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>CH'AFARIZES DOS CAMINHOS DA GLóRIA E MATA-CAVALOS III

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Page 1: Chafarizes dos Caminhos da Glória e Mata-Cavalos · Chafarizes dos Caminhos da Glória e Mata-Cavalos Author: Magalhães Corrêa Subject: Terra Carioca - Fontes e Chafarizes Created

>CH'AFARIZES DOS CAMINHOS DA GLóRIAE MATA-CAVALOS

III

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III

São verdadeiras pagrnas da história da cidade os cha-farizes cariocas; por êles se conhece tudo que diz respeitoaos melhoramentos urbanos, nos tempos dos Vice-Reis.

Mas nem assim escaparam às mãos dos renovadores,cujo único predicado que possuem é terem viajado. Mascomo? Ter conhecido os Boulevards de Paris e a Côted'Azur ...

Verdadeiramente, o que n06 falta é educação artística,respeito às leis e muito patriotismo para compreender tudoaquilo que foi feito pelos nossos antepassados.

No tempo de d. Luiz de Almeida Portugal Soares d'EçaMello Silva Mascarenhas, quarto marquês de Avintes,segundo de Lavradio e terceiro Vice-Rei, construiu-se naantiga rua, outrora cáis e boqueirão da Glória, hoje rua daLapa, um chafariz, junto à encosta do morro do Destêrro,hoje Santa Tereza, denominado "Chafariz do Caminhoda Glória".

Existia aí um outro, localizado no largo, hoje Jardimda Glória, onde surgia uma fonte conhecida de longa datapor "Pocinho da Glória". Em 1839, fizeram-se algunsserviços de pequena monta; era uma fonte singela de pedra,que por quatro carrancas despejava água sôbre um compridotanque e que há alguns anos atrás foi transferido para 3

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praça José de Alencar, entre as ruas Marquês de Abrantese Senador Vergueiro; mas, como sempre, desapareceu, porencanto, e hoje em dia não se sabe do seu paradeiro.

Assim, eram dois, sendo o primeiro o que nos interessa,pois veiu até nós sob o n. 134, P. M., mas seguramente, soba proteção da Repartição das Ág-uas e Obras Públicas.

Tem êle o aspecto de um muro, dada a natureza doterreno; interessante é notar que uma série deles seguiu omesmo aspecto que veremos no decor-ar da nossa exposição.

Êsse muro tem nas duas extremidades pilastras daliquais parte CGm a forma de arco de berço (em "projeçãohorizontal), sendo que no centro se eleva um corpo, eixodo chafariz. E' de pedra e cal, assim como são de pedralavrada os tanques e de mármore a lápide e o vaso central.

D~lS pilastras, na parte inferior, partem tanques, quetomam a f.orma do muro e vão paralelamente terminarjunto às portas, que simetricamente estão localizadas nofundo do muro, cujo eixo ~ o corpo central do chafariz. Essaspartas são de madeira e os humbrais de cantaria. Destaspartem, para o centro, novos tanques, isto é, colocados umde cada lado do tanque central.

Ao fundo, ergue-se o corpo central, em forma de"frontão curvo", sustentado lateralmente, por duplas pilastrassobrepostas com simples capiteis; êsse frontão, partido aocentro, recebe a lápide de mármore em forma de octógonoirregular, com inscrições em latim, e rematando o enfabla-mento uma cornija denticulada, que por sua vez é coroadapor um vaso de mármore, com a forma interessantíssimade lanterna, todo esculpido,

Na parte inferior do corpo central há um tanquecomposto de duas 'Partes: a superior em fomna de caixa,de 'Pedra, emoldurado; na parte superior ·e inferior umafaixa de pouco balanço, e, no centro, duas +osãceas, dondepor hicas de bronze jorrava água sôbre o tanque, Êste, depedra, longo, com 'bastante balanço fim relação à caixa, aomuro e aos tanques laterais, do corpo central.

As bicas eram oito, que deveriam ser interessantíssimas110 jorrarem o líquido precioso, duas, de cada lado dos tanquesdas pilastras, uma de cada lado dos tanques laterais aocentro e duas no tanque central.

O fund-i do corpo central é de ladrilho, entre a caixade pedra e a lápide ae mármore, tendo ao centro uma

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jardineira, em forma de concha. Não sei si ela deixava cairágua ou pendiam flores, mas o certo é que deveria ser belonos tempos dos Vice-Reis.

A inscrição do mármore é a seguinte:

Aloisio - AlmeidaeMarch ioni - Lavradiensi Braziliae - Proregi Fraenatis

_ Aestuantis - Maris - IncursibusJngenti -- Constructo - Muro Conoili - Redditibus - et

Dignitate - AuctisPublici-s - Reparatis - Aedif'icüs

Aggeribus - Perruptis - Complanatis - ItineribusComrnodicríbus - Eff'eotis Renouata - Urbe

Servatori -' SuoSenatus - et - Populusque - Sehastianopol itanus

P.MDcnLXXh

A tradução é do desembargador Vieira Ferr'eira."Ao seu conservador, Luiz de Almeida, Marqu ~s de

Lavradio, que refreou as inundações do mar, construindoum grande muro, aumentou as rendas e dignidade do Con-selho, restaurou os edifícios públicos, cortou 0'5 outeiros,igualou. tornou mais cômodas as ruas, renovou a cidade,o Senado e o povo do Rio de Janeiro; ergueu em 1772".

Em 1839 "fez-se dentro da mina um novo receptáculopara as águas, levantou-se de novo na distância de cempalmos todo o conduto e cohriu-se de lagedo, construíram-seum reservatório fechado e coberto, para 424 pés cúbicosde água, dous tanques para animais, além de outros tra-balhos menos importantes. Essa obra ficou totalmenteconcluída, nesse ano."

Como se vê é uma página, da nossa história, que ocarioca ilustre Pereira Passos, quando prefeito, tratou derestaurar; e acrescentou na parte posterior do chafariz, emtôda a sua extensão de arco de berço, um outro muro, que,sem ,ofender' o primitivo, o protege e esconde o aquedutoe o telhado da casa do guarda, que era desagradável vistosuá pequena altura. Êsse novo muro tem na parte superiora mesma moldura que arremata o primitivo e sôbre asportas, dois vãos, de fórma retangular, com grades de ferro.

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o aqueduto que se vê sôbre o chafariz é o que, partindodo Curvei o, vinha até aí, conduzindo as águas da Carioca,mas, infelizmente, hoje. sêco, contempla os lagos à beiramar, encaixados, com os seus repuxos pródigos em lançarno espaço o cristalino líquido.

Chafariz de Mata-Cavalos

No caminho da Bica, depois Mata-Cavalos e hojeHiachuelo, erguia-se outrora uma fonte na encosta do morrodo Desterro (Santa Teresa) denominada Mata-Cavalos.

Passeando uma bela manhã de maio de 1742, as jovenspatricias Jacintha S. José e a sua irmã Francis.ca de JesusMaria pelo caminho da Bica. aí encontraram a antigachácara que nêsse logar existia, e que se denominava "Bica";a casa estava em rui nas, e, por entre arvoredos, uma fontesurgia e tudo mais era solitário e triste. De volta, resolverampedir ao tio Manoel Pereira Ramus, para comprá-Ia, no queforam satisfeitas.

Aí foi morar Jacintha, e depois sua irmã. Começarama construção da "Capela do Menino Deus"; durante o diatrabalhavam os operários e nas noites, principalmente deluar elas, todas de manco e de delicadas mãos, carregavampedras, o que assustava os poucos transeuntes das visinhançasque por al í passavam, por parecerem fantasma. Mas acapela rapidamente foi construída e aí fundaram o "Reco-lhimento do Menino Deus".

No dia 1o de janeiro de 1744, isto é, há 18·6anos passados,foi inaugurada a üapela, benta solenemente, e entronizadoo "Menino Deus", iniciando-se assim a fundação das Car-melitas Descalças do Brasil, feita por Jacintha São José.

Esta capela até hoje existe; esteve em ruinas, aban-donada; foram retirados o "Menino Deus" ·e mais relíquias,mas novamente reconstruída pelo Conselho Super-ior de SãoVicente de Paulo, por autorização das Freiras de SantaTereza, sob essa condição. Assim, 'entregues o "MeninoDeus", o "cálice" e os "sinos" da antiga Capela, relíquiasde tempo de Jacíntha São José, foram solenemente em pro-cissão transladados do Convento para a nova capela, no dia 6de janeiro de 1925. Ao sair o "Menino Deus" as freirasentoaram cànticos, em seu louvor, que assim principiavam:

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-4.3-"Adeus, sagrado Menino,Rei do nos-so coraçã-o;Adeus, Monarca divino,Senhor de toda criação".

Hoje, acha-se instalado o 'seu culto na antiga e res-taurada capela. à rua do Riachuelo, número 75, entre asruas' dos Inválidos e Francisco Muratori.

São decorridos, precisamente, 1-67 anos, que GomesFreire de Andrade falecia, a 10 de janeiro de 1763, êle oprotetor dessa capela e fundador do Convento de SantaTereza, tendo como madre, Jacintha São José. Aí foi recolhidocarinhosamente 'o seu corpo pelas freiras que tanto amarae protegera.

Da fonte da chécara da Bica só existem filetes, pois comas construções de prédios ela se espalhou por todos osterrenos circunvisinhos 'e, até bem pouco tempo, vinhadesaguar na rua, o que obrigou o encarregado da capelaa canalizar para o esgôto a sua água, vendo-se, no entanto,no fundo do terreno, um muro de pedra, que perenementechora, única lembrança da lendária fonte.

Em 1772, o Senado da Câmara mandava construir umchafariz que foi localizado na chácara da Bica, perto da"Capela do Menino Deus", no caminho de Mata-Cavalos. Esôbre o mármore do' pequeno chafariz talhou a seguinteinscrição:

Civis - Aquam - Bibe: Lavradii - Marchio - DonatIlle - Pater - Patr iae . Quae - Sitis - Ergo - Tibi?

Fluminensis - Senatus1772

que dá a seguinte versão: O Senado convidava o povo a beber,porque o Marquês de Lavrádio, o pai da pátria, dava porsua conta água. E' uma fórmula como qualquer outraengrossativa. A água que abastecia êsse chafariz vinha dafonte da Bica, aumentada com a da Carioca, que partiado Curvei o, colocado a cavaleiro da mesma.

Mas do chafariz tudo desapareceu, até a lápide, e nin-guern sabe d-o seu destino ...