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1 O Cidadão 3 Ensinar e morar na Maré 6 Felipe Gomes, o atleta da Maré em Pequim 16 Crochê, arte que retorna 19 Óleo de cozinha e o ambiente RIO DE JANEIRO • ANO IX • Nº54 • FEVEREIRO/MARÇO 2008 www.jornalocidadao.net Lazer da Maré Mesmo com espaços para descansar, o morador encontra locais em péssima situação, caso da Lona Cultural na Praia de Ramos

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1O Cidadão

3 Ensinar e morar na Maré 6 Felipe Gomes, o

atleta da Maré em Pequim 16 Crochê,

arte que retorna 19 Óleo de

cozinha e o ambiente

RIO DE JANEIRO • ANO IX • Nº54 • FEVEREIRO/MARÇO 2008www.jornalocidadao.net

Lazer da MaréMesmo com espaços para descansar, o morador encontra locais em péssima situação, caso da Lona Cultural na Praia de Ramos

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2 O Cidadão

EDITORIAL

Lazer: um ponto de discussão

ELES LÊEM O CIDADÃO

Acima, Sandro Marcio, de 31 anos, Arquivista e Morador da Vila do Pinheiro. Ao lado, Rogéria Silva, de 35 anos, Comerciante e Moradora da Vila do Pinheiro.

O CIDADÃO é uma publicação do CEASMCentro de Estudos e Ações Solidárias da Maré

Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do TimbauTelefones: 2561-4604

DireçãoAntonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro

Maristela Klem • Lourenço CezarCoordenadora Geral: Rosilene Matos

Editora: Cristiane BarbalhoCoordenadores de Edição:

Flávia Oliveira • Aydano André MottaCoordenadora de Reportagem: Carla Baiense

Revisão: Audrey BarbalhoAdministradora: Fabiana GomesReportagem: Cristiane Barbalho

Gizele Martins • Hélio Euclides • Julie AlvesRenata Souza • Rosilene Matos

Colaborou nesta edição: Rede Memória

Jornalista Responsável:Renata Souza (Reg. 29150/RJ)

Ilustrações: JhenriPublicidade: Maria Matilde

Projeto Gráfi co e Diagramação: José Carlos Bezerra

Diagramação: Fabiana GomesCriação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço

Foto de Capa: Cristiane BarbalhoRepórter Fotográfi co: Hélio Euclides

Distribuição: Maria Matilde (coordenadora)Ana Carla • Charles Alves

Givanildo Nascimento • Raio Nonato José Diego • Caíque Mendes • Luiz Fernando

Fotolitos / Impressão: EdiouroTiragem: 20 mil exemplares

Correio eletrônico:[email protected]

[email protected]: www.jornalocidadao.net

Página virtual: www.ceasm.org.br

FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

O CIDADÃO, nessa edição, discute a existência de áreas de lazer na Maré e como o morador percebe

esses locais. Segundo o Censo Maré, são de-zesseis comunidades que compõem o con-junto de favelas, totalizando mais de 130 mil moradores. Então, até que ponto, o morador tem a sua disposição locais para relaxar e para seus fi lhos brincarem, como praças. Um outro ponto importante a ser levantado é com relação ao salário mínimo. Será que atualmente ele cobre todas as necessidades do trabalhador, incluindo o lazer? Todas as pessoas têm direito a um momento de des-canso, sendo ele fundamental para a reposi-ção das energias, permitindo assim, que elas voltem bem e saudável para as suas ativida-des normais, como o trabalho. Além disso, o lazer é muito importante para as crianças. Para elas, um lugar disponível para correr, soltar pipa, jogar bolinha de gude, e outras brincadeiras é indispensável. Sendo esse, um dos momentos de socialização e cresci-mento pessoal, ajudando essas crianças a ser tornarem adultos responsáveis.

O Jornal também trás outras matérias de grande importância para a vida do morador, como a necessidade da reciclagem do óleo de cozinha. Visto que hoje, a questão am-biental é uma das principais discussões no mundo. Por isso, é necessário que o mora-dor saiba quais as conseqüências ao se jo-gar óleo nas redes de esgoto e qual a melhor forma de lidar com esse material.

O artesanato também está presente na nossa edição com o crochê, mostrando um pouco da realidade de quem utiliza a linha para ganhar a vida.

Já na editoria de educação falamos um pouco da história dos professores que le-cionam nas escolas da Maré e também são moradores da comunidade. Além, é claro, da luta deles para melhorar o ensino no nos-so bairro. E ainda, vamos contar um pouco da história da Rua José Moreira Pequeno, a primeira Rua da Maré vista pelos motoris-tas que passam pela Av. Brasil no sentido Campo Grande. O lugar tem histórias inte-ressantes que todos devem conhecer.

Boa Leitura!

Rua Nova Jerusalém, 345 BonsucessoTel:3882-8200 / Fax:2280-2432

A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da

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3O Cidadão

EDUCAÇÃO

Como morar e educarProfessores além de residirem na Maré, contribuem com a educação de moradores

“Testemunho que não deve faltar em nossa relação com os alu-nos a permanente disposição

em favor da justiça, da liberdade e do direito de ser”. Essa frase do educador Paulo Frei-re, do livro “Professora sim, tia não”, revela a posição do professor, e diz muito mais ao docente que mora e leciona no mesmo bairro. Aqui na Maré encontramos vários mestres na situação em que educar valoriza a qualidade de vida de seus vizinhos.

Quem olha para Ernani Alcides, de 50 anos, pedalando pelas ruas de Rubens Vaz, não imagina que ele está indo para o Ciep Hélio Smidt. Lá, o professor amplia o ho-rizonte de crianças do ensino fundamental. “Escolhi esse colégio porque há 14 anos era uma estrutura ocupada por sem tetos, as salas eram usadas como dormitório, e luta-mos para que o prédio fosse utilizado para sua real função”. Ele completa comentando o medo de outros professores. “Quando su-geri o Hélio (escola) para lecionar, vi cole-gas agradecendo, pois não seriam eles que viriam para a Maré”, diz Ernani.

E quando esse desejo de educar em seu bairro de origem contagia irmãos. Esse é o caso do diretor e professor de matemática e física, João Lanzellotti, de 45 anos, que trabalha nos Cieps Professor César Per-netta e Operário Vicente Mariano, de seu irmão Roberto Lanzellotti, de 39 anos, professor de geografi a, do Ciep César Pernetta e de Stella L a n -zellotti,

de 44 anos, professora de apoio a direção, da Escola Municipal Paulo Freire. João já deu aula em vários bairros, mas diz que a criança da Maré tem diferencial, são cari-nhosos, acolhedores, atentos, participati-vos e aceitam as propostas. Ele acha difí-cil lutar pela educação no próprio bairro. “Esbarramos nas políticas públicas, e na desagregação da família. Hoje para o alu-no só existe a escola e a rua”, desabafa.

Seu irmão Roberto algumas vezes troca o quadro negro pela manutenção da escola. “Sou morador e conheço as difi culdades.

Sinto a necessidade de ajudar

a dei-xar

arborizado. Me vejo importante, por ser professor e da comunidade”, afi rma. Sua irmã Stella reconhece que fi ca mais fácil ensinar no próprio bairro que mora. “Aqui vejo o que as crianças passam, nos intera-gimos. Como fi car sem dormir por causa de tiros. Conhecendo bem, apagamos o que dizem das comunidades pobres”, comenta.

HÉLIO EUCLIDES

Professor Ernani Alcides utiliza a bicicleta no transporte da residência para o ciep Hélio Smidt no Rubens Vaz

Os prós e contra da proximidade

A ponte entre o professor, pais e aluno fi ca mais próxima, quando todos se esbar-ram no seu dia-a-dia. “Diariamente con-versamos, enfrentamos junto o preconcei-to, pois a única diferença entre os alunos da comunidade e os outros são as oportunida-des desiguais. Os sonhos e desejos são os mesmos”, revela Ernani Alcides. Contudo ele assume que nem todos têm o mesmo pensamento. “Certa vez um professor me disse que perdia a privacidade, e que era professor só na escola. Eu não concordei, e respondi que é normal conversar com to-dos, e que fazendo isso só sou transparen-te”, fala. O diretor João Lanzellotti encon-tra situações contra, mas vê muitos prós. “O ruim é que muitas vezes misturam li-berdade com amizade. Já o bom da matrí-cula próxima é que se gasta menos tempo, com uma facilidade de acesso. Além de se conhecer a Maré”, fi naliza.

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4 O Cidadão

É com grande alegria, amigo(a) leitor(a), que estamos comemo-rando os 11 anos do Centro de

Estudos e Ações Solidárias da Maré! O CEASM foi criado em 1997, por al-guns moradores que tinham uma longa história de envolvimento nas lutas co-munitárias no bairro da Maré.

Quem acompanha o jornal O Ci-dadão sabe que o trabalho do CEASM está voltado para a educação e a cultura, buscando o desenvolvimento comunitá-rio do local. Por isso, os projetos reali-zados pela instituição sempre valorizam a história do lugar e as memórias de seus moradores. O CEASM acredita que essa valorização é a base para o exercício da

cidadania na Maré. As pessoas conhe-cem a riqueza de sua história, se identifi -cam com o lugar onde vivem e se organi-zam para reivindicar seus direitos.

A luta pelo exercício da cidadania é sempre coletiva. Por isso, ao longo des-ses 11 anos, o CEASM vem investindo

em parcerias com os moradores, várias instituições públicas e privadas e com outras ongs. Dessa forma, estamos for-talecendo a articulação de redes sociais que valorizam o morador, enquanto agente de transformação da realidade lo-cal e global.

Sobre o trabalho do CEASM, Vanes-sa Maria da Silva diz o seguinte: “Já fi z o curso de internet na Casa de Cultura da Maré e, atualmente estou fazendo o Curso Pré-Vestibular. O trabalho do CEASM valoriza a comunidade. O CPV vai me ajudar, assim como ajudou outros jovens a alcançar seus objetivos. Por en-quanto, eu não sei o que quero, penso em fazer Administração, mas gosto muito de Biologia. Estou fazendo o acompa-nhamento de Orientação Profi ssional do CPV para descobrir a carreira que quero seguir”,diz.

O Curso Pré-Vestibular e a Infor-mática, dos quais Vanessa fala, são dois projetos muito importantes do CEASM. Mas, além desses, a instituição desen-volve mais seis projetos nas áreas de educação e cultura. Durante o primeiro semestre de 2008, em comemoração ao aniversário de 11 anos, apresentaremos esses projetos, seus parceiros e os resul-tados alcançados até agora.

Vamos iniciar nossa apresentação por um projeto novo que ainda está com as inscrições abertas. Estamos falando das Ofi cinas Culturais de Dança, Música,

Teatro e Artesanato. Esse projeto está sendo desenvolvido na Casa de Cultura da Maré, que já é bem conhecida dos mareenses.

A Casa de Cultura está localizada num espaço com cerca de 800m² e uma área construída de 668m², na Avenida

Guilherme Maxwell. Lá funcionava uma antiga fábrica de transportes marítimos, que pertence ao Terminal 1, empresa pri-vada parceira do CEASM.

Em 2007, nós participamos da sele-ção pública do Programa de Democrati-zação Cultural, promovida pela empresa Votorantim. Somente 12 projetos foram selecionados em todo o Brasil. O único do Rio de Janeiro foi o nosso! E isso,

ROSINALDO LOURENÇO

Primeiro encontro de coordenadores dos projetos do Ceasm em 2008, no Morro do Timbau

INFORME INSTITUCIONAL

11 anos de Ceasm - Em 2008, a ONG desenvolve ofi cinas culturais, na Casa de Cultura, para os moradores da Maré

“O trabalho do CEASM valoriza a comunidade” Vanessa Maria da Silvaaluna do curso pré-vestibular

A luta pelo exercício da cidadania é sempre coletiva. (...), ao longo desses 11 anos, o CEASM vem investindo em parcerias com os moradores

Vanessa Maria é uma das alunas do pré-vestibular

RODRIGO RAIDAR

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5O Cidadão

caro(a) leitor(a), é uma grande respon-sabilidade.

As Ofi cinas Culturais oferecem dife-rentes linguagens artísticas para as comu-nidades da Maré. São ao todo 11 ofi cinas: street dance, jazz, ballet, expressão corpo-ral, dança criativa, dança de salão, teatro,

artesanato, canto coral, percussão, teclado, violão e fl auta. O objetivo do projeto é re-forçar o espaço da Casa de Cultura com a participação dos moradores e a criação de novos produtos culturais, a partir dos co-nhecimentos das comunidades.

O projeto criou uma verdadeira rede de parcerias, pois reúne duas empresas

privadas, os moradores, o CEASM, ins-tituições locais e o poder público, por meio da Lei de Incentivo do Ministério da Cultura. Além disso, os profi ssionais envolvidos no projeto formam um grupo entrosado e que desenvolve o trabalho de forma competente e comprometida com os objetivos do CEASM e com a valori-zação das comunidades da Maré.

As inscrições para as Ofi cinas Cul-turais ainda estão abertas de segunda à

sexta, das 8h às 21h, e aos sábados, das 8h às 14h, na Casa de Cultura da Maré.

- Vamos Comemorar!

CeasmPraça dos Caetés, 7 - Morro do TimbauTel.: 2561-4604

Casa de Cultura da MaréAv. Guilherme Maxwell, 26 - rua da escola BahiaTel.: 3868-6748

ARQUIVO CEASM

Fachada da Casa de Cultura da Maré, antiga fábrica de transportes marítimos, na Av. Guilherme Maxwell

As Ofi cinas Culturais oferecem diferentes linguagens artísticas para as comunidades da Maré

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6 O Cidadão

Com os olhos da alma, o atleta Felipe Gomes, de 21 anos, venceu obstá-culos e premiou o Brasil e a Maré

com medalhas nos jogos olímpicos Parapan-americanos.

Divertido e sorridente, foi dessa forma que Felipe Gomes recebeu “O CIDADÃO” em sua casa no Parque Rubens Vaz. Acompa-nhado das mulheres de sua vida, mãe, irmã, esposa e sobrinha. Felipe mostrou que a con-vivência familiar garantiu forças para lutar por seus sonhos e ser vencedor. O atleta, que convive com a defi ciência visual, conquistou nos Jogos Parapanamericanos de 2007, rea-lizado no Rio de Janeiro, a medalha de prata nos 100 metros rasos e a de bronze nos 200 metros. O próximo desafi o é garantir vaga na seleção brasileira que vai competir nos Jogos Paraolímpicos de Pequim, na China.

Felipe já está entre os 26 atletas pré-con-vocados para a seleção que possui 48 vagas em Pequim. “As competições serão em agos-to, mas os treinos já começaram. Todos os meses eu me reúno com os pré-convocados para exames médicos e treinos. Estou bas-tante confi ante”, disse o modesto atleta que é o terceiro melhor do mundo na categoria 100 metros rasos. Essa marca foi conquistada no Mundial ocorrido em junho do ano passado, em São Paulo.

Felipe iniciou sua vida esportiva no Ins-tituto Benjamim Constant, onde aprendeu o braille, sistema de leitura para pessoas com defi ciência visual. No Instituto jogou futsal e fez atletismo. A partir daí, conquistou um currículo de invejar seus concorrentes. Em dezembro de 2007, foi medalhista de ouro no Meeting Internacional, competição que reúne os melhores atletas do mundo. Em 2005, bateu o record brasileiro na prova dos 100 metros rasos. No Mundial em São Pau-

lo, conquistou o ouro no revezamento 4 por 100 e o bronze nos 100 metros . Nosso atleta mareense carrega nas costas, desde 2003, o título de tetra campeão brasileiro nos 100 metros rasos.

A garra é uma das características mais marcantes de Felipe. No Parapan, o atleta sofreu uma séria lesão dias an-tes da prova dos 200 metros. Pas-sou uma noite em tratamento intensi-vo na clínica de fi sio-terapia. No dia da competição, dois dias após o trata-mento, c o n -

quistou o bronze nos 200 metros . “Eu tive muito apoio da torcida brasileira. Minha fa-mília e meus vizinhos iam em massa assistir aos jogos. Fui muito estimulado”, diz Felipe que também competiu na categoria salto à

distância, mas precisou abandonar a pro-va porque estava sentindo muitas dores.

“Eu não esperava que meu fi lho chegasse tão longe. Estou muito feliz. Eu criei meu

fi lho para que não fosse digno de pena. Sempre estimulei sua independência”, diz a mãe coruja Denise Ramos, de 41 anos.

O maior desejo de Felipe é conseguir se manter fi nanceiramente através do esporte. Ele

sonha em comprar uma casa para sair do aluguel. Felipe

está sem patrocínio e recebe uma bolsa atleta, concedida pelo governo federal. A Maré e o Brasil estão torcendo por

você!

PERFIL

Prata da casa rumo à PequimFelipe Gomes é um dos atletas selecionados para a paraolimpíada que acontecerá na China

HÉLIO EUCLIDES

Felipe Gomes posa com suas medalhes. Ele é um dos atletas que participaram do parapanamericano 2007

“Eu criei meu fi lho para que não fosse digno de pena. Sempre estimulei sua independênciaDenise RamosMãe de Felipe Gomes

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7O Cidadão

ANÚNCIOS

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8 O Cidadão

ANÚNCIOS

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9O Cidadão

RUA

Primeira rua da comunidadePassando de carro pela Avenida Brasil, a rua José Moreira Pequeno, é o abre alas da Maré

Quem passa em frente ao prédio ane-xo da Fiocruz não percebe uma pla-ca mal conservada, na qual se indi-

ca a Rua José Moreira Pequeno e o começo do Conjunto Esperança. A longa rua vai até a praça da comunidade, e contêm além de prédios, igrejas, antenas de celular de três operadoras, comércios em ambos os lados e casas de até quatro andares. Mas no pas-

sado as coisas eram bem diferentes. “Houve uma época que só se via mato, alguns apar-tamentos e a rua não era asfaltada. Hoje há prosperidade com muitas lojas”, comenta a moradora, Maria Creuza, de 54 anos.

A presidente da Associação de Morado-res do Conjunto Esperança (Amace), Ma-rilene Lopes, de 61 anos, acha importante esse resgate histórico. “Tudo vai melhorar, quando todos acharem importância na for-mação da comunidade”. Ela exalta o valor da rua para o bairro. “Ela é muito importan-te, tem 101 pontos de comércio e indústria, muita gente desconhece esse fato. Como todo lugar precisa de continuidade na con-

servação, especialmente na iluminação dos postes”, fala a presidente da Amace.

Mas, com o progresso vêm as difi culda-des, um problema visível é a sujeira causa-da pelas folhas de amendoeira. Apesar dos latões de lixo particular que se encontram na rua, há reclamações. “Tem que melho-rar, especialmente na limpeza. Aqui não tem gari comunitário”, reivindica o mora-dor e comerciante, Edivan de Souza, de 32 anos. Essa ausência de limpeza causa ou-tras perturbações. “A rua é boa, mas quando chove vira um rio, devido ao lixo espalhado na rua”, revela o cidadão que se identifi cou apenas por Humberto, de 35 anos. Contu-do o morador improvisa soluções. “Suja não pode fi car, então para amenizar cada um limpa sua frente”, diz a recepcionista

da academia, Mônica Cristina, de 19 anos. Mas não só a sujeira incomoda. “Aqui só é ruim quando os policiais entram varados”, relata Bruno Ramos, de 28 anos.

Respostas às reclamaçõesNo assunto coleta domiciliar não há

problema. “Caminhão da Comlurb passa todos os dias”, explica a presidente da Ama-ce, Marilene Lopes.

Sobre a ausência de varredores, o diretor fi nanceiro do projeto Gari comunitário, Ro-gério Lima, de 43 anos, informou que no con-trato com a Comlurb são 120 garis para tomar conta da Kelson até o Conjunto Esperança. Sendo isso no papel, pois estão reduzidos a 72 garis. “Quantidade insustentável, e por isso a população sofre. Não podemos admitir sem a prefeitura autorizar, a promessa é que depois de junho o quadro mude”, conclui.

O Gestor do projeto Eletricista Comu-nitário da Rio Luz, José Gomes Barbosa, de 45 anos, comunicou estar com falta de caminhão para realizar reparos. Outro pro-blema é que algumas luminárias ainda uti-lizam vapor de mercúrio, que falta no mer-cado. Afi rma que em breve dará atenção às 16 comunidades, trocando as lâmpadas pela de sódio, mais moderna e econômica. “Isso acontecerá gradativamente, trabalho a ser realizado pelos nossos três eletricistas e três ajudantes”. E completa que o morador deve ir a associação de sua comunidade ao encontrar postes com lâmpadas queimadas, esta enviará ofício solicitando o serviço de reparo, afi rma.

José Moreira Pequeno é a maior rua do Conjunto Esperança e concentra moradia, comércio e lazer

FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

Sujeira espalhada pela rua do Conjunto Esperança é uma das grandes preocupações dos moradores

“A rua é boa, mas quando chove vira um rio, devido ao lixo espalhado na rua” HumbertoMorador

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10 O Cidadão

A liberdade sexual foi o tema posto em debate no lançamento da campanha: “A Maré contra a homofobia dst/aids! Di-versidade sexual e paz nas favelas.”, no dia 23 de fevereiro no Complexo da Maré. A campanha é encabeçada pelo grupo Cone-xão G, formado por jovens moradores das comunidades da Maré. Segundo a organi-zação, o objetivo da campanha é promover uma manifestação pública em defesa do direito à liberdade de orientação e expres-são sexual como garantia dos Direitos Hu-manos. “Essa mobilização também é para pôr em discussão a questão da aids, pois sabemos que na Maré vem aumentando cada vez mais o número de pessoas infec-tadas pelo vírus do HIV.”, diz o presidente do Conexão G, Gilmar Santos.

O Conexão G inova ao propor a dis-cussão dentro das favelas, locais onde, de

acordo com o grupo, a discriminação e a intolerância são marcantes. “Queremos in-cluir a luta contra dst/aids e homofobia, na agenda política dos movimentos de favelas como meio de combater a exclusão de lí-deres GLBTTs (Gays, Lésbicas, Bissexu-ais, Travestis e Transsexuais) e de pessoas que são soropositivas nesses espaços.”, diz Gilmar. Desse modo, é possível conscien-

tizar a comunidade acerca dos benefícios do respeito à diversidade como dimensão importante na luta pela paz e justiça. “Va-lorizamos o enfrentamento pacífi co das práticas discriminatórias que orientam as ações violentas, como por exemplo, a violência policial, a violência sexual, o racismo e a violência de pessoas que são soropositivas.”, completa Gilmar.

FRANCISCO VALDEAN

Gilmar, presidente do Conexão G, faz a abertura da mesa políticas públicas contra a homofobia

E POR FALAR EM... REPRODUÇÃO

Assoc. de Moradores e Ami-gos do Conjunto EsperançaEndereço: Rua Manoel Falcão A. Mara-nhão, 129 - Conjunto Esperança – Maré – CEP: 21041-615Telefone: 2230-3373 (contato)Ano de fundação: 1981

Associação de Moradores da Vila do JoãoEndereço: Rua 14, 224 - Vila do João – Maré – CEP: 21040-361Telefone: 2290-5878/ 3104-9875Ano de fundação: 1987

Associação de Moradores do Parque Ecológico da Vila do PinheiroEndereço: Via A-2, nº 2 - Vila do Pinhei-ro – Maré – CEP: 21042-020Telefone: 2230-1235/ 3104 8172Ano de fundação: 2000

Associação de Moradores e Amigos da Vila do PinheiroEndereço: Via B-9, s/nº - Vila do Pinhei-ro – Maré – CEP: 21042-020

Telefone: 2230-3028Ano de fundação: 1987

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ri-beiro DantasEndereço: Av. Bento Ribeiro Dantas, 100Bento Ribeiro Dantas - Maré - CEP: 21042-000Telefone: 2598-5980 / 2598-5851Ano de fundação: 1995

Associação de Moradores do Morro do TimbauEndereço: Rua dos Caetés, 131 - Morro do Timbau – Maré – CEP: 21042-070Telefone/FAX: 2560-1353Ano de fundação: 1954

Associação de Moradores da Baixa do SapateiroEndereço: Rua Nova Canaã, 8 - Baixa do Sapateiro – Maré – CEP: 21040-560Telefone: 2290-1092 / 3977-5859Ano de fundação: 1959

Assoc. de Moradores do Con-

junto Habitacional Nova MaréEndereço: Rua Tancredo Neves, s/nºbloco 100 loja 5 – Nova Maré – MaréCEP: 21043-230Telefone: 2598-7413 / 3881-6182Ano de fundação: 1998

Associação de Moradores do Parque MaréEndereço: Rua Flávia Farnese, 45 - Par-que Maré – Maré – CEP: 21040-450Telefone: 3105-6930 Ano de fundação: 1960

Associação de Moradores e Amigos de Nova HolandaEndereço: Rua Sargento Silva Nunes, 1008 - Nova Holanda – Maré – CEP: 21044-240Telefone: 3105-7148/ 7842-3039Ano de fundação: 1979

Instituições comunitárias da Maré

Diversidade sexual nas favelas

ACONTECEU NA MARÉ

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11O Cidadão

SABOR DA MARÉ

Beirute de AtumCRISTIANE BARBALHO

Beirute de atum,uma opção de lanche saudável

Ingredientes:

2 pães sírios1 lata de atum light1colher (café) de orégano1colher (sopa) de cebola picada2 colheres (sopa) de salsa2 colheres (sopa) de maionese light2 tomates picados em cubinhosAlfaceSal e pimenta a gosto

•••••••••

Modo de preparo:

Misture o atum, a maionese, a cebola, o tomate e a salsa.Tempere com sal, pimenta e orégano.Corte os pães ao meio. Forre com uma folha de alface e cubra com o recheio. Feche os Beirute e sirva em seguida.

Fonte: livro: 50 lanches light de 15 minuto. Editora: Ediouro

••

GERAL

Os locutores da comunidadeEles buscam uma inclusão social dos moradores da Maré com os meios de comunicação

Basta passearmos pelas estações de rádio, que lá estão eles para alegrar os nossos dias. O talento

e o sucesso dos locutores pode ser medi-do pela audiência de seus programas.Uns são jovens, outros mais experientes, mas quando falam no microfone a linguagem é a mesma, pois eles procuram ter com os ouvintes da rádio a mesma intimidade que tem com as pessoas nas ruas.

Esse é o caso do jovem Alexandre Master que apresenta um programa diário na rádio do Parque União, tocando ritmos variados. Para ele, é muito gratifi cante trabalhar na comunidade onde mora. “Os moradores e amigos comentam, o retor-no é imediato. É muito bom andar pelas ruas e saber que as pessoas gostam do que você fala”, diz. E completa. “O lado negativo é a falta de privacidade, além do assédio que sofremos”.

Em suas mensagens, Alexandre pro-cura passar que há muitas pessoas talen-

tosas nas comuni-d a d e s . Segundo ele, de-veria ha-ver um registro

no sindi-cato para os

locutores comunitários. “Os nossos jovens pode-

riam ser aproveitados em projetos nas rádios, aprendendo a operar equipamentos, assim sairiam das ruas”, completa.

Com um pouco mais de ex-periência Agnaldo Leandro tra-balha há 20 anos como locutor. Seu programa também é diário

em uma rádio no Morro do Timbau, onde ele só toca clássicos e sertanejos. Ele já passou por várias rádios consagra-das, como a antiga Manchete AM, mas é aqui que ele se sente realizado. “Os ouvintes daqui valorizam mais o nosso trabalho, e nos dão preferência”, conta. Segundo ele, para manter um programa é necessário que os comerciantes locais façam anúncios, o que acontece muito pouco. “Eles valorizam muito o trabalho de fora, deveriam pensar mais naqueles que dão lucros, que somos nós, um ajuda o outro”, afi rma.

Para Agnaldo, o trabalho é difícil. “Aqui nesse trabalho é salve-se quem puder, pois por não sermos regulariza-dos, fi camos a própria sorte”, diz. Ele ainda tem em sua programação um qua-dro social que ajuda as pessoas perdidas nas comunidades a localizarem ruas e documentos.

Locutores de rádios comunitárias na Maré, Agnaldo, à esquerda e Alexandre, à direita mostram a força do veículo

HÉLIO EUCLIDES

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O Cidadão12 O Cidadão

O dicionário defi ne lazer como o tempo disponível de descanso ou folga. E todos os brasileiros,

principalmente os trabalhadores, têm o direito de tirar um momento para relaxar fato que é garantido por lei. De acordo com a constituição brasileira, o salário mínimo brasileiro deve atender as neces-sidades básicas do trabalhador e de sua

família. Sendo elas entendidas como mo-radia, alimentação, educação, saúde, ves-tuário, higiene, transporte, previdência social e lazer. O direito é do trabalhador, mas o dever de oferecer locais para diver-são e descanso é do Estado.

Porém, para alguns moradores o atual valor do salário mínimo não permite

o acesso a maior parte do que é obrigado pela constituição. Essa é a opinião da mo-radora da Nova Holanda Valdenice Loria-no Silva, de 43 anos, que considera baixo o valor fi xado pelo governo. “Ele é péssi-mo. É o pior que existe. Com R$ 415 por mês não dá para fazer nada. Uma família não consegue passar o mês com um piso salarial desse, eles devem é passar fome. Imagina sair para se divertir”, diz.

A moradora do Parque União Edna Alice de Lima, de 51 anos, tem a mesma opinião de Valdenice. Segundo ela, o salá-rio mínimo não permite fazer nada. “Temos que pagar o aluguel, comer, comprar roupas e mistura para a comida, e com ele não dá para fazer tudo isso. Ainda mais agora que estou desempregada. Antes eu tinha a mi-nha profi ssão, agora fi co de um lado para o outro. Eu tenho que fazer ‘bico’ para pagar as minhas contas”, afi rma.

Mas não é somente o salário mínimo que deve garantir o lazer da população. Locais públicos, como praças, devem existir para garantir a diversão de todos. De acordo com o Censo Maré, realizado em 2000, as dezesseis comunidades da Maré possuem juntas mais de 130 mil mo-radores. Número esse que exige uma quan-

tidade maior de áreas de lazer para aten-der a todos esses habitantes. Para alguns moradores, a Maré tem poucos lugares para as brincadeiras e diversão das crianças e adultos. Essa é a opinião da moradora da Nova Holanda Maria das Neves, de 53 anos, que considera importante a existência de mais locais para lazer. “A Vila Olímpica é uma opção, pois lá tem aulas para adultos e crianças. Mas a pracinha aqui em frente a minha casa é uma vergonha, já que os brinquedos estão todos quebra-dos”, diz.

CAPA

“Ele é péssimo. É o pior que existe. Com R$ 415 por mês não dá para fazer nada”Valdenice LorianoMoradora da Nova Holanda

Os mareenses e o lazerComo os moradores da comunidade percebem esses espaços dentro da Maré

CRISTIANE BARBALHO

Pracinha em um dos pontos mais importantes do Parque União, com lixo e brinquedos quebrados, refl ete o descaso das autoridades com as áreas de lazer da comunidade

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Alternativas para o descanso dentro da comunidade existem, como a Vila Olímpica da Maré e a Lona Cultural Herbert Vianna, porém alguns moradores da comunidade não conhecem as atividades desses dois lu-

gares. Esse é o caso de Marilene Alves, de 27 anos, moradora da Vila do Pinheiro que de-monstrou desconhecer a Lona e as ativida-des existentes na Vila Olímpica. “Para mim não tem muita área de lazer na comunidade. A única coisa que faço é utilizar a ciclovia aos domingos com os meus fi lhos. Além disso, acho que deveria ter uma praça para as crianças brincarem. Aqui não tem nada

disso”, com-pleta.

Morador também da Vila do Pinheiro Wilberllan Barcelos, de 21 anos, reclama das condições de conservação da ciclovia localizada próxima a comunidade. “Lá é um ótimo lugar para a prática de exercícios, mas tem que tomar cuidado para não cair ou tor-cer o tornozelo, pois a pista atrapalha devido a suas irregularidades. Também ouvi falar da Lona Cultural Herbert Vianna. Me disseram que é um lugar legal, mas eu ainda não fui lá. Além disso, aqui na comunidade tem muito espaço para a construção de novas áreas de

lazer, mas as vezes as pessoas dei-xam um pouco a desejar e não se interessam em construir nada”, afi rma.

Essa é a mesma opinião do morador da Baixa do Sapateiro

Allan Rosa dos Santos, de 21 anos. Para ele, a comunidade está abando-

nada em relação a lazer e cultura. “Exis-tem poucos atrativos para as crianças. A Praça do 18 é uma opção, mas o local não é mais seguro por causa dos confl itos en-tre facções. Acho que na comunidade de-veria ter mais atrativos, como o tele-cine

para todas as idades que existe na

L o n a C u l -

tural que poderia ser mais freqüentado”, completa.

Já na Praia de Ramos o grande atrativo dos moradores é o piscinão. O lugar fi cou meses fechados, mas para a alegria de seus freqüentadores voltou a funcionar quinze dias antes do carnaval. Segundo Edio dos Santos, de 55 anos, um dos ambulantes cadastrados pela prefeitura, a média de freqüentadores do piscinão é de cinco mil pessoas por dia. “Aqui é muito tranqüilo, a água é limpa e

depois que os ambulantes foram cadastrados o espaço melhorou muito em organização”, analisa. Wedna Barbosa, de 18 anos, morado-ra da Praia de Ramos tem a mesma opinião. “Só freqüento o piscinão. Aqui é ótimo no fi nal de semana, quando está cheio. É bom principalmente para as crianças”, afi rma.

O CIDADÃO entrou em contato com a Secretaria Estadual de Esporte e Lazer para saber sobre projetos desse segmento para os moradores da região. Mas até o fechamento dessa edição nenhuma resposta foi obtida.

Pracinha na ciclovia da Vila do Pinheiro; descaso fi ca evidente para quem, hoje, passa pelo local

HÉLIO EUCLIDES

“Acho que na comunidade deveria ter mais atrativos, como o tele-cine (...) na Lona Cultural que poderia ser mais freqüentado”Allan Rosa dos SantosMorador da Baixa do Sapateiro

“Para mim não tem muita área de lazer na comunidade”Marilene AlvesMoradora da Vila do Pinheiro

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O Cidadão14 O Cidadão

CAPA

Praia de RamosHá poucos meses o local voltou a funcionar com a administração da prefeitura

Muitas áreas de lazer estão aban-donadas na Maré, assim como o Parque Ambiental da Praia

de Ramos. Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do morador da região, em 2001, foi criado projeto de Requali-

fi cação Urbana da Praia de Ramos. E um ano depois, em 2002, o projeto teve seu nome alterado para Parque Ambiental da Praia de Ramos. A idéia partiu do Gover-no do Estado, em parceria com a Petro-bras. Além do piscinão foram instalados no Parque dois conjuntos de banheiros, cinco quiosque de alvenaria e madeira, uma estrutura de atendimento e salva-mento de banhista, estacionamento com 150 vagas, lona cultural, pista de skate, três áreas com brinque-dos infantis, ciclovia e conjun-to esportivo. Mas hoje, quem anda pelo espaço percebe a degradação das ins-t a l a -ções em m e n o s

de uma década. Esse é o

c a s o

da Lona Cultural da Praia de Ramos que inicialmente teve o apoio do Circo Voa-

dor, depois ofereceu atividades viabilizadas por pro-

jetos de uma empresa

d e

FOTOS DE CRISTIANE BARBALHO

Acima, imagem atual do local onde fi cava a horta comunitária da Lona Cultural da Praia de Ramos. À direita, imagem do local, em 2006

“Trabalho aqui há quatro anos e a cada dia o lugar está pior, principalmente a manutenção” Sebastião GonçalvesGari da Comlurb

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O Cidadão 15

telefonia móvel, e hoje é de responsabi-lidade da prefeitura. A lona que chamava a atenção das pessoas que passavam pela Linha Vermelha, pelo seu tom azul, está rasgada. No espaço também existia uma pequena horta, e atualmente no local, há

somente mato. Segundo o gari Sebas-tião Gonçalves, de 42 anos, ainda exis-tem muitas atividades no espaço da lona, como capoeira, dança e bailes de vários estilos musicais toda sexta-feira. Porém, a qualidade do espaço não é mais a mes-ma. “Trabalho aqui há quatro anos e a cada dia o lugar está pior, principalmen-te a manutenção. Antigamente existia uma equipe formada por quinze pessoas, de uma empresa terceirizada, para cuidar e limpar o espaço. Hoje são seis pessoas

para a limpeza”, completa.Para o também gari João Lira

Silva, de 42 anos, o governo poderia aproveitar a mão-de-obra local para a manutenção e conservação do espaço da lona.

Para ele, essa seria uma solução para o desemprego na região. “Tem

tanto pai de família sem emprego e o governo nem precisaria se preocupar

com o transporte”, diz. Se-gundo ele, são apenas

seis garis responsáveis pela limpeza do local

desde a entrada do Parque União à Praia de Ramos. “Às vezes deixamos de

fazer o serviço em outro lugar para limpar

o espaço da lona. E ainda

tem a limpeza da areia do pisci-

não que era feita a

noite. Hoje temos que limpar de dia e as pressas, isso acaba nos sobrecarregando. Além disso, os chuveiros dos banheiros estão quebrados e são os próprios bar-raqueiros que pagam uma pessoa para limpa-los”, relata.

Opções na MaréUma das opções é a Lona Cultural

Herbert Vianna localizada na Rua Iva-nildo Alves s/nº. No local há diversas atividades de lazer, como apresentações teatrais e o cine pipoca que acontece às quartas e quintas. As demais ofi cinas estão suspensas temporariamente a es-pera de autorização da Secretaria Muni-cipal de Cultura para o funcionamento. Segundo Didi de Aquino, de 50 anos, diretor da Lona e professor de Teatro e Caratê, o espaço funciona em prol da comunidade. “As peças que vem de fora cobram o preço mínimo, de acordo com a nossa realidade. E as produzidas aqui são apresentadas gratuitamente para os moradores, e o que mantém a longevi-dade do lugar são as ofi cinas abertas a comunidade”, afi rma.

Um outro lugar que os moradores po-dem utilizar para o lazer é a biblioteca que fi ca dentro da Lona Cultural Her-bert Vianna. O acervo da biblioteca é de mais de 3000 títulos e qualquer morador pode ter acesso aos livros. Segundo a responsável pela biblioteca Glauce Etel-vino, de 35 anos, a biblioteca poderia ser mais utilizada. “Nosso maior público é

o infanto-juvenil e às vezes acontecem eventos e visitas orientadas. O projeto é de responsabilidade da prefeitura, sen-do a única dentro de uma comunidade”, completa. E aqueles que quiserem pegar livros emprestados devem se cadastrar levando comprovante de residência, foto 3x4 e identidade. Os menores de 18 anos só podem fazer o cadastro na biblioteca com o responsável.

O esporte também pode ser entendido como lazer. E um dos lugares que os mo-radores da comunidade podem ter aces-so é a Vila Olímpica da Maré, localizada na Rua Tancredo Neves s/n°. “Qualquer morador da Maré pode utilizar o espaço da Vila Olímpica. É só chegar no dia e pedir autorização, se o local não esti-ver sendo usado, em outras atividades, o morador poderá aproveitar o espaço. Além disso, se algum material estiver disponível ele poderá ser emprestado”, diz Bira Carvalho, de 37 anos, fotógrafo e diretor da Vila Olímpica.

HÉLIO EUCLIDES

Biblioteca da Lona Cultural Herbert Vianna é uma das opções de lazer para o morador da comunidade

“As peças que vem de fora cobram o preço mínimo, de acordo com a nossa realidade”Didi de AquinoDiretor e professor da Lona Cultural

“Às vezes deixamos de fazer o serviço em outro lugar para limpar o espaço da lona”João Lira Gari da Comlurb

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16 O Cidadão

A arte das nossas mães e avós está sendo muito valorizada pela beleza e pela maneira criativa como são

produzidas. O sucesso das peças em cro-chê no Fashion Week mostra a força dessa arte que é praticada em quase todo o Brasil. Aqui na Maré não é diferente, tem muita gente que usa o crochê como forma de sus-tento, uma delas é Valdirene de Oliveira, de 35 anos, moradora da Praia de Ramos.

Ela começou aos 12 anos fazendo paninho de prato, depois foi se especia-lizar em um curso oferecido, na época, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) onde se aperfeiçoou e hoje dá aulas particulares. E com um quiosque na Praia de Ramos, vende e ex-põe várias peças entre roupas e acessó-rios. “O Crochê é como uma assinatura, cada um tem a sua, por isso mesmo pes-soas diferentes não têm traços totalmente iguais”, diz Valdirene. Uma de suas ex-alunas Fabiane Fortes, de 28 anos, sem-

pre gostou de crochê e depois que fez o curso continuou aperfeiçoando-se. Dife-rente da professora, Fabiane só trabalha com roupas e conjuntos, mas diz que vale a pena. “Trabalho normalmente por enco-menda, mas mesmo assim existe épocas que quase não durmo”, afi rma.

Outra apaixonada pelas linhas de cro-chê é Zeni Valença, de 49 anos, moradora do Morro do Timbau. Ela diz que come-çou a arte com a chegada de seu primeiro fi lho, há 30 anos, e desde então não parou mais. “Com a chegada da industrialização o crochê feito à mão fi cou menos valoriza-do, mas dependendo da moda as pessoas ainda procuram”, afi rma Zeni.

SERVIÇO

Você sabe fazer crochê?Muitos moradores da Maré ganham a vida produzindo diferentes peças com a técnica

HÉLIO EUCLIDES

Valdirene de Oliveira em seu quiosque, na Praia de Ramos, onde exibe e vende o crochê feito por ela

Um pouco da história

O crochê é uma técnica antiga que tem origem na palavra france-sa croc, que signifi ca gancho, mas onde e como surgiu, ninguém sabe com precisão. No entanto, pesqui-sas arqueológicas comprovam que o crochê teve origem na China, como uma forma de costura. Alguns lugares como igrejas e associações de moradores costumam oferecer o curso de crochê.

“O Crochê é como uma assinatura, cada um tem a sua,...” Valdirene de OliveiraMoradora da Praia de Ramos

COMO VOVÓ JÁ DIZIA

- Ferva dentro da panela que você usou para cozinhar peixe algumas fo-lhas de chá usadas. O cheiro de peixe desaparecerá completamente.

- A água onde cozinhou batata é ótima na limpeza de talheres e obje-tos de prata.

- Para que seus panos de prato fi-quem brancos, experimente fervê-los com a casca triturada de um ovo cru. Você vai gostar do resultado.

- Para não ficar com as mãos com cheiro de peixe, antes de tratá-lo, es-

fregue nelas vinagre, suco de limão ou sal.

- Um jeito rápido de eliminar o cheiro de alho e cebola de suas mãos é lavá-las com água e bicarbo-nato de sódio.

- Antes de usar uma frigideira nova, ferva nela um pouco de vi-nagre para evitar que os alimentos grudem durante as frituras.

Fonte: Folhinha do Sagrado Cora-ção de Jesus - Editora Vozes

Dicas de Limpeza

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17O Cidadão

ANÚNCIOS

Ligue e Anuncie!

3868-4007

20.000 exemplares distribuídos gratuitamento por todo o bairro.

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18 O Cidadão

ANÚNCIOS

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19O Cidadão

SAÚDE

Reciclagem e meio ambienteComo o morador da comunidade pode reciclar o óleo utilzado na cozinha

Locais de entrega:- Portaria da Dirac (Avenida Brasil 4365 – Fio cruz)- Almoxarifado Central- Portaria da Expansão (Avenida Brasil 4036 – Ao lado do Conjunto Esperança)

A Fio Cruz fi ca na Avenida Brasil 4365 Manguinhos.

Em 2006 o presidente Lula san-cionou um decreto de nº5940 destinando todos os resíduos re-

cicláveis de órgãos e entidades públicas a cooperativas de catadores. Atendendo a esse decreto a Fundação Oswaldo Cruz

passou a receber desde o dia 14 de feve-reiro de 2008 o óleo de cozinha que já foi utilizado.

Para a dona de casa Kátia Garcia, de 34 anos, mora-dora do Par-que União é novidade saber que esse produto pode ser aproveitado. “O óleo que sobra aqui

em casa coloco em jornais velhos até fi car bem encharcado e depois jogo no lixo” diz. Mas deixa claro que só faz isso para que o ralo de sua cozinha não fi que entu-pido com gordura.

Em termos técnicos, para o meio am-biente o óleo vegetal (cozinha) é considera-do tão poluente quanto ao óleo lubrifi cante (utilizado em máquinas para reduzir o atrito

entre suas peças) , por isso deve ser tratado c o m o material

perigoso. O óleo além de contaminar

a água e o solo, obstrui as tubulações e atrapalha o tratamento do esgoto, com um litro de óleo é possível contaminar mais de um milhão de litros de água. O CIDADÃO conversou com o res-

ponsável pela gestão ambiental da Funda-ção Oswaldo Cruz, Tatsuo Carlos Shubo. Segundo ele, desde agosto de 2007 há difi -culdades de encontrar uma cooperativa que atenda as normas da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema).

Esse foi um dos motivos que o levou até Brasília questionar os assuntos que o estatuto não cobra, como o transporte do

material que deve ser feito por moto-

ristas treinados para cargas perigosas. Já que qualquer acidente ambiental será de responsabilidade da Fiocruz. Por enquanto esse material fi cará em barris que se encon-tram na fundação. Após sua reciclagem se tornará detergente para limpeza doméstica. Segundo Tatsuo, será aberta uma licitação para a escolha de uma cooperativa que terá ajuda para se licenciar na Feema. Onde os funcionários poderão se especializar para fazer o transporte com máxima segurança para o meio ambiente. “Não adianta dar somente o trabalho, temos que ensinar o perigo da poluição que esse produto pode causar”, afi rma. É importante a inclusão social das comunidades do Complexo da Maré, fornecendo mão-de-obra capacitada e, ainda, conscientização sobre as agressões ao meio ambiente e a importância da reci-clagem.

Todas as quintas-feiras, das 8h às 11h30, a Fiocruz estará recebendo esse material em seus postos de coleta. O Óleo deverá ser entregue em garrafa pet.

“O óleo que sobra aqui em casa coloco em jornais velhos até fi car bem encharcado e depois jogo no lixo” Kátia GarciaMoradora do Parque União

HÉLIO EUCLIDES

Funcionário da Fiocruz mostra como é feito o condicionamento do óleo de cozinha para a reciclagem

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20 O Cidadão

ESPORTE

Nocaute na exclusão socialCidadania e esporte caminham juntos nos projetos da ONG Luta Pela Paz

O projeto Luta pela Paz fundado há oito anos pelo inglês Luke Dowdney funciona na Nova

Holanda. Um dos seus objetivos é criar campeões no esporte e na vida. “O inte-resse do projeto é fazer com que as pesso-as, consigam se incluir na sociedade, no mercado de trabalho, na educação, entre outros”, diz Ana Caroline da Silva, de 22 anos, moradora da Nova Holanda. A ong oferece atividades esportivas, como boxe, capoeira, luta livre, e educativas, como informática e cidadania, todas de graça, para jovens de 7 à 25 anos.

Segundo Miriam Gonzaga, de 51 anos, educadora social do projeto e mo-radora da Nova Holanda, além dos cursos há as aulas de cidadania, que todos os alu-nos devem participar. Os temas discutidos nessas aulas são sempre atuais e de acordo com a realidade de cada jovem. Alguns temas são direitos e deveres, mercado de trabalho, sexualidade, violência, edu-cação, preconceito, fome, mas principal-mente, alegria, amor e paz. Além desses cursos, a organização tem a preocupação de inserir os jovens atendidos no mercado de trabalho, criando oportunidades para eles, como a inserção em estágios e no programa primeiro emprego.

Para Débora Cordeiro, de 12 anos, que está cursando a quarta série do ensino fundamental, as aulas são muito produti-vas. “Participo do boxe, e gosto mui-to, é um esporte muito bom. Desde o dia que cheguei até agora. Já m e l h o r e i bastante. Participo t a m b é m das aulas de cidada-nia, onde

eu aprendo muita coisa boa sobre a vida”, afi rma. Diogo Sampaio, de 16 anos, que dá aula em alguns projetos e faz informática,

tem a mesma opinião que Débora sobre a impor-tância do Luta Pela Paz. “O que tiro das aulas de boxe, são as disciplinas, porque eu posso colo-car em prática tanto

na rua, quanto em casa. Já nas aulas de cidadania, aprendemos vários temas que levamos para nossa vida. Por isso, a im-portância deste projeto”, afi rma.

Ana Caroline participa do projeto há quatro anos. Começou como aluna e hoje faz parte da equipe como agente de mobi-lização, acompanhando os alunos e seus familiares. “Achamos que as duas coisas devem andar juntas, acompanhamos os alunos aqui e realizamos visitas domici-liares. Quando um jovem não aparece, va-mos até a sua casa saber se alguma coisa aconteceu e, então, o ajudamos”, diz.

A equipe do ong, cerca de 20 pes-soas, sempre organiza eventos para a comunidade. “Realizamos competi-ções de boxe pelas rua. E quando re-alizamos estes eventos, o número de jovens e crianças à procura do curso

aumenta”, diz Caroline. O projeto já conquistou premiações no boxe, como

a Luva de Ouro e os Jogos Abertos, em São Paulo; na Holanda três meninos e uma menina venceram competições. No ano passado ganharam o prêmio Lou-reus, considerado o “Oscar” do esporte. E ainda teve também outros campeona-tos importantes. Para participar das ati-vidades basta ir à Rua Teixeira Ribeiro, 900, Nova Holanda, ou ligar para o tele-fone 3105-5341.

HÉLIO EUCLIDES

Atleta treinando em frente ao espelho na ong Luta pela Paz localizada na comunidade de Nova Holanda

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21O Cidadão

Os foliões mareenses aproveitaram o início de fevereiro para brincar. O Gato de Bonsucesso, o Boca de

Siri e o Se Benze Que Dá, colocaram todos para balançar no carnaval 2008. O Boca em-polgou no sábado, dia dois de fevereiro, na Avenida Rio Branco, no Centro. O Gato fez sua apresentação na segunda-feira, dia quatro de fevereiro, na Estrada Independente Maga-lhães, em Campinho. Já o Se Benze Que dá levou muita gente pelas ruas da Maré.

A Escola de Samba Gato de Bonsucesso, do grupo D, veio com o enredo “Delírios e devaneios de sua alteza real dona Maria vai com as outras”, homenageando os 200 anos da chegada da famí-lia real ao Brasil. O que conquistou 154,1 pontos, dando o oitavo lugar. O Bloco Carnavalesco Boca de Siri, do grupo 1, mostrou “Zumbi dos Palma-res, o líder negro de todas as raças”, trazendo para a Praia de Ramos, o título de bi-campeão.

Já o “Se benze que dá” saiu do Largo IV Centenário, no Morro do Timbau, nos dias, 25 de janeiro e 09 de fevereiro, com destinos diferentes. No primeiro dia se dispersou na Ação Comunitária do Brasil, na Vila do João, e segundo dia na Rua Sargento Silva Nunes,

na Nova Holanda. “Enquanto o ‘caveirão’ passa com alto-falante dizendo ‘sai da rua morador’, nos cartazes que levamos para a rua está escrito ‘pelo direito de ir e vir nas fa-velas: vem pra rua, morador!’”, diz Mariluci Nascimento, uma das integrantes do grupo.

CARNAVAL

Retrospectiva da FoliaMaré fez bonito no carnaval 2008, empolgou todos e a alegria foi geral

HÉLIO EUCLIDES

Quiosque na Praia de Ramos é o ponto de encontro dos sambistas do Bloco Carnavalesco Boca de Siri

Exemplo de empenho e determina-ção, Milton Bragança, de 34 anos, morador do Parque União, desde os

oito anos pegou gosto pela música. Mesmo com difi culdades, não largou o seu sonho de ser cantor. Aos 11 anos, tornou-se profi ssio-nal da área passando por algumas bandas, até gravar seu primeiro cd solo. Hoje, mesmo sem patrocínio, já têm dois gravados. Tudo começou na Igreja Católica do Parque União.

“Um dia participei da banda ‘Rebeldia’, eles me convidaram para integrar o grupo e vi-rei vocalista. Aos 19 anos, entrei para igreja evangélica e comecei carreira solo”, conta.

Um dos seus objetivos é transmitir aqui-lo que acredita através das canções. “Quan-do você canta música secular, não há muito compromisso com as letras, são apenas ins-pirações. Mas, quando são evangélicas, você tem que cantar aquilo que confi a e sente”, diz. Um outro interesse do cantor é o de rea-lizar um projeto social de música em comu-nidades, voltado para crianças e jovens. Este projeto surgiu de um trabalho fi nal apresen-tado, por ele, na faculdade de administração.

Para Milton, não é simples produzir, gravar e divulgar um cd sozinho. “Quando alguém vê um cd pronto, não tem idéia do quanto é difícil. Quando se tem uma grava-dora, tudo é mais fácil. Meu desafi o é con-seguir uma gravadora”, diz. Seu desejo é de que suas músicas toquem nas rádios, facili-tando a divulgação de sua carreira no Brasil.

Seu primeiro cd, “Jesus Chorou”, gravado

em 2005, vendeu mais de mil cópias. Recen-temente lançou o cd “Deus é Fiel”. Segundo ele, as vendas dos cd’s dão pouco retorno fi -nanceiro. “O meu sustento vem por meio do meu trabalho. Se pudesse escolher, seria só cantor”, revela. Suas apresentações aconte-cem em igrejas e casamentos e no local vende seus cd’s a dez reais. Os telefones de contato são: 3881-0742, 8126-7044 e 8746-0742 ou pelo e-mail: miltonbraganç[email protected].

MUSICAL

Música, uma opção de vidaMesmo com difi culdades, Milton Bragança busca o sonho de ser reconhecido em todo Brasil

“Deus é fi el” é o segundo Cd de Milton Bragança

FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

Capa do Cd “Jesus Chorou”, primeiro de Milton

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22 O Cidadão

As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O CIDADÃO (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)

CARTASPÁGINA DE RASCUNHO

Crônica

O Complexo da Maré grita por socorroOlha meus moradores eu quero falar

com vocês da minha tristeza e indignação, por tão grande abandono e tanto descaso.

Eu já não sou mais o mesmo, todos os tipos de bicho e insetos andam em mi-nhas ruas e entram em suas casas, causan-do muitas doenças e enormes transtornos a vocês e seus familiares.

São eles: moscas, moscas varejeiras, ratazanas, pernilongos, caramujos africa-nos, baratas de todas as espécies, lacraias em suma, estou proliferado.

E isso é grave, muito grave! Esgoto a céu aberto, sem falar nas minhas praças e jardins que estão em total abandono. Mi-nhas ruas estão sem iluminação, esburaca-das ou sem remendas. E ainda fazem de-magogias com faixas contendo frases que não batem com a realidade, desde quando a operação tapa buraco é asfaltamento?

Imaginem vocês! Tem moradores tão ruins para mim que pegam pedaços de mi-nhas praças para fazer varandas para suas casas, e outros fazem até no meio de uma determinada avenida. Isso não é desrespeito com a via pública que em mim existente?

O meu canal fi cou conhecido como vala shopping de tantos comércios va-riados em minhas margens, mais o nome verdadeiro é canal do Cunha.

Dentro do meu canal encontra-se mui-to lixo e bem variados por sinal, onde no passado era um manguezal, hoje é um grande deposito de lixo, quase um lixão, falta pouco de tanto entulho.

E as garrafas pet que coisa feia! Daria pra fazer outra casa fl utuante.

Tudo isto junto entope meus bueiros por onde passam minhas águas pluviais que em dias de grandes tempestades inundam mi-nhas ruas, além disso, nesses dias chuvosos em que o valão está cheio e as crianças se esbaldam tomando banho em minhas águas hiper poluídas trazendo para elas enormes complicações de saúde.

Não tem guardiões do rio que de con-ta de tanta sujeira. A Comlurb fazia em mim uma limpeza com o codinome de operação “vassourão”, mas eu sei que a muito tempo nada é feito para melhorar o meu aspecto que continua horroroso. As minhas calçadas estão ocupadas com vocês que vendem coisas para sobrevi-ver e ainda obrigam todos os moradores, adultos, jovens e crianças, a andarem pelo meio das minhas ruas arriscando suas vi-das inocentes.

Todos os meus muros estão pichados e cheios de buracos. As minhas escolas, creches, creches escolas e maternais to-dos sujos e mal conservados.

As minhas áreas de lazeres com os brinquedos todos quebrados.

Eu, Complexo da Maré, grito por so-corro e peço humildemente que vocês me ouçam, pelo amor de Deus.

Atenciosamente,O seu Complexo da Maré

Autora: Maria Euzete r.c

LoucuraAo seu ladoExercito minha loucuraA mistura dos sentimentosO meu sim e o meu não.

Somos a liberdadeSomos essa dualidadeO Eu e o TuSe contradizem.

Caminhamos...Seguimos caminhosÀs vezes opostosÀs vezes entrelaçados.

Um elo se faz presenteNo nosso dia-a-diaComo melodia,Loucura e sentimentos.

Sinto-me ocoSomos loucos nesse continuarConstante.

Admilson Rodrigues Gomes

A cidade ideal Muitas pessoas dizem que para al-

cançarmos a cidade ideal é preciso amor, paz, união ... Mas muitas delas ou peque-na parte não sabe que é preciso investir em outras coisas, como educação.

As pessoas têm que entender que o cidadão deveria ser educado desde o berço pelos pais e depois pela escola. Os pais ensinando o certo e o errado e depois a escola oferecendo um futuro de qualidade.

Todos precisam melhorar nesta cida-de, todas as crianças e adolescentes de-vem estudar para conseguirem um bom emprego. Isso é o principal para se obter a desejada cidade ideal. Muitos países estão no caminho, o Japão é um deles.

Mas não podemos esquecer de que a paz e o amor entre as pessoas também é muito importante, principalmente para que a violência chegue ao fi m em todas as cidades do mundo e se tornem cidades ideais.

Juliana Siqueira de Almeida Morro do Timbau

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23O Cidadão

PiadasPiadasAprendendo na EscolaO que foi que você aprendeu no colégio hoje, Marquinhos?- Aprendi a dizer “Sim, senhor” e “Não, senhor”.- Então, não se esqueça mais, viu?- Falou, pai!

Quando dizer obrigadoJoãozinho acompanha a mãe nas compras. Quando passam pelo caixa, a moça lhe dá uma bala.- Como se fala? – pergunta a mãe.- Põe na conta!

A volta para casaUm bêbado saiu da boate e deu de cara com aquele cama-rada enorme com uma bela farda, parado debaixo da mar-quise.Virou-se para ele e disse:- Chame um táxi!- Que desrespeito é esse? Eu sou um almirante!- Então me chame um navio!

Vale a pena usar de novoUm sujeito vê um fósforo no chão. Recolhe o palito e es-frega a cabecinha do palito numa pedra. Vê que se acende e logo apaga a chama. Feliz da vida coloca o fósforo no bolso e diz:- Já que funciona, eu fi co com ele!

Jogo dos 8 erros

1. Por que quando o galo canta, fecha os olhos?

2. Qual é a coisa que se uma pessoa tiver duas, não tem nenhuma?

3. Que virtude se forma juntando o saber a um instrumento de trabalho?

Resp.: 1. Porque ele sabe a música de cor; 2. Personalidade; 3.Paciência.

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Caro(a) leitor(a), em nossa última edição do jornal O CIDADÃO, falamos do barraco sobre palafi -

tas, construído em tamanho natural e que está colocado no centro do Museu da Maré. Esse lugar foi escolhido com muito carinho. A casa foi e continua sendo o sentido da vida dos moradores. Por isso, ela ocupa um lugar de destaque em nossa exposição.

Dessa vez, falaremos de um objeto que está no barraco, em cima do fogão. É um objeto muito simples, como a maioria dos objetos desse museu. Ele é feito de ferro e madeira e fazia parte do cotidiano de muitas mulheres da Maré.

De que objeto estamos falando?... Acertou quem disse “pente quente”, tam-bém conhecido como “ferro quente”. Isso mesmo, amigo(a) leitor(a)! Um pente cujos dentes eram feitos de ferro e o cabo, de madeira. Ele era usado para alisar os cabelos não somente de mulheres negras, mas de todas que tinham o cabelo muito crespo ou encaracolado.

O pente quente era aquecido no fogão e, depois de bem quente, era pressionado num tecido para não ir direto do fogo aos cabelos. Mas mesmo com essa medida de prevenção, o cheiro de cabelo queima-do era muito forte e acidentes eram cons-

tantes, sendo comuns as queimaduras no pescoço, nas orelhas e na testa.

É, naquele tempo não existia prancha, muito menos as escovas progressivas e in-teligentes de hoje em dia. Era muito sacri-fício pra manter o cabelo liso! Qualquer pouca água, até mesmo o suor da cabeça, acabava com tudo...

O que estava por trás de tanto sacrifí-cio?... Alisar os cabelos era uma forma de fugir do preconceito que se expressava nos apelidos dados a quem tinha o cabelo cres-po: sarará, cabelo de bombril, pixaim, nega do cabelo duro e tantos outros. O “pente quente” representava o esforço de muitas mulheres para não se sentirem inferiores, já que o bonito era ter cabelo liso.

Aqui no Museu da Maré, o “pente quen-te” é uma denúncia contra o preconceito e a dominação, mas, ao mesmo tempo, ele tem um novo signifi cado. Esse pente é sinal de re-sistência! A intenção do Museu é romper com a idéia de que as experiências e os objetos que merecem ser lembrados são apenas aqueles eleitos pela versão ofi cial, “vencedora” da história. De acordo com essa visão, o “pente quente” de uma moradora da Maré, por exem-plo, não precisa ser preservado, muito menos exposto em um museu. Essa versão diminui

a importância da história e das memórias dos moradores e das moradoras da Maré.

O Museu traz uma nova visão para a cida-de e o país, sendo ele um lugar de muitas me-mórias e que tem uma história para ser conta-da e preservada. Por isso, amigo(o) leitor(a), é muito importante que o “pente quente”, seu signifi cado, sua história e as memórias que ele carrega consigo nunca sejam esquecidos, pois ele faz parte do nosso patrimônio cultura.

Esperamos que o Museu seja um lugar onde as novas gerações vão conhecer e apren-der a respeitar as histórias de luta e resistência de quem construiu a Maré. Da mesma forma, queremos que pessoas de tantos e diferentes lugares conheçam e respeitem nossa história. Assim, com as trocas de experiências e o diá-logo, vamos contribuir para enriquecer ainda mais o patrimônio cultural e histórico da cida-de do Rio de Janeiro e do país.

Este espaço representa a história dos moradores da Maré. Envie sua história, perguntas e suges-tões para a Rede Memória na Casa de Cultura da Maré. Endereço: Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748 ou para o e-mail: [email protected] matéria referente a esta página é de exclusi-va responsabilidade do projeto Rede Memória.

O “pente quente” muito utilizado pelas mulheres, no passado, para alisar os cabelos está exposto no Museu

FOTOS DE REDE MEMÓRIA DA MARÉ

Marilene mostra como era utilizado o “pente quente”

Um pente de memórias