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Cidades Sustentáveis

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Cidades Sustentáveis

Ministro do Meio AmbienteJosé Sarney Filho

Secretário-Executivo José Carlos Carvalho

Diretora do Departamento de Articulação Institucional e Agenda 21Regina Elena Crespo Gualda

Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisMarília Marreco Cerqueira

Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional

José Carlos Carvalho – Secretário-Executivo do Ministério do Meio AmbienteRegina Elena Crespo Gualda – Suplente

José Paulo Silveira – Secretário de Planejamento e Avaliação do Ministério de Orçamento e GestãoAriel Garces Pares – Suplente

Carlos Américo Pacheco – Secretário-Executivo do Ministério da Ciência e TecnologiaLuiz Carlos Joels – Suplente

Luís Felipe de Seixas Corrêa – Secretário-Geral do Ministério das Relações ExterioresAntônio José Guerreiro – Suplente

Vilmar Evangelista Faria – Secretário de Coordenação da Câmara de Políticas SociaisCláudia de Borba Maciel – Suplente

Rubens Harry Born – Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e DesenvolvimentoMuriel Saragoussi – Suplente

João Luiz da Silva Ferreira – Coordenador-Executivo do Movimento Onda AzulGuilherme Fiúza – Suplente

Félix de Bulhões – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento SustentávelFernando Almeida – Suplente

Gustavo Alberto Bouchardet da Fonseca – Departamento de Zoologia da UFMGRoberto Brandão Cavalcanti – Suplente

Aspásia Camargo – Fundação Getúlio Vargas

Consórcio Parceria 21

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IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal – Carlos Alberto de Oliveira – Superintendente-GeralISER – Instituto Social de Estudos da Religião – Samyra Crespo – Diretora-ExecutivaREDEH – Rede de Desenvolvimento Humano – Thais Coral – Diretora-Executiva

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Ministério do Meio AmbienteInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisConsórcio Parceria 21

Cidades SustentáveisSubsídios à Elaboração da Agenda 21 Brasileira

Brasília2000

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Esta obra foi realizada com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD Projeto BRA/94/016.

Elaboração do textoConsórcio Parceria 21Ministério do Meio Ambiente/Projeto 1-BRA/94/016 – Estratégias de Elaboração e Implementação da Agenda 21 Brasileira.

Edição de texto Norma AzeredoVitória RodriguesAuristela Webster

CapaFátima Feijó

Projeto gráfico e diagramaçãoLuiz Eduardo Nunes e Augusto Lima Lopes

Revisão MMA/projeto BRA/94/016Yana Maria Palankof

Ministério do Meio AmbienteSecretaria ExecutivaDepartamento de Articulação Institucional e Agenda 21Esplanada dos Ministérios – Bloco B – 8º andar – sala 83070068-900 Brasília – DF - BrasilTelefones: (61) 317 1142 e 317 [email protected]

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisDiretoria de Gestão EstratégicaPrograma de Educação Ambiental e Divulgação Técnico-CientíficaProjeto de Divulgação Técnico-CientíficaSAIN Av. L4 Norte – Ed. SedeCEP 70800-200 Brasília-DF – BrasilTelefones: (61) 316 1191 e 316 [email protected]

Catalogação na fonte: Centro Nacional de Informação Ambiental – CNIA

711.4:502(81)C568c Cidades sustentáveis: subsídios à elaboração da Agenda 21 brasileira / Maria do Carmo de Lima Bezerra e Marlene Allan Fernandes

(coordenação-geral). – Brasília: Ministério do Meio Ambiente; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; Consórcio Parceria 21 IBAM-ISER-REDEH, 2000.155p.; 21 x 29,5 cm.

Ministério do Meio Ambiente/Projeto 1-BRA/94/016Inclui bibliografia e anexosISBN: 85-7300-093-7

1.Desenvolvimento sustentável. 2.Agenda 21. 3.Desenvolvimento urbano. 4.Meio Ambiente. 5.Estratégia. 6.Biodiversidade. 7.Preservação. 8.Solo urbano. 9.Uso do solo 10.Ordenamento territorial. 11.Gestão. 12.Planejamento. I.Bezerra, Maria do Carmo de Lima. II.Ministério do Meio Ambiente. III.Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. IV.Consórcio Parceria 21 IBAM-ISER-REDEH.

Brasília, 2000Impresso no Brasil

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Printed in Brazil

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Equipe Técnica

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTEMaria do Carmo de Lima Bezerra – Coordenação-GeralMarcia Maria FacchinaVítor Alexandre Bittencourt Sucupira

APOIO LOGÍSTICONaget Sadallah NasserAndré Luiz Rodrigues Lustosa da Costa

GRUPO DE ACOMPANHAMENTO – PORTARIA Nº 55, DE 21 DE SETEMBRO DE 1998Luís Dario Gutierrez – MMALeda Famer – MMAAldenir Paraguassú – MMAVera Lúcia Ribeiro – MPODiana Meireles da Mota – IPEA

CONSÓRCIO PARCERIA 21INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPALMarlene Allan Fernandes – Coordenação-GeralAnal Lúcia Nadalutti La Rovere e Victor Zular Zveibil – Coordenação-ExecutivaBerenice de Souza CordeiroRosana Al-cici Rezende

INSTITUTO SOCIAL DE ESTUDOS DA RELIGIÃOSamyra Crespo – Coordenação-ExecutivaKarla Matos

REDE DE DESENVOLVIMENTO HUMANOThais Corral – Coordenação-ExecutivaLuciana Mello Ribeiro

REDAÇÃO FINAL DO DOCUMENTOAna Lúcia Nadalutti La RovereFabrício Leal de OliveiraMarlene FernandesSamyra CrespoVictor Zular Zveibil

APOIODenise Correia Pacheco – OperadoraGracinda C. M. dos Santos – OperadoraLeila Fragoso – BibliotecáriaMaria Terêsa Silveira Peixoto – BibliotecáriaMaria Teresa Tapajós – Supervisora Administrativa

REVISÃO PARCERIA 21Luís Antônio Correia de CarvalhoCláudia Ajúz

CONSULTORES TEMÁTICOSAlberto Costa Lopes – Uso e ocupação do solo

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Berenice de Souza Cordeiro – Saneamento ambiental Glauco Bienenstein / Heliana Marinho – Planejamento e gestão urbanaGuido Gelli / Isaura Fraga – Prevenção, controle e mitigação dos impactos ambientaisJúlia Guivant – Desenvolvimento dos assentamentos ruraisMaria Laís Pereira da Silva – Habitação e melhoria das condições ambientaisRonaldo Seroa da Motta – Economia e meio ambiente urbanoRovena Negreiros / Áurea M. Q. Davanzo – Rede urbanaRui Velloso – Conservação e reabilitação do patrimônio culturalWilliam Alberto Pereira de Aquino – Transporte urbano

CONSULTOR ESPECIALJorge Wilheim

CONSULTORES DE INTEGRAÇÃO TEMÁTICAEduardo NovaesJosé Augusto DrummondPedro Jacobi

Leitores CríticosAlfredo GastalFábio FeldmanEnrique Svirsky

Cabeças de RedeAyrton Camargo e Silva – Associação de Transportes Públicos – ANTPCarlos Luís Regazzi Filho – Confederação Nacional da Indústria – CNIEdgar Bastos de Souza / Nathalie Beghin – IPEA/Comunidade Solidária/Fórum Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local Integrado e SustentávelFernanda Carolina Vieira da Costa – Fórum Nacional da Reforma UrbanaGrazia de Grazia – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional - FASEJean Pierre Leroy – Fórum Brasileiro de ONGsLuiz Gonzaga Ulhoa Tenório – Federação Nacional dos Urbanitários – FNUMarcelo Gomes Sodré – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDECMaurício Andrés Ribeiro – Fundação João PinheiroOlinda Maria Marque dos Santos – Cearah Periferia

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Apresentação

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, aprovou um documento, denominado Agenda 21, que estabelece um pacto pela mudança do padrão de desenvolvimento global para o próximo século. O resgate do termo “Agenda” teve como propósito a fixação, de fato, em documento, de compromissos que expressem o desejo de mudanças das nações do atual modelo de civilização para outro em que predomine o equilíbrio ambiental e a justiça social. Os países signatários assumiram o desafio de incorporar, em suas políticas, metas que os coloquem a caminho do desenvolvimento sustentável.

A Agenda 21 consolidou a idéia de que o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente devem constituir um binômio indissolúvel, que promova a ruptura do antigo padrão de crescimento econômico, tornando compatíveis duas grandes aspirações desse final de século: o direito ao desenvolvimento, sobretudo para os países que permanecem em patamares insatisfatórios de renda e de riqueza, e o direito ao usufruto da vida em ambiente saudável pelas futuras gerações. Essa ruptura é capaz de permitir a recondução da sociedade industrial rumo ao novo paradigma do desenvolvimento sustentável que exige a reinterpretação do conceito de progresso, cuja avaliação deve ser principalmente efetuada por indicadores de desenvolvimento humano e não apenas pelos índices que constituem os atuais Sistemas de Contas Nacionais, como, por exemplo, o Produto Interno Bruto – PIB.

A Agenda 21, resultante da Conferência, não deixa dúvidas de que os governos têm a prerrogativa e a responsabilidade de deslanchar e de facilitar processos de construção das agendas 21 nacionais e locais. A convocação para as Agendas, entretanto, depende da mobilização de todos os segmentos da sociedade, sendo a democracia participativa a via política para a mudança esperada.

Assim, mais do que um documento, a Agenda 21 Brasileira é um processo de planejamento participativo que diagnostica e analisa a situação do País, das Regiões, dos Estados e dos Municípios, para, em seguida, planejar seu futuro de forma sustentável.

Ao instalar a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21, o Presidente Fernando Henrique Cardoso sinalizou claramente sua determinação em redefinir o modelo de desenvolvimento do Brasil, que passa a ser fundamentado pelo conceito de sustentabilidade social e ambiental, de acordo com as potencialidades e vulnerabilidades dos recursos de que dispõe o País.

Para a construção da Agenda 21 Brasileira adotou-se por metodologia a seleção de áreas temáticas que refletem a complexidade de nossa problemática sócio-ambiental e a proposição de instrumentos que induzam o desenvolvimento sustentável, devendo a Comissão coordenar e acompanhar sua implementação.

Foram escolhidos como temas centrais da Agenda: 1 – Agricultura Sustentável, 2 – Cidades Sustentáveis, 3 – Infra-estutura e Integração Regional, 4 – Gestão dos Recursos

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Naturais, 5 – Redução das Desigualdades Sociais e 6 – Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável.

Esses seis temas ora publicados apresentam à sociedade as principais estratégias concebidas no curso dos debates da Agenda 21 Brasileira até o momento. Parte das discussões ocorreu no primeiro semestre de 1999, por meio de workshops e seminários, com a participação de diversos segmentos da sociedade de todas as regiões do País.

Para concluirmos o processo participativo, estamos apresentando essas propostas, que podem, desde já, orientar a elaboração de projetos de desenvolvimento sustentável, e conclamando a sociedade à participação nas reuniões regionais que virão, de forma a tornar realidade o nascimento da Agenda 21 Brasileira.

José Sarney Filho

Ministério do Meio Ambiente

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Sumário

Lista de siglas 11

Resumo 13

I Objetivos e metodologia 23

II Marco teórico e premissas 27

III Diagnóstico e desafios 39

IV Estratégias prioritárias, diretrizes e propostas

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V Recomendações finais 137

VI Bibliografia 139Anexo I - Lista de participantes do seminário 145

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Lista de siglas

ABEMA Associação Brasileira de Meio Ambiente

ABONG Associação Brasileira de ONGs

ANAMA Associação Nacional de Meio Ambiente

ANTP Associação Nacional de Transportes Públicos

BB Banco do Brasil

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD Banco Mundial

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Social

CEF Caixa Econômica Federal

CNI Confederação Nacional da Indústria

CNPq Conselho Nacional de Pesquisa

EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo

ENAP Escola Nacional de Administração Pública

ETA Estação de Tratamento de Água

ETE Estação de Tratamento de Esgoto

FASE Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional

FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

FAU Faculdade de Administração Urbana

FBCN Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza

FEAM Fundação Estadual de Meio Ambiente/MG

FEEMA Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FGV Fundação Getúlio Vargas

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FPM Fundo de Participação dos Municípios

FNS Fundação Nacional de Saúde

FNU Federação Nacional dos Urbanitários

IBAM Instituto Brasileiro de Administração Municipal

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

ICLEI International Council for Local Environmental Activities

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços

IDEC Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

IEF Instituto Estadual de Florestas

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas

IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano

ISER Instituto de Estudos da Religião

ITQC Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construção

MARE Ministério da Reforma Administrativa

MAST Museu de Astronomia e Ciências Afins

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MDI Ministério da Indústria e Comércio

MEC Ministério de Educação e Cultura

MMA Ministério do Meio Ambiente

MST Movimento dos Sem Terra

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NESUR/Unicamp Núcleo de Estudos Urbanos/UnicampONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PED Projeto de Execução Descentralizada

PIB Produto Interno Bruto

PNMA Programa Nacional de Meio Ambiente

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPA Plano Plurianual de Ação

PR Presidência da República

PROCEL Programa de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica

PROCONVE Programa de Controle de Veículos

Programa RHAE Programa de Recursos Humanos

REDEH Rede de Desenvolvimento Humano

SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto

SCA Secretaria de Coordenação da Amazônia

SEBRAE Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas

SENAC Secretaria Nacional de Comércio

SENAI Secretaria Nacional da Indústria

SEPURB Secretaria Nacional de Política Urbana

SFP Secretaria de Formulação de Políticas Ambientais

SIP Secretaria de Implementação de Políticas e Normas Ambientais

SMAC Secretaria Municipal de Meio Ambiente / RJ

SMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente / SP

SPC Serviço de Proteção ao Crédito

SPHAN Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

SUS Serviço Único de Saúde

TPRPC Título de Participação de Receita Pública Concedida

UFPe Universfidade Federal de Pernambuco

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UK United Kingdom

UNCHS United Nations Centre for Human Settlements (Habitat II)

UNCED United Nations Conference on Enviromment and Development

UNDP United Nations Development Program

Unicamp Universidade de Campinas

UNICEF United Nations Children´s Fund

USP Universidade de São Paulo

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Resumo

Construído com a participação qualificada de atores relevantes do governo e da sociedade, por meio de diferentes formas de consulta e debate, o documento Cidades sustentáveis,1 

elaborado pelo Consórcio Parceria 21, tem por objetivo geral subsidiar a formulação da Agenda 21 brasileira com propostas que introduzam a dimensão ambiental nas políticas urbanas vigentes ou que venham a ser adotadas, respeitando-se as competências constitucionais em todas as esferas de governo.

Incorpora também os principais objetivos da Agenda 21 e da Agenda Habitat pertinentes ao tema tratado, particularmente os que se referem à promoção do desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos, assim como os cenários de desenvolvimento enunciados no documento Brasil 2020, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

A partir do exame do conceito, ainda em construção, de desenvolvimento sustentável – firmado na Agenda 21 e incorporado em outras Agendas mundiais de desenvolvimento e de direitos humanos –, o marco teórico utilizado considera duas noções-chave para o tema Cidades sustentáveis: a de sustentabilidade ampliada, que trabalha a sinergia entre as dimensões ambiental, social e econômica do desenvolvimento, e a noção de sustentabilidade progressiva, que trabalha a sustentabilidade como um processo pragmático de desenvolvimento sustentável. Distingue, além disso, ao menos quatro dimensões básicas: ética, temporal, social e prática e indica critérios e vetores de sustentabilidade, paradigmas e produtos do desenvolvimento sustentável, a serem incorporados pelas esferas pública, estatal e privada.

A partir de uma revisão expedita da Agenda Habitat, o documento indica as principais estratégias para o enfrentamento das questões urbanas ambientais contidas naquele Plano Global de Ação, entre as quais se destacam as relacionadas com: integração setorial e espacial das políticas e das ações urbanas; planejamento estratégico; descentralização; incentivo à inovação; custos ambientais e sociais dos projetos econômicos e de infra-estrutura; novos padrões de consumo dos serviços urbanos e fortalecimento da sociedade civil e dos canais de participação.

PREMISSAS

A partir dos conceitos e das indicações do marco teórico, foram definidas as premissas que nortearam a realização do trabalho:

• Crescer sem destruir. O desenvolvimento sustentável das cidades implica, ao mesmo tempo, crescimento dos fatores positivos para a sustentabilidade urbana e diminuição dos impactos ambientais, sociais e econômicos indesejáveis no espaço urbano.

• Indissociabilidade da problemática ambiental e social. A indissociabilidade da problemática social urbana e da problemática ambiental das cidades exige que se combinem dinâmicas de promoção social com as dinâmicas de redução dos impactos ambientais no espaço urbano.

1 A redação final deste documento levou em consideração os comentários e incorporou, onde cabiam, as sugestões e as contribuições dos participantes do Seminário Nacional realizado no dia 6/4/1999 em Brasília, do Grupo de Acompanhamento Interministerial, dos leitores críticos especialmente convidados e as enviadas (via Internet) por profissionais e entidades ligadas ao tema.

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• Diálogo entre a Agenda 21 brasileira e as atuais opções de desenvolvimento. A sustentabilidade urbana deve se inserir no contexto efetivo da conjuntura nacional e influenciar nas opções de desenvolvimento do país.

• Especificidade da Agenda Marrom. A especificidade do ambiente urbano determina que a sustentabilidade urbana dependa basicamente do cumprimento da chamada Agenda Marrom.

• Inovação e disseminação das boas práticas. As ações de mitigação dos impactos ambientais devem ser equilibradas com as ações voltadas para a inovação e a valorização das práticas urbanas que apresentem componentes de sustentabilidade.

• Fortalecimento da democracia. Reconhecendo que sem democracia não há sustentabilidade, devem-se fortalecer os mecanismos de gestão democrática das cidades e o desenvolvimento da cidadania ativa.

• Gestão integrada e participativa. Necessidade de desenvolver novas formas de gestão urbana que propiciem a integração das ações setoriais, a participação ativa da sociedade e a mobilização de meios mediante novas parcerias urbanas.

• Foco na ação local. Reconhecendo a eficácia da ação local, deve-se promover a descentralização da execução das políticas urbanas e ambientais.

• Mudança do enfoque das políticas de desenvolvimento e preservação ambiental. Deve-se promover a substituição paulatina dos instrumentos de caráter punitivo por instrumentos de incentivo e auto-regulação dos agentes sociais e econômicos.

• Informação para a tomada de decisão. O conhecimento e a informação sobre a gestão do território e do meio ambiente urbano aumentam a consciência ambiental da população urbana, qualificando-a para participar ativamente dos processos decisórios. Políticas e ações de educação e comunicação, criativas e mobilizadoras, devem contribuir para reforçar todas as estratégias prioritárias de sustentabilidade urbana.

DIAGNÓSTICO

Com a finalidade de identificar os pontos de estrangulamento mais críticos para o desenvolvimento urbano sustentável do país, construiu-se, a partir de diagnósticos setoriais para cada um dos subtemas,2 um diagnóstico geral da urbanização brasileira que observa uma tendência de redução do ímpeto de crescimento demográfico para uma taxa de 1,47% a. a., até 2025. Entretanto, os diagnósticos disponíveis evidenciam o agravamento dos problemas urbanos e ambientais das cidades, decorrentes de adensamentos desordenados, ausência de planejamento, carência de recursos e serviços, obsolescência da infra-estrutura e dos espaços construídos, padrões atrasados de gestão e agressões ao ambiente.

Mudanças recentes no processo de urbanização e na configuração da rede de cidades, em função das transformações na dimensão espacial do desenvolvimento econômico, contribuíram

2 A saber: uso e ocupação do solo, planejamento e gestão urbana, habitação e melhoria das condições ambientais, saneamento ambiental, prevenção, controle e mitigação dos impactos ambientais, economia e meio ambiente, conservação e reabilitação do patrimônio cultural, da rede urbana, dos transportes urbanos e desenvolvimento dos assentamentos rurais.

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para reforçar a heterogeneidade econômica e social no desenvolvimento das regiões e das cidades brasileiras. Tal fenômeno se caracteriza por: surgimento de “ilhas” de produtividade em quase todas as regiões; crescimento populacional mais elevado das “antigas periferias” nacionais, provocando o relativo espraiamento do fenômeno de formação das aglomerações urbanas; padrões relativamente baixos de crescimento metropolitano, sobretudo dos núcleos, e uma importância ainda maior do conjunto de cidades de médio porte.

O processo de conformação da rede urbana brasileira apresenta superposição de um sistema baseado em polarizações com outro, cuja característica principal é o desenvolvimento espacial em forma de eixos. Em que pese o forte caráter polarizador de um conjunto de metrópoles e centros urbanos, os investimentos programados por eixos de desenvolvimento contribuem para redesenhar a configuração territorial do país, na medida em que tais investimentos são seletivos, privilegiando espaços dinâmicos e relegando áreas de baixo dinamismo ou estagnadas. Isso acentua a tendência de concentração da população urbana nas áreas metropolitanas e nas aglomerações urbanas, reforçando os desequilíbrios da rede de cidades e tornando agudos os problemas sociais, urbanos e ambientais dos grandes centros – particularmente porque os investimentos feitos ou programados nesses eixos também não levam em conta os danos ambientais decorrentes.

As diferentes escalas de cidades da rede urbana brasileira – regiões metropolitanas e cidades grandes; médias; pequenas; e novas da franja pioneira e cidades patrimônio – possuem desafios próprios para o seu desenvolvimento sustentável. No entanto, apesar de suas peculiaridades regionais e locais, todas abrigam, com maior ou menor intensidade, problemas intra-urbanos que afetam sua sustentabilidade, particularmente os decorrentes de: dificuldades de acesso à terra urbanizada, déficit de moradias adequadas, déficit de cobertura dos serviços de saneamento ambiental, baixa qualidade do transporte público, poluição ambiental, desemprego e precariedade de emprego, violência/precariedade urbana e marginalização social. Apresentam também, por outro lado, sinais positivos de desenvolvimento, tais como maior dinamismo econômico e social, articulação mais ampla entre governo e sociedade, democratização da esfera pública, fruto de experiências inovadoras e boas práticas de gestão local. Assim, a cidade brasileira do século XXI poderá ser palco de uma vida urbana enriquecida, desde que se operem as necessárias transformações dos padrões insustentáveis de produção e consumo que resultam na degradação dos recursos naturais e econômicos do país, afetando as condições de vida da população nas cidades.

ESTRATÉGIAS PARA SUSTENTABILIDADE

A partir dos diagnósticos disponíveis, os consultores temáticos, na formulação de suas respectivas proposições, consideraram, por um lado, a conveniência de propor aperfeiçoamentos nas políticas já em curso no país e, por outro, a necessidade de apontar novas estratégias e instrumentos que assegurem a transição da situação atual das cidades para um futuro mais sustentável. O esforço de sistematização objetivou integrar e compatibilizar as inúmeras contribuições3  recolhidas de especialistas, consultores, ‘cabeças-de-rede’,4  do Grupo de Acompanhamento interministerial e de participantes do workshop e do Seminário Nacional realizados, identificando eventuais lacunas, superposições e conflitos a serem superados, decorrentes de abordagens setoriais e visões distintas sobre a cidade sustentável.

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As contribuições apresentadas pelos consultores e pelos ‘cabeças-de-rede’, orientadas metodologicamente por termos de referência e por protocolos de consulta, apontam para a necessidade de introduzir mudanças substantivas na formulação e na implementação das políticas públicas urbanas – federais, regionais, estaduais e locais – para transformar o quadro de deterioração física, social e econômica e o de degradação ambiental que afetam o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras.

Embora se saiba que, em termos de meio ambiente, determinadas metas só possam ser atingidas em longo prazo, entende-se que os municípios, os estados e a União – atuando sempre em parceria com a sociedade – podem introduzir de imediato mudanças nas suas políticas urbanas capazes de gerar resultados até mesmo a curto prazo. Assim, para fins de calibragem temporal das proposições, adotaram-se os seguintes horizontes de tempo: imediato (até dois anos), curto prazo (até quatro anos) e médio prazo (até dez anos).

Cabe comentar que o processo de filtragem das propostas e de fixação das estratégias de sustentabilidade considerou, conforme as premissas adotadas, uma conjuntura nacional marcada por dificuldades econômicas, políticas e institucionais que afetam, em última análise, o processo de desenvolvimento do país e, por conseguinte, das cidades brasileiras.

Sendo objetivo do trabalho contribuir para a formulação de políticas públicas e de ações, buscou-se identificar propostas de alteração ou introdução de inovações quanto aos conceitos, às prioridades e aos critérios de alocação de recursos e instrumentos nas pautas operacionais das áreas/setores que executam a política urbana e/ou condicionam o processo de urbanização em curso.

As propostas enunciadas para cada um dos subtemas indicados pelo Ministério do Meio Ambiente, uma vez sistematizadas e selecionadas por meio da aplicação de matrizes analíticas desenvolvidas pelos consultores de integração temática, foram consolidadas e ordenadas em quatro estratégias de sustentabilidade urbana, identificadas como prioritárias para o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras.

1. Aperfeiçoar a regulamentação do uso e da ocupação do solo urbano e promover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de vida da população, considerando a promoção da eqüidade, a eficiência e a qualidade ambiental.

2. Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade de planejamento e de gestão democrática da cidade, incorporando no processo a dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade.

3. Promover mudanças nos padrões de produção e de consumo da cidade, reduzindo custos e desperdícios e fomentando o desenvolvimento de tecnologias urbanas sustentáveis.

4. Desenvolver e estimular a aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos recursos naturais visando à sustentabilidade urbana.

A identificação preliminar do conjunto de estratégias resistiu a uma checagem feita quanto à consistência e à coerência com os princípios da Agenda 21 e da Agenda Habitat e com as

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premissas do trabalho e, também, quanto ao entendimento dos consultores sobre a problemática ambiental urbana.

PROPOSIÇÕES

Para a consolidação e o detalhamento dessas estratégias, o exame de cada proposição levou em consideração os seguintes fatores: o grau de transversalidade, que sinaliza o seu potencial de integração temática, o horizonte de tempo necessário à sua implementação e o âmbito institucional responsável pela sua adoção.

Na Estratégia 1, que trata da regulamentação do uso e da ocupação do solo urbano e do ordenamento do território, foram agrupadas 15 propostas referentes a:

• Fortalecimento da dimensão territorial no planejamento governamental, nos três níveis de governo, destacando a importância da articulação entre as políticas, os programas e as ações de cooperação entre os diferentes órgãos e setores de governo. São ressaltadas a necessidade de uma política nacional de ordenação do território e a importância das regiões metropolitanas e das aglomerações urbanas no contexto da rede urbana brasileira.

• Produção, revisão, consolidação e implementação de instrumentos legais federais, estaduais e municipais de maneira a ajustá-los às necessidades surgidas em decorrência dos processos de urbanização acelerada do país, bem como às novas pautas de desenvolvimento endossadas pelo Estado e pela sociedade, em particular quanto ao direito ambiental e à função social da propriedade.

• Políticas e ações de acesso à terra, regularização fundiária e redução do déficit habitacional mediante o combate à produção irregular e ilegal de lotes, parcerias com o setor empresarial privado e com a população, linhas de financiamento para locação social, aproveitamento dos estoques de terras e habitações existentes e recuperação de áreas centrais para ampliar o acesso à moradia.

• Melhoria da qualidade ambiental das cidades por meio de ações preventivas e normativas de controle dos impactos territoriais dos investimentos públicos e privados, do combate às deseconomias da urbanização, da elaboração de planos e projetos urbanísticos integrados com as ações de transporte e trânsito, da adoção de parâmetros e de normas voltadas para a eficiência energética, o conforto ambiental e a acessibilidade, da ampliação das áreas verdes e das áreas públicas das cidades, da conservação do patrimônio ambiental urbano, tanto o construído como o natural e paisagístico.

A Estratégia 2 é voltada para o desenvolvimento institucional e para o fortalecimento da capacidade de planejamento e de gestão ambiental urbana. Preconiza a associação direta de melhoria da gestão urbana a instrumentos de transparência da Administração Pública e tem como efetiva a participação da sociedade civil nos processo decisórios, num conjunto de 15 propostas direcionadas para.

• Aspectos espaciais de planejamento e gestão, envolvendo a necessidade de planejamento e de políticas nas várias escalas e adequados às características regionais,

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da rede urbana e locais, reforçando a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e identificando competências, assim como necessidades de integração intergovernamental para fiscalização e controle ambiental.

• Institucionalização de órgãos, processos, mecanismos e instrumentos de gestão , garantindo a incorporação da dimensão ambiental nesse conjunto, fortalecendo a democratização e a efetiva participação da sociedade nos processos e consolidando instrumentos e padrões de informação, monitoramento, fiscalização e controle públicos.

• Política habitacional, incorporando os aspectos de sustentabilidade ambiental nos programas, nos projetos e nos empreendimentos que se associam à geração de emprego e renda, ao uso de tecnologias adequadas5  à preocupação com a geração de recursos para manutenção e ampliação, considerando as especificidades e as diversidades dos grupos sociais envolvidos.

• Saneamento ambiental, enfocando a necessidade de avanços no campo da regulamentação, garantindo flexibilidade nas formas de gestão pelos municípios, linhas de financiamento que priorizem os agentes mais adequados aos objetivos de universalização do atendimento e de qualidade ambiental na prestação dos serviços.

• Transporte e trânsito, envolvendo os aspectos de gestão e operação dos sistemas por meio da parceria público–privada e da participação da população nas decisões e na fiscalização.

• Integração entre as políticas urbanas e rurais, para complementar as atividades e redução dos impactos ambientais provocados nessas duas esferas, seja pelos perfis de produção, consumo, poluição, contaminação ou pelos fluxos de população.

A Estratégia 3 trata da mudança de padrões de produção e de consumo da cidade. Os objetivos estão no seu enunciado: redução de custos e desperdícios e fomento de práticas sociais e tecnologias urbanas sustentáveis. O conjunto de diretrizes e propostas procura cobrir esses objetivos o mais amplamente possível, sugerindo e combinando uma série de instrumentos sociais, tais como os de ordem cultural (comunicação, capacitação, educação ambiental); política (fóruns de desenvolvimento, conselhos nacionais e locais, Congresso Nacional, Câmaras estaduais e locais); legal (Lei dos Recursos Hídricos; Lei dos Crimes Ambientais); econômica (incentivos e créditos, como o ICMS Ecológico e o Protocolo Verde); tecnológica (promovendo e difundindo tecnologias eficientes); institucional (fortalecendo órgãos de gestão ambiental e de defesa do consumidor).

A estratégia reúne 15 propostas, que se referem ao seguinte leque de problemas e de necessidades:

• Combater o desperdício e promover o consumo sustentável com os agentes econômicos, o setor público e a população em geral.

• Arbitrar padrões e indicadores capazes de orientar o planejamento urbano e o monitoramento das práticas de produção e de consumo sustentáveis, tanto por parte do setor público como do privado.

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• Estabelecer rotinas de auditorias ambientais no setor público e usar o poder de compra do Estado para induzir o mercado de bens e serviços a adotar padrões de qualidade ambiental.

• Promover mudanças nos procedimentos utilizados para lidar com assentamentos e com projetos habitacionais, passando a levar em consideração o conforto, a qualidade ambiental e a ecoeficiência, com o máximo aproveitamento de materiais reciclados e apropriados.

• Reduzir as perdas crônicas no sistema de saneamento e modernizar a política tarifária, garantindo água mais barata e de melhor qualidade, melhorando, dessa forma, os indicadores de saúde.

• Evitar e reduzir a geração de resíduos, de despejos e a emissão de poluentes, nas áreas urbanas e do entorno, por parte das indústrias.

• Reduzir a queima de combustíveis fósseis e promover a eficiência energética, contribuindo para a mudança da matriz energética e para o combate ao ‘efeito estufa’.

• Promover maior integração entre o meio rural e o urbano, desenvolvendo atividades agrícolas e não-agrícolas voltadas para este fim.

• Gerar empregos e renda, contribuindo para diminuir as desigualdades existentes, aproveitando, sempre que possível, os programas decorrentes das quase noventa ações recomendadas para operacionalizá-los utilizando mecanismos que combinem sustentabilidade econômica e social.

A Estratégia 4, que propõe a aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos recursos naturais, incorpora, principalmente, a concepção de que pode e deve ser utilizado um amplo conjunto de instrumentos econômico-fiscais, tributário-financeiros, de financiamento e outros pelos vários níveis de governo, de maneira a incentivar ou inibir atividades urbanas e industriais em função das políticas e dos resultados ambientais requeridos. Apresenta seis propostas voltadas para:

• Cobrança pelo uso dos recursos naturais, de maneira a ampliar os recursos financeiros disponíveis, reduzindo o comprometimento dos orçamentos governamentais com os problemas ambientais e dimensionando-os para ações redistributivas, de maneira a permitir que os mais pobres possam usufruir de forma socialmente eqüitativa da qualidade ambiental e gerando sustentação para as atividades de manutenção que possam aumentar as oportunidades de trabalho e renda.

• Aperfeiçoamento do sistema tributário nos três níveis de governo, criando incentivos econômico-tributários, como o ICMS Ecológico e outros estímulos extrafiscais indutores de comportamentos ambientalmente sustentáveis pelos agentes públicos e privados.

• Promoção da competitividade da indústria brasileira, por meio de alterações de processos e produtos capazes de enfrentar as restrições ambientais associadas ao comércio exterior e aos acordos globais, utilizando recursos resultantes da criação de um Fundo Ambiental da Indústria, lastreado em impostos sobre a poluição.

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• Novos critérios para o financiamento do setor de transportes, incorporando e condicionando os investimentos aos aspectos ambientais no sentido da priorização de sistemas de transporte coletivos, associados a redes integradas, e incentivando a busca de recursos alternativos de financiamento pelos poderes locais.

• Utilização de critérios ambientais para compra de bens e serviços pelo setor público, visto ser este, nos três níveis de governo, um importante impulsionador da economia e, portanto, indutor do perfil dos produtos e serviços.

• Recuperação da valorização fundiária resultante dos investimentos públicos nas áreas urbanas, por meio de instrumentos jurídico-tributários que permitam gerar recursos para programas habitacionais e de melhoria do meio ambiente construído.

RECOMENDAÇÕES

Com a finalidade de assegurar o êxito da missão da Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 nacional, no que se refere à sustentabilidade das cidades, o documento apresenta algumas recomendações de iniciativas e providências a serem tomadas no âmbito federal.

• Reforçar a descentralização das políticas públicas ambientais e urbanas, respeitado o princípio da subsidiaridade, acompanhando a delegação de funções da necessária transferência de recursos, considerando que compete ao município a gestão democrática da cidade sustentável.

• Promover, em benefício das cidades sustentáveis, as indispensáveis articulação, compatibilização e integração das políticas e das ações públicas federais que afetam o desenvolvimento urbano sustentável.

• Regulamentar os dispositivos constitucionais que dispõem sobre matéria de interesse das cidades e sua sustentabilidade, em particular o artigo 182 da Constituição Federal.

• Agilizar a aprovação dos estatutos legais em tramitação no Congresso Nacional, que tratam de matéria de interesse do desenvolvimento urbano e da sustentabilidade das cidades, bem como fazer a revisão dos instrumentos legais, normativos e de regulamentação de iniciativa federal para incorporar a dimensão ambiental nas políticas urbanas.

• Definir, institucionalizar e adotar formas mais efetivas de cooperação intergovernamental, entre a União, os estados e os municípios, que assegurem as necessárias condições políticas e institucionais de implementação da Agenda 21 em todos os níveis.

• Reconhecer e apoiar particularmente as iniciativas de construção e de implementação de Agendas 21 locais, envolvendo os municípios e os atores relevantes da sociedade, estimulando a sua multiplicação em todo o país.

• Considerar na formulação do Programa Plurianual de Ação-PPA para o período 2000-2003, em especial nas Opções Estratégicas 2, 3 e 4, a inclusão dos macroobjetivos e das

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diretrizes específicas referentes ao desenvolvimento urbano, com a finalidade de assegurar os meios de implementação de políticas urbanas e as ações necessários à sustentabilidade das cidades.

• Promover a ampla divulgação, em todo o território nacional, do documento de referência Cidades sustentáveis, dirigida especialmente aos municípios, visando à mobilização dos dirigentes municipais e da sociedade local em torno de suas propostas para o desenvolvimento sustentável das cidades.

A expectativa é de que o conjunto de estratégias e suas respectivas propostas, indicados neste documento, sejam incorporados à Agenda 21 brasileira e efetivamente implementados pelo governo e pela sociedade, contribuindo para alcançar, ao final de dez anos, novos padrões de sustentabilidade para as cidades brasileiras, melhorando as condições de vida urbana da população.

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I Objetivos e metodologia

OBJETIVO GERALO objetivo geral do trabalho, conforme estabelecido no edital de licitação, é

elaborar um documento de referência sobre o tema Cidades sustentáveis que ajude a formular e a implementar políticas urbanas fundadas nos princípios do desenvolvimento sustentável definidos pela Agenda 21. Para tanto, em suas proposições, busca sempre ressaltar a dimensão ambiental nas políticas urbanas vigentes ou que venham a ser adotadas em todos os níveis de governo.

OBJETIVOS ESPECÍFICOSIncorporam os principais objetivos definidos na Agenda 21 e na Agenda Habitat.

Da Agenda 21, entre aqueles voltados para a promoção do desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos, destacam-se:

• oferecer a todos habitação adequada;

• aperfeiçoar o manejo dos assentamentos humanos;

• promover o planejamento e o manejo sustentáveis do uso da terra;

• promover a existência integrada de infra-estrutura ambiental: água, esgotamento sanitário, drenagem e manejo de resíduos sólidos;

• promover sistemas sustentáveis de energia e de transporte nos assentamentos humanos;

• promover o planejamento e o manejo dos assentamentos humanos localizados em áreas sujeitas a desastres;

• promover atividades sustentáveis na indústria da construção;

• promover o desenvolvimento dos recursos humanos e a capacitação institucional e técnica para o avanço dos assentamentos humanos.

Do capítulo voltado para a integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões, destacamos:

• Reexaminar as políticas, as estratégias e os planos econômicos, setoriais e ambientais, nas esferas nacional, estadual e municipal, para efetivar uma integração gradual entre as questões de meio ambiente e de desenvolvimento.

• Fortalecer as estruturas institucionais para permitir a integração plena entre as questões relativas ao meio ambiente e ao desenvolvimento, em todo o processo de tomada de decisões.

• Criar ou melhorar mecanismos que facilitem a participação no processo de tomada de decisões dos indivíduos, dos grupos e das organizações interessadas.

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• Estabelecer procedimentos, determinados internamente, para integração das questões relativas ao meio ambiente e ao desenvolvimento no processo de tomada de decisões.

Dos objetivos definidos pela Declaração de Istambul e pela Agenda Habitat, devem ser destacados os que se referem ao desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos, em um mundo em processo de urbanização, e à moradia adequada para todos, sob a visão de que o combate à pobreza é indispensável para a sustentabilidade dos assentamentos humanos e de que o desenvolvimento sustentável desses assentamentos deve sempre considerar as necessidades e as condições para se alcançar o crescimento econômico, o desenvolvimento social e a proteção ao meio ambiente.

Foram ainda observados os objetivos de desenvolvimento indicados no documento Brasil 2020, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República:

• Estado regulador, que promova o desenvolvimento econômico e social, proteja o meio ambiente e garanta os direitos humanos;

• ecossistemas conservados, com os recursos naturais e a biodiversidade aproveitados de forma sustentável;

• espaço nacional distribuído de forma equilibrada, com a redução dos desníveis regionais e sociais;

• inserção competitiva no contexto internacional.

Esse conjunto de objetivos orienta e delimita as estratégias e as propostas selecionadas, oriundas das contribuições de consultores, cabeças-de-rede e representantes governamentais e da sociedade civil participantes do workshop.

METODOLOGIATal qual estabelecido pela proposta técnica do Consórcio Parceria 21, todas as

etapas e atividades desenvolvidas para a elaboração do documento de consulta Cidades sustentáveis tomaram como base, sempre que possível e observados os limites de tempo e de recursos, a metodologia essencialmente participativa recomendada pela Agenda 21. Conforme explicitado nos capítulos 23 a 32, todos os setores e segmentos sociais são potencialmente parceiros do desenvolvimento sustentável, devendo ser envolvidos em todo o processo de elaboração e de implementação da Agenda e de suas ações estratégicas.

A Agenda 21 indica, por meio do conceito de ‘atores relevantes’ – partes interessadas em situações em que há conflitos ou diferença significativa de opinião, sejam de ordem econômica, ambiental ou cultural –, que pactos e consensos amplos não são possíveis sem que se promova o diálogo entre os diferentes grupos de interesse e nomeia alguns dos atores considerados necessários para o consenso: trabalhadores e sindicatos, ONGs, empresários, comunidade científica e tecnológica, agricultores e os chamados ‘grupos socialmente vulneráveis’, que incluem mulheres,

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crianças, jovens, idosos, portadores de deficiência, populações tradicionais e indígenas.

DESENVOLVIMENTO DAS ETAPAS DE TRABALHONa primeira etapa, foi feito um levantamento geral de propostas, respeitando

a metodologia e os recortes setoriais indicados no Termo de Referência encaminhado pelo PNUD/MMA: a) uso e ocupação do solo; b) planejamento e gestão urbana; c) habitação e melhoria das condições habitacionais; d) serviços de saneamento; e) prevenção, controle e mitigação dos impactos ambientais em áreas urbanas; f) relação economia e meio ambiente urbano; g) conservação e reabilitação do patrimônio histórico; h) rede urbana e desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos.

Seus resultados foram consolidados e trabalhados pela equipe técnica do Consórcio na segunda etapa do trabalho, que incluiu um workshop com aproximadamente oitenta especialistas.1  Os resultados do workshop serviram de subsídios à elaboração de uma segunda versão preliminar do documento de referência, a qual foi discutida no Seminário Nacional.

O Seminário Nacional correspondeu à principal atividade da terceira etapa prevista no trabalho contratado, gerando um último conjunto de subsídios e de observações incorporados a este Documento Final –Cidades sustentáveis.

ELABORAÇÃO DO DOCUMENTO PRELIMINAR – PRIMEIRA VERSÃO

A coleta e a sistematização dos subsídios necessários à elaboração da primeira versão preliminar do documento basearam-se em dois procedimentos complementares: a) aprofundamento dos temas e dos subtemas mediante a contribuição dos consultores especialmente contratados; b) consulta aos cabeças-de-rede.

a) Contribuição dos consultores. Dez consultores temáticos receberam a tarefa de aprofundar cada um dos subtemas definidos pelo Termo de Referência do MMA/PNUD. Três consultores de integração tiveram como tarefa desenvolver matrizes de análise que permitissem a integração das várias abordagens setoriais.2 

b) Consulta aos cabeças-de-rede. Definimos como cabeças-de-rede pessoas que exercem liderança em seu setor ou em determinada rede social temática e que detêm a capacidade de, em um rápido escrutínio, trazer para o processo em curso (elaboração do documento preliminar) a opinião e/ou

1 Relatório específico do workshop encontra-se na homepage: http:\\www.ibam.org.br/parc21 informando os resultados principais dos grupos de trabalho, assim como os demais documentos produzidos.

2 Essas matrizes de análise constam dos documentos de trabalho utilizados no workshop e disponibilizados na homepage.

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contribuição dos grupos que formam a sua rede acerca do tema e das questões em pauta. O conceito de rede social refere-se a um grupo de atores e/ou instituições que se ligam, voluntária e horizontalmente, para cumprir determinados fins comuns e/ou usufruir, de maneira compartilhada, de determinados benefícios. Entre as várias redes existentes, foram selecionadas dez que atuam em questões associadas ao tema Cidades sustentáveis. Cada cabeça-de-rede recebeu um protocolo de consulta com um roteiro de questões. Além de responder às questões formuladas, podem contribuir participando do workshop e enviando documentos considerados relevantes por suas redes.

REALIZAÇÃO DO WORKSHOP: SISTEMATIZAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO

DAS ESTRATÉGIAS E DAS PROPOSTASO workshop envolveu a equipe técnica do Consórcio, os consultores temáticos e

de integração, os cabeças-de-rede, representantes do Ministério do Meio Ambiente e do Grupo de Acompanhamento designado, representantes dos demais consórcios envolvidos na elaboração da Agenda 21 e de vários setores acadêmicos e da sociedade civil, num total de oitenta participantes (ver lista anexa).

Teve por objetivo expor e debater a primeira sistematização das estratégias e das propostas, realizada pela equipe técnica e pelos consultores.

Foram identificadas 165 propostas, classificadas, por meio de quatro matrizes, segundo elementos identificados como constitutivos do marco de sustentabilidade: grau de transversalidade e sua incidência em vários subtemas; horizonte de implementação (imediato, curto ou médio) e o âmbito ou esfera de competência (municipal, regional/estadual ou federal). Esse material municiou o trabalho dos grupos durante o workshop, resultando em cinco estratégias: três delas compartilhadas e reiteradas por todos os grupos de trabalho e outras duas sugeridas como acréscimo.

ELABORAÇÃO DO DOCUMENTO PRELIMINAR - SEGUNDA VERSÃOUma nova sistematização das estratégias e das propostas foi realizada pela

equipe técnica e pelos consultores de integração após o workshop. Definiu-se, então, um outro conjunto de quatro estratégias que englobam as anteriores e destacam melhor o perfil das propostas finais, num total de 55. As propostas foram novamente redigidas e classificadas, indicando-se, para cada uma, o âmbito, o prazo e os meios de implementação, compostos pelos recursos humanos/institucionais, científicos/tecnológicos e financeiros julgados necessários. Foi revisto o capítulo do ‘Marco conceitual’ e consolidado o capítulo de ‘Diagnóstico e desafios’.

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REALIZAÇÃO DO SEMINÁRIO NACIONALForam realizados, no período de 5 a 10 de abril de 1999, no auditório do IBAMA,

em Brasília, seis seminários relativos a cada um dos subtemas componentes da Agenda 21 brasileira. O objetivo do evento foi permitir uma nova rodada de discussões e contribuições, ampliando o espectro dos atores envolvidos no processo.

O seminário ‘Cidades sustentáveis’, com duração de um dia, contou com 150 participantes (ver lista anexa), congregando representantes dos setores governamentais federal, estadual e municipal, acadêmico e lideranças da sociedade civil.

A dinâmica adotada no evento permitiu expor o Documento Preliminar 2 e absorver o máximo possível de contribuições dos presentes.

PRODUTO FINALEste documento consolida, portanto, as contribuições principais e pertinentes

do Seminário Nacional, incorpora observações ao Documento Preliminar 2 recebidas do Grupo de Acompanhamento Interministerial e de profissionais e entidades, via Internet, bem como as sugestões dos ‘leitores críticos’.

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II Marco teórico e premissas

O MARCO DA SUSTENTABILIDADE AMPLIADA Se depender das conferências de cúpula da Organização das Nações Unidas-

ONU, bem como das demais agências internacionais que atuam na promoção do desenvolvimento, a noção de sustentabilidade vai se firmar como o novo paradigma do desenvolvimento humano: independentemente do nível de riqueza e da latitude, todos os signatários dos documentos e das declarações resultantes das conferências mundiais realizadas nessa década3  assumiram o compromisso e o desafio de concretizar, nas políticas públicas de seus países, as noções de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável, cunhado pela Comissão Brundtland no processo preparatório da Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento humano, a chamada Rio-92, começou a ser divulgado pelo relatório Nosso futuro comum, a partir de 1987. O termo encerra a tese-chave de que é possível desenvolver sem destruir o meio ambiente e propõe que todos os países se unam para evitar a catástrofe global: degradação crescente não só das grandes cidades industriais, onde primeiro se fizeram sentir os efeitos funestos da destruição ambiental, mas do ambiente global (atmosfera, florestas, oceanos).

Foi a partir desse relatório que a idéia de que é necessário um esforço comum e planetário para se corrigir os rumos do modelo de desenvolvimento econômico se firmou no cenário político, levando os vários países signatários da Agenda 21 - documento que reúne o conjunto mais amplo de premissas e de recomendações sobre como as nações devem agir para alterar seu vetor de desenvolvimento em favor de modelos sustentáveis - a iniciarem seus programas de sustentabilidade.

Há em todo o documento da Agenda 21 uma crítica ao atual modelo de desenvolvimento econômico, considerado injusto socialmente e perdulário do ponto de vista ambiental. Em contraponto a este modelo injusto e predador, é proposta a alternativa da nova sociedade, justa e ecologicamente responsável, produtora e produto do desenvolvimento sustentável. A via política para a mudança é a democracia participativa com foco na ação local e na gestão compartilhada dos recursos.

Em termos das iniciativas, a Agenda não deixa dúvida: os governos têm a prerrogativa e a responsabilidade de deslanchar e de facilitar processos de implementação da Agenda 21 em todas as escalas. Além dos governos, a convocação da Agenda para mobilizar todos os segmentos da sociedade, chamando-os de ‘atores relevantes’ e de ‘parceiros do desenvolvimento sustentável’.

3 As principais conferências realizadas pela ONU na década de 1990 foram: Infância, em Genebra (1990); Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, no Rio de Janeiro (1992); População e Desenvolvimento, no Cairo (1994); Pobreza e Desenvolvimento Social, em Copenhague (1995); Assentamentos Humanos Habitat II, em Istambul (1996); Mulher, em Beijing (1997).

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SUSTENTABILIDADE Para muitos autores, há uma contradição, uma oposição difícil de ser desfeita,

entre os conceitos de desenvolvimento e de sustentabilidade. Segundo eles, o conceito de sustentabilidade é fruto de movimento histórico recente, altamente questionador da sociedade industrial, enquanto o conceito de desenvolvimento é o conceito-síntese desta mesma sociedade, cujo modelo mostra seu esgotamento. Outra tendência crítica afirma que o conceito de sustentabilidade é um conceito importado da ecologia e que sua operacionalidade nas comunidades humanas ainda está para ser provada. Em nosso entendimento, o debate teórico em torno do conceito de desenvolvimento sustentável é próprio do momento de sua validação.

O que se pode depreender das intervenções de vários autores brasileiros que vêm contribuindo para essa discussão (Viola: 1991; Acserald: 1995; Guimarães: 1997; Crespo: 1998) é que a discussão mais acadêmica em curso sobre a validade e a aplicabilidade do conceito de desenvolvimento sustentável pouco tem afetado a sua enorme aceitação política e as Agendas públicas que o tomam como referência. Acreditamos que a interpretação mais correta desse debate é a de que o conceito de desenvolvimento sustentável está em processo de construção. Esse entendimento leva ao reconhecimento de que é e será ainda alvo de intensa disputa teórico-política por parte dos diversos atores que participam dessa construção: governos nacionais e internacionais, agências não-governamentais, empresários, cientistas, ambientalistas, etc. Cada processo de implementação da Agenda 21, em cada país, é um momento significativo na história desse conceito e de sua aplicabilidade na organização social. Essa concepção processual e gradativa da validação do conceito implica assumir que os princípios e as premissas que devem orientar a implementação da Agenda 21 não constituem um rol completo e acabado: torná-la realidade é, antes de tudo, um processo social no qual os atores vão pactuando paulatinamente novos consensos e montando uma Agenda possível rumo ao futuro que se deseja sustentável.

SUSTENTABILIDADE AMPLIADA Do diálogo surgido após a Rio-92 entre a Agenda para o desenvolvimento

sustentável e as Agendas social (de combate à exclusão e à pobreza) e de direitos humanos, resultou que, aos poucos, se foram firmando duas noções-chave, tanto para a Agenda 21 como para o tema das Cidades sustentáveis, do qual tratamos: a noção da sustentabilidade ampliada e a de que a sustentabilidade não é um estado, mas um processo. Ambas as noções permitem combinar as duas fortes características programáticas da Agenda 21 – o pragmatismo e a utopia.

O conceito de sustentabilidade ampliada, em outras palavras, realiza o encontro político necessário entre a Agenda estritamente ambiental e a Agenda social, ao enunciar a indissociabilidade entre os fatores sociais e os ambientais e a necessidade de que a degradação do meio ambiente seja enfrentada juntamente com o problema mundial da pobreza. Sob esse ponto de vista, o marco teórico da sustentabilidade

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ampliada foi fundamental para construir o pacto global em torno da Agenda 21 e superar a dicotomia ou o conflito de interesses entre o Norte, rico e desenvolvido, e o Sul, pobre e pouco desenvolvido.

Na pesquisa nacional intitulada O que o brasileiro pensa do meio ambiente, do desenvolvimento e da sustentabilidade (Ministério do Meio Ambiente e ISER: 1997), ficou demonstrado que há, por parte de todos os brasileiros no país, uma grande empatia para com os temas da sustentabilidade. Verificou-se ainda que no Brasil existe uma elite de caráter multissetorial – formada por empresários, cientistas, parlamentares, líderes de movimentos sociais, dirigentes de organizações civis e ambientalistas - que já opera com razoável desenvoltura o conceito, identificando nele pelo menos quatro dimensões básicas: uma dimensão ética, na qual se destaca o reconhecimento de que no almejado equilíbrio ecológico está em jogo mais do que um padrão duradouro de organização da sociedade, mas a vida dos demais seres e da própria espécie humana (gerações futuras); uma dimensão temporal, que rompe com a lógica do curto prazo e estabelece o princípio da precaução, bem como a necessidade do planejamento de longo prazo; uma dimensão social, que expressa o consenso de que só uma sociedade sustentável - com pluralismo político e menos desigual - pode produzir desenvolvimento sustentável; uma dimensão prática, na qual se reconhece como necessária a mudança de hábitos de consumo e de comportamentos. Essas quatro dimensões tornam mais complexa e complementam a dimensão econômica, que foi a mais destacada nas primeiras discussões que derivaram das conclusões do mencionado Relatório Brundtland.

Segundo Roberto Guimarães (1997), essas dimensões aparecem ora isoladas ora de forma combinada nas várias dinâmicas que informam o processo de construção social do desenvolvimento sustentável. Ao nomeá-las dinâmicas socioambientais, concebe-as como complementares e destaca as principais:

a) Sustentabilidade ecológica - base física do processo de crescimento e tem como objetivo a conservação e o uso racional do estoque de recursos naturais incorporados às atividades produtivas.

b) Sustentabilidade ambiental - relacionada à capacidade de suporte dos ecossistemas associados de absorver ou se recuperar das agressões derivadas da ação humana (ação antrópica), implicando um equilíbrio entre as taxas de emissão e/ou produção de resíduos e as taxas de absorção e/ou regeneração da base natural de recursos.

c) Sustentabilidade demográfica - revela os limites da capacidade de suporte de determinado território e de sua base de recursos e implica cotejar os cenários ou as tendências de crescimento econômico com as taxas demográficas, sua composição etária e os contingentes de população economicamente ativa esperados.

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d) Sustentabilidade cultural - necessidade de manter a diversidade de culturas, valores e práticas existentes no planeta, no país e/ou numa região e que integram ao longo do tempo as identidades dos povos.

e) Sustentabilidade social - objetiva promover a melhoria da qualidade de vida e a reduzir os níveis de exclusão social por meio de políticas de justiça redistributiva.

f) Sustentabilidade política - relacionada à construção da cidadania plena dos indivíduos por meio do fortalecimento dos mecanismos democráticos de formulação e de implementação das políticas públicas em escala global, diz respeito ainda ao governo e à governabilidade nas escalas local, nacional e global.

g) Sustentabilidade institucional - necessidade de criar e fortalecer engenharias institucionais e/ou instituições cujo desenho e aparato já levem em conta critérios de sustentabilidade.

Como se pode notar no elenco acima, a dimensão econômica aparece diluída ou pouco destacada. Isso ocorre porque o esforço dos autores citados tem sido o de relativizar o absolutismo econômico que tendeu a prevalecer nas discussões em torno do conceito de desenvolvimento sustentável. Essa relativização teórico-política do conceito aparece consagrada nos relatórios do PNUD que passam a cunhar a expressão ‘desenvolvimento humano sustentável’.4 

A dimensão econômica da sustentabilidade, diferentemente do que ocorre com as demais, é a que conta hoje com o maior acúmulo de discussão teórica e de práticas inovadoras já em curso. O debate em torno da reconversão da matriz industrial avança enormemente, e a etapa da mitigação e da regularização punitiva tende a ser rapidamente superada nos países desenvolvidos em favor de iniciativas mais estratégicas para os objetivos da sustentabilidade: contabilização dos ativos ambientais nacionais, valoração econômica dos recursos naturais que são utilizados como insumos na produção, disseminação de práticas de ecodesign industrial, de substituição de materiais, de eficiência energética e de aproveitamento dos resíduos. No mundo inteiro proliferam iniciativas entre os próprios empresários, que visam a adaptar os padrões de produção e de consumo às exigências ambientais colocadas pelo paradigma da sustentabilidade. No Brasil, a criação do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável e das comissões de meio ambiente nas várias entidades de classe acompanha essa tendência global. Incluem-se na dimensão econômica também os aspectos financeiros relativos à equação entre recursos, tributos, taxas ou tarifas arrecadadas e os investimentos e a prestação de serviços urbanos.

Tanto o governo como a sociedade civil de brasileiros têm demonstrado em importantes documentos publicados que o conceito de desenvolvimento sustentável e o de sustentabilidade ampliada estão sendo absorvidos e transformados em propostas de políticas públicas. Isso vem ocorrendo como fruto tanto do amadurecimento

4 Ver especialmente o Relatório do desenvolvimento humano, 1998, PNUD, Trinova Editora, Lisboa, 1998, 228 p.

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teórico como do acúmulo proporcionado por experiências concretas, que no país foram cunhadas de ‘projetos demonstrativos’ e no exterior, sobretudo a partir da Conferência Habitat II, passaram a ser chamadas de ‘boas práticas’. Em todos os recantos da Federação se pode hoje recolher exemplos de boas práticas. Quase todas teriam, certamente, um lugar em programas voltados para o desenvolvimento sustentável, como, aliás, propõe o documento do Ministério do Meio Ambiente 100 experiências brasileiras, divulgado por ocasião da Rio + 5.

Relatórios oficiais como A caminho da Agenda 21 brasileira – submetido à Assembléia Especial da ONU (junho, 1997) para avaliação das iniciativas que os países tomaram para cumprir os compromissos da Rio-92 - e também o Plano Plurianual-PPA, que visa a orientar as opções estratégicas do Brasil nos próximos quatro anos (1999-2003), mostram claramente que há esforços sendo feitos no sentido de incorporar os princípios da Agenda 21.

O documento Brasil século XXI, que congrega o mesmo grupo de indivíduos, organizações e movimentos que elaboraram o Tratado das ONGs durante a Rio-92, também demonstra a capacidade propositiva da sociedade e identifica publicamente a possibilidade de cooperação e parceria. Parceria nacional e internacional, pois esse documento foi apresentado e discutido durante a Rio + 5, reunião da sociedade civil planetária preparatória à Assembléia Especial da ONU. Compareceram a essa reunião avaliativa, promovida pelo Conselho da Terra, mais de quatrocentos delegados representando diversos conselhos nacionais e organizações civis de diversos países compromissados com o desenvolvimento sustentável.

SUSTENTABILIDADE PROGRESSIVAResguardadas as diferenças entre os vários países e o avanço do debate teórico

que ocorre em cada um, a base conceitual da Agenda 21, em resumo, aponta para a necessidade de construção de uma Agenda de transição. Essa Agenda, que deve recobrir as questões programáticas mais fortes do documento – reduzir a degradação do meio ambiente, mas também a pobreza e as desigualdades –, visa à sustentabilidade progressiva. Essa progressividade não significa adiar as decisões e as ações que importam para a sustentabilidade, mas retirar paulatinamente a legitimidade dos mecanismos e dos instrumentos que permitem à economia e à sociedade serem desenvolvidas em bases insustentáveis.

A missão é clara: romper o círculo vicioso da produção, que destrói o meio ambiente e excluir uma grande parte da sociedade dos benefícios, prejudicando ainda as gerações futuras, e promover um círculo virtuoso, em que a produção se faz observando critérios de conservação ambiental duradouros e melhora progressiva nos padrões de repartição dos benefícios. Contudo, em nossa concepção, o caráter prático e extremamente convocatório da Agenda 21 não deve diminuir ou esvanecer a tarefa civilizatória que a inspira. As ações de natureza política devem seguir juntas e ter a mesma envergadura daquelas de natureza ética, destinadas à promoção de novos valores e atitudes entre as nações, entre as culturas e as comunidades, entre os seres humanos e a natureza.

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A NOÇÃO DE CIDADES SUSTENTÁVEIS Pensar a sustentabilidade como processo e como progressiva exige a presença

ou a aplicação de critérios de sustentabilidade, ou seja, reconhecer que uma série de valores, atitudes, institucionalidades, instrumentos e ações são sustentáveis e outros não. Assim, aos poucos, se vai constituindo um dicionário da sustentabilidade, no qual uma série de palavras e de conceitos expressa um novo modo de pensar ou formular as propostas econômicas, culturais, políticas, sociais e ambientais. A intensidade e a amplitude da presença desse dicionário no corpo teórico e prático que informa as ações dos distintos grupos sociais são um indicador tanto da mudança de cultura como do grau de capilaridade que a sustentabilidade já alcançou.

A sustentabilidade pode ainda ser enunciada como uma qualidade que se passa a identificar e a exigir dos distintos processos sociais, desde aqueles que se dão na esfera privada – reduzir o consumo individual e reciclar produtos no espaço doméstico, por exemplo – até os que se desenvolvem na esfera pública, no terreno da implantação e da gestão de políticas públicas. Essa capacidade de a tudo se referir, imprimindo a todos os processos uma qualidade que os torna diferentes do que eram antes, faz com que a sustentabilidade possa ser afirmada como um paradigma. É essa característica paradigmática da sustentabilidade que dá suporte à formulação da possibilidade de sustentabilidade urbana e que permite considerar possível e desejável que o desenvolvimento urbano possa ocorrer em bases sustentáveis.

A discussão sobre cidades sustentáveis só tomou vulto nos últimos dez anos, graças aos impulsos dados pela Rio-92 e pela Conferência Habitat II. A necessidade de ambientalizar as políticas urbanas, ou construir cidades com estratégias ecológicas, tem sido postulada em dois nichos distintos que se fertilizam mutuamente.

Um primeiro nicho foi constituído pelos próprios ambientalistas e pela crítica radical às cidades biocidas ou doentes (Girardet: 1989). A partir da análise da capacidade de suporte (carrying capacity) e do ‘metabolismo’ que apresentam, realizando, assim, um exercício de balanço energético entre o que elas produzem e o que consomem, esse biólogo demonstra que megalópoles como a Cidade do México, São Paulo, Calcutá e Nova York são usinas de consumo de energia e de produção intensiva de resíduos de toda ordem, buscando cada vez mais longe os insumos de que necessitam e estendendo em escala global suas pegadas ecológicas (ecological footprint). Ele contrasta as noções de cidades biocidas e ecológicas, comparando formas de organização em que, na primeira, biocida, os ciclos não são sequer pensados ou planejados, e na segunda, ecológica, existe uma consciência ambiental dos gestores e dos cidadãos.

Para as cidades biocidas, em sua maioria verdadeiras máquinas de destruição da natureza e produtoras do estresse humano, propõe, então, o modelo do metabolismo circular como substituto do metabolismo linear, no qual todos os fluxos são planejados e tecnologicamente sustentados para se buscar fora somente o necessário, reduzindo drasticamente todo tipo de externalidade negativa. Na

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alternativa sugerida por Girardet, a sustentabilidade urbana vai estar diretamente relacionada à capacidade de cada cidade, pensada como um ecossistema construído, prover-se com um mínimo de importação dos recursos de que necessita, compensando as cidades vizinhas, ou países, das possíveis externalidades negativas.

A despeito das postulações utópicas, tais como a proposta de drástica redução na importação de insumos – o que é pouco provável em uma economia cada vez mais globalizada –, essa discussão tem repercutido positivamente e já se traduz em cursos de capacitação e em manuais de gestão urbana, tais como os patrocinados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) ou pelo Conselho Internacional de Cidades para as Iniciativas Locais (ICLEI), que têm conduzido uma série de experiências destinadas a desenvolver projetos e metodologias para promover ‘cidades saudáveis’. Segundo o próprio ICLEI, mais de 1.800 cidades do mundo estão desenvolvendo experiências de Agenda 21 local, nas quais várias das idéias desenvolvidas por Girardet e outros pensadores estão sendo aplicadas.

Outro veio importante desse debate tem ocorrido no seio das discussões e das intervenções em torno da Agenda Habitat. Analisando o processo das duas conferências Habitat I (1976) e Habitat II (1996), verifica-se com facilidade que as cidades, especialmente as megacidades, eram vistas na primeira conferência como uma desgraça a ser evitada a qualquer preço e que todas as políticas ali recomendadas redundavam na máxima: fixar a população no campo para evitar o êxodo rural e, por conseguinte, o inchaço das cidades. Janice Perlman, pioneira da corrente que vem estudando as similitudes entre as megacidades e a possibilidade de cooperação entre elas, por meio de ‘boas práticas’, chamou a atenção para o fato de que, ainda hoje, 90% da chamada ajuda internacional para o desenvolvimento se destina às áreas rurais, embora a maioria da população mundial viva em cidades.

Resumindo, após as conferências Rio-92 e Habitat II, houve uma mudança expressiva de inflexão na abordagem da problemática urbana e sua relação com o mundo rural. As principais razões para essa mudança podem ser tributadas a dois fatores: a) o fracasso das políticas de fixação da população rural em todo o mundo, independentemente do contexto político ou econômico; b) a efetividade do fato de que a cidade parece ser a forma que os seres humanos encontraram para viver em sociedade e prover suas necessidades (Alberti: 1994).

As estatísticas falam por si: mais de 60% do PIB dos países desenvolvidos é produzido em áreas urbanas; em 1990, havia 2,4 bilhões de habitantes urbanos em todo o planeta e, em apenas oito anos, esse número saltou para 3,2 bilhões, nada indicando tratar-se de uma tendência em declínio.

Pesquisas patrocinadas pelas agências internacionais de desenvolvimento demonstram que as políticas de apoio aos assentamentos rurais têm implicado que, uma vez realizada uma poupança, os habitantes migram para as cidades, onde encontram, efetivamente, melhores chances de educação, saúde e emprego. Assim, nestes anos que separam as duas conferências se tem fortalecido a idéia de que é possível dotar de maior racionalidade os processos sociais que produzem e modificam

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as cidades, bem como a certeza de que as sociedades sustentáveis dependem, para existir, de como vão evoluir as soluções urbanísticas.

Enquanto aumenta a legitimidade do paradigma da sustentabilidade e sua pertinência para lidar com a especificidade do urbano, cresce a necessidade de selecionar critérios, estratégias e indicadores para ancorar a formulação, monitorar a implementação e avaliar os resultados das políticas urbanas em bases sustentáveis. Assim, a discussão sobre quais estratégias devem ser consideradas prioritárias não pode deixar de remeter-se aos objetivos macro do desenvolvimento sustentável em qualquer das escalas consideradas (global, nacional ou local), que assim podem ser discriminados:

• busca de equilíbrio dinâmico entre uma determinada população e a sua base ecológico-territorial, diminuindo significativamente a pressão sobre os recursos disponíveis e as desigualdades espaciais;

• ampliação da responsabilidade ecológica, aumentando a capacidade dos atores sociais de identificar as relações de interdependência entre os fenômenos e aceitar o princípio da co-responsabilidade de países, grupos e comunidades na gestão dos recursos e dos ecossistemas compartilhados, como o ar, oceanos, florestas e bacias hidrográficas;

• busca da eficiência energética, implicando redução significativa nos níveis de consumo atual, sobretudo dos combustíveis fósseis, e de fontes energéticas renováveis;

• desenvolvimento e utilização de tecnologias brandas ou ecocompatíveis, alterando progressiva e significativamente os padrões atuais do setor produtivo;

• alteração nos padrões de consumo e diminuição significativa na produção de resíduos e no uso de bens ou materiais não-recicláveis;

• recuperação de áreas degradadas e reposição do estoque dos recursos estratégicos (solo, água, cobertura vegetal);

• manutenção da biodiversidade existente.

NOVOS MARCOS DA GESTÃO URBANA A primeira e principal tarefa que se coloca aos gestores do ambiente urbano e

das cidades seria a de reorganizar o sistema de gestão. A essa reorganização, ou reestruturação do sistema e das formas organizacionais da gestão, denomina-se de os novos marcos da gestão urbana. Esses marcos são resumidamente os seguintes:

a) mudança de escala, incentivando o surgimento de cidades menores ou de assentamentos menores dentro da grande cidade; preferência pelos pequenos projetos, de menor custo e de menor impacto ambiental; foco na ação local;

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b) incorporação da dimensão ambiental nas políticas setoriais urbanas (habitação, abastecimento, saneamento, ordenação do espaço, etc.) pela observância dos critérios ambientais para preservar recursos estratégicos (água, solo, cobertura vegetal) e proteger a saúde humana;

c) integração das ações de gestão, para a criação de sinergias, a redução de custos e a ampliação dos impactos positivos;

d) necessidade do planejamento estratégico, colocando sérias restrições ao crescimento não-planejado ou desnecessário;

e) descentralização das ações administrativas e dos recursos, contemplando prioridades locais e combatendo a homogeneização dos padrões de gestão;

f) incentivo à inovação, ao surgimento de soluções criativas; abertura à experimentação (novos materiais, novas tecnologias, novas formas organizacionais);

g) inclusão dos custos ambientais e sociais no orçamento e na contabilidade dos projetos de infra-estrutura;

h) indução de novos hábitos de moradia, transporte e consumo nas cidades (incentivo ao uso de bicicleta e de transportes não-poluentes; incentivo a hortas comunitárias, jardins e arborização com árvores frutíferas; edificações para uso comercial ou de moradia que evitem o uso intensivo de energia, utilizando materiais reciclados);

i) fortalecimento da sociedade civil e dos canais de participação; incentivo e suporte à ação comunitária.

Como já pontuaram renomados urbanistas (Malta:1997; Wilheim:1998), esse receituário não é totalmente novo. A combinação, postulada como essencial, de estratégias ecológicas e sociais no contexto das cidades é que é nova e desafiadora. É a esse desafio que o capítulo Cidades sustentáveis da Agenda 21 brasileira deve responder, oferecendo uma nova perspectiva para quem vive e produz o meio ambiente urbano, cenário privilegiado para testar a viabilidade do desenvolvimento humano sustentável que se quer.

PREMISSASA seleção das estratégias apresentadas adiante baseou-se em uma visão

integrada e sistêmica dos problemas; no caráter otimizador e mobilizador tanto dos meios como dos recursos existentes; no fortalecimento dos mecanismos democráticos e da participação da sociedade; na viabilidade econômica e institucional; na coerência e na eficácia para com os macroobjetivos do desenvolvimento sustentável. Os principais pressupostos e premissas que orientam o documento podem ser assim discriminados:

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CRESCER SEM DESTRUIRO desenvolvimento sustentável implica, de um lado, o crescimento do emprego,

da produtividade, do nível de renda das camadas pobres, dos capitais (produtivo, humano e social), da informação, do conhecimento e da educação, da qualidade de vida nas cidades e, de outro, a diminuição da contaminação, do desperdício, da pobreza e das desigualdades. Os indicadores de progresso confundir-se-iam com a melhoria desses indicadores socioambientais nos espaços urbanos.

INDISSOCIABILIDADE DA PROBLEMÁTICA AMBIENTAL E SOCIALA segunda premissa adotada, que complementa e consubstancia a primeira, é o

postulado da indissociabilidade entre a problemática social e a problemática ambiental urbana. Esse postulado, cerne do documento da Agenda 21, é fundamental para o entendimento das estratégias que procuram combinar dinâmicas de promoção social com as dinâmicas de redução dos impactos ambientais no espaço urbano.

DIÁLOGO ENTRE AS ESTRATÉGIAS DA AGENDA 21 BRASILEIRA E AS

ATUAIS OPÇÕES DE DESENVOLVIMENTOA terceira premissa adotada diz respeito à convicção de que a sustentabilidade

das cidades deve ser situada na conjuntura e dentro das opções de desenvolvimento nacional. Não se trata de receituário único, nem de desconhecer as diversidades regionais ou locais, mas, ao contrário, de afirmar a necessidade de as estratégias terem por referência a inserção competitiva na economia globalizada pela qual o país optou e de ser realista o bastante para estar atento ao cenário de dificuldades que se estabeleceu com a desestabilização do Plano Real. A sua viabilidade depende da capacidade de as estratégias de promoção da sustentabilidade integrarem os planos, os projetos e as ações governamentais de desenvolvimento urbano, entendendo que as políticas federais têm um papel indutor fundamental na promoção do desenvolvimento sustentável como um todo;

ESPECIFICIDADE DA AGENDA MARROMA quarta premissa diz respeito à afirmação e ao reconhecimento da

especificidade do ambiente urbano e da sua problemática: a almejada sustentabilidade das cidades depende do cumprimento da chamada Agenda Marrom, complementar em muitos aspectos à Agenda Verde, que tem foco na preservação dos recursos naturais. Essa especificidade justifica-se pelo fato de que o ambiente urbano é um ambiente radicalmente alterado pela ação humana e, antes de tudo, cultural, no qual se concentram os efeitos do modelo industrial-urbano que predominou como forma de organização socioeconômica das sociedades ocidentais. Corrigir esses

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efeitos não é tarefa para uma só geração, embora mitigá-los seja desejável e inadiável. A Agenda Marrom, tal como tem sido tratada pelos organismos internacionais de financiamento de infra-estrutura urbana (Banco Mundial - BIRD - e Banco Interamericano de Desenvolvimento–BID), preocupa-se, sobretudo, com a melhoria da qualidade sanitário-ambiental das populações urbanas. No Brasil, essa pauta tem especial significado, e o principal indicador de progresso que pode ser utilizado nesse aspecto se refere à universalização dos serviços de saneamento ambiental nas cidades brasileiras.

INCENTIVAR A INOVAÇÃO E A DISSEMINAÇÃO DAS ‘BOAS PRÁTICAS’

A quinta premissa indica a necessidade de tornar concreta a utopia das cidades sustentáveis, isto é, não optar por elaborar somente estratégias mitigadoras, mas equilibrar a inovação com a valorização das práticas urbanas existentes que apresentem componentes de sustentabilidade. Isso porque começar pelo que já existe diminui resistências e valoriza as iniciativas, como tem sido demonstrado pelos programas de ‘boas práticas’ desenvolvidos pós-Agenda Habitat.

FORTALECIMENTO DA DEMOCRACIA:A sexta premissa é de que sem democracia não há sustentabilidade, razão pela

qual se procurou recomendar o fortalecimento de todos os meios democráticos, principalmente aqueles afetos à gestão urbana, entendendo que essas recomendações têm duplo efeito: o de desenvolver a cidadania ativa e o de aperfeiçoar instituições e/ou criá-las com um desenho que corresponda ao adensamento da vida democrática no país. O modelo de democracia configurado nas recomendações da Agenda é o participativo. Os consensos necessários para que as mudanças no modelo de desenvolvimento sejam operadas só serão possíveis por meio do fortalecimento das possibilidades da gestão democrática e participativa.

GESTÃO INTEGRADA E PARTICIPATIVAA sétima premissa é a de que a necessária reorientação das políticas e do

desenvolvimento urbano depende radicalmente da reestruturação significativa dos sistemas de gestão, de modo a permitir o planejamento intersetorial e a implementação de programas conjuntos, de grande e pequena escalas. Esse redesenho dos sistemas de gestão, fundamental para a gestão integrada, deve ainda flexibilizar seus mecanismos para que, além de integrada, a gestão seja, como mencionado, participativa. A gestão participativa, além de propiciar o aporte de recursos técnicos, institucionais e financeiros dos demais setores (mercado, setor público não-governamental, comunitário), amplia a responsabilidade ecológica da

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sociedade. Nesse sentido, na seleção das estratégias deu-se preferência àquelas mobilizadoras de meios e de parcerias com outros setores.

FOCO NA AÇÃO LOCALA oitava premissa diz respeito à afirmação da eficácia da ação local, seja para

promover desenvolvimento, seja para preservar os recursos naturais estratégicos para a manutenção da qualidade de vida das comunidades urbanas. Essa afirmação exige o fortalecimento dos municípios, conforme determina a Constituição Federal, e a aplicação do princípio da subsidiaridade. Desse modo, parte substantiva das propostas selecionadas no documento refere-se ao âmbito local. Contudo, o local não é suficiente para afirmar o princípio da autonomia, igualmente importante, daí a descentralização das instâncias decisórias e dos serviços ser fundamental, não só para o fortalecimento do local como também para o incentivo da gestão comunitária, diminuindo a carga sobre o setor governamental das responsabilidades de gestão urbana que a comunidade deseja assumir no que se refere ao desenvolvimento de um modo geral e à preservação do meio ambiente. A Agenda 21 local é um instrumento privilegiado para a consecução desses objetivos e deve ser fortemente incentivada pelo governo federal.

MUDANÇA DO ENFOQUE DAS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO E PRESERVAÇÃO

A nona premissa refere-se à necessidade de mudança de enfoque nas políticas de desenvolvimento e de preservação do ambiente urbano, sobretudo no que concerne aos assentamentos informais ou irregulares e às atividades industriais. Essa mudança, em nossa concepção, deve ser operada com a substituição paulatina dos instrumentos punitivos pelos instrumentos de incentivo, sempre que for cabível. Nesse sentido, foi dada preferência às propostas e às ações que continham componentes de incentivo às iniciativas individuais e coletivas e à espontaneidade de ações, assim como instrumentos auto-reguladores. Entre os instrumentos de incentivo, procurou-se privilegiar aqueles de natureza econômica, por entender-se que eles são mais adequados quando se verifica a necessidade de gerar recursos adicionais para os fins específicos da sustentabilidade urbana.

INFORMAÇÃO PARA A TOMADA DE DECISÃOA décima e última premissa é a de que o conhecimento e a informação são

chaves não só para aumentar a consciência da população em geral para a problemática ambiental urbana, mas para a tomada de decisão inteligente por parte dos atores. Foram, portanto, selecionadas ações e propostas que procuram consolidar no país uma boa base de informação sobre gestão do território e gestão do meio ambiente urbano, incluindo aí equipamentos e soluções tecnológicas ecocompatíveis.

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Finalmente, deve-se enfatizar a importância fundamental de que as estratégias voltadas para a mudança nos padrões de produção e de consumo urbanos possam contar com ações complementares de educação e de comunicação, criativas e mobilizadoras. Tanto a comunicação como as ações educativas permeiam e reforçam todas as estratégias definidas como prioritárias.

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III Diagnóstico e desafios

URBANIZAÇÃO GLOBAL 5 5

Contrastando com os 37,73% da população mundial que, em 1975, habitavam em assentamentos humanos urbanos, em torno do ano de 2005, com o salto estatístico da urbanização, esse percentual ultrapassará os 50% e, em 2025, este será 61,07% dos cerca de seis bilhões de habitantes do globo. Na América Latina, o percentual já era de 61,32% em 1975, deve saltar para 76,51% no ano 2000 e atingirá, vinte anos depois, 84,67%. No Brasil, os saltos previstos são de 61,15% para 81,21% e 88,94%, respectivamente.

Embora a urbanização ocorra em todas as regiões do mundo, aquelas que hoje contêm maiores percentuais de habitantes rurais, África e Ásia, serão as mais afetadas pela urbanização, diferentemente da América Latina e do Brasil, já bastante urbanizados, que sofrerão, sobretudo, com os impactos da crescente metropolização. A mesma concentração de problemas urbanos em regiões ainda subdesenvolvidas ocorrerá com o surgimento de novas metrópoles, aqui definidas como cidades e conurbações com mais de 10 milhões de habitantes: em 1990, das trinta maiores metrópoles mundiais , vinte estavam em países subdesenvolvidos – Índia, China, Paquistão, Brasil, México, etc.

Grandes metrópoles com elevadas taxas de crescimento, como Bombaim, Delhi, Pequim, Tianjin, Calcutá, Karachi, hoje extremamente carentes em infra-estrutura, aumentarão dramaticamente os desafios à sua sustentabilidade. Dramaticidade representada não apenas pelo tamanho de suas populações, mas pela rapidez de seu crescimento. As maiores taxas de crescimento urbano são estimadas para cidades africanas (3,81% a.a. entre 2000-2025). Para o Brasil, no mesmo período, estima-se um crescimento urbano de 1,47% a.a, bem menor do que no passado.

Esses números e a tendência à urbanização revelada em Habitat II indicam: a) o surgimento e o eventual agravamento de grandes problemas sociais, resultantes de elevadas densidades e de altas taxas anuais de crescimento de futuras metrópoles; b) a criação de uma nova configuração de metrópoles globais, fortemente vinculadas, constituindo uma rede global; c) a internacionalização de interesses e de políticas locais das grandes cidades; d) a ampliação de serviços fornecidos por essas cidades a usuários que não habitam nela; e) o risco de não sustentabilidade da qualidade de vida em muitas cidades, seja pela destruição de recursos naturais e do patrimônio cultural que possuíam, seja pela gestão e operação pouco cautelosas e não planejadas de seus serviços.

5 Os dados desta seção constam nos documentos da Segunda Conferência Mundial sobre os Assentamentos Humanos - Habitat II, Nações Unidas, 1996 e do Relatório de desenvolvimento humano, 1996, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-PNUD.

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RUPTURASAs profundas transformações no panorama urbano global anteriormente

descritas, as oportunidades e os riscos que oferecem à universalização dos direitos e à melhoria da qualidade de vida de todos, continuarão a ocorrer nas próximas décadas dentro do contexto de um período de transição da história e não podem, de forma alguma, ser consideradas como meros ajustes à chamada globalização da economia e, sim, como múltiplas rupturas com efeitos estruturais: a forma de produzir alterou os paradigmas industriais, indo do antigo taylorismo para a automação, da gestão de estoques para a sistematização de pronta entrega de insumos, da organização local da montagem para a globalização das unidades produzidas a serem montadas. Ainda para ilustrar, o surgimento das empresas transnacionais, indicando a separação ocasional das estratégias empresariais das estratégias nacionais, também revela uma ruptura na organização da produção.

A dinâmica capitalista atual tem promovido diversas e consideráveis alterações no mundo do trabalho, acirrando, sobremaneira, a exclusão, a segregação socioespacial e os problemas ambientais. A crise fiscal, do Estado e das cidades, entre outros aspectos, constitui um dos principais pontos da pauta atual de discussão sobre as tentativas de equacionamento do binômio justiça social versus atendimento das demandas postas ao país por uma economia mundial em constante transformação.

Em um contexto no qual o capital internacional se movimenta em alta velocidade por meio de uma paradoxal articulação entre as circulações financeira e industrial, moeda, crédito e patrimônio têm se estruturado numa dinâmica de reestruturação econômica que, genérica e resumidamente: 1) combina crescimento com desemprego estrutural, na medida em que a conversão dos resultados da atividade científica em força produtiva tem reduzido, sobremaneira, a participação do trabalho vivo na geração da riqueza; 2) intensifica, de forma inaudita na história do capitalismo, a financeirização da riqueza na escala global, cuja dinâmica de especulação convive com a inserção de inovações tecnológicas; 3) determina a alteração da estrutura ocupacional e das oportunidades de emprego.

Por outro lado, o aumento da comunicabilidade proporcionado pela telemática está gerando um considerável incremento de serviços, de oportunidades, de atividade cultural, em outros termos: os novos paradigmas e valores decorrentes do que se poderia denominar a era da informação provavelmente demandarão novas formas de socialização, novos pontos de encontro, novas demandas para a vida social.

Assim, a cidade, no século XXI, para ser palco de uma vida urbana sustentável, precisa superar sua degradação física, invertendo a lógica hoje em vigor de lugar de consumo em um consumo (usufruto) de lugar, forjando alternativas concretas às exclusões e às injustiças ainda prevalecentes.

A REDE URBANA BRASILEIRA

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As taxas elevadas e crescentes de urbanização observadas no Brasil nas duas últimas décadas, a despeito das taxas de fecundidade terem declinado fortemente, colocam o país no mesmo contexto que caracteriza a América Latina e o mundo: um generalizado e oneroso agravamento dos chamados problemas urbanos, ocasionado: a) pelo seu crescimento desordenado e, por vezes, fisicamente concentrado; b) pela ausência ou carência de planejamento; c) pela demanda não atendida por recursos e serviços de toda ordem; d) pela obsolescência da estrutura física existente; e) pelos padrões ainda atrasados de sua gestão; f) pelas agressões ao ambiente urbano.

A análise da trajetória histórica da urbanização oferece indicações que não devem ser desprezadas, a respeito das conseqüências econômicas, sociais e ambientais, resultantes do hábito de desconsiderar a dimensão espacial - urbana, regional e nacional - nas decisões macroeconômicas.

O Brasil não conheceu a vida de aldeia, o ritmo da ida e vinda entre a habitação urbana e o trabalho agrícola. As distâncias e as dimensões das propriedades, ao tempo da colônia, e a baixa densidade da população colonizadora exigiram uma dicotomia e uma articulação que resultaram no surgimento imediato de assentamentos sob a forma política de cidades (chamadas vilas, quando pequenas). O colar de cidades ao longo da costa tarda a interiorizar-se, em virtude da falésia que tornava difícil o abandono da planície costeira para a aventura da conquista do misterioso planalto. Quando tal fato ocorreu, as trilhas indígenas, alargadas para conterem cavalos e carruagens puxadas por bois, permitiram o surgimento de novas cidades, vinculadas à exploração mineral. A expansão da ocupação de terras para agricultura (notadamente as vinculadas à cana e ao café, demandando serviços e ofícios) gerou a necessidade de patrimônios urbanos, cidades em uma faixa pioneira que constantemente avançava. O surgimento das estradas de ferro levou à fundação de tais cidades a cada dez quilômetros, sempre ao longo dos espigões, gerando uma série de cidades ponta de trilhos. Finalmente, a industrialização, apoiada pelo considerável aumento demográfico acarretado pela imigração européia e, posteriormente, pelas diversas fases de necessária substituição de produtos importados, expandiu aquelas cidades que ofereciam melhores condições para o crescimento, diversificação de opções, aumento do comércio e geração de serviços: as metrópoles brasileiras, constituindo pólos de desenvolvimento aos quais se vinculavam redes de cidades.

A partir da década de 1950, com o abandono da manutenção e a expansão das ferrovias e a construção de rodovias para a circulação da crescente frota de veículos, o modo de transporte de carga passou a se realizar majoritariamente por caminhões e fortaleceu-se a rede de cidades novas, agora ao longo de rodovias de penetração, as quais, com as mais antigas, constituíram um conjunto ainda não articulado de cidades médias, de variados níveis de qualidade de vida e importância econômica. Formaram-se, destarte, corredores de desenvolvimento, pontuados por cidades de porte médio

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que usufruíam, ao mesmo tempo, da descentralização industrial e da riqueza produzida pela agricultura, se transformando em agribusiness de vinculação internacional. Para o desenvolvimento dessas cidades, mormente no Estado de São Paulo, tem sido importante a elevação de sua qualidade cultural e educacional, através do surgimento de universidades.

A rede urbana brasileira poderia ser sumariamente descrita da seguinte maneira:

• Aos nove pólos definidos por lei federal de 1973 como regiões metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) - cuja regulamentação passou, após a Constituição Federal de 1988, para a competência estadual - acrescentaram-se posteriormente outras seis regiões (Natal, Vitória, Baixada Santista, Campinas, Brasília e Goiânia). Essas aglomerações urbanas dividem com cidades de porte médio66  e grande a função de novos pólos de produção e oportunidades. Além do potencial de fortes pólos de desenvolvimento e de atender, em serviços, a uma população de usuários bem superior à que nelas habita, as regiões metropolitanas e as cidades grandes projetam-se como núcleos em que se estabelecem os padrões de consumo – no Sudeste brasileiro articula-se já uma macrometrópole, constituída pelas regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Baixada Santista e por boa parte das cidades médias fortemente interligadas e mesmo conurbadas no vale do Paraíba, ao longo da via Dutra.

• Ao longo de eixos rodoviários consolidados, ou vizinhos de regiões metropolitanas, localiza-se uma rede dispersa, embora mais densa no Sudeste, de cidades médias que, no período 1991/1996, apresentaram um crescimento superior à média nacional.

• A ausência de apoio à agricultura familiar nas décadas passadas e a atratividade oferecida por cidades maiores, no que tange ao padrão de consumo, à educação e às oportunidades diversificadas de trabalho, resultaram, praticamente em todas as regiões do país, nos saldos migratórios negativos das pequenas cidades, com crescimento abaixo da média nacional e muito próximo do crescimento vegetativo do país.

• Situação diferente é a apresentada pelas vicejantes cidades, forçosamente ainda pequenas, que vão surgindo no Oeste e no Norte do Brasil, na ainda móvel fronteira agrícola do país. Estas cidades novas da franja pioneira, ao longo das rodovias de penetração no Planalto Central e na Amazônia, são criadas com espontaneidade, sem planejamento outro que não o de retalhamento do solo, objetivando venda e ocupação a curto prazo, com provável retenção especulativa. A completa ausência de qualquer política,

6 São consideradas cidades médias, de acordo com o IPEA/IBGE, aquelas com população entre 100 mil e 500 mil habitantes.

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orientação e normatização para essas cidades novas gerará fatalmente disfunções, problemas e altos custos públicos em médio prazo.

Destaca-se na rede urbana brasileira, por sua especificidade, o conjunto de cidades patrimônio (natural e cultural), categoria que reúne as cidades históricas brasileiras, as que hospedam pessoas e serviços necessários ao usufruto de patrimônios (belezas) naturais e as que se caracterizam por preservar e exercer atividades culturais regulares. No contexto atual, tais cidades são procuradas ciclicamente por grande e crescente número de turistas atraídos pelas riquezas patrimoniais locais.

Mudanças recentes no processo de urbanização e na configuração da rede de cidades, em função das transformações na dimensão espacial do desenvolvimento econômico, contribuíram para reforçar a heterogeneidade econômica e social no desenvolvimento das regiões e das cidades brasileiras. Tal fenômeno se caracteriza por: surgimento de ‘ilhas’ de produtividade, em quase todas as regiões; crescimento populacional mais elevado das ‘antigas periferias’ nacionais, provocando o relativo espraiamento do fenômeno de formação das aglomerações urbanas; padrões relativamente baixos de crescimento metropolitano, sobretudo dos núcleos , e uma importância ainda maior do conjunto de cidades de médio porte.

As principais tendências recentes do sistema urbano brasileiro, ressalvadas as especificidades das regiões Norte e Sudeste, são as seguintes: 7  a) homogeneização das redes urbanas regionais, com peso crescente das metrópoles e dos centros médios; b) crescimento acima da média nacional das cidades de portes médio e grande e, também, do extrato de cidades de 50mil a 100mil habitantes, localizadas fora das regiões metropolitanas; c) maior crescimento demográfico das aglomerações urbanas constituídas pelas áreas metropolitanas ainda não institucionalizadas - como no caso de Goiânia, Brasília e Campinas - cidades não-metropolitanas de 500 mil a 1, 2 milhões de habitantes e a metrópole de Curitiba; d) saldos migratórios negativos nas pequenas cidades, em praticamente todas as regiões brasileiras; e) aumento do peso relativo das cidades não-metropolitanas com mais de 50 mil e menos de 800 mil habitantes no total da população urbana brasileira (24,4 % em 1970, 26,4% em 1980, 28,4% em 1991 e 29% em 1996); f) aumento da participação da população metropolitana no conjunto da população brasileira: 29% em 1970, 33,8% em 1980, 34,8% em 1991 e 35,4% em 1996.8 

O processo de conformação da rede urbana brasileira apresenta superposição de um sistema baseado em polarizações com outro, cuja característica principal é o desenvolvimento espacial em forma de eixos. Em que pese o forte caráter polarizador de um conjunto de metrópoles, os investimentos programados por eixos de

7 PROJETO Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil; relatórios 2, 4, 6 e 8. Campinas: IPEA/IBGE/NESUR/Unicamp, 1998, mimeo.

8 Estão sendo consideradas aqui as seguintes regiões metropolitanas: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Natal, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém, Goiânia, Baixada Santista, Campinas, Brasília e Vitória.

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desenvolvimento contribuem para redesenhar a configuração territorial do país, na medida em que tais investimentos são seletivos, privilegiando espaços dinâmicos e relegando as áreas de baixo dinamismo ou estagnadas. Isso acentua as tendências de concentração da população urbana nas áreas metropolitanas e de aglomerações urbanas, reforçando os desequilíbrios da rede de cidades e recrudescendo os problemas sociais, urbanos e ambientais dos grandes centros, particularmente porque os investimentos feitos ou programados nesses eixos também não levam em conta os danos ambientais decorrentes.

Faz-se necessária uma profunda reformulação no desenho das políticas públicas de intervenção no território e nas áreas urbanas, devendo-se conferir importância estratégica ao planejamento do desenvolvimento regional, que deve ser o eixo estruturador das políticas voltadas para a transformação das cidades brasileiras em cidades sustentáveis. Assim, as cidades devem ser consideradas como parte integrante de suas respectivas regiões e microrregiões, dados os condicionantes territoriais para a sua sustentabilidade, em particular quanto às bacias hidrográficas e às áreas de proteção ambiental que se estendem mais além das barreiras jurisdicionais estabelecidas em lei.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS CIDADES BRASILEIRAS A despeito de as diferentes categorias de cidades demandarem prioridades e

apresentarem problemas eventualmente específicos relativos ao seu desenvolvimento na perspectiva da sustentabilidade, a análise das mudanças e das tendências aponta não só para um conjunto de problemas ambientais urbanos comuns, como, também, para a necessidade de novas abordagens de políticas de desenvolvimento urbano que considerem o território, as bacias hidrográficas e a rede de cidades.

Algumas particularidades, contudo, podem ser apontadas para cada tipo de assentamento com relação ao desenvolvimento sustentável.

Nas regiões metropolitanas, em 1990, viviam 12,3 milhões de pobres, eqüivalendo a 29,21% da população pobre brasileira, então estimada em 42 milhões de pessoas. Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, os pobres metropolitanos representam, respectivamente, 63 e 84% da população. Nessas duas metrópoles, a incidência de pobreza é também afetada pela crescente proporção de famílias chefiadas por mulheres (29%), cujos rendimentos no mercado de trabalho são inferiores.

A concentração de problemas sociais demanda políticas, estratégias e ações, focalizando basicamente a preservação e a criação de postos de trabalho, voltadas especialmente para a grande população das regiões metropolitanas.

Nelas, a sustentabilidade do desenvolvimento é também posta em xeque pelas carências geradas pela ocupação do solo, que demandam: urbanização das ocupações ilegais com reassentamento da população nos casos de áreas de preservação e de risco; necessidade de novos e maiores parques, além da preservação das áreas

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verdes ainda existentes, a fim de equilibrar a excessiva impermeabilização do solo metropolitano; avaliação dos limites do adensamento e coerência entre frota de veículos e espaço de vias postas à sua disposição, a fim de evitar e diminuir a disfunção metropolitana decorrente dos enormes congestionamentos no tráfego; solução para a deposição final do lixo, acompanhada pela fundamental alteração de padrões de consumo que produzem tal lixo; solução definitiva para o esgoto, mormente o doméstico, que polui os cursos d’água; definição de operações urbanas que permitam, de forma sinérgica, concentrar os esforços do setor público e do setor privado na recuperação de bairros; aumento da segurança e reencontro da cidadania respeitada com as instituições renovadas; ampliação, equipamento e reconquista dos espaços públicos, hoje cercados e transformados em terra de ninguém; recriação da solidariedade e da civilidade urbana.

As cidades de porte médio têm diversificado sua economia e consolidado seu papel de prestadoras de serviços, seja pelos depósitos e pela circulação dos consideráveis proventos da agricultura circundante, seja, no Sudeste e no Sul, em virtude da elevação de demandas de consumo e cultura, decorrentes da criação de numerosos cursos de ensino superior. Elas ainda não apresentam, por uma questão de escala, os efeitos dramáticos do crescimento nas metrópoles ou em grandes conurbações. Contudo, a invasão de áreas públicas, mormente ao longo de rios, córregos e encostas, pelo casario precário da população pobre já revela um problema que só tende a aumentar: a cidade ilegal ou informal, sem infra-estrutura e representando riscos de alagamento, deslizamento e proliferação de doenças em sua população.

A sustentabilidade de seu desenvolvimento é também dificultada pela migração, temporária ou permanente, de lavradores sazonais, criando em suas periferias verdadeiros bairros ilegais cuja população é apenas desruralizada e não propriamente urbanizada, isto é, fruidora de todos os direitos da cidadania. A competição pela criação de empregos industriais tem levado prefeituras a renunciarem à cobrança de impostos, agravando seu desequilíbrio orçamentário e impedindo-as de realizar expansões de infra-estrutura e custeio de serviços essenciais, no campo da saúde, do saneamento e da educação.

Para que as cidades médias possam ter seu desenvolvimento sustentado, é mister que evitem repetir a imprevidência das metrópoles, aprendendo com a experiência. Entre outras medidas, urge que tenham planos diretores estratégicos, que providenciem mecanismos de reservas territoriais destinadas a parques, que revejam suas normas para a abertura de loteamentos, que aperfeiçoem sua legislação para adequar densidades ao sistema viário e que estabeleçam corredores exclusivos para transporte público e, eventualmente, corredores destinados a transporte de massa.

As cidades pequenas têm sofrido perda de população por migração em virtude de seu atraso comparativo, de carências da rede de ensino, dos escassos serviços de saúde oferecidos e da falta de apoio, até pouco tempo, para o desenvolvimento da

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agricultura familiar e da inexistência de empregos rurais não-agrícolas, que mantém baixas as oportunidades de emprego e trabalho. Essas carências geram um círculo vicioso, passível de ser rompido mediante políticas, iniciativas e financiamentos adequados. O seu desenvolvimento poderá vir a ser sustentado com a aceleração de assentamentos de famílias sem-terra, criação de minicréditos e estímulo às cooperativas de construção habitacional. Embora iniciativas governamentais, como a criação do Conselho da Comunidade Solidária, focalizem os problemas sociais das cidades pequenas mais pobres, ainda é escassa a escala de intervenção e nem sempre satisfatórios a sinergia e os esforços estatais.

As cidades em faixa pioneira apresentam, de forma geral, os piores exemplos de depredação e de descaso pela sustentabilidade em seu desenvolvimento. A ocupação do solo, margeando as estradas de penetração no Oeste brasileiro, obedece a técnicas primitivas: queimada de matas e matos para abertura de clareiras visando ao plantio, ou ainda, queimada seguida de movimentos de terra de má engenharia (terra arrastada) para colocação de pequenos lotes à venda. A ausência de políticas, de orientação técnica, de imposição de normas e de controle adequados gera cidades que, a curto prazo, repetirão os problemas de cidades mais densas.

Na categoria de cidades patrimônio encontram-se as cidades históricas, como Ouro Preto, Salvador, São Luís, entre outras. Além da beleza e da importância de seus edifícios, ruas e praças, seu patrimônio estende-se à paisagem urbana como um todo e ao perfil de seu espaço construído. Essas características constituem um valor, cultural e econômico, que, por vezes, conflita com interesses vinculados a outros valores de seus habitantes, como a modernização de sua infra-estrutura, a venda de serviços a turistas, a expansão de negócios. Para sua sustentabilidade, como cidades patrimônio, sempre se deve recorrer à experiência acumulada nos órgãos estatais que há décadas se dedicam a essa tarefa, assim como aos exemplos de países com problemas semelhantes.

Os problemas de sustentabilidade das cidades que possuem patrimônios naturais (praias, montanhas, paisagens naturais excepcionais) apresentam desafios de outra ordem. Mais do que as anteriores, são elas alvo de súbitos aumentos de população usuária: durante os períodos de férias chega a decuplicar o número de usuários de água, esgoto, ruas, comércio, praia e demais espaços públicos de serviços, assim como de moradia. Embora os turistas distribuam renda considerável para o comércio local e para os habitantes permanentes, o consumo do lugar, o congestionamento, a depredação e o rebaixamento da qualidade de vida são também consideráveis e, por vezes, põem em risco, de forma definitiva, a sustentabilidade do desenvolvimento, ocorrendo o gradual abandono da cidade por parte dos turistas, que passam a freqüentar outra localidade.

A ausência de políticas públicas para enfrentar os problemas típicos dessas subcategorias de cidade leva seus responsáveis locais a adotarem soluções urgentes, mas de alcance menor, paliativas e provisórias, freqüentemente mediante obras que só aceleram, pela precariedade, a decadência dessas importantes cidades. A ausência

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de normas , a atividade comercial sazonal, sem restrições nem estímulos adequados, sem planejamento local e regional, assim como práticas administrativas frágeis têm levado à rápida insustentabilidade dessas cidades.

QUESTÕES INTRA-URBANAS DA SUSTENTABILIDADEAs principais questões intra-urbanas que afetam a sustentabilidade do

desenvolvimento das cidades brasileiras são:

ACESSO À TERRA E DÉFICIT HABITACIONALEm primeiro lugar, cabe assinalar os problemas atinentes ao crescimento da

cidade ilegal, a ocupação informal nos interstícios e na periferia da trama urbana legalmente aprovada e que resulta, de modo geral, das dificuldades de acesso à terra urbana para fins habitacionais.

Entre 1980 e 1991, observa-se que mais do que dobrou o número de moradores em favelas no país: de 2.248.336 em 1980, chegou-se a 5.020 517 em 1991; por outro lado, entre os dois censos, o Sudeste, que respondia por 73,26% dessa população, passa a representar pouco mais da metade (57,60%) do total (FIBGE, 1995). As favelas crescem especialmente no Nordeste (aumenta de 15,24% para 25,75%) e na região Norte (de 3,15% para 9,52%).

Mesmo nas áreas em que existe uma redução acentuada das taxas de crescimento da população como um todo, os assentamentos espontâneos, principalmente as favelas, vêm se desenvolvendo. No caso das grandes cidades do Sudeste – o Rio de Janeiro, por exemplo –, tem sido assinalado um certo adensamento em favelas existentes, aparentemente em ritmo mais alto – em determinadas áreas da cidade – do que o da população como um todo (IBGE, 1998).

Calcula-se que em algumas cidades quase a metade do espaço construído está na esfera do irregular e do informal, o que envolve questões que vão desde a insegurança (histórica) do morador na permanência no local e na salvaguarda de seus investimentos na moradia até a forma de ocupação ‘físico-territorial’ das favelas e dos loteamentos. A irregularidade fundiária teve (e ainda tem) uma forte implicação nos obstáculos ao acesso ao crédito e aos programas habitacionais oficiais, que exigem a regularização como condição para a obtenção dos financiamentos (IBAM/IPEA, 1992).

Os impactos nos indicadores de saúde, especialmente de doenças respiratórias infantis, devidas à insalubridade, revelam o agravamento do comprometimento ambiental das cidades, na medida em que a consolidação física das moradias nas favelas e nos loteamentos se dá sem o provimento das necessárias condições de drenagem e sem sistema de esgoto de águas pluviais e de esgotamento sanitário. Em alguns casos, enchentes e deslizamentos de encostas, outra conseqüência das formas de ocupação, podem se agravar com essa consolidação sem planejamento e/ou assistência técnica.

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À questão fundiária mal resolvida se juntam as limitações decorrentes da fragilidade dos processos e dos instrumentos de regulação e controle do uso do solo e do planejamento e da gestão urbana, sem que o governo disponha de meios de intervenção sobre a propriedade da terra capazes de, efetivamente, assegurar a função social da propriedade e proteger o interesse coletivo no uso e na ocupação racional do solo urbano. Em conseqüência, observa-se, nas cidades, a ocorrência de deseconomias e desigualdades geradas por padrões inadequados de uso e ocupação do solo. Esse fenômeno contribui para a fragmentação da cidade, caracterizada pela segregação socioeconômica e pela crescente informalidade do uso e da ocupação do solo urbano, e para a crescente vulnerabilidade da população aos riscos ambientais.

Embora os municípios tenham competência para planejar, regular e controlar o uso e a ocupação do solo urbano e executar a política de desenvolvimento urbano, dispondo de vários instrumentos como as normas de parcelamento e construção compulsória, a concessão do direito real de uso, a urbanização consorciada, o usucapião urbano, as várias formas de solo criadas, o imposto territorial urbano progressivo no tempo, a urbanização consorciada, entre outros, são poucos aqueles que avançaram adequadamente na sua formulação e aplicação. A despeito da crescente descentralização das ações governamentais, é óbvio que nem todos os problemas urbanos e ambientais são gerados e podem ser resolvidos exclusivamente na esfera local.

Nesse sentido, as cidades ressentem-se da ausência de formas mais adequadas de cooperação governamental (vertical e horizontal), indispensáveis para equacionar os problemas ligados ao solo urbano, agravados pela ausência de uma regulamentação que defina mais claramente a competência e os papéis de cada esfera de governo.

As dificuldades de acesso à terra urbana e a má distribuição de renda resultam em um déficit habitacional no Brasil que, pela metodologia recentemente proposta pela Fundação João Pinheiro, era da ordem de 5,6 milhões de unidades em 1995 - cerca de 1,43 milhões nas regiões metropolitanas, 2,54 milhões nas demais áreas urbanas e 1,645 milhão nas áreas rurais. Observa-se um crescimento desse déficit no período 1991/1995 - 665 mil unidades, das quais 200 mil nas áreas metropolitanas, 450 mil nas demais áreas urbanas e 15 mil nas áreas rurais. Em termos médios, o déficit habitacional corresponde a 11,5% do estoque de domicílios permanentes das regiões metropolitanas, 13% das demais áreas urbanas e 21,4% das áreas rurais.

Metodologias anteriores de medição do déficit habitacional faziam crer que o principal ator para o seu enfrentamento era o Estado (governos); no entanto, mesmo à época de sua maior intervenção, entre 1964/1985, foi ele responsável por apenas 27% das novas moradias, sendo a maior parte do enfrentamento do déficit realizada por meio de iniciativas privadas ou coletivas, sem auxílio governamental.

SANEAMENTO AMBIENTAL

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O perfil da demanda por serviços de saneamento guarda relação histórica com a exclusão social e a segregação espacial e tem seus contornos definidos por fatores como: a) a distribuição desigual do acesso aos serviços segundo faixas de renda da população; b) a regionalização das carências, que configura as diferenças e as desigualdades entre as áreas centrais, intermediárias e periféricas das cidades brasileiras e o nível de precariedade dos setores socioeconômicos mais pauperizados da população; c) a espacialidade, característica do processo de urbanização ocorrido no país, que implica maiores dificuldades físicas, financeiras e legais para a implantação de redes nas periferias das cidades; d) a associação íntima entre mortalidade infantil e índices de atendimento nos serviços de saneamento, que indica uma explicação estrutural da profunda crise da saúde pública no Brasil; e) a feminilização da pobreza, que confirma a concentração dos desassistidos em famílias de baixa renda e que têm uma mulher no papel de ‘chefe’; f) a perversa relação entre degradação ambiental e pobreza urbana, que revela a necessidade de integração setorial e de articulação institucional das políticas públicas.

A ruptura com o modelo de gestão urbana excludente, segundo classes sociais, desigual para homens e mulheres, e competitivo em relação aos recursos naturais, significa, hoje, necessariamente, redistribuir renda e poder nas cidades, assumindo, estrategicamente, a inversão de prioridades para alocação dos recursos públicos, introduzindo formas de participação social nos processos de tomada de decisões e incorporando a perspectiva de gênero às políticas públicas. A valorização do poder local, de fato, propicia a possibilidade da democratização da gestão pública e das relações sociais. Entretanto, não se pode deixar de responsabilizar a União e os governos estaduais, nem tampouco mistificar ou despolitizar a questão urbana e ambiental.

Assim como o desenvolvimento sustentável demanda que os governos assegurem serviços públicos ambientalmente sustentáveis e distribuídos de maneira eqüitativa para as gerações atuais e futuras, também exige que o setor privado reforme seu enfoque de produção e gestão. Especificamente no saneamento, esse desafio ganha contornos bastante definidos. O setor entra em crise porque não atinge as metas de universalização do atendimento e da qualidade na prestação dos serviços. A crise revela, portanto, a ineficácia ‘social’ e ‘ambiental’ do modelo de gestão até agora adotado. Por outro lado, a privatização dos serviços de saneamento ambiental apresenta uma contradição expressa entre os objetivos de aumento da rentabilidade e a necessidade de investimento em áreas de baixa renda.

Abastecimento de água e esgotamento sanitário - Sessenta e sete por cento da população brasileira e 88% da população urbana do país são atendidos por serviços de abastecimento de água. A população não atendida, ou atendida em condições precárias, localiza-se basicamente nas áreas periféricas e faveladas das cidades. Segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária-ABES: “A maior parcela da população urbana atendida está na região Sudeste, com 92,18%, enquanto no Norte e no Nordeste estão localizados os níveis mais baixos de atendimento,

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respectivamente 68,31% e 77,88%”. Somente 31% da população brasileira são atendidos com rede de esgoto sanitário, sendo que apenas 8% desse esgoto produzido têm tratamento adequado. Até 1989, “as famílias com renda até meio salário mínimo apresentavam o índice de 78% de domicílios inadequados para acessar os serviços” (Cordeiro: 1996).9 

Os investimentos necessários para acabar com o déficit dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário foram estimados pelo governo federal em R$ 42 bilhões (0,38% do PIB), para um horizonte de 15 anos, até 2010. No passado recente, os investimentos anuais do setor foram sempre inferiores a 0,20% do PIB (MPO/SEPURB: 1995).

No mesmo campo da degradação ambiental situa-se a poluição de todos os cursos d’água urbanos pelo esgoto não tratado. Embora tenha havido esforços para a modernização da gestão do financiamento deste setor, inexistem ações para a alteração mais radical do atraso, sobretudo nas cidades médias e grandes.

O tratamento inadequado do esgoto, somado ao quadro alarmante da disposição de resíduos sólidos, justifica o alerta geral em relação à escassez de água, a partir da década de 1990, em face da contaminação dos recursos hídricos. A preservação dos mananciais e dos cursos d’água concorre para a redução do custo de tratamento. As estimativas são de R$ 2,00 por 1.000 metros cúbicos para o tratamento de água de baixíssima contaminação e de R$ 8,00 para igual quantidade de água bastante contaminada (ABES, 1996). O setor saneamento, particularmente os sistemas de abastecimento de água, registra perdas físicas e financeiras da ordem de 40%: desperdícios verificados nas etapas de distribuição, consumo, e arrecadação. Recentes estimativas do BNDES indicam que se tais perdas fossem reduzidas para algo em torno de 25%, seriam gerados aproximadamente R$ 2 milhões de receita mensal que poderiam ser voltados para novos investimentos.

Resíduos sólidos - O problema de resíduos sólidos é hoje verificado a partir de uma percepção mais ampla, o que não reduz o desafio a ser enfrentado na estruturação do setor. Embora 73% dos domicílios tenham serviços de coleta de lixo, muitos desses operam de maneira irregular e incompleta, além do que um significativo contingente populacional – 11 milhões de domicílios – não dispõe de qualquer tipo de coleta. Em 1989, 78,4% da população urbana tinham acesso a serviços de coleta de lixo, sendo que este acesso era de 51,3% para a classe de renda de até um salário mínimo e de 89,0% nas classes de renda superior a cinco salários mínimos. A compostagem representava 3% do volume de lixo coletado no país; as usinas municipais de reciclagem faziam a triagem 2,2% do coletado; a incineração era de apenas 0,2% do total, ocorrendo apenas em alguns estados. Do total dos resíduos sólidos coletados, apenas 28% têm destinação adequada. Os 72% restantes são dispostos em lixões a céu aberto ou jogados em vales e rios.

9 Os dados relativos a abastecimento de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos utilizados em Cordeiro: 1996 foram extraídos da Pesquisa nacional de saneamento básico, IBGE, 1989.

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São claras as implicações da gestão inadequada dos resíduos sólidos no meio ambiente, refletidas na degradação do solo, no comprometimento dos mananciais, na poluição do ar e na saúde pública. Não se pode desconsiderar os reflexos da disposição inadequada do lixo urbano nas questões sociais dos centros urbanos, que induzem à catação de lixo em condições insalubres nos logradouros e nas áreas de lançamento. Segundo o UNICEF, no Brasil, mais de 40 mil pessoas vivem diretamente da catação em lixões e mais de 30 mil vivem da catação nas ruas, sendo a única opção de renda para essas pessoas. A presença de crianças e de adolescentes é bastante significativa, chegando, em alguns casos, a representar 50% (como em Olinda-PE) dos catadores.

Por outro lado, as cooperativas de catadores têm resultado em alternativa interessante para o mercado da reciclagem e geração de trabalho e renda para segmentos de baixa renda. A reciclagem de resíduos industriais, por meio da criação de bolsas de resíduos, existe em 12 cidades grandes.

Os padrões de consumo acabam por determinar a quantidade e o tipo de lixo produzido: enquanto estes não se alterarem, aumentará a quantidade de lixo produzido, alcançando-se volumes difíceis de serem coletados e dispostos diariamente. Desses padrões também dependem o dispêndio energético e alguns custos de construção. A revisão de tais padrões e o investimento em pesquisa e em experimentação tecnológica também são condições para a sustentabilidade das cidades. A alteração de tais padrões tem sofrido resistência, em todo o mundo, por inércia do próprio sistema produtivo, pelos custos envolvidos na alteração de produtos industriais e pela ausência da dimensão ambiental nos orçamentos públicos e na composição de custos de produtos.

Drenagem - No que tange à drenagem, é mister assinalar que o regime de chuvas tropicais, intensas no verão do Sudeste ou no inverno do Nordeste, constitui desafio para a drenagem de qualquer cidade. O volume de água por segundo torna improvável que venha a ser contido e carregado por uma habitual rede de drenagem canalizada, devendo-se sempre contar com a absorção de parte da água pelo solo e pelas calhas formadas pelas próprias ruas, pavimentadas ou compactadas. Cabe também notar que nas cidades litorâneas as fortes chuvas podem coincidir com marés altas, delongando o tempo de escoamento e, nas de planalto, os rios receptores finais da água de chuva estão próximo às suas nascentes, sendo por isso lentos e pouco volumosos, tendo cavado leitos sinuosos que serpenteiam em várzeas, caso de São Paulo e de Curitiba. Essas características exigem tratamentos específicos para a drenagem urbana, a fim de diminuir os prejuízos causados por enchentes mais ou menos anuais.

No planejamento urbano não tem havido sensatez e previdência no tocante a essas peculiaridades, acabando-se por investir recursos em obras paliativas e em vãos esforços de contenção de rios em cheia, impedindo-os de extravasarem para as várzeas que pertencem aos seus domínios. Tampouco houve suficiente previsão de manutenção de áreas para retenção natural e percolação lenta para o lençol freático,

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sendo insuficiente o número de parques, áreas verdes e parques lineares em fundos de vales, que deveriam ter se somado à preservação, com o eventual uso recreativo das várzeas.

Saúde e saneamento ambiental - As doenças decorrentes da falta de saneamento são responsáveis por cerca de 65% do total das internações nos hospitais públicos e conveniados do país. Pode-se afirmar que os investimentos realizados em saneamento representam recursos economizados em saúde. Estima-se que cada R$ 4,00 investidos em saneamento significam uma economia de R$ 10,00 em internações hospitalares. No Brasil, cerca de 7 milhões de pessoas são portadoras de esquistossomose, 600 mil adquirem malária anualmente e a leptospirose reaparece sempre que ocorrem enchentes. Por outro lado, as doenças que estavam controladas retornam, como a dengue, a leishmaniose e a cólera. As diarréias ainda são consideradas fator responsável pelos altos índices de mortalidade infantil registrados no país. No controle de vetores e de reservatórios de doenças transmissíveis são utilizados inseticidas que, além de eficácia questionável, produzem contaminação ambiental e agravos à saúde da população e dos trabalhadores envolvidos na aplicação (Cordeiro: 1995).

Embora a degradação ambiental prejudique todos os estratos sociais, as desigualdades imperantes fazem com que o impacto “nas condições de vida sejam mais profundos nos estratos de menor renda” (Cordeiro, op. cit.: 1996).

TRANSPORTE E TRÂNSITOQuanto a transporte, trânsito e sistema viário, cabe ressaltar diversas carências:

a) o adensamento tem sido permitido e, por vezes, estimulado, sem suficiente análise do seu impacto sobre as vias da região, sendo recentes e raras as medidas de controle do impacto provocado por edifícios e por atividades geradoras de tráfego; b) as restrições impostas à circulação de automóvel são tardias e insuficientes; c) são raros os sistemas de transporte movidos à energia elétrica ou não-motorizados (trolebus, pré-metrô); d) deixam a desejar o planejamento e a articulação intermodal urbanos.

Além disso, tem sido progressivamente reduzida a possibilidade de o setor público conseguir financiamento com os órgãos de fomento, dificultando os investimentos em transportes de massa (metrô, trens, barcas). Essa escassez de recursos para o financiamento do transporte urbano é agravada pelo uso indiscriminado dos recursos (tanto orçamentários como alternativos) com a infra-estrutura física, especialmente com o sistema viário, sem que seja precedido de avaliação do seu impacto efetivo sobre o meio urbano, com o risco de degradação do ambiente.

Deve-se frisar que parte significativa do sistema viário da maioria das cidades está ociosa, na maior parte do dia, sob o ponto de vista da relação volume/capacidade de tráfego. Essa ociosidade resulta da construção em excesso de vias – com os

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conseqüentes custos de manutenção – e é tanto maior quanto maior for a extensão dos trechos ociosos e maior o tempo que decorreu desde a sua construção. A ocorrência de ociosidade constitui uma forma de deseconomia, na medida em que mantém recursos públicos mal aproveitados.

Uma das formas de reduzir as deseconomias urbanas geradas pela ociosidade acima descrita é rever os critérios de investimento no sistema viário, de forma a otimizar a sua utilização pela maioria da população, mediante a priorização das vias para o uso dos transportes públicos, revertendo a tendência atual de diminuição do uso de ônibus e o aumento da taxa de motorização por veículo privado.

Com efeito, a taxa de motorização passou de 72 hab./automóvel em 1960 para pouco mais de cinco em 1998, devendo chegar a 4,3 em 2005. A quantidade média diária de viagens por habitante deve subir dos 1,5 em 1995 para 1,7 em 2005. O reconhecimento de que para transportar setenta pessoas são necessários cinqüenta automóveis ou apenas um ônibus não tem, até a presente data, resultado em alterações sensíveis de padrão (Transporte: 1997).

Contudo, deve-se assinalar algumas melhoras no controle de emissão de gases e poluição do ar por veículos, graças à elaboração (1985) e à lenta implantação do Programa de Controle de Veículos e Emissões-PROCONVE: a eliminação do chumbo da gasolina, a redução do teor de enxofre no diesel, a fixação percentual da mistura do álcool à gasolina, o uso de álcool combustível, a melhoria da carburação e da ignição eletrônica e a tentativa feita em São Paulo, em 1990, de substituição de diesel por gás natural em toda a frota de ônibus. Diversos municípios têm implantado sistemas de restrições ao uso do automóvel e diversificação da fonte energética de suas frotas, objetivando diminuir a poluição do ar, sem contar, até aqui, com o apoio sinérgico dos níveis superiores de governo.

EMPREGOFinalmente, para que o desenvolvimento urbano seja sustentável, é preciso que

o trabalho e o emprego dos cidadãos urbanos sejam acessíveis e protegidos. As transformações na estrutura de emprego decorrentes de avanços tecnológicos, o período recessivo da década de 1980 e as conjunturas de crises sistêmicas mundiais que atingem no momento fortemente o Brasil resultaram em desemprego e, de modo menos perceptível, em precarização do emprego. Essa situação tem forte impacto urbano, mormente nas metrópoles, frustrando a expectativa que identifica tais aglomerações como o locus das oportunidades de trabalho. Ela gera efeitos psicológicos e sociais deletérios (desespero, rompimentos familiares, insegurança, violência), podendo resultar em graves problemas de governabilidade, atingindo a sustentação do processo contínuo de democratização política. Na região metropolitana de São Paulo, suficientemente representativa para o sucinto diagnóstico desse aspecto, o patamar de desemprego de 15,2% da PEA, atingido em

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1992 (Ribeiro e Júnior: 1994), está alcançando 19,9% em março de 1999 (Fundação Seade e DIEESE: 1999).

Em 1989, havia na metrópole de São Paulo 1,5 trabalhador formal para cada precário; em 1996, essa relação passava para 0,9 trabalhador formal para cada informal ou precário (autônomo, assalariado do setor privado sem carteira de trabalho, empregado doméstico, etc.), ou seja, mais da metade dos trabalhadores metropolitanos não gozava dos direitos da legislação trabalhista, e isso não pode deixar de ter reflexos sobre a sustentabilidade das grandes cidades.

Assim como a estabilidade da moeda (o controle da inflação) foi, e continua sendo, essencial para a sustentabilidade do desenvolvimento, é hoje crucial maximizar a geração de postos e minimizar a precarização das relações de trabalho. Caso contrário, aumentará a pressão sobre os serviços públicos sociais (educação, saúde).

GESTÃO URBANAAssiste-se, mundialmente, à transformação da administração urbana em direção

a seu contínuo e crescente empresariamento, materializado, entre outros aspectos, naquilo que tem sido indicado como competitividade das cidades. Dessa maneira, a reestruturação em curso no cenário internacional tem implicado a mudança dos paradigmas de gestão das cidades, passando-se a exigir eficiência, produtividade e focalização das políticas urbanas (Ribeiro e Júnior: 1994). O desafio atual está em buscar modelos de políticas que combinem as novas exigências da economia globalizada com a regulamentação pública da produção da cidade e com o enfrentamento do quadro de exclusão social e de deterioração ambiental.

Esse processo de transição tem acarretado uma série de adaptações que incluem o plano político-institucional e a reforma do Estado e das formas de governar para, entre outros aspectos, possibilitar a inserção do país nos novos patamares colocados pela contemporaneidade.

Acirrando ainda mais o receituário de ajuste baseado no corte de gastos públicos, nas privatizações de empresas estatais e na previdência social, na redução do aparato do Estado, entre outros aspectos, esse novo cenário induz à necessidade de se repensar a gestão, o planejamento e a governabilidade urbana, a partir de um considerável contingente de limitações.

Dessa maneira, para se avaliar e propor iniciativas minimamente exeqüíveis, há que se partir necessariamente da incorporação dos preceitos contidos na atual política de estabilização, articulando-a à necessidade e à capacidade de atendimento das demandas das grandes maiorias, moldadas de modo democrático, por meio da construção de consensos mínimos possíveis, e às prescrições contidas na pauta da Agenda relativa à sustentabilidade.

O enfrentamento dos problemas sociais urbanos implica muito mais do que a mera alocação racionalizada de recursos. Impõe-se, principalmente, a tentativa de se

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empreender estratégias capazes de não somente aprimorar critérios alocativos e redistributivos do Estado, especialmente por meio de instrumentos transparentes de gestão do setor público, como também aumentar a participação da sociedade nos processos decisórios, para co-responsabilizá-la como agente social privilegiado, nos processos vinculados à apropriação, à produção e à gestão das cidades, tendo em vista a sua sustentabilidade. Nessa tentativa, algumas noções-chave parecem emergir das principais experiências em andamento. São elas: parceria, descentralização, convergência de ações e envolvimento/controle social mediante diversas formas de organização da sociedade buscando, entre outros aspectos, combater a falta de estima e o ceticismo vigentes por meio do resgate da noção de inclusão social.

No que toca às ações e aos programas conduzidos pelos municípios, destacam-se aqueles cujos principais objetivos se concentram na elaboração de instrumentos de desenvolvimento sociopolítico, socioeconômico e de planejamento físico e territorial, especialmente as iniciativas que têm contemplado: a) a criação de órgãos e fóruns colegiados – consultivos e deliberativos – de gestão que estejam envolvendo os diversos agentes e/ou atores sociais e econômicos relevantes no processo de construção social de Agendas e/ou pautas de especial interesse para as comunidades; b) a adoção de formas de co-gestão dos serviços comunitários, aperfeiçoamento da regulamentação urbanística e edilícia e de instrumentos de gestão que visem maior transparência, responsabilidade pública, eficiência e eficácia das ações governamentais; c) a construção de parcerias urbanas com o setor privado e a comunidade. Nesse rol, ressaltam-se as iniciativas que, através de um amplo processo de consultas e debates com todos os segmentos e forças sociais envolvidos, capitaneado pelo governo local, estejam lidando com a tentativa de: a) repensar as formas de legitimação do investimento público que envolvam a comunidade; b) articular prospectivamente o potencial de desenvolvimento social e econômico local com as possibilidades oferecidas pelo contexto no qual estão inseridas (nos níveis estadual, nacional e global). A elaboração de orçamentos públicos participativos assim como a implementação de instrumentos diversos, tais como planos estratégicos, planos diretores e de desenvolvimento local, ambiental, Agendas 21 locais, etc., dão substância a tais iniciativas.

Entretanto, há no Brasil maior preocupação pelo curto prazo do que pelo longo; maior interesse em determinar o que se pode fazer em lotes privados do que em estabelecer áreas destinadas a espaços públicos; maior preocupação pelas atividades imobiliárias privadas do que pelo futuro que se almeja para a cidade de todos.

É também notável a ausência de mecanismos e de normas de cooperação que permitam melhor articulação entre as três esferas de governo. A redistribuição de competências na Constituição não foi traduzida por mecanismos que permitam apoiar as iniciativas do poder local, sempre o mais atuante nas questões da sustentabilidade das cidades.

Graves obstáculos para a sustentabilidade do desenvolvimento, esses entraves são também ilustrados pela inexistência ou pela fragilidade de políticas urbanas

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federais ou dos instrumentos legais requeridos pela sociedade para regulamentação do capítulo de Política Urbana na Constituição Federal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Numa perspectiva pragmática, é possível distinguir no atual cenário brasileiro

dinâmicas pró e contra os princípios da sustentabilidade urbana, bem como uma série de fatores que as impulsionam. Vários dos entraves à almejada conquista da cidade sustentável já foram apontados ao longo deste diagnóstico. Cabe ainda mencionar outros que, seja pela magnitude que adquiriram em um país continental como o Brasil, seja pela natureza estrutural que os caracterizam, desempenham um papel negativo, exigindo esforços redobrados para que não retardem os processos que visam a alcançar o desenvolvimento sustentável. São eles:

• A reforma inconclusa do Estado brasileiro, implicando ainda esforços significativos para a modernização das instituições e dos mecanismos de gerência que foram herdados do modelo estadonovista (década de 1930) e do Estado desenvolvimentista da década de 1970, quando a dimensão ambiental era sequer conhecida pelos gestores e o centralismo das decisões foi largamente praticado. A descentralização, administrativa e de recursos, como reza a Constituição Federal de 1988, tem sido lenta e não conta com um plano de metas.

• As dificuldades econômicas e, portanto, a baixa capacidade de investimentos em infra-estrutura urbana e serviços básicos. As projeções indicam, no curto prazo, um crescimento do PIB aquém da sua necessidade de fazer frente ao endividamento (interno e externo) e, no médio prazo, nenhum indicador seguro de que o desejado aumento da riqueza nacional far-se-á com base em critérios mais justos socialmente e mais responsáveis do ponto de vista ecológico. Está portanto configurada uma tendência de aumento do descontentamento social, intensificada pelos efeitos recessivos que o chamado ajuste fiscal está produzindo (desemprego, aumento da pobreza urbana, etc.).

• Reforma agrária incompleta e sem conexão com a inserção econômica competitiva nos mercados globalizados, o que pode significar, se não for acionada uma política de fixação dos assentados rurais, nova onda de migração para as cidades, de um lado, e do adensamento da desruralização do país, de outro.

• Reforma fiscal e tributária orientada para os problemas do déficit das contas públicas e não para as necessidades que o desenvolvimento sustentável coloca. Na reforma tributária em curso, a discussão de tributos seletivos não vem considerando a tendência internacional de utilizar instrumentos econômicos da base tributária nacional para alavancar a nova economia.

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Por outro lado, pode-se contabilizar uma série de fatores positivos, impulsionadores do desenvolvimento sustentável e que devem ser ampliados e fortalecidos. São eles:

• A estratégia de inserção econômica competitiva adotada pelo país coloca as questões ambientais no primeiro plano da agenda econômica, uma vez que crescem as barreiras não-tarifárias ligadas à certificação de produtos nos mercados regionais e globais. Essa tendência leva à aceleração da reconversão industrial e à adoção de procedimentos ambientais compatíveis.

• O aumento da consciência ambiental da população e a crescente institucionalização de organismos e de sistemas de gestão públicos do meio ambiente por todo o país. Amplia-se a base material de uma nova cultura, com a proliferação, sobretudo nestes últimos cinco anos, de cursos universitários, de pesquisas e de projetos ‘demonstrativos’ que para construir as bases do desenvolvimento sustentável no país. O ambientalismo tornou-se um movimento cultural importante e vem ampliando a sua base política por intermédio de centenas de organizações,10  a maioria com atuação local.

• O adensamento da vida democrática, fenômeno relativamente recente mas que já contabiliza uma inegável ampliação da esfera pública e da demanda por participação. Atualmente, a emergência da ‘sociedade civil’, configurada quando opera instituições como ‘terceiro setor’, dá consistência a um novo conjunto de forças sociais, vitais para a sustentabilidade urbana. Os programas desenvolvidos pela Comunidade Solidária têm demonstrado que a sociedade brasileira está ativa e esperançosa.

• A renovação significativa, ainda que lenta, do arcabouço legal que regula o controle e a gestão dos recursos naturais no país. As novas leis nacionais, a dos Recursos Hídricos e a dos Crimes Ambientais, são peças fundamentais na gestão sustentável e têm uma aplicação direta nas cidades brasileiras, sobretudo no que diz respeito à disciplina do setor industrial.

Por fim, deve-se mencionar e valorizar as centenas de novas experiências em gestão urbana que vêm ocorrendo em todo o território nacional, mostrando a força das cidades e a importância de se fortalecer o protagonismo social e político local. Práticas de planejamento e orçamento público participativo, em que a população define prioridades para alocação de recursos; planejamento estratégico de cidades, em que a vocação e o futuro que se quer são desenhados pelos cidadãos em conjunto com gestores; Agendas 21 locais e Programas de qualidade de vida. Por todos os lados é possível ver a sociedade e os gestores públicos empenhados na construção do novo desenvolvimento urbano. Sem um survey rigoroso, pode-se afirmar que mais de cinqüenta municípios brasileiros, congregando metrópoles, cidades médias e pequenas, já iniciaram processos de elaboração da Agenda 21.11 Essas experiências, pelo menos uma boa parte delas, têm sido catalogadas por uma série de instituições com iniciativas que visam a divulgá-las. São as best practices, 10 Ver especialmente o catálogo de instituições e organizações ambientalistas brasileiras Ecolista, puiblicado por iniciativa conjunta do Fundo Nacional de Meio Ambiente, ISER, WWF e Mater Natura, 1997.11 Número fornecido pelo informativo número 14, Ações para um futuro sustentável, da Comissão Pró-Agenda 21, do Rio de Janeiro, Iser, Rio de Janeiro, 1999. Entre as cidades mencionadas estão: Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Santos, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Angra dos Reis, Niterói e Betim.

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como as chamou a Conferência Habitat II. Elas reúnem um cabedal de conhecimentos, criatividade e soluções que, sem dúvida, irão desempenhar um importante papel na implementação da Agenda 21 brasileira.

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IV Estratégias prioritárias, diretrizes e propostas

Atendendo à orientação do Termo de Referência do Projeto Cidades sustentáveis, o Consórcio Parceria 21 procurou definir quatro estratégias prioritárias para avançar na direção da sustentabilidade das cidades brasileiras em um horizonte de dez anos, sistematizando e integrando as proposições de políticas urbanas e de ações, formuladas a partir da experiência das instituições parceiras, dos especialistas e dos cabeças-de-rede consultados na primeira etapa dos trabalhos, e das contribuições dos agentes governamentais, da sociedade civil e das universidades que participaram do workshop e do Seminário Nacional. Nesse sentido, as estratégias de sustentabilidade abaixo explicitadas refletem um esforço de sistematização do conjunto de proposições recebidas, segundo a metodologia antes descrita, e caracterizam-se por: a) potencial para assegurar a integração temática; b) importância estratégica para o desenvolvimento sustentável das cidades, segundo os preceitos estabelecidos pela Agenda 21 e pela Agenda Habitat. A cada uma dessas quatro estratégias se associa um conjunto de diretrizes, propostas e ações apresentado adiante.

ESTRATÉGIAS PRIORITÁRIAS

ESTRATÉGIA 1Aperfeiçoar a regulamentação do uso e da ocupação do solo urbano e promover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de vida da população, considerando a promoção da eqüidade, a eficiência e a qualidade ambiental.

Base para a preservação da biodiversidade e para o desenvolvimento dos assentamentos humanos, bem como fator de produção para atividades rurais e urbanas, o solo é um recurso natural dos mais importantes para o desenvolvimento sustentável do país e das cidades, sendo seus padrões de uso e de ocupação, em todas as escalas – do nacional ao local –, definidos por condicionantes sociais, econômicos, institucionais, legais e ambientais dos processos de ocupação do território e de urbanização.

Tema central da Segunda Conferência Mundial das Nações Unidas sobre os Assentamentos Humanos – Habitat II, a questão do acesso e do uso do solo está presente com destaque na Agenda 21, em seu capítulo 7 – ‘Promoção do desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos’. Entre as várias áreas, destaca-se a importância do atendimento “às necessidades de terra para o

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desenvolvimento de assentamentos humanos mediante planejamento físico e uso da terra ambientalmente saudáveis, de modo que todas as famílias tenham garantido o acesso à terra” e a “necessidade de oferecer habitações adequadas, especialmente para as populações em rápido crescimento e aos pobres”.

O acesso à terra, para fins de produção ou de moradia, tem sido no Brasil causa de importantes conflitos de interesses, individuais e coletivos, entre os agentes econômicos públicos e privados, exigindo do governo políticas e ações que reduzam as desigualdades socioeconômicas e assegurem a função social da propriedade, em conformidade com os preceitos constitucionais e com os princípios da sustentabilidade.

Diagnósticos e estudos recentes indicam também a fragilidade ou ausência dos aspectos de planejamento e de ordenamento territorial associados às políticas e às ações governamentais, seja em escala regional estadual ou nacional, com impactos vários sobre as populações urbanas de processos definidos em outras instâncias.

A Estratégia 1 é composta por 15 propostas, direcionadas para os seguintes temas:

• Fortalecimento da dimensão territorial no planejamento governamental, nos três níveis de governo, destacando-se a importância da articulação entre as políticas, os programas e as ações e da cooperação entre os diferentes órgãos e setores de governo. É ressaltada a necessidade de uma política nacional de ordenação do território e a importância das regiões metropolitanas e das aglomerações urbanas no contexto da rede urbana brasileira.

• Produção, revisão, consolidação e implementação de instrumentos legais federais, estaduais e municipais, de maneira a ajustá-los às necessidades surgidas em decorrência dos processos de urbanização e de modernização do país, bem como às novas pautas de desenvolvimento endossadas pelo Estado e pela sociedade, em particular quanto ao direito ambiental e à função social da propriedade e da cidade.

• Políticas e ações de acesso à terra, regularização fundiária e redução do déficit habitacional mediante o combate à produção irregular e ilegal de lotes, parcerias com o setor empresarial privado e com a população, linhas de financiamento para locação social, aproveitamento dos estoques existentes e recuperação de áreas centrais para ampliar o acesso à moradia.

• Melhoria da qualidade ambiental das cidades por meio de ações preventivas e normativas de controle dos impactos territoriais dos investimentos públicos e privados, do combate às deseconomias da urbanização, da elaboração de planos e projetos urbanísticos integrados com as ações de transporte e trânsito, da adoção de parâmetros e de normas voltados para a eficiência energética, o conforto ambiental e a acessibilidade, da ampliação das áreas verdes e das áreas públicas das cidades, da conservação do patrimônio ambiental urbano, tanto o construído como o natural e paisagístico.

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Nas matrizes montadas para a sistematização das proposições, é fácil constatar que o uso e a ocupação do solo são uma questão estratégica, perpassando todos os temas setoriais e exigindo ações de todos os níveis de governo, a curto, médio e longo prazos. A necessidade de qualificar o perfil da regulamentação e o ordenamento do território levou a incorporar, no próprio texto da estratégia, as visões de eqüidade, eficiência e qualidade ambiental.

A promoção da eqüidade, dentro das ações de regulamentação do uso e da ocupação do solo, objetiva a distribuição de maneira socialmente justa de benefícios e encargos associados à implantação de infra-estrutura, de equipamentos urbanos ou ainda de incentivos, bem como a análise das permissões e restrições decorrentes das legislações de uso e de ocupação do solo, o que inclui a universalização do atendimento ao conjunto da população, associada a taxas e tarifas adequadas à capacidade de pagamento dos grupos sociais, e a utilização de instrumentos de recuperação, pelo Poder Público, de parcela da valorização imobiliária resultante de investimentos públicos.

A promoção da eficiência e da qualidade ambiental indica caminhos para a implementação da estratégia que associam a maximização de recursos humanos, institucionais e financeiros a resultados concretos associados aos indicadores ambientais.

ESTRATÉGIA 2Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade de planejamento e de gestão democrática da cidade, incorporando no processo a dimensão ambiental e assegurando a efetiva participação da sociedade.

Todas as contribuições dos consultores temáticos e dos cabeças-de-rede, reforçadas pelos participantes do workshop e do Seminário Nacional, ressaltam a importância de governo e sociedade, em todos os níveis, investirem no desenvolvimento institucional e no fortalecimento da capacidade de planejamento e de gestão urbana, trazendo a temática da sustentabilidade ambiental para o centro das políticas de desenvolvimento.

Tal recomendação, além de coerente com os postulados da Agenda 21 e da Agenda Habitat, surge nos fóruns locais, nacionais e regionais que tratam de questões urbanas e ambientais pelo ângulo da chamada governance. Já no diagnóstico aqui apresentado, indica-se a associação direta da melhoria da gestão urbana a instrumentos de transparência da Administração Pública e à ampliação e à efetiva participação da sociedade civil – o chamado empowerment – nos processos decisórios.

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Paralelamente, ressalta-se a necessidade de articulação e de integração vertical/interinstitucional e horizontal/intersetorial entre políticas, programas e ações dos governos voltados para o desenvolvimento regional e urbano, garantindo a perspectiva ambiental com ênfase na gestão por bacias hidrográficas.

A descentralização da gestão ambiental, preconizada na direção dos municípios, não deve perder de vista que grande parte dos problemas de sustentabilidade ambiental, especialmente os associados ao meio físico, não se restringe aos limites de cada município. Assim sendo, a gestão por bacias hidrográficas, bem como as áreas conurbadas e as regiões metropolitanas, exige a articulação intermunicipal e o envolvimento dos governos estaduais.

A democratização da gestão e a articulação intergovernamental e inter-setorial efetivas implicam a criação e a multiplicação de mecanismos e de fóruns institucionais de tomadores de decisão (metropolitanos ou por bacias hidrográficas, por exemplo) e de diálogo entre governos e setores sociais, explicitando conflitos e buscando consensos e parcerias que possibilitem a inversão das tradicionais prioridades e a complementaridade de investimentos nas áreas urbanas e ampliem seu direcionamento aos problemas ambientais às áreas informais e periféricas das cidades.

Considerando tais perspectivas, esta estratégia é composta por um conjunto de 15 propostas direcionadas para:

• Aspectos espaciais de planejamento e gestão, envolvendo a necessidade de planejamento e de políticas nas várias escalas e adequadas às características regionais, da rede urbana e locais, reforçando a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e identificando competências e necessidades de integração intergovernamental para fiscalização e controle ambiental.

• Institucionalização de órgãos, processos, mecanismos e instrumentos de gestão, garantindo o fortalecimento da dimensão ambiental nesse conjunto, fortalecendo a democratização e a efetiva participação da sociedade nos processos e consolidando instrumentos e padrões de informação, monitoramento, fiscalização e controle públicos.

• Política habitacional, incorporando os aspectos de sustentabilidade ambiental em programas, projetos e empreendimentos que se associam à geração de emprego e renda, ao uso de tecnologias adequadas – incluindo-se tanto aquelas inovadoras como a revalorização dos técnicos tradicionais –, à preocupação com a geração de recursos para manutenção e ampliação, considerando as especificidades e as diversidades dos grupos sociais envolvidos.

• Saneamento ambiental, enfocando a necessidade de avanços no campo da regulamentação, garantindo flexibilidade nas formas de gestão pelos municípios e linhas de financiamento que priorizem os agentes mais

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adequados aos objetivos de universalização do atendimento e de qualidade ambiental na prestação dos serviços.

• Transporte e trânsito, envolvendo os aspectos de gestão e de operação dos sistemas por meio da parceria público–privada e da participação da população nas decisões e na fiscalização.

• Integração entre as políticas urbanas e rurais, visando à complementaridade das atividades e à redução dos impactos ambientais provocados nessas duas esferas, seja pelos perfis de produção e de consumo, pela poluição e pela contaminação geradas ou pelos fluxos de população.

A estratégia que se propõe tem implicações muito fortes não só para a integração e a sustentabilidade institucional das políticas ambientais urbanas mas também para a implementação das outras estratégias apontadas. Além do seu forte grau de transversalidade, esta estratégia, ao ampliar as condições locais de governo, estará contribuindo igualmente para melhorar as finanças municipais, direcionar de maneira mais adequada os gastos públicos, reduzir as desigualdades sociais e aumentar as condições de inserção das cidades no quadro de competitividade estabelecido regional, nacional e globalmente.

ESTRATÉGIA 3Promover mudanças nos padrões de produção e de consumo da cidade, reduzindo custos e desperdícios e fomentando o desenvolvimento de tecnologias urbanas sustentáveis.

A mudança nos padrões de produção e de consumo tem um lugar central no documento da Agenda 21, ocupando todo o seu capítulo 4. Pode-se mesmo dizer que essa mudança é um dos objetivos estratégicos finalísticos da Agenda 21, pois toca o difícil núcleo do atual modelo de desenvolvimento e a base econômica que o sustenta nas duas pontas. Combater, portanto, os padrões insustentáveis de produção e consumo atuais, por meio de estratégias de curto, médio e longo prazos, é um imperativo de todo programa para promover o desenvolvimento sustentável. O elenco de diretrizes e propostas aqui selecionado está em perfeita consonância com as orientações da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (CDS) e do ‘Compromisso da Terra 2’, de junho de 1997, da Seção Especial da ONU, que avaliou o progresso dos cinco anos desde a Rio-92. Segundo o documento que resultou desse encontro, ao qual acorreram 160 países, incluindo 53 chefes de Estado, estas são as principais diretrizes que as Agendas 21 nacionais e locais deverão levar em conta na elaboração de suas estratégias:

• Reduzir e eliminar subsídios para padrões de consumo e de produção insustentáveis, especialmente subsídios de energia.

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• Aumentar a carga tributária para atividades ambientalmente danosas.

• Promover medidas para internalizar custos e benefícios ambientais nos preços dos produtos e serviços.

• Desenvolver indicadores para monitorar tendências críticas de consumo e de padrões de produção.

• Promover programas nacionais na área de eficiência energética e de materiais com cronogramas de implantação.

• Levar os três níveis de governo a liderar mudanças nos padrões de consumo pela melhoria do seu próprio desempenho ambiental.

• Envolver a mídia, anunciantes e setores de marketing em campanhas para promover padrões de consumo sustentáveis.

• Melhorar e democratizar a informação relativa aos impactos ambientais e à saúde humana nos produtos e serviços.

• Incentivar as iniciativas econômicas que utilizam tecnologias limpas e motivar o uso voluntário de selos ecológicos.

Também o Relatório do desenvolvimento humano, 1998, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) privilegiou o tema do consumo sustentável, traçando orientações semelhantes mas que se diferenciam por destacar as dimensões da eqüidade, pregando a necessidade de concentrar ações na mudança dos padrões de consumo que prejudicam a sociedade e reforçam as desigualdades. Segundo esse relatório, crescem em toda parte as pressões para o consumo ostentativo que, além de degradar o meio ambiente, reforça a exclusão e a desigualdade entre nações, povos e grupos sociais.

Os diagnósticos disponíveis apontam para o fato de que, independentemente do grau de riqueza e de desenvolvimento regional, nossas cidades têm padrões de consumo e de produção incompatíveis com a realidade socioeconômica do país e com a perspectiva da sustentabilidade ampliada da Agenda 21: deseconomias de toda ordem contribuem para pressionar o meio ambiente e aumentar tanto os custos de produção como a comercialização de bens e serviços, afetando particularmente a economia urbana, as finanças públicas e o bem-estar da população. Ocorrem desperdícios inaceitáveis de água, energia, solo, materiais, equipamentos, mão-de-obra e tempo, em conseqüência de processos de produção de bens ou serviços com padrões tecnológicos insustentáveis. Também deve ser mencionada a fragilidade das funções de regulação e de controle, bem como de planejamento e de gestão. Nesse sentido, a redução de desperdícios em todas as atividades urbanas é uma estratégia que exige a introdução de mudanças nas políticas públicas urbanas e ambientais em todos os níveis de governo e nas ações de todos os agentes econômicos.

Assim, os objetivos estratégicos estão no enunciado da estratégia, ou seja: a) reduzir custos e desperdícios; b) fomentar práticas sociais e tecnologias urbanas sustentáveis. O conjunto de diretrizes e propostas procura cobrir esses objetivos o

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mais amplamente possível, sugerindo e combinando uma série de instrumentos sociais, tais como os de ordem cultural (comunicação, capacitação, educação ambiental); política (fóruns de desenvolvimento, conselhos nacionais e locais, Congresso Nacional, câmaras estaduais e locais); legal (Lei dos Recursos Hídricos; Lei dos Crimes Ambientais); econômica (incentivos e créditos como o ICMS Ecológico e o Protocolo Verde); tecnológica (promovendo e difundindo tecnologias ecoeficientes); institucional (fortalecendo órgãos de gestão ambiental e de defesa do consumidor).

O espírito da estratégia é a promoção de estímulos e envolvimento por adesão voluntária dos agentes econômicos e privados, sem evidentemente descurar do papel exemplar e indutor que o Estado deve desempenhar. Por isso a pouca ênfase nos instrumentos de comando e de controle e o foco na mudança de cultura, privilegiando ações de auto-regulamentação e de premiação de práticas sustentáveis. Quase todas as propostas podem ser implementadas imediatamente ou a curto prazo, sem necessidade de aumentar substantivamente os aportes de recursos financeiros. Procurou-se valorizar e recomendar para o país a universalização de experiências localmente bem-sucedidas, como o já mencionado ICMS Ecológico ou programas como o PROCEL e o PROCONVE que visam à conservação de energia.

No total, a estratégia conta com 15 propostas. No conjunto, elas se referem ao seguinte leque de problemas e necessidades de:

• Combater o desperdício e promover o consumo sustentável com os agentes econômicos, o setor público e a população em geral.

• Arbitrar padrões e indicadores capazes de orientar o planejamento urbano e o monitoramento das práticas de produção e de consumo sustentáveis, tanto por parte do setor público como do privado.

• Estabelecer rotinas de auditorias ambientais no setor público e usar o poder de compra do Estado para induzir o mercado de bens e serviços a adotar padrões de qualidade ambiental.

• Promover mudanças nos procedimentos utilizados para lidar com assentamentos e com projetos habitacionais, passando a levar em consideração o conforto, a qualidade ambiental e a ecoeficiência, com o máximo aproveitamento de materiais reciclados e apropriados.

• Reduzir as perdas crônicas no sistema de saneamento e modernizar a política tarifária, garantindo água mais barata e de melhor qualidade, melhorando, dessa forma, os indicadores de saúde da população urbana.

• Evitar e reduzir a geração de resíduos, de despejos e a emissão de poluentes nas áreas urbanas e do entorno por parte das indústrias.

• Reduzir a queima de combustíveis fósseis e promover a eficiência energética, contribuindo para a mudança da matriz energética e para o combate ao ‘efeito estufa’.

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• Promover maior integração entre o rural e o urbano, desenvolvendo atividades agrícolas e não-agrícolas voltadas para este fim.

• Gerar empregos e renda, contribuindo para diminuir as desigualdades existentes, aproveitando, sempre que possível, os programas decorrentes das quase noventa ações recomendadas para operacionalizá-los por meio de mecanismos que combinem sustentabilidade econômica e social.

ESTRATÉGIA 4Desenvolver e estimular a aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos recursos naturais visando à sustentabilidade urbana.

Os principais problemas econômicos relacionados à degradação ambiental das cidades, além das altas taxas de desperdício já mencionadas, são: crescente pobreza urbana; gastos com a saúde pública e com a proteção e a recuperação do meio ambiente natural e urbano; custos de produção, operação e manutenção de serviços públicos e privados incompatíveis com o perfil de renda da população; perda de competitividade do setor produtivo nacional nos mercados interno, regionais e globais.

Nesse sentido, para assegurar a sustentabilidade das cidades em patamar compatível com os objetivos do desenvolvimento do país, faz-se necessário adotar uma estratégia voltada para a redução dos custos sociais e econômicos das crescentes deterioração urbana e degradação do meio ambiente, ao mesmo tempo que se incentiva a adoção de tecnologias e de processos industriais adequados às exigências do comércio internacional, superando as barreiras não-tarifárias colocadas pelos países ricos.

As exigências em termos ambientais cresceram nesses países e, com isso, aumentam as pressões para impor padrões semelhantes às importações de países menos desenvolvidos. Assim, considerar o perfil ambiental do produto durante todo o seu ciclo é a tendência geral nos mercados mais competitivos. Algumas formas mais nítidas dessa tendência já podem ser observadas, como a exigência da certificação de produtos (selo ecológico). Propõe-se que o Estado assuma um papel pró-ativo diante do setor econômico, apoiando e induzindo, por meio de instrumentos econômicos, a transformação dos processos e dos produtos de maneira a garantir sua inserção competitiva.

Esta estratégia incorpora, principalmente, a concepção de que pode e deve ser utilizado um amplo conjunto de instrumentos econômico-fiscais, tributários-financeiros, de financiamento e outros pelos vários níveis de governo, de maneira a incentivar ou inibir atividades urbanas e industriais em função das políticas e dos resultados ambientais requeridos. Esse conjunto de propostas complementa, amplia

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ou eventualmente substitui parte dos instrumentos chamados de comando e controle, tradicionalmente associados ao planejamento e à gestão do solo urbano e do meio ambiente. São seis as propostas que compõem esta estratégia, voltadas para:

a) Cobrança pelo uso dos recursos naturais, de maneira a ampliar os recursos financeiros disponíveis, reduzindo o comprometimento dos orçamentos governamentais com os problemas ambientais, direcionando-os para ações redistributivas, de maneira a permitir que os mais pobres possam usufruir de forma socialmente eqüitativa da qualidade ambiental, e gerando sustentação para as atividades de manutenção que possam aumentar oportunidades de trabalho e renda.

b) Aperfeiçoamento do sistema tributário nos três níveis de governo, criando incentivos econômico-tributários, como o ICMS Ecológico, e outros estímulos extrafiscais indutores de comportamentos ambientalmente sustentáveis pelos agentes públicos e privados.

c) Promoção da competitividade da indústria brasileira, com alterações de processos e produtos capazes de enfrentar as restrições ambientais associadas ao comércio exterior e aos acordos globais, utilizando recursos resultantes da criação de Fundo Ambiental da Indústria, lastreado em impostos sobre a poluição.

d) Novos critérios para o financiamento do setor de transportes, incorporando e condicionando os investimentos aos aspectos ambientais no sentido da priorização de sistemas de transporte coletivos, associados a redes integradas, e incentivando a busca de recursos alternativos de financiamento pelos poderes locais.

e) Utilização de critérios ambientais para compra de bens e serviços pelo setor público, visto ser este, nos três níveis de governo, importante impulsionador da economia e, portanto, indutor do perfil dos produtos e serviços.

f) Recuperação da valorização fundiária resultante dos investimentos públicos nas áreas urbanas, por meio de instrumentos jurídico-tributários que permitam gerar recursos para investimentos em programas habitacionais e de melhoria do meio ambiente construído.

Nesse conjunto de ações, destacam-se os objetivos de envolver os agentes econômicos e de gerar receitas adicionais. Entretanto, aponta-se uma permanente preocupação em, paralelamente a incentivos e financiamentos, identificar fontes de recursos capazes de garantir a institucionalização de tais políticas, no sentido de não onerar os orçamentos públicos e, principalmente, de buscar eqüidade nas ações e nos investimentos.

DIRETRIZES, PROPOSTAS E AÇÕES

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Acompanha cada uma das quatro estratégias consideradas prioritárias um conjunto de diretrizes e propostas que se desdobram, por sua vez, em determinado número de ações, com indicações quanto:

• ao âmbito – esferas de governo ou de escala territorial mais adequados do ponto de vista da competência ou da responsabilidade pela sua implementação. A identificação de âmbito não corresponde necessariamente ao ator responsável pelas iniciativas para implementação das propostas e das ações. De fato, grande número dessas é voltado para os governos locais visto sua competência relativamente ao uso do solo urbano, mas as iniciativas podem ser supletivas, concomitantes e complementares dos governos federal, estaduais e municipais e da sociedade civil;

• ao prazo – previsões quanto aos horizontes ideais de implementação das propostas, com vistas à ampliação da sustentabilidade das cidades nos dez anos preconizados para o projeto. Os prazos considerados foram:

imediato (propostas capazes de serem equacionadas no prazo de dois anos, período correspondente, de maneira aproximada, à finalização dos mandatos dos atuais prefeitos municipais);

curto (propostas a serem implementadas no prazo de até quatro anos, período correspondente ao mandato, recém-iniciado, dos governos estaduais e federal);

médio (propostas com implementação em até dez anos).1 

• aos meios de implementação – indicação dos recursos humanos/institucionais, financeiros, científicos e tecnológicos necessários ou disponíveis para a adequada implementação das propostas, considerando-se a necessidade de capacitação em todos os âmbitos, com responsabilidades subsidiadas, em programas de planejamento e gestão ambiental urbana e programas setoriais; intercâmbios, promoção e divulgação de experiências de sucesso; implementação de sistemas de informação; esforços e investimentos em comunicação e em educação ambiental.

recursos humanos e institucionais disponíveis ou a serem criados, estimulados e ampliados envolvendo os quadros técnicos dos governos federal, estadual e municipal, das Administrações direta e indireta, as instituições de pesquisa e universidades, os quadros das ONGs e das organizações comunitárias, quadros das empresas privatizadas de serviços urbanos/escritórios de engenharia e arquitetura ou grupos de mobilização comunitária e as redes locais de solidariedade;

recursos tecnológicos, envolvendo a criação de cadastros técnicos e fiscais associados a sistemas geográficos de informação (regionais e locais), sistemas de padrões e indicadores para monitoramento das condições

1 Propostas de longo prazo ultrapassam o horizonte de dez anos definido para este trabalho.

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ambientais, redes para intercâmbio de informações sobre experiências, tecnologias e práticas adequadas, etc.

recursos financeiros - são indicados como potencialmente financiadores das propostas e das ações: a) os recursos do Orçamento Geral da União, estados e municípios, buscando-se a complementaridade nas ações e na utilização dos recursos e fundos, vertical e horizontalmente; b) os recursos de financiamento das agências bi e multilaterais voltados para programas ambientais ou setoriais, que devem ser direcionados, em parcela relevante, ao desenvolvimento institucional; c) recursos provenientes da aplicação de instrumentos econômicos (ver Estratégia 4) como taxas, tarifas, multas e penalidades sobre o uso e a apropriação dos recursos naturais; d) recursos privados provenientes de pactos de cooperação público-privado; e) recursos das concessionárias de serviços públicos, estatais ou privadas, previstos e associados aos editais de concessão.

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ESTRATÉGIA 1

Uso e ocupação do solo – Aperfeiçoar a regulação do uso e da ocupação do solo urbano e promover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de vida da população, considerando a promoção da eqüidade, a eficiência e a qualidade ambiental.

DIRETRIZES Democratizar o acesso à terra e priorizar a função social da

propriedade urbana, contribuindo para melhorar as condições de moradia e de trabalho da população urbana.

Reduzir as desigualdades socioeconômicas no uso e na ocupação do solo e nos espaços construídos e naturais da cidade, contribuindo para o combate à pobreza urbana.

Preservar e recuperar o patrimônio construído e natural das cidades.

Dar prioridade a programas e projetos que promovam a utilização das áreas já urbanizadas da cidade, em particular aquelas que dispõem de infra-estrutura e de serviços urbanos subutilizados.

Dar prioridade aos sistemas urbanos de transporte coletivo, em detrimento do transporte individual, contribuindo para a racionalização do uso do solo, do sistema viário e dos espaços urbanos.

Considerar a compatibilização do desenvolvimento regional e urbano com a base natural de recursos disponível e com os objetivos de sustentabilidade das cidades.

Considerar a inserção regional das cidades e a sua integração com a área rural do entorno na promoção do desenvolvimento urbano.

PROPOSTASPROPOSTA 1.1Fortalecer a dimensão territorial no planejamento governamental, articulando e

integrando as políticas, os programas e as ações dos órgãos da Administração Federal, direta e indireta, cujas decisões afetam a organização territorial e urbana do país, com ênfase particular nas diretrizes de zoneamento ecológico estabelecidas pelo Ministério do Meio Ambiente.

AÇÕES RECOMENDADAS

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• Introduzir nos processos de planejamento estratégico nacional e regional, particularmente no caso dos eixos nacionais de integração e desenvolvimento, a devida consideração das variáveis ambientais que afetam o uso e a ocupação do território, da região ou da cidade, monitorando e avaliando os impactos - nacional, regional, estadual e local – das decisões de política econômica no território, promovendo as ações que se façam necessárias para assegurar o uso sustentável dos recursos naturais e econômicos e a melhoria das condições de vida e de trabalho da população.

· Elaborar, aprovar, por meio de lei competente, e implementar política nacional de ordenação do território que considere as dinâmicas demográficas, econômicas, sociais e ambientais do desenvolvimento nacional e os seus impactos sobre a sustentabilidade das cidades brasileiras.

· Elaborar, aprovar, por meio de lei competente, e implementar planos nacionais e regionais de desenvolvimento que considerem as especificidades da rede urbana, orientando e canalizando a aplicação dos investimentos públicos e privados com vistas ao desenvolvimento sustentável das cidades.

· Introduzir nos estatutos jurídicos pertinentes e na legislação ambiental urbana federal e estadual, onde couber, dispositivos específicos que assegurem o melhor aproveitamento das vantagens comparativas de desenvolvimento regional e urbano da rede urbana brasileira.

· Fortalecer e estimular, por meio de assistência técnica e financeira aos estados, o planejamento e a coordenação das funções de interesse comum dos municípios integrantes de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões.

· Estimular e apoiar a criação e o funcionamento de consórcios municipais voltados para o enfrentamento dos problemas urbanos e ambientais das cidades e para a gestão compartilhada dos assuntos de interesse comum a mais de um município.

· Introduzir no processo de planejamento urbano e estratégico local a dimensão regional do desenvolvimento sustentável, particularmente nas cidades localizadas em regiões metropolitanas e nas aglomerações urbanas, levando em conta a disponibilidade de fatores econômicos, tecnológicos, humanos, institucionais e naturais.

ÂMBITONacional e regional

PRAZOCurto e médio

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MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos e gerenciais da Administração Federal capacitados para o planejamento territorial e ambiental.

• Organização para o planejamento da ocupação do território que articule os órgãos de planejamento dos diferentes ministérios que têm competência sobre o território, em particular dos Ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento e da Defesa, Secretarias de Planejamento e Avaliação, de Desenvolvimento Regional e de Desenvolvimento Urbano, entre outros.

• Órgãos colegiados, no âmbito federal, com representação paritária governo e sociedade, de caráter consultivo ou deliberativo, responsáveis pelo exame das políticas econômicas, sociais e ambientais e respectivos programas de investimentos que tenham impacto no território.

Recursos científicos e tecnológicos

• Utilização das tecnologias avançadas de informação disponíveis no país visando à construção e à consulta a bancos de dados e a sistemas de informação, ao monitoramento da ocupação do território e à utilização dos recursos naturais.

• Sistemas de sensoriamento remoto e sistemas de georreferenciamento visando ao mapeamento das áreas prioritárias de intervenção e à localização dos projetos de desenvolvimento, em escalas nacional e regional, em andamento.

• Censos nacionais e outras fontes de informação estatística sobre as variáveis econômicas, demográficas, ambientais, sociais e urbanas relevantes para o planejamento governamental e a ordenação do território.

• Estudos e pesquisas de caráter científico, técnico e tecnológico, disponíveis ou em andamento, que sejam relevantes para o planejamento territorial.

Recursos financeiros

• Originários do Orçamento Geral da União e destinados às atividades de planejamento, acompanhamento e avaliação das políticas públicas.

• Oriundos de programas e fundos administrados pelos seguintes ministérios: Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Orçamento e Gestão, Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e pela Caixa Econômica Federal.

• Provenientes de empréstimo internacional obtido pela União e pelos estados nas agências de cooperação internacional, bi e multilaterais.

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PROPOSTA 1.2Fortalecer a dimensão territorial no planejamento estadual, estimulando a

regionalização interna dos estados federados e a cooperação entre municípios que tenham problemas urbanos e ambientais comuns por integrarem região metropolitana, aglomeração urbana, microrregião ou a mesma bacia hidrográfica.

AÇÕES RECOMENDADAS• Desenvolver políticas e programas estaduais de desenvolvimento urbano e

regional que visem a promover o desenvolvimento sustentável das cidades, articulando e compatibilizando as ações do estado e dos municípios.

• Desenvolver programa estadual de apoio técnico, institucional e financeiro aos municípios de pequeno porte com expressivo patrimônio ambiental e cultural e/ou potencial de desenvolvimento do turismo ecológico.

• Apoiar, por meio de ações estaduais, a elaboração de cartas ambientais urbanas para os municípios, com o objetivo de constituir bases cartográficas e bancos de dados necessários às atividades de regulação do uso e da ocupação do solo que considerem a dimensão ambiental do planejamento e da gestão urbana.

• Criar, por meio de lei estadual, as regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas que se fizerem necessárias e os respectivos mecanismos de planejamento e gestão, assegurando, no processo decisório, a participação dos municípios e os mecanismos de audiência dos interesses das populações envolvidas.

• Executar projetos estaduais de saneamento ambiental das bacias hidrográficas que contribuam para assegurar os objetivos de sustentabilidade social, econômica e ambiental das cidades e o acesso democrático à terra urbana e rural.

• Aperfeiçoar os mecanismos de regulação do solo existentes, introduzindo, onde couber, os novos instrumentos jurídicos, legais e econômicos adequados.

ÂMBITO

Estadual

PRAZO

Curto e médio

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MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Capacitar técnicos e gerentes, estaduais e municipais para o uso e o manejo das técnicas avançadas de planejamento e de gestão do território.

• Capacitar as organizações comunitárias e não-governamentais habilitando-as a participarem do progresso de planejamento e de gestão do território.

• Adotar mecanismos institucionais de solução de conflitos e de negociação que assegurem a participação democrática dos atores - públicos, privados e comunitários - diretamente envolvidos e afetados pelas intervenções estaduais.

Recursos científicos e tecnológicos

• Desenvolver e manter, com os recursos da informática, sistemas de informação e indicadores ambientais e urbanos acessíveis a todos os interessados, a fim de homogeneizar o conhecimento disponível e a facilitar a participação nos processos de planejamento e de gestão do solo urbano e rural.

• Utilizar o sistema de informações georreferenciadas, entre outras tecnologias avançadas, para a produção de mapas e de cadastros fundiários e ambientais regionais e microrregionais.

Recursos financeiros

• Próprios dos estados, transferências e repasses de recursos da União, alocados às atividades de desenvolvimento regional e estadual.

• Oriundos de empréstimo, nacionais e internacionais, e respectivas contrapartidas, destinados à execução de projetos estaduais de desenvolvimento, em particular os originários dos programas operados pelo BNDES, pela Caixa Econômica Federal e pelas agências multilaterais de desenvolvimento.

• Próprios dos municípios, a serem aplicados em contrapartida aos investimentos estaduais.

PROPOSTA 1.3Incorporar aos processos de formulação de políticas e de planejamento urbano

do município, no que couber, as diretrizes gerais de ordenação do território e de política urbana emanadas das políticas, dos planos e dos programas, federais e estaduais, que tratam de questões de interesse da sustentabilidade das cidades.

AÇÕES RECOMENDADAS

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• Formular políticas urbanas, integradas e setoriais, compatíveis com os objetivos e com as prioridades de desenvolvimento local que orientem a intervenção do município na regulação do uso e da ocupação do solo - urbano e rural - e as ações dos agentes econômicos e sociais na apropriação do espaço e dos recursos naturais.

• Elaborar, aprovar e implementar planos diretores, planos estratégicos ou planos de desenvolvimento urbano, que deverão também considerar as Agendas 21 locais visando à promoção do desenvolvimento local e à sustentabilidade urbana, que considerem as questões territoriais e ambientais que extrapolam os limites municipais.

• Incorporar na regulação do uso e da ocupação do solo, no que couber, as diretrizes do Programa de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica – PROCEL -, da Eletrobrás, as quais devem também ser incorporadas às normas técnicas que regem os projetos de infra-estrutura e as atividades de projeto e construção urbanos.

• Criar e manter sistema de planejamento local que propicie a permanente atualização dos planos de desenvolvimento urbano em face da dinâmica de crescimento e desenvolvimento da cidade e de sua inserção regional.

· Estimular e apoiar a participação ativa da população e de seus líderes políticos, empresariais e comunitários nos processos de regulação, planejamento e gestão do solo - urbano e rural.

ÂMBITOLocal

PRAZOImediato e curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Técnicos e gerentes capacitados para o planejamento urbano.

• Líderes empresariais e comunitários informados e capacitados para participarem ativamente do processo de planejamento urbano.

• Órgão municipal de planejamento urbano, da administração direta ou indireta do município, com capacidade institucional de formulação, implementação, acompanhamento e avaliação de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano que contemplem a dimensão ambiental do desenvolvimento local.

• Órgãos colegiados, no âmbito local, com representação paritária do governo e da sociedade, de caráter consultivo, que viabilizem o processo de

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participação democrática na solução de conflitos de interesse sobre o uso e a ocupação do solo.

Recursos científicos e tecnológicos

• Técnicas de planejamento, sistemas de informação e indicadores urbanos e ambientais necessários ao planejamento e à gestão do território.

• Manuais produzidos pelo PROCEL/IBAM para orientação das prefeituras.

Recursos financeiros

• Próprios dos municípios e destinados às atividades de planejamento.

• De empréstimo, oriundos do FGTS, por meio de programa específico voltado para a gestão local, em regulamentação pela Caixa Econômica Federal.

• De empréstimo internacional, obtido pelos estados, para a implementação de projetos urbanos, e repassado aos municípios mediante contrapartida local, destinado à execução dos respectivos componentes de desenvolvimento institucional.

PROPOSTA 1.4Promover a revisão e a consolidação dos instrumentos e dos dispositivos legais,

federais e estaduais, associados à sustentabilidade das cidades, conferindo maior unidade à matéria, para facilitar o seu conhecimento e a sua compreensão pelas autoridades locais e assegurar a eficácia de sua aplicação prática.

AÇÕES RECOMENDADAS· Atualizar o Código Civil Brasileiro, ajustando-o às necessidades surgidas em

decorrência dos processos de urbanização e de modernização do país, bem como às novas pautas de desenvolvimento endossadas pelo Estado e pela sociedade, em particular quanto ao direito ambiental e à função social da propriedade e da cidade.

· Rever, consolidar e atualizar, se necessário, os projetos de lei sobre matéria urbana em tramitação no Congresso Nacional, a fim de agilizar a sua aprovação pelas autoridades competentes e a sua efetiva implementação.

· Rever os termos dos projetos de lei que dispõem sobre o parcelamento do solo urbano, alterando a Lei nº 6.766/79, recentemente aprovados no Congresso Nacional e que estão aguardando sanção presidencial, quanto aos dispositivos que poderão afetar negativamente a qualidade ambiental dos novos loteamentos. Caso o processo político não permita a revisão recomendada, empreender ações nos estados e municípios para aprimorar a lei federal, quanto aos seus aspectos ambientais, por ocasião das adaptações necessárias nas legislações estaduais e municipais que tratam do assunto.

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· Dar ampla difusão dos novos dispositivos legais aos municípios e especialmente aos Cartórios de Registros de Imóveis, por meio da publicação comentada dos estatutos normativos básicos que tratam da sustentabilidade urbana e pela sua disponibilização na Internet.

ÂMBITONacional, estadual

PRAZO Imediato e curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Apoiar processos de desenvolvimento institucional e de capacitação dos órgãos executivos, legislativos e do Judiciário dos estados e dos municípios, visando a aprimorar o processo legislativo, a aplicação e o controle social das leis e normas que regulam o uso e a ocupação do solo e a função social da propriedade.

• Os quadros técnicos e os dirigentes municipais devem estar capacitados para a correta interpretação e a aplicação da legislação ambiental e urbanística que incide sobre o uso e a ocupação do solo, emanada da União e dos estados, e sua regulamentação em escala local.

Recursos científicos e tecnológicos

• Técnicas legislativas e sistemas de informação automatizados que permitam aos governos locais e aos cidadãos ter acesso aos dispositivos legais e normativos que incidem sobre o uso e a ocupação do solo, e o meio ambiente.

RECURSOS FINANCEIROS• Do Orçamento Geral da União e dos estados.

PROPOSTA 1.5Promover a produção, a revisão e a implementação de planos diretores e da

legislação edilícia e urbanística de competência municipal, a saber, as leis de uso e ocupação do solo, de parcelamento e loteamento, de perímetro urbano, os códigos de obras e edificações, os códigos de posturas e sanitário, visando à introdução, onde couber, de dispositivos normativos e legais que assegurem a sustentabilidade das cidades.

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AÇÕES RECOMENDADAS

• Estabelecer parceria entre o Executivo e o Legislativo municipais visando a desenvolver um esforço de revisão e de adaptação da legislação edilícia e urbanística de sua competência e, no que couber, introduzir dispositivos que assegurem a sustentabilidade ambiental da cidade.

• Convocar a sociedade local, por intermédio de suas representações qualificadas, para participar ativamente da discussão do novo quadro regulatório sobre o uso e a ocupação do solo urbano e rural.

• Desenvolver e implantar sistemas informatizados de consultas sobre as limitações legais e normativas das atividades de parcelamento, loteamento e construção, agilizando e facilitando os procedimentos administrativos de aprovação de projetos e obras.

• Articular-se com órgãos estaduais, da administração direta ou indireta, e concessionárias de serviços públicos, visando à adoção dos estatutos legais pertinentes.

• Manter mecanismos de fiscalização pública e de controle social eficientes e eficazes que assegurem o respeito às normas e às leis que regulam o uso e a ocupação do solo urbano e rural.

ÂMBITO

Local

PRAZO

Imediato e curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos e administrativos municipais capacitados para o exercício de funções de regulação, planejamento e gestão do uso do solo.

• Líderes políticos locais interessados nas questões urbanas e ambientais capazes de atuar, em sintonia com o Poder Executivo e com a sociedade, no processo legislativo necessário à revisão e à adaptação da legislação municipal.

• Líderes empresariais e comunitários habilitados a participarem da discussão sobre a regulação do uso e da ocupação do solo.

• Mecanismos institucionais de participação democrática na gestão da cidade, assegurada a paridade entre representantes do governo local e da sociedade.

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• Mecanismos eficientes e eficazes de fiscalização e de controle do uso e da ocupação do solo, em particular nas áreas de proteção ambiental e de risco ambiental.

Recursos científicos e tecnológicos

• Serviços municipais informatizados de consulta sobre a legislação edilícia e urbanística vigente.

• Cadastros técnicos municipais informatizados.

Recursos financeiros

• Próprios dos municípios e destinados à modernização administrativa, ao desenvolvimento institucional e à capacitação de recursos humanos.

PROPOSTA 1.6Combater a produção irregular e ilegal de lotes urbanos e o crescimento

desnecessário da área de expansão urbana das cidades, mediante a aplicação efetiva de instrumentos de regulação do solo, urbano e rural, e da adoção de mecanismos de controle e de fiscalização eficazes.

AÇÕES RECOMENDADAS

• Rever a legislação municipal que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, adaptando-a e complementando, no que couber, aos novos dispositivos legais resultantes da revisão da Lei Federal no 6.766/79, recentemente aprovada no Congresso Nacional.

• Aperfeiçoar, informatizar e manter permanentemente atualizados cadastros fundiários e cadastros técnicos municipais em apoio às atividades de fiscalização e de controle do parcelamento, do loteamento e da ocupação irregular do solo urbano e rural.

• Promover incentivos à ocupação da área urbanizada de acordo com as diretrizes dos planos de desenvolvimento urbano, para assegurar padrões sustentáveis de uso do solo.

ÂMBITO

Local

PRAZO

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Imediato e curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO: Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos capacitados dos governos locais.

• Os governos municipais devem promover articulação com as câmaras de vereadores para agilizar a revisão da legislação.

Recursos científicos e tecnológicos

• Cadastros técnicos municipais informatizados.

Recursos financeiros

• Orçamentários dos municípios.

PROPOSTA 1.7Dar prioridade às políticas e às ações que visem a agilizar/facilitar o acesso à

terra e a regularização fundiária e que sejam potencializadoras das políticas e dos programas habitacionais a serem implementados pelas três esferas de governo com a finalidade de reduzir o déficit habitacional concentrado nos segmentos populacionais de menor renda.

AÇÕES RECOMENDADAS

• Estabelecer a vinculação das políticas fundiária, ambiental e habitacional em todos os níveis de atuação governamental.

• Criar e apoiar a atuação de conselhos/comissões estaduais e locais, conforme o caso, assegurando a representação paritária do governo e das comunidades envolvidas, com a finalidade de permitir a participação nos processos de regularização fundiária, ampliando os espaços de negociação e de solução de conflitos de interesses.

• Desenvolver e aperfeiçoar o arcabouço legal e institucional que disciplina o acesso à terra urbana e a regularização fundiária e agilizar os procedimentos técnicos e administrativos adotados.

• Promover e apoiar a estruturação, a atualização e a manutenção de cadastros de terras desocupadas e ociosas como um dos meios de apoio à formação de estoque de terras necessário à solução dos problemas de habitação de interesse social e de reassentamentos da população, e à identificação de áreas de preservação ambiental.

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• Promover o levantamento atualizado do patrimônio fundiário da União, das autarquias e das empresas públicas federais, regionais e estaduais.

• Buscar formas efetivas de cooperação entre o município, o estado e a União, com a finalidade de integrar os respectivos cadastros fundiários e agilizar o aproveitamento habitacional das áreas e dos terrenos desocupados ou ociosos.

ÂMBITOLocal, regional/estadual, nacional

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos e administrativos dos governos locais capacitados para desenvolver e operar sistemas informatizados de cadastro, realizar estudos de mercado e análise do potencial construtivo de áreas e terrenos urbanos.

RECURSOS CIENTÍFICOS E TECNOLÓGICOS• Acesso amplo às tecnologias de informação disponíveis e aquisição dos

equipamentos de informática que sejam compatíveis com as necessidades operacionais dos governos locais.

• Sistemas de informações geográficas informatizados.

Recursos financeiros

• Próprios da prefeitura, disponíveis para a melhoria de serviços de rotina administrativa, levando-se em consideração o potencial de aumento da receita fiscal representado pelo aperfeiçoamento dos cadastros técnicos municipais e das atividades de arrecadação do IPTU.

• De financiamentos obtidos nos programas federais de habitação, operados pela Caixa Econômica Federal. No caso específico de áreas para projetos de habitação de interesse social ligados à metodologia de recuperação ambiental, existe a possibilidade de integrar o apoio a esse tipo de cadastro no componente de desenvolvimento institucional do Programa Habitar Brasil (em elaboração). Em que pese a contrapartida existente, o programa permite algumas exceções, especialmente para aqueles municípios com situações consideradas mais graves e/ou os que estão no âmbito do Programa Comunidade Solidária.

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• De financiamentos obtidos na Caixa Econômica Federal por meio do Programa de Financiamento à Gestão Local (em fase de regulamentação).

PROPOSTA 1.8Utilizar novas figuras jurídicas, tais como a urbanização consorciada e as

modalidades de transferência do potencial construtivo, visando à disponibilização de terra urbana, em especial para a produção de habitações de interesse social, em parceria com a população e o setor empresarial privado, com controle social e do Legislativo.

AÇÕES RECOMENDADAS• Promover a necessária regulamentação das novas figuras jurídicas e dos

instrumentos de regulação do uso e da ocupação do solo constantes da Constituição Federal, incorporando-os, no que couber, às leis orgânicas municipais e na legislação urbanística local.

• No caso de transferência de potencial construtivo, identificar com clareza, em cada operação, os agentes públicos e privados envolvidos, seus papéis respectivos e os canais adequados para informação e negociação.

• Criar, na estrutura da administração municipal, comissões técnicas e conselhos, com representações paritárias do governo e da sociedade, responsáveis pela análise e pela aprovação das propostas.

• Dar ampla divulgação pública das propostas específicas de aplicação dos novos instrumentos jurídicos e legais, especialmente para grupos sociais e ONGs de assessoria técnica, prestando os esclarecimentos indispensáveis à perfeita compreensão das alternativas existentes, como a urbanização consorciada, as operações interligadas e as operações urbanas.

ÂMBITO Local

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Corpo técnico e administrativo municipal capacitado para o exercício das funções de planejamento e de gestão e, particularmente, para a interlocução

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e a negociação com os agentes econômicos, públicos e privados, e sociais envolvidos nas parcerias.

• As organizações comunitárias devem receber capacitação adequada para o exercício de suas funções como parceiras nos projetos habitacionais, bem como ter acesso às informações necessárias para a tomada de decisões.

• O setor privado deverá estar representado por profissionais capazes de dialogar e de negociar sua participação no empreendimento com os demais parceiros, contribuindo para o êxito da parceria com sua experiência empresarial na administração de negócios e no conhecimento do mercado imobiliário.

RECURSOS CIENTÍFICOS E TECNOLÓGICOS• Sistemas de informação e consulta automatizados sobre a legislação edilícia,

urbanística e ambiental vigente e sobre planos, programas e projetos urbanísticos existentes ou previstos.

Recursos financeiros

• Próprios do governo local, voltados para o aperfeiçoamento tecnológico da administração municipal, bem como para os investimentos públicos de contrapartida aos investimentos privados.

• De investimentos aportados pelas empresas privadas parceiras dos empreendimentos.

• De financiamento da habitação e da infra-estrutura urbana, obtido com os gestores e operadores do FGTS e do FAT.

• De poupança, aportados pelos beneficiários finais dos empreendimentos, em contrapartida aos investimentos públicos e/ou privados.

PROPOSTA 1.9Promover a regularização fundiária de áreas e assentamentos informais e de

loteamentos irregulares, em conformidade com os dispositivos constitucionais e com a legislação federal, estadual e municipal pertinente, para assegurar a função social da propriedade, as condições de sustentabilidade social, econômica e ambiental da habitação e o direito de acesso à moradia adequada para todos.

AÇÕES RECOMENDADAS• Fazer levantamento da situação fundiária das áreas e dos terrenos ocupados

irregularmente e informalmente, cadastrando seus atuais ocupantes.

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• Identificar as áreas de risco e as áreas de preservação ambiental ocupadas irregularmente, cadastrar seus ocupantes e providenciar o reassentamento da população moradora, assegurando-lhe alternativas habitacionais compatíveis com suas condições sociais e econômicas.

• Regularizar a titularidade dos lotes, adotando, no que couber, os institutos jurídicos do usucapião urbano e da concessão real do direito de uso, resguardando as áreas públicas necessárias, as de uso coletivo e as de preservação ambiental.

• Realizar os investimentos indispensáveis, diretamente ou mediante financiamento, para a implantação do sistema viário, da infra-estrutura básica e das áreas livres de uso coletivo.

ÂMBITOLocal

PRAZOCurto e médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Capacitação das prefeituras, por meio da integração de várias secretarias, para realizar diretamente ou gerir serviços terceirizados a ONGs capacitadas para processos administrativos.

Recursos financeiros

• Fiscais do Orçamento Geral da União, dos estados e municípios.

• Repasse de recursos e financiamentos, nacionais e internacionais, disponibilizados por meio dos programas federais sob gestão da SEPURB, da Caixa Econômica Federal e do BNDES.

• Próprios da população atendida, em contrapartida ou em retorno dos investimentos públicos realizados.

PROPOSTA 1.10Desenvolver linhas específicas para a locação social, destinadas ao

aproveitamento do estoque existente e da recuperação das áreas centrais degradadas, para ampliar a oferta de alternativas habitacionais e o acesso à moradia adequada para aqueles que não têm condições de adquirir uma unidade habitacional.

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AÇÕES RECOMENDADAS• Instituir grupo de sistematização das experiências estadual, municipal e

federal, específicas realizadas, a fim de avaliar, estudar e propor a regulação da locação social e o financiamento da recuperação das unidades habitacionais, por gestão direta do Poder Público, ou em parceria com o setor privado.

• Incluir estímulos à locação social nos projetos de revitalização de centros históricos financiados pelo Programa Monumenta em implantação pelo Ministério da Cultura com recursos do BID e contrapartida nacional e local e parceria com o setor privado.

ÂMBITOLocal, regional/metropolitano/estadual, nacional

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos governos federal, estadual e local.

• Os governos devem realizar convênios com universidades e, quando for o caso, contratar assessoria técnica de ONGs.

Recursos financeiros

• De orçamentos municipais.

• De ONGs e do setor privado.

• De agências internacionais de financiamento.

PROPOSTA 1.11Controlar, mediante ações preventivas e normativas, os impactos territoriais dos

grandes investimentos públicos e privados destinados ao desenvolvimento econômico, em especial, e os seus efeitos de degradação dos recursos ambientais, aprimorando/criando na União, nos estados e nos municípios mecanismos de controle dos impactos socioespaciais e ambientais resultantes da implantação de grandes projetos.

AÇÕES RECOMENDADAS

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• Incorporar nos processos de planejamento e de ordenação do território o atendimento às diretrizes, às normas e aos padrões sustentáveis de uso e de ocupação do solo, particularmente nas áreas de proteção ambiental, áreas costeiras e de fronteira, estabelecidas pelo zoneamento ecológico do país.

• Aperfeiçoar, no que couber, o quadro normativo de regulação das atividades produtivas no que se refere aos seus potenciais impactos negativos sobre o território e ao uso do solo urbano e rural.

• Fortalecer os mecanismos de controle e de fiscalização do Ministério do Meio Ambiente e as atividades delegadas às unidades descentralizadas e às agências ambientais estaduais de meio ambiente.

• Criar e/ou fortalecer órgãos e/ou setores de planejamento urbano e regional voltados para a prevenção, o controle e a mitigação dos impactos ambientais.

• Fortalecer o controle social sobre as atividades públicas e privadas potencialmente poluidoras do território, por meio do apoio às funções de planejamento e de gestão ambiental e urbana dos órgãos colegiados existentes ou que vierem a ser criados.

• Adotar e/ou fortalecer fóruns consultivos e deliberativos para as questões regionais e microrregionais, tais como comitês e/ou consórcios de bacias hidrográficas ou de articulação e convergência de ações de saúde e de saneamento, entre outros.

• Definir indicadores de impacto claros em legislação específica.

• Incorporar aos mecanismos de regulação econômica do uso sustentável do território a aplicação de competentes instrumentos econômicos.

• Estabelecer mecanismos permanentes de informação e de divulgação sobre a implantação de grandes projetos.

ÂMBITO Nacional, regional, estadual e local

PRAZO Curto e médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos e gerenciais, federais, regionais, estaduais e municipais, capacitados para o exercício das funções técnicas e administrativas de proteção ambiental da ocupação do território.

• Órgãos e agências públicas, federais, regionais, estaduais e municipais com competência e capacidade institucional requeridas pelas atividades de

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planejamento territorial e gestão, controle e fiscalização dos recursos naturais.

• Órgãos colegiados consultivos e, quando for o caso, deliberativos, de representação paritária do governo e da sociedade, instrumentalizados para o efetivo controle social das atividades potencialmente impactantes e/ou poluidoras do território, em particular nas bacias hidrográficas, áreas de proteção dos mananciais e áreas de proteção ambiental.

Recursos científicos e tecnológicos

• Bancos de dados ambientais, indicadores ambientais e sistemas de informação sobre a base de recursos naturais do país, acessíveis com o uso de tecnologias avançadas de informação disponíveis.

• Mapas e cadastros digitalizados que permitam o acesso às informações sobre o zoneamento ecológico do país.

• Acesso informatizado ao conjunto de estatutos jurídicos e instrumentos legais e normativos vigentes que regulam a ocupação sustentável do território.

Recursos financeiros

• Do Orçamento Geral da União, dos estados e dos municípios.

• Dos programas e dos fundos geridos pelo Ministério do Meio Ambiente.

• Fiscais e de empréstimo, nacionais e internacionais, destinados ao desenvolvimento científico e tecnológico referente ao meio ambiente, natural e construído.

• Gerados pela aplicação de instrumentos econômicos voltados para a regulação e o controle sobre o uso econômico do território e dos recursos naturais.

• Privados, provenientes de pactos de cooperação público-privada para a realização de empreendimentos de interesse social.

PROPOSTA 1.12Implementar planos de desenvolvimento urbano capazes de minimizar as

ocorrências de acidentes e desastres nas cidades, especialmente nos aspectos relativos ao escoamento das águas pluviais, procurando controlar a impermeabilização, preservar áreas para retenção natural e escoamento dos excessos de água dos fundos de vale.

AÇÕES RECOMENDADASa) Desenvolver e implementar planos diretores que contemplem o problema de

escoamento das águas superficiais excessivas, preservando os fundos de vale para vazões de enchentes que ali poderão ocorrer e efetuando obras de proteção contra essas inundações.

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b) Tratar a água como um dos elementos do ecossistema urbano, atacando a questão das enchentes em três frentes principais:

• ações preventivas de educação ambiental e sanitária articuladas entre os três níveis de governo e a sociedade;

• obras corretivas, como o aprofundamento da calha dos rios e a construção de bacias de contenção/acumulação (a bacia de amortecimento apresenta vantagens econômicas para sua implantação e manutenção quando comparada às soluções tradicionais de canalização);

• obras de manutenção, como o desassoreamento;

c) Desenvolver projetos de tratamento de fundo de vale que integrem a região à paisagem urbana e à dinâmica da cidade, mediante a melhoria das condições de infra-estrutura, da criação de espaços de lazer e de áreas verdes, de ciclovias e de passagem de pedestres, promovendo a integração urbana, incentivando a sociabilidade e o desenvolvimento econômico local.

d) Estabelecer regras que disciplinem a ocupação do solo e elaborar planos diretores de macrodrenagem.

ÂMBITOLocal e estadual, nos casos de projetos de despoluição

PRAZOMédio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos estados e dos municípios e moradores e usuários da região de intervenção. A educação ambiental e sanitária deve servir como instrumento de motivação dos moradores e os usuários da região para assumir a responsabilidade sobre seu habitat e para a continuidade da manutenção das condições que lhes foram propiciadas pela intervenção física na área.

Recursos financeiros

• Criar alternativas que garantam a viabilidade financeira das obras de drenagem e a partilha das responsabilidades entre municípios, estados e União.

• Buscar o financiamento nos recursos do Orçamento Geral da União e instituir a cobrança de taxa pela área impermeabilizada, cuja base de cálculo é a relação dessa área com o volume que cada imóvel contribui para a rede de drenagem.

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PROPOSTA 1.13Coordenar as ações referentes ao uso e à ocupação do solo e a transporte e

trânsito, visando a reduzir as tendências de crescimento desorganizado das cidades e a otimizar o uso do sistema de transportes, ao relacionar sua estruturação a formas mais equilibradas e sustentáveis de uso e de ocupação do solo.

AÇÕES RECOMENDADAS• Elaboração de planos de projetos urbanísticos (Plano Diretor, Lei de

Zoneamento, operações urbanas, localização de equipamentos públicos) integrados e coordenados com as ações de transporte e trânsito que otimizem a acessibilidade e o consumo de energia e tempo, contemplando, de forma especial, o controle dos ‘pólos geradores de tráfego’ e suas interferências na cidade.

ÂMBITOMunicipal e metropolitano

PRAZOImediato e curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos municipais capacitados para o planejamento urbano e de circulação e transporte, com a adoção de uma visão integrada no processo de planejamento que não seja limitada à infra-estrutura.

Recursos científicos e tecnológicos

• Bases de dados para o planejamento urbano e de transportes; geoprocessamento das informações de transporte e trânsito; quantificação dos efeitos do uso do solo no transporte urbano.

Recursos financeiros

• Orçamento municipal, fundos estaduais e municipais de meio ambiente, FINEP (financiamento de estudos).

PROPOSTA 1.14Combater as deseconomias da urbanização (subutilização, degradação) e

imprimir maior eficiência às dinâmicas socioambientais, apoiando e incentivando a

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realização de experiências bem-sucedidas na conservação do patrimônio ambiental urbano, principalmente aquelas que mobilizam os diversos atores e apresentam forte interação com a preservação do patrimônio natural e paisagístico.

AÇÕES RECOMENDADAS• Garantir a continuidade de experiências consideradas ambientalmente bem-

sucedidas na conservação do patrimônio urbano, mobilizando e estendendo os meios legais e os incentivos existentes.

• Recuperar, utilizando técnicas de revitalização, áreas centrais históricas ou de ocupação irregular, ou ainda integrantes do patrimônio paisagístico ou natural das cidades, envolvendo as comunidades residentes desde o início do processo, buscando a sua permanência sempre que cabível.

• Estimular programas de reconversão de uso de edificações abandonadas e/ou obsoletas com forte participação dos agentes econômicos.

• Disponibilizar assessoria técnica e legal aos municípios que detêm patrimônios naturais e/ou construídos relevantes para que iniciem programas de recuperação e de revitalização.

• Estimular a criação de conselhos locais e articulações interinstitucionais que visem a elaborar planos de recuperação do patrimônio, natural e construído, urbano.

• Capacitar e fornecer assessoria técnica às administrações regionais e locais visando à prática da conservação do patrimônio ambiental urbano, de interesse comum a mais de um município, localizado em áreas metropolitanas, microrregiões ou aglomerações urbanas.

• Rever e flexibilizar a legislação federal que conceitua o patrimônio cultural e natural, regulamenta sua proteção e organiza os sistemas de preservação.

ÂMBITONacional, estadual e local

PRAZOCurto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Gestores e técnicos capacitados das secretarias estaduais e municipais da habitação; de obras; de cultura, do Ministério da Cultura; dos organismos

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responsáveis por tombamentos e manutenção do patrimônio histórico e pela preservação do patrimônio natural (secretarias estaduais e municipais de meio ambiente; IBAMA). Os quadros técnicos devem incluir urbanistas e especialistas na identificação e na classificação do patrimônio.

• Líderes comunitários e agentes econômicos capacitados (comerciantes, artistas, artesãos, etc.).

Recursos científicos e tecnológicos

• Devem ser fortemente incentivados convênios de cooperação técnica com universidades e centros de pesquisa a fim de potencializar os recursos técnicos existentes no país. Também deve ser resgatada a experiência internacional.

Recursos financeiros

• Obtidos no setor privado (empresas, bancos, instituições culturais privadas) utilizando os incentivos fiscais da Lei Rouanet.

• Orçamentários da União, dos estados e dos municípios.

• Da CEF e do SEBRAE.

• De agências internacionais de desenvolvimento (BID/BIRD).

PROPOSTA 1.15Garantir a extensão da infra-estrutura básica presente nas cidades (água, luz e

força, educação e saúde) para o meio rural, com especial atenção aos assentamentos rurais, aí incluídas as demandas e as ações do Movimento dos Sem-Terra - MST.

AÇÕES RECOMENDADAS• Criar, em caráter permanente, grupos de trabalho de prestação de assessoria

técnica compatível com as demandas e as urgências requeridas pelos assentamentos rurais, especialmente aqueles que se encontram em fase de implantação.

• Realizar planos e projetos específicos definindo as situações nas quais a implantação da infra-estrutura tem caráter redistributivo e onde possibilita ou potencializa atividades produtivas.

• Implantar nos estados e nos municípios mecanismos de financiamento de infra-estrutura mediante a concertação público-privada.

ÂMBITO Nacional, estadual, local

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PRAZO Médio prazo, sendo que os grupos de trabalho de prestação de assessoria

técnica podem ser criados imediatamente.

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Envolver as redes existentes comprometidas com a questão da redução das desigualdades sociais (ONGs, movimentos, entidades) em todo o processo.

• Os grupos de trabalho devem incluir quadros de todos os níveis de governo.

Recursos financeiros

• Do Orçamento Geral da União, dos estados e dos municípios.

• Do FAT.

• Financiamentos internacionais/agências multilaterais.

•Recursos privados provenientes de pactos de cooperação público-privada.

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ESTRATÉGIA 2

Desenvolvimento institucional – Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade de planejamento e de gestão democrática da cidade, incorporando ao processo a dimensão ambiental e assegurando a efetiva participação da sociedade

DIRETRIZES Capacitar as equipes técnicas e gerenciais dos três níveis de governo

para o exercício das atividades de planejamento e de gestão urbana.

Desenvolver e implantar mecanismos jurídicos e institucionais para o controle social da organização e da operação dos serviços públicos urbanos.

Coordenar e articular as ações dos três níveis de governo, levando em consideração as diferentes escalas territoriais da rede urbana: regiões metropolitanas, aglomerações urbanas, cidades médias e cidades de pequeno porte.

Ampliar, no Legislativo e no Executivo, a participação substantiva dos atores sociais nos mecanismos/instituições responsáveis pelo planejamento, pela alocação dos recursos e pela gestão do espaço urbano.

Fomentar o desenvolvimento e o uso de sistemas de informação capazes de instrumentalizar as ações de planejamento e de gestão ambiental, bem como as ações viabilizadoras (promotoras) da sustentabilidade e da melhoria da qualidade de vida urbana.

Estimular as formas e os mecanismos institucionais de coordenação intermunicipal e estadual para o planejamento e a gestão sustentada dos recursos naturais e dos serviços de interesse comum.

PROPOSTASPROPOSTA 2.1Promover políticas nacionais, regionais, estaduais, metropolitanas e municipais

de desenvolvimento que levem em consideração as peculiaridades da rede urbana brasileira, adequando suas propostas e ações às diferentes categorias de cidades, na perspectiva de sua sustentabilidade.

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AÇÕES RECOMENDADAS • Desenvolver e disseminar técnicas e processos de planejamento urbano e

estratégico que sejam adequados às peculiaridades locais das metrópoles e das cidades de grande, médio e pequeno porte, que compõem a rede urbana brasileira e, também, compatíveis com as respectivas capacidades institucionais de planejamento e de gestão.

• Desenvolver e manter permanentemente atualizados estudos e pesquisas, bancos de dados e sistemas de indicadores sociais, econômicos, demográficos, urbanos e ambientais sobre a rede urbana brasileira.

• Desenvolver e implementar programas e planos de ação federais e estaduais, de apoio às iniciativas locais voltadas para a exploração do potencial de desenvolvimento sustentável das cidades.

ÂMBITONacional, regional/estadual, metropolitano e local

PRAZO Curto e médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Dirigentes, técnicos e gerentes, federais, regionais, estaduais e municipais - quando for o caso -, capacitados para as atividades de planejamento e de gestão compartilhada do desenvolvimento urbano sustentável da região.

• Órgãos de planejamento regionais, estaduais e locais, da administração direta e indireta, com capacidade institucional de conduzir a articulação e a integração das ações de desenvolvimento regional e urbano requeridas.

• Órgãos colegiados estaduais e regionais, de representação paritária do governo e da sociedade, de caráter consultivo ou deliberativo, conforme o caso, capacitados para o exercício das atividades de planejamento participativo e de gestão compartilhada das funções de interesse comum dos municípios localizados em regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões.

• Consórcios municipais com capacidade técnica, institucional e financeira de operar serviços urbanos e ambientais de interesse comum.

Recursos científicos e tecnológicos

• Sistemas de informação georreferenciados de dados humanos e ambientais necessários ao planejamento e à gestão do território e do meio ambiente em

96

regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, acessíveis a toda a população.

Recursos financeiros

• Do Orçamento Geral da União, dos estados e dos municípios voltados para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das atividades de planejamento e de gestão.

• Oriundos de programas e de fundos administrados pelos ministérios do Meio Ambiente, da Ciência e Tecnologia, do Orçamento e Gestão, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e pela Caixa Econômica Federal.

• De empréstimos internacionais obtidos pela União e pelos estados nas agências de cooperação internacional, bi e multilaterais.

PROPOSTA 2.2Fortalecer e dotar de maior eficiência os sistemas federal, estadual e municipal

de fiscalização ambiental, sobretudo em áreas de grande vulnerabilidade ecológica, por meio da articulação e da cooperação entre a União, os estados e os municípios.

AÇÕES RECOMENDADAS

• Observar, nos âmbitos estadual e local, as diretrizes e os dispositivos de zoneamento ecológico do território, que devem ser incorporados ao planejamento e à gestão urbana.

• Garantir a aplicação de normas e procedimentos que regulam a apresentação e a análise de estudos de impacto ambiental das obras e dos projetos de intervenção urbana.

• Fortalecer e ampliar a descentralização das atividades de fiscalização e de controle ambiental de competência do Ministério do Meio Ambiente e dos estados, propiciando aos municípios as condições técnicas, institucionais e financeiras necessárias ao correto exercício das funções delegadas, particularmente no que se refere ao controle dos processos de uso e de ocupação do solo urbano.

• Fortalecer os sistemas de licenciamento de atividades potencialmente agressivas ao ambiente, construído e natural, das cidades.

ÂMBITO Nacional, estadual e local

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PRAZO Imediato, curto e médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos e gerenciais, estaduais e municipais, capacitados para o exercício das atividades de regulação, fiscalização e controle do uso e da ocupação do solo urbano e rural.

• Órgãos estaduais e municipais, da administração direta ou indireta, capazes de usar, com eficiência e eficácia, os instrumentos disponíveis de controle ambiental do uso e da ocupação do solo urbano e rural.

• Mecanismos institucionais de planejamento e de gestão compartilhada, paritários e democráticos, que assegurem maior controle social sobre as atividades potencialmente poluidoras do ambiente, natural e construído, das cidades e de suas regiões de influência.

Recursos científicos e tecnológicos

• Técnicas avançadas de planejamento e tecnologias de informação adequadas à elaboração, à atualização e à implementação dos planos de zoneamento ecológico e de ordenação do território.

• Cadastros técnicos informatizados e sistemas de informação específicos que facilitem o acesso dos órgãos estaduais e municipais às informações necessárias à fiscalização e ao controle da ocupação das áreas de proteção ambiental e do uso dos recursos naturais.

Recursos financeiros

• Federais, oriundos do Orçamento Geral da União e dos programas e dos fundos administrados pelo Ministério do Meio Ambiente.

• Próprios dos estados e dos municípios.

• De financiamento externo associado a projetos ambientais e de fundos para preservação ambiental.

PROPOSTA 2.3Submeter ao controle do município, naquilo que for da sua competência

constitucional, toda e qualquer atividade realizada no seu território capaz de afetar a sustentabilidade da cidade, gerando impactos negativos sobre o ambiente, a paisagem e as condições do ar, da água, do solo e do conforto humano.

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AÇÕES RECOMENDADAS

• Rever a regulamentação da legislação ambiental federal e complementá-la ou ajustá-la, no que couber, a fim de fortalecer a cooperação governamental e melhor utilizar a capacidade local de regulação, gestão e exercício do poder de polícia sobre o uso e a ocupação do solo, função de competência do município, contribuindo para a sustentabilidade da cidade.

• Rever a legislação urbanística e edilícia municipal, em especial aquela que se refere ao uso e à ocupação do solo, com o fim de introduzir nos dispositivos legais os aspectos relativos à sustentabilidade ambiental.

• Criar, se for o caso, apoiar e fortalecer os órgãos municipais, da administração direta ou indireta, incumbidos das ações de regulação e de controle ambiental do uso e da ocupação do solo, dotando-os das condições técnicas, institucionais, financeiras e operacionais necessárias ao exercício de suas funções.

ÂMBITO Nacional, estadual e local

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Técnicos e gerentes municipais capacitados para o exercício das funções de regulação, gestão e controle das atividades potencialmente ou efetivamente poluidoras do ambiente urbano.

• Acordos de cooperação técnica e de apoio financeiro entre a União, o estado e o município, para dotar a administração local da necessária capacidade institucional e técnica de executar ações preventivas e corretivas que assegurem a proteção do meio ambiente e a sustentabilidade da cidade e, quando for o caso, da região.

Recursos financeiros

• Próprios dos municípios e dos estados.

• Receitas municipais geradas pela cobrança de taxas, tarifas, multas e penalidades sobre o uso e a apropriação dos recursos naturais pelos agentes econômicos e sociais.

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• Dos programas e dos fundos ambientais geridos pelo Ministério do Meio Ambiente e pelos estados.

PROPOSTA 2.4Instituir a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão do

território, passando da ação puramente controladora, setorial e burocrática para uma ação gerenciadora da questão ambiental, de caráter integrado, participativo, descentralizado e financeiramente sustentável, conforme estabelece a Lei Nacional dos Recursos Hídricos.

AÇÕES RECOMENDADAS• Compatibilizar as informações existentes sobre a estruturação do território e

articular os agentes públicos, privados e comunitários de forma que permita uma leitura da bacia hidrográfica como unidade de análise, planejamento e intervenção.

• Investir na organização associativa de instâncias supralocais (consórcios, associações, comitês de bacias) para fazer frente às demandas que se apresentam no tratamento integrado dos recursos hídricos e de resíduos sólidos e que podem indicar a possibilidade de continuidade das políticas públicas e de articulação no tratamento regional das questões urbana, sanitária e ambiental.

• Criar, em cooperação com as companhias e os órgãos de saneamento, critérios ambientais para a ligação de redes nos assentamentos, dificultando a proliferação de assentamentos informais inadequados, sob a ótica do meio ambiente, da saúde e da segurança das pessoas.

• Considerar, na instalação dos comitês de bacias, em contexto metropolitano, os aspectos socioeconômicos, culturais e simbólicos que estão associados às metrópoles brasileiras e que determinam seus processos políticos.

ÂMBITORegional (interestadual e/ou intermunicipal) e local

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

100

Recursos humanos e institucionais

• Técnicos dos municípios, dos estados e da União, representantes do setor privado (principalmente das companhias de saneamento, quando privatizadas) e representantes das organizações comunitárias de alguma forma implicadas na questão.

• Assessorias específicas para o desenvolvimento de instrumentos econômicos, envolvendo também universidades e institutos de pesquisa.

Recursos científicos e tecnológicos

• Para viabilizar a captação dos recursos financeiros, os governos devem consolidar e aperfeiçoar os mecanismos de tributação existentes, assim como criar e desenvolver os incentivos econômicos previstos.

Recursos financeiros

• Captados mediante aplicação dos mecanismos de tributação sobre o uso dos recursos hídricos e ambientais (princípios usuário-pagador e poluidor-pagador, ICMS Ecológico, não poluidor-recebedor e protetor-recebedor), da cobrança de royalties ecológicos e da promoção de procedimentos administrativos que articulem fiscalização e licenciamento.

• Captados mediante aplicação de incentivos econômicos por meio de redistribuição do ICMS para municípios que disponham de planejamento de uso e de ocupação do solo voltado para o controle de áreas de risco (ICMS Ecológico).

PROPOSTA 2.5Criar e/ou fortalecer órgãos de planejamento urbano e regional reforçando a

dimensão ambiental em suas estruturas técnico-burocráticas e aperfeiçoando suas bases de dados sobre unidades territoriais de gestão e de planejamento.

AÇÕES RECOMENDADAS• Promover e/ou incentivar a contínua capacitação das equipes técnicas ligadas

ao planejamento e à gestão urbana e regional dos diversos níveis e/ou esferas de governo, com especial atenção para a formação de quadros qualificados na área de planejamento ambiental.

• Criar mecanismos que garantam troca de informações, experiências e conhecimentos com universidades, centros de pesquisa e ONGs.

• Articular convênios entre o setor público e universidades e/ou centros de pesquisa com o objetivo de formar quadros técnicos na área de planejamento ambiental.

• Apoiar a criação e/ou o aperfeiçoamento de banco de dados sobre as potencialidades sociais, econômicas e ambientais de possíveis unidades territoriais de planejamento e gestão.

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ÂMBITONacional, estadual e municipal

PRAZOImediato

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos governos federal, estadual e municipal.

Recursos científicos e tecnológicos

• Os governos devem:

• realizar convênios com instituições de pesquisa e universidades (nacionais e internacionais), promovendo seminários e cursos para os técnicos dos órgãos responsáveis pelo planejamento;

• empreender programas de cooperação entre estados e entre cidades para repasse de experiências e tecnologia.

Recursos financeiros

• Do Orçamento Geral da União, dos estados e dos municípios.

• Provenientes de fundações e de institutos de pesquisa internacionais voltados para atividades e pesquisas ligadas ao planejamento regional.

PROPOSTA 2.6Desenvolver e/ou estimular novos mecanismos que viabilizem a efetiva

participação da sociedade no planejamento e na gestão urbana, especialmente no que se refere ao controle social sobre a alocação de recursos públicos e à qualidade dos serviços urbanos, considerando as questões relativas à eqüidade social, à competitividade e à sustentabilidade das cidades.

AÇÕES RECOMENDADAS • Elaborar e implementar orçamentos participativos, tendo em vista seu

potencial aglutinador de atores e/ou agentes sociais na gestão da cidade. Este tipo de mecanismo permite incorporar em sua pauta a questão da sustentabilidade e transformar-se num grande fórum de discussão dos problemas e dos dilemas a serem enfrentados pela comunidade local ou regional.

102

• Sistematizar, sob coordenação dos governos locais, as principais propostas de desenvolvimento urbano das entidades públicas e privadas (empresas, associações de moradores), por meio da criação de fóruns, conselhos, grupos temáticos ou agências locais de desenvolvimento, entre outros, levando em consideração tanto suas potencialidades como seus problemas, objetivando a inserção da cidade na malha de possibilidades oferecida pela dinâmica econômica, social e cultural regional, nacional ou global.

• Promover e coordenar a integração e a convergência de instrumentos e/ou estratégias de gestão urbana (planos estratégicos, planos diretores, normas urbanísticas e edilícias, orçamento participativo, agências e/ou grupos de trabalho voltados para a promoção do desenvolvimento local, entre outros), dando maior visibilidade ao processo e permitindo maior participação popular.

ÂMBITO Basicamente local, considerando a importância dos estados e do planejamento

regional na mitigação da competição entre municípios.

PRAZOCurto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Além dos quadros dos governos locais, devem ser envolvidos todos os atores sociais, potencializando redes sociais de solidariedade, articuladas em redes secundárias constituídas por organizações formais ou não, tais como redes de ação pública e redes de movimentos sociais.

• As agências ou organismos de desenvolvimento urbano devem buscar parcerias com ONGs, universidades e centros de pesquisa.

Recursos científicos e tecnológicos

• Deve ser fomentado o intercâmbio de informações e de experiências que promovam o uso de tecnologias ambientalmente saudáveis, prioritariamente no que se refere aos métodos e às técnicas de construção de habitações e de infra-estrutura urbana destinadas aos grupos sociais excluídos, ao manejo do meio ambiente urbano e à prevenção da poluição, entre outros.

Recursos financeiros

• Do Orçamento Geral dos municípios.

103

• Privados, provenientes de pactos de cooperação público-privada para a realização de empreendimentos de interesse social.

• Financiamentos internacionais/agências multilaterais.

PROPOSTA 2.7Implementar sistemas de gestão ambiental urbanos integrados e que

contemplem a descentralização e as parcerias, melhorando a qualidade e a eficiência tanto institucional como dos serviços prestados à população.

AÇÕES RECOMENDADASa) Ampliar o leque de alternativas e possibilidades de medidas e ações

integradas no plano intermunicipal, dando prioridade à periferia das regiões metropolitanas.

b) Ampliar a cooperação público–privada na gestão do patrimônio físico e ambiental das cidades.

c) Adotar formas de fiscalização consorciada em áreas de especial interesse de preservação/conservação (prédios e sítios históricos, unidades de conservação ambiental, entre outras).

d) Incentivar a adoção de bens (públicos e/ou privados) pela iniciativa privada.

ÂMBITOLocal e regional

PRAZOCurto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos governos locais e diversos atores sociais (movimentos sociais, investidores privados, ONGs e outras entidades).

Recursos financeiros

• Orçamentários federais (PED), estaduais e municipais.

• Do setor privado (empresas) e do setor público não-estatal (ONGs).

• Internacionais das agências multilaterais de cooperação.

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• Privados, provenientes da aplicação de instrumentos econômicos capazes de financiar iniciativas específicas de desenvolvimento.

• Privados, provenientes de pactos de cooperação público-privada para a realização de empreendimentos de interesse social.

• Financiamentos internacionais/agências multilaterais.

PROPOSTA 2.8Incorporar ao planejamento habitacional as questões ambientais relevantes,

desde a elaboração até a implementação de programas e projetos, especialmente quando sua solução extrapolar as dimensões locais.

AÇÕES RECOMENDADAS

• Criação de órgãos supralocais (comissões ligadas aos programas) para a formulação e o acompanhamento, de forma integrada, de programas e projetos regionais que incorporem componentes habitacionais, ambientais e de infra-estrutura urbana, buscando, ao mesmo tempo, uma atuação mais articulada dos órgãos estaduais e metropolitanos com a esfera local.

• Criar mecanismos de controle social que incorporem representantes dos vários agentes públicos e privados e dos grupos sociais envolvidos.

• Definir planos e projetos considerando outras territorializações, como a das bacias hidrográficas, por exemplo.

ÂMBITO Local, regional e estadual

PRAZO

Curto e médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos e administrativos dos estados e dos municípios capacitados para o planejamento e a gestão ambiental, urbana e regional.

105

• Representantes das organizações sociais e comunitárias capacitados para participar ativamente dos processos de planejamento, gestão e controle social.

• Representantes do setor privado capazes de participar ativamente dos processos de planejamento, gestão e controle social, bem como de contribuir para o diálogo democrático e para a negociação transparente e responsável de conflitos de interesses.

Recursos científicos e tecnológicos

• Banco de dados e sistemas de informação sobre as variáveis ambientais a serem consideradas no planejamento habitacional e na elaboração dos projetos habitacionais.

• Técnicas de manejo dos recursos ambientais e tecnologias ecocompatíveis de construção das edificações e de redes de infra-estrutura.

• Normas técnicas e legislação ambiental, edilícia e urbanística.

Recursos financeiros

• A proposta, em princípio, não exige recursos financeiros específicos ou adicionais além daqueles já disponibilizados para as atividades de planejamento, elaboração de projetos e construção habitacional, à exceção dos recursos necessários para investir em capacitação.

PROPOSTA 2.9Associar aos empreendimentos habitacionais de interesse social os aspectos de

sustentabilidade econômica, incorporando a necessidade de propiciar condições favoráveis para projetos de emprego e renda destinados aos grupos sociais envolvidos e/ou buscar no próprio projeto elementos de geração de recursos.

AÇÕES RECOMENDADAS• Desenvolver parcerias entre órgãos locais, representações comunitárias e

ONGs com instituições como o SEBRAE, ou movimentos e experiências voltadas para o apoio à geração de renda que propiciem capacitação e estruturação de empreendimentos específicos para o atendimento às demandas locais.

• Incorporar atividades de capacitação profissional e de treinamento de mão-de-obra aos programas e projetos habitacionais, por meio de atividades específicas aos próprios projetos, voltadas para ocupações da construção civil, ocupações administrativas (contábeis, por exemplo) na administração e no gerenciamento de cooperativas e no trabalho em equipamentos instalados em assentamentos (creches, pequenas oficinas para fornecimento de

106

refeições, fabricação de materiais); ocupações e/ou capacitação empresarial visando à microempresa, capacitação em informática, etc.

• Apoiar a criação e a dinamização de organizações coletivas, como cooperativas, para a estruturação de fundos próprios ou outros elementos de geração de recursos.

ÂMBITO Local, regional e estadual

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos governos capacitados, utilizando, quando for o caso, assessoria técnica de ONGs.

• Considerar o capital humano dos grupos sociais envolvidos e a sua capacidade de gerar solução e recursos financeiros.

Recursos financeiros

• Disponibilizados por meio de programas conveniados com SEBRAE, SENAC, SENAI, BNDES e outros órgãos, conforme as especificidades locais de mercado.

• A serem previstos nos próprios projetos e programas.

PROPOSTA 2.10Assegurar, na execução de programas e de projetos habitacionais, a

diversificação das modalidades de provisão de moradia, que atendam às diversidades culturais, econômicas e sociais dos grupos sociais a serem beneficiados, e contribuem para a sustentabilidade social e econômica dos empreendimentos pelo fortalecimento do sentimento de identidade e pertencimento dos seus moradores.

AÇÕES RECOMENDADAS• Adotar normas e padrões de projeto adequados à realidade socioeconômica

da população-alvo e compatíveis com seus hábitos e valores culturais.

• Estimular e apoiar os processos de autogestão e co-gestão da habitação, dos equipamentos coletivos e dos serviços sociais e de infra-estrutura urbana,

107

tanto na implementação dos programas e execução de obras como na preservação e na manutenção dos conjuntos e das áreas urbanizadas.

• Na definição de parcerias para a implementação de programas e a execução de projetos, estimular e apoiar a participação das ONGs na assessoria aos movimentos populares, grupos sociais e comunitários, reconhecendo a importância da sua contribuição para a sustentabilidade social e institucional dos empreendimentos habitacionais, particularmente em situações de descontinuidade político-partidária do governo local.

ÂMBITO Local e regional/metropolitano/estadual, federal

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos governos, dos núcleos das universidades públicas e privadas e centros de pesquisa para apoio às comunidades e às ONGs.

Recursos científicos e tecnológicos

• Devem ser estimuladas a pesquisa e a disseminação de tecnologias adequadas, incentivando o conhecimento e o uso do acervo existente.

Recursos financeiros

• FINEP e agências estaduais de apoio à pesquisa.

• Dos próprios programas e projetos.

PROPOSTA 2.11Apoiar e aperfeiçoar a capacidade institucional dos governos estaduais e

municipais para desenvolver ações voltadas para a criação de marcos regulatórios para os serviços de água, esgotos e resíduos sólidos.

AÇÕES RECOMENDADAS

• Implementar uma agenda de trabalho com vistas a elaborar proposta de regulação para os serviços de saneamento e de modelo de gestão para operação dos serviços.

108

• Minuta de projeto de lei dispondo sobre políticas, sistemas, regulação e criação de agências reguladoras.

• Separar a regulação dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário da regulação da gestão de resíduos sólidos, em face das diferenças e das especificidades dos serviços de coleta, limpeza pública, transporte, tratamento e destinação final do lixo em relação aos serviços de água e esgotos.

ÂMBITO Estadual, em estreita articulação com o local

PRAZO Imediato

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos estados e dos municípios, com apoio do Programa de Modernização do Setor Saneamento-PMSS.

Recursos financeiros

• Dos orçamentos gerais dos estados e dos municípios.

• Do PMSS e de programas financiados por agências bi e multilaterais voltados para o saneamento ambiental.

PROPOSTA 2.12Promover programas de capacitação para qualificar a interlocução entre Estado

e sociedade, e atribuir sustentabilidade aos investimentos em saneamento por meio do combate ao desperdício e da conservação sustentável das melhorias realizadas.

AÇÕES RECOMENDADAS• As demandas mais urgentes para capacitação e implementação são: sistema

de custos e política tarifária; controle de perdas; implantação em escala de alternativas tecnológicas; apoio a pequenos empreendedores; regulação e controle; programas de educação sanitária e ambiental.

• Abrir todo o processo de formulação e discussão de propostas à participação da sociedade e incorporar a participação do Legislativo, nas instâncias municipais e estadual.

109

• Basear as intervenções no conceito de responsabilidades compartilhadas mediante a implementação de um sistema de indicadores de desempenho, com a definição prévia da divisão de responsabilidades entre o Poder Público e a comunidade, que pode atuar como informante e participante ativo nos procedimentos para verificação de impactos.

• Fortalecer os fóruns colegiados, incluindo:

• reativar e fortalecer a Câmara de Saneamento do Conselho Nacional de Saúde;

• continuar a investir na realização das Conferências Municipais de Saneamento e da I Conferência Nacional de Saneamento, articulada com o SUS e os setores do meio ambiente, dos recursos hídricos e do desenvolvimento urbano;

• resgatar e valorizar o papel da FNS na assessoria aos municípios na execução de sua política de saneamento e saúde.

ÂMBITO Nacional/estadual em estreita articulação com o local

PRAZOImediato

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Representantes dos grupos sociais organizados e do setor privado e quadros técnicos da União, dos estados e dos municípios, considerando que o conceito de ‘projeto orientado pela demanda’ exige preparo da comunidade para tomada de decisão, agentes públicos capacitados e treinados para prover os serviços que as pessoas desejam, de forma adequada à sua capacidade de pagamento e disposição para pagar, e agentes privados comprometidos com a transformação do investimento em saneamento em vetor de desenvolvimento local e regional.

Recursos financeiros

• Dos Orçamentos Gerais da União, dos estados e dos municípios.

• Do PMSS direcionados ao combate ao desperdício de água.

• De projetos e programas financiados pelas agências bi e multilaterais no campo do saneamento ambiental.

110

PROPOSTA 2.13Ampliar as linhas de financiamento do setor saneamento ambiental, prevendo

formas de flexibilização da gestão e buscando o interlocutor/agente mais estratégico para assegurar a universalização e a qualidade ambiental na prestação dos serviços, promovendo a articulação dos agentes públicos e privados.

AÇÕES RECOMENDADAS• No acesso ao crédito, apoiar diretamente o município e preferencialmente as

empresas ou companhias municipais detentoras de autonomia gerencial, financeira e operacional.

• Fortalecer as ações de saneamento, tornando acessível aos municípios um conjunto diversificado de instrumentos econômico-financeiros capaz de fazer frente à necessidade de financiamento do setor, como: utilizar recebíveis como reserva de meios de pagamento (lei autorizativa); construir empresas de propósito especial – SPC; montar uma engenharia financeira visando a viabilizar a capacidade de pagamento do projeto (debêntures, TPRPC, etc.); rever as taxas atualmente empregadas pelo BNDES e pela CEF que não são compatíveis com a natureza dos investimentos em saneamento e com a capacidade de os agentes executores (municípios e estados) gerarem recursos pela via tarifária para pagar os empréstimos obtidos; ampliar os prazos de retorno dos financiamentos, adequando-os à vida útil dos sistemas e à capacidade de pagamento dos municípios; não estabelecer previamente o percentual para contrapartida de recursos estaduais e municipais (FGTS, 12% Sudeste e Sul, 6% Norte e Nordeste); conceder incentivos fiscais às empresas públicas ou privadas que aplicam no mercado de capitais com vistas a investir em saneamento.

• Criar/apoiar projetos de desenvolvimento institucional que permitam aproveitar a capilaridade da estrutura da Fundação Nacional de Saúde em iniciativas combinadas de municipalização e terceirização do setor de saneamento.

ÂMBITONacional

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

111

Trata-se da utilização de recursos institucionais e de financiamentos já indicados no texto das ações.

PROPOSTA 2.14Incentivar a modernização na gestão e na operação do transporte e do trânsito

por meio da parceria entre o Poder Público e a iniciativa privada, e da participação da comunidade nas decisões e na fiscalização.

AÇÕES RECOMENDADAS• Formulação da política nacional de transporte urbano, com metas e objetivos

claros a serem alcançados.

• Revisão da legislação em vigor.

• Integração dos órgãos públicos e das operadoras na gestão dos transportes urbanos.

• Unificação das ações de transporte e trânsito em uma única agência pública, especialmente nas regiões metropolitanas e nas aglomerações urbanas.

ÂMBITOLocal, regional e nacional

Prazo

Imediato e curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Aumento da produtividade das entidades e dos órgãos governamentais graças à modernização dos métodos e dos processos de trabalho, mediante a adoção de programas de qualidade e de competitividade. Esses órgãos poderão sofrer reestruturação para adequação aos novos métodos.

• O processo decisório e gerencial deverá ser descentralizado buscando atender melhor às necessidades das diferentes áreas urbanas do país, estabelecendo, sempre que possível, parcerias com agentes do setor privado, empresas e ONGs.

• No processo de descentralização, algumas tarefas e atividades poderão ser repassadas para a iniciativa privada, caso possam ser desempenhadas com maior propriedade.

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Recursos científicos e tecnológicos

• Criação e implantação de bases de dados para o planejamento dos transportes em termos estratégico, tático e operacional.

• Utilização de meios de comunicação dinâmicos para estimular e fortalecer a participação da sociedade.

Recursos financeiros

• Do orçamento municipal; parcela do financiamento da estrutura física vinculada à implantação e à manutenção de programas de melhoria da qualidade e da eficiência; fundos municipal e estadual de meio ambiente.

PROPOSTA 2.15Promover a integração entre as políticas urbanas e rurais pela aproximação

entre produtores e mercados consumidores, numa perspectiva de desenvolvimento regional.

AÇÕES RECOMENDADAS • Reorientação dos processos de formulação e de implementação de políticas

públicas, das práticas das organizações da sociedade civil, assim como dos agentes socioeconômicos e políticos, por meio do fortalecimento de pactos territoriais.

• Incentivar experiências locais e regionais por meio de sistemas de planejamento e de gestão descentralizados.

• Promover e divulgar projetos de desenvolvimento microrregionais de caráter demonstrativo (agricultura sustentável) articulados a programas de formação e de reciclagem de agricultores e técnicos na área do desenvolvimento rural.

• Transformar as instituições agrícolas (de pesquisa e extensão) tanto internamente como na forma de interagir com outras instituições e atores sociais.

• Facilitar o desenvolvimento de eficiente infra-estrutura de comunicação e de distribuição para informações ao setor empresarial sobre oportunidades de investimentos, bem como para ampliação do mercado e do acesso ao consumidor urbano.

• Promover a cooperação entre comunidades locais para a solução de questões ambientais, do uso da terra e transporte no contexto rural-urbano.

ÂMBITO

113

Nacional, estadual/regional, microrregional/intermunicipal, municipal

PRAZO Imediato e curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Capital social acumulado em sistemas embasados na cooperação e na associação voluntárias das populações rurais.

• Recuperação e fortalecimento dos recursos e das habilidades localmente disponíveis.

• Instituições agrícolas de pesquisa e extensão que congregam capital humano e técnico capaz de - desempenhando novos papéis - , capacitar produtores e técnicos rurais e novos setores empresariais e interagir com outras instituições e atores sociais (universidades, SEBRAE, setores privados).

• Pólos educacionais gerados em torno das universidades públicas e privadas, para apoiar e facilitar a implementação de sistemas de informação sobre oportunidades de investimento aos setores empresariais.

• Ministérios de Agricultura e Meio Ambiente, secretarias estaduais de Agricultura e Meio Ambiente, ONGs, associações de municípios, prefeituras, instituições agrícolas e de fomento.

Recursos financeiros

• Orçamentários da União, dos estados e dos municípios e de programas voltados para agricultura e meio ambiente.

• Fundo Nacional de Fomento para viabilizar os projetos microrregionais de caráter demonstrativo.

114

ESTRATÉGIA 3

Produção e consumo - Promover mudanças nos padrões de produção e de consumo da cidade, reduzindo custos e desperdícios e fomentando o desenvolvimento de tecnologias urbanas sustentáveis.

DIRETRIZES Realizar amplas campanhas de comunicação visando à divulgação e à

mobilização em torno dos princípios e dos objetivos da Agenda 21 brasileira, com ênfase na necessidade de mudar os padrões de produção e de consumo.

Promover o aumento da responsabilidade social e ecológica, mediante o fomento de programas para aumentar a consciência ambiental e fortalecer a cidadania.

Apoiar as instituições e fortalecer os mecanismos de defesa do consumidor incentivando-os a promover o consumo sustentável.

Ampliar os programas de reaproveitamento de resíduos e reciclagem de descartáveis, envolvendo fortemente o setor público nessas iniciativas.

Fomentar as atividades de pesquisa e de desenvolvimento de programas que tenham por finalidade a melhoria da eficiência energética, a redução do uso de combustíveis fósseis bem como da geração de resíduos, contribuindo para a melhoria das condições ambientais da cidade.

Fomentar os programas e as ações dos agentes econômicos públicos e privados que promovam a utilização ótima do ambiente construído, revitalizando as cidades e contribuindo para a geração de empregos e para a ampliação das receitas municipais.

Fomentar a utilização de tecnologias urbanas sustentáveis.

Rever a regulação da concessão da exploração e da operação dos equipamentos e dos serviços públicos urbanos, assegurando a sustentabilidade da cidade por meio da adoção de critérios ambientais e de eqüidade nas licitações e nos contratos.

PROPOSTASPROPOSTA 3.1

115

Intervir nos processos de produção e de consumo da cidade que possam afetar a sustentabilidade urbana, com base na adoção de indicadores quantitativos e qualitativos capazes de orientar as estratégias de desenvolvimento nacional e local, e na sistematização de dados e de Padrões ambientais básicos para o planejamento e a gestão, tais como os referentes à potabilidade e à qualidade da água para abastecimento público, à qualidade do ar, aos limites de decibéis toleráveis em zonas urbanas, entre outros.

AÇÕES RECOMENDADAS• Adotar nos processos de planejamento e de gestão urbanos padrões

ambientais condizentes com os objetivos de sustentabilidade da cidade e compatíveis com a situação urbana e ambiental local.

• Promover o desenvolvimento e/ou o aperfeiçoamento das normas técnicas, dos padrões e dos indicadores ambientais existentes, tornando-os disponíveis aos municípios por meio de bancos de dados de fácil acesso.

• Fomentar a capacitação dos quadros técnicos e gerenciais dos municípios para a correta utilização dos indicadores ambientais no processo de planejamento e de gestão.

• Promover a democratização da informação para a tomada de decisão e a formação da opinião pública por meio da publicização regular e sistemática de dados relativos à qualidade das condições ambientais e dos serviços prestados à população (accountability).

ÂMBITO Local, estadual e nacional, quando couber

PRAZO Imediato e curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos e gerenciais dos governos municipais e estaduais capacitados para entender e utilizar as informações ambientais disponíveis.

• Órgãos municipais, da administração direta ou indireta, capacitados para traduzir os indicadores ambientais e as normas técnicas em ações concretas de planejamento e de gestão da cidade.

Recursos científicos e tecnológicos

• Tecnologias de informação que facilitem o acesso aos sistemas de informações ambientais disponíveis.

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• Cartas geográficas digitalizadas que identifiquem no território do município as áreas de proteção ambiental, as de risco e as sujeitas à degradação ambiental.

Recursos financeiros

• Do Orçamento Geral da União, dos estados e dos municípios.

• Dos programas e dos fundos ambientais geridos pelo Ministério do Meio Ambiente, estados e municípios.

• ‘Casados’ (match-funds) de organismos governamentais e não-governamentais; dos organismos governamentais com bancos de desenvolvimento nacionais, bilaterais e/ou multilaterais.

• Dos programas federais de saneamento ambiental, geridos pela Caixa Econômica Federal.

PROPOSTA 3.2Alterar os padrões atuais de produção, emissão e despejo de poluentes de

origem industrial no ambiente urbano, modernizando os instrumentos técnicos, legais e financeiros que regulam o setor.

AÇÕES RECOMENDADAS• Desenvolver e implementar novos instrumentos econômicos e mecanismos

financeiros diversificados que possam ser empregados a curto e médio prazos como formas de incentivo à gestão ambiental eficiente por parte dos setores industrial e comercial, conforme detalhado na Estratégia 4.

• Modernizar e tornar ágil o aparato técnico-legal que disciplina as renovações de licenciamento de empreendimentos industriais e comerciais em áreas urbanas, adotando mecanismos inovadores como o ‘ajuste de conduta’ e outros que visam a obter resultados concretos na melhoria da performance ambiental das empresas.

• Estabelecer de comum acordo (setor empresarial e setor público) um plantel de tecnologias recomendadas consideradas brandas, ‘limpas’ ou apropriadas, disponíveis, voltadas para a melhoria dos processos industriais (redução de matéria-prima, de energia e de rejeitos). Facilitar a adoção dessas tecnologias por meio de mecanismos de crédito nos bancos e nas agências de desenvolvimento oficiais e privados.

• Incentivar programas de qualidade total nas indústrias, no comércio e no setor público.

• Criar sistemas de premiação nacionais e locais e mecanismos de compensação financeira para incentivar a adoção, por parte das indústrias e do comércio, de sistemas de auto-avaliação da sua performance ambiental (auditorias periódicas, avaliações de impacto ambiental dos produtos, de segurança da comunidade e de risco do trabalhador).

117

• Fortalecer o desenvolvimento institucional dos organismos de controle social sobre os processos econômicos de desenvolvimento sustentável nacionais e locais, tais como os conselhos de meio ambiente, as comissões de desenvolvimento, os conselhos de cidades e outros afins, municiando-os de informação e de instrumentos técnico-legais compatíveis com os objetivos do desenvolvimento urbano sustentável.

ÂMBITO Federal, estadual e municipal

PRAZO Médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Gestores, técnicos e líderes de associações, devidamente capacitados, sistemas e instituições envolvidos na implementação, incluindo as centrais sindicais de trabalhadores e as associações empresariais. Conselho Nacional de Meio Ambiente-CONAMA; Comissão Nacional de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável; Sistema Nacional de Meio Ambiente-SISNAMA; ministérios do Meio Ambiente e da Indústria e Comércio; secretarias estaduais e municipais de meio ambiente, da indústria e do comércio; conselhos estaduais e municipais de meio ambiente e/ou de desenvolvimento.

Recursos científicos e tecnológicos

• Tecnologias brandas ou limpas disponíveis, preferencialmente aquelas de maior durabilidade e de menor custo (implantação, manutenção e reposição).

Recursos financeiros

• Linhas de financiamento específicas dos bancos e das agências de desenvolvimento (CEF,BB, BNDES, Banco do Nordeste).

• Orçamentários da União alocados nos ministérios do Meio Ambiente (MMA), da Indústria e Comércio (MDI) e da Ciência e Tecnologia (MCT).

• Aportes adicionais de fundos constituídos com a contribuição empresarial e da cooperação internacional.

PROPOSTA 3.3

118

Incluir critérios ambientais nas normas de financiamento governamental voltadas para a infra-estrutura urbana, especialmente nos setores de saneamento, transportes e sistema viário; estender gradativamente esses critérios para financiamentos de novos empreendimentos econômicos privados com participação do setor público.

AÇÕES RECOMENDADAS• Promover a inclusão de critérios ambientais na concessão dos financiamentos

destinados à criação e à manutenção da infra-estrutura urbana, sejam os recursos originários do Orçamento Geral da União ou de fundos específicos. Desenvolver medidas complementares para envolver também os fundos privados.

• Promover a revisão e/ou o aperfeiçoamento das normas e dos critérios para a concessão de financiamentos de novos empreendimentos econômicos ao setor privado, envolvendo prioritariamente o BNDES, a CEF, o Banco do Brasil e os bancos estaduais, bem como as agências financiadoras internacionais.

• Garantir a adoção de critérios e parâmetros ambientais nos casos de concessão de serviços públicos urbanos pelos estados e municípios, promovendo a sua inclusão nos editais licitatórios e nos contratos.

ÂMBITONacional, estadual e municipal

PRAZO Imediato

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Deverão ser desenvolvidos esforços de maneira a capacitar os corpos técnicos das agências financiadoras ou definidoras das políticas para incorporação da estratégia específica.

• Amplo trabalho de divulgação e disseminação desses critérios deve ser realizado com as unidades de defesa do consumidor, conselhos municipais, ONGs e organismos empresariais e da sociedade civil, de forma a transformá-los em parceiros na fiscalização da aplicação desses critérios.

Recursos financeiros

119

• Não são necessários quaisquer recursos financeiros adicionais, já que se trata de inserir critérios nas linhas de financiamento e nos procedimentos já existentes.

PROPOSTA 3.4Incluir nas práticas de auditoria do setor público avaliações periódicas sobre o

desempenho ambiental de órgãos e autarquias, monitorando a aplicação de critérios condizentes com os princípios e os objetivos do desenvolvimento sustentável na aquisição de bens, serviços e equipamentos como uma forma demonstrativa e indutora de comportamento ecocompatível.

AÇÕES RECOMENDADAS• Incentivar a adoção de programas de qualidade ambiental e de qualidade

total nos órgãos do setor público, nos três níveis de governo.

• Criar, à semelhança do cadastro dos inadimplentes com o Fisco (existente), um cadastro nacional de fornecedores de produtos e serviços ambientalmente adequados, implementando um sistema de credenciamento simples e mediante padrões preestabelecidos por uma comissão mista (governo e sociedade), nos três níveis de governo.

• Orientar, técnica e gerencialmente, o setor de compras da administração direta e indireta para a aquisição de bens e de serviços que apresentem um perfil ambiental adequado.

• Indexação de bens e de produtos a serem utilizados nas atividades e nos programas do setor público de acordo com os índices de impacto ao meio ambiente e à saúde humana, por meio da análise da composição e do ciclo de vida, a ser realizada por universidades e centros de pesquisa especialmente credenciados.

• Incentivar a adoção de práticas e de programas de tipo ‘três erres’ (reduzir, reutilizar e reciclar) em todos os órgãos da administração direta e indireta, com ênfase especial no uso sustentável de energia e de materiais.

ÂMBITONacional, estadual e local

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

120

Recursos humanos e institucionais

• Técnicos e gestores capacitados dos departamentos de recursos humanos, de compras e administrativo dos órgãos da Administração direta e indireta. Conselho Nacional do Meio Ambiente; Conselho Nacional de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável; Ministério da Reforma Administrativa-MARE; secretarias estaduais e municipais de meio ambiente e administração.

Recursos científicos e tecnológicos

• Adaptação de metodologias empresariais gerenciais voltadas para a qualidade ambiental e a qualidade total às especificidades do setor público.

Recursos financeiros

• Do orçamento das atividades de custeio (três níveis); do Fundo de Amparo ao Trabalhador-FAT; de agências de fomento como CNPq (Programa RHAE); FINEP; recursos adicionais dos parceiros institucionais envolvidos (institutos e universidades).

PROPOSTA 3.5Reduzir o consumo de energia nas cidades a partir de programas de

racionalização do uso do solo urbano, promovendo intervenções e projetos arquitetônicos que priorizem a obtenção de conforto e a funcionalidade com o mínimo investimento energético e o máximo aproveitamento dos recursos climático-ambientais locais.

AÇÕES RECOMENDADAS• Adequar as normas urbanísticas e edilícias às perspectivas estratégicas de

economia de energia, considerando as orientações do PROCEL-Eletrobrás para Cidades Eficientes e Códigos de Obras.

• Organizar o espaço urbano tendo como estratégia a redução do consumo de combustíveis fósseis.

• Relacionar e observar as ações anteriores na implementação de novos programas, projetos e investimentos públicos urbanos, especialmente nos setores de transporte e de saneamento, adequando-os às exigências ambientais e de eqüidade.

ÂMBITO Local

PRAZO

121

Médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Equipes técnicas das prefeituras, com necessidade de capacitação pelos governos federal e estaduais, a partir dos manuais e das orientações do PROCEL.

Recursos financeiros

• Locais, públicos e privados (concessionárias de serviços urbanos – transporte e saneamento), maximizando os investimentos em soluções energeticamente adequadas, cuja economia futura reverta para cobrir os investimentos realizados; linhas de financiamento associadas ao PROCEL, recursos próprios dos investidores na construção civil, pela utilização das soluções energeticamente adequadas.

PROPOSTA 3.6Promover a alteração dos padrões de produção e de consumo da habitação,

modernizando normas técnicas e introduzindo critérios ecocompatíveis de projeto à construção de conjuntos habitacionais, para reduzir custos e desperdícios de matérias-primas, recursos naturais e outros não-econômicos, diminuindo investimento em manutenção e aumentando o bem-estar dos moradores.

AÇÕES RECOMENDADAS

· Desenvolver e aperfeiçoar normas técnicas e procedimentos de avaliação e de monitoramento ambiental dos projetos habitacionais das novas áreas de urbanização, especialmente aquelas onde tendem a ocorrer assentamentos espontâneos; envolver, sempre que possível, a população local na discussão sobre as opções em pauta.

· Assegurar alternativas habitacionais para a relocação de população que habita áreas de risco ou ambientalmente vulneráveis, a qual deve ser esclarecida sobre a necessidade da intervenção pública, participando das decisões que afetam a sua segurança e o seu bem-estar.

· Promover junto às universidades e às entidades de classe (arquitetos, urbanistas, engenheiros e técnicos que atuam na área habitacional) programas de esclarecimento e de formação sobre como adequar projetos e

122

edificações já existentes às exigências do desenvolvimento urbano sustentável.

· Disseminar para todos os agentes de fomento, de promoção e de construção habitacional - públicos, empresariais e sociais - os procedimentos e as diretrizes do PROCEL, estimulando a adoção de tecnologias que contribuam para a conservação da energia elétrica.

· Selecionar e divulgar as tecnologias de reutilização e de reciclagem de subprodutos já testadas em experiências habitacionais locais, fortalecendo a parceria do setor produtivo com as instituições privadas e governamentais de pesquisa, desenvolvimento e fomento tecnológico.

· Ampliar a disseminação e o alcance do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade da Construção Habitacional e de outras iniciativas semelhantes.

ÂMBITO Local e regional/metropolitano/estadual

PRAZO Imediato e curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos governos municipais e estaduais com assessoria técnica de universidades, associações ou entidades profissionais e organizações não-governamentais; líderes comunitários e técnicos de organizações não-governamentais que atuam no desenvolvimento urbano.

Recursos científicos e tecnológicos

• Articular órgãos de pesquisa, associações profissionais e agentes promotores e executores, tais como o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade da Construção Habitacional (SEPURB/ITQC e IPT).

Recursos financeiros

• Orçamentários da União, dos estados e dos municípios.

• Associados ao PROCEL.

• De agências federais e estaduais de fomento à pesquisa como FINEP, CNPq, FAPESP, FAPERJ, FAPEMIG, etc.

123

• Financiamentos externos de agências bi e multilaterais e de organismos internacionais de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.

• ‘Casados’ (match-funds) governamentais e não-governamentais, especialmente no que diz respeito a programas conjuntos entre governo e universidades, organizações profissionais e governo, etc.

PROPOSTA 3.7Estabelecer política para educação ambiental e sanitária utilizando processos

pedagógicos continuados e rotinizados, para desenvolver hábitos e comportamentos que preservem a integridade, o bom funcionamento e a manutenção das edificações, dos equipamentos e das áreas de uso coletivo nas cidades.

AÇÕES RECOMENDADAS• Promover o envolvimento de educadores e a inclusão obrigatória do

componente educação nos projetos do setor público de construção e de recuperação da infra-estrutura urbana, dos conjuntos habitacionais e demais áreas de uso coletivo.

• Ampliar as linhas de financiamento para projetos de revitalização de áreas habitadas por população de baixa renda, prevendo a iniciativa e o envolvimento da comunidade em reformas, restaurações e melhorias habitacionais a serem efetuadas.

• Ampliar os programas de capacitação do corpo docente das redes escolares públicas nos conteúdos básicos de educação ambiental e de educação para a cidadania, fortalecendo as iniciativas que buscam efetivar esses mesmos conteúdos no currículo básico da educação fundamental em todo o país.

• Estimular o debate e a divulgação sistemática de informações sobre as questões ambientais e de qualidade de vida local nas reuniões/comissões de pais e professores.

• Rotinizar o acompanhamento e o monitoramento de conjuntos e áreas urbanizadas em programas e projetos de larga escala como parte da ação do Poder Público local, por meio de parceria com comissões de representações comunitárias, ONGs ou equipes terceirizadas.

ÂMBITO Local, regional/metropolitano/estadual

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

124

Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos estados e dos municípios, com destaque para secretarias e órgãos educacionais estaduais e municipais, em parceria com ONGs e redes com capacitação na área da habitação e da cidadania. líderes comunitários, de ONGs e do setor empresarial.

Recursos financeiros

• Dos orçamentos gerais dos estados e dos municípios.

• De financiamentos externos de agências bi e multilaterais.

• Do setor privado mediante parcerias ou programas tipo ‘Adote uma praça’, uma escola, uma rua, etc.

PROPOSTA 3.8Melhorar os padrões de uso e de gestão dos recursos hídricos destinados ao

abastecimento das cidades, buscando menor custo e maior qualidade da água oferecida à população.

AÇÕES RECOMENDADAS• Adotar, como recomenda a nova Lei dos Recursos Hídricos, a bacia

hidrográfica como unidade de gestão territorial, disciplinando as atividades econômicas e urbanas para proteger e a ampliar as reservas hídricas existentes, com especial atenção às águas subterrâneas.

• Implementar os novos mecanismos e instrumentos que a mesma lei prevê e que visam à gestão integrada e participativa dos recursos hídricos, tais como os comitês intermunicipais de gestão das bacias hidrográficas e as agências regionais de água.

• Criar e manter sistemas públicos de informação e de monitoramento permanentes sobre reservas e qualidade da água acessíveis à população.

• Aperfeiçoar a política tarifária sobre o uso da água, diferenciando o consumo industrial do consumo familiar.

• Criar novas fontes de recursos para proteção e recuperação de rios, córregos e lagoas que apresentem quadro ambiental crítico.

• Desenvolver metodologias e programas educacionais que visem a informar e a educar a população quanto ao consumo sustentável da água.

ÂMBITO Nacional, estadual e local

PRAZO

125

Médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Capacitar técnicos e gestores dos sistemas nacional (Secretaria Nacional de Recursos Hídricos/MMA), estadual e municipal de meio ambiente bem como membros e representantes da sociedade civil integrantes dos conselhos estaduais e municipais de meio ambiente e/ou dos Conselhos e/ou fóruns de desenvolvimento local.

Recursos científicos e tecnológicos

• Sistemas de georreferenciamento de informação existentes, de preferência por meio de convênio com universidades e centros de pesquisa.

• Utilizar as tecnologias de baixo custo já existentes para uso e controle da água.

• Credenciar universidades e agências autônomas para monitoramento.

Recursos financeiros

• Da União destinados à Secretaria Nacional de Recursos Hídricos.

• Internacionais das agências bi e multilaterais (BID, BIRD, União Européia, cooperação francesa, alemã, canadense, etc.).

• Orçamentários dos estados alocados nas secretarias estaduais de meio ambiente e de obras e saneamento.

• Orçamentários dos municípios.

• Adicionais, que podem ser criados e disponibilizados por meio dos fundos estaduais e municipais que estão sendo implantados e cuja receita provém de multas ambientais ou incentivos fiscais dados à indústria.

• Há, ainda, a possibilidade de criar fundos comunitários para ações emergenciais.

PROPOSTA 3.9Apoiar programas de redução do volume de perdas dos sistemas de

saneamento, qualquer que seja o agente operador (público ou privado), favorecendo o redirecionamento de recursos economizados para outras áreas prioritárias, como saúde, educação e moradia.

AÇÕES RECOMENDADAS

126

• Implantar medidas de eficiência energética na adoção de alternativas tecnológicas e na operação/manutenção do sistema de tratamento de água, esgoto e resíduos sólidos.

• Reestruturar a política tarifária do setor com base no princípio do usuário-pagador.

• Modernizar e realizar ajustes nas concepções dos sistemas de esgotamento sanitário às bacias drenadas da área, objetivando reduzir o número de estações elevatórias.

• Promover a adequação dos novos projetos de saneamento ambiental por meio de medidas que visam a dar maior racionalidade e eficiência ao sistema, tais como: setorização máxima; estudo prévio para contratar o fornecimento de energia elétrica; emprego de materiais e de equipamentos adequados, segundo normas técnicas apropriadas às características regionais; estabelecimento de procedimentos operacionais e monitoramento permanente.

• Dar continuidade a programas exemplares e ampliá-los, sejam do setor público ou privado, visando a reduzir custos e desperdícios no setor.

• Fortalecer os vínculos institucionais e programáticos dos setores saúde e saneamento, na promoção de programas e de ações conjuntos, como observado no programa de erradicação do Aeds egyptis.

• Adequar as normas de construção civil aos princípios do uso racional e da economia de água (instalações hidráulico-sanitárias domiciliares).

ÂMBITO Local e/ou estadual

PRAZO Médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos das agências operadoras e dos governos municipais e estaduais. Líderes de organizações civis e comunitárias. Organizações profissionais ligadas à construção civil.

Recursos científicos e tecnológicos

• Já existe no mercado tanto nacional como internacional um amplo plantel de tecnologias de saneamento que buscam combater as principais deseconomias do setor. Universidades e centros de pesquisa devem ser envolvidos na

127

promoção de programas que visam a ampliar o leque de soluções não-convencionais.

Recursos financeiros

• Receita tarifária.

• Adicionais resultantes de iniciativas como: reestruturação da política tarifária e da engenharia institucional dos serviços; antecipação de receitas (consumidores fazem o pagamento total ou parcial da conta antes do consumo); abertura de capital nas empresas de economia mista; imposto de contribuição de melhoria e fundos temporários custeados pela população usuária para investimentos específicos.

PROPOSTA 3.10Instituir política nacional de gestão dos resíduos sólidos por meio de lei que

regule a matéria, definindo os padrões mínimos nacionais para geração, coleta, acondicionamento, armazenamento, transporte, transbordo, tratamento e disposição final.

AÇÕES RECOMENDADAS• Dar visibilidade e ampliar a esfera de participação nos programas em fase de

formulação e de implementação pelo governo federal para a subsidiar e a definir os parâmetros da política nacional de resíduos sólidos, como: Política de Gestão de Resíduos Sólidos/MMA; Programa Brasileiro de Reciclagem/MDI; Programa Nacional de Municipalização do Turismo/EMBRATUR.

• Levar em consideração, na formulação da política, as recomendações das convenções internacionais e, em especial, as questões apontadas pela Agenda 21 no que tange ao problema dos resíduos sólidos perigosos (tóxicos, radioativos, etc).

• Recomendar, na formulação da política, que os estados e os municípios considerem em suas ações de ordenamento do território as demarcações prévias das áreas destinadas à disposição dos resíduos sólidos, especialmente aqueles de natureza perigosa (tóxicos, radioativos, etc.).

• Recomendar, como ocorre com a Lei Nacional dos Recursos Hídricos, as ações integradas e os consórcios intermunicipais para o gerenciamento de resíduos sólidos.

• Realizar esforços para estabelecer uma sistemática para apurar custos e preços da coleta de lixo, estabelecendo formas de recuperação dos investimentos feitos.

128

• Estabelecer mecanismos de transparência e controle social sobre os contratos de terceirização dos serviços de coleta, bem como mecanismos eficientes de monitoramento da qualidade e dos procedimentos utilizados pelas empresas do setor.

• Promover a implantação de sistemas de monitoramento ambiental na indústria, por setores críticos e prioritários, especialmente no que diz respeito à geração e à disposição de resíduos sólidos, com participação de sindicatos patronais e de trabalhadores, associações e federações de indústrias.

• Avaliar criticamente - no que se refere à tomada de decisão e à definição de linhas de financiamento - a instalação de usinas de incineração como solução única para o problema de resíduos de unidades de saúde.

• Reformular, com a finalidade de ampliar, fortalecer e dar maior visibilidade, os programas de bolsa de resíduos existentes em diversas federações de indústrias.

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos da União e dos governos municipais; pesquisadores e outros quadros de universidades e institutos de pesquisa; professores; líderes empresariais, líderes e técnicos de organismos não-governamentais que atuam diretamente com a questão dos resíduos sólidos, reciclagem, consumo, etc.

Recursos científicos e tecnológicos

• Divulgar, em larga escala, as tecnologias de gestão dos resíduos sólidos já existentes e que se expressam nas iniciativas de várias universidades brasileiras (UnB, FFRGS e PUC/PR, entre outras) e de organismos empresariais como o Compromisso Empresarial para a Reciclagem - CEMPRE, que estão desenvolvendo sistemas de avaliação técnica, de gestão, etc. Cooperação técnico-científica com países que têm soluções avançadas no controle sobre a geração e a gestão do lixo urbano.

Recursos financeiros

• Do Orçamento Geral da União, dos estados e dos municípios.

• Financiamentos internacionais (agências multilaterais, fundações, cooperação entre países); recursos privados provenientes de parcerias com o setor empresarial, fundações privadas, etc.; bancos de desenvolvimento (CEF, BNDES, Banco do Nordeste, etc.); agências de fomento à pesquisa (CNPq, FINEP e as estaduais).

PROPOSTA 3.11

129

Reduzir significativamente a quantidade de lixo (resíduos sólidos) produzida nas cidades, levando o setor produtivo e a população a desperdiçarem menos, consumirem somente o necessário e reutilizarem materiais que são jogados fora.

AÇÕES RECOMENDADAS

• Promover a ampliação de programas de reciclagem, mediante parcerias com ONGs, universidades, setor empresarial e os meios de comunicação nacionais e locais, difundindo práticas diversificadas que possam ser adotadas tanto no espaço doméstico como em empresas, escolas, bairros e ruas.

• Incentivar iniciativas empresariais ou comunitárias que objetivem a utilizar resíduos e reciclados como insumo ou matéria-prima (construção civil, agricultura, indústria têxtil, movelaria etc.).

• Incentivar práticas de gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos no âmbito dos municípios (principalmente dos setores de saneamento, meio ambiente e saúde), difundindo e premiando aquelas que apresentem redução na geração de lixo e diminuição de doenças e ocorrências ligadas à saúde pública.

• Fortalecer e ampliar as parcerias entre órgãos e instâncias do próprio governo - entre os vários níveis, no sentido horizontal e vertical - e não-governamentais (setor privado, organizações civis) que permitam otimizar a gestão dos resíduos sólidos e fixar o princípios da co-responsabilidade.

• Incentivar a instalação, no âmbito dos municípios, de unidades de reciclagem administradas por associações comunitárias e/ou de catadores, gerando emprego para a população de baixa renda e fortalecendo a gestão participativa.

• Promover ampla campanha com empresários e consumidores, com o objetivo de iniciar programas que visem a eliminar as embalagens que não são biodegradáveis, melhorar o mercado de reutilizáveis ou recicláveis e instituir práticas de resgate dos resíduos tóxicos ou perigosos na sua origem.

• Investir no desenvolvimento de redes de pesquisa voltadas para minimização, reutilização e reciclagem de resíduos.

• Articular iniciativas e órgãos do setor educação para a implementação conjunta de programas que visem a tematizar o consumo e a conscientizar a população, sobretudo crianças e jovens, sobre a necessidade do consumo responsável (responsabilidade social e ecológica).

• Fortalecer e ampliar a rede de órgãos de defesa do consumidor, orientando-a para atuar na problemática do consumo sustentável.

ÂMBITO

130

Nacional, em estreita articulação com o local

PRAZO Médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos da União e dos governos municipais; pesquisadores e outros quadros de universidades e institutos de pesquisa; professores; líderes empresariais, líderes e técnicos de organismos não-governamentais que atuam diretamente com a questão dos resíduos sólidos, reciclagem, consumo etc.

Recursos científicos e tecnológicos

• Divulgar, em larga escala, as tecnologias de gestão dos resíduos sólidos existentes e que se expressam nas iniciativas de várias universidades brasileiras (UnB, FFRGS e PUC/PR, entre outras) e de organismos empresariais como o Compromisso Empresarial para a Reciclagem - CEMPRE, que estão desenvolvendo sistemas de avaliação técnica, de gestão etc. Cooperação técnico-científica com países que têm soluções avançadas no controle sobre a geração e a gestão do lixo urbano.

Recursos financeiros

• Do Orçamento Geral da União, dos estados e dos municípios.

• Financiamentos internacionais (agências multilaterais, fundações, cooperação entre países); recursos privados provenientes de parcerias com o setor empresarial, fundações privadas etc.; bancos de desenvolvimento (CEF, BNDES, Banco do Nordeste, etc.); agências de fomento à pesquisa (CNPq, FINEP e as estaduais).

PROPOSTA 3.12Combater as deseconomias e os agravos ambientais causados pela baixa

eficiência operacional nos sistemas de transporte e trânsito nas cidades, reduzindo o desperdício de energia e tempo, melhorando a qualidade do ar, além de contribuir simultaneamente para a redução do uso de combustíveis fósseis e do efeito estufa.

AÇÕES RECOMENDADAS• Racionalizar a produção e a operação dos sistemas de transporte coletivo,

contribuindo para o ordenamento do tráfego e a maior eficiência na circulação.

131

• Apoiar programas estaduais e municipais relacionados com a qualidade física e a segurança dos sistemas viários em geral.

• Priorizar o transporte coletivo e disciplinar o uso do automóvel particular mediante restrições legais e experiências de adesão voluntária, tais como as expressas em programas como o rodízio de automóveis e o ‘transporte solidário’;

• Implantar programas de inspeção de emissão veicular, definindo limites de emissão e outras normas técnicas, como a obrigatoriedade da regulagem dos motores e o uso de catalisadores.

• Incentivar estados e municípios a adquirirem frotas de veículos menos poluentes e com maior eficiência energética, criando nos bancos públicos e privados linhas especiais de crédito.

• Incentivar e ampliar programas estaduais e municipais que visam a aumentar a participação dos combustíveis menos poluentes, como gás, álcool e eletricidade, nos meios de transporte.

• Promover campanhas educativas e programas que vinculem os efeitos positivos à saúde com a diminuição da emissão de gases oriundos da queima dos combustíveis fósseis, premiando e divulgando as iniciativas bem-sucedidas de redução desses efeitos.

• Apoiar ações e programas estaduais e municipais que têm a finalidade de contribuir para a temática específica do efeito estufa e do aquecimento global, fortalecendo os elos entre as iniciativas locais e os compromissos globais da Agenda 21, tal como vem acontecendo no contexto de programas como ‘Cidades saudáveis’.

ÂMBITOLocal, estadual, regional e municipal

PRAZO Imediato para a implantação de sistemas de controle e de definição de

parâmetros; curto e médio para as demais ações.

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO Recursos humanos e institucionais

• Equipes técnicas municipais e estaduais especializadas. Líderes de ONGs e comunitários. Empresários, especialmente os da indústria automotiva e operadores dos meios de comunicação. Profissionais da saúde e da educação.

Recursos científicos e tecnológicos

132

• Das universidades, centros de pesquisa e empresas para o desenvolvimento de veículos mais adequados à realidade brasileira e às novas exigências ambientais e de segurança. Novas tecnologias de operação e controle de tráfego; consultoria técnica internacional de organismos/cidades que têm experiência bem-sucedida de racionalização do trânsito.

Recursos financeiros

• Do Orçamento Geral da União, especialmente aqueles alocados nos Ministérios do Transporte, Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente; BNDES, BIRD, BID, FINEP, multas previstas no Código Brasileiro de Trânsito, orçamentos municipal e estadual. Parceria financeira com indústrias e bancos/agências de desenvolvimento públicos e privados.

PROPOSTA 3.13Promover a integração entre políticas agrícolas e ambientais nos planos

nacional, regional e local, sem comprometer as especificidades culturais das populações, por meio dos chamados pactos territoriais.

AÇÕES RECOMENDADAS

• Prover as comunidades rurais de infra-estrutura e de serviços básicos.

• Criar incentivos para estimular o setor privado a investir em produtos que gerem valor agregado, especialmente produzidos por agroindústrias de pequeno e médio portes, visando ao mercado nas áreas urbanas.

• Controlar o uso de insumos químicos e estimular a agricultura orgânica.

• Fortalecer a agricultura familiar e o Programa Nacional de Assentamentos Rurais, incluindo os assentamentos dentro dos planos de desenvolvimento regional.

• Ampliar o controle dos órgãos públicos sobre as tomadas de água, erosão dos solos, uso inadequado de agrotóxicos, despejos de dejetos de animais nos cursos d’água, águas utilizadas para irrigação, preservação das matas ciliares e de topos de morros.

ÂMBITO Federal, estadual e municipal

PRAZO Curto e médio

133

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Considerar o capital social e cultural das comunidades.

• Envolver, além dos organismos governamentais, as organizações de produtores e o MST.

• Programas de educação e treinamento direcionados à profissionalização para empregos diferenciados e uso apropriado de tecnologias e insumos agrícolas dirigidos a associações de produtores, grupos de mulheres e jovens etc.

Recursos financeiros

• Do Orçamento da União e linhas de financiamento e dos orçamentos estaduais nos diversos ministérios e secretarias voltados para habitação, saneamento (água potável e esgotamento sanitário), eletrificação rural, educação e infra-estrutura comunitárias produtivas, direcionando-os para os assentamentos rurais.

PROPOSTA 3.14Incentivar a geração de empregos não-agrícolas no meio rural, tendo como

perspectiva a complementaridade e a integração estratégica de funções e atividades econômicas.

AÇÕES RECOMENDADAS• Estimular atividades não-agrícolas, como hotéis-fazenda, turismo rural ou

ecoturismo.

• Implementar a infra-estrutura nos núcleos rurais e/ou o desenvolvimento de pequenas cidades como pólos de atração populacionais.

• Incentivar os produtores para procura de novos mercados para os produtos agrícolas, incorporando atividades de transformação desses produtos.

• Apoiar a criação e a ampliação de cooperativas de produtores, incorporando novos processos e técnicas de transformação e comercialização de produtos.

• Criar distritos industriais sustentáveis nas periferias urbanas ou no meio rural.

ÂMBITO Estadual, regional e municipal

PRAZO Curto e médio

134

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Articular redes de ONGs conectadas com órgãos internacionais voltados para o mercado solidário, setores privados da indústria turística, SEBRAE, associações de municípios, EMBRATUR, secretarias de agricultura e meio ambiente, cooperativas.

Recursos financeiros

• BNDES e fundo de incentivo à indústria e ao turismo, ONGs e setor privado ligados ao turismo.

PROPOSTA 3.15Estímulo à agricultura urbana, vista como atividade importante para o combate

à pobreza urbana, associada a atividades de educação ambiental.

AÇÕES RECOMENDADAS• Incentivar a criação de hortas escolares e domiciliares.

• Associar programas comunitários à gestão do solo urbano como incentivo tributário à ocupação ou à cessão de lotes e glebas vagas a famílias ou grupos para produção de hortifrutigranjeiros.

• Criar/manter/ampliar horto municipal, associando atividades de arborização urbana e redução de áreas impermeabilizadas nos terrenos públicos e privados.

• Controlar a prática de utilização de águas contaminadas por coliformes para irrigação das hortas urbanas.

• Garantir a compra de produtos associando-a a programas de abastecimento alimentar escolar e outros.

• Buscar parcerias público/privada/comunitária e difundir as experiências.

ÂMBITO Municipal/metropolitano

PRAZOImediato

135

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Secretarias municipais de ação social, articuladas aos setores de planejamento, uso do solo, meio ambiente, fazenda e outros órgãos relevantes, além de cooperativas e grupos comunitários.

Recursos financeiros

• Dos orçamentos municipais, incentivos tributários para uso de glebas, recuperação de parte dos recursos nos programas de merenda escolar ou alimentação específica.

Meios de implementação

Recursos humanos e institucionais

• Articular redes de ONGs conectadas com órgãos internacionais voltados para o mercado solidário, setores privados da indústria turística, SEBRAE, associação de municípios, EMBRATUR, secretarias de agricultura e meio ambiente, cooperativas.

Recursos financeiros

•BNDES e Fundo de Incentivo à Indústria e ao Turismo, ONGs e setor privado ligado ao turismo.

136

ESTRATÉGIA 4

Instrumentos econômicos - Desenvolver e estimular a aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos recursos naturais visando à sustentabilidade urbana.

DIRETRIZES Regular o acesso à base natural de recursos, desestimulando a

utilização predatória dos recursos naturais e a poluição ambiental urbana.

Adotar incentivos fiscais, federais e estaduais com a finalidade de regulamentar a utilização dos recursos naturais na produção de bens e serviços urbanos, eliminando, por outro lado, os incentivos perversos que contribuem para formas insustentáveis de produção e consumo da cidade.

Incorporar os instrumentos econômicos de controle ambiental ao sistema tributário nacional.

Apoiar as iniciativas e as ações empresariais destinadas a adaptar seus processos e produtos às restrições ambientais de acesso aos mercados externos.

Apoiar a capacitação dos agentes públicos no manejo de instrumentos econômicos de controle ambiental e no monitoramento de seus impactos econômicos e ambientais.

Fomentar estudos e pesquisas que contribuam para ampliar o conhecimento disponível sobre as relações entre economia e meio ambiente.

PROPOSTASPROPOSTA 4.1Promover o uso eqüitativo dos recursos ambientais por meio da cobrança pelo

seu uso, de maneira a reduzir o comprometimento dos orçamentos governamentais e permitir seu direcionamento para ações redistributivas.

AÇÕES RECOMENDADAS

137

• Operacionalização da aplicação dos instrumentos econômicos, nas três esferas de governo, mediante a análise das políticas, seus objetivos e instrumentos de comando e de controle e definição dos instrumentos adequados. Os instrumentos econômicos podem ser taxas, cobrança pela entrada, depósito-retorno, cobrança pelo uso dos recursos hídricos e ambientais (princípios usuário-pagador e poluidor-pagador), imposto sobre poluentes, direito de uso comercializável ou certificados comercializáveis de poluição. O instrumento não é um fim em si mesmo, mas objetiva a geração de receita, devendo servir também a políticas corretivas.

• Remoção dos instrumentos fiscais distorcidos, visto que instrumentos fiscais setoriais têm objetivos próprios e que subsídios ou impostos sobre determinada atividade econômica podem incentivar o sobreuso de um recurso natural, com efeitos contrários ao desejado.

• Consolidar e codificar a legislação ambiental, criando espaço legal para a adoção dos instrumentos econômicos.

• Incluir esses instrumentos no sistema tributário brasileiro.

ÂMBITO Nacional, estadual e local

PRAZO Curto e médio

MEIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Capacitação nos órgãos estaduais, nas agências regionais de bacias e nas prefeituras para análise de custo-benefício ambiental, financeira e social das proposições e do impacto do uso dos IE, com base em indicadores ambientais, identificação clara das causas e origens da poluição e da exaustão, estimativa dos custos de controle e danos.

• Capacitação do Executivo e do Legislativo, em especial nos níveis estaduais e municipais, para inclusão dos IE na legislação e adequada aplicação dos mesmos.

Recursos científicos e tecnológicos

• Necessidade de cadastros atualizados (predial, territorial e/ou de usuários).

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• Necessidade de criação de sistemas estatísticos ambientais que definam indicadores físico-químicos que permitam avaliar o padrão de uso dos recursos ambientais associados a indicadores econômicos e sociais que avaliem sua inserção na economia real.

Recursos financeiros

• Os próprios IE asseguram os recursos para implementação da política, por meio da cobrança pelo benefício da qualidade ambiental. Os cidadãos pagam de acordo com os benefícios obtidos, sendo que para os mais pobres se devem prever exceções da cobrança (progressividade, uso gratuito, medidas compensatórias).

• Pode ser necessária dotação inicial de recursos, oriunda do orçamento, para implementação dos sistemas e cobrança dos IE.

PROPOSTA 4.2Promover o aperfeiçoamento do sistema tributário brasileiro nos três níveis de

governo visando à incorporação e à viabilização de instrumentos econômicos que promovam o uso sustentável dos recursos naturais e a adoção de princípios de extrafiscalidade que estimulem ações, empreendimentos e comportamentos sustentáveis dos agentes públicos e privados.

AÇÕES RECOMENDADAS

• Incentivar a implantação do ICMS Ecológico em todas as unidades da Federação (princípios não poluidor-recebedor e protetor-recebedor): redistribuição do ICMS com incentivos para municípios que investirem em saneamento ambiental e preservação ambiental (criação e manutenção de unidades de conservação ambiental – UC - e áreas de proteção ambiental – APAS).

• Criar incentivos econômicos para municípios que disponham de planejamento de uso e de ocupação do solo voltado para o controle de áreas de risco.

• Promover pesquisa e desenvolvimento de novos instrumentos semelhantes e de aplicabilidade imediata.

• Constituir um banco de práticas financeiras inovadoras voltadas para a melhoria das condições de vida e do ambiente das populações urbanas, difundindo-as amplamente.

• Promover e difundir estudos que comprovem os resultados positivos da aplicação desse tipo de incentivo na redução da degradação ambiental.

• Promover e difundir para os estados e os municípios estudos e técnicas de valoração dos recursos naturais e de contabilidade ambiental.

139

ÂMBITO Nacional, estadual e local

PRAZO Imediato e médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Necessidade de capacitação nos três níveis de governo para articular as áreas fazendárias e de política econômica com as de uso do solo e do meio ambiente.

Recursos financeiros

• Utilizar as próprias fontes do ICMS ou fundos ambientais criados especificamente.

PROPOSTA 4.3Promover o crescimento e a competitividade da indústria brasileira em

consonância com as restrições ambientais associadas ao comércio exterior e aos acordos globais via internalização dos custos ambientais.

AÇÕES RECOMENDADAS• Ampliar as ações de fomento para os produtores com recursos

governamentais acima do ofertado atualmente.

• Criar sistemas de premiação nos três níveis de governo e/ou mecanismos de compensação financeira para incentivar a adoção, por parte das indústrias, de sistemas de auto-avaliação da sua performance ambiental (auditorias periódicas, avaliações de impacto ambiental, de segurança e risco).

• Ampliar nos bancos oficiais as linhas de financiamento específicas para as indústrias que desejem modernizar seus equipamentos ambientais e de segurança.

• Elaborar estudos de acompanhamento de tendências internacionais de restrições ambientais externas.

• Institucionalizar o controle ambiental, o incentivo a programas de qualidade total nas indústrias e os processos de certificação para aquisição de selos internacionais de qualidade (como os da série ISO 14000).

140

• Gerar recursos e induzir medidas de controle mediante a criação de Fundo Ambiental da Indústria com base em impostos sobre a poluição, cuja receita seria aplicada no ajuste ambiental da indústria.

• Efetivar e ampliar a aplicação do Protocolo Verde que prevê a adoção de critérios ambientais na concessão de empréstimos ao setor privado para o estabelecimento de novos empreendimentos.

• Apoiar os setores de equipamento e de serviços para o desenvolvimento de tecnologias voltadas para a conservação do meio ambiente.

ÂMBITO Nacional e estadual

PRAZO Médio

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Os impostos seriam cobrados pelo fisco federal com base em emissões médias estimadas pelos órgãos ambientais e confirmadas pelo IBAMA. A centralização no órgão federal é necessária para evitar a guerra fiscal que se pode estabelecer caso os estados utilizem o imposto como instrumento de política de atração de plantas industriais.

• Instituir automonitoramento com controle por parte dos órgãos ambientais estaduais e pelo IBAMA. As alterações na carga fiscal, previamente estabelecidas, seriam realizadas com base nesses resultados de monitoramento.

• Capacitação direcionada para os órgãos ambientais estaduais ou as agências regionais de bacias, de maneira que tais organismos possam manter um quadro permanente de técnicos ambientais (engenheiros químicos, biólogos etc.) que atuem como avaliadores técnicos dos projetos apresentados aos bancos regionais para obtenção de recursos do Fundo.

Recursos financeiros

O Fundo Ambiental da Indústria a ser criado deve seguir as seguintes orientações gerais:

• o que taxar: poluição hídrica, atmosférica, emissão de gases, uso de recursos florestais e minerais, nível tóxico e de reciclagem dos resíduos sólidos e dos produtos e embalagens;

141

• como taxar: gastos necessários para controle, garantindo nível suficientemente elevado para induzir o poluidor a optar economicamente pelo controle, pela substituição de energético ou matéria-prima ou pela adoção de processo menos poluidor;

• parte da receita fiscal obtida deverá ser alocada aos órgãos ambientais para o cumprimento da função de monitoramento e fiscalização;

• como gerir: na fase de concessão de créditos vinculados ao Fundo, a estrutura dos bancos regionais de desenvolvimento poderia ser utilizada para avaliação contábil-financeira. Os recursos poderiam ser fundeados no BNDES, que faria o repasse aos bancos regionais. Estes, pelo fato de atuarem regionalmente, teriam uma ação mais próxima dos problemas ambientais locais. Seria recomendável que os órgãos ambientais atuassem junto aos bancos regionais como avaliadores técnicos dos projetos apresentados para obter recursos do Fundo.

PROPOSTA 4.4Rever os critérios técnicos de financiamento existentes para o setor transporte,

considerando as diferenças de tamanho, demanda e capacidade das cidades e os critérios de investimento no sistema viário, e assegurar a criação de fontes claras de financiamento dentro de Planos Nacionais e Regionais de Transporte Urbano.

AÇÕES RECOMENDADAS

• Priorizar os investimentos em transporte coletivo, condicionando financiamentos a uma rede estrutural integrada, privilegiando os transportes de massa (trens, metrôs e barcas) ou corredores de média capacidade (bondes modernos, ônibus de maior capacidade).

• Avaliar o impacto da infra-estrutura viária sobre o meio ambiente.

• Aperfeiçoar as formas de concessão dos serviços de transporte para o setor privado.

• Estimular, por meio de instrumentos federais de financiamento e de negociação da dívida dos estados e dos municípios, ou viabilizar (por meio da revisão dos instrumentos legais afins) o uso de fontes alternativas de financiamento pelos poderes locais, como da “taxa transporte” ou outras taxas que, ao mesmo tempo, desestimulem a circulação de veículos de transporte individual nas áreas centrais e financiem o setor, a exemplo da área licenciada para circulação.

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• Promover a participação da iniciativa privada nos empreendimentos do transporte urbano, por meio do instrumento da concessão onerosa, que inclui a obrigatoriedade de investimentos.

ÂMBITO Local, estadual, nacional

PRAZO

Imediato para a revisão dos critérios de investimento, curto e médio para as outras

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO Recursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos governos federal, estadual e municipal capacitados para a análise dos projetos e para a gestão dos sistemas de transporte e trânsito.

Recursos financeiros

• Orçamentários municipais.

• De multas do Código Brasileiro de Trânsito, taxa transporte e outras fontes alternativas.

• BNDES.

• Financiamentos internacionais (Banco Mundial, BID).

• A receita tarifária deverá cobrir os gastos operacionais.

• Estipular critérios de gastos que favoreçam projetos de rápida maturação, retornos mais altos com impactos significativos para as populações e áreas mais carentes.

Recursos científicos e tecnológicos

• Estimular o uso de técnicas de baixo custo e/ou intensivas em mão-de-obra para a implantação, a conservação e a restauração da infra-estrutura do transporte urbano.

PROPOSTA 4.5Introduzir critérios socioambientais no aparato técnico-legal que disciplina a

compra de bens e serviços por parte do Poder Público, em todos os níveis hierárquicos e esferas de competência, onde e quando for cabível.

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AÇÕES RECOMENDADAS

• Contratar, sempre que possível, organizações e membros das comunidades locais para a execução dos vários serviços públicos urbanos, em particular aqueles destinados à preservação e à recuperação ambiental, gerando emprego para as famílias de baixa renda (ex.: coleta e seleção de lixo, florestamento, jardinagem, manutenção de equipamentos coletivos etc.).

• Rever a Lei de Licitação de Bens e Serviços Públicos (no 8.666) com vistas à sua flexibilização, de modo a permitir contratar ONGs, cooperativas e outras formas organizacionais empresariais não-convencionais (sem fins lucrativos) para a venda e a execução de bens e serviços públicos, quando for apropriado.

• Incentivar a implantação de cadastros públicos de organizações não-governamentais e empresariais não-convencionais, mediante critérios preestabelecidos pelas partes interessadas, que possam orientar parcerias e compra de bens e serviços das diversas organizações civis que constituem o “terceiro setor”.

ÂMBITO Nacional, estadual e local

PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Recursos humanos e institucionais

• Técnicos e gestores encarregados dos sistemas de compra de bens, equipamentos e serviços (níveis federal, estadual e municipal) do Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE), secretarias estaduais e municipais de administração, secretarias nacional, estaduais e municipais de ação social, Comunidade Solidária, unidades gestoras dos Programas Brasil em Ação.

• Lideranças e técnicos das organizações civis do terceiro setor especialistas em gerenciamento de recursos públicos por organismos privados. Utilizar a lei que estabelece o novo marco legal do terceiro setor no país.

Recursos científicos e tecnológicos

144

• Os governos devem implementar convênios com universidades e instituições que detêm técnicas e metodologias de gerenciamento de projetos e recursos sob a forma de parceria entre o setor público e o setor privado sem fins lucrativos.

• Promover convênios de cooperação técnica internacional.

Recursos financeiros

• Orçamentários da União, dos estados e dos municípios para a capacitação de seus técnicos, alocados nas agências de fomento à pesquisa e ao desenvolvimento, basicamente necessários para a capacitação.

• Adicionais podem ser aportados por meio de parcerias com ONGs, agências de cooperação técnica e universidades públicas e privadas.

PROPOSTA 4.6Implementar instrumentos de recuperação, pelo Poder Público, de parcela da

valorização fundiária, resultante dos investimentos em infra-estrutura e melhorias urbanas, com o objetivo de gerar recursos para programas habitacionais e de melhoria do meio ambiente.

AÇÕES RECOMENDADAS

· Incorporar, nos Planos Diretores ou outros instrumentos de planejamento urbano, instrumentos tributários adequados à recuperação da valorização urbana, bem como indicar critérios e áreas de incidência.

· Criar e implementar instrumentos cadastrais e de agrupamento dos preços no mercado de terra para permitir a aplicação adequada dos tributos.

· Associar aos índices da legislação de uso e de ocupação do solo e a programas de alteração de desenho urbano e requalificação de áreas instrumentos como operações interligadas, transferência de direito de construir e/ou outros que produzam contrapartidas para o Poder Público, como áreas verdes, áreas para equipamentos públicos e habitação popular, desde que garantidos a transparência e o controle social dos processos.

ÂMBITO Local

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PRAZO Curto

MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃORecursos humanos e institucionais

• Quadros técnicos dos governos locais capacitados, agentes privados e população beneficiada. A participação do Legislativo e da população por intermédio de conselhos de urbanismo ou outras formas é essencial para dar transparência aos processos que envolvem os quadros técnicos e os investidores privados.

Recursos científicos e tecnológicos

• Implementar programa de monitoramento das transformações no uso do solo e no preço da terra mediante a sistematização e a integração das informações constantes nos cadastros do ITBI, de forma a atualizar as informações sobre o preço da terra e realizar convênios com universidades e institutos de pesquisa, para desenvolver metodologias de avaliação da valorização fundiária.

Recursos financeiros

• Aos recursos orçamentários dos municípios somam-se os recursos privados resultantes da aplicação dos instrumentos e as contrapartidas em terrenos para programas habitacionais e melhorias ambientais.

146

V Recomendações finais

Com a finalidade de assegurar o êxito da missão da Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional, no que se refere à sustentabilidade das cidades, o documento apresenta algumas recomendações de iniciativas e providências a serem tomadas no âmbito federal:

• Seja reforçada a descentralização das políticas públicas ambientais e urbanas, respeitado o princípio da subsidiaridade, acompanhando a delegação de funções da necessária transferência de recursos, considerando que compete ao município a gestão democrática da cidade sustentável.

• Sejam promovidas, em benefício das cidades sustentáveis, as indispensáveis articulação, compatibilização e integração das políticas e das ações públicas federais que afetam o desenvolvimento urbano sustentável.

• Sejam regulamentados os dispositivos constitucionais que dispõem sobre matéria de interesse das cidades e sua sustentabilidade, em particular o artigo 182 da Constituição Federal.

• Seja agilizada a aprovação dos estatutos legais em tramitação no Congresso Nacional, que tratam de matéria de interesse do desenvolvimento urbano e da sustentabilidade das cidades, bem como seja feita a revisão dos instrumentos legais, normativos e de regulamentação de iniciativa federal para incorporar a dimensão ambiental nas políticas urbanas.

• Sejam definidas, institucionalizadas e adotadas formas mais efetivas de cooperação intergovernamental, entre a União, os estados e os municípios, que assegurem as necessárias condições políticas e institucionais de implementação da Agenda 21 em todos os níveis.

• Sejam reconhecidas e apoiadas particularmente as iniciativas de construção e de implementação de Agendas 21 locais, envolvendo os municípios e os atores relevantes da sociedade, estimulando a sua multiplicação em todo o país.

• Seja considerada na formulação do Programa Plurianual de Ação-PPA para o período 2000-2003, em especial nas Opções Estratégicas 2, 3 e 4, a inclusão dos macroobjetivos e das diretrizes específicas referentes ao desenvolvimento urbano, com a finalidade de assegurar os meios de implementação de políticas urbanas e ações necessários à sustentabilidade das cidades.

· Seja promovida a ampla divulgação em todo o território nacional do documento de referência Cidades sustentáveis, dirigida especialmente aos municípios, visando à mobilização dos dirigentes municipais e da sociedade

147

local em torno de suas propostas para o desenvolvimento sustentável das cidades.

A expectativa é de que o conjunto de estratégias e respectivas propostas, indicado neste documento, seja incorporado à Agenda 21 brasileira e efetivamente implementado pelo governo e pela sociedade, contribuindo para alcançar, ao final de dez anos, novos padrões de sustentabilidade para as cidades brasileiras, melhorando as condições de vida urbana da população.

148

VI Bibliografia

Além dos títulos abaixo, foram utilizados os textos especialmente elaborados pelos consultores temáticos que constam do Produto Preliminar 1.

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TRANSPORTE humano - cidades com qualidade de vida. São Paulo: ANTP, 1997.

AN urbanizing world: global report on human settlements. [S.l.]: UNCHS, 1996.

UNITED NATIONS CONFERENCE ON HUMAN SETTLEMENTS-HABITAT II, 2., 1996, Istambul. The Habitat Agenda: goals and principles, commitments and plan of action.

VASCONCELLOS, Eduardo de Alcântara. Transporte urbano nos países em desenvolvimento: reflexões e propostas. São Paulo: Unidas, 1996.

_____. Transporte urbano, espaço e eqüidade: análises das políticas públicas. São Paulo: Unidas, 1996.

VIOLA, Eduardo José. A problemática ambiental no Brasil (1971-1991): da proteção ambiental ao desenvolvimento sustentável. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, 1991.

VIVIAN, J. Foundations for sustainable development participation, empowermet and local resource management. In: GHAI, D., VIVIAN, J. (Eds.). Grassroots environmental action. London: Routledge, 1995.

WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our common future. Oxford: Oxford University Press, 1987.

ZANCHETTI, Silvio; MARINHO, Geraldo; MILLET, Vera (orgs.). Estratégias de intervenção em áreas históricas - revalorização de áreas urbanas centrais. Recife: UFPE, 1996.

154

Anexo I

LISTA DE PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO – 6/4/1999 – BRASÍLIA

EQUIPE PARC 21Ana Lúcia Nadalutti La Rovere

IBAM – PARC21Berenice de Souza Coredeiro

IBAM – PARC21Fabrício Leal de Oliveira

IBAM – PARC21Karla Matos

IBAM – PARC21Mara Darcy Biasi Ferrari Pinto

IBAM – PARC21Marlene Fernandes

IBAM – PARC21Victor Zular Zveibil

IBAM – PARC21

CONSULTORES E CABEÇAS DE REDEEduardo Novaes

CONSULTOR / PARC21Jorge Wilheim

CONSULTOR / PARC21José Augusto Drumond

CONSULTOR / PARC21Pedro Jacobi

CONSULTOR / PARC21

SOCIEDADE CIVIL

Alfredo SirkisONDA AZUL

Ana BatistaFÓRUM DA AGENDA 21 LOCAL / RJ

Carlos DoriaATEC

Cesar VictorTC/BR - FUNATURA

Clarismino Luis Pereira JuniorABEMA

Clayton Couto

155

MOE – SPA

Cléon Ricardo dos SantosUNILIVRE/PR

Edson Aparecido da SilvaFNU/SINTAEMA-SP

Edymar Cintra FernandesMOV. NAC.DE LUTA PELA MORADIA/CAMPO GRANDE

Francisco SantosONG FUNJOSA ECO BELLA

Gilberto PaixãoCBIC

Gustavo De La RezaSONDOTÉCNICA/CRESCENTE FÉRTIL

Iolanda Bizerra da SilvaFEDERAÇÃO DE BAIRROS E FAVELAS - FORTALEZA

Jean Pierre LeroyFASE - RJ

João Claúdio ArroyoFORUM AMAZÔNIA ORIENTAL - FAOR

José Roberto PratesGTA

Louise RitzelTEMPO LIVRE CONSULTORIA

Luís FelipeSONDOTÉCNICA/CRESCENTE FERTIL

Manoel Carlos JustoASSEMAE

Marcia ValadaresABES-MG

Marcio AlbertoONG FUNJOSA ECO BELLA

Maria CarlotaCONSULTORA

Maria Das GraçasFASE-PARÁ

Maria José MonteiroTC/BR - FUNATURA

Nelson Saule JúniorPOLIS/SP

Renata AffonsoREDEH

Renato CunhaGRUPO AMBIENTALISTA DA BAHIA

156

Rogério BeldaANTP/SP

Tânia MunhozTC/BR - FUNATURA

Shelley CarneiroCNI

Sílvio ZanchetiCENTRO DE CONS. INTEGRADA. URBANA E TERRIT.- CEC/PE

Werner E.zulaufANAMMA

UNIVERSIDADES

Ananeli DuboisUNB

Bernardo GontijoUFMG

Eduardo ViolaUNB

Henri AcselradIPPUR- UFRJ

José Eli da VeigaUSP

José Freire Da Silva FerreiraUFPA

Marcel BursztynCDS- UNB

Othon LeonardosCDS-UNB

Otto RibasUNB/CDS

Tânia FischerUFBA

GOVERNO FEDERAL

Alan Veiga ViegasMMA - SFB

Alberto Nobre MendesMMA

Aldenir C. ParaguassuSEC. DE COORDENAÇÃO DA AMAZÔNIA-SCA

Alexandra ReschkeABC

Alexandre Melillo CEF

157

Antonio MauricioMT

Aser CortinesCEF

Aspásia CamargoMINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

Carlos Alberto F. dos SantosMMA

Claudia Melo RosaMMA

Clayton CoutoMOE – SPA

Cleusa Louzada DiasSUDENE

Dalmo Marcelo LimaMCT

Diana Meirelles da MotaIPEA

Diana MotaIPEA

Edgar Bastos SouzaCOMUNIDADE SOLIDÁRIA

Eduardo RomeroIBAMA

Eduardo Sales NovaesMMA

Eliani CarvalhoDF

Eliani RizziniDF

Fernando L. F. RamosMMA - SFB

Flávio GoldmanMRE

Geraldo PimentelELETROBRÁS

Gislaine DisconziMMA

Haroldo de Machado FilhoMCT

Hélio BustamanteMMA

Hidely Grassi RizzoSRH/MMA

158

Hiroyuki NemotoSMA

Hugo de AlmeidaMMA

Ima VieiraMUSEU EMÍLIO GOELDI

Isabel Teresa Gomes AlvesMCT

Isabela TeixeiraMMA

Jorge Henrique MoritzenMMA

José Leme Galvão JuniorMINISTÉRIO DA CULTURA

Leda FamerMMA

Leonardo MarquesIPHAN

Levon YeganintzEMBRAPA/SEA

Ligia CamargoMINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO

Luis Dario GutierrezMMA

Magna LuduviceMMA

Manoel ArrudaABC

Manoel Lima FeitosaIBAMA

Márcia Maria FacchinaMMA

Marcio Santa RosaFGV-RJ

Marco Antônio BorzinoSECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO - SEDU

Marco Antonio Villareal GalvãoMCT

Maria CelesteCODEPLAN

Maria de Lourdes KamoiMUSEU EMILIO GOELDI

Maria do Carmo L. BezerraMMA

159

Miguel Von BehrIBAMA

Mitsuni WatanabeJILA - IBAMA

Mônica BrancoMEPE

Monica R. NascimentoFINEP

Nathalie BeghinIPEA

Nestor da Costa BorbaMMA

Regina Helena Crespo GualdaMMA

Regina OliveiraMUSEU EMÍLIO GOELDI

Reginaldo Ribeiro PereiraCEF

Ricardo LimaIPEA

Roberto A. MonteiroMMA

Ronaldo A. MonteiroMMA

Rosa de Lima CunhaMMA

Rosalvo de Oliveira JuniorSEMATEC

Sandra de CarloIBGE

Sérgio Bueno da FonsecaCEF

Sérgio CutoloSECRETARIA DE DES. URBANO -SEDU

Sidiney de MiguelSDS

Suzanne B. MaiaMME

Valério CardosoIBAMA

Valmira MecenasSEMATEC

Vânia Maria C. F.SDUM

160

Vera Lúcia Santos RibeiroSEPURB

Virgínia FerrariMEPE

Walbert Tavares de AlmeidaMINISTÉRIO DA MARINHA

GOVERNO ESTADUAL

Cláudio LangoneSECRETARIA DE MEIO AMBIENTE-GOV.EST.RS

Eduardo Lovo PaschoaliCOMITÊ DE BACIA DO PIRACICABA/SP

Franklin CoelhoSUB-SECRETARIA DE PLANEJAMENTO - RJ

Guido GelliSEMADS - RJ

Hélvio Nicolau MoisésCEPAM/SP

Maurício Andrés RibeiroFUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO/MG

Wolf SteinbaunCETESB/SP

GOVERNO MUNICIPAL

Gérson AlmeidaSMMA/PM PORTO ALEGRE/RS

Jésus LimaPREFEITURA MUNICIPAL BETIM/MG

Hélia NacifSEC. MUN. URBANISMO/RJ

Lucia AquinoPREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM/MG

PARLAMENTAR

Adolfo MarinhoCÂMARA DOS DEPUTADOS

Antonio Carlos MoraisCÂMARA DOS DEPUTADOS

Célio ChavesCÂMARA DOS DEPUTADOS

Dagoberto G. de OliveiraCAMARA LEGISLATIVA - DF

Inácio ArrudaCOMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO URBANO

161

José Angelino BarbosaCAMARA LEGISLATIVA – DF

Vitor Carlos KaniakCÂMARA DOS DEPUTADOS

AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

André SoaresONU

Charles LopesUPIS

Cleuza HansenUPIS/ULAC

Flora CerqueiraPNUD

José Carlos LibanioPNUD

Luiz AugustoPNUD

Militão de Moraes RicardoGTZ

Raquel Lara de QueirózUPIS/ULAC

162

LISTA DE PARTICIPANTES DO WORKSHOP – 4 A 6/2/1999 – SEDE DO IBAM/RJ

Alberto Costa LopesIBAM

Aldenir C. ParaguassuMINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Alexandrina Sobreira SUB-SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE PE

Ana Lúcia Nadalutti La RovereIBAM/PARC21

Aser Cortines Peixoto FilhoCEF

Aspásia Camargo MIN. DAS RELAÇÕES EXTERIORES

Aurea Maria Queiroz DavanzoUNICAMP

Axel Grael FEEMA – RJ

Ayrton Camargo e SilvaASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TRANSPORTES PÚBLICOS – ANTP

Berenice De Souza CordeiroCONSULTORA PARC21

Carlos Luís Reggazzi FilhoCONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI

Clóvis UltramariCENTRO NACIONAL DE REFERÊNCIA EM GESTÃO AMBIENTAL URBANA – UNILIVRE

Diana Meireles da MotaIPEA

Edgar Bastos de SouzaSECRETARIA EXECUTIVA DA COMUNIDADE SOLIDÁRIA

Eduardo NovaesCONSULTOR PARC21

Eliane CanedoPDBG-CEDAE

Eliani Alves CarvalhoCONSÓRCIO TC/BR – FUNATURA

Enrique SvirskyPROG. ESTADUAL DE APOIO ÀS ONGS - PROAONG

Fábio FeldmannEX-DEPUTADO FEDERAL

Fabricio Leal de OliveiraIBAM/PARC21

Fernanda Carolina V. da CostaFASE – RECIFE

163

Fernando AlmeidaCONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL –

CEBDS Gilberto PaixãoCÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO – CBIC

Gilda BlankCEF – RJ - ESCRITÓRIO DE NEGÓCIOS

Glauco BienensteinUNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

Grazia De GraziaFASE/RJ

Guido GelliSUB-SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE/RJ

Haroldo de Oliveira M. FilhoMINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Hugo de AlmeidaMINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Isaura FragaVICE-PRESIDÊNCIA DA FEEMA

Jean Pierre LeroyFASE – RJ

Jorge WilheimURBANISTA

José Augusto DrummondISER/RJ

Júlia GuivantCONSULTORA PARC21

Karla MatosISER/RJ

Katia SaloméSECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE/RJ

Leda Famer MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Luciana Mello RibeiroREDEH/RJ

Luís Dario Gutierrez MereMINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Luiz Gonzaga Ulhoa TenórioFEDERAÇÃO NAC. DOS URBANITÁRIOS – FNU

Marcelo Gomes Sodré INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – IDEC

Maria do Carmo L. BezerraSECRETARIA EXECUTIVA - MMA

Maria Cristina B. RivoirPROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL/PDBG-UERJ

164

Maria José Marques CavalcanteFIDEM

Maria Laís Pereira da SilvaUNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF

Marlene FernandesIBAM/PARC21

Marta Dora Grostein – Prof. Dra.FAU-USP-PROG. MESTRADO CIÊNCIA AMBIENTAL

Maurício Andrés RibeiroFUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO - GESTÃO AMBIENTAL E GESTÃO DE CONFLITOS

Miguel Von BehrIBAMA

Nathalie BeghinIPEA-DICOD

Norma LacerdaANPUR-MDU/UFPE

Olinda Maria Marques dos SantosREDE DE ONG DE DESENV. URBANO, ASSESSORIA AO MOVIMENTO URBANO POPULAR - CE

Otto RibasABIPTI – CDS/UNB

Paulo Vilela LomarDIREITO URBANÍSTICO MUNICIPAL/CONSULTOR

Pedro JacobiCONSULTOR PARC21

Ricardo LimaIPEA

Ronaldo Seroa Da MottaCONSULTOR PARC21

Rosana Al-cci RezendeIBAM/PARC21

Rovena NegreirosCONSULTORA/PARC21

Rui VellosoCONSULTOR PARC21

Samyra CrespoISER/PARC21

Thaís CorralREDEH/PARC21

Vera Lúcia Santos CruzAGÊNCIA RIO DE JANEIRO - GOV. MUNICIPAL

Vera Lúcia Santos RibeiroSEPURB

Victor Zular Zveibil

165

IBAM/PARC21Willian Alberto Pereira de Aquino

Consultor Parc21

166