ciência política, estratégia e planejamento iv · como ciência demonstra que é possível...
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Ciência Política, Estratégia e
Planejamento IV
Organizadores:
Adelize Trentin Lemes
Nilson Rosa de Faria
Ciência Política, Estratégia e Planejamento IV
Adelize Trentin Lemes
Representante da ADESG Cascavel 2017/2018
Copyright ©
Direitos autorais reservados, não podendo ser comercializado ou impresso, sem a devida autorização
por escrito do autor (Lei nº. 5.988/73). Os artigos publicados na obra Gestão e Planejamento Estratégico
de Fronteiras são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo que os mesmos respondem por suas
opiniões e pontos de vista.
Correção: 2018
Revisora: Bruna Wanessa Martins
Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
ISBN 978-85-54957-12-4
Ciência Política, Estratégia e Planejamento IV / Organização: X CEPE – Master em
Ciência Política, Estratégia e Planejamento com Ênfase em fronteiras - Cascavel:
Editora IDESF, 2018
Edição 1 - 134 páginas
Organizadores:
Adelize Trentin Lemes e Nilson Rosa de Faria
- Travessa Cristiano Weirich, Nº 91, Edifício Metrópole, sala
311, Centro - Cep: 85851-140 - Foz do Iguaçu - PR - Brasil | +55 (45) 3029-7020
CDD 320 | CDU 327
DIRETORIA EXECUTIVA ADESG/CASCAVEL
X CEPE - 2017/2018
DIRETORIA DO X CEPE/2018
Representante
Adelize Trentin Lemes
Representante Adjunto
Adriano Stradiotto
Coordenadora X CEPE
Chaiany Batista
Coordenador Adjunto
Milton Cesar de Campos
Tesoureiro
Edson Cadini
Secretário
Nilson Rosa de Faria
Secretário Adjunto
Fabrício Gressana
Relações Públicas
Ademir Valério Marsicano
Relações Públicas Adjunto
Eduardo Marsicano
Diretor Logístico
Myckael Allan Kaefer
Dir. Logístico Adjunto
Luís Henrique Lemes
Dir. de Comun. e Imprensa
Julio Cesar Fernandes
Diretora de Eventos
Angélica Germania Gregório
Dir. de Eventos Adjunta
Lídia Maria Manea Studzinski
Mestre de Cerimônia
Isabela Cecchele de Oliveira
M. de Cerimônias Adj.
Sibele Luis Bernardes
MEMBROS DO X CEPE
DA ADESG CASCAVEL
Adelino Henkes
Ana Carine Scherer da Cas
Arles Junior de Queiroz Magalhães
Clair Fatima da Silva Santos
Claudio Rodrigues Junior
Clovis Renato Petroceli Dias
Daury Augusto
Diego Astori
Edna Anita Lopes Soares
Elza Terezinha Dolejal
Felipe Gressana Martignago
Herivelto Soares Pinto
João Paulo Cleiton Geremia
Luís Henrique Lemes
Luiz Antonio Kulzer
Marcelo Pedralli
Oswaldo Gregório Ferreira Filho
Paulo Ernesto Ceriotti
Rafael Luiz Nava Ferro
Ricardo Bernardi Castilhos
Ricardo Daniel da Silva Gomes
Ricardo Dilon Castilhos
Rogério Oliani Bórges
Silvio Nascimento França
Simone Lúcia Lorens
6
PREFÁCIO
A Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) ao propor e
disseminar cursos de ciência política, estratégia e planejamento, tem devolvido em forma de
conhecimento a sociedade, a relevância e o valoroso protagonismo de que cada cidadão tem
no espaço em que se insere enquanto pessoa e enquanto profissional, pois ao tratar da política
como ciência demonstra que é possível estudá-la sem mitos ou dogmas, mas como doutrina,
como o que a política é, o espaço, o campo de conversação de produção de um projeto de
país organizado com vistas ao progresso e para a produção de aparatos jurídicos e civis que
defendam e efetivem uma soberania nacional.
A ADESG ao fazê-lo de modo planejado (planejamento), leva em consideração a
vontade de seu povo de forma democrática tratando disso com responsabilidade,
compromisso e seriedade, características que todos que operam no campo político devem
possuir, considerando no que concerne, na sua essência, os históricos e conclamados
princípios consagrados na Carta Magna Nacional, nossa constituição federal.
Ao tratar o que foi mencionado anteriormente estrategicamente, o faz com sapiência,
com sabedoria, de um país que é reconhecidamente uma potência em dimensão territorial e
na produção de riquezas em escala global. A ADESG é mais do que um curso é um ato de
inteligibilidade e patriotismo. Portanto ser um adesguiano é assumir uma tarefa de amor pelo
nosso país e pelas pessoas.
Em tempos tão turbulentos e de dispustas tão acirradas, que neste processo formativo
se encontram, são decisivamente as provas de que há esperança de fazermos mais, melhor e
dignamente, um novo projeto de Brasil. Pois se persistem em trabalhar e acreditar nesse país
é porque comungam de uma inquietude que só aos bravos toca a alma e ao coração em prol
não só de si, mas de toda nação brasileira.
Assim, neste livro encontram-se parte das discussões, produções e da pesquisa que os
adesguianos do X Curso de Estudos em Política e Estratégia da Representação da ADESG
do Paraná em Cascavel, desenvolveram ao longo de dezoito meses de estudos. Esperamos
que esses trabalham possam agregar ao compasso acelerado que um novo desenvolvimento
regional, acadêmico, científico, tecnológico e humano urgem no seio de nossa sociedade. Um
só coração e uma só alma pelo Brasil.
Adelize Lemes
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 7
ÍNDICE
PREFÁCIO .................................................................................................................... ........5
A ADESG ................................................................................................................. .............9
A LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE NO OESTE PARANAENSE
...............................11
G1 - ANA CARINE SCHERER DA CAS, DAURY AGUSTO, JOÃO PAULO CLEITON GEREMIA,
RICARDO DANIEL DA SILVA GOMES e SILVIO NASCIMENTO FRANÇA
RECUPERAÇÃO DE NASCENTES – UMA ANÁLISE DO SEU IMPACTO COMO
FERRAMENTA PARA PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS
HÍDRICOS..........................33
G2 - ADELINO HENKES, CLOVIS RENATO PETROCELI DIAS, FELIPE GRESSANA
MARTIGNAGO, HERIVELTO SOARES PINTO e SIMONE LÚCIA LORENS
DESCREVER AS CONDIÇÕES DA SAÚDE PSICOLÓGICA DE ACORDO COM AS
POLÍTICAS PÚBLICAS DOS AGENTES DA POLÍCIA FEDERAL DO BRASIL
...........63 G3 - ELZA TEREZINHA DOLEJAL, LUIZ ANTÔNIO KULZER, OSWALDO
GREGÓRIO FERREIRA FILHO e RAFAEL LUIZ NAVA FERRO
SEGURANÇA PÚBLICA – PROBLEMÁTICA DO ATENDIMENTO POLICIAL EM
CASCAVEL – PARANÁ, EM OCORRÊNCIAS DE PERTUBAÇÃO DA
TRANQUILIDADE, TRABALHO E SOSSEGO.
...............................................................91
G4 - CLAÚDIO RODRIGUES JUNIOR, DIEGO ASTORI, EDNA ANITA LOPES SOARES,
RICARDO DILON CASTILHOS e ROGÉRIO OLIANI BÓRGES
RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E VOCAÇÃO ECONÔMICA DE CASCAVEL-PR
...105
G5 - ARLES JÚNIOR DE QUEIROZ MAGALHÃES, CLAIR FATIMA DA SILVA SANTOS,
MARCELO PEDRALLI, PAULO ERNESTO CERIOTTI, RICARDO BERNARDI CASTILHOS
8
A ADESG Fundada em 7 de dezembro de 1951, a ADESG (Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra) é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, concebida para
congregar os diplomados da Escola Superior de Guerra e, mais recentemente, os concluintes
dos Cursos de Estudos de Política e Estratégia proporcionados por suas Delegacias Regionais.
Considerada de utilidade pública, seu principal objetivo é dar continuidade, no tempo
e no imenso espaço brasileiro, aos conceitos básicos da Escola Superior de Guerra e à
aplicação do seu Método para o Planejamento da Ação Política.
Ao longo dos seus cursos e mediante um intenso trabalho dos seus inúmeros
associados foram aparecendo os resultados tão almejados. Hoje a ADESG, com cerca de
75.000 diplomados, espalha-se por todo o território brasileiro, nas 27 capitais dos nossos
Estados, no Distrito Federal e em dezenas de cidades importantes do interior.
Além dos Cursos de Estudos de Política e Estratégia –CEPEs que realiza anualmente
em suas 27 Delegacias Regionais, com estagiários de nível excelente, a ADESG executa
ainda outras atividades da maior importância, como planejamentos setoriais, seminários sobre
assuntos conjunturais relevantes, palestras diversas, etc., buscando sempre capacitar
lideranças nacionais e regionais para a realização de importantes atividades de interesse
nacional.
O curso é realizado pela ADESG – Associação dos Diplomados da Escola Superior
de Guerra, com Representação em Cascavel e proporciona aos seus participantes
aprimoramento dos conhecimentos de Ciência Política, por meio do estudo e da análise das
conjunturas internacional, nacional e local. Seu principal objetivo é difundir os fundamentos
e proporcionar os estudos conjunturais, observando os métodos de trabalho da Escola
Superior de Guerra – ESG.
Os CEPEs – Cursos de Estudos de Política e Estratégia são realizados pela
Representação de Cascavel em anos que não ocorrem eleições municipais, estaduais e
federais, ou seja, a cada dois anos acontece um curso.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 9
A LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE NO OESTE
PARANAENSE
G1
ANA CARINE SCHERER DA CAS
DAURY AGUSTO
JOÃO PAULO CLEITON GEREMIA
RICARDO DANIEL DA SILVA GOMES SILVIO NASCIMENTO FRANÇA
ORIENTADOR: PAULO EDUARDO DE MELLO PEREZINO
RESUMO: A necessidade de modernização é uma constante em todas as áreas, sob pena de
não o fazendo, tornar obsoleto o quê outrora era perfeitamente aceitável
como inovação. O Brasil, da leitura exauriente na atualidade como sendo
um país líder no mercado mundial, não somente como mercado
consumidor, mas como produtor em todos os setores, possui uma
economia diversificada, com inúmeras atividades, sejam elas agrícolas,
comerciais, industriais e de serviços, sendo primordial um sistema
logístico (transporte, armazenagem, informações e estratégias
organizacionais), capaz de suportar e dinamizar as potencialidades das
forças produtivas do país. Embora pacífico por convicção e tradição, o
Brasil possui suas Forças Armadas, integradas pela Marinha, Exército e
Força Aérea, instituições estas, que por expressa atribuição constitucional,
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e
por provocação de quaisquer destes, da lei e da ordem. Neste contexto, o
setor bélico e de Defesa Nacional sempre careceu de uma logística a ser
empregada no meio militar, e atualmente, face as dinâmicas atuações de
seu emprego, como, por exemplo: a Força de pacificação e estabilização
de outras nações, ajuda humanitária a estrangeiros, intervenção na
segurança pública de estados federados, dentre outras ações, bem como
na melhor utilização dos recursos públicos quer em material e/ou pessoal
no uso tanto em atividades operacionais quanto em suas tarefas rotineiras
dentro dos quartéis, acatados sempre pelo viés legal e alicerceado pelos
pilares da disciplina e
10 G1
hierarquia, se torna cada vez mais imperioso o desenvolvimento de um
enlace com a sociedade brasileira implicando em um esforço conjunto que
influa diretamente no processo evolutivo do Poder Nacional, em que pese
as pesquisas concentradas na região Oeste do Paraná e na atuação
logística militar do Exército Brasileiro nesta faixa territorial do país, que
se concretiza principalmente a partir de 1988 com a construção na cidade
de Cascavel do 15º Batalhão Logístico.
PALAVRAS-CHAVE: modernização, logística militar, Exército Brasileiro, Oeste
Paranaense
1. INTRODUÇÃO
Conceituar o termo Logística1, já nos demanda atingir uma complexidade de ideias e
questionamentos diversos, uma vez que, em sua própria significação podemos enxergar
claramente, o quão multifacetado e abrangente se torna o desafio de defini-la em poucas
linhas.
Ocorre-nos a priori, o viés militar (muito da recorrência de resultados ao se pesquisar
sobre a temática), em que ficam as lembranças das lendárias histórias dos antigos impérios
Grego, Romano e Bizantino sobre a existência de oficiais militares com o título de
‘Logisttkas’, responsáveis pelos assuntos de finanças e que distribuíam suprimentos a suas
tropas, perpassando pelas epopeias logísticas de Alexandre o Grande2, da Macedônia, que
introduzira em suas campanhas militares os chamados fatores de sucesso3 ou ainda a atuação
do rei sueco Gustavo Adolfo (entre 1611 e 1632), como forma de sistematizar o
abastecimento das tropas com a criação dos chamados “trens de guerra”, base do apoio
logístico no combate daquela época.
1 O termo Logística tem sua origem etimológica creditada aos antigos gregos (logistikos seria a junção de dois verbetes: logiszeshai = calcular e o sufixo “tikos” = relativo a algo) servindo de referência a Lógica Matemática (ou as quatro operações fundamentais). Na modernidade, derivou ao francês logistique, originário de loger (colocar, alojar, habitar). Esse termo originalmente significava o transporte, abastecimento e alojamento de tropas. Está relacionada com a palavra lodge (que é uma palavra mais antiga em inglês, mas tem a mesma origem latina). Logistics apareceu na língua inglesa pela primeira vez no século XVII. (Disponível em: http://etimologias.dechile.net/?logi.stica. e logistica-tgc.blogspot. com/2009/10/origem-da-palavra-logistica_5160.html. Acesso em: 07 out. 2018.
2 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre,_o_Grande. Acesso em: 08 out. 2018.
3 O imperador Alexandre introduziu ao combate o planejamento estratégico, que advinha de um detalhado conhecimento dos exércitos inimigos, dos terrenos de batalha e dos períodos de fortes intempéries, aliado ao estabelecimento de um simples ponto de controle, chefiado por um oficial de sua inteira confiança e dotado de realizar todas as aquisições de alimentos, água, armas e rações animais, além do desenvolvimento de alianças com estrangeiros e a inovadora incorporação de novas tecnologias de armamentos que acarretariam em inúmeras vitórias sobre os seus inimigos e a expansão de seu império.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 11
Faz-se mister, citar o czar Pedro I da Rússia (que pode ser considerado um dos
precursores da implementação de estruturas logísticas no âmbito dos exércitos da Europa) e
a criação do inovador Regulamento Militar de 1716, que consistia em que fossem unidas e
consolidadas as experiências relativas ao abastecimento das tropas, e que haviam provocado
enormes dificuldades para o desencadeamento das operações por ocasião da Grande Guerra
do Norte4, contra a Suécia (de 1700 a 1721).
Destaca-se também a célebre frase creditada no séc. XIX ao imperador francês
Napoleão Bonaparte, em que o mesmo reconhecia que “os exércitos marcham sobre os seus
estômagos” 5 , desprezando a importância de uma organização e melhor gerenciamento
logístico no intuito de aumentar o poder de combate de sua tropa, que capitularia em terras
russas muito mais por falta de apoio médico, munições, fardamento e alimentação do que por
atuação do inimigo. Fato que, de forma análoga, anos mais tarde, mudaria o curso da segunda
grande guerra mundial, em que seria a vez do exército alemão de Adolph Hitler, sucumbir no
front russo por desconsiderar os elementos de logística no combate daquela época do século
passado.
Assim, sob a ótica militar, entendemos que logística, é um apanhado de experiências
de outros exércitos ao longo da história, agrupados a planejamentos estratégicos atuais com
a finalidade de prever e prover com os mais diversos recursos (materiais e de serviços) a
capacidade operacional de uma tropa.
Destarte, ao buscarmos o entendimento da logística, também nos deparamos neste
estudo com a abordagem científica. Nesta análise, podemos observar que sua extensão se
ramifica na área da Administração, do Comércio Exterior e das Relações Internacionais,
tendo a responsabilidade de gerar recursos e informações para a execução de todas as
atividades de uma organização.
Pela definição do Council of Supply Chain Management Professionals6, logística é a
parte do Gerenciamento da Cadeia de Abastecimento que planeja, implementa e controla o
fluxo e armazenamento eficiente e econômico de matérias-primas, materiais semiacabados e
produtos acabados, bem como as informações a eles relativas, desde o ponto de origem até o
ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências de seus clientes.
4 Disponível em: http://www.historiailustrada.com.br/2014/04/o-fim-do-sonho-expansionista-sueco-no.html . Acesso em: 12 out. 2018
5 Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/combatentes-imperador-bonaparte-434486.phtml . Acesso em: 12 out. 2018
6 O Council of Supply Chain Management Professional (CSCMP) é a principal associação mundial de profissionais de gestão de cadeias de abastecimento. A CSCMP é uma associação sem fins lucrativos que fornece a liderança no desenvolvimento, na definição e aperfeiçoamento nas profissões que lidam com logística e gestão de cadeias de abastecimento. Tem como principal objetivo estar na vanguarda dos avanços e desenvolvimentos de profissionais nas áreas de gestão de cadeias de abastecimento fazendo com que os conhecimentos se difundam pela comunidade. (CSCMP, [2000]).
12 G1
Esta visão mais empresarial e de negócios, nos insere um ator fundamental no centro
das atenções: o cliente. Assim, enquanto as necessidades de um soldado (ou de um Batalhão)
são importantes para os militares, o cidadão comum que depende de algo ou um
conglomerado de empresas enquanto carentes de um produto/serviço são mapeados como
clientes dentro da esfera logística, face aos resultados que todos os listados precisam atingir
em suas atividades, seja militar, familiar ou empresarial.
Desta feita, a importância da logística está em fornecer as bases para o correto
planejamento estratégico e na excelência da execução das tarefas de uma determinada
empresa/ instituição, quer pública ou particular.
2. LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE
Coube ao estrategista militar e barão francês Antonie Henri Jomini, nos idos de 1836,
sintetizar na ciência de guerra (atualmente ciências militares), a ideia de logística. Em sua
obra denominada Sumário da Arte da Guerra ele exprime seu pensamento: “a Logística é
tudo ou quase tudo, no campo das atividades militares, exceto o combate” (JOMINI, 1836).
Segundo ele, a arte da guerra se dividia em cinco atividades: estratégia, grande tática,
logística, engenharia e tática menor. Além disso, definiu logística como “a ação que conduz
à preparação e sustentação das campanhas”, e a classificou como “a ciência dos detalhes
dentro dos Estados-Maiores”7.
Atualmente, logística militar e logística militar terrestre são conceitos diversos, sendo
de fácil apreensão, uma vez que na última nos referimos apenas ao conjunto de atividades
relativas à previsão e provisão de meios necessários ao funcionamento organizacional do
Exército Brasileiro e às suas operações. Já podemos perceber que o conceito de logística
militar engloba toda a execução das missões (tarefas) das Forças Armadas8 do país, sendo
assim bem mais amplo e diversificado.
Segundo palavras do ex-Comandante do Exército, General Eduardo Villas Bôas: “o
Exército Brasileiro prepara-se continuamente, balizado pela dimensão humana da Força, por
uma nova doutrina e por seus Programas Estratégicos, propulsores do Processo de
Transformação.” (Portfolio EPEx, p.13).
7 In “Para Ganhar a Guerra: As 25 Melhores Táticas de Todos os Tempos” de John France, Michael Whitby e Rob Johnson, da Editora Zahar.
8 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, preconiza em seu Capítulo II, Das Forças Armadas, artigo 142, “caput” a seguinte disposição: As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 13
Assim, no ano de 2008, foi aprovada a primeira edição da Estratégia Nacional de
Defesa (END), por intermédio do Decreto Presidencial nº 6.703, de 18 de dezembro de
2008 que mencionava em sua intenção que:
Se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe no mundo, precisará estar
preparado para defender-se não somente das agressões, mas também
das ameaças. Vive-se em um mundo em que a intimidação tripudia
sobre a boa-fé. Nada substitui o envolvimento do povo brasileiro no
debate e na construção da sua própria defesa (PLANALTO, 2008, on-
line).
Logo, caberia a toda a população brasileira se lançar aos novos desafios, cabendo à
quebra de paradigmas ainda vigentes em nosso seio social.
2.1 EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA NA LOGÍSTICA DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Em estrito alinhamento com as diretrizes do Comandante do Exército, o Estado-Maior
do Exército (EME), tem a missão de estudar, planejar, orientar, coordenar e controlar as
atividades da Força, e adotar as diversas ações visando à otimização e buscando sempre a
racionalização de recursos, com a consequente necessidade de adequação dos programas
estratégicos.
Doutrinar, no vernáculo brasileiro, significa ensinar, instruir, fortalecer ideias, e no
campo da logística militar terrestre isto significa se adaptar ao país e suas diversas matizes.
Desde o início do período republicano a logística no Exército Brasileiro vem buscando sua
estruturação e fomento de técnicas administrativas visando aumentar o poder de combate da
tropa. Entretanto, não se tinha uma tarefa fácil.
Apenas em 1896, cria-se um órgão no Exército com responsabilidades de direção,
gestão e execução nas áreas financeiras e de provimento, era a Intendência Geral da Guerra,
que se somou a divisão geográfica e estratégica do Brasil por Regiões Militares9, divisão esta
vigente até os dias de hoje no que se refere a logística da Força Terrestre.
Em ressonância da chegada da Missão Militar Francesa ao Brasil (1919), no pós-
primeira guerra mundial, o Ministro da Guerra da época, o engenheiro Cândia Calógeras,
determinara a criação de depósitos, hospitais militares e parques fabris de manutenção de
matérias de guerra (ou bélicos). Já em 1920, é criado o Serviço de Intendência com a missão
9 Atualmente o Exército Brasileiro divide sua área de atuação logística sob a supervisão regional de 12 (doze) Regiões Militares: 1ª RM sediada no Rio de Janeiro-RJ; 2ª RM sediada em São Paulo-SP; 3ª RM sediada em Porto Alegra-RS; 4ª RM sediada em Belo Horizonte-MG; 5ª RM sediada em Curitiba-PR; 6ª RM sediada em Salvador-BA; 7ª RM sediada em Recife-PE; 8ª RM sediada Belém-PA; 9ª RM sediada em Campo Grande-MS; 10ª RM sediada em Fortaleza-CE; 11ª RM sediada Brasília-DF e 12ª RM sediada em Manaus-AM. Disponível em: http://www.eb.mil.br/acesso-a-informacao/estrutura-organizacional. Acesso em: 17 out. 2018.
14 G1
de organizar, dirigir e executar os serviços de alimentação, fardamento, equipamento,
acampamento, combustível, iluminação e alojamento de serviços.
Trinta e nove anos mais tarde, em 1959, é criado o Quadro de Material Bélico, voltado
ao estudo da criação, fabricação e manutenção do material de guerra, viaturas, combustíveis
e lubrificantes. Esta estrutura logística já se desenhava sob a influência norte-americana, uma
vez que após a atuação brasileira na 2ª Guerra Mundial (1942-1945) houve aqui no país um
aumento do polo industrial, como se observa na fundação da Indústria de Material Bélico
(IMBEL), sediada em Itajubá-MG e na transformação castrense das Companhias (Médias e
Leves) de Manutenção em Batalhões de Logística.
O Serviço de Apoio a Saúde (originalmente composto por médicos, dentistas e
farmacêuticos) trabalharam na paz e na guerra para a manutenção do homem, pelo
atendimento às suas necessidades de sustento e sanitárias e vem se desenvolvendo ao longo
de toda a história do Exército, atualmente conta com graduados partícipes de um corpo
técnico e possui uma escola de formação própria10, atendendo não somente aos militares,
mas também aos seus familiares.
Os anos 1970 e 1980, marcaram no Exército um ideário de visão estratégica, com a
aprovação em 1977 do Manual C100-10 – Apoio Administrativo, um marco na literatura
militar sobre logística, em que se definia com o objetivo direto de “consolidar o conjunto de
atividades nos campos do pessoal, da logística e dos assuntos civis”, tendo como diferencial
a organização territorial e de encargos logísticos aos comandos enquadrantes, nas atividades
logísticas de apoio a saúde, suprimento, manutenção, construção e dos transportes militares
no TO (Teatro de Operações).
Essa concepção logística no Exército permitiu que, em 1986 fosse criado o Comando
Logístico (COLOG), e dois anos mais tarde, já na égide da nova Organização Básica do
Exército (OBE), a logística assumira um cunho Organizacional e outro de Logística
Operacional, extinguindo assim o termo “apoio administrativo” e substituindo em 1993 o já
“velho” manual de apoio administrativo pelo inovador Manual de Campanha C 100-10
LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE, que inova ao alinhar ideias e diretrizes visando o
planejamento logístico a médios e longos prazos, em que pese o cenário conjuntural do país
e de sua indústria nacional, além de responder logisticamente com a edição de normas que
atendiam às necessidades de integração e racionalização dos meios nacionais e de sua
mobilização em materiais e serviços, ou seja, se via a operacionalidade do Exército
coadunada com o esforço do empresariado nacional em desenvolver uma logística integrada,
um grande desafio naquele momento.
Finalmente, no final do século XX, com o advento do Ministério da Defesa que
englobaria em uma única “Pasta” os Comandos da Marinha, Exército e Aeronáutica, o
pensamento doutrinário passaria por outra importante transformação, uma vez que os
manuais editados tinham o intuito de combinar e alinhar o emprego das três Forças em
10 A Escola de Saúde do Exército – EsSEx, funciona atualmente na cidade do Rio de Janeiro-RJ
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 15
operações combinadas, sendo necessários ajustes nas funções logísticas para a maior e melhor
racionalização de meios, principalmente pessoal e da conjuntura de transição da situação de
paz para guerra, ou seja de conflito para a pacificação, principalmente dentro das nossas
próprias fronteiras.
Assim, atualmente as Forças Armadas brasileiras, além de suas regulamentações e
concepções doutrinárias próprias, seguem a literatura do Ministério da Defesa (MD), como
exemplo, no recém-criado manual de Doutrina de Logística Militar (MD42-M-02 – Ed. 2016)
que intenciona apresentar e servir de base para o planejamento e a execução das atividades
logísticas das Forças Armadas, no cumprimento das suas missões constitucionais. Tendo
conforme explicitado em seu próprio texto a sua aplicabilidade “no âmbito do MD e das
Forças Singulares (FS) como base doutrinária para o desenvolvimento da Logística Militar,
tanto nas atividades de preparo quanto nas de emprego do Poder Militar” (2016, p.13).
2.2 VETORES DA TRANSFORMAÇÃO: OS VETORES LOGÍSTICOS MILITARES
NA ATUALIDADE.
A partir da assinatura da Estratégia Nacional de Defesa11 criou-se a perspectiva de
podermos iniciar um processo de aquisição e modernização do material do emprego
operacional. O impacto que esses meios de modernização poderão causar em todos os
sistemas do Exército vai muito além do fato de passarmos a contar só com novos
equipamentos e sistemas de armas. Porém, para que essas mudanças realmente ocorram e se
concretizem teremos que alterar concepções na cultura institucional do Exército.
Durante o planejamento de alguns projetos12 e na sua fase de implantação, foram
observados fatores críticos a serem melhorados, decorrentes de deficiências estruturais. Esses
fatores críticos se concentram em três principais áreas: doutrina, recursos humanos e gestão.
Contudo, as ações com vista na superação de cada um deles serão conduzidas por meio de
Vetores de Transformação (VT).
Cada superação dos fatores críticos deverá estar embasada no aprofundamento dos
diagnósticos e nas indicações a serem extraídas dos cenários de médios a longos prazos.
Considerando-se a acumulação de experiência em âmbito do Ministério da Defesa, das
demais Forças e de outras esferas de governo, caberá aos Órgãos de Diretoria Setorial a
direção das atividades relativas aos VT que lhes correspondem, sendo eles: Doutrina, Preparo
e Emprego, Educação e Cultura, Gestão de Recursos Humanos, Gestão Corrente e Estratégia,
Modernização do Material e Logística.
11 Foi aprovada em 2008 a 1ª Edição da Estratégia Nacional de Defesa (END), por intermédio do Decreto Presidencial nº 6.703, de 18/12/2008 (Brasil, 2008a), estabelecendo, inclusive, que as Forças Armadas (FA) deveriam submeter ao Ministério da Defesa seus Planos de Equipamentos e de Articulação até 30 de junho de 2009.
12 Disponível em: http://epex.eb.mil.br/index.php/logistica-militar-terrestre Acesso em 03/09/2018
16 G1
A logística serve para apoiar as missões de forças terrestres e provavelmente seja o
vetor que mais necessite ser transformado. Já houve época em que a Logística Militar era
referência, contudo, o quadro de escassez de recursos financeiros nas duas últimas décadas
agravaram os problemas logísticos do Exército.
Para atender os princípios logísticos 13 de controle, coordenação, economia,
simplicidade, objetividade e comando, foi crido o Departamento Logístico (D Log), buscando
a concentração das funções logísticas de transporte, suprimento e manutenção de material em
um único Órgão de Direção Setorial organizado sob critério de divisão por funções logísticas.
O novo conceito de organização por funções logísticas, também se estendeu para o
nível de Região Militar, em que as seções e carteiras de serviços técnicos foram substituídas
pelas seções e carteiras de suprimentos e de manutenção.
Segundo a Portaria número 053 - EME, de 18 de junho de 2008, o Comando Logístico
(COLOG) recebeu a missão de ser o órgão central do Sistema Logístico Militar Terrestre14,
concentrando a estratégia do Exército Brasileiro baseada na necessidade de implantar até
2022 um novo e efetivo sistema logístico, sob a égide de uma nova doutrina, sob
responsabilidade e atribuição do COLOG.
Na linha da nova orientação doutrinária e da organização de um novo sistema
logístico, com base em Tecnologia da Informação (TI) e com foco na adoção de logística
militar terrestre com as outras forças singulares e a integração à logística nacional, sendo um
dos objetivos específicos o aperfeiçoamento da Doutrina Logística no Exército Brasileiro.
Diversas entregas do programa de transformação já foram feitas, inclusive a confecção
de manuais doutrinários conforme previsto pelo Plano de Desenvolvimento da Doutrina
Militar Terrestre (PDDMT) 18/19 e as Organizações Militares (OM) do sistema logístico, já
transformadas, modernizadas e/ou criadas.
Neste escopo, a faixa de fronteira Oeste do Paraná cresce de importância, face a sua
característica estratégica e de relevância logística nos diversos modais incorporados frente a
conjuntura nacional e os óbices que implicam em um desenvolvimento não planejado e
distante dos padrões de interoperabilidade entre os órgãos e agências governamentais nas três
esferas do poder: Executivo, Legislativo e Judiciário.
13 O Manual de Campanha Logística Militar Terrestre (2ª Ed 2003) do Exército Brasileiro, prevê que devam ser observados no planejamento e execução das funções logísticas da Força (Recursos Humanos, Saúde, Suprimento, Manutenção, Transporte, Engenharia e Salvamento) os seguintes princípios: Objetividade, Continuidade, Controle, Coordenação, Economia de meios, Flexibilidade, Interdependência, Oportunidade, Prioridade, Segurança, Simplicidade e Unidade de Comando. 14 O Sistema Logístico do Exército está constituído pelos subsistemas logísticos: Estratégico (interação com a logística nacional, atuação no MD em seu mais alto nível), Operacional (desenvolvimento da logística no escalão do TOT – Teatro de Operações Terrestre) e Tático (logística desenvolvida pelas DE (Divisões de Exército), Bda (Brigadas) e escalões inferiores e demais Forças Singulares), que participam ou interagem com diferentes subsistemas, influenciando-os e deles recebendo pressões, com significativos reflexos para as funções logísticas. (C 100-10, p. 3-1, 2003 – Grifo Nosso)
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 17
Programas como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) e
a incorporação de uma nova ideia de mobilidade das tropas com o advento da Viatura
Blindada de Transporte de Pessoal sob o Sistema de Médias Rodas (VBTP-SMR)
denominada “GUARANI”, além da criação de uma Organização Militar Específica de
Logística (o 15º Batalhão Logístico) neste espaço territorial, colocando a cidade de Cascavel-
PR como polo da logística militar, sinalizam o acatamento integral das lideranças civis e
militares a nova ordem imposta pela dinâmica tecnológica e informacional do século XXI,
cabendo a toda a sociedade a participação neste esforço conjunto aos interesses nacionais e
nas tarefas logísticas 15 a desempenhar, obedecidas as fases do trabalho logístico que
consistem na: determinação das necessidades, obtenção e distribuição. Desta feita,
acreditasse que a cadeia logística completa o seu ciclo de modo a apresentar os resultados
almejados no desenvolvimento sistêmico da Força Terrestre.
3. O OESTE PARANAENSE, SUA IMPORTÂNCIA NA LOGÍSTICA MILITAR
TERRESTRE
Hodiernamente, os países e suas organizações buscam incansavelmente modernizar-
se, ora planejando, ora desenvolvendo, ora construindo, ou ainda transferindo tecnologia,
pois, a “nova realidade dos conflitos ensejou a busca de uma nova concepção para as forças
armadas, a fim de adaptá-las à nova sociedade, não mais da Era Industrial, mas da, assim
denominada, Era do Conhecimento”. (Brasil. PROFORÇA, 6)
A discussão a respeito da tríplice fronteira no Oeste permeia o campo da análise de
negócios que acontecem na região e sua importância estratégica em termos políticos e
econômicos. A Tríplice Fronteira é o encontro geográfico de três países no qual está presente
o conceito de território que se vincula à categoria poder, porém não apenas ao poder no
sentido concreto de dominação (poder político), mas também ao poder simbólico, ligado à
apropriação de determinados grupos para com seu espaço de vivência (CAVATORTA et al,
2004).
A região objeto desse estudo é uma fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, cada
país dentro dos limítrofes de seu território que exerce sua administração e soberania, mas que
na prática são integradas e interagem dentro dos costumes fronteiriços, no caso são três
cidades que cambiam entre si turismo, comércio, fluxo de pessoas, moeda entre outros
aspectos. No lado brasileiro, Foz do Iguaçu é um município com 263.915 habitantes (IBGE,
15 Pode-se entender Tarefa Logística, como um trabalho específico e limitado no tempo, que agrupa passos, atos ou movimentos interligados segundo uma determinada sequência e visando a obtenção de um resultado definido.
18 G1
2014), Ciudad del Este (Paraguay) conta com 387.538 habitantes, em 2010 e Puerto Iguazú
(Argentina) é uma cidade de 105.368 habitantes em 2013. Segundo VIEIRA (2018)16:
No contexto da expansão do comércio internacional de bens e serviços
e ampliação do trânsito de capitais, as regiões de fronteiras passam a ser
acionadas tanto para realização de atos legalmente previstos,
potencializando tudo que diz respeito a logística e aos arranjos de
transportes e transferências, quanto para a subversão da licitude do
comércio e das transações financeiras.
Com o fluxo de caminhões vindo do Paraguai e da Argentina devido às importações
de soja, milho e trigo, também vem os crimes transnacionais como contrabando e
descaminho. Além da atuação ostensiva das facções ligadas ao tráfico de drogas (ilícitas e
lícitas), sendo comuns apreensões de cargas realizadas pela Polícia Rodoviária Federal e
Polícia Federal, de cigarros, pneus e eletrônicos, drogas, dentre outros. Invariavelmente, os
ilícitos sempre estão escondidos em meio à carga de grãos, ou ainda, em veículos roubados.
Da mesma maneira existe também o tráfico de produtos químicos utilizados no agronegócio,
por exemplo, os fertilizantes, que são permitidos pela lei paraguaia, mas que no Brasil são
proibidos. Além disso, há também a questão econômica no qual produtos oriundos do
Paraguai têm um custo atrativo despertando interesse de produtores brasileiros
principalmente aqueles que cultivam em regiões próximas a fronteira.
Toda esta dinâmica compõem um complexo sistema que demanda das forças de
segurança uma diversificada forma de combate e repressão das forças adversas no que se
refere ao prevalecimento dos interesses políticos, econômicos e sociais do Estado Brasileiro.
3.1 CASCAVEL-PR, O MUNICÍPIO DA LOGÍSTICA TÁTICA
Ao completar seus 67 (sessenta e sete) anos no dia 14 de novembro de 2018, a
sociedade cascavelense tem um motivo especial de comemoração, pois, seu município foi
classificado como 23º melhor do Brasil “para se fazer negócios” (entre os municípios com
mais de 100 mil habitantes), deixando para trás pelo menos sete capitais brasileiras em estudo
recente produzido pela Urban Systems para a Revista Exame 17 , que analisou fatores
16 VIEIRA, G. O. Notas sobre direito da integração transfronteiriça: dilemas e desafios. In: LUDWIG, F. J. e BARROS, L. S. (Orgs.) (Re) Definições das Fronteiras: Velhos e Novos Paradigmas. Foz do Iguaçu: Editora Idesf, 2018 17 De acordo com a publicação, “o objetivo do Índice Mercadológico é servir como parâmetro para a qualificação de um determinado mercado, sintetizando variedade de informações populacionais, comerciais, urbanísticas, econômicas e infraestruturais. O cálculo permite que se parta de valores específicos de cada informação que variam em natureza, complexidade e unidades de medida, para se chegar a valores ponderados que podem ser analisados em uma mesma equação”. Os 310 municípios analisados representam 70,4% do PIB Brasileiro; 62,1% das empresas; 72,6% dos empregos formais e 56,5% da população brasileira. Disponível em:
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 19
sociodemográficos, econômicos, de saúde, educação, infraestrutura, financeiro e o transporte
de 310 municípios para definir o ranking, cabendo ao Paraná a liderança na região Sul do país
com nove municípios, seguido por Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com oito.
Conforme destacado pelo presidente da Associação dos Municípios do Oeste do
Paraná (AMOP), o prefeito de Maripá-PR, Anderson Bento Maria18: “o resultado é positivo
para a região, pois três das cinquenta e quatro cidades do Oeste do Paraná são destaques no
Brasil. Cada uma com as suas vocações, suas potencialidades e suas diversidades. Para a
Associação, é positivo ter esse reconhecimento nacional”. Ele ainda avalia que: “Toledo,
Cascavel e Foz do Iguaçu são três cidades bem estruturadas e esse resultado atrairá cada vez
mais novos investidores para a região”.
Em comparação com grandes centros, o município de Cascavel oferece atrativos como:
mobilidade no trânsito, acesso logístico e poder de compra acessível. É mencionado
frequentemente pelos institutos de pesquisas dentre os municípios brasileiros de maiores e
melhores qualidades de vida no Brasil. Possui índices destacados também no que se refere a
áreas como a Segurança Pública, Sustentabilidade e de Limpeza Urbana.
Figura como o Segundo polo de saúde do Estado19, Cascavel conta com serviços
médicos e de diagnóstico de referência para o Brasil.
Agro-inovadora, cresceu com boas safras e com o aumento da produção, a partir do
melhor aproveitamento da matéria-prima. Nesse contexto e considerando que os elos das
cadeias produtivas no processo de modernização da agricultura acabam perpassando as
fronteiras nacionais, figuram implicações sobre todos os agentes econômicos. O Brasil é o
segundo maior produtor de soja do mundo, segundo dados conjunturais da Companhia
Nacional de Abastecimento (Ministério da Agricultura e Abastecimento, 2017); o Brasil
colheu 111 milhões de toneladas de soja. O Paraguai colheu 11 milhões de toneladas de soja.
A Argentina é a terceira produtora de soja de mundo sendo que, em 2017, colheram 57
milhões de toneladas de soja. Brasil e Argentina juntos respondem por 84,5% das exportações
do grão para o mundo.
Cascavel é um polo cultural e educacional desde o ensino fundamental até a formação
de doutores, conta com pelo menos 35 mil estudantes nas universidades; paralelamente, é
referência na formação de mão de obra especializada e técnica, com a participação efetiva do
Município, capacitando a população nos territórios adjacentes com cursos profissionalizantes
e Universidades no Sistema Educação à Distância (EAD).
O Exército Brasileiro, atento aos planejamentos estratégicos realizados e atuantes com
a doutrina da presença nacional, já enxergava desde o século passado as potencialidades
https://cascavel.portaldacidade.com/noticias/cidade/cascavel-completa-67-anos-em-23o-lugar-no-brasil-e-3o-no-parana-para-negocios. Acesso em: 04 nov. 2018.
18 Disponível em https://www.jornaldooeste.com.br/noticia/toledo-cascavel-e-foz-do-iguacu-estao-
-entre-as-100-melhores-cidades-do-brasil Acesso em 31/10/18 19 Fonte: Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, ano 2017.
20 G1
regionais e a proeminência de Cascavel em sua área de atuação local, combinada com a
importância nacional de preservação de suas riquezas ambientais como o Parque Nacional do
Iguaçu20 (hoje tão importante ao setor turístico), ou ainda de suas matrizes energéticas, como
no caso da Usina Hidrelétrica de Itaipu21, procurou fixar desde a década de 70 o Comando de
sua Brigada de Infantaria Motorizada em terras cascavelenses.
3.2 O EXÉRCITO BRASILEIRO EM CASCAVEL, NASCE O BATALHÃO
LOGÍSTICO PIONEIRO
A Colônia Militar de Foz do Iguaçu data de 1889 e as terras de Cascavel só se eman-
cipam do território iguaçuense muito tempo depois, somente em 14 de dezembro de 195222,
conjuntamente a cidade vizinha de Toledo. Ao longo deste passado, ervateiros, tropeiros e
militares transitavam e ajudavam a povoar a região das “encruzilhadas e entroncamentos” nas
diversas trilhas que se criavam, dependendo da matriz econômica da época (erva-mate,
madeira, agropecuária), cabendo aos diversos colonos (indígenas, caboclos, europeus,
brasileiros) a fixação e posse desta terra que já se mostrara importante, fato este comprovado
definitivamente em 20 de outubro de 1938, ocasião em que a localidade, já denominada
Cascavel (desde 1936) foi alçada à condição de sede de distrito administrativo, nos termos
da Lei n.° 7.573/38.
Cinquenta anos antes, nos idos de 1888, o antigo Ministério da Guerra, decidiu pela
criação da Comissão Estratégica do Paraná, que chefiada pelo Capitão Belarmino de
Mendonça,instala-se em Guarapuava e designa o então Tenente José Joaquim Firmino como
Comandante da expedição à Foz do Iguaçu. A difícil missão do jovem Tenente de Engenharia
se dá em julho de 1889, e noticiada à Comissão Estratégica de Guarapuava, foram coletadas
as informações sigilosas da presença de 324 pessoas, em sua maioria paraguaias e argentinas,
ademais a existência de espanhóis e ingleses, ligados ao cultivo de erva-mate e da exploração
madeireira pelas águas do rio Paraná.
20 Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939, pelo Decreto N° 1.035, juntamente com o Parque Nacional Iguazú, na Argentina, o parque brasileiro integra o mais importante contínuo biológico do Centro-sul da América do Sul, com aproximadamente 1 milhão de hectares de áreas naturais, sendo mais de 600 mil hectares de áreas protegidas e outros 400 mil em florestas ainda primitivas. Responsabilidade ímpar para ações conjuntas entre Brasil e Argentina nos esforços de proteção e conservação deste tão importante Patrimônio Mundial Natural.
21 A Itaipu Binacional foi construída na década de 70, com inicio das atividades em 1984, é considerada a maior usina do mundo em geração de energia, tem a especificidade incomum de ser administrada por dois países, Brasil e Paraguai, assim a denominação Binacional. Tem grande importância estratégica para os dois países em questão de geração de energia, além de vários programas socioambientais, a Itaipu alavanca o turismo na Tríplice Fronteira gerando divisas para a região. 22 Em 20 de dezembro de 2010 foi sancionada a Lei nº 5689/2010 que define a data de 14 de novembro de cada ano, como data oficial do aniversário da Cidade de Cascavel, comemorando a data de sua criação e não de sua emancipação. Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel. Disponível em: http://www. cascavel.pr.gov.br/historia.php. Acesso em: 02 nov. 2018.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 21
Em setembro de 1889, nova expedição sai de Guarapuava com destino a Foz do
Iguaçu, agora com a missão de fundar definitivamente a Colônia Militar de Vila Iguassu e
analisar a viabilidade de construção de uma estrada que ligasse Foz à Guarapuava. Coube ao
Tenente Antônio Batista da Costa Júnior e ao Sargento José Maria de Brito a condução das
operações. Após 69 dias de árdua caravana (34 soldados, 12 operários civis, 4 tropeiros guias
e 3 mulheres esposas), o Tenente Batista edita e assina a Ordem do Dia Nº 01, de 22 de
novembro de 1889, dando ciência aos vizinhos paraguaios e argentinos que existia uma
autoridade constituída para “todos efeitos legais” e que detinha competência para distribuir
terras aos que tivessem interesse. Indubitavelmente, aquele ato marcaria a presença do
Exército definitivamente na área de fronteira, garantindo assim, a ocupação pelo Brasil
daquela região23.
Em 1912, o ministro de Guerra emancipa a Vila Iguassu, tornando-a povoamento civil,
entregue ao Governo do Estado do Paraná. O Município de Vila Iguassu é criado em 14 de
março de 1914 e instalado dia 10 de junho. Em 15 de junho, tomam posse o primeiro prefeito,
Jorge Schimmelpfeng, e a primeira Câmara de Vereadores. Inicia-se uma luta para melhorar
os acessos por terra à cidade, só alcançada por meio de trilhas e picadas24, a logística carecia
de infraestrutura, pois era mais fácil escoar a produção e receber insumos de Posadas e
Corrientes na Argentina do que contar com Curitiba e Guarapuava.
Assim nos idos dos anos 70, mais uma vez o Comando do Exército atuou na região,
criando em 14 de novembro de 1972, um grande Comando de Fronteira (2º GRPT FRON)
inicialmente determinado a funcionar em Guarapuava, entretanto, instalou-se oficialmente na
jovem cidade de Cascavel, no dia 11 de agosto de 1973. Em 1980, com a reestruturação do
Exército Brasileiro, o 2º grupamento de Fronteira tornou-se a 15ª Brigada de Infantaria
Motorizada25 com a tarefa de defender e guardar toda a área fronteiriça do Estado do Paraná,
cabendo o estudo doutrinário da criação de uma logística aplicada a tal missão.
23 Em 6 de outubro de 1898, a República do Brasil e a República da Argentina assinam acordo definindo as fronteiras entre os dois países. Inicia-se o século XX e, em 20 de julho de 1903 é inaugurado o Marco das Três Fronteiras — o que também ocorre nos lados argentino e paraguaio. A população chega a, aproximadamente, 2.000 pessoas, em situação bem confortável: o número de brasileiros supera em muito o de estrangeiros. 24 Disponível em: http://www.zuccaratto.jor.br/blogs/historia-do-municipio-de-foz-do-iguacu-comeca-como-colonia-militar-em-1889/. Acesso em: 03 nov. 2018
25 A partir de 2010, a denominação da 15ª Brigada de Infantaria Motorizada foi substituída pela denominação MECANIZADA (Mec). A 15ª Bda Inf Mec possui atualmente (2018) as seguintes Organizações Militares Diretamente Subordinadas sob o Comando de 01 (um) Of Gen Bda: Comando e Companhia de Comando da 15ª Bda Inf Mec; 33º Batalhão de Infantaria Mecanizado; 15º Batalhão Logístico e 15ª Companhia de Comunicações Mecanizada (sediadas em Cascavel-PR); 34º Batalhão de Infantaria Mecanizado (Foz do Iguaçu-PR); 30º Batalhão de Infantaria Mecanizado (Apucarana-PR); 26º Grupo de Artilharia de Campanha (Guarapuava-PR), 15ª Companhia de Infantaria (Guaíra-PR); 16º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (Francisco Beltrão-PR), 15ª Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada (Palmas-PR). Além de apoiar, logisticamente, o 14º Regimento de Cavalaria Mecanizado (sediado em São Miguel do Oeste-SC), tendo em vista a economicidade e a distância
22 G1
Desta feita, e alicerceado ao Projeto Força Terrestre 90, que visava à modernização
do Exército Brasileiro, foi criado, por meio do Decreto Nº 92.171, de 18 de dezembro de
1985, o 15º Batalhão Logístico localizado na cidade de Cascavel-PR. Unidade básica de
apoio logístico26 da 15ª Bda Inf Mtz (atualmente Mecanizada), atuando na área que se
estende pelo Oeste dos estados do Paraná e Santa Catarina.
As atividades do 15º Batalhão Logístico iniciaram-se em 28 de janeiro de 1988, com
a publicação do Aditamento nº 001 – Ao Boletim Interno da então 15ª Brigada de Infantaria
Motorizada, tendo suas instalações inauguradas em 11 de novembro de 1988, pelo então
Ministro do Exército, excelentíssimo senhor Gen. Ex. Leônidas Pires Gonçalves.
Cabe ao décimo quinto B Log, na paz ou na guerra, proporcionar todo o apoio logístico
tático a todos os elementos subordinados e orgânicos da sua Brigada (15ª Bda Inf Mec) em
todas as suas classes de suprimento 27 (obedecendo alguns critérios preestabelecidos em
Manual), formar a sua reserva mobilizável, sendo vocacionado a planejar e executar toda a
metodologia do apoio logístico, constituindo-se em um “laboratório de experimentação” da
atual doutrina da Logística Militar Terrestre.
O décimo quinto B Log se constitui de um Comando (normalmente chefiado por um Tenente-
coronel ou Coronel, sempre possuir do Curso de Estado-Maior – QEMA), um Estado-Maior
(chefiado pelo Sub Comandante da Organização Militar, OM) que se enquadram as Seções
Administrativas (Pessoal, Informações/Inteligência, Operações, Patrimônio), uma
Fiscalização Administrativa e recentemente (2015) de um Adjunto de Comando (Subtenente
ou Primeiro Sargento, selecionado pelo Gab Cmt Ex, para assessorar o Comando da Unidade
nos assuntos relativos aos graduados), outra especificidade de um Batalhão Logístico é o
Centro de Operações de Apoio Logístico, que controla e coordena todas as fases logísticas
para as Unidades da Brigada.
Além deste Staff, o Comando do Batalhão possui as suas Subunidades, alinhadas com
os objetivos determinados para o bom cumprimento de sua missão ao Exército. São elas: I) a
Companhia de Comando e Apoio (CCAp), tem como missão principal fornecer o pessoal
necessário, e montar a estrutura necessária para o funcionamento do Estado-Maior do
Batalhão nas atividades administrativas e de logística interna; II), a Companhia Logística de
geográfica no modal rodoviária, independente da subordinação desta a OM a 14ª Bda Inf Mtz, sediada em Florianópolis-SC.
26 De acordo com o manual C29-15 – Batalhão Logístico (1984), em suas generalidades previam: 100% de mobilidade, a quantidade de 01 B Log por Brigada/DE e suas possibilidades e limitações, além de sua composição regulamentar.
27 Sistema de Classificação Militar dos Suprimentos – É o que classifica os itens de suprimento nas 10 (dez) classes que se seguem: a) Cl I – Material de Subsistência; b) Cl II – Material de Intendência; c) Cl III – Combustíveis e lubrificantes; d) Cl IV – Material de Construção; e) Cl V – Armamento e Munição; f) Cl VI – Material de Engenharia e Cartografia; g) Cl VII – Material de Comunicações, Eletrônica e de Informática; h) Cl VIII – Material de Saúde; i) Cl IX – Material de Motomecanização e Aviação; e j) Cl
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 23
Suprimento (Cia Log Sup), sua tarefa é fornecer elementos para prestar apoio logístico
quando do emprego de processos especiais e de Destacamento Logístico, além de exercer o
controle de todo suprimento destinado à Brigada e armazenar o suprimento de todas as classes
de material, exceto aviação, utilizando os meios de transporte disponíveis; III) Companhia
Logística de Saúde (Cia Log Sau), sua missão é prestar atendimento médico cirúrgico de
urgência, tratamento odontológico e exames laboratoriais em caráter de emergência, instalar
e operar o Posto de Triagem, evacuar baixas das instalações de saúde das Unidades Apoiadas
por meio do Circuito de Ambulâncias, e instalar e operar um Posto de Distribuição de
Material de Saúde; e IV) Companhia Logística de Manutenção (Cia Log Mnt), que cumpre
realizar o apoio logístico de manutenção dos materiais de emprego militares tais como
viaturas blindadas e não-blindadas, armamentos leves e pesados, instrumentos de direção e
controle de tiro e prestar informações técnicas sobre manutenção às unidades apoiadas de
toda a 15ª Bda Inf Mec.
4. DESAFIOS DE UMA LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE INTEGRADA
É sabido que para que ocorra a manutenção da condição de “país pacífico” se
vislumbre a necessária execução de projetos que demandam alocação de proeminentes
recursos financeiros para as Forças Armadas (FA), no que concerne a realização de pesquisa
científica e tecnológica voltada para o desenvolvimento de produtos de defesa.
Neste aspecto, cabe ao Exército Brasileiro, integrando as Forças Armadas, na
qualidade de garantidor da soberania e da autonomia decisória da sociedade brasileira, reunir
X – Material não incluído nas outras classes. Fonte: Normas Administrativas Relativas ao Suprimento
(NARSUP), de 27 jun. 2002.
todos os esforços no permanente aprimoramento de seus equipamentos, na gestão de pessoal,
especializando e capacitando o material humano para as mais diversas atividades.
Incertezas, repentinas mudanças, aliado à escassez de recursos, são fatores, que por
óbvio, inibem projetos mais ousados, objetivando a implementação e o emprego de máquinas
e equipamentos modernos. Não se pode olvidar que a atual situação econômica do País impõe
a todos, e em especial aos entes Públicos um quadro de séria restrição orçamentária,
obrigando-os no mais das vezes, otimizar os recursos recebidos, principalmente ao se pensar
logística.
O 15º Batalhão Logístico, responsável por toda a logística a cargo de sua Brigada
enquadrante, está envolvido diretamente em vários projetos e programas de modernização da
24 G1
Força Terrestre28. Neste estudo, nos deteremos aos de maior relevância estratégica e de
inovação: O SISFRON e o Projeto/Programa GUARANI.
4.1 SISTEMA INTEGRADO DE MONITORAMENTO DE FRONTEIRA
O Projeto Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira (SISFRON), é um projeto
que lançado em 2012, tem como escopo proteger os cerca de 17 mil km de fronteira terrestre
do país. O programa prevê a instalação de uma estrutura ímpar militar e civil, integradas,
estabelecendo um modelo inédito de proteção de fronteiras. A sustentação do projeto se
baseia na tripartição Defesa, Segurança e Desenvolvimento socioeconômico do país.
O objetivo do SISFRON é a proteção da fronteira terrestre brasileira, uma superfície
de 2.5 milhões de km de extensão somados à largura de 150 km. Uma das novidades do
sistema, é que além da defesa e da segurança, o programa contempla uma vasta rede que
integra universidades, institutos de ensino, escolas, agências governamentais e empresariais
promovendo o desenvolvimento socioeconômico das regiões de fronteira. A missão das
Forças Armadas é a preparação para a defesa do Brasil, mas as diferenças sociais e
econômicas fazem com que o projeto visualize uma ação irmanada com as entidades,
universidades, institutos e agências governamentais para que se cumpra o projeto em pauta.
O Projeto piloto SISFRON possui tecnologia de ponta, com sistemas de vigilância
com equipamentos modernos de radares, softwares, sensores, comandos de controle fixos e
móveis, armamentos, binóculos de visão termal, e uma estrutura integrada de comunicação
estratégica. A estrutura permite que as informações captadas pelos postos de vigilância
cheguem em tempo real nos centros de operações, sejam interpretadas e usadas como suporte
para a tomada de decisões, O sistema ainda possibilita até mesmo videoconferência entre
postos e o centro de controle.
O consórcio formado pela empresa Savis (93%) e Bradar (7%) é o responsável pela
implantação física, logística do programa, além da engenharia de sistemas e da gestão do
projeto. Esse consórcio garantiu o maior índice de conteúdo nacional (75%). Os radares dos
softwares, por exemplo, são desenvolvidos 100% no Brasil.
O funcionamento do projeto integra as agências governamentais com o intuito maior
de potencializar ações e dinamizar a tomada de decisões, participando estrategicamente a
Polícia Rodoviária Federal, Agência de Vigilância Sanitária, Receita Federal, Ministérios da
Saúde e da Justiça também fazem parte da estrutura. Além do objetivo maior o projeto
contempla uma abordagem de caráter social e econômico da região em questão.
28 Entende-se por SUBPROGRAMAS/PROJETOS, aqueles que fazem parte da transformação a ser conduzido, dentre outros, pelo vetor Logístico terrestre. Exemplo: A) Projeto de Transporte do Exército Brasileiro/Adequação das instalações: destina-se à realização de obras, aquisições e contratações de mão de obra e de serviços necessários para adequação de instalações. B) Projeto Sistema Integrado (SIGELOG): destina-se a implantação de um sistema para tratamento das informações via banco de dados integrados.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 25
4.2 O GUARANI29 E A MUDANÇA NO OESTE DO PARANÁ
Como parte da Estratégia Nacional de Defesa 30 (END), foi criado o Programa
Estratégico Guarani, cujo objetivo principal é o de implantar a “Nova Família de Blindados
de Rodas” (NFBR) do Exército Brasileiro (BRASIL, 2017, p. 5), desenvolvendo, adquirindo,
ou modernizando as plataformas existentes, adequando e/ou modificando os espaços físicos
das Organizações Militares de Infantaria Motorizada em Mecanizada e transformando as
Organizações Militares de Cavalaria Mecanizadas que receberão os novos blindados 31 .
(Brasil, 2017, p. 5)
A Infantaria e a Cavalaria são as armas base do Exército Brasileiro. As Organizações
Militares Motorizadas são dotadas de viaturas sobre rodas, sem blindagem, tipo caminhão,
destinadas ao transporte de pessoal e material. As Organizações Militares Mecanizadas são
dotadas de viaturas blindadas sobre rodas, com maior poder de combate, em apoio à tropa. O
Programa Guarani está sendo desenvolvido pelo Exército Brasileiro conjuntamente a empresa
Iveco Latin America, sendo previsto ao longo de 20 anos, a aquisição, de 2.044 Viaturas
Blindadas de Transporte de Pessoal Média de Rodas (VBTP-MR Guarani). (Brasil, 2012c, p.
198).
Não se pode olvidar que o Programa Guarani gera 2.890 empregos, contando ainda
com a participação de outras 50 empresas, entre elas: ARES, CBC, EMGEPRON (Empresa
Gerencial de Projetos Navais), Cemaço, Harris, Usiminas, Altec Materiais Compostos,
Hutchinson, Geocontrol, Euroar Ar Condicionado, AEL Sistemas e OMNI (Naves, 2015).
29 Depreende-se, segundo Aurélio Buarque de Andrade de Holanda Ferreira (1999) a seguinte definição do vocábulo: Guarani: [De origem indígena incerta.] Bras. S. 2 g. 1. Etnôn. Indivíduo dos guaranis, povo indígena formado por diversos subgrupos [*Kaiowa, *M’bya, *Nhandeva, *Pai-Tavyterã, *Xixipá e *Chiriguano (etôn. bras.)] da família linguística tupi-guarani, tronco tupi, que habita o Brasil (MS, SP, RJ, PR, ES, SC e RS), no qual representa um dos maiores grupos, além do Paraguai, Bolívia e Argentina. 2. Gloss. Língua da família tupi-guarani que era falada no domínio espanhol da América do Sul, atestada já no século XVI. 3. Gloss. Denominação para diversas variantes de línguas indígenas da família tupi-guarani, tronco tupi, da qual a mais conhecida é língua oficial no Paraguai ao lado do espanhol. 4. Vocábulo guarani (6). Adj. 2 g. 5. Pertencente ou relativo aos guaranis. 6. Pertencente ou relativo a guarani (2 e 3). [Tb. us. como s. 2 g. e 2 n. (com cap.) e adj. 2 g. e 2 n.] [Cf. apapocuva.]
30 Algumas diretrizes que fundamentam a Estratégia Nacional de Defesa (END), são perfeitamente abarcadas pelo Programa Guarani, a saber: a) o programa contribui com a dissuasão, (previsão da Dtz 1); b) com a mobilidade estratégica, (prevista na Dtz 4); c) com o aprofundamento do vínculo entre os aspectos tecnológicos e os operacionais da mobilidade, (observância da Dtz 5); d) com o desenvolvimento de operações conjuntas, (previsão da Dtz 7); e) com capacitação da BID, (prevista na Dtz 22); f) além de, finalmente, auxiliar com a estruturação do potencial estratégico em torno de capacidades, prevista na Dtz 16. O Exército Brasileiro, possui um sítio na rede mundial de computadores, (internet) http://www.eb.mil.br/, que pode ser facilmente acessado por qualquer pessoa que possua interesse na área vários projetos em desenvolvimento.
31 O Programa Guarani tem por objetivo desenvolver uma nova família de Viaturas Blindadas de Rodas, a fim de dotar a Força Terrestre de meios para incrementar a dissuasão extrarregional, a defesa dos interesses nacionais. Compõem o Programa, os Projetos Pesquisa e Desenvolvimento e Material, assim como as Ações Complementares Infraestrutura e Preparo.
26 G1
No que se refere ao sistema estrutural, o programa complementarmente, realiza a
construção de infraestrutura mínima para que as Organizações Militares possam receber esses
meios, especialmente pavilhões de manutenção e garagens de elevados padrões.
Segundo estudo 32 realizado na Academia Militar das Agulhas Negras - AMAN
algumas das características que são inerentes ao blindado Guarani são as seguintes:
É dotado com tecnologia de ponta, com viaturas que apresentam
robustez, simplicidade no emprego e custo reduzido de manutenção;
tem como principais características: plataforma – chassi- versão 6x6,
que permite uma migração, com facilidade, para a versão 8x8;
transmissão automática, ar-condicionado, capacidade anfíbia e noturna,
velocidade elevada em estrada e em terreno variado (Máx:100km/h),
aerotransportável, proteção blindada STANAG 2 (munição perfurante,
incendiaria, minas anticarro e explosivos improvisados), baixa
assinatura térmica, capacidade de navegação GPS ou inercial,
capacidade de deslocamentos a grandes distâncias (600 km de
autonomia) e baixa dependência de apoio logístico e facilidade de
manutenção.
Apresenta um sistema de comando e controle que possibilita a
aplicação do conceito de “consciência situacional”, que pode ser
definida como “a percepção dos elementos do ambiente, a compreensão
do seu significado e a projeção de seu estado no futuro próximo”
(Endsley, Bolté; Jones, 2005) e um sistema de armas que de acordo com
o tipo de viatura poderá conter um canhão 30mm, metralhadoras .50 ou
7.62mm, lançadores de granadas e um sistema de armas remotamente
controlado
(REMAX) desenvolvida e produzida no Brasil, dando assim uma maior
segurança a guarnição, principalmente em ambientes urbanos que são
enfrentados hoje com operações de garantia da lei e da ordem no
território nacional e de pacificação em território internacional. Tal
tecnologia, estação REMAX, é o único sistema de armas de sua
modalidade que é desenvolvido no hemisfério sul. (Endsley, Bolté;
Jones, 2005, p. 8)
Outra possibilidade marcante do novo projeto segundo os autores do estudo “é a
capacidade de emprego dual que ele possui, podendo ser utilizado tanto pelas forças armadas
32 Estudo desenvolvido pelos Cadetes de Infantaria do 4º ano da AMAN: Francisco Bento Ferreira Neto, Fábio Bonfim de Lima, Rodrigo Coutinho Rosa, Rafael Paiva de Oliveira e Gabriel Felipe Engelke, todos sob orientação de Guilherme Pereira Calixto, 1º Tenente de Infantaria, Instrutor do Curso Básico da AMAN.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 27
quanto por órgãos de segurança pública” (Endsley, Bolté; Jones, 2005, p. 8). Tal fato permite
a realização de operações conjuntas e interagências em melhores condições, o que é de
fundamental importância na atual conjuntura de emprego do Exército Brasileiro em
operações de garantia da lei e da ordem.
Um ponto forte do “carro” é que o Guarani pode ser transportado por trem, navio ou
no compartimento de carga da nova aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB), o KC-390,
ou na aeronave C-130 Hércules. Esta aludida facilidade de transporte, possibilita, inclusive a
realização de operações conjuntas, aprofundando o vínculo entre os aspectos tecnológicos e
os operacionais da mobilidade e contribuindo para a mobilidade estratégica.
Exemplo do discorrido, vislumbrou-se quando da realização da Operação Atlântico V,
realizada no período de 08 a 20 de agosto de 2018, com objetivos de realizar o adestramento
e levantar dados de planejamento relativos ao transporte da 15ª Brigada de Infantaria
Mecanizada por diversos modais.
Desse modo, em 08 de agosto de 2018, ocorreu, a cargo do 15º Batalhão Logístico o
embarque e transporte de 31 (trinta e uma) viaturas blindadas ‘Guarani’, no Terminal de
Carga da Ferroeste, em Cascavel-PR e seguiram com destino à Paranaguá, passando por
Guarapuava, Ponta Grossa e Curitiba. Após o desembarque, no dia 13 de agosto de 2018, as
viaturas seguiram por modal rodoviário para o porto de São Francisco do Sul-SC, onde, nos
dias 16 e 17 de agosto, embarcaram em navio mercante.
Tal “exercício” mostra a destreza dos “logísticos” do décimo quinto B Log que em
trabalho conjunto com o Comando da 15ª Bda Inf Mec, Brigada pioneira e que se denomina
“BRIGADA GUARANI”, demonstraram possuir um elã característico com a importância
confiada que a sociedade brasileira tanto anseia.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na linha da nova orientação doutrinária e da organização de um novo sistema
logístico, com base em Tecnologia da Informação (TI) e com foco na adoção de logística
militar terrestre, faz-se mister destacar um novo tempo na interação entre Exército e
Sociedade, além de um esforço somado com as outras forças singulares, ou seja, uma real
integração à logística nacional, sendo um dos objetivos específicos o aperfeiçoamento da
doutrina logística no Exército Brasileiro, em que pese a participação cada vez maior do
empresariado nos mais diversos setores produtivos e de serviços.
Estão sendo desenvolvidos vários projetos estratégicos pelo Exército Brasileiro,
intrinsecamente ligados à Estratégia Nacional de Defesa, tais como: o Projeto Estratégico
Sistema Integrado de Proteção das Estruturas Estratégicas Terrestres (PROTEGER), o
Projeto Estratégico Defesa Cibernética, o Projeto Estratégico Defesa Antiaérea, o Projeto
Estratégico Obtenção da Capacidade Operacional Plena (OCOP), além dos já citados
“Guarani” e SISFRON, todos com a máxima observância das premissas do Ministério da
Defesa e que recaem aqui no Oeste Paranaense aos militares do 15º B Log em seu viés
logístico.
28 G1
Finalmente, os resultados até aqui apresentados, demonstram o elevado preparo
técnico de todos aqueles envolvidos nos programas, legitimando a aplicabilidade dos recursos
humanos e financeiros, que denotam o estrito cumprimento dos princípios administrativos da
Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Economicidade, principalmente no
que se refere as fases de obtenção e emprego dos itens de suprimento e/ou dos serviços
prestados.
Os conceitos logísticos bem como a sua dinâmica, extrapolam atualmente paradigmas
difundidos e permeados de “mofo” histórico, por exemplo: ao aceite de se distinguir
sociedade militar e sociedade civil, conceito caduco, já em desuso e substituído por sociedade
brasileira. Entretanto, as ações devem acompanhar as ideias, principalmente no viés da
logística nacional, em que as boas práticas executadas em nossas empresas (softwares
desenvolvidos, maquinário específico) poderiam e deveriam ser potencializados por nossas
Forças, em especial em Cascavel, município com reconhecidas empresas de know how em
âmbito internacional.
Alguns avanços já estão ocorrendo, tanto pelos militares, quanto pelas associações
comerciais e industriais, ou ainda pelas cooperativas agrícolas, mas a escrita deste artigo visa
mitigar um pouco da falta de informação (ainda persistente) acerca desta logística militar
terrestre em nossa região.
Desta forma, sugerem-se novas abordagens sobre a logística militar terrestre e também
sobre a atuação mais informativa do 15º Batalhão Logístico na vida cascavelense e da região.
Alguns grilhões do passado têm que ser quebrados definitivamente, o trabalho dos militares
de forma diuturna e a sua dedicação nas missões logísticas clarificaram para o nosso grupo o
potencial que o nosso país tem, se todos juntos convergirem no mesmo rumo e lançando mão
de nossas potencialidades, dentro ou fora dos quartéis.
REFERÊNCIAS
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Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso
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Defesa, e dá outras providências. Brasília, 2008a. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6703.htm>. Acesso
em: 9 out. 2018.
Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005. Aprova a Política de Defesa Nacional, e dá
outras providências. Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2004-2006/2005/Decreto/D5484.htm>. Acesso em: 9 out. 2018.
Decreto Legislativo nº 373, de 25 de setembro de 2013. Aprova a Política Nacional
de Defesa, a Estratégia Nacional de Defesa, e o Livro Branco de Defesa Nacional,
encaminhado ao Congresso Nacional Pela Mensagem n° 83, de 2012 (Mensagem n° 323, de
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 29
17 de julho de 2012, na origem). Brasília, 2013. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/2013/decretolegislativo-373-25-setembro-
2013-777085-publicacaooriginal-141221-pl. html>. Acesso em 9 out. 2018
Lei Complementar nº 136, de 25 de agosto de 2010. Altera a Lei Complementar nº
97, de 9 de junho de 1999, que “dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo
e o emprego das Forças Armadas”, para criar o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas
e disciplinar as atribuições do Ministro de Estado da Defesa. Brasília, 2010a. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp136.htm> Acesso em: 9 out. 2018.
Lei Complementar nº 97, de 09 de junho de 1999. “Dispõe sobre as normas gerais
para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas”. Brasília, 1999. Disponível
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Exército. Projetos Estratégicos: Indutores da Transformação do Exército Brasileiro.
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30 G1
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, 1910-1989. Novo Aurélio Século XXI: o
dicionário da língua portuguesa / Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. – 3.ed. totalmente
revista e ampliada. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira.1999
Portfólio Estratégico do Exército, Disponível em <http://www.epex.eb.mil.br> Aces-
so em 01 out. 2018
Processo de Transformação do Exército, 3º Edição, Capítulo III
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 31
32 G2
RECUPERAÇÃO DE NASCENTES – UMA
ANÁLISE DO SEU IMPACTO COMO
FERRAMENTA PARA PRESERVAÇÃO DOS
RECURSOS HÍDRICOS
G2
ADELINO HENKES
CLOVIS RENATO PETROCELI DIAS
FELIPE GRESSANA MARTIGNAGO
HERIVELTO SOARES PINTO
SIMONE LÚCIA LORENS
PROFESSOR ORIENTADOR: GIOVANI MIGUEL WOLF HNATUW
RESUMO: O presente trabalho centra-se na questão relativa à recuperação de recursos
hídricos, de maneira mais enfática de nascentes, trazendo além de técnicas
para tal operação, conceitos e diretrizes de matiz ambiental, focando-se
no desdobramento dos primados do artigo 225 da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, que, indubitavelmente, é o
preceito fundamental da proteção ambiental. Para melhor elucidação do
tema foram acompanhadas atividades práticas de recuperação de
nascentes desenvolvidas no Município de Corbélia/PR, mais
notadamente, no chamado Projeto Água Limpa, merendo destaque as
técnicas de recuperação ambiental, a parceria entre Poder Público e
comunidade, o entrosamento dos agricultores, cujos resultados implicam
em melhoria na qualidade de vida da comunidade.
PALAVRAS-CHAVE: Recursos Hídricos; Recuperação; Preservação; Nascentes.
1. INTRODUÇÃO
Água é fonte e vida. Sem água não há vida e, por mais paradoxal que possa ser,
realmente, como diz o provérbio popular, “só percebemos o valor da água depois que a fonte
seca”.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 33
Para evitar que as caixas d´água, as torneiras e as fontes sequem, é primordial que o ser
humano se atente, entre outras medidas de prevenção, a técnicas simples de proteção dos
recursos hídricos, que são finitos. Nessa seara, destaca-se a chamada recuperação de
nascentes d´água em áreas destinadas à agricultura e à agropecuária.
Tendo por base a inquestionável importância da água para a vida de animais, vegetais
e, sobretudo, do ser humano, esse trabalho tem por objetivo principal trazer reflexões sobre
a necessidade da preservação dos recursos hídricos, de maneira mais particular, na
recuperação de nascentes em áreas agrícolas, como garantia de abastecimento para essa e
para as futuras gerações.
Para tanto, prefacialmente, será feito um apanhado acerca do crescente fértil,
localizado na área das bacias dos rios Tigre, Eufrates e Nilo, trazendo uma interlocução entre
o aproveitamento das águas derivadas desses três rios e o nascedouro de técnicas
rudimentares de agricultura, o que reporta diretamente para a importância dos recursos
hídricos desde o início da civilização.
Igualmente, será exposto acerca da conceituação de nascentes, dos fluxos d´água, dos
tipos de nascente e, fundamentadamente, de técnicas de preservação de nascentes. Notório
que o desmatamento, a falta de cuidado com as matas ciliares, o manejo inadequado de
técnicas de agricultura e pastoreio trazem reflexos negativos para a proteção dos recursos
hídricos que a humanidade dispõe. Assim, a recuperação de nascentes, apesar de contar com
técnicas simples, é uma das soluções para o uso e emprego consciente dos recursos hídricos.
Para tanto deve ser feita a proteção da superfície do solo, a criação de condições favoráveis
à infiltração e permeabilidade do solo e, por fim, a redução da taxa de evapotranspiração,
como será abordado mais adiante no presente trabalho.
Aliado ao aspecto técnico da recuperação de nascentes, deve ser avaliada a proteção
legal do meio ambiente, de maneira mais enfática, dos recursos hídricos. Assim, considerando
a real importância, a temática ambiental vem tratada na Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, que tem previsão expressa do fundamental direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, no caput de seu artigo 225. Referido dispositivo serve de base,
sustentáculo e referência para a proteção ambiental, abarcando o cuidado com os recursos
hídricos. A partir disso, por sua vez, ter-se-á, nessa esteira, como foco o estudo de alguns
dispositivos da legislação infraconstitucional, que tratam dos recursos hídricos e estão
contidos na Lei 12.651/2012 (novo Código Florestal), na Lei 9.433/1997, que estabeleceu a
Política Nacional de Recurso Hídricos, e, na Lei 9.984/2000, cujo objeto foi a criação da
Agência Nacional de Águas (ANA).
Na sequência, tendo como tema central do trabalho a recuperação de nascentes, o
grupo participou de atividades práticas desenvolvidas pelo denominado Projeto Água Limpa,
executadas no município de Corbélia/PR. Com efeito, foi realizado um apanhado junto à
Prefeitura de Corbélia, mais precisamente no Departamento de Meio Ambiente, vinculado à
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo, para se obter
dados, informações e explicações acerca da estruturação do trabalho de recuperação de
34 G2
nascentes executado em Corbélia/PR. Diante da relevância do Projeto Água Limpa, o grupo
acompanhou atividades desenvolvidas em propriedades rurais, que culminaram na
recuperação de nascentes naquele Município, o que trouxe grande substrato para a elaboração
deste trabalho acadêmico.
O estudo, que utilizou pesquisa bibliográfica, legislativa e atividades de campo, reflete
discussões levadas a cabo sobre o tema, pelo grupo 02 (dois), durante o curso de Pós-
graduação em Gestão em Ciência Política, Estratégia e Planejamento, promovido pela
Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG, Instituto de
Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF) e Faculdade Internacional de
Business e Marketing (ESIC), nos anos 2017/2018.
2. CRESCENTE FÉRTIL E O SURGIMENTO DA CIVILIZAÇÃO
O aumento constante da população mundial é hoje um problema amplamente
discutido. Em um planeta com cada vez mais seres humanos, as necessidades crescem
rapidamente, enquanto os recursos seguem o caminho oposto, o da escassez. Muito antes de
questões sociais, de cunho político, religioso ou ideológico, a questão ambiental é importante
pelo simples fato das maiores necessidades do ser humano serem diretamente ligadas a
recursos naturais do planeta Terra: a água e alimentos. Os últimos, por sua vez, para serem
produzidos necessitam, em maior ou menor proporção, do primeiro. Logo, não é difícil
entender por que o manejo dos recursos hídricos sempre foi algo importante, podendo traçar
tais práticas até as origens das primeiras civilizações.
Das diferentes regiões onde surgiram o conceito que chamamos hoje de “civilização”,
todas possuem intrínseca relação com os recursos hídricos do local, seja na América Central,
no vale do Rio Coatzacoalcos ou na China, no Vale do Rio Amarelo (RHINEHART, 2018).
Contudo, o local mais notório do surgimento de assentamentos humanos permanentes é a
região do Crescente Fértil. Localizada na área delimitada pelas bacias dos rios Tigre, Eufrates
e Nilo, a estabilização humana na região é incontestável, seja por sítios arqueológicos ou por
meio de cidades ainda ocupadas há milênios. À primeira vista, entretanto, a região pode não
parece ser própria para a agricultura: a maior parte dela é de clima desértico ou semiárido,
com poucos locais de clima mais ameno, próximos ao litoral (FINLAYSON, PEEL,
MCMAHON, 2007). Com poucas chuvas, a produção agrícola se tornou possível apenas com
o uso de técnicas de aproveitamento das águas derivadas desses três rios, o que revolucionou
a agricultura.
Antes do uso de obras de engenharia, é importante a descrição das técnicas mais
primitivas, a fim de se ter melhor consciência da evolução dessa atividade. Em seu princípio,
as técnicas agrícolas eram bastante rudimentares, sendo o acaso o fator determinante para o
sucesso. (JORGE, 1982). Não possuindo, ainda, a habilidade da metalurgia para a confecção
de ferramentas cortantes, foi amplo o uso de áreas naturalmente descampadas como campos
de cultivo, além do uso do fogo como ferramenta para abertura de áreas de florestas (JORGE,
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 35
1982). Esse tipo de prática extensiva rapidamente desgasta a terra, sendo necessário o
deslocamento dos grupos humanos para áreas ainda não utilizadas cuja agricultura era
possível (JORGE, 1982).
Todavia, o principal salto de qualidade e quantidade deu-se com o advento de técnicas
de irrigação, diminuindo consideravelmente a dependência do ser humano de alguns fatores
naturais, como a chuva, e aumentando a relação das tribos e jovens nações com os rios, nesse
caso em específico os três que formam a região do Crescente Fértil.
No Egito, o rio Nilo, de grande volume d’água, possibilitou a mais simples das
técnicas que permitiram a agricultura em larga escala, a chamada agricultura de base, que
consiste no uso de terras que estavam alagadas por pouco tempo no período das cheias. O
Nilo, proveniente de regiões onde a vegetação é abundante, transporta e deposita grandes
quantidades de matéria orgânica em seu percurso em direção à sua foz, fertilizando
naturalmente as regiões alagadas e permitindo o uso dessas terras para produção de alimentos
e para o uso como pastagens (HILL, 1996). Os excedentes da produção, que praticamente
não existiam antes dessa evolução, eram agora armazenados para uso posterior, durante as
épocas que não eram as da colheita (SPRINGER, MORRIS, 2010). Vale ressaltar que a
agricultura de base é apenas uma das diferentes técnicas utilizadas pelos egípcios no
aproveitamento das águas do rio Nilo.
Entre os rios Tigre e Eufrates, consideravelmente menos volumosos que o exemplo
anterior, outras duas técnicas ganham destaque, sendo ambas complementares para sua maior
eficácia: as represas e os canais de irrigação. Não apenas para armazenar água, as represas
eram utilizadas com o propósito de controlar as enchentes constantes nessa região, que por
vezes vitimava as pessoas e avariava estruturas das localidades (TURCI, 2014). Os canais,
por sua vez, permitiram a migração da produção para regiões mais afastadas dos rios,
estimulando a ocupação de áreas mais distantes e permitindo que a atividade produtiva
ocorresse durante o ano todo, não apenas na estação do cultivo (HILL, 1996).
Graças a esse manejo dos recursos hídricos, o homem conseguiu algo até hoje inédito
nas demais espécies: o excedente na produção de alimentos. Tal acontecimento alterou de
forma profunda e permanente todos os aglomerados humanos em que ele aconteceu,
influenciando tanto internamente quanto externamente. Externamente pelo fato de nem todas
as culturas terem atingido ao mesmo tempo tal marco, sendo elas possíveis vítimas de saques
e ataques de outros povos em busca de alimento, agora não tão difícil de adquirir, e de
conquista de porções de terra conhecidamente férteis (TURCI, 2014). Internamente, a
sociedade passava a se organizar a partir da divisão de tarefas. Se antes todos eram
responsáveis pela obtenção de alimentos (devido à baixa eficiência nessa atividade), agora a
produção agrícola em larga escala permite que apenas uma parcela de indivíduos obtenha
alimentos para todos, não ficando o restante inativo no grupo: surgem, portanto, aqueles
encarregados da defesa das terras, do cuidado dos enfermos, do comércio com outros povos
etc. Tendo assim surgido, pela primeira vez, a civilização como a conhecemos hoje (FABER,
2011).
36 G2
Portanto, é possível concluir que a importância do controle e do uso ponderado dos
recursos hídricos não é algo recente, e sua abrangência não se restringe apenas à mera
sobrevivência do ser humano como animal, mas no ser humano como um ser social. Sua
relevância pode ser resgatada desde a pré-história, na qual surgiram as primeiras civilizações,
no Crescente Fértil. Se os povos daquela região enfrentaram o desafio do clima, desastres
naturais, escassez água e terras cultiváveis, hoje no Brasil, e, em especial no oeste paranaense,
diferentes questionamentos e problemas relativos à água vem sendo enfrentados, entre os
mais relevantes, o da preservação e recuperação de nascentes.
4. O QUE VEM A SER UMA NASCENTE
Tendo por escopo principal do trabalho a recuperação dos recursos hídricos, mais
notadamente das nascentes, necessário se faz, antes de qualquer coisa, trazer definições e
conceitos acerca do tema em voga.
Segundo o Novo dicionário da língua portuguesa, na forma fria, é conceituada
nascente como: “Que nasce, que começa a ter existência”, “que começa a se constituir, a
tomar incremento ou forma definitiva”, ou ainda, toda palavra que termina em –nte significa
“aquele que”. Portanto nascente é aquela que nasce, é o local onde um olho d’água brota e
começa a escorrer sobre a terra, são as nascentes, a principal fonte de abastecimento de
riachos e rios e por essas e outras qualidades devem ser protegidas, guardadas, mantidas
cuidadas de forma intacta para que a principal fonte de vida, a ÁGUA, continue a jorrar, a
alimentar e abastecer a humanidade, visto que uma nascente é um espetáculo a parte de
beleza, muitas vezes, impossível de ser explicada. Com as palavras do químico Francês
Antoine Lavoisier (1743-1794), é possível resumir que: “Na natureza, nada se cria, nada se
perde, tudo se transforma” (Yarak, Aretha, 2017); assim, resta clara a importância desse
químico francês ao fazer tal afirmação, uma vez que a água auxilia na sobrevivência humana,
animal e vegetal.
É notório que conceito e a importância vão muito além das definições introdutórias
acima, uma vez que as nascentes formam os rios, e estes, por sua vez, se tornam com
dimensões e extensões incalculáveis, levando em consideração o ponto inicial de sua
formação, que pode ser uma ou mais nascentes.
Esses pontos de descargas de água dos aquíferos, dos lençóis freáticos, formam o
começo de um curso de água, o ponto de partida de grandes rios e sem elas os rios não
existiriam. Dessa maneira, sua preservação se faz mais do que necessária para a manutenção
dos rios e de todo o ecossistema que os margeiam.
Atualmente, a água é apontada como um recurso natural de altíssimo valor
econômico, estratégico e social, tendo em vista que todos os setores de atividade humana
necessitam fazer o uso deste recurso natural no desempenho de suas funções e,
principalmente, na produção de alimentos. Historicamente, o homem tem a preocupação em
explicar a origem e a formação das nascentes, uma vez que filósofos como Homero, Tales e
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 37
Platão se envolveram na discussão, mas acreditavam, em seu conhecimento da época, que
os olhos d’água eram formados e abastecidos por canais subterrâneos que se desenvolviam
por baixo das montanhas, levando água do mar e que, depois de purificadas e elevadas a
superfícies, originavam as nascentes. Somente mais tarde foi que Vitrúvio, arquiteto
Romano, formulou a teoria aceita até hoje (CPT).
4.1. FLUXOS E TIPOS DE NASCENTES
São de extrema importância os fluxos de base, que sustentam as nascentes, sendo que
eles são provenientes dos lençóis subterrâneos, têm grande importância temporal e espacial,
pois são capazes de possibilitar que todos os usuários da bacia hidrográfica que a compõe
possam usufruir dessa água, inclusive em períodos de estiagem. Esses fluxos de base
possuem fundamental relevância, ainda, na formação de extensos rios que, muitas vezes,
atravessam e passam por diversos estados ou até países, podendo ser incalculável o número
de pessoas que se beneficiam e usufruem dessa riqueza natural.
O entendimento da formação e do comportamento das nascentes é formado por meio
dos estudos de Hidrogeologia, ciência que estuda as leis de ocorrência e movimentação das
águas subterrâneas. Segundo a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, Hidrogeologia
é o ramo da Hidrologia que estuda a água subterrânea, em especial a sua relação com o
ambiente geológico. O termo existe desde 1802 (Lamarck); como ciência, desde 1856
(Darcy); atualmente a conotação ambiental é a mais importante.
Hidrologia, por sua vez, é o ramo da Geofísica que trata dos fenômenos naturais das
águas da Terra, estudando a ocorrência e a circulação, em oceanos, continentes e na atmosfera
e a sua relação com o ambiente.
As nascentes se originam, em suma, por manifestações superficiais de lençóis que
resultam na formação de córregos, antes com o acúmulo formando poças e a partir daí se
formam as fontes. Pode, dependendo dos locais, os lençóis mais profundos jorrarem água
termal, água quente.
Existem as nascentes de contato que, normalmente, surgem nas partes inferiores de
morros, são também conhecidas como nascentes de encosta. A doutrina, também, refere-se
às nascentes de depressão, que podem se manifestar em pontos de eclosão de água bem
definidos, os “olhos d’água”, que vão se acumulando em poças até ter quantidades de água
capazes de formar e dar início a fluxos contínuos, os córregos. As nascentes podem também
se formar de lençóis artesianos, que são os mais profundos, ocorrem normalmente próximo a
regiões montanhosas, com fortes declives entre as áreas, o que facilita o afloramento das
camadas impermeáveis do solo, ou por afloramento de rochas calcárias, as quais muitas vezes
são abastecidas pela água das chuvas. Portanto, “nascente nada mais é que a água da chuva,
o derretimento das geleiras, acumuladas em uma camada menos permeável do solo e que
aflora através de uma camada menos permeável e exatamente nesse ponto a água se reúne e
emerge a superfície” (CPT).
38 G2
4.2. RELEVÂNCIA E PREMISSAS BÁSICAS SOBRE PRESERVAÇÃO
Com o constante crescimento populacional, se torna imperativa a importância da
preservação das nascentes e do uso correto da água, uma vez que a população mundial se
encaminha para sete bilhões de pessoas; nesse contexto, a necessidade de água e alimentos
se torna um grande desafio, diante do aumento do consumo que está diretamente vinculado
ao aumento populacional. Desde o momento em que a problemática envolvendo a água fez o
homem se preocupar com as futuras gerações e a possibilidade de ocorrer escassez, o que já
ocorre em partes do mundo e irá se intensificar em um futuro muito próximo, têm sido
difundidos métodos de preservação e cuidados com as nascentes, uma vez que a dependência
por água é algo infinito e imprescindível para a vida humana. Nesse viés, uma proteção eficaz
se faz basicamente com uma área de preservação permanente no entorno, ou seja, mata ciliar
em um raio mínimo de 50 metros, controlando e preservando a vegetação, impedindo
poluição e desmatamento (CPT).
Segundo Castro, no curso de Recuperação e Conservação de nascentes, elaborado pelo
CPT, também se faz necessário o cuidado com as áreas de abastecimento e recarga desse
aquífero, onde a água da chuva infiltra no solo, incentivando plantio de árvores e gramados,
ou seja, áreas mais verdes em se tratando de cidades e centros urbanos, mantendo assim locais
onde a água possa se infiltrar e perpetuar seu fluxo até o aquífero. A partir dessas premissas
se faz cogente formar a consciência de urbanização verde e positiva nas pessoas que, além de
contribuir com os aquíferos, reduz consideravelmente os riscos com inundação. Por sua vez,
nas áreas rurais, é possível facilitar a preservação de nascentes com inúmeras técnicas de
preservação, como os cuidados com o solo de plantio e ou de pastagem, fazendo barragens,
curvas de nível, que evitem erosão e a degradação do solo; o uso de plantio direto na palha,
que agride menos o solo e evita as perdas excessivas de água das plantas através da
evapotranspiração; minimização de contaminação química e biológica com o uso correto e
eficaz de defensivos agrícolas; preservação das matas ciliares, encostas de morros; e a
recuperação propriamente dita da nascente em si. Em todas as atividades humanas, a água
não só se faz necessária, porém indispensável, mas, na agropecuária, é ainda mais evidente
essa necessidade, uma vez que é requerida em todo e qualquer empreendimento do
agronegócio, seja pelas plantas, animais ou ainda pelas indústrias alimentícias.
Partindo do campo, o corte de florestas nativas, o desmatamento, a falta de cuidado
com as matas ciliares, que margeiam os rios e encostas, as queimadas, o pastoreio intensivo
e desordenado, o planejamento inadequado em construção de estradas rurais, que podem
causar erosão com consequente assoreamento de nascentes e rios, são exemplos de práticas
negativas à proteção ambiental. Nas cidades e meios urbanos, onde também há nascentes e
olhos d’ água, o crescimento desordenado e não planejado, o excesso de construções e de
áreas impermeáveis como asfaltos e calçadas, os loteamentos em locais mal planejados e sem
um mínimo de consciência ambiental, somados a falta de cuidado de algumas prefeituras com
áreas verdes das cidades como zoológicos, parques, entre outros, igualmente, são situações
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 39
que causam degradação ambiental e, como consequência, interferem na proteção dos recursos
hídricos tão necessários à subsistência dos seres vivos.
4.3. SISTEMAS FUNCIONAIS DE CONSERVAÇÃO DE UMA NASCENTE
De maneira mais prática e sucinta, a recuperação e conservação de nascentes possuem
três premissas, sendo elas: a proteção da superfície do solo, a criação de condições favoráveis
à infiltração e permeabilidade do solo e, por fim, a redução da taxa de evapotranspiração de
plantas, o que se se dá por meio dos cuidados com o solo, conforme elencado acima.
O fluxo das nascentes é algo contínuo e proveniente da natureza, algo que, somente
com a interferência do homem por meio de práticas erradas, pode ser prejudicado, rompendo
o equilíbrio vigente e diminuindo a quantidade e a qualidade da água.
Se ocorrer vazão irregular ou perda da qualidade da água de uma nascente ou fonte, é
imperativa a interferência do homem no sentido de conservar e aumentar a produção,
melhorando a qualidade por meio de técnicas aqui elencadas e quantas outras mais se fizer
necessárias.
Embora os métodos variem de região para região, ou ainda, do tipo e local de nascente
para outro local diverso, em tese, uma recuperação de nascente é feita tendo por molde os
passos abaixo elencados.
Antes de se entrar nas etapas de recuperação, é importante ressaltar que a vegetação
das áreas no entorno da nascente devem ser preservadas com vistas a obter-se, por óbvio, um
melhor fluxo de água.
Agora seguem as os passos para a recuperação de uma nascente:
A primeira etapa consiste na limpeza da área da nascente, retirando todos os entulhos,
folhas e lama, até que se encontre o solo firme, de onde brota a água limpa e com força,
localizando-se o chamado olho d’ água.
Na segunda etapa, há a construção de uma mureta de proteção, que servirá como
barragem e segurará a água, utilizando-se para tanto de pedra irregular, as chamadas “pedras-
ferro” com 20 (vinte) a 30 (trinta) centímetros de largura. Associadas a essas pedras tem-se
o solo cimento, que consiste em três partes de solo vermelho (terra) acrescido de uma parte
de cimento. A mureta pode ter altura diversa, dependendo o local da nascente e de acordo
com a topografia do terreno. Durante a construção da mureta/barragem, deve o executor
depositar pedras-ferro, os chamados rachões na parte interna da barragem, assim, as mesmas
servirão como filtro para a água.
Em seguida, é a vez da terceira etapa, que nada mais é do que a colocação dos canos
ou drenos. Dessa forma, na parte superior da nascente, será a entrada de água diretamente do
olho d’água, que encherá a barragem; porém, como a água é renovável, faz-se necessária a
instalação dos denominados canos de limpeza, ladrão e de manutenção.
40 G2
O cano de limpeza é considerado o esgoto, onde utiliza-se um cano de 100 (cem)
milímetros e ele é instalado na parte inferior da barragem. Ele será utilizado para sua limpeza
e esgotamento da água, isso quando necessário.
O cano ladrão, por sua vez, é instalado na parte superior da barragem. Esse cano
servirá para jogar de volta para o leito o excesso de água, isso tudo conforme a nascente for
enchendo. É recomendado um cano de 50 milímetros, podendo variar de acordo com o
potencial da nascente.
Já, o cano de manutenção somente é acoplado ao término da recuperação da nascente,
justamente, no momento de fechar a parte superior da mesma. Tal dreno servirá para a
realização de limpeza, desinfecção e possíveis manutenções. É sugerido um cano de 100 a
150 milímetros para o acesso à nascente.
Depois de concluído o processo acima descrito, recomenda-se aguardar em torno de
06 a 12 horas – isso variará de acordo com o potencial da nascente - para que a água circule
e renove-se naturalmente, fazendo com que o reservatório da nascente fique cheio de água
limpa e renovável. Ainda, uma vez acabado o procedimento, quando a nascente estiver
recuperada e o reservatório cheio, é importante realizar uma análise físico-química da água,
para se conhecer a qualidade da água, bem como seus níveis de pureza e de minerais,
repetindo-se semestralmente essas análises.
A importância da água vai muito além de tudo o que foi supracitado, visto que a
necessidade se desenha desde o consumo humano e animal e a produção de alimentos, de
forma essencial para a sobrevivência de qualquer espécie.
Portanto, ao recuperar uma nascente é certo que se está não só garantindo a
sobrevivência atual, como também deixando um importante legado às futuras gerações.
Tem-se, abaixo, uma sequência ilustrativa de recuperação de nascentes, tudo conforme
as etapas descritas no presente trabalho.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 41
Tendo por base a sequência acima, foi elaborado um demonstrativo da recuperação de
duas nascentes em uma mesma propriedade, pelo projeto Água Limpa, no qual os estagiários
do Curso de Pós-graduação da ADESG participaram, sendo que a atividade foi desenvolvida
nas terras da Sra. Luciana Bombarda, agricultora do Município de Corbélia/PR.
Etapa inicial, com os trabalhos para encontrar o olho d´água, realizar a limpeza interna
e externa, para, somente após, colocar as pedras que servirão como filtro.
42 G2
Preparação do solo cimento na proporção de uma parte de cimento para três partes de terra.
Início da colocação das pedras, canos (limpeza, superior, ladrão intermediário e cano
de captação, médio e cano esgoto, inferior).
Depois de realizada a limpeza, alocação das pedras e canos, inicia-se o fechamento da
nascente com o solo cimento preparado na etapa inicial, de modo que a mesma fique
protegida de insetos, enxurradas e ouros detritos.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 43
Agora, têm-se duas nascentes recuperadas e prontas para o uso.
Destaca-se que a atividade foi realizada na data de 21de junho de 2018.
Foi realizado acompanhamento in loco não só nesta situação como em outras
recuperações de nascentes, pelo Grupo 02 do X Ciclo de Estudos da Representação de
Cascavel/PR.
.
44 G2
5. MEIO AMBIENTE - RECURSOS HÍDRICOS – LEGISLAÇÃO
5.1 PROTEÇÃO AMBIENTAL – CONSTITUIÇÃO FEDERAL –
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL
No que diz respeito ao tema tratado no presente trabalho, além dos aspectos práticos
de recuperação de nascentes, importante fazer um breve apanhado sobre o que preconizam a
Constituição Federal (CF) e a legislação extravagante quanto ao meio ambiente e à proteção
dos recursos hídricos.
Não há como falar em legislação, sem a necessária referência ao artigo 225, caput, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que assim dispõe: “todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Da simples leitura do dispositivo acima, fica evidente que o legislador constituinte, de
forma expressa, estabeleceu o chamado direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.
Referido mandamento vem, igualmente, previsto no PRINCÍPIO 01 da Conferência
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio/92, também denominada
Declaração do Rio/92, cujo enunciado é o seguinte: “Os seres humanos têm direito a uma
vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza”.
Importantes temas foram tratados na mencionada conferência, que ficou identificada
por muitos como “Cúpula da Terra”. Os assuntos giraram em torno dos problemas ambientais
e do desenvolvimento sustentável, justamente nos moldes trazidos pela Constituição Federal.
O grande propósito do evento foi alertar sobre a conscientização ambiental em nível mundial.
Dessa maneira, foram criados, na ocasião, 27 princípios básicos sobre o desenvolvimento
sustentável global, que servem de sustentáculo, apoio e inspiração para grande parte da
legislação ambiental brasileira.
Necessário consignar que artigo 225 da Magna Carta é o chamado coração da
proteção ambiental. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é essencial à sadia
qualidade de vida, pois, sem ele, não se tem trabalho, lazer, saúde e nem sequer vida.
A doutrina traz esclarecedores comentários acerca do fundamental direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, elucidando, inclusive, a importante tarefa do Poder
Público de garantir a plena efetivação deste primado. Vejamos:
A especial característica do princípio é a de que o desiquilíbrio
ecológico não é diferente ao Direito, pois o Direito Ambiental realiza-
se somente numa sociedade equilibrada ecologicamente. Cada ser
humano só fruirá plenamente de um estado de bem-estar e de equidade
se lhe for assegurado o direito fundamental de viver num meio ambiente
ecologicamente equilibrado. A Constituição do Brasil, além de afirmar
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 45
o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, determina que
incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, interditando as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica ou provoquem a
extinção das espécies (art. 225, caput e seu § 1º, VII (LEME
MACHADO, 2018, p. 58).
Dessa forma, está, no viés constitucional, a obrigação do Poder Público e da
coletividade defender e proteger o meio ambiente.
Esse direito fundamental será realizado por ações positivas ou negativas
do Poder Público e de toda a coletividade, através da implementação do
desenvolvimento sustentável, que compatibilize a necessidade do
crescimento econômico com a preservação ambiental, atendendo às
necessidades das presentes gerações sem privar as futuras das suas
parcelas de recursos ambientais, a fim de manter a perenidade”.
(AMADO, 2017, p. 38)
Convém ressaltar que, no parágrafo 1º do artigo 225 da CF, estão previstos deveres
específicos do Poder Público para concretizar o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, entre eles se destacam as seguintes necessidades, que possuem direta
interlocução com o tema proteção de preservação dos recursos hídricos e nascentes:
i) preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover
o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
ii) definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e
seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração
e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem
sua proteção, e
iii) exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade po-
tencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.
Merece registro, na seara da proteção, o que está insculpido nos parágrafos 2º e 3º do
artigo 225 da Constituição Federal, que esboçam a previsão constitucional de deveres
específicos ao Poder Público e à coletividade no que diz respeito à consecução do meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Vem, dessa forma, consignado: “aquele que explorar
recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com
solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei”. Reza, portanto, a
Carta Constitucional, de maneira enfática, que condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
46 G2
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Para tanto,
existem órgãos estaduais e nacionais que possuem como missão o nobre trabalho de proteção
do meio ambiente e identificação de infratores, destacando-se entre eles, Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto Ambiental do
Paraná (IAP) e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Paraná (SEMA), estes dois
últimos em nível estadual. Tais órgãos realizam atividades de prevenção, fiscalização e
punição, sendo que esta ocorre, geralmente, na seara administrativa. Fora isso, o Ministério
Público Federal e o Ministério Público Estadual, cada um no âmbito de suas atribuições,
possuem como funções precípuas o processamento e apuração destes ilícitos nos limites das
áreas civil e penal, buscando a reparação do dano causado, bem como a aplicação de sanções
penais aos autores de condutas tipificadas como crimes ambientais.
Afora o artigo em comento, existem outros dispositivos que demonstram a inequívoca
intenção do legislador constituinte em considerar a preservação do meio ambiente como um
dos pilares fundamentais da Constituição de 1988. Nesse diapasão, surge o artigo 170, inciso
IV, da CF, que enquadra o meio ambiente no rol dos Princípios Gerais da Atividade
Econômica. Também, é o caso de mencionar-se o artigo 186, inciso II, da CF que, ao atribuir
à propriedade determinada função social, condiciona seu cumprimento à “utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e à preservação do meio ambiente”.
A Constituição do Estado do Paraná, igualmente, elencou a defesa do meio ambiente
como uma de suas disposições preliminares quanto à organização do Estado e dos
Municípios. É a seguinte redação do seu primeiro artigo:
Artigo 1º O Estado do Paraná, integrado de forma indissolúvel à
República Federativa do Brasil, proclama e assegura o Estado
democrático, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores
sociais, do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político e tem por
princípios e objetivos: (...) IX – a defesa do meio ambiente e da
qualidade de vida. (...)
Mais adiante, faz nova e importante alusão ao tema, no artigo 207, em que consigna
que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Estado, aos Municípios e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras (...).
Isso tudo é a proteção e defesa do meio ambiente, devidamente, expressas nas cartas
constitucionais.
5.2. NOVO CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12.651/2012 e LEI 12.727/2012) E A
PROTEÇÃO HÍDRICA
A Lei 12.651/2012 (Novo Código Florestal), tendo como objetivo o desenvolvimento
sustentável, traz, em seu bojo, várias definições afetas ao meio ambiente. Também, elenca
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 47
normas gerais sobre a proteção da vegetação, Áreas de Preservação Permanente (APP) e as
Áreas de Reserva Legal (ARL), entre outros assuntos relevantes para a proteção ambiental.
Em seu artigo 3º, existe o conceito de APP, como sendo a “área protegida, coberta ou
não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. Seguem, no mesmo
artigo, os incisos XVII e XVIII, definindo nascente, que vem a ser “afloramento natural do
lençol freático que apresenta perenidade e dá início a um curso d’água” e olho d’água o
“afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente”. Importante consignar que
se considera perene, algo que tem continuidade e não sofre interrupção; intermitente, por sua
vez, que se manifesta a intervalos mais ou menos breves e efêmeros, ou seja, o que existe por
menor período.
São definidas as APPs, levando em consideração os cursos d´água, o que está, de
maneira didática, previsto no artigo 4º, inciso I e suas alíneas da lei em comento. Assim, são
elencadas as seguintes medidas de APPSs em 30 metros, 50 metros, 100 metros, 200 metros
e 500 metros, tendo os cursos d´água, respectivamente, menos de 10 metros de largura, entre
10 a 50 metros de largura, de 50 a 200 metros de largura, de 200 a 600 metros de largura, e
acima de 600 metros de largura. Igualmente, existe previsão das APPs no entorno de lagos e
lagoas naturais (inciso II), no entorno de reservatórios artificiais (inciso III) e, por fim, no
entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica,
no raio mínimo de 50 metros (inciso IV).
Conforme preconiza a lei em análise, nascente é o “afloramento natural do lençol
freático que apresenta perenidade e dá início a um curso d’água” e olho d´água é, por sua vez,
o “afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente”. Todavia, o artigo 4º,
inciso IV, da mesma lei (alterado pela Lei 12.727/2012), estão elencadas as Áreas de
Preservação Permanente, enuncia que se consideram APPs “as áreas no entorno das nascentes
e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50
metros”. Em razão disso, não ficaram protegidos os olhos d´água intermitentes, ou seja, que
somente ocorrem em épocas de chuvas ou de maior afloramento hídrico.
Tendo em vista esta e outras situações não bem esclarecidas e revelando possível
retrocesso no Novo Código Florestal, no que diz respeito à ampla proteção ambiental, a
Procuradoria-Geral da República ingressou, em 21 de janeiro de 2013, com uma Ação Direta
de Inconstitucionalidade (distribuída sob o nº 4903) no Supremo Tribunal Federal (STF), em
que sãoquestionados vários dispositivos legais, chamando a atenção o artigo 3º, inciso XVII
e artigo 4º, incisos I e IV da Lei 12.651/2012. A referida ação requer seja dada interpretação
conforme a Constituição Federal ao artigo 3º, inciso XVII e ao artigo 4º, inciso IV, da Lei
12.651/2012, para que abranjam a proteção das nascentes e olhos d’água intermitentes e das
nascentes, ainda que não deem origem a curso d’água ou que não tenham origem no
afloramento do lençol freático.
48 G2
Assim, em 28 de fevereiro 2018, por maioria de votos, o STF julgou parcialmente
procedente ação, vencidos os Ministros Gilmar Mendes, e, em parte, a Ministra Cármen Lúcia
(Presidente), para dar interpretação conforme a Constituição ao artigo 3º, inciso XVII, do
Código Florestal, e fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água
intermitentes configuram área de preservação permanente. Igualmente, por maioria dos
votos, deu-se interpretação conforme a Constituição ao artigo 4º, inciso IV, do Código
Florestal, para fixar o entendimento de que os entornos das nascentes e dos olhos d’água
intermitentes configuram área de preservação ambiental, sendo assim vencidos o Ministro
Gilmar Mendes e, em parte, os Ministros Marco Aurélio e a presidente do STF Cármen Lúcia.
Desta forma, tanto os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes, o que, por
óbvio, abrange os perenes, configuram APPs, alterando a abrangência do inciso IV, do artigo
4º da Lei, pois antes eram abarcados nascentes e olhos d´água perenes e, agora, nascentes e
olhos d´água também intermitentes. É um avanço na área da preservação do meio ambiente
e, em especial, dos recursos hídricos.
Indubitavelmente, essa maior e melhor proteção ambiental tem ligação direta com a
recuperação de nascentes, da forma trazida no presente trabalho.
5.3. LEI Nº 9.433/1997 – POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS
Havendo a necessidade do estabelecimento de uma política pública nacional para
tratar do assunto água e, de maneira mais enfática, recursos hídricos, conforme estabelece o
artigo 21, inciso XIX, da Constituição Federal, foi promulgada a Lei nº 9.433/1997,
popularmente, conhecida como a Lei das Águas. Por meio dela foram criados a Política
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (Singreh).
A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), pelo que se observa da legislação
em voga, tem os seguintes fundamentos: a água é um bem de domínio público; a água é um
recurso natural limitado, dotado de valor econômico; em situações de escassez, o uso
prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; a gestão
dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; a bacia hidrográfica
é a unidade territorial para implementação da PNRH e atuação do Singreh, e a gestão dos
recursos hídricos deve ser descentralizada, contando com a participação do Poder Público,
dos usuários e das comunidades (artigo 1º).
Da análise do dispositivo supra, resta certo que a água é um bem público, um recurso
natural limitado. Além disso, possui valor econômico, devendo, sem sombra de dúvida, ser
priorizado o consumo humano e de animais. Também, recebeu importante destaque o uso das
águas para a dessedentação de animais.
Sempre no viés da prevenção e da proteção, no artigo 2º da Lei em questão, constam
os objetivos da PNRH. São eles: assegurar à atual e às futuras gerações a necessária
disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; a
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 49
utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com
vistas ao desenvolvimento sustentável; a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos
críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais; o incentivo
para promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais.
A doutrina se posiciona elucidando a legislação em voga:
Visa-se, então, à manutenção do desenvolvimento sustentável inserido
no art. 225, caput, da CF, bem como à utilização racional desses
recursos para as presentes e futuras gerações. Busca-se, além disso, dar
uma qualidade de vida igual ou melhor para as futuras gerações,
evitando que esses recursos venham a faltar no futuro. Procura-se ainda
evitar as enchentes em áreas críticas (SIRVINSKAS, 2017, p. 425).
No que diz respeito ao uso da água, deve-se evitar o desperdício, a má aplicação e
fomentar a educação ambiental permanente, tudo para que a sociedade esteja sempre
conscientizada do uso deste importante bem de maneira racional.
5.4. LEI Nº 9.984/2000 – ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS
Outro diploma legal que tem por escopo a proteção dos recursos hídricos é a Lei nº
9.984/2000.
De acordo com o artigo 3º da referida legislação foi criada a Agência Nacional de
Águas (ANA), sendo ela uma autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa
e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de implementar,
em sua esfera de atribuições, a Política Nacional de Recursos Hídricos, integrando o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A ANA possui como sede e foro o Distrito
Federal.
Esta Agência tem a atribuição de supervisionar e controlar o cumprimento da
legislação federal das águas (artigo 22, IV, CF).
Entre outras, destacam-se as seguintes atribuições da ANA, conforme reza o artigo 4º:
a) supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da
legislação federal pertinente aos recursos hídricos; b) disciplinar, em caráter normativo, a
implementação, a operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos da Política
Nacional de Recursos Hídricos; c) outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso
de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União, observado o disposto nos arts.
5o, 6o, 7o e 8o; d) fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da
União; e) elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio
da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos Comitês de Bacia
Hidrográfica, na forma do inciso VI do artigo 38 da Lei 9.433/1997; e) estimular e apoiar as
iniciativas voltadas para a criação de Comitês de Bacia Hidrográfica; f) implementar, em
articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelo uso de recursos hídricos
50 G2
de domínio da União, e g) arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da
cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União, na forma do disposto no artigo
22 da Lei nº 9.433/1997.
Do cotejo entre as disposições constitucionais e infraconstitucionais, resta
comprovada a grande preocupação do legislador quanto à proteção dos recursos hídricos, para
que a água continue com qualidade e em quantidades necessárias para esta e para as futuras
gerações, em claro respaldo ao preconizado no artigo 225 da Magna Carta, mandamento legal
máximo da proteção ambiental. Portanto, no aspecto legal, tem-se a proteção; resta ao
homem, efetivamente, agir de forma a concretizar ações que visem dar vida a esta proteção e
garantam que os recursos naturais não venham a faltar no futuro, exemplo dessa boa prática
se observa com o Projeto Água Limpa, em Corbélia/PR, cujos fundamentos serão a seguir
analisados no presente trabalho.
6. ESTUDO DE CASO – PROJETO ÁGUA LIMPA
Tendo como tema central do trabalho a recuperação de nascentes, o grupo entendeu
por bem selecionar alguma atividade ou boa prática na recuperação de recursos hídricos na
região oeste do Paraná. Assim, elegeu o denominado Projeto Água Limpa, executado em
Corbélia/PR.
Necessário antes de fazer a análise do estudo de caso, frisar que as nascentes possuem
fundamental relevância para a manutenção do ecossistema.
No site do Ministério Público do Estado do Mato Grosso, encontrou-se, de maneira
elucidativa, um apanhado sintético acerca do papel das nascentes e o seu entorno. Vejamos:
As nascentes e seu entorno desempenham importantes serviços ambientais para o
bem-estar humano, porque fornecem e conservam a água, regulam o microclima e controlam
desastres naturais, além de serem importantes locais de refúgio e alimentação de animais
silvestres. As nascentes têm importante papel: além de fornecerem água para os córregos e
rios que abastecem toda a cidade, elas também são fontes de vida para outros organismos.
Para que as nascentes continuem vivas, é necessário cuidar de seu entorno, considerado
legalmente como uma Área de Preservação Permanente (APP).
https://aguaparaofuturo.mpmt.mp.br/ nascentes/importancia-das-nascentes
Segue a mesma publicação, destacando quanto às Áreas de Preservação Permanente:
As APPs garantem a integridade das nascentes, tendo a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e flora, além de
proteger o solo e assegurar o bem-estar do ser humano. Os entornos das
nascentes geralmente são áreas úmidas, que, como tal, apresentam solos
característicos (hidromórficos) e plantas adaptadas a inundações
periódicas e que desempenham diversas funções ecológicas ligadas ao
bem-estar
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 51
humano.https://aguaparaofuturo.mpmt.mp.br/nascentes/importancia-
das-nascentes
Ainda, se faz necessário realizar um breve apanhando acerca dos recursos hídricos no
Estado do Paraná. Nesse sentido, conforme consta na obra intitulada Bacias Hidrográficas
do Paraná - Série Histórica, segunda edição do ano de 2013, elaborada pela Secretaria de
Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, o Estado do Paraná possui dezesseis bacias
hidrográficas, a saber: Bacia Litorânea, Bacia do Ribeira, Bacia do Cinzas, Bacia do Iguaçu,
Bacias do Paraná 1, 2 e 3, Bacia do Tibagi, Bacia do Ivaí, Bacia do Piquiri, Bacia do Pirapó,
Bacia do Itararé, Bacias do Paranapanema 1, 2, 3 e 4.
Essas bacias hidrográficas foram subdivididas e reagrupadas, por meio da Resolução
49/2006/CERH/PR, o que culminou em doze Unidades Hidrográficas de Recursos Hídricos.
São elas: Litorânea, Alto Iguaçu/Ribeira, Médio Iguaçu, Baixo Iguaçu,
Itararé/Cinzas/Paranapanema I e II, Alto Tibagi, Baixo Tibagi, Pirapó/Paranapanema III e
IV, Alto Ivaí, Baixo Ivaí/ Paraná I, Piquiri/Paraná II, por fim, Paraná III, conforme relatado
na obra Bacias Hidrográficas do Paraná - Série Histórica, 2013, p. 13/4.
De acordo com o que consta na Resolução 24/2006/SEMA, o território do Município
de Cascavel abrange parte das Bacias Hidrográficas do Baixo Iguaçu, Paraná 3 e Piquiri. Já,
o Município de Corbélia, onde o grupo participou de atividades desenvolvidas pelo Projeto
Água Limpa, pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Piquiri e à Unidade Hidrográfica do
Piquiri/Paraná II.
Importante consignar que “A Bacia Hidrográfica do Piquiri possui uma área total de
24.171,70 Km² (SEMA-2007), cerca de 12% da área do estado, e uma população de
609.473 habitantes (IBGE-2004), em torno de 6% do total do estado”. (BACIAS
HIDROGRÁFICAS
DO PARANÁ - SÉRIE HISTÓRICA, 2013, p. 118)
Assim, uma vez selecionado o Projeto Água Limpa, foi feito um apanhado junto à
Prefeitura de Corbélia/PR, mais precisamente no Departamento de Meio Ambiente,
vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo,
para se obter dados, informações e explicações acerca da estruturação do trabalho de
recuperação de nascentes feito naquele Município.
Por meio das informações e documentos obtidos, foram identificados os objetivos, o
público-alvo, os parceiros, a equipe técnica, as etapas de operacionalização e os fluxos de
recursos necessários para efetivar essa boa prática ambiental.
Nesse sentido, os dados constantes no presente trabalho de pesquisa, em especial, no
estudo de caso, foram fornecidos por meio da entrega de uma cópia do termo (documento)
denominado Projeto Água Limpa.
O objetivo do Projeto Água Limpa é o de promover, entre agosto de 2017 a
dezembro de 2020, a recuperação de 100 (cem) nascentes, nas 752 (setecentos e cinquenta e
52 G2
duas) propriedades rurais do município de Corbélia/PR. Dessa forma, fica evidente que o
público-alvo é a população do Município em questão.
O Departamento de Meio Ambiente da Prefeitura de Corbélia, que atendendo a critérios
técnicos e de viabilidade definidos pelos profissionais do setor, seleciona as nascentes que
serão recuperadas.
Como bem ressaltado, no termo de elaboração do projeto, os benefícios ambientais
com esse trabalho de recuperação ambiental são imensuráveis, pois a proteção das nascentes
refletirá para essa e para as gerações futuras, ampliando as condições de desenvolvimento de
forma sustentável, respeitando as interrelações entre o homem e o meio ambiente,
preservando, em verdadeira análise, a vida.
O Projeto Água Limpa possui, de acordo com o material fornecido para estudo, os
seguintes parceiros: Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural de
Corbélia (COMADER),Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMATER/PR), escritório local de Corbélia, Prefeitura de Corbélia, Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo, agricultores familiares, professores e
estudantes das redes estadual e municipal de educação, bem como a Secretaria Municipal de
Saúde.
Em concordância com o material fornecido pelo Departamento de Meio Ambiente,
vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo do
Município em questão, as etapas da operacionalização do Projeto Água Limpa são as
seguintes: 1 - Cadastramento da nascente
Todas as nascentes passíveis de proteção são cadastradas pelo
Departamento de Meio Ambiente, constando as seguintes informações:
Dados do proprietário; Bacia hidrográfica que pertence; Localização
(coordenadas geográficas); Fotos do antes e depois.
2 - Vistoria da nascente
Neste momento, é verificada previamente a necessidade de materiais e
condições mínimas para que a proteção de nascentes seja realizada,
envolve também a definição do uso atual, possibilidades de uso futuro,
coleta de amostra de água para análise prévia da água; verifica-se
também as condições da vegetação ciliar.
3 - Vistoria das áreas de influência
Verificam-se as condições que podem interferir com a manutenção da
nascente preservada, como a conservação de solo e água (lavouras,
pastagens e estradas), presença de instalações domésticas e a presença
de instalações zootécnicas.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 53
4 - Proteção de nascente
A proteção da nascente envolve a elaboração da relação do material
necessário, considerando a vistoria prévia da nascente, ferramentas e
equipamentos pessoais individuais necessários. A limpeza do local,
muitas vezes o acesso à mina é dificultado, sendo oportuna a abertura
de uma pequena picada de acesso para a movimento de pessoas e do
material que será utilizado. O preparo inicial da nascente, com a
limpeza e verificação dos chamados “olho d’água”, que são os pontos
onde ocorre a água emerge do lençol freático. Então é preparada a
mistura de solo e cimento, composto basicamente de terra peneirada
para remoção de material externo e parte de cimento utilizado na
construção civil. É realizada a vedação da cabeceira da nascente,
coloca-se rachões de pedra. Ocorre a construção do dique e instalação
da tubulação de vertedouro, limpeza, captação e desinfecção. Conforme
a necessidade faz-se a instalação de reservatórios e tubulação para
abastecimento. É realizado o plantio de mudas de árvores nativas na
área de proteção permanente entorno da nascente já protegida. E para
finalizar após uma semana é coletada uma nova amostra e encaminhada
para análise da água.
5 – Educação Ambiental
Os professores em parceria com os profissionais e entidades envolvidas,
busca desenvolver atividades relacionadas ao trabalho executado pelos
seus alunos, de forma a promover o conhecimento e a interface entre
ambiente, homem e a vida.
Para além do benefício ambiental produzido por meio do Projeto Água Limpa, tem-se
o salutar componente da educação ambiental, vez os trabalhos são desenvolvidos em parceria
entre o Departamento de Meio Ambiente e as Secretarias Municipal e Estadual de Educação.
Nesse sentido, sempre que possível, quando é agendada a preservação de uma nascente, é
realizado o deslocamento de uma classe de alunos para auxiliar nas atividades, que podem
ser desde o plantio de espécies de árvores nativas para a preservação da mata ciliar e
contenção da erosão, bem como a ajuda para o deslocamento do material necessário para a
execução do trabalho. Claro, tudo é feito sob a supervisão dos professores da classe
envolvida.
Merece registro, que o grupo de estagiários, autor do presente artigo, acompanhou in
loco a recuperação de algumas nascentes realizadas pelo Projeto Água Limpa, na zona rural
de Corbélia/PR, tudo no sentido verificar o passo a passo da execução das atividades e,
sobretudo, constatar a importância da prevenção/recuperação dos recursos hídricos feita
naquelas propriedades.
54 G2
Chamou a atenção, além do importante viés ambiental, o entrosamento entre os
executores. São eles funcionários do Departamento de Meio Ambiente do município,
integrantes do COMADER, agricultores familiares, além da família do proprietário
beneficiado pela recuperação ambiental. Todos trabalham em parceria, com alegria e
objetivando a recuperação daquela nascente, pouco importando se para isso serão utilizadas
algumas horas, o dia inteiro, o até mesmo com possibilidade de continuidade dos trabalhos
na jornada seguinte. O trabalho é pesado. Primeiro há que se fazer a limpeza do local, que
pode levar horas, principalmente, quando é necessário retirar, inclusive, material depositado
decorrente da erosão até chegar ao olho d´água. Enquanto uns fazem a limpeza, outros,
concomitantemente, preparam a mistura de terra, cimento e um pouco de água para dar liga,
o chamado solo cimento. Na sequência, quando se chega ao olho d´água é construída a mureta
de proteção com as pedras-ferro com 20 (vinte) a 30 (trinta) centímetros de largura e o solo
cimento. O serviço não para aí. Durante a construção da mureta/barragem, são depositadas
pedras-ferro na parte interna da barragem, para servirem de filtro. Também, são instalados os
drenos (canos) como especificado no projeto. Somente depois de retirar os dejetos, o que
pode incluir material de erosão, carregar e ajustar as pedras, fazer a massa, esparramá-la e
instalar a tubulação, incluindo a desinfecção, o serviço pesado acabou. Passados alguns
minutos, a água está jorrando limpa e forte, como numa espécie de agradecimento pelo
trabalho de recuperação realizado.
No dia da atividade de recuperação da nascente, o proprietário beneficiado tem como
contrapartida oferecer o almoço para os trabalhadores. Esse momento, após carregar pedra e
solo cimento é importante, pois além de um pequeno descanso, os trabalhadores
confraternizam entre si, trazendo as experiências, dificuldades e vivências de suas
propriedades, vez que se tratam de agricultores familiares estabelecidos em várias localidades
de Corbélia. Um incentiva, apoia e ajuda o outro, em perfeita harmonia e parceria.
Igualmente, são feitos o georreferenciamento da localização nascente recuperada e as
análises da água da referida nascente. Essas análises são realizadas pela Secretaria Municipal
de Saúde em convênio com a Secretaria Estadual de Saúde, atualmente sem custos para o
proprietário rural.
Em entrevista obtida para a consecução deste trabalho, o senhor Andrio Fontana,
Diretor de Meio Ambiente vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Econômico, Agricultura e Turismo de Corbélia, elucidou vários aspectos do Projeto Água
Limpa. Relatou ele:
“O nosso projeto se chama Água Limpa de recuperação de nascentes.
Nós entramos com a parte de mão de obra, juntamente com a
COMADER (Conselho Municipal de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Rural). Além disso, e existe uma lei de auxílio
pecuniário para os voluntários, que recebem o valor de oitenta reais por
dia de trabalho. Nada mais justo, pois eles deixam seus afazeres
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 55
pessoais para fazerem esse serviço bonito. Nós temos um projeto de
recuperação de duas propriedades por mês. Em 2018, foram
recuperadas oito nascentes em quatro propriedades. Estamos sempre
procurando envolver os alunos, para mostrar a importância que a água
tem em nossas vidas e como é importante preservar essa água que vai
servir para as famílias dos agricultores beberem e para as criações da
propriedade. O nosso projeto está em andamento já faz, mais ou menos,
dez anos, e agora é nesse novo formato, o Água Limpa. Esse projeto já
vem de várias administrações. Nunca vai ter o intuito de acabar e a gente
está aperfeiçoando-o cada vez mais. Só lembrando que temos o apoio
da Itaipu, pois ela paga R$ 540,00 (quinhentos e quarenta reais) por
nascente recuperada.”
Esclareceu o Diretor, na sequência, que funcionários da Itaipu Binacional vão até fonte
e realizam a marcação com um ponto do Sistema de Posicionamento Global (GPS) e, por
meio de seu gestor de bacias, que faz parte do convenio conjuntamente ao município, são
fiscalizados os trabalhos.
Com o objetivo precípuo de entender a dinâmica do Água Limpa foi, igualmente,
entrevistado o senhor Ademir Fontana, Presidente do COMADER. Ele esclareceu que os
executores do projeto realizaram, com apoio da prefeitura, curso junto à EMATER,
COOPAVEL e a SYNGENTA. Após isso, foi formado um grupo do COMADER para
continuar fazendo essas revitalizações de nascentes, sendo que há uma lista de espera de
agricultores solicitando a atividade de recuperação. Aduziu que o proprietário interessado faz
a inscrição na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo,
a partir disso a equipe vai até a propriedade e realiza a recuperação, sempre com apoio da
prefeitura, da EMATER, dos agricultores familiares e do COMADER. Enfatizou que o dono
da propriedade fornece o cimento, os canos (drenos) e o almoço para a equipe, já que a pedra
é entregue pela prefeitura. Concluiu que existe uma pequena ajuda e custo para os agricultores
familiares, por meio da Itaipu Binacional, que envia um valor por nascente recuperada.
Por outro lado, observou o grupo nas atividades de campo, o notório entusiasmo dos
agricultores, cujas nascentes foram recuperadas. Todos estavam gratos pelo importante
serviço realizado. Nesse sentido, merece destaque o depoimento da agricultora Luciana
Bombarda. Ela, além de esclarecer que o custo de material por proprietário é de cerca de cem
reais, apontou a importância da recuperação das nascentes de sua propriedade rural. São suas
palavras:
“Como nós usamos a água da propriedade para o consumo humano, eu
vi a necessidade de protegê-la para evitar que animais silvestres não
tenham acesso à nascente e assim evitar o contato dos mesmos com a
água que é consumida, haja vista que pode acontecer de acabarem
morrendo na nascente ou próximo dela e contaminando a água. Outro
56 G2
fator importante é que sem a revitalização, a captação da água era feita
através de um represamento da água fora da nascente e, por mais que
fizesse a limpeza periódica desse reservatório, ele ficava exposto ao
tempo. Com a revitalização, a água captada fica armazenada dentro da
nascente, sem contato nenhum com o meio externo e assim distribuída
para as casas por meio de canos.”
A aplicação de técnicas voltadas à recuperação/proteção de mananciais realizada pelo
Projeto Água Limpa, indiscutivelmente, tem também o escopo de recuperar as condições
ambientais das APPs, no entorno de nascentes, na microbacia que está localizado o
município, ou na região que está inserido, garantindo assim, a melhoria de qualidade de vida
e o aumento da disponibilidade de água, incentivando os proprietários rurais a recuperarem
as nascentes existentes em suas propriedades.
Necessário consignar que fora realizada entrevista com o Senhor Dilvo Grolli, Diretor-
Presidente do Conselho de Administração da COOPAVEL tendo ele destacado que projetos,
como o narrado neste trabalho, são de relevante importância. Ele traz reflexões entre o Projeto
Água Limpa e atividades ambientais desenvolvidas pela COOPAVEL. Vejamos:
A meta do programa “ÀGUA VIVA” da COOPAVEL é de disseminar
conceitos da proteção e preservação de recursos naturais. O gesto tem
sido amplamente multiplicado nos últimos 13 anos, desde que a
iniciativa foi criada. Mais de dez mil nascentes já foram protegidas em
uma grande parceria, que envolve as famílias e a cooperativa. O
programa dá resultados tão bons que outros estados, a exemplo do
Nordeste, e até o Paraguai já optaram por empregá-lo. O alcance do
Água Viva é tão grande que, inclusive, já rendeu prêmios importantes
à Coopavel, valorizando ainda mais os princípios que sustentam a
cooperação.
Todas as bacias hidrográficas do Oeste do Paraná, principalmente as
que são formadas pelos afluentes do Iguaçu e do Piquiri, são
beneficiadas pela melhoria da qualidade dessa água. Com a preservação
há gradual redução dos níveis de contaminação, com benefícios diretos
aos rios e lençóis freáticos. Com água de melhor qualidade criam-se
também condições mais propícias para a piscicultura, atividade que está
crescendo no Oeste do Paraná, gerando mais empregos e divisas à
região.
Principalmente a valorização e a proteção do meio ambiente, um aliado
incondicional de quem produz. Outra vantagem é a sanidade dos
animais. Com água de qualidade, os animais serão ainda mais
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 57
saudáveis. Depois da implantação do programa, tivemos ganhos em
produtividade dos rebanhos de aves, suínos e leite.
Para assegurar a melhoria da qualidade da água para as famílias,
basicamente para as que usam minas para o seu consumo diário. Com
água protegida, elas ganham em qualidade de vida, melhorando assim
a saúde da família e de seus colaboradores.
A análise dos fundamentos do Projeto Água Limpa, aliada aos trabalhos de campo
acompanhados pelo grupo, deixaram claro que os benefícios vão muito para além da
recuperação da nascente, o que, por si só, já é positivo, pois é notória a grande integração
social entre os envolvidos, sem deixar de enaltecer a educação ambiental promovida com a
inserção dos alunos de escolas públicas do Município de Corbélia/PR, que estão tendo, na
prática, lições de proteção e preservação do meio ambiente. Em suma, o legado desse trabalho
coletivo, de integração, de gestão e de apoio mútuos, ao que tudo indica, será a melhor
consciência ambiental, em perfeita interlocução com os primados do artigo 225, caput, da
Constituição Brasileira (CF), que assim dispõe: “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações”.
Antes de encerrar o estudo de caso, uma sugestão é feita para os parceiros e executores
do projeto, que se procure, numa próxima etapa, mecanismos, meios e incentivos para
recuperar as áreas de vegetação no entorno das nascentes e olhos d´água, consideradas APPs,
tudo com vistas à manutenção do ciclo hidrológico e à proteção ambiental.
Iniciativas como o Projeto Água Limpa poderão contribuir de forma decisiva para que
o meio ambiente ecologicamente equilibrado seja preservado e garantido para a essa e para
as futuras gerações. Não é tão complicado assim, basta que cada um faça a sua parte, pois
jamais deveremos esperar a fonte secar para percebermos o real valor da água.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É notório que a escassez dos recursos hídricos configura um dos mais sérios problemas
da humanidade. Por isso, cada vez mais, devem ser incrementadas políticas públicas voltadas
a minimizar tal problemática. Imbuídos dessa preocupação, surgiu o Projeto Água Limpa do
Município de Corbélia/PR, que tem a missão de recuperação de uma centena de nascentes
localizadas em propriedades rurais, por meio de importante parceria entre o Poder Público e
os agricultores locais.
Muitas vezes, o ser humano espera soluções milagrosas, fantásticas ou mirabolantes
para resolver problemas do seu dia a dia. A comunidade de Corbélia/PR deixou para trás
aquela máxima de que tudo é problema do outro e resolveu, literalmente, “arregaçar as
mangas” e colocar as “mãos na massa”. Assim, com um trabalho de entrosamento, parceria,
58 G2
cumplicidade, participação e preocupação com o meio ambiente, estão, a todo vapor,
recuperando nascentes e, por consequência, mananciais de água daquela região.
Esse é um simples, pois não há necessidade de grandes tecnologias, exemplo de que,
efetivamente, “juntos somos mais fortes”. A palavra para descrever o trabalho de carregar
pedras, fazer muros, preparar a massa, instalar os canos e ver a água brotando limpa e em
condições de uso, não pode ser outra que não seja emoção. Emoção em perceber que o
simples, também, tem bom resultado; emoção em sentir a alegria na face daquelas pessoas
que precisam da água para tudo que se faz na agricultura; emoção em admirar o entrosamento
entre os entre todos os executantes do projeto e, por fim, emoção em presenciar a natureza
sendo recuperada. Com tudo isso, realmente, não tem como o projeto não dar certo e,
inclusive, ser replicado para outros Municípios.
Dessa forma, a partir do que foi pesquisado e do que fora acompanhado in loco, no
que diz respeito à recuperação de nascentes, observou-se o impacto positivo dessa ferramenta
para a preservação dos recursos hídricos. Nesse viés, o trabalho de recuperação de nascentes
nada mais é que dar vida ao que preconiza a legislação quanto ao meio ambiente, vez que
todos temos “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”(CF, artigo 225 caput).
Atividades de recuperação da natureza como as registradas no presente trabalho
devem ser cada vez mais constantes e com maior difusão, para que continuemos a dizer
“Terra! Planeta água!” e para que a água, esse precioso, importante e indispensável recurso
vital, continue em qualidade e quantidade suficiente para toda a humanidade, tornando letra
viva a bela canção:
Água que nasce na fonte serena do mundo
E que abre um profundo grotão
Água que faz inocente riacho
E deságua na corrente do ribeirão
Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população
Águas que movem moinhos
São as mesmas águas que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 59
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
(Guilherme Arantes)
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GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 61
62 G3
DESCREVER AS CONDIÇÕES DA SAÚDE
PSICOLÓGICA DE ACORDO COM AS
POLÍTICAS
PÚBLICAS DOS AGENTES DA POLÍCIA
FEDERAL
DO BRASIL G3
ELZA TEREZINHA DOLEJAL
LUIZ ANTÔNIO KULZER
OSWALDO GREGÓRIO FERREIRA FILHO
RAFAEL LUIZ NAVA FERRO
PROFESSOR ORIENTADOR: HEROLDO SECCO JUNIOR
RESUMO: Este artigo tem como principal fundamento descrever como é a realidade das
Políticas Públicas direcionadas a saúde psicológica dos agentes de Polícia
da Federal, visto que as atividades laborais dessa classe estão voltadas
para a manutenção da ordem, combate à criminalidade e segurança da
sociedade, consequentemente, expostos a periculosidade eminente e a
obrigatoriedade do uso de arma de fogo como objeto de trabalho. De
acordo com a coleta dos dados, de modo bibliográfico e entrevistas, os
Agentes não possuem um convênio específico para a categoria instituído
em lei, podem optar por convênios privados com desconto mensal. Em
compreensão aos resultados, por intermédio de exercícios de
planejamento e estratégia, sugeriu-se a criação de uma rede de assistência
à saúde, que seja exclusiva para o atendimento a esses trabalhadores.
PALAVRAS-CHAVES: Saúde, Psicologia, Polícia Federal
1. INTRODUÇÃO
Descrever as condições das políticas públicas referentes à saúde psicológica dos
agentes da Polícia Federal, não é uma tarefa fácil, visto que os dados são de trato sigiloso.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 63
Como é a realidade das Políticas Públicas direcionadas a saúde psicológica dos agentes
de Polícia Federal, visto que as atividades laborais dessa classe estão voltadas a manutenção
da ordem, combate à criminalidade e segurança da sociedade? Consequentemente, expostos
a periculosidade eminente e a obrigatoriedade do uso de arma de fogo como objeto de
trabalho?
Esse é o problema diretivo da pesquisa, descrever o direcionamento das Políticas
Públicas em relação à manutenção ou melhoria na qualidade de vida dos agentes da Polícia
Federal no Brasil, se eles têm plano de saúde específico, como é o local de trabalho, e as
pesquisas e seus dados mais recentes nesse âmbito de trabalho.
Para tanto, buscou-se por reportagens em jornais locais, documentos oficiais de modo
público, para que então o relato da pesquisa fosse válido e altamente confiável.
2. AS CONDIÇÕES DA SAÚDE PSICOLÓGICA NO BRASIL
Os desvios da saúde mental, em graus variados de complexidade e duração,
contribuem significativamente no peso da morbidade da população geral, a julgar pelos
indicadores de prevalência em inquéritos de morbidade, pelo número de atendimentos
médicos e de internações hospitalares e pela importância das doenças mentais como causa de
incapacidade para o trabalho (MENDES, 1988).
Assim, estima-se que nas áreas metropolitanas brasileiras, à semelhança do que ocorre
em outros países, cerca de 18% da população necessita de algum tipo de ajuda psiquiátrica,
e para estes, estima-se a necessidade de duas consultas médicas por ano, o que por si só
demonstra a repercussão desses problemas sobre a infraestrutura de serviços de saúde
(MENDES, 1988).
Por outro lado, tem sido estimado que 5 a 10% da força de trabalho ocupada sofre de
problemas de saúde mental considerados sérios, e que cerca de 30% sofre de algum tipo de
desconforto psíquico, de menor proporção. Como já foi mencionado a propósito das causas
de incapacidade temporária e de incapacidade permanente entre segurados da Previdência
Social no Brasil, as assim rotuladas psiconeuroses ocupam o primeiro lugar entre as causas
de incapacidade temporária, e o segundo e o terceiro lugar entre as causas de incapacidade
permanente e invalidez. Saliente-se que o tempo médio de afastamento do trabalho concedido
pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) para as psiconeuroses é de dez meses
(MENDES, 1988).
Sobre neurose,
O Termo neurose, foi proposto em 1769 (alguns afirmam que foi em
1777), pelo médico escocês William Cullen (1710-1790) para definir as
doenças nervosas que acarretavam distúrbios da personalidade. Foi
popularizado na França por Philippe Pinel (1745-1826) em 1785.
Retomado como conceito por Sigmund Freud a partir de 1893, o termo
64 G3
é empregado para designar uma doença nervosa cujos sintomas
simbolizam um conflito psíquico (TRIPICCHIO).
Para Levi, 1984, que é um pesquisador sueco, que mais se destaca nos estudos sobre
estresse e seus fatores psicossociais, identifica como “principais estressores psicossociais no
trabalho”, os seguintes itens:
Sobrecarga quantitativa: muita coisa para fazer, em pouco tempo;
Carga qualitativa inferior às possibilidades (underload): atividades
pouco estimulantes ou desafiadoras, que não exigem criatividade,
monótonas e repetitivas;
Conflitos de papéis e responsabilidades: “no trabalho, somos filhos,
pais, cônjuges, amigos, membros de clubes, entidades, sindicatos, e
nem sempre podemos cumprir bem estes diferentes papéis,
simultaneamente”;
Falta de controle sobre a sua própria situação: outros decidem pelo
trabalhador o que fazer, onde, e como, inclusive ritmos e velocidades;
Falta de apoio social: chefias, colegas de trabalho e outros;
Estressores físicos: barulho, calor ou frio extremos, iluminação
deficiente ou excessiva, odores incômodos e outros;
Estressores específicos da indústria: tecnologia de produção em
massa, processos de trabalho altamente automatizados, e trabalho em
turnos.
A influência do trabalho sobre a morbidade devida aos distúrbios e às doenças mentais,
os distúrbios psiconeuróticos, o estresse, ampliam a compreensão da necessidade da
abordagem integral e integrada, e mostram, de forma inquestionável, o quanto ainda falta
para que o setor de saúde, assuma seu papel de executar ou coordenar programas que ajudem
a interceptar a “história natural” desses desvios da saúde, deixando de se limitar a tratar,
internar, ou pagar a conta (MENDES, 1988).
2.1. AS DOENÇAS PSICOLÓGICAS QUE MAIS AFASTAM O TRABALHADOR
NO BRASIL
Estudos mostram que há um aumento no número de pessoas que adoecem e se afastam
do trabalho pelos mais variados motivos de saúde, porém, os de ordem mental e
comportamental têm se tornado os mais prevalentes e se configuram entre as maiores causas
de afastamento de longo prazo. O relatório da IV Conferência Nacional da Saúde do
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 65
Trabalhador e Trabalhadora revela que os transtornos mentais e comportamentais são a
terceira causa mais frequente de afastamentos do trabalho no Brasil, com a previsão de
duplicar esse número até 2020.
Sabe-se que existe uma relação entre o trabalho e a doença, porém, ainda predomina
a ideia que nega a existência do nexo entre trabalho e saúde mental, o que, em consequência,
leva o trabalhador a ter dificuldades em obter o reconhecimento de que o agravo vivido tem
origem ocupacional, seja por parte da empresa ou pelos profissionais da saúde.
O trabalhador dificilmente procura um serviço de saúde para falar dos problemas
vivenciados no seu trabalho, pois ele tem medo, receio, vergonha, entre outros. Esses autores
ainda afirmam que o trabalhador também não é questionado sobre esse aspecto, e, assim,
pode haver diluição dos problemas/queixa nas situações pessoais em que a responsabilidade
única é da pessoa, isto é, a culpa do adoecimento recai sobre o próprio indivíduo
(MACHADO; MUROFUSE; MARTINS, 2016). A condição mental mais abordada nos
artigos analisados foi o esgotamento profissional ou Síndrome de Burnout, sendo definida
como uma síndrome patológica resultante do estresse ocupacional prolongado.
A descrição inicial sobre a Síndrome de Burnout foi realizada pelo psiquiatra Herbert
J. Freudenberg, em 1974, que define a síndrome, como um estado relacionado ao
esgotamento, decepção e perda do interesse pela atividade de trabalho que acomete
profissionais que trabalham em contato direto com pessoas. O transtorno está registrado no
Grupo V da CID10” (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde) (BORGES et all, 2002)
Essa síndrome é composta por uma sensação de esgotamento físico e emocional que
se resulta consequentemente em “ausência no trabalho, agressividade, isolamento, mudanças
bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade,
depressão, pessimismo, baixa autoestima e até mesmo ideação suicida” (BORGES et al,
2002).
No Brasil, a Síndrome de Burnout, é considerada doença relacionada ao trabalho, está
presente na lista de transtornos mentais e do comportamento, associados ao trabalho, de
acordo com a Portaria/MS nº 1.339/1999. Conforme o Ministério da Saúde, o trabalhador
perde a significação do trabalho em sua vida e normalmente se desinteressa pelas atividades
laborais, parecendo inútil qualquer esforço realizado (GRACINO et al., 2017).
Outro problema de saúde, que afeta o trabalhador, é o “desejo de acabar com a dor”,
que é o suicídio. As causas podem ser de ordem emocional, divórcio, perda do trabalho, perda
de um ente querido, doenças físicas (Setembro Amarelo).
O suicídio está entre as principais causas de mortalidade no mundo. Anualmente,
estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas cometam suicídio no planeta, o que equivale a
uma morte a cada 40 segundos, estando o Brasil entre os dez primeiros países com maior
número absoluto de mortes por suicídio. É importante compreender a complexidade dos
múltiplos fatores psicossociais e emocionais envolvidos no comportamento suicida, o que
66 G3
reforça a importância da avaliação clínica e de métodos eficazes na intervenção desse
problema de saúde pública (SILVA et al., 2017).
No mundo, o país que lidera os registros de suicídios é a Índia, com 258 mil casos por
ano. Se considerado um grupo de 100 mil habitantes, quem assumiria o ranking seria a
Guiana, com 44,2 suicídios. O Brasil ocuparia o 111º lugar no mundo e o oitavo nas Américas
(FENAPEFRN, 2018)
2.2. A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL E A IMPLANTAÇÃO DE
ATENDI-
MENTO PSICOSSOCIAL PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
Os Centros de atenção psicossocial (CAPS) foram implantados, como resultado do
movimento denominado Reforma Psiquiátrica, para articularem a Rede de Saúde Mental no
território onde estão implantados. Situaram os Caps como os serviços substitutivos aos
hospitais psiquiátricos, que têm por objetivos: dar atendimento clínico diário, a fim de evitar
as internações; promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais; constituir-
se em porta de entrada à rede de atenção especializada; e proporcionar suporte em saúde
mental, focando no desenvolvimento de autonomia (OLIVEIRA et al., 2014).
Nesse contexto, os Caps assumem especial relevância no cenário das novas práticas
em saúde mental no País. Essa mudança paradigmática deve englobar a relação que se
estabelece com o usuário, equipe, família e a comunidade. A mudança de papéis, a
democratização das instituições, o envolvimento e responsabilização da comunidade devem
somar-se aos objetivos técnicos do tratamento. O objeto de intervenção torna-se mais
complexo e interdisciplinar, assim como as práticas e os saberes tradicionais devem ser
reconstruídos para responder a essa transformação (OLIVEIRA et al., 2014.
Especificamente na área da saúde mental, a Portaria nº 3088/GM/MS, de 23 de
dezembro de 2011, instituiu a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para atenção às pessoas
com transtorno mental ou dependentes de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Os objetivos gerais da RAPS são: ampliar o acesso à atenção
psicossocial da população em geral, promover a vinculação das pessoas com transtornos
mentais e com abuso do uso de crack, álcool e outras drogas e suas famílias e garantir a
articulação e integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando
a assistência por meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às
urgências (OLIVEIRA et al., 2014).
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 67
2.4 O SUICÍDIO EM AGENTES DA POLÍCIA FEDERAL
Fig. 1 Campanha sobre suicídio da Polícia Federal. Fonte: FENAPEFRN
Nos últimos cinco anos, a Polícia Federal registrou 24 casos de suicídios dentro da
corporação. Diante desse quadro alarmante, durante o “Setembro Amarelo”, a Federação
Nacional dos Policiais Federais lança uma campanha de prevenção e combate às ocorrências
(FENAPEFRN, 2018)
As doenças psíquicas atingem os agentes da Polícia Federal, de uma forma crítica,
levando ao suicídio alguns trabalhadores dessa instituição de segurança pública, como noticia
o Jornal de Todos os Brasis GGN, por LOPES, 2015,
Por que os policiais federais brasileiros estão se suicidando?
Por Débora Lopes. Entre março de 2012 e março de 2013, o número de
policiais federais que se suicidaram assustou a corporação brasileira: 11
no total. Praticamente um por mês. Nos últimos anos, estudos,
pesquisas e levantamentos demonstram que as questões ligadas à saúde
psicológica dentro da Polícia Federal são preocupantes. Os sindicatos
de diversos Estados do país denunciam o sucateamento da categoria.
Dos motivos, que afetam os servidores, cita que é o estresse, alcoolismo, ansiedade,
depressão e síndrome do pânico. Que uma pesquisa realizada com 11 mil policiais (número
total da corporação brasileira) entrevistados recentemente, dois mil afirmam tomar algum
tipo de medicamento para tratamento psicológico e psiquiátrico, de acordo com a Federação
Nacional dos Policiais Federais (FENAPEF).
Agente federal há 18 anos, M.P. conta que, nos últimos dias, ligou para um amigo
também policial federal que estava retornando à função depois de 15 dias de férias. O colega
de profissão desabafou que o descanso não foi suficiente: “Estou me entupindo de Rivotril
pra ir trabalhar” (M.P. 2018).
68 G3
A FENAPEF, também cita que “oficialmente, existem apenas um psiquiatra e cinco
psicólogos para atender toda a PF.” No entanto, nessa reportagem não esclarece como são
esses atendimentos ou como se realizam os encaminhamentos. Na continuidade do texto, fala-
se sobre uma pesquisa realizada pela Delegada Federal Tatiane da Costa Almeida, que então
entrevistou policiais federais e alunos da Academia de Polícia, que então denota a diferença
entre o momento que o policial entra na academia e a realidade da carreira, e a ligação dessas
atividades com o suicídio dos policiais:
O assunto dos suicídios intrigou a delegada federal Tatiane da Costa
Almeida, que levou a questão para fora do país ao defender a tese de
mestrado. Quero Morrer do Meu Próprio Veneno no Instituto
Universitário de Lisboa, em Portugal. Para dar consistência ao trabalho
acadêmico, ela entrevistou policiais federais e desenvolveu um
questionário, que, posteriormente, foi aplicado à dois mil alunos da
Academia de Polícia.
Sobre a academia, a delegada refere que o curso feito na Academia de Polícia dura
cerca de cinco meses e realizado em Brasília (Distrito Federal). O desempenho nas aulas
implica na aprovação ou não do candidato. Essa etapa “já é estressante”, pois inicia com um
dos grandes agravantes da profissão, que é o isolamento, pois permanecem em regime de
internato e distantes da família. No site da Academia, encontra-se a seguinte informação:
“Para que os objetivos pedagógicos sejam alcançados, os alunos estão sujeitos a uma
intensa rotina, sob regime de semi-internato, das 7h40 às 19h30, de segunda a sábado”.
“A ilusão com a rotina da profissão é um dos pontos que provavelmente deprime o
policial recém-ingresso na corporação. “Quando estamos na academia, vivemos um mundo
cheio de coisas novas. Aprendemos a lutar, a atirar, nos acostumamos com a agitação.
Quando você começa a trabalhar, não existe todo esse dinamismo”, frisa. Muitas vezes, o
trabalho da PF é burocrático. Para a delegada, o inquérito policial é o maior exemplo de
procedimento desprovido de “aventura”
Já para o diretor adjunto da Fenapef, Flávio Werneck, o isolamento faz parte da
profissão e não pode ser visto como motivo principal. A precarização do trabalho parece ser
mais grave. “Quando você é mandado pra cidades de fronteira do Brasil, você não recebe
apoio nenhum do departamento”, destaca. “Você vai às suas custas, tendo de pagar, inclusive,
sua passagem pra ir lá. Você chega à cidade sem suporte pra moradia, hospedagem. Não te
explicam o dia a dia do lugar, quais os riscos operacionais que você vai correr enquanto
policial federal. E não tem um acompanhamento psicológico e psiquiátrico regular.”
A FENAPEF, também cita outra pesquisa realizada pela Universidade de Brasília
(UnB) em 2012, 53% dos policiais entrevistados responderam que gostariam de se desligar
da Polícia Federal. Quando perguntados sobre a existência de programas voltados para o bem-
estar ou atenção à saúde do servidor dentro da PF, 88% afirmaram não haver nenhum
programa do tipo.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 69
Sobre atendimento psicológico, a delegada Tatiane, ainda na reportagem pela
FENAPEF, explica que “O número de psicólogos tem diminuído, porque agora a polícia está
num sistema integrado de saúde junto com todos os órgãos do Executivo (...) talvez, devemos
repensar e colocar mais psicólogos trabalhando diretamente com os policiais.”
Ocorre-se a possibilidade de contratar profissionais para a realização de serviço
terceirizado, opina que “O policial é muito isolado, muito desconfiado. Talvez ele tenha
dificuldade pra falar com psicólogos que não sejam do quadro da polícia. Seria interessante
termos um médico que conheça melhor o dinamismo do nosso órgão.”
A FENAPEF também aborda o assunto, afirmando que “o grande problema é que os
agentes federais se submetem a um regime de trabalho militarizado, sem que tenham
treinamento militar para isso”. De acordo com a federação, a PF não cumpre com uma
portaria da Secretaria de Direitos Humanos, que obriga o órgão a “desenvolver programas de
prevenção ao suicídio, disponibilizando atendimento psiquiátrico, núcleos terapêuticos de
apoio e divulgação de informações sobre o assunto”.
Uma publicação de 2017, sobre o suicídio dos policiais federais, no site da FENAPEF,
tem o título: suicídio entre policiais federais é seis vezes maior do que a média brasileira,
abaixo está a reportagem:
“Cheguei a sacar a arma e apontar para a minha cabeça. O fundo do poço foi quando
me peguei pesquisando na internet formas de se matar sem sentir dor. Caiu a ficha e então fui
procurar uma ajuda, uma terapia”.
Essa frase, foi a revelação feita pelo “agente da Polícia Federal Alexandre Santana
Sally, presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Federal de São Paulo, durante a
abertura do Encontro sobre Prevenção ao Suicídio, organizado pelo sindicato e pela
Superintendência da Polícia Federal de São Paulo”.
Entre 1999 e 2015, foram registrados 42 casos de suicídios. Nos últimos
cinco anos do levantamento, foram 20 casos, o dobro do período de
cinco anos anterior. O último ano em que não ocorreu nenhum suicídio
de policial federal foi em 2004.
“São números que estão subestimados. Os casos de suicídios podem ser
ainda maiores. Por exemplo, há casos em que o agente ‘busca a bala’
durante uma operação. Na estatística, aparece como morte em ação, mas
existiu ali o impulso suicida. Alguns agentes já comentaram sobre isso
e não se sabe de fato quantos casos foram”, disse o psiquiatra Roberto
Tonanni de Campos Mello, da superintendência da Polícia Federal de
São Paulo.
Segundo o médico, há sinais, que podem ser observados pelos colegas
de trabalho, que indicam uma potencial situação de suicídio.
“Fundamentalmente, é alguma mudança de comportamento. O
70 G3
convívio muda e sai do padrão. Alguém que, repentinamente, ficou
mais quieto, começou a faltar no serviço. Era mais expansivo e ficou
mais calado. Algumas situações são sutis. Mas aí entra a questão da
constância. Deixa de ser apenas um dia ruim e passa a ser um
comportamento rotineiro”, disse.
Para o presidente do sindicato, os casos de suicídio entre policiais
federais têm, em parte, relação com a atividade profissional. “A Polícia
Federal é o serviço público onde mais ocorrem suicídios. Se comparar
como se fosse um país, a PF seria o sétimo no ranking mundial,
enquanto o Brasil é o 111º. É uma atividade muito estressante e cheia
de pressão. O agente sofre muito assédio moral e isso gera muita
desmotivação. Não houve uma restruturação da carreira. Desde que a
Polícia Federal passou a exigir nível superior, as nossas atribuições
continuam sendo complexas, porém, não houve uma adequação. (...)
Para comprovar o ponto de vista, Sally lembra que as ocorrências de
suicídios aumentaram a partir de 2011. “Foi quando começou a
reinvindicação pela reestruturação da carreira. E em 2012, foi quando
aconteceu a greve de quase 70 dias”.
Sobre atividades realizadas para o combate ao suicídio, Sally refere que, em 2015 o
Centro de Valorização da Vida (CVV), trouxe ao Brasil a Campanha do Setembro Amarelo,
já instaurado em outros países, que combate o suicídio.
O CVV é uma entidade sem fins lucrativos que atua gratuitamente na prevenção do
suicídio desde 1962, membro fundador do Befrienders Worldwide, que tem como tradução:
Carta para o mundo todo - é uma empresa sem fins lucrativos de voluntários que prestam
serviço de auxílio “ouvem sem julgar as pessoas que são suicidas”. O CVV atua junto ao
Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (IASP), da Associação Brasileira de
Estudos e Prevenção do Suicídio (Abeps) e de outros órgãos internacionais que atuam pela
causa.
Há dois anos, o CVV trouxe para o Brasil o “Setembro Amarelo”, mês
escolhido para os debates e orientações sobre o combate ao suicídio. “É
uma questão fundamental de saúde, 17% da população mundial vai
pensar em se matar alguma vez na vida. É um quinto da população. Não
é uma anormalidade. Na vida, às vezes, a gente pensa em desistir, mas
se você não tem com quem falar, não tem ninguém do lado, não procura
ajuda, acaba se matando mesmo. O caminho então é falar, é procurar
ajuda para evitar a tragédia”, disse.
(...)
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 71
Outra hipótese que pode explicar o alto índice de suicídios entre os
policiais e o acesso às armas de fogo. “Assim como a classe médica que
também tem acesso aos remédios que podem levar à morte, os policiais,
de um modo geral, estão próximos às armas de fogo”, disse.
Desde 2014, está em vigor uma norma na Polícia Federal que recolhe a
arma do agente em casos de afastamento do trabalho por conta de
alguma doença da categoria F, do CID (Código Internacional de
Doenças), que inclui as patologias por doenças mentais.
“No passado, foram apresentados outros projetos de prevenção ao
suicídio, mas que não saíram do papel. O atual superintendente da PF está muito
disposto em implantar o programa biopsicosocial dentro da PF, criado em 2009.
Vamos colaborar para implantá-lo este ano”, disse Sally. O Número de suicídio entre
policiais federais está disposto conforme gráfico apresentado, pela FUNDAPEF,
2018,
72 G3
Fig. 2 Reportagem do portal. Fonte: Strauss Comunicação http://fenapef.org.br
No Estado do Rio Grande do Norte, por intermédio da FENAPEF, essa campanha deu
início em 2018, por meio de palestras, visitas e até mesmo marketing de divulgação pelas
redes sociais, por ocasião da Campanha do Setembro Amarelo:
Durante o mês de setembro, a Fenapef e os 27 sindicatos filiados estarão
nas Redes Sociais apresentando medidas de prevenção e como
identificar um colega com depressão. Em alguns estados, no dia 10 de
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 73
setembro, que é comemorado o Dia Internacional de Prevenção e
Combate ao Suicídio, farão palestras e programações com os servidores
no sentido de conscientizar e ajudar aqueles que têm necessidade
(SINPEFRN, 2018).
No Brasil, a Campanha do Setembro Amarelo, foi iniciada em 2015, na cidade de
Brasília, pelo CVV, Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP). Mundialmente, o IASP estimula a divulgação da causa, vinculado ao dia
10 do mesmo mês no qual se comemora o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
Essa data está atrelada ao “11 de Setembro de 2011” dia em que ocorreu a tragédia
das Torres Gêmeas em Nova Iorque, nos Estados Unidos, quando aquelas sofreram ataques
ou atentados terroristas: foram uma série de ataques suicidas contra os Estados Unidos
coordenados pela organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda.
Na cidade de Cascavel, o médico responsável pela Campanha do Setembro Amarelo,
Dr. Fabiano Agostinho, em entrevista a essa pesquisa, informou que o trabalho na região está
voltado para palestras informativas em estabelecimentos e entidades públicas, como a
Delegacia de Polícia Federal, para o ano de 2018. O objetivo da Campanha, é levar
informação mais detalhada sobre a prevenção ao suicídio, sendo que foi instalado o Disque
188 (ligação gratuita, serviço público que funciona em todo território brasileiro) para as
pessoas que necessitam de auxílio e até mesmo “socorro”. Por meio desse serviço de
atendimento telefônico, as pessoas (vítimas, amigos, familiares) podem ser ouvidas por
voluntários, que realizam uma escuta sem julgamento e livre de qualquer preconceito.
74 G3
3. CONTEXTO DA AÇÃO POLICIAL
Fig. 3 Duque de Caxias. Fonte: Assembleia Legislativa de São Paulo -
http://www.al.sp.gov.br
No dia 25 de agosto, comemora-se o Dia do Soldado, em homenagem a Duque de
Caxias. Por Decreto nº 51.429, de 13 de março de 1962, sancionado pelo presidente da
República João Goulart, pelo Primeiro-ministro Tancredo Neves e pelo Ministro da Guerra
General-de-exército João de Segadas Vianna, foi o Marechal Luís Alves de Lima e Silva,
Duque de Caxias, consagrado Patrono do Exército Brasileiro. (www.al.sp.gov.br)
A atuação policial no Brasil passou por várias transformações ao longo dos mais de
200 anos de sua existência, seguindo a mesma estrutura desde a Constituição Federal de 1988.
No Brasil a primeira polícia foi criada pela Coroa portuguesa em 1808, a chamada
Intendência Geral de Polícia e logo em seguida, em 1809, foi criada a Guarda Real de Polícia.
A primeira deu origem à Polícia Civil atual e a segunda, à Polícia Militar, no entanto
devido à ineficácia no gerenciamento das crises da época, a Guarda Real foi abolida e em seu
lugar foi criado o Corpo de Guardas Municipais Permanentes (CGMP) (CARDOSO, 2009).
Em 1889 ocorreu uma mudança no quadro político do país, com a Proclamação da
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 75
República houve alterações nas relações políticas e entre as classes sociais que exigiram
mudanças nas instituições policiais. Nesta fase, com a migração da população rural para a
região urbana houve a necessidade de uma reformulação nas ações policiais. Anteriormente
a este evento, o corpo policial se ocupava com a supervisão das classes urbanas tidas como
perigosas, os mesmos passaram a ter que controlar os recém-chegados e para isso em 1890 o
Código Penal foi reformulado (SOUZA E MORAES, 2011).
A chamada “experiência democrática” da década de 50 teve seu fim com o golpe
militar em 1964 que estabeleceu um regime burocrático-autoritário, que reduziu as ações
políticas e expandiu o poder das Forças Armadas. De acordo com Carvalho (2007), “esta
nova ordem política era justificada a partir da noção de inimigo interno inscrita na Doutrina
de Segurança Nacional, desenvolvida pela Escola Superior de Guerra do Exército Brasileiro”,
com o objetivo de conter a oposição política.
Com o golpe de 1930 e Getúlio Vargas no poder, as polícias passaram por uma série
de mudanças, alguns delegados da Polícia Civil do Distrito Federal e de outros estados foram
substituídos por pessoas de confiança do regime, e a polícia passou a ser responsável também
pelo controle dos grupos políticos considerados inimigos do Estado, bem como das classes
pobres perigosas (CARVALHO, 2007).
A polícia era o braço direito do governo Vargas, que estabeleceu uma repressão
política, cuja vigilância era centralizada no Distrito Federal, nos demais estados era
coordenada pela Polícia Civil e em 28 de março de 1944, por meio do Decreto-Lei nº 6.378,
a então Polícia Civil do Distrito Federal se tornou Departamento Federal de Segurança
Pública (DFSP), a qual era diretamente subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios
Interiores (POLÍCIA FEDERAL, 2018).
De acordo com Carvalho (2007) neste período houve uma reformulação do aparato
policial por meio da Constituição Federal de 1967, a qual manteve as Polícias Militares como
reserva e forças auxiliares do Exército, mas com uma inovação, extinguiu as Guardas Civis
e agrupou seus efetivos às Polícias Militares, as quais passaram a ser as únicas forças policiais
com função de patrulhamento das cidades, mas ainda subordinadas ao Exército Brasileiro.
Neste mesmo ano é que surge o nome Polícia Federal em substituição à denominação
Departamento Federal de Segurança Pública – DFSP.
O contexto histórico brasileiro mostra que atividade policial e direitos humanos
ocuparam sempre lados opostos, isso ficou bem evidenciado durante o período da ditadura
militar, quando a polícia ficou estigmatizada por ações violentas, as quais não se enquadram
com o modelo ideal de corporação em um Estado Democrático de Direito (EMERIK, 2013).
A forma de atuação autoritária da força policial desta época acabou por instituir um
grande distanciamento entre esta e a sociedade. A população de modo geral, ainda vê
atualmente os agentes de segurança como um meio de repressão do Estado sobre o povo, em
outras palavras, enxerga a forma de agir da polícia como contrária aos interesses do povo e
não em favor do mesmo. Em consequência do novo modelo de política brasileira, mais
democratizada, fez-se necessário formular um novo modelo de segurança pública no país,
76 G3
considerando que essa nova conjuntura da política nacional permite uma relação de parceria
entre a polícia e os direitos humanos, beneficiando a comunidade e não o contrário (EMERIK,
2013).
Para Emerik (2013), há que se considerar o agente de segurança como um educador
que transmite cidadania por meio de exemplos de conduta, de comportamento moderado e
uso do bem senso. Assim sendo, a ação policial consiste em desempenhar suas funções
específicas e ao mesmo tempo proteger os direitos humanos.
Na Constituição Federal de 1988, corrobora isso quando define segurança pública
como “dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Neste contexto, pode-se então
considerar a mesma como um problema bastante complexo no Brasil. Ao longo dos anos, a
criminalidade vem apresentando crescimento representativo, com números alarmantes,
enquanto o investimento neste setor diminui.
Nos dados do Governo Federal e dos Tribunais de Justiça, o número de presos por
tráfico de drogas aumentou de 23,7% para 35,8% em 4 anos. Desde a implantação da Lei de
Drogas em 2006, até o ano de 2017, este número teve um aumento de 480% (VELASCO;
D’AGOSTINO; REIS, [201-?]).
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2017 divulgou que, em 2016, os gastos
com políticas públicas de segurança totalizaram R$ 81 bilhões, entre União, Estados e
Municípios, apresentando redução de 2,6% do total, em comparação a 2015. Analisando
somente os gastos da União, a redução foi de 10,3%. Os homicídios apresentaram aumento
de 4% de 2014 a 2016 com total de 61.383 casos. Em relação aos policiais mortos, o número
foi de 453 em 2016, apresentando um aumento de 23,1% em comparação a 2015.
Percebe-se que, mesmo após ser sancionada a lei nº 13.145/2015, em 06 de julho de
2015, que alterou a classificação de crimes praticados contra integrantes das forças de
segurança e seus familiares até terceiro grau, no exercício de sua função ou decorrência dela,
passando a ser classificado como qualificado, e considerado como crime hediondo, o número
de policiais mortos continuou crescendo.
Atualmente, de modo geral os manuais de Direito Administrativo, em sua grande
maioria, descrevem dois conceitos para o termo Polícia, um negativo e outro positivo. No
conceito negativo descrevem-no como atitudes coercitivas, que previnem a perturbação da
ordem pública, por meio de limitações à liberdade individual e/ou coletiva, já no conceito
positivo, as atitudes visam promover a tranquilidade da sociedade por meio de proteção e
socorro comunitários (CRETELLA JUNIOR, 1987).
O Artigo 144 da Constituição Federal de 1988 define que:
A segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 77
I - Polícia Federal;
II - Polícia Rodoviária Federal;
III - Polícia Ferroviária Federal;
IV - Polícias Civis;
V - Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
Conforme a Constituição Federal do Brasil, as atribuições da Polícia
Federal são:
“I– apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja
prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija
repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II– prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de
outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III– exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteiras; (BRASIL, 2018)
A Constituição Federal denominou o órgão como Polícia Federal e o Decreto n. 6.061
de 15 de março de 2007 o colocou hierarquicamente ao lado das demais secretarias do
Ministério da Justiça com a mesma denominação.
Uma ação policial até ser deflagrada passa por alguns procedimentos e podem levar
meses ou anos, que, de acordo com Venturini (2016) são:
Fase anterior à operação, que é formada pela abertura do inquérito,
coleta de provas e autorização judicial para alguns procedimentos como
escutas telefônicas e buscas;
Deflagração da operação: é feita pelo delegado responsável pelo caso,
quando o mesmo entende que a torna-la pública é necessário para o
avanço nas investigações. Centenas de agentes podem fazer parte de
uma operação e ocorrer em várias cidades simultaneamente.
Durante uma operação podem ocorrer prisões, conduções coercitivas,
buscas e apreensões, e atuações conjuntas com outros órgãos como o
Ministério Público Federal, a Receita Federal, o Ibama e o INSS;
78 G3
Duração de uma operação: as investigações não tem prazo para
terminar. Quando é finalizada, o delegado conclui o inquérito, podendo
ou não pedir o indiciamento do suspeito. O inquérito é encaminhado ao
Ministério Público Federal, é este órgão que decide se denuncia o
suspeito a Justiça ou se pede o arquivamento do inquérito. Se denunciar
e a Justiça aceitar, se inicia o processo e posterior julgamento.
Atualmente, crimes de corrupção vêm ganhando notoriedade no Brasil. Por tratar-se
de crime federal, as investigações ficam a cargo da Polícia Federal. Segundo Augusto (2018),
o número de operações de combate à corrupção aumentou 411%. Foi de 56 operações em
2013 para 286 em 2017, 621 operações no período e 1.946 pessoas presas.
Uma das maiores operações realizadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal
e a Operação Lava Jato, iniciada em 2009 a partir da observação dos montantes
movimentados por doleiros, ligados a Alberto Youssef, no Brasil e no exterior. As pessoas
que após investigação foram detidas, foram encaminhadas para a Delegacia da Polícia Federal
da cidade de Curitiba do Paraná, porque “O foco inicial da investigação eram crimes de
lavagem de dinheiro de recursos ilícitos relacionados ao ex-deputado federal José Janene, de
Londrina, no Paraná.”.
Fig. 4 - Vista do Edifício da Delegacia da Polícia Federal Superintendência Regional de
Curitiba PR, foto: Gilmar Rose / Foto Premium, crédito: Eduardo Carmim/Alamy
Live News
O nome dessa operação vem do fato de que uma das primeiras organizações a serem
investigadas por obtenção de recursos ilícitos usava uma rede de postos de gasolina, para
fazer a lavagem de dinheiro (Record Notícias, 2014).
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 79
Em relação às ações relacionadas à segurança pública, a Lei nº 13.690/2018 foi
sancionada em 10 de julho de 2018, a qual trata da criação do Ministério de Segurança
Pública. Este foi criado com o objetivo de coordenar a segurança pública em nível nacional
e promover a integração das forças policiais.
Recentemente surgiu a análise criminal, devido ao modelo atual de alocação adequada
de recursos públicos traduzida em uma necessidade de redefinir a forma que a segurança
pública é feita. De acordo com Magalhães (2007), a análise criminal é uma ferramenta
imprescindível para a produção de conhecimento voltada para a gestão da segurança pública,
que agrega valor por meio da Tecnologia da Informação (TI), possibilitando assim ao gestor
público, tomar decisões totalmente norteadas por uma atividade científica.
Com isso surge o analista criminal, um profissional que deve ter perfil específico para
atuar com este novo sistema, ou seja, é necessário haver uma formação adequada, pois o
mesmo deve ser distinto, conseguir enxergar além dos acontecimentos e sempre estar focado
nos resultados.
3.1. DA DELEGACIA DE POLÍCIA FEDERAL DE CASCAVEL
Fig. 5 Delegacia da Polícia Federal de Cascavel. Fonte: Jornal O Paraná
Em uma das regiões mais críticas quanto à linha de trânsito e de transporte do tráfico
de drogas, de armas, de munições e do contrabando vindos do Paraguai e que alimentam
importantes facções criminosas por todo o Brasil, a delegacia registra um histórico de cerca
de cem operações e de aproximadamente mil prisões (MANFRIN – O PARANÁ, 2018).
Sobre a estrutura de funcionamento de Delegacias da Polícia Federal, tomou-se como
exemplo para essa pesquisa, a Delegacia de Polícia Federal de Cascavel, devido a sua
80 G3
localização estar em área de fronteira, a oeste do Estado do Paraná próximo aos países do
Paraguai e Argentina. Essa Delegacia, tem 66 municípios sobre a sua jurisdição, sobre a
sua funcionalidade e visibilidade social e econômica, os recortes jornalísticos apresentados,
apontam sobre a realidade:
Esse texto foi retirado do site da Prefeitura de Cascavel, Portal da Transparência,
descrevendo a inauguração da Delegacia de Polícia Federal e sua importância para a região,
no dia 23 de Junho de 2006:
Foi inaugurada na tarde de hoje 23/06/06 a Delegacia da Polícia Federal
(PF) de Cascavel, com a presença do ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos. No ato, o prefeito Lísias de Araujo Tomé anunciou a
doação de um terreno de 10 mil metros quadrados, próximo ao Paço
Municipal, para a construção da sede própria da Delegacia. “O terreno
é do povo e para o povo ele deve ser usado”, frisou o prefeito. Lísias
ressaltou que toda população acredita não apenas na força moral da PF
e a sensação de segurança que trará, mas principalmente no trabalho
efetivo da Polícia. O prefeito lembrou-se da luta do Poder Público e da
sociedade civil organizada, que buscaram incansavelmente a instalação
da Delegacia. “Sabemos que a população clama por mais segurança,
por isso não medimos esforços para que ela fosse instalada”, frisou. O
prefeito observou o apoio fundamental dos deputados federais
Fernando Giacobo (PL) e Irineu Colombo (PT), juntamente com a
Ordem dos Advogados do Brasil (Cascavel). Ele destacou ainda que o
Município disponibilizou o espaço físico e estagiários para ajudar na
implantação da Delegacia. Trabalho - O ministro disse que é
fundamental para o Brasil que sejam criadas instituições e não leis, mas
que as instituições implantadas sejam impessoais. Para ele, a “PF é
dirigida por mãos honradas”, respeitada pelo seu serviço de inteligência
e de planejamento estratégico. “A Polícia Federal é uma instituição
impessoal, prendendo quadrilhas sem tiros ou mortes”, declarou. Dr.
Márcio Thomaz Bastos disse ainda que nos últimos três anos foram
realizadas 300 operações em combate ao crime organizado e que esse
mesmo trabalho será promovido em Cascavel e nos 63 municípios que
a PF atenderá. A solenidade contou ainda com a presença do diretor-
geral do Departamento de Polícia Federal, Dr. Paulo Fernando da Costa
Lacerda. O chefe da Delegacia da PF de Cascavel, Dr. José Alberto
Iegas, falou que Cascavel é um polo e que necessitava da presença da
Polícia Federal. Trabalharão na Delegacia cerca de 20 policiais e até o
final do ano o quadro efetivo será duplicado. “A Polícia Federal atua de
forma republicana, respeitando os direitos humanos e trabalhando de
uma forma cidadã (Prefeitura de Cascavel).
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 81
O Jornal Gazeta do Povo, em 2006, noticia a importância da inauguração da Delegacia
de Polícia Federal de Cascavel, para a região Oeste e Sudoeste do Paraná, pois a unidade
atenderá 63 municípios e dará suporte à segurança externa e transferência de presos para a
Penitenciária Federal, que foi instalada no município de Catanduvas, localizado a 55
quilômetros,
O delegado da regional da PF, José Alberto Iegas, disse que (...) a
instalação da delegacia é uma antiga reivindicação da comunidade e de
entidades de classe como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Bastos elogiou o planejamento estratégico e imparcialidade da PF, que,
nos últimos três anos e meio, realizou cerca de 300 operações, muitas
delas em grandes empresas. “Pessoas que se julgavam intocáveis hoje
sabem que não o são”, disse. Bastos ainda lembrou que, em centenas de
operações, a PF desbaratou quadrilhas sem dar um único tiro sequer.
(...)
“A construção da primeira penitenciária federal em Catanduvas, que
será inaugurada no dia 23 de junho, apressou a instalação da Delegacia
da Polícia Federal em Cascavel, no Oeste do estado. A unidade
funcionará como apoio à vigilância externa do presídio e abrigará uma
central de monitoramento on-line dos presos e dos agentes
penitenciários 24 horas por dia, além de combater os crimes federais,
como o contrabando e o tráfico de drogas e armas, uma vez que a cidade
é rota do crime organizado no país.
A instalação da Polícia Federal é uma antiga reivindicação de várias
entidades de classe, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
da Justiça Federal e do Ministério Público Federal. O juiz da 2ª Vara da
Justiça Federal de Cascavel, Jorge Luiz Ledur Brito, diz que a
instalação da unidade é fundamental para garantir a segurança externa
da penitenciária de Catanduvas, que fica a 55 quilômetros de Cascavel
(PORTELA).
Em 2017, a jornalista MANFRIN, do Jornal O Paraná, noticia a preocupação de
agentes da polícia federal, sobre a segurança da região, depois do assassinato de um Agente
da
Penitenciaria Federal, ocorrido no centro da cidade,
Na Delegacia de Cascavel, por exemplo, a estrutura inaugurada em
junho de 2006 e que abrange 63 municípios convive diariamente com a
“falta de efetivo, excesso de trabalho, sucateamento, não pagamento de
82 G3
adicional de fronteira até o mais recente e preocupante - com as ameaças
frequentes de grupos criminosos como o PCC (Primeiro Comando da
Capital).
“Para comemorar os 24 anos da facção criminosa, ela determinou a
morte de agentes de segurança com nome, sobrenome e cargo. “Os
assassinatos ainda não aconteceram, mas os agentes “sabem” que é só
uma questão de tempo e de organização logística…”,
“Ao menos metade dos “marcados para morrer” são da região e a
explicação é uma só: por aqui o PCC está bem estruturado “Além disso,
não há segurança alguma aos agentes federais. “Todos os dias fazemos
uma verdadeira operação de guerra para “e quando saio fico receoso
imaginando o que pode acontecer com a minha esposa e os filhos.
Quando saio, dou uma volta “no quarteirão armado para ver se não tem
ninguém de tocaia, só saio após o portão fechar completamente, porque
não sabemos “o que essas pessoas podem fazer com as nossas famílias”,
relata um agente.”,
“Segundo o apurado pela reportagem, praticamente todos dos quase 60
profissionais que atuam na delegacia de Cascavel “- número que já
passou de 100 em outros períodos - querem deixar a cidade e ir para
regiões consideradas mais seguras.”
““Além de todos os problemas que somos obrigados a conviver, não
encontramos respaldo e amparo do governo. Estamos sozinhos “e nos
protegendo da forma como podemos, mas é extremamente crítico
trabalhar o tempo todo sob esse tipo de pressão, pois sabemos que mais
cedo ou mais tarde alguém vai morrer, basta um momento de
desatenção “Deixamos de ter vida social, de sair com a família, porque
sabemos que os ‘caras’ não vêm para brincar”, desabafa outro
agente…”,
““Enquanto eu tenho uma pistola, esses criminosos vêm com fuzis”,
relata outro policial. Na delegacia de Cascavel, inclusive, “não existe
fuzil para todo o mundo”. A própria estrutura da delegacia passou por
adequações nas últimas semanas para “ficar mais segura após as
ameaças do PCC” (MANFRIN, 2017).
Outro crime que alarmou a população da cidade de Cascavel, foi a morte da psicóloga
da penitenciária federal de Catanduvas - PR, em 25 de maio de 2017. A Polícia Federal de
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 83
Cascavel investigou o crime da morte da agente Melissa de Almeida Araújo, 37 anos,
assassinada a tiros e de seu marido, o policial civil Rogério Ferrarezi que também foi baleado,
mas sobreviveu aos ferimentos. Noticiários da época, relatam que a psicóloga foi morta sob
ordem do Primeiro Comando da Capital (PCC). “O responsável pela Polícia Federal de
Cascavel, delegado Marco Smith, afirmou que o homicídio foi esclarecido e que a
documentação conseguida durante os seis meses de investigações foi entregue ao Ministério
Público Federal para que tome as providências” (MENDONÇA, 2017).
Em 2018, no Jornal O Paraná, a jornalista MANFRIN, no caderno O Cotidiano,
reporta que a Polícia Federal fez parceria com a Justiça para captar R$ 20 mi à nova estrutura,
uma reinvindicação atendida e com inauguração pretendida para 2019, em uma localização
própria e bem centralizada, o terreno foi doado pelo atual Prefeito Leonaldo Paranhos,
O projeto, segundo o delegado-chefe Marco Smith, já está pronto e as
tratativas burocráticas para liberação dos recursos começaram. A
previsão inicial é de que a obra não contará com verbas vindas dos
caixas da União, do Estado ou do Município. “A parceria é com o Poder
Judiciário, de quem se espera vir os R$ 20 milhões para a construção da
nova delegacia que terá 10 mil metros quadrados. “São recursos que
estão em contas judiciais, bloqueados a partir de processos como
“tráfico, contrabando”, explicou.”,
“O início da obra deve ocorrer, impreterivelmente, até agosto do ano
que vem, já que o prazo limite para que o terreno “não volte ao
Município é de início dos trabalhos em dois anos.”
“A defasagem de pessoal e a limitação da estrutura física são
potencializadas se considerada a área de abrangência da Delegacia da
Polícia Federal de Cascavel. A cobertura é de 66 municípios, o que
representa quase 1,2 milhão de habitantes enquanto a delegacia de Foz
do Iguaçu tem abrangência de 12 municípios e menos de 450 mil
habitantes e a de
Guaíra, em 31 municípios, atende a cerca de 440 mil habitantes. (MAN-
FRIN 2018) (...)
CONCLUSÕES
Essa pesquisa foi elaborada pelo método referencial bibliográfico, documental e a
coleta de dados por intermédio de entrevista estruturada. Os dados dessa pesquisa foram
coletados entre os meses de julho e agosto de 2018.
84 G3
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado e abrange
a leitura, análise e interpretação de livros, artigos científicos, de forma sistemática
complementando a fundamentação teórica do estudo (GIL, 2008).
A pesquisa documental difere da bibliográfica, pois a primeira investiga documentos,
trabalhando com dados ou fatos coletados a partir da realidade presente e a pesquisa
bibliográfica busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas sobre dados
do passado (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2006).
A Entrevista foi realizada, por meio do envio de questões diretivas sobre o tema
Campanha do Setembro Amarelo em Cascavel e se tinha como objetivo o atendimento aos
agentes da Polícia Federal. As questões foram encaminhadas por contato eletrônico e da
mesma forma concedidas as respostas.
As dificuldades foram relacionadas ao acesso dos dados que requerem trato sigiloso,
e em abordar um assunto de saúde e segurança pública.
Os desvios da saúde mental, em graus variados de complexidade e duração,
contribuem significativamente no peso da morbidade da população geral, a julgar pelos
indicadores de prevalência em inquéritos de morbidade, pelo número de atendimentos
médicos e de internações hospitalares e pela importância das doenças mentais como causa de
incapacidade para o trabalho.
O relatório da IV Conferência Nacional da Saúde do Trabalhador e Trabalhadora
revela que os transtornos mentais e comportamentais são a terceira causa mais frequente de
afastamentos do trabalho no Brasil, com a previsão de duplicar esse número até 2020
(MACHADO, L. F; MUROFUSE, N. T; MARTINS, J. T., 2016).
Entretanto, o trabalhador dificilmente procura um serviço de saúde para falar dos
problemas vivenciados no seu trabalho, pois ele tem medo, receio, vergonha, entre outros.
Esses autores ainda afirmam que o trabalhador também não é questionado sobre esse aspecto,
e, assim, pode haver diluição dos problemas/queixa nas situações pessoais em que a
responsabilidade única é da pessoa, isto é, a culpa do adoecimento recai sobre o próprio
indivíduo
(MACHADO; MUROFUSE; MARTINS, 2016).
Sobre a saúde psicológica dos agentes da Polícia Federal, a FENAPEF, cita a pesquisa
realizada pela Universidade de Brasília (UnB) em 2012, que mostra como resultado que 53%
dos policiais entrevistados, responderam que gostariam de se desligar da Polícia Federal.
Quando perguntados sobre a existência de programas voltados para o bem-estar ou atenção à
saúde do servidor dentro da PF, 88% afirmaram não haver nenhum programa do tipo.
Sobre atendimento psicológico, a delegada Tatiane, na reportagem pela FENAPEF,
explica que “O número de psicólogos tem diminuído, porque agora a polícia está num sistema
integrado de saúde junto com todos os órgãos do Executivo (...) talvez, devemos repensar e
colocar mais psicólogos trabalhando diretamente com os policiais.”
Mas, se ocorre a possibilidade de contratar profissionais para a realização de serviço
terceirizado, opina que “O policial é muito isolado, muito desconfiado. Talvez ele tenha
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 85
dificuldade pra falar com psicólogos que não sejam do quadro da polícia. Seria interessante
termos um médico que conheça melhor o dinamismo do nosso órgão.”
Uma publicação de 2017, sobre o suicídio dos policiais federais, no site da FENAPEF,
teve como título: “suicídio entre policiais federais é seis vezes maior do que a média
brasileira”, ou seja, a porcentagem é de 5,8% da população geral no Brasil e entre agentes da
polícia federal a taxa é de 36,7% em relação a toda corporação.
Entre os estados brasileiros que apresentam a maior taxa de suicídio entre os agentes
da Polícia Federal, são: Rio de Janeiro (7 casos), Santa Catarina (6 casos), Distrito Federal (5
casos) e Paraná (4 casos) (FENAPEF, 2015).
No estado do Rio Grande do Norte, por intermédio da FENASPF (Fundação Nacional
da Polícia Federal), deu início em 2018, a Campanha do Setembro Amarelo, por meio de
palestras, visitas e até mesmo marketing de divulgação pelas redes sociais. Durante o mês de
setembro, a FENAPEF e os 27 sindicatos filiados estarão nas redes sociais apresentando
medidas de prevenção e como identificar um colega com depressão (SINPEFRN, 2018).
Em 2015, foi lançada a Campanha do Setembro Amarelo em todo o território nacional,
tendo como data estipulada o dia 10 de setembro, que é comemorado o Dia Internacional de
Prevenção e Combate ao Suicídio, por meio de serviços de mobilização com palestras e
programações com os servidores, no sentido de conscientizar e ajudar aqueles que têm
necessidade.
Na cidade de Cascavel, em 2018, segundo Fabiano Agostinho, a Delegacia de Polícia
Federal e os agentes da Polícia Federal, passaram a incorporar as instituições públicas a
receberem os serviços de palestras e mobilização a prevenção ao suicídio das atividades da
Campanha do Setembro Amarelo.
A Delegacia de Polícia Federal de Cascavel, está localizada na região da tríplice
fronteira, sendo considerada rota de tráfico e contrabando de drogas e munição, sendo assim,
em 2017, os agentes da Polícia Federal, estiveram sobre a mira do Plano Organizado do
Comando Vermelho (PCC), inclusive sendo jurados de morte. Por esse fato, a imprensa local
noticiou que muitos temiam pela sua própria vida, por não se sentirem seguros com a estrutura
armada da instituição em relação aqueles (MANFRIN, 2017).
Assim sendo, a ação policial consiste em desempenhar suas funções específicas e ao
mesmo tempo proteger os direitos humanos dos acusados e garantir que os seus próprios
direitos também sejam mantidos. De acordo com Emerik (2013), há que se considerar o
agente de segurança como um educador que transmite cidadania por meio de exemplos de
conduta, de comportamento moderado e uso do bem senso.
A Constituição Federal de 1988, corrobora isso quando define segurança pública como
“dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Neste contexto, pode-se então
considerar a mesma como um problema bastante complexo no Brasil. Ao longo dos anos, a
criminalidade vem apresentando crescimento representativo, com números alarmantes,
enquanto o investimento neste setor diminui.
86 G3
De acordo com dados dos governos federais e dos tribunais de justiça, o número de
presos por tráfico de drogas aumentou de 23,7% para 35,8% em 4 anos. Desde a implantação
da Lei de Drogas em 2006, até o ano de 2017, este número teve um aumento de 480%
(VELASCO; D’AGOSTINO; REIS, [201-?]).
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2017 divulgou que, em 2016, os gastos
com políticas públicas de segurança totalizaram 81 bilhões de reais, entre União, Estados e
Municípios, apresentando redução de 2,6% do total, em comparação a 2015. Analisando
somente os gastos da União, a redução foi de 10,3%. Em relação aos policiais mortos, o
número foi de 453 em 2016, apresentando um aumento de 23,1% em comparação a 2015.
Percebe-se que, mesmo após ser sancionada a lei nº 13.145/2015, em 06 de julho de
2015, que alterou a classificação de crimes praticados contra integrantes das forças de
segurança e seus familiares até terceiro grau, no exercício de sua função ou decorrência dela,
passando a ser classificado como qualificado, e considerado como crime hediondo, o número
de policiais mortos continuou crescendo.
Em relação às ações relacionadas à segurança pública, a Lei nº 13.690/2018, que foi
sancionada em 10 de julho de 2018, trata da criação do Ministério de Segurança Pública. Este
ministério foi criado com o objetivo de coordenar a segurança pública em nível nacional e
promover a integração das forças policiais e garantir uma melhor estruturação dos serviços.
Acontecimentos como o de 11 de setembro de 2001, acabaram por culminar na
compreensão do progresso e do emaranhamento da criminalidade em nível global, bem como
sua efetividade e dinamismo. Isso reflete diretamente no modo de atuação dos setores de
segurança pública e em especial o da Polícia Federal.
Para Campos (2005), “a Polícia Federal, merece especial atenção, pois difere das
outras forças policiais, ela exerce com exclusividade o papel de Polícia Judiciária da União,
aumentando então sua responsabilidade como agente central da democracia”. No Brasil, a
mesma ganhou destaque por sua atuação nos crimes de corrupção, que tiveram o aumento
expressivo de 411% entre 2013 e 2017, e tem ganhado notoriedade a nível mundial nos
últimos anos.
Os agentes da Polícia Federal, servidores representantes dessa força nacional, são
merecedores, de atenção à saúde psicológica e para a qualidade de vida, principalmente no
que tange a prevenção ao suicídio e a necessidade de atendimento psicológico, demonstrada
nessa pesquisa.
Para tanto, fica evidente a necessidade de atendimentos especializados, por
profissionais da saúde, que passem por treinamento ou que estejam credenciados junto a
instituição, para que os agentes possam se sentir seguros ao procurar pelos atendimentos.
Para isso, sugere-se a criação de uma rede de atendimento à saúde desses servidores
públicos, que atue por meio de convênio com a própria instituição da polícia federal, que seja
criada uma rede de saúde específica para o atendimento desse órgão público, devido à
peculiaridade da atividade profissional e a eminente periculosidade própria da função.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 87
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Acesso em: 23 ago. 2018.
90 G4
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 91
SEGURANÇA PÚBLICA – PROBLEMÁTICA DO
ATENDIMENTO POLICIAL EM CASCAVEL –
PARANÁ, EM OCORRÊNCIAS DE PERTUBAÇÃO
DA TRANQUILIDADE, TRABALHO E SOSSEGO.
G4
CLAÚDIO RODRIGUES JUNIOR
DIEGO ASTORI
EDNA ANITA LOPES SOARES
RICARDO DILON CASTILHOS
ROGÉRIO OLIANI BÓRGES
ORIENTADOR: RICARDO DIAS PEREIRA
RESUMO: Imagine-se tentando dormir após um longo dia de trabalho, mas um barulho o
impede. Isso se torna recorrente e semana a semana aquilo lhe incomoda
muito. Passados alguns dias sem conseguir dormir, você resolve acionar
o órgão de fiscalização para buscar alguma solução para seu problema.
Esse tipo de ocorrência, apesar de muito comum, e de pouca prática por
parte dos órgãos fiscalizadores por conta da alternância corriqueira dos
policiais na escala, ser reclamante nesse caso é penoso para a família e
causa muitos desentendimentos, tendo em alguns casos desmembramento
para outros crimes. O objetivo desse estudo é analisar o atendimento da
Polícia Militar do Paraná, especificamente na cidade de Cascavel/PR, nas
ocorrências e possíveis soluções para uma mitigação das intervenções que
envolvem não apenas uma violação à tranquilidade, trabalho ou sossego
das vítimas, mas fere o direito da liberdade dos indivíduos de uma forma
ampla.
PALAVRAS CHAVES: Perturbação, Tranquilidade, Ocorrências E Atendimento
1. O QUE É PERTURBAÇÃO DA TRANQUILIDADE, SOSSEGO E TRABALHO
O Decreto-Lei n º 3.688 de 3 de outubro de 1941, conhecido popularmente como Lei
de Contravenções Penais (LCP), foi recepcionado, em sua grande maioria, pela Carta
Constituinte de 1988 com força de Lei. Este é o diploma legal que trata a temática conceitual
92 G4
realizando a diferenciação entre as modalidades de perturbação da tranquilidade, sossego e
trabalho.
Preliminarmente à fase conceitual, é importante se destacar o art. 17 do referido codex,
o qual determina: “A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.”, ou seja,
em ocorrendo a Infração Penal de Menor Potencial Ofensivo (inovação e definição da Lei
9.099/95) deverá a autoridade policial, que tomou conhecimento da Infração, realizar o
encaminhamento do fato para o Juízo, independentemente da vontade do ofendido ou
noticiante, neste caso.
O art. 42 da LCP traz algumas formas, no preceito primário, de se amoldar a ação à
infração de perturbação do trabalho ou sossego alheios:
“Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios:
I – com gritaria ou algazarra;
II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as
prescrições legais;
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por
animal de que tem a guarda:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de
duzentos mil réis a dois contos de réis.”
Neste dispositivo supracitado, o legislador desejou albergar como objeto jurídico o
sossego coletivo das pessoas tanto no momento de labor, quanto durante seu repouso, eis que
trata do termo sossego alheios.
A proteção ao direito de exercer o trabalho sem interferências prejudiciais à
concentração para que todos possam praticar suas atividades com serenidade e dentro de um
equilíbrio emocional é uma garantia dispensada a todas as pessoas e possui larga proteção
jurídica.
De outra banda, há a proteção à tranquilidade individual, cujo o objeto jurídico é a
própria tranquilidade de cada um, ou seja, o indivíduo que é sujeito passivo e determinado.
Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo
reprovável:
Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a
dois contos de réis.
A legislação Pátria trata as figuras das Infrações Penais citadas acima como sendo
Contravenções Penais ou também conhecidos como “crime-anão”, pois o legislador
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 93
determinou como sendo de menor lesividade em relação aos demais crimes, os quais estão
previstos, em sua maioria, no Código Penal.
2. A FUNÇÃO DA POLÍCIA E DO ESTADO
A segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos, tendo
como objeto a preservação da ordem pública e incolumidade das pessoas e do patrimônio por
meio das Polícias, como consta no artigo 144 da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, conforme disposto:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
No mesmo artigo, o inciso V dá a linha geral de ação das polícias militares (PPMM):
“Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos
de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de
atividades de defesa civil.” (Constituição Federal de 1988)
Tendo em vista que a própria Constituição relaciona o trabalho efetivo da Polícia
Militar empregado perante a sociedade, destacam-se alguns itens importantes referentes ao
emprego da coerção, prevenindo a perturbação da ordem pública, promovendo a paz,
tranquilidade, proteção e socorro comunitário. No que tange à prática do policiamento
ostensivo, o exercício se desenvolve em 4 fases: ordem de polícia; o consentimento de polícia;
a fiscalização de polícia; e a sanção de polícia. A ordem de polícia está nos direitos e
obrigações, tendo sempre os limites constitucionais como referência. O consentimento de
polícia está na permissão de atuação da sociedade e nos regimentos de licenças e autorizações.
A fiscalização é, também, uma forma de polícia administrativa, em que sua regularidade
depende de uma licença. A sanção é a atuação em si da polícia, caso exista uma infração à
ordem pública, a repressão é mediada pela Polícia de Preservação da Ordem Pública. É,
portanto, nesse modo de atuação que a coercitividade atua mais amplamente. (SÚMULA DA
DESTINAÇÃO DAS POLÍCIAS MILITARES E DOS CORPOS DE BOMBEIROS
MILITARES – VALLA, Cel. PM ref. Wilson Odirley, 2014)
94 G4
3. TRATAMENTO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL
Além das implicações penais decorrentes de infrações contravencionais tipificadas
no Decreto-lei 3.688, de 3 de outubro de 1941, as atitudes antissociais de perturbação
podem ter consequências nas esferas administrativa e civil.
Na esfera administrativa, a atuação fiscalizatória e sancionatória das infrações da
espécie está a cargo do município. Em Cascavel, um dos órgãos competentes é a Secretaria
do Meio Ambiente, conforme trata a Lei ordinária municipal Nº 6477 DE 30 DE ABRIL DE
2015, que DISPÕE SOBRE DIRETRIZES, CRITÉRIOS, CONTROLE, PENALIDADES E
LIMITES NA EMISSÃO DE SONS E RUÍDOS DE QUALQUER NATUREZA.
A referida norma municipal em vigor resultou de um aprimoramento legislativo de
normas municipais anteriores que tratavam do assunto, destacando-se os seus três primeiros
artigos, os quais norteiam a sua vigência e aplicação, quais sejam:
Art. 1º Esta Lei estabelece padrões, critérios, penalidades, controle e
diretrizes sobre a emissão de sons e ruídos, decorrentes de atividades
industriais, comerciais, sociais, recreativas e de veículos, inclusive as
de propaganda, ou oriundas de propriedades privadas, em defesa da
saúde e do sossego público, bem como do Meio Ambiente.
Parágrafo Único - A emissão de sons e ruídos de qualquer natureza
(poluição sonora) obedecerá aos critérios e diretrizes estabelecidos por
esta Lei, sem prejuízo da Legislação e demais normas Federal e
Estadual aplicável à espécie.
Art. 2º Os dispositivos que estabelecem padrões, critérios e diretrizes
sobre a emissão ou proibição de emissões de sons e ruídos produzidos
por quaisquer meios ou de qualquer espécie, levarão em consideração,
sempre, os locais, horários e natureza das atividades emissoras, com
vistas a compatibilizar o exercício da atividade com a preservação da
saúde e do meio ambiente.
Art. 3º Concorrerão para o cumprimento dos dispositivos da presente
Lei: I - o Poder Público Municipal por meio da Secretaria Municipal
de Meio Ambiente, na aplicação das normas e sanções de ordem
administrativas;
II - a Polícia Militar, no âmbito de suas atribuições, para dar
atendimen-to ao registro de denúncias, queixas ou flagrantes, oriundos
de infrações dos dispositivos previstos nesta Lei;
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 95
III - a Companhia de Engenharia de Transporte e Trânsito - Cettrans,
na colaboração com os demais órgãos competentes, para a aplicação
dos dispositivos previstos nesta Lei.
Parágrafo Único - As atuações destes órgãos poderão ser efetuadas em
conjunto ou isoladamente, de acordo com o caso e no interesse do bem-
estar e respeito à coletividade.
No artigo 4º, há uma série de definições de termos técnicos, a fim de possibilitar ao
agente público e aos administrados a compreensão do alcance dos seus ulteriores dispositivos
legais, tratando das ações de competência do Município de Cascavel no seu artigo 5º. No seu
artigo 6º, estabelece os critérios objetivos para caracterização de ação “prejudicial à saúde e
ao sossego público”, referindo-se às normas da ABNT (NBR 10.151 e NBR 10.152 da
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT). No artigo 7º, é definido o método a ser
adotado para aferição dos níveis de ruídos (NBR 10.151, da Associação Brasileira de Normas
Técnicas - ABNT).
Além de disposições acerca de licenciamentos de atividades na cidade, estabelece, a
referida norma, os limites de horários e suas exceções (artigos 9º e 10), além de regulamentar
atividades específicas nos seus artigos 11 a 19, concluindo com imposição de penalidades
(artigos 20 a 24) e suas disposições finais (artigos 25 a 30), salientando-se o seu artigo 27,
que estabelece:
Art. 27 Qualquer cidadão é parte legítima para efetuar reclamação
pessoalmente, por telefone, e por meio de sítio eletrônico da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente e Cettrans.
Parágrafo Único - Será garantida a preservação do sigilo dos dados do
cidadão reclamante, os quais serão utilizados unicamente em processos
administrativos ou processos judiciais pertinentes.
Observe-se que no contexto administrativo, há critérios objetivos (medidas, métodos
de medir e horários) preestabelecidos em lei para ensejar a atuação sancionatória do ente
político, já que se trata de atividade vinculada.
Na legislação penal, todavia, inexistem dispositivos de ordem objetiva para a
caracterização dos tipos penais, o que pode dar a impressão que a sanção penal alcançaria,
em tese, o tido como infrator tendo por motivo elementos de percepção subjetiva e
independentemente de horário. Em contrapartida, na esfera penal, há a necessidade de
comprovação de que a atitude reprovável atinja a coletividade, pelo menos que tange à
aplicação e vigência do art. 42 da LCP, como visto acima.
Neste sentido tem se posicionado o Tribunal de Justiça do Paraná[1], conforme
julgados abaixo colacionado por suas respectivas ementas:
96 G4
2.0007408-97.2015.8.16.0130 (Acórdão) Relator: Aldemar Sternadt
Processo:0007408-97.2015.8.16.0130 Data Publicação: 09/05/2018
Órgão Julgador: 4ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Data Julgamento: 09/05/2018
EMENTA: RECURSO DE APELAÇÃO. ARTIGO 42, INCISO III, DA LEI DE
CONTRAVENÇÕES PENAIS. PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO ALHEIO MEDIANTE
ABUSO
DE INSTRUMENTOS SONOROS. DELITO FORMAL. AUTORIA COMPROVADA.
POLICIAIS QUE RECEBERAM DIVERSAS LIGAÇÕES RECLAMANDO DE
EXCESSO DE VOLUME NO LOCAL ONDE O ACUSADO SE ENCONTRAVA.
ABORDAGEM POLICIAL. CONFIRMAÇÃO DE QUE O SOM ALTO ERA
PROVENIENTE DO VEÍCULO DO RÉU. PAZ PÚBLICA. TRANQUILIDADE DA
COLETIVIDADE. BENS JURÍDICOS VIOLADOS. PROVAS APTAS A
CONDENAÇÃO. DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS SUFICIENTES E
ESCLARECEDORES DOS FATOS. POLICIAIS MILITARES. ESPECIAL
RELEVÂNCIA PROBATÓRIA. CAPACIDADE DE EMBASAR DECRETO
CONDENATÓRIO. INEXISTÊNCIA DE ARGUMENTO QUE RETIRE SUA
CREDIBILIDADE. CORROBORADO COM OS DEMAIS ELEMENTOS DOS AUTOS.
PRECEDENTE. DOLO EVIDENCIADO. TIPO OBJETIVO E SUBJETIVO
PREENCHIDOS. CONDUTA TÍPICA. CONDENAÇÃO MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. Recurso conhecido e desprovido. 1. Precedente: (...)
Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o depoimento de policiais pode
servir de referência ao juiz na verificação da materialidade e autoria delitivas, ( - HC: podendo
ser utilizado como meio probatório válido para fundamentar a condenação STJ 143681SP –
5T – Rel: Min. Arnaldo Esteves Lima – Julg: 15.06.2010).
4.0015245-46.2014.8.16.0129 (Acórdão) Relator: Aldemar Sternadt
Processo:0015245-46.2014.8.16.0129
Data Publicação: 05/03/2018
Órgão Julgador: 4ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Data Julgamento: 28/02/2018
RECURSO APELAÇÃO. ARTIGO 42 DA LEI DE CONTRAVENÇÕES PENAIS.
DELITO DE PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO OU TRABALHO ALHEIOS. FATO
PRATICADO QUE NÃO CONFIGURA O DELITO. AUSÊNCIA DE PERTURBAÇÃO A
COLETIVIDADE. TIPO PENAL QUE REQUER MULTIPLICIDADE DE OFENDIDOS.
INEXISTÊNCIA DE
RECLAMAÇÕES POR PARTE DOS VIZINHOS. PAZ PÚBLICA. TRANQUILIDADE
DA COLETIVIDADE. BENS JURÍDICOS NÃO VIOLADOS. INSUFICIÊNCIA
PROBATÓRIA. DÚVIDA. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 97
ABSOLVIÇÃO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
Recurso conhecido e desprovido.
Na esfera cível, pela qual há postulação, predominantemente, de indenização por
danos morais e, em determinadas situações por concessão de tutelas inibitórias, há julgados
do Tribunal de Justiça do Paraná que parecem se alinhar com a compreensão da esfera penal,
no sentido de que não seriam imprescindíveis transgressões de limites objetivos de ruídos,
como se vê das ementas a seguir colacionadas:
1719702-3 (Acórdão)
Relator: Francisco Luiz Macedo Junior
Processo: 1719702-3
Acórdão: 7906
DJ: 2267
Data Publicação: 25/05/2018
Órgão Julgador: 9ª Câmara Cível. Data Julgamento: 17/05/2018
EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL.AÇÃO DE
INDENI-
ZAÇÃO POR DANOS MORAIS.EQUIPAMENTO INSTALADO POR EMPRESA DE
TELECOMUNICAÇÃO QUE EMITE RUÍDOS DESAGRADÁVEIS. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E IMPOSIÇÃO
DA OBRIGAÇÃO DE RETIRAR O EQUIPAMENTO. PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO
EVIDENCIADA. USO NOCIVO DA PROPRIEDADE. DIREITO À PAZ E À
TRANQUILIDADE QUE DEVE SER
RESPEITADO A QUALQUER HORA DO DIA OU DA NOITE.PERTURBAÇÃO DA
TRANQUILIDADE ALHEIA QUE VIOLA DIREITOS DA PERSONALIDADE.DANO IN
RE IPSA. OBRIGAÇÃO DE REMOÇÃO DO EQUIPAMENTO MANTIDA. PRAZO
FIXADO COM RAZOABILIDADE. FIXAÇÃO DE MULTA DIÁRIA PARA A
HIPÓTESE DE DESCUMPRIMENTO.MONTANTE DA INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. PEDIDO DE MAJORAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO. VALOR
ADEQUADO. SENTENÇA MANTIDA, COM PREVISÃO DE MULTA EM RELAÇÃO
À OBRIGAÇÃO DE FAZER. RECURSOS DE APELAÇÃO DESPROVIDOS.
1610521-0 (Acórdão)
Relator: Francisco Luiz Macedo Junior.
Processo: 1610521-0. Acórdão: 7255
DJ: 2022
Data Publicação: 08/05/2017
Órgão Julgador: 9ª Câmara Cível
Data Julgamento: 20/04/2017
98 G4
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS - DIREITO DE VIZINHANÇA - PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO - USO
NOCIVO DA PROPRIEDADE - BARULHO EXCESSIVO PROVOCADO POR FESTAS
PROMOVIDAS NO ESTABELECIMENTO DA REQUERIDA - REGISTRO DE
DIVERSAS OCORRÊNCIAS POLICIAIS CONSTATANDO A EXISTÊNCIA DE SOM
ALTO, EM DIVERSOS HORÁRIOS - PROVA TESTEMUNHAL QUE CORROBORA O
RELATO DAS OCORRÊNCIAS POLICIAIS - DESNECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE
PROVA PERICIAL PARA COMPROVAÇÃO DE
RUÍDO EXCESSIVO, ANTE AS DEMAIS PROVAS DOS AUTOS - HORÁRIO QUE OS
RUÍDOS FORAM PRODUZIDOS - IRRELEVÂNCIA - DIREITO À PAZ E À
TRANQUILIDADE QUE DEVE RESPEITADO A QUALQUER HORA DO DIA OU DA
NOITE - PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO EVIDENCIADA - DANOS MORAIS
CONFIGURADOS - PERTURBAÇÃO DA TRANQUILIDADE ALHEIA QUE VIOLA
DIREITOS DA PERSONALIDADE - DANO IN RE IPSA - VALOR DA INDENIZAÇÃO
- MAJORAÇÃO - RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E NÃO PROVIDO -
RECURSO ADESIVO CONHECIDO E PROVIDO. ( [1] www.tjpr. jus.br)
Especificidades de ocorrências de perturbação - Realidade de Cascavel
Entre os anos de 2014 e 2018, as ocorrências relativas à perturbação foram
classificadas pelo Polícia Militar do Paraná em duas categorias: de natureza de chamadas; de
natureza de constatação. Por Natureza de Chamada, entendem-se os contatos
telefônicos/chamamentos da população; por Natureza de Constatação aquelas que
efetivamente são levadas ao conhecimento do Poder Judiciário, ou seja, encaminhadas ao
Fórum mediante um termo circunstanciado.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 99
Figura 1: Dados da Polícia Militar do Paraná
É possível inferir do gráfico acima que há um índice maior de chamamentos nos meses
mais quentes do ano. No ano de 2014, por exemplo, durante os meses de fevereiro, março,
abril, maio, junho e dezembro houve um maior número de chamamentos e um maior número
de ocorrências de Natureza Constatada. No mês de janeiro, embora seja também um mês
quente, verifica-se haver uma redução no número de chamamentos, o que poderia ser
justificado por se tratar de um mês de férias escolares e muitos saem da cidade em viagem.
No ano de 2015, houve uma constante nos chamamentos em todos os meses, porém
observa-se que houve uma queda nos atendimentos de ocorrência, de Natureza Constatada.
Essa situação poderia se coadunar com o fato de a Política de Segurança do Estado ter sofrido
cortes no orçamento naquele período.
Em 2016, diminuiu, drasticamente, o número de chamamentos e de atendimentos,
sendo possível associar tal evolução à crise econômica do país, a qual decorreu da crise
política instaurada naquela época.
Nos primeiros meses do ano de 2017, observa-se, ainda, uma baixa no número de
ocorrências, o que poderia estar associada à crise econômica. Contudo, a partir de maio há,
novamente, um aumento no número de ocorrências. Esta constatação pode inferir que, apesar
de persistir os efeitos da crise econômica, malgrado as ações governamentais para sua
mitigação, parece ter havido uma adaptação à nova realidade pela população. Quanto aos
100 G4
atendimentos (de Natureza Constatada), estes permaneceram em baixo nível, o que poderia
indicar continuidade de contingenciamento na Política de Segurança do Estado.
Figura 2: Crescimento da População de Cascavel.
Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
O gráfico demográfico acima informa que o número de habitantes de Cascavel
aumentou consideravelmente nesses últimos anos, passando de 163 mil habitantes, em
1980, para projetados 320 mil, em 2018 (projeção do IBGE). A normal expectativa era que
o efetivo da Polícia Militar também aumentasse em proporção compatível à projetada
progressão demográfica. No entanto, o que se constata é que o efetivo de policiais militares
previsto acompanha o quadro do ano de 1982, sendo que o efetivo existente se encontra
abaixo desse número.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 101
Figura 3: Gráfico. Fonte: Dados da Polícia Militar do Paraná.
O gráfico acima demonstra que o maior número de ocorrências acontece em
residências (47%), seguido do público (17%) e Ensino (15%). Esses três ambientes totalizam
79% dos chamamentos de ocorrências. Necessário, pois, esclarecerem-se os conceitos de
referidos ambientes: Em Residências, seriam as ocorrências em casas ou no interior de
apartamentos; público são as ocorrências em ruas, avenidas, praças e estacionamentos
públicos; ensino, em frente aos estabelecimentos de ensino.
Os dias mais recorrentes da semana são sextas-feiras (14%), sábados (22%) e
domingos (20%), totalizando 56%. Seriam dias de folga de trabalho, nos quais as pessoas
poderiam “viver” seu tempo livre de maneira menos “controlada”.
102 G4
Figura 4: Gráfico. Fonte: Dados da Polícia Militar do Paraná
Observa-se que nos horários entre 2h e 13h há os menores índices de ocorrências. O
interessante é perceber que a partir das 14h iniciam-se os chamamentos de ocorrências e o
grande índice é entre às 18h e 1 h.
As Ocorrências de Natureza Constatada no horário entre 22hs e 2hs foram mais
efetivas no ano de 2014 conforme gráfico demonstrativo.
Figura 5: Gráfico. Fonte: Dados da Polícia Militar do Paraná
Nos dias 03 e 10 de agosto, alguns integrantes do Grupo acompanharam a Patrulha do
Sossego, do município de Cascavel, em atendimentos de ocorrências de Perturbação do
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 103
Sossego. Constatou-se que os policiais apresentaram um comportamento cordial, polido com
a função de polícia social, deixando claro aos interessados que os encaminhamentos feitos
foram no intuito de resolver a situação sem maiores conflitos por parte da polícia, embora os
noticiados, via de regra, apresentassem um comportamento agressivo e desafiador.
Foram atendidas quatro ocorrências no dia 03 e apenas uma no dia 10, no entanto
nenhuma delas teve encaminhamento ao Fórum, pois os reclamantes não quiserem se
identificar ou ainda não quiserem acompanhar a ocorrência da polícia.
Em pesquisa feita no mês de agosto de 2018 com os agentes que atendem, as principais
reivindicações são: um efetivo exclusivo para o tipo de demanda, com carros e quatro
policiais no atendimento. É comum os indivíduos que são abordados em suas casas utilizarem
de agressividade para contrapor a cordialidade policial. Além disso, a parceria com a
Prefeitura pode fazer com que a aplicação da Lei Orgânica Municipal seja executada e a multa
aplicada por agentes da cidade, utilizando inclusive o apoio da Guarda Municipal nos
atendimentos.
Outro fato relevante da pesquisa, são os bairros que os policiais mais atendem esse
tipo de ocorrência: Região Norte com ênfase no bairro Riviera e Região da FAG. A
abordagem realizada segue em quase todos os casos a utilização da conversa e orientação
para que sejam diminuídos os ruídos e som alto, a última tentativa é orientar o reclamante a
acompanhar a ocorrência no Fórum de Cascavel, onde a demora no atendimento pode chegar
a horas e deve ter acompanhamento dos policiais em todo momento, isso faz com que
diminua, ainda mais, o efetivo na rua.
Não obstante, existe uma preocupação latente na pesquisa, já que em muitos casos,
existem desdobramentos da ocorrência, como agressividade dos indivíduos, desobediência,
desacato a autoridade, e podendo chegar as vias de fato.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar os gráficos, as situações de ocorrências e as Leis referentes à Perturbação
da Tranquilidade, Sossego e Trabalho percebe-se que é possível melhorar o atendimento e a
tranquilidade da população com medidas simples e sem muito custo para a Administração
Pública. As viaturas policiais podem ser equipadas com um tablet para que o registro da
ocorrência seja feito no momento do atendimento, formalizando-se, assim, o Boletim de
Ocorrência no ato. Dessa forma, a tecnologia empregada poderia, além de diminuir o tempo
de ocorrência, dar mais efetividade na continuidade do processo e estabelecer um padrão de
efetividade da ação policial, de modo a transparecer aos cidadãos um sentimento de eficácia
do Estado frente a contravenção operada. Em outras palavras: redução do sentimento de
impunidade, o que poderia implicar, em tese e ao longo do tempo, conscientização dos
cidadãos, especialmente aos contumazes, dos efeitos danosos provenientes de suas
transgressões.
Outra medida possível seria a especialização e dedicação exclusiva do policial que
104 G4
atende na Patrulha do Sossego, para que não houvesse divergência nos atendimentos. Hoje,
sem essa capacitação específica, nota-se que a interpretação das situações atendidas nem
sempre é tratada e/ou classificada da mesma forma. Isso pode ser facilitado se houver uma
categorização dos tipos das ocorrências, como: residências; via pública (carros de som em
vias públicas, estacionamentos); estabelecimentos comerciais; religiosos; animais e obras.
Além disso, essa formação pode possibilitar treinamento específico para se ter maior
agilidade no atendimento e identificação da recorrência dos noticiados não se refere à melhora
da autoridade policial, outro ponto seria a manutenção do efeito da fé pública legal pertinente
ao policial militar que atende a ocorrência. Há uma tendência judicial de mitigar a fé pública
outorgada ao policial (TJ-DE – APR 932870420078070001 DF 0093287-04.2007.807.0001
(TJDF)). Há, ainda, o Projeto de Lei 7024/2017, de autoria do deputado federal Wadih
Damous (PT-RJ), no mesmo sentido para crimes de tráfico de drogas com o escopo de
absolver os acusados por falta de provas no caso de apenas existir a declaração do policial:
Art. 1º. Acrescenta parágrafo único ao art. 58 da Lei 11.343 de 23
de agosto de 2006, que institui o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas -Sisnad; prescreve medidas para prevenção
do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção
não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras
providências.
“Art. 58...................................................................
Parágrafo único. Serão nulas as sentenças condenatórias fundamenta
das exclusivamente no depoimento de policiais.
Art. 2 º Esta lei entra em vigor imediatamente após a data da sua
publicação.
Sabemos que com a evolução da interpretação de Leis, o que era para ficar apenas nos
casos de sentenças por crime de tráfico irá se irradiar para todos os outros crimes e isso vai
descredibilizar a polícia, podendo aumentar o número de desdobramentos e ocorrências
gerais e em específico no tema deste trabalho, uma vez que geralmente as pessoas vítimas
deste tipo de crime não desejam dar continuidade por conta de uma indisposição com seus
vizinhos ou mesmo porque anseiam descansar para poderem exercer suas atividades normais
no dia subsequente.
Por fim, a efetiva parceria entre Secretaria do Meio Ambiente e Polícia Militar seria
muito eficaz para a redução das transgressões de perturbação, porquanto o noticiado, além de
eventualmente responder penalmente, haveria de ser, pela mesma infração, autuado
administrativamente, tendo em vista os parâmetros da legislação municipal, podendo sofrer
as sanções pecuniárias administrativas. Referida parceria, prevista, inclusive, na lei municipal
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 105
de Cascavel, implicaria o acompanhamento de um fiscal da Secretaria do Meio Ambiente do
Município de Cascavel às incursões da Patrulha do Sossego, especialmente nas situações ou
localidades recorrentes.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
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CASCAVEL, PARANÁ. LEI Nº 6477 DE 30 DE ABRIL DE 2015.
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VALLA. Cel. PM. Ref. Wilson Odirley. Súmula Da Destinação das Polícias
Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares. 2014. Disponível em:
<http://www.pmpr.pr.gov.br/
arquivos/File/cultura/Sumula_da_destinacao_da_Policias_Militares_e_dos_Corpos_de_
Bombeiros_Militares.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2018.
RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E VOCAÇÃO
ECONÔMICA DE CASCAVEL-PR
G5
ARLES JÚNIOR DE QUEIROZ MAGALHÃES
CLAIR FATIMA DA SILVA SANTOS
MARCELO PEDRALLI
106 G4
PAULO ERNESTO CERIOTTI
RICARDO BERNARDI CASTILHOS
ORIENTADOR: HELADIO BALERINI
RESUMO: A teoria das vantagens competitivas salienta a necessidade de especialização ou
fomento de atividades econômicas específicas, a chamada vocação
econômica. Este fomento envolve a participação do Poder Público, no
sentido de incentivos e planejamento. Uma vocação econômica pode
surgir como parte de um desenvolvimento regional, sendo reflexo da
educação. Cascavel, inserida na região Oeste do Paraná, tem um histórico
econômico perpassado pela agropecuária e indústria madeireira.
Emancipou-se em 1951 e ingressou num novo ciclo econômico após a
mecanização da agricultura, em 1960, sendo a agricultura de exportação,
com foco em soja e trigo, modernizando a região. Atualmente Cascavel é
um polo agropecuário, com grande produção de Soja, Milho e Trigo. A
produção agropecuária representou, em 2016, um valor bruto nominal de
R$ 1.693.743.359,44 (um trilhão, seiscentos e noventa e três milhões,
setecentos e quarenta e três mil, trezentos e cinquenta e nove reais e
quarenta e quatro centavos). O setor econômico que mais emprega é o de
Serviços, seguido por Comércio e Indústria. Há uma pressão para que o
desenvolvimento econômico da região se dê pela economia do
conhecimento. O ensino superior, em Cascavel, para 2015, foi formado,
grandemente, pelas áreas de Ciências Sociais, Negócios e Direito, seguido
por Saúde e Bem Estar Social, depois Educação e, por fim, Engenharias,
Produção e Construção. Não há um grande número de graduados e pós-
graduados
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 107
para o desenvolvimento científico ou aprofundamento tecnológico no
âmbito das Ciências Agrárias, o que, pelo fato de Cascavel ser um polo
agropecuário, parece ser paradoxal. Sugere-se imaginar Cascavel como
um polo de desenvolvimento do Comércio, o que dinamizaria a região. O
investimento em infraestrutura, especialmente de transportes, fomentaria
o comércio e outros setores econômicos, relacionados à Engenharia. Essa
solução também viabilizaria Cascavel como um polo de serviços de
Saúde, podendo oferecer tratamentos diferenciados, uma vez que uma boa
infraestrutura de transportes poderia alcançar um mercado nacional, já
que a formação profissional na área de Saúde já é tradicional em Cascavel.
Talvez uma nova abordagem frente aos desafios do agronegócio pudesse
envolver uma maior valorização e participação da sociedade, por meio de
incentivos à formação específica nas Ciências Agrícolas, ou
relacionamento com outras áreas do conhecimento, de forma a aumentar
a eficiência e produtividade desse setor econômico.
PALAVRAS-CHAVES: Vocação Econômica, Educação, Desenvolvimento.
1. O QUE É VOCAÇÃO ECONÔMICA?
Para se tratar do conceito de vocação econômica, deve, antes, ser explanado acerca da
própria economia, nos seus elementos fundamentais. Desta forma, ter-se-á um amplo e lógico
entendimento sobre o assunto.
Os problemas econômicos fundamentais são, segundo Vasconcellos e Garcia (2008):
o quê e quanto produzir; como produzir; e para quem produzir.
Portanto, a sociedade deve escolher quais produtos produzir e sua quantidade,
utilizando-se de recursos escassos, observados a tecnologia e meios de produção disponíveis,
visando a redução de custos, para, então, decidir pela forma de distribuição destes bens. Tais
problemas econômicos fundamentais são resolvidos conforme o sistema econômico de cada
país (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008).
A Economia e a Política se interligam de forma intensa na medida em que esta fixa as
instituições, a estrutura, na qual aquela será desenvolvida. Assim, a política econômica,
determinada pelo poder público, coloca prioridades econômicas. Vale dizer que as
prioridades econômicas são as decisões políticas mais relevantes para a solução dos
problemas econômicos fundamentais (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008).
A ideia de vocação econômica iniciou-se na fundamentação do comércio
internacional, em que os economistas clássicos elaboraram uma explicação teoria chamada
de “princípio das vantagens comparativas” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008).
Tal princípio sugere que cada país deveria se especializar na produção de mercadorias
108 G5
em que fosse apresentada maior eficiência relativa, com consequente redução de custos.
Assim, tais produtos seriam os exportados pelo respectivo país. Justifica-se, então, o
comércio internacional (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008).
Apesar da teoria das vantagens competitivas, formulada por David Ricardo, em 1817,
ter limitações pela sua “estaticidade”, especialmente pela não consideração da oscilação da
demanda em função do aumento da renda, basta observar os benefícios da especialização de
países no comércio internacional para compreender a sua relevância (VASCONCELLOS;
GARCIA, 2008).
Em um menor escalão, regional, a teoria das vantagens comparativas também ocorre.
Neste caso, pode se revelar como uma prioridade econômica, especialmente porque toda a
economia está, em âmbito nacional, interligada politicamente. Assim, a economia pode ser
influenciada pela política no sentido do desenvolvimento de um determinado setor
econômico.
Como exemplo do explanado acima, o “Turismo de Base Comunitária” é o segmento
do setor de turismo que visa a geração de renda e inclusão social de pequenas comunidades
do Brasil. O Ministério do Turismo, visando o atingimento de objetivos do Plano Nacional
de Turismo (2013-2016), investiu na qualificação profissional e organização de comunidades
para um turismo de valorização da cultura local (BRASIL, 2013).
Busca-se, desta forma, a diversificação da oferta turística brasileira, sendo associada
ao desenvolvimento local. Há várias potencialidades turísticas na natureza, como cachoeiras,
e em atividades econômicas já realizadas nas comunidades, como produção de queijos,
geleias exóticas, massas caseiras, artesanato, vinho e restaurantes típicos. Realizando o
mapeamento dos principais atrativos, o destino passou a atrair mais turistas (BRASIL, 2013).
Outro exemplo é apresentado pelo Diário do Nordeste (2017), em que o governo do
estado do Ceará, por meio do seu Programa de Desenvolvimento Local (PDL), analisará e
explorará as vocações e potencialidades municipais de forma personalizada, visando o
crescimento econômico. A ideia é descobrir alternativas, direcionando o município a uma
visão de futuro.
Picchi (2016), presidente do Lean Institute Brasil, afirma que “as prefeituras podem e
devem ser um agente central no sentido de definir, identificar e estimular a vocação
econômica de cada cidade, procurando articular-se com todos os atores importantes do
município para criar as condições necessárias para gerar renda, riqueza e oportunidades de
trabalho e progresso para seus habitantes”.
O Rio de Janeiro é um polo de turismo internacional, mas não um dos principais
magnetos turísticos mundiais. Sendo o turismo uma vocação econômica, medidas
relacionadas à melhoria da segurança pública e de condições ambientais, por exemplo,
aperfeiçoaria o posicionamento do Rio como destino turístico mundial (PICCHI, 2016).
Outro caso é a cidade de São Paulo, cuja mudança vocacional-econômica pode ser
expressa por Picchi (2016): “a cidade de São Paulo vem passando há décadas por uma
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 109
transição importante de polo industrial para se constituir em uma cidade orientada para
serviços”.
Assim, em São Paulo, o investimento em turismo corporativo poderia trazer pessoas
altamente qualificadas, criando um “ambiente propício para uma cidade moderna e dinâmica”
(PICCHI, 2016).
As prefeituras devem criar um plano concreto para despertar as vocações econômicas
das cidades, definindo e viabilizando ações que gerarão renda para a população, e
consequente receita para a municipalidade, desenvolvendo um círculo positivo de
crescimento e expansão (PICCHI, 2016).
De forma pragmática, a liderança municipal deve buscar responder as seguintes
indagações (PICCHI, 2016):
• Quais são as atividades econômicas atuais mais importantes na cidade? Qual é a
“vocação” e força econômica atual do município?;
• Para onde, economicamente falando, o município poderia ou deveria ir? Qual di-
reção vai trazer os melhores resultados?; e
• Quais são as iniciativas mais simples e eficazes que a prefeitura pode tomar para
gerar mais resultados econômicos para a cidade?
A Orientação Para o Mercado (OPM), ou orientação de marketing, segundo Kotler
(2003), visa perceber os desejos dos mercados alvos para, então, entregar a satisfação do
cliente de forma mais eficiente.
Fig. 1: Orientação de marketing (KOTLER, 2003).
Portanto, a OPM é uma perspectiva de fora para dentro. Seu lucro relaciona-se com
entrega de valor e satisfação aos clientes, com a criação de relacionamentos de longo prazo
(KOTLER, 2003).
O sucesso empresarial, atualmente, importa em empresas conquistando clientes e os
mantendo por entregar valor superior (KOTLER, 2003).
Ardigó et al. (2014) realizaram um estudo de análise entre a orientação para o mercado
(OPM) e a vocação econômica local de cidades, encontrando significativa correlação
positiva.
A OPM, segundo Ardigó et al. (2014), consolidou-se, ao longo das duas últimas
décadas, como “um importante tema de pesquisa na área de gestão”. Desta área de gestão
surgiram implicações referentes à compreensão das ações de mercado, com direcionamento
ao crescimento de empresas e regiões específicas.
110 G5
Desta forma, pelo explicitado, a gestão pública deve ter uma orientação para o
mercado (OPM), a fim de observar a necessidade do empresariado e do estabelecimento de
uma postura de identificação da vocação econômica municipal, ou regional, e investir
recursos na sua viabilização, tornando a cidade, ou a região, competitivas pela eficiência
econômica.
2. DESENVOLVIMENTO REGIONAL COMO REFLEXO DA EDUCAÇÃO
De acordo com Glaeser (2011), professor de economia da Universidade de Harvard,
empregadores vão às cidades por causa dos engenheiros. E mais engenheiros vão às cidades
pela abundância de empregos.
São as habilidades especializadas que atraem companhias especializadas. Portanto,
empresas e trabalhadores inteligentes geram uma sinergia e produzem conhecimento. Quanto
mais habilidades, mais os jovens se tornam produtivos (GLAESER, 2011).
Segundo Glaeser (2011), a empresa global de tecnologia Infosys 33 foi atraída a
Bangalore, Índia, onde possui sua sede, porque ficava próxima de excelentes faculdades de
Engenharia, e não pela sua posição geográfica.
Quanto a investimento em infraestrutura, eventualmente as construções podem ficar
obsoletas, contudo, a educação é perpetuada à medida que uma geração inteligente ensina a
outra (GLAESER, 2011).
Tendo em vista que se vive, atualmente, em uma era da especialização, os ganhos e o
conhecimento estão intimamente ligados, o que demonstra que é o capital humano, e não a
infraestrutura física, que explica quais cidades terão êxito (GLAESER, 2011).
Portanto, o investimento em imóveis, em vez de se investir em pessoas, pode ter sido
o maior erro de política urbana dos últimos 60 anos (GLAESER, 2011).
Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa a industrialização não incentivava a
educação, com raras exceções. A cultura daquelas indústrias era fornecer emprego não
qualificado (GLAESER, 2011).
Isso explica o declínio da cidade de Detroit, Estados Unidos da América (EUA), no
final do século XX, em que estava dominada por uma única indústria que empregava centenas
de milhares de operários com baixa qualificação. Detroit teve menor crescimento do emprego
do que cidades com maiores quantidades de menores empresas. Essa foi a tendência dos
últimos 30 anos, com a prosperidade de cidades produtoras de ideias (GLAESER, 2011).
No curto prazo, empresas de grande porte podem ser produtivas, mas não criam
concorrência e nem novas ideias, o que impede o sucesso urbano no longo prazo (GLAESER,
2011).
33 Segundo a Wikipédia (2018) e o Google Finance (2018), Infosys Limited é uma empresa de tecnologia da informação indiana, sediada em Bangalore. Receita: 10,94 bilhões USD (2018). é líder global em serviços digitais e consultoria de próxima geração.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 111
Ao contrário, Boston, Milão e Nova York investiram em instituições educacionais,
que permitiram sua recuperação urbana. Cidades têm criado, há muito tempo, explosões
intelectuais, nas quais uma ideia inteligente gera outras: isto chama-se externalidade do
capital humano (GLAESER, 2011).
A externalidade do capital humano é a capacidade do aumento de produtividade
quando o trabalho é feito em torno de outras pessoas capacitadas. Tal conexão entre
capacitação urbana e produtividade urbana tem-se mostrado cada vez mais forte desde os
anos 1970, em todo o mundo desenvolvido (GLAESER, 2011).
Segundo Neves (2016), Diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna,
“não existe melhor caminho para alavancar a produtividade do que a oferta de uma educação
de qualidade”. Paul Krugmann, Prêmio Nobel de Economia de 2008 (apud Neves 2016),
afirma que a capacidade de um país melhorar o seu padrão de vida, no longo prazo, depende,
mormente de sua capacidade de aumentar a produção por trabalhador.
A mudança constante e aceleradamente ritmada de tecnologia favorece os mais
qualificados, pois se adaptam melhor a novas circunstâncias. Da mesma forma, cidades mais
capacitadas tendem a se reinventar em tempos voláteis (GLAESER, 2011).
Além disso, o comércio internacional e a globalização permitiram a sobrevivência das
cidades mais capacitadas. A diminuição dos custos de produção e de transporte em escala
global possibilitou a terceirização do trabalho menos qualificado (GLAESER, 2011).
O empreendedorismo também é fator crucial para a recuperação urbana. Como
exemplo, Nova York ressurgiu graças ao empreendedorismo na área de serviços financeiros.
O economista Benjamin Chinitz (apud Glaeser 2011), argumentou que Nova York tinha
tradição em empreender em função do incentivo à assunção de riscos, pelas pequenas
empresas da indústria de vestuário (GLAESER, 2011).
Outro exemplo da mistura entre qualificação educacional e empreendedorismo, como
capacitação produtiva, é o Vale do Silício, EUA, que surgiu em função da Universidade de
Stanford.
Segundo Glaeser (2011), o Vale do Silício era uma comunidade agrícola, que se tornou
uma capital mundial da alta tecnologia porque o Senador Leland Stanford, magnata das
ferrovias, construiu, na sua fazenda de cavalos de 3.200 hectares, uma universidade. Ele
queria líderes para desenvolver o Oeste americano e para disseminar conhecimento útil.
3. VOCAÇÃO ECONÔMICA DE CASCAVEL/OESTE DO PARANÁ
3.1. HISTÓRICO ECONÔMICO DE CASCAVEL
Segundo Souza e Santos (2011), Cascavel é um pólo de desenvolvimento regional em
função da sua posição geográfica, estando na rota de várias rodovias.
Cascavel surgiu de um entroncamento de várias trilhas, abertas por ervateiros. Foi
inicialmente chamada de “encruzilhada”. Emancipou-se em 1951 (SOUZA e SANTOS,
2011).
112 G5
No seu início econômico, Cascavel baseou-se em atividades agropecuárias e na
indústria madeireira, em função das grandes áreas de pinhais existentes. Finalizando-se o
ciclo madeireiro, e com a mecanização da agricultura, em 1960, Cascavel ingressou em um
novo ciclo econômico. Tal novo ciclo, englobando também a Região Oeste, contextualizou-
se na agricultura de exportação, pautada no binômio soja-trigo, o que modernizou a região
(SOUZA e SANTOS, 2011). Segundo North (1959 apud Souza e Santos 2011), o crescimento
econômico de uma cidade ou região pode ser induzido pela produção de bens agrícolas para
exportação.
3.2. VERIFICAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA ATUAL
Na conclusão do seu estudo, Souza e Santos (2011) afirmam:
Desta forma, conclui-se que o município de Cascavel tem como
vocação a agroindústria, que emprega a maioria da população e gera a
maior parte da renda no município. Com isto, pode-se considerar que o
município de Cascavel se enquadra como um pólo economicamente
agrícola.
[...]
O comparativo com outros municípios permitiu demonstrar que
Cascavel apresenta características de polarização, constituindo-se como
pólo regional que atrai para o município empresas e população de
municípios vizinhos. Neste aspecto cabe ressaltar que a condição de
pólo mostrou que o município não realiza o movimento de
espraiamento para os municípios de sua microrregião, não se
constituindo como pólo dinamizador na região de sua abrangência. Isto
pode ser constatado nos dados referentes à população que foram
analisados no início deste trabalho, constituindo-se, desta forma, como
um problema regional.
Desta forma, observa-se, pela conclusão acima, que:
Cascavel tem como vocação econômica a agroindústria, com maior emprego e renda;
Cascavel é um polo agrícola;
Cascavel atrai empresas e população de municípios vizinhos;
Cascavel não é polo dinamizador na região, o que é um problema regional.
Passa-se a analisar os números econômicos atuais de Cascavel-PR.
O quadro 1, abaixo, apresenta os números relativos à Cultura Temporária.
Quadro 1: Área colhida, produção, rendimento médio e valor da produção
agrícola pelo tipo de cultura temporária - 2016 CULTURA
TEMPORÁRIA ÁREA
COLHID A (ha)
AV PRODUÇÃO
(t) AV VALOR (R$ 1.000,00) AV
RENDIMENTO FINANC (R$/t) AV
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 113
Alho 3 0,00% 18 0,00% 146 0,02% R$ 8.111,11 25,16% Amendoim (em
casca) 6 0,00% 12 0,00% 20 0,00% R$ 1.666,67 5,17%
Arroz (em casca) 15 0,01% 30 0,00% 25 0,00% R$ 833,33 2,59%
Aveia (em grão) 3.000 1,46% 3.000 0,33% 891 0,14% R$ 297,00 0,92%
Batata-doce 29 0,01% 560 0,06% 616 0,10% R$ 1.100,00 3,41% Cana-de-açúcar 12 0,01% 720 0,08% 39 0,01% R$ 54,17 0,17%
Ervilha (em grão) 1 0,00% 1 0,00% 5 0,00% R$ 5.000,00 15,51%
Feijão (em grão) 1.700 0,83% 3.050 0,34% 5.949 0,96% R$ 1.950,49 6,05%
Fumo (em folha) 2 0,00% 4 0,00% 22 0,00% R$ 5.500,00 17,06% Mandioca 600 0,29% 14.400 1,59% 2.520 0,41% R$ 175,00 0,54%
Melancia 18 0,01% 460 0,05% 322 0,05% R$ 700,00 2,17% Melão 2 0,00% 31 0,00% 78 0,01% R$ 2.516,13 7,81%
Milho (em grão) 56.000 27,21% 405.090 44,59% 164.251 26,49% R$ 405,47 1,26%
Soja (em grão) 109.400 53,16% 390.850 43,03% 388.936 62,72% R$ 995,10 3,09%
Tomate 2 0,00% 124 0,01% 286 0,05% R$ 2.306,45 7,16%
Trigo (em grão) 35.000 17,01% 90.065 9,91% 56.020 9,03% R$ 622,00 1,93% TOTAL 205.790 100,00% 908.415 100,00% 620.126 100,00% R$ 32.233 100,00%
FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal NOTA: Os municípios sem informação para pelo menos um produto da cultura (lavoura) temporária não aparecem nas listas.
Diferenças encontradas são em razão dos arredondamentos. Os dados do último ano divulgado são resultados preliminares e podem
sofrer alterações até a próxima divulgação. Posição dos dados, no site da fonte, 10 de abril de 2018.
Considerando a vocação econômica de Cascavel-PR como sendo agrícola, os números
acima permitem as seguintes conclusões:
As maiores áreas colhidas são de Soja (109.400 hectares; 53,16% do total), Milho
(56.000 hectares; 27,21% do total) e Trigo (35.000 hectares; 17,01% do total), representando,
juntas, 97,38% da área colhida total;
As maiores produções, em toneladas, são de Milho (405.090 toneladas; 44,59%), Soja
(390.850 toneladas; 43,03%) e Trigo (90.065 toneladas; 9,91%), representando, juntas,
97,53% da produção total;
Com relação aos valores, o maior foi de Soja (R$ 388.936.000,00 – trezentos e oitenta
e oito milhões, novecentos e trinta e seis mil reais; 62,72%), Milho (R$ 164.251.000,00 –
cento e sessenta e quatro milhões, duzentos e cinquenta e um reais; 26,49%), e Trigo (R$
56.020.000,00 – cinquenta e seis milhões, vinte mil reais; 9,03%), representando, juntas,
98,24% do valor total; O maior rendimento financeiro, dado pelo valor dividido pela tonelada,
foi o Alho (R$ 8.111,11/tonelada; 25,16%), Fumo (R$ 5.500,00/t; 17,06%) e Ervilha (R$
5.000,00; 15,51%), representando 57,74% do total do rendimento. Soja obteve, como
rendimento financeiro, R$ 995,10/t; 3,09%, Trigo R$ 622,00; 1,93%, e Milho R$ 405,47;
1,26%;
Apesar dos itens Soja (em grão), Milho (em grão) e Trigo (em grão) não terem os
maiores rendimentos financeiros, é massiva a sua representatividade enquanto produtividade
e valor econômico para a região.
Já a Tabela 2, abaixo, trata de cultura permanente.
114 G5
Quadro 2: Área colhida, produção, rendimento médio e valor da produção
agrícola pelo tipo de cultura permanente – 2016 (Adaptado de IPARDES,
2018). CULTURA
PERMANENTE ÁREA
COLHIDA (ha)
AV PRODU ÇÃO (t) AV
VALOR (R$ 1.000,00) AV
RENDIMENTO FINANC (R$/t) AV
Abacate 3 0,70% 77 2,72% 119 3,74% R$ 1.545,45 5,69%
Banana (cacho) 11 2,58% 275 9,70% 143 4,50% R$ 520,00 1,91%
Caqui 2 0,47% 20 0,71% 28 0,88% R$ 1.400,00 5,15%
Erva-mate (folha
verde) 330 77,28% 1.490 52,54% 1.542 48,49% R$ 1.034,90 3,81%
Figo 1 0,23% 8 0,28% 49 1,54% R$ 6.125,00 22,54%
Goiaba 2 0,47% 17 0,60% 37 1,16% R$ 2.176,47 8,01%
Laranja 23 5,39% 238 8,39% 81 2,55% R$ 340,34 1,25%
Limão 3 0,70% 40 1,41% 67 2,11% R$ 1.675,00 6,16%
Maçã 7 1,64% 21 0,74% 38 1,19% R$ 1.809,52 6,66%
Manga 4 0,94% 98 3,46% 178 5,60% R$ 1.816,33 6,68%
Maracujá 2 0,47% 14 0,49% 30 0,94% R$ 2.142,86 7,88%
Pêssego 1 0,23% 8 0,28% 16 0,50% R$ 2.000,00 7,36%
Tangerina 21 4,92% 380 13,40% 270 8,49% R$ 710,53 2,61%
Uva 17 3,98% 150 5,29% 582 18,30% R$ 3.880,00 14,28%
TOTAL 427 100,00% 2.836 100,00% 3.180 100,00% R$ 27.176,39 100,00%
FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal
NOTA: Os municípios sem informação para pelo menos um produto da cultura (lavoura) permanente não aparecem nas listas.
Diferenças encontradas são em razão dos arredondamentos. Os dados do último ano divulgado são resultados preliminares e
podem sofrer alterações até a próxima divulgação. Posição dos dados, no site da fonte, 10 de abril de 2018.
Com base no quadro 2, acima, pode-se concluir, sobre cultura permanente, em
Cascavel-PR:
A maior área colhida é de Erva-mate, representando 330 hectares, sendo que é 77,28%
do total da área colhida. Laranja e Tangerina vêm em seguida, com, respectivamente, 23
hectares (5,39%) e 21 hectares (4,92%);
Em produção, Erva-mate também está como a mais produtiva, com 1.490 toneladas
(52,54% do total de toneladas produzidas), seguido pela Tangerina, com 380 toneladas
(13,40%);
Quanto a valor (R$), a Erva-mate lidera com R$ 1.542.000,00, um milhão, quinhentos
e quarenta e dois mil reais (48,49%), seguido pela Uva, com R$ 582.000,00, quinhentos e
oitenta e dois mil reais (18,30%); e
Com relação ao Rendimento Financeiro (R$/tonelada), em primeiro lugar está o Figo,
com R$ 6.125,00/tonelada (22,54%), seguido da Uva, com R$ 3.880,00 (14,28%). A Erva-
mate encontra-se como um dos piores rendimentos, com R$ 1.034,90/t (3,81%).
Comparando os quadros 1 e 2, percebe-se que as culturas temporárias de Soja, Milho
e Trigo são grandemente representativos. A cultura permanente de Erva-mate é pouquíssimo
representativa frente àquelas. Logo, o foco da produtividade agrícola em Cascavel é cultura
temporária.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 115
O quadro 3, abaixo, mostra o efetivo de pecuária e de aves.
Quadro 3: Efetivo de Pecuária e Aves - 2016 (Adaptado de IPARDES, 2018).
Rebanho de equinos 1.689 0,02%
Galináceos - Total 10.556.928 97,83%
Galinhas (1) 995.300 9,43%
Rebanho de suínos – Total 88.889 0,82%
Matrizes de suínos (1) 3.360 3,78%
Rebanho de ovinos 9.646 0,09%
Rebanho de bubalinos 0,00%
Rebanho de caprinos 1.513 0,01%
Codornas 14.300 0,13%
Rebanho de ovinos tosquiados 650 0,01%
Rebanho de vacas ordenhadas 32.020 0,30%
TOTAL 10.790.555 100,00%
FONTE: IBGE - Produção da Pecuária Municipal
NOTA: O efetivo tem como data de referência o dia 31 de dezembro do ano em questão. Os municípios sem informação para pelo menos um efetivo de rebanho não aparecem nas listas. Os efetivos de rebanhos de asininos, muares e coelhos deixam de ser pesquisados, em ração da pouca importância econômica. A série história destes efetivos encerra-se com os dados de 2012. Posição dos dados, no site da fonte, 29 de setembro 2017. (1) A partir de 2013 passa-se a pesquisar as galinhas fêmeas em produção de ovos, independente do destino da produção
(consumo, industrialização ou incubação) e as matrizes de suínos."
Observa-se que o maior efetivo de animais é referente aos galináceos, com 97,83% do
total da população animal considerada. Destes galináceos, 9,43% são galinhas produtoras de
ovos.
A Tabela 4, abaixo, mostra a produção de produtos de origem animal.
Quadro 4: Produção de Origem Animal - 2016 (Adaptado de IPARDES, 2018) Tabela 4: Produção de Origem Animal - 2016 (Adaptado de IPARDES, 2018).
PRODUTOS VALOR (R$ 1.000,00) AV PRODUÇÃO UNIDADE
Casulos do bicho-da-seda 39 0,03% 2.397 kg
Lã 11 0,01% 3.850 kg
Leite 108.007 82,96% 100.941 mil l
Mel de abelha 196 0,15% 21.600 kg
Ovos de codorna 183 0,14% 215 mil dz
Ovos de galinha 21.756 16,71% 11.100 mil dz
TOTAL 130.192 100,00%
FONTE: IBGE - Produção da Pecuária Municipal
NOTA: Os municípios sem informação para pelo menos um produto de origem animal não aparecem na lista. Diferenças
encontradas são em razão da unidade adotada. Posição dos dados, no site da fonte, 29 de setembro 2017.
Com base no quadro 4, observa-se que a maior receita dos produtos de origem animal
vem da produção de leite, representando 82,96% da totalidade do valor, ou R$
116 G5
108.007.000,00 (cento e oito milhões e sete mil reais). A produção de ovos de galinha vem
logo em seguida, representando 16,71% do total do valor financeiro, com R$ 21.756.000,00
(vinte e um milhões, setecentos e cinquenta e seis mil reais).
O quadro 5, abaixo, apresenta o valor bruto nominal da produção agropecuária, em 2016.
Quadro 5: Valor Bruto Nominal da Produção Agropecuária - 2016 (Adaptado de
IPARDES, 2018).
TIPO DE PRODUÇÃO VALOR NOMINAL (R$ 1,00) AV
Agricultura 766.010.790,60 45,23%
Florestais 28.371.873,50 1,68%
Pecuária 899.360.695,34 53,10%
TOTAL 1.693.743.359,44 100,00%
FONTE: SEAB/DERAL
Portanto, os tipos de produção mais representativas, com relação ao valor bruto
nominal da produção, são Pecuária, com 53,10%, e Agricultura, com 45,23%.
O quadro 6, abaixo, mostra a compensação financeira pela exploração mineral.
Quadro 6: Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) - 2017 (Adaptado
de IPARDES, 2018).
IPARDES, 2018).
INFORMAÇÃO VALOR (R$ 1,00) AV
Arrecadação da compensação financeira pela exploração mineral (CFEM) (1) 147.357,65 100,00%
Distribuição da compensação financeira pela exploração mineral (CFEM) (2) 87.488,58 59,37%
FONTE: DNPM
NOTA: Estabelecida pela Constituição de 1988, em seu Art. 20, § 1º, é devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, e aos órgãos da administração da União, como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios. (1) É calculada sobre o valor do faturamento líquido, quando o produto mineral for vendido, ou seja, é o valor de venda do produto mineral, deduzindo os tributos, as despesas com transporte e seguro que incidem no ato da comercialização. E, quando não ocorre a venda porque o produto foi consumido, transformado ou utilizado pelo próprio minerador, o valor da CFEM é baseado na soma das despesas diretas e indiretas ocorridas até o momento da utilização do produto mineral. (2) Os valores arrecadados devem ser distribuídos na seguinte proporção, conforme Lei nº 8.001 de 13/3/1990,
com nova redação dada pela Lei nº 9.993 de 24/7/2000: 65% para o(s) município(s); 23% para o(s) Estado(s) e/ou Distrito
Federal; 10% para o Ministério de Minas e Energia, repassados integralmente ao DNPM; e 2% para o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
É considerada a parte distribuída para o município de Cascavel-PR, ou seja, R$
87.488,00 (oitenta e sete mil, quatrocentos e oitenta e oito reais), o que representa 59,37% do
total arrecadado pela compensação financeira pela exploração mineral. Tal consideração
justifica-se em função da relevância da atividade econômica trazer retorno como possível
potencial vocação econômica para o município.
A título de curiosidade, a arrecadação da compensação financeira pela exploração
mineral (CFEM) é apresentada dividida por grupo de substância, o quadro 7, abaixo.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 117
Quadro 7: Arrecadação da CFEM por Grupo de Substância - 2017
(Adaptado de IPARDES, 2018).
GRUPO DE SUBSTÂNCIA (1) VALOR (R$ 1,00) AV
Água mineral 9.000 ,27 6,11%
Rocha para brita 138.356,38 93,89%
TOTAL 147.357,65 100,00%
FONTE: DNPM
NOTA: Estabelecida pela Constituição de 1988, em seu Art. 20, § 1º, é devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, e aos órgãos da administração da União, como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios. (1) Extraído de - Maiores Arrecadadores da CFEM (http://www.dnpm.gov.br/assuntos/arrecadacao).
Do quadro 7, conclui-se que a substância de rocha para brita, com R$ 138.356,38
(cento e trinta e oito mil, trezentos e cinquenta e seis reais e trinta e oito centavos), é a
substância mais relevante para a arrecadação da CFEM, representando 93,89% do valor total
arrecadado.
O quadro 8, abaixo, mostra a população ocupada segundo as atividades econômicas,
para o ano de 2010, como base para aferição do substrato social referente à atividade
econômica do município.
Quadro 8: População Ocupada segundo as Atividades Econômicas - 2010
(Adaptado de IPARDES, 2018)
ATIVIDADES ECONÔMICAS (1) Nº DE PESSOAS AV
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura 9.158 5,97%
Indústrias extrativas 111 0,07%
Indústrias de transformação 20.300 13,22%
Eletricidade e gás 646 0,42%
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação 1.747 1,14%
Construção 12.580 8,19%
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 35.415 23,07%
Transporte, armazenagem e correio 7.146 4,65%
Alojamento e alimentação 5.273 3,43%
Informação e comunicação 2.296 1,50%
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 2.274 1,48%
Atividades imobiliárias 703 0,46%
Atividades profissionais, científicas e técnicas 4.998 3,26%
Atividades administrativas e serviços complementares 4.479 2,92%
Administração pública, defesa e seguridade social 6.904 4,50%
Educação 8.707 5,67%
Saúde humana e serviços sociais 7.443 4,85%
Artes, cultura, esporte e recreação 1.168 0,76%
118 G5
Outras atividades de serviços 4.318 2,81%
Serviços domésticos 8.521 5,55%
Atividades mal especificadas 9.327 6,08%
TOTAL 153.514 100,00%
FONTE: IBGE - Censo Demográfico - Dados da amostra
(1) A classificação da atividade econômica é pela Classificação Nacional de Atividade Econômica Domiciliar (CNAE Domiciliar
2.0).
Observa-se, pela Tabela 8, acima, que a maior parte da população, em 2010, estava
nas atividades de comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas (35.415
pessoas), com 23,07% da amostra; seguido por indústrias de transformação (20.300 pessoas),
com 13,22% da amostra; e de construção (12.580 pessoas), com 8,19% da amostra.
O quadro 9, abaixo, mostra o número de estabelecimentos e empregos, segundo as
atividades econômicas, relatadas pela RAIS, em 2016.
Quadro 9: Número de Estabelecimentos e Empregos (RAIS) segundo as Atividades
Econômicas - 2016 (Adaptado de IPARDES, 2018)
ATIVIDADES ECONÔMICAS (SETORES E SUBSETORES DO IBGE (1))
ESTABELECI
MENTOS EMPREGOS AV
INDÚSTRIA 1.179 18.788 18,91%
- Extração de minerais 4 103 0,55%
- Transformação 1.155 18.180 96,76%
- Produtos minerais não metálicos 74 722 3,97%
- Metalúrgica 190 1.290 7,10%
- Material elétrico e de comunicações 19 82 0,45%
- Material de transporte 47 1.824 10,03%
- Madeira e do mobiliário 144 872 4,80%
- Papel, papelão, editorial e gráfica 89 759 4,17%
- Borracha, fumo, couros, peles e produtos similares e
indústria diversa 81 559 3,07%
- Química, de produtos farmacêuticos, veterinários, de
perfumaria, sabões, velas e matérias plásticas 77 2.022 11,12%
- Têxtil, do vestuário e artefatos de tecidos 137 1.184 6,51%
- Calçados 2 8 0,04%
- Produtos alimentícios, de bebida e álcool etílico 185 7.365 40,51%
- Serviços industriais de utilidade pública 20 505 2,69%
CONSTRUÇÃO CIVIL 876 6.031 6,07%
COMÉRCIO 4.129 27.711 27,90%
- Comércio varejista 3.507 20.631 74,45%
- Comércio atacadista 622 7.080 25,55%
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 119
SERVIÇOS 3.870 44.131 44,43%
- Instituições de crédito, seguros e de capitalização 154 1.756 3,98%
- Administradoras de imóveis, valores mobiliários, serviços
técnicos profissionais, auxiliar de atividade econômica 1.336 10.534 23,87%
- Transporte e comunicações 615 6.563 14,87%
- Serviços de alojamento, alimentação, reparo, manutenção,
radiodifusão e televisão 1.071 6.928 15,70%
- Serviços médicos, odontológicos e veterinários 532 4.993 11,31%
- Ensino 154 5.116 11,59%
- Administração pública direta e indireta 8 8.241 18,67%
AGROPECUÁRIA (agricultura, silvicultura, criação de
animais, extração vegetal e pesca) 565 2.676 2,69%
extração vegetal e pesca)
ATIVIDADE NÃO ESPECIFICADA OU CLASSIFICADA 0 0 0,00%
TOTAL 10.619 99.337 100,00%
FONTE: MTE/RAIS
NOTA: Posição em 31 de dezembro. O total das atividades econômicas refere-se à soma dos grandes setores: Indústria; Construção Civil; Comércio; Serviços; Agropecuária; e Atividade não Especificada ou Classificada. (1) INDÚSTRIA: extração de minerais; transformação; serviços industriais utilidade pública. TRANSFORMAÇÃO: minerais não metálicos; metalúrgica; mecância; elétrico, comunicações; material
transporte; madeira, mobiliário; papel, papelão, editorial, gráfica; borracha, fumo, couros, peles, similares,
indústria diversa; química, farmacêuticos, veterinários, perfumaria, sabões, velas, matérias plásticas; têxtil,
vestuário, artefatos tecidos; calçados, produtos alimentícios, bebidas, álcool etílico. COMÉRCIO: varejista;
atacadista. SERVIÇOS: instituições de crédito, seguros, capitalização; administradoras de imóveis, valores
mobiliários, serviços técnicos profissionais, auxiliar atividade econômica; transporte e comunicações;
serviços alojamento, alimentação, reparo, manutenção, radiodifusão, televisão; serviços médicos,
odontológicos e veterinários; ensino; administração pública direta e indireta.
Portanto, com base no quadro 9, acima, o setor econômico que mais emprega é o de
Serviços, com 44,43% do total, seguido por Comércio, com 27,90% e indústria, com 18,91%.
Não obstante haver uma aparente contradição entre os resultados dos quadros 8 e 9,
cabe salientar que, em ambas, o Comércio representou cerca de 23,07% (quadro 8) a 27,90%
(quadro 9). A Indústria também se mostrou razoável, entre 13,22% (quadro 8) e 18,91%
(quadro 9). Construção também apresentou razoabilidade nos números, entre 8,19% (quadro
8) e 6,07% (quadro 9). Lembra-se que o quadro 8 tem dados de 2010, enquanto o quadro 9
tem dados de 2016.
A grande distorção se dá pelo setor de Serviços, com 44,43% para a quadro 9 e que
não é mencionado no quadro 8. Contudo, os serviços aparecem no quadro 8 de forma
dispersa, como pode ser observado nos itens, por exemplo, de outras atividades de serviços,
serviços domésticos, administração pública etc.
Assim, somaram-se os percentuais da Tabela 8 para as atividades relacionadas a
serviços:
• Educação
• Serviços domésticos
• Saúde humana e serviços sociais
120 G5
• Administração pública, defesa e seguridade social
• Alojamento e alimentação
• Atividades profissionais, científicas e técnicas
• Atividades administrativas e serviços complementares
• Outras atividades de serviços
• Informação e comunicação
• Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados
• Artes, cultura, esporte e recreação
• Atividades imobiliárias
O resultado dessa soma foi 37,18%, o que parece plausível, no sentido de que Serviços,
para o quadro 8 representam 37,18%, e para o quadro 9 representam 44,43%.
Assim, o setor de Serviços é o que MAIS EMPREGA PESSOAS em Cascavel-PR.
O quadro 10, abaixo, apresenta o valor adicionado bruto a preços básicos segundo os
ramos de atividades, em 2015.
Quadro 10: Valor Adicionado Bruto a Preços Básicos segundo os Ramos de Atividades -
2015 (Adaptado de IPARDES, 2018).
RAMOS DE ATIVIDADES VALOR (R$ 1.000,00) AV
Agropecuária 509.282,00 5,71%
Indústria 1.487.225,00 16,66%
Serviços 5.799.701,00 64,97%
Administração pública 1.130.639,00 12,67%
TOTAL 8.926.847,00 100,00%
FONTE: IBGE, IPARDES
NOTA: Nova metodologia. Referência 2010. Dados do último ano disponível estarão sujeitos à revisão quando da próxima
divulgação. Diferenças encontradas são em razão dos arredondamentos.
Observa-se, portanto, pelo quadro 10, acima, que os Serviços garantem maior valor
adicionado bruto a preços básicos, com 64,97% do total, seguido pela Indústria, com 16,66%,
Administração Pública, com 12,67%, e, por último, pela Agropecuária, com 5,71%.
Com o valor adicionado bruto tão baixo para a agropecuária, e tão alto para os
Serviços, questiona-se se a vocação econômica de Cascavel deveria continuar sendo a
agropecuária. O quadro 11, abaixo, apresenta a Renda Média Domiciliar per Capita, em 2010.
Quadro 11: Renda Média Domiciliar per Capita - 2010 (Adaptado de IPARDES, 2018).
Renda Média Domiciliar per Capita 988,84 R$ 1,00
FONTE: IBGE – Censo Demográfico
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 121
NOTA: Média das rendas domiciliares per capita das pessoas residentes em determinado espaço geográfico, no ano
considerado. Considerou-se como renda domiciliar per capita a soma dos rendimetnos mensais dos moradores do domicílio,
em reais, dividida pelo número de seus moradores. O salário mínimo do último ano para o qual a série está sendo calculada
torna-se a referência para toda a série. Esse valor é corrigido para todos com base no INPC de julho de 2010, alterando o valor
da linha de pobreza e consequentemente a proporção de pobres. O valor de referência, salário mínimo de 2010, é de R$
510,00.
Cabe ressaltar que, em 2010, com base no quadro 11, acima, a renda média
domiciliar per Capita (R$ 988,84) correspondia à 193% do salário-mínimo à época vigente
(R$ 510,00). Já o quadro 12, abaixo, mostra a população estimada para o ano de 2017.
Quadro 12: População Estimada - 2017 (Adaptado de IPARDES, 2018).
População Estimada 319.608 habitantes
FONTE: IBGE
NOTA: Dados divulgados pela fonte, em 30 de agosto de 2017.
O quadro 13, abaixo, mostra o Produto Interno Bruto (PIB) per Capita e a preços
correntes, para o ano de 2015.
Quadro 13: Produto Interno Bruto (PIB) per Capita e a Preços Correntes - 2015
(Adaptado de IPARDES, 2018).
de IPARDES, 2018). PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) VALOR UNIDADE
Per capita 32.372 R$ 1,00
A preços correntes 10.125.274 R$ 1.000,00
FONTE: IBGE, IPARDES
NOTA: Nova metodologia. Referência 2010. Dados do último ano disponível estarão sujeitos à revisão quando da próxima
divulgação. Diferenças encontradas são em razão dos arredondamentos.
Observa-se que, em 2015, o PIB de Cascavel, aproximadamente, foi de R$
10.125.274.000,00 (dez bilhões, cento e vinte e cinco milhões, duzentos e setenta e quatro
mil reais). Já a repartição do PIB per capita, em 2015, equivaleria a R$ 32.372 por pessoa.
O quadro 14, abaixo, apresenta a densidade demográfica de Cascavel em 2017.
Quadro 14: Densidade Demográfica - 2017 (Adaptado de IPARDES, 2018).
Densidade Demográfica 152,82 hab/km²
FONTE: IPARDES
NOTA: É calculada em função das populações do IBGE e das áreas territoriais calculadas pelo ITCG.
O quadro 15, abaixo, apresenta o grau de urbanização de Cascavel, para 2010.
Quadro 15: Grau de Urbanização - 2010 (Adaptado de IPARDES, 2018). Tabela 15: Grau de Urbanização - 2010 (Adaptado de IPARDES, 2018).
Grau de Urbanização 94,36 %
122 G5
FONTE: IBGE – Censo Demográfico
O quadro 16, abaixo, apresenta a taxa de crescimento geométrico populacional
segundo tipo de domicílio, em 2010.
Quadro 16: Taxa de Crescimento Geométrico Populacional segundo Tipo de
Domicílio - 2010 (Adaptado de IPARDES, 2018).
TIPO DE DOMICÍLIO TAXA DE CRESCIMENTO (%)
Urbano 1,68
Rural -0,33
TOTAL 1,55
FONTE: IBGE – Censo Demográfico
Com base no quadro 16, acima, é possível perceber um certo êxodo rural, em 2010,
em que o crescimento populacional na área rural é negativo.
O quadro 17, abaixo, mostra o índice IPARDES de desempenho municipal (IPDM)
(1), para o ano 2015.
Quadro 17: Índice IPARDES de Desempenho Municipal (IPDM) (1) -
2015 (Adaptado de IPARDES, 2018).
INFORMAÇÃO ÍNDICE
IPDM – Emprego, renda e produção agropecuária 0,6600
IPDM – Educação 0,8578
IPDM – Saúde 0,8193
Índice IPARDES de desempenho municipal (IPDM) 0,7789
FONTE: IPARDES
NOTA: O desempenho municipal é expresso por um índice cujo valor varia entre 0 e 1, sendo que, quanto mais próximo de 1, maior o nível de desempenho do município com relação ao referido indicador ou o índice final. Com base no valor do índice os municípios foram classificados em quatro grupos: baixo desempenho (0,000 a < 0,400); médio baixo desempenho (0,400 a < 0,600); médio desempenho (0,600 a < 0,800); e, alto desempenho (0,800 a 1,000). (1) Nova metodologia. Referência 2010.
Observa-se que o maior índice IPARDES de desempenho municipal recai sobre a
Educação, com 0,8578, sendo de alto desempenho, seguido pelo de Saúde, com 0,8193, de
alto desempenho. Já o índice para Emprego, renda e produção agropecuária, com 0,6600, é
de médio desempenho.
O quadro 18, abaixo, mostra o índice de desenvolvimento humano (IDHM) do
município de Cascavel, para o ano de 2010.
Quadro 18: Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) -
2010 (Adaptado de IPARDES, 2018).
INFORMAÇÃO ÍNDICE (1) UNIDADE
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 123
Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) 0,782
IDHM – Longevidade 0,846
Esperança de vida ao nascer 75,74 anos
IDHM – Educação 0,728
Escolaridade da população adulta 0,63
Fluxo escolar da população jovem (Frequência escolar) 0,78
IDHM – Renda 0,776
Renda per capita 1.003,38 R$ 1,00
Classificação na unidade da federação 4
Classificação nacional 113
FONTE: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – PNUD, IPEA, FJP
NOTA: Os dados utilizados foram extraídos dos Censos Demográficos do IBGE. (1) O índice varia de 0 (zero) a
1 (um) e apresenta as seguintes faixas de desenvolvimento humano municipal: 0,000 a 0,499 – muito baixo;
0,500 a 0,599 – baixo; 0,600 a 0,699 – médio; 0,700 a 0,799 – alto e 0,800 e mais – muito alto.
Algumas observações importantes sobre o quadro 18, acima:
O IDHM geral de Cascavel (0,782) é considerado médio;
O IDHM com relação à Longevidade (0,846) é considerado muito alto;
O IDHM com relação à Educação (0,728) é considerado médio;
O IDHM com relação à Renda (0,776) é considerado médio;
Cascavel está, com base no seu IDHM geral, em 4º lugar no Paraná; Cascavel
está, com base no seu IDHM geral, em 113º lugar no Brasil.
Frente a todo o levantamento realizado nesta seção sobre Verificação da Atividade
Econômica Atual de Cascavel-PR, algumas correlações são necessárias:
Quadro 19: Correlação de Informações (O Autor, 2018)
INFORMAÇÃO NÚMERO UNIDADE
Maiores valores financeiros, na cultura temporária – 2016
Soja R$ 388,93 Milho R$ 164,25 Trigo R$ 56,02
milhões de reais,
aproximadamente
Maiores valores financeiros, na cultura permanente – 2016 Erva-mate R$ 1,54 Uva
R$ 0,58 milhões de reais,
aproximadamente
Maior número de animais é de galináceos – 2016 10,55 milhões de
animais,
aproximadamente A produção de origem animal é liderada pelo leite, seguido da
produção de ovos – 2016 Leite R$ 108,00 Ovos
R$ 21,75 milhões de reais,
aproximadamente
A produção pecuária lidera, seguido da agrícola – 2016 Pecuária R$ 899,36
Agrícola R$ 766,01 milhões de reais,
aproximadamente
Distribuição da compensação financeira pela exploração mineral
– 2017 Exp. Mineral R$ 0,08 milhões de reais,
aproximadamente
124 G5
População Ocupada segunda Atividades Econômicas – 2010
Adap. Serviços 37,18% Comércio 23,07% Indústria Transf. 13,22% Construção 8,19%
percentual nº
pessoas
Número de Estabelecimentos e Empregos (RAIS) segundo
Atividades Econômicas – 2016
Serviços 44,43% Comércio 27,90% Indústria 18,91% Construção 6,07%
percentual
empregos
Valor Adicionado Bruto a Preços Básicos segundo os Ramos de
Atividade
Serviços 64,97% Indústria 16,66% Adm. Pública 12,67% Agropecuária 5,71%
percentual
Renda Média Domiciliar per Capita – 2010 R$ 988,84 reais
População Estimada – 2017 319.608 habitantes
PIB – 2015 Per capita R$ 32.372 PIB R$ 10,12 bilhões
reais
Densidade Demográfica - 2017 152,82 hab/km²
Grau de Urbanização – 2010 94,36% percentual
Crescimento Geométrico Populacional, taxa de crescimento –
2010 Urbano 1,68% Rural -0,33% Total 1,55%
percentual
Índice IPARDES de Desempenho Municipal (IPDM) – 2015
Emprego – médio Educação - alto Saúde – alto IPDM geral - médio
Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) – 2010
IDHM geral – médio Longevidade – muito alto Educação – médio Renda – médio
Cascavel é cidade destaque no Paraná e no Brasil, com relação
à sua qualidade de vida, medida pelo IDHM – 2010 4º PR 113º BR ranking IDHM
FONTE: O Autor, 2018
Portanto, com base nas informações acima, são possíveis as seguintes conclusões:
• Cascavel é uma cidade altamente urbana, com educação de qualidade,
longevidade e qualidade de vida;
• Há uma valorização altíssima no trabalho relativo a Serviços, e, depois, em
Indústria;
• O setor de Serviços é o que mais emprega, seguido pelo setor do Comércio;
• O valor produzido pela Pecuária é de R$ 899,36 milhões, seguido da Agricultura,
com R$ 766,01 milhões;
• O maior número de animais é de galináceos, com 10,55 milhões;
• A produção de leite lidera os produtos de origem animal, com R$ 108 milhões;
• A cultura temporária é a grande força agrícola, com a produção de Soja, R$
388,93 milhões; Milho, R$ 164,25 milhões; e Trigo, R$ 56,02 milhões;
• A vocação atual de Cascavel mostra-se como agropecuária, contudo, parece haver
uma pressão para o setor de Serviços, em função da educação de qualidade e,
talvez, mecanização e industrialização, demonstrada pelo alto grau de
urbanização.
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO 125
Desta forma, inicia-se a análise de opções de vocações econômicas para Cascavel, em
função da formação educacional.
3.1 Opções de Vocação Econômica pela Formação Educacional.
Segundo Solow (1956apud Souza e Santos 2011), o crescimento econômico depende
das seguintes variáveis: investimento; tecnologia; e crescimento populacional.
O crescimento econômico em determinada área pode ser considerado como uma
vocação econômica específica.
O professor Jandir Ferrera de Lima, (apud Rocha 2014), em seu artigo de opinião
“Região Oeste do Paraná: para onde vais?”, reflete sobre novos rumos para o Oeste do Paraná:
Apesar dos indicadores favoráveis à produção agropecuária e a
participação expressiva das cadeias produtivas do Oeste paranaense em
relação a outras regiões do Paraná, em particular nas commodities, a
região Oeste demanda novos rumos. Mais e mais o modelo intensivo
em uso, consumo e extração de recursos naturais demanda mais
investimentos e ações na manutenção, conservação e preservação dos
recursos naturais renováveis. Porém, a retração na produção decorrente
de fatores climáticos e pela estiagem prolongada em época de plantio e
colheita indicam que o crescimento e desenvolvimento econômico
regional não deve se basear apenas na agropecuária. [...] Menos focado
em recursos primários e mais voltado à economia do conhecimento;
menos predador de recursos naturais e mais sustentável; menos
concentrador e mais valorizador dos recursos humanos; menos restrito
e mais fomentador do capital social. Ou seja, um novo perfil
desenvolvimento se faz necessário. E se observarmos o perfil
empreendedor do Oeste paranaense, se observarmos as ações dos seus
movimentos sociais e o interesse e preocupação dos seus organismos e
instituições com o futuro da região, já se percebe que é possível
construir um modelo de desenvolvimetno socioeconômico mais
inclusivo e sustentável.
Salientado que o Município de Cascavel está em um novo rumo de desenvolvimento
econômico pelo empreendedorismo e fomento da economia de conhecimento.
A economia de conhecimento passa pela percepção das atividades educacionais.
A Figura 1, abaixo, apresenta os números da Educação Básica de Cascavel.
126 G5
Figura 1: Educação Básica de Cascavel (INEP apud ROCHA, 2017)
127
A Figura 2, abaixo, apresenta os dados com relação à Educação Profissional de Cascavel.
Figura 2: Educação Profi ssional de Cascavel (INEP apud ROCHA, 2017)
A Figura 3, abaixo, apresenta a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Figura 3: Educação de Jovens e Adultos – EJA - de Cascavel (INEP apud ROCHA,
2017) Já a Figura 4, abaixo, apresenta a setorização do Ensino Superior de Cascavel.
128 G5
Figura 4: Ensino Superior de Cascavel (INEP apud ROCHA, 2017)
Pode-se observar, pela Figura 4, acima, uma grande formação na área de Ciências
Sociais, Negócios e Direito, com 1.568 concluintes em 2015. Em seguida, a área de Saúde e
Bem Estar Social, com 611 concluintes em 2015. Depois vem Educação, com 590 concluintes
em 2015. Por fim, dos números mais representativos, vem a área das Engenharias, Produção
e Construção, com uma alta em 2015, tendo 512 concluintes.
Portanto, é possível concluir que a área de serviços é fortemente impactada pela
formação acadêmica de Cascavel, com ênfase em Ciências Sociais, Negócios e Direito.
Assim, imagina-se que talvez Cascavel seja um polo consultivo de gerenciamento e
controle, o que favoreceria o aumento da produtividade e comércio.
Outra área interessante, que vem em seguida, é a área de Saúde e Bem Estar Social.
Aqui, pode-se imaginar Cascavel como uma espécie de polo de serviço de saúde, sendo
implementados tratamentos diferenciados para toda a região Oeste. Talvez com a devida
infraestrutura, em particular um aeroporto seguramente funcional, Cascavel pudesse
destacar-se como um centro de estudos e de tratamentos de saúde, recebendo visitantes de
todo Brasil.
Na área de Educação vê-se que há uma necessidade de multiplicação do
conhecimento, desenvolvendo outras áreas básicas. Também é perceptível a forte tendência
para cursos pré-vestibular e concursos públicos, em que o conhecimento escolar se torna
indispensável.
129
Por fim, tem-se a área de Engenharias, Produção e Construção, que está diretamente
ligada à infraestrutura e aumento da produtividade industrial. Pode-se dizer que esta área vai
trazer o investimento e tecnologia para o crescimento econômico regional, dando força aos
demais setores produtivos, inclusive do agronegócio.
A Figura 5, abaixo, mostra a educação com relação a Pós-Graduação em Cascavel.
Figura 5: Pós-Graduação de Cascavel (GeoCAPES, e-MEC, apud ROCHA, 2017)
Com relação à Pós-Graduação, conforme Figura 5, observa-se a amplitude da
modalidade lato sensu, ou seja, formação continuada para aplicabilidade prática de
conhecimento aos negócios.
As áreas de conhecimento abarcadas, em 2015, pelas pós-graduações, são,
principalmente, Humanas e Sociais (13), Saúde (12), Engenharia e Tecnologia (8) e Educação
(7).
Ora, ainda vê-se na formação específica uma pressão com relação às atividades
humanas e sociais, seguidas de saúde e engenharia e tecnologia. Educação fica em quarto
lugar.
Contudo, a especificidade da área de Agrárias (3) mostra-se, aparentemente, deficiente
em comparação à vocação econômica de Cascavel para o agronegócio.
Com relação ao número de currículos cadastrados na Região Oeste do Paraná, com
relação a mestres e doutores, a Figura 6, abaixo, dá uma ideia geral da formação específica
da região.
130 G5
Figura 6: Número de Currículos Cadastrados na Região Oeste do Paraná (PAINEL
LATTES, 2016, apud ITAIPU BINACIONAL, 2017)
Novamente, a pós-graduação mostra uma pressão para as áreas de Ciências Sociais
Aplicadas (431 mestres) e Ciências Humanas – Educação - (421 mestres), para, então, seguir
no sentido das Ciências da Saúde (298 mestres). Contudo, a formação acadêmica vertical das
Ciências Agrárias segue em 4º lugar (270 mestres), mostrando uma força do negócio
agropecuário. Engenharias e Ciências Biológicas se igualam (160 mestres), abaixo de
Linguística, Letras e Artes (178 mestres).
A Figura 7, abaixo, apresenta o número de currículos cadastrados por área principal,
da região Oeste, com relação às Ciências Sociais Aplicadas.
Figura 7: Número de Currículos Cadastrados por Área Principal, da Região Oeste, de
Ciências Sociais Aplicadas (PAINEL LATTES, 2016, apud ITAIPU BINACIONAL,
2017)
131
As formações mais representativas são Administração, com 149 mestres, e Direito,
com 97 mestres.
A Figura 8, abaixo, apresenta o número de currículos cadastrados por área principal,
da região Oeste, com relação às Ciências Humanas.
Figura 8: Número de Currículos Cadastrados por Área Principal, da Região Oeste, de
Ciências Humanas (PAINEL LATTES, 2016, apud ITAIPU BINACIONAL, 2017)
As formações mais representativas são Educação, com 166 mestres, e História, com
64 mestres.
A Figura 9, abaixo, apresenta o número de currículos cadastrados por área principal,
da região Oeste, com relação às Ciências da Saúde.
Figura 9: Número de Currículos Cadastrados por Área Principal, da Região Oeste, de
Ciências da Saúde (PAINEL LATTES, 2016, apud ITAIPU BINACIONAL, 2017)
As formações mais representativas são Farmácia, com 63 mestres, e Medicina, com
57 mestres. Enfermagem segue em 3º lugar, com 47 mestres.
132 G5
A Figura 10, abaixo, apresenta o número de currículos cadastrados por área principal,
da região Oeste, com relação às Ciências Agrárias.
Figura 10: Número de Currículos Cadastrados por Área Principal, da Região Oeste, de
Ciências Agrárias (PAINEL LATTES, 2016, apud ITAIPU BINACIONAL, 2017)
As formações mais representativas são Agronomia, com 90 mestres, e Zootecnia, com
49 mestres. Interessante perceber que, com relação ao número de doutores, Engenharia
Agrícola surge em 3º lugar, com 29 doutores, enquanto que, com relação aos mestres,
encontra-se em 6º lugar.
A Figura 11, abaixo, apresenta o número de currículos cadastrados por área principal,
da região Oeste, com relação às Engenharias.
Figura 11: Número de Currículos Cadastrados por Área Principal, da Região Oeste, de
Engenharias (PAINEL LATTES, 2016, apud ITAIPU BINACIONAL, 2017)
As formações mais representativas são Engenharia Elétrica, com 47 mestres, e
Engenharia Civil, com 29 mestres. Contudo, curiosa é a quantidade de doutores, em que vêm
133
Engenharia Civil, com 22 doutores, Engenharia Química, com 21 doutores, e, então,
Engenharia Elétrica, com 14 doutores.
A grande quantidade de mestres em Engenharia Elétrica pode ser justificada pela
proximidade com a Usina de Itaipu.
Com relação ao tipo de atividade, a Figura 12, abaixo, mostra que os doutores têm
maior participação em atividades de pesquisa e educação (75%).
Figura 12: Percentual de Doutores por Tipo de Atividade (PAINEL LATTES, 2016,
apud ITAIPU BINACIONAL, 2017)
Em contrapartida, o percentual de mestres com atividades administrativas, técnicas e
outras (73%) é muito superior, se comparado com o percentual das atividades de pesquisa e
educação (27%), conforme Figura 13, abaixo.
Figura 13: Percentual de Mestres por Tipo de Atividade (PAINEL LATTES, 2016, apud
ITAIPU BINACIONAL, 2017)
Disto, conclui-se que as atividades dos mestres estão mais alinhadas com atividades
administrativas e técnicas, se comparadas com as atividades dos doutores, que estão mais
alinhadas com atividades de pesquisa e educação.
134 G5
Sob este ponto de vista, o agronegócio não está muito bem posicionado com relação à
quantidade de mestres das ciências agrárias (4º lugar, com 270 mestres), sendo que uma maior
quantidade de mestres poderia impulsionar as atividades do agronegócio.
4. CONCLUSÕES
Economia e Política se interligam. A Economia estuda o que e quanto produzir; como
produzir; e para quem produzir. A Política foca esforços para possibilitar a estrutura na qual
a Economia será desenvolvida.
A ideia de vocação econômica surgiu pelo economista David Ricardo, em 1817, em
sua teoria das vantagens competitivas, para justificar o comércio internacional. Segundo tal
teoria, cada país iria se especializar num determinado produto ou setor econômico em que
mais tivesse eficiência na produção.
Considerado em um menor escalão, regional, por exemplo, ou municipal, a teoria das
vantagens competitivas salienta a necessidade de especialização ou fomento de atividades
econômicas específicas. Este fomento envolve a participação do Poder Público, no sentido
de incentivos e planejamento.
Para a elaboração de um planejamento consistente sobre uma vocação econômica, é
necessário realizar uma Orientação Para o Mercado (OPM), de forma a entender a
necessidade do mercado e, então, direcionar esforços para suprir tal necessidade.
Uma vocação econômica pode surgir como parte de um desenvolvimento regional. E
o desenvolvimento regional pode ser reflexo da educação.
Habilidades específicas atraem companhias especializadas. Tais habilidades
específicas surgem quando há educação de qualidade.
Muitas cidades, como Boston, Milão e Nova York se reinventaram – e se recuperaram
– por meio de explosões intelectuais, fomentadas por instituições educacionais, em que uma
ideia inteligente gera outras ideias inteligentes.
Cascavel, inserida na região Oeste do Paraná, tem um histórico-econômico perpassado
pela agropecuária e indústria madeireira. Emancipou-se em 1951 e ingressou num novo ciclo
econômico após a mecanização da agricultura, em 1960.
Tal novo ciclo foi a agricultura de exportação, com foco em soja e trigo, o que
modernizou a região.
Atualmente Cascavel é um polo agropecuário, com grande produção de Soja, Milho e
Trigo. O maior número de animais é representado por galináceos. Leite e ovos são os produtos
de origem animais mais representativos. A produção agropecuária representou, em 2016, um
135
GESTÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO
valor bruto nominal de R$ 1.693.743.359,44 (um bilhão, seiscentos e noventa e três milhões,
setecentos e quarenta e três mil, trezentos e cinquenta e nove reais e quarenta e quatro
centavos). O setor econômico que mais emprega é o de Serviços, seguido por Comércio e
Indústria.
Cascavel tem uma população estimada, para 2017, de 319.608 (trezentos e dezenove
mil, seiscentos e oito) habitantes, sendo altamente urbana. O PIB, em 2015, foi de R$ 10,12
trilhões. Pelo IDHM, em 2010, Cascavel teve considerada a longevidade muito alta, e
educação média. Já pelo IPDM, em 2015, a educação e saúde foram consideradas de alto
desempenho.
A formação educacional de Cascavel dá a possibilidade de imaginar algumas vocações
econômicas para o município. Há uma pressão para que o desenvolvimento econômico da
região se dê pela economia do conhecimento.
O ensino superior, em Cascavel, para 2015, foi formado, grandemente, pelas áreas de
Ciências Sociais, Negócios e Direito, seguido por Saúde e Bem Estar Social, depois Educação
e, por fim, Engenharias, Produção e Construção.
A pós-graduação, em 2015, formada por 35 modalidades lato sensu e 10 stricto sensu,
está distribuída, em ordem de quantidade, em Humanas e Sociais (13), Saúde (12),
Engenharia e tecnologia (8) e Educação (7).
Desta forma, observou-se que não há um grande número de graduados e pós-
graduados para o desenvolvimento científico ou aprofundamento tecnológico no âmbito das
Ciências Agrárias, o que, pelo fato de Cascavel ser um polo agropecuário, parece ser
paradoxal.
Portanto, tomando como base o desenvolvimento educacional, sugere-se imaginar
Cascavel como um polo de desenvolvimento do Comércio, o que dinamizaria a região. O
investimento em infraestrutura, especialmente de transportes, fomentaria o comércio e outros
setores econômicos, relacionados à Engenharia. Essa solução também viabilizaria Cascavel
como um polo de serviços de Saúde, podendo oferecer tratamentos diferenciados, uma vez
que uma boa infraestrutura de transportes poderia alcançar um mercado nacional, já que a
formação profissional na área de Saúde já é tradicional em Cascavel.
Uma outra solução para a vocação econômica, por meio do desenvolvimento
educacional, seria o fomento de pesquisa relacionada às atividades agropecuárias. Talvez uma
nova abordagem frente aos desafios do agronegócio pudesse envolver uma maior valorização
e participação da sociedade, por meio de incentivos à formação específica nas Ciências
Agrícolas, ou relacionamento com outras áreas do conhecimento, de forma a aumentar a
eficiência e produtividade desse setor econômico.
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