cidades - o desafio do século xxi

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Transcrição de um documentário da Discovery sobre os mais diversos tipos de problemas e soluções urbanas ao longo da história das cidades (em português).

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entendendo as cidades o ano 2000 assinala um momento especial na histria da civilizao. pela primeira vez h mais gente vivendo nas cidades do que fora delas. as megalpoles contm o potencial para um incrvel crescimento social e econmico, mas tambm podem gerar imensas concentraes de misria. as cidades refletem o melhor e o pior da humanidade. elas so ao mesmo tempo ordem e caos, criatividade e represso, beleza e desespero. so a essncia de todos ns. identidade o que atrai as pessoas para as cidades o sonho de conseguir alguma coisa melhor. "as pessoas vm para a cidade para encontrar segurana e felicidade em busca de uma vida boa" - aristteles "costumava-se dizer que deus nos deu a natureza. a humanidade nos deu as cidades. eu aposto que voc diria que as cidades concretizavam as aspiraes das pessoas. j foram consideradas grandes conquistas. a cidade era a capital. um lugar sagrado. o centro da cultura, do comrcio, um lugar onde o indivduo se aprimorava. ela recebia melhorias." - stephen coyle - afl cio housing investment trust este um modelo antigo: as pessoas atradas pelo canto de sereia do comrcio, do trabalho e da educao. elas chegam carregadas de sonhos e aspiraes, com suas identidades tnicas e culturais. " um redemoinho de tanta coisa diferente, energia e diversidade. extraordinrio." "sim. h muita agitao, muito empurra-empurra, muito alvoroo. preciso usar o corpo. isso muito bom. mantm voc afiado." "nunca se sabe que pode acontecer. essa a parte divertida, sabe?" elas criam arte e arquitetura, msica e teatro. "acho que existe alguma verdade quando se diz que se voc se der bem aqui, se dar bem em qualquer lugar." "tudo isso envolve uma boa parte de coincidncias e sorte, e tambm tem a ver com o carter das cidades. h lugares onde as pessoas so menos ou mais amigveis, onde tiram 2h de almoo ou comem mesa do escritrio. as cidades tm personalidade, como as pessoas. e no se pode adivinhar como a qumica vai funcionar." - witold rybczynski - professor da universidade da pennsylvania. as cidades mais saudveis esto em constante movimento. quanto mais sensvel s mudanas, mais viva a cidade. estruturas modernas se erguem sobre as antigas conforme a cidade se reinventa. o passado de uma cidade costuma estar escondido em camadas debaixo da terra. engenheiros trabalham num dos maiores projetos de construo do mundo, quase 30 m abaixo das ruas de londres. operrios construindo um do ramal do metr londrino fizeram uma grande descoberta arqueolgica. "este um grande pedao de telha romana. estamos, na verdade, descobrindo uma cidade sob outras cidade. quer dizer, no que o tempo passa, as cidades vo ficando

mais e mais altas. vemos a cidade original que existiu aqui provavelmente por volta do ano 50 da era crist. achamos paredes romanas construdas ao longo da estrada original que vinha da costa sul para o norte, cruzando o tmisa e entrando em londiniun, a capital da provncia romana da britnia. ao sul do rio, um subrbio cresceu em torno dessa rota. e ns estamos bem no meio dessa periferia de londiniun." mike hutchinson - archaelogy project manager - museum of london. o que foi a periferia romana de londiniun hoje faz parte do centro de londres. esse ramal novo de 16 km o mais recente trecho acrescentado aos tneis do metr, um sistema de transporte urbano que carrega mais de 2 milhes e meio de passageiros por dia. todas as cidades modernas precisam movimentar muitas pessoas de um lado para outro diariamente de maneira rpida e eficiente. isso uma necessidade urbana. at meados do sculo 19, os cidados viajavam na velocidade em que os prprios ps ou os cavalos podiam carreg-los. com a revoluo industrial, uma multido de trabalhadores veio trabalhar nas fbricas urbanas. a migrao era to grande que o trfego virtualmente parava. ningum podia chegar a nenhum lugar no horrio. a soluo encontrada em londres estava no subsolo. fizeram-se tentativas de se construir uma linha de trem exatamente abaixo do nvel das ruas, mas isso causava muito barulho e exigia muita destruio. os engenheiros foram forados a cavar tneis profundos, criando o primeiro sistema de metr. Comeava a era do transporte coletivo. o metr londrino comeou a funcionar em 1858 e carregou 10 milhes de passageiros apenas no primeiro ano de operao. um sucesso estrondoso. logo paris e nova york construam suas prprias verses. hoje muitas metrpoles possuem sistemas de transporte subterrneos. este novo ramal do metr londrino vai levar quase cinco anos para ficar pronto. "isto uma obra de engenharia pesada, de infra-estrutura. estamos construindo os trilhos para as pessoas do futuro. um dia, as pessoas vo viajar neles sem se lembrar do trabalho que deu, nem dos mineiros, engenheiros e inspetores que cuidaram de tudo e se preocuparam para garantir que tudo seria seguro." - marcus karakasman - construction manager - jubilee line extension. os rgos, as veias e as artrias que existem por baixo da delicados e complexos. os engenheiros precisam avanar com desviando-se de milhes de quilmetros de canais de gua e telefone e de energia eltrica, encanamento de gs e cabos pulsam sobre a cidade e nos d sua vida. a cidade escondida o ritmo frentico das invenes do sculo 19 mudou as cidades para sempre. cidade de luz nenhuma mudana foi mais dramtica do que a utilizao da eletricidade. rapidamente ela se tornou o sangue que alimenta cidade graas a thomas edison que inventou a lmpada eltrica em 1879. "ei , thomas, ei! voc est nos ajudando a iluminar o caminho. ei , thomas, ei! voc teve sucesso em transformar a noite em dia gostaramos de lhe agradecer, sr. thomas alva edison pela dose de seu remdio eltrico ei , thomas, ei! pele da cidade so extrema cautela, de esgoto, linhas de de fibra tica que

voc um homem incandescente, luminoso e miraculoso" a repentina procura pela eletricidade criou outro complexo sistema subterrneo. a cidade foi toda ligada por meio de fios. as lmpadas das ruas, de gs, foram substitudas por outras, eltricas, e se multiplicaram astronmicamente. motores eltricos transformavam tudo, do transporte s ferramentas. as fbricas instituiram o turno da noite. surgiu a cidade de 24h. e assim era a cidade das luzes e a cidade que nunca dorme. tudo isso requer uma quantidade absurda de fios. londres por exemplo, utiliza tantos cabos eltricos que se eles fossem atados uns aos outros, dariam uma volta completa no globo. em todas as cidades, h dzias de estaes transformadoras que convertem eletricidade em alta voltagem para nveis mais seguros. na zona oeste de londres, um transformador zumbe no subsolo do bairro bomio. os teatros utilizam tanta eletricidade que os tcnicos costumam dizer que quando a casa se acende, a rea ao redor cai na penumbra. a luz eltrica mudou o cu noturno das cidades grandes e pequenas. l no mais possvel olhar para cima e ver o cu estrelado. s vemos algumas poucas estrelas mais brilhantes. olhando para a terra do alto de centenas de quilmetros, a histria outra. milhares de novas constelaes cintilam l debaixo. so as cidades, reluzentes com bilhes de lmpadas eltricas. Gua iluminar uma cidade um avano bem mais recente do que o esforo para matar nossa sede. os antigos romanos foram os primeiros a idealizar a distribuio de gua. eles usaram a gravidade. ao redor do ano 97 da era crist, aquedutos construdos na encosta suave de uma colina carregavam por muitos quilmetros 85 milhes de gales de gua diariamente. a nova york atual usa a mesma idia de tecnologia simples. a gravidade traz a gua das montanhas catskill, a 200 quilmetros de distncia. por meio de um sistema de dutos e reservatrios, a gua segue pelo subterrneo nos ltimos 32 km, por dentro de dois antigos e gigantescos canais. a sede de nova york to grande que os velhos canais tm de funcionar constantemente em sua capacidade mxima, de 5 e meio bilhes de litros por dia. os tneis, um construdo em 1885 e o outro em 1928, no podem ser fechados para vistorias. ento, os engenheiros da cidade esto realizando uma operao desvio. esto construindo um terceiro canal. - "est descendo , pete." - "certo, descendo." "se o canal nmero 1 ou o nmero 2 apresentasse algum problema, no poderamos abastecer completamente a cidade de nova york. este canal vai nos dar uma sada que nos permitir enviar a gua." mike greenberg - chief, water works construction - new york dep. toda cidade depende de pessoas como estas, que mantm o corao da infra-estrutura urbana palpitando. "estou nesse ramo h 15 anos. h 15 anos estou fazendo isso. meu pai comeou em 1946, no canal de "brooklyn battery". meus tios trabalharam no canal nmero 2 na dcada de 30. eu amo isso. o melhor trabalho do mundo." - mike greenberg o terceiro tnel deve estar pronto em 2006. ele vai utilizar a gravidade, como os aquedutos dos antigos romanos. nas cidades modernas, a fora gravitacional usada tanto para enviar a gua para baixo quanto para cima. ela empurrada pela presso

criada simplesmente pelo seu peso total. "a presso que conseguimos pela gravidade pode lanar a gua altura de um prdio de cinco andares, basicamente. antigamente, muitas das casas eram construdas com essa altura. assim, no se gasta com o bombeamento. quando se trata de edifcios de apartamentos mais altos, voc tem que bombear a gua para um tanque embutido no teto e, ento, deix-la descer ou constri algum tipo de sistema de pressurizao no poro que a leva para os andares superiores." - mike greenberg. tudo o que a maioria de ns percebe quando a torneira aberta. e que o calada, em certos dias. as funes raramente discutidas. o mais bsico esgoto. que a gua aparece como que por mgica lixo desaparece quando deixado no saco, na corporais da cidade, como as nossas, so o processo de eliminao, o sistema de

rede de esgoto no sculo 19, o aperfeioamento dos sistemas de abastecimento levou inveno da descarga para vasos sanitrios. o sistema de despejo de resduos humanos deu um grande passo. mas no havia nenhum lugar para onde mand-los, a no ser os cursos d'gua. em londres por exemplo, o rio tmisa foi sufocado pelo esgoto, e aos cidados restou apenas lamentar, sem nada poder fazer. doenas trazidas da gua, como a clera, matavam aos milhares, mas pouco foi feito at o parlamento sentir o mau cheiro literalmente. "em 1858, ocorreu um evento significativo que acabou dando um empurrozinho. naquela poca, o rio tmisa era imundo e mal-cheiroso. era to desagradvel que os parlamentares da cmara dos comuns tiveram que deixar o prdio. eles no suportavam o fedor. assim exigiram que, antes de mais nada fosse tomada alguma providncia com respeito ao rio." - ben nithsdale - project manager - thames water utiliies. a providncia foi tomada. uma srie de tneis subterrneos, alguns grandes o suficiente para abrigar um trem foram cavados, criando um gigantesco labirinto de linhas de esgoto. o problema seguinte era o que fazer com tudo aquilo. os vitorianos, sempre preocupados com a finura, construram elaboradas estaes de bombeamento, onde as guas servidas eram neutralizadas por uma forte mistura qumica. o novo sistema livrou a cidade da clera, mas no tornou o rio mais seguro. transformado em fossa sanitria, o tmisa se tornou um coquetel txico. em 1897, uma balsa do rio tmisa virou, atirando os passageiros naquela infuso venenosa. apesar de estarem h poucos metros da margem, a maioria deles jamais a atingiu. "ainda que o rio estivesse livre das bactrias e micrbios mortais existentes nas guas servidas, a contaminao qumica era to grande que apesar de a maioria das pessoas saber nadar, quase todas morreram nesse desastre." - ben nithsdale project manager - thames water utiliies. o tratamento do esgoto seguiu um longo caminho. "a maioria das estaes de tratamento de gua no so, normalmente, os lugares mais atrativos do mundo para se visitar. o processo com que lidamos , como eu poderia dizer... nada agradvel. assim as pessoas, quando do a descarga no vaso esquecem o assunto e deixam tudo por nossa conta." - john sullivan - beckton process manager - thames water utiliies. na estao, os despejos so agora tratados organicamente. as mesmas bactrias que vivem na gua servida so hoje utilizadas para digeri-la. o subproduto dessa digesto o metano, que que usado como combustvel na casa das mquinas.

criamos assim um sistema fechado muito eficiente. funciona to bem que bastam 15 empregados na estao para lidar com o esgoto gerado por 2.700.000 pessoas. so 10.000 descargas por segundo. o tmisa e praticamente todos os demais rios metropolitanos no mundo desenvolvido viram o esgoto sumir de suas guas em apenas meio sculo. evoluo as primeiras cidades verdadeiras surgiram entre 3000 e 4000 ac, no crescente frtil do rio tigre e no vale do eufrates, provavelmente devido grande quantidade de alimentos. pela primeira vez, nem todos eram obrigados a labutar nos campos. algumas pessoas podiam se tornar outra coisa: arteso, sacerdote, escriba, mercador. passado sculos, foram aparecendo dois tipos diferentes de cidades. a cidade natural, orgnica, normalmente aparece por uma razo especfica: a confluncia de rotas de comrcio , a instalao da corte de um reino ou as margens de uma enseada natural. da ela cresce como um ser vivo. "um bom exemplo disso a cidade medieval e repleta de pequenas ruas e de quarteires irregulares, onde nada reto. no segue um traado. ainda assim, elas tm uma lgica. esse tipo de cidade geralmente muito bonita, mas um tanto catica. voc s a enxerga inteira conforme a percorre. cidades como los angeles so orgnicas tambm, numa escala muito maior. mas aquelas vias expressas simplesmente so construdas na medida em que so necessrias. ela se curvam, se torcem. no h uma lgica bvia nelas. e, como numa cidade medieval, quem no mora l se perde completamente." - witold rybczynski - professor da universidade da pennsylvania. outro tipo a cidade planejada. elas so geralmente construdas por pessoas que tm outros motivos. um empreendedor imobilirio, um industrial que cria a vila da companhia, um dspota tentando ampliar seus domnios. as cidades planejadas tm um traado ordenado. elas so racionais e eficientes, normalmente crescem com um traado de uma grade. a roma imperial era uma tpica cidade em forma de grade. sua planta foi copiada como se fosse uma forma de biscoito, conforme os romanos conquistavam novos territrios e construam novas cidades. "queriam mont-las muito com elas. todas cidades, uma praa no meio e duas interessa onde, sempre da pennsylvania. rapidamente, e os soldados deveriam se familiarizar bem no importa onde estava servindo eram idnticas. havia ruas, assim era como um acampamento militar. no o mesmo." - witold rybczynski - professor da universidade

durante o primeiro milnio da era crist, a roma imperial teve um parceiro no novo mundo: a cidade abandonada de o teotihuacan fica a 32 km ao norte da atual cidade do mxico. ela tambm uma metrpole planejada. "este o primeiro grande desenvolvimento urbano na amrica central. antes que essa cidade fosse construda, no havia nenhum grande centro urbano. esta foi a primeira e a mais planejada de todas. era muito reta, isto , todas as ruas e edifcios eram paralelos entre si." - dra. linda manzanilla - professora national university of mexico. a cidade foi erigida no lugar em que os teotihuacans acreditavam ser o centro do universo, onde o tempo teria comeado. era deliberadamente traada de acordo com o movimento das estrelas em relao s montanhas no horizonte.

---------como os romanos, os planejadores de teotihuacan compreenderam o que fazia uma cidade funcionar. ---------a populao rural migrou em grande nmero para a nova e glamourosa cidade. muitos outros foram forados a trabalhar ali como escravos. calcula-se que no auge de sua prosperidade, por volta do ano 500 da era crist, viviam ali entre 125.000 e 250.000 pessoas. em algum momento em 700 depois de cristo, a primeira grande metrpole do ocidente faliu completamente. o triunfo levou a tragdia. a imensa necessidade da populao por comida e gua ultrapassou a capacidade de abastecimento do ambiente natural ao seu redor. acredita-se que as diferenas tnicas e de classe geraram violncia. uma cidade precisa atender as necessidades de sua populao, que esto sempre mudando. do contrrio, ela se consumir em cinzas. teotihuacan um exemplo antigo, mas tem tudo a ver com a realidade atual. --------a superpopulao sempre traz problemas. na idade mdia, as pequenas e compactas cidades eram caldeires de pestilncia. doenas como a peste bubnica se espalhavam rapidamente pelas cidades, trazidas pelas pulgas dos ratos. no sculo 14 a praga se esparramou pela europa ocidental, eliminando metade da populao. os problemas da superpopulao continuaram a afetar dramaticamente a vida das cidades, especialmente o grande desenvolvimento da revoluo industrial. como nunca antes, as fbricas pipocavam e bandos de trabalhadores corriam para a cidade. a cidades brotavam, primeiro na inglaterra, depois no resto da europa e finalmente na amrica. imigrantes escorriam atravs do atlntico, chegando s dezenas de milhares procura de trabalho na terra das oportunidades. nunca antes movimentos de imigrao atingiram esta escala. a revoluo industrial pode ter refeito as grandes cidades da europa, mas na amrica ela criou a paisagem urbana. em meio sculo, os estados unidos se tornaram o pas mais urbanizado do mundo. ---------a grande transformao que aconteceu em seguida nas cidades americanas deixou muita gente com torcicolo. a revoluo industrial tinha produzido duas invenes: vigas de ao mais leves e mais fortes e os elevadores, o que tornou possveis os arranha-cu. essa foi uma obra de grandes empreendedores. o primeiro arranha-cu moderno foi o edifcio new york woolworth, construdo em 1913. ele tinha 58 andares, que o elevavam a quase 200 m de altura, 30 m alm de qualquer prdio da poca. chicago e nova york competiam por edifcios cada vez mais altos. surgia o horizonte urbano. ao chegar em nova york pela primeira vez em 1935, o grande arquiteto suo le corbusier quase entrou em xtase: ---------as novas cidades industriais americanas deram origem a uma arquitetura mais do que radical. elas geraram a cultura popular americana. o jazz, o blues, os parques de diverso e os grandes auditrios, tudo isso produto das cidades americanas. a revoluo cultural urbana continuou ao longo dos anos 30, mas a exploso imobiliria foi brecada pela depresso e estancada durante a segunda guerra mundial. o crescimento s recomearia depois do conflito, e desta vez seria para fora e no para cima.

---------a nova york metropolitana se tornou um imenso e esparramado canteiro de obras controlado por um nico homem, o construtor de estradas robert moses. ---------nova york e a maioria das cidades americanas foram enfeitadas com grandes tiras de concreto e ao: rodovias, tneis, vias expressas e pontes, tudo isso facilitou a sada das cidades. e foi justamente isso que os moradores das cidades fizeram, levando junto com eles a renda que dispunham. ---------a cidade encarada como sonho americano mudou-se para os subrbios. o culto ao automvel alterou o cenrio urbano para sempre. --------nova york abriu o caminho para a opo do automvel, em vez de aumentar os investimentos em transporte coletivo, uma opo que mudou dramaticamente a cena urbana. --------uma cidade que depende do trfego de automveis uma cidade em meio a um pesadelo. os problemas do trfego urbano j atingiram nveis desastrosos nas megacidades ao redor do mundo. pergunte a qualquer motorista. at o final da dcada de 60, os sinais de trnsito eram programados manualmente para interpretar apenas duas ou trs condies. hoje voc pode no pensar nisso, mas os computadores permitem uma coordenao muito maior. --------para manter o trnsito andando, por assim dizer, os sinais so programados em uma central de modo a atender as condies conforme elas se alteram. o segredo mant-los mudando numa seqncia rtmica nas avenidas que vo e vm do centro. --------o computador no o nico sensor no controle de trfego. --------os monitores de trnsito podem ver um acidente assim que ele acontece e imediatamente reprogramar os sinais para diminuir o engarrafamento. toda essa tecnologia pode at fazer o trfego fluir melhor nas reas centrais, mas no faz nada para deter a sada das riquezas da cidade para os subrbios. as cidades industriais mais antigas so especialmente problemticas. ---------o que resta em muitas dessas cidades do interior uma subclasse de pessoas marginalizadas.

--------a falta de emprego leva falta de esperana. a falta de esperana leva ao crime. prdios abandonados desabam. a infra-estrutura se deteriora. --------vinte anos atrs, portland, em oregon, vislumbrou problemas no seu futuro. diferente de muitas cidades, portland no desviou o olhar. "portland no era diferente de muitas outras cidades. podamos ver que estvamos definitivamente seguindo uma tendncia negativa, que se no comessemos a investir em nosso centro e no dssemos alguns passos drsticos, nosso centro se deterioraria por completo", - janet burresson, diretora executiva da comisso de desenvolvimento de portland. o plano de portland era abandonar totalmente as tendncias urbanas da poca. os reformadores comearam por acabar com uma via expressa que cortava o centro da cidade. um dos lderes do plano foi o ex-prefeito bud clark: "vias expressas dividem uma comunidade. destroem a vizinhana de tal maneira que tem de se dirigir pela cidade para chegar aos subrbios. e vimos os danos que isso causou." as verbas das rodovias foram redirecionadas para construo de um novo sistema de bondes, um transporte pblico revolucionrio. ele era gratuito no distrito central. "no foi fcil. eu era deputada naquele tempo e havia muita controvrsia sobre isso. discutia-se muito aqui em casa porque ele passaria pelas vizinhanas. era caro. havia muita destruio. mas, quando ficou finalmente pronto o povo disse: " maravilhoso", - vera katz, prefeita de portland, oregon. outro passo do plano era a criao da comisso de desenvolvimento de portland. funciona como um empreendedor de loteamentos com uma viso cvica, comprando propriedades e fazendo melhorias; transformando estacionamentos em parques pblicos; construindo moradias baratas ao longo do rio. o aspecto mais controvertido do plano original eram as fronteiras do crescimento urbano, porque isso estabeleceu um limite legal para o quanto a cidade poderia se expandir. na prtica foi proibido o desenvolvimento alm daquelas fronteiras. portland era e ainda forada reinvestir em si mesma. as riquezas permanecem dentro da cidade. portland ficou amarrada sua reforma urbana por mais de duas dcadas, e valeu a pena. seu sucesso fez dela um modelo adotado no mundo inteiro. e ela regularmente citada como uma das cidades dos estados unidos onde se vive melhor. h sculos o homem sonha com uma utopia urbana. um antigo filme de hollywood retrata uma nova metrpole cintilante. ela surgiu das cinzas de uma cidade destruda, uma unio harmoniosa de arquitetura e tecnologia, que elimina moradias precrias e ruas congestionadas. uma elite progressista resolve o problema da sociedade de massa e todos vivem felizes para sempre. sonhar com utopias no tem nada de novo. santo agostinho imaginou uma cidade de deus no sculo v. plato e thomas moore tambm tinham seus planos utpicos, mas no houve muitas tentativas em tornar a utopia realidade. um esforo ambicioso foi feito no brasil em 1960, quando o presidente juscelino kubitschek comeou a construir uma nova capital para o pas no seu interior vasto e desabitado. o brasil encontraria por fim de seu destino como uma "grande potncia". a nova

capital braslia tiraria o pas do passado para um futuro tecnolgico glorioso. ----------"cinqenta anos em cinco" - disse kubitschek, e de fato a cidade foi erguida em apenas cinco anos. centenas de estradas foram abertas, e cerca de 40.000 pessoas migraram em busca de trabalho. a cidade traada na forma de um avio era revolucionria. os responsveis pelo projeto, o urbanista lucio costa e o arquiteto oscar niemeyer eram modernistas, minimalistas e puristas. em braslia no existem bairros ou nomes de ruas. em vez disso h setores: voc se desloca digamos, da l2 para a w3 e no da rua principal para a alameda dos carvalhos. o percurso tem de ser feito de carro. ---------o resultado disso tudo foi uma mistura de utopia e fico cientfica. a cidade um testamento da idia da forma sobre a funo. os edifcios brotam da aridez do planalto separados por vastos espaos onde no existe sombra nenhuma. ---------a vida cotidiana desconfortvel, quando no apenas perigosa. a cidade foi desenhada de modo que os automveis pudessem se mover livremente, mas no o pedestre. existem raros semforos, e praticamente nenhuma calada. existem poucos congestionamentos, mas atravessar uma rua como jogar roleta russa. braslia tem um dos maiores ndices de atropelamento no mundo. o projeto do paraso foi um tiro que saiu pela culatra. ---------braslia foi erguida com muitas moradias para os bem pagos burocratas do governo, mas pouco espao para mais algum. ---------a maioria das cerca de 2 milhes de pessoas que trabalham em braslia moram em cidades satlites, que se espalham num anel que avana 24 km fora da capital moderna. --------apesar das desvantagens, algumas das cidades satlites se transformaram em centros vivos, animados, com muita vida nas ruas. outras porm so "cidades-favelas", infestadas pela pobreza e pelas doenas. uma dessas comunidades satlites chama-se "vale do amanhecer". aqui vivem os adeptos de uma seita que acredita que braslia a cidade escolhida, e que eles tero direito a ela no sculo xxi. de algum modo, a imagem espelhada da braslia burocrtica e hierrquica. l todo mundo tem um papel, um posto e um uniforme vistoso. os membros da seita tambm acreditam que quando morrerem iro para um lugar parecido com a rodoviria de braslia, uma idia voltada diretamente para os pobres, que passam metade de suas vidas em nibus viajando de casa para seus empregos humildes na capital. num certo sentido, os moradores do vale do amanhecer se recusam a perder as esperanas em braslia, e talvez estejam certos. depois de algum tempo, mesmo esta cidade rgida pode se dobrar s necessidades dos seus habitantes. -----------

sempre voltamos s pessoas. so elas que transformam as cidades. ----------nos prximos 25 anos, as cidades vo se expandir at abrigar a maioria da populao mundial. seu destino vai ento determinar o destino da humanidade como nunca antes. fim