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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SOLO CIANOBACTÉRIAS HETEROCITADAS E EUGLENAS VERMELHAS EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO POR INUNDAÇÃO EM PLANOSSOLO HÁPLICO, SANTA MARIA, RS TESE DE DOUTORADO Noeli Júlia Schüssler de Vasconcellos Santa Maria, RS, Brasil 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SOLO

CIANOBACTÉRIAS HETEROCITADAS E EUGLENAS VERMELHAS EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO

POR INUNDAÇÃO EM PLANOSSOLO HÁPLICO, SANTA MARIA, RS

TESE DE DOUTORADO

Noeli Júlia Schüssler de Vasconcellos

Santa Maria, RS, Brasil

2010

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CIANOBACTÉRIAS HETEROCITADAS E EUGLENAS VERMELHAS EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO

POR INUNDAÇÃO EM PLANOSSOLO HÁPLICO, SANTA MARIA, RS

por

Noeli Júlia Schüssler de Vasconcellos

Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo, Área de Concentração em

Nutrição Mineral de Plantas, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de

Doutor em Ciência do Solo.

Orientador: Prof. Dr. João Kaminski

Santa Maria, RS, Brasil 2010

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V331c Vasconcellos, Noeli Júlia Schüssler de

Cianobactérias heterocitadas e euglenas vermelhas em lavoura de arroz irrigado por inundação em planossolo háplico, Santa Maria, RS / por Noeli Júlia Schüssler de Vasconcellos. – 2010. 99 f. ; il. ; 30 cm

Orientador: João Kaminski Coorientador: Maria Angélica Oliveira Tese (doutorado) – Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Rurais, Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo, RS, 2010. 1. Ciência do solo 2. Solo alagado 3. Euglenas pigmentadas 4. Cianobactérias 5. Agroecossistema 6. Arroz I. Kaminski, João II. Oliveira, Maria Angélica.

CDU 631.4

Ficha catalográfica elaborada por Denise Barbosa dos Santos – CRB 10/1756 Biblioteca Central UFSM

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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Rurais

Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Tese de doutorado

CIANOBACTÉRIAS HETEROCITADAS E EUGLENAS VERMELHAS EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO POR INUNDAÇÃO EM

PLANOSSOLO HÁPLICO, SANTA MARIA, RS

elaborada por

Noeli Júlia Schüssler de Vasconcellos

como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciência do Solo

COMISÃO EXAMINADORA:

Dr. João Kaminski (Presidente/Orientador) (UFSM)

Dra. Sandra Maria Alves da Silva (FZBRS)

Dra. Maria Angélica Oliveira (UFSM)

Dra. Zaida Inês Antoniolli (UFSM)

Dr. Diego Pascoal Golle (UFSM)

Santa Maria, 30 de agosto de 2010

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DEDICO aos meus queridos filhos e neto Rafael,

Cristine, Ivan e Júlio pelo amor, carinho, e estímulo

que me ofereceram, dedico-lhes essa conquista,

como reconhecimento da minha gratidão.

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AGRADECIMENTOS

Ao Dr. João Kaminski, pela oportunidade, orientação, conhecimentos transmitidos, confiança,

compreensão e incentivos, sem os quais essa conquista não seria possível.

À Dra Maria Angélica Oliveira, pelos conhecimentos, apoio e amizade compartilhadas durante esses anos de convívio. À Dra Zaida Inês Antoniolli, pelos conhecimentos, apoio, incentivos, conselhos e grande amizade compartilhados antes e durante a realização desta tese. À Dra Sandra Alves da Silva por colaborar com seu vasto conhecimento e conselhos. Ao Dr. Diego Pascoal Golle, pelo coleguismo, apoio e conhecimentos de biologia molecular que tornaram possível a conclusão desta tese. Às grandes e queridas amigas Rejane Flores, Karine Arend e Gislaine Mucelin Auzani pelo carinho, amizade e companheirismo compartilhados tanto nos momentos de dúvidas, cansaço e desapontamentos como nos momentos de alegria. À amiga Manueli Lupatini pela valiosa ajuda e por compartilhar comigo as árduas horas de trabalho em laboratório em pleno verão de Santa Maria. À amiga Delmira Beatriz Wolff pela amizade e incentivo nos momentos difíceis e nas conquistas. Ao amigo Rodrigo Ferreira da Silva pela amizade, companheirismo e, também, pela constante disposição em ajudar com suas dicas. Ao colega e amigo Sérgio Roberto Mortari por estar sempre pronto a ajudar e pelo incentivo dado. Ao aluno e amigo André Domingues pela amizade e pela sua valiosa ajuda. Aos queridos alunos Gerson Vargas, Nilceu Forgiarini, Renata Carvalho, Rodrigo Bernardes e Leila, pela colaboração nos trabalhos a campo e laboratório. A todos os professores, bolsistas e funcionários do Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria pela acolhida, colaboração e disponibilização de laboratórios e equipamentos. Ao Anderson Corrêa, funcionário do laboratório de Engenharia Ambiental do Centroro Universitário Franciscano, pela amizade e cooperação nas atividades desenvolvidas na UNIFRA. À Henrique Bolsi, já falecido, pela amizade e por toda ajuda prestada durante o período em que esteve entre nós.

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““““A descoberta consiste em ver o

que todos viram e em pensar no

que ninguém pensou”

(Szent-Gyorgy)

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RESUMO

Tese de Doutorado Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil

CIANOBACTÉRIAS HETEROCITADAS E EUGLENAS VERMELHAS

EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO POR INUNDAÇÃO EM PLANOSSOLO HÁPLICO, SANTA MARIA, RS

Autora: Noeli Júlia Schüssler de Vasconcellos

orientador: Prof. Dr. João Kaminski Data e Local da Defesa: Santa Maria, agosto, 2010

As reações de oxiredução decorrentes da inundação em lavoura de arroz irrigado promovem

uma maior disponibilidade de nutrientes, oriundos da aplicação de fertilizantes, na solução do solo. Embora o manejo de drenagem inicial, necessário para o melhor estabelecimento das plântulas, contribua para a perda de fertilidade nesses agroecossistemas, eventos como a lixiviação, o escorrimento superficial e o extravasamento de água das quadras com as chuvas mantêm esse tipo de ecossistema enriquecido e favorável ao desenvolvimento do fitoplâncton. O campo de arroz irrigado é um ambiente aquático temporário sujeito a grandes variações quanto a isolação, temperatura, pH, concentração do oxigênio dissolvido e estado nutricional devido a perturbações freqüentes através de práticas como o uso de agrotóxicos (WHATANABE e ROGER, 1985). Cianobactérias e euglenofíceas são favorecidas por essas condições crescendo excessivamente (florações) e causando impactos ambientais que são extensivos aos corpos d`água receptores das águas de drenagem. Por outro lado, muitas das cianobactérias que se desenvolvem nesses ambientes também contribuem para a manutenção da fertilidade do solo. Nesse contexto, objetivou-se com esse trabalho, caracterizar populações de cianobactérias heterocitadas que contribuem para a fertilidade do solo e euglenas vermelhas formadoras de florações em agroecossistema de arroz irrigado por inundação. Para atingir esses objetivos, foram coletadas amostras de água e solo em três quadras experimentais de arroz irrigado e conduzido dois estudos distintos: cultivo, isolamento e caracterização morfomolecular de cianobactérias heterocitadas e cultivo, caracterização morfológica, monitoramento “in loco” das florações e localização dos cistos de resistência no solo, de euglenas pigmentadas formadoras de florações vermelhas. A análise morfológica permitiu a caracterização de quatro gêneros de cianobactérias heterocitadas que contribuem para a fertilidade do solo: Nostoc, Anabaena,

Cilindrospermum e Calotrix. O sequenciamento da região 16S do rDNA foi positivo apenas para uma linhagem do gênero Nostoc (Nostoc linckia) que, pela análise filogenética, está no mesmo grupo de Nostoc TH1S01 e Nostoc piscinale. Os resultados obtidos nos experimentos que visaram a localização dos cistos de resistência evidenciaram que estes se encontram numa profundidade de 0 a 5 cm do solo, porém, concentrando-se mais na superfíce. Para as euglenofíceas não houve comprovação da localização dos cistos de resistência nem mesmo na superfície. O monitoramento do surgimento das florações de euglenas vermelhas mostra que a ausência de turbulência na lâmina d`água, influenciada pela velocidade dos ventos, e a temperatura da água, influenciada pela temperatura atmosférica e radiação solar, são fatores-chave para o desenvolvimento. Conclui-se que a dinâmica das populações tanto de cianobactérias como de euglenofíceas em lavoura de arroz irrigado por inundação é comandada por muitos fatores bióticos e abióticos os quais tornam o conhecimento da sua diversidade e comportamento, na prática, muito difícil havendo, para tal, a necessidade de se empregar metodologias variadas e monitoramento continuo e prolongado. Conclui-se, ainda, que o emprego de cultivo in vitro permite a investigação morfomofológica, promove alterações das populações e dificultam ainda mais a identificação das espécies. Palavras-chave: Solo encharcado. Fixação de nitrogênio. Oryza sativa.

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ABSTRACT Doctorate Thesis

Post-Graduate Program in Soil Sciences Federal University of Santa Maria, RS, Brazil

HETEROCITIC CYANOBACTERIA AND RED EUGLENOPHYCEAE IN FLOODED RICE

AGROECOSYSTEM

AUTHOR: NOELI JÚLIA SCHÜSSLER DE VASCONCELLOS ADVISER: PROF. DR. JOÃO KAMINSKI

Santa Maria, August 30th, 2010

Oxyreduction reactions resulting from the soil flood promote lighest availability of

nutrients from fertilizer application, soil solution. Although the management of drainage, necessary to improve plant establishment contributes to the loss of fertility in these agroecosystems, events such as leaching, runoff and leakage of water from the blocks with the rains keep this ecosystem enriched and pro- development of phytoplankton. Euglenoids and cyanobacteria are favored by these conditions to grow excessively (blooms) and causing environmental impacts that are applicable to the water bodies receiving drainage waters. Moreover, many of cyanobacteria that develop in these environments also contribute to the maintenance of soil fertility. Within this context, with this work, to characterize populations of heterocytous cyanobacterias that contribute to soil fertility and euglenas red blooms forming in agroecosystem of flooded rice. To achieve these objectives, samples of water and soil in three experimental blocks of rice, and conducted two separate studies: culture, isolation and morfomolecular characterization of heterocytous cyanobacteria and cultivation, morphological characterization, monitoring on site and location of blooms cysts of resistance in the soil, forming euglenas pigmented red blooms. Morphological analysis allowed the characterization of four genera of heterocytous cyanobacteria that contribute to soil fertility: Nostoc, Anabaena, Cilindrospermum and Calotrix. Sequencing of 16S RNA gene was only positive for a strain of the genus Nostoc (Nostoc linckia) which, by phylogenetic analysis showed to be a lineage close to Nostoc sp. TH1S01 e Nostoc piscinale. The results obtained in experiments that were aimed at location of the cysts of resistance suggested that such cysts are found at a depth 0-5 cm of soil, however, focuses more on the surface. For euglenoids there was no evidence of the location of the cysts of resistance even at the surface. Monitoring the appearance of blooms of red euglenas shows that the absence of turbulence in water depths, influenced by wind velocity, and water temperature, influenced by atmospheric temperature and solar radiation are key factors for development. It follows from this work, the dynamics of both populations of cyanobacteria as euglenoids in crop irrigated rice is controlled by many biotic and abiotic making knowledge of their diversity and behavior, in practice very difficult having to therefore, the need to employ different methodologies and continuous monitoring and prolonged. It follows further that the use of in vitro culture, while contributing to the research morfomoleculares, promotes populations changes and further complicates the charactrization of the species. Keywords: flooded soil, biological nitrogen-fixing, Oryza sativa.

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LISTA DE ILUSTAÇÕES

FIGURA 1 – Acineto de cianobactéria heterocitada apresentando acúmulo de nutrientes ..... 23

FIGURA 2 – Cisto de cianobactéria heterocitada apresentando acúmulo de nutrientes ......... 43

FIGURA 3 – Filamentos de cianobactérias em meio BG11 (sem nitrogênio) após três semanas

de cultivo; (B) - filamentos de cianobactérias apresentando heterocistos, vistos ao

microscópio, após três semanas de cultivo. Santa Maria, RS, UFSM, 2010 ........................... 46

FIGURA 4 – Crescimento de cianobactérias heterocistadas nos três meios de cultivo testados

(BG11, BG11 - sem nitrogênio e Bold). Os resultados são expressos pelo número de gêneros

encontrados em cada meio testado. Foram realizados três testes ( C1, C2 e C3) para cada meio

................................................................................................................................................. 47

FIGURA 5 – Fenótipo dos taxa isolados em meio de cultivo BG11 sem nitrogênio. Clotrix

com heterócitos terminais únicos e presença de acineto (a), terminais em série de dois á três

(b), com formas esféricas e cilíndricas (c) e intercalados no tricoma (d ................................. 52

FIGURA 6 – Calotrix isolada em meio de cultivo BG11 livre de nitrogênio, evidenciando

envelope de mucilagem e falsa ramificação (a). Presença de inúmeros aerótopos em Nostoc

(b .............................................................................................................................................. 52

FIGURA 7 – Nostoc isolada em meio de cultivo BG11 livre de nitrogênio. Número e

posição dos acinetos em Nostoc (a) bainha de mucilagem difusa e posição dos acinetos (b), e

posição dos heterócitos e espessura do envelope mucilaginoso em Cilindrospermum (c e d,

respectivamente ....................................................................................................................... 53

FIGURA 8 – Principais características diacríticas de Nostoc mantidas em meio BG11 líquido

por quarenta dias. He terócitos quase cilíndricos (a), posição dos heterócitosintercalados

isolados ou intercalados aos pares (b), acinetos grandes e com muitos grânulos de reserva (c),

tricomas apresentando diferentes níveis de helicoidização ou retos (d, e) e acinetos em séries

de cinco a 7, seguidos por heterócito esférico terminal (f ....................................................... 54

FIGURA 9 – Principais características diacríticas de Calotrix mantidas em meio BG11

líquido por quarenta dias. Número e posição dos heterócitos (a) terminal isolado, (b) terminal

e em série de até 4, (c, d) intercalados no tricoma, (e) presença de bainha de mucilagem, (f)

presença de aerótopos, (g) tricomas com afilamento terminal, (h) célula terminal cônica e (i)

reprodução por hormogônio .................................................................................................... 55

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FIGURA 10 – Principal característica diacrítica de Cylindrospermum (posição e forma dos

heterócitos) dos isolados mantidos em meio BG11 sem nitrogênio por quarenta dias ........... 55

FIGURA 11 – Esquema representativo das diferentes formas e posições do heterócito

observado em Cylindrospermum ............................................................................................ 56

FIGURA 12 – Fenótipos dos filamentos de cianobactérias heterocitadas identificadas nas

amostras ambientais. Em (a) filamentos de Anabaena sp., retos, em feixes e com hetrócitos

cilíndricos posicionados após cinco células appicais, (b) Cylindrospermum sp. Com heterócito

apical seguido por um grande acineto com muitos grânulos de reserva e bainha de mucilagem

mais densa que no restante do filamento, (c,d) filamento de Anabaena sp. com acinetos

cilíndricos seguidos pó heterócitos cilíndricos ....................................................................... 60

FIGURA 13 – (a,b,c,d) Célula vegetativa, heterócito e acineto, respectivamente de

Cilindrospermum sp., (d,e,f,g,h) acineto ,células vegetativas e heterócitos de Anabaena sp.,

(i, j,l,m) acineto, heterócito, hormogônio e bainha de mucilagem de Calotrix sp., (o,p,q,r)

células vegetaticas, aerótopos, heterócito de Nostoc sp .......................................................... 61

FIGURA 14 – Gel de agarose representativo dos produtos de amplificação por PCR de

fragmentos do gene RNA 16S. M-marcador de peso molecular. 1,2,3,5,6 e 7 Nostoc sp., 4 e

8 -Calotrix sp. e 9-Cylindrospermum sp ................................................................................. 66

FIGURA 15 – Dendograma basedo na seqüência do gene RNAr 16S (1460 pb) mostrando as

relações do isolado obtido neste estudo ( Nostoc sp 11.) com outras sequências de

cianobactérias depositadas no GeneBank do NCBI (National Center for Biotecnology

Information) segundo método da distância (“ Neighbor Joining” – NJ) . Os números

próximos aos nós indicam valores de reamostragem .............................................................. 71

FIGURA 16 – Aspecto do solo após a drenagem da água e remoção das plantas de arroz,

contendo grande quantidade de cistos de resistência de euglenas (mancha vermelha) em Santa

Maria, Rio Grande do Sul ........................................................................................................ 80

FIGURA 17 – (a) Crescimento de euglenas vermelhas em meio de cultura Bold (Starr, 1978)

após duas semanas da incubação; (b) crescimento celular após três semanas da incubação .. 81

FIGURA 18 – Desenvolvimento de hematocromos em euglenas vermelhas em estágio

palmelóide após duas semanas da incubação; (d) forma e número de grãos de paramido em

célula de euglena vermelha adulta ........................................................................................................... 81

FIGURA 19 – Células desenvolvidas em meio Bold (Starr, 1978), modificado .................... 82

FIGURA 20 – a) metabolia (b) bainha mucilaginosa em célula palmelóide (d) célula em

metabolia (e) cloroplastos de euglena vermelha coletada em lavoura de arroz irrigado por

inundação ................................................................................................................................. 83

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FIGURA 21 – Aparência da floração observada na quadra 2 em 23 de dezembro de 2009,

às 10 horas da manhã, Santa Maria, rio Grande do Sul ........................................................... 86

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Sistemas de classificação de cianobactérias ..................................................... 20

TABELA 2 – Meios de cultura utilizados para o isolamento e manutenção de monoculturas de

cianobactérias fixadoras heterocitadas coletadas nas quadras de arroz irrigado do

Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria, R S............................ 37

TABELA 3 – Oligonucleotídios iniciadores utilizados nas reações de PCR para a

amplificação dos fragmentos dos genes RNAr 16S ............................................................... 42

TABELA 4 – Comparação entre os nutrientes constituintes dos meios para crescimento de

cianobactérias heterocistadas, VB-S (Van Baalen modificado) e meio BG11, livre de

nitrogênio utilizado neste experimento.................................................................................... 47

TABELA 5 – Características morfométricas dos gêneros identificados em amostras

ambientais ( valores em µm, mínimo e máximo), onde C= comprimento, D= diâmetro ........ 62

TABELA 5 – Características morfométricas dos gêneros identificados em amostras

ambientais ( valores em µm, mínimo e máximo), onde C= comprimento, D= diâmetro

(continuação............................................................................................................................. 63

TABELA 6 – Características morfométricas dos gêneros desenvolvidas em meio de cultivo

BG11 sem nitrogênio (valores em µm, mínimo e máximo), onde C= comprimento e D=

diâmetro ................................................................................................................................... 64

TABELA 6 – Características morfométricas dos gêneros desenvolvidas em meio de cultivo

BG11 sem nitrogênio (valores em µm, mínimo e máximo), onde C= comprimento e D=

diâmetro (continuação) ............................................................................................................ 65

TABELA 7 – Sequências acessadas no GeneBank e utilizadas na comparação com a

seqüência do gênero Nostoc isolado nesse estudo ................................................................... 67

TABELA 8 – Valores médios do número de euglenas vermelhas por ml de amostras .......... 72

TABELA 9 – Meios de cultivo utilizados para o isolamento e manutenção de monoculturas de

euglenas vermelhas coletadas na área do estudo ..................................................................... 76

TABELA 10 – Principais características diacríticas utilizadas na classificação da euglena

vermelha coletada em lavoura de arroz irrigado por inundação .............................................. 84

TABELA 11 – Condições do nicho ecológico monitorados semanalmente nas lavouras de

arroz irrigado por inundação (Q1 eQL2) a partir do primeiro dia após o alagamento, campus

da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2010 ....................................... 85

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................................

2.1 Cianobactérias..............................................................................................................

2.1.1 Cianobactérias e a fixação biológica de nitrogênio.....................................................

2.1.2 Nitrogênio em lavoura de arroz irrigado por inundação.............................................

2.1.3 Fósforo........................................................................................................................

2.2 Euglenofíceas................................................................................................................

2.2.1 O gênero euglena........................................................................................................

2.2.2 Euglenas vermelhas.....................................................................................................

2.2.3 Euglenas vermelhas em lavoura de arroz irrigado por inundação..............................

18

19

21

26

27

29

30

31

32

3 CAPÍTULO I: CIANOBACTÉRIAS HETEROCITADAS DE LAVOURA DE

ARROZ IRRIGADO POR UNDAÇÃO............................................................................

33

3.1 Introdução..................................................................................................................... 34

3.2 Hipóteses e objetivos.................................................................................................... 35

3.2.1 Hipóteses..................................................................................................................... 35

3.2 2 Objetivos..................................................................................................................... 35

3.3 Material e Métodos...................................................................................................... 36

3.3.1 Área do estudo............................................................................................................ 36

3.3.2 Coleta das amostras líquidas e de solo........................................................................ 36

3.3.3 Cultivo e isolamento................................................................................................... 37

3.3.4 Análises químicas.......................................................................................................

3.3.5 Caracterização morfológica........................................................................................

3.3.6 Caracterização molecular............................................................................................

3.3.6.1Extração do DNA genômico.....................................................................................

3.3.6.2 Amplificação do gene RNAr 16S............................................................................

3.3.6.3 Sequenciamento dos produtos da PCR....................................................................

3.3.7 Localização dos cistos de resistência..........................................................................

3.4 Resultados e Discussão................................................................................................

3.4.1 Atributos físicos e químicos do solo e da água...........................................................

39

39

40

40

41

42

43

44

44

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3.4.2 Cultivo e isolamento..................................................................................................

3.4.3 Caracterização morfológica e morfométrica.............................................................

3.4.4 Descrição, ilustração e principais características diacríticas dos taxons isolados em

meio de cultivo BG11 sem nitrogênio................................................................................

3.4.4.1 Descrição................................................................................................................

3.4.4.2 Ilustrações dos fenótipos dos táxons desenvolvidas em meio BG11 sem

nitrogênio............................................................................................................................

3.4.4.3 Principais características diacríticas dos taxa desenvolvidos em meio BG11 sem

nitrogênio............................................................................................................................

3.4.5 Táxons isolados de amostras ambientais...................................................................

3.4.5.1 Descrição.................................................................................................................

3.4.5.2 Ilustrações dos fenótipos das populações identificadas em amostras ambientais...

3.4.5.3 Principais características diacríticas dos taxa identificados nas amostras

ambientais............................................................................................................................

3.4.5.4 Características morfométricas.................................................................................

3.4.6 Caracterização molecular usando o gene rRNA 16S.................................................

3.4.6.1 Extração do DNA e amplificação por PCR.............................................................

3.4.6.2 Sequenciamento dos produtos da PCR....................................................................

3.4.7 Análise filogenética....................................................................................................

3.4.8 Localização dos cistos de resistências........................................................................

3.5 Conclusões....................................................................................................................

45

48

48

49

51

53

56

57

59

57

60

61

66

66

66

67

71

72

4 CAPÍTULO II: EUGLENAS VERMELHAS DE LAVOURA DE ARROZ

IRRIGADO POR INUNDAÇÃO.....................................................................................

73

4.1 Introdução....................................................................................................................

4.2 Hipóteses e objetivos....................................................................................................

4.2.1 Hipóteses....................................................................................................................

4.2.2 Objetivos....................................................................................................................

74

74

74

75

4.3 Material e métodos...................................................................................................... 75

4.3.1 Área do estudo............................................................................................................ 75

4.3.2 Coleta das amostras.................................................................................................... 75

4.3.3 Meio de cultura e condições de cultivo...................................................................... 76

4.3.4 Isolamento.................................................................................................................. 78

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4.3.5 Caracterização fenotípica............................................................................................

4.3.6 Monitoramento das florações de euglenas vermelhas em lavouras de arroz

irrigado por inundação..........................................................................................................

4.3.7 Localização dos cistos de resistência no solo.............................................................

78

79

79

4.4 Resultados e discussão.................................................................................................

4.4.1 Cultivo in vitro............................................................................................................

4.4.2 Caracterização fenotípica............................................................................................

4.4.3 Principais características diacríticas...........................................................................

4.4.4 Monitoramento das florações de euglenas vermelhas em lavoura de arroz irrigado

por inundação.......................................................................................................................

4.4.5 Características da floração..........................................................................................

4.4.6 Localização dos cistos de resistência..........................................................................

80

80

82

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84

86

86

4.5 Conclusão..................................................................................................................... 87

CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................

88

89

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INTRODUÇÃO

A prática intensa da rizicultura em ambiente inundado introduz constantemente

nutrientes-chaves no desenvolvimento e permanência de florações de algas e cianobactérias

nestes ambientes. Cianobactérias são comuns em lavouras de arroz onde o fósforo, principal

nutriente limitante do desenvolvimento desses organismos, é altamente suprido com a

adubação e escoamento superficial de solos suscetíveis à erosão, e com o nitrogênio

introduzido no ambiente pela adubação nitrogenada. Nesses ambientes é comum o

desenvolvimento de espécies filamentosas com capacidade de formar densas massas de

filamentos. Devido às lavouras de arroz permanecerem alagadas durante a maior parte do

ciclo da cultura, ou durante todo o ciclo, porções de comunidades flutuantes estão sujeitas a

um padrão de distribuição irregular influenciado pelo movimento da água e do vento, e

também, pelo espaçamento entre plantas. Filamentos individuais ou porções de agregados de

cianobactérias podem se mover também verticalmente e aderir às partes submersas e

emergentes das raízes das plantas de arroz (METTING, 1994).

Os nutrientes, N-Nitrato, N-amônium e P-ortofosfatos são limitantes ao crescimento

das cianobactérias e das algas. Coincidentemente, estas são as formas principais destes

elementos utilizados na agricultura. Tais elementos são obtidos pela síntese industrial da

amônia (NH3) a partir do nitrogênio atmosférico (N2). Este processo, em termos de custos

energéticos, é muito caro (processo Haber-Bosch, 200 ºC; 200 atm). Apesar disto, indústrias

em todo o mundo produzem mais de 80 x 1012 g ano-1 de fertilizantes nitrogenados. Ocorre,

também, que, do ponto de vista agrícola, a fixação sintética do nitrogênio é crítica, pois,

raramente, a produção industrial de fertilizantes à base de nitrogênio supre a demanda

agrícola (FAOSTAT, 2001).

As formas inorgânicas de Nitrogênio (N) e Fósforo (P), em meio anaeróbio como as

lavouras de arroz inundado, predominam e facilitam a assimilação pelas cianobactérias e

algas, provocando as suas florações. A razão para tal fenômeno é que o ciclo equilibrado do

nitrogênio depende de um conjunto de fatores bióticos e abióticos determinados e, portanto, o

ambiente nem sempre está apto a assimilar o excesso sintetizado artificialmente. Por outro

lado, o fósforo disponível é o elemento que atua no controle da produção de biomassa apesar

de ser o nutriente essencial em menor concentração nos mais ecos diversos sistemas. O

excesso deles, por sua vez, é carregado para os rios, lagos e lençóis freáticos, favorecendo o

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fenômeno da eutrofização e comprometendo a qualidade das águas. Além disso, a tendência

de estratificação térmica das águas facilita a deposição ou a migração dos cistos tanto de

cianobactérias como de euglenas vermelhas garante que toda a carga (biomassa) de células de

uma floração permanecerá no sedimento do fundo mesmo nos períodos onde as condições não

são propícias ao crescimento na superfície.

O surgimento de florações de algas e cianobactérias, mesmo aquelas que representam

um benefício para o ecossistema, pode ser indicativo de impacto ambiental. As euglenas

vermelhas e muitas espécies de cianobactérias são produtoras de toxinas e desta forma podem

comprometer a sobrevivência de outros organismos mais complexos naturalmente presentes

nesse tipo de agroecossistema.

A maioria das florações de cianobactérias presentes num ecossistema aquático, são

representadas por poucos gêneros que, geralmente, são de produtores de toxinas (YUNES,

2002). O predomínio de determinados grupos de cianobactérias e algas sobre outros do

mesmo nível da cadeia trófica, que equilibram o meio aquático em condições normais, pode

ser explicado pelas características fisiológicas pelas quais os grupos utilizam os nutrientes (N

e P). Este fenômeno constitui uma estratégia na qual, microrganismos produtores de toxinas

teriam desvantagem na competição pela assimilação destes nutrientes para outros

microorganismos mais eficientes, que em condições normais crescem mais e melhor. Desta

forma, a produção de toxinas evitaria a predação por esses grupos (YUNES, 2002).

Por outro lado, a fixação biológica de nitrogênio por cianobactérias, além de contribuir

para o auto-fornecimento do nitrogênio utilizado para a formação da planta, minimiza os

impactos do nitrogênio sobre o meio ambiente. Adicionalmente, os processos naturais fixam

em torno de 32 kg ha-1 ano-1 de nitrogênio onde noventa por cento (90%) do nitrogênio da

fixação biológica é obtido por bactérias ou algas azuis (cianobactérias) (SCHLESINGER,

1997).

Neste contexto, é importante o conhecimento da dinâmica de espécies de

cianobactérias heterocitadas (fixadoras de nitrogênio) e algas como as euglenas vermelhas,

que desempenham importantes papéis ecológicos neste tipo de ecossistema. Sendo assim,

com este trabalho, objetivou-se, caracterizar morfologicamente e molecularmente

cianobactérias heterocitadas e euglenas vermelhas neste tipo de ecossistema.

Este trabalho foi dividido em dois artigos. O primeiro se refere á caracterização

morfológica e molecular de cianobactérias heterocitadas englobando, também, o cultivo, o

isolamento e aspectos da sua ecologia no ambiente lavoura de arroz. O segundo artigo se

refere à caracterização morfológica e molecular de euglenas vermelhas formadoras de

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florações em lavoura de arroz inundado, englobando, igualmente, aspectos da ecologia deste

grupo de algas no ambiente estudado.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A água é o solvente universal, por isso ela não é encontrada pura em nenhuma situação

na natureza. O seu aspecto e a qualidade nada mais são do que o grupo de substâncias que

estão solubilizadas ou em suspensão. Assim, águas de mares e oceanos não estão disponíveis

por causa do excesso de cloreto de sódio dissolvido. Do mesmo modo, um grande número de

substâncias minerais e orgânicas presentes na água determina a sua condição de habitat para

determinados seres vivos. Deste modo, a água atua também como veículo de transferência de

substâncias e hábitat de organismos, inclusive de microorganismos patogênicos (MACEDO,

1994). Porém, existe uma estreita relação entre os tipos de solos e a sua ocupação antrópica

com qualidade da água disponível.

Os principais meios pelos quais os poluentes atingem um curso de água de maneira

difusa, é o escoamento superficial. O escoamento, ou deflúvio superficial e as perdas de solo

mostraram estar relacionado com a quantidade de precipitação, ou seja, com a intensidade da

chuva (BERTOL et al., 2003). Merten (2002) destaca que os problemas de poluição causados

pelo deflúvio superficial estão associados, principalmente, ao transporte de fósforo solúvel

para os corpos de água uma vez que a fração solúvel predomina sobre a particulada nos solos

submetidos à semeadura direta. Com isso, o risco de poluição é maior, já que a forma solúvel

é prontamente utilizada pelas algas, e outros produtores, superando a capacidade de

oxigenação e desencadeando o processo de eutrofização.

Os solos ocorrentes na Depressão Central do Rio Grande do Sul são do grupo dos

Argissolos e dos Planossolos. Nestes últimos cultiva-se arroz e no primeiro, agricultura de

terras altas (STRECK et al., 2002). As represas para reservatórios da água de irrigação são

construídas nos limites entre ambos, portanto, nas bacias de contribuição ocorrem,

genericamente, Argissolo. Etes solos se caracterizam por apresentarem B textural e drenagem

dificultada nos horizontes subsuperficiais, portanto, os fluxos internos de água são laterais,

como comprovados pela extensa rede de drenagem com ocorrência de córregos permanentes

ou intermitentes. Assim, a recarga dos reservatórios ocorre, também, por águas de drenagem.

Estes solos, em condições naturais, se caracterizam por possuir fertilidade natural baixa, pois

são ácidos e com muito baixos teores de fósforo. Assim, as águas acumuladas, nestas

condições, têm baixos teores de fósforo e baixo risco de eutrofização (SPERLING, 1996).

Porém, quando a água passa por zonas agrícolas há forte tendência de arrastar contaminantes

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para a zona de acumulação, inclusive as várzeas. Por isso, à medida em que as áreas de

pastagens são ocupadas pela agricultura, ou que as várzeas sejam destinadas a cultivos anuais,

irrigados por inundação ou não, esse risco é aumentado e torna possível o aparecimento de

florações de algas.

2.1 Cianobactérias

As cianobactérias (Cyanobacteria) pertencem ao domínio Bacteria e são chamadas,

também, de Cyanophyceae, Cyanophyta, Cyanoprokaryota, Cyanophycophyta, algas azuis ou

algas verde-azuladas. Estas representam os mais antigos organismos da Terra onde têm

desempenhado papel determinante na evolução da atmosfera oxidante de nosso planeta

(SCHOPF 2000; HAYES 1983).

Esses organismos são os principais contribuintes da fotossíntese e fixação de

nitrogênio nos habitats aquáticos (MATEO, 2006). Da mesma forma, possuem grande

importância ecológica, pois são co-responsáveis pela fertilidade dos corpos aquáticos e dos

solos indutores da produção primária dos ecossistemas.

O mais recente sistema de classificação para as cianobactérias é o proposto por

Anagostidis & Komárek (Anagostidis & Komárek 1985, 1988, 1990; Komárek &

Anagostidis, 1986, 1989, 1995, 1998; Hoffmann, Komárek & Kastovsky, 2005) (Tabela 1),

que tem por base, além das características morfológicas, características morfométricas e

bioquímicas. Contudo, é consenso, na atualidade, a importância da aplicação de métodos

moleculares para inferir sobre a filogenia das cianobactérias quando a variação morfológica é

restrita ou a homologia das características não é clara.

A classificação por métodos moleculares permite uma abordagem mais ampla sobre a

diversidade biológica por meio do exame de sequências que evoluíram em diferentes níveis.

Entre estas sequências estão as sequências de DNA como a do espaço intergenômico do

operon da ficocianina, que se encontra entre os genes cpcB (cpcB- IGS) (BERGSLAND;

HASELKORN, 1991). Essas sequências são vistas como uma alternativa ao gene RNAr 16S,

responsável pela síntese de subunidades pequenas de RNA ribossomal, que nem sempre

fornece variação suficiente para os estudos de filogenia.

Os genes rRNA 16S são essenciais e ocorrem em pelo menos uma cópia no genoma

(ACINAS et al. (2004). Eles estão presentes também em todos os genomas mitocondriais

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cujos genes foram perdidos pela maioria dos seus ancestrais ao longo de sua história de

simbiose (GRAY et al., 1999). A universalidade desses genes fazem deles o alvo ideal para

estudos filogenéticos e classificação taxonômica (WOESE, 1987).

Os métodos moleculares mais utilizados são o Polimorfismo de Comprimento de

Fragmentos de Festrição, (RFLP) baseado hibridização (KONDO et al., 2000); Polimorfismo

de Comprimento de Fragmentos Amplificados (AFLP), ARDRA, REP-PCR, RAPD)

(SATISH et al., 2001), os quais permitem uma diferenciação ao nível de linhagem além de

uma maior cobertura genômica. Outros métodos moleculares como o sequenciamento de

regiões dosgenes RNAr 16S, rbc, LX, por c1, rpoB (FIORE et al., 2005; GUGGUER et al.,

2002), permitem uma diferenciação ao nível de linhagem ou subespécie. Ainda, são

amplamente utilizadas as seqüências da região do Espaço Interno Transcrito (ITS) entre o

DNAr 16S ou DNAr 23S as quais também permitem a diferenciação ao nível de linhagem

(GUGGER et al., 2002).

Tabela 1 - Sistemas de classificação de cianobactérias

Classificação Botânica (Anagnostidis & Komárek 1990, Komárek & Anagnostidis 1989, 1999, 2005)

Classificação Bacteriológica (Boone & Castenholz 2001)

ORDEM CHROOCOCCALES Organismos unicelulares, coloniais ou pseudofilamentosos. Reprodução por divisão celular, fissão binária ou fissão múltipla. 11 famílias.

SUBSEÇÃO I Organismos unicelulares ou coloniais. Reprodução por fissão binária simétrica ou assimétrica em 1,2 ou 3 planos ou por “budding”.

ORDEM OSCILLATORIALES Organismos filamentosos homocitados. 6 famílias

SUBSEÇÃO III Organismos filamentosos unisseriados que sofrem fissão binária em um plano perpendicular ao eixo longitudinal. Somente células vegetativas (em alguns casos, necrídios). Alguns membros com ramificações falsas. Presença de heterótrofos facultativos.

ORDEM NOSTOCALES Organismos filamentosos heterocitados, produção facultativa de acinetos, divisão celular exclusivamente perpendicular ao eixo longitudinal do tricoma, ramificação ausente ou falsa. 6 famílias.

SUBSEÇÃO IV Organismos filamentosos unisseriados que sofrem fissão binária em um plano perpendicular ao eixo longitudinal (às vezes, ocorrência de ramificação falsa). Presença de heterocitos e, frequentemente, acinetos. Às vezes, hormogônios.

ORDEM STIGONEMATALES Organismos filamentosos, uni ou multisseriados, com ramificação verdadeira e produção facultativa de heterocitos. 8 famílias.

SUBSEÇÃO V Organismos filamentosos multisseriados com divisão celular transversal, oblíqua ou longitudinal – ramificações falsas e verdadeiras. Heterocitos, acinetos

CLASSIFICAÇÃO POLIFÁSICA (Hoffmann, Komárek & Kastovsky 2005)

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Ordem : PSEUDANABAENALES - Organismos filamentosos estreitos. 2 famílias. SUBCLASSE: OSCILLATORIOPHYCIDADE nom.prov. – Tilacóides radiais. Ordem: CHROOCOCCALES - Organismos unicelulares ou coloniais. 11 famílias. Ordem: OSCILLATORIALES - Organismos filamentosos grandes. 5 famílias. SUBCLASSE: NOSTOCOPHYCIDAE nom. prov. - Filamentosas heterocitadas, arranjo irregular dos tilacóides. Ordem NOSTOCALES – 10 famílias.

2.1.1 Cianobactérias e a fixação biológica de nitrogênio

Na agricultura a mais importante influência das cianobactérias é na fixação biológica

de nitrogênio (N2) no cultivo de arroz em solo alagado. Esse processo pode suprir todo o

nitrogênio requerido em alguns sistemas de cultivo tradicionais como os utilizados na China,

Índia e Vietnam. Além disso, esse mecanismo de assimilação de nitrogênio contribui para a

fertilidade dos solos nos quais cresce arroz híbrido de alto rendimento (METTING, 1994).

A fixação do Nitrogênio é mediada pelo Fotossistema I (PSI) e pela geração de ATP e

redução de ferredoxina. Contudo, a ausência do Fotossistema II (PSII) implica na importação

de carboidratos das células vegetativas para a fixação de N2 e para manter a condições

anóxicas nos heterócitos. A respiração também gera ATP e, dessa forma, cobre parcialmente a

demanda de energia da nitrogenase em presença de luz, constituindo a única fonte de ATP

(energia) no escuro.

A fixação biológica do nitrogênio é realizada em condições anóxicas, seja em células

especializadas (heterócitos) dotadas de paredes espessadas e fotossistema II (produtor de

oxigênio) suprimido, seja por meio da separação temporal entre respiração e fixação de

nitrogênio. A ausência de oxigênio é requisito para a atividade da nitrogenase, enzima que

reduz o dinitrogênio atmosférico à amônia.

As cianobactérias crescem em quase todos os ambientes aquáticos e terrestres e,

portanto, possuem distribuição ubíqua no planeta, sendo talvez os organismos fotossintéticos

com maior amplitude de habitats. Assim sendo, são capazes de crescer em ambientes

extremos como fontes termais, desertos quentes e gelados, e toleram temperaturas de até

730C, pH até 4,0 (WARD, 1997; CASTENHOLZ, 2001) e salinidade de 200 ppm ou mais.

Possuem, também, mecanismos de proteção à elevada incidência de radiação solar nociva

(UVB e UVC), ao mesmo tempo em que são adaptadas a baixas intensidades luminosas.

Utilizam como substrato o plâncton, o bênton, plantas aquáticas, outros organismos, solo ou

sedimentos.

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A presença de características fisiológicas como a cinética de captação de carbono e

nutrientes, a capacidade de fixação do nitrogênio atmosférico bem como de estruturas

especiais, como o desenvolvimento de aerótopos em muitas espécies planctônicas, são a razão

do seu sucesso ecológico. Os aerótopos, vesículas gasosas delimitadas por membrana protéica

reunidas no interior da célula, favorecem a mobilidade vertical na coluna d´água a inúmeras

cianobactérias de vida aquática. Cronberg & Annadoter (2003) citam que o nitrogênio tem

particular importância não apenas para o metabolismo das cianobactérias mas, também, para a

síntese de aerótopos. Desta forma, conseguem explorar recursos nutricionais depositados nas

camadas mais profundas dos corpos d’água e a sua permanência nos extratos com condições

ideais de irradiação solar, evitando dano celular por fotooxidação (WALSBY , 1994).

A diversidade morfológica das cianobactérias é ampla, abrangendo formas

unicelulares, coloniais, filamentosas ou pseudoparenquimatosas, de dimensões micro a

macroscópicas. Nas colônias, o arranjo das células ou filamentos pode ser irregular, radial ou

em planos ordenados. O diâmetro celular varia de 0,5 µm em Prochlorococcus, o menor

organismo fotossintético conhecido a mais de 100 µm (ADAMS & DUGGAN 1999).

Algumas espécies podem mover-se por deslizamento promovido pela extrusão da mucilagem

que recobre as células ou pela atividade de estruturas especiais chamadas pili, bem como ou

estruturas semelhantes a cílios.

Os mecanismos de reprodução assexuada ocorrem por simples divisão celular, pela

produção de baeócitos ou exocitos (antigamente denominados de endósporos e exósporos,

respectivamente), pela fragmentação do tricoma ou pela formação de hormocistos ou

hormogônios (fragmentos de tricoma móveis). Goyal (1992) relata a existência de plasmídeos

em várias espécies. Entretanto observa-se, também, a existência de fenômenos de

transferência genética horizontal como conjugação, transformação e transdução (BARKER et

al., 2000 a).

O material genético está contido no centroplasma em um ou vários cromossomos

circulares e em cada célula podem ocorrer de uma a múltiplas cópias do genoma (ITEMAN et

al. 2002).

Alguns grupos desenvolvem acinetos (Figura 1), células de resistência com parede

espessada e grande acúmulo de nutrientes em seu interior, possivelmente, devido a flutuações

drásticas nas condições do meio (MOORE et al. 2005).

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Figura 1 – Acineto de cianobactéria heterocitada apresentando acúmulo de nutrientes (KOMÁREK, 2007).

O crescimento mais favorável das cianobactérias ocorre em águas neutroalcalinas

onde o pH pode variar de 6 a 9, de temperaturas entre 15 a 30ºC, onde há alta concentração

de nutrientes como nitrogênio, fósforo e gás carbônico (YUENES, 2002).

Cianobactérias são comuns em lavouras de arroz onde o fósforo, principal nutriente

limitante do desenvolvimento desses organismos, é altamente suprido com a adubação e

escoamento superficial de solos suscetíveis à erosão, e com o nitrogênio introduzido no

ambiente pela adubação nitrogenada. Nesses ambientes é comum o desenvolvimento de

espécies filamentosas com capacidade de formar densas massas de filamentos. Devido às

lavouras de arroz permanecerem alagadas durante a maior parte do ciclo da cultura, ou

durante todo o ciclo, porções de comunidades flutuantes estão sujeitas a um padrão de

distribuição irregular influenciado pelo movimento da água e do vento, e também, pelo

espaçamento entre plantas. Filamentos individuais ou porções de agregados de cianobactérias

podem se mover também verticalmente e aderir às partes submersas e emergentes das raízes

das plantas de arroz (METTING, 1994).

Durante o período em que as fontes naturais de nitrogênio combinado são deficientes,

as cianobactérias passam a fixar o nitrogênio molecular presente na atmosfera convertendo

em amônia e, portanto, tornando-se mais competitivas e capazes de se desenvolver

massivamente. Dentre os gêneros que possuem a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico

nestas condições encontram-se os gêneros Anabaena, Anabaenopsis, Aphanizomenon,

Cilindrospermopsis, Gloeotrichia, Cilindrospermum e Nostoc.

O nitrogênio é um elemento importante no metabolismo tanto de algas como de

cianobactérias, participando da composição molecular de proteínas e enzimas, das quais

dependem as reações químicas celulares.

Nos ecossistemas aquáticos, apesar de muito escasso, o nitrogênio ocorre em várias

formas: nitrogênio molecular (N2, dominante), nitrato (NO3), nitrito (NO2), amônia (NH4+

,

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NH3+

, NH4+

OH), óxido nitroso (N2O), nitrogênio orgânico dissolvido (NOD) como uréia,

purinas, etc. e nitrogênio orgânico particulado (NOP), representado por organismos e detritos.

As principais fontes naturais de nitrogênio são: águas das chuvas, matérias orgânicas e

inorgânicas alóctones lixiviadas ou carreadas do solo e de rios e fixação de N2. Entretanto,

para os produtores primários como o caso das algas e cianobactérias, o nitrato e a amônia se

constituem nas mais importantes fontes de nitrogênio, pois são abundantes e

preferencialmente absorvidos pelas células, devido à rapidez de reações associadas ao baixo

consumo de energia (REYNOLDS, 1997).

Na escassez destes dois compostos (nitrato e amônia), várias espécies do fitoplâncton

passam a utilizar o nitrito e/ou matéria orgânica dissolvida, que é a fonte mais abundantede

nitrogênio, depois do N2. As principais fontes de nitrogênio no meio aquático são: a lise

celular (morte ou herbivoria), decomposição e excreção pelo fitoplâncton e macrófitas.

Na atmosfera o nitrogênio é mais abundante que o oxigênio, (16% - 20% de O2 e 74%

- 78% de N2) e encontra-se na forma de gás. Esse é requerido pelo seres vivos na forma de

proteínas, cujas unidades formadoras são os aminoácidos, que possuem nitrogênio na

molécula. Como as proteínas, as unidades estruturais de todos os organismos, “a simples

presença de compostos nitrogenados na água indica que ela entrou, de alguma maneira, em

contato com matéria orgânica” (PÁDUA, 1996).

O ar constantemente recebe o nitrogênio devido à ação, ainda nos sistemas aquáticos

ou úmidos, das “bactérias desnitrificantes”. Desse ar, tal elemento químico é retirado pela

ação de outras “bactérias fixadoras” e também por certas algas, as cianobactérias, e ainda

pelas reações provocadas nas descargas elétricas atmosféricas (PÁDUA, 1996; MOREIRA e

SIQUEIRA, 2006).

As células vegetais utilizam nitrogênio reduzido normalmente transferido na célula

como grupo aminoácido (-NH2). Esta transferência envolve enzimas, e as mais conhecidas são

a nitrato-redutase, catalisando a reação (NO3 → NO2) e a nitrito-redutase catalisando a reação

(NO2 → N2). Em concentrações elevadas de NH4+ , a nitrato-redutase é inibida e a célula

passa a absorver maior quantidade de amônia que pode tornar-se tóxica. A amônia está

presente nos meios aquáticos principalmente como NH4+ (sais amônium) e é muito mais

reativa que o nitrato, devido à sua alta energia química. A amônia é rapidamente absorvida

pelas algas, mas persiste em pequenas quantidades na água devido à sua intensa e rápida

excreção por animais aquáticos.

No sistema aquático o óxido nitroso (N2O), produzido principalmente no sedimento

rente à água e sob ação de bactérias, sob um processo conhecido como fotodissociação, forma

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o monóxido de nitrogênio (NO). O óxido nitroso (N2O), também aparece no processo de

oxidação a partir do nitrogênio orgânico/NH3, uma das suas principais fontes (PÁDUA,

1996).

Dentre os organismos desnitrificantes estão as bactérias do gênero Pseudomonas entre

outros anaeróbios facultativos. As fixadoras são representadas pelos gêneros Azotobacter (de

vida livre aeróbia); Clostridium, (de vida livre anaeróbia); Rhizobium, (simbiontes, que vivem

em nódulos das leguminosas); Rhodospirillum (fotossintetisante); Pseudomonsa (vivendo no

solo) e certas bactérias que vivem em folhas e epífitas de locais úmidos. Das algas

(cianobactérias), aquelas que fixam o nitrogênio do ar, as mais conhecidas são: Anabaen e,

Nostoc (PADUA, 1996; MOREIRA & SIQUEIRA, 2006).

Constituem fontes de compostos nitrogenados: a fixação biológica desempenhada por

bactérias e algas, que incorporam o nitrogênio atmosférico em seus tecidos, contribuindo para

a presença de nitrogênio orgânico na água; a fixação química, reação que depende da presença

de luz, concorrendo para as presenças de amônia e nitratos na água; as lavagens da atmosfera

poluída pelas águas pluviais concorrem para as presenças de partículas contendo nitrogênio

orgânico, bem como para a dissolução de amônia e nitratos.

Uma parcela do nitrogênio livre na água, na forma amoniacal, transforma-se por

oxidação em nitrito e depois em nitrato disponível. Parte desse nitrogênio disponível

desaparece nos sedimentos profundos (solo), permanecendo retido por muitos anos, sendo

expelido somente nas erupções vulcânicas.

Nas águas naturais, geralmente encontra-se o nitrato (NO3 -) em solução. Entretanto, se

houver aporte de despejos domésticos, podem ser encontradas quantidades variáveis de

compostos mais complexos, ou menos oxidados como a amônia e o nitrito. Certas algas, as

“xantofíceas”, conhecidas como “algas amarelas” como, por exemplo, as dos gênerso

Vaucheria e Tribonema , e algumas bactérias, são capazes de “reduzir” o nitrato (NO3) em

nitrito (NO2), estas aparecendo em enormes concentrações mesmo em volumes pequenos de

água, quando originária de “poças”, onde proliferam em abundância (PÁDUA, 1996).

Em águas urbanas a fonte de nitrogênio (N) está nos esgotos sanitários, responsáveis

pelo lançamento do nitrogênio total nas águas, devido à presença de proteínas, nitrogênio

amoniacal (NH3), e amônia inorgânica (NH4 ).

As águas agrícolas, pelo escoamento das águas pluviais pelos solos fertilizados,

contribuem para a presença de diversas formas de nitrogênio nos sistemas aquáticos. Por sua

vez, os efluentes industriais (indústrias químicas, petroquímicas, siderúrgicas, farmacêuticas,

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alimentícias, matadouros, frigoríficos e curtumes) descarregam nitrogênio orgânico e

amoniacal nas águas.

No solo, o N encontra-se distribuído em várias frações como N2, N orgânico, N- NH4+,

e N- NO3-. Grande parte desse nitrogênio encontra-se em formas quimicamente estáveis.

Entretanto, dentre os elementos que circulam o sistema solo-planta-atmosfera, é o que passa

por maior número de transformações bioquímicas no solo. Essas transformações constituem o

ciclo do nitrogênio onde se distinguem três subciclos chamados: elementar, autotrófico e

heterotrófico. O subciclo elementar é uma conexão entre as formas vivas e os compartimentos

dominantes na Terra e na atmosfera, sendo representado pela desnitrificação e fixação biológica

do N. O N produzido nesse subciclo é armazenado na biomassa (animal, planta e microbiana). O

subciclo autotrófico inclui a atividade das plantas, fotossíntese e formação de compostos

orgânicos nitrogenados utilizados pelos microrganismos heterotróficos. O sub-ciclo heterotrófico

é caracterizado pela mineralização, dissipação de energia da matéria orgânica e produção de

formas inorgânicas de N no solo (MOREIRA e SIQUEIRA, 2006).

2.1.2 Nitrogênio em lavoura de arroz irrigado por inundação

Nos solos inundados, o nitrogênio passa por grandes transformações devido à

diversidade das formas químicas, reações e processos aos quais está envolvido (FILLERY et

al., 1984). A conversão de N atmosférico para formas combinadas ocorre por meio da

fixação biológica de N2. Por sua vez, as formas orgânicas são convertidas em NH4+e em NO3

-

pelo processo denominado mineralização. A conversão para NH4+ é denominada

amonificação; a oxidação deste composto para NO3-é designada por nitrificação. A utilização

de NH4+ e de NO3

-, pelas plantas e por microorganismos do solo constitui de assimilação e

imobilização, respectivamente. O N combinado é novamente devolvido à atmosfera como

óxido nitroso (N2O) e N2 molecular, por meio, da desnitrificação biológica, completando,

assim, a dinâmica de N na natureza (STEVENSON, 1986; BARBER, 1984).

Ganhos de N no solo alagado ocorrem por meio da fixação de N2 molecular pelos

microorganismos livres (Azotobacter, Clostridium) e simbióticos (Rhizobium), pelo retorno de

nitrato (NO3-) na água da chuva ou irrigação e pela adição através da adubação.

As perdas são devidas principalmente à volatilização de amônia, denitrifição,

lixiviação, escorrimento superficial e pela remoção das culturas (DE DATTA, 1981).

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Alguns grupos de cianobactérias conseguem fixar o nitrogênio na forma gasosa (N2),

quando não há concentração mínima crítica de nitrogênio na forma iônica assimilável na

água, proporcionando-lhe vantagem competitiva em relação às outras espécies que não

possuem esta adaptação. Nestas cianobactérias o N2 é transformado em NH4 pela enzima

nitrogenase que contém ferro em sua estrutura e é desnaturada em presença de oxigênio.

Quando o nitrogênio encontra-se nas formas reduzidas (NO4, NO3, NO2) ocorrem as florações

de verão ou outono de espécies dos gêneros Aphanizomenon, Anabaena, Cylindrospermopsis,

Nostoc, Nodularia, entre outras, em sistemas aquáticos onde ocorre estratificação térmica.

Então, o N2 pode representar fração significativa do estoque de nitrogênio na água. Para isso,

é necessário, também, que os metais de transição (ferro e molibdênio) estejam presentes, pois

eles controlam a atividade da nitrogenase. As concentrações de nitrato e amônia devem ser

pequenas, pois eles controlam a formação dos heterócitos (HOWART et al., 1988).

2.1.3 Fósforo

O Fósforo é um nutriente limitante no crescimento de organismos nos corpos de água

(ARCHIBOLDE, 1995), os quais também requerem carbono e nitrogênio como nutrientes

majoritários. Assim como as reações químicas deixam de se processar quando um reagente

limitante é totalmente consumido, o crescimento de algas é limitado pela disponibilidade de

fósforo na água. Em um ecossistema aquático aberto, uma concentração de 0,02 mg L-1 de

fosfato é considerada preventiva à floração de algas, porém, quando a concentração for

inferior a 0,003 mg L-1, o sistema aquático será deficiente em fósforo. Contudo, quando a

concentração de fósforo solúvel excede 0,02 mg L-1, o meio se torna favorável ao

desenvolvimento de algas e cianobactérias, organismos que podem comprometer a qualidade

das águas (MACÊDO, 2003), por isso esse valor pode ser considerado o teor crítico.

Nos ecossistemas aquáticos, o fósforo esta sob a forma de sais do ácido ortofosfórico,

cujo íon ortofosfato é a forma mais comum e a mais utilizada pelos vegetais. Os sais podem

estar dissolvidos na água, portanto biosdisponíveis, ou seus íons adsorvidos em partículas de

sedimentos em suspensão. Água clara, muito transparente e limpa, está associada a teores de

fosfato abaixo do teor critico, porém, isso não significa que não seja encontrada certa

diversidade em espécies de algas ( MACEDO, 2003).

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Em estudos desenvolvidos por Perona et al. (1998, 1999a) apud Mateo (2006) foram

observadas mudanças na composição e distribuição de espécies de cianobactérias em um

ecossistema aquático espanhol (rio) as quais foram atribuídas à variabilidade espaço-temporal

dos nutrientes N e P. Em Yunes (2009) as relações N:P do meio lacustre são citadas como

sendo a causa da ocorrência de espécies dessas cianobactérias.

Várias espécies de cianobactérias como, por exemplo, Anabaena spp e

Aphanizomenon flos-aquae são capazes de assimilar ortofosfato em excesso (luxury

consumption) durante períodos de elevadas concentrações do nutriente na água, armazenando-

o intracelularmente na forma de polifosfatos através de fosfatases. Durante períodos de

depleção de fósforo, as reservas são utilizadas. Em alguns casos, em períodos de forte

estratificação térmica, pode ocorrer rápida migração vertical para águas da zona afótica, e as

células armazenarem fosfato em excesso e, em seguida, retornarem ao epilímnion para

realizar intensa fotossíntese. O fosfato também pode ser armazenado no interior da célula na

forma de cristais durante períodos de maior concentração deste nutriente.

O ciclo do fosfato não necessita das bactérias para ocorrer, pois é capturado por

organismos produtores e passa de um organismo ao outro, dentro da biosfera, por meio da

cadeia alimentar, na forma orgânica, mas retorna a forma inorgânica durante os processos de

dissipação de energia realizada por organismos decompositores.

O fosfato tem alta reatividade com partículas coloidais, tanto no solo como em

sistemas aquáticos, por isso em condições normais terá solubilidade menor do que o nitrato,

que é altamente solúvel na água. Esse mineral, pela decomposição orgânica, deixa a cadeia

alimentar (vegetais, animais, etc.), podendo retornar ao solo e/ou, então, retornar a cadeia

alimentar (reabsorção pelas plantas); e/ou perder-se da cadeia alimentar e retornar ao meio

aquático carreado para o sedimento.

Os solos que se encontram em áreas mais baixas da paisagem, denominados solos de

várzea, apresentam uma grande amplitude de variação nas características morfológicas, físicas

e químicas (VIEIRA et al., 2003). Em solos de várzea classificados como hidromórficos, as

características químicas, físicas e biológicas são grandemente influenciadas pelas condições

hídricas sazonais de umedecimento e secagem (SWAROWSKY, 2006). Mas de qualquer

modo são áreas caudatárias das águas de deflúvio superficial e podem ser enriquecidas de

nutrientes quando estas são provenientes de áreas de agricultura. Essas águas carregam

sedimentos de erosão, nutrientes minerais dissolvidos e, inclusive, xenobióticos (BERTOL et

al, 2003; GONÇALVES, 2003), criando condições para ocorrência dos processos que levam a

eutrofização. Como são ambientes sazonalmente alagados e, por esta razão, escolhidos para o

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cultivo de arroz irrigado, há uma alternância nas condições de oxidação e redução,

responsáveis pelas intensas modificações na fase sólida mineral e na dinâmica de elementos

altamente reativos como o fósforo.

Segundo Velloso et al. (1993), com a inundação, os teores de fósforo disponíveis

aumentam principalmente nas primeiras semanas, pois as reações de oxirredução favorecem a

ionização de fosfatos de ferro, inclusive influenciando na própria reposição de fósforo pela

adubação, cujas doses recomendadas para solos deficientes destes nutrientes são menores que

as de culturas de sequeiro, mesmo que o arroz tenha maior produtividade de grãos por

unidade de área e a exportação pelos grãos não inferior aos das culturas de sequeiro.

2.2 Euglenofíceas

Euglenofíceas são algas unicelulares, móveis, com um ou mais flagelos que partem do

reservatório (estrutura responsável pela captura e armazenamento de alimento). Estes

microrganismos são reconhecidos como euglenóides devido à presença de uma mancha

(estigma) de coloração vermelha-alaranjado fotossensível que tem função de orientar a célula

no ambiente. Externamente elas possuem uma película estriada e flexível, o periplasto,

responsável pela dinâmica da mudança de forma na metabolia (LEANDER, 2004).

Quanto à forma de nutrição, cerca de 1/3 dos gêneros atualmente registrados têm

cloroplastos, sendo, portanto, fototróficas ou fotossintetizantes. Como pigmentos, possuem

clorofila a, clorofila b e carotenóides. Os gêneros heterotróficos não possuem cloroplastos,

necessitando de uma fonte de Carbono e Nitrogênio para a sua nutrição. Existem alguns

gêneros considerados fagotróficos que, por sua vez, ingerem alimento pré-formado.

As euglenofíceas habitam preferencialmente águas doces, ricas em matéria orgânica.

Poucas espécies fazem parte do fitoplâncton marinho. Tanto as espécies de água doce como as

de ambiente marinho desempenham importantes funções ecológicas como a de produtores

primários e, portanto, constituem a base da cadeia alimentar. São particularmente abundantes

em lagos eutróficos e reservatórios cercados por terras cultivadas ou terras altamente

produtivas, antes dos maiores impactos causados pelas práticas de agricultura

(EDMONDSON, 1969). Por essa razão, tanto as autotróficas como as hetrotróficas são

biomarcadores da qualidade da água.

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Dentro deste grupo de algas, o gênero Euglena Ehr. apresenta espécies que podem

ocorrer em elevado número de indivíduos em ambientes aquáticos, causando florações de

coloração vermelha como Euglena sanguinea Ehr (PRESCOTT, 1978; ALVES-DA-SILVA

& THAMAHANA, 2006). A coloração vermelha sanguínea é devido à presença de grânulos

(hematocromos) que mascaram a clorofila quando as células são expostas à alta radiação solar

(ROSOWSKI, 2003).

Nas florações, situação que ocorre em temperaturas superiores a 25 oC, pH alcalino e

radiação solar alta, as células podem ocupar toda superfície da lâmina d`água (LACKEY,

1968 apud ROSOWSKI 2003). As condições que levam a formação das florações vermelhas

ainda não estão bem esclarecidas. Acredita-se que seja em resposta ao aquecimento da água e

máxima radiação solar (PHILIPOSE, 1982; XAVIER et al., 1991).

2.2.1 O gênero Euglena

O nome Euglena vem do grego e significa organismo em forma de olho redondo

(WEHR and SHEATH, 2003). São inicialmente reconhecidas pela presença de um estigma

laranja-brilhante a vermelho isolado e localizado próximo ao reservatório. Existem 13 gêneros

de Euglenóides autotróficos atualmente aceitos e um total de 2000 espécies entre autotróficas

e heterotróficas (NORTON et al., 1996).

Uma característica desse gênero é a intensa metabolia caracterizada por movimentos

como; natatório, contração, rastejamento e deslizamento (BOVEE, 1982). Contração, também

conhecido como movimento euglenóide ou metabolia, resulta da rápida mudança de forma no

final de uma contração quando a célula torna-se, seguida por uma rápida expansão ou

extensão na superfície célular e assume aparência amebóide ou, podem ainda, se contorcer por

meio de movimentos peristáticos.

O gênero Euglena e outros poucos gêneros de euglenofíceas passam por estágio

chamado palmelóide, como em Euglena e Colacium (JAHN, 1946). O estágio palmelóide é

constituído por células não móveis de euglena que ficam cobertas por mucilagem e podem

passar por repetidas divisões nestas condições (ex: E. viridis Ehr var. virridis, Schmitz var.

mutabilis, Jb. wiss. Bot., 15: 37, 1884, E. stellata, E. schmitzii, E. pisciformis, E. oblonga, e.

sociabilis, E. splendens Dang. var. splendens, Le Botaniste, 8: 69, 1901 E. mutabilis, E.

próxima, (ZAKRYS and WALNE, 1994). Células palmelóides podem se mover antes de se

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tornarem flageladas novamente. Em E. myxocylindracea, uma espécie de solo, as células

raramente tem um flagelo emergente e passam, obrigatoriamente, por um estágio palmelóide

durante o seu ciclo de vida e essas células em estágio palmelóide são cobertas com mucilagem

(ROSOWSKI, 1977). O estágio palmelóide não é reportado em euglenóides heterotróficos

(JAHN, 1946; LARSEN and PATERSON, 1991).

Cistos de três tipos foram descritos em euglenóides: protetores; reprodutivos (dentro

dos quais ocorre a divisão celular), temporários, transitórios ou de repouso (parede fina, mas

não completamente fechada), (JAHN, 1946). Infelizmente, estes estágios não estão

completamente descritos para as espécies de euglenóides da América do Norte ou outros

lugares. Johnson (1994,) encontrou cistos em 28 das 41 espécies de Euglena em Iowa.

Entretanto, existem poucos detalhes morfológicos sobre os cistos.

Euglenóides verdes ocorrem na maioria dos corpos d’água iluminados, criando poças

verdes (Rosowski, personal observation, Orono, ME), tornando- se os maiores componentes

de lagos (PRESCOTT, 1962, 1978).

Algumas espécies têm preferência por sulfato de amônia ou fosfato de amônia

(CRAMER & MEYERS, 1952; MUNAWAR, 197). Isto não ocorre quando surgem

associações com clorococales que competem com elas pela amônia. Outras espécies parecem

ter preferência pelo nitrato NO3, como por exemplo, E. oxyuris var. charkowiensis Schmarda

var. oxyuris, Beitr. Nat. e E. pisciformis, (PHILIPOSE, 1982.)

2.2.2 Euglenas vermelhas

Entre as espécies do gênero Euglena, as formadoras de florações vermelhas como a

Euglena sanguinea, são particulamente interessantes por possuírem hematocromos, grânulos

que mascaram a clorofila (ZAKRYS and WALNE, 1994). Numa situação de floração suas

células podem ocupar toda a superfície da lâmina d`água e migrar para o fundo quando a

intensidade luminosa e temperatura diminuírem, normalmente no final da tarde (LACKEY et

al., 1968). Outras espécies deste gênero como, por exemplo, a Euglena rubra, formam uma

escuma vermelha na superfície dos corpos d`água, possivelmente em resposta ao aquecimento

da água e aumento da radiação solar (ZAKRYS and WALNE, 1994). Entretanto, este fato

ainda não é bem conhecido. Em condições de baixo fluxo ou ausência de luz, estas espécies se

movimentam em direção à luz. Por outro lado, quando a luz é intensa, elas podem se proteger

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da radiação UVB por curto período de tempo, assumindo a forma esférica e tornando-se

imóveis (GERBER and HÄDER, 1993).

A espécie Euglena sanguinea é caracterizada por sua forma que varia de amplamente

fusiforme a fusiforme, medindo 110-120 µm de comprimento e 23-30 µm de largura,

cloroplastos alongados, radialmente arranjados, grãos de paramido amplamente elípticos,

grânulos de hematocromos numerosos e distribuídos em toda a superfície da célula, e flagelo

caudal de uma vez o comprimento celular (ALVES-DA-SILVA e FORTUNA, 2006).

2.2.3 Euglenas vermelhas em lavoura de arroz

Florações desta espécie foram relatadas em ambientes rasos, tanques de peixes ou em

cultivo de arroz por Xavier et al. (1991). Publicações sobre florações desenvolvidas em

lavouras de arroz irrigado são praticamente inexistentes e, no Brasil, se limitam aos relatos de

Alves-da-Silva (2008) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa

Catarina S.A. (Epagri – Estação Experimental de Itajaí, SC) e Universidade do Vale do Itajaí

(UNIVALI/CTTMar a partir de 2001.

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3 CAPÍTULO I: CIANOBACTÉRIAS HETEROCITADAS EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO POR INUNDAÇÃO

RESUMO

Cianobactérias são comuns em lavouras de arroz em solo inundado onde exercem não apenas um papel ecológico, mas também importante influência na fixação biológica do nitrogênio (N2). Com este trabalho objetivou-se caracterizar morfologicamente e molecularmente populações de cianobactérias heterocitadas de lavoura de arroz irrigado por inundação. Para este fim, foram coletadas amostras de água e de solo durante o período de alagamento e após o ciclo da cultura. As amostras líquidas foram analisadas em microscópio óptico e inoculadas em placas de petri contendo diferentes meios de cultivo. As placas foram mantidas em estufa com fotoperíodo de 12 horas, sob uma temperatura constante de 25±2°C e intensidade luminosa de 35 µmol m-2s-1, por um período de três semanas. Após três semanas de incubação, avaliou-se o crescimento de filamentos e efetuando-se sucessivas transferências de tricomas, previamente identificados ao microscópio, para novas placas contendo as mesmas formulações de meio de cultivo. Este procedimento foi repetido até a obtenção de culturas puras. As amostras de solo foram alagadas e tratadas com diferentes concentrações de nitrogênio e fósforo. A avaliação do crescimento foi realizada por meio da determinação do número de cultivos positivos versus número de gêneros desenvolvidos. O isolamento foi realizado pela identificação dos diferentes gêneros e transferência para novas placas contendo os mesmos meios de cultura até a obtenção cultivo puro. Os isolados foram, então, submetidos a extração do DNA genômico, seguido da amplificação e sequenciamento do gene RNAr 16S. Observou-se eficiência no desenvolvimento das cianobactérias já na primeira semana do cultivo, quando as placas apresentavam um grande número de colônias com filamentos bem definidos e coloração característica das cianobactérias. Das formulações testadas, o meio BG11 sem nitrogênio apresentou maior eficiência no desenvolvimento dos filamentosanobactéria. Foram isolados quatro gêneros de cianobactérias heterocitadas de lavoura de arroz irrigado por inundação: Nostoc, Calotrix, Anabaena e Cilindrospermum os quais foram morfologicamente. Sequências de rDNA ribosomal relacionadas com seqüências do gene rRNA ribossomal foram determinadas apenas para Nostoc..

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3.1 Itrodução

Os processos indiretos e diretos de poluição dos ecossistemas aquáticos favorecem a

eutrofização e o desenvolvimento de florações de cianobactérias, algumas das quais são

produtoras de toxinas, produto, muito provavelmente, resultante do metabolismo secundário,

usado como defesa contra a predação (YUNES, 2002).

As cianobactérias são procariotos fotoautotróficos aeróbios e os principais

contribuintes da fotossíntese e fixação de nitrogênio (N2) nos habitats aquáticos e, na

rizicultura de solo alagado, são as principais responsáveis pela fixação biológica de nitrogênio

devido à presença de estruturas chamadas heterócitos que confere a estes organismos a

capacidade de crescer em meios diazotróficos.

A fixação do Nitrogênio (N2) é mediada pelo Fotossistema I (PSI) e mediada pela

geração de ATP e redução de ferredoxina. Contudo, a ausência do Fotossistema II (PSII)

implica na importação de carboidratos das células vegetativas para a fixação de N2 e para

manter a condições anóxicas nos heterocitos. A respiração também gera ATP e, dessa forma,

cobre parcialmente a demanda de energia da nitrogenase em presença de luz e constitui a

única fonte de ATP (energia) no escuro.

A fixação biológica de nitrogênio pelas cianobactérias pode suprir todo o nitrogênio

requerido em alguns sistemas de cultivo tradicionais como os empreados na China, Índia e

Vietnam. Pode, ainda, contribuir para a fertilidade dos solos nos quais cresce arroz híbrido de

alto rendimento (METTING, 1994; MATEO, 2006).

Com este trabalho, objetivou-se caracterizar as populações de cianobactérias

heterocitadas e descrever condições de pH, temperatura, radiação que fazem parte do nicho

dessas populações bem como, identificar o gênero que predomina neste tipo de ecossistema.

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3.2 Hipóteses e objetivos

3.2.1 Hipóteses

A prática intensa da rizicultura em ambiente inundado introduz constantemente

nutrientes-chaves no desenvolvimento e permanência de florações de algas e cianobactérias

nestes ambientes. Baseado no papel desempenhado pelos elementos fósforo e nitrogênio no

desenvolvimento das algas e cianobactérias nos sistemas aquáticos bem como da relação

existente entre o processo de oxi-redução do ferro e a disponibilidade de fósforo, são

formuladas para este estudo as seguintes hipóteses:

a) Nostoc é o gênero de cianobactéria heterocitada que predomina em sistemas de lavoura de

arroz inundado,

b) Os cistos de resistência das cianobactérias se encontram apenas na camada de 0-5 cm da

superfície do solo,

3.2.2 Objetivos

Os objetivos específicos deste trabalho são:

a) Identificar e caracterizar morfologicamente e molecularmente as populações de

cianobactérias heterocitadas presentes em lavoura de arroz irrigado por inundação,

b) Descrever o nicho ecológico destes das cianobactérias heterocitadas presentes no

ecossistema de lavoura de arroz irrigado por inundação

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3.3 Material e métodos

3.3.1 Área do estudo

O estudo foi realizado com amostras coletadas em área de várzea pertencente ao

departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria, em Santa Maria, Rio

Grande dos Sul, no ano agrícola de 2008 e 2009, em um Planossolo hdromórfico eutrófico

arênico, pertencente à unidade de mapeamento Vacacaí (STRECK, et al. 2002).

3.3.2 Coleta das amostras líquidas e de solo

As amostras líquidas utilizadas neste estudo foram coletadas em três quadras sob

sistema convencional de plantio (Q1, Q2 e Q3) e uma sob o sistema de consórcio com peixes

(Q4) aproximadamente 30 dias após o alagamento. A coleta foi realizada com frascos (500

mL), âmbar, conforme proposto por Metting (1994) e homozeneizadas para formar uma

amostra composta. Logo após a coleta, as amostras foram transportadas para o laboratório de

Microbiologia e Biologia do Solo e Ambiente do departamento de solos da Universidade

Federal de Santa Maria, RS, onde foram imediatamente inoculadas em placas de petri

contendo três diferentes formulações de meios de cultivo adequados para o crescimento de

cianobactérias (Tabela 2).

Em cada uma das quatro quadras experimentais foram coletadas três amostras de solo

nas camadas de 0 a 10 cm de profundidade. O solo foi seco ao ambiente, destorroado, moído e

tamizado em malha de 2 µm, mantido em sacos plásticos devidamente identificados, até o

momento da análise das características físicas e químicas.

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3.3.3 Cultivo e isolamento

Foram empregadas duas formulações diferentes de meios nutritivos: meio BG11 e

BG11 sem nitrogênio, sugeridos por Allen, (1968) e apropriados para o crescimento de

cianobactérias não heterocitadas e heterocitadas, respectivamente, e o meio Bold (STARR,

1978), para microalgas e cianobactérias (Tabela 2). Os meios foram solidificados com 10 g L-

1 de ágar, esterilizados em autoclave por 20 minutos a 120°C e 1,0 atm de pressão.

Posteriormente, o material foi transferido para uma estufa com fotoperíodo com 12 horas de

luz e 12 horas de escuro, temperatura de 25±2°C e intensidade luminosa de 35µmol m-2s-1

fornecida por 4 lâmpadas fluorescentes brancas, frias, do tipo luz do dia e de 20 Watts de

potência (METTING, 1994).

Tabela 2 – Meios de cultura utilizados para o isolamento e manutenção de monoculturas de cianobactérias fixadoras heterocitadas coletadas nas quadras de arroz irrigado do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria, R S.

Meios de cultivo

Nutrientes BG11 (ALLEN, 1968)

Normal

Bold

(STARR, 1978)

BG11

(ALLEN, 1968)

Sem nitrogênio

(Macronutrientes) g L-1

NaNO3

1,5

2,5 -

K2HPO4 0,04

0,75 0,04

KH2PO4 - 1,75 -

NaHPO4. 7H2O - - -

MgSO4. 7H2O 0,075

0,75 0,075

MgCl2. 6H2O - - -

CaCl2. 2H2O 0,036 0,2 0,036

Na2 – EDTA 0,001

5,0 0,001

Na2CO3 0,02

- 0,02

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38

FeCl3. 6H2O - - -

Ácido cítrico 0,006

- 0,006

Citrato férrico amoniacal

0,006

- 0,006

(Micronutrientes)

H3BO3 2,86 1,14 2,86

KOH _ 3,1 _

FeSO4. 7H2O - 0,5 -

MnCl2.4H2O - 0,14 -

ZnSO4. 7H2O 0,222

0,88 0,222

ZnCl2 _ - _

CoCl2.6H2O _ - _

Co (NO3 )2 . 6H2 O)

0,494 0,05 0,494

CuCl2 _ - _

CuSO4 .5H2O 0,079

0,157 0,079

NH4VO3 _ - _

Na2MoO4.2H2O - - -

pH 7,1 6,6 7,1

O isolamento das cianobactérias heterocitadas foi realizado pelo método convencional

no qual, por meio de repicagens sucessivas de pequenas porções das colônias desenvolvidas

em placas contendo meio e pelo método da “pescaria” (RIPPKA, 1979) no qual pinga-se uma

gota da amostra ambiental numa lâmina, isola-se um filamento (tricoma) por capilaridade e,

com o auxílio de pipeta Pasteur de ponta afilada faz-se sucessivas lavagens em gotas de meio

de cultura esterilizado. Ao confirmar a presença de apenas um filamento do gênero desejado,

esse foi transferido, em condições assépticas, para placas de petri contendo 25 ml de meio de

cultura esterilizado.

As placas foram mantidas durante 20 dias em condições controladas de cultivo como

descrito anteriormente, até a visualização das colônias.

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39

Os resultados obtidos no cultivo de cianobactérias heterocitadas foram expressos pelo

número de testes de crescimento positivo pelo número de gêneros encontrados (YUNES,

1987).

A eficiência do isolamento das espécies heterocitadas foi avaliada pela observação de

porções das culturas obtidas ao microscópio óptico.

3.3.4 Análises químicas

No laboratório de rotina do Departamento de solos da Universidade Federal de Santa

Maria, foram determinadas as seguintes características químicas e físicas do solo pH em água

H2O, Matéria Orgânica, argila. Na água foram analisados: fósforo solúvel (Ps), fósforo total

(Pt) e nitrogênio (N).

3.3.5 Caracterização morfométrica

Para a caracterização morfométrica foram utilizadas tanto amostras vivas, obtidas em

coletas durante as florações de 2008 e 2009 nas quadras de arroz experimental escolhidas para

o estudo, como as culturas obtidas nos cultivos “in vitro”.

Alíquotas das monoculturas desenvolvidas a partir de amostras ambientais bem como

amostras vivas foram avaliadas em microscópio óptico (Olympus LX 50) equipado com o

sistema digital de imagem (Nikon) de acordo com os seguintes caracteres morfométricos:

• Comprimento e diâmetro das primeiras 30 células da porção apical do tricoma;

• Comprimento e diâmetro de 30 heterocitos e 10 acinetos;

• Comprimento e diâmetro de 10 células vegetativas intercalares;

• Forma dos tricomas, constrições, ápices das células apicais, forma dos acinetos, forma

dos heterocitos, posição dos heterocistos e células vegetativas.

• Diâmetro e comprimento da Espira (DiamES e CompES), quando presente;

• Diâmetro e comprimento da célula vegetativa (diamV e compV), do heterocito

(damHT e compHT) quando existente;

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40

• Diâmetro do envelope mucilaginoso (diamBA) visualizado com tinta nanquim,

quando existente.

O comprimento e o diâmetro das características acima citadas foram medidos nas

primeiras 30 células da porção apical de 15 tricomas, em no mínimo 20 heterocistos e 10

acinetos e em no mínimo 10 células vegetativas intercaladas de 20 tricomas, conforme

proposto em (KOMÁREK & KOVÁCIK, 1989).

A identificação das espécies de cianobactérias heterocitadas foi realizada seguindo o

sistema de Classificação de Komarék e Anagostidis (1989) e artigos mais recentes.

3.3.6 Caracterização molecular

A caracterização molecular foi realizada em três etapas distintas: extração do DNA

genômico, amplificação de seqüências específicas do gene RNAr 16S e sequenciamento dos

produtos da PCR.

3.3.6.1 Extração do DNA genômico

A extração de DNA foi realizada tendo-se como base a metodologia descrita por

GIONGO (2007), com modificações. Foram retirados 1,5 mL do meio contendo crescimento

bacteriano, os qual foi centrifugado por 3 min a 12 000 rpm. O sobrenadante gerado foi

descartado e o pellet ressuspendido em 500 µL de solução I (Tris pH 8,0 a 50 mM, EDTA a 5

mM, NaCl a 50 mM e água ultrapura q.s.p.). Posteriormente, o material foi centrifugado por 3

min a 12 000 rpm. O sobrenadante gerado foi descartado e o pellet foi novamente

ressuspendido com 300 µL de EDTA salina (EDTA 100 mM, NaCl 150 mM e água ultrapura

q.s.p.). Adicionalmente, foi acrescido 200 µL de SDS 20 % aquecido a 60 °C e

homogeneizado com a mão por 3 min. Os microtubos foram, então, incubados em banho-

maria por 10 min a 55 °C e submetidos a agitações periódicas. Depois de retirados do banho-

maria, foi adicionado 120 µL de acetato de amônio (CH3COONH4 a 8M) e incubou-se o

material no gelo por 15 min. Após, as amostras foram centrifugadas por 10 min a 12 000 rpm

e o sobrenadante transferido para outro microtubo, onde foi adicionado 1 volume de fenol-

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41

clorofórmio (24:25) e centrifugado por 3 min a 12000 rpm. Na sequência foi adicionado 1

volume de fenol:clorofórmio:álcool isoamílico (25:24:1). Centrifugou-seo material por 3

minutos a 12000 rpm. O sobrenadante foi transferido para outro microtubo e adicionou-se 1

volume de isopropanol, incubando-se os tubos contendo as amostras em freezer overnight.

Após a incubação, as amostras foram centrifugadas por 10 min a 12 000 rpm e o sobrenadante

gerado foi descartado. Para a lavagem dos pellets, adicionou-se 50 µL de etanol 70 % e

novamente os tubos foram centrifugados. Este procedimento foi repetido uma vez. O pellet foi

ressuspendido com 40 µL de água ultrapura e armazenado á - 20 °C.

3.3.6.2 Amplificação do gene RNAr 16S.

A amplificação do gene rRNA 16S foi realizada pela reação em cadeia da polimerase

(PCR), acessando a região por meio do rDNA 16S para a qual foram utilizados os

oligonucleotídios iniciadores mostrados na Tabela 3.

A amplificação ocorreu em um volume total de 25 µl, contendo aproximadamente 5 ng

de DNA template, 10 mM de Tris-HCl, pH 8,3; 50 mM de KCl; 2,0 mM de MgCl2; 2,5 µM de

cada um dos dNTPs, 25 nmoles de cada um dos oligonucleotídeos iniciadores (Biogen®), 1,5

unidade da enzima Taq DNA polimerase (Invitrogen®) e água ultrapura q.s.p. As

amplificações foram feitas em termocilcador MJ Research PT-100, nas seguintes condições:

94°C por 1 min, 63°C por 1 min 30 s, 72°C por 1 min 30 s; tal procedimento foi repetido por

30 cliclos. As amostras foram submetidas a uma desnaturação inicial a 94°C por 1 min, antes

de iniciar os ciclos e, após, foi realizada uma extensão final a 72°C por 15 min.

Os fragmentos amplificados e o controle foram separados por eletroforese em gel de

agarose 1,2 %, em tampão TBE 1X (Tris, Ácido Bórico, Edta 8M ), contendo como agente

intercalante do DNA brometo de etídio (1 µl/50 ml). A visualização foi feita sob luz

ultravioleta e o registro fotográfico foi realizado por meio do sistema Canon Snot S2IS

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42

Tabela 3 – Oligonucleotídios iniciadores utilizados nas reações de PCR para a amplificação dos fragmentos dos genes RNAr 16S .

___________________________________________________________________________

Iniciador Seqüência 5`-3` Região alvo Referência

c1: 27F1 5' TACGGYTACCTTGTTACGACTT3' RNAr 16S Presting, 2006

c2: 23S30R 5' GAGAGT TTGATCCTGGTCAG3' RNAr 16S Taton et al. 2003

___________________________________________________________________________

3.3.6.3 Sequenciamento dos produtos da PCR

Os produtos da PCR foram purificados por meio do uso Polietilenoglicol 8000 a 13%,

onde adicionou-se um volume de solução de PEG 8000 (PEG a 13%, NaCl a 1,6M)

homogeneizando-se o material com auxilio de uma micropipeta. Após ficar overnight,

centrifugou-se os tubos a 13.000 rpm por 15 min. A solução de PEG foi descartada e realizou-

se a limpeza dos produtos de PCR com a adição de 200 µL de etanol a 70% e inversão branda

dos tubos, seguido de uma centrifugação por 10 min a 13.000 rpm. Este processo foi repetido

duas vezes. Deixou-se os pellets à temperatura ambiente para secagem e os mesmos foram

ressuspendidos em 8 µl de água ultrapura. Para o seqüenciamento utilizou-seos mesmos

primers da PCR. O sequenciamento foi realizado no Departamento de Biologia (UFSM, Santa

Maria, Brasil, utilizando, para este fim, uma amostra de DNA dupla fita do produto da PCR,

no seqüenciador MegaBACETM 500. Utilizou-se como base o protocolo fornecido pela

Amersham Bioscience.

As sequências RNAr 16S obtidas das amostras foram comparadas com as sequências

disponíveis no GenBank do National Center for Biotechnology Information (NCBI)

(ALTSCHUL et al. 1997). Para isso, utilizou-se o algoritmo MEGABLAST, disponível on

line (http://www.ncbi.nlm.nih.gov). Para a construção da sequência consenso foi utilizado o

programa STADEN (STADEN et al., 1992-2000) e o alinhamento foi realizado pelo uso do

algoritmo Clustal W. A árvore filogenética foi construída usando o software MEGA, versão

4, com 5.000 replicatas (TAMURA et al., 2007). O algoritmo neighbor-joining foi utilizado

para tal finalidade.

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43

3.3.7 Localização dos cistos de resistência

Os acinetos, cistos de resistência das cianobactérias, são células vegetativas

modificadas que se desenvolvem solitariamente ou após a fusão de duas ou mais células

vizinhas em vários membros das ordens Nostocales e Stigonematales (Geitler, 1932; Komárek

and Anagnostidis, 1989; Anagnostidis and Komárek, 1990). Estes cistos geralmente surgem

junto às células vegetativas apicais durante o desenvolvimento do tricoma. Os acinetos

possuem paredes delgadas e acumulam fotoassimilados no seu interior com a função de

garantir a sobrevivência dos filamentos quando as condições de temperatura, umidade e

radiação são desfavoráveis. Características como forma, posição no tricoma, tamanho,

presença de poros na parede celular, cor e modo de germinação dos acinetos são consideradas

críticas para a distinção em de cianobactérias em nível de espécie (Komárek and

Anagnostidis, 1989).

Figura 2 – Cisto de cianobactéria heterocitada apresentando acúmulo de nutrientes (KOMÁREK, 2007).

Este experimento foi conduzido durante os meses de março a julho de 2009, quando

blocos cilíndricos da camada de 0 - 10 cm de solo foram coletados logo após a drenagem da

água das lavouras. Para evitar distúrbios nas camadas, foram utilizados segmentos de cano de

PVC de aproximadamente 20 cm de comprimento e 5 cm de diâmetro e abertos nas duas

extremidades (Figura 1). Com o auxílio de um êmbolo, o solo foi removido dos canos e

disposto diretamente em copos de polietileno devidamente identificados. Estes foram

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44

conduzidos ao laboratório de Microbiologia do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA

e submetidos aos tratamentos adotados para este experimento.

Cada copo (unidade experimental) recebeu imediatamente após a coleta, uma lâmina

de 5 cm de água destilada contendo fósforo e nitrogênio nas mesmas concentrações sugeridas

para os cultivos “in vitro” ( Tabela1).

A cada unidade experimental foi adicionado uma lâmina d’água de 5 cm, a qual foi

marcada para o devido controle da evaporação por reposição da água perdida. As unidades

experimentais foram, então, mantidas e estufa sob fotoperíodo de 12 horas de luz e 12 horas

de escuro, temperatura de 28±2°C e intensidade luminosa de 35µmol m-2s-1 por um período de

40 dias.

3.4 Resultados e discussão

3.4.1 Atributos físicos e químicos do solo e da água.

Os valores de K, P e N detectados na lâmina d`água das quadras de arroz

experimental, onde foram efetuados os estudos desta tese (Pt= 7,51 mg L-1 , Ps= 0,18 mg L-1,

N= 8,89 mg L-1; K=6,45 mg L-1) foram bem superiores aos citados por Macedo et al., (2003),

como sendo favoráveis ao desenvolvimento de algas e cianobactérias. Segundo os autores

anteriormente citados, em um ecossistema aquático aberto, uma concentração de 0,02 mg L-1

de fosfato é considerada preventiva da floração de algas. Contudo, quando a concentração de

fósforo excede 0,02 mg L-1 o meio se torna favorável ao desenvolvimento de algas e

cianobactérias, organismos que podem comprometer a qualidade das águas.

O fósforo é essencial para os organismos, pois está envolvido nos processos de

armazenamento e liberação de energia (ATP/ADP), das ligações estruturais do DNA e RNA e

compõe a membrana plasmática (fosfolipídeos). Entretanto, ocorre em baixas porcentagens,

pois qualquer fosfato dissolvido tende a ser rapidamente adsorvido em partículas ou

precipitado com ferro ou manganês ou carbonato de cálcio. Desta forma, os valores

observados na análise, promotores do aumento da biomassa de cianobactérias em lavoura de

arroz inundado, são decorrentes, principalmente, da adição de fertilizantes fosfatados. Por

outro lado, quando as concentrações de fósforo inorgânico decrescem, situação observada em

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45

culturas com mais de três semanas de incubação, observa-se o domínio de cianobactérias que

possuem capacidade de desenvolver estratégias como o consumo excessivo de fósforo

(“luxury consumption”), ou seja, mais fosfato é absorvido do que aquele requerido pela célula

e o seu excesso é estocado (MATEO et al., 2006). Isto explica, também, o aumento

considerável no número de acinetos observado nas espécies que possuem essa capacidade e

que passam a predominar no meio de cultivo com o passar do tempo.

O potássio (K) exerce importante papel no processo fotossintético das cianobactérias

(SCHERER et al. 1986). Tem sido demonstrado que populações de Nostoc flageliforme, após

longos períodos de dessecação requerem a adição de potássio exógeno para que os processos

de fotossíntese e fixação de nitrogênio se reiniciem (QIU e GAO 1999).

Quanto ás concentrações de nitrato e amônia, formas de nitrogênio preferencialmente

utilizadas pelas cianobactérias, conforme relatado em Howart et al. (1988a), devem ser

baixas, pois elas controlam a formação dos heterócitos. Assim, a fixação biológica se dá em

baixas concentrações dessas formas de nitrogênio na água. Isso explica o maior

desenvolvimento de heterócitos nos tricomas desenvolvidos em meio de cultivo sem fonte de

nitrogênio, em comparação aos tricomas visualizados nas amostras ambientais, desenvolvidas

numa concentração média de 8,89 mg L-1 de N.

Fisher (1982) e Peterson e Grimm (1992) citam que a depleção espacial e temporal nas

concentrações de nitrato nas águas das lagoas causam grandes aumentos na proporção de

cianobactérias fixadoras de nitrogênio em ecossistemas aquáticos do deserto. Entretanto,

Mulholland et al. (1995) descobriram que a proporção de cianobactérias aumenta conforme

aumenta a distância da nascente estando, dessa forma, relacionado ao aumento nas

concentrações de N e P.

3.4.2 Cultivo e isolamento

Os filamentos das cianobactérias isoladas das amostras ambientais e inoculadas em

meio de cultivo mostraram-se plenamente desenvolvidos após uma semana da incubação nos

meios de cultivo testados neste estudo. Concordando com os relatos existentes sobre cultivo

de cianobactérias ”in vitro”, observou-se um maior desenvolvimento de cianobactérias

heterocitadas no meio BG11 sem nitrogênio (Figura 3A), quando comparado ao meio BG11

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46

normal e o meio Bold, para microalgas e (Tabela 2) o que pode ser explicado pelo fato

daquele não apresentar fontes de nitrogênio em sua formulação. Da mesma forma, os

filamentos de cianobactérias que se desenvolveram no meio BG11 sem nitrogênio

apresentavam-se bem desenvolvidos e com heterócitos, indicando a necessidade de fixar

nitrogênio nessas condições de cultivo (Figura 3 B). Quanto à diversidade de gêneros de

cianobactérias heterocitadas observou-se uma maior diversidade nos cultivos em meio livre de

nitrogênio (Figura 3).

A

Figura 3 – (A) – Filamentos de cianobactérias em meio BG11 (sem nitrogênio) após três semanas de cultivo; (B) - filamentos de cianobactérias apresentando heterocistos, vistos ao microscópio, após três semanas de cultivo. Santa Maria, RS, UFSM, 2010.

Yunes e Melo (1987), observaram o desenvolvimento de maior diversidade de gêneros

de cianobactérias fixadoras de nitrogênio utilizando o meio de cultivo Van Baalen modificado

(VB-S), sem compostos nitrogenados. Considerando que as formulações dos meios BG11 e

VB-S, ambos livres de nitrogênio e adequados para espécies de cianobactérias de água doce

diferem tanto em composição como em quantidade dos seus elementos constituintes (Tabela

4), é possível que o meio BG11-sem nitrogênio, utilizado neste estudo, seja mais seletivo e,

com isso, tenha inibido o desenvolvimento de outros gêneros de cianobactérias heterocitadas

que possam estar presentes em lavouras de arroz irrigado por inundação. Outra explicação

pode estar na metodologia de coleta das amostras utilizadas no cultivo. Cianobactérias podem

colonizar a lâmina d`água, sedimentos, pedras, restos de plantas e animais mortos bem vomo

outras cianobactérias. Ainda, estudos como os conduzidos por Rigolato e Fiore (2008),

relatam a existência de cianobactérias que habitam as folhas das plantas (filosfera). Desta

forma, estudos de diversidade devem incluir coletas desde a lâmina d`água até parte da planta

A

B

E

B

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de arroz. Este estudo não contemplou a coleta de material aderido aos caules das plantas de

arroz e nem material que possa colonizar a filosfera.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4N

o.

de

ne

ros

he

tero

cit

ad

os

Meios de

cultura

BG11 BG11S/N BOLD

Meios de cultivo

Figura 4 – Crescimento de cianobactérias heterocistadas nos três meios de cultivo testados (BG11, BG11 - sem nitrogênio e Bold). Os resultados são expressos pelo número de gêneros encontrados em cada meio testado. Foram realizados três testes ( C1, C2 e C3) para cada meio.

Tabela 4 – Comparação entre os nutrientes constituintes dos meios para crescimento de cianobactérias heterocistadas, VB-S (Van Baalen modificado) e meio BG11, livre de nitrogênio utilizado neste experimento.

Meios de cultura

Nutrientes (Micronutriente)

g L-1

VB-S (YUNES & MELLO, 1987)

Sem nitrogênio

BG11 (ALLEN, 1968)

Sem nitrogênio

NaCl 0,72 -

K2HPO4 1,0 0,04

MgSO4. 7H2O 0,25 0,075

CaCl2. 2H2O 0,025 0,036

Na2 – EDTA 0,031 0,001

Na2CO3 - 0,02

NaHCO3 Até o pH desejado -

FeCl3. 6H2O 0,004 -

Citrato férrico amoniacal - 0,006

(Macronutrientes) 0,6 ml

C1 C2 C3

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H3BO3 2,86

KOH _

FeSO4.7H2O -

MnCl2.4H2O -

ZnSO4.7H2O 0,222

ZnCl2 _

CoCl2.6H2O _

Co (NO3 )2 . 6H2 O) 0,494

CuCl2 _

CuSO4.5H2O 0,079

NH4VO3 _

Na2MoO4.2H2O -

pH final 7,6 7,1

3.4.3 Caracterização morfológica e morfométrica

Os estudos morfológicos e morfométricos foram realizados nos taxa presentes tanto

nas amostras ambientais como nos taxons e morfotipos isolados em meio de cultivo BG11 -

sem nitrogênio. As medidas foram efetuadas em microscópio ótico, trinocular, marca

Olympus LX 50, equipado com o sistema digital de imagem Nikon Coolpix 4500.

As características morfológicas e mofométricas dos gêneros e morfotipos foram

identificadas de acordo com Anagnostidis e Komárek (1985, 1988, 2003) Werner et al. (2009)

e outros trabalhos recentes.

A seguir são apresentadas as descrições e ilustrações (fenótipos) de cada taxo isolado

em meio de cultivo e em amostras ambientais seguidas das principais características

diacríticas para a sua classificação.

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3.4.4 Descrição, ilustração e principais características diacríticas dos taxons isolados em meio

de cultivo BG11 sem nitrogênio.

3.4.4.1 Descrição

Ordem: Nostocales

Família: Rivulariaceae

Gênero: Calotrix [Agardh 1824] ex Bornet et Flahault

Morfoespécie: Calotrix sp

Figura 5 a, b, c, d, e

Tricomas heteropolares, retos a levemente encurvados e acentuadamente afilados na

extremidade final e com ramificações falsas (tricomas dividindo uma mesma bainha).

Presença de 1 a 5 heterócitos consecutivos surgem a partir da extremidade basal (Figura 4, a)

podendo surgir, também, intercalados e paramétricos ao longo do tricoma (Figura 5, d).

Presença de bainha mucilaginosa envolvendo o tricoma (Figura 5, e). “In vitro”, em meio

líquido, os tricomas tendem a sedimentar no fundo dos tubos de ensaio onde formam uma

densa massa de coloração verde-oliva. A permanência dos tricomas suspensos no meio

líquido e aderidos a outras cianobactérias presentes no meio, o que dificulta muito o

isolamento e obtenção de cultura pura, comprova o seu hábito epifítico e/ou epilítico de

crescimento em condições ambientais onde se encontram aderidas a substrtos.

Ordem: Nostocales

Família: Nostocaceae

Gênero: Nostoc [ Vaucher 1803] Bornet et Flahault 1886

Morfoespécie: Nostoc linckia[ (Roth) Bornet in Bornet et Thuret 1880] Bornet et Flahault

1886

Figura 5 f, g, h, i, j

Tricomas irregularmente helicoidizados, mostrando partes com enrrolamento muito

emaranhados, partes formando voltas grandes e outras partes, com tricomas quase retos

(Figura 5- f, g, h, i). Células vegetativas esféricas, de coloração verde - azulado intensa e com

muitos aerótopos. Heterócitos grandes com formas que variam de esféricos a elíticos,

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50

intercalados ao longo do tricoma, isolados, aos pares ou em serie de três, com poros em

ambos os pólos e paredes espessas. Acinetos quase cilíndricos, grandes, apresentando grande

quantidade de grânulos de reserva, afastados do hetrócito, podendo surgir isolados no tricoma

ou em seqüência de até 7. “In vitro”, em meio líquido, os tricomas se aderem as paredes do

tubo de ensaio acima do nível do meio de cultivo, formando uma densa camada de coloração

verde-azulado intensa. Outra observação interessante a respeito do cultivo de Nostoc em meio

líquido é a sua capacidade de sobrevivência superior aos outros gêneros de cianobactérias

heterocitadas desenvolvidades em meio de cultura líquido.

Komárek, et al. (2003) citam que as espécies pertencentes ao gênero Nostoc

apresentam de um a nove acinetos por tricoma, não mais que isso. Entretanto, em meio de

cultivo e, quanto mais longo for o período de cultivo, observa-se um número de acinetos

muito superior a nove por tricoma, concordando com as observações de Komárek e

Zapomělová (2007) sobre as mudanças morfológicas de algumas espécies de cianobactérias

em meio de cultivo. Uma possível explicação para tal fato é a depleção gradativa dos

nutrientes presentes no meio, principalmente o fósforo, que induziria as células vegetativas a

absorverem mais fósforo que o necessário para a manutenção dos processos metabólicos da

célula como estratégia para garantir sua dominância no meio caso a fonte se esgote “consumo

de luxo” (MATEO et al., 2006). As espécies que apresentam helicoidização dos tricomas

mostram uma visível instabilidade e irregularidade de helicoidização em condições de cultivo

(KOMÁREK e ZAPOMĚLOVÁ 2007). Essa helicoidização irregular também foi constatada

neste estudo, havendo a presença de diferentes níveis de helicoidização num mesmo

morfotipo (parte do tricoma apresenta helicoidização formando espiras estreitas, outras partes

formam espiras grandes e, por fim, há partes em que o tricoma é reto). Nesse estudo

observou-se, também, a presença de grande quantidade de aerótopos, característica não citada

para linhagens naturais de Nostoc (Figura 5 f).

Ordem: Nostocales

Família: Nostocaceae

Gênero: Cylindrospermum Kützing ex Bornet et Flahault

Morfoespécie: Cylindrospermum stagnale [Kützing 1843] bornet et Flauhault 1886

Figura 5 j, l

Tricomas longos (mais de 100 células), estreitos, cilíndricos e isopolares, nunca

ramificados nem com falsas ramificações, contendo um heterócito de forma oval em uma ou

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51

ambas as extremidades do tricoma. O heterócito basal é sempre seguido por um acineto muito

grande, de forma elíptica e com uma bainha de mucilagem mais densa que no restante do

tricoma. Foi evidenciado, também, heterócito na posição intercalar onde pode ser solitário ou

aos pares, contrariando as observações feitas nas amostras ambientais onde esta posição não

foi evidenciada. As células vegetativas são todas iguais em forma (cilíndricas) e tamanho,

podendo apresentar aerótopos. Komárek, et al. (2003) descreve a ausência de aerótopos nas

espécies deste gênero, descritas até o momento.

Observou-se, também, tricomas nos quais os heterocitos apresentavam formas e

posições variáveis como mostrado na figura 5 (Esquema t). Observou-se a formação de

envelope mucilaginoso medindo de 10 a 12 µm de espessura, mais espessa do que a

observada nas amostras ambientais. Acineto cilíndrico e localizado separado do heterócito

basal por cinco células vegetativas.

As alterações observadas neste gênero, em condições de cultivo, apontam para duas

prováveis explicações: a primeira, que seriam adaptações impostas pelas condições adversas,

principalmente em relação aos nutrientes, encontradas no processo de cultivo; outra seria a

presença de um morfotipo gerado no ambiente de lavoura de arroz cujas alterações se

acentuaram em condições de cultivo.

3.4.4.2 Ilustrações dos fenótipos dos táxons desenvolvidas em meio BG11 sem nitrogênio.

A seguir são mostrados os fenótipos dos tricomas dos isolados de amostras ambientais

desenvolvidos em meio de cultivo, evidenciando os arranjos celulares de cada isolado.

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52

Figura 5 – Fenótipo dos taxa isolados em meio de cultivo BG11 sem nitrogênio. Clotrix com heterócitos terminais únicos e presença de acineto (a), terminais em série de dois á três (b), com formas esféricas e cilíndricas (c) e intercalados no tricoma (d).

Figura 6 – Calotrix isolada em meio de cultivo BG11 livre de nitrogênio, evidenciando envelope de mucilagem e falsa ramificação (a). Presença de inúmeros aerótopos em Nostoc (b).

c d

b

a

a b Acineto

Aerótopos

c

a

a

Envelope de mucilagem

Falsa ramificação

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53

Figura 7 – Nostoc isolada em meio de cultivo BG11 livre de nitrogênio. Número e posição dos acinetos em Nostoc (a) bainha de mucilagem difusa e posição dos acinetos (b), e posição dos heterócitos e espessura do envelope mucilaginoso em Cilindrospermum (c e d, respectivamente).

3.4.4.3 Principais características diacríticas dos taxa desenvolvidos em meio BG11 sem

nitrogênio.

A seguir são mostradas as imagens microscópicas das principias estruturas vegetativas

de valor diacrítico, importantes para a correta classificação dos taxa identificados como:

forma e posição dos heterócitos no tricoma, forma do acineto e granulação, aparência do

tricoma, forma das células vegetativas, presença de aerótopos.

b

c

j d

10-12 µm

c

c

Heterócitos intercalares aos pares Mucilagem difusa

Tricoma helicoidizado

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54

Figura 8 – Principais características diacríticas de Nostoc mantidas em meio BG11 líquido por quarenta dias. He terócitos quase cilíndricos (a), posição dos heterócitosintercalados isolados ou intercalados aos pares (b), acinetos grandes e com muitos grânulos de reserva (c), tricomas apresentando diferentes níveis de helicoidização ou retos (d, e) e acinetos em séries de cinco a 7, seguidos por heterócito esférico terminal (f).

Tricomas helicoidizados

Acinetos

Células vegetativas Acinetos

A

d

f

b a

e

Tricomas retos

1 2

3

4 5

6

7

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55

Figura 9 – Principais características diacríticas de Calotrix mantidas em meio BG11 líquido por quarenta dias. Número e posição dos heterócitos (a) terminal isolado, (b) terminal e em série de até 4, (c, d) intercalados no tricoma, (e) presença de bainha de mucilagem, (f) presença de aerótopos, (g) tricomas com afilamento terminal, (h) célula terminal cônica e (i) reprodução por hormogônio.

Figura 10 – Principal característica diacrítica de Cylindrospermum (posição e forma dos heterócitos) dos isolados mantidos em meio BG11 sem nitrogênio por quarenta dias.

Bainha de mucilagem Aerótopos

Posição dos heterócitos

Forma das células terminais

Formação de hormogônio

Central-quase cilíndrico

apical -quase cilíndrico

b

d e

g h

f

a c

i

a b c d

Forma dos tricomas

Heterócitos Esféricos e apicais

Heterócito ovoblongo e apical

Heterócito oval e isolado

Heterócito esférico e apical

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56

Figura 11 – Esquema representativo das diferentes formas e posições do heterócito observado em Cylindrospermum.

3.4.5. Táxons isolados de amostras ambientais

As análises microscópica das amostras ambientais revelaram a presença de linhagens

de tricomas retos verde-azulados e verde–amarelados, com número e formas variadas de

heterócitos e células vegetativas. Em grande parte dos tricomas estavam presentes também

esporos de resistência (acinetos). Heterócitos esféricos, cilíndricos e elipsoidais foram

evidenciados em posições que variaram entre apical, terminal, intercalar e apical e terminal

simultaneamente.

A seguir são descritas conforme (Komárek et al., 2003; Anagnostidis e Komárek,1985,

1988) as linhagens identificadas nas amostras ambientais, as correpondentes ilustrações

(Figura 14), seguido das principais características diacríticas (Figura 15) e das respectivas

características morfométricas (Tabela 4).

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

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57

3.4.5.1 Descrição

Ordem: Nostocales

Família: Nostocaceae

Gênero: Anabaena Bory ex Bornet et Flahault

Morfoespécie: Anabaena sp.

Figura 14 a

Tricoma tipicamente cilíndricos, retos, longos (229 µm), isolpolares, células

vegetativas em forma de barril, de morfologia homogênea em todo o tricoma e contendo

muitos aerótopos. As células vegetativas medem de 9 a 10 µm de comprimento e 9 a 10 µm

de largura. Os heterócitos são cilíndricos, com poros em ambos os polos (bainha),

intercalados e isolados, um deles localizado na extremidade basal, após 7 células vegetativas

consecutivas e outro intercalar. O primeiro heterócito mede 5,0 a 5,1 µm (D) e 8,0 a 8,2 µm

(C). A distância entre um heterócito e o outro é mais ou menos a mesma ao longo do tricoma

(metaméricos). Eles apresentam poros em ambos os lados ou em nenhum. Não foi

evidenciada a presença de acinetos, a bainha é fina, firme e de coloração verde-azulada e sem

envelope mucilaginoso.

Ordem: Nostocales

Família: Nostocaceae

Gênero: Cylindrospermum Kützing ex Bornet et Flahault

Morfoespécie: Cylindrospermum sp.

Figura 14 b

Tricomas tipicamente cilíndricos, retos, isopolares, células vegetativas cilíndricas, por

vezes constrictas e com comprimento entre 5,5 e 6,0 µm, diâmetro variando entre 3,5 e 4,0

µm. Desenvolvimento de aerótopos em algumas células. Heterócitos helipsoidais ou

acilíndricos, localizados na extremidade apical e terminal (um em cada posição) com

dimensões que variam de 5,0 a 6,0 µm de comprimento e 6,0 a 6,5 µm de largura. Acineto

sempre adjacente aos heterócitos basais, solitários e de forma oval a elíptica, contendo grande

quantidade de grânulos de reserva. Os acientos medem de 8,0 a 9,0 µm de diâmetro e de 13 a

15 µm de comprimento. Envelope de mucilagem fina ao longo do tricoma e com adensamento

em torno do hetrócito e acineto apical.

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Ordem: Nostocales

Família: Nostocaceae

Gênero: Anabaena Bory ex Bornet et Flahault

Morfoespécie: Anabaena s.p

Figura 14 c, d

Tricomas retos, estreitos, isopolares, e longos (mais de 100 células vegetativas).

Células vegetativas tipicamente cilíndricas, medindo de 7,8 a 8,0 µm de comprimento e entre

7,0 e 7,5 µm de largura. Heterócitos cilíndricos a quase oval, com poros em ambos os pólos,

medindo entre 5,0-6,0 µm de diâmetro e de 8,0-10,0 µm de comprimento. Acineto Intercalar,

antecedido por um heterócito, de coloração verde-azulada, com muitos grânulos de reserva e

forma tipicamente elípica, medindo de 29,0 a 30,0 µm de comprimento e de 9,0 a 10, µm de

diâmetro. Bainha fina, de coloração verde-azulada e sem envelope de mucilagem.

Ordem: Nostocales

Família: Rivulariaceae

Gênero: Calotrix Agardh ex Bornet et Flahault

Morfoespécie: Calotrix sp

Figura 14 e

Tricomas simples, ocorrendo isolados ou em pequenos grupos, retos, curtos a médios,

heteropolares, com a parte basal mais larga contendo de 1 a 3 heterócitos apicais (primeiro

geralmente menor que os outros), medindo de 4,8 a 7,0 µm de comprimento e de 5,8 a 6,0 µm

de largura, geralmente associados a 1 ou mais acinetos que medem entre 6,0 e 7,0 µm de

comprimento por 9,0 a 10,0 µm de largura e/ou células vegetativas basais mais largas. As

células vegetativas de morfologia heterogênea, apresentando acentuada diminuição de

tamanho na extremidade final do tricoma e aerótpos. Possuem medidas que variam de 6,0 a

7,0 de comprimento por 3,8 a 6,0 de largura. Evidenciou-se, também, a presenças de uma

bainha de mucilagem difusa medindo em torno de 1 µm de espessura nas células terminais,

levemente mais densa nas células basais.

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Ordem: Nostocales

Família: Nostocaceae

Gênero: Nostoc [ Vaucher 1803] Bornet et Flahault 1886

Morfoespécie: Nostoc sp.

Figura 14 f

Tricomas muito longos (mais de 300 células), heteropolares, formando voltas

irregulares. As células vegetativas medem entre 5,0 e 5,2 µm de comprimento por 4,0 a 4,5

µm de largura, possuindo, todas, a mesma forma e tamanho e muitos aerótopos. Os

heterócitos encontram-se intercalados a cada 30 células vegetativas, sendo de forma e

tamanho variados (barril a ovais), medindo entre 6,0 e 10 µm de comprimento por 4,0 a 6,0 de

largura. Os acinetos apresentam-se intercalados, isolados ou em dupla, medindo de 8,0 a 8,5

µm de comprimento e de 4,0 a 6,0 µm de diâmetro. Presença de bainha com envelope de

mucilagem difusa, medindo entre 4,0 a 5,0µm. Espira com tamanhos que variam de 12,0 a

17,7 µm. A distância entre uma espira e outra varia de 3,0 a 7,0 µm e a altura da espira varia

entre 10,0 e 15,0 µm.

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60

3.4.5.2. Ilustrações dos fenótipos das populações identificadas em amostras ambientais

Figura 12 – Fenótipos dos filamentos de cianobactérias heterocitadas identificadas nas amostras ambientais. Em (a) filamentos de Anabaena sp., retos, em feixes e com hetrócitos cilíndricos posicionados após cinco células appicais, (b) Cylindrospermum sp. Com heterócito apical seguido por um grande acineto com muitos grânulos de reserva e bainha de mucilagem mais densa que no restante do filamento, (c,d) filamento de Anabaena sp. com acinetos cilíndricos seguidos pó heterócitos cilíndricos.

3.4.5.3 Principais características diacríticas dos taxa identificados nas amostras ambientais.

São consideradas características diacríticas na caracterização de populações e

linhagens de cianobactérias, número, forma e posição de heterócitos e acinetos no tricoama,

condição do tricoma (reto, solitário, colônia, helicoidizado, polaridade), forma da célula

Hetrócito

10 µm

a b

c

e f

IX

d

Acineto

Heterócito

Acineto

Acineto

Heterócito

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61

vegetativa, presença de aerótopos, forma de reprodução, presença e número de poros nos

heterócitos. A seguir são mostradas por meio de imagens microscópicas as principais

características diacríticas dos táxons identificados nas amostras ambientais.

A

CV

Figura 13 – (a,b,c,d) Célula vegetativa, heterócito e acineto, respectivamente de Cilindrospermum sp., (d,e,f,g,h) acineto ,células vegetativas e heterócitos de Anabaena sp., (i, j,l,m) acineto, heterócito, hormogônio e bainha de mucilagem de Calotrix sp., (o,p,q,r) células vegetaticas, aerótopos, heterócito de Nostoc sp.

3.4.5.4 Características morfométricas

A seguir são descritas as características morfométricas dos táxons encontrados em

amostras ambientais (Tabela 5) seguidas das descrições das características morfométricas dos

idolados desenvolvidos em meio BG11 sem nitrogênio (Tabela 6).

1

a a b

6 d h g f g

j

c d

p l n m i

CVA

H

A A H

CV

e

H

hormogônio Bainha musc.

A

s t

Aerótopos

A

A

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Tabela 5 – Características morfométricas dos gêneros identificados em amostras ambientais ( valores em µm, mínimo e máximo), onde C= comprimento, D= diâmetro.

Táxon Vegetativas Heterócitos Acinetos Espira Bainha Referência _________________ _________________ __________________ _________________ ______________ C D C D C D C D Anabaena sp.

Anagnostidis e Komárek (1985, 1988) KomáreK et al., 2003) Figura 11 a

Cilíndricas, com aerótopos e todas de igual tamanho, exceto as células basal e terminal que apresentam uma das extremidades arredondadas. C=3,5 a 4,0 µm D=2,2 a 2,3 µm

Cilíndricos, com poros em ambos os polos (bainha), isolados, um deles localizado na extremidade basal, após 7 células vegetativas consecutivas e outro intercalar. 1o heterócito (D=5,0 a 5,1 µm e C=8,0 a 8,2 µm

Não evidenciados Tricomas tipicamente cilíndricos, isopolares, medidndo 229 µm.

Fina e firme, medindo 1,0-1,5 µm, sem envelope mucilaginoso.

Cylindrospermum sp

Anagnostidis e Komárek (1985, 1988) (KomáreK et al., 2003) Figura 11 b

Cilíndricas D 3,0-3,1 µm C 5,0– 6,0 µm

Cilíndrico a quase esférico, no ápice ou no ápice e na extremidade final do tricoma, ambos com as mesmas dimensões. Pode surgir em apenas uma extremidade ou em ambas a s extremidades, mas nunca intercalar. O acineto da extremidade basal apresenta um adensamento na mucilagem. C= 6,5 -70 µm CD=4,0-5,0 µm

Amplamente Oval, solitário, seguido do heterocito e com conteúdo granular. D 8,0 µm C 15,0 µm

Ausente – tricomas retos , tipicamente cilíndricos, isopolares, contendo 1 hetererócito apical e 1 terminal, de iguais dimensões. O apical é seguido por um acineto. Número de células vegetativas superior a 100 por tricoma. Presença de aerótopos nas 4 primeiras células vegetativas.

Densa e presente apenas em torno do heterocito apical.

Anabaena sp

Anagnostidis e Komárek (1985, 1988 (KomáreK et al., 2003) Figura 11 c, d

Cilíndricas. As apicais têm a extremidade arredondada. C= 6,5-7,0 µm D= 6,0 ,6,3 µm

Levemente oval a quase cilíndrico, com poros em ambos os pólos. D 7,0 µm C 9,0 µm

Amplamente cilíndrico e com poucos grânulos. C= 10,0-11,0 µm D= 7,5 -8,0 µm

Ausente – tricomas retos, longos (± 42 células vegetativas), estreito, contendo 5 células vegetativas apicais seguidas de 1 acineto e com grânulos e 1 heterócito com 2 nódulos polares

Fina, de coloração verde-azulada clara e sem mucilagem. Planctônica, flutuando na superfície da água.

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Calotrix sp

Anagnostidis e Komárek (1985, 1988)

(KomáreK et al., 2003) Figura 8 e

Células vegetativas basais mais largas que as terminas. 1a célula basal C=7,0-7,2 µm D= 6,0 – 6,2 µm 2a célula basal C=5,0-5,5 µm D= 6,0-6,5 µm 3a célula basal C= 7,0-7,1 µm D=6,0-6,1 µm Célula vegetativa terminal: C= 7,0-7,1 µm D=3,5-3,8 µm

C= 4,8 a 7,0 µm

D=5,8 a 6,0 µm

Acineto grande, de cloração verde-azulada, localido adjacente ao último heterócito da parte basal. C=7,0-7,5 µm D=10,0-10,5 µm

Tricomas simples, atenuados, ocorrendo isolados ou em pequenos grupos, retos, curtos a médios, heteropolares, com a parte basal mais larga contendo de 1 a 5 heterócitos apicais, geralmente associados a 1 ou mais acinetos. Formação de hormogônios.

Bainha de mucilagem difusa medindo em torno de 1 µm nas células terminais e levemente mais densa nas células basais.

Nostoc sp.

Anagnostidis e Komárek (1985, 1988) (KomáreK et al., 2003) Figura 11 f, g

Células vegetativas possuindo todas a mesma forma, e tamanho, apresentando muitos aerótopos. C= 5,0-5,2 µm D= 4,0-4,5 µm

Os heterócitos encontram-se intercalados a cada 30 células vegetativas, sendo de forma e tamanho variados (barril a ovais). C= 6,0 - 10 µm D= 4,0 a 6,0 µm

Os acinetos apresentam-se intercalados, isolados ou em dupla. C=7,0-7,3 µm D10,0-10,2 µm

Tricomas muito longos, isopolares, formando voltas irregulares. Espira com tamanhos que variam de 12,0 a 17,7 µm. A distância entre uma espira e outra varia de 3,0 a 7,0 µm e a latura da espira varia entre 10,0 15 µm.

Bainha de mucilagem difusa medindo entre 10 e 12 µm de espessura.

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Tabela 6 – Características morfométricas dos gêneros desenvolvidas em meio de cultivo BG11 sem nitrogênio (valores em µm, mínimo e máximo), onde C= comprimento e D= diâmetro.

Táxon de Cels.Vegetativas Heterócitos Acinetos Espira Bainha

Referência _________________ _________________ __________________ _________________ ________________

C D C D C D C D

Calotrix sp.

Anagnostidis e Komárek (1985, 1988) (KomáreK et al., 2003.) Figura 12 a, b, c, d, e

Apicais maiores, cilíndricas e com aerótopos. A célula terminal é levemente menor e com forma cônica (figura 4, prancha M). C=6,0-10,0 µm D= 4,0-5,0 µm

0 Aparecem nas posições apical (sempre e em número que variam da 1 a 4 consecutivos e de forma mais ou menos esférica a cilíncrica), intercalares isolados ou de 2 a 3 consecutivos ou, ainda, de 2 a 3 alternados e de forma inicialmente em arredondados ou em barril terminando com forma cilíndrica. C= 3,0-9,5 µm D= 5,0-6,0 µm

Quando presentes, apresentam-se logo após o heterócito apical e em seqüência de 1 a 3. apresentam a mesma forma e tamanho das células vegetativas.

Tricomas retos ou levemente encurvados na extremidade terminal e atenuados, heteropolares, medindo entre 30 e 100 µm apresentando de 1 a 5 acinetos consecutivos na extremidade basal. Aprsenta aerótopos e coloração verde oliva. As células da extremidade terminal são acentuadamente afiladas. Formação de hormogônios e falsas ramificações.

Apresenta envelope de muscilagem firme, medindo de 1,5 a 2,0 µm de espessura.

Nostoc sp

Anagnostidis e Komárek (1985, 1988)

(KomáreK et al., 2003) Figura 12 f,g,h,i

Cilíndricas a quase esféricas e com grande quantidade de aerótopos. C=5,0-5,1 µm D= 5,0-5,1 µm

De dois tipos e tamanhos: apical, de forma oval e maior (C=8,0-8,5 D=6,0-6,2) e intercalares, arredondados e menores, com C=4,5-6,0 D=4,0-5,5); cilíndricos e intercalares. C= 6,0-7,0 D=5,0-5,1

Intercalares, elipsoidais, isolados ou formando sequências de até 14, grandes e com grande quantidade de grânulos. Quando isolados são maiores. C=7,0-8,0 µm D= 7,1-16 µm

Tricomas com helicoidização irregular: altamente enrrolado, formando espiras curtas e próximas, espiras longas e distantes e apresentando trechos de tricoma retos.

Bainha com mucilagem difusa, medindo 4,0 µm de espessura. Espiras com diâmetro variando entre 12 µm (tricomas com enrrolamento mais compacto) a 100 µm nas partes onde o enrrolamento é mais frouxo. Distância entre uma espira e outra na parte mais enrrolada = 7,0 µm e altura = 10 µm

(continua)

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Tabela 6 – Características morfométricas dos gêneros desenvolvidas em meio de cultivo BG11 sem nitrogênio (valores em µm, mínimo e máximo), onde C= comprimento e D= diâmetro (continuação).

Táxon de Cels.Vegetativas Heterócitos Acinetos Espira Bainha

Referência _________________ _________________ __________________ _________________ ________________

C D C D C D C D

Ccylindrospermum (KomáreK et al., 2003) Figura 12 j

Cilíndricas, com aerótopos. C=3,5 -7,1µm D= 2,2 -4,1µm

De três tipos distintos quanto a forma e o tamanho: oval- localizado em uma ou ambas extremidades dos tricomas; redondos, localizados sempre seguido do basal e chama de vela, localizado em uma ou ambas as extremidades dos tricomas. Presença de um único poro. Basal-oval (C=6,0-6,2 µm e D=5,0-5,1 µm) Basal-redondo( C=5,0-5,1 µm e D=4,0-4,2 µm). (C=6,0-6,1 e D= 3,0-3,1)

Esféricos, elipsoidais ou cilíndricos. Tamanho variável: afastados dos heterócitos por 5 células vegetativas; adjacente ao heterócito basal e terminal ou adjacente apenas ao heterócito basal. C=4,0-16 µm D=4,0-18,5 µm

Tricomas longos (mais de 100 células) estreitos, isopolares e, por vezes, levemente encurvados em ambas as extremidades.

Fino envelope de mucilagem e de coloração verde – oliva medindo de 10 a 12 µm

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66

3.4.6 Caracterização molecular usando o gene rRNA 16S

3.4.6.1 Extração do DNA e amplificação por PCR

A extração do DNA genômico das linhagens de cianobactérias heterocitadas, presentes

em lavoura de arroz irrigado por inundação e desenvolvidas em meio de cultivo BG11 sem

nitrogênio foi realizada com sucesso. A eficiência do método utilizado pode ser evidenciada

pela excelente amplificação dos fragmentos do gene rRNA 16S (Figura 9). Todas as amostras

amplificaram formando bandas limpas e bem marcadas, contendo aproximadamente 1460 pb.

M 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 14 – Gel de agarose representativo dos produtos de amplificação por PCR de fragmentos do gene RNA 16S. M-marcador de peso molecular. 1,2,3,5,6 e 7 Nostoc sp., 4 e 8 -Calotrix sp. e 9-Cylindrospermum

sp.

3.4.6.2 Sequenciamento dos produtos da PCR

Os resultados obtidos no sequenciamento dos fragmentos de RNAr 16S gerados na

PCR evidenciaram eficiência no isolamento de apenas uma linhagem de cianobactéria

heterocitada presente em lavoura de arroz, caracterizada pela análise morfológica e molecular

como pertencente ao gênero Nostoc.

1650 pb

650 pb

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67

Ao comparar as sequências produzidas neste estudo com outras sequências de

cianobactérias depositados no GeneBank, buscou-se a probabilidade que uma espécie

morfologicamente descrita e a utilizada para a comparação apresentassem reassociação de

DNA-DNA supeprior a 70% (Waine et al., 1987) e valores de identidade superiores a 95 % o

que confirmariam serem da mesma espécie (STACKEBRANDT and GOEBEL, 1994).

Neste estudo, apenas uma das seqüências obtidas e morfologicamente caracterizadas

apresentou similaridade com as depositadas no GeneBank e utilizadas na comparação, a

Nostoc sp. 11 (Figura 11).

3.4.7 Análise filogenética

As sequências RNAr 16S obtidas das amostras comparadas com as sequências

disponíveis no GenBank do National Center for Biotechnology Information (NCBI)

(ALTSCHUL et al. 1997) estão apresentadas na Tabela 7.

Tabela 7 – Sequências acessadas no GeneBank e utilizadas na comparação com a seqüência do gênero Nostoc isolado nesse estudo.

Espécie

Numero de acesso ao GenBanK Referência

Anabaena flos-aquae RPAN52 GQ466511 Prasanna,R.,Gupta,V., Chaudhary,V., Kumar,A., Sharma, and Natarajan,C.

Anabaena vaginicola RPAN22 GQ466505 Prasanna,R., Gupta,V., Chaudhary,V., Kumar,A., Sharma,E. and Natarajan,C.

Anabaena laxa RPAN63 GQ466509 Prasanna,R., Gupta,V., Chaudhary,V., Kumar,A., Sharma,E. and Natarajan,C.

Anabaena aphanizomenoides RPAN25

GQ466507 Prasanna,R., Gupta,V., Chaudhary,V., Kumar,A., Sharma,E. and Natarajan,C.

Anabaena laxa RPAN56 GQ466508 Prasanna,R., Gupta,V., Chaudhary,V., Kumar,A.,

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68

Sharma,E. and Natarajan,C.

Anabaena doiliolum RPAN53 GQ466506 Prasanna,R., Gupta,V., Chaudhary,V., Kumar,A., Sharma,E. and Natarajan,C.

Anabaena sphaerica RPAN12 GQ466513 Prasanna,R., Gupta,V., Chaudhary,V., Kumar,A., Sharma,E. and Natarajan,C.

Anabaena variabilis RPAN45 GQ466512 Prasanna,R., Gupta,V., Chaudhary,V., Kumar,A., Sharma,E. and Natarajan,C.

Anabaena sp. X59559 Ligon,P.J., Meyer,K.G., Martin,J.A. and Curtis,S.E.

Anabaena variabilis AB074502 Seo,P. and Yokota,A.

Anabaena variabilis AB016520 Isobe,M., Ishida,T., Yokota,A. and Sugiyama,J.

Calothrix sp. PCC 7101 AB325535 Arima,H., Katayama,M. and Sakamoto,T.

Anabaena sp. CH1 DQ294214 Boison,G., Steingen,C., Stal,L.J. and Bothe,H.

Anabaena flos-aquae UTCC 64 FJ830582 Honda,R.Y., Schrago,C.G., Lorenzi,A.S., Shishido,T.K., Rigonato,J. and Fiore,M.F.

Anabaena variabilis strain KCTC AG10273

DQ234828 Choi,G.-G. and Oh,H.

Anabaena variabilis strain KCTC AG10064

DQ234827 Choi,G.-G. and Oh,H.

Anabaena variabilis strain KCTC AG10059

DQ234826 Choi,G.-G. and Oh,H.

Nostoc sp. PCC 6720 DQ185240 O'Brien,H.E., Miadlikowska,J. and Lutzoni,F.

Nostoc sp. HK-01 AB085687 Katoh,H., Shiga,Y., Nakahira,Y. and Ohmori,M.

Nostoc sp. Mau15 AM711544 Papaefthimiou,D., Hrouzek,P., Mugnai,M.A., Lukesova,A., Turicchia,S., Rasmussen,U. and Ventura,S.

Nostoc sp. PCC 8976 AM711525 Papaefthimiou,D., Hrouzek,P., Mugnai,M.A., Lukesova,A., Turicchia,S., Rasmussen,U. and Ventura,S.

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69

Nostoc sp. 21.6 GU254518 Gehringer,M.M., Pengelly,J.J., Cuddy,W.S., Fieker,C., Forster,P.I. and Neilan,B.A.

Nostoc sp. 8916 AY742447 Svenning,M.M., Eriksson,T. and Rasmussen,U.

Cylindrospermum sp. A1345 DQ897365 Ganesan,V. and Anand,N.

Cylindrospermum sp. CENA33 AY218831 Fiore Mde,F., Neilan,B.A., Copp,J.N., Rodrigues,J.L., Tsai,S.M., Lee,H. and Trevors,J.T.

Nostoc sp. Cr4 AM711533 Papaefthimiou,D., Hrouzek,P., Mugnai,M.A., Lukesova,A., Turicchia,S., Rasmussen,U. and Ventura,S.

Trichormus variabilis strain KCTC AG10180

DQ234832 Choi,G.-G. and Oh,H.

Trichormus variabilis strain KCTC AG10008

DQ234829 Choi,G.-G. and Oh,H.

Trichormus variabilis strain KCTC AG10178

DQ234831 Choi,G.-G. and Oh,H.

Trichormus variabilis strain KCTC AG10026

DQ234830 Choi,G.-G. and Oh,H.

Anabaena sp. KVSF7 EU022720 Liaimer,A., Papaefthimou,D., Robertsen,E. and Elvebakk,A.

Trichormus variabilis strain KCTC AG10269

DQ234833 Choi,G.-G. and Oh,H.

Nostoc sp. CENA88 GQ259207 Genuario,D.B., Silva-Stenico,M.E., Welker,M., Beraldo Moraes,L.A. and Fiore,M.F.

Nostoc piscinale CENA21 AY218832 Fiore Mde,F., Neilan,B.A., Copp,J.N., Rodrigues,J.L., Tsai,S.M., Lee,H. and Trevors,J.T.

Nostoc sp. PCC 9426 AM711538 Papaefthimiou,D., Hrouzek,P., Mugnai,M.A., Lukesova,A., Turicchia,S., Rasmussen,U. and Ventura,S.

Nostoc sp. TH1S01 AM711547 Papaefthimiou,D., Hrouzek,P., Mugnai,M.A., Lukesova,A., Turicchia,S., Rasmussen,U. and Ventura,S.

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70

A análise BLAST do gene RNAr 16S das seqüências obtidas foram concordantes com

as características morfológicas em nível de gênero para apenas uma das seqüências obtidas

nesse estudo, a Nostoc sp. 11 que agrupou de forma coerente com as linhagens Nostoc

piscinale, Nostoc sp. TH1S01, Nostoc sp. PCC e Nostoc sp. CENA88 da ordem Nostocales,

formando um clado claramente distinto dos outros clados de cianobactérias pertencentes à

mesma ordem. Observou-se, também, que as cianobactérias heterocitadas, mesmo

apresentando diversidade morfológica, tem origem em diferentes clados polifiléticos.

Entretanto, as filamentosas do gênero Nostoc, como a filamentosa Nostoc sp. 11 parecem

pertencer a um clado monofilético.

Apesar da sequência do gene RNAr 16S do isolado Nostoc 11 apresentar relação com

as sequências depositadas em bancos de dados públicos, a identidade da seqüência foi inferior

a 97,5%, (valor de reamostragem ou “bootstrap” igual a 25%) o que indica que essa linhagem

pertence a espécie distinta daquelas depositadas no GeneBank (STACKEBRANDT e

GOEBEL, 1994). Assim, o agroecossistema de lavoura de arroz irrigado por inundação pode

conter novas espécies de cianobactérias heterocitadas pertencentes ao gênero Nostoc.

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71

Figura 15 – Dendograma basedo na seqüência do gene RNAr 16S (1460 pb) mostrando as relações do isolado obtido neste estudo ( Nostoc sp 11.) com outras sequências de cianobactérias depositadas no GeneBank do NCBI (National Center for Biotecnology Information) segundo método da distância (“ Neighbor Joining” – NJ) . Os números próximos aos nós indicam valores de reamostragem.

3.4.8 Localização dos cistos de resistências

Os resultados obtidos nesse estudo evidenciaram a presença de cistos de resistência de

cianobactérias em todas as unidades experimentais onde se empregou os tratamentos (Tabela

10): não remoção de solo, remoção de 2 cm de solo superficial e remoção de 5 de solo

superficial. Porém, foram observadas apenas linhagens dos gêneros Oscillatoria e Lyngbya.

Observou-se, também, desenvolvimento de cianobactérias apenas nas unidades experimentais

nas quais foi adicionado fósforo e nitrogênio concomitantemente.

Anabaena va

riabilis

(3)

Anabaena va

riabilis

(6)

Anabaena va

riabilis

(4)

Anabaena va

riabilis

(5)

Anabaena s

phaeric

a

Anabaena va

riabilis

Anabaena va

riabilis

(2)

Anabaena va

riabilis

(7)

Anabaena d

oilio

lum

Anabaena va

gin

icola

Anabaena flo

s-a

quae

Anabaena la

xa(2

)

Anabaena la

xa

Anabaena a

phaniz

om

enoid

es

Calo

thrix

sp.

Anabaena s

p. C

H1

Anabaena flo

s-a

quae U

TC

C 6

4

Anabaena s

p.

Anabaena s

p.(2

)

Nosto

c s

p. 2

1.6

Nosto

c s

p. P

CC

6720

Nosto

c s

p. H

K-0

1

Nosto

c s

p. M

au15

Nosto

c s

p. P

CC

8976

Nosto

c s

p. 8

916

Cylin

dro

sperm

um

sp. A

1345

Cylin

dro

sperm

um

sp. C

EN

A33

Nosto

c s

p.

Tric

horm

us va

riabilis

(4)

Tric

horm

us va

riabilis

(5)

Tric

horm

us va

riabilis

(3)

Tric

horm

us va

riabilis

(6)

Anabaena s

p. K

VS

F7

Tric

horm

us va

riabilis

Tric

horm

us va

riabilis

(2)

Nosto

c p

iscin

ale

No

sto

c s

p. 1

1

Nosto

c s

p. T

H1S

01

Nosto

c s

p. P

CC

Nosto

c s

p. C

EN

A88

100

100

100

94

86

99

77

74

31

61

43

35

25

21

13

24

23

31

10

37

47

53

0.0

02

1

2

3

4

5

6

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72

Tabela 8 – Valores médios do número de euglenas vermelhas por ml de amostras

T1

Sem remoção remoção de 2 cm remoção de 5 cm

T2

Nutientes

(g L-1 )

N° ORG/mL

P (0,04 )

- _ _

N (1,5 )

_ _ _

N x P (0,04 +1,5) 20 18 5

Esses resultados evidenciam que os cistos de resistência que permanecem no solo

entre um cultivo e outro, se encontram em maior concentração na camada superficial do solo,

podendo se encontrados até 5 cm da superfície.

3.5 Conclusões

As condições químicas, físicas e nutricionais das lavouras de arroz irrigado por

inundação favorecem o desenvolvimento (em momentos distintos) de pelo menos quatro

gêneros de cianobactérias heterocitadas: Nostoc, Anabaena, Cilindrospermum e Calotrix.

Os cistos de resistência das cianobactérias heterocitadas permanecem no solo entre um

ciclo e outro da cultura do arroz onde a umidade parece ser o principal fator desencadeante da

sua germinação.

Nostoc é o gênero de cianobactérias heterocitadas que predomina nesse tipo de

ecossistema durante a maior parte do ciclo da cultura de arroz. Dentre os gêneros de

cianobactérias heterocitadas presentes nesse tipo de ecossistema e identificadas pelos métodos

empregados nesse estudo, Cilindrospermum foi o que apresentou maior sensibilidade às

alterações das condições de cultivo, apresentando maior variação morfológica.

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73

4 CAPÍTULO II: EUGLENAS VERMELHAS EM

AGROECOSSISTEMA DE LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO POR

INUNDAÇÃO EM SANTA MARIA, RIO GRANDE DO SUL

RESUMO

No estudo de amostras oriundas de quatro quadras experimentais de cultivo de arroz irrigado por inundação do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, foram registradas freq6entes natas vermelhas na superfície da água resultado do grande desenvolvimento do número de indivíduos (floração) de microalagas do grupo de euglenofíceas pigmentadas. Com este trabalho tem-se o objetivo de caracterizar a espécie de euglena vermelha que ocorre em arroz inundado e descrever aspectos do seu nicho neste tipo de ecossistema. Para este fim, efetuou-se a coleta de amostras de florações de euglenas vermelhas e cultivo em meio BG11 com e sem nitrogênio além dos meios Bold normal e modificado. Os meios foram solidificados com 10 gL-1 de ágar, esterilizados em autoclave por 20 minutos a 120°C e 1,0 atm de pressão. As placas foram incubadas em estufa com fotoperíodo de 12 horas de luz e 12 horas de escuro, temperatura de 25±2°C e intensidade luminosa de 35µmol m-2s-1 por um período de três semanas. Decorrido esse período, procedeu-se a transferência de células desenvolvidas, previamente identificadas ao microscópio, para novas placas contendo apenas as formulações de meio que apresentaram crescimento positivo. Esse procedimento foi repetido três vezes. Todos os meios foram responsivos, porém, o meio Bold (microalgas) apresentou melhor resposta. O meio Bold modificado inibiu o desenvolvimento das euglenofíceas vermelhas que permaneceram em estádio palmelóide. A caracterização morfológica das células vivas permitiu confirmar apenas o gênero de euglenofícea pigmentada como sendo Euglena, porém, não foi suficiente para determnar com segurança a espécie. Entretanto, as observações feitas apontam para duas possíveis espécies; Euglena sanguinea ou Euglena haematodes havendo, contudo, a necessidade de estudos mais detalhados para confirmar.

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74

4.1 Introdução

As euglenas vermelhas são algas pigmentadas formadoras de florações-vermelhas em

ambientes ricos em nutrientes e matéria orgânica. Entre as espécies de euglenas vermelhas

destaca-se a Euglena sanguinea, relatada como sendo de coloração permanentemente

vermelho-sanguineo pela presença de grânulos (hematocromos) que mascaram a clorofila. A

massa celular desta espécie pode ocupar toda a superfície da água em situação de floração,

formando uma nata avermelhada ou migrar para o fundo quando a incidência de radiação

solar diminui (ALVES-DA-SILVA & TAMANAHA, 2008).

Quando a radiação é alta, estas espécies sintetizam hematocromos, assumem uma

forma esférica temporária e tornam-se imóveis para se protegerem da radiação UVB

(GERBER e HÄDER, 1993; ZAKRYS & WALNE, 1994 apud ROSOWSKI 2003). Contudo,

as condições que levam a formação de florações ainda não são bem conhecidas. Porém,

Rosowski, 2003, acreditam ser em resposta ao aquecimento da água e máxima radiação solar.

As florações ocorrem em temperaturas superiores a 25 oC , pH alcalino e radiação

solar alta, as células podem ocupar toda superfície da lâmina d`água (LACKEY, 1968).

4.2 Hipóteses e Objetivos

4.2.1 Hipóteses

O presente estudo teve as segintes hipóteses:

a) A formação de florações de euglenas vermelhas em lavoura de arroz inundado está

relacionada à presença de altos teores de ferro (Fe) solúvel na água,

b) Os cistos de resistência das euglenas vermelhas se encontram apenas na camada de

0-5 cm da superfície do solo,

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75

c) A espécie de euglenofícea pigmentada, formadora de floração vermelha em lavoura

de arroz inundado é Euglena sanguinea.

4.2.2 Objetivos

a) Identificar e caracterizar as espécies de euglenas vermelhas formadoras de florações em

lavoura de arroz irrigado por inundação,

b) Descrever o nicho ecológico destes dois grupos de microrganismos no ecossistema de

lavoura de arroz irrigado por inundação.

4.3 Material e métodos

4.3.1 Área de estudo

As amostras de água utilizadas no experimento foram coletadas em quatro quadras

experimentais do departamento de solos da Universidade Federal de Santa Maria, sob um solo

classificado como Planossolo Hidromófico Eutrófico arênico, pertencente à unidade de

mapeamento Vacacaí (STRECK et al., 1999) e cultivadas sob o sistema convencional e o

sistema de consórcio com peixes.

4.3.2 Coleta de amostras

Amostras de (200 mL) foram coletadas em cada lavoura utilizada no estudo as quais

foram misturadas obtendo-se uma amostra composta. A coleta foi realizada inicialmente

coletadas em frascos (500 mL) de boca larga conforme proposto por (METTING, 1994).

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76

Entretanto, devido ao material se aderir fortemente às paredes do frasco dificultando a sua

remoção, efetuou-se a coleta com uma metodologia diferente das descritas na literatura

específica. Retângulos de filtro quantitativo medindo 1mm2 foram aproximados (um a um) a

floração com auxílio de uma pinça e mergulhados em frasco contendo água destilada. As

amostras foram transportadas para o laboratório de microbiologia e biologia do solo do

departamento de solos da Universidade Federal de Santa Maria, RS, onde foram

imediatamente inoculadas em placas de Petri contendo três diferentes meios de cultivo para

microalgas.

Alíquotas das amostras coletadas foram congeladas e conservadas em solução de lugol

iodado 1% para investigar o comportamento das células sob estresse térmico e manutenção

das características úteis na identificação.

4.3.3 Meio de cultura e condições de cultivo

Para o cultivo inicial das euglenas vermelhas, três formulações de meios nutritivos

foram testadas, como segue: meio BG11, meio BG10 (Allen, 1968) e meio Bold (Starr, 1978)

descritos na tabela 9. Os meios foram solidificados com 10 gL-1 de ágar, esterilizados em

autoclave por 20 minutos a 120°C e 1,0 atm de pressão. Seguido do cultivo inicial procedeu-

se um co-cultivo das células crescidas, em meio Bold (Starr, 1978), com duas e três vezes a

concentração de ferro sugeridas no meio inicial. O meio Bold utiliza uma concentração de

ferro de 4,98g L-1. Neste experimento, foram utilizadas concentrações de 9,96 gL-1 e 14,94 gL-

1 de FeSO4. 7H2O.

Tabela 9 – Meios de cultivo utilizados para o isolamento e manutenção de monoculturas de euglenas vermelhas coletadas na área do estudo.

Meios de cultivo Micronutriente (g L-1 )

BG11

(Allen, 1968)

Bold

(Starr, 1978)

BG11 (Allen, 1968)

Sem nitrogênio

NaNO3 1,5 g

2,5 g -

K2HPO4 0,04 g

0,75 g 0,04 g

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77

KH2PO4 - 1,75 g -

NaHPO4.7H2O - - -

MgSO4.7H2O 0,075 g

0,75 g 0,075 g

MgCl2.6H2O - - -

CaCl2.2H2O 0,036 g 0,2 g 0,036 g

Na2 – EDTA 0,001 g

5,0 g 0,001 g

Na2CO3 0,02 g

- 0,02 g

FeCl3. 6H2O - - -

Ácido cítrico 0,006 g

- 0,006 g

Citrato férrico amoniacal 0,006 g

- 0,006 g

Micronutrientes

H3BO3 2,86 g 1,14 g 2,86 g

KOH _ 3,1 g _

FeSO4.7H2O - 0,5 g -

MnCl2.4H2O - 0,14 g -

ZnSO4.7H2O 0,222 g

0,88 g 0,222 g

ZnCl2 _ - _

CoCl2.6H2O _ - _

Co(NO3)2. 6H2O 0,494 g

0,05 g 0,494 g

Co (NO3 )2 . 6H2 O)

0,494 g - 0,494 g

CuCl2 _ 0,157 g _

CuSO4.5H2O 0,079 g

- 0,079 g

NH4VO3 _ - _

Na2MoO4.2H2O - - -

pH 7,1 6,8 7,1

Uma alíquota de cada amostra coletada foi analisada ao microscópio ótico para uma

análise visual e caracterização morfométrica. Logo após, em câmara de fluxo laminar, sob

condições assépticas, amostras de água (500 µL) foram espalhadas, com o auxílio de

micropipetas, em placas de petri estéreis contendo 20 mL do meio nutritivo. Posteriormente, o

material foi transferido para uma estufa com fotoperíodo com 12 horas de luz e 12 horas de

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78

escuro, temperatura de 25±2°C e intensidade luminosa de 35µmol m-2s-1 fornecida por

lâmpadas fluorescentes.

4.3.4 Isolamento

Foram preparadas placas de petri contendo 25 ml dos meios de cultura

correspondentes aos tratamentos, nas quais foram inoculadas, em condições assépticas e com

o auxílio de uma alça de platina flambada, pequenas porções das manchas que apresentavam

coloração avermelhada e identificadas ao microscópio como sendo aglomerações de euglenas

vermelhas. Após a inoculação as placas foram incubadas em estufa com fotoperíodo de 12

horas de luz e 12 horas de escuro, temperatura de 25±2°C e intensidade luminosa de 35µmol

m-2s-1 fornecida por lâmpadas fluorescentes, por três semanas. Este procedimento foi repetido

por mais três vezes, visando à obtenção de cultura pura.

4.3.5 Caracterização fenotípica

A caracterização fenotípica foi realizada em amostras ambientais, em microscópio

ótico, trinocular, marca Olympus, modelo LX 50, equipado com o sistema digital de imagem

Nikon coolpix 4500 e ocular micrometrada. A determinação do taxon foi efetuada utilizando a

chave para gênero e espécies proposta por Cassie (1983) e comparação com as morfoespécies

relatadas em trabalhos recentes como Alves-da-Silva & Tamanaha (2008), Alves-da-Silva &

Bicudo (2002) e Rosowski (2003).

Para a caracterização morfológica foram utilizadas tanto amostras vivas coletadas

durante as florações de 2008 e 2009 nas quadras de arroz experimental escolhidas para o

estudo como as culturas obtidas nos cultivos “in vitro”. As características diagnosticadas

utilizadas para a identificação de espécies e infraespécies do gênero Euglena são:

caracterização foi realizada de acordo com os seguintes caracteres morfológicos:

• Morfologia celular

• Dimensões celulares

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• Número e forma dos cloroplastos

• Número e forma dos paramidos

• Presença ou ausência e tipo de pirenóides

4.3.6 Monitoramento das florações de euglenas vermelhas em lavouras de arroz irrigado por

inundação.

Durante os meses de dezembro á janeiro de 2009 foram monitoradas as condições do

nicho ecológico das euglenas vermelhas, como pH e temperatura da água, radiação solar,

temperatura atmosférica e velocidade dos ventos, que favorecem o surgimento e evolução de

florações desses organismos nesse tipo de ecossistema aquático.

O pH e a temperatura da água foram medidos a campo utilizando peagâmetro da

marca Digimed e a termômetro modelo de mercúrio. Dados referentes à temperatura

atmosférica, radiação solar, velocidade dos ventos e pluviosidade, foram obtidos na Estação

Metereológica da Universidade Federal de Santa Maria (Tabela 11).

O desenvolvimento e a evolução da floração foram determinadas por meio de

observações “in loco” e por análises microscópicas.

4.3.7 Localização dos cistos de resistência no solo

Para este estudo foram coletados blocos de solo da camada de 0 a 10 cm, logo após a

drenagem da água das lavouras e deposição dos cistos de resistência visíveis como manchas

vermelhas no solo (Figura 1). Para evitar distúrbios nas camadas, foram utilizados segmentos

de cano de PVC de aproximadamente 20 cm de comprimento e 5 cm de diâmetro, abertos nas

duas extremidades. Com o auxílio de um êmbolo, o solo foi removido dos canos e disposto

diretamente em copos de polietileno, devidamente identificados. Os copos foram conduzidos

ao laboratório de biologia do solo do departamento de solos da UFSM, onde receberam os

seguintes tratamentos (T – sem remoção de solo, T1 - remoção de 0-2 cm da superfície do

solo, T2 - remoção de 0-5 cm da superfície do solo; T3 – Adição de P K2HPO4 - 7,5 g L-1 e

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KH2PO4 – 17,5 g L-1; T4 – Adição de N NaNO3 - 25 g L-1; T5 – Adição de P e N K2HPO4 -

7,5 g L-1 e KH2PO4 – 17,5 g L-1 e 25 g L-1 de NaNO3).

Cada copo (unidade experimental) recebeu imediatamente após a chegada ao

laboratório, uma lâmina de 10 cm de água destilada contendo fósforo e nitrogênio nas

concentrações correspondentes a cada tratamento. A altura da lâmina d’água foi marcada para

o devido controle da evaporação e reposição da água perdida.

As unidades experimentais foram mantidas sob fotoperíodo de 12 horas de luz e 12

horas de escuro, temperatura de 28±2°C e intensidade luminosa de 35µmol m-2s-1.

Após uma semana de incubação foi monitorado, semanalmente, o pH e o número de

células de euglenas vermelhas por ml de amostra retirada da lâmina d`água de cada unidade

experimental.

Figura 16 – Aspecto do solo após a drenagem da água e remoção das plantas de arroz, contendo grande quantidade de cistos de resistência de euglenas (mancha vermelha) em Santa Maria, Rio Grande do Sul.

4.4 Resultados e discussão

4.4.1 Cultivo “in vitro”

O meio de cultura BG11 (ALLEN, 1968), formulado para o cultivo de cianobactérias,

e o meio Bold (STARR, 1978), para o cultivo de microalgas testados no cultivo inicial das

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euglenas vermelhas, mostraram-se igualmente responsivos (Figura). Entretanto, no meio Bold

(STARR, 1978) as euglenas vermelhas se desenvolveram mais rápido que no meio BG11.

Figura 17 – (a) Crescimento de euglenas vermelhas em meio de cultura Bold (Starr, 1978) após duas semanas da incubação; (b) crescimento celular após três semanas da incubação.

Figura 18 – (c) Desenvolvimento de hematocromos em euglenas vermelhas em estágio palmelóide após duas semanas da incubação; (d) forma e número de grãos de paramido em célula de euglena vermelha adulta.

Quando as concentrações de ferro (FeSO4. 7H2O) foram aumentadas para duas e três

vezes a concentração ideal, sugerida para o meio Bold (STARR, 1978), as células

permaneceram no estágio inicial do desenvolvimento, não sendo observado metabolia e

síntese de hematocromos. As células permaneceram predominantemente no estágio

palmelóide (células verdes e imóveis), como ilustrado na figura. Este resultado diverge da

condição observada na lavoura de arroz onde o surgimento de floração orre

concomitantemente com a presença de óxidos de ferro na água, rejeitando a hipótese de que a

formação de florações de euglenas vermelhas em lavoura de arroz irrigado por inundação está

relacionada à presença de altos teores de ferro (Fe) solúvel na água.

a b

d c

G. paramido

Hematocromos

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Figura 19 – Células desenvolvidas em meio Bold (Starr, 1978), modificado.

4.4.2 Caracterização fenotípica

Gênero: Euglena Ehrenberg 1830

Morfoespécie: Euglena sanguinea (cf)

A caracterização fenotípica foi realizada apenas pela observação de células vivas

devido ao fato do material conservado em lugol 1% ter degradado e dificultado a realização

das medidas. Zakrys (1986) cita que a conservação em glutaraldeído 2 % fixa as células

mantendo o seu tamanho e forma originais tanto quanto a solução de lugol iodado utilizada

neste estudo. Porém, o que se observou foi a mudança das células fusiformes em células

esféricas (metabolia), além da alteração da cor que passa de verde ou vermelho vivo para

vermelho enegrecido, impossibilitando a identificação e observação de qualquer estrutura.

Contudo, pelas observações realizadas em células vivas foi possível confirma o gênero

Euglena Ehrenberg 1830. Essas observações não foram suficientes para determinar a espécie.

Entretanto, as características observadas e listadas a seguir, se assemelham muito com as

descrições encontradas na literatura para as espécies Euglena sanguinea Ehr. e Euglena

haematodes ( Ehr) Lenn.

Palmelóide

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Figura 20 – (a) metabolia (b) bainha mucilaginosa em célula palmelóide (d) célula em metabolia (e) cloroplastos de euglena vermelha coletada em lavoura de arroz irrigado por inundação.

4.4.3 Principais características diacríticas

Algumas características morfológicas diacríticas visualizadas na (s) espécie (s) de

ocorrência em lavoura de arroz irrigado por inundação são importantes na determinação das

espécies de euglenofíceas. Essas características são: forma dos ápices celulares anteriores e

posterior, forma dos cloroplastos, presença de grãos de pirenóide, presença e número de

flagelos, presença, forma e número de grânulos de paramido (Tabela 10).

Bainha de mucilagem

estigma

Célula palmelóide

Cloroplasto

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Tabela 10 – Principais características diacríticas utilizadas na classificação da euglena vermelha coletada em lavoura de arroz irrigado por inundação.

Ápice celular

Anterior e

posterior

Cloroplastos radiais Hematocromos

Fonte: adaptado de Rosowski (2003)

4.4.4 Monitoramento das florações de euglenas vermelhas em quadrasexperimentais de arroz

irrigado por inundação, Santa Maria, Rio Grande do Sul.

O monitoramento das condições do nicho ecológico das euglenas vermelhas em

quadras experimentais de arroz irrigado por inundação foi realizadas semanalmente, sempre

no mesmo horário (entre 10:00 e 12:00 horas da manhã), a contar do primeiro dia após o

alagamento que em 2009 ocorreu no dia 17 de dezembro. No final da primeira semana, apesar

da temperatura da água, radiação solar e velocidade dos ventos apresentarem valores mais

favoráveis ao desenvolvimento de florações que os observados na semana seguinte

(23/12/2009) quando as florações mostravam-se no seu auge, não foi observado formação de

manchas vermelhas na lâmina d`água (Tabela 11). Entretanto, a análise microscópica

evidenciou a presença de algumas células nas amostras de água coletadas na quadra 2. Uma

explicação provável para esse fato está no pH da água (6,3-6,5) que ainda estava abaixo de

6,8, ideal para o surgimento de floração (METTING, 1994).

Na segunda semana após o alagamento, apesar da radiação solar e da temperatura da

água assumirem valores inferiores aos observados na primeira semana, a floração ocupou

Anterior

Posterior

Grânulos de hematocromos centrais

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grandes extensões da lâmina d`água (Figura 1). Entretanto, nessa semana foram registrados

valores de pH superiores (6,8-7,1) e velocidade dos ventos reduzidos a quase a metade dos

anteriores. Esses resultados sugerem que o pH e a baixa turbulência das águas são fatores

importantes para o desenvolvimento das florações de euglenas vermelhas.

As semanas que sucederam a descrita acima apresentaram pequenas manchas nas

bordas das quadras monitoradas onde a lâmina d`água apresentava-se muito baixa (inferiror a

5 cm) e não haviam plantas. Somando-se ao fato de as temperaturas da água e a velocidade

dos ventos terem declinado, a estatura das plantas de arroz já ultrapassava os 30 cm,

reduzindo, dessa forma, sensivelmente, a incidência de luz e contribuindo para o declínio da

temperatura da água.

Tabela 11 – Condições do nicho ecológico monitorados semanalmente nas lavouras de arroz irrigado por inundação (Q1 eQL2) a partir do primeiro dia após o alagamento, campus da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2010.

Quadras/Pontos Nuv. pH Temp. Ar Temp. água Rad. sol Vel..ventos Floração Est. planta _________________________________________________________________________________

Data amostragem: 17/12/2008 Hora da amostragem: 10 hs

Q1 P1 0% 6,3 20,9 26,0

o C 1260 KJm

2 6,5 m/s Ausente 20 cm

P2 0% 6,5 20,9 26,5 o

C 1260 KJm2 6,5 m/s Ausente

P3 0% 6,4 20,9 26,0 o

C 1260 KJm2 6,5 m/s Ausente

Q2 P1 0% 8,5 20,9 35,0

o C 1260 KJm

2 6,5 m/s Ausente

P2 0% 7,0 20,9 30,0 o

C 1260 KJm2 6,5 m/s Ausente

P3 0% 6,9 20,9 30,0 o

C 1260 KJm2 6,5 m/s Ausente

Data da amostragem: 23/12/2008 Hora da amostragem: 10 hs 40 min.

Q1 P1 10% 6,3 23,9 25,0

o C 959 KJm

2 3,8 m/s Ausente 25 cm

P2 10% 6,7 23,9 26,0 o

C 959 KJm2 3,8 ms Leve

P3 10% 7,0 23,9 26,0 o

C 959 KJm2 3,8 m/s Ausente

____________________________________________________________________________________Q2 P1 5% 6,8 23,9 30,0

o C 959 KJm

2 3,8 m/s Forte

P2 5% 7,3 23,9 25,5 o C 959 KJm

2 3,8 m/s Moderada

P3 5% 7,1 23,9 25,0 o C 959 KJm

2 3,8 m/s Forte

Data da amostragem: 30/12/2008 Hora da amostragem: 10 hs

Q1 P1 0% 6,6 17,7 23,0

o C 1204 KJm

2 5,1 m/s Ausente 35 cm

P2 0% 6,5 17,7 28,0 o

C 1204 KJm2 5,1 m/s Ausente

P3 0% 6,4 17,7 24,0 o

C 1204 KJm2 5,1 m/s Ausente

Q2 P1 2% 9,1 17,7 30,0

o C 1204 KJm

2 5,1 m/s Moderada

P2 2% 6,0 17,7 31,0 o

C 1204 KJm2 5,1 m/s Muito leve

P3 2% 6,9 17,7 28,0 o

C 1204 KJm2 5,1 m/s Ausente

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86

Figura 21 – Aparência da floração observada na quadra 2 em 23 de dezembro de 2009, às 10 horas da manhã, Santa Maria, rio Grande do Sul.

4.4.5 Características da floração

A floração começa surgir na lâmina d`água sempre entre 10:00 e 11:00 da manhã,

quando a temperatura atmosférica e radiação começam a se elevar. As células são muito leves

aderindo-se facilmente a qualquer material com o qual entram em contato (plantas e objetos

de coleta). Não foi observado em nenhuma das fases do monitoramento a presença de escuma

nas florações o que descarta a possibilidade de tratar-se de Euglena rubra Mainx, uma das

espécies que também pose desenvolver florações vermelhas em ecossistemas aquáticos

enriquecidos por nutrientes. A extrema leveza das células e sua capacidade de aderir-se a

outras superfícies dificultam muito a coleta de material para as análises.

Outra característica da floração é o seu rápido desaparecimento que conforme

observado se inicia por volta das 15 horas, quando tanto a temperatura atmosférica como a

radiação solar começa a declinar.

4.4.6 Localização dos cistos de resistência

O alagamento do solo contendo os cistos de resistência e a adição de fósforo,

nitrogênio e nitrogênio e fósforo combinados, nas concentrações sugeridas para o cultivo in

vitro não foi suficiente para desencadear o processo de germinação como tem ocorrido nas

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87

lavouras de arroz alagado, ciclo após ciclo. Apesar de terem sido reproduzidas as mesmas

condições empregadas no cultivo em meio nutritivo, os cistos não germinaram como

esperado não havendo, também, uma explicação plausível para tal fato e nem suporte teórico

visto que pouco se sabe a respeitos do nicho ecológico das euglenas vermelhas. Serão

necessárias novas investigações que verifiquem se esses cistos permanecem latentes durante

certo período.

4.5 Conclusões

Não há relação entre a presença de óxidos ferro na lâmina d´àgua das lavouras de

arroz irrigado por inundação e o desenvolvimento de florações de euglenas vermelhas.

Os métodos utilizados nesse estudo não foram suficientes para determinar se as

euglenas vermelhas que desenvolvem florações em lavouras de arroz irrigado por inundação

são constituídas por uma ou mais espécies.

São condições-chave para o desenvolvimento de florações de euglenas vermelhas em

lavoura de arroz irrigado por inundação, a ausência de turbulência e temperatura entre 25 e

30 o C na lâmina d`água, radiação solar aproximada de 950 KJm e pH levemente ácido e

levemente básico.

É possível que os cistos de resistência da espécie ou espécies de euglena vermelha

que desenvolve florações em lavoura de arroz irrigado por inundação entrem em latência

entre um ciclo e outro da cultura de arroz.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não há relação entre a presença de óxidos ferro na lâmina d´àgua das lavouras de arroz

irrigado por inundação e o desenvolvimento de florações de euglenas vermelhas.

As condições químicas, físicas e nutricionais das lavouras de arroz irrigado por

inundação favorecem o desenvolvimento (em momentos distintos) de pelo menos quatro

gêneros de cianobactérias heterocitadas: Nostoc, Anabaena, Cilindrospermum e Calotrix.

As cianobactérias e euglenas vermelhas (cistos de resistência) permanecem no solo

entre um ciclo da cultura do arroz e outro onde a umidade parece ser o principal fator

desencadeante da sua germinação. Apesar de terem sido reproduzidas as mesmas condições

empregadas no cultivo em meio nutritivo, os cistos não germinaram como esperado não

havendo, também, uma explicação plausível para tal fato e nem suporte teórico visto que

pouco se sabe a respeito do nicho ecológico das euglenas vermelhas. Serão necessárias novas

investigações que verifiquem se esses cistos permanecem latentes durante certo período.

Nostoc é o gênero de cianobactérias heterocitadas que predomina nesse tipo de

ecossistama durante a maior parte do ciclo da cultura do arroz.

Dentre os gêneros de cianobactérias heterocitadas presentes nesse tipo de ecossistema

e identificadas pelos métodos empregados nesse estudo, Cilindrospermum foi o que

apresentou maior sensibilidade às condições de cultivo.

As oscilações do meio determinam mudanças no domínio das populações de

cianobactérias em lavouras de arroz irrigado por inundação.

O Cultivo “in vitro”, além ser seletivo, promove modificações morfológicas e

comportamentais nas populações naturais.

O desenvolvimento de florações de euglenas vermelhas em lavouras de arroz irrigado

por inundação é causado, principalmente, em resposta a estagnação da água e alta radiação

solar.

Para estudos futuros sugerem-se o monitoramento dos fatores bioóticos e abióticos que

desencadeiam o processo de floração tanto de cianobactérias heterocitadas como de euglenas

vermelhas durante todo o ciclo da cultura do arroz.

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