cidade vermelha. a militÂncia comunista nos espaÇos do trabalho. camocim-ce (1927-1950)

127

Upload: oscarmoura

Post on 29-Nov-2015

288 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)
Page 2: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)
Page 3: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CARLOS AUGUSTO PEREIRA DOS SANTOS

CIDADE VERMELHA:A mllitancla comunista nos espacos do

trabalho. Camocim - CE (1927-1950).

Fortaleza

2007

Page 4: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

FleBA CATALOGRJ\FICA

SANTOS. C arlos Augusto Pereira dos.C idade Vermelha: a militdncia com unisra em Camoc im-CE (1927- 1950).Ca rlos Augusw Pereira dos San tos. Rio de Janeiro: UFRjIIFCS.2000. 130 p. ilDisscrtaci o - Universidade Federal do Rio de Janeiro. IFCS

ISBN 857563236-1

I . Comun ismo. 2. M ilirdncia cornunista.I. Titulo.

Page 5: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer prim ciramente aos meus pais. que, mcsmo nas di­

ficuldades, tude fizeram para que seus oito filhos tivessern urn minima de

instrucao escolar; quero agradecer tambem nos mcus professores, qu e de uma

forma au de outra conrribuiram para minha formaca o. No que diz respeiro apesquisa, aProfa. Regin a I1ka Vascon celos. pelas primciras or ientacoes , suges­

toes e crfricas ao projero qu e resulrou oeste trabalho, c posreriormeme a me u

orienrado r Prof Dr. Francisco Carlos Teixeira da Silva. por sua orienracao

scmp re csrimulanre, pelas suas sugest6es pcrti ncnnssimas. que me ajudaram

sobremaneira a dcscnvolvcr csra disserracao, agora rransformada em livro.

Aos mcus contc rrdncos au nao, que scrviram de dcpocnrcs ncsra pcs­

qui sa. Aos [u nciondrios dos arquivos da Camara Municipal de Ca mocim­

C E, Paroquia Born Jesus dos Naveganr cs (Camocim-CE), Biblioteca Publi­

ca M enezes Pimentel (Fonaleza-C E), Arquivo Publico Esradual do Ceara c

Arquivo Publico Estud ual do Rio de Janeiro e Arq uivo Nacional, qu e me

possihilitaram 0 accsso a documentos relat ives ao meu objeto de pesqu isa.

A FUNCAP e CAPES. pc]a ajuda arravcs de bolsas de esrudos. Aos colegas

do Curso de Historia da Universidade Esradual Vale do Acarau (UVA) e do

Camp us Avancado de Camocim, co mpa nhe iros de jornada e co mpart ilhado­

res deste rrabalho.

Page 6: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlECAO MUNDOS DO TRABAlHO

DEDICATORIA

Esrc rrabalho cdcdicado a toda a minha famil ia e a rodos qu e'contri­

bu iram para que ell chcgassc Hesse pon to. Em especial. aminha mulhe r Mar­gareth c aos meus filhos Carlos Augusto Filho, Alia Clara c Ana Ruth pelas

horas fur tadas. Aos famil iarcs de Francisco Theodore, fundador do Partido

Comunism em Cam ocim c de Pedro Teixeira de O liveira (Pedro Rufino),

referencia da lura comunisc.t em Carnocim, cspccialmenre seus iilhos Nile

Cordeiro c Dona Cu iom ar.

A IllCU p ai . Au gusto Perei ra do s San tos, que parriu al ~ {CS dcste tr.ibalho

ter side concrctizado em livre , in memorian.

- 5 -

Page 7: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUNOOS 00 TRABALHO

SUMARIO

INTRODUc,:AO 15

CAPITULO I - QUEM ERAM OS COMUNISTAS? 21

1.1. Francisco Theodora Rodri gues - ° Intclecrual 25

1.2. joao Farias de Sousa - 0 Pcrroviario 32

CAPITULO II

OS COMUNISTAS E 0 ESPAl;:O POLITICO EM CAMO CIM 37

2.1 . "H astes Brancas versus credo vermelho : 0 embatc

ideologico ent re religiosos e comunisras 44

CAPITULO III

OS COMUNISTAS NO ESPAl;:0 DO TRABALHO 59

3.1 . 0 cspa<;o do Porro e cia Fcrrovia 61

3.2. asSindicatos e Associacoes 68

CAPITULO IV - MEMORIAS E lMAGENS DA MILITANc IA 77

4.1. °Massacre do Salgadinho 8 1

4.2. A<:, comcm oracocs do Pri mciro de Maio : 90

4.3. A greve de 1949-50 contra a rransferencia das oficinas

e fimcionarios da Estrada de Ferro 97

4.4 . Urn olhar forografico sabre a greve de 1949-50 104

Consideracoes Finais 117

Fontes 119

Bibliografia 123

- 7 -

Page 8: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(Ol EC;"O MUNDOS DO TRABAlH O

SUMARIO DE IMAGENS

Figura 1 - Mapa do Cea ra 16

Tabcla I - Populacao do Municipio de C amocim 23

Ta bela 2 - Voracao d e Faustino de Albuquerq ue 24

Foro 1 - Vista panordmica do Porro c da Fcrrovia 6 1

Poro 2 - A passcara 106

FOlD 3 - 0 desfi le 107

Foro <1 - Passcara coma os "inim igos do povo" 108

Foro 5 - 0 enterro sirn b6lico , 110

Foro 6 - C oncent racao na Praca da Estucio Pcrrovidria I I I

Foro 7 - C onccn rracao defro me aAssociacao Commerc ia!.. 112

For o 8 - Ban de iras trcmulando 113

Foro 9 - A ma nifcsracio vista de cima 114

Foro 10 - 0 C omfcio 115

• 9 •

Page 9: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlECAO MUNDOS DO TRABAlHO

APRESENTA<;AO

Desde a sCClIIa XVII, as franccscs urilizavam 0 porro narural de Ca ­

mocim para rraficar com as Indios Tabajaras da regiao da Serra da Ihiapa­

ba. Depois. os rigorcs da seca de 1877. scnsibilizaram D. Pedro II a mandar

consrru ir um a cstrada de ferro que ligasse 0 Por ro de Ca moc im aSobral - a

mai s importanr e cidade da zona norte do Ceara. Ca mocim parecia csrar prc­

dcsrinada a sec urn dos 1'6105 economicos ma is irnporrantcs do esrado pela

conjugacio da arividade portuaria c fcrrovidria. Entre as dccadas de 1920 a

1950 vive seu "boom" cconomico, politico e social, proporeionado pelas at i­

vidades desenvolvidas em turno do Porro de Camoeim c da Estrada de Ferro

de Sob ra!. 0 Porro , alias, ao final do seculo XIX e in lcio do XX, rornou-se urn

dos mais movirnenrados do esrado, poc suas condicocs narurai s, da crescenrc

industria do charq uc e 0 cornercio de importarao c cxponacao de outras rna­

rcrias-primas da regiao.

o Porto de Camocim e a Estrada de Ferro de Sobralpossibilitaram que

vdrias caregorias profissionais se insralasscm na cidade, como os portuarios e

fcrrovidrios, q ue tradicioualmentc, no pais. fcram carcgorias que tiveram urn

born nfvcl de organizacic e desencadcaram nas demai s cssa consciencia de

classe que. mais tarde foi interessante para que tivcsscmos um a miliran cia

cornunisra atuando ncsses espac;os de trabalho, assim como proc urando re­

prcsemar-se na csfcra polftica, tenrando c clcgcndo rcprcsenranrcs no parla­

memo local.

Oaf balizarmos 192 7, ano em que 0 BOC - Bloco Opcrario c Ca mpo­

ncs. cfundado em Ca mocim e q ue serviria de base para a insralacto do Co­

mite Municipa l do PC em marco de 1928 , e () perfodo que dcnomiuumos de

"boo m ccono rnico" das arividades do Porro e da Fcrrovia, isro e. as dccadas de

1920 a 1950, nosso recortc temporal, tcmpo este, rarnbdm, quc coincide com

a ma ior at uacio da militancia comunisra, co nformc sugere a documenracio e

as dcpoim cnros recolhidos.

Essa prcocu pacao em enfatiza r a rnilicincia comun isra e suas rclacoes

com as demai s miliran cias surgidas no perfodo rccortado, den-se prin cipal -

- 11 -

Page 10: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(OlE~AO MUNOOS DO TR ABAlHO

mente pclo faro da historiografla pOlICO sc atcr a esse aspccto, prcferindo qu a­

se scm pre rcalizar um n hisroria do pa rtido. de outras insriru icocs ou de iddias

do embarc po lit ico entre rcligiosos e comunisras, conformada dcruro de mo l­

des tradicionais de uma Hi sroria Polirica, que felizmenr c, hojc rcssurgc CO I11

HO VOS paradigmas c possibi lidades.

Dcssa for ma, dcscjnmos inscrir B OSS O t rabalho ncssa nova perspective

q ue a Hisroria Polftica abrc, que pcnnirc q ue ourros olharcs sejam lancados

ao polit ico , aquclc olhar nfio mais cngcssado pela cxalracdo das organizacoes

poluicas ou de pcrso nalidadcs, mas, enrcndido como a " 0 Iugar cia gest5.o da

sociedadc globa l". ponto de con fiuencia da maioria das ou rras atividades do

con junto social, scm a prcrcnsao hcgcmdni ca Oil redu cio nista , cxprcss.io par

cxcclencia da iden tidade co lctiva'.

A milirdncia comunisra em Camocim, como se nos aprescnta, possi­

bilira que possamos [fad-fa sob esre en foquc, nos ma is variados pressupostos

qu e a Historia Polirica advoga ncssa sua cscalu asccnsional . 0 pcnodo do

r CCOf( C temporal - as aco ntccirnent os politicos dcmarcadores dcssc tempo ­

faz com q ue cxisra uma rcfcrencia quasc scm pre dc nu nciadora da importanc ia

que csrc grupo tevc na hisnuia da cidadc, seja par suas 0P '10es idcologicas ou

par uma culrura polirica propria. ECO IllO no s diz Rene Remond:

" Dnf os acon recimcnros pol iticos serem fundadores das rncnralid adcs: 0

acontccimcnro solda urun gcra\':lo, c sua lembran ca continuar.i arc 0 ul­riruo suspire lima refcrencin carrcgad a de afcrividade, posiriva c ncgariva,

ale que, com 0 desaparccirucn to desm. d e mergulha na inco nsciencia da

memori a colctiva, onde conti nuard no enranro a cxcrccr alguma influcn­

cia insuspci tada'"

A "cidadc vcrmelha" pa rece com panilha r dcssas a fi rma~~6es de Rene

Remand, cxplod indo em rodas as suas cores e mat izcs• sc aprcseutando c se

ocultando aos olhos do h isroriado r de aquarcla na mao em busca de pi nrar 0

melhor quadro dessc tempo. Con rudo. a po litica nfio podc ser conformada

a lima tela au urn insran rfineo. Sua rrajeroria, por niio ser linear. ccheia do

inopinado d os acide nrcs, sc rcvclando imprevisfvcl, para descspcro da "inrcli­

gcucia orga nizado ra do real", de que nos fala Rema nd.

1 REMOND. Rene. Por uma hist6ria politica. Rio de Janeiro: Editors UFRJ/FGV, 1996. p. 449.2 Ibidem.

- 11 -

Page 11: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COL ECAO MUNDOS DO TRABALHO

Procurarem os, en tao, cornpreender como as proposras do PCB tiveram

um a penerracao abrangenre em Camocirn a po nto de suscitar umn rnilirancia

ent re as trabalhad orcs, tcn tando explicar a forca de arracao dcssas proposras.

assim como 0 relacionarncnro dessa milidncia comunista em Camocim co m

o contexte da epoca c a hisrcria do PCB , scm pre tendo em vista uma rccupe­

racao de aspectos da memo ria desse gru po de rni lirant es co munis ras, no cons­

tante deba te politico da cpoca, rraduzidos 11;15 suas cxpcricncias pessoais.

Para tan to , rcalizarnos lima incursdo pelas Comes, arravcs do mdtod o

prosopogd flco, embora urn pOllen prcjudi cado pcla falra de um corpus docu­

mental maior sa bre esse-gru po de m iliranrcs que pudcsscm subs ranciar lima

invest igacao mais p rofun da dos intcrcsscs cco nomicos, das ar ividadcs politi­

cas, das ligaC;6es dessc grupo com outros scrcrcs da soc icda dc . da genealog ia

de seus co mponemcs, como nos fala 0 historiador ing les Lawre nce Sto ne'

No en tan ro, apesar desse trabalho nfio sc caracterizar COIllO uma "b io­

grafia coleriva" do grupo militante, acrediramos que foi possfvcl fazer urn

ensaio prosopografico sob re alguns militanrcs como Francisco Theodore,

fu ndador do Partido Comunista em Camocim e out ros que se destaca ram na

mi litan cia, CO ITlO Ped ro Teixe ira de O liveira (Pedro Rufino) e Joao Farias de

Sousa (Cabocl inho Farias). Para esse inrcnro, esse metoda se revela inrcrcssan­

tc, princip almcnrc sc cstamos qu crendo busca r os lugarcs de inscrcilu desscs

mili tanr es no contexte polfrico c soc ial em qu e plasrnaram suas cxpcricncias

de vida , pmcurandu mostrar as vdrias faccras dcssa mil ir5. ncia. A esco lha des­

ses tres m ilirantcs niio se de u apenas pclo volume de docu mcnracao sobrc cles,

mas tam bern pelo valor e pelo lugar em que foram produzidas, pois, como nos

diz G iovan i Levi, "as eleme ntos biogrdficos que constant das prosopografias

so sao considerados h isroricamen re rcvcladores quando rem alcancc geral" «.

Portanro, trabalhamos as rnaisvariadas fonres, dcsde as manuscriras ate as

impresses a u Ora1S, sempre buscando cssa inrcncio de localiz..ar a aruacio dCSSt.'S mi­

litanrcs comunisras nos vdrios cspac;os da cidade onde era possfvc] cxercercm uma

arividade m ilirunre, desenvolvidas ao longo dos capnulos Jessetrabalho.

3 STONE, Lawr ence. The past and present revisited. London and New York: Routledge & KeqanPaul, 1994. p. 46.

4 LEVI, Giovani. "uses da biografia" . In: FERREIRA.Marieta de Mo raes & AMADO. Janaina (orgs.).Usos e abusos da hist6ria oral. Rio de Janeiro : Editora da FGV, 1996, p. 174.

- 13 -

Page 12: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,Ao MUNOOS DO TRA BAlHO

Daf, no primeiro capitulo, saber "Quem eram os comunistas?"e uma

oporrunidade de passearmos pc]a milit dncia com unista arraves de urn ensaio

prosopografico sabre Francisco T heo doro c [oao Farias de Sousa, assim como

de sent irmos 0 clima politico da cpoca. ]a no segundo capitulo, esse clima

ro ma feilfoes mais loeais para podermos cnrcndc r a insercac d e ..ascomunistas

eo (Sparopolitico em Camocim", a nde a aruncfio de Pedro Teixeira de O liveira

cdcstacada , nfio apcl1as por ter sid o vereado r, como tambcrn 0 dcsraqu c do

Camire Mu nicipal do Partido Comunisra nas clcicoes de 1946 c 1947 em

aprCsclltar ou rros flum es pa ra a d ispura cleitoral.

No rcrceiro caplrulo. mostraremos a interessante atuacfio de "Os co­

mnnistns !lOS (SpafDS do trabalbo", scja por pro l11ovcr umu organizacao dos

trabnlhudorcs em suas diversas caregorias profissionais, fundando associacoes

e sind icatos, seja por mobilizarcrn a populacao para a defesa de seus di reitos c

de seu patrirn onio, como a rcfcrencia sobre a grevc contra a transfcrencia das

oficinas de man urencf o de trens e de funciondrios da estrada de ferro"

As "Me',mJrias t imagtns da milital1cia" co mpoem 0 quarto capitulo

dcssa disscrtac ao. Nclc, procuram os analisar a nocao de memoria divididd

para cnt endermos a Massacredo Siligadinbo, ocorrido em Ca mcc im em jun ha

de 1936, parram a , ainda no c1 ima da reprcssfio ncs movimenros comunistas

de 1935; os v.trios semid os dns comcmorncocs do Primeiro de Maio, assim

CO IllO du lura da populacao durante rres moses, novembro de 1949 a janeiro

de 1950, para nfio dcixar que as oficinas c funciondrios da cstrada de ferro

fossem transferidos para Sobral c Fortalcz..1.. Sabre csre evento, rcalizarcmos

rambcm uma analise de 1lI11 conjunro de row s qu e documenram a aconrc­

cimcnro. Po rran ro, a nosso ver, sao nestes tres momcnros que a militancia

camunista cmais vislvcl, tanto para des como pam a pop ulacao em geral.

- 14 -

Page 13: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(OLECAo MUND05 DO TRABALHO

INTRODUC;Ao

A historia das ferrovias no Ceara come,? em 1870 com as rraba lhos de

construcao da Estrada de Ferro de Baturitd fazend o a liga~ao com Forral eza.

as cfcitos da seca de 1877 fizeram com que 0 Govcrno Imperial dccid isse

dimi nuir urn pOlleD a calarnidadc, decretando a cons tr ucao de uma rede fer­

rovidria ligando 0 Porro de Camoc im acidade de Sobral (1878) .Jaem janeiro

de 188 1 Cinaugurado 0 primeiro trccho da ferrovia en tre Camocim e Granja,

c finalm ente ern dezembro de 1882, as tri lhos chegam a Sobral. iniciando-se

as arividades de tdfego de passagciros e mercadorias. A fcrrovia se cstcnderia

ainda ate Crateus, rumo ao estado do Piauf, numa exrensso de mais de 370

qu ilom etros.!

Ent re as anos 20 e 50 dcsse seculo, den -se 0 "boom" economico da

Zona No rte do Ceara, (ver mapa) ancorado nas at ividades descnvolvidas no

Porto de Camocim e Estrada de Ferro de Sobral. Com a dcsativacao paulatina

cia ferro via, transformada nesse proccsso em ramal ferrovidrio. foi sc frendo

dcsgasres em sua malha fer rovidria com descasos administrat ivos qu e acaba­

ram po r fecha- la definit ivamente em 1977.

Q uanta aatividade portu dria, nao tendo Fortaleza maiores facilidades

de ancorarnento de navios, cabia aCamocim boa pane do movimento ponu­

drio, durante 0 perfodo acima recortado , scndo um a das principais ponas de

entrada do Ceara. Comudo, 0 canal natur al do rio Coreau, qu e dava acesso

ao Porto de Ca mocim, tinha problemas de assoreamenro, exigind o assim que

sc rcalizassem dragagens pcr iodicas, nunca arend idas.

5 Sabre a Est rada de Ferro de Sobrat, ver; OLIVEIRA.Andre Freta de. A Estrada de Ferro de Sobra/.Forta leza: Expressao Grafica e Editora. 1994.

- 15 -

Page 14: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE~Ao MUNOOS 00 TRABALHO

FONTE: Perfil do Estodo do Ceara, 3". cd, p.17!. Fortaleza-CE, 1995-1996.

Dessa for ma, foram-se inviabilizandc as arividades por to-ferroviarias

desse com plcxo de escoarnento cia producio da zon a norte do estado, repre­

sen tado pclo pc c cera de carnauba de Cranja, 0 sal de Camocim e C heva l,

o pcscado de roda a zo na liroranea, a casta nha de caju desscs m un iclpi os, as

cereais cia zo na do .scrrao de Sobra l e Crareu s, en fim, de uma gama de prod u­

tos de men us impo rrancia co mc rcial, mas esscnciais nas pcqucnas transacocs

do s peq uenos pro prietaries, scm falar no propr io trafcgo de passageiros ent re

Camocim, Sobral e Portaleza.

Ncssc conrcxro, as rclacocs de rrabalho qu e gravitavam em torno do

por ro e da ferrovia iriam se dcscnvolver sob remanei ra, envoivcndo divcrsas ca­

tcgorias pro fission ais. Aldm dos ferroviarios c portuarios, salinciros, pescado­

res, trabalhadores da consrrucao civil, agricultures, empregados do comcrcio

c pequc nas fabricas, den tre o urras, formavam um conjunro de categories que

aruavam ncsse espac;o. N unca edemais realcar qu e terrovidrios c po rruarios tra­

dicion almcnrc no Brasil foram carcgorias de rclcvancia nas lures par conquistas

de mclhorcs ccndicoes de vida e trabalho. 0 "opcra riado" nesse momenta sc

constitui, pon ama, no seror de services que csscs panos e ferrovias ofereciam,

- 16 -

Page 15: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

C O LE ~AO MUNDOS DO TR ABALHO

diferentes de uma caracrcrfstica fabril. Nesse arnbienre, a rnili tancia com unisra

encontrou urn chao (eftil na difusao de ideias soc ialisras c comunisras, cncra­

vando, af grande pane de seus quadros. principalmeme quando 0 obre irismc

se consritufa na ten dencia mais forre no Partido Cornunista do Brasil. Em Ca­

mocim, isso nao seria diferente. Com efeiro, sao nessas caregorias que iremos

perccbcr as comun istas que iremos chamar de primeira hora, rcsponsivcis por

um a aruacto eficaz, do pontO de vista cia persisrencia de seus ideais, durante

nosso recorre temporal que a presentc pesquisa abarca.

A prcscnc;a. desses homens desassombrados deve sec ressaltada e enten­

dida nesses cspa~os de rrabalho, pais, entre as salineiros, operarios cia cons­

tru cao civil, agricul tures , fiincio narios piiblicos c ourras caregorias, seriam

des, fossem coruunisras, sirnpatizantes a u apenas sindicalisras, que iriam se

confronrar com urn quadro politico tfpico da cpoca , cstribado no conserva­

dorismo e no jeito coronelistico de se fazer po litica. A atuacio desses homens

qu e pretend emos evidenciar pela sua milirancia pcllrica pode ser percebida

em varias frenres.

Sua aru acao se evidenciava nas paginas de "0 Oped rio", dirigido por

Francisco Thcodoro Rodri gues e nas manifesracoes popu lates, como vere­

mas, em qu e se conrava com a presenc;:a de Ped ro Teixeira de O liveira (Pedro

Rufino) na Ca mara Municipal. Na sua ac;ao, defenderia "os mais legitimos

anseios cia pnpuladio", defendendo causas dos "mcnos favorecidos", puis, ele

entendia mu ito de legis la~ao trabalhista, pelas suns den rincias no Jornal "0

Dernocrara", de Fortal eza, e sua efctiva milirfincia em momentos de reivindi­

cacao dos trabalhadores.

Outro desses homens desassombrados, Sotero Lopes, par suas atirudes

de dcfcsa do pescador, do por rudrio, e de operarios da cc nst rucio civil, e

rambern par expressar suas preferencias poliricas, foi espancado pela policia

em momenros de repressao. Acabou sendo usado como simbolo pela polfcia

para mostrar 0 que ela era capaz de fazer com com unisra, arrasrando-o pelas

ruas, surrado, com uma placa no peiro e 0 indicativa de cornunista, tal qual

urn "C risto", anu nciado como Rei dos Judeus. Raimundo Ferreira de Sousa

(Raimundo Vermelho), agriculto r, salineiro, estivador, vitima do Massacre

do Salgadinho, viria a morrer tres meses depois do ocorrido, par conra das

torturas que sofrera na Cadeia Publicade Forraleza.

- 17 -

Page 16: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(OlE~AO MUNOOS DO TRABAlHD

Atuando no seiodessas categorias, Rairnundo Verrnelho lcvavaa espcranr;a

de mclhoresdias a seuscompanheiros, pudenda SCI' considerado sfrnbolo das luras

sociais, Efetivamente, a presens:a de com unistas c simparizantes ja come? a sec

pcrccbida em varias organizacoes que apareceriio em Camocim ent re as decadas

de 30 a 50. EmCamocirn, dando inicio a urn. tradicic de luras e que, por exem­

plo, se insrala a primeira c unica Liga Camponcsa no Ceara, OJ. presidencia de

Francisco das ChagasTeixeira", que posrcriormcnre se transformara em Associacao

dos Pcquenos Produrores de Camocim . Na Associacao Beneficenre Ferroviaria, 0

Sindicaro dos Carrcgadoresdo Porro, 0 Sindicaro dos Salineiros c da Co nstrucao

Civil e ORcias Varies irao tambem figurar militantcs do "credo verrnclho".

o primeiro congrcsso do Bloco O perario c Campo nes realizado em

1930 no Ceara ira conrar com significativa peesen~a dessas entidades, que

irfio se destacae nfio s6 pclo rulmero, mas tambem pclo grau de polirizacfio

demonstrado nas discussdcs, principalmente do Bloco Opcrdrio c Campones

e do Sindicaro dos Pequenos Agricultoecs7,

A peesenlla de com un istas ou simparizanrcs ira tambern se observar em

ou tras associacoes de cardrer filanrropico, services e de lazer,confoeme 0 Livre

de Rcgisrro de Pessoas Ju rid icas de 1950, do Carrorio Andre, e 0 jomal "0

Democrata", onde podemos consratar suas participacocs, principalmenre na

composicao de suas respect ivas dircrorias. ]oaquim Rocha Veras, no Camo­

cirn Club. era mernbro do Conselho Fiscal; Sorcro Lopes c Pedro Teixeira de

Oliveira. da Sociedade dos Amigos de Camocim; Dona Gu iomar Cordeiro da

Silva era uma das mais atuanres na Uniao Feminine.

Essas parricipacoes de comunisras nessas cnridades podiam sec pec­

cebidas no dia-a-dia dos jornais, pri ncipalmente em "0 Dernocrara". Nas

carn panhas promovidas pelo jornal, Camocim quase sempee era 0 primciro

6 " Embora devamos esperar pela decade de 60 para ver 0 surgiment o dos primeiros sindice tcs det rabalhadores rurais no Estado, desde os enos 40 desenvolvia-se no interior um pade nte es­force organizativo de masses camp onesas. Esse trabalho vincu lava-se d iretamente as diretr izesemanadas do PCB. Easslm que sera fu ndada em Camoci m a primeira e (mica l iga Camponesa" .OCHOA, Maria GI6ria Wormald. As origens do movimento sindica! de trabalhadores rureis noCeara. 7954·1964. Fortaleza: UFC/NUDOC. 1984. p. 48. Essa assoclecac deriva para urn Sin­dicato de Pequenos Agr icultores de Camocim e. atua lmente. eo Sindicato dos Trabalhado resRurais de Camoci m.

7 RIBE IRO, Francisco Morei ra. a PCB no Ceara: escensac e declfnio - 1922-1947. Portat eza: Edi~6es

UFClStylus, 1989, p. 34, Apud : MONTENEGRO, Abelardo. Os Part idos Politicos do Ceara. Forta­leza: Edi~6es UFC, 1980, p. 131.

- 18 -

Page 17: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO l EC Ao MUNOOS 00 TRABAl HO

a cobrir suas coras, seja em campanha por aurnentar 0 numero de assinantcs

do jornal, de subvencoes para compra de papel e chumbo, necessaries para

irnpressao do mcsrno", seja no recolh imenro de assinar uras para algum fim

especifico que 0 PC B desencadeava no esrado au no pais.

Essa eferiva participacio dos cornunisras e simparizanrcs ncsras cnri­

clades, assim como no cotidiano da cidade, pcrmirc que sc pcrceba a aruacfio

desse gru po, ram o ncsras ent idades qu e nfio cram propriamentc co m unisras,

como nas cntidades ligadas mais di rcramcnre a d es, como 0 pr6prio Partido

C omunista e ourras criadas sob sua tutel a. Nesses espa<;os das associacoes,

como nas m as, nas prac;as, na sede do partido. nos muros, nos vagdcs dos

rrcns, nos casebres da periferia VaD aparecer os mementos e locais mais sign i­

ficativos dessa milirdncia comun ista.

A Sociedade dos Amigos de Camocim, a Uniao Femin ina c os nucleos

da Alian ca Nacional Libertadora (ANL) e Frenre Democdrica de Libertacao

Nacion al (FDLN) locais sao exemplos de orga nizacoes que most ravam a aru­

alTao de seus filiados na cidade, motivados tanto por suas questoes poltricas,

q U 3 IHO pd a associacao com 05 problemas mais gerais da comun idade em

scus morn enros de reivindicacao que exigiam 0 esforco de todos. Nos referi­

mos mais especificame nre as demandas que essas associacoes apresentavam,

da necessidad e de dizcrcm que estavam presentes na discussao dos problemas

locais c nacionai s, cxigindo qu e seus mcmbros dcmonstrassem de alguma for­

ma seus desejos de rnud anca. A Sociednde dos Amigos de Camocim tinha urn

objetivo de discuri r os pr incipa is problemas do mu nidpio, aceirando quem

qu isesse dela fazer parte, cria r uma cscola e polirizar seus socios. A Unitio Fe­min ina ajudava principalmente no socorro de necessitados, orga nizando lista

de subvencoes de apoio apobreza local, formando comissoes de senhoras para

ir junto as autoridades busca r apoio para as necessidades mais prementes dos

carentes nos mementos mais diffceis.

Mas nada impedia que as comunistas estivessem prcsentes, tendo uma

atuacao importanre na organizacao da populacao quando 0 caso era de interesse

geral, co mo na greve de novemb ro de 1949 a janeiro de 1950, conrra a rcrirada

B Essa campanha dcscnvolvida a ntvel nacional pelos [omae comvnistas atendia pela sigla deMAIP - Moviment o de Apoio a lmprensa Popular.

- 19 -

Page 18: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlE~AO MUN DOS DO TRABAl HO

das oficinas de manutencac de trens e a rransferencia de fimciondrios cia Estra­

da de Ferro para Sabral e Porraleza. 0 nucleo da AN L, apesar de sua efcmera

exisrencia, [eve aqui 0 obje rivo maior de sua criacao , au scja, a implemenracao

de uma (rente de libertacao do povo brasileiro do "governo rraidor des ideais re­

volucionarios" de 1930. Pesquisando os processos relatives aos levanres de 1935no Arquivo N acional, pudemos perceber algum esforco no senrido de se orga­

nizar alguma aljJo, debit, e verdade, no caso da mobilizacao de uma resisrencia

da fracassada tentativa de 1935, que redu ndaram nas derrotas de sublevacio

no Recife e Rio de Janeiro. organizadas por rnembros cia Direcao Estad ual do

Partido Comunista, a part ir de Camocim e do Piauf, amanda na reorganizacao

das forcas que marchariam posrcriormcnrc rumo a capital.

Nos processos, a apreensao de nrmas, documentos, panfleros sao indicios

desse intenro. Noradamenre, eem 1936 que sc clara 0 maior nurn ero de prisoes de

comunistas camocinenses ou acusados de ter alguma liga)5o com des. Eem 1936,

nu ma noire de .Sao joao. que ocorrcria 0 Massacre doSfllglldinIJo, faro esreque reve

repercussao nacional, como urn dos arcs de violencia do Governo Vargas. Alemdo

Massacre do Salgadinho. a milicincia comunisra em C amocim sc aprcsenra tambem

nos momentos de comemoracao. As fcstas do Primeiro de Maio se coofigucam

como momenta festive de milhares de pessoas entre comunistas e trabalhadores

em geral reunidos na Praca7 de Setembro nas paginasde "0 Dcmocrata", tantopela represenrarividade das entidadessindicais como dos discursos de inrcnsa poli­

rizacao dos comunistas", a s aniversiriosde LUIS Car los Prestes, principalmenreos

seus50anos, sao comemorados com pichacoesde mums e foguet6rio. A "audacia"dos camaradas de Prestes rendc prisoes c espancamcmos. como mostra a foro es­

rampada no aludido jomal de Sotero Lopes".

Essa descricao, portanto, das pessoas. dos lugares, das profissoes, dos

espac;os do trabalho e da poltrica, das mais diversas relacoes sociais, da pro pria

historia da cida de vista por este pr isma e no perfodo recorrado pela pesquisa,

e uma renrativa de mostrar 0 universo, 0 campo onde nosso trabalho csrara

ancorado c que sed desenvolvido nos capirulos posreriorcs

9 Ja mal "0 Democrata". ana I, nv. 56, 15/05146, Fartaleza, p. 3.10 ld.ibid. ns, 959, 18/01/1950, Fortaleza, p. 1.

- 20 •

Page 19: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlE,AO MUNDO S DO TRABAlH D

CAPiTULO I

QUEM ERAM OS COMUNISTAS?

Ames de realizarmos urn csforco de idcmifi cacao para dizermos "quem

cram os cornunisras", gosta riamos de fazer algumas conside racoes sabre

"quanros cram os comunistas", numa tenra tiva de, por esre aspccro, tarnbem

busca r um a varidvel significariva para explicar a "susranca"!' do Partido Co­

rnunisra em Camocim.

Levanrar urn mimerc prcciso de m ilitan res e sim patizanres do Par­

tido Comunista em Camoci m e um a tarcfa diflcil, vista nao dispormos de

documenros do partido que nos possa forn ecer a exatiddo desres mimeros,

principalmente no penodo recortado por nossa pesquisa. Por Quem lade, einquesrionavel sua irnportancia numerica nesse periodo se Jevarm os em conra

o dcscmp cnho do Comire Municipal ressaltado pelo D iretorio Esradual e 0

jornal "0 Democrar a", seja pela participacao eferiva da mil irsncia em Camo­

cim nn lura pclos ideais partiddrios, scja pclo cumprimen rc das rarefas dadas

pclo partido aos rniliranres, ja que a comire municipal de Ca mocim quase

semprc era urn do s primeiros a curnprir refcridas rarefas, 0 que exigia, scm

duvida, urn bom numcro de militantes para a eferivacdo dcssas rarefas, assim

como desimpatizanrcs.

Daf , campanhas de assinarura do jornal "0 D emocrara", subvencoes

para 0 MAIP - Movimemo de Apoio aImprcnsa Popular12" abaixo -assinados,

relegramas de repudio erc., eram frequ enrcs e bem desracados nas paginas do

refcrido jornal. Essas manifestacoes cram quase sempre envi adas as aurorida­

des sob a chancela de uma entidade representativa de c1assc, 0 que mostra a

pcn ctraclo dos com unisras nas mesmas, indo desde moradores d e bairros,

associacoes beneficen res, asoeiedades filantropicas e sindica ros.

11 Termo emp regado pelo jornal ista Lustosa da Costa ao se referiraatividade do Partido Comunis­ta em Cemccim. principalmente no ambito da Estrada de Ferro.

12 Esse movimento dese ncadeado pelos jornais comunistas vlsava principalmente arrecadar di­nheiro para a comp ra de pape l e cburobo. em campan has especiticas para tal fim e amplamen­te d ivulgada pelos mesmos .

- 21 -

Page 20: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,AD MUNDDS DO TRABA LHD

Se quisermos ter uma ideia de urn numerc, podemos busca- la no de­

poimcnto do "Scu'' Nilo Cordeiro da Silva, 73 anos (2000), que nos diz sabre

a an iruacao dos "bons tempos" cia militdncia na sede do partido comunista:

"E rinha a sede do Partid o que era ria Rua Scnador (Scnador jaguaribe).

Era uma scde muito grand e, tin ha rnuita gemc... uns 800 filiados e 0

Partido tinha urn movimenro muit o grande , a genre fazia com fcio aqui na

Rua do Quadro, qu e Ja va um as Hes a qu atro mil pessoas"!".

Scm se referir a numcros absoluros, 0 [ornal "0 Demo crara", qu ando

noticia as comemoracocs do Prim ciro de Maio de 1946, urn primciro de maio

especial, node os ares de urna rcdcmocran zacao bafejava a ccna pol trica do

momenta, cia-nos umu ideia cia grandiosiJ ade destes mementos:

"Tomaram pane do desfile, alem de grande num ero de populates, as rc­

presen ranres de rodo s os sindicar os C organizacdes de classe as quais osren­

ravarn, garbosamcnrc, os scm estnndnrtcs com galhardia ao vente, como

que a varicinnr lim futuro feliz c progressisra para 0 Prolet ariad o e 0 Povo

brasileiro' .

"Depois de realizadaa p a SSC:H:l, () P OVO se nglomerou na Praca 7 de Serer»­bra para assistir a palavra de scus oradorcs"!",

Alcm da irnprccisao do numero, vale ressalrar a distincao qu e 0 jor­

nalisra fai', entre prol ctariado e povo. Num primeiro momenta, povo sao os

populates qu e se junram arnassa de represenrantes do proletariado qu e juntos

manifcsram sua espcranr;a em dias melhorcs para 0 "proletariado c 0 povo".

Dcpois, na pra~a do comfcio, 0 jornalisra parece juutar esses dais cor pos num

so "povo'' para ouvir os discurso s de scus lfderes. Ao analisarmos outra cstima­

(iva, a imporran cia dada 3 Estrada de Ferro nessc conrcxro Cinteressante, nao

scmenrc pelo numcrc , mas pela inrensa atividadc da militancia desenvolvida

no espar;o de trabalho da fcrrovia, com SCllS ccrca de trczcnros funcionarios",

a rnaioria op erdrios das oficinas de manutcnciio de rrens", sabidamente co-

13 Entrevista realizada com 0 Sr. Nilo Cord eiro de Silva, em 16/03/97, Camoctm-Ct .14 Joma! "0 Democrata", ana I, nv. 56, 15/05/1946, Fortaleza-CE, p. 3.15 OLIVEIRA, Andre Luiz Frota de. A Estrada de Ferro de Sobral. Fort aleza: txpressao Grafica e

Editora ttda. 1994, p. 103.16 rntorrnaceo do fundonario aposentado pela RFFSA, Arthur Queir6s, em entrevista concedida ao

autor.

- 22 -

Page 21: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,iio MUN005 00 TRABA LHO

munisra ou simpatizante do comunismo e de o nde adveio alguns dos mclho­

res quadros do Partido em Camocim, dcnrrc des, Joao Farias de Sousa, mais

con hccido como Caboclinho Farias.

Urna ultima consideracao a rcspciro de cscirnativas trara-se de fazermos

uma comparaclo entre 0 impreciso e 0 relative demonstrado em linhas an­

teriores (oirocentos, trezenros, cres a quarro mil, grande numcro) cos dados

fornceidos peIo recenseamenro de 1920, 1940 c 1950 e sabermos se realmen­

re era significative 0 numcro de comunisras c sirnpatizantcs, urilizando esse

criteria quantitativa:

POPU LA9\O DO MUNiciPIO DE CAMOCIM

A N 0 SLOCAL 1920 1940 1950

H M T H M T H M T

Sede 5339 6059 11198 6329 6992 13321 - - 13.235

Distritos 2937 2936 5873 7296 7024 14320 - 20.923

Totals 8276 8995 17271 13625 14016 27641 - - 34. 158

PONTE: IBGE -Ccnsos de 1920, 1940, 1950 e 1991. (grifos nossos)

Como as indicacocs de "Scu" Ni!o c do jornal "0 Democrata" se re­

ferem aos an os 1940 e, levand o-sc em conra q ue esSJS man ifcsracoes da mi ­

litdncia se davarn na sedc do muni cipio, 0 l1l'1l11CrO 13.321 co q ue deve ser

tornado como base para se fazer essa comparacao. isro e, 800 filiados entre

os 13.321, pOlleo rna is de 5%, au tres au quatro mil pessoas neste mesmo

universo, rcprcsc nrando entre 20 a 30% do tota l. Co nr udo, levando-se em

contu 0 numero de eleirores, essa perccntagem sobe sc a cornparacao se fizer

com base nas Eleicoes Governamemais de 1947 pela voracao rccebi da pelo

can diduto apoiado pelos cornunistas. Nesta eleicao dispuravam 0 governo

do Esrado Faustino de Albuquerque (que fora a primciro ju iz da Comarca

de Camocim), sob a legenda da UDN, eo general Onofre Muniz, pela sigla

do PSD, filho natural de Camocim. Mesmo sem accitar publicamente 0

apoio dos comunisras, Faustino de Albuquerque era 0 candidate preferido

e recomendado por des, enquanto 0 general Onofre Muniz era declara-

- 23 -

Page 22: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE(Ao MUNOOS DO TRABALHO

darnen tc 0 cand ida te apo iado pela Igreja Catol ica. Essa clcicao, alem de

revelar a oposicao VON versus PSD, mostrava 0 claro embate ideol6gico

entre religiosos c comunisras".

Votaljao de Faustino de Albuquerque'·

Maioria superior a 80,0 1%

Municipio

Camocim

Voros

3.080

Percentual

84.33%

Ressalre-se que esse percentual foi a maior registrado em todo 0 esrado

do Ceara em favor do candidaro da UON. Apesar de Camocim rer sido 0

berco de nascimento do general Onofre Muniz, sua voracao nao passou de

15.67 0/0. ism e, 483 voros. Em ou rrcs munidpios ondc 0 PC B tambc m se

desracava e a UON era fone, Faustino de Albuquerque ob teve bons ind ices,

co mo 73,070/0 .em Crateus e 72,800/0 em Cauca ia, apcsar da aruacao scparada

desses partidos'"

Apcsar das dcclaracrics publ icas de Faustino de Albuquerque cont ra­

rias no apoio dos com unistas dadas asua candidarura, eferivamenre, dele se

bcncficiou pcla voracao rccebida. No entanto, essa "coligacto" UDN/PCB vai

urn pOlICO na co n rrnmdo dos acordos politicos firmados no resranre do pats,

onde 0 PC B, tendencionalmenre, coligava-se com 0 PSD , mas, que no Ce­

ara, com 0 apo io cia Igreja Carolica, esre partido desenvolveu sua cunpanha

baseada prioritariamenre no com bate ao com unismo.

Fcitas cssasconsidcracoes, parriremos enrao para a andlise sobre "quem

cram as cornunisras?". A partir dos dep oim enros c docurucntacao, varie s na ­

mes vao despontar como sendo os cornu nisras de Cam ocim c que n6s iremos

chamar de cornu nistas cia primeira hom. 0 tempo dccorrido da fundacao do

Partid o Comunista no Brasil, sell apareci rncmo no Ceara e a insralacao do

17 Para saber mals sabre essas eleicoes ver: NOCA. Francisco Wilson. Serm6es, matracas e etce­trao : religiosos e comunistas na luta peto Poder. 1946-1950. Fortaleza: Expressao Grat ica eEditora/Funda~ao Cultura l de rorteleze. 1996.

18 Fonte: T.R.E. Cf. "Gazeta de Notkias", ro rteleza. 4/2/47. p. 3. Apud NOCA. Francisco Wilson.Op. cr., p. 153.

19 NOCA. Francisco Wilson. Op. cit p.1Sl. Creteusse localize na Zona Norte do Estado e Ceucelafaz parte da zona met ropotitana de rorteleze.

- 24 -

Page 23: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE~AO MUNDOS DO TRABALHO

Cornite Municipal do PCB em Camoc im erelativamente curto. Se 0 mesmo

surge em 1922, 110 final de 1927 ja e registrado em Fortaleza, e no inicio de

1928, finca suas bases em Camocim, sendo a primeira cidade do int erior do

Estado a faze-lo,

Enesta primeira bora que homens e mulheres VaG tecend o um a ideo­

logia politica diferente daquela existente na cidade, marcada pelo conservado­

rismo , onde a lura pela manutcncao do poder se esrriba na forca e privilegio

de quem manda mais . Dai, destacaremos hom ens que imaginaram urn outro

tipo de sociedade, vivenciaram outras lucas e ate morreram por Olm os ideais.

1.1. Francisco Theodoro Rodrigues - 0 Intelectual

A hist6 ria do Partido Cornunisra em Camocim se confunde com a

hisrori a de vida de Francisco Theodora Rodrigues. Durante seus muitos anos

de militancia em varias cidades e estados, adquiriu e recebeu outros nomes e

codinomes com o "Francisco Theodoro de Ca rvalho", "Frantino" e "Apdg io

Melqufades'?", constantes nos processos instrufdo s cont ra cleo

Fundador do PCB em Camocim, Francisco T heodo ra parece encarnar a

atitude de sercornunista de que trata D ulce Pandolfi." Como jornalista, Chico

Teodoro, como era mais conhecido por estas bandas do Ceara , edita 0 prim eiro

jornal cornunista no interior do estado, "0 Operario", antes mesmo da fun­

dacao do Partido Co munista em Camocim. 0 jornal "0 O perario", atuando

na defesa dos trabalhadores camocinenses e incentivando uma representacao

trabalhista na Camara iria incomodar rnuira gente , principalmente os chefes

politicos locais, pelo seu carater desassombrado em denunciar os seus desrnan­

dos adrninistrativos, alem de fazer analise de conjuntura estadual e nacional.

Exemplo disso e 0 processo movido pda Ca mara Mu nicipal contra

Francisco Theodoro par "injuries irnpressas?". No ed itorial do dia 13 de

ju lho de 1928, 0 jornal traz 0 casu do "M atado uro Modelo'T', projeto que

20 Respectivamente, APERJ/ Fundo : DOPS/ Serle: Prontuarios. nO. 16.744, p.1; A N/ Fundo/Cole­c;ao : TSN/ Processo nO: 473, pp . 72, 74; e APERJ/ Fundo : DOPS/Serie: ESTADOS/Pasta: 16 PI.

21 PANDOLFI , Dulce. Camaradas e Companheiros. Historie e Memoria do PCB. Rio de Janeiro:Relume Durnara: Fundacao Roberto Marinho , 1995 .

22 Arquivo Publico do Estado do Ceara. Processo crim ina l contra Francisco Theodoro Rodrigues.1928 / A,Des Crimina is. Pacote 2 1 (1925-1928).

23 Jornal "O Operario ", anno II, nO. 25, 13 de j ulho de 1928, p.1, Camoc im-CE.

- 25 -

Page 24: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE~AO MUNDOS DO TRABALHO

criava esse service para C amocim e que segundo 0 mesmo, faria aumentar 0

pres:o cia carne para a populacao,

Nesse ed itorial, Francisco Theodoro f.'1Z duras cnticas aos vereadorcs

qu e foram a favor do projeto, .'10 mcsrno tempo em q ue ressalta a atitudc

daqucles que votaram contra, fazendo com que 0 mcsrno nfio tivesse sido

aprovado '" , A ultima parte do ed itorial resu me a posicio que 0 jo rnal assume

d iante da votacao desse projeto:

"0 povo de Camocim nfio deve rolerar que esses individuos inescrupulo­sos estejam afrenre de sua reprcsenracao. Esses cafagesres da 'pancllinha'devem ser enxorados a pau c a pontapes do Conselho Municipal. Comoremos indepcndencia para atacar os acros lesivos quem quer que seja, re­mol-a para elogiar, os acres alrruisricos e nobres. E pelas colurnnas donosso humi lde jornalzinho, vimos em nome do operariado e da popu­lac;ao pobre de Carnocim, apresenrar a nossa mas profunda gratidao aosvereado res que votararn contra 0 maradouro modelo de Carnocirn":".

Vale ressaltar que a esse tempo ja se pode obscrvar urn ernbate na imprensa

local entre 0 jornal "0 Opcnirio", dirig ido par Francisco Theodoro e "A Razao",

cujo diretor proprietario, Andre Pessoa, era um dos vercadores atingidos pelo edi­

torial cirado acima, defendendo suas respectivas escolhas ideol6gicas, nao so em

fatos espedficos como 0 do "Matadouro Modele", como de aspectos mais gerais

referentes as opcoes polfricas dos grupos que cada jornal represenrava,

Ante s m esmo dessa querela, Chico Teodoro ja havia sido preso em 9 de

abril do rncsrno ana, vitirna das persegui c;:6es de urn de seus adversaries po ll­

ticos, vereador Jose Carlos Veras", faro estc que renderia notas em jornais da

capital do Esrado e da Republica" . Chico Teodoro se refugia na cidade vizinha

24 Osvereadores que votaram cont ra 0 projeto do "Matadouro Modelo " foram : Josias Carva lho,A. Barros, Jose da Paschoa Sobrinho e Hildebrando Calado.

25 Jornal "O Operario", anno II, n" . 25,13 deju lho de 1928, p.l, Ca mocim-CE.26 No quadro politi co da cidade, a familia Veras dominou absoluta desde as decades f inais do

seculo XIX ate os anos 40. juntamente com a fami lia Coelho, os chamados Veras Coelho. Nof inal da decade de 40 entra na cena polit ica a familia Agu iar, diss idente dessa entao oligarquiae que, a partir dai, alternam-se no poder ale os dias presentes.

27 Fizeram a defesa de Francisco Theodoro: "A Esquerda", de Fortaleza, de 12 de abril e 20 demaio; "0 Ceara" , de 13 de abril e 20 de maio; "A Gazeta de Noticias", de 12 de abril; "A lm­prensa", de Sobral de 25 de abril e 20 de maio; "A Comarca", de Granja de 14 de abril e 5 dejunho; todos estes anexados ao processo. Segundo Francisco Theodore, "0 Globo", do Rio deJaneiro, e outros jornais seocuparam do caso e nao esta o anexados ao processo POI' nao te-losem maos. Arquivo Publico do Estado do Ceara. Processo criminal contra Francisco TheodoroRodrigues. 19281A~6es Criminais. Pacote 21 (1925·1928).

- 26 -

Page 25: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE~AO MUNOOS 00 TRABALHO

de Granja ate 30 de maio, e ainda permanccc escondido em casa de amigos ate

que a siruacao sc acalma . Nas "Razoes de Appelacao" que 0 proprio Francisco

Theodora faz a scu favor, coma minuciosamcnre as pcrscguicocs promovidas

por Jose Carlos Veras, ate ao acontecimenro do aludido editorial.

"Esse senhor em 8 de abril do anna passado, dissolvcu uma reuniao de

eleitores por mim chefiada, ameacando a rodos de varrer a bala: Ainda nfio

sarisfeiro com essa arbirraricdade, no dia nove do mesilla mel" exercendo

grande infiuencic sobre 0 seu rio, 0 delegado de policia, me prendeu c

trancafiou scm culpa alguma em uma prisao inmunda, durante vinrc c

seis horas e incommunicavel. Durante esse tempo as unicas pessoas que

ali poderam penetrar, foi a minha senhora, 0 Sr. joaquim Coelho, I". Ta­beliao e 0 Dr. Targino Filho, juiz da Comarca, que para minorar a minha

situacao, fora me propor a libcrdadc com as condicoes de eu me ausentar

desta cidade, 0 que rejeirei por ser dernais hurnilhantc":".

Na verdade, 0 PCB s6 scria fundado em Camocim no final de 1928,

mas, pela militancia de Francisco Theodoro nos meios operdrios, os conflitos

entre 0 mesmo c Jose Carlos Veras ja vinham sc acirrando.

Alem das perseguicoes que Francisco Theodoro relata em suas "Razocsda Apellacao" anexa urn artigo de ''ARazao", jornal edirado em Camocim, cujo

diretor-proprietario, Andre Pcssoa, era um dos vereadores atacados poc Francis­

co Theodora em seu editorial, que rnostra naquele momcnro a conflito polf­

tico via imprensa dcsse bloeo de vereadores C 0 grupo lidcrado pelo diretor de

"0 Operario", que seria 0 mesmo que fundaria 0 PCB em Camocim. Em vdrias

passagens do artigo "venham deftente couardes!", publieado em "A Razac", jarevelava a clima que se criara em torno das posicocs poluicas desses grupos:

''A polftica malsinada de outras terms de vida dcsordcnada, que todos nos,os de senso cornmum condcmnam, esrd infelizmente montando 0 scu

rriste scenario em Camocim, para delcirc do instincro vii de meia duzia de

magarcfcs da honra alheia'".

28 Arquivo Publico do Estado do Ceara. Processo crimina l contra FranciscoTheodora Rodrigues.In: "Razzes da Aoettacao". 1928/ Acoes Criminais. Pacote 21 (1925-1928), p. 45.

29 "Venham de frente covardes". In: "A Razao'', 29 de setembro de 1928. Camocim-CE. ArquivoPublico do £stado do Ceara. Processo criminal contra Francisco Theodoro Rodrigues. 1928/A~6es Criminais. Pacote 21 (1925-1928), p.47

• 27 .

Page 26: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEcAO MUNOOS DO TRABAlHO

o processo contra Francisco Theodoro, que comeca em agosto de

1928, sc arrasta arc 1930, percorrendo as comarcas de Camocim, G r~lI1j a.

Sobra l, Santa Qui teria e finalm ente julgado pelo juiz da Comarca de Vicosa

do Ceard'", conde nando 0 jornalista a tres meses de reclusao" .

Com isso, a s oposirorcs de f rancisco T heodoro puderam respirar urn

pOlleD, principalmente porque com a rcprcssao desen cadeada na esteira dos

acontccimenros de 1930, d e cprcso em Camocim, mandado para Forralcza

onde ld se junta com mais 15 mi litanrcs acusadcs de "arividades exrremistas" c

mandados para 0 Rio de Janeiro. Francisco Theodore fazia oposicao explfcira

aos governos federal, cstadual e municipal arravcs do jamal "0 Operario" e,

por conta disso, so fria uma scrie de rctaliacoes por part e daqu cles qu e de de­

nominava de "hurguczcs". Tais reraliacoes aringiarn diretamenrc sua arividade

profi ssional de sustcn to de sua fam ilia, com a diminuicao de assinnmcs. pu ­

blicacdo de an uncios no jornal, assim como a rcrirada de alunos de sua escola

poe co nta de suas posicocs po lfricas, que ultrapassavam 0 ambi(Q local, fazcn­

do oposicao aRepubli ca Velh a e 0 novo poder que se in srau rava no pais:

"Os bu rguezcs tern lancado mao de todos os mcios para que eu abandone

Carnocim. Tern feiro urn boycore rerrfvel ao humilde jornal que dir ijo.

Esre boycote comec;ou desde 0 momenro que reconheceram que 0 mes­mo jomal nao elogiava Mo reirinha. Manos Peixoto, Washingron Luis,

Genllio Vargas. Juarez e outros politicos. (...) Vendo que "0 O pcrario"conti nua a circular, os burguezcs se exasperam e lancam mao de outrerecurso: boycc raram a escola quc di rijo ... rerirando SCliS filhos. ficendocu somenre ensinando as filhos de opc rdrios c de pcq llcnos comcrcianres.

(...) co nsta, que os padres. que po r ultimo rem dirigido esra paroquia,

aco nselhc as maes para q ue tirem seus filhos da escola de 'lim communis­

ta, de urn homern que nao ens ina religifio' " .\2

o embare ideologico entre rcligiosos e comunistas em C amocim sera

dcscn volvido num cap itu lo apane, an alisand o pr incipalmente os desdobra­

memos que esrc con Aito tomou po r coma das eleicocs de 1947 no Ceara,

30 Os [utzes dessas comarcas se recusavem a arbitrar sabre 0 case porque tinham afinidadesparen tescas. tanto (am os advogados quanto (am as partes lnteressedas. ou tin ham interessepessoal pete case.

31 Arquivo Pubfico do f stado do Ceard. Processo criminaf contra Francisco Theodoro Rodrigues.1928/ A~6es Criminais. Pacote 2 7 (1925·1928). p. 40.

32 Ja mal "0 Ope-ano", ann a IV, nO. 75, 18 de janeiro de 1931, Camcdm-Ct, p. 1, In: ArquivoNacionaV Fundozcolecao: TSN/Processc No. 394/Apeta<;ao46O/Vol. 2.

- 28 -

Page 27: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUNDOS DO TR ABALHO

on de a Igreja Carolica, arraves da LEC - Liga Eleirora l Carc lica, se transfer­

mou literalmentc num partido polttico, assirn como a atuacfiodo Monsenhor

Sabino Loyola afrenre das chamadas "Semanas Sociais", criando varies Co­

mites Am icom unisras em varias cidades da Zo na No rte do Esrado do Ceara.

Sa bre as "atividades exrrernisras" de Francisco T hcodoro, as vereado­

res. em um a das pe~ dos autos do proccsso movido con tra 0 mesmo, em que

clogiam a atitude do juiz em condend-lo, revelam as cspas-0S de aruncto do

miliranrc comunisra, dizendo rer 0 Dclegado de Polfcia agido corretamcnre

l:JH sua derencao,

"... por rentar subleva ci o cia ordcrn, em meio de classes trabalhado rascia esriva e p raia (... ) detencao csra que nfio passo u de... horas. Nenhu m

vexarne ou violencia lhe foi irnposto; nen huma coecao Ihe foi feira;scm eonstrangimenros phi sieos, foi em scguida posro 0 qu erelado emliberdade, qu e ao envcz de se eo rrigir d o erro commenido, buseou emurn 'vermclho pasquim', incen rivar rebcldias e pen urbacoes da ordcm.d iffundir calurnn ias, pregar bararo soeialisrno bolchcvista, tudo istoco rn insistenres dcsp rczos c mcnoscabos das auro ridadcs local'S" .\3 .

Podemos norar 0 zclo que cstas auror idades tinham pela "orde m". A

ordem para des era a harmonia no scio dos trabalhadores , quebrada com a

disposicao de Francisco Theodoro de incentivar um a rcprcscnracao trabalhi s­

ta na Camara Munic ipa l. Num d os jornais que fazem a defesa d e Francisco

Theodore, fica patente CSS3 preo cu pacfio do mi litanc e:

"Pa r direr umas tan ras verdadcs, nao saber baju lar e especialmenrepar ter par rocinado a candidarura de c pc rdrios aOmara Mun icipa ldaquela cidade, nao abracando 0 'c redo' marrera, Theodora Rodri­gues de dais meses para d vern sofrendo innominavel perseguicaodos .Veras e ma is alguns outros 'pc liticoides de alde ia' qu e tinham aquella

cid adc co mo urn fcudo inex pugnavel. Sc ndo fora as energicas acczesqu e em nome dp direiro rnovcraru a Exmo. Sm. Dr. G ilberta Camara,D. D . Presid enrc cia Associacfio Cea rense de lmprensa e Dr. MozartC at unda Cond im, D. O. Chefe de Pal icia e mais alguns out ros ami gosdecididos nfio sabernos mesmo qual ser ia sua sor re" Jot.

33 Arqu;vo Publico do Estado do Ceara. Processocriminal cont ra Francisco Theodoro Rodrigues.19281A~6es Criminais. Pacote 2 1 (1925-1928), p. 60.

34 "A Culture". anno 1. nO. 2, 14 de julho de 1928, Sobral-CE. p.3.

- 19 -

Page 28: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlECAO MUNDDS DO TRABAlHO

Interessante ncrar que toda essa movimenracio que Francisco Theo­

dora procurava imprimir no seio do operariado cia cidade anrecedeu a fun­

dacao do PC B local e desde ja, seus opositores associavam e classificavam

essa prdrica politica de "malsinada de outras terms de vida desordmada", de

"bamto socialism» bolchrvista", difundidas principalmentc por urn "oermelbo

pasquim", numa clara alusao aRussia Sovicrica.

Sabre a perrnanencia de Francisco Theodora 113 Cidadc Maravilhosa,

o mesmo escreveu urn diar io narrando os aconrecirucnros cia prisao, sendo

rccenternente enconrrado e incluido em seu pronruario nos documenros do

OO PS. que esrao no ApERJ - Arquivo Publico do Esradodo Rio de Janeiro.denominado "Os 16 Deponados c.earenses"35. Rcferido didrio c importance

para que se conheca 0 perfodo de diradura de Vargas. comparado ao famoso

"Mernorias do Ca rcere" de Graciliano Ramos.

Francisco T heodore dcspeja nas 72 paginas de seu didrio toda a inJ ig­

nacfio con tra 0 pcrfo do varguista, 0 coridano da prisdo, alem de suas anal iscs

conjunturais do pais, do Ceara e de Camocim. to urn docurnenro que chama

a arencao pela linguagcm cdustica, muito propria dos comunisras, no conflito

politico em que cstavarn empenhados em dar uma nova 0pc;3.0 as pessoas e

podcr vislumbrar uma socicdade mais justa. N ero disso, 0 diario sc caracre­

riza por mostrar as dificuldad cs sofridas por quem abracava uma nova opcto

polfrica au filosofica. scm esquecer conrudo, do periplo vivido par ele, da sua

saga de volta abortada para a Ceara c a conscqucnre viagem sob vdrias fnrmas,

desde a fuga do navio no Maranhao e suas pcripecias para chegar ao Piauf.

Quando de sua volta da prisao, do Rio de Janeiro para 0 Ceara, Fran­

cisco Th eodore e impedido de descmbarcar no Porro de Forraleza. Segundo

clc, soubc mais tarde que 0 comandamc da Force Publica, que na ocasiao era

Julio Veras, Iilho de urn de seus desaferos em Camocim, T homaz Zeferino

Veras, levara urn pedido deste ao Intervcnror no scnrido de impcdir a volta

dele a Ca mocim.

No seu diario, Francisco T heodoro antcvia sua prisao. Desde 0 inicio

de janeiro de 1931, a polfcia fazia valer a verba destinada para a repressao ao

35 0 Arquivo Publico do Rio de Janeiro publicou 0 referido diArio, tido como 0 mais importantedocumento do "papers" de Francisco Theodore Rodrigu es cont idos em seu pront uario . RODRI·GUES. Francisco Theodo ro as 76 deportados ceerenses. Rio de Janeiro: APERJ , 2000 .

- 30 -

Page 29: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlECAO MUNOOS DO TRABAlHO

comunisrno'". a delcgado Faustino do Nascimen to fez prender mais de 50

opcrarios acusados de comunismo, fazendo urn ample relaro rio das atividades

do Part ido Co munisra no Ceara ao Inrcrvcntor FederalManoel Ferna ndes do

Nascimento Tavora37•

Sabre as "atividades ext remisms" em Camccim, assim sc rcpo n a 0

relatorio:

"0 Comunismo no Ceara

a Estado csre dividido em zonas, cxisrindo no inter ior irnportanrcs mi­cleos de celulas em plen o fimcionamento. Ent re esses nuclcos, con ram-se

com o mais im po rta ntcs as provas colhidas: Ar raial, Aquiraz (Panranhcu ),

Camocim, etc. as agenres da prop agand a comunisra no Ceara sao em gc­ral, operar ios residen res neste Esrado. Estes tern mamido jo rnais de propa ­

ganda comunista. como 'VOl Proleraria', '0 Pacificador', '0 Edificador',em Fortaleza, e '0 Oputfrio' em Camocim.

Camocim

Em Camocim. nucleo comunista na Zo na None. foi preso 0 chefe comu­

nisra local e redaror do jomal '0 Operdrio' j8.

No intervale da prisao de Francisco Theodoro, de 1931 ate 1935. 0movimenro cornunisra COl Ca mocim arrcfccc urn pouco. Com 0 ernpasrcla­memo do jornal "0 Oper.trio", a celula perde urn imporrante canal de divul­gaflao de suas ideias. Co nrudo, as man ob ras, os caminhos e acoes que suge­rem os processos crimes indicam que os rcmalH:SCCIH CS daq ucles da "prlmeirahoru"do par tido reat ivam seus conraros e efcrivamcnrc tramam algu rn a as:aocontra 0 regime na cstcira dos Icvanrcs comunistas de 1935.

Aspessoas arroladas nos processus crimes sao. em sua maioria, aquelesque chamo de "comunis ras de prim cira hora" c que csrao sendo abordadosoeste capi tu lo. Com as prisocs e defeccocs dcco rrenres deste pcrfodo repres­sor, as atividades do Partido Co munista em Camocim sofiem urn hiato COI1­

siderdvel, ou se]a, dez anos. Segundo 0 jornal "0 Democrara", somenrc em1945. qua ndo 0 partido cxpcrimerua uma cfemera legalidade. cque sc dd a

36 Segundo Francisco Theodora . fcra m destinados aesse empresa 50 centes de ters dos cc trespub ficos. igual quantia oriunda do Arcebispado de Fortaleza, alem de out ras dcacces de qran­des cc mercientes. to: "Os 16 deportados cearenses" APERJ/ Fundo: OOPS! Serie: Prontua nos.nO. 16.144, p. 1;

31 C6pia desse relat 6rio pode ser encontrada em: "0 Povo", ano IV - nO.894 · 12102/1931, p.1 e RIBEIRO. Francisco Moreira. 0 PCB no Ceara : esceosac e dedinio » 1922-1947. Fortaleza:Ed ic;6esUFCfStylus, pp. 149 a 151.

3B RIBEIRO, Francisco Moreira . Op. cit. pp. 154 e 156.

- 31 -

Page 30: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEçÃO MUNDOS DO TRABALHO

volra ~ Francisco Theodoro a Camocirn, para a instalação do Comitê Muni­cipal no mês de setembro. Em sua saudação. Francisco Theodoro rememoraos primeiro anos de milicâ.ncia, assim como estabelece wn cerco heroísmodaqueles que morreram pela causa comunista:

"Camaradas! Povo de Camocim!

C..) Quancas vezes, alta noite, em companhia de amigos dedicados,fomos levar, por meio de boletins, os ensinamentos democráticos. Eeu dizia: Esta é a semente que não se perde. Demora. às vezes, a germinar,ficando em estado Mtente, mas, um dia, por um sopro vivificador, elanasce, se torna drvore e dd frutos. (... ) Os inimigos, porém, receiosos deque a semente germinasse, prenderam o seu semeador c, no porão deum navio, puseram-no barra à fora. (...) A semeadura, no entanto, nãoficou abandonada. Houve quem a regasse. Caboclinho Farias, PedroRufino. Raimundo Vermelho e Joaquim Manso se encarregaram dessetrabalho. A ummU niio ftlleuu apesar de um de seus regadores tersucumbido. Foi ele o nosso dedicado companheiro Raimundo Verme­lho. Deu a vida em holocausco à humanidade. Seu heroísmo. porém.não será esquecido do povo de Camocim. (...) Camocim (em os seusmártires. AJém de Raimundo Vermelho mais dois companheiros aquisucumbiram... Amaral e Luís Pretinho. (...) O sangue desses dois lu­tadores regou as ruas de Camocim e as lages da cadeia. Os seus corposforam profanados e sepultados debaixo de apupos dos inregralistas.em vala comum")9. (grifos nossos).

1.2. João Farias de Sousa - O Ferroviário

João Farias de Sousa. mais conhecido como Caboclinho Farias, foi

outro daqueles que não deixaram a "semente" fenecer. Sua profissão permitia

que fizesse os contaros necessários para a articulação da militância em suas

várias tarefas. De Camocim a Crateús. de Ipu (cidades da moa norte do esta­

do) a Fortaleza; onde os trilhos da ferrovia passavam. Caboclinho Farias tinha

sempre um "camarada" com quem trocava informações. recebia instruções,

entregava encomendas. O foguista Caboclinho era. portanto, um elo de liga­

ção muito importante que procurava não deixar a chama apagar nas células

do PCB na Zona Norte do csrado do Ceará.

39 Jornal "O Democrata", ano I, nO. 28, 05 de abril de 1946, p. 3, Fortaleza-CE.

. J 1 .

Page 31: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,A O MUNOOS 00 TRA BALHO

No trabalho que 0 historiador ccarense Francisco Moreira Ribeiro fez

sa bre 0 Par tido Comun isra no C eara", eCaboclinho Farias que ira prest ar as

informacoes sabre a PCB em Camocim. Francisco Mo reira Ribeiro nos re­

corda de como as cmrcvisras com C aboclinho Farias eram feiras. Na verdade ,

o mesmo resisriu em gravar depoimenro pa ra 0 Programa de Hisroria O ral do

NUDOC - Nucleo de Docurncnracso Cultural da UFC. Os poucos encon­rros com 0 m iliranrc comuni sta scmpre cram feitos em lugarcs difcrcntes do

encontro anterior, 0 q ue revela 0 extrema cuidado de Caboclinho, zclo csrc

fru ro ainda des vclhos tempos de rcprcssao ao comunismo.

No que foi possfvel 0 histo riador Francisco Moreira Rib eiro rccolhcr,

valiosas sao as informacoes de Caboclinho Farias, ;a que praricamente nfio

resro u documenracfio do PCB em Camocim. E atraves dele, par cxemplo,

qu e sabemos da quase concomitancia da fundacao do PCB em Fortaleza e

Camocim. No final de 1927 efundado 0 PCB na capital e jaern 25 de mat,o

de 1928. 0 "professor Franscisco Theodora Rodrigues insralou urn comi re

para dirigir os pr imciro s rrabalho s do partido no mu nicipi o. ten do rambem,co mecado a circu lar 0 jornal '0 Opera rio', de ori cruacao do comite local".'! '

No curto period a de do is anos em que Fran cisco Theodora fica afren­

re do comire local do PCB. sao fun dad os vdrios sindicaros em C amocim.

C aboclinho Farias recorda de alguns:

"Sindicaro dos Pcquenos Agricultores de Camocim, Sindicaro daConstrucao C ivil. Sindicato de s Trabalhadores do Porro. Sindica rodos Trabalhadores em Salinas, Uniao dos Emp regados da Estrada deFerro, rodos pastas fora de urivldades apes a Revolucao de 1930 "42.

Vemcs, ponama, a importancia do PCB na organizacao das principais ca­

tegorias profissionais da cidade. Notadamenre, desde sua fundacao em 1922 ate a

Revolucaode 1930, 0 partido teveesra caracr erfstica de atuacio no meio operario,

buscand o uma polfticade resultados polfricos dentro dos sindicaros, ganhando es­

paij:os e fazendo [rente arendencia anarquista no sindicalismo brasileim, ao mesmo

tempo em qu e 0 partido consegue wna maior visibilidade nesre seio.

40 RIBEIRO, Francisco Moreira. a PCB no Ceara : ascensac e dedinio - 1922-194 7. Fortaleaa: Edi­~6es UFc/Stylus, 1989.

41 RIBE IRO,Francisco Moreira. Op . cit.. p. 98.42 Id. lbid., p.99.

• 33 -

Page 32: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUNDOS DO TRABALHO

Por conta dos acontccimentos de 1930, inrensa reprcssao foi desen­

cadcada aos ope rarios acusados de comunismo, ou de exercerem "atividades

extremisms". Co m a prisao de Francisco T heodore , a rnaioria <los militantes

desaparcccu com mcdo das perscguicoes cia policia e politicos locais, segundo

Caboclinho Farias. 0 part ido tcria sc rcsumido a aim miliranres que sc en­

contravarn as escondidas.v

Sao estes oiro militan tes ma is ou tros cinco que irao fazer uma tcntariva

de rcarriculacllo do PCB 4\ qu e no ano de 1935 cxpcr irncntava um momento

de rcarivacao por conta da criacao da AN L - Alianca Nacional Liberradora.

A relaci o poluica en tre ANL e PCB pode set aqui bem enrendida no sent ido

de q ue a legalidade da Alianca propiciava um poueo de rnovimenracao dos

milira nres abcigados nessa sigla e que posrcriormenre fad.dela um esteio para

a cxprcssfic de suas ideias e ate mesmo comandd-la na maioria dos casos. Enesse elirna que 0 PC B ressurgc em Ca moci m c Cabocl inhc Farias cconside­

rado membro ativo do nucleo da ANI. local.

Sobre Ca boclinho Farias pesaria a acusacao de rer O U fabr icar uma

bomba de dinamite em casa, Ap()s algu mas investigacoes. a polfcia apmou

que a tal bomba estaria na residencia de Ma noel Fernand es do Nascimento .

Fcira a bu sca, 0 arrefato explosivo sc rcvclaria secapenas uma granada de mao.

No enranro, 0 cuidado com q ue a tal granada foi passando das maos de Ca­

boclinho Farias ate chegar as de Manoel Fernandes leva-nos a pensar que uma

outra ut ilidade esraria reservada para cia, que nao seria apenas urn simp les

prcsclHc decorative que urn irrnao de Caboclinho Farias, q ue scrvira no Exdr­

cito no Rio de Janei ro, the ofertara. Ha q ue ressaltar que naqueles mementos

de rcprcss'io. qual quer indfcio ou denuncia de uma organizacao armad a era

levada a scrio c a extremes muiro conhecidos nos pro cessos crim iuais.

Cabod inho Farias fora ainda urn dos [res militantes comunistas de Ca­mocim a sec lancado candidate a depurado estadual nas eleiojcs de 1947. Devido

43 Id. Ibid., p.99.44 Se conslde rarmo s que as pessoa s envolvidas nas prisces de 1936 faziam pa rte deste g rupo,

nove, desse grupo de treze esteo arro lados no processo de comunistes ceare nses. Sao eles: Pe­dro Teixeira de Oliveira (Ped ro Rufino), 10.10Farias de Sousa (Cabodinho Farias), Petronio Pessoados Santos, Raimundo Ferreira de Sousa (Raimundo vc rmelho). Jose Ferreira de Sousa (Dede),Gilberto Guirnaraes Pascoe. Francisco Teles de Souza (Francisco Bordalo), Mance! Fernandes daSilva (Manoe l Pret inho) e Maria Soares Veras. rundo/Colecao: TSN . Processo nO394. Apera~ao460, vets. 1, 2 e 1S. Arquivo Nacional.

- 34 -

Page 33: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COL E, Ao MUNOOS DO TRABALHO

as dificuldades financciras do PCB em dispurar 0 voto pcrcorrendo 0 interior do

csrado fazendo 0 trabalho de propaganda, adotcu a rarica de lancar candidatos qoemiliravam nasproprias cidadesonde 0 partido dispunhade lima organi7.:ly.:'iojunro

aos trabalhadores. Neste sentido, Caboclinho Farias obteve votos por ondc 0 (rem

pass..wa. Cidadcsda rona norte do Cearacomo [pu, Crarcus,Sao Benediro, Sobral,

Granja c Camocim sufragaram 0 nome do foguisca.

Q uanta aos resultados elcitorais, jli sc pode imaginar que, dianrc da

conjunr ura da dpoca, a s comunisras levavam arnpla desvantagem; Fosse pela

dificuld ade em propagar suas idcias, quase semprc sufocadas pela Igreja Ca­tolica e sua alianca com dais gra!1des serorcs - grandes proprierarios rurais

c politicos conservadores - que realizavam a contrapropaganda e em alguns

lugares, arc mesmo impcdindo a campanha c1eiroral dos "verrnelhos", fosse

mesmo pelos fcrres indfcios de fraud es nas eleicoes. Mesmo assirn, na analise

do histori ador Francisco Moreira Ribei ro, csses vows "de cerra form a, rnarca­

vam a presenCja do partido na rcgiao"<ts.

a s trcs candidates lancados a deputado estadual pelo PCB em Carne ­

ctrn, obriveram juntos, 772 voros dentre os 3.45 1 conseguidos em todo 0

interior do cstado, ou seja, 27,43% do tota l dos voros vdlidos. 56 Camocim

rcprcscnraria 22.37% do total dos votes obtidos pclo PCB, 0 que rnostra a

penetracfio do partido na cidade.

A tat ica de sc indicar milirant es coniunistas de s comites municipals

para depu rado estadual sc aliavam tambcm os pontos de urn programa mi­

nima que 0 partido dcfcndia c cclocava como band eira de campanha junto

ao elcirorado. Oaf que , cspecificamente no caso de Camocim, a Program a

Mfnimo contemplava algumas reivindicacrics do municipio, tais como:

"(...) h) Aquisicao de material rodanre e tracao, reaparclh amcnro das o fici­

nas da RVC e execucao dos pianos rodovidrios e ferrovidrios jaelaborados.

i) Conscrucac do pono de Fortaleza, dragagem e melhcramentc des por­

tos de Camocim e Aracari.j) Dcsen volv imento dos servi ces cien rfficos da pesca nos acudes e lagoa s,

bern co mo no mar, co m utili zacac de melho res pesqueiros e de uma rede

d e fr igo rfficos para arma zenarnenro e di stribuicao.

45 RIBEIRO. Franciso Moreira. Op. cit, p. 103.

- 35 -

Page 34: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,AO MUNOOS 00 TRABALHO

I) Jnstalacao para imed iaro funcionamen ro em todo 0 Estado, deagcncia cia Caixa de C rcd ito para a Pesce.m) I' refercncia aos pcscadorcs no aforamenro de tcrras de marinha' 46,

Caboclinho Fariasnao seconteveapenasem alimcntar as locomotivasque

puxavam os vagoes pela Esrrada de Ferrode Sobra!. Viajou e moron em outras ci­clades e estados, dizem ate que chegou a conhecer a Uniao Sovierica,antigo sonho

seu. Em suasandancas, passa pelo Maranhao, de onde envia uma carta de apoio a

cinco companheiros seus presos pot conta de agirem na campanha do "Pctroleo ENosso", publicada pelo jornal "0 Dcmocrata", que trans crcvemos abaixo:

"Sao Luiz, 26-3-50.

Q uer idos com panhei ros Osvaldo Farias. O. N unes, O livia Mesquita, Ma­nuel Xavier c Am on io Batista Sobrinho.

Venho acompanhandc de longe a miser.ivel farsa arrumada pela rea~ao

contra V:OCCS, presos pelo crime de Iazercrn inscricoes contra a rcuni ao

dos diplomates espioes em nosso solo sagrado de nossa pat ria. (...) Quem

levar-lhes 0 meu abraco de solidariedade e de esthimulo para 0 prossegui­

men to da lura em que nos empenhamos, lura que ede vida e de morrepara rod os os patrioras. (...) 0 imperialismo ianque renta colonizar intei­

ramenre 0 Brasil, apossar-se de suas reservas minerais, alienar a Amazo nia

c arrastar-nos em uma guerra injusta e feroz contra a gloriosa Unido 50­

vierica e os pafses das D emo cracias Popul ares. Para ranto con ram com 0

int egral apoio de D utr a e de todos os maus brasileiros. Saibamos pois, secd ign os dos nossos anrcpassados lutand c sem esmo recimenros cont ra a co­

lonizacao de nossa parria pelos gringos ianques, cont ra 0 escandaloso pro ­

jew da Hilcia Amazonica, contra a entrega do Petroleo c demais riquczasm incrais, cont ra guerra imp erialista e pela Paz. Voces soube ram cum pr ir

mu ito hem com 0 clever que sc impoe no momenta a rodo patrio ra. Porisso quciram accirar 0 abraco fratern al do Caboclinho Farias" 017 .

A car ta de Ca boclinho Farias esem duvida lima maneira de dem ons­

trar apoi o aos compa nhc iros p resos, mas podc ser multo hem cnrend ida co mo

urn verd ad eiro m an ifesto , co m fo rma c lingua gcm prcprias de urn rnil iranre

cornunista que analisa os faros po liticos.

46 Id. Ibid, pp.84-5.47 Jam al "0 Democrats", ana IV, n'' 1020, 04 de abril de 1950. Fortafeza-CE, pp, 7 e 8.

- 36 -

Page 35: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,Ao MUNDOS DO TRABA LHO

CApiTULO II

OS COMUNISTAS E 0 ESPAC;O,

POLITICO EM CAMOCIM

o ano de 1927, data do rccorte temporal in icial dcsre trabalho , coinci­

de com a instalaci o do BO C - B10en O pcrario c Ca mpones, c ccfcrivaruenrc

ncstc ano que os futuros co mu nistas sc apresentarfio acena polftica de Carne­

d ill. Como sc sabc, 0 BOC foi a saida que 0 Parti do Comunista Brasileiro

encont rou para d riblar a clandcstinidadc c a chamada "le i celerada" que Ihc

era imposta e, assim, poder concorrer asclcicocs.

Embora as analistas rep utcm 0 acrcscimo J us camponcses ao Bloco

Opcrario como uma forma de 0 Part ido C omunisra sc aproxim ar mais dcssc

scgmento cia po pulacio, assim como a form acao de lima "frcn re" das mais

variadas tendencies poluicas que trabalhavam eleiroralmc nrc 0 operariado. e

tal arriffc io rcnha 5C dado mais como forma de inclusao da palavra do que efe­

tivarnen re como uma inclusdc da palavra do que eferivarncntc uma ampliacao

do Bloco O pedrio a nivc:l nacional'" , pa rece quc, em Camocim, algum tra ­

balho de organizacio dos rrabalhadores ru rais viria a contemplar essa direriva

partidaria nacional. Com efcito, ncssc pcrfo do c fundado 0 Sind icato des

Peq ucnos Agricultures de Camocim. tend o afrcinc 0 cnrao pro fessor e joma­

lisra Francisco T hcod oro Rodrigues, alent de alguns ou tros que scriarn figuras

de proa do PCB em Camocim posrcriormenre, como Raimundo Vermclho,

Pedro Rufino, Francisco Teixe ira. denrrc outros.

E em Ca mocim que 0 pioncirismo do sind icalismo rural no Ceara sc

verifica e, num tempo anterior, a consritu icao da unica Liga C amponcsa no

Esrad o ta mbcm. Nos documentos cncont rados na casa de Raimondo Venne­

Iho pa r ocasiao das pris6es de 1936, aras do Sind icato dos Pcq uenos Agricul­

tores de Ca moci m sao encontradas e an exadas ao processo, 0 que dcmonsna

essa organizacio sind ical. Nas eleicocs municipais de 1928 efeira urnu tcnra-

48 SODRE, Nelson werneck. Contribui~Jo a hisr6ria do PCB. Sao Paulo: Global, 1984, pp .67·S.

- 37 -

Page 36: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlE ~AO MUNDOS 00 TR ABAl HO

(iva, ao que tu do indica, via BOC, de se e1eger rcp rcsenranres da alianca en­

tre "opc rarios c campo nescs" esrim ulada por Fran cisco Theodor e atraves do

jo rnal "0 Operdrio". Para a ccnjuntura polfrica local. cssa preten sfio consistia

nu m verdadei ro perigo para a corrclacao de forcas clcirorais domi nada pelas

familias tradicion ais desde tempos imperiais.

Nas paginas dc rO Operario", 0 militance Franc isco T hcodoro expres­

saria 0 temor da dire domina nce em Camocim de tee na Camara Municipal

um lcgftimo rcprcsentamc dos trabalhadores. As pcrscguicocs ao peri6dico c

ao sell edito r scriam a conscqilencia dessa "ousad ia". 0 pro ccsso qu e urn gru ­

po de vereadores da Cama ra Municipal de Camocim move cont ra Francisco

T heodore, por "inju rias impressas", eurn exemplo disso, segundo 0 prop rio

condenado, con forme jaciramos anteriormcnte.

Com a prisao de Franc isco Theodore em 193 I, 0 partido "fica ace­

[1.10". Esornente em 1945 que as condicocs far iam com qu e os comunistas

mos rrassem novamcnrc sua cara fund and o 0 Ca mire Municipal do PCR4?

Co mo sabemos, nesse inr ervalo de tempo, era qu ase impraricavel a exposicao

de ideias contra 0 regime.

No enranto, como ja nos referimos, a rnerafora da "seme nre" que a

palestra nrc da solenidade, Francisco Theodoro, naqude reto rno aos trabalhos

de milirdncia efcriva do partido em 1945, pronunc iava, nos dd a resposta:

aquc lc grupo que "rega l! a scmentc ndc deixando-a fenecer", durante esrc

rcmpo, se encon trava em rcuuioes sccrctas, fazendo urn trab alho clandesrino

e organ izativc, esperando a mclho r oportunidade de planra-l a novam enre. 0

lim da guerra, com a emergenc ia da URSS como potencia arua nrc no cendrio

mundial em favor da paz, dava 0 substraro necessaria para que novarncn tc

essa plan ra pudesse vingar.

Nessc me men to de efemera legalidade eque 0 PCB ira cxpcrimenrar

alguns resu ltad os expressivos nas clcicoes estaduais c municipals. Em Camo­

cim ndo scria difercnre. O s dais principais candida tes ao Gove rno do C eara

tin ham liga<;6es di reras com Camocim. 0 genera l O no fre Muni z era camoci­

nense, enqu amo Faustino de Albuquerque tinha exercido a magisrratura por

mu iros anos na cidade. 0 candidato a govemador, apoiado pelos cornunistas,

49 RIBEIRO. Francisco Mo reira. Op. cit. p. 99 .

• lB •

Page 37: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LECiio MUNDOS 00 TRABALHO

[eve no municipio a maio r porcemagem dos voros no esrado - mais de 88%

do total. Esse apo io dado ao candidato Faustino de Albuquerque sed ;1031i­

sado em ropico especial ao abordarmos 0 embare politico entre com un isras e

religiosos pelo poder nas elcicoes de 1947.

Nas eleicocs para 0 Legislativo, a importdncia dos Comites Municipais

foi a ratica util iza da pelo partido para suprir as deficiencias que a campanha

impunham ao PCB, face aos parcos r CCU fSOS e problem as de deslocamcntos

dcvido ao pOlleo tempo que rinham para a campanha eleitoral. Ncssc sen­

tido u comitc de Camocim aprcscnto u tres candidates ao legislarivo, Pedro

Teixeira de Oliveira, pequ eno comercianre, joao Farias de Sousa, ferrovidrio,

residenres em Camoc im, e Raimundo Co elho, camocinense, aerovidrio, que

morava em Fonaleza.

a s tres conseguem mais de 700 voros. Poueo, everdade, mas esse nu­meco dd uma dim ensao do rrabalho por des desenvolvido. joao Farias de Sousa

consegue votos em quase rodas as cidades da Zona Norte, prineipalmenrc aque­

las em que a presen~ da ferrovia fazia-se passaroPedro Teixeira de Oliveira, 0

mais popular dos tres, conseguiria mais de 600/0 dos voros obr idos pelo trio.

Vale ressaltar que a campanha dos comunistas era semprc fundamen­

rada na defesa de "Programas Minimos". Janas eleicoes de ambiro estadual,

alguns pontos corucmplavarn reivindicacoes associadas com os anseios da po­

pulacao carnocincnsc, pr incipalmenrc a dragagcm do porto, crediro para as

arividades agricolas e cia pesca, preferencia aos pescadores no aforam cnro de

rerras de marinha, denrre outras. Esse programa minima tom a um carater

mais especifico e detalhado por ocasiao das eleicoes municipais de 1947.

Eurn programa cujo bojo das reivindicacoes ulrrapassa os limi tes do

municipio . ensejando a criacao de uma legislac;ao qu e debase para a execu­

c;ao do que se prerendia, de acordo com as Consuruicoes Federal c Esradual.

Espccificamenrc, 0 programa defendido pclos candidaros corn unisras so era

o seguintc:

50 Alem de Pedro Teixeira de Oliveira. Joaquim Rocha Veras tambem era candidate a CamaraMun icipal de Cemocim.

- 39 -

Page 38: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEÇÃO MUNDOS DD TRABALHO

''ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

1", Por um rigoroso equilíbrio orçamentário;

2°, Para amenizar a situação dos pequenos comerciantes, vendedores am­

bulantes, etc., diminuindo os impostos, taxas e emolumentos que pesam

sobre os mesmos.

3°. Pela isenção dos impostos sobre a construção de casas para aluguel barara epelo aumento sobre os terrenos não cultivados ou não edificados;

4°. para que as terras pertencentes à municipalidade sejam distribuídas

mediante aforamento ou concessão dentro do que preceituam as Consti­

wições Federal c Estadual;

5°. Pelo estímulo à produç5o agrícola do município, distribuindo-se se­

mentes selecionadas. adubos e assistência financeira aos agricultores que

o necessitarem;

6°. Pela criação de Cooperativa de Crédito e Produção, visando assistência

financeira aos agriculrores e produrores;

7°. Por uma política administrativa justa e equitativa, visando a supressão de

despesas desnecessárias e amparo ao funcionário municipal, nos termos do art.

23 do Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal;

TRANSPORTES E SERVIÇOS PÚBLICOS.

I". Para que sejam enviados insistentes apelos às autoridades federais com~

petentes, no sentido de ser conseguida a dragagem e o melhoramento do

porto de Camocim;

2°. Pela criação de uma Cooperativa de Crédico aos pescadores;

3°. Pelo calçamento da cidade e pela criação, em cooperação com o Esta­

do, dos serviços de Água e Esgoto;

4°. Pela instalação de um novo serviço de iluminação pública ou reforma

do já existente.

5°. Para adquirir do Estado a instalação de uma Maternidade e um Posto de

Saúde na sede do Município, bem como de um Posto Médico em Chaval.

6°. Pelo melhoramento das rodovias Camocim-Granja e Camocim~Chaval,

incluindo a construção de pontes sobre os rios Palmeira, Raposa e S. Lino;

r. Pela abertura e conservação das estradas que ligam os districos à sede

do Município;

- 40 -

Page 39: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEÇÃO MUNOOS 00 TRABALHO

8°. Criação de uma banda de música municipal;

9". Pela construção de uma barragem no lago das "Cangalhas";

10°. Pela construção de um Matadouro.

EDUCAÇÃO E SAÚDE

16

• Pela criação de uma Escola Normal Rural, na sede do município. pela

ampliação progressiva do ensino primário graruim e pela instalação de

escolas nocurnas para alfabetização de adultos em rodo o Município;

2°. Pela rigorosa fiscalização do Leite e dos demais gêneros alimentícios;

3°. Serviço de Iimpesa pública mais amplo e ebciente"51

Efetivamente, nessa eleição, o candidaro Pedro Teixeira de Oliveira,

mais conhecido como Pedro Rufino, consegue se eleger a vereador pela sigla

do PR - Partido Republicano. Em maio de 1947, o PCB tinha seu tegistto

cassado pelo Supremo Tribunal Eleitoral. pegando os comunistas despreveni­

dos. No Ceará, a solução para os comunistas concorrerem às eleições munici­

pais daquele ano, foi o abrigo de um partido constituído legalmente. Segundo

Francisco Moreira Ribeiro:

"O oferecimento surgiu da parte do Panjdo Republicano, pequeno,sem muita expressão popular e que servü de guarida a uma tradi­cional família de políticos locais, os Moreira da Rocha. A legenda doPanido Republicano seria apenas uma espécie de biombo legal para oscomunistas cearenses; a verdadeira legenda a ser usada pelos candida~

tos comunistas seria aquela do 'Cavaleiro da Esperança', utilizando-se,assim, da figura carismática de Luís Carlos Prestes e do grande prestí­gio que este gozava junco às massas".n

Como "candidatO de Prestes", já na sua posse, Pedro Rufino começa

a provocar polêmica. reafirmando sua filiação ao credo comunista ao mes­

mo tempo em que faz uma análise em seu discurso da conjuntura política

nacional, não poupando o General Dutra das críticas de entregacionismo

e subserviência aos americanos, votando contra (o único) uma moção de

apoio que a Câmara Municipal fazia votar ao Presidente da Repllblica e ao

Govetnador do Estado.

51 Jornal "O Democrata", ano 11, nO. 480, 20,10/1947, Fortaleza-CE, pp. 1 e 2.52 RIBEIRO, Francisco Moreira. Op. cit., p. 111.

- 41 -

Page 40: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLECAO MUNOOS DO TRABALHO

As 3t3S das scssoes da Camara Municipal de Camocim nos dao

bern uma idei a de como se pamUli 0 rcfcrido vcreador e sua atuacao de

Ildelidade ao programa minima. Por essas alas rambern C pa ssive! se en­

trevcr as falha s de registros, di srorcao das falas refer ences ao vcreado r Pe­

oro Rufi no, 0 que evidencia uma discriminacao do sccrcrario as IlHH; OeS

impctradas pelo referido edil, que quase scm pre reclamava nas scsso cs

poste rio res.

o cuidado que dispensava Pedro Rufi no as financas publicas podc

sec com provado na seric de rcqucrimcnros ao executive municip al par;l

saber de s balanccrcs ou JU S suas ponderacocs sa bre as di scuss6es sabre

crcamcnto . Sua participacao c aprcciacao 110S projeros de leis fez com

que fossc inclufdo na Comissao de Rcdacao do Regimcnto Interne da

C amara53 c de Urbauismo e Fomento na primeira legislatura e em ou tra s

com iss6es em legislaturas po srcriorcs, co mo Legislac;ao, Educac;ao c C ul­

tura, Saudc Publica e Assisrencia Social c Rcd acao f inal, alem de ourras

com iss6es provisorias" .

Uma das grandes quesr6es que se verifies na Camara sao as correlacoes

de forcas entre ° poder execurivo e Icgislarivo, principalmenre quanro a re­

p:lsses de subsidios dos vereadores e dos Projetos de Lei pedindo a aprovacio

de crcdiros sup lcmentares.

A propri a Camara chega a para lisar seus trabalhos como forma de

pressionar ° Prcfciro para repassar as verbas desrinadas aos parlamcnrares.

Contudo, uma marca fi cara regiserada quanta a atuacao de Pedro Rufino

~ suas mocoes. discursos c rcqucrimenros ultrapassavam as frontci ras do

corid iano municipal. Ncsrcs arcs , podemos cntrevcr sua sinronia com 0

mundo la fora e uma coerencia com as ord ens do dia do PCB.

Nes te sentido, de prop6e a criac;ao de um a Comissao de Defe sa

do Perroleo em Camociru" , a criacio de urna associacao local em Defesa

53 Vale ressalta r que inicialmente os outros vereedores 0 ti nham excluido de participar das co mis­sees da Camara. Argumentando que como vereedcr nao podia ficar eusente das ccmissces. 0

Presidente repera a erro e 0 indui na Comissao de Redal;ao incub ida de etabcr ar 0 RegimentoInterne. juntamente com os vereadores Moadr Rocha Aguiar e Setembrin o Veras.

54 L.ivro de Atasda Omara Municipalde Camodm - nO. 1. SesQo Preparat6ria de 15 de marco de 1949.55 Id . ibid. SessaoOrdinaria de 16 de junho de 1948.

• 42 •

Page 41: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO L E ~A O MUND OS DO TR ABALHO

cia Paz e da Culru ra>, se solidariza com a UNE. que (eve sua sede inva­

dida pcla pol lcia e suspe nso 0 funciona mem o do Congrcsso de Defesa cia

Paz, no Rio de j aneiro" .

Conrudo, cstc ripe de aruacfio dos pnrlamcn rarcs comunistas parccc

sec uma praxe, visto <.Jue esscs mementos sao por cxceldncia, momcnr os de se

quesrion ar um a conjun rura pol frica, alem de sc adeq uar ao programa defen­

dido pclo part ido em campanha e de ccrta forma, oricnrando uma tdrica de

agiracao e propaganda, buscando, nessas opo rrunidadcs. ma nei ras de sc mos­

trareru cficazcs e aruanres. Portanto, a atuacio do parlamcnrar em q uestac

nfio efruro somen re de sua leirura pessoal dos acontecimenros, mas rarnbern

de uma estraregia pa rridaria que ira encontrar corrcspondenc ia em o ut ros

nfvcis, com ourros parlament ares.

Sua aruacao, no cntanro, comparada com os dcmais edis da Camara

Municipal, por esras e ourras razf ics, prima pela diferenca de posicionamen­

tos, 0 qu e deixa a vereador, as vezes, marcado peIo ineditisrno de suas pro­

postas a u isolado com suas rnocoes carregadas de rnorivacoes ideol6gicas nao

absorvidas pelos demais colegas do legislarivo.

Nessa aruacio do parlamenrar cornunisra na Camara Municipal de

Carnocim, hd algo que se sobressai - a fun dacio da Soci~dad( de Filhos (Amigos de Camocim. Ncla estava congrcgada boa parte dos comunisras e se

denominava livre de qualqu cr preconceito, scndo, portanto , uma sociedadc

aberta , apcsar de seus derrnrores. Parccc-nos que esta sociedade e urn esteio

da aruacao parlamcntar de Pedro Rufino, saindo dar boa parte de seus requc­

rimentos e mocoes dirigidas aCamara. Por algumas vezes e pcdido ao edil

comunista a explicacao dos reais objcrivos desta assoc iacao, conrudo, n50 se

faz registrar qualquer explicacao. Quando estamos querendo demarcar a atu­

ac;ao dos com unistas no espalJo politico. nao desejamos restringi-Ia apcnas ao

amb ito da Camara Municipal. Sabidamente, eneste cspalJo que cia se f.·17. mais

visivcl: pordm, njio podemos esquecer de out ras frentes em que os comunistas

aruavarn. 0 espac;o da polftica esta rc1acionado com as lucas pclo podcr e

56 ld. Ibid . Sessao Ordinaria de 18 de marco de 1949.57 Id. Ibid . sessso Ordinaria de 26 de abril de 1949. 0 vereedcr Pedro Teixei ra protests par nolo

ester constando em eta seu requenmento protestando contra 0 Govemo Federal face as cccr­reocies verificadas na sededa UNE. requerimento este rejeitado pelos vereadcres. tendo apenaso veto favoravel do pr6prio autor,

- 43 -

Page 42: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

coucao MUNDOS DO TRABALHO

esse pod er ramb ern era dispurado pelos mcsmo s em ourros lugarcs como as

associacocs bcncficcnres, sind icaros, clubes de service . existences na cidadc,

alem do cmbare ideologico com a Igreja. Da i poderm os verificar names de

militan res comunistas ou sirnparizanrcs do partido comunisra nas di rcrorias

dos sind icatos da Consrruca o Civil , dos Carrcgadorcs do Porto, dos Salinei­

ros, da Colonia do s Pcscadores, da Associacto des Pcquc nos Agricult ures. da

Bencficcnrc Fcrrovidria, do Camocim Club" . 0 que n6s buscamos c saber

sc a presclH;a dessas pessoas com suas ideias nesses locais reriam marcad o urn

jciro novo de fazer polftica, 0 que poderia sec comprovado por alguns dcpoi­

memos recolhidos.

2.1. "Hostes Brancas versus Credo Vermelho" - 0Embate Ideologico entre Religiosos eComunistas

A Revolu cl o Russa de 191 7 c scus prindpios irfio provocar no mundo

um a divisao no campo das ideias como nunca se tinh a vista ate entao, prin­

cipalmcnte qu and o a bandeira do ant icomunismo eicada pela Igrcja Carolicae ( 1.Z disso um trabalho de am ipropaganda, buscando uma auro -afinnacio da

fe pelo excmplc cia conformacao aos dogmas cristaos de obediencia, de sub li­

rnacio do sofrimenrc na busca e da prom essa do reino do ceu.

Este embare ideol6gico via imprensa ja inicia seus passos na decada de

1920, ondc os jornais catc licos fimciona rdo como divulgadorcs lias mazclas do

comunismo areu, de instrurncnros imporranrfssimos de apoio as c ampanhas

eleitorais c des candidates apoiados pcla Igrcja, ou mcsmo, no £:.1..\0 do Ceara ,

assumindo urn cardter de partido politico, arrnvcs da LEC - l.iga Elciroral

Carclica, que elegc seu candidate, Franc isco Menezes Pimentel, em 1935.59

58 Sem se prender eo tempo cronol6g ico, essas enti dades tiverem. em sues direto rias. Pedro Tei­xeira de Olivei ra, Raimundo Ferreira de Sousa, Joaquim Manso, Solero lopes, Francisco Teixeira,Joao Fariasde Sousa, Joaqu im Rocha Veras, respectiv emenre.

S9 No Ceara, cs mais Impcrtentes fo ram c s jornais "0 Nordeste ", de rortafeze. ligado a arqui­diocese e 0 "Correio da Semana", de Sobral. vincu1adoadiocese. a "Correio da Sernana". porsua proximid ade com Camocim e esta cidade ser incrustada na diocese de Sobral, tazta variasreterencias e comeraa nos sobre a militancia comunista em Camocim, ao mesmo tempo em qu edesenvolvia int ense campanha cont ra 0 comuni smo etre ves de sues paginas ou destacandoseus redatcres para reanaarem a~6es de pratica pastoral, como as chamadas "Semanes So­ciais" , e a «tecac de "Comites Ant icomunistas", desenvolvidas pr incipalmente per Mon senhorSabino Loyola .

- 44 -

Page 43: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO l E~A O MUNO OS 00 TRABAlHO

A LEe, que em rodo 0 Brasil surgeno esrcio cia milirdncia dos leigos, como

brace politico da Igreja no processo eleitoral, no Ceara. cfctivamenre, sc toma urn

partido politico sob os auspfcios e asben~os ill hicrarquia religiosa, alem de outras

associacoes pias como a Congregacio dos Mocos Marianos, a Liga Feminina de

As:ao Carolica, scm falardos Cirrulos Opcrdrios, que nascemcomo uma opere or­

ganizativado operariado "cristae", disputando as rrabalhadorcs com os sindicaros

onde scdesenvolvia urna baseda miliclnciacomunism.

Apesar de scmpre ncgar seu cara tcr panidario. por entend er qu e nos

partidos sao privilcgiado s as interesses privados, a LEe sc aprcscnra como

rcposiniria das virtudcs e do s principios c nac de pcssoas. Daf, rer ela elasrici­

dade de abrigar os carolicos "de todas as correntes poltricas".

A LEe e, portanto • "a organizact o politica dos catbc licos", mas nao so

isso; e"urn movimenro de a~o cspirirual uninime e desinreressada"e se prop6e

a ser suprapartidaria, tendo seu "campo de acs:5o acima e fora de todos os par­rides"?'. Par outre Iado, a LEe. pelo menos no Ceara, servird tambe m como

abrigo dos integralistas, e espacode difusic do inrcgralismo, forca viva na campa­

nha anticomunista. A divisao de opinioes se radicaliza ao pomo de que no d ima

politico no Ceara de 1935 nfio hd outra suda: au sc cintegralista, partiddrio daA¢o Imt-gralisr3 Brasileira (AlB)ou aliancista, defendendo com fervor uma frcnte

ampla proposra pcla Alunca Nacional Libcrtadora (ANL).

Nesse co nfronro ideol6gico, 0 jorn al "Correio cia Semana", por exern­

plo, mo stra sua inclin acao inrcgralista ao mesmo reropo em que sc utiliza do

exped iente de falar do ourro para mosrrnr-sc. Urna rcprescnracdo desse emba­

te politico que sc rrava ca diade de que fala Noberto Bobbio, isto C, a rclacrao

"amigo-inim igo", onde 0 espa<jo politico e 0 chao fcrtil para se desenvol ver

an tagonismos.

Oai os arores politicos sentirem a necessidade de da rem "visibi lidade"

a seus discursos e a im prensa eurn desse ca nais, rcvclando uma dicot ornia em

que, filar sob" a advcrsario etao impo rranrc quamo ao seu program a pani­

da rio.v' Falar sabre 0 adversario erambcrn uma forma de anal isar 0 ourro para

efeiro de comparacao para co nsigo. isro e, mostra-se 0 comunismo pclo que

60 Jornal "Correio da Sernana". ana XVII, ns. 25, 14/09/1934, Sobral-CE. p. 1.61 BOBBIO, Norbert . Direi ta e Esquerda. gezces e significad os de uma d is tin~ao polnic a. Trad.:

Marco Aurelio Nogueira. Sao Paulo: Editora UNESP, 1995.

- 45 -

Page 44: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COl ECAO MUNOO S 00 TRABA lH O

d e [em de mal ou do que 0 jornal ro tula como sendo 0 mal. Assim, no outre

lade cia moeda cque esra 0 bern.

Essa dico rcmia Bern/Mal C lim a forma de produrfio de senridos bas­

ranre recorrente no d iscurso jornaHsrico que pro movc lima idcnri ficacao 11

priori. onde 0 Ma l sao os comunistas c o Bern, associado com um a memoria

dos D ireiros Humnnos, C 0 gua rd iao cia rnoralidade crisra62• Documcntos,

producao litcrdria, im prcssocs de viagens, invariavelmcntc sao usados para

efeiro dcsra ana lise, sempre concluida com 0 alerra aos cristsos do "perigo

vermelho" que, por suas an imanhas, ronda perigosamcnre nossas cabecas,

lsro , c claro, ti nha suas repercussocs no s momcn ros em qu e se

eXlg l:I um a definicao de q uem era qu em no jogo politico. Os religio sos

levavam vanragem nesra peleja peln insisrcncia com que aparecem no

discu rso jornalistico as vdrios sen t idos prod uzido s sabre as co munistas,

alem de ganharem qua sc semprc a ad cs.io cia im prcn sa de rcferen cia , q ue

nfio pcrmitia espac;os pa ra os co r nun isras C SCliS di zeres, pui s, segun do

Beth an ia Mariani , "no campo do Dut ro, a di ferenca comunisra e repre­

serua da como com pro missada co m a Mal: ela amcalj'a 05 valore s crisraos,

as propr iedades, a orde m, as bon s costumes ere." 6J •

Enrendendo a linguagem como essencialmeme dialogica, estes discur­

sos vdo sc produzindo e sendo enunciados co m a inrcnct o de "di ze r para

algucm". arravcs das formacoes discursivas, () qu e pod e set dito ncsra int crlo­

cuc.io de parte a parte. O s jornai s de inspiracfio com unisra irfio usar tam hemdesre mcsmo cxpcdic ntc. logo. os senridos nfio pcrrccem a nenhum de s int er­

locurores, mas, const itufdos em iruc racao.

E. no dizer de Bethania Mariani. "uma prdtica social que funciona

pclo imaginario: e 0 jogo de imagcns consrit ufdo em rome dos lugares de

onde se (ala que precisa ser observado no processo historico da producao de

cnunciados e de senridos' v'

o jornal "Correia da Semana", de Sobral, como jornal carol ico, rC3­

liza este trabalho de incul cacfo do que vinha a ser 0 credo vermelho em duas

62 MARIANI. Bethania. 0 PCB e a tmprense: os comunistas no imaginario dos icmais: 1922· 1989.Rio de Janeiro: Revan/Campinas, $P, UNICAMP, 1998, pp. 83-6.

63 MARIANI, Bethania. Op. or., p. 86.64 MARIANI, Bethania. Op. cit.. p.3l.

- 46 .

Page 45: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUNDOS DO TR ABALHO

frentc s. N um plano mais pedag6gico usavam do expedien re da repeticl o des­

sa prati ca em seus editoriais, art iculan do documen tos, panflcro s, sermocs,

mandam en tos, e outras producoes "Iiier.irias", mesilla qu ando 0 clim a da

di sp ura po lftica sc arrcfccia, clcgcndo O U[fOS "inim igos", como 0 pcotcstan­

rismo e 0 espiri tismo , ou, meSI11O, fazendo associacoes com ourros, como no

exemplo: "com a Maconaria e com 0 judafs mo 0 bolchevismo continua de

rnaos dadas; nfio sc concehc hoj c maconaria scm a ajud a directa de seu irm ao

- 0 communis mo ''?'. Isso prcrcndia ref urn cfcito ma is gcral sabre as lcirorcs,

principalrucnrc os cr istaos.

Per Dutro lado, 0 jornal promovia cam pan has de co mbatc ao corn u­

nismo na Zona N orte do Ceara, mais espec ificamente na area de juri sdicao

da diocese. as apelos aD S babirantes de Camocim em forma de alert a co ntra

a "hydra de M oscou", ou avisos di reros aos com un isras camocincnses, a co­

bcrtura dada aos trabalhos do Monscnho e Sab ino Loyola na instalacao dos

Comites Anri- Comunista c a rcalizaciio dns Scmanas Sociais rcpresentavam 0

lado mais pratico da ac;aodo pcriodico sob ralcnse que circulava em Camocim

e nas outras cidades da regiao.

Exemplificaremos csras duas posruras do jornal. M uito asruciosamen­

re, 0 editor coloca 0 que scria um comun icado aos jovcns russos, dcnomi nan­

do de "mandamenros", urn rermo bastanre iden tificado com a religiosidad e.

Ao en umerar esses conselhos em dez (0 numero dos rnand amcnros cristaos), einegavel o estabelecimento de um a corn paracao, ao mesmo tempo em que se

prerende sec uma pec;a doutrinaria produzida pclos idco logos do com unismo.

A co nclusao ede ixada para 0 leiror fazer. Nada ma is inrcrativo!

"Os dez mandamentos para a juvcntudc sovictica: a associacao dos Atefs­

ras C omb arcntes enrregou a rodas as criancas da escola as scguintes man­

damcnros:

1". Sc qu crcs scr um bam aluno, dcvcs ser arcu da marca de Staline.

2<>. Nan ad miras quc rc obrigucm a frcqucnt ar a Igre]a.

3°. Se reus pais rc obrigarem a frequentar uma Igreja, denuncia-os aG PU.

(Polfcia secreta do terrorismo vermelho)

65 Jornal "Correfc da Semana", ano XXII, n''. 19, 25 de ju lho de 1940, Sobral-CE, p. 2.

- 47 -

Page 46: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEÇÃO MUNOOS 00 TRABALHO

4°. Denuncia logo todos os inimigos do Estado.

5°. Ser ateu significa ser bom, fiel, verdadeiro aluno de Lenine e Staline.

6°. Todos os alunos ateístas exibam com orgulho seu distimivo de ateu.

7", Jamais deves cumprimentar sacerdotes Oll freiras, ao contrário, mostra­

lhes todo o adio do teu projetaria soberbo.

8". Para seres em Bom Ateu, é preciso que estudes bem as doutrinas do

areismo.

9". Lembra-te sempre de que os monges. os sacerdotes são inimigos da

revolução mundial ( e houve gente afirmando que eles são pagos pelo

sovieres para combater os totalitarismos. Coitados, o nono mandamemo,

entregue á mocidade russa, c os factos subsequcnrcs, surraram e chicotea­

ram todos os arrazados).

10°. Todos os ateus devem conhecer a fundo o manejo de rodas as armas.

Mandamcnros tcrrívcis, não são leiLOr?

Parcce, porém, que alguns dcsres mandamcnros tiveram asseclas também

em nossas terras. Desc'arte, o Estado Vermelho contÍnua a preparar a sua

gcração vindoura para a revolução mundial.

Que faremos nós?nG6

Formaro diferente desse tipo de discurso, onde se deixa no ar o que

pode acontecer e o que se pode fazer contra o comunismo são os publicados

durante o acirramentO das posturas ideológicas no calor dos embates de 1935.

Referindo-se à fundação da ANL em Camocim, ° jornal "Correio da Sema­

na" assume uma linguagem mais direta, factua], sem deixar, é claro, de falar

sobre o outro que está em declínio, para a glória do que proclama e defende - o

catolicismo como afirmação espiritual dos trabalhadores e opção de organi­

zação política dos mesmos. Os dois trechos abaixo, em momentos diferentes,

anos de 1935 e 1940. recraram bem isso:

"AOS COMUNISTAS DE CAMOCIM

Acaba de scr installado em Camocim o partido alliancista ou commu­

nism. Houve, também, gritos, insultos e palavras indecentes dirigidas às

famílias.

66 Jornal "Correio da Semana", ano XXIII, nO. 21, 09/08/1940, Sobral-CE, p. 3.

- 48 -

Page 47: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

( O l E~A O MUNO OS 00 TRABAlH O

A scmcnrc ali planrada ja csra, antes de nascer; mosrrand o 0 qu e ee

o que vale. As paredes de muiros prcdios vcem-sc as scguintes frases:

'Abaixo as gallinhas verdes! Viva a Russia proleraria! Viva a Russia Jus

homens livres!'

E vcrgonhoso, reprovavel, absurda e insulrosa a propaganda do re­

gime vcrmclho em Camocim. Q uem. assim procedeu foi descortez e

falto u ao rcspeieo as famflias. Mas, communisras de Camocim, 0 Brasil

dcspcrrou. esea de pe e vigilante. Ainda temos ho mens de vergonha

que ferncoragem de mo rrer na dcfesa da familia hrasileira. Nao e desra

vet: que 0 Brasil cae nas garras de Sraline .

A pollcia de Camocim deve esrar vigilante. nfic permiu indo mais a

reproducao de facros tao rrisres."67

A vigilfncia aqui deixa de sec apenas urn cuidado que as homens de

bern dcvem ter, mas tarnbem um a rarefa divina, alem da afirrnacao da derrora

do inimigo.

"0 DECLINIO DO COMUNISMO.

Urn pOllen de obscrvacio e vercmos ;1 dccadcucia a passos largos das do u­

trinas de Marx . propagadas pa r Sraline, Lenine e outros adep ros verme­

lhos de maie r projcccao do scenario russo bclchevisado. Vae em franco

declinio 0 communismo; equc d ie. den tro do pr6prio partid o, por partede seus chcfes e comparsas, (em soffrido grande e notavcl reaccao.

No pomo de vista economico e poli tico. c urn governo plutocratico, ca­

pitali sra e judaico como as democracias infelizes presas da financa inrer­naciona!. (...)

Elle falliu porque despresou 0 valor intel lectual do homem. Os cultores da

mareria.em ccmbare cerrado i intelligencia humana, cedo riverarn derrora.

Em toda parte 0 bolchevismo foi a negacgo. (...)

Os adepros do credo vermelho reconhecem 0 seu fracasso e a sua derrota:

nfio pcrdcm parem a esperance jogando as ultirnas cartadas do dcsespcro.

67 Jomal "Correia da Semene", ano XVIII. nO. 13. 1210411935. Sobral·CE. p. 4.

- 49 -

Page 48: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO l E~AO MU NOOS 00 TRABAlHO

Si pudcssem desrruiriarn 0 m undo imeiro. Si Ihcs Fosse possfvcl marcriali­

zariam as sociedades, pregando 0 amor livre e corrompendo a mocidnde;

desejar iam estabelecer 0 regime do sangue e da persegulcao, do odic c davinganca enrre as que nao rezassem pot sua carti lha.

Chegou rambem a hera de maio r vigilancia.

Janao exisre no Brasil a liberal democracia; ejustamenre por isro que a

Terra de San ta C ruz na he ra tcnebrosa da hisroria acrua l, estd sendo vista

pelos maus olhos des parron os daquelle regime.

Esramo s certos porem de que 0 govcrno da Republica esrd alerta mais

do que nunca. a qualqucr ma nohm (IUC vcnh a :l per turbar a ordem e a

scguranca do Paiz.

Ademais, nasccu nos.sa parria dcnrro do Catholicismo. Jesus nac deixara

que maos profanas a wqucm. 0 cruzeiro do sui, symbolo do pcrdao cda fe, continua no ceu do Brasil como scnrinclla cu idadosa a afugenrar

as inimigos, nao permirrindo jamais que sejarn desrespcirados nossa fe enosso reconhecido espiriro de religiosidade. "68

Vale ressalrar que a Igrcja card lica coma pa rt ido nesta dispu m, ab ri­

gan do no scio das congregacoes pias e abr indo espac;os nos scus pcriodicos

para os inregrali sras, forca polirica que se forja na con junrura dos an os 1930

c sc cons ritu ira , atraves dn AlB, a mais ferrenh a opositora dos com un isras

Ii liados it ANt.

A Liga Eleiroral Ca rolica em C amocim cfundada em fevereiro de 1933

e esaudada pclo scma ndrio sobralense como send o a reun iao de "parte nora­

vel das associacces pias da Parochia, d e grande numero de famfli as e pcssoas

de rcalec do mcio (ilrgfl'el), socia l e carholico". Pela consriruicio da direrori a

da referida liga, co ntcmplada pclas forc;as polnicas locais, esintomarico para

sc enrendcr no q ue se transformou a LEe no Ceara, isro e.partido poltricoda

Igreja catolica co m resultados cleiro rais exp ressivos.v'

68 jomal "Correic da Sernana'', anna XXII, nv 19, 2S dejulho de 1940, Sobral-CE, p. 3.69 A Direto ria da jun ta local da LEe flcou assfm const ituida: "Presidente, Cel. Mclses Cavaka nte

Rocha; Secreta rio Geral; Sr.Francisco Otto ni Coelho; Thesoureiro; Sr. Eustac hio do Espirito San­to, Directores, srs. Francisco Jaime de Mede iros e Jose 'rerceirc Fontenelle" Jc mal "Correia daSemans", an o XV, nO. 45. 0410211933, Sabral -CE, p. 4.

- 50 -

Page 49: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO l ECA O MUNOOS DO TR ABAlHO

A ligar;ao co m 0 integ ralismo neste mo menta cexplicira e as ed itoriais

do "Corre io da Scma na" sao generosos acausa do "Sigma", sauda ndo a ban­

dcira inregralista e as "soldados de Deus, da Patri a c cia Famil ia") por ocas ifio

de urn com fcio dos "cuu isns-verdcs" em Sobral, onde a com paracao com as

comfcios da ANL c incvitdvel, cha mando para a radicalizacao de pos icocs,

colocand o cstas forcas em lados opas tus pcla forca do d iscurso:

"0 Inrcgralismo C, de facto, uma doutrina muiro cmpolgame. Eumaauro ra cheia de soes c aurae, com a seduccao das rnadrugadas, a almada genre, 0 ccracto da genee que arc hojc so tern recebido dos gover­nos 0 despreso. 0 abandono, a indifferenca. (...)

Q uanta diflerenca entre urn comicio inregralista e urn ajuntamentoda Allianca Libertadora. Naquelle, 0 amor clcctrizando, nesre, 0 odiorangendo os dentes. Porque urn ea verdadc, () out re, a menrira. Urn,a Brasil, 0 outre a Russia!

Brasileiros, ide para a Int egralismo, se dcsejares a Parria livre, grandee forte.'?"

Como ja d issemos, a anripropaganda do comun ismo realcada nas pa­

ginas do "Correio da Sernana" e inrermircnte. No entanro, nos perfodos de

maior agitacao polfrica , cssa prarica jornalfstica se am iuda. Com a efemera le­

galidade do Part ido Com un ista em 1945,0 jorna l volra com mais veemencia

a carga c suus atcncocs para com os com unisras em Ca mocim rnostram, par

outro lade , 0 quanta 0 comire municipal do PC B, nesra cidade, era atuante.

Neste pe rfodo, comecando logo nos antecedentes da cam panha eleitoral de

1947, 0 "Correia da Semana" ganhad urn concorrente de peso : rrara-se do

jornal de inspi racao comunisra, d irigido por comunisras, "0 Democrata",

edirado em Fortaleza desde 1946.

o jornal "0 De rnocra ta" ira fazer urn contrapomo as ideias vcicu­

ladas pclo jorn al sob ralense e ira dividir os leito res da cidade. Vale rcssaltar

que ambos os pcri6d icos rinham boa circulacao em Ca moc im. 0 "Correia

da Scmana", pcla facilidade da ap roxirnacso geografica, chcgava as mfios das

famll ias catdlicas co m maier velocidade e estas cuidavam da sua distribui-

70 Jornal "Correio da Semana", ano XVII, ns. 13, 1210611935, Sobral-CE. p.1 .

- 51 .

Page 50: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEÇÃO MUNDOS DO TRABALHO

ção e subscrição de assinaturas. Já "'O Democrata" não ficava para trás, pois

contava com o trabalho dos comunistas na sua distribuição. comando com

pessoas-chaves na Ferrovia e no Pono que facilitavam a entrada do mesmo

em Camocim, principalmente quando a repressão se tornou mais rígida e o

simples porte de um exemplar do Upasquim vtTmt/ho" era motivo para prisão

de alguém. A distribuição na cidade era feita principalmente por gacoms para

despistar a polícia, o que, aliás. era um conselho dado pelo Comitê Regional

para a realiz..1.ção deste trabalho.

No infcio de 1946, quando o PCB passava por uma reorganização de

suas bases no interior do Estado do Ceará e se preparava para as eleições de

uma Assembléia Consticuintc. do Governo do Estado e posreriofmcmc dos

plcicos municipais, O "Correio da Semana" chamava a atenção para a ameaça

que representava o movimento comunista em Camocim. A quem ameaçava

os "vermelhos" de Camocim?

"O movimento comunista em Camocim representa uma séria e grave

ameaça para as famílias, é o que diz. o povo daquela cidade }jtoranea., hojeesquecida dos poderes publicas e fadada a ser uma das vitimas do bolche­vismo no Brasil.

Não é mais segredo para ninguém o que afirmam os perigosos e exal­tados elementos do partido comunisca, que planejam, quando um djaforem vitoriosos, distribuir as mulheres casadas e as donrelas, uma parao serviço das que hoje são empregadas e outras para outros fins que a

moral condena. Fnem ameaças e assentam tomar vingança daqueles queos combarerclll.

Por isso e muito mais do que isso, a família de Camocim, sentindo-se ex­

posta aos ultrajes de um operariado ignorante e imensamente explorado,retirou-se em grande pane daquela cidade.

Daí, não acredirarmosque o caso de Camocim seja realmente. ou somente umagreve. Nem vemos nisso um alarme. Estamos diante de um perigo real. "71

Algumas questões podem ser discutidas diante do que se citou acima.

Para o jornal, o movimento comunista em Camocim é ameaçador porque a

71 Jornal "Correio da Semana". ano XXVIII, nO. 44, 26101/1946, Sobral-CE, p. 4.

- S2 -

Page 51: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE( AO MU NOOS DO TRA BALH O

cidade e csquecida pelos podc res publicus. isto e, 0 comunismo medea 50­

mente onde ha este dcscaso das au roridades, sejam cbs govemamenrais, po li­

ciais a u edesidsricas, ncg~tndo. assim, qu alquer iniciativa de organizacfo dos

trabalhad ores. Ja em Sobral, isso parece aco nrccer com menor intensidade, jaque a Igrcja c as autoridadcs cstfio mais vigilantes. Enecessar ia cnt jio que a

Diocese zelc po c se ll rcba nho. Salvar Ca moc im C ou tras cidades do "perigo

vermc lho", "do credo de Mos cou", passa a sec a prioridade do clCIO sobralensc

que toma a iniciariva de criar Comites Ant icomunisras c insriruir as Scma nas

Socia is. Ede Sob ral, panama, que devc partir csra cruzada, tendo , na pessoa

do Monsenhor Sabino Loyola, sua pr inc ipal figura .

Ele cquem nos diz a respeiro de como estuva 0 avanco do movimemo

co rn unista em Ca m ocim: ..... 0 povo de Ca mo cim esrava acovardado . Prefeitc

tinha medo, 0 vigario tinha medo, 0 vigario nao dizia um a palavra na igreja

contra 0 comunismo com rnedo , 0 prcfciro ta ru bem tinhn mcdo , 0 dcl egado

era rido como comunista...".n

Esse prerenso medo, co mo se pode perccbcr, c fru ro cia co nstr ucao

fantasmdrica do comunismo e habil menre uri lizada po r Mo nsenho r Sab ino ,

lider da reacao carolica, no sentido de comer 0 rnovimenro comunista em

Ca mocim em 1946 nas preliminarcs das clcicocs de 1947. 0 medo das fami­

lias de que nos fala 0 arti cul ista cirado acima. qu e se m arcrializava na reti rada

de algumas delas, prccisava de um a rcaci o. A saida dessas famflias, no en­

tanto, pcdcria esrar sc dando pm uma ourru razfio: 0 declinio das ativ idades

eco nornicas em rorno do porto e cia ferrovia, 0 que explicaria a aruacao dos

cornunistas na lura para q ue csscs cspac;osde trabalho funcionassem em toda

sua plenitude.

Mas a reacao prccisava ser jusrificada e nao eatea que ela parra da dio­

cese, ja que arraves de seu jornal ja desenvo lvia inrensa carnpanha de combare

ao comunismo; porem, somenre 0 discu rso jomallsrico naa era suficieute. Uma

atitudc pohrica que redun dasse em efeiros pra ricos para a populacao carcnrc

era necessaria; alem do mais, cssa faixa da populacao descmpregada c rnoradora

cia pcriferia das cidades da Zo na N orte nao tinham acesso a estas leituras c n fio

72 Entrevista realizada com 0 Monsenhor Sabino Loyola. 90 anos. em fita cassete e transcrita parao papel. Em 2710411998 Sobral-CE.

- 53 -

Page 52: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,AO MUNDOS 00 TRABA LHO

rccebiam assisrencia dos govcrnos e acabavam aderindo as pro messas dos mili­

[ames comunisras qu e acenavam para esra genre com mclho rcs dias.

Temos, ponama cssaa~o sendo dirigida para da is publicos alvos. Aos

rrabalhadorcs dese m pregados das peri fcrias das cidades cram dados , durante 0

perfodo das Sem anas Soc iais, conforro espir itu al, d isrribuicao de alirncntos c

assistencia med ica. quase sempre, terminan dc com a criacio de urn posto de

disrribuicao de mcd icam cntos numa entidade filanrropica", Para a populacio

em geral, a programacdo constava de serm6es e "comfcios" com as Ma cros

Mnrianos," mostrando 0 csforco de propaganda e discurso anri-co rnunistas,

qu e rcsulra riam na convcrsao de ex-comunistas efusivameme contabilizados

3P05as esfo rcos da Scma na Social pelo s religiosos engajados nessa cruzada.

A proposiro dcsrcs "co mfcios", 0 jornal "Correio da Sema na", desraca

a realizacao dos mesmos co mo forma de campanha con tra 0 comunismo

na Zona No rte, prin cipalm en te nas cidades de Camoc im, Vicosa do Ceara

e Sobra!:

"Per iniciativa do Comlre anri-comunisra, realizaram-se animados co­mkios nos principais bairros desta cidade. Por ooze dias consecu rivos, 0

opera riado carolico de Sob ral reve ocasiao de ouvi r diversos sacerdotes e

des racados leigos esclarecendo sob re os est raragemas da peste das pestes

- 0 comunismo. (...)

De tod os os comfcios, aquele qu e mnior assistencia reve, maior exiro. qllcr

pclos assunros rrarados, guer pelo en rusiasmo que de todos se npoderou

foi , scm du vida ncnhurna a do bairro do Jun co, realizado rerca-feira desta

sem ana.

Depois de alguns dias de repouso para garganra dos orad ores, prosseguire­mos, ria campa nha contra a hidra vermelha. Avante pelo Brasil ! "1~

73 No case de Camocim, este posta passou a funcionar ne sede dol Sociedade Sao Vicente dePauloe 0 prime.jro estoque foi comprado com dinhei ro do pro prio balsa do Mon senhor Sabinotoyota. segundo depoime ntc do mesmo.

74 Segundo Monsenhor Sabino toy ota. "comid o" era mesmo 0 termo usado par etes e os M~osMarianos que, alias. era a mesma terminologia usada pelos comunistas nestas reuni6es debairros onde arnbas as partes tent avam convencer a pc putecac de seus ldeeis. Orion Matos deMenezes. moco merieno. nos revelou que onde os comunistas iam realizar eases "comid os"eles iam etras desdizendc 0 que eles tin ham dito e vice-versa.

7S Jcma! "Correio dol Semana", ano XXIX, nO. 58, 16111 /1946, Sobral-CE. p. 4.

- 54 •

Page 53: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO lE~i\O MUN DOS DO TR ABAlHO

As noticias sabre a Semana Socia l de C arn ocim rem especial cobert ura

do jornal catolico. A mancira como rememora 0 faro, a [embranca de deta­

Ihes, as gestos de desafio aos com un istas, a aporcose em p raC;:3 publica do ato

"cfvico- poltrico-liru rgico" sao mementos de que Monscnhor Sabino guarda

como se fora sell maior Ieiro como condutor das rcfcridas scma nas. Era uma

noir e de 7 de Scrcmbro de 1945 pa ra Monsenhor Sabino :

As sere horas da no ire eu comccci a falar. 56 falei, eu falei cu rto, meia

hora, mas falei logo force.. . - Ell bari nos peiros com force (no momen­

ta em qu e fala, bate, cfetivamcnrc no pciro}: - Etl venhodizer ao pavade Camocirn que eu ndo tenbo medo do comunismo e nem de comunistalEhhhhhh! (imira ndo a reacio da plateia) Ti nha rnu ira genre, tinharalvez umas tres mil pessoas... Eu ndo aprcscnrci do urrina, soqueriaesclarccer 0 pova que tava iludido, sobrerudo os pobres, os comunisraspobres... ". 76

Para 0 jornal, q ue de ra coberrura espec ial ao even ro, a Sernana Socia l

de Camocim realizou-se de 9 a 14 de dezcmbro do ano de 1946. 0 desencon­

tro de daras, contudo, nao c de muira rclevancia nesse caso, visto que a

maneira como descreve 0 [orual "Correio da Scmana" 0 faro, e a lembran ca

do mcsmo rein seu mentor, coincident em muiros pontos c, talvcz rcnh a

sido 0 p rop rio Mo nscnhor Sab ino que ten ha escriro a materia jornalfstica,

visro q ue era mcrnbro do corpo editorial do refer ido jo rna l. 0 objetivo de tal

semana, com o ja sabemos, era "... csclarcccr os operarios que, ilud idos pelas

brilhanres e en ganesas pro messas do comunism o, deixaram 0 gre mio amoro­

so da Igreja, vendendo os seus direitos por um pra to de lenrilhas"."

Os resultados sao conrabi lizados . Ja no in fcio do dia l O de dezcm­

bro. compareceram cerca de 2.500 pcssoas, cujos "vivas e gritos de repulsa

sacud iam os ares de Camocim". Durant e a Sem ana, as irmas de caridade vi­

sitari am os "principais bai rros e os do micilios de s operdrios e davam au la de

carec ismo". Os padres sc revezavam no escla rccimento dos tra balhadorcs e

"gra nde uum cro de pessoas rezavam , comungavam e oferecia rn a De us sacrifl­

cios pela co nvcrsfio de s comunistas, ovelhas t resmalhadas do rchanho de Jesus

Crisco", N o en cer ram ento da Sema na Social, a assistencia foi calculada em

76 Entrevista com Monsenhor Sabino loyola, ja citada.77 Jorna l "Correia da Semana", ana XXIX, nO. 67, 17/12/1946, Sobral-CE, p. 4.

- 55 -

Page 54: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,AO MUNDD S DO TR ABALHO

4.000 almas, qu e, desfilando pela cidade, coroava 0 esforco dos clcrigos. An­

tes do desfile, porern , "domingo ape s a missa das 7 horas, a R. Padre rcun iu

algumas pcssoas e dcixou fundado 0 Comird ant icom unisra"."

A cruzada de preces iria aind a con tabili zar as "declaracoes publicas de

rcrcm abandonado a credo de Moscou" de quatro com unisras. Conru do, 0

jornal nao publica 0 nome dos "conven idos", 0 que nos leva a crer que esses

com unistas nao tinham muira importancia do pomo de vista cia organizacao

do partido au da mi lirsncia, visto qu e, em outros meme nt os, como em 193 5

c 1936, aparecem declaracoes publicadas de rccusa do comunismo de ex-mi ­

litanrcs ou ate mcsmo de celulas m uni cipals.

Q uanta aos Comites Amicom unisras, podemos d izer que des sao,

panam a , consritufdos po r "algumas pessons': perrcn cenrcs a um ourro ptibii­

co, form ado principa lmcn re pcla elite polftica, membros do poder judicidrio

c intcgran rcs das familias carolicas rradi cion ais. scguindo 0 mcsmo modele de

criacao das Ligas Elcirorais Car61icas nos anos 30. H d nessa hierarqui zacic

das a<;oes das Sema nas Sociais uma nfrida inten cao de que 0 poder polfti­

co se fonaleca frente ao avanco dos com unistas nos CSpattOS de aruacao dos

mesm os, pois, desra forma, ut ilizando pessoas chaves e com infiuencia nesses

cspac;os, prcrcnde se ver dim inulda a allao dos "vcrmclbos", tanto no plano

idcologico como assistenc ialista da populaci o ma is carente.

Con rudo, parece que esse embate ideokigico era relativizado a u suavi­

zado em morncn ros em que a refrcga polItica nao estava na ordem do dia. Rc­

firorno -nos ma is cspccificame nre as relacoes sociais percebidas ent re religiosos

e cornun istas, algo como a convivenc ia entre pessoas de uma cidade pcqucna,

onde isso sc da de for ma mais amiudc, proporcion ada pela pro ximidade do s

rncsmos, par habitarem 0 mesmo bair ro, de trabalharem no mcsmo service,

de ter as m esmo s laces consn ngumcos etc.

Daf, por exemplo, urn mo s:o mariana como O rion Matos de Menezes

admirar a eloquencia do disc urso c a Huencia de rrafcgar pclas leis trabal histas

de urn comunista como Pedro Rufin o, ou de urn Dutro jovern marianista

como Expediro Ferreira Lim a, que atard inha se pcrmi tia disputar uma parti ­

cia de damas na casa desse mesmo com unis ta. D e outra forma, urn com unista

78 Id.lbid.

- 56 -

Page 55: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlE,AO MUNDOS DO TRABA l HO

como Joaquim Rocha Veras ndo sc furtava de colabc rar com as obras assisten­

ciais cia paroquia, segundo nos diz outro mar ianisra, Valmir Rocha:

"Quando n6s prccisdvam os de ajuda para as obras da Igrcja, uma dns pr i­

mei ras pes.<;oar a quem recorriamos era 0 Quinca Veras (loaq uirn Rocha Ve­

ras), c de scmprc colaborava com a genre . Nfio borava dificuldade nne"."

Essa "simpatia'' e rambern compartilhada por O rion Ma tos de Mene­

Zt;S ao (liar de Pedro Rufino:

"Dava gosro ouvir Ped ro Rufino falar. Ele era muiro en rendido em leis.

Explicava para 0 povo 0 que 0 govcrno faaia com a genre, a pcrscguicficao trabalhador, a inAa<;ao, rudo de cxplicava. Quando de falnva, rode

mundo ficava prestan do arencao ao que de dizi a. Era urn grande homem .

As vezes eu escutava 0 qu e de dizia c gos tava mui ro".so

A figura de Pedro Rufino, portanto, rem 0 respcito e a admiracio das

pessoas que com ele conv iverarn ou, pelo mcnos, daq uelas rnais proxiruas I

ind ependenre da mari z ideologica au do grau de insercao dessas pessoas nesse

emhare. Logicamenre que essa "simparia" nfio sc rraduzia no plano das idcias

e ralvez ela se desse nos momenros em q ue o miliranre nao usasse de suas

conviccocs manifcstas para fazcr proselirismo, ism e, quando essas relacoes

cstavarn mais no plano do cot idiano do rrabalho, da vizinhanca, do lazer onde

rodos parcciam iguais. Oaf se verificar essa "simparia" para com Pedro Rufino

em pessoas como O rion Matos de Menezes ou Expedite Ferreira Lima que de

cerra forma , cram do seu circulo de amiz..ade, e nao de ou tras, como aquclcs

que encarnavam a poll rica parr iddria local, sc rcvelando scus dcsaferos, como

Alfredo Veras Coel ho, Francisco Ottoni Coel ho, dcntre ou tros."

Par ou tro lado, sercomunista nfio significava propriamente ser areu. 0

"com un ismo areu" tfio com bar ido pcla Igreja, nfio aringia a rodos os mcmbros

da celula ACC (sigla pela qual se denom inavam as comunisras em Camo­

cim) .112 Raimundo Ferreira de Sousa (Raimundo Vcrmclho), por cxerup lo.

79 tntormacoes orestadas pelo Sr. Valmir Rocha, ex-bibliotecario da Conqreqacao dos Mocos Me­rianos.

80 Entrevista com Orion Matos de Menezes, reafuada em 20/04/98. Camocim-CE.81 Ne leqistatura de 1948 a 1951 o nde Pedro Rufino foi vereedor; Alfredo Veras Coelho ta mbem

toi eleito. No entan to . pedia seg uidas licences para nao ter 0 desprszer de ser chamado de"colega" por urn comun ista.

82 0 registro dessa siqla aparece numa eta de uma das sessoes da celula comunista de Camocim.

- 57 -

Page 56: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLECAO MUND05 DO TRABALHO

segundo depoimento de sell filho, Tertuliano Ferreira de Sousa, era frequen­

radar assfduo das missas dominicais, ate que 0 paroco, ao saber se suas liga­

~Ocs com 0 partido comunisra, 0 proibiu vccmcntcmcnrc de adentrnr na "sua

igrcja" e assisti r aseus aros linl rgicos"

Como sc pode pcrccber; nfio podernos ti rar concIus6cs e nem rermos

conccitos csrereotipados dessa relacao entre rcligiosos e com unisras Besse ern­

bate ideologico. vista que as circunsrancias, as pcculiaridades e morivacocs

locais podem fazer com que essas relacoes naD csrejarn propriamente confor­

madas dentro de um a visdo de oposicao racira no cam po das ideias.

aoexeda an processo contra os comunistas ceerenses . sem contudo apa recer sua s jgnifica~ao .

fmaqinemos q ue Acepoder ia ser ssscctecac dos Comunistas de Camocim , no entente. eumamera suposkao. Arqu ivo NacionaV FundO/cole\a o: TSN/ Processo nO. 394/Apela\ 30 4601v0l.2.p. 2080 .

83 Tertuliano Ferreira de Souza. Entrevista realizada em 21104198. Camoci m-CE.

- 58 -

Page 57: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE, AO MUND OS DO TR ABALHO

CApiTULO III

OS COMUNISTAS NO ESPAC;O

DO TRABALHO

Esre capjrulo sc justifica principalmcnte por terem os comunistas uma

acfio, digarnos, vigoro sa, no seio do operariado camoci ncnsc, atuando ncsses

cspa(jos de tra balho e fazendo deles locais de milirancia, procurando organizar

as trabalhadores em sindicatos, associacoes beneficcntes c socicdadcs civis.

Pede se perceber, par cxemplo, no caso de Camocirn, que indc pcndente das

diretrizes do partido em privilegiar uma ou oucra proposict o de trabalho de

arrcgirnen racao e divulgacao do partido. era no espac;odo pono c da fcrrav ia

que se desencadeava a milirancia comunista, e dal se espalhava para 0 dmbi ­

[0 de outras carcgorias profissionais, como os rrabalhadorcs da ccnstruclo

civil e trabalhadorcs rurais. Por outro Indo, a cxisrencia dessa conjugacao da

arividadc porto-ferrovid ria permicia que a mi lirdncia tivesse mobilidade pelo

iutcrcdmbio qu e cssas vias de ent rada c safda proporcionavam. Nac qucrcmos

dizer que a simp les cxistcncia do Porto de Camocim e da Estrada de Ferro

ren ham forjado urn clirna propicio para alime nta r um a mil itdncia com unisra

desse porte, isto e, um way of hje, como assinala G ilda Marljal Brand do com

rclacao a Santos, onde "sec operdrio eser sind icalisra e comunista, fcno me no

que ultr apassa 0 am bito organizacional e part iddrio". Conrudo, nas cidades

"rninei ras, rexreis, porruarias e ferroviarias", 0 Part ido Comunista se revela­

va fo rte, e e nessa cons ideracao qu e nos fundamemamos para analisar a po­

tencialidade dcssa milit:incia nesses cspac;os em desenvolver urn trabalho de

consciencia de classe."

as ccos dessa consciencia de classe nos chegam pelos depoimenros de

ex-sindicalisras e ex-m ilitanres como 0 come rcianre aposenrado joao Ricardo:

84 BRANOAo, Gilda Mar~al. A Esquerda Positiva. As duas a/mas do Partido Comunista - 7920/1964.Sao Pau lo: Hocftcc, 1997, p,182 .

- 59 -

Page 58: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

C ~Ull'U

P oblcm;u, drnN.

lilt.. ' l 11.1

I r t I JU4,-l, Ps drcrarn mu to bonu UI 1;1 m rod

munJo pOInu.-: p.n , l tojl"01 ....

umde Pnnt('iro J(,

,lim i i .1 U

dol 11m (\lId. d

61

.. ~ud rem nil 0 11 Icunu.mm (un dl\l1u f

uu rros, () ndic I mo aq i n Camoom J

n'tO' cnnYltial~t.i (1"H (If nlfw:, LIt' outruin

: 0 Port< c. Fer"""".w;a.udocnmprT

ender u.a impore.i pullin de Itt

ide J cst2aI.b. romn a ( Ill VUII -Iboa" ~ .. "I rtdc t lew du F.n;lIlo do

U-.ll~. :dJm do quI"•.1 m.r lr" I lIuliw I ' rrn I I I 11 ::1 <ltl P,u u dll C

muni em Cam r V.I ("111ft: u I In iar- 1\ ~ ) J WI

W hl~rO(l 1 entre I U.141m. "01. II m 1111 " nam <II

'Ollpl I rL.U U IU ) m \ 1tl ( I L 113 1111 .. {ten Jburu ;10 J um.a IOh.l fi.'r rc-.l POU:l impedir n con I)IlK) 0\1 numa

potr.l1' \..,,;1c} cllnj m t: para 0 en • I n:n 'H , l J(' P"'tU. a .:rr de-p (IUJ.aJ. IOn J I (U dr (;im~ por I lenr rata t snl con

JU Ito ni harrmmm • com poden III r fi to :W..L:uuc sc VI 10

J II J I algue:'m qu [T 1 noa monOri~ JI n.if J cmardc .. _ ( n

ch ,do C cmc r U II" • brw;o ()JJ b C' hr'iU ench ndu c r." 1.1 nd

po e rocv o I1 U1Vl m 1.1d 111 pOf la't"U e da It "

•• ....--D

Page 59: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(0 I ~ . O ~ Uh OOS 00 TUBA ~ O

3.1 0 E5P ~o do Porto e da Ferrovia

'" .." . . lea do p,,"O e a fundo. r: I....... I I""" ria

"UNA

ahiu do Rio de J ilO. 0 d. Ahnl

cum escala em Recife e Am.1fT 0 .

devendo I e Carnoorn I I dn

correnre.

ind depoe de" Ind" nciv Idemon r ra o ~U m esca p.lf

1 I I .0\1.11. TV, n-Ll Rr.m ca r

Ma u p he C <g' .

Inform . e

em bcomJOem ocim~kAN' n lORFI

C\f"r1 nlIon 1-'\·26"

" ,kn"" "'( • 91 ....

61 •

Page 60: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEÇÃO MUNDOS 00 TRABALHO

Anúncios como este, sobre a viagem do navio UNA, eram publicados

freqüentemente nos jornais do Estado do Ceará, mostrando o tráfego intenso

do Porto de Camocim. O Porto, juncamence com a Estrada de Ferro de So­

bral, eram responsáveis, entre os anos 20 a 50, pela exportação de grande par­

te da produção de matérias-primas da Zona Norte do Estado, como também

da importação de produws de outras regiões do Ceará e do Brasil.

Por estas duas vias de escoamento da produção saíam o sal de Camo­

cim e Chaval, o charque das oficinas de Sobral e Granja, a farinha de Crareús,

o boi em pé. a castanha de caju, a carnaúba c o algodão de toda a região. Por

elas, chegavam também os tecidos, a porcelana inglesa, os vinhos portugue­

ses, a moda francesa, a madeira da Amazônia, as companhias de teatco que

se apresentavam 110 Teatro São João, de Sobral, e São José, em Fortaleza,

as comissóes científicas, como a que confirmou a Teoria da Relatividade de

Einsrein, em Sobral, marinheiros sonhadores, viajantes ávidos de aventuras,

comerciantes em busca de estabelecer praça.

A organização dos portuários em outros portos do Brasil se dá neste

período, entre 1920 a 1950. Camocinenses, como Sotero Lopes, viveneiaram

estas lutas nas suas andanças de marinheiro. A conjugação de trabalho entre o

porto c a ferrovia também é salutar para esta troca de informaçóes. O Sindica­

ro dos 1i-abalhadores do Porra e a União dos Empregados na Esrrada de Ferro

surgem como as primeiras tentativas de organização dos operários na década

dc 30. Os ferroviários, ames da fundação do Partido Comunista em Camo­

cim em 1928, já tinham experimcntado uma greve em 1914, contra a arren­

darária inglesa da Esrrada de Ferro de Sobral - Th< SOl/th Am<rican RailwayConstruction Limited- que pretendia pagar somente três dias pelo trabalho de

lima semana. A greve é vencedora e o pagamento integral restabelecido.88

Neste episódio, podem estar as condições que iriam gerar no seio da

categoria dos ferroviários uma consciência de luta por seus direitos. que bro­

tariam em outrOS momentos onde as relações de trabalho na ferrovia se tor­

navam adversas.

88 lustosa da COSTA. "Greve". Jornal "Diário do Nordeste", Fortaleza, 04/09/96.

- 62 -

Page 61: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEÇÃO MUNDOS DO TRABALHO

Posteriormente. o patrão inglês também agiria no espaço do Porro. A

empresa de alvarengagem89 inglesa Booth Lille. juntamente com um prático

de nome Marinho, desde os idos de 1935, davam corno obsrruldo o canal

do Porco. O tal prático" ... encalhando propositadamente um navio na en­

trada da barra" provocou a vinda de alvarcngas de Fortaleza, pertencentes à

referida firma para fazer o trabalho de descarregamento de mercadorias. A

800rh Line viu naquele serviço, uma maneira de lucrar duplamente, junta­

mente com o prático.

O não franqueamento do porto aos navios era tema constante no jor­

nal comunista "O Democrata". Desde agosto de 1947, a tal "obstrução"

do Porro de Camocirn, era denunciada pelo periódico "vermelho", mas tudo

acontecia sob as vistas complacences da Capicania dos Porros, de ;}ucoridades

e políticos. Afirmavam que o porra não dava ancoradouro para navios de

médio e grande calados. Com isso. os bacelões da empresa ganhavam com o

frete de carregamento e descarregamento das mercadorias vindas nos navios

que ficavam à boca da barra. sem adentrar no canal natural do pOrto.

Essa farsa durou quinze anos, de 1935 a 1950, rempo esre de atro­

fiamento econômico de Camocim e ainda de partes do Piauí e Maranhão.

No dia 30 de janeiro de 1950, o navio "Aratanha", com seus 96m de cum­

primento, navegando a 16 pés de profundidade e 4.000 toneladas de peso,

singra as águas do Rio Coreaú e aparta. Em manchete de primeira página

"O Democrata" csrampa: "O CMTE. DO ARATANHA DESMASCARA A

BOOTH LINE". Em tipos menores, completa: "Navios de treze e meio pés de

calado podem entrar no porto de Camocim sem o menorperigo ", O cOmrmdll1lte

Heitor Theberg, da Companhia de Navega,ão Costeira, fizla li reportagem de"O DEMOCRATA" - ''Pode ser mantida a linha de trallSporte e carga com o

porto de Camocim" - O prático j. Lopes Filho desJitz lima lenda criada pelacompanhia imperirtlis/fl. 9O

89 Serviço de carga e descarga de mercadorias feito por embarcações denominadas "alvarenga".Como os navios não podiam adentrar no porto de Camocim, já que o prático plantara a tesede que seu canal estava "obstruído", as alvarengas faziam este serviço junto aos navios queficavam ancorados na boca da barra, auferindo grandes lucros com os fretes.

90 Jornal "O Democrata", ano IV, n°. 977, 09/02/1950, Fortaleza-CE, p. 1 e 2.

. 63 .

Page 62: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUNOOS 00 TRA BAl HO

o DUtrO prat ico, 0 sabotado r "3 service dos inimigos do povo" de

Camocim. na realidade nada sofrcu C acabou scndo transferido e promovido

aprarico de Forta leza. No passado como agora. a impunidade ja era urn cxpc­

d ienre de premiacao para as criminosos.

o reporter de "0 Dcmocrata", que por urna dessas felizes coinciden­

cias sc cncont rava em Camocim quando 0 Araranha, para desespcro dos "ex­

plorado res inglcscs" jogou para as profundczas a lenda ciaobstrucao do porto,

assim narrou 0 aco nrcci do :

"Erarn duas horas da tarde C 0 navic pene rrou apit ando de barra a denrro .

Apesar da chuva que caia urn grande numero de pessoas acor reu apraia.

No dia seguinre, acompanhado do vereador Fern ando Trevia. fom os visi­

rar a nave rcccm -chcgada" . ') 1

A d ragagem do Porco ja era urn assunro hd rnuito tem po ventiladc e

o reporter nao se fez de rogado e perguntou ao velho marujo, que conhecia

nosso porto desde 1902. qual a sua opiniac sobre isso:

"Sou de opini.io que uma dragagem aqui nada adianraria. 0 que se de­

veria fazer era a construcao de dois mo lhes de ped ra sabre os bancos de

areia moved ica, para a canalisacao das aguas, a exemp lo do que foi feiro

com plena sucesso na barra do Rio Grande do SuI. Feiro isso, to ma-se ne­

cessaria uma ligeira dragagem para a canalisacio da s aguas. (...) Procedido

esre trabalho, a ba rra da ria en trada para naviesde grande calado, provavel­ment e de 2~ pes a mais. A barra de Ca mocim que medc presenremcnre de

15 a IG pes de profundid ade, pode dar entrada nas mares de Ilia a navies

de 13 e meio l-xEs de calado, como accnreceu com 0 Aratanha scm ofcrecero menor perigo"."

A aruacao poluica dos mi liran tes comunistas nos espa\os da cidade nac

sc dd ape nas no perfodo em q ue Camocim cxpcrimenra um notdvel progresso,

sendo a porta de entrada do Ceara, atravcs do cornplexo do Porto-Ferrovia,

nas decadas de 20 a 50, mas tambern quando corneca 0 declfnio comercial

adv indo dessas arividades, tanto por falra de urn melhor apa relhamento do

material roda nte da ferrovia, como a necessidade da dragagem do porro. as

lfdcrcs dos trabalhadores locais (entre des os comunisras) e esraduais passam a

91 Id. Ibid. p. 292 Id. Ibidem.

- 64 -

Page 63: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COL E, AO MUNDO S DO TR ABALHO

reivind icar estas melhorias arraves do jornal comunista "0 Democrara", bus­

cando pressionar as auroridades para a solucao destes problemas, 0 qu e prova

q ue as comunisras n50 s50 cxprcssao cia exclusao de classe.

An aponta r fares como esrc, qu eremos dizer que existia todo urn con ­

rcxto social, lima varicdade de componentes , experiencias de Juras. qu e, no

dizer do h isroriador ingles Edward l~ Thompson , nao ocorrem somcntc nas

d itas agcnc ias institucionalizadas como as panidos, sind icatos, associacoes,

mas tambcrn j UIHo das pessoas comun s que podcm guardar parte de uma

memoria de uma classe.?'

Entcnd cmos cssa atuacfio como uma das form ns em que se concc be

a pratica social, nfio como uma modalidadc solitdria, apesar de suas carac­

rerfsricas prcprias, ncrn dissociada das ourras dim ensoes de sociedade , mas,

relaciona ndo-se com ourros domfnios.?'

Urn espallo privilegiado oode a militancia comunista assumia um card­

tcr polnico era a Estrada de Ferro, A maioria de s nossos entrevisrados dizern

que ali era 0 "foco" do comunismo. Com efeito, os comunistas cram a grande

maioria ent re os operarios e fimcion drios administrativos.t"

o espac;o em qu e se dd essa atuacao pohrica dos milirantes comunistas

etratado aqui no sent ido do qu e Pierre Nora chama de "Iugarcs de memoria"

% . Oat, um a Iciru ra nfio sc rcsuruira apenas no espa~o ffsico exisrenre, como as

ru fnas das oficinas de manutenciio de trcns, cia Esracao Ferroviaria, do Porro.

das sedes das associacccs e sind icatos, das prac;as onde se comernoruva a Pri­

meiro de Maio, mas, rambem, como se rcclabora a memoria desses lugares e

de fatos q ue marcararn a milirdncia comunista na defesa de seus ideais.

Assim, a participacao dos comunistas de Camocim na dispura eleitoral

no Esrado e no municipio, no envolvimenro com a polfcia repressora clos

93 THOMPSON, E. P. A Formar;ao da CfasseOperaria Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.94 COUTROT, Al ine "Reliqiao e Polttica". In: REMOND, Rene. Par uma Hist6ria Politica. Rio de

Janeiro : Edito ra UFRJ/ Edito ra FGV, 1996.95 " ... as of icinas de RVe em Camocim tinham, em 1950, uma media de 300 opererio s. enquanto

que na estacao. compreendendo a parte administrativa, a dlretor ta, 0 sistema de t rMego eo sistema de via permanente. havie. aproximademente, 150 funcionanos." OLIVEIRA, AndreFreta de em A Estrada de Ferro de Sobra/ . Fortaleza: txcressao Grafi ca e Editora, 1994 . p. t 03.

96 NORA, Pierre. "Entre memoria e historia : a prcblematica dos lugares" ln: Proje to Hist6ria. SaoPaulo: Revista do Programa de Estudos dos P6s-Graduad os em Histc ria e do Departamento deHist6r ia da PUC-SP. n.10, 1993.

- 65 -

Page 64: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

C O lE~A O MUND OS DO TRABAlH O

rnovirnentos de 1935 a u postados oa linha de frcntc com a populacao nos

mementos de reivind icacio, sao exemplos onde as trabalhos da memoria aruam.

Especificando 0 que disscmosanreriormenre, a memoria da milicincia comunista

aflora com maior visibilidade no memento em que erepresenrada aqui pela aru­

3c;aO dos militanres com unisras nas eleicoes de 1947;'17 a prdticapoliricade Pedro

Teixeira Oliveira, mais con hccido como Pedro Rufino, na condiclo de vcrcador

da Oimara Municipal de Cam ocirn," do "Massacre do Salgadinho" em plena re­

pressio ac comunismo em 1936, c do movimento da populacao contra a saida dos

oficinas e dos trens de Camocim para Forralcza em 1950:J<J

Militamcs como Francisco T heodora e Petronio Pcssoa des San­

tos foram acusados de difundir "ideias cxtrcmisras" entre as fcrrovidrios'?'.

Francisco Theodore , rcdaror do Jorn al "0 O perario", fundador do partid o

comunisra em 1928 em Ca moci m, foi alvo de perseguicocs e prisocs ru ori ­

vadas pelos lfderes politicos locais e esraduais nos momentos de repressao ao

comunismo. t preso em Camocim em 1931.

De Forraleza vai para 0 Rio de Janeiro. onde cum pre prisfio no prcsfdio

da IIha Grande. Volta a Carnocim em 1945, quando da instalacao do Comire

M unicipal do Partido. No seu discurso de saudacio aos presemes, como j<i vi­

mos, ressalra seu traba lho fcito a nrcrio rrnenre, "qual scrnc nt e jogada em solo

fenil", como tambern cvidcncia todos esses anos de mil iranc ia clandcsrina de

scus anrigos compa nhciros de lura. nfio so junto aos ferro vidr ios, carrcgadores

do porro. as catcgor ias mais importamcs na cpoca, mas, rarnbcrn jun to aos

salineiros, pescadorcs, agriculto rcs, dcn rre outras.

97 pes te elekac parnctpem tr~ s candida tes de Camocim: Cebocunhc Farias, ferrcvanc, recebendcvotes em qu ase todas as d da des par onde passava a Ierrove: Pedro Rufino, motcns ta, vende­dor ambulante , 0 mais po pular dos t res: e Raimundo rcnseca Coelho, aercvanc. cemconenserad icado em Fortaleza. Isso demonstra a organtzaJ;ao e a import flOcia da celula de Camocimpara 0 Partido .

98 Toda a Iegislatu ra de 1947 a 1951 esta escrita nos Uvros de Atas da Camara Municipal deCarnocfm e a part idpaJ;ao de Pedro Rufino ebern efetiva. Por outre lado, depoi mentos de ex­vereeocres desta leqistatura, como Fernando Irevia e Setembrino Veras, poderao nos dar umaoutra verseo da atuaJ;.lode Pedro Rufino no parlamento camocinense.

99 Fato que foi basta nte anu nciado pe la imprensa dol ecoce. quando a poputaJ;ao revoltada coma noticia de que as cficinas, trens e tunctcnanos seriam transtencos para Sabral e Pcrteleze.obstrui os t rilhos com paus, ped ras e outros materteis, exigindo providencias de politicos. doMinistro da ViaJ;ao e ate do Governad or do Estado, que veio pessoalmente a Camocim ver asituac;ao e prometer que as oficinas e t rens nao sairiam da cidade . Contudo, paula tinamente.funcionar ios e cflclnas fora m sendo transferidos.

100 Essas acusaJ;oes part em dos depoentes em processes movidos contra as dcis milita ntes,que so encont ram no Arqu ivo Publico do Estado do Ceara.

. 66 -

Page 65: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,Ao MUNDOS DO TRABA LHO

Assim Francisco T heodore rclcmbra seus prirneiros anos de militancia

nesses espas:os da cidade, junramenre com ourros "camaradas", planrando a

"scmentc", que hoje cle via tornada "drvore", represenrada pela fund acj o do

Co mire Municipal do Partido Co munisra em Camocim. E arremara, no final

do d iscurso, uma lcmbran ca das vfrimas do "Massacre do Salgadi nho" e os

vivas de praxe:

"M orrcram r orgue queria m a felicidade do pOYO, porqu e horrorisa­va-os a rniscria dcssc POYO d igno de mclhor sorrc. Foram vit imas daqu inra-coluna que disfa rcada de integralismo scifou (sicl) a vida dessesda is brasileiros. (...)

Viva 0 Brasil! V iva 0 Prolecariado! Viva a Luiz Ca rlos Presres! Gloriaarod os qu e tomba ram na lura pela dernocracin!";'"!

Na fala de Chico Theodora eevidence esta militfincia pantletriria nos

espacos do trabalho e na cidadc como urn todo arraves dcsrcs bolcrins. No

mesmo discu rso, d e faz referencia a uma "arma" de grande alcance para esre

trabalho. Quando volta do Rio de Jane iro traz a tiracclo urn mimedg rafo, a

arma com a qual dispara seus bolerins. Na falta de seu ant igo jomal , "0 Ope­

rdrio", cdit ado em Camocim, 0 mimeografo dd mais agilidade na propaganda

J us idcais co munisras.

Toda cssa intcnsidadc da milit5.ncia vinha dcsdc 1927, qua ndo da ins­

ralacao do RO C - B1oco Opcrario c Cam pones. que poster icrmenre sed a

base do Partido Comunisra em Camocim, este fundado quasc que concomi­

tan tement e ao de Porraleza em 1928. 0 desenvolvimenro dessa militancia re­

dundou rambem no surgimento de out ras frentes de militancias conr rarias ao

comunismo, como as assoc iacoes pias ligadas aIgreja Ca rolica, 0 integra lismo

dos "camisas verdes", principalrnenre, alem das repress6es do Governo atravcs

da polfcia, como vimos no capit ulo anterior.

Hoje, Ca mocim nao possui mais este "fervilhar" do ir e vir de navies,

teens, pessoas, mercadorias, ideias, utopias. as projetos sao outros e as pessoas

tam bem. Os "cxploradores" nao sao mais os ingleses. Siruada no liroral oeste

do Ceara, a cidadc proc ura se desenvolver arraves de urn comc rcio de porte

101 Jorna l"O Democrala" ana I, n'' 45, 01/05/1946, Fortaleza - Ceara p. 03.

- 67 -

Page 66: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,Ao MUN OOS 00 TRABALHO

medi c, da atividade pesqu eira arresanal e indu strial rocada pelos empresdrios

locais, de urn ruri smo ainda muiro incipientc com invcsti mcnto de urn gru po

italiano e estricomeca ndo a entra r no programa de int eriorizacao da industria

do G overno Estad ual, com a instalacao de um a fabrica de calcado s benefi­

ciando urn empresa paulisra. A populacao atual do m un icipio esra em com o

de 55. 00 0 habitan res.

3.2. Os Sindicatos e Associac;6es

A militftnc ia comunisra feita nos espa<;os do rrabalho da cidade de Ca­

mocim, nos anos 1920 a 1950 , nfio sc resrringia apenas asimples divulga~o e

propagacto dessas "ideias exrrem isras". 0 Partido Comunisra, no processo de

arregimc ntacfio de adc pros C organi zacao tins rraba lha dores, usava de varie s

cxpcdie nres, de acordo com as circunsnt ncias locais.

Em Ca mocim, 0 apclo poll rico, na pro cura de organizacao des traba­

lhadores em sindica tos e socicdadcs murualisras, foi a cst rarcgia usada, difc­

rentemenre de Cauca ia, hoje zona met ropolirana de Fort aleza, on de a partido

se utilizou de rnerodos tradicionais de se fazer pol frica.t'"

Utilizando-se de urn instru mental politico com posro de jornais, folh e­

(Q S, palestras, com tcios, reunifies , livros, passeatas, 0 part ido pro curava criar

nos trabalhado res uma conscienc ia cia impo rtdncia de sua organizacao c to r­

nar estes mcios instrumentos da lu ra polfrica.

Ja em 192 7, ano em qu e eta fundado 0 BO C - Bloco Opcrano c

Campo ncs, base do futu ro Partido Co munisra em Camoci m, circu lava 0

jornal "0 O per.trio", un ico porta-voz do part ido no interior do Ceara .103 No

prirneiro congrcsso do BGe , que se realizou em 1930, a Sindicaro dos Pcquc­

nos Agriculrores do M unicipio de Camocim e o Bloco O pcctrio Campones se

fizeram rcp rcscnra r no cvcnr o. '?'

102 RIBEIRO, Francisco Mo reira. Op. cit., p.l 02.103 Segundo relat crto epresentado eo tntervento r Federal pelo Secreteric de Sequre nce Publica,

Dr. Faustino Nascimento, quando da repressao ao comu nismo no Ceara, desencadeeda em1931.

104 MONTENEGRO,Abelardo. Os Partidos Politicos do Ceara. Apud RIBEIRO, Francisco More ira op.cit., p. 34.

- 68 -

Page 67: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlE(Ao MUNoOS DO TRABAlH o

Entre 1928 e 193 1, ano em que einiciado 0 proccsso de reprcssao aos

com unistas ccarcnscs, vdrios sindicaros surgcm, fruro do rrabalho de Francis­

co Theodora e DUCfUS m iliranrcs com unistas, Ca boclinho Farias, sindicalisra

militante, em ent rcvista a Francisco Moreira Ribeiro, coma que foram fun da­

des as seguinres sindicaros:

"Sindicatc de Peq uenos Agriculrores de Camocim, Sindicaro ciaCons­trucac Civil, Sind icato dos Trabalhadorcs do Porro, Sindicaro dos Tra­balhad orcs em Salinas e Uniao dos Em prcgados na Estrada de Ferro,rodos POSIOS (ora de arividadc logo apos a rcvolucao de 30", lOS

Analisando 0 contexto em qu e essas associacccs c sindicaros surgiram,

suas or igens C objcrivos prete ndidos, elas dcspontaram em da is momentos.

Urn primeiro mom enta , quando do surgimemo do Bloco Opcrdrio Campones

(BOC), do Sindicaro do, Pequenos Agriculrores do Municipio de Camocim,

do Sindicato da Construcao Civ il, do Sindicato dos TrabaJhadores do Porro, do

Sindicaro dos Trabalhadorcs em Salinas, da Uniao dos Empregados na Estrada

de Ferroe da Sociedadc Beneficcnrc Fcrroviaria que foram fundados ent re 1927

s: 1932, pcrfodo em que sc travava no Brasil urn debate acerca da legislas:ao

trabalhista. Angela Maria de Castro Gomes baliza, ent re 19 17-1937, urn cspa,o

de tempo em que a organizacio des nabalhado res. par sua erncrgencia e pratica

de lutas, enscjou que esse dchare fosse rravado, que acontecessem avances e

rccuos na disciplinariz..a'tao do trabalho via legisla'tao.' 06

Pa r outro lado , 0 patronato ram bern dcsen volvcu , no perfodo, urn

sistema de or gani zacao da classe ernpresarial como forma de atuar poli tica­

mente no Co ngresso Naeio nal, arraves das bancadas c em out ros f6ruos no

scnri do de rerardar e inrerferi r 0 maximo poss fvcl ncsras rransformacoes que

pode riam advir do em bate poltrico."" Em Camoe im, isso rcpercut iu 00 seio

do pa tronato da cpoca, que procu rou se organizar na Associacio Com me rcial

(191 8) , ainda atuante e a Associacio des Rcralhi stas (1934), hoje desarivada.

A prcsenc;a dos co munistas oeste memento pareee rer sido irnportanrc

na organizacao das encidadcs rcpresentarivas, 0 q ue podemos constatar pcla

l OS RIBEIRO. Francisco Moreira. Op. ct.. p. 99106 GOMES, Angela Mar~ de Castro. Burguesia e Trabalho. Politica e legis la~ao trabalhista no

Brasil -19 19-1937. Riode Janeiro: Ed. Campus. 1979.107 Idem. ibid.

. 69 •

Page 68: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLECAO MUNDOS 00 TRABAl HO

prcscnlj3 de seus names nas composicoes de suas respecrivas dircrorias. Fran­

cisco Theodora fundcu 0 Sindicato dos Trabalhadores do Porto; ]oaqu im

Manso diri giu 0 Sindicato dos Trabalhadorcs em Salinas ; Raimu ndo Venne­

Iho [oi Presidenrc de uma Sociedade de Estivadcrcs: Caboclinho f acias da

Unifio do s Emprcgados da Estrada de Ferro; Pedro Rufino figu rou co mo 50­

cio t: di reror do Sind icato da Construcao Civil.

o Sr. Nile, quanta a isso, eenfacico:

"Foi 0 prirneiro sindicaro que ell conheci aqui, 0 sindicato dos portu­arias em Camocim. Foi 0 Chico Theodoro que fundou (...) Em rodocanto papai era socio, de era direto em rodos as sindicaros, papai era sin­

dicalistaem coda qualidadede sindicaro... E cssa parncipacic no sindi­caw era feito denrro do sind icato. E<;S.1 Constructe C ivil, esse sin dicato

do pcssoal aqui do rnaro... rurais, rudo foi 0 papai que fundou, rude era

fundado por de ai.. .• conhecia mui ro a lei, era muiro aud acioso, sabin

das coisas, sabin f3Iar."108

o segundo mo menta envo lvendo 0 conrcxto em qu e as associacocs

e sindicatos surgiram sirua-se na epoca da Revolucao de 1930 q uando esras

cntidades classisras foram pastas fora de arividade, conforme depoimento de

Caboclinho Farias ao histo riador Francisco Moreira Ribeiro, ja cirado ante­

riormcnrc. In iciou-se entao um a polfr ica de csrarizacao dos sindicaros no pe­dodo varguisra. co m 0 objerivo p rincipal de conrrolar as liderancas sindica is

c dar um a fci<;:ao mais assisrcncialisra aos mesmos. Contudo, as associacoes

ressurgiram arrcladas ao Estado. ascomunistas contin uaram presclltcs ncstas

assoc iacoes, mas de forma mais d iscreta, pais a co nrrole e as pcrseguicocs po If­

ticas cram mais consrantes e 0 atrelamento ao Esrado feito pelo Mi nistc rio do

Trabalho era inevitavcl, Como tatica, eles se infiltravam ncssas o rganizacoes,

para, nesse novo modelo de sindicato, tenrar conseguir depois figura r em suas

d ireror ia, 0 que sc configurou com 0 chamado "cntrismo". Mesmo assirn, 0

co nt role era rigoroso c dific ilmcmc os comuuisras c ram vito riosos.J()9

108 Entrevista reallzada com 0 Sr. Nilo Cordei ro da Silva. em 16103197. Camocim-Ct.109 GOMES, Angela Maria de Castro . A InYe1l\Ao do Trabafhismo. 2-. ed. Rio de Jane iro: Relume

Dumara. 1994.

- 70 -

Page 69: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLECAO MUNOOS 00 TRABALHO

A decada de 1940 foi fertil no surgimemo de diversas associacoes e

sind icaros. Surgiram enrac 0 Sind icaro dos Esrivadores, a Associacao Rural de

Camocim c Sociedade de Pequenos Agriculro rcs do Municipio de Camocim.

Nas duas ultimas , 0 comunisra joaquirn Rocha Veras consegu iu rcr () cargo

de Prim eiro Sccrcrdrio.!"

No rcgisrro de seus estat uto s, a "agremiacio" des agricu ltores cdifu n­

dida como meio para qu e as mcsmos "unid os num so corpo, tornarem-se

dignos. [ones c respelrados na dcfesa de seus di reiros",III A assisrencia ao

trab alhador agricola. 0 peculia afamili a, a defesa cia jornada de oito horas de

trabalho, fazern pane de scus programas bdsicos e OlUfOS pamas sao extrema­

mente semelhantes ao qu e sc convcncionou charnnr de "polftica da ourorga"

do "trabalhismo" caracterfstico do Govcrno Vargas. 112

Os Circulos O perdrios, outra forma de sc "agrcmiar" os trabalhadorcs, de­

scnvolvida principalmcnte como urn apendice do trabalho da Igreja na organiza­

t;3.0 dos operfrios, para nao perde-Ios para 0 comunismo, apareceram no Circulo

Opcrario de Cheval , entfio distriro de Camocim e regiao produtora de sal, com a

prapoSGl de "prestar todo 0 genera de beneficiose defesa de seus s6ciOS" .' 13

Urn ourro aspecco da militancia cornuni sta nestas emidades foram as

comemoracoes, farramcntc relernbradas nos depoimcmos recolhidos, como

no Jam al "0 Dernocrara", orgao oficial do Partido C om un isra no Ceara.

"Seu" Ni lo relem bra saudoso Jesses momCJHOS, esrabeleccndo cornparacocs

com 0 presenrc, face adi ficuldade de se fazer um a simp les rcunido dos rema­

nescenrcs do partido:

..... a gente fazia comfcio aqui na Rua do Quadro que dava tres a quaere

mil pessoas. A pral? ficava lorada na Rua 7 de Serembro, aquela Praca

7 de Serembro. (...) N6s sempre fazia comfc io aqui , Primeiro de Maio.passeara, era boa a lura".' !'

Arthur Queir6s cia: urna ideia da dimensao de como era urn Primeiro

de Maio:

110 livre de Registro de Pessoas Juridicas. Cart6rio Andre. 2°. Otkio . Camocim-CE. 1951111 Estatuto da Sociedede de Pequenos Agricultores do Municip io de Camod m, 1951.112 GOMES,Angela Maria de Cast ro. Op. cit.113 Esta tuto do Clrculc Ope ra rio de Cheva l, 1951 .114 Ent revista com 0 Sr. Nilo Cordei ro da Silva, ja dtada.

- 71 -

Page 70: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE(AO MUNOOS 00 TRABALHO

"Os comunistas faziam urna grande Festa no Primeiro de Maio. Co me­

cavam pela madrugada com muitos fogos, fogucrocs. passeatas c con­

centracao na Praca 7 de Scrcmbro com milharcs de pessoas. Era muito

movimentado"!'"

a jornal "0 Democrata" ressalta a parricip acao cfctiva do Comi rc

Municipal nas corncmoracoes do Primeiro de Maio de 1946, descrevendo

coda a programacao, as tentativas de sabotagem cia Festapor pa rte dos "reacio­

nririos", a fala des oradores, 0 comicio:

"Picou, cn rfio, derermlnado que as fesrividad es consistiriam nas se­

gu intcs realizacoes:

1°, Alvorada aporta cia Sociedade Beneficenre Ferrovir iria pela Bandade Musica local. 2°, Salva de [ogu ctocS an tes c dcp ois cia alvora-cia............................................. ............... 3". Sessao solene as 14hs, na sede cia Bcncficen tc Ferrovii ria........ ..... ....... .......... ....... ... 4".Passenta pelas ruas cia cidade, visitando as scdcs de todos os sind ica­tos. .......... ... ...... .. 5°. C omicio na Praca 7 de Serem bro.

• St. Prefeiro Municipal, cidadaoFrancisco Coelho que cada dia sc mcstrarnais reaciondrio, caindo, portanto, mais e mais, na anriparia do povo deCamocim, a Ultima hora obrigou 0 maestro a rccolher os instrumentosque pertenciam aCamara Municipal. a fim de que ndo houvesse musicana passeaca.

• Os orado res mais aplaudidos. foram , todavia, os do P.C.B, pr inci­palmcnt c quando dedararam qu e seu Partido nao podia ficar aUSCfHC

de uma fesra popular e prolectria de tao d evada significacio, uma vet:quer q uizesscm au nao quize ssem os reacionarios, era a vanguarda doPovo e do Proletariado. ' !"

Podcmos norar que nos dois memento s, as ati tudes d cssas ent idadcs

procuravam se adaprar as novas condicoes de lura , isro C, enq uan to as d o

primciro pcr fodo pa rt iciparam de congressos 'Jue inrencionavam fun dar par­

tidos polft icos. foram pcrscguidas c postas fora de funcio namento apes a

Rcvcl ucao de 1930, as do seg und o IIlOm CIHO, tanto em suas denominacocs

115 Entrevista com 0 Sr. Arthur Carneiro de Queir6s, jil dtada.116 Jornal "0 Democrats" - ana I, n''. 56. 15/05/46, Fortaleza-CE , p.3.

• 7 2 •

Page 71: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COl ECAO MU NOOS 00 TRABAlHO

(sociedades benefi cen res), quanta aos seus ob jerivos estaru tdrios, estavam de

acordo com a nova polf rica de sindica lizacac promovida pelo govcrno.

Todavia, a atuacio da milirancia dos comunisras nestas en ridades,

principalmentc no segundo perfodo, jaque no primeiro des estavam afrcnre

de suas fundacoes, nfio pede sec ainda "visual izada", dado 0 seu cardrcr infor­

mal, clandest ine, em toda sua ab rangencia e imporrancia.

As divcrgencias politi cas pareciam sec esquecidas em mo me ntos cru­

d ais para a "vida" da cidade . Sc cnrcndcrruos que a ferravia aparece como 0

"t rcm que puxava" os out ros scro res da economic do municip io. esras enrida­

des un em -se no movim cn ro co nrrdrio a rctir ada das oficinas e rransferencia

de fun cion arios de Camocim.

A Estrada de Ferro de Sob ral, no ramal de Camocim, no enranro,

pcrdc u urn po uco de sua importdnc ia com a ligacao fcrrovidria d irera de For­

raleza a Sob ral, fazendo conseqilenremente liga~o com as ferrovias dos Es­tados do Piaui e Maranhao. Agora na condicao de ramal Sobral - Camocim,

mesmo ames de 1950, a direcao da Rede de Via,"o Cearense - RVe, j:i havia

tenrado sua desarivacao.

A docum enracio ofereee ind fcios de que a populacao e as operarlos

da fcrrov ia parcciam cstar de promidao para os aconrecimenros de janeiro

de 1950 , pois urna dererminacao da dirccao em mand ar dai s fimciondrios

subsritufrern ou tros dois em Sobra l, qu e gozariam ferias, e a desloca rnent o de

uma tr ipulacio pa ra cquipar um a locomotiva em Sobral. para 0 "cscoamcuro

sabre cerca 400.000 sacas de mi lho acumulada varias csracocs zona no rte

com prejufzos incalcul aveis para comercio exportado r csra Capital".'!", foi a

bastanre para que a po pulacao obsrrufsse ccrca de 60Dm do leito da ferrovia,

imped indo a entrada c saIda dos trens.

As explicacocs da Rye e a boa vontade dos destinatdrios do telegrama

ern transmiri -las apopulacao nao Ihe satisfaziam, que condicionava a safda

117 rrecho do teleqrama enviado ao Dep. Mu rilo Aguiar. ao Sr. Alfredo Coelho . presidente daAssodacac Commercial de Camocim e ao vigario Inacio Magalhaes, pelo Or. Alois io Bonavi­des, representante do Governador do rs tadc. Hugo Rocha, di retor da RVCe rrarcecc Coelho,Prefeito Municip al de Camocim, que. ap6s reuni.5o em scrteleza. pedem eos desnoatanos queexptique m ao povo as medidas tomadas pela RVe. Jcma! "0 Povc ", Fortaleza-CE, 25 de Janeirode 1950. Apud. OLIVEIRA.Andre Frota de. Op. or., p. 104.

- 73 -

Page 72: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO l E ~A O MUNDDS DO TR AB AlHO

dos rrcns a urn pronunc iamen to do Ministro da Viacio, D r. Clovis Pestana,

sabre a perrnanencia de oficinas e funcionarios em Ca moc im. Sem indo -se

impotences para resolverem 0 impasse, qu e jadu rava uma semana, 0 dire ror

da Rye , 0 dcpurado M urilo Aguiar. e 0 Presiden re da Associacao Co mcrciul,

Alfredo Co elho pedi r.un a intcrvencao do Governador do Estad o junto ao

Ministro da Viacao no sent ido de resolver a situacao,

as telcgramas t rocados entre a Associacao Commercial. qu e se achava

em sessac permanence, c a d irccio da Rede de Viacao Ccarense eram anali­

sados pelo P OYO , q ue insistc nrcmcnrc ficava de proruidao em scus arredores.

Nclcs, algum;ls passagcns mostram 0 cardter rescluro da populacao na defesa

da rnanurcncao das ofic inas e fun cioudrios em Camocim:

"A cidade, nao obstante nao haver-so rcgistrado ncnhurn inciden rc, ainda

perm anece sob inrcnsa cxahac.io. A massa popula r continua vibrnnte c

cntusiasmada, co m 0 prop osito de olucr o cancc lamcuru da ordcm de

saida de qualquer oped rio. Acrediro que somcntc a vinda do minist ro da

Viacio cc nseguird no rmalizar a siruacio.... Saudarocs."

Ca pitao Assis Pereira Delegado Especial.

"Em resposta ao seu radiograma, informamos que estamos empregando

rodos os esfcrcos no senrido de que a rranqtiilidade volre a reinar em nos­

sa terra. 0 povo, entretanto, continua intransigente, com 0 objetivc dc

conscg uir urn pronu nciamento definitive do sr. Ministro da Via~o sobre

a pcr manencia das oficinas da Estrada de Ferro, (...) Toda a populacao,

scm disti nc.io de clnssc ou de credos, percorre as rua cia cida de, num a

dcmonstracdo evidcnrc de que prctcndc fazer valer os scus direiros. Logo

rnais, darcmos mclhorcs info rma<;o(."S sob rc as resultados que estamos ern­

pregando. Abrac;os."

Murilo Aguiar e Alfredo Coelho.

"Conti nuamos a empregar grandes esforcos no scnridc de conseguir que 0

povo aceire a solucao co ntida no relcgrama do D r. Hugo Rocha. Ent reran ­

to , co nsideramo-nos imporenres, dada a cxaltacao do povo. Abracos.

Mu rilo Aguiar, Alfredo Coelho e Jose Coe lho.".118

118 Telegramas publicados em Janeiro de 1950 00 Jornal "0 Povo", Fortaleza·CE. Apud OLIVEIRA,Andre Freta de. Op. or., p.105·6

• 74 •

Page 73: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlECAO MUN DOS DO TRABAl HO

Andre Frorade Oliveiraem "AEstradade Ferrode Sobral",dedica urn

capitulo inteiro ao fato. 119 Nele e ressalrada a atuacao cia Associacao Com­

mercial de Camocim. Esra cnr idadc ficou em sessao pcrmancmc d urant e as

negociacocs sobrc a rran sferencia des rrcns c fiinciondrios. Seu prcsidcnrc foi

convidado a acalmar a populacio. num primei ro mom enta , cxplica ndo as

med idas da RVe . A muhid.io, ao redor da sede dcssa associacao, man rcve

vigilancia e analisou as tclcfoncmas trocados entre a Associacao Commercial

e a RVe, ponama, 0 quarrel-general das negociacoes. a seu presidcntc c

o depurado udenisra pcdiram a iruervcncao do Govcrnador do Esrado no

impasse criado, Vindos para Camocim, o Governador do Ceara, Faustino de

Albuquerque. sell sccrerdrio Benavides e 0 enge nheiro Virginio Santa Rosa,

represemante do M in istro da Viacao, rcalizaram na Associacao Commercial

um a magna sessao, apos 0 comfc io ria Praca da Esracao , onde asseguraram a

perm an encia da s oficiuns c ainda prom ctcram a d ragagcm do Porto.

Oa sacada da sede cia Associacao Commercial, 0 governador di rigiu­

se nova mente ao povo que acompanhava as passas da comiriva. Finalmente,

na residcncia do presidenre, rcalizou-sc urn banquete onde varies aradores se

pronunciaram e a mulridao pediu ao govcrnador que pernoitasse em Came­

cirri, convi te esre acciro pronramcme.

A impo rtan cia no cenario poli tico da Associacao Comeecial - seu pre­

sidenre era urn dos chefes politicos locais -. talvez rcnha mo tivado 0 dcsraque

dessa associacao na obra do pesquisado r cearense Andre Frota de O liveira,

ja referida. No enran to, essa m ultidfio nfio era uma aglomera(jao amorfa. Nas

foros sabre esse aconreci me nro, como vcrcmos adiantc no Capfr ulo IV. a po­pulacao carrega bandeiras e esrandartcs que poderiam indenrifica-la com ourras

associacces . Quante ao comfcio da l'racada Estacao, 0 proprio Andre Frora de

O liveira fomece duas pisrasque podcm nos levar a essasconclusOcs.

Em sua na rrat iva, 0 autor d iz que discursaram "vdrios Iidercs classisras ':

Sc cntende rmos como classe as vdrias catcgorias profissionais, clas estavam 1:1

prcscmcs cngrossando a rnani fesracao. Ap6s a sessfio mag na na Associacio

Comme rcial, novam enre a corniriva, tendo afrenre a Govcrnador do Estado,

119 OLIVEIRA. Andre Freta de . Op. cit.Cap. VIII. Janeiro de J950: tentativa de desativa\ao dasoficinas de Camocim. A Estrada de Ferro de Sobra!.

- 75 -

Page 74: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(O lE~AO MUNOOS 00 TRABAlHO

['1.Z 0 caminho de volta aEsracao Fcrroviaria, para dar inicio aos trabalhos de

desobstrucao da linha ferrca, ondc se enco ntravam "em rorn o da E5t3<;ao(...)

mais de mil pessoas reu nidas, inclusive grande qu antidadc de mulheres." 120

(grifo nosso).

A presen<;a de rnu lheres nessas assoc iacoes e our ros movimenros mcrece

urn trabalho apart e. Sabcmos, no cntanto, que ela foi substancial para os pa­

drocs da epoca c, no caso cspccffico, com rccor rencias ate haje, no que diz res­

peiro aadminisrracio de crgaos municipals, csraduaise particularcs. Na decada

de 1980, Camoc im foi manchere nacional, atraves de reportage m na Revisra

Ma nchcrc ficando con hecida como "A C idade das Mulheres", poi, c1as deri­

nham os principais cargos de chcfia des organs adrninistrativos da cidade.!"

Ndo podcmos csquecer qu e ncssc perfodo 0 qual a pesqu isa recorra,

cxistiam: a Uniao Femi nine Camocincnse, da qual participava ativamcnte

a mil itance comunisra Dona Cuioma r, filha de Pedro Rufino; a nucleo Jus

im egralistas em Camocirn, liderado £lor Sin ha Trevia: alem da prcscnC;3 fe­

minina afren te das associccccs pias como a Liga Feminine da Ao;ao Ca rho ­

lica.!" tendo D. Aida Veras como prcsidente, a que prova qu e elas poderiam

arrcgimcmar ou rras m ulhc rcs em torno do objet ivo comum.

"Seu" N ilo relembra q ue seu pai, Pedro Rufino, m ilitance cornunista,

part icipou ativarncnrc desse m ovimento, pelo que se pode dedu zir que ourros

mili rantcs mrnbem rivcram participacao:

"... na cpocada greve para tirar 0 trem daqui, papai foi 0 maior cabccacontra, prd ndo tirar a trem daqui, ele lurava noire e dia hi na [rente dotr ilho, lurando, borando bagulho hi no meio, mais 0 pessoal, chamandotod o mundo pra ir na lura, pca nao deixar rirar 0 trem daqui prd Sobral.Poi 0 maior batalhado r que eu jaconhcci vivo, foi 0 papai".m

Esse trabalho de arreghncntacio da populacao , em ficar defendendo ate °fim suas oficinas, mostra que as associacoes e a pop ulacio de uma maneira geral

foram impor tances ncssc proccsso e nfio a sobrcssair evidcnrc de apcnas urna asso­

ciac;ao. COffiO parcel' denomdo na obra de Andre Frora de O liveira.

120 OLIVEIRA. Andre Freta de. Gp. cit., p. 107.121 gevista M anchete, nO.1813, 17/01/1987 . Rio de Janei ro-RJ.122 livro de rorn bo. nO2. (1930 -1952), p . 108.123 Eneevista com 0 Sr. Nilo CorJciru da Silva. jli citada.

- 76 -

Page 75: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(OLE(AO MUNDOS DD TRABA lHD

CApiTULO IV

, A

MEMORIAS E IMAGENS DA MILITANCIA

Ao rctomar as lutas sociais, sobre tudo naquilo qu e sc consrrui u c sc cons­

troi no tcatro das lernbrancas, com refiexos no irnagindric colerivo, seja de for­

jado ou nfio, no caso par ticular de Camocim , equ e buscarcmos nesse capitulo

destacar a memoria, evidenciada nao apenas nos comunisras e anticomunistas,

mas ram bem no que des selecionam sab re o "outre", e vice-versa.

Ao falarmos do Massacredo Salgadinbo. das cornemo racocs do Primei­

ro de Maio au da "grcvc" da popu lacfo contra a rransfc rencia de ferrovidr ios e

das oficinas de manu tencao de trens, de novembro de 1949 a janeiro de 1950,

nao esta remos somente falando desses evcntos c SClIS arores. Procuraremos

captar a ampl itud e desses acont ecimenro s para rcntar cxplicd-los com mais

propricdadc c buscar rclaciond-los com 0 tipo de memoria que se construiu

Oll que sc consrro i no bojo das milirfuicias em contlito. 0 recurso anocio de

memoria dnndida utilizada pdo hisroriador iraliano Alessandro Portelli, por

exemplo, sera importantc para sc compreender as rradicoes narrativas sobre 0

Massacre do Salg" dinho.

Surpreendenrernenre, para se fazer frente a uma atuacao dos comunis­

tas em Camocim, como ja foi ressaltada em capitulos anrerio res, nfio aparece

como uma referencia fan e. Os mais firrnes opositores des mcsrnos - as inte­

gralistas - no plano nacional, nao produziram uma "anti-m emor ia" explican­

do 0 massacre. Durante a pcsquisa em jorn ais, documcnto s ou depoimentos,

pOlleo podemos obscrvar da prcscn<;a de simparizantes do Sigma entre os

ferrovidrios, onde os cornunisras tinham ampla maioria entre as mais de tres

centenas de funcionarios, au mesmo, de uma vaga lernbranca de uma lideran­

<;a da AlB em Camocim exercida pela scnhora Sinha Trevia.

Em Cnmocim, 0 "out re", 0 adversario, 0 opositor comunista mais for­

rc, nos parccc estar represenrado pelos setores religiosos, mais especificarncn­

te, os carolicos militan tes na A<;ao Catolica, congregados em associacoes pias

como a Liga Femi nin a de Acao Carholica (L.F.A.C) c C ongregacao do , Mo -

- 77 -

Page 76: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEÇÃO MUNOOS DO TRABALHO

ços Marianos. São esses "moços", efetivamente, que irão para o corpo a corpo

com o objetivo de "ganhar as almas' dos operários e da população pobre para

o rebanho de Cristo, Jruando diretamente junto a esses setOres no combate ao

comunismo. com sua presença no meio dos trabalhadores. Alguns desses mo­

ços também eram operários, principalmente da Estrada de Ferro, c atuavam

na periferia da cidade realizando "comkios relâmpagos" à moda comunista.

Interessante l1Q{af. a uriliza.ção dessa estratégia dos comuniscas pelos

Moços Marianos, que, dessa forma, se componavam como a "tropa de cho­

que" da Igreja, procurando colocar na prárica a prédica dos discursos e dos

sermóes dirigidos do plUpilO sagrado aos caros paroquianos de Bom Jesus dos

Navegantes. Essa ação prática dos Moços Marianos era a extensão do discurso

ideológico das chamadas Semanas Sociais, desenvolvidas pela diocese de So­

bral, sob o comando de Monsenhor Sabino Loyob. A5 Semanas Sociais são

eventos que demarcam essa ação, enfrentando "in loco", os estragos provo­

cados pelo "perigo vermelho", do pouco tempo de legitimidade que o PCB

experilnentara entre 1945 e 1946. A instalação de Comitês Anticomunistas

e posms médicos nas cidades onde aconteciam as Semanas Sociais era a ins­

titucionalização desse combate ao "credo de MOSCOU"IZ., muito ao gosto de

Monsenhor Sabino, figura de proa da diocese de Sobral, espécie de "missio­

nário" a revelar com sua fúria e firme7.3. o perigo da "hidra vermelha" que

sorrateiramente preparava O bote sobre a população ignara.

Por Outro lado, as conversões públicas de comunistas que abjuravam o

"regimcl11 de Stalin e Lenine" após os "meetings" das Semanas Socíaú, assim

como as publicações de pedidos de desligamento de militantes do PCB no

COrTeio da Semana, moStravam simultaneamente a força que o PCB de Ca­

mocim tinha em relação às demais células nos vários municípios do Ceará,

como O poder de persuasão do trabalho das SemallllS Sociais. Contudo, nesse

tocante. as Semallas Sociais aproveitavam a inrerprctação dada às declarações

de Prestes, sobre de que lado ficaria caso houvesse uma guerra entre Brasil e

Rússia. Os pedidos de desligamento ao Secretário do Comitê Municipal do

PCB em Camocim, invariavelmente tocavam nesse ponto:

124 Em Camocim o posto médico funcionaria no prédio da Sociedade São Vicente de Paula, comos serviços clinicas prestados pelo Or. Colares. '"A Assistência Social em Camocim'". Jornal "Cor­reio da Semana", nO. 11, 28 de maio de 1946. Sobral-CE. p.1.

- 78 -

Page 77: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEÇÃO MUNDOS 00 TRABALHO

"Declaração.

Através desta, operários da Estrada de Ferro, por não concordarem comPrestes quanto às suas declarações de que caso o Brasil entrasse em guerra

com a Rússia, ficaria ao lado dos bolchevisras, e, por tratar de um partido

de ligações c/ o estrangeiro e conrra os ideais cristãos, pedem o desliga­mento ao Seco Político do Comitê de Camocim, do corpo de militantes.

Pires Ferreira, 13 de maio de 1946." 125

Em outra reportagem, o "Correio da Semana" traz a declaração de dois

militantes comunistas l26 pedindo seu desligamento, como também uma trans­

crição do jornal ''A Noite" de Pono Alegre, dando cOnta de que milhares de

ferroviários se descompromctcm dos ideais comunistas, pelo fato de Luis Carlos

Prestes colocar "sua pátria aquém dos interesses de uma nação estrangeira". 127

Era como se de repente, aqueles militantes, tocados pela luz da verda­

de católica, renegassem as idéias "falsas e falaciosas" dos agentes de Moscou.

Esses resultados de súbita conversão eram contabilizados pela cruzada católica

contra o comunismo nas cidades da zona norte do Ceará, como Camocim,

Cariré, Viçosa do Ceará, Crateús, dentre outras.

Expedito Ferreira Lima, ferroviário aposentado, ex-moço mariano se

recorda desse embate. Ele prefere não se adentrar nos meandros do embate

político entre católicos e comunistas, apenas confirma que os mesmos reali­

zavam alguns comícios nos bairros e deixa a primazia desse confronto para

figura de um protestante. chamado João Ferro. Contudo, não localizamos

maiores referências sobre a atuação dos protestantes contra os comunistas. No

entanto, quando nosso entrevistado cantarola com voz firme o refrão do hino

da Mocidade Mariana, percebemos mais precisamente o tal embate:"A mocidade mariana avanre!

Ninguém domina sem lutarO Cristo-Rei fulguranteProcuramos restaurar". 128

, 25 Correio da Semana, n° 9, 18 de maio, de 1946, Sobral·CE. p.3.126 Os militantes são José Bezerra de Sousa e João Barreto, originários de Ipu e Camocim respec·

tivamente.127 "Esfacela-se o comunismo no Brasir. Correio da Semana, , nO.15, 11 de junho, de 1946, So­

bral-CE, p.3.128 Expedito Ferreira Lima. entrevista realizada em 12/04/1999. Camocim-CE.

- 79 -

Page 78: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE(AO MUNOOS 00 TRABALHO

A elevacao da imagem do Cristo-Rei enquanto sfmbolo do anti co­

m unismo, sob Pio XII, na busca da resrauracao do rebanh o, encontra nesse

morncnro uma profunda concorda ncia da orientacto do Vaticano c a orien­

ra<;:ao da Igrcja Carolica 110 C eara. 0 carater belicoso 00 ernbare entre CO IllU­

nisras c anticomun istas, enrrcranro, parecc [DInar Dutra fei<;:ao no cspa<;o das

rcb c;6es coridianas de am bas as panes em Camoc im. As opcocs ideol6gi cas

de cada urn parece nfio inrcrferir 00 plano das relacoes pessoais, famil iares e

cia vizin ha nca , a ponto de colocar os preliamcs em pos icc es marcadamcnt e

anra gonicas.

No sso depoenrc, Exped ite ferrei ra Lima, po r cxcmplo, edo d rculo de

aruizades da famil ia do comunisra Pedro Teixeira de O liveira (Pedro Rufino) ,

como ja vimos. A. tardinha costumava brincar com os filhos de Pedro Rufino

e arc re-lo como compan hciro no jogo de damas.

Orion Matos de M enezes, outro 11l0~O mariano refere-se tambem com

certa bcnevolencia ao sc rcportar as vlrima s do "Massacre do Salgadinho",

alem de ter urn irmao, Em iliano Matos de Men ezes, simpatizanre do comu­

nismo. Da mesma forma, Valmir Rocha, tambem moco mariano, nos conta

sabre a relacao dele com outro comunista, ]oaquim Rocha Veras, que, quan­

do solici rado, sem pre colaborava com as obras socia is da Igreja.

Esses faror es descriro s ate aqui no s servirao para tracar urn outro perfil

dessa rclacao com unista versus anticornunista, diferenre daquelas baseadas em

pares anti rericos , ana lisados aexaustfio em ob ras como "0 Ardil Toralirario:

imagindrio polfrico no Brasil dos anos 30 ", de Eliana Dutra e "0 PCB c a Im­

prcnsa: os com unistas no imagindrio des jornais - 1922- 1989", de Bethania

Mariani !". mormente no aspccro cia memoria expressada po r cssas pessoas e

nao propriamente do "corpus ideologico" rfio hem apresencados nessas obras.

o q ue q ueremos dizer eque essas carapa\as ideologicas nao atingem de forma

tao advcrsa comunistas e anr icomunisras camoc inenses, dai a im por tdncia do

rrrigico na consrrucao da memoria do massacre, como vcrcmos mais adianre.

129 DUTRA, Eliana. 0 ardil totsliuuio: imagintHio politico no Brasil dos anos 30. Rio de Janeiro :Editora UFRJ/ Belo Horizonte: Editora UFMG, 1997 e MARIANNI, Bethan ia. 0 PCB e a imprensa:os comunistas no imaqinaric dos jornais: 1922-1989 . Rio de Janeiro: Revarv Campinas: UNI­CAMp, 1998.

- 80 -

Page 79: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(OlE~AO MUNOOS 00 TR ABA lHO

E precise lcmbrar, no entanto, que cssa boa vizinhanca aparemc 56

aconrecc em momcnros em que a rcpressao diminui e a cidadc parecc tamar

sua vida normal de int erior, uncle rodo s se co nheccm c sc rclacionam . Nos

momcnros de rcp ressao mais inrensa, as contrarie s aAoram c, se nfio sc aprc­

sentam com todas as armas, sc comportam co mo indifcrcntes ao "sofr imemo''

a u a"audacia"des comunisras, co rcspcito pclo que 0 vizinho comunista Cab.

o jogo de damas amrd inha, sao deixados de lado, evirados , no sent ido de njio

scrcm confundido com aquclcs , ate qu e "a mare volte a baixar".

Daf, procurarmos nos t6picos scguinres, analisar esses mementos de

visibilidadc da militancia comunisra em Camocim, nfic propriamente como

clcicao dos rncsmos C0l110 os mais irnportantes de BO Ssa parte, mas, por flgu­

rarem nos relate s e nos documen ros como os mais signiticarivos na pr6pria

con srrucfio de um a mem6ria pela milirdncia.

4.1. 0 Massacre do Salgadinho

Apresenramos aqui as varias rnemorias produzidas ao longo dos ano s

sobre 0 Massacre do Snlgadinho, ocorrido em 24 de junho de 1936, no lugar

dcnominado Salgad inho, pcriferia da cidadc de Camocim, num momenta de

in tensa rcprcssac ao comun ismo no pais.

Dcssc massacre, dois miliranrcs co munisras morreram no local, fu­

zilados pcla policia (Amaral c Luis Pred nho). A rcrceira vftima, Raimundo

Vermelho, morreri a rres mcscs depois em Camocim, virimado pelas torturas

qu e sofrera na Casa de Dctencao em Forta leza.

Analisaremos aqui uma memoria do establishment comunista produ­

zida pelo jornal "0 Dernocrara", as rcmcmoracces do faro poc milit an tcs co­

m unistas, an ricomunistas e ourras pessoas, procurando aplicar a no.;ao de

"memoria d ividida" ao faro a que se refere esre capnulo.' >'

Era no ire de Sao joao e a cidade vivia os fesrcjos do santo mai s popular

das fesras ju ninas. A partir dali, a noire de Sao Joao passou para 0 imaginario

dos comunistas como uma noire de cacadn dos adcptos do "credo vermelho".

130 Entrevistamos scbre 0 Massacre do Salgadinho, 0 militante comunista Nilo Cordeiro deOliveira, 0 sindicalista Tertuliano Ferreira, filho de Raimundo vermelhc. vit ima do massacre, Sr.pede, tembem fi lho de Raimundo vermethc e unkc sobrevivente do massacre, Orion Menezes,bib fiotecanc da Congrega~o dos Mocos Marianos.

- 81 -

Page 80: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COl E~AO MUNOOS DO TRABAl HO

Para se resguardarem de surpres.1.S, alguns tides procuravam por iniciariva

propria se refugiar d urant e esra noire em lugares ermos.

a ano de 1936 raj ma rcado pcla rcacto po licial face as rentativas frus­

tradas dos "levantes cornunistas", de 1935 no Recife e no Rio de Janeiro,

como suge rc Aspdsia Camargo131 e. que ficou conhccido pcla h isrdria oficial

co mo " Inrentona Comun isra'', uma rcrmino logia pejorative qu e a hisrorio­

grafia oficia l imputou ao movim ento com unis ra no scnrido de associd-lo alim

csrabclcci me nt o de urn governo comunisra sob asordens de Moscou, tirundo­

Ihe 0 cardtc r anrifascisra, antilarifundisra e antiimperial ista do m esmo. P!

Camocim, nospianos de alguns dirigcnrcs do PCB no Estado do Ceara,seria urn ponto esrrategico para seadotar a raricade guerrilhas nas Zonas Nonee Sui do Estado e refazer os conratos com militanrcs comun isras do Piauf (Par­

naiba). que dever iam aglurinar os remaocscenrcs da rcpressao , rrapr os pianos

e rumarern novamcnte para um ::ltaque cficienre ;} Forraleza. Para esse trabalho

de organizacao , foram mandados pelo Partido rrcs milira ntcs com exper iencia

nesre tipo de rrabal ho: Miguel Pereira Lima (conhecido no partido como "Am a­

ral"), Franc isco Pereira l.ima, irmao de Amaral, e Luis Prerinh o. 0 primeiro e 0

ultimo cram di rigemes no Comite Regional do PCB no Ceara, com experiencia

de milirdncia em Parn afba (PI) e Mossoro (RN), respectivamenre.

Estes pianos sao usados pela imprensa, dita de matiz ideologies conrraria

ao com unismo, para jusrific:ar a ac;:ao polieial do Capirao Cordeiro New no Ceara

na rcpressao oficial. Co mo nos diz Cid Vasconcelosde Carvalho em "0 Ticm em

Ca mocim: modcrnizaciio e memoria", a jornal "Cazcra de Norfcias" de 12 de ju­

Iho de 1936, ao noticiar 0 farodo "Massacredo Salgadinho", usa a fala do capiraopara relativizar 0 ocorrido: "Cumprimos nossc dcver (...) E 0 fizemos dentro dos

recursos amplamen te faculrados na Lei de Scguranca Nacional. Longe de comcter­

mas quaIquer violencia, (...) qualquer resrricio nos direiros individuais legfrimos,

agimos com a maxima prudcnciae com toda a PfCC1.1Ir;3.0 necessana".I3}

131 CAMARGO, AspAsia et al. 1937 - 0 goIpe silencioso: as or igens da repUblica corpo rat iva. Riode Janeiro: Rio Fundo Edit ora, 1989. p . 13.

132 PRESTES. Anita Leocadia. Luiz Carlos Prestese a Alian~a Nacional Libertadora. Os caminhos daluta antifa scista no Brasil (1934/35). Pet r6polis: vozes. 1997, p. 13-20.

133 CARVALHO, Cid Vasconcelos de. NO Trem em Camocim : modemiza~ao e mem6ria ". Universi·dade Federal do Ceara. Departa mento de Ci~ncias Sodais. Programa de Pos-Gradua~c\o emSocioloqia. Dissertecao de Mest rado. 200 1, p.130.

- 82 -

Page 81: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,iio MUNO OS 00 TRABALHO

J;f dcz anos depois do ocorrido, 0 jornal "0 Democrara", de o rienraci o

co munista, abre uma serie de reporragens dcnunciando as crimes "pcrpetra­

do s pela reacao policial", com ample desraque ao "Massacre do Salgadinho" .

A ideia de "massacre" que aflora na rcponagcm , se consubscancia mais pclos

rcquinres de cruel dade que a materia transmite, do que propriamcnrc pelo

numero de monos, tres, Amaral e Luis Prcrinho no combare cum a polfcia

com andada pelo Tcnenrc Pio, no aro da prisao, e de Raimundo Ferreira de

Sousa, mais conhecido como "Rairnundo Vermelho", qu e mo rreu em Came­

cim [res mcses depoi s, vomicando sanguc. vit ima das rorr uras que sofrera na

Casa de Dctcncio em Forraleza. Alern de Raim undo ve rmelho , seu filho.jose

Ferreira de Sousa (Sell Dcde) e Francisco Pereira Lima, tam bem foram presos

e lcvados para a Ca pital.

Jose Ferreira de Sousa (Seu Dede), 89 anus, arualmenre mora ern Camo­

cim . Sobreviveu e sobrcvivc ao "Massacre do Salgad inho"; de vista curta, porem

lucido, esrd sempre disposro a levar lima conversn com quem se dispfie a encon­

rrd-lo e convers ar sobre aq uele dia em que "a polfcia matou as comunistas",

Como ja dissemos, em 1946, o jornal "0 Democrata" relata 0 faro

co m um presenrisrno envolvente, como se 0 reporter Fosse 0 testemunha ocu­

lar do crime. Falas sao rccupcradas e ambientcs sao recriados. Lcvando-se em

co nra as ci rcunstancias em que oco rreu 0 crime, ha qu e se desconrar muiro

dos excesses de linguagem que 0 jornal traz, o qu e nao invalida, con rudo , a

coragcm do pcriodico em denunciar as barbaridades com etidas pela polfcia

durante a repressiio.

4.1 .1. 0 fata e as versoes

Francisco Pereira Lima, irmao de Amaral, ao prest ar depoi menro na

pollcia , disse:

..... que tendo saltado do rrern no ponto terminal de 'Riac ho da Sella', se­

guira m num cami nho are Sobral e dalli a pe, para Camoci m, onde toma­

ram a casa de um a velha de nome Sinha, qu e mora J. margent da Estrada

de Ferro de Sobral, entre os Kilometres 2 c 3; ... que na madr ugada de

24 (vinte e qua tro)... po r volra de uma e tant o, esrando a dormir, na cozi-

- 8 3 -

Page 82: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUNDOS DO TRABALHO

nha da alludida casa. numa pane. no acordar csrava prcso c rcdeado peloTencnrc Pia. Dclcgado de Ca mocim e mais dais soldados apaisana; que

pergunra ram pclos scus companhciros e 0 depoenre infor mou que Luiz

Pretinho estava dcnrro de GIS,l c Ama ral csrava noutra p:lne; que tendo

o Tenentc rodcado a casa e barido e declarando que Luiz Prctinho estava

preso, estc respo nde u a bala e a forca que acompanhava 0 Tencnre fez fogoe Luiz Prerinho sahiu baleado e morreu na mesma occasiao; que Amar al,irmao do depocn re esrava dormindo na casa de 'Raim undo Vcrm clho', no

logar 'Salgadinho', a urn kilometre mais a u menos de dis tfi ncia da casa

onde dormia 0 depoen re."!"

]a 0 Sr. Rairnundo Ferreira de Sousa, em suas declaracoes afirrna:

"... que no din vinte c tees para vinre C <lu:llro do cor renre esrava ele de­

claran re aco rdado qu ando ouviu urna voz do Lido de fora qu e dizia: - SeuRaimundo, sua casa est;) ccrcada: accnda a lampada quc qu crcmos rirar

urn ho mcm que csra 3(; que d e declarunte acendc u a lamparina e abr iu a

pona; qu e quando pu xou a banda da pona ma nda ndo enr rar os soldados,

pois era quem falava mandando abrir, foi surpreendido por urn tiro deeo­

nado de denrro por Amaral, por baixo do brace dele declaranre: que dado

a isso de ded arante solrou a porta saltandc para urn lade no me men to em

que urn soldado respondia 0 tiro dado por Amaral, que caiu ferido; que

as soldados deram arenas dois tires; que Amaral falou entao dizendo esrar

mon o, tendo de declarante, perguntado par que fez urn ataque daqueles,

pcloqu e Amaral rcspo ndeu ainda falando num a filha e dizendo chamar­

se Miguel Amaral; qu e em scguida foi con duzido num a rede, sendo de

declaramc c sell filbo presos, seguindo para a cadeia onde depois chego u

mono tam hem Luiz Prctinh o <IUC tam bern reagin cont ra a Polfcia. scndodepois de declaranre rranspo rrado para esta Capital."!"

o depoirnenro deJoseFerreirade Souza (Seu Dcdc)aPolfciaconfirmaria0

que sell pai ja havia dito, acrescenrandoque njio sabiadas ligalJOes de S<.'Upai com

os militanrescomunisrasmonos e nem da origem dos docurncnros que foram en­

contmdos posteriormenre na casade seu paie que esravaalide passagcm ajudando

S<."U pai na agriculrura. pois0 mesmo eraAjudanrede Chauffer de seu irmao Isaias

Ferreirade SoUS.1, not cidade de Vicosa do Ceara.

134 TSN/ Processo nO. 394/Apela(,;ao 46O/vol. 2, Pedro Raimundo de Lima e ootros. Arq uivo Nacio­naVpp. 644·5.

135 td. lbid.1912-3.

- 84 -

Page 83: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUN00 5 DO TRABALHO

Parecc nfio haver duvida de que as comunisras foram monos em locais

d ifcrcnrcs pclo depoirnento das restemunhas; ccntudo, fica diftci l sabermos a

verdade a partir dos inqueriros, como por cxemplo, quem arirou primciro, se

os co m unisras foram monos dormindo, sc houvc au nao rcquimcs de cru d­

dade pelo a que esta escrito nos inqueriros po liciais, pais a grande maio ria

desres era co nseguida sob to rrura, adulrerados pa ra relativizar a a<;3.o po licial,

caracrerfstica propri a dos anos de repressao polftica sob Vargas.

4.1 .2. As varias mernorias do massacre

As circuus tdncias em qu e ocorreu 0 "massac re", na calada cia noire, cndc

praricamcnte S(l os prclianres foram restem unhas, concorreram para que uma

seric de depoiruen tos ;lprcscntassem diferencas de dcralhes que fazem das his­

rorias sobre 0 massacre, rcmc mo radas por milirantcs cc munistas, marianisras,

familiares das vfcimas, memorias de cada urn ou de cada grupo sabre 0 faro.

Neue sentido, ircmos trabal har as vdrias memorias do "Massacre do Sal­

gadinho", usando a nocaode "memoria divid ida". urilizada por Giovan i Conti­

ni c por Alessandro Portelli, no esrudo do Massacre de Civirella Val di Chiana,

"cidadezinha mon ranhcsa nas proximidadcs de Arez:ro, na 'Ioscana", onde "as

(COpas de ocupacto ale-mas execu rarnm 115 civis, todos homens......13(,

o jornal "0 Democrata", jad isscmos , recupcra 0 fato dez anos dcpois,

ern 1946. Essa rccupcracao dd-sc num contexte de legalidadc do Partido Co­

munista e parece rer uma inrencao clara de glo rificar os fciros da milirancia

no periodo de rcprcssao. No prcambulo da reponagem a que j,i alud imos, 0

jornal faz uma retrospecriva de rnartires que foram sacr ificados em nome de

scus ideais:

"De Felipe dos Santos e Tiradenres, tern sido enorme au: hoje a corte Jus

martires do movimenro de liberract o nacional. Depois dcsscs pionciros,muiros ourros rombaram em todos as recanros de nosso vasto rerritdrio.

o escravo Zumbi , Ca neca, 0 padre catolico, 0 bravo marinheiro JO:lO

Candide! Rcpresen tandc cada qual urna epoca hisrc rica, calram vhimasda crucldadc dos exploradores de entao. A maioria ancnimamcnrc, nhs-

136 PORTELLI, Alessandro. MO ma ssacre de Civite lla Val de Chiana (rcscena: 29 de junho de 1944):mi to, polltica, luta e sense com um", In: FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO. Janatna . Uses& Abuses da Hisr6ria Oral, Hie de Janeiro: Edi to ra da FGV, 1996, p. 103.

- 85 -

Page 84: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LEeAO MUNDOS DO TR ABALHO

curnmente. Mas a corrente nao se rom pcu. 100 05 riverarn quem recebesse

de suas maos sang remas 0 facho luminoso da liberdade".':"

Dcnunciar os crimes do perfodo obscuro e. porranto, alem da recupe­

ra'r3o desres fares, consrruir uma memoria sab re d es. de scrvir como cxcrn­

plo aos novos mi liranres que, mesmo anonimamenre, dera m suas vidas em

holocaus to. Nao sao mais anc nimos as rnar tires do Massacre do Stt!gatlinho;algucm deverd reccbcr 0 "facho luminoso" daq ud es camaraclas monos numa

noire de Sao J050. noi re de fogueiras...

A vcrsfio do jorna l "0 Dem ocmra", com cfeiro de mem oria, para 0

massac re ca scguinrc:

"Todos dormiam profundam cnrc. Harem na porta. Amaral e Luis Preti­

nho acendcm a luz para se levau rar c. de SURPRESA. (sic!) sao impie­

dosamen re visados por ccrradas dcscargas dos fuzis d as volan rcs! S6 nao

forarn atingidos urn apartarncmo da casinha. Mas 0 camarada Vermelho.

de tanto apanhar; depois , aqui da Polfcia Central. veio a falecer vomiran­do sangue!"U8

Com relacao ao Massacre doSalgadinho. a versao do jornal m istura, na

narrativa do episodio, imprcssoes do reporter, informacoes outras de como a

policia conscguira localizar a "aparelho" do Salgad inho e falas das vftimas e

des algozcs no desenrolar da tra ma rragica. Esses falas dfio urn senti do proprio

a narrncao, que permit em ao lciror conccbcr urn atestado de vcracidadc flO

que le. Assim, urn a memo ria a partir dcssas falas vai se construindo pclo dis­

curso jo rnal lsrico. Algufls fragmcfllOs dessas falas e desses senridos advindos

do discurso jornaltstico podcm ser pcrcebidos nos depoi rnernos orals. Q uan ­

was falas a que nos refcrimos anrcriormc nte, 0 jo rna l assinala:

"0 camarada Pretinho que fora apanh adc desfalecido, como morro, rivera

a desvenrura de 'tomar': abrindo O~ olhos para os seus cond urores. implora:

'Urn poueo d'agua por Jesus!' Foi uma sddica novidade para a volanre, q ue

ja0 supunha no ourro-mundo. Puzeram-no, cntfio no chao d uro (como q ue

para evirarem rrepidamenre as pancadas) e hitleristicamente abriram-lhe 0

craneo (as pa ncadas) e a coices de fwis."I39

137 lornal"O Demccreta", Ano I, nO.4S. 01/0511 946. Fortaleza-CE, p.5.138 Id. Ibid. e.s.139 td. Ibid. p.6.

- 86 -

Page 85: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MU NDOS DO TRABA LH O

No cntcrro dos mil itantcs, 0 jo rnal "rcproduz" as [alas do s algozes:

"Foi aberra somenre uma cova. E 0 disc urso funebre teria sldo esre, p rofc­

rido pelo proprio Delegatio Milirar, au tor da facanba: 'Mara r comunis rando ecrime. Por ism remos a honr a de haver livrado a sociedade destes

dais bandidos, qu e sempre agiarn juntos. Ma ndei cavar para des urn 56buraco. t.para chegarem no inferno se heijando , determino qu e ponham

o primeiro olhando para 0 cell e 0 OU l CO por cima dele, abracando-o .Com csra li <;ao os seus comparsas vivos haa de recuar, au serfio punidos

cia mcsma maneira'. E jogaram as CocpOS murilados no bu raco comum ,co mo sc fosscm lcprosos!..." ,140

Dais dct alhes nos chamam a atencao. Pnmeiro que 0 jornal conra 0

faro ocorrido hd d C2 anos arras com um presen tismo envolvente, como se a

repor ter Fosse testem unha ocular da historia. Nao faz nenhuma mencio a

quem possa tcr narrado 0 massacre, se urn militanre, urn sobrevivenre, a co­

munidade, 0 gru po politico etc. Segundo, com relacao as falas reproduzidas,

parcce que hi um a intencao de chocar. 0 comunista, nos ultim os insranres

clama: "Urn pouco d' agua por Jesus!". Na falado Delegado, a banalizacao do

crime: "Marar comun ista nfio ecrime" .

o filho de Raimu ndo Vermelho, Tcnuliano Ferreira de Sousa, 70

anos, acresce nra urn outre dado, difcrenrc da memoria co nstr ulda pelo Jornal

"0 D emocrara", qu e rcforca a qucstfio da dclacao praticada pelo miliranrc

comunisra Antonio Farias qu e rrai rode 0 Cam ire' Regional e dd 0 paradei ro

de Amaral e Luis Pretinho. Segundo ele, rerfamos rambcm uma dclaci o no

ambito local, cujo delato r teria sido um senhor de nom e Marcal, misro de

inrcgralista e carolico pra ticanre.

JJ. 0 Sr. Jose Ferreira de Sousa, 0 unico soh rcvivcnre do massacre,

numa convcrsa informal, nos diz qu e 0 prime iro tiro purtiu de den rro de casa.

Q uando ouvira m YOZ de pr:)5.o urn ddes (Amaral ou Luis Prctinho) at iro u

para fora. Seu Dedc pulou da rcdc em qu e do rm ia e esrc pulo salvou-lhe a

vida , poi s logo depois sua cede era varada de balas. Seu pal. vendo urn jamorto numa po <;a de sangue, grito u para a poHcia cessar-fogo "... qu e d es se

140 Id. Ibid . p.G.

- 87 -

Page 86: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUN DOS DO TRABAL HD

enr regavam". Por acaso, Seu Dede do rm ira ali naqucla noire, cle nfio era mi­

litanre com unista e sim mo toris ta de urn cami nhao qu e fazia "horario" para

Vicosa do Ceara. Por ordem dos policiais, ajudou a transponar os ca rpos ate a

Dclcgac ia de Camoci m c rambcm foi preSQ juntamcntc com sell pai c Icvada

:l Casa de OClCns:50 em Fortaleza.

A discussao sa bre quem deu 0 primeiro tiro . oeste caso, pa rccc nan

set tao relevante quan ta ao Massacre de Civitella, mas, a propria idcia de

"massacre" . Junto co m "Seu" Dede fomos fazer 0 reconhecimento do local do

massacre . D urante nossa converse e no rcconhecimenro do local cia chacina

cle nfio [ala urna vez sequer de massacre. Ele tern dificu ldades em reconhecer

o local, pa is a casa onde dormiam naquclc dia nfio cxiste mais. Alguns mora­

dares proximcs ind ican t 0 local ondc "mataram os comunistas"

o Sf. Nila Corde iro da Silva, miliranre camunista, 73 anos, tambcm

nfio rcivind ica um a imagem do massacre como P OlHO alto da rnilitdn cia, pre­

ferir in ralvez, qu e 0 mesmo nfio tivesse acon recido em Camocim:

" E, tinha so dez anos, novo, (...) essa af eu nao sei bern. Eu sci queconheci muito eles, ric. Todos dois. Ainda me lembro deles, as feictotanto deles, que (...) sernpre al anoire, eles vinham na por£a da mamdec a rnamae dava de comer eles af meia-noire, 0 papai safa mandavafazcr jan ta pd d es, eneao eles vinham almocar e jaruar af. De din elesficavam conve rsando par ld no velha C hico Tcodoro, nao, RaimundoVcrmclho c de po is vinham pd. casa ciamamiie. Aquila quando 0 papaitava hi mandava abrir a porta e des entravam, pd. sair. Papai ate d issepra elcs, rapaz van simbora que a pclfcia j;i d pcnsando que vocescstfioaqui. Nao, nos vamos ja. Dcpois nos vamos. Poi ~i) quando deu.Se des tivessem ido embora nfio rinha acontecido aquilo. Tinham idamorrer ern nourro canto, aqui nao tinham morrido".': "

N ao se pode, no entanro, dcsconheccr os rcquiurcs de crueldadc co­

me tida pcla polfcia. A maneira como foram conduzidos do local do massacre

a Dclcgacia de Ca mocim econrada pelo jornal, como se fora na carroceria

de urn "caru inhao da escolta" . Seu D ede, por sua vez, fala q ue de e seu pai

ajudaram no rransporre dos corpos em redes pelas ruas da cidade.

Po r outre lade, poderiamos pensar que a memoria de militancias CO I1-

141 Entrevista com Nilo Cordeiro da Silva, jil citeda. Camocim-CE.

- 88 -

Page 87: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COL E~AO MUNOOS 00 TRA BALHO

trarias ao comu nismo se resguardasse de pronunciar essas crucldadcs. No en­

tanto, Orion M ato s de M enezes, ex-bibliorecario cia Congregacao dos Mocos

Marianas , diz:

"Isso nao era eoisa que se fizesse so porque d es cram comunisras. Pcga­

ram des donnindo, ariraram od es c sairam arrasrando Dumas redes, rodos

cnsangtlentados. Colocaram nu ma carros a as coirados e trouxcraru pd.Delegacia. Poi horn vel, eu olivia minha mae conrar". 142

Como pod cmos nor ar, as diversas memorias nao apresent am gran des

conflitos O ll cheques ent re lima mem oria do "establishment" corn unista, en­

rendida aqui como a memoria produ zida pclo jornal "0 Demo crata", a me­

moria oficial do inquerito, uma memo ria "ide ologica" da militan cia e outras

mem c rias des dc pocntcs. Alias, a mem oria co nrida no jornal "0 Democrara"

parece ser ma is ideologica do que propriamcnrc dos depoenres. No sentido

da "me moria dividida", nfio nos cabe trafegar de lima aou rra buscando uma

aurenticidadc das mesmas. Ecomo diz Portelli: "Na verdadc, estamos lidando

com uma mulriplicid ade de mem6rias fragmentadas e inrernamcnt e divid idas,

rodas, de uma forma ou de out ra, idcologica e culturalmenre mediadas".143

No Massacre de C ivirella, essa d ivisao da me moria c mais visivel,

mais prcscmc nas comernoracoes q ue os grupos fazem da rememoracao do

massacre, cada urn aprese ntan do suas mediacoes, visto que a mem oria sofre

mo ldagens com 0 tempo hisror ico. No caso do Massacre do Salgadi nho, hauma ausencia dessa rcm cm oracao como forma de come moracio. 0 Part ido

Comu nista, em Ca moc im, parccc sc ressentir da ausencia desses momcnt os

da memoria do partid o na cidade . As datas passaro despercebid as. No ana

de 1999, em que completava serenta c urn an os de sua fundacao nada se fez.

Isso nfio qu er diver que nfio se renha um a mem6ria. Em nossas incurs6es

nesse campo, os depoenres pa recem se sentirem estim ulados a relembrar os

momentos de glor ia em qu e a cidade era cha mada de "vcrrnelha", "heroica",

"pequena Moscou'' . tempo s de um a m ilirdncia qu e afluta aos milhares em

passeatas e com fcios no Primeiro de M aio , ressalvados, eclaro, os silenc ios,

142 Ent revist a realizada com Orion Matos de Menezes, ja citada. Camodm-CE.143 PORTELLI, Alessandro. "0 massacre de CivitellaVal de Chiana (Toscana:29 de junho de 1944) :

mi to, po litica, luta e senso comum". In: FER REIRA, Ma rieta de Mo raese AMADO, Jenetne. Op.cit. p. 106.

- 89 -

Page 88: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

( OLE(';'O MU NDOS DO TRABAl HO

as recusas em gravar eru revistas, relativizar SU3S participarocs oa militdncia,

atitudes perfeiramcnrc comprccnsfveis.

Ana lisando 0 "Massacre do Salgadinho" depois de sete nta anos de

aconrccido, d U3S siruacoes pa ra 0 pesqu isador sc aprcsenram. A pr imcira cque q uan do procuramos colhe r depoimcmos sabre 0 mesilla , a referend a amilirdncia co mun isra na m emoria das pessoas ebern fort e, tanto para quem

viveu essa mili rancia, qu anta a quem era conrrario ideologicamente e a sua

grande ma ioria nem sabc e nem sequcr desconfi a que Camocim foi palco

de urn do s me mentos mais im portantes cia afirmacao das ideias polfticas do

comunismo no Ceara.

4.2. As Comemorac;oes do Primeiro de Maio

"As almas, como as corpos, podem morrer de fome. Quere­mas pao, mas tambem queremos rosas", (Frase escrira numafaixa, d urante a greve das opcrarias texteis da cidade de Massa­ch usetts. EVA . em 1912).

As comcmoracces do Primeiro de Maio sao uma ourra forma de vi­

sibilidade da milirancia rnuiro presenre na memoria de comunisras e ant ico­

m un istas em Camocim. Os desfiles de agrerniacoes trabalhisras rcalizando

passeara num intincrano que percorria todas as sedes das varias associacocs c

sindicaros cngrossando 0 cc n cjo para 0 mo menta culminanre - 0 com fcio. na

prafla 7 de Seremb ro, csccl hida previamen re, e uma imagcm rccorrcnrc em

relates e arrigos de jornais.

Para a const rucao dcsse tcxt c, nos urilizarem os principalmenre des

relates de comunisras c do jornaI "'0 Democrara", sob re 0 Primeiro de Maio

de 1946. Esre eurn Primeiro de Maio difcrcnrc, pa is se da num momenta em

que 0 Partido Cornunisra experimenra uma breve lcgalidade, assim como e0

ana em que 0 jornal corneca a circular no Estado do Ceara, sob a orienracao

comunista C 0 mesmo sera imparlance pa ra a criacao e solid ificacao de urn

irnagindrio da mi lirdncia comunisra, principalmcntc q uando recupera fares e

feitos OJ m iliranc ia no Cea ra do s a DOS an teriores, especialme nre dos aco nrc­

cimcnros de 1935-36, com certa en fasc no trabalh o desenvolvido na C idade

- 90 -

Page 89: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,AO MUNDOS DO TRABAL HO

Vermelha - Carnocim, como caso do Massacre do Salgadinho.

Por falar em massacre, 0 Primeiro de Maio erambern 0 momenro de

culto aos mdrtires cia historia de lu tas do operariado, apesar de que as tenden­

cias polfticas que. hisroricamente, sempre procuraram fazer desra data uma

reme moracao desres atos her6icos de ope rarios que foram vitimados no [ragor

da lura (como as mo nos no Massacre do Salgadinho) exclufam au incluiam as

eventos a serem rclcmbradcs. Panam a, cventos ligados arnilirancia socia lisra

cram "esq uecidos" po r anarqui stas c vice-versa:

"Urn dos prj mciros milit an rcs anarqu isras, Benj ami m Mota, re­co rda nas suas mcmorias (Plebe, 31 de maio de 191 9) a ocorrenciade diversas conferencias nas cidadcs de Santos, Sao Paulo, Jundiaf,Ca mpinas e Ribcirao Prete. no dia I". de maio de 1898. Coma­nos tambern que. a 11 de nove rnbro des re mesmo ana, de, jun­ramente com Gigi Damiani, Zeferino Bartolo, Esrevao Estrella eoutros fizeram urn manifesto para pregar nas paredes de Sao Paulotendo em vista honrar 0 aniversd rio de enforcamemo dos rnarti resde Chicago. isto porque os anarquisras ficam muiro hesitances emro rnar 0 Primciro de Maio a data maxima dos rrabalhadores, paisessa data havia sido escolhida num congresso socialism e em m uirosparses confu nd la-se com uma festa. Eles preferem entao 0 11 denouembro que relembra de fo rma dire/It os 'assassinados legalmente'.todos anarquistas" . 144 (grifos nossos)

Embora em Ca mocim cssas dispuras de memoria por grupos ligados

aos rrabalhadorcs nfic tenham se verificado, achamos ser importanre anali­

sarmos estas refcrencias, ate mesmo para esforco de consrrucao textual do

scnridc do que a data do Primeiro de Maio revc para os comunisras e para a

populacao de urn modo gera!.

o Primeiro de Maio, como sabcmos, vern de uma rradicao secular

e esra im imamente ligado com a hist6ria do movimenro opera rio pela

conquista do limite de oito ho ras de rrabalho diario, regulamentacao do

rrabalho feminino e de menores, lura por melhores condicoes de traha lho

144 DEL ROIO, Jose l uiz. 1° de Maio. Cern eocs de lu ta. 1886· 1986. Sao Paulo: Global/Obore,1986, p. 14.

- 91 -

Page 90: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE~A O MU NDOS DO TR AB AlHD

na s fdb ricas, dentre outras. A data. por cxemplo, c uma alusao a urn dos

eventos que simbo lizou cssa lu ra, 0 Massacre de Chicago, ocorrido em

18 86 , uncle varios o pcrdrios S3.0 monos pcia po lfcia nutua m ani fcsta cfio

pelo limite de oito hor ns de tr ab alh o !" . No en tanro, o utras tiaras de lucas

co inci de m com 0 Prim eiro de Maio e tern nessa da ta urna rc (crc l1cia I4(o.

No Brasil, as co me moracocs do Primeiro de Maio datam de 1895.

cabc ndo acidade de Santos a primazia de rer realizado reun ido comemorariva

"per iniciariva do Cent ro Socialisra fundado por Silverio Fortes, Sorer Arau­jo e Carlos Escobar" (DEL RO IO: 1986, p. 98) . O urras rcunioes ocorrerao

em 1898 em cidades paulisras, principalmen te Santos, Sao Paulo, jundial,

Ca mpinas e Ribeirao Prete, realizadas sempre em lugares fechados, apesar de

o Rio Grande do Sui rer rcgistro de que cm 1887, a Uniao Opcraria tcnha

pro movido um a aprcsenracfio de d rama rcat ra] inti tulada .. 0 l '. de Maio".

Sobre uso do teat ro nas comcmoracacs, Del Rci o, nos diz:

"0 rcatro c muito usado co mo iust rum enro de cducacto polirica, pois

a maier parte dos rraballiadorcs c analfabcta c, mesmo quando sabc ler,sao oriundos de povos de longa tradicao apenas oral, ranros os brasilcircscomo os iralianos e os ibcr icos".147

As comcrnoracccs do Prirneiro de Maio, contudo, parcccm romar ou ­

tras fciCjocs, incorporando ramo 0 lado festive como 0 combarivo, sendo que

a enfase, ora num Jus aspectos, ora em ou tro, se dad muiro em conscqudncia

das circunstancias em que sao promovidas. Outrossim , qu ando a fcsra assum e

cardrer festive , nfio quer dizcr que um conreudo de comharc, de prOlcsro, de

con fliro, nao esteja nela cvidcnciado.

Uma ourra caracrerfstica que sc observa com 0 tcmpo cque 0 Primeiro

de Ma io sai dos recin ros fcchados c ganha as pra \"as, assurnindc ares festivos

145 A pclavra de ordem do mevimento era: "A partir de hoje, nenhu m cpe redc deve t rabalharmats de cite heres par dia. Oito hora s de trab alho ! Oite heres de repouso t Oite he res decducacao!" In: DELROIO,Op. cit; p.57

146 Em 1531. os ap rendizes de artesaos da cidade de tu cce. na ttalia, realizam manit estacacreivindicandc seteric mi nimo e diminuic;ao de jornada de tra balho. Em 1848. 0 '0.de ma iomarca a data que 0 operariado Ingles consegue a fixa~ao, pelc pa rlamento, do limite de dezheres de t rabalho para os adultos, ap6s decades de protestos, assim como csta ligada aoque nos Estados de Nova Vork c Pensilvania se convencicnou cha mar de moving day. data dacelebrecec de cont retos de trabalho . In: DEL ROIO. Op.cit. pp. 15.40,64.

147 DE L RO IO,Op. Cit.. p.99.

- 91 -

Page 91: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

C O LE~AO MUNDOS DO TR ABALHD

c combarivos com a realizacto de desfiles, cc rnfcios, ap rcsentacocs ar tfsticas,

acalorados debates, dcnt rc ou tras arividades . Esse tip o de come moracao e0

q ue se apreSCJ1 t3 no l' rimciro de Ma io em Ca mocim, tan to na mem ori a das

pcssoas, quanta no jornal "0 Dcmocrara", fonres estas que nos servem de

[u ndnmen raci o para csra analise. No program a, as arividades alusivas ao Pri­

mc iro de Mai o de 1946, consraru desde alvorada, foguetorio , sessao sclene

apasscara pclas pri ncipais m as cia cidadc, visitando as sedes dos sindicatos,

coroando cum 0 comlcio na prac;:a 7 de scrcru bro!" .

Porranr o, norarnos lima pro gram act o qu e alia festividade conceb ida

nos iten s da alvorada e show pirorecnico com fund o musical da banda de mu­

sica, ao passo qu e a sessao solene realizada na sede cia Beneticcnre Ferroviaria

se insere no mom en ro de debate des probl em as e a passcata c ° corn icio sc­

riam 0 coronmento cia comernoracao, ondc sc fazia vislvel, para a populacao ,

a sirnbolisrno que a data requeria para os rrabalhadorcs em geral.

Nesse Primeiro de M aio, a presenc;a dos com unistas pode ser percebida

tanto na conccpclo do pro grama ciafesra, puxada pela Associacao Ben eficenre

Fcrroviaria, ande existiarn rnilitantes e simparizanres com unisras, como pela

at iva panicipacao do C om ite Municipal do PCB , at raves de seus oradores,

idcn tificad os co m as varias catcgorias profission ais da cidade . Pela m ateria

jornalfsrica j;i uludida. podem os tamb em perceber 0 confliro ideologico qu e

tomava a ccna polirica naqucle momento. 0 Primeiro de Maio, por congre­

gar os setores profissionais cia cidade rcun idos e organ izados pa r rnili ran tes c

sim pa tizanres do comunismo, parece incomodar as au to ridades constiru ldas,

consideradas fascistas C rcaclomtrias, qu e rcnram, segundo 0 jornal, di ficulrar

as comcm oracc cs:

"E mbora as co memoracoes do Din do Trabalho possuisscm urn cunhaaltam ente popular e dcmo cratico , rcvcstindo-se do aspccro de umaverdadci ra fcsra clvica, os Rcaciondrios e as Fascisras que ultimamente

andam mu ito congracados, por toda a parte, acharam por bern esruda rexpedienres e armadilhas para sabotar 0 born exito das atividad es.

o Sr. Prefeito Mu nicipal, cidadao Francisco Coel ho, que cada dia semas rea mais reacionario, caindo, pa rta nto, mais c rnais, na antipatia

148 Jornal "O pemocrata". eno l. ns.56, 15/05/1946. Fortaleza-CE. p.3.

- 93 .

Page 92: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

coucxo MUNDOS DO TRABAl HO

do povo de Camocim, 3 ultim a hora obrigou 0 nuestro a rccolh er as

instru menros que pcrren ciam aCamara Mun icipal, a fim de qu e naohouvcsse musica na passcata" ,149

Pcla p rim cira vet, segundo 0 jorual, h ri a parricipacao macica de cam­

poneses, engrossa ndo as fileiras das passeatas e 0 to m do discurso de urn dos

orado rcs, no comlcio, ponto alto da festa-protesro, refere-se basicam ente aos

problemas cnfrenrados pelo hom em do campo. alern dn ren rativa de inclusao

dessas "massas campo nesas" no ambito das qu est6es levantadas pclo PC B,

sobre 0 campes inaro co mo forca revolucionatia, q ue aflora, pr incipalmcnre,

nos momentos de ime nsa agitacao dos mcios operarios, apesar de sempee se

constatar 0 "arraso" em qu e se enco nrra essa dira massa:

"0 orador falcu sob re a causa da miseria e do atrazo das grandcsmassas rurais C..) salicn rou 0 problema da falra de terras junro nosgrandes centres de consume (...) falou da aquisicfio de cred iro Hcil

e a longo pra zo para os pcqu cno s agricul rorcs c nfio apenas aos gran­des prcprierarios (...) concluiu por cxplicar nos camp oneses qu e semorganizacac ndo epossivcl conquistar coisa alguma. Co nciro u, assim,os camponeses a form arem imediat amen te ligas, sociedades rurais deauxilio mu tua , sociedades coopcrati visras e sindi caros". ': "

o orador em q uestao eidcntifi cado como representame du Sociedade

dos Pcqucnos Agricultoresl 5 l, cujo dis curso e enalrecido pelo jornal "par tcr

enfeixado assum os do maximo interesse para os trabalha do rcs do campo" .

No entanto , a jornal rcpura aos o rado res com unisras"? com o "as m ais aplau­

didos, prin cip almem e quando dcclararam q ue 0 seu Partido nfio podia csta r

ausente de uma fesra popular c prnlcni ria de 60 elevada significacao", estan­

do, pananta, na "vang uarda do Povo e do Prol ctariado".

No ra-se, clara rnente, a inren cao de se d isrin guir Povo e Proletariado. 0

PCB se aprescnea ao evenro como sendo 0 guardiao da s aspiracocs de jusr ica

destas du as rep rcsen racoes sociais. Dai , a fesra epopular - "romaram parte no

dcsfilc (...) gra nde mimcro de populares" - e p roletaria, pa is esrdo prcsent l's

149 ld. Ibid .150 ld. Ibid.151 rre te-se de Alber to I hiers. que tambem era comerciantc.152 Indicados na materia do jornal aludido como scndo Raimundo Coelho (membra do Comtte

Estad ual do PCB) e Francisco Viana,

- 94 -

Page 93: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE~AO MU NDOS DD TRABAL HO

represenrantes de todos as sind icatos C organizacdes de classe asqu ais osten ravam garbosamen re as seus esrand artes com galha rdia no

ven ro, co mo que a varicinar urn futuro feliz e progressista para 0 Pro­letariado e 0 Povo brasileiro".153(grifos BOSSOS)

Essa disrincao entre Prolaariado c Povo que atravessa tod a a conccpcao

cia materia jornalfstica. pareee nao se cons tiruir urn pro blema, pa is, se 0 Povo

prescotc as corncmoracoes nao e prop riam ente 0 prol erariado organ izado,

apcsar do pro lerariad o sec parte desse pova, ali se fazendo representar pelas

associacoes e categorias pro fissiona is existences nu cidade c por seus Hderes

inscr itos para falar no com fcio'>', a parricipacao desres nas cornemoracoes

pareee sec 0 momento do enco ntro de ambos, que, unidos, march arao para

a conquisra de melhores d ias. Bastan te eluc ida tive C 0 carater conrrario no

campo das ideias que a Fes ta in corpora, cons ubsranciada no s confliros contra

os "reacionarios c fascisras":

"Tambem ourros elementos (...) par suas arirudes rcaciondr las e fascis­

tas (...) tentaram levar 0 Delcgado de I'olfcia a proibi r as comernora­coes, que entreranro nao conseguiram, pa is essa auroridade apesar desuas anreriores ati tudes de submissao avonradc dos cbcferes reacio nd­

rios, dcsta vet proc urou agir com mais screnida dc, rcspcirando assimos di reiros democraricos do pova .

o cerro, porcm. Cque 0 povo na toda P l f(C ja aprcndcu a lutar con­tra a rencao e 0 fascismo e lange de desanimar contra csra ou aquelatenrativa contnirias asua liberdade cfvica e para enfren ra-las pacifica,porem, cncrgicamcnrc".""

C omo se ve, a dispura pcla demarcacao de lim a da ta relativa amem oria

de lura dos trabalhadores passa tarnhem pclos debates de coloracao ideologies.

na procura de se apresemarem como vcrdadciros rcpresent antes da classe.

153 Jornat "0 Democrata", ana I, n°.56, 15/05/1946, Porteleza-Ct. p.3.154 A relecec dos inscritos fOI a segu inte: "Raimundo Menezes de Araujo - pelo Sind, dos Es­

t fvado res, Alberto Thiers - pete Sociedad e des Peq. Agricultores; Nilo Rocha e Silva - petaScciedade dos Trabalhado res em Salinas; Sotero topes - pela Sociedade dos r rabalbadores emConst rucao Civil; Albanita Brito - pete Assoctacao Feminina Camodnense, Laurita lopes - emnome da mulher camocinense; Gabriel de Barros - pela Col6nia de Pescadores; Domingos deFreitas - pelo Sindicato dos Carregadores do Porto; Jose Moreira - pela Soc. De Beneficentesrerrcvlarios. Raimundo Coelho e Francisco Viana- pelo Partido Comunista do Brasil. In: Jcmal"0 Democrete". Jc rnat "0 Democrata", ana I, n°.56, 15/05/1946, Fortaleza-CE, p.3.

155 Id. Ibid.

- 95 -

Page 94: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(OLE~AO MU ND OS DO TRABAlHD

o Prirueiro de Maio em Camocim erarnbem momento de relembrar

seus mdrtircs, coincidindo tnmbem com a oricnracio do jo rna l comunista "0

Dcmo crata", que faz um a rctrospccriva cia miliran cia cornunisra, pri ncipal­

mente dos acon tecimcntos de 1935-36 no Estndo do Ceara.

Dal, a Primc iro de Maio de 1946, data em qu e 0 jornal enccra cssa

campanha, sendo rambem seu primeiro ana de circulacao, sc rcvestir de uma

significacio especial e, no case de Camoci m, 0 lfder comunisra Francisco

T heodore, as vitimas do "Massacre do Salgadinho", sao as perso nagens es­

colhidos par-J. screm destacados para tal fim, isto C. desracar urn passado de

lucas cia mili rdncia.

"Assirn 0 pava de Camocim que ja possuc uma g loriosa tmdicio de lurasligadas 30 herofsmo do valoroso lfder comunista, Francisco Theodore qu e

hj dcz nnos sofreu ali as mais terrfveis perseguicoes e rcrtu ras pela manciracorajosa com que dcfendla as interesse's da c1asse proleraria, C Olinda pclo

sacrificio de sanguedes rrabalbadores - Amaral e Luis Prerinho - aliassassi­nados em 1936 pcla polfcia do governo Pimentel, nfiosedcixou desmi marpela falca da banda de rmisica cia Prcfeirura Municipal. e conscguiu ime­diatarnenre improvisar uma outra que a substirufsscmuiro bcm".' ss

Hoje, nas corne rno racoes do Primeiro de Maio parece se senr ir a falra

dcssc cara rcr festivo e are mesmo combativo dos rempos idos . Quando a dara

recai em algu m memento politico imporrar ue, ainda se tenta realizar algu m

desfilc. Fazcm hojc 0 caminho inverse , c as sindica ros e associacoes vol tam

a se reuni r em suas rcspccti vas sedes, qu ando muira uma alvorada au uma

palcsrra cntediancesobrc dir citos trabalhistas, cada din menos rcspcirados pot

governo e patroes; pclo menos ea qu e se observa em Camoc im.

A milirdncia com unisra parece nao rer ma is forcas a u poder de arti­

culacao, como podemos ap reender da fala de "Seu" Nilo, hcrd ciro politico de

seu pai Pedro Rufino:

"Aprogramacac do Primeiro de Maio aqui nos rcunia todos os sindicatos, osprcsidentcs todos, chamava todo mundo c rodo mundo panicipava. Enrao agenre f.u ia um a passcaraboa, grande, com rnilho, pe de millie, ramade feij5.a,o pcssoal tude alcgre, era, a passc:ua era boa, viu?Ti nh a ai, urnas... umas milpcs.'ioas (...) pessoas, tinha muiro (...) urna pas.'iCata m uiro boa, ne? Mas depois

156 Id . lbi<t

- 96 -

Page 95: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

( OLE( AO MUNOO S 00 TRABALHO

dessas cpocas, dessas lura, rapaz, tern sido urn fracasso, agora nesscs ulrimos

anos acabou-se foi rud e , viu? Ningucm d mais fazendo nada, nad a e nao tern

como fazer, pOH1UC se voc2 convidar num vai ninguem , ai, pr.i adquirir isso emulto dificil. Pci arrumar essa credibilidadc cduro. Masvai-sencssa luta".157

Hoj c, abrigado do PC do B, "Se ll" N ilo se esforc; a para rcmcmorar

esses m om en ros de agit acao parti ddria, .10 mesm o tem po em qu e reconh ece

as dificuldadcs do agora, pois a milirdncia nfi o tern a "sustanca" de velho PC B

de ant igame nrc, Oll mesmo, a prioridade arual nfio seja mosrrar-sc.

4.3 A Greve de 1949-50 Contra a Transferimcia das

Oficinas e Funcionilrios da Estrada de Ferro

Para a dcflagr;1c;ao dcssc movimcnto, alguns faros ndo solucionados

pelos po deres publicus c amplamenre denunciados pOl' lfdercs polit icos c mili­

tames comunistas arraves da imp rensa. foram importances para sc entender as

causas e origens da greve. Primciro, a sabotagem do porto de Camocim pela

companhia inglesa Booth Line que cxplorava as services de alvarengagem, alar­

dcando a obstrucao do seu canal natural, a que scria dcsmascarado posterior­

mente, pela ent rada de navios.!" 0 constante adiamento da d ragagem do por­

to era outro aspecto a sec considerado pa r quem desejava que Camocim per­

desse a "sua natu ral posicio de escoadou ro, 0 mais ccessfvel e economico para a

circulacao dos produ tos de exportacao de toda a vasra ro na siruada as marge ns

da E.F. de SabraI e das mercadorias imporradas pe1a referida w na."159

A atividad e de en-barque e desembarque de mercadorias entre porro e

ferrovia esrava, porrant o, comprcmcrida pela no ticia de transferencia de ferro­

viarios C oficinas de man utcncio de trens. Estava, panamo, criado 0 c1 ima de

rensao nas duas mais cornbativas caregorias profissionais da cidade, ferrovidrios

e carregadores do porto. Esse boicore do porto de Camoc im, considerado como

"urn atenrado aeconomia de toda Zo na Norte", feito pela companhia inglesa

e par cmpresarios do ramo de caboragem do porro de Fortaleza, reve a atencio

das divcrsas Ca maras Mun icipais da regiao que se solidarizaram com a Omara

Mu nicipal de Carnocirn, solicitando providencias ao Ministro de Viacao para

, 57 Ent revista co m 0 Sr. Nilo Cordeiro da Silva, jil citada ., 58 Sobre essa sa botagem, ver Capitulo IIIdeste trabalho., 59 Jorna l "0 pemocreta", ana III, nO.906, 09/1 1/1949, Fortalez a-CE, p.4.

- 97 -

Page 96: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlECAO MUNOOS 00 TRABAlHO

resolver as problemas de d ragagcm do pono. Co nrudo, a cam panha nfio logrou

resultado e a Booth Linecontinuou auferindo scus grandes lucros no rrabalho de

alvarengagem, que apcsar cia cxp loracao exorbitan te, "as mcrcadorias imporra­

das peIa zona norte ainda saem mai s bararas do que vindo po r Fortaleza".':"

D e fins de outubro de 1949 a janeiro de 1950 , a cid ade de Camocim

viveu em consran te esrado de alerta. Estava em jogo a cmprcgo dircto de quase

trezenros ferroviarios q ue viviam a irninencia de serem transfcridos pa ra Sabral

au Fortalcza. Poi ate insraiada "uma sirene de alarmc que indica, por mcio de

seus apiros. qualquer tentativa de desmonragem au retirada das maquinas.

Cracas a esra sirenc 0 povo tern evirado que as oficinas sejam transferidas ."!?'

Esse pertodo tambem foi ferril em assinalar outros acontccimencos que moti­

vou a cena polfrica da cidade. A 27 de outubro de 1949, a UDN fora derrotada

por un animidadc no proccsso de cassacao do vereador comunisra Pedro Tei­

xeira de O liveira (Ped ro Rufino). ] :i no dia 03 de janeiro de 19500 jornal "0Democrata" estampa foto do com unista Sotero Lopes, espancado pela polfcia

quando fesrejava 0 aniversario de Prcsrcs, fazendo algumas inscricocs sobre a

data, e finalmente a 30 do mesmo rues e ano, 0 navio "Comandanre Araranh a"

atraca no cais do porto de Camocim , dcsmascarando mais de 15 anos de men­

rira da Booth Line que afirmava ser 0 canal do rnesmo obsrrufdo.

Podemos perceber nessa dccisao de transferencia das oficinas de ma­

nure ncio e de opcrarios da Estrada de Ferro, 0 comeCjo de uma longa queda

de brace no senrido de desestabil izar essa ligas:ao ferroviaria em proveito dos

charnados "tubarocs" - cmprcsdrios radicados oa capital do Esrado, que lucra­

riam com urn maior volume de cargas no Porto de Forraleza.

Esses cmpresarios se organizariam no chamado M UC - Mooimento deUnido pelo Ceara. 0 jornal "0 Dernocrata", constantemente, durante 0 rno­

virnento, denunciava 0 conluio desses cmprcsarios com os diretores da Ry e- Rede de Viacto Ccarense, que a todo custo buscavam mostrar a deficiencia

comercial da estrada . Os "Abaixo MUC" sao vistveis nas pinruras de vagccs

de trens quando do movimento em Camocim. Portanro, os anragon ismos

cstavam colocados. A pop ulacao que fica em estado de greve, paralisando as

160 Id.lbid. , p.3.161 jomal "0 Democrata" Ana III, N°. 915, 21 de ncvernbro de 1949, ro rtafeaa-Ct , p.1.

• 98 .

Page 97: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLEiAO MUND OS DO TRABA LHO

atividadcs da estrada de ferro e a irnprensa oficial condenando 0 arraso de

mercadorias estocadas no pon o e em vdrias esracoes do reecho ferreo.

Buscar a participacio dos comunistas ncstc evenro parecc nfio sec rarefa

diflci l. Primeiro, des cram pane interessada na quesrao, po is, como jadissemos

anreriormenrc, entre as ferroviarios, cuja transferencia era 0 pivo da qucsrao, era

no tor ia a presence de comunistas e simpatizanres, Por outro lado, a organ izacao

dasvariasassociacoes e sindicaros da cidade tinha a participacio de comunisras,

como Pedro Rufino, que logo enrenderam sec vital a pcrrnanencia dos funcio­

ndrios e oficinas na cidade, amanda na ramada de decisoes, como na obstrucao

do leiro da csnada, com paus, pedras, caldeiras velhas etc .

Nas falas rccolhidas sabre 0 evenro, nota-se que csre movimenro con­

tra a transferencia de opcrarios e oficinas de man urencfio de trens e sua viroria

na sua permanencia foi uma conquisra da cidadc, do corpo da sua populacio

que nfio arredou pc das pra.;as, das m as. da csrrada de ferro. ate qu e 0 proble­

ma se reso lvesse. Nas palavras do Sr. Ni lo, no cntanro, de nfio deixa de realca r

o rrabalho de seu pai:

"Inclusive na cpoca da greve prd tirar 0 trem aqui, papai foi 0 maior cabeca

cont ra pra ndo tirar 0 [fern daqui , ele [ut ava no ite e dia Ii na frente do tr ilho,

lurand o, borando bagulho hino meio mais 0 pessoal, chamando todo m un­

do pd ir na lura, IH~ ! Prd nao deixar tirar a [fern daqu i pea Sobral".16l

Nas palavms do priroco, podemos pcrccbcr a amplitude qu e a rnovi­

mente toma, com o scndo da rcspon sabilidad e de rodos. Escreve 0 sacerdo te:

" ]0 . de Novembro de 1949.

Surgio nesta cidade uma greve de toda a populafiio camocinense contra arerirada dos trilhos que conduziam as Iocomotivas para os navios e 0 pro­jete de transferencia das oficinas para Fortaleza. Mas are agora nao obrevercsultado sarisfarorio".16J (grifo nosso}

Quando 0 padre assinala aroda a po pu lacao camocinense" po de estar

danda tanto lima ideia do tamanho qu e a grcvc tomou, como tambern te ntar

162 ld. Ibid.163 livro de Tombo de Paroqule de Born Jesus dos Navegantes. Anos: 1930-1952 . ca mocim-CE.•

p.128

. 99 •

Page 98: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(O LEeAO MUNOOS 00 TRAB ALHO

carrear para a populacao a responsabilidade do movimenro, ralvcz quercndo

descarrar algum proveito politico que alguem pudesse rirar da situacao, como

as comunisras, par cxcmplo. No cnranto, isso, a nosso ver, nfio parecc sec 0

mais importan re, pa is, em "roda populacao camocinense" estavam hi presen­

res as com unistas.

o jornal "0 Democrara", que dera ampla cobertura agreve, colocava,

tambern , tanto na publicacao de telegram as de apoio ..'lOS ferroviarios de varias

enridadcs, como nos texros de materia jornalfstica, 0 envolvime nro cia popu­

lacto, assim como da trad icfio cia cidadc no campo das lucas democrdcicas,

ondc 0 pcn parcce sec urn a face visfvcl ncstcs mementos c a classe "forte e

laboriosa" des ferro vidrios, exem plo dessa rradicfio. Vejamo s no relegrama do

Presidenre da Liga de Defesa dos Ferrovidrios, vereador Lauro Brigido, ao pre­

sidcnre do nucleo da Liga em Camocim, assim como a resposra desre aqu ele.

como isso se exem plifica:

"ANTO NIO MARTINS FEITO ZA - Presidente Nuc leo Liga DefesaFerrovi:!rios - CAMOClM -

In forme ur gen te situacio ferrovidrios cssa cidade nome Jiga presto inteira

solida rieda de nossos colegas bern como 0 glorioso povo Camocinense nes­

sa lura na prospera sobrevivencia pL

Lauro Brigido Ga rcia - Vcrcador - Presidente Liga.

Em rcspost;} :10 despachc sup ra, a Presiden re do N uclco da Liga, em C a­

mocim , dirigiu onte m, 0 seguin re telegrama:

Vereador Lauro Brigido Garcia - Camara Municipal - Forralcza

M ovimenro grevisra aqui surgiu seio mas sa popular de fesa d o parrirnonio

estrada am eacado aniquilarnenro com ordens arrancar rrilhos c maquinas

operatrizes. Povo gera l intermedio Associacao Comercinl pro testa sentan­

d o-se nos rrilhos bern como assinando memo riacs exigind o csrabil idade

esta estrada vg rcgresso operdrios rem ovid os pela ad min isrraci o pt Massa

pop ula r reclama grande repudio aro ad mi nis trncao red e ostenrando carta­

n's prorcsros em dcsfiles ruas c: bairros pt Movimc nto sc enqua dra justa

aspi racao ferrovi.irios Ca rnocim qu e aguarda m viro ria pt

. 100 -

Page 99: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO l E(AO MUNDOS DO TRA BA l HD

Antonio M art ins Feiroza - Presidenre Nucleo Liga". 1M

o dcsenrclar cia grevc, assim como cia pa rt icipacfio cia Assoc iacto

Commercial nas negociacoes. ja foram dcscritos anteriormente oeste rraba­

lho , quando descrcvcmos a atuaciio J us co m unisras nos espaeros de tra bal ho

do po rro e cia ferro via. Nes te momento, 0 interessante cbuscarmos a liga<;3o

clesse movimenro co m a m ilirdnc ia comunista.

Os acon tccime ntos envolvendo a populacao co ntra a rerirad a d e trens,

oficinas e transferencia de ferrov idrios comecam a set ligados com a miliran­cia comun ista pelo jornal "0 Democrata", q uando esre peri6dico da espac;o

para as declaracoes do presidente cia Sociedade de Consrrucao Civi l de Ca­

mocim, Sorcro Lopes, q ue de nuncia as man o bras do diretor cia RVe, Hugo

Rocha, q ue apesar da dc rrora imposta pclo povo no caso da transfcrcncia das

oficinas, ten tava por o urros cx pedie ntes conscgu ir tal in te nto. Nas palavras de

Sotero Lo pes, a denuncia:

"Posso assegurar que no mom en ro 0 dircror da RVC, sr. Hu go Rocha,esra realizando manobras no semido de co nscguir a rransferencia das

oficinas ferroviarias de Camocim. Com esra finalidadc eque promo­veu uma excursao par varies munidpios da Zona Norte do Esrado,indo ate Crateus e fazendo-se acornpanhar de conhecidos tuba roes

do comercio de cxponacao de Fortaleza, excursao esra que teve parfim preparar 0 rcrrcno para uma nova investida cont ra as interessesdo povo camociucnsc. 0 sr. Hugo Rocha argumcnra que as grandesesroqucs de milho c de ou rros ccrcais acu mulados em Cra teus c emourras cidades sao um a conscque ncia da nfic transferenc ia das oficinasde Ca mocim pa ra Sobra!."165

As denu ncias do lfdcr comunisra Sorero Lopes de faro se conc reti­

zariam com a tentativa de satda de trens e embarque de funcionarios pro­

rnovidos pe la RVe, no entanto, mais uma vez, a populacao reagiu pronra­

mente, avisada q ue fora pela tal sirene. Urn telegrama do correspondence

de "0 Dc moc rara" em Camocim, provavclmenre Pedro Rufino , e ourro do

Presidcm c da Asscciacdo Comercial de Camocim, Alfredo Coelho, politico

representanrc das o ligarquias q ue domi navam a polfrica local, transcriros em

164 Jomel "0 Dcmocreta" ano lJ, nO. 902. 05/11 /1949. Fcrteleza-Cj , p.J.165 Jornal "O Democrata" ano IV, n". 962. 2110111950. rort aleze-Ct. pp.7 e 8.

- 101 -

Page 100: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(OlEC ,6,O MUNDO S DO TRABAlHO

primcira pagina, most ram onde as forcas pclfticas esravam juntas (3 defcsa da

permanencia dos fimciondrios e das oficinas de manurencao) e onde discor­

davam com rclacic acaracte rizacao do rnovim enro popular, buscando talvcz

arrafrem para si algum proveito politico cia siruacao.

Enquanro 0 correspo ndence assinalava que 0 movimenro que ora se

realizava era "urn sinal de protesto contra nova tentativa de rransferencia dos

cirados fimciondrios e rambem contra :1 desarencac do ministro da Viacao",ao mesrno tempo em que aludi a sab re a "grande vibracao no seio do povo

que forma unid o scm disrincao de cor pohtica au rcligiosa", 0 Prcsidente da

Associacao Comcrcial reafirm a 0 cara rer de uniao da popul acfio quando a

mesma se mobil iza "scm distincao de classes, credos politicos ou rcligiosos",

scm sc esqu ccer de pedir qu e sc publicasse que 0 movimenr o nfio rinha "card­

rer subversive visando unicamenre a defesa do sagrado direiro de subsistenc ia

asscgurado a rodos quanros rcsidem no ssa parria."I66

A prcocupacao do presidente da Associacto Comercial ao afirmar que

o movimenro nao tern urn cardter subversive pode sec cnrendida por doi s

angulos: se havia realmenre um a co rrelacic de forcas en rre os miliranres co­

mu nistas e a elite en cerrada no seio da Associacao Comercial na conducao das

ncgociacc es do probl ema rcferid o, fica clare que as comunisras se consrirucm

como grupo politico int eressado na qucsrao , e af, a identificacio com urn gru~

po dito "subversive" pod cria arrapalhar os encaminhamenros para a resoluci o

do problema. Per ourro lado , sc rcalmcnre as forcas polfricas pareciam dilu­

idas em rodas suas di fcrcncas, como aresta rn os tclcgramas cirados, 0 esforco

ern nao se identificar grupos po liticos com prcrcnsocs de provc itos polit icos

na qu esrao , parece ser urn ponto em comum, pelo mesmo faro assinalado, no

sentido de se apcessar uma solucao para 0 impasse.

Conrudo, no desenrolar da ma teria, 0 jornal faz clara opcao po r re­

[orcar e cred irar 0 evento as denuncias do "lide r popular" Sorcro Lopes, as­

sim como ressaltar a resisrenc ia do povo de Camoci m. No re-se que a jornal

evita idc n tificar Sotcro Lopes como co m unism ou ltdcr opc rdrio, preferindo

"popular". Quanta ao POVO , que rcsistc, scja de irado nos trilhos, obstruindo

o leiro da fcrrovia, rca lizando passcat as c comfcios, cxigindo a pre senc;:a do

166 Jamal "0 oe mccrata'' ana IV, nO. 96 5, 25/0111 950. rortereza-Ct, pp. 6. 7.

- 102 -

Page 101: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COL E,AO MUNDOS DO TRABALHO

governador do Estado e do Ministro ciaViacao, 0 jornal nao cconomiza ad­

jetivos, desde valoroso. tenaz; heroico, denrre outros. A part ir desse episodic,

Camocim sera chamada em rnan chctcs posrcriores de "Cidade Heroica".

Nos numeros rclarivos ao mes de janeiro. quase codas as dias, 0 jomal

"0 Democrara" iria se [cportae aos fatos ocorridos em Camocim. As referen­

cias iam desde rclcgrarnas de felicitacoes e solidariedade ao povo ciacidadc ou

em nome de miliranres comunistas, como Pedro Teixeira de Ol iveira (Pedro

Rufino), entao vcrcado r. Al ias, a ligac;ao desse movimento a milirdncia co­

munisra sera feita tambem a esse militance, que ocu para as paginas do jornal

denunciando manobras, rebatendo nod cias falsas, opinando sabre as proble­

mas estruturais do municipio, dentre des a dragagem do porro, a melhoria

da ferrovia e sua ligaqao com 0 Esrado do Piaui, credito para a agricultura e a

pesca, dentre outros ponto s.

Eferivamen re, para resumir as acontecimcnros, as autoridades vern a

Camocim, (Governador do Esrado c rcp rcscntanre do M inistro da Viacao)

negociam com a populacao em praqa pub lica, atendem a algumas reivind ica­

crees, prometem solucio nar outras e 0 povo sai do movimento com a scnsacao

de vitoria. Isso emuito evidenciado pelo jomal "0 Democrata", mostrando.a

cidade como exemplo de resisrencia , coragem e combatividade de sua popula­

qao. Conrudo, Cso os dnimos sc acalmarcm que ocorrerd 0 desmonte progres­

sivo das atividades do Porto e da Ferrovia. A ferrovia par motives politicos e

operacionais, POliCO a PO liCO transfcrc seus func ionapos, as oficinas e culmina

em 1977 com 0 fecham enro do ja entfio nao mais ferrovia , mas simples ramal

ferrovidrio Ca rnocirn - Sobral. 0 porro padeceria do consranre assoreamenro

do Rio Coteau , dificulrando 0 acesso das embarcacoes e sua dragagem cada

vcz mais protelada.

A dragagem do Porro , desdc as ano s 1950, c 0 retorno do teem de pas­

sageiros, desde 0 final dos anos 1970, scria por muiro tempo "as promessas de

csroquc" des candidate s a cargos elerivos votados na cidade, ate cair no ridl­

culo qu em rivcsse a coragem de empunhar um a dessas bandeiras. Para 0 mocro

mariano, Orion Men ezes, no enranro, a estrada de ferro saiu de Camocim pa r

ourro motivo: "Dizem que a Estrada de ferro saiu de Ca mocim porque tinha

- 103 -

Page 102: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COlE, AO MUN DOS DO TR AB AlHO

rnuito comunisra e 0 govcrno qucria acabar com 0 comunismo no pais". " "

4.4. Urn Olhar FotogrMico Sobre a Greve de 1949·1950

o rn ovimen to de resistencia da populacao, na qu esrao cia transfercncia

das oficinas c fimc ionarios cia Estrada de Ferro de Sobral, pode sec anali sada

rambem a partir de urn conjunto de fotos que chcgaram are nos. por coma cia

pesquisa que empreendemos.

Eum conjun to de del foros, pcrrencente s ao arqu ivo forogdflco paf p

ticular de Dona Elda Tavares Aguiar, empresdria camocinc nse, darndas ent re

os ano s de 1949-50, harid as por seu esposo, Hindenburg Aguiar, tarnb em

ernpresario, resremunha ocula r daqueles acontecimenros .

o Sr. Hindcnburg Aguiar, 78 an us, crnbora foc6grafo amador, soube

caprar as varies angu lm das manifesracocs, privilcgiando, sohrcmanci ra, o

aspecro polit ico do movimenro, sempre atenro aos dctalhes que clesfilav.un

asua frenre. Parccc-nos que nao 56 0 desejo de docum entar 0 cvcnto esra­

va presente no manejo da objeciva do nosso fot6grafo, visro que, par ja ser

emprcsario naquela cpoca, 0 Sr. Hindenburg era capaz de fazer uma leitura

des acontecimenros, cnrcnd cnd o que a transferencia das oficinas c dos fun­

ciondrios da Estrada de Ferro era danoso para a economia do municip io e,

consequcntc mcntc, dos neg6cios ali estabelecidos, p rincipalmente os que ex­

ploravam 0 comercio de importacio e cxportacio, como era 0 seu caso.

Suas fotos pareccm ser tambem urn protesto e, nesse sentido, etam­

bern d e lim participanrc ativo nas manifestacocs, aca mpanhando scu de­

senrolar, buscando as imagens mais fortes, enchendo de genre seus angulas,

buscando 0 mome nta do tremular das band eiras, ou mesmo des flagram es

de um desfile de rrabalhadores, da concentract o ciapopulacao nas praps ou

no momenta de consagracao cia vitoria daquela genre num comfcio, quando

as autor idades cedem ao desejo de todos para que os rrilhos n50 safssem e as

oficin as ficasscm .

De uma man eira geral, as foros mostram a organizacao da manifesta­

\ao organizada pelos populares, assim como lias enridades repre.sentativas das

167 Ent revista com Orion Mat os de Menezes , jt! citad a. Camoc im-CE.

- 104 -

Page 103: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

C O L E~AO MUNOO S 00 TRA BALHO

carcgorias profissionais da cidadc, rcunidas em torno de objerivos comuns:

a manutencao das oficinas c dos funciondrios da Estrada de Ferro em Ca­

rnocirn . Neste senrido, da is lugarcs sao privilegiados para a conccmmcfio da

j'1opula<;ao - Praca da Ma triz (apcsar da Igreja nao aparecer em nenh uma das

foros) e Praca da Esracao,

Para a co nstructe da anal ise, pri meirarnenre nos baseamos naq uilo que

as fotos dizem por si pr6prias, vendo posicicnam enros, hi erarquias, m odos de

vestir, prcscn r;3 de stmbolos, denrre outros deralhcs: depois, aliamos a isso 0

que as font es rcxtuais remetem aforo e, finalmcntc, alguns depo imentos so­

bre as foros, de pessoas a quem submcrcmos vcr as mcsmas, principalrnente,

nossos depo cnrcs, ja citados ao longo desse trabalho. Essas imprcssces apa re­

cern no texro da ana lise, misrurados, portamo, sem seguir uma escala do que

seria mais irnporranrc pa ra a consrrucao da rnesrna, mas buscando uma leveza

maior na arquiretura do texto.

Uma caracterfstica geral que perpasS.1. 0 conjunro de fotos Ca presenc;ade

rnu lhcres, criancas e homens jovens, assim como de bandeiras e cartazcs entre

os manifestanres. Estes foros foram escolhidas tendo csras caracrerfsticas, basi­

camenre, par privilcgiarmos 0 conreudo politico das mcsrnas, e para mostrar

que os eventos politicos crn Camocim, naquclc momenta, assumiam tambem

cararcr fesrivo, bastanre evidenciado na cxprcssao da pop ulacao fotografada,

- l OS -

Page 104: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,AO MUNOOS DO TRABALHO

FOTO 2 - A PASSEATA

Podemos norar a hierarquizacao da manifestacao arraves das fileiras de

rrabalhadores vindos de diversos pOntOS da cida dc, como daqueles espac;os de

trabalho localizados .. a beira -mar" - pescado res e carregadores do pocco. 0

coquciral ao fundo denuncia de ond c estes rrabalhadores se deslocam para a

gran de Praca da Matriz.

Em p rimciro plano, YC-S C 0 "oficialismo" cia conccntracfio reprcscnt a­

do por hornens vesrido de temos, provavelmcnrc prcsidenres de associacocs

c sindicaros c urn porta- bandeira cmpu nhando a bandeira do Brasil. O urras

bandeiras, como a do Esrado e de outras cntidades podem set vistas an longa

das fileiras de rrabalhadores.

Eo bastante significativa a presen\3 de mulheres, criancasc jovcns, que vcs­

tern suas melhoresroupas(roupas de domingo), proprias paradeterminadasocasi­

Scs. Urn policial no mcio da mulridao observa atentamcntc a rnanifl"Sta~O.

Ao fundo, no meio da foro , a predio da Prefcirura e 0 Cruzeiro, sirn­

bol izando os podcrcs civil e religioso c um pOlleo mais arras, urn pequcno ca­

sarin, hojc incxisrcnt c. A grand e pr~H;a n jio cpavimcnrada , apcnas urn grande

cspac;:o na arera.

- 1D6 -

Page 105: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO lE~AO MUNDOS DO TRABAlHO

FOTO 3 - a DESFILE

Nes ta foro predomina a presenc;a de homcns, rrabalhadores que desfi­

lam po r todas as scdcs de associacoes e sindicatos da cidadc, a que se rornaria

posrerion nenrc lima tradicao nas festus de Primeiro de Ma io.

a ponto de reun iao parece seca anriga sede do Sindicato des Estivado­

res, que teve ent re sells prcsidenres, 0 mi liranre com unis ta Raimundo Ferreira

de So uza (Raimund o Vcrmelho). Segundo seu filho , Terruliano Ferreira, a

sede era de prop ricdadc de se ll pai e 0 local mcsrrado na foro ea Run Sau ros

Dumont, ondc moravam. Na foro, pode-se observar urn Hdcr em pc. da jane­

la (m uito provavelmen te Raimundo Vcrmclho), organizando e mobilizando

seus cornpanhclros, proferindo algu m discurso.

A man ifestacl c eurn momento de fesra que pode sec verificado pelas

roupas usadas pelos forografados. A presen" de mulheres e criancas fora do

sequim do desfile evisfvel. Nas fileiras, alguns homens ncgros aparccc m, urn

aspccto raro no conjun ro das foros que estarnos analisando.

Essa e u ma foro tlpica onde 0 cararer de classe esta cxprcsso, ran ro

pelo conjunro dos participan tes, quanta por sua d isposicao espacial, alem das

bandc iras rcprcscnran vas das enr idades a que pcrtc nciam .

. 107 •

Page 106: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,Ao MUNOOS DO TRABALHO

FOTO 4 - PASSEATA CONTRA OS "IN IMIGOS DO POVO"

DETALHE DA FOT O ACIMA - Vcrcador com unisra Pedro Teixeira

de Olive ira, mais con hecido como Pedro Rufino, no meio da man ifcstacao

A foro IlOS mostra ;1 varicdadc &1 popubc;ao queacorn: arnanifcsracao

contra os "inimigos do povo" - 0 dirctor da R.\'. C. e do Chefe da Estrada de

ferro, Hugo Rocha e Pereira de Meneses, respecr ivamenre: no casu da trans­

fcrencia das oficinas de man utcncfio de rrcns c funciondtios cia ferrovia.

. 108 -

Page 107: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUNDOS DO TRABALHO

Nora-sc claramente a ausencia de qualquer sfmbolo a u emblema do

Partido Co rnunisra, 0 que nos faz crer que as rnilirantes comunisras rnistu­

ravarn-se ao grosso cia mu lridao . Na manifes tacao e parente a improvisacao

na feitura des cartazes, que pareee tcrcrn sido con feccionados a mao, scm

maiores prcocupacocs esteticas.

A presencya de mulheres e criancas eparticipaciva, seja porrando carta­

7-CS, scja Icvando as caixoes do "enterro simbolico" das duas auroridades em

qucsrao. Euma foto que chama a atencao para 0 aspecro politico da manifes­

talfao, demonstrando eodo 0 sent imento qu e 0 povo estava exprcssand o pela

am eaca que esras auro ridades represenravam nos destinos cia cidadc, de seus

habitanres, dos funciondrios ciaEstrada de Ferro.

- 109 -

Page 108: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE~AO MUNOOS DO TRABALHO

FOTO 5 - 0 "ENTERRO SIMBOUCO"

as manifestanrcs cam inham da Praca da Matriz aPraca cia Estacao

para 0 gran de comfcio. Em primeiro plan o, os caixocs de "H ugo e Pereira",

com as devidas inscricces "aqui jazcm as rcstos mortals...". 0 en terro simbo­

lice ea "imagcm" mais forte da foto. l.ogo arras, urn homem porra urn carraz

com os d izcrcs "Os trilhos nflo sairdo. As Oficinas ficargo", que nfio pode sec

lido 11a integra pelo co rte cia foro, mas, visfvel em uma outra.

Sao as "rrilhos scgurando a cida de", qu e mot ivam homens C m ulhcres

a safrem asm as para defends-los. Nota-se ho mens de ma ngas arrcgacadas, urn

ourro de paler6 (escrivdo cia cidade, na epoca), 0 que mostra a pluralid ade cia

manifestacao .

As mulheres aparccem na organizaci o do cortcjo, dando-se as maos

com outras mulhercs, fazendo urn cordao de isolamenro do lado esquerdo,

cnquanto os homens fazem 0 mesmo do lado direito. E outra foto uncle 0

conteudo politico foi muiro bern caprado pclo fo«)gra fo.

- 110 -

Page 109: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

C OLE~iio MUNDOS DO TR ABALHO

II

FOTO 6 - CONCENTRA<;:AO NA PRA<;:A DA ESTA<;:AO

FERROVlARIA

As pessoas pousam para 0 for6grafo, num clare sentido de dcfcsa da

Esrac.to ferrovidria, forman do como sc Fosse urn "escudo" a defender aquele

espaljo, contra as prcrcnsocs dos dircrores da R'V'C.

As band eiras do Brasil e do Esrado e. em menor nurnero, de outras

enridadcs, se alinham, nos dand o a clara idcia de unidadc, colaboracao

e patrio tismo em defesa do bern comum de rodos - as oficiuas de manuten­

crao de trens e as ernpregos des fer rovidrios, aldrn cia vitalidade da presen c;a cia

ferrovia para a cconomia da regiao.

As pessoas, em sua maioria, sao as mcsmas de fotos anreriores, mos­

trando a sequencia da manifestacao, assumindo ai, tambern, urn cardter de

classc, pais, a sua grande maior ia ede trabalhadores. Algumas criancas fazcm

pose. a forografo procura caprar 0 angulo poli tico do movimenro tendo,

como pano de fun do, a predic da Estacao Ferroviaria. 0 CSP~IS-0 por cxcelen­

cia que morivava toda a rnan ifestacao a favor da pcrrnanencia das oficinas c

opcrarios da Esrrada de Ferro de Sobral.

- 11 1 -

Page 110: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE(AO MUNDOS DO TRABALHO

FOTO 7 - CONCENT RA<;:AO DEFRONTE DA ASSOCIA<;:AOCOMERCIAL

Esra eum a foro qu e rcgisrra a conccntracfio de urn Dutro ang uln , isro

C, mostra a "pane de eras" da agku ncracdo. Par isso, difere cia ma ioria das QU­

[cas foro s ate aqui analisadas, qu e retratam a rnovimen tacao da populacao "de

frcn te''. Os cartazcs c bandciras, par exemplo, sao vistas desse angulo.

A foro mcsrra, sobrcrudo, 0 cararer fesrivo qu e a manifesracao ramb cm

assumia, sendo observada de cima pela mac qu e traz urn bebe nos bracos c

outras criancas sobre uma carroceria de caminhao. Neste scnt ido, a polftica

em Camocim nfio e apenas urn momenta de reivindicacfio, mas, rambem,

urn evcn ro fesrivo onde as pessoas de todas as matizcs sociais acorrem a de e

participam dele de acordo com a lcirura qu e cada um au cada segm enro cia

sociedade faz J esse momento.

- 11 2 -

Page 111: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COl E,AO MUNOOS 00 TRABAlHO

FOTO 8 - BANDElRASTREMULAN DO

As bandeiras do Brasil, do Estado e de outras cnridades sao 0 desra­

que dessa foro, C 0 rrcmu lar delas evidencia ainda mais 0 cardrer festive da

m ani festacao. As mais d iversas bandeiras denora rn 0 cararer supraclassisra do

movimento.

As, pessoas estao provavelme nre dianrc de um a sede de algum sind icaro,

ouvindo algum orador a discursar, possivelmenre sabre 0 ob jetivo que as rcun ia

naquele local. A prcscn~ de mulheres e criancas tambcrn pode secobservada no

conjun ro das pessoas, po rern urn pOllcamais distance dos homens.

Urn policial parece confcrir as documenros de urn manifes rame, sendo

observado de peno po r Dutro homem e de uma crianca, fazendo sell traba­

lho de ror ina e, provavelrnente, acompanhando 0 cortejo, represcnrando a

"orde m", Conrudo , as pessoas parecem ndo se importar com sua presen~.

Devc-sc rcssalrar ncssa foro, assim como nas anreriores, a pouca participacao

de idosos em meio amani fcsracao.

- 113 -

Page 112: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LE,AO MUNOOS 00 TRABALHO

FOTO 9 - A MANIFESTA<;:AO VISTA OE CIMA

Esta euma foro que privilegia 0 angulo po lit ico da man itestacao. Neb,

podcmos pcrceber os ingrcdicmcs bdsicos da festa social. Homens de rodas

as idades, vestidos de acordo com sua posicto social; a prcsen~ da banda de

rnusica animando a passc3ta; a express.to de alcgr ia esram pada nos rostos cia

grande mnior ia.

fu mu lhcrcs aparCCCJ11 novam cnrc na organizacao cia passeata , fazendo

lim cordao de isolamcnro, agora misturada aos ho me ns, dando -sc as maos.

Homens co m lencos na mao parccem limpar as narinas da poei ra das ruas.

o "enrerro simbo lico" tern nos caixoes, na corea de florcs, os compo­

ncntcs necessarie s para 0 ritual fun erario do s "dcfuntos" H ugo Rocha e Pereira

de Menezes, dirctorcs cia RVe s: Estrada de f erro de Sobral. rcspectivamcnre.

. 114 -

Page 113: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,AO MUNDDS DO TRABAlHD

FOTO 10 - 0 COMfcIO

A foto mostra, sob urn angu lo politico . 0 coroa ment o do movimcnto,

isro e, 0 comicio na Praca da Estacao, onde as autoridades!" soliciradas pclapopulacao a virem a Camoci m para resolverern 0 problema cia rransferencia

das oficinas c fimciondrios da Estrada de Ferro de Sobral prometem que os

"trilhos nao sairfic e as oficinas ficarao" .

Bandeirus. esrandarrcs c cartazes simbolizam urn nacionalismo reivin ­

dica rivo, proprio daqucla dpcca . As fruscs con ridas nos carrazcs demonstram

naquelc mement o de rcivindicacao uma inrcncfic qu e exrrapo la os problem as

locais. Panama, buscavarn represent ar os anseios de desenvolvimen to

integrado da regiao none do Cea rd com 0 vizinho csrado do Piaui, com 0

pcdido de ligac;ao ferrovidria com Parnaib a, naqu elc esrado. ou rambcm dizcr

qu e a d ragagcm do Porro de Camoci m euma aspiracao das cidades nordesri­

nas, para cirar como excmpl os.

An assum ir cssa postura , a populacao csquccia suas difcrenc;as socials

e polfticas c 3. manifesrac.lo nfio era arenas de uma classe au puxada por urn

partido cspedfi co, mas. era a propria cxprcssfio da diversidade social.

168 Govemador do Estado e representente do Ministro de Obras e Via~ao, respectivamente. Faus­tino de Albuquerque e Virginia Santa Rosa, que naquele momenta rec resentave a ministroC16vis Pestana.

. 115 •

Page 114: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,AO MUNOOS 00 TRABALHO

CONSIDERAC;OES FINAlS

Esse eurn trabalho qu e apenas se inicia, vista que a historiografla sabre

o Partido Comunisra no Ceara, e mesmo sabre a milhancia comunista, como

este se propoe, sao poUCOS e raros, 0 qu e em pane pede sec explicado , face aos

obstdcu los que se colocam pcranre 0 hisroriador, seja no acesso as fonres au

na falta dclas, por exemplo.

C on rudo, ao chcgar ncssc estagio, sentimos qu e a expecrariva que mo­

tivava esre tra balho foi quase qu e plenam ente conremplada. 0 nosso cspa nto

ao vcr 0 ressurgimenro do PCB em 1988 em Camocim, dispurando as elei­

C;6es municipals, nos lcvou a pcsqu isar como aqucle grupo se inseria naquclc

rnorncnro politico e dcscobrimos, a u melhor, rcdcscobrimos a "Cidadc Vcr­

melha", a "C idadc Heroi cs" de que falava 0 jo rnal comunisra " a Dem ocrara"

nas decadas de 1940 e 1950, das preocupacocs de outro periodico, 0 jomal

carol ico "Correia da Sema na", com 0 avanco do "pengo vermelho" na cidade

de Born Jesus do s Navegames, padroeiro de Ca moc im.

Nos plcitos seguintes, 1992 e 1996 , tcstcmunhamos esse grupo polfri­

co (agora PC do B) coligar-se com as du as ctcrnas oliga rquia s cia cidade, ora

com uma, ora com outra, scm conscguir nenhum resultado posirivo clciro ral­

me nte. Era 0 memen to em que 0 tem a ja fazia parte de nossa invcstigacao his­

rorica, ma tcrial izada numa monografia de cspcciahzacao ede rcpente fomos

tentados a mostrar a "Cidadc Vcrmclha" Jus vclhos tem pos.

Alem da monografia, da is artigos de nossa aurori a sao publicados nos

jornais "0 Povo" e "Tribuna do Ceara" e, apes, 1998, mensalmcntc no jornal

local "0 Lirerdrio" e, mai s recenre, desde 1999, em ourro per iodi co da cidade,

"Corrcio do Literal", escrevemos arrigos sobre a militancia comunista, fruro

de nossas pcsqui sas em arquivos publicos do Ceara e do Rio de Janeiro, em

jornais, depoimentos e ou tros documcmos da epoca. Esse esforco tern revela­

do para n6s do is aspecto s inreressantes: a maioria das pessoas desconhcciam

cerros fares recuperado s por estes an igos c ate sc admiram de que em Camo­

cim tenha existido cssa mi litdncia tao significativa para a epoca. Por ourro

lado, ourros leitores desses jom ais nos abordam quase sernpre nos dizend o

que estamos co nrando a h ist6r ia da cidade atraves da milirdncia comunista

- 117 -

Page 115: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

CO LECAO MUNO OS 00 TR ABALHO

c ap rcveiram para sugerir ou tras pesquisas, isto C, nos parccc J3 exrsnr urn

consenso de que realmenre 0 trabnl ho, as ideias, os descjos dcstcs homen s que

rcrrat amos "faz parte cia hisroria''.

Um a out ra qucstfio que nos p aCCCCll bcm cvidenre , ressalvando as cs­

pccificidadcs, ca corrcspondencia das orie nracocs sobrc as csrrarcgias desen­

volvidas pelas mi litfiucias ccmunisra e catolica no cm bare politico c idcold­

gico que am bas rruvarum ria cidadc. 0 zclo que os comunistas de C:uno cim

tinham em dcsc mpcnhar SU3S mrcfas era ressalrada pclo jornal "0 D enio­

crura", enquan to qu e 0 "Corrcio cia Scmana" dava tonfasc na implanracao de

organizacccs anricomunisras, 0 que mo stra urna sinro nia quase qu e per fcita

ent re as cupulas c as bases desses movimentos.

Lamenramos , contudo, a pcrda de dcpo cntcs em pot encial qu e pede­

riam cou rribuir mui ro para a realiz.tcl o deste trabalho, durante dais anu s de

pcsquisa, seja pa r falccimcn tos, como 0 de Joao Rica rdo, cirado muito rap ida­

men te ncssc trabalho, mas, que jase prcparava para da r umu longa en trevista,

depois de mu iro relu rar: au de OU (fOS qu e pcremp roriamcnre se recusaram

de conceder qualqucr informact o. No cntanro, outros, como "Seu" Nile, es­

riveram sempre solfc iros em tirar nossas duvidas c acrcscen tar inforrnacoes aentrevisra conccdida,

Espera ntos que csrc rraba lho possa suscirar a producao de out ros. Mui­

to do que foi 0 Partido Comunisra c da ruilitanc ia comunisra no C eara esrd

para ser d iro c, mais ainda, da reprcssao polfrica c policial. De alguma forma,

achamos que con tri bufrnos para, quem sabe, urn desenc adeamcnro de um a

nova producao historiografica desses remas no ambito da Hi sroria Pohtica .

- 118 -

Page 116: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE(AO MUNDOS DO TRABALHD

FONTES

I. FONTES PRIMA1uAs

1.1 .MANUSCRI TAS

CARTORIO ANDRE: 2". UFICIO - CAMOCIM.

Liven de Rcgisuo de Pcssoa s ] uridicas - 1953.

a) Rcgistrode assoc iacocs c ivis c sindicaros.

CAMARA MUNICIPAL DE CAMOCIM

a) Livro de Atas - Legislatura de 1948-1952.

b) Regimemo [memo da Camara. 1947.

PAROQUIA DE BOMJESUS DOS NAVEGANTES - CAMOCIM-CE

Livro tie Turnbo da Par6quia de Born Jesus tins Navegames - Livro 2. Anos:

Ent re 1930 e 1952.

a) Anoracoes des p.lrocos.

b) Circulares diocesa nas.

c) Documcntos da 19n.'ja - principalmcn tc n:fcn:ntcsao cornbate ao com unis mo.

d) 'Iranscricocs de arrigos do jornal "Correio da Sema na".

e) Regisrro de instalacao de associacoes phs.

ARQUIVO PUBLICO DO ESTADO DO CEARAa) Autos de Proccsso Criminal contra 0 fundador do Partido Com unisra em

Camocim, Francisco Tcodoro Rodrigues. 70 p. Anexo ao proccsso urnexemplardo jornal "0 Opedrio". ralvez 0 unico numcro prcscrvado arual­mente. Outro jomal cditado em Camocim. "/\ Razao" tern tambem vdriosntimeros ancxados ;10 proccsso, alern de vdrios rccorres de jornais do Esra­do que den unciam a perscgui~ao fcira a Francisco Theodora.

b) Auto de Habeas-corpus em favor de Petronio dos Santos.

- 119 -

Page 117: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE,'\O MUNDOS DO TRABALHO

ApEI\) - ARQUI VO PUBLICO DO ESTADO DO RIO DE]ANEIRO

FUNDO: OOPS. St,RIE: ESTADOS

a) Pasta 6 CE, 6 A. 6R - Rclacao dos presos au ruados por exercercm atividadcs

extremistas - 1935- I 936.

b) Pasta 16 PI - Proccsso que trara sabre incdndios criminosos na capital

do Piau! -Tercsina, trazendo tam bcm informacoes sabre as comunisras

piauicnses envolvidos nos acomeci mcntos de 1935-6, inclusive f rancisco

Theodo re Rodr igues.

FUN DO: DOl'S. SERlE: pRO NT UARIOS

a) Pronru drio n". 16744: de Francisco T heodoro Rodrigues, conrcndo docu­

mentes como urn diario, pClfa rcacral, artigos, Domes e enderecos de pes­

soas, bolctin s, bandcira, desenhos, foros C ourros documcnros apreendidos

com de no Ceara em 1932.

AN - ARQUIVO NACIONAL

Documcntos do Tribunal de Scguranca Nacional.

a) Proccsso no. 394 . Apelacao 460/vls. 22 . Ano: 1938. Pedro Raimundo de

Lima e outros. Processo relacionado com as at ividadcs extremistas no Cea­

ra, julgados pelo T SN , de varies comunistas do Ceara e, inclusive dos que

tratam sabre 0 chamado "Massacre do Salgadinho". em Camocim.

h) Proccsso nv, 473.Celso Coutinbo (' outros. Origin.trio do Estado do Piauf,

on dc Francisco T heodo ra Rodrig ucs ccnvo lvido nurna tentative de fuga

da Pcui rcnciaria de Teresina.

- 120 .

Page 118: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE~A O MUNDO S DO TRABALHO

1.2. ORAlS

Entrevistas recolhidas pelo autor (gravadas em fita magnetica e

transcritas para 0 papcl) .

16/03/1997Camocimnista

a) Com militantes, ex-militantes comunistas e marianistas

1. Nilo Cordeiro da Silva - militanre comu-

2. GUlOin/I T Cordeiroda Silva - cx-miliranre Camocim 23/0311 997

3. Monsenbor Sabino Loyola- lfder religioso

que cornbarcu 0 cO l11U niS IllO, idealizador

dos comites anti-comunistas.

4. Expedito FerreiraLima - ex -Moco Maria­

no e ferroviar io ap osen rado.

Sobral

Carnocim

27/04/1998

12/0411999

Entrcvistas rccolhidas pelo auror (gravadas ou anoradas)

a) Co m ex-sindicalistas, ex-rnarianisras, aposcntados cia RFFSA e famil iares

de mil iranres com unistas

I . Osmarina Teixeira - ex-sindicalisra

2. Orion M atos de M enezes - cx-Moc o Ma riano

3. Arthur Queiros - Fun cionario publico aposen­tado da RFFSA

4. Va/mir Rocha - ex- Moco Ma riano.

5. Tertuiiano Ferreira de Sousa - ex-sindicalista,

filho de Raimundo Vemclho

6. Jose Ferreira de Sousa - opedrio. sobrcvivenrcdo "M assacre do Salgadinho" e filho de Raimun­

do Vcrmelho.

7. fOlio Ricardo - ex-miliranre comu nista

8. Maria Lenize Rodigues - filha de Francisco

T heodore

Camocim 16/10/1998

Cam ocim 20104/ 1998

Camocim abril11998

Ca moc im abrill1998

Camocim 21/0411 998

Camocim abrill1998

Camocim 0411011999

Fortaleza l11ar~o/ 1999

• 121 •

Page 119: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLECAO MUNOOS DO TRABALHO

1.3. IMPRESSAS

fomais.

Camoeim.

· 0 Operdrio, 13 de julho de 1928 e 18 de janeiro de 1931

, A Razdo, 29 de serembro de 1928

Sobral

• Correio da Sonana. 1934 a 1950.

• A Cuitttra, 14 de julho de 1928.

Fortaleza

· 0 Democrata, maio de 1946 a dczcmbro de 1950.

• Didrio do Nordeste, 04 de setcmbro de 1996.

. 122 -

Page 120: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE ,AO MUNOOS DO TRABA LHO

BIBLIOGRAFIA

BEN]AMIM, w:.l1ter. "Sobrc 0 conceito de hisroria". In: Magirl c tecn ica, arte

c p olil iea: cnsaios sabre iiteratura e historia da cultura. 4", ed, Sao Paulo:

Brasilicnsc (Obras cscolh idas, v.l), s/d, P: 222-232.

___. "0 narrador. C onsidcracoes sabre a obra de Nikolai Lcskov". In:

Magia e trcnica, arte epolttica: ensaios sabrea literatura c his/aria da cul­

tura. 4'. cd. Sao Paulo: Brasiliense (Obras escolhidas, v. J) . sid.

BLOCH, Marc. bztrodll fflo it His/orin. Publicacecs Europa-America (Colccao

Saber). sid.

BOBBIO. Norberto. Direita e Esquerda. Ras/es e siplijictUkJS de uma distinoio

politica. Trad.: Marco Aurelio Nogueira. Sao Paulo: Editora UNESp, 1995.

BOSI, Eclea. Memoria e sociedade: lembranca de uelbos. Sao Paulo: Compan ­

hia das Lcrras , 1994.

BRANOAO. Gildo Marcil. A Esquerda Positiva. As duasalmasdo Partido

Cornunista » 1920/1964. Siio Paulo: Hucirec, 1997.

BRESCIAN I. Ma ria Stela M. "Cidade : Espaco e Memoria". In: 0 direito ,/

memoria: patrimdnio bistorico e cidadania. Sao Paulo: DPH, Prefeirura

Municipal. 1992 .

BURKE, Peter. A Revolurlio Francesa da Historiogmfia: a Escola dos Annales

(1929- 1989). Sao Paulo: Edirora UNES1~ 199 1.

_ _ _ . (org.). A escrita da hisioria: 110VlZS perspectivas. Sao Paulo: Edi to ra

UN ESP. 1992 .

. 12 3 -

Page 121: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(O lE(A O MUN OOS DO TRABAl HO

CAMARGO, Aspasia er alii. agolpe silencioso: asorigem da repub/ica corpora­

tiua. Rio de janeiro: Ed. Rio Fundo, 1989.

CARONE, Edgar. aPCB: 1934-1964. Sao Paulo: DlFEL, 1982, vol. 2.

_ _ _ . Brasil- alios de crise. 1930-1945. Sao Paulo: Atica, 1991.

_ _ _ ' Socialismo e anarquismo no inicio rio seculo. Pecr6polis: Vozcs,

1996.

CARVALHO. Cid Vasconcelos de. 0 Trem de Camocim: modemizaoio e

memoria. Universidade Federal do Ceara. Departamento de Ciencias

Sociais. Programa de Pos-Graduacao em Socio logia. Disscrtacao de

Mestrado. Portaleza-Cfi, 2001.

CAVALCAN'i"E, Berenice. Certeeas e ilusoes: os cornunistas e a rodemocratiza­

,ao dasociedade brasileira. Nircroi: EDUH/PROED, 1986.

CALVACANTl BARROS, Luitgarde (org.). Octdoio Branddo: centenario de

urn militante 1/0 Rio deJaneiro. Rio de Janeiro: UERJI Arquivo Publico

do Estado do Rio de Janeiro, 1996.

CHARTIER, Roger. A historia cultural: entreprdticas e representaiiics. Lisbon:

DIFEL, sid.

DECCA, Edgar S. de. 1930: 0 silincio dos tencidos: memoria, historia e eu­

olUfao. Ga. ed. Sao Paulo: Brasiliense, 1994.

__. ''As dcsavencas da hist6ria com a memoria". In: SILVA, Zelia Lopes.

Cuitura histories em debate. Sao Paulo: Editora UNESP, 1994.

_ _ . "Memoria C cidadania". In: 0 direitoamemoria:patrimonio hisrorica e

cidadania. Sao Paulo: DPH, Prefeitura Municipal, 1992.

- 124 -

Page 122: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

(Ol E,,1,O MUND OS DO TRABA lHO

DEL ROIO, Jose Luiz. 1' . tieMaio - Cern anos tielura. 1886-1986. Sao Paulo:

Global Edirora, 1986.

DUTRA, Eliana. 0 ardii /otalitdrio: imagindrio politico no Brasil dos anos 30.

Rio de Janeiro: Edirora UFRJ, Bdo Horizonte: Edirora UFMG, 1997.

FARIAS, Damido Duque de. Em tkftsa tIa ordnn: "'pmos da Prdxis Consenn­

dora Catolica TID Meio Opm irio em Siio 1',,"10 (I930-1945). Sao Paulo:

H ucirec, 1998.

FENELON, Dea Ribeiro. "Cultura Hisr6ricae social: hisroriografia e pesqui­

sa: In: Projrto Historia. Revisra do Programa de Esrudos de Pos-Gradua­

dos em Hist6ria e do De partamento de Hist6ria da PUC-SP (Pontiflcia

Universidade Carolica de Sao Paulo). Sao Paulo, n. 10, dcz. 1993.

FERREIRA, Maricra de Moraes & AMADO, Janalna (orgs.). Usos e abusos da

histdria oml. RiodeJaneiro: Edirorada Fundacic Genllio Vargas, 1996.

FOUCAUI:C Michel.A microftsica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

GINZBURG, Carlo. MilOS. onblemas esinais: marfa/agia ebistoria. Sao Paulo:

Companhia das Lerras, 1991.

GOMES, Angela Maria de Castro. Burguesia e trabalho: Politica e kgislariio

social TID Brasil (I917-1937). Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1979.

_ _ _ . A blvm fiiodo Trabalhismo. 2.1. ed, Rio de Janeiro: Rclumc Dumard,

1994.

HonSBAWN, Eric. Mundos do TTabalho: novas a tudos sabrehiuoria operdria.

2'. ed, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

_ _ _ . Em dos extremos. a brevesimloxx. 1914-1999. Trad.: MarcosSan­

rarrita. Zs.cd, Sao Paulo: Companhia das Lerras. 1995.

- 1 25 .

Page 123: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLECAO MUNDOS DO TR AB ALHO

_ __" "A Du tra bisrc ria: algumas reflexoes". In: KRANTZ, Frederick

(org.). A outm historia: ideo!ogia ep rotaro popular 1101 slcll/os XVlI-XlX

Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

HUNT, Lynn. A n 0 1Jd biudria cultural. Sao Paulo: Martins Fontes. 1992.

I.E GOFF, Jacques. Histdria e memoria. Ca mpinas: Edirora da UNICAMI~

1994.

MARIAN I, Bethania. 0 PCB r a imprensa: os comunistas 110 imagindrio dos

jornais: 1922-1989. Rio de Janeiro: Rcvan/ Cam pinas: Editor. da UN 1­

CAMp, 199 8.

MONTENEGRO, Abelardo F. Ospartidospoliticos I/O Ceard. Fortaleza: Ed­

i, 6es UFC, 19880.

MONTENEGRO, AntonioTorres. Histdria orale memoria: II culturapopu­

lar reuisitada. Sao Paulo: Conrcxro, 1992.

MEI HY,Jose'Carlos Sebe B. Manualde historia oral. Sao Paulo: Edicoes Loy­

ola, 1996 .

N O CA. Francisco Wi lson . Sermses, matracas ealcatrdo. Religiosos e comunistas

na [uta pelopoder. Forraleza: Fundacao Cu ltural de Forraleza 1996 .

NORA, Pierre. "Entre memoria c hisror ia: a problemdrica dos lugares."In:

Projeto Historia. Revista do Programa de Esrudos dos P6s-Graduados

em Historia e do Departamento de H isrc ria da PUC-SP, Sao Paulo,

n.IO, 1993.

O LIVEIRA. Andre Freta de. A EstradadeFerrodeSobml. Portalcza: Express.io

Gdfica c Edi tora, 1994.

- 126 -

Page 124: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLECAO MUN OOS DO TRA BALH O

PAOLI, Maria Celia. "Memo ria, hisrorin c eidadania: 0 dircito no pnssado".

In: 0 direito a memoria: patrimonio bistorico e cidadania. Sao Paulo:

OPH, Prcfcitura Municipal , 1992.

PASSERI NI, Luisa. "M irobiografia em hisr6ria o ral."In: Projeto Historia. Rc

vista do Programa de Escudos Pos-Graduados em Hi storia e do Dcpar ­

ramenro de Hisr6ri a da PUC-Sp, Sao Paulo.: n. 10, dcz. 1993.

PECHMAN, Robert Moses (org.). Olharessobre11cidade. Rio de Jane iro: Ed.

UFRJ,1994.

PESSANHA, Elina Gon,al\'es da & NASCIMENTO, Regina Helena Malta .

Partido Comunista Bmsileiro. Caminhos da relloltlrfio (1929-1935). Rio

de Jan eiro: UFRJ/IFCS/AMORJ, 1995.

POLLACK. Michel. "M emoria, esquecirncnro c silcncio."In: Esntdos Histori­

cos. \'01. 2, 11. 3, Rio de Janeiro: C PDOClFGV, 1989.

PORTELLI , Alessandro. "Son hos ucrcni cos: mcmo rias c possfvcis mundos

dos trabalhadores" In: Projeto Historin. Sao Paulo, n. lO, dcz. 1993.

____..A marte de Luigi 7iwllIlli e (Jutras historias: Forma e significado 1111

historia oral. Mimeo, sid.

___' "0 que faza histo ria oral diferenrc". In: Projeto Historia. Revista do

Programa de Estudos P6s-Graduados em Historia c do Departamento

de Hisr6ria da PU C- SP (Ponri ffcia Universidade Carolica de Sao Paulo).

Sao Paulo, n. 14, fev. 1997.

PREST ES, Ani ta Leocid ia. Luie Carlos Prestes e 11Alill/Ifll Nacional Liberta­

dora. as caminhos ria luta lIl/tijascista no Brasil (J 934/35). Petr6polis:

Vozes, 1997.

. 1 2 / .

Page 125: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE, AO MUNO OS 00 TR ABALHO

I'ROJETO HISTORIA. Rcvisra do Programa de Estudos Pos-Craduados em

Hisroria e do Departamento de H istor ia da PUC-Sp, Sao Paulo: n. 12

(D iflogos com E. I~ Thompsoo), out. 1995 .

R~BfRIOUX, Ma deleine . "as lugares da mem oria opcraria". In: a direito

ii memoria:patrimdnio historic» e cidadania. SaoPaulo: DPH, Prcfeitura

Municipal. 1992.

REMOND, Rene. Por uma historia po /lt jC(I . Rio de Janeiro: Editora UFRJI

Edirorn FGV, 1996 .

REV1STA BRASIL EIRA D E H1STORIA. v, 10. n. 20, Sao Paulo: AN I'U HI

Marco Zero. 1991.

RIBEIRO. Francisco Moreira. 0 PCB 110 Ccard: ascrnsiia e dec!fllio 0922­

1947). Forta lcza: Ed icoes UFClS'ylus. 1989.

RON ILK. Raquel . "Historia urbana: hisro ria na cidade!" In: FERNANDES.

Ana & GOMES , Marco Aurelio A. de Figueira (orgs.). Cidade e historia:

modernizacdo tim cidades brasileiras 1I0S seculos XiX e xx. Salvador-RA:

Mestrado em Arquircrura c Urb anismo, Faculdadc de Arquitctura,

UF BA. sid.

SADER, Eder. QUilndo nOlJOSpersOIuzgm s entmram em cena: exp erii ncias e IWIlS

do, trabalhadoresdo gralldeSao Paulo , 1970-1980. 2'. ed, Rio de Janeiro:

Paz e Terra. 199 1.

SAMUEL, Raphael. "H istd ria local e hist6ria o ral." ln : Reoista Brasileira de

Historia, Sao Paulo: ANI'UH/Marco Zero , v.19. n.19, ser.89/fcv.90 . p.

2 19-243.

SFERRA, Giuscppina. Anarquismo e anarcossindicalismo, Sao Paulo: Atica,

1987.

• 128 •

Page 126: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

COLE , AO MUNOO S 00 TRABALHO

SO DRI:, Nelson Werneck. Contribuicao lz iJiItorio do PCB. S50 Paulo: Glo­

bal, 1984.

T HOM PSON, E.I~ A Formacao do Classr Operdria Ingksa. 3 vol. Rio de

Janeiro: Ed. Paz c Terra, 1988.

___" "0 termc uusente: expcriencia" . In:A miseria tid teoria: um planadrio

deerros. Rio deJaneiro: Zahar Edirorcs, 19HI .

THOMSON, Alistair. Desconstruindo a memoria: qucstOes sobrr as re/a(6es de

historia oral e recordil(fio. Comunicacao proferida 113 Confcrcncin Bra­

sileira de Hist6ria Oral; "H isrdria oral c dtica". Sao Paulo. 1995.

"Una cnrrevista com E. P. T hompsom". In: Tmdicion. revue/ill e consciencia de

ciase. Estudiossob" In crisis de Insociedadpreindustrial. 3a. cd. Barcelo na:

Editorial Cririca, 1989, p. 294-3 17.

VIEIRA, Maria do Pilar et alii. A pesquisa em his/aria. Sao Paulo: Atka.

1989.

WILLIANS, Raymond. "Cultura". In: Marxism» e literatura. Rio de Janeiro:

Zahar Ed., 1979.

ZAIDAN FILHO , M ichel. PCR (1922-1929). Na busca das origms de 11111

marxismo nacional. Sao Paulo: Global, 1985.

- 129 .

Page 127: CIDADE VERMELHA. A MILITÂNCIA COMUNISTA NOS ESPAÇOS DO TRABALHO. CAMOCIM-CE (1927-1950)

Banco doNordesteSUP£RlNTENDlNCIA DE l OGtsTJCA

Amb lfHIt. de Rf/Cursos logisllcosatul. de ProdUfdo GraficaOS 2001-021 1.184 ·Tlr.gem: 1.000