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Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 1 - Charges virtuais e redes sociais na internet: acesso e mobilidade Marcelo Rodrigo da Silva 1 (UEPB) Flávio Aurélio Tenório de Asevêdo 2 (UEPB) Resumo: O presente artigo tem como objetivo principal desenvolver uma observação analítica sobre o caráter de independência conferido às Charges Virtuais (CVs) pela internet, em especial por sites de relacionamento e divulgação pessoal a exemplo do Twitter e do Youtube. Será estudado como na rede mundial de computadores, as CVs têm expandida sua mobilidade e liberdade de acesso ao público. Através dos hiperlinks, as CVs podem ser visualizadas diretamente em sites como estes ou através dos links neles divulgados, que remetem aos sites de origem das charges. Dessa forma, mais que um espaço de escrita de si e divulgação de acontecimentos da vida pessoal cotidiana dos usuários, as redes sociais funcionam como ambiente de promoção, divulgação e partilha de produtos midiáticos como as CVs. Palavras-chave: Charges Virtuais, Redes Sociais, Mobilidade. Abstract: The present article has as main objective to develop an analytical observation on the character of independence granted to Virtual Charges (CVs) by the internet, in particular by social networking sites and personal disclosure like Twitter and Youtube. Will be studied how the global network of computers, the VCs have expanded their mobility and freedom of access to the public. Through hyperlinks, the CVs can be viewed directly on sites like these or via the links in them disclosed, that referring to the sites of origin of the charges. Thus, more than a space of self writing and dissemination of personal life events of everyday users, social networks work like environment to promote, distribution and dissemination of media products such as CVs. keywords: Virtual Charges, Social Networking, Mobility. Introdução O desenvolvimento da telemática, o desenvolvimento de tecnologias de informação e o surgimento da internet trouxeram consequências irreversíveis para o sistema e as relações de contato e comunicação do homem em sociedade. Através da internet, são ressignificados os processos de emissão, transmissão, circulação e recepção de mensagens entre um ponto emissor (ou emissores) e um

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Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 1 -

Charges virtuais e redes sociais na internet: acesso e mobilidade

Marcelo Rodrigo da Silva1 (UEPB)

Flávio Aurélio Tenório de Asevêdo2 (UEPB)

Resumo: O presente artigo tem como objetivo principal desenvolver uma observação analítica sobre o caráter de independência conferido às Charges Virtuais (CVs) pela internet, em especial por sites de relacionamento e divulgação pessoal a exemplo do Twitter e do Youtube. Será estudado como na rede mundial de computadores, as CVs têm expandida sua mobilidade e liberdade de acesso ao público. Através dos hiperlinks, as CVs podem ser visualizadas diretamente em sites como estes ou através dos links neles divulgados, que remetem aos sites de origem das charges. Dessa forma, mais que um espaço de escrita de si e divulgação de acontecimentos da vida pessoal cotidiana dos usuários, as redes sociais funcionam como ambiente de promoção, divulgação e partilha de produtos midiáticos como as CVs. Palavras-chave: Charges Virtuais, Redes Sociais, Mobilidade. Abstract: The present article has as main objective to develop an analytical observation on the character of independence granted to Virtual Charges (CVs) by the internet, in particular by social networking sites and personal disclosure like Twitter and Youtube. Will be studied how the global network of computers, the VCs have expanded their mobility and freedom of access to the public. Through hyperlinks, the CVs can be viewed directly on sites like these or via the links in them disclosed, that referring to the sites of origin of the charges. Thus, more than a space of self writing and dissemination of personal life events of everyday users, social networks work like environment to promote, distribution and dissemination of media products such as CVs. keywords: Virtual Charges, Social Networking, Mobility.

Introdução

O desenvolvimento da telemática, o desenvolvimento de tecnologias de

informação e o surgimento da internet trouxeram consequências irreversíveis para

o sistema e as relações de contato e comunicação do homem em sociedade.

Através da internet, são ressignificados os processos de emissão, transmissão,

circulação e recepção de mensagens entre um ponto emissor (ou emissores) e um

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ponto receptor (ou receptores). O transcorrer evolutivo dos processos de

comunicação até a contemporaneidade é sintetizado por Wilson Dizard (2000) em

grandes três transformações, todas elas relacionadas ao aparato técnico e

tecnológico desenvolvido pelo homem:

A primeira aconteceu no século XIX, com a introdução das impressoras a vapor e do papel de jornal barato. O resultado foi a primeira mídia de massa verdadeira – os jornais ‘baratos’ e as editoras de livros e revistas em grande escala. A segunda transformação ocorreu com a introdução da transmissão por ondas eletromagnéticas – o rádio em 1920 e a televisão em 1939. A terceira transformação na mídia de massa – que estamos presenciando agora – envolve uma transição para a produção, armazenagem e distribuição de informação e entretenimento estruturados em computadores. (DIZARD, 2000. p. 53 e 54).

A sociedade em rede e a possibilidade de interconexão de usuários ao mesmo

tempo em diversos pontos do planeta levaram Santaella (2007) a denominar a

contemporaneidade como a “Era da Mobilidade”, com base nos preceitos de

Zigmunt Bauman. A autora visualiza o processo designado pela “metáfora da

liquidez” na esfera das linguagens e em todas demais, como uma incapacidade de

manter as formas.

Linguagens antes consideradas do tempo – verbo, som, vídeo – espacializam-se nas cartografias líquidas e invisíveis do ciberespaço, assim como as linguagens tidas como espaciais – imagens, diagramas, fotos – fluidificam-se nas enxurradas e circunvoluções dos fluxos. Já não há lugar, nenhum ponto de gravidade de antemão garantido para qualquer linguagem, pois todas entram na dança das instabilidades. Texto, imagem e som já não são o que costumavam ser. Deslizam-se uns para os outros, sobrepõem-se, complementam-se, confraternizam-se, unem-se, separam-se, entrecruzam-se.Tornaram-se leves, perambulantes. (SANTAELLA, 2007. p. 24).

Bauman (2001) utiliza a metáfora da liquidez para caracterizar o perfil

contemporâneo da sociedade que não consegue manter as formas. Para o autor, as

relações sociais e concepções do homem como ator social estão em constante

mutação e reformulação. Por isso a associação à mobilidade dos líquidos.

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Os líquidos se movem facilmente. Eles fluem, escorregam, esvaem-se, respingam, transbordam, vazam, inundam, borrifam, pingam, são filtrados, destilados; diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos – contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu caminho. (BAUMAN, 2001. p. 8).

É justamente a simbologia da “liquidez” que representa a mobilidade no

espaço virtual. Não só o homem encontrou um novo espaço para atuar socialmente

e desenvolver novas formas de relacionamento, como também criou técnicas e

tecnologias correspondentes a este novo espaço. A criação humana também

convergiu para o ambiente virtual e encontrou espaço para suas produções.

Exemplo disso são as charges, produtos midiáticos que ganham vida e liberdade na

virtualidade. Dispondo do aparato da informática, o chargista amplia suas

possibilidades e cria variações na estrutura das charges no ambiente virtual. Os

recursos tecnológicos tornam-se, assim, mais que suportes, para integrarem o

universo constitutivo de cada criação e comporem a expressão estética e artística

das charges virtuais.

É impossível desvincular cibercultura de inteligência coletiva e da catalisação dessas inteligências pela internet. Por trás de cada computador, há um ser humano buscando uma nova forma de aprender, produzir, se expressar, ensinar, aproveitar e prosperar. E humanos também são sonhos, sentimentos e contradições, não apenas razão, cérebro e máquina. Já disseram que, em cada um de nós, há multidões. Também já disseram que somos símbolos ou signos. Hoje, podemos dizer que somos links. Links que se conectam com outros links. (DIMANTAS, 2010. p. 48).

A Charge e o Virtual

O suporte virtual concede à charge um caráter de imaterialidade, visto que

ao legitimar sua existência no ambiente cibernético, configura-a como uma

produção que se presentifica por meio dos instrumentos tecnológicos, mas que por

si próprio não se materializa e permanece em um suporte flutuante: a rede,

conforme trata Dyens (2003):

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[...] Seu suporte não é nem o papel nem a interface, nem o livro, nem a tela, mas a navegação. A obra está acabada, mas a experiência que se faz dela não está. Uma obra de rede, assim como um manuscrito pode ser ‘relida’ indefinidamente de maneiras sempre diferentes. Um manuscrito em obra de rede são arquiteturas móveis, líquidas, múltiplas; tanto o manuscrito como a obra são acontecimentos incertos e evanescentes. (DYENS, 2003. p. 266).

No suporte virtual, as mutações mais marcantes na estrutura linguística das

charges foram a animação das imagens e a adição do som, o alterou seu estatuto

de caráter icônico. Os recursos tecnológicos disponibilizados pela telemática

reconfiguraram a produção artística e concedem ao chargista novas ferramentas e

técnicas de expressão da arte, tornando-se, eles próprios, elementos constituintes

das charges virtuais. Os meios de produção e as relações de produção artística são

interiores à própria arte, configurando suas formas a partir de dentro. Por isso são

determinantes dos procedimentos de que se vale o processo criador e das formas

artísticas que elas possibilitam.

Souza (2008) destaca que, pela maior liberdade de manipulação, devido ao

meio físico, os avanços tecnológicos permitiram a diversidade de arranjos no

processamento textual.

A charge ganhou um número maior de quadros, condição essa que permite aos leitores um “tempo maior” para digerir a crítica, pois, se compararmos a CV [Charge Virtual] com a charge impressa, verificamos que a crítica presente na segunda é exibida de forma condensada em um ou dois quadros, fato que exige do leitor uma compreensão aguçada da crítica por ela ofertada. (SOUZA, 2008. p. 40).

A atmosfera discursiva das charges no suporte impresso que era derivada da

combinação entre texto e imagem, passa a congregar recursos antes distantes e

inutilizados em sua cadeia de relações semióticas, construindo um novo ambiente

de significação. O suporte virtual amplificou o potencial multissemiótico a partir da

introdução de elementos como o som e a imagem animada.

Com relação à utilização do texto, nas charges virtuais animadas, o recurso

do texto verbal toma mais vulto e se corporifica de forma mais indispensável para a

transmissão do sentido da mensagem. Ou seja, a decodificação da mensagem pelo

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receptor passa a se processar de maneira mais dependente do elemento linguístico,

seja na constituição do cenário, nas legendas ou na própria fala das personagens.

Santaella (2007) chama a linguagem resultante da junção entre todos esses

elementos de “hipermídia”.

A imagem não apenas aparece em todas as formas e regimes de visualidade possíveis – gráfica, fotográfica, videográfica e sintética – como também se faz acompanhar por textos, sons, ruídos, constituindo uma linguagem inaugural, a linguagem hipermídia. (SANTAELLA, 2007. p. 385).

Contudo, Ainda são encontradas no meio virtual charges que se mantêm com

a mesma estrutura linguística do modelo desenvolvido sobre o suporte impresso,

mas os recursos que lhes são adicionados ampliam significativamente seu potencial

de referencialidade e representatividade.

A transmutação para o meio virtual fez com que as charges – que antes

apresentavam uma linguagem visual-verbal – passassem a assumir uma linguagem

verbo-visual-sonora. Essa linguagem audiovisual é viabilizada pelas condições

oferecidas pelo ambiente cibernético. As tecnologias de informática permitiram a

confluência de elementos antes captados separadamente: o texto, o som e a

imagem, como explica Wilson Dizard (2000):

Os sinais digitais necessários para telecomputadores e outras máquinas de alta tecnologia são mais flexíveis. Baseados em dígitos binários, esses sinais não fazem qualquer distinção entre transmissões de vídeo, com ou dados. Podem lidar com todos eles num único fluxo, originando, armazenando, editando, transmitindo ou recebendo mensagens em velocidades de computador cada vez maiores. (DIZARD, 2000. p. 66 e 67).

Arlindo Machado explica que a linguagem audiovisual está diretamente

relacionada à proposta de cada autor. Cada produtor de uma peça videográfica

imprime em sua produção elementos que são influentes sobre a linguagem

apresentada. A junção dos elementos textuais, sonoros e imagéticos são estudados

por Souza (2008), ancorada nos estudos de Dionísio. Ela aplica às Charges Virtuais o

conceito de “Multimodalidade” (vários sistemas de signos). Segundo a autora, “os

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diversos modos de representação que compõem a CV [Charge Virtual] são

fundamentais para a sua construção e para o seu sentido. A perda de um de seus

modos (áudio, movimento etc) afeta diretamente na compreensão de sua crítica,

em seu efeito de humor” (SOUZA, 2008. p. 41).

Os mecanismos multimodais propiciam ao leitor a observância do humor [...]. Vale lembrar que, além dos recursos de áudio, as movimentações dão vida às personagens. Elas esboçam, através de suas expressões faciais, indignação, ironia, raiva, paixão, sarcasmo; enfim, suas expressões e seus gestos são fatores imprescindíveis para a construção humorística das charges. (SOUZA, 2008. p. 49).

Os links e as redes

Paulatinamente, as charges vêm adquirindo espaço e passaram a ser

divulgadas até no meio televisivo. Em vários programas de TV são apresentados

exemplos de peças virtuais, valendo-se de seu caráter crítico e cômico, como na

emissora Globo com os programas Jornal Nacional, Globo Esporte e, de forma mais

intensa o Big Brother Brasil que, inclusive, criou um quadro exclusivo para a

apresentação do gênero, com a produção particular do cartunista Maurício Ricardo.

Na internet esse processo é ainda mais rápido e as charges virtuais são

difundidas e propagadas através de um “clique” e difundidas pelos usuários

interligados pela “linkania” (DIMANTAS, 2010. p. 114). As Charges Virtuais são, na

internet, uma sequência de bits que levam consigo uma sequência eletrônica capaz

de exibir seu conteúdo em qualquer ponto da terra, desde que tenha sido

acessada. As produções dos chargistas libertam-se do suporte impresso e ganham

vida no espaço virtual. Movem-se no espaço e no tempo através da interação entre

os usuários e seus roteiros de navegação.

A liberdade de acesso possibilitado pela internet como um “espaço público”

e os mecanismos tecnológicos que estão à disposição do usuário para se deslocar

pela rede são articulados pelos chamados hiperlinks ou, simplesmente, links. São

recursos da internet que permitem que o usuário da rede se remeta a outro

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ambiente partindo do ponto onde ele estava com apenas um clique, construindo o

roteiro que deseja de forma autônoma e com a liberdade de ir e vir no instante que

achar conveniente.

Dimantas (2010) ressalta que foi através do Manifesto Cluetrain, em 1999,

que surgiram um novo enfoque para uma das funções da internet que se configuram

como as mais promissoras: as conversações on-line. O inter-relacionamento dos

usuários de todo o mundo em busca de conteúdo relevante tornou-se, segundo o

autor, inerente à sociedade em rede, que pressupõe a interatividade.

A comunicação se dá de muitos para muitos. Os mercados são conversações, e essas conversações ocorrem por meio de uma linguagem naturalmente aberta, honesta, direta, engraçada e, às vezes, até chocante. [...] É verdadeiramente uma conversação humana, isto é, são pessoas em rede conversando naturalmente. (DIMANTAS, 2010. p. 53).

Foi o crescimento da necessidade de interação humana na rede que

propiciou o surgimento de ambientes específicos para essa finalidade, as redes

sociais. Nesses ambientes, todos que estão interconectados atuam como

participantes “hiperlinkados” nas palavras de Dimantas (2010). “A academia, as

empresas, o Estado e o terceiro setor entram nessa equação, mas não como

protagonistas nem como detentores do conhecimento e da inovação, mas sim como

participantes desse ambiente hiperlinkado. O que vale é a reputação” (DIMANTAS,

2010. p. 95).

As redes sociais pressupõem uma visão da comunidade invisível para quem está fora. É muito sutil esse relacionamento. Exige confiança, compromisso e reputação. As redes sociais são massas e maltas. São aglomerados de links que se linkam por interessas comuns. Comunidade é isso. Convivemos em rede com diversas massas e diversas maltas, pois os interesses das pessoas são múltiplos. Misturamos, sem o menos pudor, nossos desejos com as coisas, o sentido com o social, o coletivo com as narrativas. (DIMANTAS, 2010. p. 36).

Acompanhando o crescimento das redes sociais, surgiram sites como o

Youtube e do Twitter, dedicados à supressão da necessidade das pessoas de

interagirem com outras, de serem vistas e verem as ações sociais das quais são

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protagonistas. Nas palavras de Dimantas (2010), “na internet, as pessoas têm a

possibilidade de interagir com as comunidades e, assim, protagonizar sua própria

existência, buscando e construindo nas comunidades informacionais os interesses

comuns” (DIMANTAS, 2010. p. 51).

O Youtube e o Twitter

O Youtube é um site basicamente criado para a postagem de vídeos e a

postagem de comentários e opiniões sobre eles. Qualquer pessoa pode se cadastrar

gratuitamente no site e postar seus vídeos, que podem ter sido produzidos através

de câmeras filmadoras profissionais, amadoras e celulares ou que podem ser

simples sequências de fotografias ou animações gráficas. A audiência ou a

popularidade dos vídeos postados é medida através do número de visualizações

registradas pelo site.

O objetivo principal é ser visto e causar nos usuários conectados algum tipo

de reação e, consequentemente, o reconhecimento pela produção. Isso gera status

para o autor perante a rede social do qual faz parte, como diz de forma simples e

direta Dimantas (2010): “Falando sério: é preciso entender que o importante numa

sociedade em rede é ser apontado pelos outros. [...] Reputação na veia”

(DIMANTAS, 2010. p. 39).

São comuns os casos em que a reputação do autor do vídeo postado na

realidade virtual extrapola o ambiente da internet e traz reflexos diretos na

realidade material, quando, por exemplo, casos curiosos se tornam tema de

reportagens televisivas, radiofônicas de periódicos ou mesmo de outros sites de

notícia da internet.

De forma semelhante acontece com o Twitter, lançado em 2006 e que é

estudado por alguns autores como uma ferramenta de comunicação que tem amplo

potencial a ser explorado no campo do marketing pessoal e empresarial. O Twitter

é definido por Vieira (2009) como

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Um serviço de comunicação rápida (não confundir com Messenger ou Skype) com um limite de 140 caracteres para cada informação que você envia (tweet), portanto, não pense em longas conversas e relatos através do Twitter, pois esse não é o propósito da ferramenta. (VIEIRA, 2009. p. 43)

No Twitter, os usuários podem postar mensagens de até 140 caracteres por

vez. Nessa rede de relacionamento, também conceituada por Vieira (2009) como

um Micro-blogging1, os usuários podem criar sua própria rede de relacionamento

seguindo ou sendo seguido por outros usuários. Vieira (2009) ainda destaca que o

Twitter é “um blog ‘ligado’ ao celular (SMS), onde você escreve mensagens como

no celular, mas envia via internet como em um blog atingindo não só uma pessoa,

mas milhares (VIEIRA, 2009. p. 65).

Um dos motivos para o entusiasmo com o Twitter foi a ideia de combinar as atualizações feitas na web com informações móveis. Assim, o Twitter torna possível que os usuários de celulares mandem mensagens e seus aparelhos, e, em alguns lugares, recebam-nas também. (COMM, 2009. p. 26)

Acesso e Mobilidade

As redes sociais trouxeram mais mobilidade às informações na internet, na

medida em que o usuário não precisa vasculhar as informações que lhe interessam

nos sites da internet. São os próprios usuários que divulgam entre si através de

links as informações que são de interesse comum entre a comunidade virtual da

qual faz parte. “O Twitter também traz a vantagem do retorno imediato – e esse

pode ser um tremendo benefício para os indivíduos” (COMM, 2009. p. 28). É o que

pode ser verificado com as Charges Virtuais.

A possibilidade de divulgação e livre trânsito das produções dos chargistas

pela malha da internet é efetivada por sites como o Youtube e o Twitter. As

pessoas que visitam o site originário de publicação das charges – ou mesmo o 1 Uma forma de publicação de blog que permite que os usuários façam atualizações breves de texto (geralmente com menos de 200 caracteres) e publicá-los para que sejam vistos publicamente, ou apenas por um grupo restrito escolhido pelo usuário. Estes textos podem ser enviados por uma diversidade de meios, tais como SMS, Messenger, Skype, e-mail, mp3 ou pela Web. (VIEIRA, 2009. p. 43).

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próprio criador, no caso analisado o chargista Maurício Ricardo, como será

observado no exemplo que se seguirá – copiam o endereço da página, que é

composto por letras, números e sinais, e o adicionam no texto que escrevem.

Automaticamente o código da sequência é reconhecido e a frase torna-se uma

ligação (link) com o site original do endereço, o site Charges.com.br, por exemplo,

ativado quando o cursor o sobrepõe.

Figura 1: Perfil do chargista Maurício Ricardo no Twitter

Fonte: Twitter – www.twitter.com

Com o Youtube, a divulgação das Charges Virtuais é feita de forma mais

variada. Os usuários do site apropriam-se das produções dos chargistas, e as

adaptam ao formato corrente das postagens, o vídeo. Dessa forma, a mesma

Charge Virtual é disponibilizada em formatos diferentes (com extensão de vídeo e

de aplicativo do programa de informática para animação gráfica Flash) e em sites

diferentes, o que significa que os usuários poderão criar e divulgar os links tanto do

site de origem das produções (no caso o Charges.com.br) como do site que fez a

apropriação e adaptação da produção para outra extensão, o Youtube.

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Figura 1: Vídeo reproduz Charge Virtual no Youtube

Fonte: Youtube – www.youtube.com

É inegável o potencial de difusão encarnado pelas redes sociais. Indo além

funcionalidade de diálogo e exposição dos acontecimentos do cotidiano da vida dos

usuários, ou seja, da escrita de si, essas redes configuram-se com ferramentas de

difusão do conhecimento e ampliação da acessibilidade e mobilidade de produções

midiáticas como as Charges Virtuais. “As redes permitem às pessoas compartilhar

informações de forma dinâmica, processos de ensino-aprendizagem pontuais e

autogeridos, que em escala assumem uma natureza abrangente” (DIMANTAS, 2010.

p. 115).

O maior efeito social da tecnologia, em longo prazo, vai além da eficiência quantitativa de fazer as coisas de maneira mais rápida e barata. O maior potencial de transformação da rede está em conectar pessoas: é a chance de produzir coisas novas juntos, um potencial de cooperação em escalas que anteriormente não eram possíveis. (DIMANTAS, 2010. p. 46).

No Twitter, a divulgação e partilha das Charges Virtuais pode se processar de

várias formas. Partindo de um primeiro usuário, que adiciona o link em sua

postagem, a mesma informação pode ser “retweetada” (ter o mesmo teor repetido

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por outro usuário) ou ainda respondida, sendo mais uma vez divulgada para listar

entre as informações mais recentes e “atualizadas” do Twitter. A visualização

dessas mensagens aumentam significativamente a quantidade de acessos das

charges divulgadas, uma vez que não é mais o usuário que vai buscar as

informações, mas a informação que passa a vir até o usuário.

Um dos aspectos que causa mais prazer no Twitter não é atualizar amigos e familiares sobre os detalhes de seu cotidiano. Isso é divertido, mas nesse caso o funcionamento terá apenas mão única. O Twitter é uma ferramenta de comunicação que funciona nas duas direções – e isso é muito importante. Isso significa que você pode fazer perguntas e solicitar ajuda para problemas bastante específicos, obtendo o conselho especializado de que precisa. (COMM, 2009. p. 30)

Contudo, conforme ressalta Dimantas (2010), para que as informações

divulgadas por um usuário sejam acessadas e absorvidas pelos demais integrantes

de uma rede social, é preciso que ele tenha crédito e confiabilidade, ou seja,

tenha uma reputação considerável para convencer os membros de sua rede de que

o que está postando está realmente relacionado aos interesses da comunidade

virtual.

Um dos aspectos essenciais para a consolidação de projetos coletivos, os quais necessitam do engajamento de muitos em ações específicas, é a confiança, que está diretamente relacionada à reputação das pessoas on-line, no caso da rede, e a capacidade de se relacionar com os outros e manter um nível de conversação produtiva, na qual seja possível perceber quem ou o que faz parte de um universo de referência. (DIMANTAS, 2010. p. 127).

Sendo assim, a circulação do conhecimento e as trocas de informações entre

os seus membros das redes sociais são influenciadas pelo perfil de cada usuário. O

exemplo do perfil do chargista Maurício Ricardo e de suas postagens, mostra como

a confiabilidade – por ele ser conheicdo nacionalmente, assim como seu trabalho –

é um fator que influencia no acesso aos conteúdos difundidos pelos usuários.

A mobilidade e o fluxo das informações na internet são possibilitados pela

captação e transmissão através dos hiperlinks, que proporcionam a autonomia de

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cada usuário em se apropriar de determinado conhecimento e difundí-lo na rede

mundial, nos ambientes das comunidades e redes sociais das quais faz parte e pelos

roteiros que desenvolve em sua navegação. O Youtube e o Twitter são apenas

alguns dos exemplos de sistemas de redes que possibilitam aos usuários difundir

amplamente as informações que consideram interessantes ou relevantes. Podem

ser citados também o Orkut, o FaceBook, e-mails, Messenger e as várias novas

formas de interação interpessoal que surgem a cada dia no ambiente virtual.

Linkar, linkar e linkar. Essa é a máxima deste novo mundo. Linkar por generosidade, pois entendemos que gentileza gera gentileza. Linkar porque temos interesses comuns com pessoas de verdade. Pessoas que pensam, amam, brincam, namoram, têm filhos. Esses filhos continuarão linkando suas vidas com outras vidas, numa transferência de genes e memes. Linkar tem seus objetivos: recuperar a voz perdida, buscar nas entrelinhas digitais uma vontade de composição de uns com os outros, uma humanidade mais humana. A linkania é a revolução colaborativa. (DIMANTAS, 2010. P. 127 e 128).

Torna-se claro, dessa forma, como as Charges Virtuais têm expandida sua

mobilidade e liberdade de acesso ao público através dos hiperlinks divulgados pelos

usuários da internet em redes de relacionamento como o Youtube e o Twitter. Mais

que um espaço de escrita de si e divulgação de acontecimentos da vida pessoal

cotidiana dos usuários, as redes sociais funcionam como ambiente de promoção,

divulgação e partilha de produtos midiáticos como Charges Virtuais.

Referências Bibliográficas

BAUMAN, Zigmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. COMM, Joel. O Poder do Twitter: estratégias para dominar seu mercado e atingir seus objetivos com um tweet por vez. 1. ed. São Paulo: Editora Gente, 2009. 267 p. DIMANTAS, Hernani. Linkania: uma teoria de redes. 1. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010. 136 p.

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DIZARD, Wilson. A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. DYENS, Olivier. A arte da rede. In: DOMINGUES, Diana (org.). Arte e vida no século XXI: tecnologia, ciência e criatividade. São Paulo: Editora UNESP, 2003. SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007. ______. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imerso. São Paulo: Paulus, 2007. SOUZA, Helga V. A. A charge virtual e a construção de identidades. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2008. VIEIRA, Anderson. Twitter: Influenciando Pessoas & Conquistando o Mercado! 1. ed. Rio de Janeiro: Alta Books, 2009. 197 p. Portais: www.youtube.com www.twitter.com

1 Marcelo Rodrigo da SILVA, Mestrando Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) Departamento de Letras e Artes E-mail: [email protected] 2 Flávio Aurélio T. ASEVÊDO, Mestrando Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) Departamento de Letras e Artes E-mail: [email protected]