cidade e ambiente

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Cidades e Ambiente

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ambiente e sustentabilidade

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  • Cidades e Ambiente

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    Cidades e Ambiente

    1. A Cidade

    1.1 Conceito actual

    O conceito de cidade tem variado ao longo do tempo e est longe de ser

    consensual em termos internacionais.

    O termo "cidade" geralmente utilizado para designar uma dada entidade

    poltico-administrativa urbanizada, tendo por base distintos critrios,

    nomeadamente:

    Critrios Demogrficos

    Critrios Funcionais

    Critrios Mistos

    Neste sentido, estudos mais recentes procuram abordar a cidade a partir de

    uma perspectiva mais complexa, associando este conceito observncia de um

    conjunto de aspectos, entre os quais se destacam: (1) um determinado

    qualitativo populacional formado por indivduos socialmente heterogneos, (2)

    uma localizao permanente, (3) uma considervel extenso espacial, (4) um

    certo padro de espacialidade e de organizao da propriedade, (5) a

    ocorrncia de um certo padro de convivncia, (5) a identificao de um modo

    de vida caracterstico dos citadinos, (6) a presena de ocupaes no agrcolas,

    (7) a presena de um quantitativo populacional considervel, cujo limiar

    redefinido a cada poca da histria, (8) a ocorrncia de uma considervel

    densidade populacional, (9) uma abertura externa, (10) uma localidade de

    mercado, entre outras caractersticas.

    1.2 Evoluo histrica

    A cidade ter a sua origem nas antigas povoaes do neoltico, quando

    trocado o regime nmada predominante, pelo sedentarismo. A fixao das

    tribos e o alvorecer da agricultura permitiu criar determinadas sinergias entre

    os habitantes dessas aldeias primordiais favorecendo o trabalho comunitrio

    organizado com a obteno de resultados bem mais enriquecedores.

    A possibilidade da obteno de excedentes agrcolas como resultado da

    implementao de actividade agrcola nos terrenos frteis presentes nas

    margens de grandes rios como o Nilo, o Tigre e o Eufrates proporcionou, assim,

    o surgimento de comrcio associado troca de bens e ao desenvolvimento de

    obras colectivas mais expressivas.

  • 2

    D-se incio ao desenvolvimento de uma nova economia onde o aumento da

    produo agrcola e a concentrao de excedentes nas cidades conduz a um

    aumento da populao e de produtos disponveis garantidos pelo domnio

    tcnico e militar da cidade sobre o campo.

    No decurso do tempo, o desenvolvimento tcnico e cultural permite a

    criao de uma nova ordem onde o comrcio desempenha papel fulcral e

    onde a cidade se transforma na polis aristocrtica ou democrtica que

    caracterizou a civilizao helnica e que ainda hoje constitui a base da cultura

    dita ocidental. na organizao desta cidade-estado que se tornou possvel o

    extraordinrio avano da literatura, da cincia e das artes e de nova ordem de

    pensamento, que se estendeu por toda a poca da Antiguidade Clssica.

    O desenvolvimento das cidades sofre novo impulso com o incio da revoluo

    industrial em que o trabalho agrcola nos campos substitudo pelo trabalho

    operrio nas novas fbricas criadas na envolvente s cidades e povoaes pr-

    existentes.

    Assiste-se ento a um aumento de populao e de actividade no seio das reas

    urbanizadas, sem que tal seja acompanhado de infra-estruturas que permitam

    assegurar condies mnimas de salubridade no interior dos novos bairros

    operrios, surgindo ento os primeiros registos de problemas de carcter

    ambiental associados essencialmente a questes de sade (proliferao de

    epidemias) e incomodidade (os primeiros registos de situaes de poluio

    atmosfrica em Londres associados queima de carvo com elevado teor de

    enxofre).

    Desde o alvorecer da revoluo industrial e at aos nossos dias as cidades tm

    vindo a ser o centro das actividades polticas, ldicas e culturais, assistindo-se

    a uma permanente substituio dos sectores primrio e secundrio, pelo sector

    tercirio que actualmente assume, pelo menos no interior das grandes cidades,

    actividade quase exclusiva.

    A crescente evoluo das actividades citadinas, a cada vez maior concentrao

    populacional nas grandes cidades e zonas envolventes e o consumo cada vez

    maior de bens promovido pelo sistema capitalista, contrasta com o surgimento

    de uma nova conscincia ambiental que se tem vindo a enraizar aos mais

    diversos nveis desde a Conferncia do Rio em 1992 e que lana novos e

    ambiciosos desafios humanidade.

  • 3

    2 O Sistema Ambiental

    2.1 Consideraes iniciais

    No nmero 1 do artigo 5 da Lei n. 11/87 de 7 de Abril, alterada pela Lei n.

    13/2002, de 19 de Fevereiro, define-se a qualidade de vida como sendo ()

    resultado da interaco de mltiplos factores no funcionamento das sociedades

    humanas e traduz-se na situao de bem estar fsico, mental e social e na

    satisfao e afirmao culturais, bem como em relaes autnticas entre o

    indivduo e a comunidade () dependendo da influncia de um conjunto de

    factores que se interrelacionam.

    Na alnea a) do nmero 2 do mesmo artigo, apresentado o conceito de

    ambiente como tratando-se do () conjunto dos sistemas fsicos, qumicos,

    biolgicos e suas relaes e dos factores econmicos, sociais e culturais com

    efeito directo ou indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a

    qualidade de vida do homem ().

    Neste contexto pode entender-se o sistema ambiental como um sistema

    dinmico integrando um conjunto de subsistemas que interagem entre si e cujo

    equilbrio ser fundamental para se assegurar quer a qualidade de vida do

    Homem, quer a sobrevivncia do ecossistema global.

    Assim, poder-se- considerar por um lado um sub-sistema natural que relaciona

    os trs grandes reservatrios terrestres, solo, gua e ar, e por outro, o sub-

    sistema humano onde se incluem os aspectos sociais, culturais e econmicos.

    A crescente utilizao de recursos a que se assiste desde a revoluo industrial

    e o avano tecnolgico dos ltimos sculos veio demonstrar que os recursos que

    a humanidade tem ao seu dispor no so infinitos, podendo a sua depleo

    exponencial comprometer a manuteno da vida na terra, pelo menos, nos

    moldes em que a conhecemos.

    pois fundamental que se garanta o equilbrio entre a utilizao de recursos e

    a sua reposio no sistema, no comprometendo, quer em termos

    quantitativos, quer em termos qualitativos, a sua sustentabilidade.

    Neste contexto, o verdadeiro objectivo da conservao dos recursos encerra

    uma dupla vertente, ou seja, por um lado assegurar a preservao de um

    ambiente de qualidade que garanta tanto as necessidades estticas e de

    recreio como as de produtos, e por outro lado assegurar uma produo

    contnua de plantas, animais e materiais teis, mediante o estabelecimento de

    um ciclo equilibrado de colheita e renovao.

  • 4

    2.2 O solo

    O solo constitui a interface entre a terra, o ar e a gua e aloja a maior parte da

    biosfera, uma vez que constitudo por material no consolidado, mineral ou

    orgnico, existente superfcie da terra e que serve de meio natural para o

    crescimento das plantas.

    Trata-se de um recurso que tem vindo a ser explorado desde o neoltico como

    suporte da actividade agrcola primria.

    A crescente evoluo da populao mundial tem solicitado tambm uma maior

    utilizao de solo para produo agrcola de forma a permitir o sustento de

    cada vez maior nmero de indivduos. A converso de tcnicas agrcolas

    tradicionais para regimes de produo intensivos tem criado dificuldades na

    manuteno da qualidade dos solos, diminuindo progressivamente a

    produtividade destes, na medida em que conduz a uma diminuio da matria

    orgnica disponvel e consequentemente da biodiversidade associada.

    Outras actividades humanas tm tambm contribudo para a degradao do

    solo ou mesmo para a sua aniquilao, nomeadamente as seguintes:

    A extraco de recursos minerais (pedreiras, minas, etc) que, ou implicam a

    remoo total do solo, ou deixam-no sujeito aco directa dos agentes

    erosivos (gua e vento);

    A criao de zonas impermeabilizadas de suporte a infra-estruturas

    construdas;

    A utilizao de maquinaria e circulao de veculos em vias no

    impermeabilizadas que conduzem compactao do solo e

    consequentemente perda das suas qualidades como suporte de vida.

    A criao de zonas de instabilidade de vertentes que conduzem ao

    deslizamento de terras e consequente perda de solo.

    A utilizao do solo como meio receptor de descargas pontuais e difusas de

    efluentes, resduos ou por utilizao de produtos qumicos de modo

    desordenado (por exemplo pesticidas, nitratos, etc).

    O solo um recurso vital para a humanidade e dele depende 99% da produo

    de biomassa e muitos outros servios.

    Trata-se de um recurso que se forma muito lentamente (~1 cm/100 anos) e que

    se pode degradar muito rapidamente (minutos a poucos anos), sendo por isso,

    escala de tempo da vida humana, um recurso natural no renovvel.

  • 5

    2.3 A gua

    A gua o recurso natural terrestre mais abundante, cobrindo cerca de 71 % da

    superfcie terrestre. Contudo, apenas 1% da gua presente no planeta gua

    doce, utilizvel para suprir as necessidades de abastecimento, rega, e

    utilizao industrial.

    Ao longo do tempo, as diferentes massas de gua tm servido no apenas como

    fonte de abastecimento, mas tambm como receptculo de descargas de

    efluentes e resduos, quer domsticos, quer industriais. A constante utilizao

    desregrada de recursos hdricos tem, em diversos casos, conduzido morte

    de massas de gua ou sua degradao em nveis que comprometem a sua

    utilizao para a maior parte dos usos, sendo nestes casos um problema no

    mbito da salvaguarda da sade pblica. So disso exemplo, os rios Citarum

    (Indonsia), Yamuna e Ganges (ndia) e Karachay (Rssia).

    Sendo a gua um recurso essencial manuteno da vida na terra, a sua

    salvaguarda tem sido objecto de legislao especfica, nomeadamente nos

    pases ocidentais. Ao nvel nacional, a preocupao da salvaguarda do recurso

    gua manifesta-se na Lei n 58/2005, de 29 de Dezembro de 2005, que traduz

    para o direito nacional as orientaes de mbito europeu espelhadas na

    Directiva Quadro da gua.

    De acordo com o n 1 do artigo 3 da referida lei, estabelecem-se os princpios

    orientadores para a preservao do recurso gua, dos quais se destacam os

    seguintes:

    Princpio do valor social da gua, que consagra o acesso universal gua

    para as necessidades humanas bsicas, a custo socialmente aceitvel, e sem

    constituir factor de discriminao ou excluso;

    Princpio da dimenso ambiental da gua, nos termos do qual se reconhece

    a necessidade de um elevado nvel de proteco da gua, de modo a

    garantir a sua utilizao sustentvel;

    Princpio do valor econmico da gua, por fora do qual se consagra o

    reconhecimento da escassez actual ou potencial deste recurso e a

    necessidade de garantir a sua utilizao economicamente eficiente, com a

    recuperao dos custos dos servios de guas, mesmo em termos ambientais

    e de recursos, e tendo por base os princpios do poluidor-pagador e do

    utilizador-pagador;

    Princpio de gesto integrada das guas e dos ecossistemas aquticos e

    terrestres associados e zonas hmidas deles directamente dependentes, por

    fora do qual importa desenvolver uma actuao em que se atenda

  • 6

    simultaneamente a aspectos quantitativos e qualitativos, condio para o

    desenvolvimento sustentvel.

    2.4 O ar

    O ar presente na camada mais prxima da superfcie terrestre (ar troposfrico)

    constitudo maioritariamente por azoto (cerca de 78 %) e oxignio (cerca de

    21 %) moleculares, sendo a restante fraco composta por um conjunto

    diversificado de substncias, algumas das quais consideradas poluentes

    atmosfricos tendo em conta os efeitos que provocam na sade humana,

    ecossistemas e no balano energtico do planeta.

    O oxignio presente no ar utilizado pelos seres vivos no processo de

    respirao, permitindo-lhes obter a energia necessria para a sua sobrevivncia

    e crescimento.

    Dos elementos menos abundantes na troposfera destaca-se a presena do

    dixido de carbono, necessrio fotossntese, mas cuja concentrao na

    atmosfera tem vindo a crescer de forma acentuada em resultado das

    actividades humanas.

    A libertao de gases poluentes para a atmosfera pode ter duas origens:

    libertao natural resultante de determinados fenmenos como o caso das

    erupes vulcnicas, e libertao de origem antropognica resultante das

    actividades desenvolvidas pelo homem.

    Quanto s primeiras, estas resultam essencialmente da prpria vida do

    planeta, constituindo episdios mais ou menos restritos no tempo, garantindo-

    se assim a capacidade de regenerao da atmosfera, voltando esta a adquirir

    de novo propriedades caractersticas do ar limpo.

    No que concerne s emisses antropognicas, destaca-se que estas tm vindo a

    aumentar ao longo do tempo, fundamentalmente desde o incio da revoluo

    industrial, e em especial aps as ltimas dcadas do sculo XX.

    Este aumento de emisses resulta de um conjunto mais ou menos alargado de

    actividades humanas, nomeadamente da produo de energia baseada na

    queima de combustveis fsseis, transportes, indstria diversa com destaque

    para a petroqumica, produo de papel, siderurgia, etc, e actividades agro-

    pecurias intensivas.

    A degradao contnua da qualidade do ar e o consequente efeito nocivo sobre

    a sade humana e ecossistemas conduziu necessidade de elaborar legislao

    especfica com vista proteco deste recurso.

  • 7

    Actualmente em Portugal a gesto da qualidade do ar encontra-se

    regulamentada no Decreto-Lei n. 102/2010, de 23 de Setembro, que agrega as

    orientaes estabelecidas nas directivas comunitrias sobre esta temtica.

    Acessoriamente conta-se tambm com um conjunto de diplomas legais que

    estabelecem regras especficas para emisses industriais e critrios de

    avaliao das emisses.

    No n 2 do artigo 1 do Decreto-Lei n. 102/2010, so estabelecidas medidas

    destinadas a atingir um conjunto de objectivos, nomeadamente as seguintes:

    Definir e fixar objectivos relativos qualidade do ar ambiente, destinados a

    evitar, prevenir ou reduzir os efeitos nocivos para a sade humana e para o

    ambiente;

    Avaliar, com base em mtodos e critrios comuns, a qualidade do ar

    ambiente no territrio nacional;

    Obter informao relativa qualidade do ar ambiente, a fim de contribuir

    para a reduo da poluio atmosfrica e dos seus efeitos e acompanhar as

    tendncias a longo prazo, bem como as melhorias obtidas atravs das

    medidas implementadas;

    Preservar a qualidade do ar ambiente quando ela seja boa e melhor-la nos

    outros casos.

  • 8

    3 As cidades e o ambiente

    O crescimento da populao e a sua concentrao em cidades induz efeitos

    sobre o ambiente que se prendem com alteraes sobre os recursos disponveis,

    mas tambm introduz um conjunto de benefcios face disperso populacional,

    desde que sejam aplicadas medidas de gesto e crescimento adequadas.

    Neste contexto apresenta-se e analisa-se em seguida um conjunto de factores

    que relacionam a cidade com o meio ambiente que a rodeia e onde se insere,

    agrupados em dois grupos principais: factores internos ou intrnsecos pontos

    fortes e pontos fracos e factores externos ou externalidades oportunidades e

    ameaas.

    3.1 Anlise interna

    3.1.1 Pontos fortes

    A cidade permite concentrar grande nmero de indivduos num territrio

    relativamente reduzido face ao que sucederia se a sociedade se organizasse

    predominantemente em aglomerados de baixa dimenso.

    Este facto permite, de alguma forma, constranger, em termos espaciais, as

    alteraes profundas que estes locais impem ao ambiente envolvente,

    permitindo ainda manter outro tipo de ocupaes do solo, com elevada

    importncia, como o caso da agricultura e manuteno de espaos naturais

    protegidos.

    Uma vez que nas cidades se encontram concentrados inmeros servios de

    apoio s populaes, para alm das sedes dos organismos de deciso, tal

    permite uma melhor distribuio dos recursos econmico-sociais, fomentando

    igualmente o acesso aos servios de apoio contribuem para uma maior

    qualidade de vida das populaes (sade, educao, cultura, apoio social,

    servios administrativos, etc.).

    A concentrao de infra-estruturas e de populao nas cidades, em associao

    com o desenvolvimento cientfico, tem vindo a permitir implementar processos

    cada vez mais eficientes, quer de fornecimento de servios (por exemplo

    abastecimento de gua, saneamento, energia elctrica, etc), quer de

    tratamento das emisses para cada um dos reservatrios ambientais.

    Por outro lado, a presena de grande quantitativo populacional convida a uma

    participao mais activa na organizao da prpria cidade que conduz

    necessidade de melhor planear o crescimento e desenvolvimento do territrio,

  • 9

    com vista a um ordenamento sustentado dos espaos j afectos cidade, como

    das zonas adjacentes a nela incluir.

    A estrutura urbana assim construda proporciona ainda o desenvolvimento de

    uma identidade associada aos habitantes da cidade, criando-se uma

    comunidade capaz de encontrar pontos de ligao, quer entre os indivduos,

    quer em relao ao patrimnio cultural e construdo existente, conduzindo ao

    interesse pela sua preservao.

    A existncia deste patrimnio pode ento ser aproveitada e potenciada para

    contribuir para o desenvolvimento econmico local, nomeadamente no que

    concerne s actividades tursticas.

    3.1.2 Pontos fracos

    O crescimento das cidades e a ocupao dos seus coraes por servios

    administrativos, sedes de empresas e zonas exclusivamente comerciais, conduz

    a um xodo das populaes residentes para as zonas mais perifricas.

    A criao de novas zonas residenciais requer a criao de uma maior superfcie

    impermeabilizada, quer para a construo de edifcios, quer para a construo

    da rede viria associada, com a consequente perda de solo e transformao da

    paisagem pr-existente.

    O deslocamento de residentes para as zonas limtrofes da cidade impe um

    incremento acentuado no movimento de transporte de pessoas e bens de e para

    o centro das cidades.

    Este facto acompanhado pelo aumento das emisses resultantes do trfego

    automvel cada vez mais intenso no interior das cidades e zonas envolventes,

    bem como de constrangimentos mobilidade devido ao congestionamento das

    vias rodovirias integradas na rede viria, a que se associam importantes

    perdas de tempo e aumento do stress.

    O acentuado trfego cria ento situaes crnicas e episdicas de poluio

    atmosfrica que se repercutem na qualidade de vida e sade das populaes

    residentes e nos utentes das cidades.

    Os grandes centros urbanos so tambm produtores de elevadas quantidades de

    efluentes domsticos lquidos, de contribuem para a degradao do meio

    hdrico, seja ele interior ou martimo, uma vez que, embora aps tratamento,

    estes efluentes acabam por ser descarregados em rios e oceano, podendo em

    determinados casos comprometer outros usos para os recursos hdricos

    presentes.

    tambm de destacar a elevada produo de resduos slidos provenientes das

    mais diversas actividades que tomam lugar na cidade e que necessitam de

  • 10

    tratamento adequado para evitar a contaminao dos solos ou meio hdrico

    devido a descargas indesejveis.

    Na medida em que as cidades constituem grandes centros de consumo de bens,

    importa ainda destacar que, esses bens no so nela produzidos, uma vez que

    nas cidades se concentram as actividades associadas ao sector tercirio e

    turismo.

    Assim, tambm neste caso se encontram envolvidos grandes custos de

    transporte de bens para o interior das cidades como forma de colmatar as

    necessidades de abastecimento de produtos. E indissocivel a esse transporte,

    mais uma vez, se destacam, as emisses atmosfricas resultantes do trfego de

    veculos.

    3.2 Anlise externa

    3.2.1 Oportunidades

    O conhecimento cientfico e o desenvolvimento tecnolgico fornecem

    ferramentas para obter maior informao sobre os problemas associados a

    meios urbanos e consequentemente tentar encontrar solues satisfatrias para

    os mesmos.

    Neste enquadramento, surge ento a possibilidade de, por meio de

    investigao, e no sentido de obter resultados adequados aos objectivos de

    melhoria e manuteno da qualidade do ar e da gua, desenvolver tcnicas de

    tratamento mais eficientes e com melhores resultados finais esperados.

    O facto de as cidades serem locais com elevada densidade populacional

    proporciona o projecto de redes mais eficientes e instalaes de tratamento

    mais eficazes, tendo em conta a economia de escala. A obrigatoriedade de

    estas instalaes estarem sujeitas a procedimentos de licenciamento e

    fiscalizao mais restritivos, permite, priori, garantir melhores resultados em

    termos de emisses. Sero disto exemplo as estaes de tratamento de gua

    ETA (preparao de gua para abastecimento) e de tratamento de efluentes

    ETAR (saneamento de guas residuais).

    Os grandes meios urbanos fornecem tambm a oportunidade de experimentar

    melhores tcnicas no que respeita recolha e tratamento de resduos slidos,

    com particular destaque para os aspectos relacionados com a criao de

    recolha diferenciada porta a porta, o que permitir um aumento significativo

    em termos de segregao de resduos por tipologia e o respectivo

    encaminhamento para circuitos dedicados de tratamento e reciclagem.

    Este aspecto reveste-se de uma importncia acrescida na medida em que

    permite a recuperao de matria-prima que constituir um recurso escasso no

  • 11

    futuro, em especial no que concerne recuperao de plsticos elaborados

    custa da indstria petroqumica, com dependncia do petrleo.

    Em termos do fornecimento de servios (abastecimento de gua, saneamento,

    electricidade, etc.), o facto de com menor disperso de segmentos conseguir

    suprir as necessidades de um maior nmero de utentes, permite racionalizar os

    gastos, quer de construo quer de manuteno dessas mesmas redes,

    libertando verbas estruturantes para outros segmentos, como seja a sade e

    educao.

    A agregao de um conjunto elevado de indivduos abre ainda a perspectiva de

    novas potencialidades de negcios, medida das necessidades dos

    consumidores.

    Desejavelmente as novas necessidades a criar devero privilegiar solues

    ambientalmente mais adequadas e sustentadas, nomeadamente ao nvel do

    planeamento urbano.

    A reconverso de atitudes no sentido do desenvolvimento de uma conscincia

    ambiental efectivamente instalada agora uma oportunidade a no esquecer,

    na medida em que, possvel concretizar aces de sensibilizao que

    cheguem a um nmero cada vez mais significativo de indivduos.

    Os instrumentos de planeamento ao dispor, sendo planos dinmicos, permitem

    integrar as novas orientaes e melhorar ambientalmente as cidades,

    favorecendo a recuperao de instalaes degradadas, melhorando o

    planeamento e desempenho das redes de transporte, e proporcionando um

    conjunto de espaos verdes de recreio e lazer com vista melhoria da

    qualidade de vida das populaes.

    3.2.2 Ameaas

    A difcil concretizao de uma rede de transportes colectivos que supram de

    facto as necessidades dos inmeros utentes uma das grandes problemticas a

    realar no planeamento das cidades.

    Se esta rede no tiver a capacidade de captar grande parte dos movimentos da

    populao, por no ser resposta credvel face s necessidades, esta recorre

    utilizao massiva do transporte individual, com grande penalizao para o

    ambiente e qualidade de vida das populaes.

    Neste ltimo caso, registar-se-o importantes nveis de emisso de poluentes a

    partir dos gases de escape que conduziro degradao da qualidade do ar,

    nomeadamente em termos episdicos. Considerando que escala mundial

    foram assumidos determinados compromissos no que concerne limitao das

    emisses atmosfricas, um mau desempenho das redes de transporte pblico

  • 12

    nas grandes cidades poder significar penalizaes graves em termos

    internacionais.

    Adicionalmente, estas emisses contribuem para o aumento das concentraes

    de gases com efeito de estufa, alterando o equilbrio energtico do planeta na

    sua globalidade, e potenciando os fenmenos associados s alteraes

    climticas.

    Nesta perspectiva, a ocorrncia de fenmenos meteorolgicos extremos

    associados a extensas reas impermeabilizadas poder potenciar a ocorrncia

    de situaes graves com danos materiais e mesmo humanos considerveis.

    Importa destacar que os custos associados a estas ocorrncias tero de ser

    distribudos por toda a sociedade e no apenas por um sector que de algum

    modo ter contribudo em maior escala para este problema.

    Acontecimentos desta natureza podem acarretar graves perdas econmicas em

    diversos sectores de actividade, com especial destaque para o turismo e

    comrcio.

    Ainda no que concerne rede de transportes e eixos virios, destaca-se que a

    utilizao de em maior escala do transporte individual d origem a inmeras

    situaes de congestionamento da circulao que se traduz nos seguintes

    efeitos:

    Aumento dos nveis de ansiedade e stress durante perodos de espera mais

    prolongada, o que a longo prazo se poder repercutir na sade geral dos

    indivduos;

    Funcionamento menos eficiente dos motores dos veculos com aumento das

    emisses quando a circulao em regime de pra-arranca;

    Aumento dos nveis de rudo em meio urbano o que provoca igualmente

    incomodidade e consequentemente uma diminuio da qualidade de vida

    das populaes.

    Mais uma vez, estes efeitos tero um custo econmico e social que ficar a

    cargo de toda a populao, no sendo possvel encontrar culpados a quem

    cobrar a factura. Em ltima instncia de facto a factura dever pertencer a

    quem deficientemente planeia o crescimento e desenvolvimento das cidades.

    Outra das ameaas respeita possibilidade de colapso das redes de

    abastecimento e instalaes de tratamento. De facto, se estas no forem

    concretizadas com base em cenrios fidedignos poder-se- assistir a uma falta

    de capacidade destas, com prejuzos graves, quer em termos dos recursos

    ambientais, quer mesmo em termos de sade pblica.

  • 13

    Para alm dos aspectos anteriormente referidos, importa fazer referncia

    especulao imobiliria a que se tem verificado ao longo das ltimas dcadas,

    favorecendo a criao de cada vez maiores reas construdas e

    impermeabilizadas, com sacrifcio de reas ainda naturalizadas.

    Adicionalmente, este crescimento acima do previsto pode causar dificuldades

    ao nvel da gesto das infra-estruturas colectivas, tornando necessrio outros

    tipos de investimentos no antes previstos.

  • 14

    4 Ambiente urbano sustentvel

    O desenvolvimento urbano sustentvel e a integrao dos objectivos nas

    estratgias de planeamento e gesto assenta num conjunto de princpios de

    desenvolvimento e dos mecanismos necessrios para a sua realizao.

    A gesto urbana com vista sustentabilidade essencialmente um processo

    poltico que requer planeamento e se repercute na gesto urbana, j que a

    manuteno da qualidade de vida e do ambiente dever, mas igualmente

    direito de todos os cidados.

    O processo de gesto urbana sustentvel requer uma srie de instrumentos

    orientados para as dimenses ecolgica, social e econmica com vista a

    proporcionar a base necessria para a integrao de todos estes factores de

    forma harmoniosa.

    A sustentabilidade uma responsabilidade partilhada. A cooperao e parceria

    entre diferentes nveis, organizaes e interesses so elementos essenciais da

    aco em prol da sustentabilidade. A gesto sustentvel um processo de

    aprendizagem, no mbito do qual a partilha de experincias, o trabalho

    multidisciplinar, a consulta e participao da comunidade local e o aumento

    dos conhecimentos so elementos essenciais.

    O desafio da sustentabilidade urbana procurar solucionar tanto os problemas

    que as cidades conhecem como os por elas causados, reconhecendo que as

    prprias cidades encontram muitas solues potenciais, em vez de os deslocar

    para escalas ou localizaes diferentes ou de os transferir para as geraes

    futuras.

    A gesto sustentvel dos recursos naturais requer uma abordagem integrada

    para encerrar os ciclos de recursos naturais, energia e resduos nas cidades.

    Os objectivos dessa abordagem devero incluir a reduo do consumo dos

    recursos naturais, especialmente dos no renovveis e dos lentamente

    renovveis; a reduo da produo de resduos pela reutilizao e reciclagem,

    sempre que possvel; a reduo da poluio do ar, do solo e da gua; e o

    aumento da proporo das reas naturais e da diversidade biolgica nas

    cidades. Estes objectivos sero mais fceis de atingir em pequena escala,

    motivo por que os ciclos ecolgicos locais podem ser ideais para a introduo

    de polticas mais sustentveis para os sistemas urbanos.

    Conseguir uma acessibilidade urbana sustentvel uma etapa essencial para a

    melhoria global do ambiente urbano e a manuteno da viabilidade econmica

  • 15

    das cidades. A realizao dos objectivos em matria de ambiente e de

    transportes exige abordagens integradas, que combinem o planeamento dos

    transportes, do ambiente e do espao. Para conseguir uma acessibilidade

    urbana sustentvel necessrio definir objectivos e indicadores de

    sustentabilidade, estabelecer metas e controlos, e concretizar polticas

    tendentes a melhorar no s as condies de mobilidade mas tambm a

    acessibilidade.

    Assim, devero ser procurados objectivos de sustentabilidade pormenorizados,

    incluindo o estabelecimento de relaes ecolgicas, uma melhor acessibilidade,

    eficincia energtica e participao comunitria.

    Finalmente, salienta-se ainda que o planeamento do turismo, do lazer e do

    patrimnio cultural devero fazer parte integrante do processo de

    ordenamento do territrio.

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    5 Bibliografia

    Histria da Cidade, Leonardo Benvolo, 1997, Roma.

    Lei n 19/2014, de 14 de Abril.

    Decreto-Lei n. 102/2010, de 23 de Setembro.

    Fundamentos de Ecologia, Eugene Odum, 2001, Lisboa.

    Carta das cidades europeias para a sustentabilidade. 1994, Aalborg.

    O metabolismo urbano na anlise dos processos de transformao das cidades,

    Paulo Pinho, 2011, Industria & Ambiente n. 69, 2011, Porto.