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CIDADES MELHORES

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especial

CIDADESTeXTo e FoTos NATÁLIA GARCIA

Sistema de aluguel de bicicletas de aluguel Vélo’v, de Lyon, que inspirou várias cidades europeias e brasileiras

melhoresCONHEÇA MODELOS DEGESTÃO E EMPREENDIMENTO DE SUCESSO EM CIDADESPELO MUNDO – E SAIBACOMO ELES PODEMINSPIRAR AS NOSSAS

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“Toda cidade precisa de grandes projetos, mas eles não precisam ser monumentos ou viadutos, podem estar a serviço das pessoas”, defende o urbanista nova-iorquino Jeff Risom, que trabalha no Gehl Architects, em Copenhague. Risom esteve à frente de projetos de planejamento de ciclovias, praças e espaços públicos no mundo todo e sabe bem como esses marcos melhoram a autoestima dos moradores em relação às suas cidades. Também deixam um legado de demandas políticas por obras que priorizem, acima de tudo, a qualidade de vida nos espaços públicos. “Construções que dão prioridade aos carros são símbolos obsoletos do século XX. Acredito que as cidades brasileiras precisem hoje de projetos com uma infraestrutura mais gentil”, afi rma o arquiteto croata Marko Brajovic, que há seis anos se apaixonou por São Paulo e adotou a cidade para

morar e trabalhar.Um político visionário certamente é importante para a execução de projetos que estejam a serviço das pessoas. Um bom exemplo é o ex-prefeito de Bogotá Enrique Peñalosa, que esteve à frente da construção de mais de 300 quilômetros de ciclovias na cidade e da implantação do Transmilênio, um sistema expresso de ônibus que serve boa parte da cidade. Mas a verdade é que grandes projetos não precisam necessariamente surgir do poder público. Muitas vezes eles são pensados pela academia, pela iniciativa privada ou mesmo por organizações de engajamento cívico. Em sua trajetória pelo mundo, o projeto Cidades para Pessoas visitou planos memoráveis que partiam de diversos desses atores sociais – ou que se propusessem a articulá-los para deixar um bom legado para a cidade. E todos eles têm muito a nos ensinar.

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CONVIDAMOS GENTE QUE VIVE OU TRABALHA NA REGIÃO PARA COMENTAR ESTA REPORTAGEM – E DIZER COMO ELA PODE INSPIRAR O FUTURO DE ALPHAVILLE

“a redução da dependência do automóvel em alphaville deve ser promovida, mais em face dos problemas de trânsito do que por uma aversão a priori do automóvel. Nesse sentido, eu acredito no transporte público, que é a melhor alternativa para conectar os setores de alphaville, bem como a sua integração com sistemas de transporte de são Paulo e do interior do estado. existem alternativas modernas tanto para transporte urbano sobre trilhos como para sistemas de ônibus em corredores exclusivos. Já o uso da bicicleta deve ser incentivado, e a construção de ciclovias é desejável. entretanto, dadas as distâncias e a topografi a da região, creio que aqui o ciclismo estará sempre mais ligado ao lazer do que ao cotidiano de trabalho”

Mario Biselli, arquiteto

ALARGAMENTODAS CALÇADASem 2006, um grupo de ativistas de são Francisco, liderados por John Bela, um dos sócios da empresa de design urbano rebar, decidiu fazer uma ocupação artística das vagas públicas de estacionamento de carros. com tapetes de grama sintética, vasos de fl ores, sofás e mesas de piquenique, eles se instalavam no meio-fi o para propor a seguinte refl exão: e se, em vez de estar a serviço dos carros, esse fosse um

Parklet em frente ao Mojo Bicycle Cafe, no centro de São Francisco, com local para as bicicletas

espaço para ser ocupado por pessoas? “achei que seria preso”, conta Bela sobre o primeiro Park(ing) day, nome dado ao evento de ocupação. em vez disso, ele recebeu uma ligação de andreas Powell, membro da prefeitura de são Francisco, animadíssimo com a iniciativa. “Vamos tentar transformar essa ocupação em infraestrutura permanente”, afi rmou Powell ao telefone. ele então criou na prefeitura o departamento Pavements to Park, que pertence à secretaria de

Transporte e tem como objetivo recuperar, para as pessoas, os espaços dominados pelos carros. É esse departamento que regulamenta os Parklets, estruturas de madeira montadas, em geral, em frente a cafés, livrarias e galerias, com mesas e cadeiras. inspirados nas ocupações artísticas de Bela, eles são espaços públicos que podem ser ocupados por qualquer um, sem a necessidade de consumir nada dos estabelecimentos comerciais, que geralmente pagam para construí-los. em contrapartida, esses estabelecimentos podem servir essas mesas e acabam ganhando mais infraestrutura para receber mais clientes.

Para a construção de um Parklet, eles precisam pagar uma licença no valor equivalente a r$ 1.200 à prefeitura, além de arcar com o custo da construção da estrutura. Todos saem ganhando: os estabelecimentos, a prefeitura e os moradores, que ganham mais espaços públicos de qualidade.

BICICLETASPARA TODOSdoar uma rede de bicicletas públicas para a cidade e ainda ganhar dinheiro. Foi essa a equação de sucesso da empresa de publicidade Jcdecaux, que funciona em lyon, na França. em um acordo com a prefeitura,

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“as ideias apresentadas nesta matéria são um exemplo de cidades que não precisaram esperar por grandes projetos governamentais para reinventar seu espaço – um exemplo que pode ser seguido por alphaville. se o modelo de crescimento urbano baseado no transporte individual, que viabilizou o bairro, dá sinais de esgotamento, alphaville tem demonstrado uma capacidade de se reinventar. diversas são as iniciativas de renovação dos espaços, por meio das associações e organizações de moradores da região. hoje passamos por um momento ímpar, em que esses agentes podem fazer uma nova revolução urbana no bairro, implantando ideias simples, criativas e inovadoras. Por isso, precisamos reunir as forças da região para impulsionar a requalifi cação de espaços públicos ociosos, a discussão de um sistema de transporte coletivo alternativo e a criação de marcos urbanos que consolidem uma identidade para o bairro”

Marcelo Renaux Willer, da Alphaville Urbanismo

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a empresa se dispôs a doar as bicicletas de aluguel em troca de espaços publicitários no mobiliário urbano (como paradas de ônibus e trem), que foram revendidos a outras marcas. a ideia acabou sendo lucrativa para a Jcdecaux, para as marcas anunciantes, para a prefeitura e para os cidadãos, que agora podiam alugar bicicletas públicas a preços acessíveis em um ponto e devolvê-las perto de seu destino – o que fez com que essas magrelas fossem sendo incorporadas à mobilidade da cidade. o sistema, implantado em 2005 e batizado de Vélo’v, inspirou modelos de aluguel em diversas cidades, como Paris, onde se chama Vélib’, Barcelona (Bicing), cidade do méxico (ecobici) e londres (Barclays).

Na capital inglesa, o sistema foi útil para mapear as rotas mais utilizadas por ciclistas e será acompanhado de infraestrutura cicloviária. REDE DE CONEXÕESo prefeito de Portland, sam adams, estava uma enrascada, sendo atacado por todos os lados. o mercado imobiliário queria mais permissões na lei de zoneamento da cidade, para desenvolver empreendimentos. a Portland state University o pressionava para dar vazão a iniciativas de mobilidade sustentável e projetos para o rio Willamette, que corta a cidade. Já os movimentos de engajamento cívico exigiam ter suas demandas consideradas nas decisões que estabelecessem o norte de crescimento da cidade. “Foi aí que eu compreendi que, em vez

Jardim comunitário 462 Halsey, em Nova York, criado com a consultoria do projeto 596 Acres

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a prefeitura para propor a permissão de ocupação de alguns desses lotes com projetos dos moradores locais. em paralelo, fi zeram um trabalho de mapeamento de tais locais em uma plataforma online chamada 596 acres. os lotes foram sinalizados com placas, para que a população se engajasse em ocupá-los. Graças a essa iniciativa, já foram criados oito parques públicos e há outros 65 projetos em andamento. Um exemplo de como, às vezes, os recursos necessários para uma cidade melhor já existem, basta apontá-los às pessoas.

MÊS QUE VEM TEM MAIS, HEIN! E O TEMA SERÁ "AS CIDADES E A EDUCAÇÃO"...Continue ligado na série de reportagens especiais da +40. Acesse também alphavilledonossojeito.com.br

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“alphaville precisa de uma solução inteligente de mobilidade e de regras de trânsito, como não permitir caminhões nos horários de pico. Uma ideia seria o ‘monorail’ (trem de superfície). as principais avenidas de alphaville têm um canteiro central, e isso possibilitaria a construção do ‘monorail’, permitindo que a população fl utuante deixasse seu carro num bolsão fora do bairro”

Felipe Forjaz, empresário, morador de Alphaville há 27 anos

de brigar, esses agentes sociais precisavam se conectar”, diz adams. em 2008, ele convidou rob Bennett, administrador com experiência em órgãos públicos de planejamento urbano, para criar o Portland sustainability institute, instituto que tem como missão fazer conexões entre esses setores na cidade de Portland, com o intuito de gerar projetos sustentáveis que benefi ciem a cidade. Para realizar essa tarefa, Bennett dividiu a cidade em ecodistricts (ou

Bairros Verdes). cada um teria um projeto central, a partir do qual universidade, iniciativa privada e sociedade civil organizada atuariam juntos de maneira a deixar um bom legado para a cidade. No soma ecodistricts (south of market, que fi ca ao sul da avenida market), o loteamento de áreas para serem desenvolvidas pelo mercado imobiliário foi concedido em troca do compromisso dessas empresas de fi nanciar um projeto elaborado por escritórios de urbanismo em parceria

com alunos da Portland state University, para benefi ciar quem mora na região. Foi assim que surgiu o waterfront do Willamette, uma via para ciclistas e pedestres que margeia o rio.

O QUE É PÚBLICOÉ NOSSOUm grupo de advogados especialistas em mercado imobiliário notou a presença de muitos lotes vazios no Brooklyn, em Nova York. em uma pesquisa, perceberam que muitos pertenciam ao poder público e que poderiam ser ocupados pela sociedade civil organizada. Procuraram

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Waterfront do Willamette, em Portland, feito para ciclistas e pedestres percorrerem a margem do rio