeo beneficiam nenhuma vantagem competitiva) O que eacute verdade de uma uacutenica introduccedilatildeo de mutante gene drive o eacute a fortiori se numerosas empresas se ponham a bri-colar sem a menor coordenaccedilatildeo mutantes largados na natureza para eliminar

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as espeacutecies que prejudicam seus lucros Certamente a natureza eacute uma valente faz-tudo20 que procede por tentativas e erros mas diferentemente dos huma-nos ela dispotildee de um longo tempo Logo o que torna a ambiccedilatildeo dos promoto-res da implementaccedilatildeo da forccedilagem geneacutetica mais do que problemaacutetica eacute que eles estatildeo engajados pelo intermeacutedio das patentes em uma corrida tecnoloacutegica e econocircmica maior e natildeo tem a sabedoria do tempo

CONCLUSAtildeO

Suponhamos que esta nova tecnologia revolucionaacuteria venha a se impor Spunohamos entatildeo que natildeo se tratasse de uma laquo bolha tecnoloacutegica raquo e que se esteja ao ponto de dispor de um meio eficaz irreversiacutevel e generalizaacutevel em escala planetaacuteria de erradicar as espeacutecies nocivas (ou de substitui-las por mu-tantes menos nocivos)

Mas a quem essas espeacutecies satildeo nocivas Quando se trata de vetores de doenccedilas virais ou do paludismo elas o satildeo potencialmente para toda a huma-nidade Os devoradores e as pestes vegetais que diminuem os rendimentos da agricultura produtivista ndash enquanto as formas de agro-ecologia podem aiacute se acomodar sem destrui-las21 - prejudicam principalmente os lucros do agrone-goacutecio Basta examinar a guerra quiacutemica que foi engajada desde o seacuteculo XX e as potencialidades que lhe oferece a forccedilagem geneacutetica para entender que natildeo eacute (ou ao menos mais) a humanidade em seu todo que eacute responsaacutevel pela erosatildeo acelerada da diversidade bioloacutegica mas as atividades intencionais de empre-sas sob o sistema capitalista o que vai ao encontro da argumentaccedilatildeo de Jason Moore22 Tratando-se da biodiversidade o Antropoceno eacute de fato um Capitalo-ceno Mas tambeacutem natildeo eacute o caso da mudanccedila climaacutetica E natildeo eacute por isso que os relatos do Antropoceno satildeo quase sempre catastroacuteficos Assim como assinalou Frederik Jameson laquo Em nossos dias parece mais faacutecil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismoraquo23

20 ldquoBricoleurrdquo no original (N do T)21 Michel Griffon 2009 Nourrir la planegravete Paris Odile Jacob Michel Griffon 2013 Qursquoest-ce que lrsquoagriculture eacutecologiquement intensive Versaille Quaelig22 Jason Moore (ed) 2016 Antrhopocene or Capitalocene Nature Hstory and the Crisis of Capitalism Oakland PM Press23 Frederik Jameson ldquoFuture Cityrdquo New-Left Review maio-junho 2003

A EacuteTICA AMBIENTAL E A CRIacuteTICA POLIacuteTICA AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE HANS JONAS1

Antocircnio Carlos dos Santos

INTRODUCcedilAtildeO

A filosofia no Brasil voltada muito mais para seu lastro metafiacutesico acabou dando pouca atenccedilatildeo aos problemas ambientais do mundo contemporacircneo e de modo particular agrave eacutetica ambiental2 Isso se deu talvez porque o tema do meio ambiente eacute trabalhado em vaacuterias aacutereas mais pelos seus resultados e natildeo por um princiacutepio ou problema que mereccedila a meditaccedilatildeo filosoacutefica Pensar esta questatildeo eacute uma urgecircncia para todas as aacutereas que a filosofia natildeo pode passar incoacutelume Haacute quatro razotildees que justificam este tema

Em primeiro lugar o tema deve ser analisado pela filosofia Eacute claro que ele pode ser abordado de forma transversal A questatildeo ambiental entraria na fi-losofia contemporacircnea via outras questotildees tais como o tema do ldquoprogressordquo ldquoteacutecnicardquo ldquofilosofia da histoacuteriardquo ldquotecnologiardquo ldquonaturezardquo dentre outros mas sem a expertise propriamente eacutetica O que precisamos fazer eacute discutir o tema da eacutetica ambiental por ela mesma para que ela possa de alguma forma incorporar valores eacuteticos que reverberem num melhor comportamento humano sobre a natureza Afinal foi um tipo de comportamento explorador da natureza que causou ndash e continua causando ndash uma ameaccedila real de nossa condiccedilatildeo na Terra Aleacutem do mais se eacute verdade que a filosofia consiste em pensar de maneira criacutetica e rigorosa para viver de maneira mais responsaacutevel inclusive diante da natureza ela natildeo pode se furtar a este desafio tatildeo caro quanto difiacutecil O seu papel de re-

1 O presente texto eacute parcialmente fruto material de projeto de pesquisa aprovado pelo edital MCTICNPQMECCAPES Nordm 222014 ndash Ciecircncias Humanas Agradeccedilo aos colegas que contribuiacuteram com a leitura criacutetica2 Destacariacuteamos dois polos de pesquisas que pensam a questatildeo ambiental do ponto de vista da filosofia e que tecircm adensado esta discussatildeo em terras brasileiras 1) um grupo de pesquisadores da UFSC que veiculam sua produccedilatildeo na Revista Eacutethic e 2) grupo de pesquisadores da USP liderado por Pablo Rubeacuten Mariconda que eacute o Editor da Revista Scientiae Studia (Revista Latino-Americana de Filosofia e Histoacuteria da Ciecircncia)

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definir o lugar do homem no mundo em meio a uma natureza degrada e finita eacute estrateacutegico para o futuro da humanidade

Em segundo lugar sendo da aacuterea de filosofia mas atuando nas ciecircncias am-bientais a bibliografia nessas aacutereas em se tratando da eacutetica ambiental oscila entre a educaccedilatildeo ambiental e um pensamento interdisciplinar que resvala em referecircncia budista por vezes em orientaccedilatildeo new age ou ateacute mesmo religiosa stricto sensu Natildeo eacute agrave toa que livros de Leonardo Boff sobre a questatildeo ambiental satildeo lidos e discutidos em espaccedilos acadecircmicos3 Diante da pouca bibliografia em eacutetica ambiental e excesso nesse campo religioso tem-se a impressatildeo de que a explicaccedilatildeo miacutestica do mundo se impotildee por falta de reflexotildees mais pro-fundas e passa a se constituir nesses redutos como se fosse verdade inabalaacutevel o que eacute mais grave Ora eacute preciso pensar o tema ambiental sob o vieacutes eacutetico enquanto afirmaccedilatildeo diante de outras aacutereas do conhecimento Estaacute em jogo a identidade propriamente filosoacutefica em sua accedilatildeo poliacutetica

Em terceiro lugar os estudiosos do meio ambiente atribuem agrave modernidade todos os males ambientais causados agrave humanidade no mundo contemporacirc-neo Nota-se uma ideologia anti-moderna como se o retorno ao tempo das cavernas fosse a soluccedilatildeo para os males ambientais do mundo atual Mesmo teoacute-ricos conhecidos por terem algum lastro filosoacutefico natildeo escapam a este tipo de equiacutevoco quando se refere aos modernos particularmente a Descartes Estes sob a pena daqueles comentadores satildeo considerados os mentores intelectuais da ciecircncia instrumental os verdadeiros inventores do domiacutenio da natureza e da sua exploraccedilatildeo maacutexima tendo conduzido por consequecircncia o planeta agrave beira de colapso Partindo do pressuposto que a ciecircncia soacute faz inventar instrumentos para aumentar o grau de destruiccedilatildeo Grun por exemplo relaciona a ciecircncia agrave maacutequina de terraplanagem (GRUN 2007 p 7) Segundo este autor a ciecircncia visa dominar a natureza por meio de um instrumento que remove a terra reti-ra aacutervores mexe com bichos e plantas afeta os micro-organismos e deixa um rastro de destruiccedilatildeo por onde passa Esta maacutequina tem a pretensatildeo de destruir quase tudo preparando o terreno para uma outra coisa supostamente nova Ela tem a capacidade de zerar o antigo e comeccedilar tudo de novo sob outra esfe-

3 Quando se trata de problemas ambientais estaacute claro que eles incluem questotildees cientiacuteficas tec-noloacutegicas econocircmicas mas tambeacutem eacuteticas esteacuteticas e ateacute mesmo religiosas Em sendo assim haacute espaccedilo para todo tipo de leitura Uma postura muito mais fundamentalista do que cientiacutefica eacute a de Leonardo Boff que produziu bastante a partir desta visatildeo Destacaria dois BOFF L Ecologia Mundializaccedilatildeo Espiritualidade Rio de Janeiro Record 2008 BOFF L Ecologia grito da terra grito dos pobres Rio de Janeiro Sextante 2004

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ra desta vez numa esfera civilizacional que se opotildee ao antigo ao baacuterbaro ao primitivo Esta metaacutefora eacute curiosa ela soacute vecirc um lado da ciecircncia o da destruiccedilatildeo Potente e destrutiva a ciecircncia natildeo teria o lastro criador apenas transformador Ora leituras como esta comprometem a compreensatildeo do tema aleacutem de propa-gar preconceitos epistemoloacutegicos sobre a proacutepria ciecircncia Cabe agrave filosofia com-bater este tipo de leitura e promover o debate puacuteblico em torno da questatildeo ambiental que eacute dotado de importantes questotildees eacuteticas

Finalmente o que confere relevo e urgecircncia agrave discussatildeo em tela eacute a ideia plenamente difundida de que estamos vivendo uma crise ambiental4 sem pre-cedentes e que mesmo os mais ceacuteticos5 acerca dela caso estejam corretos pen-sam que natildeo se pode evitar a necessidade de refletir sobre as dimensotildees eacuteticas das questotildees ambientais

Assim o objetivo deste texto eacute pensar a eacutetica ambiental e a criacutetica poliacutetica ao ldquoprinciacutepio responsabilidaderdquo de Jonas feita por Catherine e Raphaeumll Larregravere

1 A EacuteTICA AMBIENTAL

Embora natildeo se tenha um consenso sobre o nascimento da eacutetica ambiental haacute uma tendecircncia em admitir que enquanto disciplina surgiu nos anos 60 do seacuteculo passado nos Estados Unidos a partir de uma explosatildeo de campos de interrogaccedilatildeo da eacutetica aplicada ou entatildeo chamada de ldquoeacutetica praacuteticardquo Foi neste contexto que a eacutetica ambiental ganhou terreno de forma estruturada a partir de uma preocupaccedilatildeo aparentemente simples quando se abordava o tema da eacutetica o que se contava era o homem e o seu dever moral em obedecer as regras

4 A contemporaneidade parece ser marcada pela crise Assim diz Bornheim ldquoA novidade talvez es-teja toda nesse ponto o conceito de crise alcanccedilou hodiernamente uma abrangecircncia que o faz perpassar por praticamente todas as esferas do real Em princiacutepio nada mais consegue furtar-se agrave iminecircncia ameaccediladora da crise desde o mais inocente dos teoremas matemaacuteticos ateacute as alturas do esplendor divino desde as comoccedilotildees da adolescecircncia ateacute a instabilidade que tudo avassala ndash nada mais consegue sobrepor-se aos embates desconcertantes das crisesrdquo BORNHEIM G A crise da ideia de crise In NOVAES A (Org) A crise da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1996 p475 Algumas pessoas renegam a seriedade dos problemas ambientais porque acreditam numa ima-gem elaacutestica da natureza impermeaacutevel agraves agressotildees humanas inesgotaacutevel na sua potencialida-de regenerativa Esta visatildeo certamente inspirada na chamada ldquoHipoacutetese de Gaiardquo foi formulada pelo cientista britacircnico James Lovelock ainda nos anos 70 Para esse autor a Terra eacute um sistema de homeostaacutetico auto regulado que funciona atraveacutes de ciclos de retroalimentaccedilatildeo que a conduz agrave estabilidade Dizendo de oura maneira o meio ambiente como um superorganismo que tambeacutem reage e se adapta agraves accedilotildees realizadas pelos seres vivos Ver LOVELOCK J The Revenge of Gaia Whay the Earth is Fighting Back HarmondsworthAllen Lane 2006

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da sociedade Os animais e a natureza eram completamente ignorados Com o crescimento do consumo sobretudo apoacutes a segunda guerra o aumento da destruiccedilatildeo da natureza e o abatimento de animais sem levar em consideraccedilatildeo o seu bem-estar surgiram vaacuterios movimentos que questionam as praacuteticas que originaram aquelas situaccedilotildees degradantes mas que mal se fazia ouvir na ceara filosoacutefica

Naquele contexto a investigaccedilatildeo filosoacutefica concentrava-se na anaacutelise loacutegica de enunciados morais como sendo boas ou maacutes certas ou erradas Ora como um meacutedico minimamente religioso lidava com o problema moral na sua aacuterea de atuaccedilatildeo por exemplo Consultava Enciacuteclicas papais A eacutetica nesta perspec-tiva dizia respeito muito mais a uma questatildeo de sensibilidade do que objeto da razatildeo (PARIZEAU 2003) A partir dos anos 70 tem-se uma espeacutecie de exaustatildeo dessa explicaccedilatildeo sobre o mesmo problema moral e a filosofia voltar-se para as eacuteticas substanciais que definem a ideia de bem e mal num contexto de libera-ccedilatildeo sexual de luta pelos direitos humanos de desenvolvimento de estado de bem-estar social dentre outras questotildees candentes no periacuteodo Foi neste senti-do que os filoacutesofos foram convidados a opinar diante dessas situaccedilotildees precisas da vida quotidiana

Assim a eacutetica praacutetica consiste em anaacutelise de casos particulares cujos resul-tados passam por uma avaliaccedilatildeo Eacute verdade que a filosofia moral tambeacutem lida com a anaacutelise de casos particulares sendo boas ou maacutes mas tecircm perspectivas distintas Enquanto a filosofia moral vecirc o objeto no macrocosmo a eacutetica praacutetica o vecirc no microcosmo A eacutetica ambiental assim torna-se uma aacuterea do saber vin-culada agrave eacutetica praacutetica que lida com as relaccedilotildees socioeconocircmicas num estado de direito e com uma preocupaccedilatildeo de que o futuro da humanidade passa por um equiliacutebrio natural do planeta Como afirma Parizeau ldquoa reflexatildeo eacutetica busca justificar um conjunto mais ou menos estruturado de comportamentos de ati-tudes de valores em relaccedilatildeo aos animais aos seres vivos a aacutereas bioloacutegicas e agrave biosferardquo (PARIZEAU 2003 p 597) Isto significa dizer que a eacutetica ambiental visa a repensar o lugar do ser humano na natureza considerando a sua exploraccedilatildeo descontrolada a distribuiccedilatildeo desigual de suas riquezas a falta de criteacuterios pre-cisos sobre a nossa responsabilidade sobre as geraccedilotildees futuras Se eacute verdade que a ciecircncia trouxe grandes avanccedilos teacutecnicos e tecnoloacutegicos ela aportou tam-beacutem degradaccedilotildees do ecossistema e esgotamento de recursos naturais A eacutetica ambiental quer justamente discutir esses temas apontando para uma nova for-ma de pensar a relaccedilatildeo do homem com a natureza visando um mundo melhor mais humanamente sustentaacutevel

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Contudo eacute preciso deixar claro a eacutetica ambiental ainda natildeo tem um cor-pus estruturado capaz de fornecer a densidade necessaacuteria reconhecidamente aceita pela ciecircncia Sabemos no entanto que ela lida com valores ambientais relevantes e que seus problemas apresentam falhas (morais) de alguma ordem No fundo natildeo conseguimos chegar a um consenso miacutenimo de princiacutepios sobre a forma de lidarmos com os outros humanos e muito menos com os outros componentes da natureza questatildeo central da eacutetica ambiental Eacute aqui que as correntes da eacutetica ambiental mais se afastam

Ainda que seja extremamente difiacutecil expressar em pouco espaccedilo as caracte-riacutesticas essenciais das principais correntes da eacutetica ambiental aleacutem de correr o perigo de cair na generalidade valeria a pena destacar ao menos para efeitos didaacuteticos que o pomo da discoacuterdia estaacute em de uma parte uma visatildeo antro-pocecircntrica da natureza cuja base se remonta a Kant e de outra parte uma visatildeo natildeo antropocecircntrica tendo como expoente de destaque Aldo Leopold6 dentre outros7 A primeira tendecircncia atribui ao ser humano uma posiccedilatildeo proe-minente dentro da natureza e ao separar homem de um lado e a natureza do outro concedeu ao homem maior valor e tendo este domiacutenio absoluto sobre a natureza entendeu natildeo haver qualificaccedilatildeo moral sobre essa mesma relaccedilatildeo A segunda tendecircncia eacute formada por uma visatildeo de que o homem natildeo tem desta-que nenhum em relaccedilatildeo aos seres da natureza e que os seres biocecircntricos de valor inerente merecem consideraccedilatildeo moral

A tese inaugural da visatildeo antropocecircntrica mais proeminente na filosofia foi dada por Descartes com a separaccedilatildeo entre sujeito-objeto A partir desse fran-cecircs o conhecimento das coisas e do mundo passou por uma transformaccedilatildeo profunda de evidecircncia subjetivada o conhecimento passou pela transparecircncia de ideias claras e distintas e o dado mais importante o objeto (de conhecimen-to) natildeo eacute simplesmente ao que estaacute diante do crivo de nossos olhos mas eacute o fruto de uma construccedilatildeo metoacutedica elaborada pelo sujeito Ao conhecer segun-do Descartes o sujeito se torna mestre do objeto visto que o constroacutei a partir de um resultado da anaacutelise que o reduziu a elementos simples Eacute o objeto que se presta agrave construccedilatildeo ao que pode ser dominado pela razatildeo porque ela eacute hu-mana e entatildeo tem-se uma relaccedilatildeo de difiacutecil equaccedilatildeo

6 LEOPOLD A Almanach drsquoun comteacute des sables Paris Aubier 19957 Sobre este debate ver CALLICOTT JB The conceptual Foundations of the Land Ethic In Defense of the Land Ethic Essays in Environmental Philosophy Albany (NY) State University of New York Press 75-100 1989

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Nessa vinculaccedilatildeo tudo vai depender da forma pela qual o homem torna a natureza presente e faz dela objeto a ser conhecido Foi a partir desta perspecti-va que o pensamento cartesiano abriu as portas para uma interpretaccedilatildeo de que o homem instrumentaliza a natureza a seu bel prazer em cujo corolaacuterio se en-contra o elogio ao homo faber O homem manipula a natureza ao seu serviccedilo e produz cultura que por sua vez deixa rastro de destruiccedilatildeo por onde se instala natildeo obstante seu enorme potencial de criaccedilatildeo Eis a contradiccedilatildeo nos seus mais puros termos eacute a cultura que tem provocado tantas cataacutestrofes no mundo con-temporacircneo porque ela estaacute sustentada numa ideia arcaica de que a natureza continuaria a ser o grande repositoacuterio eternamente inesgotaacutevel

Mas haacute uma interpretaccedilatildeo equivocada do pensamento cartesiano e tal-vez o que mais marcou a difusatildeo equivocada de um Descartes anti-humano e anti-natureza nos textos das ciecircncias ambientais (e natildeo apenas nessas aacutereas) eacute a ideia presente na sexta parte do Discurso do Meacutetodo de que o homem pode tornar-se senhores e possuidores da natureza8 Ora nesta questatildeo a tradiccedilatildeo criacutetica esqueceu de observar dois pontos importantes Em primeiro lugar o enunciado cartesiano se refere agrave ldquosauacutederdquo entre o homem e a nature-za em linguagem da eacutepoca Isto significa dizer que haacute uma inteireza entre corpo e natureza que precisa ser levada em consideraccedilatildeo Em segundo lugar o sentido iacutentimo do pensamento cartesiano deve ser inserido no contexto epistemoloacutegico e metafiacutesico naquele periacuteodo Ser ldquopossuidorrdquo da natureza no periacuteodo natildeo significava ser detentor de alguma coisa como de posse ou proprietaacuterio mas ldquodetentor temporaacuterio do que ele deve transmitirrdquo Na ver-dade Descartes se inscreve na tradiccedilatildeo da leitura do livro do Gecircnesis segun-do o qual tendo Deus dado em comum agrave comunidade a terra e tudo o que nela conteacutem caberia aos homens fazer deles um bom uso Segundo Larregravere amp Larregravere ldquoesta concepccedilatildeo do primado do uso e das suas regras dominante na cristandade e herdeira de Aristoacuteteles considera o homem como o gerente ou o intendente e natildeo como o Senhor da Criaccedilatildeordquo (LARRERE amp LARRERE 1997 p 69) Evidentemente que o lugar que ele ocupa tem um destaque mas impli-ca tambeacutem obrigaccedilotildees responsabilidades cuidados Ao mesmo tempo que

8 Literalmente afirma Descartes ldquo[] a conhecimentos que sejam muito uacuteteis agrave vida e que em vez dessa Filosofia especulativa que se ensina nas escolas se pode encontrar uma praacutetica pela qual conhecendo a forccedila e as accedilotildees do fogo da aacutegua do ar dos astros dos ceacuteus e de todos os outros corpos que nos cercam [] Poderiacuteamos empregaacute-los da mesma maneira em todos os usos para os quais satildeo proacuteprios e assim nos tornar como que senhores e possuidores da naturezardquo (DESCARTES 1987 p 63)

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Descartes se insere num contexto de criacutetica ao saber contemplativo sugere que este mesmo conhecimento fosse empregado e utilizado de forma segura O seu foco eacute o empreendimento do conhecimento Ora ao que tudo indica essa leitura mais contextualizada sobre esta questatildeo em Descartes pratica-mente se perdeu tornando-se um teoacuterico estereotipado que teria aberto a racionalidade fria e instrumental sobre a natureza

Ora a eacutetica ambiental necessariamente passa pelo conceito de valor Da separaccedilatildeo entre sujeito e objeto agrave designaccedilatildeo de sujeito moral somente aos humanos como requerido em Kant foi um curto espaccedilo Os natildeo humanos (ani-mais plantas espeacutecies ecossistemas) por natildeo terem estatuto moral estariam fora desse escopo justamente porque apresentam valor meramente instrumen-tal Ora o ponto central da discoacuterdia estaacute na distinccedilatildeo entre o conceito de valor instrumental e o valor intriacutenseco

Grosso modo o valor instrumental eacute aquele segundo o qual o ser humano atribui aos seres naturais como natildeo tendo fins em si mesmos antes satildeo meios para concretizar os seus proacuteprios fins Jaacute o valor intriacutenseco pode ser entendi-do de diferentes perspectivas Destacariacuteamos quatro O primeiro sentido diz respeito a um valor que eacute considerado como maacuteximo numa espeacutecie de escala Em segundo lugar valor intriacutenseco diz respeito agravequilo que eacute necessaacuterio e su-ficiente para ser objeto de preocupaccedilatildeo moral O terceiro sentido conhecido tambeacutem por ldquovalor inerenterdquo significa dizer que algo depende inteiramente do que eacute natural da coisa em si mesma O quarto valor diz respeito agravequele que independe de quem avalia Segundo Jamieson esse sentido quer dizer que mesmo que ningueacutem faccedila uma avaliaccedilatildeo de determinado objeto ele tem seu valor que eacute intriacutenseco e que independe do avaliador Nesta perspec-tiva o que tem valor intriacutenseco eacute de alguma forma autossuficiente (JAMIE-SON 2010)

Para os adeptos da corrente eacutetica antropocecircntrica os criteacuterios que definem quem faz (ou natildeo) parte da comunidade moral satildeo simples apenas os huma-nos seres racionais de liberdade e de conhecimento de si Para os adeptos da corrente natildeo antropocecircntrica os criteacuterios satildeo os mais diversos tais como vul-nerabilidade em relaccedilatildeo ao dano agrave dor ao sofrimento e agrave morte Em uacuteltima instacircncia o criteacuterio eacute a vida como valor inerente a partir do qual os seres mo-rais podem e devem ser respeitados pelo agente moral Eacute importante deixar claro que nesta tentativa de sistematizaccedilatildeo dessas correntes o fato de seres morais serem considerados moralmente natildeo implica dizer que tenham direitos Ter direito precisaria ser responsaacutevel e ter obrigaccedilotildees para com as comunidades

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moralmente consideradas Por esta razatildeo para os natildeo antropocecircntricos o fato de estar vivo eacute condiccedilatildeo suficiente como criteacuterio eacutetico em defesa de tudo o que existe de vivente no universo (GUTIEacuteRREZ 2008)

Carvalho faz duras criacuteticas agrave leitura natildeo antropocecircntrica do valor intriacutenseco sob trecircs abordagens distintas em termos ontoloacutegicos postula que o valor eacute uma propriedade objetiva das coisas em termos eacuteticos crescem as restriccedilotildees dos hu-manos sobre os seres a quem se atribui valor intriacutenseco e finalmente em termos epistemoloacutegicos o criteacuterio para atribuir valor seraacute necessariamente dado por hu-mano Assim registra a autora ldquoEacute que mesmo o mais famoso dito de A Leopold think like a mountain (1968) eacute ainda uma projeccedilatildeo epistemoloacutegica Pensar como uma montanha eacute um convite para que nos situemos na escala temporal dos pro-cessos geoloacutegicos descentrando-nos do nosso tempo medido em anos meses dias horas minutos segundos nano-segundos Todavia eacute ainda pensar e pen-sar este pensar a que se refere Leopold eacute exclusivo dos seres humanosrdquo (CARVA-LHO 2015 p153) Ainda para essa autora o debate ambiental numa perspectiva eacutetica natildeo pode prescindir em absoluto do valor intriacutenseco posto que haacute coisas que valem por si mesmas (seja em termos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos espirituais ou religiosos) Neste contexto possuir valor intriacutenseco significa passar a ser defini-do em funccedilatildeo do que constitui o seu bem ou que em si eacute digno de estima mes-mo que esse valor soacute possa ser conferido pelo juiacutezo de uma consciecircncia discursiva humana Isto implica ver o mundo natural sem a separaccedilatildeo do mundo humano Em sendo assim a tocircnica da salvaccedilatildeo da biodiversidade seraacute uma utopia a menos se for coordenado ldquocom a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural da humanidade jaacute que a diversidade e a pluralidade satildeo fatores de enriquecimento e de fortaleci-mento contra potenciais predadores bioloacutegicos e colonizadores culturaisrdquo (CAR-VALHO 2015 p156) Em outras palavras a perda de biodiversidade natural natildeo pode estar separada da perda da diversidade biocultural

Assim a Eacutetica Ambiental eacute o saber que propotildee e se ocupa de princiacutepios eacuteticos que regem a relaccedilatildeo entre os humanos e o mundo natural Ela deve assumir-se como filosofia praacutetica orientada para uma formulaccedilatildeo de quadros de referecircncia a partir de problemas concretos que reflitam a exigecircncia eacutetica de que cada um eacute responsaacutevel individual e coletivamente pela sauacutede de todos os seres vivos na terra Ela deve ainda estar inserida num debate plural e contextual com os di-versos atores e perspectivas implicados Desta forma ela sairaacute dos claustros de uma simples discussatildeo acadecircmica e de especialistas das ciecircncias ambientais e poderaacute ajudar significativamente numa nova visatildeo em que homem e natureza fazem parte com toda a sua inteireza e desafios

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2 O ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE JONAS

Numa de suas uacuteltimas obras Teacutecnica medicina e eacutetica Jonas focou sua anaacute-lise no papel que a medicina desempenha em face da necessidade quotidiana de refabricar o humano a partir do momento que ela o descobriu natildeo como sujeito mas objeto de suas anaacutelises Desde o iniacutecio o autor conduz o leitor inquieto a se perguntar o que restaraacute de humano nesta sua desnaturaccedilatildeo Ateacute onde poderia chegar a manipulaccedilatildeo do humano como objeto predileto da teacutecnica Para onde isso vai nos levar Como isso comeccedilou O autor entatildeo apoacutes provocar o seu leitor confirma anos depois o que defendeu em sua obra maacutexima ldquoA iniciante eacutetica ambiental que se agita entre noacutes de manei-ra verdadeiramente sem precedentes eacute a expressatildeo ainda titubeante dessa expansatildeo sem precedentes de nossa responsabilidade que responde por sua vez agrave expansatildeo sem precedentes do alcance de nossos feitos Foi preciso que se tornasse visiacutevel a ameaccedila do todo os reais princiacutepios de sua destrui-ccedilatildeo para nos fazer descobrir (ou redescobrir) nossa solidariedade com elerdquo (JONAS 2013 p 56-57) Na verdade as respostas a estas questotildees jaacute tinham sido fornecidas na obra ldquoPrinciacutepio responsabilidaderdquo cuja discussatildeo central era diagnosticar o quadro da modernidade pintado pelo homem teacutecnico como homo faber cuja ciecircncia avanccedilou muito mais velozmente do que a capaci-dade de reflexatildeo do homo ethicus e trouxe como consequecircncia a hybris a manipulaccedilatildeo tecnoloacutegica que ameaccedila a vida humana no planeta Jonas quer por um lado denunciar a insuficiecircncia das eacuteticas tradicionais para lidar com os problemas ambientais hodiernos e por outro pensar uma eacutetica da conser-vaccedilatildeo da proteccedilatildeo do cuidado do mundo natildeo soacute diante da vulnerabilidade atual mas para as futuras geraccedilotildees

Neste sentido vamos nos concentrar em trecircs pontos distintos da sua obra maacutexima 1) A insuficiecircncia das eacuteticas tradicionais e a criacutetica agrave eacutetica Kantiana 2) O significado do ldquoprinciacutepio responsabilidaderdquo e 3) O corolaacuterio de seu princiacutepio a heuriacutestica do medo

Conforme vimos na primeira parte deste texto o mundo moderno se cons-tituiu com uma ideia de natureza abundante e inesgotaacutevel por um lado e uma crenccedila no poder tecnoloacutegico como elemento central da ciecircncia por outro Natildeo se tinha uma preocupaccedilatildeo eacutetica para com as questotildees ambientais de modo exclusivo porque ningueacutem vislumbrava perigo algum Foi preciso o homem ho-dierno chegar numa situaccedilatildeo de limite ameaccediladora de sua existecircncia para que surgisse essa aacuterea do saber tatildeo importante quanto necessaacuteria nos dias atuais

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Entatildeo qual a diferenccedila basilar entre a eacutetica de Jonas e a de Kant agrave qual ele faz referecircncia direta Qual a sua inovaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave anterior Dois argumentos satildeo notaacuteveis

Fundamentalmente o primeiro grande argumento da obra em questatildeo eacute a demonstraccedilatildeo de que as eacuteticas modernas se caracterizam por uma visatildeo antro-pocecircntrica do mundo O foco delas estava na relaccedilatildeo entre as pessoas sendo que as coisas ou os seres naturais satildeo mediados pelas pessoas ou seja pelo homem A obrigaccedilatildeo eacutetica se referia entatildeo a uma comunidade de agentes pre-sentes que excluiacutea a natureza e suas consequecircncias no futuro Jonas portanto quer romper com esta tradiccedilatildeo

O agir eacutetico nessa perspectiva dizia respeito agrave accedilatildeo virtuosa e saacutebia que o homem estabelece para si mesmo como valor absoluto cuja dignidade se funda na proacutepria autonomia do sujeito A fonte desta interpretaccedilatildeo eacute Kant que grosso modo defende a ideia segundo a qual as regras do que eacute certo ou errado natildeo devem ser pensadas a partir de resultados do agente moral mas de princiacutepios que devem reger as proacuteprias regras cujo cumprimento deve ser necessaacuterio Isto significa dizer que para o filoacutesofo alematildeo o agir moral passa pelo dever e em conformidade com o dever o que eacute fundamental para entendermos se uma accedilatildeo tem ou natildeo valor moral Assim movido pelo desejo de agir mas sobretu-do pelo dever e em respeito agrave lei que lhe ordena cumprir a lei sua accedilatildeo eacute cor-reta (ou natildeo) quando se questiona sobre a possibilidade de elevaacute-la agrave categoria de lei universal Se ela servir natildeo apenas para o indiviacuteduo mas para todos as regras deixam de ser meramente subjetivas e se transformam em lei universais passiacuteveis de serem aplicadas por todos Como afirma o filoacutesofo de Koenigsberg ldquodevo proceder sempre de maneira que eu possa querer que minha maacutexima se torne uma lei universalrdquo (KANT 2005 p 33) Isto significa dizer que o homem ra-cional sujeito de accedilatildeo moral pode auto legislar sua vontade porque se tornou autocircnomo sua accedilatildeo eacute fruto de reflexatildeo e de deliberaccedilatildeo Se aqui temos uma das questotildees centrais da eacutetica kantiana temos na visatildeo de Jonas sua fraqueza porque ela natildeo daacute conta da complexidade do mundo contemporacircneo Para Jo-nas a eacutetica kantiana eacute limitada porque natildeo vai aleacutem do humano Por isso afirma Jonas ldquojaacute que a eacutetica tem a ver com o agir a consequecircncia loacutegica disso eacute que a natureza modificada do agir humano tambeacutem impotildee uma modificaccedilatildeo na eacuteti-cardquo (JONAS 2006 p 29) Jonas propotildee-se entatildeo a romper com a eacutetica kantiana abrindo um debate que possa englobar os natildeo humanos

O segundo argumento que Jonas introduz para justificar e propor uma nova eacutetica eacute o surgimento da teacutecnica O poder tecnoloacutegico potencializou o agir hu-

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mano sobre a natureza e sobre o proacuteprio homem que implicou em efeitos noci-vos por vezes de caraacuteter irreversiacutevel na proacutepria estrutura do mundo A natureza originaacuteria passou a ser concebida como mero material passiacutevel de ser manipu-lado e controlado tornando-se uma espeacutecie de reservatoacuterio agrave disposiccedilatildeo da exploraccedilatildeo do homem Eacute neste sentido que a tecnociecircncia moderna termina por eliminar toda referecircncia a finalidades ou potencialidades intriacutensecas agrave na-tureza Ela deixa de ser meio e passa a ser um fim em si mesmo A teacutecnica se ca-racterizou por uma ambiguidade intriacutenseca por um lado haacute certa grandeza de poder melhorar a vida humana com uma rapidez assustadora mas por outro eacute preciso reconhecer que as consequecircncias fogem ao nosso controle por mais previsiacutevel e calculados pelo homem Aqui ao que tudo indica o tamanho do poder eacute proporcional ao tamanho do risco sempre provaacutevel mas jamais con-trolado Por esta razatildeo Jonas eacute taxativo ldquoMesmo desconsiderando suas obras objetivas a tecnologia assume um significado eacutetico por causa do lugar central que ela agora ocupa subjetivamente nos fins da vida humanardquo (JONAS 2006 p 43) Ora se a eacutetica tinha a ver com o aqui e agora nas relaccedilotildees humanas e se ela natildeo daacute conta mais eacute preciso pensar uma nova eacutetica que leve em consideraccedilatildeo esses novos fatores que desafiam o homem contemporacircneo Jonas eacute incisivo se a eacutetica heleno-judaico-cristatilde se pautou ateacute aqui no antropocentrismo foi por falta de ocasiatildeo ou por natildeo terem sido consideradas outras razotildees que no limite caracterizam-se como puro preconceito nosso que deve ser reexamina-do e rompido (JONAS 2006 p 97)

Esses dois argumentos se entrelaccedilam se a eacutetica kantiana estava voltada para o indiviacuteduo e portanto tendo conotaccedilatildeo privada por um lado e ela se tornou insuficiente para problemas complexos atuais trazidos pelo poder tecnoloacutegico da ciecircncia por outro eacute necessaacuterio pensar numa eacutetica que considere os viventes como um todo que tenha compromisso puacuteblico e que ele estenda essa mesma preocupaccedilatildeo para geraccedilotildees futuras Em poucas palavras defende Jonas ldquoO fu-turo da humanidade eacute o primeiro dever do comportamento coletivo humano na idade da civilizaccedilatildeo teacutecnica que se tornou lsquotodo-poderosarsquo no que tange ao seu potencial de destruiccedilatildeo Esse futuro da humanidade inclui obviamente o futuro da natureza como sua condiccedilatildeo sine qua non Mas mesmo independen-te desse fato este uacuteltimo constitui uma responsabilidade metafiacutesica na medida em que o homem se tornou perigoso natildeo soacute para si mas para toda a biosferardquo (JONAS 2006 p 229)

Neste sentido com Jonas a filosofia passou a considerar a biosfera depen-dente do agir humano natildeo porque dependa dos fins humanos ou faccedila dela

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um meio mas porque temos uma responsabilidade eacutetica ampliada para outras geraccedilotildees a fim de que ela tambeacutem possa usufruir do que a nossa geraccedilatildeo vi-vencia Temos assim dois argumentos que comprovam que a eacutetica proposta por Jonas avanccedila em relaccedilatildeo agrave eacutetica kantiana Ela considera os seres naturais tendo fim em si mesmo e portanto deixa de ser antropocecircntrica por um lado e apresenta um dever moral que natildeo eacute soacute individual eacute sobretudo puacuteblico que compromete futuras geraccedilotildees por outro Esses dois lados da mesma questatildeo tornam o pensamento de Jonas um dos mais consistentes do ponto de vista da eacutetica ambiental no mundo contemporacircneo porque rompeu ao menos apa-rentemente a barreira da eacutetica antropocecircntrica e projetou nosso compromisso para com o futuro Isso natildeo significa dizer que ele seja passiacutevel de criacutetica como veremos agrave frente Jonas assim sistematiza seu princiacutepio eacutetico ldquo lsquoAja de modo a que os efeitos da tua accedilatildeo sejam compatiacuteveis com a permanecircncia de uma au-tentica vida humana sobre a Terrarsquo ou expresso negativamente lsquoAja de modo a que os efeitos da tua accedilatildeo natildeo sejam destrutivos para a possibilidade futura de uma tal vidarsquo rdquo (JONAS 2006 p 47-48)

Jonas ao defender uma eacutetica para seres ainda ldquonatildeo-existentesrdquo como afirma ele rompe com a eacutetica tradicional tambeacutem no que tange agrave concepccedilatildeo temporal a eacutetica da proximidade e do presente daacute lugar a uma eacutetica da intenccedilatildeo do agir coletivo ampliada pelo mesmo poder tecnoloacutegico que Jonas critica Ou seja uma accedilatildeo eacutetica que se estende no horizonte no tempo e no espaccedilo Isso natildeo significa dizer que ele abandone as eacuteticas tradicionais mas acrescenta novas preocupaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves precedentes em funccedilatildeo dos desafios eacuteticos Enfim a exigecircncia eacutetica defendida por Jonas nos impotildee um imperativo igualmente eacutetico de sermos responsaacuteveis em relaccedilatildeo aos demais seres vivos e ao futuro

Para Jonas uma eacutetica para o futuro se faz necessaacuterio e Giacoacuteia a sintetiza em trecircs razotildees baacutesicas em funccedilatildeo do desenvolvimento da civilizaccedilatildeo tecnoloacute-gica 1) a ciecircncia permitiu um prolongamento da vida humana 2) haacute um maior controle de comportamento humano 3) manipulaccedilatildeo geneacutetica da vida huma-na (GIACOIA JUacuteNIOR 2000 p 193-206)

No que diz respeito ao primeiro ponto o desenvolvimento da medicina per-mitiu interferir de forma tatildeo profunda nos processos quiacutemicos e nas chamadas ldquociecircncia do envelhecimentordquo que a representaccedilatildeo da morte e o sentido da fini-tude tecircm se alterado significativamente Os avanccedilos cientiacuteficos da biomedicina celular tecircm demonstrado cada vez mais que as incertezas da morte podem ser postergadas cada vez mais levando agrave ideia de uma suposta imortalidade ainda que virtual Isso implica em mudanccedilas profundas no sentido mesmo da vida e

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da morte no cuidado com a transmissatildeo de conhecimento entre as geraccedilotildees no entendimento do que eacute viver e morrer

No que tange ao segundo aspecto Jonas deixa claro que os agentes quiacute-micos podem induzir o controle de processos psiacutequicos como a alteraccedilatildeo do ritmo de aprendizado dentre outros Isto significa dizer que por meio desses medicamentos a medicina pode controlar certos comportamentos indesejaacute-veis alterando significativamente a vida humana autecircntica do mundo O que mais chama a atenccedilatildeo de Jonas eacute o fato de que haacute riscos dessas descobertas da biomedicina serem utilizadas para fins sociopoliacuteticos de controle e manipula-ccedilatildeo de comportamentos tidos supostamente como ldquoanormaisrdquo Ou seja o preccedilo que o desenvolvimento tecnocientiacutefico paga eacute no limite a perda da autonomia individual o que natildeo eacute pouca coisa

No que se refere ao terceiro aspecto vemos os progressos das ciecircncias biomeacutedicas psicoloacutegicas e de engenharia geneacutetica atuarem juntas ou sepa-radamente nos processos de genes abrindo espaccedilo para conhecimento dos coacutedigos geneacuteticos por meio de teacutecnica de laboratoacuterio conduzindo o homem agrave produccedilatildeo de vida humana artificialmente Neste sentido o poder do homo faber natildeo teria limite porque a ciecircncia possibilita o controle da vida e da morte nas matildeos humanas e na era da civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica o saber teacutecnico deixa de ser meio para ser fim em si mesmo

Ora para onde esses trecircs aspectos podem nos conduzir Quais as conse-quecircncias dessa superdimensionamento da civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica Jonas eacute in-cisivo este cenaacuterio do desenvolvimento tecnoloacutegico vai nos conduzir a uma cataacutestrofe universal Eacute verdade que isso natildeo aconteceu mas para Jonas eacute pre-ciso visualizar os efeitos a longo prazo ldquoSim laacute onde aquela palavra natildeo nos eacute fornecida gratuitamente ou seja pelo medo presente torna-se um dever bus-caacute-la porque tambeacutem ali natildeo podemos dispensar a orientaccedilatildeo do medo Esse eacute o caso da lsquoeacutetica do futurorsquo que estamos buscando o que deve ser temido ainda natildeo foi experimentado e talvez natildeo possua analogias na experiecircncia do passa-do e do presente Portanto o malum imaginado deve aqui assumir o papel do malum experimentadordquo (JONAS 2006 p 72)

A perspectiva de cenaacuterio catastrofista apresentado por Jonas eacute fruto de uma equaccedilatildeo aparentemente simples o sucesso econocircmico leva ao aumento da produccedilatildeo de bens que conduz a uma elevaccedilatildeo no consumo que gera uma exploraccedilatildeo dos recursos naturais finitos que por sua vez reflete no aumento da populaccedilatildeo que acaba vivendo mais e melhor em funccedilatildeo das melhorias nas teacutecnicas da medicina celular e assim sucessivamente Jonas natildeo desconsidera

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os fatores positivos do desenvolvimento tecnoloacutegico mas eacute evidente que tem um pendor em realccedilar seus aspectos mais negativos e destrutivos de forma es-trateacutegica Por isso afirma ele ldquoesta incerteza que ameaccedila tornar inoperante a perspectiva eacutetica de uma responsabilidade em relaccedilatildeo ao futuro a qual evi-dentemente natildeo se limita agrave profecia do mal tem de ser ela proacutepria incluiacuteda na teoria da eacutetica e servir de motivo para um novo princiacutepio que por seu turno possa funcionar como uma prescriccedilatildeo praacutetica Essa prescriccedilatildeo afirmativa grosso modo que eacute necessaacuterio dar mais ouvidos agrave profecia da desgraccedila do que agrave profecia da salvaccedilatildeordquo (JONAS 2006 p 77 Grifo do autor)

A heuriacutestica do medo se torna assim a primeira obrigaccedilatildeo da eacutetica da res-ponsabilidade Trata-se de um medo que natildeo paralisa mas evitando o pior so-bre o destino da humanidade proporciona a reflexatildeo que conduz agrave accedilatildeo Longe de ser uma patologia ou covardia o temor eacute o respeito e cuidado que devemos ter com tudo o que existe no universo Por isso afirma Jonas ldquoo reconhecimen-to do malum eacute infinitamente mais faacutecil do que o do bonum eacute mais imediato mais urgente bem menos exposto a diferenccedilas de opiniatildeordquo (JONAS 2006 p 71) A estrateacutegia do autor eacute entatildeo chamar a atenccedilatildeo do pior para que dele surja algo de bom uma accedilatildeo eacutetica responsaacutevel por tudo que haacute no mundo Ao que parece haacute neste ponto um misto de temor e esperanccedila que flerta com a visatildeo religiosa do mundo temor diante de um futuro incerto e esperanccedila de que uma nova accedilatildeo eacutetica possa superar a cataacutestrofe anunciada por um sentimento de coletivo de responsabilidade

Em poucas palavras resume o autor seu primo movens da eacutetica ldquoA primeira regra eacute a de que aos descendentes futuros da espeacutecie humana natildeo seja permi-tido nenhum modo de ser que contrarie a razatildeo que faz com que a existecircncia de uma humanidade como tal seja exigida Portanto o imperativo de que deve existir uma humanidade eacute o primeiro enquanto estivermos tratando exclusi-vamente do homem (JONAS 2006 p 93-94) Aqui vemos preocupaccedilotildees com o homem e natildeo com o natildeo humano embora eacute preciso reconhecer o valor do humano para garantir sua continuidade na Terra De qualquer modo se este ar-gumento for verdadeiro temos duas conclusotildees complexas a primeira vemos que Jonas natildeo se liberta da visatildeo antropocecircntrica da eacutetica ambiental e parece fazer muito mais um ldquoajusterdquo com a eacutetica posta do que uma eventual ruptura com as eacuteticas tradicionais a segunda vemos um Jonas religioso que a despeito de todo o aparato racional e argumentativo de sua obra natildeo consegue libertar--se e quer que seu leitor se ldquosalverdquo enredado nas teias do medo

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3 A CRIacuteTICA POLIacuteTICA DE LARREgraveRE E LARREgraveRE AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADE DE JONAS

Podemos ler o Princiacutepio Responsabilidade de Jonas sob diversas perspecti-vas Uma delas tem enorme pendor a confianccedila depositada na teacutecnica desde o nascedouro do mundo moderno que conduziu ao uso desordenado da nature-za e provocou ameaccedila agrave sobrevivecircncia da humanidade na Terra Diante das con-sequecircncias do atual modelo de desenvolvimento e do poder da teacutecnica cuja dimensatildeo jamais tinha sido alcanccedilada antes esse autor justifica a necessidade de uma nova eacutetica para a utilizaccedilatildeo da teacutecnica propondo entatildeo a aplicaccedilatildeo do princiacutepio responsabilidade Seus argumentos sobre esse princiacutepio caracte-rizam-se pelo diagnoacutestico inicial da crise e pela apresentaccedilatildeo de uma soluccedilatildeo cujo caraacuteter ldquosalvacionistardquo chama a atenccedilatildeo de seu leitor conforme vimos na segunda parte deste texto Para Jonas ou se adere ao medo inexoravelmente ou se teria a barbaacuterie tecnoloacutegica instalada Como seria possiacutevel pensar numa eacutetica sem a liberdade de escolha Como pensar uma saiacuteda para a crise ambien-tal sem cair na soluccedilatildeo autoritaacuteria que propotildee Jonas Quais seriam as alterna-tivas possiacuteveis agrave proposta poliacutetica de Jonas Na tentativa de responder essas questotildees vamos recorrer agrave obra de Larregravere e Larregravere com o propoacutesito de dar maior suporte agrave criacutetica de Jonas e pensar alternativas ao princiacutepio responsabili-dade que pode ser o princiacutepio de precauccedilatildeo e assim adensar o debate sobre a eacutetica ambiental contemporacircnea

Dividiremos este toacutepico em trecircs pontos fundamentais num primeiro reto-maremos algumas questotildees de Jonas notadamente seu sentido de ldquoheuriacutestica do medordquo em segundo lugar faremos algumas criacuteticas sobre essa mesma ques-tatildeo centrando nossa anaacutelise no aspecto poliacutetico de seu pensamento e final-mente no terceiro algumas indicaccedilotildees sobre a eacutetica ambiental na perspectiva de Larregravere e Larregravere atraveacutes do princiacutepio precauccedilatildeo

Para Jonas o ldquoprinciacutepio responsabilidaderdquo apresenta uma preocupaccedilatildeo po-liacutetica na medida que envolve o Estado mas tambeacutem eacute eacutetica na medida que diz respeito agrave accedilatildeo do indiviacuteduo num mundo repleto de incertezas ldquoO dina-mismo eacute a marca da modernidade ele natildeo eacute um acidente mas a propriedade imanente desta eacutepoca e ateacute nova ordem o nosso destino Isso quer dizer que temos de contar com o novo embora natildeo possamos calculaacute-lordquo (JONAS 2006 p 203) Diante deste universo incerto a prevenccedilatildeo eacute uma postura muito mais eficaz para a responsabilidade do que a seduccedilatildeo de uma promessa sem o co-nhecimento total sobre ela Mesmo o desconhecido ou aquilo em que natildeo se

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deve apostar pode tornar-se objeto de uma poliacutetica de prevenccedilatildeo Sendo as-sim Jonas opta pelo cenaacuterio do pior pois a profecia do mal eacute feita para evitar que ele se realize O medo em Jonas eacute um mal menor que tem a pretensatildeo de evitar um mal maior eacute este o significado da heuriacutestica do medo ela nada mais eacute do que a consequecircncia da intervenccedilatildeo humana por meio da eacutetica Mas isso traz implicacircncias seacuterias porque ldquoao agitar uma ameaccedila hiperboacutelica introduz de fato uma nova eacutetica de convicccedilatildeo (a crenccedila numa cataacutestrofe inevitaacutevel) A esperanccedila torna-se medo eacute a eacutetica negativa da lsquoprofecia da desgraccedilarsquordquo resu-me os inteacuterpretes franceses (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 275) Eacute nessa visatildeo que Jonas projeta um cenaacuterio negativo para conseguir garantir a participaccedilatildeo de todos na efetivaccedilatildeo da sua proposta de responsabilidade pelas geraccedilotildees futuras desenvolvendo suas medidas praacuteticas caracterizadas por uma poliacutetica autoritaacuteria e vinculada agrave ideia de que quanto menos comunicaccedilatildeo e discussatildeo sobre os temas mais eficiente rapidez e poderosa poderatildeo ser as decisotildees po-liacuteticas para solucionar os problemas ambientais A sociedade entatildeo confiaria plenamente nas decisotildees do homem puacuteblico ou por conta do medo de que o pior cenaacuterio seja concretizado ou pela utilizaccedilatildeo da forccedila se necessaacuterio for

A soluccedilatildeo praacutetica apresentada para dirimir essa questatildeo econocircmica eacute a es-tagnaccedilatildeo de todo e qualquer tipo de desenvolvimento pois mesmo que hou-vesse a redistribuiccedilatildeo da riqueza global jaacute existente de acordo com seu ponto de vista isso natildeo seria capaz de elevar o niacutevel de vida das regiotildees mais pobres e eliminar a miseacuteria Esta equaccedilatildeo de difiacutecil negociaccedilatildeo exige a estagnaccedilatildeo do crescimento econocircmico e a capacidade produtiva o que conduz a um proble-ma prioritariamente poliacutetico Jonas tem consciecircncia de que a questatildeo econocirc-mica eacute problemaacutetica e radicaliza na soluccedilatildeo ldquo[] eu acredito que a soluccedilatildeo estaacute nesse caminho se possiacutevel de forma voluntaacuteria se necessaacuterio forccediladardquo (JONAS 2006 p 294) Reafirma assim sua ideia sobre a instauraccedilatildeo de um pavor cole-tivo voltado para o disciplinamento das accedilotildees humanas Isto significa dizer que ele justifica a necessidade do culto ao medo do pior e a valorizaccedilatildeo do uso da forccedila em busca de um futuro melhor para toda humanidade Por isso arreba-ta Jonas ldquoSe natildeo haacute alternativa agrave escolha favoraacutevel ou negativa deveriacuteamos arriscar o lance mais alto da tecnologia para colher a becircnccedilatildeo ou a cataacutestrofe supremardquo (JONAS 2006 p 296)

A isso ele defende a postura da advertecircncia em relaccedilatildeo a um mal maior porvir acreditando no medo altruiacutesta Como foi dito acima tal medo natildeo se refere apenas agrave incerteza Eacute um medo que segundo o filoacutesofo possibilita as-sumir a responsabilidade pelo desconhecido dado o caraacuteter incerto da es-

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peranccedila ldquoO medo que faz parte da responsabilidade natildeo eacute aquele que nos aconselha a natildeo agir mas aquele que nos convida a agir Trata-se de um medo que tem a ver com o objeto da responsabilidaderdquo (JONAS 2006 p 351) Ou seja o medo eacute favoraacutevel agrave preservaccedilatildeo do objeto pois as accedilotildees devem estar voltadas para esse fim

Esta soluccedilatildeo arriscada se daacute por causa do grande mal que o capitalismo nos trouxe a exploraccedilatildeo da natureza agrave beira da exaustatildeo Ora qual seria sua saiacuteda poliacutetica O marxismo revolucionaacuterio (inspirado no livro Princiacutepio Esperanccedila de Ernst Bloch) que considera as geraccedilotildees futuras como o advento da humanida-de para o qual se justificam moralmente todos os sacrifiacutecios da humanidade Esse pensamento poliacutetico natildeo seria apenas o lastro filosoacutefico de sua eacutetica mas seria a salvaccedilatildeo para a cataacutestrofe apocaliacuteptica que nos trouxe agrave beira do abismo da questatildeo ambiental

Para Larregravere e Larregravere Hans Jonas faz um diagnoacutestico correto da modernida-de A anaacutelise do problema eacutetico na obra eacute seacuteria e nos ajudou a pensar a questatildeo ambiental no mundo contemporacircneo pelo olhar filosoacutefico No entanto a sua proposta poliacutetica natildeo coincide com a sua postura eacutetica pois a heuriacutestica do medo de Jonas antecipa a cataacutestrofe retirando toda a capacidade para informar accedilotildees precisas incidindo apenas no alcance negativo das accedilotildees humanas Aleacutem do mais sua postura poliacutetica que recebeu vaacuterias criacuteticas desde que Princiacutepio res-ponsabilidade veio agrave lume deve-se muito mais agrave sua incapacidade de entender o mecanismo da poliacutetica do que por simpatias pessoais aos sistemas ditatoriais Na praacutetica ele usa o medo para forccedilar uma eventual mudanccedila de comporta-mento que nem sempre eacute produtiva (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 275) Isto significa dizer que eacute ineficaz conciliar a heuriacutestica do medo com o debate puacutebli-co Os autores afirmam que a ambiguidade presente na obra de Jonas se deve ao fato de que mesmo denunciando a utopia teacutecnica ele continua preso na ilusatildeo do poder total acreditando na capacidade teacutecnica para controlar todas as accedilotildees humanas a partir de uma previsibilidade programada A heuriacutestica do medo natildeo eacute soacute ineficaz eacute um grande obstaacuteculo agrave democracia

Para os autores o medo em Jonas eacute mantido ldquo[] da mesma forma que se ameaccedilam os crentes com os horrores do inferno jaacute que natildeo eacute possiacutevel incli-naacute-los diretamente para o bemrdquo (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 274) Haacute certa aporia no pensamento de Jonas segundo os franceses em questatildeo por um lado Jonas caracteriza a eacutetica da responsabilidade como uma eacutetica religiosa da abstinecircncia e do sacrifiacutecio por outro continua prisioneiro da ilusatildeo da onipo-tecircncia da modernidade que tanto ele proacuteprio critica Isto significa dizer que ao

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mesmo tempo que ele se apresenta como um pensador de uma escatologia se-cularizada estaacute carregado de elementos religiosos e que satildeo revestidos de uma concepccedilatildeo poliacutetica Nisso talvez consiste sua maior dificuldade em implemen-tar um projeto poliacutetico porque ele natildeo eacute afeito ao debate democraacutetico Os au-tores satildeo incisivos ldquoJonas natildeo acredita na capacidade das democracias para se libertarem dos seus interesses presentes para preverem a ameaccedila e imporem a si mesmos a obrigaccedilatildeo provinda do futurordquo (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 275)

No lugar do princiacutepio responsabilidade Larregravere e Larregravere apresentam o princiacutepio de precauccedilatildeo Conhecido na Franccedila como ldquoprinciacutepio de prudecircnciardquo eacute o antiacutedoto agrave ausecircncia de certezas cientificamente estabelecidas fornecendo a autoridade filosoacutefica necessaacuteria para a tomada de decisotildees Surgido na Ale-manha nos anos 70 foi aplicado na Convenccedilatildeo de Viena em 1985 no relatoacuterio de Bruntland em 1988 na Eco 92 e incorporado no direito positivo francecircs em 1995 O enunciado desse princiacutepio eacute simples ldquopode justificar-se ou ser impera-tivo limitar enquadrar ou impedir certas accedilotildees potencialmente perigosas sem esperar que o perigo seja cientificamente definido com toda a certezardquo (LAR-REgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 276)

Para explicaacute-lo os autores apresentam duas versotildees Numa primeira a ver-satildeo forte a ideia de precauccedilatildeo eacute um criteacuterio absoluto instituindo-se como uma regra de abstenccedilatildeo que envolve trecircs fatores 1) a referecircncia ao dano zero 2) a necessidade de evitar cenaacuterio do pior 3) a inversatildeo do ocircnus da prova Como natildeo haacute dano zero haveraacute sempre margem para as incertezas e como conse-quecircncia tem-se a paralisaccedilatildeo das atividades existentes e o desencorajamen-to agrave inovaccedilatildeo Na segunda a versatildeo fraca o princiacutepio precauccedilatildeo eacute um criteacuterio parcial devido agrave falta de provas cientiacuteficas mas que abre espaccedilo ao debate puacuteblico agrave deliberaccedilatildeo e aos processos de justificaccedilatildeo Em poucas palavras o princiacutepio de precauccedilatildeo eacute aquele segundo o qual ldquoa ausecircncia de certezas tendo em conta os conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos do momento natildeo deve retar-dar a aprovaccedilatildeo de medidas efetivas e proporcionadas que visam prevenir um risco de danos graves e irreversiacuteveis para o meio ambiente a um custo econo-micamente aceitaacutevelrdquo (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 278) Contra a imposiccedilatildeo e a heuriacutestica do medo os autores defendem a necessidade da negociaccedilatildeo Por meio do debate junto ao puacuteblico eles objetivam a hierarquizaccedilatildeo das accedilotildees baseando-se no tempo que resta para as decisotildees Natildeo buscam uma trajetoacuteria uacutenica e ideal Com esse procedimento acreditam que se institui um tempo co-letivo para aprendizagem conhecimento dos fenocircmenos e criaccedilatildeo de teacutecnicas de proteccedilatildeo

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Entende-se entatildeo que o objetivo natildeo eacute encontrar uma soluccedilatildeo perfeita de maneira teacutecnica e institucionalizada mas sim organizar os processos de decisatildeo dentro do tempo disponiacutevel prezando acima de tudo pela informaccedilatildeo e parti-cipaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica ou seja pela aprendizagem coletiva Baseando-se no modelo do debate puacuteblico para propor o princiacutepio de precauccedilatildeo os autores defendem que a razatildeo deve sobrepor-se ao medo e por isso apresenta-se mui-to mais adequado ao espaccedilo poliacutetico da democracia O propoacutesito de Larregravere e Larregravere eacute evitar a qualquer custo aplicaccedilotildees absolutistas ao andamento das atividades sociais atraveacutes das articulaccedilotildees entre prudecircncia poliacutetica e ciecircncia Tal posicionamento aleacutem de prevenir os riscos minimiza a inseguranccedila oriunda da falta de informaccedilatildeo por parte da populaccedilatildeo Aleacutem disso faz com que o conhe-cimento dos riscos potenciais force um pouco nossa responsabilidade e iniba a recorrente desculpa de que ldquoeu natildeo sabiardquo

Foi Jonas quem abriu o debate sobre o futuro da humanidade a partir da noccedilatildeo de solidariedade com as geraccedilotildees futuras Os autores perguntam-se en-tatildeo se essa noccedilatildeo natildeo compromete a apreensatildeo da humanidade como enti-dade moral perante a qual temos deveres Jonas considera a humanidade em estado de permanecircncia ou seja natildeo se tem uma histoacuteria tem-se um estado Entretanto para os autores ao se tomar em consideraccedilatildeo as geraccedilotildees futuras deve-se apreendecirc-las nas suas sucessotildees e diferenccedilas Ainda segundo os auto-res os problemas nascidos da teacutecnica devem ser resolvidos por meio de solu-ccedilotildees teacutecnicas porque a tecnologia contemporacircnea eacute a ciecircncia convertida em poder Entretanto a ciecircncia apenas informa agrave teacutecnica natildeo lhe impotildee normas eacute por isso que a teacutecnica torna-se um processo ilimitado Em Larregravere e Larregravere as proposiccedilotildees para a limitaccedilatildeo da accedilatildeo teacutecnica natildeo consideram o agir humano de maneira isolada mas sim situado na natureza Isso implica em decisotildees que para serem realizadas com base no princiacutepio de precauccedilatildeo precisam do conhe-cimento da accedilatildeo do homem na natureza e natildeo soacute sobre a natureza Com base em tais proposiccedilotildees a relaccedilatildeo que os autores estabelecem eacute a de co-pertenccedila passando da separaccedilatildeo entre homem e natureza agrave noccedilatildeo de que homem e na-tureza estatildeo proacuteximos e satildeo afetados mutuamente

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na argumentaccedilatildeo de Jonas em defesa do princiacutepio responsabilidade o pro-blema principal natildeo eacute o fato de que o emprego da teacutecnica tenha modificado e degradado a natureza fiacutesica mas sim o fato de a teacutecnica estar manipulando

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a natureza humana que perde seu controle e jaacute natildeo exerce a capacidade de perceber como a teacutecnica tem determinado as formas de organizaccedilotildees sociais e principalmente acarretando perigo agrave existecircncia da humanidade Nesse sentido a responsabilidade pelo emprego da teacutecnica passa a incluir as consequecircncias posteriores agrave sua utilizaccedilatildeo em todos os niacuteveis Em uma tentativa de justificar o rumo paternalista e autoritaacuterio que vigora na aplicaccedilatildeo praacutetica do seu princiacutepio responsabilidade Jonas afirma que independente do modo como as atitudes sejam manifestadas o que importa eacute possibilitar a continuidade da vida huma-na e sua essecircncia natural bem como da natureza fiacutesica da melhor forma possiacute-vel pois para ele os males oriundos da degradaccedilatildeo do patrimocircnio fiacutesico natural estendem-se proporcionalmente aos seus herdeiros Impedir que esse quadro seja efetivado significa assumir a responsabilidade pelo futuro do homem

Se Jonas procura defender uma eacutetica natildeo antropocecircntrica no fundo eacute pos-siacutevel afirmar que o filoacutesofo compartilhe do pensamento antropocecircntrico quan-do ele afirma que a natureza conserva a sua dignidade e contrapotildee-se ao poder humano e ldquoQuando a luta pela existecircncia frequentemente impotildee a escolha en-tre o homem e a natureza o homem de fato vem em primeiro lugarrdquo (JONAS 2006 p 229) Por isso proteger o futuro da humanidade eacute o primeiro dever o qual inclui o futuro da natureza unicamente por ser a condiccedilatildeo para efetivaacute-lo Isto significa dizer que as suas reflexotildees sobre o poder da teacutecnica natildeo impli-cam necessariamente numa preocupaccedilatildeo com a natureza entendida como o ambiente fiacutesico mas sim na manutenccedilatildeo da natureza para a sobrevivecircncia do homem Em outras palavras podemos entender que a sua preocupaccedilatildeo estaacute centrada na sobrevivecircncia da humanidade porque estaacute ameaccedilada pela teacutecnica Isto natildeo significa dizer que a sua tese central esteja comprometida mas natildeo seria justo afirmar que ela defenda de forma pura e absoluta uma eacutetica natildeo antropocecircntrica

Em Larregravere e Larregravere o sentido de preservaccedilatildeo da natureza e garantia da existecircncia das geraccedilotildees futuras situa-se longe da manutenccedilatildeo de uma perspec-tiva de natureza selvagem preservada em seu estado primitivo sem qualquer interferecircncia humana O que se considera importante preservar eacute a capacidade evolutiva dos processos ecoloacutegicos pois soacute assim eacute possiacutevel proporcionar con-diccedilotildees para a existecircncia da humanidade no futuro Por isso a dimensatildeo eacutetica dos problemas ambientais a publicidade do debate sobre essas questotildees e a necessidade da diversificaccedilatildeo das investigaccedilotildees cientiacuteficas satildeo formas de tor-nar mais sensiacuteveis as limitaccedilotildees da ciecircncia e a confianccedila no aparato tecnoloacutegico para resoluccedilatildeo dos problemas sociais e ambientais Diferentemente do pensa-

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mento de Hans Jonas Larregravere e Larregravere satildeo adeptos do ecocentrismo Para os autores a eacutetica ecocentrada fundada na relaccedilatildeo de pertencimento eacute uma eacutetica que natildeo implica apenas em uma representaccedilatildeo cientiacutefica do mundo mas sim numa maneira de nele situar o homem e suas relaccedilotildees sociais

As proposiccedilotildees criacuteticas de Larregravere e Larregravere contraacuterias ao princiacutepio respon-sabilidade de Jonas satildeo elaboradas mediante a tentativa ineficaz do alematildeo de conciliar a heuriacutestica do medo com o debate puacuteblico e o conhecimento cien-tiacutefico Excluindo das decisotildees o debate puacuteblico atraveacutes da aterrorizacatildeo sobre uma cataacutestrofe natural da qual todos deveriam proteger-se para evitar o pior segue as recomendaccedilotildees estipuladas pelo representante poliacutetico sem hesitar

Por fim podemos afirmar que eles estatildeo de acordo quanto ao fato de que a promessa da tecnologia moderna converteu-se em ameaccedila e que os pres-supostos da eacutetica tradicional jaacute natildeo se mostram suficientemente adequados para orientar a vida do homem contemporacircneo No entanto entram em con-flito quanto agraves perspectivas eacuteticas que se impotildee agraves circunstacircncias praacuteticas do homem Jonas volta-se para a dimensatildeo ldquopoliacutetico-paternalistardquo presente no seu princiacutepio responsabilidade enquanto Larregravere e Larregravere orientam-se na direccedilatildeo proacutexima ao republicanismo pressupondo o exerciacutecio da alteridade da cidada-nia e da participaccedilatildeo comunitaacuteria atraveacutes do princiacutepio de precauccedilatildeo

Se agrave eacutetica ambiental diz respeito agrave relaccedilatildeo entre o homem e a natureza se-parados na modernidade ela reivindica no mundo contemporacircneo os criteacuterios a partir dos quais eles possam ser repensados e unidos numa soacute preocupaccedilatildeo porque eles co-pertencem

O homem natildeo pode ser entendido fora da natureza porque eles estatildeo imbri-cados Se um dos conceitos chave da eacutetica ambiental eacute o do valor intriacutenseco e conforme vimos para avaliar eacute preciso ter por um lado um avaliador e por ou-tro qualquer coisa que desperte o sentimento de filiaccedilatildeo independentemente da utilidade a eacutetica ambiental nos conduz a uma mudanccedila de comportamen-to que leve em consideraccedilatildeo uma relaccedilatildeo de pertencimento com um mundo constituiacutedo pela natureza da qual o homem faz parte e que por isso todos noacutes devemos cuidar

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REFEREcircNCIAS

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REFLEXOtildeES SOBRE EacuteTICA AMBIENTAL NA CONTEMPORANEIDADE

Jonielton Oliveira DantasAlessandra Barbosa SouzaMariacutelia Barbosa dos SantosMaria Joseacute Nascimento SoaresSuelane de Oliveira Silva Dantas

1 INTRODUCcedilAtildeO

A crise ambiental que marca a contemporaneidade eacute decorrente dos diver-sos desarranjos da relaccedilatildeo sociedade e natureza exteriorizada nos inuacutemeros danos ao ar solo aacutegua e potencializada pelas cataacutestrofes que ao longo do tempo impulsionaram a tomada de consciecircncia da crise em sua dimensatildeo pla-netaacuteria levando diversos paiacuteses do mundo ao debate puacuteblico sobre a questatildeo Para Larregravere e Larregravere (1997) a realizaccedilatildeo da Cimeira da Terra (Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas) no Rio de Janeiro em 1992 apesar dos resultados frustrantes em termos de decisotildees concretas eacute uma prova de que a crise ambiental existe e tornou-se motivo de preocupaccedilatildeo comum

Se por um lado o reconhecimento da existecircncia de uma crise ambiental na contemporaneidade pode ser atribuiacutedo agrave separaccedilatildeo entre natureza e cultura por outro demonstra que tal separaccedilatildeo jamais fora consumada tendo em vis-ta a interdependecircncia nas relaccedilotildees entre homem e natureza que ora se apre-sentam de forma bastante complexa Neste sentido Bruno Latour em sua obra Jamais fomos modernos ensaio de antropologia simeacutetrica (1994) afirma que o projeto da modernidade eacute algo fadado ao fracasso tendo em vista a ilusatildeo de que eacute possiacutevel isolar o domiacutenio da natureza (o inato) do domiacutenio da poliacutetica (a accedilatildeo humana) (LATOUR 1994)

Ambas constataccedilotildees evidenciam a crise do conhecimento cientiacutefico pau-tado na racionalidade cartesiana cuja promessa era ldquo[] enfrentar e resolver com sucesso os mais importantes problemas humanos de modo a garantir o domiacutenio sobre as forccedilas da naturezardquo (GIACOIA JUNIOR 2004 p 638) Vale lembrar que o conhecimento sobre natureza sempre esteve na base da razatildeo

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empreendida pelos modernos cujo ideal baconiano1 sintetizado na maacutexima ldquosaber eacute poderrdquo jaacute apontava para a necessidade de uma ciecircncia emancipatoacute-ria em que o homem fosse concebido como ministro e inteacuterprete da natureza (BACON 1979)

Estas primeiras aproximaccedilotildees sobre a relaccedilatildeo cultura e natureza no modus operandi da ciecircncia moderna nos remete a uma reflexatildeo sobre a construccedilatildeo de uma visatildeo de natureza que corresponda ao estado atual do conhecimento Larregravere e Larregravere (1997) nos lembra que a concepccedilatildeo grega de natureza sou-be conciliar naturalismo e humanismo nos oferecendo saiacutedas tanto cientiacuteficas quanto praacuteticas para as nossas preocupaccedilotildees atuais acerca das relaccedilotildees com a natureza mediante uma eacutetica proacutepria

Para Larregravere e Larregravere (1997) interessa-nos saber atualmente como se fez a separaccedilatildeo entre fiacutesica e eacutetica humanismo e natureza e se essa visatildeo de nature-za informada pela ciecircncia eacute a nossa heranccedila da modernidade Neste contexto as questotildees passam a ser ldquo[] dependeremos ainda tanto dela [modernidade] que deveriacuteamos conservar a exterioridade que ela atribui ao homem relativa-mente agrave natureza Seraacute que as transformaccedilotildees contemporacircneas das ciecircncias da natureza nos impedem de ver que o homem faz parte dela rdquo (LARREgraveRE LAR-REgraveRE 1997 p 15)

Imbuiacutedos destas reflexotildees elaboramos questotildees natildeo menos importantes para orientar o presente ensaio Quais os pressupostos teoacutericos do pensamento moderno colocaram o ser humano como exterioridade agrave natureza Como essa concepccedilatildeo moderna de natureza tem dificultado a construccedilatildeo de uma visatildeo de natureza includente em relaccedilatildeo agrave cultura e na implementaccedilatildeo de uma nova eacutetica que balize a relaccedilatildeo sociedade-natureza na contemporaneidade

Este ensaio tem como objetivo discutir a relaccedilatildeo homem-natureza a par-tir de interpretaccedilotildees sobre a modernidade como aporte para a reflexatildeo sobre uma eacutetica ambiental que balize o uso responsaacutevel da teacutecnica e do conhecimen-to na contemporaneidade Utilizou-se a apreciaccedilatildeo bibliograacutefica acerca de in-

1 O filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561 - 1626) desenvolveu o ideal de boa ciecircncia baseado na con-cepccedilatildeo indutivista que fundamentou grande parte dos meacutetodos de anaacutelise e pesquisa na ciecircncia moderna As interpretaccedilotildees contemporacircneas sobre a definiccedilatildeo de boa ciecircncia em Bacon sinteti-zam como uma ciecircncia de caraacuteter racionalista experimental capaz de inferir leis naturais a partir do acuacutemulo de observaccedilotildees cuja condiccedilatildeo eacute a existecircncia de mentes bem treinadas para manter-se a salvo de enganos entre os quais os sentidos sentimentos e o intercacircmbio social (FREITAS 2004) Com base no Novum Organum a boa ciecircncia significa a libertaccedilatildeo humana dos iacutedolos impostos pela natureza e pela tradiccedilatildeo eacute um instrumento de poder que auxilia o homem a lidar com a natu-reza e a possibilidade de melhora e conforto para vida humana (SANTOS HORA 2015)

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terpretaccedilotildees contemporacircneas sobre o projeto da modernidade e sua implica-ccedilatildeo na relaccedilatildeo homem-natureza sobre o ldquobom usordquo da natureza e o chamado para a responsabilidade nos usos da teacutecnica e do conhecimento mediante uma eacutetica ambiental Tais discussotildees foram embasadas principalmente em Giacoia Juacutenior (2004) Jonas (2006) Larregravere e Larregravere (1997) e Larregravere (2010)

O campo da filosofia tem dedicado especial atenccedilatildeo agrave discussatildeo sobre natu-reza sobretudo quanto a reflexatildeo em torno da imputaccedilatildeo de valor e moral agraves entidades naturais e a discussatildeo sobre uma eacutetica que avalize a relaccedilatildeo homem--natureza Este debate tem recebido um apelo crescente agrave medida em que se ampliam as condiccedilotildees de degradaccedilatildeo ambiental a niacuteveis considerados irreversiacute-veis Contudo este ensaio natildeo tem a pretensatildeo de fazer um aprofundamento fi-losoacutefico acerca dos temas em questatildeo mas apresentar algumas interpretaccedilotildees e reflexotildees sobre as discussotildees que estatildeo sendo postas neste campo

Para melhor compreensatildeo o texto estaacute dividido em duas partes a primeira traz uma discussatildeo a respeito dos usos da natureza a partir loacutegica do pensa-mento moderno e as implicaccedilotildees do superdimensionamento da teacutecnica e da ciecircncia na relaccedilatildeo homem-natureza a segunda parte traz as discussotildees con-temporacircneas acerca de uma eacutetica ambiental a partir das perspectivas biocecircn-trica e ecocecircntrica que rompem com o paradigma antropocecircntrico em que se estabelece a relaccedilatildeo homem-natureza

2 INTERPRETACcedilOtildeES SOBRE A RELACcedilAtildeO HOMEM-NATUREZA NA MODERNIDADE

Embora os gregos sejam fonte de inspiraccedilatildeo e modelo do que seja o lsquobom usorsquo da natureza cabe a noacutes na contemporaneidade descobrir os criteacuterios de um lsquobom usorsquo e estabelecer normas eacuteticas balizadas por uma nova visatildeo de na-tureza informada cientificamente Para tanto torna-se necessaacuterio estudar o pe-riacuteodo moderno para compreender como consolidou-se o desejo de controle humano sobre a natureza externa e interna ao qual eacute atribuiacutedo a crise ambien-tal2 (LARREgraveRE LARREgraveRE 1997)

2 A crise ambiental se apresenta na enorme quantidade de danos precisos de poluiccedilotildees localiza-das de perigos identificados mas tambeacutem cataacutestrofes exemplares (Bhopal Chernobyl) e mesmo a provaacutevel ameaccedila que paira sobre os nossos recursos (erosatildeo da biodiversidade bioloacutegica desmata-mento das regiotildees tropicais) ou sobre a nossa vida (buraco na camada de ozocircnio efeito de estufa etc) (LARREgraveRE LARREgraveRE 1997)

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O projeto da modernidade encontra na percepccedilatildeo de Francis Bacon em No-vum Organum (1620) a inspiraccedilatildeo para proclamar a virtude emancipatoacuteria de uma nova ciecircncia Bacon anunciava uma nova figura de mundo em que o ho-mem por intermeacutedio das ciecircncias alcanccedilaria a emancipaccedilatildeo do entendimento seguida da ldquo[] melhoria da situaccedilatildeo humana e a ampliaccedilatildeo do seu domiacutenio sobre a naturezardquo (BACON 1990 apud GIACOIA JUNIOR 2004 p 637)

Para alcanccedilar tal proeza Bacon entendia a necessidade de formulaccedilatildeo de um meacutetodo que distinguisse o saber cientiacutefico seguro e beneacutefico ao gecircnero humano da sabedoria antiga caracterizada pela contemplaccedilatildeo da verdade e especulaccedilatildeo a qual considerava um empecilho para alcanccedilar a maioridade do entendimento humano ou seja a idade da razatildeo (GIACOIA JUNIOR 2004) Natildeo obstante a leitura que Rossi (1992 p 203) faz eacute a de que ldquo[] o meacutetodo eacute para Bacon um meio de ordenaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo da realidade naturalrdquo

Como Bacon Descartes ldquo[] via na ciecircncia e na teacutecnica que dela deriva a possibilidade de consolidar e estender o poder de controle humano sobre a natureza externa e tambeacutem sobre a natureza interior do homemrdquo (GIACOIA JU-NIOR 2004 p 640) A partir de suas assimilaccedilotildees no campo da fiacutesica Descartes julga ser necessaacuterio divulgar tais conhecimentos de modo a procurar o bem geral de todos os homens Sendo assim afirma que as noccedilotildees gerais relativas agrave Fiacutesica por ele adquiridas fizeram ver que

eacute possiacutevel chegar a conhecimentos que sejam muito uacuteteis agrave vida e

que em vez dessa Filosofia especulativa que se ensina nas escolas

se pode encontrar uma outra praacutetica pela qual conhecendo a forccedila

e as accedilotildees do fogo da aacutegua do ar dos astros dos ceacuteus e de todos os

outros corpos que nos cercam tatildeo distintamente como conhecemos

os diversos misteres de nossos artiacutefices poderiacuteamos empregaacute-los da

mesma maneira em todos os usos para os quais satildeo proacuteprios e assim

nos tornar como que senhores e possuidores da natureza (DESCAR-

TES 1983 p 63)

Em sua obra Discurso do Meacutetodo Descartes descreve o meacutetodo que encon-trara para melhor buscar a verdade atraveacutes da deduccedilatildeo e do conhecimento fragmentado livre de especulaccedilotildees no qual a observaccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo possuem papel secundaacuterio O meacutetodo cartesiano expotildee uma visatildeo mecacircnica de mundo cuja natureza eacute concebida como um objeto a ser dominado e explo-rado pelo homem negando o caraacuteter dinacircmico da mesma No cartesianismo

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tudo que natildeo eacute razatildeo eacute movimento e extensatildeo assim todos os fenocircmenos da natureza deveriam ser explicados pelo mecanicismo (JAPIASSU 1992)

Dado o papel de destaque aos precursores do projeto da modernidade vaacute-rias foram as sucessivas contribuiccedilotildees para ampliar o entendimento acerca da natureza ou melhor da ideia de natureza ao longo deste periacuteodo Eacute pertinente citar Hobbes que ao construir sua teoria demarca severa oposiccedilatildeo entre estado de natureza e estado civil Hobbes (2002) descreve o estado de natureza como sendo um estado miseraacutevel de ignoracircncia inseguranccedila e solidatildeo cuja saiacuteda eacute a uniatildeo dos homens em torno de um modo de vida artificial regido pela lei e a ordem podendo assim possibilitar uma vida mais segura justa e apraziacutevel Para o autor poderemos arbitrar contra os seres brutos domesticando os que forem passiacuteveis de nos servir e declarando guerra perpeacutetua aos demais

Natildeo obstante as expediccedilotildees cientiacuteficas do seacuteculo XVIII que tinham como objetivo revelar os segredos da natureza demonstravam a perspectiva de sujeiccedilatildeo desta aos interesses econocircmicos e da ciecircncia Foi assim com os viajantes naturalistas Bougainville e La Condamine (1701-1774) por exemplo cujas descriccedilotildees de suas experiecircncias reportaram para a Europa com surpresa as evidecircncias dos saberes que os povos ldquobrutos e selvagensrdquo da Ameacuterica possuiacuteam e a enorme quantidade de plantas desconhecidas que poderiam lhes ser ldquouacuteteisrdquo (BECKER 2012)

Contudo enquanto dentro do movimento iluminista a percepccedilatildeo da maio-ria dos pensadores era a de estarem vivenciando um momento de avanccedilo com a modernidade seja do ponto de vista cientiacutefico social poliacutetico e econocircmico o filoacutesofo Jean-Jacques Rousseau foi um dos primeiros a tecer a criacutetica ao papel da ciecircncia e preocupar-se com uso adequado dos conhecimentos adquiridos Para Rousseau (1989) a histoacuteria do homem era decadente pois sai de um con-texto de liberdade de contato com a natureza para uma situaccedilatildeo de servidatildeo sem qualidade de vida num contexto de sociedade corrompida Neste sentido o convite de Rousseau para retornar agrave natureza se traduz na busca da liberdade e da autonomia do homem que precedem os contratos sociais

De acordo com Becker (2012) o percurso traccedilado pela modernidade do surgimento agrave contemporaneidade se apresenta como uma ameaccedila agrave proacutepria existecircncia de nossa ldquoCivilizaccedilatildeordquo considerado os inuacutemeros descaminhos que separaram o homem de si mesmo e da natureza Assim o estaacutegio atual da crise ambiental pressupotildee repensar a relaccedilatildeo sociedade e natureza e principalmen-te a relaccedilatildeo do homem entre si pois eacute dessa relaccedilatildeo engendrada na loacutegica de produccedilatildeo capitalista que decorrem os diversos problemas socioambientais

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Neste sentido Giacoia Junior (2004) tambeacutem enfatiza que o otimismo triun-falista e a crenccedila velada dos pioneiros modernos no projeto de racionalidade com base na ciecircncia e na teacutecnica como soluccedilatildeo para os diversos problemas humanos e levada a efeito pela dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo da natureza pelo ho-mem produziram a crise ecoloacutegica ldquo[] em que parece mergulhar irreversivel-mente o planeta [] revelando dramaticamente que o desejo de dominaccedilatildeo humana sobre a natureza parece nos conduzir ao perigoso labirinto da trageacute-diardquo (GIACOIA JUNIOR 2004 p 638)

Os avanccedilos teacutecnico-cientiacuteficos alcanccedilados no domiacutenio da fiacutesica nuclear da quiacutemica da bioquiacutemica e da biologia molecular colocaram o homem como senhor supremo da ciecircncia e da teacutecnica podendo exercer o controle sobre as condiccedilotildees de existecircncia no planeta Teriacuteamos portanto atingido o ideal mo-derno de dominaccedilatildeo da natureza atraveacutes do domiacutenio da teacutecnica Heidegger em seu ensaio Superaccedilatildeo da metafiacutesica entende que a teacutecnica natildeo pode ser interpretada como um valioso recurso ou instrumento disponiacutevel agrave vontade individual e coletiva dos cientistas ou mera dimensatildeo do fazer humano pelo contraacuterio eacute a teacutecnica que determina historicamente o modo de ser do ho-mem no mundo moderno Este eacute para ele um processo irreversiacutevel pois co-locou o homem no cerne das tecnologias de produccedilatildeo e consumo (GIACOIA JUNIOR 2004)

Natildeo obstante Hans Jonas em sua obra O princiacutepio responsabilidade caminha na direccedilatildeo de uma filosofia praacutetica ao procurar fundamentar um projeto eacutetico que balizasse as relaccedilotildees na sociedade tecnoloacutegica Jonas considera exemplar o que chama de ldquoprograma ideal baconianordquo no que tange agrave formulaccedilatildeo de ca-racteriacutesticas que distinguem a ciecircncia moderna da sabedoria antiga ao desen-volver um modelo de observaccedilatildeo matematizado com a finalidade de descobrir as leis que vigoram a ordem da natureza para poder sujeita-las aos interesses humanos mediante uso da teacutecnica (GIACOIA JUNIOR 2004)

Paradoxalmente eacute tambeacutem de Jonas que parte uma das mais contunden-tes criacuteticas agrave foacutermula de Bacon no apogeu de seu triunfo Para Jonas o ecircxito do programa baconiano provocou o superdimensionamento da civilizaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica e ao mesmo tempo em que potencializou o poder de atu-accedilatildeo humana sobre a natureza gerando progresso e melhoria nas condiccedilotildees de vida traz consigo um alerta para o perigo de igual magnitude Assim o paradoxo consiste no risco que representa o potencial tecnoloacutegico dessa civi-lizaccedilatildeo provocado pelo sucesso e natildeo pelo fracasso do ideal baconiano (GIA-COIA JUNIOR 2004)

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A profunda paradoxia jamais suspeitada por Bacon do poder cria-

do pelo saber consiste em que ele na verdade conduziu a algo as-

sim como lsquodomiacuteniorsquo sobre a natureza (isto eacute a seu aproveitamento

potencializado) mas com isso ao mesmo tempo agrave mais completa

sujeiccedilatildeo a si mesmo O poder se tornou auto suficiente (selbstmauml-

chtig) enquanto sua promessa se converteu em ameaccedila sua pers-

pectiva de salvaccedilatildeo em apocalipse (JONAS 1979 apud GIACOIA

JUNIOR 2004 p 652)

Contudo Becker (2012) considera que Jonas ao inferir que o ideal baconia-no eacute um perigo agrave natureza incorre numa culpabilizaccedilatildeo apressada que beira o senso comum pois natildeo analisa com profundidade as obras de Bacon entre as quais A Sabedoria dos Antigos na qual o filoacutesofo utiliza-se da mitologia para alertar sobre a necessidade da prudecircncia cautela esteacutetica e eacutetica entre outras virtudes na produccedilatildeo do conhecimento pela ciecircncia

Dadas as devidas ponderaccedilotildees eacute inegaacutevel a contribuiccedilatildeo de Jonas para pen-sar o desenvolvimento de uma eacutetica para a civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica que funda-mente as novas descobertas cientiacuteficas sobretudo no momento que os resul-tados das pesquisas passam a ser empregados de forma praacutetica por meio do aproveitamento industrial da tecnologia e da produccedilatildeo em larga escala trans-formando a ciecircncia moderna em forccedila produtiva

Daiacute parte outra criacutetica de Jonas ao ideal moderno pois se na medida em que cada descoberta cientiacutefica passa a ser acompanhada de uma necessidade tecnoloacutegica praacutetica por meio do aproveitamento tecnoloacutegico industrial o cien-tista deixa de ser o senhor dominador da natureza para ser escravo da teacutecnica no mundo contemporacircneo Deste modo para Giacoia Junior (2004 p 644) Jo-nas chama a atenccedilatildeo para os efeitos danosos da intervenccedilatildeo cientiacutefica sobre a natureza uma vez que ldquo[] por maior que seja a extensatildeo do nosso conheci-mento ele natildeo nos torna possiacutevel prever inteiramente as consequecircncias que podem resultar da aplicaccedilatildeo teacutecnico-experimental da ciecircnciardquo

Para Giacoia Junior a posiccedilatildeo reacionaacuteria pela qual Jonas se define demons-tra a sua preocupaccedilatildeo em estabelecer limites eacuteticos e juriacutedicos para a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica tendo em vista as possibilidades infinitas da moderna tecnologia Seu alerta pode ser definido como uma heuriacutestica do medo uma eacutetica ampliada da responsabilidade que interveacutem no lugar da ciecircncia e que poderia guiar nossas accedilotildees Assim Giacoia Junior entende que essa heuriacutestica ldquo[] tem o propoacutesito de conclamar agrave moderaccedilatildeo e agrave prudecircncia pois o que estaacute

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em jogo eacute nada menos que a existecircncia e a possibilidade da vida em geral e natildeo apenas humana no planeta Terrardquo (GIACOIA JUNIOR 2004 p 648)

Neste sentido o autor compreende que a preocupaccedilatildeo de Jonas com o efei-to cumulativo destruidor e irreversiacutevel da intervenccedilatildeo tecnoloacutegica o fez con-siderar a hipoacutetese de um direito proacuteprio da natureza e uma significaccedilatildeo eacutetica autocircnoma o que significaria ldquo[] procurar natildeo soacute o bem humano mas tambeacutem o bem das coisas extra-humanas isto eacute ampliar o reconhecimento de ldquofins em sirdquo para aleacutem da esfera do humano e incluir o cuidado com estes no conceito de bem humanordquo (JONAS 2006 p 41) Infere-se dessa proposiccedilatildeo a sua tese da valorizaccedilatildeo da eacutetica como um princiacutepio de uma responsabilidade humana ampliada

Sobre essa perspectiva da existecircncia de uma dimensatildeo moral e de valor da natureza Larregravere e Larregravere (1997) nos lembram que nem todos os pensadores contemporacircneos estatildeo de acordo Ao mencionar Luc Ferry em a Nova Ordem Ecoloacutegica os autores ressaltam que o filoacutesofo francecircs defendeu com veemecircncia a ideia de que o homem ldquo[] afirma a sua moralidade subtraindo-se a uma natu-reza definitivamente alheia a toda consideraccedilatildeo moral e cujo estatuto eacute tatildeo-soacute o de um meio submetido aos fins humanosrdquo (LARREgraveRE LARREgraveRE 1997 p 10) e que qualquer outra posiccedilatildeo diferente a isso configuraria uma irracionalidade perigosa tanto para a ciecircncia quanto para a liberdade

Do ideal moderno de dominaccedilatildeo da natureza como meio ou recurso para atender as necessidades humanas derivou conhecimentos e tecnologias em grande escala contribuindo para a construccedilatildeo da atual civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica Poreacutem na contemporaneidade a humanidade ao mesmo tempo que usufruiacute desta heranccedila moderna convive com os resultados catastroacuteficos deste modelo de racionalidade predatoacuteria da natureza a ponto de configurar uma crise am-biental que tem gerado incertezas sobre a vida neste planeta

Larregravere e Larregravere (1997) entendem que o problema da crise ambiental natildeo estaacute no uso da teacutecnica em si o problema estaacute em estabelecer criteacuterios que ava-lize o uso dela pois natildeo sendo possiacutevel renunciar a accedilatildeo da teacutecnica na contem-poraneidade eacute imprescindiacutevel que o uso da natureza seja mediado por uma preocupaccedilatildeo eacutetica da responsabilidade com o ldquobom usordquo

A ideia do ldquobom usordquo3 da natureza trazida pelos autores eacute mais uma con-tribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre uma eacutetica ambiental que vaacute ao encontro das pre-

3 O lsquobom usorsquo natildeo eacute uma ideia nova podendo ser encontrada por exemplo em Aristoacuteteles (Larregravere 2010 p 17)

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ocupaccedilotildees relacionadas ao superdimensionamento do poder da ciecircncia e da tecnologia que orientam as praacuteticas ambientais atuais Muito embora falar de uso ou ainda do ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo uso da natureza reporte ao valor relativo ou instrumental que os seres humanos atribuem a cada elemento da natureza Lar-regravere e Larregravere (1997) explica que a ideia de ldquobom usordquo natildeo eacute simplesmente dizer que natildeo podemos utilizar a natureza mas que somos responsaacuteveis pela forma como a usamos

Sendo assim Larregravere e Larregravere (1997) enfatizam que a crise ambiental re-afirmou a importacircncia da avaliaccedilatildeo da concepccedilatildeo de natureza em seus des-dobramentos o que radicalmente pocircs-se a demanda pela mudanccedila de nossos comportamentos o que recai fortemente sobre a procura de uma eacutetica guiada por uma visatildeo de natureza cientificamente informada e que nos situe comple-tamente a ela

3 POR UMA EacuteTICA QUE NOS CONDUZA A SAIacuteDA DA CRISE AM-BIENTAL CONTEMPORAcircNEA

Ao abordarmos sobre a visatildeo de natureza na modernidade poderemos in-correr no erro de condenar precipitadamente o projeto de racionalidade car-tesiana julgando-o culpado pela crise ambiental que atualmente possui con-tornos globais Poreacutem eacute preciso esclarecer que o projeto da modernidade natildeo era um projeto teacutecnico-cientiacutefico apenas preocupava-se com a possibilidade de melhor conhecermos a realidade Contudo eacute inegaacutevel que o conhecimen-to teacutecnico-cientiacutefico que derivou da racionalidade cartesiana contribuiu para a melhoria da vida humana na Terra Ao mesmo tempo que natildeo se pode negar os efeitos negativos sobre a natureza e a cultura que o avanccedilo da teacutecnico-cien-tiacutefico tem provocado

Neste sentido Giddens (1991) ao analisar as descontinuidades da moderni-dade no uacuteltimo seacuteculo a considera um fenocircmeno de dois gumes por um lado criou oportunidades bem maiores para os seres humanos a partir do desenvol-vimento de instituiccedilotildees sociais modernas inexistentes em periacuteodos histoacutericos precedentes como o sistema poliacutetico do estado-naccedilatildeo por exemplo por ou-tro fica evidente sobretudo no seacuteculo atual que o desenvolvimento das forccedilas produtivas em larga escala eacute potencialmente destruidora do meio ambiente material

O que se pretende entatildeo a partir da criacutetica atual que se faz agrave modernidade eacute refletir sobre uma articulaccedilatildeo entre ciecircncia tecnologia e eacutetica que possibilite

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conceber uma eacutetica da responsabilidade Domingues (2004 p 173) apresenta um caminho que parte da seguinte premissa

[] se natildeo podemos moralizar a ciecircncia nem elaborar uma eacutetica cien-

tiacutefica com base nela devendo a eacutetica ficar com a filosofia se natildeo com

a teologia (teologia moral) podemos moralizar o cientista e pensar a

eacutetica da ciecircncia que eacute a eacutetica da responsabilidaderdquo

Jonas (2006) ao analisar que a introduccedilatildeo do saber e da teacutecnica moderna provocaram uma potencializaccedilatildeo das forccedilas do agir humano cujas consequ-ecircncias satildeo para ele irreversiacuteveis passa a considerar o conjunto da natureza na esfera de responsabilidade desse agir Assim o autor entende que ldquo[] a teacutecnica moderna introduziu accedilotildees de uma tal ordem ineacutedita de grandeza com tais no-vos objetos e consequecircncias que a moldura da eacutetica antiga natildeo consegue mais enquadraacute-lasrdquo (JONAS 2006 p 39)

Neste sentido a eacutetica antiga pautada na advertecircncia dos indiviacuteduos para o cumprimento das leis jaacute natildeo tem efeito diante da enormidade de forccedilas cumu-lativas do fazer coletivo o que suscita uma eacutetica redimensionada a da respon-sabilidade Destarte ldquo[] a natureza como uma responsabilidade humana eacute seguramente um novum sobre o qual uma nova teoria eacutetica deve ser pensadardquo (JONAS 2006 p 39)

Nestas circunstacircncias Jonas (2006) esclarece que nessa nova eacutetica o saber torna-se um dever prioritaacuterio um saber previdente que deve estar em confor-midade com o saber teacutecnico este uacuteltimo eacute que confere poder ao agir por isso o saber torna-se uma parte da eacutetica e deve orientar o autocontrole tatildeo necessaacute-rio diante do poder que jaacute adquirimos sobre a natureza

Sobre este aspecto Santos (2012 p 38) acrescenta que ldquo[] a eacutetica diz res-peito justamente agrave razatildeo de agir e ao modo de agir Ela estaacute ligada aos valo-res que cada um estabelece para si mesmo e para o outro [inclusive natureza] numa relaccedilatildeo entre meios e finsrdquo Para o autor o cientista natildeo pode deixar de fa-zer uma reflexatildeo acerca de questotildees que satildeo proacuteprias do campo da eacutetica como por exemplo ldquo[] os resultados do que me proponho a pesquisar beneficiaraacute a todos ou soacute a uma minoria O conhecimento produzido atenderaacute a quem ou a quais interesses rdquo

Neste sentido reiteramos a ideia de Domingues (2004) ao afirmar que natildeo podemos moralizar a ciecircncia mas podemos moralizar o cientista Contudo o autor defende que a ciecircncia natildeo tem capacidade de instaurar uma eacutetica com

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base nela proacutepria uma vez que trabalha com fatos e natildeo com valores Portanto considera que eacute grande a dificuldade de humanizar a ciecircncia e a tecnologia pois a eacutetica sozinha natildeo daria conta tendo em vista que natildeo tem capacidade de regrar as accedilotildees e tampouco a uniatildeo de cientista e tecnoacutelogos seria suficiente uma vez que esta relaccedilatildeo envolve interesses puacuteblicos e privados Assim avalia ser necessaacuteria a intervenccedilatildeo de outras instacircncias ou esferas sociais como o di-reito o Estado e a poliacutetica (DOMINGUES 2004)

Ao questionar sobre a necessidade de uma eacutetica ambiental Larregravere (2010) em seu texto As eacuteticas ambientais4 nos lembra que o filoacutesofo australiano Ri-chard Routley introduziu a natureza no domiacutenio da moralidade ao afirmar que haacute bons e maus modos de conduzir a natureza para aleacutem dos limites das po-tecircncias teacutecnicas que consiste no entendimento de que noacutes natildeo temos deveres apenas entre os humanos que ela talvez tenha direitos e que a natureza entatildeo tem um valor moral

O reconhecimento de que as entidades naturais tecircm valor moral abriu es-paccedilo para pensar uma eacutetica ambiental pautada no lsquovalor intriacutensecorsquo sendo que este natildeo mais se restringiria aos humanos uacutenicos seres considerados possui-dores de razatildeo e portanto de dignidade moral mas agrave toda natureza Busca-se portanto abandonar a visatildeo antropocecircntrica na qual o humano como uacutenico ser com capacidade de pensar raciocinar e concluir operaccedilotildees loacutegicas a partir de premissas vaacutelidas exerce seu domiacutenio sobre todas as demais entidades da natureza que satildeo consideradas apenas como coisas recursos ou meios para se atingir alguma finalidade humana (LARREgraveRE 2010)

Deste modo se almejarmos aprofundar a reflexatildeo sobre um modelo de eacuteti-ca que avalize as praacuteticas ambientais eacute imprescindiacutevel abandonar a visatildeo de na-tureza externa ao ser humano pois esta concepccedilatildeo moderna de uma natureza selvagem ou virgem da qual o humano natildeo faz parte jaacute natildeo tecircm encontrado ressonacircncia nas teorias contemporacircneas e nem no debate puacuteblico sobre a crise ambiental Como aborda Larregravere e Larregravere (1997 p 17)

Se o homem faz parte da natureza natildeo haacute razotildees para dramatizar

Natildeo haacute que escolher entre natureza e o homem podem ser ambos

protegidos eacute possiacutevel ligar a preservaccedilatildeo da diversidade bioloacutegica

4 Texto original publicado em Natures Sciences Socieacuteteacutes 20104 (Vol 18) p 405-413 Traduccedilatildeo para o portuguecircs Antocircnio Carlos dos Santos com a devida autorizaccedilatildeo da autora disponibilizado para a disciplina Eacutetica Natureza e Meio Ambiente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA

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por exemplo agrave defesa da diversidade cultural Sobretudo se o ho-

mem estaacute na natureza eacute da natureza a sua accedilatildeo natildeo eacute necessaria-

mente perturbadora pode mesmo ser beneacutefica

Assim a humanidade chega ao tempo hodierno tendo que refletir e recom-por a sua concepccedilatildeo de natureza e concomitantemente tendo que estabelecer uma nova relaccedilatildeo com a natureza intermediada por uma eacutetica que ultrapasse o limite estabelecido pela moral Kantiana5 segundo a qual apenas os seres dota-dos de razatildeo possuem valor intriacutenseco A expressatildeo ldquovalor intriacutensecordquo cunhada por Kant eacute atribuiacuteda a tudo o que deve ser tratado como um ldquofim em si mesmordquo ou seja a humanidade e mais precisamente todo ser racional (LARREgraveRE 2010 p 03)

Ao reconhecer o valor intriacutenseco como peculiaridade do ser humano sendo o uacutenico vivente a possuir dignidade moral todas as demais entidades naturais passam a ser consideradas como meio com valor apenas instrumental e rela-tivo Na eacutetica ambiental esta perspectiva eacute denominada antropocecircntrica pois coloca o ser humano no centro e acima do bem de qualquer outro ser vivo pre-valecendo sempre os interesses do homem sobre os demais seres da natureza

Em busca de fragmentar o projeto antropocecircntrico potildee-se em questatildeo con-siderar o valor intriacutenseco da natureza e natildeo relativo atribuindo um valor moral a todas as entidades naturais Contudo a perspectiva biocecircntrica que emer-ge desta discussatildeo mantecircm a estrutura Kantiana de moralidade do ldquofim em si mesmordquo de cada organismo poreacutem sem considera-los sujeitos mas uma multi-plicidade de individualidades em que jaacute natildeo haacute privileacutegios humanos (LARREgraveRE LARREgraveRE1997)

A eacutetica ambiental biocecircntrica defende que todo indiviacuteduo vivo do mais sim-ples ao mais complexo eacute digno de consideraccedilatildeo moral e sendo assim animais vegetais e organismos monocelulares possuem valor intriacutenseco (LARREgraveRE LARREgraveRE1997) O entendimento de que todas as entidades naturais possuem um valor intriacutenseco pressupotildee considerar que ldquo[] a natureza vale por si mesma independentemente da utilidade e dos usos que lhe decirc o ser humanordquo (ACOS-TA MARTIacuteNEZ 2011 p 353 traduccedilatildeo nossa)

5 O filoacutesofo alematildeo Immanuel Kant (1724-1804) no seacuteculo XVIII fundamentou uma eacutetica baseada na razatildeo pela qual o sujeito deveria buscar as regras do que eacute justo e certo traccedilando sua conduta moral Para Kant somente os sujeitos possuem ldquofins em sirdquo pois satildeo seres racionais dotados de uma consciecircncia reflexiva capazes de auto-representar fins (LARREgraveRE 1997)

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A perspectiva biocecircntrica tem em Poul Taylor um dos grandes expoentes a partir de sua obra Respect of nautre (Respeito agrave natureza) publicada em 1986 Taylor diverge da tradiccedilatildeo antropocecircntrica ao defender que em uma situaccedilatildeo de conflito moral quando estatildeo postos interesses de diferentes entidades natu-rais natildeo seja levado em consideraccedilatildeo apenas os interesses dos agentes huma-nos mas o valor inerente agrave vida de cada indiviacuteduo ou seja a relevacircncia da vida em si mesma Poreacutem isso natildeo significa uma proibiccedilatildeo de qualquer intervenccedilatildeo na natureza em que uma vida natildeo possa ser exterminada mas que tal accedilatildeo seja precedida de uma justificaccedilatildeo de uma razatildeo eacutetica cuja competecircncia eacute dos agentes racionais (TAYLOR 1986)

Contudo a posiccedilatildeo biocecircntrica da eacutetica ambiental eacute passiacutevel de uma criacuteti-ca pragmaacutetica Atentemos a este exemplo considerando que a populaccedilatildeo de abelhas tem diminuiacutedo em diversas regiotildees do mundo e que estudos cientiacutefi-cos tecircm apontado uma relaccedilatildeo entre o desaparecimento das abelhas e o uso de agrotoacutexicos e considerando ainda que as abelhas desempenham um papel importante para a produccedilatildeo de alimentos no mundo garantindo a seguran-ccedila alimentar da populaccedilatildeo humana questiona-se O que eacute preciso proteger A vida de todas as abelhas individualmente ou as condiccedilotildees do ambiente de que elas dependem Obviamente se preservarmos as condiccedilotildees ambientais para que as abelhas continuem a existir reduziremos o risco de uma ameaccedila a todo o ecossistema Assim o valor da abelha natildeo estaacute no indiviacuteduo em si mas na espeacutecie no processo e no sistema natural ao qual pertence

Diante da inoperacircncia da perspectiva biocecircntrica sobretudo em relaccedilatildeo a qual consideraccedilatildeo moral deveraacute prevalecer para proteger e respeitar os indiviacute-duos eacute que emerge a perspectiva ecocecircntrica segundo a qual o valor natildeo estaacute no indiviacuteduo isoladamente mas no papel que cada um desempenha no con-junto que eles formam a comunidade bioacutetica (LARREgraveRE 2010) A eacutetica ecocecircn-trica destaca a importacircncia da responsabilidade de pertencer a uma totalidade pois os membros natildeo tecircm valor por eles mesmos mas pela interdependecircncia que exercem no conjunto

A perspectiva ecocecircntrica estaacute embasada em Aldo Leopold quando em 1949 escreveu The land ethic (A eacutetica da Terra) um toacutepico no livro A sand county almanac (Almanaque de um condado arenoso) que se transformou em seu escrito mais conhecido A eacutetica ecocecircntrica defendida por Leopold deu origem a Eacutetica da Terra e a Ecologia Profunda as quais abrangem todas as formas de vida sem hierarquizaccedilatildeo por consideraccedilatildeo moral deve nortear as accedilotildees humanas de modo a natildeo extinguir qualquer espeacutecie de vida a preocu-

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paccedilatildeo deixa de ser a vida humana ampliando para o ecossistema ao qual ela pertence (LEOPOLD 1989)

Embora permaneccedilam as limitaccedilotildees em relaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de conflitos de cunho moral quando o que se estaacute em jogo satildeo os interesses de uma determi-nada espeacutecie contra os interesses individuais dos seres vivos a eacutetica ambiental ecocecircntrica volta-se para a coletividade e natildeo para os indiviacuteduos Assim seria muito mais grave matar uma onccedila-pintada por exemplo pois trata-se de uma espeacutecie em risco de extinccedilatildeo do que matar uma capivara cuja populaccedilatildeo se prolifera podendo se tornar pragas em cidades Desse modo reiteramos que o valor do indiviacuteduo natildeo tem um fim em si mesmo mas eacute relativo agrave espeacutecie a qual pertence

Assim diante do superdimensionamento da civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica busca--se definir uma eacutetica que oriente a relaccedilatildeo sociedade e natureza Neste sentido Larregravere (2010) considera que o bom uso da natureza nos nossos dias eacute pautado pela visatildeo ecocentrada de natureza marcada pela relaccedilatildeo de interdependecircncia com as demais entidades naturais na qual se insere a ciecircncia e a teacutecnica O bom uso da natureza na contemporaneidade eacute um convite agrave responsabilidade agrave prudecircncia no emprego da teacutecnica pois a teacutecnica por si mesma pode natildeo dis-por de soluccedilotildees para os problemas causados por ela agrave natureza

4 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

As interpretaccedilotildees contemporacircneas sobre o projeto da modernidade e suas implicaccedilotildees na relaccedilatildeo homem e natureza nos conduziu a uma reflexatildeo sobre a atual crise ambiental e a necessidade de se considerar uma eacutetica proacutepria na produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e no uso da teacutecnica Esta discussatildeo ganha novos contornos a partir da tomada de consciecircncia da crise ambiental que amea-ccedila a nossa condiccedilatildeo na Terra Atribui-se de forma negativa aos avanccedilos teacutecnico-cientiacuteficos do periacuteodo moderno a potencializaccedilatildeo do poder de atuaccedilatildeo humana sobre a natureza provocando efeitos danosos e irreversiacuteveis para ambos

Contudo apesar de a modernidade ser caracterizada pelo ideal baconiano do ldquosaber eacute poderrdquo em que o homem orientado por uma racionalidade teacutecnica adquire saber para empreender poder sobre a natureza a ponto de dominaacute-la eacute preciso ponderar que eacute durante este periacuteodo que surgem as primeiras preo-cupaccedilotildees sobre a necessidade de estabelecer limites eacuteticos ao uso da teacutecnica e agrave produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico Basta analisar com mais atenccedilatildeo as proacuteprias inserccedilotildees de Bacon em suas obras sobre a necessidade de construir

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uma ciecircncia prudente e cautelosa na conduccedilatildeo de seus experimentos e resul-tados Ou ainda na criacutetica feita por Rousseau sobre os usos do conhecimento que segundo ele serviu para ampliar a desigualdade a qual considera um dos elementos mais prejudiciais agrave vida civil

Se por um lado o acossamento agrave ciecircncia moderna como a uacutenica responsaacutevel pela atual crise ambiental eacute no miacutenimo uma postura insensata pois descon-sidera os avanccedilos obtidos com o advento da ciecircncia e da teacutecnica empregadas em favor da humanidade por outro natildeo nos parece imprudente afirmar que a racionalidade que recebemos como heranccedila da modernidade tem sido um obstaacuteculo no diaacutelogo para uma eacutetica ambiental que possibilite uma outra re-laccedilatildeo homem e natureza Para tanto urge estabelecer uma eacutetica da responsa-bilidade do homem para com a natureza e entre os proacuteprios homens em suas relaccedilotildees sociais

Embora haja um apelo para uma eacutetica ambiental ecocecircntrica ainda natildeo eacute possiacutevel vislumbrar a curto e meacutedio prazo um mundo regido por esta raciona-lidade uma vez que natildeo tem como garantir a superaccedilatildeo da eacutetica antropocecircn-trica considerada a hierarquizaccedilatildeo por consideraccedilatildeo moral na qual a vontade humana prevalece sobre as demais entidades naturais Afinal eacute muito mais cocircmodo para o homem ser contra o desmatamento da floresta amazocircnica do que ser contra o abate de animais bovinos cuja pecuaacuteria extensiva eacute a maior responsaacutevel pelo derrubada das aacutervores na Amazocircnia transformando grandes aacutereas de floretas em aacutereas de pastagens

Poreacutem apesar das incertezas em torno dos resultados praacuteticos desta discus-satildeo ela nos aponta para uma ruptura do modelo de produccedilatildeo teacutecnico-cientiacute-fico exigindo mudanccedilas estruturais na forma de pensar e agir com a natureza

REFEREcircNCIAS

ACOSTA Alberto MARTIacuteNEZ Esperanza (org) La naturaleza con derechos de la Filo-sofiacutea a la Politica Quito Abya-Yala 2011

BACON Francis Novum Organum ou Verdadeiras indicaccedilotildees acerca da representa-ccedilatildeo da natureza Nova Atlacircntida Traduccedilatildeo e notas de Joseacute Aluysio Reis de Andrade 2 ed Satildeo Paulo Abril Cultural 1979

BECKER Evaldo Bacon e Condorcet o conhecimento agrave serviccedilo do bem comum Qua-dranti - Rivista Internazionale di Fi losofia Contemporanea 2015 v 3 nordm

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 61

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62 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 63

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E A QUESTAtildeO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS NA ESCOLA ESTADUAL DELCY BARRETO DE SOUZA DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

Rosangela Pereira ArauacutejoSeacutergio Luiz LopesSheila Mangolli Pedro Alves da Silva Filho

1 A EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E OS PROBLEMAS COM O LIXO

Eacute importante iniciar a seccedilatildeo conceituando o que chamamos de educaccedilatildeo ambiental na contemporaneidade Haacute uma diversidade conceitual poreacutem nos apropriamos de um breve conceito de Sauveacute (1997) A autora discute algumas delas que se completam entre si ao contraacuterio das variaccedilotildees existentes do am-bientalismo

Educaccedilatildeo sobre o meio ambiente trata-se da aquisiccedilatildeo de conhe-

cimentos e habilidades relativos agrave interaccedilatildeo com o ambiente que

estaacute baseada na transmissatildeo de fatos conteuacutedos e conceitos onde

o meio ambiente se torna um objeto de aprendizado Educaccedilatildeo no

meio ambiente tambeacutem conhecido como educaccedilatildeo ao ar livre cor-

responde a uma estrateacutegia pedagoacutegica onde se procura aprender

atraveacutes do contato com a natureza ou com o contexto biofiacutesico e so-

ciocultural do entorno da escola ou comunidade O meio ambiente

provecirc o aprendizado experimental tornando-se um meio de apren-

dizado Educaccedilatildeo para o meio ambiente processo atraveacutes do qual

se busca o engajamento ativo do educando que aprende a resolver

e prevenir os problemas ambientais O meio ambiente se torna uma

meta do aprendizado (SAUVEacute 1997 sp)

Observa-se que existe um debate amplo sobre o que vem a ser educaccedilatildeo ambiental A ideia da educaccedilatildeo ambiental eacute esclarecer o homem de que se faz

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necessaacuterio a todo instante o entendimento de que o meio ambiente eacute um es-paccedilo finito Por isso precisamos romper com o entendimento de ingenuidade do modelo convencional de Educaccedilatildeo ambiental

Nos uacuteltimos anos devido ao crescimento acelerado da populaccedilatildeo no Brasil e em funccedilatildeo dos avanccedilos tecnoloacutegicos houve mudanccedilas marcantes nos haacutebi-tos de consumo Com isso os resiacuteduos produzidos satildeo cada vez maiores e de qualidade diversificada contribuindo para uma seacuterie de problemas de ordem sanitaacuteria ambiental econocircmica e social

Nesse contexto Tavaris (2010) enfatiza que o crescimento populacional acelerado decorrente do desenvolvimento industrial aliado ao estiacutemulo de um modo de vida consumista que domina sobretudo os moradores das zonas ur-banas tornou o lixo um dos maiores problemas a ser enfrentado pois as cida-des como um gigantesco sistema de produccedilatildeo e consumo geram um exceden-te que natildeo eacute aproveitaacutevel satildeo toneladas de lixo que tem de ser coletados todos os dias e cujo destino nem sempre eacute dos melhores principalmente nos paiacuteses menos desenvolvidos que natildeo possuem programas amplos de sanitarismo e reciclagem

Ainda conforme o enfoque de Tavaris (2010) a educaccedilatildeo ambiental deve ser acima de tudo um ato poliacutetico voltado para a transformaccedilatildeo social capaz de transformar valores e atitudes construindo novos haacutebitos e conhecimentos defendendo uma nova eacutetica que sensibilizem e conscientizem a necessidade de formaccedilatildeo da relaccedilatildeo integrada do ser humano da sociedade e da natureza aspirando ao equiliacutebrio local e global como forma de melhorar a qualidade de todos os niacuteveis de vida

No entanto apesar de ser um desafio a sociedade necessita aderir agrave educaccedilatildeo ambiental para que atraveacutes de projetos pesquisas e informativos as pessoas se informatizem e colabore para a preservaccedilatildeo do meio ambiente Deste modo ele seria muito mais agradaacutevel se as pessoas se conscientizassem e desenvolvesse accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo ambiental e consequentemente a sauacutede

Compreendemos que o desafio proposto nesse trabalho pode levar ao desenvolvimento de taacuteticas educacionais para instigar os estudantes a com-partilhar e se envolver com o contexto pesquisado o que amplia as oportu-nidades de uma aprendizagem significativa e particularmente uma modifi-caccedilatildeo de conduta com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo e agraves suas teacutecnicas em relaccedilatildeo aos resiacuteduos soacutelidos

Gewandsznajder (2010) aponta que o homem estaacute degradando o meio ambiente com suas accedilotildees negativas como desflorestamentos queimadas e

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formaccedilatildeo de lixotildees a ceacuteu aberto O autor ainda recomenda que a sociedade necessita de sensibilizaccedilatildeo para o entendimento de que o meio ambiente deve ser preservado para garantir a sobrevivecircncia do homem Na mesma direccedilatildeo o estudioso constata que o crescimento desproporcional da populaccedilatildeo aumen-tou consideravelmente a quantidade de resiacuteduos soacutelidos e em consequecircncia a poluiccedilatildeo que afeta a sauacutede das pessoas

Uma dos reflexos das atividades desta pesquisa eacute possivelmente a discus-satildeo sobre a formaccedilatildeo de indiviacuteduos conscientes capazes com autonomia para determinar e agir positivamente na sociedade e no meio ambiente compro-missado com o bem estar e vida da sociedade pois atualmente o ser humano estaacute cada vez mais se distanciando da natureza e atua sobre o ambiente sem responsabilidade ocasionando amplos desequiliacutebrios na natureza

A importacircncia da limpeza puacuteblica para a sociedade justifica-se em funccedilatildeo de que o municiacutepio estaacute em pleno desenvolvimento e buscando parcerias mas no Brasil atualmente nem todas as pessoas tem o haacutebito e consciecircncia no que se refere ao destino dos resiacuteduos soacutelidos e isso sem distinccedilatildeo estaacute presente em todas as classes sociais (GEWANDSZNAJDER 2010)

Portanto de acordo com Tavaris (2010) uma educaccedilatildeo ambiental deve ser acima de tudo um ato poliacutetico voltado para a transformaccedilatildeo social capaz de transformar valores e atitudes construindo novos haacutebitos e conhecimentos defendendo uma nova eacutetica que sensibilizem e conscientizem a necessidade de formaccedilatildeo da relaccedilatildeo integrada do ser humano da sociedade e da natureza aspirando ao equiliacutebrio local e global como forma de melhorar a qualidade de todos os niacuteveis de vida

De acordo com Oliveira (2012)

Hoje satildeo inuacutemeros os problemas que afetam o meio ambiente a

contaminaccedilatildeo das aacuteguas o efeito estufa a destruiccedilatildeo da camada

de ozocircnio a quantidade de resiacuteduos soacutelidos o desaparecimento

de algumas espeacutecies de animais e de plantas etc esses satildeo alguns

dos reflexos da atividade humana sobre o meio ambiente O que eacute

necessaacuterio entender eacute que o homem eacute responsaacutevel por esses pro-

blemas causados ao meio ambiente e eacute necessaacuterio que faccedilamos al-

guma coisa para minimizar tantos problemas Pois pensar no meio

ambiente eacute acima de tudo pensar em nossa casa onde devemos

diariamente estar preservando para um ambiente limpo (OLIVEIRA

et al 2012 p 4)

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Os resiacuteduos soacutelidos estatildeo diretamente relacionados com o aumento da popula-ccedilatildeo e de suas necessidades e eacute considerado um fator de poluiccedilatildeo ambiental Aleacutem de se tornar feio o local onde se encontra produz mau cheiro e ainda atrai visitantes indesejaacuteveis como ratos baratas moscas besouros urubus entre outros

Na perspectiva de Tavaris (2010 p 798) ldquoo lixo eacute o nome dado a todos os tipos de resiacuteduos soacutelidos resultantes das diversas atividades humanas ou ao material considerado imprestaacutevel ou irrecuperaacutevel pelo usuaacuteriordquo seja papel pa-pelatildeo restos de alimentos vidros e embalagens plaacutesticas Os resiacuteduos soacutelidos contribuem direta ou indiretamente para a poluiccedilatildeo ambiental

Hoje em dia a maioria das cidades conta com serviccedilos puacuteblicos de limpe-za que compreendem tanto a coleta domiciliar dos resiacuteduos soacutelidos quanto o transporte e destino final dos mesmos Segundo Tavaris (2010) haacute dejetos que quando levados para lixotildees ocasionaram grandes problemas ambientais Pi-lhas baterias termocircmetros lacircmpadas fluorescentes tubos de TV entre outros conteacutem diversas substacircncias toacutexicas como o mercuacuterio o caacutedmio e o chumbo

Quando tais objetos satildeo depositados de maneira improacutepria liberam essas substacircncias que podem se infiltrar no solo e consequentemente pode conta-minar os depoacutesitos subterracircneos de aacutegua A produccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos eacute um problema em todo o mundo e dar a ele um destino adequado eacute um dos gran-des desafios da administraccedilatildeo puacuteblica e bem-estar social Apesar de tudo isso atualmente eacute visiacutevel que as pessoas jaacute estatildeo se preocupando com a prevenccedilatildeo da sauacutede e com a aparecircncia da natureza mas tal preocupaccedilatildeo ainda natildeo sufi-ciente para garantir a existecircncia plena da natureza

Quando depositado de forma inadequada os resiacuteduos soacutelidos servem de abrigo e fornece alimento pra ratos e vaacuterios insetos que auxiliam na prolifera-ccedilatildeo de fungos e bacteacuterias e consequentemente de doenccedilas Embora seja um problema em qualquer cidade zonas rurais eacute nos grandes centros que o pro-blema eacute mais grave

Aleacutem dos resiacuteduos domiciliares e comerciais as cidades geram os re-

siacuteduos de sauacutede conhecido como lixo hospitalar descartado pelos

hospitais postos de sauacutede farmaacutecias clinicas veterinaacuterias e casas de

sauacutede Embora produzido em menor porcentagem esse tipo de lixo

constituiacutedo por algodatildeo seringas e frascos de remeacutedios apresentam

grandes riscos agrave sauacutede pois os mesmos foram utilizados por pessoas

ou animais doentes e podem conter substancias toacutexicas ou veneno-

sas e ateacute mesmo contagiosas (RODRIGUES E CAVINATTO 1997)

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Todo o lixo coletado eacute transportado ateacute seu destino final Em geral os des-tinos satildeo os lixotildees os aterros controlados os aterros sanitaacuterios incineraccedilatildeo a compostagem e a reciclagem A forma mais barata e ainda muito usada eacute a dos depoacutesitos e os lixotildees a ceacuteu aberto Entretanto esses depoacutesitos apresentam seacuterios problemas ambientais sanitaacuterios e sociais

A sociedade estaacute a cada dia despertando mais interesse pelos meios de pre-servaccedilatildeo e pela educaccedilatildeo ambiental Entende-se que esse empenho eacute devido ao fato de que cada vez fica mais claro que os procedimentos de ampliaccedilatildeo dos meios socioeconocircmicos da atualidade permanecem intensamente relacio-nados agrave deterioraccedilatildeo do meio ambiente

Atualmente vemos constantes debates a respeito da Lei de Resiacuteduos Soacutelidos em Roraima onde os 15 municiacutepios do estado estatildeo com dificuldades em aten-der o que determina a lei 1230510 que instituiu no Brasil a Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos (PNRS) que conteacutem importantes instrumentos para o avanccedilo no enfrentamento dos problemas ambientais sociais e econocircmicos decorren-tes do manejo inadequado desse tipo de resiacuteduo

De acordo com a lei de resiacuteduos soacutelidos Lei Nordm 12305 de 02 de agosto de 2010 em seu artigo 3ordm paraacutegrafo XVI

Os resiacuteduos soacutelidos material substacircncia objeto ou bem descartado

resultante de atividades humanas em sociedade a cuja destinaccedilatildeo

final se procede se propotildee proceder ou se estaacute obrigado a proceder

nos estados soacutelido ou semissoacutelido bem como gases contidos em re-

cipientes e liacutequidos cujas particularidades tornem inviaacutevel o seu lan-

ccedilamento na rede puacuteblica de esgotos ou em corpos drsquoaacutegua ou exijam

para isso soluccedilotildees teacutecnica ou economicamente inviaacuteveis em face da

melhor tecnologia disponiacutevel

O Art 7o da referida lei mostra os objetivos da Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos como proteccedilatildeo da sauacutede puacuteblica e da qualidade ambiental natildeo geraccedilatildeo reduccedilatildeo reutilizaccedilatildeo reciclagem e tratamento dos resiacuteduos soacutelidos e disposiccedilatildeo adequada dos resiacuteduos estiacutemulo agrave adoccedilatildeo de padrotildees sustentaacuteveis de produ-ccedilatildeo e consumo de bens e serviccedilos adoccedilatildeo desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como meio de amenizar impactos ambientais reduccedilatildeo do volume dos resiacuteduos perigosos incentivo agrave induacutestria da reciclagem entre outros

Portanto torna-se imprescindiacutevel a discussatildeo sobre as formas de prevenccedilatildeo da deterioraccedilatildeo que ameaccedila a aquisiccedilatildeo de recursos apropriados tanto para

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atividades comerciais quanto para a sobrevivecircncia da humanidade O processo de consumo aumentou muito nas uacuteltimas deacutecadas1 e em decorrecircncia maior produccedilatildeo e portanto em ampliaccedilatildeo na aacuterea de extraccedilatildeo de recursos naturais

A conscientizaccedilatildeo do homem no cuidado com o meio ambiente e preserva-ccedilatildeo dos recursos naturais imprescindiacuteveis agrave vida humana na esperanccedila de que as pessoas entendam o valor da natureza Os alunos devem compreender as decorrecircncias socioeconocircmicas da reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos e por meio dessa conscientizaccedilatildeo apoiar accedilotildees como a coleta seletiva e que observem tambeacutem a diminuiccedilatildeo do consumo Atualmente as tecnologias dispotildeem de inuacutemeras opccedilotildees de instrumentos que podem ser utilizadas pelo homem em prol da preservaccedilatildeo do meio ambiente

Sobre isso Oliveira et al (2012 p 02) afirma que

a escola exerce um o papel de levar ao aluno o conhecimento e a

compreensatildeo dos problemas que estatildeo a nossa volta Refletir sobre

o lixo orgacircnico eacute um meio de trabalhar conceitos valores atitudes

postura e eacutetica pois eacute um trabalho de grande importacircncia que en-

volve a realidade do dia-a-dia de cada um

Neste contexto a educaccedilatildeo ambiental traz um alerta sobre os problemas causados pelos resiacuteduos soacutelidos Apesar de campanhas sobre o tratamento e descarte dos resiacuteduos soacutelidos mesmo assim muitas pessoas continuam jogando resiacuteduo soacutelido em lugares improacuteprios Continuamos a observar em algumas accedilotildees e atitudes que o homem destroacutei a natureza A educaccedilatildeo am-biental deveria comeccedilar no interior das famiacutelias e chegar ateacute a escola Dessa forma os professores poderiam trabalhar as praacuteticas ambientais nas salas de aulas e contribuir para despertar nos alunos a conscientizaccedilatildeo sobre a relaccedilatildeo homem e natureza

A educaccedilatildeo ambiental eacute um tema transversal que deve perpassar o curriacutecu-lo da escola e portanto pode ser objeto de estudo e pesquisa O homem faz parte da natureza e dela depende a continuidade humana portanto estudar o homem e a sua relaccedilatildeo com o meio eacute pertinente ao campo de pesquisa

1 O processo de consumo aumentou muito nas uacuteltimas deacutecadas devido ao aumento desordenado da populaccedilatildeo da ampliaccedilatildeo do consumo de combustiacuteveis aumento no consumo de energia eleacutetri-ca e principalmente no aumento da produccedilatildeo de lixo e consequentemente as formas inadequadas de descarte do lixo

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2 HISTORIANDO SOBRE A EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL HOMEM E NA-TUREZA

Na nossa atual sociedade os resiacuteduos soacutelidos satildeo vistos como um inimigo da natureza e isso eacute o princiacutepio do processo de conscientizaccedilatildeo que pode levar o homem a desenvolver medidas de preservaccedilatildeo do meio ambiente visando um futuro melhor e mais saudaacutevel

Com a evoluccedilatildeo da sociedade e da economia a cada dia mais resiacuteduos soacuteli-dos satildeo produzidos em conjunto com o aumento do consumismo A consequ-ecircncia disso eacute a ampliaccedilatildeo do problema maior niacutevel de poluiccedilatildeo e maiores riscos de infecccedilotildees e doenccedilas respiratoacuterias principalmente em crianccedilas e idosos

Essa relaccedilatildeo harmoniosa torna-se consciente num equiliacutebrio dinacircmi-

co da natureza possibilitando o despertar de novos conhecimentos

valores e atitudes inclusive a inserccedilatildeo do educando e do educador

como cidadatildeos nesse processo de transformaccedilatildeo do atual quadro

ambiental de nosso planeta (GUIMARAtildeES 2012 p 15)

Busca-se resgatar a recuperaccedilatildeo do horizonte histoacuterico entre o homem e a natureza Pode-se dizer que a educaccedilatildeo ambiental de certa forma estaacute em busca do rompimento da concentraccedilatildeo de um pensamento mecacircnico do qual a natureza se faz inserida poreacutem perdem-se em qualidade no mundo globali-zado onde parece importar apenas a quantidade

Por esta razatildeo demonstra-se de maneira central e constitucional mais em termos de informaccedilatildeo torna-se precaacuterio por natildeo ter explicaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos problemas transversos que hoje em dia acontecem com mais assiduidade na natureza

Nesta perspectiva quando nos referimos ao destino dos resiacuteduos soacutelidos a condiccedilatildeo eacute extremamente desfavoraacutevel A conscientizaccedilatildeo eacute algo que natildeo estaacute presente independentemente de camadas sociais Portanto natildeo satildeo apenas as pessoas menos esclarecidas com baixo poder aquisitivo que atuam dessa forma mas tambeacutem pessoas com oacutetimas posiccedilotildees sociais alto niacutevel financeiro educadas e informadas

Vemos a falta de conscientizaccedilatildeo das pessoas nas ruas nas estradas tanto faz estarem na condiccedilatildeo de pedestre quanto na condiccedilatildeo de ocupantes de veiacuteculos todas jogam detritos no solo e o mais grave eacute que descartam os resiacuteduos soacutelidos como se natildeo tivessem conhecimento da existecircncia da educaccedilatildeo ambiental

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O acuacutemulo de lixo gera tambeacutem um problema social que para muitos

significa sobrevivecircncia eacute a manipulaccedilatildeo do lixo pelas camadas mais

pobres da populaccedilatildeo que chegam mesmo a disputar os lixotildees em

busca das melhores sobras entre objetos e resto de alimentos natildeo

se importando com os riscos de contaminaccedilatildeo de produtos toacutexicos

(TAVARIS 2010 p 797)

Sabemos que os detritos depositados a ceacuteu aberto aleacutem de provocar pro-blemas ambientais causam mau cheiro propagaccedilatildeo de insetos contamina o solo e os fluxos de aacutegua agridem a nossa visatildeo natural produzem gases que danificam a camada de ozocircnio e deixa a atmosfera mais vulneraacutevel

Os depoacutesitos de resiacuteduos soacutelidos a ceacuteu aberto aleacutem de atrair insetos e ani-mais que ameaccedilam a nossa sauacutede tambeacutem atraem catadores de lixo que bus-cam nos grandes lixotildees opccedilotildees de sobrevivecircncia para as suas famiacutelias expondo--se assim a seacuterios riscos a sua sauacutede

No entanto o lixo em questatildeo passa a ser transportado para um local

onde apenas satildeo despejados em terrenos baldios jogados ali sem

muito compromisso seus dejetos e resiacuteduos a ceacuteu aberto passam a

contaminar e poluir o meio ambiente causando desse modo agres-

satildeo agrave natureza quando poderia tais desperdiacutecios desnecessaacuterios ser

reciclados (ARAUacuteJO LIMA e LIMA 2010)

Haacute algum tempo atraacutes os resiacuteduos soacutelidos eram compostos exclusivamente de restos de comida mateacuteria orgacircnica Os resiacuteduos reciclaacuteveis surgiram a par-tir do desenvolvimento da tecnologia e esses detritos tecircm presenccedila constante nas coletas

Atualmente o panorama oferecido eacute originado nas condiccedilotildees de vida das pessoas tudo gira em torno do poder aquisitivo em alguns aspectos porque quando se refere agrave exposiccedilatildeo de resiacuteduos e seu descarte inadequado todos satildeo iguais independentemente de classe social

Hoje podemos perceber que o maior problema enfrentado em relaccedilatildeo aos resiacuteduos soacutelidos eacute a falta de consciecircncia das pessoas pois grande parte pensa que jogar os resiacuteduos soacutelidos fora estaacute resolvendo o problema mas dependen-do do local que for descartado o problema soacute se agrava ainda mais aleacutem de tra-zer riscos agrave sauacutede pode contribuir drasticamente com a poluiccedilatildeo e degradaccedilatildeo do meio ambiente

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 71

A quantidade de lixo por pessoa por dia pode variar de 300 gramas

para as populaccedilotildees mais pobres em pequenas cidades indo ateacute 900

gramas nas cidades mais populosas com renda per capita maior

portanto esta uacuteltima classe eacute a mais inserida no mercado de con-

sumo Para fins de anaacutelise pode-se considerar uma produccedilatildeo meacutedia

de 500 gramas por pessoa como cotista diaacuterio nesse envolvimento

(ARAUacuteJO LIMA e LIMA 2010)

Na atualidade o destino final de detritos eacute um dos maiores desafios que as autoridades administrativas e governamentais enfrentam na tentativa de pro-teger a sociedade dos perigos que o acuacutemulo indevido de resiacuteduos pode trazer a vida das pessoas No entanto na busca de locais adequados para a disposiccedilatildeo final de detritos deve-se considerar alguns problemas enfrentados pelos res-ponsaacuteveis por esse trabalho como a falta de recursos financeiros e maquinaacuterios adequados para esse fim aleacutem desses problemas relatados ainda haacute um mais criacutetico que eacute o grande aumento de lixotildees a ceacuteu aberto

A cada dia percebe-se que a sociedade estaacute produzindo um volume maior de detritos e muitos natildeo estatildeo percebendo que soacute estatildeo aumentando o pro-blema pois muitos natildeo descartam os resiacuteduos soacutelidos devidamente De acor-do com Guimaratildees (2012) a educaccedilatildeo ambiental envolve conscientizaccedilatildeo do que se refere ao consumo e o que se recicla para poder ser protagonistas desse processo sustentaacutevel tatildeo necessaacuterios agrave natureza e a qualidade da vida humana

Geralmente um grande nuacutemero de pessoas busca a subsistecircncia de sua famiacutelia atraveacutes da cataccedilatildeo de lixo e isso natildeo ocorre apenas nos lixotildees a ceacuteu aberto mas tambeacutem nas ruas das grandes cidades onde as pessoas buscam res-tos de alimentos frutas e legumes nos resiacuteduos soacutelidos residenciais em feiras e mercados populares aleacutem disso tambeacutem procuram materiais reciclaacuteveis como plaacutesticos metais e papelotildees

As organizaccedilotildees ambientais estatildeo sempre em busca de soluccedilotildees para esse problema da disposiccedilatildeo inadequada dos resiacuteduos soacutelidos A cada dia que passa a preocupaccedilatildeo aumenta pois a degradaccedilatildeo do meio ambiente se percebe a olho nu tanto na natureza quanto na vida das pessoas Atualmente algumas cidades adotaram uma regra bastante eficiente que eacute a cobranccedila de multa por disposiccedilatildeo inadequada dos resiacuteduos soacutelidos Essa medida tem a finalidade de auxiliar na conscientizaccedilatildeo das pessoas e busca de soluccedilatildeo dos problemas com a poluiccedilatildeo

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Contudo a educaccedilatildeo ambiental eacute o meio mais adequado para a

construccedilatildeo de uma sociedade sustentaacutevel A construccedilatildeo dos novos

valores eacute construiacuteda a partir do processo educativo mesmo agravequelas

que se referem agraves questotildees ambientais por se tratar de uma trans-

formaccedilatildeo poliacutetica tatildeo necessaacuteria agrave ordem social como para a ordem

puacuteblica juriacutedica (GUIMARAtildeES 2012 p 12)

Desta maneira para acontecer essa educaccedilatildeo de forma adequada que con-

tribua para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e para a prevenccedilatildeo de doenccedilas eacute necessaacuterio que haja uma ampla mobilizaccedilatildeo natildeo soacute por parte da populaccedilatildeo mas tambeacutem por parte dos governantes para buscar recursos e repassar infor-maccedilotildees buscando a conscientizaccedilatildeo das pessoas para que as mesmas possam colaborar com essa accedilatildeo

Entretanto devido agrave falta de informaccedilotildees e interesse por parte das pessoas na sua maioria elas natildeo tem consciecircncia de que satildeo elas mesmas que arcam com esse serviccedilo atraveacutes do pagamento dos impostos Assim se essas pessoas se conscientizassem de que essas despesas saem dos seus bolsos talvez valori-zassem mais os serviccedilos de limpeza e contribuiriam mais para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e da sua proacutepria vida

De maneira geral a disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos eacute feita em locais afastados das cidades devido ao mau cheiro e a proliferaccedilatildeo de animais e insetos aleacutem do perigo de contrair doenccedilas infecciosas devido o contato com os resiacuteduos soacutelidos

Uma das maneiras mais simples de depositar resiacuteduos soacutelidos eacute feita nos chamados aterros sanitaacuterios onde os resiacuteduos satildeo descartados espalhados e amassados e depois aterrados ou seja coberto com areia O aterro sanitaacuterio eacute pois uma obra de engenharia estruturada para receber o detrito domiciliar

Essa eacute uma das maneiras encontrada pelas autoridades para depositar os resiacuteduos soacutelidos pois assim natildeo iraacute agredir o meio ambiente e prevenir a pro-pagaccedilatildeo de doenccedilas evita ainda que os resiacuteduos soacutelidos sejam espalhados aleacutem disso ainda protege a poluiccedilatildeo dos rios e diminui o acuacutemulo de gases na atmosfera

O aumento acelerado da populaccedilatildeo e o decorrente crescimento

desordenado das cidades criaram seacuterios problemas ambientais e

passaram a exigir soluccedilotildees voltadas para o desenvolvimento sus-

tentaacutevel no acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas e estas por conseguinte

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 73

promovam a sustentabilidade quer na forma do consumo a fim de

natildeo agravar esses problemas e que seja ambientalmente saudaacutevel

(ARAUacuteJO LIMA e LIMA 2010)

Um dos maiores desafios que as autoridades enfrentam atualmente eacute o de tentar sensibilizar as pessoas no intuito de levaacute-las a pensar e agir de forma ativa em prol do meio ambiente Com esse propoacutesito os oacutergatildeos defensores do meio ambiente realizam campanhas e mais campanhas em busca do auxiacutelio das pessoas para garantir um futuro melhor pra sociedade A histoacuteria da hu-manidade vem a cada dia evoluindo juntamente com a evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

Em decorrecircncia da ausecircncia de debates amplos um grande nuacutemero de pes-soas natildeo compreende o sentido da natureza para a relaccedilatildeo harmocircnica entre homem e ambiente Eacute totalmente explicito a atitude das pessoas em relaccedilatildeo agrave natureza muitos dizem que isso eacute soacute conversa sem importacircncia porque fazem sempre as mesmas coisas e nunca mudou nada as coisas continuam iguais mas natildeo percebem que o planeta estaacute entrando em colapso e que qualquer ajuda eacute bem-vinda na tentativa de salvar a terra da destruiccedilatildeo ambiental

A disposiccedilatildeo adequada do lixo pretende atender aspectos sanitaacuterios

como o domiacutenio dos vetores e a proteccedilatildeo dos solos e da aacutegua con-

servando residecircncias estabelecimentos comerciais industriais e de

sauacutede vias puacuteblicas e aacutereas verdes limpas e livres de contaacutegio (CAR-

VALHO e OLIVEIRA 2011)

Quando depositado de forma inadequada os resiacuteduos soacutelidos promovem o aumento e a propagaccedilatildeo de animais insetos e outros causadores transmis-sores de doenccedilas aleacutem de contaminar o solo e a aacutegua Cabe agrave populaccedilatildeo fazer o descarte de seus proacuteprios resiacuteduos adequadamente de maneira tal que natildeo ameace a sauacutede das pessoas e a preservaccedilatildeo da natureza

Segundo Medeiros et al (2011 p 4) a evoluccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental na deacutecada 60 surgiu manifestaccedilotildees populares no Brasil e no mundo a respeito de revelaccedilotildees de danos ambientais ateacute entatildeo desconhecida e os brasileiros come-ccedilaram a se organiza do e lutar para proteger o meio ambiente o que foi mais aguccedilado natildeo soacute no Brasil mas em todo o mundo pelo lanccedilamento do livro ldquoprimavera silenciosardquo da jornalista americana Rachel Carson que se tornou um claacutessico na histoacuteria do movimento ambientalista mundial desencadeando uma grande inquietaccedilatildeo internacional e suscitando discussatildeo nos diversos paiacuteses

74 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Nessa perspectiva Medeiros et al ressaltam que

O surgimento da educaccedilatildeo ambiental se deu a partir de manifesta-

ccedilotildees no Brasil com o propoacutesito de se pensar em uma educaccedilatildeo vol-

tada para preservar a natureza Poreacutem na deacutecada dos anos 60 foi que

comeccedilou essa grande revoluccedilatildeo do meio ambiente com a necessi-

dade de mostrar para o mundo o quanto e importante respeitar as e

preservar o nosso meio em que vivemos (MEDEIROS et al 2011 p5)

Na ocasiatildeo foi aceito que a educaccedilatildeo ambiental devesse se tornar parte es-sencial da educaccedilatildeo de todos os cidadatildeos e seria vista como sendo essencial-mente conservaccedilatildeo ou ecologia aplicada para o homem ter o conhecimento de como era a natureza antes de conhecer os programas relacionados agraves conferecircn-cias ele natildeo tinha noccedilatildeo de como lidar com certos tipos de riscos relacionados ao mundo em que vivemos E isso vem trazendo mudanccedilas nos dias de hoje jaacute se discute a educaccedilatildeo ambiental em quase todos os paiacuteses da Ameacuterica Latina de acordo com os estudos realizados em livros revistas jornais

Eacute muito interessante falar sobre o homem e a natureza poreacutem no nosso cotidiano devemos estar mais atentos a tudo que nos rodeia para natildeo deixar que a natureza morra por isso temos que tratar a natureza de forma em que tudo possa se transformar em vida

Sendo assim Medeiros et al (2011 p8) diz que

O ser humano antigamente usava a natureza como fonte de subsidio

para sobreviver bem e sustentar suas famiacutelias apoacutes um longo tempo

o homem passou a querer mais e mais pelo menos para se destacar

no meio em que vivem mostrando que tem o poder nas matildeos e co-

meccedilar a explicar a natureza com acircnsia de ambiccedilatildeo

Portanto o homem depende da natureza para sobreviver por isso o homem passou a usar mais os recursos naturais como fontes de meios de sobrevivecircncias

Entatildeo o homem deve ter clareza de que suas accedilotildees prejudicam o meio am-biente jaacute que depende dele para sobreviver e assim seguir em frente com o propoacutesito de cuidar da natureza pois eacute dela que tira o sustento Nesse sentido a Educaccedilatildeo Ambiental busca saber se a interaccedilatildeo do homem se deu de forma consciente para a mesma forma de preservar ou visando apenas a exploraccedilatildeo do meio em que estaacute inserido ou por necessidades

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 75

Borges Resende e Pereira (2009 p 447) corroboram ao afirmar que

A accedilatildeo do homem sobre o meio ambiente eacute tatildeo antiga quanto a sua

proacutepria histoacuteria desde muito tempo vem-se utilizando os recursos

naturais como fonte de vida Depois de tanto tempo de escraviza-

ccedilatildeo da natureza o homem comeccedilou a sofrer as consequecircncias dos

seus atos como o surgimento de doenccedilas provenientes de seu uso

inadequado

Seguindo a visatildeo dos referidos autores eacute que se pode refletir que foi jus-tamente o desmatamento trazido pela agricultura que acabou despertando o interesse poliacutetico e juriacutedico com vistas agrave necessidade de preservar os recursos naturais A destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural para o cultivo da terra e mineraccedilatildeo resulta no assoreamento dos rios poluiccedilatildeo do solo da aacutegua e do ar aleacutem disso esse desmatamento destroacutei microrganismos deixando o solo empobrecido

Portanto o meio ambiente tem se tornado alvo de discussatildeo nas conferecircn-cias realizadas nos encontros das Naccedilotildees Unidas motivo de preocupaccedilatildeo com o meio ambiente em busca de soluccedilatildeo para diminuir os impactos causados na pela accedilatildeo do homem Sabe-se que um dos maiores problemas que hoje preo-cupa a sociedade eacute o lixo pois todos precisam consumir soacute natildeo sabem o que fazer com o lixo que produzem (OLIVEIRA et al 2012)

Portanto vaacuterios autores se preocupam com a natureza pois estatildeo em busca de soluccedilotildees para diminuir os problemas que vem degradando o meio ambien-te Tambeacutem sabemos da nossa grande dependecircncia dos recursos naturais tan-to para nossas vidas como para a dos demais seres vivos

Nesse sentido a educaccedilatildeo ambiental eacute a educaccedilatildeo que busca alcanccedilar a sustentabilidade pois ela pode contribuir de forma emancipatoacuteria desmisti-ficando a relaccedilatildeo homem- natureza melhorando a qualidade desta relaccedilatildeo de forma transformadora contribuindo assim para uma sociedade ambiental e poli-ticamente alfabetizadora responsaacutevel pelo mundo que habita (LOUREIRO 2004 SAUVEacute 2005) Como dizem os autores desta relaccedilatildeo parte a necessidade da in-clusatildeo da educaccedilatildeo ambiental nos programas da educaccedilatildeo baacutesica com o propoacute-sito de construir sujeitos cidadatildeos e conhecedores de seus direitos e deveres

O homem depende muito da natureza para sobreviver e a forma de explo-raccedilatildeo e uso dos recursos naturais se deu de forma predatoacuteria no que se refere aos cuidados que devemos ter com os recursos naturais como solo ar aacutegua florestas etc

76 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

3 OS RESIDUOS SOacuteLIDOS EM ESCOLA HAacute EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL

Atualmente jaacute podemos perceber que os recursos naturais agrave nossa volta jaacute natildeo satildeo riquezas infinitas mas uma riqueza que necessita de cuidados de pre-servaccedilatildeo Poreacutem para que haja accedilotildees que conscientizem as pessoas a preservar e se for necessaacuterio utilizaacute-los que seja usar com bom senso

A Vila Reislacircndia no municiacutepio de Alto Alegre ndash Roraima como outras vilas e tambeacutem grande maioria das cidades brasileiras enfrenta dificuldades para solucionar os problemas do processo seletivo e o destino adequado dos resiacute-duos soacutelidos Portanto o objetivo deste trabalho eacute discutir a sensibilizaccedilatildeo da comunidade escolar para a importacircncia do descarte adequado dos resiacuteduos soacutelidos especialmente os da Escola Estadual Delcy Barreto de Souza na Vila Reislacircndia PAParedatildeo municiacutepio de Alto Alegre- RR Com isso demonstrou os problemas relacionados ao destino final dos resiacuteduos soacutelidos na Vila Reislacircndia no municiacutepio de Alto Alegre-RR e com a mesma ecircnfase identificou a necessi-dade de estabelecer uma praacutetica educacional voltada para a compreensatildeo da realidade e responsabilidades em relaccedilatildeo agrave vida pessoal coletiva e ambiental da nossa comunidade

Em continuidade houve a sensibilizaccedilatildeo das pessoas sobre a importacircncia da coleta de resiacuteduos soacutelidos e a busca por um lugar adequado para o seu descar-te visando agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e a prevenccedilatildeo de doenccedilas muito comuns em ambientes onde os resiacuteduos satildeo depositados a ceacuteu aberto

Em relaccedilatildeo a essa funccedilatildeo de conscientizaccedilatildeo cabe aos envolvidos com a ques-tatildeo da educaccedilatildeo ambiental a difiacutecil empreitada de desenvolver e estimular nas pessoas a consciecircncia dessa problemaacutetica e levaacute-las a procurar soluccedilotildees para tal

No entanto o padratildeo de desenvolvimento disponiacutevel atualmente natildeo faci-lita e muito menos acelera esse processo onde simultaneamente se estimula a centralizaccedilatildeo de patrimocircnios particulares se torna mais evidente a carecircncia de solidariedade entre as pessoas que necessitam de um ambiente saudaacutevel para viver Portanto nesse sentido buscou-se por meio dos dados coletados mostrar formas de preservaccedilatildeo do meio ambiente

De acordo com os estudos e a pesquisa realizada junto agrave Escola Estadual Delcy Barreto de Souza foi possiacutevel perceber a grande problemaacutetica da falta de local apropriado para o descarte dos resiacuteduos soacutelidos produzidos naquela instituiccedilatildeo Aleacutem disso verificou-se o empenho dos professores em sensibilizar seus alunos quanto agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e a prevenccedilatildeo de doenccedilas

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 77

Para a realizaccedilatildeo da pesquisa de campo foi utilizado o questionaacuterio como instrumento de coleta de dados O questionaacuterio eacute um dos procedimentos mais utilizados para obter informaccedilotildees Eacute uma teacutecnica com custo razoaacutevel apresenta as mesmas questotildees para todas as pessoas garante anonimato e pode conter questotildees para atender a finalidades especiacuteficas de uma pesquisa

O questionaacuterio foi elaborado de forma estruturada o qual tem como base perguntas claras objetivas e padronizadas com vistas a garantir certa uniformi-dade quanto agrave sua estrutura Esse instrumento foi escolhido devido ao seu alto grau de confiabilidade

Ao todo 03 professores participaram da pesquisa A escolha dessas pes-soas foi definida apoacutes a observaccedilatildeo de suas atividades dentro da instituiccedilatildeo escolar

A primeira pergunta feita aos professores foi sobre quais os perigos que os resiacuteduos soacutelidos podem oferecer quando descartado de forma incorreta As res-postas foram

Professor A ndash Satildeo vaacuterios como por exemplo os resiacuteduos soacutelidos hos-

pitalares descartados a ceacuteu aberto pois eles podem causar vaacuterios pro-

blemas agrave sauacutede como o respiratoacuterio aleacutem disso polui o solo e a aacutegua

Professor B ndash Os resiacuteduos soacutelidos satildeo descartados de forma incorreta

e pode causar contaminaccedilatildeo do solo e consequentemente dos ali-

mentos provocar acidentes quando se trata de vidros e objetos cor-

tantes Outro problema a ser mencionado eacute a proliferaccedilatildeo de insetos

ou mosquitos portadores de doenccedilas

Professor C - Satildeo muitos os perigos que os resiacuteduos soacutelidos podem

causar isso porque pode ocorrer pela infestaccedilatildeo de insetos atraveacutes

deles poderatildeo surgir doenccedilas como a dengue

Embora os resiacuteduos soacutelidos sejam considerados uma grande ameaccedila agrave vida verifica-se que eacute possiacutevel minimizar seus impactos ao desenvolver e seguir accedilotildees de prevenccedilatildeo e abdicando de praacuteticas consumistas ou entatildeo conscienti-zando a populaccedilatildeo seja em relaccedilatildeo ao destino ou agraves formas de reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos produzidos

Em se tratando da segunda questatildeo os professores foram indagados que em razatildeo de saberem que o lixo pode causar problemas de sauacutede se sabiam

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nesse sentido qual o destino dos resiacuteduos produzidos na Escola Estadual Delcy Barreto de Souza As respostas obtidas foram as seguintes

Professor A ndash os resiacuteduos soacutelidos satildeo descartados dentro de um bu-

raco para ser enterrado

Professor B - Por natildeo ter um serviccedilo de coleta de resiacuteduos soacutelidos em

nossa localidade os resiacuteduos da escola satildeo queimados na aacuterea exter-

na da escola

Professor C ndash Os resiacuteduos soacutelidos produzidos nas salas de aulas satildeo

queimados jaacute os resiacuteduos produzidos na copa o orgacircnico eacute reutiliza-

do pelas copeiras que possuem animais domeacutesticos

O manuseio inapropriado de resiacuteduos soacutelidos de qualquer procedecircncia pro-voca desperdiacutecios gera ameaccedila constante agrave sauacutede das pessoas e torna mais gra-ve a degradaccedilatildeo ambiental comprometendo a qualidade de vida da populaccedilatildeo

Na terceira questatildeo foi perguntado aos professores se os resiacuteduos soacutelidos produzidos na escola ficam expostos por muito tempo Obtemos as seguintes respostas

Professor A ndash Natildeo

Professor B ndash Natildeo Porque a orientaccedilatildeo eacute para queimar os resiacuteduos

soacutelidos a natildeo ser que por motivo de esquecimento os resiacuteduos fi-

quem expostos agrave chuva o que leva a depender de dia quente para

queimaacute-lo

Professor C ndash Os resiacuteduos soacutelidos produzidos na escola natildeo ficam ex-

postos pois logo eacute queimado

Quanto agrave quarta questatildeo os professos foram indagados sobre qual seria o destino ideal para os resiacuteduos soacutelidos E para essa pergunta obtivemos as seguintes respostas

Professor A ndash Incinerar

Professor B ndash O destino ideal seria que a prefeitura fizesse a remoccedilatildeo

dos resiacuteduos soacutelidos natildeo orgacircnicos para um local apropriado e apro-

vado pela vigilacircncia em sauacutede e agentes do meio ambiente

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 79

Professor C - O correto seria natildeo produzir mas isso eacute uma tarefa im-

possiacutevel pois onde existem pessoas haacute consumo No entanto os

resiacuteduos soacutelidos deveriam primeiramente ser selecionado para a re-

alizaccedilatildeo da reciclagem Com relaccedilatildeo aos resiacuteduos soacutelidos orgacircnicos

deveriam ser utilizados para compostagem Acredito que seria uma

oportunidade para os alunos estudarem na praacutetica conceitos que fa-

zem parte do curriacuteculo escolar

Com o aumento desordenado da populaccedilatildeo consequentemente o consumo aumentou exageradamente e simultaneamente a poluiccedilatildeo e a degradaccedilatildeo ambiental Uma das formas de amenizar as consequecircncias causadas pela disposiccedilatildeo inadequada dos resiacuteduos soacutelidos seria a coleta seletiva em conjunto com a reciclagem Mas a tarefa de fazer com que as pessoas tenham atitudes ambientalmente corretas natildeo eacute faacutecil Isto porque apesar de sermos parte do meio ambiente em geral natildeo temos consciecircn-cia disso

Na quinta questatildeo perguntamos aos professores se eles sabiam de algum projeto para melhorar o destino dos resiacuteduos soacutelidos na Escola Estadual Delcy Barreto de Souza

Professor A - No momento natildeo

Professor B - Sim Na escola existem projetos de reciclagem dos re-

siacuteduos soacutelidos e de aproveitamento dos resiacuteduos orgacircnicos Quanto

ao segundo a escola natildeo dispotildee de aacuterea apropriada para a produccedilatildeo

de hortaliccedilas

Professor C ndash No presente momento natildeo temos nenhum projeto para

melhorar o destino do lixo na escola estadual Delcy Barreto de Souza

Eacute importante destacar a importacircncia de envolver a comunidade escolar como um todo nos projetos voltados para a preservaccedilatildeo do meio ambiente No dia-a-dia escolar podem ser ensinados valores envolvidos na Educaccedilatildeo Ambiental e prover bons exemplos para os alunos

Em relaccedilatildeo agrave sexta questatildeo perguntamos aos professores se a escola parti-cipa de alguma praacutetica de educaccedilatildeo ambiental Essa temaacutetica eacute trabalhada em sala de aula

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Professor A ndash Sim E eacute trabalhado na sala de aula com os alunos

Professor B ndash A escola jaacute desenvolveu campanha de advertecircncia jun-

to a comunidade para conscientizaacute-la quanto ao descarte de resiacutedu-

os soacutelidos para que fosse prevenida a dengue e a zica

Professor C ndash Ateacute o momento natildeo existe uma praacutetica de educaccedilatildeo

ambiental no entanto a temaacutetica eacute estudada na sala de aula de acor-

do com o curriacuteculo

Nesse contexto a escola pode organizar campanhas de conscientizaccedilatildeo em conjunto com a comunidade fazer coleta de resiacuteduos reciclaacuteveis e desenvolver projetos que envolvamos alunos na confecccedilatildeo de artesanatos utilizando garra-fas pet papelotildees plaacutesticos vidros dentre outros materiais reciclaacuteveis que des-cartado na natureza inadequadamente demora anos e anos para se decompor poluindo solo aacutegua ar causando doenccedilas respiratoacuterias e infecciosas devido a proliferaccedilatildeo de insetos transmissores prejudicando ainda mais a qualidade de vida e do ambiente

Para concluir o questionaacuterio na seacutetima questatildeo perguntamos aos professo-res se os funcionaacuterios recebem algum tipo de informaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos resiacute-duos soacutelidos ou como deve ser feito a coleta e o destino dos mesmos

Professor A ndash Sim

Professor B ndash Existe capacitaccedilatildeo apenas nas aacutereas de assistecircncia teacutec-

nica e extensatildeo rural

Professor C ndash Os funcionaacuterios jaacute exercem uma rotina com relaccedilatildeo aos

resiacuteduos soacutelidos pois a vila natildeo possui serviccedilo de coleta puacuteblica as-

sim os resiacuteduos satildeo sempre queimados

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A elaboraccedilatildeo deste trabalho foi um modo de discutir a sensibilizaccedilatildeo da comunidade escolar para a importacircncia do descarte adequado dos resiacutedu-os soacutelidos especialmente os da Escola Estadual Delcy Barreto de Souza na Vila Reislacircndia PAParedatildeo municiacutepio de Alto Alegre- RR como forma de natildeo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 81

agredir o meio ambiente e a vida do homem na terra Dar um destino adequa-do aos resiacuteduos soacutelidos eacute um dos grandes desafios da administraccedilatildeo puacuteblica em todo planeta

A pesquisa discutiu simultaneamente sobre a necessidade da praacutetica edu-cativa voltada para o entendimento da realidade e responsabilidades em rela-ccedilatildeo agrave vida pessoal coletiva e ambiental da nossa comunidade Com a finalidade de sensibilizar as pessoas sobre a importacircncia do descarte adequado dos resiacute-duos soacutelidos e a busca por um lugar apropriado para esse fim tendo em vista agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e a prevenccedilatildeo de doenccedilas

Aleacutem disso buscou cultivar as distintas formas do indiviacuteduo praticar a coleta e o descarte adequado de resiacuteduos soacutelidos Os resiacuteduos soacutelidos que satildeo origi-nados pela escola geralmente satildeo queimados mas deve ser destacado que as pessoas precisam ter a consciecircncia de auxiliar na manutenccedilatildeo da limpeza

Esperamos com a realizaccedilatildeo deste trabalho envolver as pessoas que con-tribuiacuteram com informaccedilotildees claras sobre o problema da falta de um local apro-priado para a disposiccedilatildeo dos resiacuteduos soacutelidos e para a busca de soluccedilotildees do problema visando a prevenccedilatildeo tambeacutem da contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico da comunidade municiacutepio em questatildeo

Apesar de os resiacuteduos soacutelidos serem considerados uma grande ameaccedila agrave vida verifica-se que eacute possiacutevel diminuir seus impactos ao praticar accedilotildees de pre-venccedilatildeo como abdicar do consumismo excessivo sensibilizar a populaccedilatildeo seja em relaccedilatildeo ao destino ou agraves formas de reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos gerados

Eacute imprescindiacutevel neste sentido que o governo e a sociedade em geral adotem novas atitudes visando gerenciar de modo adequado a grande quantidade e diversidade de resiacuteduos que satildeo produzidos diariamente Accedilotildees nesta direccedilatildeo restringiratildeo a produccedilatildeo de resiacuteduos o que resultaraacute na proteccedilatildeo do ar do solo e da aacutegua trazendo como consequecircncia melhores condiccedilotildees de sauacutede melhor qualidade de vida e preservaccedilatildeo do meio ambiente

Nesta direccedilatildeo estaacute comprovado que as campanhas de sensibilizaccedilatildeo quan-to agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e da vida na terra requerem mais empenho por parte das autoridades governamentais responsaacuteveis pelas accedilotildees voltadas para esse fim

Portanto chego a conclusatildeo de que natildeo basta somente a realizaccedilatildeo de cam-panhas por parte dos governos estaduais municipais ou ONGs para colaborar com a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute necessaacuterio que as pessoas busquem informaccedilotildees e internalizem em suas mentes e isso se reflita em suas accedilotildees de que a preservaccedilatildeo do meio ambiente eacute de suma importacircncia para a existecircncia

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dos seres vivos na terra A coleta e o descarte adequado do lixo contribuem para a limpeza e consequentemente para a manutenccedilatildeo da sauacutede e evitam a infestaccedilatildeo de insetos e animais causadores de doenccedilas

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84 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL ACERCA DA TRIacutePLICE EPIDEMIA (DENGUE-CHIKUNGUNYA-ZIKA) E SUA RELACcedilAtildeO COM OS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS DOS MORADORES NO POVOADO JUAacute MUNICIacutePIO DE PAULO AFONSO - BAHIA BRASIL

Andreacute Viniacutecius Bezerra de Andrade Silva Camilo Rafael Pereira Brandatildeo Kecircnia Dantas Alves Nadja Santos Vitoacuteria

INTRODUCcedilAtildeO

A Educaccedilatildeo Ambiental pode ser vista como uma expansatildeo da educaccedilatildeo onde um indiviacuteduo e coletividade em que estaacute inserido por meio de conheci-mentos e atitudes constroem meacutetodos de prevenccedilatildeo ao meio ambiente (BRA-SIL 2016) Segundo Jacobi (2013 p 193) a educaccedilatildeo ambiental apresenta-se com uma funccedilatildeo cada vez mais transformadora em que a ldquoco-responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento ndash o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo A questatildeo ambiental vem se tornando cada vez mais emergente e mesmo diante das muitas accedilotildees de prevenccedilatildeo ainda existem muitos problemas (PEREIRA MANSUR ALVES 2015) Alguns pesquisadores acreditam que a crise ambiental que vivenciamos eacute aleacutem de voltada ao ambiente em si eacute considerada uma crise tambeacutem civilizatoacuteria (MORALES MANSUR 2015) E de acordo com Capra (1996) a sociedade vive sob uma crise de percepccedilatildeo o que pode ser a principal causa para a falta tambeacutem de consciecircncia ateacute porque se natildeo se pode perceber torna-se difiacutecil o conhecimentocompreensatildeo

De acordo com Fernandes et al (2012) a percepccedilatildeo ambiental define-se como sendo uma tomada de consciecircncia do ambiente pelo homem que vai desde o ato de perceber o ambiente do qual faz parte ateacute aprender a cuidar e protegecirc-lo No entanto cada pessoa percebe reage e responde de forma dife-renciada agraves accedilotildees sobre o ambiente em que vive Para Fernandes et al (2012)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 85

estudar a percepccedilatildeo ambiental eacute de grande relevacircncia pois auxilia no processo de compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre o indiviacuteduo e o ambiente bem como expectativas anseios satisfaccedilotildees e insatisfaccedilotildees julgamentos e condutas As-sim faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de pesquisas em percepccedilatildeo ambiental por tratarem de fatos importantes a serem investigados sejam sobre valores ne-cessidades atitudes eou expectativas que determinados sujeitos tecircm em rela-ccedilatildeo ao seu meio vivencial (BAY SILVA 2011)

O Brasil por ser um paiacutes tropical apresenta um clima favoraacutevel para o desenvolvimento de determinadas enfermidades Camargo (2008) diz que a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) agrupa como Doenccedilas Tropicais as afecccedilotildees que se desenvolvem exclusivamente na zona dos troacutepicos e que ne-cessitam de clima quente e uacutemido A OMS relata ainda que o ano de 2016 foi marcado por um surto epidecircmico avassalador do viacuterus Zika (ZIKV) assim como o viacuterus da Dengue (DENV) e da Febre Chikungunya (CHIKV) satildeo exem-plos dessas Doenccedilas Tropicais e tecircm como vetor principal o mosquito Aedes aegypti (WHO 2016)

Tais doenccedilas surgem a partir da proliferaccedilatildeo em grande escala do seu vetor o mosquito A aegypti que tem preferecircncia por reservatoacuterios artificiais o que inclui o manejo incorreto dos resiacuteduos soacutelidos mesmo tendo oportunidade de completar seu ciclo no meio natural isso pelo fato de no meio antropizado ter sua prole mais protegida (VAREJAtildeO et al 2005)

No Brasil grande parte dos municiacutepios descartam seus lixos em vazantes (ou lixotildees) onde os resiacuteduos satildeo dispostos distantes das residecircncias sem nenhuma forma de tratamento Existem meios menos agressivos ao ambiente como os aterros controlados aacutereas de lixo cobertas sempre com uma camada de terra mas sem a preparaccedilatildeo do solo e os aterros sanitaacuterios que satildeo locais planejados antecipadamente para posterior disposiccedilatildeo de resiacuteduos com dispositivos que captam os gases e tratam o chorume (MUNtildeOZ 2002)

De fato vecircm ocorrendo diversas mudanccedilas no ambiente causadas pela accedilatildeo humana e necessita-se praticar uma educaccedilatildeo voltada para promover um pen-samento novo ou seja a sensibilizaccedilatildeo (PEREIRA GIBBON 2014) Deste modo tomando por base o surto epidecircmico de algumas Doenccedilas Tropicais (Dengue Zika Viacuterus e Chikungunya) transmitidas pelo mosquito Aedes (Stegomyia) aegyp-ti (Linnaeus 1762) (Diptera Culicidae) este artigo objetivou investigar a Percep-ccedilatildeo Ambiental da comunidade do Povoado Juaacute em relaccedilatildeo agrave prevalecircncia des-sas doenccedilas identificando quais os meacutetodos de informaccedilatildeo e prevenccedilatildeo mais utilizados pelos entrevistados na localidade buscando associaacute-las ao destino

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incorreto dos Resiacuteduos Soacutelidos gerados na regiatildeo com a finalidade de conhecer o posicionamento da populaccedilatildeo diante desses casos

1 CONCEPCcedilAtildeO METODOLOGICA

A pesquisa foi realizada no Povoado Juaacute que estaacute inserido no municiacutepio de Paulo Afonso ndash BA limitando-se ao Norte com o municiacutepio de Gloacuteria ao Sul com os municiacutepios de Jeremoabo Santa Briacutegida e tambeacutem com o Estado de Alagoas a Oeste limita-se com o municiacutepio de Rodelas (DIAS PAES 2007) Conforme o censo realizado pelo Centro de Zoonoses em 2016 a populaccedilatildeo do povoado eacute estimada em 1872 pessoas e segundo Rocha (2009) o clima desta regiatildeo eacute do tipo Bsh (quente e seco) de acordo com a classificaccedilatildeo de Koumleppen com precipitaccedilatildeo meacutedia anual de 500 mm O presente artigo obteve seus re-sultados a partir de uma metodologia com cunho quali-quantitativo (APPOLI-NAacuteRIO 2012) seguindo o modo de pesquisa de campo atraveacutes de observaccedilotildees diretas intensivo-participantes artificiais

Para Lakatos e Markoni (2001) a pesquisa participante artificial eacute aquela em que o pesquisador natildeo pertence agrave comunidade em que realiza as obser-vaccedilotildees sejam diretas ou indiretas e de quaisquer intensidades bem como apresenta finalidades descritivas e exploratoacuterias (PRODANOV FREITAS 2013) Os dados para os resultados da pesquisa foram obtidos atraveacutes da aplica-ccedilatildeo de formulaacuterios semiestruturados e com uso de pranchas com imagens (LAKATOS MARKONI 2001 FLICK 2009) em ruas escolhidas aleatoriamente na comunidade e as respostas foram triadas por meio de porcentagem sim-ples apresentadas sob a forma de graacuteficos gerados atraveacutes do programa de computador Microsoft Office Excelreg Para a realizaccedilatildeo do trabalho os entrevis-tados aceitaram a participaccedilatildeo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

2 ACUIDADE DA POPULACcedilAtildeO

Foram entrevistados 100 residentes da comunidade do Povoado Juaacute sendo 70 dos entrevistados composto por mulheres e 30 por homens com idades variadas conforme revela a Tabela 1 O maior percentual dos entrevistados per-tence agrave faixa etaacuteria de 61 a 70 anos (14) seguido de 51 a 60 anos (13) e 41 a 50 anos (12) Algumas questotildees do formulaacuterio permitiram muacuteltiplas escolhas por parte dos entrevistados

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 87

Tabela 1 - Faixa etaacuteria dos sujeitos da pesquisa

Faixa etaacuteria Percentual ()

lt 10 anos 15

11 a 20 anos 11

21 a 30 anos 11

31 a 40 anos 10

41 a 50 anos 12

51 a 60 anos 13

61 a 70 anos 14

71 a 80 anos 10

81 a 90 anos 4

Fonte Autor (2016)

Todos os entrevistados jaacute ouviram falar sobre Dengue Chikungunya ou Zika viacuterus entretanto natildeo compreendiam de fato sobre os sinais e sintomas das res-pectivas doenccedilas ou arboviroses De acordo com o Graacutefico 1 um percentual de 22 indicou sintomas mais gerais e comuns agraves referidas Doenccedilas Tropicais e apenas 2 dessas respostas relatam sintomas mais especiacuteficos diferenciando cada uma delas A Dengue em casos isolados pode apresentar hemorragia e dores atraacutes dos olhos com presenccedila de vocircmito A Chikungunya eacute caracterizada por febre constante dores intensas e persistentes nas articulaccedilotildees e a Zika pode apresentar manchas vermelhas na pele e seu viacuterus pode ser transmitido via transfusatildeo sanguiacutenea aleacutem de gerar complicaccedilotildees na gravidez como a mi-crocefalia eou na juventude como a Siacutendrome de Guillain-Barreacute (BRASIL 2016 BARBOSA 2015 BELTRAME 2016 HONOacuteRIO et al 2015 WHO 2016)

Graacutefico 1 ndash Respostas acerca da definiccedilatildeo das arboviroses por parte dos moradores do Povoado Juaacute ndash Paulo Afonso Brasil

Fonte Autor (2016)

88 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Todos os moradores entrevistados relataram tambeacutem ter se contaminado ou conhecer algueacutem com sintomas das referidas doenccedilas com gravidade ele-vada No conhecimento disseminado entre a comunidade 72 disseram ter adquirido a Febre Chikungunya 24 Dengue e 10 relataram contato com o viacuterus da Zika (Graacutefico 2) No que diz respeito aos oacutebitos 61 se referiram agrave morte de uma pessoa idosa do sexo feminino e acreditam que outras doenccedilas crocircnicas agravaram o quadro levando-a ao falecimento

A Dengue atinge anualmente de 50 a 80 milhotildees de pessoas em mais de 100 paiacuteses ocasionando 20 mil mortes (MENDONCcedilA DUTRA 2009) e de acor-do com Maciel Juacutenior e Martelli (2009) no Brasil foram registrados 500 mil ca-sos com 158 mortes Na Bahia em 2016 o Boletim da Diretoria de Vigilacircncia Epidemioloacutegica relata que 7700 casos foram notificados em 201 municiacutepios (4820) E a faixa etaacuteria mais comum dos infectados variava entre 20 a 49 anos com prevalecircncia de 5767 do sexo feminino

Em relaccedilatildeo a Febre Chikungunya foram notificados 1240 casos em 68 mu-niciacutepios (1630) sendo 6131 dos infectados mulheres com idades tambeacutem entre 20 e 49 anos A Zika teve 1777 casos notificados em 108 municiacutepios (2589) com a faixa etaacuteria igual agraves arboviroses citadas anteriormente tendo o sexo feminino sido representado por 6736 dos casos

Graacutefico 2 - Casos confirmados das arboviroses segundo os moradores do Povoado Juaacute

Fonte Autor (2016)

Para diagnoacutestico das doenccedilas 76 dos sujeitos entrevistados tiveram aces-so ao centro de sauacutede e 47 dos entrevistados relataram ter realizado exames para diagnose das arboviroses Deste percentual 40 destes foram submeti-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 89

dos a exames laboratoriais que segundo informaccedilotildees colhidas com os mes-mos natildeo receberam os resultados Cinquenta e trecircs por cento relataram natildeo ter realizado nenhum exame (Graacutefico 3)

Apesar da maioria dos casos ser diagnosticada clinicamente os meacutetodos mais eficazes para a identificaccedilatildeo da doenccedila partem de exames hematoloacutegicos (imunidade e contagem de plaquetas) e soroloacutegicos (FIGUEIREDO et al 1992 VIDO et al 1999 ARAUacuteJO et al 2002 BARROS et al 2008)

Graacutefico 3 - Diagnoacutestico cliacutenico e laboratorial realizado pelos moradores do Juaacute para identificaccedilatildeo da triacuteplice epidemia (Dengue-Chikungunya-Zika)

Fonte Autor (2016)

Para saber da comunidade quem era o causador dessas Doenccedilas Tropicais foram mostradas trecircs imagens nomeadas com as letras A B e C sendo a ima-gem A Mosquito Palha (Lutzomyia longipalpis [Lutz amp Neiva 1912]) B Mosquito da Dengue (Aedes aegypti) e C Barbeiro (Triatoma infestans [Klug]) A maioria representada por 81 acertou respondendo ser o mosquito A aegypti o trans-missor responsaacutevel pela Dengue Chikungunya e Zika Viacuterus Um por cento natildeo soube responder e 7 natildeo respondeu (Tabela 2)

As doenccedilas anteriormente citadas satildeo causadas pelo culiciacutedeo A aegypti (TAUIL 2001 Idem 2002 PINTO JUacuteNIOR et al 2015 HONOacuteRIO et al 2015 BRA-SIL 2016) Estes dados conferem com as informaccedilotildees difundidas pela miacutedia cujo mosquito vetor bem como seus reservatoacuterios destacam-se nas miacutedias e nos meios de informaccedilatildeo de um modo geral (LENZI COURA 2004 ARAUacuteJO ARAUacuteJO-JORGE MEIRELLES 2005)

90 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Tabela 2 - Respostas acerca do vetor da Dengue Chikungunya e Zika

Imagens Percentual ()Imagem A 6Imagem B 81Imagem C 5

Natildeo souberam 1Natildeo responderam 7

Fonte Autor (2016)

A tabela 3 mostra que 84 dos entrevistados obtiveram as informaccedilotildees so-bre a triacuteplice epidemia a partir da televisatildeo 30 do raacutedio e 22 por informa-ccedilotildees disponiacuteveis no posto de sauacutede Panfletos accedilotildees sociais e internet somaram 13 e 34 responderam que se informam atraveacutes de outros meios entre os mais citados a escola e as conversas com vizinhos A televisatildeo destaca-se nos trabalhos de Lenzi e colaboradores (2000) com a justificativa de ser um bem material mais acessiacutevel agrave comunidade

Regis e colaboradores (1996) apontam como uma das funccedilotildees da escola informar e mobilizar a comunidade no que diz respeito agraves diversas companhas As accedilotildees sociais originadas no serviccedilo de sauacutede satildeo divulgadas em outdoors raacute-dio tv e outros meios comunicativos no entanto a utilizaccedilatildeo da linguagem faacutecil acaba por gerar uma informaccedilatildeo incompleta (BRASSOLATTI ANDRADE 2008)

Tabela 3 - Meio de informaccedilatildeo mais citado pelos moradores

Meio de informaccedilatildeo Percentagem ()TV 84

Raacutedio 30Internet 7

Posto de Sauacutede 22Accedilotildees Sociais 3

Panfletos 3Outros 34

Fonte Autor (2016)

A tabela 4 nos mostra que o meio mais citado para prevenccedilatildeo da Dengue Febre Chikungunya e Zika foi o mosqueteiro com um percentual de 77 segui-do da eliminaccedilatildeo dos focos do agente causador que representou 67 das res-postas e 52 disseram receber os agentes de endemias Os repelentes artificiais satildeo utilizados por 31 dos entrevistados Quando foram questionados sobre a existecircncia de algum trabalho de accedilatildeo social na comunidade 84 relataram ter e citaram os agentes de endemias e o posto de sauacutede como exemplo 11

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 91

disseram que natildeo existem trabalhos sociais no povoado e 5 natildeo souberam informar

Segundo informaccedilotildees colhidas com o Centro de Zoonozes muitos mora-dores natildeo estatildeo em casa no horaacuterio da visita Uma das funccedilotildees do agente de endemias eacute retornar agrave residecircncia ao menos trecircs vezes apoacutes a terceira visita sem sucesso ou a recusa do morador o imoacutevel eacute dado como fechado ou recusado respectivamente

Os trabalhos de Santos Cabral e Augusto (2011) e de Claro Tomassini e Rosa (2004) tambeacutem corroboram com os resultados desta pesquisa no que diz res-peito agrave eliminaccedilatildeo dos focos do mosquitolimpeza da residecircncia Repelentes naturais natildeo foram citados pelos sujeitos participantes da pesquisa O que jaacute foi mostrado pelo trabalho de Silva (2016) ao relatar que grande parte dos mora-dores (83) de trecircs bairros da cidade de Paulo Afonso natildeo conhecem ou fazem uso de plantas e apenas uma minoria afirma que aleacutem de conhecer a existecircncia de plantas que exercem efeitos danosos sobre o mosquito fazem uso delas na tentativa de repelir eou matar o mosquito ou ateacute mesmo curar a infecccedilatildeo viral transmitida pelo vetor

Tabela 4 - Meios de prevenccedilatildeo citados pelos entrevistados

Meio de Prevenccedilatildeo Percentual ()

Natildeo realiza 3

Mosqueteiro 77

Fumaccedila 1

Inseticidas aerossoacuteis 24

Repelentes artificiais 31

Repelentes naturais 0

Eliminaccedilatildeo dos focos 67

Sensibilizaccedilatildeo 0

Recebe os agentes 52

Outros 0

Fonte Autor (2016)

Em relaccedilatildeo agrave questatildeo dos Resiacuteduos Soacutelidos 91 dos entrevistados afirma-ram que a coleta do Povoado Juaacute ocorre trecircs vezes na semana por meio de um trator que leva o lixo para um terreno mais afastado da aacuterea residencial Mui-tos disseram ainda que parte do lixo eacute queimado ou enterrado nesse terreno A prefeitura natildeo realiza a coleta no povoado e segundo informaccedilotildees colhidas

92 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

com os moradores um morador agrave eacutepoca candidato a vereador dispocircs de um dos seus terrenos para a disposiccedilatildeo final do lixo na comunidade Ainda em rela-ccedilatildeo ao lixo 94 ressaltaram a importacircncia de separaacute-lo apesar de 56 afirmar que natildeo realizam esse procedimento pois relataram que o lixo seraacute misturado posteriormente Oitenta e dois por cento dos moradores relataram estar o lixo associado ao aumento das principais doenccedilas transmitidas pelo mosquito A aegypti (Tabela 5)

Tabela 5 - Opiniatildeo dos entrevistados em relaccedilatildeo ao lixo associado agrave proliferaccedilatildeo de doenccedilas

Produccedilatildeo de lixo Percentual ()Proliferaccedilatildeo de doenccedilas 82

Natildeo interfere na proliferaccedilatildeo 16Natildeo souberam responder 2

Fonte Autor (2016)

No Brasil segundo Muntildeoz (2002) grande parte dos municiacutepios descartam seus lixos em vazantes (ou lixotildees) onde os resiacuteduos satildeo dispostos distantes das residecircncias sem nenhuma forma de tratamento A coleta seletiva eacute um dos prin-cipais instrumentos de intervenccedilatildeo social e tem sido apresentada como uma das melhores soluccedilotildees para a reduccedilatildeo do lixo urbano sendo assim a mais indi-cada pois economiza trabalho na captaccedilatildeo e triagem aleacutem de melhorar a qua-lidade dos resiacuteduos a serem reciclados (PEIXOTO CAMPOS DrsquoAGOSTO 2005 TRINDADE 2011) Sabe-se que a produccedilatildeo exagerada o incorreto manejo e a disposiccedilatildeo do lixo acarretam na poluiccedilatildeo do solo aacutegua ar e direta ou indireta-mente na transmissatildeo de doenccedilas (ALENCAR 2005 GUIZARD et al 2006 RIBEI-RO ROOCKE 2010)

3 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores do Povoado Juaacute no que diz respeito agraves Doenccedilas Tropicais causadas pelo A aegypti e a associaccedilatildeo destas ao incorreto destino final dos Resiacuteduos Soacutelidos estaacute disseminada na comunidade pelo fato da ocorrecircncia dos diversos casos das arboviroses bem como o reconhecimento dos sinais e sintomas das mesmas Ressalta-se que a idade estaacute relacionada ao niacutevel de assimilaccedilatildeo e a forma de perceber os acontecimentos da regiatildeo tendo sido um fator contribuinte para a absorccedilatildeo e identificaccedilatildeo de alguns conceitos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 93

Em relaccedilatildeo aos meios de informaccedilatildeo a televisatildeo e o raacutedio satildeo os que mais difundem informaccedilotildees acerca da prevenccedilatildeo das doenccedilas tropicais no entanto sabe-se que esses veiacuteculos de comunicaccedilatildeo possuem uma particularidade na construccedilatildeo de suas pautas em detrimento do tempo a exemplo de comerciais de curto periacuteodo que trazem informaccedilotildees pontuais

Uma das soluccedilotildees seria a inserccedilatildeo de conteuacutedos mais completos em rela-ccedilotildees agraves doenccedilas tropicais com maior abrangecircncia de tempo como programas de entrevistas com especialistas das aacutereas de sauacutede e ambiental intercalando com representantes da comunidade a fim de que as duacutevidas pudessem ser mi-nimizadas

Importante voltar o olhar para os puacuteblicos identificados nas entrevistas principalmente os idosos de 61 a 70 anos que precisam receber informaccedilotildees sobre as doenccedilas tropicas de forma mais didaacutetica e frequente

Nesse contexto a educaccedilatildeo ambiental possui um papel fundamental na ex-tensatildeo da educaccedilatildeo principalmente nas escolas com accedilotildees de sensibilizaccedilatildeo e que devem se estender a postos de sauacutede e agrave comunidade a fim de estimular seus participantes em quaisquer faixas etaacuterias a perceber o ambiente em que estatildeo inseridos

Uma accedilatildeo conjunta entre poder puacuteblico miacutedia e moradores do povoado Juaacute para a identificaccedilatildeo dos problemas ou temas puacuteblicos a fim de corroborar com a mudanccedila da realidade e a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas nas aacutereas de sauacutede e ambiental em benefiacutecio do referido povoado

Assim a pesquisa eacute um excelente instrumento para a identificaccedilatildeo das questotildees ambientais e a divulgaccedilatildeo dos dados coletados deve ser compreen-dido pelo poder puacuteblico como ferramenta imprescindiacutevel para a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que visem o desenvolvimento sustentaacutevel das cidades

AGRADECIMENTOS

Agrave Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica do Estado de Sergipe (FAPITEC)

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloa-mento de Pessoal de Niacutevel Superior - Brasil (CAPES) - Coacutedigo de Financiamento 001 da Portaria Nordm 206 de 04 de setembro de 2018

94 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

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98 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

A IDENTIFICACcedilAtildeO DE DESENHOS ANIMADOS COM CONTEUacuteDOS SOCIOAMBIENTAIS POR CRIANCcedilAS DO CICLO BAacuteSICO

Marilia Barbosa dos SantosAntocircnio MenezesJonielton Oliveira Dantas

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas as questotildees de cunho ambiental tecircm se integrado com maior frequecircncia aos debates sociais e poliacuteticos Deste modo os meios de co-municaccedilatildeo tecircm exercido protagonismo na difusatildeo de informaccedilotildees de cunho ambiental muitas vezes inseridas de forma secundaacuteria no debate Face agrave glo-balizaccedilatildeo a sociedade tem sido bombardeada com um nuacutemero significativo de informaccedilotildees de caraacuteter ambiental poreacutem faz-se necessaacuterio que tais infor-maccedilotildees tenham comprometimento com a transformaccedilatildeo da atual realidade socioambiental

Para Mcluhan (1969) o meio eacute a mensagem e esta depende natildeo da maneira que eacute transmitida mas como eacute transmitida Toda compreensatildeo das mudanccedilas sociais e culturais eacute restrita sem o conhecimento analiacutetico da contextualizaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica dos seus processos acontecimentos e registros Neste sentido os consumidores de informaccedilatildeo devem se esquivar da atraccedilatildeo das campanhas propagandas de corporaccedilotildees ou veiacuteculos de comunicaccedilatildeo de massa cuja cre-dibilidade eacute cada vez mais duvidosa pelo alto grau de manipulaccedilatildeo de informa-ccedilotildees e de interesses mercadoloacutegicos

Os aspectos culturais veiculados pelos meios de comunicaccedilatildeo forne-cem materiais que satildeo capazes de criar identidades e inserir os indiviacuteduos na sociedade tecnocapitalista gerando um novo panorama de cultura glo-bal (KELLNER 2001) Neste contexto os desenhos animados tecircm incentivado crianccedilas a interagir com as informaccedilotildees de cunho ambiental por intermeacutedio dos programas infantis os pequeninos podem criticar opinar e se posicionar sobre temas que se relacionam agrave sustentabilidade preservaccedilatildeo e conserva-ccedilatildeo ambiental

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Deste modo o presente artigo teve como objetivo identificar quais dese-nhos em circulaccedilatildeo favorecem a promoccedilatildeo de accedilotildees que visem agrave conservaccedilatildeo dos recursos naturais

O texto estaacute dividido em quatro partes na primeira aborda-se o meio am-biente sobre a perspectiva comunicacional a segunda parte apresenta a rela-ccedilatildeo das crianccedilas com os meios de comunicaccedilatildeo e as representaccedilotildees ambientais a terceira parte refere-se ao percurso metodoloacutegico a quarta parte apresenta alguns resultados e discussotildees e por fim algumas consideraccedilotildees finais segui-das das referecircncias

2 MEIO AMBIENTE E COMUNICACcedilAtildeO NOVOS CONFLITOS VELHOS DILEMAS

A difusatildeo midiaacutetica eacute composta por uma base significativa de poder Poder individual e coletivo Muitos se ldquorendemrdquo ao poder visiacutevel e invisiacutevel da miacutedia seja ela televisa impressa auditiva ou virtual A miacutedia eacute analisada como uma maneira que o telespectador encontra de se relacionar com elementos da vida cotidiana Segundo Raffestin (1993) o poder da miacutedia se revela por meio da re-laccedilatildeo Eacute como um mecanismo de troca comunicativa O indiviacuteduo que tem aces-so agrave informaccedilatildeo estaacute sujeito a pocircr em cheque seus interesses e as conveniecircncias estabelecidas pelo poder midiaacutetico protagonizando um duelo de intenccedilotildees e interesses preacute-estabelecidos

Eacute por intermeacutedio dos recursos audiovisuais que grande parte da populaccedilatildeo recebe informaccedilotildees diariamente O meio qual o telespectador se insere eacute modi-ficado a toda instante pela notiacutecia que lhe eacute apresentada A informaccedilatildeo influen-cia diretamente as decisotildees e interaccedilotildees humanas que dizem respeito ao meio ambiente de onde se pode deduzir que o alcance dos meios de comunicaccedilatildeo leva a sociedade a tomar ciecircncia dos problemas ambientais e buscar rediscutir seu comportamento frente a estes elementos Orozco (1994) comenta que a comunicaccedilatildeo pode produzir muacuteltiplos paradoxos equiacutevocos e reaccedilotildees diversas no tratamento de determinados problemas podendo gerar conteuacutedo positivo ou negativo

A comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo da informaccedilatildeo sempre estatildeo do lado do poder e da capacidade que o poder tem de interferir na transmissatildeo dos conteuacutedos A esse tipo de poder dar-se o nome de poder simboacutelico Conforme Bourdieu (1989 p 9) poder simboacutelico eacute aquele que eacute produzido pela ldquocrenccedila na legitimi-dade das palavras e daqueles que a pronunciamrdquo Segundo o autor

100 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

O poder simboacutelico eacute um poder de construccedilatildeo da realidade que tende

a estabelecer uma ordem gnoseoloacutegica o sentido imediato do mun-

do (e em particular do mundo social) supotildee aquilo a que Durkheim

chama o conformismo loacutegico quer dizer lsquouma concepccedilatildeo homogecirc-

nea do tempo do espaccedilo do nuacutemero da causa que torna possiacutevel a

concordacircncia possiacutevel entre as inteligecircncias

A miacutedia cria artifiacutecios simboacutelicos para seduzir e entusiasmar o receptor da mensagem influenciando os consumidores no discurso dos acontecimentos Para Arbex Juacutenior (2006 p 20) a lsquogrande miacutediarsquo representa uma forte coluna de poder Constroacutei consenso produz realidades convenientes mistifica distorce fatos ldquo[] atua enfim como um lsquopartidorsquo que proclamando-se porta-voz e es-pelho dos lsquointeresses geraisrsquo da sociedade civil defende os interesses especiacutefi-cos de seus proprietaacuterios privadosrdquo

Na difusatildeo midiaacutetica contemporacircnea as formas de transmissatildeo simboacutelica trabalham com a (re)significaccedilatildeo das informaccedilotildees (re)formando (re)criando e incentivando a disseminaccedilatildeo de novos valores costumes e haacutebitos cotidianas Assim estas novas adequaccedilotildees acabam representando natildeo apenas o conteuacutedo veiculado mas a proacutepria realidade lsquoconvencionalrsquo Para Mcluhan (1969) toda plataforma de difusatildeo de informaccedilatildeo influencia a sociedade Elas satildeo tatildeo im-pactantes que suas consequecircncias fogem do controle

A miacutedia (in)voluntariamente transmite as notiacutecias poreacutem enaltece empre-sas e corporaccedilotildees especiacuteficas principalmente as que possuem mais capital no mercado nacional e internacional Nogueira (2001) esclarece que a atividade linguiacutestica se apresenta como forte aliada no processo de transmissatildeo de infor-maccedilatildeo O autor comenta que alguns traccedilos linguiacutesticos possuem mais influecircn-cias que outros beneficiando puacuteblicos grupos comunidades e classes sociais especiacuteficas

Toda informaccedilatildeo transmitida pela miacutedia possui influecircncia na visatildeo de cada telespectador agraves vezes influecircncias positivas agraves vezes negativas seria o papel da miacutedia transmitir as informaccedilotildees e provocar discussotildees sem enfatizar pontos que favorecem grupos especiacuteficos Para compreender a (re)produccedilatildeo do espa-ccedilo atraveacutes da miacutedia eacute necessaacuterio contextualizar os cenaacuterios a fim de evitar a manipulaccedilatildeo que implica uma compreensatildeo imediatista da informaccedilatildeo

Ao defender a pedagogia criacutetica da miacutedia Kellner (2001) aponta para neces-sidade de possibilitar aos consumidores de informaccedilatildeo instrumentos que os ajudem a evitar a manipulaccedilatildeo e a produccedilatildeo de identidades imediatas ajudan-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 101

do-os a produzir conhecimento autecircntico e novo Assim o autor considera ne-cessaacuteria uma pedagogia criacutetica da miacutedia para desenvolver ldquo[] conceituaccedilotildees da miacutedia e da cultura de consumo contemporacircneo [ajudando] a desvendar significados e efeitos sobre [a] proacutepria cultura e poder sobre seu ambiente cul-turalrdquo (KELLNER 2001 p 13)

A repercussatildeo referente agraves questotildees ambientais ascende na sociedade so-bretudo a partir da segunda metade do seacuteculo XX (SILVA CRISPIM 2011) agrave medida em que se insere em agendas e debates de cunho poliacutetico econocircmico e sociocultural Contudo os estudos que se propotildeem agrave anaacutelise mais profunda sobre os temas ambientais pela miacutedia ainda revelam agrave necessidade de trata-mento mais aprofundado

Segundo Santos (1994 p 23) ldquo[] vivemos uma eacutepoca de intenso medo e fantasia e se antes a natureza podia criar medo hoje eacute o medo que cria a na-tureza midiaacutetica e falsa pois parte dela eacute apresentada como se fosse o todordquo Dessa maneira a miacutedia tornou-se protagonista deste processo perigoso que mascara a integridade humana em detrimento da integridade ambiental por meio da manipulaccedilatildeo de seus interesses

Deste modo faz-se necessaacuterio que a anaacutelise das questotildees ambientais inte-gre uma agenda seacuteria de discussotildees e debates pois o meio ambiente eacute o meio de vida do ser humano e deve ser apresentado agrave sociedade como o principal responsaacutevel pela manutenccedilatildeo de vida na Terra e natildeo o contraacuterio

21 CRIANCcedilAS ENTRE MIacuteDIAS E REPRESENTACcedilOtildeES AMBIENTAIS

A miacutedia se apresenta como um processo institucionalizado onde diferen-tes grupos interagem e se confrontam a fim de alcanccedilar um ponto comum de interesse Deste modo o objetivo central da mensagem natildeo eacute transmissatildeo da informaccedilatildeo para o consumidor mas da relaccedilatildeo particular estabelecida pelo su-jeito e os produtos reproduzidos pela miacutedia Assim o receptor da mensagem natildeo eacute passivo ele busca participar da produccedilatildeo de sentidos no centro de uma loacutegica a fim de construir significados (positivos ou negativos) (DUARTE LEITE MIGLIORA 2006)

O alcance da miacutedia em relaccedilatildeo agraves questotildees ambientais tem abrangido vaacute-rios ramos da induacutestria e puacuteblicos de faixas etaacuterias variadas transformando a informaccedilatildeo em produto para consumo Os desenhos animados satildeo prova dis-so desempenhando uma funccedilatildeo de grande representatividade para o puacuteblico infantil O puacuteblico que os acessa tem a possibilidade de selecionar aquilo que

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lhes agrada e identificar quais atitudes satildeo capazes de sensibilizar seu compor-tamento e sua opiniatildeo

Fischer (1997) comenta que a miacutedia atua na construccedilatildeo da subjetividade dos indiviacuteduos ao ponto em que reproduz imagens siacutembolos e saberes que de algum modo vatildeo de encontro agrave educaccedilatildeo das pessoas Nesse cenaacuterio a tevecirc exerce significativa influecircncia na vida dos indiviacuteduos seja em busca de entre-tenimento ou mesmo para mantecirc-los atualizados sobre os acontecimentos do mundo Para Almeida (1994) a crianccedila se relaciona com a televisatildeo da mesma maneira com que se relaciona com as atividades cotidianas

A tevecirc possui uma participaccedilatildeo enfaacutetica na construccedilatildeo de opiniatildeo do indi-viacuteduo pois esta se constitui como parte dos complexos processos de produccedilatildeo de sensaccedilotildees aos quais se coadunam com os modos de se relacionar com a so-ciedade Ao representar uma simbologia de enigmas infantis (FISCHER 1997) a crianccedila (re)interpreta a mensagem televisiva (re)recria incorpora o que ouve e vecirc de forma criativa extraindo aquilo que eacute do seu interesse Partindo desse pressuposto Martin-Barbero (2001 p 20) reitera que

A construccedilatildeo desse olhar [baseia-se] nos estudos sobre a infacircncia que considera a crianccedila um ator social sujeito de direitos com capacidade e voz para influenciar seu proacuteprio destino quanto nos estudos latino-americanos sobre a recepccedilatildeo os quais colocando a presenccedila dos mediadores socioculturais na relaccedilatildeo entre sujeito e meios de comunicaccedilatildeo ldquointroduzem novos sentidos do social e novos lsquousos sociaisrsquo dos meios

Os desenhos animados podem ser qualificados de acordo com seus atri-butos argumentativos onde se categorizam como desenhos de ficccedilatildeo cientiacute-fica desenhos de contos infantis claacutessicas desenhos de humor e desenhos de histoacuterias reais que levam em conta as mudanccedilas sociais (BACCEGA 2000) Os programadores de miacutedia infantil estatildeo sempre atentos agraves mudanccedilas ocorridas na sociedade buscando inserir nos desenhos informaccedilotildees novas e atualizadas

Os desenhos animados representam em sua grande maioria accedilotildees do tipo super-homemvitorioso bondosomalvado mutaccedilatildeo violaccedilatildeo da ordem imortalidade transposiccedilatildeo temporal fantasiaterror aventura accedilatildeo vitoacuteria egocentrismo (PACHECO 1998) Assim estes desenhos compotildeem narrativas simboacutelicas que podem ser consideradas como fatores importantes para o de-

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senvolvimento da crianccedila e da construccedilatildeo da sua autonomia frente aos assun-tos que julgar relevantes

Para Silva Junior e Trevisol (2009) os desenhos animados satildeo capazes de representar uma variedade de estiacutemulos auditivos visuais e reflexivos sobre contextos variados Fischer (1997) reitera que a anaacutelise que a crianccedila consegue fazer dos desenhos animados a torna capaz de ampliar sua compreensatildeo sobre o tema abordado Obter um olhar criacutetico frente agrave televisatildeo aumenta as possibi-lidades de ir aleacutem do que eacute simbolicamente representado

A difusatildeo eletrocircnica de informaccedilotildees no formato imagem-som sugere uma maneira diferente de inteligibilidade e conhecimento como se o ser humano estivesse apto a despertar de algo estaacutetico no subconsciente natildeo soacute pela com-preensatildeo foneacutetica-silaacutebica da liacutengua mas tambeacutem pelas imagens e sons pre-sentes na televisatildeo (ALMEIDA 1994)

Os desenhos animados tambeacutem possuem uma significativa dimensatildeo edu-cativa principalmente se for levado em consideraccedilatildeo os valores que lhe satildeo atri-buiacutedos e construiacutedos quando a crianccedila interage com os elementos televisivos Poreacutem essa compreensatildeo natildeo pode se confundida com um tipo de pedagogia direcional onde as animaccedilotildees transmitidas satildeo rotuladas como modelos de comportamento que facilmente influenciariam as crianccedilas (BENJAMIN 1984)

Neste sentido eacute possiacutevel identificar que os desenhos animados tecircm a capa-cidade de atuar numa perspectiva discursiva sobre aspectos representativos do real Analisando a linguagem televisiva Rocco (1999) propotildee que ao se traba-lhar com a ludicidade no contexto das animaccedilotildees questione-se as imagens as cenas e accedilotildees representadas nas animaccedilotildees

A escola tambeacutem possui um papel importante no processo de construccedilatildeo da sensibilizaccedilatildeo ambiental A maneira como os desenhos satildeo apresentados agraves crianccedilas e a maneira como os educadores estimulam agrave aprendizagem con-tribui para formaccedilatildeo de opiniotildees a partir dos elementos expostos Compreen-dendo os significados ilustrados nas imagens transmitidas pela tevecirc a crianccedila torna-se capaz de ultrapassar os limites da ingenuidade e avanccedilar para a cons-truccedilatildeo da consciecircncia criacutetica

Eacute importante que a escola inclua a utilizaccedilatildeo de desenhos animados no planejamento escolar Desse modo a escola seraacute capaz de fazer a crianccedila com-preender onde e como identificar assuntos referentes ao meio ambiente nos desenhos animados como sustentabilidade conservaccedilatildeo cidadania descarte do lixo que a proacutepria crianccedila produz dentre outros Ao analisar a presenccedila dos

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desenhos animados no cotidiano das crianccedilas os Paracircmetros Curriculares Na-cionais (PCNrsquos) mencionam que

A programaccedilatildeo convencional de televisatildeo que em princiacutepio natildeo tem

finalidade educativa pode ser utilizada como fonte de informaccedilatildeo

para problematizar os conteuacutedos das aacutereas do curriacuteculo por meio de

situaccedilotildees em que o veiacuteculo pode ser um instrumento que permite

observar identificar comparar analisar e relacionar acontecimentos

dados cenaacuterios modos de vida etc Por exemplo eacute possiacutevel propor

estudos comparativos de personagens e ambientes de novelas de-

senhos seriados [] Propostas desse tipo favorecem o desenvolvi-

mento de habilidades relacionadas agrave linguagem oral e escrita e de

uma atitude mais criacutetica diante da televisatildeo como veiacuteculo de infor-

maccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (BRASIL 1998 p 143)

O educador deve gerenciar com responsabilidade o processo de apro-ximaccedilatildeo de realidades dos alunos ndash realidade escolar e realidade cotidiana ndash ressignificando conteuacutedos que satildeo de sua competecircncia mediante uma reorientaccedilatildeo curricular que leve em conta o conhecimento construiacutedo no dia-a-dia do aluno Contudo ldquo[] levar em conta natildeo significa aceitar essa realidade mas dela partir partir do universo do aluno para que ele consiga compreendecirc-lo e modificaacute-lordquo (CORTELLA 2004 p16) Se eacute possiacutevel pensar numa escola na qual a cultura audiovisiva seja uma constante o professor precisa estar preparado e disposto a manusear da melhor maneira possiacutevel os instrumentos midiaacuteticos (PRETTO 1996)

Desse modo os desenhos animados podem ser apresentados como um instrumento capaz de contribuir para a construccedilatildeo de conhecimento pois sen-do a crianccedila um sujeito que transforma o meio por intermeacutedio das interaccedilotildees cotidianas esta tambeacutem eacute capaz de interpretar reinterpretar reinventar e dar novos significados agravequilo que ouve e vecirc (COULON 1995)

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

A pesquisa foi realizada no municiacutepio de LagartoSergipe A escola selecio-nada para a aplicaccedilatildeo das entrevistas foi o Coleacutegio Municipal Frei Cristoacutevatildeo de Santo Hilaacuterio (Figura 1)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 105

Figura 1 Localizaccedilatildeo Geograacutefica do Coleacutegio Municipal Frei Cristoacutevatildeo de Santo Hilaacuterio

Fonte Atlas Digital Sobre Recursos Hiacutedricos do Estado de SergipeSEPLANSRH (2014)

Para a construccedilatildeo da pesquisa realizou-se 5 visitas teacutecnicas agrave escola selecio-nada Durante estas visitas foi possiacutevel conversar com as crianccedilas acerca dos seus desenhos animados preferidos e identificar em quais destes desenhos elas visualizavam alguma relaccedilatildeo com o meio ambiente Foram entrevistadas 61 crianccedilas distribuiacutedas entre as faixas etaacuterias de seis sete e oito anos do sexo feminino e masculino no turno vespertino

A base teoacuterica metodoloacutegica da pesquisa foi a Etnometodologia Fonseca (2002 p 36) considera que a pesquisa Etnometodoloacutegica

[] visa compreender como as pessoas constroem ou reconstroem a

sua realidade social [] A conduta humana eacute o resultado da interaccedilatildeo

social que se produz continuamente atraveacutes da sua praacutetica quotidia-

na Os seres humanos satildeo capazes de ativamente definir e articular

procedimentos de acordo com as circunstacircncias e as situaccedilotildees so-

ciais em que estatildeo implicados

Deste modo a pesquisa de caraacuteter Etnometodoloacutegico exige do pesquisador uma interaccedilatildeo intensa frente ao puacuteblico investigado eacute preciso atuar diretamen-

106 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

te no ambiente onde as realidades acontecem se transformam e vatildeo ganhado sentido logo o pesquisador precisa ser testemunha daquilo que deseja anali-sar (FONSECA 2002)

A pesquisa contou com o auxiacutelio teacutecnico da observaccedilatildeo participante Gerhardt e Silveira (2009 p 75) apontam que

[] a observaccedilatildeo participante permite captar uma variedade de si-

tuaccedilotildees [] que natildeo satildeo obtidas por meio de perguntas Os fenocircme-

nos satildeo observados diretamente na proacutepria realidade A observaccedilatildeo

participante apreende o que haacute de mais imponderaacutevel e evasivo na

vida real

As entrevistas semiestruturadas e as gravaccedilotildees em aacuteudio contribuiacuteram para aumentar a riqueza de detalhes durante as entrevistas Os aspectos eacuteticos e confidenciais foram respeitados na medida em que foi disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

4 DESENHOS ANIMADOS E O MEIO AMBIENTE O DESENROLAR DAS CONDUTAS PROacute-AMBIENTAIS

Durante a disseminaccedilatildeo de grandes eventos ambientais a exemplo da Rio +20 ocorrido no Brasil em 2012 assuntos como consciecircncia ambiental susten-tabilidade desenvolvimento sustentaacutevel conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo ambiental comeccedilaram a fazer parte do cotidiano das pessoas por intermeacutedio da induacutestria cultural e dos meios de comunicaccedilatildeo de massa ldquoNa primeira metade do seacuteculo XX a natureza era cenaacuterio para os desenhos Hoje eles refletem as complexas relaccedilotildees do homem com o meio ambienterdquo (PARDINI 2008 p22)

Essa complexidade das relaccedilotildees sociedadenatureza reflete a mundializaccedilatildeo do capital e perpassa pelos sistemas de produccedilatildeo (FONTES 2016) implicando em um desafio para os diversos setores da sociedade quanto agraves formas de en-quadramento e enfrentamento dos problemas socioambientais na busca por um desenvolvimento sustentaacutevel Moura ressalva que ldquo[] a sustentabilidade do desenvolvimento soacute ocorreraacute se houver estabilidade do processo (industrial ou urbano) e reduccedilatildeo das atividades agressorasrdquo (MOURA 2012 p 24)

Criar uma relaccedilatildeo harmoniosa entre o meio ambiente e a sociedade tem sido uma preocupaccedilatildeo recorrente entre pesquisadores e entidades envolvidas com a temaacutetica fazendo-se necessaacuterio a mobilizaccedilatildeo dos meios de comunica-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 107

ccedilatildeo a fim de alertar agrave populaccedilatildeo sobre a real situaccedilatildeo socioambiental A comu-nicaccedilatildeo ambiental estimula um processo em que a ldquo[] participaccedilatildeo social eacute fundamental para o sucesso do monitoramento e gerenciamento dos recursos [naturais] pois quando a sociedade tem consciecircncia da importacircncia da conser-vaccedilatildeo do meio ambiente o gerenciamento eacute facilitadordquo (RODRIGUES MALA-FAIA CASTRO 2008 p 145)

Deste modo os desenhos animados acoplados de cores ilustraccedilotildees sons e imagens dinacircmicas tecircm inserido em seus episoacutedios temaacuteticas relacionadas agrave conservaccedilatildeo ambiental a exemplo da reciclagem de lixo do efeito estufa da energia limpa da conservaccedilatildeo da fauna e da flora e da gestatildeo racional dos re-cursos hiacutedricos objetivando inserir o puacuteblico infantil nessas discussotildees Sendo assim ldquo[] a experiecircncia da infacircncia hoje se situa no contexto da cultura mi-diaacutetica de alcance global povoada por imagens sons signos e sentidos []rdquo (ODININO 2015 p 890) Logo os desenhos animados que abrangem a temaacute-tica ambiental tecircm se tornado sucesso de puacuteblico e audiecircncia marcados pela visibilidade global representando um faturamento exponencial de milhotildees no mundo inteiro

Rocha (1999) enfatiza que as relaccedilotildees desenvolvidas pelas crianccedilas podem ser analisadas a partir das ciecircncias sociais que tem por objetivo enaltecer as vivecircncias dessa fase pela via do luacutedico da ideia da criaccedilatildeo da valorizaccedilatildeo de seus saberes e de suas produccedilotildees As crianccedilas em idade escolar apresentam um comportamento proacute-social mais incisivo satildeo mais empaacuteticas e conseguem se relacionar de maneira mais decisiva frente a distintas situaccedilotildees e problemas (EISENBERG FABES E MURPHY 1996)

Deste modo a crianccedila eacute reconhecida como indiviacuteduo singular e uacutenico capaz de produzir sua cultura individual e coletivamente neste sentido as interaccedilotildees sociais estabelecidas pela crianccedila refletem seu modo de pensar agir e se com-portar nos espaccedilos que desenvolvem suas atividades cotidianas (MIRANDA 2009)

Foram entrevistadas 61 crianccedilas que responderam perguntas abertas e fe-chadas guiadas por um roteiro de entrevistas semiestruturado Nesta etapa da anaacutelise todas as informaccedilotildees foram levadas em consideraccedilatildeo anaacutelise de texto falado e escrito observaccedilatildeo direta da realidade e do comportamento evidente a partir da observaccedilatildeo participante (MOREIRA 2004)

Dos 61 indiviacuteduos entrevistados 18 corresponderam ao grupo de 6 anos de idade 25 ao grupo de 7 anos e 18 ao grupo de 8 anos (Graacutefico 1)

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Graacutefico 1 Percentual de indiviacuteduos por faixa etaacuteria

Fonte Os autores 2016

No que diz respeito ao grau de escolaridade os dados coletados evidencia-ram que 41 dos entrevistados compreenderam o grupo de alunos matricula-dos no 1ordm ano fundamental 27 ao 2ordm ano e 32 ao 3ordm ano (Graacutefico 2)

Graacutefico 2 Percentual de indiviacuteduos por niacutevel de escolaridade

Fonte Os autores 2016

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 109

5 A INFLUEcircNCIA DOS DESENHOS ANIMADOS INFANTIS NO PRO-CESSO DE SENSIBILIZACcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL

O ambiente escolar se apresenta como espaccedilo propiacutecio para discussatildeo de conteuacutedos diversos Neste espaccedilo elementos que envolvem cultura interaccedilatildeo social e meios de comunicaccedilatildeo tem se apresentado como temaacutetica recorren-te Nesta atmosfera de interaccedilatildeo coletiva as crianccedilas satildeo instigadas a imprimir suas identidades e interagir com realidades divergentes Soma-se a isso o papel exercido pela cultura midiaacutetica que tem delineado o surgimento de novas iden-tidades culturais

A televisatildeo se apresenta como um meio de comunicaccedilatildeo popular perten-cente ao dia a dia das crianccedilas Logo a crianccedila comeccedila a ser vista natildeo somente como telespectador passivo mas tambeacutem como um consumidor Desta manei-ra percebe-se que ldquo[As crianccedilas] esperam mais do que assistir aos conteuacutedos gerados pelos canais elas querem intervir nos programas e na programaccedilatildeo do seu canal favoritordquo (SHIMABUKURO 2009 p149)

Durante as entrevistas as crianccedilas puderam mencionar em quais desenhos animados assistidos era possiacutevel visualizar accedilotildees que comtemplassem a temaacuteti-ca ambiental ou algum elemento presente na natureza (ser humano aacutegua ve-getaccedilatildeo relevo bem como accedilotildees relacionadas agrave sustentabilidade preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental)

De acordo com as crianccedilas os desenhos que mais representaram elemen-tos e accedilotildees ambientais foram Princesinha Sophia Bob Esponja Peixonalta Os jovens Titatildes em Accedilatildeo Pepa Pig Marshal e o Urso Doutora Brinquedos e Barbie (Tabela 1)

Tabela 1 Recorrecircncia de desenhos que se relacionam com o meio ambiente

Desenhos CanalBarbie SBT (Bom dia e Cia)

Bob Esponja SBT (Saacutebado Animado)Dora Aventureira Tv Cultura

Doutora Brinquedos SBT (Mundo Disney) e TV CulturaMarshal e o Urso SBT (Carrossel Animado)

Os Jovens Titatildes em Accedilatildeo SBT (Bom dia e Cia)Peixonalta SBT e Tv CulturaPepa Pig TV Cultura

Princesinha Sophia SBT (Mundo Disney)Fonte Os autores 2016

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As crianccedilas tiveram a oportunidade de expressar caracteriacutesticas de seus de-senhos favoritos e mencionar em quais atitudes protagonizadas pelos persona-gens havia relaccedilatildeo com a temaacutetica ambiental

E1 (menina ndash 6 anos) ldquo[Marshal e o urso] ele eacute assim tambeacutem da na-

tureza Marshal vai fazer as compras e satildeo os matos ela vecirc os peixes

Ela fica cheirando agraves vezes ela cai por cima de repente [das flores]rdquo

E2 (menina ndash 6 anos) ldquo[Princesinha Sofia] ela tem um coelho ela plan-

ta tambeacutem Eu gosto da natureza porque tem passarinhordquo

E3 (menino ndash 7 anos) ldquo[Peixonalta] eacute um peixe que tem um negoacutecio

que pode respirar debaixo drsquoaacutegua mas pode respirar fora que ele

tem uma armadurinha que ele pode voar tambeacutem pra ajudar trecircs

amigos que eacute uma menina e um menino que ajudam a natureza as

aacutervores [] os animais os rios que tatildeo os peixes abandonados os fi-

lhotes dos animaisrdquo

E4 (menina ndash 7 anos) ldquoEla [Doutora brinquedos] cuida dos brinquedos

e tem laacute as florestas [] ela vai pros rios ela jaacute cuidou de uma flor laacuterdquo

E5 (menina ndash 8 anos) ldquoPeixonalta [] eacute um peixe que ele tem uma amiga

e um amiguinho aiacute o avocirc dela eacute bem experiente assim aiacute ele ensina

umas coisas a eles [] ensina coisa assim mesmo da natureza aiacute ela faz

coisa pra ajudar a natureza tipo o jardim quando comeccedilou a poluir e

ai ela fez essas coisas assim pra parar ela fez campanha essas coisasrdquo

As crianccedilas tambeacutem mencionaram atitudes dos personagens que se asse-melhavam agraves atividades desenvolvidas em seu cotidiano

E6 (menina ndash 6 anos) ldquoO Ursinho Puff cuida das plantas eles molham

as plantas e nadam nos rios Eu aprendi tambeacutem a molhar as plantas

de mainha todo dia de manhatilderdquo

E7 (menina ndash 8 anos) ldquoDoutora brinquedos ela cuida dos brinquedos

e cuida da natureza tambeacutem Ela conserta os brinquedos que que-

bram e na natureza ela rega as flores o pai dela ajuda ela a cortar as

flores eu tambeacutem ajudo meu pairdquo

E8 (menina ndash 6 anos) ldquo[] A Dora ela ajuda a fazenda cuidando dos

animais Ela daacute aacutegua [as flores] eu tambeacutem aprendi isso com elardquo

E9 (menina ndash 6 anos) ldquoMarshal e o urso eacute um urso grande ele eacute mar-

rom e uma menina pequeninha Eles moram um uma casa na flores-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 111

ta Ela pega os bichinhos ele coloca aacutegua nas plantas Eacute importante

colocar aacutegua nas plantinhas porque elas crescemrdquo

E10 (menino ndash 7 anos) Ele [Peixonalta] eacute um desenho que eacute no am-

biente aquaacutetico que ele eacute um peixe que ajuda as pessoas [] ajuda as

pessoas a cuidar do ambiente [] e tem uma missatildeo pra cuidar da na-

tureza quando as pessoas acabam com a natureza no desmatamen-

to essas coisas ele salva entendeu Natildeo deixa as pessoas fazerem

isso essas coisas erradasrdquo

Por intermeacutedio das respostas observou-se que os desenhos animados se apresentaram como instrumentos eficazes no processo de ensino sobre a temaacute-tica ambiental Nos episoacutedios mencionados os desenhos resgataram atitudes praacuteticas nas quais as crianccedilas tecircm plena autonomia para executar natildeo apenas pelo fato de estar ldquoimitandordquo este ou aquele personagem mas pela real com-pressatildeo de que aquela realidade ldquovirtualrdquo pode ser aplicada por ela mesma na vida ldquorealrdquo dando-lhe possibilidade para transformar agrave proacutepria realidade

Por meio dos desenhos visualizados na tevecirc a crianccedila encontra possibilida-de de resolver conflitos vivenciar enigmas resolver problemas Deste modo as animaccedilotildees televisivas expressam em seus episoacutedios o cuidado com o ambiente atraveacutes de accedilotildees corriqueiras jaacute vivenciadas por seus telespectadores como ldquocuidar de uma hortardquo ldquonatildeo desperdiccedilar aacuteguardquo ldquocuidar dos animaisrdquo ldquonatildeo jogar lixo nas ruasrdquo estas narrativas norteadas por uma linguagem acessiacutevel direcio-nam a crianccedila a produzir e reproduzir tais accedilotildees ldquoO mergulho da crianccedila nesse mundo maacutegico [] natildeo eacute sentimental ou vago desemboca numa percepccedilatildeo precisa do cotidianordquo (BENJAMIN 1984 p15)

Neste sentido Baccega (2000) ressalta que a crianccedila eacute capaz de usar os meios de comunicaccedilatildeo como aliados no processo de construccedilatildeo de conhecimentos A televisatildeo por ser um instrumento inserido no cotidiano dos pequeninos eacute capaz de instigar desafiar e provocar a interaccedilatildeo criacutetica do puacuteblico infantil

Nos desenhos mencionados evidenciou-se que as narrativas infantis de-sempenharam papel significativo no processo de aprendizagem dos temas re-lacionados ao meio ambiente e na propagaccedilatildeo de condutas proacute-ambientais incentivando agraves crianccedilas a expressarem sua criticidade e opiniatildeo na execuccedilatildeo de praacuteticas ambientais ldquodentrordquo e ldquoforardquo da telinha

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6 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

As discussotildees de cunho ambiental tecircm se apresentado com significativa fre-quecircncia principalmente a partir do seacuteculo XX onde a emergecircncia dessa temaacute-tica comeccedila a ganhar forccedila em detrimento de um modelo de desenvolvimento baseado na exploraccedilatildeo desmedida dos recursos naturais Desse modo a preo-cupaccedilatildeo com o uso a conservaccedilatildeo e a preservaccedilatildeo destes recursos ganharam visibilidade em meio agrave industrial da informaccedilatildeo

O reconhecimento da crianccedila como ator socialmente ativo no processo de produccedilatildeo e construccedilatildeo de sentido tem reorientado os produtores televisuais que tecircm se desdobrado para chamar a atenccedilatildeo desse puacuteblico tatildeo versaacutetil e exi-gente (BUCKINGHAM 2012) Ao apropriar-se desse cenaacuterio a induacutestria infor-macional amplia seu campo de atuaccedilatildeo e inseri a crianccedila no centro dos debates ambientais seja por meio dos produtos ecoloacutegicos ou dos proacuteprios desenhos animados infantis

As animaccedilotildees mencionadas pelas crianccedilas evidenciaram o comprometi-mento com valores ambientais como consciecircncia ecoloacutegica sustentabilidade conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo ambiental desse modo observa-se que resgatar as discussotildees ambientais nos desenhos animados torna-se uma estrateacutegia rele-vante no processo de sensibilizaccedilatildeo socioambiental em crianccedilas do ciclo baacutesico

Neste sentido as crianccedilas demonstraram que interagem com os desenhos animados infantis natildeo apenas como consumidores despretensiosos e aliena-dos mas como consumidores dinacircmicos e astutos A satisfaccedilatildeo da pesquisa pelos desenhos animados revelou que aleacutem de se identificarem com os per-sonagens que agem em defesa eou cuidado com meio ambiente as crianccedilas tambeacutem percebem que as situaccedilotildees exibidas nos episoacutedios podem se apresen-tar em seu cotidiano e que elas mesmas podem transformar seu ambiente de interaccedilatildeo social

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de De-senvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico ndash Brasil (CNPq) ndash Coacutedigo de financia-mento 001

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 113

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O PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA EM SERGIPE E A RELACcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL COM OS MORADORES DOS POVOADOS DO ENTORNO

Igor Azevedo SouzaGiceacutelia Mendes da SilvaMaria Joseacute Nascimento SoaresDaniela Teodoro Sampaio

No Brasil a Lei nordm 9985 de 18 de julho de 2000 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) regulamentou o artigo 225 paraacutegrafo 1ordm incisos I II III e VII da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 bem como estabeleceu cri-teacuterios e normas para a criaccedilatildeo implementaccedilatildeo e gestatildeo das unidades de con-servaccedilatildeo (UCs) (BRASIL 2000) De acordo com Bensusan (2006) as UCs satildeo as aacutereas naturais protegidas de maior representatividade no Brasil e vecircm sendo cenaacuterio dos mais diversos tipos de estudos socioambientais

O SNUC divide-se em duas grandes categorias que buscam atender a diferen-tes estrateacutegias de gestatildeo Dentre elas a de proteccedilatildeo integral que abrange cinco tipos mais restritivos quanto ao uso dos recursos naturais e tecircm por objetivo pre-servar os ecossistemas naturais desenvolver pesquisas promover atividades de educaccedilatildeo ambiental e a depender da categoria como a dos parques nacionais objetiva ainda proporcionar lazer e recreaccedilatildeo junto a natureza (BRASIL 2000)

Os parques nacionais foram vistos no passado como ilhas de conservaccedilatildeo poreacutem ao longo das uacuteltimas deacutecadas estudos vecircm demonstrando que essas aacutereas na maioria das vezes natildeo satildeo totalmente isoladas e possuem comunida-des rurais que habitam o seu interior ou seu entorno e dependem dos recursos naturais ali existentes (BUTA HOLLAND KAPLANIDOU 2014) Estas unidades de conservaccedilatildeo tecircm se manifestado como espaccedilos importantes para se obter in-formaccedilotildees acerca do contexto sociocultural e quanto agrave interaccedilatildeo sociedade-na-tureza mas tambeacutem para compreender os desafios (PIMENTEL MAGRO SILVA FILHO 2011) voltados para o planejamento estrateacutegico e de gestatildeo (DrsquoOLIVEI-RA BURSZTYN BADIN 2002 BRAGAGNOLO et al 2016)

No estado de Sergipe localizado na regiatildeo Nordeste do Brasil o Parque Na-cional Serra de Itabaiana (PARNASI) eacute a maior e mais representativa UC de gran-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 117

de importacircncia para a regiatildeo pois protege a biodiversidade os ecossistemas naturais de zona de transiccedilatildeo de Mata Atlacircntica e Caatinga com suas belezas cecircnicas das montanhas e os recursos hiacutedricos que abastecem diversos municiacute-pios da regiatildeo inclusive a capital Aracaju (ICMBio 2016)

O PARNASI foi criado no ano de 2005 por meio das inuacutemeras manifesta-ccedilotildees favoraacuteveis para a preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais da regiatildeo (SANTOS 2007) Contudo a presenccedila de povoados e municiacutepios em suas proximidades mesmo anterior a sua criaccedilatildeo e a relaccedilatildeo de dependecircn-cia dos moradores com os recursos naturais ali existentes para sobrevivecircncia econocircmica e cultural vem sendo motivo de diversos conflitos com o parque e sua gestatildeo

Em 2016 foi publicado seu primeiro plano de manejo e nele foram estabe-lecidos cinco alvos de conservaccedilatildeo - recursos hiacutedricos aacutereas herbaacuteceo-arbusti-vas florestas flora lenhosa madeireira e ornamental e espeacutecies caccediladas - que representam a base para o planejamento das estrateacutegias e as futuras accedilotildees de conservaccedilatildeo do parque Este documento foi elaborado a partir da construccedilatildeo coletiva entre o ICMBio Instituiccedilotildees de Ensino Superior da regiatildeo entidades governamentais e natildeo governamentais e os cidadatildeos que se dispuseram a par-ticipar do processo sendo na grande maioria servidores do ICMBio e de outras instituiccedilotildees ambientais natildeo havendo entretanto a participaccedilatildeo efetiva dos moradores dos povoados do entorno do parque (GONCcedilALVES FERNANDES FRITZEN 2014)

Entretanto estudos demonstram que o conhecimento sobre a relaccedilatildeo das populaccedilotildees locais com os recursos naturais e as UCs aleacutem de contribuir para com os planos de manejo (FUENTES 2013) eacute fundamental para a realizaccedilatildeo do manejo adequado e coerente com os objetivos do parque (ALMEIDA SIL-VA 2012 SOUZA NASCIMENTO ENNES 2015) Aleacutem disso gera subsiacutedio para fortalecer as estrateacutegias de conservaccedilatildeo da UC mediante programas de con-servaccedilatildeo que sejam voltados agraves mudanccedilas de comportamento da populaccedilatildeo prejudicais aos ecossistemas naturais (INFIELD NAMARA 2001) Vale destacar que a participaccedilatildeo nesse processo tambeacutem eacute importante para que essas po-pulaccedilotildees adquiriam valores socioambientais positivos e aumente o interesse sobre as questotildees ambientais de forma a serem incentivadas a participarem de forma ativa na sua conservaccedilatildeo (OTERO 2005)

Diante do exposto acima o objetivo deste estudo foi compreen-der a representatividade socioambiental do Parque Nacional Serra de Itabaiana localizado em Sergipe Brasil a partir da relaccedilatildeo dos moradores dos povoados

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do seu entorno com a sua gestatildeo e com os alvos de conservaccedilatildeo estabelecidos em seu plano de manejo

1 O PARQUE NACIONAL DA SERRA DE ITABAIANA E OS POVOA-DOS DO ENTORNO

O Parque Nacional Serra de Itabaiana (PARNASI) (10deg42rsquo36rdquo e 10deg50rsquo16rdquo S e 37deg16rsquo42rdquo e 37deg25rsquo14rdquo O) eacute uma unidade de conservaccedilatildeo federal de proteccedilatildeo in-tegral com 799060 ha Estaacute inserido no agreste do estado de Sergipe zona de transiccedilatildeo entre os Biomas Mata Atlacircntica e Caatinga distante 38 km da capital Aracaju Eacute composto por um complexo de trecircs serras (de Itabaiana Comprida e do Cajueiro) e sua aacuterea abrange cinco municiacutepios Areia Branca Itabaiana Laranjei-ras Itaporanga Drsquoajuda e Campo do Brito (ICMBio 2016)

De acordo com o plano de manejo do PARNASI existem 21 povoados no seu entorno (Caroba Cajueiro Ribeiras Boqueiratildeo Mangueira Cajaiacuteba Serra Comprida Mangabeira Canjinha Junco Satildeo Joseacute Areias Auto dos Ventos Rio das Pedras Gandu Serra Bom Jardim Barro Preto Chico Gomes Pedrinhas e Sarafina) pertencentes aos municiacutepios de Itabaiana Areia Branca e Malhador (ICMBio 2016) (Figura 1)

Figura 1 - Parque Nacional Serra de Itabaiana localizado em Sergipe Brasil com mapeamento dos 21 povoados do entorno que constam em seu plano de manejo

Fonte Frederico Machado Teixeira 2018

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 119

O presente estudo foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica (CEP) da Universi-dade Federal de Sergipe (UFS) pelo parecer nordm 2771622 e Certificado de Apresentaccedilatildeo para a Apreciaccedilatildeo Eacutetica (CAAE) nordm 91972418100005546 e as informaccedilotildees obtidas foram condicionadas ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelo pesquisador autor deste estudo e pelos entrevistados conforme recomenda a Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012 (CNS 2012)

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi utilizada a metodologia baseada em Pesquisa Socioambiental para Padronizar Estudos sobre Atitudes em comuni-dades Adjacentes agrave Unidades de Conservaccedilatildeo de Proteccedilatildeo Integral especifica-mente Parque Nacional no Brasil que consiste em trecircs etapas 1) elaboraccedilatildeo de questionaacuterio para estudo das atitudes focado na pesquisa socioambiental para ser aplicado em comunidades localizadas no entorno de unidades de conser-vaccedilatildeo 2) desenvolvimento de um protocolo de aplicaccedilatildeo do questionaacuterio e 3) aplicaccedilatildeo do questionaacuterio nas comunidades do entorno da UC (BRAGAGNOLO et al 2016)

Foi utilizada a escala de Likert aplicada na aacuterea das pesquisas comporta-mentais (SILVA JUacuteNIOR COSTA 2014) que objetiva mensurar o grau e a inten-sidade de uma variaacutevel (fenocircmenoeventocomportamento) referentes a con-cordacircnciadiscordacircncia de afirmaccedilotildees (ARAUJO SOUZA OLIVEIRA 2009) No presente estudo a escala de Likert foi construiacuteda de acordo com afirmaccedilotildees relacionadas aos alvos de conservaccedilatildeo do PARNASI - recursos hiacutedricos aacutereas herbaacuteceo-arbustivas florestas flora lenhosa madeireira e ornamental e espeacute-cies caccediladas - aplicada com cinco niacuteveis de satisfaccedilatildeo (Discordo Totalmente Discordo Parcialmente Indiferente Concordo Parcialmente Concordo Total-mente) de acordo com Silva Juacutenior e Costa (2014) De acordo com Likert (1932) a escala foi baseada no caacutelculo da meacutedia das repostas de cada entrevistado a partir da combinaccedilatildeo de suas pontuaccedilotildees gerando um grau para as respostas obtido a partir da meacutedia da pontuaccedilatildeo (M) para cada afirmaccedilatildeo da escala A partir de entatildeo gerou-se resultados interpretados da seguinte maneira M lt 3 = Discordacircncia M 3 a 4 = Indiferente e M gt 4 = Concordacircncia

De maio a agosto de 2018 foram aplicados questionaacuterios a um total de 706 moradores residentes em 20 povoados (Caroba Cajueiro Ribeiras Boqueiratildeo Mangueira Cajaiacuteba Serra Comprida Mangabeira Canjinha Junco Satildeo Joseacute Areias Auto dos Ventos Rio das Pedras Gandu Serra Bom Jardim Barro Preto Chico Gomes e Pedrinhas) do entorno do Parque Nacional Serra de Itabaiana em Sergipe que nos forneceram o seguinte cenaacuterio analisado

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2 CONHECIMENTO DOS MORADORES QUANTO AO PARQUE NA-CIONAL SERRA DE ITABAIANA E Agrave SUA GESTAtildeO

Nossos resultados indicaram que em relaccedilatildeo ao conhecimento dos morado-res sobre o PARNASI e sua gestatildeo 9023 (n=637) dos entrevistados jaacute ouviram falar sobre a UC No entanto mais da metade dos entrevistados 5411 (n=382) afirmaram nunca terem ido ao parque e dentre os que jaacute o visitaram apenas 283 (n=20) disseram tecirc-lo visitado nos uacuteltimos trecircs meses (Figura 2)

Figura 2 - Frequecircncia de visitas dos entrevistados ao Parque Nacional Serra de Itabaiana Sergipe (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

Souza Nascimento e Ennes (2015) identificaram que mais da metade dos entrevistados de quatro povoados (Rio das Pedras Bula Cinza Serra e Ribeira) do entorno do PARNASI natildeo souberam responder o que eacute um parque nacional e apenas um terccedilo responderam ter conhecimento sobre a existecircncia de algum parque na regiatildeo mas destacaram o Parque dos Falcotildees uma propriedade pri-vada localizada proacutexima aos limites do PARNASI

O Parque dos Falcotildees eacute bastante visitado por turistas nacionais estrangeiros e por escolas da regiatildeo pois eacute um importante centro de criaccedilatildeo multiplicaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das aves de rapina da Ameacuterica do Sul o que o torna atrativo para quem visita o estado de Sergipe (COSTA 2014) Aleacutem disso eacute divulgado em paacute-ginas de internet e em miacutedias locais e diante de sua importacircncia turiacutestica e sua proximidade com o PARNASI eacute provaacutevel que boa parte dos moradores locais natildeo saiba distingui-los reconhecendo ambos como um uacutenico parque

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 121

Do ponto de vista da importacircncia das unidades de conservaccedilatildeo eacute preo-cupante a falta de reconhecimento e clareza quanto ao papel do PARNASI enquanto espaccedilo puacuteblico protegido na regiatildeo e podemos inferir que a falta de participaccedilatildeo dos moradores do entorno no processo de gestatildeo da UC especialmente devido agrave inexistecircncia ateacute o momento do conselho gestor e da quase ausecircncia de moradores locais na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo do plano de manejo contribuam para que os moradores mostrem-se desinteressados pela UC

Eacute importante considerar que possa existir uma falta de clareza quanto aos limites do parque por parte dos moradores pois embora grande parte dos entrevistados tenham afirmado nunca terem visitado o parque eacute plausiacutevel que utilizem algumas de suas aacutereas sem no entanto terem conhecimento de que estejam dentro de seus limites devido agrave falta de sinalizaccedilatildeo situaccedilatildeo tambeacutem identificada por Ennes (2010) que indicou que a maioria dos moradores de po-voados faziam uso da Serra de Itabaiana natildeo soacute para lazer mas para caccedilar reti-rar lenha dentre outros mas natildeo sabiam identificar que tal aacuterea estava dentro dos limites da unidade de conservaccedilatildeo

Santos (2015) identificou a carecircncia de informaccedilotildees referentes agrave realidade socioambiental advinda da criaccedilatildeo da UC o desconhecimento sobre o signifi-cado de uma UC sua finalidade e aspectos legais por parte dos moradores do entorno do PARNASI reforccedilando a importacircncia de accedilotildees contiacutenuas de educa-ccedilatildeo ambiental Diante esse aspecto eacute vaacutelido destacar a Estrateacutegia Nacional de Comunicaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Ambiental (ENCEA) e fomentar seu fortalecimento no processo de gestatildeo do PARNASI visando assegurar a execuccedilatildeo de poliacuteticas puacute-blicas programas e atividades de Educaccedilatildeo Ambiental e Comunicaccedilatildeo voltados ao (re)conhecimento valorizaccedilatildeo criaccedilatildeo implementaccedilatildeo gestatildeo e defesa das UCs por todos e para todos (MMA 2009)

Com relaccedilatildeo ao baixo nuacutemero de moradores que afirmaram no presente estudo terem visitado o PARNASI nos uacuteltimos trecircs meses a explicaccedilatildeo a ser con-siderada seria os casos de furtos e violecircncia que vem ocorrendo no seu interior visto por ICMBio (2016) como um fator que estaacute desestimulando e diminuin-do gradativamente o nuacutemero de visitaccedilotildees haacute alguns anos pelo menos desde 2009 Tais crimes podem estar relacionados agraves questotildees socioeconocircmicas dos povoados do entorno do PARNASI inseridos em um cenaacuterio com falta de opor-tunidades de trabalho e renda sendo necessaacuterio o incentivo de parcerias e pro-jetos com o poder puacuteblico (prefeituras governo estadual escolas e universida-des) privado e do terceiro setor (associaccedilotildees organizaccedilatildeo natildeo governamental

122 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

e empresas de turismo) no sentido de criar alternativas de geraccedilatildeo de renda e cidadania (RODRIGUES REIS 2016)

Os moradores de povoados do entorno do PARNASI tecircm como principais motivaccedilotildees para visita-lo os banhos em cachoeiras riachos e poccedilos drsquoaacutegua (n=182) caminhadas (n=120) e passeio com a escola (n=56) as demais estatildeo descritas na Tabela 1 sendo que mais de uma motivaccedilatildeo foi mencionada por alguns dos entrevistados Tomar banho seguido de caminhar foram tambeacutem as principais motivaccedilotildees encontradas por Oliveira et al (2009) em estudo sobre o planejamento de trilhas para o uso puacuteblico no PARNASI como principais ativi-dades de recreaccedilatildeo de 500 visitantes entrevistados na UC

Tabela 1 Motivaccedilotildees para visitas ao Parque Nacional Serra de Itabaiana Sergipe mencionadas pelos entrevistados que jaacute o visitaram

Motivaccedilotildees de visita ao PARNASI Nuacutemero de vezes citadasTomar banho 182Caminhar 120Passeio da escola 56Subir a serra 14Passear 6Procissatildeo da igreja 5Lavar roupa 3Pegar planta para remeacutedio 3Pegar lenha 2Parque dos falcotildees 2Ver os animais 2Contemplar a natureza 2Apagar o fogo 1Pagar promessa 1Exercitar 1Andar de bicicleta 1Pregar a palavra de Deus 1Trabalhar na roccedila 1Comeacutercio 1Passar o dia 1Visitar 1Visitar parentes 1De passagem 1Consertar encanaccedilatildeo 1Trabalho voluntaacuterio 1Trabalho da Universidade 1Levar alunos 1

Fonte Dados da pesquisa

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 123

Quanto ao conhecimento dos entrevistados sobre o oacutergatildeo responsaacutevel pela gestatildeo do PARNASI 6303 (n=445) natildeo souberam informar qual oacutergatildeo administra a UC 2904 (n=205) disseram ser o IBAMA e apenas 496 (n=35) responderam ser o ICMBio (Figura 3) demonstrando mais uma vez a falta de conhecimento dos moradores quanto ao parque e a seu aspecto administrati-vo assim como a falta de interaccedilatildeo entre o parque e a populaccedilatildeo residente do seu entorno

Figura 3 - Conhecimento sobre o oacutergatildeo gestor do Parque Nacional Serra de Itabaiana Sergipe de acordo com os entrevistados (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

Santos (2015) aponta a necessidade de aproximar a gestatildeo do PARNASI com a populaccedilatildeo dos povoados do entorno e segundo Silva Cacircndido e Freire (2009) em estudo sobre conceitos percepccedilotildees e estrateacutegias para a conserva-ccedilatildeo de uma Estaccedilatildeo Ecoloacutegica na Caatinga eacute necessaacuterio que haja a interaccedilatildeo da gestatildeo da UC com os moradores do entorno promovendo confianccedila no trabalho realizado o que tambeacutem pode facilitar o desenvolvimento de estra-teacutegias de gestatildeo e a inclusatildeo dos moradores A mesma situaccedilatildeo foi encontrada por Pimentel (2008) no Parque Estatual da Serra da Tiririca no estado do Rio de Janeiro onde mais da metade da populaccedilatildeo residente no entorno afirmou desconhecer o oacutergatildeo responsaacutevel pela sua gestatildeo mas isso pode ser modifica-do a partir da viabilizaccedilatildeo de accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental criacutetica atraveacutes da sensibilizaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo social e divulgaccedilatildeo das caracteriacutesticas bioloacutegicas histoacutericas e sociais da unidade de conservaccedilatildeo

445

205

35 18 30

50100150200250300350400450500

Natildeo sabe IBAMA ICMBio ADEMA POLIacuteCIA

Nuacutem

ero

de e

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vist

ados

Conhecimento sobre o oacutergatildeo gestor

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Conhecimento dos moradores do entorno do Parque Nacional Serra de Ita-baiana quanto aos Alvos de Conservaccedilatildeo estabelecidos pelo plano de manejo da unidade de conservaccedilatildeo

Foram investigados a partir do tema prioritaacuterio para a conservaccedilatildeo ldquouso e exploraccedilatildeo dos recursos naturaisrdquo os alvos de conservaccedilatildeo recursos hiacutedricos florestas flora lenhosa madeireira e ornamental e espeacutecies caccediladas de acordo com os conhecimentos dos moradores do entorno do PARNASI visualizados na figura 4

Figura 4 - Conhecimento quanto ao uso e exploraccedilatildeo dos alvos de conservaccedilatildeo que constam no plano de manejo do Parque Nacional Serra de itabaiana Sergipe (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

RECURSOS HIacuteDRICOS Quanto ao uso da aacutegua 5694 (n=402) dos entrevistados Concordaram

Totalmente que o uso da aacutegua sem controle estaacute ldquoacabandordquo com as aacuteguas da regiatildeo e 2408 (n=170) Discordaram Totalmente A meacutedia gerada pela pon-tuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 370 indicando grau de Indiferenccedila entre as res-postas Quanto agrave seca dos rios e nascentes 6742 (n=476) dos entrevistados Concordaram Totalmente que as nascentes e os rios da regiatildeo estatildeo secando e 1232 (n=87) Discordaram Totalmente A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 417 indicando grau de Concordacircncia entre as repostas

A indiferenccedila quanto ao uso da aacutegua de forma descontrolada estar acaban-do com as aacuteguas da regiatildeo demonstra que os moradores natildeo percebem ou natildeo

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Diminuiccedilatildeo dos animais

Caccedila

Coleta de plantas medicinais

Coleta de plantas ornamentais

Coleta de madeira

Desmatamento

Seca dos rios e nascentes

Usos da aacutegua sem controle

IndiferenteDiscordo Totalmente 1 2 3 4 5 Concordo Totalmente

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 125

souberam informar o estado de sustentabilidade das aacuteguas locais poreacutem em conversas informais percebeu-se a forte relaccedilatildeo que fazem com a agricultura atividade importante na regiatildeo mas que demanda alto volume hiacutedrico para se manter e que pode estar associado a praacuteticas negativas

Segundo Hauff (2004) eacute possiacutevel que o manejo negativo dos recursos hiacute-dricos voltado para as atividades agriacutecolas esteja associado agraves condiccedilotildees so-cioeconocircmicas que impedem os agricultores de desenvolverem suas ativida-des de forma mais sustentaacutevel especialmente quando natildeo haacute comunicaccedilatildeo clara quanto agraves informaccedilotildees necessaacuterias nem incentivo por conta dos oacutergatildeos ambientais para a conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das aacuteguas Nesse sentido Cribb (2008) afirma que programas de conservaccedilatildeo que envolvam a populaccedilatildeo lo-cal a partir de seus interesses habilidades e tradiccedilotildees tecircm sido desenvolvidos dentro e no entorno de vaacuterias unidades de conservaccedilatildeo em muitas partes do mundo inclusive para o uso sustentaacutevel dos recursos hiacutedricos Tais estrateacutegias podem ser uma boa oportunidade para a gestatildeo do PARNASI desenvolver em parceria com os agricultores do seu entorno

O grau de concordacircncia quanto aos rios e as nascentes da regiatildeo estarem secando pode estar relacionado a uma percepccedilatildeo distorcida por parte dos mo-radores influenciada pelo regime de chuvas no veratildeo (periacuteodo de seca) e in-verno (periacuteodo de chuvas) quando principalmente as cachoeiras apresentam maior volume nas quedas drsquoaacutegua Por outro lado durante a pesquisa de campo percebeu-se o som de motores nos rios que puxavam aacutegua para a irrigaccedilatildeo essa atividade junto ao desmatamento para a agricultura e pastagens proacuteximo aos cursos drsquoaacutegua pode estar associada agrave menores iacutendices no volume dos rios da regiatildeo e para diagnosticar tais iacutendices eacute necessaacuterio estudos climatoloacutegicos sobre a quantidade de chuvas comparada a um certo intervalo de tempo a fim de avaliar a situaccedilatildeo dos rios da regiatildeo da UC e assim propor um plano de accedilatildeo e recuperaccedilatildeo para a UC

AacuteREAS HERBAacuteCEO-ARBUSTIVAS FLORESTAS FLORA LENHOSA MADEIREIRA E ORNAMENTAL

Quanto ao desmatamento 5935 (n=419) dos entrevistados afirmaram

serem Indiferentes ao desmatamento no PARNASI e 1445 (n=102) Discor-daram Totalmente A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 299 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas poreacutem muito proacutexi-mo a Indiferente

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Quanto agrave coleta de madeira para uso domeacutestico 4079 (n=288) dos en-trevistados Discordaram Totalmente que a retirada de madeira para uso do-meacutestico seja comum na regiatildeo e 2422 (n=171) Concordaram Parcialmente A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi 282 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas

Quanto agrave coleta de plantas ornamentais 6799 (n=480) dos entrevistados Discordaram Totalmente ser comum na regiatildeo moradores coletarem plantas para enfeitarem a casa eou para venderem A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 196 indicando grau de Discordacircncia entre as respos-tas Resultado inverso foi encontrado para a coleta de plantas medicinais onde 6034 (n=426) dos entrevistados Concordaram Totalmente ser comum a praacuteti-ca na regiatildeo A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 407 indi-cando grau de Concordacircncia entre as repostas

No presente estudo os entrevistados discordaram que o PARNASI esteja sendo desmatado mas estudo realizado por Sobral et al (2007) demonstrou que o parque sofria impactos negativos como desmatamento e queimadas relacionado com as praacuteticas agriacutecolas O desmatamento leva agrave perda da bio-diversidade dentre vaacuterios outros prejuiacutezos ao meio natural o que impede os fragmentos florestais de servirem como elementos chaves para a manutenccedilatildeo da biodiversidade principalmente em uma paisagem composta por atividades agriacutecolas impedindo tambeacutem a sustentabilidade dos serviccedilos ambientais e a melhoria na qualidade de vida dos moradores locais (VIANA PINHEIRO 1998)

Observou-se que o grau de discordacircncia quanto a retirada de madeira para uso domeacutestico foi contraditoacuterio ao resultado sobre os motivos de ida ao PARNASI onde pegar lenha foi mencionado como uma das motivaccedilotildees para ir ao parque Segundo Lima et al (2011) a cultura de usar lenha nas co-munidades localizadas no entorno do PARNASI natildeo mudou poreacutem estaacute mais difiacutecil encontrar lenha devido ao cercamento das terras ao desmatamento agrave fiscalizaccedilatildeo mas ainda assim uma parcela da populaccedilatildeo retira lenha sem nenhum controle

Para os moradores pegar lenha seca natildeo prejudica a natureza e seu uso aleacutem do dator cultural pode tambeacutem estar associado ao aumento no preccedilo do gaacutes de cozinha que custa atualmente em torno de R$ 8000 aproximadamente 85 do atual salaacuterio miacutenimo sendo que muitos dos moradores natildeo chegam a receber nem mesmo um salaacuterio miacutenimo restando a possibilidade do fogatildeo agrave lenha como descrito por Gomes e Maroti (2006) em estudo socioambiental nos povoados Cajueiro e Caroba ambos no entorno do PARNASI onde identifica-

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ram a forte relaccedilatildeo desses povoado com o uso da lenha para cozinhar devido ao aumento no preccedilo do gaacutes de cozinha

O grau de discordacircncia quanto a coleta de plantas ornamentais na regiatildeo diferiu do resultado obtido por Cunha (2007) em estudo sob enfoque juriacutedico do PARNASI que identificou a coleta de plantas ornamentais como um dos usos diretos dos recursos naturais pelos moradores do seu entorno o que indica que tal atividade pode ter diminuiacutedo poreacutem natildeo significa que natildeo ocorra de for-ma esporaacutedica como observado durante a realizaccedilatildeo da pesquisa de campo a exemplo de cactos cabeccedila de frade na porta de algumas residecircncias que se-gundo Santos e Meiado (2015) satildeo comuns no agreste sergipano A partir do resultado encontrado percebe-se que essa atividade natildeo aparenta ser preocu-pante no PARNASI poreacutem Santos e Meiado (2015) alertam que plantas como cactos nas comunidades rurais sergipanas satildeo alvos do comeacutercio internacional e necessitam de manejo adequado e fiscalizaccedilatildeo quanto a sua extraccedilatildeo para sua conservaccedilatildeo a meacutedio e longo prazo

Diferentemente do resultado encontrado para as plantas ornamentais ob-teve-se um grau de concordacircncia quanto ao uso de plantas medicinais nos po-voados estudados e durante a pesquisa de campo percebeu-se que ao se falar no uso dessas plantas os entrevistados as associavam com as plantas cultiva-das nos quitais das proacuteprias casas como cidreira boldo capim santo dentre outras utilizadas como fitoteraacutepicos

O uso de plantas medicinais por moradores do entorno de UCs tambeacutem foi encontrado por Botelli (2009) em estudo sobre o uso de plantas medicinais nas comunidades do entorno do PARNASI o qual demonstrou que os morado-res dos povoados Mundecircs e Bom Jardim utilizavam plantas medicinais para o cuidado da sauacutede e por Cunha et al (2007) em que mais de 80 de 57 mo-radores do entorno do Parque Municipal da Cachoeirinha do estado de Goi-aacutes coletavam plantas medicinais para usar no tratamento de enfermidades A utilizaccedilatildeo de plantas medicinais eacute um haacutebito tradicional utilizado atraveacutes dos saberes populares para tratar a sauacutede das pessoas principalmente nas comu-nidades rurais as quais possuem faacutecil acesso a esse tipo de plantas (BADKE et al 2011) Isso indica que mesmo com o avanccedilo dos medicamentos alopaacuteticos e da medicina tradicional os moradores do entorno do PARNASI natildeo perderam tal tradiccedilatildeo e seu uso em pequena escala natildeo haacute indiacutecios que prejudique a biodiversidade da UC

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ESPEacuteCIES CACcedilADAS

Quanto agrave caccedila de animais silvestres 6048 (n=427) dos entrevistados Dis-cordaram Totalmente ser comum na regiatildeo tal praacutetica para comer vender eou criar animais A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 219 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas Quanto a diminuiccedilatildeo dos animais afirmaram Concordar Totalmente e Concordar Parcialmente 4405 (n=311) e 2918 (n=206) respectivamente que a caccedila jaacute foi bastante comum na regiatildeo mas atualmente quase natildeo eacute praticada porque os animais estatildeo de-saparecendo A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 394 indi-cando grau de Concordacircncia entre as respostas

Apesar dos entrevistados discordarem de que haja caccedila na regiatildeo natildeo signi-fica que tal atividade natildeo seja praticada na regiatildeo uma vez que eacute uma atividade cultural consolidada pelos habitantes do meio rural (VILELLA GUEDES 2017) Estudos como os de Menezes (2004) Santana (2002) Santana (2006) aponta-ram a caccedila de animais silvestres como um impacto que vem afligindo a regiatildeo do PARNASI desde antes sua criaccedilatildeo Somado agrave expansatildeo da agricultura e ao desmatamento eacute considerada um dos principais fatores que promovem a ex-tinccedilatildeo de espeacutecies no Brasil (ARAUJO et al 2010) Apesar dos entrevistados do presente estudo afirmarem natildeo ocorrer caccedila na regiatildeo foi visto durante a pes-quisa de campo na maioria das casas do povoado Areias gaiolas com passari-nhos aleacutem de um rapaz segurando uma gaiola caminhando em direccedilatildeo agrave serra comprida Esse resultado pode estar associado ao medo que os moradores tecircm da fiscalizaccedilatildeo do IBAMA pois eles sabem que eacute proibido caccedilar e que podem ter os animais apreendidos aleacutem de receberem multa Nascimento (2014) en-controu esse tipo de comportamento no povoado Ribeira atraveacutes de discursos motivados por medo de futuras puniccedilotildees pelo IBAMA em caso de descumpri-mento das leis de conservaccedilatildeo

Sobral et al (2007) tambeacutem identificou a caccedila como um impacto para o PAR-NASI poreacutem relatou que essa atividade vem diminuindo na regiatildeo O mesmo foi encontrado por Nascimento (2014) que identificou atraveacutes de relatos a ocor-recircncia da caccedila na regiatildeo do PARNASI sendo relatado tambeacutem natildeo ocorrer na mesma intensidade que antes da criaccedilatildeo da UC No entanto estudo sobre ras-treamento de caccediladores realizado por Sampaio Ruiz-Miranda e Ferrari (2015) no PARNASI e entrevistas com caccediladores mostrou que a caccedila continua sendo praticada na UC tendo sido registradas 82 evidecircncias de caccedila dentro de aacuterea de mata no inteior da UC O mesmo estudo revelou que as espeacutecies caccediladas

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no parque satildeo paca (Agouti paca) cotia (Dasyprocta leporina) tatu (Dasypus no-vemcinctus D septemcinctus Tolypeutes tricinctus) tapiti (Sylvilagus brasiliensis) guaxinin (Procyon cancrivorus) veado (Mazama sp) e gato-do-mato (Leopardus tigrinus)

ATITUDES DOS MORADORES DO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA QUANTO A PROacutePRIA UC

As atitudes dos moradores quanto ao PARNASI foram avaliadas de acordo com os temas prioritaacuterios para a conservaccedilatildeo ldquoconservaccedilatildeo da biodiversidade das espeacutecies e dos serviccedilos ecossistecircmicosrdquo ldquogestatildeo do parque e relaccedilatildeo com os seus funcionaacuteriosrdquo ldquobenefiacutecios custo e ameaccedilasrdquo visualizados na figura 5

Figura 5 - Atitude dos moradores dos povoados do entorno do Parque Nacional Serra de Itabaiana quanto agrave proacutepria unidade de conservaccedilatildeo (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

Quanto agrave importacircncia do Parque Nacional Serra de Itabaiana 8258 (n=583) dos entrevistados Concordaram Totalmente quanto a sua importacircncia para a proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos flora e fauna A meacutedia ge-rada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 469 indicando grau de Concor-dacircncia entre as respostas o que pode ter ocorrido pelo fato de que por se tratar de um parque mesmo sem saber exatamente sobre seu papel os entrevistdos acreditavam ser algo positivo havendo uma tendecircncia nas respostas afirmati-vas agrave sua importacircncia

Com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo na gestatildeo do PARNASI 8994 (n=635) dos entrevistados Discordaram Totalmente e 297 (n=21) Concordaram Totalmente ao responderem sobre terem sido convidados para participarem

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Benefiacutecios

Colaboraccedilatildeo

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de alguma reniatildeo do PARNASI A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 126 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas

O resultado que demonstra que os entrevistados afirmaram natildeo serem con-vidados para participarem de alguma reniatildeo do PARNASI evidencia mais uma vez a falta de inserccedilatildeo dos moradores do entorno do parque no seu processo de gestatildeo A falta de participaccedilatildeo dos moradores do entorno do PARNASI na gestatildeo da UC eacute um prejuiacutezo para o proacuteprio parque pois deixa-se de conhecer as peculiaridades socioeconocircmicas dos povoados do seu entorno e consequen-temente esta dissociaccedilatildeo pode gerar conflitos e impedir o desenvolvimento eficaz da sua gestatildeo (FIGUEIREcircDO SOUZA 2013) Resultado semelhante foi en-contrado por Evans (2007) em estudo sobre participaccedilatildeo comunitaacuteria no Par-que Estadual da Serra do Mar localizado no estado Satildeo Paulo que demonstrou que 71 dos 361 moradores do seu entorno nunca participaram de reuniotildees para tratar de assuntos referentes ao parque

O ICMBio por meio da Lei nordm 11516 de 28 de agosto de 2007 vem ten-tando implantar a gestatildeo participativa nas UCs federais buscando aperfei-ccediloar o processo de planejamento estrateacutegico voltado para sua missatildeo de ldquoproteger o patrimocircnio natural atraveacutes do desenvolvimento socioambien-talrdquo Poreacutem percebe-se que na praacutetica isso natildeo estaacute ocorrendo e que se-gundo Chirikure et al (2010) estaacute relacionado com a dinacircmica da poliacutetica moderna neoliberal ou seja a falta de prioridade dos governos frente agraves questotildees socioambientais o que acaba impedindo o oacutergatildeo de firmar seu compromisso com o desenvolvimento sustentaacutevel dos recursos naturais das UCs federais junto ao processo de gestatildeo participativa das comunidades locais (SANTOS et al 2016)

A gestatildeo participativa no contexto das unidades de conservaccedilatildeo foi formali-zada desde a criaccedilatildeo do SNUC atraveacutes da exigecircncia da formaccedilatildeo de um conse-lho gestor por todas as UCs Poreacutem foi apenas a partir da publicaccedilatildeo do Plano Nacional de Aacutereas Protegidos (PNAP) (MMA 2006) que houve o norteamento das accedilotildees a serem desenvolvidas e o reconhecimento dos conselhos como es-paccedilo fundamental para o cumprimento dos objetivos das UCs tornando-os assim estrateacutegicos para o desenvolvendo de um planejamento e gestatildeo mais eficazes (LOUREIRO CUNHA 2008)

Diante esse aspecto o processo para envolver a populaccedilatildeo na gestatildeo das UCs federais do Brasil pode ser facilitado a partir do aumento do quadro de servidores do ICMBio do aumento do orccedilamento para o oacutergatildeo e da capacitaccedilatildeo dos seus analistas ambientais e gestores tornando-se de fundamental impor-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 131

tacircncia para o desenvolvimento de estrateacutegias e accedilotildees eficazes quanto ao estiacute-mulo da participaccedilatildeo social (QUADROS et al 2015)

A efetiva participaccedilatildeo dos moradores do entorno do PARNASI natildeo pode ser considerada como viaacutevel sem a implementaccedilatildeo do conselho consultivo do par-que Por ser um espaccedilo participativo na gestatildeo das UCs o conselho deve atuar de acordo com o princiacutepio estabelecido pelo PNAP que visa promover a partici-paccedilatildeo e inclusatildeo dos atores sociais na gestatildeo das aacutereas protegidas objetivando o desenvolvimento socioambiental das populaccedilotildees (MMA 2006)

Com relaccedilatildeo agrave colaboraccedilatildeo do moradores junto ao parque 4079 (n=288) dos entrevistados Discordaram Totalmente serem capazes de colaborar com o PARNASI poreacutem 2394 (n=169) Concordaram Parcialmente e 2380 (n=168) Concordaram Totalmente totalizando um nuacutemero maior dos entrevistados que concordaram A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 288 indi-cando grau de Discordacircncia entre as repostas

Em relaccedilatildeo ao resultado de grau de discordacircncia quanto agrave colaboraccedilatildeo dos moradores com o PARNASI percebe-se que haacute uma falta de motivaccedilatildeo e inte-resse das pessoas sobre as questotildees do parque que podem estar relacionados ao fato deles natildeo saberem sobre a UC e sua importacircncia demostrando terem outras prioridades e falta de tempo para colaborar Quando natildeo haacute gestatildeo par-ticipativa os cidadatildeos tornam-se descomprometidos menos ativos e sem uma visatildeo criacutetica sobre a realidade que os circundam (GOHN 2001)

Por outro lado Evans (2007) identificou que 70 dos entrevistados mos-traram interesse em participar da gestatildeo da UC para ficarem mais informados sobre o parque e assim colaborar com a sua conservaccedilatildeo De acordo com Pe-arce e Doh (2005) a abordagem colaborativa eacute a base para a uma gestatildeo mais eficaz assim como Nascimento (2013) em estudo sobre saberes ambientais de comunidades do entorno do PARNASI defende o aumento da participaccedilatildeo dessas comunidades na sua gestatildeo para assim contribuir na melhoria da sua funcionalidade

Quanto aos benefiacutecios do PARNASI 4589 (n=324) dos entrevistados Dis-cordaram Totalmente e 1841 (n=130) Concordaram Totalmente que o PAR-NASI atrai visitantes e movimenta a renda da populaccedilatildeo dos povoados A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 255 indicando grau de Discor-dacircncia entre as repostas

A partir do grau de discordacircncia quanto aos benefiacutecios do PARNASI para o turismo verificou-se que segundo os moradores a presenccedila de visitantes na regiatildeo natildeo traz benefiacutecios ao desenvolvimento econocircmico local Em alguns po-

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voados mais proacuteximos agrave serra de Itabaiana eacute possiacutevel encontrar turistas que vatildeo visitar o poccedilo das moccedilas as cachoeiras dos caldeirotildees o proacuteprio topo da serra e o parque dos falcotildees (ICMBio 2016) Nesses casos vatildeo apenas passar o dia turismo conhecido como ldquobate-voltardquo identificado por Silva (2008) no Parque Nacional dos Lenccediloacuteis maranhenses e que natildeo tem gerado benefiacutecios socioeco-nocircmicos para a regiatildeo

Percebeu-se uma certa imparcialidade dos moradores do entorno do PAR-NASI quanto ao turismo principalmente dos povoados mais distantes da Serra de Itabaiana identificada por eles como o local que pode atrair visitantes Esse fato pode estar associado agrave falta de sua inserccedilatildeo no planejamento da UC Foi verificado por Teixeira e Lanzer (2013) em estudo sobre o desenvolvimento das comunidades do entorno do Parque Nacional Lagoa do Peixe no estado do Rio Grande do Sul que a maioria da populaccedilatildeo entrevistada natildeo se sente inserida no processo de gestatildeo e natildeo consegue ver o parque como uma alternativa de renda vendo apenas o setor primaacuterio como agricultura e pecuaacuteria

Fiallo e Jacobson (1995) identificaram em estudo no Machalila National Park no Equador que os moradores do seu entorno natildeo consideram que o parque traz benefiacutecios econocircmicos para a regiatildeo diferente das pessoas que natildeo mo-ram na regiatildeo mas o visitam as quais acreditam que o parque pode oferecer oportunidades de emprego Silva e Maia (2011) tambeacutem identificaram o mes-mo resultado no Parque Nacional do Catimbau no sertatildeo do estado de Per-nambuco o que pode estar relacionado agrave pouca atenccedilatildeo que os moradores receberam ao longo da implantaccedilatildeo da UC e consequentemente de seus be-nefiacutecios para o turismo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O presente estudo buscou investigar a representatividade socioambiental que o Parque Nacional Serra de Itabaiana apresenta perante os povoados do seu entorno Inicialmente atraveacutes do levantamento bibliograacutefico foi possiacutevel verificar sua importacircncia enquanto uacutenico espaccedilo protegido dessa categoria para o estado de Sergipe localizado em regiatildeo de belezas cecircnicas iacutempares abrangendo aacutereas de dois importantes Biomas brasileiros Mata Atlacircntica e Caatinga

Mesmo localizado proacuteximo a aacutereas urbanas seu entorno abrange povoados essencialmente rurais que ao longo das uacuteltimas deacutecadas vecircm obtendo melho-rias nas condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo poreacutem ainda faltam oportunidades de empregos formais e geraccedilatildeo de renda para a populaccedilatildeo A agricultura eacute a

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principal atividade econocircmica dos povoados estudados e da maneira que vem sendo desenvolvida estaacute intimamente associada aos impactos ambientais que ameaccedilam os alvos de conservaccedilatildeo ou seja os recursos naturais destacados como prioridades de conservaccedilatildeo estabelecidos no seu plano de manejo

Eacute fato que houve avanccedilo da gestatildeo do PARNASI em ter publicado seu primeiro plano manejo o qual estabeleceu recursos prioritaacuterios para a conservaccedilatildeo po-reacutem verificou-se que desde seu processo histoacuterico de implementaccedilatildeo natildeo tem-se levado em consideraccedilatildeo a devida importacircncia dos aspectos socioculturais da re-giatildeo em que foi estabelecido e nem a inserccedilatildeo necessaacuteria da populaccedilatildeo no seu processo de gestatildeo A partir dos resultados encontrados sobre o conhecimento dos moradores conclui-se que o PARNASI natildeo apresenta representatividade so-cioambiental enquanto espaccedilo puacuteblico protegido e isto provavelmente estaacute rela-cionado a falta de informaccedilatildeo quanto a sua importacircncia para a regiatildeo

De acordo com a investigaccedilatildeo referente aos conhecimentos sobre os alvos de conservaccedilatildeo foi possiacutevel identificar que os problemas relacionados aos re-cursos hiacutedricos florestas e espeacutecies caccediladas estatildeo associados agrave agricultura e que eacute necessaacuterio incentivar o desenvolvimento de praacuteticas mais sustentaacuteveis que possam unir a geraccedilatildeo de renda advinda dessa atividade e a conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais Recomenda-se assim que novos estudos sejam realizados voltados para os impactos atuais da agricultura na regiatildeo que possibilitem atraveacutes de diretrizes estrateacutegicas formar parcerias incentivar e implantar praacuteticas mais sustentaacuteveis de produccedilatildeo agriacutecola como os sistemas agroflorestais

Visto que o PARNASI eacute a uacutenica UC dentro dessa categoria no estado de Ser-gipe cabe salientar que aleacutem do plano de manejo eacute de extrema urgecircncia e importacircncia a formaccedilatildeo do seu conselho consultivo para que nesse sentido possa integrar a populaccedilatildeo ao seu processo de gestatildeo promovendo uma rela-ccedilatildeo mais construtiva e positiva dos moradores contribuiacutedo assim para a con-servaccedilatildeo socioambiental da regiatildeo Eacute vaacutelido tambeacutem ressaltar a necessidade da elaboraccedilatildeo de um plano de uso puacuteblico que possa controlar e estimular as ati-vidades turiacutesticas no parque como tambeacutem possa proporcionar benefiacutecios aos moradores dos povoados incrementando a renda e melhorando a qualidade de vida promovendo neles o sentimento de pertencimento motivaccedilatildeo e en-volvimento com o parque e sua gestatildeo Outro plano importante para o parque seria o plano de Educaccedilatildeo Ambiental que pode viabilizar de forma sistemaacutetica accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental criacutetica que busquem sensibilizar e motivar a par-ticipaccedilatildeo social no processo de gestatildeo parque

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Os resultados do estudo tambeacutem apontam alguns desafios para o fortalecimen-to da relaccedilatildeo entre o PARNASI e os povoados do seu entorno que poderatildeo ser superados atraveacutes do fortalecimento do ICMBio enquanto oacutergatildeo gestor Tal forta-lecimento o permitiraacute atuar de acordo com a sua missatildeo de ldquoproteger o patrimocirc-nio natural e promover o desenvolvimento socioambientalrdquo atraveacutes da inserccedilatildeo da participaccedilatildeo da comunidade local no processo de tomada de decisatildeo relativo agrave conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais e proteccedilatildeo ambiental bem como o respeito aos seus valores sociais e culturais

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfei-ccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash Brasil (CAPES) ndash Coacutedigo de Financia-mento 001 por meio das bolsas de Mestrado e Poacutes-Doutorado PNPD (Processo n 888823173752019-01) Agradecemos tambeacutem ao Programa de Poacutes-Gradu-accedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)UFS pela oportuni-dade de realizaccedilatildeo da pesquisa ao Instituto Chico Mendes de Conservaccedilatildeo da Biodiversidade (CMBio) do Parque Nacional da Serra de Itabaiana)

REFEREcircNCIAS

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APLICACcedilAtildeO DO CICLO PDCA NO GERENCIAMENTO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS DE UMA FAacuteBRICA TEcircXTIL

Robeacuterio Satyro dos Santos JrAntocircnio de Oliveira NettoGlessia SilvaJailton de Jesus Costa

Para Vaacutelerio Silva e Cohen (2008) a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos motivada pelos padrotildees de consumo e o forte crescimento populacional tem criado sig-nificativa mudanccedila na composiccedilatildeo fiacutesica e quiacutemica dos resiacuteduos inerentes aos processos de produccedilatildeo Diante disto os impactos gerados pelos resiacuteduos soacuteli-dos industriais satildeo enormes afetando as trecircs principais fontes de vida para o homem (terra aacutegua e ar) Com a necessidade de atender o mercado consumi-dor que possui uma rotatividade enorme as induacutestrias geram uma quantida-de enorme de resiacuteduos soacutelidos que satildeo dispostos em locais como corpos de drsquoaacutegua atmosfera e solo

Nesse sentido cabe a fonte geradora dos resiacuteduos a criaccedilatildeo de um sistema de gerenciamento que atenda suas necessidades e permita o fluxo de entrada e saiacuteda dos resiacuteduos originados dos processos como dispotildee a Lei 123052010 que trata da Poliacutetica Nacional dos Resiacuteduos Soacutelidos (PNRS) com a finalidade de melhorar o processo de gerenciamento dos Resiacuteduos Soacutelidos Industriais (RSI) Esse estudo teve como objetivo a aplicaccedilatildeo da ferramenta PDCA (Plan Do Che-ck Act) na construccedilatildeo de ideias para os problemas encontrados no galpatildeo de triagem de uma induacutestria tecircxtil Como base metodoloacutegica a pesquisa se utili-zou de estudo de caso que permite a investigaccedilatildeo anaacutelise e coleta de dados que foram levantados por meio de visitas in locu anaacutelise de dados e entrevistas Na fase de observaccedilatildeo e anaacutelise das informaccedilotildees coletadas foi possiacutevel criar medidas para os problemas visualizados no processo de gerenciamento dos RSI dentro da central de triagem da induacutestria Nesse cenaacuterio foram utilizados autores e exemplos de outras empresas que aplicaram a ferramenta do ciclo PDCA com a finalidade de demonstrar a importacircncia do gerenciamento ade-quado dos RSI

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1 RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS NO BRASIL

Segundo a NBR 100042004 os resiacuteduos soacutelidos podem ser caracterizados como industriais quando apresentam estado soacutelido e semi-soacutelido resultado das atividades do processo produtivo incluindo lodos e determinados liacutequidos cujas particularidades tornem inviaacutevel o seu lanccedilamento na rede puacuteblica de es-gotos ou corpos de drsquoaacutegua exigindo para tanto soluccedilotildees teacutecnicas e economi-camente viaacuteveis

Para o Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada ndash IPEA (2012) os resiacuteduos industriais satildeo aqueles gerados dos processos produtivos e instalaccedilotildees indus-triais podendo ser enquadrada tambeacutem uma grande quantidade de materiais caracterizados como perigosos que necessitam de um tratamento mais cuida-doso em decorrecircncia dos impactos ambientais que podem gerar se dispostos de forma inadequada no meio ambiente

Os resiacuteduos industriais tecircm sua origem em diversas atividades dos ramos da induacutestria como o setor metaluacutergico automobiliacutestico quiacutemico petroquiacutemico papelaria alimentiacutecio e tecircxtil O lixo proveniente de tais atividades se mostra bastante variado cinzas lodos oacuteleos resiacuteduos alcalinos aacutecidos plaacutesticos pa-peis madeira fibras borrachas metal escoacuterias vidro ceracircmicas e tecido Sendo necessaacuterio para alguns desses tipos de resiacuteduos um tratamento especial (COLE-FAR 2013)

Em esfera nacional a Confederaccedilatildeo Nacional das Induacutestrias (CNI) representa a instacircncia de maior importacircncia no setor industrial Como accedilotildees voltadas para o gerenciamento dos RSI destaca-se a rede de resiacuteduos e o Sistema Integrado de Bolsas de Resiacuteduos (SIBR) aleacutem de contar com a participaccedilatildeo de induacutestrias que compotildeem a rede que participam em forma de federaccedilotildees ou associaccedilotildees no acircmbito nacional (CNI 2011)

Eacute preciso ressaltar que os dados referentes a geraccedilatildeo tratamento e destino adequado satildeo bastante escassos no Brasil uma vez que muitas empresas natildeo cumprem a Resoluccedilatildeo do Conama nordm 3132012 que dispotildee sobre a criaccedilatildeo de Inventaacuterio Nacional para Resiacuteduos Soacutelidos Industriais observando que em vaacute-rios estados brasileiros a adoccedilatildeo eacute bastante recente ou ateacute mesmo natildeo existe (IPEA 2012)

Segundo dados do documento Emissotildees do Setor de Resiacuteduos ndash SEEG (2018) o Brasil produziu em 2016 uma quantia de 9197 milhotildees de toneladas

142 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

de CO2 proveniente dos resiacuteduos o que representa uma quantia de 4 das emissotildees nacionais

Com relaccedilatildeo a geraccedilatildeo de resiacuteduos industriais segundo dados do IPEA (2012) o Brasil produziu uma quantia de 3786391 toneladasanual de resiacutedu-os perigosos e 93869046 toneladas de resiacuteduos natildeo perigosos somando uma quantia total de 97655438 toneladasano de resiacuteduos industriais Se tratando do estado de Alagoas o documento natildeo mostra nenhum dado relacionado a geraccedilatildeo dos RSI

Na induacutestria tecircxtil especificamente os tipos de resiacuteduos produzidos em vir-tude dos processos de produccedilatildeo podem variar de acordo com o tipo de pro-duccedilatildeo que a induacutestria esteja voltada Podendo gerar resiacuteduos do processo de produccedilatildeo do tecido (estopas resiacuteduo faacutebrica trama) e os resiacuteduos de corte final e acabamento que satildeo trapo cru e beneficiado

Quando se trata do processo percorrido ateacute a geraccedilatildeo do resiacuteduo eacute impres-cindiacutevel seguir um fluxo loacutegico que vai desde o uso de mateacuteria-prima passan-do pela energia empregada para realizaccedilatildeo do processo e acabamento do pro-duto aleacutem incorporar matildeo-de-obra e tecnologia dentro de todo processo Na figura 01 eacute possiacutevel observar como ocorre o processo de entrada e saiacuteda dentro de uma induacutestria na geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

Figura 01 - Processo de geraccedilatildeo dos resiacuteduos soacutelidos na induacutestria

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

A figura 01 mostra como ocorre o processo de produccedilatildeo de bens com a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos apoacutes o produto acabado Sendo o primeiro passo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 143

a aquisiccedilatildeo de mateacuteria-prima para iniciar o processo utilizaccedilatildeo de energia para transformar a mateacuteria-prima em produto acabado podendo ser feito uso de algum tipo de tecnologia que torne o processo mais raacutepido e traga melhores resultados no produto final para tanto eacute necessaacuterio matildeo-de-obra qualificada para evitar desperdiacutecios no caminho no qual o produto atravessa obtendo como resultado final o produto em si e subprodutos que retornam ao processo por natildeo atender as caracteriacutesticas necessaacuterias aleacutem dos resiacuteduos que satildeo sepa-rados armazenados e dispostos de acordo com o grau de periculosidade

Neste panorama o resiacuteduo industrial eacute um dos maiores culpados pelas agressotildees ao meio ambiente Estando incluiacutedos produtos quiacutemicos (cianureto pesticidas e solventes) metais (mercuacuterio caacutedmio e chumbo) e solventes natu-rais que prejudicam os ciclos naturais onde satildeo despejados Acontecendo que os resiacuteduos que possuem caracteriacutesticas soacutelidas satildeo enterrados e os liacutequidos satildeo despejados em rios e mares causados diversos prejuiacutezos para fauna e flora local

2 IMPACTOS GERADOS PELOS RSI

Os impactos gerados pelos resiacuteduos industriais satildeo enormes no meio am-biente posto que muitos desses materiais apresentam caracteriacutesticas perigosas se descartados de maneira irregular no ambiente podendo causar a degrada-ccedilatildeo de rios lenccediloacuteis freaacuteticos poccedilos artesianos aleacutem de diminuir a qualidade do ar pela emissatildeo de poluentes e contaminaccedilatildeo do solo tornando o mesmo improdutivo

Na pesquisa desenvolvida por Santos et al (2017) eacute analisado os impactos gerados pela induacutestria do gesso na cidade de TrindadePE onde satildeo destaca-dos alguns problemas em decorrecircncia das atividades para fabricaccedilatildeo do gesso como a contaminaccedilatildeo da aacutegua solo poluiccedilatildeo do rio vias puacuteblicas morte de espeacutecies da cantiga poluiccedilatildeo do ar contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico deserti-ficaccedilatildeo gerando o ecircxodo rural e problemas de sauacutede para os trabalhadores e moradores proacuteximos Nesse contexto Savi Filho e Savi (2006) apontam que o setor industrial eacute um dos maiores responsaacuteveis pelos impactos ambientais ge-rados no meio ambiente observando que muitos dos processos acabam geran-do uma grande quantia de resiacuteduos que natildeo recebem o tratamento adequado

Nesse contexto o Brasil possui uma estrutura hieraacuterquica de oacutergatildeos am-bientais bem definida para evitar os impactos gerados pelos resiacuteduos soacutelidos Em niacutevel nacional desde 1985 o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambien-

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te) eacute o oacutergatildeo responsaacutevel pelas questotildees ambientais em todo o territoacuterio na-cional aleacutem de contar com o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) como oacutergatildeo consultivo e normativo e em niacutevel teacutecnico com o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais) (LOPES 2005)

Em relaccedilatildeo aos estados cada um possui um oacutergatildeo regulamentador que eacute responsaacutevel por observar as questotildees ambientais e dispor os regulamentos que satildeo instituiacutedos pelos oacutergatildeos superiores No caso do estado de Alagoas o oacutergatildeo encarregado de cuidar dessas questotildees eacute o IMA (Instituto do Meio Am-biente do Estado de Alagoas) criado em 1975 por meio da Lei Estadual ndeg 3543 (1975) sofrendo alteraccedilotildees com o decorrer do tempo De modo que ao longo do tempo o instituto busca a observacircncia das praacuteticas legislativas relacionadas ao meio ambiente e a educaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo da comunidade para cuidar e zelar dos recursos naturais do estado (INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE DO ES-TADO DE ALAGOAS 2015)

Aleacutem disto pode ocorrer de existir em niacutevel municipal oacutergatildeos que ficam res-ponsaacuteveis por dar cumprimento as legislaccedilotildees em niacutevel federal estadual aleacutem de exercer suas funccedilotildees de controle ambiental Isto pode ocorrer a depender do porte do municiacutepio sendo mais comum em cidades que apresentam um nuacutemero populacional maior (LOPES 2005)

Com a realidade constatada o gerenciamento dos RSI se torna uma impor-tante ferramenta de soluccedilatildeo para os impactos ambientais gerados pelos resiacute-duos industriais a partir da elaboraccedilatildeo de planos pelos geradores que possam atender a fonte geradora dos resiacuteduos sendo o objetivo principal estabelecer criteacuterios para o correto aproveitamento tratamento e disposiccedilatildeo final ambien-talmente correta

3 GERENCIAMENTO DOS RSI

Para Schalch (2002) o termo gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos estaacute direta-mente ligado agraves questotildees tecnoloacutegicas operacionais englobando tanto fatores administrativos gerenciais econocircmicos e ambientais e de desempenho levan-do em consideraccedilatildeo a produtividade e qualidade ligada agrave prevenccedilatildeo reduccedilatildeo segregaccedilatildeo reutilizaccedilatildeo acondicionamento coleta transporte tratamento re-cuperaccedilatildeo e destinaccedilatildeo final

Nos estudos de Silva et al (2017) o gerenciamento dos resiacuteduos indus-triais deve conter uma constante preocupaccedilatildeo com aspectos de responsabi-lidade social pautado na sustentabilidade com a finalidade de obter lucros a

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meacutedio e longo prazo Nesses termos a responsabilidade social pode ser vista como a apropriaccedilatildeo do problema pelos geradores dos resiacuteduos soacutelidos a fim de criar medidas de gerenciamento que possam acabar com futuros impactos ambientais

A questatildeo do gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos teve iniacutecio nos paiacuteses de-senvolvidos e vem ocorrendo nos paiacuteses em desenvolvimento de forma lenta em decorrecircncia da falta de investimentos na gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos (MO-RAIS et al 2015) Como mencionado anteriormente ainda existem poucos ins-trumentos e dados elaborados pelos estados brasileiros sobre os RSI gerados pelas induacutestrias o que torna o problema ainda mais seacuterio

Quanto agrave questatildeo do gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos industriais tor-nou-se um problema no contexto atual devido agrave quantidade e diversidade de resiacuteduos gerados o que torna o tratamento e a disposiccedilatildeo final mais difiacutecil de ser realizado Todavia o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos pode ocorrer de maneira ordenada e eficiente por meio da padronizaccedilatildeo e criaccedilatildeo de planos que atendam a criteacuterios preacute-estabelecidos para cada local de implantaccedilatildeo (BRAGA DIAS 2008) Jaacute na visatildeo de Lopes (2005) o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos industriais deve ocorrer em cinco etapas distintas comeccedilando pelo evi-tar minimizar reusar-reciclar-reaproveitar tratar e dispor No processo apresen-tado por Lopes a prioridade no gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos eacute natildeo gerar resiacuteduos soacutelidos atraveacutes de melhores formas de aproveitamento e produccedilatildeo

A figura 02 descreve segundo a visatildeo de Lopes (2005) a piracircmide de priorida-des no gerenciamento dos resiacuteduos industriais colocando como deve ocorrer o processo de gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos pela priorizaccedilatildeo de etapas

Figura 02 - Hierarquia para o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos industriais

Fonte Lopes 2005

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Iniciando a leitura da figura de cima para baixo o primeiro passo no geren-ciamento dos resiacuteduos industriais consiste em evitar a geraccedilatildeo do resiacuteduo o segundo eacute minimizar a sua geraccedilatildeo ou seja gerar apenas o que for necessaacuterio para o processo o terceiro passo e utilizar o meacutetodo dos 3Rs para diminuir o desperdiacutecio e evitar que mais resiacuteduos sejam gerados o quarto passo pretende fazer o tratamento dos resiacuteduos para no uacuteltimo passo realizar sua disposiccedilatildeo em local proacuteprio

Para Costa e Pugliesi (2018) a etapa de gerenciamento dos RSU soacute conse-guiraacute apresentar resultados efetivos com a elaboraccedilatildeo de um planejamento preacutevio de todas as etapas do gerenciamento Ainda no estudo desses autores eacute mostrado que diversas ferramentas satildeo empregadas em paiacuteses desenvolvidos na etapa de planejamento a exemplo do ciclo PDCA que refere-se ao planejar (Plan) fazer (Do) verificar (Check) e agir (Act)

4 CICLO PDCA

Todas as organizaccedilotildees que apresentam processos produtivos que geram resiacuteduos soacutelidos devem dispor de forma correta os resiacuteduos gerados No Brasil muitas induacutestrias enfrentam dificuldades em elaborar um Plano de Gerencia-mento para Resiacuteduos Soacutelidos Industriais ndash PGRSI por natildeo possuir os instrumen-tos necessaacuterios para sua elaboraccedilatildeo (tecnologias gestor ambiental) A par dis-so o ciclo PDCA se mostra uma ferramenta bastante oportuna para garantir o sucesso na elaboraccedilatildeo de um PGRSI (TARDIN 2012)

O ciclo PDCA funciona de maneira ciacuteclica sendo repetido inuacutemeras vezes para chegar ateacute o tipo de processo ou atividade ideal com os melhores resulta-dos e caso ocorra algum problema retorna-se para o processo anterior O ciclo eacute divido em quatro etapas a serem seguidas de forma sequencial Planejar (Plan) Fazer (Do) Verificar (Check) Agir (Act) como mostra a figura 03

O ciclo tem seu iniacutecio com a etapa de ldquoPlanrdquo que significa ldquoplanejarrdquo ou seja uma equipe escolhe um processo para ser melhorado ou algum problema exis-tente que necessite ser solucionado Em seguida eacute feito o desenho de todo o processo para ser estudado e buscar a medida mais cabiacutevel estabelecendo tambeacutem medidas e metas quantitativas e qualitativas a serem alcanccediladas Apoacutes a criaccedilatildeo de todos esses passos eacute criado um plano de accedilatildeo para quantificar e acompanhar como estaacute o desenvolvimento do plano (PEINADO GRAEML 2007)

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Figura 3 ndash Ciclo PDCA

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro dos Santos Jr 2019

Na fase ldquoDordquo ou ldquofazerrdquo o plano de accedilatildeo jaacute se encontra definido bem como as metas quantificaacuteveis a partir dos objetivos do plano Esta fase se caracteri-za mais pela accedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tudo que foi elaborado na etapa anterior (TARDIN 2012) Nela satildeo elencadas as responsabilidades autoridades e fun-ccedilotildees para cada atividade aleacutem dos recursos que seratildeo utilizados no decorrer do processo

Nessa fase ainda existe a preocupaccedilatildeo na busca por profissionais com for-maccedilatildeo e experiecircncia para designar as diversas funccedilotildees no caminhar do proces-so Caso ocorra agrave contrataccedilatildeo de pessoal sem nenhuma experiecircncia deve-se submeter estas pessoas a cursos e treinamento que gerem especializaccedilotildees

Na terceira etapa do ciclo PDCA ldquoCheckrdquo ou ldquoverificaccedilatildeomonitoramentordquo todos os processos que foram criados satildeo verificados e monitorados para ob-servar se estatildeo atingindo os objetivos para que foram planejados Isso ocorre por meio da mediccedilatildeo dos processos envolvidos observando se o plano de ob-jetivos e metas estaacute sendo alcanccedilado

Aleacutem disto eacute feita uma verificaccedilatildeo para ver se os requisitos estatildeo sendo atendidos pelo plano uma praacutetica utilizada para observar se todas as normas estatildeo sendo respeitadas para realizar o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos podendo nesta fase ainda ocorrer auditorias internas para verificaccedilatildeo do fun-cionamento do plano (TARDIN 2012)

A uacuteltima etapa do ciclo PDCA eacute a de ldquoActrdquo ou ldquoagirrdquo por meio dos dados e informaccedilotildees obtidos na etapa anterior onde eacute possiacutevel buscar medidas mais

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cabiacuteveis para solucionar algum problema na elaboraccedilatildeo do PGRSI Para tanto satildeo feitas reuniotildees com os envolvidos no plano para levantar quais seratildeo os proacuteximos objetivos e metas do plano (PEINADO GRAEML 2007)

Por fim existem as conversas informais com os demais colaboradores da induacutestria que possuem uma visatildeo mais ampla dos aspectos operacionais po-dendo auxiliar no processo de resoluccedilatildeo dos problemas encontrados no geren-ciamento

5 APLICACcedilAtildeO DO PDCA

O ciclo PDCA pode ser aplicado em diversas aacutereas por se tratar de uma ferra-menta que consegue levantar todos os problemas e criar uma linha de soluccedilotildees Ele pode ser usado tanto como metodologia para melhorar a grade curricular dos cursos na soluccedilatildeo de anomalias no processo de operaccedilotildees portuaacuterias e como uma medida para solucionar o problema com a produccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

No caso da utilizaccedilatildeo do PDCA na melhoria contiacutenua do estaacutegio curricular ele foi utilizado nos cursos de engenharia da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) como forma de aperfeiccediloar e tornar a etapa do estaacutegio uma arma crucial para o profissional que estaacute se formando

Desta forma o emprego do PDCA assegura que a universidade possa apren-der e atingir os resultados esperados aleacutem de realizar uma padronizaccedilatildeo atra-veacutes de um sistema de gerenciamento da qualidade documentado de modo que aquilo que for realizado de forma satisfatoacuteria possa ser utilizado para me-lhorar as operaccedilotildees

Para tanto coloca-se que as atividades devem ser planejadas sistematiza-das e feitas conscienciosamente para criar um clima que se desenvolva dentro da organizaccedilatildeo (PUREZA VALENTINA KUNDE EDEL 2002) Ao atender a esses pontos eacute possiacutevel criar uma grade curricular de estaacutegio que possa se enquadrar aos requisitos que a instituiccedilatildeo necessita sendo o principal objetivo do plane-jamento a criaccedilatildeo de uma grade que possa se desenvolver naturalmente e se encaixe nos criteacuterios exigidos

A figura 04 ilustra o PDCA e mostra como a metodologia foi aplicada na resoluccedilatildeo do problema na questatildeo da grade curricular do estaacutegio identificando cada etapa do PDCA e como cada etapa funciona na correccedilatildeo e soluccedilatildeo do problema

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Figura 04 ndash Ciclo PDCA aplicado na resoluccedilatildeo do problema

Fonte Pureza Valentina Kunde Edel 2002

Com o emprego do PDCA se desenvolve uma metodologia de anaacutelise e me-lhoria dos processos aplicados aos problemas encontrados no estaacutegio curricular da UDESC para isto eacute feita a divisatildeo em duas fases principais de anaacutelise e melho-ria dos processos Na fase de anaacutelise eacute feita a identificaccedilatildeo dos clientes internos e externos e na fase de melhoria do processo satildeo priorizadas as oportunidades de melhoramento criadas e selecionadas soluccedilotildees para sua implementaccedilatildeo Ainda na fase de melhoria eacute colocado em praacutetica o plano de accedilatildeo como objetivo de garantir a manutenccedilatildeo perioacutedica (PUREZA VALENTINA KUNDE EDEL 2002)

Outra aacuterea com aplicaccedilatildeo pode ser a logiacutestica atrelada ao PDCA Tendo em vista que um gerenciamento satisfatoacuterio da cadeia de suprimentos eacute essencial para garantir que o cliente receba no prazo determinado o produto solicitado Para tanto eacute necessaacuterio o planejamento implementaccedilatildeo e controle das ativida-des garantindo um fluxo eficiente de mateacuterias (VILACcedilA et al 2011) Neste caso o PDCA foi aplicado no setor de preacute-embarque de um porto privado

No estudo o PDCA funcionou como uma teacutecnica auxiliada pelas ferramen-tas da qualidade para propor soluccedilotildees de melhorias para os problemas de re-cebimento de mercadorias no preacute-embarque e embarque com objetivo de di-minuir a ocorrecircncia de carregamentos em natildeo conformidade aleacutem de baixar os custos logiacutesticos com retrabalho e aumentar a eficiecircncia do processo

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Na questatildeo da produccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos o mesmo eacute observado na pro-duccedilatildeo de coco verde que eacute responsaacutevel por gerar uma grande quantidade de resiacuteduos devido ao consumo No caso da Bahia em 2008 foram gerados cerca 6288 mil toneladas de frutos um consumo bastante significativo observando a quantidade de cascas de cocos que satildeo gerados Desta maneira o PDCA com o auxiacutelio das ferramentas da qualidade auxiliou no encadeamento dos processos para buscar medidas que solucionassem o problema de destino e reaproveita-mento das cascas geradas (FORNARI 2010)

O PDCA eacute uma ferramenta bastante difundida e utilizada por diversas aacutere-as para solucionar e direcionar os problemas dentro de induacutestrias e empresas Mesmo assim faz-se necessaacuterio que toda empresa possua um SGA (Sistema de Gestatildeo Ambiental) que em conjunto com o PDCA iraacute planejar um conjunto de atividades para que sejam desenvolvidas e aperfeiccediloadas a longo prazo garan-tindo que a empresa atinja os objetivos ambientais desejados (MARTINS MAR-TINS FERREIRA 2016) No desenvolvimento da pesquisa o PDCA foi aplicado no gerenciamento dos RSI de uma induacutestria tecircxtil

A empresa estava localizada no municiacutepio de Delmiro Gouveia no alto ser-tatildeo alagoano Em relaccedilatildeo a sua estrutura ela possui uma aacuterea total de 45606 43 m2 onde contou com 556 colaboradores trabalhando direta ou indireta-mente no processo de produccedilatildeo (PLANO DE GERENCIAMENTO PARA RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS 2015) Aleacutem do comeacutercio local a faacutebrica era a principal fonte econocircmica para muitos moradores que residem na cidade A figura 05 mostra a localizaccedilatildeo da empresa vista por sateacutelite

A faacutebrica teve seu iniacutecio em 1914 com a construccedilatildeo da Usina de Angiquinho para aproveitamento eleacutetrico gerado pela Cachoeira de Paulo Afonso aleacutem de abastecer a faacutebrica a usina abastecia o municiacutepio de Delmiro Gouveia Diante disto a empresa criou o primeiro polo tecircxtil do Nordeste brasileiro

Jaacute na deacutecada de 1990 a empresa passou a ser administrada pelo Grupo Car-los Lyra que encontrou a faacutebrica com sua produccedilatildeo quase que totalmente para-lisada No controle a nova administraccedilatildeo comeccedilou uma raacutepida recuperaccedilatildeo da empresa com aquisiccedilatildeo de novos maquinaacuterios e equipamentos modernos que possibilitou uma produccedilatildeo mais aacutegil e com uma qualidade maior Com a busca pela constante qualidade do produto a empresa possui a ISO 9001 uma norma internacional para empresas que possuem um sistema de gestatildeo da qualidade

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Figura 05 ndash Localizaccedilatildeo da empresa

Fonte Adaptado do Google Maps (2014)

Quanto agrave estrutura organizacional da empresa ela era diacutevida em trecircs gran-des aacutereas administrativa comercial e industrial Na aacuterea administrativa estatildeo os setores de Recursos Humanos (RH) Seguranccedila do Trabalho Seguranccedila Pa-trimonial Responsabilidade Ambiental Ambulatoacuterio e Serviccedilos Gerais A aacuterea comercial eacute responsaacutevel por receber os pedidos e realizar as compras de mateacute-rias-primas para produccedilatildeo e age diretamente com a aacuterea industrial repassando a quantidade de bens que devem ser produzidos E a industrial eacute onde ocorre todo o processo de produccedilatildeo

Neste contexto atualmente a faacutebrica se encontra com suas atividades en-cerradas cabe ressaltar que o estudo foi realizado enquanto a faacutebrica ainda realizava suas operaccedilotildees O principal ramo de atuaccedilatildeo da faacutebrica foi na ativida-de de fiaccedilatildeo e tecelagem com um portfoacutelio voltado para venda de artigos de cama mesa e banho Deste modo a pesquisa foi desenvolvida na aacuterea adminis-trativa dentro do setor de responsabilidade ambiental

Como mencionado a faacutebrica era diacutevida em trecircs aacutereas que juntas satildeo respon-saacuteveis por realizar o funcionamento da faacutebrica Na aacuterea administrativa e comer-cial satildeo gerados resiacuteduos comuns papel plaacutestico papelatildeo resiacuteduo hospitalar e cartuchos para impressora Jaacute o setor industrial eacute o maior responsaacutevel por gerar RSIrsquos Nesse sentido o setor de responsabilidade ambiental era o responsaacutevel por observar todo o processo de gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos produzi-

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dos dentro da empresa trabalhando de forma integrada com os demais setores para solucionar eventuais problemas A figura 06 descreve um organograma da aacuterea industrial com seus respectivos setores

Figura 06 ndash Setores da aacuterea industrial

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

Cada setor apresentado na figura 06 eacute responsaacutevel por gerar algum tipo de resiacuteduo relacionado ao processo de produccedilatildeo No setor de preparaccedilatildeo a fiaccedilatildeo eram gerados resiacuteduo faacutebrica estopa capa de fardo de algodatildeo aleacutem dos re-siacuteduos comuns papel papelatildeo e metal na tecelagem eacute gerada a trama estopa e os mesmos resiacuteduos comuns gerados no setor de fiaccedilatildeo o setor de revisatildeo de tecido cru era responsaacutevel por gerar trapo da revisatildeo do tecido o benefi-ciamento tinha como resiacuteduos gerados a estopa e o trapo da revisatildeo de tecido acabado e a confecccedilatildeo o trapo beneficiado Os setores de expediccedilatildeo e manu-tenccedilatildeo eram responsaacuteveis por gerar resiacuteduos comuns papel papelatildeo metal e oacuteleos usados A figura 07 mostra os tipos de resiacuteduos gerados e sua origem no processo de produccedilatildeo

Figura 07 ndash Tipo de Resiacuteduo e origem no processo de produccedilatildeo

Fonte Paulino 2015

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 153

O PGRSI da faacutebrica realiza uma identificaccedilatildeo e quantificaccedilatildeo de cada resiacuteduo que eacute gerado dentro da empresa Para tanto cada resiacuteduo gerado recebe um coacutedigo com a descriccedilatildeo do resiacuteduo forma de armazenamento se era gerado na aacuterea industrial quantidade e estado fiacutesico A tabela 01 mostra os tipos de resiacuteduos e as quantidades geradas dentro do processo de produccedilatildeo

Tabela 01 - Tipo e quantidade de resiacuteduo gerado dentro da empresaTipo de RSI Quantidade

Resiacuteduo de varriccedilatildeo 41197 tonano

Sucata de metais ferrosos 144 unid

Resiacuteduos de materiais tecircxteis 30611633 tonano

Papel e papelatildeo 7832000 kg

Plaacutesticos polimerizados de processo 828000 kg

Madeira (paletes) 223000 kg

Cinzas 72595 unidano

Capa de fardo 520760 kg

Lacircmpadas usadas 475 unid

Oacuteleo lubrificante usado 1200lt

Embalagem plaacutestica 1263 unidano

Pilhas e baterias usadas 60 quilos

Fonte Plano de Gerenciamento para Resiacuteduos Soacutelidos Industriais 2015

A partir da tabela 01 foi possiacutevel identificar os principais resiacuteduos soacutelidos gerados no processo de produccedilatildeo e criar medidas com a aplicaccedilatildeo do ciclo PDCA para melhorar aspectos referentes ao gerenciamento dos RSI Para tan-to a ferramenta foi aplicada em determinados pontos do processo de gestatildeo como coleta seletiva capacitaccedilatildeo dos colaboradores layout de processo e or-ganizaccedilatildeo do depoacutesito O quadro 1 demonstra as medidas que deveriam ser tomadas em cada fase de aplicaccedilatildeo do PDCA

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Quadro 01 ndash Aplicaccedilatildeo do Ciclo PDCA no gerenciamento dos RSI da induacutestria Tecircxtil

Aplicaccedilatildeo Planejar Fazer Checar Agir Coleta Se-letiva

Desenvolver reci-piente para os se-tores de produccedilatildeo para coleta dos RSI

Descrito o tipo de recipiente para cada tipo de mate-rial gerado

M o n i t o r a m e n -to dos recipiente onde seratildeo depo-sitados os resiacuteduos

Caso a coleta apre-sente alguma falha possuir medidas que possam solu-cionar

Capacita-ccedilatildeo dos colabora-dores

Planejamento das capacitaccedilotildees para os colaboradores

Realizaccedilatildeo das ca-pacitaccedilotildees prepa-radas no planeja-mento

Checar se apoacutes as capacitaccedilotildees os colabores melho-raram suas ativida-des

Caso os resultados natildeo sejam favoraacute-veis eacute preciso reali-zar visitas nos seto-res para que possa existir um feedback

Layout de processo

Identificaccedilatildeo do layout atual e criaccedilatildeo de medi-das para o futuro layout

Organizaccedilatildeo do layout do setor de triagem dos RSI

Observar se o novo layout atendeu as exigecircncias espera-das

Utilizar o feedback dos colaboradores que trabalham na central de triagem

Organiza-ccedilatildeo do de-poacutesito

Criaccedilatildeo de um cro-nograma de ativi-dades

I m p l e m e n t a ccedil atilde o das atividades

Monitorar os espa-ccedilo e ver como ocor-re a organizaccedilatildeo

Troca de informa-ccedilatildeo entre os seto-res

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro dos Santos Jr 2019

A luz disto o ciclo PDCA eacute uma ferramenta ciacuteclica sua aplicaccedilatildeo pode se repetir inuacutemeras vezes no caso de sua utilizaccedilatildeo nos pontos apresentados no quadro 01 em que sua aplicaccedilatildeo repetidas vezes tenderia a tornar o gerencia-mento dos RSI mais eficiente e eficaz Para ilustrar o que foi apresentado no quadro 01 as figuras 08 e 09 mostram o layout antigo e novo para triagem dos resiacuteduos induacutestrias do processo de produccedilatildeo

Eacute possiacutevel observar no layout sem nenhuma modificaccedilatildeo que o problema era o acuacutemulo de material e um ambiente sem nenhum fluxo de entrada e saiacuteda de materiais Na central de resiacuteduos existia um local para armazenar os resiacutedu-os secundaacuterios (papel plaacutestico papelatildeo metal pneu) mas eacute pouco utilizado devido grande parte dos resiacuteduos gerados serem do processo de produccedilatildeo e ocupar um espaccedilo maior

O acuacutemulo dos resiacuteduos pode ter duas origens tanto pela questatildeo da pro-duccedilatildeo contiacutenua como a prensagem que era realizada apenas por duas prensas estando agrave terceira prensa desativada por ser obsoleta ou pela falta de comer-cializaccedilatildeo do material gerado jaacute que alguns materiais natildeo possuem compra-dores em periacuteodos curtos Para Borges (2001) dentro de qualquer arranjo fiacutesico desenvolvido deve existir um fluxo de entrada e saiacuteda que permita o curso de todo processo de produccedilatildeo

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Figura 08 ndash Esboccedilo da atual situaccedilatildeo da central de resiacuteduos

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Figura 09 ndash Esboccedilo novo da central de resiacuteduos

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

No novo layout da central foi feito uma mudanccedila interna e externa na estru-tura do local dentro do local primeiro houve a mudanccedila de lugar dos moacuteveis e retirada de uma prensa desativada sendo proposto tambeacutem a colocaccedilatildeo de outra balanccedila para questatildeo do fluxo de entrada e saiacuteda dos resiacuteduos Diante do que foi exposto com a aplicaccedilatildeo do PDCA eacute notoacuterio a preocupaccedilatildeo com os problemas ambientais causados pelas atividades do processo de produccedilatildeo

Nesse sentido o PDCA eacute uma ferramenta bastante empregada em diversas aacutereas pela simplicidade e facilidade em sua aplicaccedilatildeo em solucionar proble-

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mas tendo sua principal utilizaccedilatildeo a elaboraccedilatildeo de planos por meio de etapas que devem ser seguidas garantindo as organizaccedilotildees ganhos visiacuteveis tanto no processo produtivo como financeiro De forma abrangente a exigecircncia para aplicaccedilatildeo do PDCA depende do tamanho do projeto a ser criado contrataccedilatildeo de pessoal qualificado para criaccedilatildeo utilizaccedilatildeo de ferramentas e equipamentos aleacutem da liberaccedilatildeo de verba para o desenvolvimento do projeto

Com relaccedilatildeo ao que foi abordado pela pesquisa de campo para o desen-volvimento do trabalho pode-se verificar que a aplicaccedilatildeo do PDCA natildeo se restringe apenas a aacuterea das exatas podendo ser aplicada em outras aacutereas do conhecimento na construccedilatildeo e adequaccedilatildeo de planos possuindo um caraacuteter interdisciplinar Por ser uma teacutecnica relativamente nova e pouco divulgada o PDCA ainda possui uma aplicaccedilatildeo baixa em diversas aacutereas No caso das induacutes-trias que utilizam o ciclo PDCA como ferramenta podem observar aumento na sua eficiecircncia eficaacutecia e na gestatildeo correta das accedilotildees imposta o que resulta em benefiacutecios ambientais sociais e econocircmicos

AGRADECIMENTOS

A UFSPOSGRAPPROAP pelo aporte fiacutesico financeiro e logiacutestico O presente estudo foi realizado com o apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Supe-rior ndash Brasil (CAPES) ndash Coacutedigo de Financiamento 001

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10004 ndash Classificaccedilatildeo de Resiacuteduos Soacutelidos Rio de Janeiro 2004

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FORNARI Celso C M J Aplicaccedilatildeo da Ferramenta da Qualidade (Diagrama de Ishikawa) e do PDCA no Desenvolvimento de Pesquisa de Reutilizaccedilatildeo dos Resiacuteduos Soacutelidos do Coco Verde INGEPRO ndash Inovaccedilatildeo e Gestatildeo da Produccedilatildeo 2010

INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE ALAGOAS ndash IMA Apresentaccedilatildeo Disponiacute-vel em httpwwwimaalgovbrinstitucional Acesso em Marccedilo de 2015 2015

INSTITUTO DE PESQUISA ECONIMICA APLICADA ndash IPEA Diagnostico dos Resiacuteduos Soacuteli-dos Industriais ndash Brasil Brasiacutelia 2012

LOPES Marta R T Gerenciamento de Resiacuteduos Soacutelidos Industriais Universidade Federal de Santa Maria Departamento de Quiacutemica Rio Grande do Sul 2005 Exatas amp Enge-nharias 2011

VILACcedilA L L MACHADO M M CARVALHO M P R NETTO T A PEREIRA FILHO Z R MACIEL G S Aplicaccedilatildeo da Ferramenta PDCA na Soluccedilatildeo de Problemas de Anomalias no Processo de Operaccedilotildees Portuaacuterias ndash Atividade de Preacute-Embarque 2011

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PEINADO J GRAEML A R Administraccedilatildeo da Produccedilatildeo (Operaccedilotildees Industriais e de Serviccedilos) Curitiba UnicenP 2007

PLANO DE GERENCIAMENTO PARA RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS ndash PGRSI Plano de gerenciamento para Resiacuteduos Soacutelidos Delmiro GouveiaAL 2015

PUREZA J M VALENTINA L V O D KUNDE EDEL G Anaacutelise e Melhorias Aplicada ao Estaacutegio Curricular Centro de Ciecircncias Tecnoloacutegicas ndash FEJ Santa Catarina 2002

SANTOS A J ARAUacuteJO C R A SILVA A F L ALEXANDRE L A C ldquoImpactos causados pelos Resiacuteduos Soacutelidos do Gesso no Polo Gesseiro de Trindade-PErdquo ID ON LINE REVISTA MULTIDISCIPLINAR E DE PSICOLOGIA 1137 (2017) 143-159

SAVI A F FILHO E V G SAVI E M S Engenharia apoiando o desenvolvimento susten-taacutevel In SIMPOacuteSIO DE ENGENHARIA DE PRODUCcedilAtildeO 13 Bauru 2006 Anaishellip Bauru SIMPEP 2006 p 1-7

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NUANCES SOCIO-ESPACIAIS DO POVOADO ALOQUE EM ARACAJU-SE

Eduardo de Souza SantosEliene Oliveira da SilvaGleison Parente PereiraKeeze Montalvatildeo Fonseca da SilvaJailton de Jesus Costa

INTRODUCcedilAtildeO

Para se construir uma anaacutelise soacutecio-espacial de determinado lugar requer previamente a adoccedilatildeo de alguns conceitos-chave para visualizar o recorte es-pacial Nesse caso adotou-se o conceito de territoacuterio como se segue O povo-ado Aloque configura-se num Territoacuterio por ser um espaccedilo delineadoconfigu-rado por relaccedilotildees de poder onde tambeacutem prevalece a dimensatildeo simboacutelica de um grupo ao seu espaccedilo vivido assim sendo tambeacutem eacute considerado um bairro no sentido simboacutelico (como um espaccedilo percebido e vivido) mas no conteuacutedo interacional natildeo haacute um comeacutercio e no aspecto de serviccedilos o que haacute eacute um posto de sauacutede e uns templos religiosos

O desenvolvimento urbano das cidades ocasiona uma evoluccedilatildeo desordena-da e raacutepida dos centros urbanos provocando uma infraestrutura que sobrepotildee o meio ambiente (SANTOS 1993) e gera degradaccedilotildees ambientais que afetam a qualidade de vida da populaccedilatildeo provocando um elo desequilibrado entre comunidade e o meio ambiente

Os dados do IBGE (2017) confirmam que esse aumento populacional nos cen-tros urbanos diz que 81 desse contingente permanecem em espaccedilos urbanos Nesse contexto o crescimento populacional fez com que se utilize tanto o espa-ccedilo territorial quanto os recursos naturais para a sobrevivecircncia pois o homem se apropria dos recursos naturais utilizando sua mateacuteria-prima como fonte de ener-gia causando impactos no meio ambiente (PASQUALOTTO SENA 2017)

Para Santos (2013) antigamente o meio natural era aproveitado pelo ho-mem sem grandes transformaccedilotildees Mas a harmonia na utilizaccedilatildeo do meio na-tural comeccedilou a se modificar com o passar dos anos A partir daiacute comeccedilou-se

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a perceber nitidamente que a intervenccedilatildeo do homem no meio ambiente pode contribuir para a degradaccedilatildeo do meio natural anteriormente o ser humano convivia com o meio ambiente sem gerar significativas modificaccedilotildees

Inicialmente o meio natural generalizado era utilizado pela humanidade sem significativas transformaccedilotildees Nos dias atuais para a convivecircncia harmocircnica ne-cessitamos de mecanismos de controle o principal deles eacute a legislaccedilatildeo Aleacutem da legislaccedilatildeo necessita-se de efetividade na fiscalizaccedilatildeo da sua real aplicaccedilatildeo que devem manter correspondecircncia com a realidade vigente Aleacutem disso a conjuntu-ra atual requer a ampliaccedilatildeo do espaccedilo de debates sobre o respeito aos direitos da coletividade como eacute o do meio ambiente ecologicamente equilibrado

A harmonia socio-espacial na visatildeo de Santos (2013) assim formada era dessa forma respeitosa da natureza ofertada no processo de intervenccedilatildeo do homem e de criaccedilatildeo de uma nova natureza

O bairro da Jabotiana eacute um exemplo de crescimento populacional e de es-peculaccedilatildeo imobiliaacuteria neste cenaacuterio de crescimento urbano atual e inserido neste bairro encontra-se a localidade do Aloque que inerente a categoria geo-graacutefica em que se enquadre faz parte do mesmo ambiente mas demonstram nuances socio-espaciais intensas que se eacute perceptiacutevel ao simples aspecto da observaccedilatildeo

Neste contexto Costa (2010) salienta que a seleccedilatildeo do local para ser objeto de estudo envolve um conjunto de fatores ou seja o que determina a escolha por esse ou aquele territoacuterio no interior da cidade eacute uma complexidade de pro-cessos

O presente capiacutetulo objetivou analisar as nuances socio-espaciais do povo-ado Aloque enfocando sua relaccedilatildeo com o bairro Jabotiana tratando das dife-renccedilas socioeconocircmicas existentes as questotildees de infraestrutura urbana im-plantada e consequentemente apresentando os motivos dessa aacuterea acabar se tornando marginalizada dentro do bairro

Para um melhor entendimento do que aqui se propotildee os procedimentos aplicados neste estudo foram divididos em quatro etapas sendo que a primei-ra etapa consistiu em definir e delimitar o objeto de estudo ndash o povoado Aloque e suas relaccedilotildees interurbanas no bairro da Jabotiana a segunda etapa corres-pondeu a coleta de dados secundaacuterios (pesquisa bibliograacutefica cartograacutefica e imageacutetica) preliminares em bancos de dissertaccedilotildees e teses artigos e livros a partir das palavras-chave do estudo para confecccedilatildeo da fundamentaccedilatildeo teoacuterica e a buscas por dados populacionais que dimensione as diferenccedilas demograacute-ficas dentro do bairro a terceira etapa foi marcada por visitas de campo para

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aquisiccedilatildeo de dados primaacuterios e aplicaccedilatildeo de instrumentos como entrevistas e registros fotograacuteficos A quarta e uacuteltima etapa consistiu na sistematizaccedilatildeo dos dados coletados (interpretaccedilatildeo e tabulaccedilatildeo) sendo escrito um estudo de caso a fim de atingir o objetivo geral do estudo

1 FUNDAMENTACcedilAcircO TEOacuteRICA

Devido ao fato do objeto e aacuterea de estudo se tratar de uma localidade eacute im-portante efetivar algumas anaacutelises de conhecimento agraves categorias e conceitos estudados na ciecircncia geograacutefica por isso se faz necessaacuterio entender os concei-tos de Territoacuterio Bairro e Povoado para o desenvolvimento deste artigo e con-sequentemente se classificar a localidade do Aloque Outro ponto importante a ser entendido eacute que o Aloque se encontra dentro de um bairro que faz parte de um municiacutepio onde existem leis de ordenamento do solo e por isso se torna pertinente fazer uma anaacutelise da mesma entendendo assim qual tratamento eacute dado a esta localidade

TERRITOacuteRIO

O territoacuterio pode ser entendido como uma extensatildeo de terra um espaccedilo geograacutefico Para Souza (2015 p 78) ldquoum espaccedilo definido e delimitado por e a partir de relaccedilotildees de poderrdquo ou seja o exerciacutecio do poder mas para Costa (2010) o territoacuterio eacute antes de tudo um territoacuterio simboacutelico ou um espaccedilo de referecircncia para a constituiccedilatildeo de identidades Questotildees ligadas ao controle ordenamento e gestatildeo do espaccedilo tecircm sido cada vez mais fundamentais para instruir as discussotildees sobre a definiccedilatildeo de territoacuterio destacam-se trecircs vertentes a poliacutetica ndash o territoacuterio eacute visto como um espaccedilo delimitado e controlado por um determinado poder que natildeo estaacute exclusivamente relacionado ao poder poliacutetico do Estado a cultural ndash privilegia a dimensatildeo simboacutelica de um grupo ao seu es-paccedilo vivido a econocircmica ndash destaca a extensatildeo espacial das relaccedilotildees econocircmi-cas Para Guattari e Rolnik apud Costa (2010 p 121-122) territoacuterio eacute

[] eacute entendida num sentido muito amplo que ultrapassa o uso que

fazem dele a etologia e a etnologia Os seres existentes se organizam

segundo territoacuterios que os delimitam e os articulam aos outros exis-

tentes e aos fluxos coacutesmicos O territoacuterio pode ser relativo tanto a um

espaccedilo vivido quanto a um sistema percebido no seio da qual um

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sujeito se sente ldquoem casardquo O territoacuterio eacute sinocircnimo de apropriaccedilatildeo de

subjetivaccedilatildeo fechada sobre si mesma Ele eacute o conjunto de projetos

e representaccedilotildees nos quais vai desembocar pragmaticamente toda

uma seacuterie de comportamentos de investimentos nos tempos e nos

espaccedilos sociais culturais esteacuteticos cognitivos (GUATTARI ROLNIK

1986 p 323)

Percebe-se que territoacuterio tem vaacuterios vieses e interpretaccedilotildees que perpassam pela dimensatildeo espacial geograacutefica poliacutetica econocircmica e cultural

BAIRRO

Quando se fala de escala intraurbana aquela organizada na parte interna da cidade trata-se da escala dos bairros O bairro possui o conceito de espaccedilo vivido e de identidade soacutecio-espacial (SOUZA 2015)

Para Souza (2015) de um ponto de vista neopositivista ldquobairrosrdquo nada mais seriam que subespaccedilos distinguidos segundo criteacuterios convenientes para ele bairro corresponderia a algo como

Um ldquobairro homogecircneordquo definido em funccedilatildeo de uma relativa homo-

geneidade morfoloacutegica-paisagiacutestica de renda de composiccedilatildeo eacutetnica

e etc (ou uma combinaccedilatildeo de tudo isso) um ldquobairro funcionalrdquo iden-

tificado com base nas centralidades intraurbanas e finalmente um

ldquobairro-programardquo um espaccedilo de intervenccedilatildeo recortado de acordo

com a necessidades do planejamento e da gestatildeo estatais (SOUZA

2015 p 151)

O tema bairro era distinguido por trecircs tipos de conteuacutedos que Souza (2015) definiu como conteuacutedo composicional (caracteriacutesticas objetivas quanto agrave com-posiccedilatildeo de classe) conteuacutedo interacional (tem a ver com as relaccedilotildees estabele-cidas entre os indiviacuteduos e os grupos se haacute uma centralidade estabelecendo um determinado espaccedilo de convivecircncia existecircncia de comeacutercio e serviccedilos) e conteuacutedo simboacutelico (como um espaccedilo percebido e vivido)

Conforme o autor os bairros deixaram de ter sua proacutepria centralidade (pe-queno subcentro de comeacutercio e serviccedilos do proacuteprio bairro) para os subcentros maiores substituiacutedos por shopping centers Comeccedilaram a surgir tambeacutem assim dentro dos bairros os ldquocondomiacutenios exclusivosrdquo e ldquocomplexos autossegregadosrdquo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 163

Perdendo as caracteriacutesticas do velho bairro tradicional as relaccedilotildees entre vizi-nhos cada vez menores ou ateacute inexistentes (SOUZA 2015)

As imagens e limites dos bairros podem ser condicionadas por interven-ccedilotildees do Estado e pelo capital imobiliaacuterio que pode ter interesse de valorizar certos bairros criar e recriar imagens e identidades Mas os proacuteprios moradores podem atuar como agentes de alteraccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo dos limites espaciais do bairro (SOUZA 2015)

Os bairros massificados nas cidades contemporacircneas natildeo satildeo referenciais de grupos primaacuterios (membros que estabelecem relaccedilotildees iacutentimas entre si por exemplo famiacutelia) e sim desses fenocircmenos sociais que dizem respeito a inte-raccedilotildees entre grupos secundaacuterios identificados como segregaccedilatildeo residencial (SOUZA 2015)

POVOADO

Povoado eacute uma categoria geograacutefica que eacute descrita principalmente para lo-calidades em aacutereas rurais e eacute classificado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) como

Localidade que tem a caracteriacutestica definidora de Aglomerado Ru-

ral Isolado e possui pelo menos 1 (um) estabelecimento comercial

de bens de consumo frequente e 2 (dois) dos seguintes serviccedilos ou

equipamentos 1 (um) estabelecimento de ensino de 1ordm grau em

funcionamento regular 1 (um) posto de sauacutede com atendimento re-

gular e 1 (um) templo religioso de qualquer credo Corresponde a

um aglomerado sem caraacuteter privado ou empresarial ou que natildeo estaacute

vinculado a um uacutenico proprietaacuterio do solo cujos moradores exercem

atividades econocircmicas quer primaacuterias terciaacuterias ou mesmo secun-

daacuterias na proacutepria localidade ou fora dela

2 PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO URBANO (PDDU) DE ARACAJU

Fazendo uma investigaccedilatildeo morfoloacutegica o bairro Jabotiana se conservou nivelado e horizontal ateacute o iniacutecio do ano 2000 Com a inserccedilatildeo dos programas habitacionais e com novas obras imobiliaacuterias o bairro rescindiu a sua horizonta-lidade e passou a receber empreendimentos verticais (ARACAJU 2000)

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A compreensatildeo morfoloacutegica do bairro Jabotiana eacute estimulada por obras es-peciacuteficas e pontuais que foram sendo inseridas gradativamente e muitas vezes sem relaccedilatildeo entre si e com a disposiccedilatildeo de um espaccedilo urbano programado A estrutura urbana estaacute diretamente relacionada com o desenho viaacuterio a forma-ccedilatildeo dos quarteirotildees e as tipologias arquitetocircnicas utilizadas Neste sentido os processos das tipologias arquitetocircnicas usadas tornam-se essenciais para uma melhor visatildeo e esclarecimento da cidade (ARACAJU 2000)

Nesta visatildeo o espaccedilo urbano passa a ser consequecircncia da forma arqui-tetocircnica suas relaccedilotildees com a cidade e acima de tudo os efeitos e impactos soacutecio-espaciais que esta forma de ocupaccedilatildeo e uso pode gerar (ARACAJU 2000)

De acordo com o macrozoneamento do Plano Diretor vigente de Aracaju (2000) o Jabotiana estaacute situado na Zona de Adensamento Baacutesico (ZAB) Segun-do o PDDU (2000) de Aracaju ldquoConsidera-se Zona de Adensamento Baacutesico as que apresentam potencial de urbanizaccedilatildeo poreacutem com lsquodeacuteficitrsquo de infraestrutu-ra sistema viaacuterio transporte comeacutercio e serviccedilosrdquo (ARACAJU 2000 p 44)

A partir de 2000 comeccedila no bairro Jabotiana um movimento de reorganiza-ccedilatildeo urbana articulados pelos programas habitacionais As obras habitacionais foram direcionadas para a inserccedilatildeo de habitaccedilatildeo popular na maior parte basea-dos pelo PAR (Programa de Arrendamento Residencial) e pelo PMCMV (Progra-ma Minha Casa Minha Vida) (ARACAJU 2000)

Pelo acelerado desenvolvimento e ocupaccedilatildeo do solo sem uma devida pro-gramaccedilatildeo o bairro Jabotiana exibe problemas relacionados a pouca permea-bilidade urbana o que provoca inundaccedilotildees em periacuteodos de chuva com de-ficiecircncia de transitabilidade relacionada agrave conectividade com a cidade aleacutem de impactos ambientais ocasionados por dejetos de esgotos lanccedilados no rio Poxim Exibe tambeacutem uma seacuterie de problemas em seu sistema viaacuterio sem uma elaboraccedilatildeo preacutevia de implantaccedilatildeo relacionando os niacuteveis necessaacuterios para um adequado desempenho do sistema (ARACAJU 2000) Segundo o inciso XV do artigo 54 do PDDU In verbis

Art 54 - Constituem diretrizes gerais relativas aos serviccedilos de infra-

estrutura

XV - estabelecer ao niacutevel de uso e ocupaccedilatildeo do solo taxas de imper-

meabilizaccedilatildeo maacuteximas permitidas que possibilitem uma infiltraccedilatildeo

adequada das aacuteguas pluviais e facilitem a drenagem e o escoamento

(ARACAJU 2000)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 165

Na deacutecada dos anos 1980 do seacuteculo passado foram construiacutedos no bair-ro Jabotiana os conjuntos habitacionais Juscelino Kubitschek Sol Nascente e Santa Luacutecia poreacutem o Plano Diretor de Aracaju natildeo faz menccedilatildeo ao Povoado Aloque como pertencente a nenhum bairro da cidade de Aracaju

Figura 01 - Mapa de localizaccedilatildeo dos bairros de Aracaju em destaque o bairro da Jabotiana onde estaacute localizado o Povoado do Aloque

Fonte SEPLAN 2013 Elaboraccedilatildeo da consultoria

3 ESTUDO DE CASO

Localizado na regiatildeo Noroeste da cidade de Aracaju e na parte Sul dentro do bairro da Jabotiana o Aloque tem seus limites territoriais com a cidade de Satildeo Cristoacutevatildeo que faz parte da regiatildeo denomina de Grande Aracaju (Figura 01) De acordo com informaccedilotildees de moradores a aacuterea onde atualmente estaacute localizado o Povoado do Aloque como eacute chamado por eles (a partir daqui seraacute retratado como eacute reconhecido por quem ali habita) comeccedilou a ser ocupado ainda no iniacute-cio do seacuteculo passado surgindo bem antes do que todas as outras aacutereas dentro do bairro da Jabotiana Conforme citaccedilatildeo de um morador ldquoO Aloque tem 130 anos o morador mais velho daqui chegou a mais de 60 anosrdquo

Apesar do Aloque possuir todas as caracteriacutesticas citadas pelo IBGE de um Povoado e onde os seus moradores adotam os modos de vida mais simples com caracteriacutesticas que nos remetem a entender que ali se configura como uma aacuterea rural a exemplo do uso de carroccedilas a criaccedilatildeo de animais como gali-

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nhas e porcos nos quintais e o uso dos espaccedilos naturais para o lazer e ativida-de econocircmica poreacutem a autonomia para classificar cada localidade eacute do poder puacuteblico municipal e como jaacute foi citado no estudo sobre o PDDU a prefeitura Municipal de Aracaju classifica toda sua extensatildeo territorial como aacuterea urbana

De acordo com dados do uacuteltimo censo demograacutefico do IBGE (2010) o po-voado Aloque tinha uma populaccedilatildeo de 804 residentes o que representava me-nos de 1 da populaccedilatildeo do bairro Jabotiana que no mesmo periacuteodo somava 17157 habitantes (Figura 02) A faixa etaacuteria que concentra a maior populaccedilatildeo no povoado tanto do sexo feminino quanto do sexo masculino estaacute entre 10 e 14 anos sendo 45 e 55 habitantes respectivamente jaacute no bairro Jabotiana eacute a faixa etaacuteria dominante estaacute entre 25 a 29 anos sendo 1046 residentes do sexo masculino e 1296 habitantes que se declaram do sexo feminino

Figura 02 ndash Populaccedilatildeo residente do Povoado Aloque

E eacute a partir do tipo das unidades residenciais que se percebe a disparidade de ocupaccedilatildeo entre o povoado Aloque e os outros setores do bairro Jabotia-na No povoado Aloque estatildeo implantadas 220 unidades residenciais (Tabela 01) sendo que desse total 182 satildeo unidades horizontais ou seja casas e uma situaccedilatildeo que deve aqui ser descrita eacute que no iniacutecio da Rua Agapito Silva mais conhecida como Estrada do Aloque existe uma concentraccedilatildeo de unidades ver-ticalizada (preacutedios) segundo dados do IBGE em 2010 o nuacutemero era de 38 apar-tamentos outro ponto a ser citado eacute que em observaccedilatildeo de campo nota-se que houve uma crescente ocupaccedilatildeo urbana no local com a implantaccedilatildeo de diversas unidades verticalizadas mas que por questotildees de valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria mui-tas satildeo descrita como localizados no setor do Santa Luacutecia

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 167

Tabela 01 ndash Tipos de Habitaccedilatildeo do Povoado Aloque e do Bairro Jabotiana (domiciacutelios ocupados)

Casa Apartamentos Casa de vila ou em condomiacutenio TotalPovoado Aloque 182 38 - 220Bairro Jabotiana 2518 2707 171 5396Total 2700 2745 171 5616

Fonte IBGE 2010 Organizaccedilatildeo os autores 2018

De um lado do bairro Jabotiana setores como o Sol Nascente e a Santa Luacute-cia expotildeem uma forma mais recente de ocupaccedilatildeo nos tecidos urbanos com condomiacutenios verticalizados (Figura 03) de classe meacutedia e alta protegidos por guaritas grandes muros e cercas eleacutetricas muitos com infraestrutura que per-mite seus moradores a realizar algumas atividades sem nem sair das depen-decircncias do seu proacuteprio lar mais de 50 das habitaccedilotildees ou seja 2787 possuem entre 2 e 3 habitantes Natildeo muito longe do centro do bairro a cerca de 15 km seguindo pela Estrada do Aloque o que se vecirc eacute algo totalmente diferente fo-ram observadas unidades residenciais pequenas (Figura 04) de famiacutelias classi-ficadas como baixa rendas onde muitas habitaccedilotildees possuem apenas um vatildeo outras um misto de espaccedilos construiacutedos com alvenaria e dependecircncias anexas feitas de taipa ou madeiras algumas nem condiccedilotildees de abrigar famiacutelias teriam mas eacute o uacutenico teto pra muitas delas No povoado Aloque exatos 50 ou seja 110 unidades habitacionais possuem entre 3 e 4 moradores

Figura 03 Condomiacutenio residencial no setor Santa Luacutecia

Figura ndash 04 Unidades residenciais no Povoado Aloque

Fonte Pesquisa de Campo 2018 Fonte Pesquisa de Campo 2018

No ano de 2013 foi realizado pelo poder municipal de Aracaju juntamente com dados do censo demograacutefico do IBGE (2010) o Diagnoacutestico da Cidade de Aracaju onde um dos pontos principais foi dimensionar as questotildees de ren-

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da familiar do municiacutepio Foram levados em consideraccedilatildeo a renda de todos os moradores que exercessem alguma atividade remunerada e natildeo soacute o do chefe (a) de cada famiacutelia com isso a anaacutelise se caracteriza com renda per capita por domiciacuteliofamiacutelia Os bairros foram distribuiacutedos em blocos sendo que os bairros do bloco 01 exemplo do Jardins Treze de Julho e Satildeo Joseacute foi onde apresentou a melhor situaccedilatildeo com rendimento meacutedio familiar de 10 e 22 salaacuterios miacutenimos jaacute o bairro da Jabotiana ficou classificado no bloco 2 com uma renda meacutedia domiciliar entre 5 e 75 salaacuterio miacutenimos No mesmo diagnostico soacute que de uma forma mais detalhada onde os bairros satildeo divididos por setores (Figura 05) a renda per capita mensal domiciliar das famiacutelias do Aloque estaacute entre frac12 e 1 salaacuterio miacutenimo No censo demograacutefico o IBGE (2010) outro dado tambeacutem eacute dis-ponibilizado onde indica que 67 famiacutelias do povoado tem renda meacutedia de 70 reais mensais Em atividade de campo foi identificado que muitas famiacutelias tem de renda fixa os benefiacutecios sociais em sua maioria o bolsa famiacutelia

Figura 05 - Situaccedilatildeo de renda por setor censitaacuterio

Aacuterea do povoado Aloque

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 169

Em ambas as localidades alguns serviccedilos de infraestrutura urbana satildeo dis-ponibilizados de uma forma ampla mas natildeo significa que o serviccedilo eacute conside-rado satisfatoacuterio

Natildeo eacute que no bairro Jabotiana natildeo exista impactos em aacutereas urbanas mas a diferenccedila eacute que laacute satildeo realizadas accedilotildees e existem equipamentos que minimizam esses impactos a exemplo da rede coletora de efluentes aacutereas e coletores para descarte de resiacuteduos soacutelidos e vias pavimentadas e com limpeza regular Nada dessas accedilotildees e desses equipamentos que satildeo consideradas simples e primor-diais para aacutereas como essas satildeo vistas no Aloque o que segundo os moradores torna o sentimento de abandono mais acentuado ldquoO Aloque eacute esquecido pela prefeiturardquo

De acordo com informaccedilotildees obtidas em campo tanto no bairro Jabotiana quando no povoado Aloque o sistema de abastecimento de aacutegua eacute disponibi-lizado com regularidade com interrupccedilotildees soacute em momentos de manutenccedilatildeo da rede talvez esse seja o sistema de infraestrutura que eacute disponibilizado com maior regularidade de igualdade entre as localidades

Os resiacuteduos soacutelidos satildeo dispostos de maneira diferente para cada localidade e isso tem efeito direto com o tipo de ocupaccedilatildeo habitacional em outros setores da Jabotiana haacute uma quantidade consideraacutevel de condomiacutenios residenciais onde a maioria tem aacutereas internas que servem de depoacutesito de resiacuteduos que posteriormente satildeo recolhidos pela prefeitura No Aloque a coleta eacute realizada trecircs vezes por semana o grande problema eacute que natildeo se tem caixa coletora de resiacuteduos soacutelidos que ficam espalhados nas portas das residecircncias e com isso atraem animais como galinhas catildees e gatos que muitas vezes rasgam os sacos de lixo Outro agravante eacute que natildeo haacute a limpeza das vias e estes resiacuteduos vatildeo se acumulando dando ao local um aspecto visual desagradaacutevel Uma moradora cita ldquoO lixo aqui eacute recolhido trecircs vezes por semana o ruim eacute que fica espalhado nas ruas a mercecirc de animais e suja tudo aquirdquo

Moradores citam ainda que eacute frequente a circulaccedilatildeo de caccedilambas que vatildeo ateacute o Aloque pra despejar os seus resiacuteduos uma moradora afirma ldquoO Aloque recebe todo tipo de lixo da cidaderdquo e isso foi comprovado em observaccedilatildeo de cam-po satildeo resiacuteduos oriundos de diversas fontes (Figura 06) como da construccedilatildeo civil (entulhos madeiras e ferros) domeacutesticos (plaacutesticos papeis latas e lixo or-gacircnico) e comercial (papelatildeo e embalagens)

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Figura 06 - Resiacuteduos soacutelidos oriundos de diversas fontes

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Um dos problemas de infraestrutura mais evidentes e impactantes tanto para a populaccedilatildeo quanto ao meio ambiente no povoado Aloque estaacute relacio-nado ao esgotamento sanitaacuterio Apesar de todos os domiciacutelios segundo o IBGE (2010) terem banheiro nas suas residecircncias os mesmo natildeo estatildeo ligados a um sistema de esgotamento sanitaacuterio muitos ainda se utilizam de fossa seacuteptica ru-dimentar no fundo das casas outras lanccedilam seus efluentes diretamente nas ruas e muitas residecircncias que se encontram agraves margens do Rio Pitanga (Figura 07) despejam seus efluentes no corpo hiacutedrico sem nenhum tipo de tratamento

Figura 07 - Esgotamento sanitaacuterio inadequado onde os efluentes satildeo lanccedilados nas vias ou as mar-gens do Rio Pitanga como mostra a foto em destaque

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Outros problemas que natildeo estatildeo ligados diretamente com as questotildees de infraestrutura urbana (limpeza de vias coleta de resiacuteduos soacutelidos abastecimen-to de aacutegua e esgotamento sanitaacuterio) mas que foram bastante mencionados no estudo de campo no povoado Aloque eacute sobre o meio ambiente Os moradores citam um grande volume de queimadas que muitas vezes fogem do controle e causa incidentes (Figura 08) e que satildeo realizadas como accedilatildeo de ldquolimpezardquo onde

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 171

posteriormente seratildeo construiacutedas residecircncias ou a queima de resiacuteduos soacutelidos Outros moradores relataram a retirada da vegetaccedilatildeo e aterramento do Mangue (Figura 09) para a construccedilatildeo de vias e estradas e reclamam a falta de fiscaliza-ccedilatildeo ldquoEstatildeo construindo uma estrada retirando toda vegetaccedilatildeo e destruindo aqui o Mangue eacute certordquo

Figura 08 Parte do Mangue queimado devido agrave accedilatildeo de queima de lixo

Fonte Pesquisa de campo 2018

Figura 09 Aterramento do Mangue para a construccedilatildeo de uma estrada

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Saindo do acircmbito de infraestrutura urbana mais ainda que tange as ques-totildees de serviccedilos oferecidos sendo puacuteblicos ou natildeo eacute niacutetido a diferenccedila entre o povoado Aloque e outros setores do bairro Jabotiana Os moradores do Alo-

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que precisam se deslocar para outras localidades em busca de serviccedilos baacutesicos como instituiccedilotildees de ensino bancaacuterios e ateacute estabelecimentos comerciais jaacute que no local soacute foram observados dois de pequeno porte A uacutenica estrutura de serviccedilo puacuteblico existente no local eacute a Unidade de Sauacutede da Famiacutelia Irmatilde Carida-de (Figura 10)

Figura 10 Unidade de Sauacutede da Famiacutelia Irmatilde Caridade

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Alguns moradores citam que o problema natildeo eacute se deslocar para outras regiotildees da cidade em busca destes serviccedilos o problema eacute que ateacute o serviccedilo transporte puacuteblico eacute deficitaacuterio e inviabiliza estes deslocamentos no povoado soacute existe uma linha de transporte puacuteblico (Figura 11) que demora cerca de 1h para passar e tem como destino o Terminal Dia Uma moradora afirma que esse transporte soacute passa ateacute as 20h pois o risco de assalto eacute eminente e que isso prejudica bastante a populaccedilatildeo onde alguns deixam de praticar algumas atividades e outros que necessitam chegar mais tarde tem um gasto adicional com o serviccedilo de transporte alternativo que eacute o moto-taxi ldquoOcircnibus aqui demora e para de passar aacutes 20h prejudicando quem tem que chegar mais tarde em casa e soacute tem uma linha que vai para o Terminal dia passou do horaacuterio tem que pegar moto-taacutexirdquo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 173

Figura 11 Ocircnibus que faz a uacutenica linha de transporte urbano para o Povoado Aloque

Fonte pesquisa de Campo 2018

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Eacute imprescindiacutevel que diante dos argumentos expostos todos se conscienti-zem de que haacute uma discrepacircncia dentro de um mesmo bairro com duas reali-dades bem diferentes Onde visualiza-se a falta de poliacuteticas puacuteblicas deixando uma parte da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de abandono e sem perspectiva de me-lhoria da qualidade de vida

Vale salientar a dificuldade para o desenvolvimento do estudo sendo o le-vantamento de dados a etapa mais difiacutecil do estudo A falta e a qualidade de determinados dados nas plataformas pesquisadas sobre a localidade do Alo-que foram os principais obstaacuteculos encontrados o que se frisa a necessidade de estudos mais completos sobre a localidade e dados mais precisos sobre essa porccedilatildeo do bairro Jabotiana que ateacute nesse sentido eacute esquecida pelos oacutergatildeos puacuteblicos

Levando-se em consideraccedilatildeo esses problemas de infraestrutura apre-sentados no estudo de caso como ruas sem calccedilamento e sem saneamento baacutesico entende-se que tem a diminuir a qualidade de vida dos moradores do Aloque que por natildeo terem uma infraestrutura adequada motivada pelo poder puacuteblico acabam causando impactos ao meio ambiente como despejo de es-goto no rio Pitanga e nos lenccediloacuteis freaacuteticos que passam pela regiatildeo O presente estudo abre caminhos para projetos de intervenccedilatildeo na localidade em vaacuterias aacutereas do saber na forma de sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos governantes

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REFEREcircNCIAS

ARACAJU Lei Complementar 42 de 2000 Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju 2000

COSTA R H da O mito da desterritorializaccedilatildeo do ldquofim dos territoacuteriosrdquo agrave multiterritoria-lidade ndash 5ordf ed ndash Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2010

FRANCcedilA V L A Diagnostico da Cidade de Aracaju Aracaju Prefeitura Municipal de Aracaju 2014

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PASQUALOTO N SENA M M Impactos Ambientais Urbanos no Brasil e os Caminhos para cidades sustentaacuteveis Artigo disponiacutevel em lthttpwwwrevistaeaorgartigophpidartigo=2861gt Acesso em 19 de nov 2018

SANTOS M A natureza e o espaccedilo 4 ed Satildeo Paulo EDUSP 2013

SANTOS M A urbanizaccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Hucitec 1993

SOUZA M L De Os conceitos Fundamentais da pesquisa soacutecio-espacial 2ordm ed ndash Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2015

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 175

A MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE

Ademilson de Jesus SilvaCassandra Mendonccedila de Oliveira Deniver Delma Souza OliveiraMilton Marques Fernandes

1 INTRODUCcedilAtildeO

A mineraccedilatildeo brasileira teve iniacutecio no periacuteodo colonial com a extraccedilatildeo de mineacuterios pela coroa portuguesa a qual fazia uso da matildeo de obra escrava para a garimpagem de ouro e pedras preciosas Como na eacutepoca natildeo existiam maacutequinas a extraccedilatildeo era feita de forma ruacutestica com ferramentas manuais no processo de remoccedilatildeo do solo e escavaccedilatildeo do subsolo (ANDRADE 1987 CVRD 1992) As minas eram a ceacuteu aberto sem grandes impactos ambientais pois ocorriam em pontos isolados nos estados de Minas Gerais e Satildeo Paulo vindo a se deslocar para o Nor-deste na extraccedilatildeo de rochas de calcaacuterio com a exploraccedilatildeo em plena atividade na regiatildeo ateacute os dias atuais para induacutestria de cimento (GERMANY 2002)

A extraccedilatildeo no Nordeste inicialmente foi com a garimpagem de pedras preciosas com escavaccedilotildees de forma rudimentar em pontos isolados sem vieacutes econocircmico para o Brasil A exploraccedilatildeo em escala comercial veio ocorrer soacute de-pois de 1934 com a criaccedilatildeo do Departamento Nacional da Produccedilatildeo Mineral (DNPM) responsaacutevel por fomentar a atividade na regiatildeo com foco nos mineacuterios pegmatitos e xilita tatildeo valorizados pelos americanos que utilizavam para ali-mentar a induacutestria beacutelica durante a segunda guerra mundial (1939-1945) (AN-DRADE 1987)

Entre todos os nove estados nordestinos que tiveram a extraccedilatildeo de mineacute-rio intensificado nas uacuteltimas deacutecadas o presente estudo eacute direcionado para a mineraccedilatildeo no estado de Sergipe que teve sua expansatildeo em maiores escalas comerciais em meados de 1963-1966 com a descoberta de novas jazidas de mineacuterios entre eles os sais de potaacutessio elevando o estado ao maior produtor desse mineacuterio em todo territoacuterio nacional com iniacutecio das exploraccedilotildees em gran-des proporccedilotildees no ano de 1991 permanecendo em plena atividade ateacute os dias atuais (ARAUJO 2017) O estado tambeacutem se destaca por possuir inuacutemeras ou-

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tras riquezas minerarias aleacutem do potaacutessio distribuiacutedas por todo seu territoacuterio a exemplo do calcaacuterio e agregado (areia terra de barranco argila) ambos satildeo importantes para a induacutestria da construccedilatildeo civil do estado e do nordeste ali-mentando a economia com a geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos

Os postos de trabalhos gerados pela atividade mineraacuteria no estado contri-buem para a economia conforme as pessoas tecircm viacutenculo empregatiacutecio formal na extraccedilatildeo desses mineacuterios passam a ser assalariadas e economicamente ati-vas ou seja potenciais consumidoras de diversos produtos e assim fomentando outros setores do comeacutercio (bens e serviccedilos) no estado e dessa forma gerando outros postos de trabalhos (denominados trabalhos indiretos) impulsionando a economia do estado

Portanto o presente capiacutetulo tem como objetivo exploratoacuterio visando agrave to-mada de conhecimento sobre a mineraccedilatildeo no estado de Sergipe mediante a pergunta norteadora Qual a importacircncia da extraccedilatildeo de mineacuterios no estado de Sergipe e seus potencias impactos

Respondendo agrave pergunta objetiva colaborar para o entendimento da mine-raccedilatildeo no estado de Sergipe Eacute seguido de uma metodologia quanto ao proce-dimento da coleta bibliograacutefica realizada atraveacutes de consultas nos portais (web sites) vinculadas ao setor mineraacuterio de cunho nacional o Departamento Nacio-nal de Produccedilatildeo Mineral - DNPM a Agecircncia Nacional de Mineraccedilatildeo ndash ANA Em artigos cientiacuteficos extraiacutedos do httpswwwsciencedirectcom livros acessados na biblioteca da Universidade Federal de Sergipe e leis baixadas no portal do congresso nacional brasileiro

Ressalta-se que a atividade mineraacuteria eacute causadora de impactos ambientais portanto torna necessaacuteria a obrigatoriedade de uma seacuterie de procedimentos burocraacuteticos junto aos oacutergatildeos ambientais e DNPM que eacute a realizaccedilatildeo preacutevia do Estudo de Impacto Ambiental ndash EIA e do Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA para que possa ocorrer a liberaccedilatildeo da exploraccedilatildeo uma vez que ativi-dade de exploraccedilatildeo mineraccedilatildeo causa danos ambientes como a diminuiccedilatildeo da cobertura verde contaminaccedilatildeo do solo perda parcial ou total da fauna e flora reduccedilatildeo da qualidade dos recursos hiacutedricos por contaminaccedilatildeo das aacuteguas polui-ccedilatildeo do ar e danos agrave sauacutede humana (SANTOS J 2017)

Isso torna indispensaacutevel agrave recuperaccedilatildeo da aacuterea apoacutes o fechamento das ex-ploraccedilotildees pelas empresas para que os impactos causados in loco durante o processo de extraccedilatildeo dos mineacuterios natildeo se perpetuem em decorrecircncia da expo-siccedilatildeo do subsolo que facilita a lixiviaccedilatildeo de sedimentos para os corpos hiacutedricos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 177

A recuperaccedilatildeo pode devolver a cobertura vegetal integrando a aacuterea ao meio ambiente deixando acessiacutevel agrave fauna silvestre

2 OS MINEacuteRIOS EXPLORADOS NO ESTADO DE SERGIPE

O Estado de Sergipe estaacute localizado na regiatildeo Nordeste do Brasil com um territoacuterio de 21926908 kmsup2 eacute a menor unidade da federaccedilatildeo brasileira fazen-do limites com os seguintes estados Bahia (ao sul e a oeste) e Alagoas (ao norte cuja fronteira eacute demarcada pelo Rio Satildeo Francisco) e a leste o oceano Atlacircnti-co (FEITOSA 2006) De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE (2010) no uacuteltimo censo demograacutefico o estado possui 2068017 de ha-bitantes e uma estimativa para 2019 de 2298696 habitantes distribuiacutedos por 75 municiacutepios detentor de um iacutendice 0665de desenvolvimento humano (IDH) que o deixa na posiccedilatildeo 20deg comparado aos demais estados brasileiros

O estado possui inuacutemeras riquezas em minerais assim como os demais es-tados do Nordeste que satildeo detentores dos mais variados minerais ouro pe-dras preciosas substacircncias quiacutemicas (cobre sais de potaacutessio) agregados para construccedilatildeo civil com registro de extraccedilatildeo deste o periacuteodo Brasil colocircnia (AN-DRADE 1987) No acircmbito nacional Sergipe se destaca na produccedilatildeo de potaacutessio (Figura 01) o qual em conjunto com estado da Amazocircnia satildeo os detentores das maiores jazidas de potaacutessio em territoacuterio Brasileiro (CRUZ 2012 OLIVEIRA 2017 ARAUJO 2017)

Figura 01 Principais regiotildees do Brasil com depoacutesitos minerais

Fonte Santos R et al (2001)

178 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Como eacute possiacutevel perceber no mapa em territoacuterio nacional eacute no estado de Sergipe que se concentram as reservas em exploraccedilatildeo de sais de potaacutessio dife-rentemente da Amazocircnia pois natildeo foi identificada exploraccedilatildeo de suas reservas em escala comercial apoacutes o levantamento de dados realizados na Agecircncia Na-cional de Mineraccedilatildeo ndash ANM

Em Sergipe nas regiotildees de TaquariVassouras e Santa Rosa de Lima

as reservas oficiais de silvinita (KCl + NaCl) totalizam 4780 milhotildees de

toneladas com teor meacutedio de 97 de K2O equivalente Dessas 682

milhotildees de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo (teor de 1904 de K2O)

que correspondem a 129 milhotildees de toneladas de K2O equivalen-

te representaram em 2013 a reserva lavraacutevel em TaquariVassouras

(OLIVEIRA 2017 01 p)

A expressiva quantidade (682 milhotildees de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo) de potaacutessio (K2O) extraiacuteda no estado classifica-o como o maior produtor desse mineacuterio em territoacuterio nacional Com capacidade de expansatildeo na produccedilatildeo me-diante a exploraccedilatildeo de novas jazidas jaacute identificadas na regiatildeo pela Companhia do Vale do Rio ndash CVRD a qual eacute responsaacutevel pela exploraccedilatildeo desde 1991 perma-nece ateacute os dias atuais (CRUZ 2012)

A exploraccedilatildeo de potaacutessio no menor estado da Federaccedilatildeo Brasileira eleva o paiacutes em escala mundial como produtor desse mineral Poreacutem tambeacutem se destaca dos demais estados do Nordeste por em sua aacuterea geograacutefica (Figura 02) ser detentora de um importante polo mineraacuterio com a existecircncia de diversos mineacuterios (Quadro 01) em exploraccedilatildeo ou passiacuteveis de serem explorados (SANTOS et al 2001)

Quadro 01 Substacircncias minerais do estado de Sergipe

Classe SubstacircnciasMetaacutelicas Chumbo (Pb) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Manganecircs (Mn) Niacutequel (Ni) Ouro (Au) Pirita

(Pi) Titacircnio (Ti) Toacuterioterras raras (Th) Zinco (Zn) e Zicocircrnio (Zr)

Natildeo metaacutelicos

Aacutegua mineral (Agm) Amianto (Am) Areia (Ar) Argila (Ag) Enxofre (S) Filito (Fi) Fluacuteor (F) Foacutesforo (P) Gabro (Gb) Gnaisse (Gn) Granito (Gr) Metarenito (ma) Metas-siltito (ms) quartsito (Qt) quartzo (Qz) e Saibro (As)

Calcaacuterios Calcaacuterio (Ca) Calcaacuterio calciacutetico (Cc) Calcaacuterio dolomiacutetico (Cd) Dolomito (Ma) e Maacuter-more (Mm)

Energeacuteti-cos e sais soluacuteveis

Gaacutes (Gs) Petroacuteleo (Pe) e Turfa (Tf ) Sais de magneacutesio (Mg) Potaacutessio (K) e Soacutedio (Na)

Fonte Adaptado de Santos et al (2001 64 p)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 179

Figura 02 Mapa do estado de Sergipe e os mineacuterios

Fonte Santos et al (2001 64 p)

Sergipe eacute detentor de um arcabouccedilo mineraacuterio apresentado no Quadro 01 e demarcado a localizaccedilatildeo geograacutefica das jazidas (Figura 02) que estatildeo concen-tradas de forma significativa proacuteximo agrave capital Aracaju pontual pelo territoacuterio e ao longo da divisa com Alagoas Mineacuterios esses que uma vez explorados con-tribuem para a economia do estado e do Brasil

180 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

3 ASPECTOS ECONOcircMICOS DA MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE

O desenvolvimento do estado (IDH) sofre efeitos do setor mineraacuterio im-pulsionado pela instalaccedilatildeo do polo da Petrobraacutes em 1963 contribuindo para exportaccedilatildeo de petroacuteleo em acircmbito nacional e consequentemente para a eco-nomia aleacutem do desenvolvimento econocircmico do estado (FEITOSA 2006) De acordo com Cruz (2012) a produccedilatildeo de petroacuteleo gerou em Sergipe uma rique-za estimada em R$ 9230 milhotildees por ano e participa com 52 de tudo que eacute produzido (PIB) em 2009 com um crescimento expressivo em relaccedilatildeo a 2008 de 40 ocorrendo tambeacutem no mesmo ano o retorno da mina Taquari Vassouras que em 2009 alcanccedilou altos niacuteveis de produccedilatildeo impulsionando um crescimen-to de 60 na extraccedilatildeo de minerais e consequentemente contribuindo para o PIB do estado

A extraccedilatildeo de mineacuterios aleacutem de contribuir para o PIB do estado contribui para a economia dos municiacutepios mediante o repasse dos royalties conforme a Compensaccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo dos Recursos Minerais (CFEM1) in-dispensaacutevel para o desenvolvimento econocircmico do paiacutes estados e municiacutepios (ICMM 2013) Ressaltando que as cobranccedilas satildeo feitas em virtude das minera-doras estarem explorando terras da uniatildeo assegurado pela Constituiccedilatildeo Fede-ral de 1998 assim consta no Art 20 Satildeo bens da Uniatildeo

()

IX - os recursos minerais inclusive os do subsolo

sect 1ordm Eacute assegurada nos termos da lei aos Estados ao Distrito Fede-

ral e aos Municiacutepios bem como a oacutergatildeos da administraccedilatildeo direta da

Uniatildeo participaccedilatildeo no resultado da exploraccedilatildeo de petroacuteleo ou gaacutes

natural de recursos hiacutedricos para fins de geraccedilatildeo de energia eleacutetri-

ca e de outros recursos minerais no respectivo territoacuterio plataforma

continental mar territorial ou zona econocircmica exclusiva ou com-

pensaccedilatildeo financeira por essa exploraccedilatildeo

1 A CFEM conhecida tambeacutem como royalty da mineraccedilatildeo eacute um dos muitos encargos incidentes na cadeia mineral Esta contribuiccedilatildeo estabelecida pela Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Art 20 sect 1o eacute de-vida aos Estados ao Distrito Federal aos Municiacutepios e aos oacutergatildeos da administraccedilatildeo da Uniatildeo como contraprestaccedilatildeo pela utilizaccedilatildeo econocircmica dos recursos minerais em seus respectivos territoacuterios Os recursos da CFEM satildeo distribuiacutedos da seguinte formabull 12 para a Uniatildeo (DNPM 98 IBAMA 02 MCTFNDCT 2)bull 23 para o Estado onde for extraiacuteda a substacircncia mineralbull 65 para o municiacutepio produtor (ANM 2003)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 181

Art 176 As jazidas em lavra ou natildeo e demais recursos minerais e

os potenciais de energia hidraacuteulica constituem propriedade distinta

do solo para efeito de exploraccedilatildeo ou aproveitamento e pertencem

agrave Uniatildeo garantida ao concessionaacuterio a propriedade do produto da

lavra (BRASIL 2012)

Desde o iniacutecio da lavra mineral em territoacuterio nacional conforme o determi-nado na constituiccedilatildeo a mineradora passa a fazer os repasses dos royalties de acordo a Lei 13540 (Brasil 2017) a qual determina que as mineradoras ensejem o recolhimento da Compensaccedilatildeo Financeira Pela Exploraccedilatildeo de Recursos Mine-rais ndash CFEM A aliacutequota referente aos valores a serem repassados pelas minera-doras (CEFEM) eacute calculada (Quadro 01) em cima da extraccedilatildeo mineral de cada tipo de mineacuterio extraiacutedo em territoacuterio Brasileiro

Tabela 01 As aliacutequotas da porcentagem a ser tributada em royalties para alguns mineacuterios

Lei 13540 de 2017

Substacircncia Aliacutequota

Rochas areias cascalhos saibros e demais substacircncias minerais quando desti-nadas ao uso imediato na construccedilatildeo civil rochas ornamentais aacuteguas minerais e termais

1

Ouro 15

Bauxita Manganecircs Nioacutebio Sal-gema 3

Diamante e demais substacircncias minerais incluindo Cobre 2

Ferro observadas as letras b e c do Anexo (na Lei em questatildeo) 35

Demonstra o porcentual tributado pelas mineradoras de acordo a comercializaccedilatildeo dos mineacuterios explorado no solo brasileiro Fonte Adaptado de httpswwwinescorgbrwp-contentuploads201905CFEM_v02pdfx31288

Essas porcentagens dos repasses especificados em cada mineacuterio satildeo calcu-ladas conforme a receita bruta de vendas realizada pela mineradora acompa-nhado e supervisionado pelo Ministeacuterio de Minas e Energia que executa todo o processo administrativo do CFEM e em seguida faz a distribuiccedilatildeo dos valores aos estados e municiacutepios na forma de royalties

Portanto quanto mais mineradoras em atividade existirem no estado e de-pendendo do tipo de mineacuterio extraiacutedo maior seraacute a arrecadaccedilatildeo No Brasil a partir de 12062018 ateacute 30042019 referente agraves competecircncias de 062018 a 032019 os valores arrecadados bateram a casa dos 154241510553 bilhotildees (ANM 2019)

Os valores arrecadados passam a ser distribuiacutedos conforme procedimentos reestabelecidos no CFEM especificado no decreto Nordm 94072018

182 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Art 2ordm O percentual de quinze por cento a tiacutetulo de Compensa-

ccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo de Recursos Minerais ndash CFEM seraacute

distribuiacutedo para cada substacircncia mineral entre o Distrito Federal

e os Municiacutepios afetados pela atividade de mineraccedilatildeo e os Muni-

ciacutepios gravemente afetados pela perda de receita da CFEM com a

ediccedilatildeo da Lei nordm 13540 de 18 de dezembro de 2017 da seguinte

forma

I - dois por cento para o Distrito Federal e os Municiacutepios como forma

de compensar a perda de arrecadaccedilatildeo da CFEM com a entrada em

vigor da Lei nordm 13540 de 2017 e

II - treze por cento para o Distrito Federal e os Municiacutepios afetados

pela atividade de mineraccedilatildeo em seus territoacuterios

Paraacutegrafo uacutenico A compensaccedilatildeo prevista neste artigo seraacute vinculada

agrave receita da CFEM de cada substacircncia mineral (BRASIL 2018)

Dessa forma como o estado possui municiacutepios que satildeo afetados pela ex-ploraccedilatildeo de mineacuterios passa a receber as devidas porcentagens descritas acima calculados conforme cada mineacuterio explorado totalizando no estado de Sergipe uma arrecadaccedilatildeo de 1032266454 milhotildees no ano de 2018 (SANTANA 2018) Apoacutes a aplicaccedilatildeo das novas regras determinadas pelo decreto nordm 94072018 o estado de Sergipe no periacuteodo de 062018 a 032019 recebeu um total de R$ 64958439 deste valor consta que soacute o municiacutepio de Barra dos Coqueiros recebeu 5481252 com o mineacuterio de cobre ANM (2019)

Portanto os recursos financeiros adquiridos pelo CFEM e distribuiacutedos em royalties potencializam o desenvolvimento do paiacutes onde no Brasil de todos os bens e produtos que contribuem para o Produto Interno Bruto (PIB) o setor mineraacuterio eacute responsaacutevel por 5 do PIB com expressiva contribuiccedilatildeo em acircmbito nacional para o estado de Minas Gerais que deteacutem o ranque do maior produtor de mineacuterios do paiacutes com destaque para o ferro (ICMM 2013)

Por outro lado em Sergipe de acordo com Santos et al (2001) os dados apresentados pelo Sicom ndash Sistema Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e o DNPM os mineacute-rios mais explorados no estado de Sergipe satildeo os minerais metaacutelicos minerais industriais rochas ornamentais substacircncias fertilizantes e substacircncias energeacute-ticas Esses mineacuterios satildeo explorados por induacutestrias nacionais e multinacionais de economia mista ou privada colocando o estado em um panorama mineraacuterio (Figura 03) demonstrado o quanto o setor mineraacuterio vem se desenvolvendo no estado puxado pelo nacional que no panorama mundial o Brasil estaacute entre

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 183

os maiores detentores de jazidas e na produccedilatildeo de mineacuterios ocupando a 11ordf posiccedilatildeo (ARAUJO OLIVEIRA FERNANDES 2014 e BRASIL 2014)

Figura 03 Panorama da Mineraccedilatildeo Nacional e do estado de Sergipe quanto aos requerimentos para extraccedilatildeo de mineacuterios concedidos pelo DNPM no ano de 2018

Fonte Extraiacutedo de httpdadosgovbrdatasetcontrole-de-processos-sicop (2019)

Quando comparado o estado de Sergipe ao panorama da mineraccedilatildeo na-

cional encontra-se atualmente na 22ordf posiccedilatildeo essa posiccedilatildeo se daacute em virtude dos dados apresentados na Figura 03 que correspondem a 65 Requerimentos de Pesquisa (RP) dos 10284 existentes no Brasil com 27 Requerimentos de Li-cenccedila (RL) dos 1880 existentes no Brasil e com o Requerimento de Lavra Ga-rimpeiro (RLG) e Requerimento de Registro de Extraccedilatildeo (REM) dos 1219 e 569 respectivamente existentes no paiacutes ou seja em Sergipe natildeo ocorreu a abertura de novas minas para explorar mineacuterio poreacutem avanccedilou significativamente na pesquisa quando se leva em questatildeo o tamanho de seu territoacuterio (menor da federaccedilatildeo brasileira) Das minas com plena atividade de exploraccedilatildeo no Brasil haacute um total de 8870 grandes companhias mineradoras devidamente detentoras dos registros de extraccedilatildeo e de concessatildeo de lavra distribuiacutedos geograficamen-te (Figura 04) em territoacuterio Nacional (DNPM 2012)

Dessa forma a regiatildeo nordeste possui 1606 empresas atuantes na extraccedilatildeo de mineacuterios que corresponde a 1810 de todo o territoacuterio nacional Uma delas eacute a empresa VALE com a exploraccedilatildeo de potaacutessio no estado de Sergipe respon-saacutevel por toda produccedilatildeo desse mineacuterio em territoacuterio brasileiro equivale a 090 de toda produccedilatildeo mundial (DNPM 2012) As jazidas desse mineral estatildeo loca-lizadas especificamente nos estados da Amazocircnia e de Sergipe poreacutem ocorre exploraccedilatildeo apenas no estado de Sergipe que de acordo o Departamento Na-cional de Produccedilatildeo Mineral - DNPM e Agecircncia Nacional de Mineraccedilatildeo - ANM

184 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Figura 04 Mapa da distribuiccedilatildeo das Companhias Mineradoras no Brasil

Fonte IBRAM (2015 p 08)

Em Sergipe nas regiotildees de TaquariVassouras e Santa Rosa de Lima as

reservas oficiais de silvinita (KCl + NaCl) totalizam 4780 milhotildees de tone-

ladas com teor meacutedio de 97 de K2O equivalente Dessas 682 milhotildees

de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo (teor de 1904 de K2O) que correspon-

dem a 129 milhotildees de toneladas de K2O equivalente representaram em

2013 a reserva lavraacutevel em TaquariVassouras Trabalhos de reavaliaccedilatildeo

de reservas de silvinita na regiatildeo de Santa Rosa de Lima situada 16 km

a oeste de Taquari-Vassouras dimensionaram reserva de aproximada-

mente 669 milhotildees de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo (1548 milhotildees de

toneladas de K2O equivalente) considerando a camada principal Ainda

em Sergipe satildeo conhecidos importantes depoacutesitos de carnalita (KClMg-

Cl26H2O) As reservas totais de carnalita (medida + indicada + inferida)

reavaliadas com teor meacutedio de 1040 de KCl alcanccedilam cerca de 144

bilhotildees de toneladas Encontra-se em fase de implantaccedilatildeo no Estado de

Sergipe projeto que visa o aproveitamento dessas reservas de carnalita

por processo de dissoluccedilatildeo (OLIVEIRA 2017 p 01)

Portanto a extraccedilatildeo dos mineacuterios potaacutessio magneacutesio e soacutedio em Sergipe estaacute concentrada em uma uacutenica regiatildeo do estado no municiacutepio de Rosaacuterio do Catete (Latitude 10o34rsquo40rdquo e Longitude 37o07rsquo15rdquo) classificada como uma das minas mais produtivas e industrialmente modernas do territoacuterio brasileiro (SANTOS et al 2001 e GERMANY 2002) Tem uma produccedilatildeo estimada em 850mil

Fonte IBRAM (2015 p 08)

Distribuiccedilatildeo por Regiotildees do Brasil

Centro-Oeste 1075 empresas

Nordeste 1606 empresas

Norte 515 empresas

Sudeste 3609 empresas

Sul 2065 empresas

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 185

toneladas ano-1 de KCl e extraccedilatildeo previsto ateacute 2022 com potencial de expandir na regiatildeo de Santa Rosa de Lima com a exploraccedilatildeo das novas jazidas em reser-vas de potaacutessio existente (ANM 2018)

Evidente que aleacutem dos sais de potaacutessios que de acordo com Arau-jo (2017) tecircm contribuiacutedo positivamente para a economia do estado e para o avanccedilo da induacutestria de agroquiacutemicos da base agriacutecola do paiacutes no Estado satildeo exploradas outras substacircncias pertencentes agraves seguintes classes mateacuterias-pri-mas para a induacutestria quiacutemica (sal-gema e sal marinho) materiais de construccedilatildeo e ceracircmicos (pedra de construccedilatildeo pedra britada areia e saibro argila para ceracirc-mica estrutural e de revestimento calcaacuterio para cimento cal gesso corretivo de solos e rochas ornamentais) aacuteguas e hidrocarbonetos (petroacuteleo e gaacutes natural) determinantes para a economia do estado (SANTOS et al 2001)

Por exemplo a extraccedilatildeo de mineacuterios denominados agregados (areia brita seixo rolado argila) que estaacute em segundo lugar entre os mineacuterios mais explo-rados no estado para a construccedilatildeo civil (atraacutes apenas da mineraccedilatildeo de sais de potaacutessio) fechou o ano de 2011 com uma estimativa de 5769790t (IBRAM 2012) demonstrando que outros mineacuterios tambeacutem satildeo extraiacutedos no estado com tamanha relevacircncia e importacircncia para o setor mineraacuterio

A extraccedilatildeo de agregados para o estado tem sua parcela significativa para a economia com a geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos que vatildeo desde a matildeo de obra no processo de extraccedilatildeo ao transporte Segundo dados IBRAM (2012) em 2011 os nuacutemeros de empregos no setor mineraacuterio ultrapassaram os 22 milhotildees contabilizando apenas a matildeo de obra especializada ou capacitada pelas empresas para atuarem na aacuterea da pesquisa transporte e extraccedilatildeo dos mineacuterios satildeo pessoas economicamente ativas que consomem os mais diversos produtos e serviccedilos e consequentemente contribuem para a geraccedilatildeo de outros postos de trabalhos (empregos indiretos)

Ano apoacutes ano o mercado de trabalho na induacutestria mineraacuteria vem se man-tendo estaacutevel no cenaacuterio nacional mesmo com as crises que perpassam o paiacutes pois de acordo com ANM (2018) enquanto em outros setores ocorreram de-missotildees o setor da extraccedilatildeo mineral tem registrado aumento nos postos de trabalho com a geraccedilatildeo de 1251 novos trabalhos no ano de 2018 Poreacutem no estado de Sergipe ocorreu uma reduccedilatildeo de 91 postos de trabalho

O saldo negativo de matildeo de obra em Sergipe localizado no setor

de extraccedilatildeo de outros minerais natildeo metaacutelicos (-86) foi influenciado

pelas demissotildees da Vale Fertilizantes que resultou na perda de 86

186 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

postos de trabalho no municiacutepio de Rosaacuterio do Catete (SE) devido agrave

operaccedilatildeo de venda da Vale Fertilizantes para a Mosaic concluiacuteda em

2 de janeiro de 2018 (ANM 2018 p07)

Mesmo com a ocorrecircncia na reduccedilatildeo da matildeo de obra contratada pelo setor mineraacuterio no estado natildeo desmerece a importacircncia da induacutestria mineraacuteria na geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos contribuindo para economia de Sergi-pe aleacutem de no cenaacuterio nacional ter ocorrido um pequeno crescimento na gera-ccedilatildeo de trabalho demonstrado acircnimo para o setor econocircmico do paiacutes mediante os altos iacutendices de desempregos sendo que em 2018 conforme dados do IBGE (2018) o nuacutemero de pessoas desempregadas no Brasil alcanccedilou 128 milhotildees

4 O IMPACTO AMBIENTAL E SOCIAL DA MINERACcedilAtildeO

Os Royalties da mineraccedilatildeo para o estado de Sergipe repassados pelas empresas que realizam a extraccedilatildeo dos mais variados mineacuterios entre eles amianto argila calcaacute-rio calcaacuterio calciacutetico ferro e argila metassiltito (pedra-detalhe) calcaacuterio (maacutermore) ouro potaacutessio entre outros (SANTOS et al 2001) satildeo expressamente importantes para o desenvolvimento econocircmico visto anteriormente que no ano de 2018 em valores reais foram repassados pelo CEFEM ao estado R$ 1032266454 e no primeiro periacuteodo do presente ano (2019) o repasse jaacute chega a R$ 64958439

As contribuiccedilotildees do setor mineraacuterio para economia do estado satildeo bastante relevantes e importantes para o desenvolvimento econocircmico Por outro lado os impactos ambientais2 acometidos pela mineraccedilatildeo satildeo incalculaacuteveis pois atingem vaacuterias esferas da fauna e flora com perda da biodiversidade local so-cioambientais com prejuiacutezos agrave populaccedilatildeo causando reduccedilatildeo na qualidade de vida (sauacutede) e alteraccedilotildees econocircmicas locais (comunidades situadas proacuteximas agrave mineraccedilatildeo) (FERNANDES ARAUJO 2016)

Os impactos da mineraccedilatildeo satildeo agressivos ao meio ambiente principalmen-te em virtude da praacutetica mineraacuteria realizada no Brasil que por deacutecadas faz uso de poucas tecnologias (a exemplo dos garimpos) ou projetos de mineraccedilatildeo considerados com maiores riscos a causar danos ambientais e socioambientais

2 Artigo 1ordm - [] impacto ambiental qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegi-cas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante Das atividades humanas que direta ou indiretamente afetam I - a sauacutede a seguranccedila e o bem-estar da populaccedilatildeo II - as atividades sociais e econocircmicas III - a biota IV - as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V - a qualidade dos recursos ambientais (Resoluccedilatildeo CONAMA Nordm 001 1986)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 187

Haacute destaque para a lavra de mineacuterios a ceacuteu aberto praticada no paiacutes desde me-ados do seacuteculo XVII que perdura ateacute os dias atuais sendo atualmente a maio-ria dos projetos de minas desse tipo ativas em solo brasileiro (GERMANY 2002 ARAUJO FERNANDES 2016)

Os projetos de mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto se justificam por serem tatildeo adota-dos pelas empresas pois demandam de baixa tecnologia aleacutem de serem con-siderados mais econocircmicos comparado com a subterracircnea passando a serem realizados em maior nuacutemero no territoacuterio brasileiro poreacutem a aacuterea de impacto ambiental no solo e subsolo eacute consideravelmente maior (NEME et al 2011) Essa praacutetica de mineraccedilatildeo no territoacuterio brasileiro tem predominacircncia no Nordeste minas de ceacuteu aberto em subniacuteveis (GERMANY 2002)

Com ecircnfase no Nordeste e tomando como exemplo o estado de Sergipe a mina TAQUARIVASSOURAS identificada como uma grande mineradora com extraccedilatildeo de mineacuterio de Potaacutessio eacute realizada a ceacuteu aberto no municiacutepio de Ro-saacuterio do Catete ndash SE pela empresa Cia Vale do Rio Doce (SANTOS et al 2001) Destaca-se entre as inuacutemeras outras minas a ceacuteu aberto existentes no territoacuterio Brasileiro (Quadro 04) realizadas por grandes empresas do setor mineraacuterio com a extraccedilatildeo dos mais variados mineacuterios

Quadro 03 Algumas das principais minas a ceacuteu aberto no territoacuterio brasileiro

Mina Localizaccedilatildeo ProdutoEmpresa

mineradoraProdutividade

103 thomemanoCARAJAacuteS Carajaacutes PA Ferro Vale do Rio Doce 105CAUEcirc Itabira MG Ferro Idem 76CONCEICcedilAtildeO Itabira MG Ferro Idem 76CONGO SOCO Bar de Cocais MG Ferro Idem 18ALEGRIA 9 Mariana MG Ferro Idem 56TIMBOPEBA Mariana MG Ferro Idem 128MORRO AGUDO Piracicaba MG Ferro Idem 26CAPANEMA Itabirito MG Ferro Min Serra Geral 105ALEGRIA Mariana MG Ferro Samarco Min SA 110TAQUARIVASSOURAS Rosaacuterio do Catete SE Potaacutessio Vale do Rio Doce 1500

Fonte Extraiacutedo - GERMANI Darcy Joseacute A Mineraccedilatildeo no Brasil Relatoacuterio Final Centro de Gestatildeo e Estudos Estrateacute-gicos Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo ndash CGEE Rio de Janeiro Maio 2002 55 p

O Quadro 03 apresenta algumas das maiores mineradoras em atividade no paiacutes que desenvolvem os projetos de extraccedilatildeo mineral a ceacuteu aberto algumas delas iniciaram suas atividades desde o periacuteodo da ditadura militar (1964-1985) periacuteodo que o Brasil deu abertura para investimentos no setor mineraacuterio de ca-pital estrangeiro Passou-se a investir pesado em tecnologias expandindo a ca-

188 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

pacidade do paiacutes de extrair mineacuterio e consequentemente abertura de grandes minas chegando a um total de 3354minas maioria a ceacuteu aberto desde entatildeo passaram a surgir os maiores impactos ambientais decorrentes da mineraccedilatildeo (FERNANDES ARAUJO 2016)

Nesse modelo de mineraccedilatildeo aleacutem da aacuterea ocupada pela lavra a grande maio-ria das minas faz uso de barragem de rejeitos que atualmente colocaram o paiacutes em destaque no cenaacuterio mundial diante da instabilidade dessas barragens e dos uacuteltimos acontecidos com desastres ambientais Dos maiores desastres ambien-tais jaacute ocorridos na histoacuteria do paiacutes envolvendo mineraccedilatildeo (Quadro 04) com rom-pimento de algumas das barragens de rejeitos de mineacuterio causando inuacutemeros impactos ambientais o mais emblemaacutetico foi o rompimento da barragem de rejeitos de Mariana-MG que alcanccedilou os leitos fluviais (poluindo o rio Doce do Municiacutepio de Mariana a foz) chegando ateacute o oceano (BRASIL MINERAL 2016)

Quadro 04 Cronologia dos principais rompimentos de barragens no Brasil (desde 2000-2015)

Dat

a

LocalizaccedilatildeoCompanhia associada

Tipo de mineacuterio

Tipo de incidente

Volume liberado

Impactos

5 N

ov 2

015

Mina do Germano Distrito de

Bento Rodrigues Mariana

Minas GeraisBrasil

Samarco MineraccedilatildeoSA (50

BHP Billiton 50 Vale)

Mineacuterio de ferro

Rompimen-to de duas barragens de rejeitos (Primeiro Fundatildeo

depois (San-tareacutem)

62 milhotildees

m3

Uma onda de lama fluiu sobre o povoado de Ben-to Rodrigues destruindo 158 casas e matando 17 pessoas (haacute 2 desapareci-dos) A lama chegou ateacute o litoral doEspiacuterito Santo poluindo o Rio Doce

10 Ja

n 20

07

Miraiacute MinasGerais Brasil

MineraccedilatildeoRio PombaCataguases

Ltda

Bauxita Rompimen-to de uma barragem de rejeito

apoacutes fortes chuvas

2 million m3 de lama

conten-do aacutegua e argila (lama

verme-lha)

O fluxo de lama deixou cerca de 4 mil pessoas nas cidades de Miraiacute e Muriaeacute na Zona daMata sem moradiaColheitas e pastos foram destruiacutedos e o suprimen-to de aacutegua ficou compro-metido em cidades deMinas Gerais e Rio de Ja-neiro

22 Ju

n 20

01

Sebastiatildeo das

Aacuteguas Claras distrito

de Nova Lima Minas Gerais Brasil

MineraccedilatildeoRio Verde

Ltda

Mineacuterio de ferro

Rompi-mento de barragem de rejeitos

A onda de rejeitos viajou 6 km matando dois tra-balhadores e deixando 3desaparecidos

Fonte Revista BRASIL MINERAL - EDICcedilAtildeO 358 ndash DIGITAL

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 189

Dessa forma o paiacutes vem registrando em sua histoacuteria o acuacutemulo de impac-tos ambientais inestimaacuteveis diante das proporccedilotildees provocados pela explora-ccedilatildeo mineral com perdas na fauna flora e ceifando vidas humanas Considera-do ateacute 2015 o rompimento da barragem Fundatildeo em MarianaMG (empresas Samarco Vale e BHP Billiton) como um dos maiores (CARNEIRO 2018) Re-centemente (no dia 25 de janeiro de 2019) o paiacutes entra em luto novamente pelo meio ambiente e pelas centenas de vidas ceifadas apoacutes o rompimento da Barragem I da mina de Feijatildeo liberando 12 milhotildees de metros cuacutebicos de rejeitos de mineraccedilatildeo atingindo as comunidades de Coacuterrego do Feijatildeo e de Parque da Cachoeira chegando ateacute o Rio Paraopeba afluente do Rio Satildeo Francisco causando danos na flora e fauna e lamentavelmente ceifando um total de 333 vidas entre mortos e desaparecidos (Conselho Nacional dos Di-reitos Humanos 2019)

Trageacutedias como essas jamais seratildeo esquecidas aleacutem das vidas ceifadas e os impactos ambientais sob a fauna e flora satildeo incalculaacuteveis diante de tamanha devastaccedilatildeo com prejuiacutezos em toda biota existente na aacuterea afetada Apoacutes fatos como esses exige-se dos oacutergatildeos ambientais maiores fiscalizaccedilotildees e cobranccedilas para as empresas adotarem maiores rigores nos projetos de mineraccedilatildeo para mitigar possiacuteveis impactos ambientais buscando novas tecnologias de cunho sustentaacutevel (BRASIL MINERAL 2016)

Eacute sabido que o oacutergatildeo ambiental com responsabilidade de fiscalizar a atividade mineraacuteria em todo territoacuterio nacional eacute o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis ndash IBAMA bem como de conceder as licen-ccedilas ambientais conforme o cumprimento do Estudo de Impacto Ambiental ndash EIA e Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA Eacute cabiacutevel ao estado direcionar seus oacutergatildeos ambientais para atuarem em conjunto com IBAMA no estado de Sergipe os dois oacutergatildeos ambientais com esse perfil Administraccedilatildeo Estadual do Meio Ambiente ndash ADEMA e a Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe ndash CODISE

Os oacutergatildeos ambientais devem estar atentos a todo processo de extraccedilatildeo dos mineacuterios existentes no estado principalmente as mineradoras que operam a ceacuteu aberto pois devem ter o fluxo de operaccedilatildeo controlado quando localizadas proacuteximo aos centros urbanos ao contraacuterio o grande deslocamento de maacutequi-nas pesadas e caminhotildees pode provocar o deslocamento de massas causando danos ambientais (GERMANI 2002) Aleacutem do fluxo de veiacuteculos (maacutequinas pe-sadas) aumenta as emissotildees de gases ruiacutedos deslocamento de partiacuteculas do solo (poeira) alterando o modo de vida das pessoas provocando problemas na

190 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

sauacutede dos que convivem em torno da aacuterea minerada caracterizando impacto socioambiental (FERNANDES OLIVIERI ARAUJO 2014)

A atenccedilatildeo para a atividade mineraacuteria no estado se daacute porque os processos de extraccedilatildeo de mineacuterio por si soacute jaacute causam os mais diversos impactos ao meio ambiente que de acordo com Andrade (1987) provocam alteraccedilatildeo na geo-grafia local que varia conforme o processo mineraacuterio ou seja a mineraccedilatildeo por tuacutenel torna a aacuterea natildeo agricultaacutevel com ocupaccedilatildeo de um espaccedilo para estaccedilotildees in loco das perfuraccedilotildees enquanto a mineraccedilatildeo por cava a ceacuteu aberto causa uma mudanccedila draacutestica em toda geografia com rebaixamento do solo aleacutem de maior dispersatildeo de partiacuteculas no ar vindo a provocar problemas respiratoacuterios na populaccedilatildeo que residem nas comunidades em torno principalmente se a ex-traccedilatildeo for de calcaacuterio que acarreta na suspensatildeo de grandes quantidades de partiacuteculas

Segundo Mechi e Sanches (2010) a mineraccedilatildeo causa a supressatildeo da vege-taccedilatildeo remoccedilatildeo do solo na extraccedilatildeo dos minerais construccedilatildeo de montanha ou barragem de rejeitos impactando os corpos hiacutedricos apoacutes lixiviaccedilatildeo de sedi-mentos contaminaccedilatildeo do ar pela imissatildeo de partiacuteculas suspensas contendo ga-ses e poeira aleacutem de vibraccedilatildeo sonora Deste modo fica evidente que atividade minerada natildeo causa unicamente impacto ao meio ambiente ela causa impac-tos distintos agrave sociedade pois as pessoas que residem em torno da mineraccedilatildeo tecircm sua dinacircmica alterada com fluxo intenso de veiacuteculos e passam a conviver com os ruiacutedos

Segundo Carvalho (2017) os impactos satildeo distintos causados pela atividade mineral agrave sociedade pois quando afetam as pessoas no seu meio comunitaacuterio satildeo caracterizados impactos socioambientais podendo ser im-pactos positivos de vieacutes econocircmico com a geraccedilatildeo de empregos diretos e in-diretos impulsionando a economia local impactos negativos com alteraccedilatildeo da dinacircmica das pessoas que residem nas comunidades situadas proacuteximas agrave extraccedilatildeo de mineacuterio deixando-as expostas aos ruiacutedos ou agrave contaminaccedilatildeo A autora traz como exemplo uma induacutestria de calcaacuterio localizada no municiacutepio de Simatildeo Dias que em relatos mencionados por moradores e anaacutelise de imagens os impactos ambientais ocorreram desde a supressatildeo da vegetaccedilatildeo e do solo mudando toda a paisagem no local aleacutem da poluiccedilatildeo do ar com a dispersatildeo de partiacuteculas de calcaacuterio (CaCO3(s))

3

3 Mesma composiccedilatildeo quiacutemica da Calcita Principais constituintes mineraloacutegicos das rochas calcaacute-rias moleacutecula composta por Caacutelcio (Ca) natildeo estaacutevel que possui 2 eleacutetrons livres na camada de valecircn-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 191

Portanto o estado de Sergipe natildeo apresenta cataacutestrofes ou grandes crimes ambientais provenientes da mineraccedilatildeo poreacutem na uacuteltima vistoria teacutecni-ca nas mineradoras realizada pela Poliacutecia Ambiental Federal em conjunto com a Poliacutecia Estadual foram constatadas irregularidades quanto agraves licenccedilas am-bientais que devem ser regularizados pela parte interessada junto aos oacutergatildeos competentes (JC 2019) Mesmo sem grandes danos ambientais de repercussatildeo jornaliacutestica no estado natildeo eacute descartado o potencial que a atividade mineraacuteria tem em causar impacto sob a fauna e a flora e agrave sauacutede da sociedade in loco

A capacidade de causar impacto ao meio ambiente pela mineraccedilatildeo ocorre desde a instalaccedilatildeo das grandes induacutestrias a pequenos garimpos4 da lavra ao fe-chamento Uma vez que a aacuterea explorada tem todas suas caracteriacutesticas (fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica) naturais alteradas com a supressatildeo da vegetaccedilatildeo e remo-ccedilatildeo do solo e mesmo apoacutes o fechamento a aacuterea fica exposta agrave accedilatildeo do tempo susceptiacutevel ao intemperismo e agrave lixiviaccedilatildeo de sedimentos aos corpos hiacutedricos (SANTOS et al 2010)

Diante dessas potencialidades de causar impacto ao meio ambiente acaba sendo necessaacuteria a concessatildeo das liberaccedilotildees para lavra pelos oacutergatildeos ambien-tais (IBAMA) o cumprimento das leis ambientais entre elas a elaboraccedilatildeo do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e o Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA

Legislaccedilotildees ambientaisCompete aos oacutergatildeos ambientais detectar a geraccedilatildeo de impactos ambientais

atraveacutes da fiscalizaccedilatildeo nas atividades de mineraccedilatildeo em territoacuterio Brasileiro bus-cando coibir danos nocivos agrave sociedade e a degradaccedilatildeo5 ao meio ambiente6 visando que as empresas atendam o que tange a resoluccedilatildeo CONAMA (1986) no Art 2ordm - Dependeraacute de elaboraccedilatildeo de estudo de impacto ambiental e respectivo relatoacuterio de impacto ambiental ndash RIMA e o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo

cia atingindo sua estabilidade perdendo os 2 eleacutetrons Ca2+ Por sua vez o composto formado por Carbono e Oxigecircnio CO natildeo eacute estaacutevel soacute fica quando ganha 2 eleacutetrons Ca2+ + CO3

2- rarr CaCO3(BROWN LEMAY BURSTEN 2005)

4 Art 70 Considera-seI ndash garimpagem o trabalho individual de quem utiliza instrumentos rudimentares aparelhos ma-nuais ou maacutequinas simples e portaacuteveis na extraccedilatildeo de pedras preciosas semi-preciosas e minerais metaacutelicos ou natildeo metaacutelicos valiosos em depoacutesitos de eluviatildeo ou aluviatildeo nos aacutelveos de cursos drsquoaacutegua ou nas margens reservadas bem como nos depoacutesitos secundaacuterios ou chapadas (grupiaras) vertentes e altos de morros depoacutesitos esses genericamente denominados garimpos (BRASIL 1967)5 II - degradaccedilatildeo da qualidade ambiental a alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente6 I - meio ambiente o conjunto de condiccedilotildees leis influecircncias e interaccedilotildees de ordem fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica que permite abrigam e regem a vida em todas as suas formas (BRASIL 1981)

192 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Art 12 O DNPM estabeleceraacute mediante portaria as aacutereas de ga-

rimpagem levando em consideraccedilatildeo a ocorrecircncia do bem mineral

garimpaacutevel o interesse do setor mineral e as razotildees de ordem social

e ambiental

sect 1o A criaccedilatildeo ou ampliaccedilatildeo de aacutereas de garimpagem fica condicio-

nada agrave preacutevia licenccedila do IBAMA agrave vista de Estudo de Impacto Am-

biental (EIA) e respectivo Relatoacuterio de Impacto Ambiental (Rima) de

acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica (BRAISL 1967)

A instalaccedilatildeo de uma atividade mineraacuteria natildeo pode ser efetivada sem a ela-boraccedilatildeo do RIMA e EIA pelas mineradoras Dessa forma eacute de responsabilida-de na esfera nacional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis ndash IBAMA de acompanhar a aplicabilidade destas (RIMA e EIA) e na esfera estadual estaacute diretamente ligada agrave responsabilidade aos oacutergatildeos governamentais ou de economia mista

Existente no estado os seguintes oacutergatildeos Secretaria de Estado da Induacutestria Comeacutercio e Turismo - INCLUI Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe ndash CODISE Sergipe Minerais SA - SEMISA Admi-nistraccedilatildeo Estadual do Meio Ambiente - ADEMA Instituto de Tecnologia e Pes-quisas de Sergipe ndash ITPS (SANTOS et al 2001)

Satildeo os setores da administraccedilatildeo puacuteblica estadual encarregados por todos os processos burocraacuteticos de anaacutelises quiacutemicas ou documentaccedilatildeo para a mine-raccedilatildeo direcionado aos trabalhos de acordo a cada oacutergatildeo ITPS autarquia inte-grante da administraccedilatildeo puacuteblica estadual responsaacutevel pelas anaacutelises quiacutemicas e estudo dos recursos naturais e minerais ADEMA autarquia vinculada agrave Secre-taria de Estado do Meio Ambiente responsaacutevel pela preservaccedilatildeo e desenvolvi-mento sustentaacutevel do meio ambiente e as licenccedilas ambientais para a execuccedilatildeo das atividades de mineraccedilatildeo SEMISA vinculada agrave Secretaria de Estado da In-duacutestria Comeacutercio e Turismo com convecircnio na CODISE responsaacutevel pelo apro-veitamento econocircmico do setor mineraacuterio CODISE responsaacutevel socialmente pela execuccedilatildeo da poliacutetica de desenvolvimento industrial o aproveitamento dos recursos minerais e na accedilatildeo teacutecnica de pesquisa lavra e execuccedilatildeo das ati-vidades mineraria em todo territoacuterio estadual INCLUI7 na responsabilidade da administraccedilatildeo

7 Secretaria de Estado da Induacutestria Comeacutercio e Turismo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 193

Para tanto os devidos oacutergatildeos estaduais fazem se cumprir o que tange a Constituiccedilatildeo do Estado referente ao artigo 232 agrave garantia de um meio ambien-te ecologicamente equilibrado para as futuras e presentes geraccedilotildees Dessa for-ma a referida constituiccedilatildeo traz no sect 1ordm e IV que para assegurar a efetividade desse direito eacute de responsabilidade do Poder Puacuteblico com o auxiacutelio das enti-dades privadas cobrar das empresas que venham instalar obra no estado com potencial de causar impacto ambiental agrave realizaccedilatildeo de estudo preacutevio de impac-to ambiental ou seja cabiacutevel agrave atividade mineraacuteria por ter altas potencialidade em causar impacto ambiental

O decreto Nordm 98812 de janeiro de 1990 e o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo colocam que mediante identificaccedilatildeo de uma nova aacuterea a ser garimpada ou ampliaccedilatildeo de uma aacuterea jaacute explorada as empresas interessadas devem registrar no DNPM bem como daacute iniacutecio a todos os processos burocraacuteticos como licenccedila ambien-tal EIA e RIMA Reforccedila-se o quanto satildeo importantes os referidos estudos no setor da mineraccedilatildeo para a efetiva garantia de todas as medidas cabiacuteveis para evitar danos ambientais aleacutem dos jaacute causados in loco da aacuterea explorada o Art 18 coloca que ldquoo aproveitamento de bens minerais pelo regime de concessatildeo de lavra ou pelo regime de licenciamento depende de licenciamento do oacutergatildeo ambiental competenterdquo (BRASIL 1990)

Uma vez instalada uma atividade com potencial risco de degradaccedilatildeo am-biental ou atestado in loco apoacutes fiscalizaccedilatildeo os reais prejuiacutezos e sem as devidas licenccedilas ambientais liberadas pelo oacutergatildeo estadual competente integrante do SISNAMA poderatildeo liberaacute-las sem prejuiacutezo de outras licenccedilas exigiacuteveis Sendo ela em caraacuteter estadual a SEMA que poderaacute impugnar a liberaccedilatildeo ou o anda-mento de atividades que venha a causar danos ambientais fora dos limites per-missiacuteveis no licenciamento (BRASIL 1981)

Conforme o previsto na constituiccedilatildeo do estado de Sergipe na seccedilatildeo IV dos recursos minerais em seu Art 250 eacute dever do estado o aproveitamento racio-nal dos recursos minerais Esse aproveitamento deve ocorrer assegurando as premissas que tangem as leis ambientais e o coacutedigo de mineraccedilatildeo para tanto a proacutepria constituiccedilatildeo do estado enfatiza que para a garantia de um desenvolvi-mento harmocircnico eacute necessaacuterio que faccedila o que incumbe o Art 251

I - registrar acompanhar e fiscalizar os direitos de pesquisa e explora-

ccedilatildeo dos recursos minerais e energeacuteticos

II - manter instituiccedilotildees que realizem pesquisas e desenvolvimento de

tecnologia mineral a ele vinculadas direta ou indiretamente

194 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

III - manter um banco de dados de livre acesso ao puacuteblico relativo

agraves informaccedilotildees cartograacuteficas de geociecircncias e recursos naturais po-

dendo cobrar pelo fornecimento dessas informaccedilotildees

IV - promover o mapeamento geoloacutegico baacutesico complementarmen-

te agravequele desenvolvido pela Uniatildeo e a pesquisa tecnoloacutegica fortale-

cendo o desenvolvimento do setor mineral estadual

V - criar o fundo de apoio agrave pesquisa mineral com o objetivo de finan-

ciar a pesquisa e o aproveitamento econocircmico racional dos recursos

minerais bem como o desenvolvimento da tecnologia de recuperaccedilatildeo

de aacutereas degradadas pela atividade de mineraccedilatildeo (SERGIPE 2007)

O estado deve manter seus oacutergatildeos ligados agrave aacuterea da mineraccedilatildeo em pleno funcionamento e atentos aos recursos minerais existentes em seu terri-toacuterio com o banco de dados atualizados visando fomentar ao setor mineraacuterio interesse pela exploraccedilatildeo e consequentemente investimentos privados para exploraccedilatildeo Isso desde que as empresas do setor mineral cumpram as condi-cionantes jaacute apresentadas acima ou com o que estaacute previsto na Lei Nordm 6938 de agosto de 1981 no artigo 3ordm natildeo tenham cometidos degradaccedilatildeo ambiental danos agrave sauacutede e ao bem estar da populaccedilatildeo lanccedilamento de mateacuterias rejeitos em corpos hiacutedricos afetando todo um ecossistema Pois quando causar degra-daccedilatildeo a empresa estaraacute sujeita agrave reparaccedilatildeo dos prejuiacutezos ambientais conforme previsto na referida lei artigo 4ordm - A Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente visaraacute VII - agrave imposiccedilatildeo ao poluidor e ao predador da obrigaccedilatildeo de recuperar eou indenizar os danos causados e ao usuaacuterio da contribuiccedilatildeo pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais com fins econocircmicos (BRASIL 1981)

Portanto no Brasil aquele que fizer uso dos recursos ambientais com altera-ccedilotildees ou degradaccedilatildeo da aacuterea estaraacute sujeito agrave recuperaccedilatildeo8 e tratando-se de de-gradaccedilatildeo por mineraccedilatildeo a empresa deve elaborar o Plano de Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas (PRAD) principalmente apoacutes o fechamento da lavra ou seja quando as empresas cessarem suas atividades de extraccedilatildeo de mineacuterio devem dar iniacutecio agrave aplicabilidade do plano devidamente aprovado pelas autoridades competentes Pois a recuperaccedilatildeo da aacuterea degradada pela extraccedilatildeo de mineacute-rio tem que proporcionar o retorno de suas caracteriacutesticas fiacutesicas e bioloacutegicas de forma gradativa com o desenvolvimento de espeacutecies de aacutervores nativas ou

8 Conjunto de procedimentos atraveacutes dos quais eacute feita a recomposiccedilatildeo da aacuterea degradada para o estabelecimento da funccedilatildeo original do ecossistema (ABNT NBR 13030)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 195

adaptadas a regiatildeo deixando-a acessiacutevel agrave fauna e consequentemente integraacute--la ao ambiente da regiatildeo (SANTOS 2017)

A NBR 13030 (1999) apresenta as definiccedilotildees de todas as medidas que de-vem ser tomadas na elaboraccedilatildeo de um PRAD bem como todos os itens que de-vem ser bem descritos na elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de projeto de reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas pela mineraccedilatildeo sequenciados em ordem conforme um modelo anexado dentro da NBR para ser seguido Quando elaborado eacute neces-saacuterio que seja atendida uma descriccedilatildeo fiel de todos os procedimentos necessaacute-rios que seratildeo adotados durante o processo de recuperaccedilatildeo visando devolver a aacuterea a fauna e a flora no ecossistema

Os rejeitos9 gerados durante o processo de mineraccedilatildeo tecircm que ser condi-cionados em local apropriado evitando contaminaccedilatildeo de outras aacutereas ou a li-xiviaccedilatildeo para corpos hiacutedricos Dessa forma eacute necessaacuterio proceder conforme as orientaccedilotildees contidas na ABNT NBR 13028 (2017) que trata sobre a importacircncia do projeto para construccedilatildeo de barragem de rejeitos de mineacuterios soacutelidos ou natildeo elaborados seguindo todos os procedimentos indicados na norma a exemplo de estudo geoloacutegico da aacuterea estudo siacutesmico anaacutelise quiacutemica do siacutetio de rejeito entre outros

CONCLUSAtildeO

O estado de Sergipe eacute o menor da Federaccedilatildeo Brasileira com um territoacuterio de 21926908 kmsup2 destacando-se perante os demais estados do Nordeste por possuir inuacutemeras riquezas em minerais que vatildeo desde os metaacutelicos natildeo me-taacutelicos calcaacuterios energeacuteticos e sais soluacuteveis Com exploraccedilatildeo marcada desde o periacuteodo do Brasil colocircnia na garimpagem de pedras preciosas e por volta de deacutecada de XX com o avanccedilo da exploraccedilatildeo no Nordeste em escala industrial Sergipe se destaca na produccedilatildeo de potaacutessio e calcaacuterio

Toda a exploraccedilatildeo mineral existente no estado o coloca na 22ordm posiccedilatildeo no panorama nacional com destaque para a exploraccedilatildeo de sais de potaacutessio pois eacute o maior produtor em escala nacional e o paiacutes o detentor de 090 de toda a pro-duccedilatildeo mundial Outros mineacuterios bastante extraiacutedos no estado satildeo o calcaacuterio e agregados para construccedilatildeo civil ambos satildeo explorados atraveacutes de minas a ceacuteu

9 Todo e qualquer material descartado durante o processo de beneficiamento de mineacuterios (ABNT NBR 130282017)

196 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

aberto considerado o processo de mineraccedilatildeo com maior potencial de causar impactos ambientais durante o processo extraccedilatildeo e ao termino

Visto que a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto causa impactos ao meio ambiente des-de o iniacutecio do processo de garimpagem com a remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo e do solo existente no local alterando toda a aacuterea e apoacutes o fechamento da lavra pode continuar impactando com a lixiviaccedilatildeo de sedimentos ou rejeitos para os cor-pos hiacutedricos tornam-se necessaacuterias medidas cabiacuteveis determinadas pelo coacutedi-go de mineraccedilatildeo na jurisdiccedilatildeo do DNPM sob-responsabilidade do IBAMA e os oacutergatildeos vinculados agrave mineraccedilatildeo do estado INCLUI CODISE SEMISA ADEMA que eacute a realizaccedilatildeo do EIA e da RIMA para iniacutecio das atividades de mineraccedilatildeo e o PRAD apoacutes o fechamento da lavra

Atualmente o setor da mineraccedilatildeo passa por fiscalizaccedilotildees rigorosas nas ex-ploraccedilotildees existentes no paiacutes buscando evitar trageacutedias como o rompimento da barragem do Fundatildeo e a barragem I da mina do feijatildeo em Minas Gerais Torna-se necessaacuterio que as mineradoras realizem projetos com maiores investi-mentos para estabilizaccedilatildeo dessas barragens e novas tecnologias a exemplo das tecnologias existentes na extraccedilatildeo de mineacuterio a seco com baixo uso de aacutegua e dispensando a criaccedilatildeo de barragens para os rejeitos

Felizmente o estado natildeo registra grandes impactos ambientais apenas os jaacute de conhecimento na extraccedilatildeo de mineacuterios Os impactos negativos com al-teraccedilotildees na fauna e flora aleacutem de mudar toda a dinacircmica das comunidades situadas em torno estatildeo atrelados aos serviccedilos sociais que as empresas podem oferecer agraves comunidades aleacutem da geraccedilatildeo de emprego

Impulsiona-se a economia dos municiacutepios e do estado fortalecendo o PIB na escala nacional aleacutem eacute claro dos royalties repassados pelas empresas de mineraccedilatildeo ao DNPM e redistribuiacutedos aos Estados Municiacutepios e Distrito Federal como Compensaccedilatildeo Financeira Pela Exploraccedilatildeo de Recursos Minerais ndash CFEM No vigente ano de 2019 o estado de Sergipe jaacute recebeu o repasse no valor de R$ 64958439 conforme dados da ANM

REFEREcircNCIAS

ANDRADE Manuel Correia de Mineraccedilatildeo no Nordeste depoimentos e experiecircncias Brasiacutelia CNPq Assessoria Editorial e Divulgaccedilatildeo Cientiacutefica 1987

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 197

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ARAUJO Joseacute Danilo Santos Cavalcanti de O estado na mediaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral em Sergipe In IV Encontro nacional e X Foacuterum estado capital trabalho O fim dos pensamentos criacutetico reflexivo A negaccedilatildeo do humano e a banalizaccedilatildeo da teoria 2017 Satildeo Cristoacutevatildeo - SE GT 2 Estado Territoacuterio e Poliacuteticas PuacuteblicasUniversidade Fede-ral de Sergipe Campo Satildeo Cristoacutevatildeo 2017

ARAUJO Eliane Rocha OLIVIERI Renata Damico FERNANDESFrancisco Rego Chaves Atividade mineradora gera riqueza e impactos negativos nas comunidades e no meio ambiente Capiacutetulo do livro ldquoRecursos Minerais e Sociedade impactos humanos ndash so-cioambientais ndash econocircmicosrdquoCentro de Tecnologia Mineral Ministeacuterio da Ciecircncia Tecno-logia e Inovaccedilatildeo ndash CETEM Rio de Janeiro 2014

ARAUJO Eliane R FERNANDES Francisco R Chave Mineraccedilatildeo no Brasil crescimento econocircmico e conflitos ambientais In GUIMARAtildeES Paulo Eduardo CEBADA Juan Diego Peacuterez Conflitos Ambientais na Induacutestria Mineira e Metaluacutergica o passado e o pre-sente CICP - Centro de Investigaccedilatildeo em Ciecircncia Poliacutetica Portugal CETEM - Centro de Tecnologia Mineral Brasil Rio de Janeiro Eacutevora Cap 02 2016

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 201

AGRICULTURA DE BASE AGROECOLOacuteGICA NOVAS PERSPECTIVAS PARA O (DES)ENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ESTADO DE SERGIPE

Amanda da Silva SantosElis Gardecircnia dos SantosFranciley Santos LeiteNuacutebia Dias dos Santos

1 INTRODUCcedilAtildeO

Se fizermos um pequeno esforccedilo para imaginarmos o modelo de cultivo em-pregado no Brasil num periacuteodo preacute-colonial provavelmente a imagem que teremos em mente seraacute de povos originaacuterios manejando o solo coletando e produzindo conforme suas necessidades baacutesicas de nutriccedilatildeo e principalmente conforme a diversidade da fauna e flora disponibilizada em cada localidade Modelo este que em nada se assemelha com a agricultura conservadora forte-mente adotada atualmente como principal modelo de produccedilatildeo

Observando o processo de colonizaccedilatildeo do Brasil de maneira mais profunda e comparando-o com o processo de colonizaccedilatildeo de outros paiacuteses como por exemplo os Estados Unidos chegamos agrave conclusatildeo de que estes processos em muito se diferem principalmente quando tratamos sobre suas finalida-des e as relaccedilotildees estabelecidas com os povos originaacuterios de cada territoacuterio Eacute importante olharmos para estes elementos com atenccedilatildeo jaacute que haacute pouco mais de 500 anos atraacutes existiu no Brasil um projeto de colonizaccedilatildeo que priorizava majoritariamente a extraccedilatildeo de recursos naturais para exportaccedilatildeo ao inveacutes do (des)envolvimento da proacutepria localidade Esta loacutegica extrativista e predatoacuteria assombrou e permanece assombrando o Brasil ateacute os dias atuais

No Brasil no decorrer dos anos de 1500 ateacute a atualidade mantivemos rela-ccedilotildees que nos afastaram cada vez mais da natureza Passamos a nos apropriar do que denominamos atualmente de recursos naturais coisificamos os ambientes e seres que nos cercam e construiacutemos barreiras verticais que nos impedem de ver e ouvir o som do que antes tiacutenhamos como elementos que compunham nossas ancestralidades Objetificamos o proacuteprio homem que por anos foi

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transformado em mercadoria evidenciando o caraacuteter predatoacuterio e avassalador do nosso modelo de sociedade Se antes havia uma relaccedilatildeo de intimidade esta-belecida com a terra hoje a compreendemos apenas como um meio para atin-gir o objetivo da produtividade que por sua vez alimenta a loacutegica do consumo estabelecida pelo sistema capitalista

Considerando este breve e simplificado processo histoacuterico precisamos compreender que apesar das relaccedilotildees complexas ainda somos uma socie-dade relativamente nova e que apesar da pouca idade enfrentou grandes transformaccedilotildees ao longo destes anos Aqui nos atentaremos a dois elementos destas transformaccedilotildees agrave produccedilatildeo de alimentos ancorada na loacutegica do capi-tal e ao desenvolvimento econocircmico social e ambiental relacionados a esta produccedilatildeo tendo em vista e emergecircncia de um modelo de agricultura que seja capaz de superar as problemaacuteticas relacionadas ao que compreendemos en-quanto agricultura conservadora Com este intuito faremos no decorrer do texto 1- uma contextualizaccedilatildeo histoacuterica do modelo de produccedilatildeo agriacutecola con-servadora considerando os seus objetivos e resultados alcanccedilados discutida no toacutepico ldquoContextualizaccedilatildeo e controveacutersias do atual modelo de produccedilatildeo agriacutecola predominante no Brasilrdquo 2- uma leitura do padratildeo de desenvolvimento rural estabelecido no Brasil e Nordeste relacionados ao agronegoacutecio com o toacutepico ldquoAgronegoacutecio e o desenvolvimento rural no Brasil e Nordesterdquo e por fim 3- a apresentaccedilatildeo da Agroecologia enquanto alternativa natildeo somente ao modelo agriacutecola de produccedilatildeo predominante mas tambeacutem como (des)envolvimento do desenvolvimento excludente e predatoacuterio que vemos nos dias de hoje no esta-do de Sergipe tendo como perspectiva a sustentabilidade Para isso nos apoia-remos em algumas experiecircncias observadas no estado de Sergipe e que seratildeo expostas no terceiro toacutepico denominado ldquoUm breve olhar sobre o caminhar agroecoloacutegico no estado de Sergiperdquo Por fim 4- faremos a sistematizaccedilatildeo das principais ideias abordadas considerando as conquistas e desafios observados para o estado de Sergipe levando em consideraccedilatildeo os elementos discutidos ao longo do texto e as experiecircncias apresentadas

2 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO E CONTROVEacuteRSIAS DO ATUAL MODELO DE PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA PREDOMINANTE NO BRASIL

A agricultura conservadora que surgiu apoacutes o iniacutecio da Revoluccedilatildeo Indus-trial trouxe consigo promessas de teacutecnicas avanccediladas de produccedilatildeo aumento da produtividade e principalmente o suprimento da baixa oferta de alimen-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 203

tos provocada pelo grande investimento de capital na induacutestria beacutelica antes e durante a Segunda Guerra Mundial Nestes periacuteodo pacotes tecnoloacutegicos foram disseminados sem que houvessem maiores informaccedilotildees a respeito dos danos e prejuiacutezos na sua utilizaccedilatildeo fazendo com que um nuacutemero consideraacutevel de produtores de grande e meacutedio porte fossem conquistados pelas promessas de altos iacutendices de produccedilatildeo baixa nos percentuais de perda das safras por consequecircncia dos ldquoinimigos naturaisrdquo e a idealizaccedilatildeo distoacutepica da garantia de desenvolvimento rural em decorrecircncia da inserccedilatildeo dos novos elementos nos sistemas de produccedilatildeo como insumos quiacutemicos fertilizantes sinteacuteticos e ma-quinaacuterios pesados a chamada modernizaccedilatildeo da agricultura

Os processos que envolvem o periacuteodo de modernizaccedilatildeo da agricultura com a incorporaccedilatildeo de tecnologias baseadas na utilizaccedilatildeo de insumos beneficiaram um setor especiacutefico da sociedade detentores do capital para investimento e possuidores de terras altamente produtivas tornando mais evidente as desi-gualdades existentes no campo principalmente em relaccedilatildeo agrave posse de aacutereas para moradia e produccedilatildeo Desta forma o fortalecimento do discurso elaborado para estabelecer a propagaccedilatildeo dos pacotes tecnoloacutegicos ldquocapazesrdquo de garantir estabilidade econocircmica melhoria no rendimento das safras e seguranccedila ali-mentar conquistou em todo o mundo agricultores de meacutedio e grande porte natildeo alcanccedilando os pequenos agricultores que ficaram agrave margem das tecno-logias aplicadas ao campo Jaacute os ldquobeneficiadosrdquo grandes latifundiaacuterios com o passar do tempo viram-se presos as condiccedilotildees de dependecircncia constante dos insumos quiacutemicos difundidos pelo novo modelo de produccedilatildeo enquanto as problemaacuteticas relacionadas agrave fome e desigualdade no meio rural e urbano continuaram sem soluccedilatildeo

Aleacutem dos prejuiacutezos na base e estrutura da sociedade a Revoluccedilatildeo Verde tambeacutem contribuiu direta e intensificadamente com fatores relacionados aos problemas ambientais como degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo do solo contamina-ccedilatildeo de aacutereas atraveacutes da utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos a ocorrecircncia de desequiliacutebrio dos ecossistemas afetados pela diminuiccedilatildeo ou excesso populacional da fauna e flora diminuiccedilatildeo e ateacute extinccedilatildeo da diversidade de alimentos consumidos con-forme as diferentes culturas e localidades a poluiccedilatildeo das aacuteguas etc Produtores e consumidores passaram a inalar e ingerir agrotoacutexicos atraveacutes do contato dire-to indireto ou pela ingestatildeo dos alimentos adquirindo problemas relacionados a sauacutede e nutriccedilatildeo e que estatildeo intimamente relacionados aos componentes existentes em venenos que deveriam afetar apenas as ldquopragasrdquo em seus culti-vos como preceituam as propagandas

204 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Podemos citar tambeacutem problemas socioeconocircmicos decorrentes da impos-sibilidade de permanecircncia dos agricultores no campo que por sua vez migra-ram para os centros urbanos em busca de emprego poreacutem sem que houvesse um acompanhamento das possibilidades concretas de estabilizaccedilatildeo nas cida-des Em virtude disso boa parte destas pessoas acabaram por viver agrave margem da sociedade com pouca estrutura motivadas pela esperanccedila de melhorias e contribuindo mesmo que de maneira inconsciente para o aumento da reserva de matildeo-de-obra durante a consolidaccedilatildeo da Revoluccedilatildeo Industrial

Segundo Caporal (2009) ao tratar sobre o periacuteodo de incorporaccedilatildeo das pro-postas relacionadas agrave Revoluccedilatildeo Verde no final da Segunda Guerra Mundial ldquoa Revoluccedilatildeo Verde que ia resolver o problema da fome no mundo foi um fracas-so Hoje temos mais de 800 milhotildees de famintos no mundordquo Apesar disso natildeo podemos negar os avanccedilos conquistados atraveacutes de melhorias na produccedilatildeo e produtividade de alguns produtos em especial em algumas regiotildees dos paiacuteses Todavia ao observarmos o suposto ldquosucessordquo da Revoluccedilatildeo Verde precisamos apontar os tantos danos tatildeo graves quanto a proacutepria fome como por exemplo os problemas sociais e ambientais o expressivo distanciamento econocircmico en-tre as classes sociais ocasionado pelo proacuteprio modelo de produccedilatildeo que con-sequentemente fortalece a diferenciaccedilatildeo social empobrecimento e endivida-mento dos agricultores aleacutem da crescente e constante perda da biodiversidade e suas implicaccedilotildees para a sanidade da vida

Podemos notar os efeitos disso nas palavras de Altieri (2004 pg 19) e que convergem com o pensamento de Caporal quando ele diz que

A crise agriacutecola-ecoloacutegica existente hoje na maior parte do Terceiro

Mundo resulta do fracasso do paradigma dominante de desenvolvi-

mento As estrateacutegias de desenvolvimento convencionais revelaram-

-se fundamentalmente limitadas em sua capacidade de promover

um desenvolvimento equacircnime e sustentaacutevel Natildeo foram capazes

nem de atingir os mais pobres nem de resolver o problema da fome

da desnutriccedilatildeo ou as questotildees ambientais

Neste sentido Caporal (2009 pg 85) complementa ao dizer que

a natureza nessa loacutegica passou a ser vista simplesmente como um

conjunto de recursos a serem usados pelo homem () passadas es-

tas deacutecadas de desenvolvimentismo estamos vendo cair por terra

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 205

um por um dos iacutecones da modernizaccedilatildeo agriacutecola () o que sabemos

agora eacute que pouco a pouco muitos dos cientistas que recomen-

davam e ensinavam o uso dos chamados pacotes tecnoloacutegicos da

Revoluccedilatildeo Verde foram reorganizando seus conhecimentos e des-

mistificando aqueles padrotildees tecnoloacutegicos dados os problemas que

foram se evidenciando

Portanto apesar dos expressivos resultados obtidos a partir da moderni-zaccedilatildeo da agricultura as contradiccedilotildees deste modelo conservador de produccedilatildeo aleacutem de evidenciar diversas problemaacuteticas ambientais contribui para acentuar as questotildees sociais e econocircmicas presentes no meio rural e urbano ao privile-giar os interesses de uma das classes detentora natildeo somente dos meios de pro-duccedilatildeo mas tambeacutem dos territoacuterios e recursos necessaacuterios para proposiccedilatildeo de um desenvolvimento equacircnime tratando-se entatildeo de conflitos de interesses Um modelo de produccedilatildeo que estaacute a serviccedilo do capital financeiro e latifundiaacuterio deixando de lado os indiviacuteduos que sofreram e sofrem as consequecircncias deste processo de modernizaccedilatildeo

3 AGRONEGOacuteCIO E O DESENVOLVIMENTO RURAL NO BRASIL E NORDESTE

Historicamente o agronegoacutecio cadeia produtiva que vai desde o plantio ateacute a industrializaccedilatildeo surge no Brasil mais precisamente na regiatildeo sul na deacutecada de 1970 a fim de elevar o Brasil ao patamar de grande exportador de commo-dities (produtos que funcionam como mateacuteria-prima produzidos em grande escala e que podem ser estocados sem perda da qualidade) Ao instalar-se defi-nitivamente as consequecircncias imediatas satildeo o desemprego uma vez que o uso da tecnologia ateacute entatildeo desconhecida pelo trabalhador rural o obriga a buscar emprego na cidade Outra consequecircncia foi o endividamento do pequeno pro-dutor que natildeo conseguia vender seu produto por produzir em pequena escala com isso natildeo podia pagar as parcelas do empreacutestimo com o banco assim levan-do a perda de sua propriedade (ARAUacuteJO 2010)

A instabilidade poliacutetica e econocircmica da eacutepoca leva ao fenocircmeno do ecircxodo rural O camponecircs se vecirc obrigado a deixar o campo indo para a cidade uma grande parte rumou para o Paraguai atraiacutedos por promessas de terras baratas para plantar soja pelo interesse do governo paraguaio em ocupar a fronteira Brasil-Paraguai em decorrecircncia da construccedilatildeo da hidreleacutetrica de Itaipu Outros

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ainda rumaram para o cerrado brasileiro pois a Embrapa implantava um sis-tema de correccedilatildeo do aacutecido solo do cerrado para receber o agronegoacutecio para plantar soja em grande escala (ARAUacuteJO 2010)

Jaacute na deacutecada de 1982 no Sul surgem as primeiras revoltas os agora denomi-nados sem-terra invadem a cidade de Porto Alegre armados com foices facotildees e enxadas Em 1985 esse movimento ganha dimensotildees nacionais levantando como instrumento de luta a invasatildeo de terras improdutivas (ARAUacuteJO 2010)

A agricultura apresenta duas faces de um lado o agronegoacutecio subsidiado pelo governo e do outro lado o pequeno produtor sem incentivo governa-mental onde todas as atenccedilotildees se voltam para a produccedilatildeo agriacutecola em larga escala para a exportaccedilatildeo

Hoje uma das grandes frentes de expansatildeo do agronegoacutecio eacute o Nordes-te brasileiro com a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco por exemplo as terras aacuteridas satildeo preparadas para o plantio em alta escala causando significativas mudanccedilas poliacuteticas econocircmicas sociais e territoriais A regiatildeo Nordeste eacute consi-derada promissora em decorrecircncia de seu clima (altas temperaturas baixa umi-dade relativa do ar luminosidade) aleacutem da desvalorizaccedilatildeo da terra levando o pequeno produtor a arrendar sua terra para as grandes induacutestrias pois se torna impossiacutevel concorrer com os grandes investidores

Por fim refletimos que o agronegoacutecio trouxe realmente grandes avanccedilos agrave regiatildeo Nordeste produzindo riqueza mas por outro lado a pobreza se alas-tra de forma que eacute visiacutevel o aumento do nuacutemero de favelas natildeo soacute nas aacutereas urbanas mas como na aacuterea rural o agravamento dos problemas ambientais a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e fundiaacuteria satildeo exemplos do que o modelo agriacutecola dominante promove

Emergem entatildeo discussotildees a respeito da promoccedilatildeo de modelos alternativos em seus diversos niacuteveis sendo um deles a Agroecologia que tem como princiacute-pios e meacutetodos desenvolver uma agricultura capaz de estabelecer um ambien-te consistente altamente produtivo e economicamente viaacutevel (RITTER CASTE-LAN GRIGOLETTO 2003) Como alternativa ao modelo ainda predominante de produccedilatildeo a Agroecologia mostra-se como proposta de uma agricultura mais ecologicamente saudaacutevel nos diversos sentidos e compreensotildees da palavra jaacute que estaacute presente como caracteriacutestica em vertentes possiacuteveis decorrentes dos movimentos ambientalistas num contexto que tem base em debates que tra-tam de desenvolvimento em conjunto com a sustentabilidade (ELICHER 2004) Assegurar a qualidade de vida e simultaneamente suprir as demandas sociais na perspectiva do avanccedilo tecnoloacutegico apresenta-se como um grande desafio

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 207

aos olhos deste debate jaacute que existe a constante preocupaccedilatildeo com o equiliacutebrio recuperaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos recursos naturais para a atual e futuras geraccedilotildees

4 UM BREVE OLHAR SOBRE O CAMINHAR AGROECOLOacuteGICO NO ESTADO DE SERGIPE

A Agroecologia eacute a ciecircncia que busca entender o funcionamento dos agros-sistemas complexos bem como os das diferentes interaccedilotildees entre os seres vivos tendo como princiacutepio a conservaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo da biodiversidade como base para produzir auto regulaccedilatildeo e consequentemente sustentabilida-de (ASSIS et al 2002 pg 67-80) Desta forma a Agroecologia pode contribuir de sobremaneira como mecanismo para enfrentamento da atual crise socioam-biental onde o processo civilizatoacuterio traduz uma destruiccedilatildeo dos ecossistemas (BOFF 1995) Assim organizaccedilotildees internacionais estados e municiacutepios vecircm buscando novos caminhos de modo a tentar minimizar esse modelo de agri-cultura dominante no Brasil Na perspectiva de buscar uma melhor convivecircncia do homem com a natureza com o intuito de minimizar a desigualdade social de modo que todas as pessoas possam ser alimentadas de forma digna como rege o Art 6ordm da Constituiccedilatildeo Federal de 19881

Assim o que se percebe eacute que cada dia vem crescendo o movimento agroe-coloacutegico que se figura como um novo pensar de produccedilatildeo agriacutecola diferente do modelo convencional Para tanto se faz necessaacuterio realizar o processo chamado de transiccedilatildeo da agricultura convencional para a agroecoloacutegica esta por sua vez tem como proposta produzir alimentos saudaacuteveis sem usos de defensivos quiacute-micos tudo isso interagindo com os recursos naturais hora existente nas pro-priedades garantindo assim perspectivas de melhoria de vida para a atual e as futuras geraccedilotildees Na perspectiva da promoccedilatildeo de uma condiccedilatildeo de vida digna onde todos possam conviver de forma integrada de modo a provocar a con-vocaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da agroecologia como destaca (ALTIERI 1998) que a agroecologia eacute a dinacircmica produtiva da agricultura sustentaacutevel eacute sem duacutevida um poderoso instrumento de visualizaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo da agroecologia como aacuterea de conhecimento e como praacutetica produtiva

1 Art 6ordm da CF- Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o transporte o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assis-tecircncia aos desamparados na forma desta

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Ademais a produccedilatildeo agroecoloacutegica requer um manejo adequado das accedilotildees humanas com a natureza seja no cuidado adequado com o solo as plantas e as aacuteguas isso exige um rearranjo das relaccedilotildees das pessoas entre si e com a na-tureza das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo e participaccedilatildeo efetiva nas accedilotildees realizadas sem a degradaccedilatildeo ambiental do territoacuterio Nas palavras de Altieri (1987 pg 66) ldquouma estrateacutegia fundamental na agricultura sustentaacutevel eacute recuperar a diversida-de agriacutecola no tempo e no espaccedilo atraveacutes de rotaccedilotildees de culturas cultivos de cobertura consorciaccedilotildees sistemas de cultivo-criaccedilatildeo etcrdquo Neste sentido faz-se necessaacuterio a aplicabilidade de poliacuteticas puacuteblicas com accedilotildees mais efetivas de governos que contribuam com as melhorias da praacutetica dessa agricultura a ser realizada de forma sustentaacutevel Quando se fala em agroecologia fala-se da valo-rizaccedilatildeo do saber do homem do campo e do processo cultural de um territoacuterio

Numa perspectiva atual a Agroecologia reflete um pensamento muito mais amplo natildeo soacute como sustentabilidade mas como regeneraccedilatildeo com relaccedilatildeo ao solo degradado erosatildeo salinizaccedilatildeo ou seja a recuperaccedilatildeo da capacidade pro-dutiva dos recursos naturais Deste modo algumas accedilotildees de recuperaccedilatildeo jaacute es-tatildeo sendo utilizadas com o intuito de minimizar o efeito das accedilotildees do homem para com a natureza Vale destacar o Programa um milhatildeo de cisternas (P1MC e P1+) onde atraveacutes do programa pode oportunizar o armazenamento de aacutegua com a captaccedilatildeo de aacutegua da chuva atraveacutes das cisternas de placas tanto para o consumo humano e aacutegua para produccedilatildeo de alimentos (ASA Brasil)2 Quan-to agrave prevenccedilatildeo e recuperaccedilatildeo de aacutereas degradas alguns estados do nordeste pode contar com as URADS3 programa desenvolvido pelo Ministeacuterio de Meio Ambiente (MMA) atraveacutes do Departamento de Desenvolvimento Rural Susten-taacutevel e Combate agrave Desertificaccedilatildeo (DRSD) no estado de Sergipe o primeiro ex-perimento estaacute sendo realizado no municiacutepio de Poccedilo Redondo (MMA 2019) Aleacutem do projeto Manejo da Caatinga consistia em proposiccedilotildees de manejo da vegetaccedilatildeo nativa na regiatildeo semiaacuterida a proposta teve o apoio do Ministeacuterio do Desenvolvimento Social ndash MDS onde fora realizada junto as accedilotildees do Projeto

2 A ASA eacute uma rede que defende propaga e potildee em praacutetica inclusive atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas o projeto poliacutetico da convivecircncia com o Semiaacuterido Eacute uma rede que eacute formada por mais de trecircs mil organizaccedilotildees da sociedade civil de distintas naturezas ndash sindicatos rurais associaccedilotildees de agriculto-res e agricultoras cooperativas ONGacutes Oscip etcEssa rede conecta pessoas organizadas em entidades que atuam em todo o Semiaacuterido defendendo os direitos dos povos e comunidades da regiatildeo As entidades que integram a ASA estatildeo organizadas em foacuteruns e redes nos 10 estados que compotildeem o Semiaacuterido Brasileiro (MG BA SE AL PE PB RN CE PI e MA)3 URADS Unidades de Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas e Reduccedilatildeo da Vulnerabilidade

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 209

Dom Helder Cacircmara4 (MDS 2011) Vale salientar que essas praacuteticas todas elas perpassam pelo vieacutes agroecoloacutegico

Accedilotildees como essas estatildeo sendo realizadas no Brasil bem como em Sergipe O que se vecirc no estado de Sergipe eacute a procura pelos produtos agroecoloacutegicos apesar do conflito eminente com a agricultura convencional

No estado de Sergipe teacutecnicos da Empresa de Desenvolvimento Agropecu-aacuterio de Sergipe ndash EMDAGRO preocupados com a situaccedilatildeo agriacutecola no estado fizeram proposiccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intercacircmbio no ano de 1985 onde vin-te seis agricultores familiares puderam conhecer experiecircncias agroecoloacutegicas exitosas no estado de Satildeo Paulo Jaacute no ano de 1998 surge a parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria ndash EMBRAPA com a EMDAGRO a qual pro-porcionou a estrutura do Centro de Treinamento da EMDAGRO que atualmen-te eacute uma unidade de pesquisa e difusatildeo de tecnologias agroecoloacutegicas para todo o Estado de Sergipe e em especial para a Regiatildeo do Agreste ver Figura 1

Figura 1 - Experiecircncia Agroecoloacutegica no Centro de Treinamento da EMDAGROSE

Foto Elis Gardecircnia Santos ndash marccedilo 2019

Vale destacar a experiecircncia da produccedilatildeo orgacircnicaagroecoloacutegica no estado de Sergipe realizada pela Associaccedilatildeo de Produtores Orgacircnicos do Agreste ndash

4 PROJETO DOM HELDER CAMARA O Projeto Articulaccedilatildeo e Diaacutelogo Sobre Poliacuteticas Para Reduzir a Pobreza e Desigualdade no Nordeste Semiaacuterido ndash Projeto Dom Helder Cacircmara eacute uma decorrecircncia de Acordos de Empreacutestimos firmados entre a Repuacuteblica Federativa do Brasil e o Fundo Internacio-nal de Desenvolvimento Agriacutecola ndash FIDA

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ASPOAGRE que em parceria com a Associaccedilatildeo de Engenheiros Agrocircnomos de Sergipe ndash AEASE vem promovendo a feira de produtos orgacircnicos e manteacutem pontos comerciais para venda de seus produtos em Aracaju e Itabaiana

No ano de 2000 foi criada a Associaccedilatildeo dos Produtos Orgacircnicos do Agreste -ASPOAGRE a mesma sendo composta por 18 associadosas aonde se destaca a produccedilatildeo de frutas e hortaliccedilas a ASPOAGRE possui o Selo Orgacircnico conce-dido pelo Instituto Biodinacircmico (IBD) desde o ano 2004 Jaacute no ano de 2009 foi criada a Central ndash Organizaccedilatildeo de Controle Social - OCS Agreste

E no ano de 2012 criou-se a Associaccedilatildeo de Produtores do Agreste de Ser-gipe - APRAS com cerca de 21 produtores rurais associados onde os mesmos conseguiram a aquisiccedilatildeo de uma unidade produtiva localizada no povoado Ca-naacuterio no municiacutepio de Ribeiroacutepolis com apoio do Instituto G Barbosa a Univer-sidade Federal de Sergipe - UFS e EMDAGRO Houve a criaccedilatildeo tambeacutem no ano de 2014 da Cooperativa de Produccedilatildeo Sustentaacutevel do Estado de Sergipe ndash COO-PERSUS ela eacute formada por produtores agroecoloacutegicos que possui a certificaccedilatildeo agroecoloacutegica tendo em sua composiccedilatildeo vaacuterios municiacutepios e sergipanos

A partir do ano 2016 acontece na Universidade Federal de Sergipe uma vez por semana a venda direta de produtos da agricultura familiar de base ecoloacutegica a estudantes professores e funcionaacuterios do campus da UFS em Satildeo Cristoacutevatildeo bem como aos moradores do entorno da Universidade Na feira eacute possiacutevel iden-tificar agricultores e agricultoras de diversas regiotildees no estado de Sergipe

Apoacutes a criaccedilatildeo das organizaccedilotildees foi possiacutevel ir agrave busca de mais parceiros sendo que no ano de 2016 a COOPERSUS faz parceria com a Associaccedilatildeo de Produtores de Malhador ndash APM com o intuito de conseguirem o ocircnibus surge assim agrave feira sobre rodas Este ocircnibus tem por objetivo realizar vendas de pro-dutos agroecoloacutegicos em diversos espaccedilos bairros na cidade de Itabaiana e do municiacutepio de Aracaju ver Figura 2

Jaacute em marccedilo de 2017 foi possiacutevel realizar o credenciamento das coopera-tivas no Organismo Participativo de Avaliaccedilatildeo da Conformidade Orgacircnica do Estado de Sergipe - OPAC de Sergipe junto ao Serviccedilo de Poliacutetica e Desenvolvi-mento Agraacuterio ndash SEPDAG da Superintendecircncia Federal da Agricultura

Em Sergipe no ano de 2018 fora instituiacutedo o Decreto da Agroecologia de nordm 40051 que regulamenta a Lei 727011 do Governo do Estado de Sergipe Eacute uma grande vitoacuteria para a populaccedilatildeo camponesa que entende a Agroecologia como um modo de vida adequado para o rural Brasileiro Figura 3

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Figura 2 - Feira produtos agroecoloacutegicos sobre rodas

Foto EMDAGRO 2019

Figura 3 ndash Fluxograma da caminhada da agroecologia em Sergipe

Fonte as autoras

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O estado de Sergipe ainda conta com a Comissatildeo Estadual de Produccedilatildeo Or-gacircnica de Sergipe - CPOGSE E foi em 2006 que fora criado a Rede Sergipana de Agroecologia ndash RESEA que eacute uma rede de instituiccedilotildees e organizaccedilotildees da so-ciedade civil de caraacuteter poliacutetico e apartidaacuterio vinculada a Articulaccedilatildeo Nacional de Agroecologia ndash ANA com a finalidade de fomentar espaccedilos de articulaccedilatildeo reflexatildeo sistematizaccedilatildeo das praacuteticas agroecoloacutegicas no estado e proposiccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas

Portanto esse movimento chamado agroecoloacutegico natildeo para Ele segue em reuniotildees visitas aos produtores com o intuito de sensibilizaccedilatildeo para a produ-ccedilatildeo agroecoloacutegica realizaccedilatildeo de intercacircmbios identificaccedilatildeo de produtores com o intuito da participaccedilatildeo e envolvimento no movimento agroecologico Figura 04

Figura 4 - Sementes produzidas de forma agroecoloacutegica na regiatildeo do alto sertatildeo em Nossa Senhora da GloacuteriaSE

Foto Elis Gardecircnia dos Santos - fevereiro 2019

No cenaacuterio atual ano de 2019 o que se pauta foi agrave realizaccedilatildeo do XI Congres-so Brasileiro de Agroecologia (XI CBA) do estado de Sergipe na Universidade Federal de Sergipe congresso esse que reuniu centenas de pessoas de diversas regiotildees do estado do paiacutes e tambeacutem de outros paiacuteses sensiacuteveis para discutir e pautar esse modo de produccedilatildeo sustentaacutevel que eacute a agroecologia

A partir do que fora apresentado ateacute o momento percebe-se que a Agroe-cologia eacute uma accedilatildeo para enfrentar diversos percalccedilos frente as vaacuterias conjuntu-ras poliacuteticas bem como as questotildees ambientais e eacute neste ambiente que estaacute

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inserida a agricultura conservadora Esta por sua vez precisa de intervenccedilotildees poliacuteticas e que sejam de fato efetivas de modo a atingir todos os setores que desenvolvam esses trabalhos principalmente a agricultura familiar de base agroecoloacutegica Tendo em vista alguns condicionantes que atuam como agen-tes no processo econocircmico em detrimento de falhas no funcionamento dos mercados e gerando resultados que distorcem a distribuiccedilatildeo intersetorial da renda e do emprego na economia que prejudicam o abastecimento domeacutestico (LEITE 2001 pg 16)

Se faz necessaacuterio memorizar conhecer e refletir sobre o passado onde o processo de construccedilatildeo era coletivo assim o que nos resta tentar continuar nessa busca por proposiccedilotildees e caminhos que possam garantir uma agricultura sustentaacutevel e igualitaacuteria a qual tende a apontar caminhos para reconexatildeo pla-netaacuteria

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao longo das discussotildees apresentadas ateacute aqui vimos de maneira simplifi-cada parte do processo histoacuterico que constitui o modelo predominante de pro-duccedilatildeo agriacutecola conhecido por alguns teoacutericos como agricultura conservadora Modelo este que traz consigo caracteriacutesticas positivas no que tange a acelera-ccedilatildeo da produccedilatildeo em larga escala a chamada modernizaccedilatildeo mas que tambeacutem resulta em consequecircncias compreendidas como prejudiciais em vaacuterios aspec-tos jaacute que natildeo atende as demandas locais regionais e nacionais do (des)envol-vimento aleacutem de evidenciar questotildees relacionadas ao social como ecircxodo rural desemprego especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e fundiaacuteria endividamento dos peque-nos produtores que consequentemente ocasionou a perda de suas proprieda-des e questotildees relacionadas ao ambiental como degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo do solo contaminaccedilatildeo das aacuteguas perda da biodiversidade reduccedilatildeo da varieda-de de alimentos produzidas causando a extinccedilatildeo de diversas sementes criou-las que por sua vez interferiu diretamente da cultura dos povos que passaram a nivelar boa parte do que eacute consumido Vale ressaltar tambeacutem os incidentes diretamente relacionados ao manejo ingestatildeo e inalaccedilatildeo dos agrotoacutexicos que afetam a sauacutede da populaccedilatildeo como um todo

Ao abordarmos a forma de produccedilatildeo agroecoloacutegica realizada em diversas regiotildees do Paiacutes nos remetemos ao iniacutecio da jornada agriacutecola onde o cultivo de alimentos se dava de forma saudaacutevel respeitando o princiacutepio da economia solidaacuteria

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O modelo agriacutecola dominante tem como principal objetivo a produccedilatildeo em larga escala e para tanto utiliza praacuteticas que natildeo viabilizam a sustentabilidade e tem como uma das principais implicaccedilotildees a degradaccedilatildeo do solo e a contami-naccedilatildeo dos produtos agriacutecolas por agrotoacutexicos

Considerando os dois modelos de produccedilatildeo agriacutecola o dominante e o agro-ecoloacutegico percebe-se que enquanto um tem como seu principal estiacutemulo agrave ex-portaccedilatildeo o outro a sustentabilidade

Para a populaccedilatildeo em geral essa dicotomia parece natildeo a afligir uma vez que natildeo consegue enxergar de forma clara e objetiva os malefiacutecios que adveacutem da voracidade do (des)envolvimento a qualquer custo

A induacutestria domina todos os setores da cadeia produtiva tendo como prin-cipal aliada a tecnologia lanccedilando no mercado produtos manufaturados tra-vestidos de alimento

Em se tratando da realidade sergipana nos uacuteltimos 30 anos a agroecologia vem trilhando um caminho aacuterduo tendo em vista a resistecircncia dos agricultores e a falta de incentivo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas deficitaacuterias e seletivas

Tendo em vista que os nossos recursos naturais satildeo finitos soacute nos resta mais do que nunca tentar promover uma melhor sobrevivecircncia na terra com intuito de preservar conservar e valorizar todos os recursos existentes na ter-ra principalmente a integridade humana e a partir deste tentar remontar e construir novos haacutebitos e tendo como foco a sobrevivecircncia das pessoas na terra e deixar o estigmar do ter e possuir a partir do momento que pensar-mos em adquirir algo possamos nos perguntar Estou realmente precisando disso agora

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ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA NO BRASIL E O ACESSO AS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITOS

Delmira Santos da Conceiccedilatildeo SilvaEliane de Souza Barbosa Joseacute Heleno Alves da SilvaNuacutebia Dias dos Santos

INTRODUCcedilAtildeO

O Brasil eacute um paiacutes de dimensotildees continentais e tem em suas raiacutezes um longo periacuteodo de concentraccedilatildeo de capital gerando desigualdades sociais e econocircmi-cas O modelo de desenvolvimento poliacutetico brasileiro contribuiu para que esse processo ganhasse forccedila no decorrer dos anos pois as poliacuteticas puacuteblicas adota-das privilegiavam a elite (proprietaacuterios de terra) deixando de lado boa parte da populaccedilatildeo pobre de nosso paiacutes A afirmativa se configura no campo brasileiro quando se relata as lutas dos campesinos dos ex-escravos e dos imigrantes que se iniciou no periacuteodo colonial e perdura ateacute nos dias hodiernos

Assim como a distribuiccedilatildeo de terras as poliacuteticas puacuteblicas criadas e imple-mentadas no Brasil tambeacutem aconteceram de forma assimeacutetrica Os campone-ses natildeo se enquadravam no modelo de modernizaccedilatildeo do paiacutes pois eram tidos dentre outras concepccedilotildees como atrasados A distribuiccedilatildeo das poliacuteticas puacutebli-cas no campo visava beneficiar os latifundiaacuterios os quais passavam a dispor do acesso agraves teacutecnicas agraves tecnologias e ao creacutedito necessaacuterias para a manutenccedilatildeo do empreendimento em nome do desenvolvimento econocircmico do paiacutes Diante disso eacute imprescindiacutevel notar que o modelo poliacutetico adotado no Brasil ancorava--se no crescimento econocircmico deixando de lado as questotildees de cunho social e ambiental corroborando para acentuar a desigualdade socioespacial no meio rural e dentre as distintas regiotildees do paiacutes

As injusticcedilas sociais causadas pelo modelo de desenvolvimento poliacuteticoeconocircmico do Brasil impactaram o modo de vida das populaccedilotildees nodo cam-po as quais foram impelidas accedilotildees mediante os movimentos sociais As lutas foram responsaacuteveis por conquistas importantes dentre elas a promulgaccedilatildeo da Lei Federal nordm 4504 de 1964 que dispotildee sobre o Estatuto da Terra e outras pro-

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videcircncias prevendo em seu Art 1deg ldquoos direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens e imoacuteveis rurais para os fins de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecolardquo (BRASIL 1964) Embora a criaccedilatildeo deste documento tenha sido apresentado como instrumento de funccedilatildeo social na praacutetica sua execuccedilatildeo serviu aos interesses dos grandes proprietaacuterios de terra natildeo conseguiu desem-penhar formas expressivas no que concerne a distribuiccedilatildeo de terras

A Lei foi inoacutecua de um lado tecircm-se a promulgaccedilatildeo da lei que na praacutetica serviu ideologicamente para sinalizar os movimentos sociais nodo campo e os trabalhadores rurais a intenccedilatildeo do Estado em realizar a justa distribuiccedilatildeo de terras no territoacuterio brasileiro No entanto a praacutetica foi a de fortalecimento dos latifundiaacuterios com a concessatildeo de linhas de financiamento farto para a moder-nizaccedilatildeo do latifuacutendio e induccedilatildeo do processo urbano-industrial com a opccedilatildeo do agronegoacutecio de monocultivos-exportados como alavanca do desenvolvimen-to poliacuteticoeconocircmico

O estudo tem como objetivo analisar o processo histoacuterico da estrutura fun-diaacuteria do Brasil as poliacuteticas de creacuteditos e os impactos provocados ao agricultor camponecircs E como procedimento metodoloacutegico a abordagem qualitativa me-diante a revisatildeo bibliograacutefica que consistiraacute nas informaccedilotildees e dados que servi-ram de base para a construccedilatildeo desse estudo bem como para a reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas que possam atender as necessidades do homem do campo sem comprometer os recursos advindos do meio natural

Torna-se inquietante saber que mesmo se passando anos natildeo houve mu-danccedilas na distribuiccedilatildeo de terra do paiacutes As desigualdades socioespaciais afetam a populaccedilatildeo menos favorecida economicamente o que se pode verificar eacute o avanccedilo dos problemas socioambientais oriundos das exploraccedilotildees exacerbadas e a agricultura expotildee para o aprofundamento dessa problemaacutetica uma vez que o Estado manteacutem-se ancorado no modelo de desenvolvimento puramente eco-nocircmico sem promover uma poliacutetica capaz de atender as necessidades sociais da classe trabalhadora no campo e na cidade sem propor medidas que possam solucionar as questotildees ambientais provocadas por esse mesmo modelo

O capiacutetulo estaacute estruturado em trecircs partes a primeira apresenta o contexto histoacuterico pelo qual se desenvolveu as poliacuteticas de acesso a terra no paiacutes enfati-zando as lutas e os conflitos dos camponeses frente aos grandes proprietaacuterios de terra Em seguida satildeo apresentadas na segunda parte uma discussatildeo em tor-no das poliacuteticas assimeacutetricas de creacuteditos os avanccedilos e os retrocessos no cenaacuterio brasileiro A uacuteltima parte dispotildee de narrativas sobre desigualdade socioespacial e a concentraccedilatildeo de terra no Brasil provocados pela estrutura fundiaacuteria

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2 CONTEXTO HISTOacuteRICO DAS POLIacuteTICAS DE ACESSO A TERRA NO BRASIL

Os problemas relacionados agrave questatildeo fundiaacuteria no Brasil fazem parte de uma construccedilatildeo histoacuterica da formaccedilatildeo da propriedade privada da terra os quais satildeo advindos da proacutepria dinacircmica de funcionamento da colocircnia e da legislaccedilatildeo que foi atribuiacuteda nesse periacuteodo Furtado (1989)

O processo de formaccedilatildeo da propriedade privada no Brasil ocorre a partir de 1500 quando as terras brasileiras passaram a ser dominadas pelo Reino de Por-tugal com a instauraccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e concessotildees de terras (Ses-marias) Nesse periacuteodo (1530-1850) adotou-se a transferecircncia de propriedade regida pelo poder puacuteblico para o poder privado configurando em um momen-to na qual houve a distribuiccedilatildeo de grandes extensotildees de terra para abastecer a elite dominante que se inseri no novo territoacuterio de colonizaccedilatildeo portuguesa (SILVA 1997)

A legislaccedilatildeo portuguesa continha um impedimento racial o sistema colo-nial mantido pelo trabalho escravo o via como mercadoria Com a criaccedilatildeo da Lei de Terras em 1850 a mercadoria passou a ser a terra Nesse periacuteodo surge a grilagem que consiste no apoderamento de terras por meios fraudulentos no qual falsificava documentos escrituras com datas inferiores a promulgaccedilatildeo da Lei de terras Essas accedilotildees resultaram em grandes extensotildees de terras pelos latifuacutendios e a abertura para a formaccedilatildeo das oligarquias no Brasil (SILVA 1997)

Depois desse periacuteodo de concessatildeo de terras pelo regime sesmeiro da Corte portuguesa evidencia-se o surgimento da Lei de Terras em 1850 nesse mo-mento a posse da terra acontecia por meio da compra do leilatildeo puacuteblico a preccedilo de mercado e agrave vista Ressaltando que esta lei foi criada pelos grandes latifun-diaacuterios ou seja utilizando da loacutegica de beneficio proacuteprio e impossibilitando o acesso a terra pelos futuros negros forros e pelos imigrantes europeus que ser-viam apenas como forccedila de trabalho (FILHO FONTES 2009) Martins (1983) ao fazer a relaccedilatildeo entre a Lei de Terra e as terras devolutas sinaliza

A Lei de Terras transformava as terras devolutas em monopoacute-lio do Estado e o Estado era controlado por uma forte classe de grandes fazendeiros Os camponeses natildeo-proprietaacuterios os que chegassem depois da Lei de Terras ou aqueles que natildeo tiveram suas posses legitimadas em 1850 sujeitavam-se pois como assinalaria na eacutepoca da Aboliccedilatildeo da escravatura a um

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grande fazendeiro de cafeacute e empresaacuterio a trabalhar para a grande fazenda acumulando pecuacutelio com o qual pudesse mais tarde comprar terras ateacute do proacuteprio fazendeiro (MAR-TINS 1983 p42)

Fernandes (2017) ratifica tal afirmaccedilatildeo pontuando que mesmo diante da ocupaccedilatildeo de grandes extensotildees latifundiaacuterias muitas terras ainda se encontra-vam na condiccedilatildeo de devolutas (sem uso) fato que contribuiu para dificultar o seu acesso pelas camadas menos abastadas como os iacutendios os ex-escravos e os imigrantes europeus restringindo a compra da terra somente para agravequeles com condiccedilotildees financeiras tais como os latifundiaacuterios Diante disso seraacute que podemos titular esta separaccedilatildeo como racismo ambiental1

Posteriormente Silva (1997) aponta que as questotildees vinculadas agrave legitima-ccedilatildeo da posse que se estendeu entre meados de 1889 a 1964 ficaram para se-gundo plano O que se pode observar nesse momento foi agrave omissatildeo da Uniatildeo com os problemas relacionados agrave estrutura fundiaacuteria do paiacutes podendo com-provar o desinteresse sobre o caso mediante a aprovaccedilatildeo da lei de emissatildeo da propriedade como sendo responsabilidade dos Estados e natildeo mais como fun-ccedilatildeo da Federaccedilatildeo

A discussatildeo em torno do assunto emergiu na campanha de Jacircnio Quadros na deacutecada 1960 na qual foram levantadas questotildees como a desapropriaccedilatildeo por interesse social e questionamentos em relaccedilatildeo ao direito de propriedade e dos proprietaacuterios de terra tais reivindicaccedilotildees ganharam forccedila com a renuacutencia do re-ferido presidente alimentando os conflitos rurais e urbanos Por esse motivo o governo sucessor Joatildeo Goulart acreditava que para a implantaccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no paiacutes seria preciso que os trabalhadores rurais e urbanos se unissem em busca do fortalecimento do movimento (FERNANDES 2017)

No governo Joatildeo Goulart foi aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei nordm 4214 de 02 de marccedilo de 1963) com a implantaccedilatildeo do documento foram cedidos direitos aos trabalhadores rurais direitos esses que antes somente era imputados aos trabalhadores urbanos a saber feacuterias registro profissional deacute-cimo terceiro salaacuterio dentre outros O governo Joatildeo Goulart assinou o decreto

1ldquoRacismo ambientalrdquo eacute um tema que surgiu no campo de debates e de estudos sobre justiccedila am-biental um clamor inicial do movimento negro estadunidense e que se tornou um programa de accedilatildeo do governo federal dos Estados Unidos por meio da EPA Environmental Protection Agency sua agecircncia federal de proteccedilatildeo ambiental O conceito diz respeito agraves injusticcedilas sociais e ambientais que recaem de forma desproporcional sobre etnias vulnerabilizadasrdquo (HERCULANO 2004 p 84)

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que instituiacutea a desapropriaccedilatildeo de aacutereas improdutivas em consequecircncia a esse ato ele foi deposto em marccedilo de 1964 o que ocasionou em enfraquecimento da luta pela Reforma Agraacuteria e o golpe militar (FILHO FONTES 2009)

No periacuteodo Militar de 1964 sob o governo do Presidente-Marechal Hum-berto de Alencar Castelo Branco foi instituiacuteda a primeira Lei da Reforma Agraacuteria no Brasil a Lei nordm 4504 conhecida como o Estatuto da Terra Esta Lei resultou da pressatildeo por parte das massas populares que natildeo estavam contentes com os rumos dado ao processo de distribuiccedilatildeo de terras no Brasil frente a sua alta concentraccedilatildeo nas matildeos de latifundiaacuterios e desfavorecendo a massa de campo-necircs (FILHO FONTES 2009) Assim Martins (1983) enfatiza

O Estatuto faz portanto da reforma agraacuteria brasileira uma reforma toacute-

pica de emergecircncia destinada a desmobilizar o campesinato sempre

e onde o problema da terra se tornar tenso oferecendo riscos poliacuteticos

O Estatuto procura impedir que a questatildeo agraacuteria se transforme numa

questatildeo nacional poliacutetica e de classe (MARTINS 1983 p93)

Sobre essa narrativa evidenciam-se as lutas de movimentos sociais do seacuteculo XIX e XX que fizeram parte da histoacuteria do Brasil desempenhando papel impor-tante visto as conquistas perante as transformaccedilotildees de cunho social e econocircmi-co proporcionando melhorias agraves condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo agriacutecola do paiacutes Dentre os movimentos sociais ocasionados pela revolta populista podem-se citar a Guerra de Canudos (1896-1897) no Nordeste Contestado (1912-1916) no Sul Ligas Camponesas deacutecada de 1950 a Guerra do Formoso (1950- 1960) e os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) (FERNANDES 2017)

Por conseguinte eacute oportuno frisar o papel desempenhado pelas Ligas cam-ponesas um movimento que teve surgimento na deacutecada de 1950 partiu da iniciativa de arrendataacuterios de terra do interior de Pernambuco Os discursos defendidos pela Liga Campesina tinham como pauta a reforma agraacuteria que pudesse equilibrar a injusta distribuiccedilatildeo da terra o desenvolvimento rural e a distribuiccedilatildeo de poliacuteticas regionais que natildeo fossem setoriais Ateacute entatildeo as poliacute-ticas visavam atender somente as regiotildees Sul e Sudeste do paiacutes (Martins 1981) Logo entende-se que a criaccedilatildeo do Estatuto de Terras surgiu para suprimir os movimentos como a Liga Camponesa que vinha conquistando espaccedilo cada vez maior no cenaacuterio poliacutetico social e econocircmico

Logo de acordo a afirmativa de Martins (1981) o Estatuto ficou apenas no papel e natildeo foi colocado em praacutetica embora seu valor tivesse sido expressivo

222 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

na constituiccedilatildeo de um instrumento estatal de grande valia agrave execuccedilatildeo da refor-ma agraacuteria no Brasil um paiacutes assolado pela desigualdade socioterritorial que se estende desde o periacuteodo colonial e se alastra ateacute os dias atuais Romeiro (2002 p131) sintetiza ldquoA Reforma Agraacuteriardquo diz respeito a uma discussatildeo atual que tem o sentido de ldquoampliar as oportunidades de emprego no campo de modo a reduzir a pressatildeo da oferta de matildeo-de-obra no mercado de trabalho urbano-industrialrdquo

Nesse sentido Gonccedilalves Neto (1997) faz importantes consideraccedilotildees acerca das transformaccedilotildees econocircmicas e poliacuteticas do Brasil no periacuteodo que se estende de 1960 a 1980 segundo o autor esta fase da histoacuteria foi marcada pelo contraste entre essas duas deacutecadas sinalizando o surgimento de um novo paiacutes a partir das bases anteriores ou seja o Brasil deixou de ser um paiacutes rural para se transfor-mar em um paiacutes urbano Na deacutecada de 1960 mais da metade da populaccedilatildeo vivia no campo em 1980 este percentual pouco excede os 30 Muitas pessoas que viviam no campo foram morar na cidade para atender as demandas do processo urbano industrial os camponeses comporiam o quadro de forccedila de trabalho eou do exeacutercito de reserva passando a viver em condiccedilotildees de miserabilidade

No entanto o autor supracitado enfatiza que apenas o setor industrial foi afetado pelo processo de modernizaccedilatildeo enquanto que a agricultura brasileira continuava com as mesmas formas de exploraccedilatildeo cujos lucros somente a eli-te econocircmica se beneficiou enquanto a populaccedilatildeo camponesa foi reprimida com a chegada das novas tecnologias e teacutecnicas que eles natildeo conseguiam ter acesso para se inserir de forma igualitaacuteria com os grandes proprietaacuterios de terra ao processo de produccedilatildeo agriacutecola ldquoO Brasil eacute o uacutenico paiacutes das Ameacutericas criado desde o iniacutecio pelo capitalismo comercial sob a forma de empresa agriacutecolardquo (FURTADO 1989 p 93) Reiterando a afirmativa a seguir

Os camponeses foram desenraizados para que o capital pudesse se

apossar da terra e dar agrave terra um uso capitalista ou seja um uso mo-

derno racional Ao mesmo tempo os camponeses foram desenraiza-

dos porque o capital precisava que os camponeses trabalhassem de

outro modo como operaacuterios como assalariados como vendedores de

forccedila de trabalho portanto como donos de mercadoria como equiva-

lentes de mercadoria E trabalhassem segundo o ritmo e a loacutegica que eacute

proacutepria do capital (MARTINS 2003 apud SANTOS 2010 p 88)

Desse modo Oliveira (2001) aponta que os processos de concentraccedilatildeo de terra juntamente com as grilagens foram fatores que contribuiacuteram para acentu-

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ar a desigualdade socioespacial do Brasil O autor relaciona tais acontecimentos com a posse da terra em que se constatou ldquopoucos com muita terra e muitos com pouca terrardquo ou ateacute mesmo muitos sem nenhuma terra configurando-se em grandes conflitos no campo e na cidade conflitos que perduram ateacute hoje visto que a estrutura fundiaacuteria do nosso paiacutes foi marcada por graves problemas tais como o ecircxodo rural que por sua vez causa o desemprego subemprego segregaccedilatildeo socioespacial entre outros

A constituiccedilatildeo de 1988 que surge como um grande marco para a execuccedilatildeo de poliacuteticas rurais e urbanas natildeo trouxe nenhuma inovaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave Lei 450464 No entendimento de Steacutedile (2002) houve retrocessos e a concentraccedilatildeo da terra ainda continuavacontinua nas matildeos dos grandes proprietaacuterios legitimando o ldquolatifuacutendio produtivordquo visto natildeo ter regulamentado o artigo que dispunha sobre a desapropriaccedilatildeo de terras maiores que o limite maacuteximo de moacutedulos fiscais2 A Carta Magna natildeo foi atualizada quanto aos niacuteveis de produccedilatildeo por cada moacutedulo fiscal Apenas foram implementadas medidas provisoacuterias e ementas constitucio-nais de leis sem muita relevacircncia legislativa que pudesse mudar o cenaacuterio da questatildeo fundiaacuteria no Brasil como demonstra a figura 1a e a figura 1b

Figura 1a - Nordm de estabelecimentos agropecuaacuterios no Brasil por UFs segundo os Censos de 2006 e 2017

Fonte IBGE 2017

2 Moacutedulo fiscal trata-se de uma unidade de medida de aacuterea (expressa em hectares) fixada dife-rentemente para cada municiacutepio uma vez que leva em conta as particularidades locais como o tipo de exploraccedilatildeo predominante no municiacutepio e a renda obtida com esta exploraccedilatildeo (art 50 Lei 450464)

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Figura 1-b Aacuterea estabelecimentos agropecuaacuterios no Brasil por UFs segundo os Censo de 2006 e 2017

Fonte IBGE 2017

Os dados apontam que no periacuteodo de 2006 a 2017 a participaccedilatildeo na aacuterea total dos estabelecimentos iguais ou maiores de 1000 ha aumentou de 450 para 475 Com um aumento de 3287 estabelecimentos e de 163 milhotildees de ha a aacuterea meacutedia do grupo elevou-se de 31557 para 32724 ha Enquanto os estabelecimentos de 100 a menos de 1000 hectares perderam participaccedilatildeo na aacuterea total passando de 338 para 320 Houve entre esses estabeleci-mentos uma reduccedilatildeo de 4152 unidades e de 814574 ha com a aacuterea meacutedia variando de 2660 hectares para 2667 hectares Nos estratos intermediaacuterios (menos de 100 ha) a participaccedilatildeo se manteve praticamente estaacutevel variando de 212 para 205 com um acreacutescimo de 74942 estabelecimentos e com a aacuterea meacutedia mantendo-se em 158 ha (IBGE 2017) Diante da leitura dos dados comprova-se a continuidade da concentraccedilatildeo da terra no Brasil

Atualmente o setor financeiro impulsiona o agronegoacutecio no Brasil Fruto da globalizaccedilatildeo e reabertura econocircmica que contribuiu para a intensificaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de terras bem como a reduccedilatildeo do nuacutemero de estabelecimentos com menores aacutereas no meio rural (OLIVEIRA STEacuteDILE 2005) ldquoA luta pela terra no Brasil eacute anterior agrave luta pela Reforma Agraacuteria Como a elite dominante vem se apropriando da terra no Brasil ao longo do tempo resultou na formaccedilatildeo dos latifuacutendios existentes ateacute os dias atuais []rdquo (FERNANDES 2017 p04)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 225

Frente a essa realidade a reforma agraacuteria eacute deturpada e lentamente

cresce a perspectiva de uma reforma imobiliaacuteria Assim alguns lati-

fundiaacuterios chegam mesmo a incentivar as ocupaccedilotildees garantindo a

infraestrutura como forma de agilizar a desapropriaccedilatildeo Desse modo

a expropriaccedilatildeo eacute pervertidamente convertida em ato de compra e

venda o que chamamos aqui de mercantilizaccedilatildeo da expropriaccedilatildeo e

da desapropriaccedilatildeo da terra Aleacutem de concentrar e reter especulati-

vamente a terra latifundiaacuterios no Brasil ainda sonegam os impostos

incidentes sobre elas (FERNANDES 1999 p227)

Desse modo analisando o processo histoacuterico das poliacuteticas de acesso a terra no Brasil eacute possiacutevel identificar que ela foi marcada por lutas de classes poden-do ser sintetizada pelas relaccedilotildees entre os senhores latifundiaacuterios e os escravos no periacuteodo colonial e imperial pela relaccedilatildeo entre senhores latifundiaacuterios (co-roneacuteis) e os camponeses no periacuteodo republicano e na atual conjuntura a rela-ccedilatildeo entre os latifundiaacuterios do agronegoacutecio e os camponeses (CAMACHO 2011) provocando profundas implicaccedilotildees socioambientais e econocircmicas no paiacutes 3 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL FRENTE Agrave CONCENTRACcedilAtildeO DA TERRA

A desigualdade socioespacial eacute uma expressatildeo que se refere ao proces-so de aceleraccedilatildeo do modelo capitalista neste sentido este termo trata das relaccedilotildees que dizem respeito agrave propriedade agrave apropriaccedilatildeo de riquezas pro-duzidas nas aacutereas urbanas e rurais ao crescimento destas aacutereas agrave produccedilatildeo do espaccedilo e de como este se apropria do capital e distribui suas riquezas (RODRIGUES 2007)

A busca pelo direito e apropriaccedilatildeo do espaccedilo urbano e rural eacute marcado por dificuldades persistecircncias e lutas a exemplo das lutas de classe e dos confli-tos territoriais Deste modo estes conflitos se justificam pela necessidade de se encontrar um ponto de equiliacutebrio na forma de apropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de ri-quezas objetivando uma transformaccedilatildeo social que se coadune com condiccedilotildees de vida mais dignas e justas (RODRIGUES 2007) As diferenccedilas entre as aacutereas ricas e pobres existente no paiacutes apresentam complexidades que muitas vezes satildeo invisiacuteveis pelo sistema capitalista no qual grande parte dos trabalhadores que se apropriaram da terra natildeo possuem condiccedilotildees adequadas para mantecirc-la (ABREU 2012)

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Alcacircntara Filho e Fontes (2009) argumentam que o dinamismo da desigual-dade socioespacial brasileira apresenta reflexos da construccedilatildeo histoacuterica do paiacutes marcada pela colonizaccedilatildeo de exploraccedilatildeo na qual de acordo com Morissawa (2011) baseava-se na monocultura da cana-de-accediluacutecar denominada de planta-tion Esse modo de produccedilatildeo citado pelos autores caracterizou-se pelos mono-cultivos latifuacutendios e mercado exportador Essa heranccedila reitera Furtado (1989) eacute fruto da dinacircmica de funcionamento da colocircnia e das proacuteprias leis estabeleci-das no periacuteodo marcadas por inuacutemeras disparidades na distribuiccedilatildeo de terras

Nesse sentido observa-se que a concentraccedilatildeo de terras no Brasil intensifi-cou o ecircxodo rural e permitiu que os grandes latifundiaacuterios se tornassem prota-gonistas do agronegoacutecio e ditassem as regras da produccedilatildeo baseando-se em um modelo agriacutecola voltado exclusivamente para o latifuacutendio objetivando agrave monocultra e consequemente a produccedilatildeo de commodities agriacutecolas para ex-portaccedilatildeo de alimentos que provoca o uso intensivo dos recursos naturais favo-recendo as desigualdades setoriais (OXFAM BRASIL 2018)

No tocante ao modelo de desenvolvimento agriacutecola do paiacutes observa-se que desde o periacuteodo colonial a agricultura se expandiu com base na devastaccedilatildeo dos recursos naturais com praacuteticas voltadas para o monocultivo e logo apoacutes para a pecuaacuteria fortalecendo os grandes latifundiaacuterios e contribuindo para a degra-daccedilatildeo ambiental nos ecossistemas tais como a devastaccedilatildeo da Mata Atlacircntica que foi quase destruiacuteda pelo monocultivo da cana de accediluacutecar na zona da Mata no seacuteculo XVI pela cultura do cafeacute durante o seacuteculo XIX em seguida no seacuteculo XX a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria (OLIVEIRA 2010)

No momento atual ainda continua de forma exacerbada a utilizaccedilatildeo dos re-cursos naturais elencados por Oliveira (2010) como a degradaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos provocados pela contaminaccedilatildeo dos agrotoacutexicos utilizados em larga escala a saber adubos quiacutemicos pesticidas inseticidas e herbicidas que cau-sam contaminaccedilatildeo no solo nos lenccediloacuteis freaacuteticos nos cursos fluviais e ameaccedila a sauacutede do meio ambiente

As mudanccedilas ocorridas no processo de modernizaccedilatildeo urbana tambeacutem ocasionaram graves consequecircncias que foram refletidas na agricultura brasi-leira Esse resultado eacute fruto das discordacircncias sociais que ocorreram durante o processo de distribuiccedilatildeo e apropriaccedilatildeo da terra De acordo com o relatoacuterio ldquoTerrenos da Desigualdade ndash terra agricultura e desigualdades no Brasil ruralrdquo (OXFAM BRASIL 2018) quanto menor for agrave concentraccedilatildeo de terra melhores se-ratildeo os indicadores sociais para o Estado possa desenvolver poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias para reduzir as desigualdades no campo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 227

No entanto entanto pode-se considerar que a accedilatildeo paradoxal do Estado possibilitou que o mesmo criasse diversas condiccedilotildees para o melhoramento da produccedilatildeo agriacutecola com o intuito de amortecer os impactos da desigualde so-cioespacial por ele gerado poreacutem tais condiccedilotildees acabaram ocultando a reali-dade do espaccedilo rural ocasionando o aumento da disparidade a ampliaccedilatildeo das injusticcedilas a intensificaccedilatildeo da desigualdade e o beneficiamento de pequenos grupos donos de terra e produtores que faziam parte da poliacutetica (desigual) eco-nocircmica (NAVARRO 2001)

No Brasil eacute recorrente a realizaccedilatildeo de poliacuteticas agriacutecolas descriminatoacuterias e excludentes as quais beneficiam grupos especiacuteficos os mesmos deteacutem ateacute hoje a posse fundiaacuteria marjoritaacuteria Carvalho Filho (2008) explica que a regula-rizaccedilatildeo fundiaacuteria eacute condiccedilatildeo indispensaacutevel para manter a equidade no processo de distribuiccedilatildeo de terra O artigo 46 da Lei Federal nordm 119772009 estabelece o conceito de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria no qual prevecirc

Art 46 A regularizaccedilatildeo fundiaacuteria consiste no conjunto de medidas

juriacutedicas urbaniacutesticas ambientais e sociais que visam agrave regulariza-

ccedilatildeo de assentamentos irregulares e agrave titulaccedilatildeo de seus ocupantes de

modo a garantir o direito social agrave moradia o pleno desenvolvimento

das funccedilotildees sociais da propriedade urbana e o direito ao meio am-

biente ecologicamente equilibrado (BRASIL 2009)

Poreacutem mesmo prevista em lei a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ainda estaacute distante de alcanccedilar um patamar mais justo e equitativo O modelo atual de distribuiccedilatildeo de terras aleacutem de provocar inseguranccedila torna-se responsaacutevel pela perpetuaccedilatildeo de diversos outros problemas de ordem social econocircmica poliacutetica e ambiental que somente seratildeo sanados a partir da efetiva regularizaccedilatildeo fundiaacuteria das pos-ses (REYDON 2017)

Silva (1980) e Castro (1982) apontam que as transformaccedilotildees e os avanccedilos capitalista Tem-se na praacutetica o uso da propriedade da terra como reserva pa-trimonial e de valor Na agricultura somados a manutenccedilatildeo de poliacuteticas go-vernamentais em beneficiamento das grandes propriedades foram alguns dos responsaacuteveis pela intensificaccedilatildeo da concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil Para eles outro grande impasse na intensificaccedilatildeo destas disparidades foi agrave adesatildeo de ter-ras com fins especulativos na qual a poliacutetica tinha como objetivo exercer poder sobre as atividades produtivas visando a proteccedilatildeo e o fundo de reservas contra os desarranjos inflacionaacuterios provenientes do sistema capitalista

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Delgado (1985) explica que os projetos de modernizaccedilatildeo e do agronegoacutecio beneficiaram principalmete os estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo Rio de Janeito Mato Grosso do Sul e Goiaacutes aacutereas que recebe-ram grandes investimentos no setor agroindustrial em detrimento das aacutereas de menor poder aquisitivo tais como os Estados do Nordeste e do Norte do paiacutes

Este cenaacuterio motivou a intensificaccedilatildeo das lutas promovidas pelos movimen-tos socias Os mesmos pressionaram o Estado com o intuito de amortecer os imapactos dessas disparidades mediante a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas di-recionadas para a garantia de um outro modelo de modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola Poreacutem muito pouco tem sido executado pois o Estado permanece ancorado em uma poliacutetica de carater capitalista conservador considerado he-gemocircnico dominate e desigual (RODRIGUES 2007)

Para que a modernizaccedilatildeo da agricultura ocorresse de forma mais equitati-va seria necessaacuterio que o Estado por meio da efetivaccedilatildeo de suas accedilotildees rees-truturasse as poliacuteticas de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria viabilizasse maior assistecircncia teacutecnica aos pequenos produtores e melhorasse as poliacuteticas de beneficiamento de creacutedito para o emprego de teacutecnicas modernas (MARIM 1976) Pois fortale-cendo as condiccedilotildees de direito ao creacutedito e assistecircncia teacutecnica como estruturas de negociaccedilatildeo da produccedilatildeo os impactos dessas disparidades seriam amorte-cidos e beneficiariam um maior nuacutemero de agricultores No entanto dentro da proacutepria estrutura do arranjo socioespacial em curso tem-se clareza nos limites dessas accedilotildees

4 DISTRIBUICcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITO NA AGRICULTURA CAMPONESA

O Brasil por volta de 1960 e 1970 coloca em accedilatildeo escopo de um projeto de modernizaccedilatildeo destinado agrave poliacutetica agriacutecola em paralelo com o desenvolvimento urbano-industrial Para isso necessitava de grande aporte financeiro a ser in-vestido em mateacuterias-primas maacutequinas matildeo de obra dentre outras Aleacutem disso o volume de creacutedito estaacute ligado agrave extensatildeo do negoacutecio da quantidade de insu-mos modernos bem como aos custos relacionados com a qualificaccedilatildeo de pes-soal e infraestrutura Esse agregado moldaraacute o tipo de produccedilatildeo e sua estrutura de produtividade almejada (GONCcedilALVES NETO 1997)

A agricultura brasileira no periacuteodo referenciado era considerada atrasada pois utilizava teacutecnicas para os cultivares ainda rudimentares face ao estaacutegio avanccedilado que vinha ocorrendo no setor fabril com o advento da Revoluccedilatildeo

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Industrial ocorrida na Inglaterra entre os seacuteculos XVIII e XIX Por outro lado o paiacutes estava passando por um processo acelerado de saiacuteda da populaccedilatildeo do campo denominado de ecircxodo rural com a finalidade de fornecer matildeo de obra agrave induacutestria Diante disso a agricultura necessitava se aperfeiccediloar para fornecer alimentos tanto aos trabalhadores da cidade quanto do campo

Dada a sua extensatildeo e atraso tecnoloacutegico de produccedilatildeo no campo o finan-ciamento passa a ser o foco da poliacutetica agriacutecola brasileira No entanto o Estado para atender a esses objetivos se deparou com distintos interesses dentre eles obedecer aos de cunho econocircmico (escassez de recursos) e aos de natureza poliacutetica a partir de pressotildees da burguesia e da proacutepria burocracia estatal Com isso reorientou e ditou o ritmo das transformaccedilotildees agriacutecolas produzindo rique-zas para um determinado setor e anomalias para outro

Conforme argumenta Pinto (1981) o avanccedilo do creacutedito rural brasileiro foi dividido em trecircs estaacutegios o primeiro remete ao iniacutecio da colonizaccedilatildeo e perdura ateacute 1937 o segundo de 1937 a 1965 e por uacuteltimo o que se estende de 1965 ateacute 1980 O periacuteodo da colonizaccedilatildeo foi marcado por uma estrutura extremamente deficiente com recursos escassos e poucas casas bancaacuterias aleacutem das altas ta-xas de juros suportada apenas para produtores com vieacutes exportador

De acordo com o autor supracitado no Brasil Repuacuteblica pouco se alterou e toda poliacutetica agriacutecola foi direcionada para a garantia dos preccedilos do cafeacute Este periacuteodo foi marcado pela ampliaccedilatildeo do creacutedito oficial decorrentes da criaccedilatildeo da Carteira de Creacutedito Agriacutecola e Industrial do Banco do Brasil (CREAI) em 1937 O objetivo desta foi ampliar o alcance do creacutedito rural desde que atendesse a uma seacuterie de normas e exigecircncias relacionadas agraves garantias Bem como a cria-ccedilatildeo de outras instituiccedilotildees para fornecer suporte ao Banco do Brasil dentre elas o Banco do Amazonas (1950) o Banco Nacional de Creacutedito Cooperativo (BNCC) em 1951 e o Banco do Nordeste do Brasil (1952) Nos periacuteodos subsequentes ocorre a institucionalizaccedilatildeo em si a partir da aprovaccedilatildeo da Lei nordm 4829 de 5 de novembro de 1965 cuja regulamentaccedilatildeo consta no Decreto nordm 58380 de maio de 1966 A qual define o creacutedito rural como suprimento de recursos financeiros por entidades puacuteblicas e estabelecimentos de creacutedito particulares a produtores rurais ou a suas cooperativas para aplicaccedilatildeo exclusiva em atividades que se en-quadrem nos objetivos indicados na legislaccedilatildeo em vigor3

3 Art 2ordm da Lei do Creacutedito Rural de 1965 ndash Lei 482965 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL4829htmgt Acesso em 01 dez 2019

230 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

De acordo com Arauacutejo (2011) a experiecircncia brasileira no tocante a poliacuteti-ca de creacutedito agriacutecola eacute diferenciaacutevel em distintos aspectos O paiacutes continua regulando fortemente os mercados financeiros com vista a atingir o desenvol-vimento econocircmico Assim as autoridades monetaacuterias e econocircmicas desem-penharam um papel importante no que diz respeito agrave criaccedilatildeo de prescriccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo deste mercado com a finalidade de ofertar creacutedito barato e seletivo para a modernizaccedilatildeo da agricultura Como por exemplo tetos e quo-tas mecanismos de desconto e redesconto exigecircncias na aplicaccedilatildeo de reservas bancaacuterias taxas preferenciais etc

Segundo Spolador e Lima (2009) o mercado de creacutedito eacute permeado por risco principalmente nos setores tidos como especial como o creacutedito rural ou aquele que necessita de um tempo de maturaccedilatildeo mais elevado o setor imobiliaacuterio Com vista a amenizar esses problemas da oferta de creacutedito aos tomadores o Estado sempre esteve agrave frente com programas e recursos para financiamento a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo o Sistema Nacional de Creacutedito Rural (SNCR) no Banco do Brasil e demais linhas creditiacutecias de financiamento de longo prazo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES)

De acordo com Arauacutejo (2011) os objetivos do SNCR consistem em i) finan-ciar uma parcela bastante significativa dos custos inerentes a operacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e de comercializaccedilatildeo ii) propiciar a formaccedilatildeo de capital iii) na pro-moccedilatildeo e agilidade na adoccedilatildeo e propagaccedilatildeo de tecnologia moderna iv) forta-lecer a posiccedilatildeo econocircmica tanto dos pequenos quanto dos meacutedios produtores rurais ndash e de forma quase que inexpressiva a utilizaccedilatildeo de creacutedito subsidiado para compensar os agricultores mais vulneraacuteveis socialmente no tocante as os-cilaccedilotildees da poliacutetica macroeconocircmica (controle de preccedilos taxas de exportaccedilotildees restriccedilotildees ao comeacutercio dentre outros) contribuindo para a industrializaccedilatildeo e controle da inflaccedilatildeo

Segundo Arauacutejo (1983) por volta de 1976 o volume creditiacutecio oriundo do Estado agrave produccedilatildeo agriacutecola cresceu substancialmente principalmente para a aquisiccedilatildeo de insumos modernos com destaque para os fertilizantes Eacute valido destacar que a distribuiccedilatildeo do creacutedito natildeo ocorria de forma homogecircnea cen-trando-se em certos grupos de agricultores que produziam basicamente soja e trigo destinados agrave exportaccedilatildeo Entretanto algumas caracteriacutesticas marcantes dessa poliacutetica merecem ser destacadas sendo uma delas o controle de taxas de juros nominais sempre abaixo da inflaccedilatildeo real em torno de 15 o que por sua vez garantiu o enriquecimento de muitos latifundiaacuterios

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 231

Conforme Locatel (2010) os recursos para o novo paradigma produtivo contaram de forma incisiva com o apoio do Estado criando moldando leis e fornecendo empreacutestimos advindos do tesouro nacional a partir de fontes fiscais e parafiscais e com empreacutestimo do exterior vindos principalmente do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das instituiccedilotildees privadas no creacutedito rural no periacuteodo da criaccedilatildeo do SNCR representava cerca de 30 em 1965 subiu para 45 e em 1976 retraiu para 20 e se perdurou nesse patamar ateacute o final de 1980 isso reafirma o quatildeo importante foi o Estado no financiamento da agricultura

Para o autor referenciado o caraacuteter concentrador e discriminatoacuterio da poliacuteti-ca macroeconocircmica adotada pelo Brasil corrobora para o fato de que cerca de sete culturasndashdentre elas soja laranja cafeacute cana-de-accediluacutecar algodatildeo milho e ar-roz lavouras que recebiam aproximadamente frac34 do investimento destinado ao custo total chegando a 80 A produccedilatildeo em sua predominacircncia era remetida ao mercado exportador e de mateacuterias primas para fornecer as induacutestrias Aleacutem disso o creacutedito rural subsidiado beneficiava grandes produtores latifundiaacuterios enquanto os pequenos proprietaacuterios tinham os recursos reduzidos Estima-se que apenas 20 e 25 das propriedades eram atendidas via financiamento Des-taca-se tambeacutem a desigualdade regional pois as regiotildees mais desenvolvidas do paiacutes eram as que mais recebiam recursos o Centro-Sul em detrimento ao Norte e Nordeste que compunha o maior iacutendice de desigualdade e pobreza e consequentemente maior necessidade de creacutedito acessiacutevel

No periacuteodo compreendido entre 1969-1985 o PIB referente ao setor agro-pecuaacuterio cresceu 33 vezes ultrapassando R$ 72 2 bilhotildees em 1969 para R$ 238 4 bilhotildees em 1985 Fazendo a mesma anaacutelise com o PIB total brasileiro este cresceu 303 vezes cresceu de R$ 7234 bilhotildees para R$ 21955 bilhotildees Com relaccedilatildeo agrave oferta de creacutedito para este mesmo intervalo de tempo estima-se que os recursos destinados ao custeio com aproximadamente nove a 12 me-ses de prazo somavam 60 do total de contratos e do valor dos empreacutestimos concedidos O restante era dividido para o financiamento de comercializaccedilatildeo com poucos meses e de investimento para aquisiccedilatildeo de bens de capital como por exemplo maquinaria animais e cultivos permanentes variando entre dois e oito anos (ARAUacuteJO 2011)

A deacutecada de 1980 foi marcada pelo esgotamento do Processo de Substi-tuiccedilatildeo de Importaccedilotildees devido agrave escassez de recursos externos decorrente da crise da diacutevida que limitou substancialmente e entrada de fluxos de capitais no Brasil Com isso a poupanccedila puacuteblica entrou em colapso e a inflaccedilatildeo atingiu al-

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tos niacuteveis Dessa forma proporcionou novas alternativas para o financiamento acarretando inflaccedilotildees (SPOLADOR LIMA 2009)

Para Locatel (2010) natildeo se pode denominar o processo de inovaccedilatildeo desi-gual ocorrido na agricultura brasileira a que designe como moderna tendo em vista que o avanccedilo tecnoloacutegico natildeo ocorreu de forma plena em todas as re-giotildees do paiacutes e entre todos os agricultores mas selecionou por estratos sociais e econocircmicos um pequeno grupo de interesse que se alinhava com a poliacutetica de planejamento do Estado Em contrapartida muitos produtores rurais imergi-ram na marginalizaccedilatildeo pois suas atividades tinham um caraacuteter perifeacuterico frente agrave nova organizaccedilatildeo de produccedilatildeo

Conforme Sperl e Arauacutejo (1995) ao analisarem o periacuteodo entre 1970 a 1993 observou-se que houve uma concentraccedilatildeo de creacutedito agriacutecola a niacutevel regional O montante de recursos destinados as regiotildees Sul Sudeste e Cen-tro-Oeste foi aproximadamente cerca de 90 do total de empreacutestimos En-quanto para as regiotildees Norte e Nordeste o percentual foi pouco expressivo Parte da explicaccedilatildeo estaacute assentada sob a matriz produtiva comercial que se encontra nessas regiotildees Eacute valido destacar que inicialmente o volume de capital para o financiamento rural era destinado apenas para o Sul e o Sudeste posteriormente com o deslocamento da fronteira agropecuaacuteria o Centro-Oeste passou tambeacutem a compor o rol de regiotildees privilegiadas no be-neficiamento de recursos maciccedilo principalmente pelo Estado (HOFFMANN KAGEYAMA 1987)

Nesse sentido de fato a agricultura brasileira natildeo pode ser denominada mo-derna pois existem expressivas disparidades e privaccedilotildees tais como ausecircncia de creacutedito acesso a terra conhecimento teacutecnico assistecircncia teacutecnica etc que impedem os pequenos produtores rurais a aderirem agraves novas tecnologias e equipamentos que lhes auxiliaria na efetivaccedilatildeo do processo produtivo tem sido negados paulatinamente ao logo do tempo

Dando continuidade ao arcabouccedilo institucional para garantia da moder-nidade conservadora da poliacutetica agriacutecola em 1987 foi criada a Caderneta de Poupanccedila Rural cujos recursos captados junto ao puacuteblico seriam destinados principalmente agrave agricultura (ARAUacuteJO 2011) No entanto apenas as institui-ccedilotildees bancaacuterias oficiais foram autorizadas a trabalhar com este serviccedilo Nesse mesmo ano 23 dos recursos aplicados no campo foram provenientes deste fundo Em 1996 cria-se o Programa de Securitizaccedilatildeo da Diacutevida dos agricultores cujo limite vai ateacute R$ 200 mil por cada produtor com prazo de sete anos e juros de 3 ao ano mais a variaccedilatildeo de um preccedilo miacutenimo amparado pela poliacutetica de

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 233

preccedilo miacutenimo Destaca-se nesse periacuteodo a gecircnese do Programa de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar (PRONAF) (ARAUacuteJO 2011)

O PRONAF foi agrave primeira poliacutetica puacuteblica de estrateacutegia que abrange a agri-cultura camponesa objetivando o fortalecimento da agricultura comercial mais competitiva assim como robustecer a agricultura camponesa a partir do aporte financeiro por meio do creacutedito subsidiado Bem como ter uma linha de creacutedito para enfrentamentos dos problemas operando junto aos municiacutepios e Estados em que estaacute presente essa categoria produtiva Eacute caracterizado como um programa voltado ao apoio do desenvolvimento sustentaacutevel para o campo traccedilando estrateacutegias que levem agrave seguranccedila alimentar do paiacutes e propicie em-pregos e renda adequados a equidade social (BUAINAIN 1999)

Os recursos provenientes do PRONAF para os agricultores familiares satildeo des-tinados agravequeles cuja matildeo de obra utilizada seja da proacutepria famiacutelia com limite de ateacute R$ 5 mil para custeio e de R$ 15 mil para investimento no maacuteximo Os recur-sos tambeacutem podem ser requeridos em grupo atingindo o cume de R$ 75 mil No primeiro ano de execuccedilatildeo contabilizou R$ 543 milhotildees destinados a 307 mil contratos correspondendo em meacutedia R$ 1770 mil transaccedilotildees (ARAUacuteJO 2011)

No periacuteodo entre 1996-2016 foram investidos aproximadamente R$ 156 bilhotildees em mais de 26 milhotildees de estabelecimentos da agricultura familiar Desse total apenas 30 foram destinadas as mulheres e 17 aos jovens do campo4 Para Aquino (2018) os investimentos pelo programa vecircm sendo mina-dos a partir de 2014 quando atingiu o limite maacuteximo de R$ 24 6 bilhotildees em 2017 foram financiados R$ 216 bilhotildees O principal motivo eacute o desmonte de poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave agricultura familiar Aleacutem da reduccedilatildeo no orccedilamen-to somam-se as desigualdades na distribuiccedilatildeo dos recursos permanecendo as regiotildees Sul e Sudeste com o maior percentual cerca de 74 do total investido Em contrapartida o Nordeste que concentra a maior parte de agricultores em situaccedilatildeo de pobreza e com 44 milhotildees de propriedades rurais receberam ape-nas 15 do financiamento Evidenciando que o Estado natildeo tem atuado de for-ma decisiva para sanar as desigualdades socioespaciais mas atua reforccedilando-a contraditoriamente

Portanto os problemas relacionados a concentraccedilatildeo de terra que ainda persiste no meio rural eacute fruto de uma poliacutetica conservadora o problema se origina na dinacircmica soacutecio-poliacutetica que natildeo possibilitou uma ruptura completa

4 Disponiacutevel em lthttpwwwmdagovbrsitemdanoticiaspronaf-20-anos-de-apoio-aos-agricul-tores-familiaresgt Acesso em 01 dez 2019

234 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

com a concentraccedilatildeo fundiaacuteria responsaacutevel pela exclusatildeo e consequentemente pela pauperizaccedilatildeo e semiproletarizaccedilatildeo dos pequenos produtores rurais tradi-cionais Aos meacutedios e grandes produtores as tecnologias modernas passaram a ser incorporadas agrave produccedilatildeo decorrentes da viabilizaccedilatildeo e concentraccedilatildeo dos re-cursos e demais aparatos teacutecnicos e cientiacuteficos ofertados pelo Estado brasileiro

5 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

A literatura sinalizou que o processo de desenvolvimento socioeconocircmico brasileiro tem em suas raiacutezes como principal entrave a estrutura arcaica fundiaacute-ria que permite natildeo somente a concentraccedilatildeo de capital a captura das poliacuteticas puacuteblicas principalmente as direcionadas agrave agricultura resultando em acentua-do grau de desigualdade no meio rural

Remete ao Brasil colocircnia o contexto de formaccedilatildeo histoacuterica da estrutura fun-diaacuteria quando de sua ocupaccedilatildeo pelos colonizadores se instaurou as capitanias hereditaacuterias e as concessotildees de terras (sesmarias) Por meio das capitanias he-reditaacuterias e sesmaria No Brasil colocircnia e posteriormente a grilagem os verda-deiros donos nativos da terra perderam a posse dando iniacutecio agrave constituiccedilatildeo da propriedade privada alicerccedilada sob lotes de terra com valores a preccedilos de mercado e agrave vista impostos pela elite econocircmica impossibilitando que os cam-poneses os ex-escravos e os imigrantes tivessem o acesso da terra desse modo eles passaram a viver a margem da sociedade

O ecircxodo rural resultante das anomalias no que se refere agrave apropriaccedilatildeo da terra e sua modernizaccedilatildeo conservadora provocou no campo e na cidade uma massa de injusticcedilados decorrentes da intensificaccedilatildeo da desigualdade e o be-neficiamento agraves elites Este cenaacuterio motivou a intensificaccedilatildeo das lutas no cam-po com surgimento de diversos movimentos sociais reividicando natildeo apenas a posse da terra mas que esta viesse acompanhada de uma poliacutetica de reforma agraacuteria Na tentativa de que tais medidas se efetivassem pressionaram o Estado com o intuito de amortecer os impactos dessas disparidades socioespaciais

Dada a sua extensatildeo e atraso tecnoloacutegico de produccedilatildeo no campo o finan-ciamento passa a ser o foco da poliacutetica agriacutecola brasileira Como forma de le-gitimar a poliacutetica agriacutecola o Estado cria leis e regulamentos para legitimar o acesso aos investimentos principalmente aos fundos institucionais no entanto a distribuiccedilatildeo do creacutedito natildeo ocorreu de forma homogecircnea centrando-se em certos grupos de agricultores especializados na produccedilatildeo de commodities com vista para o mercado exportador Natildeo obstante as regiotildees com o maior per-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 235

centual de pobreza foi a que menos recebeu recursos puacuteblicos bem como as desigualdades regionais foram mais intensificadas e evidenciadas

O acesso ao creacutedito tambeacutem estaacute condicionado ao quantum de capital e terra estes satildeo detentores no momento atual reiterando que a poliacutetica ado-tada pelo Estado natildeo tem o caraacuteter de erradicar as desigualdades no campo pois os benefiacutecios alcanccedilam quase que exclusivamente os meacutedios e grandes produtores tornando as tecnologias modernas o principal mecanismo de pro-duccedilatildeo decorrentes da viabilizaccedilatildeo e concentraccedilatildeo dos recursos e demais apa-ratos teacutecnicos e cientiacuteficos ofertados pelo Estado imergindo os camponeses eou agricultores rurais tradicionais na pauperizaccedilatildeo e semi proletarizaccedilatildeo por natildeo gozarem do apoio institucional no desenvolvimento de suas atividades produtivas

No entanto as desigualdades no campo que perduram ateacute hoje ganharam proporccedilatildeo muito grande e natildeo bastaria uma poliacutetica puacuteblica com base no de-senvolvimento econocircmico para solucionar tais problemas eacute necessaacuterio que se crie um novo modelo poliacutetico que acima de tudo respeite os direitos da nature-za dos camponeses dos negros e dos indiacutegenas as camadas mais massacradas da nossa histoacuteria e que tenha a vida como eixo norteador das suas accedilotildees Um longo caminho ainda em construccedilatildeo se faz necessaacuterio percorrer para se alcan-ccedilar tal prerrogativa

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 239

INTERDISCIPLINARIDADE E AS ldquoNOVASrdquo RELACcedilOtildeES CAMPO ndash CIDADE TERRITORIALIDADES EM FOCO

Jhersyka da Rosa CleveNicole Cavalcanti SilvaDiogo dos Santos Gonccedilalves BahiaNuacutebia Dias dos Santos

1 INTRODUCcedilAtildeO

O espaccedilo geograacutefico compotildee uma totalidade analiacutetica metodoloacutegica e reflexiva Resultado e resultante das accedilotildees humanas na relaccedilatildeo sociedade na-tureza sua materialidade decorre do trabalho humano realizado no ambiente moldado pelas relaccedilotildees sociais e de produccedilatildeo Desta maneira urbano e rural compotildeem duas facetas dessa totalidade espacial e descortinam o trabalho social dos agentes modeladores do espaccedilo Campo e cidade rural e urbano reuacutenem diferentes tempos e processos caracteriacutesticas soacutecioespaciais inter--relaccedilotildees e dinacircmicas ambientais econocircmicas culturais estruturais teacutecnicas sociais etc complexas e que demandam analises integradas accedilotildees poliacuteticas serviccedilos e equipamentos especiacuteficos Para Rolnik (2015) ao analisar a cidade capitalista aponta-se para alguns traccedilos essenciais de seu desenvolvimento a privatizaccedilatildeo da propriedade da terra e de moradia a segregaccedilatildeo soacutecioespacial a intervenccedilatildeo reguladora do Estado e a luta pelo espaccedilo e territoacuterios dentre outros aspectos

Nesse sentido o processo de urbanizaccedilatildeo no territoacuterio brasileiro se acentua a partir do final do seacuteculo XIX com o iniacutecio gradativo do processo urbano-in-dustrial no Paiacutes No entanto foi apoacutes os anos 1930 que a presenccedila das induacutestrias se tornou mais intensiva e a urbanizaccedilatildeo comeccedilou a se intensificar e espraiar as cidades (ABREU 2013)

Segundo o autor a segunda metade do seacuteculo XX serviu de incremento gra-ccedilas ao intenso ecircxodo rural ocasionado pela mecanizaccedilatildeo das atividades produ-tivas no meio rural o que gerou um maior desemprego no campo e a grande leva de migrantes em direccedilatildeo agraves principais cidades do Brasil Por sua vez a deacute-cada de 1960 foi o periacuteodo em que o Brasil pela primeira vez passou a ter uma

240 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

populaccedilatildeo predominantemente urbana ou seja a maior parte dos habitantes concentrava-se nas cidades (SANTOS 2013)

Atualmente segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) mais de 80 dos habitantes do Brasil residem em cidades sendo a maioria em grandes centros urbanos e capitais tais como Satildeo Paulo-SP Rio de Janeiro-RJ Belo Horizonte-BH Porto Alegre-PA entre outras (IBGE 2003) Para o instituto este eacute um dos motivos da desigualdade territorial tanto no tamanho das cida-des e nuacutemero de habitantes quanto em niacuteveis de avanccedilo econocircmico e ofertas de infraestrutura no espaccedilo urbano brasileiro

Indo aleacutem o processo de urbanizaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo fez com que o cam-po e a cidade no Brasil passassem por alteraccedilotildees significativas em suas formas espaciais As discussotildees sobre as definiccedilotildees do que seria ruralurbano e campocidade surgem no meio acadecircmico no iniacutecio do seacuteculo XX poreacutem eacute a partir da deacutecada de 1970 que estas questotildees se tornaram mais intensas

Diferentes aacutereas do conhecimento como a Sociologia a Economia e a Geo-grafia tecircm buscado em seus debates apontar reflexotildees na direccedilatildeo de uma reno-vaccedilatildeo e reavaliaccedilatildeo sobre o debate entre o rural e o urbano

Contudo o que vemos eacute o campo e a cidade tendo anaacutelises apenas de acor-do com um vieacutes pois a Geografia compreende de uma forma poreacutem a Eco-nomia vecirc tal questatildeo a partir de outro acircngulo Nesse sentido eacute necessaacuterio (re) pensar as anaacutelises sobre o campo e cidade em virtude das relaccedilotildees estarem mais complexas e cabe ao olhar interdisciplinar assumir um papel para respon-der tais questionamentos Conforme salienta Japiassu (2009 p 192)

Embora ainda temida por alguns a interdisciplinaridade vem rece-

bendo apoio decidido por muitos pesquisadores que natildeo temem

ultrapassar e transgredir suas tradicionais fronteiras disciplinares e

buscar em outros saberes uma valiosa contribuiccedilatildeo enriquecedora

do seu Apresenta-se como um meio privilegiado de suprir as lacunas

de um pensamento cientiacutefico ainda bastante mutilado pela especiali-

zaccedilatildeo cognitivas e da comunicaccedilatildeo (JAPIASSU 2009 p 192)

A interdisciplinaridade rompe com o pensamento cartesiano ao qual fomos moldados a pensar por esse motivo compreender o campo e cidade como to-talidade eacute imprescindiacutevel para natildeo cairmos nas dicotomias

Diante disso se torna difiacutecil delimitar o que eacute rural e o que eacute urbano Eacute neces-saacuterio deixar de lado a diferenciaccedilatildeo e pensar que as cidades natildeo podem mais

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 241

ser identificadas apenas como os centros de decisotildees e demandas econocircmicas e industriais O campo natildeo pode ser entendido apenas como a agricultura e pecuaacuteria como aponta Sobarzo (2006 p 56)

Essas novas relaccedilotildees cidadecampo natildeo devem ser pensadas como

de dependecircncia ou de ldquomatildeo uacutenicardquo jaacute que natildeo eacute somente a cidade

que irradia o conhecimento a racionalidade ou os comportamentos

para o campo mas eacute o campo que em funccedilatildeo de suas demandas de-

termina alguns processos na cidade (SOBARZO 2006 p 56)

Dessa forma nota-se que as novas relaccedilotildees do campo e cidade estatildeo em constantes mudanccedilas as quais ocorrem a partir do avanccedilo do meio teacutecnico cientiacutefico informacional e das novas modalidades e reestruturaccedilatildeo no mundo do trabalho As prestaccedilotildees de serviccedilos e ateacute mesmo o surgimento de novas pro-fissotildees que atendam as demandas vindas do campo evidenciam a influecircncia da divisatildeo espacial do trabalho

Ante ao exposto tem-se como objetivo geral do estudo apresentar a im-portacircncia de novos olhares e reflexatildeo para a cidade e o campo tomando como base que o conhecimento interdisciplinar estudado por diversas aacutereas do co-nhecimento constitui e assume um papel epistemoloacutegico de abordagem im-portante na compreensatildeo dessas ldquonovasrdquo relaccedilotildees A importacircncia parte de olhar cidade e campo em sua totalidade ambos satildeo componentes das formas-con-teuacutedo espaciais e impotildee um olhar integrado para se refletir sobre as possibili-dades de organizaccedilatildeo do arranjo espacial atual e futuro

Em suma o presente texto visa instigar a reflexatildeo de uma nova leitura do campo e cidade apontamos como caminho o conhecimento interdisciplinar Os autores satildeo das mais variadas formaccedilotildees tais como Administraccedilatildeo Enge-nharia e Geografia Estamos inseridos em um programa de poacutes-graduaccedilatildeo cujo nome eacute ldquoDesenvolvimento e Meio Ambienterdquo diante disso eacute necessaacuterio refletir-mos as relaccedilotildees de cidade e campo mas com um vieacutes para aleacutem da dicotomia Afinal que tipo de desenvolvimento tem se estabelecido no campo e cidade

A contribuiccedilatildeo da nossa anaacutelise eacute apresentar um debate a partir dessa uniatildeo de saberes Contudo eacute um desafio pensar a partir da totalidade mas se faz indispensaacutevel pois sem a anaacutelise da totalidade eacute impossiacutevel analisar os processos

Pensar a partir da totalidade requer esforccedilo poreacutem os povos indiacutegenas com-preendem e relacionam-se com o mundo sem delimitaccedilotildees e dicotomias Por-

242 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

tanto essas modificaccedilotildees exigem uma compreensatildeo de que o urbano e o rural natildeo devem ser mais pensados como recortes territoriais isolados Eis entatildeo o desafio pois a relaccedilatildeo que existe entre estes espaccedilos eacute de complementaridade De acordo com Moreira (2005 p 10) ldquoNatildeo eacute mais aceito falar em um rural exclu-sivamente agriacutecola ou de um urbano que natildeo inclua tambeacutem possibilidades de construccedilatildeo de identidades ruraisrdquo

No Brasil as nomenclaturas urbana e rural satildeo determinadas pelo IBGE (Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) que analisa a partir da seguinte situ-accedilatildeo populaccedilatildeo urbana eacute aquela em que as pessoas se localizam em domiciacutelios localizados nas cidades ou sedes distritais populaccedilatildeo rural eacute aquela que se lo-caliza em toda aacuterea fora dos limites urbanos

Entretanto a anaacutelise amparada apenas em dados estatiacutesticos acaba descon-siderando a realidade social e as proacuteprias relaccedilotildees construiacutedas Assim existem controveacutersias no que diz respeito agrave anaacutelise que o Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatiacutestica (IBGE) faz em relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees do urbano e rural

Dessa forma existe um apanhado de autores que tem se dedicado a tra-tar de questotildees sobre as interpretaccedilotildees e definiccedilotildees sobre o rural e urbano campo e cidade tais como os socioacutelogos Carneiro (1997 1998) Galpin (1981) Sorokim Zimmerman (1981) os economistas Abramovay (2000) Graziano da Silva (2002) Veiga (2004) e os geoacutegrafos Bernadelli (2006) Carlos (2004) Endli-ch (2006) Reis (2006) Resende (2007) Rua (2007) Sposito (2006) entre outros

A discussatildeo que propomos fazer aqui eacute a partir de uma revisatildeo de literatura dos autores citamos acima mas pensando a totalidade que o campo e cidade carregam Nesse sentido a interdisciplinaridade apresenta um caminho para o entendimento do campo e cidade Julgamos a importacircncia que a leitura do campo e cidade seja para aleacutem de uma uacutenica disciplina por muito tempo a Geografia pautou uma anaacutelise assim como a Economia e Sociologia

Contudo temos deixado de analisar a totalidade e cabe aiacute o papel da inter-disciplinaridade pois a partir do conhecimento interdisciplinar existe a possibi-lidade de exercitamos a pensar no todo e natildeo apenas as partes ou simplesmen-te nos processos

Assim sendo o texto estaacute estruturado em quatro toacutepicos no primeiro toacutepico apresentamos o processo de modernizaccedilatildeo do campo e a resistecircncia campone-sa no Brasil no segundo toacutepico realizamos algumas consideraccedilotildees a partir de autores que tem discutido sobre cidade e campo no terceiro toacutepico expomos algumas consideraccedilotildees de manifestaccedilotildees do rural em aacutereas urbanas e no uacutel-timo toacutepico discutimos o papel da interdisciplinaridade no entendimento da

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 243

relaccedilatildeo campo e cidade cujo intuito eacute mostrar o que entendemos por interdis-ciplinaridade e sua relevacircncia na (re) interpretaccedilatildeo da cidade e campo

2 BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE A MODERNIZACcedilAtildeO E RESIS-TEcircNCIA DO CAMPO NO BRASIL

A partir de 1960 o Brasil introduz uma era de modernizaccedilatildeo da agricultura que tem um profundo impacto no campesinato Sobre a modernizaccedilatildeo da agri-cultura Kageyama et al (1990 p 133) diz que

[] por modernizaccedilatildeo se entende basicamente a mudanccedila na base

teacutecnica da produccedilatildeo agriacutecola e que eacute representado pela introduccedilatildeo

de maacutequinas como tratores aleacutem do uso de elementos quiacutemicos

(fertilizantes defensivos etc) (KAGEYAMA et al 1990 p 133)

Eacute curioso como a autora anuncia a concepccedilatildeo de modernizaccedilatildeo gestada pelo estudo capital brasileiro Entendemos que esse modelo de modernizaccedilatildeo da agricultura ocorreu de forma desigual pois as poliacuteticas de creacutedito natildeo atin-giram a todos os segmentos Se natildeo fosse assim hoje haveria um cenaacuterio mais igualitaacuterio onde os camponeses teriam mais condiccedilotildees de permanecircncia na ter-ra Buscamos na Figura 01 sintetizar alguns pontos chaves que estatildeo relaciona-dos com a modernizaccedilatildeo do campo no Brasil

Figura 01 ndash Esquema da modernizaccedilatildeo do campo no Brasil

Fonte Elaborado pelos autores a partir de Neto 1997

244 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Neto (1997) discute sobre as transformaccedilotildees que ocorreram no meio rural brasileiro principalmente a partir da deacutecada de 1970 onde baseado no censo o Brasil deixaria de ser um paiacutes rural e passaria a ser um paiacutes urbano

Percebemos aqui uma segregaccedilatildeo da totalidade espacial e uma materia-lizaccedilatildeo do tipo de trabalho que se faz em cada espaccedilo-territoacuterio como fator determinante para essa classificaccedilatildeo O autor ainda traz o poder do Estado nes-se processo de mudanccedila sob a oacutetica do planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo e pondera que tal poder para a instauraccedilatildeo das transformaccedilotildees necessaacuterias satildeo as medidas poliacuteticas que se utiliza para intervir nos segmentos distintos da ati-vidade produtiva

Assim o estado acaba por se tornar um agente primaacuterio de tomada de de-cisatildeo no processo de desenvolvimento do setor rural atraveacutes de suas poliacuteticas puacuteblicas que seguem na mesma direccedilatildeo do planejamento estatal para o con-junto da economia Acontece que nessa accedilatildeo rumo agrave modernizaccedilatildeo as poliacuteticas agriacutecolas do governo brasileiro principalmente entre os anos de 1960 e 1980 discutidas por Neto (1997) promoveram a modernizaccedilatildeo da base teacutecnica de grande parte da agricultura sem contudo alterar os padrotildees de acumulaccedilatildeo A burguesia que em uacuteltima instacircncia sempre era beneficiada nessas tomadas de decisatildeo requereu para si cada vez mais esse poder colocando agrave margem a classe trabalhadora no campo e na cidade

Vale destacar que os impactos do modelo implantado no paiacutes tambeacutem se fazem sentir no ambiente fiacutesico com o processo de desmatamento para os cul-tivos de exportaccedilatildeo eou a criaccedilatildeo do gado bovino e se acentua com o pacote tecnoloacutegico dos cultivos transgecircnicos afetando diretamente o solo a aacutegua o ar e a sauacutede da populaccedilatildeo trabalhadora inserida nesse contexto

A partir das reflexotildees do geoacutegrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira em particu-lar na sua obra Modo de Produccedilatildeo Capitalista e Agricultura escrita em 1986 o autor faz uma retrospectiva no qual o objetivo eacute de compreender o camponecircs e o campo no seacuteculo XX evidenciando como o proacuteprio capital cria e recria as condiccedilotildees para suas existecircncias Sendo a modernizaccedilatildeo da agricultura uma forma do capital existir e criar condiccedilotildees para permanecer e garantir a sua reproduccedilatildeo ampliada

Nesse sentido os modos capitalistas de produccedilatildeo vatildeo se territorializando no campo resultando em maior concentraccedilatildeo fundiaacuteria e renda tendo como resultado a resistecircncia camponesa e o surgimento de movimentos sociais de luta pela terra

O campo eacute marcado pelo sangue e morte dos camponeses sendo que par-cela da culpa tem raiz no processo colonizador mas com a modernizaccedilatildeo da

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 245

agricultura o pacto entre a elite agraacuteria e o Estado eacute firmado A poliacutetica de mo-dernizaccedilatildeo no campo natildeo se deu de forma neutra mas atendeu aos interesses de determinadas classes Conforme salienta Neto (1997 p 223) se caracterizou por uma

[] poliacutetica discriminatoacuteria que atende aos aliados mais proacuteximos e

aos grupos com maior poder de pressatildeo o que equivale dizer que

os menos afortunados na estrutura social acabam ficando com pe-

quenas parcelas dos benefiacutecios governamentais [] os recursos po-

deriam ser orientados de forma a natildeo privilegiar demasiadamente

determinados grupos regiotildees etc (NETO 1997 p 223)

Entendemos que a modernizaccedilatildeo na agricultura ao favorecer determinados grupos sociais e agentes do capital natildeo muda as estruturas herdadas do pro-cesso colonizador e o latifuacutendio permanece a dominar o campo brasileiro mas com uma ldquonova roupagemrdquo nomeada de agronegoacutecio Eacute a partir da mecaniza-ccedilatildeo da agricultura no Brasil que teremos ldquodois tipos de campordquo de um lado tere-mos o campo ldquoricordquo e do outro o campo marcado pela miseacuteria pela resistecircncia e luta dos grupos sociais mais impactados e menos assistidos pelas accedilotildees gover-namentais a despeito da sua importacircncia poliacutetica e estrateacutegica para a proacutepria dinacircmica do capital no arranjo espacial brasileiro

Essa desigualdade passa a existir e acirrar-se ainda mais com o surgimento dos chamados complexos agroindustriais Em relaccedilatildeo aos complexos agroin-dustriais podemos observar a sua estrutura a partir da Figura 02

Figura 02 ndash Esquema do complexo agroindustrial

Fonte Szmrecsaacutenyi 1983

246 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Na Figura 02 nota-se que a produccedilatildeo agropecuaacuteria eacute o centro e envolve vaacuterios tipos de produccedilatildeo As instituiccedilotildees satildeo caracterizadas como aquelas for-necedoras de creacutedito assistecircncia teacutecnica desenvolvimento e pesquisa

Em seguida a induacutestria de insumos vem fornecer mateacuteria prima ao processo a partir de fertilizantes inseticidas pesticidas e equipamentos posteriormente ocorre a comercializaccedilatildeo do produto em cooperativas atacadistas varejistas etc Diante desse cenaacuterio a induacutestria de processamento transforma a mateacuteria prima em mercadoria para o consumidor final

Eacute esse modelo que tem sido defendido e instalado atualmente no contexto agraacuterio brasileiro e ocasionando desigualdade no campo Em relaccedilatildeo a Figura 02 eacute possiacutevel fazermos um questionamento Eacute esse o modelo que queremos Um campo para o agronegoacutecio No complexo agroindustrial tem lugar para o camponecircs

De acordo com Oliveira et al (2004) a soma das aacutereas das 27 maiores pro-priedades rurais do Brasil totalizava o equivalente ao Estado de Satildeo Paulo e as 300 maiores equiparavam-se agraves extensotildees dos estados de Satildeo Paulo e Paranaacute juntos Esses nuacutemeros revelam que esse modelo dominante no campo concen-trava-se nas matildeos de poucos os quais seratildeo inseridos na loacutegica dos complexos agroindustriais Como uma paiacutes de 8547403 kmsup2 (IBGE) ainda possui tantas pessoas lutando por um pedaccedilo de chatildeo

Eacute um questionamento que devemos fazer pois apenas 497 das terras no Brasil estatildeo cadastradas no INCRA (CARVALHO 2005) Porque essa porcentagem

Analisando as Tabela 01 e o Graacutefico 01 podemos perceber que com o passar dos anos a distribuiccedilatildeo de terras no Brasil ainda se daacute de forma desigual mes-mo com a existecircncia do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) as diferenccedilas ainda permanecem As terras continuam concentradas em sua grande maioria nas matildeos de poucas pessoas fato este que nos remete ao pensamento do Brasil colocircnia onde prevaleciam o latifuacutendio a monocultura e a exportaccedilatildeo Apesar de adentrarmos no seacuteculo XXI notamos que o panora-ma atual em pouco se difere da eacutepoca da colonizaccedilatildeo sob o prisma da distribui-ccedilatildeo das terras no Brasil como se observa na Tabela 1

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 247

Tabela 01 ndash Malha fundiaacuteria do Brasil nos anos de 2006 e 2017

Grupos de aacutereaCensos Agropecuaacuterios

2006 2017Estabelecimentos Aacuterea (ha) Estabelecimentos Aacuterea (ha)

Menos de 10 ha 2477151 7798777 2543681 7993969De 10 a menos de 100 ha 1971600 62893979 1980684 63810646De 100 a menos de 1000 ha 424288 112844186 420719 112257692De 1000 haacute e mais 47578 150143096 51203 167227511Produtor sem aacuterea 255019 - 77037 -Total 5175636 333680038 5073324 351289818

Fonte IBGE 2019

Graacutefico 01 ndash Distribuiccedilatildeo das aacutereas dos estabelecimentos agropecuaacuterios segundo os grupos de aacuterea ndash Brasil ndash 199520062017

Fonte IBGE 2019

Como exposto na Tabela 01 a malha fundiaacuteria do Brasil apresenta entre os anos 2006 e 2017 algumas caracteriacutesticas peculiares Nota-se a diminuiccedilatildeo em 2017 no nuacutemero total de estabelecimentos (aproximadamente 2) mas ocorre elevaccedilatildeo na aacuterea total de estabelecimentos (pouco mais de 5)

248 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Quanto agrave distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos por tamanho isto eacute por grupos de aacuterea observa-se que nos estratos com menos de 10 ha o nuacutemero de estabe-lecimentos aumentou de 2006 para 2017 cerca de 27 enquanto que na aacuterea total ocorreu um acreacutescimo de 25

Jaacute em relaccedilatildeo aos estratos maiores que 1000 ha tivemos um aumento de estabelecimentos entre 2006 e 2017 na ordem de 76 e na aacuterea total de 114

A anaacutelise desses dados nos permite concluir que a despeito das poliacuteticas puacuteblicas a concentraccedilatildeo de terras no Brasil ainda permanece nas matildeos dos grandes latifundiaacuterios pois apesar de nos dois segmentos analisados haverem um aumento absoluto de estabelecimentos e de aacutereas observou-se que a taxa relativa de crescimento foi maior para os estratos superiores a 1000ha

Tal distribuiccedilatildeo assimeacutetrica real da malha fundiaacuteria brasileira que fica bem perceptiacutevel atraveacutes de anaacutelise do Graacutefico 01 reflete diretamente na condiccedilatildeo de vida do camponecircs fazendo com que este enfrente dificuldades para permane-cer na terra Assim entendemos que apesar da existecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para esse segmento como eacute o caso do Pronaf nota-se que ainda satildeo as mesmas o que impotildee a continuidade da luta para permanecer na terra e assim continuar se reproduzindo como camponecircs A respeito dessa questatildeo Melo (2010 p 41) assina como o Pronaf ainda apresenta limitaccedilotildees para o segmento de camponeses assentados

O Pronaf deveria entrar em cena para corrigir uma diacutevida histoacuterica

do Estado com agricultores camponeses que ateacute entatildeo estavam

excluiacutedos das poliacuteticas de creacutedito agriacutecola destinadas ao meio rural

No entanto a mesma natildeo tem conseguido atingir estruturalmente

os assentados no sentido de promover sua autonomia financeira e

inseri-los no mercado em uma condiccedilatildeo menos desigual e injusta

(MELO 2010 p 41)

Dessa forma muitos camponeses satildeo obrigados a se tornarem trabalhadores assalariados sazonais ou satildeo expulsos do campo ao migrarem para a cidade e vi-vem em precaacuterias condiccedilotildees de existecircncia Esses sujeitos ateacute buscam maneiras de resistir frente a este modelo poreacutem o proacuteprio Estado reforccedila o favorecendo aos ldquograndesrdquo proprietaacuterios de terra Conforme destaca Locatel (2004 p 296)

As transformaccedilotildees ocorridas na agricultura brasileira em boa parte

satildeo resultados diretos da accedilatildeo do Estado atraveacutes de poliacuteticas macro-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 249

econocircmicas e tambeacutem setoriais voltadas para o campo que foram

elaboradas a partir do paradigma de desenvolvimento predominan-

te entre poliacuteticos e teacutecnicos do governo aleacutem de intelectuais [] foi

edificada no Brasil uma concepccedilatildeo de desenvolvimento baseada na

ideia de progresso com crescimento constante da economia (LOCA-

TEL 2004 p 296)

A ideia de progresso foi difundida com o lema de alavancar a economia mas eacute necessaacuterio refletir sobre o termo desenvolvimento Ao consultarmos o di-cionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo estaacute relacionado a crescimento progresso e aumento Mas a que tipo de crescimento e progresso o desenvolvi-mento de fato refere-se

Desde meados do seacuteculo 20 um fantasma ronda o mundo Esse fantasma eacute o desenvolvimento Apesar de a maioria das pessoas seguramente natildeo acreditar em fantasmas ao menos em algum momento acreditou no ldquodesenvolvimentordquo dei-xou-se influenciar pelo ldquodesenvolvimentordquo (ACOSTA 2016)

Embora ateacute os mais leigos defendam a necessidade de desenvolvimento ainda assim natildeo sabem a real necessidade do mesmo Eacute em detrimento desse termo que as poliacuteticas puacuteblicas do setor agriacutecola satildeo formuladas

Em nome do progresso se instaura no campo um cenaacuterio marcado pela bar-baacuterie luta e conflitos cuja raiz estaacute na forma como ocorreu a distribuiccedilatildeo de terras no Brasil sendo que a partir do favorecimento de poliacuteticas puacuteblicas desti-nadas a apenas um setor ampliou-se a desigualdade no campo

Diante disso o camponecircs eacute obrigado a deixar sua terra pois estes atores satildeo tidos como atrasados e incapazes de acompanhar essa mecanizaccedilatildeo da agricul-tura Cabe ressaltar que a loacutegica que os camponeses tecircm com a terra eacute uma loacute-gica completamente distinta daquele empresaacuterio da agricultura de exportaccedilatildeo

A Figura 03 demonstra uma propriedade a qual tem como base a famiacutelia a subsistecircncia e o respeito a natureza uma loacutegica distinta daqueles que pos-suem uma propriedade voltada para o agronegoacutecio Nesse sentido entende-se a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para os camponeses poreacutem satildeo quase inexistentes e quando existem como eacute o caso do Pronaf natildeo atendem a real necessidade desses sujeitos

250 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Figura 03 ndash Propriedade de um agricultor da Rede de Agroecologia ldquoPlantar para a vidardquo do Estado de Sergipe-SE

Fonte Os autores 2019

A reproduccedilatildeo do camponecircs no modo de produccedilatildeo capitalista tem ocorrido a partir do engajamento em movimentos sociais de luta pela terra Um fato curioso que tem acontecido nos uacuteltimos anos eacute o ingresso nos movimentos de luta pela terra de pessoas sem moradia haja vista que apesar de natildeo existir contato com o campo tais sujeitos engajam-se na luta pela terra pois o objeti-vo eacute a busca de uma vida digna

Ateacute aqui tentamos de forma breve levantar questotildees referentes ao processo de modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil e as consequecircncias que sua chegada acarretou Eacute atraveacutes da chegada do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional no campo que ocorreram inuacutemeras transformaccedilotildees nas relaccedilotildees entre campo e cidade Afinal entatildeo o que eacute campo cidade rural e urbano Como essas cate-gorias satildeo definidas no Brasil

3 RELACcedilOtildeES CAMPO X CIDADE UMA REFLEXAtildeO NECESSAacuteRIA

Propomos aqui fazer algumas reflexotildees de forma breve sobre campo cida-de urbano e rural Entretanto o estudo natildeo tem como objetivo realizar defi-niccedilotildees fechadas nem esgotar o assunto mas sim tentaremos organizar uma breve reflexatildeo a partir de alguns autores que tem abordado essa temaacutetica

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 251

Afinal o que separa ou diferencia a cidade do campo Qual o limite entre eles Podemos entender campo e cidade a partir das diferenciaccedilotildees Tais ques-totildees satildeo muito utilizadas para classificar o que eacute cidade no Brasil Todavia ana-lisar apenas por este vieacutes eacute colocar a relaccedilatildeo cidade e campo em uma forma simplista deixando de ver o todo

Em face do exposto foi a partir de 1950 com a intensificaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo e de modernizaccedilatildeo da agricultura brasileira que ocorreram ex-pressivas transformaccedilotildees nas relaccedilotildees entre o urbano e o rural agrave medida que se compararmos as relaccedilotildees entre campo e cidade iremos encontrar inuacutemeras visotildees que apontam o campo como ldquoatrasadordquo lugar em que o ldquodesenvolvimen-tordquo natildeo chega

Nesse sentido criaram-se estereoacutetipos que definem o homem do campo como ldquocaipirardquo a proacutepria literatura brasileira acaba reforccedilando a visatildeo sobre o campo ser ldquoatrasadordquo como eacute o caso da obra ldquoJeca Tatuzinhordquo do autor Monteiro Lobato (1951) que coloca o homem do campo como pobre preguiccediloso atra-sado a partir do personagem Jeca Tatuzinho que representava o trabalhador do campo

ldquoJeca natildeo queria saber de nada Trabalhar natildeo era com ele Perto

morava um italiano jaacute bastante arranjado mas que ainda assim tra-

balhava o dia inteiro Por que Jeca natildeo fazia o mesmo Quando lhe

perguntavam isso ele dizia

- Natildeo paga a pena plantar A formiga come tudo

- Mas como eacute que o seu vizinho italiano natildeo tem formiga no siacutetio

- Eacute que ele mata

- E por que vocecirc natildeo faz o mesmo

Jeca coccedilava a cabeccedila cuspia por entre os dentes e vinha sempre com

a mesma histoacuteria

- Quaacute Natildeo paga a pena

- Aleacutem de preguiccediloso becircbado e aleacutem de becircbado idiota era o que

todos diziam (LOBATO 1951 p 329-331)

Observa-se que a linguagem utilizada por Monteiro Lobato (1951) desvaloriza o homem do campo e reforccedila ainda mais o discurso que a cidade eacute o moderno o melhor Em contrapartida Graciliano Ramos (1998 p 15) em sua obra ldquoVidas Secasrdquo apresenta uma sensibilidade a problemaacutetica do campo e aborda desigual-dades sociais que afligem o homem do campo conforme o trecho abaixo

252 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

[] a caatinga ressuscitaria a semente do gado voltaria ao curral ele

Fabiano seria o vaqueiro daquela fazenda morta Chocalhos de ba-

dalos de ossos animariam a solidatildeo Os meninos gordos vermelhos

brincariam no chiqueiro das cabras Sinha Vitoacuteria vestiria saia de

ramagens vistosas As vacas povoariam o curral E a caatinga ficaria

toda verde (RAMOS 1998 p 15)

O trecho acima representa os dramas vivenciados pela falta de aacutegua no campo em um universo que a luta pela sobrevivecircncia eacute diaacuteria Graciliano Ra-mos (1988) mostra atraveacutes de exemplos que com a falta de aacutegua e de alimen-tos a necessidade de olhar para o homem do campo a partir da sua realidade deixando estereoacutetipos mas uma real compreensatildeo que esse universo eacute marca-do pela luta e sofrimento

Ramos (1998) mostra como o homem sertanejo manteacutem uma relaccedilatildeo harmoniosa com a natureza e com o proacuteximo O contraponto dessa obra com a do ldquoJeca Tatuzinhordquo de Lobato ocorre a partir do olhar que cada autor coloca Em Ramos o sujeito do campo eacute um lutador sendo apresentado a partir da sua essecircncia jaacute em Lobato esse homem eacute visto como atrasado e incapaz por esse motivo o debate sobre campo e cidade eacute importante visto que tais relaccedilotildees estatildeo em constante mudanccedilas Para aleacutem dessa perspec-tiva se o olhar para o homem do campo muda a loacutegica da poliacutetica puacuteblica tende tambeacutem a mudar

Dessa forma natildeo podemos pensar o campo e a cidade de forma simplista racista homogecircnea hegemocircnica ou machista delimitando e buscando dife-renccedilas entre um e outro pois as relaccedilotildees atuais entre o campo e a cidade jaacute natildeo as mesmas de vinte anos atraacutes Hoje o campo eacute um grande influenciador sobre os agentes urbanos e vice-versa

Fazendo uma breve retrospectiva sobre as relaccedilotildees histoacutericas entre o campo e a cidade nota-se que tais relaccedilotildees sempre estiveram em constantes mudan-ccedilas ao passo que na antiguidade o campo e a cidade se diferenciavam pelas divisotildees de trabalho jaacute no medieval as distinccedilotildees eram feitas atraveacutes dos muros que separavam o que era cidade e o que era campo

Atualmente natildeo existe uma ldquobarreirardquo fiacutesica que delimita dizer onde eacute campo e onde eacute cidade pois fica difiacutecil agrave identificaccedilatildeo do que eacute campo e cidade porque um depende do outro Nessa perspectiva apresenta-se a seguir algumas pers-pectivas sobre campocidade e ruralurbano agrave medida que existe uma gama imensa de trabalhos que procuram refletir sobre a questatildeo campo-cidade no

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 253

Brasil poreacutem na maioria das vezes a abordagem se resume a dados estatiacutesticos que desconsideram a realidade vivida por cada localidade

Utilizar os dados estatiacutesticos para reconhecer o que eacute urbano ou o que rural pode ser um recurso metodoloacutegico entretanto a anaacutelise natildeo deve apenas amparar-se em nuacutemeros mas tambeacutem levar em consideraccedilatildeo as relaccedilotildees am-bientais econocircmicas sociais e culturais de cada localidade Spoacutesito (2006 p 114) compreende que ldquoo processo que envolve cidade e campo deve ser visto a partir de outras perspectivas e natildeo apenas de forma reduzida como oacutergatildeos administrativos abordam a questatildeordquo e acrescenta ldquo[] A urbanizaccedilatildeo eacute um pro-cesso muito mais complexo e natildeo pode ser reduzido a sua dimensatildeo popula-cional razatildeo pela qual a questatildeo cidade-campo merece ser vista a luz de outras perspectivas []rdquo (SPOSITO 2006 p 114)

No seacuteculo XX as estruturas urbanas foram modificadas o que tornou muito difiacutecil diferenciar no sentido espacial a cidade do campo O que percebemos eacute que tem se expandido a aacuterea de transiccedilatildeo entre o que entendemos como cida-de e o que se compreende como campo gerando com isso uma dificuldade de distinccedilatildeo entre espaccedilos urbanos e espaccedilos rurais

Em virtude deste cenaacuterio Sposito (2006) aponta para uma constituiccedilatildeo de um contiacutenuo entre cidadecampo poreacutem isto natildeo quer dizer no desapareci-mento da cidade e do campo como unidades espaciais com caracteriacutesticas dis-tintas mas sim a constituiccedilatildeo de aacutereas em que ocorre o contato entre esses espaccedilos que se caracterizam pelo compartilhamento seja do mesmo territoacuterio ou em parcelas com variados fins que vatildeo desde o uso do solo a interesses poliacute-ticos e econocircmicos no qual satildeo associados ao mundo rural e ao urbano

Biazzo (2008) salienta que rural e urbano por vezes tecircm sido abordados como categorias operatoacuterias ou seja satildeo lidas como partes materiais que com-potildeem os espaccedilos produzidos pela sociedade em muitas abordagens sobre es-tas categorias tecircm focado apenas nas dimensotildees econocircmicas e poliacuteticas com base na divisatildeo social do trabalho deixando de lado o cultural e o social

Endlich (2006) e Sobarzo (2006) ambos influenciados por Henri Lefebvre (2001) compreendem o rural e o urbano como modos de vida perpassando desde os haacutebitos costumes e cultura entendem que essas relaccedilotildees vatildeo aleacutem do territoacuterio e da materialidade

Portanto eacute inuacutetil pensar que cidade e campo caminham isolados poreacutem eacute necessaacuterio analisar que tais espaccedilos possuem as suas proacuteprias caracteriacutesticas cenaacuterios e dinacircmicas Embora hoje em dia os rurais e urbanos possuam rela-ccedilotildees estreitas cabe dizer que natildeo se tornaram a mesma coisa pois preservam

254 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

suas especificidades Sobre o periacuteodo atual da relaccedilatildeo cidade e campo Spoacutesito (2006 p 122) salienta

[] Aqui a unidade espacial urbana como marcas das cidades no de-

correr do longo processo de urbanizaccedilatildeo cedeu lugar ao binocircmio

urbanorural resultado tambeacutem da incapacidade no periacuteodo atual

de distinguir onde acaba a cidade e comeccedila o campo As formas con-

fundem-se porque as relaccedilotildees se intensificam e os limites entre esses

dois espaccedilos tornam-se imprecisos [] (SPOSITO 2006 p 122)

Dessa forma Sposito (2006) salienta a necessidade de reelaborar os conteuacute-dos dos conceitos de cidade e campo rural e urbano com propoacutesito de trazer renovaccedilatildeo a essas novas formas de manifestaccedilatildeo no mundo contemporacircneo pois natildeo haacute como refletir sobre o rural e urbano com base apenas em teorias que natildeo acompanharam estas mudanccedilas

Por sua vez Bernardelli (2006 p 33) salienta que ldquo[] a concepccedilatildeo do urba-no extrapola a proacutepria cidade consubstanciando-se na relaccedilatildeo cidade-campo tendo na divisatildeo teacutecnica social e territorial do trabalho a sua baserdquo

Dessa forma torna-se necessaacuterio compreender a categoria urbano e a rural como conteuacutedos sociais enquanto satildeo concebidas no espaccedilo cidade e campo como Segundo Biazzo (2008 p 139) urbano e rural satildeo conteuacutedos sociais ldquopo-dem conviver no mesmo local nas praacuteticas dos mesmos autores sociaisrdquo

Dentre as abordagens que foram elencadas ateacute aqui compreende-se que eacute a partir das relaccedilotildees e dos agentes sociais que iremos entender o rural e urba-no sendo importante lembrar que as relaccedilotildees se constroem e desconstroem-se por meio da sociedade estando em constantes transformaccedilotildees

Sobre as relaccedilotildees mantidas entre cidade e campo nota-se que a cidade tem buscado cada vez mais se inserir no campo atraveacutes dos seus aparatos tecnoloacute-gicos Em contrapartida o intenso processo de urbanizaccedilatildeo ocorrem a partir das massivas poliacuteticas de modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil as quais provocam a fuga de pequenos produtores rurais para a cidade em vista da maturaccedilatildeo do processo urbano-industrial desencadeado no Brasil

No entanto natildeo satildeo apenas os modos de vida da cidade que adentram ao campo tambeacutem ocorre o inverso pois os habitantes da cidade tambeacutem bus-cam haacutebitos que satildeo ditos apenas do campo

Ademais observa-se a migraccedilatildeo de habitantes da cidade para o campo em busca de tranquilidade a intensa busca pelo contato com a natureza a tiacutetulo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 255

de exemplo tem-se o crescimento de residenciais fechados Satildeo os condomiacute-nios que pregam o lema de estarem em contato com a natureza na promoccedilatildeo de paz harmonia sauacutede e qualidade de vida sem no entanto desconstruir os haacutebitos e valores simboacutelicos da cidade reeditando o estranhamento socieda-de-natureza realimentando a dicotomia mas com o discurso de intenccedilatildeo

Portanto nota-se dois processos de um lado a populaccedilatildeo da cidade que busca a visatildeo bucoacutelica do campo como local de descanso repouso e lazer e do outro o morador do campo que migra para a cidade com intuito de melhores condiccedilotildees de vida caracterizando haacutebitos identidades e relaccedilotildees que acabam fazendo com que esses dois espaccedilos se relacionem

Natildeo obstante tudo que foi exposto ateacute aqui evidencia que devemos com-preender o rural e urbano como modos de vida Ademais ao analisar o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2010 identificamos que naquele ano o iacutendice de urbanizaccedilatildeo foi de 8434 o que leva a compreensatildeo de que o rural estaacute sendo extinto na percepccedilatildeo de alguns autores No entanto eacute possiacutevel vislumbrar essa realidade para um futuro proacuteximo O Brasil seraacute um paiacutes esvaziado de conteuacutedo rural

Devemos analisar este tipo de dado com atenccedilatildeo pois natildeo aponta como ocorre o processo de urbanizaccedilatildeo Na realidade apenas disfarccedila a verdadeira natureza destas relaccedilotildees deixa de lado e esquece que os modos de vida rurais e urbanos natildeo satildeo estaacuteticos e muito menos se restringem a um espaccedilo

Os dados apontados pelo IBGE deixam de lado por exemplo o motivo que tem feito moradores de aacutereas rurais abandonarem as suas casas a mudarem-se para as cidades pois muitos desses sujeitos migram para a cidade natildeo apenas por melhores condiccedilotildees de vida mas sim porque estatildeo sendo expropriados por esse modo perverso da concentraccedilatildeo das grandes propriedades com praacute-ticas sociais e relaccedilotildees de trabalho pautadas na exploraccedilatildeo de matildeo-de-obra

Haacute tambeacutem um movimento inverso daqueles sujeitos sem emprego e mo-radia na cidade que se inserem nos movimentos sociais de luta pela terra tendo como objetivo melhor qualidade de vida e busca por meios de subsistecircncia Ao se inserirem sobrevivem vivendo na beira das estradas com a incerteza e podem passar anos lutando por um pedaccedilo de chatildeo

Dessa forma a quantificaccedilatildeo da urbanizaccedilatildeo no Brasil e a proacutepria relaccedilatildeo entre campo e cidade amparada apenas em dados estatiacutesticos induzem ao es-quecimento do modo de vida dos agentes que fazem parte deste processo As-sim sendo compreendemos campo e cidade como parte do concreto ou seja do material no espaccedilo Enquanto rural e urbano a construccedilatildeo social no espaccedilo

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nota-se que satildeo inuacutemeras as diferenccedilas entre o rural e o urbano e o campo e a cidade

Portanto na atualidade o que fica evidente eacute que os espaccedilos urbanos e ru-rais estatildeo englobados e os limites entre esses espaccedilos jaacute natildeo coincidem com os recortes utilizados atraveacutes de dados estatiacutesticos Dessa forma torna-se cada vez mais um desafio agrave compreensatildeo sobre as relaccedilotildees entre campo e cidade

4 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE A MANIFESTACcedilAtildeO DO RU-RAL EM AacuteREAS URBANAS

Ao tratar sobre a conceituaccedilatildeo de uma localidade como rural ou urbana tor-na-se necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo a dinacircmica do local pois a distinccedilatildeo entre rural e urbano estaacute no conteuacutedo das relaccedilotildees sociais contidas em cada espaccedilo como jaacute foi dito anteriormente

Dessa forma compreender atraveacutes dos haacutebitos costumes cultura e relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos tecircm com o local eacute o ponto de partida para analisar o rural e o urbano De acordo com Moreira (2005 p 11) tem-se que

[] os indiviacuteduos podem expressar o seu viacutenculo com um determi-

nado territoacuterio (sua identidade territorial) mesmo estando fora de

sua referecircncia espacial Eacute o caso da manifestaccedilatildeo de praacuteticas culturais

entendidas como rurais em espaccedilos definidos como urbanos e vice-

-versa (MOREIRA 2005 p 11)

Nesse sentindo torna-se uma tarefa difiacutecil apontar uma diferenciaccedilatildeo pois em determinadas aacutereas perifeacutericas das cidades o rural e o urbano se interagem no viver das pessoas formando assim um espaccedilo hiacutebrido o que tem sido comu-mente denominado de espaccedilo periurbano

Sobre a ideia de hibridaccedilatildeo Haesbaert (2005 p 05) afirma que ldquoo mais co-mum eacute que as pessoas e os grupos sociais desenvolvam concomitantemente viacutenculos identitaacuterios com mais de um territoacuterio ou com territoacuterios de caracteriacutes-ticas muito mais hiacutebridas multiterritorializando-serdquo

Dessa forma exemplos bem simples como agrave criaccedilatildeo de galinhas nos quin-tais das casas em que se localizam na cidade eacute a manifestaccedilatildeo dessa hibridi-zaccedilatildeo uma vez que o sujeito pode ter deixado o campo mas costumes ditos rurais ainda estatildeo presentes em sua identidade Ademais morar natildeo implica ser do lugar Estar no lugar eacute condiccedilatildeo enquanto ser do lugar eacute pertencimento

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Em relaccedilatildeo agrave permanecircncia de haacutebitos ditos rurais com manifestaccedilotildees na ci-dade Maia (2000 p121) aponta que [] ldquoidentificamos nesse cenaacuterio urbano resiacuteduos de tempos lentos atrelados ao tempo acelerado pela sociedade de consumordquo

Deste modo eacute preciso analisar profundamente se tais relaccedilotildees satildeo baseadas em uma intensa ligaccedilatildeo com a terra pois estes moradores satildeo contados como urbanos o que torna necessaacuterio dizer que nos espaccedilos urbanos a terra possui outra loacutegica

O trabalho sobre a terra no urbano se concretiza por mediaccedilatildeo daquilo que estaacute construiacutedo como por exemplo as casas preacutedios ruas lojas etc Nos espa-ccedilos urbanos podemos notar algumas manifestaccedilotildees do modo de vida rural a partir das relaccedilotildees de vizinhanccedila

Em virtude daqueles que foram expropriados de suas terras ou que por ou-tros motivos migraram para a cidade eacute possiacutevel perceber costumes como o de ajudar o vizinho em alguma necessidade No campo a relaccedilatildeo com o vizinho eacute algo muito forte pois desde a colheita ou ateacute mesmo a ajuda com a construccedilatildeo de uma cerca satildeo costumes de quem vive no campo embora isto natildeo sirva para aqueles grandes proprietaacuterios de terra

Entretanto costumes em que envolvem uma estreita ligaccedilatildeo entre vizinhos jaacute satildeo haacutebitos raros na cidade afinal quantos dos nossos vizinhos sabemos o nome A profissatildeo ou ateacute mesmo quando foi que conversamos com algum de nossos vizinhos Assim sendo podemos dizer que as pessoas oriundas do cam-po possuem maior companheirismo e identificaccedilatildeo com o local levando-nos a pensar na territorialidade como partida para distinguir em alguns aspectos o rural do urbano

Essa territorialidade atinge de forma mais intensa o modo de vida rural se-gundo Alentejano (2003 p 31) ldquoeacute a intensidade da territorialidade que distin-gue o rural do urbano podendo-se afirmar que o urbano representa relaccedilotildees mais globais mais descoladas do territoacuterio enquanto o rural reflete uma maior territorialidade uma vinculaccedilatildeo local mais intensardquo

Outrossim a cidade muitas vezes eacute vista como o centro de comando no qual concentra desde o poder poliacutetico do capital e que exerce poder sobre um projeto ldquomodo de viverrdquo ditando um modo de agir e pensar urbano egoiacutesta desigual capitalista e racista Todavia a cidade natildeo consegue extinguir praacuteticas ligadas ao modo de vida rural e embora vivemos em um mundo dito globaliza-do em que a cidade eacute vista como o que eacute avanccedilando ainda existem resistecircncias por parte dos sujeitos sociais simples

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Portanto eacute necessaacuterio compreender que apesar das relaccedilotildees de proximi-dade constituiacutedas entre o rural e o urbano no momento poliacutetico econocircmico e social em que estamos passando isso natildeo significa que ocorreu uma homo-geneizaccedilatildeo desses espaccedilos pois essa duas espacialidades possuam realidades distintas apesar de possuiacuterem caracteriacutesticas semelhantes poreacutem as diferenccedilas existem e permaneceratildeo a existir

Desse modo torna-se necessaacuterio que as reflexotildees sobre essas categorias deixem de lado o instrumento da diferenciaccedilatildeo pois cada vez mais as reali-dades urbanas e rurais se aproximam Assim sendo ateacute aqui foi citado alguns autores e exemplos sobre a temaacutetica por se tratar de um tema que tem diver-sos posicionamentos buscamos de forma sucinta expor o nosso entendimento sobre a dinacircmica dessas relaccedilotildees

Contudo vale ressaltar que natildeo existe uma caracteriacutestica definidora sobre o que eacute rural e o que eacute urbano bem como campo ou cidade Todavia julga-se importante novas leituras estudos e aprofundamentos interdisciplinares para a compreensatildeo desses conceitos haja vista que epistemologicamente esses conceitos vatildeo aleacutem do entendimento de um uacutenico campo de conhecimento

5 A CONTRIBUICcedilAtildeO DA INTERDISCIPLINARIDADE NA LEITURA DE CIDADE E CAMPO

O conhecimento interdisciplinar eacute inovador pois traz uma proposta que implica na geraccedilatildeo de novos princiacutepios e metodologias diaacutelogo entre os pes-quisadores trocas de saberes no sentido de atender os problemas de maior complexidade da sociedade contemporacircnea em especial na relaccedilatildeo entre a ci-dade e o campo

Para Floriani (2000) o ser humano faz parte do meio ambiente desde a gecircnese da humanidade e por isso o meio ambiente urbano e rural natildeo po-dem em hipoacutetese alguma ser visto de forma fragmentada Desse ponto de vista a necessidade dos estudos interdisciplinares surgem para incrementar a visatildeo de mundo e de ambiente que o ser humano deve ter na cidade e no campo e de interagir no meio ambiente natildeo soacute para deterioraacute-lo consumi-lo (visatildeo urbana) mas tambeacutem para conservaacute-lo preservaacute-lo e restauraacute-lo (visatildeo camponesa)

A partir dessa perspectiva faz-se necessaacuterio que a relaccedilatildeo campo e cidade tenha um olhar que abarque toda a complexidade que carrega Desse modo Assis (2000) frisa que a interdisciplinaridade surge como necessidade das ciecircn-

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cias modernas oriundo da cooperaccedilatildeo entre as ciecircncias e disciplinas como pos-siacutevel soluccedilatildeo e demanda das complexidades ambientais na busca de promover sinergia no avanccedilo do conhecimento sobre fenocircmenos complexos

Para Costa (2000) eacute vaacutelido considerar a importacircncia da promoccedilatildeo divul-gaccedilatildeo e implementaccedilatildeo da interdisciplinaridade no acircmbito da atividade de pesquisa em si pois ao ser reconhecida e referida como instrumento meto-doloacutegico essencial para possibilitar a apropriaccedilatildeo social dos resultados do avanccedilo do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico gerado na aacuterea ambiental colabora na resoluccedilatildeo dos problemas oriundos da relaccedilatildeo homem-socieda-de-natureza

Nesse sentido cabe destacar que na visatildeo da autora a interdisciplinaridade representa apenas um meio e natildeo um fim em si mesmo pois seu objetivo maior eacute promover a integraccedilatildeo das vaacuterias dimensotildees do conhecimento e possibilitar uma efetiva contribuiccedilatildeo da comunidade cientiacutefica e tecnoloacutegica ao equacio-namento dos problemas socioambientais enfrentados pela sociedade nacional e internacional

Em suma a relaccedilatildeo cidade campo e interdisciplinaridade se correlacionam com o objetivo de encontrar repostas e soluccedilotildees para as demandas da socie-dade contemporacircnea em termos ambientais econocircmicos culturais poliacuteticos sociais tecnoloacutegicos entre outros evidenciando uma nova forma de pensar e repensar a problemaacutetica no campo e na cidade

Portanto eacute necessaacuterio repensarmos novas formas de solucionar os conflitos socioambientais territoriais e espaciais pois a relaccedilatildeo natureza cidade e cam-po estatildeo pautadas numa loacutegica capitalista desigual e mecanizada sem respei-tar a capacidade de carga dos recursos naturais Por fim a interdisciplinaridade torna-se imprescindiacutevel nos estudos que englobam o contexto e o fenocircmeno urbano e rural dada suas formas complexas de formaccedilatildeo e articulaccedilatildeo com o meio ambiente

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Portanto conclui-se que a relaccedilatildeo campocidade e ruralurbano se modi-ficam conforme a sociedade se transforma no passar das deacutecadas ou seja es-sas categorias estatildeo em constantes mutaccedilotildees necessitando uma leitura que compreenda a sua totalidade cabendo a interdisciplinaridade assumir um pa-

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pel preponderante nesse contexto pois por si soacute campo e cidade satildeo relaccedilotildees interdisciplinares complexas e dinacircmicas

Complementando esse cenaacuterio a configuraccedilatildeo com que satildeo feitas as deli-mitaccedilotildees por parte da administraccedilatildeo puacuteblica amparados em dados estatiacutesticos mostram um Brasil totalmente urbanizado entretanto ao delimitar o territoacuterio de maneira estatiacutestica desconsidera-se as especificidades locais de cada regiatildeo e as relaccedilotildees imateriais e simboacutelicas que as pessoas criam no espaccedilo Para tanto eacute necessaacuterio compreender que o campo e a cidade natildeo estatildeo isolados uns dos outros exemplo disso satildeo as relaccedilotildees comerciais e industriais na qual se ligam mutuamente em diversos casos

Aleacutem disso torna-se fundamental compreender o urbano para aleacutem da cidade assim como o rural para aleacutem do campo pois vivemos em um mun-do dito globalizado no qual compreender desta maneira tem se tornado um desafio para os pesquisadores que estudam a temaacutetica que envolve es-tas relaccedilotildees Logo ateacute aqui expusemos de forma sucinta um assunto que estaacute em constante mudanccedila e que exige certo esforccedilo de compreensatildeo so-bre estas relaccedilotildees

Portanto devemos refletir sobre essa temaacutetica com um vieacutes a partir das praacute-ticas sociais e das identidades constituiacutedas por cada indiviacuteduo assim as refle-xotildees sobre campo e cidade precisam ser feitas superando as visotildees tradicionais pois hoje ao abordar esta temaacutetica engloba desde o pertencimento com o local as relaccedilotildees e o comportamento dos atores sociais e a forma de relaccedilatildeo com o territoacuterio e o espaccedilo tornando necessaacuterio a ciecircncia abarcar a totalidade pois campo e cidade estatildeo interligados eacute necessaacuterio que a sociedade compreenda para aleacutem da dicotomia

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE

Clezyane Correia ArauacutejoAlceu PedrottiInaacutecio de BarrosSara Julliane Ribeiro AssunccedilatildeoAna Paula Silva de SantanaFrancisco Sandro Rodrigues Holanda

1 INTRODUCcedilAtildeO

A atividade agriacutecola representa o principal elo entre o homemnatureza tor-nando-se responsaacutevel por alteraccedilotildees no meio ambiente (MOURA et al 2004) As accedilotildees antroacutepicas geradas pela maneira como essa atividade eacute conduzida interfere em menor ou maior grau no meio ambiente em que estaacutes inserido Assim buscar a sustentabilidade na agricultura eacute fundamental para o desenvol-vimento sustentaacutevel da sociedade (CONWAY BARBIER 2013)

Para Abramoway (2010) o desenvolvimento sustentaacutevel configura-se como um processo de ampliaccedilatildeo permanente da capacidade dos indiviacuteduos escolher o modo de vida e das condiccedilotildees que estimulem a manutenccedilatildeo e a regeneraccedilatildeo dos ecossistemas Assim eacute um equiacutevoco pensar que o desenvol-vimento sustentaacutevel administra a natureza Mas sim gerencia e monitora as atividades humanas que afetam e inviabilizam processos ambientais (RABE-LO 2016)

Desta forma o debate sobre desenvolvimento sustentaacutevel traacutes a pauta a promoccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de uma agricultura sustentaacutevel que garanta a segu-ranccedila alimentar

A abordagem da agricultura sustentaacutevel vai aleacutem da perspectiva de que essa atividade seja apenas uma estrateacutegia de produccedilatildeo alimentos (BLUM 2001) Essa agricultura tem como competecircncia conceber um novo modelo tecnoloacutegico que integre as praacuteticas convencionais com as conservacionistas Partindo dessa perspectiva eacute necessaacuterio um novo modelo de agricultura que se preocupe com o meio ambiente (EHLERS 1996) Para Sachs (2002) o sucesso dos projetos

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sustentaacuteveis estaacute sujeito agrave capacidade de criar sistemas de produccedilatildeo e tornaacute-los cada vez mais produtivos utilizando a ciecircncia moderna

Assim a sustentabilidade agriacutecola pode ser entendida como a habilidade de uma exploraccedilatildeo manter a produccedilatildeo atraveacutes do tempo frente a distuacuterbios eco-loacutegicos e pressotildees socioeconocircmicas Eacute a habilidade em manter a produtividade mesmo quando submetido a estresses ou perturbaccedilotildees Dessa forma desen-volvimento agriacutecola sustentaacutevel objetiva atenuar os efeitos resultantes das ati-vidades antroacutepicas sobre o meio ambiente (CONWAY 1987) sem desconsiderar a produtividade e a lucratividade da exploraccedilatildeo agriacutecola

A implantaccedilatildeo de um modelo de desenvolvimento agriacutecola baseado nos princiacutepios da revoluccedilatildeo verde transformou a estrutura produtiva do campo fa-zendo surgir uma nova dinacircmica marcada principalmente pela industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (DA SILVA 1998) A modernizaccedilatildeo da agricultura desencadeada no paiacutes estimulou o desenvolvimento e a ampliaccedilatildeo da monocultura como uma forma de alcanccedilar o desenvolvimento rural natildeo consideraccedilatildeo os aspectos ambientais

Salienta-se no entanto que o desenvolvimento rural sustentaacutevel deveraacute re-sultar natildeo apenas na melhoria dos indicadores sociais e econocircmicos mas tam-beacutem na preservaccedilatildeo do meio ambiente

2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E AGRIacuteCOLA

O aumento populacional e as infinitas necessidades humanas perante re-cursos cada vez mais escassos revelaram problemas que passaram de uma escala local para uma escala global obrigando a sociedade a fazer reflexotildees em busca de accedilotildees que ultrapassem suas fronteiras geopoliacuteticas culturais ou ideoloacutegicas (RABELO 2012)

O aprofundamento da crise ambiental juntamente com a reflexatildeo siste-maacutetica sobre a influecircncia da sociedade neste processo conduziu a um novo conceito ndash o de desenvolvimento sustentaacutevel (BELLEN 2002) Salienta-se que o entendimento da problemaacutetica ambiental natildeo eacute homogecircneo Vem permeado pelos interesses ambientais de diversos setores e atores sociais e deriva de uma ampla visatildeo de conceitos e estrateacutegias de soluccedilotildees (LEFF 2002)

A Sustentabilidade significa o conjunto de processos e accedilotildees que

se destinam a manter a vitalidade e a integridade da Matildee Terra a

preservaccedilatildeo de seus ecossistemas com todos os elementos fiacutesicos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 265

quiacutemicos e ecoloacutegicos que possibilitam a existecircncia e a reproduccedilatildeo da

vida o atendimento das necessidades da presente e das futuras gera-

ccedilotildees e a continuidade a expansatildeo e a realizaccedilatildeo das potencialidades

da civilizaccedilatildeo humana em suas vaacuterias expressotildees (BOFF 2015 p 14)

A sustentabilidade tratar-se portanto de um processo contiacutenuo complexo e dinacircmico Machado (2011) assegura que o conceito de sustentabilidade vem sendo aplicado a diversas atividades desenvolvidas pelo homem e sua avaliaccedilatildeo recebe diferentes enfoques dependendo do niacutevel de estudo e do ambiente em questatildeo

A noccedilatildeo de sustentabilidade incorpora uma clara dimensatildeo social e

implica atender tambeacutem as necessidades dos mais pobres de hoje

outra dimensatildeo ambiental abrangente uma vez que busca garantir

que a satisfaccedilatildeo das necessidades de hoje natildeo pode comprometer o

meio ambiente e criar dificuldades para as geraccedilotildees futuras (BUAI-

NAIN 2006 p 47)

Por sua vez o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel eacute resultado de um longo processo histoacuterico de avaliaccedilatildeo criacutetica da relaccedilatildeo entre sociedade e natu-reza O mais conhecido e difundido conceito surgiu a partir do Relatoacuterio de Brun-dtland (Nosso Futuro Comum) publicado em 1987 pela Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento- CMMAD sendo definido como ldquoeacute aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as geraccedilotildees futuras atenderem as suas proacuteprias necessidadesrdquo (CMMAD 1991 p 46)

Podemos assim dizer que o termo desenvolvimento sustentaacutevel se trata do contiacutenuo melhoramento da qualidade de vida das comunidades criando e im-plantando soluccedilotildees para combater a degradaccedilatildeo ambiental e as desigualdades econocircmicas e sociais Assim o desenvolvimento sustentaacutevel deve ser uma con-sequecircncia do desenvolvimento social econocircmico e da preservaccedilatildeo ambiental

O continuo processos de avanccedilos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos afetam direta-mente a relaccedilatildeo homem-natureza que por sua vez influenciam a busca por um desenvolvimento sustentaacutevel Desse modo o desenvolvimento sustentaacute-vel utiliza-se de inovaccedilotildees1 buscando minimizar o impacto no meio ambiente e reduzir custos com preservaccedilatildeoconservaccedilatildeo dos recursos naturais

1 Novas formas processos e praacuteticas de desenvolver as atividades utilizando-se dos recursos dispo-niacuteveis (existente) de outra maneira diferente da forma tradicional (SHANE VENKATARAMAN 2000)

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A utilizaccedilatildeo dos recursos ambientais deriva de uma estrutura econocircmica com base na produccedilatildeo e consumo em larga escala Conforme destacado por Giordano (2005) a atividade agriacutecola eacute reconhecidamente causadora de im-pactos ambientais diante da alteraccedilatildeo da paisagem e utilizaccedilatildeo desses recur-sos Dessa forma quando se almeja a sustentabilidade da atividade agriacutecola requer-se a consolidaccedilatildeo de princiacutepios complexos e diversos que busquem mi-nimizar as alteraccedilotildees intriacutenseca da atividade

A sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas caracterizou-se historicamente pela manutenccedilatildeo da produtividade ao longo do tempo Com a evoluccedilatildeo a esse conceito foram acrescidas as vertentes sociais ambientais e econocircmicas Assim hoje podemos entender a sustentabilidade agriacutecola como entrelace sustenta-bilidade econocircmica (promoccedilatildeo de lucro liacutequido para o produtor) sustentabi-lidade social (geraccedilatildeo de emprego com condiccedilotildees adequadas de trabalho) e sustentabilidade ambiental (ausecircncia de passivo ambiental ou qualquer dano ao meio ambiente em prol da rentabilidade) agregando agrave produccedilatildeo de alimen-tos a conservaccedilatildeo do meio ambiente e a funccedilatildeo social ao longo do tempo (AL-TIERI 2004)

O objetivo de uma agricultura sustentaacutevel deve ser o de envolver

o manejo eficiente dos recursos disponiacuteveis mantendo a produccedilatildeo

nos niacuteveis necessaacuterios para satisfazer agraves crescentes aspiraccedilotildees de

uma tambeacutem crescente populaccedilatildeo sem degradar o meio ambiente

(FAO 1989 p 131)

Partindo do tripeacute que define as dimensotildees de sustentabilidade em agro-ecossistemas pode-se considerar que diferentes manejos agriacutecolas influen-ciam a sustentabilidade Ou seja uma monocultura2 qualquer seria menos sustentaacutevel do que um sistema agriacutecola diversificado na dimensatildeo ambiental seria insustentaacutevel no aspecto social devido ao seu sistema totalmente meca-nizado que absorve menos trabalho humano e do ponto de vista econocircmico natildeo se torna suportaacutevel por natildeo se manter a longo prazo devido aos usos exaustivos de seus recursos (MACHADO 2011)

Partindo do entendimento de que os sistemas produtivos sustentaacuteveis satildeo aqueles que natildeo comprometem o ecossistema futuro estes viabilizam a produccedilatildeo respeitando os limites naturais objetivando reduzir ao maacuteximo

2 Lavoura homogecircnea na qual se cultiva uma uacutenica espeacutecie de planta

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 267

os impactos gerados por accedilatildeo antroacutepica perturbando o miacutenimo possiacutevel o ambiente conservando o solo a aacutegua e a biodiversidade (BARROS COSTA 2010) Como desafio a promoccedilatildeo de uma produccedilatildeo agriacutecola sustentaacutevel teraacute a conciliaccedilatildeo dos aspectos econocircmicos sociais e ambientais a longo prazo

3 MODERNIZACcedilAtildeO AGRIacuteCOLA

A histoacuteria agriacutecola brasileira estaacute atrelada ao processo de colonizaccedilatildeo A dominaccedilatildeo social poliacutetica e econocircmica da grande propriedade foi privilegia-das e imposta como modelo socialmente reconhecido sendo estimulado por poliacuteticas que se preocuparam em ldquomodernizarrdquo e assegurar a produccedilatildeo fa-dando a segundo lugar outras configuraccedilotildees agriacutecolas (WANDERLEY1995)

Desde a deacutecada de 60 o progresso tecnoloacutegico no setor agriacutecola tem-se constituiacutedo numa das principais preocupaccedilotildees dos paiacuteses em desenvolvimento exigindo grandes aporte de recursos para proporcionar agrave agricultura condi-ccedilotildees de atender agrave demanda crescente de alimentos e mateacuterias-primas (BAL-SAN 2006)

A modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil por ter sido pontual progressiva e desigual possibilitou diferenccedilas estruturais no espaccedilo rural Assim os investi-mentos em tecnologias agriacutecolas geraram profundas mudanccedilas no campo Os produtos mais valorizados de exportaccedilatildeo foram privilegiados em detrimen-to a aqueles de demanda e consumo local proporcionando um processo de modernizaccedilatildeo e crescimento econocircmico mais raacutepido para certas culturas e em alguns locais considerados agrave eacutepoca os principais centros econocircmicos e agriacute-colas (BALSAN 2006)

Assim a poliacutetica agriacutecola que visa desenvolver o meio rural para promover manter ou ascender o niacutevel de vida dos agricultores (BLUM 2001) incentivou governamentalmente a manutenccedilatildeo dos latifuacutendios e fez crescer a desigual-dade no campo com a expansatildeo da agricultura moderna transformando-o em uma grande induacutestria tecnificando os meios de produccedilatildeo e alterando a relaccedilatildeo homem-nau

Para GRAZIANO NETO (1982) a desigualdade da modernizaccedilatildeo dar-se em trecircs niacuteveis entre as regiotildees do paiacutes entre as atividades agropecuaacuterias e entre os produtores rurais O autor ainda salienta que eacute perceptiacutevel por exemplo que em termos regionais o Sudeste e o Sul do paiacutes satildeo mais modernizados que as demais regiotildees especialmente os Estados de Satildeo Paulo Paranaacute e Rio Grande do Sul

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Com a tal modernizaccedilatildeo [] estatildeo nos forccedilando a dedicar agrave mono-

cultura [] Junto [] estatildeo vindo [] teacutecnicas agriacutecolas que natildeo se

casam com a Natureza As nossas terras estatildeo [] mais pobres []

Natildeo eacute justo que continuemos com uma agricultura desse jeito Noacutes

precisamos ter responsabilidade sobre o futuro e [] os bens naturais

que teremos que deixar pra nossos filhos (ICKERT 1980 apud GRA-

ZIANO NETO 1982)

Ademais a diversidade da modernizaccedilatildeo pode ainda ser explicada por meio das barreiras que o agricultor teraacute que enfrentar sendo estas Psicoloacutegicas ( ris-cos e incertezas da adoccedilatildeo da teacutecnica moderna) Econocircmicas (dependecircncia do capital disponiacutevel) e por fim Culturais ou de informaccedilatildeo (idade escolaridade e aspectos culturais)(GERARDI 1980)

A anaacutelise do processo de modernizaccedilatildeo pode ser sintetizada em duas con-sequecircncias Ambientais e socioeconocircmicas Os impactos ambientais satildeo de-correntes das praacuteticas agriacutecolas convencionais difundidas desde a ldquoRevoluccedilatildeo Verde3rdquo Esta tecircm levado agrave degradaccedilatildeo crescente dos recursos naturais provo-cando a destruiccedilatildeo das florestas e da biodiversidade a erosatildeo dos solos e a contaminaccedilatildeo dos recursos naturais e dos alimentos (ARAUJO 2018)

Por sua vez os impactos socioeconocircmicos satildeo causados pelas raacutepidas e complexas transformaccedilotildees da produccedilatildeo agriacutecola implantadas no campo Essas transformaccedilotildees fomentam consideraacutevel reduccedilatildeo da demanda da matildeo-de-obra (BALSADI et al 2002) e renda desemprego alteraccedilatildeo da dinacircmica territorial inchamento das cidades e intensificaccedilatildeo das lutas sociais

Tais impactos gerados por essas mudanccedilas faz com que a agricultura brasi-leira viva uma dicotomia em que a produccedilatildeo de capital intensivo e de grande escala dispute desigualmente o acesso agrave terra com as propriedades agriacutecolas tradicionais que produzem para mercados locais Assim o questionamento desse modelo bem como a difusatildeo do conceito de sustentabilidade tecircm leva-do a pesquisa agriacutecola a uma crescente busca por modelos alternativos e sus-tentaacuteveis para a agricultura (MARQUES et al 2003)

3 Refere-se ao desenvolvimento de tecnologias e disseminaccedilatildeo de novas praacuteticas agriacutecolas ldquopacote tecnoloacutegicordquo visando a maximizaccedilatildeo agriacutecola

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 269

4 IMPACTOS AMBIENTAIS DA MONOCULTURA

A principal caracteriacutestica do processo histoacuterico de modernizaccedilatildeo da agri-cultura foi agrave generalizaccedilatildeo da monocultura como forma predominante de produccedilatildeo O modelo tecnoloacutegico desenvolvido para essa agricultura esteve basicamente voltado para o uso intensivo dos recursos naturais e o cultivo em larga escala

Historicamente a difusatildeo do monocultivo ocorreu a partir do desenvolvi-mento do modelo euro-americano de modernizaccedilatildeo agriacutecola poacutes-revoluccedilatildeo industrial Anteriormente a monocultura era pratica restrita a regiotildees de solos excepcionais ou de conquista onde a degradaccedilatildeo da terra natildeo tinha grande importacircncia (ROMEIRO 1998)

Assim historicamente a monocultura estaacute atrelada ao descaso ambiental e a geraccedilatildeo de impactos promovidos pela a agricultura Desta forma eacute vista como a antiacutetese do desenvolvimento de uma agricultura sustentaacutevel que for-neccedila melhor qualidade de vida ao homem Sobre as monoculturas Gliessman (2000) enfatiza

A monocultura eacute uma excrescecircncia natural de uma abordagem

industrial da agricultura em que os insumos de matildeo-de-obra satildeo

minimizados e os insumos baseados em tecnologia satildeo maximi-

zados com vistas a aumentar a eficiecircncia produtiva As teacutecnicas

de monocultivo casam-se bem com outras praacuteticas da agricultura

moderna a monocultura tende a favorecer o cultivo intensivo do

solo a aplicaccedilatildeo de fertilizantes inorgacircnicos a irrigaccedilatildeo o contro-

le quiacutemico de pragas e as variedades especializadas de plantas A

relaccedilatildeo com os agrotoacutexicos eacute particularmente forte vastos culti-

vos da mesma planta satildeo mais suscetiacuteveis a ataques devastadores

de pragas especiacuteficas e requerem proteccedilatildeo quiacutemica (GLIESSMAN

2000 p35)

A simplificaccedilatildeo dos ecossistemas eacute a base para o desenvolvimento da mo-nocultura extensiva sendo esse o principal problema gerado para a manuten-ccedilatildeo desses ecossistemas (ZIMMERMANN 2009) Entretanto o prejuiacutezo causado pelo monocultivo natildeo se restringe apenas ao contexto ambiental O aumento da inseguranccedila alimentar o continuo ecircxodo rural a que estatildeo sujeitas as comu-nidades agriacutecolas a perda da identidade cultural das comunidades agriacutecolas

270 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

que satildeo desalojadas e o obrigadas a abandonar o mundo rural e a agricultura satildeo tambeacutem reflexos desse modelo produtivo (SOGLIO KUBO 2016)

Deve-se ainda acrescentar a esses impactos a promoccedilatildeo do desequiliacutebrio de doenccedilas e pragas agriacutecolas aliados a ocorrecircncia de plantas espontacircneas de difiacutecil controle que quando associados ao preparo inadequado de solo eacute ainda muito mais agressivo (GASSEN 2005)

Nesse contexto eacute importante ainda salientar que a difusatildeo deste modelo de produccedilatildeo agriacutecola tem como um dos fundamentos a propagaccedilatildeo iludida de que eacute preciso produzir mais alimentos para atender a demanda mundial sendo por muito tempo apresentado como a soluccedilatildeo para o problema de fome no mundo

Este discurso sustentado desde a revoluccedilatildeo verde promove a massificaccedilatildeo das praacuteticas agriacutecolas convencionais acarretando na simplificaccedilatildeo do processo produtivo e ateacute da tecnologia utilizada natildeo levando em consideraccedilatildeo as espe-cificidades edafoclimaacuteticas locais esvaindo-se de que natildeo se pode uniformi-zar as praacuteticas adotadas na agricultura mas sim desenvolve-las de maneira a aliar-se com a sustentabilidade visando a conservaccedilatildeo dos recursos naturais (FERREIRA 2008)

As exploraccedilotildees agriacutecolas tecircm-se tornado a cada dia mais complexa quanto agraves combinaccedilotildees e agrave aplicaccedilatildeo de tecnologia que garantam produccedilotildees estaacuteveis Qualquer atividade agriacutecola que emprega recursos naturais e usa agroquiacutemi-cos provoca algum impacto ambiental Contudo eacute possiacutevel reduzir quaisquer impactos ao fazer planejamento ocupaccedilatildeo criteriosa do solo agriacutecola e empre-go de teacutecnicas de conservaccedilatildeo para cada cultura e regiatildeo

CONCLUSAtildeO

Eacute inegaacutevel a importacircncia econocircmica e social da atividade agriacutecola pois estaacute movimenta uma grande cadeia produtiva seja na geraccedilatildeo de empregos diretos eou indiretos ou seja ligada agrave produccedilatildeo de alimento e fibras Contudo a pru-decircncia deve ser levada em consideraccedilatildeo no que tange ao meio ambiente vis-to que o sistema de produccedilatildeo ao qual essa atividade estaacute sendo desenvolvida (monocultivo) eacute bastante questionaacutevel uma vez que preconiza o uso intensivo de maquinaacuterios insumos quiacutemicos e reduccedilatildeo da biodiversidade acarretando em consequecircncias negativas ao meio ambiente

Mediante recursos naturais findaacuteveis torna-se de extrema importacircncia agrave sensibilizaccedilatildeo perante as problemaacuteticas socioambientais a qual a sociedade

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 271

vem experimentando As transformaccedilotildees ocorridas nos meios de produccedilatildeo agriacutecola induzido pela inserccedilatildeo da tecnologia embora possa trazer benefiacutecios a curto prazo como lucratividade e melhoria na renda dos agricultores traz inuacute-meros malefiacutecios a curto meacutedio e o longo prazo atrelados ao ambiente eco-nomia e sociedade

A divergecircncia entre desenvolvimento e meio ambiente natildeo pode mais se sustentar e a conscientizaccedilatildeo da sociedade como promotora de mudanccedilas na tomada de decisotildees visando o desenvolvimento sustentaacutevel tambeacutem deve abarcar as questotildees agriacutecolas

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274 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

POSSIBILIDADES DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA ADMINSTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA MUNICIPAL DE ARACAJUSE

Robertha Georgya de Barros e SilvaGicelia Mendes da SilvaIvana Ferreira Lermen

INTRODUCcedilAtildeO

O raacutepido adensamento das cidades brasileiras a partir da deacutecada de 1950 sem o devido controle do poder puacuteblico no provimento de infraestruturas e serviccedilos urbanos produziu espaccedilos urbanos cada vez mais desiguais fragmen-tados e excludentes Desde a deacutecada de 1980 contudo com a volta da demo-cracia apoacutes longo periacuteodo de ditadura militar verificam-se avanccedilos importan-tes na formulaccedilatildeo de um arcabouccedilo juriacutedico institucional como a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e do Estatuto da Cidade (Lei Federal 10257 de 10 de Julho de 2001) que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal e que tratam da poliacutetica urbana

Com efeito o entendimento de cidade como criaccedilatildeo humana se consti-tui em elemento fundamental para a formaccedilatildeo da cidadania criacutetica e como fator preponderante para ativar os laccedilos que ligam educaccedilatildeo e cidade atraveacutes de possibilidades de controle social que operam potencialidades transformadoras capazes de produzir e agregar conhecimento em torno da questatildeo urbana

As administraccedilotildees puacuteblicas municipais brasileiras tiveram a institucionali-zaccedilatildeo do planejamento urbano a partir de 1970 com o boom da urbanizaccedilatildeo Assim iniciou-se um processo de elaboraccedilatildeo de poliacuteticas preventivas e dos primeiros planos de ordenamento do uso e ocupaccedilatildeo do espaccedilo urbano No acircmbito federal a Lei 6766 de 191279 (Lei Lehmam) criada com o objetivo de prevenir a degradaccedilatildeo ambiental ao disciplinar o parcelamento do solo ur-bano constituiu-se em importante marco do planejamento urbano territorial no Brasil Nesse periacuteodo o territoacuterio urbanizado e em urbanizaccedilatildeo eram orde-nados pelo zoneamento que era aplicado com base em paracircmetros de uso e

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 275

ocupaccedilatildeo especiacuteficos O zoneamento constituiacutea-se desse modo como princi-pal mecanismo de planejamento

Assim essa eacutepoca foi caracterizada pela desarticulaccedilatildeo entre planejamento e gestatildeo urbana de forma que a participaccedilatildeo social natildeo era legitimada aleacutem de existirem limitaccedilotildees do poder legislativo Essa dissociaccedilatildeo produziu um pla-nejamento urbano tecnocraacutetico em que natildeo se reconheciam os conflitos socio-espaciais nem se consideravam as desigualdades das condiccedilotildees de renda e sua influecircncia sobre o mercado da terra urbana O Brasil produzia entatildeo o chama-do ldquoplanejamento de gabineterdquo Com perspectiva notadamente centralizadora ldquoo isolamento do planejamento e sua separaccedilatildeo da esfera da gestatildeo provocou uma espeacutecie de discurso desconexo nas administraccedilotildees ndash de um lado planos reiteravam os padrotildees modelos e diretrizes de uma cidade racionalmente pro-duzida de outro o destino da cidade era negociado dia a dia com os interesses econocircmicos locais e corporativosrdquo (BRASIL 2001)

Nessa mesma eacutepoca iniciou-se a discussatildeo em torno do conceito de susten-tabilidade na Conferecircncia de Estocolmo em 1972 abrangendo o debate natildeo soacute sobre meio ambiente mas estendendo-o a reflexotildees acerca da pobreza produ-ccedilatildeo habitacional sauacutede democracia e direitos humanos Interessante destacar que a proacutepria ideia de sustentabilidade jaacute trazia nuances da importacircncia de se considerar o conhecimento tradicional e as diferenccedilas culturais e territoriais como um imperativo eacutetico para cidades melhores (PELICIONI e PHILIPI JR 2014)

O contexto brasileiro de concentraccedilatildeo espacial de empreendimentos indus-triais e a inexistecircncia de poliacuteticas urbanas integradas resultaram em um pro-cesso de urbanizaccedilatildeo desordenado e caoacutetico que excluiu sistematicamente a maioria da populaccedilatildeo do acesso a bens serviccedilos e direitos No bojo do processo de democratizaccedilatildeo do Brasil nos anos de 1980 iniciou-se um debate politizado sobre planejamento urbano e pelo o direito agrave cidade atraveacutes dos movimentos sociais de luta pela Reforma Urbana que findou em influenciar fortemente as propostas de formulaccedilatildeo de instrumentos urbaniacutesticos pautados pela neces-sidade de reconhecer e legalizar o acesso democraacutetico agrave terra urbanizada e a participaccedilatildeo popular no planejamento urbano Toda essa mobilizaccedilatildeo social contou com a participaccedilatildeo de movimentos populares associaccedilotildees profissio-nais grupos religiosos e pesquisadores e levou agrave reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo brasileira gerando a Emenda Popular da Reforma Urbana em 1988 e estabele-cendo uma nova concepccedilatildeo de planejamento integrado agrave gestatildeo

A partir desse novo repertoacuterio legal o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano-PDDU aparece como principal instrumento da poliacutetica urbana muni-

276 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

cipal e pode ser entendido como um pacto entre o poder puacuteblico municipal e a sociedade composto por regramentos e princiacutepios que devem orientar o crescimento do espaccedilo urbano preferencialmente sustentaacutevel A Lei Federal 102572001 conhecida como Estatuto da Cidade que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 eacute vital para o PDDU Isto porque a partir do Estatuto da Cidade a poliacutetica urbana brasileira foi regulamentada e um rol de instrumentos juriacutedicos que reconhecem como fundamentais o direito agrave cidade e agrave funccedilatildeo social da propriedade urbana foram criados resguardando a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo e associaccedilotildees representativas dos diversos seg-mentos sociais no processo de elaboraccedilatildeo votaccedilatildeo implementaccedilatildeo e gestatildeo do Plano

Aracaju capital do Estado de Sergipe tem uma populaccedilatildeo de 552365 ha-bitantes segundo o Censo de 2010 eacute considerada uma cidade de meacutedio porte De acordo com os estudos de Machado (2012 p 170) a capital em destaque concentra ldquo2712 da populaccedilatildeo total do Estado de Sergipe que eacute de 2036277 habitantes representa o domiacutenio econocircmico e cultural do estado e nenhuma outra cidade chega a interferir nesse domiacuteniordquo Entatildeo por centralizar este papel Aracaju eacute a sede da Regiatildeo Metropolitana que eacute composta pelos Municiacutepios de Satildeo Cristoacutevatildeo Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros

O espaccedilo urbano de Aracaju seguindo os estudos do autor supracitado ldquoapresenta vaacuterios exemplos de problemas semelhantes aos das demais regi-otildees metropolitanas do Brasil tais como alta concentraccedilatildeo populacional deacutefi-cit habitacional alta valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria segregaccedilatildeo socioespacial grande concentraccedilatildeo de automoacuteveis poluiccedilatildeo sonora e de fuligem pouca arborizaccedilatildeo crescente iacutendice de violecircncia urbana dentre outrosrdquo (MACHADO 2012 p170) No sentido de tentar sanar os problemas urbanos decorrentes dos fatores aci-ma descritos o municiacutepio conta com um PDDU desde 2000 O instrumento foi revisado em 2005 e 2015 e natildeo passaram de Projetos de Lei que foram engave-tados pelas administraccedilotildees municipais

Como a maioria das cidades brasileiras AracajuSE se constituiu a partir de importantes mecanismos de reproduccedilatildeo e acumulaccedilatildeo do capital e isso se tor-na muito claro ao se observar a segregaccedilatildeo socioespacial e o proacuteprio regramen-to de uso e ocupaccedilatildeo do solo urbano que eacute conduzido pelo capital imobiliaacuterio (muitas vezes legitimado por instrumentos do planejamento urbano) A cha-mada zona de expansatildeo de Aracaju aacuterea de grande vislumbre da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria percebe-se bem esse quadro A partir de meados da deacutecada de 1980 a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria atingiu a localidade quando parte dos vazios

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 277

urbanos e propriedades rurais datildeo lugar aos condomiacutenios fechados A chegada dessa nova tipologia residencial proveacutem da demanda por isolamento o que eacute necessaacuterio para que uma aacuterea seja passiacutevel de apropriaccedilatildeo pelos iguais preser-vando assim o sentido de exclusividade entre muros e cercas privilegiando o sentido de maacutexima seguranccedila e homogeneidade social (CALDEIRA 2000)

Considerando a falta de conexatildeo entre planejamento e gestatildeo urbana aqui exemplificada pela problemaacutetica da zona de expansatildeo de AracajuSE eacute que este trabalho pretende selecionar indicadores de sustentabilidade como uma ferramenta de apoio ao planejamento e gestatildeo urbanos dessa aacuterea acenando--se com isso para a necessidade de uma contiacutenua reflexatildeo criacutetica sobre integrar instrumentos de planejamento e gestatildeo como o PDDU agrave maximizaccedilatildeo da qua-lidade de infraestrutura e serviccedilos urbanos que efetivamente possam trazer melhores condiccedilotildees de vida aos cidadatildeos

Destarte aliados agraves consideraccedilotildees supramencionadas a acessibilidade agraves informaccedilotildees sobre a cidade tem se tornado uma ferramenta cada vez mais ne-cessaacuteria e essencial para o processo de integraccedilatildeo entre planejamento e ges-tatildeo de poliacuteticas puacuteblicas bem como para o controle social Conforme destaca KOGA (2002) sem informaccedilotildees da realidade natildeo se elaboram diagnoacutesticos efe-tivos natildeo se criam paracircmetros avaliativos natildeo se constroem indicadores natildeo se traz agrave tona a complexidade das condiccedilotildees de vida dos moradores Para tanto este artigo pretende contextualizar trecircs accedilotildees da sociedade civil organizada a partir das reivindicaccedilotildees de melhoria do Foacuterum de Defesa da Grande Aracaju (FDGA) relativas agrave zona de expansatildeo deste municiacutepio Esta entidade foi criada em 2009 por um grupo de moradores e associaccedilotildees atuantes da aacuterea em de-correcircncia da necessidade de incentivar a populaccedilatildeo local a pensar a cidade em suas diferentes formas e conflitos

1 PLANEJAMENTO ZONEAMENTO AMBIENTAL E INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE TECENDO PONTOS EM COMUM

Com a perspectiva de realizar um planejamento territorial eacute importante ter a percepccedilatildeo do municiacutepio como parte de um conjunto integrado e conforme aponta Freitas e Neto (2011) ldquodeve-se considerar todos seus aspectos correla-cionados ou seja necessidade de desenvolvimento econocircmico acesso agraves in-fraestruturas urbanas preservaccedilatildeo dos recursos socioambientaisrdquo Essa visatildeo integradora do planejamento territorial deve buscar transformar as paisagens

278 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

das nossas cidades que satildeo marcadas por crescentes ocupaccedilotildees irregulares que refletem a segregaccedilatildeo socioespacial e a concentraccedilatildeo de renda

Por isso o ordenamento ambiental deve ser mateacuteria comumente tratada nos PDDUs atraveacutes do Coacutedigo Municipal de Meio Ambiente ou em outro instru-mento especiacutefico entendendo que as poliacuteticas ambientais devem atravessar as poliacuteticas de desenvolvimento urbano-territorial Para tanto trata-se de elaborar proposiccedilotildees e diretrizes para a implantaccedilatildeo de medidas que garantam a sa-dia qualidade de vida que devem inclusive pautar e influenciar as decisotildees de cunho econocircmico e financeiro de forma que os sistemas naturais sejam inte-grados agraves poliacuteticas urbanas sem ameaccedilas de degradaccedilatildeo Assim o zoneamento ambiental eacute um instrumento do planejamento ambiental que se propotildee ao controle legal da distribuiccedilatildeo dos usos dos recursos ambientais com ressalvas aos limites de exploraccedilatildeo de tais recursos

No Brasil principalmente nas grandes cidades os problemas causados pelo aumento da populaccedilatildeo urbana associa a imagem das cidades brasileiras agrave violecircncia agrave poluiccedilatildeo ao traacutefego caoacutetico agraves enchentes agrave desigualdade social dentre outros fatores (MARICATO 2000 apud Barros 2017 p 75) Eacute um cenaacuterio propiacutecio por outro lado a expressatildeo de reivindicaccedilotildees populares por melhores condiccedilotildees de vida nas cidades Em muitos casos conforme pontuam Myrian Del Vecchio de Lima e Cynthia Roncaglio o alcance das mobilizaccedilotildees sociais e a formaccedilatildeo de muitas Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais podem ser associados ldquoem termos de uma recuperaccedilatildeo da importacircncia e existecircncia de uma esfera puacute-blica nos termos explicitados por Arendt como o espaccedilo moralmente legiacutetimo da liberdade e da accedilatildeo poliacuteticardquo (LIMA e RONCAGLIO 2001 p 59)

Um conceito que aparece natildeo raro nessas movimentaccedilotildees e que estaacute di-retamente ligado ao debate da cidadania no Brasil eacute o de sustentabilidade no ambiente urbano ou sustentabilidade urbana Com efeito de acordo com Henri Acselrad sustentabilidade urbana eacute compreendida como a capacidade das po-liacuteticas urbanas se adaptarem agrave oferta de serviccedilos agrave qualidade e agrave quantidade das demandas sociais buscando o equiliacutebrio entre as demandas de serviccedilos urbanos e investimentos em estrutura (ACSELRAD 1999)

Com efeito apesar de certa visatildeo desanimadora compartilhada pelos estu-diosos dos problemas ambientais urbanos no que diz respeito agrave sustentabili-dade urbana a partir dos anos 1990 quando ldquoo ambiente urbano existente isto eacute resultante da gestatildeo da crise socioeconocircmica dos anos 1970-80 se impotildee como problema insuperaacutevel e natildeo mais como espaccedilo para uma soluccedilatildeordquo (LIMA

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 279

e RONCAGLIO 2001 p 62) a mobilizaccedilatildeo em torno de um projeto coletivo sus-tentaacutevel nas cidades ganhou forccedila nas deacutecadas seguintes

Em termos conceituais indicador compreende uma ferramenta de mensu-raccedilatildeo de dados quantitativa ou qualitativa que orienta a tomada de decisatildeo Isto porque o seu uso permite o mapeamento de cenaacuterios futuros possibili-tando a geraccedilatildeo de informaccedilatildeo necessaacuteria ao planejamento e gestatildeo sobre de-terminado tema atividade ou processo Santos (2004 p58) elucida que ldquoTodo planejamento que visa definir poliacuteticas e decidir alternativas requer o conhe-cimento que forma o espaccedilo Para tanto eacute essencial obter dados representati-vos da realidade bem formulaacuteveis e interpretaacuteveisrdquo Desse modo o indicador eacute construiacutedo a partir de dados estabelecidos por meio de paracircmetros ou variaacuteveis que proporcionam a interpretaccedilatildeo e consequentemente a informaccedilatildeo sobre determinado meio em uma escala de espaccedilo e tempo especiacuteficos

A ideia de sustentabilidade seguindo as trilhas de ACSELRAD (1999) remete antes agrave loacutegica das praacuteticas que a um campo do conhecimento cientiacutefico Se-gundo o mesmo autor a sustentabilidade aplicada ao espaccedilo da cidade tem disparado uma serie de significados para a gestatildeo do espaco urbano ldquodesde a administraccedilatildeo de riscos e incertezas ao incremento da ldquoresiliecircnciardquo ndash a capacida-de adaptativa ndash das estruturas urbanasrdquo (Acselrad 1999 p 79)

Assim a aplicaccedilatildeo da ferramenta de indicadores de sustentabilidade vem a contribuir nos estudos relativos ao desenvolvimento sustentaacutevel agrave medida que possibilita analisar a evoluccedilatildeo de um processo propiciando um sentido claro sobre o seu passado assim como enseja ideias futuras (WINOGRAD 1996) Esse prognoacutestico torna-se prioritaacuterio nos estudos de impactos ambientais pois via-biliza sua identificaccedilatildeo e o seu monitoramento e dessa maneira oportuniza a melhor tomada de decisatildeo em vista da sustentabilidade isso porque ldquo o proces-so de busca de um desenvolvimento sustentaacutevel exige proatividade visatildeo de longo prazo e acompanhamento dos resultados das decisotildees tomadas e accedilotildees implementadasrdquo (GUIMARAtildeES e FEICHAS 2009 p309)

Desse modo o uso de indicadores de sustentabilidade ocorre como forma de monitoramento da qualidade ambiental e na consolidaccedilatildeo de espaccedilos urba-nos mais saudaacuteveis Decerto trazer sua aplicaccedilatildeo para o planejamento urbano favorece natildeo soacute a qualidade ambiental mas tambeacutem a qualidade de vida da po-pulaccedilatildeo e o monitoramento do uso e ocupaccedilatildeo do solo Diante dos problemas gerados pela especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e consequentemente pelo adensamento populacional e a degradaccedilatildeo ambiental faz-se necessaacuterio estabelecer meacutetodos de acompanhamento que propiciem a geraccedilatildeo de informaccedilatildeo sobre essa pro-

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blemaacutetica Busca-se dessa forma apoiar os processos decisoacuterios dos gestores e das organizaccedilotildees bem como subsidiar o monitoramento das accedilotildees por parte da sociedade civil e da opiniatildeo puacuteblica

De acordo com Lira e Cacircndido (2008) destacam-se quatro tipos de estu-dos sobre indicadores que apoiam a avaliaccedilatildeo da sustentabilidade sendo eles OECD - Organization for Economic Cooperation And Development (1998) DPCSD - Department for Policy Coordination and Sustainable Development (1999) IISD - The International Institute for Sustainable Development (1999) e IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2002) A proposta da OCDE corresponde ao modelo Pressatildeo ndash Estado ndash Resposta (PER) que se pauta no conceito de cau-salidade de forma que as atividades humanas ao exercerem pressatildeo sobre o meio ambiente alteram o seu estado Jaacute o modelo da DPCSD eacute expresso pela matriz Forccedila Motriz ndash Estado - Resposta na qual a forccedila motriz agrega indicado-res econocircmicos sociais e institucionais descrevendo as atividades humanas processos e padrotildees sobre o desenvolvimento sustentaacutevel Elaborado pela IISD o Painel de Sustentabilidade eacute adotado por 230 paiacuteses sendo considerado o principal indicador de sustentabilidade pela ONU constitui uma ferramenta que envolve quatro dimensotildees de sustentabilidade (natureza social econocircmi-co e institucional) as quais satildeo agregados outros indicadores Por fim o Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash IDS Brasil estruturado pelo IBGE possui atualmente 57 indicadores de abrangecircncia regional que correspondem agrave ade-quaccedilatildeo do modelo PER para as diretrizes da Agenda 21 brasileira no entanto adaptado agraves particularidades do Brasil

2 AacuteREA DE ESTUDO

De acordo com Franccedila e Rezende (2010) a zona de expansatildeo de Aracaju corresponde a cerca de 40 do territoacuterio municipal e caracteriza-se por uma crescente expansatildeo imobiliaacuteria resultante da sua proximidade com a praia pela existecircncia de grandes aacutereas de terras nas matildeos de poucos proprietaacuterios bem como pelas poliacuteticas governamentais de incentivo agrave construccedilatildeo imobili-aacuteria (Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento ndash PAC Minha Casa Minha Vida dentre outros) De acordo com o uacuteltimo censo do IBGE (2010) houve um acreacutes-cimo de 9776 da populaccedilatildeo na zona de expansatildeo enquanto no municiacutepio de Aracaju foi de apenas de 1244 Na localidade ainda segundo as autoras registram-se atividades de pesca colheita do coco-da-baiacutea cultivo sobretudo com a existecircncia de propriedades cocoicultoras e serviccedilos domeacutesticos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 281

A concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em subcentros regionais e centros de zonas a urbanizaccedilatildeo acelerada aleacutem da falta de integraccedilatildeo entre planejamento e ges-tatildeo eficiente do uso e controle do solo impactam negativamente a aacuterea Essas caracteriacutestica acarretam problemas de ordem ambiental e socioeconocircmica como a ocupaccedilatildeo de forma irregular pelos setores populacionais de baixa ren-da em aacutereas de risco aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com risco de enchentes como beiras de coacuterregos mangues e vaacuterzeas inundaacuteveis bem como aacutereas com ecossistemas fraacutegeis como manguezais e matas ciliares Este quadro se con-figura em razatildeo da exclusatildeo desses setores do mercado imobiliaacuterio formal e atualmente enquadra-se como uma das principais ameaccedilas agrave sustentabilidade

3 METODOLOGIA

Essa pesquisa foi do tipo descritiva sendo a coleta de dados realizada por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental mais especificamente pelas accedilotildees civis puacuteblicas referentes agrave zona de expansatildeo de AracajuSE Aleacutem disso foram utilizados artigos cientiacuteficos sobre a temaacutetica bem como entrevista natildeo-estru-turada com um membro dirigente do FDGA1

Para seleccedilatildeo de descritores e indicadores direcionados agrave sustentabilidade urbana foi utilizada a metodologia proposta por Winograd (1996) de Pressatildeo - Estadondash Resposta ndash Prospectivos em que a pressatildeo corresponde agraves causas dos problemas ambientais ocasionadas pela atividade humana o estado compre-ende a qualidade em que se encontra o meio ambiente a resposta equivale agraves medidas tomadas pela sociedade para melhoria do meio ambiente e por fim o progresso representa as accedilotildees visando o desenvolvimento sustentaacutevel (limita-ccedilotildees e oportunidades apreendidas) Essa metodologia eacute uma adaptaccedilatildeo feita pelas autoras ao modelo OECD adicionando agrave matriz accedilotildees de prospectivos

Este modelo seraacute adaptado aos problemas ambientais urbanos da zona de expansatildeo de AracajuSE que resultaram em accedilotildees civis puacuteblicas provenientes tanto de denuacutencias do Ministeacuterio Puacuteblico quanto da sociedade civil

1 O Foacuterum de Defesa da Grande Aracaju-FDGA compreende um espaccedilo de debate sobre a cidade de Aracaju e aacuterea metropolitana sendo composto por profissionais liberais funcionaacuterios puacuteblicos lideranccedilas locais associaccedilotildees de bairro entre outros

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4 RESULTADOS

Observou-se dessa maneira que os problemas ambientais ocasionados na zona de expansatildeo de Aracaju ocorrem pela carecircncia eou natildeo integraccedilatildeo entre planejamento e gestatildeo urbana As accedilotildees civis puacuteblicas acionadas pelo Ministeacute-rio Puacuteblico Federal e Estadual tornaram-se medidas de ajustes em funccedilatildeo do crescimento urbano desordenado como por exemplo a accedilatildeo que dispotildee sobre a proibiccedilatildeo de novas construccedilotildees imobiliaacuterias na zona de expansatildeo ateacute a reso-luccedilatildeo do problema de drenagem e saneamento que geram poluiccedilatildeo e desequi-liacutebrio ambiental na localidade Diante disso novos empreendimentos precisam de autorizaccedilatildeo judicial para iniciar suas construccedilotildees devido agrave necessidade de controle dos impactos ambientais gerados

Um segundo exemplo dos ajustes a partir das accedilotildees eacute a relativa aos proble-mas de poluiccedilatildeo ocasionados pela existecircncia de dez cemiteacuterios clandestinos na aacuterea gerando inclusive contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico por necrochoru-me Aleacutem disso verificou-se que a populaccedilatildeo natildeo dispotildee de covas suficientes para atender a demanda de oacutebitos da regiatildeo Uma terceira accedilatildeo civil referiu-se agrave disputa judicial entre Aracaju e Satildeo Cristoacutevatildeo municiacutepio circunvizinho sobre a arrecadaccedilatildeo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Como a delimitaccedilatildeo das fronteiras entre os dois municiacutepios ainda se encontra indefinida a arreca-daccedilatildeo do IPTU estaacute suspensa o que resulta na diminuiccedilatildeo de renda disponiacutevel para investimento em infraestrutura na localidade por parte dos gestores

Essas accedilotildees civis demonstraram aspectos de fragilidade do planejamento urbano na zona de expansatildeo de AracajuSE que natildeo tem sido aplicado de for-ma integrada com as questotildees ambientais por natildeo contar com instrumentos de gestatildeo eficientes os quais ainda se encontram em fase de revisatildeo junto ao PDDU e elaboraccedilatildeo do Plano de Saneamento Baacutesico A aacuterea de estudo obteve um crescimento imobiliaacuterio desordenado e intenso na uacuteltima deacutecada desse modo a seleccedilatildeo dos indicadores nessa pesquisa visa apoiar a gestatildeo urbana da zona de expansatildeo tendo como foco cinco problemas socioambientais iden-tificados e que serviram de descritores (temas) para seleccedilatildeo dos indicadores sendo eles i) expansatildeo imobiliaacuteria ii) saneamento iii) ocupaccedilatildeo irregular iv) cemiteacuterios clandestinos e v) a disputa sobre o limite territorial entre os muni-ciacutepios de Aracaju e Satildeo Cristovatildeo para arrecadaccedilatildeo de IPTU Ao final a matriz foi composta por trinta e dois indicadores que podem apoiar o planejamento

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 283

e a gestatildeo urbana da zona de expansatildeo de Aracaju promovendo assim maior sustentabilidade da regiatildeo

Quadro 01 - Matriz de indicadores de sustentabilidade para gestatildeo ambiental-urbana da zona de expansatildeo de AracajuSE

PRESSAtildeO ESTADO RESPOSTA PROSPECTIVODegradaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo per-manente (manguezal dunas lagoas)(haano)

Aterramento de recur-sos hiacutedricos e demoli-ccedilatildeo de dunas (haano)

Accedilatildeo civil ndeg 20098500002637-9 sobre liberaccedilatildeo de no-vos empreendimentos

Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento am-biental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para no-vos empreendimentos residenciais(ndeg licenccedilasano)

Construccedilatildeo de novos condomiacutenios residen-ciais(ndegano)

Adensamento popula-cional(habKmsup2)

Execuccedilatildeo e monito-ramento do Plano Diretor de Desenvolvi-mento Urbano de Ara-caju (revisatildeodez em dez anos)

Estabelecimento de Zonas Especiais de In-teresse Social- ZEIS( de cumprimento da norma das zonasano)

Especulaccedilatildeo imobiliaacute-ria(aumento valor imoacute-velano)

Processo de gentrifi-caccedilatildeo (ndeg lotes na periferiaano)

Participaccedilatildeo popular em debates e audiecircn-cias puacuteblicas sugerin-do a incorporaccedilatildeo de instrumentos de de-mocratizaccedilatildeo da terra urbanizada (ndeg participantes reu-niatildeo)

Condicionante prove-niente do processo de licenciamento ambien-tal para realizaccedilatildeo de programa de geraccedilatildeo de renda local direcio-nado agraves famiacutelias que vivem de cultivos agriacute-colas(ndeg condicionantes ano)

Diminuiccedilatildeo de empre-go rural(ndeg empregos ruraisano)

Venda de propriedade cocoicultoras para as construtoras e desem-prego(ndeg vendasano)(ndeg desemprego famiacute-lias ruraisano)

Execuccedilatildeo e monito-ramento do Plano de Saneamento Baacutesico de Aracaju

Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento am-biental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para no-vos empreendimentos hoteleiros(ndeg licenccedilasano)

Turismo hoteleiro(ndeg hoteacuteisano)

Inundaccedilotildees em periacuteo-dos pluviais(metrossup2ano)

Decreto-Lei ndeg 3438 de 17 de julho de 1941 e que dispotildee sobre ter-renos de marinha

Investimento em in-fraestrutura de sanea-mento(R$ano)

Poluiccedilatildeo de efluentes(faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos em vias puacutebli-cas(metrossup2 acumuladosemana)

Accedilatildeo civil ndeg 20061120143-9 sobre cemiteacuterios clandesti-nos

Construccedilatildeo e licencia-mento ambiental para cemiteacuterio que atenda a populaccedilatildeo local e a legislaccedilatildeo ( de condicionantes da licenccedila atendidaano)

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PRESSAtildeO ESTADO RESPOSTA PROSPECTIVOInstalaccedilatildeo de bares e quiosques na orla TECARMO e Praia do Sarney(ndeg instalaccedilotildeesano)

Doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica(ndeg mortesano)

Accedilatildeo civil ndeg RE 614384 (STF)RE 1513456SE (STJ)

Monitoramento da aacutegua em poccedilos arte-sianos(faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)

Covas irregulares em cemiteacuterios clandesti-nos(ndeg covas cemiteacuterio)

Poluiccedilatildeo marinha(faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)Contaminaccedilatildeo de len-ccedilol freaacutetico pelo necro-chorume (faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)

Conflito intermunicipal sobre arrecadaccedilatildeo de impostos (IPTU)(R$ano)

Fonte autores com base na metodologia de Winograd (2006) e dados fornecidos pelo FDGA

41 INDICADORES DE PRESSAtildeO

bull Degradaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo permanente (manguezal dunas lagoas) (haano)Na cidade de Aracaju manguezais dunas e lagoas satildeo degradados para a construccedilatildeo de empreendimentos imobiliaacuterios Assim o indicador ldquoDegra-daccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo permanenterdquo (haano) visa monitorar os danos causados em aacuterea legalmente protegidas da zona de expansatildeo

bull Construccedilatildeo de novos condomiacutenios residenciais (ndegano) O monitoramento da construccedilatildeo de novos condomiacutenios residenciais da zona de expansatildeo permite acompanhar o crescimento urbano da regiatildeo e com isso nortear anaacutelises sobre os impactos por eles gerados

bull Especulaccedilatildeo imobiliaacuteria (aumento valor imoacutevelano)A especulaccedilatildeo imobiliaacuteria prejudica a permanecircncia dos moradores lo-cais na zona de expansatildeo jaacute que natildeo possuem poder aquisitivo para residir nos novos empreendimentos construiacutedos Assim sendo o indica-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 285

dor ldquoEspeculaccedilatildeo imobiliaacuteriardquo (aumento valor imoacutevelano) possibilita o monitoramento do aumento do valor do imoacutevel da regiatildeo anualmente

bull Diminuiccedilatildeo de emprego rural (ndeg empregos ruraisano)Com a venda desses terrenos para construtoras imobiliaacuterias haacute uma di-minuiccedilatildeo do nuacutemero de empregos aos moradores rurais e com isso a geraccedilatildeo de renda local eacute prejudicada Esse indicador ajuda no controle do nuacutemero de empregos rurais que existem na localidade em funccedilatildeo da existecircncia de propriedades de cultivo agriacutecola

bull Turismo hoteleiro (ndeg hoteacuteisano)O monitoramente das construccedilotildees com fins turiacutesticos como hoteacuteis e re-sortes viabiliza o controle dos impactos gerados por essas construccedilotildees sobre os recursos naturais da localidade

bull Poluiccedilatildeo de efluentes (iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)Em funccedilatildeo do aumento das construccedilotildees imobiliaacuterias houve uma inten-sificaccedilatildeo da poluiccedilatildeo dos recursos hiacutedricos da regiatildeo Desse modo esse indicador permite acompanhar o grau de poluiccedilatildeo dos efluentes da zona de expansatildeo

bull Instalaccedilatildeo de bares e quiosques na orla TECARMO e Praia do Sarney (ndeg instalaccedilotildeesano) O funcionamento desses estabelecimentos em proximidade ao mar geralmente ocasiona maior depoacutesito de rejeitos nas aacuteguas marinhas Desse modo o acompanhamento do nuacutemero de barres em terreno de marinha atraveacutes desse indicador permite verificar o niacutevel de poluiccedilatildeo das praias da localidade

bull Covas irregulares em cemiteacuterios clandestinos (ndeg covas cemiteacuterio)A falta de cemiteacuterios licenciados leva agrave populaccedilatildeo a utilizar covas irre-gulares na regiatildeo pois natildeo possuem condiccedilotildees de deslocamento para outros cemiteacuterios disponiacuteveis na cidade

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42 INDICADORES DE ESTADO

bull Aterramento de recursos hiacutedricos e demoliccedilatildeo de dunas (haano)Em funccedilatildeo das construccedilotildees imobiliaacuterias realizadas sem o devido con-trole dos impactos ambientais haacute uma intensificaccedilatildeo dos processos de aterramento de recursos hiacutedricos e demoliccedilatildeo de dunas Esse indicador vem a proporcionar o monitoramento da degradaccedilatildeo desses recursos naturais

bull Adensamento populacional (habKmsup2)Pelo fato do PDDU de AracajuSE ainda encontrar-se em fase de revisatildeo esse indicador viabiliza o acompanhamento do crescimento urbano da zona de expansatildeo apoiando dessa maneira o monitoramento do adensamento populacional da regiatildeo

bull Processo de gentrificaccedilatildeo (ndeg lotes na periferiaano)Em funccedilatildeo dos novos empreendimentos imobiliaacuterios da zona de expan-satildeo serem direcionados para populaccedilatildeo de alta renda esse indicador permitiraacute o acompanhamento da expulsatildeo dos moradores mais antigos da aacuterea para a periferia jaacute que natildeo possuem poder aquisitivo para residir nos novos empreendimentos a partir do enobrecimento da aacuterea

bull Venda de propriedade cocoicultoras para as construtoras (ndeg vendasano) Com o aumento das construccedilotildees imobiliaacuterias na zona de expansatildeo proprietaacuterios de terras cocoicultores venderam suas propriedades para novos projetos residenciais gerando o desemprego das famiacutelias que trabalham na colheita do coco Esse indicador permite verificar a dimi-nuiccedilatildeo de propriedades rurais de cultivo na regiatildeo na tentativa de sub-sidiar anaacutelises sobre a geraccedilatildeo de renda local

bull Inundaccedilotildees em periacuteodos pluviais (metrossup2ano)Devido agrave falta de drenagem na regiatildeo ocorrem em periacuteodo fluviais inundaccedilotildees na localidade Em funccedilatildeo das novas construccedilotildees essa situ-accedilatildeo se agravou ainda mais Assim sendo esse indicador monitora as inundaccedilotildees ocorridas durante o ano para assim acompanhar os impac-tos gerados pela falta de drenagem na regiatildeo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 287

bull Disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos em vias puacuteblicas (metrossup2 acumuladosemana)O depoacutesito de resiacuteduos proporciona o aumento de inundaccedilotildees princi-palmente pela falta de drenagem no local esse indicador permitiraacute o monitoramento do acuacutemulo de resiacuteduos soacutelidos nas vias puacuteblicas

bull Doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (ndeg mortes por dengue na regiatildeoano)As inundaccedilotildees acabam permitindo o acuacutemulo de aacutegua e com isso as doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica acabam aumentando como a dengue por exemplo O objetivo desse indicador eacute monitorar o aumento de do-enccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica na regiatildeo visando acompanhar os impactos ocasionados pelas inundaccedilotildees

bull Poluiccedilatildeo marinha (iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)A instalaccedilatildeo do barres na orla ocasionam maior poluiccedilatildeo dos efluentes marinho em funccedilatildeo do despejo de dejetos no mar Desse modo esse indicador visa monitorar a qualidade da aacutegua das praias da zona de ex-pansatildeo para assim acompanhar os impactos ocasionados pelos bares

bull Contaminaccedilatildeo de lenccedilol freaacutetico pelo necrochorume (iacutendice de quali-dade da aacutegua ndash IQA)O niacutevel de poluiccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico da zona de expansatildeo aumentou principalmente por causa da contaminaccedilatildeo ocasionada pelo necrocho-rume proveniente das covas irregulares dos cemiteacuterios clandestinos Desse modo esse indicador proporciona o controle da qualidade da aacutegua do lenccedilol freaacutetico da zona de expansatildeo

bull Conflito intermunicipal sobre arrecadaccedilatildeo de impostos (IPTU) (R$ano)A disputa judicial em relaccedilatildeo agrave fronteira entre os municiacutepios de Aracaju e Satildeo Cristovatildeo influencia na arrecadaccedilatildeo direta do IPTU com isso haacute uma diminuiccedilatildeo do investimento em infraestrutura na zona de expan-satildeo que compreende a aacuterea central dessa disputa

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43 INDICADORES DE RESPOSTA

bull Accedilatildeo civil ndeg 20098500002637-9 Essa accedilatildeo civil proiacutebe novos licenciamentos ambientais na zona de ex-pansatildeo ateacute que a resoluccedilatildeo judicial sobre a drenagem e o saneamento da regiatildeo seja proferida Isto porque a ocupaccedilatildeo desordenada propicia desequiliacutebrio ambiental na localidade

bull Execuccedilatildeo e monitoramento do PDDU (revisatildeo dez em dez anos)Ainda em fase de revisatildeo o PDDU serviraacute como instrumento de plane-jamento e gestatildeo ambiental-urbana de Aracaju pois deve preconizar o direito agrave cidade o cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade a justa distribuiccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos da infraestrutura e dos equipa-mentos urbanos a ordenaccedilatildeo do uso e ocupaccedilatildeo do solo e da produccedilatildeo do espaccedilo urbano inclusive das aacutereas de expansatildeo e a preservaccedilatildeo do patrimocircnio ambiental e cultural (SERGIPE 2015) A implementaccedilatildeo e monitoramento do crescimento urbano da zona de expansatildeo poderatildeo proporcionar uma melhor gestatildeo ambiental-urbana da localidade em vista de melhor preservaccedilatildeo ambiental e qualidade de vida da popu-laccedilatildeo

bull Participaccedilatildeo popular em debates e audiecircncias puacuteblicas sugerindo a in-corporaccedilatildeo de instrumentos de democratizaccedilatildeo da terra urbanizada (ndeg participantes reuniatildeo)Esse indicador dimensiona a participaccedilatildeo popular na discussatildeo sobre as questotildees ambientais-urbana permitindo a constante cobranccedila dos direitos dos cidadatildeos sobre a terra urbanizada

bull Execuccedilatildeo e monitoramento do Plano de Saneamento Baacutesico de AracajuO Plano de Saneamento Baacutesico de Aracaju ainda encontra-se em execu-ccedilatildeo Esse instrumento seraacute fundamental para o desenvolvimento urba-no ordenado da regiatildeo pois permitiraacute a coleta e tratamento do esgoto domeacutestico antes de sua devoluccedilatildeo ao meio ambiente Pelo fato da zona de expansatildeo possuir lagoas e mar a drenagem torna-se essencial para frear a poluiccedilatildeo resultante tanto do despejo de esgoto domeacutestico dire-to nos corpos drsquoaacutegua quanto da contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico por fossas irregulares

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 289

bull Decreto-Lei ndeg 3438 de 17 de julho de 1941 e que dispotildee sobre terrenos de marinhaEsse decreto-lei regulamenta as instalaccedilotildees em proximidade ao mar incluindo as atividades de fiscalizaccedilatildeo dos oacutergatildeos competentes sobre esses terrenos Favorece o controle sobre a poluiccedilatildeo de efluentes e construccedilotildees desordenadas muito proacuteximas ao mar

bull Accedilatildeo civil ndeg 20061120143-9Essa accedilatildeo civil solicita a interdiccedilatildeo de dez cemiteacuterios clandestinos situa-dos na zona de expansatildeo de Aracaju assim como requer da prefeitura a construccedilatildeo de um cemiteacuterio que atenda aos requisitos de licenciamen-to ambiental e a demanda de oacutebitos local

bull Accedilatildeo civil ndeg RE 614384 (STF) RE 1513456SE (STJ)Nessa accedilatildeo civil o municiacutepio de Aracaju pleiteia o direito de efetuar a execuccedilatildeo do IPTU sobre o povoado do Mosqueiro que pertence agrave zona de expansatildeo o qual foi requerido pelo municiacutepio de Satildeo Cristovatildeo quanto agrave sua pertenccedila alegando que o referido povoado teria sido des-membrado apenas temporariamente pela capital

44 INDICADORES DE PROSPECTIVOS

bull Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento ambiental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para novos empreendimentos residenciais (ndeg licenccedilasano)Esse indicador permitiraacute o acompanhamento das licenccedilas ambientais e com isso o efetivo controle dos impactos ambientais para novas cons-truccedilotildees imobiliaacuterias

bull Estabelecimento de Zonas Especiais de Interesse Social- ZEISZEIS satildeo aacutereas da cidade que ficam destinadas a abrigar moradias po-pulares conforme orientaccedilatildeo do Plano Diretor de Desenvolvimento Ur-bano A ZEIS contribuem para reservar terrenos ou preacutedios vazios para a moradia popular e facilitar a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria Este indicador incentivaraacute que aacutereas dotadas de infraestrutura urbana sejam ocupadas pela populaccedilatildeo de baixa renda permitindo melhorias das condiccedilotildees de habitabilidade dessa faixa da populaccedilatildeo

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bull Condicionante proveniente do processo de licenciamento ambiental para realizaccedilatildeo de programa de geraccedilatildeo de renda local direcionado agraves famiacutelias que vivem do cultivo (ndeg condicionantes ano)Esse indicador permitiraacute novas formas de geraccedilatildeo de renda para famiacute-lias rurais locais que ficam desempregadas pela venda das proprieda-des de cultivo para construtoras imobiliaacuterias

bull Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento ambiental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para novos empreendimentos hoteleiros (ndeg licenccedilasano)O objetivo desse indicador eacute monitorar os impactos socioambientais ocasionados pelos empreendimentos hoteleiros desse modo o acom-panhamento das licenccedilas e suas condicionantes satildeo fundamentais nes-se processo

bull Investimento em infraestrutura de saneamento (R$ano)Esse indicador proporciona acompanhar os valores gastos em infraes-trutura de saneamento e com isso a resoluccedilatildeo do problema de drena-gem na zona de expansatildeo

bull Construccedilatildeo e licenciamento ambiental para cemiteacuterio que atenda agrave po-pulaccedilatildeo local e agrave legislaccedilatildeoEsse indicador viabiliza o encerramento das pendecircncias apontadas pela accedilatildeo civil puacuteblica ndeg 20061120143-9 que dispotildee sobre os dez cemiteacuterios clandestinos da zona de expansatildeo de AracajuSE Dentre os problemas gerados pela existecircncia de covas irregulares estatildeo a contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico por necrochorume e a necessidade do deslocamento da populaccedilatildeo para cemiteacuterios distantes da sua moradia mesmo sem ter condiccedilotildees financeiras para o deslocamento A construccedilatildeo de um cemi-teacuterio licenciado na regiatildeo torna-se essencial para preservaccedilatildeo ambien-tal da localidade

bull Monitoramento da aacutegua em poccedilos artesianos (iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)Esse indicador visa o monitoramento da qualidade da aacutegua que possa estar contaminada pelo necrochorume das covas irregulares estabele-cidas nos cemiteacuterios clandestinos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 291

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Eacute importante afirmar que houve avanccedilos significativos com a aprovaccedilatildeo do Estatuto da Cidade que eacute um reconhecimento legal da funccedilatildeo social da propriedade urbana oferecendo instrumentos juriacutedicos que possibilitam aos gestores puacuteblicos locais junto agrave populaccedilatildeo reverter o quadro de urbanizaccedilatildeo excludente das cidades brasileiras de grande e meacutedio portes Entretanto no caso de Aracaju observou-se que instrumentos preceituados no arcabouccedilo legal tais como o proacuteprio PDDU natildeo eacute aplicado pela administraccedilatildeo municipal conforme idealiza o EC

No entanto as uacuteltimas administraccedilotildees de Aracaju tecircm caminhado na con-tramatildeo dessas premissas o que demonstra que o direito agrave cidade estaacute muito distante de ser um princiacutepio para o Estado O uso dos indicadores de susten-tabilidade selecionados nesta pesquisa carrega o potencial de subsidiar o pla-nejamento e a gestatildeo urbana no sentido de contribuir para reverter a loacutegica conservadora evidenciada em Aracaju nas uacuteltimas deacutecadas Apesar de todos os problemas a cidade se constitui em um espaccedilo privilegiado para a construccedilatildeo de uma ordem social mais justa Em sua diversidade e multiplicidade assenta-se um potencial transformador a exemplo de entidades como o FDGA A passivi-dade e a cumplicidade do poder puacuteblico municipal perante o capital imobiliaacuterio perpetuam a ideia de que a cidade natildeo eacute construiacuteda para o bem comum Assim eacute necessaacuterio que o cidadatildeo assuma um papel proativo de reconhecimento da sua importacircncia para a construccedilatildeo de uma cidade melhor

A reflexatildeo sobre sustentabilidade urbana e cidadania torna possiacutevel com-preender que o entendimento da gestatildeo ambiental nas cidades sobretudo nas de grande porte precisa ser ampliada e aprofundada na busca de cami-nhos alternativos que valorizem os diversos saberes e experiecircncias urbanas E segundo Lima e Roncaglio (2001 p 61-62) natildeo haacute uma uacutenica trilha a per-correr ou um modelo de gestatildeo urbana a adotar o que a questatildeo socioam-biental mostra e os estudos sobre o ambiente urbano podem verificar ldquoeacute que os caminhos satildeo muacuteltiplos as formas de gestatildeo variadas porque haacute de se considerar frente aos problemas urbanos e agrave degradaccedilatildeo socioambiental a complexidade das realidades fiacutesica bioloacutegica e antropossociais que consti-tuem e produzem os espaccedilos urbanosrdquo

Resta considerar que a participaccedilatildeo social qualificada ativa e criacutetica em questotildees que dizem respeito agrave vida nas cidades representam a amaacutelgama que

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pode consolidar um reforccedilo agrave consciecircncia cidadatilde e que passa certamente pelas relaccedilotildees diaacuterias cotidianas e natildeo apenas pelos direitos reconhecidos na legislaccedilatildeo

REFEREcircNCIAS

ACSELRAD Henri Discursos da sustentabilidade urbana in R B ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS Nordm 1 MAIO 1999

BARROS Robertha SILVA Ceacutesar Henriques Matos Poliacuteticas puacuteblicas para a reforma urba-na Correio de Sergipe Aracaju p 7 caderno Municiacutepios 2012

BARROS E SILVA Robertha G de Educaccedilatildeo Urbana e Cidadania Criacutetica da Relaccedilatildeo Sujei-toCidade e suas Potencialidades Satildeo Cristoacutevatildeo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desen-volvimento e Meio AmbienteUFS (dissertaccedilatildeo de mestrado) 2017

BRASIL Estatuto da cidade guia de implementaccedilatildeo pelos municiacutepios e cidadatildeos Bra-siacutelia Cacircmara dos Deputados 2001

________ MINITEacuteRIO PUacuteBLICO FEDERAL Accedilatildeo civil puacuteblica ndeg 20098500002637-9 Aracaju 2009 Disponiacutevel em httpwwwjfsejusbrnoticiasbuscanoticias_2009ju-nhodecisao_telma03pdf Acesso em 031115

CALDEIRA Teresa Pires Cidades de muros crime segregaccedilatildeo e cidadania em Satildeo Paulo 34ed Satildeo Paulo EDUSP 2000

FRANCcedilA Sarah Lucia Alves REZENDE Vera F Urbanizaccedilatildeo dispersa da zona de expan-satildeo urbana de AracajuSE materializaccedilatildeo de conflitos socioambientais VITAS ndash Visotildees transdisciplinares sobre o ambiente e sociedade ndeg3 p 1-30 junho 2012

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A CRISE DA CIEcircNCIA MODERNA E A CRIacuteTICA DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

Jonielton Oliveira DantasSuelane de Oliveira Silva DantasFabriacutecio Nicacio FerreiraEliane dos Santos da SilvaElenaldo Fonseca de Oliva Junior

1 INTRODUCcedilAtildeO

Que os esforccedilos empreendidos a partir do seacuteculo XVI para o avanccedilo da ciecircn-cia e da teacutecnica resultaram em uma melhoria para vida humana isso eacute inegaacutevel Basta considerarmos os avanccedilos da engenharia geneacutetica descobrindo a cura para inuacutemeras doenccedilas e problemas congecircnitos e da comunicaccedilatildeo que me-diante tecnologias avanccediladas de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo possibilitam uma maior integraccedilatildeo entre as pessoas ao redor do mundo soacute para ficar nestes dois exemplos Sendo assim por que se fala em crise da ciecircncia moderna Quais evidecircncias respaldam esta conjectura de crise do conhecimento cientiacutefico pro-duzido com base no paradigma moderno

As respostas para estas e outras questotildees vecircm sendo refletidas no acircmbito de uma aacuterea hiacutebrida entre ciecircncias histoacuteria psicologia sociologia e filosofia deno-minada epistemologia Portanto segundo Japiassu (1986) natildeo haacute uma definiccedilatildeo uacutenica do que eacute epistemologia mas podemos comeccedilar pelo significado etimo-loacutegico da palavra discurso (logos) sobre a ciecircncia (espisteme) De maneira geral podemos considerar a epistemologia como sendo ldquo[] o estudo metoacutedico e re-flexivo do saber de sua organizaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo de seu desenvolvimento de seu funcionamento e de seus produtos intelectuaisrdquo (JAPIASSU 1986 p 16) Grosso modo a epistemologia se debruccedila sobre como se faz ciecircncia e nesta em-preitada a filosofia e a histoacuteria satildeo fundamentais e interdependentes

As orientaccedilotildees epistemoloacutegicas contemporacircneas que emergem da criacutetica agraves posiccedilotildees da epistemologia empirista-indutivista desenvolvida por Bacon1

1 O filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) desenvolveu o ideal de boa ciecircncia baseado na concepccedilatildeo indutivista que fundamentou grande parte dos meacutetodos de anaacutelise e pesquisa na ciecircncia moderna

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 295

tecircm contribuiacutedo com a reflexatildeo sobre a necessidade de questionar o concei-to de ciecircncia seus criteacuterios de objetividade e certeza a validade dos meacutetodos cientiacuteficos e reavaliar a relaccedilatildeo entre ciecircncia e realidade tendo em vista que a ciecircncia e a teacutecnica passaram a fazer parte da realidade imediata das pessoas

Assim o discurso das novas orientaccedilotildees epistemoloacutegicas suscita uma refle-xatildeo criacutetica acerca da produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico nos uacuteltimos seacuteculos cujo ponto de partida eacute o seacuteculo XVI por reunir caracteriacutesticas que denotam uma ruptura com outras formas de conhecimento (filosoacutefico religioso artiacutesti-co) promovendo em relaccedilatildeo ao passado uma Revoluccedilatildeo Cientiacutefica que passa a privilegiar do ponto de vista epistemoloacutegico e socioloacutegico o conhecimento cientiacutefico o que convencionou-se chamar de Ciecircncia Moderna (SANTOS 2004)

Pode dizer-se que desde sempre nenhuma outra forma de conhecimento privilegiado em um dado momento histoacuterico e em uma sociedade fora objeto de debate sobre sua natureza seus limites e contribuiccedilotildees para a sociedade Poreacutem o que diferencia o debate moderno sobre o conhecimento dos debates anteriores ldquo[] eacute o facto de a ciecircncia moderna ter assumido a sua inserccedilatildeo no mundo mais profundamente do que qualquer outra forma de conhecimento anterior ou contemporacircnea propocircs-se natildeo apenas compreender o mundo ou explica-lo mas tambeacutem transformaacute-lordquo (SANTOS 2004 p 18)

Nesta seara Boaventura de Sousa Santos2 vem desde os anos 90 contribuin-do a partir das anaacutelises proacuteprias de seu campo de estudo com o debate sobre o modelo e os meacutetodos de construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico moderno instigando a comunidade cientiacutefica a discutir sobre sua eficaacutecia na construccedilatildeo da realidade cotidiana das pessoas

2 Boaventura de Sousa Santos eacute socioacutelogo portuguecircs nascido em 15 de novembro de 1940 Eacute doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale (1973) nos Estados Unidos eacute Professor Catedraacutetico Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick Eacute tambeacutem diretor emeacuterito do Centro de Estudos Sociais e coordenador cientiacutefico do Observatoacuterio Permanente da Justiccedila Portuguesa ndash ambos da Universidade de Coim-bra Os seus temas de pesquisa situam-se no acircmbito da Epistemologia sociologia do direito teoria poacutes-colonial democracia interculturalidade globalizaccedilatildeo movimentos sociais direitos humanos Eacute internacionalmente reconhecido como um intelectual importante da aacuterea de ciecircncias sociais e tem especial popularidade no Brasil onde participou de trecircs ediccedilotildees do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre Entre os precircmios recebidos destacam-se Preacutemio Pen Club Portuguecircs 1994 (Ensaio) Preacutemio Bordalo da Imprensa - Ciecircncias 1997 Preacutemio JABUTI (Brasil) - Aacuterea de Ciecircncias Humanas e Educaccedilatildeo 2001 Preacutemio Euclides da Cunha da Uniatildeo Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro 2004 Preacutemio de Ensaio Ezequiel Martiacutenez Estrada 2006 da Casa de las Ameacutericas Cuba Gran-Cruz da Ordem do Meacuterito Cultural de 2009 atribuiacutedo pelo Governo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

296 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

A anaacutelise epistemoloacutegica criacutetica que o socioacutelogo portuguecircs propotildee nos co-loca diante do contraditoacuterio da dificuldade de nos situarmos no tempo presen-te no campo do desenvolvimento das ciecircncias Para Santos (1987) se olharmos para o passado verificamos por um lado que o progresso cientiacutefico dos uacuteltimos quarenta anos eacute de tal ordem fabuloso que os seacuteculos que nos precederam natildeo satildeo mais do que uma preacute-histoacuteria longiacutenqua por outro lado verificamos que o campo teoacuterico que nos movemos ainda hoje foram estabelecidos por cien-tistas que trabalharam e viveram entre o seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XX de Smith e Ricardo a Lavoisier e Darwin de Marx e Durkheim a Weber e Pareto de Humboldt e Plank a Poincareacute e Einstein o que permite-nos dizer que em termos cientiacuteficos vivemos ainda no seacuteculo XIX e que o seacuteculo XX ainda natildeo comeccedilou

Desse modo se natildeo nos prendermos ao passado e fixarmos o nosso olhar no futuro tambeacutem nos depararemos com o contraditoacuterio por um lado a crenccedila no comeccedilo de uma sociedade libertada das carecircncias e inseguranccedilas que ainda insistem em permanecer nos dias atuais promovida pelas potencialidades tec-noloacutegicas dos conhecimentos acumulados e por outro uma reflexatildeo sobre os limites do rigor cientiacutefico combinada com os perigos cada vez mais concretos de cataacutestrofes ecoloacutegicas ou guerras nucleares (SANTOS 1987)

Neste contexto o contraditoacuterio entre o passado que ora pensamos jaacute natildeo sermos ora pensamos natildeo termos ainda deixado de ser e o futuro que ora pensamos jaacute sermos ora pensamos nunca virmos a ser nos leva a uma reflexatildeo epistemoloacutegica sobre o tempo presente estariacuteamos ainda situados nos limites da ciecircncia moderna ou jaacute estariacuteamos na poacutes-modernidade Para Santos (1987) ldquo[] eacute esta a ambiguidade e a complexidade da situaccedilatildeo do tempo presente um tempo de transiccedilatildeo siacutencrone com muita coisa que estaacute aleacutem ou aqueacutem dele mas descompassado em relaccedilatildeo a tudo que o habitardquo (Ibid p15)

Ao tratar a eacutepoca em que vivemos como uma eacutepoca de transiccedilatildeo paradig-maacutetica o socioacutelogo portuguecircs faz uma criacutetica sistemaacutetica agraves correntes domi-nantes da reflexatildeo epistemoloacutegica sobre a ciecircncia moderna Afirma que ldquo[] uma das fraquezas da teoria criacutetica moderna foi natildeo ter reconhecido que a ra-zatildeo que critica natildeo pode ser a mesma que pensa constroacutei e legitima aquilo que eacute criticaacutevelrdquo (SANTOS 2002 p 29) Assim Santos (1989) considera que estamos no limiar de uma transiccedilatildeo paradigmaacutetica cuja ordem cientiacutefica dominante ndash ciecircncia moderna ndash apresenta sinais de crise simultaneamente agrave emergecircncia de um novo paradigma ao qual designa inicialmente de ciecircncia poacutes-moderna

Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a crise da ciecircncia moderna na contemporaneidade a partir da criacutetica de Boaventura de Sousa Santos Utili-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 297

zou-se a apreciaccedilatildeo bibliograacutefica das obras na quais o socioacutelogo portuguecircs faz interpretaccedilotildees contemporacircneas acerca do modelo meacutetodos e resultados da ciecircncia moderna os sinais que o faz considerar que este modelo de produ-ccedilatildeo do conhecimento encontra-se no limiar de uma crise paradigmaacutetica e as conjecturas em torno de um novo paradigma cientiacutefico que considera emergir desta crise

Tendo como literatura elementar Um discurso sobre as ciecircncias (1987) pas-samos a uma reflexatildeo mais aprofundada sobre o modelo e meacutetodos da ciecircn-cia moderna considerada por Santos como ldquoparadigma dominanterdquo a partir da obra Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna (1989) buscamos caracterizar a ordem cientiacutefica hegemocircnica para depois analisar os sinais de crise distinguin-do suas condiccedilotildees teoacutericas e socioloacutegicas a partir das caracteriacutesticas da ldquocrise do paradigma dominanterdquo tambeacutem abordada em A criacutetica da razatildeo indolente (2002) e por uacuteltimo apresentamos por via especulativa o que Santos conside-ra ser o ldquo paradigma emergenterdquo tendo como referecircncia a obra Conhecimento prudente para uma vida decente um discurso sobre as ciecircncias revisado (2004) na qual o autor afirma que o paradigma que considera emergir em uma sociedade evoluiacuteda pela proacutepria ciecircncia natildeo basta ser prudente tem de ser um paradigma social para uma vida decente

2 A DUPLA RUPTURA EPISTEMOLOacuteGICA

Eacute a partir da criacutetica epistemoloacutegica que Boaventura de Sousa Santos afirma que no projeto da modernidade distingue-se duas formas de conhecimento o conhecimento-regulaccedilatildeo cujo ponto de ignoracircncia se designa por caos e o ponto de saber se designa por ordem e o conhecimento-emancipaccedilatildeo cujo ponto de ignoracircncia se designa por colonialismo e o ponto de saber se designa por solidariedade (SANTOS 2002) como ilustra a Figura 1 Apesar de ambas as formas de conhecimento serem admitidas no projeto da modernidade Santos observa que o conhecimento-regulaccedilatildeo predominou em relaccedilatildeo ao conheci-mento-emancipaccedilatildeo

298 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Figura 1 As duas formas de conhecimento na modernidade segundo Boaventura

Organizaccedilatildeo Os autores com base SANTOS 2002

De forma mais aprofundada Santos (2004) trata as duas formas de conheci-mento a partir da conceituaccedilatildeo de duas rupturas epistemoloacutegicas

A primeira ruptura leva-nos do senso comum agrave ciecircncia tal como a conhe-

cemos uma ciecircncia modernista que desenvolve o conhecimento como

regulaccedilatildeo e que sustenta a colonizaccedilatildeo e a ordem A segunda ruptura

ainda por realizar iraacute conduzir-nos da ciecircncia dominante ao novo senso

comum isto eacute ao conhecimento como emancipaccedilatildeo um conhecimen-

to que realccedila a solidariedade (WAGNER In SANTOS 2004 p117)

As rupturas epistemoloacutegicas de que trata Boaventura de Sousa Santos estaacute no cerne da reflexatildeo sobre a crise da ordem cientiacutefica dominante e a emergecircncia de um novo paradigma Contudo esclarece que natildeo eacute faacutecil identificar se um dado periacuteodo histoacuterico eacute dominado por uma crise e que tipo de crise visto que o autor distingue dois tipos de crise as crises de crescimento restrita a uma matriz disci-plinar de um dado ramo da ciecircncia cuja revelaccedilatildeo pode acontecer pela contes-taccedilatildeo de meacutetodos ou conceitos baacutesicos pressentidos por alternativas viaacuteveis e a crise de degenerescecircncia que satildeo crises de paradigma que atravessam todas as disciplinas embora de forma desigual e que potildeem discussatildeo a proacutepria forma de inteligibilidade do real que um dado paradigma proporciona (SANTOS 1989) As diferentes crises estatildeo susceptiacuteveis a diferentes reflexotildees epistemoloacutegicas3

3 A reflexatildeo epistemoloacutegica moderna tem suas origens na filosofia do seacuteculo XVII em que a filosofia aristoteacutelica eacute substituiacuteda pela filosofia da ciecircncia atingindo um de seus pontos mais altos no seacuteculo XIX como desenvolvimento espetacular da ciecircncia e da teacutecnica decorrente da consolidaccedilatildeo da so-ciedade industrial (SANTOS 1989)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 299

Neste sentido afirma Santos (1989) ldquoqualquer que seja a opccedilatildeo epistemo-loacutegica sobre o que a ciecircncia faz a reflexatildeo sobre a ciecircncia que se faz natildeo pode escapar ao ciacuterculo hermenecircuticordquo (SANTOS 1989 p11-12) A reflexatildeo herme-necircutica visa descontruir os diferentes objetos teoacutericos que a ciecircncia constroacutei sobre si proacutepria suas imagens linguagens e discursos e as condiccedilotildees em que foram construiacutedos aprofundando o trabalho de desdogmatizaccedilatildeo da ciecircncia Assim eacute uma reflexatildeo necessaacuteria em tempos de crise pois visa ldquotransformar a ciecircncia de um objeto estranho distante e incomensuraacutevel com a nossa vida num objeto familiar e proacuteximo que natildeo falando a liacutengua de todos os dias eacute capaz de comunicar as suas valecircncias e os seus limites os seus objetivos e o que realiza aleacutem e aqueacutem deles []rdquo (SANTOS 1989 p13)

A reflexatildeo hermenecircutica que Santos propotildee tem como ponto de partida as ciecircncias sociais refletindo-se a partir deste ponto as ciecircncias no seu conjunto e a sociedade em geral Assim ldquo tal como noutros periacuteodos de transiccedilatildeo difiacuteceis de entender e de percorrer eacute necessaacuterio voltar agraves coisas simples agrave capacidade de formular perguntas simples []rdquo (SANTOS 1987 p15)

Diante da complexidade do tempo presente que indica estarmos no fim de um ciclo de hegemonia de uma certa ordem cientiacutefica torna-se urgente dar respostas a perguntas simples elementares inteligiacuteveis pois as perguntas simples demostram a precariedade das construccedilotildees assentes do paradigma em crise colocando o conhecimento cientiacutefico como uma praacutetica de saber entre outras e natildeo necessariamente a melhor (SANTOS 1989)

Neste sentido retomamos o conceito de rupturas epistemoloacutegicas para res-ponder a perguntas simples sobre teoria e meacutetodo das ciecircncias pois Santos (1989) afirma que a primeira ruptura metodoloacutegica visa responder agrave pergunta ldquocomo se faz ciecircncia rdquo e a segunda ruptura visa responder agrave pergunta ldquopara que queremos a ciecircncia rdquo (SANTOS 1989 p71) Para Santos (1989) ldquodeixou de ter sentido criar um conhecimento novo e autocircnomo em confronto com o senso comum (primeira ruptura) se esse conhecimento natildeo se destinar a transformar o senso comum e a transformar-se nele (segunda ruptura) rdquo (SANTOS 1989 p147)

A conclusatildeo que ele chega a esse respeito eacute de que a acumulaccedilatildeo de co-nhecimento sobre o mundo dado pelo desenvolvimento cientiacutefico dos uacuteltimos trecircs seacuteculos se resuma a tatildeo pouca sabedoria do mundo do homem consigo proacuteprio com os outros e com a natureza

300 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

3 O PARADIGMA DOMINANTE

A ordem cientiacutefica dominante tratada como ldquoo paradigma dominanterdquo diz respeito ao modelo de racionalidade herdado a partir do seacuteculo XVI periacuteodo das revoluccedilotildees cientiacuteficas e consolidado no seacuteculo XIX quando este modelo se estende agraves ciecircncias sociais emergentes Assim a partir da revoluccedilatildeo cientiacutefica do seacuteculo XVI a ciecircncia moderna comeccedilava a deixar as teorias de Copeacuternico Galileu e Newton para se transformar no fermento de uma transformaccedilatildeo teacutec-nica e social sem precedentes na histoacuteria da humanidade (SANTOS 2009)

Para Thomas Kuhn4 a ciecircncia eacute uma sucessatildeo de paradigmas que se confrontam entre si mas que esses paradigmas se alteram provocando uma revoluccedilatildeo que abre caminho para um novo tipo de desenvolvimento cientiacutefico ou seja para se ter um novo paradigma eacute necessaacuteria uma nova revoluccedilatildeo cien-tiacutefica Eacute o que acontece na passagem por exemplo da ciecircncia antiga agrave ciecircncia moderna (KUHN 2009)

Santos (1989) considera que estamos no limiar de uma transiccedilatildeo paradigmaacute-tica cuja ordem cientiacutefica dominante ndash ciecircncia moderna ndash apresenta sinais de crise simultaneamente agrave emergecircncia de um novo paradigma ao qual designa inicialmente de ciecircncia poacutes-moderna Para prosseguirmos nesta anaacutelise torna--se elementar a definiccedilatildeo de paradigma O termo ldquoparadigmardquo foi inicialmente associado por Thomas Kuhn agraves disciplinas especiacuteficas e agrave ldquociecircncia normalrdquo sen-do considerado como ldquo[] as realizaccedilotildees cientiacuteficas universalmente reconhe-cidas que durante algum tempo fornecem problemas e soluccedilotildees modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciecircnciardquo (KUHN 2009 p13)

Ao caracterizar a ordem cientiacutefica dominante Santos (1987 p 21) designa o paradigma como

[] um modelo global de racionalidade cientiacutefica que admite varie-

dade interna mas que se distingue e defende por vias de fronteiras

ostensivas e ostensivamente policiadas de duas formas de conheci-

mento natildeo cientiacutefico (e portanto irracional) potencialmente pertur-

badoras e intrusas o senso comum e as chamadas humanidades ou

estudos humaniacutesticos (em que se incluiacuteram entre outros os estudos

histoacutericos filoloacutegicos juriacutedicos literaacuterios filosoacuteficos e teoloacutegicos)

4 Thomas Kuhn (1922-1996) norte-americano fiacutesico historiador e filoacutesofo da ciecircncia

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 301

Assim o paradigma eacute uma ordem hegemocircnica de racionalidade cientiacutefi-ca que estabelece o rigor e os limites da ciecircncia cujo teor do conhecimento produzido pelos participantes (cientistas) deve pautar-se unicamente nos princiacutepios epistemoloacutegicos e regras metodoloacutegicas universalmente reco-nhecidas

Essa racionalidade cientiacutefica vislumbra uma uacutenica forma de se atingir o co-nhecimento verdadeiro negando o caraacuteter racional a todas as formas do co-nhecimento que natildeo se baseia pelos princiacutepios epistemoloacutegicos e metodoloacute-gicos Sendo assim caracteriza-se como um modelo global e totalitaacuterio que marca a ruptura com os modelos que o antecederam (SANTOS 1987)

Os protagonistas deste novo paradigma conduzem uma luta contra todas as formas de dogmatismo e de autoridade apresentando distinccedilotildees funda-mentais dos modelos de ldquosaberesrdquo aristoteacutelicos e medievais Para Santos (1987) esse novo paradigma faz distinccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conheci-mento do senso comum opunham-se agrave natureza e a pessoa humana ou seja buscava conhecer a natureza para poder controlaacute-la e dominaacute-la como enfatiza a maacutexima baconiana de que a ciecircncia faraacute do homem ministro e inteacuterprete da natureza (BACON 1979)

Com base nestes pressupostos o conhecimento cientiacutefico avanccedila pela ob-servaccedilatildeo descomprometida e sistemaacutetica dos fenocircmenos naturais

Ao contraacuterio do que pensa Bacon a experiecircncia natildeo dispensa a teoria

preacutevia o pensamento dedutivo ou mesmo a especulaccedilatildeo mas forccedila

qualquer deles a natildeo dispensarem enquanto instancia de confirma-

ccedilatildeo uacuteltima a observaccedilatildeo empiacuterica dos fatos (SANTOS 2009 p62)

Por sua vez Descartes vai inequivocamente das ideias para as coisas e natildeo das coisas para as ideias e estabelece a prioridade da metafiacutesica enquanto fun-damento uacuteltimo da ciecircncia Para que ocorresse uma observaccedilatildeo e experimen-taccedilatildeo que levasse a um conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza empregava-se como instrumento privilegiado de anaacutelise a matemaacutetica pois esta permitia que a natureza bem como os seus fenocircmenos fosse analisada e estruturada sob dois pilares a quantificaccedilatildeo como sinocircnimo de conhecimen-tos pelo emprego rigoroso das mediccedilotildees a reduccedilatildeo da complexidade do mun-do por meio da divisatildeo e classificaccedilatildeo Eacute um conhecimento causal que aspira a formulaccedilatildeo de leis agrave luz de regularidades observadas com vista a prever o comportamento futuro dos fenocircmenos (SANTOS 1987)

302 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

A descoberta das leis da natureza o isolamento das condiccedilotildees iniciais re-levantes a produccedilatildeo de resultados independentes do lugar e tempo das con-diccedilotildees iniciais o conhecimento causal da ciecircncia moderna que busca enten-der o ldquocomordquo ao inveacutes do por ldquoquemrdquo ou ldquopara querdquo promoveram dentre outras consequecircncias a previsibilidade dos fenocircmenos naturais Eacute por desta suposta previsibilidade de que se firmou o conhecimento na ideia de ordem e estabili-dade do mundo sendo este ldquoestaacutevelrdquo e determinaacutevel por meio de leis fiacutesicas e matemaacuteticas que poderiam o decompor Santos (2009) afirma que

Na mecacircnica newtoniana o mundo da mateacuteria eacute uma maacutequina cujas

operaccedilotildees se podem determinar por meio de leis fiacutesicas e matemaacutetica

um mundo estaacutetico e eterno a flutuar num espaccedilo vazio um mundo

que o racionalismo cartesiano torna cognosciacutevel por via da sua

decomposiccedilatildeo nos elementos que o constituem (SANTOS 2009 p 30)

Por se tratar de um modelo de racionalidade hegemocircnica da eacutepoca a ciecircn-cia moderna por intermeacutedio de precursores como Bacon Vico e Montesquieu natildeo demorou a permeabilizar o campo do comportamento social vislumbran-do descobrir as leis da sociedade assim como foi possiacutevel descobrir as leis da natureza (SANTOS 2009)

Decorre daiacute em meados do seacuteculo XIX a emergecircncia das ciecircncias sociais as quais assumiram duas correntes distintas de absorccedilatildeo do modelo mecanicista a primeira sem duacutevida dominante consistiu em aplicar na medida do possiacutevel ao estudo da sociedade todos os princiacutepios epistemoloacutegicos e metodoloacutegicos do estado da natureza (ciecircncias sociais como extensatildeo de ciecircncias naturais) a segunda estabelecia uma metodologia proacutepria para as ciecircncias sociais com base na especificidade do ser humano e distinccedilatildeo radical em relaccedilatildeo a natureza (SANTOS 1987)

Neste sentido a primeira corrente defende a aplicaccedilatildeo de que as ciecircncias sociais satildeo construiacutedas a partir de pressupostos das proacuteprias ciecircncias naturais tendo portanto um caraacuteter de conhecimento universalmente vaacutelido ou seja por maiores que sejam as diferenccedilas entre os fenocircmenos naturais e os sociais eacute sempre possiacutevel estudar os uacuteltimos fenocircmenos como se fossem os primeiros Contudo apesar das dificuldades essa vertente admite a possibilidade de as ciecircncias sociais se relacionarem com os criteacuterios rigorosos das ciecircncias naturais Dessa vertente fazem parte Durkheim e Ernest Nagel Entretanto Santos (2008) afirma que ldquo[] na teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Thomas Kuhn o atraso

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 303

das ciecircncias sociais eacute dado pelo caraacuteter preacute-paradigmaacutetico destas ciecircncias ao contraacuterio das ciecircncias naturais essas sim paradigmaacuteticasrdquo (SANTOS 1987 p37)

Enquanto que nas ciecircncias naturais o desenvolvimento das ciecircncias tornou possiacutevel a formulaccedilatildeo de um conjunto de princiacutepios e teorias denominados por Thomas Kuhn como ldquoparadigmasrdquo e aceitos por toda comunidade cientifica nas ciecircncias sociais natildeo existiu um consenso paradigmaacutetico pois o debate pre-tendeu atravessar todo o conhecimento adquirido Eacute isso que causa o efeito do atraso das ciecircncias sociais (SANTOS 1987)

A segunda corrente defende uma metodologia proacutepria na qual as dificul-dades em harmonizar os dois campos das ciecircncias naturais e sociais satildeo ins-transponiacuteveis ou seja para alguns eacute a proacutepria ideia de ciecircncias da sociedade que estaacute em pauta para outros trata-se de realizar uma ciecircncia diferente O fun-damento por traz dessa vertente eacute a subjetividade do comportamento huma-no que ao contraacuterio dos fenocircmenos naturais natildeo pode ser descrito e explicado (por suas caracteriacutesticas exteriores e observaacuteveis)

Partindo desse pressuposto observa-se que as ciecircncias sociais seraacute sempre subjetiva e natildeo objetiva pois tende a buscar e compreender os fenocircmenos so-ciais a partir das atitudes mentais e dos sentidos que os agentes conferem agraves suas accedilotildees Para isso faz-se necessaacuterio recorrer aos meacutetodos de investigaccedilatildeo e aos criteacuterios epistemoloacutegicos diferentes das correntes nas ciecircncias naturais Como doutrinadores dessa corrente pode-se citar Max Weber e Peter Winch

Apesar de serem aparentemente distintas as duas correntes acabam por dar maior relevacircncia as ciecircncias naturais do que as ciecircncias sociais Desta forma pode-se concluir que ambas vertentes de ciecircncias sociais pertencem ao para-digma da ciecircncia moderna ainda que a segunda vertente serviria dentro desse paradigma um sinal de crise e que contenha alguns indiacutecios de transiccedilatildeo para outro paradigma cientiacutefico

4 A CRISE DO PARADIGMA DOMINANTE

Nenhuma eacutepoca eacute igual agravequela que a precede mudam as perguntas que impulsionam o conhecimento mudam as teacutecnicas disponiacuteveis e mudam as ati-tudes frente aos desafios que se apresentam (BECKER SANTOS 2012) Esse mo-vimento potildee em evidecircncia os diversos sinais de que o paradigma dominante atravessa uma crise que aleacutem de profunda eacute irreversiacutevel A crise do paradigma dominante portanto eacute resultado de uma pluralidade de condiccedilotildees as quais podem ser distintas entre condiccedilotildees sociais e teoacutericas (SANTOS 1987)

304 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Neste sentido Santos menciona a contribuiccedilatildeo de Einstein para a constitui-ccedilatildeo do que considera ser o primeiro rombo no paradigma da ciecircncia moder-na por romper com o ciacuterculo vicioso da simultaneidade dos acontecimentos e admitir a arbitrariedade no tempo e espaccedilo Com isso mostra como Einstein contribuiu com a criacutetica agrave ideia de simultaneidade universal e possibilitou a per-cepccedilatildeo do relativismo Nesta mesma linha de observaccedilatildeo Vasconcelos (2002) ao fazer referecircncia ao desenvolvimento das ciecircncias no seacuteculo XX traz como exemplo no campo das ciecircncias fiacutesicas o surgimento da teoria da relatividade de Einstein que implicou na derrocada da concepccedilatildeo newtoniana de um siste-ma uacutenico e estaacutevel de referecircncia de tempo e espaccedilo na apreensatildeo de fenocircme-nos macrouniversais

O passo seguinte para a crise paradigmaacutetica se deu pela demonstraccedilatildeo pro-posta por Heisenberg e Bohr de que eacute impossiacutevel observar ou medir um objeto sem interferir nele Afirmou-se assim que ldquo[] natildeo conhecemos do real senatildeo o que nele introduzimos ou seja que natildeo conhecemos do real senatildeo a nossa intervenccedilatildeo nelerdquo (SANTOS 1987 p44) o que ficou definido como princiacutepio de incerteza de Heisenberg indicando para a observaccedilatildeo do mundo subatocircmico aleacutem de outros temas no campo da matemaacutetica biologia e ecologia aprofun-daram a noccedilatildeo de crise das ciecircncias convencionais e a busca de novas formas de racionalidade (VASCONCELOS 2002)

Um outro momento de crise do paradigma moderno se deu com a apre-sentaccedilatildeo do teorema da incompletude e os teoremas sobre a impossibilidade de encontrar dentro de um dado sistema formal a prova da sua consistecircncia A proacutepria mediccedilatildeo da matemaacutetica revelou-se incompleta pois tornou -se possiacute-vel questionar o seu rigor assim como discutir uma redefiniccedilatildeo deste modelo que se opotildee a outras formas de rigor alternativo Assim o que a ciecircncia ganhou em rigor das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX perdeu em capacidade de autorre-gularatildeo (SANTOS 1987)

Para Santos (1987) durante a deacutecada de trinta e quarenta a ideia de autono-mia da ciecircncia e do desinteresse do conhecimento cientiacutefico que durante muito tempo constituiacuteram a ideologia espontacircnea dos cientistas tanto nas sociedades capitalistas como nas sociedades socialistas do leste europeu colapsaram peran-te o fenocircmeno global da industrializaccedilatildeo da ciecircncia o que acarretou no compro-misso da ciecircncia com os centros de poder econocircmico social e poliacutetico os quais passaram a exercer influecircncia sobre a definiccedilatildeo das prioridades cientificas

De acordo com Santos (1987 p 57) ldquo[] a ciecircncia e a tecnologia tem vindo a revelar-se as duas faces de um processo histoacuterico em que os interesses militares

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 305

e os interesses econocircmicos vatildeo convergindo ateacute quase agrave indistinccedilatildeordquo O fato pode ser exemplificado tanto com o ocorrido no Japatildeo com as bombas de Hi-roshima e Nagasaki quanto mais recentemente com as cataacutestrofes ecoloacutegicas e os constantes perigos de guerras nucleares Sendo assim fica evidente a influ-ecircncia do poder econocircmico e poliacutetico na definiccedilatildeo das prioridades das ciecircncias

O socioacutelogo ainda salienta dois efeitos principais oriundos da industrializa-ccedilatildeo da ciecircncia quais sejam a estratificaccedilatildeo da sociedade cientiacutefica com a pro-letarizaccedilatildeo de inuacutemeros cientistas e a investigaccedilatildeo capital-intensiva (assente em instrumentos caros e raros) que tornou impossiacutevel o livre acesso a equipa-mentos aumentando o fosso de desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegicos entre paiacuteses ricos e pobres

Percebe-se na situaccedilatildeo do tempo presente um tempo de transiccedilatildeo onde as influecircncias oriundas das tecnologias e do conhecimento acumulado fazem-nos crer numa sociedade de comunicaccedilatildeo e interatividade onde satildeo cada vez mais presumiacuteveis as cataacutestrofes ecoloacutegicas e as guerras nucleares fazendo com que reflitamos sobre os limites do rigor cientiacutefico e sua aplicabilidade

Contudo Santos (1987) vislumbra que a crise do paradigma natildeo constitui um pacircntano cinzento de ceticismo e irracionalismo e que as condiccedilotildees teoacutericas e sociais visam por consequecircncia construiacuterem um novo paradigma um pa-radigma cientiacutefico reformulado (conhecimento prudente) e um paradigma de cunho social (conhecimento para uma vida decente)

5 O PARADIGMA EMERGENTE

O paradigma emergente ou novo paradigma proposto por Boaventura de Sousa Santos nasce a partir da inter-relaccedilatildeo das ciecircncias naturais com as ci-ecircncias sociais Essa ligaccedilatildeo entre as ciecircncias difere com o modelo totalitaacuterio positivista cientificista cartesianista universal defendido pelo paradigma do-minante durante o seacuteculo XVI (SANTOS 1988) Para justificar o paradigma emer-gente Santos (1987) apresenta as principais teses que considera como modelo de produccedilatildeo do conhecimento prudente para uma vida decente

Se todo conhecimento cientiacutefico-natural eacute cientiacutefico-social ou seja todo conhecimento natural eacute social a separaccedilatildeo entre as ciecircncias naturais e sociais torna-se inuacutetil e sem sentido natildeo tendo mais motivo de existir pois [] esta distinccedilatildeo assenta numa concepccedilatildeo mecanicista da mateacuteria e da natureza a que contrapotildee com pressuposta evidecircncia os conceitos de ser humano cultura e sociedade []rdquo (SANTOS 1988 p60)

306 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Para o modelo de conhecimento emergente este fato natildeo apresenta ne-nhuma validade A sua separaccedilatildeo eacute considerada insuficiente sem fundamento Nos pressupostos do paradigma emergente eacute preciso interligar mesmo saben-do ldquo[] que ateacute haacute pouco [tempo] consideraacutevamos insubstituiacuteveis tais como na-tureza cultura naturalartificial vivoinanimado mentemateacuteria observadorobservado subjetivoobjetivo coletivoindividual animalpessoardquo (SANTOS 1988 p61)

A superaccedilatildeo desta dicotomia tende assim a revalorizar os estudos humaniacutes-ticos colocando o homem no centro do conhecimento Ele seraacute o sujeito trans-formador do mundo no qual encontra-se inserido Conforme Santos (1987) esta concepccedilatildeo humaniacutestica foi um agente catalisador que permitiu com que o homem no meio das diversas situaccedilotildees comunicativas tivesse a possibilidade de construir e reconstruir a sua realidade social em prol do bem comum

Aleacutem da transformaccedilatildeo social inclui-se nesta modificaccedilatildeo pontos inerentes as questotildees ambientais destacando-se a biodiversidade Esta por sua vez cor-responde a

uma ordem indissociavelmente poliacutetica e cientiacutefica teacutecnica e moral

que envolve um leque diferenciado e heterogecircneo de atores cientis-

tas povos indiacutegenas e suas organizaccedilotildees instituiccedilotildees cientiacuteficas do

norte e do sul governos e autoridades locais e ecossistemasrdquo (SAN-

TOS 2002 p68)

Neste sentido nota-se a necessidade de haver mais espaccedilos puacuteblicos de diaacute-logos que permita realizar debates com diferentes setores sociais para discus-satildeo de temaacuteticas considerando sua amplitude e complexidade Com base nes-se pressuposto Santos et al (2005) em sua obra Metodologias participativas caminhos para o fortalecimento de espaccedilos puacuteblicos ambientais propotildeem novas ferramentas epistemoloacutegicas tendo como princiacutepio norteador a mobilizaccedilatildeo a organizaccedilatildeo social e a promoccedilatildeo de uma cultura de participaccedilatildeo ativa dos sujei-tos Contudo Santos (2007 p 133) esclarece que o progresso de uma epistemo-logia de conhecimento-emancipaccedilatildeo ldquo[] depende do avanccedilo das lutas sociais contra a opressatildeo a discriminaccedilatildeo e a exclusatildeo social ainda que esteja sujeito a outras determinaccedilotildees relativamente autocircnomas que tecircm a ver com o campo intelectual a cultura cientiacutefica dominante os sistemas de educaccedilatildeo etcrdquo

Neste sentido Santos (2007) observa as novas orientaccedilotildees epistemoloacutegicas natildeo sinalizam apenas para novos tipos de conhecimento mas tambeacutem para

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 307

novas maneiras de produccedilatildeo do conhecimento em que se observa uma ate-nuaccedilatildeo da distinccedilatildeo entre as ciecircncias naturais e ciecircncias sociais Assim na pers-pectiva do paradigma emergente o autor traz a segunda tese a de que todo conhecimento eacute local e total Com efeito defende que o conhecimento natildeo segue um estilo unidimensional Isso quer dizer que natildeo se pode e nem deve haver a disciplinarizaccedilatildeo e tatildeo menos parcelarizaccedilatildeo do conhecimento Para Santos (2007 p 134) ldquo[] o importante eacute repensar o conhecimento cientiacutefico em toda a sua diversidade agrave luz das suas possiacuteveis relaccedilotildees com outros saberes natildeo cientiacuteficos que orientam a vida quotidiana das pessoasrdquo

Um dos pontos centrais defendido pela ciecircncia moderna eacute a especializaccedilatildeo O conhecimento torna-se muito mais rigoroso na medida que restringe o objeto de estudo Quanto mais se especifica mais rigoroso e excessivamente fracionado tende a ficar levando o cientista agrave ignoracircncia de uma infinidade de conhecimen-to correlacionados podendo trazer consequecircncias negativas para a sociedade (SANTOS 1987) Neste sentido Santos (1988 p70) endossa dizendo que ldquo[] a ciecircncia poacutes-moderna sabe que nenhuma forma de conhecimento eacute em si mes-ma racional soacute a configuraccedilatildeo de todas elas seratildeo racional Tenta pois dialogar com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar por elasrdquo

Neste novo paradigma o conhecimento tem como horizonte a totalidade universal das coisas e natildeo a especificaccedilatildeo Este conhecimento ao inveacutes de re-gredir avanccedila no sentido de buscar novas possiblidades novas descobertas Um conhecimento deste tipo eacute relativamente imetoacutedico e eacute forjado na plu-ralidade metodoloacutegica Cada meacutetodo eacute uma linguagem que considera espaccedilo e tempo local de modo que as respostas a respeito da realidade retornem na liacutengua em que eacute perguntada Sendo assim ldquo[] soacute uma constelaccedilatildeo de meacutetodos pode captar o silecircncio que persiste entre cada linguagem cada pergunta quem perguntardquo (SANTOS 1988 p 66)

Um outro ponto ressaltado por Santos (1987) consiste na terceira tese a de que todo conhecimento eacute autoconhecimento Essa tese fortalece a ideia de que nossas trajetoacuterias e experiecircncias de vida nossos sentimentos valores cul-tura e crenccedilas podem confirmar sem precisar passar por meacutetodos sistemaacuteticos rigorosos a existecircncia de um conhecimento sem o qual seria impossiacutevel a com-preensatildeo da ciecircncia cientiacutefica Um conhecimento ldquo[] compreensivo e iacutentimo que natildeo nos separe e antes nos una pessoalmente ao que estudamosrdquo (SANTOS 1988 p 68) Sendo assim atraveacutes das questotildees mais subjetivas do homem ten-de a interligar o sujeito e o objeto compreender melhor o mundo que o cerca permitindo um novo viver e um novo saber muito mais praacutetico

308 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Por fim todo conhecimento cientifico visa constituir-se em um senso comum Para enriquecer nossa relaccedilatildeo com o mundo orientarmos nossa vida e darmos mais sentido a ela eacute preciso dar maior importacircncia ao conhecimen-to do senso comum ao conhecimento praacutetico dito vulgar Para Santos (2007 p 134) ldquo[] o importante eacute salientar a incompletude de todos os conhecimen-tos e o potencial que existe nos diaacutelogos entre eles O conhecimento pruden-te decorre sempre desses diaacutelogos e das constelaccedilotildees de saberes que per-mitem construirrdquo Esta eacute uma das ambiccedilotildees da ciecircncia poacutes-moderna a de que o conhecimento cientiacutefico para se realizar enquanto tal deve-se converter-se em senso comum (SANTOS 1988) Nesse sentido nenhum conhecimento poderaacute ser despreziacutevel Cada conhecimento tem suas caracteriacutesticas concep-ccedilotildees poreacutem satildeo indissociaacuteveis

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Boaventura de Sousa Santos nos apresenta concepccedilotildees cientiacuteficas evi-denciadas na ciecircncia moderna Os estudos desenvolvidos por Santos no acircmbito das Ciecircncias Sociais nos mostram a necessidade de um olhar criacutetico em relaccedilatildeo agrave ciecircncia apontando para mudanccedilas na estrutura de produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico Em Um discurso sobre as ciecircncias uma de suas obras claacutessicas ele faz uma organizaccedilatildeo criacutetica que nos remete agraves bases da ciecircncia moderna ao mesmo tempo em que questiona os sinais que indicam uma transiccedilatildeo paradigmaacutetica na contemporaneidade e de forma especu-lativa pois se trata de futuro e embora perceba os sinais da crise paradig-maacutetica o futuro seraacute sempre produto da imaginaccedilatildeo e em seu caso a ima-ginaccedilatildeo socioloacutegica faz um prenuncio do novo paradigma que considerar estar a emergir

Em consonacircncia defende a necessidade de um paradigma emergente que transcorra as barreiras impostas pelo paradigma dominante e possibilite uma ampliaccedilatildeo de saberes nas diferentes ciecircncias mesmo sendo elas consideradas divergentes Traduz a necessidade do diaacutelogo entre os saberes cientiacuteficos e po-pulares que satildeo defendidos em suas teses estas alicerces para a construccedilatildeo de uma nova epistemologia

As novas orientaccedilotildees epistemoloacutegicas com base no pensamento de Boa-ventura de Sousa Santos natildeo pretende uma desqualificaccedilatildeo da ciecircncia perante outros modos de envolvimento com o mundo pelo contraacuterio considera neces-saacuterio definir a relevacircncia dos vaacuterios modos de conhecimento sem que a ciecircncia

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 309

tenha a prerrogativa de legislar sobre outras formas de conhecimento ou de experiecircncias em que os problemas e as interrogaccedilotildees natildeo satildeo redutiacuteveis aos que o conhecimento cientiacutefico considera relevantes

REFEREcircNCIAS

BACON Francis Novum Organum ou Verdadeiras indicaccedilotildees acerca da representa-ccedilatildeo da natureza Nova Atlacircntida Traduccedilatildeo e notas de Joseacute Aluysio Reis de Andrade 2 ed Satildeo Paulo Abril Cultural 1979

BECKER MA SANTOS A C dos A Crise de Paradigmas em Tomas Kuhn e Boaventura Santos In BECKER Evaldo SANTOS Antocircnio Carlos dos (Orgs) Entre o homem e a na-tureza Abordagens teacuteorio-metodologicas ndash Porto Alegre Redes Editoras 2012

JAPIASSU Hilton Ferreira Introduccedilatildeo ao pensamento epistemoloacutegico 4 ed Rio de Janeiro F Alves 1986

KUHN T S A Estrutura das Revoluccedilotildees Cientiacuteficas Traduccedilatildeo de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira 10 ed Satildeo Paulo Perspectiva 2009

SANTOS Boaventura de Sousa (Org) Conhecimento prudente para uma vida decen-te um discurso sobre as ciecircncias revisado ndash Satildeo Paulo Cortez 2004

SANTOS Boaventura de Sousa Acriacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiacutecio da experiecircncia 4 ed - Satildeo Paulo Cortez 2002

______ Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna ndash Rio de Janeiro Graal 1989

______ Em torno de um novo paradigma soacutecio-epistemoloacutegico [Entrevista concedi-da a] Manoel Tavares Rev Lusoacutefona de Educaccedilatildeo [online] Lisboa n10 p131-137 2007 Disponiacutevel em httpwwwscielomecptscielophpscript=sci_arttextamppi-d=S164572502007000200010amplng=ptampnrm=iso Acesso em 06 nov 2019

______ Para um novo senso comum a ciecircncia o direito e a poliacutetica na Transiccedilatildeo para-digmaacutetica ndash 7 Ed ndash Satildeo Paulo Cortez 2009

______ Um discurso sobre as ciecircncias ndash Satildeo Paulo Cortez 1987

______ Um discurso sobre as ciecircncias na transiccedilatildeo para uma ciecircncia poacutes-moder-na Estud av [online] vol2 n2 1988 Disponiacutevel em httpdxdoiorg101590S0103-40141988000200007 Acesso em 08 de nov de 2019

SANTOS Adailton Dias dos Metodologias participativas caminhos para o fortaleci-mento de espaccedilos puacuteblicos socioambientais Instituto Internacional de Educaccedilatildeo do Brasil ndash IEB Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2005

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VASCONCELOS Eduardo Mouratildeo Complexidade e pesquisa interdisciplinar episte-mologia e metodologia operativa Petroacutepolis RJ Vozes 2002

WAGNER Peter Sobre guerras e revoluccedilotildees In SANTOS Boaventura de Sousa (Org) Conhecimento prudente para uma vida decente um discurso sobre as ciecircncias revi-sado ndash Satildeo Paulo Cortez 2004

SOBRE O AUTORES

Ademilson de Jesus SilvaMestrando pelo PRODEMA - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente na UFS - Universidade Federal de Sergipe (2019) Poacutes-gradu-accedilatildeo em Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica e Planejamento Poacutes-graduaccedilatildeo em Meto-dologia de Ensino de Biologia e Quiacutemica (2019 ndash 2020) Graduado em Lic Quiacute-mica pela UniAGES - Centro Universitaacuterio AGES (2018) Graduado em Gestatildeo Ambiental pela Universidade Norte do Paranaacute (2012) Teacutecnico em agropecuaacuteria pelo Centro Estadual de Educaccedilatildeo Profissional do Campo Paulo Freire (2012)

Alessandra Barbosa SouzaMestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe Graduada em licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Ciecircn-cias Educacionais de Sergipe (2009) especialista em Didaacutetica e Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Satildeo Luis de Franccedila (2011) Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambiente ndash GPFIMA Tem experiecircncia na aacuterea de Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e En-sino Superior na modalidade de Educaccedilatildeo a Distacircncia com ecircnfase em Ensino--Aprendizagem Educaccedilatildeo Ambiental Fundamentos da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo de Profissionais da Educaccedilatildeo E-mail alessandrabsouzahotmailcom

Amanda da Silva SantosMestranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Graduada no Curso Supe-rior de Tecnologia em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia da Paraiacuteba ndash IFPB onde foi integrante do Nuacutecleo de Estudos em Agroecologia ndash NEA compondo a equipe teacutecnica do nuacutecleo que eacute signataacuterio da Rede Rizoma da PROEXT E-mail amandasstsgmailcom

Andreacute Viniacutecius Bezerra de Andrade SilvaBioacutelogo Licenciado pela UNEB e Mestrando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe UFS E-mail oandradeviniciusgmailcom

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Antocircnio Carlos dos SantosProfessor Titular na aacuterea de Eacutetica e Filosofia Poliacutetica do Departamento de Filo-sofia da UFS Foi Professor Convidado na Universiteacute de Paris I - Sorbonne (2017-2018) graccedilas ao Programa de Estaacutegio Secircnior no Exterior da CAPES Poacutes-doutor em Filosofia pela Universiteacute de Sherbrooke Canadaacute (2008-2009) e pela Univer-sidade de Satildeo Paulo (2011) Doutor em Filosofia pela Universite de Paris X Nan-terre (2003) em cotutela com a Universidade de Satildeo Paulo Mestre tambeacutem em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo (1997) Professor do Departamento de Filosofia da UFS desde 1992 Eacute membro do corpo permanente dos Programas de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e meio ambiente (Rede PRODEMA) e do Mestrado em Filosofia ambos da UFS Faz parte da Comissatildeo editorial da Re-vista Transformaccedilatildeo (UNESPMariacutelia) dos Cadernos de Eacutetica e Filosofia Poliacutetica (USP) da Revista em Filosofia Sapere aude (PUCMG) da Revista Griot e Revista Ambivalecircncias Eacute avaliador do Programa de Capacitaccedilatildeo do Banco do SINAESINEP Eacute pesquisador da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa de Sergipe (FAPITE-C-SE) Eacute membro da Socieacuteteacute Internationale Montesquieu Tem experiecircncia na aacuterea de Filosofia com ecircnfase em Eacutetica Filosofia Poliacutetica Eacutetica Ambiental e em temas como Corrupccedilatildeo Repuacuteblica Toleracircncia Direitos Humanos Ilustraccedilatildeo Seacuteculo XVIII e Interdisciplinaridade

Antocircnio de Oliveira NettoPossui graduaccedilatildeo em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL e Poacutes-graduaccedilatildeo (Mestrado e Doutorado) pela Escola de Engenharia de Satildeo Carlos - EESC da Universidade de Satildeo Paulo - USP Tem experiecircncia na aacuterea de Engenharia Ambiental com ecircnfase em tratamento de aacuteguas residuaacuterias atu-ando principalmente nos seguintes temas licenciamento ambiental projeto e execuccedilatildeo de estaccedilotildees de tratamento de aacutegua e esgoto tratamento combinado anaeroacutebio-aeroacutebio de esgoto sanitaacuterio reator de leito fixo operado de modo contiacutenuo e avaliaccedilatildeo de projetos de melhorias habitacionais e sanitaacuterias

Antonio Menezes Professor de Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem do Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Sergipe Doutor em Educaccedilatildeo (Universida-de Federal da Bahia) e Mestre em Aprendizagem e Intervenccedilatildeo Educativa (Universi-dade do Quebec - Canadaacute) Liacuteder e Membro do SEMINALIS - Grupo de Pesquisa em Tecnologias Intelectuais e Aprendizagens Contemporacircneas (CNPqUFS) Na pes-quisa em educaccedilatildeo dedica-se aos estudos da emoccedilatildeo memoacuteria e socializaccedilatildeo em

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 313

diferentes ciclos da vida humana Em Ciecircncias Ambientais dedica-se aos seguintes temas produccedilatildeo de conhecimento em ciecircncias ambientais (epistemologia forma-ccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo interdisciplinar) inovaccedilatildeo ambiental e memoacuteria ambiental em contextos humanos E-mail avmsouzayahoocombr

Camilo Rafael Pereira BrandatildeoBioacutelogo Licenciado pela UNEB e Mestrando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe UFS E-mail rafa-elbrandaohotmailcom

Cassandra Mendonccedila de OliveiraGraduanda em Ecologia Bacharelado pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Com aacuterea de interesse e desenvolvimento de pesquisa em recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por mineraccedilatildeo e conservaccedilatildeo

Daniela Teodoro SampaioPoacutes-doutoranda PNPD e Professora Colaboradora voluntaacuteria do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Univer-sidade Federal de Sergipe Affiliate faculty member at Department of Human Dimensions of Natural Resources Colorado State University (CSU) Possui Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) Mestrado em Teoria e Pesquisa do Compor-tamento pela Universidade Federal do Paraacute (UFPA) e Graduaccedilatildeo em Ciecircncias Bioloacutegicas pela Universidade Federal de Uberlacircndia (UFU) Atuaccedilatildeo em pesqui-sas em Governanccedila contra crimes de caccedila e traacutefico de animais silvestres Gover-nanccedila Ambiental Cidades Sustentaacuteveis e Unidades de Conservaccedilatildeo

Delmira Santos da Conceiccedilatildeo SilvaDoutoranda pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFS) Mestre pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em De-senvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFS) Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental com Ecircnfase em Espaccedilos Educadores Sustentaacuteveis pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) Possui graduaccedilatildeo em Geografia pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (FJAV) Integrante do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambiente (GPFIMA) na Universidade Federal de Sergipe (UFS) Bolsista pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) E-mail delmirasilva_ufshotmailcom

314 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Deniver Delma Souza OliveiraGraduando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS

Diogo dos Santos Gonccedilalves BahiaPossui graduaccedilatildeo em Engenharia de Agrimensura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2006) Mestre em Recursos Hiacutedricos pela Universidade Federal de Sergipe (2017) e doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente tambeacutem pela Universidade Federal de Sergipe Atuou como Engenheiro Agri-mensor em diversas empresas de engenharia (2006 a 2013) como professor substituto no coleacutegio teacutecnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2013 a 2014) e atualmente eacute professor efetivo do ensino baacutesico Teacutecnico Tecno-loacutegico do Instituto Federal de Sergipe (desde 2014) atuando como coordena-dor do curso Teacutecnico em Agrimensura E-mail dsgbahiayahoocombr

Eduardo de Souza SantosFormado em Licenciatura e Bacharel em Geografia pela Universidade Catoacutelica de Salvador (UCsal) com poacutes-graduaccedilatildeo (MBA) em Auditoria Periacutecia e Meio Ambiente pelo Instituto de Poacutes-Graduaccedilatildeo (IPOG) e mestrando pelo Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) sendo bolsistas da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) Profissional habilitado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) da Bahia e do Cearaacute tendo atuado em empre-sas da aacuterea ambiental Atualmente exerce o cargo de professor voluntaacuterio no Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo (CODAPUFS)

Elenaldo Fonseca de Oliva JuniorPossui graduaccedilatildeo em Licenciatura em Geografia pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (2011) Especializaccedilatildeo em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambien-te pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (2012) Atuando principalmente nos se-guintes temas Educaccedilatildeo Ambiental Impactos Ambientais Sociedade-nature-za Resiacuteduos Soacutelidos e Sustentabilidade Tem experiecircncia na aacuterea de Geografia com ecircnfase em Geografia E-mail juninho10segmailcom

Eliane de Souza BarbosaPossui graduaccedilatildeo em Letras - Liacutengua Portuguesa pela Universidade Federal de Sergipe (2015) Tem experiecircncia na aacuterea de Letras com ecircnfase em Letras possui

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 315

experiecircncia na aacuterea de Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica da rede municipal de LagartoSE Mestranda pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFS) Integrante do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Inter-disciplinaridade e Meio Ambiente (GPFIMA) na Universidade Federal de Sergi-pe (UFS) E-mail elianesbarbosahotmailcom

Eliane dos Santos da SilvaMestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe - PRODEMAUFS (2018) Especialista em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente pela FJAV (2012) Graduada em Licenciatura em Geografia (2010) Atualmente eacute Diretora Escolar da rede de ensino municipal de LagartoSE Tem experiecircncia no ensino de Geografia tendo lecionado do 5ordm ao 9ordm ano do Ensino Fundamental pela rede puacuteblica municipal de LagartoSE (2009-2012) e na rede particular no Grecircmio Escolar Pequeno Priacutencipe (2014-2016) Atua nas aacutereas de Hidrologia Recursos hiacutedricos aleacutem dos temas Ensino de Geogra-fia Educaccedilatildeo Ambiental Gestatildeo Ambiental e Sustentabilidade E-mail anne-geo85hotmailcom

Eliene Oliveira da Silva Graduada em Geografia Licenciatura pela Universidade Tiradentes Guarda Municipal de Aracaju Instrutora de cursos de capacitaccedilatildeo e Tutora de cursos online pelo Ministeacuterio da Justiccedila Poacutes-graduada em Didaacutetica e Metodologia do Ensino Superior e Gestatildeo Escolar pela Faculdade Satildeo Luis de Franccedila Especialis-ta em Seguranccedila Puacuteblica e Democracia pela Universidade Federal de Sergipe Tecnoacuteloga em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal de Sergipe (em curso) Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMAUFS Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambien-te (GPFIRMA)

Elis Gardecircnia dos SantosMestranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS MBA em Gestatildeo Ambiental e da Qualidade pela Universidade Tiradentes ndash Unit Especialista em Convivecircn-cia com o Semiaacuterido ndash Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilida-de ndash IABS Especialista em Educaccedilatildeo em Ensino Religioso ndash Faculdade Satildeo Luiacutes de Franccedila Graduaccedilatildeo Licenciatura em Pedagogia ndash Universidade Tiradentes E-mail ellisliriogmailcom

316 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Fabriacutecio Nicaacutecio FerreiraEnfermeiro da Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia do municiacutepio de Boquim Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMA-UFS especialista em Ges-tatildeo Estrateacutegica da Sauacutede da Famiacutelia pela Faculdade Venda Nova do Imigrante Graduado em Enfermagem pela Universidade Federal de Sergipe Campus Prof Antocircnio Garcia Filho pela metodologia PBL (Aprendizagem Baseada em Proble-mas) Atualmente eacute Enfermeiro chefe da Unidade Baacutesica de Sauacutede em Morro de Satildeo Paulo ndash CairuBA Tem experiecircncia nas aacutereas Ciecircncias da Sauacutede Sauacutede da Famiacutelia Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Determinantes e Condicionantes em Sauacutede Ciecircncias Ambientais Sauacutede Puacuteblica Farmacologia e Gestatildeo Puacuteblica de Sauacutede E-mail fabriciogtebolcombr

Franciley Santos LeiteMestranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Graduada em Direito pela Faculdade Pio X Atualmente trabalha como Servidora Puacuteblica da Universidade Federal de Sergipe lotada no Campus Satildeo Cristoacutevatildeo como Auxiliar de Enferma-gem E-mail francileysantoshotmailcom

Gicelia Mendes da SilvaPossui Graduaccedilatildeo (1990) Mestrado (1995) e Doutorado (2008) em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe Professora Adjunto IV do Curso de Licenciatura em Geografia na Universidade Federal de Sergipe Professora do Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMAUFS) e do Mestrado e Doutora-do em Geografia (PPGEO) Pesquisadora do GEOPLANUFS Docente Orientadora no Programa Residecircncia Pedagoacutegica no DGE Tem experiecircncia na aacuterea de Geografia com ecircnfase na anaacutelise das condiccedilotildees socioeconocircmicas das populaccedilotildees de aacutereas minera-doras atuando principalmente com os seguintes conceitos eou temas territoacuterio e territorialidade desenvolvimento territorial E no Ensino de Geografia com destaque para a Cartografia e Cartografia Escolar Coaching Educacional

Gleison Parente Pereira Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFS Especialista em Direito Penal e Processo Penal Bacharel em Seguranccedila Puacutebica e Direito Profes-sor do Curso de Direito na Faculdade de Administraccedilatildeo e Negoacutecios de Sergipe - FANESE Instrutor de Direito Penal e Penal Militar do CFAP da PMSE Atualmente exerce a Funccedilatildeo de Assessor Teacutecnico Juriacutedico da Corregedoria Geral da PMSE

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 317

Glessia SilvaPoacutes-Doutorado em Administraccedilatildeo de Empresas pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas na Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo - FGVEAESP (2019-Atu-al) Doutora em Administraccedilatildeo de Empresas pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas na Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo - FGVEAESP (2018) Mestra em Administraccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe - UFS (2013) Bacharela em Administraccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe - UFS (2011) Tem inte-resse de pesquisa em inovaccedilatildeo pequena empresa e desenvolvimento

Igor Azevedo SouzaGraduado em Ciecircncias Bioloacutegicas Bacharelado pela Universidade Tiradentes - UNIT e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Fede-ral de Sergipe - UFS Fotoacutegrafo da Natureza tem experiecircncia praacutetica em Biologia marinha no manejo das tartarugas marinhas e peixes e atendimento de grupos (sensibilizaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Ambiental no Projeto TAMAR) Possui conhecimento sobre fisiologia vegetal de plantas medicinais e de extraccedilatildeo de oacuteleos essenciais de plantas aromaacuteticas (EMBRAPA) Suas pesquisas vecircm sendo relacionadas a aacuterea das Ciecircncias ambientais em temas relacionados a Gestatildeo Ambiental Brasi-leira mais especificamente com a gestatildeo de Unidades de Conservaccedilatildeo

Ivana Ferreira LermenMestre pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambien-te ndash PRODEMAUFS Graduada em Comunicaccedilatildeo Social - Relaccedilotildees Puacuteblicas Es-pecialista em Responsabilidade Social Empresarial e SustentabilidadeEmail ivanalermengmailcom

Jailton de Jesus CostaDocente da Universidade Federal de Sergipe (CODAPUFS) Doutor Mestre Ba-charel e Licenciado em Geografia por esta mesma instituiccedilatildeo Docente perma-nente dos cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Liacuteder do Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Gestatildeo Sauacutede e Educaccedilatildeo Ambiental - GESEACNPq e membro do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Terri-torial - GEOPLANCNPq Atua principalmente nos seguintes temas Gestatildeo e Planejamento Ambiental Dinacircmica e Avaliaccedilatildeo Ambiental Educaccedilatildeo Ambien-tal Biogeografia e Climatologia

318 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Jhersyka da Rosa CleveMestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) possui graduaccedilatildeo em Geografia pela referida Instituiccedilatildeo Possui experiecircncia em Geografia com ecircnfase em Geografia Humana sobretudo nas aacutereas de Geogra-fia Poliacutetica e Geografia Agraacuteria Atua principalmente nos seguintes temas luta pela terra assentamentos de sem-terra fronteira territoacuterio conservaccedilatildeo am-biental e povos indiacutegenas Integrante do Grupo de Pesquisa Educaccedilatildeo Histoacuteria e Interculturalidade (GPEHIUFS) Atualmente cursa Doutorado no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento em Meio ambiente pela Universidade Fe-deral de Sergipe E-mail jhersykaclevehotmailcom

Jonielton Oliveira DantasDoutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA pela Univer-sidade Federal de Sergipe - UFS mestre em Desenvolvimento e Meio Ambien-te ndash PRODEMAUFS (2017) especialista em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Faculdade Joseacute August Vieira - FJAV (2012) licenciado em Geo-grafia pela FJAV (2010) Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdiscipli-naridade e Meio Ambiente - GPFIMA (CNPQ) Possui experiecircncia em docecircncia na Educaccedilatildeo Baacutesica e no Ensino Superior tendo atuado sobretudo na aacuterea de Educaccedilatildeo Ambiental Ciecircncias do Ambiente Metodologias do Ensino de Geo-grafia e Pesquisa em Educaccedilatildeo E-mail jonieltondantasgmailcom

Joseacute Heleno Alves da SilvaMestrando pelo Programa Acadecircmico de Poacutes-graduaccedilatildeo em Economia (NUPECUFS) bacharel em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPECAA) (2019) Atuou como bolsista extensionista do Programa Educaccedilatildeo do Campo Agroecologia e Agricultura Familiar Nuacutecleo de Integraccedilatildeo de Saberes (Eacute membro do Laboratoacuterio de Economia Aplicada e Desenvolvimento Regional (LEADERUFS) e do Nuacutecleo de Estudos em Agroecologia do Agreste e Sertatildeo Pernambucanos (NEASPEUFPE) Tem interesse em pesquisar sobre financia-mento agriacutecola agricultura familiar sustentabilidade e agroecologia Cursou o Ensino Meacutedio (2ordm Grau) de 2006 - 2008 E-mail helenoalves25hotmailcom

Keeze Montalvatildeo Fonseca da SilvaBacharela em Serviccedilo Social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) mes-tranda do programa de poacutes-graduaccedilatildeo desenvolvimento e meio ambiente (UFS) teacutecnica de enfermagem (Escola de Enfermagem Santa Baacuterbara) Auxiliar

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 319

de Sauacutede Bucal (Associaccedilatildeo Brasileira de Odontologia) 3ordm Sargento do Quadro de Sauacutede da Poliacutecia Militar do Estado de Sergipe

Kecircnia Dantas Alves Bacharel em Relaccedilotildees Puacuteblicas Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe E-mail keniasqgmailcom

Maria Joseacute Nascimento SoaresGraduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe (1991) Mestrado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe (1996) e Doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2006) Atualmente eacute professora associado da Universidade Federal de Sergipe Tem experiecircncia na aacuterea de formaccedilatildeo de profissionais na Educaccedilatildeo baacute-sica e no ensino Superior com ecircnfase em Didaacutetica Meacutetodos e Teacutecnicas de Ensi-no atuando principalmente nos seguintes temas educaccedilatildeo e sustentabilidade meio ambiente e interdisciplinaridade educaccedilatildeo ambiental praacutetica pedagoacutegi-ca educaccedilatildeo escolar e natildeo escolar formaccedilatildeo de profissionais na abordagem interdisciplinar no acircmbito das Ciecircncias Ambientais E-mail marjonasoufsbr

Mariacutelia Barbosa dos SantosDoutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash UFS mestre em Desen-volvimento e Meio Ambiente ndash UFS (2017) especialista em Educaccedilatildeo Ambien-tal com Ecircnfase em Espaccedilos Educadores Sustentaacuteveis ndash UFS (2016) especialista em Gestatildeo de Cidades e Planejamento Urbano ndash Instituto Proacute Saber (2014) li-cenciada em Geografia pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (2010) Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambiente - GPFIMA Possui experiecircncia em docecircncia na Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental En-sino Meacutedio e Ensino Superior na modalidade de Educaccedilatildeo a Distacircncia com ecircn-fase em Ciecircncias Ambientais e aacutereas afins E-mail maryliabsantoshotmailcom

Milton Marques FernandesProfessore adjunto na Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Orientador do PRODEMA - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambien-te na UFS - Universidade Federal de Sergipe Graduado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2002) Mestre em Ciecircncias Ambientais e Florestais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em

320 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas ciclagem de nutrientes e ecologia florestal (2005) Doutorado em Ciecircncia do solo pela UFRRJ com ecircnfase em economia ecoloacutegica pagamento por serviccedilos ambientais e manejo bacias hidrograacuteficas Poacutes-doutorado em geoprocessamento e manejo de bacias

Nadja Santos VitoacuteriaDoutora em Biologia de Fungos pela UFPE e Docente da Universidade do Esta-do da Bahia Departamento de Educaccedilatildeo Campus VIII Colegiado de Biologia Paulo Afonso BA E-mail nadjasvhotmailcom

Nicole Cavalcanti SilvaDoutoranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente (Prodema) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Mestre em Recur-sos Naturais pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Recursos Naturais (PPGRN) do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Graduada em Administraccedilatildeo de Empresas pela UFCG Atua principalmente nos seguintes temas estudos e pesquisas em admi-nistraccedilatildeo inovaccedilatildeo e tecnologia gestatildeo ambiental e urbana poliacuteticas e plane-jamento territorial turismo hotelaria cultura indicadores de sustentabilidade governanccedila e resiliecircncia socioecoloacutegica E-mail nickolecavalcantigmailcom

Nuacutebia Dias dos SantosPossui graduaccedilatildeo em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (1990) mestrado em Geografia Agraacuteria (1994) e Doutorado em Geografia (2012) pela mesma instituiccedilatildeo Atualmente eacute Professora Associada IV do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe Atua no PRODEMAUFS e PROF-CIAMBUFS E-mail nubiasantos85gmailcom

Pedro Alves da Silva FilhoProfessor adjunto do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Fe-deral de Roraima - UFRR Lider do Grupo de Pesquisa Infraestrutura Urbana e Ambiental Possui graduaccedilatildeo em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Roraima (2000) Especializaccedilatildeo em Engenharia de Sauacutede Puacuteblica pela FEAMIGMG (2001) graduaccedilatildeo em Engenharia Sanitaacuteria e Ambiental pela Universidade Catoacutelica Dom Bosco de Mato Grosso do Sul (2003) Mestrado em Engenharia Sanitaacuteria pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2007) Doutora-do em Engenharia Civil e Saneamento Ambiental pela Universidade Federal

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 321

do Cearaacute (2014) e Poacutes-Doutorado pelo Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMAUFS (2018) E-mail pedrofilhoufrrbr e pedroasfilhoyahoocombr

Raphaeumll LarregravereEacute engenheiro agronocircmico e socioacutelogo Foi diretor de Pesquisa do INRA ( Insti-tuto Nacional de Pesquisas Agronocircmicas da Franccedila) Dirige a coleccedilatildeo ldquoCiecircncia em questatildeordquo Tem vaacuterios artigos capiacutetulos de livros e livros publicados nota-damente ldquoDo bom uso da natureza para uma filosofia do meio ambienterdquo pela Perspectivas ecoloacutegicas

Robeacuterio Satyro Dos Santos JrGraduado em Engenharia de Produccedilatildeo pela Universidade Federal de Alagoas (2016) Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo em Gestatildeo Ambiental pelo Centro Uni-versitaacuterio Leonardo da Vinci (2018) Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe e Bolsista da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) com participaccedilatildeo no Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Gestatildeo Sauacutede e Educaccedilatildeo Ambiental (GESEA) Com experiecircncia na aacuterea de Gestatildeo Ambiental aplicado ao gerenciamento de resiacuteduos soacutelidos e economia solidaria

Robertha Georgya de Barros e SilvaPesquisadora de experiecircncias urbanas educativas infacircncias e espaccedilo puacuteblico mestra e doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente e graduada em Urbanismo Foi soacutecia-diretora da Dinacircmica Urbana Consultoria em planejamen-to urbano foi coordenadora de recuperaccedilatildeo e resposta da Coordenaccedilatildeo De De-fesa Civil do Estado da Bahia foi consultora teacutecnica em planejamento municipal de habitaccedilatildeo de interesse social mobilidade urbana sustentaacutevel e planejamen-to urbano participativo da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano de Sergipe Atualmente realiza estaacutegio doutoral na Universidade Teacutecnica de Berlim (2019 2020) Email roberthadebarrosgmailcom

Rosangela Pereira ArauacutejoLicenciatura em Educaccedilatildeo do Campo pela Universidade Federal de Roraima ndash Atualmente atua como professora do ensino baacutesico da escola municila do mu-niciacutepio de alo AlegreRR E-mail fsaphotmailcom

322 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Sergio Luiz LopesPoacutes-doutor pela na Universidade Federal de Sergipe (UFS-2017 ateacute marccedilo de 2018) Professor Adjunto I do Curso de Educaccedilatildeo do Campo da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) na base Formaccedilatildeo de Educadores Saberes e Competecircncias co-ordenada pelo prof Dr Bernard Charlot (PARIS VIII-UFS) dentre outros Mestre em Ciecircncias Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Professor das seguintes disciplinas na graduaccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo So-ciologia TCC-1 Metodologia do Ensino de Sociologia e Estaacutegio em Sociologia Professor do mestrado em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Interculturalidade (Mestrado em Educaccedilatildeo convecircnio entre a Universidade Estadual de Roraima (UERR) - Instituto Federal de Roraima - IFRR) E-mail sergioluizufrrbr e serlu-pezyahoocombr

Sheila MangolliProfessora adjunta do curso de Licenciatura em Eduacaccedilatildeo do Campo da Uni-versidade Federal de Roraima

Suelane de Oliveira Silva DantasEspecialista em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash Faculdade Joseacute Augusto Vieira - FJAV Especialista em Gestatildeo Escolar orientaccedilatildeo e supervisatildeo ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Satildeo Luiz Licenciada em Geografia ndash FJAV Atua na Educaccedilatildeo Baacutesica desde 2009 exercendo a docecircncia no Ensino Fundamental e Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica no Coleacutegio Nossa Senhora da Piedade ndash CNSP Lagar-toSE

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 323

Agradecimento aos oacutergatildeos financiadores do Edital CAPESFAPITECSE Nordm 112016 e aos pesquisadores envolvidos no Projeto ldquoPercursos Teoacutericos Metodoloacutegicos e Praacuteticos nas Ciecircncias Ambientaisrdquo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe

  • DE TECNOLOGIA
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  • PREFAacuteCIO
  • A EROSAtildeO DA BIODIVERSIDADE DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO
    • Raphaeumll Larregravere
      • A EacuteTICA AMBIENTAL E A CRIacuteTICA POLIacuteTICA AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE HANS JONAS
        • Prof Dr Antocircnio Carlos dos Santos (UFSCNPq)
          • EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E A QUESTAtildeO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS NA ESCOLA ESTADUAL DELCY BARRETO DE SOUZA DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE
            • Rosangela Pereira Arauacutejo
              • A IDENTIFICACcedilAtildeO DE DESENHOS ANIMADOS COM CONTEUacuteDOS SOCIOAMBIENTAIS POR CRIANCcedilAS DO CICLO BAacuteSICO
                • Marilia Barbosa dos Santos
                • Jonielton Oliveira Dantas
                  • APLICACcedilAtildeO DO CICLO PDCA NO GERENCIAMENTO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS DE UMA FAacuteBRICA TEcircXTIL
                    • Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr
                    • Jailton de Jesus Costa
                      • NUANCES SOCIO-ESPACIAIS DO POVOADO ALOQUE EM ARACAJU-SE
                        • Eduardo de Souza Santos
                        • Keeze Montalvatildeo Fonseca da Silva
                          • A MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE
                            • Ademilson de Jesus Silva
                            • Milton Marques Fernandes
                              • AGRICULTURA DE BASE AGROECOLOacuteGICA NOVAS PERSPECTIVAS PARA O (DES)ENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ESTADO DE SERGIPE
                                • Amanda da Silva Santos
                                • Nuacutebia Dias dos Santos
                                  • ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA NO BRASIL E O ACESSO AS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITOS
                                    • Delmira Santos da Conceiccedilatildeo Silva
                                    • Nuacutebia Dias dos Santos
                                      • INTERDISCIPLINARIDADE E AS ldquoNOVASrdquo RELACcedilOtildeES CAMPO ndash CIDADE TERRITORIALIDADES EM FOCO
                                        • Jhersyka da Rosa Cleve
                                        • Nuacutebia Dias dos Santos
                                          • OS (DES) CAMINHOS DO PROGRESSO Agrave LUZ DA EacuteTICA AMBIENTAL
                                            • Mariacutelia Barbosa dos Santos
                                            • Maria Joseacute Nascimento Soares
                                              • POSSIBILIDADES DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA ADMINSTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA MUNICIPAL DE ARACAJUSE
                                                • Robertha Georgya de Barros e Silva
                                                • Ivana Ferreira Lermen
                                                  • sobre o autores
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Page 2: Ciências Ambientais em Perspectiva

CONSELHO EDITORIAL Criaccedilatildeo Editora

Ana Maria de MenezesFaacutebio Alves dos SantosJorge Carvalho do NascimentoJoseacute Eduardo FrancoJoseacute Rodorval RamalhoJustino Alves LimaLuiz Eduardo Oliveira MenezesMartin Hadsell do NascimentoRita de Caacutecia Santos Souza

CONSELHO CIENTIacuteFICO

Dra Diana Alexandra Tovar Bonilla Direccioacuten de Descentralizacioacuten y Desarrollo Regional Departamento Nacional de Planeacioacuten de Colombia ndash DNP

Dra Divaniacutezia do Nascimento SouzaDepartamento de Fiacutesica Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Fiacutesica (PPGFI ) e do Pro-grama de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ensino de Ciecircncias e Matemaacutetica (PPGECIMA) da Universidade Federal de Sergipe

Dr Edson Vicente da Silva Departamento de Geografia do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universi-dade Federal do Cearaacute

Dr Mario Burgui Burgui Caacutetedra de Eacutetica Ambiental ldquoFundacioacuten Tatiana Peacuterez de Guzmaacuten el Buenordquo e do Departamento de Geografiacutea y Medio Ambiente da Universidad de Alcalaacute (Madrid Espantildea)

Dr Paulo Seacutergio MarotiCurso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do CampoLEDUCAR da UFRR do PPG em Ge-ografiaUFRR e do PPG Profissional Profaacutegua da Universidade Federal de Roraima (UFRR)

Dra Raquel Franco de SouzaDepartamento de Geologia e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimen-to e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Dra Veleida Anahiacute da SilvaDepartamento de Educaccedilatildeo Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (PPGED) e Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ensino de Ciecircncias e Matemaacutetica (PPGECIMA) da Universidade Federal de Sergipe

AracajuSE2020

Criaccedilatildeo Editora

Ciecircncias Ambientaisem Perspectiva

OrganizaccedilatildeoMaria Joseacute Nascimento Soares

Laura Jane Gomes

ColaboradoresJonielton Oliveira Dantas

Mariacutelia Barbosa dos SantosDelmira Santos da Conceiccedilatildeo Silva

Alessandra Barbosa Souza

zesIlustraccedilatildeo 103764185 copy Hilchtime | Dreamstimecom

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Ficha catalograacutefica elaborada pelo bibliotecaacuterio Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846

S676a Soares Maria Joseacute Nascimento (org) et al Ciecircncias Ambientais em perspectiva Organizadores Maria

Joseacute Nascimento Soares Laura Jane Gomes Jonielton Oliveira Dantas Mariacutelia Barbosa dos Santos Delmira Santos da Con-ceiccedilatildeo Silva e Alessandra Barbosa Souza Prefaacutecio Andreacute Luiz de Oliveira ndash 1 ed ndash Aracaju SE Criaccedilatildeo Editora 2020

322 p 21 cm ISBN 978-65-80067-74-9 1 Biodiversidade 2 Ciecircncias Ambientais 3 Meio Ambiente I Tiacutetulo II Assunto III Organizadores

CDD 577CDU 50406

IacuteNDICE PARA CATAacuteLOGO SISTEMAacuteTICO1 Meio Ambiente2 Cuidados e proteccedilatildeo ao Meio Ambiente REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICASOARES Maria Joseacute Nascimento (org) et al Ciecircncias Ambientais em perspectiva 1 ed Aracaju SE Criaccedilatildeo Editora 2020

Proibida a reproduccedilatildeo total ou parcial por qualquer meio ou processo com finalidade de comercializaccedilatildeo ou aproveitamento de lucros ou vantagens com observacircncia da Lei de regecircncia Poderaacute ser reproduzido texto entre aspas desde que haja expressa marcaccedilatildeo do nome do autor tiacutetulo da obra editora ediccedilatildeo e paginaccedilatildeoA violaccedilatildeo dos direitos de autor (Lei nordm 961998) eacute crime estabelecido pelo artigo 184 do Coacutedigo penal

O rigor e a exatidatildeo do conteuacutedo dos artigos publicados satildeo da responsabilidade exclu-siva dos seus autores Os autores satildeo responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo escrita para reproduccedilatildeo de materiais que tenham sido previamente publicados e que desejem que sejam reproduzidos neste livro

IN MEMORIUMDANIELA PINHEIRO BITENCURTI RUIZ-ESPARZA

A filha do Seo Darccedila (Darcy Bitencurti) e Dona Maria Luiza Pinheiro natildeo era faacutecil Sempre levada e de espiacuterito irrequieta sabia o que queria Nasceu em Junquei-roacutepolis interior paulista destinada ir para o mundo Desde menina sempre es-tava laacute no meio dos meninos jogando bola basquete sua paixatildeo desde crianccedila Para as irmatildes e sobrinhos era uma inspiraccedilatildeo todos apaixonadas pelo espiacuterito aventureiro e suas conquistas

Saiacute de casa ndash Dani saiu de casa para ir estudar Fiacutesica na Universidade Estadual de Londrina (95) pois jaacute sabia que queria o seu universo estava na matemaacutetica e fiacutesica espacial entatildeo seu proacuteximo destino iniciou (99) o mestrado inconcluso no INPE mas reiniciou para concluir o mestrado no Meacutexico (2006) na Universi-dad Michoacaacuten de San Nicolaacutes de Hidalgo a qual foi orientada pelo Prof Jean Franccedilois Mas Gaussi onde aprimorou seus conceitos e a praacutexis nas geotecnolo-gias de geoprocessamento e sensoriamento remoto e suas relaccedilotildees entre vege-taccedilatildeo e a ocupaccedilatildeo humana

Um peacute no Meacutexico - Ao voltar para o Brasil (2007) ela trouxe o bioacutelogo ndash orni-toacutelogo Mexicano Juan Esparza seu grande companheiro o qual fora tirado a laccedilo do sitio de Morelia Contava ela a todos com grande satisfaccedilatildeo e alegria que tem pelos Mexicanos durante as sessotildees de violatildeo e viola de Los Romacircnti-

6 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

cos de la Caatinga ldquoConheci a Dani e Juan nos corredores da Biologia da UFSrdquo quando passei a notiacutecia iamos abrir o programa de Poacutes em Ecologia em 2008 Mas tinham uma condiccedilatildeo pare eles entrarem o Juan entrar teria que casar Casaram-se em 2007 e a partir daiacute fizerem planos de se estabelecerem defini-tivamente em Sergipe e sair daqui jaacute era impensaacutevel para ela O seu grupo de amigos da UFS Petrobras IBGE Geologia soacute aumentava e essa era uma das coisas que Dani sabia fazer bem Amizade pois tudo mundo era bom para ela os ruins deixa para laacute dizia ela

Os desafios ndash Sabia de manter ativa devido a sua experiecircncia adquirida nas consultorias no IBGE Petrobras Governo do Estado o que natildeo impediu de noacutes converte-la em pesquisadora Em 2014 entrou doutorado do Prodema e sob a orientaccedilatildeo do Dr Stephen F Ferrari teve seu desafio problema fazer o diag-noacutestico sobre desmatamento na caatinga do baixo Rio Satildeo Francisco (Bahia ndash Sergipe) e seus efeitos sobre as populaccedilotildees de Callicebus ndash macaco Guigoacute Concluiu muito bem Outras duas passagens desse desafio fizeram Dani conso-lidar-se agora como professora e pesquisadora Como professora foi substituta no Departamento de Engenharia Ambiental e como pesquisadora foi Bolsista do Poacutes doutorado no Prodema com a supervisatildeo da Dra Rosemeri M e Souza Recentemente fora credenciada no Mestrado e Doutorado do Prodema e seu orgulho era ter orientado 3 alunos e vinha orientando 5 do mestrado e uma de doutorado

Tinha planos para o semiarido ndash Trabalhar morar e viver no semiarido era ateacute entatildeo uma coisa muito remota na cabeccedila da Dani pois Aracaju os amigos o Corinthians o basquete e as longas noites e cervejas no Rosa Else os churrascos no Adauuto as quartas no Minero e no entardecer ela fazia e dizia sempre Vo-cecircs satildeo o maacuteximo minha vida aqui se completa Na transiccedilatildeo de 2016 foi viver em Nossa Senhora da Gloacuteria agora como Professora do receacutem criado Campus Sertatildeo onde estava lotada no Nuacutecleo de Ciecircncias Agraacuterias e da Terra Tinha pla-nos projetos aprovados que envolvia pesquisas sobre as questotildees do desma-tamento da caatinga a sustentabilidade do sertanejo no semiarido os serviccedilos ecossistecircmicos e a conservaccedilatildeo planejamento e gestatildeo dos recursos hiacutedricos Seu conhecimento nos instrumentos em geotecnologias e em sensoriamen-to remoto estava no lugar certo o Campus do Sertatildeo e no Prodema Estava dando certo Consequentemente a procura dos alunos do mestrado e doutora-do lanccedilou-a em novos desafios O seu aprendizado adquirido dentre os vaacuterios

Simpoacutesios de Geotecnologias e Sensoriamento remoto cursos ministrados no Campus Sertatildeo Prodema deixo-a feacutertil na busca de soluccedilotildees para os problemas ambientais agora com autoridade

O casulo e a borboleta - Dani cresceu e comeccedilou a se transformar ao ver o mundo e seus problemas atraveacutes do poderio de suas ferramentas e como as so-luccedilotildees poderiam natildeo ser somente local Em 16 de abril 2018 na data de seu ani-versaacuterio ela nos informou que ia conhecer a Aacutefrica Angola Seu sonho Nos seus comentaacuterio ouviu nossos proacutes e contra mas apoiamos Ela dizia que natildeo conse-guia ver aquelas imagens das crianccedilas pobres da Aacutefrica vivendo em condiccedilotildees desagradaacuteveis e isso a incomodava doiacutea Que era inadmissiacutevel com as nossas tecnologias atuais poderia ajudar a resolver certos problemas de saneamento desmatamentos gestatildeo dos recursos naturais com uma governanccedila saudaacutevel Diante disso incentivamos e sugerimos que entrasse em contato com os nossos ex-alunos do Prodema em Angola e que buscasse espaccedilo nas Universidades locais e a recebesse para uma seacuterie de palestras sobre tais tecnologias Esteve na Universidade de Benguela e outros lugares Foi num espaccedilo de tempo con-traiu uma malaacuteria encefaacutelica e a nossa linda borboleta soltou diante dos nossos olhos e voou no dia 27 de junho 2018 Encerrou a sua missatildeo Missatildeo cumprida

Adauto de Souza Ribeiro (amigo)Consultas httplattescnpqbr6536448512154767

Juan Manuel Ruiz-Esparza

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 9

PREFAacuteCIO

Leitor amigo

Me sinto honrado sobremaneira em prefaciar o livro Ciecircn-cias Ambientais em Perspectiva Normalmente um prefaciador eacute quem apresenta ou ateacute introduz o livro diante de sua capacidade e competecircncia No entanto eu faccedilo-o na qualidade de aprendiz e amigo da homenageada Professora Doutora Daniela Pinheiro Bitencurti Ruiz Esparza Esta obra que eacute composta por dezesseis artigos eacute uma singela e honrosa homenagem de seus autores agrave Daniela Bitencurti por sua contribuiccedilatildeo ao Prodema e aos alunos o qual tive a honra de ser

O que me proponho a seguir eacute trazer um pouco da tra-jetoacuteria da amada Daniela oriunda de uma tiacutepica famiacute-lia brasileira interior paulista Junqueiroacutepolis Satildeo Paulo Daniela sempre foi dedicada e focada em seus estudos no espor-te e muito ligada ao meio ambiente Graduou-se em fiacutesica bem como realizou poacutes graduaccedilatildeo na aacuterea de ciecircncias ambientais com ecircnfase em georefenciamento Em decorrecircncia do seu amor pelo meio ambiente Daniela chegou ao Prodema

A Profa Dra Daniela gostava de ser chamada de forma simples sem rodeios apenas Dani Faacutecil de adjetiva-la agre-gadora amiga dedicada feliz sempre com um sorriso ami-go no rosto e uma palavra amiga em qualquer situaccedilatildeo Sempre muito cuidadosa com seus pares alunos e amigos foi re-ferecircncia e cresceu no programa tendo uma trajetoacuteria de sucesso ateacute sua efetivaccedilatildeo como docente do Campus de Gloacuteria

Em que pese seu enorme amor pelo Brasil Dani sonhava em conhecer o mundo principalmente o continente Africano Sonhava inclusive em dar continuidade aos estudos em Ango-la onde a mesma tinha fascinaccedilatildeo em conhecer e ajudar To-davia ao realizar um dos seus sonhos quis o destino abreviar sua estada neste plano causando seu desencarne prematuro Ficamos com a saudade apertando o peito e a certeza de sua grandeza como pessoa Seguimos com a maacutexima de que a vida continua plena de esperanccedila trabalho progresso e realizaccedilotildees ajustadas as leis de deus

Dani nunca vou esquecer o brilho do seu olhar o encanto do seu sorriso a maacutegica da sua vivacidade em relaccedilatildeo a tudo Para uma grande presenccedila uma grande saudade

Aracaju 17 de junho de 2020

Andreacute Luiz de Oliveira

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 11

APRESENTACcedilAtildeO

Durante o seacuteculo XX inuacutemeros eventos provocados pela accedilatildeo antroacutepica ndash em escala global ndash desafiaram ao mesmo tempo em que contribuiacuteram para o desenvolvimento cientiacutefico e tecno-loacutegico Nesse contexto o conhecimento cientiacutefico na linha das ciecircncias ambientais tem contribuiacutedo para o amadurecimento e a formaccedilatildeo de um sistema econocircmico que possa conciliar o de-senvolvimento em consonacircncia com equidade social e resiliecircncia ambiental

Chegamos ao seacuteculo XXI com desafios calcados nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentaacutevel proposto pela ONU em que os paiacuteses possam alcanccedilar a sustentabilidade ateacute 2030

No Brasil existem programas de poacutes-graduaccedilatildeo reconhecidos pela CAPES que contribuem para a preparaccedilatildeo de profissionais engajados com o paradigma da sustentabilidade Dentre eles destaca-se o Prodema que no decorrer dos uacuteltimos 30 anos vem atuando em vaacuterios estados brasileiros

Cabe destacar a contribuiccedilatildeo do PRODEMA atuante na Univer-sidade Federal de Sergipe desde 1995 Satildeo exatos 25 anos com docentes de vaacuterias aacutereas de conhecimento dedicados a pesquisas

12 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

focadas na aacuterea de ciecircncias ambientais e que contribuiacuteram so-bremaneira para o entendimento das relaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e ambientais regionais e locais Foram mais de 400 dissertaccedilotildees de mestrado defendidas desde entatildeo que aponta-ram proposiccedilotildees factiacuteveis para a aplicaccedilatildeo na esfera das poliacuteticas puacuteblicas em diversos segmentos sauacutede educaccedilatildeo meio ambien-te planejamento

Os organizadores do presente livro marcam dessa forma os 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE com uma coletacircnea de artigos assinados por docentes egressos mestrandos e convidados e que ilustram a identidade de um programa que contribuiu e con-tribuiraacute por muito tempo para a melhoria da qualidade de vida dos sergipanos

Satildeo artigos que perpassam assuntos relacionados ao antro-poceno eacutetica gestatildeo percepccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental com o registro da forma de ldquopensarrdquo PRODEMA a capacidade de aplicar o enfoque sistecircmico e consequentemente expressar um olhar integrado do meio ambiente e sociedade seja ele rural urbano ou natural

Desejo vida longa e proacutespera ao PRODEMAUFS e uma provei-tosa leitura a todos

24 de marccedilo de 2020

Laura Jane GomesCoordenadora Adjunta

PREFAacuteCIO 5Andreacute Luiz de Oliveira

APRESENTACcedilAtildeO 15Laura Jane Gomes

A EROSAtildeO DA BIODIVERSIDADE DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO

15

Raphaeumll Larregravere

A EacuteTICA AMBIENTAL E A CRIacuteTICA POLIacuteTICA AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE HANS JONAS

24

Antocircnio Carlos dos Santos

REFLEXOtildeES SOBRE EacuteTICA AMBIENTAL NA CONTEMPORANEIDADE 44Jonielton Oliveira Dantas Alessandra Barbosa SouzaMariacutelia Barbosa dos Santos Maria Joseacute Nascimento SoaresSuelane de Oliveira Silva Dantas

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E A QUESTAtildeO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS NA ESCOLA ESTADUAL DELCY BARRETO DE SOUZA DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

57

Rosangela Pereira Arauacutejo Seacutergio Luiz LopesSheila Mangolli Pedro Alves da Silva Filho

PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL ACERCA DA TRIacutePLICE EPIDEMIA (DENGUE-CHIKUNGUNYA-ZIKA) E SUA RELACcedilAtildeO COM OS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS DOS MORADORES NO POVOADO JUAacute MUNICIacutePIO DE PAULO AFONSO - BAHIA BRASIL

84

Andreacute Viniacutecius Bezerra de Andrade Silva Camilo Rafael Pereira Brandatildeo Kecircnia Dantas Alves Nadja Santos Vitoacuteria

A IDENTIFICACcedilAtildeO DE DESENHOS ANIMADOS COM CONTEUacuteDOS SOCIOAMBIENTAIS POR CRIANCcedilAS DO CICLO BAacuteSICO

96

Marilia Barbosa dos Santos Antocircnio Menezes Jonielton Oliveira Dantas

O PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA EM SERGIPE E A RELACcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL COM OS MORADORES DOS POVOADOS DO ENTORNO

116

Igor Azevedo Souza Giceacutelia Mendes da SilvaMaria Joseacute Nascimento Soares Daniela Teodoro Sampaio

SUMAacuteRIO

APLICACcedilAtildeO DO CICLO PDCA NO GERENCIAMENTO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS DE UMA FAacuteBRICA TEcircXTIL

140

Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr Antocircnio de Oliveira NettoGlessia Silva Jailton de Jesus Costa

NUANCES SOCIO-ESPACIAIS DO POVOADO ALOQUE EM ARACAJU-SE 159Eduardo de Souza Santos Eliene Oliveira da SilvaGleison Parente Pereira Keeze Montalvatildeo Fonseca da SilvaJailton de Jesus Costa

A MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE 175Ademilson de Jesus Silva Cassandra Mendonccedila de Oliveira Deniver Delma Souza Oliveira Milton Marques Fernandes

AGRICULTURA DE BASE AGROECOLOacuteGICA NOVAS PERSPECTIVAS PARA O (DES)ENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ESTADO DE SERGIPE

201

Amanda da Silva Santos Elis Gardecircnia dos SantosFranciley Santos Leite Nuacutebia Dias dos Santos

ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA NO BRASIL E O ACESSO AS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITOS 217Delmira Santos da Conceiccedilatildeo Silva Eliane de Souza Barbosa Joseacute Heleno Alves da Silva Nuacutebia Dias dos Santos

INTERDISCIPLINARIDADE E AS ldquoNOVASrdquo RELACcedilOtildeES CAMPO ndash CIDADE TERRITORIALIDADES EM FOCO

239

Jhersyka da Rosa Cleve Nicole Cavalcanti SilvaDiogo dos Santos Gonccedilalves Bahia Nuacutebia Dias dos Santos

DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE 263Clezyane Correia Arauacutejo Alceu Pedrotti Inaacutecio de Barros Sara Julliane Ribeiro Assunccedilatildeo Ana Paula Silva de Santana Francisco Sandro Rodrigues Holanda

POSSIBILIDADES DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA ADMINSTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA MUNICIPAL DE ARACAJUSE

274

Robertha Georgya de Barros e Silva Gicelia Mendes da SilvaIvana Ferreira Lermen

A CRISE DA CIEcircNCIA MODERNA E A CRIacuteTICA DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

294

Jonielton Oliveira Dantas Suelane de Oliveira Silva DantasFabriacutecio Nicacio Ferreira Eliane dos Santos da SilvaElenaldo Fonseca de Oliva Junior

SOBRE O AUTORES 310

A EROSAtildeO DA BIODIVERSIDADE DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO

Raphaeumll Larregravere1

INTRODUCcedilAtildeO

Em quecirc esta nova etapa da histoacuteria da Terra que nos acostumamos nomear Antropoceno difere da longa histoacuteria da antropizaccedilatildeo da natureza desde o ne-oliacutetico Desde haacute muito tempo natildeo haacute mais lugares do planeta onde laquo a matildeo do homem jamais tenha colocado os peacutes raquo Por toda parte sociedades humanas modificaram os meios naturais a fim de que sejam mais acolhedores Os diver-sos meios que nos cercam resultam assim de uma histoacuteria de longa duraccedilatildeo a do modo o qual sociedades muito diversas tiraram partido do campo dos possiacuteveis que a natureza lhes oferecia transformando-a toda e modificando o campo dos possiacuteveis (isto eacute modfiicando conjuntamente as restriccedilotildees impostas pelo contexto natural e as oportunidades que ele oferece) Mesmo quando os humanos cessaram por uma razatildeo ou outra de aiacute intervir os meios tecircm uma memoacuteria e os que parecem mais selvagens portam ainda a marca de suas uti-lizaccedilotildees passadas ndash assim como mostraram os trabalhos de histoacuteria ecoloacutegica da Amazocircnia2 Assim a antropizaccedilatildeo foi uma espeacutecie de co-evoluccedilatildeo ao longo do Holoceno sociedades humanas e outros viventes aleacutem dos humanos em di-ferentes tipos de contexto ecoloacutegico Esta antropizaccedilatildeo foi entatildeo traduzida por alteraccedilotildees irreversiacuteveis de ecossistemas locais e a desapariccedilatildeo de numerosas espeacutecies (a megafauna pleistocecircnica) A novidade que designa o termo Antro-

1 Texto traduzido por Marcelo de SantrsquoAnna Alves Primo bolsista PNPD-CAPESUFS docente cola-borador do Departamento de Filosofia e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Filosofia da Universi-dade Federal de Sergipe2 Ver notadamente William Baleacutee laquo Indigenous transformations of Amazonian forests an exemple from Maranaho Brazil raquo in Anne Christine Tayloramp Philippe Descola (eds) laquo La remonteacutee de lrsquoAma-zone raquo LrsquoHomme 33 (2-4) 1993 p235-258 Darell Posey laquo A preliminary report on diversified mana-gement of tropical rainforest by the Indians of the Brazilian Amazon raquo Advances in Economic Botany 1 1984 p112-126 Laura Rival laquo Amazonian historical ecologies raquo in Journal of the Royal Anthropo-logical Institute 12 (s1) 2006 S79-S94

16 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

poceno eacute que por suas atividades acumuladas a humanidade se tornou uma forccedila geofiacutesica (e talvez mesmo a forccedila geofiacutesica principal) a qual o impacto eacute global e far-se-aacute sentir durante seacuteculos A manifestaccedilatildeo emblemaacutetica do Antro-poceno eacute assim a mudanccedila climaacutetica mas nesse processo estatildeo associadas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a erosatildeo da diversidade das espeacutecies viventes

Tendo como projeto tratar da erosatildeo acelerada da biodiversidade eu vou em um primeiro momento evocar o acontecimento que inaugura a globali-zaccedilatildeo do impacto dos humanos sopre a reparticcedilatildeo das espeacutecies e a sua diver-sidade Em seguida seraacute questatildeo o modo pelo qual a modernidade ocidental acentuou uma erosatildeo da biodiverseteca3 a mudanccedila climaacutetica natildeo faraacute senatildeo amplificar Enfim evocarei o modo que certos interesses econocircmicos entendem orientar as inovaccedilotildees em mateacuteria de biotecnologia para se tornar a pressatildeo de seleccedilatildeo dominante na evoluccedilatildeo das espeacutecies

O HOMOGENOCENO

Haacute 250 milhotildees de anos as terras emergidas estavam reunidas em um uacutenico continente a Pangeia Apoacutes a deriva continentes tecircm progressivamente sepa-rado as Ameacutericas da Euraacutesia e da Aacutefrica Enquanto elas contecircm ainda espeacutecies comuns as floras e as faunas desses continentes seguiram evoluccedilotildees diferentes Em 1492 a laquo descoberta raquo da Ilha de Espagnola por Cristoacutevatildeo Colombo inagura o que Alfred Crosby chamou de laquo mudanccedila colombiana raquo4 Intensificando-se e generalizando-se a outros continentes esta vai segundo a expressatildeo de Char-les Mann laquo recolher as peccedilas da Pangeia raquo e fazer entrar a natureza e a humani-dade na era do Homogenoceno5 laquo A dinacircmica da mudanccedila prossegue Charles Mann terminou transformando o planeta em um sistema ecoloacutegico unificado desde o fim do seacuteculo XIXraquo6

A mudanccedila colombiana inaugurou uma reparticcedilatildeo radicalmente nova das culturas e criaccedilotildees7 o que contribuiu para melhorar e diversificar os recursos ali-mentares da humanidade Do mesmo modo as trocas mercantis entre o Novo

3 laquo Biodiversiteacuteque raquo no original (N do T)4 Alfred W Crosby 2003 The Columbian Exhange Biological and Cultural Consequences of 1492Westport CT Praeger 5 Charles C Mann 2013 1493 ndash Comment la deacutecouverte de lrsquoAmeacuterique a transformeacute le monde Paris Albin Michel pp 19-57 (introduccedilatildeo intitulada laquoLrsquoegravere de lrsquohomogeacutenocegraveneraquo) 6 Charles C Mann 2013 Idem (proacutelogo p14)7 ldquoEacutelevagerdquo no original (N do T)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 17

e o Antigo Mundo difundiram em todos os paiacuteses espeacutecies selvagens exoacuteticas que enriqueceram as suas flores e a sua fauna mas por vezes mostraram-se invasivas e prejudiciais seja aos meios naturais seja agraves culturas seja mesmo agrave saude humana

Os conquistadores certamente trouxeram com eles culturas europeias bo-vinos ovinos e porcos mas tambeacutem introduziram passageiros clandestinos ratos insetos ervas daninhas bacteacuterias e viacuterus desconhecidos no continente americano Um dos primeiros efeitos maiores da mudanccedila colombiana foi de disseminar entre as populaccedilotildees ameriacutendias germes patoacutegenos contra os quais eles natildeo estavam imunizados Os Ameriacutendios se mostraram particularmente vulneraacuteveis agrave zoonoses8 que os Europeus conheciam bem a tuberculose e a va-riacuteola Doenccedilas tatildeo banais entre noacutes como o sarampo ou a gripe foram tatildeo fatais agraves populaccedilotildees ameriacutendias que as contraiacuteram que as praacuteticas terapecircuticas que eles dominavam eram sem efeito sobre essas doenccedilas ineacuteditas

Quando os primeiros colonos ingleses desembarcaram na Ameacuterica do Norte no iniacutecio do seacuteculo XVII a populaccedilatildeo natildeo representava mais segundo William Denevan do que um deacutecimo senatildeo um vinte avos do que ela tinha sido antes de 14919 O mesmo colapso demograacutefico se reencontra na Ameacuterica do Sul As-sim a mudanccedila colombiana conduziu a uma verdadeira hecatombe ndash como se jamais conheceu na Euraacutesia mesmo durante a grande peste medieval na Euro-pa (1347-1351)

Portadores de viacuterus e de bacteacuterias dizimando as populaccedilotildees autoacutectones pioneiros largamente desarborizando arando caccedilando sem muita restriccedilatildeo transplantando cultivares e desenvolvendo a criaccedilatildeo de seus animais domeacutes-ticos os colonizadores ndash espanhois portugueses ou franceses ndash da mesma ma-neira que os wasps (natildeo as vespas mas os protestantes anglosaxotildees brancos) estavam na origem de cataacutestrofes ecoloacutegicas e humanas consideraacuteveis10

Seguiu-se o abandono das culturas ardentes e arroteamentos que pratica-vam os Ameriacutendios sobre vastos espaccedilos e o reflorestamento espontacircneo dos territoacuterios abandonados daiacute uma diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da atmosfera

8 Satildeo qualificadas de zoonoses doenccedilas virais ou bacterianas as quais os animais domeacutesticos satildeo os alojadores Criadores de bovinos ovelhas porcos e caprinos os Europeus eram mais resistentes a essas doenccedilas do que os ameriacutendios 9 William M Denevan laquoThe pristine myth the landscape of the Americas in 1492 raquo In Baird Callicot-tet Michael P Nelson(dir) The great new wilderness debate op cit p 414-44210 Jared Diamond 1997 Guns Germs and Steel The Fates of Human Societies New York WW Nor-ton

18 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

em CO2 de 7 agrave 10 ppm entre 1570 e 1620 de acordo com as anaacutelises da calota glaciaacuteria da Antaacutertica

Segundo certas hipoacuteteses a pequena era glaciaacuteria dos seacuteculos XVII e XVIII seria uma consequecircncia do colapso demograacutefico das populaccedilotildees ame-riacutendias11 Eacute entatildeo provaacutevel que a mudanccedila colombiana esteja na origem da primeira incidecircncia global dos humanos sobre o clima Entretanto se a causa foi pavorosa os efeitos dessa pequena era glaciaacuteria foram reversiacuteveis as clarei-ras dos colonos interviram antes mesmo que a revoluccedilatildeo industrial diminua na atmosfera o CO2 oriundo da utilizaccedilatildeo crescente das energias fosseacuteis Eacute porque a maior parte dos analistas vecircem na invenccedilatildeo da maacutequina agrave vapor agrave beira da revoluccedilatildeo industrial a origem do Antropoceno ndash o qual natildeo teria atingido um caraacuteter irreversiacutevel e encerrado um reaquecimento sensiacutevel senatildeo a partir da laquo grande aceleraccedilatildeo raquo apoacutes a segunda guerra mundial12 DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO

Os cientistas concordam em afirmar que haacute extinccedilatildeo de espeacutecies e que esta laquo sexta exitinccedilatildeo raquo excede por seu ritmo as que interviram no curso da evo-luccedilatildeo Por mais preocupantes e espetaculares que elas sejam as extinccedilotildees de espeacutecies natildeo satildeo senatildeo o sintoma de um fenocircmeno bem mais geral a erosatildeo da biodiversidade Antes de qualquer coisa sem que a proacutepria espeacutecie seja amea-ccedilada algumas de suas populaccedilotildees podem desaparecer de regiotildees inteiras Em seguida se esse processo eacute menos espetacular do que as extinccedilotildees haacute uma diminuiccedilatildeo dos efetivos de numerosas espeacutecies Logo da mesma maneira que a desapariccedilatildeo de uma de suas populaccedilotildees locais o decliacutenio dos efetivos glo-bais de uma espeacutecie tem por consequecircncia uma diminuiccedilatildeo de sua diversidade geneacutetica ndash o que tende a limitar as suas capacidades de adaptaccedilatildeo por seleccedilatildeo natural

11 Ver Robert A Dull 2010 laquo The Columbian Encounter and the Little Ice Age Abrupt Land Use Change Fire and Greenhouse forccediling raquo AAAG 100 p 755-771 Simon L Lewis Mark A Maslin 2015 laquo Defining the Anthropocene raquo Nature 519 (2) P 128-146 Simon L Lewis Mark A Maslin 2018 laquo Lrsquoan 1610 de notre egravere ndash Une date geacuteologiquement et historiquement coheacuterente pour le deacutebut de lrsquoAnthropocegravene raquo In Reacutemi Beau et Catherine Larregravere (eds) Penser lrsquoAnthropocegravene Paris Presses de SciencePo p77-9512 Will Steffen Jacques Grinevald Paul Crutzen e John Mc Neill 2011 laquo Anthropocene conceptual and historical perspectives raquo in Philosophical Transactions Royal Society Publishing

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 19

Desta erosatildeo as atividades humanas satildeo responsaacuteveis por um todo comple-xo de causas emaranhadas imposiccedilotildees abusivas desmatamento das florestas tropicais e equatoriais destruiccedilotildees sistemaacuteticas dos laquo nocivos raquo com um grande reforccedilo de pesticidas poluiccedilotildees de origem agriacutecola e industrial urbanizaccedilotildees e infraestruturas que fragmentam os habitats multiplicaccedilatildeo das introduccedilotildees de espeacutecies as quais algumas (uma minoria) se mostram invasivas Logo quando elas natildeo satildeo uma consequecircncia direta da mudanccedila colombiana mundializada (como satildeo as espeacutecies invasivas os arroteamentos e as plantaccedilotildees coloniais) todas essas causas surgem de um processo que Descola definiu como laquo uma parte da humanidade se [] apropriou da Terra e a devastou para assegurar o que ela definiu como o seu bem-estar em detrimento de uma multiplicidade de outros humanos e de natildeo-humanos que pagam a cada dia as consequecircncias desta rapacidaderaquo13

Entre essas causas eu queria insistir brevemente sobre duas dentre elas porque elas se acentuaram e se generalizaram na segunda metade do seacuteculo XX o desenvolvimento da agricultura produtivista e a mudanccedila climaacutetica

O desenvolvimento das formas de produccedilatildeo da laquo revoluccedilatildeo verde raquo como a da agricultura produtivista dos paiacuteses industrializados teve consequecircncias so-ciais e ambientais nefastas Os paiacuteses que puderam adotaacute-las inundam o resto do mundo com seus excedentes baratos Segue-se a ausecircncia de possibilidade de desenvolver mercados nacionais nos outros paiacuteses a destruiccedilatildeo de seu cam-pesinato a acumulaccedilatildeo de suas favelas14 e outras favelas pelos camponeses arruinados Mas essas formas de agricultura satildeo aleacutem disso muito poluentes tendo efeitos prejudiciais tanto sobre a sauacutede humans como sobre as capaci-dades produtivas dos solos (erosatildeo salinizaccedilatildeo perda de mateacuteria orgacircnica) e a diversidade bioloacutegica Enfim elas tecircm um mal rendimento energeacutetico e as suas exportaccedilotildees em direccedilatildeo dos paiacuteses deficitaacuterios (mas tambeacutem entre paiacuteses exportadores) supotildeem transportes pesados e volumosos Elas contribuem de modo importante agraves emissotildees de gaacutes com efeito estufae entatildeo agrave mudanccedila climaacutetica15

As espeacutecies tecircm (como elas tiveram nas flutuaccedilotildees climaacuteticas precedentes) dois modos de se adaptar agraves mudanccedilas climaacuteticas seja por seleccedilatildeo natural de

13 Philippe Descola 2018 laquo Humain trop humain raquo In Reacutemi Beau et Catherine Larregravere (eds) Penser lrsquoAnthropocegravene Paris Presses de Science p2014 ldquoBidonvillesrdquo no original (N do T)15 Para uma criacutetica mais detalhada da agricultura produtivista ver Catherine Larregravere e Raphaeumll Larregravere 2015 2018 Penser et agir avec la nature ndash Une enquecircte philosophique (p 265-284)

20 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

genoacutetipos concedendo uma maior toleracircncia agraves novas condiccedilotildees climaacuteticas (o interesse da diversidade geneacutetica das populaccedilotildees de uma espeacutecie eacute que se tem mais chances de aiacute encontrar dos genoacutetipos adaptados agraves novas condiccedilotildees cli-maacuteticas) seja migrando para ceacuteus mais clementes A cada vez houve extinccedilatildeo das que aiacute natildeo chegaram Logo o que distingue a mudanccedila climaacutetica em curso daquelas que a precederam durante as eacutepocas glaciaacuterias do Pleistoceno eacute o seu ritmo este se mede em dececircnios e natildeo em seacuteculos ou milecircnios Estamos em di-reito de perguntar se as populaccedilotildees das espeacutecies mais vulneraacuteveis teratildeo tempo de se adaptar por seleccedilatildeo natural ou por migraccedilatildeo

DAS CONSEQUEcircNCIAS INVOLUNTAacuteRIAS AOS EFEITOS PRETENDIDOS

Assim como a mudanccedila climaacutetica a erosatildeo da diversidade bioloacutegica resulta de consequecircncias natildeo-intencionais das atividades produtivas O desenvolvi-mento da agricultura produtivista teve objetivos econocircmicos natildeo foi conce-bido com o objetivo de empobrecer a riqueza em espeacutecies das regiotildees onde ela se impocircs Entretanto a utilizaccedilatildeo cada vez mais massiva de herbicidas e de pesticidas para tentar remediar as consequecircncias involuntaacuterias da agricultura produtivista (vulnerabilidade das monoculturas especializadas sobre grandes superfiacutecies) ou da multiplicaccedilatildeo das espeacutecies invasivas com o desenvolvimento das trocas mercantis eacute uma intervenccedilatildeo intencional Entatildeo natildeo se trata senatildeo de eliminar ao menos controlar as populaccedilotildees de laquo ervas daninhas raquo insetos devastadores ou vetores de doenccedilas virais bacterianas ou fuacutengicas

Desde 1962 Rachel Carson tinha alertado contra a utilizaccedilatildeo sistemaacutetica e massiva do DDT o qual os efeitos sobre os insetos que eram o alvo repercutem no decurso das cadeias troacuteficas16 Essas advertecircncias natildeo impediram as firmas de agronegoacutecio de desenvolverem constantemente novos produtos quiacutemicos que elas impuseram sobre o mercado O resultado eacute por exemplo um colapso das populaccedilotildees de insetos Haacute 30 ou 40 anos nossos paacutera-brisas eram conste-lados de impactos de insetos desde que se utilizasse o carro para leves deslo-camentos Podemos nos nossos dias fazer longos trajetos com um paacutera-brisa imaculado Logo esta rarefaccedilatildeo dos insetos teve como consequecircncia uma forte depressatildeo das populaccedilotildees de paacutessaros comuns Assim de 1989 agrave 2012 os efe-

16 Rachel Carson 1962 Silent Spring Houghton Mifflin Compagny ndash Trad Fr Printemps silencieux 2009 (Prefaacutecio de Al Gore) Marseille Editions Wildproject

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tivos de paacutessaros comuns de paacutessaros segundo os especialistas diminuiacuteram 31 na Franccedila

Todo produto quiacutemico desde quando eacute utilizado massivamente e sobre um vasto territoacuterio seleciona entre seus alvos estirpes17 resistentes Os produtores de pesticidas satildeo assim engajados em uma laquo corrida armamentista raquo com orga-nismos que desenvolvem resistecircncias Mas eles sabem que teratildeo de encontrar outras maneiras de lutar contra o que prejudica os rendimentos agriacutecolas A utilizaccedilatildeo massiva dos pesticidas eacute cada vez mais contestada ndash por suas conse-quecircncias sanitaacuterias (primeiro sobre os produtores depois sobre a vizinhanccedila e enfim sobre os consumidores) tanto como por seus efeitos sobre a erosatildeo da biodiversidade Aleacutem disso a promoccedilatildeo das novas moleacuteculas eacute dispendiosa ela supotildee numerosos anos de ajustamento de tentativas e avaliaccedilatildeo dos riscos Assim a guerra quiacutemica que permitiu a acumulaccedilatildeo de seu capital as firmas do agronegoacutecio sonham em substituir agrave prazo uma guerra bioloacutegica que elas natildeo hesitam em justificar com argumentos ecoloacutegicos de circunstacircncia

Daiacute o interesse que elas tecircm em uma inovaccedilatildeo recente a forccedilagem18 geneacute-tica ou gene drive19 Trata-se de um procediment de mutaccedilatildeo que se autoreplica em razatildeo de uma construccedilatildeo geneacutetica que assegura uma propagaccedilatildeo expo-nencial de alguns indiviacuteduos laquo produzidos em laboratoacuterio raquo que satildeo providos Assim basta introduzir um pequeno nuacutemero de espeacutecimes munidos de um gene deleteacuterio para que esta mutaccedilatildeo ganhe em algumas dezenas de geraccedilotildees todos os indiviacuteduos (ou quase) de uma dada populaccedilatildeo A mais mediatizada das muacuteltiplas aplicaccedilotildees desse gene drive (que marcha avanccedila sobre todas as espeacutecies as quais ele foi testado) eacute a que concerne aos anofelinos (vetores do paludismo) Tratar-se-ia de deixar gene drive munidos de uma mutaccedilatildeo que os torna resistentes ao Plasmodium ndash o que natildeo faria mas vetores do paludismo e permitiria erradicar esta doenccedila de regiotildees inteiras onde ela eacute endecircmica Ou-tros trabalhos sobre os mosquitos (vetores da dengue ou chicungunya) visam largar na natureza mutantes os quais as descendentes fecircmeas seriam todas es-teacutereis

Resultaria entatildeo em uma eliminaccedilatildeo desses insetos Assim eacute provaacutevel que o projeto de utilizar o meacutetodo para erradicar doenccedilas que fazem tantas viacutetimas pelo mundo como o paludismo (a dengue ou o chicungunya) natildeo seja senatildeo o cavalo

17 ldquoSouchesrdquo no original (N do T)18 ldquoForccedilagerdquo no original (N do T)19 Para uma raacutepida apresentaccedilatildeo Catherine Larregravere et Raphaeumll Larregravere 2017 Bulles technologiques Marseille Editions Wildproject

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de Troacuteia do desenvolvimento de seu emprego para erradicar os laquo nocivos raquo inse-tos devoradores vetores de doenccedilas das culturas espeacutecies invasivas etc

Por mais nociva que seja a luta quiacutemica eacute reversiacutevel basta abandonar os tratamentos Enfim ela natildeo o eacute completamente na medida em que certas mo-leacuteculas toacutexicas utilizadas (por exemplo o clordecona) permanecem longo tem-po nos solos nas aacuteguase as ceacutelulas da maior parte dos humanos e natildeo-hu-manos Mas desde que os tratamentos satildeo abandonados vecirc-se localmente aumentar as populaccedilotildees d einsetos e de paacutessaros Em contrapatida o meacutetodo do gene drive eacute praticamente irreversiacutevel Enfim se as destruiccedilotildees quiacutemicas es-tavam localizadas em certos meios a populaccedilatildeo mutante pode potencialmente se difundir por toda parte Enfim se se chegar a erradicar uma espeacutecie outras espeacutecies (eventualmente nocivas) viratildeo ocupar seu nicho ecoloacutegico A guerra bioloacutegica natildeo faraacute cessar a corrida armamentista Logo as consequecircncias de tais operaccedilotildees satildeo enormemente imprevisiacuteveis algumas dentre elas podendo ser particularmente nocivas Se os bioacutelogos adotaram com entusiasmo a cons-truccedilatildeo geneacutetica CRISPRCas9 que entra na composiccedilatildeo da forccedilagem geneacutetica eacute que ela eacute mais fiaacutevel do que as manipulaccedilotildees anteriores (a despeito de modi-ficaccedilotildees off target do genoma) mas tambeacutem mais raacutepida e sobretudo nemos cara Ela eacute manipulaacutevel por qualquer indiviacuteduo diplomado em biologia mole-cular Uma rede associativa DIY (Do it Yourself) jaacute colocou agrave venda on line um laquo Borderial gene Engineering CRISPR Kit raquo Ele custa somente 140 $ (mas supotildee que se disponha de um centrifugador) e alicia seus clientes pela palavra de or-dem laquo Biohack the Planet raquo Se natildeo importa qual biohacker pode mutar em sua garagem tanto bacteacuterias como insetos ou plantas como evitar que alguns natildeo aproveitem para almejar objetivos criminosos graccedilas a um meacutetodo suscetiacutevel de oferecer grandes oportunidades de prejudicar Eacute sem duacutevida a razatildeo pela qual em fevereiro de 2016 a NSA classificou CRISPR na categoria das laquo armas de destruiccedilatildeo em massa raquo

Mesmo nos casos ou natildeo se saberia suspeitar das intenccedilotildees crminosas as consequecircncias desta guerra bioloacutegica aos nocivos satildeo imprevisiacuteveis Conside-rando a complexidade dos processos ecoloacutegicos estaacute excluiacutedo apreender as consequecircncias de um procedimento que substitui as mutaccedilotildees naturais aleatoacute-rias por mutaccedilotildees forccediladas os mecanismos da seleccedilatildeo natural por uma acelera-ccedilatildeo da difusatildeo de genoacutetipos mutantes (aiacute compreendido se eles natildeo beneficiam nenhuma vantagem competitiva) O que eacute verdade de uma uacutenica introduccedilatildeo de mutante gene drive o eacute a fortiori se numerosas empresas se ponham a bri-colar sem a menor coordenaccedilatildeo mutantes largados na natureza para eliminar

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as espeacutecies que prejudicam seus lucros Certamente a natureza eacute uma valente faz-tudo20 que procede por tentativas e erros mas diferentemente dos huma-nos ela dispotildee de um longo tempo Logo o que torna a ambiccedilatildeo dos promoto-res da implementaccedilatildeo da forccedilagem geneacutetica mais do que problemaacutetica eacute que eles estatildeo engajados pelo intermeacutedio das patentes em uma corrida tecnoloacutegica e econocircmica maior e natildeo tem a sabedoria do tempo

CONCLUSAtildeO

Suponhamos que esta nova tecnologia revolucionaacuteria venha a se impor Spunohamos entatildeo que natildeo se tratasse de uma laquo bolha tecnoloacutegica raquo e que se esteja ao ponto de dispor de um meio eficaz irreversiacutevel e generalizaacutevel em escala planetaacuteria de erradicar as espeacutecies nocivas (ou de substitui-las por mu-tantes menos nocivos)

Mas a quem essas espeacutecies satildeo nocivas Quando se trata de vetores de doenccedilas virais ou do paludismo elas o satildeo potencialmente para toda a huma-nidade Os devoradores e as pestes vegetais que diminuem os rendimentos da agricultura produtivista ndash enquanto as formas de agro-ecologia podem aiacute se acomodar sem destrui-las21 - prejudicam principalmente os lucros do agrone-goacutecio Basta examinar a guerra quiacutemica que foi engajada desde o seacuteculo XX e as potencialidades que lhe oferece a forccedilagem geneacutetica para entender que natildeo eacute (ou ao menos mais) a humanidade em seu todo que eacute responsaacutevel pela erosatildeo acelerada da diversidade bioloacutegica mas as atividades intencionais de empre-sas sob o sistema capitalista o que vai ao encontro da argumentaccedilatildeo de Jason Moore22 Tratando-se da biodiversidade o Antropoceno eacute de fato um Capitalo-ceno Mas tambeacutem natildeo eacute o caso da mudanccedila climaacutetica E natildeo eacute por isso que os relatos do Antropoceno satildeo quase sempre catastroacuteficos Assim como assinalou Frederik Jameson laquo Em nossos dias parece mais faacutecil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismoraquo23

20 ldquoBricoleurrdquo no original (N do T)21 Michel Griffon 2009 Nourrir la planegravete Paris Odile Jacob Michel Griffon 2013 Qursquoest-ce que lrsquoagriculture eacutecologiquement intensive Versaille Quaelig22 Jason Moore (ed) 2016 Antrhopocene or Capitalocene Nature Hstory and the Crisis of Capitalism Oakland PM Press23 Frederik Jameson ldquoFuture Cityrdquo New-Left Review maio-junho 2003

A EacuteTICA AMBIENTAL E A CRIacuteTICA POLIacuteTICA AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE HANS JONAS1

Antocircnio Carlos dos Santos

INTRODUCcedilAtildeO

A filosofia no Brasil voltada muito mais para seu lastro metafiacutesico acabou dando pouca atenccedilatildeo aos problemas ambientais do mundo contemporacircneo e de modo particular agrave eacutetica ambiental2 Isso se deu talvez porque o tema do meio ambiente eacute trabalhado em vaacuterias aacutereas mais pelos seus resultados e natildeo por um princiacutepio ou problema que mereccedila a meditaccedilatildeo filosoacutefica Pensar esta questatildeo eacute uma urgecircncia para todas as aacutereas que a filosofia natildeo pode passar incoacutelume Haacute quatro razotildees que justificam este tema

Em primeiro lugar o tema deve ser analisado pela filosofia Eacute claro que ele pode ser abordado de forma transversal A questatildeo ambiental entraria na fi-losofia contemporacircnea via outras questotildees tais como o tema do ldquoprogressordquo ldquoteacutecnicardquo ldquofilosofia da histoacuteriardquo ldquotecnologiardquo ldquonaturezardquo dentre outros mas sem a expertise propriamente eacutetica O que precisamos fazer eacute discutir o tema da eacutetica ambiental por ela mesma para que ela possa de alguma forma incorporar valores eacuteticos que reverberem num melhor comportamento humano sobre a natureza Afinal foi um tipo de comportamento explorador da natureza que causou ndash e continua causando ndash uma ameaccedila real de nossa condiccedilatildeo na Terra Aleacutem do mais se eacute verdade que a filosofia consiste em pensar de maneira criacutetica e rigorosa para viver de maneira mais responsaacutevel inclusive diante da natureza ela natildeo pode se furtar a este desafio tatildeo caro quanto difiacutecil O seu papel de re-

1 O presente texto eacute parcialmente fruto material de projeto de pesquisa aprovado pelo edital MCTICNPQMECCAPES Nordm 222014 ndash Ciecircncias Humanas Agradeccedilo aos colegas que contribuiacuteram com a leitura criacutetica2 Destacariacuteamos dois polos de pesquisas que pensam a questatildeo ambiental do ponto de vista da filosofia e que tecircm adensado esta discussatildeo em terras brasileiras 1) um grupo de pesquisadores da UFSC que veiculam sua produccedilatildeo na Revista Eacutethic e 2) grupo de pesquisadores da USP liderado por Pablo Rubeacuten Mariconda que eacute o Editor da Revista Scientiae Studia (Revista Latino-Americana de Filosofia e Histoacuteria da Ciecircncia)

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definir o lugar do homem no mundo em meio a uma natureza degrada e finita eacute estrateacutegico para o futuro da humanidade

Em segundo lugar sendo da aacuterea de filosofia mas atuando nas ciecircncias am-bientais a bibliografia nessas aacutereas em se tratando da eacutetica ambiental oscila entre a educaccedilatildeo ambiental e um pensamento interdisciplinar que resvala em referecircncia budista por vezes em orientaccedilatildeo new age ou ateacute mesmo religiosa stricto sensu Natildeo eacute agrave toa que livros de Leonardo Boff sobre a questatildeo ambiental satildeo lidos e discutidos em espaccedilos acadecircmicos3 Diante da pouca bibliografia em eacutetica ambiental e excesso nesse campo religioso tem-se a impressatildeo de que a explicaccedilatildeo miacutestica do mundo se impotildee por falta de reflexotildees mais pro-fundas e passa a se constituir nesses redutos como se fosse verdade inabalaacutevel o que eacute mais grave Ora eacute preciso pensar o tema ambiental sob o vieacutes eacutetico enquanto afirmaccedilatildeo diante de outras aacutereas do conhecimento Estaacute em jogo a identidade propriamente filosoacutefica em sua accedilatildeo poliacutetica

Em terceiro lugar os estudiosos do meio ambiente atribuem agrave modernidade todos os males ambientais causados agrave humanidade no mundo contemporacirc-neo Nota-se uma ideologia anti-moderna como se o retorno ao tempo das cavernas fosse a soluccedilatildeo para os males ambientais do mundo atual Mesmo teoacute-ricos conhecidos por terem algum lastro filosoacutefico natildeo escapam a este tipo de equiacutevoco quando se refere aos modernos particularmente a Descartes Estes sob a pena daqueles comentadores satildeo considerados os mentores intelectuais da ciecircncia instrumental os verdadeiros inventores do domiacutenio da natureza e da sua exploraccedilatildeo maacutexima tendo conduzido por consequecircncia o planeta agrave beira de colapso Partindo do pressuposto que a ciecircncia soacute faz inventar instrumentos para aumentar o grau de destruiccedilatildeo Grun por exemplo relaciona a ciecircncia agrave maacutequina de terraplanagem (GRUN 2007 p 7) Segundo este autor a ciecircncia visa dominar a natureza por meio de um instrumento que remove a terra reti-ra aacutervores mexe com bichos e plantas afeta os micro-organismos e deixa um rastro de destruiccedilatildeo por onde passa Esta maacutequina tem a pretensatildeo de destruir quase tudo preparando o terreno para uma outra coisa supostamente nova Ela tem a capacidade de zerar o antigo e comeccedilar tudo de novo sob outra esfe-

3 Quando se trata de problemas ambientais estaacute claro que eles incluem questotildees cientiacuteficas tec-noloacutegicas econocircmicas mas tambeacutem eacuteticas esteacuteticas e ateacute mesmo religiosas Em sendo assim haacute espaccedilo para todo tipo de leitura Uma postura muito mais fundamentalista do que cientiacutefica eacute a de Leonardo Boff que produziu bastante a partir desta visatildeo Destacaria dois BOFF L Ecologia Mundializaccedilatildeo Espiritualidade Rio de Janeiro Record 2008 BOFF L Ecologia grito da terra grito dos pobres Rio de Janeiro Sextante 2004

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ra desta vez numa esfera civilizacional que se opotildee ao antigo ao baacuterbaro ao primitivo Esta metaacutefora eacute curiosa ela soacute vecirc um lado da ciecircncia o da destruiccedilatildeo Potente e destrutiva a ciecircncia natildeo teria o lastro criador apenas transformador Ora leituras como esta comprometem a compreensatildeo do tema aleacutem de propa-gar preconceitos epistemoloacutegicos sobre a proacutepria ciecircncia Cabe agrave filosofia com-bater este tipo de leitura e promover o debate puacuteblico em torno da questatildeo ambiental que eacute dotado de importantes questotildees eacuteticas

Finalmente o que confere relevo e urgecircncia agrave discussatildeo em tela eacute a ideia plenamente difundida de que estamos vivendo uma crise ambiental4 sem pre-cedentes e que mesmo os mais ceacuteticos5 acerca dela caso estejam corretos pen-sam que natildeo se pode evitar a necessidade de refletir sobre as dimensotildees eacuteticas das questotildees ambientais

Assim o objetivo deste texto eacute pensar a eacutetica ambiental e a criacutetica poliacutetica ao ldquoprinciacutepio responsabilidaderdquo de Jonas feita por Catherine e Raphaeumll Larregravere

1 A EacuteTICA AMBIENTAL

Embora natildeo se tenha um consenso sobre o nascimento da eacutetica ambiental haacute uma tendecircncia em admitir que enquanto disciplina surgiu nos anos 60 do seacuteculo passado nos Estados Unidos a partir de uma explosatildeo de campos de interrogaccedilatildeo da eacutetica aplicada ou entatildeo chamada de ldquoeacutetica praacuteticardquo Foi neste contexto que a eacutetica ambiental ganhou terreno de forma estruturada a partir de uma preocupaccedilatildeo aparentemente simples quando se abordava o tema da eacutetica o que se contava era o homem e o seu dever moral em obedecer as regras

4 A contemporaneidade parece ser marcada pela crise Assim diz Bornheim ldquoA novidade talvez es-teja toda nesse ponto o conceito de crise alcanccedilou hodiernamente uma abrangecircncia que o faz perpassar por praticamente todas as esferas do real Em princiacutepio nada mais consegue furtar-se agrave iminecircncia ameaccediladora da crise desde o mais inocente dos teoremas matemaacuteticos ateacute as alturas do esplendor divino desde as comoccedilotildees da adolescecircncia ateacute a instabilidade que tudo avassala ndash nada mais consegue sobrepor-se aos embates desconcertantes das crisesrdquo BORNHEIM G A crise da ideia de crise In NOVAES A (Org) A crise da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1996 p475 Algumas pessoas renegam a seriedade dos problemas ambientais porque acreditam numa ima-gem elaacutestica da natureza impermeaacutevel agraves agressotildees humanas inesgotaacutevel na sua potencialida-de regenerativa Esta visatildeo certamente inspirada na chamada ldquoHipoacutetese de Gaiardquo foi formulada pelo cientista britacircnico James Lovelock ainda nos anos 70 Para esse autor a Terra eacute um sistema de homeostaacutetico auto regulado que funciona atraveacutes de ciclos de retroalimentaccedilatildeo que a conduz agrave estabilidade Dizendo de oura maneira o meio ambiente como um superorganismo que tambeacutem reage e se adapta agraves accedilotildees realizadas pelos seres vivos Ver LOVELOCK J The Revenge of Gaia Whay the Earth is Fighting Back HarmondsworthAllen Lane 2006

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da sociedade Os animais e a natureza eram completamente ignorados Com o crescimento do consumo sobretudo apoacutes a segunda guerra o aumento da destruiccedilatildeo da natureza e o abatimento de animais sem levar em consideraccedilatildeo o seu bem-estar surgiram vaacuterios movimentos que questionam as praacuteticas que originaram aquelas situaccedilotildees degradantes mas que mal se fazia ouvir na ceara filosoacutefica

Naquele contexto a investigaccedilatildeo filosoacutefica concentrava-se na anaacutelise loacutegica de enunciados morais como sendo boas ou maacutes certas ou erradas Ora como um meacutedico minimamente religioso lidava com o problema moral na sua aacuterea de atuaccedilatildeo por exemplo Consultava Enciacuteclicas papais A eacutetica nesta perspec-tiva dizia respeito muito mais a uma questatildeo de sensibilidade do que objeto da razatildeo (PARIZEAU 2003) A partir dos anos 70 tem-se uma espeacutecie de exaustatildeo dessa explicaccedilatildeo sobre o mesmo problema moral e a filosofia voltar-se para as eacuteticas substanciais que definem a ideia de bem e mal num contexto de libera-ccedilatildeo sexual de luta pelos direitos humanos de desenvolvimento de estado de bem-estar social dentre outras questotildees candentes no periacuteodo Foi neste senti-do que os filoacutesofos foram convidados a opinar diante dessas situaccedilotildees precisas da vida quotidiana

Assim a eacutetica praacutetica consiste em anaacutelise de casos particulares cujos resul-tados passam por uma avaliaccedilatildeo Eacute verdade que a filosofia moral tambeacutem lida com a anaacutelise de casos particulares sendo boas ou maacutes mas tecircm perspectivas distintas Enquanto a filosofia moral vecirc o objeto no macrocosmo a eacutetica praacutetica o vecirc no microcosmo A eacutetica ambiental assim torna-se uma aacuterea do saber vin-culada agrave eacutetica praacutetica que lida com as relaccedilotildees socioeconocircmicas num estado de direito e com uma preocupaccedilatildeo de que o futuro da humanidade passa por um equiliacutebrio natural do planeta Como afirma Parizeau ldquoa reflexatildeo eacutetica busca justificar um conjunto mais ou menos estruturado de comportamentos de ati-tudes de valores em relaccedilatildeo aos animais aos seres vivos a aacutereas bioloacutegicas e agrave biosferardquo (PARIZEAU 2003 p 597) Isto significa dizer que a eacutetica ambiental visa a repensar o lugar do ser humano na natureza considerando a sua exploraccedilatildeo descontrolada a distribuiccedilatildeo desigual de suas riquezas a falta de criteacuterios pre-cisos sobre a nossa responsabilidade sobre as geraccedilotildees futuras Se eacute verdade que a ciecircncia trouxe grandes avanccedilos teacutecnicos e tecnoloacutegicos ela aportou tam-beacutem degradaccedilotildees do ecossistema e esgotamento de recursos naturais A eacutetica ambiental quer justamente discutir esses temas apontando para uma nova for-ma de pensar a relaccedilatildeo do homem com a natureza visando um mundo melhor mais humanamente sustentaacutevel

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Contudo eacute preciso deixar claro a eacutetica ambiental ainda natildeo tem um cor-pus estruturado capaz de fornecer a densidade necessaacuteria reconhecidamente aceita pela ciecircncia Sabemos no entanto que ela lida com valores ambientais relevantes e que seus problemas apresentam falhas (morais) de alguma ordem No fundo natildeo conseguimos chegar a um consenso miacutenimo de princiacutepios sobre a forma de lidarmos com os outros humanos e muito menos com os outros componentes da natureza questatildeo central da eacutetica ambiental Eacute aqui que as correntes da eacutetica ambiental mais se afastam

Ainda que seja extremamente difiacutecil expressar em pouco espaccedilo as caracte-riacutesticas essenciais das principais correntes da eacutetica ambiental aleacutem de correr o perigo de cair na generalidade valeria a pena destacar ao menos para efeitos didaacuteticos que o pomo da discoacuterdia estaacute em de uma parte uma visatildeo antro-pocecircntrica da natureza cuja base se remonta a Kant e de outra parte uma visatildeo natildeo antropocecircntrica tendo como expoente de destaque Aldo Leopold6 dentre outros7 A primeira tendecircncia atribui ao ser humano uma posiccedilatildeo proe-minente dentro da natureza e ao separar homem de um lado e a natureza do outro concedeu ao homem maior valor e tendo este domiacutenio absoluto sobre a natureza entendeu natildeo haver qualificaccedilatildeo moral sobre essa mesma relaccedilatildeo A segunda tendecircncia eacute formada por uma visatildeo de que o homem natildeo tem desta-que nenhum em relaccedilatildeo aos seres da natureza e que os seres biocecircntricos de valor inerente merecem consideraccedilatildeo moral

A tese inaugural da visatildeo antropocecircntrica mais proeminente na filosofia foi dada por Descartes com a separaccedilatildeo entre sujeito-objeto A partir desse fran-cecircs o conhecimento das coisas e do mundo passou por uma transformaccedilatildeo profunda de evidecircncia subjetivada o conhecimento passou pela transparecircncia de ideias claras e distintas e o dado mais importante o objeto (de conhecimen-to) natildeo eacute simplesmente ao que estaacute diante do crivo de nossos olhos mas eacute o fruto de uma construccedilatildeo metoacutedica elaborada pelo sujeito Ao conhecer segun-do Descartes o sujeito se torna mestre do objeto visto que o constroacutei a partir de um resultado da anaacutelise que o reduziu a elementos simples Eacute o objeto que se presta agrave construccedilatildeo ao que pode ser dominado pela razatildeo porque ela eacute hu-mana e entatildeo tem-se uma relaccedilatildeo de difiacutecil equaccedilatildeo

6 LEOPOLD A Almanach drsquoun comteacute des sables Paris Aubier 19957 Sobre este debate ver CALLICOTT JB The conceptual Foundations of the Land Ethic In Defense of the Land Ethic Essays in Environmental Philosophy Albany (NY) State University of New York Press 75-100 1989

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Nessa vinculaccedilatildeo tudo vai depender da forma pela qual o homem torna a natureza presente e faz dela objeto a ser conhecido Foi a partir desta perspecti-va que o pensamento cartesiano abriu as portas para uma interpretaccedilatildeo de que o homem instrumentaliza a natureza a seu bel prazer em cujo corolaacuterio se en-contra o elogio ao homo faber O homem manipula a natureza ao seu serviccedilo e produz cultura que por sua vez deixa rastro de destruiccedilatildeo por onde se instala natildeo obstante seu enorme potencial de criaccedilatildeo Eis a contradiccedilatildeo nos seus mais puros termos eacute a cultura que tem provocado tantas cataacutestrofes no mundo con-temporacircneo porque ela estaacute sustentada numa ideia arcaica de que a natureza continuaria a ser o grande repositoacuterio eternamente inesgotaacutevel

Mas haacute uma interpretaccedilatildeo equivocada do pensamento cartesiano e tal-vez o que mais marcou a difusatildeo equivocada de um Descartes anti-humano e anti-natureza nos textos das ciecircncias ambientais (e natildeo apenas nessas aacutereas) eacute a ideia presente na sexta parte do Discurso do Meacutetodo de que o homem pode tornar-se senhores e possuidores da natureza8 Ora nesta questatildeo a tradiccedilatildeo criacutetica esqueceu de observar dois pontos importantes Em primeiro lugar o enunciado cartesiano se refere agrave ldquosauacutederdquo entre o homem e a nature-za em linguagem da eacutepoca Isto significa dizer que haacute uma inteireza entre corpo e natureza que precisa ser levada em consideraccedilatildeo Em segundo lugar o sentido iacutentimo do pensamento cartesiano deve ser inserido no contexto epistemoloacutegico e metafiacutesico naquele periacuteodo Ser ldquopossuidorrdquo da natureza no periacuteodo natildeo significava ser detentor de alguma coisa como de posse ou proprietaacuterio mas ldquodetentor temporaacuterio do que ele deve transmitirrdquo Na ver-dade Descartes se inscreve na tradiccedilatildeo da leitura do livro do Gecircnesis segun-do o qual tendo Deus dado em comum agrave comunidade a terra e tudo o que nela conteacutem caberia aos homens fazer deles um bom uso Segundo Larregravere amp Larregravere ldquoesta concepccedilatildeo do primado do uso e das suas regras dominante na cristandade e herdeira de Aristoacuteteles considera o homem como o gerente ou o intendente e natildeo como o Senhor da Criaccedilatildeordquo (LARRERE amp LARRERE 1997 p 69) Evidentemente que o lugar que ele ocupa tem um destaque mas impli-ca tambeacutem obrigaccedilotildees responsabilidades cuidados Ao mesmo tempo que

8 Literalmente afirma Descartes ldquo[] a conhecimentos que sejam muito uacuteteis agrave vida e que em vez dessa Filosofia especulativa que se ensina nas escolas se pode encontrar uma praacutetica pela qual conhecendo a forccedila e as accedilotildees do fogo da aacutegua do ar dos astros dos ceacuteus e de todos os outros corpos que nos cercam [] Poderiacuteamos empregaacute-los da mesma maneira em todos os usos para os quais satildeo proacuteprios e assim nos tornar como que senhores e possuidores da naturezardquo (DESCARTES 1987 p 63)

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Descartes se insere num contexto de criacutetica ao saber contemplativo sugere que este mesmo conhecimento fosse empregado e utilizado de forma segura O seu foco eacute o empreendimento do conhecimento Ora ao que tudo indica essa leitura mais contextualizada sobre esta questatildeo em Descartes pratica-mente se perdeu tornando-se um teoacuterico estereotipado que teria aberto a racionalidade fria e instrumental sobre a natureza

Ora a eacutetica ambiental necessariamente passa pelo conceito de valor Da separaccedilatildeo entre sujeito e objeto agrave designaccedilatildeo de sujeito moral somente aos humanos como requerido em Kant foi um curto espaccedilo Os natildeo humanos (ani-mais plantas espeacutecies ecossistemas) por natildeo terem estatuto moral estariam fora desse escopo justamente porque apresentam valor meramente instrumen-tal Ora o ponto central da discoacuterdia estaacute na distinccedilatildeo entre o conceito de valor instrumental e o valor intriacutenseco

Grosso modo o valor instrumental eacute aquele segundo o qual o ser humano atribui aos seres naturais como natildeo tendo fins em si mesmos antes satildeo meios para concretizar os seus proacuteprios fins Jaacute o valor intriacutenseco pode ser entendi-do de diferentes perspectivas Destacariacuteamos quatro O primeiro sentido diz respeito a um valor que eacute considerado como maacuteximo numa espeacutecie de escala Em segundo lugar valor intriacutenseco diz respeito agravequilo que eacute necessaacuterio e su-ficiente para ser objeto de preocupaccedilatildeo moral O terceiro sentido conhecido tambeacutem por ldquovalor inerenterdquo significa dizer que algo depende inteiramente do que eacute natural da coisa em si mesma O quarto valor diz respeito agravequele que independe de quem avalia Segundo Jamieson esse sentido quer dizer que mesmo que ningueacutem faccedila uma avaliaccedilatildeo de determinado objeto ele tem seu valor que eacute intriacutenseco e que independe do avaliador Nesta perspec-tiva o que tem valor intriacutenseco eacute de alguma forma autossuficiente (JAMIE-SON 2010)

Para os adeptos da corrente eacutetica antropocecircntrica os criteacuterios que definem quem faz (ou natildeo) parte da comunidade moral satildeo simples apenas os huma-nos seres racionais de liberdade e de conhecimento de si Para os adeptos da corrente natildeo antropocecircntrica os criteacuterios satildeo os mais diversos tais como vul-nerabilidade em relaccedilatildeo ao dano agrave dor ao sofrimento e agrave morte Em uacuteltima instacircncia o criteacuterio eacute a vida como valor inerente a partir do qual os seres mo-rais podem e devem ser respeitados pelo agente moral Eacute importante deixar claro que nesta tentativa de sistematizaccedilatildeo dessas correntes o fato de seres morais serem considerados moralmente natildeo implica dizer que tenham direitos Ter direito precisaria ser responsaacutevel e ter obrigaccedilotildees para com as comunidades

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moralmente consideradas Por esta razatildeo para os natildeo antropocecircntricos o fato de estar vivo eacute condiccedilatildeo suficiente como criteacuterio eacutetico em defesa de tudo o que existe de vivente no universo (GUTIEacuteRREZ 2008)

Carvalho faz duras criacuteticas agrave leitura natildeo antropocecircntrica do valor intriacutenseco sob trecircs abordagens distintas em termos ontoloacutegicos postula que o valor eacute uma propriedade objetiva das coisas em termos eacuteticos crescem as restriccedilotildees dos hu-manos sobre os seres a quem se atribui valor intriacutenseco e finalmente em termos epistemoloacutegicos o criteacuterio para atribuir valor seraacute necessariamente dado por hu-mano Assim registra a autora ldquoEacute que mesmo o mais famoso dito de A Leopold think like a mountain (1968) eacute ainda uma projeccedilatildeo epistemoloacutegica Pensar como uma montanha eacute um convite para que nos situemos na escala temporal dos pro-cessos geoloacutegicos descentrando-nos do nosso tempo medido em anos meses dias horas minutos segundos nano-segundos Todavia eacute ainda pensar e pen-sar este pensar a que se refere Leopold eacute exclusivo dos seres humanosrdquo (CARVA-LHO 2015 p153) Ainda para essa autora o debate ambiental numa perspectiva eacutetica natildeo pode prescindir em absoluto do valor intriacutenseco posto que haacute coisas que valem por si mesmas (seja em termos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos espirituais ou religiosos) Neste contexto possuir valor intriacutenseco significa passar a ser defini-do em funccedilatildeo do que constitui o seu bem ou que em si eacute digno de estima mes-mo que esse valor soacute possa ser conferido pelo juiacutezo de uma consciecircncia discursiva humana Isto implica ver o mundo natural sem a separaccedilatildeo do mundo humano Em sendo assim a tocircnica da salvaccedilatildeo da biodiversidade seraacute uma utopia a menos se for coordenado ldquocom a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural da humanidade jaacute que a diversidade e a pluralidade satildeo fatores de enriquecimento e de fortaleci-mento contra potenciais predadores bioloacutegicos e colonizadores culturaisrdquo (CAR-VALHO 2015 p156) Em outras palavras a perda de biodiversidade natural natildeo pode estar separada da perda da diversidade biocultural

Assim a Eacutetica Ambiental eacute o saber que propotildee e se ocupa de princiacutepios eacuteticos que regem a relaccedilatildeo entre os humanos e o mundo natural Ela deve assumir-se como filosofia praacutetica orientada para uma formulaccedilatildeo de quadros de referecircncia a partir de problemas concretos que reflitam a exigecircncia eacutetica de que cada um eacute responsaacutevel individual e coletivamente pela sauacutede de todos os seres vivos na terra Ela deve ainda estar inserida num debate plural e contextual com os di-versos atores e perspectivas implicados Desta forma ela sairaacute dos claustros de uma simples discussatildeo acadecircmica e de especialistas das ciecircncias ambientais e poderaacute ajudar significativamente numa nova visatildeo em que homem e natureza fazem parte com toda a sua inteireza e desafios

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2 O ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE JONAS

Numa de suas uacuteltimas obras Teacutecnica medicina e eacutetica Jonas focou sua anaacute-lise no papel que a medicina desempenha em face da necessidade quotidiana de refabricar o humano a partir do momento que ela o descobriu natildeo como sujeito mas objeto de suas anaacutelises Desde o iniacutecio o autor conduz o leitor inquieto a se perguntar o que restaraacute de humano nesta sua desnaturaccedilatildeo Ateacute onde poderia chegar a manipulaccedilatildeo do humano como objeto predileto da teacutecnica Para onde isso vai nos levar Como isso comeccedilou O autor entatildeo apoacutes provocar o seu leitor confirma anos depois o que defendeu em sua obra maacutexima ldquoA iniciante eacutetica ambiental que se agita entre noacutes de manei-ra verdadeiramente sem precedentes eacute a expressatildeo ainda titubeante dessa expansatildeo sem precedentes de nossa responsabilidade que responde por sua vez agrave expansatildeo sem precedentes do alcance de nossos feitos Foi preciso que se tornasse visiacutevel a ameaccedila do todo os reais princiacutepios de sua destrui-ccedilatildeo para nos fazer descobrir (ou redescobrir) nossa solidariedade com elerdquo (JONAS 2013 p 56-57) Na verdade as respostas a estas questotildees jaacute tinham sido fornecidas na obra ldquoPrinciacutepio responsabilidaderdquo cuja discussatildeo central era diagnosticar o quadro da modernidade pintado pelo homem teacutecnico como homo faber cuja ciecircncia avanccedilou muito mais velozmente do que a capaci-dade de reflexatildeo do homo ethicus e trouxe como consequecircncia a hybris a manipulaccedilatildeo tecnoloacutegica que ameaccedila a vida humana no planeta Jonas quer por um lado denunciar a insuficiecircncia das eacuteticas tradicionais para lidar com os problemas ambientais hodiernos e por outro pensar uma eacutetica da conser-vaccedilatildeo da proteccedilatildeo do cuidado do mundo natildeo soacute diante da vulnerabilidade atual mas para as futuras geraccedilotildees

Neste sentido vamos nos concentrar em trecircs pontos distintos da sua obra maacutexima 1) A insuficiecircncia das eacuteticas tradicionais e a criacutetica agrave eacutetica Kantiana 2) O significado do ldquoprinciacutepio responsabilidaderdquo e 3) O corolaacuterio de seu princiacutepio a heuriacutestica do medo

Conforme vimos na primeira parte deste texto o mundo moderno se cons-tituiu com uma ideia de natureza abundante e inesgotaacutevel por um lado e uma crenccedila no poder tecnoloacutegico como elemento central da ciecircncia por outro Natildeo se tinha uma preocupaccedilatildeo eacutetica para com as questotildees ambientais de modo exclusivo porque ningueacutem vislumbrava perigo algum Foi preciso o homem ho-dierno chegar numa situaccedilatildeo de limite ameaccediladora de sua existecircncia para que surgisse essa aacuterea do saber tatildeo importante quanto necessaacuteria nos dias atuais

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Entatildeo qual a diferenccedila basilar entre a eacutetica de Jonas e a de Kant agrave qual ele faz referecircncia direta Qual a sua inovaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave anterior Dois argumentos satildeo notaacuteveis

Fundamentalmente o primeiro grande argumento da obra em questatildeo eacute a demonstraccedilatildeo de que as eacuteticas modernas se caracterizam por uma visatildeo antro-pocecircntrica do mundo O foco delas estava na relaccedilatildeo entre as pessoas sendo que as coisas ou os seres naturais satildeo mediados pelas pessoas ou seja pelo homem A obrigaccedilatildeo eacutetica se referia entatildeo a uma comunidade de agentes pre-sentes que excluiacutea a natureza e suas consequecircncias no futuro Jonas portanto quer romper com esta tradiccedilatildeo

O agir eacutetico nessa perspectiva dizia respeito agrave accedilatildeo virtuosa e saacutebia que o homem estabelece para si mesmo como valor absoluto cuja dignidade se funda na proacutepria autonomia do sujeito A fonte desta interpretaccedilatildeo eacute Kant que grosso modo defende a ideia segundo a qual as regras do que eacute certo ou errado natildeo devem ser pensadas a partir de resultados do agente moral mas de princiacutepios que devem reger as proacuteprias regras cujo cumprimento deve ser necessaacuterio Isto significa dizer que para o filoacutesofo alematildeo o agir moral passa pelo dever e em conformidade com o dever o que eacute fundamental para entendermos se uma accedilatildeo tem ou natildeo valor moral Assim movido pelo desejo de agir mas sobretu-do pelo dever e em respeito agrave lei que lhe ordena cumprir a lei sua accedilatildeo eacute cor-reta (ou natildeo) quando se questiona sobre a possibilidade de elevaacute-la agrave categoria de lei universal Se ela servir natildeo apenas para o indiviacuteduo mas para todos as regras deixam de ser meramente subjetivas e se transformam em lei universais passiacuteveis de serem aplicadas por todos Como afirma o filoacutesofo de Koenigsberg ldquodevo proceder sempre de maneira que eu possa querer que minha maacutexima se torne uma lei universalrdquo (KANT 2005 p 33) Isto significa dizer que o homem ra-cional sujeito de accedilatildeo moral pode auto legislar sua vontade porque se tornou autocircnomo sua accedilatildeo eacute fruto de reflexatildeo e de deliberaccedilatildeo Se aqui temos uma das questotildees centrais da eacutetica kantiana temos na visatildeo de Jonas sua fraqueza porque ela natildeo daacute conta da complexidade do mundo contemporacircneo Para Jo-nas a eacutetica kantiana eacute limitada porque natildeo vai aleacutem do humano Por isso afirma Jonas ldquojaacute que a eacutetica tem a ver com o agir a consequecircncia loacutegica disso eacute que a natureza modificada do agir humano tambeacutem impotildee uma modificaccedilatildeo na eacuteti-cardquo (JONAS 2006 p 29) Jonas propotildee-se entatildeo a romper com a eacutetica kantiana abrindo um debate que possa englobar os natildeo humanos

O segundo argumento que Jonas introduz para justificar e propor uma nova eacutetica eacute o surgimento da teacutecnica O poder tecnoloacutegico potencializou o agir hu-

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mano sobre a natureza e sobre o proacuteprio homem que implicou em efeitos noci-vos por vezes de caraacuteter irreversiacutevel na proacutepria estrutura do mundo A natureza originaacuteria passou a ser concebida como mero material passiacutevel de ser manipu-lado e controlado tornando-se uma espeacutecie de reservatoacuterio agrave disposiccedilatildeo da exploraccedilatildeo do homem Eacute neste sentido que a tecnociecircncia moderna termina por eliminar toda referecircncia a finalidades ou potencialidades intriacutensecas agrave na-tureza Ela deixa de ser meio e passa a ser um fim em si mesmo A teacutecnica se ca-racterizou por uma ambiguidade intriacutenseca por um lado haacute certa grandeza de poder melhorar a vida humana com uma rapidez assustadora mas por outro eacute preciso reconhecer que as consequecircncias fogem ao nosso controle por mais previsiacutevel e calculados pelo homem Aqui ao que tudo indica o tamanho do poder eacute proporcional ao tamanho do risco sempre provaacutevel mas jamais con-trolado Por esta razatildeo Jonas eacute taxativo ldquoMesmo desconsiderando suas obras objetivas a tecnologia assume um significado eacutetico por causa do lugar central que ela agora ocupa subjetivamente nos fins da vida humanardquo (JONAS 2006 p 43) Ora se a eacutetica tinha a ver com o aqui e agora nas relaccedilotildees humanas e se ela natildeo daacute conta mais eacute preciso pensar uma nova eacutetica que leve em consideraccedilatildeo esses novos fatores que desafiam o homem contemporacircneo Jonas eacute incisivo se a eacutetica heleno-judaico-cristatilde se pautou ateacute aqui no antropocentrismo foi por falta de ocasiatildeo ou por natildeo terem sido consideradas outras razotildees que no limite caracterizam-se como puro preconceito nosso que deve ser reexamina-do e rompido (JONAS 2006 p 97)

Esses dois argumentos se entrelaccedilam se a eacutetica kantiana estava voltada para o indiviacuteduo e portanto tendo conotaccedilatildeo privada por um lado e ela se tornou insuficiente para problemas complexos atuais trazidos pelo poder tecnoloacutegico da ciecircncia por outro eacute necessaacuterio pensar numa eacutetica que considere os viventes como um todo que tenha compromisso puacuteblico e que ele estenda essa mesma preocupaccedilatildeo para geraccedilotildees futuras Em poucas palavras defende Jonas ldquoO fu-turo da humanidade eacute o primeiro dever do comportamento coletivo humano na idade da civilizaccedilatildeo teacutecnica que se tornou lsquotodo-poderosarsquo no que tange ao seu potencial de destruiccedilatildeo Esse futuro da humanidade inclui obviamente o futuro da natureza como sua condiccedilatildeo sine qua non Mas mesmo independen-te desse fato este uacuteltimo constitui uma responsabilidade metafiacutesica na medida em que o homem se tornou perigoso natildeo soacute para si mas para toda a biosferardquo (JONAS 2006 p 229)

Neste sentido com Jonas a filosofia passou a considerar a biosfera depen-dente do agir humano natildeo porque dependa dos fins humanos ou faccedila dela

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um meio mas porque temos uma responsabilidade eacutetica ampliada para outras geraccedilotildees a fim de que ela tambeacutem possa usufruir do que a nossa geraccedilatildeo vi-vencia Temos assim dois argumentos que comprovam que a eacutetica proposta por Jonas avanccedila em relaccedilatildeo agrave eacutetica kantiana Ela considera os seres naturais tendo fim em si mesmo e portanto deixa de ser antropocecircntrica por um lado e apresenta um dever moral que natildeo eacute soacute individual eacute sobretudo puacuteblico que compromete futuras geraccedilotildees por outro Esses dois lados da mesma questatildeo tornam o pensamento de Jonas um dos mais consistentes do ponto de vista da eacutetica ambiental no mundo contemporacircneo porque rompeu ao menos apa-rentemente a barreira da eacutetica antropocecircntrica e projetou nosso compromisso para com o futuro Isso natildeo significa dizer que ele seja passiacutevel de criacutetica como veremos agrave frente Jonas assim sistematiza seu princiacutepio eacutetico ldquo lsquoAja de modo a que os efeitos da tua accedilatildeo sejam compatiacuteveis com a permanecircncia de uma au-tentica vida humana sobre a Terrarsquo ou expresso negativamente lsquoAja de modo a que os efeitos da tua accedilatildeo natildeo sejam destrutivos para a possibilidade futura de uma tal vidarsquo rdquo (JONAS 2006 p 47-48)

Jonas ao defender uma eacutetica para seres ainda ldquonatildeo-existentesrdquo como afirma ele rompe com a eacutetica tradicional tambeacutem no que tange agrave concepccedilatildeo temporal a eacutetica da proximidade e do presente daacute lugar a uma eacutetica da intenccedilatildeo do agir coletivo ampliada pelo mesmo poder tecnoloacutegico que Jonas critica Ou seja uma accedilatildeo eacutetica que se estende no horizonte no tempo e no espaccedilo Isso natildeo significa dizer que ele abandone as eacuteticas tradicionais mas acrescenta novas preocupaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves precedentes em funccedilatildeo dos desafios eacuteticos Enfim a exigecircncia eacutetica defendida por Jonas nos impotildee um imperativo igualmente eacutetico de sermos responsaacuteveis em relaccedilatildeo aos demais seres vivos e ao futuro

Para Jonas uma eacutetica para o futuro se faz necessaacuterio e Giacoacuteia a sintetiza em trecircs razotildees baacutesicas em funccedilatildeo do desenvolvimento da civilizaccedilatildeo tecnoloacute-gica 1) a ciecircncia permitiu um prolongamento da vida humana 2) haacute um maior controle de comportamento humano 3) manipulaccedilatildeo geneacutetica da vida huma-na (GIACOIA JUacuteNIOR 2000 p 193-206)

No que diz respeito ao primeiro ponto o desenvolvimento da medicina per-mitiu interferir de forma tatildeo profunda nos processos quiacutemicos e nas chamadas ldquociecircncia do envelhecimentordquo que a representaccedilatildeo da morte e o sentido da fini-tude tecircm se alterado significativamente Os avanccedilos cientiacuteficos da biomedicina celular tecircm demonstrado cada vez mais que as incertezas da morte podem ser postergadas cada vez mais levando agrave ideia de uma suposta imortalidade ainda que virtual Isso implica em mudanccedilas profundas no sentido mesmo da vida e

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da morte no cuidado com a transmissatildeo de conhecimento entre as geraccedilotildees no entendimento do que eacute viver e morrer

No que tange ao segundo aspecto Jonas deixa claro que os agentes quiacute-micos podem induzir o controle de processos psiacutequicos como a alteraccedilatildeo do ritmo de aprendizado dentre outros Isto significa dizer que por meio desses medicamentos a medicina pode controlar certos comportamentos indesejaacute-veis alterando significativamente a vida humana autecircntica do mundo O que mais chama a atenccedilatildeo de Jonas eacute o fato de que haacute riscos dessas descobertas da biomedicina serem utilizadas para fins sociopoliacuteticos de controle e manipula-ccedilatildeo de comportamentos tidos supostamente como ldquoanormaisrdquo Ou seja o preccedilo que o desenvolvimento tecnocientiacutefico paga eacute no limite a perda da autonomia individual o que natildeo eacute pouca coisa

No que se refere ao terceiro aspecto vemos os progressos das ciecircncias biomeacutedicas psicoloacutegicas e de engenharia geneacutetica atuarem juntas ou sepa-radamente nos processos de genes abrindo espaccedilo para conhecimento dos coacutedigos geneacuteticos por meio de teacutecnica de laboratoacuterio conduzindo o homem agrave produccedilatildeo de vida humana artificialmente Neste sentido o poder do homo faber natildeo teria limite porque a ciecircncia possibilita o controle da vida e da morte nas matildeos humanas e na era da civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica o saber teacutecnico deixa de ser meio para ser fim em si mesmo

Ora para onde esses trecircs aspectos podem nos conduzir Quais as conse-quecircncias dessa superdimensionamento da civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica Jonas eacute in-cisivo este cenaacuterio do desenvolvimento tecnoloacutegico vai nos conduzir a uma cataacutestrofe universal Eacute verdade que isso natildeo aconteceu mas para Jonas eacute pre-ciso visualizar os efeitos a longo prazo ldquoSim laacute onde aquela palavra natildeo nos eacute fornecida gratuitamente ou seja pelo medo presente torna-se um dever bus-caacute-la porque tambeacutem ali natildeo podemos dispensar a orientaccedilatildeo do medo Esse eacute o caso da lsquoeacutetica do futurorsquo que estamos buscando o que deve ser temido ainda natildeo foi experimentado e talvez natildeo possua analogias na experiecircncia do passa-do e do presente Portanto o malum imaginado deve aqui assumir o papel do malum experimentadordquo (JONAS 2006 p 72)

A perspectiva de cenaacuterio catastrofista apresentado por Jonas eacute fruto de uma equaccedilatildeo aparentemente simples o sucesso econocircmico leva ao aumento da produccedilatildeo de bens que conduz a uma elevaccedilatildeo no consumo que gera uma exploraccedilatildeo dos recursos naturais finitos que por sua vez reflete no aumento da populaccedilatildeo que acaba vivendo mais e melhor em funccedilatildeo das melhorias nas teacutecnicas da medicina celular e assim sucessivamente Jonas natildeo desconsidera

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os fatores positivos do desenvolvimento tecnoloacutegico mas eacute evidente que tem um pendor em realccedilar seus aspectos mais negativos e destrutivos de forma es-trateacutegica Por isso afirma ele ldquoesta incerteza que ameaccedila tornar inoperante a perspectiva eacutetica de uma responsabilidade em relaccedilatildeo ao futuro a qual evi-dentemente natildeo se limita agrave profecia do mal tem de ser ela proacutepria incluiacuteda na teoria da eacutetica e servir de motivo para um novo princiacutepio que por seu turno possa funcionar como uma prescriccedilatildeo praacutetica Essa prescriccedilatildeo afirmativa grosso modo que eacute necessaacuterio dar mais ouvidos agrave profecia da desgraccedila do que agrave profecia da salvaccedilatildeordquo (JONAS 2006 p 77 Grifo do autor)

A heuriacutestica do medo se torna assim a primeira obrigaccedilatildeo da eacutetica da res-ponsabilidade Trata-se de um medo que natildeo paralisa mas evitando o pior so-bre o destino da humanidade proporciona a reflexatildeo que conduz agrave accedilatildeo Longe de ser uma patologia ou covardia o temor eacute o respeito e cuidado que devemos ter com tudo o que existe no universo Por isso afirma Jonas ldquoo reconhecimen-to do malum eacute infinitamente mais faacutecil do que o do bonum eacute mais imediato mais urgente bem menos exposto a diferenccedilas de opiniatildeordquo (JONAS 2006 p 71) A estrateacutegia do autor eacute entatildeo chamar a atenccedilatildeo do pior para que dele surja algo de bom uma accedilatildeo eacutetica responsaacutevel por tudo que haacute no mundo Ao que parece haacute neste ponto um misto de temor e esperanccedila que flerta com a visatildeo religiosa do mundo temor diante de um futuro incerto e esperanccedila de que uma nova accedilatildeo eacutetica possa superar a cataacutestrofe anunciada por um sentimento de coletivo de responsabilidade

Em poucas palavras resume o autor seu primo movens da eacutetica ldquoA primeira regra eacute a de que aos descendentes futuros da espeacutecie humana natildeo seja permi-tido nenhum modo de ser que contrarie a razatildeo que faz com que a existecircncia de uma humanidade como tal seja exigida Portanto o imperativo de que deve existir uma humanidade eacute o primeiro enquanto estivermos tratando exclusi-vamente do homem (JONAS 2006 p 93-94) Aqui vemos preocupaccedilotildees com o homem e natildeo com o natildeo humano embora eacute preciso reconhecer o valor do humano para garantir sua continuidade na Terra De qualquer modo se este ar-gumento for verdadeiro temos duas conclusotildees complexas a primeira vemos que Jonas natildeo se liberta da visatildeo antropocecircntrica da eacutetica ambiental e parece fazer muito mais um ldquoajusterdquo com a eacutetica posta do que uma eventual ruptura com as eacuteticas tradicionais a segunda vemos um Jonas religioso que a despeito de todo o aparato racional e argumentativo de sua obra natildeo consegue libertar--se e quer que seu leitor se ldquosalverdquo enredado nas teias do medo

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3 A CRIacuteTICA POLIacuteTICA DE LARREgraveRE E LARREgraveRE AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADE DE JONAS

Podemos ler o Princiacutepio Responsabilidade de Jonas sob diversas perspecti-vas Uma delas tem enorme pendor a confianccedila depositada na teacutecnica desde o nascedouro do mundo moderno que conduziu ao uso desordenado da nature-za e provocou ameaccedila agrave sobrevivecircncia da humanidade na Terra Diante das con-sequecircncias do atual modelo de desenvolvimento e do poder da teacutecnica cuja dimensatildeo jamais tinha sido alcanccedilada antes esse autor justifica a necessidade de uma nova eacutetica para a utilizaccedilatildeo da teacutecnica propondo entatildeo a aplicaccedilatildeo do princiacutepio responsabilidade Seus argumentos sobre esse princiacutepio caracte-rizam-se pelo diagnoacutestico inicial da crise e pela apresentaccedilatildeo de uma soluccedilatildeo cujo caraacuteter ldquosalvacionistardquo chama a atenccedilatildeo de seu leitor conforme vimos na segunda parte deste texto Para Jonas ou se adere ao medo inexoravelmente ou se teria a barbaacuterie tecnoloacutegica instalada Como seria possiacutevel pensar numa eacutetica sem a liberdade de escolha Como pensar uma saiacuteda para a crise ambien-tal sem cair na soluccedilatildeo autoritaacuteria que propotildee Jonas Quais seriam as alterna-tivas possiacuteveis agrave proposta poliacutetica de Jonas Na tentativa de responder essas questotildees vamos recorrer agrave obra de Larregravere e Larregravere com o propoacutesito de dar maior suporte agrave criacutetica de Jonas e pensar alternativas ao princiacutepio responsabili-dade que pode ser o princiacutepio de precauccedilatildeo e assim adensar o debate sobre a eacutetica ambiental contemporacircnea

Dividiremos este toacutepico em trecircs pontos fundamentais num primeiro reto-maremos algumas questotildees de Jonas notadamente seu sentido de ldquoheuriacutestica do medordquo em segundo lugar faremos algumas criacuteticas sobre essa mesma ques-tatildeo centrando nossa anaacutelise no aspecto poliacutetico de seu pensamento e final-mente no terceiro algumas indicaccedilotildees sobre a eacutetica ambiental na perspectiva de Larregravere e Larregravere atraveacutes do princiacutepio precauccedilatildeo

Para Jonas o ldquoprinciacutepio responsabilidaderdquo apresenta uma preocupaccedilatildeo po-liacutetica na medida que envolve o Estado mas tambeacutem eacute eacutetica na medida que diz respeito agrave accedilatildeo do indiviacuteduo num mundo repleto de incertezas ldquoO dina-mismo eacute a marca da modernidade ele natildeo eacute um acidente mas a propriedade imanente desta eacutepoca e ateacute nova ordem o nosso destino Isso quer dizer que temos de contar com o novo embora natildeo possamos calculaacute-lordquo (JONAS 2006 p 203) Diante deste universo incerto a prevenccedilatildeo eacute uma postura muito mais eficaz para a responsabilidade do que a seduccedilatildeo de uma promessa sem o co-nhecimento total sobre ela Mesmo o desconhecido ou aquilo em que natildeo se

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deve apostar pode tornar-se objeto de uma poliacutetica de prevenccedilatildeo Sendo as-sim Jonas opta pelo cenaacuterio do pior pois a profecia do mal eacute feita para evitar que ele se realize O medo em Jonas eacute um mal menor que tem a pretensatildeo de evitar um mal maior eacute este o significado da heuriacutestica do medo ela nada mais eacute do que a consequecircncia da intervenccedilatildeo humana por meio da eacutetica Mas isso traz implicacircncias seacuterias porque ldquoao agitar uma ameaccedila hiperboacutelica introduz de fato uma nova eacutetica de convicccedilatildeo (a crenccedila numa cataacutestrofe inevitaacutevel) A esperanccedila torna-se medo eacute a eacutetica negativa da lsquoprofecia da desgraccedilarsquordquo resu-me os inteacuterpretes franceses (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 275) Eacute nessa visatildeo que Jonas projeta um cenaacuterio negativo para conseguir garantir a participaccedilatildeo de todos na efetivaccedilatildeo da sua proposta de responsabilidade pelas geraccedilotildees futuras desenvolvendo suas medidas praacuteticas caracterizadas por uma poliacutetica autoritaacuteria e vinculada agrave ideia de que quanto menos comunicaccedilatildeo e discussatildeo sobre os temas mais eficiente rapidez e poderosa poderatildeo ser as decisotildees po-liacuteticas para solucionar os problemas ambientais A sociedade entatildeo confiaria plenamente nas decisotildees do homem puacuteblico ou por conta do medo de que o pior cenaacuterio seja concretizado ou pela utilizaccedilatildeo da forccedila se necessaacuterio for

A soluccedilatildeo praacutetica apresentada para dirimir essa questatildeo econocircmica eacute a es-tagnaccedilatildeo de todo e qualquer tipo de desenvolvimento pois mesmo que hou-vesse a redistribuiccedilatildeo da riqueza global jaacute existente de acordo com seu ponto de vista isso natildeo seria capaz de elevar o niacutevel de vida das regiotildees mais pobres e eliminar a miseacuteria Esta equaccedilatildeo de difiacutecil negociaccedilatildeo exige a estagnaccedilatildeo do crescimento econocircmico e a capacidade produtiva o que conduz a um proble-ma prioritariamente poliacutetico Jonas tem consciecircncia de que a questatildeo econocirc-mica eacute problemaacutetica e radicaliza na soluccedilatildeo ldquo[] eu acredito que a soluccedilatildeo estaacute nesse caminho se possiacutevel de forma voluntaacuteria se necessaacuterio forccediladardquo (JONAS 2006 p 294) Reafirma assim sua ideia sobre a instauraccedilatildeo de um pavor cole-tivo voltado para o disciplinamento das accedilotildees humanas Isto significa dizer que ele justifica a necessidade do culto ao medo do pior e a valorizaccedilatildeo do uso da forccedila em busca de um futuro melhor para toda humanidade Por isso arreba-ta Jonas ldquoSe natildeo haacute alternativa agrave escolha favoraacutevel ou negativa deveriacuteamos arriscar o lance mais alto da tecnologia para colher a becircnccedilatildeo ou a cataacutestrofe supremardquo (JONAS 2006 p 296)

A isso ele defende a postura da advertecircncia em relaccedilatildeo a um mal maior porvir acreditando no medo altruiacutesta Como foi dito acima tal medo natildeo se refere apenas agrave incerteza Eacute um medo que segundo o filoacutesofo possibilita as-sumir a responsabilidade pelo desconhecido dado o caraacuteter incerto da es-

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peranccedila ldquoO medo que faz parte da responsabilidade natildeo eacute aquele que nos aconselha a natildeo agir mas aquele que nos convida a agir Trata-se de um medo que tem a ver com o objeto da responsabilidaderdquo (JONAS 2006 p 351) Ou seja o medo eacute favoraacutevel agrave preservaccedilatildeo do objeto pois as accedilotildees devem estar voltadas para esse fim

Esta soluccedilatildeo arriscada se daacute por causa do grande mal que o capitalismo nos trouxe a exploraccedilatildeo da natureza agrave beira da exaustatildeo Ora qual seria sua saiacuteda poliacutetica O marxismo revolucionaacuterio (inspirado no livro Princiacutepio Esperanccedila de Ernst Bloch) que considera as geraccedilotildees futuras como o advento da humanida-de para o qual se justificam moralmente todos os sacrifiacutecios da humanidade Esse pensamento poliacutetico natildeo seria apenas o lastro filosoacutefico de sua eacutetica mas seria a salvaccedilatildeo para a cataacutestrofe apocaliacuteptica que nos trouxe agrave beira do abismo da questatildeo ambiental

Para Larregravere e Larregravere Hans Jonas faz um diagnoacutestico correto da modernida-de A anaacutelise do problema eacutetico na obra eacute seacuteria e nos ajudou a pensar a questatildeo ambiental no mundo contemporacircneo pelo olhar filosoacutefico No entanto a sua proposta poliacutetica natildeo coincide com a sua postura eacutetica pois a heuriacutestica do medo de Jonas antecipa a cataacutestrofe retirando toda a capacidade para informar accedilotildees precisas incidindo apenas no alcance negativo das accedilotildees humanas Aleacutem do mais sua postura poliacutetica que recebeu vaacuterias criacuteticas desde que Princiacutepio res-ponsabilidade veio agrave lume deve-se muito mais agrave sua incapacidade de entender o mecanismo da poliacutetica do que por simpatias pessoais aos sistemas ditatoriais Na praacutetica ele usa o medo para forccedilar uma eventual mudanccedila de comporta-mento que nem sempre eacute produtiva (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 275) Isto significa dizer que eacute ineficaz conciliar a heuriacutestica do medo com o debate puacutebli-co Os autores afirmam que a ambiguidade presente na obra de Jonas se deve ao fato de que mesmo denunciando a utopia teacutecnica ele continua preso na ilusatildeo do poder total acreditando na capacidade teacutecnica para controlar todas as accedilotildees humanas a partir de uma previsibilidade programada A heuriacutestica do medo natildeo eacute soacute ineficaz eacute um grande obstaacuteculo agrave democracia

Para os autores o medo em Jonas eacute mantido ldquo[] da mesma forma que se ameaccedilam os crentes com os horrores do inferno jaacute que natildeo eacute possiacutevel incli-naacute-los diretamente para o bemrdquo (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 274) Haacute certa aporia no pensamento de Jonas segundo os franceses em questatildeo por um lado Jonas caracteriza a eacutetica da responsabilidade como uma eacutetica religiosa da abstinecircncia e do sacrifiacutecio por outro continua prisioneiro da ilusatildeo da onipo-tecircncia da modernidade que tanto ele proacuteprio critica Isto significa dizer que ao

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mesmo tempo que ele se apresenta como um pensador de uma escatologia se-cularizada estaacute carregado de elementos religiosos e que satildeo revestidos de uma concepccedilatildeo poliacutetica Nisso talvez consiste sua maior dificuldade em implemen-tar um projeto poliacutetico porque ele natildeo eacute afeito ao debate democraacutetico Os au-tores satildeo incisivos ldquoJonas natildeo acredita na capacidade das democracias para se libertarem dos seus interesses presentes para preverem a ameaccedila e imporem a si mesmos a obrigaccedilatildeo provinda do futurordquo (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 275)

No lugar do princiacutepio responsabilidade Larregravere e Larregravere apresentam o princiacutepio de precauccedilatildeo Conhecido na Franccedila como ldquoprinciacutepio de prudecircnciardquo eacute o antiacutedoto agrave ausecircncia de certezas cientificamente estabelecidas fornecendo a autoridade filosoacutefica necessaacuteria para a tomada de decisotildees Surgido na Ale-manha nos anos 70 foi aplicado na Convenccedilatildeo de Viena em 1985 no relatoacuterio de Bruntland em 1988 na Eco 92 e incorporado no direito positivo francecircs em 1995 O enunciado desse princiacutepio eacute simples ldquopode justificar-se ou ser impera-tivo limitar enquadrar ou impedir certas accedilotildees potencialmente perigosas sem esperar que o perigo seja cientificamente definido com toda a certezardquo (LAR-REgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 276)

Para explicaacute-lo os autores apresentam duas versotildees Numa primeira a ver-satildeo forte a ideia de precauccedilatildeo eacute um criteacuterio absoluto instituindo-se como uma regra de abstenccedilatildeo que envolve trecircs fatores 1) a referecircncia ao dano zero 2) a necessidade de evitar cenaacuterio do pior 3) a inversatildeo do ocircnus da prova Como natildeo haacute dano zero haveraacute sempre margem para as incertezas e como conse-quecircncia tem-se a paralisaccedilatildeo das atividades existentes e o desencorajamen-to agrave inovaccedilatildeo Na segunda a versatildeo fraca o princiacutepio precauccedilatildeo eacute um criteacuterio parcial devido agrave falta de provas cientiacuteficas mas que abre espaccedilo ao debate puacuteblico agrave deliberaccedilatildeo e aos processos de justificaccedilatildeo Em poucas palavras o princiacutepio de precauccedilatildeo eacute aquele segundo o qual ldquoa ausecircncia de certezas tendo em conta os conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos do momento natildeo deve retar-dar a aprovaccedilatildeo de medidas efetivas e proporcionadas que visam prevenir um risco de danos graves e irreversiacuteveis para o meio ambiente a um custo econo-micamente aceitaacutevelrdquo (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 278) Contra a imposiccedilatildeo e a heuriacutestica do medo os autores defendem a necessidade da negociaccedilatildeo Por meio do debate junto ao puacuteblico eles objetivam a hierarquizaccedilatildeo das accedilotildees baseando-se no tempo que resta para as decisotildees Natildeo buscam uma trajetoacuteria uacutenica e ideal Com esse procedimento acreditam que se institui um tempo co-letivo para aprendizagem conhecimento dos fenocircmenos e criaccedilatildeo de teacutecnicas de proteccedilatildeo

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Entende-se entatildeo que o objetivo natildeo eacute encontrar uma soluccedilatildeo perfeita de maneira teacutecnica e institucionalizada mas sim organizar os processos de decisatildeo dentro do tempo disponiacutevel prezando acima de tudo pela informaccedilatildeo e parti-cipaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica ou seja pela aprendizagem coletiva Baseando-se no modelo do debate puacuteblico para propor o princiacutepio de precauccedilatildeo os autores defendem que a razatildeo deve sobrepor-se ao medo e por isso apresenta-se mui-to mais adequado ao espaccedilo poliacutetico da democracia O propoacutesito de Larregravere e Larregravere eacute evitar a qualquer custo aplicaccedilotildees absolutistas ao andamento das atividades sociais atraveacutes das articulaccedilotildees entre prudecircncia poliacutetica e ciecircncia Tal posicionamento aleacutem de prevenir os riscos minimiza a inseguranccedila oriunda da falta de informaccedilatildeo por parte da populaccedilatildeo Aleacutem disso faz com que o conhe-cimento dos riscos potenciais force um pouco nossa responsabilidade e iniba a recorrente desculpa de que ldquoeu natildeo sabiardquo

Foi Jonas quem abriu o debate sobre o futuro da humanidade a partir da noccedilatildeo de solidariedade com as geraccedilotildees futuras Os autores perguntam-se en-tatildeo se essa noccedilatildeo natildeo compromete a apreensatildeo da humanidade como enti-dade moral perante a qual temos deveres Jonas considera a humanidade em estado de permanecircncia ou seja natildeo se tem uma histoacuteria tem-se um estado Entretanto para os autores ao se tomar em consideraccedilatildeo as geraccedilotildees futuras deve-se apreendecirc-las nas suas sucessotildees e diferenccedilas Ainda segundo os auto-res os problemas nascidos da teacutecnica devem ser resolvidos por meio de solu-ccedilotildees teacutecnicas porque a tecnologia contemporacircnea eacute a ciecircncia convertida em poder Entretanto a ciecircncia apenas informa agrave teacutecnica natildeo lhe impotildee normas eacute por isso que a teacutecnica torna-se um processo ilimitado Em Larregravere e Larregravere as proposiccedilotildees para a limitaccedilatildeo da accedilatildeo teacutecnica natildeo consideram o agir humano de maneira isolada mas sim situado na natureza Isso implica em decisotildees que para serem realizadas com base no princiacutepio de precauccedilatildeo precisam do conhe-cimento da accedilatildeo do homem na natureza e natildeo soacute sobre a natureza Com base em tais proposiccedilotildees a relaccedilatildeo que os autores estabelecem eacute a de co-pertenccedila passando da separaccedilatildeo entre homem e natureza agrave noccedilatildeo de que homem e na-tureza estatildeo proacuteximos e satildeo afetados mutuamente

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na argumentaccedilatildeo de Jonas em defesa do princiacutepio responsabilidade o pro-blema principal natildeo eacute o fato de que o emprego da teacutecnica tenha modificado e degradado a natureza fiacutesica mas sim o fato de a teacutecnica estar manipulando

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a natureza humana que perde seu controle e jaacute natildeo exerce a capacidade de perceber como a teacutecnica tem determinado as formas de organizaccedilotildees sociais e principalmente acarretando perigo agrave existecircncia da humanidade Nesse sentido a responsabilidade pelo emprego da teacutecnica passa a incluir as consequecircncias posteriores agrave sua utilizaccedilatildeo em todos os niacuteveis Em uma tentativa de justificar o rumo paternalista e autoritaacuterio que vigora na aplicaccedilatildeo praacutetica do seu princiacutepio responsabilidade Jonas afirma que independente do modo como as atitudes sejam manifestadas o que importa eacute possibilitar a continuidade da vida huma-na e sua essecircncia natural bem como da natureza fiacutesica da melhor forma possiacute-vel pois para ele os males oriundos da degradaccedilatildeo do patrimocircnio fiacutesico natural estendem-se proporcionalmente aos seus herdeiros Impedir que esse quadro seja efetivado significa assumir a responsabilidade pelo futuro do homem

Se Jonas procura defender uma eacutetica natildeo antropocecircntrica no fundo eacute pos-siacutevel afirmar que o filoacutesofo compartilhe do pensamento antropocecircntrico quan-do ele afirma que a natureza conserva a sua dignidade e contrapotildee-se ao poder humano e ldquoQuando a luta pela existecircncia frequentemente impotildee a escolha en-tre o homem e a natureza o homem de fato vem em primeiro lugarrdquo (JONAS 2006 p 229) Por isso proteger o futuro da humanidade eacute o primeiro dever o qual inclui o futuro da natureza unicamente por ser a condiccedilatildeo para efetivaacute-lo Isto significa dizer que as suas reflexotildees sobre o poder da teacutecnica natildeo impli-cam necessariamente numa preocupaccedilatildeo com a natureza entendida como o ambiente fiacutesico mas sim na manutenccedilatildeo da natureza para a sobrevivecircncia do homem Em outras palavras podemos entender que a sua preocupaccedilatildeo estaacute centrada na sobrevivecircncia da humanidade porque estaacute ameaccedilada pela teacutecnica Isto natildeo significa dizer que a sua tese central esteja comprometida mas natildeo seria justo afirmar que ela defenda de forma pura e absoluta uma eacutetica natildeo antropocecircntrica

Em Larregravere e Larregravere o sentido de preservaccedilatildeo da natureza e garantia da existecircncia das geraccedilotildees futuras situa-se longe da manutenccedilatildeo de uma perspec-tiva de natureza selvagem preservada em seu estado primitivo sem qualquer interferecircncia humana O que se considera importante preservar eacute a capacidade evolutiva dos processos ecoloacutegicos pois soacute assim eacute possiacutevel proporcionar con-diccedilotildees para a existecircncia da humanidade no futuro Por isso a dimensatildeo eacutetica dos problemas ambientais a publicidade do debate sobre essas questotildees e a necessidade da diversificaccedilatildeo das investigaccedilotildees cientiacuteficas satildeo formas de tor-nar mais sensiacuteveis as limitaccedilotildees da ciecircncia e a confianccedila no aparato tecnoloacutegico para resoluccedilatildeo dos problemas sociais e ambientais Diferentemente do pensa-

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mento de Hans Jonas Larregravere e Larregravere satildeo adeptos do ecocentrismo Para os autores a eacutetica ecocentrada fundada na relaccedilatildeo de pertencimento eacute uma eacutetica que natildeo implica apenas em uma representaccedilatildeo cientiacutefica do mundo mas sim numa maneira de nele situar o homem e suas relaccedilotildees sociais

As proposiccedilotildees criacuteticas de Larregravere e Larregravere contraacuterias ao princiacutepio respon-sabilidade de Jonas satildeo elaboradas mediante a tentativa ineficaz do alematildeo de conciliar a heuriacutestica do medo com o debate puacuteblico e o conhecimento cien-tiacutefico Excluindo das decisotildees o debate puacuteblico atraveacutes da aterrorizacatildeo sobre uma cataacutestrofe natural da qual todos deveriam proteger-se para evitar o pior segue as recomendaccedilotildees estipuladas pelo representante poliacutetico sem hesitar

Por fim podemos afirmar que eles estatildeo de acordo quanto ao fato de que a promessa da tecnologia moderna converteu-se em ameaccedila e que os pres-supostos da eacutetica tradicional jaacute natildeo se mostram suficientemente adequados para orientar a vida do homem contemporacircneo No entanto entram em con-flito quanto agraves perspectivas eacuteticas que se impotildee agraves circunstacircncias praacuteticas do homem Jonas volta-se para a dimensatildeo ldquopoliacutetico-paternalistardquo presente no seu princiacutepio responsabilidade enquanto Larregravere e Larregravere orientam-se na direccedilatildeo proacutexima ao republicanismo pressupondo o exerciacutecio da alteridade da cidada-nia e da participaccedilatildeo comunitaacuteria atraveacutes do princiacutepio de precauccedilatildeo

Se agrave eacutetica ambiental diz respeito agrave relaccedilatildeo entre o homem e a natureza se-parados na modernidade ela reivindica no mundo contemporacircneo os criteacuterios a partir dos quais eles possam ser repensados e unidos numa soacute preocupaccedilatildeo porque eles co-pertencem

O homem natildeo pode ser entendido fora da natureza porque eles estatildeo imbri-cados Se um dos conceitos chave da eacutetica ambiental eacute o do valor intriacutenseco e conforme vimos para avaliar eacute preciso ter por um lado um avaliador e por ou-tro qualquer coisa que desperte o sentimento de filiaccedilatildeo independentemente da utilidade a eacutetica ambiental nos conduz a uma mudanccedila de comportamen-to que leve em consideraccedilatildeo uma relaccedilatildeo de pertencimento com um mundo constituiacutedo pela natureza da qual o homem faz parte e que por isso todos noacutes devemos cuidar

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REFEREcircNCIAS

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DESCARTES R Discurso do meacutetodo Satildeo Paulo Nova Cultural 1987 (Os Pensadores)

GIACOIA JUacuteNIOR Osvaldo ldquoHans Jonas o princiacutepio responsabilidade ensaio de uma eacuteti-ca para a civilizaccedilatildeo tecnoloacutegicardquo In OLIVEIRA M A de (Org) Correntes fundamentais da eacutetica contemporacircnea Petroacutepolis Vozes 2000 p 193-206

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tecnoloacutegica Rio de Janeiro Ed da PUCRio 2006

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PARIZEAU M-H Eacutetica aplicada In CANTO-SPERBER M (Org) Dicionaacuterio de eacutetica e filosofia moral Satildeo Leopoldo Unisinos 2003

REFLEXOtildeES SOBRE EacuteTICA AMBIENTAL NA CONTEMPORANEIDADE

Jonielton Oliveira DantasAlessandra Barbosa SouzaMariacutelia Barbosa dos SantosMaria Joseacute Nascimento SoaresSuelane de Oliveira Silva Dantas

1 INTRODUCcedilAtildeO

A crise ambiental que marca a contemporaneidade eacute decorrente dos diver-sos desarranjos da relaccedilatildeo sociedade e natureza exteriorizada nos inuacutemeros danos ao ar solo aacutegua e potencializada pelas cataacutestrofes que ao longo do tempo impulsionaram a tomada de consciecircncia da crise em sua dimensatildeo pla-netaacuteria levando diversos paiacuteses do mundo ao debate puacuteblico sobre a questatildeo Para Larregravere e Larregravere (1997) a realizaccedilatildeo da Cimeira da Terra (Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas) no Rio de Janeiro em 1992 apesar dos resultados frustrantes em termos de decisotildees concretas eacute uma prova de que a crise ambiental existe e tornou-se motivo de preocupaccedilatildeo comum

Se por um lado o reconhecimento da existecircncia de uma crise ambiental na contemporaneidade pode ser atribuiacutedo agrave separaccedilatildeo entre natureza e cultura por outro demonstra que tal separaccedilatildeo jamais fora consumada tendo em vis-ta a interdependecircncia nas relaccedilotildees entre homem e natureza que ora se apre-sentam de forma bastante complexa Neste sentido Bruno Latour em sua obra Jamais fomos modernos ensaio de antropologia simeacutetrica (1994) afirma que o projeto da modernidade eacute algo fadado ao fracasso tendo em vista a ilusatildeo de que eacute possiacutevel isolar o domiacutenio da natureza (o inato) do domiacutenio da poliacutetica (a accedilatildeo humana) (LATOUR 1994)

Ambas constataccedilotildees evidenciam a crise do conhecimento cientiacutefico pau-tado na racionalidade cartesiana cuja promessa era ldquo[] enfrentar e resolver com sucesso os mais importantes problemas humanos de modo a garantir o domiacutenio sobre as forccedilas da naturezardquo (GIACOIA JUNIOR 2004 p 638) Vale lembrar que o conhecimento sobre natureza sempre esteve na base da razatildeo

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empreendida pelos modernos cujo ideal baconiano1 sintetizado na maacutexima ldquosaber eacute poderrdquo jaacute apontava para a necessidade de uma ciecircncia emancipatoacute-ria em que o homem fosse concebido como ministro e inteacuterprete da natureza (BACON 1979)

Estas primeiras aproximaccedilotildees sobre a relaccedilatildeo cultura e natureza no modus operandi da ciecircncia moderna nos remete a uma reflexatildeo sobre a construccedilatildeo de uma visatildeo de natureza que corresponda ao estado atual do conhecimento Larregravere e Larregravere (1997) nos lembra que a concepccedilatildeo grega de natureza sou-be conciliar naturalismo e humanismo nos oferecendo saiacutedas tanto cientiacuteficas quanto praacuteticas para as nossas preocupaccedilotildees atuais acerca das relaccedilotildees com a natureza mediante uma eacutetica proacutepria

Para Larregravere e Larregravere (1997) interessa-nos saber atualmente como se fez a separaccedilatildeo entre fiacutesica e eacutetica humanismo e natureza e se essa visatildeo de nature-za informada pela ciecircncia eacute a nossa heranccedila da modernidade Neste contexto as questotildees passam a ser ldquo[] dependeremos ainda tanto dela [modernidade] que deveriacuteamos conservar a exterioridade que ela atribui ao homem relativa-mente agrave natureza Seraacute que as transformaccedilotildees contemporacircneas das ciecircncias da natureza nos impedem de ver que o homem faz parte dela rdquo (LARREgraveRE LAR-REgraveRE 1997 p 15)

Imbuiacutedos destas reflexotildees elaboramos questotildees natildeo menos importantes para orientar o presente ensaio Quais os pressupostos teoacutericos do pensamento moderno colocaram o ser humano como exterioridade agrave natureza Como essa concepccedilatildeo moderna de natureza tem dificultado a construccedilatildeo de uma visatildeo de natureza includente em relaccedilatildeo agrave cultura e na implementaccedilatildeo de uma nova eacutetica que balize a relaccedilatildeo sociedade-natureza na contemporaneidade

Este ensaio tem como objetivo discutir a relaccedilatildeo homem-natureza a par-tir de interpretaccedilotildees sobre a modernidade como aporte para a reflexatildeo sobre uma eacutetica ambiental que balize o uso responsaacutevel da teacutecnica e do conhecimen-to na contemporaneidade Utilizou-se a apreciaccedilatildeo bibliograacutefica acerca de in-

1 O filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561 - 1626) desenvolveu o ideal de boa ciecircncia baseado na con-cepccedilatildeo indutivista que fundamentou grande parte dos meacutetodos de anaacutelise e pesquisa na ciecircncia moderna As interpretaccedilotildees contemporacircneas sobre a definiccedilatildeo de boa ciecircncia em Bacon sinteti-zam como uma ciecircncia de caraacuteter racionalista experimental capaz de inferir leis naturais a partir do acuacutemulo de observaccedilotildees cuja condiccedilatildeo eacute a existecircncia de mentes bem treinadas para manter-se a salvo de enganos entre os quais os sentidos sentimentos e o intercacircmbio social (FREITAS 2004) Com base no Novum Organum a boa ciecircncia significa a libertaccedilatildeo humana dos iacutedolos impostos pela natureza e pela tradiccedilatildeo eacute um instrumento de poder que auxilia o homem a lidar com a natu-reza e a possibilidade de melhora e conforto para vida humana (SANTOS HORA 2015)

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terpretaccedilotildees contemporacircneas sobre o projeto da modernidade e sua implica-ccedilatildeo na relaccedilatildeo homem-natureza sobre o ldquobom usordquo da natureza e o chamado para a responsabilidade nos usos da teacutecnica e do conhecimento mediante uma eacutetica ambiental Tais discussotildees foram embasadas principalmente em Giacoia Juacutenior (2004) Jonas (2006) Larregravere e Larregravere (1997) e Larregravere (2010)

O campo da filosofia tem dedicado especial atenccedilatildeo agrave discussatildeo sobre natu-reza sobretudo quanto a reflexatildeo em torno da imputaccedilatildeo de valor e moral agraves entidades naturais e a discussatildeo sobre uma eacutetica que avalize a relaccedilatildeo homem--natureza Este debate tem recebido um apelo crescente agrave medida em que se ampliam as condiccedilotildees de degradaccedilatildeo ambiental a niacuteveis considerados irreversiacute-veis Contudo este ensaio natildeo tem a pretensatildeo de fazer um aprofundamento fi-losoacutefico acerca dos temas em questatildeo mas apresentar algumas interpretaccedilotildees e reflexotildees sobre as discussotildees que estatildeo sendo postas neste campo

Para melhor compreensatildeo o texto estaacute dividido em duas partes a primeira traz uma discussatildeo a respeito dos usos da natureza a partir loacutegica do pensa-mento moderno e as implicaccedilotildees do superdimensionamento da teacutecnica e da ciecircncia na relaccedilatildeo homem-natureza a segunda parte traz as discussotildees con-temporacircneas acerca de uma eacutetica ambiental a partir das perspectivas biocecircn-trica e ecocecircntrica que rompem com o paradigma antropocecircntrico em que se estabelece a relaccedilatildeo homem-natureza

2 INTERPRETACcedilOtildeES SOBRE A RELACcedilAtildeO HOMEM-NATUREZA NA MODERNIDADE

Embora os gregos sejam fonte de inspiraccedilatildeo e modelo do que seja o lsquobom usorsquo da natureza cabe a noacutes na contemporaneidade descobrir os criteacuterios de um lsquobom usorsquo e estabelecer normas eacuteticas balizadas por uma nova visatildeo de na-tureza informada cientificamente Para tanto torna-se necessaacuterio estudar o pe-riacuteodo moderno para compreender como consolidou-se o desejo de controle humano sobre a natureza externa e interna ao qual eacute atribuiacutedo a crise ambien-tal2 (LARREgraveRE LARREgraveRE 1997)

2 A crise ambiental se apresenta na enorme quantidade de danos precisos de poluiccedilotildees localiza-das de perigos identificados mas tambeacutem cataacutestrofes exemplares (Bhopal Chernobyl) e mesmo a provaacutevel ameaccedila que paira sobre os nossos recursos (erosatildeo da biodiversidade bioloacutegica desmata-mento das regiotildees tropicais) ou sobre a nossa vida (buraco na camada de ozocircnio efeito de estufa etc) (LARREgraveRE LARREgraveRE 1997)

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O projeto da modernidade encontra na percepccedilatildeo de Francis Bacon em No-vum Organum (1620) a inspiraccedilatildeo para proclamar a virtude emancipatoacuteria de uma nova ciecircncia Bacon anunciava uma nova figura de mundo em que o ho-mem por intermeacutedio das ciecircncias alcanccedilaria a emancipaccedilatildeo do entendimento seguida da ldquo[] melhoria da situaccedilatildeo humana e a ampliaccedilatildeo do seu domiacutenio sobre a naturezardquo (BACON 1990 apud GIACOIA JUNIOR 2004 p 637)

Para alcanccedilar tal proeza Bacon entendia a necessidade de formulaccedilatildeo de um meacutetodo que distinguisse o saber cientiacutefico seguro e beneacutefico ao gecircnero humano da sabedoria antiga caracterizada pela contemplaccedilatildeo da verdade e especulaccedilatildeo a qual considerava um empecilho para alcanccedilar a maioridade do entendimento humano ou seja a idade da razatildeo (GIACOIA JUNIOR 2004) Natildeo obstante a leitura que Rossi (1992 p 203) faz eacute a de que ldquo[] o meacutetodo eacute para Bacon um meio de ordenaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo da realidade naturalrdquo

Como Bacon Descartes ldquo[] via na ciecircncia e na teacutecnica que dela deriva a possibilidade de consolidar e estender o poder de controle humano sobre a natureza externa e tambeacutem sobre a natureza interior do homemrdquo (GIACOIA JU-NIOR 2004 p 640) A partir de suas assimilaccedilotildees no campo da fiacutesica Descartes julga ser necessaacuterio divulgar tais conhecimentos de modo a procurar o bem geral de todos os homens Sendo assim afirma que as noccedilotildees gerais relativas agrave Fiacutesica por ele adquiridas fizeram ver que

eacute possiacutevel chegar a conhecimentos que sejam muito uacuteteis agrave vida e

que em vez dessa Filosofia especulativa que se ensina nas escolas

se pode encontrar uma outra praacutetica pela qual conhecendo a forccedila

e as accedilotildees do fogo da aacutegua do ar dos astros dos ceacuteus e de todos os

outros corpos que nos cercam tatildeo distintamente como conhecemos

os diversos misteres de nossos artiacutefices poderiacuteamos empregaacute-los da

mesma maneira em todos os usos para os quais satildeo proacuteprios e assim

nos tornar como que senhores e possuidores da natureza (DESCAR-

TES 1983 p 63)

Em sua obra Discurso do Meacutetodo Descartes descreve o meacutetodo que encon-trara para melhor buscar a verdade atraveacutes da deduccedilatildeo e do conhecimento fragmentado livre de especulaccedilotildees no qual a observaccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo possuem papel secundaacuterio O meacutetodo cartesiano expotildee uma visatildeo mecacircnica de mundo cuja natureza eacute concebida como um objeto a ser dominado e explo-rado pelo homem negando o caraacuteter dinacircmico da mesma No cartesianismo

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tudo que natildeo eacute razatildeo eacute movimento e extensatildeo assim todos os fenocircmenos da natureza deveriam ser explicados pelo mecanicismo (JAPIASSU 1992)

Dado o papel de destaque aos precursores do projeto da modernidade vaacute-rias foram as sucessivas contribuiccedilotildees para ampliar o entendimento acerca da natureza ou melhor da ideia de natureza ao longo deste periacuteodo Eacute pertinente citar Hobbes que ao construir sua teoria demarca severa oposiccedilatildeo entre estado de natureza e estado civil Hobbes (2002) descreve o estado de natureza como sendo um estado miseraacutevel de ignoracircncia inseguranccedila e solidatildeo cuja saiacuteda eacute a uniatildeo dos homens em torno de um modo de vida artificial regido pela lei e a ordem podendo assim possibilitar uma vida mais segura justa e apraziacutevel Para o autor poderemos arbitrar contra os seres brutos domesticando os que forem passiacuteveis de nos servir e declarando guerra perpeacutetua aos demais

Natildeo obstante as expediccedilotildees cientiacuteficas do seacuteculo XVIII que tinham como objetivo revelar os segredos da natureza demonstravam a perspectiva de sujeiccedilatildeo desta aos interesses econocircmicos e da ciecircncia Foi assim com os viajantes naturalistas Bougainville e La Condamine (1701-1774) por exemplo cujas descriccedilotildees de suas experiecircncias reportaram para a Europa com surpresa as evidecircncias dos saberes que os povos ldquobrutos e selvagensrdquo da Ameacuterica possuiacuteam e a enorme quantidade de plantas desconhecidas que poderiam lhes ser ldquouacuteteisrdquo (BECKER 2012)

Contudo enquanto dentro do movimento iluminista a percepccedilatildeo da maio-ria dos pensadores era a de estarem vivenciando um momento de avanccedilo com a modernidade seja do ponto de vista cientiacutefico social poliacutetico e econocircmico o filoacutesofo Jean-Jacques Rousseau foi um dos primeiros a tecer a criacutetica ao papel da ciecircncia e preocupar-se com uso adequado dos conhecimentos adquiridos Para Rousseau (1989) a histoacuteria do homem era decadente pois sai de um con-texto de liberdade de contato com a natureza para uma situaccedilatildeo de servidatildeo sem qualidade de vida num contexto de sociedade corrompida Neste sentido o convite de Rousseau para retornar agrave natureza se traduz na busca da liberdade e da autonomia do homem que precedem os contratos sociais

De acordo com Becker (2012) o percurso traccedilado pela modernidade do surgimento agrave contemporaneidade se apresenta como uma ameaccedila agrave proacutepria existecircncia de nossa ldquoCivilizaccedilatildeordquo considerado os inuacutemeros descaminhos que separaram o homem de si mesmo e da natureza Assim o estaacutegio atual da crise ambiental pressupotildee repensar a relaccedilatildeo sociedade e natureza e principalmen-te a relaccedilatildeo do homem entre si pois eacute dessa relaccedilatildeo engendrada na loacutegica de produccedilatildeo capitalista que decorrem os diversos problemas socioambientais

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Neste sentido Giacoia Junior (2004) tambeacutem enfatiza que o otimismo triun-falista e a crenccedila velada dos pioneiros modernos no projeto de racionalidade com base na ciecircncia e na teacutecnica como soluccedilatildeo para os diversos problemas humanos e levada a efeito pela dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo da natureza pelo ho-mem produziram a crise ecoloacutegica ldquo[] em que parece mergulhar irreversivel-mente o planeta [] revelando dramaticamente que o desejo de dominaccedilatildeo humana sobre a natureza parece nos conduzir ao perigoso labirinto da trageacute-diardquo (GIACOIA JUNIOR 2004 p 638)

Os avanccedilos teacutecnico-cientiacuteficos alcanccedilados no domiacutenio da fiacutesica nuclear da quiacutemica da bioquiacutemica e da biologia molecular colocaram o homem como senhor supremo da ciecircncia e da teacutecnica podendo exercer o controle sobre as condiccedilotildees de existecircncia no planeta Teriacuteamos portanto atingido o ideal mo-derno de dominaccedilatildeo da natureza atraveacutes do domiacutenio da teacutecnica Heidegger em seu ensaio Superaccedilatildeo da metafiacutesica entende que a teacutecnica natildeo pode ser interpretada como um valioso recurso ou instrumento disponiacutevel agrave vontade individual e coletiva dos cientistas ou mera dimensatildeo do fazer humano pelo contraacuterio eacute a teacutecnica que determina historicamente o modo de ser do ho-mem no mundo moderno Este eacute para ele um processo irreversiacutevel pois co-locou o homem no cerne das tecnologias de produccedilatildeo e consumo (GIACOIA JUNIOR 2004)

Natildeo obstante Hans Jonas em sua obra O princiacutepio responsabilidade caminha na direccedilatildeo de uma filosofia praacutetica ao procurar fundamentar um projeto eacutetico que balizasse as relaccedilotildees na sociedade tecnoloacutegica Jonas considera exemplar o que chama de ldquoprograma ideal baconianordquo no que tange agrave formulaccedilatildeo de ca-racteriacutesticas que distinguem a ciecircncia moderna da sabedoria antiga ao desen-volver um modelo de observaccedilatildeo matematizado com a finalidade de descobrir as leis que vigoram a ordem da natureza para poder sujeita-las aos interesses humanos mediante uso da teacutecnica (GIACOIA JUNIOR 2004)

Paradoxalmente eacute tambeacutem de Jonas que parte uma das mais contunden-tes criacuteticas agrave foacutermula de Bacon no apogeu de seu triunfo Para Jonas o ecircxito do programa baconiano provocou o superdimensionamento da civilizaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica e ao mesmo tempo em que potencializou o poder de atu-accedilatildeo humana sobre a natureza gerando progresso e melhoria nas condiccedilotildees de vida traz consigo um alerta para o perigo de igual magnitude Assim o paradoxo consiste no risco que representa o potencial tecnoloacutegico dessa civi-lizaccedilatildeo provocado pelo sucesso e natildeo pelo fracasso do ideal baconiano (GIA-COIA JUNIOR 2004)

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A profunda paradoxia jamais suspeitada por Bacon do poder cria-

do pelo saber consiste em que ele na verdade conduziu a algo as-

sim como lsquodomiacuteniorsquo sobre a natureza (isto eacute a seu aproveitamento

potencializado) mas com isso ao mesmo tempo agrave mais completa

sujeiccedilatildeo a si mesmo O poder se tornou auto suficiente (selbstmauml-

chtig) enquanto sua promessa se converteu em ameaccedila sua pers-

pectiva de salvaccedilatildeo em apocalipse (JONAS 1979 apud GIACOIA

JUNIOR 2004 p 652)

Contudo Becker (2012) considera que Jonas ao inferir que o ideal baconia-no eacute um perigo agrave natureza incorre numa culpabilizaccedilatildeo apressada que beira o senso comum pois natildeo analisa com profundidade as obras de Bacon entre as quais A Sabedoria dos Antigos na qual o filoacutesofo utiliza-se da mitologia para alertar sobre a necessidade da prudecircncia cautela esteacutetica e eacutetica entre outras virtudes na produccedilatildeo do conhecimento pela ciecircncia

Dadas as devidas ponderaccedilotildees eacute inegaacutevel a contribuiccedilatildeo de Jonas para pen-sar o desenvolvimento de uma eacutetica para a civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica que funda-mente as novas descobertas cientiacuteficas sobretudo no momento que os resul-tados das pesquisas passam a ser empregados de forma praacutetica por meio do aproveitamento industrial da tecnologia e da produccedilatildeo em larga escala trans-formando a ciecircncia moderna em forccedila produtiva

Daiacute parte outra criacutetica de Jonas ao ideal moderno pois se na medida em que cada descoberta cientiacutefica passa a ser acompanhada de uma necessidade tecnoloacutegica praacutetica por meio do aproveitamento tecnoloacutegico industrial o cien-tista deixa de ser o senhor dominador da natureza para ser escravo da teacutecnica no mundo contemporacircneo Deste modo para Giacoia Junior (2004 p 644) Jo-nas chama a atenccedilatildeo para os efeitos danosos da intervenccedilatildeo cientiacutefica sobre a natureza uma vez que ldquo[] por maior que seja a extensatildeo do nosso conheci-mento ele natildeo nos torna possiacutevel prever inteiramente as consequecircncias que podem resultar da aplicaccedilatildeo teacutecnico-experimental da ciecircnciardquo

Para Giacoia Junior a posiccedilatildeo reacionaacuteria pela qual Jonas se define demons-tra a sua preocupaccedilatildeo em estabelecer limites eacuteticos e juriacutedicos para a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica tendo em vista as possibilidades infinitas da moderna tecnologia Seu alerta pode ser definido como uma heuriacutestica do medo uma eacutetica ampliada da responsabilidade que interveacutem no lugar da ciecircncia e que poderia guiar nossas accedilotildees Assim Giacoia Junior entende que essa heuriacutestica ldquo[] tem o propoacutesito de conclamar agrave moderaccedilatildeo e agrave prudecircncia pois o que estaacute

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em jogo eacute nada menos que a existecircncia e a possibilidade da vida em geral e natildeo apenas humana no planeta Terrardquo (GIACOIA JUNIOR 2004 p 648)

Neste sentido o autor compreende que a preocupaccedilatildeo de Jonas com o efei-to cumulativo destruidor e irreversiacutevel da intervenccedilatildeo tecnoloacutegica o fez con-siderar a hipoacutetese de um direito proacuteprio da natureza e uma significaccedilatildeo eacutetica autocircnoma o que significaria ldquo[] procurar natildeo soacute o bem humano mas tambeacutem o bem das coisas extra-humanas isto eacute ampliar o reconhecimento de ldquofins em sirdquo para aleacutem da esfera do humano e incluir o cuidado com estes no conceito de bem humanordquo (JONAS 2006 p 41) Infere-se dessa proposiccedilatildeo a sua tese da valorizaccedilatildeo da eacutetica como um princiacutepio de uma responsabilidade humana ampliada

Sobre essa perspectiva da existecircncia de uma dimensatildeo moral e de valor da natureza Larregravere e Larregravere (1997) nos lembram que nem todos os pensadores contemporacircneos estatildeo de acordo Ao mencionar Luc Ferry em a Nova Ordem Ecoloacutegica os autores ressaltam que o filoacutesofo francecircs defendeu com veemecircncia a ideia de que o homem ldquo[] afirma a sua moralidade subtraindo-se a uma natu-reza definitivamente alheia a toda consideraccedilatildeo moral e cujo estatuto eacute tatildeo-soacute o de um meio submetido aos fins humanosrdquo (LARREgraveRE LARREgraveRE 1997 p 10) e que qualquer outra posiccedilatildeo diferente a isso configuraria uma irracionalidade perigosa tanto para a ciecircncia quanto para a liberdade

Do ideal moderno de dominaccedilatildeo da natureza como meio ou recurso para atender as necessidades humanas derivou conhecimentos e tecnologias em grande escala contribuindo para a construccedilatildeo da atual civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica Poreacutem na contemporaneidade a humanidade ao mesmo tempo que usufruiacute desta heranccedila moderna convive com os resultados catastroacuteficos deste modelo de racionalidade predatoacuteria da natureza a ponto de configurar uma crise am-biental que tem gerado incertezas sobre a vida neste planeta

Larregravere e Larregravere (1997) entendem que o problema da crise ambiental natildeo estaacute no uso da teacutecnica em si o problema estaacute em estabelecer criteacuterios que ava-lize o uso dela pois natildeo sendo possiacutevel renunciar a accedilatildeo da teacutecnica na contem-poraneidade eacute imprescindiacutevel que o uso da natureza seja mediado por uma preocupaccedilatildeo eacutetica da responsabilidade com o ldquobom usordquo

A ideia do ldquobom usordquo3 da natureza trazida pelos autores eacute mais uma con-tribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre uma eacutetica ambiental que vaacute ao encontro das pre-

3 O lsquobom usorsquo natildeo eacute uma ideia nova podendo ser encontrada por exemplo em Aristoacuteteles (Larregravere 2010 p 17)

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ocupaccedilotildees relacionadas ao superdimensionamento do poder da ciecircncia e da tecnologia que orientam as praacuteticas ambientais atuais Muito embora falar de uso ou ainda do ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo uso da natureza reporte ao valor relativo ou instrumental que os seres humanos atribuem a cada elemento da natureza Lar-regravere e Larregravere (1997) explica que a ideia de ldquobom usordquo natildeo eacute simplesmente dizer que natildeo podemos utilizar a natureza mas que somos responsaacuteveis pela forma como a usamos

Sendo assim Larregravere e Larregravere (1997) enfatizam que a crise ambiental re-afirmou a importacircncia da avaliaccedilatildeo da concepccedilatildeo de natureza em seus des-dobramentos o que radicalmente pocircs-se a demanda pela mudanccedila de nossos comportamentos o que recai fortemente sobre a procura de uma eacutetica guiada por uma visatildeo de natureza cientificamente informada e que nos situe comple-tamente a ela

3 POR UMA EacuteTICA QUE NOS CONDUZA A SAIacuteDA DA CRISE AM-BIENTAL CONTEMPORAcircNEA

Ao abordarmos sobre a visatildeo de natureza na modernidade poderemos in-correr no erro de condenar precipitadamente o projeto de racionalidade car-tesiana julgando-o culpado pela crise ambiental que atualmente possui con-tornos globais Poreacutem eacute preciso esclarecer que o projeto da modernidade natildeo era um projeto teacutecnico-cientiacutefico apenas preocupava-se com a possibilidade de melhor conhecermos a realidade Contudo eacute inegaacutevel que o conhecimen-to teacutecnico-cientiacutefico que derivou da racionalidade cartesiana contribuiu para a melhoria da vida humana na Terra Ao mesmo tempo que natildeo se pode negar os efeitos negativos sobre a natureza e a cultura que o avanccedilo da teacutecnico-cien-tiacutefico tem provocado

Neste sentido Giddens (1991) ao analisar as descontinuidades da moderni-dade no uacuteltimo seacuteculo a considera um fenocircmeno de dois gumes por um lado criou oportunidades bem maiores para os seres humanos a partir do desenvol-vimento de instituiccedilotildees sociais modernas inexistentes em periacuteodos histoacutericos precedentes como o sistema poliacutetico do estado-naccedilatildeo por exemplo por ou-tro fica evidente sobretudo no seacuteculo atual que o desenvolvimento das forccedilas produtivas em larga escala eacute potencialmente destruidora do meio ambiente material

O que se pretende entatildeo a partir da criacutetica atual que se faz agrave modernidade eacute refletir sobre uma articulaccedilatildeo entre ciecircncia tecnologia e eacutetica que possibilite

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conceber uma eacutetica da responsabilidade Domingues (2004 p 173) apresenta um caminho que parte da seguinte premissa

[] se natildeo podemos moralizar a ciecircncia nem elaborar uma eacutetica cien-

tiacutefica com base nela devendo a eacutetica ficar com a filosofia se natildeo com

a teologia (teologia moral) podemos moralizar o cientista e pensar a

eacutetica da ciecircncia que eacute a eacutetica da responsabilidaderdquo

Jonas (2006) ao analisar que a introduccedilatildeo do saber e da teacutecnica moderna provocaram uma potencializaccedilatildeo das forccedilas do agir humano cujas consequ-ecircncias satildeo para ele irreversiacuteveis passa a considerar o conjunto da natureza na esfera de responsabilidade desse agir Assim o autor entende que ldquo[] a teacutecnica moderna introduziu accedilotildees de uma tal ordem ineacutedita de grandeza com tais no-vos objetos e consequecircncias que a moldura da eacutetica antiga natildeo consegue mais enquadraacute-lasrdquo (JONAS 2006 p 39)

Neste sentido a eacutetica antiga pautada na advertecircncia dos indiviacuteduos para o cumprimento das leis jaacute natildeo tem efeito diante da enormidade de forccedilas cumu-lativas do fazer coletivo o que suscita uma eacutetica redimensionada a da respon-sabilidade Destarte ldquo[] a natureza como uma responsabilidade humana eacute seguramente um novum sobre o qual uma nova teoria eacutetica deve ser pensadardquo (JONAS 2006 p 39)

Nestas circunstacircncias Jonas (2006) esclarece que nessa nova eacutetica o saber torna-se um dever prioritaacuterio um saber previdente que deve estar em confor-midade com o saber teacutecnico este uacuteltimo eacute que confere poder ao agir por isso o saber torna-se uma parte da eacutetica e deve orientar o autocontrole tatildeo necessaacute-rio diante do poder que jaacute adquirimos sobre a natureza

Sobre este aspecto Santos (2012 p 38) acrescenta que ldquo[] a eacutetica diz res-peito justamente agrave razatildeo de agir e ao modo de agir Ela estaacute ligada aos valo-res que cada um estabelece para si mesmo e para o outro [inclusive natureza] numa relaccedilatildeo entre meios e finsrdquo Para o autor o cientista natildeo pode deixar de fa-zer uma reflexatildeo acerca de questotildees que satildeo proacuteprias do campo da eacutetica como por exemplo ldquo[] os resultados do que me proponho a pesquisar beneficiaraacute a todos ou soacute a uma minoria O conhecimento produzido atenderaacute a quem ou a quais interesses rdquo

Neste sentido reiteramos a ideia de Domingues (2004) ao afirmar que natildeo podemos moralizar a ciecircncia mas podemos moralizar o cientista Contudo o autor defende que a ciecircncia natildeo tem capacidade de instaurar uma eacutetica com

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base nela proacutepria uma vez que trabalha com fatos e natildeo com valores Portanto considera que eacute grande a dificuldade de humanizar a ciecircncia e a tecnologia pois a eacutetica sozinha natildeo daria conta tendo em vista que natildeo tem capacidade de regrar as accedilotildees e tampouco a uniatildeo de cientista e tecnoacutelogos seria suficiente uma vez que esta relaccedilatildeo envolve interesses puacuteblicos e privados Assim avalia ser necessaacuteria a intervenccedilatildeo de outras instacircncias ou esferas sociais como o di-reito o Estado e a poliacutetica (DOMINGUES 2004)

Ao questionar sobre a necessidade de uma eacutetica ambiental Larregravere (2010) em seu texto As eacuteticas ambientais4 nos lembra que o filoacutesofo australiano Ri-chard Routley introduziu a natureza no domiacutenio da moralidade ao afirmar que haacute bons e maus modos de conduzir a natureza para aleacutem dos limites das po-tecircncias teacutecnicas que consiste no entendimento de que noacutes natildeo temos deveres apenas entre os humanos que ela talvez tenha direitos e que a natureza entatildeo tem um valor moral

O reconhecimento de que as entidades naturais tecircm valor moral abriu es-paccedilo para pensar uma eacutetica ambiental pautada no lsquovalor intriacutensecorsquo sendo que este natildeo mais se restringiria aos humanos uacutenicos seres considerados possui-dores de razatildeo e portanto de dignidade moral mas agrave toda natureza Busca-se portanto abandonar a visatildeo antropocecircntrica na qual o humano como uacutenico ser com capacidade de pensar raciocinar e concluir operaccedilotildees loacutegicas a partir de premissas vaacutelidas exerce seu domiacutenio sobre todas as demais entidades da natureza que satildeo consideradas apenas como coisas recursos ou meios para se atingir alguma finalidade humana (LARREgraveRE 2010)

Deste modo se almejarmos aprofundar a reflexatildeo sobre um modelo de eacuteti-ca que avalize as praacuteticas ambientais eacute imprescindiacutevel abandonar a visatildeo de na-tureza externa ao ser humano pois esta concepccedilatildeo moderna de uma natureza selvagem ou virgem da qual o humano natildeo faz parte jaacute natildeo tecircm encontrado ressonacircncia nas teorias contemporacircneas e nem no debate puacuteblico sobre a crise ambiental Como aborda Larregravere e Larregravere (1997 p 17)

Se o homem faz parte da natureza natildeo haacute razotildees para dramatizar

Natildeo haacute que escolher entre natureza e o homem podem ser ambos

protegidos eacute possiacutevel ligar a preservaccedilatildeo da diversidade bioloacutegica

4 Texto original publicado em Natures Sciences Socieacuteteacutes 20104 (Vol 18) p 405-413 Traduccedilatildeo para o portuguecircs Antocircnio Carlos dos Santos com a devida autorizaccedilatildeo da autora disponibilizado para a disciplina Eacutetica Natureza e Meio Ambiente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA

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por exemplo agrave defesa da diversidade cultural Sobretudo se o ho-

mem estaacute na natureza eacute da natureza a sua accedilatildeo natildeo eacute necessaria-

mente perturbadora pode mesmo ser beneacutefica

Assim a humanidade chega ao tempo hodierno tendo que refletir e recom-por a sua concepccedilatildeo de natureza e concomitantemente tendo que estabelecer uma nova relaccedilatildeo com a natureza intermediada por uma eacutetica que ultrapasse o limite estabelecido pela moral Kantiana5 segundo a qual apenas os seres dota-dos de razatildeo possuem valor intriacutenseco A expressatildeo ldquovalor intriacutensecordquo cunhada por Kant eacute atribuiacuteda a tudo o que deve ser tratado como um ldquofim em si mesmordquo ou seja a humanidade e mais precisamente todo ser racional (LARREgraveRE 2010 p 03)

Ao reconhecer o valor intriacutenseco como peculiaridade do ser humano sendo o uacutenico vivente a possuir dignidade moral todas as demais entidades naturais passam a ser consideradas como meio com valor apenas instrumental e rela-tivo Na eacutetica ambiental esta perspectiva eacute denominada antropocecircntrica pois coloca o ser humano no centro e acima do bem de qualquer outro ser vivo pre-valecendo sempre os interesses do homem sobre os demais seres da natureza

Em busca de fragmentar o projeto antropocecircntrico potildee-se em questatildeo con-siderar o valor intriacutenseco da natureza e natildeo relativo atribuindo um valor moral a todas as entidades naturais Contudo a perspectiva biocecircntrica que emer-ge desta discussatildeo mantecircm a estrutura Kantiana de moralidade do ldquofim em si mesmordquo de cada organismo poreacutem sem considera-los sujeitos mas uma multi-plicidade de individualidades em que jaacute natildeo haacute privileacutegios humanos (LARREgraveRE LARREgraveRE1997)

A eacutetica ambiental biocecircntrica defende que todo indiviacuteduo vivo do mais sim-ples ao mais complexo eacute digno de consideraccedilatildeo moral e sendo assim animais vegetais e organismos monocelulares possuem valor intriacutenseco (LARREgraveRE LARREgraveRE1997) O entendimento de que todas as entidades naturais possuem um valor intriacutenseco pressupotildee considerar que ldquo[] a natureza vale por si mesma independentemente da utilidade e dos usos que lhe decirc o ser humanordquo (ACOS-TA MARTIacuteNEZ 2011 p 353 traduccedilatildeo nossa)

5 O filoacutesofo alematildeo Immanuel Kant (1724-1804) no seacuteculo XVIII fundamentou uma eacutetica baseada na razatildeo pela qual o sujeito deveria buscar as regras do que eacute justo e certo traccedilando sua conduta moral Para Kant somente os sujeitos possuem ldquofins em sirdquo pois satildeo seres racionais dotados de uma consciecircncia reflexiva capazes de auto-representar fins (LARREgraveRE 1997)

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A perspectiva biocecircntrica tem em Poul Taylor um dos grandes expoentes a partir de sua obra Respect of nautre (Respeito agrave natureza) publicada em 1986 Taylor diverge da tradiccedilatildeo antropocecircntrica ao defender que em uma situaccedilatildeo de conflito moral quando estatildeo postos interesses de diferentes entidades natu-rais natildeo seja levado em consideraccedilatildeo apenas os interesses dos agentes huma-nos mas o valor inerente agrave vida de cada indiviacuteduo ou seja a relevacircncia da vida em si mesma Poreacutem isso natildeo significa uma proibiccedilatildeo de qualquer intervenccedilatildeo na natureza em que uma vida natildeo possa ser exterminada mas que tal accedilatildeo seja precedida de uma justificaccedilatildeo de uma razatildeo eacutetica cuja competecircncia eacute dos agentes racionais (TAYLOR 1986)

Contudo a posiccedilatildeo biocecircntrica da eacutetica ambiental eacute passiacutevel de uma criacuteti-ca pragmaacutetica Atentemos a este exemplo considerando que a populaccedilatildeo de abelhas tem diminuiacutedo em diversas regiotildees do mundo e que estudos cientiacutefi-cos tecircm apontado uma relaccedilatildeo entre o desaparecimento das abelhas e o uso de agrotoacutexicos e considerando ainda que as abelhas desempenham um papel importante para a produccedilatildeo de alimentos no mundo garantindo a seguran-ccedila alimentar da populaccedilatildeo humana questiona-se O que eacute preciso proteger A vida de todas as abelhas individualmente ou as condiccedilotildees do ambiente de que elas dependem Obviamente se preservarmos as condiccedilotildees ambientais para que as abelhas continuem a existir reduziremos o risco de uma ameaccedila a todo o ecossistema Assim o valor da abelha natildeo estaacute no indiviacuteduo em si mas na espeacutecie no processo e no sistema natural ao qual pertence

Diante da inoperacircncia da perspectiva biocecircntrica sobretudo em relaccedilatildeo a qual consideraccedilatildeo moral deveraacute prevalecer para proteger e respeitar os indiviacute-duos eacute que emerge a perspectiva ecocecircntrica segundo a qual o valor natildeo estaacute no indiviacuteduo isoladamente mas no papel que cada um desempenha no con-junto que eles formam a comunidade bioacutetica (LARREgraveRE 2010) A eacutetica ecocecircn-trica destaca a importacircncia da responsabilidade de pertencer a uma totalidade pois os membros natildeo tecircm valor por eles mesmos mas pela interdependecircncia que exercem no conjunto

A perspectiva ecocecircntrica estaacute embasada em Aldo Leopold quando em 1949 escreveu The land ethic (A eacutetica da Terra) um toacutepico no livro A sand county almanac (Almanaque de um condado arenoso) que se transformou em seu escrito mais conhecido A eacutetica ecocecircntrica defendida por Leopold deu origem a Eacutetica da Terra e a Ecologia Profunda as quais abrangem todas as formas de vida sem hierarquizaccedilatildeo por consideraccedilatildeo moral deve nortear as accedilotildees humanas de modo a natildeo extinguir qualquer espeacutecie de vida a preocu-

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paccedilatildeo deixa de ser a vida humana ampliando para o ecossistema ao qual ela pertence (LEOPOLD 1989)

Embora permaneccedilam as limitaccedilotildees em relaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de conflitos de cunho moral quando o que se estaacute em jogo satildeo os interesses de uma determi-nada espeacutecie contra os interesses individuais dos seres vivos a eacutetica ambiental ecocecircntrica volta-se para a coletividade e natildeo para os indiviacuteduos Assim seria muito mais grave matar uma onccedila-pintada por exemplo pois trata-se de uma espeacutecie em risco de extinccedilatildeo do que matar uma capivara cuja populaccedilatildeo se prolifera podendo se tornar pragas em cidades Desse modo reiteramos que o valor do indiviacuteduo natildeo tem um fim em si mesmo mas eacute relativo agrave espeacutecie a qual pertence

Assim diante do superdimensionamento da civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica busca--se definir uma eacutetica que oriente a relaccedilatildeo sociedade e natureza Neste sentido Larregravere (2010) considera que o bom uso da natureza nos nossos dias eacute pautado pela visatildeo ecocentrada de natureza marcada pela relaccedilatildeo de interdependecircncia com as demais entidades naturais na qual se insere a ciecircncia e a teacutecnica O bom uso da natureza na contemporaneidade eacute um convite agrave responsabilidade agrave prudecircncia no emprego da teacutecnica pois a teacutecnica por si mesma pode natildeo dis-por de soluccedilotildees para os problemas causados por ela agrave natureza

4 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

As interpretaccedilotildees contemporacircneas sobre o projeto da modernidade e suas implicaccedilotildees na relaccedilatildeo homem e natureza nos conduziu a uma reflexatildeo sobre a atual crise ambiental e a necessidade de se considerar uma eacutetica proacutepria na produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e no uso da teacutecnica Esta discussatildeo ganha novos contornos a partir da tomada de consciecircncia da crise ambiental que amea-ccedila a nossa condiccedilatildeo na Terra Atribui-se de forma negativa aos avanccedilos teacutecnico-cientiacuteficos do periacuteodo moderno a potencializaccedilatildeo do poder de atuaccedilatildeo humana sobre a natureza provocando efeitos danosos e irreversiacuteveis para ambos

Contudo apesar de a modernidade ser caracterizada pelo ideal baconiano do ldquosaber eacute poderrdquo em que o homem orientado por uma racionalidade teacutecnica adquire saber para empreender poder sobre a natureza a ponto de dominaacute-la eacute preciso ponderar que eacute durante este periacuteodo que surgem as primeiras preo-cupaccedilotildees sobre a necessidade de estabelecer limites eacuteticos ao uso da teacutecnica e agrave produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico Basta analisar com mais atenccedilatildeo as proacuteprias inserccedilotildees de Bacon em suas obras sobre a necessidade de construir

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uma ciecircncia prudente e cautelosa na conduccedilatildeo de seus experimentos e resul-tados Ou ainda na criacutetica feita por Rousseau sobre os usos do conhecimento que segundo ele serviu para ampliar a desigualdade a qual considera um dos elementos mais prejudiciais agrave vida civil

Se por um lado o acossamento agrave ciecircncia moderna como a uacutenica responsaacutevel pela atual crise ambiental eacute no miacutenimo uma postura insensata pois descon-sidera os avanccedilos obtidos com o advento da ciecircncia e da teacutecnica empregadas em favor da humanidade por outro natildeo nos parece imprudente afirmar que a racionalidade que recebemos como heranccedila da modernidade tem sido um obstaacuteculo no diaacutelogo para uma eacutetica ambiental que possibilite uma outra re-laccedilatildeo homem e natureza Para tanto urge estabelecer uma eacutetica da responsa-bilidade do homem para com a natureza e entre os proacuteprios homens em suas relaccedilotildees sociais

Embora haja um apelo para uma eacutetica ambiental ecocecircntrica ainda natildeo eacute possiacutevel vislumbrar a curto e meacutedio prazo um mundo regido por esta raciona-lidade uma vez que natildeo tem como garantir a superaccedilatildeo da eacutetica antropocecircn-trica considerada a hierarquizaccedilatildeo por consideraccedilatildeo moral na qual a vontade humana prevalece sobre as demais entidades naturais Afinal eacute muito mais cocircmodo para o homem ser contra o desmatamento da floresta amazocircnica do que ser contra o abate de animais bovinos cuja pecuaacuteria extensiva eacute a maior responsaacutevel pelo derrubada das aacutervores na Amazocircnia transformando grandes aacutereas de floretas em aacutereas de pastagens

Poreacutem apesar das incertezas em torno dos resultados praacuteticos desta discus-satildeo ela nos aponta para uma ruptura do modelo de produccedilatildeo teacutecnico-cientiacute-fico exigindo mudanccedilas estruturais na forma de pensar e agir com a natureza

REFEREcircNCIAS

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 63

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E A QUESTAtildeO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS NA ESCOLA ESTADUAL DELCY BARRETO DE SOUZA DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

Rosangela Pereira ArauacutejoSeacutergio Luiz LopesSheila Mangolli Pedro Alves da Silva Filho

1 A EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E OS PROBLEMAS COM O LIXO

Eacute importante iniciar a seccedilatildeo conceituando o que chamamos de educaccedilatildeo ambiental na contemporaneidade Haacute uma diversidade conceitual poreacutem nos apropriamos de um breve conceito de Sauveacute (1997) A autora discute algumas delas que se completam entre si ao contraacuterio das variaccedilotildees existentes do am-bientalismo

Educaccedilatildeo sobre o meio ambiente trata-se da aquisiccedilatildeo de conhe-

cimentos e habilidades relativos agrave interaccedilatildeo com o ambiente que

estaacute baseada na transmissatildeo de fatos conteuacutedos e conceitos onde

o meio ambiente se torna um objeto de aprendizado Educaccedilatildeo no

meio ambiente tambeacutem conhecido como educaccedilatildeo ao ar livre cor-

responde a uma estrateacutegia pedagoacutegica onde se procura aprender

atraveacutes do contato com a natureza ou com o contexto biofiacutesico e so-

ciocultural do entorno da escola ou comunidade O meio ambiente

provecirc o aprendizado experimental tornando-se um meio de apren-

dizado Educaccedilatildeo para o meio ambiente processo atraveacutes do qual

se busca o engajamento ativo do educando que aprende a resolver

e prevenir os problemas ambientais O meio ambiente se torna uma

meta do aprendizado (SAUVEacute 1997 sp)

Observa-se que existe um debate amplo sobre o que vem a ser educaccedilatildeo ambiental A ideia da educaccedilatildeo ambiental eacute esclarecer o homem de que se faz

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necessaacuterio a todo instante o entendimento de que o meio ambiente eacute um es-paccedilo finito Por isso precisamos romper com o entendimento de ingenuidade do modelo convencional de Educaccedilatildeo ambiental

Nos uacuteltimos anos devido ao crescimento acelerado da populaccedilatildeo no Brasil e em funccedilatildeo dos avanccedilos tecnoloacutegicos houve mudanccedilas marcantes nos haacutebi-tos de consumo Com isso os resiacuteduos produzidos satildeo cada vez maiores e de qualidade diversificada contribuindo para uma seacuterie de problemas de ordem sanitaacuteria ambiental econocircmica e social

Nesse contexto Tavaris (2010) enfatiza que o crescimento populacional acelerado decorrente do desenvolvimento industrial aliado ao estiacutemulo de um modo de vida consumista que domina sobretudo os moradores das zonas ur-banas tornou o lixo um dos maiores problemas a ser enfrentado pois as cida-des como um gigantesco sistema de produccedilatildeo e consumo geram um exceden-te que natildeo eacute aproveitaacutevel satildeo toneladas de lixo que tem de ser coletados todos os dias e cujo destino nem sempre eacute dos melhores principalmente nos paiacuteses menos desenvolvidos que natildeo possuem programas amplos de sanitarismo e reciclagem

Ainda conforme o enfoque de Tavaris (2010) a educaccedilatildeo ambiental deve ser acima de tudo um ato poliacutetico voltado para a transformaccedilatildeo social capaz de transformar valores e atitudes construindo novos haacutebitos e conhecimentos defendendo uma nova eacutetica que sensibilizem e conscientizem a necessidade de formaccedilatildeo da relaccedilatildeo integrada do ser humano da sociedade e da natureza aspirando ao equiliacutebrio local e global como forma de melhorar a qualidade de todos os niacuteveis de vida

No entanto apesar de ser um desafio a sociedade necessita aderir agrave educaccedilatildeo ambiental para que atraveacutes de projetos pesquisas e informativos as pessoas se informatizem e colabore para a preservaccedilatildeo do meio ambiente Deste modo ele seria muito mais agradaacutevel se as pessoas se conscientizassem e desenvolvesse accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo ambiental e consequentemente a sauacutede

Compreendemos que o desafio proposto nesse trabalho pode levar ao desenvolvimento de taacuteticas educacionais para instigar os estudantes a com-partilhar e se envolver com o contexto pesquisado o que amplia as oportu-nidades de uma aprendizagem significativa e particularmente uma modifi-caccedilatildeo de conduta com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo e agraves suas teacutecnicas em relaccedilatildeo aos resiacuteduos soacutelidos

Gewandsznajder (2010) aponta que o homem estaacute degradando o meio ambiente com suas accedilotildees negativas como desflorestamentos queimadas e

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formaccedilatildeo de lixotildees a ceacuteu aberto O autor ainda recomenda que a sociedade necessita de sensibilizaccedilatildeo para o entendimento de que o meio ambiente deve ser preservado para garantir a sobrevivecircncia do homem Na mesma direccedilatildeo o estudioso constata que o crescimento desproporcional da populaccedilatildeo aumen-tou consideravelmente a quantidade de resiacuteduos soacutelidos e em consequecircncia a poluiccedilatildeo que afeta a sauacutede das pessoas

Uma dos reflexos das atividades desta pesquisa eacute possivelmente a discus-satildeo sobre a formaccedilatildeo de indiviacuteduos conscientes capazes com autonomia para determinar e agir positivamente na sociedade e no meio ambiente compro-missado com o bem estar e vida da sociedade pois atualmente o ser humano estaacute cada vez mais se distanciando da natureza e atua sobre o ambiente sem responsabilidade ocasionando amplos desequiliacutebrios na natureza

A importacircncia da limpeza puacuteblica para a sociedade justifica-se em funccedilatildeo de que o municiacutepio estaacute em pleno desenvolvimento e buscando parcerias mas no Brasil atualmente nem todas as pessoas tem o haacutebito e consciecircncia no que se refere ao destino dos resiacuteduos soacutelidos e isso sem distinccedilatildeo estaacute presente em todas as classes sociais (GEWANDSZNAJDER 2010)

Portanto de acordo com Tavaris (2010) uma educaccedilatildeo ambiental deve ser acima de tudo um ato poliacutetico voltado para a transformaccedilatildeo social capaz de transformar valores e atitudes construindo novos haacutebitos e conhecimentos defendendo uma nova eacutetica que sensibilizem e conscientizem a necessidade de formaccedilatildeo da relaccedilatildeo integrada do ser humano da sociedade e da natureza aspirando ao equiliacutebrio local e global como forma de melhorar a qualidade de todos os niacuteveis de vida

De acordo com Oliveira (2012)

Hoje satildeo inuacutemeros os problemas que afetam o meio ambiente a

contaminaccedilatildeo das aacuteguas o efeito estufa a destruiccedilatildeo da camada

de ozocircnio a quantidade de resiacuteduos soacutelidos o desaparecimento

de algumas espeacutecies de animais e de plantas etc esses satildeo alguns

dos reflexos da atividade humana sobre o meio ambiente O que eacute

necessaacuterio entender eacute que o homem eacute responsaacutevel por esses pro-

blemas causados ao meio ambiente e eacute necessaacuterio que faccedilamos al-

guma coisa para minimizar tantos problemas Pois pensar no meio

ambiente eacute acima de tudo pensar em nossa casa onde devemos

diariamente estar preservando para um ambiente limpo (OLIVEIRA

et al 2012 p 4)

66 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Os resiacuteduos soacutelidos estatildeo diretamente relacionados com o aumento da popula-ccedilatildeo e de suas necessidades e eacute considerado um fator de poluiccedilatildeo ambiental Aleacutem de se tornar feio o local onde se encontra produz mau cheiro e ainda atrai visitantes indesejaacuteveis como ratos baratas moscas besouros urubus entre outros

Na perspectiva de Tavaris (2010 p 798) ldquoo lixo eacute o nome dado a todos os tipos de resiacuteduos soacutelidos resultantes das diversas atividades humanas ou ao material considerado imprestaacutevel ou irrecuperaacutevel pelo usuaacuteriordquo seja papel pa-pelatildeo restos de alimentos vidros e embalagens plaacutesticas Os resiacuteduos soacutelidos contribuem direta ou indiretamente para a poluiccedilatildeo ambiental

Hoje em dia a maioria das cidades conta com serviccedilos puacuteblicos de limpe-za que compreendem tanto a coleta domiciliar dos resiacuteduos soacutelidos quanto o transporte e destino final dos mesmos Segundo Tavaris (2010) haacute dejetos que quando levados para lixotildees ocasionaram grandes problemas ambientais Pi-lhas baterias termocircmetros lacircmpadas fluorescentes tubos de TV entre outros conteacutem diversas substacircncias toacutexicas como o mercuacuterio o caacutedmio e o chumbo

Quando tais objetos satildeo depositados de maneira improacutepria liberam essas substacircncias que podem se infiltrar no solo e consequentemente pode conta-minar os depoacutesitos subterracircneos de aacutegua A produccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos eacute um problema em todo o mundo e dar a ele um destino adequado eacute um dos gran-des desafios da administraccedilatildeo puacuteblica e bem-estar social Apesar de tudo isso atualmente eacute visiacutevel que as pessoas jaacute estatildeo se preocupando com a prevenccedilatildeo da sauacutede e com a aparecircncia da natureza mas tal preocupaccedilatildeo ainda natildeo sufi-ciente para garantir a existecircncia plena da natureza

Quando depositado de forma inadequada os resiacuteduos soacutelidos servem de abrigo e fornece alimento pra ratos e vaacuterios insetos que auxiliam na prolifera-ccedilatildeo de fungos e bacteacuterias e consequentemente de doenccedilas Embora seja um problema em qualquer cidade zonas rurais eacute nos grandes centros que o pro-blema eacute mais grave

Aleacutem dos resiacuteduos domiciliares e comerciais as cidades geram os re-

siacuteduos de sauacutede conhecido como lixo hospitalar descartado pelos

hospitais postos de sauacutede farmaacutecias clinicas veterinaacuterias e casas de

sauacutede Embora produzido em menor porcentagem esse tipo de lixo

constituiacutedo por algodatildeo seringas e frascos de remeacutedios apresentam

grandes riscos agrave sauacutede pois os mesmos foram utilizados por pessoas

ou animais doentes e podem conter substancias toacutexicas ou veneno-

sas e ateacute mesmo contagiosas (RODRIGUES E CAVINATTO 1997)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 67

Todo o lixo coletado eacute transportado ateacute seu destino final Em geral os des-tinos satildeo os lixotildees os aterros controlados os aterros sanitaacuterios incineraccedilatildeo a compostagem e a reciclagem A forma mais barata e ainda muito usada eacute a dos depoacutesitos e os lixotildees a ceacuteu aberto Entretanto esses depoacutesitos apresentam seacuterios problemas ambientais sanitaacuterios e sociais

A sociedade estaacute a cada dia despertando mais interesse pelos meios de pre-servaccedilatildeo e pela educaccedilatildeo ambiental Entende-se que esse empenho eacute devido ao fato de que cada vez fica mais claro que os procedimentos de ampliaccedilatildeo dos meios socioeconocircmicos da atualidade permanecem intensamente relacio-nados agrave deterioraccedilatildeo do meio ambiente

Atualmente vemos constantes debates a respeito da Lei de Resiacuteduos Soacutelidos em Roraima onde os 15 municiacutepios do estado estatildeo com dificuldades em aten-der o que determina a lei 1230510 que instituiu no Brasil a Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos (PNRS) que conteacutem importantes instrumentos para o avanccedilo no enfrentamento dos problemas ambientais sociais e econocircmicos decorren-tes do manejo inadequado desse tipo de resiacuteduo

De acordo com a lei de resiacuteduos soacutelidos Lei Nordm 12305 de 02 de agosto de 2010 em seu artigo 3ordm paraacutegrafo XVI

Os resiacuteduos soacutelidos material substacircncia objeto ou bem descartado

resultante de atividades humanas em sociedade a cuja destinaccedilatildeo

final se procede se propotildee proceder ou se estaacute obrigado a proceder

nos estados soacutelido ou semissoacutelido bem como gases contidos em re-

cipientes e liacutequidos cujas particularidades tornem inviaacutevel o seu lan-

ccedilamento na rede puacuteblica de esgotos ou em corpos drsquoaacutegua ou exijam

para isso soluccedilotildees teacutecnica ou economicamente inviaacuteveis em face da

melhor tecnologia disponiacutevel

O Art 7o da referida lei mostra os objetivos da Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos como proteccedilatildeo da sauacutede puacuteblica e da qualidade ambiental natildeo geraccedilatildeo reduccedilatildeo reutilizaccedilatildeo reciclagem e tratamento dos resiacuteduos soacutelidos e disposiccedilatildeo adequada dos resiacuteduos estiacutemulo agrave adoccedilatildeo de padrotildees sustentaacuteveis de produ-ccedilatildeo e consumo de bens e serviccedilos adoccedilatildeo desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como meio de amenizar impactos ambientais reduccedilatildeo do volume dos resiacuteduos perigosos incentivo agrave induacutestria da reciclagem entre outros

Portanto torna-se imprescindiacutevel a discussatildeo sobre as formas de prevenccedilatildeo da deterioraccedilatildeo que ameaccedila a aquisiccedilatildeo de recursos apropriados tanto para

68 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

atividades comerciais quanto para a sobrevivecircncia da humanidade O processo de consumo aumentou muito nas uacuteltimas deacutecadas1 e em decorrecircncia maior produccedilatildeo e portanto em ampliaccedilatildeo na aacuterea de extraccedilatildeo de recursos naturais

A conscientizaccedilatildeo do homem no cuidado com o meio ambiente e preserva-ccedilatildeo dos recursos naturais imprescindiacuteveis agrave vida humana na esperanccedila de que as pessoas entendam o valor da natureza Os alunos devem compreender as decorrecircncias socioeconocircmicas da reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos e por meio dessa conscientizaccedilatildeo apoiar accedilotildees como a coleta seletiva e que observem tambeacutem a diminuiccedilatildeo do consumo Atualmente as tecnologias dispotildeem de inuacutemeras opccedilotildees de instrumentos que podem ser utilizadas pelo homem em prol da preservaccedilatildeo do meio ambiente

Sobre isso Oliveira et al (2012 p 02) afirma que

a escola exerce um o papel de levar ao aluno o conhecimento e a

compreensatildeo dos problemas que estatildeo a nossa volta Refletir sobre

o lixo orgacircnico eacute um meio de trabalhar conceitos valores atitudes

postura e eacutetica pois eacute um trabalho de grande importacircncia que en-

volve a realidade do dia-a-dia de cada um

Neste contexto a educaccedilatildeo ambiental traz um alerta sobre os problemas causados pelos resiacuteduos soacutelidos Apesar de campanhas sobre o tratamento e descarte dos resiacuteduos soacutelidos mesmo assim muitas pessoas continuam jogando resiacuteduo soacutelido em lugares improacuteprios Continuamos a observar em algumas accedilotildees e atitudes que o homem destroacutei a natureza A educaccedilatildeo am-biental deveria comeccedilar no interior das famiacutelias e chegar ateacute a escola Dessa forma os professores poderiam trabalhar as praacuteticas ambientais nas salas de aulas e contribuir para despertar nos alunos a conscientizaccedilatildeo sobre a relaccedilatildeo homem e natureza

A educaccedilatildeo ambiental eacute um tema transversal que deve perpassar o curriacutecu-lo da escola e portanto pode ser objeto de estudo e pesquisa O homem faz parte da natureza e dela depende a continuidade humana portanto estudar o homem e a sua relaccedilatildeo com o meio eacute pertinente ao campo de pesquisa

1 O processo de consumo aumentou muito nas uacuteltimas deacutecadas devido ao aumento desordenado da populaccedilatildeo da ampliaccedilatildeo do consumo de combustiacuteveis aumento no consumo de energia eleacutetri-ca e principalmente no aumento da produccedilatildeo de lixo e consequentemente as formas inadequadas de descarte do lixo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 69

2 HISTORIANDO SOBRE A EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL HOMEM E NA-TUREZA

Na nossa atual sociedade os resiacuteduos soacutelidos satildeo vistos como um inimigo da natureza e isso eacute o princiacutepio do processo de conscientizaccedilatildeo que pode levar o homem a desenvolver medidas de preservaccedilatildeo do meio ambiente visando um futuro melhor e mais saudaacutevel

Com a evoluccedilatildeo da sociedade e da economia a cada dia mais resiacuteduos soacuteli-dos satildeo produzidos em conjunto com o aumento do consumismo A consequ-ecircncia disso eacute a ampliaccedilatildeo do problema maior niacutevel de poluiccedilatildeo e maiores riscos de infecccedilotildees e doenccedilas respiratoacuterias principalmente em crianccedilas e idosos

Essa relaccedilatildeo harmoniosa torna-se consciente num equiliacutebrio dinacircmi-

co da natureza possibilitando o despertar de novos conhecimentos

valores e atitudes inclusive a inserccedilatildeo do educando e do educador

como cidadatildeos nesse processo de transformaccedilatildeo do atual quadro

ambiental de nosso planeta (GUIMARAtildeES 2012 p 15)

Busca-se resgatar a recuperaccedilatildeo do horizonte histoacuterico entre o homem e a natureza Pode-se dizer que a educaccedilatildeo ambiental de certa forma estaacute em busca do rompimento da concentraccedilatildeo de um pensamento mecacircnico do qual a natureza se faz inserida poreacutem perdem-se em qualidade no mundo globali-zado onde parece importar apenas a quantidade

Por esta razatildeo demonstra-se de maneira central e constitucional mais em termos de informaccedilatildeo torna-se precaacuterio por natildeo ter explicaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos problemas transversos que hoje em dia acontecem com mais assiduidade na natureza

Nesta perspectiva quando nos referimos ao destino dos resiacuteduos soacutelidos a condiccedilatildeo eacute extremamente desfavoraacutevel A conscientizaccedilatildeo eacute algo que natildeo estaacute presente independentemente de camadas sociais Portanto natildeo satildeo apenas as pessoas menos esclarecidas com baixo poder aquisitivo que atuam dessa forma mas tambeacutem pessoas com oacutetimas posiccedilotildees sociais alto niacutevel financeiro educadas e informadas

Vemos a falta de conscientizaccedilatildeo das pessoas nas ruas nas estradas tanto faz estarem na condiccedilatildeo de pedestre quanto na condiccedilatildeo de ocupantes de veiacuteculos todas jogam detritos no solo e o mais grave eacute que descartam os resiacuteduos soacutelidos como se natildeo tivessem conhecimento da existecircncia da educaccedilatildeo ambiental

70 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

O acuacutemulo de lixo gera tambeacutem um problema social que para muitos

significa sobrevivecircncia eacute a manipulaccedilatildeo do lixo pelas camadas mais

pobres da populaccedilatildeo que chegam mesmo a disputar os lixotildees em

busca das melhores sobras entre objetos e resto de alimentos natildeo

se importando com os riscos de contaminaccedilatildeo de produtos toacutexicos

(TAVARIS 2010 p 797)

Sabemos que os detritos depositados a ceacuteu aberto aleacutem de provocar pro-blemas ambientais causam mau cheiro propagaccedilatildeo de insetos contamina o solo e os fluxos de aacutegua agridem a nossa visatildeo natural produzem gases que danificam a camada de ozocircnio e deixa a atmosfera mais vulneraacutevel

Os depoacutesitos de resiacuteduos soacutelidos a ceacuteu aberto aleacutem de atrair insetos e ani-mais que ameaccedilam a nossa sauacutede tambeacutem atraem catadores de lixo que bus-cam nos grandes lixotildees opccedilotildees de sobrevivecircncia para as suas famiacutelias expondo--se assim a seacuterios riscos a sua sauacutede

No entanto o lixo em questatildeo passa a ser transportado para um local

onde apenas satildeo despejados em terrenos baldios jogados ali sem

muito compromisso seus dejetos e resiacuteduos a ceacuteu aberto passam a

contaminar e poluir o meio ambiente causando desse modo agres-

satildeo agrave natureza quando poderia tais desperdiacutecios desnecessaacuterios ser

reciclados (ARAUacuteJO LIMA e LIMA 2010)

Haacute algum tempo atraacutes os resiacuteduos soacutelidos eram compostos exclusivamente de restos de comida mateacuteria orgacircnica Os resiacuteduos reciclaacuteveis surgiram a par-tir do desenvolvimento da tecnologia e esses detritos tecircm presenccedila constante nas coletas

Atualmente o panorama oferecido eacute originado nas condiccedilotildees de vida das pessoas tudo gira em torno do poder aquisitivo em alguns aspectos porque quando se refere agrave exposiccedilatildeo de resiacuteduos e seu descarte inadequado todos satildeo iguais independentemente de classe social

Hoje podemos perceber que o maior problema enfrentado em relaccedilatildeo aos resiacuteduos soacutelidos eacute a falta de consciecircncia das pessoas pois grande parte pensa que jogar os resiacuteduos soacutelidos fora estaacute resolvendo o problema mas dependen-do do local que for descartado o problema soacute se agrava ainda mais aleacutem de tra-zer riscos agrave sauacutede pode contribuir drasticamente com a poluiccedilatildeo e degradaccedilatildeo do meio ambiente

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 71

A quantidade de lixo por pessoa por dia pode variar de 300 gramas

para as populaccedilotildees mais pobres em pequenas cidades indo ateacute 900

gramas nas cidades mais populosas com renda per capita maior

portanto esta uacuteltima classe eacute a mais inserida no mercado de con-

sumo Para fins de anaacutelise pode-se considerar uma produccedilatildeo meacutedia

de 500 gramas por pessoa como cotista diaacuterio nesse envolvimento

(ARAUacuteJO LIMA e LIMA 2010)

Na atualidade o destino final de detritos eacute um dos maiores desafios que as autoridades administrativas e governamentais enfrentam na tentativa de pro-teger a sociedade dos perigos que o acuacutemulo indevido de resiacuteduos pode trazer a vida das pessoas No entanto na busca de locais adequados para a disposiccedilatildeo final de detritos deve-se considerar alguns problemas enfrentados pelos res-ponsaacuteveis por esse trabalho como a falta de recursos financeiros e maquinaacuterios adequados para esse fim aleacutem desses problemas relatados ainda haacute um mais criacutetico que eacute o grande aumento de lixotildees a ceacuteu aberto

A cada dia percebe-se que a sociedade estaacute produzindo um volume maior de detritos e muitos natildeo estatildeo percebendo que soacute estatildeo aumentando o pro-blema pois muitos natildeo descartam os resiacuteduos soacutelidos devidamente De acor-do com Guimaratildees (2012) a educaccedilatildeo ambiental envolve conscientizaccedilatildeo do que se refere ao consumo e o que se recicla para poder ser protagonistas desse processo sustentaacutevel tatildeo necessaacuterios agrave natureza e a qualidade da vida humana

Geralmente um grande nuacutemero de pessoas busca a subsistecircncia de sua famiacutelia atraveacutes da cataccedilatildeo de lixo e isso natildeo ocorre apenas nos lixotildees a ceacuteu aberto mas tambeacutem nas ruas das grandes cidades onde as pessoas buscam res-tos de alimentos frutas e legumes nos resiacuteduos soacutelidos residenciais em feiras e mercados populares aleacutem disso tambeacutem procuram materiais reciclaacuteveis como plaacutesticos metais e papelotildees

As organizaccedilotildees ambientais estatildeo sempre em busca de soluccedilotildees para esse problema da disposiccedilatildeo inadequada dos resiacuteduos soacutelidos A cada dia que passa a preocupaccedilatildeo aumenta pois a degradaccedilatildeo do meio ambiente se percebe a olho nu tanto na natureza quanto na vida das pessoas Atualmente algumas cidades adotaram uma regra bastante eficiente que eacute a cobranccedila de multa por disposiccedilatildeo inadequada dos resiacuteduos soacutelidos Essa medida tem a finalidade de auxiliar na conscientizaccedilatildeo das pessoas e busca de soluccedilatildeo dos problemas com a poluiccedilatildeo

72 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Contudo a educaccedilatildeo ambiental eacute o meio mais adequado para a

construccedilatildeo de uma sociedade sustentaacutevel A construccedilatildeo dos novos

valores eacute construiacuteda a partir do processo educativo mesmo agravequelas

que se referem agraves questotildees ambientais por se tratar de uma trans-

formaccedilatildeo poliacutetica tatildeo necessaacuteria agrave ordem social como para a ordem

puacuteblica juriacutedica (GUIMARAtildeES 2012 p 12)

Desta maneira para acontecer essa educaccedilatildeo de forma adequada que con-

tribua para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e para a prevenccedilatildeo de doenccedilas eacute necessaacuterio que haja uma ampla mobilizaccedilatildeo natildeo soacute por parte da populaccedilatildeo mas tambeacutem por parte dos governantes para buscar recursos e repassar infor-maccedilotildees buscando a conscientizaccedilatildeo das pessoas para que as mesmas possam colaborar com essa accedilatildeo

Entretanto devido agrave falta de informaccedilotildees e interesse por parte das pessoas na sua maioria elas natildeo tem consciecircncia de que satildeo elas mesmas que arcam com esse serviccedilo atraveacutes do pagamento dos impostos Assim se essas pessoas se conscientizassem de que essas despesas saem dos seus bolsos talvez valori-zassem mais os serviccedilos de limpeza e contribuiriam mais para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e da sua proacutepria vida

De maneira geral a disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos eacute feita em locais afastados das cidades devido ao mau cheiro e a proliferaccedilatildeo de animais e insetos aleacutem do perigo de contrair doenccedilas infecciosas devido o contato com os resiacuteduos soacutelidos

Uma das maneiras mais simples de depositar resiacuteduos soacutelidos eacute feita nos chamados aterros sanitaacuterios onde os resiacuteduos satildeo descartados espalhados e amassados e depois aterrados ou seja coberto com areia O aterro sanitaacuterio eacute pois uma obra de engenharia estruturada para receber o detrito domiciliar

Essa eacute uma das maneiras encontrada pelas autoridades para depositar os resiacuteduos soacutelidos pois assim natildeo iraacute agredir o meio ambiente e prevenir a pro-pagaccedilatildeo de doenccedilas evita ainda que os resiacuteduos soacutelidos sejam espalhados aleacutem disso ainda protege a poluiccedilatildeo dos rios e diminui o acuacutemulo de gases na atmosfera

O aumento acelerado da populaccedilatildeo e o decorrente crescimento

desordenado das cidades criaram seacuterios problemas ambientais e

passaram a exigir soluccedilotildees voltadas para o desenvolvimento sus-

tentaacutevel no acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas e estas por conseguinte

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 73

promovam a sustentabilidade quer na forma do consumo a fim de

natildeo agravar esses problemas e que seja ambientalmente saudaacutevel

(ARAUacuteJO LIMA e LIMA 2010)

Um dos maiores desafios que as autoridades enfrentam atualmente eacute o de tentar sensibilizar as pessoas no intuito de levaacute-las a pensar e agir de forma ativa em prol do meio ambiente Com esse propoacutesito os oacutergatildeos defensores do meio ambiente realizam campanhas e mais campanhas em busca do auxiacutelio das pessoas para garantir um futuro melhor pra sociedade A histoacuteria da hu-manidade vem a cada dia evoluindo juntamente com a evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

Em decorrecircncia da ausecircncia de debates amplos um grande nuacutemero de pes-soas natildeo compreende o sentido da natureza para a relaccedilatildeo harmocircnica entre homem e ambiente Eacute totalmente explicito a atitude das pessoas em relaccedilatildeo agrave natureza muitos dizem que isso eacute soacute conversa sem importacircncia porque fazem sempre as mesmas coisas e nunca mudou nada as coisas continuam iguais mas natildeo percebem que o planeta estaacute entrando em colapso e que qualquer ajuda eacute bem-vinda na tentativa de salvar a terra da destruiccedilatildeo ambiental

A disposiccedilatildeo adequada do lixo pretende atender aspectos sanitaacuterios

como o domiacutenio dos vetores e a proteccedilatildeo dos solos e da aacutegua con-

servando residecircncias estabelecimentos comerciais industriais e de

sauacutede vias puacuteblicas e aacutereas verdes limpas e livres de contaacutegio (CAR-

VALHO e OLIVEIRA 2011)

Quando depositado de forma inadequada os resiacuteduos soacutelidos promovem o aumento e a propagaccedilatildeo de animais insetos e outros causadores transmis-sores de doenccedilas aleacutem de contaminar o solo e a aacutegua Cabe agrave populaccedilatildeo fazer o descarte de seus proacuteprios resiacuteduos adequadamente de maneira tal que natildeo ameace a sauacutede das pessoas e a preservaccedilatildeo da natureza

Segundo Medeiros et al (2011 p 4) a evoluccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental na deacutecada 60 surgiu manifestaccedilotildees populares no Brasil e no mundo a respeito de revelaccedilotildees de danos ambientais ateacute entatildeo desconhecida e os brasileiros come-ccedilaram a se organiza do e lutar para proteger o meio ambiente o que foi mais aguccedilado natildeo soacute no Brasil mas em todo o mundo pelo lanccedilamento do livro ldquoprimavera silenciosardquo da jornalista americana Rachel Carson que se tornou um claacutessico na histoacuteria do movimento ambientalista mundial desencadeando uma grande inquietaccedilatildeo internacional e suscitando discussatildeo nos diversos paiacuteses

74 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Nessa perspectiva Medeiros et al ressaltam que

O surgimento da educaccedilatildeo ambiental se deu a partir de manifesta-

ccedilotildees no Brasil com o propoacutesito de se pensar em uma educaccedilatildeo vol-

tada para preservar a natureza Poreacutem na deacutecada dos anos 60 foi que

comeccedilou essa grande revoluccedilatildeo do meio ambiente com a necessi-

dade de mostrar para o mundo o quanto e importante respeitar as e

preservar o nosso meio em que vivemos (MEDEIROS et al 2011 p5)

Na ocasiatildeo foi aceito que a educaccedilatildeo ambiental devesse se tornar parte es-sencial da educaccedilatildeo de todos os cidadatildeos e seria vista como sendo essencial-mente conservaccedilatildeo ou ecologia aplicada para o homem ter o conhecimento de como era a natureza antes de conhecer os programas relacionados agraves conferecircn-cias ele natildeo tinha noccedilatildeo de como lidar com certos tipos de riscos relacionados ao mundo em que vivemos E isso vem trazendo mudanccedilas nos dias de hoje jaacute se discute a educaccedilatildeo ambiental em quase todos os paiacuteses da Ameacuterica Latina de acordo com os estudos realizados em livros revistas jornais

Eacute muito interessante falar sobre o homem e a natureza poreacutem no nosso cotidiano devemos estar mais atentos a tudo que nos rodeia para natildeo deixar que a natureza morra por isso temos que tratar a natureza de forma em que tudo possa se transformar em vida

Sendo assim Medeiros et al (2011 p8) diz que

O ser humano antigamente usava a natureza como fonte de subsidio

para sobreviver bem e sustentar suas famiacutelias apoacutes um longo tempo

o homem passou a querer mais e mais pelo menos para se destacar

no meio em que vivem mostrando que tem o poder nas matildeos e co-

meccedilar a explicar a natureza com acircnsia de ambiccedilatildeo

Portanto o homem depende da natureza para sobreviver por isso o homem passou a usar mais os recursos naturais como fontes de meios de sobrevivecircncias

Entatildeo o homem deve ter clareza de que suas accedilotildees prejudicam o meio am-biente jaacute que depende dele para sobreviver e assim seguir em frente com o propoacutesito de cuidar da natureza pois eacute dela que tira o sustento Nesse sentido a Educaccedilatildeo Ambiental busca saber se a interaccedilatildeo do homem se deu de forma consciente para a mesma forma de preservar ou visando apenas a exploraccedilatildeo do meio em que estaacute inserido ou por necessidades

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 75

Borges Resende e Pereira (2009 p 447) corroboram ao afirmar que

A accedilatildeo do homem sobre o meio ambiente eacute tatildeo antiga quanto a sua

proacutepria histoacuteria desde muito tempo vem-se utilizando os recursos

naturais como fonte de vida Depois de tanto tempo de escraviza-

ccedilatildeo da natureza o homem comeccedilou a sofrer as consequecircncias dos

seus atos como o surgimento de doenccedilas provenientes de seu uso

inadequado

Seguindo a visatildeo dos referidos autores eacute que se pode refletir que foi jus-tamente o desmatamento trazido pela agricultura que acabou despertando o interesse poliacutetico e juriacutedico com vistas agrave necessidade de preservar os recursos naturais A destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural para o cultivo da terra e mineraccedilatildeo resulta no assoreamento dos rios poluiccedilatildeo do solo da aacutegua e do ar aleacutem disso esse desmatamento destroacutei microrganismos deixando o solo empobrecido

Portanto o meio ambiente tem se tornado alvo de discussatildeo nas conferecircn-cias realizadas nos encontros das Naccedilotildees Unidas motivo de preocupaccedilatildeo com o meio ambiente em busca de soluccedilatildeo para diminuir os impactos causados na pela accedilatildeo do homem Sabe-se que um dos maiores problemas que hoje preo-cupa a sociedade eacute o lixo pois todos precisam consumir soacute natildeo sabem o que fazer com o lixo que produzem (OLIVEIRA et al 2012)

Portanto vaacuterios autores se preocupam com a natureza pois estatildeo em busca de soluccedilotildees para diminuir os problemas que vem degradando o meio ambien-te Tambeacutem sabemos da nossa grande dependecircncia dos recursos naturais tan-to para nossas vidas como para a dos demais seres vivos

Nesse sentido a educaccedilatildeo ambiental eacute a educaccedilatildeo que busca alcanccedilar a sustentabilidade pois ela pode contribuir de forma emancipatoacuteria desmisti-ficando a relaccedilatildeo homem- natureza melhorando a qualidade desta relaccedilatildeo de forma transformadora contribuindo assim para uma sociedade ambiental e poli-ticamente alfabetizadora responsaacutevel pelo mundo que habita (LOUREIRO 2004 SAUVEacute 2005) Como dizem os autores desta relaccedilatildeo parte a necessidade da in-clusatildeo da educaccedilatildeo ambiental nos programas da educaccedilatildeo baacutesica com o propoacute-sito de construir sujeitos cidadatildeos e conhecedores de seus direitos e deveres

O homem depende muito da natureza para sobreviver e a forma de explo-raccedilatildeo e uso dos recursos naturais se deu de forma predatoacuteria no que se refere aos cuidados que devemos ter com os recursos naturais como solo ar aacutegua florestas etc

76 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

3 OS RESIDUOS SOacuteLIDOS EM ESCOLA HAacute EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL

Atualmente jaacute podemos perceber que os recursos naturais agrave nossa volta jaacute natildeo satildeo riquezas infinitas mas uma riqueza que necessita de cuidados de pre-servaccedilatildeo Poreacutem para que haja accedilotildees que conscientizem as pessoas a preservar e se for necessaacuterio utilizaacute-los que seja usar com bom senso

A Vila Reislacircndia no municiacutepio de Alto Alegre ndash Roraima como outras vilas e tambeacutem grande maioria das cidades brasileiras enfrenta dificuldades para solucionar os problemas do processo seletivo e o destino adequado dos resiacute-duos soacutelidos Portanto o objetivo deste trabalho eacute discutir a sensibilizaccedilatildeo da comunidade escolar para a importacircncia do descarte adequado dos resiacuteduos soacutelidos especialmente os da Escola Estadual Delcy Barreto de Souza na Vila Reislacircndia PAParedatildeo municiacutepio de Alto Alegre- RR Com isso demonstrou os problemas relacionados ao destino final dos resiacuteduos soacutelidos na Vila Reislacircndia no municiacutepio de Alto Alegre-RR e com a mesma ecircnfase identificou a necessi-dade de estabelecer uma praacutetica educacional voltada para a compreensatildeo da realidade e responsabilidades em relaccedilatildeo agrave vida pessoal coletiva e ambiental da nossa comunidade

Em continuidade houve a sensibilizaccedilatildeo das pessoas sobre a importacircncia da coleta de resiacuteduos soacutelidos e a busca por um lugar adequado para o seu descar-te visando agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e a prevenccedilatildeo de doenccedilas muito comuns em ambientes onde os resiacuteduos satildeo depositados a ceacuteu aberto

Em relaccedilatildeo a essa funccedilatildeo de conscientizaccedilatildeo cabe aos envolvidos com a ques-tatildeo da educaccedilatildeo ambiental a difiacutecil empreitada de desenvolver e estimular nas pessoas a consciecircncia dessa problemaacutetica e levaacute-las a procurar soluccedilotildees para tal

No entanto o padratildeo de desenvolvimento disponiacutevel atualmente natildeo faci-lita e muito menos acelera esse processo onde simultaneamente se estimula a centralizaccedilatildeo de patrimocircnios particulares se torna mais evidente a carecircncia de solidariedade entre as pessoas que necessitam de um ambiente saudaacutevel para viver Portanto nesse sentido buscou-se por meio dos dados coletados mostrar formas de preservaccedilatildeo do meio ambiente

De acordo com os estudos e a pesquisa realizada junto agrave Escola Estadual Delcy Barreto de Souza foi possiacutevel perceber a grande problemaacutetica da falta de local apropriado para o descarte dos resiacuteduos soacutelidos produzidos naquela instituiccedilatildeo Aleacutem disso verificou-se o empenho dos professores em sensibilizar seus alunos quanto agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e a prevenccedilatildeo de doenccedilas

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 77

Para a realizaccedilatildeo da pesquisa de campo foi utilizado o questionaacuterio como instrumento de coleta de dados O questionaacuterio eacute um dos procedimentos mais utilizados para obter informaccedilotildees Eacute uma teacutecnica com custo razoaacutevel apresenta as mesmas questotildees para todas as pessoas garante anonimato e pode conter questotildees para atender a finalidades especiacuteficas de uma pesquisa

O questionaacuterio foi elaborado de forma estruturada o qual tem como base perguntas claras objetivas e padronizadas com vistas a garantir certa uniformi-dade quanto agrave sua estrutura Esse instrumento foi escolhido devido ao seu alto grau de confiabilidade

Ao todo 03 professores participaram da pesquisa A escolha dessas pes-soas foi definida apoacutes a observaccedilatildeo de suas atividades dentro da instituiccedilatildeo escolar

A primeira pergunta feita aos professores foi sobre quais os perigos que os resiacuteduos soacutelidos podem oferecer quando descartado de forma incorreta As res-postas foram

Professor A ndash Satildeo vaacuterios como por exemplo os resiacuteduos soacutelidos hos-

pitalares descartados a ceacuteu aberto pois eles podem causar vaacuterios pro-

blemas agrave sauacutede como o respiratoacuterio aleacutem disso polui o solo e a aacutegua

Professor B ndash Os resiacuteduos soacutelidos satildeo descartados de forma incorreta

e pode causar contaminaccedilatildeo do solo e consequentemente dos ali-

mentos provocar acidentes quando se trata de vidros e objetos cor-

tantes Outro problema a ser mencionado eacute a proliferaccedilatildeo de insetos

ou mosquitos portadores de doenccedilas

Professor C - Satildeo muitos os perigos que os resiacuteduos soacutelidos podem

causar isso porque pode ocorrer pela infestaccedilatildeo de insetos atraveacutes

deles poderatildeo surgir doenccedilas como a dengue

Embora os resiacuteduos soacutelidos sejam considerados uma grande ameaccedila agrave vida verifica-se que eacute possiacutevel minimizar seus impactos ao desenvolver e seguir accedilotildees de prevenccedilatildeo e abdicando de praacuteticas consumistas ou entatildeo conscienti-zando a populaccedilatildeo seja em relaccedilatildeo ao destino ou agraves formas de reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos produzidos

Em se tratando da segunda questatildeo os professores foram indagados que em razatildeo de saberem que o lixo pode causar problemas de sauacutede se sabiam

78 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

nesse sentido qual o destino dos resiacuteduos produzidos na Escola Estadual Delcy Barreto de Souza As respostas obtidas foram as seguintes

Professor A ndash os resiacuteduos soacutelidos satildeo descartados dentro de um bu-

raco para ser enterrado

Professor B - Por natildeo ter um serviccedilo de coleta de resiacuteduos soacutelidos em

nossa localidade os resiacuteduos da escola satildeo queimados na aacuterea exter-

na da escola

Professor C ndash Os resiacuteduos soacutelidos produzidos nas salas de aulas satildeo

queimados jaacute os resiacuteduos produzidos na copa o orgacircnico eacute reutiliza-

do pelas copeiras que possuem animais domeacutesticos

O manuseio inapropriado de resiacuteduos soacutelidos de qualquer procedecircncia pro-voca desperdiacutecios gera ameaccedila constante agrave sauacutede das pessoas e torna mais gra-ve a degradaccedilatildeo ambiental comprometendo a qualidade de vida da populaccedilatildeo

Na terceira questatildeo foi perguntado aos professores se os resiacuteduos soacutelidos produzidos na escola ficam expostos por muito tempo Obtemos as seguintes respostas

Professor A ndash Natildeo

Professor B ndash Natildeo Porque a orientaccedilatildeo eacute para queimar os resiacuteduos

soacutelidos a natildeo ser que por motivo de esquecimento os resiacuteduos fi-

quem expostos agrave chuva o que leva a depender de dia quente para

queimaacute-lo

Professor C ndash Os resiacuteduos soacutelidos produzidos na escola natildeo ficam ex-

postos pois logo eacute queimado

Quanto agrave quarta questatildeo os professos foram indagados sobre qual seria o destino ideal para os resiacuteduos soacutelidos E para essa pergunta obtivemos as seguintes respostas

Professor A ndash Incinerar

Professor B ndash O destino ideal seria que a prefeitura fizesse a remoccedilatildeo

dos resiacuteduos soacutelidos natildeo orgacircnicos para um local apropriado e apro-

vado pela vigilacircncia em sauacutede e agentes do meio ambiente

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 79

Professor C - O correto seria natildeo produzir mas isso eacute uma tarefa im-

possiacutevel pois onde existem pessoas haacute consumo No entanto os

resiacuteduos soacutelidos deveriam primeiramente ser selecionado para a re-

alizaccedilatildeo da reciclagem Com relaccedilatildeo aos resiacuteduos soacutelidos orgacircnicos

deveriam ser utilizados para compostagem Acredito que seria uma

oportunidade para os alunos estudarem na praacutetica conceitos que fa-

zem parte do curriacuteculo escolar

Com o aumento desordenado da populaccedilatildeo consequentemente o consumo aumentou exageradamente e simultaneamente a poluiccedilatildeo e a degradaccedilatildeo ambiental Uma das formas de amenizar as consequecircncias causadas pela disposiccedilatildeo inadequada dos resiacuteduos soacutelidos seria a coleta seletiva em conjunto com a reciclagem Mas a tarefa de fazer com que as pessoas tenham atitudes ambientalmente corretas natildeo eacute faacutecil Isto porque apesar de sermos parte do meio ambiente em geral natildeo temos consciecircn-cia disso

Na quinta questatildeo perguntamos aos professores se eles sabiam de algum projeto para melhorar o destino dos resiacuteduos soacutelidos na Escola Estadual Delcy Barreto de Souza

Professor A - No momento natildeo

Professor B - Sim Na escola existem projetos de reciclagem dos re-

siacuteduos soacutelidos e de aproveitamento dos resiacuteduos orgacircnicos Quanto

ao segundo a escola natildeo dispotildee de aacuterea apropriada para a produccedilatildeo

de hortaliccedilas

Professor C ndash No presente momento natildeo temos nenhum projeto para

melhorar o destino do lixo na escola estadual Delcy Barreto de Souza

Eacute importante destacar a importacircncia de envolver a comunidade escolar como um todo nos projetos voltados para a preservaccedilatildeo do meio ambiente No dia-a-dia escolar podem ser ensinados valores envolvidos na Educaccedilatildeo Ambiental e prover bons exemplos para os alunos

Em relaccedilatildeo agrave sexta questatildeo perguntamos aos professores se a escola parti-cipa de alguma praacutetica de educaccedilatildeo ambiental Essa temaacutetica eacute trabalhada em sala de aula

80 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Professor A ndash Sim E eacute trabalhado na sala de aula com os alunos

Professor B ndash A escola jaacute desenvolveu campanha de advertecircncia jun-

to a comunidade para conscientizaacute-la quanto ao descarte de resiacutedu-

os soacutelidos para que fosse prevenida a dengue e a zica

Professor C ndash Ateacute o momento natildeo existe uma praacutetica de educaccedilatildeo

ambiental no entanto a temaacutetica eacute estudada na sala de aula de acor-

do com o curriacuteculo

Nesse contexto a escola pode organizar campanhas de conscientizaccedilatildeo em conjunto com a comunidade fazer coleta de resiacuteduos reciclaacuteveis e desenvolver projetos que envolvamos alunos na confecccedilatildeo de artesanatos utilizando garra-fas pet papelotildees plaacutesticos vidros dentre outros materiais reciclaacuteveis que des-cartado na natureza inadequadamente demora anos e anos para se decompor poluindo solo aacutegua ar causando doenccedilas respiratoacuterias e infecciosas devido a proliferaccedilatildeo de insetos transmissores prejudicando ainda mais a qualidade de vida e do ambiente

Para concluir o questionaacuterio na seacutetima questatildeo perguntamos aos professo-res se os funcionaacuterios recebem algum tipo de informaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos resiacute-duos soacutelidos ou como deve ser feito a coleta e o destino dos mesmos

Professor A ndash Sim

Professor B ndash Existe capacitaccedilatildeo apenas nas aacutereas de assistecircncia teacutec-

nica e extensatildeo rural

Professor C ndash Os funcionaacuterios jaacute exercem uma rotina com relaccedilatildeo aos

resiacuteduos soacutelidos pois a vila natildeo possui serviccedilo de coleta puacuteblica as-

sim os resiacuteduos satildeo sempre queimados

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A elaboraccedilatildeo deste trabalho foi um modo de discutir a sensibilizaccedilatildeo da comunidade escolar para a importacircncia do descarte adequado dos resiacutedu-os soacutelidos especialmente os da Escola Estadual Delcy Barreto de Souza na Vila Reislacircndia PAParedatildeo municiacutepio de Alto Alegre- RR como forma de natildeo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 81

agredir o meio ambiente e a vida do homem na terra Dar um destino adequa-do aos resiacuteduos soacutelidos eacute um dos grandes desafios da administraccedilatildeo puacuteblica em todo planeta

A pesquisa discutiu simultaneamente sobre a necessidade da praacutetica edu-cativa voltada para o entendimento da realidade e responsabilidades em rela-ccedilatildeo agrave vida pessoal coletiva e ambiental da nossa comunidade Com a finalidade de sensibilizar as pessoas sobre a importacircncia do descarte adequado dos resiacute-duos soacutelidos e a busca por um lugar apropriado para esse fim tendo em vista agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e a prevenccedilatildeo de doenccedilas

Aleacutem disso buscou cultivar as distintas formas do indiviacuteduo praticar a coleta e o descarte adequado de resiacuteduos soacutelidos Os resiacuteduos soacutelidos que satildeo origi-nados pela escola geralmente satildeo queimados mas deve ser destacado que as pessoas precisam ter a consciecircncia de auxiliar na manutenccedilatildeo da limpeza

Esperamos com a realizaccedilatildeo deste trabalho envolver as pessoas que con-tribuiacuteram com informaccedilotildees claras sobre o problema da falta de um local apro-priado para a disposiccedilatildeo dos resiacuteduos soacutelidos e para a busca de soluccedilotildees do problema visando a prevenccedilatildeo tambeacutem da contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico da comunidade municiacutepio em questatildeo

Apesar de os resiacuteduos soacutelidos serem considerados uma grande ameaccedila agrave vida verifica-se que eacute possiacutevel diminuir seus impactos ao praticar accedilotildees de pre-venccedilatildeo como abdicar do consumismo excessivo sensibilizar a populaccedilatildeo seja em relaccedilatildeo ao destino ou agraves formas de reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos gerados

Eacute imprescindiacutevel neste sentido que o governo e a sociedade em geral adotem novas atitudes visando gerenciar de modo adequado a grande quantidade e diversidade de resiacuteduos que satildeo produzidos diariamente Accedilotildees nesta direccedilatildeo restringiratildeo a produccedilatildeo de resiacuteduos o que resultaraacute na proteccedilatildeo do ar do solo e da aacutegua trazendo como consequecircncia melhores condiccedilotildees de sauacutede melhor qualidade de vida e preservaccedilatildeo do meio ambiente

Nesta direccedilatildeo estaacute comprovado que as campanhas de sensibilizaccedilatildeo quan-to agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e da vida na terra requerem mais empenho por parte das autoridades governamentais responsaacuteveis pelas accedilotildees voltadas para esse fim

Portanto chego a conclusatildeo de que natildeo basta somente a realizaccedilatildeo de cam-panhas por parte dos governos estaduais municipais ou ONGs para colaborar com a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute necessaacuterio que as pessoas busquem informaccedilotildees e internalizem em suas mentes e isso se reflita em suas accedilotildees de que a preservaccedilatildeo do meio ambiente eacute de suma importacircncia para a existecircncia

82 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

dos seres vivos na terra A coleta e o descarte adequado do lixo contribuem para a limpeza e consequentemente para a manutenccedilatildeo da sauacutede e evitam a infestaccedilatildeo de insetos e animais causadores de doenccedilas

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84 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL ACERCA DA TRIacutePLICE EPIDEMIA (DENGUE-CHIKUNGUNYA-ZIKA) E SUA RELACcedilAtildeO COM OS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS DOS MORADORES NO POVOADO JUAacute MUNICIacutePIO DE PAULO AFONSO - BAHIA BRASIL

Andreacute Viniacutecius Bezerra de Andrade Silva Camilo Rafael Pereira Brandatildeo Kecircnia Dantas Alves Nadja Santos Vitoacuteria

INTRODUCcedilAtildeO

A Educaccedilatildeo Ambiental pode ser vista como uma expansatildeo da educaccedilatildeo onde um indiviacuteduo e coletividade em que estaacute inserido por meio de conheci-mentos e atitudes constroem meacutetodos de prevenccedilatildeo ao meio ambiente (BRA-SIL 2016) Segundo Jacobi (2013 p 193) a educaccedilatildeo ambiental apresenta-se com uma funccedilatildeo cada vez mais transformadora em que a ldquoco-responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento ndash o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo A questatildeo ambiental vem se tornando cada vez mais emergente e mesmo diante das muitas accedilotildees de prevenccedilatildeo ainda existem muitos problemas (PEREIRA MANSUR ALVES 2015) Alguns pesquisadores acreditam que a crise ambiental que vivenciamos eacute aleacutem de voltada ao ambiente em si eacute considerada uma crise tambeacutem civilizatoacuteria (MORALES MANSUR 2015) E de acordo com Capra (1996) a sociedade vive sob uma crise de percepccedilatildeo o que pode ser a principal causa para a falta tambeacutem de consciecircncia ateacute porque se natildeo se pode perceber torna-se difiacutecil o conhecimentocompreensatildeo

De acordo com Fernandes et al (2012) a percepccedilatildeo ambiental define-se como sendo uma tomada de consciecircncia do ambiente pelo homem que vai desde o ato de perceber o ambiente do qual faz parte ateacute aprender a cuidar e protegecirc-lo No entanto cada pessoa percebe reage e responde de forma dife-renciada agraves accedilotildees sobre o ambiente em que vive Para Fernandes et al (2012)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 85

estudar a percepccedilatildeo ambiental eacute de grande relevacircncia pois auxilia no processo de compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre o indiviacuteduo e o ambiente bem como expectativas anseios satisfaccedilotildees e insatisfaccedilotildees julgamentos e condutas As-sim faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de pesquisas em percepccedilatildeo ambiental por tratarem de fatos importantes a serem investigados sejam sobre valores ne-cessidades atitudes eou expectativas que determinados sujeitos tecircm em rela-ccedilatildeo ao seu meio vivencial (BAY SILVA 2011)

O Brasil por ser um paiacutes tropical apresenta um clima favoraacutevel para o desenvolvimento de determinadas enfermidades Camargo (2008) diz que a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) agrupa como Doenccedilas Tropicais as afecccedilotildees que se desenvolvem exclusivamente na zona dos troacutepicos e que ne-cessitam de clima quente e uacutemido A OMS relata ainda que o ano de 2016 foi marcado por um surto epidecircmico avassalador do viacuterus Zika (ZIKV) assim como o viacuterus da Dengue (DENV) e da Febre Chikungunya (CHIKV) satildeo exem-plos dessas Doenccedilas Tropicais e tecircm como vetor principal o mosquito Aedes aegypti (WHO 2016)

Tais doenccedilas surgem a partir da proliferaccedilatildeo em grande escala do seu vetor o mosquito A aegypti que tem preferecircncia por reservatoacuterios artificiais o que inclui o manejo incorreto dos resiacuteduos soacutelidos mesmo tendo oportunidade de completar seu ciclo no meio natural isso pelo fato de no meio antropizado ter sua prole mais protegida (VAREJAtildeO et al 2005)

No Brasil grande parte dos municiacutepios descartam seus lixos em vazantes (ou lixotildees) onde os resiacuteduos satildeo dispostos distantes das residecircncias sem nenhuma forma de tratamento Existem meios menos agressivos ao ambiente como os aterros controlados aacutereas de lixo cobertas sempre com uma camada de terra mas sem a preparaccedilatildeo do solo e os aterros sanitaacuterios que satildeo locais planejados antecipadamente para posterior disposiccedilatildeo de resiacuteduos com dispositivos que captam os gases e tratam o chorume (MUNtildeOZ 2002)

De fato vecircm ocorrendo diversas mudanccedilas no ambiente causadas pela accedilatildeo humana e necessita-se praticar uma educaccedilatildeo voltada para promover um pen-samento novo ou seja a sensibilizaccedilatildeo (PEREIRA GIBBON 2014) Deste modo tomando por base o surto epidecircmico de algumas Doenccedilas Tropicais (Dengue Zika Viacuterus e Chikungunya) transmitidas pelo mosquito Aedes (Stegomyia) aegyp-ti (Linnaeus 1762) (Diptera Culicidae) este artigo objetivou investigar a Percep-ccedilatildeo Ambiental da comunidade do Povoado Juaacute em relaccedilatildeo agrave prevalecircncia des-sas doenccedilas identificando quais os meacutetodos de informaccedilatildeo e prevenccedilatildeo mais utilizados pelos entrevistados na localidade buscando associaacute-las ao destino

86 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

incorreto dos Resiacuteduos Soacutelidos gerados na regiatildeo com a finalidade de conhecer o posicionamento da populaccedilatildeo diante desses casos

1 CONCEPCcedilAtildeO METODOLOGICA

A pesquisa foi realizada no Povoado Juaacute que estaacute inserido no municiacutepio de Paulo Afonso ndash BA limitando-se ao Norte com o municiacutepio de Gloacuteria ao Sul com os municiacutepios de Jeremoabo Santa Briacutegida e tambeacutem com o Estado de Alagoas a Oeste limita-se com o municiacutepio de Rodelas (DIAS PAES 2007) Conforme o censo realizado pelo Centro de Zoonoses em 2016 a populaccedilatildeo do povoado eacute estimada em 1872 pessoas e segundo Rocha (2009) o clima desta regiatildeo eacute do tipo Bsh (quente e seco) de acordo com a classificaccedilatildeo de Koumleppen com precipitaccedilatildeo meacutedia anual de 500 mm O presente artigo obteve seus re-sultados a partir de uma metodologia com cunho quali-quantitativo (APPOLI-NAacuteRIO 2012) seguindo o modo de pesquisa de campo atraveacutes de observaccedilotildees diretas intensivo-participantes artificiais

Para Lakatos e Markoni (2001) a pesquisa participante artificial eacute aquela em que o pesquisador natildeo pertence agrave comunidade em que realiza as obser-vaccedilotildees sejam diretas ou indiretas e de quaisquer intensidades bem como apresenta finalidades descritivas e exploratoacuterias (PRODANOV FREITAS 2013) Os dados para os resultados da pesquisa foram obtidos atraveacutes da aplica-ccedilatildeo de formulaacuterios semiestruturados e com uso de pranchas com imagens (LAKATOS MARKONI 2001 FLICK 2009) em ruas escolhidas aleatoriamente na comunidade e as respostas foram triadas por meio de porcentagem sim-ples apresentadas sob a forma de graacuteficos gerados atraveacutes do programa de computador Microsoft Office Excelreg Para a realizaccedilatildeo do trabalho os entrevis-tados aceitaram a participaccedilatildeo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

2 ACUIDADE DA POPULACcedilAtildeO

Foram entrevistados 100 residentes da comunidade do Povoado Juaacute sendo 70 dos entrevistados composto por mulheres e 30 por homens com idades variadas conforme revela a Tabela 1 O maior percentual dos entrevistados per-tence agrave faixa etaacuteria de 61 a 70 anos (14) seguido de 51 a 60 anos (13) e 41 a 50 anos (12) Algumas questotildees do formulaacuterio permitiram muacuteltiplas escolhas por parte dos entrevistados

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 87

Tabela 1 - Faixa etaacuteria dos sujeitos da pesquisa

Faixa etaacuteria Percentual ()

lt 10 anos 15

11 a 20 anos 11

21 a 30 anos 11

31 a 40 anos 10

41 a 50 anos 12

51 a 60 anos 13

61 a 70 anos 14

71 a 80 anos 10

81 a 90 anos 4

Fonte Autor (2016)

Todos os entrevistados jaacute ouviram falar sobre Dengue Chikungunya ou Zika viacuterus entretanto natildeo compreendiam de fato sobre os sinais e sintomas das res-pectivas doenccedilas ou arboviroses De acordo com o Graacutefico 1 um percentual de 22 indicou sintomas mais gerais e comuns agraves referidas Doenccedilas Tropicais e apenas 2 dessas respostas relatam sintomas mais especiacuteficos diferenciando cada uma delas A Dengue em casos isolados pode apresentar hemorragia e dores atraacutes dos olhos com presenccedila de vocircmito A Chikungunya eacute caracterizada por febre constante dores intensas e persistentes nas articulaccedilotildees e a Zika pode apresentar manchas vermelhas na pele e seu viacuterus pode ser transmitido via transfusatildeo sanguiacutenea aleacutem de gerar complicaccedilotildees na gravidez como a mi-crocefalia eou na juventude como a Siacutendrome de Guillain-Barreacute (BRASIL 2016 BARBOSA 2015 BELTRAME 2016 HONOacuteRIO et al 2015 WHO 2016)

Graacutefico 1 ndash Respostas acerca da definiccedilatildeo das arboviroses por parte dos moradores do Povoado Juaacute ndash Paulo Afonso Brasil

Fonte Autor (2016)

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Todos os moradores entrevistados relataram tambeacutem ter se contaminado ou conhecer algueacutem com sintomas das referidas doenccedilas com gravidade ele-vada No conhecimento disseminado entre a comunidade 72 disseram ter adquirido a Febre Chikungunya 24 Dengue e 10 relataram contato com o viacuterus da Zika (Graacutefico 2) No que diz respeito aos oacutebitos 61 se referiram agrave morte de uma pessoa idosa do sexo feminino e acreditam que outras doenccedilas crocircnicas agravaram o quadro levando-a ao falecimento

A Dengue atinge anualmente de 50 a 80 milhotildees de pessoas em mais de 100 paiacuteses ocasionando 20 mil mortes (MENDONCcedilA DUTRA 2009) e de acor-do com Maciel Juacutenior e Martelli (2009) no Brasil foram registrados 500 mil ca-sos com 158 mortes Na Bahia em 2016 o Boletim da Diretoria de Vigilacircncia Epidemioloacutegica relata que 7700 casos foram notificados em 201 municiacutepios (4820) E a faixa etaacuteria mais comum dos infectados variava entre 20 a 49 anos com prevalecircncia de 5767 do sexo feminino

Em relaccedilatildeo a Febre Chikungunya foram notificados 1240 casos em 68 mu-niciacutepios (1630) sendo 6131 dos infectados mulheres com idades tambeacutem entre 20 e 49 anos A Zika teve 1777 casos notificados em 108 municiacutepios (2589) com a faixa etaacuteria igual agraves arboviroses citadas anteriormente tendo o sexo feminino sido representado por 6736 dos casos

Graacutefico 2 - Casos confirmados das arboviroses segundo os moradores do Povoado Juaacute

Fonte Autor (2016)

Para diagnoacutestico das doenccedilas 76 dos sujeitos entrevistados tiveram aces-so ao centro de sauacutede e 47 dos entrevistados relataram ter realizado exames para diagnose das arboviroses Deste percentual 40 destes foram submeti-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 89

dos a exames laboratoriais que segundo informaccedilotildees colhidas com os mes-mos natildeo receberam os resultados Cinquenta e trecircs por cento relataram natildeo ter realizado nenhum exame (Graacutefico 3)

Apesar da maioria dos casos ser diagnosticada clinicamente os meacutetodos mais eficazes para a identificaccedilatildeo da doenccedila partem de exames hematoloacutegicos (imunidade e contagem de plaquetas) e soroloacutegicos (FIGUEIREDO et al 1992 VIDO et al 1999 ARAUacuteJO et al 2002 BARROS et al 2008)

Graacutefico 3 - Diagnoacutestico cliacutenico e laboratorial realizado pelos moradores do Juaacute para identificaccedilatildeo da triacuteplice epidemia (Dengue-Chikungunya-Zika)

Fonte Autor (2016)

Para saber da comunidade quem era o causador dessas Doenccedilas Tropicais foram mostradas trecircs imagens nomeadas com as letras A B e C sendo a ima-gem A Mosquito Palha (Lutzomyia longipalpis [Lutz amp Neiva 1912]) B Mosquito da Dengue (Aedes aegypti) e C Barbeiro (Triatoma infestans [Klug]) A maioria representada por 81 acertou respondendo ser o mosquito A aegypti o trans-missor responsaacutevel pela Dengue Chikungunya e Zika Viacuterus Um por cento natildeo soube responder e 7 natildeo respondeu (Tabela 2)

As doenccedilas anteriormente citadas satildeo causadas pelo culiciacutedeo A aegypti (TAUIL 2001 Idem 2002 PINTO JUacuteNIOR et al 2015 HONOacuteRIO et al 2015 BRA-SIL 2016) Estes dados conferem com as informaccedilotildees difundidas pela miacutedia cujo mosquito vetor bem como seus reservatoacuterios destacam-se nas miacutedias e nos meios de informaccedilatildeo de um modo geral (LENZI COURA 2004 ARAUacuteJO ARAUacuteJO-JORGE MEIRELLES 2005)

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Tabela 2 - Respostas acerca do vetor da Dengue Chikungunya e Zika

Imagens Percentual ()Imagem A 6Imagem B 81Imagem C 5

Natildeo souberam 1Natildeo responderam 7

Fonte Autor (2016)

A tabela 3 mostra que 84 dos entrevistados obtiveram as informaccedilotildees so-bre a triacuteplice epidemia a partir da televisatildeo 30 do raacutedio e 22 por informa-ccedilotildees disponiacuteveis no posto de sauacutede Panfletos accedilotildees sociais e internet somaram 13 e 34 responderam que se informam atraveacutes de outros meios entre os mais citados a escola e as conversas com vizinhos A televisatildeo destaca-se nos trabalhos de Lenzi e colaboradores (2000) com a justificativa de ser um bem material mais acessiacutevel agrave comunidade

Regis e colaboradores (1996) apontam como uma das funccedilotildees da escola informar e mobilizar a comunidade no que diz respeito agraves diversas companhas As accedilotildees sociais originadas no serviccedilo de sauacutede satildeo divulgadas em outdoors raacute-dio tv e outros meios comunicativos no entanto a utilizaccedilatildeo da linguagem faacutecil acaba por gerar uma informaccedilatildeo incompleta (BRASSOLATTI ANDRADE 2008)

Tabela 3 - Meio de informaccedilatildeo mais citado pelos moradores

Meio de informaccedilatildeo Percentagem ()TV 84

Raacutedio 30Internet 7

Posto de Sauacutede 22Accedilotildees Sociais 3

Panfletos 3Outros 34

Fonte Autor (2016)

A tabela 4 nos mostra que o meio mais citado para prevenccedilatildeo da Dengue Febre Chikungunya e Zika foi o mosqueteiro com um percentual de 77 segui-do da eliminaccedilatildeo dos focos do agente causador que representou 67 das res-postas e 52 disseram receber os agentes de endemias Os repelentes artificiais satildeo utilizados por 31 dos entrevistados Quando foram questionados sobre a existecircncia de algum trabalho de accedilatildeo social na comunidade 84 relataram ter e citaram os agentes de endemias e o posto de sauacutede como exemplo 11

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 91

disseram que natildeo existem trabalhos sociais no povoado e 5 natildeo souberam informar

Segundo informaccedilotildees colhidas com o Centro de Zoonozes muitos mora-dores natildeo estatildeo em casa no horaacuterio da visita Uma das funccedilotildees do agente de endemias eacute retornar agrave residecircncia ao menos trecircs vezes apoacutes a terceira visita sem sucesso ou a recusa do morador o imoacutevel eacute dado como fechado ou recusado respectivamente

Os trabalhos de Santos Cabral e Augusto (2011) e de Claro Tomassini e Rosa (2004) tambeacutem corroboram com os resultados desta pesquisa no que diz res-peito agrave eliminaccedilatildeo dos focos do mosquitolimpeza da residecircncia Repelentes naturais natildeo foram citados pelos sujeitos participantes da pesquisa O que jaacute foi mostrado pelo trabalho de Silva (2016) ao relatar que grande parte dos mora-dores (83) de trecircs bairros da cidade de Paulo Afonso natildeo conhecem ou fazem uso de plantas e apenas uma minoria afirma que aleacutem de conhecer a existecircncia de plantas que exercem efeitos danosos sobre o mosquito fazem uso delas na tentativa de repelir eou matar o mosquito ou ateacute mesmo curar a infecccedilatildeo viral transmitida pelo vetor

Tabela 4 - Meios de prevenccedilatildeo citados pelos entrevistados

Meio de Prevenccedilatildeo Percentual ()

Natildeo realiza 3

Mosqueteiro 77

Fumaccedila 1

Inseticidas aerossoacuteis 24

Repelentes artificiais 31

Repelentes naturais 0

Eliminaccedilatildeo dos focos 67

Sensibilizaccedilatildeo 0

Recebe os agentes 52

Outros 0

Fonte Autor (2016)

Em relaccedilatildeo agrave questatildeo dos Resiacuteduos Soacutelidos 91 dos entrevistados afirma-ram que a coleta do Povoado Juaacute ocorre trecircs vezes na semana por meio de um trator que leva o lixo para um terreno mais afastado da aacuterea residencial Mui-tos disseram ainda que parte do lixo eacute queimado ou enterrado nesse terreno A prefeitura natildeo realiza a coleta no povoado e segundo informaccedilotildees colhidas

92 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

com os moradores um morador agrave eacutepoca candidato a vereador dispocircs de um dos seus terrenos para a disposiccedilatildeo final do lixo na comunidade Ainda em rela-ccedilatildeo ao lixo 94 ressaltaram a importacircncia de separaacute-lo apesar de 56 afirmar que natildeo realizam esse procedimento pois relataram que o lixo seraacute misturado posteriormente Oitenta e dois por cento dos moradores relataram estar o lixo associado ao aumento das principais doenccedilas transmitidas pelo mosquito A aegypti (Tabela 5)

Tabela 5 - Opiniatildeo dos entrevistados em relaccedilatildeo ao lixo associado agrave proliferaccedilatildeo de doenccedilas

Produccedilatildeo de lixo Percentual ()Proliferaccedilatildeo de doenccedilas 82

Natildeo interfere na proliferaccedilatildeo 16Natildeo souberam responder 2

Fonte Autor (2016)

No Brasil segundo Muntildeoz (2002) grande parte dos municiacutepios descartam seus lixos em vazantes (ou lixotildees) onde os resiacuteduos satildeo dispostos distantes das residecircncias sem nenhuma forma de tratamento A coleta seletiva eacute um dos prin-cipais instrumentos de intervenccedilatildeo social e tem sido apresentada como uma das melhores soluccedilotildees para a reduccedilatildeo do lixo urbano sendo assim a mais indi-cada pois economiza trabalho na captaccedilatildeo e triagem aleacutem de melhorar a qua-lidade dos resiacuteduos a serem reciclados (PEIXOTO CAMPOS DrsquoAGOSTO 2005 TRINDADE 2011) Sabe-se que a produccedilatildeo exagerada o incorreto manejo e a disposiccedilatildeo do lixo acarretam na poluiccedilatildeo do solo aacutegua ar e direta ou indireta-mente na transmissatildeo de doenccedilas (ALENCAR 2005 GUIZARD et al 2006 RIBEI-RO ROOCKE 2010)

3 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores do Povoado Juaacute no que diz respeito agraves Doenccedilas Tropicais causadas pelo A aegypti e a associaccedilatildeo destas ao incorreto destino final dos Resiacuteduos Soacutelidos estaacute disseminada na comunidade pelo fato da ocorrecircncia dos diversos casos das arboviroses bem como o reconhecimento dos sinais e sintomas das mesmas Ressalta-se que a idade estaacute relacionada ao niacutevel de assimilaccedilatildeo e a forma de perceber os acontecimentos da regiatildeo tendo sido um fator contribuinte para a absorccedilatildeo e identificaccedilatildeo de alguns conceitos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 93

Em relaccedilatildeo aos meios de informaccedilatildeo a televisatildeo e o raacutedio satildeo os que mais difundem informaccedilotildees acerca da prevenccedilatildeo das doenccedilas tropicais no entanto sabe-se que esses veiacuteculos de comunicaccedilatildeo possuem uma particularidade na construccedilatildeo de suas pautas em detrimento do tempo a exemplo de comerciais de curto periacuteodo que trazem informaccedilotildees pontuais

Uma das soluccedilotildees seria a inserccedilatildeo de conteuacutedos mais completos em rela-ccedilotildees agraves doenccedilas tropicais com maior abrangecircncia de tempo como programas de entrevistas com especialistas das aacutereas de sauacutede e ambiental intercalando com representantes da comunidade a fim de que as duacutevidas pudessem ser mi-nimizadas

Importante voltar o olhar para os puacuteblicos identificados nas entrevistas principalmente os idosos de 61 a 70 anos que precisam receber informaccedilotildees sobre as doenccedilas tropicas de forma mais didaacutetica e frequente

Nesse contexto a educaccedilatildeo ambiental possui um papel fundamental na ex-tensatildeo da educaccedilatildeo principalmente nas escolas com accedilotildees de sensibilizaccedilatildeo e que devem se estender a postos de sauacutede e agrave comunidade a fim de estimular seus participantes em quaisquer faixas etaacuterias a perceber o ambiente em que estatildeo inseridos

Uma accedilatildeo conjunta entre poder puacuteblico miacutedia e moradores do povoado Juaacute para a identificaccedilatildeo dos problemas ou temas puacuteblicos a fim de corroborar com a mudanccedila da realidade e a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas nas aacutereas de sauacutede e ambiental em benefiacutecio do referido povoado

Assim a pesquisa eacute um excelente instrumento para a identificaccedilatildeo das questotildees ambientais e a divulgaccedilatildeo dos dados coletados deve ser compreen-dido pelo poder puacuteblico como ferramenta imprescindiacutevel para a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que visem o desenvolvimento sustentaacutevel das cidades

AGRADECIMENTOS

Agrave Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica do Estado de Sergipe (FAPITEC)

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloa-mento de Pessoal de Niacutevel Superior - Brasil (CAPES) - Coacutedigo de Financiamento 001 da Portaria Nordm 206 de 04 de setembro de 2018

94 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

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98 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

A IDENTIFICACcedilAtildeO DE DESENHOS ANIMADOS COM CONTEUacuteDOS SOCIOAMBIENTAIS POR CRIANCcedilAS DO CICLO BAacuteSICO

Marilia Barbosa dos SantosAntocircnio MenezesJonielton Oliveira Dantas

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas as questotildees de cunho ambiental tecircm se integrado com maior frequecircncia aos debates sociais e poliacuteticos Deste modo os meios de co-municaccedilatildeo tecircm exercido protagonismo na difusatildeo de informaccedilotildees de cunho ambiental muitas vezes inseridas de forma secundaacuteria no debate Face agrave glo-balizaccedilatildeo a sociedade tem sido bombardeada com um nuacutemero significativo de informaccedilotildees de caraacuteter ambiental poreacutem faz-se necessaacuterio que tais infor-maccedilotildees tenham comprometimento com a transformaccedilatildeo da atual realidade socioambiental

Para Mcluhan (1969) o meio eacute a mensagem e esta depende natildeo da maneira que eacute transmitida mas como eacute transmitida Toda compreensatildeo das mudanccedilas sociais e culturais eacute restrita sem o conhecimento analiacutetico da contextualizaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica dos seus processos acontecimentos e registros Neste sentido os consumidores de informaccedilatildeo devem se esquivar da atraccedilatildeo das campanhas propagandas de corporaccedilotildees ou veiacuteculos de comunicaccedilatildeo de massa cuja cre-dibilidade eacute cada vez mais duvidosa pelo alto grau de manipulaccedilatildeo de informa-ccedilotildees e de interesses mercadoloacutegicos

Os aspectos culturais veiculados pelos meios de comunicaccedilatildeo forne-cem materiais que satildeo capazes de criar identidades e inserir os indiviacuteduos na sociedade tecnocapitalista gerando um novo panorama de cultura glo-bal (KELLNER 2001) Neste contexto os desenhos animados tecircm incentivado crianccedilas a interagir com as informaccedilotildees de cunho ambiental por intermeacutedio dos programas infantis os pequeninos podem criticar opinar e se posicionar sobre temas que se relacionam agrave sustentabilidade preservaccedilatildeo e conserva-ccedilatildeo ambiental

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 99

Deste modo o presente artigo teve como objetivo identificar quais dese-nhos em circulaccedilatildeo favorecem a promoccedilatildeo de accedilotildees que visem agrave conservaccedilatildeo dos recursos naturais

O texto estaacute dividido em quatro partes na primeira aborda-se o meio am-biente sobre a perspectiva comunicacional a segunda parte apresenta a rela-ccedilatildeo das crianccedilas com os meios de comunicaccedilatildeo e as representaccedilotildees ambientais a terceira parte refere-se ao percurso metodoloacutegico a quarta parte apresenta alguns resultados e discussotildees e por fim algumas consideraccedilotildees finais segui-das das referecircncias

2 MEIO AMBIENTE E COMUNICACcedilAtildeO NOVOS CONFLITOS VELHOS DILEMAS

A difusatildeo midiaacutetica eacute composta por uma base significativa de poder Poder individual e coletivo Muitos se ldquorendemrdquo ao poder visiacutevel e invisiacutevel da miacutedia seja ela televisa impressa auditiva ou virtual A miacutedia eacute analisada como uma maneira que o telespectador encontra de se relacionar com elementos da vida cotidiana Segundo Raffestin (1993) o poder da miacutedia se revela por meio da re-laccedilatildeo Eacute como um mecanismo de troca comunicativa O indiviacuteduo que tem aces-so agrave informaccedilatildeo estaacute sujeito a pocircr em cheque seus interesses e as conveniecircncias estabelecidas pelo poder midiaacutetico protagonizando um duelo de intenccedilotildees e interesses preacute-estabelecidos

Eacute por intermeacutedio dos recursos audiovisuais que grande parte da populaccedilatildeo recebe informaccedilotildees diariamente O meio qual o telespectador se insere eacute modi-ficado a toda instante pela notiacutecia que lhe eacute apresentada A informaccedilatildeo influen-cia diretamente as decisotildees e interaccedilotildees humanas que dizem respeito ao meio ambiente de onde se pode deduzir que o alcance dos meios de comunicaccedilatildeo leva a sociedade a tomar ciecircncia dos problemas ambientais e buscar rediscutir seu comportamento frente a estes elementos Orozco (1994) comenta que a comunicaccedilatildeo pode produzir muacuteltiplos paradoxos equiacutevocos e reaccedilotildees diversas no tratamento de determinados problemas podendo gerar conteuacutedo positivo ou negativo

A comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo da informaccedilatildeo sempre estatildeo do lado do poder e da capacidade que o poder tem de interferir na transmissatildeo dos conteuacutedos A esse tipo de poder dar-se o nome de poder simboacutelico Conforme Bourdieu (1989 p 9) poder simboacutelico eacute aquele que eacute produzido pela ldquocrenccedila na legitimi-dade das palavras e daqueles que a pronunciamrdquo Segundo o autor

100 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

O poder simboacutelico eacute um poder de construccedilatildeo da realidade que tende

a estabelecer uma ordem gnoseoloacutegica o sentido imediato do mun-

do (e em particular do mundo social) supotildee aquilo a que Durkheim

chama o conformismo loacutegico quer dizer lsquouma concepccedilatildeo homogecirc-

nea do tempo do espaccedilo do nuacutemero da causa que torna possiacutevel a

concordacircncia possiacutevel entre as inteligecircncias

A miacutedia cria artifiacutecios simboacutelicos para seduzir e entusiasmar o receptor da mensagem influenciando os consumidores no discurso dos acontecimentos Para Arbex Juacutenior (2006 p 20) a lsquogrande miacutediarsquo representa uma forte coluna de poder Constroacutei consenso produz realidades convenientes mistifica distorce fatos ldquo[] atua enfim como um lsquopartidorsquo que proclamando-se porta-voz e es-pelho dos lsquointeresses geraisrsquo da sociedade civil defende os interesses especiacutefi-cos de seus proprietaacuterios privadosrdquo

Na difusatildeo midiaacutetica contemporacircnea as formas de transmissatildeo simboacutelica trabalham com a (re)significaccedilatildeo das informaccedilotildees (re)formando (re)criando e incentivando a disseminaccedilatildeo de novos valores costumes e haacutebitos cotidianas Assim estas novas adequaccedilotildees acabam representando natildeo apenas o conteuacutedo veiculado mas a proacutepria realidade lsquoconvencionalrsquo Para Mcluhan (1969) toda plataforma de difusatildeo de informaccedilatildeo influencia a sociedade Elas satildeo tatildeo im-pactantes que suas consequecircncias fogem do controle

A miacutedia (in)voluntariamente transmite as notiacutecias poreacutem enaltece empre-sas e corporaccedilotildees especiacuteficas principalmente as que possuem mais capital no mercado nacional e internacional Nogueira (2001) esclarece que a atividade linguiacutestica se apresenta como forte aliada no processo de transmissatildeo de infor-maccedilatildeo O autor comenta que alguns traccedilos linguiacutesticos possuem mais influecircn-cias que outros beneficiando puacuteblicos grupos comunidades e classes sociais especiacuteficas

Toda informaccedilatildeo transmitida pela miacutedia possui influecircncia na visatildeo de cada telespectador agraves vezes influecircncias positivas agraves vezes negativas seria o papel da miacutedia transmitir as informaccedilotildees e provocar discussotildees sem enfatizar pontos que favorecem grupos especiacuteficos Para compreender a (re)produccedilatildeo do espa-ccedilo atraveacutes da miacutedia eacute necessaacuterio contextualizar os cenaacuterios a fim de evitar a manipulaccedilatildeo que implica uma compreensatildeo imediatista da informaccedilatildeo

Ao defender a pedagogia criacutetica da miacutedia Kellner (2001) aponta para neces-sidade de possibilitar aos consumidores de informaccedilatildeo instrumentos que os ajudem a evitar a manipulaccedilatildeo e a produccedilatildeo de identidades imediatas ajudan-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 101

do-os a produzir conhecimento autecircntico e novo Assim o autor considera ne-cessaacuteria uma pedagogia criacutetica da miacutedia para desenvolver ldquo[] conceituaccedilotildees da miacutedia e da cultura de consumo contemporacircneo [ajudando] a desvendar significados e efeitos sobre [a] proacutepria cultura e poder sobre seu ambiente cul-turalrdquo (KELLNER 2001 p 13)

A repercussatildeo referente agraves questotildees ambientais ascende na sociedade so-bretudo a partir da segunda metade do seacuteculo XX (SILVA CRISPIM 2011) agrave medida em que se insere em agendas e debates de cunho poliacutetico econocircmico e sociocultural Contudo os estudos que se propotildeem agrave anaacutelise mais profunda sobre os temas ambientais pela miacutedia ainda revelam agrave necessidade de trata-mento mais aprofundado

Segundo Santos (1994 p 23) ldquo[] vivemos uma eacutepoca de intenso medo e fantasia e se antes a natureza podia criar medo hoje eacute o medo que cria a na-tureza midiaacutetica e falsa pois parte dela eacute apresentada como se fosse o todordquo Dessa maneira a miacutedia tornou-se protagonista deste processo perigoso que mascara a integridade humana em detrimento da integridade ambiental por meio da manipulaccedilatildeo de seus interesses

Deste modo faz-se necessaacuterio que a anaacutelise das questotildees ambientais inte-gre uma agenda seacuteria de discussotildees e debates pois o meio ambiente eacute o meio de vida do ser humano e deve ser apresentado agrave sociedade como o principal responsaacutevel pela manutenccedilatildeo de vida na Terra e natildeo o contraacuterio

21 CRIANCcedilAS ENTRE MIacuteDIAS E REPRESENTACcedilOtildeES AMBIENTAIS

A miacutedia se apresenta como um processo institucionalizado onde diferen-tes grupos interagem e se confrontam a fim de alcanccedilar um ponto comum de interesse Deste modo o objetivo central da mensagem natildeo eacute transmissatildeo da informaccedilatildeo para o consumidor mas da relaccedilatildeo particular estabelecida pelo su-jeito e os produtos reproduzidos pela miacutedia Assim o receptor da mensagem natildeo eacute passivo ele busca participar da produccedilatildeo de sentidos no centro de uma loacutegica a fim de construir significados (positivos ou negativos) (DUARTE LEITE MIGLIORA 2006)

O alcance da miacutedia em relaccedilatildeo agraves questotildees ambientais tem abrangido vaacute-rios ramos da induacutestria e puacuteblicos de faixas etaacuterias variadas transformando a informaccedilatildeo em produto para consumo Os desenhos animados satildeo prova dis-so desempenhando uma funccedilatildeo de grande representatividade para o puacuteblico infantil O puacuteblico que os acessa tem a possibilidade de selecionar aquilo que

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lhes agrada e identificar quais atitudes satildeo capazes de sensibilizar seu compor-tamento e sua opiniatildeo

Fischer (1997) comenta que a miacutedia atua na construccedilatildeo da subjetividade dos indiviacuteduos ao ponto em que reproduz imagens siacutembolos e saberes que de algum modo vatildeo de encontro agrave educaccedilatildeo das pessoas Nesse cenaacuterio a tevecirc exerce significativa influecircncia na vida dos indiviacuteduos seja em busca de entre-tenimento ou mesmo para mantecirc-los atualizados sobre os acontecimentos do mundo Para Almeida (1994) a crianccedila se relaciona com a televisatildeo da mesma maneira com que se relaciona com as atividades cotidianas

A tevecirc possui uma participaccedilatildeo enfaacutetica na construccedilatildeo de opiniatildeo do indi-viacuteduo pois esta se constitui como parte dos complexos processos de produccedilatildeo de sensaccedilotildees aos quais se coadunam com os modos de se relacionar com a so-ciedade Ao representar uma simbologia de enigmas infantis (FISCHER 1997) a crianccedila (re)interpreta a mensagem televisiva (re)recria incorpora o que ouve e vecirc de forma criativa extraindo aquilo que eacute do seu interesse Partindo desse pressuposto Martin-Barbero (2001 p 20) reitera que

A construccedilatildeo desse olhar [baseia-se] nos estudos sobre a infacircncia que considera a crianccedila um ator social sujeito de direitos com capacidade e voz para influenciar seu proacuteprio destino quanto nos estudos latino-americanos sobre a recepccedilatildeo os quais colocando a presenccedila dos mediadores socioculturais na relaccedilatildeo entre sujeito e meios de comunicaccedilatildeo ldquointroduzem novos sentidos do social e novos lsquousos sociaisrsquo dos meios

Os desenhos animados podem ser qualificados de acordo com seus atri-butos argumentativos onde se categorizam como desenhos de ficccedilatildeo cientiacute-fica desenhos de contos infantis claacutessicas desenhos de humor e desenhos de histoacuterias reais que levam em conta as mudanccedilas sociais (BACCEGA 2000) Os programadores de miacutedia infantil estatildeo sempre atentos agraves mudanccedilas ocorridas na sociedade buscando inserir nos desenhos informaccedilotildees novas e atualizadas

Os desenhos animados representam em sua grande maioria accedilotildees do tipo super-homemvitorioso bondosomalvado mutaccedilatildeo violaccedilatildeo da ordem imortalidade transposiccedilatildeo temporal fantasiaterror aventura accedilatildeo vitoacuteria egocentrismo (PACHECO 1998) Assim estes desenhos compotildeem narrativas simboacutelicas que podem ser consideradas como fatores importantes para o de-

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senvolvimento da crianccedila e da construccedilatildeo da sua autonomia frente aos assun-tos que julgar relevantes

Para Silva Junior e Trevisol (2009) os desenhos animados satildeo capazes de representar uma variedade de estiacutemulos auditivos visuais e reflexivos sobre contextos variados Fischer (1997) reitera que a anaacutelise que a crianccedila consegue fazer dos desenhos animados a torna capaz de ampliar sua compreensatildeo sobre o tema abordado Obter um olhar criacutetico frente agrave televisatildeo aumenta as possibi-lidades de ir aleacutem do que eacute simbolicamente representado

A difusatildeo eletrocircnica de informaccedilotildees no formato imagem-som sugere uma maneira diferente de inteligibilidade e conhecimento como se o ser humano estivesse apto a despertar de algo estaacutetico no subconsciente natildeo soacute pela com-preensatildeo foneacutetica-silaacutebica da liacutengua mas tambeacutem pelas imagens e sons pre-sentes na televisatildeo (ALMEIDA 1994)

Os desenhos animados tambeacutem possuem uma significativa dimensatildeo edu-cativa principalmente se for levado em consideraccedilatildeo os valores que lhe satildeo atri-buiacutedos e construiacutedos quando a crianccedila interage com os elementos televisivos Poreacutem essa compreensatildeo natildeo pode se confundida com um tipo de pedagogia direcional onde as animaccedilotildees transmitidas satildeo rotuladas como modelos de comportamento que facilmente influenciariam as crianccedilas (BENJAMIN 1984)

Neste sentido eacute possiacutevel identificar que os desenhos animados tecircm a capa-cidade de atuar numa perspectiva discursiva sobre aspectos representativos do real Analisando a linguagem televisiva Rocco (1999) propotildee que ao se traba-lhar com a ludicidade no contexto das animaccedilotildees questione-se as imagens as cenas e accedilotildees representadas nas animaccedilotildees

A escola tambeacutem possui um papel importante no processo de construccedilatildeo da sensibilizaccedilatildeo ambiental A maneira como os desenhos satildeo apresentados agraves crianccedilas e a maneira como os educadores estimulam agrave aprendizagem con-tribui para formaccedilatildeo de opiniotildees a partir dos elementos expostos Compreen-dendo os significados ilustrados nas imagens transmitidas pela tevecirc a crianccedila torna-se capaz de ultrapassar os limites da ingenuidade e avanccedilar para a cons-truccedilatildeo da consciecircncia criacutetica

Eacute importante que a escola inclua a utilizaccedilatildeo de desenhos animados no planejamento escolar Desse modo a escola seraacute capaz de fazer a crianccedila com-preender onde e como identificar assuntos referentes ao meio ambiente nos desenhos animados como sustentabilidade conservaccedilatildeo cidadania descarte do lixo que a proacutepria crianccedila produz dentre outros Ao analisar a presenccedila dos

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desenhos animados no cotidiano das crianccedilas os Paracircmetros Curriculares Na-cionais (PCNrsquos) mencionam que

A programaccedilatildeo convencional de televisatildeo que em princiacutepio natildeo tem

finalidade educativa pode ser utilizada como fonte de informaccedilatildeo

para problematizar os conteuacutedos das aacutereas do curriacuteculo por meio de

situaccedilotildees em que o veiacuteculo pode ser um instrumento que permite

observar identificar comparar analisar e relacionar acontecimentos

dados cenaacuterios modos de vida etc Por exemplo eacute possiacutevel propor

estudos comparativos de personagens e ambientes de novelas de-

senhos seriados [] Propostas desse tipo favorecem o desenvolvi-

mento de habilidades relacionadas agrave linguagem oral e escrita e de

uma atitude mais criacutetica diante da televisatildeo como veiacuteculo de infor-

maccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (BRASIL 1998 p 143)

O educador deve gerenciar com responsabilidade o processo de apro-ximaccedilatildeo de realidades dos alunos ndash realidade escolar e realidade cotidiana ndash ressignificando conteuacutedos que satildeo de sua competecircncia mediante uma reorientaccedilatildeo curricular que leve em conta o conhecimento construiacutedo no dia-a-dia do aluno Contudo ldquo[] levar em conta natildeo significa aceitar essa realidade mas dela partir partir do universo do aluno para que ele consiga compreendecirc-lo e modificaacute-lordquo (CORTELLA 2004 p16) Se eacute possiacutevel pensar numa escola na qual a cultura audiovisiva seja uma constante o professor precisa estar preparado e disposto a manusear da melhor maneira possiacutevel os instrumentos midiaacuteticos (PRETTO 1996)

Desse modo os desenhos animados podem ser apresentados como um instrumento capaz de contribuir para a construccedilatildeo de conhecimento pois sen-do a crianccedila um sujeito que transforma o meio por intermeacutedio das interaccedilotildees cotidianas esta tambeacutem eacute capaz de interpretar reinterpretar reinventar e dar novos significados agravequilo que ouve e vecirc (COULON 1995)

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

A pesquisa foi realizada no municiacutepio de LagartoSergipe A escola selecio-nada para a aplicaccedilatildeo das entrevistas foi o Coleacutegio Municipal Frei Cristoacutevatildeo de Santo Hilaacuterio (Figura 1)

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Figura 1 Localizaccedilatildeo Geograacutefica do Coleacutegio Municipal Frei Cristoacutevatildeo de Santo Hilaacuterio

Fonte Atlas Digital Sobre Recursos Hiacutedricos do Estado de SergipeSEPLANSRH (2014)

Para a construccedilatildeo da pesquisa realizou-se 5 visitas teacutecnicas agrave escola selecio-nada Durante estas visitas foi possiacutevel conversar com as crianccedilas acerca dos seus desenhos animados preferidos e identificar em quais destes desenhos elas visualizavam alguma relaccedilatildeo com o meio ambiente Foram entrevistadas 61 crianccedilas distribuiacutedas entre as faixas etaacuterias de seis sete e oito anos do sexo feminino e masculino no turno vespertino

A base teoacuterica metodoloacutegica da pesquisa foi a Etnometodologia Fonseca (2002 p 36) considera que a pesquisa Etnometodoloacutegica

[] visa compreender como as pessoas constroem ou reconstroem a

sua realidade social [] A conduta humana eacute o resultado da interaccedilatildeo

social que se produz continuamente atraveacutes da sua praacutetica quotidia-

na Os seres humanos satildeo capazes de ativamente definir e articular

procedimentos de acordo com as circunstacircncias e as situaccedilotildees so-

ciais em que estatildeo implicados

Deste modo a pesquisa de caraacuteter Etnometodoloacutegico exige do pesquisador uma interaccedilatildeo intensa frente ao puacuteblico investigado eacute preciso atuar diretamen-

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te no ambiente onde as realidades acontecem se transformam e vatildeo ganhado sentido logo o pesquisador precisa ser testemunha daquilo que deseja anali-sar (FONSECA 2002)

A pesquisa contou com o auxiacutelio teacutecnico da observaccedilatildeo participante Gerhardt e Silveira (2009 p 75) apontam que

[] a observaccedilatildeo participante permite captar uma variedade de si-

tuaccedilotildees [] que natildeo satildeo obtidas por meio de perguntas Os fenocircme-

nos satildeo observados diretamente na proacutepria realidade A observaccedilatildeo

participante apreende o que haacute de mais imponderaacutevel e evasivo na

vida real

As entrevistas semiestruturadas e as gravaccedilotildees em aacuteudio contribuiacuteram para aumentar a riqueza de detalhes durante as entrevistas Os aspectos eacuteticos e confidenciais foram respeitados na medida em que foi disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

4 DESENHOS ANIMADOS E O MEIO AMBIENTE O DESENROLAR DAS CONDUTAS PROacute-AMBIENTAIS

Durante a disseminaccedilatildeo de grandes eventos ambientais a exemplo da Rio +20 ocorrido no Brasil em 2012 assuntos como consciecircncia ambiental susten-tabilidade desenvolvimento sustentaacutevel conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo ambiental comeccedilaram a fazer parte do cotidiano das pessoas por intermeacutedio da induacutestria cultural e dos meios de comunicaccedilatildeo de massa ldquoNa primeira metade do seacuteculo XX a natureza era cenaacuterio para os desenhos Hoje eles refletem as complexas relaccedilotildees do homem com o meio ambienterdquo (PARDINI 2008 p22)

Essa complexidade das relaccedilotildees sociedadenatureza reflete a mundializaccedilatildeo do capital e perpassa pelos sistemas de produccedilatildeo (FONTES 2016) implicando em um desafio para os diversos setores da sociedade quanto agraves formas de en-quadramento e enfrentamento dos problemas socioambientais na busca por um desenvolvimento sustentaacutevel Moura ressalva que ldquo[] a sustentabilidade do desenvolvimento soacute ocorreraacute se houver estabilidade do processo (industrial ou urbano) e reduccedilatildeo das atividades agressorasrdquo (MOURA 2012 p 24)

Criar uma relaccedilatildeo harmoniosa entre o meio ambiente e a sociedade tem sido uma preocupaccedilatildeo recorrente entre pesquisadores e entidades envolvidas com a temaacutetica fazendo-se necessaacuterio a mobilizaccedilatildeo dos meios de comunica-

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ccedilatildeo a fim de alertar agrave populaccedilatildeo sobre a real situaccedilatildeo socioambiental A comu-nicaccedilatildeo ambiental estimula um processo em que a ldquo[] participaccedilatildeo social eacute fundamental para o sucesso do monitoramento e gerenciamento dos recursos [naturais] pois quando a sociedade tem consciecircncia da importacircncia da conser-vaccedilatildeo do meio ambiente o gerenciamento eacute facilitadordquo (RODRIGUES MALA-FAIA CASTRO 2008 p 145)

Deste modo os desenhos animados acoplados de cores ilustraccedilotildees sons e imagens dinacircmicas tecircm inserido em seus episoacutedios temaacuteticas relacionadas agrave conservaccedilatildeo ambiental a exemplo da reciclagem de lixo do efeito estufa da energia limpa da conservaccedilatildeo da fauna e da flora e da gestatildeo racional dos re-cursos hiacutedricos objetivando inserir o puacuteblico infantil nessas discussotildees Sendo assim ldquo[] a experiecircncia da infacircncia hoje se situa no contexto da cultura mi-diaacutetica de alcance global povoada por imagens sons signos e sentidos []rdquo (ODININO 2015 p 890) Logo os desenhos animados que abrangem a temaacute-tica ambiental tecircm se tornado sucesso de puacuteblico e audiecircncia marcados pela visibilidade global representando um faturamento exponencial de milhotildees no mundo inteiro

Rocha (1999) enfatiza que as relaccedilotildees desenvolvidas pelas crianccedilas podem ser analisadas a partir das ciecircncias sociais que tem por objetivo enaltecer as vivecircncias dessa fase pela via do luacutedico da ideia da criaccedilatildeo da valorizaccedilatildeo de seus saberes e de suas produccedilotildees As crianccedilas em idade escolar apresentam um comportamento proacute-social mais incisivo satildeo mais empaacuteticas e conseguem se relacionar de maneira mais decisiva frente a distintas situaccedilotildees e problemas (EISENBERG FABES E MURPHY 1996)

Deste modo a crianccedila eacute reconhecida como indiviacuteduo singular e uacutenico capaz de produzir sua cultura individual e coletivamente neste sentido as interaccedilotildees sociais estabelecidas pela crianccedila refletem seu modo de pensar agir e se com-portar nos espaccedilos que desenvolvem suas atividades cotidianas (MIRANDA 2009)

Foram entrevistadas 61 crianccedilas que responderam perguntas abertas e fe-chadas guiadas por um roteiro de entrevistas semiestruturado Nesta etapa da anaacutelise todas as informaccedilotildees foram levadas em consideraccedilatildeo anaacutelise de texto falado e escrito observaccedilatildeo direta da realidade e do comportamento evidente a partir da observaccedilatildeo participante (MOREIRA 2004)

Dos 61 indiviacuteduos entrevistados 18 corresponderam ao grupo de 6 anos de idade 25 ao grupo de 7 anos e 18 ao grupo de 8 anos (Graacutefico 1)

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Graacutefico 1 Percentual de indiviacuteduos por faixa etaacuteria

Fonte Os autores 2016

No que diz respeito ao grau de escolaridade os dados coletados evidencia-ram que 41 dos entrevistados compreenderam o grupo de alunos matricula-dos no 1ordm ano fundamental 27 ao 2ordm ano e 32 ao 3ordm ano (Graacutefico 2)

Graacutefico 2 Percentual de indiviacuteduos por niacutevel de escolaridade

Fonte Os autores 2016

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5 A INFLUEcircNCIA DOS DESENHOS ANIMADOS INFANTIS NO PRO-CESSO DE SENSIBILIZACcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL

O ambiente escolar se apresenta como espaccedilo propiacutecio para discussatildeo de conteuacutedos diversos Neste espaccedilo elementos que envolvem cultura interaccedilatildeo social e meios de comunicaccedilatildeo tem se apresentado como temaacutetica recorren-te Nesta atmosfera de interaccedilatildeo coletiva as crianccedilas satildeo instigadas a imprimir suas identidades e interagir com realidades divergentes Soma-se a isso o papel exercido pela cultura midiaacutetica que tem delineado o surgimento de novas iden-tidades culturais

A televisatildeo se apresenta como um meio de comunicaccedilatildeo popular perten-cente ao dia a dia das crianccedilas Logo a crianccedila comeccedila a ser vista natildeo somente como telespectador passivo mas tambeacutem como um consumidor Desta manei-ra percebe-se que ldquo[As crianccedilas] esperam mais do que assistir aos conteuacutedos gerados pelos canais elas querem intervir nos programas e na programaccedilatildeo do seu canal favoritordquo (SHIMABUKURO 2009 p149)

Durante as entrevistas as crianccedilas puderam mencionar em quais desenhos animados assistidos era possiacutevel visualizar accedilotildees que comtemplassem a temaacuteti-ca ambiental ou algum elemento presente na natureza (ser humano aacutegua ve-getaccedilatildeo relevo bem como accedilotildees relacionadas agrave sustentabilidade preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental)

De acordo com as crianccedilas os desenhos que mais representaram elemen-tos e accedilotildees ambientais foram Princesinha Sophia Bob Esponja Peixonalta Os jovens Titatildes em Accedilatildeo Pepa Pig Marshal e o Urso Doutora Brinquedos e Barbie (Tabela 1)

Tabela 1 Recorrecircncia de desenhos que se relacionam com o meio ambiente

Desenhos CanalBarbie SBT (Bom dia e Cia)

Bob Esponja SBT (Saacutebado Animado)Dora Aventureira Tv Cultura

Doutora Brinquedos SBT (Mundo Disney) e TV CulturaMarshal e o Urso SBT (Carrossel Animado)

Os Jovens Titatildes em Accedilatildeo SBT (Bom dia e Cia)Peixonalta SBT e Tv CulturaPepa Pig TV Cultura

Princesinha Sophia SBT (Mundo Disney)Fonte Os autores 2016

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As crianccedilas tiveram a oportunidade de expressar caracteriacutesticas de seus de-senhos favoritos e mencionar em quais atitudes protagonizadas pelos persona-gens havia relaccedilatildeo com a temaacutetica ambiental

E1 (menina ndash 6 anos) ldquo[Marshal e o urso] ele eacute assim tambeacutem da na-

tureza Marshal vai fazer as compras e satildeo os matos ela vecirc os peixes

Ela fica cheirando agraves vezes ela cai por cima de repente [das flores]rdquo

E2 (menina ndash 6 anos) ldquo[Princesinha Sofia] ela tem um coelho ela plan-

ta tambeacutem Eu gosto da natureza porque tem passarinhordquo

E3 (menino ndash 7 anos) ldquo[Peixonalta] eacute um peixe que tem um negoacutecio

que pode respirar debaixo drsquoaacutegua mas pode respirar fora que ele

tem uma armadurinha que ele pode voar tambeacutem pra ajudar trecircs

amigos que eacute uma menina e um menino que ajudam a natureza as

aacutervores [] os animais os rios que tatildeo os peixes abandonados os fi-

lhotes dos animaisrdquo

E4 (menina ndash 7 anos) ldquoEla [Doutora brinquedos] cuida dos brinquedos

e tem laacute as florestas [] ela vai pros rios ela jaacute cuidou de uma flor laacuterdquo

E5 (menina ndash 8 anos) ldquoPeixonalta [] eacute um peixe que ele tem uma amiga

e um amiguinho aiacute o avocirc dela eacute bem experiente assim aiacute ele ensina

umas coisas a eles [] ensina coisa assim mesmo da natureza aiacute ela faz

coisa pra ajudar a natureza tipo o jardim quando comeccedilou a poluir e

ai ela fez essas coisas assim pra parar ela fez campanha essas coisasrdquo

As crianccedilas tambeacutem mencionaram atitudes dos personagens que se asse-melhavam agraves atividades desenvolvidas em seu cotidiano

E6 (menina ndash 6 anos) ldquoO Ursinho Puff cuida das plantas eles molham

as plantas e nadam nos rios Eu aprendi tambeacutem a molhar as plantas

de mainha todo dia de manhatilderdquo

E7 (menina ndash 8 anos) ldquoDoutora brinquedos ela cuida dos brinquedos

e cuida da natureza tambeacutem Ela conserta os brinquedos que que-

bram e na natureza ela rega as flores o pai dela ajuda ela a cortar as

flores eu tambeacutem ajudo meu pairdquo

E8 (menina ndash 6 anos) ldquo[] A Dora ela ajuda a fazenda cuidando dos

animais Ela daacute aacutegua [as flores] eu tambeacutem aprendi isso com elardquo

E9 (menina ndash 6 anos) ldquoMarshal e o urso eacute um urso grande ele eacute mar-

rom e uma menina pequeninha Eles moram um uma casa na flores-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 111

ta Ela pega os bichinhos ele coloca aacutegua nas plantas Eacute importante

colocar aacutegua nas plantinhas porque elas crescemrdquo

E10 (menino ndash 7 anos) Ele [Peixonalta] eacute um desenho que eacute no am-

biente aquaacutetico que ele eacute um peixe que ajuda as pessoas [] ajuda as

pessoas a cuidar do ambiente [] e tem uma missatildeo pra cuidar da na-

tureza quando as pessoas acabam com a natureza no desmatamen-

to essas coisas ele salva entendeu Natildeo deixa as pessoas fazerem

isso essas coisas erradasrdquo

Por intermeacutedio das respostas observou-se que os desenhos animados se apresentaram como instrumentos eficazes no processo de ensino sobre a temaacute-tica ambiental Nos episoacutedios mencionados os desenhos resgataram atitudes praacuteticas nas quais as crianccedilas tecircm plena autonomia para executar natildeo apenas pelo fato de estar ldquoimitandordquo este ou aquele personagem mas pela real com-pressatildeo de que aquela realidade ldquovirtualrdquo pode ser aplicada por ela mesma na vida ldquorealrdquo dando-lhe possibilidade para transformar agrave proacutepria realidade

Por meio dos desenhos visualizados na tevecirc a crianccedila encontra possibilida-de de resolver conflitos vivenciar enigmas resolver problemas Deste modo as animaccedilotildees televisivas expressam em seus episoacutedios o cuidado com o ambiente atraveacutes de accedilotildees corriqueiras jaacute vivenciadas por seus telespectadores como ldquocuidar de uma hortardquo ldquonatildeo desperdiccedilar aacuteguardquo ldquocuidar dos animaisrdquo ldquonatildeo jogar lixo nas ruasrdquo estas narrativas norteadas por uma linguagem acessiacutevel direcio-nam a crianccedila a produzir e reproduzir tais accedilotildees ldquoO mergulho da crianccedila nesse mundo maacutegico [] natildeo eacute sentimental ou vago desemboca numa percepccedilatildeo precisa do cotidianordquo (BENJAMIN 1984 p15)

Neste sentido Baccega (2000) ressalta que a crianccedila eacute capaz de usar os meios de comunicaccedilatildeo como aliados no processo de construccedilatildeo de conhecimentos A televisatildeo por ser um instrumento inserido no cotidiano dos pequeninos eacute capaz de instigar desafiar e provocar a interaccedilatildeo criacutetica do puacuteblico infantil

Nos desenhos mencionados evidenciou-se que as narrativas infantis de-sempenharam papel significativo no processo de aprendizagem dos temas re-lacionados ao meio ambiente e na propagaccedilatildeo de condutas proacute-ambientais incentivando agraves crianccedilas a expressarem sua criticidade e opiniatildeo na execuccedilatildeo de praacuteticas ambientais ldquodentrordquo e ldquoforardquo da telinha

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6 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

As discussotildees de cunho ambiental tecircm se apresentado com significativa fre-quecircncia principalmente a partir do seacuteculo XX onde a emergecircncia dessa temaacute-tica comeccedila a ganhar forccedila em detrimento de um modelo de desenvolvimento baseado na exploraccedilatildeo desmedida dos recursos naturais Desse modo a preo-cupaccedilatildeo com o uso a conservaccedilatildeo e a preservaccedilatildeo destes recursos ganharam visibilidade em meio agrave industrial da informaccedilatildeo

O reconhecimento da crianccedila como ator socialmente ativo no processo de produccedilatildeo e construccedilatildeo de sentido tem reorientado os produtores televisuais que tecircm se desdobrado para chamar a atenccedilatildeo desse puacuteblico tatildeo versaacutetil e exi-gente (BUCKINGHAM 2012) Ao apropriar-se desse cenaacuterio a induacutestria infor-macional amplia seu campo de atuaccedilatildeo e inseri a crianccedila no centro dos debates ambientais seja por meio dos produtos ecoloacutegicos ou dos proacuteprios desenhos animados infantis

As animaccedilotildees mencionadas pelas crianccedilas evidenciaram o comprometi-mento com valores ambientais como consciecircncia ecoloacutegica sustentabilidade conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo ambiental desse modo observa-se que resgatar as discussotildees ambientais nos desenhos animados torna-se uma estrateacutegia rele-vante no processo de sensibilizaccedilatildeo socioambiental em crianccedilas do ciclo baacutesico

Neste sentido as crianccedilas demonstraram que interagem com os desenhos animados infantis natildeo apenas como consumidores despretensiosos e aliena-dos mas como consumidores dinacircmicos e astutos A satisfaccedilatildeo da pesquisa pelos desenhos animados revelou que aleacutem de se identificarem com os per-sonagens que agem em defesa eou cuidado com meio ambiente as crianccedilas tambeacutem percebem que as situaccedilotildees exibidas nos episoacutedios podem se apresen-tar em seu cotidiano e que elas mesmas podem transformar seu ambiente de interaccedilatildeo social

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de De-senvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico ndash Brasil (CNPq) ndash Coacutedigo de financia-mento 001

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 113

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116 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

O PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA EM SERGIPE E A RELACcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL COM OS MORADORES DOS POVOADOS DO ENTORNO

Igor Azevedo SouzaGiceacutelia Mendes da SilvaMaria Joseacute Nascimento SoaresDaniela Teodoro Sampaio

No Brasil a Lei nordm 9985 de 18 de julho de 2000 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) regulamentou o artigo 225 paraacutegrafo 1ordm incisos I II III e VII da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 bem como estabeleceu cri-teacuterios e normas para a criaccedilatildeo implementaccedilatildeo e gestatildeo das unidades de con-servaccedilatildeo (UCs) (BRASIL 2000) De acordo com Bensusan (2006) as UCs satildeo as aacutereas naturais protegidas de maior representatividade no Brasil e vecircm sendo cenaacuterio dos mais diversos tipos de estudos socioambientais

O SNUC divide-se em duas grandes categorias que buscam atender a diferen-tes estrateacutegias de gestatildeo Dentre elas a de proteccedilatildeo integral que abrange cinco tipos mais restritivos quanto ao uso dos recursos naturais e tecircm por objetivo pre-servar os ecossistemas naturais desenvolver pesquisas promover atividades de educaccedilatildeo ambiental e a depender da categoria como a dos parques nacionais objetiva ainda proporcionar lazer e recreaccedilatildeo junto a natureza (BRASIL 2000)

Os parques nacionais foram vistos no passado como ilhas de conservaccedilatildeo poreacutem ao longo das uacuteltimas deacutecadas estudos vecircm demonstrando que essas aacutereas na maioria das vezes natildeo satildeo totalmente isoladas e possuem comunida-des rurais que habitam o seu interior ou seu entorno e dependem dos recursos naturais ali existentes (BUTA HOLLAND KAPLANIDOU 2014) Estas unidades de conservaccedilatildeo tecircm se manifestado como espaccedilos importantes para se obter in-formaccedilotildees acerca do contexto sociocultural e quanto agrave interaccedilatildeo sociedade-na-tureza mas tambeacutem para compreender os desafios (PIMENTEL MAGRO SILVA FILHO 2011) voltados para o planejamento estrateacutegico e de gestatildeo (DrsquoOLIVEI-RA BURSZTYN BADIN 2002 BRAGAGNOLO et al 2016)

No estado de Sergipe localizado na regiatildeo Nordeste do Brasil o Parque Na-cional Serra de Itabaiana (PARNASI) eacute a maior e mais representativa UC de gran-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 117

de importacircncia para a regiatildeo pois protege a biodiversidade os ecossistemas naturais de zona de transiccedilatildeo de Mata Atlacircntica e Caatinga com suas belezas cecircnicas das montanhas e os recursos hiacutedricos que abastecem diversos municiacute-pios da regiatildeo inclusive a capital Aracaju (ICMBio 2016)

O PARNASI foi criado no ano de 2005 por meio das inuacutemeras manifesta-ccedilotildees favoraacuteveis para a preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais da regiatildeo (SANTOS 2007) Contudo a presenccedila de povoados e municiacutepios em suas proximidades mesmo anterior a sua criaccedilatildeo e a relaccedilatildeo de dependecircn-cia dos moradores com os recursos naturais ali existentes para sobrevivecircncia econocircmica e cultural vem sendo motivo de diversos conflitos com o parque e sua gestatildeo

Em 2016 foi publicado seu primeiro plano de manejo e nele foram estabe-lecidos cinco alvos de conservaccedilatildeo - recursos hiacutedricos aacutereas herbaacuteceo-arbusti-vas florestas flora lenhosa madeireira e ornamental e espeacutecies caccediladas - que representam a base para o planejamento das estrateacutegias e as futuras accedilotildees de conservaccedilatildeo do parque Este documento foi elaborado a partir da construccedilatildeo coletiva entre o ICMBio Instituiccedilotildees de Ensino Superior da regiatildeo entidades governamentais e natildeo governamentais e os cidadatildeos que se dispuseram a par-ticipar do processo sendo na grande maioria servidores do ICMBio e de outras instituiccedilotildees ambientais natildeo havendo entretanto a participaccedilatildeo efetiva dos moradores dos povoados do entorno do parque (GONCcedilALVES FERNANDES FRITZEN 2014)

Entretanto estudos demonstram que o conhecimento sobre a relaccedilatildeo das populaccedilotildees locais com os recursos naturais e as UCs aleacutem de contribuir para com os planos de manejo (FUENTES 2013) eacute fundamental para a realizaccedilatildeo do manejo adequado e coerente com os objetivos do parque (ALMEIDA SIL-VA 2012 SOUZA NASCIMENTO ENNES 2015) Aleacutem disso gera subsiacutedio para fortalecer as estrateacutegias de conservaccedilatildeo da UC mediante programas de con-servaccedilatildeo que sejam voltados agraves mudanccedilas de comportamento da populaccedilatildeo prejudicais aos ecossistemas naturais (INFIELD NAMARA 2001) Vale destacar que a participaccedilatildeo nesse processo tambeacutem eacute importante para que essas po-pulaccedilotildees adquiriam valores socioambientais positivos e aumente o interesse sobre as questotildees ambientais de forma a serem incentivadas a participarem de forma ativa na sua conservaccedilatildeo (OTERO 2005)

Diante do exposto acima o objetivo deste estudo foi compreen-der a representatividade socioambiental do Parque Nacional Serra de Itabaiana localizado em Sergipe Brasil a partir da relaccedilatildeo dos moradores dos povoados

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do seu entorno com a sua gestatildeo e com os alvos de conservaccedilatildeo estabelecidos em seu plano de manejo

1 O PARQUE NACIONAL DA SERRA DE ITABAIANA E OS POVOA-DOS DO ENTORNO

O Parque Nacional Serra de Itabaiana (PARNASI) (10deg42rsquo36rdquo e 10deg50rsquo16rdquo S e 37deg16rsquo42rdquo e 37deg25rsquo14rdquo O) eacute uma unidade de conservaccedilatildeo federal de proteccedilatildeo in-tegral com 799060 ha Estaacute inserido no agreste do estado de Sergipe zona de transiccedilatildeo entre os Biomas Mata Atlacircntica e Caatinga distante 38 km da capital Aracaju Eacute composto por um complexo de trecircs serras (de Itabaiana Comprida e do Cajueiro) e sua aacuterea abrange cinco municiacutepios Areia Branca Itabaiana Laranjei-ras Itaporanga Drsquoajuda e Campo do Brito (ICMBio 2016)

De acordo com o plano de manejo do PARNASI existem 21 povoados no seu entorno (Caroba Cajueiro Ribeiras Boqueiratildeo Mangueira Cajaiacuteba Serra Comprida Mangabeira Canjinha Junco Satildeo Joseacute Areias Auto dos Ventos Rio das Pedras Gandu Serra Bom Jardim Barro Preto Chico Gomes Pedrinhas e Sarafina) pertencentes aos municiacutepios de Itabaiana Areia Branca e Malhador (ICMBio 2016) (Figura 1)

Figura 1 - Parque Nacional Serra de Itabaiana localizado em Sergipe Brasil com mapeamento dos 21 povoados do entorno que constam em seu plano de manejo

Fonte Frederico Machado Teixeira 2018

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 119

O presente estudo foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica (CEP) da Universi-dade Federal de Sergipe (UFS) pelo parecer nordm 2771622 e Certificado de Apresentaccedilatildeo para a Apreciaccedilatildeo Eacutetica (CAAE) nordm 91972418100005546 e as informaccedilotildees obtidas foram condicionadas ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelo pesquisador autor deste estudo e pelos entrevistados conforme recomenda a Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012 (CNS 2012)

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi utilizada a metodologia baseada em Pesquisa Socioambiental para Padronizar Estudos sobre Atitudes em comuni-dades Adjacentes agrave Unidades de Conservaccedilatildeo de Proteccedilatildeo Integral especifica-mente Parque Nacional no Brasil que consiste em trecircs etapas 1) elaboraccedilatildeo de questionaacuterio para estudo das atitudes focado na pesquisa socioambiental para ser aplicado em comunidades localizadas no entorno de unidades de conser-vaccedilatildeo 2) desenvolvimento de um protocolo de aplicaccedilatildeo do questionaacuterio e 3) aplicaccedilatildeo do questionaacuterio nas comunidades do entorno da UC (BRAGAGNOLO et al 2016)

Foi utilizada a escala de Likert aplicada na aacuterea das pesquisas comporta-mentais (SILVA JUacuteNIOR COSTA 2014) que objetiva mensurar o grau e a inten-sidade de uma variaacutevel (fenocircmenoeventocomportamento) referentes a con-cordacircnciadiscordacircncia de afirmaccedilotildees (ARAUJO SOUZA OLIVEIRA 2009) No presente estudo a escala de Likert foi construiacuteda de acordo com afirmaccedilotildees relacionadas aos alvos de conservaccedilatildeo do PARNASI - recursos hiacutedricos aacutereas herbaacuteceo-arbustivas florestas flora lenhosa madeireira e ornamental e espeacute-cies caccediladas - aplicada com cinco niacuteveis de satisfaccedilatildeo (Discordo Totalmente Discordo Parcialmente Indiferente Concordo Parcialmente Concordo Total-mente) de acordo com Silva Juacutenior e Costa (2014) De acordo com Likert (1932) a escala foi baseada no caacutelculo da meacutedia das repostas de cada entrevistado a partir da combinaccedilatildeo de suas pontuaccedilotildees gerando um grau para as respostas obtido a partir da meacutedia da pontuaccedilatildeo (M) para cada afirmaccedilatildeo da escala A partir de entatildeo gerou-se resultados interpretados da seguinte maneira M lt 3 = Discordacircncia M 3 a 4 = Indiferente e M gt 4 = Concordacircncia

De maio a agosto de 2018 foram aplicados questionaacuterios a um total de 706 moradores residentes em 20 povoados (Caroba Cajueiro Ribeiras Boqueiratildeo Mangueira Cajaiacuteba Serra Comprida Mangabeira Canjinha Junco Satildeo Joseacute Areias Auto dos Ventos Rio das Pedras Gandu Serra Bom Jardim Barro Preto Chico Gomes e Pedrinhas) do entorno do Parque Nacional Serra de Itabaiana em Sergipe que nos forneceram o seguinte cenaacuterio analisado

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2 CONHECIMENTO DOS MORADORES QUANTO AO PARQUE NA-CIONAL SERRA DE ITABAIANA E Agrave SUA GESTAtildeO

Nossos resultados indicaram que em relaccedilatildeo ao conhecimento dos morado-res sobre o PARNASI e sua gestatildeo 9023 (n=637) dos entrevistados jaacute ouviram falar sobre a UC No entanto mais da metade dos entrevistados 5411 (n=382) afirmaram nunca terem ido ao parque e dentre os que jaacute o visitaram apenas 283 (n=20) disseram tecirc-lo visitado nos uacuteltimos trecircs meses (Figura 2)

Figura 2 - Frequecircncia de visitas dos entrevistados ao Parque Nacional Serra de Itabaiana Sergipe (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

Souza Nascimento e Ennes (2015) identificaram que mais da metade dos entrevistados de quatro povoados (Rio das Pedras Bula Cinza Serra e Ribeira) do entorno do PARNASI natildeo souberam responder o que eacute um parque nacional e apenas um terccedilo responderam ter conhecimento sobre a existecircncia de algum parque na regiatildeo mas destacaram o Parque dos Falcotildees uma propriedade pri-vada localizada proacutexima aos limites do PARNASI

O Parque dos Falcotildees eacute bastante visitado por turistas nacionais estrangeiros e por escolas da regiatildeo pois eacute um importante centro de criaccedilatildeo multiplicaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das aves de rapina da Ameacuterica do Sul o que o torna atrativo para quem visita o estado de Sergipe (COSTA 2014) Aleacutem disso eacute divulgado em paacute-ginas de internet e em miacutedias locais e diante de sua importacircncia turiacutestica e sua proximidade com o PARNASI eacute provaacutevel que boa parte dos moradores locais natildeo saiba distingui-los reconhecendo ambos como um uacutenico parque

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 121

Do ponto de vista da importacircncia das unidades de conservaccedilatildeo eacute preo-cupante a falta de reconhecimento e clareza quanto ao papel do PARNASI enquanto espaccedilo puacuteblico protegido na regiatildeo e podemos inferir que a falta de participaccedilatildeo dos moradores do entorno no processo de gestatildeo da UC especialmente devido agrave inexistecircncia ateacute o momento do conselho gestor e da quase ausecircncia de moradores locais na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo do plano de manejo contribuam para que os moradores mostrem-se desinteressados pela UC

Eacute importante considerar que possa existir uma falta de clareza quanto aos limites do parque por parte dos moradores pois embora grande parte dos entrevistados tenham afirmado nunca terem visitado o parque eacute plausiacutevel que utilizem algumas de suas aacutereas sem no entanto terem conhecimento de que estejam dentro de seus limites devido agrave falta de sinalizaccedilatildeo situaccedilatildeo tambeacutem identificada por Ennes (2010) que indicou que a maioria dos moradores de po-voados faziam uso da Serra de Itabaiana natildeo soacute para lazer mas para caccedilar reti-rar lenha dentre outros mas natildeo sabiam identificar que tal aacuterea estava dentro dos limites da unidade de conservaccedilatildeo

Santos (2015) identificou a carecircncia de informaccedilotildees referentes agrave realidade socioambiental advinda da criaccedilatildeo da UC o desconhecimento sobre o signifi-cado de uma UC sua finalidade e aspectos legais por parte dos moradores do entorno do PARNASI reforccedilando a importacircncia de accedilotildees contiacutenuas de educa-ccedilatildeo ambiental Diante esse aspecto eacute vaacutelido destacar a Estrateacutegia Nacional de Comunicaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Ambiental (ENCEA) e fomentar seu fortalecimento no processo de gestatildeo do PARNASI visando assegurar a execuccedilatildeo de poliacuteticas puacute-blicas programas e atividades de Educaccedilatildeo Ambiental e Comunicaccedilatildeo voltados ao (re)conhecimento valorizaccedilatildeo criaccedilatildeo implementaccedilatildeo gestatildeo e defesa das UCs por todos e para todos (MMA 2009)

Com relaccedilatildeo ao baixo nuacutemero de moradores que afirmaram no presente estudo terem visitado o PARNASI nos uacuteltimos trecircs meses a explicaccedilatildeo a ser con-siderada seria os casos de furtos e violecircncia que vem ocorrendo no seu interior visto por ICMBio (2016) como um fator que estaacute desestimulando e diminuin-do gradativamente o nuacutemero de visitaccedilotildees haacute alguns anos pelo menos desde 2009 Tais crimes podem estar relacionados agraves questotildees socioeconocircmicas dos povoados do entorno do PARNASI inseridos em um cenaacuterio com falta de opor-tunidades de trabalho e renda sendo necessaacuterio o incentivo de parcerias e pro-jetos com o poder puacuteblico (prefeituras governo estadual escolas e universida-des) privado e do terceiro setor (associaccedilotildees organizaccedilatildeo natildeo governamental

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e empresas de turismo) no sentido de criar alternativas de geraccedilatildeo de renda e cidadania (RODRIGUES REIS 2016)

Os moradores de povoados do entorno do PARNASI tecircm como principais motivaccedilotildees para visita-lo os banhos em cachoeiras riachos e poccedilos drsquoaacutegua (n=182) caminhadas (n=120) e passeio com a escola (n=56) as demais estatildeo descritas na Tabela 1 sendo que mais de uma motivaccedilatildeo foi mencionada por alguns dos entrevistados Tomar banho seguido de caminhar foram tambeacutem as principais motivaccedilotildees encontradas por Oliveira et al (2009) em estudo sobre o planejamento de trilhas para o uso puacuteblico no PARNASI como principais ativi-dades de recreaccedilatildeo de 500 visitantes entrevistados na UC

Tabela 1 Motivaccedilotildees para visitas ao Parque Nacional Serra de Itabaiana Sergipe mencionadas pelos entrevistados que jaacute o visitaram

Motivaccedilotildees de visita ao PARNASI Nuacutemero de vezes citadasTomar banho 182Caminhar 120Passeio da escola 56Subir a serra 14Passear 6Procissatildeo da igreja 5Lavar roupa 3Pegar planta para remeacutedio 3Pegar lenha 2Parque dos falcotildees 2Ver os animais 2Contemplar a natureza 2Apagar o fogo 1Pagar promessa 1Exercitar 1Andar de bicicleta 1Pregar a palavra de Deus 1Trabalhar na roccedila 1Comeacutercio 1Passar o dia 1Visitar 1Visitar parentes 1De passagem 1Consertar encanaccedilatildeo 1Trabalho voluntaacuterio 1Trabalho da Universidade 1Levar alunos 1

Fonte Dados da pesquisa

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 123

Quanto ao conhecimento dos entrevistados sobre o oacutergatildeo responsaacutevel pela gestatildeo do PARNASI 6303 (n=445) natildeo souberam informar qual oacutergatildeo administra a UC 2904 (n=205) disseram ser o IBAMA e apenas 496 (n=35) responderam ser o ICMBio (Figura 3) demonstrando mais uma vez a falta de conhecimento dos moradores quanto ao parque e a seu aspecto administrati-vo assim como a falta de interaccedilatildeo entre o parque e a populaccedilatildeo residente do seu entorno

Figura 3 - Conhecimento sobre o oacutergatildeo gestor do Parque Nacional Serra de Itabaiana Sergipe de acordo com os entrevistados (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

Santos (2015) aponta a necessidade de aproximar a gestatildeo do PARNASI com a populaccedilatildeo dos povoados do entorno e segundo Silva Cacircndido e Freire (2009) em estudo sobre conceitos percepccedilotildees e estrateacutegias para a conserva-ccedilatildeo de uma Estaccedilatildeo Ecoloacutegica na Caatinga eacute necessaacuterio que haja a interaccedilatildeo da gestatildeo da UC com os moradores do entorno promovendo confianccedila no trabalho realizado o que tambeacutem pode facilitar o desenvolvimento de estra-teacutegias de gestatildeo e a inclusatildeo dos moradores A mesma situaccedilatildeo foi encontrada por Pimentel (2008) no Parque Estatual da Serra da Tiririca no estado do Rio de Janeiro onde mais da metade da populaccedilatildeo residente no entorno afirmou desconhecer o oacutergatildeo responsaacutevel pela sua gestatildeo mas isso pode ser modifica-do a partir da viabilizaccedilatildeo de accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental criacutetica atraveacutes da sensibilizaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo social e divulgaccedilatildeo das caracteriacutesticas bioloacutegicas histoacutericas e sociais da unidade de conservaccedilatildeo

445

205

35 18 30

50100150200250300350400450500

Natildeo sabe IBAMA ICMBio ADEMA POLIacuteCIA

Nuacutem

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vist

ados

Conhecimento sobre o oacutergatildeo gestor

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Conhecimento dos moradores do entorno do Parque Nacional Serra de Ita-baiana quanto aos Alvos de Conservaccedilatildeo estabelecidos pelo plano de manejo da unidade de conservaccedilatildeo

Foram investigados a partir do tema prioritaacuterio para a conservaccedilatildeo ldquouso e exploraccedilatildeo dos recursos naturaisrdquo os alvos de conservaccedilatildeo recursos hiacutedricos florestas flora lenhosa madeireira e ornamental e espeacutecies caccediladas de acordo com os conhecimentos dos moradores do entorno do PARNASI visualizados na figura 4

Figura 4 - Conhecimento quanto ao uso e exploraccedilatildeo dos alvos de conservaccedilatildeo que constam no plano de manejo do Parque Nacional Serra de itabaiana Sergipe (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

RECURSOS HIacuteDRICOS Quanto ao uso da aacutegua 5694 (n=402) dos entrevistados Concordaram

Totalmente que o uso da aacutegua sem controle estaacute ldquoacabandordquo com as aacuteguas da regiatildeo e 2408 (n=170) Discordaram Totalmente A meacutedia gerada pela pon-tuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 370 indicando grau de Indiferenccedila entre as res-postas Quanto agrave seca dos rios e nascentes 6742 (n=476) dos entrevistados Concordaram Totalmente que as nascentes e os rios da regiatildeo estatildeo secando e 1232 (n=87) Discordaram Totalmente A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 417 indicando grau de Concordacircncia entre as repostas

A indiferenccedila quanto ao uso da aacutegua de forma descontrolada estar acaban-do com as aacuteguas da regiatildeo demonstra que os moradores natildeo percebem ou natildeo

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476

402

Diminuiccedilatildeo dos animais

Caccedila

Coleta de plantas medicinais

Coleta de plantas ornamentais

Coleta de madeira

Desmatamento

Seca dos rios e nascentes

Usos da aacutegua sem controle

IndiferenteDiscordo Totalmente 1 2 3 4 5 Concordo Totalmente

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 125

souberam informar o estado de sustentabilidade das aacuteguas locais poreacutem em conversas informais percebeu-se a forte relaccedilatildeo que fazem com a agricultura atividade importante na regiatildeo mas que demanda alto volume hiacutedrico para se manter e que pode estar associado a praacuteticas negativas

Segundo Hauff (2004) eacute possiacutevel que o manejo negativo dos recursos hiacute-dricos voltado para as atividades agriacutecolas esteja associado agraves condiccedilotildees so-cioeconocircmicas que impedem os agricultores de desenvolverem suas ativida-des de forma mais sustentaacutevel especialmente quando natildeo haacute comunicaccedilatildeo clara quanto agraves informaccedilotildees necessaacuterias nem incentivo por conta dos oacutergatildeos ambientais para a conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das aacuteguas Nesse sentido Cribb (2008) afirma que programas de conservaccedilatildeo que envolvam a populaccedilatildeo lo-cal a partir de seus interesses habilidades e tradiccedilotildees tecircm sido desenvolvidos dentro e no entorno de vaacuterias unidades de conservaccedilatildeo em muitas partes do mundo inclusive para o uso sustentaacutevel dos recursos hiacutedricos Tais estrateacutegias podem ser uma boa oportunidade para a gestatildeo do PARNASI desenvolver em parceria com os agricultores do seu entorno

O grau de concordacircncia quanto aos rios e as nascentes da regiatildeo estarem secando pode estar relacionado a uma percepccedilatildeo distorcida por parte dos mo-radores influenciada pelo regime de chuvas no veratildeo (periacuteodo de seca) e in-verno (periacuteodo de chuvas) quando principalmente as cachoeiras apresentam maior volume nas quedas drsquoaacutegua Por outro lado durante a pesquisa de campo percebeu-se o som de motores nos rios que puxavam aacutegua para a irrigaccedilatildeo essa atividade junto ao desmatamento para a agricultura e pastagens proacuteximo aos cursos drsquoaacutegua pode estar associada agrave menores iacutendices no volume dos rios da regiatildeo e para diagnosticar tais iacutendices eacute necessaacuterio estudos climatoloacutegicos sobre a quantidade de chuvas comparada a um certo intervalo de tempo a fim de avaliar a situaccedilatildeo dos rios da regiatildeo da UC e assim propor um plano de accedilatildeo e recuperaccedilatildeo para a UC

AacuteREAS HERBAacuteCEO-ARBUSTIVAS FLORESTAS FLORA LENHOSA MADEIREIRA E ORNAMENTAL

Quanto ao desmatamento 5935 (n=419) dos entrevistados afirmaram

serem Indiferentes ao desmatamento no PARNASI e 1445 (n=102) Discor-daram Totalmente A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 299 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas poreacutem muito proacutexi-mo a Indiferente

126 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Quanto agrave coleta de madeira para uso domeacutestico 4079 (n=288) dos en-trevistados Discordaram Totalmente que a retirada de madeira para uso do-meacutestico seja comum na regiatildeo e 2422 (n=171) Concordaram Parcialmente A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi 282 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas

Quanto agrave coleta de plantas ornamentais 6799 (n=480) dos entrevistados Discordaram Totalmente ser comum na regiatildeo moradores coletarem plantas para enfeitarem a casa eou para venderem A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 196 indicando grau de Discordacircncia entre as respos-tas Resultado inverso foi encontrado para a coleta de plantas medicinais onde 6034 (n=426) dos entrevistados Concordaram Totalmente ser comum a praacuteti-ca na regiatildeo A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 407 indi-cando grau de Concordacircncia entre as repostas

No presente estudo os entrevistados discordaram que o PARNASI esteja sendo desmatado mas estudo realizado por Sobral et al (2007) demonstrou que o parque sofria impactos negativos como desmatamento e queimadas relacionado com as praacuteticas agriacutecolas O desmatamento leva agrave perda da bio-diversidade dentre vaacuterios outros prejuiacutezos ao meio natural o que impede os fragmentos florestais de servirem como elementos chaves para a manutenccedilatildeo da biodiversidade principalmente em uma paisagem composta por atividades agriacutecolas impedindo tambeacutem a sustentabilidade dos serviccedilos ambientais e a melhoria na qualidade de vida dos moradores locais (VIANA PINHEIRO 1998)

Observou-se que o grau de discordacircncia quanto a retirada de madeira para uso domeacutestico foi contraditoacuterio ao resultado sobre os motivos de ida ao PARNASI onde pegar lenha foi mencionado como uma das motivaccedilotildees para ir ao parque Segundo Lima et al (2011) a cultura de usar lenha nas co-munidades localizadas no entorno do PARNASI natildeo mudou poreacutem estaacute mais difiacutecil encontrar lenha devido ao cercamento das terras ao desmatamento agrave fiscalizaccedilatildeo mas ainda assim uma parcela da populaccedilatildeo retira lenha sem nenhum controle

Para os moradores pegar lenha seca natildeo prejudica a natureza e seu uso aleacutem do dator cultural pode tambeacutem estar associado ao aumento no preccedilo do gaacutes de cozinha que custa atualmente em torno de R$ 8000 aproximadamente 85 do atual salaacuterio miacutenimo sendo que muitos dos moradores natildeo chegam a receber nem mesmo um salaacuterio miacutenimo restando a possibilidade do fogatildeo agrave lenha como descrito por Gomes e Maroti (2006) em estudo socioambiental nos povoados Cajueiro e Caroba ambos no entorno do PARNASI onde identifica-

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ram a forte relaccedilatildeo desses povoado com o uso da lenha para cozinhar devido ao aumento no preccedilo do gaacutes de cozinha

O grau de discordacircncia quanto a coleta de plantas ornamentais na regiatildeo diferiu do resultado obtido por Cunha (2007) em estudo sob enfoque juriacutedico do PARNASI que identificou a coleta de plantas ornamentais como um dos usos diretos dos recursos naturais pelos moradores do seu entorno o que indica que tal atividade pode ter diminuiacutedo poreacutem natildeo significa que natildeo ocorra de for-ma esporaacutedica como observado durante a realizaccedilatildeo da pesquisa de campo a exemplo de cactos cabeccedila de frade na porta de algumas residecircncias que se-gundo Santos e Meiado (2015) satildeo comuns no agreste sergipano A partir do resultado encontrado percebe-se que essa atividade natildeo aparenta ser preocu-pante no PARNASI poreacutem Santos e Meiado (2015) alertam que plantas como cactos nas comunidades rurais sergipanas satildeo alvos do comeacutercio internacional e necessitam de manejo adequado e fiscalizaccedilatildeo quanto a sua extraccedilatildeo para sua conservaccedilatildeo a meacutedio e longo prazo

Diferentemente do resultado encontrado para as plantas ornamentais ob-teve-se um grau de concordacircncia quanto ao uso de plantas medicinais nos po-voados estudados e durante a pesquisa de campo percebeu-se que ao se falar no uso dessas plantas os entrevistados as associavam com as plantas cultiva-das nos quitais das proacuteprias casas como cidreira boldo capim santo dentre outras utilizadas como fitoteraacutepicos

O uso de plantas medicinais por moradores do entorno de UCs tambeacutem foi encontrado por Botelli (2009) em estudo sobre o uso de plantas medicinais nas comunidades do entorno do PARNASI o qual demonstrou que os morado-res dos povoados Mundecircs e Bom Jardim utilizavam plantas medicinais para o cuidado da sauacutede e por Cunha et al (2007) em que mais de 80 de 57 mo-radores do entorno do Parque Municipal da Cachoeirinha do estado de Goi-aacutes coletavam plantas medicinais para usar no tratamento de enfermidades A utilizaccedilatildeo de plantas medicinais eacute um haacutebito tradicional utilizado atraveacutes dos saberes populares para tratar a sauacutede das pessoas principalmente nas comu-nidades rurais as quais possuem faacutecil acesso a esse tipo de plantas (BADKE et al 2011) Isso indica que mesmo com o avanccedilo dos medicamentos alopaacuteticos e da medicina tradicional os moradores do entorno do PARNASI natildeo perderam tal tradiccedilatildeo e seu uso em pequena escala natildeo haacute indiacutecios que prejudique a biodiversidade da UC

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ESPEacuteCIES CACcedilADAS

Quanto agrave caccedila de animais silvestres 6048 (n=427) dos entrevistados Dis-cordaram Totalmente ser comum na regiatildeo tal praacutetica para comer vender eou criar animais A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 219 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas Quanto a diminuiccedilatildeo dos animais afirmaram Concordar Totalmente e Concordar Parcialmente 4405 (n=311) e 2918 (n=206) respectivamente que a caccedila jaacute foi bastante comum na regiatildeo mas atualmente quase natildeo eacute praticada porque os animais estatildeo de-saparecendo A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 394 indi-cando grau de Concordacircncia entre as respostas

Apesar dos entrevistados discordarem de que haja caccedila na regiatildeo natildeo signi-fica que tal atividade natildeo seja praticada na regiatildeo uma vez que eacute uma atividade cultural consolidada pelos habitantes do meio rural (VILELLA GUEDES 2017) Estudos como os de Menezes (2004) Santana (2002) Santana (2006) aponta-ram a caccedila de animais silvestres como um impacto que vem afligindo a regiatildeo do PARNASI desde antes sua criaccedilatildeo Somado agrave expansatildeo da agricultura e ao desmatamento eacute considerada um dos principais fatores que promovem a ex-tinccedilatildeo de espeacutecies no Brasil (ARAUJO et al 2010) Apesar dos entrevistados do presente estudo afirmarem natildeo ocorrer caccedila na regiatildeo foi visto durante a pes-quisa de campo na maioria das casas do povoado Areias gaiolas com passari-nhos aleacutem de um rapaz segurando uma gaiola caminhando em direccedilatildeo agrave serra comprida Esse resultado pode estar associado ao medo que os moradores tecircm da fiscalizaccedilatildeo do IBAMA pois eles sabem que eacute proibido caccedilar e que podem ter os animais apreendidos aleacutem de receberem multa Nascimento (2014) en-controu esse tipo de comportamento no povoado Ribeira atraveacutes de discursos motivados por medo de futuras puniccedilotildees pelo IBAMA em caso de descumpri-mento das leis de conservaccedilatildeo

Sobral et al (2007) tambeacutem identificou a caccedila como um impacto para o PAR-NASI poreacutem relatou que essa atividade vem diminuindo na regiatildeo O mesmo foi encontrado por Nascimento (2014) que identificou atraveacutes de relatos a ocor-recircncia da caccedila na regiatildeo do PARNASI sendo relatado tambeacutem natildeo ocorrer na mesma intensidade que antes da criaccedilatildeo da UC No entanto estudo sobre ras-treamento de caccediladores realizado por Sampaio Ruiz-Miranda e Ferrari (2015) no PARNASI e entrevistas com caccediladores mostrou que a caccedila continua sendo praticada na UC tendo sido registradas 82 evidecircncias de caccedila dentro de aacuterea de mata no inteior da UC O mesmo estudo revelou que as espeacutecies caccediladas

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no parque satildeo paca (Agouti paca) cotia (Dasyprocta leporina) tatu (Dasypus no-vemcinctus D septemcinctus Tolypeutes tricinctus) tapiti (Sylvilagus brasiliensis) guaxinin (Procyon cancrivorus) veado (Mazama sp) e gato-do-mato (Leopardus tigrinus)

ATITUDES DOS MORADORES DO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA QUANTO A PROacutePRIA UC

As atitudes dos moradores quanto ao PARNASI foram avaliadas de acordo com os temas prioritaacuterios para a conservaccedilatildeo ldquoconservaccedilatildeo da biodiversidade das espeacutecies e dos serviccedilos ecossistecircmicosrdquo ldquogestatildeo do parque e relaccedilatildeo com os seus funcionaacuteriosrdquo ldquobenefiacutecios custo e ameaccedilasrdquo visualizados na figura 5

Figura 5 - Atitude dos moradores dos povoados do entorno do Parque Nacional Serra de Itabaiana quanto agrave proacutepria unidade de conservaccedilatildeo (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

Quanto agrave importacircncia do Parque Nacional Serra de Itabaiana 8258 (n=583) dos entrevistados Concordaram Totalmente quanto a sua importacircncia para a proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos flora e fauna A meacutedia ge-rada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 469 indicando grau de Concor-dacircncia entre as respostas o que pode ter ocorrido pelo fato de que por se tratar de um parque mesmo sem saber exatamente sobre seu papel os entrevistdos acreditavam ser algo positivo havendo uma tendecircncia nas respostas afirmati-vas agrave sua importacircncia

Com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo na gestatildeo do PARNASI 8994 (n=635) dos entrevistados Discordaram Totalmente e 297 (n=21) Concordaram Totalmente ao responderem sobre terem sido convidados para participarem

324

288

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3

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Benefiacutecios

Colaboraccedilatildeo

Participaccedilatildeo

Importacircncia

Indiferente Discordo Totalmente 1 2 3 4 5 Concordo Totalmente

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de alguma reniatildeo do PARNASI A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 126 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas

O resultado que demonstra que os entrevistados afirmaram natildeo serem con-vidados para participarem de alguma reniatildeo do PARNASI evidencia mais uma vez a falta de inserccedilatildeo dos moradores do entorno do parque no seu processo de gestatildeo A falta de participaccedilatildeo dos moradores do entorno do PARNASI na gestatildeo da UC eacute um prejuiacutezo para o proacuteprio parque pois deixa-se de conhecer as peculiaridades socioeconocircmicas dos povoados do seu entorno e consequen-temente esta dissociaccedilatildeo pode gerar conflitos e impedir o desenvolvimento eficaz da sua gestatildeo (FIGUEIREcircDO SOUZA 2013) Resultado semelhante foi en-contrado por Evans (2007) em estudo sobre participaccedilatildeo comunitaacuteria no Par-que Estadual da Serra do Mar localizado no estado Satildeo Paulo que demonstrou que 71 dos 361 moradores do seu entorno nunca participaram de reuniotildees para tratar de assuntos referentes ao parque

O ICMBio por meio da Lei nordm 11516 de 28 de agosto de 2007 vem ten-tando implantar a gestatildeo participativa nas UCs federais buscando aperfei-ccediloar o processo de planejamento estrateacutegico voltado para sua missatildeo de ldquoproteger o patrimocircnio natural atraveacutes do desenvolvimento socioambien-talrdquo Poreacutem percebe-se que na praacutetica isso natildeo estaacute ocorrendo e que se-gundo Chirikure et al (2010) estaacute relacionado com a dinacircmica da poliacutetica moderna neoliberal ou seja a falta de prioridade dos governos frente agraves questotildees socioambientais o que acaba impedindo o oacutergatildeo de firmar seu compromisso com o desenvolvimento sustentaacutevel dos recursos naturais das UCs federais junto ao processo de gestatildeo participativa das comunidades locais (SANTOS et al 2016)

A gestatildeo participativa no contexto das unidades de conservaccedilatildeo foi formali-zada desde a criaccedilatildeo do SNUC atraveacutes da exigecircncia da formaccedilatildeo de um conse-lho gestor por todas as UCs Poreacutem foi apenas a partir da publicaccedilatildeo do Plano Nacional de Aacutereas Protegidos (PNAP) (MMA 2006) que houve o norteamento das accedilotildees a serem desenvolvidas e o reconhecimento dos conselhos como es-paccedilo fundamental para o cumprimento dos objetivos das UCs tornando-os assim estrateacutegicos para o desenvolvendo de um planejamento e gestatildeo mais eficazes (LOUREIRO CUNHA 2008)

Diante esse aspecto o processo para envolver a populaccedilatildeo na gestatildeo das UCs federais do Brasil pode ser facilitado a partir do aumento do quadro de servidores do ICMBio do aumento do orccedilamento para o oacutergatildeo e da capacitaccedilatildeo dos seus analistas ambientais e gestores tornando-se de fundamental impor-

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tacircncia para o desenvolvimento de estrateacutegias e accedilotildees eficazes quanto ao estiacute-mulo da participaccedilatildeo social (QUADROS et al 2015)

A efetiva participaccedilatildeo dos moradores do entorno do PARNASI natildeo pode ser considerada como viaacutevel sem a implementaccedilatildeo do conselho consultivo do par-que Por ser um espaccedilo participativo na gestatildeo das UCs o conselho deve atuar de acordo com o princiacutepio estabelecido pelo PNAP que visa promover a partici-paccedilatildeo e inclusatildeo dos atores sociais na gestatildeo das aacutereas protegidas objetivando o desenvolvimento socioambiental das populaccedilotildees (MMA 2006)

Com relaccedilatildeo agrave colaboraccedilatildeo do moradores junto ao parque 4079 (n=288) dos entrevistados Discordaram Totalmente serem capazes de colaborar com o PARNASI poreacutem 2394 (n=169) Concordaram Parcialmente e 2380 (n=168) Concordaram Totalmente totalizando um nuacutemero maior dos entrevistados que concordaram A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 288 indi-cando grau de Discordacircncia entre as repostas

Em relaccedilatildeo ao resultado de grau de discordacircncia quanto agrave colaboraccedilatildeo dos moradores com o PARNASI percebe-se que haacute uma falta de motivaccedilatildeo e inte-resse das pessoas sobre as questotildees do parque que podem estar relacionados ao fato deles natildeo saberem sobre a UC e sua importacircncia demostrando terem outras prioridades e falta de tempo para colaborar Quando natildeo haacute gestatildeo par-ticipativa os cidadatildeos tornam-se descomprometidos menos ativos e sem uma visatildeo criacutetica sobre a realidade que os circundam (GOHN 2001)

Por outro lado Evans (2007) identificou que 70 dos entrevistados mos-traram interesse em participar da gestatildeo da UC para ficarem mais informados sobre o parque e assim colaborar com a sua conservaccedilatildeo De acordo com Pe-arce e Doh (2005) a abordagem colaborativa eacute a base para a uma gestatildeo mais eficaz assim como Nascimento (2013) em estudo sobre saberes ambientais de comunidades do entorno do PARNASI defende o aumento da participaccedilatildeo dessas comunidades na sua gestatildeo para assim contribuir na melhoria da sua funcionalidade

Quanto aos benefiacutecios do PARNASI 4589 (n=324) dos entrevistados Dis-cordaram Totalmente e 1841 (n=130) Concordaram Totalmente que o PAR-NASI atrai visitantes e movimenta a renda da populaccedilatildeo dos povoados A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 255 indicando grau de Discor-dacircncia entre as repostas

A partir do grau de discordacircncia quanto aos benefiacutecios do PARNASI para o turismo verificou-se que segundo os moradores a presenccedila de visitantes na regiatildeo natildeo traz benefiacutecios ao desenvolvimento econocircmico local Em alguns po-

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voados mais proacuteximos agrave serra de Itabaiana eacute possiacutevel encontrar turistas que vatildeo visitar o poccedilo das moccedilas as cachoeiras dos caldeirotildees o proacuteprio topo da serra e o parque dos falcotildees (ICMBio 2016) Nesses casos vatildeo apenas passar o dia turismo conhecido como ldquobate-voltardquo identificado por Silva (2008) no Parque Nacional dos Lenccediloacuteis maranhenses e que natildeo tem gerado benefiacutecios socioeco-nocircmicos para a regiatildeo

Percebeu-se uma certa imparcialidade dos moradores do entorno do PAR-NASI quanto ao turismo principalmente dos povoados mais distantes da Serra de Itabaiana identificada por eles como o local que pode atrair visitantes Esse fato pode estar associado agrave falta de sua inserccedilatildeo no planejamento da UC Foi verificado por Teixeira e Lanzer (2013) em estudo sobre o desenvolvimento das comunidades do entorno do Parque Nacional Lagoa do Peixe no estado do Rio Grande do Sul que a maioria da populaccedilatildeo entrevistada natildeo se sente inserida no processo de gestatildeo e natildeo consegue ver o parque como uma alternativa de renda vendo apenas o setor primaacuterio como agricultura e pecuaacuteria

Fiallo e Jacobson (1995) identificaram em estudo no Machalila National Park no Equador que os moradores do seu entorno natildeo consideram que o parque traz benefiacutecios econocircmicos para a regiatildeo diferente das pessoas que natildeo mo-ram na regiatildeo mas o visitam as quais acreditam que o parque pode oferecer oportunidades de emprego Silva e Maia (2011) tambeacutem identificaram o mes-mo resultado no Parque Nacional do Catimbau no sertatildeo do estado de Per-nambuco o que pode estar relacionado agrave pouca atenccedilatildeo que os moradores receberam ao longo da implantaccedilatildeo da UC e consequentemente de seus be-nefiacutecios para o turismo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O presente estudo buscou investigar a representatividade socioambiental que o Parque Nacional Serra de Itabaiana apresenta perante os povoados do seu entorno Inicialmente atraveacutes do levantamento bibliograacutefico foi possiacutevel verificar sua importacircncia enquanto uacutenico espaccedilo protegido dessa categoria para o estado de Sergipe localizado em regiatildeo de belezas cecircnicas iacutempares abrangendo aacutereas de dois importantes Biomas brasileiros Mata Atlacircntica e Caatinga

Mesmo localizado proacuteximo a aacutereas urbanas seu entorno abrange povoados essencialmente rurais que ao longo das uacuteltimas deacutecadas vecircm obtendo melho-rias nas condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo poreacutem ainda faltam oportunidades de empregos formais e geraccedilatildeo de renda para a populaccedilatildeo A agricultura eacute a

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principal atividade econocircmica dos povoados estudados e da maneira que vem sendo desenvolvida estaacute intimamente associada aos impactos ambientais que ameaccedilam os alvos de conservaccedilatildeo ou seja os recursos naturais destacados como prioridades de conservaccedilatildeo estabelecidos no seu plano de manejo

Eacute fato que houve avanccedilo da gestatildeo do PARNASI em ter publicado seu primeiro plano manejo o qual estabeleceu recursos prioritaacuterios para a conservaccedilatildeo po-reacutem verificou-se que desde seu processo histoacuterico de implementaccedilatildeo natildeo tem-se levado em consideraccedilatildeo a devida importacircncia dos aspectos socioculturais da re-giatildeo em que foi estabelecido e nem a inserccedilatildeo necessaacuteria da populaccedilatildeo no seu processo de gestatildeo A partir dos resultados encontrados sobre o conhecimento dos moradores conclui-se que o PARNASI natildeo apresenta representatividade so-cioambiental enquanto espaccedilo puacuteblico protegido e isto provavelmente estaacute rela-cionado a falta de informaccedilatildeo quanto a sua importacircncia para a regiatildeo

De acordo com a investigaccedilatildeo referente aos conhecimentos sobre os alvos de conservaccedilatildeo foi possiacutevel identificar que os problemas relacionados aos re-cursos hiacutedricos florestas e espeacutecies caccediladas estatildeo associados agrave agricultura e que eacute necessaacuterio incentivar o desenvolvimento de praacuteticas mais sustentaacuteveis que possam unir a geraccedilatildeo de renda advinda dessa atividade e a conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais Recomenda-se assim que novos estudos sejam realizados voltados para os impactos atuais da agricultura na regiatildeo que possibilitem atraveacutes de diretrizes estrateacutegicas formar parcerias incentivar e implantar praacuteticas mais sustentaacuteveis de produccedilatildeo agriacutecola como os sistemas agroflorestais

Visto que o PARNASI eacute a uacutenica UC dentro dessa categoria no estado de Ser-gipe cabe salientar que aleacutem do plano de manejo eacute de extrema urgecircncia e importacircncia a formaccedilatildeo do seu conselho consultivo para que nesse sentido possa integrar a populaccedilatildeo ao seu processo de gestatildeo promovendo uma rela-ccedilatildeo mais construtiva e positiva dos moradores contribuiacutedo assim para a con-servaccedilatildeo socioambiental da regiatildeo Eacute vaacutelido tambeacutem ressaltar a necessidade da elaboraccedilatildeo de um plano de uso puacuteblico que possa controlar e estimular as ati-vidades turiacutesticas no parque como tambeacutem possa proporcionar benefiacutecios aos moradores dos povoados incrementando a renda e melhorando a qualidade de vida promovendo neles o sentimento de pertencimento motivaccedilatildeo e en-volvimento com o parque e sua gestatildeo Outro plano importante para o parque seria o plano de Educaccedilatildeo Ambiental que pode viabilizar de forma sistemaacutetica accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental criacutetica que busquem sensibilizar e motivar a par-ticipaccedilatildeo social no processo de gestatildeo parque

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Os resultados do estudo tambeacutem apontam alguns desafios para o fortalecimen-to da relaccedilatildeo entre o PARNASI e os povoados do seu entorno que poderatildeo ser superados atraveacutes do fortalecimento do ICMBio enquanto oacutergatildeo gestor Tal forta-lecimento o permitiraacute atuar de acordo com a sua missatildeo de ldquoproteger o patrimocirc-nio natural e promover o desenvolvimento socioambientalrdquo atraveacutes da inserccedilatildeo da participaccedilatildeo da comunidade local no processo de tomada de decisatildeo relativo agrave conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais e proteccedilatildeo ambiental bem como o respeito aos seus valores sociais e culturais

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfei-ccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash Brasil (CAPES) ndash Coacutedigo de Financia-mento 001 por meio das bolsas de Mestrado e Poacutes-Doutorado PNPD (Processo n 888823173752019-01) Agradecemos tambeacutem ao Programa de Poacutes-Gradu-accedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)UFS pela oportuni-dade de realizaccedilatildeo da pesquisa ao Instituto Chico Mendes de Conservaccedilatildeo da Biodiversidade (CMBio) do Parque Nacional da Serra de Itabaiana)

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APLICACcedilAtildeO DO CICLO PDCA NO GERENCIAMENTO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS DE UMA FAacuteBRICA TEcircXTIL

Robeacuterio Satyro dos Santos JrAntocircnio de Oliveira NettoGlessia SilvaJailton de Jesus Costa

Para Vaacutelerio Silva e Cohen (2008) a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos motivada pelos padrotildees de consumo e o forte crescimento populacional tem criado sig-nificativa mudanccedila na composiccedilatildeo fiacutesica e quiacutemica dos resiacuteduos inerentes aos processos de produccedilatildeo Diante disto os impactos gerados pelos resiacuteduos soacuteli-dos industriais satildeo enormes afetando as trecircs principais fontes de vida para o homem (terra aacutegua e ar) Com a necessidade de atender o mercado consumi-dor que possui uma rotatividade enorme as induacutestrias geram uma quantida-de enorme de resiacuteduos soacutelidos que satildeo dispostos em locais como corpos de drsquoaacutegua atmosfera e solo

Nesse sentido cabe a fonte geradora dos resiacuteduos a criaccedilatildeo de um sistema de gerenciamento que atenda suas necessidades e permita o fluxo de entrada e saiacuteda dos resiacuteduos originados dos processos como dispotildee a Lei 123052010 que trata da Poliacutetica Nacional dos Resiacuteduos Soacutelidos (PNRS) com a finalidade de melhorar o processo de gerenciamento dos Resiacuteduos Soacutelidos Industriais (RSI) Esse estudo teve como objetivo a aplicaccedilatildeo da ferramenta PDCA (Plan Do Che-ck Act) na construccedilatildeo de ideias para os problemas encontrados no galpatildeo de triagem de uma induacutestria tecircxtil Como base metodoloacutegica a pesquisa se utili-zou de estudo de caso que permite a investigaccedilatildeo anaacutelise e coleta de dados que foram levantados por meio de visitas in locu anaacutelise de dados e entrevistas Na fase de observaccedilatildeo e anaacutelise das informaccedilotildees coletadas foi possiacutevel criar medidas para os problemas visualizados no processo de gerenciamento dos RSI dentro da central de triagem da induacutestria Nesse cenaacuterio foram utilizados autores e exemplos de outras empresas que aplicaram a ferramenta do ciclo PDCA com a finalidade de demonstrar a importacircncia do gerenciamento ade-quado dos RSI

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1 RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS NO BRASIL

Segundo a NBR 100042004 os resiacuteduos soacutelidos podem ser caracterizados como industriais quando apresentam estado soacutelido e semi-soacutelido resultado das atividades do processo produtivo incluindo lodos e determinados liacutequidos cujas particularidades tornem inviaacutevel o seu lanccedilamento na rede puacuteblica de es-gotos ou corpos de drsquoaacutegua exigindo para tanto soluccedilotildees teacutecnicas e economi-camente viaacuteveis

Para o Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada ndash IPEA (2012) os resiacuteduos industriais satildeo aqueles gerados dos processos produtivos e instalaccedilotildees indus-triais podendo ser enquadrada tambeacutem uma grande quantidade de materiais caracterizados como perigosos que necessitam de um tratamento mais cuida-doso em decorrecircncia dos impactos ambientais que podem gerar se dispostos de forma inadequada no meio ambiente

Os resiacuteduos industriais tecircm sua origem em diversas atividades dos ramos da induacutestria como o setor metaluacutergico automobiliacutestico quiacutemico petroquiacutemico papelaria alimentiacutecio e tecircxtil O lixo proveniente de tais atividades se mostra bastante variado cinzas lodos oacuteleos resiacuteduos alcalinos aacutecidos plaacutesticos pa-peis madeira fibras borrachas metal escoacuterias vidro ceracircmicas e tecido Sendo necessaacuterio para alguns desses tipos de resiacuteduos um tratamento especial (COLE-FAR 2013)

Em esfera nacional a Confederaccedilatildeo Nacional das Induacutestrias (CNI) representa a instacircncia de maior importacircncia no setor industrial Como accedilotildees voltadas para o gerenciamento dos RSI destaca-se a rede de resiacuteduos e o Sistema Integrado de Bolsas de Resiacuteduos (SIBR) aleacutem de contar com a participaccedilatildeo de induacutestrias que compotildeem a rede que participam em forma de federaccedilotildees ou associaccedilotildees no acircmbito nacional (CNI 2011)

Eacute preciso ressaltar que os dados referentes a geraccedilatildeo tratamento e destino adequado satildeo bastante escassos no Brasil uma vez que muitas empresas natildeo cumprem a Resoluccedilatildeo do Conama nordm 3132012 que dispotildee sobre a criaccedilatildeo de Inventaacuterio Nacional para Resiacuteduos Soacutelidos Industriais observando que em vaacute-rios estados brasileiros a adoccedilatildeo eacute bastante recente ou ateacute mesmo natildeo existe (IPEA 2012)

Segundo dados do documento Emissotildees do Setor de Resiacuteduos ndash SEEG (2018) o Brasil produziu em 2016 uma quantia de 9197 milhotildees de toneladas

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de CO2 proveniente dos resiacuteduos o que representa uma quantia de 4 das emissotildees nacionais

Com relaccedilatildeo a geraccedilatildeo de resiacuteduos industriais segundo dados do IPEA (2012) o Brasil produziu uma quantia de 3786391 toneladasanual de resiacutedu-os perigosos e 93869046 toneladas de resiacuteduos natildeo perigosos somando uma quantia total de 97655438 toneladasano de resiacuteduos industriais Se tratando do estado de Alagoas o documento natildeo mostra nenhum dado relacionado a geraccedilatildeo dos RSI

Na induacutestria tecircxtil especificamente os tipos de resiacuteduos produzidos em vir-tude dos processos de produccedilatildeo podem variar de acordo com o tipo de pro-duccedilatildeo que a induacutestria esteja voltada Podendo gerar resiacuteduos do processo de produccedilatildeo do tecido (estopas resiacuteduo faacutebrica trama) e os resiacuteduos de corte final e acabamento que satildeo trapo cru e beneficiado

Quando se trata do processo percorrido ateacute a geraccedilatildeo do resiacuteduo eacute impres-cindiacutevel seguir um fluxo loacutegico que vai desde o uso de mateacuteria-prima passan-do pela energia empregada para realizaccedilatildeo do processo e acabamento do pro-duto aleacutem incorporar matildeo-de-obra e tecnologia dentro de todo processo Na figura 01 eacute possiacutevel observar como ocorre o processo de entrada e saiacuteda dentro de uma induacutestria na geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

Figura 01 - Processo de geraccedilatildeo dos resiacuteduos soacutelidos na induacutestria

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

A figura 01 mostra como ocorre o processo de produccedilatildeo de bens com a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos apoacutes o produto acabado Sendo o primeiro passo

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a aquisiccedilatildeo de mateacuteria-prima para iniciar o processo utilizaccedilatildeo de energia para transformar a mateacuteria-prima em produto acabado podendo ser feito uso de algum tipo de tecnologia que torne o processo mais raacutepido e traga melhores resultados no produto final para tanto eacute necessaacuterio matildeo-de-obra qualificada para evitar desperdiacutecios no caminho no qual o produto atravessa obtendo como resultado final o produto em si e subprodutos que retornam ao processo por natildeo atender as caracteriacutesticas necessaacuterias aleacutem dos resiacuteduos que satildeo sepa-rados armazenados e dispostos de acordo com o grau de periculosidade

Neste panorama o resiacuteduo industrial eacute um dos maiores culpados pelas agressotildees ao meio ambiente Estando incluiacutedos produtos quiacutemicos (cianureto pesticidas e solventes) metais (mercuacuterio caacutedmio e chumbo) e solventes natu-rais que prejudicam os ciclos naturais onde satildeo despejados Acontecendo que os resiacuteduos que possuem caracteriacutesticas soacutelidas satildeo enterrados e os liacutequidos satildeo despejados em rios e mares causados diversos prejuiacutezos para fauna e flora local

2 IMPACTOS GERADOS PELOS RSI

Os impactos gerados pelos resiacuteduos industriais satildeo enormes no meio am-biente posto que muitos desses materiais apresentam caracteriacutesticas perigosas se descartados de maneira irregular no ambiente podendo causar a degrada-ccedilatildeo de rios lenccediloacuteis freaacuteticos poccedilos artesianos aleacutem de diminuir a qualidade do ar pela emissatildeo de poluentes e contaminaccedilatildeo do solo tornando o mesmo improdutivo

Na pesquisa desenvolvida por Santos et al (2017) eacute analisado os impactos gerados pela induacutestria do gesso na cidade de TrindadePE onde satildeo destaca-dos alguns problemas em decorrecircncia das atividades para fabricaccedilatildeo do gesso como a contaminaccedilatildeo da aacutegua solo poluiccedilatildeo do rio vias puacuteblicas morte de espeacutecies da cantiga poluiccedilatildeo do ar contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico deserti-ficaccedilatildeo gerando o ecircxodo rural e problemas de sauacutede para os trabalhadores e moradores proacuteximos Nesse contexto Savi Filho e Savi (2006) apontam que o setor industrial eacute um dos maiores responsaacuteveis pelos impactos ambientais ge-rados no meio ambiente observando que muitos dos processos acabam geran-do uma grande quantia de resiacuteduos que natildeo recebem o tratamento adequado

Nesse contexto o Brasil possui uma estrutura hieraacuterquica de oacutergatildeos am-bientais bem definida para evitar os impactos gerados pelos resiacuteduos soacutelidos Em niacutevel nacional desde 1985 o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambien-

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te) eacute o oacutergatildeo responsaacutevel pelas questotildees ambientais em todo o territoacuterio na-cional aleacutem de contar com o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) como oacutergatildeo consultivo e normativo e em niacutevel teacutecnico com o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais) (LOPES 2005)

Em relaccedilatildeo aos estados cada um possui um oacutergatildeo regulamentador que eacute responsaacutevel por observar as questotildees ambientais e dispor os regulamentos que satildeo instituiacutedos pelos oacutergatildeos superiores No caso do estado de Alagoas o oacutergatildeo encarregado de cuidar dessas questotildees eacute o IMA (Instituto do Meio Am-biente do Estado de Alagoas) criado em 1975 por meio da Lei Estadual ndeg 3543 (1975) sofrendo alteraccedilotildees com o decorrer do tempo De modo que ao longo do tempo o instituto busca a observacircncia das praacuteticas legislativas relacionadas ao meio ambiente e a educaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo da comunidade para cuidar e zelar dos recursos naturais do estado (INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE DO ES-TADO DE ALAGOAS 2015)

Aleacutem disto pode ocorrer de existir em niacutevel municipal oacutergatildeos que ficam res-ponsaacuteveis por dar cumprimento as legislaccedilotildees em niacutevel federal estadual aleacutem de exercer suas funccedilotildees de controle ambiental Isto pode ocorrer a depender do porte do municiacutepio sendo mais comum em cidades que apresentam um nuacutemero populacional maior (LOPES 2005)

Com a realidade constatada o gerenciamento dos RSI se torna uma impor-tante ferramenta de soluccedilatildeo para os impactos ambientais gerados pelos resiacute-duos industriais a partir da elaboraccedilatildeo de planos pelos geradores que possam atender a fonte geradora dos resiacuteduos sendo o objetivo principal estabelecer criteacuterios para o correto aproveitamento tratamento e disposiccedilatildeo final ambien-talmente correta

3 GERENCIAMENTO DOS RSI

Para Schalch (2002) o termo gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos estaacute direta-mente ligado agraves questotildees tecnoloacutegicas operacionais englobando tanto fatores administrativos gerenciais econocircmicos e ambientais e de desempenho levan-do em consideraccedilatildeo a produtividade e qualidade ligada agrave prevenccedilatildeo reduccedilatildeo segregaccedilatildeo reutilizaccedilatildeo acondicionamento coleta transporte tratamento re-cuperaccedilatildeo e destinaccedilatildeo final

Nos estudos de Silva et al (2017) o gerenciamento dos resiacuteduos indus-triais deve conter uma constante preocupaccedilatildeo com aspectos de responsabi-lidade social pautado na sustentabilidade com a finalidade de obter lucros a

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meacutedio e longo prazo Nesses termos a responsabilidade social pode ser vista como a apropriaccedilatildeo do problema pelos geradores dos resiacuteduos soacutelidos a fim de criar medidas de gerenciamento que possam acabar com futuros impactos ambientais

A questatildeo do gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos teve iniacutecio nos paiacuteses de-senvolvidos e vem ocorrendo nos paiacuteses em desenvolvimento de forma lenta em decorrecircncia da falta de investimentos na gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos (MO-RAIS et al 2015) Como mencionado anteriormente ainda existem poucos ins-trumentos e dados elaborados pelos estados brasileiros sobre os RSI gerados pelas induacutestrias o que torna o problema ainda mais seacuterio

Quanto agrave questatildeo do gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos industriais tor-nou-se um problema no contexto atual devido agrave quantidade e diversidade de resiacuteduos gerados o que torna o tratamento e a disposiccedilatildeo final mais difiacutecil de ser realizado Todavia o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos pode ocorrer de maneira ordenada e eficiente por meio da padronizaccedilatildeo e criaccedilatildeo de planos que atendam a criteacuterios preacute-estabelecidos para cada local de implantaccedilatildeo (BRAGA DIAS 2008) Jaacute na visatildeo de Lopes (2005) o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos industriais deve ocorrer em cinco etapas distintas comeccedilando pelo evi-tar minimizar reusar-reciclar-reaproveitar tratar e dispor No processo apresen-tado por Lopes a prioridade no gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos eacute natildeo gerar resiacuteduos soacutelidos atraveacutes de melhores formas de aproveitamento e produccedilatildeo

A figura 02 descreve segundo a visatildeo de Lopes (2005) a piracircmide de priorida-des no gerenciamento dos resiacuteduos industriais colocando como deve ocorrer o processo de gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos pela priorizaccedilatildeo de etapas

Figura 02 - Hierarquia para o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos industriais

Fonte Lopes 2005

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Iniciando a leitura da figura de cima para baixo o primeiro passo no geren-ciamento dos resiacuteduos industriais consiste em evitar a geraccedilatildeo do resiacuteduo o segundo eacute minimizar a sua geraccedilatildeo ou seja gerar apenas o que for necessaacuterio para o processo o terceiro passo e utilizar o meacutetodo dos 3Rs para diminuir o desperdiacutecio e evitar que mais resiacuteduos sejam gerados o quarto passo pretende fazer o tratamento dos resiacuteduos para no uacuteltimo passo realizar sua disposiccedilatildeo em local proacuteprio

Para Costa e Pugliesi (2018) a etapa de gerenciamento dos RSU soacute conse-guiraacute apresentar resultados efetivos com a elaboraccedilatildeo de um planejamento preacutevio de todas as etapas do gerenciamento Ainda no estudo desses autores eacute mostrado que diversas ferramentas satildeo empregadas em paiacuteses desenvolvidos na etapa de planejamento a exemplo do ciclo PDCA que refere-se ao planejar (Plan) fazer (Do) verificar (Check) e agir (Act)

4 CICLO PDCA

Todas as organizaccedilotildees que apresentam processos produtivos que geram resiacuteduos soacutelidos devem dispor de forma correta os resiacuteduos gerados No Brasil muitas induacutestrias enfrentam dificuldades em elaborar um Plano de Gerencia-mento para Resiacuteduos Soacutelidos Industriais ndash PGRSI por natildeo possuir os instrumen-tos necessaacuterios para sua elaboraccedilatildeo (tecnologias gestor ambiental) A par dis-so o ciclo PDCA se mostra uma ferramenta bastante oportuna para garantir o sucesso na elaboraccedilatildeo de um PGRSI (TARDIN 2012)

O ciclo PDCA funciona de maneira ciacuteclica sendo repetido inuacutemeras vezes para chegar ateacute o tipo de processo ou atividade ideal com os melhores resulta-dos e caso ocorra algum problema retorna-se para o processo anterior O ciclo eacute divido em quatro etapas a serem seguidas de forma sequencial Planejar (Plan) Fazer (Do) Verificar (Check) Agir (Act) como mostra a figura 03

O ciclo tem seu iniacutecio com a etapa de ldquoPlanrdquo que significa ldquoplanejarrdquo ou seja uma equipe escolhe um processo para ser melhorado ou algum problema exis-tente que necessite ser solucionado Em seguida eacute feito o desenho de todo o processo para ser estudado e buscar a medida mais cabiacutevel estabelecendo tambeacutem medidas e metas quantitativas e qualitativas a serem alcanccediladas Apoacutes a criaccedilatildeo de todos esses passos eacute criado um plano de accedilatildeo para quantificar e acompanhar como estaacute o desenvolvimento do plano (PEINADO GRAEML 2007)

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Figura 3 ndash Ciclo PDCA

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro dos Santos Jr 2019

Na fase ldquoDordquo ou ldquofazerrdquo o plano de accedilatildeo jaacute se encontra definido bem como as metas quantificaacuteveis a partir dos objetivos do plano Esta fase se caracteri-za mais pela accedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tudo que foi elaborado na etapa anterior (TARDIN 2012) Nela satildeo elencadas as responsabilidades autoridades e fun-ccedilotildees para cada atividade aleacutem dos recursos que seratildeo utilizados no decorrer do processo

Nessa fase ainda existe a preocupaccedilatildeo na busca por profissionais com for-maccedilatildeo e experiecircncia para designar as diversas funccedilotildees no caminhar do proces-so Caso ocorra agrave contrataccedilatildeo de pessoal sem nenhuma experiecircncia deve-se submeter estas pessoas a cursos e treinamento que gerem especializaccedilotildees

Na terceira etapa do ciclo PDCA ldquoCheckrdquo ou ldquoverificaccedilatildeomonitoramentordquo todos os processos que foram criados satildeo verificados e monitorados para ob-servar se estatildeo atingindo os objetivos para que foram planejados Isso ocorre por meio da mediccedilatildeo dos processos envolvidos observando se o plano de ob-jetivos e metas estaacute sendo alcanccedilado

Aleacutem disto eacute feita uma verificaccedilatildeo para ver se os requisitos estatildeo sendo atendidos pelo plano uma praacutetica utilizada para observar se todas as normas estatildeo sendo respeitadas para realizar o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos podendo nesta fase ainda ocorrer auditorias internas para verificaccedilatildeo do fun-cionamento do plano (TARDIN 2012)

A uacuteltima etapa do ciclo PDCA eacute a de ldquoActrdquo ou ldquoagirrdquo por meio dos dados e informaccedilotildees obtidos na etapa anterior onde eacute possiacutevel buscar medidas mais

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cabiacuteveis para solucionar algum problema na elaboraccedilatildeo do PGRSI Para tanto satildeo feitas reuniotildees com os envolvidos no plano para levantar quais seratildeo os proacuteximos objetivos e metas do plano (PEINADO GRAEML 2007)

Por fim existem as conversas informais com os demais colaboradores da induacutestria que possuem uma visatildeo mais ampla dos aspectos operacionais po-dendo auxiliar no processo de resoluccedilatildeo dos problemas encontrados no geren-ciamento

5 APLICACcedilAtildeO DO PDCA

O ciclo PDCA pode ser aplicado em diversas aacutereas por se tratar de uma ferra-menta que consegue levantar todos os problemas e criar uma linha de soluccedilotildees Ele pode ser usado tanto como metodologia para melhorar a grade curricular dos cursos na soluccedilatildeo de anomalias no processo de operaccedilotildees portuaacuterias e como uma medida para solucionar o problema com a produccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

No caso da utilizaccedilatildeo do PDCA na melhoria contiacutenua do estaacutegio curricular ele foi utilizado nos cursos de engenharia da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) como forma de aperfeiccediloar e tornar a etapa do estaacutegio uma arma crucial para o profissional que estaacute se formando

Desta forma o emprego do PDCA assegura que a universidade possa apren-der e atingir os resultados esperados aleacutem de realizar uma padronizaccedilatildeo atra-veacutes de um sistema de gerenciamento da qualidade documentado de modo que aquilo que for realizado de forma satisfatoacuteria possa ser utilizado para me-lhorar as operaccedilotildees

Para tanto coloca-se que as atividades devem ser planejadas sistematiza-das e feitas conscienciosamente para criar um clima que se desenvolva dentro da organizaccedilatildeo (PUREZA VALENTINA KUNDE EDEL 2002) Ao atender a esses pontos eacute possiacutevel criar uma grade curricular de estaacutegio que possa se enquadrar aos requisitos que a instituiccedilatildeo necessita sendo o principal objetivo do plane-jamento a criaccedilatildeo de uma grade que possa se desenvolver naturalmente e se encaixe nos criteacuterios exigidos

A figura 04 ilustra o PDCA e mostra como a metodologia foi aplicada na resoluccedilatildeo do problema na questatildeo da grade curricular do estaacutegio identificando cada etapa do PDCA e como cada etapa funciona na correccedilatildeo e soluccedilatildeo do problema

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Figura 04 ndash Ciclo PDCA aplicado na resoluccedilatildeo do problema

Fonte Pureza Valentina Kunde Edel 2002

Com o emprego do PDCA se desenvolve uma metodologia de anaacutelise e me-lhoria dos processos aplicados aos problemas encontrados no estaacutegio curricular da UDESC para isto eacute feita a divisatildeo em duas fases principais de anaacutelise e melho-ria dos processos Na fase de anaacutelise eacute feita a identificaccedilatildeo dos clientes internos e externos e na fase de melhoria do processo satildeo priorizadas as oportunidades de melhoramento criadas e selecionadas soluccedilotildees para sua implementaccedilatildeo Ainda na fase de melhoria eacute colocado em praacutetica o plano de accedilatildeo como objetivo de garantir a manutenccedilatildeo perioacutedica (PUREZA VALENTINA KUNDE EDEL 2002)

Outra aacuterea com aplicaccedilatildeo pode ser a logiacutestica atrelada ao PDCA Tendo em vista que um gerenciamento satisfatoacuterio da cadeia de suprimentos eacute essencial para garantir que o cliente receba no prazo determinado o produto solicitado Para tanto eacute necessaacuterio o planejamento implementaccedilatildeo e controle das ativida-des garantindo um fluxo eficiente de mateacuterias (VILACcedilA et al 2011) Neste caso o PDCA foi aplicado no setor de preacute-embarque de um porto privado

No estudo o PDCA funcionou como uma teacutecnica auxiliada pelas ferramen-tas da qualidade para propor soluccedilotildees de melhorias para os problemas de re-cebimento de mercadorias no preacute-embarque e embarque com objetivo de di-minuir a ocorrecircncia de carregamentos em natildeo conformidade aleacutem de baixar os custos logiacutesticos com retrabalho e aumentar a eficiecircncia do processo

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Na questatildeo da produccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos o mesmo eacute observado na pro-duccedilatildeo de coco verde que eacute responsaacutevel por gerar uma grande quantidade de resiacuteduos devido ao consumo No caso da Bahia em 2008 foram gerados cerca 6288 mil toneladas de frutos um consumo bastante significativo observando a quantidade de cascas de cocos que satildeo gerados Desta maneira o PDCA com o auxiacutelio das ferramentas da qualidade auxiliou no encadeamento dos processos para buscar medidas que solucionassem o problema de destino e reaproveita-mento das cascas geradas (FORNARI 2010)

O PDCA eacute uma ferramenta bastante difundida e utilizada por diversas aacutere-as para solucionar e direcionar os problemas dentro de induacutestrias e empresas Mesmo assim faz-se necessaacuterio que toda empresa possua um SGA (Sistema de Gestatildeo Ambiental) que em conjunto com o PDCA iraacute planejar um conjunto de atividades para que sejam desenvolvidas e aperfeiccediloadas a longo prazo garan-tindo que a empresa atinja os objetivos ambientais desejados (MARTINS MAR-TINS FERREIRA 2016) No desenvolvimento da pesquisa o PDCA foi aplicado no gerenciamento dos RSI de uma induacutestria tecircxtil

A empresa estava localizada no municiacutepio de Delmiro Gouveia no alto ser-tatildeo alagoano Em relaccedilatildeo a sua estrutura ela possui uma aacuterea total de 45606 43 m2 onde contou com 556 colaboradores trabalhando direta ou indireta-mente no processo de produccedilatildeo (PLANO DE GERENCIAMENTO PARA RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS 2015) Aleacutem do comeacutercio local a faacutebrica era a principal fonte econocircmica para muitos moradores que residem na cidade A figura 05 mostra a localizaccedilatildeo da empresa vista por sateacutelite

A faacutebrica teve seu iniacutecio em 1914 com a construccedilatildeo da Usina de Angiquinho para aproveitamento eleacutetrico gerado pela Cachoeira de Paulo Afonso aleacutem de abastecer a faacutebrica a usina abastecia o municiacutepio de Delmiro Gouveia Diante disto a empresa criou o primeiro polo tecircxtil do Nordeste brasileiro

Jaacute na deacutecada de 1990 a empresa passou a ser administrada pelo Grupo Car-los Lyra que encontrou a faacutebrica com sua produccedilatildeo quase que totalmente para-lisada No controle a nova administraccedilatildeo comeccedilou uma raacutepida recuperaccedilatildeo da empresa com aquisiccedilatildeo de novos maquinaacuterios e equipamentos modernos que possibilitou uma produccedilatildeo mais aacutegil e com uma qualidade maior Com a busca pela constante qualidade do produto a empresa possui a ISO 9001 uma norma internacional para empresas que possuem um sistema de gestatildeo da qualidade

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Figura 05 ndash Localizaccedilatildeo da empresa

Fonte Adaptado do Google Maps (2014)

Quanto agrave estrutura organizacional da empresa ela era diacutevida em trecircs gran-des aacutereas administrativa comercial e industrial Na aacuterea administrativa estatildeo os setores de Recursos Humanos (RH) Seguranccedila do Trabalho Seguranccedila Pa-trimonial Responsabilidade Ambiental Ambulatoacuterio e Serviccedilos Gerais A aacuterea comercial eacute responsaacutevel por receber os pedidos e realizar as compras de mateacute-rias-primas para produccedilatildeo e age diretamente com a aacuterea industrial repassando a quantidade de bens que devem ser produzidos E a industrial eacute onde ocorre todo o processo de produccedilatildeo

Neste contexto atualmente a faacutebrica se encontra com suas atividades en-cerradas cabe ressaltar que o estudo foi realizado enquanto a faacutebrica ainda realizava suas operaccedilotildees O principal ramo de atuaccedilatildeo da faacutebrica foi na ativida-de de fiaccedilatildeo e tecelagem com um portfoacutelio voltado para venda de artigos de cama mesa e banho Deste modo a pesquisa foi desenvolvida na aacuterea adminis-trativa dentro do setor de responsabilidade ambiental

Como mencionado a faacutebrica era diacutevida em trecircs aacutereas que juntas satildeo respon-saacuteveis por realizar o funcionamento da faacutebrica Na aacuterea administrativa e comer-cial satildeo gerados resiacuteduos comuns papel plaacutestico papelatildeo resiacuteduo hospitalar e cartuchos para impressora Jaacute o setor industrial eacute o maior responsaacutevel por gerar RSIrsquos Nesse sentido o setor de responsabilidade ambiental era o responsaacutevel por observar todo o processo de gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos produzi-

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dos dentro da empresa trabalhando de forma integrada com os demais setores para solucionar eventuais problemas A figura 06 descreve um organograma da aacuterea industrial com seus respectivos setores

Figura 06 ndash Setores da aacuterea industrial

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

Cada setor apresentado na figura 06 eacute responsaacutevel por gerar algum tipo de resiacuteduo relacionado ao processo de produccedilatildeo No setor de preparaccedilatildeo a fiaccedilatildeo eram gerados resiacuteduo faacutebrica estopa capa de fardo de algodatildeo aleacutem dos re-siacuteduos comuns papel papelatildeo e metal na tecelagem eacute gerada a trama estopa e os mesmos resiacuteduos comuns gerados no setor de fiaccedilatildeo o setor de revisatildeo de tecido cru era responsaacutevel por gerar trapo da revisatildeo do tecido o benefi-ciamento tinha como resiacuteduos gerados a estopa e o trapo da revisatildeo de tecido acabado e a confecccedilatildeo o trapo beneficiado Os setores de expediccedilatildeo e manu-tenccedilatildeo eram responsaacuteveis por gerar resiacuteduos comuns papel papelatildeo metal e oacuteleos usados A figura 07 mostra os tipos de resiacuteduos gerados e sua origem no processo de produccedilatildeo

Figura 07 ndash Tipo de Resiacuteduo e origem no processo de produccedilatildeo

Fonte Paulino 2015

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 153

O PGRSI da faacutebrica realiza uma identificaccedilatildeo e quantificaccedilatildeo de cada resiacuteduo que eacute gerado dentro da empresa Para tanto cada resiacuteduo gerado recebe um coacutedigo com a descriccedilatildeo do resiacuteduo forma de armazenamento se era gerado na aacuterea industrial quantidade e estado fiacutesico A tabela 01 mostra os tipos de resiacuteduos e as quantidades geradas dentro do processo de produccedilatildeo

Tabela 01 - Tipo e quantidade de resiacuteduo gerado dentro da empresaTipo de RSI Quantidade

Resiacuteduo de varriccedilatildeo 41197 tonano

Sucata de metais ferrosos 144 unid

Resiacuteduos de materiais tecircxteis 30611633 tonano

Papel e papelatildeo 7832000 kg

Plaacutesticos polimerizados de processo 828000 kg

Madeira (paletes) 223000 kg

Cinzas 72595 unidano

Capa de fardo 520760 kg

Lacircmpadas usadas 475 unid

Oacuteleo lubrificante usado 1200lt

Embalagem plaacutestica 1263 unidano

Pilhas e baterias usadas 60 quilos

Fonte Plano de Gerenciamento para Resiacuteduos Soacutelidos Industriais 2015

A partir da tabela 01 foi possiacutevel identificar os principais resiacuteduos soacutelidos gerados no processo de produccedilatildeo e criar medidas com a aplicaccedilatildeo do ciclo PDCA para melhorar aspectos referentes ao gerenciamento dos RSI Para tan-to a ferramenta foi aplicada em determinados pontos do processo de gestatildeo como coleta seletiva capacitaccedilatildeo dos colaboradores layout de processo e or-ganizaccedilatildeo do depoacutesito O quadro 1 demonstra as medidas que deveriam ser tomadas em cada fase de aplicaccedilatildeo do PDCA

154 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Quadro 01 ndash Aplicaccedilatildeo do Ciclo PDCA no gerenciamento dos RSI da induacutestria Tecircxtil

Aplicaccedilatildeo Planejar Fazer Checar Agir Coleta Se-letiva

Desenvolver reci-piente para os se-tores de produccedilatildeo para coleta dos RSI

Descrito o tipo de recipiente para cada tipo de mate-rial gerado

M o n i t o r a m e n -to dos recipiente onde seratildeo depo-sitados os resiacuteduos

Caso a coleta apre-sente alguma falha possuir medidas que possam solu-cionar

Capacita-ccedilatildeo dos colabora-dores

Planejamento das capacitaccedilotildees para os colaboradores

Realizaccedilatildeo das ca-pacitaccedilotildees prepa-radas no planeja-mento

Checar se apoacutes as capacitaccedilotildees os colabores melho-raram suas ativida-des

Caso os resultados natildeo sejam favoraacute-veis eacute preciso reali-zar visitas nos seto-res para que possa existir um feedback

Layout de processo

Identificaccedilatildeo do layout atual e criaccedilatildeo de medi-das para o futuro layout

Organizaccedilatildeo do layout do setor de triagem dos RSI

Observar se o novo layout atendeu as exigecircncias espera-das

Utilizar o feedback dos colaboradores que trabalham na central de triagem

Organiza-ccedilatildeo do de-poacutesito

Criaccedilatildeo de um cro-nograma de ativi-dades

I m p l e m e n t a ccedil atilde o das atividades

Monitorar os espa-ccedilo e ver como ocor-re a organizaccedilatildeo

Troca de informa-ccedilatildeo entre os seto-res

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro dos Santos Jr 2019

A luz disto o ciclo PDCA eacute uma ferramenta ciacuteclica sua aplicaccedilatildeo pode se repetir inuacutemeras vezes no caso de sua utilizaccedilatildeo nos pontos apresentados no quadro 01 em que sua aplicaccedilatildeo repetidas vezes tenderia a tornar o gerencia-mento dos RSI mais eficiente e eficaz Para ilustrar o que foi apresentado no quadro 01 as figuras 08 e 09 mostram o layout antigo e novo para triagem dos resiacuteduos induacutestrias do processo de produccedilatildeo

Eacute possiacutevel observar no layout sem nenhuma modificaccedilatildeo que o problema era o acuacutemulo de material e um ambiente sem nenhum fluxo de entrada e saiacuteda de materiais Na central de resiacuteduos existia um local para armazenar os resiacutedu-os secundaacuterios (papel plaacutestico papelatildeo metal pneu) mas eacute pouco utilizado devido grande parte dos resiacuteduos gerados serem do processo de produccedilatildeo e ocupar um espaccedilo maior

O acuacutemulo dos resiacuteduos pode ter duas origens tanto pela questatildeo da pro-duccedilatildeo contiacutenua como a prensagem que era realizada apenas por duas prensas estando agrave terceira prensa desativada por ser obsoleta ou pela falta de comer-cializaccedilatildeo do material gerado jaacute que alguns materiais natildeo possuem compra-dores em periacuteodos curtos Para Borges (2001) dentro de qualquer arranjo fiacutesico desenvolvido deve existir um fluxo de entrada e saiacuteda que permita o curso de todo processo de produccedilatildeo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 155

Figura 08 ndash Esboccedilo da atual situaccedilatildeo da central de resiacuteduos

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

Figura 09 ndash Esboccedilo novo da central de resiacuteduos

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

No novo layout da central foi feito uma mudanccedila interna e externa na estru-tura do local dentro do local primeiro houve a mudanccedila de lugar dos moacuteveis e retirada de uma prensa desativada sendo proposto tambeacutem a colocaccedilatildeo de outra balanccedila para questatildeo do fluxo de entrada e saiacuteda dos resiacuteduos Diante do que foi exposto com a aplicaccedilatildeo do PDCA eacute notoacuterio a preocupaccedilatildeo com os problemas ambientais causados pelas atividades do processo de produccedilatildeo

Nesse sentido o PDCA eacute uma ferramenta bastante empregada em diversas aacutereas pela simplicidade e facilidade em sua aplicaccedilatildeo em solucionar proble-

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mas tendo sua principal utilizaccedilatildeo a elaboraccedilatildeo de planos por meio de etapas que devem ser seguidas garantindo as organizaccedilotildees ganhos visiacuteveis tanto no processo produtivo como financeiro De forma abrangente a exigecircncia para aplicaccedilatildeo do PDCA depende do tamanho do projeto a ser criado contrataccedilatildeo de pessoal qualificado para criaccedilatildeo utilizaccedilatildeo de ferramentas e equipamentos aleacutem da liberaccedilatildeo de verba para o desenvolvimento do projeto

Com relaccedilatildeo ao que foi abordado pela pesquisa de campo para o desen-volvimento do trabalho pode-se verificar que a aplicaccedilatildeo do PDCA natildeo se restringe apenas a aacuterea das exatas podendo ser aplicada em outras aacutereas do conhecimento na construccedilatildeo e adequaccedilatildeo de planos possuindo um caraacuteter interdisciplinar Por ser uma teacutecnica relativamente nova e pouco divulgada o PDCA ainda possui uma aplicaccedilatildeo baixa em diversas aacutereas No caso das induacutes-trias que utilizam o ciclo PDCA como ferramenta podem observar aumento na sua eficiecircncia eficaacutecia e na gestatildeo correta das accedilotildees imposta o que resulta em benefiacutecios ambientais sociais e econocircmicos

AGRADECIMENTOS

A UFSPOSGRAPPROAP pelo aporte fiacutesico financeiro e logiacutestico O presente estudo foi realizado com o apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Supe-rior ndash Brasil (CAPES) ndash Coacutedigo de Financiamento 001

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10004 ndash Classificaccedilatildeo de Resiacuteduos Soacutelidos Rio de Janeiro 2004

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 157

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PUREZA J M VALENTINA L V O D KUNDE EDEL G Anaacutelise e Melhorias Aplicada ao Estaacutegio Curricular Centro de Ciecircncias Tecnoloacutegicas ndash FEJ Santa Catarina 2002

SANTOS A J ARAUacuteJO C R A SILVA A F L ALEXANDRE L A C ldquoImpactos causados pelos Resiacuteduos Soacutelidos do Gesso no Polo Gesseiro de Trindade-PErdquo ID ON LINE REVISTA MULTIDISCIPLINAR E DE PSICOLOGIA 1137 (2017) 143-159

SAVI A F FILHO E V G SAVI E M S Engenharia apoiando o desenvolvimento susten-taacutevel In SIMPOacuteSIO DE ENGENHARIA DE PRODUCcedilAtildeO 13 Bauru 2006 Anaishellip Bauru SIMPEP 2006 p 1-7

158 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

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TARDIN Marcelo Aplicaccedilatildeo do Ciclo PDCA no Gerenciamento dos Resiacuteduos Soacutelidos Admi 2012

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 159

NUANCES SOCIO-ESPACIAIS DO POVOADO ALOQUE EM ARACAJU-SE

Eduardo de Souza SantosEliene Oliveira da SilvaGleison Parente PereiraKeeze Montalvatildeo Fonseca da SilvaJailton de Jesus Costa

INTRODUCcedilAtildeO

Para se construir uma anaacutelise soacutecio-espacial de determinado lugar requer previamente a adoccedilatildeo de alguns conceitos-chave para visualizar o recorte es-pacial Nesse caso adotou-se o conceito de territoacuterio como se segue O povo-ado Aloque configura-se num Territoacuterio por ser um espaccedilo delineadoconfigu-rado por relaccedilotildees de poder onde tambeacutem prevalece a dimensatildeo simboacutelica de um grupo ao seu espaccedilo vivido assim sendo tambeacutem eacute considerado um bairro no sentido simboacutelico (como um espaccedilo percebido e vivido) mas no conteuacutedo interacional natildeo haacute um comeacutercio e no aspecto de serviccedilos o que haacute eacute um posto de sauacutede e uns templos religiosos

O desenvolvimento urbano das cidades ocasiona uma evoluccedilatildeo desordena-da e raacutepida dos centros urbanos provocando uma infraestrutura que sobrepotildee o meio ambiente (SANTOS 1993) e gera degradaccedilotildees ambientais que afetam a qualidade de vida da populaccedilatildeo provocando um elo desequilibrado entre comunidade e o meio ambiente

Os dados do IBGE (2017) confirmam que esse aumento populacional nos cen-tros urbanos diz que 81 desse contingente permanecem em espaccedilos urbanos Nesse contexto o crescimento populacional fez com que se utilize tanto o espa-ccedilo territorial quanto os recursos naturais para a sobrevivecircncia pois o homem se apropria dos recursos naturais utilizando sua mateacuteria-prima como fonte de ener-gia causando impactos no meio ambiente (PASQUALOTTO SENA 2017)

Para Santos (2013) antigamente o meio natural era aproveitado pelo ho-mem sem grandes transformaccedilotildees Mas a harmonia na utilizaccedilatildeo do meio na-tural comeccedilou a se modificar com o passar dos anos A partir daiacute comeccedilou-se

160 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

a perceber nitidamente que a intervenccedilatildeo do homem no meio ambiente pode contribuir para a degradaccedilatildeo do meio natural anteriormente o ser humano convivia com o meio ambiente sem gerar significativas modificaccedilotildees

Inicialmente o meio natural generalizado era utilizado pela humanidade sem significativas transformaccedilotildees Nos dias atuais para a convivecircncia harmocircnica ne-cessitamos de mecanismos de controle o principal deles eacute a legislaccedilatildeo Aleacutem da legislaccedilatildeo necessita-se de efetividade na fiscalizaccedilatildeo da sua real aplicaccedilatildeo que devem manter correspondecircncia com a realidade vigente Aleacutem disso a conjuntu-ra atual requer a ampliaccedilatildeo do espaccedilo de debates sobre o respeito aos direitos da coletividade como eacute o do meio ambiente ecologicamente equilibrado

A harmonia socio-espacial na visatildeo de Santos (2013) assim formada era dessa forma respeitosa da natureza ofertada no processo de intervenccedilatildeo do homem e de criaccedilatildeo de uma nova natureza

O bairro da Jabotiana eacute um exemplo de crescimento populacional e de es-peculaccedilatildeo imobiliaacuteria neste cenaacuterio de crescimento urbano atual e inserido neste bairro encontra-se a localidade do Aloque que inerente a categoria geo-graacutefica em que se enquadre faz parte do mesmo ambiente mas demonstram nuances socio-espaciais intensas que se eacute perceptiacutevel ao simples aspecto da observaccedilatildeo

Neste contexto Costa (2010) salienta que a seleccedilatildeo do local para ser objeto de estudo envolve um conjunto de fatores ou seja o que determina a escolha por esse ou aquele territoacuterio no interior da cidade eacute uma complexidade de pro-cessos

O presente capiacutetulo objetivou analisar as nuances socio-espaciais do povo-ado Aloque enfocando sua relaccedilatildeo com o bairro Jabotiana tratando das dife-renccedilas socioeconocircmicas existentes as questotildees de infraestrutura urbana im-plantada e consequentemente apresentando os motivos dessa aacuterea acabar se tornando marginalizada dentro do bairro

Para um melhor entendimento do que aqui se propotildee os procedimentos aplicados neste estudo foram divididos em quatro etapas sendo que a primei-ra etapa consistiu em definir e delimitar o objeto de estudo ndash o povoado Aloque e suas relaccedilotildees interurbanas no bairro da Jabotiana a segunda etapa corres-pondeu a coleta de dados secundaacuterios (pesquisa bibliograacutefica cartograacutefica e imageacutetica) preliminares em bancos de dissertaccedilotildees e teses artigos e livros a partir das palavras-chave do estudo para confecccedilatildeo da fundamentaccedilatildeo teoacuterica e a buscas por dados populacionais que dimensione as diferenccedilas demograacute-ficas dentro do bairro a terceira etapa foi marcada por visitas de campo para

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 161

aquisiccedilatildeo de dados primaacuterios e aplicaccedilatildeo de instrumentos como entrevistas e registros fotograacuteficos A quarta e uacuteltima etapa consistiu na sistematizaccedilatildeo dos dados coletados (interpretaccedilatildeo e tabulaccedilatildeo) sendo escrito um estudo de caso a fim de atingir o objetivo geral do estudo

1 FUNDAMENTACcedilAcircO TEOacuteRICA

Devido ao fato do objeto e aacuterea de estudo se tratar de uma localidade eacute im-portante efetivar algumas anaacutelises de conhecimento agraves categorias e conceitos estudados na ciecircncia geograacutefica por isso se faz necessaacuterio entender os concei-tos de Territoacuterio Bairro e Povoado para o desenvolvimento deste artigo e con-sequentemente se classificar a localidade do Aloque Outro ponto importante a ser entendido eacute que o Aloque se encontra dentro de um bairro que faz parte de um municiacutepio onde existem leis de ordenamento do solo e por isso se torna pertinente fazer uma anaacutelise da mesma entendendo assim qual tratamento eacute dado a esta localidade

TERRITOacuteRIO

O territoacuterio pode ser entendido como uma extensatildeo de terra um espaccedilo geograacutefico Para Souza (2015 p 78) ldquoum espaccedilo definido e delimitado por e a partir de relaccedilotildees de poderrdquo ou seja o exerciacutecio do poder mas para Costa (2010) o territoacuterio eacute antes de tudo um territoacuterio simboacutelico ou um espaccedilo de referecircncia para a constituiccedilatildeo de identidades Questotildees ligadas ao controle ordenamento e gestatildeo do espaccedilo tecircm sido cada vez mais fundamentais para instruir as discussotildees sobre a definiccedilatildeo de territoacuterio destacam-se trecircs vertentes a poliacutetica ndash o territoacuterio eacute visto como um espaccedilo delimitado e controlado por um determinado poder que natildeo estaacute exclusivamente relacionado ao poder poliacutetico do Estado a cultural ndash privilegia a dimensatildeo simboacutelica de um grupo ao seu es-paccedilo vivido a econocircmica ndash destaca a extensatildeo espacial das relaccedilotildees econocircmi-cas Para Guattari e Rolnik apud Costa (2010 p 121-122) territoacuterio eacute

[] eacute entendida num sentido muito amplo que ultrapassa o uso que

fazem dele a etologia e a etnologia Os seres existentes se organizam

segundo territoacuterios que os delimitam e os articulam aos outros exis-

tentes e aos fluxos coacutesmicos O territoacuterio pode ser relativo tanto a um

espaccedilo vivido quanto a um sistema percebido no seio da qual um

162 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

sujeito se sente ldquoem casardquo O territoacuterio eacute sinocircnimo de apropriaccedilatildeo de

subjetivaccedilatildeo fechada sobre si mesma Ele eacute o conjunto de projetos

e representaccedilotildees nos quais vai desembocar pragmaticamente toda

uma seacuterie de comportamentos de investimentos nos tempos e nos

espaccedilos sociais culturais esteacuteticos cognitivos (GUATTARI ROLNIK

1986 p 323)

Percebe-se que territoacuterio tem vaacuterios vieses e interpretaccedilotildees que perpassam pela dimensatildeo espacial geograacutefica poliacutetica econocircmica e cultural

BAIRRO

Quando se fala de escala intraurbana aquela organizada na parte interna da cidade trata-se da escala dos bairros O bairro possui o conceito de espaccedilo vivido e de identidade soacutecio-espacial (SOUZA 2015)

Para Souza (2015) de um ponto de vista neopositivista ldquobairrosrdquo nada mais seriam que subespaccedilos distinguidos segundo criteacuterios convenientes para ele bairro corresponderia a algo como

Um ldquobairro homogecircneordquo definido em funccedilatildeo de uma relativa homo-

geneidade morfoloacutegica-paisagiacutestica de renda de composiccedilatildeo eacutetnica

e etc (ou uma combinaccedilatildeo de tudo isso) um ldquobairro funcionalrdquo iden-

tificado com base nas centralidades intraurbanas e finalmente um

ldquobairro-programardquo um espaccedilo de intervenccedilatildeo recortado de acordo

com a necessidades do planejamento e da gestatildeo estatais (SOUZA

2015 p 151)

O tema bairro era distinguido por trecircs tipos de conteuacutedos que Souza (2015) definiu como conteuacutedo composicional (caracteriacutesticas objetivas quanto agrave com-posiccedilatildeo de classe) conteuacutedo interacional (tem a ver com as relaccedilotildees estabele-cidas entre os indiviacuteduos e os grupos se haacute uma centralidade estabelecendo um determinado espaccedilo de convivecircncia existecircncia de comeacutercio e serviccedilos) e conteuacutedo simboacutelico (como um espaccedilo percebido e vivido)

Conforme o autor os bairros deixaram de ter sua proacutepria centralidade (pe-queno subcentro de comeacutercio e serviccedilos do proacuteprio bairro) para os subcentros maiores substituiacutedos por shopping centers Comeccedilaram a surgir tambeacutem assim dentro dos bairros os ldquocondomiacutenios exclusivosrdquo e ldquocomplexos autossegregadosrdquo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 163

Perdendo as caracteriacutesticas do velho bairro tradicional as relaccedilotildees entre vizi-nhos cada vez menores ou ateacute inexistentes (SOUZA 2015)

As imagens e limites dos bairros podem ser condicionadas por interven-ccedilotildees do Estado e pelo capital imobiliaacuterio que pode ter interesse de valorizar certos bairros criar e recriar imagens e identidades Mas os proacuteprios moradores podem atuar como agentes de alteraccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo dos limites espaciais do bairro (SOUZA 2015)

Os bairros massificados nas cidades contemporacircneas natildeo satildeo referenciais de grupos primaacuterios (membros que estabelecem relaccedilotildees iacutentimas entre si por exemplo famiacutelia) e sim desses fenocircmenos sociais que dizem respeito a inte-raccedilotildees entre grupos secundaacuterios identificados como segregaccedilatildeo residencial (SOUZA 2015)

POVOADO

Povoado eacute uma categoria geograacutefica que eacute descrita principalmente para lo-calidades em aacutereas rurais e eacute classificado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) como

Localidade que tem a caracteriacutestica definidora de Aglomerado Ru-

ral Isolado e possui pelo menos 1 (um) estabelecimento comercial

de bens de consumo frequente e 2 (dois) dos seguintes serviccedilos ou

equipamentos 1 (um) estabelecimento de ensino de 1ordm grau em

funcionamento regular 1 (um) posto de sauacutede com atendimento re-

gular e 1 (um) templo religioso de qualquer credo Corresponde a

um aglomerado sem caraacuteter privado ou empresarial ou que natildeo estaacute

vinculado a um uacutenico proprietaacuterio do solo cujos moradores exercem

atividades econocircmicas quer primaacuterias terciaacuterias ou mesmo secun-

daacuterias na proacutepria localidade ou fora dela

2 PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO URBANO (PDDU) DE ARACAJU

Fazendo uma investigaccedilatildeo morfoloacutegica o bairro Jabotiana se conservou nivelado e horizontal ateacute o iniacutecio do ano 2000 Com a inserccedilatildeo dos programas habitacionais e com novas obras imobiliaacuterias o bairro rescindiu a sua horizonta-lidade e passou a receber empreendimentos verticais (ARACAJU 2000)

164 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

A compreensatildeo morfoloacutegica do bairro Jabotiana eacute estimulada por obras es-peciacuteficas e pontuais que foram sendo inseridas gradativamente e muitas vezes sem relaccedilatildeo entre si e com a disposiccedilatildeo de um espaccedilo urbano programado A estrutura urbana estaacute diretamente relacionada com o desenho viaacuterio a forma-ccedilatildeo dos quarteirotildees e as tipologias arquitetocircnicas utilizadas Neste sentido os processos das tipologias arquitetocircnicas usadas tornam-se essenciais para uma melhor visatildeo e esclarecimento da cidade (ARACAJU 2000)

Nesta visatildeo o espaccedilo urbano passa a ser consequecircncia da forma arqui-tetocircnica suas relaccedilotildees com a cidade e acima de tudo os efeitos e impactos soacutecio-espaciais que esta forma de ocupaccedilatildeo e uso pode gerar (ARACAJU 2000)

De acordo com o macrozoneamento do Plano Diretor vigente de Aracaju (2000) o Jabotiana estaacute situado na Zona de Adensamento Baacutesico (ZAB) Segun-do o PDDU (2000) de Aracaju ldquoConsidera-se Zona de Adensamento Baacutesico as que apresentam potencial de urbanizaccedilatildeo poreacutem com lsquodeacuteficitrsquo de infraestrutu-ra sistema viaacuterio transporte comeacutercio e serviccedilosrdquo (ARACAJU 2000 p 44)

A partir de 2000 comeccedila no bairro Jabotiana um movimento de reorganiza-ccedilatildeo urbana articulados pelos programas habitacionais As obras habitacionais foram direcionadas para a inserccedilatildeo de habitaccedilatildeo popular na maior parte basea-dos pelo PAR (Programa de Arrendamento Residencial) e pelo PMCMV (Progra-ma Minha Casa Minha Vida) (ARACAJU 2000)

Pelo acelerado desenvolvimento e ocupaccedilatildeo do solo sem uma devida pro-gramaccedilatildeo o bairro Jabotiana exibe problemas relacionados a pouca permea-bilidade urbana o que provoca inundaccedilotildees em periacuteodos de chuva com de-ficiecircncia de transitabilidade relacionada agrave conectividade com a cidade aleacutem de impactos ambientais ocasionados por dejetos de esgotos lanccedilados no rio Poxim Exibe tambeacutem uma seacuterie de problemas em seu sistema viaacuterio sem uma elaboraccedilatildeo preacutevia de implantaccedilatildeo relacionando os niacuteveis necessaacuterios para um adequado desempenho do sistema (ARACAJU 2000) Segundo o inciso XV do artigo 54 do PDDU In verbis

Art 54 - Constituem diretrizes gerais relativas aos serviccedilos de infra-

estrutura

XV - estabelecer ao niacutevel de uso e ocupaccedilatildeo do solo taxas de imper-

meabilizaccedilatildeo maacuteximas permitidas que possibilitem uma infiltraccedilatildeo

adequada das aacuteguas pluviais e facilitem a drenagem e o escoamento

(ARACAJU 2000)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 165

Na deacutecada dos anos 1980 do seacuteculo passado foram construiacutedos no bair-ro Jabotiana os conjuntos habitacionais Juscelino Kubitschek Sol Nascente e Santa Luacutecia poreacutem o Plano Diretor de Aracaju natildeo faz menccedilatildeo ao Povoado Aloque como pertencente a nenhum bairro da cidade de Aracaju

Figura 01 - Mapa de localizaccedilatildeo dos bairros de Aracaju em destaque o bairro da Jabotiana onde estaacute localizado o Povoado do Aloque

Fonte SEPLAN 2013 Elaboraccedilatildeo da consultoria

3 ESTUDO DE CASO

Localizado na regiatildeo Noroeste da cidade de Aracaju e na parte Sul dentro do bairro da Jabotiana o Aloque tem seus limites territoriais com a cidade de Satildeo Cristoacutevatildeo que faz parte da regiatildeo denomina de Grande Aracaju (Figura 01) De acordo com informaccedilotildees de moradores a aacuterea onde atualmente estaacute localizado o Povoado do Aloque como eacute chamado por eles (a partir daqui seraacute retratado como eacute reconhecido por quem ali habita) comeccedilou a ser ocupado ainda no iniacute-cio do seacuteculo passado surgindo bem antes do que todas as outras aacutereas dentro do bairro da Jabotiana Conforme citaccedilatildeo de um morador ldquoO Aloque tem 130 anos o morador mais velho daqui chegou a mais de 60 anosrdquo

Apesar do Aloque possuir todas as caracteriacutesticas citadas pelo IBGE de um Povoado e onde os seus moradores adotam os modos de vida mais simples com caracteriacutesticas que nos remetem a entender que ali se configura como uma aacuterea rural a exemplo do uso de carroccedilas a criaccedilatildeo de animais como gali-

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nhas e porcos nos quintais e o uso dos espaccedilos naturais para o lazer e ativida-de econocircmica poreacutem a autonomia para classificar cada localidade eacute do poder puacuteblico municipal e como jaacute foi citado no estudo sobre o PDDU a prefeitura Municipal de Aracaju classifica toda sua extensatildeo territorial como aacuterea urbana

De acordo com dados do uacuteltimo censo demograacutefico do IBGE (2010) o po-voado Aloque tinha uma populaccedilatildeo de 804 residentes o que representava me-nos de 1 da populaccedilatildeo do bairro Jabotiana que no mesmo periacuteodo somava 17157 habitantes (Figura 02) A faixa etaacuteria que concentra a maior populaccedilatildeo no povoado tanto do sexo feminino quanto do sexo masculino estaacute entre 10 e 14 anos sendo 45 e 55 habitantes respectivamente jaacute no bairro Jabotiana eacute a faixa etaacuteria dominante estaacute entre 25 a 29 anos sendo 1046 residentes do sexo masculino e 1296 habitantes que se declaram do sexo feminino

Figura 02 ndash Populaccedilatildeo residente do Povoado Aloque

E eacute a partir do tipo das unidades residenciais que se percebe a disparidade de ocupaccedilatildeo entre o povoado Aloque e os outros setores do bairro Jabotia-na No povoado Aloque estatildeo implantadas 220 unidades residenciais (Tabela 01) sendo que desse total 182 satildeo unidades horizontais ou seja casas e uma situaccedilatildeo que deve aqui ser descrita eacute que no iniacutecio da Rua Agapito Silva mais conhecida como Estrada do Aloque existe uma concentraccedilatildeo de unidades ver-ticalizada (preacutedios) segundo dados do IBGE em 2010 o nuacutemero era de 38 apar-tamentos outro ponto a ser citado eacute que em observaccedilatildeo de campo nota-se que houve uma crescente ocupaccedilatildeo urbana no local com a implantaccedilatildeo de diversas unidades verticalizadas mas que por questotildees de valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria mui-tas satildeo descrita como localizados no setor do Santa Luacutecia

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 167

Tabela 01 ndash Tipos de Habitaccedilatildeo do Povoado Aloque e do Bairro Jabotiana (domiciacutelios ocupados)

Casa Apartamentos Casa de vila ou em condomiacutenio TotalPovoado Aloque 182 38 - 220Bairro Jabotiana 2518 2707 171 5396Total 2700 2745 171 5616

Fonte IBGE 2010 Organizaccedilatildeo os autores 2018

De um lado do bairro Jabotiana setores como o Sol Nascente e a Santa Luacute-cia expotildeem uma forma mais recente de ocupaccedilatildeo nos tecidos urbanos com condomiacutenios verticalizados (Figura 03) de classe meacutedia e alta protegidos por guaritas grandes muros e cercas eleacutetricas muitos com infraestrutura que per-mite seus moradores a realizar algumas atividades sem nem sair das depen-decircncias do seu proacuteprio lar mais de 50 das habitaccedilotildees ou seja 2787 possuem entre 2 e 3 habitantes Natildeo muito longe do centro do bairro a cerca de 15 km seguindo pela Estrada do Aloque o que se vecirc eacute algo totalmente diferente fo-ram observadas unidades residenciais pequenas (Figura 04) de famiacutelias classi-ficadas como baixa rendas onde muitas habitaccedilotildees possuem apenas um vatildeo outras um misto de espaccedilos construiacutedos com alvenaria e dependecircncias anexas feitas de taipa ou madeiras algumas nem condiccedilotildees de abrigar famiacutelias teriam mas eacute o uacutenico teto pra muitas delas No povoado Aloque exatos 50 ou seja 110 unidades habitacionais possuem entre 3 e 4 moradores

Figura 03 Condomiacutenio residencial no setor Santa Luacutecia

Figura ndash 04 Unidades residenciais no Povoado Aloque

Fonte Pesquisa de Campo 2018 Fonte Pesquisa de Campo 2018

No ano de 2013 foi realizado pelo poder municipal de Aracaju juntamente com dados do censo demograacutefico do IBGE (2010) o Diagnoacutestico da Cidade de Aracaju onde um dos pontos principais foi dimensionar as questotildees de ren-

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da familiar do municiacutepio Foram levados em consideraccedilatildeo a renda de todos os moradores que exercessem alguma atividade remunerada e natildeo soacute o do chefe (a) de cada famiacutelia com isso a anaacutelise se caracteriza com renda per capita por domiciacuteliofamiacutelia Os bairros foram distribuiacutedos em blocos sendo que os bairros do bloco 01 exemplo do Jardins Treze de Julho e Satildeo Joseacute foi onde apresentou a melhor situaccedilatildeo com rendimento meacutedio familiar de 10 e 22 salaacuterios miacutenimos jaacute o bairro da Jabotiana ficou classificado no bloco 2 com uma renda meacutedia domiciliar entre 5 e 75 salaacuterio miacutenimos No mesmo diagnostico soacute que de uma forma mais detalhada onde os bairros satildeo divididos por setores (Figura 05) a renda per capita mensal domiciliar das famiacutelias do Aloque estaacute entre frac12 e 1 salaacuterio miacutenimo No censo demograacutefico o IBGE (2010) outro dado tambeacutem eacute dis-ponibilizado onde indica que 67 famiacutelias do povoado tem renda meacutedia de 70 reais mensais Em atividade de campo foi identificado que muitas famiacutelias tem de renda fixa os benefiacutecios sociais em sua maioria o bolsa famiacutelia

Figura 05 - Situaccedilatildeo de renda por setor censitaacuterio

Aacuterea do povoado Aloque

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 169

Em ambas as localidades alguns serviccedilos de infraestrutura urbana satildeo dis-ponibilizados de uma forma ampla mas natildeo significa que o serviccedilo eacute conside-rado satisfatoacuterio

Natildeo eacute que no bairro Jabotiana natildeo exista impactos em aacutereas urbanas mas a diferenccedila eacute que laacute satildeo realizadas accedilotildees e existem equipamentos que minimizam esses impactos a exemplo da rede coletora de efluentes aacutereas e coletores para descarte de resiacuteduos soacutelidos e vias pavimentadas e com limpeza regular Nada dessas accedilotildees e desses equipamentos que satildeo consideradas simples e primor-diais para aacutereas como essas satildeo vistas no Aloque o que segundo os moradores torna o sentimento de abandono mais acentuado ldquoO Aloque eacute esquecido pela prefeiturardquo

De acordo com informaccedilotildees obtidas em campo tanto no bairro Jabotiana quando no povoado Aloque o sistema de abastecimento de aacutegua eacute disponibi-lizado com regularidade com interrupccedilotildees soacute em momentos de manutenccedilatildeo da rede talvez esse seja o sistema de infraestrutura que eacute disponibilizado com maior regularidade de igualdade entre as localidades

Os resiacuteduos soacutelidos satildeo dispostos de maneira diferente para cada localidade e isso tem efeito direto com o tipo de ocupaccedilatildeo habitacional em outros setores da Jabotiana haacute uma quantidade consideraacutevel de condomiacutenios residenciais onde a maioria tem aacutereas internas que servem de depoacutesito de resiacuteduos que posteriormente satildeo recolhidos pela prefeitura No Aloque a coleta eacute realizada trecircs vezes por semana o grande problema eacute que natildeo se tem caixa coletora de resiacuteduos soacutelidos que ficam espalhados nas portas das residecircncias e com isso atraem animais como galinhas catildees e gatos que muitas vezes rasgam os sacos de lixo Outro agravante eacute que natildeo haacute a limpeza das vias e estes resiacuteduos vatildeo se acumulando dando ao local um aspecto visual desagradaacutevel Uma moradora cita ldquoO lixo aqui eacute recolhido trecircs vezes por semana o ruim eacute que fica espalhado nas ruas a mercecirc de animais e suja tudo aquirdquo

Moradores citam ainda que eacute frequente a circulaccedilatildeo de caccedilambas que vatildeo ateacute o Aloque pra despejar os seus resiacuteduos uma moradora afirma ldquoO Aloque recebe todo tipo de lixo da cidaderdquo e isso foi comprovado em observaccedilatildeo de cam-po satildeo resiacuteduos oriundos de diversas fontes (Figura 06) como da construccedilatildeo civil (entulhos madeiras e ferros) domeacutesticos (plaacutesticos papeis latas e lixo or-gacircnico) e comercial (papelatildeo e embalagens)

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Figura 06 - Resiacuteduos soacutelidos oriundos de diversas fontes

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Um dos problemas de infraestrutura mais evidentes e impactantes tanto para a populaccedilatildeo quanto ao meio ambiente no povoado Aloque estaacute relacio-nado ao esgotamento sanitaacuterio Apesar de todos os domiciacutelios segundo o IBGE (2010) terem banheiro nas suas residecircncias os mesmo natildeo estatildeo ligados a um sistema de esgotamento sanitaacuterio muitos ainda se utilizam de fossa seacuteptica ru-dimentar no fundo das casas outras lanccedilam seus efluentes diretamente nas ruas e muitas residecircncias que se encontram agraves margens do Rio Pitanga (Figura 07) despejam seus efluentes no corpo hiacutedrico sem nenhum tipo de tratamento

Figura 07 - Esgotamento sanitaacuterio inadequado onde os efluentes satildeo lanccedilados nas vias ou as mar-gens do Rio Pitanga como mostra a foto em destaque

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Outros problemas que natildeo estatildeo ligados diretamente com as questotildees de infraestrutura urbana (limpeza de vias coleta de resiacuteduos soacutelidos abastecimen-to de aacutegua e esgotamento sanitaacuterio) mas que foram bastante mencionados no estudo de campo no povoado Aloque eacute sobre o meio ambiente Os moradores citam um grande volume de queimadas que muitas vezes fogem do controle e causa incidentes (Figura 08) e que satildeo realizadas como accedilatildeo de ldquolimpezardquo onde

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 171

posteriormente seratildeo construiacutedas residecircncias ou a queima de resiacuteduos soacutelidos Outros moradores relataram a retirada da vegetaccedilatildeo e aterramento do Mangue (Figura 09) para a construccedilatildeo de vias e estradas e reclamam a falta de fiscaliza-ccedilatildeo ldquoEstatildeo construindo uma estrada retirando toda vegetaccedilatildeo e destruindo aqui o Mangue eacute certordquo

Figura 08 Parte do Mangue queimado devido agrave accedilatildeo de queima de lixo

Fonte Pesquisa de campo 2018

Figura 09 Aterramento do Mangue para a construccedilatildeo de uma estrada

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Saindo do acircmbito de infraestrutura urbana mais ainda que tange as ques-totildees de serviccedilos oferecidos sendo puacuteblicos ou natildeo eacute niacutetido a diferenccedila entre o povoado Aloque e outros setores do bairro Jabotiana Os moradores do Alo-

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que precisam se deslocar para outras localidades em busca de serviccedilos baacutesicos como instituiccedilotildees de ensino bancaacuterios e ateacute estabelecimentos comerciais jaacute que no local soacute foram observados dois de pequeno porte A uacutenica estrutura de serviccedilo puacuteblico existente no local eacute a Unidade de Sauacutede da Famiacutelia Irmatilde Carida-de (Figura 10)

Figura 10 Unidade de Sauacutede da Famiacutelia Irmatilde Caridade

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Alguns moradores citam que o problema natildeo eacute se deslocar para outras regiotildees da cidade em busca destes serviccedilos o problema eacute que ateacute o serviccedilo transporte puacuteblico eacute deficitaacuterio e inviabiliza estes deslocamentos no povoado soacute existe uma linha de transporte puacuteblico (Figura 11) que demora cerca de 1h para passar e tem como destino o Terminal Dia Uma moradora afirma que esse transporte soacute passa ateacute as 20h pois o risco de assalto eacute eminente e que isso prejudica bastante a populaccedilatildeo onde alguns deixam de praticar algumas atividades e outros que necessitam chegar mais tarde tem um gasto adicional com o serviccedilo de transporte alternativo que eacute o moto-taxi ldquoOcircnibus aqui demora e para de passar aacutes 20h prejudicando quem tem que chegar mais tarde em casa e soacute tem uma linha que vai para o Terminal dia passou do horaacuterio tem que pegar moto-taacutexirdquo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 173

Figura 11 Ocircnibus que faz a uacutenica linha de transporte urbano para o Povoado Aloque

Fonte pesquisa de Campo 2018

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Eacute imprescindiacutevel que diante dos argumentos expostos todos se conscienti-zem de que haacute uma discrepacircncia dentro de um mesmo bairro com duas reali-dades bem diferentes Onde visualiza-se a falta de poliacuteticas puacuteblicas deixando uma parte da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de abandono e sem perspectiva de me-lhoria da qualidade de vida

Vale salientar a dificuldade para o desenvolvimento do estudo sendo o le-vantamento de dados a etapa mais difiacutecil do estudo A falta e a qualidade de determinados dados nas plataformas pesquisadas sobre a localidade do Alo-que foram os principais obstaacuteculos encontrados o que se frisa a necessidade de estudos mais completos sobre a localidade e dados mais precisos sobre essa porccedilatildeo do bairro Jabotiana que ateacute nesse sentido eacute esquecida pelos oacutergatildeos puacuteblicos

Levando-se em consideraccedilatildeo esses problemas de infraestrutura apre-sentados no estudo de caso como ruas sem calccedilamento e sem saneamento baacutesico entende-se que tem a diminuir a qualidade de vida dos moradores do Aloque que por natildeo terem uma infraestrutura adequada motivada pelo poder puacuteblico acabam causando impactos ao meio ambiente como despejo de es-goto no rio Pitanga e nos lenccediloacuteis freaacuteticos que passam pela regiatildeo O presente estudo abre caminhos para projetos de intervenccedilatildeo na localidade em vaacuterias aacutereas do saber na forma de sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos governantes

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REFEREcircNCIAS

ARACAJU Lei Complementar 42 de 2000 Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju 2000

COSTA R H da O mito da desterritorializaccedilatildeo do ldquofim dos territoacuteriosrdquo agrave multiterritoria-lidade ndash 5ordf ed ndash Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2010

FRANCcedilA V L A Diagnostico da Cidade de Aracaju Aracaju Prefeitura Municipal de Aracaju 2014

IBGE Censo Demograacutefico Disponiacutevel em lt httpscenso2010ibgegovbrpainelni-vel=stgt Acessado em 01 de Dezembro de 2018

PASQUALOTO N SENA M M Impactos Ambientais Urbanos no Brasil e os Caminhos para cidades sustentaacuteveis Artigo disponiacutevel em lthttpwwwrevistaeaorgartigophpidartigo=2861gt Acesso em 19 de nov 2018

SANTOS M A natureza e o espaccedilo 4 ed Satildeo Paulo EDUSP 2013

SANTOS M A urbanizaccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Hucitec 1993

SOUZA M L De Os conceitos Fundamentais da pesquisa soacutecio-espacial 2ordm ed ndash Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2015

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 175

A MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE

Ademilson de Jesus SilvaCassandra Mendonccedila de Oliveira Deniver Delma Souza OliveiraMilton Marques Fernandes

1 INTRODUCcedilAtildeO

A mineraccedilatildeo brasileira teve iniacutecio no periacuteodo colonial com a extraccedilatildeo de mineacuterios pela coroa portuguesa a qual fazia uso da matildeo de obra escrava para a garimpagem de ouro e pedras preciosas Como na eacutepoca natildeo existiam maacutequinas a extraccedilatildeo era feita de forma ruacutestica com ferramentas manuais no processo de remoccedilatildeo do solo e escavaccedilatildeo do subsolo (ANDRADE 1987 CVRD 1992) As minas eram a ceacuteu aberto sem grandes impactos ambientais pois ocorriam em pontos isolados nos estados de Minas Gerais e Satildeo Paulo vindo a se deslocar para o Nor-deste na extraccedilatildeo de rochas de calcaacuterio com a exploraccedilatildeo em plena atividade na regiatildeo ateacute os dias atuais para induacutestria de cimento (GERMANY 2002)

A extraccedilatildeo no Nordeste inicialmente foi com a garimpagem de pedras preciosas com escavaccedilotildees de forma rudimentar em pontos isolados sem vieacutes econocircmico para o Brasil A exploraccedilatildeo em escala comercial veio ocorrer soacute de-pois de 1934 com a criaccedilatildeo do Departamento Nacional da Produccedilatildeo Mineral (DNPM) responsaacutevel por fomentar a atividade na regiatildeo com foco nos mineacuterios pegmatitos e xilita tatildeo valorizados pelos americanos que utilizavam para ali-mentar a induacutestria beacutelica durante a segunda guerra mundial (1939-1945) (AN-DRADE 1987)

Entre todos os nove estados nordestinos que tiveram a extraccedilatildeo de mineacute-rio intensificado nas uacuteltimas deacutecadas o presente estudo eacute direcionado para a mineraccedilatildeo no estado de Sergipe que teve sua expansatildeo em maiores escalas comerciais em meados de 1963-1966 com a descoberta de novas jazidas de mineacuterios entre eles os sais de potaacutessio elevando o estado ao maior produtor desse mineacuterio em todo territoacuterio nacional com iniacutecio das exploraccedilotildees em gran-des proporccedilotildees no ano de 1991 permanecendo em plena atividade ateacute os dias atuais (ARAUJO 2017) O estado tambeacutem se destaca por possuir inuacutemeras ou-

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tras riquezas minerarias aleacutem do potaacutessio distribuiacutedas por todo seu territoacuterio a exemplo do calcaacuterio e agregado (areia terra de barranco argila) ambos satildeo importantes para a induacutestria da construccedilatildeo civil do estado e do nordeste ali-mentando a economia com a geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos

Os postos de trabalhos gerados pela atividade mineraacuteria no estado contri-buem para a economia conforme as pessoas tecircm viacutenculo empregatiacutecio formal na extraccedilatildeo desses mineacuterios passam a ser assalariadas e economicamente ati-vas ou seja potenciais consumidoras de diversos produtos e assim fomentando outros setores do comeacutercio (bens e serviccedilos) no estado e dessa forma gerando outros postos de trabalhos (denominados trabalhos indiretos) impulsionando a economia do estado

Portanto o presente capiacutetulo tem como objetivo exploratoacuterio visando agrave to-mada de conhecimento sobre a mineraccedilatildeo no estado de Sergipe mediante a pergunta norteadora Qual a importacircncia da extraccedilatildeo de mineacuterios no estado de Sergipe e seus potencias impactos

Respondendo agrave pergunta objetiva colaborar para o entendimento da mine-raccedilatildeo no estado de Sergipe Eacute seguido de uma metodologia quanto ao proce-dimento da coleta bibliograacutefica realizada atraveacutes de consultas nos portais (web sites) vinculadas ao setor mineraacuterio de cunho nacional o Departamento Nacio-nal de Produccedilatildeo Mineral - DNPM a Agecircncia Nacional de Mineraccedilatildeo ndash ANA Em artigos cientiacuteficos extraiacutedos do httpswwwsciencedirectcom livros acessados na biblioteca da Universidade Federal de Sergipe e leis baixadas no portal do congresso nacional brasileiro

Ressalta-se que a atividade mineraacuteria eacute causadora de impactos ambientais portanto torna necessaacuteria a obrigatoriedade de uma seacuterie de procedimentos burocraacuteticos junto aos oacutergatildeos ambientais e DNPM que eacute a realizaccedilatildeo preacutevia do Estudo de Impacto Ambiental ndash EIA e do Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA para que possa ocorrer a liberaccedilatildeo da exploraccedilatildeo uma vez que ativi-dade de exploraccedilatildeo mineraccedilatildeo causa danos ambientes como a diminuiccedilatildeo da cobertura verde contaminaccedilatildeo do solo perda parcial ou total da fauna e flora reduccedilatildeo da qualidade dos recursos hiacutedricos por contaminaccedilatildeo das aacuteguas polui-ccedilatildeo do ar e danos agrave sauacutede humana (SANTOS J 2017)

Isso torna indispensaacutevel agrave recuperaccedilatildeo da aacuterea apoacutes o fechamento das ex-ploraccedilotildees pelas empresas para que os impactos causados in loco durante o processo de extraccedilatildeo dos mineacuterios natildeo se perpetuem em decorrecircncia da expo-siccedilatildeo do subsolo que facilita a lixiviaccedilatildeo de sedimentos para os corpos hiacutedricos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 177

A recuperaccedilatildeo pode devolver a cobertura vegetal integrando a aacuterea ao meio ambiente deixando acessiacutevel agrave fauna silvestre

2 OS MINEacuteRIOS EXPLORADOS NO ESTADO DE SERGIPE

O Estado de Sergipe estaacute localizado na regiatildeo Nordeste do Brasil com um territoacuterio de 21926908 kmsup2 eacute a menor unidade da federaccedilatildeo brasileira fazen-do limites com os seguintes estados Bahia (ao sul e a oeste) e Alagoas (ao norte cuja fronteira eacute demarcada pelo Rio Satildeo Francisco) e a leste o oceano Atlacircnti-co (FEITOSA 2006) De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE (2010) no uacuteltimo censo demograacutefico o estado possui 2068017 de ha-bitantes e uma estimativa para 2019 de 2298696 habitantes distribuiacutedos por 75 municiacutepios detentor de um iacutendice 0665de desenvolvimento humano (IDH) que o deixa na posiccedilatildeo 20deg comparado aos demais estados brasileiros

O estado possui inuacutemeras riquezas em minerais assim como os demais es-tados do Nordeste que satildeo detentores dos mais variados minerais ouro pe-dras preciosas substacircncias quiacutemicas (cobre sais de potaacutessio) agregados para construccedilatildeo civil com registro de extraccedilatildeo deste o periacuteodo Brasil colocircnia (AN-DRADE 1987) No acircmbito nacional Sergipe se destaca na produccedilatildeo de potaacutessio (Figura 01) o qual em conjunto com estado da Amazocircnia satildeo os detentores das maiores jazidas de potaacutessio em territoacuterio Brasileiro (CRUZ 2012 OLIVEIRA 2017 ARAUJO 2017)

Figura 01 Principais regiotildees do Brasil com depoacutesitos minerais

Fonte Santos R et al (2001)

178 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Como eacute possiacutevel perceber no mapa em territoacuterio nacional eacute no estado de Sergipe que se concentram as reservas em exploraccedilatildeo de sais de potaacutessio dife-rentemente da Amazocircnia pois natildeo foi identificada exploraccedilatildeo de suas reservas em escala comercial apoacutes o levantamento de dados realizados na Agecircncia Na-cional de Mineraccedilatildeo ndash ANM

Em Sergipe nas regiotildees de TaquariVassouras e Santa Rosa de Lima

as reservas oficiais de silvinita (KCl + NaCl) totalizam 4780 milhotildees de

toneladas com teor meacutedio de 97 de K2O equivalente Dessas 682

milhotildees de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo (teor de 1904 de K2O)

que correspondem a 129 milhotildees de toneladas de K2O equivalen-

te representaram em 2013 a reserva lavraacutevel em TaquariVassouras

(OLIVEIRA 2017 01 p)

A expressiva quantidade (682 milhotildees de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo) de potaacutessio (K2O) extraiacuteda no estado classifica-o como o maior produtor desse mineacuterio em territoacuterio nacional Com capacidade de expansatildeo na produccedilatildeo me-diante a exploraccedilatildeo de novas jazidas jaacute identificadas na regiatildeo pela Companhia do Vale do Rio ndash CVRD a qual eacute responsaacutevel pela exploraccedilatildeo desde 1991 perma-nece ateacute os dias atuais (CRUZ 2012)

A exploraccedilatildeo de potaacutessio no menor estado da Federaccedilatildeo Brasileira eleva o paiacutes em escala mundial como produtor desse mineral Poreacutem tambeacutem se destaca dos demais estados do Nordeste por em sua aacuterea geograacutefica (Figura 02) ser detentora de um importante polo mineraacuterio com a existecircncia de diversos mineacuterios (Quadro 01) em exploraccedilatildeo ou passiacuteveis de serem explorados (SANTOS et al 2001)

Quadro 01 Substacircncias minerais do estado de Sergipe

Classe SubstacircnciasMetaacutelicas Chumbo (Pb) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Manganecircs (Mn) Niacutequel (Ni) Ouro (Au) Pirita

(Pi) Titacircnio (Ti) Toacuterioterras raras (Th) Zinco (Zn) e Zicocircrnio (Zr)

Natildeo metaacutelicos

Aacutegua mineral (Agm) Amianto (Am) Areia (Ar) Argila (Ag) Enxofre (S) Filito (Fi) Fluacuteor (F) Foacutesforo (P) Gabro (Gb) Gnaisse (Gn) Granito (Gr) Metarenito (ma) Metas-siltito (ms) quartsito (Qt) quartzo (Qz) e Saibro (As)

Calcaacuterios Calcaacuterio (Ca) Calcaacuterio calciacutetico (Cc) Calcaacuterio dolomiacutetico (Cd) Dolomito (Ma) e Maacuter-more (Mm)

Energeacuteti-cos e sais soluacuteveis

Gaacutes (Gs) Petroacuteleo (Pe) e Turfa (Tf ) Sais de magneacutesio (Mg) Potaacutessio (K) e Soacutedio (Na)

Fonte Adaptado de Santos et al (2001 64 p)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 179

Figura 02 Mapa do estado de Sergipe e os mineacuterios

Fonte Santos et al (2001 64 p)

Sergipe eacute detentor de um arcabouccedilo mineraacuterio apresentado no Quadro 01 e demarcado a localizaccedilatildeo geograacutefica das jazidas (Figura 02) que estatildeo concen-tradas de forma significativa proacuteximo agrave capital Aracaju pontual pelo territoacuterio e ao longo da divisa com Alagoas Mineacuterios esses que uma vez explorados con-tribuem para a economia do estado e do Brasil

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3 ASPECTOS ECONOcircMICOS DA MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE

O desenvolvimento do estado (IDH) sofre efeitos do setor mineraacuterio im-pulsionado pela instalaccedilatildeo do polo da Petrobraacutes em 1963 contribuindo para exportaccedilatildeo de petroacuteleo em acircmbito nacional e consequentemente para a eco-nomia aleacutem do desenvolvimento econocircmico do estado (FEITOSA 2006) De acordo com Cruz (2012) a produccedilatildeo de petroacuteleo gerou em Sergipe uma rique-za estimada em R$ 9230 milhotildees por ano e participa com 52 de tudo que eacute produzido (PIB) em 2009 com um crescimento expressivo em relaccedilatildeo a 2008 de 40 ocorrendo tambeacutem no mesmo ano o retorno da mina Taquari Vassouras que em 2009 alcanccedilou altos niacuteveis de produccedilatildeo impulsionando um crescimen-to de 60 na extraccedilatildeo de minerais e consequentemente contribuindo para o PIB do estado

A extraccedilatildeo de mineacuterios aleacutem de contribuir para o PIB do estado contribui para a economia dos municiacutepios mediante o repasse dos royalties conforme a Compensaccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo dos Recursos Minerais (CFEM1) in-dispensaacutevel para o desenvolvimento econocircmico do paiacutes estados e municiacutepios (ICMM 2013) Ressaltando que as cobranccedilas satildeo feitas em virtude das minera-doras estarem explorando terras da uniatildeo assegurado pela Constituiccedilatildeo Fede-ral de 1998 assim consta no Art 20 Satildeo bens da Uniatildeo

()

IX - os recursos minerais inclusive os do subsolo

sect 1ordm Eacute assegurada nos termos da lei aos Estados ao Distrito Fede-

ral e aos Municiacutepios bem como a oacutergatildeos da administraccedilatildeo direta da

Uniatildeo participaccedilatildeo no resultado da exploraccedilatildeo de petroacuteleo ou gaacutes

natural de recursos hiacutedricos para fins de geraccedilatildeo de energia eleacutetri-

ca e de outros recursos minerais no respectivo territoacuterio plataforma

continental mar territorial ou zona econocircmica exclusiva ou com-

pensaccedilatildeo financeira por essa exploraccedilatildeo

1 A CFEM conhecida tambeacutem como royalty da mineraccedilatildeo eacute um dos muitos encargos incidentes na cadeia mineral Esta contribuiccedilatildeo estabelecida pela Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Art 20 sect 1o eacute de-vida aos Estados ao Distrito Federal aos Municiacutepios e aos oacutergatildeos da administraccedilatildeo da Uniatildeo como contraprestaccedilatildeo pela utilizaccedilatildeo econocircmica dos recursos minerais em seus respectivos territoacuterios Os recursos da CFEM satildeo distribuiacutedos da seguinte formabull 12 para a Uniatildeo (DNPM 98 IBAMA 02 MCTFNDCT 2)bull 23 para o Estado onde for extraiacuteda a substacircncia mineralbull 65 para o municiacutepio produtor (ANM 2003)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 181

Art 176 As jazidas em lavra ou natildeo e demais recursos minerais e

os potenciais de energia hidraacuteulica constituem propriedade distinta

do solo para efeito de exploraccedilatildeo ou aproveitamento e pertencem

agrave Uniatildeo garantida ao concessionaacuterio a propriedade do produto da

lavra (BRASIL 2012)

Desde o iniacutecio da lavra mineral em territoacuterio nacional conforme o determi-nado na constituiccedilatildeo a mineradora passa a fazer os repasses dos royalties de acordo a Lei 13540 (Brasil 2017) a qual determina que as mineradoras ensejem o recolhimento da Compensaccedilatildeo Financeira Pela Exploraccedilatildeo de Recursos Mine-rais ndash CFEM A aliacutequota referente aos valores a serem repassados pelas minera-doras (CEFEM) eacute calculada (Quadro 01) em cima da extraccedilatildeo mineral de cada tipo de mineacuterio extraiacutedo em territoacuterio Brasileiro

Tabela 01 As aliacutequotas da porcentagem a ser tributada em royalties para alguns mineacuterios

Lei 13540 de 2017

Substacircncia Aliacutequota

Rochas areias cascalhos saibros e demais substacircncias minerais quando desti-nadas ao uso imediato na construccedilatildeo civil rochas ornamentais aacuteguas minerais e termais

1

Ouro 15

Bauxita Manganecircs Nioacutebio Sal-gema 3

Diamante e demais substacircncias minerais incluindo Cobre 2

Ferro observadas as letras b e c do Anexo (na Lei em questatildeo) 35

Demonstra o porcentual tributado pelas mineradoras de acordo a comercializaccedilatildeo dos mineacuterios explorado no solo brasileiro Fonte Adaptado de httpswwwinescorgbrwp-contentuploads201905CFEM_v02pdfx31288

Essas porcentagens dos repasses especificados em cada mineacuterio satildeo calcu-ladas conforme a receita bruta de vendas realizada pela mineradora acompa-nhado e supervisionado pelo Ministeacuterio de Minas e Energia que executa todo o processo administrativo do CFEM e em seguida faz a distribuiccedilatildeo dos valores aos estados e municiacutepios na forma de royalties

Portanto quanto mais mineradoras em atividade existirem no estado e de-pendendo do tipo de mineacuterio extraiacutedo maior seraacute a arrecadaccedilatildeo No Brasil a partir de 12062018 ateacute 30042019 referente agraves competecircncias de 062018 a 032019 os valores arrecadados bateram a casa dos 154241510553 bilhotildees (ANM 2019)

Os valores arrecadados passam a ser distribuiacutedos conforme procedimentos reestabelecidos no CFEM especificado no decreto Nordm 94072018

182 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Art 2ordm O percentual de quinze por cento a tiacutetulo de Compensa-

ccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo de Recursos Minerais ndash CFEM seraacute

distribuiacutedo para cada substacircncia mineral entre o Distrito Federal

e os Municiacutepios afetados pela atividade de mineraccedilatildeo e os Muni-

ciacutepios gravemente afetados pela perda de receita da CFEM com a

ediccedilatildeo da Lei nordm 13540 de 18 de dezembro de 2017 da seguinte

forma

I - dois por cento para o Distrito Federal e os Municiacutepios como forma

de compensar a perda de arrecadaccedilatildeo da CFEM com a entrada em

vigor da Lei nordm 13540 de 2017 e

II - treze por cento para o Distrito Federal e os Municiacutepios afetados

pela atividade de mineraccedilatildeo em seus territoacuterios

Paraacutegrafo uacutenico A compensaccedilatildeo prevista neste artigo seraacute vinculada

agrave receita da CFEM de cada substacircncia mineral (BRASIL 2018)

Dessa forma como o estado possui municiacutepios que satildeo afetados pela ex-ploraccedilatildeo de mineacuterios passa a receber as devidas porcentagens descritas acima calculados conforme cada mineacuterio explorado totalizando no estado de Sergipe uma arrecadaccedilatildeo de 1032266454 milhotildees no ano de 2018 (SANTANA 2018) Apoacutes a aplicaccedilatildeo das novas regras determinadas pelo decreto nordm 94072018 o estado de Sergipe no periacuteodo de 062018 a 032019 recebeu um total de R$ 64958439 deste valor consta que soacute o municiacutepio de Barra dos Coqueiros recebeu 5481252 com o mineacuterio de cobre ANM (2019)

Portanto os recursos financeiros adquiridos pelo CFEM e distribuiacutedos em royalties potencializam o desenvolvimento do paiacutes onde no Brasil de todos os bens e produtos que contribuem para o Produto Interno Bruto (PIB) o setor mineraacuterio eacute responsaacutevel por 5 do PIB com expressiva contribuiccedilatildeo em acircmbito nacional para o estado de Minas Gerais que deteacutem o ranque do maior produtor de mineacuterios do paiacutes com destaque para o ferro (ICMM 2013)

Por outro lado em Sergipe de acordo com Santos et al (2001) os dados apresentados pelo Sicom ndash Sistema Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e o DNPM os mineacute-rios mais explorados no estado de Sergipe satildeo os minerais metaacutelicos minerais industriais rochas ornamentais substacircncias fertilizantes e substacircncias energeacute-ticas Esses mineacuterios satildeo explorados por induacutestrias nacionais e multinacionais de economia mista ou privada colocando o estado em um panorama mineraacuterio (Figura 03) demonstrado o quanto o setor mineraacuterio vem se desenvolvendo no estado puxado pelo nacional que no panorama mundial o Brasil estaacute entre

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 183

os maiores detentores de jazidas e na produccedilatildeo de mineacuterios ocupando a 11ordf posiccedilatildeo (ARAUJO OLIVEIRA FERNANDES 2014 e BRASIL 2014)

Figura 03 Panorama da Mineraccedilatildeo Nacional e do estado de Sergipe quanto aos requerimentos para extraccedilatildeo de mineacuterios concedidos pelo DNPM no ano de 2018

Fonte Extraiacutedo de httpdadosgovbrdatasetcontrole-de-processos-sicop (2019)

Quando comparado o estado de Sergipe ao panorama da mineraccedilatildeo na-

cional encontra-se atualmente na 22ordf posiccedilatildeo essa posiccedilatildeo se daacute em virtude dos dados apresentados na Figura 03 que correspondem a 65 Requerimentos de Pesquisa (RP) dos 10284 existentes no Brasil com 27 Requerimentos de Li-cenccedila (RL) dos 1880 existentes no Brasil e com o Requerimento de Lavra Ga-rimpeiro (RLG) e Requerimento de Registro de Extraccedilatildeo (REM) dos 1219 e 569 respectivamente existentes no paiacutes ou seja em Sergipe natildeo ocorreu a abertura de novas minas para explorar mineacuterio poreacutem avanccedilou significativamente na pesquisa quando se leva em questatildeo o tamanho de seu territoacuterio (menor da federaccedilatildeo brasileira) Das minas com plena atividade de exploraccedilatildeo no Brasil haacute um total de 8870 grandes companhias mineradoras devidamente detentoras dos registros de extraccedilatildeo e de concessatildeo de lavra distribuiacutedos geograficamen-te (Figura 04) em territoacuterio Nacional (DNPM 2012)

Dessa forma a regiatildeo nordeste possui 1606 empresas atuantes na extraccedilatildeo de mineacuterios que corresponde a 1810 de todo o territoacuterio nacional Uma delas eacute a empresa VALE com a exploraccedilatildeo de potaacutessio no estado de Sergipe respon-saacutevel por toda produccedilatildeo desse mineacuterio em territoacuterio brasileiro equivale a 090 de toda produccedilatildeo mundial (DNPM 2012) As jazidas desse mineral estatildeo loca-lizadas especificamente nos estados da Amazocircnia e de Sergipe poreacutem ocorre exploraccedilatildeo apenas no estado de Sergipe que de acordo o Departamento Na-cional de Produccedilatildeo Mineral - DNPM e Agecircncia Nacional de Mineraccedilatildeo - ANM

184 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Figura 04 Mapa da distribuiccedilatildeo das Companhias Mineradoras no Brasil

Fonte IBRAM (2015 p 08)

Em Sergipe nas regiotildees de TaquariVassouras e Santa Rosa de Lima as

reservas oficiais de silvinita (KCl + NaCl) totalizam 4780 milhotildees de tone-

ladas com teor meacutedio de 97 de K2O equivalente Dessas 682 milhotildees

de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo (teor de 1904 de K2O) que correspon-

dem a 129 milhotildees de toneladas de K2O equivalente representaram em

2013 a reserva lavraacutevel em TaquariVassouras Trabalhos de reavaliaccedilatildeo

de reservas de silvinita na regiatildeo de Santa Rosa de Lima situada 16 km

a oeste de Taquari-Vassouras dimensionaram reserva de aproximada-

mente 669 milhotildees de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo (1548 milhotildees de

toneladas de K2O equivalente) considerando a camada principal Ainda

em Sergipe satildeo conhecidos importantes depoacutesitos de carnalita (KClMg-

Cl26H2O) As reservas totais de carnalita (medida + indicada + inferida)

reavaliadas com teor meacutedio de 1040 de KCl alcanccedilam cerca de 144

bilhotildees de toneladas Encontra-se em fase de implantaccedilatildeo no Estado de

Sergipe projeto que visa o aproveitamento dessas reservas de carnalita

por processo de dissoluccedilatildeo (OLIVEIRA 2017 p 01)

Portanto a extraccedilatildeo dos mineacuterios potaacutessio magneacutesio e soacutedio em Sergipe estaacute concentrada em uma uacutenica regiatildeo do estado no municiacutepio de Rosaacuterio do Catete (Latitude 10o34rsquo40rdquo e Longitude 37o07rsquo15rdquo) classificada como uma das minas mais produtivas e industrialmente modernas do territoacuterio brasileiro (SANTOS et al 2001 e GERMANY 2002) Tem uma produccedilatildeo estimada em 850mil

Fonte IBRAM (2015 p 08)

Distribuiccedilatildeo por Regiotildees do Brasil

Centro-Oeste 1075 empresas

Nordeste 1606 empresas

Norte 515 empresas

Sudeste 3609 empresas

Sul 2065 empresas

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 185

toneladas ano-1 de KCl e extraccedilatildeo previsto ateacute 2022 com potencial de expandir na regiatildeo de Santa Rosa de Lima com a exploraccedilatildeo das novas jazidas em reser-vas de potaacutessio existente (ANM 2018)

Evidente que aleacutem dos sais de potaacutessios que de acordo com Arau-jo (2017) tecircm contribuiacutedo positivamente para a economia do estado e para o avanccedilo da induacutestria de agroquiacutemicos da base agriacutecola do paiacutes no Estado satildeo exploradas outras substacircncias pertencentes agraves seguintes classes mateacuterias-pri-mas para a induacutestria quiacutemica (sal-gema e sal marinho) materiais de construccedilatildeo e ceracircmicos (pedra de construccedilatildeo pedra britada areia e saibro argila para ceracirc-mica estrutural e de revestimento calcaacuterio para cimento cal gesso corretivo de solos e rochas ornamentais) aacuteguas e hidrocarbonetos (petroacuteleo e gaacutes natural) determinantes para a economia do estado (SANTOS et al 2001)

Por exemplo a extraccedilatildeo de mineacuterios denominados agregados (areia brita seixo rolado argila) que estaacute em segundo lugar entre os mineacuterios mais explo-rados no estado para a construccedilatildeo civil (atraacutes apenas da mineraccedilatildeo de sais de potaacutessio) fechou o ano de 2011 com uma estimativa de 5769790t (IBRAM 2012) demonstrando que outros mineacuterios tambeacutem satildeo extraiacutedos no estado com tamanha relevacircncia e importacircncia para o setor mineraacuterio

A extraccedilatildeo de agregados para o estado tem sua parcela significativa para a economia com a geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos que vatildeo desde a matildeo de obra no processo de extraccedilatildeo ao transporte Segundo dados IBRAM (2012) em 2011 os nuacutemeros de empregos no setor mineraacuterio ultrapassaram os 22 milhotildees contabilizando apenas a matildeo de obra especializada ou capacitada pelas empresas para atuarem na aacuterea da pesquisa transporte e extraccedilatildeo dos mineacuterios satildeo pessoas economicamente ativas que consomem os mais diversos produtos e serviccedilos e consequentemente contribuem para a geraccedilatildeo de outros postos de trabalhos (empregos indiretos)

Ano apoacutes ano o mercado de trabalho na induacutestria mineraacuteria vem se man-tendo estaacutevel no cenaacuterio nacional mesmo com as crises que perpassam o paiacutes pois de acordo com ANM (2018) enquanto em outros setores ocorreram de-missotildees o setor da extraccedilatildeo mineral tem registrado aumento nos postos de trabalho com a geraccedilatildeo de 1251 novos trabalhos no ano de 2018 Poreacutem no estado de Sergipe ocorreu uma reduccedilatildeo de 91 postos de trabalho

O saldo negativo de matildeo de obra em Sergipe localizado no setor

de extraccedilatildeo de outros minerais natildeo metaacutelicos (-86) foi influenciado

pelas demissotildees da Vale Fertilizantes que resultou na perda de 86

186 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

postos de trabalho no municiacutepio de Rosaacuterio do Catete (SE) devido agrave

operaccedilatildeo de venda da Vale Fertilizantes para a Mosaic concluiacuteda em

2 de janeiro de 2018 (ANM 2018 p07)

Mesmo com a ocorrecircncia na reduccedilatildeo da matildeo de obra contratada pelo setor mineraacuterio no estado natildeo desmerece a importacircncia da induacutestria mineraacuteria na geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos contribuindo para economia de Sergi-pe aleacutem de no cenaacuterio nacional ter ocorrido um pequeno crescimento na gera-ccedilatildeo de trabalho demonstrado acircnimo para o setor econocircmico do paiacutes mediante os altos iacutendices de desempregos sendo que em 2018 conforme dados do IBGE (2018) o nuacutemero de pessoas desempregadas no Brasil alcanccedilou 128 milhotildees

4 O IMPACTO AMBIENTAL E SOCIAL DA MINERACcedilAtildeO

Os Royalties da mineraccedilatildeo para o estado de Sergipe repassados pelas empresas que realizam a extraccedilatildeo dos mais variados mineacuterios entre eles amianto argila calcaacute-rio calcaacuterio calciacutetico ferro e argila metassiltito (pedra-detalhe) calcaacuterio (maacutermore) ouro potaacutessio entre outros (SANTOS et al 2001) satildeo expressamente importantes para o desenvolvimento econocircmico visto anteriormente que no ano de 2018 em valores reais foram repassados pelo CEFEM ao estado R$ 1032266454 e no primeiro periacuteodo do presente ano (2019) o repasse jaacute chega a R$ 64958439

As contribuiccedilotildees do setor mineraacuterio para economia do estado satildeo bastante relevantes e importantes para o desenvolvimento econocircmico Por outro lado os impactos ambientais2 acometidos pela mineraccedilatildeo satildeo incalculaacuteveis pois atingem vaacuterias esferas da fauna e flora com perda da biodiversidade local so-cioambientais com prejuiacutezos agrave populaccedilatildeo causando reduccedilatildeo na qualidade de vida (sauacutede) e alteraccedilotildees econocircmicas locais (comunidades situadas proacuteximas agrave mineraccedilatildeo) (FERNANDES ARAUJO 2016)

Os impactos da mineraccedilatildeo satildeo agressivos ao meio ambiente principalmen-te em virtude da praacutetica mineraacuteria realizada no Brasil que por deacutecadas faz uso de poucas tecnologias (a exemplo dos garimpos) ou projetos de mineraccedilatildeo considerados com maiores riscos a causar danos ambientais e socioambientais

2 Artigo 1ordm - [] impacto ambiental qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegi-cas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante Das atividades humanas que direta ou indiretamente afetam I - a sauacutede a seguranccedila e o bem-estar da populaccedilatildeo II - as atividades sociais e econocircmicas III - a biota IV - as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V - a qualidade dos recursos ambientais (Resoluccedilatildeo CONAMA Nordm 001 1986)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 187

Haacute destaque para a lavra de mineacuterios a ceacuteu aberto praticada no paiacutes desde me-ados do seacuteculo XVII que perdura ateacute os dias atuais sendo atualmente a maio-ria dos projetos de minas desse tipo ativas em solo brasileiro (GERMANY 2002 ARAUJO FERNANDES 2016)

Os projetos de mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto se justificam por serem tatildeo adota-dos pelas empresas pois demandam de baixa tecnologia aleacutem de serem con-siderados mais econocircmicos comparado com a subterracircnea passando a serem realizados em maior nuacutemero no territoacuterio brasileiro poreacutem a aacuterea de impacto ambiental no solo e subsolo eacute consideravelmente maior (NEME et al 2011) Essa praacutetica de mineraccedilatildeo no territoacuterio brasileiro tem predominacircncia no Nordeste minas de ceacuteu aberto em subniacuteveis (GERMANY 2002)

Com ecircnfase no Nordeste e tomando como exemplo o estado de Sergipe a mina TAQUARIVASSOURAS identificada como uma grande mineradora com extraccedilatildeo de mineacuterio de Potaacutessio eacute realizada a ceacuteu aberto no municiacutepio de Ro-saacuterio do Catete ndash SE pela empresa Cia Vale do Rio Doce (SANTOS et al 2001) Destaca-se entre as inuacutemeras outras minas a ceacuteu aberto existentes no territoacuterio Brasileiro (Quadro 04) realizadas por grandes empresas do setor mineraacuterio com a extraccedilatildeo dos mais variados mineacuterios

Quadro 03 Algumas das principais minas a ceacuteu aberto no territoacuterio brasileiro

Mina Localizaccedilatildeo ProdutoEmpresa

mineradoraProdutividade

103 thomemanoCARAJAacuteS Carajaacutes PA Ferro Vale do Rio Doce 105CAUEcirc Itabira MG Ferro Idem 76CONCEICcedilAtildeO Itabira MG Ferro Idem 76CONGO SOCO Bar de Cocais MG Ferro Idem 18ALEGRIA 9 Mariana MG Ferro Idem 56TIMBOPEBA Mariana MG Ferro Idem 128MORRO AGUDO Piracicaba MG Ferro Idem 26CAPANEMA Itabirito MG Ferro Min Serra Geral 105ALEGRIA Mariana MG Ferro Samarco Min SA 110TAQUARIVASSOURAS Rosaacuterio do Catete SE Potaacutessio Vale do Rio Doce 1500

Fonte Extraiacutedo - GERMANI Darcy Joseacute A Mineraccedilatildeo no Brasil Relatoacuterio Final Centro de Gestatildeo e Estudos Estrateacute-gicos Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo ndash CGEE Rio de Janeiro Maio 2002 55 p

O Quadro 03 apresenta algumas das maiores mineradoras em atividade no paiacutes que desenvolvem os projetos de extraccedilatildeo mineral a ceacuteu aberto algumas delas iniciaram suas atividades desde o periacuteodo da ditadura militar (1964-1985) periacuteodo que o Brasil deu abertura para investimentos no setor mineraacuterio de ca-pital estrangeiro Passou-se a investir pesado em tecnologias expandindo a ca-

188 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

pacidade do paiacutes de extrair mineacuterio e consequentemente abertura de grandes minas chegando a um total de 3354minas maioria a ceacuteu aberto desde entatildeo passaram a surgir os maiores impactos ambientais decorrentes da mineraccedilatildeo (FERNANDES ARAUJO 2016)

Nesse modelo de mineraccedilatildeo aleacutem da aacuterea ocupada pela lavra a grande maio-ria das minas faz uso de barragem de rejeitos que atualmente colocaram o paiacutes em destaque no cenaacuterio mundial diante da instabilidade dessas barragens e dos uacuteltimos acontecidos com desastres ambientais Dos maiores desastres ambien-tais jaacute ocorridos na histoacuteria do paiacutes envolvendo mineraccedilatildeo (Quadro 04) com rom-pimento de algumas das barragens de rejeitos de mineacuterio causando inuacutemeros impactos ambientais o mais emblemaacutetico foi o rompimento da barragem de rejeitos de Mariana-MG que alcanccedilou os leitos fluviais (poluindo o rio Doce do Municiacutepio de Mariana a foz) chegando ateacute o oceano (BRASIL MINERAL 2016)

Quadro 04 Cronologia dos principais rompimentos de barragens no Brasil (desde 2000-2015)

Dat

a

LocalizaccedilatildeoCompanhia associada

Tipo de mineacuterio

Tipo de incidente

Volume liberado

Impactos

5 N

ov 2

015

Mina do Germano Distrito de

Bento Rodrigues Mariana

Minas GeraisBrasil

Samarco MineraccedilatildeoSA (50

BHP Billiton 50 Vale)

Mineacuterio de ferro

Rompimen-to de duas barragens de rejeitos (Primeiro Fundatildeo

depois (San-tareacutem)

62 milhotildees

m3

Uma onda de lama fluiu sobre o povoado de Ben-to Rodrigues destruindo 158 casas e matando 17 pessoas (haacute 2 desapareci-dos) A lama chegou ateacute o litoral doEspiacuterito Santo poluindo o Rio Doce

10 Ja

n 20

07

Miraiacute MinasGerais Brasil

MineraccedilatildeoRio PombaCataguases

Ltda

Bauxita Rompimen-to de uma barragem de rejeito

apoacutes fortes chuvas

2 million m3 de lama

conten-do aacutegua e argila (lama

verme-lha)

O fluxo de lama deixou cerca de 4 mil pessoas nas cidades de Miraiacute e Muriaeacute na Zona daMata sem moradiaColheitas e pastos foram destruiacutedos e o suprimen-to de aacutegua ficou compro-metido em cidades deMinas Gerais e Rio de Ja-neiro

22 Ju

n 20

01

Sebastiatildeo das

Aacuteguas Claras distrito

de Nova Lima Minas Gerais Brasil

MineraccedilatildeoRio Verde

Ltda

Mineacuterio de ferro

Rompi-mento de barragem de rejeitos

A onda de rejeitos viajou 6 km matando dois tra-balhadores e deixando 3desaparecidos

Fonte Revista BRASIL MINERAL - EDICcedilAtildeO 358 ndash DIGITAL

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 189

Dessa forma o paiacutes vem registrando em sua histoacuteria o acuacutemulo de impac-tos ambientais inestimaacuteveis diante das proporccedilotildees provocados pela explora-ccedilatildeo mineral com perdas na fauna flora e ceifando vidas humanas Considera-do ateacute 2015 o rompimento da barragem Fundatildeo em MarianaMG (empresas Samarco Vale e BHP Billiton) como um dos maiores (CARNEIRO 2018) Re-centemente (no dia 25 de janeiro de 2019) o paiacutes entra em luto novamente pelo meio ambiente e pelas centenas de vidas ceifadas apoacutes o rompimento da Barragem I da mina de Feijatildeo liberando 12 milhotildees de metros cuacutebicos de rejeitos de mineraccedilatildeo atingindo as comunidades de Coacuterrego do Feijatildeo e de Parque da Cachoeira chegando ateacute o Rio Paraopeba afluente do Rio Satildeo Francisco causando danos na flora e fauna e lamentavelmente ceifando um total de 333 vidas entre mortos e desaparecidos (Conselho Nacional dos Di-reitos Humanos 2019)

Trageacutedias como essas jamais seratildeo esquecidas aleacutem das vidas ceifadas e os impactos ambientais sob a fauna e flora satildeo incalculaacuteveis diante de tamanha devastaccedilatildeo com prejuiacutezos em toda biota existente na aacuterea afetada Apoacutes fatos como esses exige-se dos oacutergatildeos ambientais maiores fiscalizaccedilotildees e cobranccedilas para as empresas adotarem maiores rigores nos projetos de mineraccedilatildeo para mitigar possiacuteveis impactos ambientais buscando novas tecnologias de cunho sustentaacutevel (BRASIL MINERAL 2016)

Eacute sabido que o oacutergatildeo ambiental com responsabilidade de fiscalizar a atividade mineraacuteria em todo territoacuterio nacional eacute o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis ndash IBAMA bem como de conceder as licen-ccedilas ambientais conforme o cumprimento do Estudo de Impacto Ambiental ndash EIA e Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA Eacute cabiacutevel ao estado direcionar seus oacutergatildeos ambientais para atuarem em conjunto com IBAMA no estado de Sergipe os dois oacutergatildeos ambientais com esse perfil Administraccedilatildeo Estadual do Meio Ambiente ndash ADEMA e a Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe ndash CODISE

Os oacutergatildeos ambientais devem estar atentos a todo processo de extraccedilatildeo dos mineacuterios existentes no estado principalmente as mineradoras que operam a ceacuteu aberto pois devem ter o fluxo de operaccedilatildeo controlado quando localizadas proacuteximo aos centros urbanos ao contraacuterio o grande deslocamento de maacutequi-nas pesadas e caminhotildees pode provocar o deslocamento de massas causando danos ambientais (GERMANI 2002) Aleacutem do fluxo de veiacuteculos (maacutequinas pe-sadas) aumenta as emissotildees de gases ruiacutedos deslocamento de partiacuteculas do solo (poeira) alterando o modo de vida das pessoas provocando problemas na

190 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

sauacutede dos que convivem em torno da aacuterea minerada caracterizando impacto socioambiental (FERNANDES OLIVIERI ARAUJO 2014)

A atenccedilatildeo para a atividade mineraacuteria no estado se daacute porque os processos de extraccedilatildeo de mineacuterio por si soacute jaacute causam os mais diversos impactos ao meio ambiente que de acordo com Andrade (1987) provocam alteraccedilatildeo na geo-grafia local que varia conforme o processo mineraacuterio ou seja a mineraccedilatildeo por tuacutenel torna a aacuterea natildeo agricultaacutevel com ocupaccedilatildeo de um espaccedilo para estaccedilotildees in loco das perfuraccedilotildees enquanto a mineraccedilatildeo por cava a ceacuteu aberto causa uma mudanccedila draacutestica em toda geografia com rebaixamento do solo aleacutem de maior dispersatildeo de partiacuteculas no ar vindo a provocar problemas respiratoacuterios na populaccedilatildeo que residem nas comunidades em torno principalmente se a ex-traccedilatildeo for de calcaacuterio que acarreta na suspensatildeo de grandes quantidades de partiacuteculas

Segundo Mechi e Sanches (2010) a mineraccedilatildeo causa a supressatildeo da vege-taccedilatildeo remoccedilatildeo do solo na extraccedilatildeo dos minerais construccedilatildeo de montanha ou barragem de rejeitos impactando os corpos hiacutedricos apoacutes lixiviaccedilatildeo de sedi-mentos contaminaccedilatildeo do ar pela imissatildeo de partiacuteculas suspensas contendo ga-ses e poeira aleacutem de vibraccedilatildeo sonora Deste modo fica evidente que atividade minerada natildeo causa unicamente impacto ao meio ambiente ela causa impac-tos distintos agrave sociedade pois as pessoas que residem em torno da mineraccedilatildeo tecircm sua dinacircmica alterada com fluxo intenso de veiacuteculos e passam a conviver com os ruiacutedos

Segundo Carvalho (2017) os impactos satildeo distintos causados pela atividade mineral agrave sociedade pois quando afetam as pessoas no seu meio comunitaacuterio satildeo caracterizados impactos socioambientais podendo ser im-pactos positivos de vieacutes econocircmico com a geraccedilatildeo de empregos diretos e in-diretos impulsionando a economia local impactos negativos com alteraccedilatildeo da dinacircmica das pessoas que residem nas comunidades situadas proacuteximas agrave extraccedilatildeo de mineacuterio deixando-as expostas aos ruiacutedos ou agrave contaminaccedilatildeo A autora traz como exemplo uma induacutestria de calcaacuterio localizada no municiacutepio de Simatildeo Dias que em relatos mencionados por moradores e anaacutelise de imagens os impactos ambientais ocorreram desde a supressatildeo da vegetaccedilatildeo e do solo mudando toda a paisagem no local aleacutem da poluiccedilatildeo do ar com a dispersatildeo de partiacuteculas de calcaacuterio (CaCO3(s))

3

3 Mesma composiccedilatildeo quiacutemica da Calcita Principais constituintes mineraloacutegicos das rochas calcaacute-rias moleacutecula composta por Caacutelcio (Ca) natildeo estaacutevel que possui 2 eleacutetrons livres na camada de valecircn-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 191

Portanto o estado de Sergipe natildeo apresenta cataacutestrofes ou grandes crimes ambientais provenientes da mineraccedilatildeo poreacutem na uacuteltima vistoria teacutecni-ca nas mineradoras realizada pela Poliacutecia Ambiental Federal em conjunto com a Poliacutecia Estadual foram constatadas irregularidades quanto agraves licenccedilas am-bientais que devem ser regularizados pela parte interessada junto aos oacutergatildeos competentes (JC 2019) Mesmo sem grandes danos ambientais de repercussatildeo jornaliacutestica no estado natildeo eacute descartado o potencial que a atividade mineraacuteria tem em causar impacto sob a fauna e a flora e agrave sauacutede da sociedade in loco

A capacidade de causar impacto ao meio ambiente pela mineraccedilatildeo ocorre desde a instalaccedilatildeo das grandes induacutestrias a pequenos garimpos4 da lavra ao fe-chamento Uma vez que a aacuterea explorada tem todas suas caracteriacutesticas (fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica) naturais alteradas com a supressatildeo da vegetaccedilatildeo e remo-ccedilatildeo do solo e mesmo apoacutes o fechamento a aacuterea fica exposta agrave accedilatildeo do tempo susceptiacutevel ao intemperismo e agrave lixiviaccedilatildeo de sedimentos aos corpos hiacutedricos (SANTOS et al 2010)

Diante dessas potencialidades de causar impacto ao meio ambiente acaba sendo necessaacuteria a concessatildeo das liberaccedilotildees para lavra pelos oacutergatildeos ambien-tais (IBAMA) o cumprimento das leis ambientais entre elas a elaboraccedilatildeo do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e o Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA

Legislaccedilotildees ambientaisCompete aos oacutergatildeos ambientais detectar a geraccedilatildeo de impactos ambientais

atraveacutes da fiscalizaccedilatildeo nas atividades de mineraccedilatildeo em territoacuterio Brasileiro bus-cando coibir danos nocivos agrave sociedade e a degradaccedilatildeo5 ao meio ambiente6 visando que as empresas atendam o que tange a resoluccedilatildeo CONAMA (1986) no Art 2ordm - Dependeraacute de elaboraccedilatildeo de estudo de impacto ambiental e respectivo relatoacuterio de impacto ambiental ndash RIMA e o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo

cia atingindo sua estabilidade perdendo os 2 eleacutetrons Ca2+ Por sua vez o composto formado por Carbono e Oxigecircnio CO natildeo eacute estaacutevel soacute fica quando ganha 2 eleacutetrons Ca2+ + CO3

2- rarr CaCO3(BROWN LEMAY BURSTEN 2005)

4 Art 70 Considera-seI ndash garimpagem o trabalho individual de quem utiliza instrumentos rudimentares aparelhos ma-nuais ou maacutequinas simples e portaacuteveis na extraccedilatildeo de pedras preciosas semi-preciosas e minerais metaacutelicos ou natildeo metaacutelicos valiosos em depoacutesitos de eluviatildeo ou aluviatildeo nos aacutelveos de cursos drsquoaacutegua ou nas margens reservadas bem como nos depoacutesitos secundaacuterios ou chapadas (grupiaras) vertentes e altos de morros depoacutesitos esses genericamente denominados garimpos (BRASIL 1967)5 II - degradaccedilatildeo da qualidade ambiental a alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente6 I - meio ambiente o conjunto de condiccedilotildees leis influecircncias e interaccedilotildees de ordem fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica que permite abrigam e regem a vida em todas as suas formas (BRASIL 1981)

192 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Art 12 O DNPM estabeleceraacute mediante portaria as aacutereas de ga-

rimpagem levando em consideraccedilatildeo a ocorrecircncia do bem mineral

garimpaacutevel o interesse do setor mineral e as razotildees de ordem social

e ambiental

sect 1o A criaccedilatildeo ou ampliaccedilatildeo de aacutereas de garimpagem fica condicio-

nada agrave preacutevia licenccedila do IBAMA agrave vista de Estudo de Impacto Am-

biental (EIA) e respectivo Relatoacuterio de Impacto Ambiental (Rima) de

acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica (BRAISL 1967)

A instalaccedilatildeo de uma atividade mineraacuteria natildeo pode ser efetivada sem a ela-boraccedilatildeo do RIMA e EIA pelas mineradoras Dessa forma eacute de responsabilida-de na esfera nacional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis ndash IBAMA de acompanhar a aplicabilidade destas (RIMA e EIA) e na esfera estadual estaacute diretamente ligada agrave responsabilidade aos oacutergatildeos governamentais ou de economia mista

Existente no estado os seguintes oacutergatildeos Secretaria de Estado da Induacutestria Comeacutercio e Turismo - INCLUI Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe ndash CODISE Sergipe Minerais SA - SEMISA Admi-nistraccedilatildeo Estadual do Meio Ambiente - ADEMA Instituto de Tecnologia e Pes-quisas de Sergipe ndash ITPS (SANTOS et al 2001)

Satildeo os setores da administraccedilatildeo puacuteblica estadual encarregados por todos os processos burocraacuteticos de anaacutelises quiacutemicas ou documentaccedilatildeo para a mine-raccedilatildeo direcionado aos trabalhos de acordo a cada oacutergatildeo ITPS autarquia inte-grante da administraccedilatildeo puacuteblica estadual responsaacutevel pelas anaacutelises quiacutemicas e estudo dos recursos naturais e minerais ADEMA autarquia vinculada agrave Secre-taria de Estado do Meio Ambiente responsaacutevel pela preservaccedilatildeo e desenvolvi-mento sustentaacutevel do meio ambiente e as licenccedilas ambientais para a execuccedilatildeo das atividades de mineraccedilatildeo SEMISA vinculada agrave Secretaria de Estado da In-duacutestria Comeacutercio e Turismo com convecircnio na CODISE responsaacutevel pelo apro-veitamento econocircmico do setor mineraacuterio CODISE responsaacutevel socialmente pela execuccedilatildeo da poliacutetica de desenvolvimento industrial o aproveitamento dos recursos minerais e na accedilatildeo teacutecnica de pesquisa lavra e execuccedilatildeo das ati-vidades mineraria em todo territoacuterio estadual INCLUI7 na responsabilidade da administraccedilatildeo

7 Secretaria de Estado da Induacutestria Comeacutercio e Turismo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 193

Para tanto os devidos oacutergatildeos estaduais fazem se cumprir o que tange a Constituiccedilatildeo do Estado referente ao artigo 232 agrave garantia de um meio ambien-te ecologicamente equilibrado para as futuras e presentes geraccedilotildees Dessa for-ma a referida constituiccedilatildeo traz no sect 1ordm e IV que para assegurar a efetividade desse direito eacute de responsabilidade do Poder Puacuteblico com o auxiacutelio das enti-dades privadas cobrar das empresas que venham instalar obra no estado com potencial de causar impacto ambiental agrave realizaccedilatildeo de estudo preacutevio de impac-to ambiental ou seja cabiacutevel agrave atividade mineraacuteria por ter altas potencialidade em causar impacto ambiental

O decreto Nordm 98812 de janeiro de 1990 e o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo colocam que mediante identificaccedilatildeo de uma nova aacuterea a ser garimpada ou ampliaccedilatildeo de uma aacuterea jaacute explorada as empresas interessadas devem registrar no DNPM bem como daacute iniacutecio a todos os processos burocraacuteticos como licenccedila ambien-tal EIA e RIMA Reforccedila-se o quanto satildeo importantes os referidos estudos no setor da mineraccedilatildeo para a efetiva garantia de todas as medidas cabiacuteveis para evitar danos ambientais aleacutem dos jaacute causados in loco da aacuterea explorada o Art 18 coloca que ldquoo aproveitamento de bens minerais pelo regime de concessatildeo de lavra ou pelo regime de licenciamento depende de licenciamento do oacutergatildeo ambiental competenterdquo (BRASIL 1990)

Uma vez instalada uma atividade com potencial risco de degradaccedilatildeo am-biental ou atestado in loco apoacutes fiscalizaccedilatildeo os reais prejuiacutezos e sem as devidas licenccedilas ambientais liberadas pelo oacutergatildeo estadual competente integrante do SISNAMA poderatildeo liberaacute-las sem prejuiacutezo de outras licenccedilas exigiacuteveis Sendo ela em caraacuteter estadual a SEMA que poderaacute impugnar a liberaccedilatildeo ou o anda-mento de atividades que venha a causar danos ambientais fora dos limites per-missiacuteveis no licenciamento (BRASIL 1981)

Conforme o previsto na constituiccedilatildeo do estado de Sergipe na seccedilatildeo IV dos recursos minerais em seu Art 250 eacute dever do estado o aproveitamento racio-nal dos recursos minerais Esse aproveitamento deve ocorrer assegurando as premissas que tangem as leis ambientais e o coacutedigo de mineraccedilatildeo para tanto a proacutepria constituiccedilatildeo do estado enfatiza que para a garantia de um desenvolvi-mento harmocircnico eacute necessaacuterio que faccedila o que incumbe o Art 251

I - registrar acompanhar e fiscalizar os direitos de pesquisa e explora-

ccedilatildeo dos recursos minerais e energeacuteticos

II - manter instituiccedilotildees que realizem pesquisas e desenvolvimento de

tecnologia mineral a ele vinculadas direta ou indiretamente

194 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

III - manter um banco de dados de livre acesso ao puacuteblico relativo

agraves informaccedilotildees cartograacuteficas de geociecircncias e recursos naturais po-

dendo cobrar pelo fornecimento dessas informaccedilotildees

IV - promover o mapeamento geoloacutegico baacutesico complementarmen-

te agravequele desenvolvido pela Uniatildeo e a pesquisa tecnoloacutegica fortale-

cendo o desenvolvimento do setor mineral estadual

V - criar o fundo de apoio agrave pesquisa mineral com o objetivo de finan-

ciar a pesquisa e o aproveitamento econocircmico racional dos recursos

minerais bem como o desenvolvimento da tecnologia de recuperaccedilatildeo

de aacutereas degradadas pela atividade de mineraccedilatildeo (SERGIPE 2007)

O estado deve manter seus oacutergatildeos ligados agrave aacuterea da mineraccedilatildeo em pleno funcionamento e atentos aos recursos minerais existentes em seu terri-toacuterio com o banco de dados atualizados visando fomentar ao setor mineraacuterio interesse pela exploraccedilatildeo e consequentemente investimentos privados para exploraccedilatildeo Isso desde que as empresas do setor mineral cumpram as condi-cionantes jaacute apresentadas acima ou com o que estaacute previsto na Lei Nordm 6938 de agosto de 1981 no artigo 3ordm natildeo tenham cometidos degradaccedilatildeo ambiental danos agrave sauacutede e ao bem estar da populaccedilatildeo lanccedilamento de mateacuterias rejeitos em corpos hiacutedricos afetando todo um ecossistema Pois quando causar degra-daccedilatildeo a empresa estaraacute sujeita agrave reparaccedilatildeo dos prejuiacutezos ambientais conforme previsto na referida lei artigo 4ordm - A Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente visaraacute VII - agrave imposiccedilatildeo ao poluidor e ao predador da obrigaccedilatildeo de recuperar eou indenizar os danos causados e ao usuaacuterio da contribuiccedilatildeo pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais com fins econocircmicos (BRASIL 1981)

Portanto no Brasil aquele que fizer uso dos recursos ambientais com altera-ccedilotildees ou degradaccedilatildeo da aacuterea estaraacute sujeito agrave recuperaccedilatildeo8 e tratando-se de de-gradaccedilatildeo por mineraccedilatildeo a empresa deve elaborar o Plano de Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas (PRAD) principalmente apoacutes o fechamento da lavra ou seja quando as empresas cessarem suas atividades de extraccedilatildeo de mineacuterio devem dar iniacutecio agrave aplicabilidade do plano devidamente aprovado pelas autoridades competentes Pois a recuperaccedilatildeo da aacuterea degradada pela extraccedilatildeo de mineacute-rio tem que proporcionar o retorno de suas caracteriacutesticas fiacutesicas e bioloacutegicas de forma gradativa com o desenvolvimento de espeacutecies de aacutervores nativas ou

8 Conjunto de procedimentos atraveacutes dos quais eacute feita a recomposiccedilatildeo da aacuterea degradada para o estabelecimento da funccedilatildeo original do ecossistema (ABNT NBR 13030)

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adaptadas a regiatildeo deixando-a acessiacutevel agrave fauna e consequentemente integraacute--la ao ambiente da regiatildeo (SANTOS 2017)

A NBR 13030 (1999) apresenta as definiccedilotildees de todas as medidas que de-vem ser tomadas na elaboraccedilatildeo de um PRAD bem como todos os itens que de-vem ser bem descritos na elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de projeto de reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas pela mineraccedilatildeo sequenciados em ordem conforme um modelo anexado dentro da NBR para ser seguido Quando elaborado eacute neces-saacuterio que seja atendida uma descriccedilatildeo fiel de todos os procedimentos necessaacute-rios que seratildeo adotados durante o processo de recuperaccedilatildeo visando devolver a aacuterea a fauna e a flora no ecossistema

Os rejeitos9 gerados durante o processo de mineraccedilatildeo tecircm que ser condi-cionados em local apropriado evitando contaminaccedilatildeo de outras aacutereas ou a li-xiviaccedilatildeo para corpos hiacutedricos Dessa forma eacute necessaacuterio proceder conforme as orientaccedilotildees contidas na ABNT NBR 13028 (2017) que trata sobre a importacircncia do projeto para construccedilatildeo de barragem de rejeitos de mineacuterios soacutelidos ou natildeo elaborados seguindo todos os procedimentos indicados na norma a exemplo de estudo geoloacutegico da aacuterea estudo siacutesmico anaacutelise quiacutemica do siacutetio de rejeito entre outros

CONCLUSAtildeO

O estado de Sergipe eacute o menor da Federaccedilatildeo Brasileira com um territoacuterio de 21926908 kmsup2 destacando-se perante os demais estados do Nordeste por possuir inuacutemeras riquezas em minerais que vatildeo desde os metaacutelicos natildeo me-taacutelicos calcaacuterios energeacuteticos e sais soluacuteveis Com exploraccedilatildeo marcada desde o periacuteodo do Brasil colocircnia na garimpagem de pedras preciosas e por volta de deacutecada de XX com o avanccedilo da exploraccedilatildeo no Nordeste em escala industrial Sergipe se destaca na produccedilatildeo de potaacutessio e calcaacuterio

Toda a exploraccedilatildeo mineral existente no estado o coloca na 22ordm posiccedilatildeo no panorama nacional com destaque para a exploraccedilatildeo de sais de potaacutessio pois eacute o maior produtor em escala nacional e o paiacutes o detentor de 090 de toda a pro-duccedilatildeo mundial Outros mineacuterios bastante extraiacutedos no estado satildeo o calcaacuterio e agregados para construccedilatildeo civil ambos satildeo explorados atraveacutes de minas a ceacuteu

9 Todo e qualquer material descartado durante o processo de beneficiamento de mineacuterios (ABNT NBR 130282017)

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aberto considerado o processo de mineraccedilatildeo com maior potencial de causar impactos ambientais durante o processo extraccedilatildeo e ao termino

Visto que a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto causa impactos ao meio ambiente des-de o iniacutecio do processo de garimpagem com a remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo e do solo existente no local alterando toda a aacuterea e apoacutes o fechamento da lavra pode continuar impactando com a lixiviaccedilatildeo de sedimentos ou rejeitos para os cor-pos hiacutedricos tornam-se necessaacuterias medidas cabiacuteveis determinadas pelo coacutedi-go de mineraccedilatildeo na jurisdiccedilatildeo do DNPM sob-responsabilidade do IBAMA e os oacutergatildeos vinculados agrave mineraccedilatildeo do estado INCLUI CODISE SEMISA ADEMA que eacute a realizaccedilatildeo do EIA e da RIMA para iniacutecio das atividades de mineraccedilatildeo e o PRAD apoacutes o fechamento da lavra

Atualmente o setor da mineraccedilatildeo passa por fiscalizaccedilotildees rigorosas nas ex-ploraccedilotildees existentes no paiacutes buscando evitar trageacutedias como o rompimento da barragem do Fundatildeo e a barragem I da mina do feijatildeo em Minas Gerais Torna-se necessaacuterio que as mineradoras realizem projetos com maiores investi-mentos para estabilizaccedilatildeo dessas barragens e novas tecnologias a exemplo das tecnologias existentes na extraccedilatildeo de mineacuterio a seco com baixo uso de aacutegua e dispensando a criaccedilatildeo de barragens para os rejeitos

Felizmente o estado natildeo registra grandes impactos ambientais apenas os jaacute de conhecimento na extraccedilatildeo de mineacuterios Os impactos negativos com al-teraccedilotildees na fauna e flora aleacutem de mudar toda a dinacircmica das comunidades situadas em torno estatildeo atrelados aos serviccedilos sociais que as empresas podem oferecer agraves comunidades aleacutem da geraccedilatildeo de emprego

Impulsiona-se a economia dos municiacutepios e do estado fortalecendo o PIB na escala nacional aleacutem eacute claro dos royalties repassados pelas empresas de mineraccedilatildeo ao DNPM e redistribuiacutedos aos Estados Municiacutepios e Distrito Federal como Compensaccedilatildeo Financeira Pela Exploraccedilatildeo de Recursos Minerais ndash CFEM No vigente ano de 2019 o estado de Sergipe jaacute recebeu o repasse no valor de R$ 64958439 conforme dados da ANM

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SERGIPE Constituiccedilatildeo Estadual de Sergipe 1989 Assembleacuteia Legislativa do Estado de Sergipe Disponiacutevel lthttpwww2senadolegbrbdsfhandleid70454gt Acesso em 10092019

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AGRICULTURA DE BASE AGROECOLOacuteGICA NOVAS PERSPECTIVAS PARA O (DES)ENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ESTADO DE SERGIPE

Amanda da Silva SantosElis Gardecircnia dos SantosFranciley Santos LeiteNuacutebia Dias dos Santos

1 INTRODUCcedilAtildeO

Se fizermos um pequeno esforccedilo para imaginarmos o modelo de cultivo em-pregado no Brasil num periacuteodo preacute-colonial provavelmente a imagem que teremos em mente seraacute de povos originaacuterios manejando o solo coletando e produzindo conforme suas necessidades baacutesicas de nutriccedilatildeo e principalmente conforme a diversidade da fauna e flora disponibilizada em cada localidade Modelo este que em nada se assemelha com a agricultura conservadora forte-mente adotada atualmente como principal modelo de produccedilatildeo

Observando o processo de colonizaccedilatildeo do Brasil de maneira mais profunda e comparando-o com o processo de colonizaccedilatildeo de outros paiacuteses como por exemplo os Estados Unidos chegamos agrave conclusatildeo de que estes processos em muito se diferem principalmente quando tratamos sobre suas finalida-des e as relaccedilotildees estabelecidas com os povos originaacuterios de cada territoacuterio Eacute importante olharmos para estes elementos com atenccedilatildeo jaacute que haacute pouco mais de 500 anos atraacutes existiu no Brasil um projeto de colonizaccedilatildeo que priorizava majoritariamente a extraccedilatildeo de recursos naturais para exportaccedilatildeo ao inveacutes do (des)envolvimento da proacutepria localidade Esta loacutegica extrativista e predatoacuteria assombrou e permanece assombrando o Brasil ateacute os dias atuais

No Brasil no decorrer dos anos de 1500 ateacute a atualidade mantivemos rela-ccedilotildees que nos afastaram cada vez mais da natureza Passamos a nos apropriar do que denominamos atualmente de recursos naturais coisificamos os ambientes e seres que nos cercam e construiacutemos barreiras verticais que nos impedem de ver e ouvir o som do que antes tiacutenhamos como elementos que compunham nossas ancestralidades Objetificamos o proacuteprio homem que por anos foi

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transformado em mercadoria evidenciando o caraacuteter predatoacuterio e avassalador do nosso modelo de sociedade Se antes havia uma relaccedilatildeo de intimidade esta-belecida com a terra hoje a compreendemos apenas como um meio para atin-gir o objetivo da produtividade que por sua vez alimenta a loacutegica do consumo estabelecida pelo sistema capitalista

Considerando este breve e simplificado processo histoacuterico precisamos compreender que apesar das relaccedilotildees complexas ainda somos uma socie-dade relativamente nova e que apesar da pouca idade enfrentou grandes transformaccedilotildees ao longo destes anos Aqui nos atentaremos a dois elementos destas transformaccedilotildees agrave produccedilatildeo de alimentos ancorada na loacutegica do capi-tal e ao desenvolvimento econocircmico social e ambiental relacionados a esta produccedilatildeo tendo em vista e emergecircncia de um modelo de agricultura que seja capaz de superar as problemaacuteticas relacionadas ao que compreendemos en-quanto agricultura conservadora Com este intuito faremos no decorrer do texto 1- uma contextualizaccedilatildeo histoacuterica do modelo de produccedilatildeo agriacutecola con-servadora considerando os seus objetivos e resultados alcanccedilados discutida no toacutepico ldquoContextualizaccedilatildeo e controveacutersias do atual modelo de produccedilatildeo agriacutecola predominante no Brasilrdquo 2- uma leitura do padratildeo de desenvolvimento rural estabelecido no Brasil e Nordeste relacionados ao agronegoacutecio com o toacutepico ldquoAgronegoacutecio e o desenvolvimento rural no Brasil e Nordesterdquo e por fim 3- a apresentaccedilatildeo da Agroecologia enquanto alternativa natildeo somente ao modelo agriacutecola de produccedilatildeo predominante mas tambeacutem como (des)envolvimento do desenvolvimento excludente e predatoacuterio que vemos nos dias de hoje no esta-do de Sergipe tendo como perspectiva a sustentabilidade Para isso nos apoia-remos em algumas experiecircncias observadas no estado de Sergipe e que seratildeo expostas no terceiro toacutepico denominado ldquoUm breve olhar sobre o caminhar agroecoloacutegico no estado de Sergiperdquo Por fim 4- faremos a sistematizaccedilatildeo das principais ideias abordadas considerando as conquistas e desafios observados para o estado de Sergipe levando em consideraccedilatildeo os elementos discutidos ao longo do texto e as experiecircncias apresentadas

2 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO E CONTROVEacuteRSIAS DO ATUAL MODELO DE PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA PREDOMINANTE NO BRASIL

A agricultura conservadora que surgiu apoacutes o iniacutecio da Revoluccedilatildeo Indus-trial trouxe consigo promessas de teacutecnicas avanccediladas de produccedilatildeo aumento da produtividade e principalmente o suprimento da baixa oferta de alimen-

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tos provocada pelo grande investimento de capital na induacutestria beacutelica antes e durante a Segunda Guerra Mundial Nestes periacuteodo pacotes tecnoloacutegicos foram disseminados sem que houvessem maiores informaccedilotildees a respeito dos danos e prejuiacutezos na sua utilizaccedilatildeo fazendo com que um nuacutemero consideraacutevel de produtores de grande e meacutedio porte fossem conquistados pelas promessas de altos iacutendices de produccedilatildeo baixa nos percentuais de perda das safras por consequecircncia dos ldquoinimigos naturaisrdquo e a idealizaccedilatildeo distoacutepica da garantia de desenvolvimento rural em decorrecircncia da inserccedilatildeo dos novos elementos nos sistemas de produccedilatildeo como insumos quiacutemicos fertilizantes sinteacuteticos e ma-quinaacuterios pesados a chamada modernizaccedilatildeo da agricultura

Os processos que envolvem o periacuteodo de modernizaccedilatildeo da agricultura com a incorporaccedilatildeo de tecnologias baseadas na utilizaccedilatildeo de insumos beneficiaram um setor especiacutefico da sociedade detentores do capital para investimento e possuidores de terras altamente produtivas tornando mais evidente as desi-gualdades existentes no campo principalmente em relaccedilatildeo agrave posse de aacutereas para moradia e produccedilatildeo Desta forma o fortalecimento do discurso elaborado para estabelecer a propagaccedilatildeo dos pacotes tecnoloacutegicos ldquocapazesrdquo de garantir estabilidade econocircmica melhoria no rendimento das safras e seguranccedila ali-mentar conquistou em todo o mundo agricultores de meacutedio e grande porte natildeo alcanccedilando os pequenos agricultores que ficaram agrave margem das tecno-logias aplicadas ao campo Jaacute os ldquobeneficiadosrdquo grandes latifundiaacuterios com o passar do tempo viram-se presos as condiccedilotildees de dependecircncia constante dos insumos quiacutemicos difundidos pelo novo modelo de produccedilatildeo enquanto as problemaacuteticas relacionadas agrave fome e desigualdade no meio rural e urbano continuaram sem soluccedilatildeo

Aleacutem dos prejuiacutezos na base e estrutura da sociedade a Revoluccedilatildeo Verde tambeacutem contribuiu direta e intensificadamente com fatores relacionados aos problemas ambientais como degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo do solo contamina-ccedilatildeo de aacutereas atraveacutes da utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos a ocorrecircncia de desequiliacutebrio dos ecossistemas afetados pela diminuiccedilatildeo ou excesso populacional da fauna e flora diminuiccedilatildeo e ateacute extinccedilatildeo da diversidade de alimentos consumidos con-forme as diferentes culturas e localidades a poluiccedilatildeo das aacuteguas etc Produtores e consumidores passaram a inalar e ingerir agrotoacutexicos atraveacutes do contato dire-to indireto ou pela ingestatildeo dos alimentos adquirindo problemas relacionados a sauacutede e nutriccedilatildeo e que estatildeo intimamente relacionados aos componentes existentes em venenos que deveriam afetar apenas as ldquopragasrdquo em seus culti-vos como preceituam as propagandas

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Podemos citar tambeacutem problemas socioeconocircmicos decorrentes da impos-sibilidade de permanecircncia dos agricultores no campo que por sua vez migra-ram para os centros urbanos em busca de emprego poreacutem sem que houvesse um acompanhamento das possibilidades concretas de estabilizaccedilatildeo nas cida-des Em virtude disso boa parte destas pessoas acabaram por viver agrave margem da sociedade com pouca estrutura motivadas pela esperanccedila de melhorias e contribuindo mesmo que de maneira inconsciente para o aumento da reserva de matildeo-de-obra durante a consolidaccedilatildeo da Revoluccedilatildeo Industrial

Segundo Caporal (2009) ao tratar sobre o periacuteodo de incorporaccedilatildeo das pro-postas relacionadas agrave Revoluccedilatildeo Verde no final da Segunda Guerra Mundial ldquoa Revoluccedilatildeo Verde que ia resolver o problema da fome no mundo foi um fracas-so Hoje temos mais de 800 milhotildees de famintos no mundordquo Apesar disso natildeo podemos negar os avanccedilos conquistados atraveacutes de melhorias na produccedilatildeo e produtividade de alguns produtos em especial em algumas regiotildees dos paiacuteses Todavia ao observarmos o suposto ldquosucessordquo da Revoluccedilatildeo Verde precisamos apontar os tantos danos tatildeo graves quanto a proacutepria fome como por exemplo os problemas sociais e ambientais o expressivo distanciamento econocircmico en-tre as classes sociais ocasionado pelo proacuteprio modelo de produccedilatildeo que con-sequentemente fortalece a diferenciaccedilatildeo social empobrecimento e endivida-mento dos agricultores aleacutem da crescente e constante perda da biodiversidade e suas implicaccedilotildees para a sanidade da vida

Podemos notar os efeitos disso nas palavras de Altieri (2004 pg 19) e que convergem com o pensamento de Caporal quando ele diz que

A crise agriacutecola-ecoloacutegica existente hoje na maior parte do Terceiro

Mundo resulta do fracasso do paradigma dominante de desenvolvi-

mento As estrateacutegias de desenvolvimento convencionais revelaram-

-se fundamentalmente limitadas em sua capacidade de promover

um desenvolvimento equacircnime e sustentaacutevel Natildeo foram capazes

nem de atingir os mais pobres nem de resolver o problema da fome

da desnutriccedilatildeo ou as questotildees ambientais

Neste sentido Caporal (2009 pg 85) complementa ao dizer que

a natureza nessa loacutegica passou a ser vista simplesmente como um

conjunto de recursos a serem usados pelo homem () passadas es-

tas deacutecadas de desenvolvimentismo estamos vendo cair por terra

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um por um dos iacutecones da modernizaccedilatildeo agriacutecola () o que sabemos

agora eacute que pouco a pouco muitos dos cientistas que recomen-

davam e ensinavam o uso dos chamados pacotes tecnoloacutegicos da

Revoluccedilatildeo Verde foram reorganizando seus conhecimentos e des-

mistificando aqueles padrotildees tecnoloacutegicos dados os problemas que

foram se evidenciando

Portanto apesar dos expressivos resultados obtidos a partir da moderni-zaccedilatildeo da agricultura as contradiccedilotildees deste modelo conservador de produccedilatildeo aleacutem de evidenciar diversas problemaacuteticas ambientais contribui para acentuar as questotildees sociais e econocircmicas presentes no meio rural e urbano ao privile-giar os interesses de uma das classes detentora natildeo somente dos meios de pro-duccedilatildeo mas tambeacutem dos territoacuterios e recursos necessaacuterios para proposiccedilatildeo de um desenvolvimento equacircnime tratando-se entatildeo de conflitos de interesses Um modelo de produccedilatildeo que estaacute a serviccedilo do capital financeiro e latifundiaacuterio deixando de lado os indiviacuteduos que sofreram e sofrem as consequecircncias deste processo de modernizaccedilatildeo

3 AGRONEGOacuteCIO E O DESENVOLVIMENTO RURAL NO BRASIL E NORDESTE

Historicamente o agronegoacutecio cadeia produtiva que vai desde o plantio ateacute a industrializaccedilatildeo surge no Brasil mais precisamente na regiatildeo sul na deacutecada de 1970 a fim de elevar o Brasil ao patamar de grande exportador de commo-dities (produtos que funcionam como mateacuteria-prima produzidos em grande escala e que podem ser estocados sem perda da qualidade) Ao instalar-se defi-nitivamente as consequecircncias imediatas satildeo o desemprego uma vez que o uso da tecnologia ateacute entatildeo desconhecida pelo trabalhador rural o obriga a buscar emprego na cidade Outra consequecircncia foi o endividamento do pequeno pro-dutor que natildeo conseguia vender seu produto por produzir em pequena escala com isso natildeo podia pagar as parcelas do empreacutestimo com o banco assim levan-do a perda de sua propriedade (ARAUacuteJO 2010)

A instabilidade poliacutetica e econocircmica da eacutepoca leva ao fenocircmeno do ecircxodo rural O camponecircs se vecirc obrigado a deixar o campo indo para a cidade uma grande parte rumou para o Paraguai atraiacutedos por promessas de terras baratas para plantar soja pelo interesse do governo paraguaio em ocupar a fronteira Brasil-Paraguai em decorrecircncia da construccedilatildeo da hidreleacutetrica de Itaipu Outros

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ainda rumaram para o cerrado brasileiro pois a Embrapa implantava um sis-tema de correccedilatildeo do aacutecido solo do cerrado para receber o agronegoacutecio para plantar soja em grande escala (ARAUacuteJO 2010)

Jaacute na deacutecada de 1982 no Sul surgem as primeiras revoltas os agora denomi-nados sem-terra invadem a cidade de Porto Alegre armados com foices facotildees e enxadas Em 1985 esse movimento ganha dimensotildees nacionais levantando como instrumento de luta a invasatildeo de terras improdutivas (ARAUacuteJO 2010)

A agricultura apresenta duas faces de um lado o agronegoacutecio subsidiado pelo governo e do outro lado o pequeno produtor sem incentivo governa-mental onde todas as atenccedilotildees se voltam para a produccedilatildeo agriacutecola em larga escala para a exportaccedilatildeo

Hoje uma das grandes frentes de expansatildeo do agronegoacutecio eacute o Nordes-te brasileiro com a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco por exemplo as terras aacuteridas satildeo preparadas para o plantio em alta escala causando significativas mudanccedilas poliacuteticas econocircmicas sociais e territoriais A regiatildeo Nordeste eacute consi-derada promissora em decorrecircncia de seu clima (altas temperaturas baixa umi-dade relativa do ar luminosidade) aleacutem da desvalorizaccedilatildeo da terra levando o pequeno produtor a arrendar sua terra para as grandes induacutestrias pois se torna impossiacutevel concorrer com os grandes investidores

Por fim refletimos que o agronegoacutecio trouxe realmente grandes avanccedilos agrave regiatildeo Nordeste produzindo riqueza mas por outro lado a pobreza se alas-tra de forma que eacute visiacutevel o aumento do nuacutemero de favelas natildeo soacute nas aacutereas urbanas mas como na aacuterea rural o agravamento dos problemas ambientais a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e fundiaacuteria satildeo exemplos do que o modelo agriacutecola dominante promove

Emergem entatildeo discussotildees a respeito da promoccedilatildeo de modelos alternativos em seus diversos niacuteveis sendo um deles a Agroecologia que tem como princiacute-pios e meacutetodos desenvolver uma agricultura capaz de estabelecer um ambien-te consistente altamente produtivo e economicamente viaacutevel (RITTER CASTE-LAN GRIGOLETTO 2003) Como alternativa ao modelo ainda predominante de produccedilatildeo a Agroecologia mostra-se como proposta de uma agricultura mais ecologicamente saudaacutevel nos diversos sentidos e compreensotildees da palavra jaacute que estaacute presente como caracteriacutestica em vertentes possiacuteveis decorrentes dos movimentos ambientalistas num contexto que tem base em debates que tra-tam de desenvolvimento em conjunto com a sustentabilidade (ELICHER 2004) Assegurar a qualidade de vida e simultaneamente suprir as demandas sociais na perspectiva do avanccedilo tecnoloacutegico apresenta-se como um grande desafio

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aos olhos deste debate jaacute que existe a constante preocupaccedilatildeo com o equiliacutebrio recuperaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos recursos naturais para a atual e futuras geraccedilotildees

4 UM BREVE OLHAR SOBRE O CAMINHAR AGROECOLOacuteGICO NO ESTADO DE SERGIPE

A Agroecologia eacute a ciecircncia que busca entender o funcionamento dos agros-sistemas complexos bem como os das diferentes interaccedilotildees entre os seres vivos tendo como princiacutepio a conservaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo da biodiversidade como base para produzir auto regulaccedilatildeo e consequentemente sustentabilida-de (ASSIS et al 2002 pg 67-80) Desta forma a Agroecologia pode contribuir de sobremaneira como mecanismo para enfrentamento da atual crise socioam-biental onde o processo civilizatoacuterio traduz uma destruiccedilatildeo dos ecossistemas (BOFF 1995) Assim organizaccedilotildees internacionais estados e municiacutepios vecircm buscando novos caminhos de modo a tentar minimizar esse modelo de agri-cultura dominante no Brasil Na perspectiva de buscar uma melhor convivecircncia do homem com a natureza com o intuito de minimizar a desigualdade social de modo que todas as pessoas possam ser alimentadas de forma digna como rege o Art 6ordm da Constituiccedilatildeo Federal de 19881

Assim o que se percebe eacute que cada dia vem crescendo o movimento agroe-coloacutegico que se figura como um novo pensar de produccedilatildeo agriacutecola diferente do modelo convencional Para tanto se faz necessaacuterio realizar o processo chamado de transiccedilatildeo da agricultura convencional para a agroecoloacutegica esta por sua vez tem como proposta produzir alimentos saudaacuteveis sem usos de defensivos quiacute-micos tudo isso interagindo com os recursos naturais hora existente nas pro-priedades garantindo assim perspectivas de melhoria de vida para a atual e as futuras geraccedilotildees Na perspectiva da promoccedilatildeo de uma condiccedilatildeo de vida digna onde todos possam conviver de forma integrada de modo a provocar a con-vocaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da agroecologia como destaca (ALTIERI 1998) que a agroecologia eacute a dinacircmica produtiva da agricultura sustentaacutevel eacute sem duacutevida um poderoso instrumento de visualizaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo da agroecologia como aacuterea de conhecimento e como praacutetica produtiva

1 Art 6ordm da CF- Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o transporte o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assis-tecircncia aos desamparados na forma desta

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Ademais a produccedilatildeo agroecoloacutegica requer um manejo adequado das accedilotildees humanas com a natureza seja no cuidado adequado com o solo as plantas e as aacuteguas isso exige um rearranjo das relaccedilotildees das pessoas entre si e com a na-tureza das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo e participaccedilatildeo efetiva nas accedilotildees realizadas sem a degradaccedilatildeo ambiental do territoacuterio Nas palavras de Altieri (1987 pg 66) ldquouma estrateacutegia fundamental na agricultura sustentaacutevel eacute recuperar a diversida-de agriacutecola no tempo e no espaccedilo atraveacutes de rotaccedilotildees de culturas cultivos de cobertura consorciaccedilotildees sistemas de cultivo-criaccedilatildeo etcrdquo Neste sentido faz-se necessaacuterio a aplicabilidade de poliacuteticas puacuteblicas com accedilotildees mais efetivas de governos que contribuam com as melhorias da praacutetica dessa agricultura a ser realizada de forma sustentaacutevel Quando se fala em agroecologia fala-se da valo-rizaccedilatildeo do saber do homem do campo e do processo cultural de um territoacuterio

Numa perspectiva atual a Agroecologia reflete um pensamento muito mais amplo natildeo soacute como sustentabilidade mas como regeneraccedilatildeo com relaccedilatildeo ao solo degradado erosatildeo salinizaccedilatildeo ou seja a recuperaccedilatildeo da capacidade pro-dutiva dos recursos naturais Deste modo algumas accedilotildees de recuperaccedilatildeo jaacute es-tatildeo sendo utilizadas com o intuito de minimizar o efeito das accedilotildees do homem para com a natureza Vale destacar o Programa um milhatildeo de cisternas (P1MC e P1+) onde atraveacutes do programa pode oportunizar o armazenamento de aacutegua com a captaccedilatildeo de aacutegua da chuva atraveacutes das cisternas de placas tanto para o consumo humano e aacutegua para produccedilatildeo de alimentos (ASA Brasil)2 Quan-to agrave prevenccedilatildeo e recuperaccedilatildeo de aacutereas degradas alguns estados do nordeste pode contar com as URADS3 programa desenvolvido pelo Ministeacuterio de Meio Ambiente (MMA) atraveacutes do Departamento de Desenvolvimento Rural Susten-taacutevel e Combate agrave Desertificaccedilatildeo (DRSD) no estado de Sergipe o primeiro ex-perimento estaacute sendo realizado no municiacutepio de Poccedilo Redondo (MMA 2019) Aleacutem do projeto Manejo da Caatinga consistia em proposiccedilotildees de manejo da vegetaccedilatildeo nativa na regiatildeo semiaacuterida a proposta teve o apoio do Ministeacuterio do Desenvolvimento Social ndash MDS onde fora realizada junto as accedilotildees do Projeto

2 A ASA eacute uma rede que defende propaga e potildee em praacutetica inclusive atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas o projeto poliacutetico da convivecircncia com o Semiaacuterido Eacute uma rede que eacute formada por mais de trecircs mil organizaccedilotildees da sociedade civil de distintas naturezas ndash sindicatos rurais associaccedilotildees de agriculto-res e agricultoras cooperativas ONGacutes Oscip etcEssa rede conecta pessoas organizadas em entidades que atuam em todo o Semiaacuterido defendendo os direitos dos povos e comunidades da regiatildeo As entidades que integram a ASA estatildeo organizadas em foacuteruns e redes nos 10 estados que compotildeem o Semiaacuterido Brasileiro (MG BA SE AL PE PB RN CE PI e MA)3 URADS Unidades de Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas e Reduccedilatildeo da Vulnerabilidade

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Dom Helder Cacircmara4 (MDS 2011) Vale salientar que essas praacuteticas todas elas perpassam pelo vieacutes agroecoloacutegico

Accedilotildees como essas estatildeo sendo realizadas no Brasil bem como em Sergipe O que se vecirc no estado de Sergipe eacute a procura pelos produtos agroecoloacutegicos apesar do conflito eminente com a agricultura convencional

No estado de Sergipe teacutecnicos da Empresa de Desenvolvimento Agropecu-aacuterio de Sergipe ndash EMDAGRO preocupados com a situaccedilatildeo agriacutecola no estado fizeram proposiccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intercacircmbio no ano de 1985 onde vin-te seis agricultores familiares puderam conhecer experiecircncias agroecoloacutegicas exitosas no estado de Satildeo Paulo Jaacute no ano de 1998 surge a parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria ndash EMBRAPA com a EMDAGRO a qual pro-porcionou a estrutura do Centro de Treinamento da EMDAGRO que atualmen-te eacute uma unidade de pesquisa e difusatildeo de tecnologias agroecoloacutegicas para todo o Estado de Sergipe e em especial para a Regiatildeo do Agreste ver Figura 1

Figura 1 - Experiecircncia Agroecoloacutegica no Centro de Treinamento da EMDAGROSE

Foto Elis Gardecircnia Santos ndash marccedilo 2019

Vale destacar a experiecircncia da produccedilatildeo orgacircnicaagroecoloacutegica no estado de Sergipe realizada pela Associaccedilatildeo de Produtores Orgacircnicos do Agreste ndash

4 PROJETO DOM HELDER CAMARA O Projeto Articulaccedilatildeo e Diaacutelogo Sobre Poliacuteticas Para Reduzir a Pobreza e Desigualdade no Nordeste Semiaacuterido ndash Projeto Dom Helder Cacircmara eacute uma decorrecircncia de Acordos de Empreacutestimos firmados entre a Repuacuteblica Federativa do Brasil e o Fundo Internacio-nal de Desenvolvimento Agriacutecola ndash FIDA

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ASPOAGRE que em parceria com a Associaccedilatildeo de Engenheiros Agrocircnomos de Sergipe ndash AEASE vem promovendo a feira de produtos orgacircnicos e manteacutem pontos comerciais para venda de seus produtos em Aracaju e Itabaiana

No ano de 2000 foi criada a Associaccedilatildeo dos Produtos Orgacircnicos do Agreste -ASPOAGRE a mesma sendo composta por 18 associadosas aonde se destaca a produccedilatildeo de frutas e hortaliccedilas a ASPOAGRE possui o Selo Orgacircnico conce-dido pelo Instituto Biodinacircmico (IBD) desde o ano 2004 Jaacute no ano de 2009 foi criada a Central ndash Organizaccedilatildeo de Controle Social - OCS Agreste

E no ano de 2012 criou-se a Associaccedilatildeo de Produtores do Agreste de Ser-gipe - APRAS com cerca de 21 produtores rurais associados onde os mesmos conseguiram a aquisiccedilatildeo de uma unidade produtiva localizada no povoado Ca-naacuterio no municiacutepio de Ribeiroacutepolis com apoio do Instituto G Barbosa a Univer-sidade Federal de Sergipe - UFS e EMDAGRO Houve a criaccedilatildeo tambeacutem no ano de 2014 da Cooperativa de Produccedilatildeo Sustentaacutevel do Estado de Sergipe ndash COO-PERSUS ela eacute formada por produtores agroecoloacutegicos que possui a certificaccedilatildeo agroecoloacutegica tendo em sua composiccedilatildeo vaacuterios municiacutepios e sergipanos

A partir do ano 2016 acontece na Universidade Federal de Sergipe uma vez por semana a venda direta de produtos da agricultura familiar de base ecoloacutegica a estudantes professores e funcionaacuterios do campus da UFS em Satildeo Cristoacutevatildeo bem como aos moradores do entorno da Universidade Na feira eacute possiacutevel iden-tificar agricultores e agricultoras de diversas regiotildees no estado de Sergipe

Apoacutes a criaccedilatildeo das organizaccedilotildees foi possiacutevel ir agrave busca de mais parceiros sendo que no ano de 2016 a COOPERSUS faz parceria com a Associaccedilatildeo de Produtores de Malhador ndash APM com o intuito de conseguirem o ocircnibus surge assim agrave feira sobre rodas Este ocircnibus tem por objetivo realizar vendas de pro-dutos agroecoloacutegicos em diversos espaccedilos bairros na cidade de Itabaiana e do municiacutepio de Aracaju ver Figura 2

Jaacute em marccedilo de 2017 foi possiacutevel realizar o credenciamento das coopera-tivas no Organismo Participativo de Avaliaccedilatildeo da Conformidade Orgacircnica do Estado de Sergipe - OPAC de Sergipe junto ao Serviccedilo de Poliacutetica e Desenvolvi-mento Agraacuterio ndash SEPDAG da Superintendecircncia Federal da Agricultura

Em Sergipe no ano de 2018 fora instituiacutedo o Decreto da Agroecologia de nordm 40051 que regulamenta a Lei 727011 do Governo do Estado de Sergipe Eacute uma grande vitoacuteria para a populaccedilatildeo camponesa que entende a Agroecologia como um modo de vida adequado para o rural Brasileiro Figura 3

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Figura 2 - Feira produtos agroecoloacutegicos sobre rodas

Foto EMDAGRO 2019

Figura 3 ndash Fluxograma da caminhada da agroecologia em Sergipe

Fonte as autoras

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O estado de Sergipe ainda conta com a Comissatildeo Estadual de Produccedilatildeo Or-gacircnica de Sergipe - CPOGSE E foi em 2006 que fora criado a Rede Sergipana de Agroecologia ndash RESEA que eacute uma rede de instituiccedilotildees e organizaccedilotildees da so-ciedade civil de caraacuteter poliacutetico e apartidaacuterio vinculada a Articulaccedilatildeo Nacional de Agroecologia ndash ANA com a finalidade de fomentar espaccedilos de articulaccedilatildeo reflexatildeo sistematizaccedilatildeo das praacuteticas agroecoloacutegicas no estado e proposiccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas

Portanto esse movimento chamado agroecoloacutegico natildeo para Ele segue em reuniotildees visitas aos produtores com o intuito de sensibilizaccedilatildeo para a produ-ccedilatildeo agroecoloacutegica realizaccedilatildeo de intercacircmbios identificaccedilatildeo de produtores com o intuito da participaccedilatildeo e envolvimento no movimento agroecologico Figura 04

Figura 4 - Sementes produzidas de forma agroecoloacutegica na regiatildeo do alto sertatildeo em Nossa Senhora da GloacuteriaSE

Foto Elis Gardecircnia dos Santos - fevereiro 2019

No cenaacuterio atual ano de 2019 o que se pauta foi agrave realizaccedilatildeo do XI Congres-so Brasileiro de Agroecologia (XI CBA) do estado de Sergipe na Universidade Federal de Sergipe congresso esse que reuniu centenas de pessoas de diversas regiotildees do estado do paiacutes e tambeacutem de outros paiacuteses sensiacuteveis para discutir e pautar esse modo de produccedilatildeo sustentaacutevel que eacute a agroecologia

A partir do que fora apresentado ateacute o momento percebe-se que a Agroe-cologia eacute uma accedilatildeo para enfrentar diversos percalccedilos frente as vaacuterias conjuntu-ras poliacuteticas bem como as questotildees ambientais e eacute neste ambiente que estaacute

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inserida a agricultura conservadora Esta por sua vez precisa de intervenccedilotildees poliacuteticas e que sejam de fato efetivas de modo a atingir todos os setores que desenvolvam esses trabalhos principalmente a agricultura familiar de base agroecoloacutegica Tendo em vista alguns condicionantes que atuam como agen-tes no processo econocircmico em detrimento de falhas no funcionamento dos mercados e gerando resultados que distorcem a distribuiccedilatildeo intersetorial da renda e do emprego na economia que prejudicam o abastecimento domeacutestico (LEITE 2001 pg 16)

Se faz necessaacuterio memorizar conhecer e refletir sobre o passado onde o processo de construccedilatildeo era coletivo assim o que nos resta tentar continuar nessa busca por proposiccedilotildees e caminhos que possam garantir uma agricultura sustentaacutevel e igualitaacuteria a qual tende a apontar caminhos para reconexatildeo pla-netaacuteria

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao longo das discussotildees apresentadas ateacute aqui vimos de maneira simplifi-cada parte do processo histoacuterico que constitui o modelo predominante de pro-duccedilatildeo agriacutecola conhecido por alguns teoacutericos como agricultura conservadora Modelo este que traz consigo caracteriacutesticas positivas no que tange a acelera-ccedilatildeo da produccedilatildeo em larga escala a chamada modernizaccedilatildeo mas que tambeacutem resulta em consequecircncias compreendidas como prejudiciais em vaacuterios aspec-tos jaacute que natildeo atende as demandas locais regionais e nacionais do (des)envol-vimento aleacutem de evidenciar questotildees relacionadas ao social como ecircxodo rural desemprego especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e fundiaacuteria endividamento dos peque-nos produtores que consequentemente ocasionou a perda de suas proprieda-des e questotildees relacionadas ao ambiental como degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo do solo contaminaccedilatildeo das aacuteguas perda da biodiversidade reduccedilatildeo da varieda-de de alimentos produzidas causando a extinccedilatildeo de diversas sementes criou-las que por sua vez interferiu diretamente da cultura dos povos que passaram a nivelar boa parte do que eacute consumido Vale ressaltar tambeacutem os incidentes diretamente relacionados ao manejo ingestatildeo e inalaccedilatildeo dos agrotoacutexicos que afetam a sauacutede da populaccedilatildeo como um todo

Ao abordarmos a forma de produccedilatildeo agroecoloacutegica realizada em diversas regiotildees do Paiacutes nos remetemos ao iniacutecio da jornada agriacutecola onde o cultivo de alimentos se dava de forma saudaacutevel respeitando o princiacutepio da economia solidaacuteria

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O modelo agriacutecola dominante tem como principal objetivo a produccedilatildeo em larga escala e para tanto utiliza praacuteticas que natildeo viabilizam a sustentabilidade e tem como uma das principais implicaccedilotildees a degradaccedilatildeo do solo e a contami-naccedilatildeo dos produtos agriacutecolas por agrotoacutexicos

Considerando os dois modelos de produccedilatildeo agriacutecola o dominante e o agro-ecoloacutegico percebe-se que enquanto um tem como seu principal estiacutemulo agrave ex-portaccedilatildeo o outro a sustentabilidade

Para a populaccedilatildeo em geral essa dicotomia parece natildeo a afligir uma vez que natildeo consegue enxergar de forma clara e objetiva os malefiacutecios que adveacutem da voracidade do (des)envolvimento a qualquer custo

A induacutestria domina todos os setores da cadeia produtiva tendo como prin-cipal aliada a tecnologia lanccedilando no mercado produtos manufaturados tra-vestidos de alimento

Em se tratando da realidade sergipana nos uacuteltimos 30 anos a agroecologia vem trilhando um caminho aacuterduo tendo em vista a resistecircncia dos agricultores e a falta de incentivo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas deficitaacuterias e seletivas

Tendo em vista que os nossos recursos naturais satildeo finitos soacute nos resta mais do que nunca tentar promover uma melhor sobrevivecircncia na terra com intuito de preservar conservar e valorizar todos os recursos existentes na ter-ra principalmente a integridade humana e a partir deste tentar remontar e construir novos haacutebitos e tendo como foco a sobrevivecircncia das pessoas na terra e deixar o estigmar do ter e possuir a partir do momento que pensar-mos em adquirir algo possamos nos perguntar Estou realmente precisando disso agora

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 217

ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA NO BRASIL E O ACESSO AS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITOS

Delmira Santos da Conceiccedilatildeo SilvaEliane de Souza Barbosa Joseacute Heleno Alves da SilvaNuacutebia Dias dos Santos

INTRODUCcedilAtildeO

O Brasil eacute um paiacutes de dimensotildees continentais e tem em suas raiacutezes um longo periacuteodo de concentraccedilatildeo de capital gerando desigualdades sociais e econocircmi-cas O modelo de desenvolvimento poliacutetico brasileiro contribuiu para que esse processo ganhasse forccedila no decorrer dos anos pois as poliacuteticas puacuteblicas adota-das privilegiavam a elite (proprietaacuterios de terra) deixando de lado boa parte da populaccedilatildeo pobre de nosso paiacutes A afirmativa se configura no campo brasileiro quando se relata as lutas dos campesinos dos ex-escravos e dos imigrantes que se iniciou no periacuteodo colonial e perdura ateacute nos dias hodiernos

Assim como a distribuiccedilatildeo de terras as poliacuteticas puacuteblicas criadas e imple-mentadas no Brasil tambeacutem aconteceram de forma assimeacutetrica Os campone-ses natildeo se enquadravam no modelo de modernizaccedilatildeo do paiacutes pois eram tidos dentre outras concepccedilotildees como atrasados A distribuiccedilatildeo das poliacuteticas puacutebli-cas no campo visava beneficiar os latifundiaacuterios os quais passavam a dispor do acesso agraves teacutecnicas agraves tecnologias e ao creacutedito necessaacuterias para a manutenccedilatildeo do empreendimento em nome do desenvolvimento econocircmico do paiacutes Diante disso eacute imprescindiacutevel notar que o modelo poliacutetico adotado no Brasil ancorava--se no crescimento econocircmico deixando de lado as questotildees de cunho social e ambiental corroborando para acentuar a desigualdade socioespacial no meio rural e dentre as distintas regiotildees do paiacutes

As injusticcedilas sociais causadas pelo modelo de desenvolvimento poliacuteticoeconocircmico do Brasil impactaram o modo de vida das populaccedilotildees nodo cam-po as quais foram impelidas accedilotildees mediante os movimentos sociais As lutas foram responsaacuteveis por conquistas importantes dentre elas a promulgaccedilatildeo da Lei Federal nordm 4504 de 1964 que dispotildee sobre o Estatuto da Terra e outras pro-

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videcircncias prevendo em seu Art 1deg ldquoos direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens e imoacuteveis rurais para os fins de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecolardquo (BRASIL 1964) Embora a criaccedilatildeo deste documento tenha sido apresentado como instrumento de funccedilatildeo social na praacutetica sua execuccedilatildeo serviu aos interesses dos grandes proprietaacuterios de terra natildeo conseguiu desem-penhar formas expressivas no que concerne a distribuiccedilatildeo de terras

A Lei foi inoacutecua de um lado tecircm-se a promulgaccedilatildeo da lei que na praacutetica serviu ideologicamente para sinalizar os movimentos sociais nodo campo e os trabalhadores rurais a intenccedilatildeo do Estado em realizar a justa distribuiccedilatildeo de terras no territoacuterio brasileiro No entanto a praacutetica foi a de fortalecimento dos latifundiaacuterios com a concessatildeo de linhas de financiamento farto para a moder-nizaccedilatildeo do latifuacutendio e induccedilatildeo do processo urbano-industrial com a opccedilatildeo do agronegoacutecio de monocultivos-exportados como alavanca do desenvolvimen-to poliacuteticoeconocircmico

O estudo tem como objetivo analisar o processo histoacuterico da estrutura fun-diaacuteria do Brasil as poliacuteticas de creacuteditos e os impactos provocados ao agricultor camponecircs E como procedimento metodoloacutegico a abordagem qualitativa me-diante a revisatildeo bibliograacutefica que consistiraacute nas informaccedilotildees e dados que servi-ram de base para a construccedilatildeo desse estudo bem como para a reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas que possam atender as necessidades do homem do campo sem comprometer os recursos advindos do meio natural

Torna-se inquietante saber que mesmo se passando anos natildeo houve mu-danccedilas na distribuiccedilatildeo de terra do paiacutes As desigualdades socioespaciais afetam a populaccedilatildeo menos favorecida economicamente o que se pode verificar eacute o avanccedilo dos problemas socioambientais oriundos das exploraccedilotildees exacerbadas e a agricultura expotildee para o aprofundamento dessa problemaacutetica uma vez que o Estado manteacutem-se ancorado no modelo de desenvolvimento puramente eco-nocircmico sem promover uma poliacutetica capaz de atender as necessidades sociais da classe trabalhadora no campo e na cidade sem propor medidas que possam solucionar as questotildees ambientais provocadas por esse mesmo modelo

O capiacutetulo estaacute estruturado em trecircs partes a primeira apresenta o contexto histoacuterico pelo qual se desenvolveu as poliacuteticas de acesso a terra no paiacutes enfati-zando as lutas e os conflitos dos camponeses frente aos grandes proprietaacuterios de terra Em seguida satildeo apresentadas na segunda parte uma discussatildeo em tor-no das poliacuteticas assimeacutetricas de creacuteditos os avanccedilos e os retrocessos no cenaacuterio brasileiro A uacuteltima parte dispotildee de narrativas sobre desigualdade socioespacial e a concentraccedilatildeo de terra no Brasil provocados pela estrutura fundiaacuteria

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2 CONTEXTO HISTOacuteRICO DAS POLIacuteTICAS DE ACESSO A TERRA NO BRASIL

Os problemas relacionados agrave questatildeo fundiaacuteria no Brasil fazem parte de uma construccedilatildeo histoacuterica da formaccedilatildeo da propriedade privada da terra os quais satildeo advindos da proacutepria dinacircmica de funcionamento da colocircnia e da legislaccedilatildeo que foi atribuiacuteda nesse periacuteodo Furtado (1989)

O processo de formaccedilatildeo da propriedade privada no Brasil ocorre a partir de 1500 quando as terras brasileiras passaram a ser dominadas pelo Reino de Por-tugal com a instauraccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e concessotildees de terras (Ses-marias) Nesse periacuteodo (1530-1850) adotou-se a transferecircncia de propriedade regida pelo poder puacuteblico para o poder privado configurando em um momen-to na qual houve a distribuiccedilatildeo de grandes extensotildees de terra para abastecer a elite dominante que se inseri no novo territoacuterio de colonizaccedilatildeo portuguesa (SILVA 1997)

A legislaccedilatildeo portuguesa continha um impedimento racial o sistema colo-nial mantido pelo trabalho escravo o via como mercadoria Com a criaccedilatildeo da Lei de Terras em 1850 a mercadoria passou a ser a terra Nesse periacuteodo surge a grilagem que consiste no apoderamento de terras por meios fraudulentos no qual falsificava documentos escrituras com datas inferiores a promulgaccedilatildeo da Lei de terras Essas accedilotildees resultaram em grandes extensotildees de terras pelos latifuacutendios e a abertura para a formaccedilatildeo das oligarquias no Brasil (SILVA 1997)

Depois desse periacuteodo de concessatildeo de terras pelo regime sesmeiro da Corte portuguesa evidencia-se o surgimento da Lei de Terras em 1850 nesse mo-mento a posse da terra acontecia por meio da compra do leilatildeo puacuteblico a preccedilo de mercado e agrave vista Ressaltando que esta lei foi criada pelos grandes latifun-diaacuterios ou seja utilizando da loacutegica de beneficio proacuteprio e impossibilitando o acesso a terra pelos futuros negros forros e pelos imigrantes europeus que ser-viam apenas como forccedila de trabalho (FILHO FONTES 2009) Martins (1983) ao fazer a relaccedilatildeo entre a Lei de Terra e as terras devolutas sinaliza

A Lei de Terras transformava as terras devolutas em monopoacute-lio do Estado e o Estado era controlado por uma forte classe de grandes fazendeiros Os camponeses natildeo-proprietaacuterios os que chegassem depois da Lei de Terras ou aqueles que natildeo tiveram suas posses legitimadas em 1850 sujeitavam-se pois como assinalaria na eacutepoca da Aboliccedilatildeo da escravatura a um

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grande fazendeiro de cafeacute e empresaacuterio a trabalhar para a grande fazenda acumulando pecuacutelio com o qual pudesse mais tarde comprar terras ateacute do proacuteprio fazendeiro (MAR-TINS 1983 p42)

Fernandes (2017) ratifica tal afirmaccedilatildeo pontuando que mesmo diante da ocupaccedilatildeo de grandes extensotildees latifundiaacuterias muitas terras ainda se encontra-vam na condiccedilatildeo de devolutas (sem uso) fato que contribuiu para dificultar o seu acesso pelas camadas menos abastadas como os iacutendios os ex-escravos e os imigrantes europeus restringindo a compra da terra somente para agravequeles com condiccedilotildees financeiras tais como os latifundiaacuterios Diante disso seraacute que podemos titular esta separaccedilatildeo como racismo ambiental1

Posteriormente Silva (1997) aponta que as questotildees vinculadas agrave legitima-ccedilatildeo da posse que se estendeu entre meados de 1889 a 1964 ficaram para se-gundo plano O que se pode observar nesse momento foi agrave omissatildeo da Uniatildeo com os problemas relacionados agrave estrutura fundiaacuteria do paiacutes podendo com-provar o desinteresse sobre o caso mediante a aprovaccedilatildeo da lei de emissatildeo da propriedade como sendo responsabilidade dos Estados e natildeo mais como fun-ccedilatildeo da Federaccedilatildeo

A discussatildeo em torno do assunto emergiu na campanha de Jacircnio Quadros na deacutecada 1960 na qual foram levantadas questotildees como a desapropriaccedilatildeo por interesse social e questionamentos em relaccedilatildeo ao direito de propriedade e dos proprietaacuterios de terra tais reivindicaccedilotildees ganharam forccedila com a renuacutencia do re-ferido presidente alimentando os conflitos rurais e urbanos Por esse motivo o governo sucessor Joatildeo Goulart acreditava que para a implantaccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no paiacutes seria preciso que os trabalhadores rurais e urbanos se unissem em busca do fortalecimento do movimento (FERNANDES 2017)

No governo Joatildeo Goulart foi aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei nordm 4214 de 02 de marccedilo de 1963) com a implantaccedilatildeo do documento foram cedidos direitos aos trabalhadores rurais direitos esses que antes somente era imputados aos trabalhadores urbanos a saber feacuterias registro profissional deacute-cimo terceiro salaacuterio dentre outros O governo Joatildeo Goulart assinou o decreto

1ldquoRacismo ambientalrdquo eacute um tema que surgiu no campo de debates e de estudos sobre justiccedila am-biental um clamor inicial do movimento negro estadunidense e que se tornou um programa de accedilatildeo do governo federal dos Estados Unidos por meio da EPA Environmental Protection Agency sua agecircncia federal de proteccedilatildeo ambiental O conceito diz respeito agraves injusticcedilas sociais e ambientais que recaem de forma desproporcional sobre etnias vulnerabilizadasrdquo (HERCULANO 2004 p 84)

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que instituiacutea a desapropriaccedilatildeo de aacutereas improdutivas em consequecircncia a esse ato ele foi deposto em marccedilo de 1964 o que ocasionou em enfraquecimento da luta pela Reforma Agraacuteria e o golpe militar (FILHO FONTES 2009)

No periacuteodo Militar de 1964 sob o governo do Presidente-Marechal Hum-berto de Alencar Castelo Branco foi instituiacuteda a primeira Lei da Reforma Agraacuteria no Brasil a Lei nordm 4504 conhecida como o Estatuto da Terra Esta Lei resultou da pressatildeo por parte das massas populares que natildeo estavam contentes com os rumos dado ao processo de distribuiccedilatildeo de terras no Brasil frente a sua alta concentraccedilatildeo nas matildeos de latifundiaacuterios e desfavorecendo a massa de campo-necircs (FILHO FONTES 2009) Assim Martins (1983) enfatiza

O Estatuto faz portanto da reforma agraacuteria brasileira uma reforma toacute-

pica de emergecircncia destinada a desmobilizar o campesinato sempre

e onde o problema da terra se tornar tenso oferecendo riscos poliacuteticos

O Estatuto procura impedir que a questatildeo agraacuteria se transforme numa

questatildeo nacional poliacutetica e de classe (MARTINS 1983 p93)

Sobre essa narrativa evidenciam-se as lutas de movimentos sociais do seacuteculo XIX e XX que fizeram parte da histoacuteria do Brasil desempenhando papel impor-tante visto as conquistas perante as transformaccedilotildees de cunho social e econocircmi-co proporcionando melhorias agraves condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo agriacutecola do paiacutes Dentre os movimentos sociais ocasionados pela revolta populista podem-se citar a Guerra de Canudos (1896-1897) no Nordeste Contestado (1912-1916) no Sul Ligas Camponesas deacutecada de 1950 a Guerra do Formoso (1950- 1960) e os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) (FERNANDES 2017)

Por conseguinte eacute oportuno frisar o papel desempenhado pelas Ligas cam-ponesas um movimento que teve surgimento na deacutecada de 1950 partiu da iniciativa de arrendataacuterios de terra do interior de Pernambuco Os discursos defendidos pela Liga Campesina tinham como pauta a reforma agraacuteria que pudesse equilibrar a injusta distribuiccedilatildeo da terra o desenvolvimento rural e a distribuiccedilatildeo de poliacuteticas regionais que natildeo fossem setoriais Ateacute entatildeo as poliacute-ticas visavam atender somente as regiotildees Sul e Sudeste do paiacutes (Martins 1981) Logo entende-se que a criaccedilatildeo do Estatuto de Terras surgiu para suprimir os movimentos como a Liga Camponesa que vinha conquistando espaccedilo cada vez maior no cenaacuterio poliacutetico social e econocircmico

Logo de acordo a afirmativa de Martins (1981) o Estatuto ficou apenas no papel e natildeo foi colocado em praacutetica embora seu valor tivesse sido expressivo

222 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

na constituiccedilatildeo de um instrumento estatal de grande valia agrave execuccedilatildeo da refor-ma agraacuteria no Brasil um paiacutes assolado pela desigualdade socioterritorial que se estende desde o periacuteodo colonial e se alastra ateacute os dias atuais Romeiro (2002 p131) sintetiza ldquoA Reforma Agraacuteriardquo diz respeito a uma discussatildeo atual que tem o sentido de ldquoampliar as oportunidades de emprego no campo de modo a reduzir a pressatildeo da oferta de matildeo-de-obra no mercado de trabalho urbano-industrialrdquo

Nesse sentido Gonccedilalves Neto (1997) faz importantes consideraccedilotildees acerca das transformaccedilotildees econocircmicas e poliacuteticas do Brasil no periacuteodo que se estende de 1960 a 1980 segundo o autor esta fase da histoacuteria foi marcada pelo contraste entre essas duas deacutecadas sinalizando o surgimento de um novo paiacutes a partir das bases anteriores ou seja o Brasil deixou de ser um paiacutes rural para se transfor-mar em um paiacutes urbano Na deacutecada de 1960 mais da metade da populaccedilatildeo vivia no campo em 1980 este percentual pouco excede os 30 Muitas pessoas que viviam no campo foram morar na cidade para atender as demandas do processo urbano industrial os camponeses comporiam o quadro de forccedila de trabalho eou do exeacutercito de reserva passando a viver em condiccedilotildees de miserabilidade

No entanto o autor supracitado enfatiza que apenas o setor industrial foi afetado pelo processo de modernizaccedilatildeo enquanto que a agricultura brasileira continuava com as mesmas formas de exploraccedilatildeo cujos lucros somente a eli-te econocircmica se beneficiou enquanto a populaccedilatildeo camponesa foi reprimida com a chegada das novas tecnologias e teacutecnicas que eles natildeo conseguiam ter acesso para se inserir de forma igualitaacuteria com os grandes proprietaacuterios de terra ao processo de produccedilatildeo agriacutecola ldquoO Brasil eacute o uacutenico paiacutes das Ameacutericas criado desde o iniacutecio pelo capitalismo comercial sob a forma de empresa agriacutecolardquo (FURTADO 1989 p 93) Reiterando a afirmativa a seguir

Os camponeses foram desenraizados para que o capital pudesse se

apossar da terra e dar agrave terra um uso capitalista ou seja um uso mo-

derno racional Ao mesmo tempo os camponeses foram desenraiza-

dos porque o capital precisava que os camponeses trabalhassem de

outro modo como operaacuterios como assalariados como vendedores de

forccedila de trabalho portanto como donos de mercadoria como equiva-

lentes de mercadoria E trabalhassem segundo o ritmo e a loacutegica que eacute

proacutepria do capital (MARTINS 2003 apud SANTOS 2010 p 88)

Desse modo Oliveira (2001) aponta que os processos de concentraccedilatildeo de terra juntamente com as grilagens foram fatores que contribuiacuteram para acentu-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 223

ar a desigualdade socioespacial do Brasil O autor relaciona tais acontecimentos com a posse da terra em que se constatou ldquopoucos com muita terra e muitos com pouca terrardquo ou ateacute mesmo muitos sem nenhuma terra configurando-se em grandes conflitos no campo e na cidade conflitos que perduram ateacute hoje visto que a estrutura fundiaacuteria do nosso paiacutes foi marcada por graves problemas tais como o ecircxodo rural que por sua vez causa o desemprego subemprego segregaccedilatildeo socioespacial entre outros

A constituiccedilatildeo de 1988 que surge como um grande marco para a execuccedilatildeo de poliacuteticas rurais e urbanas natildeo trouxe nenhuma inovaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave Lei 450464 No entendimento de Steacutedile (2002) houve retrocessos e a concentraccedilatildeo da terra ainda continuavacontinua nas matildeos dos grandes proprietaacuterios legitimando o ldquolatifuacutendio produtivordquo visto natildeo ter regulamentado o artigo que dispunha sobre a desapropriaccedilatildeo de terras maiores que o limite maacuteximo de moacutedulos fiscais2 A Carta Magna natildeo foi atualizada quanto aos niacuteveis de produccedilatildeo por cada moacutedulo fiscal Apenas foram implementadas medidas provisoacuterias e ementas constitucio-nais de leis sem muita relevacircncia legislativa que pudesse mudar o cenaacuterio da questatildeo fundiaacuteria no Brasil como demonstra a figura 1a e a figura 1b

Figura 1a - Nordm de estabelecimentos agropecuaacuterios no Brasil por UFs segundo os Censos de 2006 e 2017

Fonte IBGE 2017

2 Moacutedulo fiscal trata-se de uma unidade de medida de aacuterea (expressa em hectares) fixada dife-rentemente para cada municiacutepio uma vez que leva em conta as particularidades locais como o tipo de exploraccedilatildeo predominante no municiacutepio e a renda obtida com esta exploraccedilatildeo (art 50 Lei 450464)

224 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Figura 1-b Aacuterea estabelecimentos agropecuaacuterios no Brasil por UFs segundo os Censo de 2006 e 2017

Fonte IBGE 2017

Os dados apontam que no periacuteodo de 2006 a 2017 a participaccedilatildeo na aacuterea total dos estabelecimentos iguais ou maiores de 1000 ha aumentou de 450 para 475 Com um aumento de 3287 estabelecimentos e de 163 milhotildees de ha a aacuterea meacutedia do grupo elevou-se de 31557 para 32724 ha Enquanto os estabelecimentos de 100 a menos de 1000 hectares perderam participaccedilatildeo na aacuterea total passando de 338 para 320 Houve entre esses estabeleci-mentos uma reduccedilatildeo de 4152 unidades e de 814574 ha com a aacuterea meacutedia variando de 2660 hectares para 2667 hectares Nos estratos intermediaacuterios (menos de 100 ha) a participaccedilatildeo se manteve praticamente estaacutevel variando de 212 para 205 com um acreacutescimo de 74942 estabelecimentos e com a aacuterea meacutedia mantendo-se em 158 ha (IBGE 2017) Diante da leitura dos dados comprova-se a continuidade da concentraccedilatildeo da terra no Brasil

Atualmente o setor financeiro impulsiona o agronegoacutecio no Brasil Fruto da globalizaccedilatildeo e reabertura econocircmica que contribuiu para a intensificaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de terras bem como a reduccedilatildeo do nuacutemero de estabelecimentos com menores aacutereas no meio rural (OLIVEIRA STEacuteDILE 2005) ldquoA luta pela terra no Brasil eacute anterior agrave luta pela Reforma Agraacuteria Como a elite dominante vem se apropriando da terra no Brasil ao longo do tempo resultou na formaccedilatildeo dos latifuacutendios existentes ateacute os dias atuais []rdquo (FERNANDES 2017 p04)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 225

Frente a essa realidade a reforma agraacuteria eacute deturpada e lentamente

cresce a perspectiva de uma reforma imobiliaacuteria Assim alguns lati-

fundiaacuterios chegam mesmo a incentivar as ocupaccedilotildees garantindo a

infraestrutura como forma de agilizar a desapropriaccedilatildeo Desse modo

a expropriaccedilatildeo eacute pervertidamente convertida em ato de compra e

venda o que chamamos aqui de mercantilizaccedilatildeo da expropriaccedilatildeo e

da desapropriaccedilatildeo da terra Aleacutem de concentrar e reter especulati-

vamente a terra latifundiaacuterios no Brasil ainda sonegam os impostos

incidentes sobre elas (FERNANDES 1999 p227)

Desse modo analisando o processo histoacuterico das poliacuteticas de acesso a terra no Brasil eacute possiacutevel identificar que ela foi marcada por lutas de classes poden-do ser sintetizada pelas relaccedilotildees entre os senhores latifundiaacuterios e os escravos no periacuteodo colonial e imperial pela relaccedilatildeo entre senhores latifundiaacuterios (co-roneacuteis) e os camponeses no periacuteodo republicano e na atual conjuntura a rela-ccedilatildeo entre os latifundiaacuterios do agronegoacutecio e os camponeses (CAMACHO 2011) provocando profundas implicaccedilotildees socioambientais e econocircmicas no paiacutes 3 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL FRENTE Agrave CONCENTRACcedilAtildeO DA TERRA

A desigualdade socioespacial eacute uma expressatildeo que se refere ao proces-so de aceleraccedilatildeo do modelo capitalista neste sentido este termo trata das relaccedilotildees que dizem respeito agrave propriedade agrave apropriaccedilatildeo de riquezas pro-duzidas nas aacutereas urbanas e rurais ao crescimento destas aacutereas agrave produccedilatildeo do espaccedilo e de como este se apropria do capital e distribui suas riquezas (RODRIGUES 2007)

A busca pelo direito e apropriaccedilatildeo do espaccedilo urbano e rural eacute marcado por dificuldades persistecircncias e lutas a exemplo das lutas de classe e dos confli-tos territoriais Deste modo estes conflitos se justificam pela necessidade de se encontrar um ponto de equiliacutebrio na forma de apropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de ri-quezas objetivando uma transformaccedilatildeo social que se coadune com condiccedilotildees de vida mais dignas e justas (RODRIGUES 2007) As diferenccedilas entre as aacutereas ricas e pobres existente no paiacutes apresentam complexidades que muitas vezes satildeo invisiacuteveis pelo sistema capitalista no qual grande parte dos trabalhadores que se apropriaram da terra natildeo possuem condiccedilotildees adequadas para mantecirc-la (ABREU 2012)

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Alcacircntara Filho e Fontes (2009) argumentam que o dinamismo da desigual-dade socioespacial brasileira apresenta reflexos da construccedilatildeo histoacuterica do paiacutes marcada pela colonizaccedilatildeo de exploraccedilatildeo na qual de acordo com Morissawa (2011) baseava-se na monocultura da cana-de-accediluacutecar denominada de planta-tion Esse modo de produccedilatildeo citado pelos autores caracterizou-se pelos mono-cultivos latifuacutendios e mercado exportador Essa heranccedila reitera Furtado (1989) eacute fruto da dinacircmica de funcionamento da colocircnia e das proacuteprias leis estabeleci-das no periacuteodo marcadas por inuacutemeras disparidades na distribuiccedilatildeo de terras

Nesse sentido observa-se que a concentraccedilatildeo de terras no Brasil intensifi-cou o ecircxodo rural e permitiu que os grandes latifundiaacuterios se tornassem prota-gonistas do agronegoacutecio e ditassem as regras da produccedilatildeo baseando-se em um modelo agriacutecola voltado exclusivamente para o latifuacutendio objetivando agrave monocultra e consequemente a produccedilatildeo de commodities agriacutecolas para ex-portaccedilatildeo de alimentos que provoca o uso intensivo dos recursos naturais favo-recendo as desigualdades setoriais (OXFAM BRASIL 2018)

No tocante ao modelo de desenvolvimento agriacutecola do paiacutes observa-se que desde o periacuteodo colonial a agricultura se expandiu com base na devastaccedilatildeo dos recursos naturais com praacuteticas voltadas para o monocultivo e logo apoacutes para a pecuaacuteria fortalecendo os grandes latifundiaacuterios e contribuindo para a degra-daccedilatildeo ambiental nos ecossistemas tais como a devastaccedilatildeo da Mata Atlacircntica que foi quase destruiacuteda pelo monocultivo da cana de accediluacutecar na zona da Mata no seacuteculo XVI pela cultura do cafeacute durante o seacuteculo XIX em seguida no seacuteculo XX a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria (OLIVEIRA 2010)

No momento atual ainda continua de forma exacerbada a utilizaccedilatildeo dos re-cursos naturais elencados por Oliveira (2010) como a degradaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos provocados pela contaminaccedilatildeo dos agrotoacutexicos utilizados em larga escala a saber adubos quiacutemicos pesticidas inseticidas e herbicidas que cau-sam contaminaccedilatildeo no solo nos lenccediloacuteis freaacuteticos nos cursos fluviais e ameaccedila a sauacutede do meio ambiente

As mudanccedilas ocorridas no processo de modernizaccedilatildeo urbana tambeacutem ocasionaram graves consequecircncias que foram refletidas na agricultura brasi-leira Esse resultado eacute fruto das discordacircncias sociais que ocorreram durante o processo de distribuiccedilatildeo e apropriaccedilatildeo da terra De acordo com o relatoacuterio ldquoTerrenos da Desigualdade ndash terra agricultura e desigualdades no Brasil ruralrdquo (OXFAM BRASIL 2018) quanto menor for agrave concentraccedilatildeo de terra melhores se-ratildeo os indicadores sociais para o Estado possa desenvolver poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias para reduzir as desigualdades no campo

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No entanto entanto pode-se considerar que a accedilatildeo paradoxal do Estado possibilitou que o mesmo criasse diversas condiccedilotildees para o melhoramento da produccedilatildeo agriacutecola com o intuito de amortecer os impactos da desigualde so-cioespacial por ele gerado poreacutem tais condiccedilotildees acabaram ocultando a reali-dade do espaccedilo rural ocasionando o aumento da disparidade a ampliaccedilatildeo das injusticcedilas a intensificaccedilatildeo da desigualdade e o beneficiamento de pequenos grupos donos de terra e produtores que faziam parte da poliacutetica (desigual) eco-nocircmica (NAVARRO 2001)

No Brasil eacute recorrente a realizaccedilatildeo de poliacuteticas agriacutecolas descriminatoacuterias e excludentes as quais beneficiam grupos especiacuteficos os mesmos deteacutem ateacute hoje a posse fundiaacuteria marjoritaacuteria Carvalho Filho (2008) explica que a regula-rizaccedilatildeo fundiaacuteria eacute condiccedilatildeo indispensaacutevel para manter a equidade no processo de distribuiccedilatildeo de terra O artigo 46 da Lei Federal nordm 119772009 estabelece o conceito de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria no qual prevecirc

Art 46 A regularizaccedilatildeo fundiaacuteria consiste no conjunto de medidas

juriacutedicas urbaniacutesticas ambientais e sociais que visam agrave regulariza-

ccedilatildeo de assentamentos irregulares e agrave titulaccedilatildeo de seus ocupantes de

modo a garantir o direito social agrave moradia o pleno desenvolvimento

das funccedilotildees sociais da propriedade urbana e o direito ao meio am-

biente ecologicamente equilibrado (BRASIL 2009)

Poreacutem mesmo prevista em lei a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ainda estaacute distante de alcanccedilar um patamar mais justo e equitativo O modelo atual de distribuiccedilatildeo de terras aleacutem de provocar inseguranccedila torna-se responsaacutevel pela perpetuaccedilatildeo de diversos outros problemas de ordem social econocircmica poliacutetica e ambiental que somente seratildeo sanados a partir da efetiva regularizaccedilatildeo fundiaacuteria das pos-ses (REYDON 2017)

Silva (1980) e Castro (1982) apontam que as transformaccedilotildees e os avanccedilos capitalista Tem-se na praacutetica o uso da propriedade da terra como reserva pa-trimonial e de valor Na agricultura somados a manutenccedilatildeo de poliacuteticas go-vernamentais em beneficiamento das grandes propriedades foram alguns dos responsaacuteveis pela intensificaccedilatildeo da concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil Para eles outro grande impasse na intensificaccedilatildeo destas disparidades foi agrave adesatildeo de ter-ras com fins especulativos na qual a poliacutetica tinha como objetivo exercer poder sobre as atividades produtivas visando a proteccedilatildeo e o fundo de reservas contra os desarranjos inflacionaacuterios provenientes do sistema capitalista

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Delgado (1985) explica que os projetos de modernizaccedilatildeo e do agronegoacutecio beneficiaram principalmete os estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo Rio de Janeito Mato Grosso do Sul e Goiaacutes aacutereas que recebe-ram grandes investimentos no setor agroindustrial em detrimento das aacutereas de menor poder aquisitivo tais como os Estados do Nordeste e do Norte do paiacutes

Este cenaacuterio motivou a intensificaccedilatildeo das lutas promovidas pelos movimen-tos socias Os mesmos pressionaram o Estado com o intuito de amortecer os imapactos dessas disparidades mediante a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas di-recionadas para a garantia de um outro modelo de modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola Poreacutem muito pouco tem sido executado pois o Estado permanece ancorado em uma poliacutetica de carater capitalista conservador considerado he-gemocircnico dominate e desigual (RODRIGUES 2007)

Para que a modernizaccedilatildeo da agricultura ocorresse de forma mais equitati-va seria necessaacuterio que o Estado por meio da efetivaccedilatildeo de suas accedilotildees rees-truturasse as poliacuteticas de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria viabilizasse maior assistecircncia teacutecnica aos pequenos produtores e melhorasse as poliacuteticas de beneficiamento de creacutedito para o emprego de teacutecnicas modernas (MARIM 1976) Pois fortale-cendo as condiccedilotildees de direito ao creacutedito e assistecircncia teacutecnica como estruturas de negociaccedilatildeo da produccedilatildeo os impactos dessas disparidades seriam amorte-cidos e beneficiariam um maior nuacutemero de agricultores No entanto dentro da proacutepria estrutura do arranjo socioespacial em curso tem-se clareza nos limites dessas accedilotildees

4 DISTRIBUICcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITO NA AGRICULTURA CAMPONESA

O Brasil por volta de 1960 e 1970 coloca em accedilatildeo escopo de um projeto de modernizaccedilatildeo destinado agrave poliacutetica agriacutecola em paralelo com o desenvolvimento urbano-industrial Para isso necessitava de grande aporte financeiro a ser in-vestido em mateacuterias-primas maacutequinas matildeo de obra dentre outras Aleacutem disso o volume de creacutedito estaacute ligado agrave extensatildeo do negoacutecio da quantidade de insu-mos modernos bem como aos custos relacionados com a qualificaccedilatildeo de pes-soal e infraestrutura Esse agregado moldaraacute o tipo de produccedilatildeo e sua estrutura de produtividade almejada (GONCcedilALVES NETO 1997)

A agricultura brasileira no periacuteodo referenciado era considerada atrasada pois utilizava teacutecnicas para os cultivares ainda rudimentares face ao estaacutegio avanccedilado que vinha ocorrendo no setor fabril com o advento da Revoluccedilatildeo

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Industrial ocorrida na Inglaterra entre os seacuteculos XVIII e XIX Por outro lado o paiacutes estava passando por um processo acelerado de saiacuteda da populaccedilatildeo do campo denominado de ecircxodo rural com a finalidade de fornecer matildeo de obra agrave induacutestria Diante disso a agricultura necessitava se aperfeiccediloar para fornecer alimentos tanto aos trabalhadores da cidade quanto do campo

Dada a sua extensatildeo e atraso tecnoloacutegico de produccedilatildeo no campo o finan-ciamento passa a ser o foco da poliacutetica agriacutecola brasileira No entanto o Estado para atender a esses objetivos se deparou com distintos interesses dentre eles obedecer aos de cunho econocircmico (escassez de recursos) e aos de natureza poliacutetica a partir de pressotildees da burguesia e da proacutepria burocracia estatal Com isso reorientou e ditou o ritmo das transformaccedilotildees agriacutecolas produzindo rique-zas para um determinado setor e anomalias para outro

Conforme argumenta Pinto (1981) o avanccedilo do creacutedito rural brasileiro foi dividido em trecircs estaacutegios o primeiro remete ao iniacutecio da colonizaccedilatildeo e perdura ateacute 1937 o segundo de 1937 a 1965 e por uacuteltimo o que se estende de 1965 ateacute 1980 O periacuteodo da colonizaccedilatildeo foi marcado por uma estrutura extremamente deficiente com recursos escassos e poucas casas bancaacuterias aleacutem das altas ta-xas de juros suportada apenas para produtores com vieacutes exportador

De acordo com o autor supracitado no Brasil Repuacuteblica pouco se alterou e toda poliacutetica agriacutecola foi direcionada para a garantia dos preccedilos do cafeacute Este periacuteodo foi marcado pela ampliaccedilatildeo do creacutedito oficial decorrentes da criaccedilatildeo da Carteira de Creacutedito Agriacutecola e Industrial do Banco do Brasil (CREAI) em 1937 O objetivo desta foi ampliar o alcance do creacutedito rural desde que atendesse a uma seacuterie de normas e exigecircncias relacionadas agraves garantias Bem como a cria-ccedilatildeo de outras instituiccedilotildees para fornecer suporte ao Banco do Brasil dentre elas o Banco do Amazonas (1950) o Banco Nacional de Creacutedito Cooperativo (BNCC) em 1951 e o Banco do Nordeste do Brasil (1952) Nos periacuteodos subsequentes ocorre a institucionalizaccedilatildeo em si a partir da aprovaccedilatildeo da Lei nordm 4829 de 5 de novembro de 1965 cuja regulamentaccedilatildeo consta no Decreto nordm 58380 de maio de 1966 A qual define o creacutedito rural como suprimento de recursos financeiros por entidades puacuteblicas e estabelecimentos de creacutedito particulares a produtores rurais ou a suas cooperativas para aplicaccedilatildeo exclusiva em atividades que se en-quadrem nos objetivos indicados na legislaccedilatildeo em vigor3

3 Art 2ordm da Lei do Creacutedito Rural de 1965 ndash Lei 482965 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL4829htmgt Acesso em 01 dez 2019

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De acordo com Arauacutejo (2011) a experiecircncia brasileira no tocante a poliacuteti-ca de creacutedito agriacutecola eacute diferenciaacutevel em distintos aspectos O paiacutes continua regulando fortemente os mercados financeiros com vista a atingir o desenvol-vimento econocircmico Assim as autoridades monetaacuterias e econocircmicas desem-penharam um papel importante no que diz respeito agrave criaccedilatildeo de prescriccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo deste mercado com a finalidade de ofertar creacutedito barato e seletivo para a modernizaccedilatildeo da agricultura Como por exemplo tetos e quo-tas mecanismos de desconto e redesconto exigecircncias na aplicaccedilatildeo de reservas bancaacuterias taxas preferenciais etc

Segundo Spolador e Lima (2009) o mercado de creacutedito eacute permeado por risco principalmente nos setores tidos como especial como o creacutedito rural ou aquele que necessita de um tempo de maturaccedilatildeo mais elevado o setor imobiliaacuterio Com vista a amenizar esses problemas da oferta de creacutedito aos tomadores o Estado sempre esteve agrave frente com programas e recursos para financiamento a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo o Sistema Nacional de Creacutedito Rural (SNCR) no Banco do Brasil e demais linhas creditiacutecias de financiamento de longo prazo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES)

De acordo com Arauacutejo (2011) os objetivos do SNCR consistem em i) finan-ciar uma parcela bastante significativa dos custos inerentes a operacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e de comercializaccedilatildeo ii) propiciar a formaccedilatildeo de capital iii) na pro-moccedilatildeo e agilidade na adoccedilatildeo e propagaccedilatildeo de tecnologia moderna iv) forta-lecer a posiccedilatildeo econocircmica tanto dos pequenos quanto dos meacutedios produtores rurais ndash e de forma quase que inexpressiva a utilizaccedilatildeo de creacutedito subsidiado para compensar os agricultores mais vulneraacuteveis socialmente no tocante as os-cilaccedilotildees da poliacutetica macroeconocircmica (controle de preccedilos taxas de exportaccedilotildees restriccedilotildees ao comeacutercio dentre outros) contribuindo para a industrializaccedilatildeo e controle da inflaccedilatildeo

Segundo Arauacutejo (1983) por volta de 1976 o volume creditiacutecio oriundo do Estado agrave produccedilatildeo agriacutecola cresceu substancialmente principalmente para a aquisiccedilatildeo de insumos modernos com destaque para os fertilizantes Eacute valido destacar que a distribuiccedilatildeo do creacutedito natildeo ocorria de forma homogecircnea cen-trando-se em certos grupos de agricultores que produziam basicamente soja e trigo destinados agrave exportaccedilatildeo Entretanto algumas caracteriacutesticas marcantes dessa poliacutetica merecem ser destacadas sendo uma delas o controle de taxas de juros nominais sempre abaixo da inflaccedilatildeo real em torno de 15 o que por sua vez garantiu o enriquecimento de muitos latifundiaacuterios

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Conforme Locatel (2010) os recursos para o novo paradigma produtivo contaram de forma incisiva com o apoio do Estado criando moldando leis e fornecendo empreacutestimos advindos do tesouro nacional a partir de fontes fiscais e parafiscais e com empreacutestimo do exterior vindos principalmente do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das instituiccedilotildees privadas no creacutedito rural no periacuteodo da criaccedilatildeo do SNCR representava cerca de 30 em 1965 subiu para 45 e em 1976 retraiu para 20 e se perdurou nesse patamar ateacute o final de 1980 isso reafirma o quatildeo importante foi o Estado no financiamento da agricultura

Para o autor referenciado o caraacuteter concentrador e discriminatoacuterio da poliacuteti-ca macroeconocircmica adotada pelo Brasil corrobora para o fato de que cerca de sete culturasndashdentre elas soja laranja cafeacute cana-de-accediluacutecar algodatildeo milho e ar-roz lavouras que recebiam aproximadamente frac34 do investimento destinado ao custo total chegando a 80 A produccedilatildeo em sua predominacircncia era remetida ao mercado exportador e de mateacuterias primas para fornecer as induacutestrias Aleacutem disso o creacutedito rural subsidiado beneficiava grandes produtores latifundiaacuterios enquanto os pequenos proprietaacuterios tinham os recursos reduzidos Estima-se que apenas 20 e 25 das propriedades eram atendidas via financiamento Des-taca-se tambeacutem a desigualdade regional pois as regiotildees mais desenvolvidas do paiacutes eram as que mais recebiam recursos o Centro-Sul em detrimento ao Norte e Nordeste que compunha o maior iacutendice de desigualdade e pobreza e consequentemente maior necessidade de creacutedito acessiacutevel

No periacuteodo compreendido entre 1969-1985 o PIB referente ao setor agro-pecuaacuterio cresceu 33 vezes ultrapassando R$ 72 2 bilhotildees em 1969 para R$ 238 4 bilhotildees em 1985 Fazendo a mesma anaacutelise com o PIB total brasileiro este cresceu 303 vezes cresceu de R$ 7234 bilhotildees para R$ 21955 bilhotildees Com relaccedilatildeo agrave oferta de creacutedito para este mesmo intervalo de tempo estima-se que os recursos destinados ao custeio com aproximadamente nove a 12 me-ses de prazo somavam 60 do total de contratos e do valor dos empreacutestimos concedidos O restante era dividido para o financiamento de comercializaccedilatildeo com poucos meses e de investimento para aquisiccedilatildeo de bens de capital como por exemplo maquinaria animais e cultivos permanentes variando entre dois e oito anos (ARAUacuteJO 2011)

A deacutecada de 1980 foi marcada pelo esgotamento do Processo de Substi-tuiccedilatildeo de Importaccedilotildees devido agrave escassez de recursos externos decorrente da crise da diacutevida que limitou substancialmente e entrada de fluxos de capitais no Brasil Com isso a poupanccedila puacuteblica entrou em colapso e a inflaccedilatildeo atingiu al-

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tos niacuteveis Dessa forma proporcionou novas alternativas para o financiamento acarretando inflaccedilotildees (SPOLADOR LIMA 2009)

Para Locatel (2010) natildeo se pode denominar o processo de inovaccedilatildeo desi-gual ocorrido na agricultura brasileira a que designe como moderna tendo em vista que o avanccedilo tecnoloacutegico natildeo ocorreu de forma plena em todas as re-giotildees do paiacutes e entre todos os agricultores mas selecionou por estratos sociais e econocircmicos um pequeno grupo de interesse que se alinhava com a poliacutetica de planejamento do Estado Em contrapartida muitos produtores rurais imergi-ram na marginalizaccedilatildeo pois suas atividades tinham um caraacuteter perifeacuterico frente agrave nova organizaccedilatildeo de produccedilatildeo

Conforme Sperl e Arauacutejo (1995) ao analisarem o periacuteodo entre 1970 a 1993 observou-se que houve uma concentraccedilatildeo de creacutedito agriacutecola a niacutevel regional O montante de recursos destinados as regiotildees Sul Sudeste e Cen-tro-Oeste foi aproximadamente cerca de 90 do total de empreacutestimos En-quanto para as regiotildees Norte e Nordeste o percentual foi pouco expressivo Parte da explicaccedilatildeo estaacute assentada sob a matriz produtiva comercial que se encontra nessas regiotildees Eacute valido destacar que inicialmente o volume de capital para o financiamento rural era destinado apenas para o Sul e o Sudeste posteriormente com o deslocamento da fronteira agropecuaacuteria o Centro-Oeste passou tambeacutem a compor o rol de regiotildees privilegiadas no be-neficiamento de recursos maciccedilo principalmente pelo Estado (HOFFMANN KAGEYAMA 1987)

Nesse sentido de fato a agricultura brasileira natildeo pode ser denominada mo-derna pois existem expressivas disparidades e privaccedilotildees tais como ausecircncia de creacutedito acesso a terra conhecimento teacutecnico assistecircncia teacutecnica etc que impedem os pequenos produtores rurais a aderirem agraves novas tecnologias e equipamentos que lhes auxiliaria na efetivaccedilatildeo do processo produtivo tem sido negados paulatinamente ao logo do tempo

Dando continuidade ao arcabouccedilo institucional para garantia da moder-nidade conservadora da poliacutetica agriacutecola em 1987 foi criada a Caderneta de Poupanccedila Rural cujos recursos captados junto ao puacuteblico seriam destinados principalmente agrave agricultura (ARAUacuteJO 2011) No entanto apenas as institui-ccedilotildees bancaacuterias oficiais foram autorizadas a trabalhar com este serviccedilo Nesse mesmo ano 23 dos recursos aplicados no campo foram provenientes deste fundo Em 1996 cria-se o Programa de Securitizaccedilatildeo da Diacutevida dos agricultores cujo limite vai ateacute R$ 200 mil por cada produtor com prazo de sete anos e juros de 3 ao ano mais a variaccedilatildeo de um preccedilo miacutenimo amparado pela poliacutetica de

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preccedilo miacutenimo Destaca-se nesse periacuteodo a gecircnese do Programa de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar (PRONAF) (ARAUacuteJO 2011)

O PRONAF foi agrave primeira poliacutetica puacuteblica de estrateacutegia que abrange a agri-cultura camponesa objetivando o fortalecimento da agricultura comercial mais competitiva assim como robustecer a agricultura camponesa a partir do aporte financeiro por meio do creacutedito subsidiado Bem como ter uma linha de creacutedito para enfrentamentos dos problemas operando junto aos municiacutepios e Estados em que estaacute presente essa categoria produtiva Eacute caracterizado como um programa voltado ao apoio do desenvolvimento sustentaacutevel para o campo traccedilando estrateacutegias que levem agrave seguranccedila alimentar do paiacutes e propicie em-pregos e renda adequados a equidade social (BUAINAIN 1999)

Os recursos provenientes do PRONAF para os agricultores familiares satildeo des-tinados agravequeles cuja matildeo de obra utilizada seja da proacutepria famiacutelia com limite de ateacute R$ 5 mil para custeio e de R$ 15 mil para investimento no maacuteximo Os recur-sos tambeacutem podem ser requeridos em grupo atingindo o cume de R$ 75 mil No primeiro ano de execuccedilatildeo contabilizou R$ 543 milhotildees destinados a 307 mil contratos correspondendo em meacutedia R$ 1770 mil transaccedilotildees (ARAUacuteJO 2011)

No periacuteodo entre 1996-2016 foram investidos aproximadamente R$ 156 bilhotildees em mais de 26 milhotildees de estabelecimentos da agricultura familiar Desse total apenas 30 foram destinadas as mulheres e 17 aos jovens do campo4 Para Aquino (2018) os investimentos pelo programa vecircm sendo mina-dos a partir de 2014 quando atingiu o limite maacuteximo de R$ 24 6 bilhotildees em 2017 foram financiados R$ 216 bilhotildees O principal motivo eacute o desmonte de poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave agricultura familiar Aleacutem da reduccedilatildeo no orccedilamen-to somam-se as desigualdades na distribuiccedilatildeo dos recursos permanecendo as regiotildees Sul e Sudeste com o maior percentual cerca de 74 do total investido Em contrapartida o Nordeste que concentra a maior parte de agricultores em situaccedilatildeo de pobreza e com 44 milhotildees de propriedades rurais receberam ape-nas 15 do financiamento Evidenciando que o Estado natildeo tem atuado de for-ma decisiva para sanar as desigualdades socioespaciais mas atua reforccedilando-a contraditoriamente

Portanto os problemas relacionados a concentraccedilatildeo de terra que ainda persiste no meio rural eacute fruto de uma poliacutetica conservadora o problema se origina na dinacircmica soacutecio-poliacutetica que natildeo possibilitou uma ruptura completa

4 Disponiacutevel em lthttpwwwmdagovbrsitemdanoticiaspronaf-20-anos-de-apoio-aos-agricul-tores-familiaresgt Acesso em 01 dez 2019

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com a concentraccedilatildeo fundiaacuteria responsaacutevel pela exclusatildeo e consequentemente pela pauperizaccedilatildeo e semiproletarizaccedilatildeo dos pequenos produtores rurais tradi-cionais Aos meacutedios e grandes produtores as tecnologias modernas passaram a ser incorporadas agrave produccedilatildeo decorrentes da viabilizaccedilatildeo e concentraccedilatildeo dos re-cursos e demais aparatos teacutecnicos e cientiacuteficos ofertados pelo Estado brasileiro

5 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

A literatura sinalizou que o processo de desenvolvimento socioeconocircmico brasileiro tem em suas raiacutezes como principal entrave a estrutura arcaica fundiaacute-ria que permite natildeo somente a concentraccedilatildeo de capital a captura das poliacuteticas puacuteblicas principalmente as direcionadas agrave agricultura resultando em acentua-do grau de desigualdade no meio rural

Remete ao Brasil colocircnia o contexto de formaccedilatildeo histoacuterica da estrutura fun-diaacuteria quando de sua ocupaccedilatildeo pelos colonizadores se instaurou as capitanias hereditaacuterias e as concessotildees de terras (sesmarias) Por meio das capitanias he-reditaacuterias e sesmaria No Brasil colocircnia e posteriormente a grilagem os verda-deiros donos nativos da terra perderam a posse dando iniacutecio agrave constituiccedilatildeo da propriedade privada alicerccedilada sob lotes de terra com valores a preccedilos de mercado e agrave vista impostos pela elite econocircmica impossibilitando que os cam-poneses os ex-escravos e os imigrantes tivessem o acesso da terra desse modo eles passaram a viver a margem da sociedade

O ecircxodo rural resultante das anomalias no que se refere agrave apropriaccedilatildeo da terra e sua modernizaccedilatildeo conservadora provocou no campo e na cidade uma massa de injusticcedilados decorrentes da intensificaccedilatildeo da desigualdade e o be-neficiamento agraves elites Este cenaacuterio motivou a intensificaccedilatildeo das lutas no cam-po com surgimento de diversos movimentos sociais reividicando natildeo apenas a posse da terra mas que esta viesse acompanhada de uma poliacutetica de reforma agraacuteria Na tentativa de que tais medidas se efetivassem pressionaram o Estado com o intuito de amortecer os impactos dessas disparidades socioespaciais

Dada a sua extensatildeo e atraso tecnoloacutegico de produccedilatildeo no campo o finan-ciamento passa a ser o foco da poliacutetica agriacutecola brasileira Como forma de le-gitimar a poliacutetica agriacutecola o Estado cria leis e regulamentos para legitimar o acesso aos investimentos principalmente aos fundos institucionais no entanto a distribuiccedilatildeo do creacutedito natildeo ocorreu de forma homogecircnea centrando-se em certos grupos de agricultores especializados na produccedilatildeo de commodities com vista para o mercado exportador Natildeo obstante as regiotildees com o maior per-

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centual de pobreza foi a que menos recebeu recursos puacuteblicos bem como as desigualdades regionais foram mais intensificadas e evidenciadas

O acesso ao creacutedito tambeacutem estaacute condicionado ao quantum de capital e terra estes satildeo detentores no momento atual reiterando que a poliacutetica ado-tada pelo Estado natildeo tem o caraacuteter de erradicar as desigualdades no campo pois os benefiacutecios alcanccedilam quase que exclusivamente os meacutedios e grandes produtores tornando as tecnologias modernas o principal mecanismo de pro-duccedilatildeo decorrentes da viabilizaccedilatildeo e concentraccedilatildeo dos recursos e demais apa-ratos teacutecnicos e cientiacuteficos ofertados pelo Estado imergindo os camponeses eou agricultores rurais tradicionais na pauperizaccedilatildeo e semi proletarizaccedilatildeo por natildeo gozarem do apoio institucional no desenvolvimento de suas atividades produtivas

No entanto as desigualdades no campo que perduram ateacute hoje ganharam proporccedilatildeo muito grande e natildeo bastaria uma poliacutetica puacuteblica com base no de-senvolvimento econocircmico para solucionar tais problemas eacute necessaacuterio que se crie um novo modelo poliacutetico que acima de tudo respeite os direitos da nature-za dos camponeses dos negros e dos indiacutegenas as camadas mais massacradas da nossa histoacuteria e que tenha a vida como eixo norteador das suas accedilotildees Um longo caminho ainda em construccedilatildeo se faz necessaacuterio percorrer para se alcan-ccedilar tal prerrogativa

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INTERDISCIPLINARIDADE E AS ldquoNOVASrdquo RELACcedilOtildeES CAMPO ndash CIDADE TERRITORIALIDADES EM FOCO

Jhersyka da Rosa CleveNicole Cavalcanti SilvaDiogo dos Santos Gonccedilalves BahiaNuacutebia Dias dos Santos

1 INTRODUCcedilAtildeO

O espaccedilo geograacutefico compotildee uma totalidade analiacutetica metodoloacutegica e reflexiva Resultado e resultante das accedilotildees humanas na relaccedilatildeo sociedade na-tureza sua materialidade decorre do trabalho humano realizado no ambiente moldado pelas relaccedilotildees sociais e de produccedilatildeo Desta maneira urbano e rural compotildeem duas facetas dessa totalidade espacial e descortinam o trabalho social dos agentes modeladores do espaccedilo Campo e cidade rural e urbano reuacutenem diferentes tempos e processos caracteriacutesticas soacutecioespaciais inter--relaccedilotildees e dinacircmicas ambientais econocircmicas culturais estruturais teacutecnicas sociais etc complexas e que demandam analises integradas accedilotildees poliacuteticas serviccedilos e equipamentos especiacuteficos Para Rolnik (2015) ao analisar a cidade capitalista aponta-se para alguns traccedilos essenciais de seu desenvolvimento a privatizaccedilatildeo da propriedade da terra e de moradia a segregaccedilatildeo soacutecioespacial a intervenccedilatildeo reguladora do Estado e a luta pelo espaccedilo e territoacuterios dentre outros aspectos

Nesse sentido o processo de urbanizaccedilatildeo no territoacuterio brasileiro se acentua a partir do final do seacuteculo XIX com o iniacutecio gradativo do processo urbano-in-dustrial no Paiacutes No entanto foi apoacutes os anos 1930 que a presenccedila das induacutestrias se tornou mais intensiva e a urbanizaccedilatildeo comeccedilou a se intensificar e espraiar as cidades (ABREU 2013)

Segundo o autor a segunda metade do seacuteculo XX serviu de incremento gra-ccedilas ao intenso ecircxodo rural ocasionado pela mecanizaccedilatildeo das atividades produ-tivas no meio rural o que gerou um maior desemprego no campo e a grande leva de migrantes em direccedilatildeo agraves principais cidades do Brasil Por sua vez a deacute-cada de 1960 foi o periacuteodo em que o Brasil pela primeira vez passou a ter uma

240 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

populaccedilatildeo predominantemente urbana ou seja a maior parte dos habitantes concentrava-se nas cidades (SANTOS 2013)

Atualmente segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) mais de 80 dos habitantes do Brasil residem em cidades sendo a maioria em grandes centros urbanos e capitais tais como Satildeo Paulo-SP Rio de Janeiro-RJ Belo Horizonte-BH Porto Alegre-PA entre outras (IBGE 2003) Para o instituto este eacute um dos motivos da desigualdade territorial tanto no tamanho das cida-des e nuacutemero de habitantes quanto em niacuteveis de avanccedilo econocircmico e ofertas de infraestrutura no espaccedilo urbano brasileiro

Indo aleacutem o processo de urbanizaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo fez com que o cam-po e a cidade no Brasil passassem por alteraccedilotildees significativas em suas formas espaciais As discussotildees sobre as definiccedilotildees do que seria ruralurbano e campocidade surgem no meio acadecircmico no iniacutecio do seacuteculo XX poreacutem eacute a partir da deacutecada de 1970 que estas questotildees se tornaram mais intensas

Diferentes aacutereas do conhecimento como a Sociologia a Economia e a Geo-grafia tecircm buscado em seus debates apontar reflexotildees na direccedilatildeo de uma reno-vaccedilatildeo e reavaliaccedilatildeo sobre o debate entre o rural e o urbano

Contudo o que vemos eacute o campo e a cidade tendo anaacutelises apenas de acor-do com um vieacutes pois a Geografia compreende de uma forma poreacutem a Eco-nomia vecirc tal questatildeo a partir de outro acircngulo Nesse sentido eacute necessaacuterio (re) pensar as anaacutelises sobre o campo e cidade em virtude das relaccedilotildees estarem mais complexas e cabe ao olhar interdisciplinar assumir um papel para respon-der tais questionamentos Conforme salienta Japiassu (2009 p 192)

Embora ainda temida por alguns a interdisciplinaridade vem rece-

bendo apoio decidido por muitos pesquisadores que natildeo temem

ultrapassar e transgredir suas tradicionais fronteiras disciplinares e

buscar em outros saberes uma valiosa contribuiccedilatildeo enriquecedora

do seu Apresenta-se como um meio privilegiado de suprir as lacunas

de um pensamento cientiacutefico ainda bastante mutilado pela especiali-

zaccedilatildeo cognitivas e da comunicaccedilatildeo (JAPIASSU 2009 p 192)

A interdisciplinaridade rompe com o pensamento cartesiano ao qual fomos moldados a pensar por esse motivo compreender o campo e cidade como to-talidade eacute imprescindiacutevel para natildeo cairmos nas dicotomias

Diante disso se torna difiacutecil delimitar o que eacute rural e o que eacute urbano Eacute neces-saacuterio deixar de lado a diferenciaccedilatildeo e pensar que as cidades natildeo podem mais

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ser identificadas apenas como os centros de decisotildees e demandas econocircmicas e industriais O campo natildeo pode ser entendido apenas como a agricultura e pecuaacuteria como aponta Sobarzo (2006 p 56)

Essas novas relaccedilotildees cidadecampo natildeo devem ser pensadas como

de dependecircncia ou de ldquomatildeo uacutenicardquo jaacute que natildeo eacute somente a cidade

que irradia o conhecimento a racionalidade ou os comportamentos

para o campo mas eacute o campo que em funccedilatildeo de suas demandas de-

termina alguns processos na cidade (SOBARZO 2006 p 56)

Dessa forma nota-se que as novas relaccedilotildees do campo e cidade estatildeo em constantes mudanccedilas as quais ocorrem a partir do avanccedilo do meio teacutecnico cientiacutefico informacional e das novas modalidades e reestruturaccedilatildeo no mundo do trabalho As prestaccedilotildees de serviccedilos e ateacute mesmo o surgimento de novas pro-fissotildees que atendam as demandas vindas do campo evidenciam a influecircncia da divisatildeo espacial do trabalho

Ante ao exposto tem-se como objetivo geral do estudo apresentar a im-portacircncia de novos olhares e reflexatildeo para a cidade e o campo tomando como base que o conhecimento interdisciplinar estudado por diversas aacutereas do co-nhecimento constitui e assume um papel epistemoloacutegico de abordagem im-portante na compreensatildeo dessas ldquonovasrdquo relaccedilotildees A importacircncia parte de olhar cidade e campo em sua totalidade ambos satildeo componentes das formas-con-teuacutedo espaciais e impotildee um olhar integrado para se refletir sobre as possibili-dades de organizaccedilatildeo do arranjo espacial atual e futuro

Em suma o presente texto visa instigar a reflexatildeo de uma nova leitura do campo e cidade apontamos como caminho o conhecimento interdisciplinar Os autores satildeo das mais variadas formaccedilotildees tais como Administraccedilatildeo Enge-nharia e Geografia Estamos inseridos em um programa de poacutes-graduaccedilatildeo cujo nome eacute ldquoDesenvolvimento e Meio Ambienterdquo diante disso eacute necessaacuterio refletir-mos as relaccedilotildees de cidade e campo mas com um vieacutes para aleacutem da dicotomia Afinal que tipo de desenvolvimento tem se estabelecido no campo e cidade

A contribuiccedilatildeo da nossa anaacutelise eacute apresentar um debate a partir dessa uniatildeo de saberes Contudo eacute um desafio pensar a partir da totalidade mas se faz indispensaacutevel pois sem a anaacutelise da totalidade eacute impossiacutevel analisar os processos

Pensar a partir da totalidade requer esforccedilo poreacutem os povos indiacutegenas com-preendem e relacionam-se com o mundo sem delimitaccedilotildees e dicotomias Por-

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tanto essas modificaccedilotildees exigem uma compreensatildeo de que o urbano e o rural natildeo devem ser mais pensados como recortes territoriais isolados Eis entatildeo o desafio pois a relaccedilatildeo que existe entre estes espaccedilos eacute de complementaridade De acordo com Moreira (2005 p 10) ldquoNatildeo eacute mais aceito falar em um rural exclu-sivamente agriacutecola ou de um urbano que natildeo inclua tambeacutem possibilidades de construccedilatildeo de identidades ruraisrdquo

No Brasil as nomenclaturas urbana e rural satildeo determinadas pelo IBGE (Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) que analisa a partir da seguinte situ-accedilatildeo populaccedilatildeo urbana eacute aquela em que as pessoas se localizam em domiciacutelios localizados nas cidades ou sedes distritais populaccedilatildeo rural eacute aquela que se lo-caliza em toda aacuterea fora dos limites urbanos

Entretanto a anaacutelise amparada apenas em dados estatiacutesticos acaba descon-siderando a realidade social e as proacuteprias relaccedilotildees construiacutedas Assim existem controveacutersias no que diz respeito agrave anaacutelise que o Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatiacutestica (IBGE) faz em relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees do urbano e rural

Dessa forma existe um apanhado de autores que tem se dedicado a tra-tar de questotildees sobre as interpretaccedilotildees e definiccedilotildees sobre o rural e urbano campo e cidade tais como os socioacutelogos Carneiro (1997 1998) Galpin (1981) Sorokim Zimmerman (1981) os economistas Abramovay (2000) Graziano da Silva (2002) Veiga (2004) e os geoacutegrafos Bernadelli (2006) Carlos (2004) Endli-ch (2006) Reis (2006) Resende (2007) Rua (2007) Sposito (2006) entre outros

A discussatildeo que propomos fazer aqui eacute a partir de uma revisatildeo de literatura dos autores citamos acima mas pensando a totalidade que o campo e cidade carregam Nesse sentido a interdisciplinaridade apresenta um caminho para o entendimento do campo e cidade Julgamos a importacircncia que a leitura do campo e cidade seja para aleacutem de uma uacutenica disciplina por muito tempo a Geografia pautou uma anaacutelise assim como a Economia e Sociologia

Contudo temos deixado de analisar a totalidade e cabe aiacute o papel da inter-disciplinaridade pois a partir do conhecimento interdisciplinar existe a possibi-lidade de exercitamos a pensar no todo e natildeo apenas as partes ou simplesmen-te nos processos

Assim sendo o texto estaacute estruturado em quatro toacutepicos no primeiro toacutepico apresentamos o processo de modernizaccedilatildeo do campo e a resistecircncia campone-sa no Brasil no segundo toacutepico realizamos algumas consideraccedilotildees a partir de autores que tem discutido sobre cidade e campo no terceiro toacutepico expomos algumas consideraccedilotildees de manifestaccedilotildees do rural em aacutereas urbanas e no uacutel-timo toacutepico discutimos o papel da interdisciplinaridade no entendimento da

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relaccedilatildeo campo e cidade cujo intuito eacute mostrar o que entendemos por interdis-ciplinaridade e sua relevacircncia na (re) interpretaccedilatildeo da cidade e campo

2 BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE A MODERNIZACcedilAtildeO E RESIS-TEcircNCIA DO CAMPO NO BRASIL

A partir de 1960 o Brasil introduz uma era de modernizaccedilatildeo da agricultura que tem um profundo impacto no campesinato Sobre a modernizaccedilatildeo da agri-cultura Kageyama et al (1990 p 133) diz que

[] por modernizaccedilatildeo se entende basicamente a mudanccedila na base

teacutecnica da produccedilatildeo agriacutecola e que eacute representado pela introduccedilatildeo

de maacutequinas como tratores aleacutem do uso de elementos quiacutemicos

(fertilizantes defensivos etc) (KAGEYAMA et al 1990 p 133)

Eacute curioso como a autora anuncia a concepccedilatildeo de modernizaccedilatildeo gestada pelo estudo capital brasileiro Entendemos que esse modelo de modernizaccedilatildeo da agricultura ocorreu de forma desigual pois as poliacuteticas de creacutedito natildeo atin-giram a todos os segmentos Se natildeo fosse assim hoje haveria um cenaacuterio mais igualitaacuterio onde os camponeses teriam mais condiccedilotildees de permanecircncia na ter-ra Buscamos na Figura 01 sintetizar alguns pontos chaves que estatildeo relaciona-dos com a modernizaccedilatildeo do campo no Brasil

Figura 01 ndash Esquema da modernizaccedilatildeo do campo no Brasil

Fonte Elaborado pelos autores a partir de Neto 1997

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Neto (1997) discute sobre as transformaccedilotildees que ocorreram no meio rural brasileiro principalmente a partir da deacutecada de 1970 onde baseado no censo o Brasil deixaria de ser um paiacutes rural e passaria a ser um paiacutes urbano

Percebemos aqui uma segregaccedilatildeo da totalidade espacial e uma materia-lizaccedilatildeo do tipo de trabalho que se faz em cada espaccedilo-territoacuterio como fator determinante para essa classificaccedilatildeo O autor ainda traz o poder do Estado nes-se processo de mudanccedila sob a oacutetica do planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo e pondera que tal poder para a instauraccedilatildeo das transformaccedilotildees necessaacuterias satildeo as medidas poliacuteticas que se utiliza para intervir nos segmentos distintos da ati-vidade produtiva

Assim o estado acaba por se tornar um agente primaacuterio de tomada de de-cisatildeo no processo de desenvolvimento do setor rural atraveacutes de suas poliacuteticas puacuteblicas que seguem na mesma direccedilatildeo do planejamento estatal para o con-junto da economia Acontece que nessa accedilatildeo rumo agrave modernizaccedilatildeo as poliacuteticas agriacutecolas do governo brasileiro principalmente entre os anos de 1960 e 1980 discutidas por Neto (1997) promoveram a modernizaccedilatildeo da base teacutecnica de grande parte da agricultura sem contudo alterar os padrotildees de acumulaccedilatildeo A burguesia que em uacuteltima instacircncia sempre era beneficiada nessas tomadas de decisatildeo requereu para si cada vez mais esse poder colocando agrave margem a classe trabalhadora no campo e na cidade

Vale destacar que os impactos do modelo implantado no paiacutes tambeacutem se fazem sentir no ambiente fiacutesico com o processo de desmatamento para os cul-tivos de exportaccedilatildeo eou a criaccedilatildeo do gado bovino e se acentua com o pacote tecnoloacutegico dos cultivos transgecircnicos afetando diretamente o solo a aacutegua o ar e a sauacutede da populaccedilatildeo trabalhadora inserida nesse contexto

A partir das reflexotildees do geoacutegrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira em particu-lar na sua obra Modo de Produccedilatildeo Capitalista e Agricultura escrita em 1986 o autor faz uma retrospectiva no qual o objetivo eacute de compreender o camponecircs e o campo no seacuteculo XX evidenciando como o proacuteprio capital cria e recria as condiccedilotildees para suas existecircncias Sendo a modernizaccedilatildeo da agricultura uma forma do capital existir e criar condiccedilotildees para permanecer e garantir a sua reproduccedilatildeo ampliada

Nesse sentido os modos capitalistas de produccedilatildeo vatildeo se territorializando no campo resultando em maior concentraccedilatildeo fundiaacuteria e renda tendo como resultado a resistecircncia camponesa e o surgimento de movimentos sociais de luta pela terra

O campo eacute marcado pelo sangue e morte dos camponeses sendo que par-cela da culpa tem raiz no processo colonizador mas com a modernizaccedilatildeo da

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 245

agricultura o pacto entre a elite agraacuteria e o Estado eacute firmado A poliacutetica de mo-dernizaccedilatildeo no campo natildeo se deu de forma neutra mas atendeu aos interesses de determinadas classes Conforme salienta Neto (1997 p 223) se caracterizou por uma

[] poliacutetica discriminatoacuteria que atende aos aliados mais proacuteximos e

aos grupos com maior poder de pressatildeo o que equivale dizer que

os menos afortunados na estrutura social acabam ficando com pe-

quenas parcelas dos benefiacutecios governamentais [] os recursos po-

deriam ser orientados de forma a natildeo privilegiar demasiadamente

determinados grupos regiotildees etc (NETO 1997 p 223)

Entendemos que a modernizaccedilatildeo na agricultura ao favorecer determinados grupos sociais e agentes do capital natildeo muda as estruturas herdadas do pro-cesso colonizador e o latifuacutendio permanece a dominar o campo brasileiro mas com uma ldquonova roupagemrdquo nomeada de agronegoacutecio Eacute a partir da mecaniza-ccedilatildeo da agricultura no Brasil que teremos ldquodois tipos de campordquo de um lado tere-mos o campo ldquoricordquo e do outro o campo marcado pela miseacuteria pela resistecircncia e luta dos grupos sociais mais impactados e menos assistidos pelas accedilotildees gover-namentais a despeito da sua importacircncia poliacutetica e estrateacutegica para a proacutepria dinacircmica do capital no arranjo espacial brasileiro

Essa desigualdade passa a existir e acirrar-se ainda mais com o surgimento dos chamados complexos agroindustriais Em relaccedilatildeo aos complexos agroin-dustriais podemos observar a sua estrutura a partir da Figura 02

Figura 02 ndash Esquema do complexo agroindustrial

Fonte Szmrecsaacutenyi 1983

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Na Figura 02 nota-se que a produccedilatildeo agropecuaacuteria eacute o centro e envolve vaacuterios tipos de produccedilatildeo As instituiccedilotildees satildeo caracterizadas como aquelas for-necedoras de creacutedito assistecircncia teacutecnica desenvolvimento e pesquisa

Em seguida a induacutestria de insumos vem fornecer mateacuteria prima ao processo a partir de fertilizantes inseticidas pesticidas e equipamentos posteriormente ocorre a comercializaccedilatildeo do produto em cooperativas atacadistas varejistas etc Diante desse cenaacuterio a induacutestria de processamento transforma a mateacuteria prima em mercadoria para o consumidor final

Eacute esse modelo que tem sido defendido e instalado atualmente no contexto agraacuterio brasileiro e ocasionando desigualdade no campo Em relaccedilatildeo a Figura 02 eacute possiacutevel fazermos um questionamento Eacute esse o modelo que queremos Um campo para o agronegoacutecio No complexo agroindustrial tem lugar para o camponecircs

De acordo com Oliveira et al (2004) a soma das aacutereas das 27 maiores pro-priedades rurais do Brasil totalizava o equivalente ao Estado de Satildeo Paulo e as 300 maiores equiparavam-se agraves extensotildees dos estados de Satildeo Paulo e Paranaacute juntos Esses nuacutemeros revelam que esse modelo dominante no campo concen-trava-se nas matildeos de poucos os quais seratildeo inseridos na loacutegica dos complexos agroindustriais Como uma paiacutes de 8547403 kmsup2 (IBGE) ainda possui tantas pessoas lutando por um pedaccedilo de chatildeo

Eacute um questionamento que devemos fazer pois apenas 497 das terras no Brasil estatildeo cadastradas no INCRA (CARVALHO 2005) Porque essa porcentagem

Analisando as Tabela 01 e o Graacutefico 01 podemos perceber que com o passar dos anos a distribuiccedilatildeo de terras no Brasil ainda se daacute de forma desigual mes-mo com a existecircncia do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) as diferenccedilas ainda permanecem As terras continuam concentradas em sua grande maioria nas matildeos de poucas pessoas fato este que nos remete ao pensamento do Brasil colocircnia onde prevaleciam o latifuacutendio a monocultura e a exportaccedilatildeo Apesar de adentrarmos no seacuteculo XXI notamos que o panora-ma atual em pouco se difere da eacutepoca da colonizaccedilatildeo sob o prisma da distribui-ccedilatildeo das terras no Brasil como se observa na Tabela 1

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Tabela 01 ndash Malha fundiaacuteria do Brasil nos anos de 2006 e 2017

Grupos de aacutereaCensos Agropecuaacuterios

2006 2017Estabelecimentos Aacuterea (ha) Estabelecimentos Aacuterea (ha)

Menos de 10 ha 2477151 7798777 2543681 7993969De 10 a menos de 100 ha 1971600 62893979 1980684 63810646De 100 a menos de 1000 ha 424288 112844186 420719 112257692De 1000 haacute e mais 47578 150143096 51203 167227511Produtor sem aacuterea 255019 - 77037 -Total 5175636 333680038 5073324 351289818

Fonte IBGE 2019

Graacutefico 01 ndash Distribuiccedilatildeo das aacutereas dos estabelecimentos agropecuaacuterios segundo os grupos de aacuterea ndash Brasil ndash 199520062017

Fonte IBGE 2019

Como exposto na Tabela 01 a malha fundiaacuteria do Brasil apresenta entre os anos 2006 e 2017 algumas caracteriacutesticas peculiares Nota-se a diminuiccedilatildeo em 2017 no nuacutemero total de estabelecimentos (aproximadamente 2) mas ocorre elevaccedilatildeo na aacuterea total de estabelecimentos (pouco mais de 5)

248 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Quanto agrave distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos por tamanho isto eacute por grupos de aacuterea observa-se que nos estratos com menos de 10 ha o nuacutemero de estabe-lecimentos aumentou de 2006 para 2017 cerca de 27 enquanto que na aacuterea total ocorreu um acreacutescimo de 25

Jaacute em relaccedilatildeo aos estratos maiores que 1000 ha tivemos um aumento de estabelecimentos entre 2006 e 2017 na ordem de 76 e na aacuterea total de 114

A anaacutelise desses dados nos permite concluir que a despeito das poliacuteticas puacuteblicas a concentraccedilatildeo de terras no Brasil ainda permanece nas matildeos dos grandes latifundiaacuterios pois apesar de nos dois segmentos analisados haverem um aumento absoluto de estabelecimentos e de aacutereas observou-se que a taxa relativa de crescimento foi maior para os estratos superiores a 1000ha

Tal distribuiccedilatildeo assimeacutetrica real da malha fundiaacuteria brasileira que fica bem perceptiacutevel atraveacutes de anaacutelise do Graacutefico 01 reflete diretamente na condiccedilatildeo de vida do camponecircs fazendo com que este enfrente dificuldades para permane-cer na terra Assim entendemos que apesar da existecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para esse segmento como eacute o caso do Pronaf nota-se que ainda satildeo as mesmas o que impotildee a continuidade da luta para permanecer na terra e assim continuar se reproduzindo como camponecircs A respeito dessa questatildeo Melo (2010 p 41) assina como o Pronaf ainda apresenta limitaccedilotildees para o segmento de camponeses assentados

O Pronaf deveria entrar em cena para corrigir uma diacutevida histoacuterica

do Estado com agricultores camponeses que ateacute entatildeo estavam

excluiacutedos das poliacuteticas de creacutedito agriacutecola destinadas ao meio rural

No entanto a mesma natildeo tem conseguido atingir estruturalmente

os assentados no sentido de promover sua autonomia financeira e

inseri-los no mercado em uma condiccedilatildeo menos desigual e injusta

(MELO 2010 p 41)

Dessa forma muitos camponeses satildeo obrigados a se tornarem trabalhadores assalariados sazonais ou satildeo expulsos do campo ao migrarem para a cidade e vi-vem em precaacuterias condiccedilotildees de existecircncia Esses sujeitos ateacute buscam maneiras de resistir frente a este modelo poreacutem o proacuteprio Estado reforccedila o favorecendo aos ldquograndesrdquo proprietaacuterios de terra Conforme destaca Locatel (2004 p 296)

As transformaccedilotildees ocorridas na agricultura brasileira em boa parte

satildeo resultados diretos da accedilatildeo do Estado atraveacutes de poliacuteticas macro-

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econocircmicas e tambeacutem setoriais voltadas para o campo que foram

elaboradas a partir do paradigma de desenvolvimento predominan-

te entre poliacuteticos e teacutecnicos do governo aleacutem de intelectuais [] foi

edificada no Brasil uma concepccedilatildeo de desenvolvimento baseada na

ideia de progresso com crescimento constante da economia (LOCA-

TEL 2004 p 296)

A ideia de progresso foi difundida com o lema de alavancar a economia mas eacute necessaacuterio refletir sobre o termo desenvolvimento Ao consultarmos o di-cionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo estaacute relacionado a crescimento progresso e aumento Mas a que tipo de crescimento e progresso o desenvolvi-mento de fato refere-se

Desde meados do seacuteculo 20 um fantasma ronda o mundo Esse fantasma eacute o desenvolvimento Apesar de a maioria das pessoas seguramente natildeo acreditar em fantasmas ao menos em algum momento acreditou no ldquodesenvolvimentordquo dei-xou-se influenciar pelo ldquodesenvolvimentordquo (ACOSTA 2016)

Embora ateacute os mais leigos defendam a necessidade de desenvolvimento ainda assim natildeo sabem a real necessidade do mesmo Eacute em detrimento desse termo que as poliacuteticas puacuteblicas do setor agriacutecola satildeo formuladas

Em nome do progresso se instaura no campo um cenaacuterio marcado pela bar-baacuterie luta e conflitos cuja raiz estaacute na forma como ocorreu a distribuiccedilatildeo de terras no Brasil sendo que a partir do favorecimento de poliacuteticas puacuteblicas desti-nadas a apenas um setor ampliou-se a desigualdade no campo

Diante disso o camponecircs eacute obrigado a deixar sua terra pois estes atores satildeo tidos como atrasados e incapazes de acompanhar essa mecanizaccedilatildeo da agricul-tura Cabe ressaltar que a loacutegica que os camponeses tecircm com a terra eacute uma loacute-gica completamente distinta daquele empresaacuterio da agricultura de exportaccedilatildeo

A Figura 03 demonstra uma propriedade a qual tem como base a famiacutelia a subsistecircncia e o respeito a natureza uma loacutegica distinta daqueles que pos-suem uma propriedade voltada para o agronegoacutecio Nesse sentido entende-se a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para os camponeses poreacutem satildeo quase inexistentes e quando existem como eacute o caso do Pronaf natildeo atendem a real necessidade desses sujeitos

250 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Figura 03 ndash Propriedade de um agricultor da Rede de Agroecologia ldquoPlantar para a vidardquo do Estado de Sergipe-SE

Fonte Os autores 2019

A reproduccedilatildeo do camponecircs no modo de produccedilatildeo capitalista tem ocorrido a partir do engajamento em movimentos sociais de luta pela terra Um fato curioso que tem acontecido nos uacuteltimos anos eacute o ingresso nos movimentos de luta pela terra de pessoas sem moradia haja vista que apesar de natildeo existir contato com o campo tais sujeitos engajam-se na luta pela terra pois o objeti-vo eacute a busca de uma vida digna

Ateacute aqui tentamos de forma breve levantar questotildees referentes ao processo de modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil e as consequecircncias que sua chegada acarretou Eacute atraveacutes da chegada do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional no campo que ocorreram inuacutemeras transformaccedilotildees nas relaccedilotildees entre campo e cidade Afinal entatildeo o que eacute campo cidade rural e urbano Como essas cate-gorias satildeo definidas no Brasil

3 RELACcedilOtildeES CAMPO X CIDADE UMA REFLEXAtildeO NECESSAacuteRIA

Propomos aqui fazer algumas reflexotildees de forma breve sobre campo cida-de urbano e rural Entretanto o estudo natildeo tem como objetivo realizar defi-niccedilotildees fechadas nem esgotar o assunto mas sim tentaremos organizar uma breve reflexatildeo a partir de alguns autores que tem abordado essa temaacutetica

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 251

Afinal o que separa ou diferencia a cidade do campo Qual o limite entre eles Podemos entender campo e cidade a partir das diferenciaccedilotildees Tais ques-totildees satildeo muito utilizadas para classificar o que eacute cidade no Brasil Todavia ana-lisar apenas por este vieacutes eacute colocar a relaccedilatildeo cidade e campo em uma forma simplista deixando de ver o todo

Em face do exposto foi a partir de 1950 com a intensificaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo e de modernizaccedilatildeo da agricultura brasileira que ocorreram ex-pressivas transformaccedilotildees nas relaccedilotildees entre o urbano e o rural agrave medida que se compararmos as relaccedilotildees entre campo e cidade iremos encontrar inuacutemeras visotildees que apontam o campo como ldquoatrasadordquo lugar em que o ldquodesenvolvimen-tordquo natildeo chega

Nesse sentido criaram-se estereoacutetipos que definem o homem do campo como ldquocaipirardquo a proacutepria literatura brasileira acaba reforccedilando a visatildeo sobre o campo ser ldquoatrasadordquo como eacute o caso da obra ldquoJeca Tatuzinhordquo do autor Monteiro Lobato (1951) que coloca o homem do campo como pobre preguiccediloso atra-sado a partir do personagem Jeca Tatuzinho que representava o trabalhador do campo

ldquoJeca natildeo queria saber de nada Trabalhar natildeo era com ele Perto

morava um italiano jaacute bastante arranjado mas que ainda assim tra-

balhava o dia inteiro Por que Jeca natildeo fazia o mesmo Quando lhe

perguntavam isso ele dizia

- Natildeo paga a pena plantar A formiga come tudo

- Mas como eacute que o seu vizinho italiano natildeo tem formiga no siacutetio

- Eacute que ele mata

- E por que vocecirc natildeo faz o mesmo

Jeca coccedilava a cabeccedila cuspia por entre os dentes e vinha sempre com

a mesma histoacuteria

- Quaacute Natildeo paga a pena

- Aleacutem de preguiccediloso becircbado e aleacutem de becircbado idiota era o que

todos diziam (LOBATO 1951 p 329-331)

Observa-se que a linguagem utilizada por Monteiro Lobato (1951) desvaloriza o homem do campo e reforccedila ainda mais o discurso que a cidade eacute o moderno o melhor Em contrapartida Graciliano Ramos (1998 p 15) em sua obra ldquoVidas Secasrdquo apresenta uma sensibilidade a problemaacutetica do campo e aborda desigual-dades sociais que afligem o homem do campo conforme o trecho abaixo

252 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

[] a caatinga ressuscitaria a semente do gado voltaria ao curral ele

Fabiano seria o vaqueiro daquela fazenda morta Chocalhos de ba-

dalos de ossos animariam a solidatildeo Os meninos gordos vermelhos

brincariam no chiqueiro das cabras Sinha Vitoacuteria vestiria saia de

ramagens vistosas As vacas povoariam o curral E a caatinga ficaria

toda verde (RAMOS 1998 p 15)

O trecho acima representa os dramas vivenciados pela falta de aacutegua no campo em um universo que a luta pela sobrevivecircncia eacute diaacuteria Graciliano Ra-mos (1988) mostra atraveacutes de exemplos que com a falta de aacutegua e de alimen-tos a necessidade de olhar para o homem do campo a partir da sua realidade deixando estereoacutetipos mas uma real compreensatildeo que esse universo eacute marca-do pela luta e sofrimento

Ramos (1998) mostra como o homem sertanejo manteacutem uma relaccedilatildeo harmoniosa com a natureza e com o proacuteximo O contraponto dessa obra com a do ldquoJeca Tatuzinhordquo de Lobato ocorre a partir do olhar que cada autor coloca Em Ramos o sujeito do campo eacute um lutador sendo apresentado a partir da sua essecircncia jaacute em Lobato esse homem eacute visto como atrasado e incapaz por esse motivo o debate sobre campo e cidade eacute importante visto que tais relaccedilotildees estatildeo em constante mudanccedilas Para aleacutem dessa perspec-tiva se o olhar para o homem do campo muda a loacutegica da poliacutetica puacuteblica tende tambeacutem a mudar

Dessa forma natildeo podemos pensar o campo e a cidade de forma simplista racista homogecircnea hegemocircnica ou machista delimitando e buscando dife-renccedilas entre um e outro pois as relaccedilotildees atuais entre o campo e a cidade jaacute natildeo as mesmas de vinte anos atraacutes Hoje o campo eacute um grande influenciador sobre os agentes urbanos e vice-versa

Fazendo uma breve retrospectiva sobre as relaccedilotildees histoacutericas entre o campo e a cidade nota-se que tais relaccedilotildees sempre estiveram em constantes mudan-ccedilas ao passo que na antiguidade o campo e a cidade se diferenciavam pelas divisotildees de trabalho jaacute no medieval as distinccedilotildees eram feitas atraveacutes dos muros que separavam o que era cidade e o que era campo

Atualmente natildeo existe uma ldquobarreirardquo fiacutesica que delimita dizer onde eacute campo e onde eacute cidade pois fica difiacutecil agrave identificaccedilatildeo do que eacute campo e cidade porque um depende do outro Nessa perspectiva apresenta-se a seguir algumas pers-pectivas sobre campocidade e ruralurbano agrave medida que existe uma gama imensa de trabalhos que procuram refletir sobre a questatildeo campo-cidade no

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 253

Brasil poreacutem na maioria das vezes a abordagem se resume a dados estatiacutesticos que desconsideram a realidade vivida por cada localidade

Utilizar os dados estatiacutesticos para reconhecer o que eacute urbano ou o que rural pode ser um recurso metodoloacutegico entretanto a anaacutelise natildeo deve apenas amparar-se em nuacutemeros mas tambeacutem levar em consideraccedilatildeo as relaccedilotildees am-bientais econocircmicas sociais e culturais de cada localidade Spoacutesito (2006 p 114) compreende que ldquoo processo que envolve cidade e campo deve ser visto a partir de outras perspectivas e natildeo apenas de forma reduzida como oacutergatildeos administrativos abordam a questatildeordquo e acrescenta ldquo[] A urbanizaccedilatildeo eacute um pro-cesso muito mais complexo e natildeo pode ser reduzido a sua dimensatildeo popula-cional razatildeo pela qual a questatildeo cidade-campo merece ser vista a luz de outras perspectivas []rdquo (SPOSITO 2006 p 114)

No seacuteculo XX as estruturas urbanas foram modificadas o que tornou muito difiacutecil diferenciar no sentido espacial a cidade do campo O que percebemos eacute que tem se expandido a aacuterea de transiccedilatildeo entre o que entendemos como cida-de e o que se compreende como campo gerando com isso uma dificuldade de distinccedilatildeo entre espaccedilos urbanos e espaccedilos rurais

Em virtude deste cenaacuterio Sposito (2006) aponta para uma constituiccedilatildeo de um contiacutenuo entre cidadecampo poreacutem isto natildeo quer dizer no desapareci-mento da cidade e do campo como unidades espaciais com caracteriacutesticas dis-tintas mas sim a constituiccedilatildeo de aacutereas em que ocorre o contato entre esses espaccedilos que se caracterizam pelo compartilhamento seja do mesmo territoacuterio ou em parcelas com variados fins que vatildeo desde o uso do solo a interesses poliacute-ticos e econocircmicos no qual satildeo associados ao mundo rural e ao urbano

Biazzo (2008) salienta que rural e urbano por vezes tecircm sido abordados como categorias operatoacuterias ou seja satildeo lidas como partes materiais que com-potildeem os espaccedilos produzidos pela sociedade em muitas abordagens sobre es-tas categorias tecircm focado apenas nas dimensotildees econocircmicas e poliacuteticas com base na divisatildeo social do trabalho deixando de lado o cultural e o social

Endlich (2006) e Sobarzo (2006) ambos influenciados por Henri Lefebvre (2001) compreendem o rural e o urbano como modos de vida perpassando desde os haacutebitos costumes e cultura entendem que essas relaccedilotildees vatildeo aleacutem do territoacuterio e da materialidade

Portanto eacute inuacutetil pensar que cidade e campo caminham isolados poreacutem eacute necessaacuterio analisar que tais espaccedilos possuem as suas proacuteprias caracteriacutesticas cenaacuterios e dinacircmicas Embora hoje em dia os rurais e urbanos possuam rela-ccedilotildees estreitas cabe dizer que natildeo se tornaram a mesma coisa pois preservam

254 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

suas especificidades Sobre o periacuteodo atual da relaccedilatildeo cidade e campo Spoacutesito (2006 p 122) salienta

[] Aqui a unidade espacial urbana como marcas das cidades no de-

correr do longo processo de urbanizaccedilatildeo cedeu lugar ao binocircmio

urbanorural resultado tambeacutem da incapacidade no periacuteodo atual

de distinguir onde acaba a cidade e comeccedila o campo As formas con-

fundem-se porque as relaccedilotildees se intensificam e os limites entre esses

dois espaccedilos tornam-se imprecisos [] (SPOSITO 2006 p 122)

Dessa forma Sposito (2006) salienta a necessidade de reelaborar os conteuacute-dos dos conceitos de cidade e campo rural e urbano com propoacutesito de trazer renovaccedilatildeo a essas novas formas de manifestaccedilatildeo no mundo contemporacircneo pois natildeo haacute como refletir sobre o rural e urbano com base apenas em teorias que natildeo acompanharam estas mudanccedilas

Por sua vez Bernardelli (2006 p 33) salienta que ldquo[] a concepccedilatildeo do urba-no extrapola a proacutepria cidade consubstanciando-se na relaccedilatildeo cidade-campo tendo na divisatildeo teacutecnica social e territorial do trabalho a sua baserdquo

Dessa forma torna-se necessaacuterio compreender a categoria urbano e a rural como conteuacutedos sociais enquanto satildeo concebidas no espaccedilo cidade e campo como Segundo Biazzo (2008 p 139) urbano e rural satildeo conteuacutedos sociais ldquopo-dem conviver no mesmo local nas praacuteticas dos mesmos autores sociaisrdquo

Dentre as abordagens que foram elencadas ateacute aqui compreende-se que eacute a partir das relaccedilotildees e dos agentes sociais que iremos entender o rural e urba-no sendo importante lembrar que as relaccedilotildees se constroem e desconstroem-se por meio da sociedade estando em constantes transformaccedilotildees

Sobre as relaccedilotildees mantidas entre cidade e campo nota-se que a cidade tem buscado cada vez mais se inserir no campo atraveacutes dos seus aparatos tecnoloacute-gicos Em contrapartida o intenso processo de urbanizaccedilatildeo ocorrem a partir das massivas poliacuteticas de modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil as quais provocam a fuga de pequenos produtores rurais para a cidade em vista da maturaccedilatildeo do processo urbano-industrial desencadeado no Brasil

No entanto natildeo satildeo apenas os modos de vida da cidade que adentram ao campo tambeacutem ocorre o inverso pois os habitantes da cidade tambeacutem bus-cam haacutebitos que satildeo ditos apenas do campo

Ademais observa-se a migraccedilatildeo de habitantes da cidade para o campo em busca de tranquilidade a intensa busca pelo contato com a natureza a tiacutetulo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 255

de exemplo tem-se o crescimento de residenciais fechados Satildeo os condomiacute-nios que pregam o lema de estarem em contato com a natureza na promoccedilatildeo de paz harmonia sauacutede e qualidade de vida sem no entanto desconstruir os haacutebitos e valores simboacutelicos da cidade reeditando o estranhamento socieda-de-natureza realimentando a dicotomia mas com o discurso de intenccedilatildeo

Portanto nota-se dois processos de um lado a populaccedilatildeo da cidade que busca a visatildeo bucoacutelica do campo como local de descanso repouso e lazer e do outro o morador do campo que migra para a cidade com intuito de melhores condiccedilotildees de vida caracterizando haacutebitos identidades e relaccedilotildees que acabam fazendo com que esses dois espaccedilos se relacionem

Natildeo obstante tudo que foi exposto ateacute aqui evidencia que devemos com-preender o rural e urbano como modos de vida Ademais ao analisar o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2010 identificamos que naquele ano o iacutendice de urbanizaccedilatildeo foi de 8434 o que leva a compreensatildeo de que o rural estaacute sendo extinto na percepccedilatildeo de alguns autores No entanto eacute possiacutevel vislumbrar essa realidade para um futuro proacuteximo O Brasil seraacute um paiacutes esvaziado de conteuacutedo rural

Devemos analisar este tipo de dado com atenccedilatildeo pois natildeo aponta como ocorre o processo de urbanizaccedilatildeo Na realidade apenas disfarccedila a verdadeira natureza destas relaccedilotildees deixa de lado e esquece que os modos de vida rurais e urbanos natildeo satildeo estaacuteticos e muito menos se restringem a um espaccedilo

Os dados apontados pelo IBGE deixam de lado por exemplo o motivo que tem feito moradores de aacutereas rurais abandonarem as suas casas a mudarem-se para as cidades pois muitos desses sujeitos migram para a cidade natildeo apenas por melhores condiccedilotildees de vida mas sim porque estatildeo sendo expropriados por esse modo perverso da concentraccedilatildeo das grandes propriedades com praacute-ticas sociais e relaccedilotildees de trabalho pautadas na exploraccedilatildeo de matildeo-de-obra

Haacute tambeacutem um movimento inverso daqueles sujeitos sem emprego e mo-radia na cidade que se inserem nos movimentos sociais de luta pela terra tendo como objetivo melhor qualidade de vida e busca por meios de subsistecircncia Ao se inserirem sobrevivem vivendo na beira das estradas com a incerteza e podem passar anos lutando por um pedaccedilo de chatildeo

Dessa forma a quantificaccedilatildeo da urbanizaccedilatildeo no Brasil e a proacutepria relaccedilatildeo entre campo e cidade amparada apenas em dados estatiacutesticos induzem ao es-quecimento do modo de vida dos agentes que fazem parte deste processo As-sim sendo compreendemos campo e cidade como parte do concreto ou seja do material no espaccedilo Enquanto rural e urbano a construccedilatildeo social no espaccedilo

256 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

nota-se que satildeo inuacutemeras as diferenccedilas entre o rural e o urbano e o campo e a cidade

Portanto na atualidade o que fica evidente eacute que os espaccedilos urbanos e ru-rais estatildeo englobados e os limites entre esses espaccedilos jaacute natildeo coincidem com os recortes utilizados atraveacutes de dados estatiacutesticos Dessa forma torna-se cada vez mais um desafio agrave compreensatildeo sobre as relaccedilotildees entre campo e cidade

4 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE A MANIFESTACcedilAtildeO DO RU-RAL EM AacuteREAS URBANAS

Ao tratar sobre a conceituaccedilatildeo de uma localidade como rural ou urbana tor-na-se necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo a dinacircmica do local pois a distinccedilatildeo entre rural e urbano estaacute no conteuacutedo das relaccedilotildees sociais contidas em cada espaccedilo como jaacute foi dito anteriormente

Dessa forma compreender atraveacutes dos haacutebitos costumes cultura e relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos tecircm com o local eacute o ponto de partida para analisar o rural e o urbano De acordo com Moreira (2005 p 11) tem-se que

[] os indiviacuteduos podem expressar o seu viacutenculo com um determi-

nado territoacuterio (sua identidade territorial) mesmo estando fora de

sua referecircncia espacial Eacute o caso da manifestaccedilatildeo de praacuteticas culturais

entendidas como rurais em espaccedilos definidos como urbanos e vice-

-versa (MOREIRA 2005 p 11)

Nesse sentindo torna-se uma tarefa difiacutecil apontar uma diferenciaccedilatildeo pois em determinadas aacutereas perifeacutericas das cidades o rural e o urbano se interagem no viver das pessoas formando assim um espaccedilo hiacutebrido o que tem sido comu-mente denominado de espaccedilo periurbano

Sobre a ideia de hibridaccedilatildeo Haesbaert (2005 p 05) afirma que ldquoo mais co-mum eacute que as pessoas e os grupos sociais desenvolvam concomitantemente viacutenculos identitaacuterios com mais de um territoacuterio ou com territoacuterios de caracteriacutes-ticas muito mais hiacutebridas multiterritorializando-serdquo

Dessa forma exemplos bem simples como agrave criaccedilatildeo de galinhas nos quin-tais das casas em que se localizam na cidade eacute a manifestaccedilatildeo dessa hibridi-zaccedilatildeo uma vez que o sujeito pode ter deixado o campo mas costumes ditos rurais ainda estatildeo presentes em sua identidade Ademais morar natildeo implica ser do lugar Estar no lugar eacute condiccedilatildeo enquanto ser do lugar eacute pertencimento

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 257

Em relaccedilatildeo agrave permanecircncia de haacutebitos ditos rurais com manifestaccedilotildees na ci-dade Maia (2000 p121) aponta que [] ldquoidentificamos nesse cenaacuterio urbano resiacuteduos de tempos lentos atrelados ao tempo acelerado pela sociedade de consumordquo

Deste modo eacute preciso analisar profundamente se tais relaccedilotildees satildeo baseadas em uma intensa ligaccedilatildeo com a terra pois estes moradores satildeo contados como urbanos o que torna necessaacuterio dizer que nos espaccedilos urbanos a terra possui outra loacutegica

O trabalho sobre a terra no urbano se concretiza por mediaccedilatildeo daquilo que estaacute construiacutedo como por exemplo as casas preacutedios ruas lojas etc Nos espa-ccedilos urbanos podemos notar algumas manifestaccedilotildees do modo de vida rural a partir das relaccedilotildees de vizinhanccedila

Em virtude daqueles que foram expropriados de suas terras ou que por ou-tros motivos migraram para a cidade eacute possiacutevel perceber costumes como o de ajudar o vizinho em alguma necessidade No campo a relaccedilatildeo com o vizinho eacute algo muito forte pois desde a colheita ou ateacute mesmo a ajuda com a construccedilatildeo de uma cerca satildeo costumes de quem vive no campo embora isto natildeo sirva para aqueles grandes proprietaacuterios de terra

Entretanto costumes em que envolvem uma estreita ligaccedilatildeo entre vizinhos jaacute satildeo haacutebitos raros na cidade afinal quantos dos nossos vizinhos sabemos o nome A profissatildeo ou ateacute mesmo quando foi que conversamos com algum de nossos vizinhos Assim sendo podemos dizer que as pessoas oriundas do cam-po possuem maior companheirismo e identificaccedilatildeo com o local levando-nos a pensar na territorialidade como partida para distinguir em alguns aspectos o rural do urbano

Essa territorialidade atinge de forma mais intensa o modo de vida rural se-gundo Alentejano (2003 p 31) ldquoeacute a intensidade da territorialidade que distin-gue o rural do urbano podendo-se afirmar que o urbano representa relaccedilotildees mais globais mais descoladas do territoacuterio enquanto o rural reflete uma maior territorialidade uma vinculaccedilatildeo local mais intensardquo

Outrossim a cidade muitas vezes eacute vista como o centro de comando no qual concentra desde o poder poliacutetico do capital e que exerce poder sobre um projeto ldquomodo de viverrdquo ditando um modo de agir e pensar urbano egoiacutesta desigual capitalista e racista Todavia a cidade natildeo consegue extinguir praacuteticas ligadas ao modo de vida rural e embora vivemos em um mundo dito globaliza-do em que a cidade eacute vista como o que eacute avanccedilando ainda existem resistecircncias por parte dos sujeitos sociais simples

258 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Portanto eacute necessaacuterio compreender que apesar das relaccedilotildees de proximi-dade constituiacutedas entre o rural e o urbano no momento poliacutetico econocircmico e social em que estamos passando isso natildeo significa que ocorreu uma homo-geneizaccedilatildeo desses espaccedilos pois essa duas espacialidades possuam realidades distintas apesar de possuiacuterem caracteriacutesticas semelhantes poreacutem as diferenccedilas existem e permaneceratildeo a existir

Desse modo torna-se necessaacuterio que as reflexotildees sobre essas categorias deixem de lado o instrumento da diferenciaccedilatildeo pois cada vez mais as reali-dades urbanas e rurais se aproximam Assim sendo ateacute aqui foi citado alguns autores e exemplos sobre a temaacutetica por se tratar de um tema que tem diver-sos posicionamentos buscamos de forma sucinta expor o nosso entendimento sobre a dinacircmica dessas relaccedilotildees

Contudo vale ressaltar que natildeo existe uma caracteriacutestica definidora sobre o que eacute rural e o que eacute urbano bem como campo ou cidade Todavia julga-se importante novas leituras estudos e aprofundamentos interdisciplinares para a compreensatildeo desses conceitos haja vista que epistemologicamente esses conceitos vatildeo aleacutem do entendimento de um uacutenico campo de conhecimento

5 A CONTRIBUICcedilAtildeO DA INTERDISCIPLINARIDADE NA LEITURA DE CIDADE E CAMPO

O conhecimento interdisciplinar eacute inovador pois traz uma proposta que implica na geraccedilatildeo de novos princiacutepios e metodologias diaacutelogo entre os pes-quisadores trocas de saberes no sentido de atender os problemas de maior complexidade da sociedade contemporacircnea em especial na relaccedilatildeo entre a ci-dade e o campo

Para Floriani (2000) o ser humano faz parte do meio ambiente desde a gecircnese da humanidade e por isso o meio ambiente urbano e rural natildeo po-dem em hipoacutetese alguma ser visto de forma fragmentada Desse ponto de vista a necessidade dos estudos interdisciplinares surgem para incrementar a visatildeo de mundo e de ambiente que o ser humano deve ter na cidade e no campo e de interagir no meio ambiente natildeo soacute para deterioraacute-lo consumi-lo (visatildeo urbana) mas tambeacutem para conservaacute-lo preservaacute-lo e restauraacute-lo (visatildeo camponesa)

A partir dessa perspectiva faz-se necessaacuterio que a relaccedilatildeo campo e cidade tenha um olhar que abarque toda a complexidade que carrega Desse modo Assis (2000) frisa que a interdisciplinaridade surge como necessidade das ciecircn-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 259

cias modernas oriundo da cooperaccedilatildeo entre as ciecircncias e disciplinas como pos-siacutevel soluccedilatildeo e demanda das complexidades ambientais na busca de promover sinergia no avanccedilo do conhecimento sobre fenocircmenos complexos

Para Costa (2000) eacute vaacutelido considerar a importacircncia da promoccedilatildeo divul-gaccedilatildeo e implementaccedilatildeo da interdisciplinaridade no acircmbito da atividade de pesquisa em si pois ao ser reconhecida e referida como instrumento meto-doloacutegico essencial para possibilitar a apropriaccedilatildeo social dos resultados do avanccedilo do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico gerado na aacuterea ambiental colabora na resoluccedilatildeo dos problemas oriundos da relaccedilatildeo homem-socieda-de-natureza

Nesse sentido cabe destacar que na visatildeo da autora a interdisciplinaridade representa apenas um meio e natildeo um fim em si mesmo pois seu objetivo maior eacute promover a integraccedilatildeo das vaacuterias dimensotildees do conhecimento e possibilitar uma efetiva contribuiccedilatildeo da comunidade cientiacutefica e tecnoloacutegica ao equacio-namento dos problemas socioambientais enfrentados pela sociedade nacional e internacional

Em suma a relaccedilatildeo cidade campo e interdisciplinaridade se correlacionam com o objetivo de encontrar repostas e soluccedilotildees para as demandas da socie-dade contemporacircnea em termos ambientais econocircmicos culturais poliacuteticos sociais tecnoloacutegicos entre outros evidenciando uma nova forma de pensar e repensar a problemaacutetica no campo e na cidade

Portanto eacute necessaacuterio repensarmos novas formas de solucionar os conflitos socioambientais territoriais e espaciais pois a relaccedilatildeo natureza cidade e cam-po estatildeo pautadas numa loacutegica capitalista desigual e mecanizada sem respei-tar a capacidade de carga dos recursos naturais Por fim a interdisciplinaridade torna-se imprescindiacutevel nos estudos que englobam o contexto e o fenocircmeno urbano e rural dada suas formas complexas de formaccedilatildeo e articulaccedilatildeo com o meio ambiente

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Portanto conclui-se que a relaccedilatildeo campocidade e ruralurbano se modi-ficam conforme a sociedade se transforma no passar das deacutecadas ou seja es-sas categorias estatildeo em constantes mutaccedilotildees necessitando uma leitura que compreenda a sua totalidade cabendo a interdisciplinaridade assumir um pa-

260 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

pel preponderante nesse contexto pois por si soacute campo e cidade satildeo relaccedilotildees interdisciplinares complexas e dinacircmicas

Complementando esse cenaacuterio a configuraccedilatildeo com que satildeo feitas as deli-mitaccedilotildees por parte da administraccedilatildeo puacuteblica amparados em dados estatiacutesticos mostram um Brasil totalmente urbanizado entretanto ao delimitar o territoacuterio de maneira estatiacutestica desconsidera-se as especificidades locais de cada regiatildeo e as relaccedilotildees imateriais e simboacutelicas que as pessoas criam no espaccedilo Para tanto eacute necessaacuterio compreender que o campo e a cidade natildeo estatildeo isolados uns dos outros exemplo disso satildeo as relaccedilotildees comerciais e industriais na qual se ligam mutuamente em diversos casos

Aleacutem disso torna-se fundamental compreender o urbano para aleacutem da cidade assim como o rural para aleacutem do campo pois vivemos em um mun-do dito globalizado no qual compreender desta maneira tem se tornado um desafio para os pesquisadores que estudam a temaacutetica que envolve es-tas relaccedilotildees Logo ateacute aqui expusemos de forma sucinta um assunto que estaacute em constante mudanccedila e que exige certo esforccedilo de compreensatildeo so-bre estas relaccedilotildees

Portanto devemos refletir sobre essa temaacutetica com um vieacutes a partir das praacute-ticas sociais e das identidades constituiacutedas por cada indiviacuteduo assim as refle-xotildees sobre campo e cidade precisam ser feitas superando as visotildees tradicionais pois hoje ao abordar esta temaacutetica engloba desde o pertencimento com o local as relaccedilotildees e o comportamento dos atores sociais e a forma de relaccedilatildeo com o territoacuterio e o espaccedilo tornando necessaacuterio a ciecircncia abarcar a totalidade pois campo e cidade estatildeo interligados eacute necessaacuterio que a sociedade compreenda para aleacutem da dicotomia

REFEREcircNCIAS

ABREU M A Evoluccedilatildeo urbana do Rio de Janeiro 4 ed Rio de Janeiro Instituto Pereira Passo 2013 156 p

ABRAMOVAY Ricardo Funccedilotildees e medidas da ruralidade no desenvolvimento con-temporacircneo 1 ed Texto para Discussatildeo 702 Rio de Janeiro IPEA 2000 pp 1-37

ACOSTA A O Bem Viver uma oportunidade para imaginar outros mundos Traduccedilatildeo de Tadeu Breda Satildeo Paulo Autonomia LiteraacuteriaElefante 2016 264p

ALENTEJANO Paulo R As relaccedilotildees campo-cidade no Brasil do seacuteculo XXI Terra Livre Satildeo Paulo v 2 n 21 pp 25-39 ano 18 juldez 2003

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 261

ASSIS L F S Interdisciplinaridade Necessidade das Ciecircncias Modernas e Imperativo das Questotildees Ambientais In PHILIPPI JR A TUCCI C E M HOGAN D J NAVEGANTES R (Orgs) Interdisciplinaridade em Ciecircncias Ambientais 1 ed Satildeo Paulo Signus Editora 2010 1018 p

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE

Clezyane Correia ArauacutejoAlceu PedrottiInaacutecio de BarrosSara Julliane Ribeiro AssunccedilatildeoAna Paula Silva de SantanaFrancisco Sandro Rodrigues Holanda

1 INTRODUCcedilAtildeO

A atividade agriacutecola representa o principal elo entre o homemnatureza tor-nando-se responsaacutevel por alteraccedilotildees no meio ambiente (MOURA et al 2004) As accedilotildees antroacutepicas geradas pela maneira como essa atividade eacute conduzida interfere em menor ou maior grau no meio ambiente em que estaacutes inserido Assim buscar a sustentabilidade na agricultura eacute fundamental para o desenvol-vimento sustentaacutevel da sociedade (CONWAY BARBIER 2013)

Para Abramoway (2010) o desenvolvimento sustentaacutevel configura-se como um processo de ampliaccedilatildeo permanente da capacidade dos indiviacuteduos escolher o modo de vida e das condiccedilotildees que estimulem a manutenccedilatildeo e a regeneraccedilatildeo dos ecossistemas Assim eacute um equiacutevoco pensar que o desenvol-vimento sustentaacutevel administra a natureza Mas sim gerencia e monitora as atividades humanas que afetam e inviabilizam processos ambientais (RABE-LO 2016)

Desta forma o debate sobre desenvolvimento sustentaacutevel traacutes a pauta a promoccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de uma agricultura sustentaacutevel que garanta a segu-ranccedila alimentar

A abordagem da agricultura sustentaacutevel vai aleacutem da perspectiva de que essa atividade seja apenas uma estrateacutegia de produccedilatildeo alimentos (BLUM 2001) Essa agricultura tem como competecircncia conceber um novo modelo tecnoloacutegico que integre as praacuteticas convencionais com as conservacionistas Partindo dessa perspectiva eacute necessaacuterio um novo modelo de agricultura que se preocupe com o meio ambiente (EHLERS 1996) Para Sachs (2002) o sucesso dos projetos

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sustentaacuteveis estaacute sujeito agrave capacidade de criar sistemas de produccedilatildeo e tornaacute-los cada vez mais produtivos utilizando a ciecircncia moderna

Assim a sustentabilidade agriacutecola pode ser entendida como a habilidade de uma exploraccedilatildeo manter a produccedilatildeo atraveacutes do tempo frente a distuacuterbios eco-loacutegicos e pressotildees socioeconocircmicas Eacute a habilidade em manter a produtividade mesmo quando submetido a estresses ou perturbaccedilotildees Dessa forma desen-volvimento agriacutecola sustentaacutevel objetiva atenuar os efeitos resultantes das ati-vidades antroacutepicas sobre o meio ambiente (CONWAY 1987) sem desconsiderar a produtividade e a lucratividade da exploraccedilatildeo agriacutecola

A implantaccedilatildeo de um modelo de desenvolvimento agriacutecola baseado nos princiacutepios da revoluccedilatildeo verde transformou a estrutura produtiva do campo fa-zendo surgir uma nova dinacircmica marcada principalmente pela industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (DA SILVA 1998) A modernizaccedilatildeo da agricultura desencadeada no paiacutes estimulou o desenvolvimento e a ampliaccedilatildeo da monocultura como uma forma de alcanccedilar o desenvolvimento rural natildeo consideraccedilatildeo os aspectos ambientais

Salienta-se no entanto que o desenvolvimento rural sustentaacutevel deveraacute re-sultar natildeo apenas na melhoria dos indicadores sociais e econocircmicos mas tam-beacutem na preservaccedilatildeo do meio ambiente

2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E AGRIacuteCOLA

O aumento populacional e as infinitas necessidades humanas perante re-cursos cada vez mais escassos revelaram problemas que passaram de uma escala local para uma escala global obrigando a sociedade a fazer reflexotildees em busca de accedilotildees que ultrapassem suas fronteiras geopoliacuteticas culturais ou ideoloacutegicas (RABELO 2012)

O aprofundamento da crise ambiental juntamente com a reflexatildeo siste-maacutetica sobre a influecircncia da sociedade neste processo conduziu a um novo conceito ndash o de desenvolvimento sustentaacutevel (BELLEN 2002) Salienta-se que o entendimento da problemaacutetica ambiental natildeo eacute homogecircneo Vem permeado pelos interesses ambientais de diversos setores e atores sociais e deriva de uma ampla visatildeo de conceitos e estrateacutegias de soluccedilotildees (LEFF 2002)

A Sustentabilidade significa o conjunto de processos e accedilotildees que

se destinam a manter a vitalidade e a integridade da Matildee Terra a

preservaccedilatildeo de seus ecossistemas com todos os elementos fiacutesicos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 265

quiacutemicos e ecoloacutegicos que possibilitam a existecircncia e a reproduccedilatildeo da

vida o atendimento das necessidades da presente e das futuras gera-

ccedilotildees e a continuidade a expansatildeo e a realizaccedilatildeo das potencialidades

da civilizaccedilatildeo humana em suas vaacuterias expressotildees (BOFF 2015 p 14)

A sustentabilidade tratar-se portanto de um processo contiacutenuo complexo e dinacircmico Machado (2011) assegura que o conceito de sustentabilidade vem sendo aplicado a diversas atividades desenvolvidas pelo homem e sua avaliaccedilatildeo recebe diferentes enfoques dependendo do niacutevel de estudo e do ambiente em questatildeo

A noccedilatildeo de sustentabilidade incorpora uma clara dimensatildeo social e

implica atender tambeacutem as necessidades dos mais pobres de hoje

outra dimensatildeo ambiental abrangente uma vez que busca garantir

que a satisfaccedilatildeo das necessidades de hoje natildeo pode comprometer o

meio ambiente e criar dificuldades para as geraccedilotildees futuras (BUAI-

NAIN 2006 p 47)

Por sua vez o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel eacute resultado de um longo processo histoacuterico de avaliaccedilatildeo criacutetica da relaccedilatildeo entre sociedade e natu-reza O mais conhecido e difundido conceito surgiu a partir do Relatoacuterio de Brun-dtland (Nosso Futuro Comum) publicado em 1987 pela Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento- CMMAD sendo definido como ldquoeacute aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as geraccedilotildees futuras atenderem as suas proacuteprias necessidadesrdquo (CMMAD 1991 p 46)

Podemos assim dizer que o termo desenvolvimento sustentaacutevel se trata do contiacutenuo melhoramento da qualidade de vida das comunidades criando e im-plantando soluccedilotildees para combater a degradaccedilatildeo ambiental e as desigualdades econocircmicas e sociais Assim o desenvolvimento sustentaacutevel deve ser uma con-sequecircncia do desenvolvimento social econocircmico e da preservaccedilatildeo ambiental

O continuo processos de avanccedilos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos afetam direta-mente a relaccedilatildeo homem-natureza que por sua vez influenciam a busca por um desenvolvimento sustentaacutevel Desse modo o desenvolvimento sustentaacute-vel utiliza-se de inovaccedilotildees1 buscando minimizar o impacto no meio ambiente e reduzir custos com preservaccedilatildeoconservaccedilatildeo dos recursos naturais

1 Novas formas processos e praacuteticas de desenvolver as atividades utilizando-se dos recursos dispo-niacuteveis (existente) de outra maneira diferente da forma tradicional (SHANE VENKATARAMAN 2000)

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A utilizaccedilatildeo dos recursos ambientais deriva de uma estrutura econocircmica com base na produccedilatildeo e consumo em larga escala Conforme destacado por Giordano (2005) a atividade agriacutecola eacute reconhecidamente causadora de im-pactos ambientais diante da alteraccedilatildeo da paisagem e utilizaccedilatildeo desses recur-sos Dessa forma quando se almeja a sustentabilidade da atividade agriacutecola requer-se a consolidaccedilatildeo de princiacutepios complexos e diversos que busquem mi-nimizar as alteraccedilotildees intriacutenseca da atividade

A sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas caracterizou-se historicamente pela manutenccedilatildeo da produtividade ao longo do tempo Com a evoluccedilatildeo a esse conceito foram acrescidas as vertentes sociais ambientais e econocircmicas Assim hoje podemos entender a sustentabilidade agriacutecola como entrelace sustenta-bilidade econocircmica (promoccedilatildeo de lucro liacutequido para o produtor) sustentabi-lidade social (geraccedilatildeo de emprego com condiccedilotildees adequadas de trabalho) e sustentabilidade ambiental (ausecircncia de passivo ambiental ou qualquer dano ao meio ambiente em prol da rentabilidade) agregando agrave produccedilatildeo de alimen-tos a conservaccedilatildeo do meio ambiente e a funccedilatildeo social ao longo do tempo (AL-TIERI 2004)

O objetivo de uma agricultura sustentaacutevel deve ser o de envolver

o manejo eficiente dos recursos disponiacuteveis mantendo a produccedilatildeo

nos niacuteveis necessaacuterios para satisfazer agraves crescentes aspiraccedilotildees de

uma tambeacutem crescente populaccedilatildeo sem degradar o meio ambiente

(FAO 1989 p 131)

Partindo do tripeacute que define as dimensotildees de sustentabilidade em agro-ecossistemas pode-se considerar que diferentes manejos agriacutecolas influen-ciam a sustentabilidade Ou seja uma monocultura2 qualquer seria menos sustentaacutevel do que um sistema agriacutecola diversificado na dimensatildeo ambiental seria insustentaacutevel no aspecto social devido ao seu sistema totalmente meca-nizado que absorve menos trabalho humano e do ponto de vista econocircmico natildeo se torna suportaacutevel por natildeo se manter a longo prazo devido aos usos exaustivos de seus recursos (MACHADO 2011)

Partindo do entendimento de que os sistemas produtivos sustentaacuteveis satildeo aqueles que natildeo comprometem o ecossistema futuro estes viabilizam a produccedilatildeo respeitando os limites naturais objetivando reduzir ao maacuteximo

2 Lavoura homogecircnea na qual se cultiva uma uacutenica espeacutecie de planta

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 267

os impactos gerados por accedilatildeo antroacutepica perturbando o miacutenimo possiacutevel o ambiente conservando o solo a aacutegua e a biodiversidade (BARROS COSTA 2010) Como desafio a promoccedilatildeo de uma produccedilatildeo agriacutecola sustentaacutevel teraacute a conciliaccedilatildeo dos aspectos econocircmicos sociais e ambientais a longo prazo

3 MODERNIZACcedilAtildeO AGRIacuteCOLA

A histoacuteria agriacutecola brasileira estaacute atrelada ao processo de colonizaccedilatildeo A dominaccedilatildeo social poliacutetica e econocircmica da grande propriedade foi privilegia-das e imposta como modelo socialmente reconhecido sendo estimulado por poliacuteticas que se preocuparam em ldquomodernizarrdquo e assegurar a produccedilatildeo fa-dando a segundo lugar outras configuraccedilotildees agriacutecolas (WANDERLEY1995)

Desde a deacutecada de 60 o progresso tecnoloacutegico no setor agriacutecola tem-se constituiacutedo numa das principais preocupaccedilotildees dos paiacuteses em desenvolvimento exigindo grandes aporte de recursos para proporcionar agrave agricultura condi-ccedilotildees de atender agrave demanda crescente de alimentos e mateacuterias-primas (BAL-SAN 2006)

A modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil por ter sido pontual progressiva e desigual possibilitou diferenccedilas estruturais no espaccedilo rural Assim os investi-mentos em tecnologias agriacutecolas geraram profundas mudanccedilas no campo Os produtos mais valorizados de exportaccedilatildeo foram privilegiados em detrimen-to a aqueles de demanda e consumo local proporcionando um processo de modernizaccedilatildeo e crescimento econocircmico mais raacutepido para certas culturas e em alguns locais considerados agrave eacutepoca os principais centros econocircmicos e agriacute-colas (BALSAN 2006)

Assim a poliacutetica agriacutecola que visa desenvolver o meio rural para promover manter ou ascender o niacutevel de vida dos agricultores (BLUM 2001) incentivou governamentalmente a manutenccedilatildeo dos latifuacutendios e fez crescer a desigual-dade no campo com a expansatildeo da agricultura moderna transformando-o em uma grande induacutestria tecnificando os meios de produccedilatildeo e alterando a relaccedilatildeo homem-nau

Para GRAZIANO NETO (1982) a desigualdade da modernizaccedilatildeo dar-se em trecircs niacuteveis entre as regiotildees do paiacutes entre as atividades agropecuaacuterias e entre os produtores rurais O autor ainda salienta que eacute perceptiacutevel por exemplo que em termos regionais o Sudeste e o Sul do paiacutes satildeo mais modernizados que as demais regiotildees especialmente os Estados de Satildeo Paulo Paranaacute e Rio Grande do Sul

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Com a tal modernizaccedilatildeo [] estatildeo nos forccedilando a dedicar agrave mono-

cultura [] Junto [] estatildeo vindo [] teacutecnicas agriacutecolas que natildeo se

casam com a Natureza As nossas terras estatildeo [] mais pobres []

Natildeo eacute justo que continuemos com uma agricultura desse jeito Noacutes

precisamos ter responsabilidade sobre o futuro e [] os bens naturais

que teremos que deixar pra nossos filhos (ICKERT 1980 apud GRA-

ZIANO NETO 1982)

Ademais a diversidade da modernizaccedilatildeo pode ainda ser explicada por meio das barreiras que o agricultor teraacute que enfrentar sendo estas Psicoloacutegicas ( ris-cos e incertezas da adoccedilatildeo da teacutecnica moderna) Econocircmicas (dependecircncia do capital disponiacutevel) e por fim Culturais ou de informaccedilatildeo (idade escolaridade e aspectos culturais)(GERARDI 1980)

A anaacutelise do processo de modernizaccedilatildeo pode ser sintetizada em duas con-sequecircncias Ambientais e socioeconocircmicas Os impactos ambientais satildeo de-correntes das praacuteticas agriacutecolas convencionais difundidas desde a ldquoRevoluccedilatildeo Verde3rdquo Esta tecircm levado agrave degradaccedilatildeo crescente dos recursos naturais provo-cando a destruiccedilatildeo das florestas e da biodiversidade a erosatildeo dos solos e a contaminaccedilatildeo dos recursos naturais e dos alimentos (ARAUJO 2018)

Por sua vez os impactos socioeconocircmicos satildeo causados pelas raacutepidas e complexas transformaccedilotildees da produccedilatildeo agriacutecola implantadas no campo Essas transformaccedilotildees fomentam consideraacutevel reduccedilatildeo da demanda da matildeo-de-obra (BALSADI et al 2002) e renda desemprego alteraccedilatildeo da dinacircmica territorial inchamento das cidades e intensificaccedilatildeo das lutas sociais

Tais impactos gerados por essas mudanccedilas faz com que a agricultura brasi-leira viva uma dicotomia em que a produccedilatildeo de capital intensivo e de grande escala dispute desigualmente o acesso agrave terra com as propriedades agriacutecolas tradicionais que produzem para mercados locais Assim o questionamento desse modelo bem como a difusatildeo do conceito de sustentabilidade tecircm leva-do a pesquisa agriacutecola a uma crescente busca por modelos alternativos e sus-tentaacuteveis para a agricultura (MARQUES et al 2003)

3 Refere-se ao desenvolvimento de tecnologias e disseminaccedilatildeo de novas praacuteticas agriacutecolas ldquopacote tecnoloacutegicordquo visando a maximizaccedilatildeo agriacutecola

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 269

4 IMPACTOS AMBIENTAIS DA MONOCULTURA

A principal caracteriacutestica do processo histoacuterico de modernizaccedilatildeo da agri-cultura foi agrave generalizaccedilatildeo da monocultura como forma predominante de produccedilatildeo O modelo tecnoloacutegico desenvolvido para essa agricultura esteve basicamente voltado para o uso intensivo dos recursos naturais e o cultivo em larga escala

Historicamente a difusatildeo do monocultivo ocorreu a partir do desenvolvi-mento do modelo euro-americano de modernizaccedilatildeo agriacutecola poacutes-revoluccedilatildeo industrial Anteriormente a monocultura era pratica restrita a regiotildees de solos excepcionais ou de conquista onde a degradaccedilatildeo da terra natildeo tinha grande importacircncia (ROMEIRO 1998)

Assim historicamente a monocultura estaacute atrelada ao descaso ambiental e a geraccedilatildeo de impactos promovidos pela a agricultura Desta forma eacute vista como a antiacutetese do desenvolvimento de uma agricultura sustentaacutevel que for-neccedila melhor qualidade de vida ao homem Sobre as monoculturas Gliessman (2000) enfatiza

A monocultura eacute uma excrescecircncia natural de uma abordagem

industrial da agricultura em que os insumos de matildeo-de-obra satildeo

minimizados e os insumos baseados em tecnologia satildeo maximi-

zados com vistas a aumentar a eficiecircncia produtiva As teacutecnicas

de monocultivo casam-se bem com outras praacuteticas da agricultura

moderna a monocultura tende a favorecer o cultivo intensivo do

solo a aplicaccedilatildeo de fertilizantes inorgacircnicos a irrigaccedilatildeo o contro-

le quiacutemico de pragas e as variedades especializadas de plantas A

relaccedilatildeo com os agrotoacutexicos eacute particularmente forte vastos culti-

vos da mesma planta satildeo mais suscetiacuteveis a ataques devastadores

de pragas especiacuteficas e requerem proteccedilatildeo quiacutemica (GLIESSMAN

2000 p35)

A simplificaccedilatildeo dos ecossistemas eacute a base para o desenvolvimento da mo-nocultura extensiva sendo esse o principal problema gerado para a manuten-ccedilatildeo desses ecossistemas (ZIMMERMANN 2009) Entretanto o prejuiacutezo causado pelo monocultivo natildeo se restringe apenas ao contexto ambiental O aumento da inseguranccedila alimentar o continuo ecircxodo rural a que estatildeo sujeitas as comu-nidades agriacutecolas a perda da identidade cultural das comunidades agriacutecolas

270 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

que satildeo desalojadas e o obrigadas a abandonar o mundo rural e a agricultura satildeo tambeacutem reflexos desse modelo produtivo (SOGLIO KUBO 2016)

Deve-se ainda acrescentar a esses impactos a promoccedilatildeo do desequiliacutebrio de doenccedilas e pragas agriacutecolas aliados a ocorrecircncia de plantas espontacircneas de difiacutecil controle que quando associados ao preparo inadequado de solo eacute ainda muito mais agressivo (GASSEN 2005)

Nesse contexto eacute importante ainda salientar que a difusatildeo deste modelo de produccedilatildeo agriacutecola tem como um dos fundamentos a propagaccedilatildeo iludida de que eacute preciso produzir mais alimentos para atender a demanda mundial sendo por muito tempo apresentado como a soluccedilatildeo para o problema de fome no mundo

Este discurso sustentado desde a revoluccedilatildeo verde promove a massificaccedilatildeo das praacuteticas agriacutecolas convencionais acarretando na simplificaccedilatildeo do processo produtivo e ateacute da tecnologia utilizada natildeo levando em consideraccedilatildeo as espe-cificidades edafoclimaacuteticas locais esvaindo-se de que natildeo se pode uniformi-zar as praacuteticas adotadas na agricultura mas sim desenvolve-las de maneira a aliar-se com a sustentabilidade visando a conservaccedilatildeo dos recursos naturais (FERREIRA 2008)

As exploraccedilotildees agriacutecolas tecircm-se tornado a cada dia mais complexa quanto agraves combinaccedilotildees e agrave aplicaccedilatildeo de tecnologia que garantam produccedilotildees estaacuteveis Qualquer atividade agriacutecola que emprega recursos naturais e usa agroquiacutemi-cos provoca algum impacto ambiental Contudo eacute possiacutevel reduzir quaisquer impactos ao fazer planejamento ocupaccedilatildeo criteriosa do solo agriacutecola e empre-go de teacutecnicas de conservaccedilatildeo para cada cultura e regiatildeo

CONCLUSAtildeO

Eacute inegaacutevel a importacircncia econocircmica e social da atividade agriacutecola pois estaacute movimenta uma grande cadeia produtiva seja na geraccedilatildeo de empregos diretos eou indiretos ou seja ligada agrave produccedilatildeo de alimento e fibras Contudo a pru-decircncia deve ser levada em consideraccedilatildeo no que tange ao meio ambiente vis-to que o sistema de produccedilatildeo ao qual essa atividade estaacute sendo desenvolvida (monocultivo) eacute bastante questionaacutevel uma vez que preconiza o uso intensivo de maquinaacuterios insumos quiacutemicos e reduccedilatildeo da biodiversidade acarretando em consequecircncias negativas ao meio ambiente

Mediante recursos naturais findaacuteveis torna-se de extrema importacircncia agrave sensibilizaccedilatildeo perante as problemaacuteticas socioambientais a qual a sociedade

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 271

vem experimentando As transformaccedilotildees ocorridas nos meios de produccedilatildeo agriacutecola induzido pela inserccedilatildeo da tecnologia embora possa trazer benefiacutecios a curto prazo como lucratividade e melhoria na renda dos agricultores traz inuacute-meros malefiacutecios a curto meacutedio e o longo prazo atrelados ao ambiente eco-nomia e sociedade

A divergecircncia entre desenvolvimento e meio ambiente natildeo pode mais se sustentar e a conscientizaccedilatildeo da sociedade como promotora de mudanccedilas na tomada de decisotildees visando o desenvolvimento sustentaacutevel tambeacutem deve abarcar as questotildees agriacutecolas

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POSSIBILIDADES DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA ADMINSTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA MUNICIPAL DE ARACAJUSE

Robertha Georgya de Barros e SilvaGicelia Mendes da SilvaIvana Ferreira Lermen

INTRODUCcedilAtildeO

O raacutepido adensamento das cidades brasileiras a partir da deacutecada de 1950 sem o devido controle do poder puacuteblico no provimento de infraestruturas e serviccedilos urbanos produziu espaccedilos urbanos cada vez mais desiguais fragmen-tados e excludentes Desde a deacutecada de 1980 contudo com a volta da demo-cracia apoacutes longo periacuteodo de ditadura militar verificam-se avanccedilos importan-tes na formulaccedilatildeo de um arcabouccedilo juriacutedico institucional como a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e do Estatuto da Cidade (Lei Federal 10257 de 10 de Julho de 2001) que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal e que tratam da poliacutetica urbana

Com efeito o entendimento de cidade como criaccedilatildeo humana se consti-tui em elemento fundamental para a formaccedilatildeo da cidadania criacutetica e como fator preponderante para ativar os laccedilos que ligam educaccedilatildeo e cidade atraveacutes de possibilidades de controle social que operam potencialidades transformadoras capazes de produzir e agregar conhecimento em torno da questatildeo urbana

As administraccedilotildees puacuteblicas municipais brasileiras tiveram a institucionali-zaccedilatildeo do planejamento urbano a partir de 1970 com o boom da urbanizaccedilatildeo Assim iniciou-se um processo de elaboraccedilatildeo de poliacuteticas preventivas e dos primeiros planos de ordenamento do uso e ocupaccedilatildeo do espaccedilo urbano No acircmbito federal a Lei 6766 de 191279 (Lei Lehmam) criada com o objetivo de prevenir a degradaccedilatildeo ambiental ao disciplinar o parcelamento do solo ur-bano constituiu-se em importante marco do planejamento urbano territorial no Brasil Nesse periacuteodo o territoacuterio urbanizado e em urbanizaccedilatildeo eram orde-nados pelo zoneamento que era aplicado com base em paracircmetros de uso e

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ocupaccedilatildeo especiacuteficos O zoneamento constituiacutea-se desse modo como princi-pal mecanismo de planejamento

Assim essa eacutepoca foi caracterizada pela desarticulaccedilatildeo entre planejamento e gestatildeo urbana de forma que a participaccedilatildeo social natildeo era legitimada aleacutem de existirem limitaccedilotildees do poder legislativo Essa dissociaccedilatildeo produziu um pla-nejamento urbano tecnocraacutetico em que natildeo se reconheciam os conflitos socio-espaciais nem se consideravam as desigualdades das condiccedilotildees de renda e sua influecircncia sobre o mercado da terra urbana O Brasil produzia entatildeo o chama-do ldquoplanejamento de gabineterdquo Com perspectiva notadamente centralizadora ldquoo isolamento do planejamento e sua separaccedilatildeo da esfera da gestatildeo provocou uma espeacutecie de discurso desconexo nas administraccedilotildees ndash de um lado planos reiteravam os padrotildees modelos e diretrizes de uma cidade racionalmente pro-duzida de outro o destino da cidade era negociado dia a dia com os interesses econocircmicos locais e corporativosrdquo (BRASIL 2001)

Nessa mesma eacutepoca iniciou-se a discussatildeo em torno do conceito de susten-tabilidade na Conferecircncia de Estocolmo em 1972 abrangendo o debate natildeo soacute sobre meio ambiente mas estendendo-o a reflexotildees acerca da pobreza produ-ccedilatildeo habitacional sauacutede democracia e direitos humanos Interessante destacar que a proacutepria ideia de sustentabilidade jaacute trazia nuances da importacircncia de se considerar o conhecimento tradicional e as diferenccedilas culturais e territoriais como um imperativo eacutetico para cidades melhores (PELICIONI e PHILIPI JR 2014)

O contexto brasileiro de concentraccedilatildeo espacial de empreendimentos indus-triais e a inexistecircncia de poliacuteticas urbanas integradas resultaram em um pro-cesso de urbanizaccedilatildeo desordenado e caoacutetico que excluiu sistematicamente a maioria da populaccedilatildeo do acesso a bens serviccedilos e direitos No bojo do processo de democratizaccedilatildeo do Brasil nos anos de 1980 iniciou-se um debate politizado sobre planejamento urbano e pelo o direito agrave cidade atraveacutes dos movimentos sociais de luta pela Reforma Urbana que findou em influenciar fortemente as propostas de formulaccedilatildeo de instrumentos urbaniacutesticos pautados pela neces-sidade de reconhecer e legalizar o acesso democraacutetico agrave terra urbanizada e a participaccedilatildeo popular no planejamento urbano Toda essa mobilizaccedilatildeo social contou com a participaccedilatildeo de movimentos populares associaccedilotildees profissio-nais grupos religiosos e pesquisadores e levou agrave reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo brasileira gerando a Emenda Popular da Reforma Urbana em 1988 e estabele-cendo uma nova concepccedilatildeo de planejamento integrado agrave gestatildeo

A partir desse novo repertoacuterio legal o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano-PDDU aparece como principal instrumento da poliacutetica urbana muni-

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cipal e pode ser entendido como um pacto entre o poder puacuteblico municipal e a sociedade composto por regramentos e princiacutepios que devem orientar o crescimento do espaccedilo urbano preferencialmente sustentaacutevel A Lei Federal 102572001 conhecida como Estatuto da Cidade que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 eacute vital para o PDDU Isto porque a partir do Estatuto da Cidade a poliacutetica urbana brasileira foi regulamentada e um rol de instrumentos juriacutedicos que reconhecem como fundamentais o direito agrave cidade e agrave funccedilatildeo social da propriedade urbana foram criados resguardando a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo e associaccedilotildees representativas dos diversos seg-mentos sociais no processo de elaboraccedilatildeo votaccedilatildeo implementaccedilatildeo e gestatildeo do Plano

Aracaju capital do Estado de Sergipe tem uma populaccedilatildeo de 552365 ha-bitantes segundo o Censo de 2010 eacute considerada uma cidade de meacutedio porte De acordo com os estudos de Machado (2012 p 170) a capital em destaque concentra ldquo2712 da populaccedilatildeo total do Estado de Sergipe que eacute de 2036277 habitantes representa o domiacutenio econocircmico e cultural do estado e nenhuma outra cidade chega a interferir nesse domiacuteniordquo Entatildeo por centralizar este papel Aracaju eacute a sede da Regiatildeo Metropolitana que eacute composta pelos Municiacutepios de Satildeo Cristoacutevatildeo Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros

O espaccedilo urbano de Aracaju seguindo os estudos do autor supracitado ldquoapresenta vaacuterios exemplos de problemas semelhantes aos das demais regi-otildees metropolitanas do Brasil tais como alta concentraccedilatildeo populacional deacutefi-cit habitacional alta valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria segregaccedilatildeo socioespacial grande concentraccedilatildeo de automoacuteveis poluiccedilatildeo sonora e de fuligem pouca arborizaccedilatildeo crescente iacutendice de violecircncia urbana dentre outrosrdquo (MACHADO 2012 p170) No sentido de tentar sanar os problemas urbanos decorrentes dos fatores aci-ma descritos o municiacutepio conta com um PDDU desde 2000 O instrumento foi revisado em 2005 e 2015 e natildeo passaram de Projetos de Lei que foram engave-tados pelas administraccedilotildees municipais

Como a maioria das cidades brasileiras AracajuSE se constituiu a partir de importantes mecanismos de reproduccedilatildeo e acumulaccedilatildeo do capital e isso se tor-na muito claro ao se observar a segregaccedilatildeo socioespacial e o proacuteprio regramen-to de uso e ocupaccedilatildeo do solo urbano que eacute conduzido pelo capital imobiliaacuterio (muitas vezes legitimado por instrumentos do planejamento urbano) A cha-mada zona de expansatildeo de Aracaju aacuterea de grande vislumbre da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria percebe-se bem esse quadro A partir de meados da deacutecada de 1980 a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria atingiu a localidade quando parte dos vazios

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urbanos e propriedades rurais datildeo lugar aos condomiacutenios fechados A chegada dessa nova tipologia residencial proveacutem da demanda por isolamento o que eacute necessaacuterio para que uma aacuterea seja passiacutevel de apropriaccedilatildeo pelos iguais preser-vando assim o sentido de exclusividade entre muros e cercas privilegiando o sentido de maacutexima seguranccedila e homogeneidade social (CALDEIRA 2000)

Considerando a falta de conexatildeo entre planejamento e gestatildeo urbana aqui exemplificada pela problemaacutetica da zona de expansatildeo de AracajuSE eacute que este trabalho pretende selecionar indicadores de sustentabilidade como uma ferramenta de apoio ao planejamento e gestatildeo urbanos dessa aacuterea acenando--se com isso para a necessidade de uma contiacutenua reflexatildeo criacutetica sobre integrar instrumentos de planejamento e gestatildeo como o PDDU agrave maximizaccedilatildeo da qua-lidade de infraestrutura e serviccedilos urbanos que efetivamente possam trazer melhores condiccedilotildees de vida aos cidadatildeos

Destarte aliados agraves consideraccedilotildees supramencionadas a acessibilidade agraves informaccedilotildees sobre a cidade tem se tornado uma ferramenta cada vez mais ne-cessaacuteria e essencial para o processo de integraccedilatildeo entre planejamento e ges-tatildeo de poliacuteticas puacuteblicas bem como para o controle social Conforme destaca KOGA (2002) sem informaccedilotildees da realidade natildeo se elaboram diagnoacutesticos efe-tivos natildeo se criam paracircmetros avaliativos natildeo se constroem indicadores natildeo se traz agrave tona a complexidade das condiccedilotildees de vida dos moradores Para tanto este artigo pretende contextualizar trecircs accedilotildees da sociedade civil organizada a partir das reivindicaccedilotildees de melhoria do Foacuterum de Defesa da Grande Aracaju (FDGA) relativas agrave zona de expansatildeo deste municiacutepio Esta entidade foi criada em 2009 por um grupo de moradores e associaccedilotildees atuantes da aacuterea em de-correcircncia da necessidade de incentivar a populaccedilatildeo local a pensar a cidade em suas diferentes formas e conflitos

1 PLANEJAMENTO ZONEAMENTO AMBIENTAL E INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE TECENDO PONTOS EM COMUM

Com a perspectiva de realizar um planejamento territorial eacute importante ter a percepccedilatildeo do municiacutepio como parte de um conjunto integrado e conforme aponta Freitas e Neto (2011) ldquodeve-se considerar todos seus aspectos correla-cionados ou seja necessidade de desenvolvimento econocircmico acesso agraves in-fraestruturas urbanas preservaccedilatildeo dos recursos socioambientaisrdquo Essa visatildeo integradora do planejamento territorial deve buscar transformar as paisagens

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das nossas cidades que satildeo marcadas por crescentes ocupaccedilotildees irregulares que refletem a segregaccedilatildeo socioespacial e a concentraccedilatildeo de renda

Por isso o ordenamento ambiental deve ser mateacuteria comumente tratada nos PDDUs atraveacutes do Coacutedigo Municipal de Meio Ambiente ou em outro instru-mento especiacutefico entendendo que as poliacuteticas ambientais devem atravessar as poliacuteticas de desenvolvimento urbano-territorial Para tanto trata-se de elaborar proposiccedilotildees e diretrizes para a implantaccedilatildeo de medidas que garantam a sa-dia qualidade de vida que devem inclusive pautar e influenciar as decisotildees de cunho econocircmico e financeiro de forma que os sistemas naturais sejam inte-grados agraves poliacuteticas urbanas sem ameaccedilas de degradaccedilatildeo Assim o zoneamento ambiental eacute um instrumento do planejamento ambiental que se propotildee ao controle legal da distribuiccedilatildeo dos usos dos recursos ambientais com ressalvas aos limites de exploraccedilatildeo de tais recursos

No Brasil principalmente nas grandes cidades os problemas causados pelo aumento da populaccedilatildeo urbana associa a imagem das cidades brasileiras agrave violecircncia agrave poluiccedilatildeo ao traacutefego caoacutetico agraves enchentes agrave desigualdade social dentre outros fatores (MARICATO 2000 apud Barros 2017 p 75) Eacute um cenaacuterio propiacutecio por outro lado a expressatildeo de reivindicaccedilotildees populares por melhores condiccedilotildees de vida nas cidades Em muitos casos conforme pontuam Myrian Del Vecchio de Lima e Cynthia Roncaglio o alcance das mobilizaccedilotildees sociais e a formaccedilatildeo de muitas Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais podem ser associados ldquoem termos de uma recuperaccedilatildeo da importacircncia e existecircncia de uma esfera puacute-blica nos termos explicitados por Arendt como o espaccedilo moralmente legiacutetimo da liberdade e da accedilatildeo poliacuteticardquo (LIMA e RONCAGLIO 2001 p 59)

Um conceito que aparece natildeo raro nessas movimentaccedilotildees e que estaacute di-retamente ligado ao debate da cidadania no Brasil eacute o de sustentabilidade no ambiente urbano ou sustentabilidade urbana Com efeito de acordo com Henri Acselrad sustentabilidade urbana eacute compreendida como a capacidade das po-liacuteticas urbanas se adaptarem agrave oferta de serviccedilos agrave qualidade e agrave quantidade das demandas sociais buscando o equiliacutebrio entre as demandas de serviccedilos urbanos e investimentos em estrutura (ACSELRAD 1999)

Com efeito apesar de certa visatildeo desanimadora compartilhada pelos estu-diosos dos problemas ambientais urbanos no que diz respeito agrave sustentabili-dade urbana a partir dos anos 1990 quando ldquoo ambiente urbano existente isto eacute resultante da gestatildeo da crise socioeconocircmica dos anos 1970-80 se impotildee como problema insuperaacutevel e natildeo mais como espaccedilo para uma soluccedilatildeordquo (LIMA

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e RONCAGLIO 2001 p 62) a mobilizaccedilatildeo em torno de um projeto coletivo sus-tentaacutevel nas cidades ganhou forccedila nas deacutecadas seguintes

Em termos conceituais indicador compreende uma ferramenta de mensu-raccedilatildeo de dados quantitativa ou qualitativa que orienta a tomada de decisatildeo Isto porque o seu uso permite o mapeamento de cenaacuterios futuros possibili-tando a geraccedilatildeo de informaccedilatildeo necessaacuteria ao planejamento e gestatildeo sobre de-terminado tema atividade ou processo Santos (2004 p58) elucida que ldquoTodo planejamento que visa definir poliacuteticas e decidir alternativas requer o conhe-cimento que forma o espaccedilo Para tanto eacute essencial obter dados representati-vos da realidade bem formulaacuteveis e interpretaacuteveisrdquo Desse modo o indicador eacute construiacutedo a partir de dados estabelecidos por meio de paracircmetros ou variaacuteveis que proporcionam a interpretaccedilatildeo e consequentemente a informaccedilatildeo sobre determinado meio em uma escala de espaccedilo e tempo especiacuteficos

A ideia de sustentabilidade seguindo as trilhas de ACSELRAD (1999) remete antes agrave loacutegica das praacuteticas que a um campo do conhecimento cientiacutefico Se-gundo o mesmo autor a sustentabilidade aplicada ao espaccedilo da cidade tem disparado uma serie de significados para a gestatildeo do espaco urbano ldquodesde a administraccedilatildeo de riscos e incertezas ao incremento da ldquoresiliecircnciardquo ndash a capacida-de adaptativa ndash das estruturas urbanasrdquo (Acselrad 1999 p 79)

Assim a aplicaccedilatildeo da ferramenta de indicadores de sustentabilidade vem a contribuir nos estudos relativos ao desenvolvimento sustentaacutevel agrave medida que possibilita analisar a evoluccedilatildeo de um processo propiciando um sentido claro sobre o seu passado assim como enseja ideias futuras (WINOGRAD 1996) Esse prognoacutestico torna-se prioritaacuterio nos estudos de impactos ambientais pois via-biliza sua identificaccedilatildeo e o seu monitoramento e dessa maneira oportuniza a melhor tomada de decisatildeo em vista da sustentabilidade isso porque ldquo o proces-so de busca de um desenvolvimento sustentaacutevel exige proatividade visatildeo de longo prazo e acompanhamento dos resultados das decisotildees tomadas e accedilotildees implementadasrdquo (GUIMARAtildeES e FEICHAS 2009 p309)

Desse modo o uso de indicadores de sustentabilidade ocorre como forma de monitoramento da qualidade ambiental e na consolidaccedilatildeo de espaccedilos urba-nos mais saudaacuteveis Decerto trazer sua aplicaccedilatildeo para o planejamento urbano favorece natildeo soacute a qualidade ambiental mas tambeacutem a qualidade de vida da po-pulaccedilatildeo e o monitoramento do uso e ocupaccedilatildeo do solo Diante dos problemas gerados pela especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e consequentemente pelo adensamento populacional e a degradaccedilatildeo ambiental faz-se necessaacuterio estabelecer meacutetodos de acompanhamento que propiciem a geraccedilatildeo de informaccedilatildeo sobre essa pro-

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blemaacutetica Busca-se dessa forma apoiar os processos decisoacuterios dos gestores e das organizaccedilotildees bem como subsidiar o monitoramento das accedilotildees por parte da sociedade civil e da opiniatildeo puacuteblica

De acordo com Lira e Cacircndido (2008) destacam-se quatro tipos de estu-dos sobre indicadores que apoiam a avaliaccedilatildeo da sustentabilidade sendo eles OECD - Organization for Economic Cooperation And Development (1998) DPCSD - Department for Policy Coordination and Sustainable Development (1999) IISD - The International Institute for Sustainable Development (1999) e IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2002) A proposta da OCDE corresponde ao modelo Pressatildeo ndash Estado ndash Resposta (PER) que se pauta no conceito de cau-salidade de forma que as atividades humanas ao exercerem pressatildeo sobre o meio ambiente alteram o seu estado Jaacute o modelo da DPCSD eacute expresso pela matriz Forccedila Motriz ndash Estado - Resposta na qual a forccedila motriz agrega indicado-res econocircmicos sociais e institucionais descrevendo as atividades humanas processos e padrotildees sobre o desenvolvimento sustentaacutevel Elaborado pela IISD o Painel de Sustentabilidade eacute adotado por 230 paiacuteses sendo considerado o principal indicador de sustentabilidade pela ONU constitui uma ferramenta que envolve quatro dimensotildees de sustentabilidade (natureza social econocircmi-co e institucional) as quais satildeo agregados outros indicadores Por fim o Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash IDS Brasil estruturado pelo IBGE possui atualmente 57 indicadores de abrangecircncia regional que correspondem agrave ade-quaccedilatildeo do modelo PER para as diretrizes da Agenda 21 brasileira no entanto adaptado agraves particularidades do Brasil

2 AacuteREA DE ESTUDO

De acordo com Franccedila e Rezende (2010) a zona de expansatildeo de Aracaju corresponde a cerca de 40 do territoacuterio municipal e caracteriza-se por uma crescente expansatildeo imobiliaacuteria resultante da sua proximidade com a praia pela existecircncia de grandes aacutereas de terras nas matildeos de poucos proprietaacuterios bem como pelas poliacuteticas governamentais de incentivo agrave construccedilatildeo imobili-aacuteria (Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento ndash PAC Minha Casa Minha Vida dentre outros) De acordo com o uacuteltimo censo do IBGE (2010) houve um acreacutes-cimo de 9776 da populaccedilatildeo na zona de expansatildeo enquanto no municiacutepio de Aracaju foi de apenas de 1244 Na localidade ainda segundo as autoras registram-se atividades de pesca colheita do coco-da-baiacutea cultivo sobretudo com a existecircncia de propriedades cocoicultoras e serviccedilos domeacutesticos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 281

A concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em subcentros regionais e centros de zonas a urbanizaccedilatildeo acelerada aleacutem da falta de integraccedilatildeo entre planejamento e ges-tatildeo eficiente do uso e controle do solo impactam negativamente a aacuterea Essas caracteriacutestica acarretam problemas de ordem ambiental e socioeconocircmica como a ocupaccedilatildeo de forma irregular pelos setores populacionais de baixa ren-da em aacutereas de risco aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com risco de enchentes como beiras de coacuterregos mangues e vaacuterzeas inundaacuteveis bem como aacutereas com ecossistemas fraacutegeis como manguezais e matas ciliares Este quadro se con-figura em razatildeo da exclusatildeo desses setores do mercado imobiliaacuterio formal e atualmente enquadra-se como uma das principais ameaccedilas agrave sustentabilidade

3 METODOLOGIA

Essa pesquisa foi do tipo descritiva sendo a coleta de dados realizada por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental mais especificamente pelas accedilotildees civis puacuteblicas referentes agrave zona de expansatildeo de AracajuSE Aleacutem disso foram utilizados artigos cientiacuteficos sobre a temaacutetica bem como entrevista natildeo-estru-turada com um membro dirigente do FDGA1

Para seleccedilatildeo de descritores e indicadores direcionados agrave sustentabilidade urbana foi utilizada a metodologia proposta por Winograd (1996) de Pressatildeo - Estadondash Resposta ndash Prospectivos em que a pressatildeo corresponde agraves causas dos problemas ambientais ocasionadas pela atividade humana o estado compre-ende a qualidade em que se encontra o meio ambiente a resposta equivale agraves medidas tomadas pela sociedade para melhoria do meio ambiente e por fim o progresso representa as accedilotildees visando o desenvolvimento sustentaacutevel (limita-ccedilotildees e oportunidades apreendidas) Essa metodologia eacute uma adaptaccedilatildeo feita pelas autoras ao modelo OECD adicionando agrave matriz accedilotildees de prospectivos

Este modelo seraacute adaptado aos problemas ambientais urbanos da zona de expansatildeo de AracajuSE que resultaram em accedilotildees civis puacuteblicas provenientes tanto de denuacutencias do Ministeacuterio Puacuteblico quanto da sociedade civil

1 O Foacuterum de Defesa da Grande Aracaju-FDGA compreende um espaccedilo de debate sobre a cidade de Aracaju e aacuterea metropolitana sendo composto por profissionais liberais funcionaacuterios puacuteblicos lideranccedilas locais associaccedilotildees de bairro entre outros

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4 RESULTADOS

Observou-se dessa maneira que os problemas ambientais ocasionados na zona de expansatildeo de Aracaju ocorrem pela carecircncia eou natildeo integraccedilatildeo entre planejamento e gestatildeo urbana As accedilotildees civis puacuteblicas acionadas pelo Ministeacute-rio Puacuteblico Federal e Estadual tornaram-se medidas de ajustes em funccedilatildeo do crescimento urbano desordenado como por exemplo a accedilatildeo que dispotildee sobre a proibiccedilatildeo de novas construccedilotildees imobiliaacuterias na zona de expansatildeo ateacute a reso-luccedilatildeo do problema de drenagem e saneamento que geram poluiccedilatildeo e desequi-liacutebrio ambiental na localidade Diante disso novos empreendimentos precisam de autorizaccedilatildeo judicial para iniciar suas construccedilotildees devido agrave necessidade de controle dos impactos ambientais gerados

Um segundo exemplo dos ajustes a partir das accedilotildees eacute a relativa aos proble-mas de poluiccedilatildeo ocasionados pela existecircncia de dez cemiteacuterios clandestinos na aacuterea gerando inclusive contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico por necrochoru-me Aleacutem disso verificou-se que a populaccedilatildeo natildeo dispotildee de covas suficientes para atender a demanda de oacutebitos da regiatildeo Uma terceira accedilatildeo civil referiu-se agrave disputa judicial entre Aracaju e Satildeo Cristoacutevatildeo municiacutepio circunvizinho sobre a arrecadaccedilatildeo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Como a delimitaccedilatildeo das fronteiras entre os dois municiacutepios ainda se encontra indefinida a arreca-daccedilatildeo do IPTU estaacute suspensa o que resulta na diminuiccedilatildeo de renda disponiacutevel para investimento em infraestrutura na localidade por parte dos gestores

Essas accedilotildees civis demonstraram aspectos de fragilidade do planejamento urbano na zona de expansatildeo de AracajuSE que natildeo tem sido aplicado de for-ma integrada com as questotildees ambientais por natildeo contar com instrumentos de gestatildeo eficientes os quais ainda se encontram em fase de revisatildeo junto ao PDDU e elaboraccedilatildeo do Plano de Saneamento Baacutesico A aacuterea de estudo obteve um crescimento imobiliaacuterio desordenado e intenso na uacuteltima deacutecada desse modo a seleccedilatildeo dos indicadores nessa pesquisa visa apoiar a gestatildeo urbana da zona de expansatildeo tendo como foco cinco problemas socioambientais iden-tificados e que serviram de descritores (temas) para seleccedilatildeo dos indicadores sendo eles i) expansatildeo imobiliaacuteria ii) saneamento iii) ocupaccedilatildeo irregular iv) cemiteacuterios clandestinos e v) a disputa sobre o limite territorial entre os muni-ciacutepios de Aracaju e Satildeo Cristovatildeo para arrecadaccedilatildeo de IPTU Ao final a matriz foi composta por trinta e dois indicadores que podem apoiar o planejamento

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e a gestatildeo urbana da zona de expansatildeo de Aracaju promovendo assim maior sustentabilidade da regiatildeo

Quadro 01 - Matriz de indicadores de sustentabilidade para gestatildeo ambiental-urbana da zona de expansatildeo de AracajuSE

PRESSAtildeO ESTADO RESPOSTA PROSPECTIVODegradaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo per-manente (manguezal dunas lagoas)(haano)

Aterramento de recur-sos hiacutedricos e demoli-ccedilatildeo de dunas (haano)

Accedilatildeo civil ndeg 20098500002637-9 sobre liberaccedilatildeo de no-vos empreendimentos

Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento am-biental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para no-vos empreendimentos residenciais(ndeg licenccedilasano)

Construccedilatildeo de novos condomiacutenios residen-ciais(ndegano)

Adensamento popula-cional(habKmsup2)

Execuccedilatildeo e monito-ramento do Plano Diretor de Desenvolvi-mento Urbano de Ara-caju (revisatildeodez em dez anos)

Estabelecimento de Zonas Especiais de In-teresse Social- ZEIS( de cumprimento da norma das zonasano)

Especulaccedilatildeo imobiliaacute-ria(aumento valor imoacute-velano)

Processo de gentrifi-caccedilatildeo (ndeg lotes na periferiaano)

Participaccedilatildeo popular em debates e audiecircn-cias puacuteblicas sugerin-do a incorporaccedilatildeo de instrumentos de de-mocratizaccedilatildeo da terra urbanizada (ndeg participantes reu-niatildeo)

Condicionante prove-niente do processo de licenciamento ambien-tal para realizaccedilatildeo de programa de geraccedilatildeo de renda local direcio-nado agraves famiacutelias que vivem de cultivos agriacute-colas(ndeg condicionantes ano)

Diminuiccedilatildeo de empre-go rural(ndeg empregos ruraisano)

Venda de propriedade cocoicultoras para as construtoras e desem-prego(ndeg vendasano)(ndeg desemprego famiacute-lias ruraisano)

Execuccedilatildeo e monito-ramento do Plano de Saneamento Baacutesico de Aracaju

Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento am-biental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para no-vos empreendimentos hoteleiros(ndeg licenccedilasano)

Turismo hoteleiro(ndeg hoteacuteisano)

Inundaccedilotildees em periacuteo-dos pluviais(metrossup2ano)

Decreto-Lei ndeg 3438 de 17 de julho de 1941 e que dispotildee sobre ter-renos de marinha

Investimento em in-fraestrutura de sanea-mento(R$ano)

Poluiccedilatildeo de efluentes(faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos em vias puacutebli-cas(metrossup2 acumuladosemana)

Accedilatildeo civil ndeg 20061120143-9 sobre cemiteacuterios clandesti-nos

Construccedilatildeo e licencia-mento ambiental para cemiteacuterio que atenda a populaccedilatildeo local e a legislaccedilatildeo ( de condicionantes da licenccedila atendidaano)

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PRESSAtildeO ESTADO RESPOSTA PROSPECTIVOInstalaccedilatildeo de bares e quiosques na orla TECARMO e Praia do Sarney(ndeg instalaccedilotildeesano)

Doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica(ndeg mortesano)

Accedilatildeo civil ndeg RE 614384 (STF)RE 1513456SE (STJ)

Monitoramento da aacutegua em poccedilos arte-sianos(faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)

Covas irregulares em cemiteacuterios clandesti-nos(ndeg covas cemiteacuterio)

Poluiccedilatildeo marinha(faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)Contaminaccedilatildeo de len-ccedilol freaacutetico pelo necro-chorume (faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)

Conflito intermunicipal sobre arrecadaccedilatildeo de impostos (IPTU)(R$ano)

Fonte autores com base na metodologia de Winograd (2006) e dados fornecidos pelo FDGA

41 INDICADORES DE PRESSAtildeO

bull Degradaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo permanente (manguezal dunas lagoas) (haano)Na cidade de Aracaju manguezais dunas e lagoas satildeo degradados para a construccedilatildeo de empreendimentos imobiliaacuterios Assim o indicador ldquoDegra-daccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo permanenterdquo (haano) visa monitorar os danos causados em aacuterea legalmente protegidas da zona de expansatildeo

bull Construccedilatildeo de novos condomiacutenios residenciais (ndegano) O monitoramento da construccedilatildeo de novos condomiacutenios residenciais da zona de expansatildeo permite acompanhar o crescimento urbano da regiatildeo e com isso nortear anaacutelises sobre os impactos por eles gerados

bull Especulaccedilatildeo imobiliaacuteria (aumento valor imoacutevelano)A especulaccedilatildeo imobiliaacuteria prejudica a permanecircncia dos moradores lo-cais na zona de expansatildeo jaacute que natildeo possuem poder aquisitivo para residir nos novos empreendimentos construiacutedos Assim sendo o indica-

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dor ldquoEspeculaccedilatildeo imobiliaacuteriardquo (aumento valor imoacutevelano) possibilita o monitoramento do aumento do valor do imoacutevel da regiatildeo anualmente

bull Diminuiccedilatildeo de emprego rural (ndeg empregos ruraisano)Com a venda desses terrenos para construtoras imobiliaacuterias haacute uma di-minuiccedilatildeo do nuacutemero de empregos aos moradores rurais e com isso a geraccedilatildeo de renda local eacute prejudicada Esse indicador ajuda no controle do nuacutemero de empregos rurais que existem na localidade em funccedilatildeo da existecircncia de propriedades de cultivo agriacutecola

bull Turismo hoteleiro (ndeg hoteacuteisano)O monitoramente das construccedilotildees com fins turiacutesticos como hoteacuteis e re-sortes viabiliza o controle dos impactos gerados por essas construccedilotildees sobre os recursos naturais da localidade

bull Poluiccedilatildeo de efluentes (iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)Em funccedilatildeo do aumento das construccedilotildees imobiliaacuterias houve uma inten-sificaccedilatildeo da poluiccedilatildeo dos recursos hiacutedricos da regiatildeo Desse modo esse indicador permite acompanhar o grau de poluiccedilatildeo dos efluentes da zona de expansatildeo

bull Instalaccedilatildeo de bares e quiosques na orla TECARMO e Praia do Sarney (ndeg instalaccedilotildeesano) O funcionamento desses estabelecimentos em proximidade ao mar geralmente ocasiona maior depoacutesito de rejeitos nas aacuteguas marinhas Desse modo o acompanhamento do nuacutemero de barres em terreno de marinha atraveacutes desse indicador permite verificar o niacutevel de poluiccedilatildeo das praias da localidade

bull Covas irregulares em cemiteacuterios clandestinos (ndeg covas cemiteacuterio)A falta de cemiteacuterios licenciados leva agrave populaccedilatildeo a utilizar covas irre-gulares na regiatildeo pois natildeo possuem condiccedilotildees de deslocamento para outros cemiteacuterios disponiacuteveis na cidade

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42 INDICADORES DE ESTADO

bull Aterramento de recursos hiacutedricos e demoliccedilatildeo de dunas (haano)Em funccedilatildeo das construccedilotildees imobiliaacuterias realizadas sem o devido con-trole dos impactos ambientais haacute uma intensificaccedilatildeo dos processos de aterramento de recursos hiacutedricos e demoliccedilatildeo de dunas Esse indicador vem a proporcionar o monitoramento da degradaccedilatildeo desses recursos naturais

bull Adensamento populacional (habKmsup2)Pelo fato do PDDU de AracajuSE ainda encontrar-se em fase de revisatildeo esse indicador viabiliza o acompanhamento do crescimento urbano da zona de expansatildeo apoiando dessa maneira o monitoramento do adensamento populacional da regiatildeo

bull Processo de gentrificaccedilatildeo (ndeg lotes na periferiaano)Em funccedilatildeo dos novos empreendimentos imobiliaacuterios da zona de expan-satildeo serem direcionados para populaccedilatildeo de alta renda esse indicador permitiraacute o acompanhamento da expulsatildeo dos moradores mais antigos da aacuterea para a periferia jaacute que natildeo possuem poder aquisitivo para residir nos novos empreendimentos a partir do enobrecimento da aacuterea

bull Venda de propriedade cocoicultoras para as construtoras (ndeg vendasano) Com o aumento das construccedilotildees imobiliaacuterias na zona de expansatildeo proprietaacuterios de terras cocoicultores venderam suas propriedades para novos projetos residenciais gerando o desemprego das famiacutelias que trabalham na colheita do coco Esse indicador permite verificar a dimi-nuiccedilatildeo de propriedades rurais de cultivo na regiatildeo na tentativa de sub-sidiar anaacutelises sobre a geraccedilatildeo de renda local

bull Inundaccedilotildees em periacuteodos pluviais (metrossup2ano)Devido agrave falta de drenagem na regiatildeo ocorrem em periacuteodo fluviais inundaccedilotildees na localidade Em funccedilatildeo das novas construccedilotildees essa situ-accedilatildeo se agravou ainda mais Assim sendo esse indicador monitora as inundaccedilotildees ocorridas durante o ano para assim acompanhar os impac-tos gerados pela falta de drenagem na regiatildeo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 287

bull Disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos em vias puacuteblicas (metrossup2 acumuladosemana)O depoacutesito de resiacuteduos proporciona o aumento de inundaccedilotildees princi-palmente pela falta de drenagem no local esse indicador permitiraacute o monitoramento do acuacutemulo de resiacuteduos soacutelidos nas vias puacuteblicas

bull Doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (ndeg mortes por dengue na regiatildeoano)As inundaccedilotildees acabam permitindo o acuacutemulo de aacutegua e com isso as doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica acabam aumentando como a dengue por exemplo O objetivo desse indicador eacute monitorar o aumento de do-enccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica na regiatildeo visando acompanhar os impactos ocasionados pelas inundaccedilotildees

bull Poluiccedilatildeo marinha (iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)A instalaccedilatildeo do barres na orla ocasionam maior poluiccedilatildeo dos efluentes marinho em funccedilatildeo do despejo de dejetos no mar Desse modo esse indicador visa monitorar a qualidade da aacutegua das praias da zona de ex-pansatildeo para assim acompanhar os impactos ocasionados pelos bares

bull Contaminaccedilatildeo de lenccedilol freaacutetico pelo necrochorume (iacutendice de quali-dade da aacutegua ndash IQA)O niacutevel de poluiccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico da zona de expansatildeo aumentou principalmente por causa da contaminaccedilatildeo ocasionada pelo necrocho-rume proveniente das covas irregulares dos cemiteacuterios clandestinos Desse modo esse indicador proporciona o controle da qualidade da aacutegua do lenccedilol freaacutetico da zona de expansatildeo

bull Conflito intermunicipal sobre arrecadaccedilatildeo de impostos (IPTU) (R$ano)A disputa judicial em relaccedilatildeo agrave fronteira entre os municiacutepios de Aracaju e Satildeo Cristovatildeo influencia na arrecadaccedilatildeo direta do IPTU com isso haacute uma diminuiccedilatildeo do investimento em infraestrutura na zona de expan-satildeo que compreende a aacuterea central dessa disputa

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43 INDICADORES DE RESPOSTA

bull Accedilatildeo civil ndeg 20098500002637-9 Essa accedilatildeo civil proiacutebe novos licenciamentos ambientais na zona de ex-pansatildeo ateacute que a resoluccedilatildeo judicial sobre a drenagem e o saneamento da regiatildeo seja proferida Isto porque a ocupaccedilatildeo desordenada propicia desequiliacutebrio ambiental na localidade

bull Execuccedilatildeo e monitoramento do PDDU (revisatildeo dez em dez anos)Ainda em fase de revisatildeo o PDDU serviraacute como instrumento de plane-jamento e gestatildeo ambiental-urbana de Aracaju pois deve preconizar o direito agrave cidade o cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade a justa distribuiccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos da infraestrutura e dos equipa-mentos urbanos a ordenaccedilatildeo do uso e ocupaccedilatildeo do solo e da produccedilatildeo do espaccedilo urbano inclusive das aacutereas de expansatildeo e a preservaccedilatildeo do patrimocircnio ambiental e cultural (SERGIPE 2015) A implementaccedilatildeo e monitoramento do crescimento urbano da zona de expansatildeo poderatildeo proporcionar uma melhor gestatildeo ambiental-urbana da localidade em vista de melhor preservaccedilatildeo ambiental e qualidade de vida da popu-laccedilatildeo

bull Participaccedilatildeo popular em debates e audiecircncias puacuteblicas sugerindo a in-corporaccedilatildeo de instrumentos de democratizaccedilatildeo da terra urbanizada (ndeg participantes reuniatildeo)Esse indicador dimensiona a participaccedilatildeo popular na discussatildeo sobre as questotildees ambientais-urbana permitindo a constante cobranccedila dos direitos dos cidadatildeos sobre a terra urbanizada

bull Execuccedilatildeo e monitoramento do Plano de Saneamento Baacutesico de AracajuO Plano de Saneamento Baacutesico de Aracaju ainda encontra-se em execu-ccedilatildeo Esse instrumento seraacute fundamental para o desenvolvimento urba-no ordenado da regiatildeo pois permitiraacute a coleta e tratamento do esgoto domeacutestico antes de sua devoluccedilatildeo ao meio ambiente Pelo fato da zona de expansatildeo possuir lagoas e mar a drenagem torna-se essencial para frear a poluiccedilatildeo resultante tanto do despejo de esgoto domeacutestico dire-to nos corpos drsquoaacutegua quanto da contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico por fossas irregulares

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bull Decreto-Lei ndeg 3438 de 17 de julho de 1941 e que dispotildee sobre terrenos de marinhaEsse decreto-lei regulamenta as instalaccedilotildees em proximidade ao mar incluindo as atividades de fiscalizaccedilatildeo dos oacutergatildeos competentes sobre esses terrenos Favorece o controle sobre a poluiccedilatildeo de efluentes e construccedilotildees desordenadas muito proacuteximas ao mar

bull Accedilatildeo civil ndeg 20061120143-9Essa accedilatildeo civil solicita a interdiccedilatildeo de dez cemiteacuterios clandestinos situa-dos na zona de expansatildeo de Aracaju assim como requer da prefeitura a construccedilatildeo de um cemiteacuterio que atenda aos requisitos de licenciamen-to ambiental e a demanda de oacutebitos local

bull Accedilatildeo civil ndeg RE 614384 (STF) RE 1513456SE (STJ)Nessa accedilatildeo civil o municiacutepio de Aracaju pleiteia o direito de efetuar a execuccedilatildeo do IPTU sobre o povoado do Mosqueiro que pertence agrave zona de expansatildeo o qual foi requerido pelo municiacutepio de Satildeo Cristovatildeo quanto agrave sua pertenccedila alegando que o referido povoado teria sido des-membrado apenas temporariamente pela capital

44 INDICADORES DE PROSPECTIVOS

bull Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento ambiental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para novos empreendimentos residenciais (ndeg licenccedilasano)Esse indicador permitiraacute o acompanhamento das licenccedilas ambientais e com isso o efetivo controle dos impactos ambientais para novas cons-truccedilotildees imobiliaacuterias

bull Estabelecimento de Zonas Especiais de Interesse Social- ZEISZEIS satildeo aacutereas da cidade que ficam destinadas a abrigar moradias po-pulares conforme orientaccedilatildeo do Plano Diretor de Desenvolvimento Ur-bano A ZEIS contribuem para reservar terrenos ou preacutedios vazios para a moradia popular e facilitar a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria Este indicador incentivaraacute que aacutereas dotadas de infraestrutura urbana sejam ocupadas pela populaccedilatildeo de baixa renda permitindo melhorias das condiccedilotildees de habitabilidade dessa faixa da populaccedilatildeo

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bull Condicionante proveniente do processo de licenciamento ambiental para realizaccedilatildeo de programa de geraccedilatildeo de renda local direcionado agraves famiacutelias que vivem do cultivo (ndeg condicionantes ano)Esse indicador permitiraacute novas formas de geraccedilatildeo de renda para famiacute-lias rurais locais que ficam desempregadas pela venda das proprieda-des de cultivo para construtoras imobiliaacuterias

bull Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento ambiental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para novos empreendimentos hoteleiros (ndeg licenccedilasano)O objetivo desse indicador eacute monitorar os impactos socioambientais ocasionados pelos empreendimentos hoteleiros desse modo o acom-panhamento das licenccedilas e suas condicionantes satildeo fundamentais nes-se processo

bull Investimento em infraestrutura de saneamento (R$ano)Esse indicador proporciona acompanhar os valores gastos em infraes-trutura de saneamento e com isso a resoluccedilatildeo do problema de drena-gem na zona de expansatildeo

bull Construccedilatildeo e licenciamento ambiental para cemiteacuterio que atenda agrave po-pulaccedilatildeo local e agrave legislaccedilatildeoEsse indicador viabiliza o encerramento das pendecircncias apontadas pela accedilatildeo civil puacuteblica ndeg 20061120143-9 que dispotildee sobre os dez cemiteacuterios clandestinos da zona de expansatildeo de AracajuSE Dentre os problemas gerados pela existecircncia de covas irregulares estatildeo a contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico por necrochorume e a necessidade do deslocamento da populaccedilatildeo para cemiteacuterios distantes da sua moradia mesmo sem ter condiccedilotildees financeiras para o deslocamento A construccedilatildeo de um cemi-teacuterio licenciado na regiatildeo torna-se essencial para preservaccedilatildeo ambien-tal da localidade

bull Monitoramento da aacutegua em poccedilos artesianos (iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)Esse indicador visa o monitoramento da qualidade da aacutegua que possa estar contaminada pelo necrochorume das covas irregulares estabele-cidas nos cemiteacuterios clandestinos

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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Eacute importante afirmar que houve avanccedilos significativos com a aprovaccedilatildeo do Estatuto da Cidade que eacute um reconhecimento legal da funccedilatildeo social da propriedade urbana oferecendo instrumentos juriacutedicos que possibilitam aos gestores puacuteblicos locais junto agrave populaccedilatildeo reverter o quadro de urbanizaccedilatildeo excludente das cidades brasileiras de grande e meacutedio portes Entretanto no caso de Aracaju observou-se que instrumentos preceituados no arcabouccedilo legal tais como o proacuteprio PDDU natildeo eacute aplicado pela administraccedilatildeo municipal conforme idealiza o EC

No entanto as uacuteltimas administraccedilotildees de Aracaju tecircm caminhado na con-tramatildeo dessas premissas o que demonstra que o direito agrave cidade estaacute muito distante de ser um princiacutepio para o Estado O uso dos indicadores de susten-tabilidade selecionados nesta pesquisa carrega o potencial de subsidiar o pla-nejamento e a gestatildeo urbana no sentido de contribuir para reverter a loacutegica conservadora evidenciada em Aracaju nas uacuteltimas deacutecadas Apesar de todos os problemas a cidade se constitui em um espaccedilo privilegiado para a construccedilatildeo de uma ordem social mais justa Em sua diversidade e multiplicidade assenta-se um potencial transformador a exemplo de entidades como o FDGA A passivi-dade e a cumplicidade do poder puacuteblico municipal perante o capital imobiliaacuterio perpetuam a ideia de que a cidade natildeo eacute construiacuteda para o bem comum Assim eacute necessaacuterio que o cidadatildeo assuma um papel proativo de reconhecimento da sua importacircncia para a construccedilatildeo de uma cidade melhor

A reflexatildeo sobre sustentabilidade urbana e cidadania torna possiacutevel com-preender que o entendimento da gestatildeo ambiental nas cidades sobretudo nas de grande porte precisa ser ampliada e aprofundada na busca de cami-nhos alternativos que valorizem os diversos saberes e experiecircncias urbanas E segundo Lima e Roncaglio (2001 p 61-62) natildeo haacute uma uacutenica trilha a per-correr ou um modelo de gestatildeo urbana a adotar o que a questatildeo socioam-biental mostra e os estudos sobre o ambiente urbano podem verificar ldquoeacute que os caminhos satildeo muacuteltiplos as formas de gestatildeo variadas porque haacute de se considerar frente aos problemas urbanos e agrave degradaccedilatildeo socioambiental a complexidade das realidades fiacutesica bioloacutegica e antropossociais que consti-tuem e produzem os espaccedilos urbanosrdquo

Resta considerar que a participaccedilatildeo social qualificada ativa e criacutetica em questotildees que dizem respeito agrave vida nas cidades representam a amaacutelgama que

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pode consolidar um reforccedilo agrave consciecircncia cidadatilde e que passa certamente pelas relaccedilotildees diaacuterias cotidianas e natildeo apenas pelos direitos reconhecidos na legislaccedilatildeo

REFEREcircNCIAS

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A CRISE DA CIEcircNCIA MODERNA E A CRIacuteTICA DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

Jonielton Oliveira DantasSuelane de Oliveira Silva DantasFabriacutecio Nicacio FerreiraEliane dos Santos da SilvaElenaldo Fonseca de Oliva Junior

1 INTRODUCcedilAtildeO

Que os esforccedilos empreendidos a partir do seacuteculo XVI para o avanccedilo da ciecircn-cia e da teacutecnica resultaram em uma melhoria para vida humana isso eacute inegaacutevel Basta considerarmos os avanccedilos da engenharia geneacutetica descobrindo a cura para inuacutemeras doenccedilas e problemas congecircnitos e da comunicaccedilatildeo que me-diante tecnologias avanccediladas de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo possibilitam uma maior integraccedilatildeo entre as pessoas ao redor do mundo soacute para ficar nestes dois exemplos Sendo assim por que se fala em crise da ciecircncia moderna Quais evidecircncias respaldam esta conjectura de crise do conhecimento cientiacutefico pro-duzido com base no paradigma moderno

As respostas para estas e outras questotildees vecircm sendo refletidas no acircmbito de uma aacuterea hiacutebrida entre ciecircncias histoacuteria psicologia sociologia e filosofia deno-minada epistemologia Portanto segundo Japiassu (1986) natildeo haacute uma definiccedilatildeo uacutenica do que eacute epistemologia mas podemos comeccedilar pelo significado etimo-loacutegico da palavra discurso (logos) sobre a ciecircncia (espisteme) De maneira geral podemos considerar a epistemologia como sendo ldquo[] o estudo metoacutedico e re-flexivo do saber de sua organizaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo de seu desenvolvimento de seu funcionamento e de seus produtos intelectuaisrdquo (JAPIASSU 1986 p 16) Grosso modo a epistemologia se debruccedila sobre como se faz ciecircncia e nesta em-preitada a filosofia e a histoacuteria satildeo fundamentais e interdependentes

As orientaccedilotildees epistemoloacutegicas contemporacircneas que emergem da criacutetica agraves posiccedilotildees da epistemologia empirista-indutivista desenvolvida por Bacon1

1 O filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) desenvolveu o ideal de boa ciecircncia baseado na concepccedilatildeo indutivista que fundamentou grande parte dos meacutetodos de anaacutelise e pesquisa na ciecircncia moderna

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tecircm contribuiacutedo com a reflexatildeo sobre a necessidade de questionar o concei-to de ciecircncia seus criteacuterios de objetividade e certeza a validade dos meacutetodos cientiacuteficos e reavaliar a relaccedilatildeo entre ciecircncia e realidade tendo em vista que a ciecircncia e a teacutecnica passaram a fazer parte da realidade imediata das pessoas

Assim o discurso das novas orientaccedilotildees epistemoloacutegicas suscita uma refle-xatildeo criacutetica acerca da produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico nos uacuteltimos seacuteculos cujo ponto de partida eacute o seacuteculo XVI por reunir caracteriacutesticas que denotam uma ruptura com outras formas de conhecimento (filosoacutefico religioso artiacutesti-co) promovendo em relaccedilatildeo ao passado uma Revoluccedilatildeo Cientiacutefica que passa a privilegiar do ponto de vista epistemoloacutegico e socioloacutegico o conhecimento cientiacutefico o que convencionou-se chamar de Ciecircncia Moderna (SANTOS 2004)

Pode dizer-se que desde sempre nenhuma outra forma de conhecimento privilegiado em um dado momento histoacuterico e em uma sociedade fora objeto de debate sobre sua natureza seus limites e contribuiccedilotildees para a sociedade Poreacutem o que diferencia o debate moderno sobre o conhecimento dos debates anteriores ldquo[] eacute o facto de a ciecircncia moderna ter assumido a sua inserccedilatildeo no mundo mais profundamente do que qualquer outra forma de conhecimento anterior ou contemporacircnea propocircs-se natildeo apenas compreender o mundo ou explica-lo mas tambeacutem transformaacute-lordquo (SANTOS 2004 p 18)

Nesta seara Boaventura de Sousa Santos2 vem desde os anos 90 contribuin-do a partir das anaacutelises proacuteprias de seu campo de estudo com o debate sobre o modelo e os meacutetodos de construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico moderno instigando a comunidade cientiacutefica a discutir sobre sua eficaacutecia na construccedilatildeo da realidade cotidiana das pessoas

2 Boaventura de Sousa Santos eacute socioacutelogo portuguecircs nascido em 15 de novembro de 1940 Eacute doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale (1973) nos Estados Unidos eacute Professor Catedraacutetico Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick Eacute tambeacutem diretor emeacuterito do Centro de Estudos Sociais e coordenador cientiacutefico do Observatoacuterio Permanente da Justiccedila Portuguesa ndash ambos da Universidade de Coim-bra Os seus temas de pesquisa situam-se no acircmbito da Epistemologia sociologia do direito teoria poacutes-colonial democracia interculturalidade globalizaccedilatildeo movimentos sociais direitos humanos Eacute internacionalmente reconhecido como um intelectual importante da aacuterea de ciecircncias sociais e tem especial popularidade no Brasil onde participou de trecircs ediccedilotildees do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre Entre os precircmios recebidos destacam-se Preacutemio Pen Club Portuguecircs 1994 (Ensaio) Preacutemio Bordalo da Imprensa - Ciecircncias 1997 Preacutemio JABUTI (Brasil) - Aacuterea de Ciecircncias Humanas e Educaccedilatildeo 2001 Preacutemio Euclides da Cunha da Uniatildeo Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro 2004 Preacutemio de Ensaio Ezequiel Martiacutenez Estrada 2006 da Casa de las Ameacutericas Cuba Gran-Cruz da Ordem do Meacuterito Cultural de 2009 atribuiacutedo pelo Governo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

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A anaacutelise epistemoloacutegica criacutetica que o socioacutelogo portuguecircs propotildee nos co-loca diante do contraditoacuterio da dificuldade de nos situarmos no tempo presen-te no campo do desenvolvimento das ciecircncias Para Santos (1987) se olharmos para o passado verificamos por um lado que o progresso cientiacutefico dos uacuteltimos quarenta anos eacute de tal ordem fabuloso que os seacuteculos que nos precederam natildeo satildeo mais do que uma preacute-histoacuteria longiacutenqua por outro lado verificamos que o campo teoacuterico que nos movemos ainda hoje foram estabelecidos por cien-tistas que trabalharam e viveram entre o seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XX de Smith e Ricardo a Lavoisier e Darwin de Marx e Durkheim a Weber e Pareto de Humboldt e Plank a Poincareacute e Einstein o que permite-nos dizer que em termos cientiacuteficos vivemos ainda no seacuteculo XIX e que o seacuteculo XX ainda natildeo comeccedilou

Desse modo se natildeo nos prendermos ao passado e fixarmos o nosso olhar no futuro tambeacutem nos depararemos com o contraditoacuterio por um lado a crenccedila no comeccedilo de uma sociedade libertada das carecircncias e inseguranccedilas que ainda insistem em permanecer nos dias atuais promovida pelas potencialidades tec-noloacutegicas dos conhecimentos acumulados e por outro uma reflexatildeo sobre os limites do rigor cientiacutefico combinada com os perigos cada vez mais concretos de cataacutestrofes ecoloacutegicas ou guerras nucleares (SANTOS 1987)

Neste contexto o contraditoacuterio entre o passado que ora pensamos jaacute natildeo sermos ora pensamos natildeo termos ainda deixado de ser e o futuro que ora pensamos jaacute sermos ora pensamos nunca virmos a ser nos leva a uma reflexatildeo epistemoloacutegica sobre o tempo presente estariacuteamos ainda situados nos limites da ciecircncia moderna ou jaacute estariacuteamos na poacutes-modernidade Para Santos (1987) ldquo[] eacute esta a ambiguidade e a complexidade da situaccedilatildeo do tempo presente um tempo de transiccedilatildeo siacutencrone com muita coisa que estaacute aleacutem ou aqueacutem dele mas descompassado em relaccedilatildeo a tudo que o habitardquo (Ibid p15)

Ao tratar a eacutepoca em que vivemos como uma eacutepoca de transiccedilatildeo paradig-maacutetica o socioacutelogo portuguecircs faz uma criacutetica sistemaacutetica agraves correntes domi-nantes da reflexatildeo epistemoloacutegica sobre a ciecircncia moderna Afirma que ldquo[] uma das fraquezas da teoria criacutetica moderna foi natildeo ter reconhecido que a ra-zatildeo que critica natildeo pode ser a mesma que pensa constroacutei e legitima aquilo que eacute criticaacutevelrdquo (SANTOS 2002 p 29) Assim Santos (1989) considera que estamos no limiar de uma transiccedilatildeo paradigmaacutetica cuja ordem cientiacutefica dominante ndash ciecircncia moderna ndash apresenta sinais de crise simultaneamente agrave emergecircncia de um novo paradigma ao qual designa inicialmente de ciecircncia poacutes-moderna

Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a crise da ciecircncia moderna na contemporaneidade a partir da criacutetica de Boaventura de Sousa Santos Utili-

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zou-se a apreciaccedilatildeo bibliograacutefica das obras na quais o socioacutelogo portuguecircs faz interpretaccedilotildees contemporacircneas acerca do modelo meacutetodos e resultados da ciecircncia moderna os sinais que o faz considerar que este modelo de produ-ccedilatildeo do conhecimento encontra-se no limiar de uma crise paradigmaacutetica e as conjecturas em torno de um novo paradigma cientiacutefico que considera emergir desta crise

Tendo como literatura elementar Um discurso sobre as ciecircncias (1987) pas-samos a uma reflexatildeo mais aprofundada sobre o modelo e meacutetodos da ciecircn-cia moderna considerada por Santos como ldquoparadigma dominanterdquo a partir da obra Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna (1989) buscamos caracterizar a ordem cientiacutefica hegemocircnica para depois analisar os sinais de crise distinguin-do suas condiccedilotildees teoacutericas e socioloacutegicas a partir das caracteriacutesticas da ldquocrise do paradigma dominanterdquo tambeacutem abordada em A criacutetica da razatildeo indolente (2002) e por uacuteltimo apresentamos por via especulativa o que Santos conside-ra ser o ldquo paradigma emergenterdquo tendo como referecircncia a obra Conhecimento prudente para uma vida decente um discurso sobre as ciecircncias revisado (2004) na qual o autor afirma que o paradigma que considera emergir em uma sociedade evoluiacuteda pela proacutepria ciecircncia natildeo basta ser prudente tem de ser um paradigma social para uma vida decente

2 A DUPLA RUPTURA EPISTEMOLOacuteGICA

Eacute a partir da criacutetica epistemoloacutegica que Boaventura de Sousa Santos afirma que no projeto da modernidade distingue-se duas formas de conhecimento o conhecimento-regulaccedilatildeo cujo ponto de ignoracircncia se designa por caos e o ponto de saber se designa por ordem e o conhecimento-emancipaccedilatildeo cujo ponto de ignoracircncia se designa por colonialismo e o ponto de saber se designa por solidariedade (SANTOS 2002) como ilustra a Figura 1 Apesar de ambas as formas de conhecimento serem admitidas no projeto da modernidade Santos observa que o conhecimento-regulaccedilatildeo predominou em relaccedilatildeo ao conheci-mento-emancipaccedilatildeo

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Figura 1 As duas formas de conhecimento na modernidade segundo Boaventura

Organizaccedilatildeo Os autores com base SANTOS 2002

De forma mais aprofundada Santos (2004) trata as duas formas de conheci-mento a partir da conceituaccedilatildeo de duas rupturas epistemoloacutegicas

A primeira ruptura leva-nos do senso comum agrave ciecircncia tal como a conhe-

cemos uma ciecircncia modernista que desenvolve o conhecimento como

regulaccedilatildeo e que sustenta a colonizaccedilatildeo e a ordem A segunda ruptura

ainda por realizar iraacute conduzir-nos da ciecircncia dominante ao novo senso

comum isto eacute ao conhecimento como emancipaccedilatildeo um conhecimen-

to que realccedila a solidariedade (WAGNER In SANTOS 2004 p117)

As rupturas epistemoloacutegicas de que trata Boaventura de Sousa Santos estaacute no cerne da reflexatildeo sobre a crise da ordem cientiacutefica dominante e a emergecircncia de um novo paradigma Contudo esclarece que natildeo eacute faacutecil identificar se um dado periacuteodo histoacuterico eacute dominado por uma crise e que tipo de crise visto que o autor distingue dois tipos de crise as crises de crescimento restrita a uma matriz disci-plinar de um dado ramo da ciecircncia cuja revelaccedilatildeo pode acontecer pela contes-taccedilatildeo de meacutetodos ou conceitos baacutesicos pressentidos por alternativas viaacuteveis e a crise de degenerescecircncia que satildeo crises de paradigma que atravessam todas as disciplinas embora de forma desigual e que potildeem discussatildeo a proacutepria forma de inteligibilidade do real que um dado paradigma proporciona (SANTOS 1989) As diferentes crises estatildeo susceptiacuteveis a diferentes reflexotildees epistemoloacutegicas3

3 A reflexatildeo epistemoloacutegica moderna tem suas origens na filosofia do seacuteculo XVII em que a filosofia aristoteacutelica eacute substituiacuteda pela filosofia da ciecircncia atingindo um de seus pontos mais altos no seacuteculo XIX como desenvolvimento espetacular da ciecircncia e da teacutecnica decorrente da consolidaccedilatildeo da so-ciedade industrial (SANTOS 1989)

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Neste sentido afirma Santos (1989) ldquoqualquer que seja a opccedilatildeo epistemo-loacutegica sobre o que a ciecircncia faz a reflexatildeo sobre a ciecircncia que se faz natildeo pode escapar ao ciacuterculo hermenecircuticordquo (SANTOS 1989 p11-12) A reflexatildeo herme-necircutica visa descontruir os diferentes objetos teoacutericos que a ciecircncia constroacutei sobre si proacutepria suas imagens linguagens e discursos e as condiccedilotildees em que foram construiacutedos aprofundando o trabalho de desdogmatizaccedilatildeo da ciecircncia Assim eacute uma reflexatildeo necessaacuteria em tempos de crise pois visa ldquotransformar a ciecircncia de um objeto estranho distante e incomensuraacutevel com a nossa vida num objeto familiar e proacuteximo que natildeo falando a liacutengua de todos os dias eacute capaz de comunicar as suas valecircncias e os seus limites os seus objetivos e o que realiza aleacutem e aqueacutem deles []rdquo (SANTOS 1989 p13)

A reflexatildeo hermenecircutica que Santos propotildee tem como ponto de partida as ciecircncias sociais refletindo-se a partir deste ponto as ciecircncias no seu conjunto e a sociedade em geral Assim ldquo tal como noutros periacuteodos de transiccedilatildeo difiacuteceis de entender e de percorrer eacute necessaacuterio voltar agraves coisas simples agrave capacidade de formular perguntas simples []rdquo (SANTOS 1987 p15)

Diante da complexidade do tempo presente que indica estarmos no fim de um ciclo de hegemonia de uma certa ordem cientiacutefica torna-se urgente dar respostas a perguntas simples elementares inteligiacuteveis pois as perguntas simples demostram a precariedade das construccedilotildees assentes do paradigma em crise colocando o conhecimento cientiacutefico como uma praacutetica de saber entre outras e natildeo necessariamente a melhor (SANTOS 1989)

Neste sentido retomamos o conceito de rupturas epistemoloacutegicas para res-ponder a perguntas simples sobre teoria e meacutetodo das ciecircncias pois Santos (1989) afirma que a primeira ruptura metodoloacutegica visa responder agrave pergunta ldquocomo se faz ciecircncia rdquo e a segunda ruptura visa responder agrave pergunta ldquopara que queremos a ciecircncia rdquo (SANTOS 1989 p71) Para Santos (1989) ldquodeixou de ter sentido criar um conhecimento novo e autocircnomo em confronto com o senso comum (primeira ruptura) se esse conhecimento natildeo se destinar a transformar o senso comum e a transformar-se nele (segunda ruptura) rdquo (SANTOS 1989 p147)

A conclusatildeo que ele chega a esse respeito eacute de que a acumulaccedilatildeo de co-nhecimento sobre o mundo dado pelo desenvolvimento cientiacutefico dos uacuteltimos trecircs seacuteculos se resuma a tatildeo pouca sabedoria do mundo do homem consigo proacuteprio com os outros e com a natureza

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3 O PARADIGMA DOMINANTE

A ordem cientiacutefica dominante tratada como ldquoo paradigma dominanterdquo diz respeito ao modelo de racionalidade herdado a partir do seacuteculo XVI periacuteodo das revoluccedilotildees cientiacuteficas e consolidado no seacuteculo XIX quando este modelo se estende agraves ciecircncias sociais emergentes Assim a partir da revoluccedilatildeo cientiacutefica do seacuteculo XVI a ciecircncia moderna comeccedilava a deixar as teorias de Copeacuternico Galileu e Newton para se transformar no fermento de uma transformaccedilatildeo teacutec-nica e social sem precedentes na histoacuteria da humanidade (SANTOS 2009)

Para Thomas Kuhn4 a ciecircncia eacute uma sucessatildeo de paradigmas que se confrontam entre si mas que esses paradigmas se alteram provocando uma revoluccedilatildeo que abre caminho para um novo tipo de desenvolvimento cientiacutefico ou seja para se ter um novo paradigma eacute necessaacuteria uma nova revoluccedilatildeo cien-tiacutefica Eacute o que acontece na passagem por exemplo da ciecircncia antiga agrave ciecircncia moderna (KUHN 2009)

Santos (1989) considera que estamos no limiar de uma transiccedilatildeo paradigmaacute-tica cuja ordem cientiacutefica dominante ndash ciecircncia moderna ndash apresenta sinais de crise simultaneamente agrave emergecircncia de um novo paradigma ao qual designa inicialmente de ciecircncia poacutes-moderna Para prosseguirmos nesta anaacutelise torna--se elementar a definiccedilatildeo de paradigma O termo ldquoparadigmardquo foi inicialmente associado por Thomas Kuhn agraves disciplinas especiacuteficas e agrave ldquociecircncia normalrdquo sen-do considerado como ldquo[] as realizaccedilotildees cientiacuteficas universalmente reconhe-cidas que durante algum tempo fornecem problemas e soluccedilotildees modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciecircnciardquo (KUHN 2009 p13)

Ao caracterizar a ordem cientiacutefica dominante Santos (1987 p 21) designa o paradigma como

[] um modelo global de racionalidade cientiacutefica que admite varie-

dade interna mas que se distingue e defende por vias de fronteiras

ostensivas e ostensivamente policiadas de duas formas de conheci-

mento natildeo cientiacutefico (e portanto irracional) potencialmente pertur-

badoras e intrusas o senso comum e as chamadas humanidades ou

estudos humaniacutesticos (em que se incluiacuteram entre outros os estudos

histoacutericos filoloacutegicos juriacutedicos literaacuterios filosoacuteficos e teoloacutegicos)

4 Thomas Kuhn (1922-1996) norte-americano fiacutesico historiador e filoacutesofo da ciecircncia

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 301

Assim o paradigma eacute uma ordem hegemocircnica de racionalidade cientiacutefi-ca que estabelece o rigor e os limites da ciecircncia cujo teor do conhecimento produzido pelos participantes (cientistas) deve pautar-se unicamente nos princiacutepios epistemoloacutegicos e regras metodoloacutegicas universalmente reco-nhecidas

Essa racionalidade cientiacutefica vislumbra uma uacutenica forma de se atingir o co-nhecimento verdadeiro negando o caraacuteter racional a todas as formas do co-nhecimento que natildeo se baseia pelos princiacutepios epistemoloacutegicos e metodoloacute-gicos Sendo assim caracteriza-se como um modelo global e totalitaacuterio que marca a ruptura com os modelos que o antecederam (SANTOS 1987)

Os protagonistas deste novo paradigma conduzem uma luta contra todas as formas de dogmatismo e de autoridade apresentando distinccedilotildees funda-mentais dos modelos de ldquosaberesrdquo aristoteacutelicos e medievais Para Santos (1987) esse novo paradigma faz distinccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conheci-mento do senso comum opunham-se agrave natureza e a pessoa humana ou seja buscava conhecer a natureza para poder controlaacute-la e dominaacute-la como enfatiza a maacutexima baconiana de que a ciecircncia faraacute do homem ministro e inteacuterprete da natureza (BACON 1979)

Com base nestes pressupostos o conhecimento cientiacutefico avanccedila pela ob-servaccedilatildeo descomprometida e sistemaacutetica dos fenocircmenos naturais

Ao contraacuterio do que pensa Bacon a experiecircncia natildeo dispensa a teoria

preacutevia o pensamento dedutivo ou mesmo a especulaccedilatildeo mas forccedila

qualquer deles a natildeo dispensarem enquanto instancia de confirma-

ccedilatildeo uacuteltima a observaccedilatildeo empiacuterica dos fatos (SANTOS 2009 p62)

Por sua vez Descartes vai inequivocamente das ideias para as coisas e natildeo das coisas para as ideias e estabelece a prioridade da metafiacutesica enquanto fun-damento uacuteltimo da ciecircncia Para que ocorresse uma observaccedilatildeo e experimen-taccedilatildeo que levasse a um conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza empregava-se como instrumento privilegiado de anaacutelise a matemaacutetica pois esta permitia que a natureza bem como os seus fenocircmenos fosse analisada e estruturada sob dois pilares a quantificaccedilatildeo como sinocircnimo de conhecimen-tos pelo emprego rigoroso das mediccedilotildees a reduccedilatildeo da complexidade do mun-do por meio da divisatildeo e classificaccedilatildeo Eacute um conhecimento causal que aspira a formulaccedilatildeo de leis agrave luz de regularidades observadas com vista a prever o comportamento futuro dos fenocircmenos (SANTOS 1987)

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A descoberta das leis da natureza o isolamento das condiccedilotildees iniciais re-levantes a produccedilatildeo de resultados independentes do lugar e tempo das con-diccedilotildees iniciais o conhecimento causal da ciecircncia moderna que busca enten-der o ldquocomordquo ao inveacutes do por ldquoquemrdquo ou ldquopara querdquo promoveram dentre outras consequecircncias a previsibilidade dos fenocircmenos naturais Eacute por desta suposta previsibilidade de que se firmou o conhecimento na ideia de ordem e estabili-dade do mundo sendo este ldquoestaacutevelrdquo e determinaacutevel por meio de leis fiacutesicas e matemaacuteticas que poderiam o decompor Santos (2009) afirma que

Na mecacircnica newtoniana o mundo da mateacuteria eacute uma maacutequina cujas

operaccedilotildees se podem determinar por meio de leis fiacutesicas e matemaacutetica

um mundo estaacutetico e eterno a flutuar num espaccedilo vazio um mundo

que o racionalismo cartesiano torna cognosciacutevel por via da sua

decomposiccedilatildeo nos elementos que o constituem (SANTOS 2009 p 30)

Por se tratar de um modelo de racionalidade hegemocircnica da eacutepoca a ciecircn-cia moderna por intermeacutedio de precursores como Bacon Vico e Montesquieu natildeo demorou a permeabilizar o campo do comportamento social vislumbran-do descobrir as leis da sociedade assim como foi possiacutevel descobrir as leis da natureza (SANTOS 2009)

Decorre daiacute em meados do seacuteculo XIX a emergecircncia das ciecircncias sociais as quais assumiram duas correntes distintas de absorccedilatildeo do modelo mecanicista a primeira sem duacutevida dominante consistiu em aplicar na medida do possiacutevel ao estudo da sociedade todos os princiacutepios epistemoloacutegicos e metodoloacutegicos do estado da natureza (ciecircncias sociais como extensatildeo de ciecircncias naturais) a segunda estabelecia uma metodologia proacutepria para as ciecircncias sociais com base na especificidade do ser humano e distinccedilatildeo radical em relaccedilatildeo a natureza (SANTOS 1987)

Neste sentido a primeira corrente defende a aplicaccedilatildeo de que as ciecircncias sociais satildeo construiacutedas a partir de pressupostos das proacuteprias ciecircncias naturais tendo portanto um caraacuteter de conhecimento universalmente vaacutelido ou seja por maiores que sejam as diferenccedilas entre os fenocircmenos naturais e os sociais eacute sempre possiacutevel estudar os uacuteltimos fenocircmenos como se fossem os primeiros Contudo apesar das dificuldades essa vertente admite a possibilidade de as ciecircncias sociais se relacionarem com os criteacuterios rigorosos das ciecircncias naturais Dessa vertente fazem parte Durkheim e Ernest Nagel Entretanto Santos (2008) afirma que ldquo[] na teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Thomas Kuhn o atraso

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 303

das ciecircncias sociais eacute dado pelo caraacuteter preacute-paradigmaacutetico destas ciecircncias ao contraacuterio das ciecircncias naturais essas sim paradigmaacuteticasrdquo (SANTOS 1987 p37)

Enquanto que nas ciecircncias naturais o desenvolvimento das ciecircncias tornou possiacutevel a formulaccedilatildeo de um conjunto de princiacutepios e teorias denominados por Thomas Kuhn como ldquoparadigmasrdquo e aceitos por toda comunidade cientifica nas ciecircncias sociais natildeo existiu um consenso paradigmaacutetico pois o debate pre-tendeu atravessar todo o conhecimento adquirido Eacute isso que causa o efeito do atraso das ciecircncias sociais (SANTOS 1987)

A segunda corrente defende uma metodologia proacutepria na qual as dificul-dades em harmonizar os dois campos das ciecircncias naturais e sociais satildeo ins-transponiacuteveis ou seja para alguns eacute a proacutepria ideia de ciecircncias da sociedade que estaacute em pauta para outros trata-se de realizar uma ciecircncia diferente O fun-damento por traz dessa vertente eacute a subjetividade do comportamento huma-no que ao contraacuterio dos fenocircmenos naturais natildeo pode ser descrito e explicado (por suas caracteriacutesticas exteriores e observaacuteveis)

Partindo desse pressuposto observa-se que as ciecircncias sociais seraacute sempre subjetiva e natildeo objetiva pois tende a buscar e compreender os fenocircmenos so-ciais a partir das atitudes mentais e dos sentidos que os agentes conferem agraves suas accedilotildees Para isso faz-se necessaacuterio recorrer aos meacutetodos de investigaccedilatildeo e aos criteacuterios epistemoloacutegicos diferentes das correntes nas ciecircncias naturais Como doutrinadores dessa corrente pode-se citar Max Weber e Peter Winch

Apesar de serem aparentemente distintas as duas correntes acabam por dar maior relevacircncia as ciecircncias naturais do que as ciecircncias sociais Desta forma pode-se concluir que ambas vertentes de ciecircncias sociais pertencem ao para-digma da ciecircncia moderna ainda que a segunda vertente serviria dentro desse paradigma um sinal de crise e que contenha alguns indiacutecios de transiccedilatildeo para outro paradigma cientiacutefico

4 A CRISE DO PARADIGMA DOMINANTE

Nenhuma eacutepoca eacute igual agravequela que a precede mudam as perguntas que impulsionam o conhecimento mudam as teacutecnicas disponiacuteveis e mudam as ati-tudes frente aos desafios que se apresentam (BECKER SANTOS 2012) Esse mo-vimento potildee em evidecircncia os diversos sinais de que o paradigma dominante atravessa uma crise que aleacutem de profunda eacute irreversiacutevel A crise do paradigma dominante portanto eacute resultado de uma pluralidade de condiccedilotildees as quais podem ser distintas entre condiccedilotildees sociais e teoacutericas (SANTOS 1987)

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Neste sentido Santos menciona a contribuiccedilatildeo de Einstein para a constitui-ccedilatildeo do que considera ser o primeiro rombo no paradigma da ciecircncia moder-na por romper com o ciacuterculo vicioso da simultaneidade dos acontecimentos e admitir a arbitrariedade no tempo e espaccedilo Com isso mostra como Einstein contribuiu com a criacutetica agrave ideia de simultaneidade universal e possibilitou a per-cepccedilatildeo do relativismo Nesta mesma linha de observaccedilatildeo Vasconcelos (2002) ao fazer referecircncia ao desenvolvimento das ciecircncias no seacuteculo XX traz como exemplo no campo das ciecircncias fiacutesicas o surgimento da teoria da relatividade de Einstein que implicou na derrocada da concepccedilatildeo newtoniana de um siste-ma uacutenico e estaacutevel de referecircncia de tempo e espaccedilo na apreensatildeo de fenocircme-nos macrouniversais

O passo seguinte para a crise paradigmaacutetica se deu pela demonstraccedilatildeo pro-posta por Heisenberg e Bohr de que eacute impossiacutevel observar ou medir um objeto sem interferir nele Afirmou-se assim que ldquo[] natildeo conhecemos do real senatildeo o que nele introduzimos ou seja que natildeo conhecemos do real senatildeo a nossa intervenccedilatildeo nelerdquo (SANTOS 1987 p44) o que ficou definido como princiacutepio de incerteza de Heisenberg indicando para a observaccedilatildeo do mundo subatocircmico aleacutem de outros temas no campo da matemaacutetica biologia e ecologia aprofun-daram a noccedilatildeo de crise das ciecircncias convencionais e a busca de novas formas de racionalidade (VASCONCELOS 2002)

Um outro momento de crise do paradigma moderno se deu com a apre-sentaccedilatildeo do teorema da incompletude e os teoremas sobre a impossibilidade de encontrar dentro de um dado sistema formal a prova da sua consistecircncia A proacutepria mediccedilatildeo da matemaacutetica revelou-se incompleta pois tornou -se possiacute-vel questionar o seu rigor assim como discutir uma redefiniccedilatildeo deste modelo que se opotildee a outras formas de rigor alternativo Assim o que a ciecircncia ganhou em rigor das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX perdeu em capacidade de autorre-gularatildeo (SANTOS 1987)

Para Santos (1987) durante a deacutecada de trinta e quarenta a ideia de autono-mia da ciecircncia e do desinteresse do conhecimento cientiacutefico que durante muito tempo constituiacuteram a ideologia espontacircnea dos cientistas tanto nas sociedades capitalistas como nas sociedades socialistas do leste europeu colapsaram peran-te o fenocircmeno global da industrializaccedilatildeo da ciecircncia o que acarretou no compro-misso da ciecircncia com os centros de poder econocircmico social e poliacutetico os quais passaram a exercer influecircncia sobre a definiccedilatildeo das prioridades cientificas

De acordo com Santos (1987 p 57) ldquo[] a ciecircncia e a tecnologia tem vindo a revelar-se as duas faces de um processo histoacuterico em que os interesses militares

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e os interesses econocircmicos vatildeo convergindo ateacute quase agrave indistinccedilatildeordquo O fato pode ser exemplificado tanto com o ocorrido no Japatildeo com as bombas de Hi-roshima e Nagasaki quanto mais recentemente com as cataacutestrofes ecoloacutegicas e os constantes perigos de guerras nucleares Sendo assim fica evidente a influ-ecircncia do poder econocircmico e poliacutetico na definiccedilatildeo das prioridades das ciecircncias

O socioacutelogo ainda salienta dois efeitos principais oriundos da industrializa-ccedilatildeo da ciecircncia quais sejam a estratificaccedilatildeo da sociedade cientiacutefica com a pro-letarizaccedilatildeo de inuacutemeros cientistas e a investigaccedilatildeo capital-intensiva (assente em instrumentos caros e raros) que tornou impossiacutevel o livre acesso a equipa-mentos aumentando o fosso de desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegicos entre paiacuteses ricos e pobres

Percebe-se na situaccedilatildeo do tempo presente um tempo de transiccedilatildeo onde as influecircncias oriundas das tecnologias e do conhecimento acumulado fazem-nos crer numa sociedade de comunicaccedilatildeo e interatividade onde satildeo cada vez mais presumiacuteveis as cataacutestrofes ecoloacutegicas e as guerras nucleares fazendo com que reflitamos sobre os limites do rigor cientiacutefico e sua aplicabilidade

Contudo Santos (1987) vislumbra que a crise do paradigma natildeo constitui um pacircntano cinzento de ceticismo e irracionalismo e que as condiccedilotildees teoacutericas e sociais visam por consequecircncia construiacuterem um novo paradigma um pa-radigma cientiacutefico reformulado (conhecimento prudente) e um paradigma de cunho social (conhecimento para uma vida decente)

5 O PARADIGMA EMERGENTE

O paradigma emergente ou novo paradigma proposto por Boaventura de Sousa Santos nasce a partir da inter-relaccedilatildeo das ciecircncias naturais com as ci-ecircncias sociais Essa ligaccedilatildeo entre as ciecircncias difere com o modelo totalitaacuterio positivista cientificista cartesianista universal defendido pelo paradigma do-minante durante o seacuteculo XVI (SANTOS 1988) Para justificar o paradigma emer-gente Santos (1987) apresenta as principais teses que considera como modelo de produccedilatildeo do conhecimento prudente para uma vida decente

Se todo conhecimento cientiacutefico-natural eacute cientiacutefico-social ou seja todo conhecimento natural eacute social a separaccedilatildeo entre as ciecircncias naturais e sociais torna-se inuacutetil e sem sentido natildeo tendo mais motivo de existir pois [] esta distinccedilatildeo assenta numa concepccedilatildeo mecanicista da mateacuteria e da natureza a que contrapotildee com pressuposta evidecircncia os conceitos de ser humano cultura e sociedade []rdquo (SANTOS 1988 p60)

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Para o modelo de conhecimento emergente este fato natildeo apresenta ne-nhuma validade A sua separaccedilatildeo eacute considerada insuficiente sem fundamento Nos pressupostos do paradigma emergente eacute preciso interligar mesmo saben-do ldquo[] que ateacute haacute pouco [tempo] consideraacutevamos insubstituiacuteveis tais como na-tureza cultura naturalartificial vivoinanimado mentemateacuteria observadorobservado subjetivoobjetivo coletivoindividual animalpessoardquo (SANTOS 1988 p61)

A superaccedilatildeo desta dicotomia tende assim a revalorizar os estudos humaniacutes-ticos colocando o homem no centro do conhecimento Ele seraacute o sujeito trans-formador do mundo no qual encontra-se inserido Conforme Santos (1987) esta concepccedilatildeo humaniacutestica foi um agente catalisador que permitiu com que o homem no meio das diversas situaccedilotildees comunicativas tivesse a possibilidade de construir e reconstruir a sua realidade social em prol do bem comum

Aleacutem da transformaccedilatildeo social inclui-se nesta modificaccedilatildeo pontos inerentes as questotildees ambientais destacando-se a biodiversidade Esta por sua vez cor-responde a

uma ordem indissociavelmente poliacutetica e cientiacutefica teacutecnica e moral

que envolve um leque diferenciado e heterogecircneo de atores cientis-

tas povos indiacutegenas e suas organizaccedilotildees instituiccedilotildees cientiacuteficas do

norte e do sul governos e autoridades locais e ecossistemasrdquo (SAN-

TOS 2002 p68)

Neste sentido nota-se a necessidade de haver mais espaccedilos puacuteblicos de diaacute-logos que permita realizar debates com diferentes setores sociais para discus-satildeo de temaacuteticas considerando sua amplitude e complexidade Com base nes-se pressuposto Santos et al (2005) em sua obra Metodologias participativas caminhos para o fortalecimento de espaccedilos puacuteblicos ambientais propotildeem novas ferramentas epistemoloacutegicas tendo como princiacutepio norteador a mobilizaccedilatildeo a organizaccedilatildeo social e a promoccedilatildeo de uma cultura de participaccedilatildeo ativa dos sujei-tos Contudo Santos (2007 p 133) esclarece que o progresso de uma epistemo-logia de conhecimento-emancipaccedilatildeo ldquo[] depende do avanccedilo das lutas sociais contra a opressatildeo a discriminaccedilatildeo e a exclusatildeo social ainda que esteja sujeito a outras determinaccedilotildees relativamente autocircnomas que tecircm a ver com o campo intelectual a cultura cientiacutefica dominante os sistemas de educaccedilatildeo etcrdquo

Neste sentido Santos (2007) observa as novas orientaccedilotildees epistemoloacutegicas natildeo sinalizam apenas para novos tipos de conhecimento mas tambeacutem para

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novas maneiras de produccedilatildeo do conhecimento em que se observa uma ate-nuaccedilatildeo da distinccedilatildeo entre as ciecircncias naturais e ciecircncias sociais Assim na pers-pectiva do paradigma emergente o autor traz a segunda tese a de que todo conhecimento eacute local e total Com efeito defende que o conhecimento natildeo segue um estilo unidimensional Isso quer dizer que natildeo se pode e nem deve haver a disciplinarizaccedilatildeo e tatildeo menos parcelarizaccedilatildeo do conhecimento Para Santos (2007 p 134) ldquo[] o importante eacute repensar o conhecimento cientiacutefico em toda a sua diversidade agrave luz das suas possiacuteveis relaccedilotildees com outros saberes natildeo cientiacuteficos que orientam a vida quotidiana das pessoasrdquo

Um dos pontos centrais defendido pela ciecircncia moderna eacute a especializaccedilatildeo O conhecimento torna-se muito mais rigoroso na medida que restringe o objeto de estudo Quanto mais se especifica mais rigoroso e excessivamente fracionado tende a ficar levando o cientista agrave ignoracircncia de uma infinidade de conhecimen-to correlacionados podendo trazer consequecircncias negativas para a sociedade (SANTOS 1987) Neste sentido Santos (1988 p70) endossa dizendo que ldquo[] a ciecircncia poacutes-moderna sabe que nenhuma forma de conhecimento eacute em si mes-ma racional soacute a configuraccedilatildeo de todas elas seratildeo racional Tenta pois dialogar com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar por elasrdquo

Neste novo paradigma o conhecimento tem como horizonte a totalidade universal das coisas e natildeo a especificaccedilatildeo Este conhecimento ao inveacutes de re-gredir avanccedila no sentido de buscar novas possiblidades novas descobertas Um conhecimento deste tipo eacute relativamente imetoacutedico e eacute forjado na plu-ralidade metodoloacutegica Cada meacutetodo eacute uma linguagem que considera espaccedilo e tempo local de modo que as respostas a respeito da realidade retornem na liacutengua em que eacute perguntada Sendo assim ldquo[] soacute uma constelaccedilatildeo de meacutetodos pode captar o silecircncio que persiste entre cada linguagem cada pergunta quem perguntardquo (SANTOS 1988 p 66)

Um outro ponto ressaltado por Santos (1987) consiste na terceira tese a de que todo conhecimento eacute autoconhecimento Essa tese fortalece a ideia de que nossas trajetoacuterias e experiecircncias de vida nossos sentimentos valores cul-tura e crenccedilas podem confirmar sem precisar passar por meacutetodos sistemaacuteticos rigorosos a existecircncia de um conhecimento sem o qual seria impossiacutevel a com-preensatildeo da ciecircncia cientiacutefica Um conhecimento ldquo[] compreensivo e iacutentimo que natildeo nos separe e antes nos una pessoalmente ao que estudamosrdquo (SANTOS 1988 p 68) Sendo assim atraveacutes das questotildees mais subjetivas do homem ten-de a interligar o sujeito e o objeto compreender melhor o mundo que o cerca permitindo um novo viver e um novo saber muito mais praacutetico

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Por fim todo conhecimento cientifico visa constituir-se em um senso comum Para enriquecer nossa relaccedilatildeo com o mundo orientarmos nossa vida e darmos mais sentido a ela eacute preciso dar maior importacircncia ao conhecimen-to do senso comum ao conhecimento praacutetico dito vulgar Para Santos (2007 p 134) ldquo[] o importante eacute salientar a incompletude de todos os conhecimen-tos e o potencial que existe nos diaacutelogos entre eles O conhecimento pruden-te decorre sempre desses diaacutelogos e das constelaccedilotildees de saberes que per-mitem construirrdquo Esta eacute uma das ambiccedilotildees da ciecircncia poacutes-moderna a de que o conhecimento cientiacutefico para se realizar enquanto tal deve-se converter-se em senso comum (SANTOS 1988) Nesse sentido nenhum conhecimento poderaacute ser despreziacutevel Cada conhecimento tem suas caracteriacutesticas concep-ccedilotildees poreacutem satildeo indissociaacuteveis

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Boaventura de Sousa Santos nos apresenta concepccedilotildees cientiacuteficas evi-denciadas na ciecircncia moderna Os estudos desenvolvidos por Santos no acircmbito das Ciecircncias Sociais nos mostram a necessidade de um olhar criacutetico em relaccedilatildeo agrave ciecircncia apontando para mudanccedilas na estrutura de produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico Em Um discurso sobre as ciecircncias uma de suas obras claacutessicas ele faz uma organizaccedilatildeo criacutetica que nos remete agraves bases da ciecircncia moderna ao mesmo tempo em que questiona os sinais que indicam uma transiccedilatildeo paradigmaacutetica na contemporaneidade e de forma especu-lativa pois se trata de futuro e embora perceba os sinais da crise paradig-maacutetica o futuro seraacute sempre produto da imaginaccedilatildeo e em seu caso a ima-ginaccedilatildeo socioloacutegica faz um prenuncio do novo paradigma que considerar estar a emergir

Em consonacircncia defende a necessidade de um paradigma emergente que transcorra as barreiras impostas pelo paradigma dominante e possibilite uma ampliaccedilatildeo de saberes nas diferentes ciecircncias mesmo sendo elas consideradas divergentes Traduz a necessidade do diaacutelogo entre os saberes cientiacuteficos e po-pulares que satildeo defendidos em suas teses estas alicerces para a construccedilatildeo de uma nova epistemologia

As novas orientaccedilotildees epistemoloacutegicas com base no pensamento de Boa-ventura de Sousa Santos natildeo pretende uma desqualificaccedilatildeo da ciecircncia perante outros modos de envolvimento com o mundo pelo contraacuterio considera neces-saacuterio definir a relevacircncia dos vaacuterios modos de conhecimento sem que a ciecircncia

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 309

tenha a prerrogativa de legislar sobre outras formas de conhecimento ou de experiecircncias em que os problemas e as interrogaccedilotildees natildeo satildeo redutiacuteveis aos que o conhecimento cientiacutefico considera relevantes

REFEREcircNCIAS

BACON Francis Novum Organum ou Verdadeiras indicaccedilotildees acerca da representa-ccedilatildeo da natureza Nova Atlacircntida Traduccedilatildeo e notas de Joseacute Aluysio Reis de Andrade 2 ed Satildeo Paulo Abril Cultural 1979

BECKER MA SANTOS A C dos A Crise de Paradigmas em Tomas Kuhn e Boaventura Santos In BECKER Evaldo SANTOS Antocircnio Carlos dos (Orgs) Entre o homem e a na-tureza Abordagens teacuteorio-metodologicas ndash Porto Alegre Redes Editoras 2012

JAPIASSU Hilton Ferreira Introduccedilatildeo ao pensamento epistemoloacutegico 4 ed Rio de Janeiro F Alves 1986

KUHN T S A Estrutura das Revoluccedilotildees Cientiacuteficas Traduccedilatildeo de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira 10 ed Satildeo Paulo Perspectiva 2009

SANTOS Boaventura de Sousa (Org) Conhecimento prudente para uma vida decen-te um discurso sobre as ciecircncias revisado ndash Satildeo Paulo Cortez 2004

SANTOS Boaventura de Sousa Acriacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiacutecio da experiecircncia 4 ed - Satildeo Paulo Cortez 2002

______ Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna ndash Rio de Janeiro Graal 1989

______ Em torno de um novo paradigma soacutecio-epistemoloacutegico [Entrevista concedi-da a] Manoel Tavares Rev Lusoacutefona de Educaccedilatildeo [online] Lisboa n10 p131-137 2007 Disponiacutevel em httpwwwscielomecptscielophpscript=sci_arttextamppi-d=S164572502007000200010amplng=ptampnrm=iso Acesso em 06 nov 2019

______ Para um novo senso comum a ciecircncia o direito e a poliacutetica na Transiccedilatildeo para-digmaacutetica ndash 7 Ed ndash Satildeo Paulo Cortez 2009

______ Um discurso sobre as ciecircncias ndash Satildeo Paulo Cortez 1987

______ Um discurso sobre as ciecircncias na transiccedilatildeo para uma ciecircncia poacutes-moder-na Estud av [online] vol2 n2 1988 Disponiacutevel em httpdxdoiorg101590S0103-40141988000200007 Acesso em 08 de nov de 2019

SANTOS Adailton Dias dos Metodologias participativas caminhos para o fortaleci-mento de espaccedilos puacuteblicos socioambientais Instituto Internacional de Educaccedilatildeo do Brasil ndash IEB Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2005

310 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

VASCONCELOS Eduardo Mouratildeo Complexidade e pesquisa interdisciplinar episte-mologia e metodologia operativa Petroacutepolis RJ Vozes 2002

WAGNER Peter Sobre guerras e revoluccedilotildees In SANTOS Boaventura de Sousa (Org) Conhecimento prudente para uma vida decente um discurso sobre as ciecircncias revi-sado ndash Satildeo Paulo Cortez 2004

SOBRE O AUTORES

Ademilson de Jesus SilvaMestrando pelo PRODEMA - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente na UFS - Universidade Federal de Sergipe (2019) Poacutes-gradu-accedilatildeo em Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica e Planejamento Poacutes-graduaccedilatildeo em Meto-dologia de Ensino de Biologia e Quiacutemica (2019 ndash 2020) Graduado em Lic Quiacute-mica pela UniAGES - Centro Universitaacuterio AGES (2018) Graduado em Gestatildeo Ambiental pela Universidade Norte do Paranaacute (2012) Teacutecnico em agropecuaacuteria pelo Centro Estadual de Educaccedilatildeo Profissional do Campo Paulo Freire (2012)

Alessandra Barbosa SouzaMestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe Graduada em licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Ciecircn-cias Educacionais de Sergipe (2009) especialista em Didaacutetica e Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Satildeo Luis de Franccedila (2011) Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambiente ndash GPFIMA Tem experiecircncia na aacuterea de Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e En-sino Superior na modalidade de Educaccedilatildeo a Distacircncia com ecircnfase em Ensino--Aprendizagem Educaccedilatildeo Ambiental Fundamentos da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo de Profissionais da Educaccedilatildeo E-mail alessandrabsouzahotmailcom

Amanda da Silva SantosMestranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Graduada no Curso Supe-rior de Tecnologia em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia da Paraiacuteba ndash IFPB onde foi integrante do Nuacutecleo de Estudos em Agroecologia ndash NEA compondo a equipe teacutecnica do nuacutecleo que eacute signataacuterio da Rede Rizoma da PROEXT E-mail amandasstsgmailcom

Andreacute Viniacutecius Bezerra de Andrade SilvaBioacutelogo Licenciado pela UNEB e Mestrando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe UFS E-mail oandradeviniciusgmailcom

312 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Antocircnio Carlos dos SantosProfessor Titular na aacuterea de Eacutetica e Filosofia Poliacutetica do Departamento de Filo-sofia da UFS Foi Professor Convidado na Universiteacute de Paris I - Sorbonne (2017-2018) graccedilas ao Programa de Estaacutegio Secircnior no Exterior da CAPES Poacutes-doutor em Filosofia pela Universiteacute de Sherbrooke Canadaacute (2008-2009) e pela Univer-sidade de Satildeo Paulo (2011) Doutor em Filosofia pela Universite de Paris X Nan-terre (2003) em cotutela com a Universidade de Satildeo Paulo Mestre tambeacutem em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo (1997) Professor do Departamento de Filosofia da UFS desde 1992 Eacute membro do corpo permanente dos Programas de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e meio ambiente (Rede PRODEMA) e do Mestrado em Filosofia ambos da UFS Faz parte da Comissatildeo editorial da Re-vista Transformaccedilatildeo (UNESPMariacutelia) dos Cadernos de Eacutetica e Filosofia Poliacutetica (USP) da Revista em Filosofia Sapere aude (PUCMG) da Revista Griot e Revista Ambivalecircncias Eacute avaliador do Programa de Capacitaccedilatildeo do Banco do SINAESINEP Eacute pesquisador da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa de Sergipe (FAPITE-C-SE) Eacute membro da Socieacuteteacute Internationale Montesquieu Tem experiecircncia na aacuterea de Filosofia com ecircnfase em Eacutetica Filosofia Poliacutetica Eacutetica Ambiental e em temas como Corrupccedilatildeo Repuacuteblica Toleracircncia Direitos Humanos Ilustraccedilatildeo Seacuteculo XVIII e Interdisciplinaridade

Antocircnio de Oliveira NettoPossui graduaccedilatildeo em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL e Poacutes-graduaccedilatildeo (Mestrado e Doutorado) pela Escola de Engenharia de Satildeo Carlos - EESC da Universidade de Satildeo Paulo - USP Tem experiecircncia na aacuterea de Engenharia Ambiental com ecircnfase em tratamento de aacuteguas residuaacuterias atu-ando principalmente nos seguintes temas licenciamento ambiental projeto e execuccedilatildeo de estaccedilotildees de tratamento de aacutegua e esgoto tratamento combinado anaeroacutebio-aeroacutebio de esgoto sanitaacuterio reator de leito fixo operado de modo contiacutenuo e avaliaccedilatildeo de projetos de melhorias habitacionais e sanitaacuterias

Antonio Menezes Professor de Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem do Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Sergipe Doutor em Educaccedilatildeo (Universida-de Federal da Bahia) e Mestre em Aprendizagem e Intervenccedilatildeo Educativa (Universi-dade do Quebec - Canadaacute) Liacuteder e Membro do SEMINALIS - Grupo de Pesquisa em Tecnologias Intelectuais e Aprendizagens Contemporacircneas (CNPqUFS) Na pes-quisa em educaccedilatildeo dedica-se aos estudos da emoccedilatildeo memoacuteria e socializaccedilatildeo em

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 313

diferentes ciclos da vida humana Em Ciecircncias Ambientais dedica-se aos seguintes temas produccedilatildeo de conhecimento em ciecircncias ambientais (epistemologia forma-ccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo interdisciplinar) inovaccedilatildeo ambiental e memoacuteria ambiental em contextos humanos E-mail avmsouzayahoocombr

Camilo Rafael Pereira BrandatildeoBioacutelogo Licenciado pela UNEB e Mestrando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe UFS E-mail rafa-elbrandaohotmailcom

Cassandra Mendonccedila de OliveiraGraduanda em Ecologia Bacharelado pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Com aacuterea de interesse e desenvolvimento de pesquisa em recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por mineraccedilatildeo e conservaccedilatildeo

Daniela Teodoro SampaioPoacutes-doutoranda PNPD e Professora Colaboradora voluntaacuteria do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Univer-sidade Federal de Sergipe Affiliate faculty member at Department of Human Dimensions of Natural Resources Colorado State University (CSU) Possui Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) Mestrado em Teoria e Pesquisa do Compor-tamento pela Universidade Federal do Paraacute (UFPA) e Graduaccedilatildeo em Ciecircncias Bioloacutegicas pela Universidade Federal de Uberlacircndia (UFU) Atuaccedilatildeo em pesqui-sas em Governanccedila contra crimes de caccedila e traacutefico de animais silvestres Gover-nanccedila Ambiental Cidades Sustentaacuteveis e Unidades de Conservaccedilatildeo

Delmira Santos da Conceiccedilatildeo SilvaDoutoranda pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFS) Mestre pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em De-senvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFS) Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental com Ecircnfase em Espaccedilos Educadores Sustentaacuteveis pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) Possui graduaccedilatildeo em Geografia pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (FJAV) Integrante do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambiente (GPFIMA) na Universidade Federal de Sergipe (UFS) Bolsista pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) E-mail delmirasilva_ufshotmailcom

314 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Deniver Delma Souza OliveiraGraduando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS

Diogo dos Santos Gonccedilalves BahiaPossui graduaccedilatildeo em Engenharia de Agrimensura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2006) Mestre em Recursos Hiacutedricos pela Universidade Federal de Sergipe (2017) e doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente tambeacutem pela Universidade Federal de Sergipe Atuou como Engenheiro Agri-mensor em diversas empresas de engenharia (2006 a 2013) como professor substituto no coleacutegio teacutecnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2013 a 2014) e atualmente eacute professor efetivo do ensino baacutesico Teacutecnico Tecno-loacutegico do Instituto Federal de Sergipe (desde 2014) atuando como coordena-dor do curso Teacutecnico em Agrimensura E-mail dsgbahiayahoocombr

Eduardo de Souza SantosFormado em Licenciatura e Bacharel em Geografia pela Universidade Catoacutelica de Salvador (UCsal) com poacutes-graduaccedilatildeo (MBA) em Auditoria Periacutecia e Meio Ambiente pelo Instituto de Poacutes-Graduaccedilatildeo (IPOG) e mestrando pelo Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) sendo bolsistas da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) Profissional habilitado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) da Bahia e do Cearaacute tendo atuado em empre-sas da aacuterea ambiental Atualmente exerce o cargo de professor voluntaacuterio no Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo (CODAPUFS)

Elenaldo Fonseca de Oliva JuniorPossui graduaccedilatildeo em Licenciatura em Geografia pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (2011) Especializaccedilatildeo em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambien-te pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (2012) Atuando principalmente nos se-guintes temas Educaccedilatildeo Ambiental Impactos Ambientais Sociedade-nature-za Resiacuteduos Soacutelidos e Sustentabilidade Tem experiecircncia na aacuterea de Geografia com ecircnfase em Geografia E-mail juninho10segmailcom

Eliane de Souza BarbosaPossui graduaccedilatildeo em Letras - Liacutengua Portuguesa pela Universidade Federal de Sergipe (2015) Tem experiecircncia na aacuterea de Letras com ecircnfase em Letras possui

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 315

experiecircncia na aacuterea de Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica da rede municipal de LagartoSE Mestranda pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFS) Integrante do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Inter-disciplinaridade e Meio Ambiente (GPFIMA) na Universidade Federal de Sergi-pe (UFS) E-mail elianesbarbosahotmailcom

Eliane dos Santos da SilvaMestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe - PRODEMAUFS (2018) Especialista em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente pela FJAV (2012) Graduada em Licenciatura em Geografia (2010) Atualmente eacute Diretora Escolar da rede de ensino municipal de LagartoSE Tem experiecircncia no ensino de Geografia tendo lecionado do 5ordm ao 9ordm ano do Ensino Fundamental pela rede puacuteblica municipal de LagartoSE (2009-2012) e na rede particular no Grecircmio Escolar Pequeno Priacutencipe (2014-2016) Atua nas aacutereas de Hidrologia Recursos hiacutedricos aleacutem dos temas Ensino de Geogra-fia Educaccedilatildeo Ambiental Gestatildeo Ambiental e Sustentabilidade E-mail anne-geo85hotmailcom

Eliene Oliveira da Silva Graduada em Geografia Licenciatura pela Universidade Tiradentes Guarda Municipal de Aracaju Instrutora de cursos de capacitaccedilatildeo e Tutora de cursos online pelo Ministeacuterio da Justiccedila Poacutes-graduada em Didaacutetica e Metodologia do Ensino Superior e Gestatildeo Escolar pela Faculdade Satildeo Luis de Franccedila Especialis-ta em Seguranccedila Puacuteblica e Democracia pela Universidade Federal de Sergipe Tecnoacuteloga em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal de Sergipe (em curso) Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMAUFS Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambien-te (GPFIRMA)

Elis Gardecircnia dos SantosMestranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS MBA em Gestatildeo Ambiental e da Qualidade pela Universidade Tiradentes ndash Unit Especialista em Convivecircn-cia com o Semiaacuterido ndash Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilida-de ndash IABS Especialista em Educaccedilatildeo em Ensino Religioso ndash Faculdade Satildeo Luiacutes de Franccedila Graduaccedilatildeo Licenciatura em Pedagogia ndash Universidade Tiradentes E-mail ellisliriogmailcom

316 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Fabriacutecio Nicaacutecio FerreiraEnfermeiro da Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia do municiacutepio de Boquim Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMA-UFS especialista em Ges-tatildeo Estrateacutegica da Sauacutede da Famiacutelia pela Faculdade Venda Nova do Imigrante Graduado em Enfermagem pela Universidade Federal de Sergipe Campus Prof Antocircnio Garcia Filho pela metodologia PBL (Aprendizagem Baseada em Proble-mas) Atualmente eacute Enfermeiro chefe da Unidade Baacutesica de Sauacutede em Morro de Satildeo Paulo ndash CairuBA Tem experiecircncia nas aacutereas Ciecircncias da Sauacutede Sauacutede da Famiacutelia Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Determinantes e Condicionantes em Sauacutede Ciecircncias Ambientais Sauacutede Puacuteblica Farmacologia e Gestatildeo Puacuteblica de Sauacutede E-mail fabriciogtebolcombr

Franciley Santos LeiteMestranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Graduada em Direito pela Faculdade Pio X Atualmente trabalha como Servidora Puacuteblica da Universidade Federal de Sergipe lotada no Campus Satildeo Cristoacutevatildeo como Auxiliar de Enferma-gem E-mail francileysantoshotmailcom

Gicelia Mendes da SilvaPossui Graduaccedilatildeo (1990) Mestrado (1995) e Doutorado (2008) em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe Professora Adjunto IV do Curso de Licenciatura em Geografia na Universidade Federal de Sergipe Professora do Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMAUFS) e do Mestrado e Doutora-do em Geografia (PPGEO) Pesquisadora do GEOPLANUFS Docente Orientadora no Programa Residecircncia Pedagoacutegica no DGE Tem experiecircncia na aacuterea de Geografia com ecircnfase na anaacutelise das condiccedilotildees socioeconocircmicas das populaccedilotildees de aacutereas minera-doras atuando principalmente com os seguintes conceitos eou temas territoacuterio e territorialidade desenvolvimento territorial E no Ensino de Geografia com destaque para a Cartografia e Cartografia Escolar Coaching Educacional

Gleison Parente Pereira Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFS Especialista em Direito Penal e Processo Penal Bacharel em Seguranccedila Puacutebica e Direito Profes-sor do Curso de Direito na Faculdade de Administraccedilatildeo e Negoacutecios de Sergipe - FANESE Instrutor de Direito Penal e Penal Militar do CFAP da PMSE Atualmente exerce a Funccedilatildeo de Assessor Teacutecnico Juriacutedico da Corregedoria Geral da PMSE

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 317

Glessia SilvaPoacutes-Doutorado em Administraccedilatildeo de Empresas pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas na Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo - FGVEAESP (2019-Atu-al) Doutora em Administraccedilatildeo de Empresas pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas na Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo - FGVEAESP (2018) Mestra em Administraccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe - UFS (2013) Bacharela em Administraccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe - UFS (2011) Tem inte-resse de pesquisa em inovaccedilatildeo pequena empresa e desenvolvimento

Igor Azevedo SouzaGraduado em Ciecircncias Bioloacutegicas Bacharelado pela Universidade Tiradentes - UNIT e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Fede-ral de Sergipe - UFS Fotoacutegrafo da Natureza tem experiecircncia praacutetica em Biologia marinha no manejo das tartarugas marinhas e peixes e atendimento de grupos (sensibilizaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Ambiental no Projeto TAMAR) Possui conhecimento sobre fisiologia vegetal de plantas medicinais e de extraccedilatildeo de oacuteleos essenciais de plantas aromaacuteticas (EMBRAPA) Suas pesquisas vecircm sendo relacionadas a aacuterea das Ciecircncias ambientais em temas relacionados a Gestatildeo Ambiental Brasi-leira mais especificamente com a gestatildeo de Unidades de Conservaccedilatildeo

Ivana Ferreira LermenMestre pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambien-te ndash PRODEMAUFS Graduada em Comunicaccedilatildeo Social - Relaccedilotildees Puacuteblicas Es-pecialista em Responsabilidade Social Empresarial e SustentabilidadeEmail ivanalermengmailcom

Jailton de Jesus CostaDocente da Universidade Federal de Sergipe (CODAPUFS) Doutor Mestre Ba-charel e Licenciado em Geografia por esta mesma instituiccedilatildeo Docente perma-nente dos cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Liacuteder do Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Gestatildeo Sauacutede e Educaccedilatildeo Ambiental - GESEACNPq e membro do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Terri-torial - GEOPLANCNPq Atua principalmente nos seguintes temas Gestatildeo e Planejamento Ambiental Dinacircmica e Avaliaccedilatildeo Ambiental Educaccedilatildeo Ambien-tal Biogeografia e Climatologia

318 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Jhersyka da Rosa CleveMestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) possui graduaccedilatildeo em Geografia pela referida Instituiccedilatildeo Possui experiecircncia em Geografia com ecircnfase em Geografia Humana sobretudo nas aacutereas de Geogra-fia Poliacutetica e Geografia Agraacuteria Atua principalmente nos seguintes temas luta pela terra assentamentos de sem-terra fronteira territoacuterio conservaccedilatildeo am-biental e povos indiacutegenas Integrante do Grupo de Pesquisa Educaccedilatildeo Histoacuteria e Interculturalidade (GPEHIUFS) Atualmente cursa Doutorado no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento em Meio ambiente pela Universidade Fe-deral de Sergipe E-mail jhersykaclevehotmailcom

Jonielton Oliveira DantasDoutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA pela Univer-sidade Federal de Sergipe - UFS mestre em Desenvolvimento e Meio Ambien-te ndash PRODEMAUFS (2017) especialista em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Faculdade Joseacute August Vieira - FJAV (2012) licenciado em Geo-grafia pela FJAV (2010) Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdiscipli-naridade e Meio Ambiente - GPFIMA (CNPQ) Possui experiecircncia em docecircncia na Educaccedilatildeo Baacutesica e no Ensino Superior tendo atuado sobretudo na aacuterea de Educaccedilatildeo Ambiental Ciecircncias do Ambiente Metodologias do Ensino de Geo-grafia e Pesquisa em Educaccedilatildeo E-mail jonieltondantasgmailcom

Joseacute Heleno Alves da SilvaMestrando pelo Programa Acadecircmico de Poacutes-graduaccedilatildeo em Economia (NUPECUFS) bacharel em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPECAA) (2019) Atuou como bolsista extensionista do Programa Educaccedilatildeo do Campo Agroecologia e Agricultura Familiar Nuacutecleo de Integraccedilatildeo de Saberes (Eacute membro do Laboratoacuterio de Economia Aplicada e Desenvolvimento Regional (LEADERUFS) e do Nuacutecleo de Estudos em Agroecologia do Agreste e Sertatildeo Pernambucanos (NEASPEUFPE) Tem interesse em pesquisar sobre financia-mento agriacutecola agricultura familiar sustentabilidade e agroecologia Cursou o Ensino Meacutedio (2ordm Grau) de 2006 - 2008 E-mail helenoalves25hotmailcom

Keeze Montalvatildeo Fonseca da SilvaBacharela em Serviccedilo Social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) mes-tranda do programa de poacutes-graduaccedilatildeo desenvolvimento e meio ambiente (UFS) teacutecnica de enfermagem (Escola de Enfermagem Santa Baacuterbara) Auxiliar

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 319

de Sauacutede Bucal (Associaccedilatildeo Brasileira de Odontologia) 3ordm Sargento do Quadro de Sauacutede da Poliacutecia Militar do Estado de Sergipe

Kecircnia Dantas Alves Bacharel em Relaccedilotildees Puacuteblicas Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe E-mail keniasqgmailcom

Maria Joseacute Nascimento SoaresGraduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe (1991) Mestrado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe (1996) e Doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2006) Atualmente eacute professora associado da Universidade Federal de Sergipe Tem experiecircncia na aacuterea de formaccedilatildeo de profissionais na Educaccedilatildeo baacute-sica e no ensino Superior com ecircnfase em Didaacutetica Meacutetodos e Teacutecnicas de Ensi-no atuando principalmente nos seguintes temas educaccedilatildeo e sustentabilidade meio ambiente e interdisciplinaridade educaccedilatildeo ambiental praacutetica pedagoacutegi-ca educaccedilatildeo escolar e natildeo escolar formaccedilatildeo de profissionais na abordagem interdisciplinar no acircmbito das Ciecircncias Ambientais E-mail marjonasoufsbr

Mariacutelia Barbosa dos SantosDoutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash UFS mestre em Desen-volvimento e Meio Ambiente ndash UFS (2017) especialista em Educaccedilatildeo Ambien-tal com Ecircnfase em Espaccedilos Educadores Sustentaacuteveis ndash UFS (2016) especialista em Gestatildeo de Cidades e Planejamento Urbano ndash Instituto Proacute Saber (2014) li-cenciada em Geografia pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (2010) Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambiente - GPFIMA Possui experiecircncia em docecircncia na Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental En-sino Meacutedio e Ensino Superior na modalidade de Educaccedilatildeo a Distacircncia com ecircn-fase em Ciecircncias Ambientais e aacutereas afins E-mail maryliabsantoshotmailcom

Milton Marques FernandesProfessore adjunto na Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Orientador do PRODEMA - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambien-te na UFS - Universidade Federal de Sergipe Graduado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2002) Mestre em Ciecircncias Ambientais e Florestais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em

320 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas ciclagem de nutrientes e ecologia florestal (2005) Doutorado em Ciecircncia do solo pela UFRRJ com ecircnfase em economia ecoloacutegica pagamento por serviccedilos ambientais e manejo bacias hidrograacuteficas Poacutes-doutorado em geoprocessamento e manejo de bacias

Nadja Santos VitoacuteriaDoutora em Biologia de Fungos pela UFPE e Docente da Universidade do Esta-do da Bahia Departamento de Educaccedilatildeo Campus VIII Colegiado de Biologia Paulo Afonso BA E-mail nadjasvhotmailcom

Nicole Cavalcanti SilvaDoutoranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente (Prodema) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Mestre em Recur-sos Naturais pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Recursos Naturais (PPGRN) do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Graduada em Administraccedilatildeo de Empresas pela UFCG Atua principalmente nos seguintes temas estudos e pesquisas em admi-nistraccedilatildeo inovaccedilatildeo e tecnologia gestatildeo ambiental e urbana poliacuteticas e plane-jamento territorial turismo hotelaria cultura indicadores de sustentabilidade governanccedila e resiliecircncia socioecoloacutegica E-mail nickolecavalcantigmailcom

Nuacutebia Dias dos SantosPossui graduaccedilatildeo em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (1990) mestrado em Geografia Agraacuteria (1994) e Doutorado em Geografia (2012) pela mesma instituiccedilatildeo Atualmente eacute Professora Associada IV do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe Atua no PRODEMAUFS e PROF-CIAMBUFS E-mail nubiasantos85gmailcom

Pedro Alves da Silva FilhoProfessor adjunto do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Fe-deral de Roraima - UFRR Lider do Grupo de Pesquisa Infraestrutura Urbana e Ambiental Possui graduaccedilatildeo em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Roraima (2000) Especializaccedilatildeo em Engenharia de Sauacutede Puacuteblica pela FEAMIGMG (2001) graduaccedilatildeo em Engenharia Sanitaacuteria e Ambiental pela Universidade Catoacutelica Dom Bosco de Mato Grosso do Sul (2003) Mestrado em Engenharia Sanitaacuteria pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2007) Doutora-do em Engenharia Civil e Saneamento Ambiental pela Universidade Federal

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 321

do Cearaacute (2014) e Poacutes-Doutorado pelo Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMAUFS (2018) E-mail pedrofilhoufrrbr e pedroasfilhoyahoocombr

Raphaeumll LarregravereEacute engenheiro agronocircmico e socioacutelogo Foi diretor de Pesquisa do INRA ( Insti-tuto Nacional de Pesquisas Agronocircmicas da Franccedila) Dirige a coleccedilatildeo ldquoCiecircncia em questatildeordquo Tem vaacuterios artigos capiacutetulos de livros e livros publicados nota-damente ldquoDo bom uso da natureza para uma filosofia do meio ambienterdquo pela Perspectivas ecoloacutegicas

Robeacuterio Satyro Dos Santos JrGraduado em Engenharia de Produccedilatildeo pela Universidade Federal de Alagoas (2016) Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo em Gestatildeo Ambiental pelo Centro Uni-versitaacuterio Leonardo da Vinci (2018) Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe e Bolsista da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) com participaccedilatildeo no Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Gestatildeo Sauacutede e Educaccedilatildeo Ambiental (GESEA) Com experiecircncia na aacuterea de Gestatildeo Ambiental aplicado ao gerenciamento de resiacuteduos soacutelidos e economia solidaria

Robertha Georgya de Barros e SilvaPesquisadora de experiecircncias urbanas educativas infacircncias e espaccedilo puacuteblico mestra e doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente e graduada em Urbanismo Foi soacutecia-diretora da Dinacircmica Urbana Consultoria em planejamen-to urbano foi coordenadora de recuperaccedilatildeo e resposta da Coordenaccedilatildeo De De-fesa Civil do Estado da Bahia foi consultora teacutecnica em planejamento municipal de habitaccedilatildeo de interesse social mobilidade urbana sustentaacutevel e planejamen-to urbano participativo da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano de Sergipe Atualmente realiza estaacutegio doutoral na Universidade Teacutecnica de Berlim (2019 2020) Email roberthadebarrosgmailcom

Rosangela Pereira ArauacutejoLicenciatura em Educaccedilatildeo do Campo pela Universidade Federal de Roraima ndash Atualmente atua como professora do ensino baacutesico da escola municila do mu-niciacutepio de alo AlegreRR E-mail fsaphotmailcom

322 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Sergio Luiz LopesPoacutes-doutor pela na Universidade Federal de Sergipe (UFS-2017 ateacute marccedilo de 2018) Professor Adjunto I do Curso de Educaccedilatildeo do Campo da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) na base Formaccedilatildeo de Educadores Saberes e Competecircncias co-ordenada pelo prof Dr Bernard Charlot (PARIS VIII-UFS) dentre outros Mestre em Ciecircncias Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Professor das seguintes disciplinas na graduaccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo So-ciologia TCC-1 Metodologia do Ensino de Sociologia e Estaacutegio em Sociologia Professor do mestrado em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Interculturalidade (Mestrado em Educaccedilatildeo convecircnio entre a Universidade Estadual de Roraima (UERR) - Instituto Federal de Roraima - IFRR) E-mail sergioluizufrrbr e serlu-pezyahoocombr

Sheila MangolliProfessora adjunta do curso de Licenciatura em Eduacaccedilatildeo do Campo da Uni-versidade Federal de Roraima

Suelane de Oliveira Silva DantasEspecialista em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash Faculdade Joseacute Augusto Vieira - FJAV Especialista em Gestatildeo Escolar orientaccedilatildeo e supervisatildeo ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Satildeo Luiz Licenciada em Geografia ndash FJAV Atua na Educaccedilatildeo Baacutesica desde 2009 exercendo a docecircncia no Ensino Fundamental e Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica no Coleacutegio Nossa Senhora da Piedade ndash CNSP Lagar-toSE

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 323

Agradecimento aos oacutergatildeos financiadores do Edital CAPESFAPITECSE Nordm 112016 e aos pesquisadores envolvidos no Projeto ldquoPercursos Teoacutericos Metodoloacutegicos e Praacuteticos nas Ciecircncias Ambientaisrdquo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe

  • DE TECNOLOGIA
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  • PREFAacuteCIO
  • A EROSAtildeO DA BIODIVERSIDADE DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO
    • Raphaeumll Larregravere
      • A EacuteTICA AMBIENTAL E A CRIacuteTICA POLIacuteTICA AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE HANS JONAS
        • Prof Dr Antocircnio Carlos dos Santos (UFSCNPq)
          • EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E A QUESTAtildeO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS NA ESCOLA ESTADUAL DELCY BARRETO DE SOUZA DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE
            • Rosangela Pereira Arauacutejo
              • A IDENTIFICACcedilAtildeO DE DESENHOS ANIMADOS COM CONTEUacuteDOS SOCIOAMBIENTAIS POR CRIANCcedilAS DO CICLO BAacuteSICO
                • Marilia Barbosa dos Santos
                • Jonielton Oliveira Dantas
                  • APLICACcedilAtildeO DO CICLO PDCA NO GERENCIAMENTO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS DE UMA FAacuteBRICA TEcircXTIL
                    • Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr
                    • Jailton de Jesus Costa
                      • NUANCES SOCIO-ESPACIAIS DO POVOADO ALOQUE EM ARACAJU-SE
                        • Eduardo de Souza Santos
                        • Keeze Montalvatildeo Fonseca da Silva
                          • A MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE
                            • Ademilson de Jesus Silva
                            • Milton Marques Fernandes
                              • AGRICULTURA DE BASE AGROECOLOacuteGICA NOVAS PERSPECTIVAS PARA O (DES)ENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ESTADO DE SERGIPE
                                • Amanda da Silva Santos
                                • Nuacutebia Dias dos Santos
                                  • ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA NO BRASIL E O ACESSO AS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITOS
                                    • Delmira Santos da Conceiccedilatildeo Silva
                                    • Nuacutebia Dias dos Santos
                                      • INTERDISCIPLINARIDADE E AS ldquoNOVASrdquo RELACcedilOtildeES CAMPO ndash CIDADE TERRITORIALIDADES EM FOCO
                                        • Jhersyka da Rosa Cleve
                                        • Nuacutebia Dias dos Santos
                                          • OS (DES) CAMINHOS DO PROGRESSO Agrave LUZ DA EacuteTICA AMBIENTAL
                                            • Mariacutelia Barbosa dos Santos
                                            • Maria Joseacute Nascimento Soares
                                              • POSSIBILIDADES DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA ADMINSTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA MUNICIPAL DE ARACAJUSE
                                                • Robertha Georgya de Barros e Silva
                                                • Ivana Ferreira Lermen
                                                  • sobre o autores
                                                  • _GoBack
Page 3: Ciências Ambientais em Perspectiva

AracajuSE2020

Criaccedilatildeo Editora

Ciecircncias Ambientaisem Perspectiva

OrganizaccedilatildeoMaria Joseacute Nascimento Soares

Laura Jane Gomes

ColaboradoresJonielton Oliveira Dantas

Mariacutelia Barbosa dos SantosDelmira Santos da Conceiccedilatildeo Silva

Alessandra Barbosa Souza

zesIlustraccedilatildeo 103764185 copy Hilchtime | Dreamstimecom

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Ficha catalograacutefica elaborada pelo bibliotecaacuterio Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846

S676a Soares Maria Joseacute Nascimento (org) et al Ciecircncias Ambientais em perspectiva Organizadores Maria

Joseacute Nascimento Soares Laura Jane Gomes Jonielton Oliveira Dantas Mariacutelia Barbosa dos Santos Delmira Santos da Con-ceiccedilatildeo Silva e Alessandra Barbosa Souza Prefaacutecio Andreacute Luiz de Oliveira ndash 1 ed ndash Aracaju SE Criaccedilatildeo Editora 2020

322 p 21 cm ISBN 978-65-80067-74-9 1 Biodiversidade 2 Ciecircncias Ambientais 3 Meio Ambiente I Tiacutetulo II Assunto III Organizadores

CDD 577CDU 50406

IacuteNDICE PARA CATAacuteLOGO SISTEMAacuteTICO1 Meio Ambiente2 Cuidados e proteccedilatildeo ao Meio Ambiente REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICASOARES Maria Joseacute Nascimento (org) et al Ciecircncias Ambientais em perspectiva 1 ed Aracaju SE Criaccedilatildeo Editora 2020

Proibida a reproduccedilatildeo total ou parcial por qualquer meio ou processo com finalidade de comercializaccedilatildeo ou aproveitamento de lucros ou vantagens com observacircncia da Lei de regecircncia Poderaacute ser reproduzido texto entre aspas desde que haja expressa marcaccedilatildeo do nome do autor tiacutetulo da obra editora ediccedilatildeo e paginaccedilatildeoA violaccedilatildeo dos direitos de autor (Lei nordm 961998) eacute crime estabelecido pelo artigo 184 do Coacutedigo penal

O rigor e a exatidatildeo do conteuacutedo dos artigos publicados satildeo da responsabilidade exclu-siva dos seus autores Os autores satildeo responsaacuteveis pela obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo escrita para reproduccedilatildeo de materiais que tenham sido previamente publicados e que desejem que sejam reproduzidos neste livro

IN MEMORIUMDANIELA PINHEIRO BITENCURTI RUIZ-ESPARZA

A filha do Seo Darccedila (Darcy Bitencurti) e Dona Maria Luiza Pinheiro natildeo era faacutecil Sempre levada e de espiacuterito irrequieta sabia o que queria Nasceu em Junquei-roacutepolis interior paulista destinada ir para o mundo Desde menina sempre es-tava laacute no meio dos meninos jogando bola basquete sua paixatildeo desde crianccedila Para as irmatildes e sobrinhos era uma inspiraccedilatildeo todos apaixonadas pelo espiacuterito aventureiro e suas conquistas

Saiacute de casa ndash Dani saiu de casa para ir estudar Fiacutesica na Universidade Estadual de Londrina (95) pois jaacute sabia que queria o seu universo estava na matemaacutetica e fiacutesica espacial entatildeo seu proacuteximo destino iniciou (99) o mestrado inconcluso no INPE mas reiniciou para concluir o mestrado no Meacutexico (2006) na Universi-dad Michoacaacuten de San Nicolaacutes de Hidalgo a qual foi orientada pelo Prof Jean Franccedilois Mas Gaussi onde aprimorou seus conceitos e a praacutexis nas geotecnolo-gias de geoprocessamento e sensoriamento remoto e suas relaccedilotildees entre vege-taccedilatildeo e a ocupaccedilatildeo humana

Um peacute no Meacutexico - Ao voltar para o Brasil (2007) ela trouxe o bioacutelogo ndash orni-toacutelogo Mexicano Juan Esparza seu grande companheiro o qual fora tirado a laccedilo do sitio de Morelia Contava ela a todos com grande satisfaccedilatildeo e alegria que tem pelos Mexicanos durante as sessotildees de violatildeo e viola de Los Romacircnti-

6 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

cos de la Caatinga ldquoConheci a Dani e Juan nos corredores da Biologia da UFSrdquo quando passei a notiacutecia iamos abrir o programa de Poacutes em Ecologia em 2008 Mas tinham uma condiccedilatildeo pare eles entrarem o Juan entrar teria que casar Casaram-se em 2007 e a partir daiacute fizerem planos de se estabelecerem defini-tivamente em Sergipe e sair daqui jaacute era impensaacutevel para ela O seu grupo de amigos da UFS Petrobras IBGE Geologia soacute aumentava e essa era uma das coisas que Dani sabia fazer bem Amizade pois tudo mundo era bom para ela os ruins deixa para laacute dizia ela

Os desafios ndash Sabia de manter ativa devido a sua experiecircncia adquirida nas consultorias no IBGE Petrobras Governo do Estado o que natildeo impediu de noacutes converte-la em pesquisadora Em 2014 entrou doutorado do Prodema e sob a orientaccedilatildeo do Dr Stephen F Ferrari teve seu desafio problema fazer o diag-noacutestico sobre desmatamento na caatinga do baixo Rio Satildeo Francisco (Bahia ndash Sergipe) e seus efeitos sobre as populaccedilotildees de Callicebus ndash macaco Guigoacute Concluiu muito bem Outras duas passagens desse desafio fizeram Dani conso-lidar-se agora como professora e pesquisadora Como professora foi substituta no Departamento de Engenharia Ambiental e como pesquisadora foi Bolsista do Poacutes doutorado no Prodema com a supervisatildeo da Dra Rosemeri M e Souza Recentemente fora credenciada no Mestrado e Doutorado do Prodema e seu orgulho era ter orientado 3 alunos e vinha orientando 5 do mestrado e uma de doutorado

Tinha planos para o semiarido ndash Trabalhar morar e viver no semiarido era ateacute entatildeo uma coisa muito remota na cabeccedila da Dani pois Aracaju os amigos o Corinthians o basquete e as longas noites e cervejas no Rosa Else os churrascos no Adauuto as quartas no Minero e no entardecer ela fazia e dizia sempre Vo-cecircs satildeo o maacuteximo minha vida aqui se completa Na transiccedilatildeo de 2016 foi viver em Nossa Senhora da Gloacuteria agora como Professora do receacutem criado Campus Sertatildeo onde estava lotada no Nuacutecleo de Ciecircncias Agraacuterias e da Terra Tinha pla-nos projetos aprovados que envolvia pesquisas sobre as questotildees do desma-tamento da caatinga a sustentabilidade do sertanejo no semiarido os serviccedilos ecossistecircmicos e a conservaccedilatildeo planejamento e gestatildeo dos recursos hiacutedricos Seu conhecimento nos instrumentos em geotecnologias e em sensoriamen-to remoto estava no lugar certo o Campus do Sertatildeo e no Prodema Estava dando certo Consequentemente a procura dos alunos do mestrado e doutora-do lanccedilou-a em novos desafios O seu aprendizado adquirido dentre os vaacuterios

Simpoacutesios de Geotecnologias e Sensoriamento remoto cursos ministrados no Campus Sertatildeo Prodema deixo-a feacutertil na busca de soluccedilotildees para os problemas ambientais agora com autoridade

O casulo e a borboleta - Dani cresceu e comeccedilou a se transformar ao ver o mundo e seus problemas atraveacutes do poderio de suas ferramentas e como as so-luccedilotildees poderiam natildeo ser somente local Em 16 de abril 2018 na data de seu ani-versaacuterio ela nos informou que ia conhecer a Aacutefrica Angola Seu sonho Nos seus comentaacuterio ouviu nossos proacutes e contra mas apoiamos Ela dizia que natildeo conse-guia ver aquelas imagens das crianccedilas pobres da Aacutefrica vivendo em condiccedilotildees desagradaacuteveis e isso a incomodava doiacutea Que era inadmissiacutevel com as nossas tecnologias atuais poderia ajudar a resolver certos problemas de saneamento desmatamentos gestatildeo dos recursos naturais com uma governanccedila saudaacutevel Diante disso incentivamos e sugerimos que entrasse em contato com os nossos ex-alunos do Prodema em Angola e que buscasse espaccedilo nas Universidades locais e a recebesse para uma seacuterie de palestras sobre tais tecnologias Esteve na Universidade de Benguela e outros lugares Foi num espaccedilo de tempo con-traiu uma malaacuteria encefaacutelica e a nossa linda borboleta soltou diante dos nossos olhos e voou no dia 27 de junho 2018 Encerrou a sua missatildeo Missatildeo cumprida

Adauto de Souza Ribeiro (amigo)Consultas httplattescnpqbr6536448512154767

Juan Manuel Ruiz-Esparza

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 9

PREFAacuteCIO

Leitor amigo

Me sinto honrado sobremaneira em prefaciar o livro Ciecircn-cias Ambientais em Perspectiva Normalmente um prefaciador eacute quem apresenta ou ateacute introduz o livro diante de sua capacidade e competecircncia No entanto eu faccedilo-o na qualidade de aprendiz e amigo da homenageada Professora Doutora Daniela Pinheiro Bitencurti Ruiz Esparza Esta obra que eacute composta por dezesseis artigos eacute uma singela e honrosa homenagem de seus autores agrave Daniela Bitencurti por sua contribuiccedilatildeo ao Prodema e aos alunos o qual tive a honra de ser

O que me proponho a seguir eacute trazer um pouco da tra-jetoacuteria da amada Daniela oriunda de uma tiacutepica famiacute-lia brasileira interior paulista Junqueiroacutepolis Satildeo Paulo Daniela sempre foi dedicada e focada em seus estudos no espor-te e muito ligada ao meio ambiente Graduou-se em fiacutesica bem como realizou poacutes graduaccedilatildeo na aacuterea de ciecircncias ambientais com ecircnfase em georefenciamento Em decorrecircncia do seu amor pelo meio ambiente Daniela chegou ao Prodema

A Profa Dra Daniela gostava de ser chamada de forma simples sem rodeios apenas Dani Faacutecil de adjetiva-la agre-gadora amiga dedicada feliz sempre com um sorriso ami-go no rosto e uma palavra amiga em qualquer situaccedilatildeo Sempre muito cuidadosa com seus pares alunos e amigos foi re-ferecircncia e cresceu no programa tendo uma trajetoacuteria de sucesso ateacute sua efetivaccedilatildeo como docente do Campus de Gloacuteria

Em que pese seu enorme amor pelo Brasil Dani sonhava em conhecer o mundo principalmente o continente Africano Sonhava inclusive em dar continuidade aos estudos em Ango-la onde a mesma tinha fascinaccedilatildeo em conhecer e ajudar To-davia ao realizar um dos seus sonhos quis o destino abreviar sua estada neste plano causando seu desencarne prematuro Ficamos com a saudade apertando o peito e a certeza de sua grandeza como pessoa Seguimos com a maacutexima de que a vida continua plena de esperanccedila trabalho progresso e realizaccedilotildees ajustadas as leis de deus

Dani nunca vou esquecer o brilho do seu olhar o encanto do seu sorriso a maacutegica da sua vivacidade em relaccedilatildeo a tudo Para uma grande presenccedila uma grande saudade

Aracaju 17 de junho de 2020

Andreacute Luiz de Oliveira

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 11

APRESENTACcedilAtildeO

Durante o seacuteculo XX inuacutemeros eventos provocados pela accedilatildeo antroacutepica ndash em escala global ndash desafiaram ao mesmo tempo em que contribuiacuteram para o desenvolvimento cientiacutefico e tecno-loacutegico Nesse contexto o conhecimento cientiacutefico na linha das ciecircncias ambientais tem contribuiacutedo para o amadurecimento e a formaccedilatildeo de um sistema econocircmico que possa conciliar o de-senvolvimento em consonacircncia com equidade social e resiliecircncia ambiental

Chegamos ao seacuteculo XXI com desafios calcados nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentaacutevel proposto pela ONU em que os paiacuteses possam alcanccedilar a sustentabilidade ateacute 2030

No Brasil existem programas de poacutes-graduaccedilatildeo reconhecidos pela CAPES que contribuem para a preparaccedilatildeo de profissionais engajados com o paradigma da sustentabilidade Dentre eles destaca-se o Prodema que no decorrer dos uacuteltimos 30 anos vem atuando em vaacuterios estados brasileiros

Cabe destacar a contribuiccedilatildeo do PRODEMA atuante na Univer-sidade Federal de Sergipe desde 1995 Satildeo exatos 25 anos com docentes de vaacuterias aacutereas de conhecimento dedicados a pesquisas

12 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

focadas na aacuterea de ciecircncias ambientais e que contribuiacuteram so-bremaneira para o entendimento das relaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e ambientais regionais e locais Foram mais de 400 dissertaccedilotildees de mestrado defendidas desde entatildeo que aponta-ram proposiccedilotildees factiacuteveis para a aplicaccedilatildeo na esfera das poliacuteticas puacuteblicas em diversos segmentos sauacutede educaccedilatildeo meio ambien-te planejamento

Os organizadores do presente livro marcam dessa forma os 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE com uma coletacircnea de artigos assinados por docentes egressos mestrandos e convidados e que ilustram a identidade de um programa que contribuiu e con-tribuiraacute por muito tempo para a melhoria da qualidade de vida dos sergipanos

Satildeo artigos que perpassam assuntos relacionados ao antro-poceno eacutetica gestatildeo percepccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental com o registro da forma de ldquopensarrdquo PRODEMA a capacidade de aplicar o enfoque sistecircmico e consequentemente expressar um olhar integrado do meio ambiente e sociedade seja ele rural urbano ou natural

Desejo vida longa e proacutespera ao PRODEMAUFS e uma provei-tosa leitura a todos

24 de marccedilo de 2020

Laura Jane GomesCoordenadora Adjunta

PREFAacuteCIO 5Andreacute Luiz de Oliveira

APRESENTACcedilAtildeO 15Laura Jane Gomes

A EROSAtildeO DA BIODIVERSIDADE DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO

15

Raphaeumll Larregravere

A EacuteTICA AMBIENTAL E A CRIacuteTICA POLIacuteTICA AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE HANS JONAS

24

Antocircnio Carlos dos Santos

REFLEXOtildeES SOBRE EacuteTICA AMBIENTAL NA CONTEMPORANEIDADE 44Jonielton Oliveira Dantas Alessandra Barbosa SouzaMariacutelia Barbosa dos Santos Maria Joseacute Nascimento SoaresSuelane de Oliveira Silva Dantas

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E A QUESTAtildeO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS NA ESCOLA ESTADUAL DELCY BARRETO DE SOUZA DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

57

Rosangela Pereira Arauacutejo Seacutergio Luiz LopesSheila Mangolli Pedro Alves da Silva Filho

PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL ACERCA DA TRIacutePLICE EPIDEMIA (DENGUE-CHIKUNGUNYA-ZIKA) E SUA RELACcedilAtildeO COM OS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS DOS MORADORES NO POVOADO JUAacute MUNICIacutePIO DE PAULO AFONSO - BAHIA BRASIL

84

Andreacute Viniacutecius Bezerra de Andrade Silva Camilo Rafael Pereira Brandatildeo Kecircnia Dantas Alves Nadja Santos Vitoacuteria

A IDENTIFICACcedilAtildeO DE DESENHOS ANIMADOS COM CONTEUacuteDOS SOCIOAMBIENTAIS POR CRIANCcedilAS DO CICLO BAacuteSICO

96

Marilia Barbosa dos Santos Antocircnio Menezes Jonielton Oliveira Dantas

O PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA EM SERGIPE E A RELACcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL COM OS MORADORES DOS POVOADOS DO ENTORNO

116

Igor Azevedo Souza Giceacutelia Mendes da SilvaMaria Joseacute Nascimento Soares Daniela Teodoro Sampaio

SUMAacuteRIO

APLICACcedilAtildeO DO CICLO PDCA NO GERENCIAMENTO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS DE UMA FAacuteBRICA TEcircXTIL

140

Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr Antocircnio de Oliveira NettoGlessia Silva Jailton de Jesus Costa

NUANCES SOCIO-ESPACIAIS DO POVOADO ALOQUE EM ARACAJU-SE 159Eduardo de Souza Santos Eliene Oliveira da SilvaGleison Parente Pereira Keeze Montalvatildeo Fonseca da SilvaJailton de Jesus Costa

A MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE 175Ademilson de Jesus Silva Cassandra Mendonccedila de Oliveira Deniver Delma Souza Oliveira Milton Marques Fernandes

AGRICULTURA DE BASE AGROECOLOacuteGICA NOVAS PERSPECTIVAS PARA O (DES)ENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ESTADO DE SERGIPE

201

Amanda da Silva Santos Elis Gardecircnia dos SantosFranciley Santos Leite Nuacutebia Dias dos Santos

ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA NO BRASIL E O ACESSO AS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITOS 217Delmira Santos da Conceiccedilatildeo Silva Eliane de Souza Barbosa Joseacute Heleno Alves da Silva Nuacutebia Dias dos Santos

INTERDISCIPLINARIDADE E AS ldquoNOVASrdquo RELACcedilOtildeES CAMPO ndash CIDADE TERRITORIALIDADES EM FOCO

239

Jhersyka da Rosa Cleve Nicole Cavalcanti SilvaDiogo dos Santos Gonccedilalves Bahia Nuacutebia Dias dos Santos

DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE 263Clezyane Correia Arauacutejo Alceu Pedrotti Inaacutecio de Barros Sara Julliane Ribeiro Assunccedilatildeo Ana Paula Silva de Santana Francisco Sandro Rodrigues Holanda

POSSIBILIDADES DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA ADMINSTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA MUNICIPAL DE ARACAJUSE

274

Robertha Georgya de Barros e Silva Gicelia Mendes da SilvaIvana Ferreira Lermen

A CRISE DA CIEcircNCIA MODERNA E A CRIacuteTICA DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

294

Jonielton Oliveira Dantas Suelane de Oliveira Silva DantasFabriacutecio Nicacio Ferreira Eliane dos Santos da SilvaElenaldo Fonseca de Oliva Junior

SOBRE O AUTORES 310

A EROSAtildeO DA BIODIVERSIDADE DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO

Raphaeumll Larregravere1

INTRODUCcedilAtildeO

Em quecirc esta nova etapa da histoacuteria da Terra que nos acostumamos nomear Antropoceno difere da longa histoacuteria da antropizaccedilatildeo da natureza desde o ne-oliacutetico Desde haacute muito tempo natildeo haacute mais lugares do planeta onde laquo a matildeo do homem jamais tenha colocado os peacutes raquo Por toda parte sociedades humanas modificaram os meios naturais a fim de que sejam mais acolhedores Os diver-sos meios que nos cercam resultam assim de uma histoacuteria de longa duraccedilatildeo a do modo o qual sociedades muito diversas tiraram partido do campo dos possiacuteveis que a natureza lhes oferecia transformando-a toda e modificando o campo dos possiacuteveis (isto eacute modfiicando conjuntamente as restriccedilotildees impostas pelo contexto natural e as oportunidades que ele oferece) Mesmo quando os humanos cessaram por uma razatildeo ou outra de aiacute intervir os meios tecircm uma memoacuteria e os que parecem mais selvagens portam ainda a marca de suas uti-lizaccedilotildees passadas ndash assim como mostraram os trabalhos de histoacuteria ecoloacutegica da Amazocircnia2 Assim a antropizaccedilatildeo foi uma espeacutecie de co-evoluccedilatildeo ao longo do Holoceno sociedades humanas e outros viventes aleacutem dos humanos em di-ferentes tipos de contexto ecoloacutegico Esta antropizaccedilatildeo foi entatildeo traduzida por alteraccedilotildees irreversiacuteveis de ecossistemas locais e a desapariccedilatildeo de numerosas espeacutecies (a megafauna pleistocecircnica) A novidade que designa o termo Antro-

1 Texto traduzido por Marcelo de SantrsquoAnna Alves Primo bolsista PNPD-CAPESUFS docente cola-borador do Departamento de Filosofia e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Filosofia da Universi-dade Federal de Sergipe2 Ver notadamente William Baleacutee laquo Indigenous transformations of Amazonian forests an exemple from Maranaho Brazil raquo in Anne Christine Tayloramp Philippe Descola (eds) laquo La remonteacutee de lrsquoAma-zone raquo LrsquoHomme 33 (2-4) 1993 p235-258 Darell Posey laquo A preliminary report on diversified mana-gement of tropical rainforest by the Indians of the Brazilian Amazon raquo Advances in Economic Botany 1 1984 p112-126 Laura Rival laquo Amazonian historical ecologies raquo in Journal of the Royal Anthropo-logical Institute 12 (s1) 2006 S79-S94

16 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

poceno eacute que por suas atividades acumuladas a humanidade se tornou uma forccedila geofiacutesica (e talvez mesmo a forccedila geofiacutesica principal) a qual o impacto eacute global e far-se-aacute sentir durante seacuteculos A manifestaccedilatildeo emblemaacutetica do Antro-poceno eacute assim a mudanccedila climaacutetica mas nesse processo estatildeo associadas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a erosatildeo da diversidade das espeacutecies viventes

Tendo como projeto tratar da erosatildeo acelerada da biodiversidade eu vou em um primeiro momento evocar o acontecimento que inaugura a globali-zaccedilatildeo do impacto dos humanos sopre a reparticcedilatildeo das espeacutecies e a sua diver-sidade Em seguida seraacute questatildeo o modo pelo qual a modernidade ocidental acentuou uma erosatildeo da biodiverseteca3 a mudanccedila climaacutetica natildeo faraacute senatildeo amplificar Enfim evocarei o modo que certos interesses econocircmicos entendem orientar as inovaccedilotildees em mateacuteria de biotecnologia para se tornar a pressatildeo de seleccedilatildeo dominante na evoluccedilatildeo das espeacutecies

O HOMOGENOCENO

Haacute 250 milhotildees de anos as terras emergidas estavam reunidas em um uacutenico continente a Pangeia Apoacutes a deriva continentes tecircm progressivamente sepa-rado as Ameacutericas da Euraacutesia e da Aacutefrica Enquanto elas contecircm ainda espeacutecies comuns as floras e as faunas desses continentes seguiram evoluccedilotildees diferentes Em 1492 a laquo descoberta raquo da Ilha de Espagnola por Cristoacutevatildeo Colombo inagura o que Alfred Crosby chamou de laquo mudanccedila colombiana raquo4 Intensificando-se e generalizando-se a outros continentes esta vai segundo a expressatildeo de Char-les Mann laquo recolher as peccedilas da Pangeia raquo e fazer entrar a natureza e a humani-dade na era do Homogenoceno5 laquo A dinacircmica da mudanccedila prossegue Charles Mann terminou transformando o planeta em um sistema ecoloacutegico unificado desde o fim do seacuteculo XIXraquo6

A mudanccedila colombiana inaugurou uma reparticcedilatildeo radicalmente nova das culturas e criaccedilotildees7 o que contribuiu para melhorar e diversificar os recursos ali-mentares da humanidade Do mesmo modo as trocas mercantis entre o Novo

3 laquo Biodiversiteacuteque raquo no original (N do T)4 Alfred W Crosby 2003 The Columbian Exhange Biological and Cultural Consequences of 1492Westport CT Praeger 5 Charles C Mann 2013 1493 ndash Comment la deacutecouverte de lrsquoAmeacuterique a transformeacute le monde Paris Albin Michel pp 19-57 (introduccedilatildeo intitulada laquoLrsquoegravere de lrsquohomogeacutenocegraveneraquo) 6 Charles C Mann 2013 Idem (proacutelogo p14)7 ldquoEacutelevagerdquo no original (N do T)

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e o Antigo Mundo difundiram em todos os paiacuteses espeacutecies selvagens exoacuteticas que enriqueceram as suas flores e a sua fauna mas por vezes mostraram-se invasivas e prejudiciais seja aos meios naturais seja agraves culturas seja mesmo agrave saude humana

Os conquistadores certamente trouxeram com eles culturas europeias bo-vinos ovinos e porcos mas tambeacutem introduziram passageiros clandestinos ratos insetos ervas daninhas bacteacuterias e viacuterus desconhecidos no continente americano Um dos primeiros efeitos maiores da mudanccedila colombiana foi de disseminar entre as populaccedilotildees ameriacutendias germes patoacutegenos contra os quais eles natildeo estavam imunizados Os Ameriacutendios se mostraram particularmente vulneraacuteveis agrave zoonoses8 que os Europeus conheciam bem a tuberculose e a va-riacuteola Doenccedilas tatildeo banais entre noacutes como o sarampo ou a gripe foram tatildeo fatais agraves populaccedilotildees ameriacutendias que as contraiacuteram que as praacuteticas terapecircuticas que eles dominavam eram sem efeito sobre essas doenccedilas ineacuteditas

Quando os primeiros colonos ingleses desembarcaram na Ameacuterica do Norte no iniacutecio do seacuteculo XVII a populaccedilatildeo natildeo representava mais segundo William Denevan do que um deacutecimo senatildeo um vinte avos do que ela tinha sido antes de 14919 O mesmo colapso demograacutefico se reencontra na Ameacuterica do Sul As-sim a mudanccedila colombiana conduziu a uma verdadeira hecatombe ndash como se jamais conheceu na Euraacutesia mesmo durante a grande peste medieval na Euro-pa (1347-1351)

Portadores de viacuterus e de bacteacuterias dizimando as populaccedilotildees autoacutectones pioneiros largamente desarborizando arando caccedilando sem muita restriccedilatildeo transplantando cultivares e desenvolvendo a criaccedilatildeo de seus animais domeacutes-ticos os colonizadores ndash espanhois portugueses ou franceses ndash da mesma ma-neira que os wasps (natildeo as vespas mas os protestantes anglosaxotildees brancos) estavam na origem de cataacutestrofes ecoloacutegicas e humanas consideraacuteveis10

Seguiu-se o abandono das culturas ardentes e arroteamentos que pratica-vam os Ameriacutendios sobre vastos espaccedilos e o reflorestamento espontacircneo dos territoacuterios abandonados daiacute uma diminuiccedilatildeo da concentraccedilatildeo da atmosfera

8 Satildeo qualificadas de zoonoses doenccedilas virais ou bacterianas as quais os animais domeacutesticos satildeo os alojadores Criadores de bovinos ovelhas porcos e caprinos os Europeus eram mais resistentes a essas doenccedilas do que os ameriacutendios 9 William M Denevan laquoThe pristine myth the landscape of the Americas in 1492 raquo In Baird Callicot-tet Michael P Nelson(dir) The great new wilderness debate op cit p 414-44210 Jared Diamond 1997 Guns Germs and Steel The Fates of Human Societies New York WW Nor-ton

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em CO2 de 7 agrave 10 ppm entre 1570 e 1620 de acordo com as anaacutelises da calota glaciaacuteria da Antaacutertica

Segundo certas hipoacuteteses a pequena era glaciaacuteria dos seacuteculos XVII e XVIII seria uma consequecircncia do colapso demograacutefico das populaccedilotildees ame-riacutendias11 Eacute entatildeo provaacutevel que a mudanccedila colombiana esteja na origem da primeira incidecircncia global dos humanos sobre o clima Entretanto se a causa foi pavorosa os efeitos dessa pequena era glaciaacuteria foram reversiacuteveis as clarei-ras dos colonos interviram antes mesmo que a revoluccedilatildeo industrial diminua na atmosfera o CO2 oriundo da utilizaccedilatildeo crescente das energias fosseacuteis Eacute porque a maior parte dos analistas vecircem na invenccedilatildeo da maacutequina agrave vapor agrave beira da revoluccedilatildeo industrial a origem do Antropoceno ndash o qual natildeo teria atingido um caraacuteter irreversiacutevel e encerrado um reaquecimento sensiacutevel senatildeo a partir da laquo grande aceleraccedilatildeo raquo apoacutes a segunda guerra mundial12 DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO

Os cientistas concordam em afirmar que haacute extinccedilatildeo de espeacutecies e que esta laquo sexta exitinccedilatildeo raquo excede por seu ritmo as que interviram no curso da evo-luccedilatildeo Por mais preocupantes e espetaculares que elas sejam as extinccedilotildees de espeacutecies natildeo satildeo senatildeo o sintoma de um fenocircmeno bem mais geral a erosatildeo da biodiversidade Antes de qualquer coisa sem que a proacutepria espeacutecie seja amea-ccedilada algumas de suas populaccedilotildees podem desaparecer de regiotildees inteiras Em seguida se esse processo eacute menos espetacular do que as extinccedilotildees haacute uma diminuiccedilatildeo dos efetivos de numerosas espeacutecies Logo da mesma maneira que a desapariccedilatildeo de uma de suas populaccedilotildees locais o decliacutenio dos efetivos glo-bais de uma espeacutecie tem por consequecircncia uma diminuiccedilatildeo de sua diversidade geneacutetica ndash o que tende a limitar as suas capacidades de adaptaccedilatildeo por seleccedilatildeo natural

11 Ver Robert A Dull 2010 laquo The Columbian Encounter and the Little Ice Age Abrupt Land Use Change Fire and Greenhouse forccediling raquo AAAG 100 p 755-771 Simon L Lewis Mark A Maslin 2015 laquo Defining the Anthropocene raquo Nature 519 (2) P 128-146 Simon L Lewis Mark A Maslin 2018 laquo Lrsquoan 1610 de notre egravere ndash Une date geacuteologiquement et historiquement coheacuterente pour le deacutebut de lrsquoAnthropocegravene raquo In Reacutemi Beau et Catherine Larregravere (eds) Penser lrsquoAnthropocegravene Paris Presses de SciencePo p77-9512 Will Steffen Jacques Grinevald Paul Crutzen e John Mc Neill 2011 laquo Anthropocene conceptual and historical perspectives raquo in Philosophical Transactions Royal Society Publishing

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Desta erosatildeo as atividades humanas satildeo responsaacuteveis por um todo comple-xo de causas emaranhadas imposiccedilotildees abusivas desmatamento das florestas tropicais e equatoriais destruiccedilotildees sistemaacuteticas dos laquo nocivos raquo com um grande reforccedilo de pesticidas poluiccedilotildees de origem agriacutecola e industrial urbanizaccedilotildees e infraestruturas que fragmentam os habitats multiplicaccedilatildeo das introduccedilotildees de espeacutecies as quais algumas (uma minoria) se mostram invasivas Logo quando elas natildeo satildeo uma consequecircncia direta da mudanccedila colombiana mundializada (como satildeo as espeacutecies invasivas os arroteamentos e as plantaccedilotildees coloniais) todas essas causas surgem de um processo que Descola definiu como laquo uma parte da humanidade se [] apropriou da Terra e a devastou para assegurar o que ela definiu como o seu bem-estar em detrimento de uma multiplicidade de outros humanos e de natildeo-humanos que pagam a cada dia as consequecircncias desta rapacidaderaquo13

Entre essas causas eu queria insistir brevemente sobre duas dentre elas porque elas se acentuaram e se generalizaram na segunda metade do seacuteculo XX o desenvolvimento da agricultura produtivista e a mudanccedila climaacutetica

O desenvolvimento das formas de produccedilatildeo da laquo revoluccedilatildeo verde raquo como a da agricultura produtivista dos paiacuteses industrializados teve consequecircncias so-ciais e ambientais nefastas Os paiacuteses que puderam adotaacute-las inundam o resto do mundo com seus excedentes baratos Segue-se a ausecircncia de possibilidade de desenvolver mercados nacionais nos outros paiacuteses a destruiccedilatildeo de seu cam-pesinato a acumulaccedilatildeo de suas favelas14 e outras favelas pelos camponeses arruinados Mas essas formas de agricultura satildeo aleacutem disso muito poluentes tendo efeitos prejudiciais tanto sobre a sauacutede humans como sobre as capaci-dades produtivas dos solos (erosatildeo salinizaccedilatildeo perda de mateacuteria orgacircnica) e a diversidade bioloacutegica Enfim elas tecircm um mal rendimento energeacutetico e as suas exportaccedilotildees em direccedilatildeo dos paiacuteses deficitaacuterios (mas tambeacutem entre paiacuteses exportadores) supotildeem transportes pesados e volumosos Elas contribuem de modo importante agraves emissotildees de gaacutes com efeito estufae entatildeo agrave mudanccedila climaacutetica15

As espeacutecies tecircm (como elas tiveram nas flutuaccedilotildees climaacuteticas precedentes) dois modos de se adaptar agraves mudanccedilas climaacuteticas seja por seleccedilatildeo natural de

13 Philippe Descola 2018 laquo Humain trop humain raquo In Reacutemi Beau et Catherine Larregravere (eds) Penser lrsquoAnthropocegravene Paris Presses de Science p2014 ldquoBidonvillesrdquo no original (N do T)15 Para uma criacutetica mais detalhada da agricultura produtivista ver Catherine Larregravere e Raphaeumll Larregravere 2015 2018 Penser et agir avec la nature ndash Une enquecircte philosophique (p 265-284)

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genoacutetipos concedendo uma maior toleracircncia agraves novas condiccedilotildees climaacuteticas (o interesse da diversidade geneacutetica das populaccedilotildees de uma espeacutecie eacute que se tem mais chances de aiacute encontrar dos genoacutetipos adaptados agraves novas condiccedilotildees cli-maacuteticas) seja migrando para ceacuteus mais clementes A cada vez houve extinccedilatildeo das que aiacute natildeo chegaram Logo o que distingue a mudanccedila climaacutetica em curso daquelas que a precederam durante as eacutepocas glaciaacuterias do Pleistoceno eacute o seu ritmo este se mede em dececircnios e natildeo em seacuteculos ou milecircnios Estamos em di-reito de perguntar se as populaccedilotildees das espeacutecies mais vulneraacuteveis teratildeo tempo de se adaptar por seleccedilatildeo natural ou por migraccedilatildeo

DAS CONSEQUEcircNCIAS INVOLUNTAacuteRIAS AOS EFEITOS PRETENDIDOS

Assim como a mudanccedila climaacutetica a erosatildeo da diversidade bioloacutegica resulta de consequecircncias natildeo-intencionais das atividades produtivas O desenvolvi-mento da agricultura produtivista teve objetivos econocircmicos natildeo foi conce-bido com o objetivo de empobrecer a riqueza em espeacutecies das regiotildees onde ela se impocircs Entretanto a utilizaccedilatildeo cada vez mais massiva de herbicidas e de pesticidas para tentar remediar as consequecircncias involuntaacuterias da agricultura produtivista (vulnerabilidade das monoculturas especializadas sobre grandes superfiacutecies) ou da multiplicaccedilatildeo das espeacutecies invasivas com o desenvolvimento das trocas mercantis eacute uma intervenccedilatildeo intencional Entatildeo natildeo se trata senatildeo de eliminar ao menos controlar as populaccedilotildees de laquo ervas daninhas raquo insetos devastadores ou vetores de doenccedilas virais bacterianas ou fuacutengicas

Desde 1962 Rachel Carson tinha alertado contra a utilizaccedilatildeo sistemaacutetica e massiva do DDT o qual os efeitos sobre os insetos que eram o alvo repercutem no decurso das cadeias troacuteficas16 Essas advertecircncias natildeo impediram as firmas de agronegoacutecio de desenvolverem constantemente novos produtos quiacutemicos que elas impuseram sobre o mercado O resultado eacute por exemplo um colapso das populaccedilotildees de insetos Haacute 30 ou 40 anos nossos paacutera-brisas eram conste-lados de impactos de insetos desde que se utilizasse o carro para leves deslo-camentos Podemos nos nossos dias fazer longos trajetos com um paacutera-brisa imaculado Logo esta rarefaccedilatildeo dos insetos teve como consequecircncia uma forte depressatildeo das populaccedilotildees de paacutessaros comuns Assim de 1989 agrave 2012 os efe-

16 Rachel Carson 1962 Silent Spring Houghton Mifflin Compagny ndash Trad Fr Printemps silencieux 2009 (Prefaacutecio de Al Gore) Marseille Editions Wildproject

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tivos de paacutessaros comuns de paacutessaros segundo os especialistas diminuiacuteram 31 na Franccedila

Todo produto quiacutemico desde quando eacute utilizado massivamente e sobre um vasto territoacuterio seleciona entre seus alvos estirpes17 resistentes Os produtores de pesticidas satildeo assim engajados em uma laquo corrida armamentista raquo com orga-nismos que desenvolvem resistecircncias Mas eles sabem que teratildeo de encontrar outras maneiras de lutar contra o que prejudica os rendimentos agriacutecolas A utilizaccedilatildeo massiva dos pesticidas eacute cada vez mais contestada ndash por suas conse-quecircncias sanitaacuterias (primeiro sobre os produtores depois sobre a vizinhanccedila e enfim sobre os consumidores) tanto como por seus efeitos sobre a erosatildeo da biodiversidade Aleacutem disso a promoccedilatildeo das novas moleacuteculas eacute dispendiosa ela supotildee numerosos anos de ajustamento de tentativas e avaliaccedilatildeo dos riscos Assim a guerra quiacutemica que permitiu a acumulaccedilatildeo de seu capital as firmas do agronegoacutecio sonham em substituir agrave prazo uma guerra bioloacutegica que elas natildeo hesitam em justificar com argumentos ecoloacutegicos de circunstacircncia

Daiacute o interesse que elas tecircm em uma inovaccedilatildeo recente a forccedilagem18 geneacute-tica ou gene drive19 Trata-se de um procediment de mutaccedilatildeo que se autoreplica em razatildeo de uma construccedilatildeo geneacutetica que assegura uma propagaccedilatildeo expo-nencial de alguns indiviacuteduos laquo produzidos em laboratoacuterio raquo que satildeo providos Assim basta introduzir um pequeno nuacutemero de espeacutecimes munidos de um gene deleteacuterio para que esta mutaccedilatildeo ganhe em algumas dezenas de geraccedilotildees todos os indiviacuteduos (ou quase) de uma dada populaccedilatildeo A mais mediatizada das muacuteltiplas aplicaccedilotildees desse gene drive (que marcha avanccedila sobre todas as espeacutecies as quais ele foi testado) eacute a que concerne aos anofelinos (vetores do paludismo) Tratar-se-ia de deixar gene drive munidos de uma mutaccedilatildeo que os torna resistentes ao Plasmodium ndash o que natildeo faria mas vetores do paludismo e permitiria erradicar esta doenccedila de regiotildees inteiras onde ela eacute endecircmica Ou-tros trabalhos sobre os mosquitos (vetores da dengue ou chicungunya) visam largar na natureza mutantes os quais as descendentes fecircmeas seriam todas es-teacutereis

Resultaria entatildeo em uma eliminaccedilatildeo desses insetos Assim eacute provaacutevel que o projeto de utilizar o meacutetodo para erradicar doenccedilas que fazem tantas viacutetimas pelo mundo como o paludismo (a dengue ou o chicungunya) natildeo seja senatildeo o cavalo

17 ldquoSouchesrdquo no original (N do T)18 ldquoForccedilagerdquo no original (N do T)19 Para uma raacutepida apresentaccedilatildeo Catherine Larregravere et Raphaeumll Larregravere 2017 Bulles technologiques Marseille Editions Wildproject

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de Troacuteia do desenvolvimento de seu emprego para erradicar os laquo nocivos raquo inse-tos devoradores vetores de doenccedilas das culturas espeacutecies invasivas etc

Por mais nociva que seja a luta quiacutemica eacute reversiacutevel basta abandonar os tratamentos Enfim ela natildeo o eacute completamente na medida em que certas mo-leacuteculas toacutexicas utilizadas (por exemplo o clordecona) permanecem longo tem-po nos solos nas aacuteguase as ceacutelulas da maior parte dos humanos e natildeo-hu-manos Mas desde que os tratamentos satildeo abandonados vecirc-se localmente aumentar as populaccedilotildees d einsetos e de paacutessaros Em contrapatida o meacutetodo do gene drive eacute praticamente irreversiacutevel Enfim se as destruiccedilotildees quiacutemicas es-tavam localizadas em certos meios a populaccedilatildeo mutante pode potencialmente se difundir por toda parte Enfim se se chegar a erradicar uma espeacutecie outras espeacutecies (eventualmente nocivas) viratildeo ocupar seu nicho ecoloacutegico A guerra bioloacutegica natildeo faraacute cessar a corrida armamentista Logo as consequecircncias de tais operaccedilotildees satildeo enormemente imprevisiacuteveis algumas dentre elas podendo ser particularmente nocivas Se os bioacutelogos adotaram com entusiasmo a cons-truccedilatildeo geneacutetica CRISPRCas9 que entra na composiccedilatildeo da forccedilagem geneacutetica eacute que ela eacute mais fiaacutevel do que as manipulaccedilotildees anteriores (a despeito de modi-ficaccedilotildees off target do genoma) mas tambeacutem mais raacutepida e sobretudo nemos cara Ela eacute manipulaacutevel por qualquer indiviacuteduo diplomado em biologia mole-cular Uma rede associativa DIY (Do it Yourself) jaacute colocou agrave venda on line um laquo Borderial gene Engineering CRISPR Kit raquo Ele custa somente 140 $ (mas supotildee que se disponha de um centrifugador) e alicia seus clientes pela palavra de or-dem laquo Biohack the Planet raquo Se natildeo importa qual biohacker pode mutar em sua garagem tanto bacteacuterias como insetos ou plantas como evitar que alguns natildeo aproveitem para almejar objetivos criminosos graccedilas a um meacutetodo suscetiacutevel de oferecer grandes oportunidades de prejudicar Eacute sem duacutevida a razatildeo pela qual em fevereiro de 2016 a NSA classificou CRISPR na categoria das laquo armas de destruiccedilatildeo em massa raquo

Mesmo nos casos ou natildeo se saberia suspeitar das intenccedilotildees crminosas as consequecircncias desta guerra bioloacutegica aos nocivos satildeo imprevisiacuteveis Conside-rando a complexidade dos processos ecoloacutegicos estaacute excluiacutedo apreender as consequecircncias de um procedimento que substitui as mutaccedilotildees naturais aleatoacute-rias por mutaccedilotildees forccediladas os mecanismos da seleccedilatildeo natural por uma acelera-ccedilatildeo da difusatildeo de genoacutetipos mutantes (aiacute compreendido se eles natildeo beneficiam nenhuma vantagem competitiva) O que eacute verdade de uma uacutenica introduccedilatildeo de mutante gene drive o eacute a fortiori se numerosas empresas se ponham a bri-colar sem a menor coordenaccedilatildeo mutantes largados na natureza para eliminar

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as espeacutecies que prejudicam seus lucros Certamente a natureza eacute uma valente faz-tudo20 que procede por tentativas e erros mas diferentemente dos huma-nos ela dispotildee de um longo tempo Logo o que torna a ambiccedilatildeo dos promoto-res da implementaccedilatildeo da forccedilagem geneacutetica mais do que problemaacutetica eacute que eles estatildeo engajados pelo intermeacutedio das patentes em uma corrida tecnoloacutegica e econocircmica maior e natildeo tem a sabedoria do tempo

CONCLUSAtildeO

Suponhamos que esta nova tecnologia revolucionaacuteria venha a se impor Spunohamos entatildeo que natildeo se tratasse de uma laquo bolha tecnoloacutegica raquo e que se esteja ao ponto de dispor de um meio eficaz irreversiacutevel e generalizaacutevel em escala planetaacuteria de erradicar as espeacutecies nocivas (ou de substitui-las por mu-tantes menos nocivos)

Mas a quem essas espeacutecies satildeo nocivas Quando se trata de vetores de doenccedilas virais ou do paludismo elas o satildeo potencialmente para toda a huma-nidade Os devoradores e as pestes vegetais que diminuem os rendimentos da agricultura produtivista ndash enquanto as formas de agro-ecologia podem aiacute se acomodar sem destrui-las21 - prejudicam principalmente os lucros do agrone-goacutecio Basta examinar a guerra quiacutemica que foi engajada desde o seacuteculo XX e as potencialidades que lhe oferece a forccedilagem geneacutetica para entender que natildeo eacute (ou ao menos mais) a humanidade em seu todo que eacute responsaacutevel pela erosatildeo acelerada da diversidade bioloacutegica mas as atividades intencionais de empre-sas sob o sistema capitalista o que vai ao encontro da argumentaccedilatildeo de Jason Moore22 Tratando-se da biodiversidade o Antropoceno eacute de fato um Capitalo-ceno Mas tambeacutem natildeo eacute o caso da mudanccedila climaacutetica E natildeo eacute por isso que os relatos do Antropoceno satildeo quase sempre catastroacuteficos Assim como assinalou Frederik Jameson laquo Em nossos dias parece mais faacutecil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismoraquo23

20 ldquoBricoleurrdquo no original (N do T)21 Michel Griffon 2009 Nourrir la planegravete Paris Odile Jacob Michel Griffon 2013 Qursquoest-ce que lrsquoagriculture eacutecologiquement intensive Versaille Quaelig22 Jason Moore (ed) 2016 Antrhopocene or Capitalocene Nature Hstory and the Crisis of Capitalism Oakland PM Press23 Frederik Jameson ldquoFuture Cityrdquo New-Left Review maio-junho 2003

A EacuteTICA AMBIENTAL E A CRIacuteTICA POLIacuteTICA AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE HANS JONAS1

Antocircnio Carlos dos Santos

INTRODUCcedilAtildeO

A filosofia no Brasil voltada muito mais para seu lastro metafiacutesico acabou dando pouca atenccedilatildeo aos problemas ambientais do mundo contemporacircneo e de modo particular agrave eacutetica ambiental2 Isso se deu talvez porque o tema do meio ambiente eacute trabalhado em vaacuterias aacutereas mais pelos seus resultados e natildeo por um princiacutepio ou problema que mereccedila a meditaccedilatildeo filosoacutefica Pensar esta questatildeo eacute uma urgecircncia para todas as aacutereas que a filosofia natildeo pode passar incoacutelume Haacute quatro razotildees que justificam este tema

Em primeiro lugar o tema deve ser analisado pela filosofia Eacute claro que ele pode ser abordado de forma transversal A questatildeo ambiental entraria na fi-losofia contemporacircnea via outras questotildees tais como o tema do ldquoprogressordquo ldquoteacutecnicardquo ldquofilosofia da histoacuteriardquo ldquotecnologiardquo ldquonaturezardquo dentre outros mas sem a expertise propriamente eacutetica O que precisamos fazer eacute discutir o tema da eacutetica ambiental por ela mesma para que ela possa de alguma forma incorporar valores eacuteticos que reverberem num melhor comportamento humano sobre a natureza Afinal foi um tipo de comportamento explorador da natureza que causou ndash e continua causando ndash uma ameaccedila real de nossa condiccedilatildeo na Terra Aleacutem do mais se eacute verdade que a filosofia consiste em pensar de maneira criacutetica e rigorosa para viver de maneira mais responsaacutevel inclusive diante da natureza ela natildeo pode se furtar a este desafio tatildeo caro quanto difiacutecil O seu papel de re-

1 O presente texto eacute parcialmente fruto material de projeto de pesquisa aprovado pelo edital MCTICNPQMECCAPES Nordm 222014 ndash Ciecircncias Humanas Agradeccedilo aos colegas que contribuiacuteram com a leitura criacutetica2 Destacariacuteamos dois polos de pesquisas que pensam a questatildeo ambiental do ponto de vista da filosofia e que tecircm adensado esta discussatildeo em terras brasileiras 1) um grupo de pesquisadores da UFSC que veiculam sua produccedilatildeo na Revista Eacutethic e 2) grupo de pesquisadores da USP liderado por Pablo Rubeacuten Mariconda que eacute o Editor da Revista Scientiae Studia (Revista Latino-Americana de Filosofia e Histoacuteria da Ciecircncia)

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definir o lugar do homem no mundo em meio a uma natureza degrada e finita eacute estrateacutegico para o futuro da humanidade

Em segundo lugar sendo da aacuterea de filosofia mas atuando nas ciecircncias am-bientais a bibliografia nessas aacutereas em se tratando da eacutetica ambiental oscila entre a educaccedilatildeo ambiental e um pensamento interdisciplinar que resvala em referecircncia budista por vezes em orientaccedilatildeo new age ou ateacute mesmo religiosa stricto sensu Natildeo eacute agrave toa que livros de Leonardo Boff sobre a questatildeo ambiental satildeo lidos e discutidos em espaccedilos acadecircmicos3 Diante da pouca bibliografia em eacutetica ambiental e excesso nesse campo religioso tem-se a impressatildeo de que a explicaccedilatildeo miacutestica do mundo se impotildee por falta de reflexotildees mais pro-fundas e passa a se constituir nesses redutos como se fosse verdade inabalaacutevel o que eacute mais grave Ora eacute preciso pensar o tema ambiental sob o vieacutes eacutetico enquanto afirmaccedilatildeo diante de outras aacutereas do conhecimento Estaacute em jogo a identidade propriamente filosoacutefica em sua accedilatildeo poliacutetica

Em terceiro lugar os estudiosos do meio ambiente atribuem agrave modernidade todos os males ambientais causados agrave humanidade no mundo contemporacirc-neo Nota-se uma ideologia anti-moderna como se o retorno ao tempo das cavernas fosse a soluccedilatildeo para os males ambientais do mundo atual Mesmo teoacute-ricos conhecidos por terem algum lastro filosoacutefico natildeo escapam a este tipo de equiacutevoco quando se refere aos modernos particularmente a Descartes Estes sob a pena daqueles comentadores satildeo considerados os mentores intelectuais da ciecircncia instrumental os verdadeiros inventores do domiacutenio da natureza e da sua exploraccedilatildeo maacutexima tendo conduzido por consequecircncia o planeta agrave beira de colapso Partindo do pressuposto que a ciecircncia soacute faz inventar instrumentos para aumentar o grau de destruiccedilatildeo Grun por exemplo relaciona a ciecircncia agrave maacutequina de terraplanagem (GRUN 2007 p 7) Segundo este autor a ciecircncia visa dominar a natureza por meio de um instrumento que remove a terra reti-ra aacutervores mexe com bichos e plantas afeta os micro-organismos e deixa um rastro de destruiccedilatildeo por onde passa Esta maacutequina tem a pretensatildeo de destruir quase tudo preparando o terreno para uma outra coisa supostamente nova Ela tem a capacidade de zerar o antigo e comeccedilar tudo de novo sob outra esfe-

3 Quando se trata de problemas ambientais estaacute claro que eles incluem questotildees cientiacuteficas tec-noloacutegicas econocircmicas mas tambeacutem eacuteticas esteacuteticas e ateacute mesmo religiosas Em sendo assim haacute espaccedilo para todo tipo de leitura Uma postura muito mais fundamentalista do que cientiacutefica eacute a de Leonardo Boff que produziu bastante a partir desta visatildeo Destacaria dois BOFF L Ecologia Mundializaccedilatildeo Espiritualidade Rio de Janeiro Record 2008 BOFF L Ecologia grito da terra grito dos pobres Rio de Janeiro Sextante 2004

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ra desta vez numa esfera civilizacional que se opotildee ao antigo ao baacuterbaro ao primitivo Esta metaacutefora eacute curiosa ela soacute vecirc um lado da ciecircncia o da destruiccedilatildeo Potente e destrutiva a ciecircncia natildeo teria o lastro criador apenas transformador Ora leituras como esta comprometem a compreensatildeo do tema aleacutem de propa-gar preconceitos epistemoloacutegicos sobre a proacutepria ciecircncia Cabe agrave filosofia com-bater este tipo de leitura e promover o debate puacuteblico em torno da questatildeo ambiental que eacute dotado de importantes questotildees eacuteticas

Finalmente o que confere relevo e urgecircncia agrave discussatildeo em tela eacute a ideia plenamente difundida de que estamos vivendo uma crise ambiental4 sem pre-cedentes e que mesmo os mais ceacuteticos5 acerca dela caso estejam corretos pen-sam que natildeo se pode evitar a necessidade de refletir sobre as dimensotildees eacuteticas das questotildees ambientais

Assim o objetivo deste texto eacute pensar a eacutetica ambiental e a criacutetica poliacutetica ao ldquoprinciacutepio responsabilidaderdquo de Jonas feita por Catherine e Raphaeumll Larregravere

1 A EacuteTICA AMBIENTAL

Embora natildeo se tenha um consenso sobre o nascimento da eacutetica ambiental haacute uma tendecircncia em admitir que enquanto disciplina surgiu nos anos 60 do seacuteculo passado nos Estados Unidos a partir de uma explosatildeo de campos de interrogaccedilatildeo da eacutetica aplicada ou entatildeo chamada de ldquoeacutetica praacuteticardquo Foi neste contexto que a eacutetica ambiental ganhou terreno de forma estruturada a partir de uma preocupaccedilatildeo aparentemente simples quando se abordava o tema da eacutetica o que se contava era o homem e o seu dever moral em obedecer as regras

4 A contemporaneidade parece ser marcada pela crise Assim diz Bornheim ldquoA novidade talvez es-teja toda nesse ponto o conceito de crise alcanccedilou hodiernamente uma abrangecircncia que o faz perpassar por praticamente todas as esferas do real Em princiacutepio nada mais consegue furtar-se agrave iminecircncia ameaccediladora da crise desde o mais inocente dos teoremas matemaacuteticos ateacute as alturas do esplendor divino desde as comoccedilotildees da adolescecircncia ateacute a instabilidade que tudo avassala ndash nada mais consegue sobrepor-se aos embates desconcertantes das crisesrdquo BORNHEIM G A crise da ideia de crise In NOVAES A (Org) A crise da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1996 p475 Algumas pessoas renegam a seriedade dos problemas ambientais porque acreditam numa ima-gem elaacutestica da natureza impermeaacutevel agraves agressotildees humanas inesgotaacutevel na sua potencialida-de regenerativa Esta visatildeo certamente inspirada na chamada ldquoHipoacutetese de Gaiardquo foi formulada pelo cientista britacircnico James Lovelock ainda nos anos 70 Para esse autor a Terra eacute um sistema de homeostaacutetico auto regulado que funciona atraveacutes de ciclos de retroalimentaccedilatildeo que a conduz agrave estabilidade Dizendo de oura maneira o meio ambiente como um superorganismo que tambeacutem reage e se adapta agraves accedilotildees realizadas pelos seres vivos Ver LOVELOCK J The Revenge of Gaia Whay the Earth is Fighting Back HarmondsworthAllen Lane 2006

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da sociedade Os animais e a natureza eram completamente ignorados Com o crescimento do consumo sobretudo apoacutes a segunda guerra o aumento da destruiccedilatildeo da natureza e o abatimento de animais sem levar em consideraccedilatildeo o seu bem-estar surgiram vaacuterios movimentos que questionam as praacuteticas que originaram aquelas situaccedilotildees degradantes mas que mal se fazia ouvir na ceara filosoacutefica

Naquele contexto a investigaccedilatildeo filosoacutefica concentrava-se na anaacutelise loacutegica de enunciados morais como sendo boas ou maacutes certas ou erradas Ora como um meacutedico minimamente religioso lidava com o problema moral na sua aacuterea de atuaccedilatildeo por exemplo Consultava Enciacuteclicas papais A eacutetica nesta perspec-tiva dizia respeito muito mais a uma questatildeo de sensibilidade do que objeto da razatildeo (PARIZEAU 2003) A partir dos anos 70 tem-se uma espeacutecie de exaustatildeo dessa explicaccedilatildeo sobre o mesmo problema moral e a filosofia voltar-se para as eacuteticas substanciais que definem a ideia de bem e mal num contexto de libera-ccedilatildeo sexual de luta pelos direitos humanos de desenvolvimento de estado de bem-estar social dentre outras questotildees candentes no periacuteodo Foi neste senti-do que os filoacutesofos foram convidados a opinar diante dessas situaccedilotildees precisas da vida quotidiana

Assim a eacutetica praacutetica consiste em anaacutelise de casos particulares cujos resul-tados passam por uma avaliaccedilatildeo Eacute verdade que a filosofia moral tambeacutem lida com a anaacutelise de casos particulares sendo boas ou maacutes mas tecircm perspectivas distintas Enquanto a filosofia moral vecirc o objeto no macrocosmo a eacutetica praacutetica o vecirc no microcosmo A eacutetica ambiental assim torna-se uma aacuterea do saber vin-culada agrave eacutetica praacutetica que lida com as relaccedilotildees socioeconocircmicas num estado de direito e com uma preocupaccedilatildeo de que o futuro da humanidade passa por um equiliacutebrio natural do planeta Como afirma Parizeau ldquoa reflexatildeo eacutetica busca justificar um conjunto mais ou menos estruturado de comportamentos de ati-tudes de valores em relaccedilatildeo aos animais aos seres vivos a aacutereas bioloacutegicas e agrave biosferardquo (PARIZEAU 2003 p 597) Isto significa dizer que a eacutetica ambiental visa a repensar o lugar do ser humano na natureza considerando a sua exploraccedilatildeo descontrolada a distribuiccedilatildeo desigual de suas riquezas a falta de criteacuterios pre-cisos sobre a nossa responsabilidade sobre as geraccedilotildees futuras Se eacute verdade que a ciecircncia trouxe grandes avanccedilos teacutecnicos e tecnoloacutegicos ela aportou tam-beacutem degradaccedilotildees do ecossistema e esgotamento de recursos naturais A eacutetica ambiental quer justamente discutir esses temas apontando para uma nova for-ma de pensar a relaccedilatildeo do homem com a natureza visando um mundo melhor mais humanamente sustentaacutevel

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Contudo eacute preciso deixar claro a eacutetica ambiental ainda natildeo tem um cor-pus estruturado capaz de fornecer a densidade necessaacuteria reconhecidamente aceita pela ciecircncia Sabemos no entanto que ela lida com valores ambientais relevantes e que seus problemas apresentam falhas (morais) de alguma ordem No fundo natildeo conseguimos chegar a um consenso miacutenimo de princiacutepios sobre a forma de lidarmos com os outros humanos e muito menos com os outros componentes da natureza questatildeo central da eacutetica ambiental Eacute aqui que as correntes da eacutetica ambiental mais se afastam

Ainda que seja extremamente difiacutecil expressar em pouco espaccedilo as caracte-riacutesticas essenciais das principais correntes da eacutetica ambiental aleacutem de correr o perigo de cair na generalidade valeria a pena destacar ao menos para efeitos didaacuteticos que o pomo da discoacuterdia estaacute em de uma parte uma visatildeo antro-pocecircntrica da natureza cuja base se remonta a Kant e de outra parte uma visatildeo natildeo antropocecircntrica tendo como expoente de destaque Aldo Leopold6 dentre outros7 A primeira tendecircncia atribui ao ser humano uma posiccedilatildeo proe-minente dentro da natureza e ao separar homem de um lado e a natureza do outro concedeu ao homem maior valor e tendo este domiacutenio absoluto sobre a natureza entendeu natildeo haver qualificaccedilatildeo moral sobre essa mesma relaccedilatildeo A segunda tendecircncia eacute formada por uma visatildeo de que o homem natildeo tem desta-que nenhum em relaccedilatildeo aos seres da natureza e que os seres biocecircntricos de valor inerente merecem consideraccedilatildeo moral

A tese inaugural da visatildeo antropocecircntrica mais proeminente na filosofia foi dada por Descartes com a separaccedilatildeo entre sujeito-objeto A partir desse fran-cecircs o conhecimento das coisas e do mundo passou por uma transformaccedilatildeo profunda de evidecircncia subjetivada o conhecimento passou pela transparecircncia de ideias claras e distintas e o dado mais importante o objeto (de conhecimen-to) natildeo eacute simplesmente ao que estaacute diante do crivo de nossos olhos mas eacute o fruto de uma construccedilatildeo metoacutedica elaborada pelo sujeito Ao conhecer segun-do Descartes o sujeito se torna mestre do objeto visto que o constroacutei a partir de um resultado da anaacutelise que o reduziu a elementos simples Eacute o objeto que se presta agrave construccedilatildeo ao que pode ser dominado pela razatildeo porque ela eacute hu-mana e entatildeo tem-se uma relaccedilatildeo de difiacutecil equaccedilatildeo

6 LEOPOLD A Almanach drsquoun comteacute des sables Paris Aubier 19957 Sobre este debate ver CALLICOTT JB The conceptual Foundations of the Land Ethic In Defense of the Land Ethic Essays in Environmental Philosophy Albany (NY) State University of New York Press 75-100 1989

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Nessa vinculaccedilatildeo tudo vai depender da forma pela qual o homem torna a natureza presente e faz dela objeto a ser conhecido Foi a partir desta perspecti-va que o pensamento cartesiano abriu as portas para uma interpretaccedilatildeo de que o homem instrumentaliza a natureza a seu bel prazer em cujo corolaacuterio se en-contra o elogio ao homo faber O homem manipula a natureza ao seu serviccedilo e produz cultura que por sua vez deixa rastro de destruiccedilatildeo por onde se instala natildeo obstante seu enorme potencial de criaccedilatildeo Eis a contradiccedilatildeo nos seus mais puros termos eacute a cultura que tem provocado tantas cataacutestrofes no mundo con-temporacircneo porque ela estaacute sustentada numa ideia arcaica de que a natureza continuaria a ser o grande repositoacuterio eternamente inesgotaacutevel

Mas haacute uma interpretaccedilatildeo equivocada do pensamento cartesiano e tal-vez o que mais marcou a difusatildeo equivocada de um Descartes anti-humano e anti-natureza nos textos das ciecircncias ambientais (e natildeo apenas nessas aacutereas) eacute a ideia presente na sexta parte do Discurso do Meacutetodo de que o homem pode tornar-se senhores e possuidores da natureza8 Ora nesta questatildeo a tradiccedilatildeo criacutetica esqueceu de observar dois pontos importantes Em primeiro lugar o enunciado cartesiano se refere agrave ldquosauacutederdquo entre o homem e a nature-za em linguagem da eacutepoca Isto significa dizer que haacute uma inteireza entre corpo e natureza que precisa ser levada em consideraccedilatildeo Em segundo lugar o sentido iacutentimo do pensamento cartesiano deve ser inserido no contexto epistemoloacutegico e metafiacutesico naquele periacuteodo Ser ldquopossuidorrdquo da natureza no periacuteodo natildeo significava ser detentor de alguma coisa como de posse ou proprietaacuterio mas ldquodetentor temporaacuterio do que ele deve transmitirrdquo Na ver-dade Descartes se inscreve na tradiccedilatildeo da leitura do livro do Gecircnesis segun-do o qual tendo Deus dado em comum agrave comunidade a terra e tudo o que nela conteacutem caberia aos homens fazer deles um bom uso Segundo Larregravere amp Larregravere ldquoesta concepccedilatildeo do primado do uso e das suas regras dominante na cristandade e herdeira de Aristoacuteteles considera o homem como o gerente ou o intendente e natildeo como o Senhor da Criaccedilatildeordquo (LARRERE amp LARRERE 1997 p 69) Evidentemente que o lugar que ele ocupa tem um destaque mas impli-ca tambeacutem obrigaccedilotildees responsabilidades cuidados Ao mesmo tempo que

8 Literalmente afirma Descartes ldquo[] a conhecimentos que sejam muito uacuteteis agrave vida e que em vez dessa Filosofia especulativa que se ensina nas escolas se pode encontrar uma praacutetica pela qual conhecendo a forccedila e as accedilotildees do fogo da aacutegua do ar dos astros dos ceacuteus e de todos os outros corpos que nos cercam [] Poderiacuteamos empregaacute-los da mesma maneira em todos os usos para os quais satildeo proacuteprios e assim nos tornar como que senhores e possuidores da naturezardquo (DESCARTES 1987 p 63)

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Descartes se insere num contexto de criacutetica ao saber contemplativo sugere que este mesmo conhecimento fosse empregado e utilizado de forma segura O seu foco eacute o empreendimento do conhecimento Ora ao que tudo indica essa leitura mais contextualizada sobre esta questatildeo em Descartes pratica-mente se perdeu tornando-se um teoacuterico estereotipado que teria aberto a racionalidade fria e instrumental sobre a natureza

Ora a eacutetica ambiental necessariamente passa pelo conceito de valor Da separaccedilatildeo entre sujeito e objeto agrave designaccedilatildeo de sujeito moral somente aos humanos como requerido em Kant foi um curto espaccedilo Os natildeo humanos (ani-mais plantas espeacutecies ecossistemas) por natildeo terem estatuto moral estariam fora desse escopo justamente porque apresentam valor meramente instrumen-tal Ora o ponto central da discoacuterdia estaacute na distinccedilatildeo entre o conceito de valor instrumental e o valor intriacutenseco

Grosso modo o valor instrumental eacute aquele segundo o qual o ser humano atribui aos seres naturais como natildeo tendo fins em si mesmos antes satildeo meios para concretizar os seus proacuteprios fins Jaacute o valor intriacutenseco pode ser entendi-do de diferentes perspectivas Destacariacuteamos quatro O primeiro sentido diz respeito a um valor que eacute considerado como maacuteximo numa espeacutecie de escala Em segundo lugar valor intriacutenseco diz respeito agravequilo que eacute necessaacuterio e su-ficiente para ser objeto de preocupaccedilatildeo moral O terceiro sentido conhecido tambeacutem por ldquovalor inerenterdquo significa dizer que algo depende inteiramente do que eacute natural da coisa em si mesma O quarto valor diz respeito agravequele que independe de quem avalia Segundo Jamieson esse sentido quer dizer que mesmo que ningueacutem faccedila uma avaliaccedilatildeo de determinado objeto ele tem seu valor que eacute intriacutenseco e que independe do avaliador Nesta perspec-tiva o que tem valor intriacutenseco eacute de alguma forma autossuficiente (JAMIE-SON 2010)

Para os adeptos da corrente eacutetica antropocecircntrica os criteacuterios que definem quem faz (ou natildeo) parte da comunidade moral satildeo simples apenas os huma-nos seres racionais de liberdade e de conhecimento de si Para os adeptos da corrente natildeo antropocecircntrica os criteacuterios satildeo os mais diversos tais como vul-nerabilidade em relaccedilatildeo ao dano agrave dor ao sofrimento e agrave morte Em uacuteltima instacircncia o criteacuterio eacute a vida como valor inerente a partir do qual os seres mo-rais podem e devem ser respeitados pelo agente moral Eacute importante deixar claro que nesta tentativa de sistematizaccedilatildeo dessas correntes o fato de seres morais serem considerados moralmente natildeo implica dizer que tenham direitos Ter direito precisaria ser responsaacutevel e ter obrigaccedilotildees para com as comunidades

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moralmente consideradas Por esta razatildeo para os natildeo antropocecircntricos o fato de estar vivo eacute condiccedilatildeo suficiente como criteacuterio eacutetico em defesa de tudo o que existe de vivente no universo (GUTIEacuteRREZ 2008)

Carvalho faz duras criacuteticas agrave leitura natildeo antropocecircntrica do valor intriacutenseco sob trecircs abordagens distintas em termos ontoloacutegicos postula que o valor eacute uma propriedade objetiva das coisas em termos eacuteticos crescem as restriccedilotildees dos hu-manos sobre os seres a quem se atribui valor intriacutenseco e finalmente em termos epistemoloacutegicos o criteacuterio para atribuir valor seraacute necessariamente dado por hu-mano Assim registra a autora ldquoEacute que mesmo o mais famoso dito de A Leopold think like a mountain (1968) eacute ainda uma projeccedilatildeo epistemoloacutegica Pensar como uma montanha eacute um convite para que nos situemos na escala temporal dos pro-cessos geoloacutegicos descentrando-nos do nosso tempo medido em anos meses dias horas minutos segundos nano-segundos Todavia eacute ainda pensar e pen-sar este pensar a que se refere Leopold eacute exclusivo dos seres humanosrdquo (CARVA-LHO 2015 p153) Ainda para essa autora o debate ambiental numa perspectiva eacutetica natildeo pode prescindir em absoluto do valor intriacutenseco posto que haacute coisas que valem por si mesmas (seja em termos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos espirituais ou religiosos) Neste contexto possuir valor intriacutenseco significa passar a ser defini-do em funccedilatildeo do que constitui o seu bem ou que em si eacute digno de estima mes-mo que esse valor soacute possa ser conferido pelo juiacutezo de uma consciecircncia discursiva humana Isto implica ver o mundo natural sem a separaccedilatildeo do mundo humano Em sendo assim a tocircnica da salvaccedilatildeo da biodiversidade seraacute uma utopia a menos se for coordenado ldquocom a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural da humanidade jaacute que a diversidade e a pluralidade satildeo fatores de enriquecimento e de fortaleci-mento contra potenciais predadores bioloacutegicos e colonizadores culturaisrdquo (CAR-VALHO 2015 p156) Em outras palavras a perda de biodiversidade natural natildeo pode estar separada da perda da diversidade biocultural

Assim a Eacutetica Ambiental eacute o saber que propotildee e se ocupa de princiacutepios eacuteticos que regem a relaccedilatildeo entre os humanos e o mundo natural Ela deve assumir-se como filosofia praacutetica orientada para uma formulaccedilatildeo de quadros de referecircncia a partir de problemas concretos que reflitam a exigecircncia eacutetica de que cada um eacute responsaacutevel individual e coletivamente pela sauacutede de todos os seres vivos na terra Ela deve ainda estar inserida num debate plural e contextual com os di-versos atores e perspectivas implicados Desta forma ela sairaacute dos claustros de uma simples discussatildeo acadecircmica e de especialistas das ciecircncias ambientais e poderaacute ajudar significativamente numa nova visatildeo em que homem e natureza fazem parte com toda a sua inteireza e desafios

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2 O ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE JONAS

Numa de suas uacuteltimas obras Teacutecnica medicina e eacutetica Jonas focou sua anaacute-lise no papel que a medicina desempenha em face da necessidade quotidiana de refabricar o humano a partir do momento que ela o descobriu natildeo como sujeito mas objeto de suas anaacutelises Desde o iniacutecio o autor conduz o leitor inquieto a se perguntar o que restaraacute de humano nesta sua desnaturaccedilatildeo Ateacute onde poderia chegar a manipulaccedilatildeo do humano como objeto predileto da teacutecnica Para onde isso vai nos levar Como isso comeccedilou O autor entatildeo apoacutes provocar o seu leitor confirma anos depois o que defendeu em sua obra maacutexima ldquoA iniciante eacutetica ambiental que se agita entre noacutes de manei-ra verdadeiramente sem precedentes eacute a expressatildeo ainda titubeante dessa expansatildeo sem precedentes de nossa responsabilidade que responde por sua vez agrave expansatildeo sem precedentes do alcance de nossos feitos Foi preciso que se tornasse visiacutevel a ameaccedila do todo os reais princiacutepios de sua destrui-ccedilatildeo para nos fazer descobrir (ou redescobrir) nossa solidariedade com elerdquo (JONAS 2013 p 56-57) Na verdade as respostas a estas questotildees jaacute tinham sido fornecidas na obra ldquoPrinciacutepio responsabilidaderdquo cuja discussatildeo central era diagnosticar o quadro da modernidade pintado pelo homem teacutecnico como homo faber cuja ciecircncia avanccedilou muito mais velozmente do que a capaci-dade de reflexatildeo do homo ethicus e trouxe como consequecircncia a hybris a manipulaccedilatildeo tecnoloacutegica que ameaccedila a vida humana no planeta Jonas quer por um lado denunciar a insuficiecircncia das eacuteticas tradicionais para lidar com os problemas ambientais hodiernos e por outro pensar uma eacutetica da conser-vaccedilatildeo da proteccedilatildeo do cuidado do mundo natildeo soacute diante da vulnerabilidade atual mas para as futuras geraccedilotildees

Neste sentido vamos nos concentrar em trecircs pontos distintos da sua obra maacutexima 1) A insuficiecircncia das eacuteticas tradicionais e a criacutetica agrave eacutetica Kantiana 2) O significado do ldquoprinciacutepio responsabilidaderdquo e 3) O corolaacuterio de seu princiacutepio a heuriacutestica do medo

Conforme vimos na primeira parte deste texto o mundo moderno se cons-tituiu com uma ideia de natureza abundante e inesgotaacutevel por um lado e uma crenccedila no poder tecnoloacutegico como elemento central da ciecircncia por outro Natildeo se tinha uma preocupaccedilatildeo eacutetica para com as questotildees ambientais de modo exclusivo porque ningueacutem vislumbrava perigo algum Foi preciso o homem ho-dierno chegar numa situaccedilatildeo de limite ameaccediladora de sua existecircncia para que surgisse essa aacuterea do saber tatildeo importante quanto necessaacuteria nos dias atuais

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Entatildeo qual a diferenccedila basilar entre a eacutetica de Jonas e a de Kant agrave qual ele faz referecircncia direta Qual a sua inovaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave anterior Dois argumentos satildeo notaacuteveis

Fundamentalmente o primeiro grande argumento da obra em questatildeo eacute a demonstraccedilatildeo de que as eacuteticas modernas se caracterizam por uma visatildeo antro-pocecircntrica do mundo O foco delas estava na relaccedilatildeo entre as pessoas sendo que as coisas ou os seres naturais satildeo mediados pelas pessoas ou seja pelo homem A obrigaccedilatildeo eacutetica se referia entatildeo a uma comunidade de agentes pre-sentes que excluiacutea a natureza e suas consequecircncias no futuro Jonas portanto quer romper com esta tradiccedilatildeo

O agir eacutetico nessa perspectiva dizia respeito agrave accedilatildeo virtuosa e saacutebia que o homem estabelece para si mesmo como valor absoluto cuja dignidade se funda na proacutepria autonomia do sujeito A fonte desta interpretaccedilatildeo eacute Kant que grosso modo defende a ideia segundo a qual as regras do que eacute certo ou errado natildeo devem ser pensadas a partir de resultados do agente moral mas de princiacutepios que devem reger as proacuteprias regras cujo cumprimento deve ser necessaacuterio Isto significa dizer que para o filoacutesofo alematildeo o agir moral passa pelo dever e em conformidade com o dever o que eacute fundamental para entendermos se uma accedilatildeo tem ou natildeo valor moral Assim movido pelo desejo de agir mas sobretu-do pelo dever e em respeito agrave lei que lhe ordena cumprir a lei sua accedilatildeo eacute cor-reta (ou natildeo) quando se questiona sobre a possibilidade de elevaacute-la agrave categoria de lei universal Se ela servir natildeo apenas para o indiviacuteduo mas para todos as regras deixam de ser meramente subjetivas e se transformam em lei universais passiacuteveis de serem aplicadas por todos Como afirma o filoacutesofo de Koenigsberg ldquodevo proceder sempre de maneira que eu possa querer que minha maacutexima se torne uma lei universalrdquo (KANT 2005 p 33) Isto significa dizer que o homem ra-cional sujeito de accedilatildeo moral pode auto legislar sua vontade porque se tornou autocircnomo sua accedilatildeo eacute fruto de reflexatildeo e de deliberaccedilatildeo Se aqui temos uma das questotildees centrais da eacutetica kantiana temos na visatildeo de Jonas sua fraqueza porque ela natildeo daacute conta da complexidade do mundo contemporacircneo Para Jo-nas a eacutetica kantiana eacute limitada porque natildeo vai aleacutem do humano Por isso afirma Jonas ldquojaacute que a eacutetica tem a ver com o agir a consequecircncia loacutegica disso eacute que a natureza modificada do agir humano tambeacutem impotildee uma modificaccedilatildeo na eacuteti-cardquo (JONAS 2006 p 29) Jonas propotildee-se entatildeo a romper com a eacutetica kantiana abrindo um debate que possa englobar os natildeo humanos

O segundo argumento que Jonas introduz para justificar e propor uma nova eacutetica eacute o surgimento da teacutecnica O poder tecnoloacutegico potencializou o agir hu-

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mano sobre a natureza e sobre o proacuteprio homem que implicou em efeitos noci-vos por vezes de caraacuteter irreversiacutevel na proacutepria estrutura do mundo A natureza originaacuteria passou a ser concebida como mero material passiacutevel de ser manipu-lado e controlado tornando-se uma espeacutecie de reservatoacuterio agrave disposiccedilatildeo da exploraccedilatildeo do homem Eacute neste sentido que a tecnociecircncia moderna termina por eliminar toda referecircncia a finalidades ou potencialidades intriacutensecas agrave na-tureza Ela deixa de ser meio e passa a ser um fim em si mesmo A teacutecnica se ca-racterizou por uma ambiguidade intriacutenseca por um lado haacute certa grandeza de poder melhorar a vida humana com uma rapidez assustadora mas por outro eacute preciso reconhecer que as consequecircncias fogem ao nosso controle por mais previsiacutevel e calculados pelo homem Aqui ao que tudo indica o tamanho do poder eacute proporcional ao tamanho do risco sempre provaacutevel mas jamais con-trolado Por esta razatildeo Jonas eacute taxativo ldquoMesmo desconsiderando suas obras objetivas a tecnologia assume um significado eacutetico por causa do lugar central que ela agora ocupa subjetivamente nos fins da vida humanardquo (JONAS 2006 p 43) Ora se a eacutetica tinha a ver com o aqui e agora nas relaccedilotildees humanas e se ela natildeo daacute conta mais eacute preciso pensar uma nova eacutetica que leve em consideraccedilatildeo esses novos fatores que desafiam o homem contemporacircneo Jonas eacute incisivo se a eacutetica heleno-judaico-cristatilde se pautou ateacute aqui no antropocentrismo foi por falta de ocasiatildeo ou por natildeo terem sido consideradas outras razotildees que no limite caracterizam-se como puro preconceito nosso que deve ser reexamina-do e rompido (JONAS 2006 p 97)

Esses dois argumentos se entrelaccedilam se a eacutetica kantiana estava voltada para o indiviacuteduo e portanto tendo conotaccedilatildeo privada por um lado e ela se tornou insuficiente para problemas complexos atuais trazidos pelo poder tecnoloacutegico da ciecircncia por outro eacute necessaacuterio pensar numa eacutetica que considere os viventes como um todo que tenha compromisso puacuteblico e que ele estenda essa mesma preocupaccedilatildeo para geraccedilotildees futuras Em poucas palavras defende Jonas ldquoO fu-turo da humanidade eacute o primeiro dever do comportamento coletivo humano na idade da civilizaccedilatildeo teacutecnica que se tornou lsquotodo-poderosarsquo no que tange ao seu potencial de destruiccedilatildeo Esse futuro da humanidade inclui obviamente o futuro da natureza como sua condiccedilatildeo sine qua non Mas mesmo independen-te desse fato este uacuteltimo constitui uma responsabilidade metafiacutesica na medida em que o homem se tornou perigoso natildeo soacute para si mas para toda a biosferardquo (JONAS 2006 p 229)

Neste sentido com Jonas a filosofia passou a considerar a biosfera depen-dente do agir humano natildeo porque dependa dos fins humanos ou faccedila dela

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um meio mas porque temos uma responsabilidade eacutetica ampliada para outras geraccedilotildees a fim de que ela tambeacutem possa usufruir do que a nossa geraccedilatildeo vi-vencia Temos assim dois argumentos que comprovam que a eacutetica proposta por Jonas avanccedila em relaccedilatildeo agrave eacutetica kantiana Ela considera os seres naturais tendo fim em si mesmo e portanto deixa de ser antropocecircntrica por um lado e apresenta um dever moral que natildeo eacute soacute individual eacute sobretudo puacuteblico que compromete futuras geraccedilotildees por outro Esses dois lados da mesma questatildeo tornam o pensamento de Jonas um dos mais consistentes do ponto de vista da eacutetica ambiental no mundo contemporacircneo porque rompeu ao menos apa-rentemente a barreira da eacutetica antropocecircntrica e projetou nosso compromisso para com o futuro Isso natildeo significa dizer que ele seja passiacutevel de criacutetica como veremos agrave frente Jonas assim sistematiza seu princiacutepio eacutetico ldquo lsquoAja de modo a que os efeitos da tua accedilatildeo sejam compatiacuteveis com a permanecircncia de uma au-tentica vida humana sobre a Terrarsquo ou expresso negativamente lsquoAja de modo a que os efeitos da tua accedilatildeo natildeo sejam destrutivos para a possibilidade futura de uma tal vidarsquo rdquo (JONAS 2006 p 47-48)

Jonas ao defender uma eacutetica para seres ainda ldquonatildeo-existentesrdquo como afirma ele rompe com a eacutetica tradicional tambeacutem no que tange agrave concepccedilatildeo temporal a eacutetica da proximidade e do presente daacute lugar a uma eacutetica da intenccedilatildeo do agir coletivo ampliada pelo mesmo poder tecnoloacutegico que Jonas critica Ou seja uma accedilatildeo eacutetica que se estende no horizonte no tempo e no espaccedilo Isso natildeo significa dizer que ele abandone as eacuteticas tradicionais mas acrescenta novas preocupaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves precedentes em funccedilatildeo dos desafios eacuteticos Enfim a exigecircncia eacutetica defendida por Jonas nos impotildee um imperativo igualmente eacutetico de sermos responsaacuteveis em relaccedilatildeo aos demais seres vivos e ao futuro

Para Jonas uma eacutetica para o futuro se faz necessaacuterio e Giacoacuteia a sintetiza em trecircs razotildees baacutesicas em funccedilatildeo do desenvolvimento da civilizaccedilatildeo tecnoloacute-gica 1) a ciecircncia permitiu um prolongamento da vida humana 2) haacute um maior controle de comportamento humano 3) manipulaccedilatildeo geneacutetica da vida huma-na (GIACOIA JUacuteNIOR 2000 p 193-206)

No que diz respeito ao primeiro ponto o desenvolvimento da medicina per-mitiu interferir de forma tatildeo profunda nos processos quiacutemicos e nas chamadas ldquociecircncia do envelhecimentordquo que a representaccedilatildeo da morte e o sentido da fini-tude tecircm se alterado significativamente Os avanccedilos cientiacuteficos da biomedicina celular tecircm demonstrado cada vez mais que as incertezas da morte podem ser postergadas cada vez mais levando agrave ideia de uma suposta imortalidade ainda que virtual Isso implica em mudanccedilas profundas no sentido mesmo da vida e

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da morte no cuidado com a transmissatildeo de conhecimento entre as geraccedilotildees no entendimento do que eacute viver e morrer

No que tange ao segundo aspecto Jonas deixa claro que os agentes quiacute-micos podem induzir o controle de processos psiacutequicos como a alteraccedilatildeo do ritmo de aprendizado dentre outros Isto significa dizer que por meio desses medicamentos a medicina pode controlar certos comportamentos indesejaacute-veis alterando significativamente a vida humana autecircntica do mundo O que mais chama a atenccedilatildeo de Jonas eacute o fato de que haacute riscos dessas descobertas da biomedicina serem utilizadas para fins sociopoliacuteticos de controle e manipula-ccedilatildeo de comportamentos tidos supostamente como ldquoanormaisrdquo Ou seja o preccedilo que o desenvolvimento tecnocientiacutefico paga eacute no limite a perda da autonomia individual o que natildeo eacute pouca coisa

No que se refere ao terceiro aspecto vemos os progressos das ciecircncias biomeacutedicas psicoloacutegicas e de engenharia geneacutetica atuarem juntas ou sepa-radamente nos processos de genes abrindo espaccedilo para conhecimento dos coacutedigos geneacuteticos por meio de teacutecnica de laboratoacuterio conduzindo o homem agrave produccedilatildeo de vida humana artificialmente Neste sentido o poder do homo faber natildeo teria limite porque a ciecircncia possibilita o controle da vida e da morte nas matildeos humanas e na era da civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica o saber teacutecnico deixa de ser meio para ser fim em si mesmo

Ora para onde esses trecircs aspectos podem nos conduzir Quais as conse-quecircncias dessa superdimensionamento da civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica Jonas eacute in-cisivo este cenaacuterio do desenvolvimento tecnoloacutegico vai nos conduzir a uma cataacutestrofe universal Eacute verdade que isso natildeo aconteceu mas para Jonas eacute pre-ciso visualizar os efeitos a longo prazo ldquoSim laacute onde aquela palavra natildeo nos eacute fornecida gratuitamente ou seja pelo medo presente torna-se um dever bus-caacute-la porque tambeacutem ali natildeo podemos dispensar a orientaccedilatildeo do medo Esse eacute o caso da lsquoeacutetica do futurorsquo que estamos buscando o que deve ser temido ainda natildeo foi experimentado e talvez natildeo possua analogias na experiecircncia do passa-do e do presente Portanto o malum imaginado deve aqui assumir o papel do malum experimentadordquo (JONAS 2006 p 72)

A perspectiva de cenaacuterio catastrofista apresentado por Jonas eacute fruto de uma equaccedilatildeo aparentemente simples o sucesso econocircmico leva ao aumento da produccedilatildeo de bens que conduz a uma elevaccedilatildeo no consumo que gera uma exploraccedilatildeo dos recursos naturais finitos que por sua vez reflete no aumento da populaccedilatildeo que acaba vivendo mais e melhor em funccedilatildeo das melhorias nas teacutecnicas da medicina celular e assim sucessivamente Jonas natildeo desconsidera

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os fatores positivos do desenvolvimento tecnoloacutegico mas eacute evidente que tem um pendor em realccedilar seus aspectos mais negativos e destrutivos de forma es-trateacutegica Por isso afirma ele ldquoesta incerteza que ameaccedila tornar inoperante a perspectiva eacutetica de uma responsabilidade em relaccedilatildeo ao futuro a qual evi-dentemente natildeo se limita agrave profecia do mal tem de ser ela proacutepria incluiacuteda na teoria da eacutetica e servir de motivo para um novo princiacutepio que por seu turno possa funcionar como uma prescriccedilatildeo praacutetica Essa prescriccedilatildeo afirmativa grosso modo que eacute necessaacuterio dar mais ouvidos agrave profecia da desgraccedila do que agrave profecia da salvaccedilatildeordquo (JONAS 2006 p 77 Grifo do autor)

A heuriacutestica do medo se torna assim a primeira obrigaccedilatildeo da eacutetica da res-ponsabilidade Trata-se de um medo que natildeo paralisa mas evitando o pior so-bre o destino da humanidade proporciona a reflexatildeo que conduz agrave accedilatildeo Longe de ser uma patologia ou covardia o temor eacute o respeito e cuidado que devemos ter com tudo o que existe no universo Por isso afirma Jonas ldquoo reconhecimen-to do malum eacute infinitamente mais faacutecil do que o do bonum eacute mais imediato mais urgente bem menos exposto a diferenccedilas de opiniatildeordquo (JONAS 2006 p 71) A estrateacutegia do autor eacute entatildeo chamar a atenccedilatildeo do pior para que dele surja algo de bom uma accedilatildeo eacutetica responsaacutevel por tudo que haacute no mundo Ao que parece haacute neste ponto um misto de temor e esperanccedila que flerta com a visatildeo religiosa do mundo temor diante de um futuro incerto e esperanccedila de que uma nova accedilatildeo eacutetica possa superar a cataacutestrofe anunciada por um sentimento de coletivo de responsabilidade

Em poucas palavras resume o autor seu primo movens da eacutetica ldquoA primeira regra eacute a de que aos descendentes futuros da espeacutecie humana natildeo seja permi-tido nenhum modo de ser que contrarie a razatildeo que faz com que a existecircncia de uma humanidade como tal seja exigida Portanto o imperativo de que deve existir uma humanidade eacute o primeiro enquanto estivermos tratando exclusi-vamente do homem (JONAS 2006 p 93-94) Aqui vemos preocupaccedilotildees com o homem e natildeo com o natildeo humano embora eacute preciso reconhecer o valor do humano para garantir sua continuidade na Terra De qualquer modo se este ar-gumento for verdadeiro temos duas conclusotildees complexas a primeira vemos que Jonas natildeo se liberta da visatildeo antropocecircntrica da eacutetica ambiental e parece fazer muito mais um ldquoajusterdquo com a eacutetica posta do que uma eventual ruptura com as eacuteticas tradicionais a segunda vemos um Jonas religioso que a despeito de todo o aparato racional e argumentativo de sua obra natildeo consegue libertar--se e quer que seu leitor se ldquosalverdquo enredado nas teias do medo

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3 A CRIacuteTICA POLIacuteTICA DE LARREgraveRE E LARREgraveRE AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADE DE JONAS

Podemos ler o Princiacutepio Responsabilidade de Jonas sob diversas perspecti-vas Uma delas tem enorme pendor a confianccedila depositada na teacutecnica desde o nascedouro do mundo moderno que conduziu ao uso desordenado da nature-za e provocou ameaccedila agrave sobrevivecircncia da humanidade na Terra Diante das con-sequecircncias do atual modelo de desenvolvimento e do poder da teacutecnica cuja dimensatildeo jamais tinha sido alcanccedilada antes esse autor justifica a necessidade de uma nova eacutetica para a utilizaccedilatildeo da teacutecnica propondo entatildeo a aplicaccedilatildeo do princiacutepio responsabilidade Seus argumentos sobre esse princiacutepio caracte-rizam-se pelo diagnoacutestico inicial da crise e pela apresentaccedilatildeo de uma soluccedilatildeo cujo caraacuteter ldquosalvacionistardquo chama a atenccedilatildeo de seu leitor conforme vimos na segunda parte deste texto Para Jonas ou se adere ao medo inexoravelmente ou se teria a barbaacuterie tecnoloacutegica instalada Como seria possiacutevel pensar numa eacutetica sem a liberdade de escolha Como pensar uma saiacuteda para a crise ambien-tal sem cair na soluccedilatildeo autoritaacuteria que propotildee Jonas Quais seriam as alterna-tivas possiacuteveis agrave proposta poliacutetica de Jonas Na tentativa de responder essas questotildees vamos recorrer agrave obra de Larregravere e Larregravere com o propoacutesito de dar maior suporte agrave criacutetica de Jonas e pensar alternativas ao princiacutepio responsabili-dade que pode ser o princiacutepio de precauccedilatildeo e assim adensar o debate sobre a eacutetica ambiental contemporacircnea

Dividiremos este toacutepico em trecircs pontos fundamentais num primeiro reto-maremos algumas questotildees de Jonas notadamente seu sentido de ldquoheuriacutestica do medordquo em segundo lugar faremos algumas criacuteticas sobre essa mesma ques-tatildeo centrando nossa anaacutelise no aspecto poliacutetico de seu pensamento e final-mente no terceiro algumas indicaccedilotildees sobre a eacutetica ambiental na perspectiva de Larregravere e Larregravere atraveacutes do princiacutepio precauccedilatildeo

Para Jonas o ldquoprinciacutepio responsabilidaderdquo apresenta uma preocupaccedilatildeo po-liacutetica na medida que envolve o Estado mas tambeacutem eacute eacutetica na medida que diz respeito agrave accedilatildeo do indiviacuteduo num mundo repleto de incertezas ldquoO dina-mismo eacute a marca da modernidade ele natildeo eacute um acidente mas a propriedade imanente desta eacutepoca e ateacute nova ordem o nosso destino Isso quer dizer que temos de contar com o novo embora natildeo possamos calculaacute-lordquo (JONAS 2006 p 203) Diante deste universo incerto a prevenccedilatildeo eacute uma postura muito mais eficaz para a responsabilidade do que a seduccedilatildeo de uma promessa sem o co-nhecimento total sobre ela Mesmo o desconhecido ou aquilo em que natildeo se

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deve apostar pode tornar-se objeto de uma poliacutetica de prevenccedilatildeo Sendo as-sim Jonas opta pelo cenaacuterio do pior pois a profecia do mal eacute feita para evitar que ele se realize O medo em Jonas eacute um mal menor que tem a pretensatildeo de evitar um mal maior eacute este o significado da heuriacutestica do medo ela nada mais eacute do que a consequecircncia da intervenccedilatildeo humana por meio da eacutetica Mas isso traz implicacircncias seacuterias porque ldquoao agitar uma ameaccedila hiperboacutelica introduz de fato uma nova eacutetica de convicccedilatildeo (a crenccedila numa cataacutestrofe inevitaacutevel) A esperanccedila torna-se medo eacute a eacutetica negativa da lsquoprofecia da desgraccedilarsquordquo resu-me os inteacuterpretes franceses (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 275) Eacute nessa visatildeo que Jonas projeta um cenaacuterio negativo para conseguir garantir a participaccedilatildeo de todos na efetivaccedilatildeo da sua proposta de responsabilidade pelas geraccedilotildees futuras desenvolvendo suas medidas praacuteticas caracterizadas por uma poliacutetica autoritaacuteria e vinculada agrave ideia de que quanto menos comunicaccedilatildeo e discussatildeo sobre os temas mais eficiente rapidez e poderosa poderatildeo ser as decisotildees po-liacuteticas para solucionar os problemas ambientais A sociedade entatildeo confiaria plenamente nas decisotildees do homem puacuteblico ou por conta do medo de que o pior cenaacuterio seja concretizado ou pela utilizaccedilatildeo da forccedila se necessaacuterio for

A soluccedilatildeo praacutetica apresentada para dirimir essa questatildeo econocircmica eacute a es-tagnaccedilatildeo de todo e qualquer tipo de desenvolvimento pois mesmo que hou-vesse a redistribuiccedilatildeo da riqueza global jaacute existente de acordo com seu ponto de vista isso natildeo seria capaz de elevar o niacutevel de vida das regiotildees mais pobres e eliminar a miseacuteria Esta equaccedilatildeo de difiacutecil negociaccedilatildeo exige a estagnaccedilatildeo do crescimento econocircmico e a capacidade produtiva o que conduz a um proble-ma prioritariamente poliacutetico Jonas tem consciecircncia de que a questatildeo econocirc-mica eacute problemaacutetica e radicaliza na soluccedilatildeo ldquo[] eu acredito que a soluccedilatildeo estaacute nesse caminho se possiacutevel de forma voluntaacuteria se necessaacuterio forccediladardquo (JONAS 2006 p 294) Reafirma assim sua ideia sobre a instauraccedilatildeo de um pavor cole-tivo voltado para o disciplinamento das accedilotildees humanas Isto significa dizer que ele justifica a necessidade do culto ao medo do pior e a valorizaccedilatildeo do uso da forccedila em busca de um futuro melhor para toda humanidade Por isso arreba-ta Jonas ldquoSe natildeo haacute alternativa agrave escolha favoraacutevel ou negativa deveriacuteamos arriscar o lance mais alto da tecnologia para colher a becircnccedilatildeo ou a cataacutestrofe supremardquo (JONAS 2006 p 296)

A isso ele defende a postura da advertecircncia em relaccedilatildeo a um mal maior porvir acreditando no medo altruiacutesta Como foi dito acima tal medo natildeo se refere apenas agrave incerteza Eacute um medo que segundo o filoacutesofo possibilita as-sumir a responsabilidade pelo desconhecido dado o caraacuteter incerto da es-

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peranccedila ldquoO medo que faz parte da responsabilidade natildeo eacute aquele que nos aconselha a natildeo agir mas aquele que nos convida a agir Trata-se de um medo que tem a ver com o objeto da responsabilidaderdquo (JONAS 2006 p 351) Ou seja o medo eacute favoraacutevel agrave preservaccedilatildeo do objeto pois as accedilotildees devem estar voltadas para esse fim

Esta soluccedilatildeo arriscada se daacute por causa do grande mal que o capitalismo nos trouxe a exploraccedilatildeo da natureza agrave beira da exaustatildeo Ora qual seria sua saiacuteda poliacutetica O marxismo revolucionaacuterio (inspirado no livro Princiacutepio Esperanccedila de Ernst Bloch) que considera as geraccedilotildees futuras como o advento da humanida-de para o qual se justificam moralmente todos os sacrifiacutecios da humanidade Esse pensamento poliacutetico natildeo seria apenas o lastro filosoacutefico de sua eacutetica mas seria a salvaccedilatildeo para a cataacutestrofe apocaliacuteptica que nos trouxe agrave beira do abismo da questatildeo ambiental

Para Larregravere e Larregravere Hans Jonas faz um diagnoacutestico correto da modernida-de A anaacutelise do problema eacutetico na obra eacute seacuteria e nos ajudou a pensar a questatildeo ambiental no mundo contemporacircneo pelo olhar filosoacutefico No entanto a sua proposta poliacutetica natildeo coincide com a sua postura eacutetica pois a heuriacutestica do medo de Jonas antecipa a cataacutestrofe retirando toda a capacidade para informar accedilotildees precisas incidindo apenas no alcance negativo das accedilotildees humanas Aleacutem do mais sua postura poliacutetica que recebeu vaacuterias criacuteticas desde que Princiacutepio res-ponsabilidade veio agrave lume deve-se muito mais agrave sua incapacidade de entender o mecanismo da poliacutetica do que por simpatias pessoais aos sistemas ditatoriais Na praacutetica ele usa o medo para forccedilar uma eventual mudanccedila de comporta-mento que nem sempre eacute produtiva (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 275) Isto significa dizer que eacute ineficaz conciliar a heuriacutestica do medo com o debate puacutebli-co Os autores afirmam que a ambiguidade presente na obra de Jonas se deve ao fato de que mesmo denunciando a utopia teacutecnica ele continua preso na ilusatildeo do poder total acreditando na capacidade teacutecnica para controlar todas as accedilotildees humanas a partir de uma previsibilidade programada A heuriacutestica do medo natildeo eacute soacute ineficaz eacute um grande obstaacuteculo agrave democracia

Para os autores o medo em Jonas eacute mantido ldquo[] da mesma forma que se ameaccedilam os crentes com os horrores do inferno jaacute que natildeo eacute possiacutevel incli-naacute-los diretamente para o bemrdquo (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 274) Haacute certa aporia no pensamento de Jonas segundo os franceses em questatildeo por um lado Jonas caracteriza a eacutetica da responsabilidade como uma eacutetica religiosa da abstinecircncia e do sacrifiacutecio por outro continua prisioneiro da ilusatildeo da onipo-tecircncia da modernidade que tanto ele proacuteprio critica Isto significa dizer que ao

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mesmo tempo que ele se apresenta como um pensador de uma escatologia se-cularizada estaacute carregado de elementos religiosos e que satildeo revestidos de uma concepccedilatildeo poliacutetica Nisso talvez consiste sua maior dificuldade em implemen-tar um projeto poliacutetico porque ele natildeo eacute afeito ao debate democraacutetico Os au-tores satildeo incisivos ldquoJonas natildeo acredita na capacidade das democracias para se libertarem dos seus interesses presentes para preverem a ameaccedila e imporem a si mesmos a obrigaccedilatildeo provinda do futurordquo (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 275)

No lugar do princiacutepio responsabilidade Larregravere e Larregravere apresentam o princiacutepio de precauccedilatildeo Conhecido na Franccedila como ldquoprinciacutepio de prudecircnciardquo eacute o antiacutedoto agrave ausecircncia de certezas cientificamente estabelecidas fornecendo a autoridade filosoacutefica necessaacuteria para a tomada de decisotildees Surgido na Ale-manha nos anos 70 foi aplicado na Convenccedilatildeo de Viena em 1985 no relatoacuterio de Bruntland em 1988 na Eco 92 e incorporado no direito positivo francecircs em 1995 O enunciado desse princiacutepio eacute simples ldquopode justificar-se ou ser impera-tivo limitar enquadrar ou impedir certas accedilotildees potencialmente perigosas sem esperar que o perigo seja cientificamente definido com toda a certezardquo (LAR-REgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 276)

Para explicaacute-lo os autores apresentam duas versotildees Numa primeira a ver-satildeo forte a ideia de precauccedilatildeo eacute um criteacuterio absoluto instituindo-se como uma regra de abstenccedilatildeo que envolve trecircs fatores 1) a referecircncia ao dano zero 2) a necessidade de evitar cenaacuterio do pior 3) a inversatildeo do ocircnus da prova Como natildeo haacute dano zero haveraacute sempre margem para as incertezas e como conse-quecircncia tem-se a paralisaccedilatildeo das atividades existentes e o desencorajamen-to agrave inovaccedilatildeo Na segunda a versatildeo fraca o princiacutepio precauccedilatildeo eacute um criteacuterio parcial devido agrave falta de provas cientiacuteficas mas que abre espaccedilo ao debate puacuteblico agrave deliberaccedilatildeo e aos processos de justificaccedilatildeo Em poucas palavras o princiacutepio de precauccedilatildeo eacute aquele segundo o qual ldquoa ausecircncia de certezas tendo em conta os conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos do momento natildeo deve retar-dar a aprovaccedilatildeo de medidas efetivas e proporcionadas que visam prevenir um risco de danos graves e irreversiacuteveis para o meio ambiente a um custo econo-micamente aceitaacutevelrdquo (LARREgraveRE amp LARREgraveRE 1997 p 278) Contra a imposiccedilatildeo e a heuriacutestica do medo os autores defendem a necessidade da negociaccedilatildeo Por meio do debate junto ao puacuteblico eles objetivam a hierarquizaccedilatildeo das accedilotildees baseando-se no tempo que resta para as decisotildees Natildeo buscam uma trajetoacuteria uacutenica e ideal Com esse procedimento acreditam que se institui um tempo co-letivo para aprendizagem conhecimento dos fenocircmenos e criaccedilatildeo de teacutecnicas de proteccedilatildeo

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Entende-se entatildeo que o objetivo natildeo eacute encontrar uma soluccedilatildeo perfeita de maneira teacutecnica e institucionalizada mas sim organizar os processos de decisatildeo dentro do tempo disponiacutevel prezando acima de tudo pela informaccedilatildeo e parti-cipaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica ou seja pela aprendizagem coletiva Baseando-se no modelo do debate puacuteblico para propor o princiacutepio de precauccedilatildeo os autores defendem que a razatildeo deve sobrepor-se ao medo e por isso apresenta-se mui-to mais adequado ao espaccedilo poliacutetico da democracia O propoacutesito de Larregravere e Larregravere eacute evitar a qualquer custo aplicaccedilotildees absolutistas ao andamento das atividades sociais atraveacutes das articulaccedilotildees entre prudecircncia poliacutetica e ciecircncia Tal posicionamento aleacutem de prevenir os riscos minimiza a inseguranccedila oriunda da falta de informaccedilatildeo por parte da populaccedilatildeo Aleacutem disso faz com que o conhe-cimento dos riscos potenciais force um pouco nossa responsabilidade e iniba a recorrente desculpa de que ldquoeu natildeo sabiardquo

Foi Jonas quem abriu o debate sobre o futuro da humanidade a partir da noccedilatildeo de solidariedade com as geraccedilotildees futuras Os autores perguntam-se en-tatildeo se essa noccedilatildeo natildeo compromete a apreensatildeo da humanidade como enti-dade moral perante a qual temos deveres Jonas considera a humanidade em estado de permanecircncia ou seja natildeo se tem uma histoacuteria tem-se um estado Entretanto para os autores ao se tomar em consideraccedilatildeo as geraccedilotildees futuras deve-se apreendecirc-las nas suas sucessotildees e diferenccedilas Ainda segundo os auto-res os problemas nascidos da teacutecnica devem ser resolvidos por meio de solu-ccedilotildees teacutecnicas porque a tecnologia contemporacircnea eacute a ciecircncia convertida em poder Entretanto a ciecircncia apenas informa agrave teacutecnica natildeo lhe impotildee normas eacute por isso que a teacutecnica torna-se um processo ilimitado Em Larregravere e Larregravere as proposiccedilotildees para a limitaccedilatildeo da accedilatildeo teacutecnica natildeo consideram o agir humano de maneira isolada mas sim situado na natureza Isso implica em decisotildees que para serem realizadas com base no princiacutepio de precauccedilatildeo precisam do conhe-cimento da accedilatildeo do homem na natureza e natildeo soacute sobre a natureza Com base em tais proposiccedilotildees a relaccedilatildeo que os autores estabelecem eacute a de co-pertenccedila passando da separaccedilatildeo entre homem e natureza agrave noccedilatildeo de que homem e na-tureza estatildeo proacuteximos e satildeo afetados mutuamente

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Na argumentaccedilatildeo de Jonas em defesa do princiacutepio responsabilidade o pro-blema principal natildeo eacute o fato de que o emprego da teacutecnica tenha modificado e degradado a natureza fiacutesica mas sim o fato de a teacutecnica estar manipulando

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a natureza humana que perde seu controle e jaacute natildeo exerce a capacidade de perceber como a teacutecnica tem determinado as formas de organizaccedilotildees sociais e principalmente acarretando perigo agrave existecircncia da humanidade Nesse sentido a responsabilidade pelo emprego da teacutecnica passa a incluir as consequecircncias posteriores agrave sua utilizaccedilatildeo em todos os niacuteveis Em uma tentativa de justificar o rumo paternalista e autoritaacuterio que vigora na aplicaccedilatildeo praacutetica do seu princiacutepio responsabilidade Jonas afirma que independente do modo como as atitudes sejam manifestadas o que importa eacute possibilitar a continuidade da vida huma-na e sua essecircncia natural bem como da natureza fiacutesica da melhor forma possiacute-vel pois para ele os males oriundos da degradaccedilatildeo do patrimocircnio fiacutesico natural estendem-se proporcionalmente aos seus herdeiros Impedir que esse quadro seja efetivado significa assumir a responsabilidade pelo futuro do homem

Se Jonas procura defender uma eacutetica natildeo antropocecircntrica no fundo eacute pos-siacutevel afirmar que o filoacutesofo compartilhe do pensamento antropocecircntrico quan-do ele afirma que a natureza conserva a sua dignidade e contrapotildee-se ao poder humano e ldquoQuando a luta pela existecircncia frequentemente impotildee a escolha en-tre o homem e a natureza o homem de fato vem em primeiro lugarrdquo (JONAS 2006 p 229) Por isso proteger o futuro da humanidade eacute o primeiro dever o qual inclui o futuro da natureza unicamente por ser a condiccedilatildeo para efetivaacute-lo Isto significa dizer que as suas reflexotildees sobre o poder da teacutecnica natildeo impli-cam necessariamente numa preocupaccedilatildeo com a natureza entendida como o ambiente fiacutesico mas sim na manutenccedilatildeo da natureza para a sobrevivecircncia do homem Em outras palavras podemos entender que a sua preocupaccedilatildeo estaacute centrada na sobrevivecircncia da humanidade porque estaacute ameaccedilada pela teacutecnica Isto natildeo significa dizer que a sua tese central esteja comprometida mas natildeo seria justo afirmar que ela defenda de forma pura e absoluta uma eacutetica natildeo antropocecircntrica

Em Larregravere e Larregravere o sentido de preservaccedilatildeo da natureza e garantia da existecircncia das geraccedilotildees futuras situa-se longe da manutenccedilatildeo de uma perspec-tiva de natureza selvagem preservada em seu estado primitivo sem qualquer interferecircncia humana O que se considera importante preservar eacute a capacidade evolutiva dos processos ecoloacutegicos pois soacute assim eacute possiacutevel proporcionar con-diccedilotildees para a existecircncia da humanidade no futuro Por isso a dimensatildeo eacutetica dos problemas ambientais a publicidade do debate sobre essas questotildees e a necessidade da diversificaccedilatildeo das investigaccedilotildees cientiacuteficas satildeo formas de tor-nar mais sensiacuteveis as limitaccedilotildees da ciecircncia e a confianccedila no aparato tecnoloacutegico para resoluccedilatildeo dos problemas sociais e ambientais Diferentemente do pensa-

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mento de Hans Jonas Larregravere e Larregravere satildeo adeptos do ecocentrismo Para os autores a eacutetica ecocentrada fundada na relaccedilatildeo de pertencimento eacute uma eacutetica que natildeo implica apenas em uma representaccedilatildeo cientiacutefica do mundo mas sim numa maneira de nele situar o homem e suas relaccedilotildees sociais

As proposiccedilotildees criacuteticas de Larregravere e Larregravere contraacuterias ao princiacutepio respon-sabilidade de Jonas satildeo elaboradas mediante a tentativa ineficaz do alematildeo de conciliar a heuriacutestica do medo com o debate puacuteblico e o conhecimento cien-tiacutefico Excluindo das decisotildees o debate puacuteblico atraveacutes da aterrorizacatildeo sobre uma cataacutestrofe natural da qual todos deveriam proteger-se para evitar o pior segue as recomendaccedilotildees estipuladas pelo representante poliacutetico sem hesitar

Por fim podemos afirmar que eles estatildeo de acordo quanto ao fato de que a promessa da tecnologia moderna converteu-se em ameaccedila e que os pres-supostos da eacutetica tradicional jaacute natildeo se mostram suficientemente adequados para orientar a vida do homem contemporacircneo No entanto entram em con-flito quanto agraves perspectivas eacuteticas que se impotildee agraves circunstacircncias praacuteticas do homem Jonas volta-se para a dimensatildeo ldquopoliacutetico-paternalistardquo presente no seu princiacutepio responsabilidade enquanto Larregravere e Larregravere orientam-se na direccedilatildeo proacutexima ao republicanismo pressupondo o exerciacutecio da alteridade da cidada-nia e da participaccedilatildeo comunitaacuteria atraveacutes do princiacutepio de precauccedilatildeo

Se agrave eacutetica ambiental diz respeito agrave relaccedilatildeo entre o homem e a natureza se-parados na modernidade ela reivindica no mundo contemporacircneo os criteacuterios a partir dos quais eles possam ser repensados e unidos numa soacute preocupaccedilatildeo porque eles co-pertencem

O homem natildeo pode ser entendido fora da natureza porque eles estatildeo imbri-cados Se um dos conceitos chave da eacutetica ambiental eacute o do valor intriacutenseco e conforme vimos para avaliar eacute preciso ter por um lado um avaliador e por ou-tro qualquer coisa que desperte o sentimento de filiaccedilatildeo independentemente da utilidade a eacutetica ambiental nos conduz a uma mudanccedila de comportamen-to que leve em consideraccedilatildeo uma relaccedilatildeo de pertencimento com um mundo constituiacutedo pela natureza da qual o homem faz parte e que por isso todos noacutes devemos cuidar

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REFEREcircNCIAS

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REFLEXOtildeES SOBRE EacuteTICA AMBIENTAL NA CONTEMPORANEIDADE

Jonielton Oliveira DantasAlessandra Barbosa SouzaMariacutelia Barbosa dos SantosMaria Joseacute Nascimento SoaresSuelane de Oliveira Silva Dantas

1 INTRODUCcedilAtildeO

A crise ambiental que marca a contemporaneidade eacute decorrente dos diver-sos desarranjos da relaccedilatildeo sociedade e natureza exteriorizada nos inuacutemeros danos ao ar solo aacutegua e potencializada pelas cataacutestrofes que ao longo do tempo impulsionaram a tomada de consciecircncia da crise em sua dimensatildeo pla-netaacuteria levando diversos paiacuteses do mundo ao debate puacuteblico sobre a questatildeo Para Larregravere e Larregravere (1997) a realizaccedilatildeo da Cimeira da Terra (Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas) no Rio de Janeiro em 1992 apesar dos resultados frustrantes em termos de decisotildees concretas eacute uma prova de que a crise ambiental existe e tornou-se motivo de preocupaccedilatildeo comum

Se por um lado o reconhecimento da existecircncia de uma crise ambiental na contemporaneidade pode ser atribuiacutedo agrave separaccedilatildeo entre natureza e cultura por outro demonstra que tal separaccedilatildeo jamais fora consumada tendo em vis-ta a interdependecircncia nas relaccedilotildees entre homem e natureza que ora se apre-sentam de forma bastante complexa Neste sentido Bruno Latour em sua obra Jamais fomos modernos ensaio de antropologia simeacutetrica (1994) afirma que o projeto da modernidade eacute algo fadado ao fracasso tendo em vista a ilusatildeo de que eacute possiacutevel isolar o domiacutenio da natureza (o inato) do domiacutenio da poliacutetica (a accedilatildeo humana) (LATOUR 1994)

Ambas constataccedilotildees evidenciam a crise do conhecimento cientiacutefico pau-tado na racionalidade cartesiana cuja promessa era ldquo[] enfrentar e resolver com sucesso os mais importantes problemas humanos de modo a garantir o domiacutenio sobre as forccedilas da naturezardquo (GIACOIA JUNIOR 2004 p 638) Vale lembrar que o conhecimento sobre natureza sempre esteve na base da razatildeo

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empreendida pelos modernos cujo ideal baconiano1 sintetizado na maacutexima ldquosaber eacute poderrdquo jaacute apontava para a necessidade de uma ciecircncia emancipatoacute-ria em que o homem fosse concebido como ministro e inteacuterprete da natureza (BACON 1979)

Estas primeiras aproximaccedilotildees sobre a relaccedilatildeo cultura e natureza no modus operandi da ciecircncia moderna nos remete a uma reflexatildeo sobre a construccedilatildeo de uma visatildeo de natureza que corresponda ao estado atual do conhecimento Larregravere e Larregravere (1997) nos lembra que a concepccedilatildeo grega de natureza sou-be conciliar naturalismo e humanismo nos oferecendo saiacutedas tanto cientiacuteficas quanto praacuteticas para as nossas preocupaccedilotildees atuais acerca das relaccedilotildees com a natureza mediante uma eacutetica proacutepria

Para Larregravere e Larregravere (1997) interessa-nos saber atualmente como se fez a separaccedilatildeo entre fiacutesica e eacutetica humanismo e natureza e se essa visatildeo de nature-za informada pela ciecircncia eacute a nossa heranccedila da modernidade Neste contexto as questotildees passam a ser ldquo[] dependeremos ainda tanto dela [modernidade] que deveriacuteamos conservar a exterioridade que ela atribui ao homem relativa-mente agrave natureza Seraacute que as transformaccedilotildees contemporacircneas das ciecircncias da natureza nos impedem de ver que o homem faz parte dela rdquo (LARREgraveRE LAR-REgraveRE 1997 p 15)

Imbuiacutedos destas reflexotildees elaboramos questotildees natildeo menos importantes para orientar o presente ensaio Quais os pressupostos teoacutericos do pensamento moderno colocaram o ser humano como exterioridade agrave natureza Como essa concepccedilatildeo moderna de natureza tem dificultado a construccedilatildeo de uma visatildeo de natureza includente em relaccedilatildeo agrave cultura e na implementaccedilatildeo de uma nova eacutetica que balize a relaccedilatildeo sociedade-natureza na contemporaneidade

Este ensaio tem como objetivo discutir a relaccedilatildeo homem-natureza a par-tir de interpretaccedilotildees sobre a modernidade como aporte para a reflexatildeo sobre uma eacutetica ambiental que balize o uso responsaacutevel da teacutecnica e do conhecimen-to na contemporaneidade Utilizou-se a apreciaccedilatildeo bibliograacutefica acerca de in-

1 O filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561 - 1626) desenvolveu o ideal de boa ciecircncia baseado na con-cepccedilatildeo indutivista que fundamentou grande parte dos meacutetodos de anaacutelise e pesquisa na ciecircncia moderna As interpretaccedilotildees contemporacircneas sobre a definiccedilatildeo de boa ciecircncia em Bacon sinteti-zam como uma ciecircncia de caraacuteter racionalista experimental capaz de inferir leis naturais a partir do acuacutemulo de observaccedilotildees cuja condiccedilatildeo eacute a existecircncia de mentes bem treinadas para manter-se a salvo de enganos entre os quais os sentidos sentimentos e o intercacircmbio social (FREITAS 2004) Com base no Novum Organum a boa ciecircncia significa a libertaccedilatildeo humana dos iacutedolos impostos pela natureza e pela tradiccedilatildeo eacute um instrumento de poder que auxilia o homem a lidar com a natu-reza e a possibilidade de melhora e conforto para vida humana (SANTOS HORA 2015)

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terpretaccedilotildees contemporacircneas sobre o projeto da modernidade e sua implica-ccedilatildeo na relaccedilatildeo homem-natureza sobre o ldquobom usordquo da natureza e o chamado para a responsabilidade nos usos da teacutecnica e do conhecimento mediante uma eacutetica ambiental Tais discussotildees foram embasadas principalmente em Giacoia Juacutenior (2004) Jonas (2006) Larregravere e Larregravere (1997) e Larregravere (2010)

O campo da filosofia tem dedicado especial atenccedilatildeo agrave discussatildeo sobre natu-reza sobretudo quanto a reflexatildeo em torno da imputaccedilatildeo de valor e moral agraves entidades naturais e a discussatildeo sobre uma eacutetica que avalize a relaccedilatildeo homem--natureza Este debate tem recebido um apelo crescente agrave medida em que se ampliam as condiccedilotildees de degradaccedilatildeo ambiental a niacuteveis considerados irreversiacute-veis Contudo este ensaio natildeo tem a pretensatildeo de fazer um aprofundamento fi-losoacutefico acerca dos temas em questatildeo mas apresentar algumas interpretaccedilotildees e reflexotildees sobre as discussotildees que estatildeo sendo postas neste campo

Para melhor compreensatildeo o texto estaacute dividido em duas partes a primeira traz uma discussatildeo a respeito dos usos da natureza a partir loacutegica do pensa-mento moderno e as implicaccedilotildees do superdimensionamento da teacutecnica e da ciecircncia na relaccedilatildeo homem-natureza a segunda parte traz as discussotildees con-temporacircneas acerca de uma eacutetica ambiental a partir das perspectivas biocecircn-trica e ecocecircntrica que rompem com o paradigma antropocecircntrico em que se estabelece a relaccedilatildeo homem-natureza

2 INTERPRETACcedilOtildeES SOBRE A RELACcedilAtildeO HOMEM-NATUREZA NA MODERNIDADE

Embora os gregos sejam fonte de inspiraccedilatildeo e modelo do que seja o lsquobom usorsquo da natureza cabe a noacutes na contemporaneidade descobrir os criteacuterios de um lsquobom usorsquo e estabelecer normas eacuteticas balizadas por uma nova visatildeo de na-tureza informada cientificamente Para tanto torna-se necessaacuterio estudar o pe-riacuteodo moderno para compreender como consolidou-se o desejo de controle humano sobre a natureza externa e interna ao qual eacute atribuiacutedo a crise ambien-tal2 (LARREgraveRE LARREgraveRE 1997)

2 A crise ambiental se apresenta na enorme quantidade de danos precisos de poluiccedilotildees localiza-das de perigos identificados mas tambeacutem cataacutestrofes exemplares (Bhopal Chernobyl) e mesmo a provaacutevel ameaccedila que paira sobre os nossos recursos (erosatildeo da biodiversidade bioloacutegica desmata-mento das regiotildees tropicais) ou sobre a nossa vida (buraco na camada de ozocircnio efeito de estufa etc) (LARREgraveRE LARREgraveRE 1997)

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O projeto da modernidade encontra na percepccedilatildeo de Francis Bacon em No-vum Organum (1620) a inspiraccedilatildeo para proclamar a virtude emancipatoacuteria de uma nova ciecircncia Bacon anunciava uma nova figura de mundo em que o ho-mem por intermeacutedio das ciecircncias alcanccedilaria a emancipaccedilatildeo do entendimento seguida da ldquo[] melhoria da situaccedilatildeo humana e a ampliaccedilatildeo do seu domiacutenio sobre a naturezardquo (BACON 1990 apud GIACOIA JUNIOR 2004 p 637)

Para alcanccedilar tal proeza Bacon entendia a necessidade de formulaccedilatildeo de um meacutetodo que distinguisse o saber cientiacutefico seguro e beneacutefico ao gecircnero humano da sabedoria antiga caracterizada pela contemplaccedilatildeo da verdade e especulaccedilatildeo a qual considerava um empecilho para alcanccedilar a maioridade do entendimento humano ou seja a idade da razatildeo (GIACOIA JUNIOR 2004) Natildeo obstante a leitura que Rossi (1992 p 203) faz eacute a de que ldquo[] o meacutetodo eacute para Bacon um meio de ordenaccedilatildeo e de classificaccedilatildeo da realidade naturalrdquo

Como Bacon Descartes ldquo[] via na ciecircncia e na teacutecnica que dela deriva a possibilidade de consolidar e estender o poder de controle humano sobre a natureza externa e tambeacutem sobre a natureza interior do homemrdquo (GIACOIA JU-NIOR 2004 p 640) A partir de suas assimilaccedilotildees no campo da fiacutesica Descartes julga ser necessaacuterio divulgar tais conhecimentos de modo a procurar o bem geral de todos os homens Sendo assim afirma que as noccedilotildees gerais relativas agrave Fiacutesica por ele adquiridas fizeram ver que

eacute possiacutevel chegar a conhecimentos que sejam muito uacuteteis agrave vida e

que em vez dessa Filosofia especulativa que se ensina nas escolas

se pode encontrar uma outra praacutetica pela qual conhecendo a forccedila

e as accedilotildees do fogo da aacutegua do ar dos astros dos ceacuteus e de todos os

outros corpos que nos cercam tatildeo distintamente como conhecemos

os diversos misteres de nossos artiacutefices poderiacuteamos empregaacute-los da

mesma maneira em todos os usos para os quais satildeo proacuteprios e assim

nos tornar como que senhores e possuidores da natureza (DESCAR-

TES 1983 p 63)

Em sua obra Discurso do Meacutetodo Descartes descreve o meacutetodo que encon-trara para melhor buscar a verdade atraveacutes da deduccedilatildeo e do conhecimento fragmentado livre de especulaccedilotildees no qual a observaccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo possuem papel secundaacuterio O meacutetodo cartesiano expotildee uma visatildeo mecacircnica de mundo cuja natureza eacute concebida como um objeto a ser dominado e explo-rado pelo homem negando o caraacuteter dinacircmico da mesma No cartesianismo

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tudo que natildeo eacute razatildeo eacute movimento e extensatildeo assim todos os fenocircmenos da natureza deveriam ser explicados pelo mecanicismo (JAPIASSU 1992)

Dado o papel de destaque aos precursores do projeto da modernidade vaacute-rias foram as sucessivas contribuiccedilotildees para ampliar o entendimento acerca da natureza ou melhor da ideia de natureza ao longo deste periacuteodo Eacute pertinente citar Hobbes que ao construir sua teoria demarca severa oposiccedilatildeo entre estado de natureza e estado civil Hobbes (2002) descreve o estado de natureza como sendo um estado miseraacutevel de ignoracircncia inseguranccedila e solidatildeo cuja saiacuteda eacute a uniatildeo dos homens em torno de um modo de vida artificial regido pela lei e a ordem podendo assim possibilitar uma vida mais segura justa e apraziacutevel Para o autor poderemos arbitrar contra os seres brutos domesticando os que forem passiacuteveis de nos servir e declarando guerra perpeacutetua aos demais

Natildeo obstante as expediccedilotildees cientiacuteficas do seacuteculo XVIII que tinham como objetivo revelar os segredos da natureza demonstravam a perspectiva de sujeiccedilatildeo desta aos interesses econocircmicos e da ciecircncia Foi assim com os viajantes naturalistas Bougainville e La Condamine (1701-1774) por exemplo cujas descriccedilotildees de suas experiecircncias reportaram para a Europa com surpresa as evidecircncias dos saberes que os povos ldquobrutos e selvagensrdquo da Ameacuterica possuiacuteam e a enorme quantidade de plantas desconhecidas que poderiam lhes ser ldquouacuteteisrdquo (BECKER 2012)

Contudo enquanto dentro do movimento iluminista a percepccedilatildeo da maio-ria dos pensadores era a de estarem vivenciando um momento de avanccedilo com a modernidade seja do ponto de vista cientiacutefico social poliacutetico e econocircmico o filoacutesofo Jean-Jacques Rousseau foi um dos primeiros a tecer a criacutetica ao papel da ciecircncia e preocupar-se com uso adequado dos conhecimentos adquiridos Para Rousseau (1989) a histoacuteria do homem era decadente pois sai de um con-texto de liberdade de contato com a natureza para uma situaccedilatildeo de servidatildeo sem qualidade de vida num contexto de sociedade corrompida Neste sentido o convite de Rousseau para retornar agrave natureza se traduz na busca da liberdade e da autonomia do homem que precedem os contratos sociais

De acordo com Becker (2012) o percurso traccedilado pela modernidade do surgimento agrave contemporaneidade se apresenta como uma ameaccedila agrave proacutepria existecircncia de nossa ldquoCivilizaccedilatildeordquo considerado os inuacutemeros descaminhos que separaram o homem de si mesmo e da natureza Assim o estaacutegio atual da crise ambiental pressupotildee repensar a relaccedilatildeo sociedade e natureza e principalmen-te a relaccedilatildeo do homem entre si pois eacute dessa relaccedilatildeo engendrada na loacutegica de produccedilatildeo capitalista que decorrem os diversos problemas socioambientais

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Neste sentido Giacoia Junior (2004) tambeacutem enfatiza que o otimismo triun-falista e a crenccedila velada dos pioneiros modernos no projeto de racionalidade com base na ciecircncia e na teacutecnica como soluccedilatildeo para os diversos problemas humanos e levada a efeito pela dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo da natureza pelo ho-mem produziram a crise ecoloacutegica ldquo[] em que parece mergulhar irreversivel-mente o planeta [] revelando dramaticamente que o desejo de dominaccedilatildeo humana sobre a natureza parece nos conduzir ao perigoso labirinto da trageacute-diardquo (GIACOIA JUNIOR 2004 p 638)

Os avanccedilos teacutecnico-cientiacuteficos alcanccedilados no domiacutenio da fiacutesica nuclear da quiacutemica da bioquiacutemica e da biologia molecular colocaram o homem como senhor supremo da ciecircncia e da teacutecnica podendo exercer o controle sobre as condiccedilotildees de existecircncia no planeta Teriacuteamos portanto atingido o ideal mo-derno de dominaccedilatildeo da natureza atraveacutes do domiacutenio da teacutecnica Heidegger em seu ensaio Superaccedilatildeo da metafiacutesica entende que a teacutecnica natildeo pode ser interpretada como um valioso recurso ou instrumento disponiacutevel agrave vontade individual e coletiva dos cientistas ou mera dimensatildeo do fazer humano pelo contraacuterio eacute a teacutecnica que determina historicamente o modo de ser do ho-mem no mundo moderno Este eacute para ele um processo irreversiacutevel pois co-locou o homem no cerne das tecnologias de produccedilatildeo e consumo (GIACOIA JUNIOR 2004)

Natildeo obstante Hans Jonas em sua obra O princiacutepio responsabilidade caminha na direccedilatildeo de uma filosofia praacutetica ao procurar fundamentar um projeto eacutetico que balizasse as relaccedilotildees na sociedade tecnoloacutegica Jonas considera exemplar o que chama de ldquoprograma ideal baconianordquo no que tange agrave formulaccedilatildeo de ca-racteriacutesticas que distinguem a ciecircncia moderna da sabedoria antiga ao desen-volver um modelo de observaccedilatildeo matematizado com a finalidade de descobrir as leis que vigoram a ordem da natureza para poder sujeita-las aos interesses humanos mediante uso da teacutecnica (GIACOIA JUNIOR 2004)

Paradoxalmente eacute tambeacutem de Jonas que parte uma das mais contunden-tes criacuteticas agrave foacutermula de Bacon no apogeu de seu triunfo Para Jonas o ecircxito do programa baconiano provocou o superdimensionamento da civilizaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica e ao mesmo tempo em que potencializou o poder de atu-accedilatildeo humana sobre a natureza gerando progresso e melhoria nas condiccedilotildees de vida traz consigo um alerta para o perigo de igual magnitude Assim o paradoxo consiste no risco que representa o potencial tecnoloacutegico dessa civi-lizaccedilatildeo provocado pelo sucesso e natildeo pelo fracasso do ideal baconiano (GIA-COIA JUNIOR 2004)

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A profunda paradoxia jamais suspeitada por Bacon do poder cria-

do pelo saber consiste em que ele na verdade conduziu a algo as-

sim como lsquodomiacuteniorsquo sobre a natureza (isto eacute a seu aproveitamento

potencializado) mas com isso ao mesmo tempo agrave mais completa

sujeiccedilatildeo a si mesmo O poder se tornou auto suficiente (selbstmauml-

chtig) enquanto sua promessa se converteu em ameaccedila sua pers-

pectiva de salvaccedilatildeo em apocalipse (JONAS 1979 apud GIACOIA

JUNIOR 2004 p 652)

Contudo Becker (2012) considera que Jonas ao inferir que o ideal baconia-no eacute um perigo agrave natureza incorre numa culpabilizaccedilatildeo apressada que beira o senso comum pois natildeo analisa com profundidade as obras de Bacon entre as quais A Sabedoria dos Antigos na qual o filoacutesofo utiliza-se da mitologia para alertar sobre a necessidade da prudecircncia cautela esteacutetica e eacutetica entre outras virtudes na produccedilatildeo do conhecimento pela ciecircncia

Dadas as devidas ponderaccedilotildees eacute inegaacutevel a contribuiccedilatildeo de Jonas para pen-sar o desenvolvimento de uma eacutetica para a civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica que funda-mente as novas descobertas cientiacuteficas sobretudo no momento que os resul-tados das pesquisas passam a ser empregados de forma praacutetica por meio do aproveitamento industrial da tecnologia e da produccedilatildeo em larga escala trans-formando a ciecircncia moderna em forccedila produtiva

Daiacute parte outra criacutetica de Jonas ao ideal moderno pois se na medida em que cada descoberta cientiacutefica passa a ser acompanhada de uma necessidade tecnoloacutegica praacutetica por meio do aproveitamento tecnoloacutegico industrial o cien-tista deixa de ser o senhor dominador da natureza para ser escravo da teacutecnica no mundo contemporacircneo Deste modo para Giacoia Junior (2004 p 644) Jo-nas chama a atenccedilatildeo para os efeitos danosos da intervenccedilatildeo cientiacutefica sobre a natureza uma vez que ldquo[] por maior que seja a extensatildeo do nosso conheci-mento ele natildeo nos torna possiacutevel prever inteiramente as consequecircncias que podem resultar da aplicaccedilatildeo teacutecnico-experimental da ciecircnciardquo

Para Giacoia Junior a posiccedilatildeo reacionaacuteria pela qual Jonas se define demons-tra a sua preocupaccedilatildeo em estabelecer limites eacuteticos e juriacutedicos para a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica tendo em vista as possibilidades infinitas da moderna tecnologia Seu alerta pode ser definido como uma heuriacutestica do medo uma eacutetica ampliada da responsabilidade que interveacutem no lugar da ciecircncia e que poderia guiar nossas accedilotildees Assim Giacoia Junior entende que essa heuriacutestica ldquo[] tem o propoacutesito de conclamar agrave moderaccedilatildeo e agrave prudecircncia pois o que estaacute

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em jogo eacute nada menos que a existecircncia e a possibilidade da vida em geral e natildeo apenas humana no planeta Terrardquo (GIACOIA JUNIOR 2004 p 648)

Neste sentido o autor compreende que a preocupaccedilatildeo de Jonas com o efei-to cumulativo destruidor e irreversiacutevel da intervenccedilatildeo tecnoloacutegica o fez con-siderar a hipoacutetese de um direito proacuteprio da natureza e uma significaccedilatildeo eacutetica autocircnoma o que significaria ldquo[] procurar natildeo soacute o bem humano mas tambeacutem o bem das coisas extra-humanas isto eacute ampliar o reconhecimento de ldquofins em sirdquo para aleacutem da esfera do humano e incluir o cuidado com estes no conceito de bem humanordquo (JONAS 2006 p 41) Infere-se dessa proposiccedilatildeo a sua tese da valorizaccedilatildeo da eacutetica como um princiacutepio de uma responsabilidade humana ampliada

Sobre essa perspectiva da existecircncia de uma dimensatildeo moral e de valor da natureza Larregravere e Larregravere (1997) nos lembram que nem todos os pensadores contemporacircneos estatildeo de acordo Ao mencionar Luc Ferry em a Nova Ordem Ecoloacutegica os autores ressaltam que o filoacutesofo francecircs defendeu com veemecircncia a ideia de que o homem ldquo[] afirma a sua moralidade subtraindo-se a uma natu-reza definitivamente alheia a toda consideraccedilatildeo moral e cujo estatuto eacute tatildeo-soacute o de um meio submetido aos fins humanosrdquo (LARREgraveRE LARREgraveRE 1997 p 10) e que qualquer outra posiccedilatildeo diferente a isso configuraria uma irracionalidade perigosa tanto para a ciecircncia quanto para a liberdade

Do ideal moderno de dominaccedilatildeo da natureza como meio ou recurso para atender as necessidades humanas derivou conhecimentos e tecnologias em grande escala contribuindo para a construccedilatildeo da atual civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica Poreacutem na contemporaneidade a humanidade ao mesmo tempo que usufruiacute desta heranccedila moderna convive com os resultados catastroacuteficos deste modelo de racionalidade predatoacuteria da natureza a ponto de configurar uma crise am-biental que tem gerado incertezas sobre a vida neste planeta

Larregravere e Larregravere (1997) entendem que o problema da crise ambiental natildeo estaacute no uso da teacutecnica em si o problema estaacute em estabelecer criteacuterios que ava-lize o uso dela pois natildeo sendo possiacutevel renunciar a accedilatildeo da teacutecnica na contem-poraneidade eacute imprescindiacutevel que o uso da natureza seja mediado por uma preocupaccedilatildeo eacutetica da responsabilidade com o ldquobom usordquo

A ideia do ldquobom usordquo3 da natureza trazida pelos autores eacute mais uma con-tribuiccedilatildeo agrave discussatildeo sobre uma eacutetica ambiental que vaacute ao encontro das pre-

3 O lsquobom usorsquo natildeo eacute uma ideia nova podendo ser encontrada por exemplo em Aristoacuteteles (Larregravere 2010 p 17)

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ocupaccedilotildees relacionadas ao superdimensionamento do poder da ciecircncia e da tecnologia que orientam as praacuteticas ambientais atuais Muito embora falar de uso ou ainda do ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo uso da natureza reporte ao valor relativo ou instrumental que os seres humanos atribuem a cada elemento da natureza Lar-regravere e Larregravere (1997) explica que a ideia de ldquobom usordquo natildeo eacute simplesmente dizer que natildeo podemos utilizar a natureza mas que somos responsaacuteveis pela forma como a usamos

Sendo assim Larregravere e Larregravere (1997) enfatizam que a crise ambiental re-afirmou a importacircncia da avaliaccedilatildeo da concepccedilatildeo de natureza em seus des-dobramentos o que radicalmente pocircs-se a demanda pela mudanccedila de nossos comportamentos o que recai fortemente sobre a procura de uma eacutetica guiada por uma visatildeo de natureza cientificamente informada e que nos situe comple-tamente a ela

3 POR UMA EacuteTICA QUE NOS CONDUZA A SAIacuteDA DA CRISE AM-BIENTAL CONTEMPORAcircNEA

Ao abordarmos sobre a visatildeo de natureza na modernidade poderemos in-correr no erro de condenar precipitadamente o projeto de racionalidade car-tesiana julgando-o culpado pela crise ambiental que atualmente possui con-tornos globais Poreacutem eacute preciso esclarecer que o projeto da modernidade natildeo era um projeto teacutecnico-cientiacutefico apenas preocupava-se com a possibilidade de melhor conhecermos a realidade Contudo eacute inegaacutevel que o conhecimen-to teacutecnico-cientiacutefico que derivou da racionalidade cartesiana contribuiu para a melhoria da vida humana na Terra Ao mesmo tempo que natildeo se pode negar os efeitos negativos sobre a natureza e a cultura que o avanccedilo da teacutecnico-cien-tiacutefico tem provocado

Neste sentido Giddens (1991) ao analisar as descontinuidades da moderni-dade no uacuteltimo seacuteculo a considera um fenocircmeno de dois gumes por um lado criou oportunidades bem maiores para os seres humanos a partir do desenvol-vimento de instituiccedilotildees sociais modernas inexistentes em periacuteodos histoacutericos precedentes como o sistema poliacutetico do estado-naccedilatildeo por exemplo por ou-tro fica evidente sobretudo no seacuteculo atual que o desenvolvimento das forccedilas produtivas em larga escala eacute potencialmente destruidora do meio ambiente material

O que se pretende entatildeo a partir da criacutetica atual que se faz agrave modernidade eacute refletir sobre uma articulaccedilatildeo entre ciecircncia tecnologia e eacutetica que possibilite

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conceber uma eacutetica da responsabilidade Domingues (2004 p 173) apresenta um caminho que parte da seguinte premissa

[] se natildeo podemos moralizar a ciecircncia nem elaborar uma eacutetica cien-

tiacutefica com base nela devendo a eacutetica ficar com a filosofia se natildeo com

a teologia (teologia moral) podemos moralizar o cientista e pensar a

eacutetica da ciecircncia que eacute a eacutetica da responsabilidaderdquo

Jonas (2006) ao analisar que a introduccedilatildeo do saber e da teacutecnica moderna provocaram uma potencializaccedilatildeo das forccedilas do agir humano cujas consequ-ecircncias satildeo para ele irreversiacuteveis passa a considerar o conjunto da natureza na esfera de responsabilidade desse agir Assim o autor entende que ldquo[] a teacutecnica moderna introduziu accedilotildees de uma tal ordem ineacutedita de grandeza com tais no-vos objetos e consequecircncias que a moldura da eacutetica antiga natildeo consegue mais enquadraacute-lasrdquo (JONAS 2006 p 39)

Neste sentido a eacutetica antiga pautada na advertecircncia dos indiviacuteduos para o cumprimento das leis jaacute natildeo tem efeito diante da enormidade de forccedilas cumu-lativas do fazer coletivo o que suscita uma eacutetica redimensionada a da respon-sabilidade Destarte ldquo[] a natureza como uma responsabilidade humana eacute seguramente um novum sobre o qual uma nova teoria eacutetica deve ser pensadardquo (JONAS 2006 p 39)

Nestas circunstacircncias Jonas (2006) esclarece que nessa nova eacutetica o saber torna-se um dever prioritaacuterio um saber previdente que deve estar em confor-midade com o saber teacutecnico este uacuteltimo eacute que confere poder ao agir por isso o saber torna-se uma parte da eacutetica e deve orientar o autocontrole tatildeo necessaacute-rio diante do poder que jaacute adquirimos sobre a natureza

Sobre este aspecto Santos (2012 p 38) acrescenta que ldquo[] a eacutetica diz res-peito justamente agrave razatildeo de agir e ao modo de agir Ela estaacute ligada aos valo-res que cada um estabelece para si mesmo e para o outro [inclusive natureza] numa relaccedilatildeo entre meios e finsrdquo Para o autor o cientista natildeo pode deixar de fa-zer uma reflexatildeo acerca de questotildees que satildeo proacuteprias do campo da eacutetica como por exemplo ldquo[] os resultados do que me proponho a pesquisar beneficiaraacute a todos ou soacute a uma minoria O conhecimento produzido atenderaacute a quem ou a quais interesses rdquo

Neste sentido reiteramos a ideia de Domingues (2004) ao afirmar que natildeo podemos moralizar a ciecircncia mas podemos moralizar o cientista Contudo o autor defende que a ciecircncia natildeo tem capacidade de instaurar uma eacutetica com

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base nela proacutepria uma vez que trabalha com fatos e natildeo com valores Portanto considera que eacute grande a dificuldade de humanizar a ciecircncia e a tecnologia pois a eacutetica sozinha natildeo daria conta tendo em vista que natildeo tem capacidade de regrar as accedilotildees e tampouco a uniatildeo de cientista e tecnoacutelogos seria suficiente uma vez que esta relaccedilatildeo envolve interesses puacuteblicos e privados Assim avalia ser necessaacuteria a intervenccedilatildeo de outras instacircncias ou esferas sociais como o di-reito o Estado e a poliacutetica (DOMINGUES 2004)

Ao questionar sobre a necessidade de uma eacutetica ambiental Larregravere (2010) em seu texto As eacuteticas ambientais4 nos lembra que o filoacutesofo australiano Ri-chard Routley introduziu a natureza no domiacutenio da moralidade ao afirmar que haacute bons e maus modos de conduzir a natureza para aleacutem dos limites das po-tecircncias teacutecnicas que consiste no entendimento de que noacutes natildeo temos deveres apenas entre os humanos que ela talvez tenha direitos e que a natureza entatildeo tem um valor moral

O reconhecimento de que as entidades naturais tecircm valor moral abriu es-paccedilo para pensar uma eacutetica ambiental pautada no lsquovalor intriacutensecorsquo sendo que este natildeo mais se restringiria aos humanos uacutenicos seres considerados possui-dores de razatildeo e portanto de dignidade moral mas agrave toda natureza Busca-se portanto abandonar a visatildeo antropocecircntrica na qual o humano como uacutenico ser com capacidade de pensar raciocinar e concluir operaccedilotildees loacutegicas a partir de premissas vaacutelidas exerce seu domiacutenio sobre todas as demais entidades da natureza que satildeo consideradas apenas como coisas recursos ou meios para se atingir alguma finalidade humana (LARREgraveRE 2010)

Deste modo se almejarmos aprofundar a reflexatildeo sobre um modelo de eacuteti-ca que avalize as praacuteticas ambientais eacute imprescindiacutevel abandonar a visatildeo de na-tureza externa ao ser humano pois esta concepccedilatildeo moderna de uma natureza selvagem ou virgem da qual o humano natildeo faz parte jaacute natildeo tecircm encontrado ressonacircncia nas teorias contemporacircneas e nem no debate puacuteblico sobre a crise ambiental Como aborda Larregravere e Larregravere (1997 p 17)

Se o homem faz parte da natureza natildeo haacute razotildees para dramatizar

Natildeo haacute que escolher entre natureza e o homem podem ser ambos

protegidos eacute possiacutevel ligar a preservaccedilatildeo da diversidade bioloacutegica

4 Texto original publicado em Natures Sciences Socieacuteteacutes 20104 (Vol 18) p 405-413 Traduccedilatildeo para o portuguecircs Antocircnio Carlos dos Santos com a devida autorizaccedilatildeo da autora disponibilizado para a disciplina Eacutetica Natureza e Meio Ambiente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA

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por exemplo agrave defesa da diversidade cultural Sobretudo se o ho-

mem estaacute na natureza eacute da natureza a sua accedilatildeo natildeo eacute necessaria-

mente perturbadora pode mesmo ser beneacutefica

Assim a humanidade chega ao tempo hodierno tendo que refletir e recom-por a sua concepccedilatildeo de natureza e concomitantemente tendo que estabelecer uma nova relaccedilatildeo com a natureza intermediada por uma eacutetica que ultrapasse o limite estabelecido pela moral Kantiana5 segundo a qual apenas os seres dota-dos de razatildeo possuem valor intriacutenseco A expressatildeo ldquovalor intriacutensecordquo cunhada por Kant eacute atribuiacuteda a tudo o que deve ser tratado como um ldquofim em si mesmordquo ou seja a humanidade e mais precisamente todo ser racional (LARREgraveRE 2010 p 03)

Ao reconhecer o valor intriacutenseco como peculiaridade do ser humano sendo o uacutenico vivente a possuir dignidade moral todas as demais entidades naturais passam a ser consideradas como meio com valor apenas instrumental e rela-tivo Na eacutetica ambiental esta perspectiva eacute denominada antropocecircntrica pois coloca o ser humano no centro e acima do bem de qualquer outro ser vivo pre-valecendo sempre os interesses do homem sobre os demais seres da natureza

Em busca de fragmentar o projeto antropocecircntrico potildee-se em questatildeo con-siderar o valor intriacutenseco da natureza e natildeo relativo atribuindo um valor moral a todas as entidades naturais Contudo a perspectiva biocecircntrica que emer-ge desta discussatildeo mantecircm a estrutura Kantiana de moralidade do ldquofim em si mesmordquo de cada organismo poreacutem sem considera-los sujeitos mas uma multi-plicidade de individualidades em que jaacute natildeo haacute privileacutegios humanos (LARREgraveRE LARREgraveRE1997)

A eacutetica ambiental biocecircntrica defende que todo indiviacuteduo vivo do mais sim-ples ao mais complexo eacute digno de consideraccedilatildeo moral e sendo assim animais vegetais e organismos monocelulares possuem valor intriacutenseco (LARREgraveRE LARREgraveRE1997) O entendimento de que todas as entidades naturais possuem um valor intriacutenseco pressupotildee considerar que ldquo[] a natureza vale por si mesma independentemente da utilidade e dos usos que lhe decirc o ser humanordquo (ACOS-TA MARTIacuteNEZ 2011 p 353 traduccedilatildeo nossa)

5 O filoacutesofo alematildeo Immanuel Kant (1724-1804) no seacuteculo XVIII fundamentou uma eacutetica baseada na razatildeo pela qual o sujeito deveria buscar as regras do que eacute justo e certo traccedilando sua conduta moral Para Kant somente os sujeitos possuem ldquofins em sirdquo pois satildeo seres racionais dotados de uma consciecircncia reflexiva capazes de auto-representar fins (LARREgraveRE 1997)

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A perspectiva biocecircntrica tem em Poul Taylor um dos grandes expoentes a partir de sua obra Respect of nautre (Respeito agrave natureza) publicada em 1986 Taylor diverge da tradiccedilatildeo antropocecircntrica ao defender que em uma situaccedilatildeo de conflito moral quando estatildeo postos interesses de diferentes entidades natu-rais natildeo seja levado em consideraccedilatildeo apenas os interesses dos agentes huma-nos mas o valor inerente agrave vida de cada indiviacuteduo ou seja a relevacircncia da vida em si mesma Poreacutem isso natildeo significa uma proibiccedilatildeo de qualquer intervenccedilatildeo na natureza em que uma vida natildeo possa ser exterminada mas que tal accedilatildeo seja precedida de uma justificaccedilatildeo de uma razatildeo eacutetica cuja competecircncia eacute dos agentes racionais (TAYLOR 1986)

Contudo a posiccedilatildeo biocecircntrica da eacutetica ambiental eacute passiacutevel de uma criacuteti-ca pragmaacutetica Atentemos a este exemplo considerando que a populaccedilatildeo de abelhas tem diminuiacutedo em diversas regiotildees do mundo e que estudos cientiacutefi-cos tecircm apontado uma relaccedilatildeo entre o desaparecimento das abelhas e o uso de agrotoacutexicos e considerando ainda que as abelhas desempenham um papel importante para a produccedilatildeo de alimentos no mundo garantindo a seguran-ccedila alimentar da populaccedilatildeo humana questiona-se O que eacute preciso proteger A vida de todas as abelhas individualmente ou as condiccedilotildees do ambiente de que elas dependem Obviamente se preservarmos as condiccedilotildees ambientais para que as abelhas continuem a existir reduziremos o risco de uma ameaccedila a todo o ecossistema Assim o valor da abelha natildeo estaacute no indiviacuteduo em si mas na espeacutecie no processo e no sistema natural ao qual pertence

Diante da inoperacircncia da perspectiva biocecircntrica sobretudo em relaccedilatildeo a qual consideraccedilatildeo moral deveraacute prevalecer para proteger e respeitar os indiviacute-duos eacute que emerge a perspectiva ecocecircntrica segundo a qual o valor natildeo estaacute no indiviacuteduo isoladamente mas no papel que cada um desempenha no con-junto que eles formam a comunidade bioacutetica (LARREgraveRE 2010) A eacutetica ecocecircn-trica destaca a importacircncia da responsabilidade de pertencer a uma totalidade pois os membros natildeo tecircm valor por eles mesmos mas pela interdependecircncia que exercem no conjunto

A perspectiva ecocecircntrica estaacute embasada em Aldo Leopold quando em 1949 escreveu The land ethic (A eacutetica da Terra) um toacutepico no livro A sand county almanac (Almanaque de um condado arenoso) que se transformou em seu escrito mais conhecido A eacutetica ecocecircntrica defendida por Leopold deu origem a Eacutetica da Terra e a Ecologia Profunda as quais abrangem todas as formas de vida sem hierarquizaccedilatildeo por consideraccedilatildeo moral deve nortear as accedilotildees humanas de modo a natildeo extinguir qualquer espeacutecie de vida a preocu-

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paccedilatildeo deixa de ser a vida humana ampliando para o ecossistema ao qual ela pertence (LEOPOLD 1989)

Embora permaneccedilam as limitaccedilotildees em relaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de conflitos de cunho moral quando o que se estaacute em jogo satildeo os interesses de uma determi-nada espeacutecie contra os interesses individuais dos seres vivos a eacutetica ambiental ecocecircntrica volta-se para a coletividade e natildeo para os indiviacuteduos Assim seria muito mais grave matar uma onccedila-pintada por exemplo pois trata-se de uma espeacutecie em risco de extinccedilatildeo do que matar uma capivara cuja populaccedilatildeo se prolifera podendo se tornar pragas em cidades Desse modo reiteramos que o valor do indiviacuteduo natildeo tem um fim em si mesmo mas eacute relativo agrave espeacutecie a qual pertence

Assim diante do superdimensionamento da civilizaccedilatildeo tecnoloacutegica busca--se definir uma eacutetica que oriente a relaccedilatildeo sociedade e natureza Neste sentido Larregravere (2010) considera que o bom uso da natureza nos nossos dias eacute pautado pela visatildeo ecocentrada de natureza marcada pela relaccedilatildeo de interdependecircncia com as demais entidades naturais na qual se insere a ciecircncia e a teacutecnica O bom uso da natureza na contemporaneidade eacute um convite agrave responsabilidade agrave prudecircncia no emprego da teacutecnica pois a teacutecnica por si mesma pode natildeo dis-por de soluccedilotildees para os problemas causados por ela agrave natureza

4 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

As interpretaccedilotildees contemporacircneas sobre o projeto da modernidade e suas implicaccedilotildees na relaccedilatildeo homem e natureza nos conduziu a uma reflexatildeo sobre a atual crise ambiental e a necessidade de se considerar uma eacutetica proacutepria na produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e no uso da teacutecnica Esta discussatildeo ganha novos contornos a partir da tomada de consciecircncia da crise ambiental que amea-ccedila a nossa condiccedilatildeo na Terra Atribui-se de forma negativa aos avanccedilos teacutecnico-cientiacuteficos do periacuteodo moderno a potencializaccedilatildeo do poder de atuaccedilatildeo humana sobre a natureza provocando efeitos danosos e irreversiacuteveis para ambos

Contudo apesar de a modernidade ser caracterizada pelo ideal baconiano do ldquosaber eacute poderrdquo em que o homem orientado por uma racionalidade teacutecnica adquire saber para empreender poder sobre a natureza a ponto de dominaacute-la eacute preciso ponderar que eacute durante este periacuteodo que surgem as primeiras preo-cupaccedilotildees sobre a necessidade de estabelecer limites eacuteticos ao uso da teacutecnica e agrave produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico Basta analisar com mais atenccedilatildeo as proacuteprias inserccedilotildees de Bacon em suas obras sobre a necessidade de construir

60 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

uma ciecircncia prudente e cautelosa na conduccedilatildeo de seus experimentos e resul-tados Ou ainda na criacutetica feita por Rousseau sobre os usos do conhecimento que segundo ele serviu para ampliar a desigualdade a qual considera um dos elementos mais prejudiciais agrave vida civil

Se por um lado o acossamento agrave ciecircncia moderna como a uacutenica responsaacutevel pela atual crise ambiental eacute no miacutenimo uma postura insensata pois descon-sidera os avanccedilos obtidos com o advento da ciecircncia e da teacutecnica empregadas em favor da humanidade por outro natildeo nos parece imprudente afirmar que a racionalidade que recebemos como heranccedila da modernidade tem sido um obstaacuteculo no diaacutelogo para uma eacutetica ambiental que possibilite uma outra re-laccedilatildeo homem e natureza Para tanto urge estabelecer uma eacutetica da responsa-bilidade do homem para com a natureza e entre os proacuteprios homens em suas relaccedilotildees sociais

Embora haja um apelo para uma eacutetica ambiental ecocecircntrica ainda natildeo eacute possiacutevel vislumbrar a curto e meacutedio prazo um mundo regido por esta raciona-lidade uma vez que natildeo tem como garantir a superaccedilatildeo da eacutetica antropocecircn-trica considerada a hierarquizaccedilatildeo por consideraccedilatildeo moral na qual a vontade humana prevalece sobre as demais entidades naturais Afinal eacute muito mais cocircmodo para o homem ser contra o desmatamento da floresta amazocircnica do que ser contra o abate de animais bovinos cuja pecuaacuteria extensiva eacute a maior responsaacutevel pelo derrubada das aacutervores na Amazocircnia transformando grandes aacutereas de floretas em aacutereas de pastagens

Poreacutem apesar das incertezas em torno dos resultados praacuteticos desta discus-satildeo ela nos aponta para uma ruptura do modelo de produccedilatildeo teacutecnico-cientiacute-fico exigindo mudanccedilas estruturais na forma de pensar e agir com a natureza

REFEREcircNCIAS

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 63

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E A QUESTAtildeO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS NA ESCOLA ESTADUAL DELCY BARRETO DE SOUZA DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

Rosangela Pereira ArauacutejoSeacutergio Luiz LopesSheila Mangolli Pedro Alves da Silva Filho

1 A EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E OS PROBLEMAS COM O LIXO

Eacute importante iniciar a seccedilatildeo conceituando o que chamamos de educaccedilatildeo ambiental na contemporaneidade Haacute uma diversidade conceitual poreacutem nos apropriamos de um breve conceito de Sauveacute (1997) A autora discute algumas delas que se completam entre si ao contraacuterio das variaccedilotildees existentes do am-bientalismo

Educaccedilatildeo sobre o meio ambiente trata-se da aquisiccedilatildeo de conhe-

cimentos e habilidades relativos agrave interaccedilatildeo com o ambiente que

estaacute baseada na transmissatildeo de fatos conteuacutedos e conceitos onde

o meio ambiente se torna um objeto de aprendizado Educaccedilatildeo no

meio ambiente tambeacutem conhecido como educaccedilatildeo ao ar livre cor-

responde a uma estrateacutegia pedagoacutegica onde se procura aprender

atraveacutes do contato com a natureza ou com o contexto biofiacutesico e so-

ciocultural do entorno da escola ou comunidade O meio ambiente

provecirc o aprendizado experimental tornando-se um meio de apren-

dizado Educaccedilatildeo para o meio ambiente processo atraveacutes do qual

se busca o engajamento ativo do educando que aprende a resolver

e prevenir os problemas ambientais O meio ambiente se torna uma

meta do aprendizado (SAUVEacute 1997 sp)

Observa-se que existe um debate amplo sobre o que vem a ser educaccedilatildeo ambiental A ideia da educaccedilatildeo ambiental eacute esclarecer o homem de que se faz

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necessaacuterio a todo instante o entendimento de que o meio ambiente eacute um es-paccedilo finito Por isso precisamos romper com o entendimento de ingenuidade do modelo convencional de Educaccedilatildeo ambiental

Nos uacuteltimos anos devido ao crescimento acelerado da populaccedilatildeo no Brasil e em funccedilatildeo dos avanccedilos tecnoloacutegicos houve mudanccedilas marcantes nos haacutebi-tos de consumo Com isso os resiacuteduos produzidos satildeo cada vez maiores e de qualidade diversificada contribuindo para uma seacuterie de problemas de ordem sanitaacuteria ambiental econocircmica e social

Nesse contexto Tavaris (2010) enfatiza que o crescimento populacional acelerado decorrente do desenvolvimento industrial aliado ao estiacutemulo de um modo de vida consumista que domina sobretudo os moradores das zonas ur-banas tornou o lixo um dos maiores problemas a ser enfrentado pois as cida-des como um gigantesco sistema de produccedilatildeo e consumo geram um exceden-te que natildeo eacute aproveitaacutevel satildeo toneladas de lixo que tem de ser coletados todos os dias e cujo destino nem sempre eacute dos melhores principalmente nos paiacuteses menos desenvolvidos que natildeo possuem programas amplos de sanitarismo e reciclagem

Ainda conforme o enfoque de Tavaris (2010) a educaccedilatildeo ambiental deve ser acima de tudo um ato poliacutetico voltado para a transformaccedilatildeo social capaz de transformar valores e atitudes construindo novos haacutebitos e conhecimentos defendendo uma nova eacutetica que sensibilizem e conscientizem a necessidade de formaccedilatildeo da relaccedilatildeo integrada do ser humano da sociedade e da natureza aspirando ao equiliacutebrio local e global como forma de melhorar a qualidade de todos os niacuteveis de vida

No entanto apesar de ser um desafio a sociedade necessita aderir agrave educaccedilatildeo ambiental para que atraveacutes de projetos pesquisas e informativos as pessoas se informatizem e colabore para a preservaccedilatildeo do meio ambiente Deste modo ele seria muito mais agradaacutevel se as pessoas se conscientizassem e desenvolvesse accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave degradaccedilatildeo ambiental e consequentemente a sauacutede

Compreendemos que o desafio proposto nesse trabalho pode levar ao desenvolvimento de taacuteticas educacionais para instigar os estudantes a com-partilhar e se envolver com o contexto pesquisado o que amplia as oportu-nidades de uma aprendizagem significativa e particularmente uma modifi-caccedilatildeo de conduta com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo e agraves suas teacutecnicas em relaccedilatildeo aos resiacuteduos soacutelidos

Gewandsznajder (2010) aponta que o homem estaacute degradando o meio ambiente com suas accedilotildees negativas como desflorestamentos queimadas e

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formaccedilatildeo de lixotildees a ceacuteu aberto O autor ainda recomenda que a sociedade necessita de sensibilizaccedilatildeo para o entendimento de que o meio ambiente deve ser preservado para garantir a sobrevivecircncia do homem Na mesma direccedilatildeo o estudioso constata que o crescimento desproporcional da populaccedilatildeo aumen-tou consideravelmente a quantidade de resiacuteduos soacutelidos e em consequecircncia a poluiccedilatildeo que afeta a sauacutede das pessoas

Uma dos reflexos das atividades desta pesquisa eacute possivelmente a discus-satildeo sobre a formaccedilatildeo de indiviacuteduos conscientes capazes com autonomia para determinar e agir positivamente na sociedade e no meio ambiente compro-missado com o bem estar e vida da sociedade pois atualmente o ser humano estaacute cada vez mais se distanciando da natureza e atua sobre o ambiente sem responsabilidade ocasionando amplos desequiliacutebrios na natureza

A importacircncia da limpeza puacuteblica para a sociedade justifica-se em funccedilatildeo de que o municiacutepio estaacute em pleno desenvolvimento e buscando parcerias mas no Brasil atualmente nem todas as pessoas tem o haacutebito e consciecircncia no que se refere ao destino dos resiacuteduos soacutelidos e isso sem distinccedilatildeo estaacute presente em todas as classes sociais (GEWANDSZNAJDER 2010)

Portanto de acordo com Tavaris (2010) uma educaccedilatildeo ambiental deve ser acima de tudo um ato poliacutetico voltado para a transformaccedilatildeo social capaz de transformar valores e atitudes construindo novos haacutebitos e conhecimentos defendendo uma nova eacutetica que sensibilizem e conscientizem a necessidade de formaccedilatildeo da relaccedilatildeo integrada do ser humano da sociedade e da natureza aspirando ao equiliacutebrio local e global como forma de melhorar a qualidade de todos os niacuteveis de vida

De acordo com Oliveira (2012)

Hoje satildeo inuacutemeros os problemas que afetam o meio ambiente a

contaminaccedilatildeo das aacuteguas o efeito estufa a destruiccedilatildeo da camada

de ozocircnio a quantidade de resiacuteduos soacutelidos o desaparecimento

de algumas espeacutecies de animais e de plantas etc esses satildeo alguns

dos reflexos da atividade humana sobre o meio ambiente O que eacute

necessaacuterio entender eacute que o homem eacute responsaacutevel por esses pro-

blemas causados ao meio ambiente e eacute necessaacuterio que faccedilamos al-

guma coisa para minimizar tantos problemas Pois pensar no meio

ambiente eacute acima de tudo pensar em nossa casa onde devemos

diariamente estar preservando para um ambiente limpo (OLIVEIRA

et al 2012 p 4)

66 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Os resiacuteduos soacutelidos estatildeo diretamente relacionados com o aumento da popula-ccedilatildeo e de suas necessidades e eacute considerado um fator de poluiccedilatildeo ambiental Aleacutem de se tornar feio o local onde se encontra produz mau cheiro e ainda atrai visitantes indesejaacuteveis como ratos baratas moscas besouros urubus entre outros

Na perspectiva de Tavaris (2010 p 798) ldquoo lixo eacute o nome dado a todos os tipos de resiacuteduos soacutelidos resultantes das diversas atividades humanas ou ao material considerado imprestaacutevel ou irrecuperaacutevel pelo usuaacuteriordquo seja papel pa-pelatildeo restos de alimentos vidros e embalagens plaacutesticas Os resiacuteduos soacutelidos contribuem direta ou indiretamente para a poluiccedilatildeo ambiental

Hoje em dia a maioria das cidades conta com serviccedilos puacuteblicos de limpe-za que compreendem tanto a coleta domiciliar dos resiacuteduos soacutelidos quanto o transporte e destino final dos mesmos Segundo Tavaris (2010) haacute dejetos que quando levados para lixotildees ocasionaram grandes problemas ambientais Pi-lhas baterias termocircmetros lacircmpadas fluorescentes tubos de TV entre outros conteacutem diversas substacircncias toacutexicas como o mercuacuterio o caacutedmio e o chumbo

Quando tais objetos satildeo depositados de maneira improacutepria liberam essas substacircncias que podem se infiltrar no solo e consequentemente pode conta-minar os depoacutesitos subterracircneos de aacutegua A produccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos eacute um problema em todo o mundo e dar a ele um destino adequado eacute um dos gran-des desafios da administraccedilatildeo puacuteblica e bem-estar social Apesar de tudo isso atualmente eacute visiacutevel que as pessoas jaacute estatildeo se preocupando com a prevenccedilatildeo da sauacutede e com a aparecircncia da natureza mas tal preocupaccedilatildeo ainda natildeo sufi-ciente para garantir a existecircncia plena da natureza

Quando depositado de forma inadequada os resiacuteduos soacutelidos servem de abrigo e fornece alimento pra ratos e vaacuterios insetos que auxiliam na prolifera-ccedilatildeo de fungos e bacteacuterias e consequentemente de doenccedilas Embora seja um problema em qualquer cidade zonas rurais eacute nos grandes centros que o pro-blema eacute mais grave

Aleacutem dos resiacuteduos domiciliares e comerciais as cidades geram os re-

siacuteduos de sauacutede conhecido como lixo hospitalar descartado pelos

hospitais postos de sauacutede farmaacutecias clinicas veterinaacuterias e casas de

sauacutede Embora produzido em menor porcentagem esse tipo de lixo

constituiacutedo por algodatildeo seringas e frascos de remeacutedios apresentam

grandes riscos agrave sauacutede pois os mesmos foram utilizados por pessoas

ou animais doentes e podem conter substancias toacutexicas ou veneno-

sas e ateacute mesmo contagiosas (RODRIGUES E CAVINATTO 1997)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 67

Todo o lixo coletado eacute transportado ateacute seu destino final Em geral os des-tinos satildeo os lixotildees os aterros controlados os aterros sanitaacuterios incineraccedilatildeo a compostagem e a reciclagem A forma mais barata e ainda muito usada eacute a dos depoacutesitos e os lixotildees a ceacuteu aberto Entretanto esses depoacutesitos apresentam seacuterios problemas ambientais sanitaacuterios e sociais

A sociedade estaacute a cada dia despertando mais interesse pelos meios de pre-servaccedilatildeo e pela educaccedilatildeo ambiental Entende-se que esse empenho eacute devido ao fato de que cada vez fica mais claro que os procedimentos de ampliaccedilatildeo dos meios socioeconocircmicos da atualidade permanecem intensamente relacio-nados agrave deterioraccedilatildeo do meio ambiente

Atualmente vemos constantes debates a respeito da Lei de Resiacuteduos Soacutelidos em Roraima onde os 15 municiacutepios do estado estatildeo com dificuldades em aten-der o que determina a lei 1230510 que instituiu no Brasil a Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos (PNRS) que conteacutem importantes instrumentos para o avanccedilo no enfrentamento dos problemas ambientais sociais e econocircmicos decorren-tes do manejo inadequado desse tipo de resiacuteduo

De acordo com a lei de resiacuteduos soacutelidos Lei Nordm 12305 de 02 de agosto de 2010 em seu artigo 3ordm paraacutegrafo XVI

Os resiacuteduos soacutelidos material substacircncia objeto ou bem descartado

resultante de atividades humanas em sociedade a cuja destinaccedilatildeo

final se procede se propotildee proceder ou se estaacute obrigado a proceder

nos estados soacutelido ou semissoacutelido bem como gases contidos em re-

cipientes e liacutequidos cujas particularidades tornem inviaacutevel o seu lan-

ccedilamento na rede puacuteblica de esgotos ou em corpos drsquoaacutegua ou exijam

para isso soluccedilotildees teacutecnica ou economicamente inviaacuteveis em face da

melhor tecnologia disponiacutevel

O Art 7o da referida lei mostra os objetivos da Poliacutetica Nacional de Resiacuteduos Soacutelidos como proteccedilatildeo da sauacutede puacuteblica e da qualidade ambiental natildeo geraccedilatildeo reduccedilatildeo reutilizaccedilatildeo reciclagem e tratamento dos resiacuteduos soacutelidos e disposiccedilatildeo adequada dos resiacuteduos estiacutemulo agrave adoccedilatildeo de padrotildees sustentaacuteveis de produ-ccedilatildeo e consumo de bens e serviccedilos adoccedilatildeo desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como meio de amenizar impactos ambientais reduccedilatildeo do volume dos resiacuteduos perigosos incentivo agrave induacutestria da reciclagem entre outros

Portanto torna-se imprescindiacutevel a discussatildeo sobre as formas de prevenccedilatildeo da deterioraccedilatildeo que ameaccedila a aquisiccedilatildeo de recursos apropriados tanto para

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atividades comerciais quanto para a sobrevivecircncia da humanidade O processo de consumo aumentou muito nas uacuteltimas deacutecadas1 e em decorrecircncia maior produccedilatildeo e portanto em ampliaccedilatildeo na aacuterea de extraccedilatildeo de recursos naturais

A conscientizaccedilatildeo do homem no cuidado com o meio ambiente e preserva-ccedilatildeo dos recursos naturais imprescindiacuteveis agrave vida humana na esperanccedila de que as pessoas entendam o valor da natureza Os alunos devem compreender as decorrecircncias socioeconocircmicas da reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos e por meio dessa conscientizaccedilatildeo apoiar accedilotildees como a coleta seletiva e que observem tambeacutem a diminuiccedilatildeo do consumo Atualmente as tecnologias dispotildeem de inuacutemeras opccedilotildees de instrumentos que podem ser utilizadas pelo homem em prol da preservaccedilatildeo do meio ambiente

Sobre isso Oliveira et al (2012 p 02) afirma que

a escola exerce um o papel de levar ao aluno o conhecimento e a

compreensatildeo dos problemas que estatildeo a nossa volta Refletir sobre

o lixo orgacircnico eacute um meio de trabalhar conceitos valores atitudes

postura e eacutetica pois eacute um trabalho de grande importacircncia que en-

volve a realidade do dia-a-dia de cada um

Neste contexto a educaccedilatildeo ambiental traz um alerta sobre os problemas causados pelos resiacuteduos soacutelidos Apesar de campanhas sobre o tratamento e descarte dos resiacuteduos soacutelidos mesmo assim muitas pessoas continuam jogando resiacuteduo soacutelido em lugares improacuteprios Continuamos a observar em algumas accedilotildees e atitudes que o homem destroacutei a natureza A educaccedilatildeo am-biental deveria comeccedilar no interior das famiacutelias e chegar ateacute a escola Dessa forma os professores poderiam trabalhar as praacuteticas ambientais nas salas de aulas e contribuir para despertar nos alunos a conscientizaccedilatildeo sobre a relaccedilatildeo homem e natureza

A educaccedilatildeo ambiental eacute um tema transversal que deve perpassar o curriacutecu-lo da escola e portanto pode ser objeto de estudo e pesquisa O homem faz parte da natureza e dela depende a continuidade humana portanto estudar o homem e a sua relaccedilatildeo com o meio eacute pertinente ao campo de pesquisa

1 O processo de consumo aumentou muito nas uacuteltimas deacutecadas devido ao aumento desordenado da populaccedilatildeo da ampliaccedilatildeo do consumo de combustiacuteveis aumento no consumo de energia eleacutetri-ca e principalmente no aumento da produccedilatildeo de lixo e consequentemente as formas inadequadas de descarte do lixo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 69

2 HISTORIANDO SOBRE A EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL HOMEM E NA-TUREZA

Na nossa atual sociedade os resiacuteduos soacutelidos satildeo vistos como um inimigo da natureza e isso eacute o princiacutepio do processo de conscientizaccedilatildeo que pode levar o homem a desenvolver medidas de preservaccedilatildeo do meio ambiente visando um futuro melhor e mais saudaacutevel

Com a evoluccedilatildeo da sociedade e da economia a cada dia mais resiacuteduos soacuteli-dos satildeo produzidos em conjunto com o aumento do consumismo A consequ-ecircncia disso eacute a ampliaccedilatildeo do problema maior niacutevel de poluiccedilatildeo e maiores riscos de infecccedilotildees e doenccedilas respiratoacuterias principalmente em crianccedilas e idosos

Essa relaccedilatildeo harmoniosa torna-se consciente num equiliacutebrio dinacircmi-

co da natureza possibilitando o despertar de novos conhecimentos

valores e atitudes inclusive a inserccedilatildeo do educando e do educador

como cidadatildeos nesse processo de transformaccedilatildeo do atual quadro

ambiental de nosso planeta (GUIMARAtildeES 2012 p 15)

Busca-se resgatar a recuperaccedilatildeo do horizonte histoacuterico entre o homem e a natureza Pode-se dizer que a educaccedilatildeo ambiental de certa forma estaacute em busca do rompimento da concentraccedilatildeo de um pensamento mecacircnico do qual a natureza se faz inserida poreacutem perdem-se em qualidade no mundo globali-zado onde parece importar apenas a quantidade

Por esta razatildeo demonstra-se de maneira central e constitucional mais em termos de informaccedilatildeo torna-se precaacuterio por natildeo ter explicaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos problemas transversos que hoje em dia acontecem com mais assiduidade na natureza

Nesta perspectiva quando nos referimos ao destino dos resiacuteduos soacutelidos a condiccedilatildeo eacute extremamente desfavoraacutevel A conscientizaccedilatildeo eacute algo que natildeo estaacute presente independentemente de camadas sociais Portanto natildeo satildeo apenas as pessoas menos esclarecidas com baixo poder aquisitivo que atuam dessa forma mas tambeacutem pessoas com oacutetimas posiccedilotildees sociais alto niacutevel financeiro educadas e informadas

Vemos a falta de conscientizaccedilatildeo das pessoas nas ruas nas estradas tanto faz estarem na condiccedilatildeo de pedestre quanto na condiccedilatildeo de ocupantes de veiacuteculos todas jogam detritos no solo e o mais grave eacute que descartam os resiacuteduos soacutelidos como se natildeo tivessem conhecimento da existecircncia da educaccedilatildeo ambiental

70 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

O acuacutemulo de lixo gera tambeacutem um problema social que para muitos

significa sobrevivecircncia eacute a manipulaccedilatildeo do lixo pelas camadas mais

pobres da populaccedilatildeo que chegam mesmo a disputar os lixotildees em

busca das melhores sobras entre objetos e resto de alimentos natildeo

se importando com os riscos de contaminaccedilatildeo de produtos toacutexicos

(TAVARIS 2010 p 797)

Sabemos que os detritos depositados a ceacuteu aberto aleacutem de provocar pro-blemas ambientais causam mau cheiro propagaccedilatildeo de insetos contamina o solo e os fluxos de aacutegua agridem a nossa visatildeo natural produzem gases que danificam a camada de ozocircnio e deixa a atmosfera mais vulneraacutevel

Os depoacutesitos de resiacuteduos soacutelidos a ceacuteu aberto aleacutem de atrair insetos e ani-mais que ameaccedilam a nossa sauacutede tambeacutem atraem catadores de lixo que bus-cam nos grandes lixotildees opccedilotildees de sobrevivecircncia para as suas famiacutelias expondo--se assim a seacuterios riscos a sua sauacutede

No entanto o lixo em questatildeo passa a ser transportado para um local

onde apenas satildeo despejados em terrenos baldios jogados ali sem

muito compromisso seus dejetos e resiacuteduos a ceacuteu aberto passam a

contaminar e poluir o meio ambiente causando desse modo agres-

satildeo agrave natureza quando poderia tais desperdiacutecios desnecessaacuterios ser

reciclados (ARAUacuteJO LIMA e LIMA 2010)

Haacute algum tempo atraacutes os resiacuteduos soacutelidos eram compostos exclusivamente de restos de comida mateacuteria orgacircnica Os resiacuteduos reciclaacuteveis surgiram a par-tir do desenvolvimento da tecnologia e esses detritos tecircm presenccedila constante nas coletas

Atualmente o panorama oferecido eacute originado nas condiccedilotildees de vida das pessoas tudo gira em torno do poder aquisitivo em alguns aspectos porque quando se refere agrave exposiccedilatildeo de resiacuteduos e seu descarte inadequado todos satildeo iguais independentemente de classe social

Hoje podemos perceber que o maior problema enfrentado em relaccedilatildeo aos resiacuteduos soacutelidos eacute a falta de consciecircncia das pessoas pois grande parte pensa que jogar os resiacuteduos soacutelidos fora estaacute resolvendo o problema mas dependen-do do local que for descartado o problema soacute se agrava ainda mais aleacutem de tra-zer riscos agrave sauacutede pode contribuir drasticamente com a poluiccedilatildeo e degradaccedilatildeo do meio ambiente

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 71

A quantidade de lixo por pessoa por dia pode variar de 300 gramas

para as populaccedilotildees mais pobres em pequenas cidades indo ateacute 900

gramas nas cidades mais populosas com renda per capita maior

portanto esta uacuteltima classe eacute a mais inserida no mercado de con-

sumo Para fins de anaacutelise pode-se considerar uma produccedilatildeo meacutedia

de 500 gramas por pessoa como cotista diaacuterio nesse envolvimento

(ARAUacuteJO LIMA e LIMA 2010)

Na atualidade o destino final de detritos eacute um dos maiores desafios que as autoridades administrativas e governamentais enfrentam na tentativa de pro-teger a sociedade dos perigos que o acuacutemulo indevido de resiacuteduos pode trazer a vida das pessoas No entanto na busca de locais adequados para a disposiccedilatildeo final de detritos deve-se considerar alguns problemas enfrentados pelos res-ponsaacuteveis por esse trabalho como a falta de recursos financeiros e maquinaacuterios adequados para esse fim aleacutem desses problemas relatados ainda haacute um mais criacutetico que eacute o grande aumento de lixotildees a ceacuteu aberto

A cada dia percebe-se que a sociedade estaacute produzindo um volume maior de detritos e muitos natildeo estatildeo percebendo que soacute estatildeo aumentando o pro-blema pois muitos natildeo descartam os resiacuteduos soacutelidos devidamente De acor-do com Guimaratildees (2012) a educaccedilatildeo ambiental envolve conscientizaccedilatildeo do que se refere ao consumo e o que se recicla para poder ser protagonistas desse processo sustentaacutevel tatildeo necessaacuterios agrave natureza e a qualidade da vida humana

Geralmente um grande nuacutemero de pessoas busca a subsistecircncia de sua famiacutelia atraveacutes da cataccedilatildeo de lixo e isso natildeo ocorre apenas nos lixotildees a ceacuteu aberto mas tambeacutem nas ruas das grandes cidades onde as pessoas buscam res-tos de alimentos frutas e legumes nos resiacuteduos soacutelidos residenciais em feiras e mercados populares aleacutem disso tambeacutem procuram materiais reciclaacuteveis como plaacutesticos metais e papelotildees

As organizaccedilotildees ambientais estatildeo sempre em busca de soluccedilotildees para esse problema da disposiccedilatildeo inadequada dos resiacuteduos soacutelidos A cada dia que passa a preocupaccedilatildeo aumenta pois a degradaccedilatildeo do meio ambiente se percebe a olho nu tanto na natureza quanto na vida das pessoas Atualmente algumas cidades adotaram uma regra bastante eficiente que eacute a cobranccedila de multa por disposiccedilatildeo inadequada dos resiacuteduos soacutelidos Essa medida tem a finalidade de auxiliar na conscientizaccedilatildeo das pessoas e busca de soluccedilatildeo dos problemas com a poluiccedilatildeo

72 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Contudo a educaccedilatildeo ambiental eacute o meio mais adequado para a

construccedilatildeo de uma sociedade sustentaacutevel A construccedilatildeo dos novos

valores eacute construiacuteda a partir do processo educativo mesmo agravequelas

que se referem agraves questotildees ambientais por se tratar de uma trans-

formaccedilatildeo poliacutetica tatildeo necessaacuteria agrave ordem social como para a ordem

puacuteblica juriacutedica (GUIMARAtildeES 2012 p 12)

Desta maneira para acontecer essa educaccedilatildeo de forma adequada que con-

tribua para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e para a prevenccedilatildeo de doenccedilas eacute necessaacuterio que haja uma ampla mobilizaccedilatildeo natildeo soacute por parte da populaccedilatildeo mas tambeacutem por parte dos governantes para buscar recursos e repassar infor-maccedilotildees buscando a conscientizaccedilatildeo das pessoas para que as mesmas possam colaborar com essa accedilatildeo

Entretanto devido agrave falta de informaccedilotildees e interesse por parte das pessoas na sua maioria elas natildeo tem consciecircncia de que satildeo elas mesmas que arcam com esse serviccedilo atraveacutes do pagamento dos impostos Assim se essas pessoas se conscientizassem de que essas despesas saem dos seus bolsos talvez valori-zassem mais os serviccedilos de limpeza e contribuiriam mais para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e da sua proacutepria vida

De maneira geral a disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos eacute feita em locais afastados das cidades devido ao mau cheiro e a proliferaccedilatildeo de animais e insetos aleacutem do perigo de contrair doenccedilas infecciosas devido o contato com os resiacuteduos soacutelidos

Uma das maneiras mais simples de depositar resiacuteduos soacutelidos eacute feita nos chamados aterros sanitaacuterios onde os resiacuteduos satildeo descartados espalhados e amassados e depois aterrados ou seja coberto com areia O aterro sanitaacuterio eacute pois uma obra de engenharia estruturada para receber o detrito domiciliar

Essa eacute uma das maneiras encontrada pelas autoridades para depositar os resiacuteduos soacutelidos pois assim natildeo iraacute agredir o meio ambiente e prevenir a pro-pagaccedilatildeo de doenccedilas evita ainda que os resiacuteduos soacutelidos sejam espalhados aleacutem disso ainda protege a poluiccedilatildeo dos rios e diminui o acuacutemulo de gases na atmosfera

O aumento acelerado da populaccedilatildeo e o decorrente crescimento

desordenado das cidades criaram seacuterios problemas ambientais e

passaram a exigir soluccedilotildees voltadas para o desenvolvimento sus-

tentaacutevel no acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas e estas por conseguinte

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 73

promovam a sustentabilidade quer na forma do consumo a fim de

natildeo agravar esses problemas e que seja ambientalmente saudaacutevel

(ARAUacuteJO LIMA e LIMA 2010)

Um dos maiores desafios que as autoridades enfrentam atualmente eacute o de tentar sensibilizar as pessoas no intuito de levaacute-las a pensar e agir de forma ativa em prol do meio ambiente Com esse propoacutesito os oacutergatildeos defensores do meio ambiente realizam campanhas e mais campanhas em busca do auxiacutelio das pessoas para garantir um futuro melhor pra sociedade A histoacuteria da hu-manidade vem a cada dia evoluindo juntamente com a evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

Em decorrecircncia da ausecircncia de debates amplos um grande nuacutemero de pes-soas natildeo compreende o sentido da natureza para a relaccedilatildeo harmocircnica entre homem e ambiente Eacute totalmente explicito a atitude das pessoas em relaccedilatildeo agrave natureza muitos dizem que isso eacute soacute conversa sem importacircncia porque fazem sempre as mesmas coisas e nunca mudou nada as coisas continuam iguais mas natildeo percebem que o planeta estaacute entrando em colapso e que qualquer ajuda eacute bem-vinda na tentativa de salvar a terra da destruiccedilatildeo ambiental

A disposiccedilatildeo adequada do lixo pretende atender aspectos sanitaacuterios

como o domiacutenio dos vetores e a proteccedilatildeo dos solos e da aacutegua con-

servando residecircncias estabelecimentos comerciais industriais e de

sauacutede vias puacuteblicas e aacutereas verdes limpas e livres de contaacutegio (CAR-

VALHO e OLIVEIRA 2011)

Quando depositado de forma inadequada os resiacuteduos soacutelidos promovem o aumento e a propagaccedilatildeo de animais insetos e outros causadores transmis-sores de doenccedilas aleacutem de contaminar o solo e a aacutegua Cabe agrave populaccedilatildeo fazer o descarte de seus proacuteprios resiacuteduos adequadamente de maneira tal que natildeo ameace a sauacutede das pessoas e a preservaccedilatildeo da natureza

Segundo Medeiros et al (2011 p 4) a evoluccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental na deacutecada 60 surgiu manifestaccedilotildees populares no Brasil e no mundo a respeito de revelaccedilotildees de danos ambientais ateacute entatildeo desconhecida e os brasileiros come-ccedilaram a se organiza do e lutar para proteger o meio ambiente o que foi mais aguccedilado natildeo soacute no Brasil mas em todo o mundo pelo lanccedilamento do livro ldquoprimavera silenciosardquo da jornalista americana Rachel Carson que se tornou um claacutessico na histoacuteria do movimento ambientalista mundial desencadeando uma grande inquietaccedilatildeo internacional e suscitando discussatildeo nos diversos paiacuteses

74 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Nessa perspectiva Medeiros et al ressaltam que

O surgimento da educaccedilatildeo ambiental se deu a partir de manifesta-

ccedilotildees no Brasil com o propoacutesito de se pensar em uma educaccedilatildeo vol-

tada para preservar a natureza Poreacutem na deacutecada dos anos 60 foi que

comeccedilou essa grande revoluccedilatildeo do meio ambiente com a necessi-

dade de mostrar para o mundo o quanto e importante respeitar as e

preservar o nosso meio em que vivemos (MEDEIROS et al 2011 p5)

Na ocasiatildeo foi aceito que a educaccedilatildeo ambiental devesse se tornar parte es-sencial da educaccedilatildeo de todos os cidadatildeos e seria vista como sendo essencial-mente conservaccedilatildeo ou ecologia aplicada para o homem ter o conhecimento de como era a natureza antes de conhecer os programas relacionados agraves conferecircn-cias ele natildeo tinha noccedilatildeo de como lidar com certos tipos de riscos relacionados ao mundo em que vivemos E isso vem trazendo mudanccedilas nos dias de hoje jaacute se discute a educaccedilatildeo ambiental em quase todos os paiacuteses da Ameacuterica Latina de acordo com os estudos realizados em livros revistas jornais

Eacute muito interessante falar sobre o homem e a natureza poreacutem no nosso cotidiano devemos estar mais atentos a tudo que nos rodeia para natildeo deixar que a natureza morra por isso temos que tratar a natureza de forma em que tudo possa se transformar em vida

Sendo assim Medeiros et al (2011 p8) diz que

O ser humano antigamente usava a natureza como fonte de subsidio

para sobreviver bem e sustentar suas famiacutelias apoacutes um longo tempo

o homem passou a querer mais e mais pelo menos para se destacar

no meio em que vivem mostrando que tem o poder nas matildeos e co-

meccedilar a explicar a natureza com acircnsia de ambiccedilatildeo

Portanto o homem depende da natureza para sobreviver por isso o homem passou a usar mais os recursos naturais como fontes de meios de sobrevivecircncias

Entatildeo o homem deve ter clareza de que suas accedilotildees prejudicam o meio am-biente jaacute que depende dele para sobreviver e assim seguir em frente com o propoacutesito de cuidar da natureza pois eacute dela que tira o sustento Nesse sentido a Educaccedilatildeo Ambiental busca saber se a interaccedilatildeo do homem se deu de forma consciente para a mesma forma de preservar ou visando apenas a exploraccedilatildeo do meio em que estaacute inserido ou por necessidades

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 75

Borges Resende e Pereira (2009 p 447) corroboram ao afirmar que

A accedilatildeo do homem sobre o meio ambiente eacute tatildeo antiga quanto a sua

proacutepria histoacuteria desde muito tempo vem-se utilizando os recursos

naturais como fonte de vida Depois de tanto tempo de escraviza-

ccedilatildeo da natureza o homem comeccedilou a sofrer as consequecircncias dos

seus atos como o surgimento de doenccedilas provenientes de seu uso

inadequado

Seguindo a visatildeo dos referidos autores eacute que se pode refletir que foi jus-tamente o desmatamento trazido pela agricultura que acabou despertando o interesse poliacutetico e juriacutedico com vistas agrave necessidade de preservar os recursos naturais A destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural para o cultivo da terra e mineraccedilatildeo resulta no assoreamento dos rios poluiccedilatildeo do solo da aacutegua e do ar aleacutem disso esse desmatamento destroacutei microrganismos deixando o solo empobrecido

Portanto o meio ambiente tem se tornado alvo de discussatildeo nas conferecircn-cias realizadas nos encontros das Naccedilotildees Unidas motivo de preocupaccedilatildeo com o meio ambiente em busca de soluccedilatildeo para diminuir os impactos causados na pela accedilatildeo do homem Sabe-se que um dos maiores problemas que hoje preo-cupa a sociedade eacute o lixo pois todos precisam consumir soacute natildeo sabem o que fazer com o lixo que produzem (OLIVEIRA et al 2012)

Portanto vaacuterios autores se preocupam com a natureza pois estatildeo em busca de soluccedilotildees para diminuir os problemas que vem degradando o meio ambien-te Tambeacutem sabemos da nossa grande dependecircncia dos recursos naturais tan-to para nossas vidas como para a dos demais seres vivos

Nesse sentido a educaccedilatildeo ambiental eacute a educaccedilatildeo que busca alcanccedilar a sustentabilidade pois ela pode contribuir de forma emancipatoacuteria desmisti-ficando a relaccedilatildeo homem- natureza melhorando a qualidade desta relaccedilatildeo de forma transformadora contribuindo assim para uma sociedade ambiental e poli-ticamente alfabetizadora responsaacutevel pelo mundo que habita (LOUREIRO 2004 SAUVEacute 2005) Como dizem os autores desta relaccedilatildeo parte a necessidade da in-clusatildeo da educaccedilatildeo ambiental nos programas da educaccedilatildeo baacutesica com o propoacute-sito de construir sujeitos cidadatildeos e conhecedores de seus direitos e deveres

O homem depende muito da natureza para sobreviver e a forma de explo-raccedilatildeo e uso dos recursos naturais se deu de forma predatoacuteria no que se refere aos cuidados que devemos ter com os recursos naturais como solo ar aacutegua florestas etc

76 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

3 OS RESIDUOS SOacuteLIDOS EM ESCOLA HAacute EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL

Atualmente jaacute podemos perceber que os recursos naturais agrave nossa volta jaacute natildeo satildeo riquezas infinitas mas uma riqueza que necessita de cuidados de pre-servaccedilatildeo Poreacutem para que haja accedilotildees que conscientizem as pessoas a preservar e se for necessaacuterio utilizaacute-los que seja usar com bom senso

A Vila Reislacircndia no municiacutepio de Alto Alegre ndash Roraima como outras vilas e tambeacutem grande maioria das cidades brasileiras enfrenta dificuldades para solucionar os problemas do processo seletivo e o destino adequado dos resiacute-duos soacutelidos Portanto o objetivo deste trabalho eacute discutir a sensibilizaccedilatildeo da comunidade escolar para a importacircncia do descarte adequado dos resiacuteduos soacutelidos especialmente os da Escola Estadual Delcy Barreto de Souza na Vila Reislacircndia PAParedatildeo municiacutepio de Alto Alegre- RR Com isso demonstrou os problemas relacionados ao destino final dos resiacuteduos soacutelidos na Vila Reislacircndia no municiacutepio de Alto Alegre-RR e com a mesma ecircnfase identificou a necessi-dade de estabelecer uma praacutetica educacional voltada para a compreensatildeo da realidade e responsabilidades em relaccedilatildeo agrave vida pessoal coletiva e ambiental da nossa comunidade

Em continuidade houve a sensibilizaccedilatildeo das pessoas sobre a importacircncia da coleta de resiacuteduos soacutelidos e a busca por um lugar adequado para o seu descar-te visando agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e a prevenccedilatildeo de doenccedilas muito comuns em ambientes onde os resiacuteduos satildeo depositados a ceacuteu aberto

Em relaccedilatildeo a essa funccedilatildeo de conscientizaccedilatildeo cabe aos envolvidos com a ques-tatildeo da educaccedilatildeo ambiental a difiacutecil empreitada de desenvolver e estimular nas pessoas a consciecircncia dessa problemaacutetica e levaacute-las a procurar soluccedilotildees para tal

No entanto o padratildeo de desenvolvimento disponiacutevel atualmente natildeo faci-lita e muito menos acelera esse processo onde simultaneamente se estimula a centralizaccedilatildeo de patrimocircnios particulares se torna mais evidente a carecircncia de solidariedade entre as pessoas que necessitam de um ambiente saudaacutevel para viver Portanto nesse sentido buscou-se por meio dos dados coletados mostrar formas de preservaccedilatildeo do meio ambiente

De acordo com os estudos e a pesquisa realizada junto agrave Escola Estadual Delcy Barreto de Souza foi possiacutevel perceber a grande problemaacutetica da falta de local apropriado para o descarte dos resiacuteduos soacutelidos produzidos naquela instituiccedilatildeo Aleacutem disso verificou-se o empenho dos professores em sensibilizar seus alunos quanto agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e a prevenccedilatildeo de doenccedilas

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 77

Para a realizaccedilatildeo da pesquisa de campo foi utilizado o questionaacuterio como instrumento de coleta de dados O questionaacuterio eacute um dos procedimentos mais utilizados para obter informaccedilotildees Eacute uma teacutecnica com custo razoaacutevel apresenta as mesmas questotildees para todas as pessoas garante anonimato e pode conter questotildees para atender a finalidades especiacuteficas de uma pesquisa

O questionaacuterio foi elaborado de forma estruturada o qual tem como base perguntas claras objetivas e padronizadas com vistas a garantir certa uniformi-dade quanto agrave sua estrutura Esse instrumento foi escolhido devido ao seu alto grau de confiabilidade

Ao todo 03 professores participaram da pesquisa A escolha dessas pes-soas foi definida apoacutes a observaccedilatildeo de suas atividades dentro da instituiccedilatildeo escolar

A primeira pergunta feita aos professores foi sobre quais os perigos que os resiacuteduos soacutelidos podem oferecer quando descartado de forma incorreta As res-postas foram

Professor A ndash Satildeo vaacuterios como por exemplo os resiacuteduos soacutelidos hos-

pitalares descartados a ceacuteu aberto pois eles podem causar vaacuterios pro-

blemas agrave sauacutede como o respiratoacuterio aleacutem disso polui o solo e a aacutegua

Professor B ndash Os resiacuteduos soacutelidos satildeo descartados de forma incorreta

e pode causar contaminaccedilatildeo do solo e consequentemente dos ali-

mentos provocar acidentes quando se trata de vidros e objetos cor-

tantes Outro problema a ser mencionado eacute a proliferaccedilatildeo de insetos

ou mosquitos portadores de doenccedilas

Professor C - Satildeo muitos os perigos que os resiacuteduos soacutelidos podem

causar isso porque pode ocorrer pela infestaccedilatildeo de insetos atraveacutes

deles poderatildeo surgir doenccedilas como a dengue

Embora os resiacuteduos soacutelidos sejam considerados uma grande ameaccedila agrave vida verifica-se que eacute possiacutevel minimizar seus impactos ao desenvolver e seguir accedilotildees de prevenccedilatildeo e abdicando de praacuteticas consumistas ou entatildeo conscienti-zando a populaccedilatildeo seja em relaccedilatildeo ao destino ou agraves formas de reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos produzidos

Em se tratando da segunda questatildeo os professores foram indagados que em razatildeo de saberem que o lixo pode causar problemas de sauacutede se sabiam

78 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

nesse sentido qual o destino dos resiacuteduos produzidos na Escola Estadual Delcy Barreto de Souza As respostas obtidas foram as seguintes

Professor A ndash os resiacuteduos soacutelidos satildeo descartados dentro de um bu-

raco para ser enterrado

Professor B - Por natildeo ter um serviccedilo de coleta de resiacuteduos soacutelidos em

nossa localidade os resiacuteduos da escola satildeo queimados na aacuterea exter-

na da escola

Professor C ndash Os resiacuteduos soacutelidos produzidos nas salas de aulas satildeo

queimados jaacute os resiacuteduos produzidos na copa o orgacircnico eacute reutiliza-

do pelas copeiras que possuem animais domeacutesticos

O manuseio inapropriado de resiacuteduos soacutelidos de qualquer procedecircncia pro-voca desperdiacutecios gera ameaccedila constante agrave sauacutede das pessoas e torna mais gra-ve a degradaccedilatildeo ambiental comprometendo a qualidade de vida da populaccedilatildeo

Na terceira questatildeo foi perguntado aos professores se os resiacuteduos soacutelidos produzidos na escola ficam expostos por muito tempo Obtemos as seguintes respostas

Professor A ndash Natildeo

Professor B ndash Natildeo Porque a orientaccedilatildeo eacute para queimar os resiacuteduos

soacutelidos a natildeo ser que por motivo de esquecimento os resiacuteduos fi-

quem expostos agrave chuva o que leva a depender de dia quente para

queimaacute-lo

Professor C ndash Os resiacuteduos soacutelidos produzidos na escola natildeo ficam ex-

postos pois logo eacute queimado

Quanto agrave quarta questatildeo os professos foram indagados sobre qual seria o destino ideal para os resiacuteduos soacutelidos E para essa pergunta obtivemos as seguintes respostas

Professor A ndash Incinerar

Professor B ndash O destino ideal seria que a prefeitura fizesse a remoccedilatildeo

dos resiacuteduos soacutelidos natildeo orgacircnicos para um local apropriado e apro-

vado pela vigilacircncia em sauacutede e agentes do meio ambiente

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 79

Professor C - O correto seria natildeo produzir mas isso eacute uma tarefa im-

possiacutevel pois onde existem pessoas haacute consumo No entanto os

resiacuteduos soacutelidos deveriam primeiramente ser selecionado para a re-

alizaccedilatildeo da reciclagem Com relaccedilatildeo aos resiacuteduos soacutelidos orgacircnicos

deveriam ser utilizados para compostagem Acredito que seria uma

oportunidade para os alunos estudarem na praacutetica conceitos que fa-

zem parte do curriacuteculo escolar

Com o aumento desordenado da populaccedilatildeo consequentemente o consumo aumentou exageradamente e simultaneamente a poluiccedilatildeo e a degradaccedilatildeo ambiental Uma das formas de amenizar as consequecircncias causadas pela disposiccedilatildeo inadequada dos resiacuteduos soacutelidos seria a coleta seletiva em conjunto com a reciclagem Mas a tarefa de fazer com que as pessoas tenham atitudes ambientalmente corretas natildeo eacute faacutecil Isto porque apesar de sermos parte do meio ambiente em geral natildeo temos consciecircn-cia disso

Na quinta questatildeo perguntamos aos professores se eles sabiam de algum projeto para melhorar o destino dos resiacuteduos soacutelidos na Escola Estadual Delcy Barreto de Souza

Professor A - No momento natildeo

Professor B - Sim Na escola existem projetos de reciclagem dos re-

siacuteduos soacutelidos e de aproveitamento dos resiacuteduos orgacircnicos Quanto

ao segundo a escola natildeo dispotildee de aacuterea apropriada para a produccedilatildeo

de hortaliccedilas

Professor C ndash No presente momento natildeo temos nenhum projeto para

melhorar o destino do lixo na escola estadual Delcy Barreto de Souza

Eacute importante destacar a importacircncia de envolver a comunidade escolar como um todo nos projetos voltados para a preservaccedilatildeo do meio ambiente No dia-a-dia escolar podem ser ensinados valores envolvidos na Educaccedilatildeo Ambiental e prover bons exemplos para os alunos

Em relaccedilatildeo agrave sexta questatildeo perguntamos aos professores se a escola parti-cipa de alguma praacutetica de educaccedilatildeo ambiental Essa temaacutetica eacute trabalhada em sala de aula

80 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Professor A ndash Sim E eacute trabalhado na sala de aula com os alunos

Professor B ndash A escola jaacute desenvolveu campanha de advertecircncia jun-

to a comunidade para conscientizaacute-la quanto ao descarte de resiacutedu-

os soacutelidos para que fosse prevenida a dengue e a zica

Professor C ndash Ateacute o momento natildeo existe uma praacutetica de educaccedilatildeo

ambiental no entanto a temaacutetica eacute estudada na sala de aula de acor-

do com o curriacuteculo

Nesse contexto a escola pode organizar campanhas de conscientizaccedilatildeo em conjunto com a comunidade fazer coleta de resiacuteduos reciclaacuteveis e desenvolver projetos que envolvamos alunos na confecccedilatildeo de artesanatos utilizando garra-fas pet papelotildees plaacutesticos vidros dentre outros materiais reciclaacuteveis que des-cartado na natureza inadequadamente demora anos e anos para se decompor poluindo solo aacutegua ar causando doenccedilas respiratoacuterias e infecciosas devido a proliferaccedilatildeo de insetos transmissores prejudicando ainda mais a qualidade de vida e do ambiente

Para concluir o questionaacuterio na seacutetima questatildeo perguntamos aos professo-res se os funcionaacuterios recebem algum tipo de informaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos resiacute-duos soacutelidos ou como deve ser feito a coleta e o destino dos mesmos

Professor A ndash Sim

Professor B ndash Existe capacitaccedilatildeo apenas nas aacutereas de assistecircncia teacutec-

nica e extensatildeo rural

Professor C ndash Os funcionaacuterios jaacute exercem uma rotina com relaccedilatildeo aos

resiacuteduos soacutelidos pois a vila natildeo possui serviccedilo de coleta puacuteblica as-

sim os resiacuteduos satildeo sempre queimados

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A elaboraccedilatildeo deste trabalho foi um modo de discutir a sensibilizaccedilatildeo da comunidade escolar para a importacircncia do descarte adequado dos resiacutedu-os soacutelidos especialmente os da Escola Estadual Delcy Barreto de Souza na Vila Reislacircndia PAParedatildeo municiacutepio de Alto Alegre- RR como forma de natildeo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 81

agredir o meio ambiente e a vida do homem na terra Dar um destino adequa-do aos resiacuteduos soacutelidos eacute um dos grandes desafios da administraccedilatildeo puacuteblica em todo planeta

A pesquisa discutiu simultaneamente sobre a necessidade da praacutetica edu-cativa voltada para o entendimento da realidade e responsabilidades em rela-ccedilatildeo agrave vida pessoal coletiva e ambiental da nossa comunidade Com a finalidade de sensibilizar as pessoas sobre a importacircncia do descarte adequado dos resiacute-duos soacutelidos e a busca por um lugar apropriado para esse fim tendo em vista agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e a prevenccedilatildeo de doenccedilas

Aleacutem disso buscou cultivar as distintas formas do indiviacuteduo praticar a coleta e o descarte adequado de resiacuteduos soacutelidos Os resiacuteduos soacutelidos que satildeo origi-nados pela escola geralmente satildeo queimados mas deve ser destacado que as pessoas precisam ter a consciecircncia de auxiliar na manutenccedilatildeo da limpeza

Esperamos com a realizaccedilatildeo deste trabalho envolver as pessoas que con-tribuiacuteram com informaccedilotildees claras sobre o problema da falta de um local apro-priado para a disposiccedilatildeo dos resiacuteduos soacutelidos e para a busca de soluccedilotildees do problema visando a prevenccedilatildeo tambeacutem da contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico da comunidade municiacutepio em questatildeo

Apesar de os resiacuteduos soacutelidos serem considerados uma grande ameaccedila agrave vida verifica-se que eacute possiacutevel diminuir seus impactos ao praticar accedilotildees de pre-venccedilatildeo como abdicar do consumismo excessivo sensibilizar a populaccedilatildeo seja em relaccedilatildeo ao destino ou agraves formas de reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos gerados

Eacute imprescindiacutevel neste sentido que o governo e a sociedade em geral adotem novas atitudes visando gerenciar de modo adequado a grande quantidade e diversidade de resiacuteduos que satildeo produzidos diariamente Accedilotildees nesta direccedilatildeo restringiratildeo a produccedilatildeo de resiacuteduos o que resultaraacute na proteccedilatildeo do ar do solo e da aacutegua trazendo como consequecircncia melhores condiccedilotildees de sauacutede melhor qualidade de vida e preservaccedilatildeo do meio ambiente

Nesta direccedilatildeo estaacute comprovado que as campanhas de sensibilizaccedilatildeo quan-to agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente e da vida na terra requerem mais empenho por parte das autoridades governamentais responsaacuteveis pelas accedilotildees voltadas para esse fim

Portanto chego a conclusatildeo de que natildeo basta somente a realizaccedilatildeo de cam-panhas por parte dos governos estaduais municipais ou ONGs para colaborar com a preservaccedilatildeo do meio ambiente Eacute necessaacuterio que as pessoas busquem informaccedilotildees e internalizem em suas mentes e isso se reflita em suas accedilotildees de que a preservaccedilatildeo do meio ambiente eacute de suma importacircncia para a existecircncia

82 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

dos seres vivos na terra A coleta e o descarte adequado do lixo contribuem para a limpeza e consequentemente para a manutenccedilatildeo da sauacutede e evitam a infestaccedilatildeo de insetos e animais causadores de doenccedilas

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 83

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PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL ACERCA DA TRIacutePLICE EPIDEMIA (DENGUE-CHIKUNGUNYA-ZIKA) E SUA RELACcedilAtildeO COM OS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS DOS MORADORES NO POVOADO JUAacute MUNICIacutePIO DE PAULO AFONSO - BAHIA BRASIL

Andreacute Viniacutecius Bezerra de Andrade Silva Camilo Rafael Pereira Brandatildeo Kecircnia Dantas Alves Nadja Santos Vitoacuteria

INTRODUCcedilAtildeO

A Educaccedilatildeo Ambiental pode ser vista como uma expansatildeo da educaccedilatildeo onde um indiviacuteduo e coletividade em que estaacute inserido por meio de conheci-mentos e atitudes constroem meacutetodos de prevenccedilatildeo ao meio ambiente (BRA-SIL 2016) Segundo Jacobi (2013 p 193) a educaccedilatildeo ambiental apresenta-se com uma funccedilatildeo cada vez mais transformadora em que a ldquoco-responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento ndash o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo A questatildeo ambiental vem se tornando cada vez mais emergente e mesmo diante das muitas accedilotildees de prevenccedilatildeo ainda existem muitos problemas (PEREIRA MANSUR ALVES 2015) Alguns pesquisadores acreditam que a crise ambiental que vivenciamos eacute aleacutem de voltada ao ambiente em si eacute considerada uma crise tambeacutem civilizatoacuteria (MORALES MANSUR 2015) E de acordo com Capra (1996) a sociedade vive sob uma crise de percepccedilatildeo o que pode ser a principal causa para a falta tambeacutem de consciecircncia ateacute porque se natildeo se pode perceber torna-se difiacutecil o conhecimentocompreensatildeo

De acordo com Fernandes et al (2012) a percepccedilatildeo ambiental define-se como sendo uma tomada de consciecircncia do ambiente pelo homem que vai desde o ato de perceber o ambiente do qual faz parte ateacute aprender a cuidar e protegecirc-lo No entanto cada pessoa percebe reage e responde de forma dife-renciada agraves accedilotildees sobre o ambiente em que vive Para Fernandes et al (2012)

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estudar a percepccedilatildeo ambiental eacute de grande relevacircncia pois auxilia no processo de compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre o indiviacuteduo e o ambiente bem como expectativas anseios satisfaccedilotildees e insatisfaccedilotildees julgamentos e condutas As-sim faz-se necessaacuteria a realizaccedilatildeo de pesquisas em percepccedilatildeo ambiental por tratarem de fatos importantes a serem investigados sejam sobre valores ne-cessidades atitudes eou expectativas que determinados sujeitos tecircm em rela-ccedilatildeo ao seu meio vivencial (BAY SILVA 2011)

O Brasil por ser um paiacutes tropical apresenta um clima favoraacutevel para o desenvolvimento de determinadas enfermidades Camargo (2008) diz que a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) agrupa como Doenccedilas Tropicais as afecccedilotildees que se desenvolvem exclusivamente na zona dos troacutepicos e que ne-cessitam de clima quente e uacutemido A OMS relata ainda que o ano de 2016 foi marcado por um surto epidecircmico avassalador do viacuterus Zika (ZIKV) assim como o viacuterus da Dengue (DENV) e da Febre Chikungunya (CHIKV) satildeo exem-plos dessas Doenccedilas Tropicais e tecircm como vetor principal o mosquito Aedes aegypti (WHO 2016)

Tais doenccedilas surgem a partir da proliferaccedilatildeo em grande escala do seu vetor o mosquito A aegypti que tem preferecircncia por reservatoacuterios artificiais o que inclui o manejo incorreto dos resiacuteduos soacutelidos mesmo tendo oportunidade de completar seu ciclo no meio natural isso pelo fato de no meio antropizado ter sua prole mais protegida (VAREJAtildeO et al 2005)

No Brasil grande parte dos municiacutepios descartam seus lixos em vazantes (ou lixotildees) onde os resiacuteduos satildeo dispostos distantes das residecircncias sem nenhuma forma de tratamento Existem meios menos agressivos ao ambiente como os aterros controlados aacutereas de lixo cobertas sempre com uma camada de terra mas sem a preparaccedilatildeo do solo e os aterros sanitaacuterios que satildeo locais planejados antecipadamente para posterior disposiccedilatildeo de resiacuteduos com dispositivos que captam os gases e tratam o chorume (MUNtildeOZ 2002)

De fato vecircm ocorrendo diversas mudanccedilas no ambiente causadas pela accedilatildeo humana e necessita-se praticar uma educaccedilatildeo voltada para promover um pen-samento novo ou seja a sensibilizaccedilatildeo (PEREIRA GIBBON 2014) Deste modo tomando por base o surto epidecircmico de algumas Doenccedilas Tropicais (Dengue Zika Viacuterus e Chikungunya) transmitidas pelo mosquito Aedes (Stegomyia) aegyp-ti (Linnaeus 1762) (Diptera Culicidae) este artigo objetivou investigar a Percep-ccedilatildeo Ambiental da comunidade do Povoado Juaacute em relaccedilatildeo agrave prevalecircncia des-sas doenccedilas identificando quais os meacutetodos de informaccedilatildeo e prevenccedilatildeo mais utilizados pelos entrevistados na localidade buscando associaacute-las ao destino

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incorreto dos Resiacuteduos Soacutelidos gerados na regiatildeo com a finalidade de conhecer o posicionamento da populaccedilatildeo diante desses casos

1 CONCEPCcedilAtildeO METODOLOGICA

A pesquisa foi realizada no Povoado Juaacute que estaacute inserido no municiacutepio de Paulo Afonso ndash BA limitando-se ao Norte com o municiacutepio de Gloacuteria ao Sul com os municiacutepios de Jeremoabo Santa Briacutegida e tambeacutem com o Estado de Alagoas a Oeste limita-se com o municiacutepio de Rodelas (DIAS PAES 2007) Conforme o censo realizado pelo Centro de Zoonoses em 2016 a populaccedilatildeo do povoado eacute estimada em 1872 pessoas e segundo Rocha (2009) o clima desta regiatildeo eacute do tipo Bsh (quente e seco) de acordo com a classificaccedilatildeo de Koumleppen com precipitaccedilatildeo meacutedia anual de 500 mm O presente artigo obteve seus re-sultados a partir de uma metodologia com cunho quali-quantitativo (APPOLI-NAacuteRIO 2012) seguindo o modo de pesquisa de campo atraveacutes de observaccedilotildees diretas intensivo-participantes artificiais

Para Lakatos e Markoni (2001) a pesquisa participante artificial eacute aquela em que o pesquisador natildeo pertence agrave comunidade em que realiza as obser-vaccedilotildees sejam diretas ou indiretas e de quaisquer intensidades bem como apresenta finalidades descritivas e exploratoacuterias (PRODANOV FREITAS 2013) Os dados para os resultados da pesquisa foram obtidos atraveacutes da aplica-ccedilatildeo de formulaacuterios semiestruturados e com uso de pranchas com imagens (LAKATOS MARKONI 2001 FLICK 2009) em ruas escolhidas aleatoriamente na comunidade e as respostas foram triadas por meio de porcentagem sim-ples apresentadas sob a forma de graacuteficos gerados atraveacutes do programa de computador Microsoft Office Excelreg Para a realizaccedilatildeo do trabalho os entrevis-tados aceitaram a participaccedilatildeo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

2 ACUIDADE DA POPULACcedilAtildeO

Foram entrevistados 100 residentes da comunidade do Povoado Juaacute sendo 70 dos entrevistados composto por mulheres e 30 por homens com idades variadas conforme revela a Tabela 1 O maior percentual dos entrevistados per-tence agrave faixa etaacuteria de 61 a 70 anos (14) seguido de 51 a 60 anos (13) e 41 a 50 anos (12) Algumas questotildees do formulaacuterio permitiram muacuteltiplas escolhas por parte dos entrevistados

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Tabela 1 - Faixa etaacuteria dos sujeitos da pesquisa

Faixa etaacuteria Percentual ()

lt 10 anos 15

11 a 20 anos 11

21 a 30 anos 11

31 a 40 anos 10

41 a 50 anos 12

51 a 60 anos 13

61 a 70 anos 14

71 a 80 anos 10

81 a 90 anos 4

Fonte Autor (2016)

Todos os entrevistados jaacute ouviram falar sobre Dengue Chikungunya ou Zika viacuterus entretanto natildeo compreendiam de fato sobre os sinais e sintomas das res-pectivas doenccedilas ou arboviroses De acordo com o Graacutefico 1 um percentual de 22 indicou sintomas mais gerais e comuns agraves referidas Doenccedilas Tropicais e apenas 2 dessas respostas relatam sintomas mais especiacuteficos diferenciando cada uma delas A Dengue em casos isolados pode apresentar hemorragia e dores atraacutes dos olhos com presenccedila de vocircmito A Chikungunya eacute caracterizada por febre constante dores intensas e persistentes nas articulaccedilotildees e a Zika pode apresentar manchas vermelhas na pele e seu viacuterus pode ser transmitido via transfusatildeo sanguiacutenea aleacutem de gerar complicaccedilotildees na gravidez como a mi-crocefalia eou na juventude como a Siacutendrome de Guillain-Barreacute (BRASIL 2016 BARBOSA 2015 BELTRAME 2016 HONOacuteRIO et al 2015 WHO 2016)

Graacutefico 1 ndash Respostas acerca da definiccedilatildeo das arboviroses por parte dos moradores do Povoado Juaacute ndash Paulo Afonso Brasil

Fonte Autor (2016)

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Todos os moradores entrevistados relataram tambeacutem ter se contaminado ou conhecer algueacutem com sintomas das referidas doenccedilas com gravidade ele-vada No conhecimento disseminado entre a comunidade 72 disseram ter adquirido a Febre Chikungunya 24 Dengue e 10 relataram contato com o viacuterus da Zika (Graacutefico 2) No que diz respeito aos oacutebitos 61 se referiram agrave morte de uma pessoa idosa do sexo feminino e acreditam que outras doenccedilas crocircnicas agravaram o quadro levando-a ao falecimento

A Dengue atinge anualmente de 50 a 80 milhotildees de pessoas em mais de 100 paiacuteses ocasionando 20 mil mortes (MENDONCcedilA DUTRA 2009) e de acor-do com Maciel Juacutenior e Martelli (2009) no Brasil foram registrados 500 mil ca-sos com 158 mortes Na Bahia em 2016 o Boletim da Diretoria de Vigilacircncia Epidemioloacutegica relata que 7700 casos foram notificados em 201 municiacutepios (4820) E a faixa etaacuteria mais comum dos infectados variava entre 20 a 49 anos com prevalecircncia de 5767 do sexo feminino

Em relaccedilatildeo a Febre Chikungunya foram notificados 1240 casos em 68 mu-niciacutepios (1630) sendo 6131 dos infectados mulheres com idades tambeacutem entre 20 e 49 anos A Zika teve 1777 casos notificados em 108 municiacutepios (2589) com a faixa etaacuteria igual agraves arboviroses citadas anteriormente tendo o sexo feminino sido representado por 6736 dos casos

Graacutefico 2 - Casos confirmados das arboviroses segundo os moradores do Povoado Juaacute

Fonte Autor (2016)

Para diagnoacutestico das doenccedilas 76 dos sujeitos entrevistados tiveram aces-so ao centro de sauacutede e 47 dos entrevistados relataram ter realizado exames para diagnose das arboviroses Deste percentual 40 destes foram submeti-

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dos a exames laboratoriais que segundo informaccedilotildees colhidas com os mes-mos natildeo receberam os resultados Cinquenta e trecircs por cento relataram natildeo ter realizado nenhum exame (Graacutefico 3)

Apesar da maioria dos casos ser diagnosticada clinicamente os meacutetodos mais eficazes para a identificaccedilatildeo da doenccedila partem de exames hematoloacutegicos (imunidade e contagem de plaquetas) e soroloacutegicos (FIGUEIREDO et al 1992 VIDO et al 1999 ARAUacuteJO et al 2002 BARROS et al 2008)

Graacutefico 3 - Diagnoacutestico cliacutenico e laboratorial realizado pelos moradores do Juaacute para identificaccedilatildeo da triacuteplice epidemia (Dengue-Chikungunya-Zika)

Fonte Autor (2016)

Para saber da comunidade quem era o causador dessas Doenccedilas Tropicais foram mostradas trecircs imagens nomeadas com as letras A B e C sendo a ima-gem A Mosquito Palha (Lutzomyia longipalpis [Lutz amp Neiva 1912]) B Mosquito da Dengue (Aedes aegypti) e C Barbeiro (Triatoma infestans [Klug]) A maioria representada por 81 acertou respondendo ser o mosquito A aegypti o trans-missor responsaacutevel pela Dengue Chikungunya e Zika Viacuterus Um por cento natildeo soube responder e 7 natildeo respondeu (Tabela 2)

As doenccedilas anteriormente citadas satildeo causadas pelo culiciacutedeo A aegypti (TAUIL 2001 Idem 2002 PINTO JUacuteNIOR et al 2015 HONOacuteRIO et al 2015 BRA-SIL 2016) Estes dados conferem com as informaccedilotildees difundidas pela miacutedia cujo mosquito vetor bem como seus reservatoacuterios destacam-se nas miacutedias e nos meios de informaccedilatildeo de um modo geral (LENZI COURA 2004 ARAUacuteJO ARAUacuteJO-JORGE MEIRELLES 2005)

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Tabela 2 - Respostas acerca do vetor da Dengue Chikungunya e Zika

Imagens Percentual ()Imagem A 6Imagem B 81Imagem C 5

Natildeo souberam 1Natildeo responderam 7

Fonte Autor (2016)

A tabela 3 mostra que 84 dos entrevistados obtiveram as informaccedilotildees so-bre a triacuteplice epidemia a partir da televisatildeo 30 do raacutedio e 22 por informa-ccedilotildees disponiacuteveis no posto de sauacutede Panfletos accedilotildees sociais e internet somaram 13 e 34 responderam que se informam atraveacutes de outros meios entre os mais citados a escola e as conversas com vizinhos A televisatildeo destaca-se nos trabalhos de Lenzi e colaboradores (2000) com a justificativa de ser um bem material mais acessiacutevel agrave comunidade

Regis e colaboradores (1996) apontam como uma das funccedilotildees da escola informar e mobilizar a comunidade no que diz respeito agraves diversas companhas As accedilotildees sociais originadas no serviccedilo de sauacutede satildeo divulgadas em outdoors raacute-dio tv e outros meios comunicativos no entanto a utilizaccedilatildeo da linguagem faacutecil acaba por gerar uma informaccedilatildeo incompleta (BRASSOLATTI ANDRADE 2008)

Tabela 3 - Meio de informaccedilatildeo mais citado pelos moradores

Meio de informaccedilatildeo Percentagem ()TV 84

Raacutedio 30Internet 7

Posto de Sauacutede 22Accedilotildees Sociais 3

Panfletos 3Outros 34

Fonte Autor (2016)

A tabela 4 nos mostra que o meio mais citado para prevenccedilatildeo da Dengue Febre Chikungunya e Zika foi o mosqueteiro com um percentual de 77 segui-do da eliminaccedilatildeo dos focos do agente causador que representou 67 das res-postas e 52 disseram receber os agentes de endemias Os repelentes artificiais satildeo utilizados por 31 dos entrevistados Quando foram questionados sobre a existecircncia de algum trabalho de accedilatildeo social na comunidade 84 relataram ter e citaram os agentes de endemias e o posto de sauacutede como exemplo 11

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disseram que natildeo existem trabalhos sociais no povoado e 5 natildeo souberam informar

Segundo informaccedilotildees colhidas com o Centro de Zoonozes muitos mora-dores natildeo estatildeo em casa no horaacuterio da visita Uma das funccedilotildees do agente de endemias eacute retornar agrave residecircncia ao menos trecircs vezes apoacutes a terceira visita sem sucesso ou a recusa do morador o imoacutevel eacute dado como fechado ou recusado respectivamente

Os trabalhos de Santos Cabral e Augusto (2011) e de Claro Tomassini e Rosa (2004) tambeacutem corroboram com os resultados desta pesquisa no que diz res-peito agrave eliminaccedilatildeo dos focos do mosquitolimpeza da residecircncia Repelentes naturais natildeo foram citados pelos sujeitos participantes da pesquisa O que jaacute foi mostrado pelo trabalho de Silva (2016) ao relatar que grande parte dos mora-dores (83) de trecircs bairros da cidade de Paulo Afonso natildeo conhecem ou fazem uso de plantas e apenas uma minoria afirma que aleacutem de conhecer a existecircncia de plantas que exercem efeitos danosos sobre o mosquito fazem uso delas na tentativa de repelir eou matar o mosquito ou ateacute mesmo curar a infecccedilatildeo viral transmitida pelo vetor

Tabela 4 - Meios de prevenccedilatildeo citados pelos entrevistados

Meio de Prevenccedilatildeo Percentual ()

Natildeo realiza 3

Mosqueteiro 77

Fumaccedila 1

Inseticidas aerossoacuteis 24

Repelentes artificiais 31

Repelentes naturais 0

Eliminaccedilatildeo dos focos 67

Sensibilizaccedilatildeo 0

Recebe os agentes 52

Outros 0

Fonte Autor (2016)

Em relaccedilatildeo agrave questatildeo dos Resiacuteduos Soacutelidos 91 dos entrevistados afirma-ram que a coleta do Povoado Juaacute ocorre trecircs vezes na semana por meio de um trator que leva o lixo para um terreno mais afastado da aacuterea residencial Mui-tos disseram ainda que parte do lixo eacute queimado ou enterrado nesse terreno A prefeitura natildeo realiza a coleta no povoado e segundo informaccedilotildees colhidas

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com os moradores um morador agrave eacutepoca candidato a vereador dispocircs de um dos seus terrenos para a disposiccedilatildeo final do lixo na comunidade Ainda em rela-ccedilatildeo ao lixo 94 ressaltaram a importacircncia de separaacute-lo apesar de 56 afirmar que natildeo realizam esse procedimento pois relataram que o lixo seraacute misturado posteriormente Oitenta e dois por cento dos moradores relataram estar o lixo associado ao aumento das principais doenccedilas transmitidas pelo mosquito A aegypti (Tabela 5)

Tabela 5 - Opiniatildeo dos entrevistados em relaccedilatildeo ao lixo associado agrave proliferaccedilatildeo de doenccedilas

Produccedilatildeo de lixo Percentual ()Proliferaccedilatildeo de doenccedilas 82

Natildeo interfere na proliferaccedilatildeo 16Natildeo souberam responder 2

Fonte Autor (2016)

No Brasil segundo Muntildeoz (2002) grande parte dos municiacutepios descartam seus lixos em vazantes (ou lixotildees) onde os resiacuteduos satildeo dispostos distantes das residecircncias sem nenhuma forma de tratamento A coleta seletiva eacute um dos prin-cipais instrumentos de intervenccedilatildeo social e tem sido apresentada como uma das melhores soluccedilotildees para a reduccedilatildeo do lixo urbano sendo assim a mais indi-cada pois economiza trabalho na captaccedilatildeo e triagem aleacutem de melhorar a qua-lidade dos resiacuteduos a serem reciclados (PEIXOTO CAMPOS DrsquoAGOSTO 2005 TRINDADE 2011) Sabe-se que a produccedilatildeo exagerada o incorreto manejo e a disposiccedilatildeo do lixo acarretam na poluiccedilatildeo do solo aacutegua ar e direta ou indireta-mente na transmissatildeo de doenccedilas (ALENCAR 2005 GUIZARD et al 2006 RIBEI-RO ROOCKE 2010)

3 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores do Povoado Juaacute no que diz respeito agraves Doenccedilas Tropicais causadas pelo A aegypti e a associaccedilatildeo destas ao incorreto destino final dos Resiacuteduos Soacutelidos estaacute disseminada na comunidade pelo fato da ocorrecircncia dos diversos casos das arboviroses bem como o reconhecimento dos sinais e sintomas das mesmas Ressalta-se que a idade estaacute relacionada ao niacutevel de assimilaccedilatildeo e a forma de perceber os acontecimentos da regiatildeo tendo sido um fator contribuinte para a absorccedilatildeo e identificaccedilatildeo de alguns conceitos

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Em relaccedilatildeo aos meios de informaccedilatildeo a televisatildeo e o raacutedio satildeo os que mais difundem informaccedilotildees acerca da prevenccedilatildeo das doenccedilas tropicais no entanto sabe-se que esses veiacuteculos de comunicaccedilatildeo possuem uma particularidade na construccedilatildeo de suas pautas em detrimento do tempo a exemplo de comerciais de curto periacuteodo que trazem informaccedilotildees pontuais

Uma das soluccedilotildees seria a inserccedilatildeo de conteuacutedos mais completos em rela-ccedilotildees agraves doenccedilas tropicais com maior abrangecircncia de tempo como programas de entrevistas com especialistas das aacutereas de sauacutede e ambiental intercalando com representantes da comunidade a fim de que as duacutevidas pudessem ser mi-nimizadas

Importante voltar o olhar para os puacuteblicos identificados nas entrevistas principalmente os idosos de 61 a 70 anos que precisam receber informaccedilotildees sobre as doenccedilas tropicas de forma mais didaacutetica e frequente

Nesse contexto a educaccedilatildeo ambiental possui um papel fundamental na ex-tensatildeo da educaccedilatildeo principalmente nas escolas com accedilotildees de sensibilizaccedilatildeo e que devem se estender a postos de sauacutede e agrave comunidade a fim de estimular seus participantes em quaisquer faixas etaacuterias a perceber o ambiente em que estatildeo inseridos

Uma accedilatildeo conjunta entre poder puacuteblico miacutedia e moradores do povoado Juaacute para a identificaccedilatildeo dos problemas ou temas puacuteblicos a fim de corroborar com a mudanccedila da realidade e a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas nas aacutereas de sauacutede e ambiental em benefiacutecio do referido povoado

Assim a pesquisa eacute um excelente instrumento para a identificaccedilatildeo das questotildees ambientais e a divulgaccedilatildeo dos dados coletados deve ser compreen-dido pelo poder puacuteblico como ferramenta imprescindiacutevel para a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que visem o desenvolvimento sustentaacutevel das cidades

AGRADECIMENTOS

Agrave Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica do Estado de Sergipe (FAPITEC)

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloa-mento de Pessoal de Niacutevel Superior - Brasil (CAPES) - Coacutedigo de Financiamento 001 da Portaria Nordm 206 de 04 de setembro de 2018

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98 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

A IDENTIFICACcedilAtildeO DE DESENHOS ANIMADOS COM CONTEUacuteDOS SOCIOAMBIENTAIS POR CRIANCcedilAS DO CICLO BAacuteSICO

Marilia Barbosa dos SantosAntocircnio MenezesJonielton Oliveira Dantas

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas as questotildees de cunho ambiental tecircm se integrado com maior frequecircncia aos debates sociais e poliacuteticos Deste modo os meios de co-municaccedilatildeo tecircm exercido protagonismo na difusatildeo de informaccedilotildees de cunho ambiental muitas vezes inseridas de forma secundaacuteria no debate Face agrave glo-balizaccedilatildeo a sociedade tem sido bombardeada com um nuacutemero significativo de informaccedilotildees de caraacuteter ambiental poreacutem faz-se necessaacuterio que tais infor-maccedilotildees tenham comprometimento com a transformaccedilatildeo da atual realidade socioambiental

Para Mcluhan (1969) o meio eacute a mensagem e esta depende natildeo da maneira que eacute transmitida mas como eacute transmitida Toda compreensatildeo das mudanccedilas sociais e culturais eacute restrita sem o conhecimento analiacutetico da contextualizaccedilatildeo soacutecio-histoacuterica dos seus processos acontecimentos e registros Neste sentido os consumidores de informaccedilatildeo devem se esquivar da atraccedilatildeo das campanhas propagandas de corporaccedilotildees ou veiacuteculos de comunicaccedilatildeo de massa cuja cre-dibilidade eacute cada vez mais duvidosa pelo alto grau de manipulaccedilatildeo de informa-ccedilotildees e de interesses mercadoloacutegicos

Os aspectos culturais veiculados pelos meios de comunicaccedilatildeo forne-cem materiais que satildeo capazes de criar identidades e inserir os indiviacuteduos na sociedade tecnocapitalista gerando um novo panorama de cultura glo-bal (KELLNER 2001) Neste contexto os desenhos animados tecircm incentivado crianccedilas a interagir com as informaccedilotildees de cunho ambiental por intermeacutedio dos programas infantis os pequeninos podem criticar opinar e se posicionar sobre temas que se relacionam agrave sustentabilidade preservaccedilatildeo e conserva-ccedilatildeo ambiental

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 99

Deste modo o presente artigo teve como objetivo identificar quais dese-nhos em circulaccedilatildeo favorecem a promoccedilatildeo de accedilotildees que visem agrave conservaccedilatildeo dos recursos naturais

O texto estaacute dividido em quatro partes na primeira aborda-se o meio am-biente sobre a perspectiva comunicacional a segunda parte apresenta a rela-ccedilatildeo das crianccedilas com os meios de comunicaccedilatildeo e as representaccedilotildees ambientais a terceira parte refere-se ao percurso metodoloacutegico a quarta parte apresenta alguns resultados e discussotildees e por fim algumas consideraccedilotildees finais segui-das das referecircncias

2 MEIO AMBIENTE E COMUNICACcedilAtildeO NOVOS CONFLITOS VELHOS DILEMAS

A difusatildeo midiaacutetica eacute composta por uma base significativa de poder Poder individual e coletivo Muitos se ldquorendemrdquo ao poder visiacutevel e invisiacutevel da miacutedia seja ela televisa impressa auditiva ou virtual A miacutedia eacute analisada como uma maneira que o telespectador encontra de se relacionar com elementos da vida cotidiana Segundo Raffestin (1993) o poder da miacutedia se revela por meio da re-laccedilatildeo Eacute como um mecanismo de troca comunicativa O indiviacuteduo que tem aces-so agrave informaccedilatildeo estaacute sujeito a pocircr em cheque seus interesses e as conveniecircncias estabelecidas pelo poder midiaacutetico protagonizando um duelo de intenccedilotildees e interesses preacute-estabelecidos

Eacute por intermeacutedio dos recursos audiovisuais que grande parte da populaccedilatildeo recebe informaccedilotildees diariamente O meio qual o telespectador se insere eacute modi-ficado a toda instante pela notiacutecia que lhe eacute apresentada A informaccedilatildeo influen-cia diretamente as decisotildees e interaccedilotildees humanas que dizem respeito ao meio ambiente de onde se pode deduzir que o alcance dos meios de comunicaccedilatildeo leva a sociedade a tomar ciecircncia dos problemas ambientais e buscar rediscutir seu comportamento frente a estes elementos Orozco (1994) comenta que a comunicaccedilatildeo pode produzir muacuteltiplos paradoxos equiacutevocos e reaccedilotildees diversas no tratamento de determinados problemas podendo gerar conteuacutedo positivo ou negativo

A comunicaccedilatildeo e a circulaccedilatildeo da informaccedilatildeo sempre estatildeo do lado do poder e da capacidade que o poder tem de interferir na transmissatildeo dos conteuacutedos A esse tipo de poder dar-se o nome de poder simboacutelico Conforme Bourdieu (1989 p 9) poder simboacutelico eacute aquele que eacute produzido pela ldquocrenccedila na legitimi-dade das palavras e daqueles que a pronunciamrdquo Segundo o autor

100 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

O poder simboacutelico eacute um poder de construccedilatildeo da realidade que tende

a estabelecer uma ordem gnoseoloacutegica o sentido imediato do mun-

do (e em particular do mundo social) supotildee aquilo a que Durkheim

chama o conformismo loacutegico quer dizer lsquouma concepccedilatildeo homogecirc-

nea do tempo do espaccedilo do nuacutemero da causa que torna possiacutevel a

concordacircncia possiacutevel entre as inteligecircncias

A miacutedia cria artifiacutecios simboacutelicos para seduzir e entusiasmar o receptor da mensagem influenciando os consumidores no discurso dos acontecimentos Para Arbex Juacutenior (2006 p 20) a lsquogrande miacutediarsquo representa uma forte coluna de poder Constroacutei consenso produz realidades convenientes mistifica distorce fatos ldquo[] atua enfim como um lsquopartidorsquo que proclamando-se porta-voz e es-pelho dos lsquointeresses geraisrsquo da sociedade civil defende os interesses especiacutefi-cos de seus proprietaacuterios privadosrdquo

Na difusatildeo midiaacutetica contemporacircnea as formas de transmissatildeo simboacutelica trabalham com a (re)significaccedilatildeo das informaccedilotildees (re)formando (re)criando e incentivando a disseminaccedilatildeo de novos valores costumes e haacutebitos cotidianas Assim estas novas adequaccedilotildees acabam representando natildeo apenas o conteuacutedo veiculado mas a proacutepria realidade lsquoconvencionalrsquo Para Mcluhan (1969) toda plataforma de difusatildeo de informaccedilatildeo influencia a sociedade Elas satildeo tatildeo im-pactantes que suas consequecircncias fogem do controle

A miacutedia (in)voluntariamente transmite as notiacutecias poreacutem enaltece empre-sas e corporaccedilotildees especiacuteficas principalmente as que possuem mais capital no mercado nacional e internacional Nogueira (2001) esclarece que a atividade linguiacutestica se apresenta como forte aliada no processo de transmissatildeo de infor-maccedilatildeo O autor comenta que alguns traccedilos linguiacutesticos possuem mais influecircn-cias que outros beneficiando puacuteblicos grupos comunidades e classes sociais especiacuteficas

Toda informaccedilatildeo transmitida pela miacutedia possui influecircncia na visatildeo de cada telespectador agraves vezes influecircncias positivas agraves vezes negativas seria o papel da miacutedia transmitir as informaccedilotildees e provocar discussotildees sem enfatizar pontos que favorecem grupos especiacuteficos Para compreender a (re)produccedilatildeo do espa-ccedilo atraveacutes da miacutedia eacute necessaacuterio contextualizar os cenaacuterios a fim de evitar a manipulaccedilatildeo que implica uma compreensatildeo imediatista da informaccedilatildeo

Ao defender a pedagogia criacutetica da miacutedia Kellner (2001) aponta para neces-sidade de possibilitar aos consumidores de informaccedilatildeo instrumentos que os ajudem a evitar a manipulaccedilatildeo e a produccedilatildeo de identidades imediatas ajudan-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 101

do-os a produzir conhecimento autecircntico e novo Assim o autor considera ne-cessaacuteria uma pedagogia criacutetica da miacutedia para desenvolver ldquo[] conceituaccedilotildees da miacutedia e da cultura de consumo contemporacircneo [ajudando] a desvendar significados e efeitos sobre [a] proacutepria cultura e poder sobre seu ambiente cul-turalrdquo (KELLNER 2001 p 13)

A repercussatildeo referente agraves questotildees ambientais ascende na sociedade so-bretudo a partir da segunda metade do seacuteculo XX (SILVA CRISPIM 2011) agrave medida em que se insere em agendas e debates de cunho poliacutetico econocircmico e sociocultural Contudo os estudos que se propotildeem agrave anaacutelise mais profunda sobre os temas ambientais pela miacutedia ainda revelam agrave necessidade de trata-mento mais aprofundado

Segundo Santos (1994 p 23) ldquo[] vivemos uma eacutepoca de intenso medo e fantasia e se antes a natureza podia criar medo hoje eacute o medo que cria a na-tureza midiaacutetica e falsa pois parte dela eacute apresentada como se fosse o todordquo Dessa maneira a miacutedia tornou-se protagonista deste processo perigoso que mascara a integridade humana em detrimento da integridade ambiental por meio da manipulaccedilatildeo de seus interesses

Deste modo faz-se necessaacuterio que a anaacutelise das questotildees ambientais inte-gre uma agenda seacuteria de discussotildees e debates pois o meio ambiente eacute o meio de vida do ser humano e deve ser apresentado agrave sociedade como o principal responsaacutevel pela manutenccedilatildeo de vida na Terra e natildeo o contraacuterio

21 CRIANCcedilAS ENTRE MIacuteDIAS E REPRESENTACcedilOtildeES AMBIENTAIS

A miacutedia se apresenta como um processo institucionalizado onde diferen-tes grupos interagem e se confrontam a fim de alcanccedilar um ponto comum de interesse Deste modo o objetivo central da mensagem natildeo eacute transmissatildeo da informaccedilatildeo para o consumidor mas da relaccedilatildeo particular estabelecida pelo su-jeito e os produtos reproduzidos pela miacutedia Assim o receptor da mensagem natildeo eacute passivo ele busca participar da produccedilatildeo de sentidos no centro de uma loacutegica a fim de construir significados (positivos ou negativos) (DUARTE LEITE MIGLIORA 2006)

O alcance da miacutedia em relaccedilatildeo agraves questotildees ambientais tem abrangido vaacute-rios ramos da induacutestria e puacuteblicos de faixas etaacuterias variadas transformando a informaccedilatildeo em produto para consumo Os desenhos animados satildeo prova dis-so desempenhando uma funccedilatildeo de grande representatividade para o puacuteblico infantil O puacuteblico que os acessa tem a possibilidade de selecionar aquilo que

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lhes agrada e identificar quais atitudes satildeo capazes de sensibilizar seu compor-tamento e sua opiniatildeo

Fischer (1997) comenta que a miacutedia atua na construccedilatildeo da subjetividade dos indiviacuteduos ao ponto em que reproduz imagens siacutembolos e saberes que de algum modo vatildeo de encontro agrave educaccedilatildeo das pessoas Nesse cenaacuterio a tevecirc exerce significativa influecircncia na vida dos indiviacuteduos seja em busca de entre-tenimento ou mesmo para mantecirc-los atualizados sobre os acontecimentos do mundo Para Almeida (1994) a crianccedila se relaciona com a televisatildeo da mesma maneira com que se relaciona com as atividades cotidianas

A tevecirc possui uma participaccedilatildeo enfaacutetica na construccedilatildeo de opiniatildeo do indi-viacuteduo pois esta se constitui como parte dos complexos processos de produccedilatildeo de sensaccedilotildees aos quais se coadunam com os modos de se relacionar com a so-ciedade Ao representar uma simbologia de enigmas infantis (FISCHER 1997) a crianccedila (re)interpreta a mensagem televisiva (re)recria incorpora o que ouve e vecirc de forma criativa extraindo aquilo que eacute do seu interesse Partindo desse pressuposto Martin-Barbero (2001 p 20) reitera que

A construccedilatildeo desse olhar [baseia-se] nos estudos sobre a infacircncia que considera a crianccedila um ator social sujeito de direitos com capacidade e voz para influenciar seu proacuteprio destino quanto nos estudos latino-americanos sobre a recepccedilatildeo os quais colocando a presenccedila dos mediadores socioculturais na relaccedilatildeo entre sujeito e meios de comunicaccedilatildeo ldquointroduzem novos sentidos do social e novos lsquousos sociaisrsquo dos meios

Os desenhos animados podem ser qualificados de acordo com seus atri-butos argumentativos onde se categorizam como desenhos de ficccedilatildeo cientiacute-fica desenhos de contos infantis claacutessicas desenhos de humor e desenhos de histoacuterias reais que levam em conta as mudanccedilas sociais (BACCEGA 2000) Os programadores de miacutedia infantil estatildeo sempre atentos agraves mudanccedilas ocorridas na sociedade buscando inserir nos desenhos informaccedilotildees novas e atualizadas

Os desenhos animados representam em sua grande maioria accedilotildees do tipo super-homemvitorioso bondosomalvado mutaccedilatildeo violaccedilatildeo da ordem imortalidade transposiccedilatildeo temporal fantasiaterror aventura accedilatildeo vitoacuteria egocentrismo (PACHECO 1998) Assim estes desenhos compotildeem narrativas simboacutelicas que podem ser consideradas como fatores importantes para o de-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 103

senvolvimento da crianccedila e da construccedilatildeo da sua autonomia frente aos assun-tos que julgar relevantes

Para Silva Junior e Trevisol (2009) os desenhos animados satildeo capazes de representar uma variedade de estiacutemulos auditivos visuais e reflexivos sobre contextos variados Fischer (1997) reitera que a anaacutelise que a crianccedila consegue fazer dos desenhos animados a torna capaz de ampliar sua compreensatildeo sobre o tema abordado Obter um olhar criacutetico frente agrave televisatildeo aumenta as possibi-lidades de ir aleacutem do que eacute simbolicamente representado

A difusatildeo eletrocircnica de informaccedilotildees no formato imagem-som sugere uma maneira diferente de inteligibilidade e conhecimento como se o ser humano estivesse apto a despertar de algo estaacutetico no subconsciente natildeo soacute pela com-preensatildeo foneacutetica-silaacutebica da liacutengua mas tambeacutem pelas imagens e sons pre-sentes na televisatildeo (ALMEIDA 1994)

Os desenhos animados tambeacutem possuem uma significativa dimensatildeo edu-cativa principalmente se for levado em consideraccedilatildeo os valores que lhe satildeo atri-buiacutedos e construiacutedos quando a crianccedila interage com os elementos televisivos Poreacutem essa compreensatildeo natildeo pode se confundida com um tipo de pedagogia direcional onde as animaccedilotildees transmitidas satildeo rotuladas como modelos de comportamento que facilmente influenciariam as crianccedilas (BENJAMIN 1984)

Neste sentido eacute possiacutevel identificar que os desenhos animados tecircm a capa-cidade de atuar numa perspectiva discursiva sobre aspectos representativos do real Analisando a linguagem televisiva Rocco (1999) propotildee que ao se traba-lhar com a ludicidade no contexto das animaccedilotildees questione-se as imagens as cenas e accedilotildees representadas nas animaccedilotildees

A escola tambeacutem possui um papel importante no processo de construccedilatildeo da sensibilizaccedilatildeo ambiental A maneira como os desenhos satildeo apresentados agraves crianccedilas e a maneira como os educadores estimulam agrave aprendizagem con-tribui para formaccedilatildeo de opiniotildees a partir dos elementos expostos Compreen-dendo os significados ilustrados nas imagens transmitidas pela tevecirc a crianccedila torna-se capaz de ultrapassar os limites da ingenuidade e avanccedilar para a cons-truccedilatildeo da consciecircncia criacutetica

Eacute importante que a escola inclua a utilizaccedilatildeo de desenhos animados no planejamento escolar Desse modo a escola seraacute capaz de fazer a crianccedila com-preender onde e como identificar assuntos referentes ao meio ambiente nos desenhos animados como sustentabilidade conservaccedilatildeo cidadania descarte do lixo que a proacutepria crianccedila produz dentre outros Ao analisar a presenccedila dos

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desenhos animados no cotidiano das crianccedilas os Paracircmetros Curriculares Na-cionais (PCNrsquos) mencionam que

A programaccedilatildeo convencional de televisatildeo que em princiacutepio natildeo tem

finalidade educativa pode ser utilizada como fonte de informaccedilatildeo

para problematizar os conteuacutedos das aacutereas do curriacuteculo por meio de

situaccedilotildees em que o veiacuteculo pode ser um instrumento que permite

observar identificar comparar analisar e relacionar acontecimentos

dados cenaacuterios modos de vida etc Por exemplo eacute possiacutevel propor

estudos comparativos de personagens e ambientes de novelas de-

senhos seriados [] Propostas desse tipo favorecem o desenvolvi-

mento de habilidades relacionadas agrave linguagem oral e escrita e de

uma atitude mais criacutetica diante da televisatildeo como veiacuteculo de infor-

maccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (BRASIL 1998 p 143)

O educador deve gerenciar com responsabilidade o processo de apro-ximaccedilatildeo de realidades dos alunos ndash realidade escolar e realidade cotidiana ndash ressignificando conteuacutedos que satildeo de sua competecircncia mediante uma reorientaccedilatildeo curricular que leve em conta o conhecimento construiacutedo no dia-a-dia do aluno Contudo ldquo[] levar em conta natildeo significa aceitar essa realidade mas dela partir partir do universo do aluno para que ele consiga compreendecirc-lo e modificaacute-lordquo (CORTELLA 2004 p16) Se eacute possiacutevel pensar numa escola na qual a cultura audiovisiva seja uma constante o professor precisa estar preparado e disposto a manusear da melhor maneira possiacutevel os instrumentos midiaacuteticos (PRETTO 1996)

Desse modo os desenhos animados podem ser apresentados como um instrumento capaz de contribuir para a construccedilatildeo de conhecimento pois sen-do a crianccedila um sujeito que transforma o meio por intermeacutedio das interaccedilotildees cotidianas esta tambeacutem eacute capaz de interpretar reinterpretar reinventar e dar novos significados agravequilo que ouve e vecirc (COULON 1995)

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

A pesquisa foi realizada no municiacutepio de LagartoSergipe A escola selecio-nada para a aplicaccedilatildeo das entrevistas foi o Coleacutegio Municipal Frei Cristoacutevatildeo de Santo Hilaacuterio (Figura 1)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 105

Figura 1 Localizaccedilatildeo Geograacutefica do Coleacutegio Municipal Frei Cristoacutevatildeo de Santo Hilaacuterio

Fonte Atlas Digital Sobre Recursos Hiacutedricos do Estado de SergipeSEPLANSRH (2014)

Para a construccedilatildeo da pesquisa realizou-se 5 visitas teacutecnicas agrave escola selecio-nada Durante estas visitas foi possiacutevel conversar com as crianccedilas acerca dos seus desenhos animados preferidos e identificar em quais destes desenhos elas visualizavam alguma relaccedilatildeo com o meio ambiente Foram entrevistadas 61 crianccedilas distribuiacutedas entre as faixas etaacuterias de seis sete e oito anos do sexo feminino e masculino no turno vespertino

A base teoacuterica metodoloacutegica da pesquisa foi a Etnometodologia Fonseca (2002 p 36) considera que a pesquisa Etnometodoloacutegica

[] visa compreender como as pessoas constroem ou reconstroem a

sua realidade social [] A conduta humana eacute o resultado da interaccedilatildeo

social que se produz continuamente atraveacutes da sua praacutetica quotidia-

na Os seres humanos satildeo capazes de ativamente definir e articular

procedimentos de acordo com as circunstacircncias e as situaccedilotildees so-

ciais em que estatildeo implicados

Deste modo a pesquisa de caraacuteter Etnometodoloacutegico exige do pesquisador uma interaccedilatildeo intensa frente ao puacuteblico investigado eacute preciso atuar diretamen-

106 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

te no ambiente onde as realidades acontecem se transformam e vatildeo ganhado sentido logo o pesquisador precisa ser testemunha daquilo que deseja anali-sar (FONSECA 2002)

A pesquisa contou com o auxiacutelio teacutecnico da observaccedilatildeo participante Gerhardt e Silveira (2009 p 75) apontam que

[] a observaccedilatildeo participante permite captar uma variedade de si-

tuaccedilotildees [] que natildeo satildeo obtidas por meio de perguntas Os fenocircme-

nos satildeo observados diretamente na proacutepria realidade A observaccedilatildeo

participante apreende o que haacute de mais imponderaacutevel e evasivo na

vida real

As entrevistas semiestruturadas e as gravaccedilotildees em aacuteudio contribuiacuteram para aumentar a riqueza de detalhes durante as entrevistas Os aspectos eacuteticos e confidenciais foram respeitados na medida em que foi disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

4 DESENHOS ANIMADOS E O MEIO AMBIENTE O DESENROLAR DAS CONDUTAS PROacute-AMBIENTAIS

Durante a disseminaccedilatildeo de grandes eventos ambientais a exemplo da Rio +20 ocorrido no Brasil em 2012 assuntos como consciecircncia ambiental susten-tabilidade desenvolvimento sustentaacutevel conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo ambiental comeccedilaram a fazer parte do cotidiano das pessoas por intermeacutedio da induacutestria cultural e dos meios de comunicaccedilatildeo de massa ldquoNa primeira metade do seacuteculo XX a natureza era cenaacuterio para os desenhos Hoje eles refletem as complexas relaccedilotildees do homem com o meio ambienterdquo (PARDINI 2008 p22)

Essa complexidade das relaccedilotildees sociedadenatureza reflete a mundializaccedilatildeo do capital e perpassa pelos sistemas de produccedilatildeo (FONTES 2016) implicando em um desafio para os diversos setores da sociedade quanto agraves formas de en-quadramento e enfrentamento dos problemas socioambientais na busca por um desenvolvimento sustentaacutevel Moura ressalva que ldquo[] a sustentabilidade do desenvolvimento soacute ocorreraacute se houver estabilidade do processo (industrial ou urbano) e reduccedilatildeo das atividades agressorasrdquo (MOURA 2012 p 24)

Criar uma relaccedilatildeo harmoniosa entre o meio ambiente e a sociedade tem sido uma preocupaccedilatildeo recorrente entre pesquisadores e entidades envolvidas com a temaacutetica fazendo-se necessaacuterio a mobilizaccedilatildeo dos meios de comunica-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 107

ccedilatildeo a fim de alertar agrave populaccedilatildeo sobre a real situaccedilatildeo socioambiental A comu-nicaccedilatildeo ambiental estimula um processo em que a ldquo[] participaccedilatildeo social eacute fundamental para o sucesso do monitoramento e gerenciamento dos recursos [naturais] pois quando a sociedade tem consciecircncia da importacircncia da conser-vaccedilatildeo do meio ambiente o gerenciamento eacute facilitadordquo (RODRIGUES MALA-FAIA CASTRO 2008 p 145)

Deste modo os desenhos animados acoplados de cores ilustraccedilotildees sons e imagens dinacircmicas tecircm inserido em seus episoacutedios temaacuteticas relacionadas agrave conservaccedilatildeo ambiental a exemplo da reciclagem de lixo do efeito estufa da energia limpa da conservaccedilatildeo da fauna e da flora e da gestatildeo racional dos re-cursos hiacutedricos objetivando inserir o puacuteblico infantil nessas discussotildees Sendo assim ldquo[] a experiecircncia da infacircncia hoje se situa no contexto da cultura mi-diaacutetica de alcance global povoada por imagens sons signos e sentidos []rdquo (ODININO 2015 p 890) Logo os desenhos animados que abrangem a temaacute-tica ambiental tecircm se tornado sucesso de puacuteblico e audiecircncia marcados pela visibilidade global representando um faturamento exponencial de milhotildees no mundo inteiro

Rocha (1999) enfatiza que as relaccedilotildees desenvolvidas pelas crianccedilas podem ser analisadas a partir das ciecircncias sociais que tem por objetivo enaltecer as vivecircncias dessa fase pela via do luacutedico da ideia da criaccedilatildeo da valorizaccedilatildeo de seus saberes e de suas produccedilotildees As crianccedilas em idade escolar apresentam um comportamento proacute-social mais incisivo satildeo mais empaacuteticas e conseguem se relacionar de maneira mais decisiva frente a distintas situaccedilotildees e problemas (EISENBERG FABES E MURPHY 1996)

Deste modo a crianccedila eacute reconhecida como indiviacuteduo singular e uacutenico capaz de produzir sua cultura individual e coletivamente neste sentido as interaccedilotildees sociais estabelecidas pela crianccedila refletem seu modo de pensar agir e se com-portar nos espaccedilos que desenvolvem suas atividades cotidianas (MIRANDA 2009)

Foram entrevistadas 61 crianccedilas que responderam perguntas abertas e fe-chadas guiadas por um roteiro de entrevistas semiestruturado Nesta etapa da anaacutelise todas as informaccedilotildees foram levadas em consideraccedilatildeo anaacutelise de texto falado e escrito observaccedilatildeo direta da realidade e do comportamento evidente a partir da observaccedilatildeo participante (MOREIRA 2004)

Dos 61 indiviacuteduos entrevistados 18 corresponderam ao grupo de 6 anos de idade 25 ao grupo de 7 anos e 18 ao grupo de 8 anos (Graacutefico 1)

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Graacutefico 1 Percentual de indiviacuteduos por faixa etaacuteria

Fonte Os autores 2016

No que diz respeito ao grau de escolaridade os dados coletados evidencia-ram que 41 dos entrevistados compreenderam o grupo de alunos matricula-dos no 1ordm ano fundamental 27 ao 2ordm ano e 32 ao 3ordm ano (Graacutefico 2)

Graacutefico 2 Percentual de indiviacuteduos por niacutevel de escolaridade

Fonte Os autores 2016

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 109

5 A INFLUEcircNCIA DOS DESENHOS ANIMADOS INFANTIS NO PRO-CESSO DE SENSIBILIZACcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL

O ambiente escolar se apresenta como espaccedilo propiacutecio para discussatildeo de conteuacutedos diversos Neste espaccedilo elementos que envolvem cultura interaccedilatildeo social e meios de comunicaccedilatildeo tem se apresentado como temaacutetica recorren-te Nesta atmosfera de interaccedilatildeo coletiva as crianccedilas satildeo instigadas a imprimir suas identidades e interagir com realidades divergentes Soma-se a isso o papel exercido pela cultura midiaacutetica que tem delineado o surgimento de novas iden-tidades culturais

A televisatildeo se apresenta como um meio de comunicaccedilatildeo popular perten-cente ao dia a dia das crianccedilas Logo a crianccedila comeccedila a ser vista natildeo somente como telespectador passivo mas tambeacutem como um consumidor Desta manei-ra percebe-se que ldquo[As crianccedilas] esperam mais do que assistir aos conteuacutedos gerados pelos canais elas querem intervir nos programas e na programaccedilatildeo do seu canal favoritordquo (SHIMABUKURO 2009 p149)

Durante as entrevistas as crianccedilas puderam mencionar em quais desenhos animados assistidos era possiacutevel visualizar accedilotildees que comtemplassem a temaacuteti-ca ambiental ou algum elemento presente na natureza (ser humano aacutegua ve-getaccedilatildeo relevo bem como accedilotildees relacionadas agrave sustentabilidade preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental)

De acordo com as crianccedilas os desenhos que mais representaram elemen-tos e accedilotildees ambientais foram Princesinha Sophia Bob Esponja Peixonalta Os jovens Titatildes em Accedilatildeo Pepa Pig Marshal e o Urso Doutora Brinquedos e Barbie (Tabela 1)

Tabela 1 Recorrecircncia de desenhos que se relacionam com o meio ambiente

Desenhos CanalBarbie SBT (Bom dia e Cia)

Bob Esponja SBT (Saacutebado Animado)Dora Aventureira Tv Cultura

Doutora Brinquedos SBT (Mundo Disney) e TV CulturaMarshal e o Urso SBT (Carrossel Animado)

Os Jovens Titatildes em Accedilatildeo SBT (Bom dia e Cia)Peixonalta SBT e Tv CulturaPepa Pig TV Cultura

Princesinha Sophia SBT (Mundo Disney)Fonte Os autores 2016

110 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

As crianccedilas tiveram a oportunidade de expressar caracteriacutesticas de seus de-senhos favoritos e mencionar em quais atitudes protagonizadas pelos persona-gens havia relaccedilatildeo com a temaacutetica ambiental

E1 (menina ndash 6 anos) ldquo[Marshal e o urso] ele eacute assim tambeacutem da na-

tureza Marshal vai fazer as compras e satildeo os matos ela vecirc os peixes

Ela fica cheirando agraves vezes ela cai por cima de repente [das flores]rdquo

E2 (menina ndash 6 anos) ldquo[Princesinha Sofia] ela tem um coelho ela plan-

ta tambeacutem Eu gosto da natureza porque tem passarinhordquo

E3 (menino ndash 7 anos) ldquo[Peixonalta] eacute um peixe que tem um negoacutecio

que pode respirar debaixo drsquoaacutegua mas pode respirar fora que ele

tem uma armadurinha que ele pode voar tambeacutem pra ajudar trecircs

amigos que eacute uma menina e um menino que ajudam a natureza as

aacutervores [] os animais os rios que tatildeo os peixes abandonados os fi-

lhotes dos animaisrdquo

E4 (menina ndash 7 anos) ldquoEla [Doutora brinquedos] cuida dos brinquedos

e tem laacute as florestas [] ela vai pros rios ela jaacute cuidou de uma flor laacuterdquo

E5 (menina ndash 8 anos) ldquoPeixonalta [] eacute um peixe que ele tem uma amiga

e um amiguinho aiacute o avocirc dela eacute bem experiente assim aiacute ele ensina

umas coisas a eles [] ensina coisa assim mesmo da natureza aiacute ela faz

coisa pra ajudar a natureza tipo o jardim quando comeccedilou a poluir e

ai ela fez essas coisas assim pra parar ela fez campanha essas coisasrdquo

As crianccedilas tambeacutem mencionaram atitudes dos personagens que se asse-melhavam agraves atividades desenvolvidas em seu cotidiano

E6 (menina ndash 6 anos) ldquoO Ursinho Puff cuida das plantas eles molham

as plantas e nadam nos rios Eu aprendi tambeacutem a molhar as plantas

de mainha todo dia de manhatilderdquo

E7 (menina ndash 8 anos) ldquoDoutora brinquedos ela cuida dos brinquedos

e cuida da natureza tambeacutem Ela conserta os brinquedos que que-

bram e na natureza ela rega as flores o pai dela ajuda ela a cortar as

flores eu tambeacutem ajudo meu pairdquo

E8 (menina ndash 6 anos) ldquo[] A Dora ela ajuda a fazenda cuidando dos

animais Ela daacute aacutegua [as flores] eu tambeacutem aprendi isso com elardquo

E9 (menina ndash 6 anos) ldquoMarshal e o urso eacute um urso grande ele eacute mar-

rom e uma menina pequeninha Eles moram um uma casa na flores-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 111

ta Ela pega os bichinhos ele coloca aacutegua nas plantas Eacute importante

colocar aacutegua nas plantinhas porque elas crescemrdquo

E10 (menino ndash 7 anos) Ele [Peixonalta] eacute um desenho que eacute no am-

biente aquaacutetico que ele eacute um peixe que ajuda as pessoas [] ajuda as

pessoas a cuidar do ambiente [] e tem uma missatildeo pra cuidar da na-

tureza quando as pessoas acabam com a natureza no desmatamen-

to essas coisas ele salva entendeu Natildeo deixa as pessoas fazerem

isso essas coisas erradasrdquo

Por intermeacutedio das respostas observou-se que os desenhos animados se apresentaram como instrumentos eficazes no processo de ensino sobre a temaacute-tica ambiental Nos episoacutedios mencionados os desenhos resgataram atitudes praacuteticas nas quais as crianccedilas tecircm plena autonomia para executar natildeo apenas pelo fato de estar ldquoimitandordquo este ou aquele personagem mas pela real com-pressatildeo de que aquela realidade ldquovirtualrdquo pode ser aplicada por ela mesma na vida ldquorealrdquo dando-lhe possibilidade para transformar agrave proacutepria realidade

Por meio dos desenhos visualizados na tevecirc a crianccedila encontra possibilida-de de resolver conflitos vivenciar enigmas resolver problemas Deste modo as animaccedilotildees televisivas expressam em seus episoacutedios o cuidado com o ambiente atraveacutes de accedilotildees corriqueiras jaacute vivenciadas por seus telespectadores como ldquocuidar de uma hortardquo ldquonatildeo desperdiccedilar aacuteguardquo ldquocuidar dos animaisrdquo ldquonatildeo jogar lixo nas ruasrdquo estas narrativas norteadas por uma linguagem acessiacutevel direcio-nam a crianccedila a produzir e reproduzir tais accedilotildees ldquoO mergulho da crianccedila nesse mundo maacutegico [] natildeo eacute sentimental ou vago desemboca numa percepccedilatildeo precisa do cotidianordquo (BENJAMIN 1984 p15)

Neste sentido Baccega (2000) ressalta que a crianccedila eacute capaz de usar os meios de comunicaccedilatildeo como aliados no processo de construccedilatildeo de conhecimentos A televisatildeo por ser um instrumento inserido no cotidiano dos pequeninos eacute capaz de instigar desafiar e provocar a interaccedilatildeo criacutetica do puacuteblico infantil

Nos desenhos mencionados evidenciou-se que as narrativas infantis de-sempenharam papel significativo no processo de aprendizagem dos temas re-lacionados ao meio ambiente e na propagaccedilatildeo de condutas proacute-ambientais incentivando agraves crianccedilas a expressarem sua criticidade e opiniatildeo na execuccedilatildeo de praacuteticas ambientais ldquodentrordquo e ldquoforardquo da telinha

112 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

6 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

As discussotildees de cunho ambiental tecircm se apresentado com significativa fre-quecircncia principalmente a partir do seacuteculo XX onde a emergecircncia dessa temaacute-tica comeccedila a ganhar forccedila em detrimento de um modelo de desenvolvimento baseado na exploraccedilatildeo desmedida dos recursos naturais Desse modo a preo-cupaccedilatildeo com o uso a conservaccedilatildeo e a preservaccedilatildeo destes recursos ganharam visibilidade em meio agrave industrial da informaccedilatildeo

O reconhecimento da crianccedila como ator socialmente ativo no processo de produccedilatildeo e construccedilatildeo de sentido tem reorientado os produtores televisuais que tecircm se desdobrado para chamar a atenccedilatildeo desse puacuteblico tatildeo versaacutetil e exi-gente (BUCKINGHAM 2012) Ao apropriar-se desse cenaacuterio a induacutestria infor-macional amplia seu campo de atuaccedilatildeo e inseri a crianccedila no centro dos debates ambientais seja por meio dos produtos ecoloacutegicos ou dos proacuteprios desenhos animados infantis

As animaccedilotildees mencionadas pelas crianccedilas evidenciaram o comprometi-mento com valores ambientais como consciecircncia ecoloacutegica sustentabilidade conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo ambiental desse modo observa-se que resgatar as discussotildees ambientais nos desenhos animados torna-se uma estrateacutegia rele-vante no processo de sensibilizaccedilatildeo socioambiental em crianccedilas do ciclo baacutesico

Neste sentido as crianccedilas demonstraram que interagem com os desenhos animados infantis natildeo apenas como consumidores despretensiosos e aliena-dos mas como consumidores dinacircmicos e astutos A satisfaccedilatildeo da pesquisa pelos desenhos animados revelou que aleacutem de se identificarem com os per-sonagens que agem em defesa eou cuidado com meio ambiente as crianccedilas tambeacutem percebem que as situaccedilotildees exibidas nos episoacutedios podem se apresen-tar em seu cotidiano e que elas mesmas podem transformar seu ambiente de interaccedilatildeo social

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de De-senvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico ndash Brasil (CNPq) ndash Coacutedigo de financia-mento 001

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 113

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116 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

O PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA EM SERGIPE E A RELACcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL COM OS MORADORES DOS POVOADOS DO ENTORNO

Igor Azevedo SouzaGiceacutelia Mendes da SilvaMaria Joseacute Nascimento SoaresDaniela Teodoro Sampaio

No Brasil a Lei nordm 9985 de 18 de julho de 2000 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) regulamentou o artigo 225 paraacutegrafo 1ordm incisos I II III e VII da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 bem como estabeleceu cri-teacuterios e normas para a criaccedilatildeo implementaccedilatildeo e gestatildeo das unidades de con-servaccedilatildeo (UCs) (BRASIL 2000) De acordo com Bensusan (2006) as UCs satildeo as aacutereas naturais protegidas de maior representatividade no Brasil e vecircm sendo cenaacuterio dos mais diversos tipos de estudos socioambientais

O SNUC divide-se em duas grandes categorias que buscam atender a diferen-tes estrateacutegias de gestatildeo Dentre elas a de proteccedilatildeo integral que abrange cinco tipos mais restritivos quanto ao uso dos recursos naturais e tecircm por objetivo pre-servar os ecossistemas naturais desenvolver pesquisas promover atividades de educaccedilatildeo ambiental e a depender da categoria como a dos parques nacionais objetiva ainda proporcionar lazer e recreaccedilatildeo junto a natureza (BRASIL 2000)

Os parques nacionais foram vistos no passado como ilhas de conservaccedilatildeo poreacutem ao longo das uacuteltimas deacutecadas estudos vecircm demonstrando que essas aacutereas na maioria das vezes natildeo satildeo totalmente isoladas e possuem comunida-des rurais que habitam o seu interior ou seu entorno e dependem dos recursos naturais ali existentes (BUTA HOLLAND KAPLANIDOU 2014) Estas unidades de conservaccedilatildeo tecircm se manifestado como espaccedilos importantes para se obter in-formaccedilotildees acerca do contexto sociocultural e quanto agrave interaccedilatildeo sociedade-na-tureza mas tambeacutem para compreender os desafios (PIMENTEL MAGRO SILVA FILHO 2011) voltados para o planejamento estrateacutegico e de gestatildeo (DrsquoOLIVEI-RA BURSZTYN BADIN 2002 BRAGAGNOLO et al 2016)

No estado de Sergipe localizado na regiatildeo Nordeste do Brasil o Parque Na-cional Serra de Itabaiana (PARNASI) eacute a maior e mais representativa UC de gran-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 117

de importacircncia para a regiatildeo pois protege a biodiversidade os ecossistemas naturais de zona de transiccedilatildeo de Mata Atlacircntica e Caatinga com suas belezas cecircnicas das montanhas e os recursos hiacutedricos que abastecem diversos municiacute-pios da regiatildeo inclusive a capital Aracaju (ICMBio 2016)

O PARNASI foi criado no ano de 2005 por meio das inuacutemeras manifesta-ccedilotildees favoraacuteveis para a preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos naturais da regiatildeo (SANTOS 2007) Contudo a presenccedila de povoados e municiacutepios em suas proximidades mesmo anterior a sua criaccedilatildeo e a relaccedilatildeo de dependecircn-cia dos moradores com os recursos naturais ali existentes para sobrevivecircncia econocircmica e cultural vem sendo motivo de diversos conflitos com o parque e sua gestatildeo

Em 2016 foi publicado seu primeiro plano de manejo e nele foram estabe-lecidos cinco alvos de conservaccedilatildeo - recursos hiacutedricos aacutereas herbaacuteceo-arbusti-vas florestas flora lenhosa madeireira e ornamental e espeacutecies caccediladas - que representam a base para o planejamento das estrateacutegias e as futuras accedilotildees de conservaccedilatildeo do parque Este documento foi elaborado a partir da construccedilatildeo coletiva entre o ICMBio Instituiccedilotildees de Ensino Superior da regiatildeo entidades governamentais e natildeo governamentais e os cidadatildeos que se dispuseram a par-ticipar do processo sendo na grande maioria servidores do ICMBio e de outras instituiccedilotildees ambientais natildeo havendo entretanto a participaccedilatildeo efetiva dos moradores dos povoados do entorno do parque (GONCcedilALVES FERNANDES FRITZEN 2014)

Entretanto estudos demonstram que o conhecimento sobre a relaccedilatildeo das populaccedilotildees locais com os recursos naturais e as UCs aleacutem de contribuir para com os planos de manejo (FUENTES 2013) eacute fundamental para a realizaccedilatildeo do manejo adequado e coerente com os objetivos do parque (ALMEIDA SIL-VA 2012 SOUZA NASCIMENTO ENNES 2015) Aleacutem disso gera subsiacutedio para fortalecer as estrateacutegias de conservaccedilatildeo da UC mediante programas de con-servaccedilatildeo que sejam voltados agraves mudanccedilas de comportamento da populaccedilatildeo prejudicais aos ecossistemas naturais (INFIELD NAMARA 2001) Vale destacar que a participaccedilatildeo nesse processo tambeacutem eacute importante para que essas po-pulaccedilotildees adquiriam valores socioambientais positivos e aumente o interesse sobre as questotildees ambientais de forma a serem incentivadas a participarem de forma ativa na sua conservaccedilatildeo (OTERO 2005)

Diante do exposto acima o objetivo deste estudo foi compreen-der a representatividade socioambiental do Parque Nacional Serra de Itabaiana localizado em Sergipe Brasil a partir da relaccedilatildeo dos moradores dos povoados

118 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

do seu entorno com a sua gestatildeo e com os alvos de conservaccedilatildeo estabelecidos em seu plano de manejo

1 O PARQUE NACIONAL DA SERRA DE ITABAIANA E OS POVOA-DOS DO ENTORNO

O Parque Nacional Serra de Itabaiana (PARNASI) (10deg42rsquo36rdquo e 10deg50rsquo16rdquo S e 37deg16rsquo42rdquo e 37deg25rsquo14rdquo O) eacute uma unidade de conservaccedilatildeo federal de proteccedilatildeo in-tegral com 799060 ha Estaacute inserido no agreste do estado de Sergipe zona de transiccedilatildeo entre os Biomas Mata Atlacircntica e Caatinga distante 38 km da capital Aracaju Eacute composto por um complexo de trecircs serras (de Itabaiana Comprida e do Cajueiro) e sua aacuterea abrange cinco municiacutepios Areia Branca Itabaiana Laranjei-ras Itaporanga Drsquoajuda e Campo do Brito (ICMBio 2016)

De acordo com o plano de manejo do PARNASI existem 21 povoados no seu entorno (Caroba Cajueiro Ribeiras Boqueiratildeo Mangueira Cajaiacuteba Serra Comprida Mangabeira Canjinha Junco Satildeo Joseacute Areias Auto dos Ventos Rio das Pedras Gandu Serra Bom Jardim Barro Preto Chico Gomes Pedrinhas e Sarafina) pertencentes aos municiacutepios de Itabaiana Areia Branca e Malhador (ICMBio 2016) (Figura 1)

Figura 1 - Parque Nacional Serra de Itabaiana localizado em Sergipe Brasil com mapeamento dos 21 povoados do entorno que constam em seu plano de manejo

Fonte Frederico Machado Teixeira 2018

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 119

O presente estudo foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica (CEP) da Universi-dade Federal de Sergipe (UFS) pelo parecer nordm 2771622 e Certificado de Apresentaccedilatildeo para a Apreciaccedilatildeo Eacutetica (CAAE) nordm 91972418100005546 e as informaccedilotildees obtidas foram condicionadas ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelo pesquisador autor deste estudo e pelos entrevistados conforme recomenda a Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012 (CNS 2012)

Para a realizaccedilatildeo desta pesquisa foi utilizada a metodologia baseada em Pesquisa Socioambiental para Padronizar Estudos sobre Atitudes em comuni-dades Adjacentes agrave Unidades de Conservaccedilatildeo de Proteccedilatildeo Integral especifica-mente Parque Nacional no Brasil que consiste em trecircs etapas 1) elaboraccedilatildeo de questionaacuterio para estudo das atitudes focado na pesquisa socioambiental para ser aplicado em comunidades localizadas no entorno de unidades de conser-vaccedilatildeo 2) desenvolvimento de um protocolo de aplicaccedilatildeo do questionaacuterio e 3) aplicaccedilatildeo do questionaacuterio nas comunidades do entorno da UC (BRAGAGNOLO et al 2016)

Foi utilizada a escala de Likert aplicada na aacuterea das pesquisas comporta-mentais (SILVA JUacuteNIOR COSTA 2014) que objetiva mensurar o grau e a inten-sidade de uma variaacutevel (fenocircmenoeventocomportamento) referentes a con-cordacircnciadiscordacircncia de afirmaccedilotildees (ARAUJO SOUZA OLIVEIRA 2009) No presente estudo a escala de Likert foi construiacuteda de acordo com afirmaccedilotildees relacionadas aos alvos de conservaccedilatildeo do PARNASI - recursos hiacutedricos aacutereas herbaacuteceo-arbustivas florestas flora lenhosa madeireira e ornamental e espeacute-cies caccediladas - aplicada com cinco niacuteveis de satisfaccedilatildeo (Discordo Totalmente Discordo Parcialmente Indiferente Concordo Parcialmente Concordo Total-mente) de acordo com Silva Juacutenior e Costa (2014) De acordo com Likert (1932) a escala foi baseada no caacutelculo da meacutedia das repostas de cada entrevistado a partir da combinaccedilatildeo de suas pontuaccedilotildees gerando um grau para as respostas obtido a partir da meacutedia da pontuaccedilatildeo (M) para cada afirmaccedilatildeo da escala A partir de entatildeo gerou-se resultados interpretados da seguinte maneira M lt 3 = Discordacircncia M 3 a 4 = Indiferente e M gt 4 = Concordacircncia

De maio a agosto de 2018 foram aplicados questionaacuterios a um total de 706 moradores residentes em 20 povoados (Caroba Cajueiro Ribeiras Boqueiratildeo Mangueira Cajaiacuteba Serra Comprida Mangabeira Canjinha Junco Satildeo Joseacute Areias Auto dos Ventos Rio das Pedras Gandu Serra Bom Jardim Barro Preto Chico Gomes e Pedrinhas) do entorno do Parque Nacional Serra de Itabaiana em Sergipe que nos forneceram o seguinte cenaacuterio analisado

120 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

2 CONHECIMENTO DOS MORADORES QUANTO AO PARQUE NA-CIONAL SERRA DE ITABAIANA E Agrave SUA GESTAtildeO

Nossos resultados indicaram que em relaccedilatildeo ao conhecimento dos morado-res sobre o PARNASI e sua gestatildeo 9023 (n=637) dos entrevistados jaacute ouviram falar sobre a UC No entanto mais da metade dos entrevistados 5411 (n=382) afirmaram nunca terem ido ao parque e dentre os que jaacute o visitaram apenas 283 (n=20) disseram tecirc-lo visitado nos uacuteltimos trecircs meses (Figura 2)

Figura 2 - Frequecircncia de visitas dos entrevistados ao Parque Nacional Serra de Itabaiana Sergipe (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

Souza Nascimento e Ennes (2015) identificaram que mais da metade dos entrevistados de quatro povoados (Rio das Pedras Bula Cinza Serra e Ribeira) do entorno do PARNASI natildeo souberam responder o que eacute um parque nacional e apenas um terccedilo responderam ter conhecimento sobre a existecircncia de algum parque na regiatildeo mas destacaram o Parque dos Falcotildees uma propriedade pri-vada localizada proacutexima aos limites do PARNASI

O Parque dos Falcotildees eacute bastante visitado por turistas nacionais estrangeiros e por escolas da regiatildeo pois eacute um importante centro de criaccedilatildeo multiplicaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das aves de rapina da Ameacuterica do Sul o que o torna atrativo para quem visita o estado de Sergipe (COSTA 2014) Aleacutem disso eacute divulgado em paacute-ginas de internet e em miacutedias locais e diante de sua importacircncia turiacutestica e sua proximidade com o PARNASI eacute provaacutevel que boa parte dos moradores locais natildeo saiba distingui-los reconhecendo ambos como um uacutenico parque

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 121

Do ponto de vista da importacircncia das unidades de conservaccedilatildeo eacute preo-cupante a falta de reconhecimento e clareza quanto ao papel do PARNASI enquanto espaccedilo puacuteblico protegido na regiatildeo e podemos inferir que a falta de participaccedilatildeo dos moradores do entorno no processo de gestatildeo da UC especialmente devido agrave inexistecircncia ateacute o momento do conselho gestor e da quase ausecircncia de moradores locais na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo do plano de manejo contribuam para que os moradores mostrem-se desinteressados pela UC

Eacute importante considerar que possa existir uma falta de clareza quanto aos limites do parque por parte dos moradores pois embora grande parte dos entrevistados tenham afirmado nunca terem visitado o parque eacute plausiacutevel que utilizem algumas de suas aacutereas sem no entanto terem conhecimento de que estejam dentro de seus limites devido agrave falta de sinalizaccedilatildeo situaccedilatildeo tambeacutem identificada por Ennes (2010) que indicou que a maioria dos moradores de po-voados faziam uso da Serra de Itabaiana natildeo soacute para lazer mas para caccedilar reti-rar lenha dentre outros mas natildeo sabiam identificar que tal aacuterea estava dentro dos limites da unidade de conservaccedilatildeo

Santos (2015) identificou a carecircncia de informaccedilotildees referentes agrave realidade socioambiental advinda da criaccedilatildeo da UC o desconhecimento sobre o signifi-cado de uma UC sua finalidade e aspectos legais por parte dos moradores do entorno do PARNASI reforccedilando a importacircncia de accedilotildees contiacutenuas de educa-ccedilatildeo ambiental Diante esse aspecto eacute vaacutelido destacar a Estrateacutegia Nacional de Comunicaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Ambiental (ENCEA) e fomentar seu fortalecimento no processo de gestatildeo do PARNASI visando assegurar a execuccedilatildeo de poliacuteticas puacute-blicas programas e atividades de Educaccedilatildeo Ambiental e Comunicaccedilatildeo voltados ao (re)conhecimento valorizaccedilatildeo criaccedilatildeo implementaccedilatildeo gestatildeo e defesa das UCs por todos e para todos (MMA 2009)

Com relaccedilatildeo ao baixo nuacutemero de moradores que afirmaram no presente estudo terem visitado o PARNASI nos uacuteltimos trecircs meses a explicaccedilatildeo a ser con-siderada seria os casos de furtos e violecircncia que vem ocorrendo no seu interior visto por ICMBio (2016) como um fator que estaacute desestimulando e diminuin-do gradativamente o nuacutemero de visitaccedilotildees haacute alguns anos pelo menos desde 2009 Tais crimes podem estar relacionados agraves questotildees socioeconocircmicas dos povoados do entorno do PARNASI inseridos em um cenaacuterio com falta de opor-tunidades de trabalho e renda sendo necessaacuterio o incentivo de parcerias e pro-jetos com o poder puacuteblico (prefeituras governo estadual escolas e universida-des) privado e do terceiro setor (associaccedilotildees organizaccedilatildeo natildeo governamental

122 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

e empresas de turismo) no sentido de criar alternativas de geraccedilatildeo de renda e cidadania (RODRIGUES REIS 2016)

Os moradores de povoados do entorno do PARNASI tecircm como principais motivaccedilotildees para visita-lo os banhos em cachoeiras riachos e poccedilos drsquoaacutegua (n=182) caminhadas (n=120) e passeio com a escola (n=56) as demais estatildeo descritas na Tabela 1 sendo que mais de uma motivaccedilatildeo foi mencionada por alguns dos entrevistados Tomar banho seguido de caminhar foram tambeacutem as principais motivaccedilotildees encontradas por Oliveira et al (2009) em estudo sobre o planejamento de trilhas para o uso puacuteblico no PARNASI como principais ativi-dades de recreaccedilatildeo de 500 visitantes entrevistados na UC

Tabela 1 Motivaccedilotildees para visitas ao Parque Nacional Serra de Itabaiana Sergipe mencionadas pelos entrevistados que jaacute o visitaram

Motivaccedilotildees de visita ao PARNASI Nuacutemero de vezes citadasTomar banho 182Caminhar 120Passeio da escola 56Subir a serra 14Passear 6Procissatildeo da igreja 5Lavar roupa 3Pegar planta para remeacutedio 3Pegar lenha 2Parque dos falcotildees 2Ver os animais 2Contemplar a natureza 2Apagar o fogo 1Pagar promessa 1Exercitar 1Andar de bicicleta 1Pregar a palavra de Deus 1Trabalhar na roccedila 1Comeacutercio 1Passar o dia 1Visitar 1Visitar parentes 1De passagem 1Consertar encanaccedilatildeo 1Trabalho voluntaacuterio 1Trabalho da Universidade 1Levar alunos 1

Fonte Dados da pesquisa

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 123

Quanto ao conhecimento dos entrevistados sobre o oacutergatildeo responsaacutevel pela gestatildeo do PARNASI 6303 (n=445) natildeo souberam informar qual oacutergatildeo administra a UC 2904 (n=205) disseram ser o IBAMA e apenas 496 (n=35) responderam ser o ICMBio (Figura 3) demonstrando mais uma vez a falta de conhecimento dos moradores quanto ao parque e a seu aspecto administrati-vo assim como a falta de interaccedilatildeo entre o parque e a populaccedilatildeo residente do seu entorno

Figura 3 - Conhecimento sobre o oacutergatildeo gestor do Parque Nacional Serra de Itabaiana Sergipe de acordo com os entrevistados (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

Santos (2015) aponta a necessidade de aproximar a gestatildeo do PARNASI com a populaccedilatildeo dos povoados do entorno e segundo Silva Cacircndido e Freire (2009) em estudo sobre conceitos percepccedilotildees e estrateacutegias para a conserva-ccedilatildeo de uma Estaccedilatildeo Ecoloacutegica na Caatinga eacute necessaacuterio que haja a interaccedilatildeo da gestatildeo da UC com os moradores do entorno promovendo confianccedila no trabalho realizado o que tambeacutem pode facilitar o desenvolvimento de estra-teacutegias de gestatildeo e a inclusatildeo dos moradores A mesma situaccedilatildeo foi encontrada por Pimentel (2008) no Parque Estatual da Serra da Tiririca no estado do Rio de Janeiro onde mais da metade da populaccedilatildeo residente no entorno afirmou desconhecer o oacutergatildeo responsaacutevel pela sua gestatildeo mas isso pode ser modifica-do a partir da viabilizaccedilatildeo de accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental criacutetica atraveacutes da sensibilizaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo social e divulgaccedilatildeo das caracteriacutesticas bioloacutegicas histoacutericas e sociais da unidade de conservaccedilatildeo

445

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Natildeo sabe IBAMA ICMBio ADEMA POLIacuteCIA

Nuacutem

ero

de e

ntre

vist

ados

Conhecimento sobre o oacutergatildeo gestor

124 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Conhecimento dos moradores do entorno do Parque Nacional Serra de Ita-baiana quanto aos Alvos de Conservaccedilatildeo estabelecidos pelo plano de manejo da unidade de conservaccedilatildeo

Foram investigados a partir do tema prioritaacuterio para a conservaccedilatildeo ldquouso e exploraccedilatildeo dos recursos naturaisrdquo os alvos de conservaccedilatildeo recursos hiacutedricos florestas flora lenhosa madeireira e ornamental e espeacutecies caccediladas de acordo com os conhecimentos dos moradores do entorno do PARNASI visualizados na figura 4

Figura 4 - Conhecimento quanto ao uso e exploraccedilatildeo dos alvos de conservaccedilatildeo que constam no plano de manejo do Parque Nacional Serra de itabaiana Sergipe (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

RECURSOS HIacuteDRICOS Quanto ao uso da aacutegua 5694 (n=402) dos entrevistados Concordaram

Totalmente que o uso da aacutegua sem controle estaacute ldquoacabandordquo com as aacuteguas da regiatildeo e 2408 (n=170) Discordaram Totalmente A meacutedia gerada pela pon-tuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 370 indicando grau de Indiferenccedila entre as res-postas Quanto agrave seca dos rios e nascentes 6742 (n=476) dos entrevistados Concordaram Totalmente que as nascentes e os rios da regiatildeo estatildeo secando e 1232 (n=87) Discordaram Totalmente A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 417 indicando grau de Concordacircncia entre as repostas

A indiferenccedila quanto ao uso da aacutegua de forma descontrolada estar acaban-do com as aacuteguas da regiatildeo demonstra que os moradores natildeo percebem ou natildeo

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402

Diminuiccedilatildeo dos animais

Caccedila

Coleta de plantas medicinais

Coleta de plantas ornamentais

Coleta de madeira

Desmatamento

Seca dos rios e nascentes

Usos da aacutegua sem controle

IndiferenteDiscordo Totalmente 1 2 3 4 5 Concordo Totalmente

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 125

souberam informar o estado de sustentabilidade das aacuteguas locais poreacutem em conversas informais percebeu-se a forte relaccedilatildeo que fazem com a agricultura atividade importante na regiatildeo mas que demanda alto volume hiacutedrico para se manter e que pode estar associado a praacuteticas negativas

Segundo Hauff (2004) eacute possiacutevel que o manejo negativo dos recursos hiacute-dricos voltado para as atividades agriacutecolas esteja associado agraves condiccedilotildees so-cioeconocircmicas que impedem os agricultores de desenvolverem suas ativida-des de forma mais sustentaacutevel especialmente quando natildeo haacute comunicaccedilatildeo clara quanto agraves informaccedilotildees necessaacuterias nem incentivo por conta dos oacutergatildeos ambientais para a conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo das aacuteguas Nesse sentido Cribb (2008) afirma que programas de conservaccedilatildeo que envolvam a populaccedilatildeo lo-cal a partir de seus interesses habilidades e tradiccedilotildees tecircm sido desenvolvidos dentro e no entorno de vaacuterias unidades de conservaccedilatildeo em muitas partes do mundo inclusive para o uso sustentaacutevel dos recursos hiacutedricos Tais estrateacutegias podem ser uma boa oportunidade para a gestatildeo do PARNASI desenvolver em parceria com os agricultores do seu entorno

O grau de concordacircncia quanto aos rios e as nascentes da regiatildeo estarem secando pode estar relacionado a uma percepccedilatildeo distorcida por parte dos mo-radores influenciada pelo regime de chuvas no veratildeo (periacuteodo de seca) e in-verno (periacuteodo de chuvas) quando principalmente as cachoeiras apresentam maior volume nas quedas drsquoaacutegua Por outro lado durante a pesquisa de campo percebeu-se o som de motores nos rios que puxavam aacutegua para a irrigaccedilatildeo essa atividade junto ao desmatamento para a agricultura e pastagens proacuteximo aos cursos drsquoaacutegua pode estar associada agrave menores iacutendices no volume dos rios da regiatildeo e para diagnosticar tais iacutendices eacute necessaacuterio estudos climatoloacutegicos sobre a quantidade de chuvas comparada a um certo intervalo de tempo a fim de avaliar a situaccedilatildeo dos rios da regiatildeo da UC e assim propor um plano de accedilatildeo e recuperaccedilatildeo para a UC

AacuteREAS HERBAacuteCEO-ARBUSTIVAS FLORESTAS FLORA LENHOSA MADEIREIRA E ORNAMENTAL

Quanto ao desmatamento 5935 (n=419) dos entrevistados afirmaram

serem Indiferentes ao desmatamento no PARNASI e 1445 (n=102) Discor-daram Totalmente A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 299 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas poreacutem muito proacutexi-mo a Indiferente

126 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Quanto agrave coleta de madeira para uso domeacutestico 4079 (n=288) dos en-trevistados Discordaram Totalmente que a retirada de madeira para uso do-meacutestico seja comum na regiatildeo e 2422 (n=171) Concordaram Parcialmente A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi 282 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas

Quanto agrave coleta de plantas ornamentais 6799 (n=480) dos entrevistados Discordaram Totalmente ser comum na regiatildeo moradores coletarem plantas para enfeitarem a casa eou para venderem A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 196 indicando grau de Discordacircncia entre as respos-tas Resultado inverso foi encontrado para a coleta de plantas medicinais onde 6034 (n=426) dos entrevistados Concordaram Totalmente ser comum a praacuteti-ca na regiatildeo A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 407 indi-cando grau de Concordacircncia entre as repostas

No presente estudo os entrevistados discordaram que o PARNASI esteja sendo desmatado mas estudo realizado por Sobral et al (2007) demonstrou que o parque sofria impactos negativos como desmatamento e queimadas relacionado com as praacuteticas agriacutecolas O desmatamento leva agrave perda da bio-diversidade dentre vaacuterios outros prejuiacutezos ao meio natural o que impede os fragmentos florestais de servirem como elementos chaves para a manutenccedilatildeo da biodiversidade principalmente em uma paisagem composta por atividades agriacutecolas impedindo tambeacutem a sustentabilidade dos serviccedilos ambientais e a melhoria na qualidade de vida dos moradores locais (VIANA PINHEIRO 1998)

Observou-se que o grau de discordacircncia quanto a retirada de madeira para uso domeacutestico foi contraditoacuterio ao resultado sobre os motivos de ida ao PARNASI onde pegar lenha foi mencionado como uma das motivaccedilotildees para ir ao parque Segundo Lima et al (2011) a cultura de usar lenha nas co-munidades localizadas no entorno do PARNASI natildeo mudou poreacutem estaacute mais difiacutecil encontrar lenha devido ao cercamento das terras ao desmatamento agrave fiscalizaccedilatildeo mas ainda assim uma parcela da populaccedilatildeo retira lenha sem nenhum controle

Para os moradores pegar lenha seca natildeo prejudica a natureza e seu uso aleacutem do dator cultural pode tambeacutem estar associado ao aumento no preccedilo do gaacutes de cozinha que custa atualmente em torno de R$ 8000 aproximadamente 85 do atual salaacuterio miacutenimo sendo que muitos dos moradores natildeo chegam a receber nem mesmo um salaacuterio miacutenimo restando a possibilidade do fogatildeo agrave lenha como descrito por Gomes e Maroti (2006) em estudo socioambiental nos povoados Cajueiro e Caroba ambos no entorno do PARNASI onde identifica-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 127

ram a forte relaccedilatildeo desses povoado com o uso da lenha para cozinhar devido ao aumento no preccedilo do gaacutes de cozinha

O grau de discordacircncia quanto a coleta de plantas ornamentais na regiatildeo diferiu do resultado obtido por Cunha (2007) em estudo sob enfoque juriacutedico do PARNASI que identificou a coleta de plantas ornamentais como um dos usos diretos dos recursos naturais pelos moradores do seu entorno o que indica que tal atividade pode ter diminuiacutedo poreacutem natildeo significa que natildeo ocorra de for-ma esporaacutedica como observado durante a realizaccedilatildeo da pesquisa de campo a exemplo de cactos cabeccedila de frade na porta de algumas residecircncias que se-gundo Santos e Meiado (2015) satildeo comuns no agreste sergipano A partir do resultado encontrado percebe-se que essa atividade natildeo aparenta ser preocu-pante no PARNASI poreacutem Santos e Meiado (2015) alertam que plantas como cactos nas comunidades rurais sergipanas satildeo alvos do comeacutercio internacional e necessitam de manejo adequado e fiscalizaccedilatildeo quanto a sua extraccedilatildeo para sua conservaccedilatildeo a meacutedio e longo prazo

Diferentemente do resultado encontrado para as plantas ornamentais ob-teve-se um grau de concordacircncia quanto ao uso de plantas medicinais nos po-voados estudados e durante a pesquisa de campo percebeu-se que ao se falar no uso dessas plantas os entrevistados as associavam com as plantas cultiva-das nos quitais das proacuteprias casas como cidreira boldo capim santo dentre outras utilizadas como fitoteraacutepicos

O uso de plantas medicinais por moradores do entorno de UCs tambeacutem foi encontrado por Botelli (2009) em estudo sobre o uso de plantas medicinais nas comunidades do entorno do PARNASI o qual demonstrou que os morado-res dos povoados Mundecircs e Bom Jardim utilizavam plantas medicinais para o cuidado da sauacutede e por Cunha et al (2007) em que mais de 80 de 57 mo-radores do entorno do Parque Municipal da Cachoeirinha do estado de Goi-aacutes coletavam plantas medicinais para usar no tratamento de enfermidades A utilizaccedilatildeo de plantas medicinais eacute um haacutebito tradicional utilizado atraveacutes dos saberes populares para tratar a sauacutede das pessoas principalmente nas comu-nidades rurais as quais possuem faacutecil acesso a esse tipo de plantas (BADKE et al 2011) Isso indica que mesmo com o avanccedilo dos medicamentos alopaacuteticos e da medicina tradicional os moradores do entorno do PARNASI natildeo perderam tal tradiccedilatildeo e seu uso em pequena escala natildeo haacute indiacutecios que prejudique a biodiversidade da UC

128 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

ESPEacuteCIES CACcedilADAS

Quanto agrave caccedila de animais silvestres 6048 (n=427) dos entrevistados Dis-cordaram Totalmente ser comum na regiatildeo tal praacutetica para comer vender eou criar animais A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 219 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas Quanto a diminuiccedilatildeo dos animais afirmaram Concordar Totalmente e Concordar Parcialmente 4405 (n=311) e 2918 (n=206) respectivamente que a caccedila jaacute foi bastante comum na regiatildeo mas atualmente quase natildeo eacute praticada porque os animais estatildeo de-saparecendo A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 394 indi-cando grau de Concordacircncia entre as respostas

Apesar dos entrevistados discordarem de que haja caccedila na regiatildeo natildeo signi-fica que tal atividade natildeo seja praticada na regiatildeo uma vez que eacute uma atividade cultural consolidada pelos habitantes do meio rural (VILELLA GUEDES 2017) Estudos como os de Menezes (2004) Santana (2002) Santana (2006) aponta-ram a caccedila de animais silvestres como um impacto que vem afligindo a regiatildeo do PARNASI desde antes sua criaccedilatildeo Somado agrave expansatildeo da agricultura e ao desmatamento eacute considerada um dos principais fatores que promovem a ex-tinccedilatildeo de espeacutecies no Brasil (ARAUJO et al 2010) Apesar dos entrevistados do presente estudo afirmarem natildeo ocorrer caccedila na regiatildeo foi visto durante a pes-quisa de campo na maioria das casas do povoado Areias gaiolas com passari-nhos aleacutem de um rapaz segurando uma gaiola caminhando em direccedilatildeo agrave serra comprida Esse resultado pode estar associado ao medo que os moradores tecircm da fiscalizaccedilatildeo do IBAMA pois eles sabem que eacute proibido caccedilar e que podem ter os animais apreendidos aleacutem de receberem multa Nascimento (2014) en-controu esse tipo de comportamento no povoado Ribeira atraveacutes de discursos motivados por medo de futuras puniccedilotildees pelo IBAMA em caso de descumpri-mento das leis de conservaccedilatildeo

Sobral et al (2007) tambeacutem identificou a caccedila como um impacto para o PAR-NASI poreacutem relatou que essa atividade vem diminuindo na regiatildeo O mesmo foi encontrado por Nascimento (2014) que identificou atraveacutes de relatos a ocor-recircncia da caccedila na regiatildeo do PARNASI sendo relatado tambeacutem natildeo ocorrer na mesma intensidade que antes da criaccedilatildeo da UC No entanto estudo sobre ras-treamento de caccediladores realizado por Sampaio Ruiz-Miranda e Ferrari (2015) no PARNASI e entrevistas com caccediladores mostrou que a caccedila continua sendo praticada na UC tendo sido registradas 82 evidecircncias de caccedila dentro de aacuterea de mata no inteior da UC O mesmo estudo revelou que as espeacutecies caccediladas

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 129

no parque satildeo paca (Agouti paca) cotia (Dasyprocta leporina) tatu (Dasypus no-vemcinctus D septemcinctus Tolypeutes tricinctus) tapiti (Sylvilagus brasiliensis) guaxinin (Procyon cancrivorus) veado (Mazama sp) e gato-do-mato (Leopardus tigrinus)

ATITUDES DOS MORADORES DO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA QUANTO A PROacutePRIA UC

As atitudes dos moradores quanto ao PARNASI foram avaliadas de acordo com os temas prioritaacuterios para a conservaccedilatildeo ldquoconservaccedilatildeo da biodiversidade das espeacutecies e dos serviccedilos ecossistecircmicosrdquo ldquogestatildeo do parque e relaccedilatildeo com os seus funcionaacuteriosrdquo ldquobenefiacutecios custo e ameaccedilasrdquo visualizados na figura 5

Figura 5 - Atitude dos moradores dos povoados do entorno do Parque Nacional Serra de Itabaiana quanto agrave proacutepria unidade de conservaccedilatildeo (n=706)

Fonte Dados da pesquisa

Quanto agrave importacircncia do Parque Nacional Serra de Itabaiana 8258 (n=583) dos entrevistados Concordaram Totalmente quanto a sua importacircncia para a proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos flora e fauna A meacutedia ge-rada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 469 indicando grau de Concor-dacircncia entre as respostas o que pode ter ocorrido pelo fato de que por se tratar de um parque mesmo sem saber exatamente sobre seu papel os entrevistdos acreditavam ser algo positivo havendo uma tendecircncia nas respostas afirmati-vas agrave sua importacircncia

Com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo na gestatildeo do PARNASI 8994 (n=635) dos entrevistados Discordaram Totalmente e 297 (n=21) Concordaram Totalmente ao responderem sobre terem sido convidados para participarem

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Benefiacutecios

Colaboraccedilatildeo

Participaccedilatildeo

Importacircncia

Indiferente Discordo Totalmente 1 2 3 4 5 Concordo Totalmente

130 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

de alguma reniatildeo do PARNASI A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 126 indicando grau de Discordacircncia entre as repostas

O resultado que demonstra que os entrevistados afirmaram natildeo serem con-vidados para participarem de alguma reniatildeo do PARNASI evidencia mais uma vez a falta de inserccedilatildeo dos moradores do entorno do parque no seu processo de gestatildeo A falta de participaccedilatildeo dos moradores do entorno do PARNASI na gestatildeo da UC eacute um prejuiacutezo para o proacuteprio parque pois deixa-se de conhecer as peculiaridades socioeconocircmicas dos povoados do seu entorno e consequen-temente esta dissociaccedilatildeo pode gerar conflitos e impedir o desenvolvimento eficaz da sua gestatildeo (FIGUEIREcircDO SOUZA 2013) Resultado semelhante foi en-contrado por Evans (2007) em estudo sobre participaccedilatildeo comunitaacuteria no Par-que Estadual da Serra do Mar localizado no estado Satildeo Paulo que demonstrou que 71 dos 361 moradores do seu entorno nunca participaram de reuniotildees para tratar de assuntos referentes ao parque

O ICMBio por meio da Lei nordm 11516 de 28 de agosto de 2007 vem ten-tando implantar a gestatildeo participativa nas UCs federais buscando aperfei-ccediloar o processo de planejamento estrateacutegico voltado para sua missatildeo de ldquoproteger o patrimocircnio natural atraveacutes do desenvolvimento socioambien-talrdquo Poreacutem percebe-se que na praacutetica isso natildeo estaacute ocorrendo e que se-gundo Chirikure et al (2010) estaacute relacionado com a dinacircmica da poliacutetica moderna neoliberal ou seja a falta de prioridade dos governos frente agraves questotildees socioambientais o que acaba impedindo o oacutergatildeo de firmar seu compromisso com o desenvolvimento sustentaacutevel dos recursos naturais das UCs federais junto ao processo de gestatildeo participativa das comunidades locais (SANTOS et al 2016)

A gestatildeo participativa no contexto das unidades de conservaccedilatildeo foi formali-zada desde a criaccedilatildeo do SNUC atraveacutes da exigecircncia da formaccedilatildeo de um conse-lho gestor por todas as UCs Poreacutem foi apenas a partir da publicaccedilatildeo do Plano Nacional de Aacutereas Protegidos (PNAP) (MMA 2006) que houve o norteamento das accedilotildees a serem desenvolvidas e o reconhecimento dos conselhos como es-paccedilo fundamental para o cumprimento dos objetivos das UCs tornando-os assim estrateacutegicos para o desenvolvendo de um planejamento e gestatildeo mais eficazes (LOUREIRO CUNHA 2008)

Diante esse aspecto o processo para envolver a populaccedilatildeo na gestatildeo das UCs federais do Brasil pode ser facilitado a partir do aumento do quadro de servidores do ICMBio do aumento do orccedilamento para o oacutergatildeo e da capacitaccedilatildeo dos seus analistas ambientais e gestores tornando-se de fundamental impor-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 131

tacircncia para o desenvolvimento de estrateacutegias e accedilotildees eficazes quanto ao estiacute-mulo da participaccedilatildeo social (QUADROS et al 2015)

A efetiva participaccedilatildeo dos moradores do entorno do PARNASI natildeo pode ser considerada como viaacutevel sem a implementaccedilatildeo do conselho consultivo do par-que Por ser um espaccedilo participativo na gestatildeo das UCs o conselho deve atuar de acordo com o princiacutepio estabelecido pelo PNAP que visa promover a partici-paccedilatildeo e inclusatildeo dos atores sociais na gestatildeo das aacutereas protegidas objetivando o desenvolvimento socioambiental das populaccedilotildees (MMA 2006)

Com relaccedilatildeo agrave colaboraccedilatildeo do moradores junto ao parque 4079 (n=288) dos entrevistados Discordaram Totalmente serem capazes de colaborar com o PARNASI poreacutem 2394 (n=169) Concordaram Parcialmente e 2380 (n=168) Concordaram Totalmente totalizando um nuacutemero maior dos entrevistados que concordaram A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 288 indi-cando grau de Discordacircncia entre as repostas

Em relaccedilatildeo ao resultado de grau de discordacircncia quanto agrave colaboraccedilatildeo dos moradores com o PARNASI percebe-se que haacute uma falta de motivaccedilatildeo e inte-resse das pessoas sobre as questotildees do parque que podem estar relacionados ao fato deles natildeo saberem sobre a UC e sua importacircncia demostrando terem outras prioridades e falta de tempo para colaborar Quando natildeo haacute gestatildeo par-ticipativa os cidadatildeos tornam-se descomprometidos menos ativos e sem uma visatildeo criacutetica sobre a realidade que os circundam (GOHN 2001)

Por outro lado Evans (2007) identificou que 70 dos entrevistados mos-traram interesse em participar da gestatildeo da UC para ficarem mais informados sobre o parque e assim colaborar com a sua conservaccedilatildeo De acordo com Pe-arce e Doh (2005) a abordagem colaborativa eacute a base para a uma gestatildeo mais eficaz assim como Nascimento (2013) em estudo sobre saberes ambientais de comunidades do entorno do PARNASI defende o aumento da participaccedilatildeo dessas comunidades na sua gestatildeo para assim contribuir na melhoria da sua funcionalidade

Quanto aos benefiacutecios do PARNASI 4589 (n=324) dos entrevistados Dis-cordaram Totalmente e 1841 (n=130) Concordaram Totalmente que o PAR-NASI atrai visitantes e movimenta a renda da populaccedilatildeo dos povoados A meacutedia gerada pela pontuaccedilatildeo dessa afirmaccedilatildeo foi de 255 indicando grau de Discor-dacircncia entre as repostas

A partir do grau de discordacircncia quanto aos benefiacutecios do PARNASI para o turismo verificou-se que segundo os moradores a presenccedila de visitantes na regiatildeo natildeo traz benefiacutecios ao desenvolvimento econocircmico local Em alguns po-

132 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

voados mais proacuteximos agrave serra de Itabaiana eacute possiacutevel encontrar turistas que vatildeo visitar o poccedilo das moccedilas as cachoeiras dos caldeirotildees o proacuteprio topo da serra e o parque dos falcotildees (ICMBio 2016) Nesses casos vatildeo apenas passar o dia turismo conhecido como ldquobate-voltardquo identificado por Silva (2008) no Parque Nacional dos Lenccediloacuteis maranhenses e que natildeo tem gerado benefiacutecios socioeco-nocircmicos para a regiatildeo

Percebeu-se uma certa imparcialidade dos moradores do entorno do PAR-NASI quanto ao turismo principalmente dos povoados mais distantes da Serra de Itabaiana identificada por eles como o local que pode atrair visitantes Esse fato pode estar associado agrave falta de sua inserccedilatildeo no planejamento da UC Foi verificado por Teixeira e Lanzer (2013) em estudo sobre o desenvolvimento das comunidades do entorno do Parque Nacional Lagoa do Peixe no estado do Rio Grande do Sul que a maioria da populaccedilatildeo entrevistada natildeo se sente inserida no processo de gestatildeo e natildeo consegue ver o parque como uma alternativa de renda vendo apenas o setor primaacuterio como agricultura e pecuaacuteria

Fiallo e Jacobson (1995) identificaram em estudo no Machalila National Park no Equador que os moradores do seu entorno natildeo consideram que o parque traz benefiacutecios econocircmicos para a regiatildeo diferente das pessoas que natildeo mo-ram na regiatildeo mas o visitam as quais acreditam que o parque pode oferecer oportunidades de emprego Silva e Maia (2011) tambeacutem identificaram o mes-mo resultado no Parque Nacional do Catimbau no sertatildeo do estado de Per-nambuco o que pode estar relacionado agrave pouca atenccedilatildeo que os moradores receberam ao longo da implantaccedilatildeo da UC e consequentemente de seus be-nefiacutecios para o turismo

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O presente estudo buscou investigar a representatividade socioambiental que o Parque Nacional Serra de Itabaiana apresenta perante os povoados do seu entorno Inicialmente atraveacutes do levantamento bibliograacutefico foi possiacutevel verificar sua importacircncia enquanto uacutenico espaccedilo protegido dessa categoria para o estado de Sergipe localizado em regiatildeo de belezas cecircnicas iacutempares abrangendo aacutereas de dois importantes Biomas brasileiros Mata Atlacircntica e Caatinga

Mesmo localizado proacuteximo a aacutereas urbanas seu entorno abrange povoados essencialmente rurais que ao longo das uacuteltimas deacutecadas vecircm obtendo melho-rias nas condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo poreacutem ainda faltam oportunidades de empregos formais e geraccedilatildeo de renda para a populaccedilatildeo A agricultura eacute a

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 133

principal atividade econocircmica dos povoados estudados e da maneira que vem sendo desenvolvida estaacute intimamente associada aos impactos ambientais que ameaccedilam os alvos de conservaccedilatildeo ou seja os recursos naturais destacados como prioridades de conservaccedilatildeo estabelecidos no seu plano de manejo

Eacute fato que houve avanccedilo da gestatildeo do PARNASI em ter publicado seu primeiro plano manejo o qual estabeleceu recursos prioritaacuterios para a conservaccedilatildeo po-reacutem verificou-se que desde seu processo histoacuterico de implementaccedilatildeo natildeo tem-se levado em consideraccedilatildeo a devida importacircncia dos aspectos socioculturais da re-giatildeo em que foi estabelecido e nem a inserccedilatildeo necessaacuteria da populaccedilatildeo no seu processo de gestatildeo A partir dos resultados encontrados sobre o conhecimento dos moradores conclui-se que o PARNASI natildeo apresenta representatividade so-cioambiental enquanto espaccedilo puacuteblico protegido e isto provavelmente estaacute rela-cionado a falta de informaccedilatildeo quanto a sua importacircncia para a regiatildeo

De acordo com a investigaccedilatildeo referente aos conhecimentos sobre os alvos de conservaccedilatildeo foi possiacutevel identificar que os problemas relacionados aos re-cursos hiacutedricos florestas e espeacutecies caccediladas estatildeo associados agrave agricultura e que eacute necessaacuterio incentivar o desenvolvimento de praacuteticas mais sustentaacuteveis que possam unir a geraccedilatildeo de renda advinda dessa atividade e a conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais Recomenda-se assim que novos estudos sejam realizados voltados para os impactos atuais da agricultura na regiatildeo que possibilitem atraveacutes de diretrizes estrateacutegicas formar parcerias incentivar e implantar praacuteticas mais sustentaacuteveis de produccedilatildeo agriacutecola como os sistemas agroflorestais

Visto que o PARNASI eacute a uacutenica UC dentro dessa categoria no estado de Ser-gipe cabe salientar que aleacutem do plano de manejo eacute de extrema urgecircncia e importacircncia a formaccedilatildeo do seu conselho consultivo para que nesse sentido possa integrar a populaccedilatildeo ao seu processo de gestatildeo promovendo uma rela-ccedilatildeo mais construtiva e positiva dos moradores contribuiacutedo assim para a con-servaccedilatildeo socioambiental da regiatildeo Eacute vaacutelido tambeacutem ressaltar a necessidade da elaboraccedilatildeo de um plano de uso puacuteblico que possa controlar e estimular as ati-vidades turiacutesticas no parque como tambeacutem possa proporcionar benefiacutecios aos moradores dos povoados incrementando a renda e melhorando a qualidade de vida promovendo neles o sentimento de pertencimento motivaccedilatildeo e en-volvimento com o parque e sua gestatildeo Outro plano importante para o parque seria o plano de Educaccedilatildeo Ambiental que pode viabilizar de forma sistemaacutetica accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental criacutetica que busquem sensibilizar e motivar a par-ticipaccedilatildeo social no processo de gestatildeo parque

134 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Os resultados do estudo tambeacutem apontam alguns desafios para o fortalecimen-to da relaccedilatildeo entre o PARNASI e os povoados do seu entorno que poderatildeo ser superados atraveacutes do fortalecimento do ICMBio enquanto oacutergatildeo gestor Tal forta-lecimento o permitiraacute atuar de acordo com a sua missatildeo de ldquoproteger o patrimocirc-nio natural e promover o desenvolvimento socioambientalrdquo atraveacutes da inserccedilatildeo da participaccedilatildeo da comunidade local no processo de tomada de decisatildeo relativo agrave conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais e proteccedilatildeo ambiental bem como o respeito aos seus valores sociais e culturais

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfei-ccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash Brasil (CAPES) ndash Coacutedigo de Financia-mento 001 por meio das bolsas de Mestrado e Poacutes-Doutorado PNPD (Processo n 888823173752019-01) Agradecemos tambeacutem ao Programa de Poacutes-Gradu-accedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)UFS pela oportuni-dade de realizaccedilatildeo da pesquisa ao Instituto Chico Mendes de Conservaccedilatildeo da Biodiversidade (CMBio) do Parque Nacional da Serra de Itabaiana)

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140 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

APLICACcedilAtildeO DO CICLO PDCA NO GERENCIAMENTO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS DE UMA FAacuteBRICA TEcircXTIL

Robeacuterio Satyro dos Santos JrAntocircnio de Oliveira NettoGlessia SilvaJailton de Jesus Costa

Para Vaacutelerio Silva e Cohen (2008) a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos motivada pelos padrotildees de consumo e o forte crescimento populacional tem criado sig-nificativa mudanccedila na composiccedilatildeo fiacutesica e quiacutemica dos resiacuteduos inerentes aos processos de produccedilatildeo Diante disto os impactos gerados pelos resiacuteduos soacuteli-dos industriais satildeo enormes afetando as trecircs principais fontes de vida para o homem (terra aacutegua e ar) Com a necessidade de atender o mercado consumi-dor que possui uma rotatividade enorme as induacutestrias geram uma quantida-de enorme de resiacuteduos soacutelidos que satildeo dispostos em locais como corpos de drsquoaacutegua atmosfera e solo

Nesse sentido cabe a fonte geradora dos resiacuteduos a criaccedilatildeo de um sistema de gerenciamento que atenda suas necessidades e permita o fluxo de entrada e saiacuteda dos resiacuteduos originados dos processos como dispotildee a Lei 123052010 que trata da Poliacutetica Nacional dos Resiacuteduos Soacutelidos (PNRS) com a finalidade de melhorar o processo de gerenciamento dos Resiacuteduos Soacutelidos Industriais (RSI) Esse estudo teve como objetivo a aplicaccedilatildeo da ferramenta PDCA (Plan Do Che-ck Act) na construccedilatildeo de ideias para os problemas encontrados no galpatildeo de triagem de uma induacutestria tecircxtil Como base metodoloacutegica a pesquisa se utili-zou de estudo de caso que permite a investigaccedilatildeo anaacutelise e coleta de dados que foram levantados por meio de visitas in locu anaacutelise de dados e entrevistas Na fase de observaccedilatildeo e anaacutelise das informaccedilotildees coletadas foi possiacutevel criar medidas para os problemas visualizados no processo de gerenciamento dos RSI dentro da central de triagem da induacutestria Nesse cenaacuterio foram utilizados autores e exemplos de outras empresas que aplicaram a ferramenta do ciclo PDCA com a finalidade de demonstrar a importacircncia do gerenciamento ade-quado dos RSI

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 141

1 RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS NO BRASIL

Segundo a NBR 100042004 os resiacuteduos soacutelidos podem ser caracterizados como industriais quando apresentam estado soacutelido e semi-soacutelido resultado das atividades do processo produtivo incluindo lodos e determinados liacutequidos cujas particularidades tornem inviaacutevel o seu lanccedilamento na rede puacuteblica de es-gotos ou corpos de drsquoaacutegua exigindo para tanto soluccedilotildees teacutecnicas e economi-camente viaacuteveis

Para o Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada ndash IPEA (2012) os resiacuteduos industriais satildeo aqueles gerados dos processos produtivos e instalaccedilotildees indus-triais podendo ser enquadrada tambeacutem uma grande quantidade de materiais caracterizados como perigosos que necessitam de um tratamento mais cuida-doso em decorrecircncia dos impactos ambientais que podem gerar se dispostos de forma inadequada no meio ambiente

Os resiacuteduos industriais tecircm sua origem em diversas atividades dos ramos da induacutestria como o setor metaluacutergico automobiliacutestico quiacutemico petroquiacutemico papelaria alimentiacutecio e tecircxtil O lixo proveniente de tais atividades se mostra bastante variado cinzas lodos oacuteleos resiacuteduos alcalinos aacutecidos plaacutesticos pa-peis madeira fibras borrachas metal escoacuterias vidro ceracircmicas e tecido Sendo necessaacuterio para alguns desses tipos de resiacuteduos um tratamento especial (COLE-FAR 2013)

Em esfera nacional a Confederaccedilatildeo Nacional das Induacutestrias (CNI) representa a instacircncia de maior importacircncia no setor industrial Como accedilotildees voltadas para o gerenciamento dos RSI destaca-se a rede de resiacuteduos e o Sistema Integrado de Bolsas de Resiacuteduos (SIBR) aleacutem de contar com a participaccedilatildeo de induacutestrias que compotildeem a rede que participam em forma de federaccedilotildees ou associaccedilotildees no acircmbito nacional (CNI 2011)

Eacute preciso ressaltar que os dados referentes a geraccedilatildeo tratamento e destino adequado satildeo bastante escassos no Brasil uma vez que muitas empresas natildeo cumprem a Resoluccedilatildeo do Conama nordm 3132012 que dispotildee sobre a criaccedilatildeo de Inventaacuterio Nacional para Resiacuteduos Soacutelidos Industriais observando que em vaacute-rios estados brasileiros a adoccedilatildeo eacute bastante recente ou ateacute mesmo natildeo existe (IPEA 2012)

Segundo dados do documento Emissotildees do Setor de Resiacuteduos ndash SEEG (2018) o Brasil produziu em 2016 uma quantia de 9197 milhotildees de toneladas

142 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

de CO2 proveniente dos resiacuteduos o que representa uma quantia de 4 das emissotildees nacionais

Com relaccedilatildeo a geraccedilatildeo de resiacuteduos industriais segundo dados do IPEA (2012) o Brasil produziu uma quantia de 3786391 toneladasanual de resiacutedu-os perigosos e 93869046 toneladas de resiacuteduos natildeo perigosos somando uma quantia total de 97655438 toneladasano de resiacuteduos industriais Se tratando do estado de Alagoas o documento natildeo mostra nenhum dado relacionado a geraccedilatildeo dos RSI

Na induacutestria tecircxtil especificamente os tipos de resiacuteduos produzidos em vir-tude dos processos de produccedilatildeo podem variar de acordo com o tipo de pro-duccedilatildeo que a induacutestria esteja voltada Podendo gerar resiacuteduos do processo de produccedilatildeo do tecido (estopas resiacuteduo faacutebrica trama) e os resiacuteduos de corte final e acabamento que satildeo trapo cru e beneficiado

Quando se trata do processo percorrido ateacute a geraccedilatildeo do resiacuteduo eacute impres-cindiacutevel seguir um fluxo loacutegico que vai desde o uso de mateacuteria-prima passan-do pela energia empregada para realizaccedilatildeo do processo e acabamento do pro-duto aleacutem incorporar matildeo-de-obra e tecnologia dentro de todo processo Na figura 01 eacute possiacutevel observar como ocorre o processo de entrada e saiacuteda dentro de uma induacutestria na geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

Figura 01 - Processo de geraccedilatildeo dos resiacuteduos soacutelidos na induacutestria

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

A figura 01 mostra como ocorre o processo de produccedilatildeo de bens com a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos apoacutes o produto acabado Sendo o primeiro passo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 143

a aquisiccedilatildeo de mateacuteria-prima para iniciar o processo utilizaccedilatildeo de energia para transformar a mateacuteria-prima em produto acabado podendo ser feito uso de algum tipo de tecnologia que torne o processo mais raacutepido e traga melhores resultados no produto final para tanto eacute necessaacuterio matildeo-de-obra qualificada para evitar desperdiacutecios no caminho no qual o produto atravessa obtendo como resultado final o produto em si e subprodutos que retornam ao processo por natildeo atender as caracteriacutesticas necessaacuterias aleacutem dos resiacuteduos que satildeo sepa-rados armazenados e dispostos de acordo com o grau de periculosidade

Neste panorama o resiacuteduo industrial eacute um dos maiores culpados pelas agressotildees ao meio ambiente Estando incluiacutedos produtos quiacutemicos (cianureto pesticidas e solventes) metais (mercuacuterio caacutedmio e chumbo) e solventes natu-rais que prejudicam os ciclos naturais onde satildeo despejados Acontecendo que os resiacuteduos que possuem caracteriacutesticas soacutelidas satildeo enterrados e os liacutequidos satildeo despejados em rios e mares causados diversos prejuiacutezos para fauna e flora local

2 IMPACTOS GERADOS PELOS RSI

Os impactos gerados pelos resiacuteduos industriais satildeo enormes no meio am-biente posto que muitos desses materiais apresentam caracteriacutesticas perigosas se descartados de maneira irregular no ambiente podendo causar a degrada-ccedilatildeo de rios lenccediloacuteis freaacuteticos poccedilos artesianos aleacutem de diminuir a qualidade do ar pela emissatildeo de poluentes e contaminaccedilatildeo do solo tornando o mesmo improdutivo

Na pesquisa desenvolvida por Santos et al (2017) eacute analisado os impactos gerados pela induacutestria do gesso na cidade de TrindadePE onde satildeo destaca-dos alguns problemas em decorrecircncia das atividades para fabricaccedilatildeo do gesso como a contaminaccedilatildeo da aacutegua solo poluiccedilatildeo do rio vias puacuteblicas morte de espeacutecies da cantiga poluiccedilatildeo do ar contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico deserti-ficaccedilatildeo gerando o ecircxodo rural e problemas de sauacutede para os trabalhadores e moradores proacuteximos Nesse contexto Savi Filho e Savi (2006) apontam que o setor industrial eacute um dos maiores responsaacuteveis pelos impactos ambientais ge-rados no meio ambiente observando que muitos dos processos acabam geran-do uma grande quantia de resiacuteduos que natildeo recebem o tratamento adequado

Nesse contexto o Brasil possui uma estrutura hieraacuterquica de oacutergatildeos am-bientais bem definida para evitar os impactos gerados pelos resiacuteduos soacutelidos Em niacutevel nacional desde 1985 o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambien-

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te) eacute o oacutergatildeo responsaacutevel pelas questotildees ambientais em todo o territoacuterio na-cional aleacutem de contar com o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) como oacutergatildeo consultivo e normativo e em niacutevel teacutecnico com o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais) (LOPES 2005)

Em relaccedilatildeo aos estados cada um possui um oacutergatildeo regulamentador que eacute responsaacutevel por observar as questotildees ambientais e dispor os regulamentos que satildeo instituiacutedos pelos oacutergatildeos superiores No caso do estado de Alagoas o oacutergatildeo encarregado de cuidar dessas questotildees eacute o IMA (Instituto do Meio Am-biente do Estado de Alagoas) criado em 1975 por meio da Lei Estadual ndeg 3543 (1975) sofrendo alteraccedilotildees com o decorrer do tempo De modo que ao longo do tempo o instituto busca a observacircncia das praacuteticas legislativas relacionadas ao meio ambiente e a educaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo da comunidade para cuidar e zelar dos recursos naturais do estado (INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE DO ES-TADO DE ALAGOAS 2015)

Aleacutem disto pode ocorrer de existir em niacutevel municipal oacutergatildeos que ficam res-ponsaacuteveis por dar cumprimento as legislaccedilotildees em niacutevel federal estadual aleacutem de exercer suas funccedilotildees de controle ambiental Isto pode ocorrer a depender do porte do municiacutepio sendo mais comum em cidades que apresentam um nuacutemero populacional maior (LOPES 2005)

Com a realidade constatada o gerenciamento dos RSI se torna uma impor-tante ferramenta de soluccedilatildeo para os impactos ambientais gerados pelos resiacute-duos industriais a partir da elaboraccedilatildeo de planos pelos geradores que possam atender a fonte geradora dos resiacuteduos sendo o objetivo principal estabelecer criteacuterios para o correto aproveitamento tratamento e disposiccedilatildeo final ambien-talmente correta

3 GERENCIAMENTO DOS RSI

Para Schalch (2002) o termo gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos estaacute direta-mente ligado agraves questotildees tecnoloacutegicas operacionais englobando tanto fatores administrativos gerenciais econocircmicos e ambientais e de desempenho levan-do em consideraccedilatildeo a produtividade e qualidade ligada agrave prevenccedilatildeo reduccedilatildeo segregaccedilatildeo reutilizaccedilatildeo acondicionamento coleta transporte tratamento re-cuperaccedilatildeo e destinaccedilatildeo final

Nos estudos de Silva et al (2017) o gerenciamento dos resiacuteduos indus-triais deve conter uma constante preocupaccedilatildeo com aspectos de responsabi-lidade social pautado na sustentabilidade com a finalidade de obter lucros a

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meacutedio e longo prazo Nesses termos a responsabilidade social pode ser vista como a apropriaccedilatildeo do problema pelos geradores dos resiacuteduos soacutelidos a fim de criar medidas de gerenciamento que possam acabar com futuros impactos ambientais

A questatildeo do gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos teve iniacutecio nos paiacuteses de-senvolvidos e vem ocorrendo nos paiacuteses em desenvolvimento de forma lenta em decorrecircncia da falta de investimentos na gestatildeo dos resiacuteduos soacutelidos (MO-RAIS et al 2015) Como mencionado anteriormente ainda existem poucos ins-trumentos e dados elaborados pelos estados brasileiros sobre os RSI gerados pelas induacutestrias o que torna o problema ainda mais seacuterio

Quanto agrave questatildeo do gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos industriais tor-nou-se um problema no contexto atual devido agrave quantidade e diversidade de resiacuteduos gerados o que torna o tratamento e a disposiccedilatildeo final mais difiacutecil de ser realizado Todavia o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos pode ocorrer de maneira ordenada e eficiente por meio da padronizaccedilatildeo e criaccedilatildeo de planos que atendam a criteacuterios preacute-estabelecidos para cada local de implantaccedilatildeo (BRAGA DIAS 2008) Jaacute na visatildeo de Lopes (2005) o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos industriais deve ocorrer em cinco etapas distintas comeccedilando pelo evi-tar minimizar reusar-reciclar-reaproveitar tratar e dispor No processo apresen-tado por Lopes a prioridade no gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos eacute natildeo gerar resiacuteduos soacutelidos atraveacutes de melhores formas de aproveitamento e produccedilatildeo

A figura 02 descreve segundo a visatildeo de Lopes (2005) a piracircmide de priorida-des no gerenciamento dos resiacuteduos industriais colocando como deve ocorrer o processo de gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos pela priorizaccedilatildeo de etapas

Figura 02 - Hierarquia para o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos industriais

Fonte Lopes 2005

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Iniciando a leitura da figura de cima para baixo o primeiro passo no geren-ciamento dos resiacuteduos industriais consiste em evitar a geraccedilatildeo do resiacuteduo o segundo eacute minimizar a sua geraccedilatildeo ou seja gerar apenas o que for necessaacuterio para o processo o terceiro passo e utilizar o meacutetodo dos 3Rs para diminuir o desperdiacutecio e evitar que mais resiacuteduos sejam gerados o quarto passo pretende fazer o tratamento dos resiacuteduos para no uacuteltimo passo realizar sua disposiccedilatildeo em local proacuteprio

Para Costa e Pugliesi (2018) a etapa de gerenciamento dos RSU soacute conse-guiraacute apresentar resultados efetivos com a elaboraccedilatildeo de um planejamento preacutevio de todas as etapas do gerenciamento Ainda no estudo desses autores eacute mostrado que diversas ferramentas satildeo empregadas em paiacuteses desenvolvidos na etapa de planejamento a exemplo do ciclo PDCA que refere-se ao planejar (Plan) fazer (Do) verificar (Check) e agir (Act)

4 CICLO PDCA

Todas as organizaccedilotildees que apresentam processos produtivos que geram resiacuteduos soacutelidos devem dispor de forma correta os resiacuteduos gerados No Brasil muitas induacutestrias enfrentam dificuldades em elaborar um Plano de Gerencia-mento para Resiacuteduos Soacutelidos Industriais ndash PGRSI por natildeo possuir os instrumen-tos necessaacuterios para sua elaboraccedilatildeo (tecnologias gestor ambiental) A par dis-so o ciclo PDCA se mostra uma ferramenta bastante oportuna para garantir o sucesso na elaboraccedilatildeo de um PGRSI (TARDIN 2012)

O ciclo PDCA funciona de maneira ciacuteclica sendo repetido inuacutemeras vezes para chegar ateacute o tipo de processo ou atividade ideal com os melhores resulta-dos e caso ocorra algum problema retorna-se para o processo anterior O ciclo eacute divido em quatro etapas a serem seguidas de forma sequencial Planejar (Plan) Fazer (Do) Verificar (Check) Agir (Act) como mostra a figura 03

O ciclo tem seu iniacutecio com a etapa de ldquoPlanrdquo que significa ldquoplanejarrdquo ou seja uma equipe escolhe um processo para ser melhorado ou algum problema exis-tente que necessite ser solucionado Em seguida eacute feito o desenho de todo o processo para ser estudado e buscar a medida mais cabiacutevel estabelecendo tambeacutem medidas e metas quantitativas e qualitativas a serem alcanccediladas Apoacutes a criaccedilatildeo de todos esses passos eacute criado um plano de accedilatildeo para quantificar e acompanhar como estaacute o desenvolvimento do plano (PEINADO GRAEML 2007)

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Figura 3 ndash Ciclo PDCA

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro dos Santos Jr 2019

Na fase ldquoDordquo ou ldquofazerrdquo o plano de accedilatildeo jaacute se encontra definido bem como as metas quantificaacuteveis a partir dos objetivos do plano Esta fase se caracteri-za mais pela accedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tudo que foi elaborado na etapa anterior (TARDIN 2012) Nela satildeo elencadas as responsabilidades autoridades e fun-ccedilotildees para cada atividade aleacutem dos recursos que seratildeo utilizados no decorrer do processo

Nessa fase ainda existe a preocupaccedilatildeo na busca por profissionais com for-maccedilatildeo e experiecircncia para designar as diversas funccedilotildees no caminhar do proces-so Caso ocorra agrave contrataccedilatildeo de pessoal sem nenhuma experiecircncia deve-se submeter estas pessoas a cursos e treinamento que gerem especializaccedilotildees

Na terceira etapa do ciclo PDCA ldquoCheckrdquo ou ldquoverificaccedilatildeomonitoramentordquo todos os processos que foram criados satildeo verificados e monitorados para ob-servar se estatildeo atingindo os objetivos para que foram planejados Isso ocorre por meio da mediccedilatildeo dos processos envolvidos observando se o plano de ob-jetivos e metas estaacute sendo alcanccedilado

Aleacutem disto eacute feita uma verificaccedilatildeo para ver se os requisitos estatildeo sendo atendidos pelo plano uma praacutetica utilizada para observar se todas as normas estatildeo sendo respeitadas para realizar o gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos podendo nesta fase ainda ocorrer auditorias internas para verificaccedilatildeo do fun-cionamento do plano (TARDIN 2012)

A uacuteltima etapa do ciclo PDCA eacute a de ldquoActrdquo ou ldquoagirrdquo por meio dos dados e informaccedilotildees obtidos na etapa anterior onde eacute possiacutevel buscar medidas mais

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cabiacuteveis para solucionar algum problema na elaboraccedilatildeo do PGRSI Para tanto satildeo feitas reuniotildees com os envolvidos no plano para levantar quais seratildeo os proacuteximos objetivos e metas do plano (PEINADO GRAEML 2007)

Por fim existem as conversas informais com os demais colaboradores da induacutestria que possuem uma visatildeo mais ampla dos aspectos operacionais po-dendo auxiliar no processo de resoluccedilatildeo dos problemas encontrados no geren-ciamento

5 APLICACcedilAtildeO DO PDCA

O ciclo PDCA pode ser aplicado em diversas aacutereas por se tratar de uma ferra-menta que consegue levantar todos os problemas e criar uma linha de soluccedilotildees Ele pode ser usado tanto como metodologia para melhorar a grade curricular dos cursos na soluccedilatildeo de anomalias no processo de operaccedilotildees portuaacuterias e como uma medida para solucionar o problema com a produccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos

No caso da utilizaccedilatildeo do PDCA na melhoria contiacutenua do estaacutegio curricular ele foi utilizado nos cursos de engenharia da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) como forma de aperfeiccediloar e tornar a etapa do estaacutegio uma arma crucial para o profissional que estaacute se formando

Desta forma o emprego do PDCA assegura que a universidade possa apren-der e atingir os resultados esperados aleacutem de realizar uma padronizaccedilatildeo atra-veacutes de um sistema de gerenciamento da qualidade documentado de modo que aquilo que for realizado de forma satisfatoacuteria possa ser utilizado para me-lhorar as operaccedilotildees

Para tanto coloca-se que as atividades devem ser planejadas sistematiza-das e feitas conscienciosamente para criar um clima que se desenvolva dentro da organizaccedilatildeo (PUREZA VALENTINA KUNDE EDEL 2002) Ao atender a esses pontos eacute possiacutevel criar uma grade curricular de estaacutegio que possa se enquadrar aos requisitos que a instituiccedilatildeo necessita sendo o principal objetivo do plane-jamento a criaccedilatildeo de uma grade que possa se desenvolver naturalmente e se encaixe nos criteacuterios exigidos

A figura 04 ilustra o PDCA e mostra como a metodologia foi aplicada na resoluccedilatildeo do problema na questatildeo da grade curricular do estaacutegio identificando cada etapa do PDCA e como cada etapa funciona na correccedilatildeo e soluccedilatildeo do problema

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Figura 04 ndash Ciclo PDCA aplicado na resoluccedilatildeo do problema

Fonte Pureza Valentina Kunde Edel 2002

Com o emprego do PDCA se desenvolve uma metodologia de anaacutelise e me-lhoria dos processos aplicados aos problemas encontrados no estaacutegio curricular da UDESC para isto eacute feita a divisatildeo em duas fases principais de anaacutelise e melho-ria dos processos Na fase de anaacutelise eacute feita a identificaccedilatildeo dos clientes internos e externos e na fase de melhoria do processo satildeo priorizadas as oportunidades de melhoramento criadas e selecionadas soluccedilotildees para sua implementaccedilatildeo Ainda na fase de melhoria eacute colocado em praacutetica o plano de accedilatildeo como objetivo de garantir a manutenccedilatildeo perioacutedica (PUREZA VALENTINA KUNDE EDEL 2002)

Outra aacuterea com aplicaccedilatildeo pode ser a logiacutestica atrelada ao PDCA Tendo em vista que um gerenciamento satisfatoacuterio da cadeia de suprimentos eacute essencial para garantir que o cliente receba no prazo determinado o produto solicitado Para tanto eacute necessaacuterio o planejamento implementaccedilatildeo e controle das ativida-des garantindo um fluxo eficiente de mateacuterias (VILACcedilA et al 2011) Neste caso o PDCA foi aplicado no setor de preacute-embarque de um porto privado

No estudo o PDCA funcionou como uma teacutecnica auxiliada pelas ferramen-tas da qualidade para propor soluccedilotildees de melhorias para os problemas de re-cebimento de mercadorias no preacute-embarque e embarque com objetivo de di-minuir a ocorrecircncia de carregamentos em natildeo conformidade aleacutem de baixar os custos logiacutesticos com retrabalho e aumentar a eficiecircncia do processo

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Na questatildeo da produccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos o mesmo eacute observado na pro-duccedilatildeo de coco verde que eacute responsaacutevel por gerar uma grande quantidade de resiacuteduos devido ao consumo No caso da Bahia em 2008 foram gerados cerca 6288 mil toneladas de frutos um consumo bastante significativo observando a quantidade de cascas de cocos que satildeo gerados Desta maneira o PDCA com o auxiacutelio das ferramentas da qualidade auxiliou no encadeamento dos processos para buscar medidas que solucionassem o problema de destino e reaproveita-mento das cascas geradas (FORNARI 2010)

O PDCA eacute uma ferramenta bastante difundida e utilizada por diversas aacutere-as para solucionar e direcionar os problemas dentro de induacutestrias e empresas Mesmo assim faz-se necessaacuterio que toda empresa possua um SGA (Sistema de Gestatildeo Ambiental) que em conjunto com o PDCA iraacute planejar um conjunto de atividades para que sejam desenvolvidas e aperfeiccediloadas a longo prazo garan-tindo que a empresa atinja os objetivos ambientais desejados (MARTINS MAR-TINS FERREIRA 2016) No desenvolvimento da pesquisa o PDCA foi aplicado no gerenciamento dos RSI de uma induacutestria tecircxtil

A empresa estava localizada no municiacutepio de Delmiro Gouveia no alto ser-tatildeo alagoano Em relaccedilatildeo a sua estrutura ela possui uma aacuterea total de 45606 43 m2 onde contou com 556 colaboradores trabalhando direta ou indireta-mente no processo de produccedilatildeo (PLANO DE GERENCIAMENTO PARA RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS 2015) Aleacutem do comeacutercio local a faacutebrica era a principal fonte econocircmica para muitos moradores que residem na cidade A figura 05 mostra a localizaccedilatildeo da empresa vista por sateacutelite

A faacutebrica teve seu iniacutecio em 1914 com a construccedilatildeo da Usina de Angiquinho para aproveitamento eleacutetrico gerado pela Cachoeira de Paulo Afonso aleacutem de abastecer a faacutebrica a usina abastecia o municiacutepio de Delmiro Gouveia Diante disto a empresa criou o primeiro polo tecircxtil do Nordeste brasileiro

Jaacute na deacutecada de 1990 a empresa passou a ser administrada pelo Grupo Car-los Lyra que encontrou a faacutebrica com sua produccedilatildeo quase que totalmente para-lisada No controle a nova administraccedilatildeo comeccedilou uma raacutepida recuperaccedilatildeo da empresa com aquisiccedilatildeo de novos maquinaacuterios e equipamentos modernos que possibilitou uma produccedilatildeo mais aacutegil e com uma qualidade maior Com a busca pela constante qualidade do produto a empresa possui a ISO 9001 uma norma internacional para empresas que possuem um sistema de gestatildeo da qualidade

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Figura 05 ndash Localizaccedilatildeo da empresa

Fonte Adaptado do Google Maps (2014)

Quanto agrave estrutura organizacional da empresa ela era diacutevida em trecircs gran-des aacutereas administrativa comercial e industrial Na aacuterea administrativa estatildeo os setores de Recursos Humanos (RH) Seguranccedila do Trabalho Seguranccedila Pa-trimonial Responsabilidade Ambiental Ambulatoacuterio e Serviccedilos Gerais A aacuterea comercial eacute responsaacutevel por receber os pedidos e realizar as compras de mateacute-rias-primas para produccedilatildeo e age diretamente com a aacuterea industrial repassando a quantidade de bens que devem ser produzidos E a industrial eacute onde ocorre todo o processo de produccedilatildeo

Neste contexto atualmente a faacutebrica se encontra com suas atividades en-cerradas cabe ressaltar que o estudo foi realizado enquanto a faacutebrica ainda realizava suas operaccedilotildees O principal ramo de atuaccedilatildeo da faacutebrica foi na ativida-de de fiaccedilatildeo e tecelagem com um portfoacutelio voltado para venda de artigos de cama mesa e banho Deste modo a pesquisa foi desenvolvida na aacuterea adminis-trativa dentro do setor de responsabilidade ambiental

Como mencionado a faacutebrica era diacutevida em trecircs aacutereas que juntas satildeo respon-saacuteveis por realizar o funcionamento da faacutebrica Na aacuterea administrativa e comer-cial satildeo gerados resiacuteduos comuns papel plaacutestico papelatildeo resiacuteduo hospitalar e cartuchos para impressora Jaacute o setor industrial eacute o maior responsaacutevel por gerar RSIrsquos Nesse sentido o setor de responsabilidade ambiental era o responsaacutevel por observar todo o processo de gerenciamento dos resiacuteduos soacutelidos produzi-

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dos dentro da empresa trabalhando de forma integrada com os demais setores para solucionar eventuais problemas A figura 06 descreve um organograma da aacuterea industrial com seus respectivos setores

Figura 06 ndash Setores da aacuterea industrial

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

Cada setor apresentado na figura 06 eacute responsaacutevel por gerar algum tipo de resiacuteduo relacionado ao processo de produccedilatildeo No setor de preparaccedilatildeo a fiaccedilatildeo eram gerados resiacuteduo faacutebrica estopa capa de fardo de algodatildeo aleacutem dos re-siacuteduos comuns papel papelatildeo e metal na tecelagem eacute gerada a trama estopa e os mesmos resiacuteduos comuns gerados no setor de fiaccedilatildeo o setor de revisatildeo de tecido cru era responsaacutevel por gerar trapo da revisatildeo do tecido o benefi-ciamento tinha como resiacuteduos gerados a estopa e o trapo da revisatildeo de tecido acabado e a confecccedilatildeo o trapo beneficiado Os setores de expediccedilatildeo e manu-tenccedilatildeo eram responsaacuteveis por gerar resiacuteduos comuns papel papelatildeo metal e oacuteleos usados A figura 07 mostra os tipos de resiacuteduos gerados e sua origem no processo de produccedilatildeo

Figura 07 ndash Tipo de Resiacuteduo e origem no processo de produccedilatildeo

Fonte Paulino 2015

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 153

O PGRSI da faacutebrica realiza uma identificaccedilatildeo e quantificaccedilatildeo de cada resiacuteduo que eacute gerado dentro da empresa Para tanto cada resiacuteduo gerado recebe um coacutedigo com a descriccedilatildeo do resiacuteduo forma de armazenamento se era gerado na aacuterea industrial quantidade e estado fiacutesico A tabela 01 mostra os tipos de resiacuteduos e as quantidades geradas dentro do processo de produccedilatildeo

Tabela 01 - Tipo e quantidade de resiacuteduo gerado dentro da empresaTipo de RSI Quantidade

Resiacuteduo de varriccedilatildeo 41197 tonano

Sucata de metais ferrosos 144 unid

Resiacuteduos de materiais tecircxteis 30611633 tonano

Papel e papelatildeo 7832000 kg

Plaacutesticos polimerizados de processo 828000 kg

Madeira (paletes) 223000 kg

Cinzas 72595 unidano

Capa de fardo 520760 kg

Lacircmpadas usadas 475 unid

Oacuteleo lubrificante usado 1200lt

Embalagem plaacutestica 1263 unidano

Pilhas e baterias usadas 60 quilos

Fonte Plano de Gerenciamento para Resiacuteduos Soacutelidos Industriais 2015

A partir da tabela 01 foi possiacutevel identificar os principais resiacuteduos soacutelidos gerados no processo de produccedilatildeo e criar medidas com a aplicaccedilatildeo do ciclo PDCA para melhorar aspectos referentes ao gerenciamento dos RSI Para tan-to a ferramenta foi aplicada em determinados pontos do processo de gestatildeo como coleta seletiva capacitaccedilatildeo dos colaboradores layout de processo e or-ganizaccedilatildeo do depoacutesito O quadro 1 demonstra as medidas que deveriam ser tomadas em cada fase de aplicaccedilatildeo do PDCA

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Quadro 01 ndash Aplicaccedilatildeo do Ciclo PDCA no gerenciamento dos RSI da induacutestria Tecircxtil

Aplicaccedilatildeo Planejar Fazer Checar Agir Coleta Se-letiva

Desenvolver reci-piente para os se-tores de produccedilatildeo para coleta dos RSI

Descrito o tipo de recipiente para cada tipo de mate-rial gerado

M o n i t o r a m e n -to dos recipiente onde seratildeo depo-sitados os resiacuteduos

Caso a coleta apre-sente alguma falha possuir medidas que possam solu-cionar

Capacita-ccedilatildeo dos colabora-dores

Planejamento das capacitaccedilotildees para os colaboradores

Realizaccedilatildeo das ca-pacitaccedilotildees prepa-radas no planeja-mento

Checar se apoacutes as capacitaccedilotildees os colabores melho-raram suas ativida-des

Caso os resultados natildeo sejam favoraacute-veis eacute preciso reali-zar visitas nos seto-res para que possa existir um feedback

Layout de processo

Identificaccedilatildeo do layout atual e criaccedilatildeo de medi-das para o futuro layout

Organizaccedilatildeo do layout do setor de triagem dos RSI

Observar se o novo layout atendeu as exigecircncias espera-das

Utilizar o feedback dos colaboradores que trabalham na central de triagem

Organiza-ccedilatildeo do de-poacutesito

Criaccedilatildeo de um cro-nograma de ativi-dades

I m p l e m e n t a ccedil atilde o das atividades

Monitorar os espa-ccedilo e ver como ocor-re a organizaccedilatildeo

Troca de informa-ccedilatildeo entre os seto-res

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro dos Santos Jr 2019

A luz disto o ciclo PDCA eacute uma ferramenta ciacuteclica sua aplicaccedilatildeo pode se repetir inuacutemeras vezes no caso de sua utilizaccedilatildeo nos pontos apresentados no quadro 01 em que sua aplicaccedilatildeo repetidas vezes tenderia a tornar o gerencia-mento dos RSI mais eficiente e eficaz Para ilustrar o que foi apresentado no quadro 01 as figuras 08 e 09 mostram o layout antigo e novo para triagem dos resiacuteduos induacutestrias do processo de produccedilatildeo

Eacute possiacutevel observar no layout sem nenhuma modificaccedilatildeo que o problema era o acuacutemulo de material e um ambiente sem nenhum fluxo de entrada e saiacuteda de materiais Na central de resiacuteduos existia um local para armazenar os resiacutedu-os secundaacuterios (papel plaacutestico papelatildeo metal pneu) mas eacute pouco utilizado devido grande parte dos resiacuteduos gerados serem do processo de produccedilatildeo e ocupar um espaccedilo maior

O acuacutemulo dos resiacuteduos pode ter duas origens tanto pela questatildeo da pro-duccedilatildeo contiacutenua como a prensagem que era realizada apenas por duas prensas estando agrave terceira prensa desativada por ser obsoleta ou pela falta de comer-cializaccedilatildeo do material gerado jaacute que alguns materiais natildeo possuem compra-dores em periacuteodos curtos Para Borges (2001) dentro de qualquer arranjo fiacutesico desenvolvido deve existir um fluxo de entrada e saiacuteda que permita o curso de todo processo de produccedilatildeo

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Figura 08 ndash Esboccedilo da atual situaccedilatildeo da central de resiacuteduos

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

Figura 09 ndash Esboccedilo novo da central de resiacuteduos

Organizaccedilatildeo Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr 2019

No novo layout da central foi feito uma mudanccedila interna e externa na estru-tura do local dentro do local primeiro houve a mudanccedila de lugar dos moacuteveis e retirada de uma prensa desativada sendo proposto tambeacutem a colocaccedilatildeo de outra balanccedila para questatildeo do fluxo de entrada e saiacuteda dos resiacuteduos Diante do que foi exposto com a aplicaccedilatildeo do PDCA eacute notoacuterio a preocupaccedilatildeo com os problemas ambientais causados pelas atividades do processo de produccedilatildeo

Nesse sentido o PDCA eacute uma ferramenta bastante empregada em diversas aacutereas pela simplicidade e facilidade em sua aplicaccedilatildeo em solucionar proble-

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mas tendo sua principal utilizaccedilatildeo a elaboraccedilatildeo de planos por meio de etapas que devem ser seguidas garantindo as organizaccedilotildees ganhos visiacuteveis tanto no processo produtivo como financeiro De forma abrangente a exigecircncia para aplicaccedilatildeo do PDCA depende do tamanho do projeto a ser criado contrataccedilatildeo de pessoal qualificado para criaccedilatildeo utilizaccedilatildeo de ferramentas e equipamentos aleacutem da liberaccedilatildeo de verba para o desenvolvimento do projeto

Com relaccedilatildeo ao que foi abordado pela pesquisa de campo para o desen-volvimento do trabalho pode-se verificar que a aplicaccedilatildeo do PDCA natildeo se restringe apenas a aacuterea das exatas podendo ser aplicada em outras aacutereas do conhecimento na construccedilatildeo e adequaccedilatildeo de planos possuindo um caraacuteter interdisciplinar Por ser uma teacutecnica relativamente nova e pouco divulgada o PDCA ainda possui uma aplicaccedilatildeo baixa em diversas aacutereas No caso das induacutes-trias que utilizam o ciclo PDCA como ferramenta podem observar aumento na sua eficiecircncia eficaacutecia e na gestatildeo correta das accedilotildees imposta o que resulta em benefiacutecios ambientais sociais e econocircmicos

AGRADECIMENTOS

A UFSPOSGRAPPROAP pelo aporte fiacutesico financeiro e logiacutestico O presente estudo foi realizado com o apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Supe-rior ndash Brasil (CAPES) ndash Coacutedigo de Financiamento 001

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ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 10004 ndash Classificaccedilatildeo de Resiacuteduos Soacutelidos Rio de Janeiro 2004

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INSTITUTO DE PESQUISA ECONIMICA APLICADA ndash IPEA Diagnostico dos Resiacuteduos Soacuteli-dos Industriais ndash Brasil Brasiacutelia 2012

LOPES Marta R T Gerenciamento de Resiacuteduos Soacutelidos Industriais Universidade Federal de Santa Maria Departamento de Quiacutemica Rio Grande do Sul 2005 Exatas amp Enge-nharias 2011

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MARTINS Gleison Hidalgo MARTINS Sonia Ferreira FERREIRA Renata Lincy Aplicabili-dade da metodologia de anaacutelise de soluccedilotildees de problemas MASP atraveacutes do ciclo PDCA no setor de embalagens estudo de caso nardquo induacutestria de embalagensrdquo no Brasil Journal of Lean Systems v 1 n 4 p 02-22 2016

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PEINADO J GRAEML A R Administraccedilatildeo da Produccedilatildeo (Operaccedilotildees Industriais e de Serviccedilos) Curitiba UnicenP 2007

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PUREZA J M VALENTINA L V O D KUNDE EDEL G Anaacutelise e Melhorias Aplicada ao Estaacutegio Curricular Centro de Ciecircncias Tecnoloacutegicas ndash FEJ Santa Catarina 2002

SANTOS A J ARAUacuteJO C R A SILVA A F L ALEXANDRE L A C ldquoImpactos causados pelos Resiacuteduos Soacutelidos do Gesso no Polo Gesseiro de Trindade-PErdquo ID ON LINE REVISTA MULTIDISCIPLINAR E DE PSICOLOGIA 1137 (2017) 143-159

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SCHALCH V Estrateacutegias para a Gestatildeo e o Gerenciamento de Resiacuteduos Soacutelidos 2002 149 f Tese (Livre-docecircncia) - Escola de Engenharia de Satildeo Carlos Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Carlos 2002

SEEG ndash Emissotildees do Setor de Resiacuteduos Documento de Anaacutelise Observatoacuterio do Clima 2018

SILVA L C S MARINHO D Y SILVA FILHO C M SILVA E C S ESPINOSA J W M Gestatildeo de Resiacuteduos Industriais Um estudo do aproveitamento de rejeitos na minera-ccedilatildeo IX SIMPROD Anais AracajuSE 2017

TARDIN Marcelo Aplicaccedilatildeo do Ciclo PDCA no Gerenciamento dos Resiacuteduos Soacutelidos Admi 2012

VALERIO D SILVA T C COHEN C (2008) Reduccedilatildeo da geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos uma abordagem econocircmica In Associaccedilatildeo Nacional dos Centros de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Eco-nomia Salvador Anais ANPEC Niteroacutei Disponiacutevel em httpwwwanpecorgbrencon-tro2008artigos200807211417570-pdf Acesso em 25 maio 2019

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NUANCES SOCIO-ESPACIAIS DO POVOADO ALOQUE EM ARACAJU-SE

Eduardo de Souza SantosEliene Oliveira da SilvaGleison Parente PereiraKeeze Montalvatildeo Fonseca da SilvaJailton de Jesus Costa

INTRODUCcedilAtildeO

Para se construir uma anaacutelise soacutecio-espacial de determinado lugar requer previamente a adoccedilatildeo de alguns conceitos-chave para visualizar o recorte es-pacial Nesse caso adotou-se o conceito de territoacuterio como se segue O povo-ado Aloque configura-se num Territoacuterio por ser um espaccedilo delineadoconfigu-rado por relaccedilotildees de poder onde tambeacutem prevalece a dimensatildeo simboacutelica de um grupo ao seu espaccedilo vivido assim sendo tambeacutem eacute considerado um bairro no sentido simboacutelico (como um espaccedilo percebido e vivido) mas no conteuacutedo interacional natildeo haacute um comeacutercio e no aspecto de serviccedilos o que haacute eacute um posto de sauacutede e uns templos religiosos

O desenvolvimento urbano das cidades ocasiona uma evoluccedilatildeo desordena-da e raacutepida dos centros urbanos provocando uma infraestrutura que sobrepotildee o meio ambiente (SANTOS 1993) e gera degradaccedilotildees ambientais que afetam a qualidade de vida da populaccedilatildeo provocando um elo desequilibrado entre comunidade e o meio ambiente

Os dados do IBGE (2017) confirmam que esse aumento populacional nos cen-tros urbanos diz que 81 desse contingente permanecem em espaccedilos urbanos Nesse contexto o crescimento populacional fez com que se utilize tanto o espa-ccedilo territorial quanto os recursos naturais para a sobrevivecircncia pois o homem se apropria dos recursos naturais utilizando sua mateacuteria-prima como fonte de ener-gia causando impactos no meio ambiente (PASQUALOTTO SENA 2017)

Para Santos (2013) antigamente o meio natural era aproveitado pelo ho-mem sem grandes transformaccedilotildees Mas a harmonia na utilizaccedilatildeo do meio na-tural comeccedilou a se modificar com o passar dos anos A partir daiacute comeccedilou-se

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a perceber nitidamente que a intervenccedilatildeo do homem no meio ambiente pode contribuir para a degradaccedilatildeo do meio natural anteriormente o ser humano convivia com o meio ambiente sem gerar significativas modificaccedilotildees

Inicialmente o meio natural generalizado era utilizado pela humanidade sem significativas transformaccedilotildees Nos dias atuais para a convivecircncia harmocircnica ne-cessitamos de mecanismos de controle o principal deles eacute a legislaccedilatildeo Aleacutem da legislaccedilatildeo necessita-se de efetividade na fiscalizaccedilatildeo da sua real aplicaccedilatildeo que devem manter correspondecircncia com a realidade vigente Aleacutem disso a conjuntu-ra atual requer a ampliaccedilatildeo do espaccedilo de debates sobre o respeito aos direitos da coletividade como eacute o do meio ambiente ecologicamente equilibrado

A harmonia socio-espacial na visatildeo de Santos (2013) assim formada era dessa forma respeitosa da natureza ofertada no processo de intervenccedilatildeo do homem e de criaccedilatildeo de uma nova natureza

O bairro da Jabotiana eacute um exemplo de crescimento populacional e de es-peculaccedilatildeo imobiliaacuteria neste cenaacuterio de crescimento urbano atual e inserido neste bairro encontra-se a localidade do Aloque que inerente a categoria geo-graacutefica em que se enquadre faz parte do mesmo ambiente mas demonstram nuances socio-espaciais intensas que se eacute perceptiacutevel ao simples aspecto da observaccedilatildeo

Neste contexto Costa (2010) salienta que a seleccedilatildeo do local para ser objeto de estudo envolve um conjunto de fatores ou seja o que determina a escolha por esse ou aquele territoacuterio no interior da cidade eacute uma complexidade de pro-cessos

O presente capiacutetulo objetivou analisar as nuances socio-espaciais do povo-ado Aloque enfocando sua relaccedilatildeo com o bairro Jabotiana tratando das dife-renccedilas socioeconocircmicas existentes as questotildees de infraestrutura urbana im-plantada e consequentemente apresentando os motivos dessa aacuterea acabar se tornando marginalizada dentro do bairro

Para um melhor entendimento do que aqui se propotildee os procedimentos aplicados neste estudo foram divididos em quatro etapas sendo que a primei-ra etapa consistiu em definir e delimitar o objeto de estudo ndash o povoado Aloque e suas relaccedilotildees interurbanas no bairro da Jabotiana a segunda etapa corres-pondeu a coleta de dados secundaacuterios (pesquisa bibliograacutefica cartograacutefica e imageacutetica) preliminares em bancos de dissertaccedilotildees e teses artigos e livros a partir das palavras-chave do estudo para confecccedilatildeo da fundamentaccedilatildeo teoacuterica e a buscas por dados populacionais que dimensione as diferenccedilas demograacute-ficas dentro do bairro a terceira etapa foi marcada por visitas de campo para

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aquisiccedilatildeo de dados primaacuterios e aplicaccedilatildeo de instrumentos como entrevistas e registros fotograacuteficos A quarta e uacuteltima etapa consistiu na sistematizaccedilatildeo dos dados coletados (interpretaccedilatildeo e tabulaccedilatildeo) sendo escrito um estudo de caso a fim de atingir o objetivo geral do estudo

1 FUNDAMENTACcedilAcircO TEOacuteRICA

Devido ao fato do objeto e aacuterea de estudo se tratar de uma localidade eacute im-portante efetivar algumas anaacutelises de conhecimento agraves categorias e conceitos estudados na ciecircncia geograacutefica por isso se faz necessaacuterio entender os concei-tos de Territoacuterio Bairro e Povoado para o desenvolvimento deste artigo e con-sequentemente se classificar a localidade do Aloque Outro ponto importante a ser entendido eacute que o Aloque se encontra dentro de um bairro que faz parte de um municiacutepio onde existem leis de ordenamento do solo e por isso se torna pertinente fazer uma anaacutelise da mesma entendendo assim qual tratamento eacute dado a esta localidade

TERRITOacuteRIO

O territoacuterio pode ser entendido como uma extensatildeo de terra um espaccedilo geograacutefico Para Souza (2015 p 78) ldquoum espaccedilo definido e delimitado por e a partir de relaccedilotildees de poderrdquo ou seja o exerciacutecio do poder mas para Costa (2010) o territoacuterio eacute antes de tudo um territoacuterio simboacutelico ou um espaccedilo de referecircncia para a constituiccedilatildeo de identidades Questotildees ligadas ao controle ordenamento e gestatildeo do espaccedilo tecircm sido cada vez mais fundamentais para instruir as discussotildees sobre a definiccedilatildeo de territoacuterio destacam-se trecircs vertentes a poliacutetica ndash o territoacuterio eacute visto como um espaccedilo delimitado e controlado por um determinado poder que natildeo estaacute exclusivamente relacionado ao poder poliacutetico do Estado a cultural ndash privilegia a dimensatildeo simboacutelica de um grupo ao seu es-paccedilo vivido a econocircmica ndash destaca a extensatildeo espacial das relaccedilotildees econocircmi-cas Para Guattari e Rolnik apud Costa (2010 p 121-122) territoacuterio eacute

[] eacute entendida num sentido muito amplo que ultrapassa o uso que

fazem dele a etologia e a etnologia Os seres existentes se organizam

segundo territoacuterios que os delimitam e os articulam aos outros exis-

tentes e aos fluxos coacutesmicos O territoacuterio pode ser relativo tanto a um

espaccedilo vivido quanto a um sistema percebido no seio da qual um

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sujeito se sente ldquoem casardquo O territoacuterio eacute sinocircnimo de apropriaccedilatildeo de

subjetivaccedilatildeo fechada sobre si mesma Ele eacute o conjunto de projetos

e representaccedilotildees nos quais vai desembocar pragmaticamente toda

uma seacuterie de comportamentos de investimentos nos tempos e nos

espaccedilos sociais culturais esteacuteticos cognitivos (GUATTARI ROLNIK

1986 p 323)

Percebe-se que territoacuterio tem vaacuterios vieses e interpretaccedilotildees que perpassam pela dimensatildeo espacial geograacutefica poliacutetica econocircmica e cultural

BAIRRO

Quando se fala de escala intraurbana aquela organizada na parte interna da cidade trata-se da escala dos bairros O bairro possui o conceito de espaccedilo vivido e de identidade soacutecio-espacial (SOUZA 2015)

Para Souza (2015) de um ponto de vista neopositivista ldquobairrosrdquo nada mais seriam que subespaccedilos distinguidos segundo criteacuterios convenientes para ele bairro corresponderia a algo como

Um ldquobairro homogecircneordquo definido em funccedilatildeo de uma relativa homo-

geneidade morfoloacutegica-paisagiacutestica de renda de composiccedilatildeo eacutetnica

e etc (ou uma combinaccedilatildeo de tudo isso) um ldquobairro funcionalrdquo iden-

tificado com base nas centralidades intraurbanas e finalmente um

ldquobairro-programardquo um espaccedilo de intervenccedilatildeo recortado de acordo

com a necessidades do planejamento e da gestatildeo estatais (SOUZA

2015 p 151)

O tema bairro era distinguido por trecircs tipos de conteuacutedos que Souza (2015) definiu como conteuacutedo composicional (caracteriacutesticas objetivas quanto agrave com-posiccedilatildeo de classe) conteuacutedo interacional (tem a ver com as relaccedilotildees estabele-cidas entre os indiviacuteduos e os grupos se haacute uma centralidade estabelecendo um determinado espaccedilo de convivecircncia existecircncia de comeacutercio e serviccedilos) e conteuacutedo simboacutelico (como um espaccedilo percebido e vivido)

Conforme o autor os bairros deixaram de ter sua proacutepria centralidade (pe-queno subcentro de comeacutercio e serviccedilos do proacuteprio bairro) para os subcentros maiores substituiacutedos por shopping centers Comeccedilaram a surgir tambeacutem assim dentro dos bairros os ldquocondomiacutenios exclusivosrdquo e ldquocomplexos autossegregadosrdquo

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Perdendo as caracteriacutesticas do velho bairro tradicional as relaccedilotildees entre vizi-nhos cada vez menores ou ateacute inexistentes (SOUZA 2015)

As imagens e limites dos bairros podem ser condicionadas por interven-ccedilotildees do Estado e pelo capital imobiliaacuterio que pode ter interesse de valorizar certos bairros criar e recriar imagens e identidades Mas os proacuteprios moradores podem atuar como agentes de alteraccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo dos limites espaciais do bairro (SOUZA 2015)

Os bairros massificados nas cidades contemporacircneas natildeo satildeo referenciais de grupos primaacuterios (membros que estabelecem relaccedilotildees iacutentimas entre si por exemplo famiacutelia) e sim desses fenocircmenos sociais que dizem respeito a inte-raccedilotildees entre grupos secundaacuterios identificados como segregaccedilatildeo residencial (SOUZA 2015)

POVOADO

Povoado eacute uma categoria geograacutefica que eacute descrita principalmente para lo-calidades em aacutereas rurais e eacute classificado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) como

Localidade que tem a caracteriacutestica definidora de Aglomerado Ru-

ral Isolado e possui pelo menos 1 (um) estabelecimento comercial

de bens de consumo frequente e 2 (dois) dos seguintes serviccedilos ou

equipamentos 1 (um) estabelecimento de ensino de 1ordm grau em

funcionamento regular 1 (um) posto de sauacutede com atendimento re-

gular e 1 (um) templo religioso de qualquer credo Corresponde a

um aglomerado sem caraacuteter privado ou empresarial ou que natildeo estaacute

vinculado a um uacutenico proprietaacuterio do solo cujos moradores exercem

atividades econocircmicas quer primaacuterias terciaacuterias ou mesmo secun-

daacuterias na proacutepria localidade ou fora dela

2 PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO URBANO (PDDU) DE ARACAJU

Fazendo uma investigaccedilatildeo morfoloacutegica o bairro Jabotiana se conservou nivelado e horizontal ateacute o iniacutecio do ano 2000 Com a inserccedilatildeo dos programas habitacionais e com novas obras imobiliaacuterias o bairro rescindiu a sua horizonta-lidade e passou a receber empreendimentos verticais (ARACAJU 2000)

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A compreensatildeo morfoloacutegica do bairro Jabotiana eacute estimulada por obras es-peciacuteficas e pontuais que foram sendo inseridas gradativamente e muitas vezes sem relaccedilatildeo entre si e com a disposiccedilatildeo de um espaccedilo urbano programado A estrutura urbana estaacute diretamente relacionada com o desenho viaacuterio a forma-ccedilatildeo dos quarteirotildees e as tipologias arquitetocircnicas utilizadas Neste sentido os processos das tipologias arquitetocircnicas usadas tornam-se essenciais para uma melhor visatildeo e esclarecimento da cidade (ARACAJU 2000)

Nesta visatildeo o espaccedilo urbano passa a ser consequecircncia da forma arqui-tetocircnica suas relaccedilotildees com a cidade e acima de tudo os efeitos e impactos soacutecio-espaciais que esta forma de ocupaccedilatildeo e uso pode gerar (ARACAJU 2000)

De acordo com o macrozoneamento do Plano Diretor vigente de Aracaju (2000) o Jabotiana estaacute situado na Zona de Adensamento Baacutesico (ZAB) Segun-do o PDDU (2000) de Aracaju ldquoConsidera-se Zona de Adensamento Baacutesico as que apresentam potencial de urbanizaccedilatildeo poreacutem com lsquodeacuteficitrsquo de infraestrutu-ra sistema viaacuterio transporte comeacutercio e serviccedilosrdquo (ARACAJU 2000 p 44)

A partir de 2000 comeccedila no bairro Jabotiana um movimento de reorganiza-ccedilatildeo urbana articulados pelos programas habitacionais As obras habitacionais foram direcionadas para a inserccedilatildeo de habitaccedilatildeo popular na maior parte basea-dos pelo PAR (Programa de Arrendamento Residencial) e pelo PMCMV (Progra-ma Minha Casa Minha Vida) (ARACAJU 2000)

Pelo acelerado desenvolvimento e ocupaccedilatildeo do solo sem uma devida pro-gramaccedilatildeo o bairro Jabotiana exibe problemas relacionados a pouca permea-bilidade urbana o que provoca inundaccedilotildees em periacuteodos de chuva com de-ficiecircncia de transitabilidade relacionada agrave conectividade com a cidade aleacutem de impactos ambientais ocasionados por dejetos de esgotos lanccedilados no rio Poxim Exibe tambeacutem uma seacuterie de problemas em seu sistema viaacuterio sem uma elaboraccedilatildeo preacutevia de implantaccedilatildeo relacionando os niacuteveis necessaacuterios para um adequado desempenho do sistema (ARACAJU 2000) Segundo o inciso XV do artigo 54 do PDDU In verbis

Art 54 - Constituem diretrizes gerais relativas aos serviccedilos de infra-

estrutura

XV - estabelecer ao niacutevel de uso e ocupaccedilatildeo do solo taxas de imper-

meabilizaccedilatildeo maacuteximas permitidas que possibilitem uma infiltraccedilatildeo

adequada das aacuteguas pluviais e facilitem a drenagem e o escoamento

(ARACAJU 2000)

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Na deacutecada dos anos 1980 do seacuteculo passado foram construiacutedos no bair-ro Jabotiana os conjuntos habitacionais Juscelino Kubitschek Sol Nascente e Santa Luacutecia poreacutem o Plano Diretor de Aracaju natildeo faz menccedilatildeo ao Povoado Aloque como pertencente a nenhum bairro da cidade de Aracaju

Figura 01 - Mapa de localizaccedilatildeo dos bairros de Aracaju em destaque o bairro da Jabotiana onde estaacute localizado o Povoado do Aloque

Fonte SEPLAN 2013 Elaboraccedilatildeo da consultoria

3 ESTUDO DE CASO

Localizado na regiatildeo Noroeste da cidade de Aracaju e na parte Sul dentro do bairro da Jabotiana o Aloque tem seus limites territoriais com a cidade de Satildeo Cristoacutevatildeo que faz parte da regiatildeo denomina de Grande Aracaju (Figura 01) De acordo com informaccedilotildees de moradores a aacuterea onde atualmente estaacute localizado o Povoado do Aloque como eacute chamado por eles (a partir daqui seraacute retratado como eacute reconhecido por quem ali habita) comeccedilou a ser ocupado ainda no iniacute-cio do seacuteculo passado surgindo bem antes do que todas as outras aacutereas dentro do bairro da Jabotiana Conforme citaccedilatildeo de um morador ldquoO Aloque tem 130 anos o morador mais velho daqui chegou a mais de 60 anosrdquo

Apesar do Aloque possuir todas as caracteriacutesticas citadas pelo IBGE de um Povoado e onde os seus moradores adotam os modos de vida mais simples com caracteriacutesticas que nos remetem a entender que ali se configura como uma aacuterea rural a exemplo do uso de carroccedilas a criaccedilatildeo de animais como gali-

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nhas e porcos nos quintais e o uso dos espaccedilos naturais para o lazer e ativida-de econocircmica poreacutem a autonomia para classificar cada localidade eacute do poder puacuteblico municipal e como jaacute foi citado no estudo sobre o PDDU a prefeitura Municipal de Aracaju classifica toda sua extensatildeo territorial como aacuterea urbana

De acordo com dados do uacuteltimo censo demograacutefico do IBGE (2010) o po-voado Aloque tinha uma populaccedilatildeo de 804 residentes o que representava me-nos de 1 da populaccedilatildeo do bairro Jabotiana que no mesmo periacuteodo somava 17157 habitantes (Figura 02) A faixa etaacuteria que concentra a maior populaccedilatildeo no povoado tanto do sexo feminino quanto do sexo masculino estaacute entre 10 e 14 anos sendo 45 e 55 habitantes respectivamente jaacute no bairro Jabotiana eacute a faixa etaacuteria dominante estaacute entre 25 a 29 anos sendo 1046 residentes do sexo masculino e 1296 habitantes que se declaram do sexo feminino

Figura 02 ndash Populaccedilatildeo residente do Povoado Aloque

E eacute a partir do tipo das unidades residenciais que se percebe a disparidade de ocupaccedilatildeo entre o povoado Aloque e os outros setores do bairro Jabotia-na No povoado Aloque estatildeo implantadas 220 unidades residenciais (Tabela 01) sendo que desse total 182 satildeo unidades horizontais ou seja casas e uma situaccedilatildeo que deve aqui ser descrita eacute que no iniacutecio da Rua Agapito Silva mais conhecida como Estrada do Aloque existe uma concentraccedilatildeo de unidades ver-ticalizada (preacutedios) segundo dados do IBGE em 2010 o nuacutemero era de 38 apar-tamentos outro ponto a ser citado eacute que em observaccedilatildeo de campo nota-se que houve uma crescente ocupaccedilatildeo urbana no local com a implantaccedilatildeo de diversas unidades verticalizadas mas que por questotildees de valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria mui-tas satildeo descrita como localizados no setor do Santa Luacutecia

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Tabela 01 ndash Tipos de Habitaccedilatildeo do Povoado Aloque e do Bairro Jabotiana (domiciacutelios ocupados)

Casa Apartamentos Casa de vila ou em condomiacutenio TotalPovoado Aloque 182 38 - 220Bairro Jabotiana 2518 2707 171 5396Total 2700 2745 171 5616

Fonte IBGE 2010 Organizaccedilatildeo os autores 2018

De um lado do bairro Jabotiana setores como o Sol Nascente e a Santa Luacute-cia expotildeem uma forma mais recente de ocupaccedilatildeo nos tecidos urbanos com condomiacutenios verticalizados (Figura 03) de classe meacutedia e alta protegidos por guaritas grandes muros e cercas eleacutetricas muitos com infraestrutura que per-mite seus moradores a realizar algumas atividades sem nem sair das depen-decircncias do seu proacuteprio lar mais de 50 das habitaccedilotildees ou seja 2787 possuem entre 2 e 3 habitantes Natildeo muito longe do centro do bairro a cerca de 15 km seguindo pela Estrada do Aloque o que se vecirc eacute algo totalmente diferente fo-ram observadas unidades residenciais pequenas (Figura 04) de famiacutelias classi-ficadas como baixa rendas onde muitas habitaccedilotildees possuem apenas um vatildeo outras um misto de espaccedilos construiacutedos com alvenaria e dependecircncias anexas feitas de taipa ou madeiras algumas nem condiccedilotildees de abrigar famiacutelias teriam mas eacute o uacutenico teto pra muitas delas No povoado Aloque exatos 50 ou seja 110 unidades habitacionais possuem entre 3 e 4 moradores

Figura 03 Condomiacutenio residencial no setor Santa Luacutecia

Figura ndash 04 Unidades residenciais no Povoado Aloque

Fonte Pesquisa de Campo 2018 Fonte Pesquisa de Campo 2018

No ano de 2013 foi realizado pelo poder municipal de Aracaju juntamente com dados do censo demograacutefico do IBGE (2010) o Diagnoacutestico da Cidade de Aracaju onde um dos pontos principais foi dimensionar as questotildees de ren-

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da familiar do municiacutepio Foram levados em consideraccedilatildeo a renda de todos os moradores que exercessem alguma atividade remunerada e natildeo soacute o do chefe (a) de cada famiacutelia com isso a anaacutelise se caracteriza com renda per capita por domiciacuteliofamiacutelia Os bairros foram distribuiacutedos em blocos sendo que os bairros do bloco 01 exemplo do Jardins Treze de Julho e Satildeo Joseacute foi onde apresentou a melhor situaccedilatildeo com rendimento meacutedio familiar de 10 e 22 salaacuterios miacutenimos jaacute o bairro da Jabotiana ficou classificado no bloco 2 com uma renda meacutedia domiciliar entre 5 e 75 salaacuterio miacutenimos No mesmo diagnostico soacute que de uma forma mais detalhada onde os bairros satildeo divididos por setores (Figura 05) a renda per capita mensal domiciliar das famiacutelias do Aloque estaacute entre frac12 e 1 salaacuterio miacutenimo No censo demograacutefico o IBGE (2010) outro dado tambeacutem eacute dis-ponibilizado onde indica que 67 famiacutelias do povoado tem renda meacutedia de 70 reais mensais Em atividade de campo foi identificado que muitas famiacutelias tem de renda fixa os benefiacutecios sociais em sua maioria o bolsa famiacutelia

Figura 05 - Situaccedilatildeo de renda por setor censitaacuterio

Aacuterea do povoado Aloque

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Em ambas as localidades alguns serviccedilos de infraestrutura urbana satildeo dis-ponibilizados de uma forma ampla mas natildeo significa que o serviccedilo eacute conside-rado satisfatoacuterio

Natildeo eacute que no bairro Jabotiana natildeo exista impactos em aacutereas urbanas mas a diferenccedila eacute que laacute satildeo realizadas accedilotildees e existem equipamentos que minimizam esses impactos a exemplo da rede coletora de efluentes aacutereas e coletores para descarte de resiacuteduos soacutelidos e vias pavimentadas e com limpeza regular Nada dessas accedilotildees e desses equipamentos que satildeo consideradas simples e primor-diais para aacutereas como essas satildeo vistas no Aloque o que segundo os moradores torna o sentimento de abandono mais acentuado ldquoO Aloque eacute esquecido pela prefeiturardquo

De acordo com informaccedilotildees obtidas em campo tanto no bairro Jabotiana quando no povoado Aloque o sistema de abastecimento de aacutegua eacute disponibi-lizado com regularidade com interrupccedilotildees soacute em momentos de manutenccedilatildeo da rede talvez esse seja o sistema de infraestrutura que eacute disponibilizado com maior regularidade de igualdade entre as localidades

Os resiacuteduos soacutelidos satildeo dispostos de maneira diferente para cada localidade e isso tem efeito direto com o tipo de ocupaccedilatildeo habitacional em outros setores da Jabotiana haacute uma quantidade consideraacutevel de condomiacutenios residenciais onde a maioria tem aacutereas internas que servem de depoacutesito de resiacuteduos que posteriormente satildeo recolhidos pela prefeitura No Aloque a coleta eacute realizada trecircs vezes por semana o grande problema eacute que natildeo se tem caixa coletora de resiacuteduos soacutelidos que ficam espalhados nas portas das residecircncias e com isso atraem animais como galinhas catildees e gatos que muitas vezes rasgam os sacos de lixo Outro agravante eacute que natildeo haacute a limpeza das vias e estes resiacuteduos vatildeo se acumulando dando ao local um aspecto visual desagradaacutevel Uma moradora cita ldquoO lixo aqui eacute recolhido trecircs vezes por semana o ruim eacute que fica espalhado nas ruas a mercecirc de animais e suja tudo aquirdquo

Moradores citam ainda que eacute frequente a circulaccedilatildeo de caccedilambas que vatildeo ateacute o Aloque pra despejar os seus resiacuteduos uma moradora afirma ldquoO Aloque recebe todo tipo de lixo da cidaderdquo e isso foi comprovado em observaccedilatildeo de cam-po satildeo resiacuteduos oriundos de diversas fontes (Figura 06) como da construccedilatildeo civil (entulhos madeiras e ferros) domeacutesticos (plaacutesticos papeis latas e lixo or-gacircnico) e comercial (papelatildeo e embalagens)

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Figura 06 - Resiacuteduos soacutelidos oriundos de diversas fontes

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Um dos problemas de infraestrutura mais evidentes e impactantes tanto para a populaccedilatildeo quanto ao meio ambiente no povoado Aloque estaacute relacio-nado ao esgotamento sanitaacuterio Apesar de todos os domiciacutelios segundo o IBGE (2010) terem banheiro nas suas residecircncias os mesmo natildeo estatildeo ligados a um sistema de esgotamento sanitaacuterio muitos ainda se utilizam de fossa seacuteptica ru-dimentar no fundo das casas outras lanccedilam seus efluentes diretamente nas ruas e muitas residecircncias que se encontram agraves margens do Rio Pitanga (Figura 07) despejam seus efluentes no corpo hiacutedrico sem nenhum tipo de tratamento

Figura 07 - Esgotamento sanitaacuterio inadequado onde os efluentes satildeo lanccedilados nas vias ou as mar-gens do Rio Pitanga como mostra a foto em destaque

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Outros problemas que natildeo estatildeo ligados diretamente com as questotildees de infraestrutura urbana (limpeza de vias coleta de resiacuteduos soacutelidos abastecimen-to de aacutegua e esgotamento sanitaacuterio) mas que foram bastante mencionados no estudo de campo no povoado Aloque eacute sobre o meio ambiente Os moradores citam um grande volume de queimadas que muitas vezes fogem do controle e causa incidentes (Figura 08) e que satildeo realizadas como accedilatildeo de ldquolimpezardquo onde

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 171

posteriormente seratildeo construiacutedas residecircncias ou a queima de resiacuteduos soacutelidos Outros moradores relataram a retirada da vegetaccedilatildeo e aterramento do Mangue (Figura 09) para a construccedilatildeo de vias e estradas e reclamam a falta de fiscaliza-ccedilatildeo ldquoEstatildeo construindo uma estrada retirando toda vegetaccedilatildeo e destruindo aqui o Mangue eacute certordquo

Figura 08 Parte do Mangue queimado devido agrave accedilatildeo de queima de lixo

Fonte Pesquisa de campo 2018

Figura 09 Aterramento do Mangue para a construccedilatildeo de uma estrada

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Saindo do acircmbito de infraestrutura urbana mais ainda que tange as ques-totildees de serviccedilos oferecidos sendo puacuteblicos ou natildeo eacute niacutetido a diferenccedila entre o povoado Aloque e outros setores do bairro Jabotiana Os moradores do Alo-

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que precisam se deslocar para outras localidades em busca de serviccedilos baacutesicos como instituiccedilotildees de ensino bancaacuterios e ateacute estabelecimentos comerciais jaacute que no local soacute foram observados dois de pequeno porte A uacutenica estrutura de serviccedilo puacuteblico existente no local eacute a Unidade de Sauacutede da Famiacutelia Irmatilde Carida-de (Figura 10)

Figura 10 Unidade de Sauacutede da Famiacutelia Irmatilde Caridade

Fonte Pesquisa de Campo 2018

Alguns moradores citam que o problema natildeo eacute se deslocar para outras regiotildees da cidade em busca destes serviccedilos o problema eacute que ateacute o serviccedilo transporte puacuteblico eacute deficitaacuterio e inviabiliza estes deslocamentos no povoado soacute existe uma linha de transporte puacuteblico (Figura 11) que demora cerca de 1h para passar e tem como destino o Terminal Dia Uma moradora afirma que esse transporte soacute passa ateacute as 20h pois o risco de assalto eacute eminente e que isso prejudica bastante a populaccedilatildeo onde alguns deixam de praticar algumas atividades e outros que necessitam chegar mais tarde tem um gasto adicional com o serviccedilo de transporte alternativo que eacute o moto-taxi ldquoOcircnibus aqui demora e para de passar aacutes 20h prejudicando quem tem que chegar mais tarde em casa e soacute tem uma linha que vai para o Terminal dia passou do horaacuterio tem que pegar moto-taacutexirdquo

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Figura 11 Ocircnibus que faz a uacutenica linha de transporte urbano para o Povoado Aloque

Fonte pesquisa de Campo 2018

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Eacute imprescindiacutevel que diante dos argumentos expostos todos se conscienti-zem de que haacute uma discrepacircncia dentro de um mesmo bairro com duas reali-dades bem diferentes Onde visualiza-se a falta de poliacuteticas puacuteblicas deixando uma parte da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de abandono e sem perspectiva de me-lhoria da qualidade de vida

Vale salientar a dificuldade para o desenvolvimento do estudo sendo o le-vantamento de dados a etapa mais difiacutecil do estudo A falta e a qualidade de determinados dados nas plataformas pesquisadas sobre a localidade do Alo-que foram os principais obstaacuteculos encontrados o que se frisa a necessidade de estudos mais completos sobre a localidade e dados mais precisos sobre essa porccedilatildeo do bairro Jabotiana que ateacute nesse sentido eacute esquecida pelos oacutergatildeos puacuteblicos

Levando-se em consideraccedilatildeo esses problemas de infraestrutura apre-sentados no estudo de caso como ruas sem calccedilamento e sem saneamento baacutesico entende-se que tem a diminuir a qualidade de vida dos moradores do Aloque que por natildeo terem uma infraestrutura adequada motivada pelo poder puacuteblico acabam causando impactos ao meio ambiente como despejo de es-goto no rio Pitanga e nos lenccediloacuteis freaacuteticos que passam pela regiatildeo O presente estudo abre caminhos para projetos de intervenccedilatildeo na localidade em vaacuterias aacutereas do saber na forma de sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo e dos governantes

174 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

REFEREcircNCIAS

ARACAJU Lei Complementar 42 de 2000 Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju 2000

COSTA R H da O mito da desterritorializaccedilatildeo do ldquofim dos territoacuteriosrdquo agrave multiterritoria-lidade ndash 5ordf ed ndash Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2010

FRANCcedilA V L A Diagnostico da Cidade de Aracaju Aracaju Prefeitura Municipal de Aracaju 2014

IBGE Censo Demograacutefico Disponiacutevel em lt httpscenso2010ibgegovbrpainelni-vel=stgt Acessado em 01 de Dezembro de 2018

PASQUALOTO N SENA M M Impactos Ambientais Urbanos no Brasil e os Caminhos para cidades sustentaacuteveis Artigo disponiacutevel em lthttpwwwrevistaeaorgartigophpidartigo=2861gt Acesso em 19 de nov 2018

SANTOS M A natureza e o espaccedilo 4 ed Satildeo Paulo EDUSP 2013

SANTOS M A urbanizaccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Hucitec 1993

SOUZA M L De Os conceitos Fundamentais da pesquisa soacutecio-espacial 2ordm ed ndash Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2015

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 175

A MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE

Ademilson de Jesus SilvaCassandra Mendonccedila de Oliveira Deniver Delma Souza OliveiraMilton Marques Fernandes

1 INTRODUCcedilAtildeO

A mineraccedilatildeo brasileira teve iniacutecio no periacuteodo colonial com a extraccedilatildeo de mineacuterios pela coroa portuguesa a qual fazia uso da matildeo de obra escrava para a garimpagem de ouro e pedras preciosas Como na eacutepoca natildeo existiam maacutequinas a extraccedilatildeo era feita de forma ruacutestica com ferramentas manuais no processo de remoccedilatildeo do solo e escavaccedilatildeo do subsolo (ANDRADE 1987 CVRD 1992) As minas eram a ceacuteu aberto sem grandes impactos ambientais pois ocorriam em pontos isolados nos estados de Minas Gerais e Satildeo Paulo vindo a se deslocar para o Nor-deste na extraccedilatildeo de rochas de calcaacuterio com a exploraccedilatildeo em plena atividade na regiatildeo ateacute os dias atuais para induacutestria de cimento (GERMANY 2002)

A extraccedilatildeo no Nordeste inicialmente foi com a garimpagem de pedras preciosas com escavaccedilotildees de forma rudimentar em pontos isolados sem vieacutes econocircmico para o Brasil A exploraccedilatildeo em escala comercial veio ocorrer soacute de-pois de 1934 com a criaccedilatildeo do Departamento Nacional da Produccedilatildeo Mineral (DNPM) responsaacutevel por fomentar a atividade na regiatildeo com foco nos mineacuterios pegmatitos e xilita tatildeo valorizados pelos americanos que utilizavam para ali-mentar a induacutestria beacutelica durante a segunda guerra mundial (1939-1945) (AN-DRADE 1987)

Entre todos os nove estados nordestinos que tiveram a extraccedilatildeo de mineacute-rio intensificado nas uacuteltimas deacutecadas o presente estudo eacute direcionado para a mineraccedilatildeo no estado de Sergipe que teve sua expansatildeo em maiores escalas comerciais em meados de 1963-1966 com a descoberta de novas jazidas de mineacuterios entre eles os sais de potaacutessio elevando o estado ao maior produtor desse mineacuterio em todo territoacuterio nacional com iniacutecio das exploraccedilotildees em gran-des proporccedilotildees no ano de 1991 permanecendo em plena atividade ateacute os dias atuais (ARAUJO 2017) O estado tambeacutem se destaca por possuir inuacutemeras ou-

176 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

tras riquezas minerarias aleacutem do potaacutessio distribuiacutedas por todo seu territoacuterio a exemplo do calcaacuterio e agregado (areia terra de barranco argila) ambos satildeo importantes para a induacutestria da construccedilatildeo civil do estado e do nordeste ali-mentando a economia com a geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos

Os postos de trabalhos gerados pela atividade mineraacuteria no estado contri-buem para a economia conforme as pessoas tecircm viacutenculo empregatiacutecio formal na extraccedilatildeo desses mineacuterios passam a ser assalariadas e economicamente ati-vas ou seja potenciais consumidoras de diversos produtos e assim fomentando outros setores do comeacutercio (bens e serviccedilos) no estado e dessa forma gerando outros postos de trabalhos (denominados trabalhos indiretos) impulsionando a economia do estado

Portanto o presente capiacutetulo tem como objetivo exploratoacuterio visando agrave to-mada de conhecimento sobre a mineraccedilatildeo no estado de Sergipe mediante a pergunta norteadora Qual a importacircncia da extraccedilatildeo de mineacuterios no estado de Sergipe e seus potencias impactos

Respondendo agrave pergunta objetiva colaborar para o entendimento da mine-raccedilatildeo no estado de Sergipe Eacute seguido de uma metodologia quanto ao proce-dimento da coleta bibliograacutefica realizada atraveacutes de consultas nos portais (web sites) vinculadas ao setor mineraacuterio de cunho nacional o Departamento Nacio-nal de Produccedilatildeo Mineral - DNPM a Agecircncia Nacional de Mineraccedilatildeo ndash ANA Em artigos cientiacuteficos extraiacutedos do httpswwwsciencedirectcom livros acessados na biblioteca da Universidade Federal de Sergipe e leis baixadas no portal do congresso nacional brasileiro

Ressalta-se que a atividade mineraacuteria eacute causadora de impactos ambientais portanto torna necessaacuteria a obrigatoriedade de uma seacuterie de procedimentos burocraacuteticos junto aos oacutergatildeos ambientais e DNPM que eacute a realizaccedilatildeo preacutevia do Estudo de Impacto Ambiental ndash EIA e do Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA para que possa ocorrer a liberaccedilatildeo da exploraccedilatildeo uma vez que ativi-dade de exploraccedilatildeo mineraccedilatildeo causa danos ambientes como a diminuiccedilatildeo da cobertura verde contaminaccedilatildeo do solo perda parcial ou total da fauna e flora reduccedilatildeo da qualidade dos recursos hiacutedricos por contaminaccedilatildeo das aacuteguas polui-ccedilatildeo do ar e danos agrave sauacutede humana (SANTOS J 2017)

Isso torna indispensaacutevel agrave recuperaccedilatildeo da aacuterea apoacutes o fechamento das ex-ploraccedilotildees pelas empresas para que os impactos causados in loco durante o processo de extraccedilatildeo dos mineacuterios natildeo se perpetuem em decorrecircncia da expo-siccedilatildeo do subsolo que facilita a lixiviaccedilatildeo de sedimentos para os corpos hiacutedricos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 177

A recuperaccedilatildeo pode devolver a cobertura vegetal integrando a aacuterea ao meio ambiente deixando acessiacutevel agrave fauna silvestre

2 OS MINEacuteRIOS EXPLORADOS NO ESTADO DE SERGIPE

O Estado de Sergipe estaacute localizado na regiatildeo Nordeste do Brasil com um territoacuterio de 21926908 kmsup2 eacute a menor unidade da federaccedilatildeo brasileira fazen-do limites com os seguintes estados Bahia (ao sul e a oeste) e Alagoas (ao norte cuja fronteira eacute demarcada pelo Rio Satildeo Francisco) e a leste o oceano Atlacircnti-co (FEITOSA 2006) De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE (2010) no uacuteltimo censo demograacutefico o estado possui 2068017 de ha-bitantes e uma estimativa para 2019 de 2298696 habitantes distribuiacutedos por 75 municiacutepios detentor de um iacutendice 0665de desenvolvimento humano (IDH) que o deixa na posiccedilatildeo 20deg comparado aos demais estados brasileiros

O estado possui inuacutemeras riquezas em minerais assim como os demais es-tados do Nordeste que satildeo detentores dos mais variados minerais ouro pe-dras preciosas substacircncias quiacutemicas (cobre sais de potaacutessio) agregados para construccedilatildeo civil com registro de extraccedilatildeo deste o periacuteodo Brasil colocircnia (AN-DRADE 1987) No acircmbito nacional Sergipe se destaca na produccedilatildeo de potaacutessio (Figura 01) o qual em conjunto com estado da Amazocircnia satildeo os detentores das maiores jazidas de potaacutessio em territoacuterio Brasileiro (CRUZ 2012 OLIVEIRA 2017 ARAUJO 2017)

Figura 01 Principais regiotildees do Brasil com depoacutesitos minerais

Fonte Santos R et al (2001)

178 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Como eacute possiacutevel perceber no mapa em territoacuterio nacional eacute no estado de Sergipe que se concentram as reservas em exploraccedilatildeo de sais de potaacutessio dife-rentemente da Amazocircnia pois natildeo foi identificada exploraccedilatildeo de suas reservas em escala comercial apoacutes o levantamento de dados realizados na Agecircncia Na-cional de Mineraccedilatildeo ndash ANM

Em Sergipe nas regiotildees de TaquariVassouras e Santa Rosa de Lima

as reservas oficiais de silvinita (KCl + NaCl) totalizam 4780 milhotildees de

toneladas com teor meacutedio de 97 de K2O equivalente Dessas 682

milhotildees de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo (teor de 1904 de K2O)

que correspondem a 129 milhotildees de toneladas de K2O equivalen-

te representaram em 2013 a reserva lavraacutevel em TaquariVassouras

(OLIVEIRA 2017 01 p)

A expressiva quantidade (682 milhotildees de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo) de potaacutessio (K2O) extraiacuteda no estado classifica-o como o maior produtor desse mineacuterio em territoacuterio nacional Com capacidade de expansatildeo na produccedilatildeo me-diante a exploraccedilatildeo de novas jazidas jaacute identificadas na regiatildeo pela Companhia do Vale do Rio ndash CVRD a qual eacute responsaacutevel pela exploraccedilatildeo desde 1991 perma-nece ateacute os dias atuais (CRUZ 2012)

A exploraccedilatildeo de potaacutessio no menor estado da Federaccedilatildeo Brasileira eleva o paiacutes em escala mundial como produtor desse mineral Poreacutem tambeacutem se destaca dos demais estados do Nordeste por em sua aacuterea geograacutefica (Figura 02) ser detentora de um importante polo mineraacuterio com a existecircncia de diversos mineacuterios (Quadro 01) em exploraccedilatildeo ou passiacuteveis de serem explorados (SANTOS et al 2001)

Quadro 01 Substacircncias minerais do estado de Sergipe

Classe SubstacircnciasMetaacutelicas Chumbo (Pb) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Manganecircs (Mn) Niacutequel (Ni) Ouro (Au) Pirita

(Pi) Titacircnio (Ti) Toacuterioterras raras (Th) Zinco (Zn) e Zicocircrnio (Zr)

Natildeo metaacutelicos

Aacutegua mineral (Agm) Amianto (Am) Areia (Ar) Argila (Ag) Enxofre (S) Filito (Fi) Fluacuteor (F) Foacutesforo (P) Gabro (Gb) Gnaisse (Gn) Granito (Gr) Metarenito (ma) Metas-siltito (ms) quartsito (Qt) quartzo (Qz) e Saibro (As)

Calcaacuterios Calcaacuterio (Ca) Calcaacuterio calciacutetico (Cc) Calcaacuterio dolomiacutetico (Cd) Dolomito (Ma) e Maacuter-more (Mm)

Energeacuteti-cos e sais soluacuteveis

Gaacutes (Gs) Petroacuteleo (Pe) e Turfa (Tf ) Sais de magneacutesio (Mg) Potaacutessio (K) e Soacutedio (Na)

Fonte Adaptado de Santos et al (2001 64 p)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 179

Figura 02 Mapa do estado de Sergipe e os mineacuterios

Fonte Santos et al (2001 64 p)

Sergipe eacute detentor de um arcabouccedilo mineraacuterio apresentado no Quadro 01 e demarcado a localizaccedilatildeo geograacutefica das jazidas (Figura 02) que estatildeo concen-tradas de forma significativa proacuteximo agrave capital Aracaju pontual pelo territoacuterio e ao longo da divisa com Alagoas Mineacuterios esses que uma vez explorados con-tribuem para a economia do estado e do Brasil

180 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

3 ASPECTOS ECONOcircMICOS DA MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE

O desenvolvimento do estado (IDH) sofre efeitos do setor mineraacuterio im-pulsionado pela instalaccedilatildeo do polo da Petrobraacutes em 1963 contribuindo para exportaccedilatildeo de petroacuteleo em acircmbito nacional e consequentemente para a eco-nomia aleacutem do desenvolvimento econocircmico do estado (FEITOSA 2006) De acordo com Cruz (2012) a produccedilatildeo de petroacuteleo gerou em Sergipe uma rique-za estimada em R$ 9230 milhotildees por ano e participa com 52 de tudo que eacute produzido (PIB) em 2009 com um crescimento expressivo em relaccedilatildeo a 2008 de 40 ocorrendo tambeacutem no mesmo ano o retorno da mina Taquari Vassouras que em 2009 alcanccedilou altos niacuteveis de produccedilatildeo impulsionando um crescimen-to de 60 na extraccedilatildeo de minerais e consequentemente contribuindo para o PIB do estado

A extraccedilatildeo de mineacuterios aleacutem de contribuir para o PIB do estado contribui para a economia dos municiacutepios mediante o repasse dos royalties conforme a Compensaccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo dos Recursos Minerais (CFEM1) in-dispensaacutevel para o desenvolvimento econocircmico do paiacutes estados e municiacutepios (ICMM 2013) Ressaltando que as cobranccedilas satildeo feitas em virtude das minera-doras estarem explorando terras da uniatildeo assegurado pela Constituiccedilatildeo Fede-ral de 1998 assim consta no Art 20 Satildeo bens da Uniatildeo

()

IX - os recursos minerais inclusive os do subsolo

sect 1ordm Eacute assegurada nos termos da lei aos Estados ao Distrito Fede-

ral e aos Municiacutepios bem como a oacutergatildeos da administraccedilatildeo direta da

Uniatildeo participaccedilatildeo no resultado da exploraccedilatildeo de petroacuteleo ou gaacutes

natural de recursos hiacutedricos para fins de geraccedilatildeo de energia eleacutetri-

ca e de outros recursos minerais no respectivo territoacuterio plataforma

continental mar territorial ou zona econocircmica exclusiva ou com-

pensaccedilatildeo financeira por essa exploraccedilatildeo

1 A CFEM conhecida tambeacutem como royalty da mineraccedilatildeo eacute um dos muitos encargos incidentes na cadeia mineral Esta contribuiccedilatildeo estabelecida pela Constituiccedilatildeo de 1988 em seu Art 20 sect 1o eacute de-vida aos Estados ao Distrito Federal aos Municiacutepios e aos oacutergatildeos da administraccedilatildeo da Uniatildeo como contraprestaccedilatildeo pela utilizaccedilatildeo econocircmica dos recursos minerais em seus respectivos territoacuterios Os recursos da CFEM satildeo distribuiacutedos da seguinte formabull 12 para a Uniatildeo (DNPM 98 IBAMA 02 MCTFNDCT 2)bull 23 para o Estado onde for extraiacuteda a substacircncia mineralbull 65 para o municiacutepio produtor (ANM 2003)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 181

Art 176 As jazidas em lavra ou natildeo e demais recursos minerais e

os potenciais de energia hidraacuteulica constituem propriedade distinta

do solo para efeito de exploraccedilatildeo ou aproveitamento e pertencem

agrave Uniatildeo garantida ao concessionaacuterio a propriedade do produto da

lavra (BRASIL 2012)

Desde o iniacutecio da lavra mineral em territoacuterio nacional conforme o determi-nado na constituiccedilatildeo a mineradora passa a fazer os repasses dos royalties de acordo a Lei 13540 (Brasil 2017) a qual determina que as mineradoras ensejem o recolhimento da Compensaccedilatildeo Financeira Pela Exploraccedilatildeo de Recursos Mine-rais ndash CFEM A aliacutequota referente aos valores a serem repassados pelas minera-doras (CEFEM) eacute calculada (Quadro 01) em cima da extraccedilatildeo mineral de cada tipo de mineacuterio extraiacutedo em territoacuterio Brasileiro

Tabela 01 As aliacutequotas da porcentagem a ser tributada em royalties para alguns mineacuterios

Lei 13540 de 2017

Substacircncia Aliacutequota

Rochas areias cascalhos saibros e demais substacircncias minerais quando desti-nadas ao uso imediato na construccedilatildeo civil rochas ornamentais aacuteguas minerais e termais

1

Ouro 15

Bauxita Manganecircs Nioacutebio Sal-gema 3

Diamante e demais substacircncias minerais incluindo Cobre 2

Ferro observadas as letras b e c do Anexo (na Lei em questatildeo) 35

Demonstra o porcentual tributado pelas mineradoras de acordo a comercializaccedilatildeo dos mineacuterios explorado no solo brasileiro Fonte Adaptado de httpswwwinescorgbrwp-contentuploads201905CFEM_v02pdfx31288

Essas porcentagens dos repasses especificados em cada mineacuterio satildeo calcu-ladas conforme a receita bruta de vendas realizada pela mineradora acompa-nhado e supervisionado pelo Ministeacuterio de Minas e Energia que executa todo o processo administrativo do CFEM e em seguida faz a distribuiccedilatildeo dos valores aos estados e municiacutepios na forma de royalties

Portanto quanto mais mineradoras em atividade existirem no estado e de-pendendo do tipo de mineacuterio extraiacutedo maior seraacute a arrecadaccedilatildeo No Brasil a partir de 12062018 ateacute 30042019 referente agraves competecircncias de 062018 a 032019 os valores arrecadados bateram a casa dos 154241510553 bilhotildees (ANM 2019)

Os valores arrecadados passam a ser distribuiacutedos conforme procedimentos reestabelecidos no CFEM especificado no decreto Nordm 94072018

182 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Art 2ordm O percentual de quinze por cento a tiacutetulo de Compensa-

ccedilatildeo Financeira pela Exploraccedilatildeo de Recursos Minerais ndash CFEM seraacute

distribuiacutedo para cada substacircncia mineral entre o Distrito Federal

e os Municiacutepios afetados pela atividade de mineraccedilatildeo e os Muni-

ciacutepios gravemente afetados pela perda de receita da CFEM com a

ediccedilatildeo da Lei nordm 13540 de 18 de dezembro de 2017 da seguinte

forma

I - dois por cento para o Distrito Federal e os Municiacutepios como forma

de compensar a perda de arrecadaccedilatildeo da CFEM com a entrada em

vigor da Lei nordm 13540 de 2017 e

II - treze por cento para o Distrito Federal e os Municiacutepios afetados

pela atividade de mineraccedilatildeo em seus territoacuterios

Paraacutegrafo uacutenico A compensaccedilatildeo prevista neste artigo seraacute vinculada

agrave receita da CFEM de cada substacircncia mineral (BRASIL 2018)

Dessa forma como o estado possui municiacutepios que satildeo afetados pela ex-ploraccedilatildeo de mineacuterios passa a receber as devidas porcentagens descritas acima calculados conforme cada mineacuterio explorado totalizando no estado de Sergipe uma arrecadaccedilatildeo de 1032266454 milhotildees no ano de 2018 (SANTANA 2018) Apoacutes a aplicaccedilatildeo das novas regras determinadas pelo decreto nordm 94072018 o estado de Sergipe no periacuteodo de 062018 a 032019 recebeu um total de R$ 64958439 deste valor consta que soacute o municiacutepio de Barra dos Coqueiros recebeu 5481252 com o mineacuterio de cobre ANM (2019)

Portanto os recursos financeiros adquiridos pelo CFEM e distribuiacutedos em royalties potencializam o desenvolvimento do paiacutes onde no Brasil de todos os bens e produtos que contribuem para o Produto Interno Bruto (PIB) o setor mineraacuterio eacute responsaacutevel por 5 do PIB com expressiva contribuiccedilatildeo em acircmbito nacional para o estado de Minas Gerais que deteacutem o ranque do maior produtor de mineacuterios do paiacutes com destaque para o ferro (ICMM 2013)

Por outro lado em Sergipe de acordo com Santos et al (2001) os dados apresentados pelo Sicom ndash Sistema Coacutedigo de Mineraccedilatildeo e o DNPM os mineacute-rios mais explorados no estado de Sergipe satildeo os minerais metaacutelicos minerais industriais rochas ornamentais substacircncias fertilizantes e substacircncias energeacute-ticas Esses mineacuterios satildeo explorados por induacutestrias nacionais e multinacionais de economia mista ou privada colocando o estado em um panorama mineraacuterio (Figura 03) demonstrado o quanto o setor mineraacuterio vem se desenvolvendo no estado puxado pelo nacional que no panorama mundial o Brasil estaacute entre

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 183

os maiores detentores de jazidas e na produccedilatildeo de mineacuterios ocupando a 11ordf posiccedilatildeo (ARAUJO OLIVEIRA FERNANDES 2014 e BRASIL 2014)

Figura 03 Panorama da Mineraccedilatildeo Nacional e do estado de Sergipe quanto aos requerimentos para extraccedilatildeo de mineacuterios concedidos pelo DNPM no ano de 2018

Fonte Extraiacutedo de httpdadosgovbrdatasetcontrole-de-processos-sicop (2019)

Quando comparado o estado de Sergipe ao panorama da mineraccedilatildeo na-

cional encontra-se atualmente na 22ordf posiccedilatildeo essa posiccedilatildeo se daacute em virtude dos dados apresentados na Figura 03 que correspondem a 65 Requerimentos de Pesquisa (RP) dos 10284 existentes no Brasil com 27 Requerimentos de Li-cenccedila (RL) dos 1880 existentes no Brasil e com o Requerimento de Lavra Ga-rimpeiro (RLG) e Requerimento de Registro de Extraccedilatildeo (REM) dos 1219 e 569 respectivamente existentes no paiacutes ou seja em Sergipe natildeo ocorreu a abertura de novas minas para explorar mineacuterio poreacutem avanccedilou significativamente na pesquisa quando se leva em questatildeo o tamanho de seu territoacuterio (menor da federaccedilatildeo brasileira) Das minas com plena atividade de exploraccedilatildeo no Brasil haacute um total de 8870 grandes companhias mineradoras devidamente detentoras dos registros de extraccedilatildeo e de concessatildeo de lavra distribuiacutedos geograficamen-te (Figura 04) em territoacuterio Nacional (DNPM 2012)

Dessa forma a regiatildeo nordeste possui 1606 empresas atuantes na extraccedilatildeo de mineacuterios que corresponde a 1810 de todo o territoacuterio nacional Uma delas eacute a empresa VALE com a exploraccedilatildeo de potaacutessio no estado de Sergipe respon-saacutevel por toda produccedilatildeo desse mineacuterio em territoacuterio brasileiro equivale a 090 de toda produccedilatildeo mundial (DNPM 2012) As jazidas desse mineral estatildeo loca-lizadas especificamente nos estados da Amazocircnia e de Sergipe poreacutem ocorre exploraccedilatildeo apenas no estado de Sergipe que de acordo o Departamento Na-cional de Produccedilatildeo Mineral - DNPM e Agecircncia Nacional de Mineraccedilatildeo - ANM

184 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Figura 04 Mapa da distribuiccedilatildeo das Companhias Mineradoras no Brasil

Fonte IBRAM (2015 p 08)

Em Sergipe nas regiotildees de TaquariVassouras e Santa Rosa de Lima as

reservas oficiais de silvinita (KCl + NaCl) totalizam 4780 milhotildees de tone-

ladas com teor meacutedio de 97 de K2O equivalente Dessas 682 milhotildees

de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo (teor de 1904 de K2O) que correspon-

dem a 129 milhotildees de toneladas de K2O equivalente representaram em

2013 a reserva lavraacutevel em TaquariVassouras Trabalhos de reavaliaccedilatildeo

de reservas de silvinita na regiatildeo de Santa Rosa de Lima situada 16 km

a oeste de Taquari-Vassouras dimensionaram reserva de aproximada-

mente 669 milhotildees de toneladas de mineacuterio ldquoin siturdquo (1548 milhotildees de

toneladas de K2O equivalente) considerando a camada principal Ainda

em Sergipe satildeo conhecidos importantes depoacutesitos de carnalita (KClMg-

Cl26H2O) As reservas totais de carnalita (medida + indicada + inferida)

reavaliadas com teor meacutedio de 1040 de KCl alcanccedilam cerca de 144

bilhotildees de toneladas Encontra-se em fase de implantaccedilatildeo no Estado de

Sergipe projeto que visa o aproveitamento dessas reservas de carnalita

por processo de dissoluccedilatildeo (OLIVEIRA 2017 p 01)

Portanto a extraccedilatildeo dos mineacuterios potaacutessio magneacutesio e soacutedio em Sergipe estaacute concentrada em uma uacutenica regiatildeo do estado no municiacutepio de Rosaacuterio do Catete (Latitude 10o34rsquo40rdquo e Longitude 37o07rsquo15rdquo) classificada como uma das minas mais produtivas e industrialmente modernas do territoacuterio brasileiro (SANTOS et al 2001 e GERMANY 2002) Tem uma produccedilatildeo estimada em 850mil

Fonte IBRAM (2015 p 08)

Distribuiccedilatildeo por Regiotildees do Brasil

Centro-Oeste 1075 empresas

Nordeste 1606 empresas

Norte 515 empresas

Sudeste 3609 empresas

Sul 2065 empresas

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 185

toneladas ano-1 de KCl e extraccedilatildeo previsto ateacute 2022 com potencial de expandir na regiatildeo de Santa Rosa de Lima com a exploraccedilatildeo das novas jazidas em reser-vas de potaacutessio existente (ANM 2018)

Evidente que aleacutem dos sais de potaacutessios que de acordo com Arau-jo (2017) tecircm contribuiacutedo positivamente para a economia do estado e para o avanccedilo da induacutestria de agroquiacutemicos da base agriacutecola do paiacutes no Estado satildeo exploradas outras substacircncias pertencentes agraves seguintes classes mateacuterias-pri-mas para a induacutestria quiacutemica (sal-gema e sal marinho) materiais de construccedilatildeo e ceracircmicos (pedra de construccedilatildeo pedra britada areia e saibro argila para ceracirc-mica estrutural e de revestimento calcaacuterio para cimento cal gesso corretivo de solos e rochas ornamentais) aacuteguas e hidrocarbonetos (petroacuteleo e gaacutes natural) determinantes para a economia do estado (SANTOS et al 2001)

Por exemplo a extraccedilatildeo de mineacuterios denominados agregados (areia brita seixo rolado argila) que estaacute em segundo lugar entre os mineacuterios mais explo-rados no estado para a construccedilatildeo civil (atraacutes apenas da mineraccedilatildeo de sais de potaacutessio) fechou o ano de 2011 com uma estimativa de 5769790t (IBRAM 2012) demonstrando que outros mineacuterios tambeacutem satildeo extraiacutedos no estado com tamanha relevacircncia e importacircncia para o setor mineraacuterio

A extraccedilatildeo de agregados para o estado tem sua parcela significativa para a economia com a geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos que vatildeo desde a matildeo de obra no processo de extraccedilatildeo ao transporte Segundo dados IBRAM (2012) em 2011 os nuacutemeros de empregos no setor mineraacuterio ultrapassaram os 22 milhotildees contabilizando apenas a matildeo de obra especializada ou capacitada pelas empresas para atuarem na aacuterea da pesquisa transporte e extraccedilatildeo dos mineacuterios satildeo pessoas economicamente ativas que consomem os mais diversos produtos e serviccedilos e consequentemente contribuem para a geraccedilatildeo de outros postos de trabalhos (empregos indiretos)

Ano apoacutes ano o mercado de trabalho na induacutestria mineraacuteria vem se man-tendo estaacutevel no cenaacuterio nacional mesmo com as crises que perpassam o paiacutes pois de acordo com ANM (2018) enquanto em outros setores ocorreram de-missotildees o setor da extraccedilatildeo mineral tem registrado aumento nos postos de trabalho com a geraccedilatildeo de 1251 novos trabalhos no ano de 2018 Poreacutem no estado de Sergipe ocorreu uma reduccedilatildeo de 91 postos de trabalho

O saldo negativo de matildeo de obra em Sergipe localizado no setor

de extraccedilatildeo de outros minerais natildeo metaacutelicos (-86) foi influenciado

pelas demissotildees da Vale Fertilizantes que resultou na perda de 86

186 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

postos de trabalho no municiacutepio de Rosaacuterio do Catete (SE) devido agrave

operaccedilatildeo de venda da Vale Fertilizantes para a Mosaic concluiacuteda em

2 de janeiro de 2018 (ANM 2018 p07)

Mesmo com a ocorrecircncia na reduccedilatildeo da matildeo de obra contratada pelo setor mineraacuterio no estado natildeo desmerece a importacircncia da induacutestria mineraacuteria na geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos contribuindo para economia de Sergi-pe aleacutem de no cenaacuterio nacional ter ocorrido um pequeno crescimento na gera-ccedilatildeo de trabalho demonstrado acircnimo para o setor econocircmico do paiacutes mediante os altos iacutendices de desempregos sendo que em 2018 conforme dados do IBGE (2018) o nuacutemero de pessoas desempregadas no Brasil alcanccedilou 128 milhotildees

4 O IMPACTO AMBIENTAL E SOCIAL DA MINERACcedilAtildeO

Os Royalties da mineraccedilatildeo para o estado de Sergipe repassados pelas empresas que realizam a extraccedilatildeo dos mais variados mineacuterios entre eles amianto argila calcaacute-rio calcaacuterio calciacutetico ferro e argila metassiltito (pedra-detalhe) calcaacuterio (maacutermore) ouro potaacutessio entre outros (SANTOS et al 2001) satildeo expressamente importantes para o desenvolvimento econocircmico visto anteriormente que no ano de 2018 em valores reais foram repassados pelo CEFEM ao estado R$ 1032266454 e no primeiro periacuteodo do presente ano (2019) o repasse jaacute chega a R$ 64958439

As contribuiccedilotildees do setor mineraacuterio para economia do estado satildeo bastante relevantes e importantes para o desenvolvimento econocircmico Por outro lado os impactos ambientais2 acometidos pela mineraccedilatildeo satildeo incalculaacuteveis pois atingem vaacuterias esferas da fauna e flora com perda da biodiversidade local so-cioambientais com prejuiacutezos agrave populaccedilatildeo causando reduccedilatildeo na qualidade de vida (sauacutede) e alteraccedilotildees econocircmicas locais (comunidades situadas proacuteximas agrave mineraccedilatildeo) (FERNANDES ARAUJO 2016)

Os impactos da mineraccedilatildeo satildeo agressivos ao meio ambiente principalmen-te em virtude da praacutetica mineraacuteria realizada no Brasil que por deacutecadas faz uso de poucas tecnologias (a exemplo dos garimpos) ou projetos de mineraccedilatildeo considerados com maiores riscos a causar danos ambientais e socioambientais

2 Artigo 1ordm - [] impacto ambiental qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegi-cas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante Das atividades humanas que direta ou indiretamente afetam I - a sauacutede a seguranccedila e o bem-estar da populaccedilatildeo II - as atividades sociais e econocircmicas III - a biota IV - as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V - a qualidade dos recursos ambientais (Resoluccedilatildeo CONAMA Nordm 001 1986)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 187

Haacute destaque para a lavra de mineacuterios a ceacuteu aberto praticada no paiacutes desde me-ados do seacuteculo XVII que perdura ateacute os dias atuais sendo atualmente a maio-ria dos projetos de minas desse tipo ativas em solo brasileiro (GERMANY 2002 ARAUJO FERNANDES 2016)

Os projetos de mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto se justificam por serem tatildeo adota-dos pelas empresas pois demandam de baixa tecnologia aleacutem de serem con-siderados mais econocircmicos comparado com a subterracircnea passando a serem realizados em maior nuacutemero no territoacuterio brasileiro poreacutem a aacuterea de impacto ambiental no solo e subsolo eacute consideravelmente maior (NEME et al 2011) Essa praacutetica de mineraccedilatildeo no territoacuterio brasileiro tem predominacircncia no Nordeste minas de ceacuteu aberto em subniacuteveis (GERMANY 2002)

Com ecircnfase no Nordeste e tomando como exemplo o estado de Sergipe a mina TAQUARIVASSOURAS identificada como uma grande mineradora com extraccedilatildeo de mineacuterio de Potaacutessio eacute realizada a ceacuteu aberto no municiacutepio de Ro-saacuterio do Catete ndash SE pela empresa Cia Vale do Rio Doce (SANTOS et al 2001) Destaca-se entre as inuacutemeras outras minas a ceacuteu aberto existentes no territoacuterio Brasileiro (Quadro 04) realizadas por grandes empresas do setor mineraacuterio com a extraccedilatildeo dos mais variados mineacuterios

Quadro 03 Algumas das principais minas a ceacuteu aberto no territoacuterio brasileiro

Mina Localizaccedilatildeo ProdutoEmpresa

mineradoraProdutividade

103 thomemanoCARAJAacuteS Carajaacutes PA Ferro Vale do Rio Doce 105CAUEcirc Itabira MG Ferro Idem 76CONCEICcedilAtildeO Itabira MG Ferro Idem 76CONGO SOCO Bar de Cocais MG Ferro Idem 18ALEGRIA 9 Mariana MG Ferro Idem 56TIMBOPEBA Mariana MG Ferro Idem 128MORRO AGUDO Piracicaba MG Ferro Idem 26CAPANEMA Itabirito MG Ferro Min Serra Geral 105ALEGRIA Mariana MG Ferro Samarco Min SA 110TAQUARIVASSOURAS Rosaacuterio do Catete SE Potaacutessio Vale do Rio Doce 1500

Fonte Extraiacutedo - GERMANI Darcy Joseacute A Mineraccedilatildeo no Brasil Relatoacuterio Final Centro de Gestatildeo e Estudos Estrateacute-gicos Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo ndash CGEE Rio de Janeiro Maio 2002 55 p

O Quadro 03 apresenta algumas das maiores mineradoras em atividade no paiacutes que desenvolvem os projetos de extraccedilatildeo mineral a ceacuteu aberto algumas delas iniciaram suas atividades desde o periacuteodo da ditadura militar (1964-1985) periacuteodo que o Brasil deu abertura para investimentos no setor mineraacuterio de ca-pital estrangeiro Passou-se a investir pesado em tecnologias expandindo a ca-

188 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

pacidade do paiacutes de extrair mineacuterio e consequentemente abertura de grandes minas chegando a um total de 3354minas maioria a ceacuteu aberto desde entatildeo passaram a surgir os maiores impactos ambientais decorrentes da mineraccedilatildeo (FERNANDES ARAUJO 2016)

Nesse modelo de mineraccedilatildeo aleacutem da aacuterea ocupada pela lavra a grande maio-ria das minas faz uso de barragem de rejeitos que atualmente colocaram o paiacutes em destaque no cenaacuterio mundial diante da instabilidade dessas barragens e dos uacuteltimos acontecidos com desastres ambientais Dos maiores desastres ambien-tais jaacute ocorridos na histoacuteria do paiacutes envolvendo mineraccedilatildeo (Quadro 04) com rom-pimento de algumas das barragens de rejeitos de mineacuterio causando inuacutemeros impactos ambientais o mais emblemaacutetico foi o rompimento da barragem de rejeitos de Mariana-MG que alcanccedilou os leitos fluviais (poluindo o rio Doce do Municiacutepio de Mariana a foz) chegando ateacute o oceano (BRASIL MINERAL 2016)

Quadro 04 Cronologia dos principais rompimentos de barragens no Brasil (desde 2000-2015)

Dat

a

LocalizaccedilatildeoCompanhia associada

Tipo de mineacuterio

Tipo de incidente

Volume liberado

Impactos

5 N

ov 2

015

Mina do Germano Distrito de

Bento Rodrigues Mariana

Minas GeraisBrasil

Samarco MineraccedilatildeoSA (50

BHP Billiton 50 Vale)

Mineacuterio de ferro

Rompimen-to de duas barragens de rejeitos (Primeiro Fundatildeo

depois (San-tareacutem)

62 milhotildees

m3

Uma onda de lama fluiu sobre o povoado de Ben-to Rodrigues destruindo 158 casas e matando 17 pessoas (haacute 2 desapareci-dos) A lama chegou ateacute o litoral doEspiacuterito Santo poluindo o Rio Doce

10 Ja

n 20

07

Miraiacute MinasGerais Brasil

MineraccedilatildeoRio PombaCataguases

Ltda

Bauxita Rompimen-to de uma barragem de rejeito

apoacutes fortes chuvas

2 million m3 de lama

conten-do aacutegua e argila (lama

verme-lha)

O fluxo de lama deixou cerca de 4 mil pessoas nas cidades de Miraiacute e Muriaeacute na Zona daMata sem moradiaColheitas e pastos foram destruiacutedos e o suprimen-to de aacutegua ficou compro-metido em cidades deMinas Gerais e Rio de Ja-neiro

22 Ju

n 20

01

Sebastiatildeo das

Aacuteguas Claras distrito

de Nova Lima Minas Gerais Brasil

MineraccedilatildeoRio Verde

Ltda

Mineacuterio de ferro

Rompi-mento de barragem de rejeitos

A onda de rejeitos viajou 6 km matando dois tra-balhadores e deixando 3desaparecidos

Fonte Revista BRASIL MINERAL - EDICcedilAtildeO 358 ndash DIGITAL

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 189

Dessa forma o paiacutes vem registrando em sua histoacuteria o acuacutemulo de impac-tos ambientais inestimaacuteveis diante das proporccedilotildees provocados pela explora-ccedilatildeo mineral com perdas na fauna flora e ceifando vidas humanas Considera-do ateacute 2015 o rompimento da barragem Fundatildeo em MarianaMG (empresas Samarco Vale e BHP Billiton) como um dos maiores (CARNEIRO 2018) Re-centemente (no dia 25 de janeiro de 2019) o paiacutes entra em luto novamente pelo meio ambiente e pelas centenas de vidas ceifadas apoacutes o rompimento da Barragem I da mina de Feijatildeo liberando 12 milhotildees de metros cuacutebicos de rejeitos de mineraccedilatildeo atingindo as comunidades de Coacuterrego do Feijatildeo e de Parque da Cachoeira chegando ateacute o Rio Paraopeba afluente do Rio Satildeo Francisco causando danos na flora e fauna e lamentavelmente ceifando um total de 333 vidas entre mortos e desaparecidos (Conselho Nacional dos Di-reitos Humanos 2019)

Trageacutedias como essas jamais seratildeo esquecidas aleacutem das vidas ceifadas e os impactos ambientais sob a fauna e flora satildeo incalculaacuteveis diante de tamanha devastaccedilatildeo com prejuiacutezos em toda biota existente na aacuterea afetada Apoacutes fatos como esses exige-se dos oacutergatildeos ambientais maiores fiscalizaccedilotildees e cobranccedilas para as empresas adotarem maiores rigores nos projetos de mineraccedilatildeo para mitigar possiacuteveis impactos ambientais buscando novas tecnologias de cunho sustentaacutevel (BRASIL MINERAL 2016)

Eacute sabido que o oacutergatildeo ambiental com responsabilidade de fiscalizar a atividade mineraacuteria em todo territoacuterio nacional eacute o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis ndash IBAMA bem como de conceder as licen-ccedilas ambientais conforme o cumprimento do Estudo de Impacto Ambiental ndash EIA e Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA Eacute cabiacutevel ao estado direcionar seus oacutergatildeos ambientais para atuarem em conjunto com IBAMA no estado de Sergipe os dois oacutergatildeos ambientais com esse perfil Administraccedilatildeo Estadual do Meio Ambiente ndash ADEMA e a Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe ndash CODISE

Os oacutergatildeos ambientais devem estar atentos a todo processo de extraccedilatildeo dos mineacuterios existentes no estado principalmente as mineradoras que operam a ceacuteu aberto pois devem ter o fluxo de operaccedilatildeo controlado quando localizadas proacuteximo aos centros urbanos ao contraacuterio o grande deslocamento de maacutequi-nas pesadas e caminhotildees pode provocar o deslocamento de massas causando danos ambientais (GERMANI 2002) Aleacutem do fluxo de veiacuteculos (maacutequinas pe-sadas) aumenta as emissotildees de gases ruiacutedos deslocamento de partiacuteculas do solo (poeira) alterando o modo de vida das pessoas provocando problemas na

190 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

sauacutede dos que convivem em torno da aacuterea minerada caracterizando impacto socioambiental (FERNANDES OLIVIERI ARAUJO 2014)

A atenccedilatildeo para a atividade mineraacuteria no estado se daacute porque os processos de extraccedilatildeo de mineacuterio por si soacute jaacute causam os mais diversos impactos ao meio ambiente que de acordo com Andrade (1987) provocam alteraccedilatildeo na geo-grafia local que varia conforme o processo mineraacuterio ou seja a mineraccedilatildeo por tuacutenel torna a aacuterea natildeo agricultaacutevel com ocupaccedilatildeo de um espaccedilo para estaccedilotildees in loco das perfuraccedilotildees enquanto a mineraccedilatildeo por cava a ceacuteu aberto causa uma mudanccedila draacutestica em toda geografia com rebaixamento do solo aleacutem de maior dispersatildeo de partiacuteculas no ar vindo a provocar problemas respiratoacuterios na populaccedilatildeo que residem nas comunidades em torno principalmente se a ex-traccedilatildeo for de calcaacuterio que acarreta na suspensatildeo de grandes quantidades de partiacuteculas

Segundo Mechi e Sanches (2010) a mineraccedilatildeo causa a supressatildeo da vege-taccedilatildeo remoccedilatildeo do solo na extraccedilatildeo dos minerais construccedilatildeo de montanha ou barragem de rejeitos impactando os corpos hiacutedricos apoacutes lixiviaccedilatildeo de sedi-mentos contaminaccedilatildeo do ar pela imissatildeo de partiacuteculas suspensas contendo ga-ses e poeira aleacutem de vibraccedilatildeo sonora Deste modo fica evidente que atividade minerada natildeo causa unicamente impacto ao meio ambiente ela causa impac-tos distintos agrave sociedade pois as pessoas que residem em torno da mineraccedilatildeo tecircm sua dinacircmica alterada com fluxo intenso de veiacuteculos e passam a conviver com os ruiacutedos

Segundo Carvalho (2017) os impactos satildeo distintos causados pela atividade mineral agrave sociedade pois quando afetam as pessoas no seu meio comunitaacuterio satildeo caracterizados impactos socioambientais podendo ser im-pactos positivos de vieacutes econocircmico com a geraccedilatildeo de empregos diretos e in-diretos impulsionando a economia local impactos negativos com alteraccedilatildeo da dinacircmica das pessoas que residem nas comunidades situadas proacuteximas agrave extraccedilatildeo de mineacuterio deixando-as expostas aos ruiacutedos ou agrave contaminaccedilatildeo A autora traz como exemplo uma induacutestria de calcaacuterio localizada no municiacutepio de Simatildeo Dias que em relatos mencionados por moradores e anaacutelise de imagens os impactos ambientais ocorreram desde a supressatildeo da vegetaccedilatildeo e do solo mudando toda a paisagem no local aleacutem da poluiccedilatildeo do ar com a dispersatildeo de partiacuteculas de calcaacuterio (CaCO3(s))

3

3 Mesma composiccedilatildeo quiacutemica da Calcita Principais constituintes mineraloacutegicos das rochas calcaacute-rias moleacutecula composta por Caacutelcio (Ca) natildeo estaacutevel que possui 2 eleacutetrons livres na camada de valecircn-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 191

Portanto o estado de Sergipe natildeo apresenta cataacutestrofes ou grandes crimes ambientais provenientes da mineraccedilatildeo poreacutem na uacuteltima vistoria teacutecni-ca nas mineradoras realizada pela Poliacutecia Ambiental Federal em conjunto com a Poliacutecia Estadual foram constatadas irregularidades quanto agraves licenccedilas am-bientais que devem ser regularizados pela parte interessada junto aos oacutergatildeos competentes (JC 2019) Mesmo sem grandes danos ambientais de repercussatildeo jornaliacutestica no estado natildeo eacute descartado o potencial que a atividade mineraacuteria tem em causar impacto sob a fauna e a flora e agrave sauacutede da sociedade in loco

A capacidade de causar impacto ao meio ambiente pela mineraccedilatildeo ocorre desde a instalaccedilatildeo das grandes induacutestrias a pequenos garimpos4 da lavra ao fe-chamento Uma vez que a aacuterea explorada tem todas suas caracteriacutesticas (fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica) naturais alteradas com a supressatildeo da vegetaccedilatildeo e remo-ccedilatildeo do solo e mesmo apoacutes o fechamento a aacuterea fica exposta agrave accedilatildeo do tempo susceptiacutevel ao intemperismo e agrave lixiviaccedilatildeo de sedimentos aos corpos hiacutedricos (SANTOS et al 2010)

Diante dessas potencialidades de causar impacto ao meio ambiente acaba sendo necessaacuteria a concessatildeo das liberaccedilotildees para lavra pelos oacutergatildeos ambien-tais (IBAMA) o cumprimento das leis ambientais entre elas a elaboraccedilatildeo do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e o Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA

Legislaccedilotildees ambientaisCompete aos oacutergatildeos ambientais detectar a geraccedilatildeo de impactos ambientais

atraveacutes da fiscalizaccedilatildeo nas atividades de mineraccedilatildeo em territoacuterio Brasileiro bus-cando coibir danos nocivos agrave sociedade e a degradaccedilatildeo5 ao meio ambiente6 visando que as empresas atendam o que tange a resoluccedilatildeo CONAMA (1986) no Art 2ordm - Dependeraacute de elaboraccedilatildeo de estudo de impacto ambiental e respectivo relatoacuterio de impacto ambiental ndash RIMA e o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo

cia atingindo sua estabilidade perdendo os 2 eleacutetrons Ca2+ Por sua vez o composto formado por Carbono e Oxigecircnio CO natildeo eacute estaacutevel soacute fica quando ganha 2 eleacutetrons Ca2+ + CO3

2- rarr CaCO3(BROWN LEMAY BURSTEN 2005)

4 Art 70 Considera-seI ndash garimpagem o trabalho individual de quem utiliza instrumentos rudimentares aparelhos ma-nuais ou maacutequinas simples e portaacuteveis na extraccedilatildeo de pedras preciosas semi-preciosas e minerais metaacutelicos ou natildeo metaacutelicos valiosos em depoacutesitos de eluviatildeo ou aluviatildeo nos aacutelveos de cursos drsquoaacutegua ou nas margens reservadas bem como nos depoacutesitos secundaacuterios ou chapadas (grupiaras) vertentes e altos de morros depoacutesitos esses genericamente denominados garimpos (BRASIL 1967)5 II - degradaccedilatildeo da qualidade ambiental a alteraccedilatildeo adversa das caracteriacutesticas do meio ambiente6 I - meio ambiente o conjunto de condiccedilotildees leis influecircncias e interaccedilotildees de ordem fiacutesica quiacutemica e bioloacutegica que permite abrigam e regem a vida em todas as suas formas (BRASIL 1981)

192 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Art 12 O DNPM estabeleceraacute mediante portaria as aacutereas de ga-

rimpagem levando em consideraccedilatildeo a ocorrecircncia do bem mineral

garimpaacutevel o interesse do setor mineral e as razotildees de ordem social

e ambiental

sect 1o A criaccedilatildeo ou ampliaccedilatildeo de aacutereas de garimpagem fica condicio-

nada agrave preacutevia licenccedila do IBAMA agrave vista de Estudo de Impacto Am-

biental (EIA) e respectivo Relatoacuterio de Impacto Ambiental (Rima) de

acordo com a legislaccedilatildeo especiacutefica (BRAISL 1967)

A instalaccedilatildeo de uma atividade mineraacuteria natildeo pode ser efetivada sem a ela-boraccedilatildeo do RIMA e EIA pelas mineradoras Dessa forma eacute de responsabilida-de na esfera nacional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis ndash IBAMA de acompanhar a aplicabilidade destas (RIMA e EIA) e na esfera estadual estaacute diretamente ligada agrave responsabilidade aos oacutergatildeos governamentais ou de economia mista

Existente no estado os seguintes oacutergatildeos Secretaria de Estado da Induacutestria Comeacutercio e Turismo - INCLUI Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe ndash CODISE Sergipe Minerais SA - SEMISA Admi-nistraccedilatildeo Estadual do Meio Ambiente - ADEMA Instituto de Tecnologia e Pes-quisas de Sergipe ndash ITPS (SANTOS et al 2001)

Satildeo os setores da administraccedilatildeo puacuteblica estadual encarregados por todos os processos burocraacuteticos de anaacutelises quiacutemicas ou documentaccedilatildeo para a mine-raccedilatildeo direcionado aos trabalhos de acordo a cada oacutergatildeo ITPS autarquia inte-grante da administraccedilatildeo puacuteblica estadual responsaacutevel pelas anaacutelises quiacutemicas e estudo dos recursos naturais e minerais ADEMA autarquia vinculada agrave Secre-taria de Estado do Meio Ambiente responsaacutevel pela preservaccedilatildeo e desenvolvi-mento sustentaacutevel do meio ambiente e as licenccedilas ambientais para a execuccedilatildeo das atividades de mineraccedilatildeo SEMISA vinculada agrave Secretaria de Estado da In-duacutestria Comeacutercio e Turismo com convecircnio na CODISE responsaacutevel pelo apro-veitamento econocircmico do setor mineraacuterio CODISE responsaacutevel socialmente pela execuccedilatildeo da poliacutetica de desenvolvimento industrial o aproveitamento dos recursos minerais e na accedilatildeo teacutecnica de pesquisa lavra e execuccedilatildeo das ati-vidades mineraria em todo territoacuterio estadual INCLUI7 na responsabilidade da administraccedilatildeo

7 Secretaria de Estado da Induacutestria Comeacutercio e Turismo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 193

Para tanto os devidos oacutergatildeos estaduais fazem se cumprir o que tange a Constituiccedilatildeo do Estado referente ao artigo 232 agrave garantia de um meio ambien-te ecologicamente equilibrado para as futuras e presentes geraccedilotildees Dessa for-ma a referida constituiccedilatildeo traz no sect 1ordm e IV que para assegurar a efetividade desse direito eacute de responsabilidade do Poder Puacuteblico com o auxiacutelio das enti-dades privadas cobrar das empresas que venham instalar obra no estado com potencial de causar impacto ambiental agrave realizaccedilatildeo de estudo preacutevio de impac-to ambiental ou seja cabiacutevel agrave atividade mineraacuteria por ter altas potencialidade em causar impacto ambiental

O decreto Nordm 98812 de janeiro de 1990 e o Coacutedigo de Mineraccedilatildeo colocam que mediante identificaccedilatildeo de uma nova aacuterea a ser garimpada ou ampliaccedilatildeo de uma aacuterea jaacute explorada as empresas interessadas devem registrar no DNPM bem como daacute iniacutecio a todos os processos burocraacuteticos como licenccedila ambien-tal EIA e RIMA Reforccedila-se o quanto satildeo importantes os referidos estudos no setor da mineraccedilatildeo para a efetiva garantia de todas as medidas cabiacuteveis para evitar danos ambientais aleacutem dos jaacute causados in loco da aacuterea explorada o Art 18 coloca que ldquoo aproveitamento de bens minerais pelo regime de concessatildeo de lavra ou pelo regime de licenciamento depende de licenciamento do oacutergatildeo ambiental competenterdquo (BRASIL 1990)

Uma vez instalada uma atividade com potencial risco de degradaccedilatildeo am-biental ou atestado in loco apoacutes fiscalizaccedilatildeo os reais prejuiacutezos e sem as devidas licenccedilas ambientais liberadas pelo oacutergatildeo estadual competente integrante do SISNAMA poderatildeo liberaacute-las sem prejuiacutezo de outras licenccedilas exigiacuteveis Sendo ela em caraacuteter estadual a SEMA que poderaacute impugnar a liberaccedilatildeo ou o anda-mento de atividades que venha a causar danos ambientais fora dos limites per-missiacuteveis no licenciamento (BRASIL 1981)

Conforme o previsto na constituiccedilatildeo do estado de Sergipe na seccedilatildeo IV dos recursos minerais em seu Art 250 eacute dever do estado o aproveitamento racio-nal dos recursos minerais Esse aproveitamento deve ocorrer assegurando as premissas que tangem as leis ambientais e o coacutedigo de mineraccedilatildeo para tanto a proacutepria constituiccedilatildeo do estado enfatiza que para a garantia de um desenvolvi-mento harmocircnico eacute necessaacuterio que faccedila o que incumbe o Art 251

I - registrar acompanhar e fiscalizar os direitos de pesquisa e explora-

ccedilatildeo dos recursos minerais e energeacuteticos

II - manter instituiccedilotildees que realizem pesquisas e desenvolvimento de

tecnologia mineral a ele vinculadas direta ou indiretamente

194 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

III - manter um banco de dados de livre acesso ao puacuteblico relativo

agraves informaccedilotildees cartograacuteficas de geociecircncias e recursos naturais po-

dendo cobrar pelo fornecimento dessas informaccedilotildees

IV - promover o mapeamento geoloacutegico baacutesico complementarmen-

te agravequele desenvolvido pela Uniatildeo e a pesquisa tecnoloacutegica fortale-

cendo o desenvolvimento do setor mineral estadual

V - criar o fundo de apoio agrave pesquisa mineral com o objetivo de finan-

ciar a pesquisa e o aproveitamento econocircmico racional dos recursos

minerais bem como o desenvolvimento da tecnologia de recuperaccedilatildeo

de aacutereas degradadas pela atividade de mineraccedilatildeo (SERGIPE 2007)

O estado deve manter seus oacutergatildeos ligados agrave aacuterea da mineraccedilatildeo em pleno funcionamento e atentos aos recursos minerais existentes em seu terri-toacuterio com o banco de dados atualizados visando fomentar ao setor mineraacuterio interesse pela exploraccedilatildeo e consequentemente investimentos privados para exploraccedilatildeo Isso desde que as empresas do setor mineral cumpram as condi-cionantes jaacute apresentadas acima ou com o que estaacute previsto na Lei Nordm 6938 de agosto de 1981 no artigo 3ordm natildeo tenham cometidos degradaccedilatildeo ambiental danos agrave sauacutede e ao bem estar da populaccedilatildeo lanccedilamento de mateacuterias rejeitos em corpos hiacutedricos afetando todo um ecossistema Pois quando causar degra-daccedilatildeo a empresa estaraacute sujeita agrave reparaccedilatildeo dos prejuiacutezos ambientais conforme previsto na referida lei artigo 4ordm - A Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente visaraacute VII - agrave imposiccedilatildeo ao poluidor e ao predador da obrigaccedilatildeo de recuperar eou indenizar os danos causados e ao usuaacuterio da contribuiccedilatildeo pela utilizaccedilatildeo de recursos ambientais com fins econocircmicos (BRASIL 1981)

Portanto no Brasil aquele que fizer uso dos recursos ambientais com altera-ccedilotildees ou degradaccedilatildeo da aacuterea estaraacute sujeito agrave recuperaccedilatildeo8 e tratando-se de de-gradaccedilatildeo por mineraccedilatildeo a empresa deve elaborar o Plano de Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas (PRAD) principalmente apoacutes o fechamento da lavra ou seja quando as empresas cessarem suas atividades de extraccedilatildeo de mineacuterio devem dar iniacutecio agrave aplicabilidade do plano devidamente aprovado pelas autoridades competentes Pois a recuperaccedilatildeo da aacuterea degradada pela extraccedilatildeo de mineacute-rio tem que proporcionar o retorno de suas caracteriacutesticas fiacutesicas e bioloacutegicas de forma gradativa com o desenvolvimento de espeacutecies de aacutervores nativas ou

8 Conjunto de procedimentos atraveacutes dos quais eacute feita a recomposiccedilatildeo da aacuterea degradada para o estabelecimento da funccedilatildeo original do ecossistema (ABNT NBR 13030)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 195

adaptadas a regiatildeo deixando-a acessiacutevel agrave fauna e consequentemente integraacute--la ao ambiente da regiatildeo (SANTOS 2017)

A NBR 13030 (1999) apresenta as definiccedilotildees de todas as medidas que de-vem ser tomadas na elaboraccedilatildeo de um PRAD bem como todos os itens que de-vem ser bem descritos na elaboraccedilatildeo e apresentaccedilatildeo de projeto de reabilitaccedilatildeo de aacutereas degradadas pela mineraccedilatildeo sequenciados em ordem conforme um modelo anexado dentro da NBR para ser seguido Quando elaborado eacute neces-saacuterio que seja atendida uma descriccedilatildeo fiel de todos os procedimentos necessaacute-rios que seratildeo adotados durante o processo de recuperaccedilatildeo visando devolver a aacuterea a fauna e a flora no ecossistema

Os rejeitos9 gerados durante o processo de mineraccedilatildeo tecircm que ser condi-cionados em local apropriado evitando contaminaccedilatildeo de outras aacutereas ou a li-xiviaccedilatildeo para corpos hiacutedricos Dessa forma eacute necessaacuterio proceder conforme as orientaccedilotildees contidas na ABNT NBR 13028 (2017) que trata sobre a importacircncia do projeto para construccedilatildeo de barragem de rejeitos de mineacuterios soacutelidos ou natildeo elaborados seguindo todos os procedimentos indicados na norma a exemplo de estudo geoloacutegico da aacuterea estudo siacutesmico anaacutelise quiacutemica do siacutetio de rejeito entre outros

CONCLUSAtildeO

O estado de Sergipe eacute o menor da Federaccedilatildeo Brasileira com um territoacuterio de 21926908 kmsup2 destacando-se perante os demais estados do Nordeste por possuir inuacutemeras riquezas em minerais que vatildeo desde os metaacutelicos natildeo me-taacutelicos calcaacuterios energeacuteticos e sais soluacuteveis Com exploraccedilatildeo marcada desde o periacuteodo do Brasil colocircnia na garimpagem de pedras preciosas e por volta de deacutecada de XX com o avanccedilo da exploraccedilatildeo no Nordeste em escala industrial Sergipe se destaca na produccedilatildeo de potaacutessio e calcaacuterio

Toda a exploraccedilatildeo mineral existente no estado o coloca na 22ordm posiccedilatildeo no panorama nacional com destaque para a exploraccedilatildeo de sais de potaacutessio pois eacute o maior produtor em escala nacional e o paiacutes o detentor de 090 de toda a pro-duccedilatildeo mundial Outros mineacuterios bastante extraiacutedos no estado satildeo o calcaacuterio e agregados para construccedilatildeo civil ambos satildeo explorados atraveacutes de minas a ceacuteu

9 Todo e qualquer material descartado durante o processo de beneficiamento de mineacuterios (ABNT NBR 130282017)

196 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

aberto considerado o processo de mineraccedilatildeo com maior potencial de causar impactos ambientais durante o processo extraccedilatildeo e ao termino

Visto que a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto causa impactos ao meio ambiente des-de o iniacutecio do processo de garimpagem com a remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo e do solo existente no local alterando toda a aacuterea e apoacutes o fechamento da lavra pode continuar impactando com a lixiviaccedilatildeo de sedimentos ou rejeitos para os cor-pos hiacutedricos tornam-se necessaacuterias medidas cabiacuteveis determinadas pelo coacutedi-go de mineraccedilatildeo na jurisdiccedilatildeo do DNPM sob-responsabilidade do IBAMA e os oacutergatildeos vinculados agrave mineraccedilatildeo do estado INCLUI CODISE SEMISA ADEMA que eacute a realizaccedilatildeo do EIA e da RIMA para iniacutecio das atividades de mineraccedilatildeo e o PRAD apoacutes o fechamento da lavra

Atualmente o setor da mineraccedilatildeo passa por fiscalizaccedilotildees rigorosas nas ex-ploraccedilotildees existentes no paiacutes buscando evitar trageacutedias como o rompimento da barragem do Fundatildeo e a barragem I da mina do feijatildeo em Minas Gerais Torna-se necessaacuterio que as mineradoras realizem projetos com maiores investi-mentos para estabilizaccedilatildeo dessas barragens e novas tecnologias a exemplo das tecnologias existentes na extraccedilatildeo de mineacuterio a seco com baixo uso de aacutegua e dispensando a criaccedilatildeo de barragens para os rejeitos

Felizmente o estado natildeo registra grandes impactos ambientais apenas os jaacute de conhecimento na extraccedilatildeo de mineacuterios Os impactos negativos com al-teraccedilotildees na fauna e flora aleacutem de mudar toda a dinacircmica das comunidades situadas em torno estatildeo atrelados aos serviccedilos sociais que as empresas podem oferecer agraves comunidades aleacutem da geraccedilatildeo de emprego

Impulsiona-se a economia dos municiacutepios e do estado fortalecendo o PIB na escala nacional aleacutem eacute claro dos royalties repassados pelas empresas de mineraccedilatildeo ao DNPM e redistribuiacutedos aos Estados Municiacutepios e Distrito Federal como Compensaccedilatildeo Financeira Pela Exploraccedilatildeo de Recursos Minerais ndash CFEM No vigente ano de 2019 o estado de Sergipe jaacute recebeu o repasse no valor de R$ 64958439 conforme dados da ANM

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CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 201

AGRICULTURA DE BASE AGROECOLOacuteGICA NOVAS PERSPECTIVAS PARA O (DES)ENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ESTADO DE SERGIPE

Amanda da Silva SantosElis Gardecircnia dos SantosFranciley Santos LeiteNuacutebia Dias dos Santos

1 INTRODUCcedilAtildeO

Se fizermos um pequeno esforccedilo para imaginarmos o modelo de cultivo em-pregado no Brasil num periacuteodo preacute-colonial provavelmente a imagem que teremos em mente seraacute de povos originaacuterios manejando o solo coletando e produzindo conforme suas necessidades baacutesicas de nutriccedilatildeo e principalmente conforme a diversidade da fauna e flora disponibilizada em cada localidade Modelo este que em nada se assemelha com a agricultura conservadora forte-mente adotada atualmente como principal modelo de produccedilatildeo

Observando o processo de colonizaccedilatildeo do Brasil de maneira mais profunda e comparando-o com o processo de colonizaccedilatildeo de outros paiacuteses como por exemplo os Estados Unidos chegamos agrave conclusatildeo de que estes processos em muito se diferem principalmente quando tratamos sobre suas finalida-des e as relaccedilotildees estabelecidas com os povos originaacuterios de cada territoacuterio Eacute importante olharmos para estes elementos com atenccedilatildeo jaacute que haacute pouco mais de 500 anos atraacutes existiu no Brasil um projeto de colonizaccedilatildeo que priorizava majoritariamente a extraccedilatildeo de recursos naturais para exportaccedilatildeo ao inveacutes do (des)envolvimento da proacutepria localidade Esta loacutegica extrativista e predatoacuteria assombrou e permanece assombrando o Brasil ateacute os dias atuais

No Brasil no decorrer dos anos de 1500 ateacute a atualidade mantivemos rela-ccedilotildees que nos afastaram cada vez mais da natureza Passamos a nos apropriar do que denominamos atualmente de recursos naturais coisificamos os ambientes e seres que nos cercam e construiacutemos barreiras verticais que nos impedem de ver e ouvir o som do que antes tiacutenhamos como elementos que compunham nossas ancestralidades Objetificamos o proacuteprio homem que por anos foi

202 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

transformado em mercadoria evidenciando o caraacuteter predatoacuterio e avassalador do nosso modelo de sociedade Se antes havia uma relaccedilatildeo de intimidade esta-belecida com a terra hoje a compreendemos apenas como um meio para atin-gir o objetivo da produtividade que por sua vez alimenta a loacutegica do consumo estabelecida pelo sistema capitalista

Considerando este breve e simplificado processo histoacuterico precisamos compreender que apesar das relaccedilotildees complexas ainda somos uma socie-dade relativamente nova e que apesar da pouca idade enfrentou grandes transformaccedilotildees ao longo destes anos Aqui nos atentaremos a dois elementos destas transformaccedilotildees agrave produccedilatildeo de alimentos ancorada na loacutegica do capi-tal e ao desenvolvimento econocircmico social e ambiental relacionados a esta produccedilatildeo tendo em vista e emergecircncia de um modelo de agricultura que seja capaz de superar as problemaacuteticas relacionadas ao que compreendemos en-quanto agricultura conservadora Com este intuito faremos no decorrer do texto 1- uma contextualizaccedilatildeo histoacuterica do modelo de produccedilatildeo agriacutecola con-servadora considerando os seus objetivos e resultados alcanccedilados discutida no toacutepico ldquoContextualizaccedilatildeo e controveacutersias do atual modelo de produccedilatildeo agriacutecola predominante no Brasilrdquo 2- uma leitura do padratildeo de desenvolvimento rural estabelecido no Brasil e Nordeste relacionados ao agronegoacutecio com o toacutepico ldquoAgronegoacutecio e o desenvolvimento rural no Brasil e Nordesterdquo e por fim 3- a apresentaccedilatildeo da Agroecologia enquanto alternativa natildeo somente ao modelo agriacutecola de produccedilatildeo predominante mas tambeacutem como (des)envolvimento do desenvolvimento excludente e predatoacuterio que vemos nos dias de hoje no esta-do de Sergipe tendo como perspectiva a sustentabilidade Para isso nos apoia-remos em algumas experiecircncias observadas no estado de Sergipe e que seratildeo expostas no terceiro toacutepico denominado ldquoUm breve olhar sobre o caminhar agroecoloacutegico no estado de Sergiperdquo Por fim 4- faremos a sistematizaccedilatildeo das principais ideias abordadas considerando as conquistas e desafios observados para o estado de Sergipe levando em consideraccedilatildeo os elementos discutidos ao longo do texto e as experiecircncias apresentadas

2 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO E CONTROVEacuteRSIAS DO ATUAL MODELO DE PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA PREDOMINANTE NO BRASIL

A agricultura conservadora que surgiu apoacutes o iniacutecio da Revoluccedilatildeo Indus-trial trouxe consigo promessas de teacutecnicas avanccediladas de produccedilatildeo aumento da produtividade e principalmente o suprimento da baixa oferta de alimen-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 203

tos provocada pelo grande investimento de capital na induacutestria beacutelica antes e durante a Segunda Guerra Mundial Nestes periacuteodo pacotes tecnoloacutegicos foram disseminados sem que houvessem maiores informaccedilotildees a respeito dos danos e prejuiacutezos na sua utilizaccedilatildeo fazendo com que um nuacutemero consideraacutevel de produtores de grande e meacutedio porte fossem conquistados pelas promessas de altos iacutendices de produccedilatildeo baixa nos percentuais de perda das safras por consequecircncia dos ldquoinimigos naturaisrdquo e a idealizaccedilatildeo distoacutepica da garantia de desenvolvimento rural em decorrecircncia da inserccedilatildeo dos novos elementos nos sistemas de produccedilatildeo como insumos quiacutemicos fertilizantes sinteacuteticos e ma-quinaacuterios pesados a chamada modernizaccedilatildeo da agricultura

Os processos que envolvem o periacuteodo de modernizaccedilatildeo da agricultura com a incorporaccedilatildeo de tecnologias baseadas na utilizaccedilatildeo de insumos beneficiaram um setor especiacutefico da sociedade detentores do capital para investimento e possuidores de terras altamente produtivas tornando mais evidente as desi-gualdades existentes no campo principalmente em relaccedilatildeo agrave posse de aacutereas para moradia e produccedilatildeo Desta forma o fortalecimento do discurso elaborado para estabelecer a propagaccedilatildeo dos pacotes tecnoloacutegicos ldquocapazesrdquo de garantir estabilidade econocircmica melhoria no rendimento das safras e seguranccedila ali-mentar conquistou em todo o mundo agricultores de meacutedio e grande porte natildeo alcanccedilando os pequenos agricultores que ficaram agrave margem das tecno-logias aplicadas ao campo Jaacute os ldquobeneficiadosrdquo grandes latifundiaacuterios com o passar do tempo viram-se presos as condiccedilotildees de dependecircncia constante dos insumos quiacutemicos difundidos pelo novo modelo de produccedilatildeo enquanto as problemaacuteticas relacionadas agrave fome e desigualdade no meio rural e urbano continuaram sem soluccedilatildeo

Aleacutem dos prejuiacutezos na base e estrutura da sociedade a Revoluccedilatildeo Verde tambeacutem contribuiu direta e intensificadamente com fatores relacionados aos problemas ambientais como degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo do solo contamina-ccedilatildeo de aacutereas atraveacutes da utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos a ocorrecircncia de desequiliacutebrio dos ecossistemas afetados pela diminuiccedilatildeo ou excesso populacional da fauna e flora diminuiccedilatildeo e ateacute extinccedilatildeo da diversidade de alimentos consumidos con-forme as diferentes culturas e localidades a poluiccedilatildeo das aacuteguas etc Produtores e consumidores passaram a inalar e ingerir agrotoacutexicos atraveacutes do contato dire-to indireto ou pela ingestatildeo dos alimentos adquirindo problemas relacionados a sauacutede e nutriccedilatildeo e que estatildeo intimamente relacionados aos componentes existentes em venenos que deveriam afetar apenas as ldquopragasrdquo em seus culti-vos como preceituam as propagandas

204 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Podemos citar tambeacutem problemas socioeconocircmicos decorrentes da impos-sibilidade de permanecircncia dos agricultores no campo que por sua vez migra-ram para os centros urbanos em busca de emprego poreacutem sem que houvesse um acompanhamento das possibilidades concretas de estabilizaccedilatildeo nas cida-des Em virtude disso boa parte destas pessoas acabaram por viver agrave margem da sociedade com pouca estrutura motivadas pela esperanccedila de melhorias e contribuindo mesmo que de maneira inconsciente para o aumento da reserva de matildeo-de-obra durante a consolidaccedilatildeo da Revoluccedilatildeo Industrial

Segundo Caporal (2009) ao tratar sobre o periacuteodo de incorporaccedilatildeo das pro-postas relacionadas agrave Revoluccedilatildeo Verde no final da Segunda Guerra Mundial ldquoa Revoluccedilatildeo Verde que ia resolver o problema da fome no mundo foi um fracas-so Hoje temos mais de 800 milhotildees de famintos no mundordquo Apesar disso natildeo podemos negar os avanccedilos conquistados atraveacutes de melhorias na produccedilatildeo e produtividade de alguns produtos em especial em algumas regiotildees dos paiacuteses Todavia ao observarmos o suposto ldquosucessordquo da Revoluccedilatildeo Verde precisamos apontar os tantos danos tatildeo graves quanto a proacutepria fome como por exemplo os problemas sociais e ambientais o expressivo distanciamento econocircmico en-tre as classes sociais ocasionado pelo proacuteprio modelo de produccedilatildeo que con-sequentemente fortalece a diferenciaccedilatildeo social empobrecimento e endivida-mento dos agricultores aleacutem da crescente e constante perda da biodiversidade e suas implicaccedilotildees para a sanidade da vida

Podemos notar os efeitos disso nas palavras de Altieri (2004 pg 19) e que convergem com o pensamento de Caporal quando ele diz que

A crise agriacutecola-ecoloacutegica existente hoje na maior parte do Terceiro

Mundo resulta do fracasso do paradigma dominante de desenvolvi-

mento As estrateacutegias de desenvolvimento convencionais revelaram-

-se fundamentalmente limitadas em sua capacidade de promover

um desenvolvimento equacircnime e sustentaacutevel Natildeo foram capazes

nem de atingir os mais pobres nem de resolver o problema da fome

da desnutriccedilatildeo ou as questotildees ambientais

Neste sentido Caporal (2009 pg 85) complementa ao dizer que

a natureza nessa loacutegica passou a ser vista simplesmente como um

conjunto de recursos a serem usados pelo homem () passadas es-

tas deacutecadas de desenvolvimentismo estamos vendo cair por terra

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 205

um por um dos iacutecones da modernizaccedilatildeo agriacutecola () o que sabemos

agora eacute que pouco a pouco muitos dos cientistas que recomen-

davam e ensinavam o uso dos chamados pacotes tecnoloacutegicos da

Revoluccedilatildeo Verde foram reorganizando seus conhecimentos e des-

mistificando aqueles padrotildees tecnoloacutegicos dados os problemas que

foram se evidenciando

Portanto apesar dos expressivos resultados obtidos a partir da moderni-zaccedilatildeo da agricultura as contradiccedilotildees deste modelo conservador de produccedilatildeo aleacutem de evidenciar diversas problemaacuteticas ambientais contribui para acentuar as questotildees sociais e econocircmicas presentes no meio rural e urbano ao privile-giar os interesses de uma das classes detentora natildeo somente dos meios de pro-duccedilatildeo mas tambeacutem dos territoacuterios e recursos necessaacuterios para proposiccedilatildeo de um desenvolvimento equacircnime tratando-se entatildeo de conflitos de interesses Um modelo de produccedilatildeo que estaacute a serviccedilo do capital financeiro e latifundiaacuterio deixando de lado os indiviacuteduos que sofreram e sofrem as consequecircncias deste processo de modernizaccedilatildeo

3 AGRONEGOacuteCIO E O DESENVOLVIMENTO RURAL NO BRASIL E NORDESTE

Historicamente o agronegoacutecio cadeia produtiva que vai desde o plantio ateacute a industrializaccedilatildeo surge no Brasil mais precisamente na regiatildeo sul na deacutecada de 1970 a fim de elevar o Brasil ao patamar de grande exportador de commo-dities (produtos que funcionam como mateacuteria-prima produzidos em grande escala e que podem ser estocados sem perda da qualidade) Ao instalar-se defi-nitivamente as consequecircncias imediatas satildeo o desemprego uma vez que o uso da tecnologia ateacute entatildeo desconhecida pelo trabalhador rural o obriga a buscar emprego na cidade Outra consequecircncia foi o endividamento do pequeno pro-dutor que natildeo conseguia vender seu produto por produzir em pequena escala com isso natildeo podia pagar as parcelas do empreacutestimo com o banco assim levan-do a perda de sua propriedade (ARAUacuteJO 2010)

A instabilidade poliacutetica e econocircmica da eacutepoca leva ao fenocircmeno do ecircxodo rural O camponecircs se vecirc obrigado a deixar o campo indo para a cidade uma grande parte rumou para o Paraguai atraiacutedos por promessas de terras baratas para plantar soja pelo interesse do governo paraguaio em ocupar a fronteira Brasil-Paraguai em decorrecircncia da construccedilatildeo da hidreleacutetrica de Itaipu Outros

206 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

ainda rumaram para o cerrado brasileiro pois a Embrapa implantava um sis-tema de correccedilatildeo do aacutecido solo do cerrado para receber o agronegoacutecio para plantar soja em grande escala (ARAUacuteJO 2010)

Jaacute na deacutecada de 1982 no Sul surgem as primeiras revoltas os agora denomi-nados sem-terra invadem a cidade de Porto Alegre armados com foices facotildees e enxadas Em 1985 esse movimento ganha dimensotildees nacionais levantando como instrumento de luta a invasatildeo de terras improdutivas (ARAUacuteJO 2010)

A agricultura apresenta duas faces de um lado o agronegoacutecio subsidiado pelo governo e do outro lado o pequeno produtor sem incentivo governa-mental onde todas as atenccedilotildees se voltam para a produccedilatildeo agriacutecola em larga escala para a exportaccedilatildeo

Hoje uma das grandes frentes de expansatildeo do agronegoacutecio eacute o Nordes-te brasileiro com a transposiccedilatildeo do Rio Satildeo Francisco por exemplo as terras aacuteridas satildeo preparadas para o plantio em alta escala causando significativas mudanccedilas poliacuteticas econocircmicas sociais e territoriais A regiatildeo Nordeste eacute consi-derada promissora em decorrecircncia de seu clima (altas temperaturas baixa umi-dade relativa do ar luminosidade) aleacutem da desvalorizaccedilatildeo da terra levando o pequeno produtor a arrendar sua terra para as grandes induacutestrias pois se torna impossiacutevel concorrer com os grandes investidores

Por fim refletimos que o agronegoacutecio trouxe realmente grandes avanccedilos agrave regiatildeo Nordeste produzindo riqueza mas por outro lado a pobreza se alas-tra de forma que eacute visiacutevel o aumento do nuacutemero de favelas natildeo soacute nas aacutereas urbanas mas como na aacuterea rural o agravamento dos problemas ambientais a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e fundiaacuteria satildeo exemplos do que o modelo agriacutecola dominante promove

Emergem entatildeo discussotildees a respeito da promoccedilatildeo de modelos alternativos em seus diversos niacuteveis sendo um deles a Agroecologia que tem como princiacute-pios e meacutetodos desenvolver uma agricultura capaz de estabelecer um ambien-te consistente altamente produtivo e economicamente viaacutevel (RITTER CASTE-LAN GRIGOLETTO 2003) Como alternativa ao modelo ainda predominante de produccedilatildeo a Agroecologia mostra-se como proposta de uma agricultura mais ecologicamente saudaacutevel nos diversos sentidos e compreensotildees da palavra jaacute que estaacute presente como caracteriacutestica em vertentes possiacuteveis decorrentes dos movimentos ambientalistas num contexto que tem base em debates que tra-tam de desenvolvimento em conjunto com a sustentabilidade (ELICHER 2004) Assegurar a qualidade de vida e simultaneamente suprir as demandas sociais na perspectiva do avanccedilo tecnoloacutegico apresenta-se como um grande desafio

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aos olhos deste debate jaacute que existe a constante preocupaccedilatildeo com o equiliacutebrio recuperaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos recursos naturais para a atual e futuras geraccedilotildees

4 UM BREVE OLHAR SOBRE O CAMINHAR AGROECOLOacuteGICO NO ESTADO DE SERGIPE

A Agroecologia eacute a ciecircncia que busca entender o funcionamento dos agros-sistemas complexos bem como os das diferentes interaccedilotildees entre os seres vivos tendo como princiacutepio a conservaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo da biodiversidade como base para produzir auto regulaccedilatildeo e consequentemente sustentabilida-de (ASSIS et al 2002 pg 67-80) Desta forma a Agroecologia pode contribuir de sobremaneira como mecanismo para enfrentamento da atual crise socioam-biental onde o processo civilizatoacuterio traduz uma destruiccedilatildeo dos ecossistemas (BOFF 1995) Assim organizaccedilotildees internacionais estados e municiacutepios vecircm buscando novos caminhos de modo a tentar minimizar esse modelo de agri-cultura dominante no Brasil Na perspectiva de buscar uma melhor convivecircncia do homem com a natureza com o intuito de minimizar a desigualdade social de modo que todas as pessoas possam ser alimentadas de forma digna como rege o Art 6ordm da Constituiccedilatildeo Federal de 19881

Assim o que se percebe eacute que cada dia vem crescendo o movimento agroe-coloacutegico que se figura como um novo pensar de produccedilatildeo agriacutecola diferente do modelo convencional Para tanto se faz necessaacuterio realizar o processo chamado de transiccedilatildeo da agricultura convencional para a agroecoloacutegica esta por sua vez tem como proposta produzir alimentos saudaacuteveis sem usos de defensivos quiacute-micos tudo isso interagindo com os recursos naturais hora existente nas pro-priedades garantindo assim perspectivas de melhoria de vida para a atual e as futuras geraccedilotildees Na perspectiva da promoccedilatildeo de uma condiccedilatildeo de vida digna onde todos possam conviver de forma integrada de modo a provocar a con-vocaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da agroecologia como destaca (ALTIERI 1998) que a agroecologia eacute a dinacircmica produtiva da agricultura sustentaacutevel eacute sem duacutevida um poderoso instrumento de visualizaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo da agroecologia como aacuterea de conhecimento e como praacutetica produtiva

1 Art 6ordm da CF- Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o transporte o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assis-tecircncia aos desamparados na forma desta

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Ademais a produccedilatildeo agroecoloacutegica requer um manejo adequado das accedilotildees humanas com a natureza seja no cuidado adequado com o solo as plantas e as aacuteguas isso exige um rearranjo das relaccedilotildees das pessoas entre si e com a na-tureza das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo e participaccedilatildeo efetiva nas accedilotildees realizadas sem a degradaccedilatildeo ambiental do territoacuterio Nas palavras de Altieri (1987 pg 66) ldquouma estrateacutegia fundamental na agricultura sustentaacutevel eacute recuperar a diversida-de agriacutecola no tempo e no espaccedilo atraveacutes de rotaccedilotildees de culturas cultivos de cobertura consorciaccedilotildees sistemas de cultivo-criaccedilatildeo etcrdquo Neste sentido faz-se necessaacuterio a aplicabilidade de poliacuteticas puacuteblicas com accedilotildees mais efetivas de governos que contribuam com as melhorias da praacutetica dessa agricultura a ser realizada de forma sustentaacutevel Quando se fala em agroecologia fala-se da valo-rizaccedilatildeo do saber do homem do campo e do processo cultural de um territoacuterio

Numa perspectiva atual a Agroecologia reflete um pensamento muito mais amplo natildeo soacute como sustentabilidade mas como regeneraccedilatildeo com relaccedilatildeo ao solo degradado erosatildeo salinizaccedilatildeo ou seja a recuperaccedilatildeo da capacidade pro-dutiva dos recursos naturais Deste modo algumas accedilotildees de recuperaccedilatildeo jaacute es-tatildeo sendo utilizadas com o intuito de minimizar o efeito das accedilotildees do homem para com a natureza Vale destacar o Programa um milhatildeo de cisternas (P1MC e P1+) onde atraveacutes do programa pode oportunizar o armazenamento de aacutegua com a captaccedilatildeo de aacutegua da chuva atraveacutes das cisternas de placas tanto para o consumo humano e aacutegua para produccedilatildeo de alimentos (ASA Brasil)2 Quan-to agrave prevenccedilatildeo e recuperaccedilatildeo de aacutereas degradas alguns estados do nordeste pode contar com as URADS3 programa desenvolvido pelo Ministeacuterio de Meio Ambiente (MMA) atraveacutes do Departamento de Desenvolvimento Rural Susten-taacutevel e Combate agrave Desertificaccedilatildeo (DRSD) no estado de Sergipe o primeiro ex-perimento estaacute sendo realizado no municiacutepio de Poccedilo Redondo (MMA 2019) Aleacutem do projeto Manejo da Caatinga consistia em proposiccedilotildees de manejo da vegetaccedilatildeo nativa na regiatildeo semiaacuterida a proposta teve o apoio do Ministeacuterio do Desenvolvimento Social ndash MDS onde fora realizada junto as accedilotildees do Projeto

2 A ASA eacute uma rede que defende propaga e potildee em praacutetica inclusive atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas o projeto poliacutetico da convivecircncia com o Semiaacuterido Eacute uma rede que eacute formada por mais de trecircs mil organizaccedilotildees da sociedade civil de distintas naturezas ndash sindicatos rurais associaccedilotildees de agriculto-res e agricultoras cooperativas ONGacutes Oscip etcEssa rede conecta pessoas organizadas em entidades que atuam em todo o Semiaacuterido defendendo os direitos dos povos e comunidades da regiatildeo As entidades que integram a ASA estatildeo organizadas em foacuteruns e redes nos 10 estados que compotildeem o Semiaacuterido Brasileiro (MG BA SE AL PE PB RN CE PI e MA)3 URADS Unidades de Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas e Reduccedilatildeo da Vulnerabilidade

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Dom Helder Cacircmara4 (MDS 2011) Vale salientar que essas praacuteticas todas elas perpassam pelo vieacutes agroecoloacutegico

Accedilotildees como essas estatildeo sendo realizadas no Brasil bem como em Sergipe O que se vecirc no estado de Sergipe eacute a procura pelos produtos agroecoloacutegicos apesar do conflito eminente com a agricultura convencional

No estado de Sergipe teacutecnicos da Empresa de Desenvolvimento Agropecu-aacuterio de Sergipe ndash EMDAGRO preocupados com a situaccedilatildeo agriacutecola no estado fizeram proposiccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intercacircmbio no ano de 1985 onde vin-te seis agricultores familiares puderam conhecer experiecircncias agroecoloacutegicas exitosas no estado de Satildeo Paulo Jaacute no ano de 1998 surge a parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria ndash EMBRAPA com a EMDAGRO a qual pro-porcionou a estrutura do Centro de Treinamento da EMDAGRO que atualmen-te eacute uma unidade de pesquisa e difusatildeo de tecnologias agroecoloacutegicas para todo o Estado de Sergipe e em especial para a Regiatildeo do Agreste ver Figura 1

Figura 1 - Experiecircncia Agroecoloacutegica no Centro de Treinamento da EMDAGROSE

Foto Elis Gardecircnia Santos ndash marccedilo 2019

Vale destacar a experiecircncia da produccedilatildeo orgacircnicaagroecoloacutegica no estado de Sergipe realizada pela Associaccedilatildeo de Produtores Orgacircnicos do Agreste ndash

4 PROJETO DOM HELDER CAMARA O Projeto Articulaccedilatildeo e Diaacutelogo Sobre Poliacuteticas Para Reduzir a Pobreza e Desigualdade no Nordeste Semiaacuterido ndash Projeto Dom Helder Cacircmara eacute uma decorrecircncia de Acordos de Empreacutestimos firmados entre a Repuacuteblica Federativa do Brasil e o Fundo Internacio-nal de Desenvolvimento Agriacutecola ndash FIDA

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ASPOAGRE que em parceria com a Associaccedilatildeo de Engenheiros Agrocircnomos de Sergipe ndash AEASE vem promovendo a feira de produtos orgacircnicos e manteacutem pontos comerciais para venda de seus produtos em Aracaju e Itabaiana

No ano de 2000 foi criada a Associaccedilatildeo dos Produtos Orgacircnicos do Agreste -ASPOAGRE a mesma sendo composta por 18 associadosas aonde se destaca a produccedilatildeo de frutas e hortaliccedilas a ASPOAGRE possui o Selo Orgacircnico conce-dido pelo Instituto Biodinacircmico (IBD) desde o ano 2004 Jaacute no ano de 2009 foi criada a Central ndash Organizaccedilatildeo de Controle Social - OCS Agreste

E no ano de 2012 criou-se a Associaccedilatildeo de Produtores do Agreste de Ser-gipe - APRAS com cerca de 21 produtores rurais associados onde os mesmos conseguiram a aquisiccedilatildeo de uma unidade produtiva localizada no povoado Ca-naacuterio no municiacutepio de Ribeiroacutepolis com apoio do Instituto G Barbosa a Univer-sidade Federal de Sergipe - UFS e EMDAGRO Houve a criaccedilatildeo tambeacutem no ano de 2014 da Cooperativa de Produccedilatildeo Sustentaacutevel do Estado de Sergipe ndash COO-PERSUS ela eacute formada por produtores agroecoloacutegicos que possui a certificaccedilatildeo agroecoloacutegica tendo em sua composiccedilatildeo vaacuterios municiacutepios e sergipanos

A partir do ano 2016 acontece na Universidade Federal de Sergipe uma vez por semana a venda direta de produtos da agricultura familiar de base ecoloacutegica a estudantes professores e funcionaacuterios do campus da UFS em Satildeo Cristoacutevatildeo bem como aos moradores do entorno da Universidade Na feira eacute possiacutevel iden-tificar agricultores e agricultoras de diversas regiotildees no estado de Sergipe

Apoacutes a criaccedilatildeo das organizaccedilotildees foi possiacutevel ir agrave busca de mais parceiros sendo que no ano de 2016 a COOPERSUS faz parceria com a Associaccedilatildeo de Produtores de Malhador ndash APM com o intuito de conseguirem o ocircnibus surge assim agrave feira sobre rodas Este ocircnibus tem por objetivo realizar vendas de pro-dutos agroecoloacutegicos em diversos espaccedilos bairros na cidade de Itabaiana e do municiacutepio de Aracaju ver Figura 2

Jaacute em marccedilo de 2017 foi possiacutevel realizar o credenciamento das coopera-tivas no Organismo Participativo de Avaliaccedilatildeo da Conformidade Orgacircnica do Estado de Sergipe - OPAC de Sergipe junto ao Serviccedilo de Poliacutetica e Desenvolvi-mento Agraacuterio ndash SEPDAG da Superintendecircncia Federal da Agricultura

Em Sergipe no ano de 2018 fora instituiacutedo o Decreto da Agroecologia de nordm 40051 que regulamenta a Lei 727011 do Governo do Estado de Sergipe Eacute uma grande vitoacuteria para a populaccedilatildeo camponesa que entende a Agroecologia como um modo de vida adequado para o rural Brasileiro Figura 3

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Figura 2 - Feira produtos agroecoloacutegicos sobre rodas

Foto EMDAGRO 2019

Figura 3 ndash Fluxograma da caminhada da agroecologia em Sergipe

Fonte as autoras

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O estado de Sergipe ainda conta com a Comissatildeo Estadual de Produccedilatildeo Or-gacircnica de Sergipe - CPOGSE E foi em 2006 que fora criado a Rede Sergipana de Agroecologia ndash RESEA que eacute uma rede de instituiccedilotildees e organizaccedilotildees da so-ciedade civil de caraacuteter poliacutetico e apartidaacuterio vinculada a Articulaccedilatildeo Nacional de Agroecologia ndash ANA com a finalidade de fomentar espaccedilos de articulaccedilatildeo reflexatildeo sistematizaccedilatildeo das praacuteticas agroecoloacutegicas no estado e proposiccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas

Portanto esse movimento chamado agroecoloacutegico natildeo para Ele segue em reuniotildees visitas aos produtores com o intuito de sensibilizaccedilatildeo para a produ-ccedilatildeo agroecoloacutegica realizaccedilatildeo de intercacircmbios identificaccedilatildeo de produtores com o intuito da participaccedilatildeo e envolvimento no movimento agroecologico Figura 04

Figura 4 - Sementes produzidas de forma agroecoloacutegica na regiatildeo do alto sertatildeo em Nossa Senhora da GloacuteriaSE

Foto Elis Gardecircnia dos Santos - fevereiro 2019

No cenaacuterio atual ano de 2019 o que se pauta foi agrave realizaccedilatildeo do XI Congres-so Brasileiro de Agroecologia (XI CBA) do estado de Sergipe na Universidade Federal de Sergipe congresso esse que reuniu centenas de pessoas de diversas regiotildees do estado do paiacutes e tambeacutem de outros paiacuteses sensiacuteveis para discutir e pautar esse modo de produccedilatildeo sustentaacutevel que eacute a agroecologia

A partir do que fora apresentado ateacute o momento percebe-se que a Agroe-cologia eacute uma accedilatildeo para enfrentar diversos percalccedilos frente as vaacuterias conjuntu-ras poliacuteticas bem como as questotildees ambientais e eacute neste ambiente que estaacute

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inserida a agricultura conservadora Esta por sua vez precisa de intervenccedilotildees poliacuteticas e que sejam de fato efetivas de modo a atingir todos os setores que desenvolvam esses trabalhos principalmente a agricultura familiar de base agroecoloacutegica Tendo em vista alguns condicionantes que atuam como agen-tes no processo econocircmico em detrimento de falhas no funcionamento dos mercados e gerando resultados que distorcem a distribuiccedilatildeo intersetorial da renda e do emprego na economia que prejudicam o abastecimento domeacutestico (LEITE 2001 pg 16)

Se faz necessaacuterio memorizar conhecer e refletir sobre o passado onde o processo de construccedilatildeo era coletivo assim o que nos resta tentar continuar nessa busca por proposiccedilotildees e caminhos que possam garantir uma agricultura sustentaacutevel e igualitaacuteria a qual tende a apontar caminhos para reconexatildeo pla-netaacuteria

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao longo das discussotildees apresentadas ateacute aqui vimos de maneira simplifi-cada parte do processo histoacuterico que constitui o modelo predominante de pro-duccedilatildeo agriacutecola conhecido por alguns teoacutericos como agricultura conservadora Modelo este que traz consigo caracteriacutesticas positivas no que tange a acelera-ccedilatildeo da produccedilatildeo em larga escala a chamada modernizaccedilatildeo mas que tambeacutem resulta em consequecircncias compreendidas como prejudiciais em vaacuterios aspec-tos jaacute que natildeo atende as demandas locais regionais e nacionais do (des)envol-vimento aleacutem de evidenciar questotildees relacionadas ao social como ecircxodo rural desemprego especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e fundiaacuteria endividamento dos peque-nos produtores que consequentemente ocasionou a perda de suas proprieda-des e questotildees relacionadas ao ambiental como degradaccedilatildeo e desertificaccedilatildeo do solo contaminaccedilatildeo das aacuteguas perda da biodiversidade reduccedilatildeo da varieda-de de alimentos produzidas causando a extinccedilatildeo de diversas sementes criou-las que por sua vez interferiu diretamente da cultura dos povos que passaram a nivelar boa parte do que eacute consumido Vale ressaltar tambeacutem os incidentes diretamente relacionados ao manejo ingestatildeo e inalaccedilatildeo dos agrotoacutexicos que afetam a sauacutede da populaccedilatildeo como um todo

Ao abordarmos a forma de produccedilatildeo agroecoloacutegica realizada em diversas regiotildees do Paiacutes nos remetemos ao iniacutecio da jornada agriacutecola onde o cultivo de alimentos se dava de forma saudaacutevel respeitando o princiacutepio da economia solidaacuteria

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O modelo agriacutecola dominante tem como principal objetivo a produccedilatildeo em larga escala e para tanto utiliza praacuteticas que natildeo viabilizam a sustentabilidade e tem como uma das principais implicaccedilotildees a degradaccedilatildeo do solo e a contami-naccedilatildeo dos produtos agriacutecolas por agrotoacutexicos

Considerando os dois modelos de produccedilatildeo agriacutecola o dominante e o agro-ecoloacutegico percebe-se que enquanto um tem como seu principal estiacutemulo agrave ex-portaccedilatildeo o outro a sustentabilidade

Para a populaccedilatildeo em geral essa dicotomia parece natildeo a afligir uma vez que natildeo consegue enxergar de forma clara e objetiva os malefiacutecios que adveacutem da voracidade do (des)envolvimento a qualquer custo

A induacutestria domina todos os setores da cadeia produtiva tendo como prin-cipal aliada a tecnologia lanccedilando no mercado produtos manufaturados tra-vestidos de alimento

Em se tratando da realidade sergipana nos uacuteltimos 30 anos a agroecologia vem trilhando um caminho aacuterduo tendo em vista a resistecircncia dos agricultores e a falta de incentivo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas deficitaacuterias e seletivas

Tendo em vista que os nossos recursos naturais satildeo finitos soacute nos resta mais do que nunca tentar promover uma melhor sobrevivecircncia na terra com intuito de preservar conservar e valorizar todos os recursos existentes na ter-ra principalmente a integridade humana e a partir deste tentar remontar e construir novos haacutebitos e tendo como foco a sobrevivecircncia das pessoas na terra e deixar o estigmar do ter e possuir a partir do momento que pensar-mos em adquirir algo possamos nos perguntar Estou realmente precisando disso agora

REFEREcircNCIAS

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ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA NO BRASIL E O ACESSO AS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITOS

Delmira Santos da Conceiccedilatildeo SilvaEliane de Souza Barbosa Joseacute Heleno Alves da SilvaNuacutebia Dias dos Santos

INTRODUCcedilAtildeO

O Brasil eacute um paiacutes de dimensotildees continentais e tem em suas raiacutezes um longo periacuteodo de concentraccedilatildeo de capital gerando desigualdades sociais e econocircmi-cas O modelo de desenvolvimento poliacutetico brasileiro contribuiu para que esse processo ganhasse forccedila no decorrer dos anos pois as poliacuteticas puacuteblicas adota-das privilegiavam a elite (proprietaacuterios de terra) deixando de lado boa parte da populaccedilatildeo pobre de nosso paiacutes A afirmativa se configura no campo brasileiro quando se relata as lutas dos campesinos dos ex-escravos e dos imigrantes que se iniciou no periacuteodo colonial e perdura ateacute nos dias hodiernos

Assim como a distribuiccedilatildeo de terras as poliacuteticas puacuteblicas criadas e imple-mentadas no Brasil tambeacutem aconteceram de forma assimeacutetrica Os campone-ses natildeo se enquadravam no modelo de modernizaccedilatildeo do paiacutes pois eram tidos dentre outras concepccedilotildees como atrasados A distribuiccedilatildeo das poliacuteticas puacutebli-cas no campo visava beneficiar os latifundiaacuterios os quais passavam a dispor do acesso agraves teacutecnicas agraves tecnologias e ao creacutedito necessaacuterias para a manutenccedilatildeo do empreendimento em nome do desenvolvimento econocircmico do paiacutes Diante disso eacute imprescindiacutevel notar que o modelo poliacutetico adotado no Brasil ancorava--se no crescimento econocircmico deixando de lado as questotildees de cunho social e ambiental corroborando para acentuar a desigualdade socioespacial no meio rural e dentre as distintas regiotildees do paiacutes

As injusticcedilas sociais causadas pelo modelo de desenvolvimento poliacuteticoeconocircmico do Brasil impactaram o modo de vida das populaccedilotildees nodo cam-po as quais foram impelidas accedilotildees mediante os movimentos sociais As lutas foram responsaacuteveis por conquistas importantes dentre elas a promulgaccedilatildeo da Lei Federal nordm 4504 de 1964 que dispotildee sobre o Estatuto da Terra e outras pro-

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videcircncias prevendo em seu Art 1deg ldquoos direitos e obrigaccedilotildees concernentes aos bens e imoacuteveis rurais para os fins de execuccedilatildeo da Reforma Agraacuteria e promoccedilatildeo da Poliacutetica Agriacutecolardquo (BRASIL 1964) Embora a criaccedilatildeo deste documento tenha sido apresentado como instrumento de funccedilatildeo social na praacutetica sua execuccedilatildeo serviu aos interesses dos grandes proprietaacuterios de terra natildeo conseguiu desem-penhar formas expressivas no que concerne a distribuiccedilatildeo de terras

A Lei foi inoacutecua de um lado tecircm-se a promulgaccedilatildeo da lei que na praacutetica serviu ideologicamente para sinalizar os movimentos sociais nodo campo e os trabalhadores rurais a intenccedilatildeo do Estado em realizar a justa distribuiccedilatildeo de terras no territoacuterio brasileiro No entanto a praacutetica foi a de fortalecimento dos latifundiaacuterios com a concessatildeo de linhas de financiamento farto para a moder-nizaccedilatildeo do latifuacutendio e induccedilatildeo do processo urbano-industrial com a opccedilatildeo do agronegoacutecio de monocultivos-exportados como alavanca do desenvolvimen-to poliacuteticoeconocircmico

O estudo tem como objetivo analisar o processo histoacuterico da estrutura fun-diaacuteria do Brasil as poliacuteticas de creacuteditos e os impactos provocados ao agricultor camponecircs E como procedimento metodoloacutegico a abordagem qualitativa me-diante a revisatildeo bibliograacutefica que consistiraacute nas informaccedilotildees e dados que servi-ram de base para a construccedilatildeo desse estudo bem como para a reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas que possam atender as necessidades do homem do campo sem comprometer os recursos advindos do meio natural

Torna-se inquietante saber que mesmo se passando anos natildeo houve mu-danccedilas na distribuiccedilatildeo de terra do paiacutes As desigualdades socioespaciais afetam a populaccedilatildeo menos favorecida economicamente o que se pode verificar eacute o avanccedilo dos problemas socioambientais oriundos das exploraccedilotildees exacerbadas e a agricultura expotildee para o aprofundamento dessa problemaacutetica uma vez que o Estado manteacutem-se ancorado no modelo de desenvolvimento puramente eco-nocircmico sem promover uma poliacutetica capaz de atender as necessidades sociais da classe trabalhadora no campo e na cidade sem propor medidas que possam solucionar as questotildees ambientais provocadas por esse mesmo modelo

O capiacutetulo estaacute estruturado em trecircs partes a primeira apresenta o contexto histoacuterico pelo qual se desenvolveu as poliacuteticas de acesso a terra no paiacutes enfati-zando as lutas e os conflitos dos camponeses frente aos grandes proprietaacuterios de terra Em seguida satildeo apresentadas na segunda parte uma discussatildeo em tor-no das poliacuteticas assimeacutetricas de creacuteditos os avanccedilos e os retrocessos no cenaacuterio brasileiro A uacuteltima parte dispotildee de narrativas sobre desigualdade socioespacial e a concentraccedilatildeo de terra no Brasil provocados pela estrutura fundiaacuteria

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2 CONTEXTO HISTOacuteRICO DAS POLIacuteTICAS DE ACESSO A TERRA NO BRASIL

Os problemas relacionados agrave questatildeo fundiaacuteria no Brasil fazem parte de uma construccedilatildeo histoacuterica da formaccedilatildeo da propriedade privada da terra os quais satildeo advindos da proacutepria dinacircmica de funcionamento da colocircnia e da legislaccedilatildeo que foi atribuiacuteda nesse periacuteodo Furtado (1989)

O processo de formaccedilatildeo da propriedade privada no Brasil ocorre a partir de 1500 quando as terras brasileiras passaram a ser dominadas pelo Reino de Por-tugal com a instauraccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e concessotildees de terras (Ses-marias) Nesse periacuteodo (1530-1850) adotou-se a transferecircncia de propriedade regida pelo poder puacuteblico para o poder privado configurando em um momen-to na qual houve a distribuiccedilatildeo de grandes extensotildees de terra para abastecer a elite dominante que se inseri no novo territoacuterio de colonizaccedilatildeo portuguesa (SILVA 1997)

A legislaccedilatildeo portuguesa continha um impedimento racial o sistema colo-nial mantido pelo trabalho escravo o via como mercadoria Com a criaccedilatildeo da Lei de Terras em 1850 a mercadoria passou a ser a terra Nesse periacuteodo surge a grilagem que consiste no apoderamento de terras por meios fraudulentos no qual falsificava documentos escrituras com datas inferiores a promulgaccedilatildeo da Lei de terras Essas accedilotildees resultaram em grandes extensotildees de terras pelos latifuacutendios e a abertura para a formaccedilatildeo das oligarquias no Brasil (SILVA 1997)

Depois desse periacuteodo de concessatildeo de terras pelo regime sesmeiro da Corte portuguesa evidencia-se o surgimento da Lei de Terras em 1850 nesse mo-mento a posse da terra acontecia por meio da compra do leilatildeo puacuteblico a preccedilo de mercado e agrave vista Ressaltando que esta lei foi criada pelos grandes latifun-diaacuterios ou seja utilizando da loacutegica de beneficio proacuteprio e impossibilitando o acesso a terra pelos futuros negros forros e pelos imigrantes europeus que ser-viam apenas como forccedila de trabalho (FILHO FONTES 2009) Martins (1983) ao fazer a relaccedilatildeo entre a Lei de Terra e as terras devolutas sinaliza

A Lei de Terras transformava as terras devolutas em monopoacute-lio do Estado e o Estado era controlado por uma forte classe de grandes fazendeiros Os camponeses natildeo-proprietaacuterios os que chegassem depois da Lei de Terras ou aqueles que natildeo tiveram suas posses legitimadas em 1850 sujeitavam-se pois como assinalaria na eacutepoca da Aboliccedilatildeo da escravatura a um

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grande fazendeiro de cafeacute e empresaacuterio a trabalhar para a grande fazenda acumulando pecuacutelio com o qual pudesse mais tarde comprar terras ateacute do proacuteprio fazendeiro (MAR-TINS 1983 p42)

Fernandes (2017) ratifica tal afirmaccedilatildeo pontuando que mesmo diante da ocupaccedilatildeo de grandes extensotildees latifundiaacuterias muitas terras ainda se encontra-vam na condiccedilatildeo de devolutas (sem uso) fato que contribuiu para dificultar o seu acesso pelas camadas menos abastadas como os iacutendios os ex-escravos e os imigrantes europeus restringindo a compra da terra somente para agravequeles com condiccedilotildees financeiras tais como os latifundiaacuterios Diante disso seraacute que podemos titular esta separaccedilatildeo como racismo ambiental1

Posteriormente Silva (1997) aponta que as questotildees vinculadas agrave legitima-ccedilatildeo da posse que se estendeu entre meados de 1889 a 1964 ficaram para se-gundo plano O que se pode observar nesse momento foi agrave omissatildeo da Uniatildeo com os problemas relacionados agrave estrutura fundiaacuteria do paiacutes podendo com-provar o desinteresse sobre o caso mediante a aprovaccedilatildeo da lei de emissatildeo da propriedade como sendo responsabilidade dos Estados e natildeo mais como fun-ccedilatildeo da Federaccedilatildeo

A discussatildeo em torno do assunto emergiu na campanha de Jacircnio Quadros na deacutecada 1960 na qual foram levantadas questotildees como a desapropriaccedilatildeo por interesse social e questionamentos em relaccedilatildeo ao direito de propriedade e dos proprietaacuterios de terra tais reivindicaccedilotildees ganharam forccedila com a renuacutencia do re-ferido presidente alimentando os conflitos rurais e urbanos Por esse motivo o governo sucessor Joatildeo Goulart acreditava que para a implantaccedilatildeo da Reforma Agraacuteria no paiacutes seria preciso que os trabalhadores rurais e urbanos se unissem em busca do fortalecimento do movimento (FERNANDES 2017)

No governo Joatildeo Goulart foi aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei nordm 4214 de 02 de marccedilo de 1963) com a implantaccedilatildeo do documento foram cedidos direitos aos trabalhadores rurais direitos esses que antes somente era imputados aos trabalhadores urbanos a saber feacuterias registro profissional deacute-cimo terceiro salaacuterio dentre outros O governo Joatildeo Goulart assinou o decreto

1ldquoRacismo ambientalrdquo eacute um tema que surgiu no campo de debates e de estudos sobre justiccedila am-biental um clamor inicial do movimento negro estadunidense e que se tornou um programa de accedilatildeo do governo federal dos Estados Unidos por meio da EPA Environmental Protection Agency sua agecircncia federal de proteccedilatildeo ambiental O conceito diz respeito agraves injusticcedilas sociais e ambientais que recaem de forma desproporcional sobre etnias vulnerabilizadasrdquo (HERCULANO 2004 p 84)

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que instituiacutea a desapropriaccedilatildeo de aacutereas improdutivas em consequecircncia a esse ato ele foi deposto em marccedilo de 1964 o que ocasionou em enfraquecimento da luta pela Reforma Agraacuteria e o golpe militar (FILHO FONTES 2009)

No periacuteodo Militar de 1964 sob o governo do Presidente-Marechal Hum-berto de Alencar Castelo Branco foi instituiacuteda a primeira Lei da Reforma Agraacuteria no Brasil a Lei nordm 4504 conhecida como o Estatuto da Terra Esta Lei resultou da pressatildeo por parte das massas populares que natildeo estavam contentes com os rumos dado ao processo de distribuiccedilatildeo de terras no Brasil frente a sua alta concentraccedilatildeo nas matildeos de latifundiaacuterios e desfavorecendo a massa de campo-necircs (FILHO FONTES 2009) Assim Martins (1983) enfatiza

O Estatuto faz portanto da reforma agraacuteria brasileira uma reforma toacute-

pica de emergecircncia destinada a desmobilizar o campesinato sempre

e onde o problema da terra se tornar tenso oferecendo riscos poliacuteticos

O Estatuto procura impedir que a questatildeo agraacuteria se transforme numa

questatildeo nacional poliacutetica e de classe (MARTINS 1983 p93)

Sobre essa narrativa evidenciam-se as lutas de movimentos sociais do seacuteculo XIX e XX que fizeram parte da histoacuteria do Brasil desempenhando papel impor-tante visto as conquistas perante as transformaccedilotildees de cunho social e econocircmi-co proporcionando melhorias agraves condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo agriacutecola do paiacutes Dentre os movimentos sociais ocasionados pela revolta populista podem-se citar a Guerra de Canudos (1896-1897) no Nordeste Contestado (1912-1916) no Sul Ligas Camponesas deacutecada de 1950 a Guerra do Formoso (1950- 1960) e os Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) (FERNANDES 2017)

Por conseguinte eacute oportuno frisar o papel desempenhado pelas Ligas cam-ponesas um movimento que teve surgimento na deacutecada de 1950 partiu da iniciativa de arrendataacuterios de terra do interior de Pernambuco Os discursos defendidos pela Liga Campesina tinham como pauta a reforma agraacuteria que pudesse equilibrar a injusta distribuiccedilatildeo da terra o desenvolvimento rural e a distribuiccedilatildeo de poliacuteticas regionais que natildeo fossem setoriais Ateacute entatildeo as poliacute-ticas visavam atender somente as regiotildees Sul e Sudeste do paiacutes (Martins 1981) Logo entende-se que a criaccedilatildeo do Estatuto de Terras surgiu para suprimir os movimentos como a Liga Camponesa que vinha conquistando espaccedilo cada vez maior no cenaacuterio poliacutetico social e econocircmico

Logo de acordo a afirmativa de Martins (1981) o Estatuto ficou apenas no papel e natildeo foi colocado em praacutetica embora seu valor tivesse sido expressivo

222 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

na constituiccedilatildeo de um instrumento estatal de grande valia agrave execuccedilatildeo da refor-ma agraacuteria no Brasil um paiacutes assolado pela desigualdade socioterritorial que se estende desde o periacuteodo colonial e se alastra ateacute os dias atuais Romeiro (2002 p131) sintetiza ldquoA Reforma Agraacuteriardquo diz respeito a uma discussatildeo atual que tem o sentido de ldquoampliar as oportunidades de emprego no campo de modo a reduzir a pressatildeo da oferta de matildeo-de-obra no mercado de trabalho urbano-industrialrdquo

Nesse sentido Gonccedilalves Neto (1997) faz importantes consideraccedilotildees acerca das transformaccedilotildees econocircmicas e poliacuteticas do Brasil no periacuteodo que se estende de 1960 a 1980 segundo o autor esta fase da histoacuteria foi marcada pelo contraste entre essas duas deacutecadas sinalizando o surgimento de um novo paiacutes a partir das bases anteriores ou seja o Brasil deixou de ser um paiacutes rural para se transfor-mar em um paiacutes urbano Na deacutecada de 1960 mais da metade da populaccedilatildeo vivia no campo em 1980 este percentual pouco excede os 30 Muitas pessoas que viviam no campo foram morar na cidade para atender as demandas do processo urbano industrial os camponeses comporiam o quadro de forccedila de trabalho eou do exeacutercito de reserva passando a viver em condiccedilotildees de miserabilidade

No entanto o autor supracitado enfatiza que apenas o setor industrial foi afetado pelo processo de modernizaccedilatildeo enquanto que a agricultura brasileira continuava com as mesmas formas de exploraccedilatildeo cujos lucros somente a eli-te econocircmica se beneficiou enquanto a populaccedilatildeo camponesa foi reprimida com a chegada das novas tecnologias e teacutecnicas que eles natildeo conseguiam ter acesso para se inserir de forma igualitaacuteria com os grandes proprietaacuterios de terra ao processo de produccedilatildeo agriacutecola ldquoO Brasil eacute o uacutenico paiacutes das Ameacutericas criado desde o iniacutecio pelo capitalismo comercial sob a forma de empresa agriacutecolardquo (FURTADO 1989 p 93) Reiterando a afirmativa a seguir

Os camponeses foram desenraizados para que o capital pudesse se

apossar da terra e dar agrave terra um uso capitalista ou seja um uso mo-

derno racional Ao mesmo tempo os camponeses foram desenraiza-

dos porque o capital precisava que os camponeses trabalhassem de

outro modo como operaacuterios como assalariados como vendedores de

forccedila de trabalho portanto como donos de mercadoria como equiva-

lentes de mercadoria E trabalhassem segundo o ritmo e a loacutegica que eacute

proacutepria do capital (MARTINS 2003 apud SANTOS 2010 p 88)

Desse modo Oliveira (2001) aponta que os processos de concentraccedilatildeo de terra juntamente com as grilagens foram fatores que contribuiacuteram para acentu-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 223

ar a desigualdade socioespacial do Brasil O autor relaciona tais acontecimentos com a posse da terra em que se constatou ldquopoucos com muita terra e muitos com pouca terrardquo ou ateacute mesmo muitos sem nenhuma terra configurando-se em grandes conflitos no campo e na cidade conflitos que perduram ateacute hoje visto que a estrutura fundiaacuteria do nosso paiacutes foi marcada por graves problemas tais como o ecircxodo rural que por sua vez causa o desemprego subemprego segregaccedilatildeo socioespacial entre outros

A constituiccedilatildeo de 1988 que surge como um grande marco para a execuccedilatildeo de poliacuteticas rurais e urbanas natildeo trouxe nenhuma inovaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave Lei 450464 No entendimento de Steacutedile (2002) houve retrocessos e a concentraccedilatildeo da terra ainda continuavacontinua nas matildeos dos grandes proprietaacuterios legitimando o ldquolatifuacutendio produtivordquo visto natildeo ter regulamentado o artigo que dispunha sobre a desapropriaccedilatildeo de terras maiores que o limite maacuteximo de moacutedulos fiscais2 A Carta Magna natildeo foi atualizada quanto aos niacuteveis de produccedilatildeo por cada moacutedulo fiscal Apenas foram implementadas medidas provisoacuterias e ementas constitucio-nais de leis sem muita relevacircncia legislativa que pudesse mudar o cenaacuterio da questatildeo fundiaacuteria no Brasil como demonstra a figura 1a e a figura 1b

Figura 1a - Nordm de estabelecimentos agropecuaacuterios no Brasil por UFs segundo os Censos de 2006 e 2017

Fonte IBGE 2017

2 Moacutedulo fiscal trata-se de uma unidade de medida de aacuterea (expressa em hectares) fixada dife-rentemente para cada municiacutepio uma vez que leva em conta as particularidades locais como o tipo de exploraccedilatildeo predominante no municiacutepio e a renda obtida com esta exploraccedilatildeo (art 50 Lei 450464)

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Figura 1-b Aacuterea estabelecimentos agropecuaacuterios no Brasil por UFs segundo os Censo de 2006 e 2017

Fonte IBGE 2017

Os dados apontam que no periacuteodo de 2006 a 2017 a participaccedilatildeo na aacuterea total dos estabelecimentos iguais ou maiores de 1000 ha aumentou de 450 para 475 Com um aumento de 3287 estabelecimentos e de 163 milhotildees de ha a aacuterea meacutedia do grupo elevou-se de 31557 para 32724 ha Enquanto os estabelecimentos de 100 a menos de 1000 hectares perderam participaccedilatildeo na aacuterea total passando de 338 para 320 Houve entre esses estabeleci-mentos uma reduccedilatildeo de 4152 unidades e de 814574 ha com a aacuterea meacutedia variando de 2660 hectares para 2667 hectares Nos estratos intermediaacuterios (menos de 100 ha) a participaccedilatildeo se manteve praticamente estaacutevel variando de 212 para 205 com um acreacutescimo de 74942 estabelecimentos e com a aacuterea meacutedia mantendo-se em 158 ha (IBGE 2017) Diante da leitura dos dados comprova-se a continuidade da concentraccedilatildeo da terra no Brasil

Atualmente o setor financeiro impulsiona o agronegoacutecio no Brasil Fruto da globalizaccedilatildeo e reabertura econocircmica que contribuiu para a intensificaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de terras bem como a reduccedilatildeo do nuacutemero de estabelecimentos com menores aacutereas no meio rural (OLIVEIRA STEacuteDILE 2005) ldquoA luta pela terra no Brasil eacute anterior agrave luta pela Reforma Agraacuteria Como a elite dominante vem se apropriando da terra no Brasil ao longo do tempo resultou na formaccedilatildeo dos latifuacutendios existentes ateacute os dias atuais []rdquo (FERNANDES 2017 p04)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 225

Frente a essa realidade a reforma agraacuteria eacute deturpada e lentamente

cresce a perspectiva de uma reforma imobiliaacuteria Assim alguns lati-

fundiaacuterios chegam mesmo a incentivar as ocupaccedilotildees garantindo a

infraestrutura como forma de agilizar a desapropriaccedilatildeo Desse modo

a expropriaccedilatildeo eacute pervertidamente convertida em ato de compra e

venda o que chamamos aqui de mercantilizaccedilatildeo da expropriaccedilatildeo e

da desapropriaccedilatildeo da terra Aleacutem de concentrar e reter especulati-

vamente a terra latifundiaacuterios no Brasil ainda sonegam os impostos

incidentes sobre elas (FERNANDES 1999 p227)

Desse modo analisando o processo histoacuterico das poliacuteticas de acesso a terra no Brasil eacute possiacutevel identificar que ela foi marcada por lutas de classes poden-do ser sintetizada pelas relaccedilotildees entre os senhores latifundiaacuterios e os escravos no periacuteodo colonial e imperial pela relaccedilatildeo entre senhores latifundiaacuterios (co-roneacuteis) e os camponeses no periacuteodo republicano e na atual conjuntura a rela-ccedilatildeo entre os latifundiaacuterios do agronegoacutecio e os camponeses (CAMACHO 2011) provocando profundas implicaccedilotildees socioambientais e econocircmicas no paiacutes 3 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL FRENTE Agrave CONCENTRACcedilAtildeO DA TERRA

A desigualdade socioespacial eacute uma expressatildeo que se refere ao proces-so de aceleraccedilatildeo do modelo capitalista neste sentido este termo trata das relaccedilotildees que dizem respeito agrave propriedade agrave apropriaccedilatildeo de riquezas pro-duzidas nas aacutereas urbanas e rurais ao crescimento destas aacutereas agrave produccedilatildeo do espaccedilo e de como este se apropria do capital e distribui suas riquezas (RODRIGUES 2007)

A busca pelo direito e apropriaccedilatildeo do espaccedilo urbano e rural eacute marcado por dificuldades persistecircncias e lutas a exemplo das lutas de classe e dos confli-tos territoriais Deste modo estes conflitos se justificam pela necessidade de se encontrar um ponto de equiliacutebrio na forma de apropriaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de ri-quezas objetivando uma transformaccedilatildeo social que se coadune com condiccedilotildees de vida mais dignas e justas (RODRIGUES 2007) As diferenccedilas entre as aacutereas ricas e pobres existente no paiacutes apresentam complexidades que muitas vezes satildeo invisiacuteveis pelo sistema capitalista no qual grande parte dos trabalhadores que se apropriaram da terra natildeo possuem condiccedilotildees adequadas para mantecirc-la (ABREU 2012)

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Alcacircntara Filho e Fontes (2009) argumentam que o dinamismo da desigual-dade socioespacial brasileira apresenta reflexos da construccedilatildeo histoacuterica do paiacutes marcada pela colonizaccedilatildeo de exploraccedilatildeo na qual de acordo com Morissawa (2011) baseava-se na monocultura da cana-de-accediluacutecar denominada de planta-tion Esse modo de produccedilatildeo citado pelos autores caracterizou-se pelos mono-cultivos latifuacutendios e mercado exportador Essa heranccedila reitera Furtado (1989) eacute fruto da dinacircmica de funcionamento da colocircnia e das proacuteprias leis estabeleci-das no periacuteodo marcadas por inuacutemeras disparidades na distribuiccedilatildeo de terras

Nesse sentido observa-se que a concentraccedilatildeo de terras no Brasil intensifi-cou o ecircxodo rural e permitiu que os grandes latifundiaacuterios se tornassem prota-gonistas do agronegoacutecio e ditassem as regras da produccedilatildeo baseando-se em um modelo agriacutecola voltado exclusivamente para o latifuacutendio objetivando agrave monocultra e consequemente a produccedilatildeo de commodities agriacutecolas para ex-portaccedilatildeo de alimentos que provoca o uso intensivo dos recursos naturais favo-recendo as desigualdades setoriais (OXFAM BRASIL 2018)

No tocante ao modelo de desenvolvimento agriacutecola do paiacutes observa-se que desde o periacuteodo colonial a agricultura se expandiu com base na devastaccedilatildeo dos recursos naturais com praacuteticas voltadas para o monocultivo e logo apoacutes para a pecuaacuteria fortalecendo os grandes latifundiaacuterios e contribuindo para a degra-daccedilatildeo ambiental nos ecossistemas tais como a devastaccedilatildeo da Mata Atlacircntica que foi quase destruiacuteda pelo monocultivo da cana de accediluacutecar na zona da Mata no seacuteculo XVI pela cultura do cafeacute durante o seacuteculo XIX em seguida no seacuteculo XX a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria (OLIVEIRA 2010)

No momento atual ainda continua de forma exacerbada a utilizaccedilatildeo dos re-cursos naturais elencados por Oliveira (2010) como a degradaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos provocados pela contaminaccedilatildeo dos agrotoacutexicos utilizados em larga escala a saber adubos quiacutemicos pesticidas inseticidas e herbicidas que cau-sam contaminaccedilatildeo no solo nos lenccediloacuteis freaacuteticos nos cursos fluviais e ameaccedila a sauacutede do meio ambiente

As mudanccedilas ocorridas no processo de modernizaccedilatildeo urbana tambeacutem ocasionaram graves consequecircncias que foram refletidas na agricultura brasi-leira Esse resultado eacute fruto das discordacircncias sociais que ocorreram durante o processo de distribuiccedilatildeo e apropriaccedilatildeo da terra De acordo com o relatoacuterio ldquoTerrenos da Desigualdade ndash terra agricultura e desigualdades no Brasil ruralrdquo (OXFAM BRASIL 2018) quanto menor for agrave concentraccedilatildeo de terra melhores se-ratildeo os indicadores sociais para o Estado possa desenvolver poliacuteticas puacuteblicas necessaacuterias para reduzir as desigualdades no campo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 227

No entanto entanto pode-se considerar que a accedilatildeo paradoxal do Estado possibilitou que o mesmo criasse diversas condiccedilotildees para o melhoramento da produccedilatildeo agriacutecola com o intuito de amortecer os impactos da desigualde so-cioespacial por ele gerado poreacutem tais condiccedilotildees acabaram ocultando a reali-dade do espaccedilo rural ocasionando o aumento da disparidade a ampliaccedilatildeo das injusticcedilas a intensificaccedilatildeo da desigualdade e o beneficiamento de pequenos grupos donos de terra e produtores que faziam parte da poliacutetica (desigual) eco-nocircmica (NAVARRO 2001)

No Brasil eacute recorrente a realizaccedilatildeo de poliacuteticas agriacutecolas descriminatoacuterias e excludentes as quais beneficiam grupos especiacuteficos os mesmos deteacutem ateacute hoje a posse fundiaacuteria marjoritaacuteria Carvalho Filho (2008) explica que a regula-rizaccedilatildeo fundiaacuteria eacute condiccedilatildeo indispensaacutevel para manter a equidade no processo de distribuiccedilatildeo de terra O artigo 46 da Lei Federal nordm 119772009 estabelece o conceito de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria no qual prevecirc

Art 46 A regularizaccedilatildeo fundiaacuteria consiste no conjunto de medidas

juriacutedicas urbaniacutesticas ambientais e sociais que visam agrave regulariza-

ccedilatildeo de assentamentos irregulares e agrave titulaccedilatildeo de seus ocupantes de

modo a garantir o direito social agrave moradia o pleno desenvolvimento

das funccedilotildees sociais da propriedade urbana e o direito ao meio am-

biente ecologicamente equilibrado (BRASIL 2009)

Poreacutem mesmo prevista em lei a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria ainda estaacute distante de alcanccedilar um patamar mais justo e equitativo O modelo atual de distribuiccedilatildeo de terras aleacutem de provocar inseguranccedila torna-se responsaacutevel pela perpetuaccedilatildeo de diversos outros problemas de ordem social econocircmica poliacutetica e ambiental que somente seratildeo sanados a partir da efetiva regularizaccedilatildeo fundiaacuteria das pos-ses (REYDON 2017)

Silva (1980) e Castro (1982) apontam que as transformaccedilotildees e os avanccedilos capitalista Tem-se na praacutetica o uso da propriedade da terra como reserva pa-trimonial e de valor Na agricultura somados a manutenccedilatildeo de poliacuteticas go-vernamentais em beneficiamento das grandes propriedades foram alguns dos responsaacuteveis pela intensificaccedilatildeo da concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil Para eles outro grande impasse na intensificaccedilatildeo destas disparidades foi agrave adesatildeo de ter-ras com fins especulativos na qual a poliacutetica tinha como objetivo exercer poder sobre as atividades produtivas visando a proteccedilatildeo e o fundo de reservas contra os desarranjos inflacionaacuterios provenientes do sistema capitalista

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Delgado (1985) explica que os projetos de modernizaccedilatildeo e do agronegoacutecio beneficiaram principalmete os estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Paranaacute Satildeo Paulo Rio de Janeito Mato Grosso do Sul e Goiaacutes aacutereas que recebe-ram grandes investimentos no setor agroindustrial em detrimento das aacutereas de menor poder aquisitivo tais como os Estados do Nordeste e do Norte do paiacutes

Este cenaacuterio motivou a intensificaccedilatildeo das lutas promovidas pelos movimen-tos socias Os mesmos pressionaram o Estado com o intuito de amortecer os imapactos dessas disparidades mediante a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas di-recionadas para a garantia de um outro modelo de modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola Poreacutem muito pouco tem sido executado pois o Estado permanece ancorado em uma poliacutetica de carater capitalista conservador considerado he-gemocircnico dominate e desigual (RODRIGUES 2007)

Para que a modernizaccedilatildeo da agricultura ocorresse de forma mais equitati-va seria necessaacuterio que o Estado por meio da efetivaccedilatildeo de suas accedilotildees rees-truturasse as poliacuteticas de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria viabilizasse maior assistecircncia teacutecnica aos pequenos produtores e melhorasse as poliacuteticas de beneficiamento de creacutedito para o emprego de teacutecnicas modernas (MARIM 1976) Pois fortale-cendo as condiccedilotildees de direito ao creacutedito e assistecircncia teacutecnica como estruturas de negociaccedilatildeo da produccedilatildeo os impactos dessas disparidades seriam amorte-cidos e beneficiariam um maior nuacutemero de agricultores No entanto dentro da proacutepria estrutura do arranjo socioespacial em curso tem-se clareza nos limites dessas accedilotildees

4 DISTRIBUICcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITO NA AGRICULTURA CAMPONESA

O Brasil por volta de 1960 e 1970 coloca em accedilatildeo escopo de um projeto de modernizaccedilatildeo destinado agrave poliacutetica agriacutecola em paralelo com o desenvolvimento urbano-industrial Para isso necessitava de grande aporte financeiro a ser in-vestido em mateacuterias-primas maacutequinas matildeo de obra dentre outras Aleacutem disso o volume de creacutedito estaacute ligado agrave extensatildeo do negoacutecio da quantidade de insu-mos modernos bem como aos custos relacionados com a qualificaccedilatildeo de pes-soal e infraestrutura Esse agregado moldaraacute o tipo de produccedilatildeo e sua estrutura de produtividade almejada (GONCcedilALVES NETO 1997)

A agricultura brasileira no periacuteodo referenciado era considerada atrasada pois utilizava teacutecnicas para os cultivares ainda rudimentares face ao estaacutegio avanccedilado que vinha ocorrendo no setor fabril com o advento da Revoluccedilatildeo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 229

Industrial ocorrida na Inglaterra entre os seacuteculos XVIII e XIX Por outro lado o paiacutes estava passando por um processo acelerado de saiacuteda da populaccedilatildeo do campo denominado de ecircxodo rural com a finalidade de fornecer matildeo de obra agrave induacutestria Diante disso a agricultura necessitava se aperfeiccediloar para fornecer alimentos tanto aos trabalhadores da cidade quanto do campo

Dada a sua extensatildeo e atraso tecnoloacutegico de produccedilatildeo no campo o finan-ciamento passa a ser o foco da poliacutetica agriacutecola brasileira No entanto o Estado para atender a esses objetivos se deparou com distintos interesses dentre eles obedecer aos de cunho econocircmico (escassez de recursos) e aos de natureza poliacutetica a partir de pressotildees da burguesia e da proacutepria burocracia estatal Com isso reorientou e ditou o ritmo das transformaccedilotildees agriacutecolas produzindo rique-zas para um determinado setor e anomalias para outro

Conforme argumenta Pinto (1981) o avanccedilo do creacutedito rural brasileiro foi dividido em trecircs estaacutegios o primeiro remete ao iniacutecio da colonizaccedilatildeo e perdura ateacute 1937 o segundo de 1937 a 1965 e por uacuteltimo o que se estende de 1965 ateacute 1980 O periacuteodo da colonizaccedilatildeo foi marcado por uma estrutura extremamente deficiente com recursos escassos e poucas casas bancaacuterias aleacutem das altas ta-xas de juros suportada apenas para produtores com vieacutes exportador

De acordo com o autor supracitado no Brasil Repuacuteblica pouco se alterou e toda poliacutetica agriacutecola foi direcionada para a garantia dos preccedilos do cafeacute Este periacuteodo foi marcado pela ampliaccedilatildeo do creacutedito oficial decorrentes da criaccedilatildeo da Carteira de Creacutedito Agriacutecola e Industrial do Banco do Brasil (CREAI) em 1937 O objetivo desta foi ampliar o alcance do creacutedito rural desde que atendesse a uma seacuterie de normas e exigecircncias relacionadas agraves garantias Bem como a cria-ccedilatildeo de outras instituiccedilotildees para fornecer suporte ao Banco do Brasil dentre elas o Banco do Amazonas (1950) o Banco Nacional de Creacutedito Cooperativo (BNCC) em 1951 e o Banco do Nordeste do Brasil (1952) Nos periacuteodos subsequentes ocorre a institucionalizaccedilatildeo em si a partir da aprovaccedilatildeo da Lei nordm 4829 de 5 de novembro de 1965 cuja regulamentaccedilatildeo consta no Decreto nordm 58380 de maio de 1966 A qual define o creacutedito rural como suprimento de recursos financeiros por entidades puacuteblicas e estabelecimentos de creacutedito particulares a produtores rurais ou a suas cooperativas para aplicaccedilatildeo exclusiva em atividades que se en-quadrem nos objetivos indicados na legislaccedilatildeo em vigor3

3 Art 2ordm da Lei do Creacutedito Rural de 1965 ndash Lei 482965 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL4829htmgt Acesso em 01 dez 2019

230 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

De acordo com Arauacutejo (2011) a experiecircncia brasileira no tocante a poliacuteti-ca de creacutedito agriacutecola eacute diferenciaacutevel em distintos aspectos O paiacutes continua regulando fortemente os mercados financeiros com vista a atingir o desenvol-vimento econocircmico Assim as autoridades monetaacuterias e econocircmicas desem-penharam um papel importante no que diz respeito agrave criaccedilatildeo de prescriccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo deste mercado com a finalidade de ofertar creacutedito barato e seletivo para a modernizaccedilatildeo da agricultura Como por exemplo tetos e quo-tas mecanismos de desconto e redesconto exigecircncias na aplicaccedilatildeo de reservas bancaacuterias taxas preferenciais etc

Segundo Spolador e Lima (2009) o mercado de creacutedito eacute permeado por risco principalmente nos setores tidos como especial como o creacutedito rural ou aquele que necessita de um tempo de maturaccedilatildeo mais elevado o setor imobiliaacuterio Com vista a amenizar esses problemas da oferta de creacutedito aos tomadores o Estado sempre esteve agrave frente com programas e recursos para financiamento a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo o Sistema Nacional de Creacutedito Rural (SNCR) no Banco do Brasil e demais linhas creditiacutecias de financiamento de longo prazo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES)

De acordo com Arauacutejo (2011) os objetivos do SNCR consistem em i) finan-ciar uma parcela bastante significativa dos custos inerentes a operacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e de comercializaccedilatildeo ii) propiciar a formaccedilatildeo de capital iii) na pro-moccedilatildeo e agilidade na adoccedilatildeo e propagaccedilatildeo de tecnologia moderna iv) forta-lecer a posiccedilatildeo econocircmica tanto dos pequenos quanto dos meacutedios produtores rurais ndash e de forma quase que inexpressiva a utilizaccedilatildeo de creacutedito subsidiado para compensar os agricultores mais vulneraacuteveis socialmente no tocante as os-cilaccedilotildees da poliacutetica macroeconocircmica (controle de preccedilos taxas de exportaccedilotildees restriccedilotildees ao comeacutercio dentre outros) contribuindo para a industrializaccedilatildeo e controle da inflaccedilatildeo

Segundo Arauacutejo (1983) por volta de 1976 o volume creditiacutecio oriundo do Estado agrave produccedilatildeo agriacutecola cresceu substancialmente principalmente para a aquisiccedilatildeo de insumos modernos com destaque para os fertilizantes Eacute valido destacar que a distribuiccedilatildeo do creacutedito natildeo ocorria de forma homogecircnea cen-trando-se em certos grupos de agricultores que produziam basicamente soja e trigo destinados agrave exportaccedilatildeo Entretanto algumas caracteriacutesticas marcantes dessa poliacutetica merecem ser destacadas sendo uma delas o controle de taxas de juros nominais sempre abaixo da inflaccedilatildeo real em torno de 15 o que por sua vez garantiu o enriquecimento de muitos latifundiaacuterios

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Conforme Locatel (2010) os recursos para o novo paradigma produtivo contaram de forma incisiva com o apoio do Estado criando moldando leis e fornecendo empreacutestimos advindos do tesouro nacional a partir de fontes fiscais e parafiscais e com empreacutestimo do exterior vindos principalmente do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Com relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo das instituiccedilotildees privadas no creacutedito rural no periacuteodo da criaccedilatildeo do SNCR representava cerca de 30 em 1965 subiu para 45 e em 1976 retraiu para 20 e se perdurou nesse patamar ateacute o final de 1980 isso reafirma o quatildeo importante foi o Estado no financiamento da agricultura

Para o autor referenciado o caraacuteter concentrador e discriminatoacuterio da poliacuteti-ca macroeconocircmica adotada pelo Brasil corrobora para o fato de que cerca de sete culturasndashdentre elas soja laranja cafeacute cana-de-accediluacutecar algodatildeo milho e ar-roz lavouras que recebiam aproximadamente frac34 do investimento destinado ao custo total chegando a 80 A produccedilatildeo em sua predominacircncia era remetida ao mercado exportador e de mateacuterias primas para fornecer as induacutestrias Aleacutem disso o creacutedito rural subsidiado beneficiava grandes produtores latifundiaacuterios enquanto os pequenos proprietaacuterios tinham os recursos reduzidos Estima-se que apenas 20 e 25 das propriedades eram atendidas via financiamento Des-taca-se tambeacutem a desigualdade regional pois as regiotildees mais desenvolvidas do paiacutes eram as que mais recebiam recursos o Centro-Sul em detrimento ao Norte e Nordeste que compunha o maior iacutendice de desigualdade e pobreza e consequentemente maior necessidade de creacutedito acessiacutevel

No periacuteodo compreendido entre 1969-1985 o PIB referente ao setor agro-pecuaacuterio cresceu 33 vezes ultrapassando R$ 72 2 bilhotildees em 1969 para R$ 238 4 bilhotildees em 1985 Fazendo a mesma anaacutelise com o PIB total brasileiro este cresceu 303 vezes cresceu de R$ 7234 bilhotildees para R$ 21955 bilhotildees Com relaccedilatildeo agrave oferta de creacutedito para este mesmo intervalo de tempo estima-se que os recursos destinados ao custeio com aproximadamente nove a 12 me-ses de prazo somavam 60 do total de contratos e do valor dos empreacutestimos concedidos O restante era dividido para o financiamento de comercializaccedilatildeo com poucos meses e de investimento para aquisiccedilatildeo de bens de capital como por exemplo maquinaria animais e cultivos permanentes variando entre dois e oito anos (ARAUacuteJO 2011)

A deacutecada de 1980 foi marcada pelo esgotamento do Processo de Substi-tuiccedilatildeo de Importaccedilotildees devido agrave escassez de recursos externos decorrente da crise da diacutevida que limitou substancialmente e entrada de fluxos de capitais no Brasil Com isso a poupanccedila puacuteblica entrou em colapso e a inflaccedilatildeo atingiu al-

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tos niacuteveis Dessa forma proporcionou novas alternativas para o financiamento acarretando inflaccedilotildees (SPOLADOR LIMA 2009)

Para Locatel (2010) natildeo se pode denominar o processo de inovaccedilatildeo desi-gual ocorrido na agricultura brasileira a que designe como moderna tendo em vista que o avanccedilo tecnoloacutegico natildeo ocorreu de forma plena em todas as re-giotildees do paiacutes e entre todos os agricultores mas selecionou por estratos sociais e econocircmicos um pequeno grupo de interesse que se alinhava com a poliacutetica de planejamento do Estado Em contrapartida muitos produtores rurais imergi-ram na marginalizaccedilatildeo pois suas atividades tinham um caraacuteter perifeacuterico frente agrave nova organizaccedilatildeo de produccedilatildeo

Conforme Sperl e Arauacutejo (1995) ao analisarem o periacuteodo entre 1970 a 1993 observou-se que houve uma concentraccedilatildeo de creacutedito agriacutecola a niacutevel regional O montante de recursos destinados as regiotildees Sul Sudeste e Cen-tro-Oeste foi aproximadamente cerca de 90 do total de empreacutestimos En-quanto para as regiotildees Norte e Nordeste o percentual foi pouco expressivo Parte da explicaccedilatildeo estaacute assentada sob a matriz produtiva comercial que se encontra nessas regiotildees Eacute valido destacar que inicialmente o volume de capital para o financiamento rural era destinado apenas para o Sul e o Sudeste posteriormente com o deslocamento da fronteira agropecuaacuteria o Centro-Oeste passou tambeacutem a compor o rol de regiotildees privilegiadas no be-neficiamento de recursos maciccedilo principalmente pelo Estado (HOFFMANN KAGEYAMA 1987)

Nesse sentido de fato a agricultura brasileira natildeo pode ser denominada mo-derna pois existem expressivas disparidades e privaccedilotildees tais como ausecircncia de creacutedito acesso a terra conhecimento teacutecnico assistecircncia teacutecnica etc que impedem os pequenos produtores rurais a aderirem agraves novas tecnologias e equipamentos que lhes auxiliaria na efetivaccedilatildeo do processo produtivo tem sido negados paulatinamente ao logo do tempo

Dando continuidade ao arcabouccedilo institucional para garantia da moder-nidade conservadora da poliacutetica agriacutecola em 1987 foi criada a Caderneta de Poupanccedila Rural cujos recursos captados junto ao puacuteblico seriam destinados principalmente agrave agricultura (ARAUacuteJO 2011) No entanto apenas as institui-ccedilotildees bancaacuterias oficiais foram autorizadas a trabalhar com este serviccedilo Nesse mesmo ano 23 dos recursos aplicados no campo foram provenientes deste fundo Em 1996 cria-se o Programa de Securitizaccedilatildeo da Diacutevida dos agricultores cujo limite vai ateacute R$ 200 mil por cada produtor com prazo de sete anos e juros de 3 ao ano mais a variaccedilatildeo de um preccedilo miacutenimo amparado pela poliacutetica de

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preccedilo miacutenimo Destaca-se nesse periacuteodo a gecircnese do Programa de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar (PRONAF) (ARAUacuteJO 2011)

O PRONAF foi agrave primeira poliacutetica puacuteblica de estrateacutegia que abrange a agri-cultura camponesa objetivando o fortalecimento da agricultura comercial mais competitiva assim como robustecer a agricultura camponesa a partir do aporte financeiro por meio do creacutedito subsidiado Bem como ter uma linha de creacutedito para enfrentamentos dos problemas operando junto aos municiacutepios e Estados em que estaacute presente essa categoria produtiva Eacute caracterizado como um programa voltado ao apoio do desenvolvimento sustentaacutevel para o campo traccedilando estrateacutegias que levem agrave seguranccedila alimentar do paiacutes e propicie em-pregos e renda adequados a equidade social (BUAINAIN 1999)

Os recursos provenientes do PRONAF para os agricultores familiares satildeo des-tinados agravequeles cuja matildeo de obra utilizada seja da proacutepria famiacutelia com limite de ateacute R$ 5 mil para custeio e de R$ 15 mil para investimento no maacuteximo Os recur-sos tambeacutem podem ser requeridos em grupo atingindo o cume de R$ 75 mil No primeiro ano de execuccedilatildeo contabilizou R$ 543 milhotildees destinados a 307 mil contratos correspondendo em meacutedia R$ 1770 mil transaccedilotildees (ARAUacuteJO 2011)

No periacuteodo entre 1996-2016 foram investidos aproximadamente R$ 156 bilhotildees em mais de 26 milhotildees de estabelecimentos da agricultura familiar Desse total apenas 30 foram destinadas as mulheres e 17 aos jovens do campo4 Para Aquino (2018) os investimentos pelo programa vecircm sendo mina-dos a partir de 2014 quando atingiu o limite maacuteximo de R$ 24 6 bilhotildees em 2017 foram financiados R$ 216 bilhotildees O principal motivo eacute o desmonte de poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave agricultura familiar Aleacutem da reduccedilatildeo no orccedilamen-to somam-se as desigualdades na distribuiccedilatildeo dos recursos permanecendo as regiotildees Sul e Sudeste com o maior percentual cerca de 74 do total investido Em contrapartida o Nordeste que concentra a maior parte de agricultores em situaccedilatildeo de pobreza e com 44 milhotildees de propriedades rurais receberam ape-nas 15 do financiamento Evidenciando que o Estado natildeo tem atuado de for-ma decisiva para sanar as desigualdades socioespaciais mas atua reforccedilando-a contraditoriamente

Portanto os problemas relacionados a concentraccedilatildeo de terra que ainda persiste no meio rural eacute fruto de uma poliacutetica conservadora o problema se origina na dinacircmica soacutecio-poliacutetica que natildeo possibilitou uma ruptura completa

4 Disponiacutevel em lthttpwwwmdagovbrsitemdanoticiaspronaf-20-anos-de-apoio-aos-agricul-tores-familiaresgt Acesso em 01 dez 2019

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com a concentraccedilatildeo fundiaacuteria responsaacutevel pela exclusatildeo e consequentemente pela pauperizaccedilatildeo e semiproletarizaccedilatildeo dos pequenos produtores rurais tradi-cionais Aos meacutedios e grandes produtores as tecnologias modernas passaram a ser incorporadas agrave produccedilatildeo decorrentes da viabilizaccedilatildeo e concentraccedilatildeo dos re-cursos e demais aparatos teacutecnicos e cientiacuteficos ofertados pelo Estado brasileiro

5 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

A literatura sinalizou que o processo de desenvolvimento socioeconocircmico brasileiro tem em suas raiacutezes como principal entrave a estrutura arcaica fundiaacute-ria que permite natildeo somente a concentraccedilatildeo de capital a captura das poliacuteticas puacuteblicas principalmente as direcionadas agrave agricultura resultando em acentua-do grau de desigualdade no meio rural

Remete ao Brasil colocircnia o contexto de formaccedilatildeo histoacuterica da estrutura fun-diaacuteria quando de sua ocupaccedilatildeo pelos colonizadores se instaurou as capitanias hereditaacuterias e as concessotildees de terras (sesmarias) Por meio das capitanias he-reditaacuterias e sesmaria No Brasil colocircnia e posteriormente a grilagem os verda-deiros donos nativos da terra perderam a posse dando iniacutecio agrave constituiccedilatildeo da propriedade privada alicerccedilada sob lotes de terra com valores a preccedilos de mercado e agrave vista impostos pela elite econocircmica impossibilitando que os cam-poneses os ex-escravos e os imigrantes tivessem o acesso da terra desse modo eles passaram a viver a margem da sociedade

O ecircxodo rural resultante das anomalias no que se refere agrave apropriaccedilatildeo da terra e sua modernizaccedilatildeo conservadora provocou no campo e na cidade uma massa de injusticcedilados decorrentes da intensificaccedilatildeo da desigualdade e o be-neficiamento agraves elites Este cenaacuterio motivou a intensificaccedilatildeo das lutas no cam-po com surgimento de diversos movimentos sociais reividicando natildeo apenas a posse da terra mas que esta viesse acompanhada de uma poliacutetica de reforma agraacuteria Na tentativa de que tais medidas se efetivassem pressionaram o Estado com o intuito de amortecer os impactos dessas disparidades socioespaciais

Dada a sua extensatildeo e atraso tecnoloacutegico de produccedilatildeo no campo o finan-ciamento passa a ser o foco da poliacutetica agriacutecola brasileira Como forma de le-gitimar a poliacutetica agriacutecola o Estado cria leis e regulamentos para legitimar o acesso aos investimentos principalmente aos fundos institucionais no entanto a distribuiccedilatildeo do creacutedito natildeo ocorreu de forma homogecircnea centrando-se em certos grupos de agricultores especializados na produccedilatildeo de commodities com vista para o mercado exportador Natildeo obstante as regiotildees com o maior per-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 235

centual de pobreza foi a que menos recebeu recursos puacuteblicos bem como as desigualdades regionais foram mais intensificadas e evidenciadas

O acesso ao creacutedito tambeacutem estaacute condicionado ao quantum de capital e terra estes satildeo detentores no momento atual reiterando que a poliacutetica ado-tada pelo Estado natildeo tem o caraacuteter de erradicar as desigualdades no campo pois os benefiacutecios alcanccedilam quase que exclusivamente os meacutedios e grandes produtores tornando as tecnologias modernas o principal mecanismo de pro-duccedilatildeo decorrentes da viabilizaccedilatildeo e concentraccedilatildeo dos recursos e demais apa-ratos teacutecnicos e cientiacuteficos ofertados pelo Estado imergindo os camponeses eou agricultores rurais tradicionais na pauperizaccedilatildeo e semi proletarizaccedilatildeo por natildeo gozarem do apoio institucional no desenvolvimento de suas atividades produtivas

No entanto as desigualdades no campo que perduram ateacute hoje ganharam proporccedilatildeo muito grande e natildeo bastaria uma poliacutetica puacuteblica com base no de-senvolvimento econocircmico para solucionar tais problemas eacute necessaacuterio que se crie um novo modelo poliacutetico que acima de tudo respeite os direitos da nature-za dos camponeses dos negros e dos indiacutegenas as camadas mais massacradas da nossa histoacuteria e que tenha a vida como eixo norteador das suas accedilotildees Um longo caminho ainda em construccedilatildeo se faz necessaacuterio percorrer para se alcan-ccedilar tal prerrogativa

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INTERDISCIPLINARIDADE E AS ldquoNOVASrdquo RELACcedilOtildeES CAMPO ndash CIDADE TERRITORIALIDADES EM FOCO

Jhersyka da Rosa CleveNicole Cavalcanti SilvaDiogo dos Santos Gonccedilalves BahiaNuacutebia Dias dos Santos

1 INTRODUCcedilAtildeO

O espaccedilo geograacutefico compotildee uma totalidade analiacutetica metodoloacutegica e reflexiva Resultado e resultante das accedilotildees humanas na relaccedilatildeo sociedade na-tureza sua materialidade decorre do trabalho humano realizado no ambiente moldado pelas relaccedilotildees sociais e de produccedilatildeo Desta maneira urbano e rural compotildeem duas facetas dessa totalidade espacial e descortinam o trabalho social dos agentes modeladores do espaccedilo Campo e cidade rural e urbano reuacutenem diferentes tempos e processos caracteriacutesticas soacutecioespaciais inter--relaccedilotildees e dinacircmicas ambientais econocircmicas culturais estruturais teacutecnicas sociais etc complexas e que demandam analises integradas accedilotildees poliacuteticas serviccedilos e equipamentos especiacuteficos Para Rolnik (2015) ao analisar a cidade capitalista aponta-se para alguns traccedilos essenciais de seu desenvolvimento a privatizaccedilatildeo da propriedade da terra e de moradia a segregaccedilatildeo soacutecioespacial a intervenccedilatildeo reguladora do Estado e a luta pelo espaccedilo e territoacuterios dentre outros aspectos

Nesse sentido o processo de urbanizaccedilatildeo no territoacuterio brasileiro se acentua a partir do final do seacuteculo XIX com o iniacutecio gradativo do processo urbano-in-dustrial no Paiacutes No entanto foi apoacutes os anos 1930 que a presenccedila das induacutestrias se tornou mais intensiva e a urbanizaccedilatildeo comeccedilou a se intensificar e espraiar as cidades (ABREU 2013)

Segundo o autor a segunda metade do seacuteculo XX serviu de incremento gra-ccedilas ao intenso ecircxodo rural ocasionado pela mecanizaccedilatildeo das atividades produ-tivas no meio rural o que gerou um maior desemprego no campo e a grande leva de migrantes em direccedilatildeo agraves principais cidades do Brasil Por sua vez a deacute-cada de 1960 foi o periacuteodo em que o Brasil pela primeira vez passou a ter uma

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populaccedilatildeo predominantemente urbana ou seja a maior parte dos habitantes concentrava-se nas cidades (SANTOS 2013)

Atualmente segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) mais de 80 dos habitantes do Brasil residem em cidades sendo a maioria em grandes centros urbanos e capitais tais como Satildeo Paulo-SP Rio de Janeiro-RJ Belo Horizonte-BH Porto Alegre-PA entre outras (IBGE 2003) Para o instituto este eacute um dos motivos da desigualdade territorial tanto no tamanho das cida-des e nuacutemero de habitantes quanto em niacuteveis de avanccedilo econocircmico e ofertas de infraestrutura no espaccedilo urbano brasileiro

Indo aleacutem o processo de urbanizaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo fez com que o cam-po e a cidade no Brasil passassem por alteraccedilotildees significativas em suas formas espaciais As discussotildees sobre as definiccedilotildees do que seria ruralurbano e campocidade surgem no meio acadecircmico no iniacutecio do seacuteculo XX poreacutem eacute a partir da deacutecada de 1970 que estas questotildees se tornaram mais intensas

Diferentes aacutereas do conhecimento como a Sociologia a Economia e a Geo-grafia tecircm buscado em seus debates apontar reflexotildees na direccedilatildeo de uma reno-vaccedilatildeo e reavaliaccedilatildeo sobre o debate entre o rural e o urbano

Contudo o que vemos eacute o campo e a cidade tendo anaacutelises apenas de acor-do com um vieacutes pois a Geografia compreende de uma forma poreacutem a Eco-nomia vecirc tal questatildeo a partir de outro acircngulo Nesse sentido eacute necessaacuterio (re) pensar as anaacutelises sobre o campo e cidade em virtude das relaccedilotildees estarem mais complexas e cabe ao olhar interdisciplinar assumir um papel para respon-der tais questionamentos Conforme salienta Japiassu (2009 p 192)

Embora ainda temida por alguns a interdisciplinaridade vem rece-

bendo apoio decidido por muitos pesquisadores que natildeo temem

ultrapassar e transgredir suas tradicionais fronteiras disciplinares e

buscar em outros saberes uma valiosa contribuiccedilatildeo enriquecedora

do seu Apresenta-se como um meio privilegiado de suprir as lacunas

de um pensamento cientiacutefico ainda bastante mutilado pela especiali-

zaccedilatildeo cognitivas e da comunicaccedilatildeo (JAPIASSU 2009 p 192)

A interdisciplinaridade rompe com o pensamento cartesiano ao qual fomos moldados a pensar por esse motivo compreender o campo e cidade como to-talidade eacute imprescindiacutevel para natildeo cairmos nas dicotomias

Diante disso se torna difiacutecil delimitar o que eacute rural e o que eacute urbano Eacute neces-saacuterio deixar de lado a diferenciaccedilatildeo e pensar que as cidades natildeo podem mais

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ser identificadas apenas como os centros de decisotildees e demandas econocircmicas e industriais O campo natildeo pode ser entendido apenas como a agricultura e pecuaacuteria como aponta Sobarzo (2006 p 56)

Essas novas relaccedilotildees cidadecampo natildeo devem ser pensadas como

de dependecircncia ou de ldquomatildeo uacutenicardquo jaacute que natildeo eacute somente a cidade

que irradia o conhecimento a racionalidade ou os comportamentos

para o campo mas eacute o campo que em funccedilatildeo de suas demandas de-

termina alguns processos na cidade (SOBARZO 2006 p 56)

Dessa forma nota-se que as novas relaccedilotildees do campo e cidade estatildeo em constantes mudanccedilas as quais ocorrem a partir do avanccedilo do meio teacutecnico cientiacutefico informacional e das novas modalidades e reestruturaccedilatildeo no mundo do trabalho As prestaccedilotildees de serviccedilos e ateacute mesmo o surgimento de novas pro-fissotildees que atendam as demandas vindas do campo evidenciam a influecircncia da divisatildeo espacial do trabalho

Ante ao exposto tem-se como objetivo geral do estudo apresentar a im-portacircncia de novos olhares e reflexatildeo para a cidade e o campo tomando como base que o conhecimento interdisciplinar estudado por diversas aacutereas do co-nhecimento constitui e assume um papel epistemoloacutegico de abordagem im-portante na compreensatildeo dessas ldquonovasrdquo relaccedilotildees A importacircncia parte de olhar cidade e campo em sua totalidade ambos satildeo componentes das formas-con-teuacutedo espaciais e impotildee um olhar integrado para se refletir sobre as possibili-dades de organizaccedilatildeo do arranjo espacial atual e futuro

Em suma o presente texto visa instigar a reflexatildeo de uma nova leitura do campo e cidade apontamos como caminho o conhecimento interdisciplinar Os autores satildeo das mais variadas formaccedilotildees tais como Administraccedilatildeo Enge-nharia e Geografia Estamos inseridos em um programa de poacutes-graduaccedilatildeo cujo nome eacute ldquoDesenvolvimento e Meio Ambienterdquo diante disso eacute necessaacuterio refletir-mos as relaccedilotildees de cidade e campo mas com um vieacutes para aleacutem da dicotomia Afinal que tipo de desenvolvimento tem se estabelecido no campo e cidade

A contribuiccedilatildeo da nossa anaacutelise eacute apresentar um debate a partir dessa uniatildeo de saberes Contudo eacute um desafio pensar a partir da totalidade mas se faz indispensaacutevel pois sem a anaacutelise da totalidade eacute impossiacutevel analisar os processos

Pensar a partir da totalidade requer esforccedilo poreacutem os povos indiacutegenas com-preendem e relacionam-se com o mundo sem delimitaccedilotildees e dicotomias Por-

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tanto essas modificaccedilotildees exigem uma compreensatildeo de que o urbano e o rural natildeo devem ser mais pensados como recortes territoriais isolados Eis entatildeo o desafio pois a relaccedilatildeo que existe entre estes espaccedilos eacute de complementaridade De acordo com Moreira (2005 p 10) ldquoNatildeo eacute mais aceito falar em um rural exclu-sivamente agriacutecola ou de um urbano que natildeo inclua tambeacutem possibilidades de construccedilatildeo de identidades ruraisrdquo

No Brasil as nomenclaturas urbana e rural satildeo determinadas pelo IBGE (Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) que analisa a partir da seguinte situ-accedilatildeo populaccedilatildeo urbana eacute aquela em que as pessoas se localizam em domiciacutelios localizados nas cidades ou sedes distritais populaccedilatildeo rural eacute aquela que se lo-caliza em toda aacuterea fora dos limites urbanos

Entretanto a anaacutelise amparada apenas em dados estatiacutesticos acaba descon-siderando a realidade social e as proacuteprias relaccedilotildees construiacutedas Assim existem controveacutersias no que diz respeito agrave anaacutelise que o Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatiacutestica (IBGE) faz em relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees do urbano e rural

Dessa forma existe um apanhado de autores que tem se dedicado a tra-tar de questotildees sobre as interpretaccedilotildees e definiccedilotildees sobre o rural e urbano campo e cidade tais como os socioacutelogos Carneiro (1997 1998) Galpin (1981) Sorokim Zimmerman (1981) os economistas Abramovay (2000) Graziano da Silva (2002) Veiga (2004) e os geoacutegrafos Bernadelli (2006) Carlos (2004) Endli-ch (2006) Reis (2006) Resende (2007) Rua (2007) Sposito (2006) entre outros

A discussatildeo que propomos fazer aqui eacute a partir de uma revisatildeo de literatura dos autores citamos acima mas pensando a totalidade que o campo e cidade carregam Nesse sentido a interdisciplinaridade apresenta um caminho para o entendimento do campo e cidade Julgamos a importacircncia que a leitura do campo e cidade seja para aleacutem de uma uacutenica disciplina por muito tempo a Geografia pautou uma anaacutelise assim como a Economia e Sociologia

Contudo temos deixado de analisar a totalidade e cabe aiacute o papel da inter-disciplinaridade pois a partir do conhecimento interdisciplinar existe a possibi-lidade de exercitamos a pensar no todo e natildeo apenas as partes ou simplesmen-te nos processos

Assim sendo o texto estaacute estruturado em quatro toacutepicos no primeiro toacutepico apresentamos o processo de modernizaccedilatildeo do campo e a resistecircncia campone-sa no Brasil no segundo toacutepico realizamos algumas consideraccedilotildees a partir de autores que tem discutido sobre cidade e campo no terceiro toacutepico expomos algumas consideraccedilotildees de manifestaccedilotildees do rural em aacutereas urbanas e no uacutel-timo toacutepico discutimos o papel da interdisciplinaridade no entendimento da

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 243

relaccedilatildeo campo e cidade cujo intuito eacute mostrar o que entendemos por interdis-ciplinaridade e sua relevacircncia na (re) interpretaccedilatildeo da cidade e campo

2 BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE A MODERNIZACcedilAtildeO E RESIS-TEcircNCIA DO CAMPO NO BRASIL

A partir de 1960 o Brasil introduz uma era de modernizaccedilatildeo da agricultura que tem um profundo impacto no campesinato Sobre a modernizaccedilatildeo da agri-cultura Kageyama et al (1990 p 133) diz que

[] por modernizaccedilatildeo se entende basicamente a mudanccedila na base

teacutecnica da produccedilatildeo agriacutecola e que eacute representado pela introduccedilatildeo

de maacutequinas como tratores aleacutem do uso de elementos quiacutemicos

(fertilizantes defensivos etc) (KAGEYAMA et al 1990 p 133)

Eacute curioso como a autora anuncia a concepccedilatildeo de modernizaccedilatildeo gestada pelo estudo capital brasileiro Entendemos que esse modelo de modernizaccedilatildeo da agricultura ocorreu de forma desigual pois as poliacuteticas de creacutedito natildeo atin-giram a todos os segmentos Se natildeo fosse assim hoje haveria um cenaacuterio mais igualitaacuterio onde os camponeses teriam mais condiccedilotildees de permanecircncia na ter-ra Buscamos na Figura 01 sintetizar alguns pontos chaves que estatildeo relaciona-dos com a modernizaccedilatildeo do campo no Brasil

Figura 01 ndash Esquema da modernizaccedilatildeo do campo no Brasil

Fonte Elaborado pelos autores a partir de Neto 1997

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Neto (1997) discute sobre as transformaccedilotildees que ocorreram no meio rural brasileiro principalmente a partir da deacutecada de 1970 onde baseado no censo o Brasil deixaria de ser um paiacutes rural e passaria a ser um paiacutes urbano

Percebemos aqui uma segregaccedilatildeo da totalidade espacial e uma materia-lizaccedilatildeo do tipo de trabalho que se faz em cada espaccedilo-territoacuterio como fator determinante para essa classificaccedilatildeo O autor ainda traz o poder do Estado nes-se processo de mudanccedila sob a oacutetica do planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo e pondera que tal poder para a instauraccedilatildeo das transformaccedilotildees necessaacuterias satildeo as medidas poliacuteticas que se utiliza para intervir nos segmentos distintos da ati-vidade produtiva

Assim o estado acaba por se tornar um agente primaacuterio de tomada de de-cisatildeo no processo de desenvolvimento do setor rural atraveacutes de suas poliacuteticas puacuteblicas que seguem na mesma direccedilatildeo do planejamento estatal para o con-junto da economia Acontece que nessa accedilatildeo rumo agrave modernizaccedilatildeo as poliacuteticas agriacutecolas do governo brasileiro principalmente entre os anos de 1960 e 1980 discutidas por Neto (1997) promoveram a modernizaccedilatildeo da base teacutecnica de grande parte da agricultura sem contudo alterar os padrotildees de acumulaccedilatildeo A burguesia que em uacuteltima instacircncia sempre era beneficiada nessas tomadas de decisatildeo requereu para si cada vez mais esse poder colocando agrave margem a classe trabalhadora no campo e na cidade

Vale destacar que os impactos do modelo implantado no paiacutes tambeacutem se fazem sentir no ambiente fiacutesico com o processo de desmatamento para os cul-tivos de exportaccedilatildeo eou a criaccedilatildeo do gado bovino e se acentua com o pacote tecnoloacutegico dos cultivos transgecircnicos afetando diretamente o solo a aacutegua o ar e a sauacutede da populaccedilatildeo trabalhadora inserida nesse contexto

A partir das reflexotildees do geoacutegrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira em particu-lar na sua obra Modo de Produccedilatildeo Capitalista e Agricultura escrita em 1986 o autor faz uma retrospectiva no qual o objetivo eacute de compreender o camponecircs e o campo no seacuteculo XX evidenciando como o proacuteprio capital cria e recria as condiccedilotildees para suas existecircncias Sendo a modernizaccedilatildeo da agricultura uma forma do capital existir e criar condiccedilotildees para permanecer e garantir a sua reproduccedilatildeo ampliada

Nesse sentido os modos capitalistas de produccedilatildeo vatildeo se territorializando no campo resultando em maior concentraccedilatildeo fundiaacuteria e renda tendo como resultado a resistecircncia camponesa e o surgimento de movimentos sociais de luta pela terra

O campo eacute marcado pelo sangue e morte dos camponeses sendo que par-cela da culpa tem raiz no processo colonizador mas com a modernizaccedilatildeo da

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 245

agricultura o pacto entre a elite agraacuteria e o Estado eacute firmado A poliacutetica de mo-dernizaccedilatildeo no campo natildeo se deu de forma neutra mas atendeu aos interesses de determinadas classes Conforme salienta Neto (1997 p 223) se caracterizou por uma

[] poliacutetica discriminatoacuteria que atende aos aliados mais proacuteximos e

aos grupos com maior poder de pressatildeo o que equivale dizer que

os menos afortunados na estrutura social acabam ficando com pe-

quenas parcelas dos benefiacutecios governamentais [] os recursos po-

deriam ser orientados de forma a natildeo privilegiar demasiadamente

determinados grupos regiotildees etc (NETO 1997 p 223)

Entendemos que a modernizaccedilatildeo na agricultura ao favorecer determinados grupos sociais e agentes do capital natildeo muda as estruturas herdadas do pro-cesso colonizador e o latifuacutendio permanece a dominar o campo brasileiro mas com uma ldquonova roupagemrdquo nomeada de agronegoacutecio Eacute a partir da mecaniza-ccedilatildeo da agricultura no Brasil que teremos ldquodois tipos de campordquo de um lado tere-mos o campo ldquoricordquo e do outro o campo marcado pela miseacuteria pela resistecircncia e luta dos grupos sociais mais impactados e menos assistidos pelas accedilotildees gover-namentais a despeito da sua importacircncia poliacutetica e estrateacutegica para a proacutepria dinacircmica do capital no arranjo espacial brasileiro

Essa desigualdade passa a existir e acirrar-se ainda mais com o surgimento dos chamados complexos agroindustriais Em relaccedilatildeo aos complexos agroin-dustriais podemos observar a sua estrutura a partir da Figura 02

Figura 02 ndash Esquema do complexo agroindustrial

Fonte Szmrecsaacutenyi 1983

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Na Figura 02 nota-se que a produccedilatildeo agropecuaacuteria eacute o centro e envolve vaacuterios tipos de produccedilatildeo As instituiccedilotildees satildeo caracterizadas como aquelas for-necedoras de creacutedito assistecircncia teacutecnica desenvolvimento e pesquisa

Em seguida a induacutestria de insumos vem fornecer mateacuteria prima ao processo a partir de fertilizantes inseticidas pesticidas e equipamentos posteriormente ocorre a comercializaccedilatildeo do produto em cooperativas atacadistas varejistas etc Diante desse cenaacuterio a induacutestria de processamento transforma a mateacuteria prima em mercadoria para o consumidor final

Eacute esse modelo que tem sido defendido e instalado atualmente no contexto agraacuterio brasileiro e ocasionando desigualdade no campo Em relaccedilatildeo a Figura 02 eacute possiacutevel fazermos um questionamento Eacute esse o modelo que queremos Um campo para o agronegoacutecio No complexo agroindustrial tem lugar para o camponecircs

De acordo com Oliveira et al (2004) a soma das aacutereas das 27 maiores pro-priedades rurais do Brasil totalizava o equivalente ao Estado de Satildeo Paulo e as 300 maiores equiparavam-se agraves extensotildees dos estados de Satildeo Paulo e Paranaacute juntos Esses nuacutemeros revelam que esse modelo dominante no campo concen-trava-se nas matildeos de poucos os quais seratildeo inseridos na loacutegica dos complexos agroindustriais Como uma paiacutes de 8547403 kmsup2 (IBGE) ainda possui tantas pessoas lutando por um pedaccedilo de chatildeo

Eacute um questionamento que devemos fazer pois apenas 497 das terras no Brasil estatildeo cadastradas no INCRA (CARVALHO 2005) Porque essa porcentagem

Analisando as Tabela 01 e o Graacutefico 01 podemos perceber que com o passar dos anos a distribuiccedilatildeo de terras no Brasil ainda se daacute de forma desigual mes-mo com a existecircncia do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) as diferenccedilas ainda permanecem As terras continuam concentradas em sua grande maioria nas matildeos de poucas pessoas fato este que nos remete ao pensamento do Brasil colocircnia onde prevaleciam o latifuacutendio a monocultura e a exportaccedilatildeo Apesar de adentrarmos no seacuteculo XXI notamos que o panora-ma atual em pouco se difere da eacutepoca da colonizaccedilatildeo sob o prisma da distribui-ccedilatildeo das terras no Brasil como se observa na Tabela 1

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 247

Tabela 01 ndash Malha fundiaacuteria do Brasil nos anos de 2006 e 2017

Grupos de aacutereaCensos Agropecuaacuterios

2006 2017Estabelecimentos Aacuterea (ha) Estabelecimentos Aacuterea (ha)

Menos de 10 ha 2477151 7798777 2543681 7993969De 10 a menos de 100 ha 1971600 62893979 1980684 63810646De 100 a menos de 1000 ha 424288 112844186 420719 112257692De 1000 haacute e mais 47578 150143096 51203 167227511Produtor sem aacuterea 255019 - 77037 -Total 5175636 333680038 5073324 351289818

Fonte IBGE 2019

Graacutefico 01 ndash Distribuiccedilatildeo das aacutereas dos estabelecimentos agropecuaacuterios segundo os grupos de aacuterea ndash Brasil ndash 199520062017

Fonte IBGE 2019

Como exposto na Tabela 01 a malha fundiaacuteria do Brasil apresenta entre os anos 2006 e 2017 algumas caracteriacutesticas peculiares Nota-se a diminuiccedilatildeo em 2017 no nuacutemero total de estabelecimentos (aproximadamente 2) mas ocorre elevaccedilatildeo na aacuterea total de estabelecimentos (pouco mais de 5)

248 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Quanto agrave distribuiccedilatildeo dos estabelecimentos por tamanho isto eacute por grupos de aacuterea observa-se que nos estratos com menos de 10 ha o nuacutemero de estabe-lecimentos aumentou de 2006 para 2017 cerca de 27 enquanto que na aacuterea total ocorreu um acreacutescimo de 25

Jaacute em relaccedilatildeo aos estratos maiores que 1000 ha tivemos um aumento de estabelecimentos entre 2006 e 2017 na ordem de 76 e na aacuterea total de 114

A anaacutelise desses dados nos permite concluir que a despeito das poliacuteticas puacuteblicas a concentraccedilatildeo de terras no Brasil ainda permanece nas matildeos dos grandes latifundiaacuterios pois apesar de nos dois segmentos analisados haverem um aumento absoluto de estabelecimentos e de aacutereas observou-se que a taxa relativa de crescimento foi maior para os estratos superiores a 1000ha

Tal distribuiccedilatildeo assimeacutetrica real da malha fundiaacuteria brasileira que fica bem perceptiacutevel atraveacutes de anaacutelise do Graacutefico 01 reflete diretamente na condiccedilatildeo de vida do camponecircs fazendo com que este enfrente dificuldades para permane-cer na terra Assim entendemos que apesar da existecircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas para esse segmento como eacute o caso do Pronaf nota-se que ainda satildeo as mesmas o que impotildee a continuidade da luta para permanecer na terra e assim continuar se reproduzindo como camponecircs A respeito dessa questatildeo Melo (2010 p 41) assina como o Pronaf ainda apresenta limitaccedilotildees para o segmento de camponeses assentados

O Pronaf deveria entrar em cena para corrigir uma diacutevida histoacuterica

do Estado com agricultores camponeses que ateacute entatildeo estavam

excluiacutedos das poliacuteticas de creacutedito agriacutecola destinadas ao meio rural

No entanto a mesma natildeo tem conseguido atingir estruturalmente

os assentados no sentido de promover sua autonomia financeira e

inseri-los no mercado em uma condiccedilatildeo menos desigual e injusta

(MELO 2010 p 41)

Dessa forma muitos camponeses satildeo obrigados a se tornarem trabalhadores assalariados sazonais ou satildeo expulsos do campo ao migrarem para a cidade e vi-vem em precaacuterias condiccedilotildees de existecircncia Esses sujeitos ateacute buscam maneiras de resistir frente a este modelo poreacutem o proacuteprio Estado reforccedila o favorecendo aos ldquograndesrdquo proprietaacuterios de terra Conforme destaca Locatel (2004 p 296)

As transformaccedilotildees ocorridas na agricultura brasileira em boa parte

satildeo resultados diretos da accedilatildeo do Estado atraveacutes de poliacuteticas macro-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 249

econocircmicas e tambeacutem setoriais voltadas para o campo que foram

elaboradas a partir do paradigma de desenvolvimento predominan-

te entre poliacuteticos e teacutecnicos do governo aleacutem de intelectuais [] foi

edificada no Brasil uma concepccedilatildeo de desenvolvimento baseada na

ideia de progresso com crescimento constante da economia (LOCA-

TEL 2004 p 296)

A ideia de progresso foi difundida com o lema de alavancar a economia mas eacute necessaacuterio refletir sobre o termo desenvolvimento Ao consultarmos o di-cionaacuterio Aureacutelio da liacutengua portuguesa o termo estaacute relacionado a crescimento progresso e aumento Mas a que tipo de crescimento e progresso o desenvolvi-mento de fato refere-se

Desde meados do seacuteculo 20 um fantasma ronda o mundo Esse fantasma eacute o desenvolvimento Apesar de a maioria das pessoas seguramente natildeo acreditar em fantasmas ao menos em algum momento acreditou no ldquodesenvolvimentordquo dei-xou-se influenciar pelo ldquodesenvolvimentordquo (ACOSTA 2016)

Embora ateacute os mais leigos defendam a necessidade de desenvolvimento ainda assim natildeo sabem a real necessidade do mesmo Eacute em detrimento desse termo que as poliacuteticas puacuteblicas do setor agriacutecola satildeo formuladas

Em nome do progresso se instaura no campo um cenaacuterio marcado pela bar-baacuterie luta e conflitos cuja raiz estaacute na forma como ocorreu a distribuiccedilatildeo de terras no Brasil sendo que a partir do favorecimento de poliacuteticas puacuteblicas desti-nadas a apenas um setor ampliou-se a desigualdade no campo

Diante disso o camponecircs eacute obrigado a deixar sua terra pois estes atores satildeo tidos como atrasados e incapazes de acompanhar essa mecanizaccedilatildeo da agricul-tura Cabe ressaltar que a loacutegica que os camponeses tecircm com a terra eacute uma loacute-gica completamente distinta daquele empresaacuterio da agricultura de exportaccedilatildeo

A Figura 03 demonstra uma propriedade a qual tem como base a famiacutelia a subsistecircncia e o respeito a natureza uma loacutegica distinta daqueles que pos-suem uma propriedade voltada para o agronegoacutecio Nesse sentido entende-se a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para os camponeses poreacutem satildeo quase inexistentes e quando existem como eacute o caso do Pronaf natildeo atendem a real necessidade desses sujeitos

250 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Figura 03 ndash Propriedade de um agricultor da Rede de Agroecologia ldquoPlantar para a vidardquo do Estado de Sergipe-SE

Fonte Os autores 2019

A reproduccedilatildeo do camponecircs no modo de produccedilatildeo capitalista tem ocorrido a partir do engajamento em movimentos sociais de luta pela terra Um fato curioso que tem acontecido nos uacuteltimos anos eacute o ingresso nos movimentos de luta pela terra de pessoas sem moradia haja vista que apesar de natildeo existir contato com o campo tais sujeitos engajam-se na luta pela terra pois o objeti-vo eacute a busca de uma vida digna

Ateacute aqui tentamos de forma breve levantar questotildees referentes ao processo de modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil e as consequecircncias que sua chegada acarretou Eacute atraveacutes da chegada do meio teacutecnico-cientiacutefico-informacional no campo que ocorreram inuacutemeras transformaccedilotildees nas relaccedilotildees entre campo e cidade Afinal entatildeo o que eacute campo cidade rural e urbano Como essas cate-gorias satildeo definidas no Brasil

3 RELACcedilOtildeES CAMPO X CIDADE UMA REFLEXAtildeO NECESSAacuteRIA

Propomos aqui fazer algumas reflexotildees de forma breve sobre campo cida-de urbano e rural Entretanto o estudo natildeo tem como objetivo realizar defi-niccedilotildees fechadas nem esgotar o assunto mas sim tentaremos organizar uma breve reflexatildeo a partir de alguns autores que tem abordado essa temaacutetica

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 251

Afinal o que separa ou diferencia a cidade do campo Qual o limite entre eles Podemos entender campo e cidade a partir das diferenciaccedilotildees Tais ques-totildees satildeo muito utilizadas para classificar o que eacute cidade no Brasil Todavia ana-lisar apenas por este vieacutes eacute colocar a relaccedilatildeo cidade e campo em uma forma simplista deixando de ver o todo

Em face do exposto foi a partir de 1950 com a intensificaccedilatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo e de modernizaccedilatildeo da agricultura brasileira que ocorreram ex-pressivas transformaccedilotildees nas relaccedilotildees entre o urbano e o rural agrave medida que se compararmos as relaccedilotildees entre campo e cidade iremos encontrar inuacutemeras visotildees que apontam o campo como ldquoatrasadordquo lugar em que o ldquodesenvolvimen-tordquo natildeo chega

Nesse sentido criaram-se estereoacutetipos que definem o homem do campo como ldquocaipirardquo a proacutepria literatura brasileira acaba reforccedilando a visatildeo sobre o campo ser ldquoatrasadordquo como eacute o caso da obra ldquoJeca Tatuzinhordquo do autor Monteiro Lobato (1951) que coloca o homem do campo como pobre preguiccediloso atra-sado a partir do personagem Jeca Tatuzinho que representava o trabalhador do campo

ldquoJeca natildeo queria saber de nada Trabalhar natildeo era com ele Perto

morava um italiano jaacute bastante arranjado mas que ainda assim tra-

balhava o dia inteiro Por que Jeca natildeo fazia o mesmo Quando lhe

perguntavam isso ele dizia

- Natildeo paga a pena plantar A formiga come tudo

- Mas como eacute que o seu vizinho italiano natildeo tem formiga no siacutetio

- Eacute que ele mata

- E por que vocecirc natildeo faz o mesmo

Jeca coccedilava a cabeccedila cuspia por entre os dentes e vinha sempre com

a mesma histoacuteria

- Quaacute Natildeo paga a pena

- Aleacutem de preguiccediloso becircbado e aleacutem de becircbado idiota era o que

todos diziam (LOBATO 1951 p 329-331)

Observa-se que a linguagem utilizada por Monteiro Lobato (1951) desvaloriza o homem do campo e reforccedila ainda mais o discurso que a cidade eacute o moderno o melhor Em contrapartida Graciliano Ramos (1998 p 15) em sua obra ldquoVidas Secasrdquo apresenta uma sensibilidade a problemaacutetica do campo e aborda desigual-dades sociais que afligem o homem do campo conforme o trecho abaixo

252 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

[] a caatinga ressuscitaria a semente do gado voltaria ao curral ele

Fabiano seria o vaqueiro daquela fazenda morta Chocalhos de ba-

dalos de ossos animariam a solidatildeo Os meninos gordos vermelhos

brincariam no chiqueiro das cabras Sinha Vitoacuteria vestiria saia de

ramagens vistosas As vacas povoariam o curral E a caatinga ficaria

toda verde (RAMOS 1998 p 15)

O trecho acima representa os dramas vivenciados pela falta de aacutegua no campo em um universo que a luta pela sobrevivecircncia eacute diaacuteria Graciliano Ra-mos (1988) mostra atraveacutes de exemplos que com a falta de aacutegua e de alimen-tos a necessidade de olhar para o homem do campo a partir da sua realidade deixando estereoacutetipos mas uma real compreensatildeo que esse universo eacute marca-do pela luta e sofrimento

Ramos (1998) mostra como o homem sertanejo manteacutem uma relaccedilatildeo harmoniosa com a natureza e com o proacuteximo O contraponto dessa obra com a do ldquoJeca Tatuzinhordquo de Lobato ocorre a partir do olhar que cada autor coloca Em Ramos o sujeito do campo eacute um lutador sendo apresentado a partir da sua essecircncia jaacute em Lobato esse homem eacute visto como atrasado e incapaz por esse motivo o debate sobre campo e cidade eacute importante visto que tais relaccedilotildees estatildeo em constante mudanccedilas Para aleacutem dessa perspec-tiva se o olhar para o homem do campo muda a loacutegica da poliacutetica puacuteblica tende tambeacutem a mudar

Dessa forma natildeo podemos pensar o campo e a cidade de forma simplista racista homogecircnea hegemocircnica ou machista delimitando e buscando dife-renccedilas entre um e outro pois as relaccedilotildees atuais entre o campo e a cidade jaacute natildeo as mesmas de vinte anos atraacutes Hoje o campo eacute um grande influenciador sobre os agentes urbanos e vice-versa

Fazendo uma breve retrospectiva sobre as relaccedilotildees histoacutericas entre o campo e a cidade nota-se que tais relaccedilotildees sempre estiveram em constantes mudan-ccedilas ao passo que na antiguidade o campo e a cidade se diferenciavam pelas divisotildees de trabalho jaacute no medieval as distinccedilotildees eram feitas atraveacutes dos muros que separavam o que era cidade e o que era campo

Atualmente natildeo existe uma ldquobarreirardquo fiacutesica que delimita dizer onde eacute campo e onde eacute cidade pois fica difiacutecil agrave identificaccedilatildeo do que eacute campo e cidade porque um depende do outro Nessa perspectiva apresenta-se a seguir algumas pers-pectivas sobre campocidade e ruralurbano agrave medida que existe uma gama imensa de trabalhos que procuram refletir sobre a questatildeo campo-cidade no

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 253

Brasil poreacutem na maioria das vezes a abordagem se resume a dados estatiacutesticos que desconsideram a realidade vivida por cada localidade

Utilizar os dados estatiacutesticos para reconhecer o que eacute urbano ou o que rural pode ser um recurso metodoloacutegico entretanto a anaacutelise natildeo deve apenas amparar-se em nuacutemeros mas tambeacutem levar em consideraccedilatildeo as relaccedilotildees am-bientais econocircmicas sociais e culturais de cada localidade Spoacutesito (2006 p 114) compreende que ldquoo processo que envolve cidade e campo deve ser visto a partir de outras perspectivas e natildeo apenas de forma reduzida como oacutergatildeos administrativos abordam a questatildeordquo e acrescenta ldquo[] A urbanizaccedilatildeo eacute um pro-cesso muito mais complexo e natildeo pode ser reduzido a sua dimensatildeo popula-cional razatildeo pela qual a questatildeo cidade-campo merece ser vista a luz de outras perspectivas []rdquo (SPOSITO 2006 p 114)

No seacuteculo XX as estruturas urbanas foram modificadas o que tornou muito difiacutecil diferenciar no sentido espacial a cidade do campo O que percebemos eacute que tem se expandido a aacuterea de transiccedilatildeo entre o que entendemos como cida-de e o que se compreende como campo gerando com isso uma dificuldade de distinccedilatildeo entre espaccedilos urbanos e espaccedilos rurais

Em virtude deste cenaacuterio Sposito (2006) aponta para uma constituiccedilatildeo de um contiacutenuo entre cidadecampo poreacutem isto natildeo quer dizer no desapareci-mento da cidade e do campo como unidades espaciais com caracteriacutesticas dis-tintas mas sim a constituiccedilatildeo de aacutereas em que ocorre o contato entre esses espaccedilos que se caracterizam pelo compartilhamento seja do mesmo territoacuterio ou em parcelas com variados fins que vatildeo desde o uso do solo a interesses poliacute-ticos e econocircmicos no qual satildeo associados ao mundo rural e ao urbano

Biazzo (2008) salienta que rural e urbano por vezes tecircm sido abordados como categorias operatoacuterias ou seja satildeo lidas como partes materiais que com-potildeem os espaccedilos produzidos pela sociedade em muitas abordagens sobre es-tas categorias tecircm focado apenas nas dimensotildees econocircmicas e poliacuteticas com base na divisatildeo social do trabalho deixando de lado o cultural e o social

Endlich (2006) e Sobarzo (2006) ambos influenciados por Henri Lefebvre (2001) compreendem o rural e o urbano como modos de vida perpassando desde os haacutebitos costumes e cultura entendem que essas relaccedilotildees vatildeo aleacutem do territoacuterio e da materialidade

Portanto eacute inuacutetil pensar que cidade e campo caminham isolados poreacutem eacute necessaacuterio analisar que tais espaccedilos possuem as suas proacuteprias caracteriacutesticas cenaacuterios e dinacircmicas Embora hoje em dia os rurais e urbanos possuam rela-ccedilotildees estreitas cabe dizer que natildeo se tornaram a mesma coisa pois preservam

254 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

suas especificidades Sobre o periacuteodo atual da relaccedilatildeo cidade e campo Spoacutesito (2006 p 122) salienta

[] Aqui a unidade espacial urbana como marcas das cidades no de-

correr do longo processo de urbanizaccedilatildeo cedeu lugar ao binocircmio

urbanorural resultado tambeacutem da incapacidade no periacuteodo atual

de distinguir onde acaba a cidade e comeccedila o campo As formas con-

fundem-se porque as relaccedilotildees se intensificam e os limites entre esses

dois espaccedilos tornam-se imprecisos [] (SPOSITO 2006 p 122)

Dessa forma Sposito (2006) salienta a necessidade de reelaborar os conteuacute-dos dos conceitos de cidade e campo rural e urbano com propoacutesito de trazer renovaccedilatildeo a essas novas formas de manifestaccedilatildeo no mundo contemporacircneo pois natildeo haacute como refletir sobre o rural e urbano com base apenas em teorias que natildeo acompanharam estas mudanccedilas

Por sua vez Bernardelli (2006 p 33) salienta que ldquo[] a concepccedilatildeo do urba-no extrapola a proacutepria cidade consubstanciando-se na relaccedilatildeo cidade-campo tendo na divisatildeo teacutecnica social e territorial do trabalho a sua baserdquo

Dessa forma torna-se necessaacuterio compreender a categoria urbano e a rural como conteuacutedos sociais enquanto satildeo concebidas no espaccedilo cidade e campo como Segundo Biazzo (2008 p 139) urbano e rural satildeo conteuacutedos sociais ldquopo-dem conviver no mesmo local nas praacuteticas dos mesmos autores sociaisrdquo

Dentre as abordagens que foram elencadas ateacute aqui compreende-se que eacute a partir das relaccedilotildees e dos agentes sociais que iremos entender o rural e urba-no sendo importante lembrar que as relaccedilotildees se constroem e desconstroem-se por meio da sociedade estando em constantes transformaccedilotildees

Sobre as relaccedilotildees mantidas entre cidade e campo nota-se que a cidade tem buscado cada vez mais se inserir no campo atraveacutes dos seus aparatos tecnoloacute-gicos Em contrapartida o intenso processo de urbanizaccedilatildeo ocorrem a partir das massivas poliacuteticas de modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil as quais provocam a fuga de pequenos produtores rurais para a cidade em vista da maturaccedilatildeo do processo urbano-industrial desencadeado no Brasil

No entanto natildeo satildeo apenas os modos de vida da cidade que adentram ao campo tambeacutem ocorre o inverso pois os habitantes da cidade tambeacutem bus-cam haacutebitos que satildeo ditos apenas do campo

Ademais observa-se a migraccedilatildeo de habitantes da cidade para o campo em busca de tranquilidade a intensa busca pelo contato com a natureza a tiacutetulo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 255

de exemplo tem-se o crescimento de residenciais fechados Satildeo os condomiacute-nios que pregam o lema de estarem em contato com a natureza na promoccedilatildeo de paz harmonia sauacutede e qualidade de vida sem no entanto desconstruir os haacutebitos e valores simboacutelicos da cidade reeditando o estranhamento socieda-de-natureza realimentando a dicotomia mas com o discurso de intenccedilatildeo

Portanto nota-se dois processos de um lado a populaccedilatildeo da cidade que busca a visatildeo bucoacutelica do campo como local de descanso repouso e lazer e do outro o morador do campo que migra para a cidade com intuito de melhores condiccedilotildees de vida caracterizando haacutebitos identidades e relaccedilotildees que acabam fazendo com que esses dois espaccedilos se relacionem

Natildeo obstante tudo que foi exposto ateacute aqui evidencia que devemos com-preender o rural e urbano como modos de vida Ademais ao analisar o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2010 identificamos que naquele ano o iacutendice de urbanizaccedilatildeo foi de 8434 o que leva a compreensatildeo de que o rural estaacute sendo extinto na percepccedilatildeo de alguns autores No entanto eacute possiacutevel vislumbrar essa realidade para um futuro proacuteximo O Brasil seraacute um paiacutes esvaziado de conteuacutedo rural

Devemos analisar este tipo de dado com atenccedilatildeo pois natildeo aponta como ocorre o processo de urbanizaccedilatildeo Na realidade apenas disfarccedila a verdadeira natureza destas relaccedilotildees deixa de lado e esquece que os modos de vida rurais e urbanos natildeo satildeo estaacuteticos e muito menos se restringem a um espaccedilo

Os dados apontados pelo IBGE deixam de lado por exemplo o motivo que tem feito moradores de aacutereas rurais abandonarem as suas casas a mudarem-se para as cidades pois muitos desses sujeitos migram para a cidade natildeo apenas por melhores condiccedilotildees de vida mas sim porque estatildeo sendo expropriados por esse modo perverso da concentraccedilatildeo das grandes propriedades com praacute-ticas sociais e relaccedilotildees de trabalho pautadas na exploraccedilatildeo de matildeo-de-obra

Haacute tambeacutem um movimento inverso daqueles sujeitos sem emprego e mo-radia na cidade que se inserem nos movimentos sociais de luta pela terra tendo como objetivo melhor qualidade de vida e busca por meios de subsistecircncia Ao se inserirem sobrevivem vivendo na beira das estradas com a incerteza e podem passar anos lutando por um pedaccedilo de chatildeo

Dessa forma a quantificaccedilatildeo da urbanizaccedilatildeo no Brasil e a proacutepria relaccedilatildeo entre campo e cidade amparada apenas em dados estatiacutesticos induzem ao es-quecimento do modo de vida dos agentes que fazem parte deste processo As-sim sendo compreendemos campo e cidade como parte do concreto ou seja do material no espaccedilo Enquanto rural e urbano a construccedilatildeo social no espaccedilo

256 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

nota-se que satildeo inuacutemeras as diferenccedilas entre o rural e o urbano e o campo e a cidade

Portanto na atualidade o que fica evidente eacute que os espaccedilos urbanos e ru-rais estatildeo englobados e os limites entre esses espaccedilos jaacute natildeo coincidem com os recortes utilizados atraveacutes de dados estatiacutesticos Dessa forma torna-se cada vez mais um desafio agrave compreensatildeo sobre as relaccedilotildees entre campo e cidade

4 ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE A MANIFESTACcedilAtildeO DO RU-RAL EM AacuteREAS URBANAS

Ao tratar sobre a conceituaccedilatildeo de uma localidade como rural ou urbana tor-na-se necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo a dinacircmica do local pois a distinccedilatildeo entre rural e urbano estaacute no conteuacutedo das relaccedilotildees sociais contidas em cada espaccedilo como jaacute foi dito anteriormente

Dessa forma compreender atraveacutes dos haacutebitos costumes cultura e relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos tecircm com o local eacute o ponto de partida para analisar o rural e o urbano De acordo com Moreira (2005 p 11) tem-se que

[] os indiviacuteduos podem expressar o seu viacutenculo com um determi-

nado territoacuterio (sua identidade territorial) mesmo estando fora de

sua referecircncia espacial Eacute o caso da manifestaccedilatildeo de praacuteticas culturais

entendidas como rurais em espaccedilos definidos como urbanos e vice-

-versa (MOREIRA 2005 p 11)

Nesse sentindo torna-se uma tarefa difiacutecil apontar uma diferenciaccedilatildeo pois em determinadas aacutereas perifeacutericas das cidades o rural e o urbano se interagem no viver das pessoas formando assim um espaccedilo hiacutebrido o que tem sido comu-mente denominado de espaccedilo periurbano

Sobre a ideia de hibridaccedilatildeo Haesbaert (2005 p 05) afirma que ldquoo mais co-mum eacute que as pessoas e os grupos sociais desenvolvam concomitantemente viacutenculos identitaacuterios com mais de um territoacuterio ou com territoacuterios de caracteriacutes-ticas muito mais hiacutebridas multiterritorializando-serdquo

Dessa forma exemplos bem simples como agrave criaccedilatildeo de galinhas nos quin-tais das casas em que se localizam na cidade eacute a manifestaccedilatildeo dessa hibridi-zaccedilatildeo uma vez que o sujeito pode ter deixado o campo mas costumes ditos rurais ainda estatildeo presentes em sua identidade Ademais morar natildeo implica ser do lugar Estar no lugar eacute condiccedilatildeo enquanto ser do lugar eacute pertencimento

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 257

Em relaccedilatildeo agrave permanecircncia de haacutebitos ditos rurais com manifestaccedilotildees na ci-dade Maia (2000 p121) aponta que [] ldquoidentificamos nesse cenaacuterio urbano resiacuteduos de tempos lentos atrelados ao tempo acelerado pela sociedade de consumordquo

Deste modo eacute preciso analisar profundamente se tais relaccedilotildees satildeo baseadas em uma intensa ligaccedilatildeo com a terra pois estes moradores satildeo contados como urbanos o que torna necessaacuterio dizer que nos espaccedilos urbanos a terra possui outra loacutegica

O trabalho sobre a terra no urbano se concretiza por mediaccedilatildeo daquilo que estaacute construiacutedo como por exemplo as casas preacutedios ruas lojas etc Nos espa-ccedilos urbanos podemos notar algumas manifestaccedilotildees do modo de vida rural a partir das relaccedilotildees de vizinhanccedila

Em virtude daqueles que foram expropriados de suas terras ou que por ou-tros motivos migraram para a cidade eacute possiacutevel perceber costumes como o de ajudar o vizinho em alguma necessidade No campo a relaccedilatildeo com o vizinho eacute algo muito forte pois desde a colheita ou ateacute mesmo a ajuda com a construccedilatildeo de uma cerca satildeo costumes de quem vive no campo embora isto natildeo sirva para aqueles grandes proprietaacuterios de terra

Entretanto costumes em que envolvem uma estreita ligaccedilatildeo entre vizinhos jaacute satildeo haacutebitos raros na cidade afinal quantos dos nossos vizinhos sabemos o nome A profissatildeo ou ateacute mesmo quando foi que conversamos com algum de nossos vizinhos Assim sendo podemos dizer que as pessoas oriundas do cam-po possuem maior companheirismo e identificaccedilatildeo com o local levando-nos a pensar na territorialidade como partida para distinguir em alguns aspectos o rural do urbano

Essa territorialidade atinge de forma mais intensa o modo de vida rural se-gundo Alentejano (2003 p 31) ldquoeacute a intensidade da territorialidade que distin-gue o rural do urbano podendo-se afirmar que o urbano representa relaccedilotildees mais globais mais descoladas do territoacuterio enquanto o rural reflete uma maior territorialidade uma vinculaccedilatildeo local mais intensardquo

Outrossim a cidade muitas vezes eacute vista como o centro de comando no qual concentra desde o poder poliacutetico do capital e que exerce poder sobre um projeto ldquomodo de viverrdquo ditando um modo de agir e pensar urbano egoiacutesta desigual capitalista e racista Todavia a cidade natildeo consegue extinguir praacuteticas ligadas ao modo de vida rural e embora vivemos em um mundo dito globaliza-do em que a cidade eacute vista como o que eacute avanccedilando ainda existem resistecircncias por parte dos sujeitos sociais simples

258 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Portanto eacute necessaacuterio compreender que apesar das relaccedilotildees de proximi-dade constituiacutedas entre o rural e o urbano no momento poliacutetico econocircmico e social em que estamos passando isso natildeo significa que ocorreu uma homo-geneizaccedilatildeo desses espaccedilos pois essa duas espacialidades possuam realidades distintas apesar de possuiacuterem caracteriacutesticas semelhantes poreacutem as diferenccedilas existem e permaneceratildeo a existir

Desse modo torna-se necessaacuterio que as reflexotildees sobre essas categorias deixem de lado o instrumento da diferenciaccedilatildeo pois cada vez mais as reali-dades urbanas e rurais se aproximam Assim sendo ateacute aqui foi citado alguns autores e exemplos sobre a temaacutetica por se tratar de um tema que tem diver-sos posicionamentos buscamos de forma sucinta expor o nosso entendimento sobre a dinacircmica dessas relaccedilotildees

Contudo vale ressaltar que natildeo existe uma caracteriacutestica definidora sobre o que eacute rural e o que eacute urbano bem como campo ou cidade Todavia julga-se importante novas leituras estudos e aprofundamentos interdisciplinares para a compreensatildeo desses conceitos haja vista que epistemologicamente esses conceitos vatildeo aleacutem do entendimento de um uacutenico campo de conhecimento

5 A CONTRIBUICcedilAtildeO DA INTERDISCIPLINARIDADE NA LEITURA DE CIDADE E CAMPO

O conhecimento interdisciplinar eacute inovador pois traz uma proposta que implica na geraccedilatildeo de novos princiacutepios e metodologias diaacutelogo entre os pes-quisadores trocas de saberes no sentido de atender os problemas de maior complexidade da sociedade contemporacircnea em especial na relaccedilatildeo entre a ci-dade e o campo

Para Floriani (2000) o ser humano faz parte do meio ambiente desde a gecircnese da humanidade e por isso o meio ambiente urbano e rural natildeo po-dem em hipoacutetese alguma ser visto de forma fragmentada Desse ponto de vista a necessidade dos estudos interdisciplinares surgem para incrementar a visatildeo de mundo e de ambiente que o ser humano deve ter na cidade e no campo e de interagir no meio ambiente natildeo soacute para deterioraacute-lo consumi-lo (visatildeo urbana) mas tambeacutem para conservaacute-lo preservaacute-lo e restauraacute-lo (visatildeo camponesa)

A partir dessa perspectiva faz-se necessaacuterio que a relaccedilatildeo campo e cidade tenha um olhar que abarque toda a complexidade que carrega Desse modo Assis (2000) frisa que a interdisciplinaridade surge como necessidade das ciecircn-

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cias modernas oriundo da cooperaccedilatildeo entre as ciecircncias e disciplinas como pos-siacutevel soluccedilatildeo e demanda das complexidades ambientais na busca de promover sinergia no avanccedilo do conhecimento sobre fenocircmenos complexos

Para Costa (2000) eacute vaacutelido considerar a importacircncia da promoccedilatildeo divul-gaccedilatildeo e implementaccedilatildeo da interdisciplinaridade no acircmbito da atividade de pesquisa em si pois ao ser reconhecida e referida como instrumento meto-doloacutegico essencial para possibilitar a apropriaccedilatildeo social dos resultados do avanccedilo do conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico gerado na aacuterea ambiental colabora na resoluccedilatildeo dos problemas oriundos da relaccedilatildeo homem-socieda-de-natureza

Nesse sentido cabe destacar que na visatildeo da autora a interdisciplinaridade representa apenas um meio e natildeo um fim em si mesmo pois seu objetivo maior eacute promover a integraccedilatildeo das vaacuterias dimensotildees do conhecimento e possibilitar uma efetiva contribuiccedilatildeo da comunidade cientiacutefica e tecnoloacutegica ao equacio-namento dos problemas socioambientais enfrentados pela sociedade nacional e internacional

Em suma a relaccedilatildeo cidade campo e interdisciplinaridade se correlacionam com o objetivo de encontrar repostas e soluccedilotildees para as demandas da socie-dade contemporacircnea em termos ambientais econocircmicos culturais poliacuteticos sociais tecnoloacutegicos entre outros evidenciando uma nova forma de pensar e repensar a problemaacutetica no campo e na cidade

Portanto eacute necessaacuterio repensarmos novas formas de solucionar os conflitos socioambientais territoriais e espaciais pois a relaccedilatildeo natureza cidade e cam-po estatildeo pautadas numa loacutegica capitalista desigual e mecanizada sem respei-tar a capacidade de carga dos recursos naturais Por fim a interdisciplinaridade torna-se imprescindiacutevel nos estudos que englobam o contexto e o fenocircmeno urbano e rural dada suas formas complexas de formaccedilatildeo e articulaccedilatildeo com o meio ambiente

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Portanto conclui-se que a relaccedilatildeo campocidade e ruralurbano se modi-ficam conforme a sociedade se transforma no passar das deacutecadas ou seja es-sas categorias estatildeo em constantes mutaccedilotildees necessitando uma leitura que compreenda a sua totalidade cabendo a interdisciplinaridade assumir um pa-

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pel preponderante nesse contexto pois por si soacute campo e cidade satildeo relaccedilotildees interdisciplinares complexas e dinacircmicas

Complementando esse cenaacuterio a configuraccedilatildeo com que satildeo feitas as deli-mitaccedilotildees por parte da administraccedilatildeo puacuteblica amparados em dados estatiacutesticos mostram um Brasil totalmente urbanizado entretanto ao delimitar o territoacuterio de maneira estatiacutestica desconsidera-se as especificidades locais de cada regiatildeo e as relaccedilotildees imateriais e simboacutelicas que as pessoas criam no espaccedilo Para tanto eacute necessaacuterio compreender que o campo e a cidade natildeo estatildeo isolados uns dos outros exemplo disso satildeo as relaccedilotildees comerciais e industriais na qual se ligam mutuamente em diversos casos

Aleacutem disso torna-se fundamental compreender o urbano para aleacutem da cidade assim como o rural para aleacutem do campo pois vivemos em um mun-do dito globalizado no qual compreender desta maneira tem se tornado um desafio para os pesquisadores que estudam a temaacutetica que envolve es-tas relaccedilotildees Logo ateacute aqui expusemos de forma sucinta um assunto que estaacute em constante mudanccedila e que exige certo esforccedilo de compreensatildeo so-bre estas relaccedilotildees

Portanto devemos refletir sobre essa temaacutetica com um vieacutes a partir das praacute-ticas sociais e das identidades constituiacutedas por cada indiviacuteduo assim as refle-xotildees sobre campo e cidade precisam ser feitas superando as visotildees tradicionais pois hoje ao abordar esta temaacutetica engloba desde o pertencimento com o local as relaccedilotildees e o comportamento dos atores sociais e a forma de relaccedilatildeo com o territoacuterio e o espaccedilo tornando necessaacuterio a ciecircncia abarcar a totalidade pois campo e cidade estatildeo interligados eacute necessaacuterio que a sociedade compreenda para aleacutem da dicotomia

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE

Clezyane Correia ArauacutejoAlceu PedrottiInaacutecio de BarrosSara Julliane Ribeiro AssunccedilatildeoAna Paula Silva de SantanaFrancisco Sandro Rodrigues Holanda

1 INTRODUCcedilAtildeO

A atividade agriacutecola representa o principal elo entre o homemnatureza tor-nando-se responsaacutevel por alteraccedilotildees no meio ambiente (MOURA et al 2004) As accedilotildees antroacutepicas geradas pela maneira como essa atividade eacute conduzida interfere em menor ou maior grau no meio ambiente em que estaacutes inserido Assim buscar a sustentabilidade na agricultura eacute fundamental para o desenvol-vimento sustentaacutevel da sociedade (CONWAY BARBIER 2013)

Para Abramoway (2010) o desenvolvimento sustentaacutevel configura-se como um processo de ampliaccedilatildeo permanente da capacidade dos indiviacuteduos escolher o modo de vida e das condiccedilotildees que estimulem a manutenccedilatildeo e a regeneraccedilatildeo dos ecossistemas Assim eacute um equiacutevoco pensar que o desenvol-vimento sustentaacutevel administra a natureza Mas sim gerencia e monitora as atividades humanas que afetam e inviabilizam processos ambientais (RABE-LO 2016)

Desta forma o debate sobre desenvolvimento sustentaacutevel traacutes a pauta a promoccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de uma agricultura sustentaacutevel que garanta a segu-ranccedila alimentar

A abordagem da agricultura sustentaacutevel vai aleacutem da perspectiva de que essa atividade seja apenas uma estrateacutegia de produccedilatildeo alimentos (BLUM 2001) Essa agricultura tem como competecircncia conceber um novo modelo tecnoloacutegico que integre as praacuteticas convencionais com as conservacionistas Partindo dessa perspectiva eacute necessaacuterio um novo modelo de agricultura que se preocupe com o meio ambiente (EHLERS 1996) Para Sachs (2002) o sucesso dos projetos

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sustentaacuteveis estaacute sujeito agrave capacidade de criar sistemas de produccedilatildeo e tornaacute-los cada vez mais produtivos utilizando a ciecircncia moderna

Assim a sustentabilidade agriacutecola pode ser entendida como a habilidade de uma exploraccedilatildeo manter a produccedilatildeo atraveacutes do tempo frente a distuacuterbios eco-loacutegicos e pressotildees socioeconocircmicas Eacute a habilidade em manter a produtividade mesmo quando submetido a estresses ou perturbaccedilotildees Dessa forma desen-volvimento agriacutecola sustentaacutevel objetiva atenuar os efeitos resultantes das ati-vidades antroacutepicas sobre o meio ambiente (CONWAY 1987) sem desconsiderar a produtividade e a lucratividade da exploraccedilatildeo agriacutecola

A implantaccedilatildeo de um modelo de desenvolvimento agriacutecola baseado nos princiacutepios da revoluccedilatildeo verde transformou a estrutura produtiva do campo fa-zendo surgir uma nova dinacircmica marcada principalmente pela industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (DA SILVA 1998) A modernizaccedilatildeo da agricultura desencadeada no paiacutes estimulou o desenvolvimento e a ampliaccedilatildeo da monocultura como uma forma de alcanccedilar o desenvolvimento rural natildeo consideraccedilatildeo os aspectos ambientais

Salienta-se no entanto que o desenvolvimento rural sustentaacutevel deveraacute re-sultar natildeo apenas na melhoria dos indicadores sociais e econocircmicos mas tam-beacutem na preservaccedilatildeo do meio ambiente

2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E AGRIacuteCOLA

O aumento populacional e as infinitas necessidades humanas perante re-cursos cada vez mais escassos revelaram problemas que passaram de uma escala local para uma escala global obrigando a sociedade a fazer reflexotildees em busca de accedilotildees que ultrapassem suas fronteiras geopoliacuteticas culturais ou ideoloacutegicas (RABELO 2012)

O aprofundamento da crise ambiental juntamente com a reflexatildeo siste-maacutetica sobre a influecircncia da sociedade neste processo conduziu a um novo conceito ndash o de desenvolvimento sustentaacutevel (BELLEN 2002) Salienta-se que o entendimento da problemaacutetica ambiental natildeo eacute homogecircneo Vem permeado pelos interesses ambientais de diversos setores e atores sociais e deriva de uma ampla visatildeo de conceitos e estrateacutegias de soluccedilotildees (LEFF 2002)

A Sustentabilidade significa o conjunto de processos e accedilotildees que

se destinam a manter a vitalidade e a integridade da Matildee Terra a

preservaccedilatildeo de seus ecossistemas com todos os elementos fiacutesicos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 265

quiacutemicos e ecoloacutegicos que possibilitam a existecircncia e a reproduccedilatildeo da

vida o atendimento das necessidades da presente e das futuras gera-

ccedilotildees e a continuidade a expansatildeo e a realizaccedilatildeo das potencialidades

da civilizaccedilatildeo humana em suas vaacuterias expressotildees (BOFF 2015 p 14)

A sustentabilidade tratar-se portanto de um processo contiacutenuo complexo e dinacircmico Machado (2011) assegura que o conceito de sustentabilidade vem sendo aplicado a diversas atividades desenvolvidas pelo homem e sua avaliaccedilatildeo recebe diferentes enfoques dependendo do niacutevel de estudo e do ambiente em questatildeo

A noccedilatildeo de sustentabilidade incorpora uma clara dimensatildeo social e

implica atender tambeacutem as necessidades dos mais pobres de hoje

outra dimensatildeo ambiental abrangente uma vez que busca garantir

que a satisfaccedilatildeo das necessidades de hoje natildeo pode comprometer o

meio ambiente e criar dificuldades para as geraccedilotildees futuras (BUAI-

NAIN 2006 p 47)

Por sua vez o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel eacute resultado de um longo processo histoacuterico de avaliaccedilatildeo criacutetica da relaccedilatildeo entre sociedade e natu-reza O mais conhecido e difundido conceito surgiu a partir do Relatoacuterio de Brun-dtland (Nosso Futuro Comum) publicado em 1987 pela Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento- CMMAD sendo definido como ldquoeacute aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as geraccedilotildees futuras atenderem as suas proacuteprias necessidadesrdquo (CMMAD 1991 p 46)

Podemos assim dizer que o termo desenvolvimento sustentaacutevel se trata do contiacutenuo melhoramento da qualidade de vida das comunidades criando e im-plantando soluccedilotildees para combater a degradaccedilatildeo ambiental e as desigualdades econocircmicas e sociais Assim o desenvolvimento sustentaacutevel deve ser uma con-sequecircncia do desenvolvimento social econocircmico e da preservaccedilatildeo ambiental

O continuo processos de avanccedilos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos afetam direta-mente a relaccedilatildeo homem-natureza que por sua vez influenciam a busca por um desenvolvimento sustentaacutevel Desse modo o desenvolvimento sustentaacute-vel utiliza-se de inovaccedilotildees1 buscando minimizar o impacto no meio ambiente e reduzir custos com preservaccedilatildeoconservaccedilatildeo dos recursos naturais

1 Novas formas processos e praacuteticas de desenvolver as atividades utilizando-se dos recursos dispo-niacuteveis (existente) de outra maneira diferente da forma tradicional (SHANE VENKATARAMAN 2000)

266 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

A utilizaccedilatildeo dos recursos ambientais deriva de uma estrutura econocircmica com base na produccedilatildeo e consumo em larga escala Conforme destacado por Giordano (2005) a atividade agriacutecola eacute reconhecidamente causadora de im-pactos ambientais diante da alteraccedilatildeo da paisagem e utilizaccedilatildeo desses recur-sos Dessa forma quando se almeja a sustentabilidade da atividade agriacutecola requer-se a consolidaccedilatildeo de princiacutepios complexos e diversos que busquem mi-nimizar as alteraccedilotildees intriacutenseca da atividade

A sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas caracterizou-se historicamente pela manutenccedilatildeo da produtividade ao longo do tempo Com a evoluccedilatildeo a esse conceito foram acrescidas as vertentes sociais ambientais e econocircmicas Assim hoje podemos entender a sustentabilidade agriacutecola como entrelace sustenta-bilidade econocircmica (promoccedilatildeo de lucro liacutequido para o produtor) sustentabi-lidade social (geraccedilatildeo de emprego com condiccedilotildees adequadas de trabalho) e sustentabilidade ambiental (ausecircncia de passivo ambiental ou qualquer dano ao meio ambiente em prol da rentabilidade) agregando agrave produccedilatildeo de alimen-tos a conservaccedilatildeo do meio ambiente e a funccedilatildeo social ao longo do tempo (AL-TIERI 2004)

O objetivo de uma agricultura sustentaacutevel deve ser o de envolver

o manejo eficiente dos recursos disponiacuteveis mantendo a produccedilatildeo

nos niacuteveis necessaacuterios para satisfazer agraves crescentes aspiraccedilotildees de

uma tambeacutem crescente populaccedilatildeo sem degradar o meio ambiente

(FAO 1989 p 131)

Partindo do tripeacute que define as dimensotildees de sustentabilidade em agro-ecossistemas pode-se considerar que diferentes manejos agriacutecolas influen-ciam a sustentabilidade Ou seja uma monocultura2 qualquer seria menos sustentaacutevel do que um sistema agriacutecola diversificado na dimensatildeo ambiental seria insustentaacutevel no aspecto social devido ao seu sistema totalmente meca-nizado que absorve menos trabalho humano e do ponto de vista econocircmico natildeo se torna suportaacutevel por natildeo se manter a longo prazo devido aos usos exaustivos de seus recursos (MACHADO 2011)

Partindo do entendimento de que os sistemas produtivos sustentaacuteveis satildeo aqueles que natildeo comprometem o ecossistema futuro estes viabilizam a produccedilatildeo respeitando os limites naturais objetivando reduzir ao maacuteximo

2 Lavoura homogecircnea na qual se cultiva uma uacutenica espeacutecie de planta

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 267

os impactos gerados por accedilatildeo antroacutepica perturbando o miacutenimo possiacutevel o ambiente conservando o solo a aacutegua e a biodiversidade (BARROS COSTA 2010) Como desafio a promoccedilatildeo de uma produccedilatildeo agriacutecola sustentaacutevel teraacute a conciliaccedilatildeo dos aspectos econocircmicos sociais e ambientais a longo prazo

3 MODERNIZACcedilAtildeO AGRIacuteCOLA

A histoacuteria agriacutecola brasileira estaacute atrelada ao processo de colonizaccedilatildeo A dominaccedilatildeo social poliacutetica e econocircmica da grande propriedade foi privilegia-das e imposta como modelo socialmente reconhecido sendo estimulado por poliacuteticas que se preocuparam em ldquomodernizarrdquo e assegurar a produccedilatildeo fa-dando a segundo lugar outras configuraccedilotildees agriacutecolas (WANDERLEY1995)

Desde a deacutecada de 60 o progresso tecnoloacutegico no setor agriacutecola tem-se constituiacutedo numa das principais preocupaccedilotildees dos paiacuteses em desenvolvimento exigindo grandes aporte de recursos para proporcionar agrave agricultura condi-ccedilotildees de atender agrave demanda crescente de alimentos e mateacuterias-primas (BAL-SAN 2006)

A modernizaccedilatildeo da agricultura no Brasil por ter sido pontual progressiva e desigual possibilitou diferenccedilas estruturais no espaccedilo rural Assim os investi-mentos em tecnologias agriacutecolas geraram profundas mudanccedilas no campo Os produtos mais valorizados de exportaccedilatildeo foram privilegiados em detrimen-to a aqueles de demanda e consumo local proporcionando um processo de modernizaccedilatildeo e crescimento econocircmico mais raacutepido para certas culturas e em alguns locais considerados agrave eacutepoca os principais centros econocircmicos e agriacute-colas (BALSAN 2006)

Assim a poliacutetica agriacutecola que visa desenvolver o meio rural para promover manter ou ascender o niacutevel de vida dos agricultores (BLUM 2001) incentivou governamentalmente a manutenccedilatildeo dos latifuacutendios e fez crescer a desigual-dade no campo com a expansatildeo da agricultura moderna transformando-o em uma grande induacutestria tecnificando os meios de produccedilatildeo e alterando a relaccedilatildeo homem-nau

Para GRAZIANO NETO (1982) a desigualdade da modernizaccedilatildeo dar-se em trecircs niacuteveis entre as regiotildees do paiacutes entre as atividades agropecuaacuterias e entre os produtores rurais O autor ainda salienta que eacute perceptiacutevel por exemplo que em termos regionais o Sudeste e o Sul do paiacutes satildeo mais modernizados que as demais regiotildees especialmente os Estados de Satildeo Paulo Paranaacute e Rio Grande do Sul

268 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Com a tal modernizaccedilatildeo [] estatildeo nos forccedilando a dedicar agrave mono-

cultura [] Junto [] estatildeo vindo [] teacutecnicas agriacutecolas que natildeo se

casam com a Natureza As nossas terras estatildeo [] mais pobres []

Natildeo eacute justo que continuemos com uma agricultura desse jeito Noacutes

precisamos ter responsabilidade sobre o futuro e [] os bens naturais

que teremos que deixar pra nossos filhos (ICKERT 1980 apud GRA-

ZIANO NETO 1982)

Ademais a diversidade da modernizaccedilatildeo pode ainda ser explicada por meio das barreiras que o agricultor teraacute que enfrentar sendo estas Psicoloacutegicas ( ris-cos e incertezas da adoccedilatildeo da teacutecnica moderna) Econocircmicas (dependecircncia do capital disponiacutevel) e por fim Culturais ou de informaccedilatildeo (idade escolaridade e aspectos culturais)(GERARDI 1980)

A anaacutelise do processo de modernizaccedilatildeo pode ser sintetizada em duas con-sequecircncias Ambientais e socioeconocircmicas Os impactos ambientais satildeo de-correntes das praacuteticas agriacutecolas convencionais difundidas desde a ldquoRevoluccedilatildeo Verde3rdquo Esta tecircm levado agrave degradaccedilatildeo crescente dos recursos naturais provo-cando a destruiccedilatildeo das florestas e da biodiversidade a erosatildeo dos solos e a contaminaccedilatildeo dos recursos naturais e dos alimentos (ARAUJO 2018)

Por sua vez os impactos socioeconocircmicos satildeo causados pelas raacutepidas e complexas transformaccedilotildees da produccedilatildeo agriacutecola implantadas no campo Essas transformaccedilotildees fomentam consideraacutevel reduccedilatildeo da demanda da matildeo-de-obra (BALSADI et al 2002) e renda desemprego alteraccedilatildeo da dinacircmica territorial inchamento das cidades e intensificaccedilatildeo das lutas sociais

Tais impactos gerados por essas mudanccedilas faz com que a agricultura brasi-leira viva uma dicotomia em que a produccedilatildeo de capital intensivo e de grande escala dispute desigualmente o acesso agrave terra com as propriedades agriacutecolas tradicionais que produzem para mercados locais Assim o questionamento desse modelo bem como a difusatildeo do conceito de sustentabilidade tecircm leva-do a pesquisa agriacutecola a uma crescente busca por modelos alternativos e sus-tentaacuteveis para a agricultura (MARQUES et al 2003)

3 Refere-se ao desenvolvimento de tecnologias e disseminaccedilatildeo de novas praacuteticas agriacutecolas ldquopacote tecnoloacutegicordquo visando a maximizaccedilatildeo agriacutecola

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 269

4 IMPACTOS AMBIENTAIS DA MONOCULTURA

A principal caracteriacutestica do processo histoacuterico de modernizaccedilatildeo da agri-cultura foi agrave generalizaccedilatildeo da monocultura como forma predominante de produccedilatildeo O modelo tecnoloacutegico desenvolvido para essa agricultura esteve basicamente voltado para o uso intensivo dos recursos naturais e o cultivo em larga escala

Historicamente a difusatildeo do monocultivo ocorreu a partir do desenvolvi-mento do modelo euro-americano de modernizaccedilatildeo agriacutecola poacutes-revoluccedilatildeo industrial Anteriormente a monocultura era pratica restrita a regiotildees de solos excepcionais ou de conquista onde a degradaccedilatildeo da terra natildeo tinha grande importacircncia (ROMEIRO 1998)

Assim historicamente a monocultura estaacute atrelada ao descaso ambiental e a geraccedilatildeo de impactos promovidos pela a agricultura Desta forma eacute vista como a antiacutetese do desenvolvimento de uma agricultura sustentaacutevel que for-neccedila melhor qualidade de vida ao homem Sobre as monoculturas Gliessman (2000) enfatiza

A monocultura eacute uma excrescecircncia natural de uma abordagem

industrial da agricultura em que os insumos de matildeo-de-obra satildeo

minimizados e os insumos baseados em tecnologia satildeo maximi-

zados com vistas a aumentar a eficiecircncia produtiva As teacutecnicas

de monocultivo casam-se bem com outras praacuteticas da agricultura

moderna a monocultura tende a favorecer o cultivo intensivo do

solo a aplicaccedilatildeo de fertilizantes inorgacircnicos a irrigaccedilatildeo o contro-

le quiacutemico de pragas e as variedades especializadas de plantas A

relaccedilatildeo com os agrotoacutexicos eacute particularmente forte vastos culti-

vos da mesma planta satildeo mais suscetiacuteveis a ataques devastadores

de pragas especiacuteficas e requerem proteccedilatildeo quiacutemica (GLIESSMAN

2000 p35)

A simplificaccedilatildeo dos ecossistemas eacute a base para o desenvolvimento da mo-nocultura extensiva sendo esse o principal problema gerado para a manuten-ccedilatildeo desses ecossistemas (ZIMMERMANN 2009) Entretanto o prejuiacutezo causado pelo monocultivo natildeo se restringe apenas ao contexto ambiental O aumento da inseguranccedila alimentar o continuo ecircxodo rural a que estatildeo sujeitas as comu-nidades agriacutecolas a perda da identidade cultural das comunidades agriacutecolas

270 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

que satildeo desalojadas e o obrigadas a abandonar o mundo rural e a agricultura satildeo tambeacutem reflexos desse modelo produtivo (SOGLIO KUBO 2016)

Deve-se ainda acrescentar a esses impactos a promoccedilatildeo do desequiliacutebrio de doenccedilas e pragas agriacutecolas aliados a ocorrecircncia de plantas espontacircneas de difiacutecil controle que quando associados ao preparo inadequado de solo eacute ainda muito mais agressivo (GASSEN 2005)

Nesse contexto eacute importante ainda salientar que a difusatildeo deste modelo de produccedilatildeo agriacutecola tem como um dos fundamentos a propagaccedilatildeo iludida de que eacute preciso produzir mais alimentos para atender a demanda mundial sendo por muito tempo apresentado como a soluccedilatildeo para o problema de fome no mundo

Este discurso sustentado desde a revoluccedilatildeo verde promove a massificaccedilatildeo das praacuteticas agriacutecolas convencionais acarretando na simplificaccedilatildeo do processo produtivo e ateacute da tecnologia utilizada natildeo levando em consideraccedilatildeo as espe-cificidades edafoclimaacuteticas locais esvaindo-se de que natildeo se pode uniformi-zar as praacuteticas adotadas na agricultura mas sim desenvolve-las de maneira a aliar-se com a sustentabilidade visando a conservaccedilatildeo dos recursos naturais (FERREIRA 2008)

As exploraccedilotildees agriacutecolas tecircm-se tornado a cada dia mais complexa quanto agraves combinaccedilotildees e agrave aplicaccedilatildeo de tecnologia que garantam produccedilotildees estaacuteveis Qualquer atividade agriacutecola que emprega recursos naturais e usa agroquiacutemi-cos provoca algum impacto ambiental Contudo eacute possiacutevel reduzir quaisquer impactos ao fazer planejamento ocupaccedilatildeo criteriosa do solo agriacutecola e empre-go de teacutecnicas de conservaccedilatildeo para cada cultura e regiatildeo

CONCLUSAtildeO

Eacute inegaacutevel a importacircncia econocircmica e social da atividade agriacutecola pois estaacute movimenta uma grande cadeia produtiva seja na geraccedilatildeo de empregos diretos eou indiretos ou seja ligada agrave produccedilatildeo de alimento e fibras Contudo a pru-decircncia deve ser levada em consideraccedilatildeo no que tange ao meio ambiente vis-to que o sistema de produccedilatildeo ao qual essa atividade estaacute sendo desenvolvida (monocultivo) eacute bastante questionaacutevel uma vez que preconiza o uso intensivo de maquinaacuterios insumos quiacutemicos e reduccedilatildeo da biodiversidade acarretando em consequecircncias negativas ao meio ambiente

Mediante recursos naturais findaacuteveis torna-se de extrema importacircncia agrave sensibilizaccedilatildeo perante as problemaacuteticas socioambientais a qual a sociedade

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 271

vem experimentando As transformaccedilotildees ocorridas nos meios de produccedilatildeo agriacutecola induzido pela inserccedilatildeo da tecnologia embora possa trazer benefiacutecios a curto prazo como lucratividade e melhoria na renda dos agricultores traz inuacute-meros malefiacutecios a curto meacutedio e o longo prazo atrelados ao ambiente eco-nomia e sociedade

A divergecircncia entre desenvolvimento e meio ambiente natildeo pode mais se sustentar e a conscientizaccedilatildeo da sociedade como promotora de mudanccedilas na tomada de decisotildees visando o desenvolvimento sustentaacutevel tambeacutem deve abarcar as questotildees agriacutecolas

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274 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

POSSIBILIDADES DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA ADMINSTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA MUNICIPAL DE ARACAJUSE

Robertha Georgya de Barros e SilvaGicelia Mendes da SilvaIvana Ferreira Lermen

INTRODUCcedilAtildeO

O raacutepido adensamento das cidades brasileiras a partir da deacutecada de 1950 sem o devido controle do poder puacuteblico no provimento de infraestruturas e serviccedilos urbanos produziu espaccedilos urbanos cada vez mais desiguais fragmen-tados e excludentes Desde a deacutecada de 1980 contudo com a volta da demo-cracia apoacutes longo periacuteodo de ditadura militar verificam-se avanccedilos importan-tes na formulaccedilatildeo de um arcabouccedilo juriacutedico institucional como a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e do Estatuto da Cidade (Lei Federal 10257 de 10 de Julho de 2001) que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal e que tratam da poliacutetica urbana

Com efeito o entendimento de cidade como criaccedilatildeo humana se consti-tui em elemento fundamental para a formaccedilatildeo da cidadania criacutetica e como fator preponderante para ativar os laccedilos que ligam educaccedilatildeo e cidade atraveacutes de possibilidades de controle social que operam potencialidades transformadoras capazes de produzir e agregar conhecimento em torno da questatildeo urbana

As administraccedilotildees puacuteblicas municipais brasileiras tiveram a institucionali-zaccedilatildeo do planejamento urbano a partir de 1970 com o boom da urbanizaccedilatildeo Assim iniciou-se um processo de elaboraccedilatildeo de poliacuteticas preventivas e dos primeiros planos de ordenamento do uso e ocupaccedilatildeo do espaccedilo urbano No acircmbito federal a Lei 6766 de 191279 (Lei Lehmam) criada com o objetivo de prevenir a degradaccedilatildeo ambiental ao disciplinar o parcelamento do solo ur-bano constituiu-se em importante marco do planejamento urbano territorial no Brasil Nesse periacuteodo o territoacuterio urbanizado e em urbanizaccedilatildeo eram orde-nados pelo zoneamento que era aplicado com base em paracircmetros de uso e

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 275

ocupaccedilatildeo especiacuteficos O zoneamento constituiacutea-se desse modo como princi-pal mecanismo de planejamento

Assim essa eacutepoca foi caracterizada pela desarticulaccedilatildeo entre planejamento e gestatildeo urbana de forma que a participaccedilatildeo social natildeo era legitimada aleacutem de existirem limitaccedilotildees do poder legislativo Essa dissociaccedilatildeo produziu um pla-nejamento urbano tecnocraacutetico em que natildeo se reconheciam os conflitos socio-espaciais nem se consideravam as desigualdades das condiccedilotildees de renda e sua influecircncia sobre o mercado da terra urbana O Brasil produzia entatildeo o chama-do ldquoplanejamento de gabineterdquo Com perspectiva notadamente centralizadora ldquoo isolamento do planejamento e sua separaccedilatildeo da esfera da gestatildeo provocou uma espeacutecie de discurso desconexo nas administraccedilotildees ndash de um lado planos reiteravam os padrotildees modelos e diretrizes de uma cidade racionalmente pro-duzida de outro o destino da cidade era negociado dia a dia com os interesses econocircmicos locais e corporativosrdquo (BRASIL 2001)

Nessa mesma eacutepoca iniciou-se a discussatildeo em torno do conceito de susten-tabilidade na Conferecircncia de Estocolmo em 1972 abrangendo o debate natildeo soacute sobre meio ambiente mas estendendo-o a reflexotildees acerca da pobreza produ-ccedilatildeo habitacional sauacutede democracia e direitos humanos Interessante destacar que a proacutepria ideia de sustentabilidade jaacute trazia nuances da importacircncia de se considerar o conhecimento tradicional e as diferenccedilas culturais e territoriais como um imperativo eacutetico para cidades melhores (PELICIONI e PHILIPI JR 2014)

O contexto brasileiro de concentraccedilatildeo espacial de empreendimentos indus-triais e a inexistecircncia de poliacuteticas urbanas integradas resultaram em um pro-cesso de urbanizaccedilatildeo desordenado e caoacutetico que excluiu sistematicamente a maioria da populaccedilatildeo do acesso a bens serviccedilos e direitos No bojo do processo de democratizaccedilatildeo do Brasil nos anos de 1980 iniciou-se um debate politizado sobre planejamento urbano e pelo o direito agrave cidade atraveacutes dos movimentos sociais de luta pela Reforma Urbana que findou em influenciar fortemente as propostas de formulaccedilatildeo de instrumentos urbaniacutesticos pautados pela neces-sidade de reconhecer e legalizar o acesso democraacutetico agrave terra urbanizada e a participaccedilatildeo popular no planejamento urbano Toda essa mobilizaccedilatildeo social contou com a participaccedilatildeo de movimentos populares associaccedilotildees profissio-nais grupos religiosos e pesquisadores e levou agrave reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo brasileira gerando a Emenda Popular da Reforma Urbana em 1988 e estabele-cendo uma nova concepccedilatildeo de planejamento integrado agrave gestatildeo

A partir desse novo repertoacuterio legal o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano-PDDU aparece como principal instrumento da poliacutetica urbana muni-

276 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

cipal e pode ser entendido como um pacto entre o poder puacuteblico municipal e a sociedade composto por regramentos e princiacutepios que devem orientar o crescimento do espaccedilo urbano preferencialmente sustentaacutevel A Lei Federal 102572001 conhecida como Estatuto da Cidade que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 eacute vital para o PDDU Isto porque a partir do Estatuto da Cidade a poliacutetica urbana brasileira foi regulamentada e um rol de instrumentos juriacutedicos que reconhecem como fundamentais o direito agrave cidade e agrave funccedilatildeo social da propriedade urbana foram criados resguardando a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo e associaccedilotildees representativas dos diversos seg-mentos sociais no processo de elaboraccedilatildeo votaccedilatildeo implementaccedilatildeo e gestatildeo do Plano

Aracaju capital do Estado de Sergipe tem uma populaccedilatildeo de 552365 ha-bitantes segundo o Censo de 2010 eacute considerada uma cidade de meacutedio porte De acordo com os estudos de Machado (2012 p 170) a capital em destaque concentra ldquo2712 da populaccedilatildeo total do Estado de Sergipe que eacute de 2036277 habitantes representa o domiacutenio econocircmico e cultural do estado e nenhuma outra cidade chega a interferir nesse domiacuteniordquo Entatildeo por centralizar este papel Aracaju eacute a sede da Regiatildeo Metropolitana que eacute composta pelos Municiacutepios de Satildeo Cristoacutevatildeo Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros

O espaccedilo urbano de Aracaju seguindo os estudos do autor supracitado ldquoapresenta vaacuterios exemplos de problemas semelhantes aos das demais regi-otildees metropolitanas do Brasil tais como alta concentraccedilatildeo populacional deacutefi-cit habitacional alta valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria segregaccedilatildeo socioespacial grande concentraccedilatildeo de automoacuteveis poluiccedilatildeo sonora e de fuligem pouca arborizaccedilatildeo crescente iacutendice de violecircncia urbana dentre outrosrdquo (MACHADO 2012 p170) No sentido de tentar sanar os problemas urbanos decorrentes dos fatores aci-ma descritos o municiacutepio conta com um PDDU desde 2000 O instrumento foi revisado em 2005 e 2015 e natildeo passaram de Projetos de Lei que foram engave-tados pelas administraccedilotildees municipais

Como a maioria das cidades brasileiras AracajuSE se constituiu a partir de importantes mecanismos de reproduccedilatildeo e acumulaccedilatildeo do capital e isso se tor-na muito claro ao se observar a segregaccedilatildeo socioespacial e o proacuteprio regramen-to de uso e ocupaccedilatildeo do solo urbano que eacute conduzido pelo capital imobiliaacuterio (muitas vezes legitimado por instrumentos do planejamento urbano) A cha-mada zona de expansatildeo de Aracaju aacuterea de grande vislumbre da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria percebe-se bem esse quadro A partir de meados da deacutecada de 1980 a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria atingiu a localidade quando parte dos vazios

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 277

urbanos e propriedades rurais datildeo lugar aos condomiacutenios fechados A chegada dessa nova tipologia residencial proveacutem da demanda por isolamento o que eacute necessaacuterio para que uma aacuterea seja passiacutevel de apropriaccedilatildeo pelos iguais preser-vando assim o sentido de exclusividade entre muros e cercas privilegiando o sentido de maacutexima seguranccedila e homogeneidade social (CALDEIRA 2000)

Considerando a falta de conexatildeo entre planejamento e gestatildeo urbana aqui exemplificada pela problemaacutetica da zona de expansatildeo de AracajuSE eacute que este trabalho pretende selecionar indicadores de sustentabilidade como uma ferramenta de apoio ao planejamento e gestatildeo urbanos dessa aacuterea acenando--se com isso para a necessidade de uma contiacutenua reflexatildeo criacutetica sobre integrar instrumentos de planejamento e gestatildeo como o PDDU agrave maximizaccedilatildeo da qua-lidade de infraestrutura e serviccedilos urbanos que efetivamente possam trazer melhores condiccedilotildees de vida aos cidadatildeos

Destarte aliados agraves consideraccedilotildees supramencionadas a acessibilidade agraves informaccedilotildees sobre a cidade tem se tornado uma ferramenta cada vez mais ne-cessaacuteria e essencial para o processo de integraccedilatildeo entre planejamento e ges-tatildeo de poliacuteticas puacuteblicas bem como para o controle social Conforme destaca KOGA (2002) sem informaccedilotildees da realidade natildeo se elaboram diagnoacutesticos efe-tivos natildeo se criam paracircmetros avaliativos natildeo se constroem indicadores natildeo se traz agrave tona a complexidade das condiccedilotildees de vida dos moradores Para tanto este artigo pretende contextualizar trecircs accedilotildees da sociedade civil organizada a partir das reivindicaccedilotildees de melhoria do Foacuterum de Defesa da Grande Aracaju (FDGA) relativas agrave zona de expansatildeo deste municiacutepio Esta entidade foi criada em 2009 por um grupo de moradores e associaccedilotildees atuantes da aacuterea em de-correcircncia da necessidade de incentivar a populaccedilatildeo local a pensar a cidade em suas diferentes formas e conflitos

1 PLANEJAMENTO ZONEAMENTO AMBIENTAL E INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE TECENDO PONTOS EM COMUM

Com a perspectiva de realizar um planejamento territorial eacute importante ter a percepccedilatildeo do municiacutepio como parte de um conjunto integrado e conforme aponta Freitas e Neto (2011) ldquodeve-se considerar todos seus aspectos correla-cionados ou seja necessidade de desenvolvimento econocircmico acesso agraves in-fraestruturas urbanas preservaccedilatildeo dos recursos socioambientaisrdquo Essa visatildeo integradora do planejamento territorial deve buscar transformar as paisagens

278 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

das nossas cidades que satildeo marcadas por crescentes ocupaccedilotildees irregulares que refletem a segregaccedilatildeo socioespacial e a concentraccedilatildeo de renda

Por isso o ordenamento ambiental deve ser mateacuteria comumente tratada nos PDDUs atraveacutes do Coacutedigo Municipal de Meio Ambiente ou em outro instru-mento especiacutefico entendendo que as poliacuteticas ambientais devem atravessar as poliacuteticas de desenvolvimento urbano-territorial Para tanto trata-se de elaborar proposiccedilotildees e diretrizes para a implantaccedilatildeo de medidas que garantam a sa-dia qualidade de vida que devem inclusive pautar e influenciar as decisotildees de cunho econocircmico e financeiro de forma que os sistemas naturais sejam inte-grados agraves poliacuteticas urbanas sem ameaccedilas de degradaccedilatildeo Assim o zoneamento ambiental eacute um instrumento do planejamento ambiental que se propotildee ao controle legal da distribuiccedilatildeo dos usos dos recursos ambientais com ressalvas aos limites de exploraccedilatildeo de tais recursos

No Brasil principalmente nas grandes cidades os problemas causados pelo aumento da populaccedilatildeo urbana associa a imagem das cidades brasileiras agrave violecircncia agrave poluiccedilatildeo ao traacutefego caoacutetico agraves enchentes agrave desigualdade social dentre outros fatores (MARICATO 2000 apud Barros 2017 p 75) Eacute um cenaacuterio propiacutecio por outro lado a expressatildeo de reivindicaccedilotildees populares por melhores condiccedilotildees de vida nas cidades Em muitos casos conforme pontuam Myrian Del Vecchio de Lima e Cynthia Roncaglio o alcance das mobilizaccedilotildees sociais e a formaccedilatildeo de muitas Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais podem ser associados ldquoem termos de uma recuperaccedilatildeo da importacircncia e existecircncia de uma esfera puacute-blica nos termos explicitados por Arendt como o espaccedilo moralmente legiacutetimo da liberdade e da accedilatildeo poliacuteticardquo (LIMA e RONCAGLIO 2001 p 59)

Um conceito que aparece natildeo raro nessas movimentaccedilotildees e que estaacute di-retamente ligado ao debate da cidadania no Brasil eacute o de sustentabilidade no ambiente urbano ou sustentabilidade urbana Com efeito de acordo com Henri Acselrad sustentabilidade urbana eacute compreendida como a capacidade das po-liacuteticas urbanas se adaptarem agrave oferta de serviccedilos agrave qualidade e agrave quantidade das demandas sociais buscando o equiliacutebrio entre as demandas de serviccedilos urbanos e investimentos em estrutura (ACSELRAD 1999)

Com efeito apesar de certa visatildeo desanimadora compartilhada pelos estu-diosos dos problemas ambientais urbanos no que diz respeito agrave sustentabili-dade urbana a partir dos anos 1990 quando ldquoo ambiente urbano existente isto eacute resultante da gestatildeo da crise socioeconocircmica dos anos 1970-80 se impotildee como problema insuperaacutevel e natildeo mais como espaccedilo para uma soluccedilatildeordquo (LIMA

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 279

e RONCAGLIO 2001 p 62) a mobilizaccedilatildeo em torno de um projeto coletivo sus-tentaacutevel nas cidades ganhou forccedila nas deacutecadas seguintes

Em termos conceituais indicador compreende uma ferramenta de mensu-raccedilatildeo de dados quantitativa ou qualitativa que orienta a tomada de decisatildeo Isto porque o seu uso permite o mapeamento de cenaacuterios futuros possibili-tando a geraccedilatildeo de informaccedilatildeo necessaacuteria ao planejamento e gestatildeo sobre de-terminado tema atividade ou processo Santos (2004 p58) elucida que ldquoTodo planejamento que visa definir poliacuteticas e decidir alternativas requer o conhe-cimento que forma o espaccedilo Para tanto eacute essencial obter dados representati-vos da realidade bem formulaacuteveis e interpretaacuteveisrdquo Desse modo o indicador eacute construiacutedo a partir de dados estabelecidos por meio de paracircmetros ou variaacuteveis que proporcionam a interpretaccedilatildeo e consequentemente a informaccedilatildeo sobre determinado meio em uma escala de espaccedilo e tempo especiacuteficos

A ideia de sustentabilidade seguindo as trilhas de ACSELRAD (1999) remete antes agrave loacutegica das praacuteticas que a um campo do conhecimento cientiacutefico Se-gundo o mesmo autor a sustentabilidade aplicada ao espaccedilo da cidade tem disparado uma serie de significados para a gestatildeo do espaco urbano ldquodesde a administraccedilatildeo de riscos e incertezas ao incremento da ldquoresiliecircnciardquo ndash a capacida-de adaptativa ndash das estruturas urbanasrdquo (Acselrad 1999 p 79)

Assim a aplicaccedilatildeo da ferramenta de indicadores de sustentabilidade vem a contribuir nos estudos relativos ao desenvolvimento sustentaacutevel agrave medida que possibilita analisar a evoluccedilatildeo de um processo propiciando um sentido claro sobre o seu passado assim como enseja ideias futuras (WINOGRAD 1996) Esse prognoacutestico torna-se prioritaacuterio nos estudos de impactos ambientais pois via-biliza sua identificaccedilatildeo e o seu monitoramento e dessa maneira oportuniza a melhor tomada de decisatildeo em vista da sustentabilidade isso porque ldquo o proces-so de busca de um desenvolvimento sustentaacutevel exige proatividade visatildeo de longo prazo e acompanhamento dos resultados das decisotildees tomadas e accedilotildees implementadasrdquo (GUIMARAtildeES e FEICHAS 2009 p309)

Desse modo o uso de indicadores de sustentabilidade ocorre como forma de monitoramento da qualidade ambiental e na consolidaccedilatildeo de espaccedilos urba-nos mais saudaacuteveis Decerto trazer sua aplicaccedilatildeo para o planejamento urbano favorece natildeo soacute a qualidade ambiental mas tambeacutem a qualidade de vida da po-pulaccedilatildeo e o monitoramento do uso e ocupaccedilatildeo do solo Diante dos problemas gerados pela especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e consequentemente pelo adensamento populacional e a degradaccedilatildeo ambiental faz-se necessaacuterio estabelecer meacutetodos de acompanhamento que propiciem a geraccedilatildeo de informaccedilatildeo sobre essa pro-

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blemaacutetica Busca-se dessa forma apoiar os processos decisoacuterios dos gestores e das organizaccedilotildees bem como subsidiar o monitoramento das accedilotildees por parte da sociedade civil e da opiniatildeo puacuteblica

De acordo com Lira e Cacircndido (2008) destacam-se quatro tipos de estu-dos sobre indicadores que apoiam a avaliaccedilatildeo da sustentabilidade sendo eles OECD - Organization for Economic Cooperation And Development (1998) DPCSD - Department for Policy Coordination and Sustainable Development (1999) IISD - The International Institute for Sustainable Development (1999) e IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2002) A proposta da OCDE corresponde ao modelo Pressatildeo ndash Estado ndash Resposta (PER) que se pauta no conceito de cau-salidade de forma que as atividades humanas ao exercerem pressatildeo sobre o meio ambiente alteram o seu estado Jaacute o modelo da DPCSD eacute expresso pela matriz Forccedila Motriz ndash Estado - Resposta na qual a forccedila motriz agrega indicado-res econocircmicos sociais e institucionais descrevendo as atividades humanas processos e padrotildees sobre o desenvolvimento sustentaacutevel Elaborado pela IISD o Painel de Sustentabilidade eacute adotado por 230 paiacuteses sendo considerado o principal indicador de sustentabilidade pela ONU constitui uma ferramenta que envolve quatro dimensotildees de sustentabilidade (natureza social econocircmi-co e institucional) as quais satildeo agregados outros indicadores Por fim o Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash IDS Brasil estruturado pelo IBGE possui atualmente 57 indicadores de abrangecircncia regional que correspondem agrave ade-quaccedilatildeo do modelo PER para as diretrizes da Agenda 21 brasileira no entanto adaptado agraves particularidades do Brasil

2 AacuteREA DE ESTUDO

De acordo com Franccedila e Rezende (2010) a zona de expansatildeo de Aracaju corresponde a cerca de 40 do territoacuterio municipal e caracteriza-se por uma crescente expansatildeo imobiliaacuteria resultante da sua proximidade com a praia pela existecircncia de grandes aacutereas de terras nas matildeos de poucos proprietaacuterios bem como pelas poliacuteticas governamentais de incentivo agrave construccedilatildeo imobili-aacuteria (Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento ndash PAC Minha Casa Minha Vida dentre outros) De acordo com o uacuteltimo censo do IBGE (2010) houve um acreacutes-cimo de 9776 da populaccedilatildeo na zona de expansatildeo enquanto no municiacutepio de Aracaju foi de apenas de 1244 Na localidade ainda segundo as autoras registram-se atividades de pesca colheita do coco-da-baiacutea cultivo sobretudo com a existecircncia de propriedades cocoicultoras e serviccedilos domeacutesticos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 281

A concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em subcentros regionais e centros de zonas a urbanizaccedilatildeo acelerada aleacutem da falta de integraccedilatildeo entre planejamento e ges-tatildeo eficiente do uso e controle do solo impactam negativamente a aacuterea Essas caracteriacutestica acarretam problemas de ordem ambiental e socioeconocircmica como a ocupaccedilatildeo de forma irregular pelos setores populacionais de baixa ren-da em aacutereas de risco aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com risco de enchentes como beiras de coacuterregos mangues e vaacuterzeas inundaacuteveis bem como aacutereas com ecossistemas fraacutegeis como manguezais e matas ciliares Este quadro se con-figura em razatildeo da exclusatildeo desses setores do mercado imobiliaacuterio formal e atualmente enquadra-se como uma das principais ameaccedilas agrave sustentabilidade

3 METODOLOGIA

Essa pesquisa foi do tipo descritiva sendo a coleta de dados realizada por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental mais especificamente pelas accedilotildees civis puacuteblicas referentes agrave zona de expansatildeo de AracajuSE Aleacutem disso foram utilizados artigos cientiacuteficos sobre a temaacutetica bem como entrevista natildeo-estru-turada com um membro dirigente do FDGA1

Para seleccedilatildeo de descritores e indicadores direcionados agrave sustentabilidade urbana foi utilizada a metodologia proposta por Winograd (1996) de Pressatildeo - Estadondash Resposta ndash Prospectivos em que a pressatildeo corresponde agraves causas dos problemas ambientais ocasionadas pela atividade humana o estado compre-ende a qualidade em que se encontra o meio ambiente a resposta equivale agraves medidas tomadas pela sociedade para melhoria do meio ambiente e por fim o progresso representa as accedilotildees visando o desenvolvimento sustentaacutevel (limita-ccedilotildees e oportunidades apreendidas) Essa metodologia eacute uma adaptaccedilatildeo feita pelas autoras ao modelo OECD adicionando agrave matriz accedilotildees de prospectivos

Este modelo seraacute adaptado aos problemas ambientais urbanos da zona de expansatildeo de AracajuSE que resultaram em accedilotildees civis puacuteblicas provenientes tanto de denuacutencias do Ministeacuterio Puacuteblico quanto da sociedade civil

1 O Foacuterum de Defesa da Grande Aracaju-FDGA compreende um espaccedilo de debate sobre a cidade de Aracaju e aacuterea metropolitana sendo composto por profissionais liberais funcionaacuterios puacuteblicos lideranccedilas locais associaccedilotildees de bairro entre outros

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4 RESULTADOS

Observou-se dessa maneira que os problemas ambientais ocasionados na zona de expansatildeo de Aracaju ocorrem pela carecircncia eou natildeo integraccedilatildeo entre planejamento e gestatildeo urbana As accedilotildees civis puacuteblicas acionadas pelo Ministeacute-rio Puacuteblico Federal e Estadual tornaram-se medidas de ajustes em funccedilatildeo do crescimento urbano desordenado como por exemplo a accedilatildeo que dispotildee sobre a proibiccedilatildeo de novas construccedilotildees imobiliaacuterias na zona de expansatildeo ateacute a reso-luccedilatildeo do problema de drenagem e saneamento que geram poluiccedilatildeo e desequi-liacutebrio ambiental na localidade Diante disso novos empreendimentos precisam de autorizaccedilatildeo judicial para iniciar suas construccedilotildees devido agrave necessidade de controle dos impactos ambientais gerados

Um segundo exemplo dos ajustes a partir das accedilotildees eacute a relativa aos proble-mas de poluiccedilatildeo ocasionados pela existecircncia de dez cemiteacuterios clandestinos na aacuterea gerando inclusive contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico por necrochoru-me Aleacutem disso verificou-se que a populaccedilatildeo natildeo dispotildee de covas suficientes para atender a demanda de oacutebitos da regiatildeo Uma terceira accedilatildeo civil referiu-se agrave disputa judicial entre Aracaju e Satildeo Cristoacutevatildeo municiacutepio circunvizinho sobre a arrecadaccedilatildeo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Como a delimitaccedilatildeo das fronteiras entre os dois municiacutepios ainda se encontra indefinida a arreca-daccedilatildeo do IPTU estaacute suspensa o que resulta na diminuiccedilatildeo de renda disponiacutevel para investimento em infraestrutura na localidade por parte dos gestores

Essas accedilotildees civis demonstraram aspectos de fragilidade do planejamento urbano na zona de expansatildeo de AracajuSE que natildeo tem sido aplicado de for-ma integrada com as questotildees ambientais por natildeo contar com instrumentos de gestatildeo eficientes os quais ainda se encontram em fase de revisatildeo junto ao PDDU e elaboraccedilatildeo do Plano de Saneamento Baacutesico A aacuterea de estudo obteve um crescimento imobiliaacuterio desordenado e intenso na uacuteltima deacutecada desse modo a seleccedilatildeo dos indicadores nessa pesquisa visa apoiar a gestatildeo urbana da zona de expansatildeo tendo como foco cinco problemas socioambientais iden-tificados e que serviram de descritores (temas) para seleccedilatildeo dos indicadores sendo eles i) expansatildeo imobiliaacuteria ii) saneamento iii) ocupaccedilatildeo irregular iv) cemiteacuterios clandestinos e v) a disputa sobre o limite territorial entre os muni-ciacutepios de Aracaju e Satildeo Cristovatildeo para arrecadaccedilatildeo de IPTU Ao final a matriz foi composta por trinta e dois indicadores que podem apoiar o planejamento

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 283

e a gestatildeo urbana da zona de expansatildeo de Aracaju promovendo assim maior sustentabilidade da regiatildeo

Quadro 01 - Matriz de indicadores de sustentabilidade para gestatildeo ambiental-urbana da zona de expansatildeo de AracajuSE

PRESSAtildeO ESTADO RESPOSTA PROSPECTIVODegradaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo per-manente (manguezal dunas lagoas)(haano)

Aterramento de recur-sos hiacutedricos e demoli-ccedilatildeo de dunas (haano)

Accedilatildeo civil ndeg 20098500002637-9 sobre liberaccedilatildeo de no-vos empreendimentos

Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento am-biental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para no-vos empreendimentos residenciais(ndeg licenccedilasano)

Construccedilatildeo de novos condomiacutenios residen-ciais(ndegano)

Adensamento popula-cional(habKmsup2)

Execuccedilatildeo e monito-ramento do Plano Diretor de Desenvolvi-mento Urbano de Ara-caju (revisatildeodez em dez anos)

Estabelecimento de Zonas Especiais de In-teresse Social- ZEIS( de cumprimento da norma das zonasano)

Especulaccedilatildeo imobiliaacute-ria(aumento valor imoacute-velano)

Processo de gentrifi-caccedilatildeo (ndeg lotes na periferiaano)

Participaccedilatildeo popular em debates e audiecircn-cias puacuteblicas sugerin-do a incorporaccedilatildeo de instrumentos de de-mocratizaccedilatildeo da terra urbanizada (ndeg participantes reu-niatildeo)

Condicionante prove-niente do processo de licenciamento ambien-tal para realizaccedilatildeo de programa de geraccedilatildeo de renda local direcio-nado agraves famiacutelias que vivem de cultivos agriacute-colas(ndeg condicionantes ano)

Diminuiccedilatildeo de empre-go rural(ndeg empregos ruraisano)

Venda de propriedade cocoicultoras para as construtoras e desem-prego(ndeg vendasano)(ndeg desemprego famiacute-lias ruraisano)

Execuccedilatildeo e monito-ramento do Plano de Saneamento Baacutesico de Aracaju

Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento am-biental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para no-vos empreendimentos hoteleiros(ndeg licenccedilasano)

Turismo hoteleiro(ndeg hoteacuteisano)

Inundaccedilotildees em periacuteo-dos pluviais(metrossup2ano)

Decreto-Lei ndeg 3438 de 17 de julho de 1941 e que dispotildee sobre ter-renos de marinha

Investimento em in-fraestrutura de sanea-mento(R$ano)

Poluiccedilatildeo de efluentes(faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)

Disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos em vias puacutebli-cas(metrossup2 acumuladosemana)

Accedilatildeo civil ndeg 20061120143-9 sobre cemiteacuterios clandesti-nos

Construccedilatildeo e licencia-mento ambiental para cemiteacuterio que atenda a populaccedilatildeo local e a legislaccedilatildeo ( de condicionantes da licenccedila atendidaano)

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PRESSAtildeO ESTADO RESPOSTA PROSPECTIVOInstalaccedilatildeo de bares e quiosques na orla TECARMO e Praia do Sarney(ndeg instalaccedilotildeesano)

Doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica(ndeg mortesano)

Accedilatildeo civil ndeg RE 614384 (STF)RE 1513456SE (STJ)

Monitoramento da aacutegua em poccedilos arte-sianos(faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)

Covas irregulares em cemiteacuterios clandesti-nos(ndeg covas cemiteacuterio)

Poluiccedilatildeo marinha(faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)Contaminaccedilatildeo de len-ccedilol freaacutetico pelo necro-chorume (faixa para o iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)

Conflito intermunicipal sobre arrecadaccedilatildeo de impostos (IPTU)(R$ano)

Fonte autores com base na metodologia de Winograd (2006) e dados fornecidos pelo FDGA

41 INDICADORES DE PRESSAtildeO

bull Degradaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo permanente (manguezal dunas lagoas) (haano)Na cidade de Aracaju manguezais dunas e lagoas satildeo degradados para a construccedilatildeo de empreendimentos imobiliaacuterios Assim o indicador ldquoDegra-daccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo permanenterdquo (haano) visa monitorar os danos causados em aacuterea legalmente protegidas da zona de expansatildeo

bull Construccedilatildeo de novos condomiacutenios residenciais (ndegano) O monitoramento da construccedilatildeo de novos condomiacutenios residenciais da zona de expansatildeo permite acompanhar o crescimento urbano da regiatildeo e com isso nortear anaacutelises sobre os impactos por eles gerados

bull Especulaccedilatildeo imobiliaacuteria (aumento valor imoacutevelano)A especulaccedilatildeo imobiliaacuteria prejudica a permanecircncia dos moradores lo-cais na zona de expansatildeo jaacute que natildeo possuem poder aquisitivo para residir nos novos empreendimentos construiacutedos Assim sendo o indica-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 285

dor ldquoEspeculaccedilatildeo imobiliaacuteriardquo (aumento valor imoacutevelano) possibilita o monitoramento do aumento do valor do imoacutevel da regiatildeo anualmente

bull Diminuiccedilatildeo de emprego rural (ndeg empregos ruraisano)Com a venda desses terrenos para construtoras imobiliaacuterias haacute uma di-minuiccedilatildeo do nuacutemero de empregos aos moradores rurais e com isso a geraccedilatildeo de renda local eacute prejudicada Esse indicador ajuda no controle do nuacutemero de empregos rurais que existem na localidade em funccedilatildeo da existecircncia de propriedades de cultivo agriacutecola

bull Turismo hoteleiro (ndeg hoteacuteisano)O monitoramente das construccedilotildees com fins turiacutesticos como hoteacuteis e re-sortes viabiliza o controle dos impactos gerados por essas construccedilotildees sobre os recursos naturais da localidade

bull Poluiccedilatildeo de efluentes (iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)Em funccedilatildeo do aumento das construccedilotildees imobiliaacuterias houve uma inten-sificaccedilatildeo da poluiccedilatildeo dos recursos hiacutedricos da regiatildeo Desse modo esse indicador permite acompanhar o grau de poluiccedilatildeo dos efluentes da zona de expansatildeo

bull Instalaccedilatildeo de bares e quiosques na orla TECARMO e Praia do Sarney (ndeg instalaccedilotildeesano) O funcionamento desses estabelecimentos em proximidade ao mar geralmente ocasiona maior depoacutesito de rejeitos nas aacuteguas marinhas Desse modo o acompanhamento do nuacutemero de barres em terreno de marinha atraveacutes desse indicador permite verificar o niacutevel de poluiccedilatildeo das praias da localidade

bull Covas irregulares em cemiteacuterios clandestinos (ndeg covas cemiteacuterio)A falta de cemiteacuterios licenciados leva agrave populaccedilatildeo a utilizar covas irre-gulares na regiatildeo pois natildeo possuem condiccedilotildees de deslocamento para outros cemiteacuterios disponiacuteveis na cidade

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42 INDICADORES DE ESTADO

bull Aterramento de recursos hiacutedricos e demoliccedilatildeo de dunas (haano)Em funccedilatildeo das construccedilotildees imobiliaacuterias realizadas sem o devido con-trole dos impactos ambientais haacute uma intensificaccedilatildeo dos processos de aterramento de recursos hiacutedricos e demoliccedilatildeo de dunas Esse indicador vem a proporcionar o monitoramento da degradaccedilatildeo desses recursos naturais

bull Adensamento populacional (habKmsup2)Pelo fato do PDDU de AracajuSE ainda encontrar-se em fase de revisatildeo esse indicador viabiliza o acompanhamento do crescimento urbano da zona de expansatildeo apoiando dessa maneira o monitoramento do adensamento populacional da regiatildeo

bull Processo de gentrificaccedilatildeo (ndeg lotes na periferiaano)Em funccedilatildeo dos novos empreendimentos imobiliaacuterios da zona de expan-satildeo serem direcionados para populaccedilatildeo de alta renda esse indicador permitiraacute o acompanhamento da expulsatildeo dos moradores mais antigos da aacuterea para a periferia jaacute que natildeo possuem poder aquisitivo para residir nos novos empreendimentos a partir do enobrecimento da aacuterea

bull Venda de propriedade cocoicultoras para as construtoras (ndeg vendasano) Com o aumento das construccedilotildees imobiliaacuterias na zona de expansatildeo proprietaacuterios de terras cocoicultores venderam suas propriedades para novos projetos residenciais gerando o desemprego das famiacutelias que trabalham na colheita do coco Esse indicador permite verificar a dimi-nuiccedilatildeo de propriedades rurais de cultivo na regiatildeo na tentativa de sub-sidiar anaacutelises sobre a geraccedilatildeo de renda local

bull Inundaccedilotildees em periacuteodos pluviais (metrossup2ano)Devido agrave falta de drenagem na regiatildeo ocorrem em periacuteodo fluviais inundaccedilotildees na localidade Em funccedilatildeo das novas construccedilotildees essa situ-accedilatildeo se agravou ainda mais Assim sendo esse indicador monitora as inundaccedilotildees ocorridas durante o ano para assim acompanhar os impac-tos gerados pela falta de drenagem na regiatildeo

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 287

bull Disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos em vias puacuteblicas (metrossup2 acumuladosemana)O depoacutesito de resiacuteduos proporciona o aumento de inundaccedilotildees princi-palmente pela falta de drenagem no local esse indicador permitiraacute o monitoramento do acuacutemulo de resiacuteduos soacutelidos nas vias puacuteblicas

bull Doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (ndeg mortes por dengue na regiatildeoano)As inundaccedilotildees acabam permitindo o acuacutemulo de aacutegua e com isso as doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica acabam aumentando como a dengue por exemplo O objetivo desse indicador eacute monitorar o aumento de do-enccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica na regiatildeo visando acompanhar os impactos ocasionados pelas inundaccedilotildees

bull Poluiccedilatildeo marinha (iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)A instalaccedilatildeo do barres na orla ocasionam maior poluiccedilatildeo dos efluentes marinho em funccedilatildeo do despejo de dejetos no mar Desse modo esse indicador visa monitorar a qualidade da aacutegua das praias da zona de ex-pansatildeo para assim acompanhar os impactos ocasionados pelos bares

bull Contaminaccedilatildeo de lenccedilol freaacutetico pelo necrochorume (iacutendice de quali-dade da aacutegua ndash IQA)O niacutevel de poluiccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico da zona de expansatildeo aumentou principalmente por causa da contaminaccedilatildeo ocasionada pelo necrocho-rume proveniente das covas irregulares dos cemiteacuterios clandestinos Desse modo esse indicador proporciona o controle da qualidade da aacutegua do lenccedilol freaacutetico da zona de expansatildeo

bull Conflito intermunicipal sobre arrecadaccedilatildeo de impostos (IPTU) (R$ano)A disputa judicial em relaccedilatildeo agrave fronteira entre os municiacutepios de Aracaju e Satildeo Cristovatildeo influencia na arrecadaccedilatildeo direta do IPTU com isso haacute uma diminuiccedilatildeo do investimento em infraestrutura na zona de expan-satildeo que compreende a aacuterea central dessa disputa

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43 INDICADORES DE RESPOSTA

bull Accedilatildeo civil ndeg 20098500002637-9 Essa accedilatildeo civil proiacutebe novos licenciamentos ambientais na zona de ex-pansatildeo ateacute que a resoluccedilatildeo judicial sobre a drenagem e o saneamento da regiatildeo seja proferida Isto porque a ocupaccedilatildeo desordenada propicia desequiliacutebrio ambiental na localidade

bull Execuccedilatildeo e monitoramento do PDDU (revisatildeo dez em dez anos)Ainda em fase de revisatildeo o PDDU serviraacute como instrumento de plane-jamento e gestatildeo ambiental-urbana de Aracaju pois deve preconizar o direito agrave cidade o cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade a justa distribuiccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos da infraestrutura e dos equipa-mentos urbanos a ordenaccedilatildeo do uso e ocupaccedilatildeo do solo e da produccedilatildeo do espaccedilo urbano inclusive das aacutereas de expansatildeo e a preservaccedilatildeo do patrimocircnio ambiental e cultural (SERGIPE 2015) A implementaccedilatildeo e monitoramento do crescimento urbano da zona de expansatildeo poderatildeo proporcionar uma melhor gestatildeo ambiental-urbana da localidade em vista de melhor preservaccedilatildeo ambiental e qualidade de vida da popu-laccedilatildeo

bull Participaccedilatildeo popular em debates e audiecircncias puacuteblicas sugerindo a in-corporaccedilatildeo de instrumentos de democratizaccedilatildeo da terra urbanizada (ndeg participantes reuniatildeo)Esse indicador dimensiona a participaccedilatildeo popular na discussatildeo sobre as questotildees ambientais-urbana permitindo a constante cobranccedila dos direitos dos cidadatildeos sobre a terra urbanizada

bull Execuccedilatildeo e monitoramento do Plano de Saneamento Baacutesico de AracajuO Plano de Saneamento Baacutesico de Aracaju ainda encontra-se em execu-ccedilatildeo Esse instrumento seraacute fundamental para o desenvolvimento urba-no ordenado da regiatildeo pois permitiraacute a coleta e tratamento do esgoto domeacutestico antes de sua devoluccedilatildeo ao meio ambiente Pelo fato da zona de expansatildeo possuir lagoas e mar a drenagem torna-se essencial para frear a poluiccedilatildeo resultante tanto do despejo de esgoto domeacutestico dire-to nos corpos drsquoaacutegua quanto da contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico por fossas irregulares

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 289

bull Decreto-Lei ndeg 3438 de 17 de julho de 1941 e que dispotildee sobre terrenos de marinhaEsse decreto-lei regulamenta as instalaccedilotildees em proximidade ao mar incluindo as atividades de fiscalizaccedilatildeo dos oacutergatildeos competentes sobre esses terrenos Favorece o controle sobre a poluiccedilatildeo de efluentes e construccedilotildees desordenadas muito proacuteximas ao mar

bull Accedilatildeo civil ndeg 20061120143-9Essa accedilatildeo civil solicita a interdiccedilatildeo de dez cemiteacuterios clandestinos situa-dos na zona de expansatildeo de Aracaju assim como requer da prefeitura a construccedilatildeo de um cemiteacuterio que atenda aos requisitos de licenciamen-to ambiental e a demanda de oacutebitos local

bull Accedilatildeo civil ndeg RE 614384 (STF) RE 1513456SE (STJ)Nessa accedilatildeo civil o municiacutepio de Aracaju pleiteia o direito de efetuar a execuccedilatildeo do IPTU sobre o povoado do Mosqueiro que pertence agrave zona de expansatildeo o qual foi requerido pelo municiacutepio de Satildeo Cristovatildeo quanto agrave sua pertenccedila alegando que o referido povoado teria sido des-membrado apenas temporariamente pela capital

44 INDICADORES DE PROSPECTIVOS

bull Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento ambiental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para novos empreendimentos residenciais (ndeg licenccedilasano)Esse indicador permitiraacute o acompanhamento das licenccedilas ambientais e com isso o efetivo controle dos impactos ambientais para novas cons-truccedilotildees imobiliaacuterias

bull Estabelecimento de Zonas Especiais de Interesse Social- ZEISZEIS satildeo aacutereas da cidade que ficam destinadas a abrigar moradias po-pulares conforme orientaccedilatildeo do Plano Diretor de Desenvolvimento Ur-bano A ZEIS contribuem para reservar terrenos ou preacutedios vazios para a moradia popular e facilitar a regularizaccedilatildeo fundiaacuteria Este indicador incentivaraacute que aacutereas dotadas de infraestrutura urbana sejam ocupadas pela populaccedilatildeo de baixa renda permitindo melhorias das condiccedilotildees de habitabilidade dessa faixa da populaccedilatildeo

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bull Condicionante proveniente do processo de licenciamento ambiental para realizaccedilatildeo de programa de geraccedilatildeo de renda local direcionado agraves famiacutelias que vivem do cultivo (ndeg condicionantes ano)Esse indicador permitiraacute novas formas de geraccedilatildeo de renda para famiacute-lias rurais locais que ficam desempregadas pela venda das proprieda-des de cultivo para construtoras imobiliaacuterias

bull Realizaccedilatildeo de processo de licenciamento ambiental com elaboraccedilatildeo de EIA-RIMA para novos empreendimentos hoteleiros (ndeg licenccedilasano)O objetivo desse indicador eacute monitorar os impactos socioambientais ocasionados pelos empreendimentos hoteleiros desse modo o acom-panhamento das licenccedilas e suas condicionantes satildeo fundamentais nes-se processo

bull Investimento em infraestrutura de saneamento (R$ano)Esse indicador proporciona acompanhar os valores gastos em infraes-trutura de saneamento e com isso a resoluccedilatildeo do problema de drena-gem na zona de expansatildeo

bull Construccedilatildeo e licenciamento ambiental para cemiteacuterio que atenda agrave po-pulaccedilatildeo local e agrave legislaccedilatildeoEsse indicador viabiliza o encerramento das pendecircncias apontadas pela accedilatildeo civil puacuteblica ndeg 20061120143-9 que dispotildee sobre os dez cemiteacuterios clandestinos da zona de expansatildeo de AracajuSE Dentre os problemas gerados pela existecircncia de covas irregulares estatildeo a contaminaccedilatildeo do lenccedilol freaacutetico por necrochorume e a necessidade do deslocamento da populaccedilatildeo para cemiteacuterios distantes da sua moradia mesmo sem ter condiccedilotildees financeiras para o deslocamento A construccedilatildeo de um cemi-teacuterio licenciado na regiatildeo torna-se essencial para preservaccedilatildeo ambien-tal da localidade

bull Monitoramento da aacutegua em poccedilos artesianos (iacutendice de qualidade da aacutegua ndash IQA)Esse indicador visa o monitoramento da qualidade da aacutegua que possa estar contaminada pelo necrochorume das covas irregulares estabele-cidas nos cemiteacuterios clandestinos

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 291

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Eacute importante afirmar que houve avanccedilos significativos com a aprovaccedilatildeo do Estatuto da Cidade que eacute um reconhecimento legal da funccedilatildeo social da propriedade urbana oferecendo instrumentos juriacutedicos que possibilitam aos gestores puacuteblicos locais junto agrave populaccedilatildeo reverter o quadro de urbanizaccedilatildeo excludente das cidades brasileiras de grande e meacutedio portes Entretanto no caso de Aracaju observou-se que instrumentos preceituados no arcabouccedilo legal tais como o proacuteprio PDDU natildeo eacute aplicado pela administraccedilatildeo municipal conforme idealiza o EC

No entanto as uacuteltimas administraccedilotildees de Aracaju tecircm caminhado na con-tramatildeo dessas premissas o que demonstra que o direito agrave cidade estaacute muito distante de ser um princiacutepio para o Estado O uso dos indicadores de susten-tabilidade selecionados nesta pesquisa carrega o potencial de subsidiar o pla-nejamento e a gestatildeo urbana no sentido de contribuir para reverter a loacutegica conservadora evidenciada em Aracaju nas uacuteltimas deacutecadas Apesar de todos os problemas a cidade se constitui em um espaccedilo privilegiado para a construccedilatildeo de uma ordem social mais justa Em sua diversidade e multiplicidade assenta-se um potencial transformador a exemplo de entidades como o FDGA A passivi-dade e a cumplicidade do poder puacuteblico municipal perante o capital imobiliaacuterio perpetuam a ideia de que a cidade natildeo eacute construiacuteda para o bem comum Assim eacute necessaacuterio que o cidadatildeo assuma um papel proativo de reconhecimento da sua importacircncia para a construccedilatildeo de uma cidade melhor

A reflexatildeo sobre sustentabilidade urbana e cidadania torna possiacutevel com-preender que o entendimento da gestatildeo ambiental nas cidades sobretudo nas de grande porte precisa ser ampliada e aprofundada na busca de cami-nhos alternativos que valorizem os diversos saberes e experiecircncias urbanas E segundo Lima e Roncaglio (2001 p 61-62) natildeo haacute uma uacutenica trilha a per-correr ou um modelo de gestatildeo urbana a adotar o que a questatildeo socioam-biental mostra e os estudos sobre o ambiente urbano podem verificar ldquoeacute que os caminhos satildeo muacuteltiplos as formas de gestatildeo variadas porque haacute de se considerar frente aos problemas urbanos e agrave degradaccedilatildeo socioambiental a complexidade das realidades fiacutesica bioloacutegica e antropossociais que consti-tuem e produzem os espaccedilos urbanosrdquo

Resta considerar que a participaccedilatildeo social qualificada ativa e criacutetica em questotildees que dizem respeito agrave vida nas cidades representam a amaacutelgama que

292 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

pode consolidar um reforccedilo agrave consciecircncia cidadatilde e que passa certamente pelas relaccedilotildees diaacuterias cotidianas e natildeo apenas pelos direitos reconhecidos na legislaccedilatildeo

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A CRISE DA CIEcircNCIA MODERNA E A CRIacuteTICA DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

Jonielton Oliveira DantasSuelane de Oliveira Silva DantasFabriacutecio Nicacio FerreiraEliane dos Santos da SilvaElenaldo Fonseca de Oliva Junior

1 INTRODUCcedilAtildeO

Que os esforccedilos empreendidos a partir do seacuteculo XVI para o avanccedilo da ciecircn-cia e da teacutecnica resultaram em uma melhoria para vida humana isso eacute inegaacutevel Basta considerarmos os avanccedilos da engenharia geneacutetica descobrindo a cura para inuacutemeras doenccedilas e problemas congecircnitos e da comunicaccedilatildeo que me-diante tecnologias avanccediladas de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo possibilitam uma maior integraccedilatildeo entre as pessoas ao redor do mundo soacute para ficar nestes dois exemplos Sendo assim por que se fala em crise da ciecircncia moderna Quais evidecircncias respaldam esta conjectura de crise do conhecimento cientiacutefico pro-duzido com base no paradigma moderno

As respostas para estas e outras questotildees vecircm sendo refletidas no acircmbito de uma aacuterea hiacutebrida entre ciecircncias histoacuteria psicologia sociologia e filosofia deno-minada epistemologia Portanto segundo Japiassu (1986) natildeo haacute uma definiccedilatildeo uacutenica do que eacute epistemologia mas podemos comeccedilar pelo significado etimo-loacutegico da palavra discurso (logos) sobre a ciecircncia (espisteme) De maneira geral podemos considerar a epistemologia como sendo ldquo[] o estudo metoacutedico e re-flexivo do saber de sua organizaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo de seu desenvolvimento de seu funcionamento e de seus produtos intelectuaisrdquo (JAPIASSU 1986 p 16) Grosso modo a epistemologia se debruccedila sobre como se faz ciecircncia e nesta em-preitada a filosofia e a histoacuteria satildeo fundamentais e interdependentes

As orientaccedilotildees epistemoloacutegicas contemporacircneas que emergem da criacutetica agraves posiccedilotildees da epistemologia empirista-indutivista desenvolvida por Bacon1

1 O filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) desenvolveu o ideal de boa ciecircncia baseado na concepccedilatildeo indutivista que fundamentou grande parte dos meacutetodos de anaacutelise e pesquisa na ciecircncia moderna

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 295

tecircm contribuiacutedo com a reflexatildeo sobre a necessidade de questionar o concei-to de ciecircncia seus criteacuterios de objetividade e certeza a validade dos meacutetodos cientiacuteficos e reavaliar a relaccedilatildeo entre ciecircncia e realidade tendo em vista que a ciecircncia e a teacutecnica passaram a fazer parte da realidade imediata das pessoas

Assim o discurso das novas orientaccedilotildees epistemoloacutegicas suscita uma refle-xatildeo criacutetica acerca da produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico nos uacuteltimos seacuteculos cujo ponto de partida eacute o seacuteculo XVI por reunir caracteriacutesticas que denotam uma ruptura com outras formas de conhecimento (filosoacutefico religioso artiacutesti-co) promovendo em relaccedilatildeo ao passado uma Revoluccedilatildeo Cientiacutefica que passa a privilegiar do ponto de vista epistemoloacutegico e socioloacutegico o conhecimento cientiacutefico o que convencionou-se chamar de Ciecircncia Moderna (SANTOS 2004)

Pode dizer-se que desde sempre nenhuma outra forma de conhecimento privilegiado em um dado momento histoacuterico e em uma sociedade fora objeto de debate sobre sua natureza seus limites e contribuiccedilotildees para a sociedade Poreacutem o que diferencia o debate moderno sobre o conhecimento dos debates anteriores ldquo[] eacute o facto de a ciecircncia moderna ter assumido a sua inserccedilatildeo no mundo mais profundamente do que qualquer outra forma de conhecimento anterior ou contemporacircnea propocircs-se natildeo apenas compreender o mundo ou explica-lo mas tambeacutem transformaacute-lordquo (SANTOS 2004 p 18)

Nesta seara Boaventura de Sousa Santos2 vem desde os anos 90 contribuin-do a partir das anaacutelises proacuteprias de seu campo de estudo com o debate sobre o modelo e os meacutetodos de construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico moderno instigando a comunidade cientiacutefica a discutir sobre sua eficaacutecia na construccedilatildeo da realidade cotidiana das pessoas

2 Boaventura de Sousa Santos eacute socioacutelogo portuguecircs nascido em 15 de novembro de 1940 Eacute doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale (1973) nos Estados Unidos eacute Professor Catedraacutetico Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick Eacute tambeacutem diretor emeacuterito do Centro de Estudos Sociais e coordenador cientiacutefico do Observatoacuterio Permanente da Justiccedila Portuguesa ndash ambos da Universidade de Coim-bra Os seus temas de pesquisa situam-se no acircmbito da Epistemologia sociologia do direito teoria poacutes-colonial democracia interculturalidade globalizaccedilatildeo movimentos sociais direitos humanos Eacute internacionalmente reconhecido como um intelectual importante da aacuterea de ciecircncias sociais e tem especial popularidade no Brasil onde participou de trecircs ediccedilotildees do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre Entre os precircmios recebidos destacam-se Preacutemio Pen Club Portuguecircs 1994 (Ensaio) Preacutemio Bordalo da Imprensa - Ciecircncias 1997 Preacutemio JABUTI (Brasil) - Aacuterea de Ciecircncias Humanas e Educaccedilatildeo 2001 Preacutemio Euclides da Cunha da Uniatildeo Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro 2004 Preacutemio de Ensaio Ezequiel Martiacutenez Estrada 2006 da Casa de las Ameacutericas Cuba Gran-Cruz da Ordem do Meacuterito Cultural de 2009 atribuiacutedo pelo Governo da Repuacuteblica Federativa do Brasil

296 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

A anaacutelise epistemoloacutegica criacutetica que o socioacutelogo portuguecircs propotildee nos co-loca diante do contraditoacuterio da dificuldade de nos situarmos no tempo presen-te no campo do desenvolvimento das ciecircncias Para Santos (1987) se olharmos para o passado verificamos por um lado que o progresso cientiacutefico dos uacuteltimos quarenta anos eacute de tal ordem fabuloso que os seacuteculos que nos precederam natildeo satildeo mais do que uma preacute-histoacuteria longiacutenqua por outro lado verificamos que o campo teoacuterico que nos movemos ainda hoje foram estabelecidos por cien-tistas que trabalharam e viveram entre o seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XX de Smith e Ricardo a Lavoisier e Darwin de Marx e Durkheim a Weber e Pareto de Humboldt e Plank a Poincareacute e Einstein o que permite-nos dizer que em termos cientiacuteficos vivemos ainda no seacuteculo XIX e que o seacuteculo XX ainda natildeo comeccedilou

Desse modo se natildeo nos prendermos ao passado e fixarmos o nosso olhar no futuro tambeacutem nos depararemos com o contraditoacuterio por um lado a crenccedila no comeccedilo de uma sociedade libertada das carecircncias e inseguranccedilas que ainda insistem em permanecer nos dias atuais promovida pelas potencialidades tec-noloacutegicas dos conhecimentos acumulados e por outro uma reflexatildeo sobre os limites do rigor cientiacutefico combinada com os perigos cada vez mais concretos de cataacutestrofes ecoloacutegicas ou guerras nucleares (SANTOS 1987)

Neste contexto o contraditoacuterio entre o passado que ora pensamos jaacute natildeo sermos ora pensamos natildeo termos ainda deixado de ser e o futuro que ora pensamos jaacute sermos ora pensamos nunca virmos a ser nos leva a uma reflexatildeo epistemoloacutegica sobre o tempo presente estariacuteamos ainda situados nos limites da ciecircncia moderna ou jaacute estariacuteamos na poacutes-modernidade Para Santos (1987) ldquo[] eacute esta a ambiguidade e a complexidade da situaccedilatildeo do tempo presente um tempo de transiccedilatildeo siacutencrone com muita coisa que estaacute aleacutem ou aqueacutem dele mas descompassado em relaccedilatildeo a tudo que o habitardquo (Ibid p15)

Ao tratar a eacutepoca em que vivemos como uma eacutepoca de transiccedilatildeo paradig-maacutetica o socioacutelogo portuguecircs faz uma criacutetica sistemaacutetica agraves correntes domi-nantes da reflexatildeo epistemoloacutegica sobre a ciecircncia moderna Afirma que ldquo[] uma das fraquezas da teoria criacutetica moderna foi natildeo ter reconhecido que a ra-zatildeo que critica natildeo pode ser a mesma que pensa constroacutei e legitima aquilo que eacute criticaacutevelrdquo (SANTOS 2002 p 29) Assim Santos (1989) considera que estamos no limiar de uma transiccedilatildeo paradigmaacutetica cuja ordem cientiacutefica dominante ndash ciecircncia moderna ndash apresenta sinais de crise simultaneamente agrave emergecircncia de um novo paradigma ao qual designa inicialmente de ciecircncia poacutes-moderna

Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a crise da ciecircncia moderna na contemporaneidade a partir da criacutetica de Boaventura de Sousa Santos Utili-

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 297

zou-se a apreciaccedilatildeo bibliograacutefica das obras na quais o socioacutelogo portuguecircs faz interpretaccedilotildees contemporacircneas acerca do modelo meacutetodos e resultados da ciecircncia moderna os sinais que o faz considerar que este modelo de produ-ccedilatildeo do conhecimento encontra-se no limiar de uma crise paradigmaacutetica e as conjecturas em torno de um novo paradigma cientiacutefico que considera emergir desta crise

Tendo como literatura elementar Um discurso sobre as ciecircncias (1987) pas-samos a uma reflexatildeo mais aprofundada sobre o modelo e meacutetodos da ciecircn-cia moderna considerada por Santos como ldquoparadigma dominanterdquo a partir da obra Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna (1989) buscamos caracterizar a ordem cientiacutefica hegemocircnica para depois analisar os sinais de crise distinguin-do suas condiccedilotildees teoacutericas e socioloacutegicas a partir das caracteriacutesticas da ldquocrise do paradigma dominanterdquo tambeacutem abordada em A criacutetica da razatildeo indolente (2002) e por uacuteltimo apresentamos por via especulativa o que Santos conside-ra ser o ldquo paradigma emergenterdquo tendo como referecircncia a obra Conhecimento prudente para uma vida decente um discurso sobre as ciecircncias revisado (2004) na qual o autor afirma que o paradigma que considera emergir em uma sociedade evoluiacuteda pela proacutepria ciecircncia natildeo basta ser prudente tem de ser um paradigma social para uma vida decente

2 A DUPLA RUPTURA EPISTEMOLOacuteGICA

Eacute a partir da criacutetica epistemoloacutegica que Boaventura de Sousa Santos afirma que no projeto da modernidade distingue-se duas formas de conhecimento o conhecimento-regulaccedilatildeo cujo ponto de ignoracircncia se designa por caos e o ponto de saber se designa por ordem e o conhecimento-emancipaccedilatildeo cujo ponto de ignoracircncia se designa por colonialismo e o ponto de saber se designa por solidariedade (SANTOS 2002) como ilustra a Figura 1 Apesar de ambas as formas de conhecimento serem admitidas no projeto da modernidade Santos observa que o conhecimento-regulaccedilatildeo predominou em relaccedilatildeo ao conheci-mento-emancipaccedilatildeo

298 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Figura 1 As duas formas de conhecimento na modernidade segundo Boaventura

Organizaccedilatildeo Os autores com base SANTOS 2002

De forma mais aprofundada Santos (2004) trata as duas formas de conheci-mento a partir da conceituaccedilatildeo de duas rupturas epistemoloacutegicas

A primeira ruptura leva-nos do senso comum agrave ciecircncia tal como a conhe-

cemos uma ciecircncia modernista que desenvolve o conhecimento como

regulaccedilatildeo e que sustenta a colonizaccedilatildeo e a ordem A segunda ruptura

ainda por realizar iraacute conduzir-nos da ciecircncia dominante ao novo senso

comum isto eacute ao conhecimento como emancipaccedilatildeo um conhecimen-

to que realccedila a solidariedade (WAGNER In SANTOS 2004 p117)

As rupturas epistemoloacutegicas de que trata Boaventura de Sousa Santos estaacute no cerne da reflexatildeo sobre a crise da ordem cientiacutefica dominante e a emergecircncia de um novo paradigma Contudo esclarece que natildeo eacute faacutecil identificar se um dado periacuteodo histoacuterico eacute dominado por uma crise e que tipo de crise visto que o autor distingue dois tipos de crise as crises de crescimento restrita a uma matriz disci-plinar de um dado ramo da ciecircncia cuja revelaccedilatildeo pode acontecer pela contes-taccedilatildeo de meacutetodos ou conceitos baacutesicos pressentidos por alternativas viaacuteveis e a crise de degenerescecircncia que satildeo crises de paradigma que atravessam todas as disciplinas embora de forma desigual e que potildeem discussatildeo a proacutepria forma de inteligibilidade do real que um dado paradigma proporciona (SANTOS 1989) As diferentes crises estatildeo susceptiacuteveis a diferentes reflexotildees epistemoloacutegicas3

3 A reflexatildeo epistemoloacutegica moderna tem suas origens na filosofia do seacuteculo XVII em que a filosofia aristoteacutelica eacute substituiacuteda pela filosofia da ciecircncia atingindo um de seus pontos mais altos no seacuteculo XIX como desenvolvimento espetacular da ciecircncia e da teacutecnica decorrente da consolidaccedilatildeo da so-ciedade industrial (SANTOS 1989)

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 299

Neste sentido afirma Santos (1989) ldquoqualquer que seja a opccedilatildeo epistemo-loacutegica sobre o que a ciecircncia faz a reflexatildeo sobre a ciecircncia que se faz natildeo pode escapar ao ciacuterculo hermenecircuticordquo (SANTOS 1989 p11-12) A reflexatildeo herme-necircutica visa descontruir os diferentes objetos teoacutericos que a ciecircncia constroacutei sobre si proacutepria suas imagens linguagens e discursos e as condiccedilotildees em que foram construiacutedos aprofundando o trabalho de desdogmatizaccedilatildeo da ciecircncia Assim eacute uma reflexatildeo necessaacuteria em tempos de crise pois visa ldquotransformar a ciecircncia de um objeto estranho distante e incomensuraacutevel com a nossa vida num objeto familiar e proacuteximo que natildeo falando a liacutengua de todos os dias eacute capaz de comunicar as suas valecircncias e os seus limites os seus objetivos e o que realiza aleacutem e aqueacutem deles []rdquo (SANTOS 1989 p13)

A reflexatildeo hermenecircutica que Santos propotildee tem como ponto de partida as ciecircncias sociais refletindo-se a partir deste ponto as ciecircncias no seu conjunto e a sociedade em geral Assim ldquo tal como noutros periacuteodos de transiccedilatildeo difiacuteceis de entender e de percorrer eacute necessaacuterio voltar agraves coisas simples agrave capacidade de formular perguntas simples []rdquo (SANTOS 1987 p15)

Diante da complexidade do tempo presente que indica estarmos no fim de um ciclo de hegemonia de uma certa ordem cientiacutefica torna-se urgente dar respostas a perguntas simples elementares inteligiacuteveis pois as perguntas simples demostram a precariedade das construccedilotildees assentes do paradigma em crise colocando o conhecimento cientiacutefico como uma praacutetica de saber entre outras e natildeo necessariamente a melhor (SANTOS 1989)

Neste sentido retomamos o conceito de rupturas epistemoloacutegicas para res-ponder a perguntas simples sobre teoria e meacutetodo das ciecircncias pois Santos (1989) afirma que a primeira ruptura metodoloacutegica visa responder agrave pergunta ldquocomo se faz ciecircncia rdquo e a segunda ruptura visa responder agrave pergunta ldquopara que queremos a ciecircncia rdquo (SANTOS 1989 p71) Para Santos (1989) ldquodeixou de ter sentido criar um conhecimento novo e autocircnomo em confronto com o senso comum (primeira ruptura) se esse conhecimento natildeo se destinar a transformar o senso comum e a transformar-se nele (segunda ruptura) rdquo (SANTOS 1989 p147)

A conclusatildeo que ele chega a esse respeito eacute de que a acumulaccedilatildeo de co-nhecimento sobre o mundo dado pelo desenvolvimento cientiacutefico dos uacuteltimos trecircs seacuteculos se resuma a tatildeo pouca sabedoria do mundo do homem consigo proacuteprio com os outros e com a natureza

300 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

3 O PARADIGMA DOMINANTE

A ordem cientiacutefica dominante tratada como ldquoo paradigma dominanterdquo diz respeito ao modelo de racionalidade herdado a partir do seacuteculo XVI periacuteodo das revoluccedilotildees cientiacuteficas e consolidado no seacuteculo XIX quando este modelo se estende agraves ciecircncias sociais emergentes Assim a partir da revoluccedilatildeo cientiacutefica do seacuteculo XVI a ciecircncia moderna comeccedilava a deixar as teorias de Copeacuternico Galileu e Newton para se transformar no fermento de uma transformaccedilatildeo teacutec-nica e social sem precedentes na histoacuteria da humanidade (SANTOS 2009)

Para Thomas Kuhn4 a ciecircncia eacute uma sucessatildeo de paradigmas que se confrontam entre si mas que esses paradigmas se alteram provocando uma revoluccedilatildeo que abre caminho para um novo tipo de desenvolvimento cientiacutefico ou seja para se ter um novo paradigma eacute necessaacuteria uma nova revoluccedilatildeo cien-tiacutefica Eacute o que acontece na passagem por exemplo da ciecircncia antiga agrave ciecircncia moderna (KUHN 2009)

Santos (1989) considera que estamos no limiar de uma transiccedilatildeo paradigmaacute-tica cuja ordem cientiacutefica dominante ndash ciecircncia moderna ndash apresenta sinais de crise simultaneamente agrave emergecircncia de um novo paradigma ao qual designa inicialmente de ciecircncia poacutes-moderna Para prosseguirmos nesta anaacutelise torna--se elementar a definiccedilatildeo de paradigma O termo ldquoparadigmardquo foi inicialmente associado por Thomas Kuhn agraves disciplinas especiacuteficas e agrave ldquociecircncia normalrdquo sen-do considerado como ldquo[] as realizaccedilotildees cientiacuteficas universalmente reconhe-cidas que durante algum tempo fornecem problemas e soluccedilotildees modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciecircnciardquo (KUHN 2009 p13)

Ao caracterizar a ordem cientiacutefica dominante Santos (1987 p 21) designa o paradigma como

[] um modelo global de racionalidade cientiacutefica que admite varie-

dade interna mas que se distingue e defende por vias de fronteiras

ostensivas e ostensivamente policiadas de duas formas de conheci-

mento natildeo cientiacutefico (e portanto irracional) potencialmente pertur-

badoras e intrusas o senso comum e as chamadas humanidades ou

estudos humaniacutesticos (em que se incluiacuteram entre outros os estudos

histoacutericos filoloacutegicos juriacutedicos literaacuterios filosoacuteficos e teoloacutegicos)

4 Thomas Kuhn (1922-1996) norte-americano fiacutesico historiador e filoacutesofo da ciecircncia

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 301

Assim o paradigma eacute uma ordem hegemocircnica de racionalidade cientiacutefi-ca que estabelece o rigor e os limites da ciecircncia cujo teor do conhecimento produzido pelos participantes (cientistas) deve pautar-se unicamente nos princiacutepios epistemoloacutegicos e regras metodoloacutegicas universalmente reco-nhecidas

Essa racionalidade cientiacutefica vislumbra uma uacutenica forma de se atingir o co-nhecimento verdadeiro negando o caraacuteter racional a todas as formas do co-nhecimento que natildeo se baseia pelos princiacutepios epistemoloacutegicos e metodoloacute-gicos Sendo assim caracteriza-se como um modelo global e totalitaacuterio que marca a ruptura com os modelos que o antecederam (SANTOS 1987)

Os protagonistas deste novo paradigma conduzem uma luta contra todas as formas de dogmatismo e de autoridade apresentando distinccedilotildees funda-mentais dos modelos de ldquosaberesrdquo aristoteacutelicos e medievais Para Santos (1987) esse novo paradigma faz distinccedilotildees entre conhecimento cientiacutefico e conheci-mento do senso comum opunham-se agrave natureza e a pessoa humana ou seja buscava conhecer a natureza para poder controlaacute-la e dominaacute-la como enfatiza a maacutexima baconiana de que a ciecircncia faraacute do homem ministro e inteacuterprete da natureza (BACON 1979)

Com base nestes pressupostos o conhecimento cientiacutefico avanccedila pela ob-servaccedilatildeo descomprometida e sistemaacutetica dos fenocircmenos naturais

Ao contraacuterio do que pensa Bacon a experiecircncia natildeo dispensa a teoria

preacutevia o pensamento dedutivo ou mesmo a especulaccedilatildeo mas forccedila

qualquer deles a natildeo dispensarem enquanto instancia de confirma-

ccedilatildeo uacuteltima a observaccedilatildeo empiacuterica dos fatos (SANTOS 2009 p62)

Por sua vez Descartes vai inequivocamente das ideias para as coisas e natildeo das coisas para as ideias e estabelece a prioridade da metafiacutesica enquanto fun-damento uacuteltimo da ciecircncia Para que ocorresse uma observaccedilatildeo e experimen-taccedilatildeo que levasse a um conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza empregava-se como instrumento privilegiado de anaacutelise a matemaacutetica pois esta permitia que a natureza bem como os seus fenocircmenos fosse analisada e estruturada sob dois pilares a quantificaccedilatildeo como sinocircnimo de conhecimen-tos pelo emprego rigoroso das mediccedilotildees a reduccedilatildeo da complexidade do mun-do por meio da divisatildeo e classificaccedilatildeo Eacute um conhecimento causal que aspira a formulaccedilatildeo de leis agrave luz de regularidades observadas com vista a prever o comportamento futuro dos fenocircmenos (SANTOS 1987)

302 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

A descoberta das leis da natureza o isolamento das condiccedilotildees iniciais re-levantes a produccedilatildeo de resultados independentes do lugar e tempo das con-diccedilotildees iniciais o conhecimento causal da ciecircncia moderna que busca enten-der o ldquocomordquo ao inveacutes do por ldquoquemrdquo ou ldquopara querdquo promoveram dentre outras consequecircncias a previsibilidade dos fenocircmenos naturais Eacute por desta suposta previsibilidade de que se firmou o conhecimento na ideia de ordem e estabili-dade do mundo sendo este ldquoestaacutevelrdquo e determinaacutevel por meio de leis fiacutesicas e matemaacuteticas que poderiam o decompor Santos (2009) afirma que

Na mecacircnica newtoniana o mundo da mateacuteria eacute uma maacutequina cujas

operaccedilotildees se podem determinar por meio de leis fiacutesicas e matemaacutetica

um mundo estaacutetico e eterno a flutuar num espaccedilo vazio um mundo

que o racionalismo cartesiano torna cognosciacutevel por via da sua

decomposiccedilatildeo nos elementos que o constituem (SANTOS 2009 p 30)

Por se tratar de um modelo de racionalidade hegemocircnica da eacutepoca a ciecircn-cia moderna por intermeacutedio de precursores como Bacon Vico e Montesquieu natildeo demorou a permeabilizar o campo do comportamento social vislumbran-do descobrir as leis da sociedade assim como foi possiacutevel descobrir as leis da natureza (SANTOS 2009)

Decorre daiacute em meados do seacuteculo XIX a emergecircncia das ciecircncias sociais as quais assumiram duas correntes distintas de absorccedilatildeo do modelo mecanicista a primeira sem duacutevida dominante consistiu em aplicar na medida do possiacutevel ao estudo da sociedade todos os princiacutepios epistemoloacutegicos e metodoloacutegicos do estado da natureza (ciecircncias sociais como extensatildeo de ciecircncias naturais) a segunda estabelecia uma metodologia proacutepria para as ciecircncias sociais com base na especificidade do ser humano e distinccedilatildeo radical em relaccedilatildeo a natureza (SANTOS 1987)

Neste sentido a primeira corrente defende a aplicaccedilatildeo de que as ciecircncias sociais satildeo construiacutedas a partir de pressupostos das proacuteprias ciecircncias naturais tendo portanto um caraacuteter de conhecimento universalmente vaacutelido ou seja por maiores que sejam as diferenccedilas entre os fenocircmenos naturais e os sociais eacute sempre possiacutevel estudar os uacuteltimos fenocircmenos como se fossem os primeiros Contudo apesar das dificuldades essa vertente admite a possibilidade de as ciecircncias sociais se relacionarem com os criteacuterios rigorosos das ciecircncias naturais Dessa vertente fazem parte Durkheim e Ernest Nagel Entretanto Santos (2008) afirma que ldquo[] na teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Thomas Kuhn o atraso

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das ciecircncias sociais eacute dado pelo caraacuteter preacute-paradigmaacutetico destas ciecircncias ao contraacuterio das ciecircncias naturais essas sim paradigmaacuteticasrdquo (SANTOS 1987 p37)

Enquanto que nas ciecircncias naturais o desenvolvimento das ciecircncias tornou possiacutevel a formulaccedilatildeo de um conjunto de princiacutepios e teorias denominados por Thomas Kuhn como ldquoparadigmasrdquo e aceitos por toda comunidade cientifica nas ciecircncias sociais natildeo existiu um consenso paradigmaacutetico pois o debate pre-tendeu atravessar todo o conhecimento adquirido Eacute isso que causa o efeito do atraso das ciecircncias sociais (SANTOS 1987)

A segunda corrente defende uma metodologia proacutepria na qual as dificul-dades em harmonizar os dois campos das ciecircncias naturais e sociais satildeo ins-transponiacuteveis ou seja para alguns eacute a proacutepria ideia de ciecircncias da sociedade que estaacute em pauta para outros trata-se de realizar uma ciecircncia diferente O fun-damento por traz dessa vertente eacute a subjetividade do comportamento huma-no que ao contraacuterio dos fenocircmenos naturais natildeo pode ser descrito e explicado (por suas caracteriacutesticas exteriores e observaacuteveis)

Partindo desse pressuposto observa-se que as ciecircncias sociais seraacute sempre subjetiva e natildeo objetiva pois tende a buscar e compreender os fenocircmenos so-ciais a partir das atitudes mentais e dos sentidos que os agentes conferem agraves suas accedilotildees Para isso faz-se necessaacuterio recorrer aos meacutetodos de investigaccedilatildeo e aos criteacuterios epistemoloacutegicos diferentes das correntes nas ciecircncias naturais Como doutrinadores dessa corrente pode-se citar Max Weber e Peter Winch

Apesar de serem aparentemente distintas as duas correntes acabam por dar maior relevacircncia as ciecircncias naturais do que as ciecircncias sociais Desta forma pode-se concluir que ambas vertentes de ciecircncias sociais pertencem ao para-digma da ciecircncia moderna ainda que a segunda vertente serviria dentro desse paradigma um sinal de crise e que contenha alguns indiacutecios de transiccedilatildeo para outro paradigma cientiacutefico

4 A CRISE DO PARADIGMA DOMINANTE

Nenhuma eacutepoca eacute igual agravequela que a precede mudam as perguntas que impulsionam o conhecimento mudam as teacutecnicas disponiacuteveis e mudam as ati-tudes frente aos desafios que se apresentam (BECKER SANTOS 2012) Esse mo-vimento potildee em evidecircncia os diversos sinais de que o paradigma dominante atravessa uma crise que aleacutem de profunda eacute irreversiacutevel A crise do paradigma dominante portanto eacute resultado de uma pluralidade de condiccedilotildees as quais podem ser distintas entre condiccedilotildees sociais e teoacutericas (SANTOS 1987)

304 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Neste sentido Santos menciona a contribuiccedilatildeo de Einstein para a constitui-ccedilatildeo do que considera ser o primeiro rombo no paradigma da ciecircncia moder-na por romper com o ciacuterculo vicioso da simultaneidade dos acontecimentos e admitir a arbitrariedade no tempo e espaccedilo Com isso mostra como Einstein contribuiu com a criacutetica agrave ideia de simultaneidade universal e possibilitou a per-cepccedilatildeo do relativismo Nesta mesma linha de observaccedilatildeo Vasconcelos (2002) ao fazer referecircncia ao desenvolvimento das ciecircncias no seacuteculo XX traz como exemplo no campo das ciecircncias fiacutesicas o surgimento da teoria da relatividade de Einstein que implicou na derrocada da concepccedilatildeo newtoniana de um siste-ma uacutenico e estaacutevel de referecircncia de tempo e espaccedilo na apreensatildeo de fenocircme-nos macrouniversais

O passo seguinte para a crise paradigmaacutetica se deu pela demonstraccedilatildeo pro-posta por Heisenberg e Bohr de que eacute impossiacutevel observar ou medir um objeto sem interferir nele Afirmou-se assim que ldquo[] natildeo conhecemos do real senatildeo o que nele introduzimos ou seja que natildeo conhecemos do real senatildeo a nossa intervenccedilatildeo nelerdquo (SANTOS 1987 p44) o que ficou definido como princiacutepio de incerteza de Heisenberg indicando para a observaccedilatildeo do mundo subatocircmico aleacutem de outros temas no campo da matemaacutetica biologia e ecologia aprofun-daram a noccedilatildeo de crise das ciecircncias convencionais e a busca de novas formas de racionalidade (VASCONCELOS 2002)

Um outro momento de crise do paradigma moderno se deu com a apre-sentaccedilatildeo do teorema da incompletude e os teoremas sobre a impossibilidade de encontrar dentro de um dado sistema formal a prova da sua consistecircncia A proacutepria mediccedilatildeo da matemaacutetica revelou-se incompleta pois tornou -se possiacute-vel questionar o seu rigor assim como discutir uma redefiniccedilatildeo deste modelo que se opotildee a outras formas de rigor alternativo Assim o que a ciecircncia ganhou em rigor das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX perdeu em capacidade de autorre-gularatildeo (SANTOS 1987)

Para Santos (1987) durante a deacutecada de trinta e quarenta a ideia de autono-mia da ciecircncia e do desinteresse do conhecimento cientiacutefico que durante muito tempo constituiacuteram a ideologia espontacircnea dos cientistas tanto nas sociedades capitalistas como nas sociedades socialistas do leste europeu colapsaram peran-te o fenocircmeno global da industrializaccedilatildeo da ciecircncia o que acarretou no compro-misso da ciecircncia com os centros de poder econocircmico social e poliacutetico os quais passaram a exercer influecircncia sobre a definiccedilatildeo das prioridades cientificas

De acordo com Santos (1987 p 57) ldquo[] a ciecircncia e a tecnologia tem vindo a revelar-se as duas faces de um processo histoacuterico em que os interesses militares

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 305

e os interesses econocircmicos vatildeo convergindo ateacute quase agrave indistinccedilatildeordquo O fato pode ser exemplificado tanto com o ocorrido no Japatildeo com as bombas de Hi-roshima e Nagasaki quanto mais recentemente com as cataacutestrofes ecoloacutegicas e os constantes perigos de guerras nucleares Sendo assim fica evidente a influ-ecircncia do poder econocircmico e poliacutetico na definiccedilatildeo das prioridades das ciecircncias

O socioacutelogo ainda salienta dois efeitos principais oriundos da industrializa-ccedilatildeo da ciecircncia quais sejam a estratificaccedilatildeo da sociedade cientiacutefica com a pro-letarizaccedilatildeo de inuacutemeros cientistas e a investigaccedilatildeo capital-intensiva (assente em instrumentos caros e raros) que tornou impossiacutevel o livre acesso a equipa-mentos aumentando o fosso de desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegicos entre paiacuteses ricos e pobres

Percebe-se na situaccedilatildeo do tempo presente um tempo de transiccedilatildeo onde as influecircncias oriundas das tecnologias e do conhecimento acumulado fazem-nos crer numa sociedade de comunicaccedilatildeo e interatividade onde satildeo cada vez mais presumiacuteveis as cataacutestrofes ecoloacutegicas e as guerras nucleares fazendo com que reflitamos sobre os limites do rigor cientiacutefico e sua aplicabilidade

Contudo Santos (1987) vislumbra que a crise do paradigma natildeo constitui um pacircntano cinzento de ceticismo e irracionalismo e que as condiccedilotildees teoacutericas e sociais visam por consequecircncia construiacuterem um novo paradigma um pa-radigma cientiacutefico reformulado (conhecimento prudente) e um paradigma de cunho social (conhecimento para uma vida decente)

5 O PARADIGMA EMERGENTE

O paradigma emergente ou novo paradigma proposto por Boaventura de Sousa Santos nasce a partir da inter-relaccedilatildeo das ciecircncias naturais com as ci-ecircncias sociais Essa ligaccedilatildeo entre as ciecircncias difere com o modelo totalitaacuterio positivista cientificista cartesianista universal defendido pelo paradigma do-minante durante o seacuteculo XVI (SANTOS 1988) Para justificar o paradigma emer-gente Santos (1987) apresenta as principais teses que considera como modelo de produccedilatildeo do conhecimento prudente para uma vida decente

Se todo conhecimento cientiacutefico-natural eacute cientiacutefico-social ou seja todo conhecimento natural eacute social a separaccedilatildeo entre as ciecircncias naturais e sociais torna-se inuacutetil e sem sentido natildeo tendo mais motivo de existir pois [] esta distinccedilatildeo assenta numa concepccedilatildeo mecanicista da mateacuteria e da natureza a que contrapotildee com pressuposta evidecircncia os conceitos de ser humano cultura e sociedade []rdquo (SANTOS 1988 p60)

306 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Para o modelo de conhecimento emergente este fato natildeo apresenta ne-nhuma validade A sua separaccedilatildeo eacute considerada insuficiente sem fundamento Nos pressupostos do paradigma emergente eacute preciso interligar mesmo saben-do ldquo[] que ateacute haacute pouco [tempo] consideraacutevamos insubstituiacuteveis tais como na-tureza cultura naturalartificial vivoinanimado mentemateacuteria observadorobservado subjetivoobjetivo coletivoindividual animalpessoardquo (SANTOS 1988 p61)

A superaccedilatildeo desta dicotomia tende assim a revalorizar os estudos humaniacutes-ticos colocando o homem no centro do conhecimento Ele seraacute o sujeito trans-formador do mundo no qual encontra-se inserido Conforme Santos (1987) esta concepccedilatildeo humaniacutestica foi um agente catalisador que permitiu com que o homem no meio das diversas situaccedilotildees comunicativas tivesse a possibilidade de construir e reconstruir a sua realidade social em prol do bem comum

Aleacutem da transformaccedilatildeo social inclui-se nesta modificaccedilatildeo pontos inerentes as questotildees ambientais destacando-se a biodiversidade Esta por sua vez cor-responde a

uma ordem indissociavelmente poliacutetica e cientiacutefica teacutecnica e moral

que envolve um leque diferenciado e heterogecircneo de atores cientis-

tas povos indiacutegenas e suas organizaccedilotildees instituiccedilotildees cientiacuteficas do

norte e do sul governos e autoridades locais e ecossistemasrdquo (SAN-

TOS 2002 p68)

Neste sentido nota-se a necessidade de haver mais espaccedilos puacuteblicos de diaacute-logos que permita realizar debates com diferentes setores sociais para discus-satildeo de temaacuteticas considerando sua amplitude e complexidade Com base nes-se pressuposto Santos et al (2005) em sua obra Metodologias participativas caminhos para o fortalecimento de espaccedilos puacuteblicos ambientais propotildeem novas ferramentas epistemoloacutegicas tendo como princiacutepio norteador a mobilizaccedilatildeo a organizaccedilatildeo social e a promoccedilatildeo de uma cultura de participaccedilatildeo ativa dos sujei-tos Contudo Santos (2007 p 133) esclarece que o progresso de uma epistemo-logia de conhecimento-emancipaccedilatildeo ldquo[] depende do avanccedilo das lutas sociais contra a opressatildeo a discriminaccedilatildeo e a exclusatildeo social ainda que esteja sujeito a outras determinaccedilotildees relativamente autocircnomas que tecircm a ver com o campo intelectual a cultura cientiacutefica dominante os sistemas de educaccedilatildeo etcrdquo

Neste sentido Santos (2007) observa as novas orientaccedilotildees epistemoloacutegicas natildeo sinalizam apenas para novos tipos de conhecimento mas tambeacutem para

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 307

novas maneiras de produccedilatildeo do conhecimento em que se observa uma ate-nuaccedilatildeo da distinccedilatildeo entre as ciecircncias naturais e ciecircncias sociais Assim na pers-pectiva do paradigma emergente o autor traz a segunda tese a de que todo conhecimento eacute local e total Com efeito defende que o conhecimento natildeo segue um estilo unidimensional Isso quer dizer que natildeo se pode e nem deve haver a disciplinarizaccedilatildeo e tatildeo menos parcelarizaccedilatildeo do conhecimento Para Santos (2007 p 134) ldquo[] o importante eacute repensar o conhecimento cientiacutefico em toda a sua diversidade agrave luz das suas possiacuteveis relaccedilotildees com outros saberes natildeo cientiacuteficos que orientam a vida quotidiana das pessoasrdquo

Um dos pontos centrais defendido pela ciecircncia moderna eacute a especializaccedilatildeo O conhecimento torna-se muito mais rigoroso na medida que restringe o objeto de estudo Quanto mais se especifica mais rigoroso e excessivamente fracionado tende a ficar levando o cientista agrave ignoracircncia de uma infinidade de conhecimen-to correlacionados podendo trazer consequecircncias negativas para a sociedade (SANTOS 1987) Neste sentido Santos (1988 p70) endossa dizendo que ldquo[] a ciecircncia poacutes-moderna sabe que nenhuma forma de conhecimento eacute em si mes-ma racional soacute a configuraccedilatildeo de todas elas seratildeo racional Tenta pois dialogar com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar por elasrdquo

Neste novo paradigma o conhecimento tem como horizonte a totalidade universal das coisas e natildeo a especificaccedilatildeo Este conhecimento ao inveacutes de re-gredir avanccedila no sentido de buscar novas possiblidades novas descobertas Um conhecimento deste tipo eacute relativamente imetoacutedico e eacute forjado na plu-ralidade metodoloacutegica Cada meacutetodo eacute uma linguagem que considera espaccedilo e tempo local de modo que as respostas a respeito da realidade retornem na liacutengua em que eacute perguntada Sendo assim ldquo[] soacute uma constelaccedilatildeo de meacutetodos pode captar o silecircncio que persiste entre cada linguagem cada pergunta quem perguntardquo (SANTOS 1988 p 66)

Um outro ponto ressaltado por Santos (1987) consiste na terceira tese a de que todo conhecimento eacute autoconhecimento Essa tese fortalece a ideia de que nossas trajetoacuterias e experiecircncias de vida nossos sentimentos valores cul-tura e crenccedilas podem confirmar sem precisar passar por meacutetodos sistemaacuteticos rigorosos a existecircncia de um conhecimento sem o qual seria impossiacutevel a com-preensatildeo da ciecircncia cientiacutefica Um conhecimento ldquo[] compreensivo e iacutentimo que natildeo nos separe e antes nos una pessoalmente ao que estudamosrdquo (SANTOS 1988 p 68) Sendo assim atraveacutes das questotildees mais subjetivas do homem ten-de a interligar o sujeito e o objeto compreender melhor o mundo que o cerca permitindo um novo viver e um novo saber muito mais praacutetico

308 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Por fim todo conhecimento cientifico visa constituir-se em um senso comum Para enriquecer nossa relaccedilatildeo com o mundo orientarmos nossa vida e darmos mais sentido a ela eacute preciso dar maior importacircncia ao conhecimen-to do senso comum ao conhecimento praacutetico dito vulgar Para Santos (2007 p 134) ldquo[] o importante eacute salientar a incompletude de todos os conhecimen-tos e o potencial que existe nos diaacutelogos entre eles O conhecimento pruden-te decorre sempre desses diaacutelogos e das constelaccedilotildees de saberes que per-mitem construirrdquo Esta eacute uma das ambiccedilotildees da ciecircncia poacutes-moderna a de que o conhecimento cientiacutefico para se realizar enquanto tal deve-se converter-se em senso comum (SANTOS 1988) Nesse sentido nenhum conhecimento poderaacute ser despreziacutevel Cada conhecimento tem suas caracteriacutesticas concep-ccedilotildees poreacutem satildeo indissociaacuteveis

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Boaventura de Sousa Santos nos apresenta concepccedilotildees cientiacuteficas evi-denciadas na ciecircncia moderna Os estudos desenvolvidos por Santos no acircmbito das Ciecircncias Sociais nos mostram a necessidade de um olhar criacutetico em relaccedilatildeo agrave ciecircncia apontando para mudanccedilas na estrutura de produccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico Em Um discurso sobre as ciecircncias uma de suas obras claacutessicas ele faz uma organizaccedilatildeo criacutetica que nos remete agraves bases da ciecircncia moderna ao mesmo tempo em que questiona os sinais que indicam uma transiccedilatildeo paradigmaacutetica na contemporaneidade e de forma especu-lativa pois se trata de futuro e embora perceba os sinais da crise paradig-maacutetica o futuro seraacute sempre produto da imaginaccedilatildeo e em seu caso a ima-ginaccedilatildeo socioloacutegica faz um prenuncio do novo paradigma que considerar estar a emergir

Em consonacircncia defende a necessidade de um paradigma emergente que transcorra as barreiras impostas pelo paradigma dominante e possibilite uma ampliaccedilatildeo de saberes nas diferentes ciecircncias mesmo sendo elas consideradas divergentes Traduz a necessidade do diaacutelogo entre os saberes cientiacuteficos e po-pulares que satildeo defendidos em suas teses estas alicerces para a construccedilatildeo de uma nova epistemologia

As novas orientaccedilotildees epistemoloacutegicas com base no pensamento de Boa-ventura de Sousa Santos natildeo pretende uma desqualificaccedilatildeo da ciecircncia perante outros modos de envolvimento com o mundo pelo contraacuterio considera neces-saacuterio definir a relevacircncia dos vaacuterios modos de conhecimento sem que a ciecircncia

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 309

tenha a prerrogativa de legislar sobre outras formas de conhecimento ou de experiecircncias em que os problemas e as interrogaccedilotildees natildeo satildeo redutiacuteveis aos que o conhecimento cientiacutefico considera relevantes

REFEREcircNCIAS

BACON Francis Novum Organum ou Verdadeiras indicaccedilotildees acerca da representa-ccedilatildeo da natureza Nova Atlacircntida Traduccedilatildeo e notas de Joseacute Aluysio Reis de Andrade 2 ed Satildeo Paulo Abril Cultural 1979

BECKER MA SANTOS A C dos A Crise de Paradigmas em Tomas Kuhn e Boaventura Santos In BECKER Evaldo SANTOS Antocircnio Carlos dos (Orgs) Entre o homem e a na-tureza Abordagens teacuteorio-metodologicas ndash Porto Alegre Redes Editoras 2012

JAPIASSU Hilton Ferreira Introduccedilatildeo ao pensamento epistemoloacutegico 4 ed Rio de Janeiro F Alves 1986

KUHN T S A Estrutura das Revoluccedilotildees Cientiacuteficas Traduccedilatildeo de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira 10 ed Satildeo Paulo Perspectiva 2009

SANTOS Boaventura de Sousa (Org) Conhecimento prudente para uma vida decen-te um discurso sobre as ciecircncias revisado ndash Satildeo Paulo Cortez 2004

SANTOS Boaventura de Sousa Acriacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiacutecio da experiecircncia 4 ed - Satildeo Paulo Cortez 2002

______ Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna ndash Rio de Janeiro Graal 1989

______ Em torno de um novo paradigma soacutecio-epistemoloacutegico [Entrevista concedi-da a] Manoel Tavares Rev Lusoacutefona de Educaccedilatildeo [online] Lisboa n10 p131-137 2007 Disponiacutevel em httpwwwscielomecptscielophpscript=sci_arttextamppi-d=S164572502007000200010amplng=ptampnrm=iso Acesso em 06 nov 2019

______ Para um novo senso comum a ciecircncia o direito e a poliacutetica na Transiccedilatildeo para-digmaacutetica ndash 7 Ed ndash Satildeo Paulo Cortez 2009

______ Um discurso sobre as ciecircncias ndash Satildeo Paulo Cortez 1987

______ Um discurso sobre as ciecircncias na transiccedilatildeo para uma ciecircncia poacutes-moder-na Estud av [online] vol2 n2 1988 Disponiacutevel em httpdxdoiorg101590S0103-40141988000200007 Acesso em 08 de nov de 2019

SANTOS Adailton Dias dos Metodologias participativas caminhos para o fortaleci-mento de espaccedilos puacuteblicos socioambientais Instituto Internacional de Educaccedilatildeo do Brasil ndash IEB Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2005

310 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

VASCONCELOS Eduardo Mouratildeo Complexidade e pesquisa interdisciplinar episte-mologia e metodologia operativa Petroacutepolis RJ Vozes 2002

WAGNER Peter Sobre guerras e revoluccedilotildees In SANTOS Boaventura de Sousa (Org) Conhecimento prudente para uma vida decente um discurso sobre as ciecircncias revi-sado ndash Satildeo Paulo Cortez 2004

SOBRE O AUTORES

Ademilson de Jesus SilvaMestrando pelo PRODEMA - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente na UFS - Universidade Federal de Sergipe (2019) Poacutes-gradu-accedilatildeo em Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica e Planejamento Poacutes-graduaccedilatildeo em Meto-dologia de Ensino de Biologia e Quiacutemica (2019 ndash 2020) Graduado em Lic Quiacute-mica pela UniAGES - Centro Universitaacuterio AGES (2018) Graduado em Gestatildeo Ambiental pela Universidade Norte do Paranaacute (2012) Teacutecnico em agropecuaacuteria pelo Centro Estadual de Educaccedilatildeo Profissional do Campo Paulo Freire (2012)

Alessandra Barbosa SouzaMestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe Graduada em licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Ciecircn-cias Educacionais de Sergipe (2009) especialista em Didaacutetica e Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Satildeo Luis de Franccedila (2011) Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambiente ndash GPFIMA Tem experiecircncia na aacuterea de Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e En-sino Superior na modalidade de Educaccedilatildeo a Distacircncia com ecircnfase em Ensino--Aprendizagem Educaccedilatildeo Ambiental Fundamentos da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo de Profissionais da Educaccedilatildeo E-mail alessandrabsouzahotmailcom

Amanda da Silva SantosMestranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Graduada no Curso Supe-rior de Tecnologia em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia da Paraiacuteba ndash IFPB onde foi integrante do Nuacutecleo de Estudos em Agroecologia ndash NEA compondo a equipe teacutecnica do nuacutecleo que eacute signataacuterio da Rede Rizoma da PROEXT E-mail amandasstsgmailcom

Andreacute Viniacutecius Bezerra de Andrade SilvaBioacutelogo Licenciado pela UNEB e Mestrando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe UFS E-mail oandradeviniciusgmailcom

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Antocircnio Carlos dos SantosProfessor Titular na aacuterea de Eacutetica e Filosofia Poliacutetica do Departamento de Filo-sofia da UFS Foi Professor Convidado na Universiteacute de Paris I - Sorbonne (2017-2018) graccedilas ao Programa de Estaacutegio Secircnior no Exterior da CAPES Poacutes-doutor em Filosofia pela Universiteacute de Sherbrooke Canadaacute (2008-2009) e pela Univer-sidade de Satildeo Paulo (2011) Doutor em Filosofia pela Universite de Paris X Nan-terre (2003) em cotutela com a Universidade de Satildeo Paulo Mestre tambeacutem em Filosofia pela Universidade de Satildeo Paulo (1997) Professor do Departamento de Filosofia da UFS desde 1992 Eacute membro do corpo permanente dos Programas de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e meio ambiente (Rede PRODEMA) e do Mestrado em Filosofia ambos da UFS Faz parte da Comissatildeo editorial da Re-vista Transformaccedilatildeo (UNESPMariacutelia) dos Cadernos de Eacutetica e Filosofia Poliacutetica (USP) da Revista em Filosofia Sapere aude (PUCMG) da Revista Griot e Revista Ambivalecircncias Eacute avaliador do Programa de Capacitaccedilatildeo do Banco do SINAESINEP Eacute pesquisador da Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa de Sergipe (FAPITE-C-SE) Eacute membro da Socieacuteteacute Internationale Montesquieu Tem experiecircncia na aacuterea de Filosofia com ecircnfase em Eacutetica Filosofia Poliacutetica Eacutetica Ambiental e em temas como Corrupccedilatildeo Repuacuteblica Toleracircncia Direitos Humanos Ilustraccedilatildeo Seacuteculo XVIII e Interdisciplinaridade

Antocircnio de Oliveira NettoPossui graduaccedilatildeo em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL e Poacutes-graduaccedilatildeo (Mestrado e Doutorado) pela Escola de Engenharia de Satildeo Carlos - EESC da Universidade de Satildeo Paulo - USP Tem experiecircncia na aacuterea de Engenharia Ambiental com ecircnfase em tratamento de aacuteguas residuaacuterias atu-ando principalmente nos seguintes temas licenciamento ambiental projeto e execuccedilatildeo de estaccedilotildees de tratamento de aacutegua e esgoto tratamento combinado anaeroacutebio-aeroacutebio de esgoto sanitaacuterio reator de leito fixo operado de modo contiacutenuo e avaliaccedilatildeo de projetos de melhorias habitacionais e sanitaacuterias

Antonio Menezes Professor de Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem do Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Sergipe Doutor em Educaccedilatildeo (Universida-de Federal da Bahia) e Mestre em Aprendizagem e Intervenccedilatildeo Educativa (Universi-dade do Quebec - Canadaacute) Liacuteder e Membro do SEMINALIS - Grupo de Pesquisa em Tecnologias Intelectuais e Aprendizagens Contemporacircneas (CNPqUFS) Na pes-quisa em educaccedilatildeo dedica-se aos estudos da emoccedilatildeo memoacuteria e socializaccedilatildeo em

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 313

diferentes ciclos da vida humana Em Ciecircncias Ambientais dedica-se aos seguintes temas produccedilatildeo de conhecimento em ciecircncias ambientais (epistemologia forma-ccedilatildeo e profissionalizaccedilatildeo interdisciplinar) inovaccedilatildeo ambiental e memoacuteria ambiental em contextos humanos E-mail avmsouzayahoocombr

Camilo Rafael Pereira BrandatildeoBioacutelogo Licenciado pela UNEB e Mestrando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe UFS E-mail rafa-elbrandaohotmailcom

Cassandra Mendonccedila de OliveiraGraduanda em Ecologia Bacharelado pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Com aacuterea de interesse e desenvolvimento de pesquisa em recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por mineraccedilatildeo e conservaccedilatildeo

Daniela Teodoro SampaioPoacutes-doutoranda PNPD e Professora Colaboradora voluntaacuteria do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Univer-sidade Federal de Sergipe Affiliate faculty member at Department of Human Dimensions of Natural Resources Colorado State University (CSU) Possui Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) Mestrado em Teoria e Pesquisa do Compor-tamento pela Universidade Federal do Paraacute (UFPA) e Graduaccedilatildeo em Ciecircncias Bioloacutegicas pela Universidade Federal de Uberlacircndia (UFU) Atuaccedilatildeo em pesqui-sas em Governanccedila contra crimes de caccedila e traacutefico de animais silvestres Gover-nanccedila Ambiental Cidades Sustentaacuteveis e Unidades de Conservaccedilatildeo

Delmira Santos da Conceiccedilatildeo SilvaDoutoranda pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFS) Mestre pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em De-senvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFS) Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental com Ecircnfase em Espaccedilos Educadores Sustentaacuteveis pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) Possui graduaccedilatildeo em Geografia pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (FJAV) Integrante do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambiente (GPFIMA) na Universidade Federal de Sergipe (UFS) Bolsista pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) E-mail delmirasilva_ufshotmailcom

314 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Deniver Delma Souza OliveiraGraduando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS

Diogo dos Santos Gonccedilalves BahiaPossui graduaccedilatildeo em Engenharia de Agrimensura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2006) Mestre em Recursos Hiacutedricos pela Universidade Federal de Sergipe (2017) e doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente tambeacutem pela Universidade Federal de Sergipe Atuou como Engenheiro Agri-mensor em diversas empresas de engenharia (2006 a 2013) como professor substituto no coleacutegio teacutecnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2013 a 2014) e atualmente eacute professor efetivo do ensino baacutesico Teacutecnico Tecno-loacutegico do Instituto Federal de Sergipe (desde 2014) atuando como coordena-dor do curso Teacutecnico em Agrimensura E-mail dsgbahiayahoocombr

Eduardo de Souza SantosFormado em Licenciatura e Bacharel em Geografia pela Universidade Catoacutelica de Salvador (UCsal) com poacutes-graduaccedilatildeo (MBA) em Auditoria Periacutecia e Meio Ambiente pelo Instituto de Poacutes-Graduaccedilatildeo (IPOG) e mestrando pelo Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) sendo bolsistas da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) Profissional habilitado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) da Bahia e do Cearaacute tendo atuado em empre-sas da aacuterea ambiental Atualmente exerce o cargo de professor voluntaacuterio no Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo (CODAPUFS)

Elenaldo Fonseca de Oliva JuniorPossui graduaccedilatildeo em Licenciatura em Geografia pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (2011) Especializaccedilatildeo em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambien-te pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (2012) Atuando principalmente nos se-guintes temas Educaccedilatildeo Ambiental Impactos Ambientais Sociedade-nature-za Resiacuteduos Soacutelidos e Sustentabilidade Tem experiecircncia na aacuterea de Geografia com ecircnfase em Geografia E-mail juninho10segmailcom

Eliane de Souza BarbosaPossui graduaccedilatildeo em Letras - Liacutengua Portuguesa pela Universidade Federal de Sergipe (2015) Tem experiecircncia na aacuterea de Letras com ecircnfase em Letras possui

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experiecircncia na aacuterea de Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica da rede municipal de LagartoSE Mestranda pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFS) Integrante do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Inter-disciplinaridade e Meio Ambiente (GPFIMA) na Universidade Federal de Sergi-pe (UFS) E-mail elianesbarbosahotmailcom

Eliane dos Santos da SilvaMestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe - PRODEMAUFS (2018) Especialista em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente pela FJAV (2012) Graduada em Licenciatura em Geografia (2010) Atualmente eacute Diretora Escolar da rede de ensino municipal de LagartoSE Tem experiecircncia no ensino de Geografia tendo lecionado do 5ordm ao 9ordm ano do Ensino Fundamental pela rede puacuteblica municipal de LagartoSE (2009-2012) e na rede particular no Grecircmio Escolar Pequeno Priacutencipe (2014-2016) Atua nas aacutereas de Hidrologia Recursos hiacutedricos aleacutem dos temas Ensino de Geogra-fia Educaccedilatildeo Ambiental Gestatildeo Ambiental e Sustentabilidade E-mail anne-geo85hotmailcom

Eliene Oliveira da Silva Graduada em Geografia Licenciatura pela Universidade Tiradentes Guarda Municipal de Aracaju Instrutora de cursos de capacitaccedilatildeo e Tutora de cursos online pelo Ministeacuterio da Justiccedila Poacutes-graduada em Didaacutetica e Metodologia do Ensino Superior e Gestatildeo Escolar pela Faculdade Satildeo Luis de Franccedila Especialis-ta em Seguranccedila Puacuteblica e Democracia pela Universidade Federal de Sergipe Tecnoacuteloga em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal de Sergipe (em curso) Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMAUFS Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambien-te (GPFIRMA)

Elis Gardecircnia dos SantosMestranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS MBA em Gestatildeo Ambiental e da Qualidade pela Universidade Tiradentes ndash Unit Especialista em Convivecircn-cia com o Semiaacuterido ndash Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilida-de ndash IABS Especialista em Educaccedilatildeo em Ensino Religioso ndash Faculdade Satildeo Luiacutes de Franccedila Graduaccedilatildeo Licenciatura em Pedagogia ndash Universidade Tiradentes E-mail ellisliriogmailcom

316 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Fabriacutecio Nicaacutecio FerreiraEnfermeiro da Estrateacutegia Sauacutede da Famiacutelia do municiacutepio de Boquim Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMA-UFS especialista em Ges-tatildeo Estrateacutegica da Sauacutede da Famiacutelia pela Faculdade Venda Nova do Imigrante Graduado em Enfermagem pela Universidade Federal de Sergipe Campus Prof Antocircnio Garcia Filho pela metodologia PBL (Aprendizagem Baseada em Proble-mas) Atualmente eacute Enfermeiro chefe da Unidade Baacutesica de Sauacutede em Morro de Satildeo Paulo ndash CairuBA Tem experiecircncia nas aacutereas Ciecircncias da Sauacutede Sauacutede da Famiacutelia Atenccedilatildeo Primaacuteria em Sauacutede Determinantes e Condicionantes em Sauacutede Ciecircncias Ambientais Sauacutede Puacuteblica Farmacologia e Gestatildeo Puacuteblica de Sauacutede E-mail fabriciogtebolcombr

Franciley Santos LeiteMestranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente pela Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Graduada em Direito pela Faculdade Pio X Atualmente trabalha como Servidora Puacuteblica da Universidade Federal de Sergipe lotada no Campus Satildeo Cristoacutevatildeo como Auxiliar de Enferma-gem E-mail francileysantoshotmailcom

Gicelia Mendes da SilvaPossui Graduaccedilatildeo (1990) Mestrado (1995) e Doutorado (2008) em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe Professora Adjunto IV do Curso de Licenciatura em Geografia na Universidade Federal de Sergipe Professora do Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMAUFS) e do Mestrado e Doutora-do em Geografia (PPGEO) Pesquisadora do GEOPLANUFS Docente Orientadora no Programa Residecircncia Pedagoacutegica no DGE Tem experiecircncia na aacuterea de Geografia com ecircnfase na anaacutelise das condiccedilotildees socioeconocircmicas das populaccedilotildees de aacutereas minera-doras atuando principalmente com os seguintes conceitos eou temas territoacuterio e territorialidade desenvolvimento territorial E no Ensino de Geografia com destaque para a Cartografia e Cartografia Escolar Coaching Educacional

Gleison Parente Pereira Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFS Especialista em Direito Penal e Processo Penal Bacharel em Seguranccedila Puacutebica e Direito Profes-sor do Curso de Direito na Faculdade de Administraccedilatildeo e Negoacutecios de Sergipe - FANESE Instrutor de Direito Penal e Penal Militar do CFAP da PMSE Atualmente exerce a Funccedilatildeo de Assessor Teacutecnico Juriacutedico da Corregedoria Geral da PMSE

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Glessia SilvaPoacutes-Doutorado em Administraccedilatildeo de Empresas pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas na Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo - FGVEAESP (2019-Atu-al) Doutora em Administraccedilatildeo de Empresas pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas na Escola de Administraccedilatildeo de Empresas de Satildeo Paulo - FGVEAESP (2018) Mestra em Administraccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe - UFS (2013) Bacharela em Administraccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe - UFS (2011) Tem inte-resse de pesquisa em inovaccedilatildeo pequena empresa e desenvolvimento

Igor Azevedo SouzaGraduado em Ciecircncias Bioloacutegicas Bacharelado pela Universidade Tiradentes - UNIT e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Fede-ral de Sergipe - UFS Fotoacutegrafo da Natureza tem experiecircncia praacutetica em Biologia marinha no manejo das tartarugas marinhas e peixes e atendimento de grupos (sensibilizaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Ambiental no Projeto TAMAR) Possui conhecimento sobre fisiologia vegetal de plantas medicinais e de extraccedilatildeo de oacuteleos essenciais de plantas aromaacuteticas (EMBRAPA) Suas pesquisas vecircm sendo relacionadas a aacuterea das Ciecircncias ambientais em temas relacionados a Gestatildeo Ambiental Brasi-leira mais especificamente com a gestatildeo de Unidades de Conservaccedilatildeo

Ivana Ferreira LermenMestre pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambien-te ndash PRODEMAUFS Graduada em Comunicaccedilatildeo Social - Relaccedilotildees Puacuteblicas Es-pecialista em Responsabilidade Social Empresarial e SustentabilidadeEmail ivanalermengmailcom

Jailton de Jesus CostaDocente da Universidade Federal de Sergipe (CODAPUFS) Doutor Mestre Ba-charel e Licenciado em Geografia por esta mesma instituiccedilatildeo Docente perma-nente dos cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Liacuteder do Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Gestatildeo Sauacutede e Educaccedilatildeo Ambiental - GESEACNPq e membro do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Terri-torial - GEOPLANCNPq Atua principalmente nos seguintes temas Gestatildeo e Planejamento Ambiental Dinacircmica e Avaliaccedilatildeo Ambiental Educaccedilatildeo Ambien-tal Biogeografia e Climatologia

318 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Jhersyka da Rosa CleveMestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) possui graduaccedilatildeo em Geografia pela referida Instituiccedilatildeo Possui experiecircncia em Geografia com ecircnfase em Geografia Humana sobretudo nas aacutereas de Geogra-fia Poliacutetica e Geografia Agraacuteria Atua principalmente nos seguintes temas luta pela terra assentamentos de sem-terra fronteira territoacuterio conservaccedilatildeo am-biental e povos indiacutegenas Integrante do Grupo de Pesquisa Educaccedilatildeo Histoacuteria e Interculturalidade (GPEHIUFS) Atualmente cursa Doutorado no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Desenvolvimento em Meio ambiente pela Universidade Fe-deral de Sergipe E-mail jhersykaclevehotmailcom

Jonielton Oliveira DantasDoutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMA pela Univer-sidade Federal de Sergipe - UFS mestre em Desenvolvimento e Meio Ambien-te ndash PRODEMAUFS (2017) especialista em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Faculdade Joseacute August Vieira - FJAV (2012) licenciado em Geo-grafia pela FJAV (2010) Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdiscipli-naridade e Meio Ambiente - GPFIMA (CNPQ) Possui experiecircncia em docecircncia na Educaccedilatildeo Baacutesica e no Ensino Superior tendo atuado sobretudo na aacuterea de Educaccedilatildeo Ambiental Ciecircncias do Ambiente Metodologias do Ensino de Geo-grafia e Pesquisa em Educaccedilatildeo E-mail jonieltondantasgmailcom

Joseacute Heleno Alves da SilvaMestrando pelo Programa Acadecircmico de Poacutes-graduaccedilatildeo em Economia (NUPECUFS) bacharel em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPECAA) (2019) Atuou como bolsista extensionista do Programa Educaccedilatildeo do Campo Agroecologia e Agricultura Familiar Nuacutecleo de Integraccedilatildeo de Saberes (Eacute membro do Laboratoacuterio de Economia Aplicada e Desenvolvimento Regional (LEADERUFS) e do Nuacutecleo de Estudos em Agroecologia do Agreste e Sertatildeo Pernambucanos (NEASPEUFPE) Tem interesse em pesquisar sobre financia-mento agriacutecola agricultura familiar sustentabilidade e agroecologia Cursou o Ensino Meacutedio (2ordm Grau) de 2006 - 2008 E-mail helenoalves25hotmailcom

Keeze Montalvatildeo Fonseca da SilvaBacharela em Serviccedilo Social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) mes-tranda do programa de poacutes-graduaccedilatildeo desenvolvimento e meio ambiente (UFS) teacutecnica de enfermagem (Escola de Enfermagem Santa Baacuterbara) Auxiliar

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 319

de Sauacutede Bucal (Associaccedilatildeo Brasileira de Odontologia) 3ordm Sargento do Quadro de Sauacutede da Poliacutecia Militar do Estado de Sergipe

Kecircnia Dantas Alves Bacharel em Relaccedilotildees Puacuteblicas Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe E-mail keniasqgmailcom

Maria Joseacute Nascimento SoaresGraduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe (1991) Mestrado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe (1996) e Doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2006) Atualmente eacute professora associado da Universidade Federal de Sergipe Tem experiecircncia na aacuterea de formaccedilatildeo de profissionais na Educaccedilatildeo baacute-sica e no ensino Superior com ecircnfase em Didaacutetica Meacutetodos e Teacutecnicas de Ensi-no atuando principalmente nos seguintes temas educaccedilatildeo e sustentabilidade meio ambiente e interdisciplinaridade educaccedilatildeo ambiental praacutetica pedagoacutegi-ca educaccedilatildeo escolar e natildeo escolar formaccedilatildeo de profissionais na abordagem interdisciplinar no acircmbito das Ciecircncias Ambientais E-mail marjonasoufsbr

Mariacutelia Barbosa dos SantosDoutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash UFS mestre em Desen-volvimento e Meio Ambiente ndash UFS (2017) especialista em Educaccedilatildeo Ambien-tal com Ecircnfase em Espaccedilos Educadores Sustentaacuteveis ndash UFS (2016) especialista em Gestatildeo de Cidades e Planejamento Urbano ndash Instituto Proacute Saber (2014) li-cenciada em Geografia pela Faculdade Joseacute Augusto Vieira (2010) Membro do Grupo de Pesquisa Formaccedilatildeo Interdisciplinaridade e Meio Ambiente - GPFIMA Possui experiecircncia em docecircncia na Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental En-sino Meacutedio e Ensino Superior na modalidade de Educaccedilatildeo a Distacircncia com ecircn-fase em Ciecircncias Ambientais e aacutereas afins E-mail maryliabsantoshotmailcom

Milton Marques FernandesProfessore adjunto na Universidade Federal de Sergipe ndash UFS Orientador do PRODEMA - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambien-te na UFS - Universidade Federal de Sergipe Graduado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2002) Mestre em Ciecircncias Ambientais e Florestais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em

320 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas ciclagem de nutrientes e ecologia florestal (2005) Doutorado em Ciecircncia do solo pela UFRRJ com ecircnfase em economia ecoloacutegica pagamento por serviccedilos ambientais e manejo bacias hidrograacuteficas Poacutes-doutorado em geoprocessamento e manejo de bacias

Nadja Santos VitoacuteriaDoutora em Biologia de Fungos pela UFPE e Docente da Universidade do Esta-do da Bahia Departamento de Educaccedilatildeo Campus VIII Colegiado de Biologia Paulo Afonso BA E-mail nadjasvhotmailcom

Nicole Cavalcanti SilvaDoutoranda no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Am-biente (Prodema) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Mestre em Recur-sos Naturais pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Recursos Naturais (PPGRN) do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Graduada em Administraccedilatildeo de Empresas pela UFCG Atua principalmente nos seguintes temas estudos e pesquisas em admi-nistraccedilatildeo inovaccedilatildeo e tecnologia gestatildeo ambiental e urbana poliacuteticas e plane-jamento territorial turismo hotelaria cultura indicadores de sustentabilidade governanccedila e resiliecircncia socioecoloacutegica E-mail nickolecavalcantigmailcom

Nuacutebia Dias dos SantosPossui graduaccedilatildeo em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (1990) mestrado em Geografia Agraacuteria (1994) e Doutorado em Geografia (2012) pela mesma instituiccedilatildeo Atualmente eacute Professora Associada IV do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe Atua no PRODEMAUFS e PROF-CIAMBUFS E-mail nubiasantos85gmailcom

Pedro Alves da Silva FilhoProfessor adjunto do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Fe-deral de Roraima - UFRR Lider do Grupo de Pesquisa Infraestrutura Urbana e Ambiental Possui graduaccedilatildeo em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Roraima (2000) Especializaccedilatildeo em Engenharia de Sauacutede Puacuteblica pela FEAMIGMG (2001) graduaccedilatildeo em Engenharia Sanitaacuteria e Ambiental pela Universidade Catoacutelica Dom Bosco de Mato Grosso do Sul (2003) Mestrado em Engenharia Sanitaacuteria pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2007) Doutora-do em Engenharia Civil e Saneamento Ambiental pela Universidade Federal

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 321

do Cearaacute (2014) e Poacutes-Doutorado pelo Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMAUFS (2018) E-mail pedrofilhoufrrbr e pedroasfilhoyahoocombr

Raphaeumll LarregravereEacute engenheiro agronocircmico e socioacutelogo Foi diretor de Pesquisa do INRA ( Insti-tuto Nacional de Pesquisas Agronocircmicas da Franccedila) Dirige a coleccedilatildeo ldquoCiecircncia em questatildeordquo Tem vaacuterios artigos capiacutetulos de livros e livros publicados nota-damente ldquoDo bom uso da natureza para uma filosofia do meio ambienterdquo pela Perspectivas ecoloacutegicas

Robeacuterio Satyro Dos Santos JrGraduado em Engenharia de Produccedilatildeo pela Universidade Federal de Alagoas (2016) Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo em Gestatildeo Ambiental pelo Centro Uni-versitaacuterio Leonardo da Vinci (2018) Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe e Bolsista da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) com participaccedilatildeo no Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Gestatildeo Sauacutede e Educaccedilatildeo Ambiental (GESEA) Com experiecircncia na aacuterea de Gestatildeo Ambiental aplicado ao gerenciamento de resiacuteduos soacutelidos e economia solidaria

Robertha Georgya de Barros e SilvaPesquisadora de experiecircncias urbanas educativas infacircncias e espaccedilo puacuteblico mestra e doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente e graduada em Urbanismo Foi soacutecia-diretora da Dinacircmica Urbana Consultoria em planejamen-to urbano foi coordenadora de recuperaccedilatildeo e resposta da Coordenaccedilatildeo De De-fesa Civil do Estado da Bahia foi consultora teacutecnica em planejamento municipal de habitaccedilatildeo de interesse social mobilidade urbana sustentaacutevel e planejamen-to urbano participativo da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano de Sergipe Atualmente realiza estaacutegio doutoral na Universidade Teacutecnica de Berlim (2019 2020) Email roberthadebarrosgmailcom

Rosangela Pereira ArauacutejoLicenciatura em Educaccedilatildeo do Campo pela Universidade Federal de Roraima ndash Atualmente atua como professora do ensino baacutesico da escola municila do mu-niciacutepio de alo AlegreRR E-mail fsaphotmailcom

322 25 anos de PRODEMAUFSSERGIPE

Sergio Luiz LopesPoacutes-doutor pela na Universidade Federal de Sergipe (UFS-2017 ateacute marccedilo de 2018) Professor Adjunto I do Curso de Educaccedilatildeo do Campo da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) na base Formaccedilatildeo de Educadores Saberes e Competecircncias co-ordenada pelo prof Dr Bernard Charlot (PARIS VIII-UFS) dentre outros Mestre em Ciecircncias Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Professor das seguintes disciplinas na graduaccedilatildeo de Educaccedilatildeo do Campo So-ciologia TCC-1 Metodologia do Ensino de Sociologia e Estaacutegio em Sociologia Professor do mestrado em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo do Campo e Interculturalidade (Mestrado em Educaccedilatildeo convecircnio entre a Universidade Estadual de Roraima (UERR) - Instituto Federal de Roraima - IFRR) E-mail sergioluizufrrbr e serlu-pezyahoocombr

Sheila MangolliProfessora adjunta do curso de Licenciatura em Eduacaccedilatildeo do Campo da Uni-versidade Federal de Roraima

Suelane de Oliveira Silva DantasEspecialista em Territoacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash Faculdade Joseacute Augusto Vieira - FJAV Especialista em Gestatildeo Escolar orientaccedilatildeo e supervisatildeo ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Satildeo Luiz Licenciada em Geografia ndash FJAV Atua na Educaccedilatildeo Baacutesica desde 2009 exercendo a docecircncia no Ensino Fundamental e Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica no Coleacutegio Nossa Senhora da Piedade ndash CNSP Lagar-toSE

CIEcircNCIAS AMBIENTAIS EM PERSPECTIVA 323

Agradecimento aos oacutergatildeos financiadores do Edital CAPESFAPITECSE Nordm 112016 e aos pesquisadores envolvidos no Projeto ldquoPercursos Teoacutericos Metodoloacutegicos e Praacuteticos nas Ciecircncias Ambientaisrdquo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA da Universidade Federal de Sergipe

  • DE TECNOLOGIA
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  • PREFAacuteCIO
  • A EROSAtildeO DA BIODIVERSIDADE DO HOMOGENOCENO AO ANTROPOCENO
    • Raphaeumll Larregravere
      • A EacuteTICA AMBIENTAL E A CRIacuteTICA POLIacuteTICA AO ldquoPRINCIacutePIO RESPONSABILIDADErdquo DE HANS JONAS
        • Prof Dr Antocircnio Carlos dos Santos (UFSCNPq)
          • EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E A QUESTAtildeO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS NA ESCOLA ESTADUAL DELCY BARRETO DE SOUZA DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE
            • Rosangela Pereira Arauacutejo
              • A IDENTIFICACcedilAtildeO DE DESENHOS ANIMADOS COM CONTEUacuteDOS SOCIOAMBIENTAIS POR CRIANCcedilAS DO CICLO BAacuteSICO
                • Marilia Barbosa dos Santos
                • Jonielton Oliveira Dantas
                  • APLICACcedilAtildeO DO CICLO PDCA NO GERENCIAMENTO DOS RESIacuteDUOS SOacuteLIDOS INDUSTRIAIS DE UMA FAacuteBRICA TEcircXTIL
                    • Robeacuterio Satyro Dos Santos Jr
                    • Jailton de Jesus Costa
                      • NUANCES SOCIO-ESPACIAIS DO POVOADO ALOQUE EM ARACAJU-SE
                        • Eduardo de Souza Santos
                        • Keeze Montalvatildeo Fonseca da Silva
                          • A MINERACcedilAtildeO NO ESTADO DE SERGIPE
                            • Ademilson de Jesus Silva
                            • Milton Marques Fernandes
                              • AGRICULTURA DE BASE AGROECOLOacuteGICA NOVAS PERSPECTIVAS PARA O (DES)ENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE NO ESTADO DE SERGIPE
                                • Amanda da Silva Santos
                                • Nuacutebia Dias dos Santos
                                  • ESTRUTURA FUNDIAacuteRIA NO BRASIL E O ACESSO AS POLIacuteTICAS DE CREacuteDITOS
                                    • Delmira Santos da Conceiccedilatildeo Silva
                                    • Nuacutebia Dias dos Santos
                                      • INTERDISCIPLINARIDADE E AS ldquoNOVASrdquo RELACcedilOtildeES CAMPO ndash CIDADE TERRITORIALIDADES EM FOCO
                                        • Jhersyka da Rosa Cleve
                                        • Nuacutebia Dias dos Santos
                                          • OS (DES) CAMINHOS DO PROGRESSO Agrave LUZ DA EacuteTICA AMBIENTAL
                                            • Mariacutelia Barbosa dos Santos
                                            • Maria Joseacute Nascimento Soares
                                              • POSSIBILIDADES DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA ADMINSTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA MUNICIPAL DE ARACAJUSE
                                                • Robertha Georgya de Barros e Silva
                                                • Ivana Ferreira Lermen
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