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CIDADE PLANEJADA E O ESCOAMENTO PLUVIAL: O CASO DA AVENIDA LONDRINA EM SARANDI-PARANÁ Iara Schnaider Bortolotto 1 RESUMO Sarandi é uma cidade nova, se localiza no Norte do estado do Paraná, região colonizada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, foi traçada pela companhia em 1948, segundo um esquema britânico de planejamento territorial. No contexto desta cidade planejada, a avenida Londrina se caracterizou como uma das principais vias urbanas e funciona como o eixo estruturador da cidade até os dias de hoje. O plano implantado inicialmente teve a preocupação com o abastecimento e escoamento da água, o que fora esquecido mais tarde. A posição dos planos sanitaristas parece ser deixada de lado por um momento, e a cidade parece evoluir com baixa qualidade de vida proporcionada à população. Toda a cidade sofre com a falta de infra-estrutura, assim, este se torna oportuno por demonstrar o estado atual em que se encontra o escoamento de água pluvial da Avenida Londrina em Sarandi, e conscientizar tanto o gestor quanto o profissional a olhar e zelar por sua cidade, por meio de espaços com salubridade, pois esta avenida se insere na parte central da mesma, e é ali que se formam as imagens que dão identidade a cidade. Com isso o objetivo deste é analisar como se comporta o escoamento de água pluvial da avenida Londrina. Finaliza-se com o resultado da falta de dissipador para deságüe das águas e a degradação deste espaço no destino final, com a presença de erosão e lixo doméstico. Palavras-chave: Infra-estrutura. Águas pluviais. Boca-de-lobo. 1 Arquiteta e Urbanista, Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-PEU, [email protected]

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CIDADE PLANEJADA E O ESCOAMENTO PLUVIAL: O CASO DA AVENIDA LONDRINA EM SARANDI-PARANÁ

Iara Schnaider Bortolotto 1 RESUMO Sarandi é uma cidade nova, se localiza no Norte do estado do Paraná, região colonizada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, foi traçada pela companhia em 1948, segundo um esquema britânico de planejamento territorial. No contexto desta cidade planejada, a avenida Londrina se caracterizou como uma das principais vias urbanas e funciona como o eixo estruturador da cidade até os dias de hoje. O plano implantado inicialmente teve a preocupação com o abastecimento e escoamento da água, o que fora esquecido mais tarde. A posição dos planos sanitaristas parece ser deixada de lado por um momento, e a cidade parece evoluir com baixa qualidade de vida proporcionada à população. Toda a cidade sofre com a falta de infra-estrutura, assim, este se torna oportuno por demonstrar o estado atual em que se encontra o escoamento de água pluvial da Avenida Londrina em Sarandi, e conscientizar tanto o gestor quanto o profissional a olhar e zelar por sua cidade, por meio de espaços com salubridade, pois esta avenida se insere na parte central da mesma, e é ali que se formam as imagens que dão identidade a cidade. Com isso o objetivo deste é analisar como se comporta o escoamento de água pluvial da avenida Londrina. Finaliza-se com o resultado da falta de dissipador para deságüe das águas e a degradação deste espaço no destino final, com a presença de erosão e lixo doméstico. Palavras-chave: Infra-estrutura. Águas pluviais. Boca-de-lobo.

1 Arquiteta e Urbanista, Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação

em Engenharia Urbana-PEU, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO Sarandi é fruto do processo de colonização sistemática e de urbanização deliberada que uma

companhia inglesa implantou no norte do estado do Paraná e que a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) levou adiante (REGO; MENEGUETTI, 2008).

Desta forma tanto o desenho urbano como as diretrizes de planejamento urbano e territorial de Sarandi, foram traçadas pelos ingleses. Estas diretrizes podem ser percebidas por meio da implantação das novas formas urbanas ao longo da ferrovia em expansão, posicionadas sobre a linha de cumeada principal, com certos pontos fundamentais de implantação, como: o relevo, os cursos d´água, a linha férrea e as estradas de rodagem.

A forma urbana das novas cidades fundadas pelos ingleses era composta por um traçado regular, que se adaptava à topografia. Nesta malha regular se inseriam elementos de destaque como: a praça central, demarcando o centro da cidade; a praça diante da estação ferroviária; os equipamentos urbanos estrategicamente posicionados, em especial o cemitério, o campo de esportes, a igreja e o grupo escolar. O desenho de Sarandi não escapa desta modelo (REGO; MENEGUETTI, 2006).

Destacam-se nesta malha ortogonal inicial duas vias principais, a Avenida Londrina e a Avenida Maringá, que até hoje funcionam como eixos da cidade.

Além disso, ao invés do núcleo com comércio e edifícios públicos se locar no centro geométrico da cidade, este alastrou-se ao longo de uma avenida. E, curiosamente, no caso não foi a avenida que servia de ligação entre as cidades vizinhas e, sim, foi ao longo da Avenida Londrina que o comércio se estabeleceu. (Figura 1).

Figura 1 - Planta original e planta atual de Sarandi, ao centro da planta se percebe o traçado

original da cidade, a ortogonalidade se mantém, mas o resto da cidade possui morfologia diferenciada da original

Fonte: Prefeitura Municipal de Sarandi, modificado pela autora, 2008 Sem um planejamento de expansão e sem políticas habitacionais, o crescimento urbano de

Sarandi não respeita o esquema da forma urbana original nem atende questões estéticas, ambientais e higiênicas de uma boa cidade. Desta forma, Sarandi, uma cidade originalmente planejada, passou por uma urbanização desequilibrada e perdeu muito da sua característica original.

Este artigo tem o objetivo de analisar o escoamento pluvial da Avenida Londrina do município de Sarandi, Paraná, e locar os elementos que compõe este sistema. Este torna-se oportuno, vez que a maioria dos municípios planejados pela citada Companhia apresenta a priori o mesmo eixo de estruturação. No entanto, em Sarandi este eixo além de concentrar a maior parte das

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atividades no município, ainda concentra comércio e lazer, e não possui infra-estrutura adequada para comportar todos os serviços, comércios e outros que se desenrolam ao longo deste.

Para isso, serão seguidas algumas etapas de levantamento e coleta de dados. Em um primeiro momento foi feito a revisão de literatura, após isso se iniciam as visitas em campo com a aplicação de ficha de coleta de dados. Após obtenção de mapas do desenho da cidade e da infra-estrutura existente, por meio da prefeitura municipal de Sarandi, as informações coletadas foram analisadas. As informações foram comparadas pelos dados fornecidos pelo DAE (Departamento de água e esgoto de Sarandi). O diagnóstico se dará através de croqui ilustrativo, onde será pontuado e localizado todas as boca-de-lobo e o destino final das águas pluviais. E por fim tem-se os resultados e conclusões desta pesquisa que busca verificar a infra-estrutura, aqui representada pelas galerias de águas pluviais, existente na Avenida Londrina. 2. O ESCOAMENTO PLUVIAL

A rede de infra-estrutura é a parte de maior importância no parcelamento do solo, pois são elas que possibilitam o uso do espaço, e assim se transforma em elemento que pode associar-se entre si com a forma, função e estrutura. Então as redes de infra-estrutura podem ser divididas devido as suas funções, assim tem-se:

sistema viário, é a rede de circulação que recebe veículos, bicicletas, pedestres e outros. Este conjunto é complementado pela rede de drenagem pluvial, evitando assim que as vias sejam alagadas, devendo ter maior preocupação por ser o mais caro e estar vinculado aos usuários;

“Rua é espécie de via urbana de uma só pista de rolamento, com uma ou duas mãos de trânsito, que dá acesso a lotes edificados ou não e tem como função secundária a coleta ou distribuição do tráfego de veículos” (FERRARI, 2004,p.328).

sistema sanitário, é formado pela rede de água potável e rede de esgoto. Assim deve-se evitar a infiltração de resíduos ao subsolo evitando doenças infecciosas. A rede de abastecimento de água trabalha sobre pressão e a de esgoto com a força da gravidade;

sistema energético, este pode se dividir em dois: rede de energia e rede de gás, pois são limpas e bem econômicas. Esta acaba por iluminar locais movimentados, de forma aérea ou subterrânea, esta última encarece o preço da obra;

sistema de comunicação, este podem ser: rede de telefone, televisão por cabo, ou até mesmo correio pneumático (MASCARÓ, 2005).

A infra-estrutura de uma cidade se resume a: pavimentação das vias; sistema de esgotamento sanitário; galerias de águas pluviais e abastecimento de água. A rua abriga toda a infra-estrutura existente de cada espaço. Ela é responsável pelo tráfego da cidade, ou seja, pela circulação de veículos e pedestres. Nas calçadas da via pode acontecer assim como na praça toda a vida social da população. Local inóspito ao convívio não atrai os habitantes muito menos cria vínculos entre as pessoas, para tanto a cidade deve ser bem planejada e muito bem estruturada. Para isso é preciso que o poder público fiscalize para que a estrutura básica seja proporcionada a população em todo o conjunto da cidade.

MASCARÓ (1989) expõe que os elementos que compõem a drenagem são: meio-fio, sarjeta e sarjetão. Assim a rede de tubulação e o sistema de captação possuem os seguintes elementos: poços de visita, boca-de-lobo, além de conduto de ligação, caixas de ligação e as galerias. Deve observar que a boca-de-lobo e a sarjeta têm o objetivo de receber e conduzir as águas coletadas para o Sistema de Captação.

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O sistema de drenagem de águas pluviais é constituído e pode ser simplificado nas seguintes partes:

vias pavimentadas, guias e sarjetas; boca-de lobo- capta horizontalmente a água; grelha - localizada na sarjeta, funciona como retenção de materiais grosseiros que

não deveriam ir para o sistema pluvial; caixas de passagem ou de ligação - permite a conexão de galerias com os tubos de

ligação ou destinadas a inserir um rebaixo no gride da galeria; sistema coletor ou sistema de galerias - canalizações principais e secundárias

destinadas a conduzir as águas pluviais para pontos convenientemente determinados; poços de visita - dispositivos localizados em pontos convenientes do sistema coletor

com finalidade de permitir a inspeção e limpeza das canalizações (GUIMARÃES, 2004; MASCARÓ, 2003).

As vias pavimentadas são compostas de meio-fio, sarjeta e sarjetões, que se encontram entre o leito carroçável e o passeio da vias. Estes permitem a condução da água. Assim o meio-fio é constituído de pedra ou concreto pré-moldado, e disposto paralelamente ao eixo da rua entre o passeio e o leito carroçável. Já as sarjetas, são faixas do leito das vias, constituídos de concreto pré-moldado “in loco” ou não. Da mesma forma, os sarjetões são calhas construídas do mesmo material das sarjetas, apresentando formato de “V” e situam - se nos cruzamentos das vias, afim de dirigir o fluxo de água no cruzamento (MASCARÓ, 1989).

O outro componente como a boca–de–lobo, são caixas de captação de água, e tem função de captar as águas pluviais de escoamento superficial e conduzi-las ao interior das galerias. A figura abaixo ilustra alguns exemplos de boca-de-lobo.

Figura 2 - Detalhe das bocas de lobo, a letra A é a utilizada em Sarandi

A D

B E

C F

Fonte: MASCARÓ, 1989 O esquema A, é o que se observa na Avenida Londrina em Sarandi. As letras A e D

correspondem ao Sistema de captação lateral, este se localiza rebaixado a 15 cm, e auxilia na vazão da água junto a sarjeta e ao meio–fio. As letras B e E, exemplificam o sistema vertical, que pode ser de ferro ou concreto armado. Este tipo de boca–de–lobo pode estar ou não em cota inferior a sarjeta. Os esquemas C e F representam o sistema combinado, já que ele combina o sistema vertical e horizontal de captação (MASCARÓ, 1989).

Com isso cada esquema acima serve para um caso, ou para um volume de captação de água. Além deste volume de água captado, ainda tem-se o espaçamento entre as bocas-de-lobo. Este espaçamento esta ligado diretamente a metragem quadrada da via, a qual varia de 300 a 800m2 de

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via. O tamanho das quadras variam, as mais comuns são as de 100X100 ou 120X120m, conhecidas como malhas quadradas, o que resulta em espaçamento de 40 a 100 metros entre as bocas-de-lobo (MASCARÓ, 2005).

Os condutos de ligação são ductos que captam água de uma boca-de-lobo e as conduzem até uma caixa de ligação, a um poço de visita ou até mesmo a outra boca-de-lobo. As caixas de ligação têm a função de unir os condutos de ligação às galerias ou ainda conectar os próprios condutos de ligação para reuní-los em um único ponto. Os poços de visita devem ter altura de 2,00 metros e diâmetro de 0,60 metros, o que permite o acesso aos condutos para limpeza e inspeção.

Desta forma quando se fala em galerias de águas pluviais o primeiro ponto a se abordar deve ser o dimensionamento do diâmetro da tubulação, este varia conforme o clima do local, tipo de bacia e o tipo de urbanização. Isso quer dizer, a quantidade de chuva e os períodos de chuvas da área a ser implantado o sistema de escoamento pluvial. Neste sentido a qualidade desta água captada vai depender: da limpeza urbana, da varrição e freqüência das vias; da intensidade e da precipitação, do tipo de uso e ocupação da área, e outros fatores (TUCCI, no prelo).

Esta preocupação com o dimensionamento do sistema de escoamento pluvial deve ser implantado de forma correta, pois a urbanização em locais que não são propícios a ocupação, podem facilitar enchentes nestes locais. Estas enchentes são favorecidas devido ao parcelamento do solo, que resulta na impermeabilização das superfícies; a ocupação de áreas ribeirinhas (várzea áreas de inundação freqüente e alagadiças) e a obstrução de canalizações por detritos eliminados pela população (PÔMPEO, 2008).

“A água exerce um papel importante no meio urbano, havendo necessidade de atendimento a demandas diferenciadas, questões relativas à sua qualidade, disponibilidade e escoamento de águas de chuva” (PÔMPEO, 2008, p.03).

Por fim os tipos de pavimento também influenciam na questão da absorção de águas das galerias, e isto está relacionado ao tipo de urbanização. Os tipos de pavimentos podem ser divididos em: flexíveis, semi-flexiveís e rígidos. Os flexíveis são os betuminosos por penetração e por mistura (o asfalto). Já os semi-flexiveís são os colocados a mão (pedra e paver), pavimentos a junta aberta (concregrama), tijolos e solo-cimento. Os rígidos são os concretos “in loco”(MASACARÓ, 2005).

Portanto, o sistema de escoamento pluvial depende do fator urbanização, uso e ocupação do solo, freqüência de limpeza e varrição da via, tipo de resíduo gerado no local, tipo de clima, freqüência das chuvas, tipo de pavimentação e outros. Cada elemento citado acima deve ser levado em consideração quando se planeja esta estrutura e considerado na hora de dimensionar as tubulações que compõe o sistema, não esquecendo que a cidade cresce e evolui, buscando sempre melhorar a qualidade dos espaços devido a expansão urbana. Bem como o tipo de pavimentação que pode facilitar a absorção das chuvas sem sobrecarregar as estruturas subterrâneas. 3. A CIDADE DE SARANDI

No ano de 2007 Sarandi conta com oitenta e cinco loteamentos, sendo que dois novos estão sob estudo a aprovação: o Ouro Verde II e o São José III. Estes bairros que surgiram de forma espontânea devido ao êxodo rural, não possuem infra-estrutura ou quando a possuem, não há suporte para o ponto final de destino. Isso ocorre porque Sarandi, sendo limítrofe a Maringá acabou por receber um grande número de moradores, face ao baixo custo das terras. Outro fator de inchaço populacional foi o êxodo rural decorrente dos anos de 1970. Logo a necessidade de criar espaços para morar teve como conseqüência a falta de infra-estrutura.

Em pouco tempo, ocorre o inchaço populacional, e Sarandi se desenvolve rapidamente, sem nenhum tipo de planejamento aparente. Isso resulta na malha urbana desconecta, sem qualidade visual e sem infra-estrutura, que é o aspecto importante no desenvolvimento da cidade, pois gera ambientes agradáveis, além de valorizar o espaço.

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Sarandi possui apenas 3% de esgotamento sanitário com população de aproximadamente 80.000 habitantes, apenas 2400 pessoas dispõem deste sistema. Ainda para agravar a situação estes 3% se concentram na área central e no bairro Ouro Verde, ou seja, região nobre da cidade. A população carente conta com sumidouros, que nem sempre recebem a manutenção ou implantação adequada (IBGE,2007; PREFEITURA MUNICIPAL DE SARANDI, s/d).

Com relação à água para consumo, a captação para distribuição, é feita exclusivamente através de 43 poços tubulares profundos com a desinfecção, por meio de cloração com hipoclorito de sódio, realizado em grande parte com a utilização de hidroejetores e em pequena proporção, com bomba dosadora eletromagnética (PREFEITURA MUNICIPAL DE SARANDI, s/d a).

A distribuição de água tratada, a partir de reservatórios de acumulação, é baixa e em grande parte em marcha e injetada diretamente em rede de distribuição, a partir de água captada em poço tubular. Essa distribuição atende 20.983 ligações individuais, numa extensão de 311.786 metros de rede, com cobertura de aproximadamente 100% dos imóveis urbanos (PREFEITURA MUNICIPAL DE SARANDI, s/d a).

Outro ponto a se abordar quanto à infra-estrutura, é a energia elétrica, totalizando aproximadamente 27000 consumidores. A iluminação das vias públicas, às vezes, sofre prejuízo pelo uso inadequado dos tipos de lâmpadas (abaixo da potência adequada), e pelo conflito entre a arborização pública e a altura das luminárias instaladas nos postes. Predominam hoje, nas vias públicas, as lâmpadas de vapor de mercúrio (VM) nas potências de 80 e 125 Watts; as lâmpadas de vapor de sódio (VS) de 70, 100, 250 e 400 Watts; as lâmpadas de vapor metálico de 400 Watts (PREFEITURA MUNICIPAL DE SARANDI, 2007(no prelo); IPARDES, 2008).

Outro ponto de fragilidade identificado nas áreas do Município de Sarandi é a rede de captação de águas pluviais, inexistente em muitas ruas da cidade, as que existem deságuam no meio de bairros causando erosões. Este é o tema da análise a seguir, que foca no escoamento pluvial a Avenida Londrina. Nota-se no desenho do patrimônio de Sarandi, na grafia atual, a presença de uma via estruturadora, de grande importância, pois dá acesso a cidade e faz a ligação leste/oeste (a Avenida Londrina).

Diante das fragilidades do município apresentadas acima percebe-se o descaso com a cidade e seu desenvolvimento. A avenida Londrina é apenas uma via da cidade onde esta falta de estrutura é marcante. Apesar de todo o plano inicial de implantação de cidade e da locação próximo as águas, este se perdeu com o tempo. O escoamento de água pluvial do estudo pode ser percebida conforme croqui abaixo. Este é um esquema da situação atual da avenida Londrina e das vias paralelas e perpendiculares a ela.

Figura 3 - Mapa da infra-estrutura existente na Avenida Londrina

Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá, 2007

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A figura a seguir delimita a área comercial da área residencial da avenida Londrina, a qual recebe um tratamento de pavimentação diferenciado.

Figura 4 - Imagem aérea da Avenida Londrina mostrando suas áreas existentes

Fonte: Google Earth, 2007, modificado pela autora

A imagem que segue demonstra o tipo de pavimentação da via, e assim onde a avenida se encontra com maior e menor área permeável devido a pavimentação.

Figura 5 - Detalhe da Avenida Londrina na área comercial pavimentada com asfalto, e na

área residencial pavimentada com paralelepípedo Fonte: Acervo da autora, 2007

Neste percurso analisado as áreas permeáveis se resumem a área de implantação das árvores

no passeio público (área comercial), a praça no centro do desenho em forma de losango. A pavimentação da praça é composta de placas de concreto espaçadas entre si e grama. Jardins e canteiros com arborização aumentam a permeabilidade do local. Já a área residencial é pavimentada com paralelepípedo e a linha férrea ao final do percurso permite também maior absorção das águas decorrentes de chuvas e outros.

Assim o perfil da avenida em estudo pode ser verificado na figura a seguir. Este facilita a captação de água devido ao tipo de boca-de-lobo existente no município, que é lateral. O tipo de

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perfil se caracteriza como convencional, e privilegia veículos automotores, devido ao passeio de cada lado da via. Segundo Mascaró (2005) é o mais adequado a avenidas e ruas de penetração, como é o caso da avenida Londrina.

Figura 6 - Detalhe do Corte da via de Sarandi para escoamento das águas pluviais

Fonte: Acervo da autora, 2008

Em relação as bocas-de-lobo, perceber-se a disposição por meio do croqui apresentado abaixo. Elas possuem espaçamento de aproximadamente 100 metros uma da outra (padrão das quadras nesta região), e se posicionam no cruzamento das vias conforme se observa abaixo.

Figura 7 - Croqui demarcando as bocas de lobos existentes na Avenida Londrina

Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá, 2007, modificado pela autora

Após confirmar que nesta parte da avenida Londrina há escoamento pluvial, e demonstrar por meio de croqui a locação das bocas-de-lobo, fica a questão do deságüe de todo este volume de água. O destino final da água provida do escoamento pluvial deságua a céu aberto no bairro Santana. A galeria segue após a linha férrea pela estrada Otávio Colli e desemboca no Santana (ver figura 8).

Figura 8 - Croqui do município de Sarandi, em destaque o local de deságüe das águas

provenientes do escoamento pluvial Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá, 2007, modificado pela autora

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Figura 9 - Detalhe da erosão causada pelo deságüe da galeria da Avenida Londrina

Fonte: Acervo da autora, 2006

Normalmente as águas pluviais são lançadas a céu aberto e sem dissipação de energia(como demonstrado). Conclui-se, então, conforme levantamento em campo que a avenida em estudo não possui dissipador muito menos coleta de lixo, o que pode ser observado na figura acima, devido a quantidade de lixo do local. Nota-se a presença de lixo orgânico e reciclável em meio a erosão. Esta falta de dissipador acarreta a erosão nesta região, tornando-se um problema social e sanitário, pois acabou se tornando depósito de lixo. Este espaço se torna foco de doenças, devido ao lixo depositado, além da demonstração do pouco caso com a população, e a falta de conscientização da mesma. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como conseqüência do processo acelerado de urbanização do sítio, o município possui apenas 3% de esgoto, e a distribuição de água encanada é privilégio de alguns, pois a água potável provêem dos poços (os responsáveis por este é o DAE, Departamento de água e esgoto). Já as galerias de águas pluviais foram implantadas em alguns pontos da cidade, sendo um deles na avenida Londrina, mas seu destino final é o deságüe no meio do bairro assim como nos demais pontos da cidade.

Assim a cidade planejada inicialmente pela companhia inglesa seguia padrões urbanísticos de implantação, o qual buscou adaptar o traçado ao desnível do sítio, locando as cidades próximas a áreas que facilitasse o abastecimento e o escoamento da água, parece ser esquecida. Nota-se o descaso com as diretrizes do desenho urbano, ou seja, a falta de continuidade das vias, que resulta no encarecimento da infra-estrutura, e principalmente do escoamento pluvial. O que acarreta na falta de planejamento para o destino final das águas decorrentes da chuva e até mesmo das águas servidas.

As águas das chuvas são lançadas a céu aberto, causando a erosão. Esta erosão por sua vez atrai a população a jogar lixo doméstico neste espaço. Este lixo doméstico atrai roedores, moscas e mosquitos, tornando-se foco de proliferação de doenças infecto contagiosas como dengue, leptospirose e outras.

Então para propor o sistema de drenagem pluvial, deve-se conhecer a paisagem do local, ou seja, a altimetria, os rios e as nascentes, por se tornar estratégia para controle de problemas futuros. Conhecer os efeitos do processo de urbanização, aqui entende-se o uso e ocupação do solo, vias pavimentadas e falta de permeabilidade do solo, sobre todo o aparelho urbano relativo a recursos hídricos. Considerar também os aspectos básicos do ciclo da água, como: a infiltração no tipo de solo e o aumento da temperatura no meio urbano devido ao alto índice de impermeabilização. Por

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fim, a qualidade da água superficial e subterrânea, e o tipo de clima. Já que nos climas tropicais a freqüência de chuvas é maior que no clima subtropical. Estes são os fatores primordiais para análise antes da implantação do sistema de escoamento pluvial.

Outro ponto a se ponderar na hora de urbanizar o espaço são as áreas permeáveis da cidade, conforme citado anteriormente, se limita a área ao redor da arborização urbana e o calçamento em paralelepípedo da área residencial. Esta área poderia ser ampliada com calçadas em paver na área central, e a calçada ecológica na área residencial.

Desta forma, o correto para a região seria canalizar o volume de água coletado, como ocorre com a água captada que vai para a Br 376. Assim evita-se erosão, poluição, acumulo de lixo doméstico e desmoronamento de terra.

Figura 10 - Detalhe do dissipador ao longo da BR 376 e a canalização desta água no meio

urbano Fonte: Acervo da autora, 2006

A priori o objetivo deste foi alcançado, pois se analisou o escoamento de água pluvial

existente na avenida Londrina, além do levantamento em campo a partir dos elementos apontados por Mascaró(1989), que a nível superficial são: os meios-fios, sarjetas e as bocas-de-lobo. O resultado deste levantamento em campo foi demonstrado por meio de croqui ilustrativos conform figura 7.

O problema do assoreamento de terra seria resolvido com a simples continuidade do sistema de escoamento pluvial até o ribeirão mais próximo. A erosão poderia ser resolvida por meio de uma restauração ou revitalização da área degrada, mas este seria outro ponto a se abordar.

Portanto o objetivo deste foi analisar o estado em que se encontra parte do sistema de infra-estrutura da cidade, o escoamento pluvial. Assim levantar os olhares para esta cidade como um todo, que parece ter esquecido sua história de planos e planejamentos. Cabe aos gestores e aos profissionais impedir que isso continue acontecendo nos municípios. Isso é possível por meio de um planejamento consciente, sem agredir o meio ambiente. Os profissionais podem analisar a melhor área para implantação de novos loteamentos, e evitar a implantação sem a infra-estrutura que rege a higiene, o desenvolvimento e a qualidade de vida.

Cabe ressaltar então que planejar o crescimento da cidade, e os elementos advindos dela, como a infra-estrutura, não é uma questão de bom senso apenas, mas de qualidade de vida, de higiene e de humanidade.

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AGRADECIMENTOS Ao meu filho Gustavo que foi fonte de minha inspiração e determinação para finalizar este

trabalho, e ao meu noivo Cesar, que esteve ao meu lado mesmo que distante, e aos amigos que colaboraram e estiveram por perto em mais esta etapa. REFERÊNCIAS

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