chamaram-lhes "retornados"
TRANSCRIPT
Durante a Guerra Colonial muitos começaram a chegar
aos poucos a Portugal. Depois de 1974 chegaram
milhares. Ao todo foram meio milhão. Chamaram-lhes os
“Retornados”.
Ao chegarem a Portugal, muitos não tinham lugar para
onde ir. No aeroporto esperavam dias e noites até
encontrarem um lugar para ficarem.
O Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais, o IARN, foi a
instituição governamental criada para orientar estes
indivíduos a encontrar trabalho, habitação e até mesmo
roupa e alimentação.
Aqueles que não tinham um lar em Portugal eram
encaminhados pelo IARN para várias pensões e hotéis
que na altura estavam a entrar em falência devido à
instabilidade do País.
Todos os hotéis e pensões lucraram com a situação dos “Desalojados”. Alguns estabelecimentos, por ganharem dinheiro por cada hóspede, alojaram
famílias e desconhecidos em quartos transformados em camaratas.
O dinheiro dado pelo IARN a estes estabelecimentos nem sempre era gasto para
melhorar as condições de alojamento e alimentação.
Aqueles que chegaram sem nada faziam longas filas à frente da Cruz Vermelha e do IARN. Pediam
roupa e comida principalmente.
Começaram a surgir movimentos de revolta. Exigiam-se
indemnizações pelos bens deixados nas ex-colónias e mais
ajudas aos desalojados.
Com o tempo já não eram mais “Retornados”, nem
“Desalojados”, nem “Refugiados” e o sotaque que muitos
tinham foi desaparecendo aos poucos.
No começo dos anos
oitenta já muitos tinham a sua vida orientada e o IARN
extinguiu-se. Muitos dos bens que tinham em
África nunca foram recuperados. A vida que lá sonharam,
essa, desapareceu para sempre.