ciência-tecnologia-sociedade no ensino das ciências...

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Ciência-Tecnologia-Sociedade no Ensino das Ciências Educação Científica e Desenvolvimento Sustentável Ciencia-Tecnología-Sociedad en la Enseñanza de las Ciencias Educación Científica y Desarrollo Sostenible Coordenação: Rui Marques Vieira M. Arminda Pedrosa Fátima Paixão Isabel P. Martins Aureli Caamaño Amparo Vilches María Jesús Martín-Díaz V Seminário Ibérico / I Seminário Ibero-americano V Seminario Ibérico / I Seminario Iberoamericano 03-05 Julho 2008 Universidade de Aveiro, Portugal

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  • Cincia-Tecnologia-Sociedade no Ensino das Cincias

    Educao Cientfica e Desenvolvimento Sustentvel

    Ciencia-Tecnologa-Sociedad en la Enseanza de las Ciencias Educacin Cientfica y Desarrollo Sostenible

    Coordenao: Rui Marques Vieira

    M. Arminda Pedrosa Ftima Paixo

    Isabel P. Martins Aureli Caamao Amparo Vilches

    Mara Jess Martn-Daz

    V Seminrio Ibrico / I Seminrio Ibero-americano V Seminario Ibrico / I Seminario Iberoamericano

    03-05 Julho 2008

    Universidade de Aveiro, Portugal

  • Estes textos so da responsabilidade do/as seus/suas autore/as e no expressam necessariamente a posio do/s coordenadore/as destas Actas. Alm disso, respeitou-se a diversidade das lnguas ibricas e ibero-americanas usadas

    pelo/as autore/as dos textos.

    Ficha Tcnica

    Ttulo: Cincia-Tecnologia-Sociedade no Ensino das Cincias Educao Cientfica e Desenvolvimento

    Sustentvel

    Coordenao: Rui Marques Vieira, M. Arminda Pedrosa, Ftima Paixo, Isabel P. Martins, Aureli Caamao,

    Amparo Vilches, Mara Jess Martn-Daz

    Formatao: Maria Pedro Silva

    ISBN: 978-972-789-267-9

    Depsito Legal: 278726/08 Editor: Universidade de Aveiro

    Departamento de Didctica e Tecnologia Educativa

    3810-193 Aveiro

    Publicao: Junho de 2008

  • Comisso Cientfica Isabel P. Martins, Universidade de Aveiro, Portugal (Presidente) Amparo Vilches, Universidad de Valencia, Espanha Andoni Garritz, Universidad Nacional Autnoma de Mxico, Mxico Aureli Caamao, Centro de Documentacin y Experimentacin en Ciencias, Barcelona, Espanha ngel Vzquez, Universidad de las Islas Baleares, Espanha Ceclia Galvo, Universidade de Lisboa, Portugal Dcio Auler, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Daniel Gil-Prez, Universidad de Valencia, Espanha Ftima Paixo, Instituto Politcnico de Castelo Branco, Portugal Jenaro Guisasola, Universidad del Pas Basco, Espanha Jos Mara Oliva, Facultad de Ciencias de la Educacin. Universidad de Cdiz, Espaa Laurinda Leite, Universidade do Minho, Portugal M. Arminda Pedrosa, Universidade de Coimbra, Portugal Maria Jess Martn-Daz, IES Jorge Manrique de Madrid, Espanha Merc Izquierdo, Universidad Autnoma de Barcelona, Espanha Miguel ngel Gmez Crespo, IES Victoria Kent, Torrejn de Ardoz, Espanha Pedro Membiela, Universidad de Vigo, Espanha Rui Marques Vieira, Universidade de Aveiro, Portugal Teresa Prieto, Universidad de Mlaga, Espanha Vtor Oliveira, Universidade de vora, Portugal

    Comisso Organizadora Isabel P. Martins (Presidente) Aureli Caamao (Vice-Presidente) Amparo Vilches Ftima Paixo M. Arminda Pedrosa Mara Jess Martn-Daz Rui Marques Vieira

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    ndice

    Introduo / Introduccin 11 Captulo 1 Conferncias Plenrias / Conferencias Plenarias Riscos de insustentabilidade. Quais os caminhos para um desenvolvimento sustentvel? Riesgos de insostenibilidad. Cules son los caminos para un desarrollo sostenible? Filipe Duarte Santos 14 Qu podemos esperar de la nueva asignatura de Ciencias para el mundo contemporneo? O que podemos esperar da nova disciplina de Cincias para o mundo contemporneo? Emlio Pedrinaci 21 Captulo 2 Painis Temticos / Mesas Redondas Temticas Literacia e Educao para o Desenvolvimento Sustentvel Dcadas para reflexo e aco Alfabetizacin y Educacin para la Sostenibilidad Dcadas para la reflexin y accin Daniel Gil-Prez / Joo Praia (Coords.), Amparo Vilches, Francisco Martnez, M. Arminda Pedrosa, Patrcia S 31 Integrao de contedos CTS: dos currculos s prticas em sala de aula Integracin de contenidos CTS: de los currculos a las prcticas de aula Aureli Caamao (Coord.), Alcina Mendes, Ana Melo, Cristina Rueda, Miguel ngel Gmez, Slvia Lope 51 As revistas de educao em cincias na investigao, na formao e na prtica Las revistas de educacin en ciencias en la investigacin, la formacin y la prctica Laurinda Leite (Coord.), Aureli Caamao, Fina Guitart, Gisela Hernndez, Jos Maria Oliva, Juan Carlos Toscano, Merc Izquierdo, Montse Tortosa, Pedro Membiela, Wildson dos Santos 78 Captulo 3 Comunicaes Orais / Comunicaciones Orales Ano Internacional do Planeta Terra e Educao para a Sustentabilidade Ao Internacional del Planeta Tierra y Educacin para la Sostenibilidad M. Helena Henriques 110 Biotecnologa, educacin y desarrollo sostenible Biotecnologia, educao e desenvolvimento sustentvel Fabiana Malacarne 117 Cincia e sociedade formao de professores de matemtica atravs de problemas histricos Ciencia y sociedad formacin del profesorado de matemticas a travs de problemas histricos Ftima Regina Jorge, Ftima Paixo, Isabel Cabrita 123 Quin tiene razn y por qu? Aprender a dudar y a decidir a partir de la lectura crtica de textos de ciencias Quem tem razo e porqu? Aprender a duvidar e a decidir a partir da leitura crtica de textos de cincias Merc Izquierdo 129 A promoo do interesse e da relevncia do ensino da cincia atravs da discusso de controvrsias sociocientficas La promocin del inters y de la relevancia de la enseanza de la ciencia a travs de la discusin de controversias sociocientficas Ceclia Galvo, Pedro Reis 131

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    Competencia cientfica y actividades de aula Competncia cientfica e actividades em sala de aula Juana Nieda 136 Climntica, Educao Ambiental e mudanas climticas Climntica, Educacin Ambiental y cambio climtico Francisco Soora Luna 143 Escuela, Tecnologas y Desarrollo Sostenible: La UNESCO y las competencias tecnolgicas del profesorado Escola, Tecnologias e Desenvolvimento Sustentvel: A UNESCO e as competncias tecnolgicas dos professores Jos Antonio Ortega Carrillo 147 Percursos na Formao de Professores de Cincias / Qumica Itinerarios en la Formacin del Profesorado de Ciencias/Qumica Isabel Sofia Rebelo 155 Captulo 4 Oficinas Prticas / Talleres 1. El Proyecto de Investigacin en Evaluacin de Actitudes Relacionadas con la Ciencia, la Tecnologa y la Sociedad (PIEARCTS): una accin cooperativa iberoamericana O Projecto de Investigao em Avaliao de Atitudes Relacionadas com a Cincia, a Tecnologia e a Sociedade (PIEARCTS): uma aco cooperativa ibero-americana ngel Vzquez (responsable), Mara-Antonia Manassero, Antoni Bennassar, Maria-Mercedes Callejas, Nestor Cardoso, Adela Castillejos, Alvaro Chrispino, Maria Delourdes-Maciel, Margarida Figueiredo, Antonio Garca-Carmona, Mayra Garca-Ruiz, Andoni Garritz, Raul Moralejo, Ftima Paixao, Silvia Porro, Cristina Rueda 162 2. La red temtica de educacin ambiental y los foros ambientales, en el marco de la Dcada de la Educacin para el Desarrollo Sostenible propuesta por UNESCO A rede temtica de educao ambiental e os fruns ambientais, no quadro da dcada da educao para o desenvolvimento sustentvel proposta pela UNESCO Olga Mara Bermdez Guerrero 164 3. Integrando a educao CTS e a educao no-formal em cincias com recurso a um courseware didctico Integrando la educacin CTS y la educacin no formal en ciencias como recurso a un courseware didctico Ana Cristina Torres, Rui Marques Vieira 166 4. Ilhas de racionalidade: a metodologia interdisciplinar de Gerard Fourez para alfabetizao cientfica e tecnolgica Islas de racionalidad: la metodologa interdisciplinar de Gerard Fourez para la alfabetizacin cientfica y tecnolgica Jos de Pinho Alves Filho, Mikael Frank Rezende Jr 168 5. Avaliao tcnica e didctica do courseware SERe Evaluacin tcnica y didctica del courseware SERe Patrcia S, Ceclia Guerra, Rui M. Vieira, Maria Joo Loureiro, Pedro Costa 170 6. Explorando temas CTS em um modelo curricular integrador: Contedo clssico de cincias e contedos CTS: um exemplo de material didctico de qumica Explorando temas CTS a travs de un modelo curricular integrador. Contenido clsico de ciencias y contenidos CTS: un ejemplo de material didctico de qumica Wildson L. P. dos Santos 172 7. O tema da Mobilidade Sustentvel Projecto e recursos didcticos com orientao CTS El tema de la Movilidad Sostenible Proyecto y recursos didcticos con orientacin CTS Carina Centeno, Ftima Paixo 174

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    8. Situaes-problema em contexto CTS: sua relevncia para o desenvolvimento da competncia de questionamento dos alunos Situaciones-problema en el contexto CTS: su relevancia para el desarrollo de la competencia de cuestionamiento de los alumnos Helena Pedrosa de Jesus, Aurora Moreira, Betina Lopes, Patrcia Almeida 178 9. Actividades de aula para trabajar las competencias cientficas en la enseanza secundaria Actividades de aula para trabalhar as competncias cientficas no ensino secundrio Octavi Plana, Mariona Domnech 180

    Captulo 5 Comunicaes Poster / Comunicaciones Pster Tema 1 Fundamentos do movimento educativo CTS / Fundamentos del movimiento educativo CTS Abordagem temtica: temas em Freire e no enfoque CTS Aproximacin temtica: temas en Freire y en el enfoque CTS Dcio Auler, Antonio Marcos Teixeira Dalmolin, Veridiana dos Santos Fenalti 185 Tema 2 Perspectivas CTS na educao cientfica para a cidadania / Perspectivas CTS en la educacin cientfica para la ciudadana Cidadania, Cultura Cientfica e Problemtica CTS: Obstculos e um Desafio da Actualidade Ciudadana, Cultura Cientfica y Problemtica CTS: Obstculos y un Reto de la Actualidad Ftima Paixo, Maria Eduarda Moniz dos Santos, Joo Praia 189 El entorno como contexto educativo: Contribucin para el viaje hacia una nueva ciudadana O meio como contexto educativo: Contribuio para a viagem para uma nova cidadania Laia Capdevila Sola, Rosa Maria Pujol Vilallonga 192 Hacia un modelo de desarrollo sostenible desde la formacin por competencias Para um modelo de desenvolvimento sustentvel com base na formao por competncias M Carmen Robles Vlchez 195 Tema 3 Perspectivas CTS e sustentabilidade ambiental / Perspectivas CTS y sostenibilidad ambiental Problemas Globais e Educao Cientfica Formal Tripolar Problemas Globales y Educacin Cientfica Formal Tripolar Cludia Loureiro, M. Arminda Pedrosa, Fernando Gonalves 199 Educao em Geologia e contexto CTS: o caso do Parque Municipal de Antu Educacin en Geologa y contextos CTS: el caso del Parque Municipal de Antu Dorinda Rebelo, Luis Marques, Rui Soares, Antnio Soares de Andrade 203 Experiencias Narradas por los Jvenes del Programa Servicio Social Estudiantil de UNICEF Colombia, Hacia el Desarrollo Sostenible Experincias Narradas pelos Jovens do Programa Servio Social Estudantil da UNICEF Colombia, Para o Desenvolvimento Sustentvel Marcela Lombana Bermdez 207 Exposio: Da emergncia planetria construo de um futuro sustentvel como instrumento de educao para a sustentabilidade Exposicin: De la emergencia planetaria a la construccin de un futuro sostenible como instrumento de educacin para la sostenibilidad Patrcia S, Amparo Vilches, Joo Praia, Daniel Gil-Prez 210

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    Educao para o desenvolvimento sustentvel: uma proposta interdisciplinar e integradora nos primeiros anos de escolaridade Educacin para el desarrollo sostenible: una propuesta interdisciplinar e integradora en los primeros aos de escolaridad Susana S, Ana Isabel Andrade 213 Tema 4 Estado actual do movimento educativo CTS / Estado actual del movimiento educativo CTS Cmo ser la ciencia del futuro? Taller CTS Como ser a cincia do futuro? Oficina CTS Beatriz Cantero Riveros, Mar Carrio Llach 218 Representaes sociais de C&T e de cientista entre estudantes do ensino fundamental de Manaus: contribuies para o ensino de cincias na Amaznia Representaciones sociales de C&T y del cientfico entre estudiantes de la enseanza fundamental de Manaus: contribuciones para la enseanza de ciencias en Amazonia Ceane Andrade Simes, Maria Clara Silva-Forsberg 222 O percurso escolar dos alunos do ensino secundrio: Influncia dos clubes de cincias El itinerario escolar de los alumnos de enseanza secundaria: Influencia de los clubs de ciencias Helena Silva, Mrio Talaia, Nilza Costa 225 A Qumica interdisciplinar no contexto da oitava srie do Ensino Fundamental brasileiro La Qumica interdisciplinar en el contexto del octavo nivel de la Enseanza Fundamental brasilea Jos de Pinho Alves Filho, Tathiane Milar 228 As Concepes de Professores sobre Tecnologia e Possveis Obstculos para a Utilizao de Abordagens CTS na Educao Bsica Brasileira Las concepciones de los Profesores sobre Tecnologa y Posibles Obstculos para la Utilizacin de Enfoques CTS en la Educacin Bsica Brasilea Jos Francisco Custdio, Jos de Pinho Alves Filho, Elio Carlos Ricardo, Mikael F. Rezende Junior 231 Espao Inovao ALPOIM: a construo de um stio de divulgao de contedos CTS no Brasil Espacio Innovacin ALPOIM: la construccin de un sitio de divulgacin de contenidos CTS en Brasil Marco Braga, Andria Guerra, Jos Cludio Reis 235 Rede Inovao ALPOIM: Desenvolvimento de uma rede de aprendizagem com enfoque CTS Red de Innovacin ALPOIM: Desarrollo de una red de aprendizaje con enfoque CTS Marco Braga, Andria Guerra, Jos Cludio Reis 238 Ciencia en todos los rincones Cincia em todos os lugares Ninfa Navarro Lpez, Miguel Garca Guerrero, Bertha Michel Sandoval 241 Impacto de las Tecnologas de la Informacin y Comunicacin aplicadas al proceso de enseanza aprendizaje Impacto das Tecnologias da Informao e Comunicao aplicadas ao processo de ensino aprendizagem Rosa Ancajima Gonzaga, Silvia Otoya Tirado 244 Contribuies da filosofia para o estudo da ecologia no ensino de cincias na Amaznia Contribuciones de la filosofa para el estudio de la ecologa en la enseanza de las ciencias en Amazonia Samya de Oliveira Sanches, Manuel do Carmo da S. Campos, Maria Clara Silva-Forsberg 247 A relao CTS na Educao Pr-Escolar: contributos para uma anlise curricular de alguns pases europeus La relacin CTS en la Educacin Pre-Escolar: contribuciones para un anlisis curricular de algunos pases europeos Sara Joana Pereira, Isabel P. Martins 250

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    As Cincias nos Jornais Las Ciencias en los Peridicos Snia Guedes 253 Ensino de Cincias em uma perspectiva freireana como viso radical de ensino CTS Enseanza de las Ciencias desde una perspectiva freiriana como visin radical de la enseanza CTS Wildson L. P. dos Santos 258 Tema 5 Integrao de contedos CTS nos currculos e recursos didcticos / Integracin de contenidos CTS en los curriculos y recursos didcticos A explicao de fenmenos fsicos: um estudo com professores do ensino bsico centrado no papel dentro do copo La explicacin de fenmenos fsicos: un estudio con profesores de la enseanza bsica centrado en el papel dentro del vaso Alcina Figueiroa 262 Mdulo de controvrsia social a partir da abordagem CTS: um exemplo aplicado ao tabagismo Mdulo de controversia social a partir del enfoque CTS: un ejemplo aplicado al tabaquismo lvaro Chrispino 266 Parmetros meteorolgicos numa dimenso CTS Parmetros meteorolgicos en una dimensin CTS Ana Augusto, Mrio Talaia 269 Desenvolver Competncias em Cincias em contextos CTSA: do Currculo e Programa do 1 CEB s Actividades de Ensino e Aprendizagem Desarrollar Competencias en Ciencias en contextos CTSA: Del Currculo y Programa del 1 CEB a las Actividades de Enseanza y Aprendizaje Ana Margarida Afreixo Silva, Isabel P. Martins 274 Recursos didcticos de ndole CTS promotores de capacidades de pensamento crtico na articulao entre educao no-formal e formal em cincias Recursos didcticos de ndole CTS promotores de capacidades de pensamiento crtico en la articulacin entre educacin no formal y formal en ciencias Ana Sofia Costa, Rui Marques Vieira 277 El consumo de agua de bebida envasada como contexto para desarrollar propuestas de alfabetizacin cientfica O consumo de gua de bebida engarrafada como contexto para desenvolver propostas de alfabetizao cientfica ngel Blanco Lpez, Francisco Rodrguez Mora 279 El juego educativo como recurso didctico en la enseanza de la clasificacin peridica de los elementos qumicos O jogo educativo como recurso didctico no ensino da classificao peridica dos elementos qumicos Antonio Joaqun Franco, Serafn Bernal, Jos M. Oliva 284 Els organismes transgnics: una proposta per al desenvolupament de la competncia cientfica a lEnsenyament Secundari Obligatori (ESO) Os organismos transgnicos: uma proposta para o desenvolvimento da competncia cientfica no Ensino Secundrio Obrigatrio (ESO) Carmen Albaladejo, Roser Bosch, Marta Bosch, Silvia Maym, Ramon Martori, Marga Montobbio 287 Como um caso dos media se pode tornar um contexto CTS para o ensino de Biologia Cmo un caso de los media se puede transformar en un contexto para la enseanza de la Biologa Dorinda Rebelo, Alcina Mendes 292

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    Papel das prticas de representao e da mediao do professor integradas num currculo com relevncia CTS Papel de las prcticas de representacin y de mediacin del profesor integradas en un currculo con relevancia CTS Elisa Saraiva, J. Bernardino Lopes, J. P. Cravino 295 Propuesta CTS para ensear reacciones redox Proposta CTS para ensinar reaces redox Elizabeth Nieto Calleja, Myrna Carrillo Chvez, Gisela Hernndez Milln, Glinda Irazoque Palazuelos, Norma M. Lpez Villa 299 Anlise de uma abordagem de um tema CTSA em uma escola pblica Anlisis del tratamiento de un tema CTSA en una escuela pblica Erlete S. de Vasconcellos, Wildson L. P. dos Santos 302 Clube de Cincias: Estudo de ecossistemas marinhos numa perspectiva CTS Club de Ciencias: Estudio de ecosistemas marinos en una perspectiva CTS Ftima Vilas-Boas, Maria Fernandes Macedo, Conceio Vieira, Lus Miguel Rodrigues, Cludia Gabriel 305 Los cidos, las bases, lo que comes y tu salud Os cidos, as bases, o que comes e a tua sade Gisela Hernndez Milln, Myrna Carrillo Chvez, Norma Mnica Lpez Villa, Elizabeth Nieto Calleja 308 El equilibrio qumico en contexto CTS. Un avance en la enseanza del concepto O equilbrio qumico em contexto CTS. Um avano no ensino do conceito Glinda Irazoque Palazuelos, Mara Patricia Huerta Ruz 311 El control natural del pH O controlo natural do pH Glinda Irazoque Palazuelos, Myrna Carrillo Chvez, Gisela Hernndez Milln, Norma Mnica Lpez Villa, Elizabeth Nieto Calleja 314 Contextualizando contedos de Qumica com a temtica da automedicao Contextualizando contenidos de Qumica con la temtica de la automedicacin Graziela Piccoli Richetti, Jos de Pinho Alves Filho 317 As potencialidades da aprendizagem em contextos reais: estudo do padro trmico do Vale das Furnas Las potencialidades del aprendizaje en contextos reales: estudio del patrn trmico del Vale das Furnas Helena Resendes, Mrio Talaia, Flix Rodrigues 321 Los pictogramas en las etiquetas de las aguas envasadas como vehculo de alfabetizacin cientfica. Una propuesta didctica Os pictogramas nas etiquetas das guas engarrafadas como veculo de alfabetizao cientfica. Uma proposta didctica J.A. Piano, A. Blanco, L.F. Garrido 325

    Una prctica cientfica experimental con enfoque CTS para la educacin en el desarrollo sostenible Uma prtica cientfica experimental com enfoque CTS para a educao em desenvolvimento sustentvel Jess Hernando Prez 329 La WEB y su apoyo a las actividades CTSA A WEB e o seu apoio nas actividades CTSA Laura Ortiz, Clemente Reza, Vctor Feregrino 338 Un enfoque CTS en el contenido programtico de la asignatura biosntesis microbiana y las estrategias didcticas utilizadas en su enseanza Um enfoque CTS no contedo programtico da disciplina biosntese microbiana e as estratgias didcticas utilizadas no seu ensino Lilia Vierna Garca 341

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    Aprendizagem das cincias no 3CEB, numa perspectiva CTS/PC em contexto no-formal Aprendizaje de las ciencias en 3CEB, en una perspectiva CTS/PC en un contexto no formal Lus Filipe Torres Moreira, Rui Marques Vieira 344 Empleo de virtualizaciones de prcticas como apoyo en las titulaciones tcnicas Utilizao de virtualizaes de prticas como apoio em cursos tcnicos M.J. Cano, M.J. Martn, F.S. Martn, L. Sevilla 347 Elementos de CTS em Artigos de Divulgao Cientfica: identificando-os e utilizando-os para fins didcticos Elementos de CTS en Artculos de Divulgacin Cientfica: Identificndolos y utilizndolos para fines didcticos Mrcio Jos da Silva, Snia Maria S. C. de Souza Cruz, Jos de Pinho Alves Filho 350 Educao para Desenvolvimento Sustentvel, Educao Cientfica e Mapas Conceptuais Educacin para Desarrollo Sostenible, Educacin Cientfica y Mapas Conceptuales M. Arminda Pedrosa, M Jos S. M. Moreno 353 Riesgos en el manejo de productos caseros desde un enfoque CTS Riscos na manipulao de produtos caseiros desde um enfoque CTS Myrna Carrillo Chvez, Gisela Hernndez Milln, Elizabeth Nieto Calleja, Norma Mnica Lpez Villa 357 Recombinando com os domins: proposta de recurso didctico para a promoo da literacia em gentica Recombinando con los domins: propuesta de recurso didctico para la promocin de la alfabetizacin en gentica Nazar Klautau-Guimares, Antnio Correia, Aurora Moreira, Helena Pedrosa de Jesus 360 Del joc espontani al joc exploratori i al joc experimental en cincies. Descoberta de lentorn dels 2 als 5 anys Do jogo espontneo ao jogo exploratrio e ao jogo experimental em cincias. Descoberta do meio desde os 2 aos 5 anos Olga Schaaff Casals, Slvia Vega Timoneda 363 A simbologia na rotulagem: um estudo com alunos e professores La simbologa en el etiquetado: un estudio con alumnos y profesores Patrcia Nascimento, Isabel P. Martins 367 CTS: Propuesta de monitoreo fisicoqumico del agua utilizando la tcnica de microescala CTS: Proposta de monitorizao fisico-qumica da gua utilizando a tcnica de microescala Pilar Montagut, Carmen Sansn, Rosamara Gonzlez Murads 371 A Biotecnologia no ensino das Cincias no 3 Ciclo Desenvolvimento de uma unidade didctica utilizando a aco de biocatalisadores imobilizados La Biotecnologa en la enseanza de las Ciencias en el 3 Ciclo Desarrollo de una unidad didctica utilizando la accin de biocatalizadores Rosa Cristina Gonalves da Palma, Maria Emlia Lima-Costa, Jos Manuel do Carmo 374 Activitats per a secundria sobre la radioactivitat i els istops radioactius des duna perspectiva CTS Actividades para o secundrio sobre radioactividade e os istopos desde uma perspectiva CTS Rosa Maria Meli Avi, M. del Tura Puigvert Mas 380 La furia de TLALOC: propuesta de un ciclo ABP en el aula en un contexto CTS A fria de TLALOC: proposta de um ciclo ABP na aula num contexto CTS Rosamara Gonzlez Murads, Pilar Montagut Bosque, Carmen Sansn Ortega 384 Ms de diez aos despus Mais de dez anos depois Silvia Bello, Gisela Hernndez 387 Actividades Investigativas ferramentas metodolgicas na Educao Ambiental Actividades Investigativas herramientas metodolgicas en la Educacin Ambiental Sofia Marques, Ruth Pereira, Fernando Gonalves 390

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    Tema 6 Formao de professores e educao CTS / Formacin del profesorado y educacin CTS Perfis de Questionamento CTS na formao de professores em TIC Perfiles de Cuestionamiento CTS en la formacin de profesores en las TIC Francisl Neri de Souza, Antnio Moreira 394 Aproximaes CTSA por professores no contexto de um projeto de pesquisa-ao colaborativa entre universidade e escola Aproximaciones a las relaciones CTSA por profesores en el contexto de un proyecto de investigacin-accin, colaboracin entre universidad y escuela Henrique Csar da Silva, Oflia Ortega Fraile 396 Formao continuada de educadores de infncia Contributos para a implementao do trabalho experimental de cincias com crianas em idade pr-escolar Formacin continuada de educadores del nivel infantil Contribuciones para la implementacin de trabajo experimental de ciencias con nios en edad pre-escolar Maria Jos Rodrigues, Rui Marques Vieira 401 Uso del modelo sistmico complejo para la mejora de la formacin permanente del profesorado Utilizao do modelo sistmico complexo para a melhoria da formao permanente dos professores Roser Badia Cabr, Rosa Maria Pujol Vilallonga 404 Produo de recursos didcticos com uma orientao CTS no mbito da formao continuada de professores de cincias Produccin de recursos didcticos con orientacin CTS en el mbito de la formacin continuada de profesores de ciencias Sandra Isabel Rodrigues Magalhes, Celina Tenreiro-Vieira 408 Formacin y capacitacin de profesores en la integracin del enfoque CTS y las TIC Formao e capacitao de professores na integrao do enfoque CTS e das TIC Saulo Hermosillo Marina, Pablo Gonzlez Yoval, Eduardo Chinchilla Sandoval 411 Explorao didctico-pedaggica dos materiais/recursos por Professores do 1 CEB: Impacte de um Programa de Formao Exploracin didctico-pedaggica de los materiales/recursos por Profesores de 1 CEB: Impacto de un Programa de Formacin Susana Alexandre dos Reis, Alzira Maria Rasco Saraiva, Rui Marques Vieira 414 Tema 7 Projectos de orientao CTS / Proyectos de orientacin CTS Simulao do tratamento de gua numa ETA e controlo de qualidade para a aprendizagem em cincias Simulacin del tratamiento del agua en una ETA y control de calidad para el aprendizaje en ciencias Ana Sofia dos Santos Calvrio de Almeida, Jos Manuel do Carmo 418 As tecnologias contribuindo para o resgate do brincar no cotidiano escolar Las tecnologas contribuyendo para la recuperacin del juego en el da a da escolar Ester Arajo, Rosa Azevedo 423 Biotecnologia e educao para a cidadania: uma relao imprescindvel no ensino das cincias Biotecnologa y educacin para la ciudadana: una relacin imprescindible en la enseanza de las ciencias Eunice Santos, Isabel P. Martins 426 Um Projecto em Parceria entre Professores e Investigadores em Didctica das Cincias: As Chuvas cidas numa aula da rea curricular de Cincias Fsicas e Naturais Un Proyecto colectivo entre Profesores e Investigadores en Didctica de las Ciencias: las Lluvias cidas en un aula del rea curricular de Ciencias Fsicas y Naturales Idalina Martins, Marta Abelha, Ana Almeida, Isabel Pinto, Nilza Costa 429

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    Cincia e Sociedade O Patrimnio cientfico antigo de Fsica e Qumica de Escolas Secundrias em Portugal Ciencia y Sociedad El Patrimonio cientfico antiguo de Fsica y Qumica de Escuelas Secundarias en Portugal Isabel Malaquias, Manuel Queirs, M.A. Valente, M. Emlia Gomes, Dcio Martins, Carlos Saraiva, J. Almeida, Joo Oliveira, M. Thomaz 433 El agua siempre est en equilbrio?: Un taller sobre la gestin del agua desde la educacin del consumo y la educacin para la sostenibilidad A gua est sempre em equilbrio?: uma oficina sobre a gesto da gua do ponto de vista do consumo e da educao para a sustentabilidade. Josep Bonil, Genina Calafell, Marta Fonolleda, Maia Querol 437 El chocolate es dulce para todo el mundo?: Presentacin de una experiencia en torno a un conflicto de intereses O chocolate doce para toda a gente?: Apresentao de uma experincia em torno de um conflito de interesses Josep Bonil, Genina Calafell, Marta Fonolleda, Maia Querol 439 Oficinas Pedaggicas: uma abordagem para trabalhar resilincia com adolescentes grvidas no interior do Amazonas Talleres Pedaggicos: un enfoque para trabajar resiliencia con adolescentes embarazadas en el interior del Amazonas Maria de los Angeles Olortegui Aguinaga, Evandro Ghedin, Augusto Fachin Teran 441 EuroLifeNet/Cincia Viva uma outra forma de aprender cincias o caso de ES de Ponte de Lima EuroLifeNet/Ciencia Viva otra forma de aprender ciencias el caso de ES de Ponte de Lima Lusa Neves, Aurora Teixeira, Joana Oliveira, Nelson Dias 444 Projectos de orientao CTS desenvolvidos por alunos do ensino bsico de uma escola rural e inseridos num currculo centrado em Situaes Formativas Proyectos con orientacin CTS desarrollados por alumnos de enseanza bsica de una escuela rural e incluidos en un currculo centrado en Situaciones Formativas Maria Jlia Branco, J. Bernardino Lopes, J. P. Cravino 447 I ACT - pelo nosso futuro comum: um projecto de professores concebido por professores I ACT por nuestro futuro comn: un proyecto de profesores concebido por profesores Orlando Figueiredo, Brigitte Lundin 450

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    Introduo

    A importncia da Cincia e da Tecnologia numa sociedade baseada no conhecimento um princpio

    aceite praticamente por todos os sectores sociais embora o modo como tal importncia

    equacionada dependa dos quadros de referncia considerados. Apesar de tais diferenas, a

    repercusso do conhecimento cientfico e tecnolgico a nvel pessoal, social e organizacional, seja

    escala nacional, seja escala transnacional, no passvel de ser ignorada.

    A Educao em Cincias tem, portanto, de ser vista numa perspectiva de mudanas aceleradas na

    sociedade, algumas difceis de prever mesmo a curto prazo. Ensinar Cincias com referncia aos

    temas e contextos tecnolgicos, bem como s implicaes sociais destes hoje uma orientao

    partilhada por muito educadores e investigadores. O movimento CTS tornou-se um quadro referencial

    para autores de currculos, de programas, de estratgias e de recursos didcticos. Ensinar Cincias

    em contextos CTS configura-se como uma via de formao que permite aos alunos alcanar uma

    viso mais humanista do mundo assoberbado de problemas cuja resoluo no ser nunca

    totalmente isenta de repercusses negativas.

    A Educao CTS no ensino das Cincias tem, pois, como grande finalidade preparar os estudantes

    para enfrentarem o mundo scio-tecnolgico em mudana acelerada, no qual competncias como as

    relacionadas com valores sociais e ticos so relevantes. Nesta perspectiva, pretende-se que a

    escola contribua para aumentar a participao de todos, jovens e cidados adultos, nas instncias

    decisrias sobre questes da inter-relao Cincia-Tecnologia-Sociedade, numa base de participao

    democrtica esclarecida e responsvel (individual e colectivamente). Este propsito torna-se cada

    vez mais difcil de alcanar em muitos pases, dado que em muitos deles, tal como em Portugal, se

    tem vindo a verificar uma retraco relativamente procura de formao superior nestas duas reas

    Cincia e Tecnologia1.

    Esta complexa realidade aponta para a necessidade do Movimento CTS continuar a constituir-se

    como uma via de esperana e futuro que importa actualizar e avaliar. esse um dos propsitos dos

    Seminrios Ibricos CTS no Ensino das Cincias que se tm realizado de dois em dois anos

    alternadamente entre Portugal e Espanha. Desde 2000, em Aveiro, e 2002, em Valladolid, que a

    comunidade de investigadores e professores interessados nestes Seminrios tem vindo a crescer e a

    alargar-se a outras reas do saber - Cincias Sociais, Humanas e Naturais - atestando a pluralidade

    de participaes. No III Seminrio em 2004, novamente em Aveiro, e tambm no IV Seminrio em

    Mlaga, em 2006, o Seminrio alargou fronteiras passando a integrar investigadores e formadores de

    vrios pases da Amrica Latina. Tal facto, aliado manifestao de interesse de investigadores

    latino-americanos, levou deciso de realar a participao transcontinental. Da que a Comisso

    Organizadora do V Seminrio Ibrico tenha decidido consider-lo tambm o I Seminrio Ibero-

    Americano CTS no Ensino das Cincias, a realizar mais uma vez em Aveiro. Estas Actas constituem

    uma evidncia do importante papel que o Seminrio desempenha no estreitamento de relaes

    cientficas e sociais entre comunidades, facilitadas pela proximidade das lnguas em que comunicam.

    1 Conselho Nacional de Educao (2007). Motivao dos jovens Portugueses para a Formao em Cincias e em Tecnologia. Lisboa: CNE.

  • V Seminrio Ibrico / I Ibero-americano CTS no Ensino das Cincias _____________________________________________________________________________________________________

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    O tema escolhido para este seminrio como agregador das abordagens a desenvolver foi Educao

    Cientfica e Desenvolvimento Sustentvel, atravs do qual se deseja dar visibilidade ao papel

    primordial da investigao em Didctica das Cincias na concretizao dos objectivos da Dcada da

    Educao para o Desenvolvimento Sustentvel, da ONU, 2005-2014. Como refere o texto introdutrio

    do painel temtico 1: A ateno dos Seminrios CTS (no III dos quais se aprovou em 2004 o

    Manifiesto de Apoio Dcada) temtica da sustentabilidade no responde a nenhuma moda

    passageira, mas a uma vontade expressa de responder de forma continuada ao solicitado pelas

    Naes Unidas para que os educadores de todas as reas e todos os nveis contribuam com as suas

    aces educativas, inovaes e investigaes, para uma educao de todos para uma cidadania

    consciente da actual situao de emergncia planetria e preparados para participar na adopo das

    necessrias medidas.

    Toda a diversidade de propostas e participaes est bem patente nos 120 posters e oficinas que

    espontaneamente foram apresentadas Comisso Organizadora e avaliados pela Comisso

    Cientfica do Seminrio CTS. No total, foram aprovadas 9 oficinas (captulo 4 destas Actas) e aceites

    97 textos de posters (a maioria depois de reformulados) dos quais 76 so apresentados no captulo 5;

    estes esto distribudos por 7 temas: 1 Fundamentos do movimento educativo CTS; 2

    Perspectivas CTS na educao cientfica para a cidadania; 3 Perspectivas CTS e sustentabilidade

    ambiental; 4 Estado actual do movimento educativo CTS; 5 Integrao de contedos CTS nos

    currculos e recursos didcticos; 6 Formao de professores e educao CTS; e 7 Projectos de

    orientao CTS.

    Alm destes, e dada a centralidade da temtica escolhida Educao Cientfica e Desenvolvimento

    Sustentvel, convidaram-se 34 especialistas ibricos e ibero-americanos para participaes

    especficas, consoante o seu perfil, distribudos em trs outros captulos: 1 conferncias plenrias, 2

    painis temticos e 3 comunicaes orais. Todos eles pretendem contribuir para o debate e a

    discusso aberta de questes e temas centrais os quais, espera-se, impulsionem a necessria

    melhoria do ensino das Cincias e Tecnologia para a sociedade do Sculo XXI e contribuam para

    novos impulsos para a formao de professores e investigao e inovao no campo da Didctica

    das Cincias.

    Por fim reala-se que a realizao deste Seminrio CTS s foi tambm possvel com o apoio e o

    patrocnio de vrias entidades, organismos e empresas, os quais se encontram referidos no final

    destas Actas. Destaca-se o Centro de Investigao Didctica e Tecnologia na Formao de

    Formadores [CIDTFF] da Universidade de Aveiro Departamento de Didctica e Tecnologia

    Educativa como entidade responsvel pela organizao, a Comisso Nacional da UNESCO

    Portugal e o Comit do Ano Internacional do Planeta Terra 2007-2009, cujo alto patrocnio releva a

    pertinncia cientfica do Seminrio e contribui para a sua visibilidade nacional e internacional.

    Universidade de Aveiro, 23 Junho de 2008

    Isabel P. Martins e Rui Marques Vieira

  • Captulo 1 Conferncias Plenrias

    Conferencias Plenarias

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    Riscos de Insustentabilidade

    Quais os Caminhos para um Desenvolvimento Sustentvel?

    Riesgos de la insostenibilidad Cules son los caminos para un desarrollo sostenible?

    Filipe Duarte Santos SIM Laboratrio de Sistemas, Instrumentao e Modelao em Cincias e Tecnologias do Ambiente e do Espao

    FCUL Faculdade de Cincias da Universidade de Lisboa, Portugal [email protected]

    Os primeiros impactos ambientais O estudo da evoluo dos homindeos permite concluir que a nossa espcie o Homo sapiens surgiu em frica h aproximadamente 150 000 anos. Revelou-se muito robusta, tanto na competio com as outras espcies, em especial de homindeos, como na adaptao a um meio ambiente em permanente transformao. Migrou de frica para a Europa e sia e acabou por povoar todos os continentes. A partir dos registos fsseis e arqueolgicos do Homo sapiens possvel identificar uma evoluo cultural que comeou a diversificar-se h cerca de 30 000 anos. Esta evoluo independente da evoluo biolgica, muito mais rpida e eficaz no processo de adaptao ao ambiente. H vrios indcios de um impacto ambiental crescente das actividades humanas desde esses tempos remotos de h 30 000 anos em plena era glacial. Um dos mais notrios foi o desaparecimento nas Amricas, aps a chegada dos humanos, vindos da sia h cerca de 13 000 anos, de um grande nmero de espcies de grandes dimenses, sobretudo mamferos, a chamada megafauna. Caavam em grupos com uma logstica bem organizada e armados de lanas com pontas de pedra, altamente perfurantes. Mais tarde com o aparecimento da agricultura, h cerca de 9000 anos, os impactos ambientais diversificaram-se e intensificaram-se. Um exemplo especialmente significativo pelo seu carcter paradigmtico e pioneiro na histria foi a degradao ambiental provocada por algumas prticas agrcolas dos sumrios na parte mais a jusante dos rios Tigre e Eufrates. A irrigao intensiva dos campos destinada a conseguir mais produtividade provocou a salinizao dos solos e a acumulao de silte nos canais. Por outro lado, a desflorestao nos vales e serras da parte alta das bacias hidrogrficas aumentou a eroso e diminuiu a disponibilidade de gua durante o ano ao alterar o regime de escoamento dos rios. Todas estas prticas derrotaram o seu objectivo e acabaram por diminuir a produo agrcola. As cidades-estado de Ur, Uruk, Lagash, Eridu e muitas outras ficaram enfraquecidas e foram conquistadas pelos acdios em 2350 a.C., pondo fim civilizao sumria. A Grande Acelerao na segunda metade do Sculo XX O salto evolutivo mais importante em termos sociais, econmicos e culturais que se seguiu inveno da agricultura foi a revoluo industrial iniciada em Inglaterra em meados do Sculo XVIII. O seu desenvolvimento e expanso atravs do mundo intensificou e diversificou de novo os impactos das actividades humanas sobre o ambiente. no perodo que se seguiu revoluo industrial que a populao humana global comea a crescer fortemente. As estimativas indicam que h cerca de 10 000 anos a populao humana era de 1 a 10 milhes. Em 1750 estava entre 650 e 850 milhes (Cohen, 1995). A partir dessa poca o crescimento da populao mundial foi muito mais rpido do que o crescimento exponencial atingindo cerca de 1650 milhes em 1900, 5500 milhes em 2000 e cerca de 6600 milhes actualmente. No perodo de 1965 a 1970 a taxa de crescimento anual atingiu um mximo de cerca de 2,1% comeando depois a decrescer. Actualmente a populao humana global continua a aumentar a um ritmo de cerca de 75 milhes de pessoas por ano, a maior parte destas so dos pases em desenvolvimento e entre estes, os menos desenvolvidos. A partir do final da II Guerra Mundial deu-se uma acentuada acelerao do desenvolvimento scio-econmico escala global que se pode identificar por meio de vrios indicadores. O principal motor deste fenmeno mundial, designado por Grande Acelerao (Hibbard, 2007), um sistema complexo fundamentado numa base em expanso de conhecimentos, de desenvolvimento cientfico e tecnolgico, de novas estruturas econmicas e polticas, e numa rede crescente de conectividade e de fluxos informativos. Alicerou-se na abundncia de energia e caracterizou-se por um crescimento muito acentuado da populao, da produo e do consumo. Aps o final da II Guerra Mundial diminuram algumas das barreiras que limitavam o crescimento econmico, o crescimento da populao e a aplicao da cincia e tecnologia ao desenvolvimento. A partir de 1945 a economia mundial teve um desenvolvimento mpar que beneficiou da sucessiva integrao de vrios pases, alguns muito populosos, tais como a Repblica da Coreia e a China na dcada de 1970 e a Rssia a partir de 1990. A utilizao global de energia cresceu por um factor de aproximadamente cinco no sculo XIX e de dezasseis no sculo XX. A mdia anual do consumo global de energia primria aumentou de 1,2% no perodo de 1996 a 2001

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    para 3% no perodo de 2001 a 2006 (Davies, 2007). De acordo com os cenrios de business as usual da Agncia Internacional de Energia o consumo global de energia primria ir crescer de 50% at 2030 a um ritmo mdio anual de 1,6%. Quanto aos recursos hdricos escala mundial, a situao considerada de crise. Cerca de 1000 milhes de pessoas no tm acesso a gua comprovadamente potvel e cerca de 2400 milhes no dispem de saneamento bsico (UN, 2006). Em muitas regies do mundo os aquferos esto a ser explorados para alm da sua capacidade de regenerao pondo em perigo o abastecimento pblico e a produtividade agrcola. Cerca de 5 milhes de pessoas morrem por ano devido a doenas provocadas pela poluio das guas de consumo corrente. A desflorestao intensificou-se com o desenvolvimento da agricultura e continua a agravar-se sobretudo nas regies tropicais. Cerca de metade das florestas tropicais, ou seja 750 a 800 milhes de hectares, foram abatidas e sero extintas em aproximadamente 100 anos se o actual ritmo de desflorestao se mantiver. Esta continuada destruio ter impactos muito graves nos solos, nos ciclos da gua e do carbono e na biodiversidade. Nos ltimos 30 anos a biodiversidade diminuiu de forma generalizada escala mundial, sendo os ecossistemas de gua doce, marinhos e florestais mais atingidos. Nos oceanos as capturas globais anuais de pescado cresceram por um factor de 4 de 1950 a 1990. H sinais cada vez mais claros de colapso dos recursos pesqueiros ocenicos. A diversidade marinha decresceu entre 10 a 50% em todos os oceanos devido sobretudo presso da pesca (Worm, 2005). Se a gesto da explorao dos recursos marinhos no for alterada profundamente, grande parte das espcies marinhas selvagens com valor econmico tendero a desaparecer at ao final do sculo. Calcula-se que a actual taxa de extino das espcies superior por um factor de 100 a 10 000 taxa natural de extino livre de interferncia antropognica (IUCN, 2006). Provavelmente iniciou-se a sexta grande extino de espcies na Terra. As alteraes climticas: um exemplo de interferncia humana escala global Estes so apenas alguns exemplos das caractersticas do nosso desenvolvimento, dos factores de foramento sobre os recursos naturais e dos impactos sobre o ambiente. Pela primeira vez na histria da humanidade temos a capacidade de interferir de modo significativo nos sistemas globais do planeta Terra. Um dos exemplos mais notrios a interferncia antropognica no sistema climtico, formado por vrias componentes: atmosfera, hidrosfera, criosfera, biosfera e litosfera. Cerca de 80% das actuais fontes primrias globais de energia so combustveis fsseis carvo, petrleo e gs natural. A sua combusto e as alteraes no uso dos solos, especialmente a desflorestao, provoca a emisso para a atmosfera de grandes quantidades de dixido de carbono (CO2). Parte deste CO2 dissolve-se nos oceanos ou absorvido pelas plantas verdes por meio da fotossntese. A outra parte acumula-se na atmosfera provocando o aumento da concentrao atmosfrica que cresceu desde 280 ppmv (partes por milho em volume) antes da revoluo industrial at 384 ppmv em 2007. Por outras palavras, estamos a sobreutilizar a capacidade de sequestrar o CO2 atmosfrico nos oceanos ou nas plantas. O problema da acumulao na atmosfera resulta de que o CO2 um gs com efeito de estufa (GEE), isto , que absorve a radiao infravermelha. Os principais GEE presentes na atmosfera so o vapor de gua (H2O), cuja concentrao muito varivel em funo do local e do tipo de tempo que nele ocorre, o metano (CH4), o xido nitroso (N2O), o ozono (O3) e ainda outros produzidos por sntese qumica. Na ausncia destes GEE a superfcie da Terra irradiaria directamente para o espao exterior sem que a radiao infravermelha fosse absorvida pela atmosfera. Calcula-se que nesta situao hipottica a temperatura mdia global da atmosfera seria cerca de -18C em lugar dos actuais 15C. Esta diferena de aproximadamente 33C deve-se a um efeito de estufa natural que assegurou o aparecimento e a evoluo da vida na Terra. Ao aumentar atravs de determinadas actividades humanas a concentrao dos GEE na atmosfera, especialmente o CO2, CH4 e N2O, estamos a interferir com o sistema climtico e a provocar alteraes climticas que se caracterizam por um aumento da temperatura mdia global da troposfera, por fenmenos climticos extremos mais frequentes, pela alterao nos padres de intensidade e distribuio geogrfica da precipitao e pela subida do nvel mdio do mar. H j vrios sinais inequvocos de alteraes climticas (IPCC, 2007). A temperatura mdia global aumentou de 0,47C no perodo de 100 anos entre 1906 e 2005. Nos ltimos 50 anos o aumento foi em mdia de 0,13C por dcada, cerca do dobro dos ltimos 100 anos. Onze dos doze anos de 1995 a 2006 encontram-se entre os doze mais quentes registados desde 1850. A quantidade mdia de vapor de gua na atmosfera aumentou e esse aumento compatvel com a maior capacidade do ar conter vapor de gua, resultante da maior temperatura mdia. Cerca de 80% da energia trmica transferida para o sistema climtico tem sido absorvida pelos oceanos, cuja temperatura aumentou at profundidades da ordem de 3 000 m. Observaes no rctico por meio de satlites, iniciadas em 1978, indicam que a rea mnima do gelo ocenico, no final do Vero, em Setembro, est a diminuir em mdia de 8,6% por dcada, o que corresponde a uma reduo anual mdia de cerca de 100 000 Km2 (Serreze, 2007). Esta fuso tem uma retroaco positiva sobre o aquecimento global, dado que o gelo

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    ocenico reflecte entre 50% a 80% da radiao solar incidente, enquanto as guas ocenicas livres de gelo reflectem apenas 5%. A maior absoro da radiao solar aumenta o fluxo de calor do oceano para a atmosfera, intensificando o aquecimento global. A massa da maioria dos glaciares e campos de gelo das montanhas est a diminuir e, consequentemente, a contribuir para o aumento do nvel mdio do mar. Estimativas recentes indicam que os campos de gelo da Gronelndia esto a perder massa a um ritmo anual de 23923Km3, especialmente na regio oriental. H tambm sinais preocupantes de instabilidade e perda de massa no oeste da Antrctida, especialmente nas plataformas de gelo de Larsen e da baa de Amundsen (Zwally, 2006). Durante o sculo XX o nvel mdio do mar aumentou de 17 cm e actualmente est a elevar-se em mdia 3 mm por ano. As projeces dos cenrios do 4 Relatrio do IPCC (IPCC, 2007) conduzem a um aumento do nvel mdio do mar que no ultrapassa 60 cm at 2100. Contudo, resultados mais recentes, que no vieram a tempo de ser incorporados no relatrio do IPCC, indicam que aquele aumento poder atingir valores mximos de 1,4 a 1,5 m (Rahmstorf, 2007; Jevrejeva, 2008). Para impedir impactos das alteraes climticas muito gravosas a nvel mundial, em vrios sectores scio-econmicos, e para evitar o despoletar de retroaces positivas que amplificariam o aquecimento global, como, por exemplo, a fuso integral dos gelos ocenicos do rctico, seria necessrio estabilizar a concentrao dos gases com efeito de estufa em 450 ppmv de CO2 eq (concentrao em CO2 que, em termos radiativos, equivalente do conjunto dos gases com efeito de estufa com emisses antropognicas). Com este valor de estabilizao seria possvel no ultrapassar um aumento da temperatura mdia global de 2C relativamente temperatura pr-industrial. Porm, a actual concentrao dos gases com efeito de estufa atinge j 430 ppmv CO2 eq, o que torna praticamente impossvel no ultrapassar os 2C. Para ter uma probabilidade elevada de o conseguir seria necessrio atingir o valor mximo das emisses globais de gases com efeito de estufa nos prximos 5 anos e reduzi-las depois em mais de 80% relativamente aos valores actuais. Talvez seja ainda possvel atingir o mximo por volta de 2020, o que poderia garantir um aumento da temperatura mdia global inferior a 3C, relativamente ao valor pr-industrial. Este segundo objectivo tambm muito difcil face ao comportamento recente das emisses globais (IPCC, 2007). Ser necessrio descarbonizar profundamente a economia global, por meio do aumento da eficincia energtica, da poupana de energia, da menor dependncia nos combustveis fsseis, do desenvolvimento e maior utilizao das energias renovveis e do desenvolvimento e aplicao de tecnologias de captura e sequestro do CO2 produzido na combusto dos combustveis fsseis. Ser ainda essencial combater a desflorestao, que conjuntamente com outras alteraes no uso dos solos, contribui em cerca de 20% para as emisses globais de CO2. O paradigma e o dilema do crescimento A questo central do desenvolvimento neste incio do sculo XXI saber qual o destino da Grande Acelerao e em que medida devemos e podemos influenciar o seu curso. Vivemos imersos no paradigma do crescimento que se traduz no facto de as sociedades contemporneas estarem estruturadas por modelos de crescimento baseados na industrializao e no aumento contnuo da produo e consumo de bens e servios entendido e praticado como meio de atingir melhor qualidade de vida e desenvolvimento social. A nossa concepo de qualidade de vida e de bem-estar est formatada num molde que pressupe a prevalncia e a continuidade do paradigma de crescimento. Enquanto que em alguns crculos restritos dos pases em desenvolvimento se comea a questionar a sustentabilidade daquela concepo nos pases em desenvolvimento a situao muito diferente. Nos ltimos 250 anos, desde o incio da revoluo industrial, a humanidade melhorou de forma notvel a qualidade de vida, as condies de sade e de habitao, a educao e a formao profissional. Todavia as diferenas de desenvolvimento social e econmico entre os pases desenvolvidos e os pases em desenvolvimento e tambm no interior dos pases mantm-se e agravam-se. Desde meados da dcada de 1970 at 2000 o PIB aumentou em praticamente todas as regies do mundo, excepto na frica subsariana. Porm a razo entre o PIB per capita dos pases mais ricos e mais pobres est a aumentar assustadoramente: em 1820 era cerca de 7, aumentou para 11 em 1910, para 30 em 1960 e em 1997 tinha o valor de 74 (UNDP, 1999). O pior seria que o desenvolvimento social e econmico dos cerca de 5200 milhes de pessoas que vivem nos pases em desenvolvimento, aproximadamente 80% da populao humana, fosse de algum modo impedido ou fortemente condicionado. Mas ser possvel que toda esta populao venha a beneficiar no futuro dos actuais padres de desenvolvimento social e econmico dos pases desenvolvidos? Haver ou no limites ao desenvolvimento social e econmico, nos moldes actuais, da globalidade de uma populao humana crescente? Qual a natureza desses limites? Estas so algumas das questes principais que se colocam no caminho do desenvolvimento sustentvel. Importa salientar que so questes que envolvem o conjunto das cincias sociais e naturais mas cuja essncia mais profunda de natureza tica. A questo dos limites no contexto contemporneo j tem mais de 30 anos e foi colocada pela primeira vez de forma estruturada e coerente pelo Clube de Roma no relatrio The Limits to Growth (Meadows, 1972). As

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    projeces deste relatrio, obtidas por meio de modelos computacionais, foram duramente criticadas por no terem em conta o efeito dos preos sobre a evoluo do acesso aos bens derivados dos recursos naturais, as possibilidades de reciclagem e substituio desses recursos e sobretudo as solues novas que seriam providenciadas no futuro pela investigao cientfica e pela inovao tecnolgica. Entretanto a fundamentao cientfica do discurso dos limites tornou-se mais robusta (Wackernagel 2002; Meadows, 2004). A ideia fundamental que a persistncia do actual paradigma de crescimento conduzir mais tarde ou mais cedo a situaes de crise ou mesmo colapso porque implica um consumo de recursos e um nvel de interferncia sobre os sistemas naturais do planeta Terra insustentveis. Ao discurso dos limites ope-se o discurso Prometaico praticado sobretudo pelos defensores da ordem econmica estabelecida e baseado numa confiana praticamente ilimitada de o homem, com a sua determinao e esprito inventivo e por meio da cincia e da tecnologia, resolver todos os problemas colocados pelo paradigma de crescimento, no presente e no futuro, incluindo os de natureza ambiental (Santos, 2007). Estamos manifestamente perante um dilema que podemos designar por dilema do crescimento. Qualquer travagem do crescimento econmico a nvel global, regional ou nacional tem imediatamente ou a curto prazo consequncias gravosas ou dramticas sobretudo nos pases em desenvolvimento onde as expectativas de melhorar a qualidade de vida e de bem-estar so justificadamente muito fortes. Porm, por outro lado, a persistncia do actual paradigma de crescimento e a reproduo dos nveis de desenvolvimento econmico e de qualidade de vida dos pases desenvolvidos nos pases em desenvolvimento conduzir a mdio prazo a situaes de interferncia perigosa sobre o ambiente e provavelmente a crises e rupturas. Como optar ou como procurar ultrapassar o dilema descobrindo novas vias? Repare-se no papel crucial do tempo nesta encruzilhada. Se privilegiarmos o imediato e o curto prazo estamos a beneficiar as geraes actuais, mas a aumentar o risco e a incerteza para as geraes vindouras. H ainda outro aspecto crucial a ter em ateno. Apesar da maior sensibilizao para o problema e de uma retrica crescente, na prtica mantemo-nos na segunda via, aquela em que aumentam os riscos e as incertezas futuras. Se persistirmos em trilhar este caminho inevitvel que se acabe por inviabilizar o prprio objectivo de crescimento econmico devido sobreutilizao dos recursos naturais e degradao ambiental, tal como aconteceu nas cidades-estado sumrias h mais de 4000 anos ou na civilizao Maia. Com uma enorme diferena: enquanto os anteriores colapsos civilizacionais foram locais ou regionais o prximo, se acontecer, ter uma incidncia global. No ser certamente uma ameaa sria sobrevivncia da humanidade mas ir gerar um acentuado declnio da qualidade de vida, escala mundial, mais fome, misria, sofrimento, morbidade, mortalidade e conflitualidade. As alteraes climticas vieram agudizar o dilema do crescimento e, simultaneamente, clarific-lo do ponto de vista conceptual, como frequentemente acontece. Uma mitigao global (reduo das emisses globais de GEE) forte no presente tem um efeito imediato negativo sobre o crescimento econmico e um efeito benfico a mdio e longo prazo ao contribuir para diminuir a intensidade das alteraes climticas e, consequentemente, a adversidade dos impactos futuros. Porm, se optarmos por optimizar o crescimento econmico com o business as usual, no reduzindo ou reduzindo pouco, agora, as emisses globais, teremos no futuro impactos das alteraes climticas muito mais gravosos e perigosos. O relatrio do economista britnico Nicholas Stern prova que o custo em termos de diminuio do PIB muito maior na segunda do que na primeira opo (Stern, 2006). Primeiros sinais de travagem do crescimento por insustentabilidade Neste incio do sculo XXI, estamos j provavelmente a presenciar os primeiros sinais da insustentabilidade da segunda via, ou seja, uma desacelerao do desenvolvimento provocado por limitaes globais geradas pelas presses insustentveis do crescimento sobre os recursos naturais e o ambiente. O exemplo mais flagrante a crise alimentar global em que o mundo mergulhou repentinamente. Os preos do arroz, milho e trigo que estiveram relativamente estabilizados durante as dcadas mais recentes aumentaram de forma vertiginosa mais de 180% nos ltimos trs anos. Os produtos alimentares esto a tornar-se cada vez mais escassos, caros e inacessveis para centenas de milhes de pessoas. Calcula-se que cerca de 850 milhes de pessoas sofrem de fome e de riscos severos de morbidade e mortalidade provocados pela malnutrio. As projeces obtidas na Universidade de Minnesota por C. Ford Runge e B. Senauer, que previam uma diminuio de 625 milhes no nmero global de esfomeados em 2025, foram revistas, tendo em conta a actual crise, indicando agora um aumento de 1200 milhes at quele ano. As iniquidades so gritantes e agravam-se: as 200 pessoas mais ricas do mundo tm rendimentos que totalizam os de 40% da populao global (Spiegel, 2008). O enorme aumento no preo dos alimentos, em especial dos cereais, est a afectar gravemente as populaes de vrios pases de frica, Sul da sia, Mdio Oriente, Amrica Central e do Sul. Geraram-se recentemente protestos e conflitos com as autoridades em 33 pases entre os quais algumas potncias regionais como o Egipto, Indonsia e Paquisto. As causas da crise alimentar so mltiplas, algumas profundamente estruturais e difceis ou mesmo impossveis de anular no curto prazo. A populao humana global est a crescer significativamente enquanto a exteno das

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    terras arveis est a diminuir. Por outro lado as alteraes climticas esto a provocar uma diminuio da produtividade agrcola e a perda, por vezes irreversvel, de solos com valor para a agricultura, devido maior frequncia de secas e de episdios de precipitao muito intensa que aumenta o risco de cheias e de eroso. A terceira razo principal prende-se com a actual problemtica da energia e especialmente com o aumento da produo de determinados tipos de biocombustveis, como o etanol a partir do milho. Esta produo est a ser fortemente subsidiada nos E.U.A. que so o maior produtor mundial e onde cerca de um quinto do milho cultivado usado para produzir etanol. O crescimento do investimento nos biocombustveis resulta principalmente de preocupaes relativas disponibilidade e segurana no abastecimento de energia e reduo das emisses de GEE. Com a produo de biocombustveis diminui a dependncia na importao de petrleo, cada vez mais caro, e diminuem as emisses de GEE, embora esta capacidade seja muito varivel e contingente. A competio entre energia e alimentao gerada pela utilizao de cereais para produzir biocombustveis ter consequncias dramticas se no for travada, conforme reconheceu Jean Ziegler, especialista em agroalimentao nas Naes Unidas, ao afirmar em 27 de Outubro de 2007 que os biocombustveis so um crime contra a humanidade. De acordo com Lester R. Brown do Earth Policy Institute gerou-se uma competio pica entre os cerca de 800 milhes de pessoas com veculos automveis que pretendem manter a sua mobilidade e os cerca de 2000 milhes mais pobres da populao humana que lutam por assegurar a sua sobrevivncia. Outras razes para a escalada dos preos prendem-se com a actividade dos especuladores e com a mudana nos hbitos alimentares, sobretudo nos pases com economias emergentes e especialmente na China. O aumento do consumo de carne naqueles pases est a provocar a desflorestao de reas vastssimas e a substituio do cultivo de cereais pela pecuria. A poca dos produtos alimentares de baixo preo ficou repentinamente para trs na histria. Houve muitas vozes que alertaram para a iminncia do est agora a suceder e aconselharam medidas para evitar a crise, entre as quais se destaca o investimento dos pases desenvolvidos na agricultura dos pases mais pobres. Todavia, sem sucesso. Quais os caminhos para o desenvolvimento sustentvel? Como travar a Grande Acelerao para atingir um desenvolvimento sustentvel ou como controlar a travagem que provavelmente estar j em curso devido insustentabilidade do paradigma. Na segunda hiptese a misso mais difcil porque o processo sau do nosso controle e ser em grande parte conduzido pelos seus mecanismos prprios. Seria um caminho reactivo e no pr-activo para a sustentabilidade. Ao abordar a questo de procurar encontrar os caminhos para um desenvolvimento sustentvel importante ter uma perspectiva alargada da histria das sucessivas civilizaes, dos seus florescimentos, declneos e colapsos. As civilizaes constituem uma forma avanada e complexa de vida em sociedade, muitssimo recente na histria do Homo sapiens, que contm o risco de o seu desenvolvimento criar situaes de impasse e crise que aumentam a vulnerabilidade e podem acabar por impedir a sustentabilidade e conduzir ao colapso civilizacional. As razes dos impasses tm frequentemente a ver com a degradao do ambiente e sobretudo com o modo como a sociedade responde a esses problemas. H tambm na histria outras razes para o declneo ou colapso como, por exemplo, as relaes hostis ou o comrcio intenso com civilizaes vizinhas poderosas e alteraes climticas naturais (Diamond, 2005). Algumas civilizaes, como a egpcia e a chinesa, foram particularmente longas e bem sucedidas em parte porque se desenvolveram em regies com solos muito ricos e abundantes. o caso do vale do Nilo e dos gigantescos depsitos de loess na China. Contudo, a principal razo da longevidade encontra-se na capacidade que tiveram de traar e seguir um desenvolvimento sustentvel capaz de evitar que os impactos adversos do desenvolvimento sobre o ambiente o viessem a inviabilizar. Ao longo da histria das civilizaes o paradigma civilizacional tem sido muito bem sucedido devido sobretudo ao carcter regional das civilizaes, dependentes de uma ecologia mais ou menos localizada, s migraes das populaes humanas e capacidade de regenerao natural do ambiente. Actualmente, a civilizao globalizante e aqueles mecanismos de deslocalizao e de regenerao j no so funcionais. A crise pois global. A principal dificuldade em lhe dar resposta resulta de que o quadro institucional que temos para resolver os problemas est profundamente fragmentado e traduz uma realidade social a nvel global com iniquidades de desenvolvimento fortssimas e crescentes. Muitos dos problemas so de mbito global e exigem solues planeadas e coordenadas a nvel global. Porm vivemos num mosaico complexo de pases, todos eles dominados, embora em graus variados e variveis, por preocupaes de afirmao da soberania, de preservao da identidade territorial, cultural e religiosa, de crescimento do poder econmico e militar, de preservao das hegemonias a nvel regional ou global, sujeitos a tenses polticas internas e externas e por vezes envolvidos em conflitos ou confrontos armados. Esta a realidade do quotidiano que se sobrepe a um fundo difuso e pouco estruturado de problemas de sustentabilidade do desenvolvimento escala global.

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    Os estereotipos das sociedades contemporneas dos pases desenvolvidos que servem de modelo a milhares de milhes de pessoas glorificam o consumo desenfreado de bens e servios. Por outro lado, o capitalismo liberal cada vez mais globalizado utiliza e promove a ganncia irrefrevel de alguns para assegurar o crescimento econmico, sem cuidar de saber se isso agrava ou no as iniquidades e se conduz ou no sustentabilidade. A elevada capacidade de aquisio e consumo e a ganncia so hoje em dia valores profundamente enraizados nas nossas sociedades. Ser que apenas as crises e rupturas foraro a desenraiz-los? A criao de riqueza e de desenvolvimento econmico pode ter consequncias fortemente negativas e por vezes irreversveis sobre o ambiente e a sustentabilidade do desenvolvimento. Consideremos o caso das florestas tropicais, um dos mais importantes repositrios da biodiversidade da Terra. Ao destruir uma vasta rea da floresta da Amaznia para produzir soja ou para criar gado gera-se um valor econmico e financeiro, criam-se empregos e contribui-se para aumentar o PIB. Manter a floresta intacta no tem aqueles efeitos e isso uma sentena de morte a prazo para aquele ecossistema. A desflorestao permite aumentar a rea de solos destinados agricultura mas contribui para diminuir a biodiversidade atravs da reduo dos habitats de um grande nmero de espcies. A desflorestao em larga escala contribui ainda para a insustentabilidade da explorao dos solos devido ao aumento da eroso e s consequncias adversas sobre os ciclos da gua e do carbono. Na actual lgica do paradigma de desenvolvimento a proteco das florestas tropicais nos pases em desenvolvimento s se torna possvel se os pases mais ricos a pagarem atravs de investimentos que sejam comparveis em termos econmicos e financeiros s oportunidades perdidas que resultariam da alterao no uso do solo. Face a um recurso natural muito procurado mas finito h frequentes vezes um conflito entre os interesses individuais de explorao e os interesses da comunidade global. Geralmente prevalecem os interesses individuais e o recurso acaba por tornar-se invivel, muito escasso ou esgotar-se prejudicando tanto os interesses da comunidade como os individuais. a chamada tragdia ou dilema dos comuns (Hardin, 1993). Um exemplo eloquente o aquecimento global. Neste caso trata-se da sobre-utilizao da capacidade de extraco da atmosfera do CO2 e de outros GEE emitidos por algumas actividades humanas. Cada fonte de emisso satisfaz interesses individuais, locais ou nacionais de desenvolvimento social e econmico mas ao ultrapassar-se a capacidade de sequestro os GEE acumulam-se na atmosfera e provocam alteraes climticas que tm efeitos adversos sobre toda a humanidade, ainda que de forma diferenciada. H ainda os conflitos de interesses entre as necessidades e as espectativas imediatas e de curto prazo e os interesses de mdio e longo prazo. Esta tenso est no cerne da problemtica do desenvolvimento sustentvel, cujo lema fundamental assegurar o desenvolvimento no presente sem comprometer a capacidade das geraes futuras assegurarem o seu prprio desenvolvimento (Santos, 2007). A resoluo do conflito s ser possvel atravs da formao, desenvolvimento e disseminao de uma tica de equidade escala global e de solidariedade intergeracional. Mas necessrio mais. necessrio que essa nova tica fundamente uma poltica de solidariedade intra e intergeracional. Ser um longo percurso de aprendizagem feito num caminho difcil beira do precipcio das crises sociais, econmicas e ambientais de insustentabilidade. Estamos ainda muito longe de atingir aqueles objectivos polticos porque os governos focam as suas preocupaes e intervenes quase exclusivamente nos problemas mais visveis, agudos e prementes do presente e procuram sobretudo satisfazer as espectativas imediatas dos eleitores. Relegam para segundo plano ou ignoram os impactos a mdio e longo prazos da governao e do uma prioridade baixssima resoluo da problemtica global do desenvolvimento sustentvel. Note-se porm que, pelo menos nos regimes democrticos a forma mais justa e representativa de governao de que dispomos -, as polticas do governo esto sujeitas ao escrutnio das eleies e devem representar a expresso maioritria das opinies, espectativas e preocupaes dos eleitores. Assim, para mudar as polticas ser necessrio comear por renovar o quadro das nossas espectativas e preocupaes e hierarquiz-las de uma forma nova que tenha em considerao os desafios do desenvolvimento sustentvel. Para conseguir aquele objectivo essencial desenvolver um esforo de disseminao dos problemas relativos sustentabilidade do desenvolvimento, especialmente junto das geraes mais novas, por meio da educao e formao. necessrio divulgar e contribuir para fortalecer o papel central que a cincia e a tecnologia tm no caminho para a sustentabilidade. Cada um de ns tem a possibilidade de dar um contributo importante para estes objectivos no quadro da sua actividade profissional e das suas opes de estilo de vida. A bem de ns prprios, dos nossos concidados em todo o mundo e das geraes futuras devemos poupar energia, utilizar sistemas energticos mais eficientes e utilizar mais as energias renovveis. Devemos racionalizar a nossa mobilidade e utilizar sempre que possvel os transportes colectivos. Devemos poupar a gua. Devemos respeitar a natureza e contribuir activamente para a sua proteco. Devemos ser militantes, participar ou liderar iniciativas da sociedade civil e pressionar o governo e as autarquias para que sejam mais activos e empenhados a nvel local, nacional e global na defesa do desenvolvimento sustentvel. Devemos sobretudo cultivar o bem-estar que resulta de contribuir

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    empenhadamente, na medida das nossas possibilidades, para um mundo com menos iniquidades e para um futuro mais sustentvel e saber transmitir esse bem-estar aos outros. S assim ser possvel construir uma onda de solidariedade intra e intergeracional. Referncias Bibliogrficas Cohen, J.E., 1995, How many people can the world support?, W.W. Norton.

    Davies, P., 2007, Energy in Perspective, in BP Statistical Review of World Energy.

    Diamond, J., 2005, Collapse. How societies choose to fail or succeed, Viking Penguin.

    Harding, G., 1993, Living within limits: ecology, economics and population taboos, Oxford University Press.

    Hibband, K.A. et al., 2007, Group report: decadal-scale interactions of humans and the environment, in Sustainability or Collapse, R. Constanza, L.J. Gramlich e W. Steffen (eds.), The MIT Press.

    IPCC, 2007, Intergovernmental Panel on Climate Change, Contributions of Working Group I, II and III to the IPCC Fourth Assessment Report, Cambrifdge University Press.

    IUCN, 2006, International Union for Conservation of Nature and Natural Resources, http://www.iucn.org.

    Jevrejeva, S., 2008, EGU, General Assembly 2008, Viena, 13-18 Abril, a ser publicado.

    Meadows, D.L., et al., 2004, Limits to Growth: the 30-year update, Chelsea Green.

    Meadows, L.H., et al., 1972, The Limits to Growth, Universe Books.

    Rahmstorf, D., 2007, A semi-empirical approach to projecting future sea-level rise, Science, 315, p. 368-370.

    Santos, F.D., 2007, Que Futuro? Cincia, Tecnologia, Desenvolvimento e Ambiente, Gradiva.

    Serreze, M.C., M.M. Holland and J. Stroeve, 2007, Perspectives on the Arctics shrinking sea-ice cover, Science, 315, p. 1533-1536.

    Spiegel, 2008, Spiegel International, 14 de Abril de 2008.

    Stern, N., et al., 2006, Stern Review: The economics of climate change.

    UN, 2006, World Water Development Report, United Nations.

    UNDP, 1999, Human Development Report 1999, Oxford University Press.

    Wackernagel, M. et al., 2002, Tracking the ecological overshoot of the human economy, Proceedings of the National Academy of Sciences, 99 (14), 9266.

    Worm, B., 2005, M. Sandow, A. Oschlies, H.K. Lotze and R.A Myers, Global patterns of predator diversity in the open oceans, Science, 309, p. 1365-1369.

    Zwally, H.J., M.B. Giovinetto, J.Li, et al, 2006, Mass changes in the Greenland and Antarctic ice sheets and shelves and contributions to sea-level rise: 1992-2002, Journal of Glaciology, 51, p.509-527.

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    Qu podemos esperar de la nueva asignatura de Ciencias para el mundo

    contemporneo?

    O que podemos esperar da nova disciplina de Cincias para o mundo contemporneo?

    Emilio Pedrinaci IES El Majuelo, Gines (Sevilla), Espaa

    [email protected] Resumen Se ha aprobado en Espaa una nueva ley de educacin que, en general, mantiene la estructura bsica del anterior plan de estudios pero que ha introducido una nueva materia en el bachillerato (estudiantes de 16-18 aos) denominada Ciencias para el mundo contemporneo. Se trata de una asignatura comn que, por tanto, deber cursar todo el alumnado de estas edades con independencia de la modalidad que elija. En este trabajo se ofrece una panormica general del inters por la ciencia en Europa y, en ese contexto, se desgranan las aportaciones que, en el caso espaol, esta nueva materia puede hacer a la formacin cientfica de los estudiantes as como a la renovacin de la ciencia que se ensea en las aulas. Introduccin El nmero de jvenes europeos que se sienten atrados por carreras de ciencias no deja de descender y lo hace tanto en valores absolutos como relativos. En Espaa, por ejemplo, las carreras que en las estadsticas oficiales suelen englobarse bajo la denominacin de Ciencias experimentales (Matemticas, Fsica, Qumica, Geologa, Biologa y Ciencias ambientales) en los ltimos 7 aos han reducido el nmero de estudiantes matriculados en primer y segundo ciclo un 24%, pasando de tener 127.094 a 97.391 estudiantes (MEC, 2007). En las Enseanzas tcnicas (Arquitectura, Ingenieras e Informtica), aunque menor, tambin se ha producido un descenso, pasando en el mismo perodo de 390.803 a 367.782. Paradjicamente, este desinters por los estudios de ciencias ocurre en un momento en que la Unin Europea parece tener ms claro que nunca que el futuro del viejo continente se encuentra unido a la formacin cientfica y tecnolgica que posea buena parte de su poblacin. As, en la Cumbre de Lisboa (2000) los jefes de estado y de gobierno destacaron que la prosperidad futura de Europa depende de la creacin de un entorno en el que el desarrollo econmico y social se base en el uso del conocimiento, y se fijaron como objetivo estratgico convertirse en la economa basada en el conocimiento ms competitiva y dinmica del mundo, capaz de crecer econmicamente de manera sostenible con ms y mejores empleos y con mayor cohesin social. Un ao ms tarde, el Consejo de Educacin recoga las conclusiones de la Cumbre de Lisboa y presentaba al Consejo Europeo un informe sobre los futuros objetivos que permitirn a todos los ciudadanos europeos participar en la nueva sociedad del conocimiento. En l destacaba que los sistemas educativos debern incrementar los niveles generales de la cultura cientfica en la sociedad considerndolo un objetivo bsico que debera priorizarse en los diez prximos aos (COM, 2001). Con todo, la llamada de atencin ms clara y contundente realizada en un documento oficial es, probablemente, la que realiza el Informe Rocard (2007). Se trata de un estudio que la Comisin Europea encarg al exprimer ministro francs Michel Rocard para que coordinase un grupo de expertos cuya misin sera, de una parte, analizar las causas del progresivo desinters de los jvenes europeos por las carreras de ciencias y, de otra, proponer algunas medidas de correccin. Pues bien, en su primera recomendacin el informe seala: Puesto que est en juego el futuro de Europa, los encargados de tomar decisiones deben exigir la mejora de la enseanza de la ciencia a los organismos responsables de aplicar cambios a nivel local, regional, nacional y europeo (el subrayado es nuestro). La trascendencia econmica y social de la formacin cientfica parece no ser slo una percepcin de los dirigentes polticos. As, en el Eurobarmetro 224 (2005) se destaca que ms del 80 % de los europeos considera que El inters de los jvenes por la ciencia es fundamental para nuestra prosperidad futura. En definitiva, cada vez son ms las personas, dirigentes o no, que dicen estar convencidas de la importancia socioeconmica de la formacin cientfica, pero cada vez son menos aquellas que estn dispuestas a elegir estos estudios. Ante esta paradjica situacin resulta obligado formularse algunas preguntas: cul es la imagen de la ciencia que tienen los ciudadanos y ciudadanas?, cul es su nivel de conocimientos cientficos?, hay relacin entre el nivel de conocimientos cientficos y la desafeccin por las carreras cientficas?, en todo caso, a qu puede deberse esta desafeccin?, qu podra hacerse para corregir esta situacin?

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    Son cuestiones importantes y, si la primera recomendacin del Informe Rocard est en lo cierto, el futuro de Europa depende de que seamos capaces de responderlas adecuadamente y de actuar en consecuencia. Ciencia, cultura y sociedad Es cultura la ciencia? Seguramente no es casualidad que el volumen sobre Enseanza de las ciencias desde la perspectiva CTS (Membiela (ed) 2001) comience con un trabajo que lleva este mismo ttulo (Gutirrez y otros, 2001). De la respuesta que se d a esta pregunta se deriva una determinada concepcin de la ciencia, de su papel formativo y del enfoque que debera tener en la enseanza. El diccionario de la Real Academia Espaola (RAE), 22 edicin, ofrece cuatro acepciones de cultura: a) Cultivo. b) Conjunto de conocimientos que permite a alguien desarrollar su juicio crtico. c) Conjunto de modos de vida y costumbres, conocimientos y grado de desarrollo artstico, cientfico, industrial, en una poca, grupo social, etc. d) Culto religioso. Las acepciones primera y cuarta considera la RAE que estn en desuso. La tercera hace referencia a una dimensin social del trmino, prxima a lo que a veces se denomina civilizacin. De manera que, para la cuestin que nos ocupa, debemos quedarnos con la segunda. La idea de cul es ese conjunto de conocimientos que permite a alguien desarrollar su juicio crtico ha ido cambiando a lo largo del tiempo. As, Roger Schank (2004), nos recuerda los requisitos que deban cumplir los estudiantes para ser admitidos en la universidad de Harvard en 1745: Cuando cualquier alumno sea capaz de leer a Tulio, o a un clsico latino ex temporare, y redactar y hablar respetando la autntica prosa y verso latinos Suo Marte, y declinar a la perfeccin los paradigmas de sustantivos y verbos en lengua griega, entonces podr ser admitido en la universidad, y ninguno debe solicitar la admisin antes de alcanzar dicha cualificacin. Hubo un tiempo, en efecto, en el que cultura era sinnimo de conocimiento de las lenguas y autores clsicos, pero se puede hoy desarrollar un juicio crtico, como seala el diccionario de la RAE, sin una formacin cientfica bsica? Sin esta formacin, qu juicio crtico puede tener una persona sobre la conveniencia o no del uso de los transgnicos, sobre el continuo avance en el consumo de combustibles fsiles, sobre el cierre o apertura de centrales nucleares, sobre el proceso de desertizacin que est ocurriendo, sobre la utilizacin de clulas madre, sobre si nuestro modelo de desarrollo es o no sostenible, sobre el uso de la cada da ms abundante informacin genmica? Y conviene recordar que no se trata de cuestiones propias de debates de saln o de uso limitado a las aulas o a las comisiones de expertos, sino de cuestiones que a todos nos afectan como ciudadanos y sobre las que no slo debemos opinar sino que influiremos sobre ellas, sea por accin o sea por omisin. Las dudas que pueden tenerse al respecto estn relacionadas con el nivel de formacin o informacin desde el que ejerceremos esa influencia y si nuestra posicin al respecto ser activa o pasiva. La Comisin de Educacin Europea pareca tenerlo claro cuando afirmaba El conocimiento cientfico y tecnolgico est llamado a desempear un papel cada vez ms importante en el debate pblico, la toma de decisiones y la legislacin, y utilizaba un significado actualizado de cultura cuando destacaba la necesidad de incrementar los niveles generales de la cultura cientfica en la sociedad (COM, 2001) aunque, seguramente, le aadi el calificativo cientfica para eliminar dudas. Pero cules son estos niveles? Entre los diferentes estudios realizados hay dos que merecen destacarse por su solidez y fiabilidad: el Europeans, Science and Technology. Eurobarometer 224 (COM, 2005) y la Tercera Encuesta sobre Percepcin Social de la Ciencia y la Tecnologa en Espaa (FECYT, 2007). Se trata de dos trabajos similares, el primero proporciona informacin sobre la situacin en la Unin Europea, mientras que el segundo se centra en Espaa. Entre ambos hay notables coincidencias y, dadas las caractersticas de esta intervencin, nos limitaremos a ofrecer algunas pinceladas del caso espaol que pueden resultar especialmente ilustrativas para la cuestin que nos ocupa: - La poblacin espaola tiene un moderado inters por la ciencia y la tecnologa. En una escala en la que 5 es el valor mximo y 1 el mnimo, el inters por cuestiones de medicina y salud es de 3,6 mientras que en otras cuestiones cientficas o tecnolgicas es 2,9. Y, en general, es mayor el grado de inters mostrado que el de informacin recibida (2,6); de manera que los encuestados demandan mayor informacin. - La causa que con ms frecuencia (35%) arguyen las personas que manifiestan no estar interesadas por las cuestiones cientficas es que no las entienden. - La poblacin se encuentra en general poco satisfecha con el nivel de formacin cientfico tcnica que ha recibido. El 52,4 % de los encuestados considera que el nivel de educacin cientfica que ha recibido es bajo o muy bajo, mientras que slo el 11,1% lo considera alto o muy alto.

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    - La percepcin de la utilidad del conocimiento cientfico aprendido ha empeorado desde encuestas anteriores, cayendo una media de 0,66 puntos en la escala de 5. - La imagen social de la ciencia, as como de sus profesionales, es muy buena y las instituciones especficamente dedicadas a la investigacin cientfica figuran entre las que mayor confianza inspiran. - La poblacin espaola considera que los beneficios aportados por la ciencia y la tecnologa son mayores que los perjuicios que pueden acarrear. - Los encuestados se muestran de acuerdo con que el mbito cientfico mantenga cierta autonoma pero, al mismo tiempo, no renuncian a ejercer cierto tipo de control social. - De manera casi unnime, los encuestados se muestran favorables al incremento del gasto en investigacin. Los mbitos que se consideran prioritarios para hacer un esfuerzo en investigacin son medicina y salud, medio ambiente, fuentes energticas y alimentacin, por este orden. Tanto el Eurobarmetro 224 como la 3 Encuesta realizada por la FECYT se centran, fundamentalmente, en la percepcin social de la ciencia ms que en el nivel de conocimientos cientficos de la poblacin. Aun as, ambos estudios incluyen una pregunta tipo test en la que se pide al entrevistado que manifieste su acuerdo o desacuerdo con un conjunto de afirmaciones (en la 3 Encuesta, 10 afirmaciones, y 13 en el Eurobarmetro), todas ellas corresponden a conocimientos que los investigadores de ambos trabajos consideran de ciencia escolar bsica. Aunque se trata de la parte ms discutible de los cuestionarios, puede ser interesante destacar los resultados en algunas de ellas (tabla 1). Afirmacin Verdadero % Falso % No sabe % Los antibiticos curan las enfermedades causadas tanto por virus como por bacterias

    59,4 30,6 10

    El oxgeno que respiramos en el aire proviene de las plantas

    74,3 19 6,7

    Toda la radiactividad es producida artificialmente por el hombre

    36,5 39,7 23,8

    Los electrones son ms pequeos que los tomos 44,2 17,3 38,4 Los seres humanos provienen de especies animales anteriores

    72,5 14,1 13,3

    Los primeros humanos vivieron al mismo tiempo que los dinosaurios

    25,8 52 22,2

    El Sol gira alrededor de la Tierra

    34,2 61,4 4,4

    Ms all de la correccin o no de alguno de estos tems, la mayor parte de ellos miden ms la informacin de ciencia escolar que poseen los encuestados que un conocimiento cientfico til. Aun as, habr que convenir que algo se est haciendo mal si el 34 % de las personas mayores de 15 aos creen que el Sol gira alrededor de la Tierra, y lo que es peor, el 20% de los universitarios encuestados tiene idntica creencia! En definitiva, la pregunta con la que inicibamos este apartado, es cultura la ciencia?, quiz deberamos sustituirla por esta otra: hay cultura sin conocimiento ci