cidade e ambiente
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ambiente e sustentabilidadeTRANSCRIPT
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Cidades e Ambiente
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Cidades e Ambiente
1. A Cidade
1.1 Conceito actual
O conceito de cidade tem variado ao longo do tempo e est longe de ser
consensual em termos internacionais.
O termo "cidade" geralmente utilizado para designar uma dada entidade
poltico-administrativa urbanizada, tendo por base distintos critrios,
nomeadamente:
Critrios Demogrficos
Critrios Funcionais
Critrios Mistos
Neste sentido, estudos mais recentes procuram abordar a cidade a partir de
uma perspectiva mais complexa, associando este conceito observncia de um
conjunto de aspectos, entre os quais se destacam: (1) um determinado
qualitativo populacional formado por indivduos socialmente heterogneos, (2)
uma localizao permanente, (3) uma considervel extenso espacial, (4) um
certo padro de espacialidade e de organizao da propriedade, (5) a
ocorrncia de um certo padro de convivncia, (5) a identificao de um modo
de vida caracterstico dos citadinos, (6) a presena de ocupaes no agrcolas,
(7) a presena de um quantitativo populacional considervel, cujo limiar
redefinido a cada poca da histria, (8) a ocorrncia de uma considervel
densidade populacional, (9) uma abertura externa, (10) uma localidade de
mercado, entre outras caractersticas.
1.2 Evoluo histrica
A cidade ter a sua origem nas antigas povoaes do neoltico, quando
trocado o regime nmada predominante, pelo sedentarismo. A fixao das
tribos e o alvorecer da agricultura permitiu criar determinadas sinergias entre
os habitantes dessas aldeias primordiais favorecendo o trabalho comunitrio
organizado com a obteno de resultados bem mais enriquecedores.
A possibilidade da obteno de excedentes agrcolas como resultado da
implementao de actividade agrcola nos terrenos frteis presentes nas
margens de grandes rios como o Nilo, o Tigre e o Eufrates proporcionou, assim,
o surgimento de comrcio associado troca de bens e ao desenvolvimento de
obras colectivas mais expressivas.
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D-se incio ao desenvolvimento de uma nova economia onde o aumento da
produo agrcola e a concentrao de excedentes nas cidades conduz a um
aumento da populao e de produtos disponveis garantidos pelo domnio
tcnico e militar da cidade sobre o campo.
No decurso do tempo, o desenvolvimento tcnico e cultural permite a
criao de uma nova ordem onde o comrcio desempenha papel fulcral e
onde a cidade se transforma na polis aristocrtica ou democrtica que
caracterizou a civilizao helnica e que ainda hoje constitui a base da cultura
dita ocidental. na organizao desta cidade-estado que se tornou possvel o
extraordinrio avano da literatura, da cincia e das artes e de nova ordem de
pensamento, que se estendeu por toda a poca da Antiguidade Clssica.
O desenvolvimento das cidades sofre novo impulso com o incio da revoluo
industrial em que o trabalho agrcola nos campos substitudo pelo trabalho
operrio nas novas fbricas criadas na envolvente s cidades e povoaes pr-
existentes.
Assiste-se ento a um aumento de populao e de actividade no seio das reas
urbanizadas, sem que tal seja acompanhado de infra-estruturas que permitam
assegurar condies mnimas de salubridade no interior dos novos bairros
operrios, surgindo ento os primeiros registos de problemas de carcter
ambiental associados essencialmente a questes de sade (proliferao de
epidemias) e incomodidade (os primeiros registos de situaes de poluio
atmosfrica em Londres associados queima de carvo com elevado teor de
enxofre).
Desde o alvorecer da revoluo industrial e at aos nossos dias as cidades tm
vindo a ser o centro das actividades polticas, ldicas e culturais, assistindo-se
a uma permanente substituio dos sectores primrio e secundrio, pelo sector
tercirio que actualmente assume, pelo menos no interior das grandes cidades,
actividade quase exclusiva.
A crescente evoluo das actividades citadinas, a cada vez maior concentrao
populacional nas grandes cidades e zonas envolventes e o consumo cada vez
maior de bens promovido pelo sistema capitalista, contrasta com o surgimento
de uma nova conscincia ambiental que se tem vindo a enraizar aos mais
diversos nveis desde a Conferncia do Rio em 1992 e que lana novos e
ambiciosos desafios humanidade.
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2 O Sistema Ambiental
2.1 Consideraes iniciais
No nmero 1 do artigo 5 da Lei n. 11/87 de 7 de Abril, alterada pela Lei n.
13/2002, de 19 de Fevereiro, define-se a qualidade de vida como sendo ()
resultado da interaco de mltiplos factores no funcionamento das sociedades
humanas e traduz-se na situao de bem estar fsico, mental e social e na
satisfao e afirmao culturais, bem como em relaes autnticas entre o
indivduo e a comunidade () dependendo da influncia de um conjunto de
factores que se interrelacionam.
Na alnea a) do nmero 2 do mesmo artigo, apresentado o conceito de
ambiente como tratando-se do () conjunto dos sistemas fsicos, qumicos,
biolgicos e suas relaes e dos factores econmicos, sociais e culturais com
efeito directo ou indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a
qualidade de vida do homem ().
Neste contexto pode entender-se o sistema ambiental como um sistema
dinmico integrando um conjunto de subsistemas que interagem entre si e cujo
equilbrio ser fundamental para se assegurar quer a qualidade de vida do
Homem, quer a sobrevivncia do ecossistema global.
Assim, poder-se- considerar por um lado um sub-sistema natural que relaciona
os trs grandes reservatrios terrestres, solo, gua e ar, e por outro, o sub-
sistema humano onde se incluem os aspectos sociais, culturais e econmicos.
A crescente utilizao de recursos a que se assiste desde a revoluo industrial
e o avano tecnolgico dos ltimos sculos veio demonstrar que os recursos que
a humanidade tem ao seu dispor no so infinitos, podendo a sua depleo
exponencial comprometer a manuteno da vida na terra, pelo menos, nos
moldes em que a conhecemos.
pois fundamental que se garanta o equilbrio entre a utilizao de recursos e
a sua reposio no sistema, no comprometendo, quer em termos
quantitativos, quer em termos qualitativos, a sua sustentabilidade.
Neste contexto, o verdadeiro objectivo da conservao dos recursos encerra
uma dupla vertente, ou seja, por um lado assegurar a preservao de um
ambiente de qualidade que garanta tanto as necessidades estticas e de
recreio como as de produtos, e por outro lado assegurar uma produo
contnua de plantas, animais e materiais teis, mediante o estabelecimento de
um ciclo equilibrado de colheita e renovao.
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2.2 O solo
O solo constitui a interface entre a terra, o ar e a gua e aloja a maior parte da
biosfera, uma vez que constitudo por material no consolidado, mineral ou
orgnico, existente superfcie da terra e que serve de meio natural para o
crescimento das plantas.
Trata-se de um recurso que tem vindo a ser explorado desde o neoltico como
suporte da actividade agrcola primria.
A crescente evoluo da populao mundial tem solicitado tambm uma maior
utilizao de solo para produo agrcola de forma a permitir o sustento de
cada vez maior nmero de indivduos. A converso de tcnicas agrcolas
tradicionais para regimes de produo intensivos tem criado dificuldades na
manuteno da qualidade dos solos, diminuindo progressivamente a
produtividade destes, na medida em que conduz a uma diminuio da matria
orgnica disponvel e consequentemente da biodiversidade associada.
Outras actividades humanas tm tambm contribudo para a degradao do
solo ou mesmo para a sua aniquilao, nomeadamente as seguintes:
A extraco de recursos minerais (pedreiras, minas, etc) que, ou implicam a
remoo total do solo, ou deixam-no sujeito aco directa dos agentes
erosivos (gua e vento);
A criao de zonas impermeabilizadas de suporte a infra-estruturas
construdas;
A utilizao de maquinaria e circulao de veculos em vias no
impermeabilizadas que conduzem compactao do solo e
consequentemente perda das suas qualidades como suporte de vida.
A criao de zonas de instabilidade de vertentes que conduzem ao
deslizamento de terras e consequente perda de solo.
A utilizao do solo como meio receptor de descargas pontuais e difusas de
efluentes, resduos ou por utilizao de produtos qumicos de modo
desordenado (por exemplo pesticidas, nitratos, etc).
O solo um recurso vital para a humanidade e dele depende 99% da produo
de biomassa e muitos outros servios.
Trata-se de um recurso que se forma muito lentamente (~1 cm/100 anos) e que
se pode degradar muito rapidamente (minutos a poucos anos), sendo por isso,
escala de tempo da vida humana, um recurso natural no renovvel.
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2.3 A gua
A gua o recurso natural terrestre mais abundante, cobrindo cerca de 71 % da
superfcie terrestre. Contudo, apenas 1% da gua presente no planeta gua
doce, utilizvel para suprir as necessidades de abastecimento, rega, e
utilizao industrial.
Ao longo do tempo, as diferentes massas de gua tm servido no apenas como
fonte de abastecimento, mas tambm como receptculo de descargas de
efluentes e resduos, quer domsticos, quer industriais. A constante utilizao
desregrada de recursos hdricos tem, em diversos casos, conduzido morte
de massas de gua ou sua degradao em nveis que comprometem a sua
utilizao para a maior parte dos usos, sendo nestes casos um problema no
mbito da salvaguarda da sade pblica. So disso exemplo, os rios Citarum
(Indonsia), Yamuna e Ganges (ndia) e Karachay (Rssia).
Sendo a gua um recurso essencial manuteno da vida na terra, a sua
salvaguarda tem sido objecto de legislao especfica, nomeadamente nos
pases ocidentais. Ao nvel nacional, a preocupao da salvaguarda do recurso
gua manifesta-se na Lei n 58/2005, de 29 de Dezembro de 2005, que traduz
para o direito nacional as orientaes de mbito europeu espelhadas na
Directiva Quadro da gua.
De acordo com o n 1 do artigo 3 da referida lei, estabelecem-se os princpios
orientadores para a preservao do recurso gua, dos quais se destacam os
seguintes:
Princpio do valor social da gua, que consagra o acesso universal gua
para as necessidades humanas bsicas, a custo socialmente aceitvel, e sem
constituir factor de discriminao ou excluso;
Princpio da dimenso ambiental da gua, nos termos do qual se reconhece
a necessidade de um elevado nvel de proteco da gua, de modo a
garantir a sua utilizao sustentvel;
Princpio do valor econmico da gua, por fora do qual se consagra o
reconhecimento da escassez actual ou potencial deste recurso e a
necessidade de garantir a sua utilizao economicamente eficiente, com a
recuperao dos custos dos servios de guas, mesmo em termos ambientais
e de recursos, e tendo por base os princpios do poluidor-pagador e do
utilizador-pagador;
Princpio de gesto integrada das guas e dos ecossistemas aquticos e
terrestres associados e zonas hmidas deles directamente dependentes, por
fora do qual importa desenvolver uma actuao em que se atenda
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simultaneamente a aspectos quantitativos e qualitativos, condio para o
desenvolvimento sustentvel.
2.4 O ar
O ar presente na camada mais prxima da superfcie terrestre (ar troposfrico)
constitudo maioritariamente por azoto (cerca de 78 %) e oxignio (cerca de
21 %) moleculares, sendo a restante fraco composta por um conjunto
diversificado de substncias, algumas das quais consideradas poluentes
atmosfricos tendo em conta os efeitos que provocam na sade humana,
ecossistemas e no balano energtico do planeta.
O oxignio presente no ar utilizado pelos seres vivos no processo de
respirao, permitindo-lhes obter a energia necessria para a sua sobrevivncia
e crescimento.
Dos elementos menos abundantes na troposfera destaca-se a presena do
dixido de carbono, necessrio fotossntese, mas cuja concentrao na
atmosfera tem vindo a crescer de forma acentuada em resultado das
actividades humanas.
A libertao de gases poluentes para a atmosfera pode ter duas origens:
libertao natural resultante de determinados fenmenos como o caso das
erupes vulcnicas, e libertao de origem antropognica resultante das
actividades desenvolvidas pelo homem.
Quanto s primeiras, estas resultam essencialmente da prpria vida do
planeta, constituindo episdios mais ou menos restritos no tempo, garantindo-
se assim a capacidade de regenerao da atmosfera, voltando esta a adquirir
de novo propriedades caractersticas do ar limpo.
No que concerne s emisses antropognicas, destaca-se que estas tm vindo a
aumentar ao longo do tempo, fundamentalmente desde o incio da revoluo
industrial, e em especial aps as ltimas dcadas do sculo XX.
Este aumento de emisses resulta de um conjunto mais ou menos alargado de
actividades humanas, nomeadamente da produo de energia baseada na
queima de combustveis fsseis, transportes, indstria diversa com destaque
para a petroqumica, produo de papel, siderurgia, etc, e actividades agro-
pecurias intensivas.
A degradao contnua da qualidade do ar e o consequente efeito nocivo sobre
a sade humana e ecossistemas conduziu necessidade de elaborar legislao
especfica com vista proteco deste recurso.
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Actualmente em Portugal a gesto da qualidade do ar encontra-se
regulamentada no Decreto-Lei n. 102/2010, de 23 de Setembro, que agrega as
orientaes estabelecidas nas directivas comunitrias sobre esta temtica.
Acessoriamente conta-se tambm com um conjunto de diplomas legais que
estabelecem regras especficas para emisses industriais e critrios de
avaliao das emisses.
No n 2 do artigo 1 do Decreto-Lei n. 102/2010, so estabelecidas medidas
destinadas a atingir um conjunto de objectivos, nomeadamente as seguintes:
Definir e fixar objectivos relativos qualidade do ar ambiente, destinados a
evitar, prevenir ou reduzir os efeitos nocivos para a sade humana e para o
ambiente;
Avaliar, com base em mtodos e critrios comuns, a qualidade do ar
ambiente no territrio nacional;
Obter informao relativa qualidade do ar ambiente, a fim de contribuir
para a reduo da poluio atmosfrica e dos seus efeitos e acompanhar as
tendncias a longo prazo, bem como as melhorias obtidas atravs das
medidas implementadas;
Preservar a qualidade do ar ambiente quando ela seja boa e melhor-la nos
outros casos.
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3 As cidades e o ambiente
O crescimento da populao e a sua concentrao em cidades induz efeitos
sobre o ambiente que se prendem com alteraes sobre os recursos disponveis,
mas tambm introduz um conjunto de benefcios face disperso populacional,
desde que sejam aplicadas medidas de gesto e crescimento adequadas.
Neste contexto apresenta-se e analisa-se em seguida um conjunto de factores
que relacionam a cidade com o meio ambiente que a rodeia e onde se insere,
agrupados em dois grupos principais: factores internos ou intrnsecos pontos
fortes e pontos fracos e factores externos ou externalidades oportunidades e
ameaas.
3.1 Anlise interna
3.1.1 Pontos fortes
A cidade permite concentrar grande nmero de indivduos num territrio
relativamente reduzido face ao que sucederia se a sociedade se organizasse
predominantemente em aglomerados de baixa dimenso.
Este facto permite, de alguma forma, constranger, em termos espaciais, as
alteraes profundas que estes locais impem ao ambiente envolvente,
permitindo ainda manter outro tipo de ocupaes do solo, com elevada
importncia, como o caso da agricultura e manuteno de espaos naturais
protegidos.
Uma vez que nas cidades se encontram concentrados inmeros servios de
apoio s populaes, para alm das sedes dos organismos de deciso, tal
permite uma melhor distribuio dos recursos econmico-sociais, fomentando
igualmente o acesso aos servios de apoio contribuem para uma maior
qualidade de vida das populaes (sade, educao, cultura, apoio social,
servios administrativos, etc.).
A concentrao de infra-estruturas e de populao nas cidades, em associao
com o desenvolvimento cientfico, tem vindo a permitir implementar processos
cada vez mais eficientes, quer de fornecimento de servios (por exemplo
abastecimento de gua, saneamento, energia elctrica, etc), quer de
tratamento das emisses para cada um dos reservatrios ambientais.
Por outro lado, a presena de grande quantitativo populacional convida a uma
participao mais activa na organizao da prpria cidade que conduz
necessidade de melhor planear o crescimento e desenvolvimento do territrio,
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com vista a um ordenamento sustentado dos espaos j afectos cidade, como
das zonas adjacentes a nela incluir.
A estrutura urbana assim construda proporciona ainda o desenvolvimento de
uma identidade associada aos habitantes da cidade, criando-se uma
comunidade capaz de encontrar pontos de ligao, quer entre os indivduos,
quer em relao ao patrimnio cultural e construdo existente, conduzindo ao
interesse pela sua preservao.
A existncia deste patrimnio pode ento ser aproveitada e potenciada para
contribuir para o desenvolvimento econmico local, nomeadamente no que
concerne s actividades tursticas.
3.1.2 Pontos fracos
O crescimento das cidades e a ocupao dos seus coraes por servios
administrativos, sedes de empresas e zonas exclusivamente comerciais, conduz
a um xodo das populaes residentes para as zonas mais perifricas.
A criao de novas zonas residenciais requer a criao de uma maior superfcie
impermeabilizada, quer para a construo de edifcios, quer para a construo
da rede viria associada, com a consequente perda de solo e transformao da
paisagem pr-existente.
O deslocamento de residentes para as zonas limtrofes da cidade impe um
incremento acentuado no movimento de transporte de pessoas e bens de e para
o centro das cidades.
Este facto acompanhado pelo aumento das emisses resultantes do trfego
automvel cada vez mais intenso no interior das cidades e zonas envolventes,
bem como de constrangimentos mobilidade devido ao congestionamento das
vias rodovirias integradas na rede viria, a que se associam importantes
perdas de tempo e aumento do stress.
O acentuado trfego cria ento situaes crnicas e episdicas de poluio
atmosfrica que se repercutem na qualidade de vida e sade das populaes
residentes e nos utentes das cidades.
Os grandes centros urbanos so tambm produtores de elevadas quantidades de
efluentes domsticos lquidos, de contribuem para a degradao do meio
hdrico, seja ele interior ou martimo, uma vez que, embora aps tratamento,
estes efluentes acabam por ser descarregados em rios e oceano, podendo em
determinados casos comprometer outros usos para os recursos hdricos
presentes.
tambm de destacar a elevada produo de resduos slidos provenientes das
mais diversas actividades que tomam lugar na cidade e que necessitam de
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tratamento adequado para evitar a contaminao dos solos ou meio hdrico
devido a descargas indesejveis.
Na medida em que as cidades constituem grandes centros de consumo de bens,
importa ainda destacar que, esses bens no so nela produzidos, uma vez que
nas cidades se concentram as actividades associadas ao sector tercirio e
turismo.
Assim, tambm neste caso se encontram envolvidos grandes custos de
transporte de bens para o interior das cidades como forma de colmatar as
necessidades de abastecimento de produtos. E indissocivel a esse transporte,
mais uma vez, se destacam, as emisses atmosfricas resultantes do trfego de
veculos.
3.2 Anlise externa
3.2.1 Oportunidades
O conhecimento cientfico e o desenvolvimento tecnolgico fornecem
ferramentas para obter maior informao sobre os problemas associados a
meios urbanos e consequentemente tentar encontrar solues satisfatrias para
os mesmos.
Neste enquadramento, surge ento a possibilidade de, por meio de
investigao, e no sentido de obter resultados adequados aos objectivos de
melhoria e manuteno da qualidade do ar e da gua, desenvolver tcnicas de
tratamento mais eficientes e com melhores resultados finais esperados.
O facto de as cidades serem locais com elevada densidade populacional
proporciona o projecto de redes mais eficientes e instalaes de tratamento
mais eficazes, tendo em conta a economia de escala. A obrigatoriedade de
estas instalaes estarem sujeitas a procedimentos de licenciamento e
fiscalizao mais restritivos, permite, priori, garantir melhores resultados em
termos de emisses. Sero disto exemplo as estaes de tratamento de gua
ETA (preparao de gua para abastecimento) e de tratamento de efluentes
ETAR (saneamento de guas residuais).
Os grandes meios urbanos fornecem tambm a oportunidade de experimentar
melhores tcnicas no que respeita recolha e tratamento de resduos slidos,
com particular destaque para os aspectos relacionados com a criao de
recolha diferenciada porta a porta, o que permitir um aumento significativo
em termos de segregao de resduos por tipologia e o respectivo
encaminhamento para circuitos dedicados de tratamento e reciclagem.
Este aspecto reveste-se de uma importncia acrescida na medida em que
permite a recuperao de matria-prima que constituir um recurso escasso no
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futuro, em especial no que concerne recuperao de plsticos elaborados
custa da indstria petroqumica, com dependncia do petrleo.
Em termos do fornecimento de servios (abastecimento de gua, saneamento,
electricidade, etc.), o facto de com menor disperso de segmentos conseguir
suprir as necessidades de um maior nmero de utentes, permite racionalizar os
gastos, quer de construo quer de manuteno dessas mesmas redes,
libertando verbas estruturantes para outros segmentos, como seja a sade e
educao.
A agregao de um conjunto elevado de indivduos abre ainda a perspectiva de
novas potencialidades de negcios, medida das necessidades dos
consumidores.
Desejavelmente as novas necessidades a criar devero privilegiar solues
ambientalmente mais adequadas e sustentadas, nomeadamente ao nvel do
planeamento urbano.
A reconverso de atitudes no sentido do desenvolvimento de uma conscincia
ambiental efectivamente instalada agora uma oportunidade a no esquecer,
na medida em que, possvel concretizar aces de sensibilizao que
cheguem a um nmero cada vez mais significativo de indivduos.
Os instrumentos de planeamento ao dispor, sendo planos dinmicos, permitem
integrar as novas orientaes e melhorar ambientalmente as cidades,
favorecendo a recuperao de instalaes degradadas, melhorando o
planeamento e desempenho das redes de transporte, e proporcionando um
conjunto de espaos verdes de recreio e lazer com vista melhoria da
qualidade de vida das populaes.
3.2.2 Ameaas
A difcil concretizao de uma rede de transportes colectivos que supram de
facto as necessidades dos inmeros utentes uma das grandes problemticas a
realar no planeamento das cidades.
Se esta rede no tiver a capacidade de captar grande parte dos movimentos da
populao, por no ser resposta credvel face s necessidades, esta recorre
utilizao massiva do transporte individual, com grande penalizao para o
ambiente e qualidade de vida das populaes.
Neste ltimo caso, registar-se-o importantes nveis de emisso de poluentes a
partir dos gases de escape que conduziro degradao da qualidade do ar,
nomeadamente em termos episdicos. Considerando que escala mundial
foram assumidos determinados compromissos no que concerne limitao das
emisses atmosfricas, um mau desempenho das redes de transporte pblico
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nas grandes cidades poder significar penalizaes graves em termos
internacionais.
Adicionalmente, estas emisses contribuem para o aumento das concentraes
de gases com efeito de estufa, alterando o equilbrio energtico do planeta na
sua globalidade, e potenciando os fenmenos associados s alteraes
climticas.
Nesta perspectiva, a ocorrncia de fenmenos meteorolgicos extremos
associados a extensas reas impermeabilizadas poder potenciar a ocorrncia
de situaes graves com danos materiais e mesmo humanos considerveis.
Importa destacar que os custos associados a estas ocorrncias tero de ser
distribudos por toda a sociedade e no apenas por um sector que de algum
modo ter contribudo em maior escala para este problema.
Acontecimentos desta natureza podem acarretar graves perdas econmicas em
diversos sectores de actividade, com especial destaque para o turismo e
comrcio.
Ainda no que concerne rede de transportes e eixos virios, destaca-se que a
utilizao de em maior escala do transporte individual d origem a inmeras
situaes de congestionamento da circulao que se traduz nos seguintes
efeitos:
Aumento dos nveis de ansiedade e stress durante perodos de espera mais
prolongada, o que a longo prazo se poder repercutir na sade geral dos
indivduos;
Funcionamento menos eficiente dos motores dos veculos com aumento das
emisses quando a circulao em regime de pra-arranca;
Aumento dos nveis de rudo em meio urbano o que provoca igualmente
incomodidade e consequentemente uma diminuio da qualidade de vida
das populaes.
Mais uma vez, estes efeitos tero um custo econmico e social que ficar a
cargo de toda a populao, no sendo possvel encontrar culpados a quem
cobrar a factura. Em ltima instncia de facto a factura dever pertencer a
quem deficientemente planeia o crescimento e desenvolvimento das cidades.
Outra das ameaas respeita possibilidade de colapso das redes de
abastecimento e instalaes de tratamento. De facto, se estas no forem
concretizadas com base em cenrios fidedignos poder-se- assistir a uma falta
de capacidade destas, com prejuzos graves, quer em termos dos recursos
ambientais, quer mesmo em termos de sade pblica.
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Para alm dos aspectos anteriormente referidos, importa fazer referncia
especulao imobiliria a que se tem verificado ao longo das ltimas dcadas,
favorecendo a criao de cada vez maiores reas construdas e
impermeabilizadas, com sacrifcio de reas ainda naturalizadas.
Adicionalmente, este crescimento acima do previsto pode causar dificuldades
ao nvel da gesto das infra-estruturas colectivas, tornando necessrio outros
tipos de investimentos no antes previstos.
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4 Ambiente urbano sustentvel
O desenvolvimento urbano sustentvel e a integrao dos objectivos nas
estratgias de planeamento e gesto assenta num conjunto de princpios de
desenvolvimento e dos mecanismos necessrios para a sua realizao.
A gesto urbana com vista sustentabilidade essencialmente um processo
poltico que requer planeamento e se repercute na gesto urbana, j que a
manuteno da qualidade de vida e do ambiente dever, mas igualmente
direito de todos os cidados.
O processo de gesto urbana sustentvel requer uma srie de instrumentos
orientados para as dimenses ecolgica, social e econmica com vista a
proporcionar a base necessria para a integrao de todos estes factores de
forma harmoniosa.
A sustentabilidade uma responsabilidade partilhada. A cooperao e parceria
entre diferentes nveis, organizaes e interesses so elementos essenciais da
aco em prol da sustentabilidade. A gesto sustentvel um processo de
aprendizagem, no mbito do qual a partilha de experincias, o trabalho
multidisciplinar, a consulta e participao da comunidade local e o aumento
dos conhecimentos so elementos essenciais.
O desafio da sustentabilidade urbana procurar solucionar tanto os problemas
que as cidades conhecem como os por elas causados, reconhecendo que as
prprias cidades encontram muitas solues potenciais, em vez de os deslocar
para escalas ou localizaes diferentes ou de os transferir para as geraes
futuras.
A gesto sustentvel dos recursos naturais requer uma abordagem integrada
para encerrar os ciclos de recursos naturais, energia e resduos nas cidades.
Os objectivos dessa abordagem devero incluir a reduo do consumo dos
recursos naturais, especialmente dos no renovveis e dos lentamente
renovveis; a reduo da produo de resduos pela reutilizao e reciclagem,
sempre que possvel; a reduo da poluio do ar, do solo e da gua; e o
aumento da proporo das reas naturais e da diversidade biolgica nas
cidades. Estes objectivos sero mais fceis de atingir em pequena escala,
motivo por que os ciclos ecolgicos locais podem ser ideais para a introduo
de polticas mais sustentveis para os sistemas urbanos.
Conseguir uma acessibilidade urbana sustentvel uma etapa essencial para a
melhoria global do ambiente urbano e a manuteno da viabilidade econmica
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das cidades. A realizao dos objectivos em matria de ambiente e de
transportes exige abordagens integradas, que combinem o planeamento dos
transportes, do ambiente e do espao. Para conseguir uma acessibilidade
urbana sustentvel necessrio definir objectivos e indicadores de
sustentabilidade, estabelecer metas e controlos, e concretizar polticas
tendentes a melhorar no s as condies de mobilidade mas tambm a
acessibilidade.
Assim, devero ser procurados objectivos de sustentabilidade pormenorizados,
incluindo o estabelecimento de relaes ecolgicas, uma melhor acessibilidade,
eficincia energtica e participao comunitria.
Finalmente, salienta-se ainda que o planeamento do turismo, do lazer e do
patrimnio cultural devero fazer parte integrante do processo de
ordenamento do territrio.
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5 Bibliografia
Histria da Cidade, Leonardo Benvolo, 1997, Roma.
Lei n 19/2014, de 14 de Abril.
Decreto-Lei n. 102/2010, de 23 de Setembro.
Fundamentos de Ecologia, Eugene Odum, 2001, Lisboa.
Carta das cidades europeias para a sustentabilidade. 1994, Aalborg.
O metabolismo urbano na anlise dos processos de transformao das cidades,
Paulo Pinho, 2011, Industria & Ambiente n. 69, 2011, Porto.